4 corrupção uma questão cultural ou falta de controle

4
11/02/2015 Corrupção: uma questão cultural ou falta de controle? Resumo das disciplinas UOL Vestibular http://vestibular.uol.com.br/resumodasdisciplinas/atualidades/corrupcaoumaquestaoculturaloufaltadecontrole.htm 1/4 Corrupção: uma questão cultural ou falta de controle? Por Andreia Martins da Novelo Comunicação 12/12/2014 08h03 Imprimir Comunicar erro Suborno, propina, carteirada, “rouba, mas faz”. Casos como Mensalão e Operação Lava Jato estampando manchetes de jornal. Quem já não escutou alguém dizer que no Brasil a corrupção é algo natural? Muito se fala que ela faz parte de quem somos. No entanto, a corrupção é fenômeno inerente a qualquer forma de governo, seja democrático ou despótico, em países ricos ou em desenvolvimento. Então o que nos faz acreditar que a prática é uma característica brasileira, parte do modo de viver que nós chamamos de “jeitinho brasileiro”? Bem, primeiro vamos entender o que é corrupção. A palavra corrupção vem do latim corruptus, que significa quebrado em pedaços. Na república romana, ela se referia à corrupção de costumes. No mundo contemporâneo, sua prática pode ser definida como utilização do poder, cargo público ou autoridade – também chamada de tráfico de influência -- para obter vantagens e fazer uso do dinheiro público ilegalmente em benefício próprio ou de pessoas próximas. Direto ao ponto: Ficha-resumo Engana-se quem acha que a prática ganha essa nomenclatura apenas quando falamos de grandes corporações ou órgãos públicos. A corrupção privada está presente em atitudes do nosso dia a dia, como desviar dinheiro do condomínio, burlar um imposto, pagar um valor extra para ter um serviço feito antes do tempo legal, subornar um guarda de trânsito para evitar uma multa ou pagar por um lugar melhor na fila do restaurante. No último ranking da corrupção, organizado pela Transparência Internacional e divulgado em dezembro de 2014, o Brasil aparece na 69ª posição entre 175 países. O ranking mede o índice de percepção da corrupção. Para calcular a nota que define a posição, e vai de 100 (menos corrupto) a zero (mais corrupto), a ONG pergunta a entidades da sociedade civil, agências de risco, empresários e investidores qual é a percepção sobre a transparência do poder público. O Brasil aparece atrás de países como Uruguai e Chile (ambos no 21º lugar), Botsuana (31º) e Cabo Verde (42º). A Dinamarca manteve o primeiro lugar no ranking com nota 92, seguida da Nova Zelândia (91); Finlândia (89), Suécia (87) e Noruega (86). Na outra ponta da tabela, Somália e Coreia do Norte aparecem em último, com oito pontos. O que faz da Dinamarca um país menos corrupto? No documento, o país é citado como uma nação que tem um forte Estado de Direito, apoio à sociedade civil e regras claras de conduta para as pessoas que ocupam cargos públicos. O relatório menciona o exemplo dado pelo país de criar um registro público com informações sobre os proprietários de todas as companhias dinamarquesas, iniciativa criada pela ONG norte-americana Global Financial Integrity para o combate à lavagem de dinheiro, à sonegação de impostos e à corrupção. Até agora, apenas Reino Unido e Dinamarca aderiram à campanha. O ambiente social do país também colabora. O professor dinamarquês Gert Tingaard Svendsen, especialista em corrupção, publicou este ano o livro Trust, onde mostra como na Dinamarca a confiança social é alta. Segundo ele, quando as pessoas confiam umas nas outras e nas instituições, há maior cooperação, a burocracia é menor e os investimentos em segurança são reduzidos. Atualidades Related Searches Benign Positional Vertigo Vestibular Rehabilitation Treatment Of Vertigo Dizziness And Vertigo Vestibular System Solution Real

Upload: elenir-duarte-dias

Post on 20-Jul-2015

68 views

Category:

Data & Analytics


5 download

TRANSCRIPT

Page 1: 4 corrupção  uma questão cultural ou falta de controle

11/02/2015 Corrupção: uma questão cultural ou falta de controle? ­ Resumo das disciplinas ­ UOL Vestibular

http://vestibular.uol.com.br/resumo­das­disciplinas/atualidades/corrupcao­uma­questao­cultural­ou­falta­de­controle.htm 1/4

Corrupção: uma questão culturalou falta de controle?Por Andreia Martinsda Novelo Comunicação 12/12/2014 08h03

m n o H J Imprimir F Comunicar erro

Suborno, propina, carteirada, “rouba, mas faz”. Casos como Mensalão e Operação

Lava Jato estampando manchetes de jornal. Quem já não escutou alguém dizer que

no Brasil a corrupção é algo natural? Muito se fala que ela faz parte de quem

somos. No entanto, a corrupção é fenômeno inerente a qualquer forma de governo,

seja democrático ou despótico, em países ricos ou em desenvolvimento. Então o

que nos faz acreditar que a prática é uma característica brasileira, parte do modo de

viver que nós chamamos de “jeitinho brasileiro”?

Bem, primeiro vamos entender o que é corrupção. A palavra corrupção vem do latim

corruptus, que significa quebrado em pedaços. Na república romana, ela se referia

à corrupção de costumes. No mundo contemporâneo, sua prática pode ser definida

como utilização do poder, cargo público ou autoridade – também chamada de

tráfico de influência -- para obter vantagens e fazer uso do dinheiro público

ilegalmente em benefício próprio ou de pessoas próximas.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

Engana-se quem acha que a prática ganha essa nomenclatura apenas quando

falamos de grandes corporações ou órgãos públicos. A corrupção privada está

presente em atitudes do nosso dia a dia, como desviar dinheiro do condomínio,

burlar um imposto, pagar um valor extra para ter um serviço feito antes do tempo

legal, subornar um guarda de trânsito para evitar uma multa ou pagar por um lugar

melhor na fila do restaurante.

No último ranking da corrupção, organizado pela Transparência Internacional e

divulgado em dezembro de 2014, o Brasil aparece na 69ª posição entre 175 países.

O ranking mede o índice de percepção da corrupção. Para calcular a nota que

define a posição, e vai de 100 (menos corrupto) a zero (mais corrupto), a ONG

pergunta a entidades da sociedade civil, agências de risco, empresários e

investidores qual é a percepção sobre a transparência do poder público.

O Brasil aparece atrás de países como Uruguai e Chile (ambos no 21º lugar),

Botsuana (31º) e Cabo Verde (42º). A Dinamarca manteve o primeiro lugar no

ranking com nota 92, seguida da Nova Zelândia (91); Finlândia (89), Suécia (87) e

Noruega (86). Na outra ponta da tabela, Somália e Coreia do Norte aparecem em

último, com oito pontos.

O que faz da Dinamarca um país menos corrupto? No documento, o país é citado

como uma nação que tem um forte Estado de Direito, apoio à sociedade civil e

regras claras de conduta para as pessoas que ocupam cargos públicos. O relatório

menciona o exemplo dado pelo país de criar um registro público com informações

sobre os proprietários de todas as companhias dinamarquesas, iniciativa criada pela

ONG norte-americana Global Financial Integrity para o combate à lavagem de

dinheiro, à sonegação de impostos e à corrupção. Até agora, apenas Reino Unido e

Dinamarca aderiram à campanha.

O ambiente social do país também colabora. O professor dinamarquês Gert

Tingaard Svendsen, especialista em corrupção, publicou este ano o livro Trust,

onde mostra como na Dinamarca a confiança social é alta. Segundo ele, quando as

pessoas confiam umas nas outras e nas instituições, há maior cooperação, a

burocracia é menor e os investimentos em segurança são reduzidos.

Atualidades

Related Searches

Benign PositionalVertigo

VestibularRehabilitation

Treatment Of Vertigo

Dizziness And Vertigo

Vestibular System

Solution Real

Page 2: 4 corrupção  uma questão cultural ou falta de controle

11/02/2015 Corrupção: uma questão cultural ou falta de controle? ­ Resumo das disciplinas ­ UOL Vestibular

http://vestibular.uol.com.br/resumo­das­disciplinas/atualidades/corrupcao­uma­questao­cultural­ou­falta­de­controle.htm 2/4

O professor fez uma pesquisa em 2005, em 86 países, perguntando às pessoas se

elas confiavam nas outras. Na Dinamarca, 78% (três em cada quatro pessoas)

disseram que sim. O Brasil aparece no final da lista: apenas 10% dos entrevistados

(uma em cada 20 pessoas) disseram que confiam nas outras.

Além dos baixos índices de corrupção, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia têm

outra coisa em comum: investem alto em educação. Um levantamento feito pela

Folha, no final de 2013 (http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2013/12/1391533-

paises-com-melhor-educacao-tendem-a-ser-menos-corruptos.shtml), apontou que

existe sim uma relação entre corrupção e educação.

O estudo cruzou dados do Índice de Percepção da Corrupção e do Pisa, exame

internacional que avalia estudantes de 15 e 16 anos em matemática, leitura e

ciências. Os dados mostraram que os países menos corruptos estão no topo da

lista. O Brasil ficou em 58º na avaliação do Pisa e, em 2013, ocupava o 72º lugar no

ranking de corrupção.

Brasil e a corrupção na política

No Brasil, boa parte da percepção de que somos um país corrupto se deve aos

sucessivos escândalos políticos de desvios de dinheiro público e à impunidade dos

envolvidos na maioria dos casos. Daí surge outra “máxima” do senso comum: a de

que “o poder corrompe”.

A frequência de denúncias e a falta de punições criou uma imagem de que a política

aqui é, necessariamente, corrupta. Para estudiosos, essa noção é equivocada e

contribui para que a corrupção seja aceita de forma quase natural, ou seja, se você

foi eleito para um cargo público, já se espera que você não seja honesto.

Entre as práticas de corrupção mais comuns na política estão o nepotismo (quando

o governante elege algum parente para ocupar um cargo público), clientelismo

(compra de votos), peculato (desvio de dinheiro ou bens públicos para uso próprio),

caixa dois (acúmulo de recursos financeiros não contabilizados), tráfico de

influência, uso de "laranjas" (empresas ou pessoas que servem de fachada para

negócios e atividades ilegais), fraudes em obras e licitações, venda de sentenças,

improbidade administrativa e enriquecimento ilícito.

Para muitos, a corrupção é um fator moral e cultural. Como descreveu o

antropólogo Sérgio Buarque Holanda no livro Raízes do Brasil (1936), o brasileiro

(segundo ele, um indivíduo cordial, que pensa com a emoção) teria desenvolvido

uma histórica propensão à informalidade, o que se refletiria nas suas relações com

outros indivíduos, instituições, leis e a política.

Esse comportamento explicaria a origem, mais tarde, do “jeitinho brasileiro”. Nessa

predisposição à informalidade, entre o que pode e o que não pode por meios legais,

a malandragem, o "jeitinho" e frases como "você sabe com quem está falando?",

como cita Roberto DaMatta, surgem como formas de se obter vantagens e burlar

regras seja no âmbito do poder os nas nossas relações do dia a dia.

Mudar esse comportamento só seria possível com mecanismos de controle e de

fiscalização que coíbam ou reduzam as condições para práticas corruptas. Como

pontua Claudio Abramo, diretor executivo da Transparência Brasil, no texto

Corrupção, ética e moral, hoje a corrupção não é apenas uma questão moral, mas

entender o cenário que permite que ela seja tão frequente é fundamental.

“Não é o homem que molda o ambiente, mas o ambiente que molda o homem. São

as condições materiais que regulam as interações entre as pessoas que

determinam a maior ou menor propensão de elas se meterem em tramóias

desonestas. Conforme essa perspectiva interessa pouquíssimo se um indivíduo é

honesto ou desonesto. O que importa é que, se o sujeito for desonesto, as

condições em que ele age deixem-lhe pouca margem para que aja

desonestamente”, pontua Abramo.

Controle e fiscalização

Page 3: 4 corrupção  uma questão cultural ou falta de controle

11/02/2015 Corrupção: uma questão cultural ou falta de controle? ­ Resumo das disciplinas ­ UOL Vestibular

http://vestibular.uol.com.br/resumo­das­disciplinas/atualidades/corrupcao­uma­questao­cultural­ou­falta­de­controle.htm 3/4

No Brasil, os órgãos fiscalizadores começaram a surgir principalmente depois da

Constituição de 1988. Hoje, o Estado possui diversas instituições de controle e

fiscalização da atividade governamental, como o TCU (Tribunal de Contas da

União), os Tribunais de Contas dos Estados e de vários Municípios, e a CGU

(Controladoria Geral da União), criada em 2003.

 O TCU, por exemplo, tem a função de controlar os gastos públicos. Os governantes

têm de prestar contas ao órgão sobre suas decisões de gastos. O Ministério Público

também recebe denúncias e ajuíza ações penais e civis por improbidade

administrativa por meio dos procuradores da República.

Outra ferramenta é a Lei 12.846/2013

(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12846.htm), conhecida

como lei anticorrupção. De caráter não penal, institui e regula a responsabilidade

objetiva e civil de empresas pela prática de atos de corrupção contra a

administração pública nacional ou estrangeira. Já a Lei da Ficha Limpa, que entrou

em vigor em 2010, impede a candidatura em eleições de políticos com

condenações por órgãos colegiados, um passo importante para a ética na política.

A Lei de Acesso à Informação Pública (Lei 12.527/2011

(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm)), que

determina que qualquer cidadão tem o direito de examinar documentos produzidos

ou custodiados pelo Estado, desde que não estejam protegidos por sigilo ou se

referirem a informações de caráter pessoal, também serve para acompanhar os

gastos dos governos.

Mas, além da lei, ainda temos que desenvolver o hábito de investigar e acompanhar

as atividades dos ocupantes de cargos públicos com ajuda desses mecanismos. Na

Suécia, por exemplo, a lei de acesso à informação existe há 200 anos, já sendo

parte da rotina dos cidadãos, quem veem na lei uma aliada no combate à

corrupção.

E mesmo com esses diversos mecanismos, são muitos os casos em que as

brechas na Justiça e legislação permitem que políticos e empresas envolvidos em

escândalos não sejam punidos ou cumpram curto período na prisão, recebam

benefícios em troca de informações e não sejam banidos da vida pública. Daí surge

outra famosa expressão: “o Brasil é o país da impunidade”.

Embora muito se fale que hoje a corrupção no Brasil é mais denunciada do que

antigamente, sem a correta punição dos envolvidos é como se de nada adiantasse

tomar conhecimento das ilegalidades. Se hoje denunciamos mais, talvez seja hora

de avançar para tempos onde também se puna mais.

DIRETO AO PONTO

Suborno, propina, carteirada, “rouba, mas faz” e o “jeitinho brasileiro”. Quem já não

escutou alguém dizer que no Brasil a corrupção é algo natural? Muito se fala que

ela faz parte de quem somos. No entanto, a corrupção é fenômeno inerente a

qualquer forma de governo, seja democrático ou despótico, em países ricos ou em

desenvolvimento.

No último ranking da corrupção, organizado pela Transparência Internacional e

divulgado em dezembro de 2014, o Brasil aparece na 69ª posição entre 175 países.

O ranking mede o índice de percepção da corrupção.

A corrupção envolve fatores morais, ausência de medidas punitivas ou do

cumprimento delas e, no caso do Brasil, de certa forma trata-se de uma questão

cultural. Como descreveu o antropólogo Sérgio Buarque Holanda no livro Raízes do

Brasil (1936), o brasileiro teria desenvolvido uma histórica propensão à

informalidade, o que se refletiria nas suas relações com outros indivíduos,

instituições, leis e a política.

Hoje, para acompanhar mais de perto os gastos na administração pública, o Estado

possui diversas instituições de controle e fiscalização da atividade governamental.

No entanto, no Brasil ainda denunciamos mais do que punimos os envolvidos em

escândalos de corrupção.

 

Page 4: 4 corrupção  uma questão cultural ou falta de controle

11/02/2015 Corrupção: uma questão cultural ou falta de controle? ­ Resumo das disciplinas ­ UOL Vestibular

http://vestibular.uol.com.br/resumo­das­disciplinas/atualidades/corrupcao­uma­questao­cultural­ou­falta­de­controle.htm 4/4

 

Por Andreia Martins

© 1996-2015 UOL - O melhor conteúdo. Todos os direitos reservados. Hospedagem: UOL Host