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Ageu, Zacarias e Malaquias introdução e comentário J.G. Baldwin  ÉRIE CULTURA BÍBLICA

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    Ageu, Zacarias

    e Malaquiasintroduo

    e comentrioJ.G. Baldwin

    RIE CULTURA BBLICA

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    AGEU, ZACARIAS, MALAQUIAS

    Introduo e Comentrio,

    por

    JOYCE G. BALDWIN, B.A., B.D.De das Mulheres, Trinity College, Bristol

    SOCIEDADE RELIGIOSA EDIES VIDA NOVAE

    ASSOCIAO RELIGIOSA EDITORA MUNDO CRISTO

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    Ttulo do original em ingls:HAGGAI, ZECHARIAH, MALACHI An Introdution andCommentary

    Copyright Joyce G. Baldwin, 1972

    Publicado pela Inter-Varsity Press, Inglaterra.

    SRIE TYNDALE COMMENTARY

    Traduo: Hans Udo Fuchs

    Primeira Edio: 5.000 exemplares

    Publicado no Brasil com a devida autorizao e com todos os direitosreservados pelas Editoras

    SOCIEDADE RELIGIOSA EDIES VIDA NOVAeASSOCIAO RELIGIOSA EDITORA MUNDO CRISTOSo Paulo, SP, Brasil

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    CONTEDO

    Prefcio do Autor 4

    Prefcio da Edio em Portugus 5Abreviaturas Principais 7Introduo Geral 10

    AGEU

    Introduo 21Anlise 27

    Comentrio 28

    ZACARIAS

    Introduo 44Anlise 67Comentrio 68

    MALAQUIAS

    Introduo 176Anlise 183Comentrio 184

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    PREFCIO DO AUTOR

    Provavelmente vlido dizer que estes trs ltimos livros do cnonproftico recebem menos ateno do que merecem, em bora exista nelesum tesouro, como em qualquer outro lugar da Escritura.

    Quanto a Zacarias, um labirinto de especulaes sobre a data e aautoria dos diversos orculos nos captulos 9-14 tem levado a desviosque confudem tanto o leitor, que ele alegremente procura territriomais familiar. Espero que este livro possa ajudar outros a entender

    Zacarias, como ajudou a mim, pelo discernimento de sua simetria eestrutura. Se isto um trao intrnseco ao livro, seu propsito se tornaclaro e sua mensagem coerente. Ageu e Malaquias so mais fceis deacompanhar para a mente ocidental, e suas palavras ainda so importantes, especialmente sempre que houver desnimo ou letargia.

    Minha dvida para com muitos livros e comentrios ficar evidentenas notas de rodap. Alm disto eu tive grande proveito do estmulo enimo que as reunies do Grupo de Estudo de ntigo Testamento daAssociao Tyndale representaram, a cujo presidente, Professor, D. J.

    Wiseman, eu devo o fato de ter comeado a escrever comentrios. Orev. N. Hilliyer, bibliotecrio da Tyndale House Library em Cambridge,e seu predecessor, A. R. Millard, sempre estiveram dispostos a supririnformaes, e eu quero agradecer tambm ao rev. John B. Taylor, querevisou o manuscrito e deu muitas sugestes teis, embora ele no devaser considerado responsvel pelas imperfeies ainda existentes.

    Que este comentrio possa servir causa daquele que em breve hde ser declarado Rei sobre toda a terra.

    Advento 1971 JOYCE BALDWIN

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    PREFCIO DA EDIO EM PORTUGUS

    Todo estudioso da Bblia sente a fa lta de bons e profundos comentrios em portugus. A quase totalidade das obras que existem entre ns

    peca pela superficialidade, tentando tratar o texto bblico em poucaslinhas. A Srie Cultura Bblicavem remediar esta lamentvel situaosem que peque do outro lado por usar de linguagem tcnica e dedemasiada ateno a detalhes.

    Os Comentrios que fazem parte desta coleo Cultura Bblica soao mesmo tempo compreensveis e singelos. De leitura agradvel, seucontedo de fcil assimilao. As referncias a outros comentaristas eas notas de rodap so reduzidas ao mnimo. Mas nem por isso sosuperficiais. Renem o melhor da percia evanglica (ortodoxa) atual. Otexto denso de observaes esclarecedoras.

    Trata-se de obra cuja caracterstica principal a de ser mais exegtica que homiltica. Mesmo assim, as observaes no so de teoracadmico. E muito menos so debates infindveis sobre mincias do

    texto. So de grande utilidade na compreenso exata do texto e proporc ionam assim o preparo do caminho para a pregao. Cada Comentrio consta de duas partes: uma introduo que situa o livro bblico notempo e no espao e um estudo profundo do texto a partir dos grandestemas do prprio livro. A primeira trata as questes crticas quanto aolivro e ao texto. Examina as questes de destinatrios, data e lugar decomposio, autoria, bem como ocasio e propsito. A segunda analisao texto do livro seo por seo. Ateno especial dada s palavras-chave e a partir delas procura compreender e interpretar o prprio

    texto. H bastante carne para mastigar nestes comentrios.Esta srie sobre o V.T. dever constar de 24 livros, de perto de 200

    pginas cada. Os editores, Edies Vida Nova e Mundo Cristo , tm

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    programado a publicao de, pelo menos, dois livros por ano. Compreos moderados para cada exemplar, o leitor ao completar a coleo,ter um excelente e profundo comentrio sobre todo o V.T. Pretendemos,assim, ajudar os leitores de lngua portuguesa a compreender o que o

    texto veterotestamentrio, de fato, diz e o que significa. Se conseguirmos alcanar este propsito seremos gratos a Deus e ficaremos contentes porque este trabalho no ter sido em vo.

    Richard J. Stu rz

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    ABREVIATURAS PRINCIPAIS

    A N E P

    A N E T

    A T D

    B A T

    BDB

    BJB W A TB Z A W

    CB

    CBQChary

    D O TT

    EB

    E T

    FohrerGK

    The Ancient Near East in Pictures, de J. B. Pritchard,1954.

    Ancient Near East Texts relating to the Old Testam ent2,de J. B. Pritchard, 1955.Das A lte Testament Deutsch, 25, Das Buch der Z w lfKleinen Propheten 6 , de Karl Eiliger, 1967.Die Botschaft des Alten Testaments, 24, Das Buch derKirche in der W eltewend,5 de H. Frey, 1963.

    Hebrew-English Lexicon o f the Old Testament, de F.Brown, S. R. Driver e C. A. Briggs, 1907.Biblia de Jerusalm, Ed. Paulinas, SP - 1981.Beitrge zur Wissenschaft vom Alten Testament.Beihefte zur Zeitschrift f r die alttestamentliche Wissenschaft.Cambridge Bible. Haggai and Zechariah,de T. T. Perow-ne, 1888; Haggai, Zechariah and Malachi, de W. E. Barnes, 1917.Catholic Biblical Quarterly

    Agge-Zacharie Malachie, de Thophane Chary (SourcesBibliques), 1969.

    Documents f rom Old Testament Times, editados por D.Winton Thomas, 1958.Expositors Bible. The Book o f the Twelve Prophets,de G. A. Smith, 1891.Expository Times.

    Introduction to the Old Testament, de Georg Fohrer,traduo inglesa de 1970.Hebrew Grammar,2 de W. Gesenius, E. Kautsch e A. E.Cowley, 1910.

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    H A T

    IB

    IC C

    IDB

    Jansma

    JBLJJS

    JN ESJT SK A T

    Lamarche

    LXX

    mg

    Moffattms (s)

    NCB

    N D B

    Petitjean

    rCB2

    PCB

    Pusey

    RAB

    RBRC

    RIB

    Handbuch zum Alte n Testament. 14, Die Z w lf KleinenPropheten, Nahum-M aleachi, 3 de Friedrich H orst,'1964.The Interpreters Bible VI, 1956.

    In ternational Critical Commentary. Haggai and Zecha-riah, de H. G. Mitchell, 1912; Malachi, de J. M. Smith,1912.The Interpreter's Dictionary o f the Bible, 4 volumes,1962.

    Inquiry into the Hebrew Text and the Ancient Versionsof Zechariah IX-XIV, de Taeke Jansma, 1949.

    Journal o f Biblical Literature*Journal o f Jewish Studies.

    Journal o f Near Eastern Studies.Journal o f Theological Studies.Kommentar zum Alten Testament. Das Zwlfpropheten-buch bersetzt und erklrt, 3 de E. Sellin, 1930.Zacharie IX -XIV , Structure Littraire et Messianisme,de Paul Lamarche, 1961.A Septuaginta (traduo grega do A. T. de antes deCristo).margem

    A New Translation o f the Bible, de James Moffatt, 1935.manuscrito (s)O Novo Comentrio da Bblia, Edies vida Nova 1980.

    O Novo Dicionrio da Biblia, Edies Vida Nova 1979.

    Les Oracle du Proto-Zecharie,de Albert Petitjean (tudesBibliques), 1969.Peakes Commentary on the Bible (edio revista), edi

    tado por M. Black e H. H. Rowley, 1962.Peakes Commentary on the Bible, editado por A. S.Peake e A J. Grieve, 1919.The Minor Prophets VIII, Zechariah, de E. B. Pusey,1907.Edio Revista Atualizada no Brasil, da Sociedade Bblica do Brasil, 1969. Todas as citaes bblicas so destatraduo, salvo indicao em contrrio.Revue Biblique.Edio Revista e Corrigida da Imprensa Bblica Brasileira, 1956.Verso da Imprensa Bblica Brasileira de acordo com osmelhores textos em hebraico e grego, 1976.

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    Soncino Soncino Books o f the Bible. The Twelve Prophets, editado por A. Cochen, 1948.

    TBC Torch Bible Commentary. Haggai, Zechariah and Mala-chi, de D. R. Jones, 1962.

    TM Texto massortico.TO TC Tyndale Old Testament Commentary.V T Vetus Testamentum.Vulg Vulgata (Traduo da Bblia pa ra o latim, de Jernimo).Wright Zechariah and his Prophecies, de C. H. H. Wright, 1879.

    Z N IV Zeitschrift f r die Neutestamentliche Wissenschaft.

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    INTRODUO GERAL

    I. TRANSFUNDO DA RESTAURAO

    O horizonte dos profetas pr-exlicos estivera anuviado pela iminncia da destruio e do exlio. Eles no deixavam de reafirmar que nofim a causa de Deus triunfaria, mas a crise imediata da nao era togrande que eles tinham de ser vigilantes, dando alarme do perigo que seaproxim ava ( Jr 4:5; Ez 3:17; 33:4; Os 5:8; 8:1; J1 2:1; Am 3:6). Do tempode Ams em diante as duas naes receberam uma mensagem dedesgraa. O fogo destruiria Jerusalm (Am 2:5), e Samaria veria seu fim

    chegar (Am 3:15; 8:2), A populao seria despedaada e levada emboracomo a presa pelo leo, e no haveria escape (Os 5:14; 13:7, 8).A luz tinha se apagado (Is 5:30), a terra fora devastada (Is 6:11), asguas subido at o pescoo (Is 8:7,8). A sentena foi sustada brevemente no tempo de Ezequias, em Jud, mas executada completamenteem 587 a. C., quando cidade e templo foram saqueados e destrudos.

    Este desastre selou a morte da nao. Longe de registrar umaespiral ascendente de progresso constante de Moiss at Cristo, a Bbliaapresenta um ponto alto da revelao na poca do xodo, seguido deum declnio que reformas ocasionais foram incapazes de reverter. Todaesta trgica histria pode ser resumida nesta seqncia: eleitos, privilegiados, arrogantes, rebeldes. A derrota e cativeiro dos dois reinos foiuma sentena divina da qual a nao nunca se recuperaria. A videiraregada e adubada com tan to cuidado se tornara silvestre (Is 5:2;Je 2:21), a rvore fora cortada (Is 6:13). As coisas nunca mais voltariama ser como antes. O nico acontecimento na histria judaica que podeser comparado com o exlio foi a destruio de Jerusalm em 70 d.C.,

    que deu uma idia de como seria o julgamento final nos ltimos dias(Mt 24). O exlio foi uma amostra; foi o dia do Senhor para Israel eJud.

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    IN TRO D U O

    Praticamente um a vida separava as deportaes de 597 do primei

    ro retorno em 538 a.C. Os exilados quase todos se sentiam como seestivessem mortos. Seus ossos tinham secado e sua esperana se esvanecido (Ez 37:11). De um ponto de vista humano eles tinham razo.Teria sido difcil descobrir algum motivo razovel para ter esperana,mas Ezequiel teve uma viso de ressurreio. Deus haveria de recriarseu povo, reunir os dois reinos sob um lder davdico e estabelecer deuma vez para sempre seu santurio no meio deles (Ez 37). O incentivodos captulos 40 a 48 de Isaas deu nova nfase eleio e aliana.O grande Criador ainda considerava Israel seu servo e Jac seu esco

    lhido (41:8), e por esta razo eles no precisavam ter medo. Ele tinhaapagado suas transgresses por amor de mim (43:25), e planejara oseu retorno a Jerusalm para que reconstrussem o templo (44:28). Cirofoi designado como ungido do Senhor, para executar os seus planos. Derepente havia um futuro glorioso vista, porque eles tinham um Deusincomparvel, rpido em perdoar o passado e planejar redeno. At ocu e a terra testemunhariam a declarao: o Senhor o amou (48:14).

    Estes eram os pronunciamentos profticos. A histria judaica iniciou um captulo novo em 539 a.C., quando Ciro, depois de vinte anos

    de conquistas, estabeleceu-se como rei de um novo imprio mundial, aoentra r vitoriosamente em Babilnia. Desde a morte de Nabucodonosorem 562 o poder babilnico estivera em declnio. Os sucessores deNabucodonosor desfizeram um governo estvel at 556, quando Na-bonido ascendeu ao trono, mas at ele provocou hostilidades e seretirou para a Arbia por volta de 552 a.C., deixando o governopara seu filho Belsazar. Enquanto isto Ciro, prncipe de Ans, tinha seapoderado do poder na Prsia, e tambm se aproveitara de intrigasinternas no Imprio da Mdia para assumir o governo desta nao.

    Com isto ela acrescentou, aos seus territrios alm da Mdia, a Armniae a C apadcia.1 De uma base to ampla ele podia lanar operaesmilitares para o leste e para o oeste ao mesmo tempo. Depois de ocupartoda a sia Menor e encurralar a Grcia ele marchou para o leste,atravs da Prtia, at o Afeganisto. No sabemos com exatido atonde se estenderam seus domnios orientais, mas Ciro tinha formado omaior imprio que o mundo j tinha visto. 2 Quando o Elo e a regioantes conhecida como Assria se renderam a ele, Babilnia ficou s eincapaz de se defender. Em outubro de 539 a.C. caiu este ltimobastio, e 0 imprio de Ciro estava completo.

    Os prximos anos, no tocante aos judeus, esto registrados emEsdras l:l:-4:5. Em primeiro lugar est escrito que Ciro dizia que o

    1 Podemos ver a extenso do Imprio da Mdia no mapa 7, NDB.

    2 Veja o mapa 9 no NDB ou um mapa semelhante do Imprio persa.

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    AG EU, Z A C A R IA S, M A L A Q U IA S

    Senhor, o Deus do cu, o tinha encarregado de lhe edificar uma casa emJerusalm (Ed 1:2). O cilindro de Ciro lana luz sobre esta afirmao,

    porque nele o rei registra como reedificou templos e restaurou deusesaos seus lugares de origem, depois de entrar vitorioso em Babilnia. Suaorao, Possam todos os deuses que eu recoloquei em seus santuriosreceber uma orao diria em meu favor . . 3 revela sua motivao esua concepo sincretista. Honrando todos os deuses ele pensava poderconta r com a ajuda de todos eles. Por isto os judeus foram incentivados avoltarem para Jerusalm para reconstruir o templo, e receberam devolta os utenslios sagrados que Nabucodonosor tinha confiscado quando da queda da cidade. Depois de uma longa lista dos que retornaram

    (Ed 2) temos um registro da edificao de um altar (Ed 3:1-6). O ritualde sacrifcios foi reiniciado em meio s runas do templo. Tambm foram tomadas providncias para obter garantia oficial de fornecimentode cedros, prometido por Ciro (Ed 3:7), e no segundo ano houve umacerimnia para dar graas pelo incio da reconstruo do templo (3:8-13).

    O progresso, no entanto, foi de curta durao. O povo de origemmista que se apoderara da terra durante o exlio queria se identificarcom os judeus, cooperando com seus projetos de construo. Provavelmente estas pessoas esperavam manter algum controle dos assuntos

    polticos locais. Zorobabel e Josu ao que parece tiveram o apoio dosregressos ao rejeitarem todo e qualquer acordo com pessoas cuja religio superficial e moral leviana poderiam levar apostasia. A hostilidade resultante fez a obra parar, e em 520 a.C., o templo ainda estavaem runas (Ed 4:1-5).

    Ciro m orreu em 530 a.C., duran te uma batalha, ao combater tribosbrbaras no nordeste da Prsia, mas no antes de estabelecer umeficiente sistema de comunicao em todo o imprio, e um controle

    eficaz atravs de funcionrios persas e mdios, com o auxlio do exrcito. Sua liberalidade incomum como governante conhecida. De acordocom Herdoto, os persas consideravam Ciro, o pai da sua naoporque na caridade do seu corao ele estava sempre ocupado complanos por seu bem -estar .4 Seu filho e sucessor, Cambises, em contraste, era um tirano, que temia qualquer ameaa aparente ao seu trono ,e em segredo assassinou seu irmo Bardias, que era popular. O grandefeito de Cambises foi acrescentar o Egito ao Imprio Persa, mas em

    ju lho de 522, voltando da Etipia, ele teve notcias de que um usur

    pador que dizia ser seu irmo Bardias tinha se apoderado do trono da

    3 DOTT,pp 93, 94; cf ANET,pp 315, 316. Um registro til do edito de Ciro luz da evidncia arqueolgica pode ser encontrado em J. A. Thompson, The Bible and Archaeo-logy (Paternoster, 1962), pp 174-180.

    4 Herdoto, III. 89 (Penguin Classics Edition, pg. 214).

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    IN TRO D U O

    parte oriental do imprio. Os detalhes so obscuros, mas parece queCambises ps um fim sua prpria vida. Na ausncia de um sucessordireto, Dario, filho do governador de Sus e oficial da corte de Cambises, reclamou o trono. Incidentalmente a travessia da Palestina pelosexrcitos de Cambises pode ter contribudo p ara a pobreza a que Ageuse refere (1:6,9: 2:16s).

    A morte de Cambises fez estalar rebelies em diversas regies doimprio. O primeiro desafio de Dario foi derrotar e executar o falsoBardias. Isto ele fez em fim de setembro de 522, mas ainda esperavampor ele bata lhas contra faces rebeldes em reas t o distantes uma daoutra como o Ir no leste, a sia Menor no oeste e o Egito no sul.

    Dario faz referncia a estas campanhas nas famosas inscries da rochaBeisto no Ir. No lado esquerdo vemos a figura de Dario com seup sobre a figura prostrada de Gautama (o falso Bardia s).5 H diferenas de opinio sobre o prazo que foi necessrio para sufocar estarebelio (veja o comentrio sobre Zc 1:1), mas provvel que Dariotenha se firmado no trono em 520 a.C., o ano em que Ageu e Zacariascomearam a profetizar.

    At que ponto estes profetas foram influenciados pelos acontecimentos do mundo? Como seus predecessores, eles pregaram sua mensa

    gem em uma poca crtica, mas se tjstavam considerando uma revoltapoltica contra a Prsia, como K. Elliger d a ente nder,6 eles estavamatrasados. Dezoito meses antes teria sido um momento favorvel. Almdisto no temos evidncia de que houvesse um esprito belicoso entre osouvintes de Ageu. O utras naes eram sacudidas por um fervor nacionalista, mas isto servia somente para colocar em destaque a desesperana e impotncia da pequena comunidade judaica em Jud. O tumulto pelo qual passou o Imprio Persa pode ter despertado lembranasdas profecias de terremoto de Ams (8:8; 9:5). Iniciara-se o julgam entodas naes e as esperanas profticas de um govenante davdico embreve seriam cumpridas. E se ele viesse, breve o templo teria de estarpronto para receb-lo. Desta fo rma os acontecimentos mundiais contriburam para o tom de urgncia da mensagem proftica, mas a mensagem em si no era nova. Ezequiel j previra que o templo teria de serreconstrudo, porm agora chegara a hora de agir.

    O direito que os judeus tinham de edificar foi posto em dvidapelos governadores pr-Prsia dalm do Eufrates, que apelaram a

    Dario, solicitando confirmao da autorizao dada por Ciro. Foidescoberto um memorando oficial em Ecbatana, com base no qual

    5 ANEP, placas 249, 250.

    6 A TD, pg. 83. Ele acha que os judeus se recusaram a pagar o tributo devido Prsiae usaram o dinheiro para construir o templo.

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    AGEU, Z A C A R IA S, M A L A Q IA S

    Dario proibiu intereferncia na obra, e at ordenou que fosse dadaajuda material (Ed 5:6-6:12). notvel que Dario tenha se esforadotanto,' especialmente se estava enfrentando ameaas no imprio. Alm

    disto no h nenhum indcio de que ele suspeitasse uma sublevao porparte dos judeus ou estivesse desconfiado da liderana de Zorobabel emJerusalm naquela poca. A falta de notcias sobre o destino de Zorobabel, e o fato de aparentemente ele no ter tido sucessor, levou aconjecturas de que os persas tenham feito objees suas aspiraes(Ag 2:21-23; Zc 4:6s), removendo-o e privando a casa de Davi das suasprerrogativas.7 Seja o que fo r que aconteceu depois, parece que aconstruo do templo progrediu pacificamente at a concluso em516 a.C., e no h evidncias de oposio persa oficial. No detectamos nenhuma m udana de poltica e nenhum a atitude violenta contraos judeus, de um tipo que seria previsvel se as aspiraes de Zorobabeltivessem sido vistas com maus olhos.8

    Os registros bblicos silenciam sobre os judeus depois da conclusodo templo. No foi escrita nenhuma continuao dos livros de Reis eCrnicas, e somente os dois incidentes isolados descritos em Esdras4:6-23 fornecem algumas informaes sobre o perodo 515-458 a.C.Dois aspectos do reinado de Dario tinham implicaes para as relaesinternacionais. Em primeiro lugar ele organizou a construo de estradas que possibilitavam aos comboios imperiais cobrir em uma semanadistncias para as quais as caravanas precisavam de noventa dias (cfos cavalos de Zacarias tinham patrulhado a terra). Em segundo lugarseu confronto com a Grcia desviou a ateno dos lderes do mundopara o ocidente, para o povo que estava destinado a controlar oprxim o im prio mundial. verdade que houvera in tercm bio come-cial entre a Grcia e o Oriente Prximo desde o segundo milnio a.C.,

    mas os confrontos entre exrcitos persas e gregos trouxeram muitosasiticos Grcia. Por isto no surpreendente que a literatura bblicafaa referncia a este pas desta poca em diante (c fZc 9:13).

    A histria poltica do povo judeu, por ser um povo vassalo, automaticamente est ligada dos grandes imprios mundiais. Durante oquinto sculo ele estava sujeito aos funcionrios de Samaria, que nosimpatizavam com ele, impondo-lhes mais impostos do que podiam

    pagar (Ne 5:4), e fazendo exigncias pessoais exorbitantes deles (Ne

    5:15). Sempre sob a ameaa de serem acusados diante do governocentral, como aconteceu sob o governo de Assuero (Ed 4:6) e Artaxer-

    7 J. Bright, Histdria de Israel (Ed. Paulinas, 1978), pg. 505; Winton Tohmas,IB, VI, pg. 1039.

    8 P. R. Ackroyd, Exile and Restoration (SCM Press, 1968), pg. 165.

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    IN TRO D U O

    xes (Ed 4:7-23),9 e sem nenhum meio para se defenderem, os judeusdevem ter sentido profundamente sua impotncia. Sem esperana nofuturo, o moral baixou, at predominar a frouxido religiosa e moral

    que a profecia de Malaquias pressupe.

    No que os profetas tenham estado equivocados quando apresentaram seus quadros gloriosos do que Deus haveria de fazer. Eles tinhamrecebido uma viso de alcance muito longo, que se estendia desde avinda de Cristo como homem at sua segunda vinda para julgar eestabelecer seu reino definitivamente. O elemento que causava confusoera o tempo, e a maneira pela qual as profecias seriam cumpridas(I Pe 1:10-12).

    II. SIGNIFICADO TEOLGICO DO TEMPLO

    O fato de Ageu e Zacarias terem recebido a tarefa principal deincentivarem a construo do templo levanta a questo do seu lugar nopensamento teolgico da poca. Nenhum pro feta iniciou a construodo templo de Salomo; Nat deu permisso, e no instrues ao sucessor de Davi para a sua construo (II Sm 7:12). Na opinio de Natuma tenda era um smbolo mais apropriado da presena do Senhor do

    que um templo porque era mvel, dando liberdade para o relacionamento vivo e dinmico que caracteriza o contato de Deus com oshomens (II Sm 7:6). At onde concerne ao ritual, ele poderia serexecutado to bem no tabernculo como em uma estrutura mais permanente.

    Alm disto a eficcia do sacrifcio tinha sido questionada muitasvezes. caracterstico dos profetas do oitavo sculo de que no poderiahaver perdo de pecados sem confisso e arrependimento, evidenciado

    por uma vida diria re formada (p.e. Is 1:11-20). Na melhor das hipteses os sacrifcios tratavam de pecados pblicos, no com toda a gamade pecados da mente e do corao. No supreendente, ento, que emIsrael houvesse indivduos que procuravam alm do ritual do sistemasacrifical, com sua preocupao com atos externos, a possibilidade dareconciliao com Deus.10 Indivduos recebiam certeza de perdo sema necessidade de sacrifcios (II Sm 12:13; SI 32:5), e alguns salmoschegam a ponto de afirmar que Deus no exige sacrifcios (SI 40:6;51:16, 17). Acrescente-se a isto as afirmaes profticas de que Deus

    poderia ser encontrado no exlio (Jr 29:12-14), sendo para eles umsanturio (Ez 11:16) mesmo sem a possibilidade de oferecer sacrifcios,

    9 Artaxerxes 1, 464-423 a.C. No fim de seu reinado foi concluda a construo dosmuros da cidade, motivo das reclamaes (Ne 6:15; c/2:l).

    10 I. H. Marshall, Kept by the Pow er o f God (Epworth, 1969), pg. 17.

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    e torna-se bvio que deve ter existido uma razo mais fundamental paraa reconstruo do templo do que a reinstituio do ritual."

    Todo um complexo de idias tinha surgido ao redor do nome Sio,que aparece pela primeira vez na narrativa da conquista de Jerusalmpor Davi (II Sm 5:7). (a) O Monte Sio se tornou smbolo do trono do.rei davdico, cuja dinastia era para sempre (II Sm 7:16). Este tema desenvolvido sob o ttulo Esperanas Messinicas, (b) O Senhor tinhaescolhido Sio para seu lugar de descanso eterno (SI 132:13,14), epor isso o santurio era santificado para sempre (II Cr 30:8). OSenhor escolheu o monte Sio, que ele amava. Ele construiu o seusanturio durvel como os cus (SI 78:68, 69). Apesar de os cus dos

    cus serem muito pequenos para que Ele coubesse neles, o Senhor sedignou a chamar seu um pequeno monte na face da terra, e deix-lo serconhecido por Seu nome (Jr 7:11). No de se admirar que os contem

    porneos de Jerem ias no podiam crer que o templo um dia seriadestrudo (Jr 7:3). (c) As naes sabiam que o Senhor tinha escolhido omonte Sio, e mesmo assim elas permitiram que ele fosse profanado(Ez 7:21). Por implicao, o nome do'Senhor era blasfemado entre osipagos, pois eles no poderiam saber que sua glria tinha sido retirada

    antes que ele fosse destrudo (Ez 11:23).Conclui-se que a honra do Senhor estava ligada reconstruo dotemplo. As naes deveriam saber com certeza total que o Deus deIsrael no deixara de existir quando os israelitas foram expulsos da suaterra. As naes sabero que eu sou o Senhor que santifico a Israel,quando o meu santurio estiver para sempre no meio deles (Ez 37:28).Israel precisava saber que Deus no volta a trs em sua eleio, por istoZacarias reafirma: Clama: Assim diz o Senhor dos Exrcitos: comgrande empenho zelando por Jerusalm e por Sio (Zc 1:14); Ento o

    Senhor... de novo escolher a Jerusalm (Zc 2:12).No pensamento de Ezequiel havia uma estreita relao entre o

    templo e a aliana. Farei com eles aliana de paz; ser aliana perptua. Estabelec-los-ei e os multiplicarei, e porei o meu santurio nomeio deles para sempre (Ez 37:26). Enquanto o templo estava emrunas no existia nenhum sinal externo da presena de Deus no meio dacomunidade restaurada.. A julgar pela declarao de Ageu, expressaassim que a reconstruo iniciara: Eu sou convosco, diz o Senhor(Ag 1:13, 2:4), havia m uitas dvidas sobre se Deus estava presente entreo povo, no final das contas, ou no. Ezequiel tivera uma viso de que aglria do Senhor retomaria a Jerusalm, mas tambm uma viso dotemplo que o receberia (Ez 43:1-5). Naquela ocasio a reconstruo foi

    11 Os ltimos dois versculos do Salmo 51, que refletem um ponto de vista diferentedos versculos 16 e 17, parecem ser uma orao acrescentada durante o exlio.

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    feita por obra do Esprito de Deus, no por iniciativa humana (Zc 4:6).O Senhor controlara os acontecimentos mundiais (Zc 1:18-21) e mo

    tivou o povo atravs de Ageu e Zacarias. A concluso do templo seriaprova de que Zacarias fora seu instrumento (Zc,4:9), e com isto um sinalde que aliana fora renvoada. O Senhor novamente estava com o povocomo estivera com Moiss e Josu (Js 1:5), e assim a esperana nasantigas promessas era reavivada.

    Havia, por fim, uma razo escatolgica que fazia o templo indispensvel. A primeira vez que Miquias predisse a destruio de Jerusalm (Mq 3:12), ele em seguida descreveu um novo templo, mais elevadoque os montes, no qual todas as naes se congregariam para ouvir a

    palavra transformadora que traria paz ao mundo (M q 4:1 -4; c /ls 2:2-4).Parece que a seqncia de acontecimentos seria esta: destruio, desolao por algum tempo, e depois, estando a casa do Senhor reconstruda, os ltimos dias amanheceriam com suas esperanas messinicas. Como em Isaas 40-55, assim que o castigo de Jerusalm estivessecompleto (40:2) cidade e templo seriam reconstrudos (44:28), em meioa muita alegria. Aparentemente nada havia entre a restaurao dacidade e experincias extticas do reinado de Deus (Is 52:1, 2, 7). Areconstruo do templo era pr-requisito para o advento da era messi

    nica. Ageu deixou isto implcito (Ag 2:6-9) e Malaquias proclamou queo Senhor viria de repente para o seu templo (Ml 3:1).

    A reconstruo do templo era ao mesmo tempo um ato de dedicao e de f. Era um smbolo da continuidade entre presente e passado,e expressava os anelos da comunidade pela validade das antigas prome-sas, esperando que o exlio no as tivesse anulado. Dificilmente podemos esperar que os profetas entendessem o que o templo deveriasimbolizar no propsito de Deus, porque Jesus disse que seu corpo era

    o templo (Mc 14:58, Jo 2:19) que, por sua vez, seria destrudo. Ressuscitado dos mortos ele seria a pedra fundamental de um templo santofeito de pedras vivas, crentes que seriam morada de Deus no Esprito(Ef 2:19-22, 1 Pe 2:4, 5), um a igreja que em esplendor seria apresentadaa ele. A reconstruo do templo no tempo de Ageu e Zacarias era umpreparo necessrio para tudo isto.

    III. ESPERANAS MESSINICAS

    Temos evidncias de que a esperana de salvao era uma caracterstica de Israel desde os tempos mais remotos. Antes da monarquia,Israel j tinha experimentado salvao do Egito, e tinha entrado emuma terra prometida. Nas duras batalhas de conquista e ocupao daterra, salvadores tinham guiado o povo para libertao e vitria,hventos de salvao espetaculares inspiraram muitos salmos, como

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    em x 15;1-18 e Jz 5:2-31, os quais, atravs de repetio regular porgrupos corais, manteriam viva a memria dos grandes feitos de Deus

    em cada gerao. Surgiram dois tipos especiais de transmisso datradio: (1) crena em uma era futura de paz e plenitude, e (2) crenaem um futuro governante sobrehumano, milagrosamente doado e dotado.

    A segunda esperana, incentivada pelo carisma dos juizes e tambm do rei Saul (I Sm 10:10), foi identificada com a casa real de Jud,desde o surgimento da dinastia davdica. A promessa de Nat: A tuacasa e o teu reino sero firmados para sempre diante de ti; teu trono

    ser estabelecido para sempre (II Sm 7:16) foi confirmada mais tarde erecebeu status de aliana (II Sm 23:5). s vezes isto sem dvida erainterpretado em termos puramente nacionalistas, mas os salmistas sealegraram com a certeza de que o rei vindouro faria valer seu direitodivino de domnio sobre as naes (SI 45:4-7, 72:1-4). Depois de ele tervencido seus inimigos floresceriam paz e justia, porque as condiespara que o reino de Deus pudesse vir estariam cumpridas. Ento a natu reza proveria em abundncia o alimento de que o homem necessita, euma era de felicidade teria seu incio (SI 72:3, 7,9-11, 16).

    Os profetas pr-exlicos no tinham conseguido despertar umaexpectativa otimista em uma nao que no apresentava nenhum vestgio de identificao com o Senhor que dizia servir, e mesmo assimqueria gozar de todos os privilgios da aliana. A perspectiva imediataera o exlio, e somente depois que esta experincia humilhou Israel,levando-o a submisso e arrependimento, haveria chance de vir o diada libertao. Alm disto o futuro rei de que falavam estes profetas setornava cada vez mais sobrehumano (Is 9:6), e todas as naes buscariam seu governo imparcial (Is 11:10). Pois os desprivilegiados teriam

    seus direitos e at os animais no matariam uns aos outros (Is 11:6,7).Jeremias, que no pde transmitir esperana ao povo por causa do falsootimismo dos seus contemporneos, mesmo assim se referiu ao futurorei davdico, o Rebento justo, cujo nome era Senhor justia nossa(Jr 23:5, 6, 33:15, 16). Esta idia do papel mediador deste rei seriadesenvolvida depois d exlio.

    Quando Ciro nomeou o prncipe de Jud para liderar as caravanas dos que voltavam para Jerusalm (Ed l:8s), e Zorobabel, um neto

    de Jeoaquim (1 Cr 3:16-19), para dirigir a comunidade reinstalada, asesperanas na linhagem davdica foram reavivadas. Ageu proclamouque ele fora escolhido por Deus, e tinha autoridade como um rei de fato(Ag 2:23). Para Zacarias ele no era simplesmente aquele que completaria a construo do templo, mas tambm um dos ungidos queestava ao lado do Senhor de toda a terra (Zc 4:14). O outro era o sumoisacerdote Josu, relacionado em 3:8 e 6:12 com a linhagem mediadora

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    IN TRO D U O

    de Jeremias. A parceria de prncipe e sumo sacerdote uniu dois ramosda tradicional liderana de Israel e fez uma contribu io criativa para o

    conceito messinico.A nica referncia explcita ao rei vindouro nestes profetas ps-

    -exlicos est em Zc 9:9,10. Este poema triunfante usa uma linguagemfigurada emprestada das antigas Bnos de Jac (Gn 49:11) e doSalmo 72. Ele no como a maioria dos governantes humanos quegozaram de libertao e triunfo, mas humilde, identificando-se comos pobres da terra. O Senhor o garante, desarma as naes e lhe conferedomnio sobre a terra. Quando o rei mencionado de novo ele o

    Senhor que rei sobre toda a terra (Zc 14:9).Esta esperana gloriosa, porm, no o nico tema de Zacarias

    9-14. Ela contrastada com cenas de batalhas, descritas com a linguagem vivida da antiga poesia blica. A libertao prometida implica emdesastres catastrficos como a escravido egpcia e o cativeiro babilnico (Zc 10:8-12). Alm disto o lder foi rejeitado (Zc 11:8), assassinado(Zc 12:10), de modo que a nao assustada no oferecia obstculo aosseus adversrios (Zc 13:7-9). Mesmo assim ele abriu um caminho para o

    perdo e a purificao para aqueles que dissessem o Senhor meuDeus (Zc 13:1, 9) atravs de sofrimento aceito voluntariamente. Avitria teria de ser obtida no corao das pessoas, e para isto armasmilitares eram inteis e recursos humanos inadequados. Mas quandoalcanada, teria chegado o fim da histria. Ageu descreve um tremorcataclsmico, representado por um terremoto, mas incluindo o espaosideral (Ag 2:21, 22), antes de Zorobabel ver a concretizao da suaeleio. Zacarias prev mudanas no panorama ao redor de Jerusalm,mas tambm faz referncias a mudanas csmicas, pois cessa a alter

    nncia entre dia e noite. Somente a interveno divina poder trazer ato esperada era de paz e prosperidade (Zc 14:3-9).

    Malaquias o profeta do perodo de espera. Ele tinha certeza deque o fim estava prximo, e que haveria um mensageiro final queprepara ria o caminho para a vinda do Senhor, que seria de ao todrstica como a potassa que os lavandeiros usavam para alvejar roupa eto implcavel como o fogo (3:1-3). No seria, portanto, suficiente

    pertencer ao povo da aliana por nascimento. Todos que desobede

    cessem a Deus seriam mortos (4:1), todas as desordens morais existentesem Ju d e Jerusalm receberiam seu castigo jus to (3:5). Somente os quese aliassem ao Senhor teriam sua libertao garantida (4:2). Por issoMalaquias corrigiu todas as idias puram ente nacionalistas, e ao mesmotempo deu a entender que no haveria paz e prosperidade antes que oSenhor interviesse pessoalmente na histria. Deus reservava para si a

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    execuo de justia em Israel e entre as naes, e a proviso de felicidade para os justos.

    O Antigo Testamento termina com esta observao solene e aomesmo tempo expectante, com sua expectativa baseada no cumprimento de esperanas edificadas sobre milhares de anos de histria erevelao. No que estas esperanas estivessem claramente definidasou assimiladas. As implicaes de algumas figuras eram suficientementeclaras, mas uma interpretao abrangente permanecia confusa, e poristo a tendncia do perodo inter-testamentrio foi concentrar-se emaspectos que pareciam ser atraentes e sem duplo sentido. Somentefazendo um retrospecto algum poderia compreender que Jesus deNazar reunia em sua pessoa as linhas divergentes do ensino dos profetas em relao esperana messinica.

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    AGEU

    No ano 520 a. C. Jerusa lm estava em crise. No era uma crisepercebida por todos, como p. ex. uma ameaa de invaso leva o povotodo ao, mas o estado perigoso de paralisia moral que aceita comonormais condies que exigem mudanas drsticas. A no ser que umhomem de viso e determinao pudesse intervir no tempo, no haveriaesperana de recuperao.

    Os judeus que retornavam de Babilnia tinham esperado que todo odeserto se tomasse um jardim florido (Is 35:1). Em vez disto elesencontraram um deserto que invadia seus campos e pomares medidaque um ano de seca sucedia ao outro. A conseqente carestia e pobreza-baixara o moral dos que de outra form a estariam ansiosos por reconstruir. Trs sculos antes Ams tinha falado de condies climticasadversas e colheitas frustradas (Am 4:6s), ensinando que tinham sidoos sinais divinos de advertncia, que Israel em sua autoconfiana noreconheceu. As circunstncias eram outras, mas mesmo assim Ageu

    viu nas secas seguidas um repreenso divina. Diferente de Ams, eleestava confrontado com um povo que sabia das suas necessidades eestava preparado para admitir seu fracasso. Eles aceitaram o diagnstico de Ageu como vindo de Deus, reorganizaram sua vida de acordo, ese puseram a trabalhar.

    INTRODUO

    I. O PROFETA

    Parece que Ageu no precisava ser nem apresentado nem identificado (1:1), porque tambm em Ed 5:1 e 6:14 ele simplesmente oprofeta, e a julgar pela repetio aramaica de Ed 5:1 os profetas,Ageu, o profet a. . ele geralmente era chamado assim ( c /Haba-

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    A GEU

    cuque, o profeta, Hc 1:1). A ausncia de ascendncia pode significarque seu pai j caira no esquecimento, que havia poucos profetas e que

    por isto o pro feta era suficientemente especfico, e que ele era bemconhecido na pequena comunidade judaica. Seu nome , como muitosoutros no Antigo Testamento, derivado da palavra hag, festa: Hagi(Gn 46:16, Nm 26:15), Hagite (II Sm 3:4), Hagias (I Cr 6:30). Provavelmente ele nasceu num dia de festa, e por isto foi chamado de minhafesta (em latim festus, em grego hilary). Tambm possvel que Ageutenha sido um apelido.

    No devemos nos surpreender se um livro to curto revela poucacoisa sobre a vida do profeta. Era ele um jovem que voltou com seuspais em 538 a.C.? Se ele na ocasio ainda era criana, a ausncia de seunome na lista de Esdras 2 poderia ser explicada. Ser que ele estevemesmo em Babilnia? De acordo com a tradio judaica ele viveu amaior par te de sua vida em Babilnia.12 Em parte com base nestatradio e em parte baseado em Ageu 2:3 surgiu a opinio de que ele eraum homem muito idoso quando profetizou, algum que tinha visto otemplo antes desua destruio, e foi incumbido da tarefa mais importante da sua vida pouco antes de morrer. A autoridade com que elepregou e esta nica preocupao com o templ tendem a confirm ar isto.

    De acordo com uma tradio crist antiga Ageu era um sacerdote,que foi sepultado com honras perto dos tmulos dos sacerdotes.13 Ofato de nas verses antigas certos salmos serem atribudos a Ageu podeprestar apoio sua linhagem sacerdotal. A LXX, por exemplo, sobres-creve os salmos 138 e 146-149 com os nomes de Ageu e Zacarias, talvezindicando que eles eram responsveis pela coletnea da qual foi feita atraduo grega. A tradio hebraica, por outro lado, no concorda queAgeu tenha sido sacerdote, e o Rabi Eli Cashdan, do nosso tempo,

    escreve: evidente que ele no era da tribo sacerdotal, j que elechamou a ateno dos sacerdotes de seu tempo para a impureza lev-tica (ii. II ).14 Esta evidncia, no entanto , dificilmente prova o argumento. A nica coisa que podemos afirmar com certeza que ele tinhauma paixo pela causa de Deus que o consumia, como os grandesprofetas antes dele. Assim como Elias confrontou seus contemporneoscom uma deciso fundamental no Monte Carmelo, Ageu reconheceuque para sua gerao tudo dependia da reconstruo do templo. Isto foide fato um tipo de encarnao de tudo que Deus representava, exigia e

    podia fazer por seu povo naquela poca que estava por surgir. 15

    12 Rabi Eli Cashdan, The Twelve Prophets (Soncino Press, 1948), pg 254.

    13 H. G. Mitchell, ICC, pg 26, citando Dorotheus e Hesychius para provar suaafirmao.

    14 Op. cit., pg 252.15 J. B. Taylor, Ezekiel ( TOTC, 1969), pg 253.

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    IN TRO D U O

    Das informaes precisas contidas no texto descobrimos que Ageupregou os sermes registrados em seu livro no espao de quinze semanas

    durante o segundo ano de Dario I (521-486 a. C.). Tem sido possvel,com a ajuda da evidncia de mais de cem textos babilnicos, e de tabelasda lua nova calculados com informaes astronmicas, sincronizar osantigo calendrio lunar com o calendrio juliano. Os resultados coincidem quase completamente, com margem de erro de um d ia .16A tabelaabaixo apresenta as datas que aparecem em Ageu e Zacarias, e seusequivalentes. A coluna quatro d a data no calendrio juliano em quehouve lua nova em cada ano mencinado.

    Ano de ms Data da data equivalente,Referncia Dario lua nova dia a.C.

    Ag 1:1 segundo sexto 29 ago 1. 29 ago 520Ag 1:15 4 44 44 24. 21 set 520Ag 2:1 U stimo 27 set 21. 17 out 520Zc 1:1 44 oitavo 27 out Ag 2:10,20 4 nono 25 nov 24. 18 dez 520

    Zc 1:7 44 11. 23 jan 24. 15 fev 519Zc 7:1 quarto nono 4 dez 4. 7 dez 518

    No h nenhuma possibilidade de saber o que aconteceu a Ageudepois de 18 de dezembro de 520. Assim que a reconstruo do templofoi iniciada com seriedade sua misso estava cumprida, e ele se retiroudo cenrio, tendo em Zacarias um sucessor para continuar sua obra.

    II. SEU LIVRO

    Neste curto livro foram registradas somente as partes essenciais dasquatro mensagens do profeta. Se prestarmos ateno, poderemos no tara distino que h entre as palavras do profeta e a moldura em que elasforam colocadas. As introdues datadas (1:1, 2:1, 10, 20), a narrativa(1:12) e as introdues abreviadas (2:13, 14) fazem referncia a Ageu naterceira pessoa, dando a impresso que algum, que no era o profeta,foi responsvel pela coletnea das mensagens. H muita probabilidadede que o livro foi editado logo depois de 520 a.C. Que Ageu estava tovivo na memria das pessoas que no precisava ser apresentado j foimencionado.

    16 Material importante, junto com tabelas que incluem as datas em que os mesesiniciavam, pode ser encontrado em R. A. Parker e W. H. Dubberstein, Babylonian Chronology 626 a.C. 75 d.C. (Brown University Press, 1956).

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    AG EU

    O. Eissfeld ficou impressionado com os detalhes muito exatos eclaramente confiveis do relato, que na sua opinio devem remontar as

    anotaes do prprio profeta, para destacar a impresso de total objetividade do seu relato, escolhendo por isso a terceira pessoa e no aprimeira.17P. R. Ackroyd tem um ponto de vista totalm ente diferente.Ele acha qqe o editor foi responsvel pela datao e arranjo dosorculos, possivelmente um sculo, talvez at dois depois do tempo deAgeu. No caso de Ageu podemos presumir que durante algum tempoos orculos foram transmitidos oralmente, depois em forma escrita, atassumirem a forma atual. No podemos determinar a durao desteperodo, mas em vista das semelhanas j mencionadas entre as datas deAgeu e as de Crnicas podemos estim-lo em no menor que um sculo,

    italvez to extenso como dois sculos. 18

    Recentemente W. A. M. Beucken argumentou que Ageu e Zacarias1-8 foram editados num ambiente cronstico.'9Ele argumenta que omesmo interesse destacado no templo, seu ritual e a comunidade dalinhagem davdica dominam tanto estes profetas como os livros deCrnicas. Isto verdade, mas se Beucken est querendo dizer que oseditores selecionaram os temas que eles individualmente preferiam re-

    gistrarj isto diminuiria a confiana nos livros na forma que chegaramat ns. Ns cremos que mais provvel e lgico que Ageu foi editadocedo, possivelmente antes de 500 a.C., e que ele, junto com Zacarias,moldou o pensamento dos que editaram os livros das Crnicas.

    Ageu, como seus predecessores, talvez tenha colocado seus orculos em forma potica para torn-los o mais vvidos e memorveispossvel. A incerteza surge porque a poesia hebraica no tinha rimas, epassaria por prosa, como muitos poemas atuais, se no fosse escrita emversos; por isto nem sempre possvel identificar a poesia hebraica com

    certeza. Vemos um claro paralelismo (idias iguais ou opostas colocadas em clusulas paralelas) no versculo 6, e notamos um ritmo distintoat mesmo na traduo de 1:9-11.20Quer tenha usado poesia ou prosa,Ageu era direto e franco. Ele desafiou seu ouvintes com as caractersticas de Elias. Ningum podia deixar de compreender sua mensagem, poisele repetiu diversas vezes seus imperativos favoritos: Considerai (1:5,

    17 O. Eissfeldt, The Old Testament An Introduction. Trans. P. R. Ackroyd (Bla

    ckwell, 1965), pg. 428.18 P. R. Ackroyd, Studies in the Book of Haggai, JJS, II, 4, 1951, pp. 163-176.

    19 W. A. M. Beucken, HaggaiSacharja 18 (Assen, 197), resenhado por R. J.Coggins em JTS, 20, 1969, pp. 264-266.

    20 Do is autores que acham que Ageu pronunciou suas mensagens em forma poticaso A. Bentzen, Introduo ao Antigo Testamento (ASTE-SP), pg. 156; e H. G. Mitchell,ICC, pp 38 e 39.

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    INTRODU O

    7, 2:15, 18), s forte, traba lhai (2:4). Citou com freqncia palavras deprofetas anteriores (p. ex. 1:6, c fOs 4:10, Mq 6:15; e 1:11, c fOs 2:9,etc). Sabia at citar uma metfora adequada (l:6e).

    Uma caracterstica do estilo de Ageu seu uso livre da frm ula domensageiro. Ele no se contenta em iniciar seus sermes com Assimdiz o Senhor dos Exrcitos, mas muitas vezes conclui com isto (2:7,9, 23), ou inclui a frase em outra seqncia (2:4, 14, 23). Ele sabe que boca, voz de seu Deus, e se controla para no fazer aparecer sua prpriapersonalidade. Como enviado do Senhor (1:13) ele tem de to rnar amensagem clara e fazer com que ela seja compreendida, e nenhum profeta provocou uma reao to imediata como ele. A estrutura do livro

    reflete isto. Primeiro ele acusa (1:1-11), depois vem a reao (1:12-14),seguida da garantia de sucesso no fim (2:1-9). A estrutura se repete:acusao (2:10-17), reao (2:18, 19), garantia do triunfo de Deus(2:20-23). A proporo do livro dedicada ao discurso de julgamento da mesma extenso da dedicada ao anncio da salvao . 21

    Apesar de o livro ser to curto surgiram divergncias quanto sequncia do texto. A NEB afirma, em nota de rodap a 1:13, que asequncia original deve ter sido 1:14,15,13; 2:15-19,10-14,1-9,20-23. Aidia de que 2:15-19 deveriam seguir o capitulo 1 surgiu com J. W.

    Tothstein ,22 e foi aceita principalmente na Europa Continental, se bemque tambm na Gr-Bretanha.23A data de v. 18 omitida como glosa ouadaptada fazendo do nono o sexto (ms). A inteno isolar osversculos 10-14 e possibilitar a identificao de este povo (v. 14) comos samaritanos. A transferncia de 2:1-9 para depois de 2:20 pe no fimas duas profecias que contm elementos escatolgicos. Esta deslocaoaltera o livro radicalmente, e no recebe apoio de qualquer texto ouverso conhecidos.

    A publicao do rolo dos Doze, das cavernas de Murabba at,trouxe a pblico o manuscrito hebraico de Ageu mais antigo queconhecem os.24 Ele contm aproxim adamente dois teros do livro (1:12-2:10 e 2:12-23), e d muito apoio ao TM , diferindo dele somente em doislugares de menos importncia. Como a ordem dos versculos a mesma

    21 Sobre estas expresses veja Claus Westermann, Basic Forms o f Prophetic Speech(Lutterworth, 1967), e Klaus Koch, The Growth o f the Biblical Tradition (A. & C. Black,1969). (N. Ed. Veja Klaus Homburg, Introduo ao Antigo Testamento, Ed. Sinodal)

    23 Juden und Samaritaner (BWAT. 3, 1908).23 Exemplos de estudiosos do Continente: F. Horst, HAST, K. Ellinger, A TD: O.

    Eissfeldt, Introduction, pg 427. Da Gr-Bretanha: L. E. Brown, Early Judaism (CUP,1920), pp 61s; D. Winton Thomas, IB.

    24 P. Benoit, J. T. Milik, R. de Vaux, Les Grottesd e Murabba at(Oxford, 1961), pp203-205.

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    AGEU

    da maioria das nossas Bblias, toda a evidncia reunida anteriormentefica confirmada.

    III. SUA MENSAGEM

    Ageu era um homem de uma s mensagem. Ele representava oDeus que ele gostava de chamar de Senhor dos Exrcitos, a fonte detodo poder, o senhor das potncias militares, na terra e no cu (vejanotas adicionais sobre Senhor dos Exrcitos, pg 34). A conseqncia foi que sua palavra tinha autoridade; o clima obedecia s suasordens (1:1), todo o universo estava ao alcance da sua mo, e um dia

    seria sacudido por ela (2:6,21).Este mesmo Deus era coerente em sua atitude para com as pessoas.

    Apesar de elas o desprezarem, ele nunca desistia delas. Quando elasdeixaram de fazer sua vontade, ele lhes dificultou a vida, para quevoltassem para ele (1:5). Q uando elas se dedicavam ao seu servio, ele seagradava disto e era glorificado (1:8). Ele mudou as atitudes das pessoas(1:14), e morou entre elas na pessoa de Seu Esprito (2:5). Ele transformaria o trabalho delas por ele, e faria com que as naes trouxessempresentes de ouro e pra ta , que pertenciam a ele por direito (2:8).

    Ageu no fez nenhuma lista de pecados graves. Parece que osjudeus que voltaram para Jerusalm nesta poca obedeciam lei, a indaimpressionados com lembranas do exlio. Faltava certa insatisfaocom o estado das coisas, e consequentes atitudes concretas. A resignao mata a f. O esqueleto do templo em runas era como um cadverque se decompunha em Jerusalm e contaminava tudo (2:10-14). Comoesta ofensa podia ser retirada? Com um esforo conjunto de reconstruo, o que seria prova e garantia de uma mudana de atitude da

    resignao para a f. Assim que as prioridades estivessem na ordemcerta a presena do Senhor entre o povo se tornaria evidente pelaprosperidade que acompanharia tanto a construo como a agricultura(2:9,19).

    Esta certeza da salvao do Senhor no presente e no futuro permeia a mensagem de Ageu e pe nele a marca do verdadeiro profeta. Ele capaz de ver as paredes nuas do templo em seu estado momentneorevestidas da prata e do ouro presenteados pelas naes (2:7-9). Zoro-babel, responsvel pela reconstruo, o governante davdico que

    estava por vir, ou pelo menos seu representante na cena do momento(2:21-23). O reino universal de Deus, no qual as naes em guerraencontraro paz, capitulando diante dele (2:22, c/7-9), a meta final dahistria, mas Ageu o v surgindo em sua prpria poca medida queproblemas pessoais e comunitrios so submetidos ao controle de Deus.No que tudo v terminar bem no fim, mas que o Deus imutvel est

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    INTRO D U O

    concretizando seu propsito j agora: O meu Esprito habita no meiode vs; no temais (2:5). Desta form a a obedincia atual alinha o povo

    de Deus com seu propsito derradeiro , e seu Esprito o enche da certezade que est experimentando em pequena medida escatologia realizada.

    ANLISE

    I. AGOSTO DE 520: AGORA OU NUNCA (1:1-15)a. Desafio (1:1-11)b. Reao (1:12-15)

    II. OUTUBRO de 520: ANIMEM-SE E TRABALHEM (2:1-9)

    III. DEZEMBRO DE 520: PROMESSA E PREDIO (2:10-23)a. De agora em diante, bnos (2:10-19)

    b. Zorobabel, escolhido e precioso (2:20-23)

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    COMENTRIO

    I. AGOSTO DE 520: AGORA OU NUNCA (1:1-15)

    a. Desafio (1:1-11)Ageu desafia seus compatriotas a relembrar suas experincias des

    de que tinham voltado para Jerusalm, e a aten tar para sua condio depobreza. A desiluso tinha se alastrado depois que a sensao inicialde aventura tinha se esvado.

    1. Este versculo introdu trio substitui o cabealho costumeiro(c /N a 1:1, Hc 1:1, etc). A data com que o livro comea deve ter tido

    grande importncia naquele mom ento, porque naquele dia a voz autntica da profeccia se fez ouvir pela primeira vez na era ps-exlica. Oprim eiro dia do ms era o dia da lua nova no calendrio lunar, e temosevidncias de que era costume observar a lua nova como feriado ou,mais literalmente como dia santo (SI 81:3, Is 1:13,14, 66:23, Os 2:11,Am 8:5). Seria por isto uma oportunidade de alcanar a comunidadeagrcola, porque haveria festividades em Jrusalm. O sexto msnesteperodo deve ter sido equivalente a agosto/setem bro,1a poca do anoem que eram colhidas uvas, figos e roms.

    1 Veja as informaes do quadro da pg 23. Os judeus adotaram o sistema babilnico de datao durante o exlio, e desde ento o ano novo caia na primavera. Temosevidncias de que em tempospr-exlicos o ano terminava no outono, depois da colheita (x 23:16, 34:22); o assim-chamado Calendrio de Gezer (DOTT pp 201-203) tambmfala de um ano novo no outono, apesar de iniciar com a colheita e no depois dela. A expresso primeiras chuvas (em outubro/novembro) e ltimas-chuvas (maro/abril)deixa claro que o ano novo era comemorado no outono. x 12:2, por outro lado, falandoda instituio da Pscoa, diz que o ano novo deveria cair na primavera. possvel que

    textos que falam do ano novo na primavera foram editados durante o exlio. II Rs 22-23pressupe que o ano inicia no outono proque a descoberta do livro da lei, as reformas e aPscoa ocorreram no dcimo oitavo ano de Josias (R. de Vaux, Ancient Israel, Darton,Longman and Todd, 1961, pp 190-192). Outra possibilidade que antes do exlio o ano1civil e o ano agrrio comeavam no outono, e o cerimonial na primavera (cf NDB, calendrio).

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    1:1

    Ageu so usados nmeros para identificar os mesesd em Zacarias, Ester e Neemias, que usam nomes

    te o exlio os nomes pr-exlicos caram em desuso, erelutou em adotar os nomes babilnicos, que eramtos pagos. Sem dvida at o quinto sculo a.C. aa sido esquecida. Ou Zacarias era mais novo queiservador, ou seu livro foi editado mais tarde. Atende a apoiar a afirmao de que o livro de Ageu

    foi editado primeiro (veja introduo, pg 24).A palavra do Senhor veio por intermdio de Ageu (lit. pela mo

    de). Isto uma expresso hebraica comum, que significa simplesmente

    que o profeta era o meio de transmisso. Mesmo assim ela rara noslivros profticos, pois s aparece ainda em Malaquias 1:1. A expressocomum a palavra do Senhor veio a . . { ' e t ) , e no rolo de Murabbaat consta el em 2:1. A expresso pela mo de" aparece muito paraMoiss no Pentateuco, e para Moiss e outros nos livros histricos (Lv8:36, 10:11, Nm 4:37,45, Js 14:2, I Rs 16:7, etc). Por esta razo improvvel que se possa lanar dvidas sobre o grau de inspiraodo profeta Ageu. Pode ser que a frase menos comum foi usada nestasentena para evitar a repetio da palavra a.

    A primeira palavra era dirigida aos dois lderes, Zorobabel e Josu,mas do versculo 4 em diante fica claro que todos esto includos.Zorobabel, neto do rei Jeoaquim, que fora levado cativo para Babilniaem 597 a.C. (II Rs 24:15), parece que era considerado herdeiro do tronode Davi. De acordo com a genealogia de I Cr 3:19 Zorobabel era filhodo terceiro filho de Jeoaquim, Pedaas; o mais velho, Sealtiel, pareceno ter tido filhos. O mais provvel que Sealtiel adotou seu sobrinhomais velho, que a partir de ento seria chamado pelo seu nome; outra

    possibilidade que ele era filho d a viva de Sealtiel atravs do levirato.2Zorobabel, um nome babilnico, significa Semente de Babilnia, ou,de acordo com S. Mowinckel, Tiro de Babilnia.3

    Governador de Jud. O alcance do poder de Zorobabel tem sidoquestionado, porque havia um governador em Samaria, o centro daprovncia. At a poca de Neemias o relacionam ento entre os doiscentros de governo ainda no estava esclarecido, e no sabemos sehouve uma sequncia de governadores em Jerusalm entre Zorobabel e

    Neemias. Se o te rritrio sujeito a Zorobabel no estava claramente

    delimitado fcil encontrar nisto uma causa de conflitos em potencialentre Jerusalm e Samaria. Peh, governador, uma palavra empresta

    2 Opinio de W. Rudolph, Chronikbcher (HAT, 1955).3 S. Mowinckel, He That Cometh.Trans. G. W. Anderson (Blackwell, 1956), pg 119.

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    1:1-2

    da do acadiano, um lembrete de que Zorobabel fora nomeado por umrei persa.

    Josu(Jesua em Ed-Ne; Iesous, ou seja, Jesus, na LXX) era filho

    de Jeozadaque (Jozadaque em Ed-Ne), que foi levado cativo em 587 (ICr 6:15). Seu famoso nome signifca Yahu (forma abreviada de Jav) salvao, e ele, como descendente de Zadoque, veio como sumo sacerdote, responsvel pelas atividades religiosas da comunidade em Jerusalm. Fora estas referncias a ele na viso de Zacarias a nica outrainformao que temos dele que alguns de seus descendentes casaramcom mulheres estrangeiras no tempo de Esdras (Ed 10:18).

    No h motivo para duvidar da inferncia de Ed 3:1-13 de que

    Zorobabel e Josu vieram a Jerusalm com a primeira caravana quechegou ainda no reinado de Ciro. As listas de Ed 2 e Ne 7 podem ser asoma de diversas listas de nomes, representando vrias levas de repatriados, mas mesmo neste caso o fato de os dois nomes encabearem alista sugere que Zorobabel e Josu foram os primeiros dois que lideraram o retorno. verdade que no relato legendrio de I Esdras Zoro

    babel est em Babilnia durante o re inado de Dario (I Esdras 3-4), masde acordo com 5:65-73 ele estava ali tambm durante o reinado de Ciro.E o relato de Esdras confivel, enquanto o de I Esdras no .

    2. Ageu falou em nome do Senhor dos Exrcitos (seb't emhebraico), ttulo que enfatiza 0 poder imbatvel que d peso s ordensde Deus. (Veja a Nota Adicional na pg 34). Este povo em vez de meu

    povo j uma repreenso. Ser que Deus os tinha deserdado? Ele usaas prprias palavras deles: No veio ainda o te m p o .. . muito realistas,por sinal. Havia muito por fazer, e eles eram muito poucos. Os homenscapazes era requisitados para todos os tipos de servio, e como poderiam eles recomear a vida agrcola e ao mesmo tempo reedificar otemplo? Podemos imaginar alguns questionando se era justificvel gas

    tar tanto com a reconstruo do templo, e se era de fato Deus quem oordenava, ou som ente Ciro, o rei persa (Ed 1:2,3; mas cf Is 44:28, 45:13).At houve quem dissesse que o templo seria restitudo de forma milagrosa, porque Ezequiel vira o templo que lhe foi descrito (Ez 40-43).sem mencionar sua reconstruo. Reconstruir era trair a esperanaescatolgica.4

    Este versculo apresenta algumas dificuldades, quanto ao hebraico.Nossas verses tentam obter uma traduo mais suave, alterando oinfinitivo do verbo vir(bo), pa ra o pretrito veio(ba)- A LXXsuprimeuma vez a palavra tempo (et), mas a repetio no hebraico podeestar reproduzindo exclamaes do povo.

    4 R. G. Hamerton-Kelly, The Temple and the Origins of Jewish apocalyptic", VT.XX, I, 1970, pg 12.

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    1:2-8

    3. Para o leitor que espera agora ouvir um com entrio sobre aatitude do povo, a repetio da frmula do mensageiro, neste versculo, um anticlmax. Se, porm, o porta-voz do povo esteve enfrentando o

    profeta, podemos compreender o por qu desta in troduo enftica. Oque segue a grande chamada ateno que marcou aquele dia. Odilogo entre o Senhor e seu povo chegara ao clmax.

    4. O profeta coloca em dvida as prioridades do povo. No hebraico o pronome vs -est repetido, para dar mais nfase: Acaso tempo de vocs, sim, vocs, morarem em casas com telhados? Aresposta seria que irracional exigir de algum que viva em uma casasem telhado, mas a inteno da pergunta clara. Que valor eles estavam dando a Deus se deixavam seu templo em runas?

    A palavra hebraica sffpan significa tanto apainelar (RAB) cornocolocar forro (RIB), e raiz da palavra telhado. mais provvelque Ageu esteja se referindo concluso das casas do povo, e no tantoao luxo de painis de madeira, mas talvez a residncia do governadorestava sendo reconstruda com um pouco da elegncia do palcio deSalomo. Se este foi o caso, Ageu estava pensando diretamente emZorobabel e Josu. O conflito entre despesas com luxo em casa esustento condigno do trabalho do Senhor persiste at hoje entre ns.

    5-7. Considerai um a expresso caracterstica de Ageu (duas vezesnestes versculos, e duas vezes em 2:15,18). A expresso pensem em,do Reino do Norte, inclui tanto um tom de repreenso como de advertncia, no original. Refletir sobre os acontecimentos luz da palavra deDeus indispensvel para o povo de Deus, se quiser saber o significadoda sua orientao providencial nas coisas do dia-a-dia. Assim Moissreflete sobre os acontecimentos do xodo em Dt 1-11, tirando concluses salutares de fracassos e desiluses passadas. Ageu no se surpreende com a insatisfao que o povo sentia apesar de traba lha r tanto, e que

    o seu dinheiro se esvaa como farinha pela peneira. Deus estava falandocom o povo atravs de coisas circunstanciais como preos altos einflao.

    Neste perodo j havia uma certa circulao de moedas cunhadas(Ed 2:69), mas no provvel que o trabalho de um operrio fosse pagocom moedas j to cedo. Os sacos de dinheiro provavelmente continham pedaos e rodelas de cobre ou prata, de valor aprox imado. Mascomo a fundio era conhecida, e os pedaos de metal freqentementeeram lixados, era necessrio pesar o valor de cada transao (c fZc11:12, onde os siclos de prata ainda tinham de ser pesados).

    8. A esta introduo segue a parte central da mensagem, com suaordem de trazer madeira das montanhas para a construo. No hreferncia especfica a arrependimento, porm pela obedincia o povoestar voltando as costas para a apatia e a indiferena, provando seu

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    1:8-12

    arrependimento pela ao. A longo prazo o que importa so as aes(Mt 21:28-32). No se fala de trazer pedras, talvez porque as havia porperto, e madeira no. As montanhas de Jud tinham uma vegetao

    abundante nos tempos do Antigo Testamento, e de Ne 8:15 ns sabemos que havia oliveiras, palmeiras e outras rvores. Era costumecolocar camadas de madeira nos muros de pedra, para diminuir osprejuzos dos terremotos (c/5 :8); esta madeira, principalmente as torasmaiores, que se estendiam de um a outro lado do templo para sustentaro teto, provavelmente tinha de ser importada (Ed 3:7). Salomo tinhaintroduzido o trabalho forado para obrigar a populao a talharpedras e transport-las (1 Rs 5:13-18). Ageu queria que se apresentassem voluntrios.

    Dela me agradarei. Trabalho feito com a inteno de agradar aDeus tambm lhe d glria. Serei glorificado est mudando o sentidoexato do hebraico, literalmente farei com que eu seja glorificado,e a relao s vezes feitas com Ez 10:18 e 43:4 com base nesta traduono se justifica.

    9. Revertendo as queixas econmicas do povo Ageu insiste em queh uma ligao direta entre a pobreza e o abandono do templo (c fOs 2:8, onde ouro, prata e tambm colheitas so presente direto de

    Deus).10. Eles no podiam alegar ignorncia, ao deixarem de ver a mode Deus no malogro das suas colheitas. Espera-se deles que eles conheam e apliquem Am 4:6-10 (c fAg 2:17), Os 4:10 e Mq 6:15. O cu e aterra obedecem seu Criador, mas seu povo no (/'Is 1:2,3 Jr 18:14-17).O orvalho era importante, para evitar que o cereal maduro murchasseno calor.

    11. Com o expediente simples de reter chuva ou orvalho, Deuspode acabar com o orgulho e a auto-suficincia humanas. Um jogo de

    palavras ope seca (hreb) com a runa" do templo (hrb , 1:4,9).

    b. Reao (1:12-15)

    Apesar de tudo o impacto da pregao de Ageu foi tal que todos,unanimemente, decidiram retomar o trabalho no templo, mas de formaalguma isto lhe foi creditado. O Senhor o fizera.

    12. Liderado por Zorobabel e Josu, todo o resto do povo obede

    ceu. O remanescente foi um tema caracterstico da profecia de Isaas.Na viso do templo ele advertiu da destruio, qual somente umpequeno grupo sobreviveria (Is 6:11-13), e o nome de seu filho, Sear--Jasube (Is 7:3, Um-resto-volver), se tornou representativo da suapregao (Is 7:3, 10:21, 11:11). Ageu e tambm Zacarias reconheceram

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    1:12-15

    no pequeno grupo de judeus repatriados o cumprimento da profecia deIsaas, mas exigia-se mais deles do que simples presena fsica na terra

    em que eles deveriam cumprir as esperanas de Isaas. O verbo retornar (sb) significa tambm arrepender-se (c /Z c 1:3), e digno deno ta que Ageu aplica para o povo a palavra resto no momento em queele atende voz do Senhor seu Deus. Ningum est pondo em dvida aautoridade de Ageu (c f 1 Rs 22:24, M q 2:6). O povo temeu diante doSenhor.Este temor contrasta com a indiferena despreocupada que os

    profetas pr-exlicos enfrentaram . Apatia diante das palavras de Deus evidncia de atesmo na prtica. Eles temeram no sentido de teremsido despertos pela voz de Deus.

    13. Assim que o povo deixou clara sua inteno de executar asinstrues de Ageu, recebeu o incentivo do Senhor: Eu sou convosco.Deus endossa e confirma nossas decises boas. Ageu pode ter se referido a Is 42:18:43-7, passagem em que o profeta repensa o passado deIsrael e depois fala com palavras ardentes: No temas, pois, porquesou contigo" (v. 5). Se for este o caso, a referncia a Ageu comoenviado do Senhor pode ter sido inspirada pela mesma frase em Is42:19. Esta a nica passagem em que Ageu chamado assim, pormnem por isto se trata de uma interpolao posterior. Explica-se a

    fraseologia pela associao de idias. Israel, durante tanto tempo surdoe mudo, finalmente estava reagindo. A traduo de H. L. Ellison,5Ento Ageu falou: o Anjo do Senhor est aquicom uma mensagempara o povo, dizendo: Eu sou convosco, diz o Senhor, possvel, eseria a maneira natural de entender o texto se o livro fosse Zacarias.Ageu em lugar algum fala como se existisse um mensageiro sobrenatural.

    14. Por trs da reao disposta dos dois lderes e do povo estava a

    atuao silenciosa do Senhor, criando uma atitude aberta a Seu Esprito (c fZc 4:6). Chegara a hora da mudana, e o trabalho na casa doSenhor dos Exrcitos recomeou. A preposio em (be) implica emque existiam ainda paredes em p.

    15. De acordo com a da ta citada aqui houve um espao de vinte etrs dias entre o comeo da pregao e o reinicio do trabalho. Poreste motivo houve quem sugerisse que o dia do ms foi erroneamenteinserido de 2:10. Na opinio de J. W. Rothstein, 2:15-19 deveria seguirneste ponto, transferindo para o sexto ms a cerimnia que marcou o

    novo projeto de reconstruo6. possvel, no entanto, dar um bomsentido ao texto sem mudar sua seqncia. O sexto ms era ms de

    5 H. L. Ellison, Men Sp ake from God (Paternoster Press, 1952), pp. 120 e 121.

    6 Veja Introduo pg. 25 e o comentrio sobre 2:14.

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    NOTA ADICIONAL: O SENH O R DOS E X R C IT O S

    colheita, com tarefas urgentes nos pomares e nas plantaes. Em vinte etrs dias este trabalho poderia ser concludo, e depois todo homem

    capaz poderia acorrer ao templo.

    Nota adicional sobre o Senhor dos Exrcitos

    Este ttulo para Deus ocorre perto de 300 vezes no Antigo Testamento, predominantemente nos livros profticos (247 vezes), e comproporo maior em Ageu (14 vezes), Zacarias (53 vezes) e Malaquias(24 vezes). Por esta razo importante, em um estudo dos profetasps-exlicos, examinar o significado deste popular e tradicional nome

    de Deus.A palavra hebraica sebt (exrcitos) tem um significado

    eminentemente m ilitar (hostes de- soldados, em primeiro lugar), e emalguns contextos o Senhor o Deus dos exrcitos de Israel (1 Sm17:45, SI 24:7-10). Mas h muitas passagens que falam da ajuda doSenhor na guerra sem que este ttulo aparea (Dt 1:30, 7:18, 19, etc.),e uma interpretao meramente nacionalista no faz justia teologianem de passagens histricas antigas. Nem sempre os exrcitos de Israelforam vitoriosos, e at mesmo a arca da aliana do Senhor dos Exrcitos foi capturada (I Sm 4:4-11), depois do que ela chamada dearca de Deus (v. 13s). Certamente os profetas no estavam dispostosa ensinar que os exrcitos de Israel poderiam esperar favores divinosquando em batalha, e no parece que eles tenham usado o ttulo comisto em mente.

    O nome Senhor dos Exrcitos no ocorre de Gnesis a Juizes:a primeira vez I Sm 1:3, que relata como Elcana veio para adorar esacrificar ao Senhor dos Exrcitos em Silo. Aparece novamente na

    orao de Ana (1:11) e na descrio da arca (4:4). No foi possvel aindaexplicar por que o termo foi cunhado em Silo no sculo onze, mas evidente que a ligao original era mais com culto que com batalhas, eneste caso os exrcitos ou hostes seriam seres angelicais. O tradutordos Salmos, na LXX, e o do rolo grego de Zacarias em Qumranentenderam o nome neste sentido, traduzindo-o kurios tn dunamen,Senhor dos poderes celestiais, apesar de a LXX preferir em Ageu eZacarias o termo mais comum kurios pantokratr, Senhor Todo-po-deroso. Estas hostes angelicais foram simbolizadas pelos querubins de

    ouro que encimavam a arca, entre os quais o Senhor dos Exrcitosestava entronizado (I Sm 4:4). Quando Davi transferiu a arca paraJerusalm ele abenoou o povo em nome do Senhor dos Exrcitos(II Sm 6:18; c fv. 2), e em sua orao pela construo do templo elepediu que fosse dito: O Senhor dos Exrcitos Deus sobre Israel(II Sm 7:26; c f v. 27). A partir do tempo de Davi houve uma relao

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    NOTA ADICIONAL: O SENH O R DOS EXRCITOS'

    especial entre este ttulo e a cidade de Jerusalm, a cidade do Senhordos Exrcitos (SI 48:8). Isaas, que viu no templo o Rei, o Senhor dos

    Exrcitos (Is 6:1-6), usou este nome com freqncia durante seu ministrio em Jerusalm.

    H, desta forma, evidncias de que este o ttulo peculiar dadivindade em relao ao templo e ao culto, e sua ocorrncia na antfona do Salmo 24, proclamando que o rei da glria est entrando emseu santo lugar, daria apoio a este ponto de vista. Por outro lado

    profetas que no estavam relacionados com Jerusa lm tambm usaramo ttulo. Elias, no Monte Carmelo, tinha sido zeloso pelo Senhor, Deusdos Exrcitos (I Rs 19:10,14); Eliseu pregou ao Reino do Norte emnome do Senhor dos Exrcitos (II Rs 3:14), e Ams confrontou Israelcom a palavra do Senhor, o Senhor dos Exrcitos, que toca a terra, eela derrete (Am 9:5), e estava prestes a julg-los e conden-los ao exlio(Am 3:13, 4:12,13, 5:27, 6:14).

    Outra possibilidade que as hostes em questo fossem as estrelas. Is 40:26 (c /G n 2 :l ) pode dar apoio a esta idia, e em 45:12,13 oCriador claramente identificado com o Senhor dos Exrcitos. Durantee depois do exlio, quando a arca no existia mais e o templo estava em

    runas, bem possvel que tenha predominado uma referncia csmica.B. N. Wambacq7afirma que podemos acompanhar o desenvolvimentoda idia de uma associao militar inicial at o conceito csmico dosprofetas.

    G. von R ad apresenta uma boa argumentao contra esta idia deevoluo, dizendo que temos de deixar de lado a tentativa de explicarracionalmente um nome de Deus to a ntig o ,8 e deixa implcito que onome deve ter tido conotaes diferentes para cada perodo e autor. Doargumento de O. Eissfeldt9 tiramos concluses bem diferentes. Ele diz

    que o plural exrcitos um plural abstrato intensivo, do que temosoutros exemplos no hebraico. A traduo, ento seria Senhor de

    poder ou Senhor poderoso. Este ponto de vista, que est comeandoa se impor, poda os diversos significados possveis da palavra exrcitos e a generaliza de uma maneira que a faz perder as refernciasvvidas do original, com a traduo. Aquele em nome do qual osprofetas falavam era Senhor sobre todos os poderes, visveis e invisveis,no universo e no cu.

    7 L pithte Divine Jahv Sebat (Bruges, 1947).

    8 G. von Rad, Teologia do Antigo Testamento (ASTE, SP) 1973, I, p. 335.

    9 O. Eissfeldt, Jahwe Zebaoth, Miscellanea Acadmica Berolinensia,11, 2 (1950).

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    2:1-5

    II. OUTUBRO DE 510: ANIMEM-SE E TRABALHEM (2:1-9)

    Mais ou menos um ms depois do reinicio das obras, Ageu recebeu

    nova mensagem do Senhor. Podemos imaginar que nestas semanas aprincipal ta refa fo ra limpar o local da construo dos entulhos, verificar quais pedras poderiam ser reaproveitadas, checar a firmeza dasparedes que ainda estavam de p (sabem os que surpreendente quantasparedes ainda ficam de p mesmo depois de um bombardeio), e organizar os grupos de trabalhadores de acordo com suas tarefas. Atacardesta form a uma runa de sessenta anos, sem auxlio mecnico, afetariao nimo de qualquer um; por isto o entusiasmo tinha de ser realimen-tado. Havia, no entanto, ainda outro fator.

    O trabalho pode ter sido interrompido no stimo ms pelas festas,que no permitiam nenhuma atividade. Alm dos dias de descansosabtico o primeiro dia do ms era a festa das trombetas, e o dcimo oDia da Expiao (Lv 23:23-32). No dcimo-quinto dia comeava aFesta dos Tabernculos, quando toda a populao morava duranteuma semana em cabanas feitas de galhos, em memria marcha doxodo. Esta, portanto, era uma ocasio de regozijo durante a colheita,com a qual eles experimentavam a cada ano a fidelidade de Deus s suas

    promessas (Lv 23:33-36, 39-44; D t 16.13-15). Seria compreensvel queos que estavam entusiasmados e queriam trabalhar estavam impacientesdurante os dias santificados.

    1, 2. Ageu pronunciou seu segundo sermo no ltimo dia da Festados Tabernculos, como que para animar estas pessoas. O vigsimo--segundo dia do ms era um dia de descanso solene (Lv 23:39). Oprofeta recebeu instrues para falar a Zorobabel e Josu, cujos ttulosoficiais novamente foram mencionados, porm desta vez o resto do

    povo est includo (c fcomentrio sobre 1:12).

    3. Os reverenciados ancios que se lembravam do templo anteriordevem ter falado muitas vezes saudosamente do seu esplendor. Algunsdevem ter participado da ten tatia frus trada de reconstruo em 538 a.C.(Ed 3:8-13). Aquela desiluso os fizera pessimistas quanto ao presente efuturo. O novo templo jamais seria como o antigo; eles no tinhamrecursos para pagar profissionais do exterior, como Salomo tinhafeito, e eles no podiam nem pensar em cobrir de ouro o interior (1 Rs6:21-22). Apesar do seu esforo, no se via ainda muito progresso.Comparao desfavorvel do presente com o passado estava lhes ti

    rando todo estmulo.4, 5. S forte (RAB; esfora-te, RIB), foi a ordem que o outro

    Josu tinha ouvido muitas vezes (Dt 31:7, Js 1:6, 7, 9, 18), bem comoIsrael (Dt 31:6, Js 10:25), quando entrou na terra. Uma destas passagens pode bem ter sido o texto da meditao no ltimo dia desta

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    2:5-7

    semana em que os acontecimentos do xodo eram relembrados (v. 5).Na ordem trplice do v. 4 temos um eco da orat ria de Ageu. Todo opovo da terra significa aqui e em Zc 7:5 o povo comum, diferenciadodos lderes. Contraste isto com o significado da frase em Ed 4:4, ondeela se refere aos adversrios de Jud e Benjamin (v. 1).

    H um paralelo interessante entre a exortao de Ageu e as palavras de Jesus em Mc 6:50: Tende bom nimo! sou eu. No temais!A presena pessoal do Senhor confere coragem, determinao, e acerteza de que ele no permitir que seu objetivo fracasse. Se o exlioaparentemente tinha anulado a aliana, agora o povo era certificado deque Deus ainda estava entre eles em Esprito, como estivera durante

    todo o xodo (Ex 29:45). O meu Esprito habita no meio de vs.Habitou" tambm est certo; o particpio hebraico, que denota aocontnua, engloba tanto o passado como o presente. Deus estiverapresente mesmo no desastre aparente , e fazia sua presena ser notada nomomento em que eles se arrependiam.

    Alguns comentadores tm pensado que o v. 5a uma adio.Algumas tradues, de fato, o omitem, seguindo a LXX. O textohebraico quer dizer o assunto sobre o qual o qual eu fiz um acordocom vocs, quando saram do Egito, mas no esta a expresso

    costumeira, e alm disto a frase interrompe o sentido, separando asafirmaes paralelas Eu sou convosco e O meu Esprito habita nomeio de vs. Uma referncia marginal de um escriba a x 29:45,46

    pode ter sido incorporada ao texto.

    6, 7. O Senhor passa a tornar mais explcito o seu plano. Aindauma vez, dentro em pouco no reproduz bem o sentido. O profeta estdizendo: Esperam s mais um pouquinho . No dem orar mais muitoat que o Senhor abaletoda a criao. O verbo est no hifil particpio,

    o que quer dizer que o Senhor causar uma srie de abalos. Terremotosj tinham sido antes um smbolo da interveno sobrenatu ra l de Deus,principalmente aquele do oitavo sculo, pelo qual a profecia de Ams datada (Am 1:1), e que ele usou para ilustrar sua mensagem (Am 8:8,9:15). Isaas (Is 2:23-21, 13:13, 29:6), Joel (J1 3:16) e Ezequiel (Ez 38:20)tambm o fizeram. Terremotos vm sem aviso prvio, e no h comoescapar ao terror que eles causam. Ageu antev todo o universo em umasrie de convulses, que levaro inclusive as naes a se separarem dassuas riquezas com prazer. Estas sero trazidas para o templo, para fazer

    com que ele seja cada vez mais belo, at que seu esplendor seja completo. Culto sem pompa em pocas de dificuldade econmica tambmtem seu lugar no propsito final de Deus (^Is 60:5-22). Deus nunca temfalta de recursos.

    As coisas preciosas de todas as naes.As tradues mais recentesabandonaram o singular da Vulgata (a preciosidade), com sua cono-

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    2:8-10

    tao messinica, porque no texto hebraico o verbo est no plural eexige um sujeito plural. Vemos que os gentios desempenham um papelno plano de Deus, trazendo-lhe seus tesouros como um tributo.

    8. No tempo de Salomo havia tanto ouro que a prata valia pouco(I Rs 10:21). No sexto sculo os persas tinham herdado a riqueza domundo, mas um dia tambm eles teriam de entreg-la, e o derradeirodono seria aquele que a fizera, o Senhor dos Exrcitos. J que tudo eraseu, ele poderia transferir os tesouros para quem e quando quisesse.Nesta poca houve uma demonstrao disto. Adversrios que queriamfazer parar a construo tiveram de pagar todas as despesas do templocom o tributo real recolhido em seu prprio distrito tributrio (Ed

    6:8-12). Provavelmente esta deciso foi posta em prtica logo depois deAgeu pregar que todas as riquezas eram de Deus, e que ele supriria assuas necessidades. Herodes, o Grande, e seus sucessores, muito maistarde, haveriam de gastar fortunas com o templo. Partes da sua estrutura ainda existem, e podem ser identificadas pelas enormes pedrastalhadas que foram usadas.10Seus pinculos reluziam de ouro para daras boas-vindas quele que era maior que o templo.

    9. A glria desta ltima casa ser maior que a da primeira: isto setornou realidade literalmente, sob os Herodes (Mc 13:1), mas principal

    mente porque o Senhor do templo veio (Mt 12:6) e super-excedeu-o(Jo 2:13-22). E neste lugar (mqr) eu darei paz (lm ). Uma vezque o nome Jerusalm significa cidade da paz, o profeta estfazendo um trocadilho, ligando ao mesmo tempo a palavra, por asso-nncia, com mqn , lugar, que s vezes tem um sentido cltico (p. ex.Dt 12:5,14, 14:23, etc.; Ne 1:9: Jr 17:12; Ez 43:7). Slm (at hojeusado como saudao paz seja contigo) resume todas as bnosda era messinica, quando a reconciliao com Deus e seu governo

    ju sto asseguraro uma paz justa e duradoura . O templo era a fonte da

    qual todas as bnos haveriam de fluir (Ez47:l), fazendo de Jerusalmo centro do bem-estar mundial, a cidade da paz. J que nos ltimosdias a salvao estaria to relacionada com o templo, sua reconstruono podia ser adiada.

    III. DEZEMBRO DE 520: PROMESSA E PREDIO (2:10-23)

    a. De agora em diante, bnos (2:10-19)Antes de desenvolver com mais detalhes sua viso do futuro, Ageu

    recapitula seu sermo anterior (1:2-11). Ele olha para trs (2:10-18) paradar nfase na mudana completa que poder ser vista no prprio dia em

    (0 Andr Parrot, The TempeI o f Jerusalem. Trad. B. Hooke (SCM Press, 1957),

    pp. 76-96.

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    2:10-12

    que ele est falando. Para ser exato ele acrescenta a data. Cada ouvintedo profeta ter uma temporada to bem sucedida em sua plantao queser bvio que Deus est abenoando.

    Alguns comentadores dividem esta passagem em duas sees ecolocam os w 15-19 depois de 1:15 (c/In tro du o pg 25). A vantagem

    pre tendida que a promessa de bno seguiria im ediatamente aps oincio das obras, enquanto que como o texto est a promessa dada porocasio da plantao. A desvantagem que neste caso os w 10-14 ficamsem qualquer explicao ou aplicao. Dizer que eles se referem aossamaritanos uma suposio sem base. (Veja o comentrio sobre ov. 14). Alm disto esta variao da seqncia do texto totalmente

    arbitrria.10. A nova data (18 de dezembro, no nosso calendrio) delimita

    um perodo de dois meses desde o sermo anterior de Ageu (2:1). Asprimeiras chuvas caram em meados de outubro nos arredores de Jerusalm, e assim que o solo estivesse suficientemente fofo ele era arado esemeado." At meados de dezembro este trabalho estaria no fim, etodos passavam a esperar por um bom ano, sem secas e doenas.Exatam ente isto Deus estava planejando dar, por eles o terem colocadoem primeiro lugar (v. 19).

    Zacarias tinha iniciado seu ministrio em Jerusalm algumas semanas antes (Zc 1:1).

    11. Ageu, sem dvida pregando no templo, convoca os sacerdotespara uma discusso aberta (tr) sobre um assunto de culto (c f Zc7:3,Ml 2:7). Este uso da palavra tr para uma instruo breve dos sacerdotes provavelmente faz mais jus ao seu sentido original, que se desenvolveu at englobar toda a Lei de Deus, a Tor, o grupo de preceitosdivinos para a vida humana. Mais tarde a Tor acabou sendo identi

    ficada com o que chamamos de Pentateuco. Por isto nossas versestrazem pergunta agora aos sacerdotes, a respeito da lei.'2

    12. A pergunta de Ageu no visa tanto uma resposta, mas maisprovocar interesse. Carne santificada se tornava santa quando eradestinada para algum sacrifcio. O animal usado no sacrifcio pelopecado era coisa santssima (Lv 6:25). No fim do voto de um nazireuparte do cordeiro da oferta, junto com pores da oferta de cereal, eramovida num gesto de apresentao ao Senhor, santo para o sacerdote (Nm 6:20). Estas pores santas provavelmente os sacerdotescarregavam com freqncia nas dobras das suas roupas. De acordo com

    11 Temos evidncias de que primeiro se semeava, depois se arava, em J. Jeremias,The Parables o f Jesus. Trad. S. H. Hooke (SCM Press, edio revisada, 1963), pg. 11.

    12 Sobre o significado da palavra Tr veja R. de Vaux, Ancien t Israel. Trad.J. McHugh (Darton, Longman and Todd, 1961), pp. 353-7.

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    2:13-16

    Lv 6:27 a prpria roupa seria santa, mas esta santidade no passariapara nada que a roupa tocasse.

    13.

    A contaminao ritual, pelo contrrio, era transmitida pelocontato, como uma doena contagiosa (Lv 1:28, 22:4-7).14. Assim este povo.A aplicao dupla. 1) Israel tinha sid

    destinado para o Senhor, e por isto era santo (x 19:6), mas 2) a naotinha se tornado impura, e tudo que tocasse, inclusive suas ofertas, setornaria impuro. A runa do templo, testemunha dos pecados poromisso, estava como um cadver bem no meio deles. Como eliminar aimpureza, se os prprios sacrifcios eram impuros? A lei levtica previarituais para certas emergncias, mas estas tratavam somente de impu

    reza externa, que seria eliminada pelo tem po e as ablues cerimoniais.No havia remdio conhecido para Israel. A nica esperana era seraceito pelo Senhor, e a bno prometida (v. 19) deixa implcito queesta aceitao estava garantida. Acolhendo a repreenso do profeta etransformando boas intenes em aes Israel praticou sua f e experimentou graa salvadora.

    A mudana do texto, permitindo que este povo se refira aossamaritanos, est delineada na introduo, p 25, onde dissemos quenenhum texto conhecido foge seqncia tradicional. A sugesto foifeita porque os samaritanos tinham causado a primeira paralisao dasobras (Ed 4:1-5), razo pela qual Ageu poderia ter se referido oposio feita por eles. Se sua inteno, de fato, foi esta, por que ele no foimais claro? Por que no os mencionou nominalmente e fundamentouseu argumento com um de seus imperativos favoritos? Alm disto aexpresso este povo foi usada por Jeremias para criticar os habitantesde Jud(Jr 6:19,21, 14:10,11), e pelo prprio Ageu (1:2) para criticarseus compatriotas. No h indcios de que ele tenha usado esta expres

    so com outro sentido neste versculo. Se a disputa com os samaritanos subjaz Ag 2:10-14, isto mais implcito que explcito. O peso daprova est com aqueles que o presumem. 1315. Desde aquele dia. A expresso hebraixa pode tanto se referir aofuturo como ao passado .14 Ela est como um a placa em uma encruzilhada, apontanto tanto para a estrada j percorrida como para a queainda est pela frente. Em primeiro lugar Ageu constatou que as coisastinham ido de mal a pior desde que a obra no templo tinha sido adiada(Ed 4:24). A LXX acrescenta aqui como vocs estavam?

    16. Antes daquele tempo (RAB), Quando(RIB) so tentativas detraduzir uma expresso difcil, que os tradutores primitivos tambm no

    13 Herbert H. May, This People and This Nation in Haggai, VT,XVI11 (Abrilde 1968), pg. 192.

    14 BDB, pg. 751; veja tambm Addenda et Corrigenda, pg. 1125.

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    2:16-19, N. ADIC: O DIA EM QUE SE FUNDOU O TEMPLO DO SENHOR"

    conseguiriam solucionar adequadam ente (c/LX X no versculo anterior,traduzindo esta expresso). Durante anos os cereais tinham produzido

    somente 50% do normal, as uvas ainda menos. O lagar (a palavra saparece ainda em Is 63:3) inclui o lugar onde as uvas eram pisadase o recipiente que recolhia o suco.

    17. Eu vos feri. O Senhor da colheita tinha poder para reter eassim advertir quanto ao seu desagrado (Dt 28:22, Am 4:9). Ageu aquiest se referindo a Ams, e por isto justificvel que o verbo finaldefectivo (literalmente e no vocs a mim) seja complementado deAms 4:9).

    18. Depois de olhar para trs, Ageu olha para a frente, desde estedia em diante. Ele faz uma declarao solene, data da com a preciso deum documento legal, afirmando que a semente recm-lanada darmuito fruto. Desde o dia em que se f u n d o u .. . Mais uma vez Ageuconsidera a construo do templo de crucial importncia. Sobre osignificado desta observao, veja a nota a seguir.

    19. A semente no estava mais no celeiro, mas no solo; ningum,no entanto, se atreveria a prever no meio do inverno a qualidade dacolheita do ano seguinte. A coragem de Ageu mostra como ele tinha

    certeza de que sua mensagem era autntica.

    Nota adicional sobre o dia em que se fundou o templo doSenhor (2:18)

    Freqentemente dito que no temos evidncia em Ageu de umoutro lanamento de pedra fundamental, e que o nico acontecimentodeste tipo est registrado em Ed 3