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REDES, Santa Cruz do Sul, v. 13, n. 1, p. 89 - 136, jan./abr. 2008 89 Reflexões sobre a origem e o desenvolvimento do urbanismo e Reflexões sobre a origem e o desenvolvimento do urbanismo e Reflexões sobre a origem e o desenvolvimento do urbanismo e Reflexões sobre a origem e o desenvolvimento do urbanismo e do modelo de vida urbana do modelo de vida urbana do modelo de vida urbana do modelo de vida urbana 1 (os modelos da América do Sul) (os modelos da América do Sul) (os modelos da América do Sul) (os modelos da América do Sul) 2 Jorge Juan Eiroa García 3 RESUMEN RESUMEN RESUMEN RESUMEN En este trabajo se hace una valoración del proceso de urbanización de la sociedad en Suramérica, centrándose especialmente en el área andina, donde se destacan aquellas novedades recientemente recuperadas por los trabajos arqueológicos en Perú, Ecuador y Bolivia, así como en los territorios del sur de Argentina, Uruguay y sur de Brasil, donde también la arqueología ha recuperado notables evidencias. Palabras clave Palabras clave Palabras clave Palabras clave: Urbanismo, Arqueología, vida urbana, Estado. Quando publiquei meu livro “Urbanismo protohistórico de Murcia y el Sureste” (EIROA, 1989), primeiro volume da série “Urbanismo histórico del Sureste español”, promovido pelo Grupo de Investigação "História e Geografia do Urbanismo” da Universidade de Murcia, trabalhei no capítulo introdutório “Urbanismo y vida urbana”, alguns conceitos que com o tempo foram consolidando-se. Mantenho a maior parte das declarações feitas, uma vez que eram o resultado de reflexões com base em dados verificados que sofreram poucas alterações, outros, no entanto, especialmente os relativos à origem e ao desenvolvimento do urbanismo americano, devem ser corrigidos ou diferenciados, de acordo com a experiência adquirida nestes últimos anos, durante os últimos trabalhos de campo e viagens de estudo realizados em vários países da América Hispânica. O trabalho realizado no Peru e na Argentina, em particular, colocaram-me diante de muitas provas da existência de evidências de um urbanismo pré-hispânico que fizeram-nos mudar drasticamente de opinião sobre o desenvolvimento do urbanismo em sociedades americanas proto-históricas, imersos desde finais da Fase Formativa em um processo dinâmico de urbanização da sociedade que iria atingir a maturidade, no período de desenvolvimento regional tendo seu apogeu na fase de desenvolvimento dos Estados pré-hispanicos, com a proliferação de verdadeiras cidades na plenitude do modelo urbano na fase imediatamente anterior à conquista espanhola, tanto no âmbito maia e asteca de México, Belize, Guatemala e Honduras, 1 Jorge Juan Eiroa García. “Grupo de Investigação "História e Geografia Urbana". Catedrático de Prehistoria. Facultad de Letras. Universidad de Murcia. c/ Santo Cristo, 1, 30001, Murcia (España). E-mail: [email protected] 2 Traducción y versión en Portugués: Wanderléia Elizabeth Brinckmann. E-mail: [email protected] o [email protected] . 3 Grupo de Investigação "História e Geografia Urbana" Universidade de Murcia Submetido em 08/07/2008. Aprovado em 05/08/2008.

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URbanismo

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  • REDES, Santa Cruz do Sul, v. 13, n. 1, p. 89 - 136, jan./abr. 2008

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    Reflexes sobre a origem e o desenvolvimento do urbanismo e Reflexes sobre a origem e o desenvolvimento do urbanismo e Reflexes sobre a origem e o desenvolvimento do urbanismo e Reflexes sobre a origem e o desenvolvimento do urbanismo e do modelo de vida urbanado modelo de vida urbanado modelo de vida urbanado modelo de vida urbana1111

    (os modelos da Amrica do Sul)(os modelos da Amrica do Sul)(os modelos da Amrica do Sul)(os modelos da Amrica do Sul)2222

    Jorge Juan Eiroa Garca3

    RESUMENRESUMENRESUMENRESUMEN

    En este trabajo se hace una valoracin del proceso de urbanizacin de la sociedad en Suramrica, centrndose especialmente en el rea andina, donde se destacan aquellas novedades recientemente recuperadas por los trabajos arqueolgicos en Per, Ecuador y Bolivia, as como en los territorios del sur de Argentina, Uruguay y sur de Brasil, donde tambin la arqueologa ha recuperado notables evidencias.

    Palabras clavePalabras clavePalabras clavePalabras clave: Urbanismo, Arqueologa, vida urbana, Estado.

    Quando publiquei meu livro Urbanismo protohistrico de Murcia y el Sureste (EIROA, 1989), primeiro volume da srie Urbanismo histrico del Sureste espaol, promovido pelo Grupo de Investigao "Histria e Geografia do Urbanismo da Universidade de Murcia, trabalhei no captulo introdutrio Urbanismo y vida urbana, alguns conceitos que com o tempo foram consolidando-se. Mantenho a maior parte das declaraes feitas, uma vez que eram o resultado de reflexes com base em dados verificados que sofreram poucas alteraes, outros, no entanto, especialmente os relativos origem e ao desenvolvimento do urbanismo americano, devem ser corrigidos ou diferenciados, de acordo com a experincia adquirida nestes ltimos anos, durante os ltimos trabalhos de campo e viagens de estudo realizados em vrios pases da Amrica Hispnica.

    O trabalho realizado no Peru e na Argentina, em particular, colocaram-me diante de muitas provas da existncia de evidncias de um urbanismo pr-hispnico que fizeram-nos mudar drasticamente de opinio sobre o desenvolvimento do urbanismo em sociedades americanas proto-histricas, imersos desde finais da Fase Formativa em um processo dinmico de urbanizao da sociedade que iria atingir a maturidade, no perodo de desenvolvimento regional tendo seu apogeu na fase de desenvolvimento dos Estados pr-hispanicos, com a proliferao de verdadeiras cidades na plenitude do modelo urbano na fase imediatamente anterior conquista espanhola, tanto no mbito maia e asteca de Mxico, Belize, Guatemala e Honduras,

    1 Jorge Juan Eiroa Garca. Grupo de Investigao "Histria e Geografia Urbana". Catedrtico de Prehistoria. Facultad de Letras. Universidad de Murcia. c/ Santo Cristo, 1, 30001, Murcia (Espaa). E-mail: [email protected]

    2 Traduccin y versin en Portugus: Wanderlia Elizabeth Brinckmann. E-mail: [email protected] o [email protected].

    3 Grupo de Investigao "Histria e Geografia Urbana" Universidade de Murcia

    Submetido em 08/07/2008. Aprovado em 05/08/2008.

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    como nas regies ocupadas pelos moches, chinchas e chimes, no Peru, tiahuanacos, na Bolvia e finalmente, incas no Peru, norte do Chile, Bolvia e norte da Argentina (EIROA, 1991, 1992 y 2002).

    Devo acrecentar a isso o fato de que nas duas ltimas dcadas, as descobertas de novos sitios de todas as fases da proto-histria do Sudeste espanhol ento analisadas, tem se multiplicado de tal forma que hoje, seria necessrio elaborar uma nova viso do livro em seu conjunto, matizando aspectos que afetam toda a compreenso do urbanismo do Calcoltico, poca Argrica e, especialmente, do Bronze Final, onde os achados e resultados foram muito importantes, com novos e impressionantes sitios indgenas, como a grande aldeia de Murviedro (Lorca) ou o impressionante recinto Semita amuralhado de La Fonteta (Guardamar de Segura), que mostram um povoado, indgena e colonial, muito mais importante do que em seu momento fomos capazes de imaginar.

    No entanto, o surgimento e o desenvolvimento da vida urbana, como resultado de um brilhante processo de evoluo social que quase imediatamente teve enormes consequncias, continua a apresentar-se perante todos como um dos grandes momentos da histria da humanidade, uma vez que trouxe a configurao e a conseqente consolidao de um modelo de sociedade capaz de projetar suas relaes internas, e ainda suas relaes com o meio ambiente de uma forma mais racional e frutfera que sups a ascenso e o desenvolvimento da cultura.

    Os antecedentes deste processo, como uma etapa preliminar ao urbano e vida urbana, residem nos momentos e nos lugares onde os homens, sob o estmulo das suas necessidades e do meio, tomaram conhecimento das vantagens que teriam com a vida em comunidade, uma vez resolvido o problema de subssistncia com a aquisio dos alimentos bsicos.

    Esta parece ser, segundo a maioria dos estudiosos deste tema, a condio prvia para qualquer processo de sedentarizao duradoura sobre o terreno, fato que no implica necessariamente no desenvolvimento da agricultura e da pecuria, seno um meio eestvel e seguro para a obteno de alimentos que poderia estar baseado na retirada dos recursos oferecidos naturalmente pelo meio. Na verdade, em algumas das primeiras aldeias, a partir do Natufiense Palestino, no h provas da existncia de uma economia de produo agropecuria at uma fase bem avanada.

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    Erro!

    A sedentarizao em um local bem escolhido, onde o grupo poderia construir suas cabanas, por vezes, defendidas com obras complementares perto de terrenos agrcolas e para a caa, pesca e coleta, foi um avano definitivo e indispensvel para o posterior desenvolvimento da comunidade. Esse fenmeno ocorreu em vrias partes do mundo, com as diferenas impostas pelas condies geogrficas, climticas e culturais, mas, em ltima instncia, com um resultado que guarda muitas semelhanas. O fato de que este desenvolvimento plural fosse diacrnico, no altera a concluso final, uma vez que o resultado final guarda surpreendente paralelismos em diferentes partes do mundo.

    O crescimento destas primeiras vilas difundia o intercmbio cultural dos estmulos e das respostas entre os meios e os grupos humanos, em um processo completamente complexo em que havia estgios realmente crticos, mas poucos movimentos inversos, porque uma vez iniciado, regredir possivelmente significaria, o desaparecimento do grupo humano que a sofreu.

    A vida na comunidade respondeu a uma necessidade humana e nela havia muito mais vantagens do que inconvenientes: a segurana pessoal, o desenvolvimento gradual das funes especializadas que cobriram necessidades diversas, a garantia da defesa, a diversidade da vida na terra comum, o reconhecimento de uma autoridade, a submisso s normas estveis de convivncia, o controle de um territrio etc. Embora ao lado deste tambm existissem alguns inconvenientes como: o aumento da populao e em conseqncia a necessidade de maior produo de alimentos, o belicismo, a obrigatoriedade de prestar determinados servios pblicos etc. Os problemas gerados pelo aumento da populao puseram de manifesto muitas dificuldades subseqentes: alimentos em mayor quantidade, problemas sanitrios e de segurana etc. Que com o tempo e a experincia deveriam ser superados.

    Estes primeiros ncleos de populao apareceram durante todo o Neoltico na sia Ocidental, especialmente no Crescente Frtil (mas tambm na India e no Paquisto, no Sudeste Asitico e no Extremo Oriente), e foram propagando-se, por

    OBTEN O

    DE

    ALIMENTOS

    AGRICULTURA

    PECURIA

    ORGANIZAO

    DO GRUPO

    ES PECIALIZA O DE

    FUN ES

    REAS FRTEIS DE CAPTA O DE RECURSOS

    ECONOMIA DE

    PRODU O

    TERRITORIALIDADE HIERARQUIZA O SOCIAL

    SEDENTARIZA O

    ESTAVEL

    CONDIES PRVIAS

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    meio de complexos processos de difuso, para outras zonas do Velho Mundo, incluindo Europa, adaptando-se s condies ambientais de cada rea e s necessidades especficas de cada comunidade. Algo similar, embora com notveis diferenas ocorria no Novo Mundo.

    Da aldeia neoltica de carter essencialmente agropecurio, na qual praticamente impossvel apreciar as premissas fundamentais para a existncia de uma vida urbana verdadeira, s primeiras cidades nas quais se centralizavam atividades de diversas naturezas e nas quais era possvel notar um modelo de vida urbana desenvolvido, h somente uma etapa muito difcil de definir e precisamente aqui onde se centra o estudo do processo. Para chegar a dizer quais eram as razes que provocaram mudanas to rpidas, as circunstncias prvias, os mecanismos que promoveram as transformaes administrativas, como e de que modo apareceu o Estado e sua complicada maquinaria de controle, quando surgiram as categorias sociais enfim, quando a cidade deixa atrs a aldeia Neoltica e se transforma em centro urbano, o objetivo da ateno de numerosos estudiosos do assunto.

    s vezes difcil saber que seqncias tiveram os eventos: o que veio antes, a escrita ou a burocracia, ou se a escrita originou a burocracia, ou a burocracia como elemento de controle, inventou a escrita. Muitas perguntas como estas permanecen ainda sem respostas definitivas (e talvez nunca a obtenham), j que dificuldade para sua anlise, se deveria adicionar a de que o processo no era igual em toda parte e sequer ocorria em um mesmo momento, e ao ser um fato plural e diacrnico, os problemas adquirem, s vezes, uma complexidade particular que muito tem a ver com as reas geogrficas, a situao dos ncleos difusores e de recepo e com fatores determinantes de todo o tipo.

    Embora o conhecimento deste processo esteja provocando o interesse dos investigadores ha muitos anos, ansiosos por conhecer este espetacular fenmeno histrico, a investigao multiplicou-se na dcado dos setenta, centrando-se principalmente em aspectos parciais como a demografia, meios e formas de produo, o desenvolvimento do comrcio, a expanso dos centros de populao e do urbanismo fsico etc., com a finalidade de melhor comprender os detalhes que poderiam conduzir a uma viso de conjunto mais ampla, detalhada e esclarecedora.

    No obstante, ainda no foi concludo o debate sobre o conceito de vida urbana e de urbanismo, no qual esto implicadas a maioria daqueles que hoje estudam o processo de urbanizao da sociedade. A polmica alcana um elevado grau de interesse porque est centrada no momento histrico no qual aparecem suas primeiras manifestaoes, precisamente nesse perodo crtico em que os grupos sociais esto a ponto de cruzar o limite, s vezes muito sutil, entre a vida pr-urbana e o urbanismo claramente perceptvel, quase sempre na linha divisria entre a teoria de Pr-histria e a Proto-histria.

    Na Europa e desde os estudos de V.Gordon Childe, se foi acentuando o interesse pelo surgimento do urbanismo na plenitude dos tempos pr-histricos, a ponto de causar, nos ltimos anos no somente um aumento considervel de especialistas no assunto, mas tambm uma preocupao que afetou inclusive o planejamento e a orientao dos trabalhos arqueolgicos de campo, nos quais freqente encontrar o estudo urbanstico como um dos objetivos programados, devido a sua importncia para

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    explicar no poucos aspectos das sociedades objeto de estudo.

    Em Espanha, o interesse pelo fenmeno urbano histrico foi similar e, depois de uma primeira etapa de estudos analticos dos aspectos fsicos do urbanismo, recentemente incorporou uma fase em que os investigadores tentam penetrar no conhecimento mais detalhado e profundo, dos aspectos conceituais que, do ponto da vista da anlise da cultura, podem explicar-nos o desenvolvimento de um processo certamente espectacular, no isento de determinadas dificuldades da interpretao.

    Quase todos estes estudos abordaram a questo do urbanismo partindo de diferentes posies conceituais, uma vez que este pode ser analisado desde o ponto da vista da histria, da poltica, da geografia, da economia etc., dado que a sociedade urbana , essencialmente, plural e oferece tantas facetas como aquelas que possui a vida dos seres humanos que a configuram. Chueca Goitia disse que "todo aquilo que afeta ao homem, afeta a cidade" (CHUECA, 1974, p.8). Segundo diz este autor, esta afirmao encerra uma verdade axiomtica.

    Em nosso caso acreditamos necessrio enfrentar-nos ao primeiro urbanismo de nossa histria a partir de dois pontos da vista que, embora metodologicamente possam parecer muito diferenciados, so complementares na outra extremidade: em primeiro lugar, do ponto vista conceitual, que requer uma anlise histrica das circunstncias que favoreceram a implantao da vida urbana no espao peninsular; mais tarde, na anlise do urbanismo fsico, que define o espao habitado pelas sociedades e indica seu ajuste a determinada forma de vida. Em ambos casos a coisa urbana aparece como um fenmeno histrico que nos indica uma certa forma de aceitao de determinados modelos vitais e, que em ltima instncia, revelaro como os grupos humanos tm consolidado um caminho rumo ao aperfeioamento de suas relaes e de suas formas de integrao ao meio, usando os recursos em benefcio prprio.

    Desta forma, devemos diferenciar com claridade, por um lado, o que urbanismo como forma de vida, ao qual se chega desde fases prvias definidas culturalmente e uma vez alcanado certo nvel de desenvolvimento se poder apreciar os aspectos como a especializao das funes, diviso do trabalho, hierarquizao social, existncia de excedentes da produo, obras corporativas etc.; e por outro, o urbanismo fsico, ou seja, a estrutura da cidade como expresso material do modelo de vida urbana. Ambos os aspectos esto estreitamente relacionados, j que o urbanismo material no pode existir sem aceder ao adequado nvel cultural. E, finalmente, existe uma outra questo por esclarecer: tambm denominamos urbanismo a uma disciplina cientfica independente que surge como fruto de um debate crtico construo da cidade contempornea desde finais do sculo XIX. O termo us-lo-emos aqui, normalmente, em suas duas primeiras acepes.

    A partir dos estudos de Childe, foram propostos diferentes modelos que tentam explicar o nascimento da vida urbana e, em conseqncia desta, a origem do estado. Entre os modelos mais destacados, dos muitos que foram propostos, nos centraremos nos seguintes:

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    1. O modelo de V.G. Childe1. O modelo de V.G. Childe1. O modelo de V.G. Childe1. O modelo de V.G. Childe A produo intensiva de alimentos e a existncia de excedentes de produo geram uma classe dominante e um estado repressivo. 2. O modelo hidrulico2. O modelo hidrulico2. O modelo hidrulico2. O modelo hidrulico K.Wittfogel: O urbanismo e o estado aparecem em conseqncia da organizao da irrigao em grande escala, sob o controle de uma classe dominante. 3. Os modelos demogrfico e blico (ou de conflito)3. Os modelos demogrfico e blico (ou de conflito)3. Os modelos demogrfico e blico (ou de conflito)3. Os modelos demogrfico e blico (ou de conflito) Robert Carneiro: O aumento progressivo da populao causou conflitos constantes. A luta e a conquista blica estabeleceram relaes de sditos e vassalos (de dominadores e dominados) e aumentaram o grau de complexidade social, causando a centralizao do poder. 4. O modelo da hierarquizao administrativa4. O modelo da hierarquizao administrativa4. O modelo da hierarquizao administrativa4. O modelo da hierarquizao administrativa Wright y Johnson: O modelo urbano estatal nasce do aparecimento de instituies governamentais centralizadas, com funes administrativas especializadas, divididas em diversos nveis hierrquicos. 5. O modelo multivariante5. O modelo multivariante5. O modelo multivariante5. O modelo multivariante Robert M. Adams: O modelo urbano o resultado de mltiplas variveis que interagem, em meio de um processo em que o meio (o entorno) joga um papel preponderante. 6. O modelo de Intercmbio6. O modelo de Intercmbio6. O modelo de Intercmbio6. O modelo de Intercmbio C. Renfrew: O intercmbio e a redistribuio de excedentes fazem surgir mdulos centrais onde o poder est hierarquizado, apoiando-se nas instituies. Tambm atua uma retroalimentao entre os mdulos centrais e os secundrios. 7. O modelo de controle da produo e da redistribuio7. O modelo de controle da produo e da redistribuio7. O modelo de controle da produo e da redistribuio7. O modelo de controle da produo e da redistribuio F. Hole: Os excedentes da produo e de sua redistribuio fizeram nascer as classes dominantes que controlaram os recursos e o poder. A organizao da produo e a redistribuio propiciou o surgimento de um chefe ou de uma instituio para controlar o processo. 8. O modelo (europeu) de comrcio8. O modelo (europeu) de comrcio8. O modelo (europeu) de comrcio8. O modelo (europeu) de comrcio P. Wells: O desenvolvimento do comrcio, uma vez superada a economia de subsistncia, fez nascer o modelo urbano e o estado na Europa Brbara.

    O modelo de Gordon ChildeO modelo de Gordon ChildeO modelo de Gordon ChildeO modelo de Gordon Childe A partir da publicao dos trabalhos de Gordon Childe, principalmente entre 1930 e 1958, os pr-historiadores e arquelogos inclinaram-se freqentemente em seus diagnsticos para definir o que era uma cidade na origem da histria e assim diferenci-la claramente de uma vila (aldeia), de um povoado ou de um outro tipo de assentamento (CHILDE,1950). Para o arquelogo australiano a "revoluco urbana", entendida no tanto como uma transformao rpida e brutal, ao estilo da definio de Crane Brinton em The Anatomy of Revolution (BRINTON, 1962) seno como uma "culminao de mudanas progressivas na estrutura econmica e na organizao social das comunidades, que produzem ou se vem acompanhados de significativos incrementos de populao" era a entrada civilizao e em sua sombra se configuravam outras importantes caractersticas, de modo que daquele processo emanavam avanos

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    decisivos para a sociedade. Childe compreendeu que a produo intensiva de alimentos para o grupo e a existncia concentrada de excedentes de produo geravam uma classe dominante e um estado (que ele compreendeu repressivo, seguindo a teoria Marxista da luta de classes expostas por Morgan, Marx e Engels, embora com modificaes importantes) para coorden-lo e para control-lo (CHILDE,1936). Logo, a concentrao da populao, a existncia de artesos especializados, o regime tributrio, os monumentais edifcios pblicos, a escrita como o instrumento a servio da burocracia e o grande comrcio, definiram a essncia da cidade, paradigma da vida urbana e exponente do novo mundo civilizado. Desta forma ficavam superadas as fases de selvageria do Paleoltico, da barbrie Neoltica e da barbrie superior da Idade do Cobre, e se chegava e acedia civilizao (CHILDE, 1942). Childe enfatiza de forma especial o carter social, mais do que o tecnolgico, da revoluo urbana. s minorias governantes nas primeiras cidades de Mesopotmia, as considera como promotoras de sistemas massivos de armazenamento em que os excedentes da produo agrcola foram acumulados, assim como responsveis pela paz interna, minimizadoras da freqncia da guerra externa, propiciadoras da produo e, conseqentemente, de fomentadoras do aumento da populao (CHILDE, 1942, p.123). Mas o autor observou que centrava estas caractersticas nos ncleos desenvolvidos Oriente Prximo, no Velho Mundo, e no eram extrapolveiss ao resto do mundo.

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    Talvez no seja aconselhvel deducir, a partir das idias de Childe, que a civilizao causa direta do processo de urbanizao, ou da revoluo urbana, j que no discurso childeano a equiparao entre urbanizao, estado e estratificao est mais do que discutvel, como exps E. Service (SERVICE,1975, p.304). Em todo o caso, as contribuies de Childe foram, em seu momento, decisivas e iniciaram um debate que perdura, sobretudo atravs das reunies entre os especialistas que so periodicamente realizadas como tributo a seu trabalho, e levam seu nome (p.e. MANZANILLA, 1988).

    O modelo hidrulicoO modelo hidrulicoO modelo hidrulicoO modelo hidrulico

    Em uma linha similar Karl Wittfogel tambm se pronunciou, quando desde uma tica Marxista, justificava o aparecimento da vida urbana em conseqncia da prtica da irrigao em grande escala, por meio de um sistema artificial construdo pelo conjunto da populao sob o controle da classe dominante. A teoria da irrigao valoriza o carter desptico do estado centralizado, de acordo com as necessidades do sistema de produo (WITTFOGEL, 1957). Porm diversos autores encontraram alguns motivos para rechaar esta teoria (WOODBURY, 1961).

    Wittfogel era um sinlogo da origem alem que emigrou aos Estados Unidos nos anos trinta para escapar da perseguio nazista, e desde posturas atribudas ao materialismo histrico, apoiova-se nas idias de Marx em seu trabalho Oriental

    ESTRUTURA INTERNA DO ESTADO SEGUNDO ESTRUTURA INTERNA DO ESTADO SEGUNDO ESTRUTURA INTERNA DO ESTADO SEGUNDO ESTRUTURA INTERNA DO ESTADO SEGUNDO MARXMARXMARXMARX

    INFRAINFRAINFRAINFRA----ESTRUTURAESTRUTURAESTRUTURAESTRUTURA

    FORAS DE FORAS DE FORAS DE FORAS DE PROPROPROPRODUODUODUODUO

    SUPERESTRUTURASUPERESTRUTURASUPERESTRUTURASUPERESTRUTURA

    JURDICOJURDICOJURDICOJURDICO----POLTICAPOLTICAPOLTICAPOLTICA

    MEIOS DE MEIOS DE MEIOS DE MEIOS DE PRODUOPRODUOPRODUOPRODUO DEOLGICADEOLGICADEOLGICADEOLGICA

    ORGANIZAORGANIZAORGANIZAORGANIZAO O O O DA PRODUODA PRODUODA PRODUODA PRODUO

    RELAESRELAESRELAESRELAES DE PRODUODE PRODUODE PRODUODE PRODUO

    FORMAO SOCIALFORMAO SOCIALFORMAO SOCIALFORMAO SOCIAL

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    Despotism: a Comparative Study of Total Power (1957), no qual manteve que na sia se desenvolveu um absolutismo sobre as bases das sociedades hidrulicas nas quais reinava o terror total e a submisso absoluta. De onde deduziu que o emprego das grandes concentraes de gua para a irrigao e o abastecimento da populao, requereriam dispositivos administrativos capazes de dirigir equipes macias de trabalhadores. Que, tambm, necessitaria uma estrutura hierrquica rigorosa, com uma populao de escravos na sua base e um lder desptico na cpula, cercado por uma minoria cortes em efervescncia e imobilizada pelo terror. Surgiria assim a civilizao mais antiga nos territrios sumrio e acdio, fazem mais de seis mil anos, na antiga Mesopotmia, j que ali a agricultura se desenvolveu com a ajuda de complexas tcnicas de irrigao, produzindo colheitas abundantes e propiciando que um setor da populao, liberado da produo alimentcia, pudesse consagrar-se exclusivamente s tarefas administrativas e ceremoniais.

    Desde 1949, Wittfogel, Steward e outros estudiosos que seguiram a mesma linha de investigao, propuseram que os sistemas de irrigao em grande escala poderiam ter atuado como incentivos para dar impulso social cooperao, com a participao de grande nmero de indivduos, causando, tambm, a complexidade social que terminaria desembocando na formao de um sistema estatal.

    Em 1968 Sanders aplicou esta teoria a determinadas reas de Mesoamrica, modificando parcialmente suas teses precedentes. No obstante, se conhecem diversos casos onde um processo similar baseado no controle centralizado da irrigao no levou organizao de instituies do estado nem urbanizao da sociedade, como em Bali, por ejemplo.

    A idia de Wittfogel parte do estudo de certos perodos da histria de China e foram seus discpulos e seguidores que a aplicaram mais tarde, a outras reas culturais do Velho e do Novo Mundo. O conceito bsico o da sociedade hidrulica: ou seja, uma organizao agrria na qual a irrigao trabalha (com intenes produtivas e de proteo) e outras construes (de comunicao, defesa, servio,etc.) so administradas por um governo forte (WITFFOGEL 1974), cuja eficcia esteja sustentada na capacidade de organizar e controlar uma grande fora grande de trabalho para a construo e a manuteno das obras, assim como a distribuio de gua s terras irrigadas.

    A sociedade hidrulica, atravs de recursos despticos que afetariam tanto aos aspectos ideolgicos como aos fsicos, apresentaria logo uma tendncia a ser adotada: uma organizao do tipo estatal, aparecendo o Estado como o sistema poltico mais eficaz para integrar os padres formais da autoridade que requerem as tarefas de organizao da irrigao, da produo agrcola e, especialmente, da estruturao de um sistema de produo baseado nestes aspectos (SANDERS Y PRICE 1968). Isto no elimina a possibilidade de que em algumas reas, muito especialmente na Amrica Pr-Colombiana, surgissem as sociedades hidrulicas que nunca chegaram a ter um organizao estatal (por exemplo, os cacicados) e no chegaram a desenvolver um verdadeiro modelo urbano.

    Esta proposta foi criticada imediatamente por um setor amplo dos investigadores, que viram nela a pretenso de apresentar como indiscutvel um esquema de dinmica provisional de uma forma claramente a-histrica. Estas crticas

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    se centraram em diversos aspectos especficos, entre os quais foram enfatizados: as nomeaes de reas em que no se precisava a cronologa histrica dos fatos aos quais se referia o argumento; de o processo no ser diacrnico; ou a uma tendncia visvel para fragmentar a informao, de tal maneira que no se podiam saber os detalhes histricos de cada caso.

    Millon estudou em 1962 sete sistemas da irrigao em pequena escala nos grupos atuais, chegando a concluso que no existia uma relao clara entre o grau de centralizao da autoridade e sua tendncia para a organizao do tipo estatal e o tamanho do sistema de irrigao ou o da populao que o mantinha.

    Com respeito ao conflito provocado pelo controle dos recursos hidrulicos, parece evidente que no sempre a competio pela gua causa conflitos, j que, sabemos atravs de numerosos paralelismos etnogrficos, que sociedades que dependem de um sistema comum de irrigao podem evitar enfrentamentos ou conflitos e, s vezes, chegar a situaes de cooperao para a produo de alimentos ou para a construo das infra-estruturas que ajudam a aperfeioar o sistema. Witffogel e Steward viram nos estados de Mesopotmia os exemplos mais claros de sociedades hidrulicas compactas, simples e estatais (STEWARD 1952), enquanto alguns de seus seguidores procuraram os traos diagnsticos das caractersticas que poderiam definir s sociedades hidrulicas por antonomasia, centrando a pergunta na especificidade dos canais de irrigao. Desenvolveram-se, ento, importantes projetos de prospeco em superfcie, especialmente na plancie central e no sul de Mesopotmia (Diyala, Akkad, o centro de Sumer e a rea de Uruk-Warka), a fim analisar a relao existente entre a presena de vestgios hidrulicos e o momento do aparecimento do Estado e dos modelos de sociedades urbanas. Mas os resultados no eram to satisfatrios como se esperava.

    Aps anos de investigao, Robert Adams chegou a concluso que, em Mesopotmia, o Estado precede em muito (talvez em um milnio) s grandes redes hidrulicas que estabelecem as estruturas polticas definidas por Wittfogel como hidrulicas (ADAMS 1965: p.41), j que as evidncias arqueolgicas disponveis, de elementos hidrulicos anteriores a metade do terceiro milnio a. de J.C. so to escassas e discutveis que chegam a ser irrelevantes.

    Os registros administrativos da metade do terceiro milnio a. de J.C. indicam que a populao dependia principalmente da cultura extensiva sob a rotao, alternando perodos de barbecho com as colheitas de leguminosas. A irrigao em pequena escala constituiu uma parte subsidiria de uma rede interdependente de tcnicas de subsistncia e relaes econmicas e estes no pode ser isolados como um agente causal.

    Em Espanha as teses hidrulicas foram aplicadas por Robert Chapman, Gilman e Thornes, sobre sitios do Calcoltico e da Idade do Bronze, com resultados muito discutveis, devidos, principalmente, ausncia de evidncias arqueolgicas claras que possam sustent-los. Estes autores crem que o clima era to rido como na actualidade, de maneira que a prtica da agricultura de irrigao ao lado dos leitos das ramblas constituiria uma necessidade indiscutible para a sobrevivncia das comunidades. Entretanto, considerando-se um meio mais hmido do que o atual (Lull, Ramos Milln, Lomba, Eiroa), sugeriu-se a prtica de um regime de secano com

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    colheitas alternadas de cereais e leguminosas. Molina, baseando-se em dados faunsticos e palinolgicos, compreende que houve uma deteriorao do clima e da cobertura vegetal, a partir do III milnio a.de J.C., at chegar-se situao desrtica (menos de 200 milmetros de chuvas anuais nas zonas mais baixas, imediatas costa).

    Entretanto, a partir das evidncias paleoecolgicas disponveis no possvel demonstrar conclusivamente se o clima foi similar ao atual ou se foi mais hmido. A importncia desta controvrsia reside no papel que comea a atribuir-se ao controle da gua como desencadeante das mudanas econmicas e sociais naquele tempo nesta zona.

    No obstante, ambas propostas no tm porque ser excludentes, porque possvel imaginar os sistemas agrcolas que combinam a terra irrigada e a terra seca, como o props Chapman. O problema, talvez, poderia ser esclarecido com anlises paleoeconmicas e paleoecolgicas sobre as parcelas cultivadas, assim como sobre a dieta da populao, com a anlise dos restos sseos.

    Os modelos demogrfico e blico"Os modelos demogrfico e blico"Os modelos demogrfico e blico"Os modelos demogrfico e blico"

    Ambos modelos se tratam em uma mesma seco, uma vez que sempre aparecem intimamente explicitamente ou implicitamente relacionados. Um de seus grandes defensores foi Robert Carneiro (1970), que props que o aumento progressivo da populao causaria constantes conflitos devido competio pelas terras aptas para os trabalhos agrcolas, zonas de coleta, caa ou pesca, criando conseqentemente uma presso sobre os recursos, j limitados. A conseqncia final, aps um perodo de frices constantes, seria conquista de uns grupos por outros, estabelecendo-se uma relao do tipo tributrio entre vencedores e vencidos. Estes mecanismos aumentariam progressivamente o tamanho das unidades polticas, assim como o grau de complexidade e de centralizao, terminando finalmente em uma organizao do tipo Estatal.

    Em Mesopotmia foram definidos pelo menos trs exemplos que tentam apoiar esta hiptese. Cuyler Young (1972), baseando-se nos trabalhos de Boserup (1965) e Carneiro (1970) considera Mesopotmia como uma unidade geogrfica relativamente definida, que entre 6000 e 4500 a. de J.C. (com seu pice na Fase de El Obeid II, para 4.900 a. de J.C.) triplicaria sua populao, causando uma presso demogrfica considervel sobre os recursos, que forariam a uma intensificao do uso da terra e migrao de uma parte da populao para zonas marginais. Mais tarde, durante o perodo Uruk ou perodo Proto-literrio (3500 3100 a. de J.C.) as reas marginais seriam abandonadas criando-se novos ncleos humanos de fcil defesa, que desempenhariam o papel de zonas de amortecimento, entre as reas mais intensamente povoadas. Assim, o urbanismo aparece como o meio de organizao e controle dessa crescente populao, sendo motor da nova estrutura econmica e poltica, assim como de mo de obra para o trabalho, no contexto de estruturas sociais fortemente hierarquizadas.

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    O estado, segundo R. Carneiro

    McGuire Gibson (1973, p.458-460), depois de seus estudos sobre Uruk, Nippur e Kish, prope uma variante deste modelo: Considera que o aumento da populao depende, na maior parte das vezes, da capacidade produtiva da terra. O aumento da populao constitui o ndice principal, mas considera que o abandono do curso oriental do rio Eufrates fez com que a populao se movesse para terras mais ocidentais, situadas nas proximidades do novo curso, transformando-se em um fator determinante no processo do urbanizao de Mesopotmia. Este deslocamento causou a concentrao da populao, que forou a procurar mais recursos e a intensificar a produo agrcola, complicando a rede econmica e os recursos administrativos da sociedade. No obstante, os grandes ncleos de populao terminariam por apresentar complicaes para seu governo e iniciariam uma tendncia a atomizar-se em pequenas aldeias de carter agropecurio, dispersadas pelo territrio, causando um aumento demogrfico, a intensificao dos intercmbios e o desenvolvimento do artesanato especializado. A competio pela terra e pelos bens tornou-se cada vez maior e ento apareceram os conflitos armados, como uma soluo habitual para resolver os litgios entre as cidades-estado, uma vez que no era

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    possvel perpetuar os movimentos migratrios, sobretudo aps ter-se esgotado as possibilidades de obter novas terras.

    - DISPUTA POR RECURSOS - DISPUTA POR TERRAS AGRCOLAS OU DE PECURIA - DISPUTA POR REAS ESTRATGICAS - DISPUTAS POR TERRITRIO - TRANSFERNCIA DE BENS OU ACTIVOS DO OPONENTE (CONTRRIO) - COMPETIO ENTRE OS OPONENTES (CONTRRIOS) - OUTROS

    O modelo da hierarquia administrativa.O modelo da hierarquia administrativa.O modelo da hierarquia administrativa.O modelo da hierarquia administrativa.

    H.T.Wright e G.A. Johnson (1975) propuseram um esquema para explicar a origem da vida urbana e do Estado, baseados em seus estudos sobre as evidncias encontradas em Khzestn, uma provncia de Ir, localizada ao sudoeste do pas, na fronteira com Iraq e o Golfo Prsico. De acordo com estes autores, neste processo estariam envolvidas instituies governamentais centralizadas, com funes administrativas especializadas na tomada de deciso, o que implicaria na presena de trs ou mais nveis em uma hierarquia de controle, necessria para considerar a uma organizao como estatal. Os indicadores seriam: 1. a supremacia hierrquica de uns estabelecimentos sobre outros e 2. o uso de determinada tecnologia entre os recursos administrativos.

    Tambm Robert Adams (1972, p.62-63) props um modelo particular baseado na complexidade administrativa. Adams compartilha o esquema bsico dos modelos precedentes, mas considera que os efeitos deste processo devem ser analisados no somente nvel do intercomunal (como a nfase crescente nas hostilidades do tipo blico, que causariam o surgimento das cidades-estado amuralhadas), mas tambm no nvel do intracomunal, ou seja, modificando a estratificao social, que favoreceria, com o tempo, o aparecimento de superestruturas estatais.

    Frank Hole (1974, p.277) destaca que existem evidncias histricas de conflitos blicos pelo menos at 2500 a. C., isto , vrios sculos depois de haver finalizado o processo de formao dos estados. E. Service (1975, p.304-308) tambm destacava que as evidncias de conflitos violentos esto presentes, de forma mais ou menos espordica, durante todo o processo, enfatizando que h dois tipos de conflitos durante todo o perodo: por um lado, os confrontos entre os vizinhos rivais,

    A TEORIA BLICA: FATORES DE CONFLITOA TEORIA BLICA: FATORES DE CONFLITOA TEORIA BLICA: FATORES DE CONFLITOA TEORIA BLICA: FATORES DE CONFLITO

    Somente em fases protoSomente em fases protoSomente em fases protoSomente em fases proto----histricas avanadas se contempla o histricas avanadas se contempla o histricas avanadas se contempla o histricas avanadas se contempla o conflito motivado por causas ideolgicasconflito motivado por causas ideolgicasconflito motivado por causas ideolgicasconflito motivado por causas ideolgicas

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    nos quais uma cidade vence a outra aps uma disputa por fronteiras; e por um outro, pelos confrontos entre grupos sedentrios e nmades. O militarismo sistemtico de um estado expansionista se contempla desde outra perspectiva diferente, j que requer modelos superiores da organizao e uma infra-estrutura muito mais desenvolvida, evidente somente a partir do perodo Acdio em adiante, quando j estaramos totalmente diante de um modelo estatal.

    Desde a perspectiva da demografia, o aspecto mais complexo encontrar as evidncias arqueolgicas que endossam as propostas de seus promotores, j que, geralmente, estas se basearam principalmente em prospeces regionais de superfcie e no estudo dos materiais arqueolgicos encontrados sobre o terreno, que serviram para atribuir determinados perodos aos sitios (depsitos), baseando-se principalmente na tipologia dos materiais, o que geralmente pode ser bastante arriscado em arqueologia. Uma vez definida a cronologia do assentamento, se calcula sua populao estimada considerando sua relao com a rea de distribuio dos restos arqueolgicos, fundamentalmente a cermica. As possveis mudanas no padro de assentamento foram explicadas por meio do nmero de assentamentos atribudos a cada perodo. Porm, ao no desenvolver verdadeiras escavaes arqueolgicas, a cronologia era demasiado imprecisa e existiam muitos inconvenientes para demonstrar a suposta contemporaneidade dos depsitos atribudos a um perodo concreto. Este fato fez com que diversos autores considerassem que a forma de ver a correspondncia deste modelo com a informao particular de Mesopotmia no era a correta.

    O modelo multivarianteO modelo multivarianteO modelo multivarianteO modelo multivariante

    M. H. Fried, em uma complexa e elaborada anlise, ps de manifesto a importncia do processo da estratificao social e de hierarquizao da populao na formao dos grupos urbanizados e no surgimento dos estados (FRIED, 1967).

    Neste mesmo sentido coincidiu Robert M. Adams, desde o comeo de seus estudos, embora supondo que as cidades, para o autor britnico, no so o resultado de nenhuma lei prvia e predeterminada, mas da confluncia de diversos fatores. Adams tenta corrigir alguns aspectos da teoria de Childe (e, por conseguinte, de Morgan) e apoia-se no processo de incremento da estratificao social afirmando que os direitos de propriedade eram somente uma expresso de um sistema das relaes sociais estratificadas, que so, de certo modo, os fundamentos de uma sociedade poltica (ADAMS, 1966, p.80). Adams compreende que, para explicar o nascimento da vida urbana, no basta somente contemplar a capacidade que uma sociedade tem para prever a produo de alimento, seno o conjunto das inovaes polticas e econmicas que permitam ao grupo, especialmente aos artesos que no produzem alimentos, sobreviver apropriando-se dos produtos obtidos pelos agricultores e por negociantes de gado.

    Para Adams as classes sociais eram graus diferenciados de acesso aos meios de produo da sociedade, embora sem conscincia de classe (ADAMS,1966, p.79) e pensa de que as primeiras organizaes urbanas de Mesopotmia estiveram

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    organizadas en cls cnicos (nos quais prevalece uma certa forma de parentesco), oferecendo um modelo de pirmide social na qual alguns escravos e servos, a grande massa da populao e o campesinato aparecem na base, superpondo-se a eles os artesos, as famlias aristocrticas e, finalmente, a nobreza e os prncipes. Entretanto, Adams no ignora outros fatores. Assim, quando afirma que o aparecimento e o desenvolvimento da cidade no foram definidos em Mesopotmia pela peculiar mentalidade do povo sumrio, mas pelo carter fsico de Summer, est dando valor ao entorno, ou seja, ao meio (ADAMS, 1966, p.95 e ss.). Este mesmo valor do meio aparece contemplado em outros investigadores mais recentes, como C.Wissler, que cr que o entorno exercia algum tipo de influncia sobre o fenmeno cultural, orientado principalmente para o desenvolvimento da produo de alimentos (WISSLER, 1931) e P.Wheattley, que tambm valorizou o mbito fsico junto a outros aspectos, sobretudo de tipo econmico e social (WHEATTLEY, 1971).

    O ponto de vista de Adams (1966) sobre a formao adiantada do estado um exemplo da teoria segundo a qual muitas variveis se combinam para interagir. Adams compara a Mesoamrica com Oriente Prximo e encontra em ambos os casos um desenvolvimento muito similar, que se representaria como uma sucesso de trs fases: teocrtica, militar e poltica. O grande nmero de diferenas parece combinar-se de forma satisfatria se supusermos o processo seguinte. Diversas formas de subsistncia (pastoreio, coleta, irrigao e cultivo) levaram ao aumento da redistribuio, assim como as grandes diferenas quanto a riqueza, principalmente porque esta ltima forma resultava no aparecimento de outros produtos e e nas altas concentraes da produo em terras frteis. A guerra produziu a gnesis dos guerreiros e propiciou o trabalho escravo. Parte deste trabalho acelerou a tendncia para a especializao artesanal, que requeria maior redistribuio e, conseqentemente, uma administrao melhor. A crescente diferenciao na riqueza, assim como entre os guerreiros e a gente comum levou hierarquizao social. Todos estes processos geraram a formao do estado.

    Outros especialistas, como R.Carneiro, M.Webb e E. Boserup, se apoiaram em teses de tipo etnolgico, colocando nfase em aspectos que pudessem exercer diversas influncias no processo de urbanizao da sociedade, como a circunscrio geogrfica, a guerra e a conquista, a expanso demogrfica... etc.

    Bons exemplos do anterior so os enfoques de Cohen e Claessen sobre a adiantada formao do Estado. Estes investigadores descrevem diversas etapas de desenvolvimento social pelas que devem passar as sociedades com o fim de alcanzar o nvel de "estado", porm se deixam em aberto os mecanismos que ocasionam as mudnaas em questo, os quais variam de caso a caso (COHEN 1978,1981; CLAESSEN e SKAINIK 1978). Este enfoque uma aplicao direta dos modelos evolucionistas multilineares de Steward (1955), Service (1971, 1975) e Fried (1967).

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    O modelo de intercmbioO modelo de intercmbioO modelo de intercmbioO modelo de intercmbio

    Colin Renfrew (1975), baseando-se em seus estudos nas ilhas Ccladas entre o Neoltico e os incios da Idade do Bronze, centrando-se, sobretudo no Calcoltico, props diversos modelos que tentaram explicar o papel do intercmbio (fase precedente ao verdadeiro comrcio) no processo da organizao interna e na complexidade social e administrativa de uma civilizao, at desembocar na origem do Estado. Partindo de um lugar central, como o ponto principal a partir do qual se desenvolvia o intercmbio, e manejando o conceito de mdulo estatal temprano como uma unidade territorial independente, apresenta os elementos organizativos que causariam o aparecimento dos ncleos centrais, estabelecendo clara diferena entre um cacicado e um Estado propriamente dito, usando o critrio da continuidade e permanncia das localidades centrais. O aparecimento destes ncleos centrais permanentes seria o primeiro passo no processo da formao dos estados, bases das organizaes histricas civilizadas.

    Renfrew estabelece trs nveis no modelo das relaes: o intercmbio interno em cada mdulo, em que a atividade predominante seria a de jogar um papel como o centro de redistribuio; o intermedirio, mediante uma atuao de reciprocidade destinada manuteno da uniformidade entre os mdulos estatais, obtendo um certo equilbrio entre eles; e finalmente, o intercmbio larga distncia entre os mdulos e outras entidades de reas mais distantes, fora do meio em que eles se desenvolvem.

    Renfrew esclarece que diversos subsistemas de um sistema cultural poderiam operar independentemente de maneira mais ou mais menos estvel, sem gerar crescimento algum na escala de complexidade a que freqentemente nos referimos quando falamos em estados adiantados. Insiste em quem o comeo no gerado pela existncia destes subsistemas em si, mas por uma interao positiva de retroalimentao entre dois ou mais dos subsistemas em questo. O marco cultural em que C. Renfrew trabalhou, o Egeu e as Ccladas, ofereciam condies especiais para este tipo de estudo, tanto pela proximidade geogrfica entre as diferentes organizaes estudadas, como pela homogeneidade relativa das evidncias arqueolgicas que poderiam sustentar suas afirmaes. Em todo este processo desempenhou um papel importante a explorao sistemtica dos produtos agrcolas, especialmente dos cereais, das videiras e da oliveira (o policultivo Mediterrneo), que estimularam o intercmbio, promovendo um autnctico processo de retroalimentao, que serviu para dinamizar o desenvolvimento destas reas.

    Para Renfrew o grande marco do processo seria a poca palacial cretense, j que os palcios de Creta aparecem como os centros de controle que contaram com importantes meios de organizao que os convertiam em sedes regionais principais, onde os lderes executavam as funes administrativas, polticas e religiosas. Estes centros estavam associados s minorias do poder, comandados por indivduos prestigiosos, assim e como mostram os tesouros de Malia. A funo administrativa ocupava-se do armazenamento em grande escala dos excedentes da produo e manufatura, praticando um tipo de economia redistributiva que Haldstead e OShea tentaram definir sem chegar a pronunciar-se a respeito do carter democrtico ou

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    desptico do sistema. C. Renfrew define aos palcios como mdulos do Estado primitivo, enquanto que T. Champion os menciona claramente como os primeiros estados europeus. Ambos se apoiam na complexidade administrativa do palcio e em suas funes, indicando que algumas cidades-estados gregas do Perodo Clssico no eram muito maiores em tamanho e em nmero de habitantes.

    "O mode"O mode"O mode"O modelo da produo controlada e os processos de redistribuio"lo da produo controlada e os processos de redistribuio"lo da produo controlada e os processos de redistribuio"lo da produo controlada e os processos de redistribuio"

    Este modelo parte das propostas do V. Gordon Childe e baseia-se principalmente na idia, desenvolvida por Frank Hole, de que a cidade se levanta a partir do crescimento progressivo dos habitantes de uma comunidade, apoiado na acumulao de um excedente social, fruto de um sistema de produo controlado, assim como de sua redistribuio a partir de um centro desenvolvido.

    A populao dos primeiros centros urbanos representa uma nova forma de organizao social e econmica, com a presena de um grupo de especialistas de tempo completo em atividades diversas (CHILDE 1964, p.29-30). em Mesopotmia onde se aprecia por primeira vez a existncia de um sistema de produo com excedentes que excedem as necessidades bsicas dos habitantes da urbe e das vilas subsidirias circunvizinhas. Esta situao permitiria a manuteno das novas classes econmicas, que muito prontamente levantariam as prerrogativas especiais sobre os principais recursos produtivos, estimulando o processo de estratificao social e o aparecimento das novas categorias sociais que se dedicariam ao intercmbio de mercadorias, assim como sua redistribuio desde um lugar central, que, com tempo, geraria novas formas institucionalizadas e mecanismos apropriados para concentrar e redistribuir os excedentes da produo, controlando tanto os mecanismos econmicos como as rotas atravs das quais se redistribuiriam os excedentes. A inevitvel etapa seguinte seria o aparecimento de uma minoria dominante que ia apropriando-se dos meios da autoridade absoluta.

    Em seus estudos sobre a origem da civilizao em Mesopotmia, Hole (1974) indica tambm que com o sedentarismo dos habitantes da zona concentraram-se cada vez mais em assegurar produo agropecuria suficiente, apesar de ter que renunciar variedade diettica e mobilidade de seu carter precedente de bandas etinerantes. Esta nova situao forou-lhes tambm a intercambiar os bens que produziam por aqueles que no poderiam produzir localmente, com a diminuio conseqente de sua autosuficincia. As caractersticas do territrio, variadas e desiguais em recursos, causaria certa especializao das comunidades, que produziriam assim bens diversificados, com o que se tornou essencial o intercmbio. Surgiu assim a necessidade de uma organizao que controlasse a produo e o redistribuio dos produtos, assim como a ascenso das minorias que se alaram com o poder atravs de instituies reconhecidas, como os templos ou os palcios, que representavam dois graus ou nveis diferentes de organizao, em duas etapas evolutivas nas quais, de momento, parece que o templo tem a prioridade.

    H.T.Wright e G.A.Johnson (1975) apreciam em Mesopotmia um processo de diferenciao horizontal e de hierarquizao vertical, em conseqncia do

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    controle da informao e dos mecanismos de produo e de redistribuio. Estas diferenas sociais podem interpretar-se dentro do processo de complexidade social que naquele tempo experimentavam as sociedades do Oriente Prximo e do Oriente Mdio.

    O modelo (europeu) de comrcio.O modelo (europeu) de comrcio.O modelo (europeu) de comrcio.O modelo (europeu) de comrcio.

    Muitos investigadores destacaram a importncia do desenvolvimento do comrcio a longa distncia no processo de formao das sociedades pr e proto-estatais, entre eles Sabloff e Lamberg-Karlovsky (1975). O controle sobre artigos indicadores de prestgio ou smbolos de poder, poderia ajudar ao surgimento de uma classe governante, visto que as obrigaes administrativas concomitantes poderiam promover o sistema administrativo como tal. Embora haja autores, como Wright, que destacam casos onde o comrcio chegou aps a formao do Estado (1969, 1972).

    Mais recentemente Peter S. Wells estudou o processo do urbanizao das sociedades europias proto-histricas, centrando-se sobretodo no Bronze Final e na Idade do Ferro de Europa Centro Ocidental, analisando, desde uma perspectiva monocausal (a atividade comercial como fator determinante) o desenvolvimento dos grupos culturais (WELLS, 1984). Para este professor de Harvard parece evidente que na Europa Central da Idade dos Metais no so aplicveis as explicaes oferecidas para o Oriente Prximo. Aqui no tm sentido as teorias sobre irrigao, uma vez que o territrio hmido e frtil por natureza, nem temos dados para avaliar um papel preponderante das instituies teocrticas, nem decisiva a contribuio colonial de outros pontos mais desenvolvidos da Europa Mediterrnea, uma vez que afeta as sociedades que j esto em vias de urbanizao. Fatores como: a estratificao social, a guerra e a religio jogaram um papel muito restrito. Wells valoriza, principalmente, o fato de que a economia, uma vez desenvolvida alm de um nvel de subsistncia pura, poderia suportar adecuadamente um nmero relativamente elevado de produtores no dedicados a obteno de alimentos, e isso repercutiria no incremento da produo de bens comercializveis, produzindo-se um aumento da atividade mercantil que repercutiria em diversos aspectos da vida diria, aumentando a populao e os recursos humanos. Neste modelo, os fatores determinantes (fatores crticos de Wells) foram: o crescimento do comrcio a finais da Idade do Bronze, a iniciativa individual e a motivao das comunidades para produzir aqueles produtos que poderiam ser intercambiados por luxos desejados (WELLS, 1988, p.184). Algumas destas idias j haviam sido expostas por M. Halbwachs em (1930), porm no resta dvida de que as teorias de Wells, que tm um precedente na obra de Jane Jacobs "The Economy of Cities" (1969) referente s reas de Turqua, esto apoiadas em dados recentes e verificados e aportam uma nova perspectiva ao problema. No entanto, est evidente o importante papel aportado pelo comrcio entre as sociedades europias do I milnio a. de J.C., parece exagerado atribuir-lhe um papel quase exclusivo no processo de urbanizao europeu, sobretudo tendo em conta que os beneficios comerciais afetaram, em um princpio, a reas bastante limitadas e que fora delas existiriam comunidades nas quais se aprecia um desenvolvimento urbano igualmente intenso, ainda que quem sabe de diferentes caractersticas. Na pennsula Ibrica, por

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    exemplo, a meados do I milnio a. de J.C., se pode apreciar uma considervel incidncia comercial que incide sobre a rea Ibrica, mas os benefcios destas relaes se centraram em ncleos muito concretos e chegavam muito matizados ao interior. Estudos recentes puseram de manifesto que a intensidade comercial diminuia de intensidade medida que os centros receptores estivessem situados em zonas mais do interior, e algumas reas, como a castrea do Noroeste, apenas se beneficiaram daquelas relaes comerciais e, no obstante, desenvolveram uns centros de populao que em alguns casos, como Coaa, San Cibrn de Las, Santa Tecla ou Briteiros, chegaram a ser considerveis, antes de comear o processo do romanizao.

    Devemos destacar, como adverte sabiamente o prprio Wells que seu estudo , definitivamente, uma grande simplificao de uma situao muito complexa (WELLS, 1988, p.184).

    B.W.Cunliffe e R. T. Rowley abordaram tambm o tema centrando-o nos "oppida" da Europa brbara, ainda que desde um ponto de vista bastante mais amplo e generalizador (CUNLIFFE e ROWLEY,1967), seguindo os passos de J.Werner, que havia estudado os "oppida" da segunda Idade do Ferro tentando explicar seus detalhes urbansticos trinta anos antes (WERNER,1939).

    Para Europa da Idade dos Metais temos estudos que aordaram diversos aspectos parciais, inclusive tentativas de vises de conjunto, dos trabalhos de Childe, que quis explicar as mudanas produzidas na sociedade europia colocando-as em relao com o auge alcanado pelos especialistas em metalurgia, para os quais imaginava um especial estatus de previlgio de carter intertribal, que foi, de certo modo, a origem do desenvolvimento de um artesanato que alcanaria mais tarde uma situao preponderante, estimulado pela demanda dos comerciantes do Mediterrneo. Isso potenciou o aparecimento dos ncleos urbanos que se desenvolveram sombra de um florescente comrcio (CHILDE, 1952). Em um sentido similar fala C.Hawks (HAWKES, 1940). Entretanto, diversos estudos foram matizando estas idias desde a dcada de sessenta, fixando sua ateno em aspectos especficos da economa e da sociedade (CLARK, 1952; FILIP, 1962; ROWLANDS, 1972; MILISAUSKAS, 1978; CLARKE, 1979).

    Em Europa problemtico falar do urbanismo e da vida urbana antes da plenitude da Idade do Bronze. Embora no espao do Egeu, nos Balcs e na Pennsula Ibrica surge uma clara tendncia para tipos de sociedade hierarquizada (CHANPION, 1984, p.213), esta situao no teve grandes repercusses imediatas mas serviu para assentar as bases para os processos da Idade do Bronze. Ainda que no Calcoltico existam evidncias de relevantes concentraes de populao nos grupos culturais de: Vina - Plonik (Yugoslvia), Gumelnitza (Romnia - Bulgria), Cernavoda (Bulgria), Vucedol (Yugoslvia), Boleraz (Morvia), Los Millares (Espanha)... etc., nos quais se detectam alguns traos caractersticos como: trabalhos pblicos (muralhas, poos, grandes edifcios), especializao de funes, atividades artesanais, minorias hegemnicas, concentrao de poder e de riqueza etc., no parece possvel interpret-los como evidncias de uma vida urbana total, mas como uma fase precedente, na qual o modelo ainda no est completamente imposto e no qual, em todo o caso, falta a evidncia material da urbe, embora exista o germe de sua idia.

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    Talvez por essa razo seja mais correto referir-se a eles como sociedades pr, ou em sua maioria, proto-urbanas.

    Est absolutamente certo que no Egeu existiram organizaes do Bronze Antigo que sim podem denominar-se de proto-urbanas em sentido estrito (RENFREW, 1972), (Troy, Chalandriani, Lerna, Thermi), que logo sero sucedidas pelas organizaes palaciais de Creta e pelos ncleos fortificados de Micenas no Hlade, aos quais sim parece apropriado denominar cidades (no sem determinadas reservas), mas sua influncia sobre o resto do continente foi muito menor do que se acreditou a princpio. Ser na plenitude da Idade do Bronze e principalmente no Bronze Final, quando na Europa brbara se desenvolver o modelo urbano, a partir dos povoados agropecurios, embora nenhum dos ncleos que se formaram na Idade dos Metais chegou a igualar-se em importncia s cidades orientais de um milnio antes.

    Os recentes estudios de ROWLEY (1967), UCKO, TRINGHAN e DIMBLEBY (1972), COLLIS (1975, 1982 y 1984), BCHSENSCHTZ (1978 y 1984), BRAUDEL (1981), WELLS (198O, 1984 y 1988)...incidem sobre diversos aspectos do desenvolvimento urbano continental, tanto do ponto de vista scio-econmico como do fsico, insistindo na importncia decisiva de fenmenos como: o comrcio do metal e dos objetos elaborados, desenvolvimento da produo agropecuria, a concentrao da riqueza e poder, a tecnologia etc., que potenciaram o aparecimento e o desenvolvimento de formas de convivncia inclinadas ao modelo urbano. Alguns concordam em dar uma relevncia maior ao fator comercial (ALEXANDER, 1972, CLARKE, 1979, WELLS, 1984), tal e como havia previsto Childe em sua obra pstuma de 1958; outros valorizaram mais os aspectos blicos (COLLIS, 1982), sociais (NASH, 1976), ou institucionais (SERVICE, 1962). Claro est que hoje resulta mais apropriado pensar em uma interao de mltiplos fatores que tiveram como resultado o surgimento da vida urbana desde a plenitude da Idade do Bronze, terminando em uma autntica urbanizao da sociedade no apogeu da Idade do Ferro, em que, no obstante, necessrio considerar as diversidades regionais para compreendee bem o processo.

    No obstante, hoje possvel apontar que alguns fatores como: o aumento demogrfico, a melhoria das tcnicas de explorao do territrio, a atividade comercial e o intercmbio, as rotas de uma comunicao que estes abriram, a tendncia s atividades especializadas, as medidas de proteo do grupo etc., desempenharam um papel fundamental no processo, incidindo em cada caso nos aspectos especficos que, por sua vez, repercutiam em outros, dando forma conseqentemente a uma corrente de efeitos multiplicadores que, realmente, constituram um amplo conjunto de fatores determinantes, estreitamente unidos, que conduziam a um quase inevitvel resultado final: beneficiosa vida em comunidade.

    As recentes tendncias na investigao, que surgem principalmente da aplicao dos princpios derivados da concepo Estruturalista da Arqueologia, tentaram penetrar nos aspectos complementares que, pelo menos em teoria, tentam encontrar uma explicao para uma valorizao do territrio, concebido como o espao vital suscetvel de ser explorado e usado pelo grupo humano, ou para avaliar o aspecto demogrfico desde o estudo detalhado (embora estatstico em muitos casos) das necrpolis e das casas, ou para aproximar-se mais compreenso dos grupos de povoados em determinadas regies, pondo em jogo s vezes, teorias de alcance mdio, de acordo

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    com as idias de L.R. Binford, ou aplicando tericos modelos de controle e concluses apoiadas na estatstica, que ofereceram diferentes, embora complexas, possibilidades para aumentar o conhecimento da demografia, economia, reas de captao de recursos, explorao do territrio etc. que so, naturalmente, aspectos fundamentais para o conhecimento das sociedades estabelecidas na terra, para a compreenso do grau de adaptao mesma, assim como para penetrar na evoluo biolgica das comunidades, questes todas de grande importncia para ampliar o conhecimento do proceso de urbanizao da sociedade.

    Em Espanha, os trabalhos de Garcia Bellido, de Torres Balbas, de Cervera Checa e Bidagor, Maluquer, Arribas, Chueca Goitia, Balil e outros, abriram caminho para o estudo do processo histrico da urbanizao da sociedade hispnica, e repercutiram, como um incentivo, sobre os estudiosos, iniciando uma linha de investigao que hoje est completamente definida. Um primeiro resultado deste interesse foi o Symposion de Ciudades Augusteas de Zaragoza, em outubro de 1976, que sups que uma necessria modernizao dos estudos sobre urbanismo histrico no espao peninsular, incidindo especialmente na poca Romana. Nos trabalhos arqueolgicos sobre habitats pr e proto-histricos, antigos e medievais, freqente hoje a anlise urbanstica, como necessrio complemento ao conhecimento global dos sitios, de modo que os dados foram aumentando consideravelmente possibilitando cada vez mais sua avaliao. Embora todos estes modelos tericos que tentam explicar, global ou parcialmente, a gnesis do modelo de vida urbana tenham sido concebidos para o Leste Asitico, prontamente houve tentativas de aplic-los em centros neurlgicos das grandes culturas americanas, com maior ou menor grau de acerto e no sem adapt-las s variantes que os cenrios exigiam.

    * * *

    Durante muito tempo os estudiosos sobre o tema da origem e da evoluo da vida urbana e do urbanismo, principalmente europeu, acreditaram que na Amrica Pr-Hispnica no existia uma vida urbana verdadeira nem um urbanismo prprio at algum tempo depois da conquista pelo Continente Europeu, quando os colonizadores transferiram ao Novo Mundo os modelos urbanos que prevaleciam no Velho Mundo. O prprio V. Gordon Childe, em sua " What happened in History", inicia o captulo V afirmando que: A metalurgia, a roda, o carro levado por bois, o burro de carga e o navio de vela constituram as fundaes de uma organizao econmica nova. E nenhum destes logros estava presente na atual evoluo interna das culturas americanas, de modo que dificilmente podia imaginar uma trajetria cultural que terminasse, como no Velho Mundo, em um modelo da vida urbana plenamente desenvolvido. Tambm dizia que os logros da cultura americana no conduziram criao de um sistema generalizado da escrita (mesmo se consideramos as impenetrveis inscries hieroglficas Maias, na que, at poucos anos, somente se podia deduzir datas, nmeros e alguns poucos nomes), interpretada tradicionalmente como o mais espectacular logro das sociedades urbanizadas. Isto fz com que muitos investigadores partissem de suposies equivocadas quando se enfrentaram pela primeira vez ao estudo do fenmeno urbano e faziam referncia ao caso americano.

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    No obstante, para qualquer espectador que hoje possa ver os conjuntos arqueolgicos de Teotihuacn, em Mxico, de Chanchn ou Pachacamac, em Peru, a dvida sobre a existncia da vida urbana e urbanismo pr-Hispnico em Amrica no existiria.

    Para os 500 d. de J.C. Teotihuacn era a sexta cidade mais grande do mundo, com uma populao estimada em aproximadamente 100.000 habitantes e o centro de um imprio que controlava aproximadamente 25.000 km., em Mxico central. Sua distribuio em quadrcolas planificadas cobria 20 km. , em torno de um centro ceremonial, a pirmide do Sol, que governou a disperso dos outros edifcios. Em sua avenida central, de aproximadamente 5 quilmetros. de comprimento, se alinhavam 75 templos menores.

    Em Chanchn, a capital do reino de Chim, ao norte da costa Peruana, nos arredores de Trujillo atual, o traado urbano ocupa aproximadamente 28 km. Considera-se a cidade de barro (adobe) mais grande do mundo. Em seu interior esto alojados dez complexos reais ou cidadelas e sua populao calculava-se em mais de 50.000 almas.

    O aspecto deste tipo de entidade urbana impresionante. Nelas se encerravam grandes recintos cerimoniais, complexos palaciais, centros administrativos, armazns, fbricas, cisternas, bairros de especialistas etc., que por eles mesmos falam das mais notveis caractersticas com as quais quiseram definir as organizaes urbanas no Velho Mundo. Esta impresso do visitante no se afasta muito da que tiveram os primeiros conquistadores do Novo Mundo: Gaspar de Carvajal, cronista do primeiro ascenso do Amazonas, descreve verdadeiras cidades no interior do pas, da mesma forma Cristbal de Acua, cem anos mais tarde; Vespucio expressa sua admirao pela Veneza que descobre em Venezuela e o padre Las Casas, em sua Histria Apologtica, oferece uma longa lista das cidades que embelezavam a costa de Panam. Podemos imaginar a impresso de Hernando Pizarro ao entrar em Pachacamac, em 1533.

    Na base do erro ocorre o longo debate entre os especialistas a respeito das caractersticas diagnsticas que definem vida urbana e cidade, desde as idias de Morgan, de Marx e de Engels, Gordon Childe, Wittfogel, Spencer, Adams, Carneiro, Wissler mais recentemente de Redman, Service o Wells. Atualmente o que est claro que, como concluiu Adams no existe uma origem das cidades, mas sim tantas quantas so as tradies culturais independentes com um modo de vida urbano, e embora possamos elaborar uma lista de traos diagnsticos, na qual poderamos incluir: a sociedade estratificada, um considervel nmero de habitantes, o aparecimento do Estado e suas instituies, estruturas religiosas e polticas, formas de produo organizadas, tecnologia, comrcio, artesanato etc. Nenhum deles, sozinho, definiriam vida urbana, mas todos eles, separadamente, sim poderiam incorporar a definio.

    Hoje podemos afirmar que na Amrica Hispana existiu um urbanismo e um modelo (ou melhor, diversos) de vida urbana bastante antes da chegada dos conquistadores europeus. A formao destes modelos seguiu um processo que hoje podemos analisar seguindo diversas fases, tal e como podemos verificar na rea Andina:

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    FASE IFASE IFASE IFASE I

    Fase Arcaica (5000 Fase Arcaica (5000 Fase Arcaica (5000 Fase Arcaica (5000 1800 a. de J.C.) 1800 a. de J.C.) 1800 a. de J.C.) 1800 a. de J.C.) Formao de grupos sedentrios. Comeo e posterior desenvolvimento da agricultura e da pecuria. Primeiras aldeias agrcolas.

    FASE IIFASE IIFASE IIFASE II

    Fase Formativa (1800 Fase Formativa (1800 Fase Formativa (1800 Fase Formativa (1800 500 a. de J.C.) 500 a. de J.C.) 500 a. de J.C.) 500 a. de J.C.) Chavn de Huntar, Guaape, Paracas, Salinar. Primeiros centros ceremoniais. Tendncia concentrao de poder. Caractersticas de estratificao social.

    FASE IIIFASE IIIFASE IIIFASE III

    Fase dos desenvolvimentos regionais (500 a. de J.C. Fase dos desenvolvimentos regionais (500 a. de J.C. Fase dos desenvolvimentos regionais (500 a. de J.C. Fase dos desenvolvimentos regionais (500 a. de J.C. 700 d. de 700 d. de 700 d. de 700 d. de J.C.)J.C.)J.C.)J.C.) Moche / Vir Wari Regionalizao Cultural: Fases de Gallinazo, Lima, Nazca, Cajamarca, Recuay, Tiawanaku etc.

    FASE IVFASE IVFASE IVFASE IV

    Fase dos grandes estados regionais (700 Fase dos grandes estados regionais (700 Fase dos grandes estados regionais (700 Fase dos grandes estados regionais (700 150 150 150 1500 d. de J.C.)0 d. de J.C.)0 d. de J.C.)0 d. de J.C.) Formao urbana, senhoriais e imperial. Consolidao e desenvolvimento do urbanismo pleno. Chim Imprio Inca

    Fase Arcaica (5000Fase Arcaica (5000Fase Arcaica (5000Fase Arcaica (5000----800 a. de J.C.)800 a. de J.C.)800 a. de J.C.)800 a. de J.C.)

    Durante a Fase Arcaica, apareceram os primeiros assentamentos estveis, sobretudo para o final do perodo, a partir de 2000 a. J.C. Nesta fase vemos algo similar ao que Childe denominou revoluo agrcola para o mundo Asitico Prximo-Oriental, nos depsitos do tipo Valdivia e Real Alto, na pennsula de Santa Elena, no Equador, e em outros do tipo de Huaca Prieta, no norte de Peru. o surgimento das primeiras aldeias estveis, de carter agropecurio, que tm geralmente, construes do tipo ceremonial (pirmides e plataformas), como em Huaca Prieta, e significam o surgimento das primeiras obras de carter coletivo.

    Durante a primeira parte do Arcaico, que se denomina Pr-cermico sem algodo (at 2500 a. J.C.) o processo lento e sua evoluo sugere uma fase de experimentao principalmente agrcola. A segunda parte (Pr-cermico Algodoeiro) o processo experimenta uma acelerao notvel, que se percebe no crescimento dos estabelecimentos e no aumento da populao, certamente devido ao incentivo do

    FASES DO DESENVOLVIMENTO URBANO NA REA ANDINAFASES DO DESENVOLVIMENTO URBANO NA REA ANDINAFASES DO DESENVOLVIMENTO URBANO NA REA ANDINAFASES DO DESENVOLVIMENTO URBANO NA REA ANDINA

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    grande aumento de posibilidades na dieta alimentcia.

    Exemplo da primeira etapa pode ser o assentamento de Real Alto, no vale de Chanduy, do denominado Grupo Valdivia, na pennsula de Santa Elena, ao norte de Guayaquil (Equador), escavado por Jorge Marcos. Trata-se de uma aldeia com praa e recinto ceremonial que foi ocupada por mais de dois mil anos (MARCOS, 1988).

    1- reas escavadas de Real Alto (Pennsula de Santa Elena, Equador)

    Real Alto deu a data mais antiga da fase de Valdivia, 3545 200 a. de J.C., para uma comunidade que j cultivava o milho, o algodo, a batata doce, o achira, o amendoim e os alucingenos. o prottipo da aldeia de Valdivia, com casas comunais alinhadas em torno de uma praa ou de um espao central. Seus materiais arqueolgicos mostram intercmbios a distncia, inclusive com os Andes interiores e se detectaram conchas spondilus e obsidiana importada de Chorrera. Exploravam sistemticamente trs ambientes diferentes: costa, rio e savana. E no contexto arqueolgico aparecem as caractersticas que oferecem dados dos incios de uma hierarquizao social, uma estrutura religiosa bsica, com presena dos Xam e de um calendrio ritual usado para controlar a produo agrcola. Em Real Alto se pode apreciar importantes mudanas nos padres de assentamentos entre as fases I e III (entre 3.500 e 2.750 a. de J.C.).

    J no II milnio a. J.C. as aldeias Valdivia possuiam um edificio religioso no qual se praticavam ritos agrcolas, como o da chuva. Exemplo da segunda etapa o magnfico centro de Huaca Prieta, no vale de Chicama, ao norte de Trujillo (Per), escavado por Junius Bird em 1946, que achou no montculo formado, sobretudo, por lixo, ao longo de mais de um milnio, com restos de umas 100 vivendas, de at 2500 a J.C., construidas com cantos rodados ligados com barro, associadas a um grande muro de conteno, posiblemente fruto de uma ao comunitria. Sua esplndida situao junto ao mar, na boca do vale, permitia a explorao dos recursos marinhos e terrestres.

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    O notvel avano tecnolgico que se aprecia nos materiales arqueolgicos da Huaca (txteis, cermicas, arte...) nos fala de uma clara tendncia para a especializao de funes e do aparecimento de una religio organizada, baseada num importante substrato mitolgico. A tcnica de construo das casas estava bastante desenvolvida: se construiram casas subterrneas pequenas com um dos cuartos quadrados ou ovais, aos quais se chegava por uma entrada pequena e baixa. No interior no se encontraram cozinhas, razo pela qual Bird deduziu que os trabalhos da cozinha realizavam-se na parte externa (BONAVA, 1991).

    A importncia de Huaca Prieta devia ser enorme: hoje se considera que, ao lado de Valdivia e possivelmente de outras correntes que vm de Mxico, teve que influenciar na iconografia de Chavn. Em Huaca Negra de Guaape, de aspecto muito similar a anterior, Salinas de Chao (Los Morteros), que um assentamento formado por terraas de grandes dimenses com nove edifcios de plataformas, cercos e uma muralha dianteira, onde se v um grande ptio central afundado (com uma datao problemtia); Alto Salaverry (Vale de Moche), onde h um importante centro administrativo e plataformas associados s casas formadas por quartos pequenos; Las Aldas (Casma), que um assentamento de finais do Pr-cermico situado em pleno deserto; Culebras (Vale das Culebras), considerado por alguns como a mais importante manifestao da arquitetura domstica do perodo, assim como em outros centros parecidos estamos diante de casos similares. desde aqui que devemos partir e fazer o caminho para o incio do urbanismo na Amrica Andina.

    Em Aspero, no Vale de Supe, h um desenvolvimento urbanstico avanado de grande complexidade formal e tambm a se levantou um grande centro. Sua construo comeou pelos 2.600 a. de J.C. e completou-se em vrias etapas, com seis grandes plataformas retangulares de at 10 ms. da altura, sendo colocado nas estruturas superiores de alvenaria decorada com nichos e frisos de massas de barro. O assentamento se expande em 13 ha. e nele se pode ver uma habilidosa planificao urbana desenvolvida em diversas fases. Os huacas de Los Sacrifcios, da Idade dos dolos (com trs fases construtivas) e Huaca Alta, so as mais notveis do impressionante conjunto da costa central Peruana. Os edifcios foram construdos com blocos de pedra unidos com mortero de barro, ou com blocos irregulares entramados com barro. No Valle de Supe, o indito assentamento de Piedra Parada de caractersticas semelhantes a Aspero.

    Na pennsula de Paracas, ao sul de Lima, o grupo definido por Engel Cabezas Largas parece pertencer a outro tipo de populao diferente, assentada ali desde os 3000 a. de J.C.; talvez grupos de agricultores que desceram da serra e alternaram suas atividades agrcolas com a depredao da costa. Seus assentamentos, no obstante, no comearam alcanar o nvel de desenvolvimento que vimos em Huaca Prieta o Aspero.

    No Mxico assistimos a um processo de sedentarizao de comunidades de productores desde, pelo menos, o VI milnio a. de J.C., a partir do foco de Tehuacn. Porm no Mxico central os primeiros assentamentos estveis sobre solo frtil aparecem entre 3.000 e 1.000 a. de J.C., como vemos na plataforma circular de Cuicuilco (El Pedregal). Destes centros surgiro, antes de 500 a. de J.C., as primeiras sociedades urbanas do Mxico central. No sabemos a influncia que este tipo de assentamentos pode haver tido mais ao sul do lago Nicaragua (PREM y DYCKERHOFF,1986).

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    Fase Formativa (1800Fase Formativa (1800Fase Formativa (1800Fase Formativa (1800----500 a. J.C.)500 a. J.C.)500 a. J.C.)500 a. J.C.)

    Esta fase esteve caracterizada nos Andes por um longo perodo de desenvolvimento das tcnicas agropecurias. Aumentou o nmero de espcies cultivadas, se consolidou o sedentarismo e aumentaram o tamanho e o nmero dos assentamentos. Pode-se dizer que, ao redor de 1500 a. de J.C. j havia estabelecido uma agricultura de aldeia totalmente sedentarizada, baseada principalmente no cultivo de milho.

    O panorama especialmente interessante no Peru, onde se aprecia um repentino florescimento das sociedades de chefatura teocrtica, que se manifesta, sobretudo, no desenvolvimento dos centros ceremoniais e na populao concentrada em seus entornos. Os traos mais caractersticos deste processo so:

    - Centros ceremoniais.

    - Sociedades de chefaturas teocrticas estruturadas (poder poltico e religioso).

    - Nova forma de governo.

    - Diferenciao social (enterramentos diferenciados e de "status").

    - Incremento da produo agrcola e excedentes de produo.

    - Especializao regional da produo.

    - Obras comunitrias com abundante mo de obra controlada.

    - Sistemas de irrigao organizado.

    - Especializao de funes.

    - Desenvolvimento artstico.

    As evidncias de uma tendncia para a concentrao de riqueza e do poder em uma classe dominante de carter teocrtico so abundantes, a tal ponto que Ford denominou esta fase, em seu momento pleno, como Formativa Teocrtica (Primeira fase. - Formativa colonial; Segunda fase. Formativa Teocrtica). Os centros ceremoniais quase sempre estavam cercados por aldeias de entre 20-30 casas, de modo que formavam grupos de populo interdependentes, com sua sede central.

    Duas pautas culturais indicam E. Service para este momento (SERVICE, 1984): Por um lado, o grande desenvolvimento do cultivo do milho, que permitiu o aumento progressivo da populao; e por outro, o aperfeioamento de uma organizao religiosa (quer dizer, uma pauta ideolgica), que com o tempo, gerou uma organizao poltica centralizada que se transformou numa fora material tremendamente produtiva que, ademais, desenvolveu e expandiu sua prpria ideologia. At agora, o paradigma deste tipo de sociedade teocrtica de chefatura a cultura de Chavn, com seu centro melhor conhecido (embora talvez no o mais importante), Chavn de Huntar, onde est documentada a mais antiga orfebrera da Amrica.

    Chavn de Huntar teve seu apogeu entre 800 - 200 a. de J.C. e constituiu um importante complexo religioso, com uma monumental plataforma de pedra perfurada por corredores e por quartos, que lhe do aspecto de favo de mel de abelhas.

    Chavn no foi o nico centro cerimonial deste tipo, j que na actualidade se

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    conhecem outros, de desigual importncia arqueolgica, nos que se inventaram e desenvolveram formas de culto religioso que serviram para perpetuar o poder das teocracias dominantes, consolidando-o. Com isto, controlavam a mo de obra para a construo de seus monumentos e estimulavam e controlavam o comrcio e a distribuio, baseados em uma simbiose regional e, possivelmente, a potenciao e o controle dos sistemas de irrigao do calendrio agrcola.

    Disse-se que Chavn recolhe as idias do norte do mundo Olmeca mexicano, embora L.G. Lumbreras considerasse Chavn como uma cultura netamente andina (LUMBRERAS, 1989). Os paralelismos estabelecidos entre Chavn e Tlatilco (Tacuba), situada a oeste de Mxico D.F., seguem em plena discusso, sobretudo no que se refere s similitudes entre as figuras de Tlatilco denominadas do estilo olmeca " cara de nio" e algumas estilizaes de Chavn, assim como os estabelecidos entre estas estilizaes Chavn e outras de Monte Albn, fases I y II, que recordam tambm a escultura olmeca. Hoje, numa etapa de crise do Difusionismo, alguns autores preferem reconhecer certos paralelismos somente em alguns aspectos da tecnologia, arte, produtos e tcnicas agrcolas, que logo se adaptaram s necessidades e condies locais, ainda que as formas scio-polticas parecem estar mais relacionados com os problemas locais e poderiam ser originalmente Andinas. Tambm a arquitectura de Chavn pode ser comparada com a mexicana de Maxcan (Yucatn) e Mitla (Oaxaca), com as que guarda muitos paralelismos, sobretudo na concepo de formas e solues tcnicas. Em todo caso, no pode relegar completamente a proposta de H.J. Spinden ao reconhecer um " Horizonte formativo interamericano", no qual estes paralelismos teriam sentido.

    A influncia Chavn em direo periferia, que h poucos anos suscitava dvidas nos especialistas, aparece hoje claramente definida em diversos aspectos e lugares: teve contatos com o mundo Olmeca e pr-zapoteca de Monte Albn (que foram estudados por N. Porter e M. Coe); com a cultura equatoriana de Chorrera, da qual pode receber algumas influncias e se relacionou com Paracas, pelos anos 400 a.de J.C., influenciando nas suas primeiras fases (Fases de Paracas-Cavernas), para ser logo substituida pela influncia Topar; recentemente se estuda a influncia de Chavn nos vales de Pisco e Caete, seguramente atravs de Paracas, j que em Chincha aparecem txteis decorados com motivos de estilo Chavn.

    Existem assentamentos onde se verifica o impacto de Chavn em Batn Grande e Huaca Luca (Valle de La Leche), Huaca Prieta (Valle de Chicama), Pucur e Cerro Blanco (Valle de Nepea), Mojeque (Valle de Casma), Sechin Alto (cujos relevos, os mesmos que os de Moxeque e Punkur -Valle de Nepea-, tm tambm paralelismos com os danantes de Monte Albn, em Mxico embora talvez sem contatos diretos, mas atravs de influncias culturais ocasionais), Las Aldas, Ancn, Mina Perdida (Valle de Lurn)... e nos territrios serranos, como Pacopampa e La Copa (Cajamarca). entretanto, tanto Mojeque como Sechin Alto tm fases pr-Chavn.

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    2. Cabea do deus jaguar na fachada do templo de Chavn de Huantar

    Tambm no impressionante conjunto de Caballo Muerto (Valle de Moche) e La Huaca de los Reyes, situada num lugar central, h um templo em forma de U que parece ser outro dos grandes centros ceremoniais da fase Formativa (BONAVA, 1991).

    Fase dos desenvolvimentos regionais (500 a. de J.C. Fase dos desenvolvimentos regionais (500 a. de J.C. Fase dos desenvolvimentos regionais (500 a. de J.C. Fase dos desenvolvimentos regionais (500 a. de J.C. ---- 700 d. J.C.) 700 d. J.C.) 700 d. J.C.) 700 d. J.C.)

    Os desenvolvimentos regionais comearam de forma bastante uniforme nas diferentes reas, a partir de um processo de sedimentao dos ganhos iniciais da fase precedente, desde a metade do primeiro Milnio a. de J.C., ainda que se deva indicar que os grupos da costa Sul Peruana parecem mais propensos s inovaes, enquanto que os da costa Norte parecem mais propensos a manter as tradies anteriores, evidenciando um certo conservadorismo cultural. Entre os aspectos diferentes que, em geral, favoreceram o crescimento regional, agindo s vezes como motores da mudana, se destacam:

    - A melhoria de nvel tecnolgico, especialmente nas aplicaes para a agricultura e a metalurgia.

    - O desenvolvimento dos sistemas de irrigao a grande escala.

    - A melhora climtica e o incio de uma fase ambiental estvel.

    - O considervel aumento da populao.

    - Os contatos, msis freqentes, entre os distintos grupos.

    - O desenvolvimento das artes e o aparecimento de estilos regionais.

    - O aumento do nmero e tamanho dos assentamentos.

    - Aparecimento da cidade, como evidncia fsica da vida urbana.

    - O desenvolvimento das organizaes militares.

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    - Os conflitos entre distintos grupos.

    - O aparecimento de organizaes estatais.

    Alguns destes aspectos podem ser considerados, simultaneamente, causa e efeito, j que no fcil elucidar e menos explicar a origem e as conseqncias dos fenmenos culturais com as notveis diferenas regionais que se observam.

    No caso do surgimento do Estado, por exemplo, a controvrsia continua aberta, porque, embora se diga que Wari a primeira organizao estatal verdadeira dos Andes, h quem afirme que os supostos estatais Wari j existiam em Chavn e, pelo contrrio, aqueles que afirmam que Wari continua sendo, de fato, uma sociedade de chefatura teocrtica. Tanto Service como Lanning sugeriram a idia de que o Estado aparece na rea Andina como resultado dos avanos tecnolgicos que favoreceram a produo de excedentes agrcolas e, em conseqncia, o desenvolvimento de um modelo de sociedade estratificada, de maneira que o primitivo Estado Andino aparece como um verdadeiro "aparato repressivo, apoiado essencialmente numa classe social dominante que controla os meios de produo, o calendrio e os cultos religiosos, apoiada por um brao armado que se encarrega da ordem interna e da expanso exterior. Neste contexto, teria sentido o surgimento das verdadeiras entidades urbanas. D. Bonavia sugeriu que nesta fase dos desenvolvimentos regionais a cidade "com estrutura urbana" aparece como expresso do urbanismo Andino. No entanto, Canziani, que utiliza a expresso "centros urbanos teocrticos", cr que os assentamentos so a "expreso fsica do modo de produo de uma particular sociedade", restando valor aos aspectos ideolgicos ou tecnolgicos e ressaltando mais os aspectos econmicos (CANCIANI, 1989).

    A informao que temos deste estgio impressionante principalmente a que procede da cermica e dos txteis, que oferecem dados valiosssimos. Por elas sabemos que nesta etapa os sistemas de irrigao alcanaram sua plenitude na maioria das regies, que as tecnologias bsicas estavam estabelecidas e que a populao estava perto de seu mximo.Uma das organizaes culturais mais notveis desta fase a civilizao Moche ou Mochica, que obteve rapidamente a hegemonia sobre os vales do norte da Costa Peruana, para 200 d. de J.C. Moche poderia ser o verdadeiro comeo do Estado na Costa Peruana, porque seu urbanismo e seus centros ceremoniais e de controle parecem prprios de um Estado, embora Service preferisse denomin-lo sociedade de chefatura extensa. Quer dizer, o desenvolvimento urbano paralelo ao desenvolvimento institucional. Service, como antes o fez Isbell, observou que nos enterramentos moche apenas se percebem diferenas de estatus que podem ser interpretadas como caractersticas de uma estratificao social e da presena de uma minoria de lderes, prprias de uma sociedade estatal. No obstante, os trabalhos arqueolgicos posteriores s escavaes de Moche e de Huaca del Sol puseram de manifesto a uma outra realidade bem diferente. Encontrar o impressionante Sipn, onde W. Alva escavou um excepcional enterramento de chefatura, nos trabalhos de 1985-88: o Senhor de Sipn, no meio de um complexo de especial interesse, Pampa Grande, que o mais conhecido jazimento moche (BRANCO, 1992, p.229 - 236).

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    3. Reconstruo da tumba do Seor de Sipn (Lambayeque, Per)

    Embora a origem e o comeo de Moche continuem criando bastantes problemas, parece que poderia estar nos vales de Moche e de Chicama (departamento de La Libertad), ao norte de Peru, em um ambiente bastante propcio. , essencialmente uma cultura costeira que se estende apenas por alguns territrios serranos, chegando pelo sul at o vale de Nepea, difundindo-se desde a para outros lugares. Seu final data do sculo VI d.de J.C., com a penetrao Wari (na fase Moche V). O estado de Moche culmina nesta fase imperialista, a partir de 600 D. de J.C.

    Esta situao costeira favoreceu seus contatos com outras organizaes culturais. Se admitem determinados paralelismos entre os motivos decorativos entre a cermica original moche e a de Mxico Ocidental de Colima e Nayarit, principalmente no que se refere s tcnicas do retrato e s cenas da vida diria moldadas nas vasilhas de carter funerrio. Tambm a escultura moche de origem Chavn, mantm determinada relao temtica com a escultura olmeca mexicana.

    Na costa norte de Peru existem pelo menos oito vales contguos que parecem haver formado parte do que se definiu como comunidade poltica mochica, que seria no somente uma grande sociedade de chefatura, se no um verdadeiro Estado. A populao desta comunidade se calcula em aproximadamente 250.000 habitantes, embora tambm neste aspecto existam discrepncias.

    Em Moche as aldeias so j maiores e a tendncia especializaao das funes de seus habitantes parece estar definitivamente configurada e no centro de controle dos vales, aparecem os grandes centros urbanos e ceremoniais, principalmente nos vales de Moche e de Chicama, onde se define um tipo de urbanismo estruturado por classes, a partir de 400 a. de J.C.

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    Um exemplo vlido oferece o conjunto das huacas do Sol e da Lua, em Moche, aos ps do Monte Branco, perto da cidade atual de Trujillo. A Huaca do Sol uma plataforma retangular impressionante, muito saqueada no tempo colonial e reduzida hoje a um tero de seu tamanho real, de aproximadamente 350 ms de comprimento, de 160 de largura e de 30 de altura. Est construda com aproximadamente 140 milhes de tijolos feitos com molde, o que o converte em uma obra comunitria de caractersticas incomuns, construdo, talvez, como uma obrigao imposta, parecida a mita Inca. Sua construo teve diversas etapas, durante dois sculos: certamente uma fase prvia de Moche primitivo e depois de Moche mdio e tardio; sua funo era a de um grande centro ceremonial que se estendeu at Moche V, j com um forte componente Wari. A Huaca de La Luna, a meio quilmetro da anterior, de menor tamanho e desempenhava funes de centro palacial-administrativo. Entre ambos, devia estender-se uma grande populao em Moche, com residncias domsticas e bairros nobres, que denotam uma elevada complexidade social e econmica (RODRIGUEZ ALPUCHE, 1986 y KUBLER,1986).

    4. Huaca del Sol, Moche.

    No complexo de El Brujo (Valle de Chicama), uma equipe da universidade de Trujillo escavou um centro similar. E em Pacatnamu, Galindo, Paamarca, Cerro Orejas etc. Existem tambm restos do urbanismo moche e de suas obras de irrigao. necessrio enfatizar outras fases regionais, como