392.485.868-30 adi 5794 27/06/2018 - 21:06:50 · ressalte-se que essa previsão constitucional tem...

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1 1 Exma. Sra. Ministra-Presidente do Supremo Tribunal Federal: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte Aquaviário e Aéreo, na Pesca e nos Portos, CONTTMAF, entidade de grau superior de representação de categorias profissionais, reconhecida pelo Decreto 48.262 de 03 de junho de 1960, com registro e atuação nos termos da legislação pátria (anexos 3 u 7), CNPJ 03.636.156/0001-51, com sede no Edifício Venâncio V, grupos 501 u 503, SDS, Brasília, Distrito Federal, CEP 70.393-900, correio eletrônico [email protected], pelos Procuradores in fine (anexo 1), cumpre exercer a presente AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (com pedido de medida liminar) com vistas à declaração de inconstitucionalidade parcial da Lei.13.467 de 13 de julho de 2017, no que concerne à nova redação dada aos artigos 545, 578, 582, 583, 587 e 602 da Consolidação das Leis do Trabalho, pelas razões de fato e de Direito que passa a aduzir: Do dispositivo legal guerreado: 1. A Lei em comento altera a Consolidação das Leis do Trabalho- CLT, aprovada pelo Decreto-Lei 5.452 de 1º. de maio de 1943, bem como as Leis 6.019/1974, 8.036/1990,e 8.212/1991, “ a Impresso por: 392.485.868-30 ADI 5794 Em: 27/06/2018 - 21:06:50

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Exma. Sra. Ministra-Presidente do Supremo Tribunal Federal:

Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte

Aquaviário e Aéreo, na Pesca e nos Portos, CONTTMAF,

entidade de grau superior de representação de categorias

profissionais, reconhecida pelo Decreto 48.262 de 03 de junho de

1960, com registro e atuação nos termos da legislação pátria (anexos

3 u 7), CNPJ 03.636.156/0001-51, com sede no Edifício Venâncio V,

grupos 501 u 503, SDS, Brasília, Distrito Federal, CEP 70.393-900,

correio eletrônico [email protected], pelos Procuradores in

fine (anexo 1), cumpre exercer a presente

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

(com pedido de medida liminar)

com vistas à declaração de inconstitucionalidade parcial da

Lei.13.467 de 13 de julho de 2017, no que concerne à nova

redação dada aos artigos 545, 578, 582, 583, 587 e 602 da

Consolidação das Leis do Trabalho, pelas razões de fato e de

Direito que passa a aduzir:

Do dispositivo legal guerreado:

1. A Lei em comento altera a Consolidação das Leis do

Trabalho- CLT, aprovada pelo Decreto-Lei 5.452 de 1º. de maio de

1943, bem como as Leis 6.019/1974, 8.036/1990,e 8.212/1991, “ a

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fim de adequar a legislação laboral às novas relações de trabalho”. O

artigo primeiro da Lei em epígrafe enuncia no que concerne à

contribuição sindical, antes conhecida pela locução “imposto

sindical”:

“Art. 1o A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo

Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, passa a vigorar com as

seguintes alterações:

“Art. 545. Os empregadores ficam obrigados a descontar da folha de

pagamento dos seus empregados, desde que por eles devidamente

autorizados, as contribuições devidas ao sindicato, quando por este

notificados.

..........................................................................” (NR)

“Art. 578. As contribuições devidas aos sindicatos pelos participantes

das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais

representadas pelas referidas entidades serão, sob a denominação de

contribuição sindical, pagas, recolhidas e aplicadas na forma estabelecida

neste Capítulo, desde que prévia e expressamente autorizadas.” (NR)

“Art. 579. O desconto da contribuição sindical está

condicionado à autorização prévia e expressa dos que participarem

de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma

profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria

ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591

desta Consolidação.” (NR)

“Art. 582. Os empregadores são obrigados a descontar da folha de

pagamento de seus empregados relativa ao mês de março de cada ano a

contribuição sindical dos empregados que autorizaram prévia e

expressamente o seu recolhimento aos respectivos sindicatos.

..........................................................................” (NR)

“Art. 583. O recolhimento da contribuição sindical referente aos

empregados e trabalhadores avulsos será efetuado no mês de abril de cada

ano, e o relativo aos agentes ou trabalhadores autônomos e profissionais

liberais realizar-se-á no mês de fevereiro, observada a exigência de

autorização prévia e expressa prevista no art. 579 desta Consolidação.

..........................................................................” (NR)

“Art. 587. Os empregadores que optarem pelo recolhimento da

contribuição sindical deverão fazê-lo no mês de janeiro de cada ano, ou,

para os que venham a se estabelecer após o referido mês, na ocasião em

que requererem às repartições o registro ou a licença para o exercício da

respectiva atividade.” (NR)

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“Art. 602. Os empregados que não estiverem trabalhando no mês

destinado ao desconto da contribuição sindical e que venham a autorizar

prévia e expressamente o recolhimento serão descontados no primeiro mês

subsequente ao do reinício do trabalho”

Histórico

2. O antigo “imposto sindical” foi instituído pelo art. 138

da Charta Brasilis de 1937 1; regulamentado pelo Decreto-Lei 1.402

de 1939 2 e pelo Decreto-Lei 2.337 em 19403 , passou a constar do

texto original da Consolidação das Leis do Trabalho em 1943, vindo a

receber a denominação de contribuição sindical ex vi do Decreto-

Lei 27 de 14 de novembro de 1966 4. A Constituição de 1967 no §1º,

art.159 5 - reverberado no §1º do art. 166 da Emenda Constitucional

1 CRB de 1937-Art 138 - A associação profissional ou sindical é livre. Somente, porém, o sindicato

regularmente reconhecido pelo Estado tem o direito de representação legal dos que

participarem da categoria de produção para que foi constituído, e de

defender-lhes os direitos perante o Estado e as outras associações profissionais, estipular contratos

coletivos de trabalho obrigatórios para todos os seus associados, impor-

lhes contribuições e exercer em relação a eles funções delegadas de

Poder Público.

2 DL 1. 402 de 1939- Art. 3o.São prerrogativas dos sindicatos: [...]

f) impor contribuições a todos aqueles que participam das profissões ou

categorias representadas 3 Decreto-Lei 2.337 em 1940 Art. 1º As contribuições devidas aos sindicatos pelos que participem

das categorias econômicas ou profissionais representadas pelas referidas entidades, consoante as alíneas a do

art. 38 e f do art. 3º do decreto-lei nº 1.402, de 5 de julho de 1939 (2), serão, sob a denominação de

"imposto sindical", pagas e arrecadadas pela forma estabelecida neste decreto-lei.

Art. 2º O imposto sindical é devido, por todos aqueles que participarem de uma determinada categoria

econômica ou profissional, em favor da associação profissional legalmente reconhecida como sindicato

representativo da mesma categoria. 4 Decreto- Lei 27 de 14 de novembro de 1966 Art 1º Fica acrescido à Lei número 5.172,

de 25 de outubro de 1966, o seguinte artigo, que terá o número 218, passando o atual art. 218 a constituir o art.

219: Art. 218. As disposições desta lei, notadamente as dos arts. 17, 74, § 2º e 77, parágrafo único, bem como a

do art. 54 da Lei nº 5.025, de 10 de junho de 1966, não excluem a incidência e a exigibilidade. : I - da

"contribuição sindical", denominação que passa a ter o impôsto sindical de que tratam os

arts. 578 e seguintes da Consolidação das Leis do Trabalho, sem prejuízo do disposto no art. 16 da Lei nº 4.589,

de 11 de dezembro de 1964; 5 CRB -1967 Art 159 - É livre a associação profissional ou sindical; a sua constituição, a representação legal

nas convenções coletivas de trabalho e o exercício de funções delegadas de Poder Público serão regulados em lei.

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de 1969- preservou como poder-dever sindical o múnus da

representação de toda a categoria, independente de laço associativo

de seus integrantes, acrescendo ao tributo instituído na norma

infraconstitucional, a possibilidade de impor-lhes outras contribuições

nos termos da CLT.

Gravame ao artigo 146 da Constituição

3. De tal forma, o antigo imposto sindical que em 1966

recebeu a denominação de contribuição sindical foi recepcionado e

insculpido no Ordenamento Constitucional Tributário de 1988 no

gênero de contribuição parafiscal, elencada no art. 149 6, na espécie

“ de interesse das categorias profissionais e econômicas”, a latere das

ditas contribuições “sociais” ou “de seguridade social” (INSS, PIS,

PASEP e outras) e das “de intervenção no domínio econômico”.

4. A Constituição da República de 1967 guindou o Código

Tributário Nacional (Lei 5.172/66) ao status de Lei Complementar ao

consigná-lo como instrumento necessário e exclusivo a reger as

normas gerais de Direito Tributário. Aequo modo, a alínea “a” do

inciso III do art.146 7 do ordenamento constitucional vigente

preceitua caber à lei complementar a instituição de tributos

parafiscais, suas definições, espécies, bases de cálculo, fatos

geradores e contribuintes que devem ser processados em sede de lei

complementar com as limitações constitucionais elencadas no

art.150.

§ 1º - Entre as funções delegadas a que se refere este artigo, compreende-se a de arrecadar, na forma da lei,

contribuições para o custeio da atividade dos órgãos sindicais e profissionais e para a

execução de programas de interesse das categorias por eles representadas. 6 CRB de 1988-Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no

domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação

nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art.

195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. 7 CRB-1988- Art. 146. Cabe à lei complementar:

III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre:

a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição,

a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes

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5. Nesta marcha, bem cai a lanço o competente escólio do

Ministro Alexandre de Morais:

A Constituição Federal reservou à lei complementar as

matérias básicas de integração do Sistema Tributário Nacional. Em

especial, o inciso II, do art. 146, estabelece competir à lei

complementar regular as limitações constitucionais ao poder de

tributar. Ressalte-se que essa previsão constitucional tem duas

grandes características: a possibilidade de ampliação das restrições já

previstas no texto constitucional e a impossibilidade de suprimir ou

restringir as competências tributárias constitucionalmente deferidas”

(MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 4ª Ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 1.717).

6. Dúvidas não pendem em nenhum ramo do Direito quanto

à natureza da contribuição sindical (antigo imposto sindical), i.e.,

tributo da espécie “de interesse das categorias profissionais”, inserido

no gênero das contribuições parafiscais. Neste sentido, bem cai a

lanço o registro à página 7/26 do Acórdão da Repercussão Geral no

Recurso Extraordinário com Agravo 1.018.459-Paraná da Relatoria do

Ministro Gilmar Mendes com menção a outros insignes Ministros desta

Suprema Corte, litteris:

REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.018.459 PARANÁ RELATOR: MIN. GILMAR MENDES RECTE.( S ) : SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS METALÚRGICAS, DE

MÁQUINAS, MECÂNICAS, DE MATERIAL ELÉTRICO, DE VEÍCULOS AUTOMOTORES, DE AUTOPEÇAS E DE COMPONENTES E PARTES PARA VEÍCULOS AUTOMOTORES DA GRANDE CURITIBA ADV.( A / S ) : CRISTIANO BRITO ALVES MEIRA RECDO.( A / S ) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROC.( A / S)(ES ) : PROCURADOR -GERAL DA REPÚBLICA [...]

Para melhor entender a controvérsia, é imperioso distinguir a

contribuição sindical, prevista na Constituição (art. 8º, parte

final do inciso IV) e instituída por lei (art. 578 da CLT), em

prol dos interesses das categorias profissionais, com caráter

tributário (logo obrigatório) da denominada contribuição

assistencial, também conhecida como taxa assistencial. Esta última

é destinada a custear as atividades assistenciais do sindicato,

principalmente no curso de negociações coletivas, e não tem natureza

tributária. A questão encontra-se, inclusive, pacificada pela

jurisprudência deste Supremo Tribunal, no sentido de que somente a

contribuição sindical prevista especificamente na CLT, por ter caráter

tributário, é exigível de toda a categoria, independentemente de

filiação. Nesse sentido, registro os seguintes precedentes:”

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7. Em que pesem as elevadas discussões travadas neste

Egrégio Tribunal, máxime no julgamento do RE 377.457 PR da

Relatoria do Ministro Gilmar Mendes - no qual o insigne Professor

Paulo de Barros Carvalho exerceu com brilhantismo o múnus

advocatício- nem há como se aplicar à presente quaestio posita,

o permissivo veiculado no inciso I, art.195 do Estatuto do

Poder8, aliás, em boa hora mencionado pelo Ministro Celso Mello em

seu voto à fl. 1858 do retromencionado Recurso Extraordinário.

Gravame ao § 6º., art. 150 da Constituição:

8. Ainda que não cuidasse matéria regulada por Lei

Complementar, não se poderia descurar que o dispositivo guerreado

foi veiculado em lei geral configurando evidente testilha com o §6º.

do art. 150 da Charta do Brasil9 a exigir, explicitamente, a

especificidade, o que demandaria a elaboração de lei tributária

específica e exclusiva para tal escopo.

9. Contudo, resta patente que no que na presente

quaestio os dispositivos guerreados trazem a eiva da

inconstitucionalidade formal também pelo fato de que, ao

perfilhar o rito da lei ordinária em sua elaboração, restou

descurado o procedimento legislativo adequado, i.e., o da lei

complementar para estabelecer a exclusão de um crédito de

natureza tributária.

8 Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da

lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,

e das seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:{..] 9 CRB 1988-Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos

Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:[...]

§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou

remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei

específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o

correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g. (Redação dada

pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)

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Gravame a outros direitos e garantias fundamentais

10. Não só: escoimadas as motivações de ordem ideológica

que, não raro, distorcem o raciocínio jurídico (Rechtsverdrehung),

a aplicação dos dispositivos impugnados, resultariam, igualmente, em

inconstitucionalidade orgânica por malferir Direitos e Garantias

Fundamentais insculpidos no Diploma Fundante.

11. O jus postulandi, máxime em sede laboral, é- e sempre

foi- lana caprina. Ainda assim, teoricamente só existe em primeiro

grau de jurisdição eis que nos demais exige- se a defesa técnica. O

Estado Brasileiro não dispõe de Defensoria Pública do

Trabalho sendo que a Lei 5.584/7010 -no que não foi revogada pela

Lei ora guerreada- ordena que os trabalhadores carentes sejam

assistidos pelo sindicato da categoria do trabalhador.

12. Registre-se que a retrocitada Lei estabelece no art. 18

(cf. nota de rodapé acima) ser dever do Sindicato assistir, também,

o trabalhador que não seja associado, cominando punição aos

Diretores das entidades que não comprovem sua carência financeira

às penas cominadas na alínea “a” do artigo 553 da Consolidação das

Leis do Trabalho, alínea e artigos que não foram revogados pela Lei

que reforma a CLT.

10 Lei 5.584/70 Da Assistência Judiciária Art 14. Na Justiça do Trabalho, a assistência judiciária a que se refere a Lei nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950,

será prestada pelo Sindicato da categoria profissional a que pertencer o trabalhador.

§ 1º A assistência é devida a todo aquêle que perceber salário igual ou inferior ao dôbro do mínimo legal,

ficando assegurado igual benefício ao trabalhador de maior salário, uma vez provado que sua situação econômica

não lhe permite demandar, sem prejuízo do sustento próprio ou da família.

Art 17. Quando, nas respectivas comarcas, não houver Juntas de Conciliação e Julgamento ou não existir

Sindicato da categoria profissional do trabalhador, é atribuído aos Promotores Públicos ou Defensores Públicos o

encargo de prestar assistência judiciária prevista nesta lei.

Parágrafo único. Na hipótese prevista neste artigo, a importância proveniente da condenação nas despesas

processuais será recolhida ao Tesouro do respectivo Estado.

Art 18. A assistência judiciária, nos têrmos da presente lei, será prestada ao trabalhador ainda que não seja

associado do respectivo Sindicato.

Art 19. Os diretores de Sindicatos que, sem comprovado motivo de ordem financeira, deixarem de dar

cumprimento às disposições desta lei ficarão sujeitos à penalidade prevista no art. 553, alínea a da

Consolidação das Leis do Trabalho.

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13. Vale dizer, milhões de trabalhadores carentes (a grande

maioria da população economicamente ativa) restará sem assistência

judiciária integral e gratuita. A menos que o paquidérmico Estado

Brasileiro se disponha a contratar milhares de defensores

públicos ou rábulas para atender os mais de seis e meio

milhões de trabalhadores que acorrem à Justiça a cada ano –

cf. p. 167/188 constante do portal “ Justiça em números- 2017 ”11 da

lavra do Conselho Nacional de Justiça - a lei perpetrará um enorme

retrocesso social.

14. Por décadas, até o advento do neoliberalismo nos anos 90

do século passado, a Corte Superior admitiu a constitucionalidade da

dita contribuição assistencial do mesmo matiz genético dos entes

corporativos de fiscalização profissional (CREA, CRM, OAB); com o

corte abrupto da contribuição sindical, as entidades não terão

recursos para assistir os não-associados, i.e., se estas não vierem a

fenecer antes de se adaptarem às novas regras. Nem há como impor

o ônus aos entes sindicais sem lhes prover o ressarcimento

necessário.

15. Destarte, a Lei em comento faz tábula rasa dos comandos

insculpidos no art. 5º. da Carta do Brasil máxime no que concerne

ao (a) acesso à Justiça(XXXV), (b) o contraditório e ampla defesa,

com os meios e recursos a ela inerentes (LV), (c) assistência jurídica

integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos

(LXXIV) ; idem no que tange à educação, a saúde, a alimentação, o

trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência

social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos

desamparados (art.6º), com a inviabilização dos preceitos estatuídos

no art. 7º., inviabilizando a manutenção antes que a melhoria de sua

condição social.

11 Fonte http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2017/09/904f097f215cf19a2838166729516b79.pdf

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Gravame ao Princípio da Proporcionalidade

16. Com fincas no ordenamento tedesco, o Princípio da

Proporcionalidade (Grunsatz der Verhältnismässigkeit) e seus

corolários revelam-se fiéis e indispensáveis guardiães do Estado

Democrático de Direito. Nossa Suprema Corte não hesita em decliná-

los em diversos julgados sendo que alguns de seus Insignes e

renomados Julgadores já editaram obras didáticas sobre o tema.

17. “O Estado não pode legislar abusivamente. A

atividade legislativa está necessariamente sujeita à rígida

observância da diretriz fundamental que, encontrando suporte

teórico no Princípio da Proporcionalidade, veda os excessos

normativos e as prescrições irrazoáveis do Poder Público”,

prelecionou o decano desta Corte, o Ministro Celso de Mello ao relatar

a ADI 1.407/DF.

18. O abuso se caracteriza pelo desvio ou pelo excesso de

poder; na aferição da constitucionalidade das leis, o Princípio da

Proporcionalidade impõe a subsunção do Legislador a seus corolários:

(a) A aptidão ou idoneidade (Geeignetheit) que traduz a

adequação do meio ao fim almejado, i.e., o interesse público, com a

vedação do arbítrio.

(b) A necessidade ou exigência (Erforderlichkeit) a

requerer o meio menos gravoso para atingir determinado objetivo.

(c) A ponderação (Abwägung) com que a medida deve

sopesar aos direitos, interesses e bens envolvidos 12

12 Tradução livre peloo Patrono do texto “Der Verhältnismäßigkeitsgrundsatz” da lavra do , Prof.Dr. Ulrich Jan

Schröder :“die Maßnahme muss unter Abwägung der betroffenen Rechte, Güter und Interessen angemessen

sein” “https://www.jura.uni-frankfurt.de/58685452/Grundsatz-der-Verhaeltnismaessigkeit.pdf

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19. Destarte, no caso dos dispositivos legais ora guerreados,

o Legislador laborou no mesmo maquiavelismo de que o Ministro

francês Turgot lançou mão em 1776 (com funestas consequências) à guisa

de “beneficiar os trabalhadores”, liberando-os do “vultoso”

desembolso de R$ 0,8765 ( oitenta e oito centavos) por dia,

i.e. R$ (937/ 30) = R$ 31,23 por ano ou R$ 31,23/360d= R$

0,8675 / dia ( a grande maioria percebe um salário mínimo ou

menos) para tungá-los , imediatamente, nos Direitos

Fundamentais acima elencados.

Cui prodest?

20. A quem aproveita a “vantagem” precária e efêmera da

economia de míseros centavos? Aos liberais que postulam o

enxugamento da máquina pública? Não, a menos que fosse possível

derrogar elidir objetivo de construir uma “sociedade livre justa e

solidária”13 eis que sem advogado não há Justiça. Ou, como

alternativa, que optem, por inflar a máquina pública admitindo a

contratação de milhares de novos defensores públicos.

21. Muito menos aos trabalhadores e aos empregadores

sérios. Interessaria, talvez, aos teóricos e aos nefelibatas que

por habitualmente descurarem a realidade brasileira perfilham,

de pronto, teses e soluções exógenas sem atentar a seu completo

malogro em países de estágio de desenvolvimento semelhante ao

nosso. A vida é muito mais rica e complexa que a melhor das

teorias.14

13 CRB 1988- Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

14 . Reflexão de Cleverson Merlin Clève in “ Afiscalização abstrata da Constitucionalidade no Direito

Brasileiro..2ª Ed,São Paulo: Ver dos Tribunais p.255.

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22. A venda na bacia d´almas de direitos fundamentais,

certamente atende ao interesse aos políticos de todos os matizes

partidários que queiram escapar à parcela de culpa de haverem

lançado, volente aut nolente, o País no atual estágio de miséria moral

e física, ou aqueles que sejam incapazes de assumir, com coragem e

honestidade, seus posicionamentos.

“A Constituição, sem prejuízo de sua vocação

prospectiva e transformadora, deve conter-se em limites

de razoabilidade no regramento das relações de que

cuida, para não comprometer o seu caráter de

instrumento normativo da REALIDADE SOCIAL” 15

23. Ex positis, a CONTTMAF requer:

AA) In limine, com fulcro no art. 11 da Lei 9.868/99, a

suspensão da eficácia dos dispositivos impugnados eis que a vigência

da Lei ora guerreada se inicia no dia 11 de novembro de 2017, até o

julgamento definitivo por esta Suprema Corte; a medida se justifica

eis que presentes o fumus boni júris declinado nos argumentos

expendidos, de maneira exemplificativa mas não exauriente, no curso

do presente instrumento.

24. A supressão abrupta de recursos dos Entes Sindicais

inviabiliza a assistência jurídica a seus representados, máxime

os não- associados, que esdruxulamente passariam a drenar recursos

custeados pelos associados institucionalizando a prática do

enriquecimento sem causa (rectius, “empobrecimento sem causa”,

principalmente - mas não só - dos associados que bancariam, de

modo exclusivo as Entidades): a milhões de trabalhadores seria

15 BARROSO, Luís Roberto. O direito constitucional e a efetividade de suas normas:limites e possibilidades da

Constituição brasileira. 4ª Ed. ampl. e atual.- Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 89.

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sonegado o Direito Fundamental de Acesso à Justiça estampado

nos incisos XXXV e LXXIV , art. 5º de nossa Charta.

25. A dita “economia” ou a mera vendetta travestida- revela-

se por demais gravosa a toda a nacionalidade, não só pela gigantesca

ampliação dos desembolsos do Estado com instalações, funcionários

e Defensores Públicos para prover a assistência jurídica estatal aos

necessitados; maior dano, porém advém de que sua implantação

demandaria grande lapso de tempo no qual os cidadãos restariam

tolhidos, também, dos Direitos Laborais e da Cidadania estatuídos

nos artigos, 5º, 6º, 7º e 8º do Diploma Fundante. Daí o periculum

in mora.

BB) A final

26. Requer seja julgada procedente a pretensão autoral,

mediante (a) a suspensão liminar da eficácia bem como (b) a

declaração definitiva de inconstitucionalidade dos dispositivos

da Lei que concernem aos indigitados artigos da CLT com sua retirada

do ordenamento jurídico pátrio por se revelarem incompatíveis com

os Comandos Constitucionais a imporem a ponderação axiológica dos

Princípios que a norteiam.

27. Ainda, a prévia oitiva da Exma. Sra. Procuradora Geral da

República, a citação do Exmo. Sr. Advogado Geral da União bem

como a requisição de informações ao Exmo. Sr. Presidente do

Congresso Nacional.

28. Aduna os seguintes anexos cuja autenticidade declara sob

as penas de lei:

Anexo 1: Procuração;

Anexo 2: Substabelecimento;

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Anexo 3: Estatuto da CONTTMAF;

Anexo 4: Ata de posse da Diretoria;

Anexo 5: Cartão do CNPJ;

Anexo 6: Cadastro de Entidade Sindical junto ao Ministério do Trabalho e

Emprego;

Anexo 7: Alteração nominal da CONTTMAF publicada no Diário Oficial.

29. Declina o endereço da sede da Entidade em Brasília, Edifício

Venâncio V, grupos 501 u 503, SDS, Brasília, Distrito Federal, CEP

70.393-900, correio eletrônico [email protected], para onde

requer sejam enviadas as comunicações dos atos processuais em

nome do Procurador in fine.

30. Dá a causa o valor simbólico de R$ 1.000,00 (hum mil

Reais) ante seu inestimável valor.

Brasília, 10 de outubro de 2017.

Edson Martins Areias Ulisses Borges de Resende

OAB-RJ 94 105 OAB-DF 4595

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