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4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo Nos últimos 30 anos a pressão antrópica sobre a área reduziu a cobertura vegetal de forma preocupante. As fotos aéreas do projeto FAB/SUDENE (GERAN-1970) e do projeto FIDEM (1983), provenientes do aero-levantamento do 1º/6º GAV da Base Aérea do Recife, vem comprovar que a área do entorno da reserva, na década de 70, apresentava cobertura vegetal quase contígua. As fotos da década de 80 demonstravam que a UC estando inserida em área insularizada e quase nenhuma ocorrência de vegetação nativa no entorno tendo conseguido manter parcialmente sua integridade. Porém, preocupa atualmente o avanço dos cultivos sobre as matas e quanto ainda será derrubado pelos agricultores. Talvez a área não suporte mais 10 anos de pressão antrópica. Foram identificadas duas unidades de conservação próximas a Gurjaú. A Reserva Ecológica da Mata do Contra Açude, pertencente a duas propriedades privadas, localizadas a Nordeste da Usina Bom Jesus, no município do Cabo de Santo Agostinho, com 114,56 hectares, defendida pela mesma Lei Estadual que criou Gurjaú (Nº 9989 de 1987). A área apresentava-se, em 1988, em bom estado de Conservação, com monocultura da cana-de-açúcar no entorno (PERNAMBUCO, 2001:32). E Reserva Ecológica da Mata do Bom Jardim, inserida em única propriedade privada próxima ao Engenho Monte, localizada no mesmo município, com 245,28 hectares definida pela mesma lei estadual. Apresentava-se, em 1988, sem alteração, com monocultura de cana-de-açúcar no entorno (PERNAMBUCO, 2001:33). Essas Unidades de Conservação e áreas protegidas que foram criadas e não pertenciam às categorias previstas no SNUC, serão reavaliadas no prazo de até dois anos (SNUC, 2000:29). As atividades desenvolvidas em toda a bacia do Gurjaú interferem direta ou indiretamente na dinâmica do manancial hídrico. As massas de água não são sistemas fechados; antes precisam ser consideradas como parte de maiores bacias de drenagem ou sistemas hidrográficos (ODUM, 1983:122). Os principais problemas que afetam os

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4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA4.1 Uso e Ocupação do Solo

Nos últimos 30 anos a pressão antrópica sobre a área reduziu a coberturavegetal de forma preocupante. As fotos aéreas do projeto FAB/SUDENE(GERAN-1970) e do projeto FIDEM (1983), provenientes do aero-levantamentodo 1º/6º GAV da Base Aérea do Recife, vem comprovar que a área do entornoda reserva, na década de 70, apresentava cobertura vegetal quase contígua.As fotos da década de 80 demonstravam que a UC estando inserida em áreainsularizada e quase nenhuma ocorrência de vegetação nativa no entornotendo conseguido manter parcialmente sua integridade. Porém, preocupaatualmente o avanço dos cultivos sobre as matas e quanto ainda seráderrubado pelos agricultores. Talvez a área não suporte mais 10 anos depressão antrópica.Foram identificadas duas unidades de conservação próximas a Gurjaú. AReserva Ecológica da Mata do Contra Açude, pertencente a duas propriedadesprivadas, localizadas a Nordeste da Usina Bom Jesus, no município do Cabode Santo Agostinho, com 114,56 hectares, defendida pela mesma Lei Estadualque criou Gurjaú (Nº 9989 de 1987). A área apresentava-se, em 1988, em bomestado de Conservação, com monocultura da cana-de-açúcar no entorno(PERNAMBUCO, 2001:32). E Reserva Ecológica da Mata do Bom Jardim,inserida em única propriedade privada próxima ao Engenho Monte, localizadano mesmo município, com 245,28 hectares definida pela mesma lei estadual.Apresentava-se, em 1988, sem alteração, com monocultura de cana-de-açúcarno entorno (PERNAMBUCO, 2001:33). Essas Unidades de Conservação eáreas protegidas que foram criadas e não pertenciam às categorias previstasno SNUC, serão reavaliadas no prazo de até dois anos (SNUC, 2000:29).

As atividades desenvolvidas em toda a bacia do Gurjaú interferem direta ou

indiretamente na dinâmica do manancial hídrico. As massas de água não são sistemas

fechados; antes precisam ser consideradas como parte de maiores bacias de drenagem

ou sistemas hidrográficos (ODUM, 1983:122). Os principais problemas que afetam os

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mananciais hídricos são decorrentes do manejo inadequado do solo e também da

utilização incorreta de agrotóxicos, realizada por moradores que praticam agricultura de

subsistência e cultivo de cana de açúcar no entorno da reserva pela Usina Bom Jesus e

seus engenhos. Essa atitude causa poluição, assoreamentos, contaminações dos cursos

d’água e margens dos açudes e rio.

Nos açudes de Gurjaú, Secupema e São Salvador observou-se margensassoreadas e cultivadas com lavouras de subsistência.O açude de Gurjaú foi construído sob o leito inundável do rio de mesmo nome,localizado na porção Sul da Reserva, em terras do antigo Engenho São João.As margens encontram-se bem protegidas, salvo em alguns pontos onde seavista cultivo. No trecho do açude de Gurjaú pelo rio, até o Engenho São Brázobservam-se alguns sítios de bananas (Musa sp), macaxeira (manihot sp), emamão (Carica sp), alternados, onde deveria estar a mata ciliar. Em alguns“braços” do rio morto, incrustam-se sítios de bananeiras (Musa sp) dentro damata ciliar, competindo com pioneiras em regeneração, formando um disclímaxantropogênico. Esses sistemas de culturas não são estáveis da forma comosão gerenciados, pois estão sujeitos à erosão e lixiviação. Nas margens do açude encontramos algumas gramíneas e vegetação aquáticano leito como: Eichhornia e Nymphaea. Não há moradores nessas localidades,mas avistam-se cais para atracamento de barcos e jangadas.O açude de Secupema apresenta características distintas: foi construídoposteriormente ao Açude de Gurjaú, sob o leito do Riacho São Salvador,localizado na região central da reserva, em terras do antigo EngenhoSecupema. Em área de relevo ondulado, possui suas margens com algumasencostas íngremes, por vezes desprovidas de vegetação ciliar.

Alguns moradores vivem no local há mais de 35 anos e relataram que o açudeera “limpo” periodicamente pela SANER (atual COMPESA). Há pelo menosdez anos, eles roçavam até cinco metros da margem para fazer manutençãonos açudes.Hoje os moradores afirmam que “tem muito lixo no açude”, proveniente dasresidências próximas. As pessoas não têm como se "livrar" do lixo então jogamdentro do açude. Não há coleta de lixo nem saneamento básico, os dejetoshumanos são lançados diretamente ao ar livre, sujeito a lixiviamento. Osmoradores confirmam que usam o açude para banhos, lavar roupas e

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pescarias nas quais já capturaram: Traíra, Cará, Piaba, Gundelo e alguns jáviram Capivara. Avistam-se nas margens locais de criação de Caprinos, Suínos, Eqüinos,Patos, etc. e pontos de armadilhas para Capivara. As encostas desmatadas doaçude contrastam com a vegetação ciliar.

O açude de São Salvador foi construído sob o leito inundável do riacho demesmo nome, localizado na porção Norte da Reserva, em terras do antigoEngenho São Salvador. É o açude com presença de maior ação antrópicadentro da reserva. Sua lâmina d’água apresenta-se bastante reduzida. Asmargens não se encontram protegidas, em toda a borda observa-se a práticada cultura de subsistência, especialmente a macaxeira. Há vários pontos ondesão avistados cultivos de posseiros e moradores das margens usam bombaspara puxar água. Também se observam alguns sítios de bananas (Musa sp),macaxeira (manihot sp), onde deveria estar a mata ciliar. Da mata ciliar que margeava o açude, pouco resta. Na área que foi assoreada,próxima ao açude, é fácil identificar processos de competição com capins,espécies pioneiras como a embaúba (Cecropia sp.), formando um disclímaxantropogênico.

Numa das margens existe um córrego chamado Córrego do Abacaxi, que foiparcialmente destituído de vegetação para cultivos diversos. Os moradores sãoantigos, provavelmente, estão no local há cerca de 30 anos. Nos últimosmeses, foi intensificada a construção de moradias nas redondezas do açude eem toda a Reserva. Os posseiros visam a resultados econômicos a curto prazo e devastam asflorestas para plantio de cana-de-açúcar, por ser uma cultura de fácilmanutenção, ter mercado certo (a Usina Bom Jesus compra toda a produção),e por utilizarem veículos da própria usina para escoar o produto. Os poucosgêneros alimentícios produzidos pelos posseiros são levados de ônibus afeiras livres de Jaboatão ou Cabo.Há características que dão certo grau de homogeneidade à área estudada: apobreza, a falta de informação e os poucos recursos. Reproduzida nessesaspectos fica a situação geral da problemática ambiental, com todas asdificuldades para encontrar soluções. Talvez apenas medidas de pequenoalcance, quase paliativas, possam ser tomadas em nível regional ou local.

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Sabe-se do desprestígio de certos órgãos de planejamento junto àcomunidade, seja das mais diferentes esferas. Levantamentos, Diagnósticos,Relatórios, Recomendações, Planos e Projetos existem em quantidade, masfaltam medidas concretas na solução dos problemas fundamentais.A regularização do uso do solo implicaria no disciplinamento deste erecuperação das áreas desflorestadas e matas ciliares prevendo amanutenção dos açudes e nascentes. Porém a ausência desta faz daexistência de atividades agrícolas com expansão desenfreada e "loteamentos"de chácaras um perigo para a manutenção do ecossistema.

4.2 Meio Biótico4.2.1 Levantamento de anfíbios

Introdução

A Mata Atlântica tem papel de destaque entre os ecossistemas do mundo.Apresenta alto número de espécies e elevado grau de endemismo. Todavia,trata-se de um dos habitats mais ameaçados do planeta - razão pela qual foirecentemente incluída na lista de hotspots globais (Myers et al. 2000). Açõesantrópicas, cuja implementação remonta aos idos de 1500, reduziram estepatrimônio biológico e genético a um conjunto de pequenos remanescentesflorestais (Fundação SOS Mata Atlântica 1992, Lima 1998). No Nordeste doBrasil, os fragmentos que ainda restam da Mata Atlântica totalizam apenascerca de 3% de sua extensão original (Câmara 1992). Tal redução de áreasflorestadas representa um perigo iminente à fauna e flora brasileiras, emespecial às espécies endêmicas do Nordeste, podendo causar alterações naabundância das populações naturais e eventualmente provocar a extinção deespécies locais (Laurance e Bierregaard 1997).Em cenários como o acima descrito, populações naturais de anfíbios merecemespecial atenção dada sua vulnerabilidade a mudanças ambientais. A maioriadas espécies de anfíbios (cujo nome vem do grego amphi = duas, bios = vida)possui dois modos de vida distintos: de seus ovos eclodem larvas aquáticas,ou girinos, que se metamorfoseiam em jovens com modo de vida terrestre. Apele permeável destes animais torna-os particularmente expostos a alteraçõesfísicas e químicas da água, do solo, e do ar, fazendo deste grupo um excelentebio-indicador. Adicionalmente, anfíbios constituem elementos-chave na cadeia

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alimentar dos ecossistemas naturais (Stebbins e Cohen 1997, Pounds et al.1999).A despeito de sua importância ecológica e como patrimônio genético, poucosabemos sobre os anfíbios do Nordeste do Brasil (dos Santos e Carnaval2002). Ironicamente, é possível que o desaparecimento da Mata Atlânticanesta região esteja levando à extinção espécies ainda desconhecidas dacomunidade científica. Frente ao supracitado, foi com satisfação queparticipamos dos levantamentos das espécies de anfíbios da Reserva deGurjaú, numa iniciativa com vistas à conservação deste remanescente florestalsituado na Zona da Mata Sul do Estado de Pernambuco.A Reserva de Gurjaú constitui um dos fragmentos de mata que compõem oComplexo Catende, área amplamente reconhecida como prioritária paraconservação e estudos aprofundados da fauna e flora no Nordeste do Brasil.São dignas de nota as recomendações referentes a esta micro-regiãoencontradas nos documentos gerados pelo workshop “Áreas Prioritárias para

Conservação da Biodiversidade da Mata Atlântica no Nordeste”, realizado noano de 1993 em Itamaracá, PE, e no workshop “Avaliação e Ações Prioritárias

para a Conservação dos Biomas Floresta Atlântica e Campos Sulinos”,realizado em Atibaia, SP, em 1999. Atualmente, a área consta como prioritáriapara pesquisa e conservação no Estado de Pernambuco (Secretaria deCiência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco 2002).O presente relatório apresenta e discute os resultados obtidos durante olevantamento quantitativo e qualitativo das espécies de anfíbios da Reserva deGurjaú, efetuado no período de Agosto de 2002 a Abril de 2003. Ao fim dopresente, são feitas algumas recomendações conservacionistas com base nasinformações levantadas.

METODOLOGIA

Esforço de Coleta e Áreas Amostradas

De modo a gerar dados qualitativos sobre a anurofauna da Reserva de Gurjaú,efetuaram-se 233 horas-homens de busca ativa de anfíbios em diferentespartes da Reserva, entre Agosto de 2002 e Abril de 2003. Durante os mesesde Agosto, Setembro, Novembro, Dezembro, Fevereiro, Março e Abril, os

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trabalhos de busca foram executados por dois membros da equipe, variandoentre 16 e 26 horas-homem por mês. Nos meses de Outubro e Janeiro, trêsmembros participaram das buscas em campo, as quais corresponderam a 46 e41 horas-homem, respectivamente (Figura 3).

05

101520253035404550

Ago.2002

Set.2002

Out.2002

Nov.2002

Dez.2002

Jan.2003

Fev.2003

Mar.2003

Abr.2003

Hora

s-ho

mem

de

busc

a at

iva

Figura 3 - Esforço mensal de captura de anfíbios na Reserva de Gurjaú através de busca ativadurante os meses de Agosto de 2002 a Abril de 2003.

Para os trabalhos de busca ativa, percorreram-se a pé aproximadamente 22km de trilhas em áreas florestadas e áreas abertas dentro da área da Reservade Gurjaú, amostrando-se os seguintes ambientes:

Trilha A – Aproximadamente, 2,4 Km de borda de mata ao longo daestrada de terra paralela à represa e que conecta a Barragem de Gurjaúà Barragem de Sucupema, incluindo poças laterais, poças temporárias,ambientes inundados pela água da barragem e vegetação adjacente. Atrilha corresponde ao trecho inicial da estrada de terra, estendendo-seda Barragem de Gurjaú até a área de cultura de cana;

Trilha B - Aproximadamente 1,3 Km de borda de mata ao longo daestrada de terra que conecta a Barragem de Gurjaú à Barragem deSecupema, incluindo poças laterais, poças temporárias, ambientesinundados pela barragem e vegetação adjacente. A trilha estende-se dacultura de cana até a Barragem de Secupema;

Trilhas C, D e E – Margem leste do riacho formado pela Barragem deGurjaú e entorno da mata a oeste da Barragem de Gurjaú;

Trilha F - Area de lavoura e cultivo de frutas nas proximidades da TrilhaA;

Trilha G - Trilha na Mata da Porteira Preta;

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Trilha H - Trilha na Mata do Sítio do Pica-Pau, passando pela Barragemde Secupema, dirigindo-se para oeste até a cultura de cana;

Trilha I - Trilha na Mata do Bonde;

Trilha J - Trilha na Mata do Enxofre (alcançada com auxílio de bote);

Trilha K - Arredores dos tanques de decantação e alojamento, junto àsede da COMPESA.Com vistas a complementar os dados gerados por procura ativa,

registraram-se também os exemplares eventualmente capturados em 39armadilhas tipo pitfall montadas pela Equipe de Répteis, sendo cada armadilhacomposta por quatro baldes (Heyer et al. 1994). Ao longo dos meses deAgosto a Abril, 30 armadilhas foram mantidas abertas na mata adjacente àtrilha principal que conecta a Barragem de Gurjaú à Barragem de Secupema(Trilha I), sendo conferidas a cada três dias. Entre os meses de Novembro aAbril, nove armadilhas adicionais foram colocadas na Mata do Enxofre (TrilhaJ), seguindo-se a mesma metodologia.

PROCEDIMENTOS DE BUSCA ATIVA

Durante todos os dias de visita à Reserva, foi efetuada uma saída a campo noperíodo noturno para busca ativa de indivíduos. Saídas a campo tambémforam executadas durante o dia, para coleta de indivíduos com atividadediurna, coleta de larvas e desovas.A cada saída noturna percorreu-se ao menos uma das trilhas selecionadaspara amostragem. Indivíduos adultos foram localizados visualmente, com oauxílio de lanternas, ou através de suas vocalizações. O tempo depermanência na trilha variou conforme o número de indivíduos presentes,oscilando entre duas e quatro horas. Saídas diurnas também oscilaram emduração, variando de meia hora a cinco horas. Para cada saída de campo foi preenchida uma ficha (Anexo I), em que seanotaram dados a respeito da data de coleta, equipe de trabalho, horário deinício dos trabalhos de campo, horário de término dos trabalhos de campo,temperatura, condições do tempo, espécies encontradas, número deindivíduos avistados para cada espécie, ambiente utilizado por cada espécie

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(mata, reservatório, poça temporária, água corrente, etc.), e micro-ambienteutilizado (folhas sobre poça, galhos de árvores, chão da mata, etc.).Representantes adultos das espécies encontradas foram manualmentecoletados e posteriormente sacrificados e preservados em meio líquido, demodo a constituirem testemunhos da identificação taxonômica. Girinos tambémforam coletados com auxílio de peneiras durante excursões diurnas, emantidos em lotes individuais.

LEVANTAMENTO QUANTITATIVO

Com vistas a permitir uma comparação quantitativa a respeito da freqüência deencontro das diferentes espécies de anfíbios da Reserva de Gurjaú,compilaram-se todos os registros visuais efetuados nas trilhas A, B, C, D, E, eH, bem como nas áreas das trilhas G, I, e J onde a borda da mata se aproximada água da barragem, totalizando 20 noites de observação. O levantamentoquantitativo se restringiu às áreas acima mencionadas uma vez que asmesmas se assemelham quanto aos micro-ambientes que apresentam, sendoaparentemente ocupadas pelo mesmo conjunto de espécies. De modo amanter a amostragem uniforme, os dados compilados para fins de análisequantitativa foram coletados por dois componentes da equipe (G. Moura e M.Silva). Visando a uniformizar os dados, o número de indivíduos observados porespécie foi dividido pelo número total de homens-hora de amostragemefetuado na noite do registro. Para fins de comparação, os resultados foramplotados por espécie.

PROCEDIMENTOS EM LABORATÓRIOOs exemplares coletados para fins de identificação foram trasportados emsacos plásticos para o alojamento. Antes de serem sacrificados, os indivíduosforam fotografados e observados quanto à sua coloração em vida. Seguindorecomendações e metodologias discutidas na literatura (Heyer et al. 1994), osindivíduos foram anestesiados em solução de clorobutanona ou etanol efixados em solução de formaldeído a 10%. Após uma semana de fixação,todas as carcaças foram transferidas para solução de etanol a 70%. Girinoscoletados em estágios iniciais de desenvolvimento foram mantidos emaquários, para que se desenvolvessem, permitindo assim sua identificação.

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0

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15

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9 Ago

.

11 Ago

.

31 Ago

.8 S

et.

15 Set.

17 O

ut.

19 O

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3 Nov.

6 Dez.

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19 Ja

n.

22 Ja

n.

9 Fev

.

23 Fev

.

8 Mar.

30 M

ar.

20 Abr.

27 Abr.

15%

46%

35%

4%

BufonidaeHylidaeLeptodactylidaeRanidae

Girinos em estágios mais avançados tiveram seu padrão de colorido descrito eforam fixados e mantidos em solução de formaldeído a 5% (Heyer et al. 1994).Os exemplares coletados foram adicionados à Coleção Herpetológica doLaboratório de Vertebrados da Universidade Federal de Pernambuco.

ResultadosComponentes da BiodiversidadeVinte e seis (26) espécies de anfíbios, todas pertencentes à Ordem Anura,foram registradas em Gurjaú. Quatro famílias encontram-se representadas naReserva, a saber: Bufonidae (04 espécies), Hylidae (12 espécies),Leptodactylidae (09 espécies) e Ranidae (01 espécie) (Tabela I, Figura 4).

Figura 4 - Representatividade das famílias de Anuros na Reserva de Gurjaú.

A acumulação de registros de espécies não se deu de forma homogênea aolongo dos trabalhos de levantamento. Vinte anfíbios foram registrados durantea primeira metade dos trabalhos de campo (de Agosto a Novembro de 2002),enquanto seis táxons adicionais foram registrados entre Dezembro de 2002 eAbril de 2003 (Figura 5).

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Figura 5 - Total acumulado do número de espécies de anfíbios registradas na Reserva de Gurjaú entre osmeses de Agosto de 2002 e Abril de 2003.

Tabela 6 - Lista dos anfíbios anuros da Reserva de Gurjaú. Nomes populares, quando existentes, sãofornecidos na coluna à direita.

ORDEM ANURAFamília Bufonidae Bufo crucifer Wied-Neuwied, 1821 “sapo cururu” Bufo granulosus Spix, 1824 “cururuzinho” Bufo jimi Stevaux, 2002 “sapo cururu grande”, “sapo boi” Frostius pernambucensis (Bokermann, 1962)

Família Hylidae Hyla albomarginata Spix, 1824 “perereca verde” Hyla atlantica Caramaschi and Velosa, 1996 Hyla branneri Cochran, 1948 “pererequinha amarela” Hyla decipiens Lutz, 1925 Hyla aff. nana Boulenger, 1889 Hyla raniceps (Cope, 1862) “rã” Hyla semilineata Spix, 1824 “rã de listra” Phyllodytes luteolus (Wied-Neuwied, 1824) “sapinho amarelo” Phyllomedusa hypochondrialis (Daudin,1800) Scinax auratus (Wied-Neuwied, 1821) Scinax nebulosus (Spix, 1824) Scinax x-signatus (Spix, 1824) “perereca de banheiro”, “raspa côco”

Família Leptodactylidae Adenomera cf. marmorata Steindachner,1867 Eleutherodactylus sp. “sapinho da mata” Leptodactylus labyrinthicus (Spix, 1824) “gia pimenta”, “rã pimenta”, “gia boi” Leptodactylus natalensis Lutz, 1930 “caçote marrom”, “caçote” Leptodactylus ocellatus (Linnaeus, 1758) “rã manteiga” Leptodactylus troglodytes Lutz, 1926 “caçote da barreira” Physalaemus cuvieri Fitzinger, 1826 “sapinho do oi”, “foi-não-foi” Proceratophrys boiei (Wied-Neuwied, 1824) “sapo boi”, “sapo de chifre” Pseudopaludicola sp.

Família Ranidae Rana palmipes Spix, 1824 “caçote verde”, “caçote”

DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL

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Os anfíbios de Gurjaú diferiram no tocante à utilização do espaço físico daReserva (Tabela 7).

Tabela 7 - Sítios de encontro das espécies de anuros da Reserva de Gurjau.

Espécie Entorno daRepresa

Interior daMata

Adenomera cf. marmorata X XBufo crucifer X XBufo granulosus X XBufo jmi XEleutherodactylus sp. X XFrostius pernambucensis XHyla atlantica XHyla albomarginata XHyla branneri XHyla decipiens XHyla aff. nana XHyla raniceps XHyla semilineata X XLeptodactylus labyrinthicus X XLeptodactlys natalensis XLeptodactylus ocellatus XLeptodactlus troglodytes XPhyllodytes luteolus XPhyllomedusa hypochondrialis XPhysalaemus cuvieri X XProceratophrys boiei XPseudopaludicola sp. XRana palmipes X XScinax auratus XScinax nebulosus XScinax x-signatus X

A maioria das espécies (58% do total) foi encontrada nas proximidades daágua represada pelas barragens da COMPESA. São elas: Bufo jimi, Frostius

pernambucensis, Hyla atlantica, H. albomarginata (Figura 6), H. branneri, H.decipiens, H. aff. nana, H. raniceps, Leptodactylus natalensis, L. ocellatus,Phyllomedusa hypochondrialis, Pseudopaludicola sp., Scinax auratus, S.

nebulosus e S. x-signatus. A existência de discos adesivos nos dedos dasespécies pertencentes à família Hylidae (H. atlantica, H. albomarginata, H.

branneri, H. decipiens, H. aff. nana, H. raniceps, P. hypochondrialis, S. auratus,S. nebulosus e S. x-signatus) permitem às mesmas ocupar a vegetação semi-aquática, arbustiva, ou arbórea junto à água. Já as espécies pertecentes às

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famílias Bufonidae e Leptodactylidae (como B. jimi, L. natalensis, L. ocellatus ePseudopaludicola sp., por exemplo), desprovidas de discos adesivos, serestringem ao chão das trilhas, matas, e áreas alagadas no entorno darepresa.

Figura 6 - Hyla albomarginata, Gurjau, janeiro de 2003.

Oito espécies (31% do total) foram registradas tanto nas imediações darepresa, quanto no interior da mata. São elas: Adenomera cf. marmorata, Bufo

crucifer, B. granulosus, Eleutherodactylus sp., Hyla semilineata, Leptodactlys

labyrinthicus, Physalaemus cuvieri e Rana palmipes. Dentre essas,Eleutherodactylus sp. e H. semilineata são capazes de utilizar a vegetaçãolocal como abrigo e área de vocalização. As demais se limitam a ocupar ochão da mata.Três espécies – Leptodactylus troglodytes, Phylodytes luteolus eProceratophrys boiei (Figura 7) – foram registradas exclusivamente em áreasde mata. Novamente se observaram diferenças no tocante ao micro-habitatutilizado pelas espécies: enquanto P. luteolus foi capaz de utilizar a vegetaçãolocal como sítio de abrigo, os leptodactylideos L. troglodytes e P. boiei serestringiram ao chão da mata, tendo sido capturados em armadilhas do tipopitfall.

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Figura 7 - Proceratophrys boiei (Fotografia de S.A. Roda).

SÍTIOS DE VOCALIZAÇÃO E SÍTIOS REPRODUTIVOSAtravés da observação de desovas, girinos, e atividades de vocalização, foipossível registrar os ambientes utilizados para fins reprodutivos por 18 das 26espécies locais (Tabela 8). Oito espécies – Hyla atlantica (Figura 7), H.

albomarginata, H. semilineata, H. raniceps, Phyllomedusa hypochondrialis,

Scinax auratus, S. nebulosus e S. x-signatus – vocalizaram sobre vegetaçãoarbustiva ou arbórea próxima à represa. Três espécies – H. branneri, Hyla aff.nana (Figura 8) e Hyla decipiens – vocalizaram unicamente sobre asgramíneas parcialmente submersas pela água da represa e/ou sobre avegetação subaquática.

Figura 8 - Hyla atlântica Gurjaú, janeiro de 2003.

No tocante às espécies de chão, quatro espécies – Bufo jimi, Leptodactylus

labyrinthicus, Pseudopaludicola sp. e Rana palmipes – utilizaram as margens

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da represa como sítio de vocalização. Pseudopaludicola sp. diferenciou-se dasdemais por vocalizar unicamente em áreas encharcadas e elameadas,geralmente por entre gramíneas parcialmente inundadas.

Figura 9 - Hyla aff. nana Gurjaú, janeiro de 2003.

Hyla semilineata e Rana palmipes foram capazes de utilizar, como sítio dedesova, a água corrente por entre as rochas abaixo da Barragem de Gurjaú.Pseudopaludicola sp. e Scinax x-signatus também utilizaram este ambientecomo sítio de vocalização.Leptodactylus natalensis e Physalaemus cuvieri destacaram-se das demaisespécies da Reserva por reproduzirem-se em poças temporárias, às vezesutilizando ambientes aquáticos de curta duração. Em várias ocasiões,indivíduos reprodutivamente ativos foram encontrados na água acumulada emdepressões rasas formadas pelos pneus dos carros que circulavam nas trilhasA e B.As atividades de vocalização de Eleutherodactylus sp. Diferenciaram-se dasdemais por ocorrerem na borda e no interior da mata, muitas vezes em locaisafastados da água.No tocante à utilização de diferentes tipos de corpos d’água como sítio dereprodução, observamos que o entorno da represa foi a área em que seregistrou o maior número de espécies com atividade de vocalização, desovase/ou girinos (14 táxons). Todavia, poças temporárias e áreas de gramíneasinundadas não diferiram muito quanto ao número de anfíbios aí registrados,tendo sido utilizadas por 11 e 10 espécies, respectivamente (Tabela 8).

Tabela 8 - Sítios de vocalização, desova, e/ou desenvolvimento de girinos pelas espécies deanuros da Reserva de Gurjau.

Espécie RepresaPoças

Temporárias AlagadosÁgua

Corrente Mata

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Bufo jmi XEleutherodactylus sp. XHyla albomarginata X X XHyla atlantica X X XHyla branneri X X XHyla decipiens X XHyla aff. nana XHyla raniceps XHyla semilineata X X XLeptodactyluslabyrinthicus

X X X

Leptodactlys natalensis XPhyllomedusahypochondrialis

X X X

Physalaemus cuvieri XPseudopaludicola sp. X X XRana palmipes X X XScinax auratus X X XScinax nebulosus X X XScinax x-signatus X X

TOLERÂNCIA À AÇÃO HUMANAAs espécies de anuros da Reserva de Gurjaú diferiram no que diz respeito aograu de tolerância a modificações ambientais causadas pelo Homem (Tabela9). Indivíduos de Adenomera cf. marmorata, Bufo crucifer, B. jimi,

Eleutherodactylus sp., Hyla semilineata, Phyllodytes luteolus, Rana palmipes e

Scinax x-signatus foram registrados em locais onde a vegetação localencontra-se em contato com, ou é parcialmente substituída por, áreas decultivo e lavoura. Representantes de Bufo granulous, B. jimi, Leptodactlylus

labyrinthicus e S. x-signatus foram encontrados em imediações de construçõeshumanas, tal como a sede da COMPESA. Nenhuma das demais 16 espécies(i.e., 62% do total) foi registrada em áreas intensamente modificadas por açãohumana.Tabela 9 - Ocorrência das espécies de anfíbios em ambientes modificados pelo Homem.

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EspéciesÁreas de Cultivo e

LavouraImediações deConstruções

Adenomera cf. marmorata X -Bufo crucifer X -Bufo granulosus - XBufo jmi X XEleutherodactylus sp. X -Frostius pernambucensis - -Hyla atlantica - -Hyla albomarginata - -Hyla branneri - -Hyla decipiens - -Hyla aff. nana - -Hyla raniceps - -Hyla semilineata X -Leptodactylus labyrinthicus - XLeptodactlys natalensis - -Leptodactylus ocellatus - -Leptodactlus troglodytes - -Phyllodytes luteolus X -Phyllomedusahypochondrialis

- -

Physalaemus cuvieri - -Proceratophrys boiei - -Pseudopaludicola sp. - -Rana palmipes X -Scinax auratus - -Scinax nebulosus - -Scinax x-signatus X X

DADOS QUANTITATIVOSDezoito espécies foram registradas visualmente durante os levantamentosquantitativos: Bufo crucifer, B. granulosus, B. jimi, Eleutherodactylus sp.,

Frostius pernambucensis, Hyla albomarginata, H. atlantica, H. branneri, H.

raniceps, H. semilineata, Leptodactylus labyrinthicus, L. natalensis, L.

ocellatus, Phyllomedusa hypochondrialis, Physalaemus cuvieri, Rana palmipes,

Scinax auratus e S. x-signatus. O número de indivíduos avistados variou entre táxons (Figura 9). Hyla

semilineata e Rana palmipes foram as espécies registradas com maisfreqüência, sendo encontradas em relativa abundância. Enquanto asobservações de indivíduos de H. semilineata deram-se de forma homogêneaao longo dos trabalhos de campo, um maior número de indivíduos de R.

palmipes foi registrado nos primeiros meses de amostragem do que nos mesesseguintes.

Page 17: 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo · 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo Nos últimos 30 anos a pressão antrópica sobre a área reduziu

Bufo jimi, Eleutherodactylus sp. e Leptodactylus labyrinthicus apresentaramrazoável número de registros visuais, sendo encontrados na maioria dosmeses. Uma das noites de levantamento (7 de Dezembro) apresentoucondições apropriadas à reprodução de B. jimi, acarretando em um grandenúmero de encontros de indivíduos da espécie, todos em atividade reprodutiva.Bufo crucifer, Hyla albomarginata, H. atlantica, H. branneri, Leptodactylus

natalensis e Physalaemus cuvieri foram avistados em menores números,porém ao menos em três ocasiões. Bufo granulosus, Frostius pernambucensis,

Hyla raniceps, Leptodactylus ocellatus, Phyllomedusa hypochondrialis, Scinax

auratus e S. x-signatus apresentaram as mais reduzidas taxas de encontrosvisuais, sendo avistadas uma ou duas vezes dentre as 20 noites deamostragem.

Bufo crucifer

012345678

10 Ago

.

11 Ago

.

07 Set.

07 Set.

15 Set.

2 Nov.

25 N

ov.

6 Dez.

7 Dez.

21 D

ez.

2 Fev

.

9 Fev

.

16 Fev

.

23 Fev

.

8 Mar.

23 M

ar.

30 M

ar.

13 Abr.

20 Abr.

26 Abr.

Bufo granulosus

012345678

10 Ago

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11 Ago

.

07 Set.

07 Set.

15 Set.

2 Nov.

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23 Fev

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8 Mar.

23 M

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13 Abr.

20 Abr.

26 Abr.

Frostius pernambucensis

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10 Ago

.

11 Ago

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07 Set.

07 Set.

15 Set.

2 Nov.

25 N

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6 Dez.

7 Dez.

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2 Fev

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16 Fev

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23 Fev

.

8 Mar.

23 M

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13 Abr.

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26 Abr.

Hyla albomarginata

012345678

10 Ago

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11 Ago

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07 Set.

07 Set.

15 Set.

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23 Fev

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8 Mar.

23 M

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30 M

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13 Abr.

20 Abr.

26 Abr.

Hyla branneri

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10 Ago

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11 Ago

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07 Set.

07 Set.

15 Set.

2 Nov.

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6 Dez.

7 Dez.

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2 Fev

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16 Fev

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23 Fev

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8 Mar.

23 M

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30 M

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13 Abr.

20 Abr.

26 Abr.

Hyla atlantica

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10 Ago

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11 Ago

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07 Set.

07 Set.

15 Set.

2 Nov.

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6 Dez.

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9 Fev

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8 Mar.

23 M

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30 M

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13 Abr.

20 Abr.

26 Abr.

Hyla raniceps

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10 Ago

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07 Set.

07 Set.

15 Set.

2 Nov.

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6 Dez.

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2 Fev

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16 Fev

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23 Fev

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8 Mar.

23 M

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30 M

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13 Abr.

20 Abr.

26 Abr.

Hyla semilineata

012345678

10 Ago

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07 Set.

07 Set.

15 Set.

2 Nov.

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6 Dez.

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23 Fev

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8 Mar.

23 M

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13 Abr.

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Bufo jimi

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07 Set.

07 Set.

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2 Nov.

25 N

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6 Dez.

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8 Mar.

23 M

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13 Abr.

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Eleutherodactylus sp.

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07 Set.

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15 Set.

2 Nov.

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6 Dez.

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Figura 9 - Número de indivíduos avistados por horas.homem de amostragem para cada espéciede anfíbio em trilhas da Reserva de Gurjaú (detalhes em Metodologia).

AMOSTRAGEM EM PITFALLUm pequeno número de indivíduos foi capturado em armadilhas do tipo pitfall

(Tabela10).

Tabela 10 - Número de indivíduos capturados em 30 armadilhas na Trilha I (Agosto de 2002 aAbril de 2003) e em 9 armadilhas na Trilha J (Novembro de 2002 a Abril de 2003).

Espécie Número deIndivíduos

Trilha I

Número deIndivíduos

Trilha JAdenomera cf. marmorata 3 -Bufo crucifer 5 -Bufo granulosus 1 -Bufo jmi - -Eleutherodactylus sp. 3 -Frostius pernambucensis - -Hyla atlantica - -Hyla albomarginata - -Hyla branneri - -Hyla decipiens - -Hyla aff. nana - -Hyla raniceps - -Hyla semilineata 3 1Leptodactylus labyrinthicus - -Leptodactlys natalensis - -Leptodactylus ocellatus - -Leptodactlus troglodytes 3 -Phyllodytes luteolus - -Phyllomedusa hypochondrialis - -Physalaemus cuvieri 5 -Proceratophrys boiei - 5Pseudopaludicola sp. - -Rana palmipes 1 -Scinax auratus - -Scinax nebulosus - -Scinax x-signatus - -

Hyla raniceps

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07 Set.

07 Set.

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2 Nov.

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6 Dez.

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2 Fev

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8 Mar.

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13 Abr.

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Hyla semilineata

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10 Ago

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07 Set.

07 Set.

15 Set.

2 Nov.

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6 Dez.

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8 Mar.

23 M

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13 Abr.

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26 Abr.

Leptodactylus labyrinthicus

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07 Set.

07 Set.

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2 Nov.

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6 Dez.

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8 Mar.

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13 Abr.

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Leptodactylus natalensis

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10 Ago

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07 Set.

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2 Nov.

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13 Abr.

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Leptodactylus ocellatus

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Phyllomedusa hypochondrialis

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15 Set.

2 Nov.

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6 Dez.

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8 Mar.

23 M

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13 Abr.

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26 Abr.

Physalaemus cuvieri

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10 Ago

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11 Ago

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07 Set.

07 Set.

15 Set.

2 Nov.

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16 Fev

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8 Mar.

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13 Abr.

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26 Abr.

Rana palmipes

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11 Ago

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07 Set.

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15 Set.

2 Nov.

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Scinax x-signatus

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11 Ago

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07 Set.

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8 Mar.

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26 Abr.

Scinax auratus

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10 Ago

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11 Ago

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07 Set.

07 Set.

15 Set.

2 Nov.

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6 Dez.

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16 Fev

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8 Mar.

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30 M

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13 Abr.

20 Abr.

26 Abr.

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Dentre as 26 espécies registradas na Reserva, apenas nove (35% do númerototal) foram capturadas em pitfall. São elas: Adenomera cf. marmorata, Bufo

crucifer, B. granulosus, Eleutherodactylus sp., Hyla semilineata, Leptodactylus

troglodytes, Physalaemus cuvieri, Proceratophrys boiei e Rana palmipes. Onúmero de indivíduos coletados oscilou ligeiramente entre as espécies,pertencendo todos à mesma ordem de grandeza e variando entre 1 e 6.

DISCUSSÃOA Classe Amphibia é composta por três ordens: Anura (incluindo os sapos, rãse pererecas), Caudata (salamandras) e Gymnophiona (cecílias) (Stebbins eCohen 1997). Os levantamentos da Reserva de Gurjaú registraram apenas aocorrência de anuros. Tal ausência de representantes das ordens Caudata eGymnophiona não surpreende. No que se refere à Ordem Caudata, apenasuma espécie ocorre no Brasil. Trata-se de Bolitoglossa altamazonica (Cope),cuja distribuição no território nacional é restrita à Amazônia (Frost 2002). Noque se refere à Ordem Gymnophiona, o número de representantes no paístambém é baixo quando comparado ao número de anuros (Duellman 1999).Adicionalmente, o hábito fossorial das cecílias torna sua amostragem difícil. Amaior parte dos registros para este grupo é feita graças a encontros casuais,geralmente após fortes chuvas (Heyer et al. 1994). Dado que os trabalhos delevantamento biológico em Gurjaú foram executados em meses de poucapluviosidade, não é de se estranhar a ausência de representantes dessaOrdem nas amostragens.No tocante aos anuros registrados em Gurjaú, nota-se a granderepresentatividade das Famílias Hylidae e Leptodactylidae – as quaiscorresponderam, respectivamente, a 46% e 35% das espécies amostradas(Figura 4). Uma vez que essas constituem as famílias mais ricas em espéciesna região Neotropical (Duellman e Trueb 1994), não causa surpresa que omesmo padrão seja observado a nível local. No que se refere a questões taxonômicas, 21 anfíbios anuros de Gurjaúpuderam ser identificados ao nível de espécie. Todavia, somente através de

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uma ampla revisão das espécies brasileiras dos gêneros Adenomera,

Eleutherodactylus e Pseudopaludicola, incluindo exemplares provenientes deoutras regiões do país, será possível esclarecer a taxonomia dos exemplaresde Adenomera cf. marmorata, Eleutherodactylus sp. e Pseudopaludicola sp.

coletados na Reserva. Esses três gêneros de leptodactilídeos sãonotoriamente conhecidos por sua complexidade taxonômica e pelo número dequestões ainda pendentes no que se refere à sua sistemática. Hyla aff. nana

também merece especial atenção, podendo tratar-se de uma espécie aindanão descrita. De modo a confirmar a sua identificação, será necessário coletaruma série maior de exemplares em Gurjaú, comparando-a a espécimes de H.

nana obtidos em diversas áreas do país e fora dele. Atualmente, H. nana é tidacomo espécie amplamente distribuída na América do Sul, existindo registrosdo Nordeste do Brasil ao Paraguai, incluindo o norte da Argentina, leste daBolívia, Uruguai e Bacia do Prata (Frost 2002). É provável que uma revisãodesses exemplares revele que os mesmos representem um conjunto deespécies distintas, fazendo de H. nana um complexo de espécies.A anurofauna de Gurjaú contém elementos e representantes de diversosecossistemas brasileiros. Onze espécies encontradas em Gurjaú (ou seja, 42%do total) são endêmicas da Mata Atlântica. Trata-se de Adenomera cf.

marmorata, Bufo crucifer, Eleutherodactylus sp, Frostius pernambucensis, Hyla

atlantica, H. branneri, H. decipiens, H. semilineata, Phyllodytes luteolus,

Proceratophrys boiei e Scinax auratus. Cinco táxons ocorrem na MataAtlântica, Cerrado e Caatinga: Bufo jimi, Leptodactylus labyrinthicus, L.

natalensis, L. troglodytes e Physalaemus cuvieri. Cinco espécies sãoencontradas na Mata Atlântica, Amazônia/Guianas, Cerrado e Caatinga: Bufo

granulosus, Hyla raniceps, Leptodactylus ocellatus, Phyllomedusa

hypochondrialis e Scinax x-signatus. Três espécies ocorrem na Mata Atlânticae Amazônia - Hyla albomarginata, Scinax nebulosus e Rana palmipes(Duellman 1999). Nenhuma das espécies registradas até o momento encontra-se na Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas deExtinção, recentemente atualizada pelo Ministério do Meio Ambiente edisponível em seu website, http://www.meioambiente.gov.br /port/sbf/index.cfm.A ocorrência de Frostius pernambucensis na Reserva de Gurjaú merecedestaque. Trata-se de uma espécie endêmica da Mata Atlântica Nordestina,

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cuja distribuição conhecida limitava-se, até o momento, ao Horto Florestal DoisIrmãos (PE) e à Reserva de Murici (AL) (Bokermann 1962, Peixoto e Freire1998). O registro de F. pernambucensis em Gurjaú amplia sua área deocorrência dentro do Estado de Pernambuco, e faz da Reserva área prioritáriapara conservação da espécie.À excessão de Hyla aff. nana, todas as demais espécies de anurosencontradas em Gurjaú (Tabela 6) possuem registro de ocorrência emPernambuco. Compilações recentes indicam que 65 espécies de anfíbiosanuros encontram-se registradas para o Estado (dos Santos e Carnaval 2002,O. L. Peixoto, comunicação pessoal). A anurofauna representada na Reservade Gurjaú inclui 40% desse número. Táxons habitat-específicos, avistados emoutras áreas de mata do Estado, não foram, até o momento, registrados emGurjaú. É o caso, por exemplo, de Hylomantis granulosa (Cruz), espécieendêmica de Pernambuco e listada pelo Ministério do Meio Ambiente comocriticamente em perigo, e Scinax gr. catharinae, registrada em Jaqueira. Fatosemelhante ocorre com alguns táxons que utilizam bromeliáceas como abrigoou sítio de reprodução, tal como Gastrotheca fissipes (Boulenger), registradano Horto Dois Irmãos, Caetés e Jaqueira, e Scinax pachycrus (Miranda-Ribeiro), encontrada em Tapacurá, Jaqueira, Brejo dos Cavalos, e na ReservaBiológica de Serra Negra. Também não foram registradas em Gurjaú algumasespécies tolerantes a ambientes de borda de mata e áreas abertas,normalmente encontradas em diversas altitudes no Estado de Pernambuco. Éo caso, por exemplo, de Hyla crepitans Wied-Neuwied, H. elegans Wied-

Neuwied, H. minuta Peters e Scinax eurydice (Bokermann) (dos Santos eCarnaval 2002). A ausência de tais registros pode se dever ao fato da anurofauna de Gurjaúainda estar subestimada. Apesar da curva de acumulação de espécies teralcançado um platô, estabilizando-se ao fim dos trabalhos de campo (Figura4), é importante ter em mente que o período do ano em que o presentelevantamento foi efetuado não constitui o mais apropriado para amostragensde anfíbios. Anfíbios são facilmente observados durante sua época dereprodução, a qual, no Nordeste do Brasil, está intimamente relacionada aoperíodo de chuvas (Arzabe 1998). Uma vez que o presente levantamentoiniciou-se ao fim da estação chuvosa, tendo que ser concluído antes do início

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das fortes chuvas na região da Zona da Mata Sul de Pernambuco, é possívelque o número real de espécies de anfíbios existentes na Reserva de Gurjaúexceda os 26 táxons registrados até o momento. Futuros trabalhos de campona Reserva deverão contribuir com novos registros para a localidade. A ausência de determinadas espécies na Reserva pode estar tambémassociada às características topográficas locais. Por estar localizada em áreade mata de baixada e próxima ao mar, é natural que a anurofauna de Gurjaúapresente diferenças em relação às observadas nos brejos, florestas dealtitude, e/ou áreas de caatinga do Estado de Pernambuco.Observações sobre os ambientes ocupados pelas diferentes espécies deanfíbios em Gurjaú mostraram que as mesmas são capazes de partilhar ossítios de abrigo e reprodução existente na Reserva através da utilizaçãodiferenciada dos vários micro-habitats disponíveis (Tabelas 3 e 4). Oestabelecimento de mecanismos de partilha de recursos entre espécies deanfíbios – através de diferenças temporais e espaciais no que se refere aosseus sítios de reprodução e vocalização, por exemplo – é um temaamplamente reconhecido na literatura (Duellman e Trueb 1994, Heyer et al.1994). Todavia, uma vez que a maioria das espécies de Gurjaú depende decorpos d’água para se reproduzir, é importante ressaltar que a manutenção depoças permanentes, poças temporárias, alagados e riachos na mata é crucial àpermanência das populações locais. Quatro espécies registradas na Reserva são reconhecidamente restritas aambientes florestados. Trata-se de Adenomera cf. marmorata,

Eleutherodactylus sp., Frostius pernambucensis e Proceratophrys boiei.Adenomera marmorata e espécies do gênero Eleutherodactylus depositamseus ovos no chão úmido da mata ao invés de utilizarem o meio aquático comosítio de desova – e conseqüentemente dependem da existência de florestasúmidas (Lutz 1949, Heyer 1973). De modo a garantir a manutenção dessaspopulações em Gurjaú, é imprescindível proteger os remanescentes de MataAtlântica incluída na área da Reserva, se possível reflorestando as áreasantropicamente impactadas que hoje existem na propriedade e conectando osfragmentos de mata ainda existentes. A baixa taxa de captura de indivíduos deP. boiei em armadilhas (Tabela 10) pode ser interpretada como um alerta parao perigo de extinção de algumas populações locais. Ademais, as observaçõesde campo sugerem que apenas uma pequena parte do conjunto das espécies

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locais é capaz de ocupar as áreas da Reserva mais intensamente alteradaspelo Homem, tais como zonas de cultivo, lavoura, e habitações.Duas espécies registradas em Gurjaú são reconhecidamente associadas àbromélias, utilizando-as como sítio de abrigo e/ou reprodução. Trata-se dePhyllodytes luteolus e Frostius pernambucensis (Peixoto 1995, Peixoto e Freire1998). Uma vez que bromeliáceas consistem em grande foco de atenção porsua exploração comercial e uso ornamental, é importante que se estabeleçaum mecanismo de fiscalização sobre a retirada dessas plantas na área daReserva. No que se refere às freqüências de encontro de anuros em Gurjaú (Figura 9), ofato de algumas espécies terem sido registradas uma única vez não deve servisto como alarmante. Em verdade, é extremamente difícil avaliar o tamanhode uma população de anfíbios sem se amostrar uma imensa quantidade dedias. Como exemplo, podemos citar o caso das espécies com reproduçãoexplosiva, cujos machos e fêmeas vêm à água para se reproduzir durantepoucas noites ao ano, escondendo-se sob folhas, em troncos de árvores, oupermanecendo enterrados pelo restante do tempo (Duellman e Trueb 1994).Todavia, foi surpreendente, em Gurjaú, a baixa taxa de encontros deespécimens de Hyla raniceps, espécie geralmente abundante em ambientesde borda de mata e áreas abertas no Nordeste do Brasil (dos Santos eCarnaval 2002, Frost 2002).Resultados obtidos com armadilhas do tipo pitfall (Tabela 10) foramconsistentes com as informações geradas por busca ativa. Representantes dasfamílias Bufonidae, Hylidae, Leptodactylidae e Ranidae foram registradosatravés da técnica. É interessante observar que uma espécie da famíliaHylidae (a saber, Hyla semilineata) tenha sido amostrada nos pitfalls.Representantes dessa família possuem discos adesivos nas pontas dos dedosdos pés e das mãos, permitindo-lhes escalar os tubos de PVC que compõemas armadilhas, e assim escapar com relativa facilidade. Os repetidos encontrosde indivíduos de H. semilineata no interior dos tubos de PVC dos pitfallssugerem que a espécie esteja utilizando-os como local de abrigo.

CONCLUSÕES

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Dado o presente estado de conservação da Floresta Atlântica Nordestina, éessencial o estabelecimento de reservas e áreas de proteção ambiental queefetivamente protejam e restaurem o ambiente natural outrora presente nestaregião. Neste contexto, a Reserva de Gurjaú tem condições de exercer umimportante papel na conservação dos recursos florestais brasileiros. Comvistas à manutenção das populações naturais ainda existentes na Reserva, éimprescindível que se restaurem os ambientes florestados aí existentes.Futuramente, é desejável que se promovam corredores de mata paracomunicação entre a Reserva e outros remanescentes da Zona da Mata Sul dePernambuco. Vinte e seis espécies de anfíbios anuros foram registradas naárea da Reserva, das quais onze são endêmicas da Mata Atlântica. Aocorrência de Frostius pernambucensis faz de Gurjáu a terceira área para aqual essa espécie, endêmica da Mata Atlântica Nordestina, é conhecida. Noque se refere especificamente à comunidade de anfíbios de Gurjaú, éimportante não somente preservar e conectar os remanescentes de mataainda existentes na área da Reserva, mas também garantir a manutenção dediferentes sistemas de água doce como forma de se maximizar a gama desítios reprodutivos disponíveis às espécies. Adicionalmente, a fiscalizaçãosobre retirada de bromélias é crucial para manutenção de algumas populaçõeslocais.

AGRADECIMENTOSDr. Sergio P. C. Silva, Dr. Oswaldo L. Peixoto, Dr. Ulisses Caramaschi, Dr.José Pombal Jr. e Ednilza M. Santos permitiram o acesso às coleçõesherpetológicas ZUFRJ, EI-UFRRJ, MNRJ, e Coleção Herpetológica-UFPE parafins de comparação de material, auxiliando na identificação de algunsexemplares. Joca e Bibiu auxiliaram nos trabalhos de campo.

ANEXO I

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Resultado dos levantamentos da anurofauna de Gurjaú obtidos via busca ativaData 10 Ago. 11 Ago. 30 Ago.31 Ago. 07 Set 08 Set 14 Set 15 Set 17 Out. 17 Out. 18 Out. 18 Out. 19 Out. 19Out. 19 Out. 19 Out. 20 Out. 20 Out.Trilha * A B C D E F G H A C H I K J J A G CHorário N N N N N N N N N N D N D N N N D NHomens.hora 6 4 4 4 4 4 4 4 9,5 0,5 2 6 0,5 1,5 6 3,5 4,5 6Adenomera cf. marmorata 1Bufo crucifer 1 2Bufo granulosus 2Bufo jimi 1 2Eleutherodactylus sp. 1 2 2 2 5 1 2Frostius pernambucensisHyla atlantica 1 2 1Hyla albomarginata 2 1 2 1 2Hyla branneri 1 4 3 4Hyla decipiensHyla ranicepsHyla aff. nanaHyla semilineata 4 10 20 13 4 3 2 2 12 3 4 2 1Leptodactylus labyrinthicus 1 3 2 1Leptodactylus natalensis 3 3Leptodactylus ocellatus 1 1Phyllodytes luteolusPhyllomedusa hypochondrialis 1Physalaemus cuvieri 1 2 1Pseudopaludicola sp. 5 7Rana palmipes 7 28 1 3 3 3 6 1 4 1 1 3Scinax auratus 2 1 1Scinax nebulosus 4 3 1 1Scinax x-signatus 1

Data 21 Out. 21 Out. 2 Nov. 3 Nov. 25 Nov. 6 Dez. 7 Dez. 21 Dez.22 Dez. 16 Jan. 16 Jan. 17 Jan. 18 Jan. 18 Jan. 18. Jan.18 Jan. 18 Jan. 19 Jan.Trilha * G G A, B, I C G H J C, D, E C C A H, B,A J J A C H,B,A CHorário N N N N N N N N D N N N n N N N D DHomens.hora 2 4 6.5 6 6 5.5 8 8.5 4 4 1.5 4 1 7 1 3 4.5 2Adenomera cf. marmorata 2 1 1Bufo crucifer 1Bufo granulosus 1 1Bufo jimi 1 1 1 30 2 11 1Eleutherodactylus sp. 4 2 2 1 2 1 1 1Frostius pernambucensisHyla atlantica 2 2Hyla albomarginata 1 1 1Hyla branneri 1 1 4 1Hyla decipiens 1Hyla raniceps 1Hyla aff. nana 4 3Hyla semilineata 6 2 8 4 2 2 7 8 6 girinos 1 girinosLeptodactylus labyrinthicus 1 2 1 1 1Leptodactylus natalensis 2Leptodactylus ocellatus 1Phyllodytes luteolus 1Phyllomedusa hypochondrialis 1 1Physalaemus cuvieri 1Pseudopaludicola sp. 20 7Rana palmipes 5 1 1 1 3 1 girinos 4 1 1 2 girinosScinax auratus 1Scinax nebulosus 2 1Scinax x-signatus 1 2 1

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4.2.2 Levantamento de Répteis

IntroduçãoDentre as 50.300 espécies de vertebrados, existem no mundo 7866 espéciesde répteis assim distribuídas: 4470 lacertílios (57%), 2920 serpentes (37%),292 quelônios (4%), 156 anfisbenídeos (2%), 23 crocodilianos (0,3%) e 2tuataras (0,025%) (Uetz 2000). De todos os representantes vertebrados da fauna brasileira, o répteis são osmenos estudados, principalmente no litoral da região Nordeste (Morais eMorais 1987; Borges 1991). Os poucos trabalhos existentes consideram,basicamente, descrições de espécies e algumas poucas informações de suabiologia, havendo por isso muita carência de dados para realização de estudosmais aprofundados.Em Pernambuco, o conhecimento desse grupo animal está restrito a poucasinformações sobre algumas espécies de diferentes regiões do estado,principalmente, da caatinga (Ramos 1941; Cordeiro e Hoge 1973; Vanzolini et

al. 1980; Morais e Morais 1987; Silva 2001). Nas décadas passadas, muitostrabalhos demográficos foram realizados com répteis, embora quase que suatotalidade realizada na América do Norte e África (Pianka 1967; Pianka 1973;Huey e Pianka 1977).

No Brasil, são poucos os estudos que enfocam os répteis em áreas de grandeempreendimento e que supostamente sofrem forte influência da ação

Data 19 Jan. 19 Jan. 20 Jan. 20 Jan.21 Jan. 2 Fev. 9 Fev. 9 Fev. 16 Fev. 23 Fev. 8 Mar. 23 Mar. 30 Mar. 30 Mar. 13 Abr. 20 Abr. 26 Abr. 27 Abr.Trilha * I A G G F A G G A,B C,D J A G G J B, I D,E CHorário N N N N DHomens.hora 1 3 2 4 3 4 2 2 9 9 10.5 4 2 3 6 6 6 4Adenomera cf. marmorata 1 1Bufo crucifer 1 1Bufo granulosus 1Bufo jimi 1 1 1 2 1 1 1Eleutherodactylus sp. 1 2 1 1 1Frostius pernambucensis 1Hyla atlantica 1 1 3 1Hyla albomarginata 1Hyla branneri 3 1Hyla decipiens 1Hyla raniceps 1Hyla aff. nanaHyla semilineata 1 1 girinos 1 3 8 2 1 5 4 2 5 6Leptodactylus labyrinthicus 1 3 2 2 1 1 1Leptodactylus natalensis 2Leptodactylus ocellatus 1Phyllodytes luteolusPhyllomedusa hypochondrialis 1Physalaemus cuvieriPseudopaludicola sp.Rana palmipes 1 1 14 5 2 5 1 3 7 1 6 10 1 4Scinax auratus 2 1Scinax nebulosus 2Scinax x-signatus 2 2

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antrópica. Apenas recentemente tenta-se fazer tais estudos, entretanto, quasetodos realizados nas regiões central e sudeste (Pinto 1999; Sluys 2000). A tentativa de monitorar populações oferece a oportunidade de estimar seustamanhos e a distribuição de seus representantes no ambiente. Com essasinformações pode-se, com maior precisão, fazer afirmações quanto ao seunível atual de conservação. O presente estudo tem como objetivo disponibilizar uma listagem das espéciesde répteis encontradas na Reserva Ecológica de Gurjaú, determinar os níveisde conservação e oferecer informações que subsidiem um plano de manejosustentável considerando as atividades realizadas na estação de tratamentode água e as populações humanas residentes na área.

METODOLOGIAÁrea de EstudoA área de estudo está contida na Reserva Ecológica de Gurjaú, município do Cabo de

Santo Agostinho (34o 56’ 30’’ W; 8o 21’ 30’’ S). A temperatura e a pluviosidade para o

município apresentam valores anuais médios, respectivamente, de 25o C e 180 mm,

enquanto a altitude varia de 30 a 50 m. A reserva possui 600 ha, divididos em 15 matas,

além de três rios e três represas utilizadas no abastecimento de grande parte do Recife.

Foram escolhidos os maiores fragmentos de Mata para o estudo: Mata Secupema e Mata

Cuxio, cujas dimensões são, aproximada e respectivamente, 1,0 km x 0,8 km e 0,8 km x

0,6 km.

COLETA DE DADOS

As atividades de campo foram realizadas no período de agosto de 2002 a maio de 2003.

A metodologia utilizada para avaliar a biodiversidade de répteis consistiu no uso de três

técnicas: procura ativa, uso de armadilhas de interceptação e queda (pit-fall) segundo a

técnica de Gibbons e Semlitsch (1981) e captura por terceiros.

A técnica de procura ativa consistiu na realização de caminhadas lentas, em diferentes

horários, desde o amanhecer até à noite, em abrigos que os lagartos e serpentes

poderiam usar como refúgio. A procura de quelônios foi realizada, durante o período

diurno, em trilhas e poças temporárias. A procura de crocodilianos foi realizada com

embarcação, à noite, com a utilização de lanternas e laços de captura apropriados.

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Foram instaladas 40 armadilhas de interceptação e queda, formadas por quatro

recipientes (canos de PVC) com 0,4 m de profundidade por 0,25 m de largura,

enterrados até a borda do solo e interligados por cercas-guia (drift-fences) de lona

plástica de 5 m de comprimento por 0,4 m de altura, formando um “Y” (Figuras 10 e

11).

Figura 10: Esquema gráfico da armadilha de interceptação e queda. As letras A, B, C e M representam osrecipientes enterrados até a margem superior do solo.

B

A

C

M

Lona plástica com5 m de comprimento

0,4 m

0,25 m m

0,4 m

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Figura 11 - Armadilha de interceptação e queda utilizada no levantamento dos répteis da ReservaEcológica de Gurjaú, no período de agosto de 2002 a maio de 2003. (Foto: Maria Eduarda Larrázabal,2002).

As armadilhas foram instaladas a cada 25 m, ao longo de um transecto de 775m na Mata

Secupema (30 armadilhas) e em um transecto de 250 m na Mata Cuxio (10 armadilhas)

(Figura 11).

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Figura 12 - Área de instalação das armadilhas de queda para levantamento dos répteis daReserva Ecológica de Gurjaú. (Fonte: FIDEM, 1987).

Embora a captura por terceiros não tenha sido incentivada, alguns exemplaresmortos foram obtidos por doação da comunidade local. Esse material foipreservado em formol 10% até o momento da identificação e tombado naColeção Didática de Répteis da Universidade Federal de Pernambuco.

A maioria dos répteis foi capturada, identificada e devolvida ao mesmo local dacaptura. Alguns animais foram levados ao Laboratório de Animais

Peçonhentos e Toxinas da UFPE para identificação ao nível de espécie, sendoposteriormente soltos no mesmo ponto de captura. Alguns lagartos foramfotografados e as fotos enviadas para o Dr. Miguel Trefault Rodrigues, Diretordo Museu de Zoologia da USP, que gentilmente procedeu à identificação.

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ESFORÇO DE CAPTURA

A equipe empreendeu, aproximadamente, 175 horas para instalação dasarmadilhas e 240 horas para coleta dos animais. A instalação das armadilhasfoi realizada utilizando períodos contínuos de quatro dias ao mês, com exceçãodo mês de agosto de 2002 quando foram utilizados oito dias. A verificação dasarmadilhas e a procura ativa dos répteis foram realizadas a cada três dias noperíodo de setembro de 2002 a maio de 2003.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram capturados e avistados um total de 246 espécimes de répteis (220capturas e 26 avistamentos), sendo a maioria da subordem Sauria (181 spp.,175 capturas e 6 avistamentos), seguido de Serpentes (42 spp., 40 capturas e2 avistamentos), Crocodylia (14 spp., 5 capturas e 9 avistamentos) e Quelonia(10 spp., 2 capturas e 8 avistamentos) (Figura 13).

Serpentes17,0%

Quelônios4,0%

Crocodilianos5,7%

Lagartos73,3%

Figura 13 - Distribuição proporcional entre número de capturas e avistamentos de répteis na Reserva deGurjaú, de Agosto de 2002 a Maio de 2003.

O número de capturas e avistamentos de serpentes e lagartos variaramsignificativamente nos meses estudados. As serpentes foram maisabundantes nos períodos de agosto a outubro de 2002 e abril a maio de

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2003, enquanto os lagartos foram mais abundantes exatamente no períodocomplementar a estes meses: novembro de 2002 a abril de 2003. Osquelônios foram avistados durante todo período de estudo e oscrocodilianos a partir de outubro de 2003 (Figura14).

Figura 14 - Distribuição mensal de capturas e/ou avistamentos dos grupos de répteis naReserva de Gurjaú, de Agosto de 2002 a Maio de 2003. As barras representam o número deanimais coletados e avistados.

Dentre os répteis capturados e avistados, os lacertílios foram os maisabundantes. A espécies Kentropyx calcarata (Figura 15) foi capturada 60vezes nas armadilhas de interceptação e queda durante o período de estudo,seguida de Anotosaura sp n. (39) e Mabuya heathi (22), porém a maioria dosanimais apresentou um número reduzido de capturas e avistamentos (Figura16).

0

5

10

15

20

25

30

35

40

ago/0

2

set/0

2

out/0

2

nov/0

2

dez/0

2

jan/0

3

fev/

03

mar

/03

abr/0

3

mai

/03

Lagartos Serpentes Crocodilianos Quelônios

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Figura 15 - Kentropyx calcarata (calango) capturado na Mata do Secupema, na Reserva deGurjaú (Fotografia Maria Eduarda Larrázabal, 2002).

0

10

20

30

40

50

60

K. calc

arata

Anatosa

ura sp

M. nigro

puncta

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C. latiro

sstis

E. cate

natu

s

S. torq

uatus

A. punc

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Typho

ps sp.

T. tegu

ixim

A. ameiv

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G. darw

iini

E. cen

chria

I. cen

choa

O. trige

minus

A. punctatus

P.geoffranus

Typhops sp.

LagartosQuelôniosSerpentes

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Figura 16 - Número de capturas e avistamentos das espécies de répteis mais abundantes daReserva de Gurjaú, durante o período de agosto de 2002 a maio de 2003.

Dentre todas as serpentes capturadas, a serpente fossorial Typhops sp1. foi encontrada

em maior número (Figura 17). Com certeza esse resultado não reflete a abundância

relativa dessa espécie, provavelmente, deve-se ao tipo de armadilha utilizada, que

privilegia a captura de animais terrícolas e fossoriais. O encontro dessa serpente foi

fortemente relacionado com o aumento da pluviosidade. Esse comportamento também

foi encontrado na distribuição relativa de serpentes da Amazônia.

Figura 17 - Typhops sp1 capturada na Mata do Sucupema, na Reserva de Gurjaú (FotografiaMaria Eduarda Larrázabal, 2002).

A única espécie de quelônio identificada na Reserva de Gurjaú, Phrynops geoffroanus,

pertence à família Chelidae (Figura 18, Tabela 11). Essa espécie já havia sido descrita

para o estado de Pernambuco, sendo também encontrada na caatinga (Vanzolini et al

1980; Rodrigues 2000).

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Figura 18 - Vista dorsal (A) e ventral (B) de Phrynops geoffroanus (cágado de barbicha)capturado na Mata do Secupema, na Reserva de Gurjaú. (Foto: Cláudio Cazal, 2003).

Figura 19 - Representatividade das famílias de Lagartos na Reserva de Gurjaú, durante operíodo de agosto de 2002 a maio de 2003.

Os lagartos foram distribuídos em 15 espécies e sete famílias, que não variaram

significativamente em representatividade: Polychrotidae (03 sp.), Gekkonidae (03 sp),

Teiidae (03 sp), Tropiduridae (2 sp.), Scincidae (02 sp) e Gymnophaltidae (01 sp)

(Figura 19, Tabela I.). Esse resultado apresenta certa discrepância com o padrão

esperado (em que as famílias Teiidae, Iguanidae e Gekkonidae, seriam as mais

abundantes em termos de espécies capturadas).

As serpentes representaram o maior número de espécies encontradas (25 espécies),

distribuídas em apenas quatro famílias, apresentando significativa representatividade na

família Colubridae (18 sp), e menor número de espécies nas famílias Boidae (03 sp),

A B

Polychrotidae14%

Gekkonidae22%

Scincidae14%

Tropiduridae14%

Gymnophtalmidae7%Iguanidae

7%

Teiidae22%

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Viperidae (02 sp) e Typhlopidae (02 sp) (Figura 20, Tabela 11). Esse resultado está

compatível com o esperado, uma vez que a família Colubridae compreende 63% das

espécies de serpentes conhecidas (Uetz 2000).

Figura 20 - Representatividade das famílias de Serpentes na Reserva de Gurjaú, durante

o período de agosto de 2002 a maio de 2003.

Apenas uma espécie de crocodiliano, pertencente à família Alligatoridae foi registrada

na Reserva de Gurjaú (Figura 21, Tabela 11).

Figura 21. Caiman latirostris (jacaré-do-papo-amarelo) capturado na Barragem, na Reserva deGurjaú. (Fotografia Cláudio Cazal, 2002).

Boidae12%

Typhlopidae8%

Viperidae8%

Colubridae72%

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Tabela 11 - Lista de espécies identificadas na Reserva de Gurjaú

Classificação Nomenclatura científica – Espécie Nome popularORDEM TESTUDINATASUBORDEM PLEUDIRAFAMÍLIA CHELIDAE 1 Phrynops geoffroanus Schweigger,

1812Cágado de barbicha

ORDEM SQUAMATASUBORDEM SAURIAFAMÍLIA IGUANIDAE 2 Iguana iguana Linnaeus, 1748 Camaleão

FAMÍLIATROPIDURIDAE

3 Strobilurus torquatus Wiegmann,1834

Lagartixa

4 Tropidurus hispidus Spix 1825 LagartixaFAMÍLIAPOLYCHROTIDAE 5 Anolis punctatus Daudin, 1802 Papa-vento

6 Enyalius catenatus Wied 1821 Papa-vento7 Polychrus acutirostris Spix, 1825 Camaleão

FAMÍLIA GEKKONIDAE 8 Coleodactylus meridionalisBoulenger 1888

9 Gymnodactylus darwinii Gray 184510 Hemidactylus mabouia Moreau de

Jones 1818Víbora

FAMÍLIA TEIIDAE 11 Ameiva ameiva Linnaeus, 1758 Calango12 Kentropyx calcarata Spix, 1825 Calango13 Tupinambis teguixim Linnaeus, 1758 Teju

FAMÍLIAGYMNOPHTALMIDAE Anotosaura spn.

FAMÍLIA SCINCIDAE 15 Mabuya macrorhyncha Hoge, 194616 Mabuya heathi Spix, 1825

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Tabela 11 - Continuação da lista de espécies identificadas na Reserva de Gurjaú.

Classificação Nomenclatura científica - Espécie Nome popular

SUBORDEMSERPENTES

FAMÍLIATYPHLOPIDAE

1718

Typhlops sp1Typhlops sp2

Cobra –cegaCobra –cega

FAMÍLIA BOIDAE 19 Boa constrictor Linnaeus, 1758 Jibóia20 Corallus hortulanus Linnaeus, 175821 Epicrates cenchria Linnaeus, 1758 Cobra siri-de-fogo

FAMÍLIACOLUBRIDAE 22 Apostolepis sp.Cope 1862

23 Atractus potschi Fernandes 199524 Clelia clelia Daudin, 1803 Mussurana25 Clelia plumbea Wield, 182026 Dendrophidion dendrophis Schlegel,

183727 Drymarchon corais Boie 182728 Helicops leopardinus Schlegel, 1837 Cobra-d’água29 Imantodes cenchoa Linnaeus, 175830 Leptodeira annulata Linnaeus, 1758 Dormideira31 Liophis cobellus Linnaeus 1758 Jararaquinha32 Oxybelys aeneus Wagler, 1824 Cobra-cipó33 Oxyrhopus trigeminus Duméril, Bibron

e Duméril, 1854Falsa-coral

34 Oxyrhopus petola Linnaeus, 1758 Falsa-coral35 Philodryas olfersii Lichternstein, 1823 Cobra-verde36 Pseudoboa nigra Duméril, Bibron e

Duméril, 1854Mussurana

37 Siphlophis compressus Daudin 180338 Spilotes pullatus Linnaeus, 1748 Caninana39 Linnaeus, 1748

FAMÍLIA VIPERIDAE 40 Bothrops sp. Jararaca41 Crotalus durissus cascavella Wagler,

1824Cascavel

ORDEMCROCODYLIA

FAMÍLIAALLIGATORIDAE

42 Caiman latirostris Daudin 1802 Jacaré-do-papo-amarelo

Vinte espécies de serpentes foram identificadas através da captura dosanimais e duas através de avistamento (Spilottes pulatus e Drymarchon

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corais). A última foi avistada junto da lona de uma das armadilhas na MatadeSecupema o que permitiu a estimativa de seu comprimento (2,6m),apresentando cor negra uniforme e comportamento agressivo característicodessa espécie, ao avistar a equipe (levantou a região anterior do corpo,inflando a região gular avermelhada) (Coborn 1991; Wolfgang Wüster,comunicação pessoal). A maioria das espécies de serpentes encontradas na reserva de Gurjaú foi encontrada em

ambientes alterados como Liophis cobella (Martins 1994) ou tolerantes a ambientes

abertos (campos ou caatinga) e fechados (matas) tais como Boa constrictor, Clélia

clelia, Corallus hortulanus, Crotalus durisus cascavella, Epicrates cenchria,

Dendrophidion dendrophis, Helicops leopardinus, Leptodeira annulata, Oxybelis

aeneus,Oxyrhopus trigeminus, Philodryas olfersii, Psedoboa nigra, Spilotes pullatus e

Crotalus durissus cascavella (Vanzolini 1948; Cordeiro e Hoge 1973; Rodrigues 1986;

Nascimento et al 1987; Cunha e Nascimento 1993; Martins 1994; Rodrigues 2000;

Marques 2001; Silva 2001; Pinho 2002). O que sugere que as Matas estudadas na

Reserva de Gurjaú, escolhidas por estarem em melhor estado de conservação,

apresentam áreas abertas, que possibilitam a presença de animais não exclusivos às

regiões de Mata Atlântica.

Da mesma forma, algumas espécies de lagartos estão relacionadas a áreas mais

ensolaradas, sendo facilmente encontradas tanto em borda quanto no interior das matas,

estando associadas a grandes clareiras no interior destas (Pough et al 1998; Zug et al

2001). Na reserva de Gurjaú foram relatados Ameiva ameiva, Kentropyx calcarata,

Tropidurus hispidus, Tupinambis teguixin e Mabuya heathi, espécies que apresentam

pouca exigência quanto ao nível de preservação de áreas florestais. A espécie

Strobilurus torquatus destaca-se por ser um lagarto heliófilo relativamente raro,

encontrado no solo somente em áreas degradadas, pois originalmente preferem copas de

grandes árvores (Rodrigues et al. 1989). Por outro lado, Gymnodactylus darwinii e

Anotosaura sp. n. são espécies fortemente associadas a áreas sombreadas e folhiço de

mata representadas em fragmentos bem preservados. Espécies como Anolis puncatatus,

Enyalius catenatus e Polychrus acutirostris apresentaram baixo nível de captura,

provavelmente devido à natureza arborícola dessas espécies (Zamprogno et al 2001).

Com relação à distribuição geográfica, apenas duas espécies de serpentes são exclusivas

de Mata Atlântica (Clelia plumbea e Siphophis compressus) (Nascimento et al 1987;

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Marques 2001), cinco espécies são encontradas na Mata Atlântica e na Amazônia

(Atractus potschi, Dendrophidion dendrophis, Imantodes cenchoa, Liophis cobellus e

Oxyrhopus petolaI) (Cordeiro e Hoge 1973; Vanzolini 1986; Nascimento et al 1987;

Nascimento e Lima Verde 1989; Cunha e Nascimento 1993; Martins 1994; Marques

2001), quatro espécies são encontradas na caatinga e Mata Atlântica (Corallus

hortulanus, Helicops leopardinus, Pseudoboa nigra e Crotalus durissus cascavella)

(Cordeiro e Hoge 1973; Rodrigues 2000; Silva 2001; Pinho 2002) e oito espécies são

encontradas na caatinga, Amazônia e Mata Atlântica (Boa constrictor, Epicrates

cenchria, Clelia clelia, Leptodeira annulata, Oxybelys aeneus, Oxyrhopus trigeminus,

Philodryas olfersii e Spilotes pullatus) (Vanzolini 1948; Cordeiro e Hoge 1973;

Vanzolini 1986; Nascimento et al 1987; Nascimento e Lima Verde 1989; Cunha e

Nascimento 1993; Martins 1994; Rodrigues 2000; Silva 2001; Marques 2001).

Embora não tenham sido registrados endemismos dentre as 25 espécies de serpentes

amostradas em Gurjaú, sete representam novas descrições para o estado de Pernambuco

(Corallus hortulannus, Atractus potschi, Clelia plumbea, Dendrophidion dendrophis,

Drymarchon corais, Imantodes cenchoa e Oxyrhopus petola).

Portanto, dentre as 57 espécies de serpentes registradas para o Estado de Pernambuco,

incluindo-se as sete espécies identificadas nesse estudo, a fauna herpetológica da

Reserva de Gurjaú inclui 43,86% do total de espécies do estado de Pernambuco

(Cordeiro e Hoge, 1973; Silva 2001; Pinto 2002).

Dentre as 15 espécies de lagartos capturadas em Gurjaú, quatro espécies (Enyalius

catenatus, Gymnodactylus darwinii, Strobilurus torquatus e Anotosaura sp.n.) são

endêmicas de Mata Atlântica, apresentando raríssimos relatos em outros ambientes.

Anotosaura sp. n. é uma espécie ainda não descrita, capturada apenas na Paraíba,

portanto, constitui o primeiro relato para Pernambuco (Rodrigues 1990).

As demais espécies são também encontradas em outros biomas: cinco espécies são

encontradas na caatinga, cerrado, Amazônia e Mata Atlântica (Ameiva ameiva,

Hemidactylus mabouia, Mabuya heathi, Mabuya macrorhyncha, Tropidurus hispidus)

(Vanzolini 1972, 1974, 1976, Vanzolini et al 1980, Rodrigues 1987, 1990 e 2000), duas

espécies em caatinga, Amazônia e Mata Atlântica (Iguana iguana, Tupinambis teguixin)

(Cunha 1961; Vanzolini 1972, 1974, 1976; Vanzolini et al 1980; Cunha 1981;

Rodrigues 1987, 1990; Silva Jr e Site Jr 1995; Rodrigues 2000), uma espécie em

caatinga, cerrado e Mata Atlântica (Polychrus acutirostris) (Vanzolini 1972, 1974,

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1976, Vanzolini et al 1980, Rodrigues 1987, 1990; Vitt 1991, Araujo e Colli 1998;

Rodrigues 2000) e uma espécie em caatinga e Mata Atlântica (Coleodactylus

meridionalis) (Vanzolini 1972, 1974, 1976; Vanzolini et al 1980; Rodrigues 1987, 1990

e 2000).

Embora tenhamos que considerar o vício de amostragem devido ao uso de armadilhas

de interceptação e queda, a grande maioria das serpentes identificadas foi terrícola e

fossorial (22 espécies terrícolas e fossoriais e três arborícolas e subarborícolas), o que

indica que um percentual alto da ofiofauna tem condições mínimas de nicho estrutural

para resistir a perturbações na floresta (Vanzolini 1986). As armadilhas utilizadas

oferecem grande sucesso de captura para quase todos os tipos de lagartos encontrados na

reserva, com exceção dos grandes lagartos (Tupinambis teguixin) e aqueles com hábitos

extremamente arborícolas (Iguana iguana, Anoles puincatatus e Polychrus acutirostris)

ou fortemente associados a outros habitats/microhabitats.

A curva de espécies, representando o total acumulado de táxons durante o período de

estudo, sugere que não tenha sido alcançado o plateau de saturação de espécies para

serpentes. Por outro lado, os demais grupos foram eficientemente amostrados (Figura

22).

0

5

10

15

20

25

AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI

Serpentes LagartosQuelônios Crocodilianos

Figura 22 - Curva de acumulação de espécies de serpentes e lagartos na Reserva de Gurjaú,com base em resultados de busca ativa, captura em armadilhas de interceptação e queda ecaptura por terceiros, entre os meses de agosto de 2002 e maio de 2003.

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CONCLUSÕES

Os resultados obtidos sugerem que os fragmentos avaliados na Reserva deGurjaú apresentam relevante diversidade de répteis principalmente deserpentes e lagartos, que apresentam oito novos registros para o estado dePernambuco, quatro espécies endêmicas e uma rara. Por outro lado, osmesmos fragmentos estão submetidos a forte impacto pela ação antrópica.Esta pode ser comprovada pela presença de várias espécies adaptáveis aambientes degradados, pelo pequeno número de animais registrados de cadaespécie, bem como pela constante destruição de armadilhas durante o estudoe pela presença de trilhas, armadilhas de caçadores e cães domésticos nointerior das matas examinadas. Cabe ressaltar que se faz necessário um trabalho intenso de educaçãoambiental, uma vez que as serpentes são consideradas animais perigosos epor isso são sacrificadas indiscriminadamente pela população humana local,apesar de apenas duas espécies dentre as 22 registradas oferecerem risco.Além dessa atividade predatória, os lagartos Iguana iguana e Tupinambis

teguixin, o quelônio Phrynops geoffroanus e o crocodiliano Caiman latirostris

são espécies de potencial sinergético, sendo consumidas de forma nãosustentável pela população humana local. Diante do exposto, sugere-se que há forte necessidade de execução demedidas mitigadoras dos impactos ambientais para manutenção e recuperaçãoda importante fauna herpetológica evidenciada na Reserva. Deve-se lembrar que quanto maior a área protegida, tanto maior será adiversidade e a resistência dos animais ao desgaste causado pela proximidadee inserção das populações humanas (Vanzolini 1986). Com certeza, medidasque visem reconstituir os fragmentos originais trarão grandes benefícios parafauna de répteis, tão significante e ainda tão pouco conhecida, da ReservaEcológica de Gurjaú.

4.2.3 Levantamento de Aves

Introdução

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A Mata Atlântica é considerada o bioma de maior diversidade biológica doplaneta, no entanto, é pouco conservada. Segundo Almeida (2000), baseadonos níveis atuais de degradação, esta floresta encontra-se com abiodiversidade comprometida, onde muitas espécies já foram extintas, semmesmo serem descritas. A Floresta Atlântica colabora de forma expressivapara que o Brasil seja considerado o país da megabiodiversidade, possuindoum alto nível de endemismo em todos os grupos taxonômicos, incluindo aves,primatas, borboletas e plantas (Aleixo 1997, Silva e Tabarelli 2000). Éconsiderada, pela UNESCO, Reserva da Biosfera, sendo uma das três maioresprioridades de conservação do mundo (Consórcio Mata Atlântica UNICAMP,1992; Meyrs et al. 2000)

Dos 36,8% de área original da Floresta Atlântica Nordestina, restam apenascerca de 3% (Willis e Oniki 1992). Para o estado de Pernambuco esta áreaapresentava 34,14% do original, restando atualmente 4,6% (Gonzaga deCampos 1912, SNE 1994). Segundo Sick (1997), o Brasil possui 1677 espécies de aves, entre residentese visitantes, das quais 212 são endêmicas e de distribuição restrita nos limitesda Mata Atlântica. As observações realizadas sobre aves em Pernambucoocorreram principalmente na mata Atlântica (Forbes 1881, Pinto 1940, Berla1946, Coelho 1979, Azevedo Júnior 1990 e Azevedo Júnior et al. 1998, TelinoJúnior et al. 2000). Segundo Roda (2002), foram registradas 498 espécies de aves paraPernambuco, das quais 46 estão listadas como ameaçadas (IBAMA 2003).A avifauna pode funcionar como bioindicadora das condições ambientaisconstituindo um dos grupos que melhor responde a impactos causados aomeio ambiente, uma vez que desaparecem rapidamente quando este éalterado, atingindo níveis insuportáveis (Regalado e Silva 1997).O levantamento avifaunístico contribui não só para a caracterização de umambiente, como também para um melhor conhecimento da distribuiçãogeográfica das espécies, além de funcionar como subsídios para trabalhos demonitoramento e manejo (Almeida 2000, Regalado et al. 2000). Dessa forma,fornece dados relevantes para a conservação da diversidade biológica,extremamente ameaçada no Brasil.

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A conservação consiste em uma premissa básica para a manutenção dabiodiversidade. Dentre os diversos fatores que acarretam na perda dadiversidade biológica, destaca-se a redução das áreas naturais e a caça decomercialização, sobretudo nas proximidades dos centros urbanos (AzevedoJúnior et al. 1998).Desta forma, pretende-se com este estudo conhecer a composiçãoavifaunística da Reserva Ecológica de Gurjaú, bem como fornecer subsídiospara projetos conservacionistas, principalmente no que tange ao manejosustentado da Unidade.

MATERIAL E MÉTODOSÁrea de Estudo

Inserida em uma única propriedade, pertencente à Companhia Pernambucanade Abastecimento de Água (COMPESA), onde existe uma Estação deTratamento de Água (ETA), a Reserva de Gurjaú possui uma área de 1.077,10ha definida pela Lei Estadual Nº 9.989 de 1987. Apresenta-se como uma áreatípica de uma mata, ainda bem conservada, com vegetação de grande porteassociada à vegetação de médio e pequeno porte. O local encontra-sebastante ameaçado, não só em decorrência da exploração canavieira, comodo uso indiscriminado pelos posseiros para pecuária, fruticulltura e agriculturade subsistência. O trabalho foi realizado nas matas do Mané do Doce, Cuxio ede Secupema.

MÉTODOS DE AMOSTRAGEM DA AVIFAUNAAmostragem Quantitativa.

O levantamento quantitativo foi realizado no horário compreendido entre 5h e30 min às 9h e 30min, durante cinco dias consecutivos. As observações foramrealizadas em uma trilha pré-existente na Reserva, com cerca de 4.000 metros,abrangendo o interior e a borda da mata. Além das espécies já registradas nolevantamento da trilha, foram realizadas caminhadas pelo interior e pela bordados fragmentos com pontos de escuta e observação (Almeida et al. 1999),durante cinco dias, das 15h às 17h e 30min. Os ambientes adjacentes aosfragmentos foram considerados nesta amostragem. Foram anotadas as

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espécies com o tipo de registro (visual ou escuta), estrato ocupado (dossel,sub-bosque ou solo), local do registro (interior, borda ou áreas adjacentes),observações gerais sobre o comportamento dos indivíduos e algumascondições ambientais relevantes. As observações foram realizadas combinóculos 8mm x 30mm e as vocalizações registradas através de gravadorAIWA modelo TP560 com microfone externo para casos dúbios.

CAPTURAS

Foram utilizadas 20 redes de neblina de 36mm de malha, 12 m decomprimento e 2,5m de altura. Essas redes foram dispostas em linhas de rede,em uma seqüência única, segundo a metodologia adotada por Bierregaard Jr.e Lovejoy (1989). Foram armadas desde o interior da mata até atingir a bordae área adjacente, amostrando os ambientes da área (Figura 23). A capturaocorreu em cinco dias consecutivos a cada mês amostrado, permanecendo asredes abertas das 5h às 10h, e das 15h às 17h, horários que concentrammaior número de indivíduos ativos (Figura 24). A Identificação das espécies foi realizada através de referências básicas eguias de campo ilustrados (Dunning 1987, Ridgely & Tudor 1994a, b e Sick1997) e as vocalizações gravadas foram comparadas às existentes no arquivosonoro dos pesquisadores. A separação de indivíduos machos e fêmeas foirealizada através da análise da plumagem.

AMOSTRAGEM QUALITATIVAForam consideradas para a elaboração da listagem específica as espéciesregistradas nos levantamentos quantitativos, nas capturas e os registrosvisuais e auditivos de aves através de caminhadas realizadas pelos diversosfragmentos de mata de Gurjaú.

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Figura 23 - Mata da Reserva de Gurjaú evidenciando as Matas do Cuxió e Secupema, locais de captura ede levantamento quantitativo para o grupo aves.

Figura 24 -: Rede de captura (rede de neblina) armada na Mata do Cuxió na Reserva deGurjaú, detalhando um indivíduo de Leptopogon amaurocephalus no momento da captura em 2de outubro de 2002.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram relacionadas 225 espécies de aves para a reserva de Gurjaú, com umtotal de 14 ameaçadas, de acordo com a listagem apresentada pelo InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis em 2003. Asespécies ameaçadas relacionadas para Gurjaú foram: Thalurania watertonii,

Momotus momota macgraviana, Picumnus exilis pernambucensis,

Conopophaga liineata cearae, Conopophaga melanops nigrifons, Curaeus

forbesi, Tangara cyanocephala corallina, Tangara fastuosa, Xenops minutus

alagoanus, Myrmeciza ruficauda, Pyriglena leuconota pernambucensis,

Thamnophilus aethiops distans, Thamnophilus caerulesces, Platyrinchus

mystaceus niveigularis (Figuras de 25 a 28). No que se refere ao censo, foram registradas 177 espécies, correspondendo a78,67% do total de espécies catalogadas para a área. A freqüência deocorrência variou de 0,09% a 8,36% para os não Passeriformes; de 0,03% a9,46% para os Passeriformes Suboscines e de 0,04% a 14,55% para osPasseriformes Oscines (Tabela 12).As espécies mais abundantes dos não Passeriformes foram: Laterallus viridis,Porphyrula martinica, Jacana jacana, Pionus maximiliani, Piayia cayana,Crotophaga ani, Glaucis hirsuta, Phaethornis ruber e Galbula ruficauda. (Figura29). Para os Passeriformes Suboscines os mais abundantes foram:Herpsilochmus rufimarginatus, Formicivora grisea, Sittasomus griseicapillus,Zimmerius gracilipes, Elaenia flavogaster, Hemitriccus zosterops, Todirostrum

cinereum, Tolmomyias flaviventris, Pitangus sulphuratus, Myiozetetes similis,Legatus leucophaius, Tyrannus melancholicus, Chiroxiphia pareola e Manacus

manacus (Figura 30). Os Passeriformes Oscines mais abundantes foram:Thryothorus genibarbis, Troglodytes musculus, Ramphocaenus melanurus,Turdus leucomelas, Cyclarhis gujanensis, Vireo chivi, Coereba flaveola,Thraupis palmarum, Euphonia violacea, Arremon taciturnus e Saltator maximus(Figura 31)Foi registrada a presença da placa de incubação em algumas aves capturadasna reserva de Gurjaú. Segundo Sick (1997), a placa incubatória costuma serrestrita às fêmeas, entretanto, Davis (1945) registrou a presença da placa dechoco em machos de tiranídeos. A tabela 13 relaciona as aves, sexo, e os

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períodos que foram observados o sinal de choco. Os exemplares da tabela 13,sem dimorfimo sexual aparecem com o sexo indeterminado. Foram registradosCamptostoma obsoletum, Coereba flaveola, transportando material paraconstrução do ninho em um arbusto em 13 de setembro de 2002. Estasobservações sugerem o mês de setembro como parte do período reprodutivodestas espécies.Trabalhos desenvolvidos nas matas da Estação Ecológica de Tapacurádetectaram o período de maio a outubro para a reprodução de algumas avesde mata (Azevedo Júnior e Serrano 1987 e Azevedo Júnior 1990). Em Gurjaú,o período reprodutivo foi de setembro a fevereiro com registro em março eoutro em junho.Foram observados na beira da Mata Mané do Doce, um bando com cincoTangara fastuosa e um Tangara cyanocephala corallina, em 28 de agosto de2002. Em 14 de setembro, dois indivíduos de Tangara fastuosa foram vistoscomendo frutos de bananeira na borda da mata acima citada. Comumenteessas aves são observadas em beira de mata e são muito apreciadas porpassarinheiros (Sick, 1997). Os beija-flores: Glucis hirsuta, Phaethornis ruber, Eupetomena macroura,

Amazilia vesicolor e Heliothrix aurita foram observados visitando o “mangará”das bananeiras na mata do Mané do Doce. Na mesma localidade, Euphonia

violacea, Tangara fastuosa, Tangara cyanocephala, Dacnis cayana,

Cyanerpes cyaneus e Saltator maximus, alimentavam-se de bananascultivadas entre os fragmentos de mata da reserva de Gurjaú.A riqueza da avifauna de Gurjaú constituída por 225 espécies, com representantes

ameaçados e endêmicos reforça a necessidade da implantação de uma unidade de

conservação que proteja esses recursos, considerando, sobretudo, a pressão antrópica do

desmatamento, da implantação de culturas agrícolas e da caça de comercialização.

As Matas do Mané do Doce, Cuxio e do Secupema, em função da ocorrênciade exemplares ameaçados e endêmicos, deveriam ser interligadas porcorredores, acelerando o processo de restauração.

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76

64

3754

88

77

4843

34

Laterallus viridis

Porphyrula martinica

Jacana jacana

Pionus maximiliani

Piaya cayana

Crotophaga ani

Glaucis hirsuta

Phaethornis ruber

Galbula ruficauda

Figura 25 - Freqüência de ocorrência das espécies de aves mais abundantes (NãoPasseriformes), quantificadas entre agosto de 2002 a abril de 2003 na Reserva de Gurjaú,Pernambuco.

111

108

119

251

178

136290

171

119

126

212103117

157

Herpsilochmus rufimarginatusFormicivora griseaSittasomus griseicapillusZimmerius gracilipes Elaenia flavogaster Hemitriccus zosterops Todirostrum cinereum Tolmomyias flaviventrisPitangus sulphuratusMyiozetetes similis Legatus leucophaius Tyrannus melancholicus Chiroxiphia pareola Manacus manacus Figura 26 - Freqüência de ocorrência das espécies de aves mais abundantes (Passeriformes:

Suboscines), quantificadas entre agosto de 2002 a abril de 2003 na Reserva de Gurjaú,Pernambuco.

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162

126

142

192

147

247223

341

96

103

173Thryothorus genibarbis Troglodytes aedonRamphocaenus melanurusTurdus leucomelas Cyclarhis gujanensis Vireo chivii Coereba flaveola Thraupis palmarum Euphonia violaceaArremon taciturnus Saltator maximus

Figura 27 - Freqüência de ocorrência das espécies de aves mais abundantes (Passeriformes:Oscines), quantificadas entre agosto de 2002 a abril de 2003 na Reserva de Gurjaú,Pernambuco.

Figura 28 - Tangara fastuosa capturado na Mata do Mané do Doce, Reserva de Gurjaú em 13de setembro de 2002 (espécie ameaçada)

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Figura 29 - Conopophaga melanops (macho) capturado na Mata do Secupema, Reserva deGurjaú em 2 de outubro de 2002 (espécie ameaçada).

Figura 30 - Conopophaga melanops (fêmea) capturado na Mata do Secupema, Reserva deGurjaú em 3 de outubro de 2002 (espécie ameaçada).

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Figura 31 – Platyrhynchos mystaceus capturado na Mata do Sucupema, Reserva de Gurjaú em3 de outubro de 2002 (espécie ameaçada).

Tabela 12 – Listagem das aves da reserva de Gurjaú apresentando a freqüência de ocorrência(FO) das espécies relacionadas.

ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE NOME POPULAR FOORDEM TINAMIFORMESFAMÍLIA TINAMIDAE

001 Crypturellus soui nhambu-mata-cachorro 0,47002 Crypturellus parvirostris nhambu-espanta-boiada 0,28003 Crypturellus tataupa nhambu-de-pé-roxo004 Nothura boraquira codorna-de-cabeça-preta 0,19

ORDEM PODICIPEDIFORMESFAMÍLIA PODICIPEDIDAE

005Tachybaptus dominicus mergulhão-pequeno

006 Podilymbus podiceps mergulhão-caçador 0,19

ORDEM CICONIIFORMESFAMÍLIA ARDEIDAE

007 Casmerodius albus garça-branca-grande008 Egretta thula garça-branca-pequena 0,09009 Bulbucus ibis garça-vaqueira 0,85010 Butorides striatus socozinho 0,09011 Tigrisoma lineatum socó-boi 0,47

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012 Ixobrychus exilis socoí-vermelho013 Botaurus pinatus socó-boi-marron 0,09

FAMÍLIA CATHARTIDAE014 Coragyps atratus urubú-de-cabeça-preta 1,71015 Cathartes aura urubú-de-cabeça-vermelha 1,8016 Cathartes burrovianus urubú-de-cabeça-amarela

ORDEM ANSERIFORMESFAMÍLIA ANATIDAE

017 Dendrocygna viduata irerê018 Amazonetta brasiliensis patarrona019 Nomonyx dominicus bico-roxo

ORDEM FALCONIFORMESFAMÍLIA ACCIPITRIDAE

020 Elanus leucurus gavião-peneira021 Gampsonyx swainsonii gavião-pombo022 Leptodon cayanensis gavião-de-cabeça-cinza 1,04023 Buteo albicaudatus gavião-de-cauda-branca024 Asturina nitida gavião-pedrez 0,19025 Buteo brachyurus gavião-de-cauda-curta 0,28026 Rupornis magnirostris gavião-carijó 2,37027 Buteogallus urubutinga gavião-preto 0,09028 Spizaetus tyrannus gavião-pega-macaco 0,28

FAMÍLIA FALCONIDAE029 Herpetotheres cachinnans acauã 0,47030 Micrastur semitorquatus gavião-relógio 0,09031 Micrastur gilvicollis gavião-mateiro 0,28032 Milvago chimachima carrapateiro 0,19033 Caracara plancus carcará 0,28

ORDEM GALLIFORMESFAMÍLIA CRACIDAE

034 Ortalis araucuan aracuã

ORDEM GRUIFORMESFAMÍLIA ARAMIDAE

035 Aramus guarauna carão 0,19Continuação da Tabela 12

Ordem/Família/Espécie Nome PopularFo FAMÍLIA RALLIDAE

036 Aramides cajanea três-potes 0,28

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037 Porzana albicollis sanã-carijó038 Laterallus viridis saracura-marron 3,23039 Gallinula chloropus frango-d'água-preta040 Porphyrula martinica frango-d'água-azul 7,22

ORDEM CHARADRIIFORMESFAMÍLIA JACANIDAE

041 Jacana jacana jaçanã 6,08

FAMÍLIA CHARADRIIDAE042 Vanellus chilensis tetéu 0,38

ORDEM COLUMBIFORMESFAMÍLIA COLUMBIDAE

043 Columbina passerina rolinha-cinzenta044 Columbina minuta rolinha-cafofa 0,85045 Columbina talpacoti rolinha-caudo-de-feijão 0,76046 Leptotila rufaxilla juriti 7,5047 Geotrygon montana parari 1,04

ORDEM PSITTACIFORMESFAMÍLIA PSITTACIDAE

048 Aratinga leucophthalmus maritaca 0,09049 Aratinga cactorum gangarra 0,19050 Forpus xanthopterygius tuim 0,95051 Touit surda apuim-de-cauda-amarela 1,61052 Pionus maximiliani maitaca-de-maximiliano 3,51

ORDEM CUCULIFORMESFAMÍLIA CUCULIDAE

053 Piaya cayana alma-de-gato 4,56054 Crotophaga ani anu-preto 4,08055 Guira guira anu-branco056 Tapera naevia peitica 0,19

ORDEM STRIGIFORMESFAMÍLIA STRIGIDAE

057 Otus choliba corujinha-do-mato058 Pulsatrix perspicillata murucututu059 Glaucidium brasilianum caburé 0,09

ORDEM CAPRIMULGIFORMESFAMÍLIA NYCTIBIIDAE

060Nyctibius griseus mãe-da-lua

FAMÍLIA CAPRIMULGIDAE

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061 Nictidromus albicollis bacurau 0,09062 Hydropsalis brasiliana bacurau-rabo-de-tesoura

ORDEM APODIFORMESFAMÍLIA APODIDAE

063 Reinarda squamata tesourinha 0,57

FAMÍLIA TROCHILIDAE064 Glaucis hirsuta balança-rabo-de-bico-torto 5,13065 Phaethornis pretrei rabo-branco-de-sobre-amarelo 0,47066 Phaethornis ruber besourinho-da-mata 8,36067 Eupetomena macroura beija-flor-rabo-de-tesoura 0,66068

Melanotrochilus fuscusbeija-flor-de-rabo-preto-e-branco

069 Anthracothorax nigricollis beija-flor-de-veste-preta 1,23070 Chrysolampis mosquitus beija-flor-vermelho 1,52071

Chlorestes notatusbeija-flor-safira-de-garganta-azul 2,47

072 Chlorostilbon aureoventris besourinho-de-bico-vermelho 0,28073 Thalurania watertonii * beija-flor-das-costas-violeta 1,14074 Hylocharis cyanus beija-flor-roxo 0,47075 Amazilia versicolor beija-flor-de-banda-branca 0,09076 Amazilia fimbriata beija-flor-de-garganta-branca 0,19077 Amazilia leucogaster beija-flor-de-barriga-branca 0,19078 Heliothryx aurita beija-flor-de-bochecha-azul 0,38079 Heliactin cornuta chifre-de-ouro

ORDEM TROGONIFORMESFAMÍLIA TROGONIDAE

080 Trogon viridis surucuá-de-barriga-amarela 0,28081 Trogon curucui surucuá-de-coroa-azul 0,76

ORDEM CORACIFORMESFAMÍLIA ALCEDINIDAE

082 Ceryle torquata martin-pescador-grande083 Chloroceryle amazona martin-pescador-verde 0,19084 Chloroceryle americana martin-pescador-pequeno 1,52085 Chloroceryle aenea martin-pescador-anão 0,09

FAMÍLIA MOMOTIDAE 086 Momotus momota * udu-de-coroa-azul

ORDEM PICIFORMESFAMÍLIA GALBULIDAE

087 Galbula ruficauda bico-de-agulha 7,31

FAMÍLIA BUCCONIDAE

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088 Nystalus maculatus joão-bobo 0,38

FAMÍLIA RAMPHASTIDAE089 Pteroglossus aracari araçari-de-bico-branco 2,75090 Pteroglossus inscriptus araçari-miúdo-de-bico-riscado 0,85

FAMÍLIA PICIDAE091 Picumnus cirratus pica-pau-anão-barrado 0,76092 Picumnus exilis * pica-pau-anão-dourado 2,56093 Picumnus fulvescens pica-pau-anão-de-pernambuco 2,09094 Dryocopus lineatus pica-pau-de-banda-branca 0,09095 Veniliornis passerinus pica-pau-pequeno 0,76096 Veniliornis affinis pica-pau-de-asa-vermelha 1,61

ORDEM PASSERIFORMESFAMÍLIA FORMICARIIDAE

097 Taraba major cancão-de-fogo098 Thamnophilus doliatus choca-barrada099 Thamnophilus palliatus choca-listrada 0,36100 Thamnophilus caerulescens * espanta-raposa 0,42101 Thamnophilus aethiops * choca-lisa 0,82102 Dysithamnus mentalis choquinha-lisa 0,39103 Thamnomanes caesius ipecuá 0,39104 Myrmotherula axillaris choquinha-de-flancos-brancos 2,61105 Herpsilochmus rufimarginatus chorozinho-de-asa-ruiva 3,36106 Herpsilochmus atricapillus chorozinho-de-chapéu-preto 0,49107 Formicivora grisea papa-formiga-pardo 3,62108 Pyriglena leuconota * papa-taoca109 Myrmeciza ruficauda * papa-formiga-de-cauda-ruiva 0,36110 Conopophaga melanops * chupa-dente-de-máscara-preta111 Conopophaga lineata * chupa-dente

FAMÍLIA FURNARIIDAE112 Furnarius leucopus amassa-barro113 Synallaxis frontalis tio-antônio 0,36114 Poecilurus scutatus estrelinha-preta 0,13115 Certhiaxis cinnamomea casaca-de-couro 0,33116 Phacellodomus rufifrons ferreiro 0,88117 Xenops minutus * bico-virado-miúdo 0,42118 Xenops rutilans bico-virado-carijó 0,1

FAMÍLIA DENDROCOLAPTIDAE119 Sittasomus griseicapillus arapaçu-verde 3,52120 Xiphorhynchus picus arapaçu-de-bico-branco 2,41121 Lepdocolaptes angustirostris arapaçu-do-cerrado 0,03

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122 Lepdocolaptes fuscus arapaçu-rajado 0,55

FAMÍLIA TYRANNIDAE123 Zimmerius gracilipes poairo-de-sobrancelha 3,88124 Camptostoma obsoletum risadinha 1,11125 Phaeomyias murina bagageiro126 Myiopagis viridicata guaracava-esverdiada127 Myiopagis gaimardii maria-pechim 0,49128 Elaenia flavogaster maria-já-é-dia 8,18129 Elaenia spectabilis guaracava-grande 0,1130 Elaenia mesoleuca gordinho 0,06131 Elaenia cristata papa-enxeico 0,03132 Mionectes oleagineus abre-asas 0,23133 Leptopogon amaurocephalus cabeçudo 2,09134 Capsiempis flaveola marianinha 1,21135 Hemitriccus zosterops sebinho-olho-branco 5,8136 Hemitriccus margaritaceiventer sebinho-olho-de-ouro 0,42137 Todirostrum cinereum relojinho 4,43138 Poecilotriccus fumifrons ferreirinho 0,07139 Ryncocyclus olivaceus bico-chato-olivaceo 0,68140 Tolmomyias sulphurescens bico-chato-de-orelha-preta 0,1141 Tolmomyias poliocephalus bico-chato-de-cabeça-cinza 0,78142 Tolmomyias flaviventris bico-chato-amarelo 5,12143 Platyrinchus mystaceus patinho144 Myiobius barbatus assadinho-de-peito-dourado 0,03145 Myiophobus fasciatus felipe-de-peito-riscado 0,23146 Lathrotriccus euleri enferrujado 0,1147 Cnemotriccus fuscatus guaracavuçu 0,03148 Fluvicola nengeta lavadeira 1,01149 Arundinicola leucoephala viuvinha150 Machetornis rixosus bem-te-vi-do-gado 0,13151 Rhytipterna simplex planadeira 0,16152 Myiarchus ferox mané-besta 0,52153 Miyarchus tyrannulus mané-besta 0,16154 Myiarchus swainsoni irrê 0,16155 Myiarchus tuberculifer maria-cavaleira-pequena 2,41156 Pitangus sulphuratus bem-te-vi 9,46157 Megarhynchus pitangua bem-te-vi-de-bico-de-gamela 1,04158

Myiozetetes similis bem-te-vizinho-de-coroa-vermelha 5,58

159 Myiodynastes maculatus bem-te-vi-rajado 0,03160 Legatus leucophaius bem-te-vi-pirata 3,88161 Empidonomus varius peitica 0,03162 Tyrannus melancholicus suiriri 4,11163 Pachyramphus viridis caneleiro-verde 0,03164 Pachyramphus polichopterus caneleiro-preto 1,24

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165 Pachyramphus validus caneleiro-de-chapéu-preto 0,1

FAMÍLIA PIPRIDAE166 Pipra rubrocapilla cabeça-encarnada 2,28167 Chiroxiphia pareola tangará 6,91168 Manacus manacus rendeira 3,81169 Neopelma pallescens fruxu 0,16170 Schiffornis turdinus flautin-marron 0,03

FAMÍLIA HYRUNDINIDAE171 Tachycineta albiventer andorinha-do-rio 2,05172 Progne chalybea andorinha-doméstica-grande173 Alopochelidon fucata andorinha-morena 0,04174 Stelgidopteryx ruficollis andorinha-serrador 2,01175 Hirundo rustica andorinha-de-bando 0,13

FAMÍLIA TROGLODYTIDAE176 Donacobius atricapillus chauá 1,83177 Thryothorus genibarbis garrinchão-pai-avô 6,91178 Troglodytes musculus cambaxirra 5,38

FAMÍLIA MUSCICAPIDAE179 Ramphocaenus melanurus balança-rabo-de-bico-curvo 6,06180 Polioptila plumbea balança-rabo-de-chapéu-preto 0,77181 Turdus rufiventris sabiá-laranjeira 1,37182 Turdus leucomelas sabiá-branca 8,19183 Turdus amaurochalinus sabiá-poca 0,04184 Turdus fumigatus sabiá-da-mata 0,09

FAMÍLIA VIREONIDAE185 Cyclarhis gujanensis pitiguari 6,27186 Vireo chivi juruviara 10,5187 Hylophilus poicilotis verdinho-coroado 0,04

FAMÍLIA EMBEREZIDAE188 Basileuterus flaveolus canário-do-mato 0,64189 Basileuterus culicivorus pula-pula190 Coereba flaveola sebito 9,51191 Cissopis leveriana pêga192 Thlypopsis sordida saíra-canário 0,04193 Nemosia pileata saíra-de-chapéu-preto 0,38194 Tachyphonus cristatus tiê-galo 0,68195 Tachyphonus rufus joão-moleque 0,3196 Ramphocelus bresilius sangue-de-boi197 Thraupis sayaca sanhaçu-de-bananeira 0,43198 Thraupis palmarum sanhaçu-de-coqueiro 14,5199 Euphonia chlorotica vem-vem 0,64

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200 Euphonia violacea guriatã 4,1201 Tangara fastuosa * pintor202 Tangara cyanocephala * verdelin203 Tangara cayana frei-vicente 1,96204 Tangara velia saíra-diamante205 Dacnis cayana saí-azul 0,81206 Cyanerpes cyaneus saíra-beija-flor 0,55207 Sicalis luteola mané-mago208 Volatinia jacarina tiziu 0,34209 Sporophila lineola bigode210 Sporophila nigricollis papa-capim ou cabeça-preta 0,04211 Sporophila albogularis golado212 Sporophilla leucoptera patativa-chorona 0,09213 Sporophila bouvreuil caboclinho214 Tiaris fuliginosa cigarra-de-coqueiro215 Arremon taciturnus tico-tico-da-mata 4,39216 Paroaria dominicana galo-de-campina217 Saltator maximus trinca-ferro 7,38218 Cacicus solitarius bauá219 Icterus cayanensis xexéu 0,3220 Icterus jamacaii concriz 0,09221 Leistes superciliaris espanta-boiada222 Curaeus forbesi * papa-arroz 0,3223 Molothrus bonariensis chopim, galdério

FAMILIA PASSERIDAE224 Passer domesticus pardal 0,64

FAMÍLIA ESTRILDIDAE225 Estrilda astrild bico-de-lacre 0,13

*Espécies ameaçadas de acordo com IBAMA (2003)

Tabela 13 – Presença de placa de incubação em aves capturadas no centro da mata deSecupema (08 13 33,3” S , 35 03 44,1” W), na Reserva de Gurjaú, Pernambuco.

Espécie Quantidade Sexo PeríodoTurdus leucomela 5 Indeterminado

s

01-10-2002Manacus manacus 2 Fêmeas 01-10-2002\\Chiroxiphia pareola 2 Fêmeas 01-10-2002Gluacis hirsuta 2 Indeterminado

s

02-10-2002Turdus rufiventris 1 Indeterminado 02-10-2002Leptopogon

amaurocephalus

1 Indeterminado 02-10-2002Conopophaga cearae 1 Indeterminado 02-10-2002Myrmotherula axilaris 1 Macho 03-10-2002Manacus manacus 1 Fêmea 03-10-2002Hemitriccus zosterops 1 Indeterminado 03-10-2002Pipra rubrocapilla 1 Fêmea 03-10-2002

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Rhynchocyclus olivaceus 1 Indeterminado 03-10-2002Myrmotherula axillaris 1 Macho 04-10-2002Myrmotherula axillaris 1 Fêmea 04-10-2002Chiroxiphia pareola 1 Fêmea 05-11-2002Platyrinchus mystaceus 1 Fêmea 05-11-2002Glaucis hirsuta 1 Indeterminado 05-11-2002Manacus manacus 1 Fêmea 05-11-2002Conopophaga cearae 1 Indeterminado 06-11-2002Manacus manacus 4 Fêmeas 07-11-2002Pipra rubrocapilla 6 Fêmeas 06-12-2002Manacus manacus 1 Fêmea 06-12-2002Mionectes oleagineus 1 Indeterminado 07-12-2002Tolmomyias flaviventris 1 Indeterminado 07-12-2002Veniliornis affinis 1 Indeterminado 07-12-2002Chiroxiphia pareola 2 Fêmeas 08-12-2002Saltator maximus 1 Indeterminado 08-12-2002Neopelma pallescens 1 Fêmea 08-12-2002Pipra rubrocapilla 1 Fêmea 16-01-2003Chiroxiphia pareola 1 Fêmea 16-01-2003Glaucis hirsuta 1 Indeterminado 16-01-2003Manacus manacus 3 Fêmeas 17-01-2003Myiobius barbatus 1 Indeterminado 15-02-2003Rhynchocyclus olivaceus 1 Indeterminado 15-02-2003Thamnophilus aethiops 1 Fêmea 16-02-2003Neopelma pallescens 1 Fêmea 23-03-2003*Rhynchocyclus olivaceus 2 Indeterminado 17-06-2003

* Foram capturados ao mesmo tempo na mesma rede. Esta informação sugere que seja umcasal com o macho também apresentando a placa de incubação. Davis (1945) relata aobservação de placa em macho de alguns tiranídeos.

4.2.4 Levantamento de Mamíferos

IntroduçãoDe acordo com Meyrs et al. (2000) a Mata Atlântica apresenta 250 espécies demamíferos, das quais 55 são endêmicas. A fragmentação tem produzidograves conseqüências para este grupo, em particular para as espécies demaior porte, verificando-se o desaparecimento total de algumas delas emcertas regiões e localidades. A conjunção desses fatores levou a inclusão de69 dessas na lista oficial de espécies da fauna brasileira ameaçadas deextinção (MMA, 2003).

Poucas Unidades de Conservação (UC) localizadas em áreas de MataAtlântica, particularmente no Nordeste brasileiro, foram inventariadas de modosatisfatório, havendo consideráveis lacunas no conhecimento taxonômico e

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biogeográfico da maioria dos gêneros e espécies, de forma que novasespécies e novas localidades de ocorrência são freqüentemente registradas acada novo estudo. As listas de espécies ameaçadas constituem-se nasferramentas mais apropriadas para guiar as ações governamentais e políticaspúblicas com vistas à preservação. O controle do tráfico e comércio ilegal deanimais, também não pode prescindir dessas listas (MMA/SBF, 2002b). Daí aimportância da realização do inventário da biodiversidade das matas doSistema Gurjaú que servirá de subsídio para a recategorização e embasará oplano de manejo desta UC.

Assim, o presente estudo objetivou inventariar a mastofauna terrestre existenteem Gurjaú. Esse trabalho inicial deverá também dar origem a futuros estudosde monitoramento, que possibilitem o acompanhamento da dinâmica daspopulações de mamíferos da área (Monteiro da Cruz, 1998), principalmentedaquelas espécies cuja instabilidade populacional possa comprometer asobrevivência das mesmas nos fragmentos desta UC.

METODOLOGIAÁrea de Estudo

Preparaçãoda Área

O presente estudo foi desenvolvido em vários fragmentos da RESG (Figura32). As capturas dos animais foram antecedidas pela abertura de novas trilhase mapeamento das trilhas já existentes, com o uso de GPS (parageorreferenciamento das localidades de amostragem), e bússola e trenas paraa definição dos pontos de coleta, devidamente identificados através de fitasplásticas, e distantes 50m um do outro. Para cada área de amostragemselecionada foi utilizada de uma a duas trilhas cuja extensão variou entre 300me 1000m.

InventárioPara o levantamento da mastofauna foram utilizadas quatro metodologias: 1)captura com armadilhas metálicas (do tipo Tomahawk); 2) visualização emcampo; 3) identificação através de vestígios; 4) entrevistas com a comunidadelocal (Wilson et al., 1996). Foram realizadas excursões mensais com duraçãode 04 a 06 dias consecutivos cada, entre agosto de 2002 e abril de 2003. A

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classificação taxonômica adotada neste estudo foi a de Wilson e Reeder(1992).

Captura e Processamento

Nas capturas, foram utilizadas armadilhas de dois tamanhos (45X15X15cm e75X30X30cm), dispostas em cada ponto de coleta, em número de 01 a 03,procurando-se, quando possível, colocar ao menos uma no solo e outrasuspensa (a cerca de 1,5m - 2,0m do solo). Como iscas, foram utilizados frutos(banana e abacaxi) e paçoca de amendoim, sendo as armadilhas iscadas erevisadas a cada 24 horas. O esforço de captura, no presente estudo, foicalculado adotando-se a fórmula: EF = NA X NC, onde EF= esforço decaptura, NA= número de armadilhas utilizadas e NC= número de dias decaptura. As armadilhas foram colocadas em 03 fragmentos: Mata da Zabé (01trilha), Mata do Cuxio (02 trilhas) e Mata Gurjaú-Secupema (02 trilhas), comopode ser visto na Figura 32. Além disso, em apenas uma ocasião, fez-se umaamostragem na região próxima à Estação de Tratamento de Água (ETA) daCompesa.

Os animais capturados foram levados a uma sala de processamento ondeforam anestesiados com Cloridrato de Quetamina (50mg/ml), para em seguidaserem processados. A dosagem do anestésico (10 a 30mg/Kg de peso) varioude acordo com a espécie e a classe etária de cada animal. Os dados demorfometria, peso, estado clínico e reprodução foram coletados e anotados emfichas individuais. Além disso, todos os indivíduos foram marcados através detatuagem na cauda. Os animais cuja identificação não foi possível foramsacrificados, após anestesia, e adequadamente conservados para posterioridentificação, através de chaves taxonômicas específicas para cada grupo, oupor comparação com material depositado nas coleções da UFPE e UFRPE. Osespécimens assim coletados encontram-se depositados na coleção demamíferos do Departamento de Biologia, Área de Zoologia, da UFRPE.

Visualizações em Campo

As visualizações em campo dos mamíferos (avistamentos), foram feitasdurante os percursos realizados no transecto Gúrjaú/Secupema (a pé ou de

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carro) e nas trilhas de diversos fragmentos de mata (a pé), em diferenteshorários (Figura 32). Para os animais avistados foram anotados os nomes daespécie, o horário e o local da observação, além do número de indivíduos.Aqui foram consideradas não apenas as visualizações feitas pela equipe demastofauna, mas também àquelas realizadas pelos componentes das demaisequipes de levantamento de fauna.

Identificação Através de Vestígios

Durante os percursos, também foram realizadas observações de vestígios dosanimais: pegadas, restos alimentares, fezes, pêlos e carcaças. Além dosfragmentos de mata onde foram realizadas as capturas, a busca de vestígiostambém foi realizada em outros fragmentos da região percorridos pela equipede mastofauna e no transecto Gurjaú/Secupema de 4Km de extensão(Figura 32). As pegadas e carcaças encontradas foram fotografadas eidentificadas com o auxílio de guias específicos (Becker e Dalponte 1991;Emmons e Feer, 1999).

Entrevistas com a Comunidade Local

Foi utilizado um questionário para as entrevistas com a comunidade local,dividido em três partes: identificação, grau de conhecimento/consciência sobrea situação da flora e fauna locais e informação sobre as prováveis espéciesque existem ou já existiram na área (sob foco qualitativo e quantitativo). Paraesta última parte, foram utilizados desenhos e pranchas coloridas (Emmons eFeer, 1999; Eisenberg e Redford, 1999) para orientar os entrevistados quantoà identificação dos animais. Deu-se prioridade às pessoas que moram na áreahá muitos anos, e àquelas que já praticaram ou ainda praticam a caça. Asegunda parte do questionário inclui a coleta de informações sobre o estado deconservação do bioma e da biota atual e remota da UC, e buscou indíciossobre a pressão de caça a que está submetida à mastofauna local. Parainclusão de espécies citadas nas entrevistas na lista de mamíferos das matasdo Sistema Gurjaú, levou-se em consideração a confiabilidade nas respostas

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dos entrevistados e a porcentagem de citações (a partir de 70% deconcordância).

Figura 32 – Matas do Sistema Gurjaú

Resultados

Durante o período do estudo foram inventariadas 32 espécies de mamíferospara as matas do Sistema Gurjaú, pertencentes às ordens Didelphimorphia (04gêneros, 06 espécies), Xenarthra (05 gêneros, 05 espécies), Rodentia (11gêneros, 11 espécies), Lagomorpha (01 gênero e 01 espécie), Carnivora (08gêneros, 08 espécies) e Primates (01 gênero, 01 espécie), como pode serconstatado na Tabela 15. Dentre estas, o gato-do-mato (Leopardus tigrinus)encontra-se na lista oficial da fauna brasileira ameaçada de extinção, nacategoria vulnerável (MMA, 2003). Além disso, vale ressaltar, a existência deuma espécie endêmica do Nordeste brasileiro, Callithrix jacchus (sagüi), e deum pequeno marsupial, Monodelphis americana (Figura 33), endêmico da Mata

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Atlântica. Os resultados obtidos através de cada uma das metodologiasadotadas se encontram pormenorizados a seguir.

CapturasAo longo do estudo, através da utilização das armadilhas metálicas, ocorreram44 capturas e 04 recapturas de mamíferos de pequeno porte (Tabela 14). Alémdisso, 04 marsupiais caíram nas armadilhas montadas para répteis, do tipo pit-

fall, e 01 tamanduá-mirim, Tamandua tetradactyla (Figura 34), foi capturadomanualmente por uma pessoa da comunidade, e encaminhado à equipe depesquisadores. As espécies mais capturadas foram Didelphis albiventris eMarmosa murina (Figura 35), com 10 e 9 indivíduos, respectivamente. Duranteo processamento dos espécimens capturados, constatatou-se que 01 deDidelphis albiventris e 03 fêmeas de Didelphis marsupialis tinham filhotes nomarsúpio (Figura 36).

Figura 33 – Monodelphis americana capturado na Mata Secupema em novembro de 2002

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Figura 34 – Tamandua tetradactyla encontrado na Mata Secupema em março de 2003.

Figura 35 – Marmosa murina capturada na Mata da Zabé em setembro de 2002.

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Figura 36 – Didelphis marsupialis com filhote capturado na Mata do Cuxiu em dezembro de2002.

Visualizações em Campo

Através das visualizações em campo, pôde-se observar 07 espécies demamíferos, das quais 02 também foram capturadas. Assim, os avistamentospermitiram a inclusão de 05 espécies diferentes na lista (Tabela 15), dasordens Xenarthra (01), Rodentia (02), Lagomorpha (01) e Carnivora (01).

Identificação Através de Vestígios

A maioria dos vestígios encontrados constitui-se de pegadas. Quatro espécies(03 roedores e 01 carnívoro) puderam ser identificadas e acrescentadas à listaatravés dos rastros. Além disso, duas carcaças de Bradypus variegatus foramencontradas flutuando no Lago Gurjaú (Tabela 15). Durante o trabalho de campo, também foi possível constatar a existência daatividade de caça nos vários fragmentos de mata percorridos, através dapresença de “esperas”, “fojos”, armadilhas para tatus, cápsulas de balas deespingarda, tiros de arma de fogo, presença e latido de cães e perfuração àbala na mandíbula de uma das carcaças de preguiça. Além disso, observou-se

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a existência de grandes canis de cães de caça (da raça Fox Hunter) em váriaspropriedades e posses da área.Foram também identificados indícios de caça associada à venda de animais,especificamente a capivara – Hydrochaeris hydrochaeris – a maior espécievivente de roedor do planeta. Em uma ilhota (com menos de 01ha), no açudede Secupema, um tipo de armadilha grande foi construída para a captura decapivaras, em local escondido da visão de quem faz o percurso de carro ou apé na margem do açude. Cultivou-se um milharal, cercado com arame eestacas resistentes, limitado por apenas dois acessos em forma de “fojo” – umtipo de armadilha artesanal para captura de animais vivos, semelhante a umalçapão – que, no caso específico, correspondia a valas de 1,0m X 1,0m X1,5m, cobertas por uma base estrutural de gravetos, forrada por materiais daserrapilheira local. Pelo alto investimento do empreendimento, questionou-sesobre a possibilidade de que esta captura não se limitasse à caça paraalimentação ou criação do animal como pet (animal de estimação) pelacomunidade local, mas pudesse estar associada ao comércio ilegal daespécie.

Entrevistas com a Comunidade Local

No total, foram realizadas 32 entrevistas. A partir das informações contidas nosquestionários, foi possível listar mais 11 espécies de mamíferos (06 carnívoros,02 roedores e 03 tatus), como pode ser observado na Tabela 15. Constatou-seainda que, há cerca de 30 anos atrás, existiam macacos-prego (Cebus apella),veados (Mazama gouazoupira) e porcos-do-mato (Tayassu tajacu), que hoje seencontram extintos na região. Também através das entrevistas foi possível tomar conhecimento de quãogrande é a pressão de caça local, que não se limita aos caçadores da própriacomunidade mais inclui também os provenientes dos municípios do entorno.Os mamíferos mais caçados são, sobretudo, cutias, tatus e pacas, secundadospor quatis, raposas e capivaras. O método tradicional de se caçar na região éatravés do uso de espingardas, cães de caça e construção de “esperas”,seguido do uso de armadilhas artesanais. A caça geralmente serve para sercomida como petisco, acompanhada por bebidas alcoólicas (principalmente a

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cachaça), e mais raramente para servir de animal de estimação (cutia, papa-mel, quati, tatu, coelho, paca, capivara).

Foi unânime e enfaticamente negada, a caça comercial de animais vivos,apesar dos indícios levantados nesta pesquisa. Foram freqüentes os relatos deque a “caça à raposa” vem sendo praticada há muitos anos como esporte,utilizando-se inclusive, afora cães farejadores e espingardas, de cavalos demontaria. Segundo os entrevistados, esta modalidade de esporte tem sidopraticada, quase que exclusivamente, pelas classes mais abastadas dapopulação.

Tabela 14 – Áreas de amostragem, esforço de captura, número de animais capturados comrespectivas ordens, da mastofauna inventariada nas matas do Sistema Gurjaú.

EXCURSÃO ÁREAS ESFORÇO DECAPTURA

NÚMERO DEANIMAIS

CAPTURADOS

ORDENS

1 ETA, Mata da Zabé 30 X 2 = 60 7 Rodentia eDidelphimorphia

2 Mata da Zabé, MataGurjaú/Secopema

60 X 3 = 180 1 Didelphimorphia

3 Mata Gurjaú/Secopema 60 X 3 = 180 3 Didelphimorphia ePrimates

4 Mata Gurjaú/Secopema 73 X 2 = 146 4 Didelphimorphia5 Mata Gurjaú/Secopema 73 X 6 = 438 8 Rodentia e

Didelphimorphia6 Mata Gurjaú/Secopema 73 X 6 = 438 5 Rodentia e

Didelphimorphia7 Mata Gurjaú/Secopema,

Mata do Cuxiu54 X 3 = 162 6 Rodentia e

Didelphimorphia8 Mata Gurjaú/Secopema,

Mata do Cuxiu74 X 4 = 296 10 Rodentia,

Didelphimorphia ePrimates

9 Mata Gurjaú/Secopema,Mata do Cuxiu

74 X 4 = 296 4 Rodentia,Didelphimorphia e

PrimatesTOTAL ETA, Mata da Zabé,

Mata Gurjaú/Secopema,Mata do Cuxiu

2196 48 Rodentia,Didelphimorphia e

Primates

Tabela 15 – Lista da mastofauna inventariada nas matas do Sistema Gurjaú

ORDEM FAMÍLIA ESPÉCIE NOMEVULGAR

MÉTODO DEAMOSTRAGEM

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Didelphimorphia

Didelphidae Didelphis albiventris (Lund,1840)

Timbú C, E

D. marsupialis(Linnaeus, 1758)

Cachorro domato

C, E

Marmosa murina(Linnaeus, 1758)

Cuíca C

Monodephis domestica(Wagner, 1842)

C

M. americana (Müller,1776)

C

Micoureus demerarae(Thomas, 1905)

Rato fidalgo C, E

Xenarthra Bradypodidae Bradypus variegatus(Schinz, 1825)

Preguiça VC, A, E

Dasypodidae Dasypus novemcinctus(Linnaeus, 1758)

Tatuverdadeiro

E

Euphractus sexcinctus(Linnaeus, 1758)

Tatu peba E

Cabassous unicinctus(Linnaeus, 1758)

Tatu rabo decouro

E

Myrmecophagidae

Tamandua tetradactyla(Linnaeus, 1758)

Tamanduámirim

C, VP, E

Rodentia Muridae Rattus sp. (Fisher,1803)

Ratazana,rato

C, E

Musmusculus(Linnaeus, 1758)

Catita C, E

Nectomys sp. (Peters,1861)

Rato d’água C

Akodon sp. (Meyen,1833)

Rato C, A

Holochilus sp. (Brandt,1835)

Rato de cana E

Agoutidae Agouti paca (Linnaeus,1766)

Paca E

Dasyproctaprymnolopha (Wagler,1831)

Cutia VP, E

Cavidae Cavia aperea(Erxleben, 1777)

Preá A, E

Erethizontidae Coendu prehensilis(Linnaeus, 1758)

Coendu VP, E

Sciuridae Sciurus aestuans(Linnaeus, 1766)

Paracatota A, E

Hydrochaeridae Hydrochaerishydrochaeris(Linnaeus, 1766)

Capivara VP, E

Lagomorpha Leporidae Sylvilagus brasiliensis(Linnaeus, 1758)

Coelho domato

A, E

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Carnivora Canidae Cerdocyon thous(Linnaeus, 1766)

Raposa A, E

Felidae Leopardus tigrinus(Schreber, 1775)

Gatomaracajá

E

Felis yagouarondi(Lacépède, 1809)

Raposa degato

E

Mustelidae Eira barbara(Linnaeus, 1758)

Papa mel E

Galictis vittata(Schreber, 1776)

Furão E

Lontra longicaudis(Olfers, 1818)

Lontra E

Procyonidae Procyon cancrivorus(G. Cuvier, 1798)

Guará decana

VP, E

Nasua nasua(Linnaeus, 1766)

Quati E

Primates Callitrichidae Callithrix jacchus(Linnaeus, 1758)

Sagüi C, A, E

Legenda: C = Captura; VC = Vestígio/carcaça; VP = Vestígio/pegadas; A = Avistamento; E = Entrevista

DISCUSSÃOA diversidade da mastofauna terrestre encontrada nas matas do SistemaGurjaú assemelha-se às de outros estudos realizados em remanescentes deMata Atlântica no estado de Pernambuco como, por exemplo, o ParqueEstadual Dois Irmãos, a Estação Ecológica de Tapacurá, a Estação Ecológicade Caetés e a Área Piloto RBMA-Complexo Igarassu/Itapissuma/Itamaracá(Monteiro da Cruz et al., 2002); também é bastante similar àquela do inventáriode mamíferos realizado por Fernandes (2003) em fragmentos de mata noestado de Alagoas. Apesar da quantidade de espécies registradas (32) ter sido razoável, o númerode capturas (48, ocorrendo 04 recapturas) foi pequeno em relação ao esforçode captura realizado (2196). Vale salientar que apenas 12 espécies foramcapturadas em armadilhas; 09 foram adicionadas à lista através de vestígiose/ou avistamentos e outras 11, através das entrevistas com a comunidade.Provavelmente o uso de outros tipos de armadilhas, como as de Sherman

(para animais bem pequenos), ou laços e grades pit-fall (para animais demédio e grande porte) (Wilson et al., 1996), possibilitaria o aumento do númerode indivíduos capturados, mas não necessariamente o de espécies. O fato da maioria dos mamíferos encontrados constituir-se de animais depequeno porte era um resultado já esperado para a região estudada. Isto sedeve, provavelmente, ao alto grau de fragmentação da área, que encontra-se

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próxima a centros urbanos, apresentando uma grande pressão antrópica econseqüente uso dos recursos naturais, de maneira desordenada. A presençade assentamentos humanos pode agir como meio de introdução de espéciesexóticas e domésticas que passam a competir, ou até mesmo predar, asespécies nativas de plantas e animais (Miller e Hobbs, 2002). No casoespecífico dos mamíferos, a caça e o desmatamento exacerbados são osprováveis agentes responsáveis pelo seu desaparecimento gradual nas matasde Gurjaú, pois estes, segundo How e Dell (2000), são os vertebrados emmaior desvantagem nos remanescentes de mata urbanos. De acordo comMiller e Hobbs (2002), os assentamentos humanos representam inúmerasbarreiras para o deslocamento dos vertebrados terrestres, especialmente nocaso das espécies de mamíferos que possuem uma grande área de uso e queacabam confrontando com pessoas. Pimentel (2000), em estudo realizado naCosta Rica, também aponta os fatores caça e desmatamento como causas dadiminuição da mastofauna terrestre da região. Observou-se também que a maioria das espécies inventariadas estão bemadaptadas a áreas perturbadas, sobretudo àquelas próximas a cursos d`água,plantações e pastagens (Emmons e Feer, 1999; Eisenberg e Redford, 1999), oque é comum de se encontrar em Gurjaú. De acordo com Terborgh (1984apud Pimentel, 2000), em florestas perturbadas, observa-se odesaparecimento de mamíferos de grande porte e o estabelecimento deespécies generalistas e de menor tamanho, sem muito valor de caça. Assim,espécies como Leopardus tigrinus e Felis yagouarondi, essencialmentecarnívoras e bastante caçadas, terão poucas chances de continuar existindona região. Um fato preocupante em relação à atividade de caça local demamíferos, é que esta não é de subsistência, servindo como uma forma delazer para a comunidade, além de haver indícios do comércio ilegal dealgumas espécies. A falta de fiscalização é resultado, inequivocamente, dodescaso do proprietário da área, o próprio governo.Espirito Santo (2002) fala sobre um consenso, amplamente aceito hoje, de queáreas protegidas não podem ser administradas isoladas do que ocorre no seuentorno. Ele propõe vários modos de abordagem para que a comunidade doentorno passe a se responsabilizar pela preservação da área, pois, de acordocom Shutkin (2000, apud Miller e Hobbs, 2002), os esforços para proteção dehabitats obtêm melhores resultados quando a comunidade local se mantém

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informada e envolvidos no processo, do que quando as ordens eregulamentações vêm de um órgão superior.Pelo potencial que as matas do Sistema Gurjaú demonstram ter, nesta rápidaavaliação ecológica, e pelo nível de ameaça que parte considerável de suamastofauna vem sofrendo, sugerimos que sejam contemplados no seu Planode Manejo a implantação de corredores ecológicos, em curto prazo,concebidos a partir de novos cenários para a conservação de suabiodiversidade.

4.2.5 Levantamento da vegetação

IntroduçãoAs florestas tropicais são ecossistemas que abrigam alta biodiversidade,englobando cerca de dois terços do total de espécies existentes no planeta. OBrasil graças as suas duas grandes florestas – a amazônica e a atlântica – sedestaca como um dos países possuidores da maior biodiversidade do mundo,possuindo cerca de 357 milhões de hectares de florestas, 30% de todas asflorestas tropicais do planeta, mais que o dobro da área de quem ocupa osegundo lugar, a Indonésia (Almeida, 2000).Sendo o Brasil detentor da maior biodiversidade que se conhece, dos cerca de1,4 milhão de organismos conhecidos pela ciência, 10% vivem em territóriobrasileiro (Mittermeier et al, 1992), é imperativo que a população nordestina seconscientize sobre o valor ambiental e sócio-econômico da biodiversidade.Entretanto este bioma vem sendo destruído pela ação antrópica onde grandeparte de sua diversidade está sendo extinta antes mesmo que se conheça opotencial ecológico, genético e a importância econômica das espécies.Alguns grandes fragmentos ainda estão conservados, como é o caso da reserva ora em

estudo que é a de Gurjaú, que apresenta uma biodiversidade incomparável à de outras

reservas faltando apenas que o governo do estado de Pernambuco defina urgentemente

uma forma de preservar e conservar aquela unidade.

METODOLOGIALocalização

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A área em estudo localiza-se no litoral sul de Pernambuco entre os municípiosdo Jaboatão dos Guararapes e Cabo de St° Agostinho, ditando 40 Km docentro de Recife entre a latitude 8°13’33” e longitude 35°13’44” oeste deGreenwich e XXX ocupando uma área de 1070 hectares.

Clima

Os municípios de Jaboatão dos Guararapes e Cabo de St° Agostinhoapresentam na classificação de Köeppen clima do tipo Am’s que pode serdefinido como clima tropical chuvoso de monção com verão seco e menos de60mm no mês mais seco, com precipitação pluviométrica anual total muitoelevada (SUDENE, 1973).No litoral sul, o domínio absoluto da massa equatorial atlântica caracterizadapelos ventos alísios do hemisfério sul que sofrem reforço com as invasões dasmassas polares ocasionam as chuvas de inverno. Os meses mais chuvosossão junho e julho, enquanto os meses mais secos são outubro, novembro edezembro. A precipitação anual total atinge valores acima de 2000mm(SUDENE 1973).

PROCEDIMENTO DE CAMPO E LABORATÓRIO

FloraConforme metodologia apresentada, as visitas a campo foram realizadas duasvezes ao mês seguindo a sistemática das trilhas existentes. Como tambémnovas trilhas implantadas para observações e coletas. O período de coletaainda se estendera por 5 a 6 meses devido a maioria das espécies arbóreas earbustivas não se encontrarem na fase reprodutiva.As espécies botânicas foram classificadas seguindo o sistema de Cronquist(1998). Cada indivíduo que foi coletado recebe um único número de coleta cujorespectivo registro constará na caderneta de campo. Nestas cadernetas foramanotadas todas as observações relativas ao hábito de crescimento e

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características específicas (cor da flor, odor, presença de látex ou resina nocaule e algumas características no fruto), isto é, características florais evegetativas que possam ser modificadas e processo de secagem dasamostras. O número de duplicatas coletadas foram sempre três. Observaram-se também os nomes vulgares dados pelo mateiro, que foram anotados ecomparados com os já existentes na literatura. O material foi processadosegundo o método de Mori et al (1989) e incorporados aos acervos dosherbários IPA e UFRPE.No laboratório, o material foi secado em estufa a 60°C e identificado usando-secomo auxílio, microscópio esterioscópico binocular tipo lupa, comparando-secom espécies do acervo do herbário e usando literatura especificada.

Resultados

Os resultados encontrados estão além do esperado, principalmente comrelação à quantidade e qualidade das espécies, de importância da preservaçãoda flora, interesse econômico para a região tais sejam: formação de bancos desementes de espécies madeireiras a serem usadas para produção de mudasno reflorestamento com espécies nativas, plantas alimentícias, ornamentais,extração de cipós para uso em artesanato (Figuras 36 a 39).

Lista das Espécies

As espécies foram coletadas nos diversos fragmentos existentes na área em estudo, onde

foram separadas nas diversas matas que possuem nomes locais denominados pelo

mateiro que nos acompanha e população local (Tabela 16 e 17).

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Família Nome Científico Nome Vulgar ImportânciaEconômica

Annonaceae Cymbopetalum brasiliense (Vell.) Benth ex Baill Monnimiaceae Siparuna guianensis Aubl. Lauraceae Cinnamomum chana Vatt louro Madeireira Ocotea opifera Mart. louro MadeireiraMyristicaceae Virola gardineri (DC.) Warb. urucuba MadeireiraMyrsinaceae Ardisia sp. Piperaceae Piper marginatum pimenta de macaco Aristolochiaceae Aristolochia trilobata L. papo de perú OrnamentalNymphaeaceae Nymphea ampla água pé OrnamentalUlmaceae Trema micranta (L.) Blume Moraceae Clarisia racemosa Ruiz. Et Pavon orticica da mata Madeireira Ficus gameleira gameleira Madeireira Brosimum discolor quiri Madeireira Sorotea ilicifolia Miq. Helicostylis tomentosa (Poepp. et Endl.) Macbr. amora Urticaceae Boehmeria cylindrica (L.) Siv. urtiga Laportea aestuans (L.) Cav. urtiga Inseticida Pilea hyalina Fenzl. língua de sapo Medicinal Pilea microphilla (L.) Lielm. brilhantina Nyctaginaceae Guapira opposita Nees. Pisonia subcordata Sw. Amaranthaceae Gomphrena sp. Cactaceae Rhipsalis cassuta rabo de calango OrnamentalPolygonaceae Coccoloba cf. alnifolia Casar cabaçú Ochnaceae Ouratea fieldingiana (Gardn.) Engl. batiputá Marcgraviaceae Sourabia guianensis Quiinaceae Quiina pernambucensis Clusiaceae Tovomita brasiliensis (Mart.) Walp. Mangue da mata Clusia nemorosa Mey mata paú Ornamental Caraipa densifolia camaçarí Madeireira

Família Nome Científico Nome Vulgar ImportânciaEconômica

Symphonia globulifera L. bulandí Madeireira Caraipa densiflora Mart. camaçarí MadeireiraEleocarpaceae Sloanea obtusifolia (Moric) Schum. mamajuda MadeireiraBombacaceae Eriotheca crenulaticalyx A. Robyns munguba da mata Tiliaceae Apeiba albiflora Ducke pau de jangada MadeireiraLecythidaceae Lecythes pizonis Cambess. sapucaia Madeireira

Eschweilera luschnatii Miers. embiriba Madeireira Gustavia augusta Flacourtiaceae Casearia aff. commersoniana Cambess Casearia cf. javitensis H. B. K. cafezinho do mato Lacistemataceae Lacistema sp. cocão branco Violaceae Rinorea sp. Sapotaceae Chrysophyllum splendens Spreng. asa de morcego Chrysophyllum rufum Mart caimito Madeireira Lucuma grandiflora DC. oiti trubá Pradosia latescens (Vell.) Radlk cabraiba branca Micropholis gardneriana (DC) Warb. prejuí Madeireira Manilkara salzmanii (A. DC.) Hit. Lam. maçaranduba MadeireiraMyrtaceae Calyptrantes sp. Campomanesia dichotoma Berg.

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Família Nome Científico Nome Vulgar ImportânciaEconômica

Gomidesiana martiana DC. Capparaceae Cleome spinosa mussambê MedicinalMyristicaceae Virola gardineri (DC.) Warb. urucuba MadeireiraChrysobalanaceae Couepia rufa Ducke oiti coró Comestível Hirtella cf. birconis Mart. et Zucc. faxineiro Podostemonaceae Mourera fluviatilis Aublet. muraré Fabacea Mimos. Inga bahiensis Benth ingá Madeireira Inga cf. disantha ingá de cabelo Madeireira Inga thibaudiana DC. ingá táboa Madeireira I. blanchetiana Benth ingá Madeireira

Família Nome Científico Nome Vulgar ImportânciaEconômica

I. fagifolia (L.) Willd ingá Madeireira Macrosamanea pedicellare (DC.) Kleinh. jaguarana Madeireira Pithecellobium avaremotemo Mart. barbatimão Madeireira P. saman (Jacq.) Benth bordão de velho MadeireiraFabacea Mimos.(cont.) Schranckia leptocarpa DC. malícia Madeireira Stryphinodendron pulcherrimum (Wild.) Hochr. favinha Plathymenia reticulata Benth amarelo Madeireira Parkia pendula Benth visgueiro MadeireiraFabacea Caes. Copaifera nitida Mart. pau d'óleo Oleaginosa

Hymenaea martiana Hayne. jatobá Madeireira Peltogyne recifensis Ducke barabu Madeireira

Bauhinia rubiginosa Bong. mororó MadeireiraBauhinia sp.

Dialium guianensis (Aubl.) Sandw.et. Barneby pau ferro Madeireira Sclerolobium densiflorum Benth ingá porco Madeireira Senna occidentalis L. Swartzia pickelii Killip ex Ducke jacarandá branco MadeireiraFabacea Fab. Lonchocarpus guillerminianus Madeireira Ormosia bahiensis olho de cabra Madeireira Pterocarpus violaceus pau sangue Madeireira Derris neuroscapha Benth. piaca Zollernia paraensis Hub. pau santo Madeireira Bowdichia virgilioides H. B. K. sucupira mirim Madeireira Bauhinia sp. Pterocarpus cf. violaceus Vog. pau sangue MadeireiraMelastomataceae Clidemia hirta (L.) D. Don. Miconia albicans Combretaceae Buchenavia capitata Eichl. esparrada MadeireiraOlacaceae Schoepfia brasiliensis A. DC. cabelinho Lolanthaceae Psittacanthus dichrous Mart. erva de passarinho

Família Nome Científico Nome Vulgar ImportânciaEconômica

Celastraceae Maytenus sp. Euphorbiaceae Actinostemom megalophylla Aparisthemium cordatum Croton glanduloso Croton hirtus L. Maprounea sp. pinga orvalho Madeireira

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Família Nome Científico Nome Vulgar ImportânciaEconômica

Euphorbiaceae(cont.) Mabea sp. Pera ferruginea Muell. Arg. sete cascos Madeireira Pogonophora schomburkiana Miers cocão Richeria grandis Vahl. jaqueira d'água Madeireira Cnidoscolus urens cansanção Croton lobatus feijão de rolinha MadeireiraSapindaceae Allophylus edulis (St. Hil.) Radlk. Cupania racemosa (Vell.) Radlk. caboatã

Serjania cf. glabrata Kunth Serjania salzmanniana Schlecht. Talisia sp. pitomba de macaco Burseraceae Protium aracouchini Marchand amesclinha

Protium cf. giganteum Engl. amesclão Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand amescla de resina Anacardiaceae Tapirira guianensis Aubl. cupiuba MadeireiraSimaroubaceae Simarouba amara Aubl. praiba Madeireira Picramnia glazioviana subsp. freijó da mata Rutaceae Hortia arborea Engler. laranjinha Meliaceae Trichilia lepdota Mart caboatã lisa MadeireiraHumiriaceae Saccoglottis guianensis Benth Oití de morcego Erythroxylaceae Erythroxylum cf. grandifolium Mart. jaqueira da mata Madeireira Erythroxylum squamatum Sw. Malpighiaceae Biyrsonima sericea DC. Muricí da mata Polygalaceae Polygala paniculata L. barba de são pedro

Família Nome Científico Nome Vulgar ImportânciaEconômica

Araliaceae Schefflera morototoni morototó MadeireiraLoganiaceae Spigelia flemmingiana Apocynaceae Aspidosperma discolor Pau falha Madeireira Himatanthus bracteatus Angélica MadeireiraSolanaceae Physalis neesiana camapu Medicinal Picramnia glazioviana subsp. freijó da mata Solanum sp. Convolvulaceae Merremia umbellata (L.) Urb. gitirana Verbenaceae Aegiphila vetellinifolia Citharaexylum pernambucensis salgueiro OrnamentalLamiaceae Leonotis nepetaefolia (L.) R. Br. cordão de frade Ornamental Marsypianthes chamaedrys (Vahl.) Kuntz. Heretiaceae Cordia alliodora Cham. gargáuba Cordia tokeve gargáuba Cordia verbenacea maria preta Acanthaceae Aphelandra nuda Ruellia bahiensis Campanulaceae Cephalostigma bahiensis A. DC. Ornamental Centropoghon cornutus (L.) Druce MelíferaRubiaceae Coccocypselum cordifolium

Faramea salicifolia Gonzalagunia dicodea Psychotria bahiensis DC. erva de rato Tóxica Psychotria racemosa (Aubl.)

Rauesh. erva de rato Tóxica

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Família Nome Científico Nome Vulgar ImportânciaEconômica

Psychotria manipouroides DC. erva de rato Tóxica Salzmania nitida DC. Asteraceae Acanthospermum hispidum DC. federação Medicinal Elephantopus angustifolius Vernonia scorpioides (Lam.) Pers.

CommelinaceaeDichorisandra albomarginata Linden

Família Nome Científico Nome Vulgar ImportânciaEconômica

Dichorisandra thyrsiflora OrnamentalCyperaceae Calyptrocarya glomerulata (Brongn) Urb. Ornamental Cyperus larcus Lam. Cyperus lascum Lam. Cyperus luzulae (L.) Retz capim estrela Cyperus sphacelatus Rollb Cyperaceae Hypolytrum bullatum C. B. Clarke Scleria pterota Presl. tiririca Poaceae Chloris barbata (L.) Sw. Chloris inflata Link. Poaceae (cont.) Digitaria horizontalis Wild. Digitaria insularis Mez ex Ekman pé de galinha Echinolaena inflexa (Poir) Chase Eragrostis articulata (Schr.) Nees Homolepis alturensis (H. B. K.) Chase Ichnanthus tenuis (Presl.) Ichnanthus sp. Olyra latifolia L. Paspalum varginatum Swartz. Panicum lascum Siv. Setaria setosa (Swartz) P. Beauv. Sporobolus tenuissimus (Schrank.) Kuntz. Heliconiaceae Heliconia psittacorum L. paquevira OrnamentalCostaceae Costus sp. Marantaceae Calathea cf. pernambucensis Loes Ornamental Calathea sp. Ornamental

Ctenanthe pernambucensis Arns et Mayo Ornamental Ischinosiphon gracilis (Rudge) Koern. Ornamental Maranta arundinacea L. araruta Comestível Maranta andersoniana Arns et Mayo Ornamental

Família Nome Científico Nome Vulgar ImportânciaEconômica

Marantaceae(cont.) Maranta sp. OrnamentalMarantaceae Monotagma plurispicatum (Koern.) Saranthe klotzschiana (Koern.) Eichl. Stromanthe porteana Gris. Stromanthe tonkat (Aubl.) Eichl. Arecaceae Bactris pickelii Burret coquinho ComestívelPontederiaceae Pontederia cordata L. OrnamentalSmilacaceae Smilax campestris Griseb. Dioscoriaceae Dioscoria trifida cará nambu Comestível

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Família Nome Científico Nome Vulgar ImportânciaEconômica

Araceae Anthurium pentaphyllum (Aubl.) G. Don. anturio Ornamental Monstera andansonii Scott. jibóia da mata Ornamental Philodendrum imbe Schott imbé OrnamentalAraceae (cont.) Philodendrum fragantissimum (Hook.) imbé OrnamentalBromeliaceae Aechmea aquilega (Salisb.) Griseb. gravatá Ornamental Aechmea cf. fulgens Brongn. gravatá Ornamental Aechmea ligulata (L.) Baker. gravatá Ornamental Aechmea mulfordii L. B. Smith gravatá Ornamental Canistrum aurantiacum E. Moren OrnamentalOrchidaceae Cyrtopodium cff. Andersonii R. Br. rabo de tatu Ornamental Epidendrum cff. cinnabarinum Salm. epidendro Ornamental Vanilla chamissonis Kl. baunilha Ornamental Vanilla palmarum Lindl. baunilha Ornamental

Tabela 17 – Lista de espécies ameaçadas da Mata Atlântica

Família Nome Científico Nome VulgarImportânci

aEconômica

Moraceae Clarisia racemosa Ruiz. Et Pavon orticica da mata MadeireiraLecythidaceae Gustavia augusta Sapotaceae Micropholis gardneriana (DC) Warb. prejuí MadeireiraMyristicaceae Virola gardineri (DC.) Warb. urucuba MadeireiraChrysobalanaceae Couepia rufa Ducke oiti coró Comestível

Discussão e Conclusão

Dos grandes fragmentos de Mata Atlântica existentes em Pernambuco, areserva de Gurjaú ainda está entre as mais conservadas em relação àvegetação e flora pernambucana. É grande o número de áreas com belezasênica do conjunto água, vegetação, flora e fauna, que precisam serconservadas para as gerações futuras.

A proteção da flora existente na área requer urgência, já que existe umacomunidade habitando a área e retirando para o sustento os materiais dafloresta para uso na alimentação, construção de moradias, artesanato, etc. Oque concorre para a degradação do ecossistema ali existente.

Devido aos endemismos a alta ocorrência de espécies raras de árvores(Micropholis gardneriana (DC) Warb, prejuí), arbustos (Psychotria sp.possivelmente espécie nova) ervas ornamentais de grande porte (Costus sp.) e

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ervas de valor medicinal incontestável precisam ser estudadas antes que seacabem.

Por essas evidências, salienta-se a importância da preservação da área pelabiodiversidade sugerindo a criação de uma Unidade de Conservação para asMatas de Gurjaú.

Figura 37 - Heliconia psittacorum Sw.(paquevira) espécie abundante nas matas deGurjaú. Abril de 2003.

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Figura 38 – Centropogon cornutus (L) Druce observado na borda da Mata do Cuxió,Gurjaú, em abril de 2003.

Figura 39– Cayaponia tayuya Cogn. (Cucurbitaceae) observada na Mata do Mané do Doce, Gurjaú, emabril de 2003.

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Figura 40 – Calathaea sp (Marantaceae) observada na borda da Mata do Mané do Doce, Gurjaú, em abrilde 2003.

4.2.6 Ecologia da vegetação arbórea

IntroduçãoPor ser um ecossistema complexo, a floresta tropical sempre é um desafiopara a ciência florestal. O conhecimento desse recurso é uma necessidade,visto que, a cada momento, intervenções sucessivas acontecem, sem amínima preocupação com a conservação desse recurso natural. Oentendimento da complexa dinâmica que envolve as florestas tropicais inicia-sepelo levantamento da florística e fitossociologia. A identidade das espécies e ocomportamento das mesmas em comunidades florestais são o começo de todoprocesso para a compreensão deste ecossistema. Com o conhecimento deparâmetros básicos da vegetação, as técnicas de manejo surgem como umaforma de conservação e preservação da diversidade das espécies e, atémesmo de subsidiar a recuperação de fragmentos florestais, em processo dedegradação Marangon (1999).

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Os trabalhos em florestas nativas, embora de importância crescente, sofremgrandes limitações, motivadas pela falta de informações das espécies. Além dodesconhecimento das espécies existentes, se desconhece também osfenômenos que ocorrem nas florestas ou em espécies isoladas, mesmo osmais simples como floração, mudança foliar e frutificação.Por outro lado, atualmente, uma má utilização do solo e da água e a forma deutilização dos recursos florestais têm proporcionado sérios danos a essesrecursos, comprometendo seriamente a biodiversidade. No momento, acobertura vegetal da região Nordeste se apresenta muito fragmentada e emmal estado de conservação, principalmente, as áreas, anteriormente ocupadaspor contínuos florestais. Esses remanescentes necessitam urgentemente depesquisas básicas, no sentido de subsidiar ações de conservação,preservação e recuperação dessas áreas.

Desde o início da colonização do Estado de Pernambuco, a vegetação damata atlântica vem sendo explorada para diversos fins, o que causou adescaracterização da paisagem natural e do clima regional, gerando perdas debiodiversidade local e alterações da dinâmica das populações e comunidadesvegetais e animais. Somente na última década tem crescido o interesse emresgatar as informações sobre a vegetação de mata atlântica no Estado,especialmente a florística e a fitossociologia (Ferraz et al. 2002). Desta forma,a compreensão da dinâmica de sucessão e crescimento das florestas tendema contribuir para a utilização racional desses recursos, por meio de técnicasadequadas de manejo. Segundo Rolim (1997), a discussão em torno dasustentabilidade das florestas tropicais é de extrema importância para aaplicação de técnicas de manejo. Nesse sentido, Jardim et al. (1993) afirmamque os vários sistemas silviculturais aplicáveis ao manejo da floresta,objetivando o rendimento sustentável, ainda exigem conhecimentos básicossobre a dinâmica de crescimento e recomposição da floresta nativa original,para que possam ser aplicados com sucesso, sem comprometer aestabilidade, a renovabilidade e a sustentabilidade desse recurso.Lamprecht (1964), afirma que o estudo da estrutura da floresta secundária produz

análises importantes sobre a dinâmica e as tendências do desenvolvimento futuro da

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floresta. Nesse sentido, os estudos fitossociológicos se tornam imprescindíveis, pois

estabelecem as bases para a dinâmica de florestas naturais.

A fitossociologia envolve o estudo das interrelações de espécies vegetaisdentro de uma dada comunidade vegetal, no caso em questão, comunidadesvegetais arbóreas. Tal estudo se refere ao conhecimento quantitativo dacomposição, estrutura, funcionamento, dinâmica, história, distribuição erelações ambientais da comunidade vegetal. A taxonomia vegetal, fitogeografia e as ciências florestais servem de base paraa fitossociologia que se apóia nessas áreas e possui estreitas relações com asmesmas. Sendo assim pretende-se analisar o estado atual de conservação davegetação arbórea da reserva de Gurjaú.

MATERIAL E METODOSLevantamento Fitossociológico

Nas matas Mané do Doce, Cuxio, Passarinho e Prejuí foram lançadas um total

de 40 parcelas de 10 x 25 m (250 m1), distanciadas entre si 25 m. Em cada

mata, instalaram-se 10 parcelas sistematizadas no sentido do maiorcomprimento da área de estudo. Nas parcelas foi mensurado e identificadotodo vegetal arbóreo, com circunferência à altura do peito (CAP) maior ou iguala 15,0 cm, a 1,30 m do solo, conforme Marangon (1999).

PARÂMETROS FITOSSOCIOLÓGICOS

Na análise fitossociológica foram usadas estimativas dos parâmetros daestrutura horizontal que envolve a freqüência, a densidade e a dominância.Tais parâmetros, quando reunidos em uma única expressão, determinam ovalor de importância e o valor de cobertura que proporcionará o conhecimentoda importância de cada espécie na comunidade florestal estudada. Adistribuição diamétrica foi analisada por meio da distribuição do número deárvores por classes de diâmetro com intervalos de 5,0 cm, a partir de um CAP

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(circunferência à altura do peito) mínimo de 15,0 cm, que equivale a um DAP(diâmetro a altura do peito) de 4,77 cm.

Diversidade Florística

Para a análise da heterogeneidade, calcularam-se os índices de diversidade

de Shannon (H3), conforme Mueller-Dombois & EllenberG (1974).

Regeneração Natural

A regeneração natural das espécies será baseada na metodologia empregadapor Finol (1971) e modificada por Volpato (1994).Nas unidades amostrais implantadas para o estudo fitossociológico foram locadas sub-

unidades de 5 m x 5 m (25 m²). A classe 1 contemplou indivíduos com altura mínima de

1,0 a 2,0 m; a classe 2, com indivíduos de 2,0 m a 3,0 m e a classe 3, com indivíduos

superiores a 3,0 m e CAP (circunferência à altura do peito) menor que 15,0 cm. Para

cada espécie foram estimados os parâmetros: freqüência e densidade absoluta e relativa

em cada classe de altura pré estabelecida.

RESULTADOSMata Mané Do DoceFITOSSOCIOLOGIA

Em uma área amostrada de 2500 m2 (0,25 ha), equivalente a 10 parcelas de 10m x 25 m, foram encontrados 296 indivíduos arbóreos, com 18 indivíduosmortos. A maior altura foi detectada em um indivíduo de Simarouba amara(Simarubaceae) com 35 m e o maior diâmetro encontrado foi em um segundoindivíduo da mesma espécie com 70,03 cm. Nesta mata foram amostradas 23famílias, 49 gêneros, 55 espécies e um índice de diversidade de SHANNON eWEAVER (H') 3,52 nats/espécies. Quando se estima o número de indivíduospor hectare, que é de 1180 indivíduos, é um número baixo para FlorestaAtlântica. Ferraz (2002), em estudo realizado na zona da Mata Norte, municípiode São Vicente Férrer, Pernambuco, encontrou 1521 indivíduos por hectare.

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Fica evidente, e os dados irão mostrar isto, que a mata Mane do Doce sofreuum corte seletivo bastante intenso nos últimos anos. Os parâmetrosfitossociológicos (Tabela 18) mostram a estrutura da mata com as espéciesmais presentes na área com ênfase em Densidade Relativa, FreqüênciaRelativa e Dominância Relativa.

Tabela 18 – Parâmetros fitossociológicos da Mata Mané do Doce, onde DR = Densidade Relativa, FR =Freqüência Relativa, DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de Importância

Nome científico DR(%) FR(%) DOR(%) VISimarouba amara 3,72 3,31 16,68 23,70Annona glabra 9,46 6,62 4,84 20,92Brosimum discolor 10,81 4,64 4,54 19,99Caraipa densifolia 3,38 3,97 8,90 16,25Diplotropis purpurea var.brasiliensis 2,36 1,99 11,12 15,48Pogonophora schomburkiana 4,73 3,97 6,07 14,78Eschweilera ovata 4,73 3,31 3,54 11,58Mabea occidentalis 4,39 3,31 3,15 10,85Tapirira guianensis 3,72 2,65 3,86 10,22Schefflera morototoni 2,03 2,65 3,93 8,61Thyrsodium schomburgkianum 2,36 3,31 2,36 8,04Brosimum conduru 2,70 2,65 2,37 7,72Euphorbiaceae 1,35 1,99 2,95 6,29Protium giganteum 2,70 2,65 0,87 6,23Ocotea opifera 2,70 1,99 0,90 5,59Dialium guianensis 1,69 2,65 1,05 5,39Manilkara salzmanii 1,69 1,99 1,39 5,06Maprounea guianensis 2,36 1,99 0,61 4,96Guatteria schlechtendaliana 2,70 1,99 0,27 4,96Pera ferruginea 0,68 1,32 2,52 4,52Pourouma guianensis 1,69 1,99 0,61 4,28Sttyphnodendron pulcherrimum 0,68 0,66 2,87 4,20Psychotria sessilis 1,69 1,99 0,33 4,01Macrosamanea pedicellaris 0,68 1,32 1,84 3,84Aspidosperma discolor 1,01 1,99 0,66 3,66Cupania racemosa 1,35 1,99 0,30 3,64Bowdichia virgilioides 0,68 1,32 1,57 3,57Lecythes pisonis 0,68 1,32 1,34 3,34Himatanthus bracteatus 1,35 1,32 0,51 3,19Myrcia fallax 1,01 1,99 0,11 3,11Cecropia glaziovi 1,35 0,66 0,80 2,82Trichilia silvatica 1,01 1,32 0,19 2,52Psychotria cartaginensis 1,35 0,66 0,49 2,51Rheedia gardineriana 1,01 1,32 0,15 2,49Miconia albicans 0,68 1,32 0,34 2,34Nectandra cuspidata 0,68 1,32 0,17 2,17Pouteria grandiflora 0,68 1,32 0,17 2,17

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Ocotea glomerata 0,68 1,32 0,14 2,14Helicostylis tomentosa 0,68 1,32 0,11 2,11Byrsonima sericea 0,34 0,66 0,35 1,35Inga thibaudiana 0,34 0,66 0,24 1,24bucho de viado 0,34 0,66 0,21 1,21Virola gardneri 0,34 0,66 0,04 1,04Casearia arborea 0,34 0,66 0,03 1,03Peltophorum dubium 0,34 0,66 0,03 1,03Sorocea hilarii 0,34 0,66 0,03 1,03Amaioua guianensis 0,34 0,66 0,02 1,02Guapira oposita 0,34 0,66 0,02 1,02Psychotria martiana 0,34 0,66 0,02 1,02

As espécies de maior VI (Valor de Importância) foram: Simarouba amara,

Annona glabra, Brosimum discolor, Caraipa densifolia, Diplotropis purpurea var.

brasiliensis, Pogonophora schomburkiana, Eschweilera ovata, Mabea

occidentalis, Tapirira guianensis e Schefflera morototoni. Em relação ao total deespécies amostradas, as famílias mais presentes foram Euphorbiaceae eMoraceae, com 9,09 % cada. Leguminosae Mimosoideae, com 7,27 %,Lauraceae e Rubiaceae, com 5,45 % cada. Anacardiaceae, Annonaceae,Apocynaceae, Lecythidaceae, Leguminosae Caesalpinioideae e LeguminosaePapilionoideae, com 3,63 % cada.

DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICA

Quando se analisa a distribuição diamétrica (Figura 40) na Mata Mané doDoce, verifica-se, na primeira classe de diâmetro (0,0 – 5,0 cm) 13 indivíduos.Na segunda classe (5,1 – 10, 0 cm) há um aumento expressivo no número deindivíduos que sobe para 115. Nas classes subseqüentes ocorre uma queda

gradativa até a ultima Classe, que é a décima quinta (15). No caso dasprimeiras classes, devido ao fato de existir um corte seletivo na área, há umaregeneração natural nas clareiras, provocada pelas derrubadas, que vemrecompondo a mata. Esta dinâmica ocorre em função da ação antrópica naárea que induz a distribuição diamétrica na forma de “J” invertido, o que éesperado para uma floresta ineqüiânea secundária.

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Mata Mané do Doce

13

1023251

161011

18

30

69

115

0102030405060708090

100110120

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15Classes de diâmetro

Núm

ero

de in

diví

duos

Figura 41– Distribuição diamétrica dos indivíduos arbóreos da Mata Mané do Doce em Classes dediâmetros com intervalo entre classes de 5,0 cm.

Da quarta classe (15,1 – 20,0 cm) até a oitava (35,1 – 40,0 cm) há umatendência das espécies se distribuírem de forma mais balanceada nacomunidade florestal ali instalada. Nestas classes, as espécies predominantessão as secundárias iniciais e tardias, apesar da distribuição diamétricacaracterizar um estágio de sucessão ainda inicial. Este comportamento provamais uma vez que o corte seletivo vem provocando este comportamento nacomunidade. As demais classes apresentam indivíduos remanescentes quesobreviveram aos cortes seletivos e se destacam em relação à comunidadecomo um todo (Figura 41). Indivíduos de Diplotropis purpúrea var.brasiliensia

60,80 cm de DAP, Caraipa densifolia, com 64,94 cm de DAP e Simaruba

amara com 70,03 cm de DAP caracterizam bem estes remanescentes na MataMané do Doce.

A presença de espécies com declínio no número de indivíduos nas classesdiamétricas de valores intermediários e mais altos pode estar comprometida naevolução dos estágios sucessionais, visto que, nesse caso, pode não estarsendo eficiente o seu processo de regeneração ou, até mesmo, por se trataremde espécies pioneiras, que em condições normais não toleram competição e àmedida que os diâmetros vão aumentando essas espécies vão desaparecendo.

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Por outro lado, a presença de espécie em várias classes de diâmetros,apresentando uma distribuição mais uniforme, tendendo a um balanceamento,neste caso indica um estágio sucessional mais avançado com estratos melhoresdefinidos. A presença das espécies que compõem estes estratos, nas trêsclasses de alturas em regeneração indica a garantia das mesmas na tipologiaflorestal da área estudada.

REGENERAÇÃO NATURALNas dez sub-parcelas amostradas encontraram-se 205 indivíduos,pertencentes a 27 famílias, e 38 espécies no levantamento da regeneraçãonatural da Mata Mané do Doce. As estimativas dos parâmetrosfitossociológicos da regeneração natural encontram-se na Tabela 19 a seguir.

Tabela 19 – Parâmetros fitossociológicos de regeneração natural da Mata Mané do Doce, ondeDR = Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valorde.Importância.

Nome científico DR(%) FR(%) DOR(%) VIAnnona glabra 18,14 8,60 13,79 40,53Protium giganteum 8,82 6,45 23,82 39,10Pogonophora schomburkiana 4,41 5,38 22,96 32,75Nectandra cuspidata 8,82 4,30 6,49 19,61

Eschweilera ovata 5,88 5,38 4,36 15,62Siparuna guianensis 4,41 3,23 3,80 11,44Gratteria schlechtendaliana 5,88 2,15 2,78 10,82Brosimum discolor 3,92 4,30 2,57 10,79Brosimum conduru 4,41 5,38 0,76 10,55Myrcia rostrata 2,94 5,38 0,61 8,93Miconia albicans 1,96 4,30 2,01 8,27Maprounea guianensis 2,45 2,15 1,85 6,45Caraipa densifolia 2,45 2,15 1,22 5,83Pouteria grandiflora 1,47 3,23 0,86 5,56Psychotria sessilis 2,45 2,15 0,91 5,51Cordia nodosa 1,47 3,23 0,26 4,96Campomanesia xanthocarpa 1,47 3,23 0,23 4,93Mabea occidentalis 1,96 2,15 0,50 4,61Sorocea hilarii 1,47 2,15 0,66 4,28Rheedia gardneriana 1,47 2,15 0,51 4,14Ficus gomeleira 1,96 1,08 1,08 4,11Simarouba amara 0,98 2,15 0,86 3,99Dialium guianensis 0,98 1,08 1,72 3,78Indeterminada 0,98 2,15 0,33 3,46Eugenia sp 0,98 2,15 0,18 3,31Cestrum megalophyllum 1,47 1,08 0,34 2,89Manilkara salzmanii 0,49 1,08 1,19 2,76

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Pourouma guianensis 0,49 1,08 1,19 2,76Trichilia silvatica 0,98 1,08 0,66 2,72Pera ferruginea 0,49 1,08 0,53 2,10Thyrsodiumschomburgkianum 0,49 1,08 0,38 1,95Ocotea opifera 0,49 1,08 0,13 1,70Allophylus sericeus 0,49 1,08 0,13 1,70Agonandra sp 0,49 1,08 0,08 1,65Casearia arbórea 0,49 1,08 0,06 1,63Erythroxylum squamatum 0,49 1,08 0,06 1,63Swartza pickelii 0,49 1,08 0,05 1,61Aspidosperma discolor 0,49 1,08 0,03 1,60

As dez espécies mais presentes na regeneração natural que mais sedestacaram em todos os parâmetros fitossociológicos estudados foram:Annona glabra, Protium giganteum, Pogonophora schomburkiana, Eschweilera

ovata, Siparuna guianensis, Gratteria schlechtendaliana, Brosimum discolor,

Brosimum conduru, Myrcia rostrata e Miconia albicans.

Ao se comparar com as adultas, verifica-se que a maioria encontrada naregeneração possui representantes desenvolvendo-se normalmente na MataMané do Doce. Analisando a composição da vegetação arbórea da Mata Manédo Doce verifica-se que as espécies com grande número de indivíduos nasclasses menores de diâmetro tendem a estar presentes na floresta futuradaquele local. Essa afirmativa é constatada quando se observam naregeneração os resultados e se verifica a presença dessas espécies emdestaque no povoamento. Fica evidente, no entanto, que a Mata Mané doDoce está desenvolvendo seu processo sucessional de forma eficiente egarantindo a fitofisionomia da região, ou seja, a Floresta Ombrófila Densa deEncosta. Citiadini-Zanette (1995), afirma que as espécies que ocorrem emtodas as classes de altura teoricamente possuiriam maior potencial paraparticipar da composição futura da floresta, ou seja, são as que melhorconseguem estabelecer-se na floresta futura.O destaque fica para Annona glabra, com 38 indivíduos. É uma espéciesecundária inicial, que normalmente possui altura média de 12 m e diâmetroem torno de no máximo 25,0 cm. Essa espécie é seguida por Protim

giganteum com 18 indivíduos amostrados. É também uma espécie secundáriainicial cujas dimensões estão próximas da Annona glabra.

Mata do Cuxio

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FITOSSOCIOLOGIA

Em uma área amostrada de 2500 m2 (0,25 ha), equivalente a 10 parcelas de10 m x 25 m, foram encontrados 274 indivíduos arbóreos, com 13 indivíduosmortos. A maior altura foi detectada em indivíduos de Esclerolobium

densifolium e Parkia pendula, ambas com 35 m, os maiores diâmetrosencontrados foram das espécies citadas, com respectivamente 72,75 cm e80,85 cm. Foram amostradas 22 famílias, 44 gêneros, 50 espécies e um índicede diversidade de SHANNON e WEAVER (H') 3,50 nats/espécies. O númerode indivíduos estimado por hectare é de 1096. Resultado muito próximo daMata do Mané do Doce com 1180 indivíduos. Os parâmetros fitossociológicos(Tabela 20) mostram a estrutura da mata com as espécies mais presentes naárea com ênfase em Densidade Relativa, Freqüência Relativa e DominânciaRelativa.

As espécies de maior VI (Valor de Importância) foram: Caraipa densifolia, Manilkara

salzmanii, Diplotropis purpurea var. brasiliensis, Euphorbiaceae, Brosimum discolor,

Annona salzmanii, Protium heptaphyllum, Thyrsodium schomburgkianum,

Pogonophora schomburkiana e Parkia pendula estas espécies são as de maior destaque

na Mata do Cuxio. Em relação ao total de espécies amostradas, as famílias mais

presentes foram Euphorbiaceae com 9,09 %, Lauraceae e Myrtaceae com 5,45 % cada,

Anacardiaceae, Apocynaceae, Burseraceae, Lecythidaceae, Leguminosae

Caesalpinioideae, Moraceae, Rubiaceae e Sapotaceae com 3,63 % cada.

Tabela 20 – Parâmetros fitossociológicos da Mata do Cuxio, onde DR = Densidade Relativa,FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de Importância.

Nome científico DR(%) FR(%) DoR(%) VICaraipa densifolia 4,03 2,58 16,88 23,49Manilkara salzmanii 9,89 6,45 4,22 20,56Diplotropis purpurea var.brasiliensis 2,56 3,23 10,16 15,95Euphorbiaceae 4,40 3,23 6,66 14,28Brosimum discolor 6,96 3,87 2,59 13,42Annona salzmanii 5,49 3,87 3,50 12,87Protium heptaphyllum 5,49 5,16 2,20 12,86Thyrsodium schomburgkianum 5,49 3,87 3,24 12,60Pogonophora schomburkiana 4,03 5,16 2,51 11,70

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Parkia pendula 1,47 2,58 6,58 10,63Sclerolobium densiflorum 1,10 1,29 8,05 10,44Protium giganteum 2,93 3,87 2,97 9,78Guatteria schlechtendaliana 4,40 3,87 1,06 9,33Brosimum conduru 3,30 2,58 2,36 8,24Nectandra cuspidata 3,30 3,23 0,46 6,98Pouteria grandiflora 2,56 2,58 1,79 6,93Aspidosperma discolor 2,93 1,94 1,86 6,72Eschweilera apiculata 1,83 2,58 1,98 6,39indeterminada 1,47 1,94 2,13 5,53Eugenia sp 2,20 2,58 0,41 5,19Himathantus bracteatus 1,47 2,58 1,02 5,06Tapirira miriantha 0,73 1,29 3,01 5,03Eschweilera ovata 1,47 1,94 1,37 4,77Dialium guianensis 1,47 1,94 1,26 4,66Pourouma guianensis 1,47 1,94 1,24 4,64Schefflera morototoni 1,47 1,94 0,64 4,04Rheedia gardneriana 1,47 1,94 0,41 3,81Cecropia glaziovi 1,47 1,29 1,03 3,79Virola gardineri 1,10 1,94 0,72 3,76Psychotria sessilis 1,47 1,94 0,18 3,58Bowdichia virgilioides 0,37 0,65 2,45 3,46Mabea occidentalis 1,10 1,29 0,66 3,05Calipthrantes sp 1,47 0,65 0,48 2,59Pera ferruginea 0,73 1,29 0,47 2,50Miconia calvescens 0,37 0,65 1,18 2,19Simarouba amara 0,73 0,65 0,71 2,09Ocotea opifera 0,73 1,29 0,05 2,08Zanthoxyllum rhoifolium 0,37 0,65 0,51 1,53Lonchocarpus guilleminianus 0,73 0,65 0,08 1,45Bucho de veado 0,37 0,65 0,39 1,41Hyeronima alchorneoides 0,37 0,65 0,09 1,10Cupania racemosa 0,37 0,65 0,08 1,09Annona glabra 0,37 0,65 0,07 1,08Maytenus ilicifolia 0,37 0,65 0,06 1,07Psychotria cartaginensis 0,37 0,65 0,06 1,07Trichilia silvatica 0,37 0,65 0,04 1,06Mapronea guianesis 0,37 0,65 0,04 1,05Myrcia rostrata 0,37 0,65 0,04 1,05Ocotea odorifera 0,37 0,65 0,02 1,04Vismia guianesis 0,37 0,65 0,02 1,03

DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICA

A distribuição diamétrica (Figura 41) na Mata do Cuxio é bastante semelhanteà Mata do Mane do Doce. Verifica-se na primeira classe de diâmetro (0,0 – 5,0cm) 19. Na segunda classe (5,1 – 10, 0 cm) há um aumento expressivo nonúmero de indivíduos que sobe para 124 indivíduos. Nas classes

Page 94: 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo · 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo Nos últimos 30 anos a pressão antrópica sobre a área reduziu

subseqüentes ocorre uma queda gradativa até a ultima Classe que é a décimasexta (16). No caso das primeiras classes, a situação é semelhante à MataMane do Doce, existe corte seletivo na área, há uma regeneração natural nasclareiras, provocadas pelas derrubadas, que vêm recompondo a mata. Estadinâmica ocorre em função da ação antrópica na área o que provoca, commais intensidade, uma distribuição diamétrica na forma de “J” invertido o que,normalmente, é esperado para uma floresta ineqüiânea secundária. Da terceira classe (10,0 - 15,1 cm) até a oitava (60,1 - 65 cm) há umatendência das espécies se distribuírem de forma decrescente e gradativa nacomunidade florestal ali instalada. Quando se compara com a Mata Mané doDoce, o que se verifica é a presença de um corte seletivo ainda mais intenso.Nestas classes as espécies predominantes são as secundárias iniciais etardias. As demais classes apresentam indivíduos remanescentes quesobreviveram aos cortes seletivos e se destacam em relação à comunidadecomo um todo. Indivíduos de Esclerolobim densiflorum com 72,75 cm de DAP,e Parkia pendula com 80, 85 cm de DAP são os representantes destesremanescentes.

Mata do Cuxio

19

124

41

2722

11 105 5 2 3 2 1 0 1 1

0102030405060708090

100110120130

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Classess de Diâmetro

Núm

ero

de In

diví

duos

Figura 42 – Distribuição diamétrica dos indivíduos arbóreos da Mata do Cuxio em Classes de diâmetroscom intervalo entre classes de 5,0 cm.

REGENERAÇÃO NATURAL

Page 95: 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo · 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo Nos últimos 30 anos a pressão antrópica sobre a área reduziu

Nas dez sub-parcelas amostradas encontraram-se 228 indivíduos pertencentesa 20 famílias e 34 espécies no levantamento da regeneração natural da Matado Cuxio. As estimativas dos parâmetros fitossociológicos da regeneraçãonatural encontram-se na Tabela 21 a seguir.

Tabela 21 – Parâmetros fitossociológicos de regeneração natural da Mata do Cuxio, onde DR =Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valor deImportância.

Nome científico DR(%) FR(%) DoR(%) VIMyrcia rostrata 21,49 6,80 7,37 35,66Manilkara salzmanii 4,82 5,83 17,02 27,67Protium giganteum 1,75 2,91 18,09 22,76Mabea occidentalis 10,53 3,88 3,81 18,22Pouteria scytalophora 7,89 7,77 0,27 15,93Euphorbiaceae 5,70 5,83 1,50 13,03Miconia calvescens 2,19 3,88 5,05 11,13Rheedia gardneriana 3,95 4,85 2,30 11,10Ingá tibaudiana 3,51 6,80 0,40 10,71Brosimum conduru 2,63 3,88 3,47 9,99Siparuna guianensis 1,32 2,91 5,69 9,92Psychotria sessilis 4,82 2,91 1,92 9,66Annona glabra 0,88 0,97 7,06 8,91Nectandra cuspidata 2,19 3,88 1,81 7,88Miconia albicans 3,51 3,88 0,27 7,66Thyrsodium schomburgkianum 2,63 2,91 2,03 7,57Eschweilera apiculata 2,19 3,88 1,26 7,33Pogonophora schomburkiana 1,75 2,91 1,72 6,39Brosimum discolor 0,44 0,97 4,97 6,38Ixora sp 2,63 2,91 0,40 5,95Swartza pickelii 3,07 1,94 0,27 5,28Rheedia sp 1,75 2,91 0,14 4,81Cupania racemosa 1,32 1,94 1,32 4,58Parkia pendula 0,88 0,97 2,40 4,25Eschweilera ovata 0,44 0,97 2,83 4,24Simaruba amara 1,75 1,94 0,30 4,00Campomanesia xanthocarpa 0,44 0,97 2,40 3,81Protium heptaphyllum 0,88 1,94 0,68 3,50Cordia nodosa 0,44 0,97 1,72 3,13Pouteria grandiflora 0,44 0,97 1,03 2,44Schefflera morototoni 0,44 0,97 0,20 1,61Miconia sp 0,44 0,97 0,15 1,56Zanthoxylum roifolium 0,44 0,97 0,10 1,51Diplotropis purpurea var.brasiliensis 0,44 0,97 0,04 1,45

As dez espécies mais presentes na regeneração natural que mais sedestacaram em todos os parâmetros fitossociológicos estudados foram: Myrcia

Page 96: 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo · 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo Nos últimos 30 anos a pressão antrópica sobre a área reduziu

rostrata, Manilkara salzmanii, Protium giganteum, Mabea occidentalis, Pouteria

scytalophora, Euphorbiaceae, Rheedia gardneriana, Inga tibaudiana eBrosimum conduru.

Quando se compara com as adultas, verifica-se que a maioria encontrada emregeneração possui representantes desenvolvendo-se normalmente na Matado Cuxio. A situação da comunidade é a mesma da Mata Mané do Doce, ouseja, a composição da vegetação arbórea da Mata do Cuxio apresenta asespécies com grande número de indivíduos nas classes menores de diâmetrotendendo a estarem presentes na floresta futura desta comunidade. O destaque fica para Myrcia rostrata que apresenta características desecundária inicial, também em destaque Manilkara salzmanii e Protium

giganteum. São espécies que possuem características de tardia e secundáriainicial, respectivamente. Muito provavelmente estarão na floresta futura.

Mata do PiriquitoFITOSSOCIOLOGIA

Em uma área amostrada de 2500 m2 (0,25 ha ), equivalente a 10 parcelas de10 m x 25 m, foram encontrados 251 indivíduos arbóreos, com 7 indivíduosmortos. A maior altura foi detectada em indivíduos de Taprira guianensis eBoudichia virgilioides. A primeira, com 66,53 cm de diâmetro e 35 m de altura. Asegunda, com 62,71 cm de diâmetro e 38 m de altura. Foram amostrados 19famílias, 43 gêneros, 48 espécies e um índice de diversidade de SHANNON eWEAVER (H') 3,47 nats/espécies. O número de indivíduos estimado porhectare é de 1004, muito próximo da Mata do Cuxio, que foi de 1096, e menorda Mata Mané do Doce, com 1180 indivíduos. Os parâmetros fitossociológicos(Tabela 22) mostram a estrutura da mata com as espécies mais presentes naárea, com ênfase em Densidade Relativa, Freqüência Relativa e DominânciaRelativa.

As espécies de maior VI (Valor de Importância) foram: Pera ferruginea, Thyrsodium

schomburgkianum, Eugenia sp, Protium heptaphyllum, Helicostylis tomentosa,

Nectandra cuspidata, Annona glabra, Ocotea opifera, Bowdichia virgilioides e

Eschweilera ovata. Em relação ao total de espécies amostradas as famílias mais

Page 97: 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo · 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo Nos últimos 30 anos a pressão antrópica sobre a área reduziu

presentes foram Moraceae 8,33 %, Euphorbiaceae, Leguminosae papilionoideae e

Sapotaceae com 6,25 % cada e. Anacardiaceae, Burseraceae, Lauraceae, Lecythidaceae,

Leguminosae Mimosoideae com 4,16 % cada.

Tabela 22 – Parâmetros fitossociológicos da Mata do Periquito, onde DR = Densidade Relativa, FR =Freqüência Relativa, DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de Importância.

Nome científico DR(%) FR(%) DOR(%) VIPera ferruginea 1,71 1,42 20,02 23,15Thyrsodium schomburgkianum 11,11 4,96 0,02 16,10Eugenia sp 1,28 1,42 12,40 15,10Protium heptaphyllum 8,12 4,96 0,53 13,61Helicostylis tomentosa 7,26 4,96 0,56 12,79Nectandra cuspidata 5,98 4,96 1,51 12,46Annona glabra 0,43 4,96 6,06 11,45Ocotea opifera 2,56 3,55 5,05 11,16Bowdichia virgilioides 4,27 3,55 2,04 9,86Eschweilera ovata 4,27 4,26 0,44 8,97Casearia arborea 0,85 1,42 5,97 8,24Erythroxylum squamatum 0,85 1,42 5,74 8,02Euphorbiaceae 2,56 2,13 3,20 7,89Myrcia fallax 4,70 2,84 0,18 7,72Tapirira guianensis 2,99 4,26 0,03 7,28Schefflera morototoni 2,56 3,55 1,14 7,25Pogonophora schomburkiana 0,43 0,71 5,64 6,78Lonchocarpus guilleminianus 1,71 2,13 2,82 6,65Parkia pendula 2,14 2,84 1,54 6,52Aspidosperma sp 3,85 2,13 0,22 6,20Maclura sp 2,99 2,84 0,31 6,13Miconia bentaniana 2,99 2,84 0,24 6,07Himathantus bracteatus 1,28 2,13 2,60 6,01Simarouba amara 2,99 2,84 0,17 6,00Caraipa densifolia 1,28 1,42 3,13 5,83Trichilia silvatica 0,85 1,42 3,31 5,59Myrcia rostrata 1,28 1,42 2,43 5,13Prunus sellowii 1,71 2,13 0,60 4,44Eschweilera apiculata 1,28 2,13 1,01 4,42Siparuna guianensis 2,14 2,13 0,04 4,31Mapronea guianensis 0,85 0,71 2,50 4,07Inga thibaudiana 1,71 2,13 0,16 4,00Miconia albicans 1,28 2,13 0,50 3,90Diplotropis purpurea var.brasiliensis 0,43 0,71 2,55 3,68Protium giganteum 0,85 1,42 0,47 2,75Manilkara salzmanii 1,28 0,71 0,74 2,73Ideterminada 0,43 0,71 1,04 2,18Artocarpus integrifólia 0,43 1,42 0,12 1,97Pouteria grandiflora 0,43 0,71 0,82 1,96Chrysophyllum gonocarpum 0,43 0,71 0,65 1,78Sloanea obtusifolia 0,43 0,71 0,58 1,71Sebastiana sp 0,85 0,71 0,02 1,59Couepia rufa 0,43 0,71 0,35 1,48

Page 98: 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo · 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo Nos últimos 30 anos a pressão antrópica sobre a área reduziu

Tapirira miriantha 0,43 0,71 0,19 1,33Ficus gomeleira 0,43 0,71 0,18 1,32Sorocea hilarii 0,43 0,71 0,13 1,27Pourouma guianensis 0,43 0,71 0,04 1,18

DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICA

A distribuição diamétrica (Figura 42) na Mata do Periquito é bastante semelhante à

Mata do Cuxio. Verificam-se, na primeira classe de diâmetro (0,0 – 5,0 cm), 6

indivíduos. Na segunda classe (5,1 – 10, 0 cm) há um aumento expressivo no número de

indivíduos, que sobe para 109. Nas classes subseqüentes ocorre uma queda gradativa até

a ultima Classe que é a décima quarta (14). No caso das primeiras classes, a situação é

semelhante à Mata do Cuxio. Há corte seletivo na área, o que promove uma regeneração

natural nas clareiras, provocadas pelas derrubadas, e conseqüentemente um número

grande de indivíduos jovens no local. Esta dinâmica ocorre em função da ação antrópica

na área onde a distribuição diamétrica apresenta-se na forma de “J” invertido, o

esperado para uma floresta ineqüiânea secundária.

Mata do Piriquito

2132335610

20

30

51

109

6

0102030405060708090

100110120

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14Classes de diâmetro

Núm

ero

de in

diví

duos

Figura 43 – Distribuição diamétrica dos indivíduos arbóreos da Mata do Piriquito em Classes dediâmetros com intervalo entre classes de 5,0 cm.

Da terceira classe (10,1 - 15,0 cm) até a oitava (60,1 - 65 cm) há umatendência das espécies se distribuírem de forma decrescente e gradativa nacomunidade florestal do local. Situação muito semelhante à Mata do Cuxio,

Page 99: 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo · 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo Nos últimos 30 anos a pressão antrópica sobre a área reduziu

descrita anteriormente. As demais classes apresentam indivíduosremanescentes que sobreviveram aos cortes seletivos e se destacam emrelação à comunidade como um todo. Indivíduos de Taprira guianensis eBoudichia virgilioides são, sem dúvidas, representantes autênticos destesremanescentes com, respectivamente, 66,53 cm de diâmetro e 35 m de alturae 62,71 cm de diâmetro e 38 m de altura.

REGENERAÇÃO NATURAL

Das dez sub-parcelas amostradas encontraram-se 193 indivíduos pertencentesa 18 famílias e 35 espécies no levantamento da regeneração natural da Matado Piriquito. As estimativas dos parâmetros fitossociológicos da regeneraçãonatural encontram-se na Tabela 22, a seguir.

Tabela 22 – Parâmetros fitossociológicos da regeneração natural da Mata do Piriquito, onde DR =Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valor deImportância.

Nome científico DR(%) FR(%) DoR(%) VISiparuna guianensis 16,06 7,79 14,37 38,23

Helicostylis tomentosa 10,88 6,49 14,81 32,19Eschweilera ovata 11,92 5,19 10,79 27,90Protium giganteum 4,66 9,09 9,03 22,78Annona glabra 6,22 7,79 5,66 19,67Cordia nodosa 8,29 5,19 3,04 16,52Protium heptaphyllum 6,74 5,19 2,70 14,64Thyrsodiumschomburgkianum 4,15 3,90 5,84 13,88Inga blancheitiana 3,11 1,30 9,23 13,64Sorocea hilarii 3,63 6,49 0,71 10,83Brosimum discolor 1,04 2,60 3,93 7,56Pouteria grandiflora 2,59 2,60 1,41 6,59Myrcia rostrata 2,07 1,30 3,17 6,54Brosimum conduru 2,07 2,60 1,85 6,52Miconia albicans 2,59 2,60 0,98 6,17Nectandra cuspidata 0,52 1,30 3,80 5,62Eschweilera apiculata 1,55 2,60 0,69 4,84Psychotria sessilis 1,55 2,60 0,23 4,38

Page 100: 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo · 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo Nos últimos 30 anos a pressão antrópica sobre a área reduziu

Myrcia fallax 1,04 2,60 0,37 4,00Parkia pendula 0,52 1,30 2,03 3,85Cestrum megalophyllum 1,04 1,30 0,64 2,97Macrosamanea pedicellaris 1,04 1,30 0,56 2,90Ocotea opifera 0,52 1,30 0,95 2,77Cupania racemosa 0,52 1,30 0,68 2,50Aspidosperma sp 0,52 1,30 0,46 2,27Eugenea sp 0,52 1,30 0,36 2,18Miconia bentaniana 0,52 1,30 0,36 2,18Caraipa densifolia 0,52 1,30 0,28 2,09Maclura sp 0,52 1,30 0,28 2,09Campomanesia xanthocarpa 0,52 1,30 0,20 2,02Pogonophora schomburkiana 0,52 1,30 0,20 2,02Casearia arborea 0,52 1,30 0,14 1,96Cecropia glaziovi Snethlage 0,52 1,30 0,09 1,91Inga thibaudiana 0,52 1,30 0,09 1,91Manilkara salzmanii 0,52 1,30 0,09 1,91

As dez espécies mais presentes na regeneração com destaque em todos osparâmetros fitossociológicos estudados foram: Siparuna guianensis,

Helicostylis tomentosa, Eschweilera ovata, Protium giganteum, Annona glabra,

Cordia nodosa, Protium heptaphyllum, Thyrsodium schomburgkianum , Inga

blancheitiana e Sorocea hilarii.

Comparadas com as adultas, verifica-se que a maioria encontrada emregeneração possui representantes desenvolvendo-se normalmente na Matado Periquito. A situação da comunidade é a mesma das Matas até entãoestudadas, ou seja, a composição da vegetação arbórea da Mata do Periquitoapresenta as espécies com grande número de indivíduos nas classes menoresde diâmetro tendendo a estarem presentes na floresta futura destacomunidade.

O destaque fica para Siparuna guianensis, uma espécie secundária bemcaracterística das florestas Estacionais Semidecíduas e das FlorestasOmbrófilas Densas. Também se destaca Helicostylis tomentosa e Eschweilera

ovata. Possuem características de secundária inicial e tardia, respectivamente.São espécies garantidas na fitofisionomia futura.

Mata do PrejuíFITOSSOCIOLOGIA

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Na área de amostral de 2500 m2 (0,25 ha ), equivalente a 10 parcelas de 10 m x25 m, foram encontrados 256 indivíduos arbóreos, com 10 indivíduos mortos. Amaior altura foi detectada em um indivíduo de Pera ferruginea com 35 m e omaior diâmetro em um indivíduo de Parkia pendula com 89,45 cm. Foramamostrados 24 famílias, 53 gêneros, 58 espécies e um índice de diversidade deSHANNON e WEAVER (H') 1,59 nats/espécies. Quando se estima o número deindivíduos por hectare, é de 1024. Número próximo da Mata do Piriquito, que foide 1004, difere um pouco da Mata do Cuxio, de 1096, e menor que a MataMané do Doce, com 1180 indivíduos. Os parâmetros fitossociológicos (Tabela23) mostram a estrutura da mata com as espécies mais presentes na área comênfase em Densidade Relativa, Freqüência Relativa e Dominância Relativa.

Tabela 23 – Parâmetros fitossociológicos da Mata do Prejuí, onde DR = Densidade Relativa, FR= Freqüência Relativa, DOR = Dominância Relativa e VI = Valor de Importância.

Nome científico DR(%) FR(%) DoR VIPera ferruginea 1,95 1,41 77,96 81,33Annona glabra 11,72 7,04 2,04 20,80Guatteria schelchtendaliana 8,20 2,82 0,67 11,69Thyrsodium schomburgkianum 5,47 4,93 0,66 11,06Nectandra cupidata 3,91 4,93 1,31 10,15Parkia pendula 1,56 2,11 4,29 7,97Brosimum discolor 3,52 3,52 0,51 7,55Euphorbiaceae 3,91 2,82 0,78 7,51Diplotropis purpurea var.brasiliensis 3,13 2,11 2,27 7,50Eschweilera ovata 3,91 2,82 0,55 7,27

Helicostylis tomentosa 3,13 2,82 0,35 6,29Protium heptaphyllum 3,13 2,82 0,32 6,26Tapirira guianensi 2,73 2,11 1,40 6,25Pouteria grandiflora 3,13 2,82 0,22 6,16Protium giganteum 2,34 3,52 0,11 5,97Miconia albicans 1,95 2,82 0,63 5,40Dialium guianensis 1,95 2,82 0,51 5,28Myrcia rostrata 1,56 2,82 0,04 4,42Mabea occidentalis 2,34 1,41 0,39 4,14Simaruba amara 1,56 2,11 0,24 3,92Rheedia gardneriana 1,56 2,11 0,08 3,76Ezembeckia sp 2,73 0,70 0,31 3,75Pogonophora schomburgkiana 1,95 1,41 0,27 3,64Pourouma guianensis 1,17 2,11 0,12 3,40Schefflera morototoni 1,17 2,11 0,06 3,35Pouteria scytalophora 1,56 1,41 0,30 3,27Bowdichia virgilioides 1,17 1,41 0,59 3,17

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Clusia nemorosa 1,17 1,41 0,20 2,78Byrsonia sericea 0,78 1,41 0,53 2,72Rubiaceae 1,17 1,41 0,08 2,66Erythoxilum scamatum 1,17 1,41 0,04 2,62Indeterminada 0,78 1,41 0,20 2,39Croton gladulosum 0,78 1,41 0,19 2,38Virola gardneri 0,78 1,41 0,08 2,27Cordia selloriana 0,78 1,41 0,06 2,25Ocotea odorifera 0,78 1,41 0,03 2,22Cupania racemosa 1,17 0,70 0,02 1,90Ocotea opifera 0,39 0,70 0,34 1,43Sttyphnodendron pulcherrimum 0,39 0,70 0,28 1,37Maclura sp 0,39 0,70 0,18 1,27Piptocarpa sp 0,39 0,70 0,16 1,26Annona glabra 0,39 0,70 0,13 1,22Manilkara salzmanii 0,39 0,70 0,08 1,18Hirtella racemosa 0,39 0,70 0,08 1,17Caraipa densifolia 0,39 0,70 0,07 1,16Rudgea erythrocarpa 0,39 0,70 0,06 1,16Aspidosperma sp 0,39 0,70 0,06 1,16Brosimum conduru 0,39 0,70 0,05 1,15Sloanea obtusifolia 0,39 0,70 0,03 1,12Gomidesia blanchetiana 0,39 0,70 0,02 1,11Sebastiana sp 0,39 0,70 0,01 1,11Psyconthria cartaginensis 0,39 0,70 0,01 1,10Sorocea hilarii 0,39 0,70 0,01 1,10

Ouratea castanaefolia 0,39 0,70 0,01 1,10Swartza pickelii 0,39 0,70 0,01 1,10Eschwelera apiculata 0,39 0,70 0,00 1,10Lonchocarpus guilleminianus 0,39 0,70 0,00 1,10Symphonia globulifera 0,39 0,70 0,00 1,10

As espécies de maior VI (Valor de Importância) foram: Pera ferruginea,

Annona glabra Guatteria schlchtendaliana, Thyrsodium schomburgkianum,

Nectandra cuspidata, Parkia pendula, Brosimum discolor, Euphorbiaceae,

Diplotropis purpurea var. brasiliensis e Eschweilera ovata., as de maiordestaque na Mata do Prejuí. Em relação ao total de espécies amostradas, asfamílias mais presentes foram Euphorbiaceae 10,34 %, Moraceae 6,89 %,Annonaceae e Sapotaceae 5,17 % cada, Anacardiaceae, burseraceae,Guttiferae, Lauraceae, Lecythidaceae, Leguminosae Mimosoideae,Leguminosae Papilionoideae e Myrtaceae 3,44 % cada.

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DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICA

A distribuição diamétrica (Figura 43) na Mata do Prejuí é semelhante à Mata do Cuxio e

do Piriquito. Verifica-se na primeira classe de diâmetro (0,0 – 5,0 cm) 19 indivíduos. Na

segunda classe (5,1 – 10, 0 cm) há um aumento expressivo no número de indivíduos que

sobe para 97. Nas classes subseqüentes ocorre uma queda gradativa até a sétima classe

(30,1 – 35,0). No caso das primeiras classes, a situação é semelhante às Matas até aqui

analisadas. Há corte seletivo na área, promovendo uma regeneração natural nas clareiras

provocadas pelas derrubadas, e conseqüentemente, um número grande de indivíduos

jovens no local, recompondo a mata. Esta dinâmica ocorre em função da ação antrópica

na área que induz ainda mais a distribuição diamétrica na forma de “J” invertido, o

esperado para uma floresta ineqüiânea secundária.

Da terceira classe (10,1 - 15,0 cm) até a sétima (35,1 – 40,0 cm) há umatendência das espécies se distribuírem de forma decrescente e gradativa nacomunidade florestal ali instalada. Situação muito semelhante ás matasanteriormente descritas. As demais classes apresentam indivíduosremanescentes que sobreviveram aos cortes seletivos e se destacam emrelação à comunidade como um todo. Indivíduos de Parkia pendula e Pera

ferruginea são representantes autênticos destes remanescentes com,respectivamente, 89,45 cm de diâmetro e 25 m de altura e 35,33 cm dediâmetro e 35 m de altura.

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Mata do Prejuí

1101112117

512

18

33

42

97

19

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

Classes de Diâmetro

Núm

ero

de In

diví

duos

Figura 44– Distribuição diamétrica dos indivíduos arbóreos da Mata do Prejuí em Classes de diâmetroscom intervalo entre classes de 5,0 cm.

REGENERAÇÃO NATURAL

Nas dez sub-parcelas amostradas encontraram-se 217 indivíduos pertencentesa 23 famílias e 43 espécies no levantamento da regeneração natural da Matado Prejuí. As estimativas dos parâmetros fitossociológicos da regeneraçãonatural encontram-se na Tabela 24 a seguir.

Tabela 24 – Parâmetros fitossociológicos da regeneração natural da Mata do Prejui, onde DR =Densidade Relativa, FR = Freqüência Relativa , DOR = Dominância Relativa e VI = Valor deImportância.

Nome científico DoR DR FR VIAnnona glabra 10,37 12,44 8,65 31,46Guatteria schlechtendaliana 6,08 13,36 3,85 23,29Pouteria grandiflora 10,01 5,53 4,81 20,35Brosimum discolor 6,84 6,45 5,77 19,06Protium giganteum 8,87 4,15 5,77 18,79Brosimum conduru 5,28 4,61 4,81 14,69Siparuna guianensis 5,25 5,07 3,85 14,16Protium heptaphyllum 8,30 1,84 2,88 13,03Eschweilera ovata 0,91 5,07 6,73 12,71Helicostylis tomentosa 6,85 3,69 1,92 12,46Mabea occidentalis 7,80 1,84 0,96 10,61

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Rheedia gardineriana 3,72 2,30 3,85 9,87Myrcia sylvática 2,55 1,38 2,88 6,81Psychotria sessilis 2,01 1,84 2,88 6,74Miconia albicans 1,11 2,30 2,88 6,30Nectandra cuspidata 1,46 1,84 2,88 6,19Eugenia sp 1,34 1,84 2,88 6,07Thyrsodiumschomburgkianum 1,03 1,84 2,88 5,76Pouteria scythalophora 1,09 2,30 1,92 5,32Licania rigida 1,57 2,30 0,96 4,83Cassia ferruginea 3,05 0,46 0,96 4,47Eschweilera apiculata 0,72 1,38 1,92 4,03Simaruba amara 0,25 1,38 1,92 3,56Erythroxyllum scamatum 0,70 1,38 0,96 3,04CampomanesiaXanthocarpa 0,10 1,84 0,96 2,90Sorocea hilarii 0,26 1,38 0,96 2,60Cordia nodosa 0,42 0,92 0,96 2,31Swatza pickelii 0,38 0,92 0,96 2,26Allophyllus edulis 0,28 0,92 0,96 2,16Psychotria carthaginensis 0,53 0,46 0,96 1,95Allophyllus sericeus 0,08 0,46 0,96 1,51Cordia sellowiana 0,08 0,46 0,96 1,51Erythroxyllum squamatum 0,08 0,46 0,96 1,51Macrosamanea pedicellaris 0,08 0,46 0,96 1,51Ocotea glomerata 0,08 0,46 0,96 1,51Pogonophoraschomburgkiana 0,08 0,46 0,96 1,51Pouruma guianensis 0,08 0,46 0,96 1,51Symphonia globulifera 0,08 0,46 0,96 1,51Casearia arborea 0,05 0,46 0,96 1,47Inga thibaudiana 0,05 0,46 0,96 1,47Prunus selowii 0,04 0,46 0,96 1,46Dialiuim guianensis 0,02 0,46 0,96 1,44Inga thibaudiana 0,02 0,46 0,96 1,44Psychotria sessilis 0,01 0,46 0,96 1,44indeterminada 0,01 0,46 0,96 1,43

As dez espécies mais presentes na regeneração natural que se destacaramem todos os parâmetros fitossociológicos estudados foram: Annona glabra,

Guatteria schlechtendaliana, Pouteria grandiflora, Brosimum discolor, Protium

giganteum, Brosimum conduru Protium heptaphyllum, Siparuna guianensis

Protium heptaphyllum, Eschweilera ovata, e Helicostylis tomentosa.

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Se comparadas com as adultas, verifica-se que a maioria encontrada emregeneração possui representantes desenvolvendo-se normalmente na Matado Prejuí. A comunidade encontra-se com a mesma tendência, em termos deestrutura, das matas até então estudadas, ou seja, a composição da vegetaçãoarbórea da Mata do Prejuí apresenta espécies com grande número deindivíduos nas classes menores de diâmetro tendendo a estarem presentes nafloresta futura da comunidade arbórea estudada.O destaque fica para Annona glabra., espécie secundária característica daFloresta Ombrófila Densa. Destaca-se ainda Guatteria schlechtendaliana ePouteria grandiflora, espécies que possuem características de secundáriainicial, sendo que as mesmas estariam garantidas na floresta futura.

Análise da Reserva de GurjaúFITOSSOCIOLOGIA

Na área amostrada de 1,0 hectare, equivalente a 40 parcelas de 10 m x 25 m(250 m2), correspondendo às quatro matas estudadas, foram encontrados 1075indivíduos arbóreos, com 48 indivíduos mortos. A maior altura foi detectada emum indivíduo de Pera ferruginea com 35 m e o maior diâmetro em um indivíduode Parkia pendula (Figura 44) com 89,45 cm. Foram amostrados 36 famílias, 81gêneros, 104 espécies e um índice de diversidade de SHANNON e WEAVER(H') 3,97 nats/espécies. Ferraz (2002) encontrou 1521 indivíduos arbóreos em1,0 ha, pertencentes a 58 famílias, 96 gêneros e 151 espécies arbóreas emestudo realizado no município de São Vicente Férrer – PE.

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Figura 45 – Exemplar de Parquia pendula com 89,45 cm de diâmetro e 25,0 m de altura, mostrando aexuberância de remanescentes presentes nas matas da Reserva de Gurjaú.

Segundo Martins (1991), o índice de diversidade de SHANNON é influenciadopela amostragem, oferecendo uma boa indicação da diversidade específica epossibilitando comparar florestas em locais distintos. Estudos em Mata Atlânticarealizados por Melo & Matovani (1994), na ilha do Cardoso-SP apresentaramvalor de 3,64; Citadini-Zanette (1995), em Orleans-SC e Negrelle (1995), emItapoá-SC, mostram, respectivamente, valores de 3,81 e 3,62.

Nota-se uma grande variação nos valores de índice de diversidadeapresentados mesmo dentro de uma mesma região fitogeográfica. Isso sedeve, principalmente, às diferenças nos estágios de sucessão somados àsdiscrepâncias das metodologias diferenciadas de amostragem, níveis deinclusão, esforços de identificações taxonômicas além, obviamente, dasdissimilaridades florísticas que as diferentes comunidades apresentam. O número de indivíduos (1075) para Mata Atlântica não é dos melhores. Isto sedeve tão somente ao corte seletivo na área, ocorrendo em tempos passadoscom mais intensidade que nos dias atuais, porém, ainda continua nas matasda Reserva de Gurjaú.

Espécies com maiores valores de VI das Matas da Reserva de Gurjaú:Simarouba amara, Annona glabra, Brosimum discolor, Caraipa densifolia,

Diplotropis purpurea var. brasiliensis, Pogonophora schomburkiana,

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Eschweilera ovata, Mabea occidentalis, Tapirira guianensis, Schefflera

morototoni, Manilkara salzmannii,, Euphorbiacea, Annona salzmannii, Protium

heptaphyllum, Thyrsodium schomburgkianum, Parkia pendula, Pera ferruginea,

Eugenia sp, Helicostylis tomentosa, Nectandra cuspidata, Ocotea opifera,

Bowdichia virgilioides e Guatteria schlechtendaliana.

Famílias mais presentes nas matas da Reserva de Gurjaú: Anacardiaceae,Annonaceae, Apocynaceae Burseraceae, Euphorbiaceae, Guttiferae,Lauraceae, Lecythidaceae, Leguminosae Caesalpinioideae, LeguminosaeMimosoideae, Leguminosae Papilionoideae, Moraceae, Myrtaceae, Sapotaceaee Rubiaceae.

DISTRIBUIÇÃO DIAMÉTRICA

Quando se analisa a área como um todo, verifica-se que, nas três primeirasclasses de diâmetro (0,0 – 5,0 cm de 5,1 – 10,0 cm e 10,1 – 15,0 cm),encontra-se o maior número de indivíduos da comunidade em questão, ouseja, 697 (Figura 46). As demais apresentam uma diminuição no número deindivíduos à medida que o diâmetro aumenta. Isso é esperado para umafloresta inequiânea secundária em estágio inicial de sucessão, que apresentauma curva em forma de “J” invertido na sua distribuição diamétrica. As matasque constituem a Reserva de Gurjaú possuem características de florestanatural inequiânea, (Figura 45) conforme conceito dado por François DeLioucourt, em 1898, segundo Meyer et al. (1952), citados por Mariscal Flores(1993).

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Figura 46 – Detalhe da distribuição diamétrica de indivíduos das espécies arbóreas na Reserva de Gurjaú.

O número muito grande de indivíduos nas classes iniciais mostra que esta comunidade é

jovem. Essa característica em classes de diâmetro menores significa que a regeneração

está eficiente, garantindo a formação da tipologia florestal da região. Para Silva-Júnior

(1984), um maior número de indivíduos nas classes mais baixas mostra que a

comunidade está em fase inicial de desenvolvimento. Afirmação semelhante faz Martins

(1991) ao estudar a Mata da Capetinga, no Estado de São Paulo. Segundo o referido

autor, o excesso de classes baixas, em detrimento das médias, indica que a população

arbórea dessa mata ainda está em crescimento, sendo constituída na maioria por jovens

(Figura 46).

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Figura 47 – Distribuição diamétrica de indivíduos arbóreos da Reserva de Gurjaú, por classes diamétricas,cujo intervalo entre classes é de 5,0 cm.

Na realidade, a reserva de Gurjaú sofre corte seletivo em toda a sua extensão.Tais cortes, clandestinos, geram grandes clareiras e o processo de sucessãonaquele local se reinicia. Por serem várias em toda área, as predominânciasde indivíduos jovens na mata é sempre incrementado, o que sugere umestágio sucessional ainda inicial, mesmo com indivíduos remanescentes queescapam do corte seletivo, e são, na maioria das vezes, de porte considerável.Isto ficou bem claro quando destacamos por mata as espécies de maior portepara cada área específica.

REGENERAÇÃO NATURAL

Reserva de Gurjaú

1212351081215313846

78

126

197

444

56

0

50

100

150

200

250

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350

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450

500

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

Classes de diâmetro

Núm

ero

de in

diví

duos

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Nas 40 subparcelas, de 5,0 x 5,0 m, lançadas para estudo de regeneração,foram amostrados 843 indivíduos, evidenciando uma excelente capacidade deregeneração das espécies arbóreas na área de estudo. Ao se comparar comas adultas, verifica-se que a maioria das espécies encontradas emregeneração possui indivíduos adultos desenvolvendo normalmente na áreade estudo. Analisando a composição da vegetação arbórea do local, verifica-seque as espécies com grande número de indivíduos nas classes menores dediâmetro tendem a estar presentes na floresta futura do local. Essa afirmativaé constatada quando se observa na regeneração os resultados e se verifica apresença dessas espécies em destaque no povoamento. Fica evidente, noentanto, que a vegetação arbórea estudada vem desenvolvendo seu processosucessional de forma eficiente, garantindo a fitofisionomia da região. Citadini-Zanette (1995) afirma que as espécies que ocorrem em todas as classes dealtura da regeneração teoricamente possuíriam maior potencial para participarda composição futura da floresta, ou seja, são as que melhor conseguemestabelecer-se na floresta futura.Na Figura 47 pode se verificar o desempenho da regeneração na áreaestudada, que apresenta em sua dinâmica tendências diferenciadas,principalmente quanto ao número de indivíduos por parcela. Para cada local,ao longo da amostragem, ficaram claras as mudanças neste sentido, emfunção basicamente do dossel mais fechado (Figura 48) ou mais aberto eambiente com mais umidade ou com menos. Espécies que mais se destacaram na regeneração em termos de parâmetrosfitossociológicos das matas da Reserva de Gurjaú são: Annona glabra,Guatteria schlechtendaliana, Pouteria grandiflora, Brosimum discolor, Protiumgiganteum, Brosimum conduru, Protium heptaphyllum, Siparuna guianensis,Eschweilera ovata, Helicostylis tomentosa, Cordia nodosa, Thyrsodiumschomburgkianum, Inga blancheitiana, Sorocea hilarii, Myrcia rostrata,Manilkara salzmannii, Mabea occidentalis, Pouteria scytalophora,Euphorbiaceae, Rheedia gardneriana, Inga tibaudiana, Pogonophoraschomburkiana e Miconia albicans. Estas espécies, além de possuíremrepresentantes adultos, aparecem nas três classes de altura de regeneração.Neste caso as mesmas estarão garantidas na floresta futura e, sem dúvidas,farão parte da fitofisionomia da região.

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Figura 48 – Detalhe da regeneração nas matas da Reserva de Gurjaú, em local de dossel mais aberto,apresentando uma grande densidade.

Figura 49 - Detalhe do dossel mais fechado da área de estudo, com tronco de Macrosamaneapedicellaris, em primeiro plano.

IntroduçãoO fim do século XX e a passagem do segundo para o terceiro milêniotrouxeram algumas preocupações e novos desafios. O “ano 2000” tem sido

4.2.7 Biologia da Conservação

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ligado com freqüência à denominação de iniciativas internacionais queconsideram um planejamento a longo prazo para as atividades de naturezaglobal. São exemplos: a Agenda 21, Educação 2000+, Botânica 2000,espécies 2000, Agenda Sistemática 2000. Entretanto, novos paradigmas sobrea mudança global, diversidade e sustentabilidade emergem como resultado deum aumento crescente na escala de percepção e de compreensão do mundo.Eles refletem também uma maior consciência do poder da humanidade parainfluenciar seu ambiente de forma dramática, chegando a modificar o curso desua própria evolução.Além disso, as questões que emanam da diversidade biológica, mudançaglobal e desenvolvimento sustentável constituem a tríade sobre a qual sebaseou a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,realizada em 1992, no Rio de Janeiro (ECO 92). A Convenção sobre aDiversidade Biológica, assinada nessa época por mais de 162 países, foiratificada. Esta Convenção representa uma importante conquista, visando freara destruição das espécies, habitats e ecossistemas, considerando abiodiversidade um recurso para a construção do desenvolvimento.A biodiversidade pode ser entendida de duas formas: pode ser vista como umrecurso e/ou como uma propriedade da vida. A percepção pública dabiodiversidade evoluiu rapidamente de um estágio dominado pelo medo daperda de certas espécies carismáticas da fauna e flora, para aquele daConvenção, no qual a biodiversidade é percebida como um recurso preciosoque devemos conservar e manejar para benefício de gerações humanaspresentes e futuras.Há pouco mais de dez anos, pouca importância era dada ao conceito dediversidade biológica, surgindo o termo biodiversidade aproximadamente em1986. Geralmente os taxonomistas tratam os grupos florísticos e faunísticoscomo organizações em mosaicos de espécies. A descrição e os índices dediversidade biológica tratam apenas do número de espécies que integram ascomunidades, ecossistemas e paisagens. Por outro lado, os biólogosmoleculares, os geneticistas e os biólogos do desenvolvimento se centram,sobretudo, em demonstrar a unidade da vida, mais que explicar qual osignificado da biodiversidade (Dobson 1995; Younès 2001).

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A biologia da conservação é uma ciência multidisciplinar que foi desenvolvidacomo resposta à crise com a qual a diversidade biológica se confrontaatualmente (Soulé 1985).A biologia da conservação tem dois objetivos: primeiro, entender os efeitos daatividade humana nas espécies, comunidades e ecossistemas, e, segundo,desenvolver abordagens práticas para prevenir a extinção de espécies e, sepossível, reintegrar as espécies ameaçadas ao seu ecossistema funcional(Primack e Rodrigues 2001).Diante da necessidade de tratar as sérias ameaças à diversidade biológica,não solucionada pelas disciplinas tradicionais aplicadas, é que surgiu a biologiada conservação.A biologia da agricultura, silvicultura, do gerenciamento da vida silvestre e dapiscicultura ocupam-se basicamente com o desenvolvimento de métodos paragerenciar umas poucas espécies para fins mercadológicos e de recreação.Geralmente estas disciplinas não tratam da proteção de todas as espéciesexistentes nas comunidades, e caso as tratem, o fazem como um assuntosecundário (Primack e Rodrigues op cit).A biologia da conservação complementa as disciplinas aplicadas fornecendouma abordagem mais teórica e geral para a proteção da diversidade biológica;ela se difere das demais disciplinas porque leva em consideração, em primeirolugar, a preservação a longo prazo de todas as comunidades biológicas, ecoloca os fatores econômicos em segundo plano (Primack e Rodrigues op cit).As disciplinas de biologia populacional, taxonomia, ecologia e genéticaconstituem o centro da biologia da conservação e muitos profissionaisprocedem dessas áreas.Uma vez que grande parte da crise da biodiversidade tem origem na pressãoexercida pelo homem, a biologia da conservação também incorpora idéias eespecificidade de várias outras áreas, além da biologia. Por exemplo, alegislação e a política ambiental dão sustentação à proteção governamental deespécies raras e ameaçadas e de habitats em situação crítica. A éticaambiental oferece fundamento lógico para a preservação das espécies. Asciências sociais, tais como antropologia, sociologia e geografia fornecem apercepção de como as pessoas podem ser encorajadas e educadas paraproteger as espécies encontradas em seu ambiente imediato. Os economistasambientais analisam o valor econômico da diversidade biológica para sustentar

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argumentos em favor da preservação. Ecologistas e climatologistas deecossistemas monitoram as características físicas e biológicas do meioambiente e desenvolvem modelos para prever as respostas para os distúrbios.Sob vários aspectos a biologia da conservação é uma disciplina de crise. Asdecisões sobre assuntos relativos à conservação são tomadas diariamente,muitas vezes com informação limitada, e com forte pressão do tempo. Abiologia da conservação tenta fornecer respostas a questões específicasaplicáveis a situações reais. Tais questões são levantadas no intuito dedeterminar as melhores estratégias para proteger as espécies raras, conceberreservas naturais, iniciar programas de reprodução para manter a variaçãogenética de pequenas populações e harmonizar as preocupaçõesconservacionistas com as necessidades do povo e governo locais.As funções ambientais de regulação, suporte, produção e informação sãoatribuídas, sobretudo, às áreas naturais. A Biologia da Conservação tem porfinalidade proteger essas áreas naturais, promover a qualidade de vida, econseqüentemente viabilizar o desenvolvimento sustentado. Dessa forma, aBiologia da Conservação busca assegurar que as populações possamcontinuar a responder as variações ambientais de uma forma adaptativa. AReserva de Gurjaú constitui uma dessas áreas naturais de Pernambuco.A Reserva de Gurjaú encontra-se inserida na porção Sul da regiãometropolitana do Recife, precisamente na divisa dos municípios de Jaboatãodos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Moreno. Está situada a Noroesteda usina Bom Jesus, entre os engenhos São Salvador, São Brás e São JoãoRochas Velhas, com cerca de 744,47 ha inserida no município do Cabo deSanto Agostinho, 157,44 ha em Jaboatão dos Guararapes e 157,19 ha emMoreno, totalizando 1.077,10 ha. A reserva foi criada através do DecretoEstadual no 9.985 de 13 de janeiro de 1987.O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) criado pela LeiFederal no 9.985 de 18 de junho de 200 não contempla a categoria de ReservaEcológica, daí a necessidade da recategorização em área de proteção integralou de uso sustentado, no entanto, a legislação estabeleceu cerca de dois anospara enquadramento sem que o Estado tomasse qualquer decisão sobre suasreservas, dentre elas a Reserva Ecológica de Gurjaú.Por outro lado, Gurjaú, que apresenta mais de 1000 ha, enquadra-se em umtamanho mínimo necessário para torna-se viável como unidade de

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conservação segundo alguns autores. Dessa forma, pretende-se caracterizaros moradores da Reserva de Gurjaú, quanto ao uso do solo, relação com omeio ambiente e percepção ambiental. Associando essa diagnose osresultados dos levantamentos da biodiversidade, para elaboração de umzoneamento da área e proposição de uma unidade, segundo critériosestabelecidos pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

METODOLOGIA

Foi realizado um reconhecimento de toda a área da Reserva, servindo-se demapas, evidenciando-se os marcos topográficos, assim como com a ajuda deum morador de Gurjaú. Para um melhor aproveitamento das visitas de campo e a título de metodologiade trabalho, a Reserva Gurjaú foi dividida em dois subconjuntos, sendo oprimeiro (Área 1) compreendido por: Rua da Capela, Rua da Cachoeira, Ruados Ventos, Porteira Preta, Sítio Porteira Preta, Jaqueira e Sítio dos Periquitose o segundo (Área 2), por São Salvador. Primeiramente os trabalhos deBiologia da Conservação foram aqueles relacionados à área 1. A segundaetapa foi a área 2, localizada em São Salvador, onde foi encontrado o maioradensamento populacional de posseiros com atividades agrícolas desubsistência e comercial, assim como pecuária. Assim, a Área 1 foi aquela queconstituiu a primeira etapa dos levantamentos. Dando-se continuidade a deSão Salvador, a Área 2, foi trabalhada por um período mais longo por tratar-sede uma área onde foi observado um maior adensamento populacional deposseiros com atividades agrícolas de subsistência e comercial e também depecuária de pequeno porte (Fig. 49). Para um melhor reconhecimento dasáreas recenseadas, foram confeccionados croquis dividindo a reserva emsetores – em São Salvador, setores de A a L - tendo-se o cuidado degeoreferenciar cada casa. Questionários foram aplicados entre os posseiros/moradores da reserva deGurjaú com o objetivo de aferir a forma de uso do solo, conflitos, relação com omeio ambiente e percepção ambiental na área da reserva, avaliar o tipo deatividade agrícola, relação do posseiro com a reserva (forma de uso),

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perspectivas com a implantação de uma unidade de conservação, dentreoutras, conforme modelo em anexo.Os questionários sócio-econômico-ambientais foram aplicados durante seisdias por mês no período do levantamento. Por ocasião da diagnose, foramanotadas as coordenadas geográficas de todas as posses.Ao final do levantamento foram associados os resultados obtidos na diagnosesócio-econômica-ambiental com aqueles da biodiversidade resultando naproposta de zoneamento da unidade, assim como a sugestão da sua forma deuso.

Resultados

Uma vez conhecida a área da Reserva Gurjaú, foi dado início o levantamentopara o estudo da Biologia da Conservação. Ao total, foram aplicados 284questionários entre os posseiros da reserva de Gurjaú. Menos de 5% dessetotal não foram entrevistados, uma vez que as casas encontravam-se fechadasou desocupadas. Nestes casos foram feitas outras tentativas no intuito deencontrar os moradores, mas não houve sucesso. Mesmo assim, as casasforam georeferenciadas. Este percentual foi encontrado em São Salvador.Foram evidenciadas 23 casas de farinha, sendo 20 em São Salvador (área 2) e3 entre Porteira Preta e Cuxio (área 1). Diversas religiões e crenças estãopresentes entre os posseiros, encontrando-se desde a religião católica, àevangélica e os cultos afro-brasileiros, como expressões da religiosidade.Para uma melhor compreensão das diversas situações encontradas ao longodo trabalho estão apresentados a seguir resumo de cada rua e localidade,como também figuras (Figs. 50 a 66 para a área 1 e Figs. 67 a 85 para a área2) que ilustram as respostas obtidas durante o levantamento.

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Figura 50 – Mapa da reserva Gurjaú, mostrando o adensamento populacional de posseiros.

Área 1Rua da Capela:

Rua principal de acesso à estação de tratamento de água da COMPESA. Nelalocalizam-se as casas mais antigas, construídas pelo então Departamento deSaneamento e Esgoto (DSE). Nessa rua foram contactadas oito famílias. Amédia de idade dos entrevistados foi de 45,8 anos. A maioria é nascida ecriada em Gurjaú, apesar de alguns desenvolverem atividades em outraslocalidades. Nela encontra-se instalada uma escola que atende uma pequenaparte das crianças do Ensino Fundamental do entorno. O Ensino Médio éassegurado pelas escolas da cidade do Cabo e de outras localidades. Existeuma capela católica que atualmente não exerce atividades religiosas, estandofechada.

Rua da Cachoeira:

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Rua de maior movimento de Gurjaú. Foram contactadas 25 famílias, cujamédia de idade dos entrevistados foi de 42,24 anos. Todas as casas, emalvenaria, foram construídas pelo DSE, visando abrigar os seus funcionários.As moradias possuem em média dois quartos, duas salas, cozinha e banheiro.São abastecidas com água da COMPESA e possuem energia elétrica.Entretanto, atualmente não são saneadas. O sistema de esgoto implantado nagestão do DSE, não mais funciona. Consistia em sistema de tubulaçãoconduzindo os esgotos domésticos a uma espécie de lagoa de decantação,situada próximo ao portão principal da ETA. Atualmente este sistema encontra-se desativado, tendo a maioria das casas um sistema de fossa séptica ou atémesmo lançamento de seus dejetos diretamente no rio Gurjaú. Em todas ascasas entrevistadas há presença de crianças em idade escolar. Foievidenciada uma igreja evangélica. Nessa rua podem ser encontrados osmoradores mais antigos de Gurjaú, dentre eles, D. Báia, com 103 anos deidade, nascida e criada em Gurjaú. Sua família constitui a maioria dosmoradores da rua da Cachoeira, entre filhos, netos e bisnetos. No final dessarua pode ser encontrada uma cachoeira, que, nos finais de semana, constitui aúnica forma de lazer para os moradores de Gurjaú, atraindo também turistasda região. Esse tipo de atividade favorece a economia local, onde algunsmoradores montam barracas visando a venda de diversos produtos, a exemplode bebidas alcoólicas e alimentos. Esse tipo de atividade, apesar de agradar aalguns, desagrada à maioria dos moradores que se queixa do aumento depessoas estranhas transitando nas imediações, diminuindo a tranqüilidade. Atotalidade dos moradores aprecia a moradia pela calma do local. Esse ponto éextremamente importante, já que a maior riqueza para eles é a tranqüilidade ecalma de Gurjaú, motivo pelo qual não demonstram interesse em morar emoutro lugar. Do total de entrevistados dessa rua, 68% foram mulheres, dasquais 100% não possuem atividade fora do domicílio. Trinta e sete criançasforam registradas, sendo a maioria em idade escolar. Dessas, poucas estudamna escola situada na Rua da Capela. A maioria freqüenta escolas em SãoSalvador e outras na cidade do Cabo. Dos entrevistados do sexo masculino(32%) a maioria é aposentada do então DSE e COMPESA. Uma pequenaquantidade possui roçado em pequenos latifúndios próximos à barragem deGurjaú e outra tem plantação de subsistência no quintal de casa. Essasculturas são basicamente constituídas por roça, macaxeira e banana. Apenas

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um morador negocia com frutos extraídos da mata. Do total de casasexistentes nessa rua, 64% delas retiram lenha seca da mata para fogões àlenha, alegando a falta de condições financeiras para adquirirem botijões degás que atualmente apresentam preço elevado. Quando indagados quanto àsquestões relacionadas ao Meio Ambiente, nota-se uma falta de informaçãomuito grande e um despreparo, mesmo entre aqueles que possuem certaescolaridade. Entretanto, quando perguntados sobre o estado de conservaçãoda Reserva Gurjaú, a grande maioria respondeu que a área não estava sendobem cuidada e sempre se referem a períodos remotos em que a segurança daETA era efetiva, atribuída ao maior número de pessoal de vigilância, osportões sempre fechados e um maior cuidado com o ambiente. Algunsconsideram que a área está abandonada e que qualquer pessoa podeadentrar. Apesar do desconhecimento sobre conceitos que poderiam aferir oconhecimento ambiental da comunidade, algumas questões são ligadas aobom senso de cada um e aparecem claramente. Um exemplo é a apreensãode animais silvestres. A maioria das casas possui animais silvestres emcativeiro, sem objetivar o comércio, visto a pouca quantidade encontrada.Culturalmente, as pessoas costumam ter esse tipo de atividade sem envolvertráfico. Foi observado que, ao serem abordados sobre a questão, muitostentavam omitir tais informações, temendo que a equipe de entrevistadorespertencessem ao IBAMA ou CPRH, e levassem seus animais de estimação, oque segundo informações fornecidas por eles, aconteceu em algum momento.Após absorverem o verdadeiro objetivo da pesquisa, tratavam de informar omais próximo à realidade, ajudando sobremaneira a melhor diagnose. Um dosproblemas aqui detectado foi o lançamento de poluentes no rio Gurjaú. Apesarde não se identificarem temendo represálias, afirmam que constantemente écolocado carrapaticida no rio para facilitar a pesca do Pitú, camarãopertencente à espécie Machrobachium carcinus, comumente encontrada naregião, apesar de seu declínio populacional. Para uns, são pessoas de fora dacomunidade que realizam esse tipo de crime ambiental, para outros sãoantigos moradores de Gurjaú que atualmente residem em outras localidades,mas que têm conhecimento sobre esse recurso faunístico e que voltam para talatividade. Para outros, existem moradores atuais que praticam tal ação. Narealidade, a totalidade dos entrevistados lamenta esse tipo de atividade. Outroproblema apontado por eles é a falta de um posto médico. Uma questão

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relevante foi levantada não só nessa rua como também nas demais levantadasfoi a ausência completa de coleta de lixo. Todo o lixo produzido é lançadoentre as bananeiras (atrás de casa) próximo à estrada, ou então à margem dorio. Esse tipo de problema é o mais preocupante, uma vez que a comunidadetende a aumentar e, conseqüentemente, produzir maior quantidade de lixo.Eles não têm idéia de reciclagem. Propõem para a futura uma ação maisefetiva no sentido de viabilizar oficinas que permitam minimizar esses impactosao meio ambiente, capazes de comprometer sobremaneira a qualidadeambiental da Reserva Gurjaú.

Rua dos Ventos:

Rua situada nas proximidades da Sede da ETA Gurjaú, fazendo a ligaçãoentre a rua da Capela e a rua da Cachoeira. Foram entrevistadas 25 famílias,com média de idade entre eles de 33,5 anos. O acesso a essa rua éassegurado pela rua da Capela. O conjunto de casas é bem heterogêneo,possuindo construções mais antigas, da época do DSE, como também outrasem taipa. Quarenta e quatro crianças vivem entre os entrevistados, em suamaioria estudando em escolas da localidade ou de São Salvador. As casaspossuem em sua maioria dois quartos, duas salas, banheiro e cozinha. Pelorelevo, os quintais das casas ficam localizados nas encostas dos morros, o quede certa forma representa um fator negativo às atividades de agricultura desubsistência. A criação de animais se restringe às aves (Passeriformes emcativeiro, como animais de estimação e poucas galinhas para o consumo). Sãoraras outras criações, exceto alguns que possuem criação de suínos, atividadeesta que incita controvérsias entre moradores, alegando mau cheiro, etc. Damesma forma, na rua anterior a maioria dos entrevistados foi do sexo feminino,representando 64%. A grande maioria nasceu e foi criada em Gurjaú. Asmulheres se ocupam do lar, não contribuindo em termos de remuneração paraa renda familiar. As atividades exercidas pelos moradores da rua dos Ventosassemelham-se aquelas da rua da Cachoeira. Foram identificados funcionáriosda COMPESA e outros possuindo atividades externas a Gurjaú, como, porexemplo, funcionários de empresas de bebidas, localizadas na região, assimcomo zeladores e porteiros de prédios da Zona Sul da Região Metropolitana doRecife. O nível de escolaridade dos entrevistados vai desde o analfabetismo

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até o primeiro grau menor, muitas vezes incompleto. Apesar dessa situação,todos acreditam na educação, e esforçam-se para que seus filhos freqüentema escola. Da mesma forma que as demais ruas levantadas, são unânimes emreivindicarem um posto médico para a comunidade, pois alegam que é grandea distância que separa Gurjaú do posto médico mais próximo, agravada pelafalta de transporte em caso de emergência. Não existe coleta de lixo nessa ruacomo também nas demais.

Porteira Preta

Área mais afastada da Sede da ETA Gurjaú. Essa área conhecida comoPorteira Preta é distinta de outra localidade conhecida como Sítio PorteiraPreta. Essa divisão deve-se ao fato da área ser muito grande e de difícilconfiguração para a localização. Os próprios moradores fazem essa diferença.A área levantada tem início na estrada que liga à Usina Bom Jesus a São Brazaté a Fazenda de Sr. Manoel. As coordenadas de cada casa foram anotadas,com a intenção de, no futuro, apresentar um mapa com a localização, visandouma melhor compreensão. Nesse trecho são evidenciados desde conjuntos decasas construídas de taipa até granjas de pequeno, médio e grande porte,constituindo os maiores latifúndios dentro da área da reserva. Os moradoresde baixa renda são originários de Gurjaú, tendo nascido nas imediações, mashá até os que já constituem a terceira geração de posseiros de Gurjaú. Outrostêm suas propriedades utilizadas apenas em finais de semana. Outrospossuem atividade pecuária envolvendo gado leiteiro e ovino. É nesse trechoque pode ser observada uma maior ação antrópica que vem diminuindo a áreada reserva Gurjaú. As propriedades avançam em direção às matas, tornandomais e mais escasso este recurso. Foi observada uma grande quantidade decaçadores nesse trecho. Foram entrevistadas 15 famílias, cuja média de idadeentre as pessoas entrevistadas foi de 45,8 anos. Existem poucas crianças. Asatividades exercidas pela comunidade de baixa renda são variadas, indo desdeo plantio de roça para a extração da farinha, até fruteiras (banana, graviola,acerola, mamão, etc:), como também o plantio de cana-de-açúcar para a UsinaBom Jesus. Entre os posseiros, poucos utilizam agrotóxicos, exceto aquelesque possuem uma maior área e que plantam cana-de-açúcar. Estes recorrem

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à utilização de adubos químicos e defensivos agrícolas para a obtenção demelhores colheitas. Nesse trecho encontram-se instaladas duas casas-de-farinha que, além de servirem aos proprietários (posseiros), são alugadas aosdemais interessados pelo valor médio de R$ 5,00/dia (Cinco reais/dia). No localpode ser evidenciado no entorno a vegetação de Mata Atlântica,constantemente ameaçada pelo desmatamento. São duas matas importantesda região, a do Cuxio e a do Manoel do Doce, nomes esses bastanteconhecidos dos moradores locais. Dos 38 moradores, 15 são crianças emidade escolar. Do total de entrevistados, 60% são do sexo feminino. Asmulheres participam das atividades agrárias, trabalhando no plantio.

Jaqueira

Trecho localizado entre a Porteira Preta e o Sítio Porteira Preta. São poucasfamílias de posseiros que ali vivem. A atividade exercida pela maioria é aagricultura. Foram entrevistadas sete famílias, cuja média de idade entre elesfoi de 46,14 anos. Existem 26 adultos e 13 crianças em idade escolar morandonessa “rua”. Como nas demais localidades, o índice de analfabetismo éelevado e a percepção ambiental é limitada. Todas as atividades exercidaspelos posseiros não são por eles consideradas como prejudiciais ao meioambiente. As construções são em sua maioria de alvenaria, possuindo fossaséptica. A coleta do lixo não é assegurada e quando perguntados sobre quedestino se dá ao lixo gerado, a maioria afirmou que, quando em grandequantidade, queimam, mas normalmente jogam nas bananeiras como formade adubo. Nota-se que, de forma geral, para essa e outras localidades osentrevistados não têm consciência do que seja reciclagem. Para eles, mesmoos sacos plásticos servem de adubo para as bananeiras que após essa açãotornam-se viçosas e produzem frutos de melhor sabor. Entretanto, jáverificaram que garrafas tipo PET não são ideais e nesse caso, as queimam.Muitos dos posseiros não possuem empregos, exceto um deles que trabalhana COMPESA. Nessa área foi registrada uma casa de farinha que atende nãosomente ao proprietário, como também aos vizinhos que utilizam essasinstalações no sistema de aluguel.

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Sítio dos Periquitos/ Sítio Porteira Preta

Encontra-se perfazendo o conjunto Porteira Preta, entretanto constitui-se dedois sítios de mais ou menos 10 hectares cada, pertencentes a duas famílias,originárias da região. Com a morte de um dos posseiros, um desses sítios foidividido entre os herdeiros que possuem casas na localidade. Essashabitações são construídas em taipa e não possuem saneamento básicofazendo com que os posseiros utilizem a natureza para as suas necessidadesfisiológicas. Não existe coleta de lixo, piorando ainda mais as condiçõessanitárias locais. Poucas casas possuem fossas, que atendem, muitas vezes,vários moradores que não tiveram condições de construírem as suas. Osegundo sítio também em condições próximas ao primeiro possui atividade deagricultura, plantando cana-de-açúcar, roça e banana. Ao total têm posse noSítio Porteira Preta 23 famílias, cuja média de idade entre os entrevistados é40,13 anos. Foi observado um número elevado de desempregados e como nasdemais localidades uma ociosidade acentuada por parte das mulheres.Localidade mais afastada das demais abriga apenas uma família que não éoriginária da região. A ocupação desse sítio foi decorrente de uma açãoidenizatória por parte de Governo do Estado ao posseiro que vivia em outrosítio próximo à Barragem Pirapama. Há dois anos foi comprada a posse eatualmente é exercida a atividade de agricultura, com o plantio de milho, feijão,banana, maracujá, roça, macaxeira, tanto para o comércio, como parasubsistência.

67%

33%

Adultos

Crianças

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Figura 51 - Percentual de adultos e crianças residentes da Área 1, entre agosto e dezembro de2002.

Figura 52 - Grau de instrução dos posseiros na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto edezembro de 2002.

Figura 53 – Tipos de construção encontrados na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto edezembro de 2002.

Grau de Instrução

22%

2%

33%

17%

22%

3%

1% Analfabeto

Alfabetizado

1º Grau Menor

1º Grau Maior

Ensino Médio

Magistério

Contabilidade

71%

29%

Alvenaria

Taipa

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Figura 54 – Número de cômodos por casa encontrados na área 1 da reserva Gurjaú, entreagosto e dezembro de 2002.

Figura 55 – Situação do fornecimento de energia elétrica por casa na área 1 da reserva Gurjaú,entre agosto e dezembro de 2002.

0%

100%Sim Não

6%

27%

5%

62%

Cacimba

Poço

Poço e cacimba

Compesa

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Figura 56 – Estado de saneamento na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de2002.

Figura 57 – Coleta de lixo na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.

37%

9%18%

36%

Rio Gurjaú

Córrego

Céu aberto

Canalizaçãocomunitária

0%

100%

Sim Não

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Figura 59 – Situação da utilização de defensivos agrícolas na agricultura na área 1 da reservaGurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.

64%

36%Sim

Não

3%

97%

Sim

Não

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Figura 60– Situação da utilização de fertilizantes na área 1 da reserva Gurjáu, entre agosto edezembro de 2002.

Figura 61 – Prática de atividade pecuária na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembrode 2002.

10%

90%

Sim

Não

47%

53%

Sim

Não

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Figura 62 – Objetivo das atividades agrícolas e pecuárias desenvolvidas pelos posseiros daárea 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.

Figura 63 – Retirada de lenha seca da mata pelos posseiros da área 1 da reserva Gurjaú paraos fogões de lenha, entre agosto e dezembro de 2002.

2%

30%

25%

43%

Comércio

Subsistência

Comércio/Subsistência

vazias

59%

41%

Sim Não

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Figura 64 – Utilização de recursos vegetais pelos posseiros da área 1 da reserva Gurjaú, parafins medicinais, construção e subsistência, entre agosto e dezembro de 2002.

Figura 65 – Atividade de caça exercida pelos posseiros da área 1, entre agosto e dezembro de2002.

Área 2São Salvador:

25%

75%

Sim

Não

Retira algum outro recurso vegetal?

22%

1%

2%

71%

2%2%

Casca deÁrvores

Casca/Resina/Folha

Casca/Folhas

Raiz

Caibros eLinhas

Não utiliza

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Esta área corresponde àquela de maior adensamento populacional da reservaGurjaú. Ao total foram contabilizadas 177 moradias de posseiros, em suamaioria de taipa (89%), sendo detectada uma forte expansão de construção denovas casas. O trabalho de aplicação de questionários foi desenvolvido entredezembro de 2002 a abril de 2003, apesar de terem sido realizadas visitasdesde abril de 2002. Existe no local uma atividade de subsistência indo desdepequenos lotes ao redor das casas até sítios de maior importância, onde severifica uma diferença social entre os moradores. Foram evidenciadas cerca de20 casas de farinha, atividade esta que requer uma maior vigilância peloprocesso em si, desde a utilização de madeira para os fornos e fogões oresíduo que é lançado diretamente no ambiente sem qualquer tipo detratamento. Desde que a área foi visitada pela primeira vez até a conclusãodas entrevistas, houve um aumento considerável nas construções de novascasas. Acredita-se que o fato de estar por vir um novo direcionamento para areserva fez com que os posseiros se interessassem em ampliar as suasposses para uma posterior indenização. Este crescimento é notado pelosposseiros quando são questionados sobre as novas construções. As possestambém são ampliadas pelo crescimento da família. As crianças crescem eformam novas famílias próximas às casas dos pais. As atividades ali realizadasvão desde a cultura de subsistência até às atividades comerciais, a exemplode cana-de-açúcar, banana, mamão, entre outras. São Salvador sofrefortemente o problema do desmatamento, seja por alguns moradores queaumentam suas posses avançando em direção às matas, com técnicassilenciosas (estrangulamento de árvores de grande porte, técnicas estascomuns na região), até pela utilização de equipamentos mais sofisticados porexploradores de madeiras de lei que não residem na localidade. Estes últimosrealizam o corte da madeira, muitas vezes durante o dia, vindo buscar os toroscaídos durante à noite. Os moradores têm ciência dessas atividades,entretanto, não comentam por temerem represálias contra a família. A situaçãofinanceira dos posseiros em sua maioria é bastante crítica, tendo sidoencontradas algumas famílias vivendo em total miséria, sem ter condiçõesmínimas de vida. Poucos são aqueles que se destacam dessa situação, tendoesses um trabalho digno, como agricultor, comerciante, ou então trabalhamfora da reserva, mantendo, entretanto, suas casas na reserva. O desempregoé o maior problema enfrentado pelos posseiros. É geral a desocupação seja

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pelas mulheres quanto pelos homens. As famílias são numerosas e aquantidade de crianças é muito grande. O índice de analfabetismo éconsiderável por parte dos adultos. As crianças vão à escola, apesar dadistância entre as moradias e a mesma. Existe uma linha de ônibus queassegura o transporte dos moradores. Trata-se de uma empresa particularpertencente a um dos moradores da reserva. Durante a estação chuvosa, osdeslocamentos ficam bastante prejudicados já que as condições das estradasde barro impossibilitam o acesso. Existem muitas igrejas nessa área, em suamaioria, evangélicas. Os posseiros que moram perto dos açudes utilizam aágua para a irrigação de suas lavouras, para o consumo humano e de animais,assim como para a lavagem de roupa. Nos finais de semana, a área é visitadapor parentes e amigos dos posseiros que, em busca de lazer, utilizam-se dosaçudes da COMPESA para banho, esportes. As figuras 67 a 85 mostram arealidade de São Salvador a partir de informações obtidas durante a aplicaçãodos questionários sócio-econômico-ambientais.

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Figura 66 – Faixa etária dos posseiros de São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entredezembro de 2002 e abril de 2003.

Figura 67 – Percentual de adultos e crianças de São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entredezembro de 2002 e abril de 2003.

61%

39%

Adultos Crianças

7%

23%

21%14%

12%

12%

7%

3%

1%

< 20

20 - 29

30 - 39

40 - 49

50 - 59

60 - 69

70 - 79

80 - 89

> 90

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Figura 68 – Grau de instrução dos entrevistados em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú)entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

Figura 69 – Tipos de construção encontrados em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú)entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

40%

6%

40%

9%5%

Analfabeto

Alfabetizado

1º Grau Menor

1º Grau Maior

Ensino Médio

Magistério

Contabilidade

11%

89%

Alvenaria

Taipa

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Figura 70 – Número de cômodos por casa em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entredezembro de 2002 e abril de 2003.

Figura 71– Situação de fornecimento de energia elétrica entre os posseiros de São Salvador(área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

2% 4%

7%

9%

11%

13%

16%

18%

20%

1

2

3

4

5

6

7

8

9

99%

1%

Sim

Não

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Figura 72- Estado de saneamento das casas situadas em São Salvador (área 2 da reservaGurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

Figura 73 – Formas de abastecimento d´água das casas de São Salvador (área 2 da reservaGurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

45%

55%

Fossa

No mato

91%

9%

Cacimba

Poço

Poço e cacimba

Compesa

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Figura 74 - Coleta de lixo em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002e abril de 2003.

Figura 75 – Atividade agrícola em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de2002 e abril de 2003.

0%

100%

Sim Não

82%

18%

Sim Não

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Figura 76 - Situação da utilização de defensivos agrícolas na agricultura em São Salvador (área2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

Figura 77 - Situação da utilização de fertilizantes em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú)entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

19%

81%

Sim Não

19%

81%

Sim Não

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Figura 78 – Prática de atividade pecuária em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entredezembro de 2002 e abril de 2003.

Figura 79 - Objetiva das atividades agrícolas e pecuárias desenvolvidas pelos posseiros emSão Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

45%

55%

Sim

Não

98%

2%

Sim

Não

Cultivo e Criação destinado a que?

2%

37%

Comércio

Subsistência

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Figura 80 - Retirada de lenha seca da mata pelos posseiros em São Salvador (área 2 dareserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

Utiliza outro recurso vegetal?

9% 2%

2%

87%

Casca de Árvores

Casca/Resina/Folha

Casca/Folhas

Folha

Caibros e Linhas

Não utiliza

Comércio/Subsistência

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Figura 81 – Utilização de recursos vegetais pelos posseiros de São Salvador (área 2 da reservaGurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

14%

86%

Sim

Não

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Figura 82– Retirada de frutos da mata para uso de subsistência pelos posseiros de SãoSalvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.

Conclusões Tanto a área 1 quanto a 2 não possuem nenhum tipo de saneamento

básico ou coleta de lixo, fazendo com que os dejetos sejam lançados acéu aberto ou diretamente no rio. O lixo não sofre nenhum tipo dereciclagem, sendo queimado, lançado à beira da estrada ousimplesmente jogado entre as bananeiras. Não existe nenhum tipo decoleta de lixo, agravando os impactos ambientais;

O índice de analfabetismo ultrapassa 70% dos entrevistados;

A totalidade dos entrevistados preocupa-se com a qualidade da água,mesmo contribuindo para a poluição da mesma;

As atividades exercidas nas proximidades das matas põem em risco aintegridade da biodiversidade;

A maioria dos entrevistados não tem conhecimento das questõesrelacionadas ao Meio Ambiente;

Com relação à biodiversidade encontrada na reserva Gurjaú, assimcomo a forma de uso do solo entende-se que:

Considerando,

Os anfíbios endêmicos da Mata Atlântica (Bufo crucifer, Hyla atlantica,H. branneri, H. semilineata, Phyllodytes cf. luteolus, Scinax auratus,Adenomera sp., Eleutherodactylus sp. e Pseudopaludicola sp.);

26%

74%

Sim

Não

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Os répteis endêmicos da Mata Atlântica (Enyalius catenatus, Strobilurus

torquatus, Mabuya macrorrhyncha e Anotosaura sp.);

As aves ameaçadas: Thalurania watertonii, Momotus momota

macgraviana, Picumnus exilis pernambucensis, Conopophaga liineata

cearae, Conopophaga melanops nigrifons, Curaeus forbesi, Tangara

cyanocephala corallina, Tangara fastuosa, Xenops minutus alagoanus,

Myrmeciza ruficauda, Pyriglena leuconota pernambucensis,

Thamnophilus aethiops distans, Thamnophilus caerulesces, Platyrinchus

mystaceus niveigularis.

Os mamíferos: Monodelphis americana, endêmico da Mata Atlântica,Callithix jachus, endêmico para o Nordeste e Leopordus tigrinusameaçado de extinção;

As espécies vegetais endêmicas para Pernambuco (Maprounea sp ,Calathea cf. pernanbucensis, Ctenanthe pernambucensis Arns et Mayoe Maranta andersoniana Arns et Mayo);

As espécies vegetais endêmicas da Mata Atlântica (Erythroxylum cf.

grandifolium Mart. e Henriettea succosa DC.);

Que a Mata Atlântica constitui um dos biomas mais ameaçados doPlaneta sendo considerado um dos “hotspots” de biodiversidade;

A baixa densidade da população humana, historicamente composta porfuncionários de Gurjaú, próximos aos fragmentos onde foramrelacionadas às espécies endêmicas/ameaçadas;

Propõe-se uma unidade de conservação do tipo proteção integral, aexemplo de uma Estação Ecológica (ESEC).

Considerando,

O grande adensamento populacional em São Salvador, o uso eocupação do solo (atividades de subsistência, agricultura de cana-de-açúcar, banana e pecuária) que vem ao longo dos anos ocasionandouma grande perda da cobertura vegetal original;

Propõe-se então para esta área, uma unidade de conservação de usosustentável, a exemplo de uma Área de Proteção Ambiental (APA).

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Figura 83 – Mapa proposto para a criação de duas unidades de conservação em Gurjaú, a emazul compreende a UC de uso sustentável e a de linha pontilhada vermelha a linha a UC deproteção integral.

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Figura 84 - Cenas de uso dos recursos hídricos em São Salvador, onde são observadasfamílias lavando roupas. Área sugerida de uso sustentável.

Anexo I

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QUESTIONÁRIO SOBRE DADOS SÓCIO-AMBIENTAIS DA POPULAÇÃO RESIDENTE NA

RESERVA ECOLÓGICA DE GURJAÚ, CABO DE SANTO AGOSTINHO, JABOATÃO DOS

GUARARAPES E MORENO.

PESQUISADOR: DATA: / /NOME:Sexo: M ( ) F ( ) Idade: Estado Civil: casado ( ) solteiro ( ) viúvo ( ) outros:Nº residentes: adultos ( ) crianças ()Quantas crianças estudam:

Instrução: analfabeto ( ) alfabetizado ( ) 1º grau menor ( )1º maior ( ) ensino médio ( ) outros:

Quantos trabalham: Em que: Ocupação pesquisado: Renda: R$ Renda da família: R$Tempo de moradia na Reserva:Moradia construída pela COMPESA:S NOutros:

Motivo: nascido ( ) trabalha ETA ( ) chegou criança ( )Casamento ( ) outros:

Tipo de construção: alvenaria ( ) taipa ( ) outros: Nº cômodos: Eletricidade: S NSaneamento: S ( ) N ( ) Tipo: Se for fossa, qual a localização:

Água: poço ( ) Compesa ( ) outros:

Coleta de lixo:Se não tiver saneamento nem coleta de lixo qual os tratamentos dados aos dejetos e aos resíduos:Atividade agrícola: S ( ) N ( ) Onde: Por quem:Tipo de cultivo: Dentro da reserva: S ( ) N ( ) Local: várzea ( ) Próximo ao açude ( )encosta ( ) clareiras ( ) outros:

Tempo cultivo ( )

Pecuária: S ( ) N ( ) Tipo:Localização:dentro da Reserva ( )fora ( ) Criação: confinado ( ) solto ( )Criação e/ou cultivo destinado a que: comércio ( )subsistência ( ) comércio e subsistência ( )Tempo: pecuária ( )

Utilização de agrotóxicos: S ( ) N ( ) como é utilizado:Utilização de fertilizantes: S ( ) N ( ) Quais:Onde compra:Utiliza irrigação no cultivo: S ( ) N( )

Como é feita:

Tira lenha da Mata: S ( ) N ( ) Como é retirada:Que outro tipo de recurso vegetal?Folhas ( ) casca de árvores ( ) outros( )Quais?

Como é retirado:Para que fim?

Caça: S ( ) N ( ) Quais: cutia ( ) teju ( ) aracuã ( ) tatu ( ) quati ( ) capivara ( ) rolinha ( ) pomba( ) jacaré ( ) outros: Tipo: comércio ( ) subsistência ( ) lazer ( )Captura animal silvestre: S ( ) N ( ) Quais: curiatã ( ) pinto( ) sabiá ( )Outros:Para que fins: criação( )comercialização ( )

Retira frutos da mata?ingá( )inhame( )jaca( )outros ( ) Quais:Para que fins:

Aspectos positivos de se morar dentro da Reserva:Aspectos negativos:Se tivesse opção de morar fora da Reserva, se mudaria?O que vem a ser meio ambiente?

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Acha que a Reserva está sendo bem protegida? Por que?A presença de pessoas morando na Reserva põe em risco sua conservação?Por que?As atividades exercidas dentro da Reserva comprometem sua conservação?Por que?Qual a importância da Reserva para a região?

O que poderia ser feito para manter ou melhorar a Reserva?

Como morador o que poderia fazer para conservar a Reserva?

4.3 Meio Antrópico4.3.1 Característica da população da Reserva

O perfil dos moradores da Reserva Ecológica de Gurjaú tem mudado desde oúltimo cadastramento feito pela COMPESA em 1988, no levantamentorealizado próximo a ETA Gurjaú (CAMINHA 2002), a área apresentou umsignificativo aumento populacional, com o crescimento familiar novas casasforam sendo construídas para absorver as novas famílias que iam sendocriadas, os chefes de família deixavam seus filhos recém-casados construíremnos “quintais” de suas casas aumentando o número de residências comocaracterizado abaixo:

30,30% não apresentam nenhum vínculo com a COMPESA; 25,50% são parentes de funcionários da COMPESA; 14,00% são funcionários da COMPESA; 11,65% são ex-funcionários/aposentados da COMPESA; 11,60% são funcionários de firmas terceirizadas pela COMPESA; 6,95% são funcionários do Estado de Pernambuco.

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O número de pessoas sem vínculo com a COMPESA é quase um terço dapopulação moradora no entorno da ETA, o que representa uma invasão daárea. O número de parentes de funcionários também é expressivo, justificadopela construção de moradias nos quintais das casas dos pais, quando os filhoscasam ou, como expressou uma entrevistada: - “meu pai se aposentou, paranão entregar a casa preferiu deixar eu morar aqui”.

Segundo Caminha (2002), a religião de quase metade dos moradores é aCatólica Apostólica Romana, com 48,84%, seguida da Evangélica, com37,20%, distribuída entre Batista e Adventista. 13,96% dos entrevistados nãotêm religião.

Os dados referentes à escolaridade do chefe de família mostram que 18,60%não têm escolaridade; 6,98% são alfabetizados; 30,24% possuem o 1º graumenor; 20,93% o 1º grau maior e 23,25% estão cursando ou cursaram o 2ºgrau, um percentual elevado de moradores não iniciaram o 2º grau. Dentre oschefes de família, 39,54% apresentam uma renda familiar mensal menor quedois salários-mínimos; 4,65% estão desempregados; 34,88% apresentam umarenda entre 2 a 4 salários-mínimos e 9,30% recebem mais de 4 salários-mínimos. Destes últimos, muitos são aposentados da COMPESA.

No que diz respeito à relação homem /mulher entre os moradores da ETA deGurjaú a proporção é de 48,65% de homens para 51,35% de mulheres(CAMINHA 2002).

4.3.2 Condições de Infra-estrutura

As moradias são, em sua maioria, de alvenaria tendo ainda algumas casasconstruídas de taipa, o abastecimento de água é realizado pela COMPESA nagrande maioria, havendo poucas casas com poço/cisterna onde consomem aágua sem nenhum tratamento.

Com relação às condições de manejo de resíduos sólidos o destino final do lixorepresenta um grande problema, já que não há coleta na Reserva e nenhumadas três Prefeituras dos municípios que a integram têm uma ação sistemáticapara coleta de lixo. Os moradores jogam seus resíduos diretamente na mata,fazem queimadas destes a céu aberto ou criam seus próprios “pontos de lixo” ,

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criando um grave impacto por conta da poluição tanto do solo quanto doslençóis freáticos e proliferação de ratos.

No que se refere ao saneamento básico, a maioria das casas possuembanheiro e fossa séptica, entretanto a grande maioria não possui nenhumaforma de tratamento do esgoto que é lançado no Rio Gurjaú causando acontaminação da rede hidrográfica que leva a morte de vários peixes ecamarões. A situação tende a causar sérios problemas tanto para a populaçãolocal que utiliza a água do rio para beber e cozinhar, como para a regiãometropolitana do Recife que utiliza a água tratada do mesmo rio. Apesar dascondições precárias de saneamento e destino final do lixo, não há relatos dedoenças infecto-contagiosas, sendo a gripe e a diarréia as mais comunsprincipalmente nas crianças.

Outros responsáveis pela poluição hídrica e do solo são as populaçõesflutuantes (sitiantes e veranistas), que após as estadias dos finais de semana eferiados deixam seus resíduos sólidos acumulados nas margens da cachoeira,barragens e mata.

Dentro da Reserva existe a Escola Municipal Dr. Eudes Sobral de 1ª a 4ªséries e com turma de Alfabetização para Jovens e Adultos. A escola faz partedo Projeto Criança Cidadã que paga aos pais R$ 25,00 (vinte e cinco reais)para que as crianças permaneçam na escola e é mantida pela Prefeitura doCabo de Santo Agostinho, contando com verbas do Fundo de Manutenção eDesenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério(FUNDEF), o tema “ Meio Ambiente” é desenvolvido com os alunos através deuma proposta pedagógica da Secretaria de Educação.

4.3.3 Visão das Comunidades sobre a U.C.

Nos últimos cem anos, o homem adquiriu o poder de influenciar decisivamente na

constituição e equilíbrio dos ecossistemas, de alterar os padrões de distribuição

geográfica dos animais, plantas, microorganismos e de acelerar o ritmo dos processos de

evolução da crosta terrestre e da biosfera (ROCHA 1997).

Erosão, poluição e extinção das espécies animais e vegetais constituem eventos ou

processos naturais, mas sua aceleração e desorganização como subprodutos das

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atividades humanas descontroladas, comprometem a estabilidade dos sistemas

ecológicos e dos ciclos naturais.

A Reserva Ecológica de Gurjaú retrata a aceleração do esgotamento dosrecursos naturais por possuir uma grande quantidade de moradores em seuinterior, que tendo em vista a precariedade em que vivem sob diferentesaspectos sociais, como a falta de trabalho, infra-estrutura precária, crescimentodesordenado da população e outros, vêm-se tendo que desmatar a área paracultivo da cana-de-açúcar e agricultura de subsistência, além de utilizarem amadeira para lenha e construção de casas.

Partindo dessas problemáticas, faz-se necessária a caracterização de todos osmoradores da Reserva, pois o envolvimento da comunidade é de totalimportância. Sem o entendimento, o apoio, a participação e a colaboração dapopulação nenhum projeto tem sustentabilidade. Para Ellen (1982, apudMORÁN, 1990), as relações ambientais do Homo sapiens só podem sercompreendidas se incluírem o papel da cultura e das instituições sociais queintervêm entre o homem e o ambiente.

Cada pessoa, psicologicamente, tem uma percepção do meio ambiente e desua qualidade que é individual, incomunicável e irreversível. Conforme Morán(1990, p. 89), a percepção influi no comportamento, tanto ou mais do que arealidade física do ambiente. Biologicamente, esta percepção encontra-selimitada às condições anatômicas e fisiológicas da espécie humana e seprocessa dentro dos padrões culturais, geográficos e históricos. Sendo, então,os mecanismos perceptivos e cognitivos para conhecer o meio ambientepróprios da espécie humana, a imagem mental que as pessoas constroemdesse meio ambiente segue determinados padrões e o somatório destasimagens individuais representa a imagem pública, que determina a qualidadeambiental. Assim, como variam as percepções e as imagens mentais arespeito da qualidade ambiental, também variam as atitudes diante do meioambiente e os valores a ele atribuídos. As respostas ao meio ambiente variam,então, de acordo com as escalas de percepção e de valor (OLIVEIRA, 1983,apud MACHADO, 1997).

Partindo de todos esses pressupostos, é que foi iniciado um trabalho classificado como

Etnoecológico, onde procura-se entender a percepção que o indivíduo tem do local a

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partir de sua experiência de vida. Pois entende-se que a criação de uma verdadeira

Unidade de Conservação não pode terminar com a publicação ou determinação do ato

público.

Dando continuidade ao trabalho etnoecológico iniciado com a população residente do

entorno da ETA, partiu-se para outras duas áreas denominadas:

Engenho São Salvador e Engenho Porteira Preta.

O Engenho São Salvador localiza-se ao norte da ETA, onde as maiorias das atividades

agrícolas são exercidas e possui duas associações (Associação dos Pequenos Produtores

Rurais de São Salvador- ASPROSA e Associação dos Pequenos Moradores de São

Salvador). Com uma população acima de 1000 pessoas e mais de 550 famílias, segundo

informação de Everaldo José da Silva, vice-presidente da última associação citada, a

área apresentou um aumento populacional grande por conta de construções

desordenadas, provenientes da especulação imobiliária realizada por alguns moradores

do local, como cita um morador “nem a COMPESA, nem a polícia podem me tirar

daqui, pois a madeira que eu construí a minha casa eu comprei em uma madeireira, e o

terreno eu comprei por R$ 2.500,00”, “ aqui nesse local há 10 anos havia uma casa,

hoje tem 18”

A maioria dos moradores do local demonstram nostalgia ao falar de como era a Reserva

no passado “é uma pena ver isso aqui sendo tomado pela cana, principalmente pela

queimada que deixa a terra pobre”, “isso aqui era uma beleza, dava gosto, cada

morador pagava para morar aqui e quando não podia trabalhar dava um dia de

serviço para limpar ou fiscalizar, hoje tá tudo abandonado” “a mata acabou-se porque

o pessoal foi fazer roça” “ meu pai dizia, meu filho não entre no asseiro, antes o dono

do sítio tinha o compromisso de deixar o asseiro quando havia vigilância, hoje todo

mundo invade a mata para roçado”.

Quando questionados sobre qual seria a alternativa para que a mata voltasse a ser como

antes, a grande maioria diz que “se voltasse a vigilância, não tinha mais derrubada de

madeira”, “ aqui só tinha um vigia e dava conta da mata todinha, meu pai quando quiz

fazer a casa dele teve que dar 10 viagens a Gurjau para conseguir autorização para

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construir a sua casa, cada casa era construída assim o cabra tinha que batalhar muito

para conseguir autorização para construir ou derrubar um pau” “ se a comunidade for

envolvida, isso aqui volta a ser mata”, “quando a estrada é ruim, não tem como passar

carro pesado e não tem como tirar madeira”.

A população apesar de não entender os termos: Reserva Ecológica, Unidade de

Conservação, Área protegida; demonstram conhecimento nativo com relação à

importância de preservação da área ao fazer comentários do tipo “esse Engenho é rico

em água, tem pra mais de 200 olhos d’água aqui, moça”, “sabe porque não tem bicho?

por causa da caça e derrubada da madeira”, “daqui a pouco a gente não vai ter mais

água, porque quase não tem mais planta aqui”, “era bom que a associação comprasse

outro engenho e coloca-se algumas famílias lá, porque São Salvador tá lotado” “ o

bicho é ser vivo, tem direito de viver, a mata sem criação não é mata” “ só o céu é

melhor para morar do que São Salvador” .

Outro Engenho levantado foi o de Porteira Preta. Localizado a leste da ETA, possui os

dois maiores fragmentos de mata da Reserva: Mata do Cuxio e Mata da Zabé. Possui o

menor núcleo populacional de toda a Reserva, mas nem por isso os problemas são

menores, como em toda a área há pequenos sítios com culturas de subsistência, plantio

de cana-de-açúcar com conseqüente prática de queimada, falta de coleta de lixo e o mais

agravante: grandes propriedades particulares, com pastos, viveiros, canis e cultivos que

avançam subtraindo a mata.

A visão da comunidade também não destoa das demais. Segundo moradores, a invasão e

o desmatamento ocorrem por “falta de vigilância, quando tinha vigia na mata, ninguém

tirava um pau seco daqui” “a gente vê o desmatamento, mas não pode fazer nada, vem

gente de fora desmatar, quando o governo tomava conta era muito diferente” “moça,

aqui tem até canil, como é que numa terra do Governo, o cabra chega, faz a casa e cria

até cachorro para caçar? Se tivesse vigilância isso não acontecia não”.

Desde que se iniciou o contato com os moradores, reforçou-se a idéia da Reserva só

existirá enquanto Unidade de Conservação quando sua função sócio-cultural estiver

assegurada, ninguém pode apreciar ou proteger uma coisa que não conhece ou julga ser

inútil ou até mesmo perigosa ou nociva. É na educação que reside o principal problema

a ser superado para despertar uma consciência geral do povo, da necessidade e

importância da conservação dos ecossistemas (ROCHA 1997).

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4.4 Análise de risco ambiental4.4.1 Fogo e energia

A Reserva Ecológica de Gurjaú situa-se numa área considerada de risco de incêndios

devido a uma prática secular implantada nos cultivos da monocultura cana-de-açucar

que usa o fogo como auxiliar na limpeza de cana para o corte, além da queima do lixo

doméstico praticado pela comunidade.

O cultivo da cana-de-açucar, no entorno imediato da Reserva, nos engenhos

pertencentes à Usina Bom Jesus, não contam com nenhuma faixa de proteção ou aceiro

em todo o perímetro que possa impedir a disseminação do fogo, durante a época da

colheita.

Na Área de Gurjaú, não há coleta de lixo, motivo pelo qual os moradoresarmazenam e queimam os resíduos sólidos atrás de suas casas, podendoocasionar incêndios na mata.

A maioria das residências localizadas no interior da reserva possui energiaelétrica, sendo este mais um fator de risco, visto que um curto circuito poderáprovocar incêndios. Outra situação de risco é a presença de ligaçõesclandestinas, com fios desencapados, atravessando as matas para energizaralgumas residências mais afastadas.

4.4.2 Passivo ambiental

Como passivo ambiental pode-se destacar as principais intervençõesantropicas. A presença de estradas no interior da Reserva é potencialmentedanosa para a conservação desta, pois favorece a exploração clandestina demadeira e o acesso de pessoas à procura de novas áreas para moradia eatividades agrícolas.

Existem três estradas principais que cortam a reserva:

Estrada de Secupema tem aproximadamente 3,7 km que margeia oaçude de Gurjaú, desde a Barragem até o açude de Secupema. É umaestrada estreita cuja manutenção esporádica é feita pela COMPESA.Normalmente é interditada por troncos acidentalmente caídos durante operíodo de chuvas. É usada pela comunidade para retirada de lenha

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seca, e transporte dos produtos agrícolas colhidos nas roças existentesdentro da mata, bem como para lazer e caça. Possui uma estradasecundária que leva ao Engenho Roças Velhas e várias trilhas estreitas

que levam a roças existentes nas matas. Esta estrada corta as matasdo Macaco Macuca, Limão e Periquito.

Estrada do Cuxiu, com aproximadamente 1,8Km se inicia atrás dacasa de D. Maria Cabocla indo até à Mata de Cau, e termina no acessoao perímetro de entorno da Reserva. Apresenta-se em estado razoávelde conservação. Esta estrada corta as matas do Cuxiu e São Brás,

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possui algumas trilhas secundárias que levam a cultivos nas margensdo Açude de Gurjaú.

Estrada de São Salvador corta toda a Reserva na sua porção Norte. Éa mais extensa e com intenso fluxo de veículos dando acesso aos trêsmunicípios (Cabo, Moreno e Jaboatão), onde transitam os transportescoletivos. Apresenta diversas pontes de madeira que cobrem cursosd’água e muitas estão em péssimo estado de conservação, ficandointransitáveis nos períodos de chuvas. A manutenção da mesma é feitapela Usina Bom Jesus no período que antecede a colheita da cana.

Outro passivo ambiental é o gasoduto da Transpetro que corta a Reserva, temuma extensão de 556m por 12m de largura. O duto está a 1,5m deprofundidade do solo e transporta gás natural. Todo o percurso da tubulaçãodentro da Reserva é marcado com piquetes de 5m em 5m. A inspeção da áreaé realizada trimestralmente por helicóptero e semanalmente por andarilhos(funcionários que passam no local). O corte da vegetação é feito comfreqüência, mensalmente no período chuvoso, o que mantém esta faixasempre aberta impossibilitando a recuperação natural da vegetação.

4.5 PLANEJAMENTO

4.5.1 Proposta de Pré-Zoneamento da Reserva Ecológica de Gurjaú

O zoneamento constitui um instrumento de ordenamento territorial usado comorecurso para se atingir melhores resultados no manejo da Unidade, poisestabelece usos diferenciados para cada zona, segundo seus objetivos. Paraobter, desta forma, maior proteção, pois cada zona será manejada seguindonormas para elas estabelecidas.

O zoneamento é identificado pela Lei nº 9.985/2000: definição de setores ouzonas em uma Unidade de Conservação com objetivos de manejo enormas específicas, com propósito de proporcionar os meios e as

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condições para que todos os objetivos da Unidade possam seralcançados de forma harmônica e eficaz. (Roteiros Metodológicos doIBAMA, 2002).

Com o objetivo de mostrar a aplicabilidade e necessidade do zoneamento paraefetiva aplicação dos demais instrumentos da Política Nacional do MeioAmbiente foi proposto um Pré - Zoneamento da Reserva elaborado pelaequipe da FADURPE e os Técnicos Nahum Tabatinich (CPRH) e MariaCatarina Cabral de Medeiros (IBAMA). Estes mapas temáticos que derãosubsídio à primeira reunião técnica que tem como objetivo discutir areclassificação e zoneamento da Reserva.

A proposta de pré-zoneamento ambiental da Reserva Ecológica de Gurjaú foielaborada com os seguintes objetivos:

Conservar e recuperar os ecossistemas naturais de relevânciaecológica;

Proteger os mananciais hídricos, bem como riachos e açudes.

Definir as áreas que terão manejo e normas específicas.

A área foi dividida em cinco 5 zonas (Figura 88):

Zona de uso Extensivo;

Zona de uso Especial;

Zona de Recuperação 1;

Zona de Recuperação 2;

Zona de Ocupação Temporária.

Este zoneamento foi realizado levando-se em conta áreas onde existe o maiorrisco de ocorrência de erosão, uso e ocupação do solo e ausência oufragmentação da vegetação nativa. Os corpos d’água que atravessam aReserva merecem maior atenção pois estão submetidos a maiores riscos e são

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os principais pontos a serem visitados e monitorados, devido ao assoreamentoe por serem mantenedores do sistema hídrico de abastecimento.

Cabe destacar que o zoneamento pressupõe uma constante revisão e umaatualização periódica dos dados sociais, econômicos, culturais e ambientais.

Figura 85 – Proposta de Zoneamento da Reserva Ecológica de Gurjaú

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4.5.2 Zona de Uso Extensivo

É aquela constituída em sua maior parte por áreas naturais, podendoapresentar algumas alterações humanas. O objetivo do manejo é amanutenção de um ambiente natural com mínimo impacto humano, apesar deoferecer acesso aos públicos com facilidade para fins educativos e recreativos.Essa área abrangerá os fragmentos compreendidos entre os açudes de Gurjaúe Secupema.

ALTERNATIVAS DE USO

Educação Ambiental;

Visitação disciplinada;

Pesquisa científica de acordo com as normas do Plano de Manejo;

Fiscalização;

Monitoramento Ambiental;

Trânsito de veículos a baixa velocidade, máximo de 40 km e proibiçãodo uso de buzina;

No caso de embarcações, não será permitido o uso de motores abertose mal regulados.

4.5.3 ZONA DE USO ESPECIAL

Visa criar oportunidades e facilitar a recreação educativa e a educaçãoambiental, concentrando os visitantes nessa zona fornecendo todas asinformações sobre a importância da Unidade, de forma a minimizar osimpactos sobre as zonas mais restritivas.Toda a infra-estrutura disponível dentro da UC como centro de visitantes,alojamentos, prédio da ETA (Estação de Tratamento de Água da Compesa),deverá estar inserida nessa zona, estando sua utilização condicionada àcapacidade de suporte estabelecida para as mesmas, bem como deverãoestar harmonicamente integradas com o meio ambiente, não sendo permitido

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que o material usado para construção ou reforma seja retirado dos recursosnaturais da UC, os resíduos sólidos gerados nas infra-estruturas previstasdeverão ser acondicionados separadamente, recolhidos periodicamente edepositado em local destinado para tal.As atividades previstas devem levar o visitante a entender a filosofia e aspráticas de conservação da natureza. O trânsito de veículos será feito a baixasvelocidades (máximo de 40km), sendo proibido o uso de buzinas. Afiscalização será intensa nessa zona.

ALTERNATIVAS DE USO

Deverá conter sede da Unidade e centralização dos serviços da mesma;

Estacionamento de veículos só será permitido para funcionários eprestadores de serviços;

A fiscalização deverá ser permanente e intensiva;

Proibido o uso de buzina;

O centro de visitantes, museu e outros serviços oferecidos ao público,como lanchonetes e instalações para serviços de guias e condutores,somente poderão estar localizados nesta zona;

Visitação com fins recreativos e educacionais;

Essa zona poderá conter sinalização educativa, interpretativa ouindicativa.

4.5.4 Zona de Recuperação

Essa zona tem por objetivo recuperar o ecossistema de forma natural, pormeio de processos de sucessão ecológica, ou por ações de recuperaçãoprojetadas e acompanhadas.

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Essa classificação contempla áreas alteradas pelo homem, sendo consideradaprovisória que, depois de restauradas deverão ser incorporadas a uma zonapermanente. Está constituída por Áreas de Preservação Permanentedesprovidas de cobertura florestal e áreas degradadas por agricultura anual esazonal. As áreas deverão ser objeto de manejo específico e a restauraçãopoderá ser natural ou induzida, somente sendo permitida a utilização deespécies nativas, devendo ser eliminadas as espécies exóticas porventuraexistentes.

Os trabalhos de recuperação induzida poderão ser interpretados para o públicono Centro de Visitantes, as pesquisas sobre os processos de regeneraçãonatural deverão ser incentivadas.

Não serão instaladas infra-estruturas, com exceção daquelas necessárias aostrabalhos de recuperação induzida, que serão provisórias e preferencialmenteconstruídas de madeira. Os resíduos sólidos gerados nestas instalações terãoo mesmo tratamento citado na zona de uso intensivo.

O acesso a ela será restrito aos pesquisadores e pessoal técnico, ressalvada asituação de eventuais moradores.

Devido às características dos fragmentos de matas e à situação atual daReserva, a área de recuperação foi subdividida em duas outras.

Zona de Recuperação I: Mata do Cuxiu e margens dos açudes São Salvador,Secupema e Gurjaú, bem como bordas de nascentes e riachos.

Zona de Recuperação II: Fragmentos de matas na área sul do Engenho SãoSalvador, nas proximidades do açude de Secupema.

ALTERNATIVAS DE USO

Zona de Recuperação I

Recuperação natural ou induzida das áreas degradadas, principalmentenas APP’s (Áreas de Preservação Permanente);

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Acesso restrito aos pesquisadores, pessoal técnico e eventuaismoradores;

Delimitação das áreas dos posseiros;

Não será permitido o aumento das áreas de plantio pelos posseiros;

As pesquisas sobre os processos de regeneração natural deverão serincentivadas;

A fiscalização será permanente nesta zona;

Serão priorizadas tecnologias agrícolas com alternativas de baixoimpacto.

Zona de Recuperação II

Disciplinamento da área com delimitação dos cultivos dos posseiros;

Recuperação Induzida da vegetação de borda das nascentes e cursosd’água;

Educação Ambiental com a população residente (mata ciliar, nascentes,saúde e meio ambiente);

Fiscalização permanente;

Estudo específico para possível recuperação da mata nativa emconsórcio com agrofloresta;

Avaliar a possibilidade de Implementação de corredores ecológicosentre os fragmentos.

4.5.5 Zona de Ocupação Temporária

Esta zona tem por objetivo utilizar sustentavelmente os recursos florestais efaunísticos, promover sistemas de produção sustentáveis que utilizamcomponentes arbóreos (floricultura, agroflorestas, fruticulturas) desenvolverpesquisa científica e apoiar as atividades de recreação, educação einterpretação ambiental.

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Para esta zona será estabelecido um Termo de Compromisso com aspopulações residentes dentro da UC que definirá caso a caso as normasespecíficas (Roteiro Metodológico do IBAMA,2002).

ALTERNATIVAS DE USO

Fiscalização permanente;

Realizar cadastramento da população com o objetivo de evitar novasocupações;

Elaborar Termo de Compromisso com os moradores sobre o uso daterra (como recomenda o Roteiro Metodológico do IBAMA, 2002);

Delimitar a área de cultivo de cada morador;

Iniciar a Educação Ambiental de base;

Recuperação com reflorestamento induzido das APP’s (Áreas dePreservação Permanente) e nascentes;

Proceder estudos para implantação de fossas sépticas de baixo custo eimpacto ambiental;

Implantação de sistema de tratamento da água cinza oriunda dalavagem de roupas, louças e banho;

Estimular o cultivo da agricultura sustentável (orgânica) com rotação deculturas;

Avaliar a possibilidade de implantar sistemas de agrofloresta;

Planejar o condicionamento das estradas localizadas nesta zona,utilizando como subsídio o mapa de restrições.

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4.5.6 Locais de Interesse Histórico-Cultural

Alguns resquícios de interesse histórico-cultural são encontrados tanto naReserva como no entorno imediato.

INTERIOR DA RESERVA

Ruínas de São Salvador: Onde existia a casa grande do engenhoSão Salvador, fotografada por Gilberto Osório de Andrade, em 1984,está restrito a um banheiro (denominado banheiro das princesas) eresquícios de uma casa de moenda.

Banheiro das princesas: Local onde as sinhazinhas da antiga CasaGrande do Engenho São Salvador faziam seus banhos. Essebanheiro foi edificado dentro do riacho São Salvador. Foi construídoem estrutura de alvenaria com piso de cerâmica provavelmenteusando mão de obra escrava. Era usado para banhos e trocas deroupas. Até bem pouco tempo, permaneciam de pé as paredes dobanheiro que serviam a moradores locais, estes disseram que aestrutura de pedra e telhas que cobriam o banheiro foi retirada porvândalos, e que havia uma porta no local. Restam o piso e omecanismo de renovação de água que é muito engenhoso.Parecendo uma piscina estilo colonial.

Casa da Moenda: No mesmo Engenho, acharam-se estruturas deuma antiga casa de moenda de pedras e um eixo de ferro. Há poucotempo atrás tinha no local os mecanismos de moer a cana. Ummorador explicou que a água descia pelo cano do açude de SãoSalvador e vinha para a moenda mover o eixo e os mecanismos. Oantigo proprietário levou os mecanismos quando foi desapropriado.O local devia ser restaurado e incluído num roteiro de visitaçãopública e construído um museu onde se mostraria um antigoengenho de cana de açúcar.

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Resquícios da estrada do troler: (Engenho Gurjaú) Com o objetivode transportar todo o material necessário às obras de abastecimentode água da capital e transporte da cana-de-açúcar produzida nosengenhos da área, foram construídos, provavelmente em 1914,alguns quilômetros de via férrea de 1 bitola de largura, para umalocomotiva inglesa do tipo troler provavelmente de 1870 (século XIX).Esta locomotiva, que pertenceu à Usina Dr. José Rufino, funcionouaté cerca de trinta anos atrás. Os trilhos foram retirados pela UsinaBom Jesus, ficando a trilha de pedras. Na escritura lavrada em 1913,o proprietário que vendeu a área para o Governo do Estado, seobrigou a construir a referida via, aproveitando o leito da estrada derodagem que vai do Engenho São João até a cidade do Cabo.

O percurso dos trilhos que atravessavam a Reserva ia do Pontilhão que existiusobre o rio Gurjaú no Engenho São Brás, indo ao longo deste, atravessando oTributário do riacho São Salvador seguindo ao Norte para as terras doEngenho Roças Velhas e Usina Bom Jesus.

Esta trilha foi muito usada pelos moradores antigos, havendo relatos de que aárea dos trilhos era limpa periodicamente. Na época em que a via era usadaexistia um ponto de abastecimento de água para o troler no local onde ostrilhos deixavam o Açude de Gurjaú.

Segundo funcionários PETROFLEX, na BR-101, o antigo troler que erausado para transportar cana-de-açúcar para a Usina Bom Jesus é o que estáexposto na frente da mesma.

Conjunto arquitetônico da ETA: importante por se tratar daprimeira estação de tratamento de água do Estado de Pernambuco,construída entre 1944/1952. A citada ETA Gurjaú substituiu aimplantada por Saturnino de Brito em 1918 e constava de 04baterias, cada uma com 08 filtros de pressão, alojadas em um prédioque foi paulatinamente ampliado à medida que se aumentava acapacidade do tratamento. Esta edificação foi objeto de recenterestauração para preservação de suas características arquitetônicasoriginais, estando o patrimônio em perfeito estado (COMPESA - ACS

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Assessoria de Comunicação Sócia l- Histórico do Saneamento eDados Institucionais).

ENTORNO IMEDIATO DA RESERVA

A demarcação do perímetro da Reserva lançou dúvidas acerca dos limites dabarragem de Gurjaú. É provável que a área onde está situada a sede doEngenho São Brás (conjunto edificado) pertença ao extinto DSE(Departamento de Saneamento do Estado), tendo sido desapropriado porocasião da ampliação da barragem. Se os marcos encontrados forem levadosem consideração e os documentos forem localizados, parte do engenho SãoBrás deverá ser incorporado aos limites da Reserva Ecológica de Gurjaú.

Conjunto edificado do Engenho São Brás: Este Engenho foiindicado, entre outros, pela FIDEM (Fundação de Desenvolvimentoda Região Metropolitana do Recife) para ser preservado pelo Estadoou pelo Município, porém, nada foi feito para a sua preservação.Conforme esta indicação, deve-se fazer o tombamento e restauraçãoa nível estadual do conjunto edificado, tombamento a nível federal(IPHAN- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) daCapela e da Casa Grande, demolição da construção recente situadaentre a Capela e a Senzala e a integração a um roteiro turístico.

Nos estudos de 1978, feitos pela FIDEM, o Engenho foi fundado em dataanterior a 1630, por Antônio da Silva e tem uma capela consagrada a SãoBrás.

Por ocasião da dominação holandesa em Pernambuco o Engenho São Bráspertenceu aos invasores que ali construíram benfeitorias. Com a restauraçãode Pernambuco, o Engenho, então de fogo morto passou a pertencer aFazenda Real e foi entregue aos seus antigos moradores. Em meados do séc.XIX, o Engenho São Brás pertencia a João de Barros Accioly (FIDEM, 1978).

O engenho acha-se implantado em um sítio de relevo acidentado cujatopografia varia de cota de 60 m a 130m, com uma paisagem marcada pelas

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reservas vegetais e grandes espelhos d’águas, próximo aos açudes deSecupema e Gurjaú.

A sede, em 1978, achava-se composta de Capela e Casa Grande, com ascaracterísticas antigas preservadas. Sendo a Capela um exemplo excepcionalda arquitetura religiosa, apresenta-se como a mas rica e valiosa dos engenhosda Região Metropolitana do Recife e também o elemento de maior importânciado conjunto. Destacando-se os trabalhos de talha do altar–mor dos altarescolaterais, do púlpito e das sanefas. FIDEM, 1978.

O estado de conservação que em 1978 era regular, hoje é péssimo. O imóveldeve ser considerado urgentemente por risco de perda do Patrimônio Histórico.Está sem uso e já foi saqueado por diversas vezes, sendo as ossadas elápides de túmulos contidos em seu interior, remexidos e revirados, em buscade jóias e dentes de ouro, devido ao valor de nobreza que tais senhorestinham.

A igreja está com risco de desmoronar e o altar-mor já tombou. A Casa Grandeé de apenas um pavimento envolvido por alpendres, com cobertura em quatroáguas, o estado de conservação é regular e o uso residencial.

A Senzala assentada à esquerda da Capela, ainda possui a estrutura originalembora o estado de conservação e as condições de habitabilidades sejamprecárias. É utilizada como moradia de trabalhadores do engenho. Entre aCapela e a Senzala foi construída uma casa recente de pavimento único,prejudicando a qualidade do conjunto.

4.6 MAPEAMENTO TEMÁTICO Introdução

A necessidade de conhecer a realidade física atual da área da Reserva deGurjaú com a situação de Uso e Ocupação de Solos é a primeira atividade aser realizada para se traçar planos necessários à definição do futuro daReserva.A inexistência de material cartográfico recente reforçou a necessidade de seelaborar uma base cartográfica digital e um conjunto de mapas temáticos paraservirem de fonte de informação e de base para as equipes multidisciplinares

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que deverão trabalhar nas ações envolvidas na coleta de informações sobre omeio ambiente e da população que hoje ocupa a área da Reserva.A região foi inicialmente mapeada na Década de 70 pela então FIDEM, queproduziu ortofotocartas em escala de 1:10.000. Buscando atualizar estematerial adquiriu-se um recorte com 64 km² de imagem do Satélite Quickbird.A partir desses dois produtos disponíveis foram elaborados ortofotocartasatuais, modelo digital de terreno e um conjunto de mapas temáticos(vegetação, casas, rede hídrica, uso do solo e malha viária).A importância do mapeamento é fornecer as bases para estudos ambientaiscompostos da:

Modelagem do Terreno;

Estudos Hídricos (redes, bacias, volumes de água, vazão);

Cálculo Real de Áreas com Cobertura Vegetal;

Base para levantamentos quantitativos e qualitativos deBiodiversidade;

Ferramenta para Engenharias (Agronomia, Civil, Mecânica);

Mapas geológicos e pedológicos;

Estudos de Áreas Impactadas;

Mapas de declividade;

Elaborar Sistemas de Informações Geográficos.

Todo o material produzido foi disponibilizado em formato digital para futurasreferências nos grupos de pesquisa e para futura criação do Sistema deInformações Geográficas para manejo ambiental da Reserva Ecológica deGurjaú.

4.6.1 Objetivo Principal

Mapear a área da Reserva Ecológica de Gurjaú utilizando imagens de satélitede alta resolução Quickbird para produção de Ortofotocartas digitais e mapastemáticos para uso em estudos ambientais

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Processar imagem Quickbird, corrigindo-a em função de pontos decontrole em campo;

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Processar ortofotocartas FIDEM para elaboração de MDT;

Elaborar mapas temáticos da Reserva Ecológica de Gurjaú;

Elaborar Ortofotos Digitais em escala 1:2000 da Reserva Ecológica deGurjaú;

Elaborar Sistema de Informação Geográfico.

Materiais e Métodos

Seqüência dos Trabalhos

4.6.2 Processamento das Ortofotos

Para se iniciar as atividades do mapeamento fez-se levantamento do materialcartográfico existente. Foram utilizadas as Ortofotocartas FIDEM 78/50, 78/55,79/00, 79/05, 79/50 e 79/55, em escala 1:10.000 do ano de 1975.O objetivo do processamento é a conversão do material do formato analógicopara o formato digital, extraindo-se a hipsometria para a elaboração de umModelo Digital de Terreno para ser utilizado na ortorretificação da imagem desatélite Quickbird.As ortofotocartas foram digitalizadas utilizando-se metodologia desenvolvida noGEOLAB/DTR/UFRPE, capturando-se 25 imagens raster para cada carta, comárea de 1 km². As imagens finais possuem formato TIF, padrão RGB eresolução de 600 dpi.Após a digitalização, as imagens foram processadas para reduzir os efeitos dacaptura, retificação, realce, georreferenciamento e mosaicagem.

ORTOFOTOCARTAS IMAGEM QUICKBIRD

DIGITALIZAÇÃO

PROCESSAMENTO:- Equalização

- Georreferenciamento- Mosaicagem

RECORTE DA IMAGEM

PROCESSAMENTO:- Ortocorreção

- Fusão Pancromática

MDT

VETORIZAÇÃO

MAPAS TEMÁTICOS

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A retificação tem por finalidade alinhar as imagens em função da malha decoordenadas originais, assumindo-se que a mesma esteja no Sistema deProjeção Cartográfica UTM, datum SAD69 médio. Foram utilizados 9 pontosde controle considerando-se as linhas da grade existentes. O método de ajusteutilizado foi o polinomial de 2ª ordem por convolução cúbica. Esta mesmaoperação tende a reduzir o efeito das distorções da captura.Foi realizado o realce com a finalidade de melhorar a capacidade visual para avetorização das isolinhas hipsométricas, tomando-se como base o histogramapara o processamento do conjunto total de imagens.Após o realce procedeu-se a mosaicagem das imagens para o conjunto dequadrículas originais de cada ortofotocarta.Das ortofotos mosaicadas fez-se a vetorização de todas as isolinhas dahipsometria produzindo-se arquivos em formato “tab”.

Elaboração do Modelo Digital de Terreno

Modelar o terreno é representar as suas feições através de um modelomatemático que se aproxime da realidade em campo. Para este procedimento, utilizou-se o conjunto de isolinhas hipsométricas doterreno. As etapas e parâmetros da modelagem foram as seguintes:

Conversão de isolinhas em pontos;

Interpolação matemática usando método do Vizinho Próximo;

O modelo de agregação de pontos foi de células quadradas;

A distância de interpolação 0,65 com média em pontos coincidentes;

O método de solução foi por declividade;

Fator de assimetria: 2,00;

Fator de suavização: 2,00 com exponencial 6ª ordem;

Limites de borda por convexidade;

Tamanho do pixel: 2,00 m;

Triângulo máximo (lado): 1.198,30m.

4.6.3 Processamento da Imagem de Satélite

A imagem adquirida foi um recorte de Imagem de Satélite Quickbird com asseguintes características:

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A imagem foi entregue com os dados necessários a ortocorreção;

Foram entregues duas imagens, uma contendo 4 bandas (R,G,B e NIR– Pixel 2 m) e outra com a banda PAN (0,61 m);

Área total do recorte: 64 km²;

Cobertura de nuvens: 3%.

Foi realizada uma ortocorreção para corrigir o efeito da distorção radial daimagem utilizando-se pontos obtidos em campo por alvos facilmenteidentificáveis, utilizando o MDT obtido das ortofotos corrigidas e o coeficientede correção disponibilizado pelo fornecedor.Após a ortocorreção fez-se uma fusão pancromática, que é a ampliação dopixel das bandas VNIR (RGB e NIR) em função da banda PAN.

4.6.4 Elaboração das Ortofotocartas

Após a panfusão foram criadas 48 ortofotocartas com 1 km² em formatovetorial “tab” para serem editadas no software MapInfo e em formato deimpressão “pdf”.

4.6.5 Elaboração dos Mapas Temáticos

Por classificação visual elaboraram-se vários mapas temáticos que refletem ouso e ocupação dos solos existentes no interior da área demarcada pelaCOMPESA como sendo da Reserva Ecológica de Gurjaú e das áreasadjacentes à mesma, compreendendo os seguintes temas: matas, redehidrográfica, vias de acesso, habitações, áreas cultivadas.

4.6.6 Produtos Finais

a) 48 Ortofotocartas em escala 1:2. 000 editáveis no software MapInfo;

b) 48 Ortofotocartas em formato de impressão pdf;

Page 172: 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo · 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 4.1 Uso e Ocupação do Solo Nos últimos 30 anos a pressão antrópica sobre a área reduziu

c) Conjunto de mapas temáticos editáveis no MapInfo correspondentesaos temas de cobertura vegetal, vias de acesso, rede hidrográfica,habitações no interior da reserva, áreas cultivadas.

d) Modelo Digital de Terreno editável no MapInfo com módulo VerticalMapper.

5. CARACTERIZAÇÃO DA ZONA DE AMORTECIMENTO5.1 Avaliação dos impactos sobre o entorno.

O critério utilizado para identificação da Zona de Amortecimento foi o daResolução CONAMA 13/90, onde o limite de 10km ao redor da Unidade deveráser o ponto de partida para a definição da Zona, a partir deste limite vai-seaplicando critérios para a inclusão, exclusão e ajuste de áreas da zona de

amortecimento, aproximando-a ou afastando-a da Unidade. 2

O Zoneamento constitui-se em um instrumento de manejo que apóia aadministração na definição das atividades que podem ser desenvolvidas emcada setor, orienta as formas de uso das diversas áreas, ou mesmo proíbedeterminadas atividades por falta de zonas apropriadas.A transição de zonas de proteção e pouca intervenção para aquelas commenor nível de proteção e com grande interferência humana, deve- se dar deforma harmônica e gradual, passando, de preferência, pelas categoriasintermediárias de zonas.Como existe a necessidade de serem “amortecidos” os impactos dasatividades de uma zona para outra, dentro de uma Unidade de Conservação, épreciso “frear-se” os efeitos das atividades externas às Unidades deConservação sobre o interior desta. Muitas Unidades de Conservação temseus limites caracterizados por mudanças drásticas entre a natureza e aagricultura, a produção madeireira ou o desenvolvimento urbano.Nesses casos é necessária a determinação de um gradiente de zonas, nãosendo recomendável estabelecerem-se zonas de alto grau de proteção emáreas que farão limites com aglomerados urbanos ou com quaisquer outrasatividades antrópicas (Miller 1980).Para facilitar a identificação da Zona de Amortecimento, bem como áreas designificância utilizaram-se o georeferenciamento dos limites e de marcos nocampo (como sedes dos engenhos, trechos do rio, barragens, cultivos, etc...).