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“ANÁLISE DO REÚSO DE ÁREAS INDUSTRIAIS SUSPEITAS DE CONTAMINAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO DE QUATRO SÍTIOS NO MUNICÍPIO DE PETRÓPOLIS - RJ” por ANDERSON CHAGAS DE OLIVEIRA Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Saúde Pública na área de Saneamento Ambiental do programa de Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Orientador: Prof. Dr. Marcelo Motta Veiga Rio de Janeiro, abril de 2006

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“ANÁLISE DO REÚSO DE ÁREAS INDUSTRIAIS

SUSPEITAS DE CONTAMINAÇÃO: UM ESTUDO

DE CASO DE QUATRO SÍTIOS NO MUNICÍPIO DE

PETRÓPOLIS - RJ”

por

ANDERSON CHAGAS DE OLIVEIRA

Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título

de Mestre em Ciências em Saúde Pública na área de Saneamento

Ambiental do programa de Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde

Pública Sérgio Arouca.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Motta Veiga

Rio de Janeiro, abril de 2006

1

Ficha Catalográfica

2

“A natureza é a melhor casa. Não é nela

que moram as árvores, minhas irmãs?

Não é nela que vivem as aves, as flores,

e todos os animais? Não é nela que tudo

o que vive acha acolhida? Por que eu,

mísero pecador, não posso lhe fazer

companhia?”.

Francisco de Assis.

3

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar quero agradecer aos meus pais, Jorge Lúcio Chagas de

Oliveira e Ana Maria Madeira, pelo apoio e incentivo que sempre me deram, para que

eu continuasse os meus estudos e, também, pelos sacrifícios financeiros feitos para a

conclusão dos mesmos.

Obrigado aos meus avós Carmem das Chagas Oliveira e Waldir Francisco de

Oliveira por toda a ajuda e apoio que sempre me deram em todos os momentos da

minha vida e, agradeço também à minha avó Izabel Telles da Cunha pelos momentos

em que me recebeu em sua casa, nas diversas vezes em que passei por problemas

pessoais.

À mulher que eu amo, Fernanda Pinto Sanchez, pelo companheirismo, amizade,

carinho, dedicação, ajuda, conselhos e tudo o mais, que foram muito importantes para

mim, principalmente nos momentos de desânimo, em que eu pretendia desistir de tudo.

E obrigado por me ajudar nas pesquisas dos compostos químicos das indústrias e em

outras partes deste trabalho.

Por fim, agradeço a todos aqueles que, direta ou indiretamente, ajudaram-me

durante meu mestrado e minhas pesquisas. Obrigado a vocês pelos conselhos,

discussões, contatos e tudo mais. Todos foram importantes para meu crescimento...

Obrigado!

4

RESUMO

O problema dos sítios industriais contaminados começou a despertar a atenção

do mundo na década de 1970 e, desde então, principalmente nos países centrais, os

estudos para identificação, análise e recuperação dessas áreas desenvolveram-se

bastante. No entanto, nos países semiperiféricos, principalmente Brasil, México, Índia e

China, existem milhares de áreas potencialmente contaminadas que, sequer, foram

identificadas, significando riscos à saúde pública e ambiental.

Esta pesquisa buscou avaliar se quatro indústrias desativadas e atualmente em

reúso, localizadas nos bairros do Itamarati e Cascatinha, no município de Petrópolis,

estariam suspeitas de contaminação contaminadas e, em caso positivo, se elas

ofereceriam riscos à população e ao meio ambiente.

A metodologia foi desenvolvida de maneira a dar respostas às questões

propostas e, para isso, utilizou-se a Ficha Cadastral de Áreas Contaminadas da

CETESB, para se fazer a análise técnica das áreas de estudos e classificá-las como áreas

suspeitas de contaminação ou não. Para a análise da percepção foram aplicados

questionários aos moradores próximos a esses sítios e a alguns corretores de imóveis, de

forma a analisar a percepção deles sobre esses sítios e, também, investigar se os

corretores de imóveis têm conhecimentos dos riscos que essas indústrias desativadas

podem oferecer.

Após a aplicação do questionário da CETESB, constatou-se que os quatro sítios

suspeitos de contaminação, oferecendo riscos à saúde humana e ambiental, pois estas

áreas, atualmente, encontram-se em reúso para diversas atividades. As perguntas feitas

aos moradores demonstraram que eles não têm conhecimentos de que indústrias

desativadas oferecem riscos à saúde e ao ambiente. Alguns corretores de imóveis

negociam esses sítios sem a menor noção dos riscos oferecidos pelos mesmos. Por fim,

os anexos contêm os questionários da CETESB, o dos moradores e dos corretores de

imóveis, além de fotografias variadas dos quatro sítios industriais e suas adjacências.

5

ABSTRACT

The brownfields/derelict lands problem started to arouse the world attention in

the 1970’s decade, and, since then, in the main in the Central States, the researches to

identification, analysis and recovering of these areas were very much developed.

However, in the Semiperipheric States, principally Brazil, Mexico, India and China,

there are thousands of potentially contaminated areas, which not even were identified,

meaning risks for the public and environmental health.

This research seek to evaluate if four deactivated industries and nowadays in

reuse, located in Itamarati and Cascatinha, quarters of Petrópolis town, would be

suspected of contamination and, in positive case, if they could offer risks to the

population and to the environment.

The methodology was developed in order to give answer to the proposed

questions, and, for this, it was applied the Contaminated Lands File Cards of São Paulo

State Environmental Sanitation Technology Company (CETESB), to do the technical

analysis of the studies areas and classify them as suspected of contamination areas or

not. For the perception analysis there were applied questionnaires to the near residents

for this sites and to some real state brokers, for analyse the perception that they have

about these sites and also investigate if the real state brokers have knowledge about the

risks that these deactivated industries can offer

After CETESB questionnaires application, it was verified that the four sites are

suspected of contamination, offering risks to human and environmental health, because

these areas, nowadays, are in reuse to several activities. The questions done to the

residents demonstrate that they do not have knowledge that deactivated industries offer

risks to the health and to the environment. Some real estate brokers deal these sites

without any notion of the risks offered by them. At last, the appendage contains the

questionnaires from CETESB; for residents and for real state brokers; beyond various

pictures from the four industrial sites and their neighbourhoods.

6

SUMÁRIO

Resumo ............................................................................................................................4

Abstract.............................................................................................................................5

Lista de Abreviaturas......................................................................................................9

Lista de Figuras.............................................................................................................10

Lista de Tabelas.............................................................................................................11

Lista de Anexos..............................................................................................................12

Glossário de Termos......................................................................................................13

Introdução......................................................................................................................17

Capítulo 1 – A industrialização de Petrópolis.............................................................25

1.1 – Análise do Problema das Áreas Contaminadas...........................................29

Capítulo 2 - Revisão de Literatura...............................................................................31

2.1– O Problema Conceitual: Definições de áreas contaminadas,

potencialmente contaminadas e suspeitas de contaminação....................31

2.2 – Áreas Contaminadas......................................................................................33

2.3 – O Problema das Áreas Contaminadas..........................................................35

2.4 - Danos Ambientais e à Saúde Humana...........................................................36

7

2.5 – Rotas de Exposição.........................................................................................39

2.5.1 – Fonte de Contaminação......................................................................39

2.5.2 – Meio Ambiental e Mecanismos de Transporte................................42

2.5.3 – Ponto de Exposição.............................................................................42

2.5.4 – Via de Exposição.................................................................................43

2.5.5 – População Receptora..........................................................................45

Capítulo 3 – Área de Estudo.........................................................................................46

3.1 – Características Ambientais do Município de Petrópolis.............................46

3.1.1 – Estrutura Geológica e Geomorfológica.............................................46

3.1.2 – Clima e Rede de Drenagem.................................................................47

3.1.3 – Solos......................................................................................................48

3.1.4 – Cobertura Vegetal...............................................................................50

3.2 – Características Econômicas do Município de Petrópolis............................51

3.2.1 – Setor Primário......................................................................................51

3.2.2 – Setor Secundário..................................................................................51

3.2.3 – Setor Terciário.....................................................................................52

Capítulo 4 – Metodologia da Pesquisa.........................................................................53

4.1 - Critérios de seleção..........................................................................................53

4.2 – Análise Técnica...............................................................................................57

4.3 – Questionários aos Moradores e Corretores de Imóveis..............................58

Capítulo 5 – Apresentação e Análise dos Resultados.................................................61

5.1 – Caracterização dos Sítios Industriais e Alguns Contaminantes

Típicos...........................................................................................................61

5.1.1 – Companhia Petropolitana de Tecidos................................................64

5.1.2 – Fábrica de Papel Petrópolis................................................................70

5.1.3 – Fleischmann Royal..............................................................................74

8

5.1.4 – ATA Combustão Técnica....................................................................77

5.2 – Resultados dos Questionários aos Moradores..............................................81

5.2.1 – Companhia Petropolitana de Tecidos................................................81

5.2.2 – Fábrica de Papel Petrópolis.............................................................. 84

5.2.3 – Fleischmann Royal..............................................................................86

5.2.4 – ATA Combustão Técnica....................................................................88

5.3 – Resultados e Análise dos Questionários aos Corretores.............................90

Considerações Finais.....................................................................................................94

Bibliografia...................................................................................................................102

9

LISTA DE ABREVIATURAS

AP: Área Potencialmente contaminada.

APA: Área de Proteção Ambiental.

AS: Área Suspeita de Contaminação.

ATSDR: Agency for Toxic Substances and Disease Registry.

CARACAS: Concerted Action on Risk Assessment for Contaminated Sites in the

European Union.

CCME: Canadian Council of Ministers for the Environment.

CERCLA: Comprehensive Environmental Response, Compensation, and Liability Act.

CETESB: Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São

Paulo.

CIDE: Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro.

CLARINET: Contaminated Land Rehabilitation Network for Environmental

Technologies.

FEEMA: Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Rio de Janeiro).

FUNDREM: Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana.

GTZ: Deutsche Gesellschaft Technische Zusammenarbeit – Agência Alemã para

Cooperação Técnica.

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

IPHAN: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

IPTU: Imposto Predial e Territorial Urbano.

ISS: Imposto sobre Serviços.

ITBI: Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis

MOEE: Ontario Ministry of the Environment and Energy.

NICOLE: Network for Industrially Contaminated Land in Europe.

RMSP: Região Metropolitana de São Paulo.

SIG: Sistema de Informação Geográfica.

TCERJ: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro.

U.S. EPA: United States Environmental Protection Agency.

10

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Localização do município de Petrópolis..........................................................25

Figura 2. Mapa temático de Petrópolis e seus distritos...................................................26

Figura 3: Imagem aérea de toda a área de estudo............................................................63

Figura 4. Cascatinha na década de 1880, vendo-se a Companhia Petropolitana.............64

Figura 5. Fotografia aérea da Companhia Petropolitana e adjacências...........................66

Figura 6. Hortas ao lado da antiga Companhia Petropolitana de Tecidos.......................68

Figura 7. Fotografia aérea da Fábrica de Papel e adjacências.........................................71

Figura 8. Tubulação de efluentes desembocando diretamente no rio Itamarati..............71

Figura 9. Galpão em péssimo estado de conservação.....................................................73

Figura 10. Maquinário com vazamentos e enferrujado...................................................74

Figura 11. Antiga Fleischmann Royal e adjacências.......................................................75

Figura 12. Grandes reservatórios de produtos que eram utilizados na fabricação de

fermento e demais produtos alimentícios.........................................................76

Figura 13. Atual Supermercado Bramil...........................................................................77

Figura 14. ATA Combustão Técnica e adjacências.........................................................78

Figura 15. Casas próximas à ATA...................................................................................80

Figura 16. Preferências dos moradores residentes próximos à Companhia

Petropolitana.....................................................................................................81

Figura 17. Preferências dos moradores residentes próximos à Fábrica de Papel............84

Figura 18. Preferências dos moradores residentes próximos à Fleischmann Royal.......86

Figura 19. Preferências dos moradores residentes próximos à ATA...............................88

11

LISTA DE TABELAS Tabela 1. Vias de exposição específicas de cada meio....................................................44

Tabela 2. Classificação das indústrias por número de funcionários................................55

Tabela 3. Principais indústrias de Petrópolis em 1962 e, em negrito, as indústrias

selecionadas.....................................................................................................56

Tabela 4. Contaminantes típicos por ramo de atividade..................................................62

Tabela 5. Atividades da Companhia Petropolitana de Tecidos segundo o IBGE...........66

Tabela 6. Atuais atividades desenvolvidas no antigo sítio da Companhia

Petropolitana.....................................................................................................69

Tabela 7. Atividades da Fábrica de Papel Petrópolis segundo o IBGE...........................70

Tabela 8. Atividade de estacionamento de automóveis em um galpão da antiga Fábrica

de Papel Petrópolis...........................................................................................72

Tabela 9. Atividades desenvolvidas na Fleischmann Royal............................................75

Tabela 10. Atividade de estacionamento de automóveis.................................................76

Tabela 11. Atividades desenvolvidas na época do funcionamento da ATA Combustão

Técnica..............................................................................................................78

Tabela 12 Locais que mais desvalorizam um imóvel segundo os corretores de imóveis

entrevistados.....................................................................................................90

12

LISTA DE ANEXOS

ANEXO A. Questionário aplicado aos moradores........................................................106

ANEXO B. Questionário aplicado aos corretores de imóveis.......................................110

ANEXO C. Tabelas de Atividades Potencialmente Contaminadoras...........................114

ANEXO D. Ficha Cadastral de Áreas Contaminadas da CETESB...............................119

13

GLOSSÁRIO DE TERMOS

Atividades primárias, secundárias e terciárias: as atividades primárias compreendem

o extrativismo vegetal (coleta silvestre), o extrativismo animal (caça e pesca), o

extrativismo mineral, a agricultura e a pecuária. Além disso, compreende, também,

coisas menos usuais como a criação de ostras, crustáceos e peixes. As atividades

secundárias são simbolizadas pela indústria de transformação, em que são produzidos

bens econômicos a partir da transformação, pelo trabalho, e utilizando-se máquinas e

ferramentas, de matérias-primas oriundas de atividades extrativas, agrícolas ou de

criação animal (a chamada indústria da construção civil também faz parte do setor

secundário). Por fim, as atividades terciárias englobam o comércio e os serviços.

Embora não seja tão comum, o termo setor quaternário para referir-se, especificamente,

aos serviços mais sofisticados, “de ponta”, como consultorias econômicas internacionais

e pesquisa científica e tecnológica (Souza33, 2003).

Brownfields: termo mais utilizado nos Estados Unidos. Segundo a Agência Ambiental

Norte-Americana (U.S. EPA), são áreas abandonadas, ociosas ou subutilizadas de

origem industrial ou comercial, onde a expansão ou o redesenvolvimento é complicado

pela contaminação ambiental real ou percebida.

Comprehensive Environmental Response, Compensation, and Liability Act

(CERCLA): lei federal norte-americana do ano de 1980 que criou uma taxa especial,

consolidando um capital de crédito, geralmente conhecido como Superfund, para ser

usado na investigação e limpeza de sítios com resíduos perigosos abandonados ou sem

controle.

Derelict lands: termo mais utilizado na Inglaterra e alguns países europeus. Segundo

Alker3 et al (2000), é qualquer terra ou propriedade que foi utilizada ou ‘desenvolvida’

anteriormente e que não se encontra atualmente em total uso. Ela pode estar

parcialmente ocupada ou utilizada. Ela pode também estar desocupada, abandonada ou

contaminada. Essa área não se encontra apta para seu imediato, sendo necessária uma

intervenção.

14

Economias de aglomeração: as economias de aglomeração correspondem ao que se

chama de “economias externas de escala” à firma, ou “externalidades”. Essas têm a ver,

como indica o nome, com efeitos econômicos sobre as empresas que derivam de fatores

que lhes são externos. As externalidades podem ser positivas ou negativas. No caso de a

presença de várias firmas próximas no espaço criar uma economia de escala favorável a

todas elas, coisa que resulta, justamente, da ação conjunta das empresas individuais (ou,

também, no caso de a influência positiva advir da cidade como um todo, em sua

complexidade), a externalidade será positiva; por exemplo, quando firmas que

desenvolvem atividades complementares se localizam próximas umas das outras.

Quando a influência da aglomeração de firmas ou de outros aspectos referentes à vida

urbana for desfavorável, a externalidade será, claro está, negativa. Além disso, as

economias de aglomeração se subdividem em dois tipos: as economias de concentração

e as economias de urbanização. As primeiras ocorrem quando as empresas próximas

pertencem ao mesmo ramo; por exemplo, uma concentração de lojas especializadas em

um mesmo produto em uma mesma rua, criando, para a cidade inteira ou grande parte

dela, uma referência junto à clientela em potencial, o que acaba beneficiando todos, ao

menos enquanto não houver saturação do mercado. O segundo tipo de economia de

aglomeração, as economias de urbanização, comparece quando se está diante de

relações de complementaridade, além de se considerarem, também, as influências

positivas do ambiente urbano (infra-estrutura técnica e social, qualificação da mão-de-

obra etc.) Note-se, contudo, que, quando há uma saturação, um ambiente favorável pode

passar a ser desfavorável, e fatores como poluição, congestionamento, violência etc.

conduzem ao inverso das economias de aglomeração, que são as deseconomias de

aglomeração (Souza33, 2003).

Geomorfologia: é o estudo das formas de relevo, de sua gênese e da sua evolução ao

longo do tempo geológico.

Landfarming: é a disposição no solo de resíduos oleosos provenientes de refinarias.

Litigação: é o ato de questionar em juízo; ter demanda, litígio; pleitear.

Olericultura: é a cultura (plantio) de vegetais.

15

Países periféricos, semiperiféricos e centrais: a terminologia “países centrais”/“países

periféricos” deve muito às diversas correntes da chamada “Teoria da Dependência”.

Immanuel Wallerstein popularizou, mais tarde, o conceito de “país semiperiférico”, no

âmbito de sua teoria sobre a formação e a dinâmica do “sistema mundial capitalista”.

Independentemente de se concordar inteiramente com as análises de Wallerstein, o tripé

conceitual países periféricos, semiperiféricos e centrais parece, há muitos anos, útil, pois

substitui ou complementa, com vantagem, referencias como “Primeiro Mundo”/

“Terceiro Mundo”, “países desenvolvidos”/”países subdesenvolvidos” e outros. Países

periféricos típicos são muito pouco industrializados, a composição de seu Produto

Interno Bruto (PIB) e, mais ainda, a sua pauta de exportações, revela uma economia

muito dependente do setor primário (agricultura, pecuária, extrativismo); além disso,

possuem problemas sociais graves (enorme pobreza absoluta e mesmo fome endêmica,

desigualdades, etc.). Países centrais são aqueles que, além de industrializados, são

geoeconomicamente e geopoliticamente dominantes em escala global, apesar das

diferenças entre eles (por exemplo, a distância de potencial militar que separa os EUA

dos países europeus ou do Japão). Embora não estejam livres de diversos problemas

(como racismo, xenofobia e, mesmo, pobreza e desemprego), historicamente, as

sociedades desses países conseguiram superar, em geral, os problemas materiais mais

graves, como a pobreza absoluta, e a mobilidade vertical é bastante significativa. Países

semiperiféricos são aqueles que mesclam algumas características dos países centrais,

como o forte nível de industrialização (embora, via de regra, não sejam indústrias de

tecnologia de ponta), com muitas características dos países periféricos, a começar pelos

problemas sociais. Os países semiperiféricos são, normalmente, “países

subdesenvolvidos industrializados”, como o Brasil, ou, também, países europeus que

não chegaram, nunca, a se firmar como países centrais, mesmo tendo sido, em alguns

casos, potências coloniais, como Portugal (Souza33, 2003). Embora sejam obsoletos,

alguns autores pesquisados para este trabalho, devido à época dos seus respectivos

estudos, utilizam os termos países subdesenvolvidos, em desenvolvimento ou do

terceiro mundo. Essa terminologia foi mantida nas citações dos respectivos autores.

16

Processo de autodepuração: é um processo no qual um corpo de água poluído por

lançamentos de matéria orgânica biodegradável sofre recuperação natural. A

autodepuração realiza-se por meio de processos físicos (diluição, sedimentação),

químicos (oxidação) e biológicos. A decomposição da matéria orgânica corresponde,

portanto, a um processo biológico integrante do fenômeno da autodepuração. É

importante salientar que os compostos orgânicos biorresistentes e os compostos

inorgânicos (incluindo os metais pesados) não são afetados pelo mecanismo de

autodepuração. A matéria orgânica biodegradável é consumida pelos decompositores

aeróbios, que transformam os compostos orgânicos de cadeias mais complexas, como

proteínas e gorduras, em compostos mais simples como amônia, aminoácidos e dióxido

de carbono. Durante a decomposição, há um decréscimo nas concentrações de oxigênio

dissolvido na água devido à respiração dos decompositores. O processo de

autodepuração completa-se com a reposição, pela reaeração, desse oxigênio consumido

(Braga5 et al, 2002).

Superfund: fundo de crédito provido para a limpeza de substâncias perigosas liberadas

no meio ambiente. Foi implantado pela CERCLA e subseqüentes emendas. Esse termo

também é utilizado em referência aos programas de limpeza designados e conduzidos

pela CERCLA e subseqüentes emendas.

17

Introdução

O problema das áreas industriais desativadas vem ganhando importância nos

últimos anos, principalmente nos chamados países centrais, onde a dinâmica industrial

tem levado à desativação de muitos empreendimentos, seguida de abandono de muitos

terrenos. Nos países semiperiféricos, com destaque para o Brasil e o México, essa

dinâmica de desativação de plantas industriais tornou-se um problema a partir da década

de 1970, agravando-se na década de 1990.

A Revolução Industrial foi um processo tipicamente urbano, pois foram nas

cidades que se apresentavam as condições mais favoráveis à sua instalação, como infra-

estrutura de transportes, grande quantidade de mão-de-obra e proximidade dos

potenciais consumidores, disponibilidade de energia elétrica, entre outras condições.

Essas fábricas, geralmente, instalavam-se ao lado dos cursos d’água (eram

principalmente têxteis) ou em áreas geográfica e economicamente melhor localizadas,

como nas regiões centrais dos municípios e nos bairros adjacentes. Ao longo dos anos,

essas áreas tornaram-se, freqüentemente, ainda mais economicamente valorizadas

dentro do tecido sócio-espacial urbano.

Desde a Revolução Industrial, todas as atividades humanas de produção

passaram por sucessivas transformações e foram marcadas por um vertiginoso

desenvolvimento tecnológico que vem acelerando-se continuamente. A industrialização

tem uma dinâmica própria, que requer investimentos contínuos em pesquisa e

desenvolvimento de processos de produção cada vez mais eficientes e produtivos. Ao

lado da emergência de novos setores industriais dinâmicos e do declínio relativo de

outros, há em marcha um processo de obsolescência acelerada de indústrias de todos os

setores. Isto significa que aumenta hoje em dia a quantidade de estabelecimentos

industriais que são fechados ou desativados. Em certos setores, como a indústria têxtil,

que marcou o início da Revolução Industrial, esse processo já tem várias décadas

(Sánchez31, 2001).

18

Entretanto, muitos prédios e/ou terrenos antes utilizados para fins industriais, de

acordo com a atividade anteriormente desenvolvida naquele sítio, podem apresentar

problemas de contaminação, como: dos solos, das águas subterrâneas, das paredes e

pisos da construção. Conseqüentemente, a população próxima a essas áreas também

poderia estar exposta a algum tipo de risco à sua saúde, além dos possíveis danos ao

meio ambiente.

Quando se analisa o estudo das áreas contaminadas, nota-se que há 35 ou 40

anos sua incidência, em muitos países, era vista como incidentes raros, mas que traziam

graves conseqüências para a saúde das pessoas e para o meio ambiente. Sánchez31

(2001) aponta os principais eventos internacionais relacionados a sítios contaminados.

Dois dos casos mais conhecidos e citados na literatura são:

1. Love Canal (Estados Unidos): foi um antigo canal que foi aterrado com

resíduos industriais na década de 1940. Posteriormente a área foi vendida

para a Comissão Escolar de Niagara Falls. Foram construídas casas e

uma escola. A partir de 1976 o assunto veio à tona, pois as pessoas

começaram a apresentar problemas de saúde. Indícios de vários tipos de

óleos e outras substâncias químicas foram notados pelos residentes

durante a década de 1960.

2. Lekkerkerk (Holanda): nas proximidades de Roterdã, foi descoberto em

1978 um caso de contaminação do solo, no qual 268 casas haviam sido

construídas sobre um terreno que apresentava compostos orgânicos como

tolueno e xileno. Esses compostos penetraram nas tubulações de água e

esgoto e os moradores sentiam fortes odores.

19

Segundo Magalhães23 (2000), em decorrência do grande número de eventos de

liberações de produtos químicos (efluentes, gases, entre outros) descontroladas ou

ilegais, ou a ameaça de liberação de uma ou mais substâncias perigosas, principalmente

em sítios ou terrenos industriais abandonados, países desenvolvidos viram-se na

urgência de criar uma gestão de sítios contaminados por substâncias tóxicas e

metodologias de avaliação de riscos para a saúde do homem e do ambiente, como um

meio de embasar tecnicamente de forma apropriada as medidas de intervenção e

remediação.

Na Europa, vários grupos de trabalho, pesquisa e divulgação no âmbito de áreas

contaminadas surgiram nos últimos anos (desde 1994): o Fórum Comum – Common

Forum for Contaminated Land in the European Union; Concerted Action for

Contaminated Sites in the European Union – CARACAS; Network for Industrially

Contaminated Land in Europe – NICOLE; Contaminated Land Rehabilitation Network

for Environmental Technologies – CLARINET (Magalhães23, 2000).

Ainda de acordo com Magalhães23 (2000), nos Estados Unidos, o congresso

aprovou em 1980 o Comprehensive Environmental Response, Compensation and

Liability Act – CERCLA, conhecido como Superfund, cuja responsabilidade pela

implementação ficou a cargo da United States Environmental Protection Agency – U.S.

EPA, lei que taxou as indústrias químicas e de petróleo e concedeu autoridade Federal

para responder diretamente às liberações ou ameaças de liberações de substâncias

perigosas que podem pôr em risco a saúde pública ou o meio ambiente. O CERCLA ou

Superfund (fundo de crédito/programa de limpeza para sítios contaminados) criou em

1980 a Agency for Toxic Substances and Disease Registry – ATSDR, que é uma agência

de comando dentro do Serviço de Saúde Pública, constituindo em algumas das suas

atribuições a implementação de legislações relacionadas com a saúde objetivando

proteger a população e o meio ambiente de substâncias perigosas, e a condução de

avaliação de saúde pública em cada um dos locais da lista nacional de prioridades da

U.S. EPA. No Canadá, desde 1989, o Canadian Council of Ministers for the

Environment – CCME iniciou o Programa Nacional de Recuperação de Áreas

Contaminadas que impulsionou a gestão de sítios contaminados com materiais

perigosos originados de atividades industriais ou comerciais.

20

O problema das áreas contaminadas passou a ser mais estudado a partir da

década de 80. No entanto, a preocupação com essas deu-se apenas nos chamados países

desenvolvidos, principalmente nos Estados Unidos, Canadá, Holanda, Bélgica, França e

Reino Unido. Porém alguns países subdesenvolvidos industrializados, com destaque

para o Brasil, o México e a Índia, começaram também a apresentar casos de

contaminação de solos, águas superficiais e subterrâneas, com conseqüências danosas à

saúde pública e ao meio ambiente. No Brasil, Sánchez31 (2001) aponta os seguintes

casos:

1. Cubatão (SP) e São Vicente (SP): nos anos 80 nesses municípios veio a

público a existência de diversos depósitos de resíduos organoclorados.

Os resíduos eram provenientes da empresa Clorogil, que em 1976 foi

comprada pela Rhodia S.A.

2. São Caetano do Sul (SP): foi reconhecida a existência de séria

contaminação do solo das antigas instalações das Indústrias Reunidas

Francisco Matarazzo. A empresa fabricava diversos produtos químicos,

entre os quais soda cáustica; cloro e derivados; ácido sulfúrico; ácido

clorídrico; carbureto de cálcio; ferro-silício; e BHC. As unidades de

produção começaram a ser desativadas em 1975, até sua total paralisação

em 1986.

3. Em Duque de Caxias (RJ) foi uma indústria de HCH que funcionou na

localidade conhecida como Cidade dos Meninos. A fábrica foi desativada

em 1955 e no local foram abandonados estoques de matérias-primas, de

subprodutos e do próprio HCH, deixados a céu aberto, sem qualquer

proteção. Houve disseminação de poluentes pelo ar, para as águas

subterrâneas e superficiais e contato direto das pessoas com esses

produtos.

21

Segundo Magalhães23 (2000), no Brasil, principalmente em São Paulo, onde se

situa o maior centro industrial do País, tem aumentado o número de áreas

potencialmente contaminadas, tanto que a Companhia de Tecnologia de Saneamento

Ambiental – CETESB, com a Cooperação Técnica do Governo da Alemanha através do

projeto CETESB/GTZ, desde 1993 trabalha com o objetivo de definir metodologias

para identificação, avaliação e investigação de áreas contaminadas e de verificar as

medidas de remediação mais adequadas a serem adotadas para cada caso, além do

desenvolvimento de um Cadastro de Áreas Contaminadas integrando um banco de

dados informatizado.

No Estado do Rio de Janeiro, a Fundação Estadual de Engenharia do Meio

Ambiente – FEEMA, adota uma política de só se envolver em casos de grande

proporção como o da Cidade dos Meninos, ainda à espera de resoluções do Governo

Federal. Existe a carência, em um sentido mais abrangente, de uma gestão de sítios

contaminados por resíduos perigosos e um cadastramento de áreas potencialmente

contaminadas, e ainda não foi desenvolvida uma metodologia de avaliação dessas áreas.

No Brasil, os estudos relativos às áreas contaminadas ainda são muito poucos,

concentrados principalmente na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Assim

mesmo, essas pesquisas ainda estão na fase de identificação das áreas.

O Brasil continua sem se aprofundar no problema das áreas contaminadas. No

ano de 2005 o Ministério da Saúde começou a fazer um cadastro para o país, no entanto,

o mesmo não levará em consideração todas as potenciais áreas que possam estar

contaminadas, pelo simples fato que as municipalidades não possuem um cadastro

desses sítios em seus territórios. A CETESB continua avançando nas suas pesquisas e

no desenvolvimento de metodologias.

22

O objetivo deste estudo deste estudo é analisar quatro indústrias desativadas e

em reúso no município de Petrópolis, avaliando se as mesmas têm algum tipo de

contaminação potencial que possa provocar danos ao meio ambiente e à saúde da

população residente em suas proximidades, assim como riscos àqueles que trabalham na

área. Dentro desta análise, foi feita uma avaliação com parte da população que mora

próxima a esses sítios e também com alguns corretores de imóveis, para analisar a

percepção que todos eles têm dessas fábricas, de maneira a analisar se os riscos ao meio

ambiente e à saúde, oferecidos por essas plantas industriais, são percebidos.

Para se alcançar o objetivo deste estudo, foram seguidas as seguintes etapas: 1- a

seleção das indústrias objeto deste estudo, que possibilitou escolher sítios que sejam

representativos da atual situação municipal; 2 - a caracterização dessas indústrias

desativadas potencialmente contaminadas e em reúso, utilizando, para este fim, a Ficha

Cadastral de Áreas Contaminadas da CETESB; 3 – avaliação das adjacências dos sítios

industriais, que forneceu informações mais detalhadas dessas áreas; 4 – análise da

percepção de alguns corretores de imóveis e de moradores (próximas às indústrias) de

Petrópolis, de maneira que se possibilitou saber se há impedimentos (jurídicos,

ambientais, de saúde, etc.) para a negociação de indústrias desativadas e, se existem

conhecimentos sobre os riscos oferecidos por esses sítios.

O trabalho foi dividido em duas partes: na primeira foi feita, principalmente, a

caracterização do problema das áreas potencialmente contaminadas, suspeitas de

contaminação ou comprovadamente contaminadas; posteriormente foi abordada a

industrialização e posterior desindustrialização do município de Petrópolis; em seguida

foi feito o levantamento bibliográfico, de acordo com o tema deste estudo e, para

finalizar a primeira parte, a metodologia utilizada. Na segunda parte são apresentados e

analisados os resultados obtidos durante o estudo técnico dos sítios industriais e,

também, os questionários que foram aplicados aos corretores de imóveis e aos

moradores. Por fim, são feitas algumas discussões e são propostas possíveis formas de

reúso dessas fábricas.

23

A introdução aborda a questão dos sítios contaminados em alguns países centrais

e, posteriormente, analisa a situação brasileira. No capítulo 1 é apresentado

(resumidamente), como se deram a industrialização de Petrópolis e sua posterior

desindustrialização. Em seguida, alguns problemas referentes às áreas contaminadas são

discutidos.

No capítulo 2 é feita a revisão da literatura. A questão das áreas contaminadas é

bastante complexa e variada, e existem estudos nas mais diversas áreas. Esta revisão

buscou analisar bibliografias que tivessem aplicação neste trabalho; por isso, analisou-

se o problema conceitual, pois a definição de área contaminada é bastante variada.

Pesquisou-se sobre sítios contaminados, os problemas gerados pelos mesmos, os danos

à saúde e ao meio ambiente e possíveis rotas de exposição à contaminação.

No capítulo 3 é feita a caracterização da área de estudo, de maneira a permitir a

compreensão do contexto onde se inserem as quatro indústrias estudadas. São

apresentadas as principais características ambientais do município, de maneira a situar

as áreas de estudo dentro de um contexto ambiental.

O capítulo 4 refere-se à metodologia utilizada para o desenvolvimento deste

projeto de pesquisa. Neste capítulo detalham-se os critérios que foram utilizados para a

seleção dos sítios industriais objetos deste trabalho. Também se explica como serão

realizadas as análises técnicas e, como serão efetuadas as entrevistas para a analisar a

percepção dos moradores em relação às indústrias objeto deste estudo.

O capítulo 5 é dedicado à análise dos resultados obtidos. De acordo com o

questionário da CETESB, é feita a caracterização dos sítios industriais e dos possíveis

riscos oferecidos pelos mesmos; também é feita a análise dos questionários aplicados

aos moradores próximos das áreas estudadas, para se levantar se esses sítios são motivo

de quaisquer preocupações e, por fim, a avaliação dos questionários feitos com os

corretores de imóveis, com o intuito de saber se há algum tipo de conhecimento dos

riscos oferecidos por indústrias desativadas e, além disso, averiguar se há quaisquer

tipos de impedimentos à negociação dessas áreas.

24

Por fim, são feitas as considerações finais desta pesquisa, com os resultados

positivos e negativos encontrados. Nas considerações finais são utilizadas informações

obtidas nas análises dos resultados e são discutidas possíveis medidas em relação a

áreas suspeitas de contaminação.

Nos anexos encontram-se tabelas de atividades contaminadoras, os questionários

aplicados aos corretores de imóveis e aos moradores e a Ficha Cadastral de Áreas

Contaminadas da CETESB.

25

Capítulo 1 – A Industrialização de Petrópolis

O projeto da cidade de Petrópolis foi solicitado pelo Governo Imperial ao major

e engenheiro alemão Júlio Frederico Köeler, conhecedor das características ambientais

da região e que, à época, trabalhava para o Império. O plano de Köeler visava à

preservação da cobertura vegetal, uso do solo para formação de uma colônia agrícola,

adotando também medidas para o aproveitamento, adaptação e preservação das áreas

urbanas. A cidade foi fundada em 16 de março de 1843.

O município localiza-se na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro (figura

1). Tem uma área total de 797,1 km2 (IBGE19, 2002), apresenta relevo montanhoso,

altas declividades (acima de 45º) e altitudes médias de 845 m. De acordo com o censo

de 2000, Petrópolis tinha população de 286.537 habitantes, com uma proporção de 93,1

homens para cada 100 mulheres. A densidade demográfica era de 396 hab/km2. Sua

população estimada em 2003 foi de 296.108 pessoas (CIDE8, 2003). Seu território

divide-se em cinco distritos: 1º Petrópolis (sede), 2º Cascatinha, 3º Itaipava, 4º Pedro do

Rio e 5º Posse (figura 2).

Espírito Santo

Oceano Atlântico

Minas Gerais

São Paulo

Município de Petrópolis

Localização do Município de Petrópolis no Estado do Rio de Janeiro

Petrópolis

Legenda

0.00 50.00 100.00 150.00 200.00

Scale in Kilometers

Figura 1: Localização do município de Petrópolis.

26

Figura 2: Mapa temático de Petrópolis e seus distritos.

(Fonte: Decisão Petrópolis II32, 1999).

O intuito era que se desenvolvesse Petrópolis como uma colônia agrícola; no

entanto, não se obteve êxito, pois os solos não apresentavam boa qualidade para a

produção agrícola. Outro fator importante para que Petrópolis se tornasse uma colônia

industrial e não agrícola foi o fato de que os colonos alemães que chegaram à cidade

tinham prática de trabalho em artesanato e indústrias.

Rapidamente a indústria ultrapassou a agricultura e o crescimento industrial

tornou-se responsável pela migração de mão-de-obra de diversas regiões do país e de

europeus, já na segunda metade do século XIX. Inicialmente, o processo industrial

limitava-se a atividades caseiras alimentares e de serrarias, porém essas atividades

intensificaram-se rapidamente e outras começaram a surgir, como: ferragem, relojoarias,

ourivesarias, móveis e marcenarias, olarias e funilarias.

Em meados da década de 1870 começou a instalação das fábricas têxteis. Além

da indústria têxtil, outras indústrias também vieram a se instalar em Petrópolis, como

fábricas de papel e papelão, metalurgias, mecânicas, químicas, mobiliários, bebidas,

fumo, produtos alimentares, farmacêuticos e medicinais, entre outras.

27

As indústrias têxteis foram as principais responsáveis pelo rápido

desenvolvimento industrial de Petrópolis. Alguns fatores podem explicar a facilidade e a

preferência para o estabelecimento dessas fábricas na cidade serrana. O clima, com

verões amenos (menos quentes e mais úmidos) e invernos frios, atraindo integrantes do

governo e os estrangeiros, que queriam viver num clima semelhante ao europeu

(Magalhães22, 1966).

A topografia da cidade, possuindo diversos pontões graníticos, que separam as

pequenas bacias locais, veio oferecer, também, condições naturais para a instalação de

indústrias, pois não só cada rio constitui dentro da paisagem uma bacia independente,

útil à ocupação por uma grande empresa de tecidos, como permite pelo estreitamento

dos vales, o represamento fácil das águas para construção de reservatórios para

abastecimento de água potável e para a geração de energia (Magalhães22, 1966).

A proximidade do município do Rio de Janeiro – à época capital do país -, a

construção da primeira ferrovia brasileira, ligando Petrópolis à Raiz da Serra, em Magé,

a construção da primeira estrada de rodagem calçada do país – A União e Indústria - e a

inauguração, em 1929, da Rodovia Washington Luís, primeira auto-estrada do Brasil,

ligando o Rio à cidade serrana, são fatores que também explicam o grande

desenvolvimento industrial no município.

O desenvolvimento industrial do município esteve em expansão até meados da

década de 60. No entanto, na década de 70 Petrópolis começou a enfrentar um processo

de fechamento e sucateamento de suas fábricas. Porém, foi nos anos 90 que esse

processo tornou-se mais acelerado e, conseqüentemente, acentuou problemas

socioeconômicos e ambientais, como: desemprego, queda da renda familiar dos

trabalhadores dessas indústrias, diminuição na arrecadação de impostos, possível

contaminação ambiental devido ao abandono de maquinários, depósitos de rejeitos,

entre outras conseqüências. Entre os motivos que levaram (e ainda levam) ao

fechamento das indústrias em Petrópolis, destacam-se:

28

• Ruas estreitas, que não permitem o trânsito de caminhões de grande

porte, encarecendo a obtenção de matérias-primas e o escoamento da

produção;

• O Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) de Petrópolis é bastante

elevado, se comparado às regiões vizinhas e a outros municípios do

estado e da federação;

• Os valores de aluguéis de imóveis e terrenos são elevados,

impossibilitando, em muitos casos, a expansão de atividades industriais e

comerciais.

• Dificuldades para o cumprimento das leis ambientais [os custos para a

implementação de tecnologias mais limpas (menos poluentes) são

elevados para a maioria das indústrias já instaladas – esta variável

tornou-se mais importante nos anos 90, pois as leis ambientais tornaram-

se mais rígidas e passaram a ser “exigidas” com maior rigor;

• Inviabilidade de expansão das plantas industriais, devido,

principalmente, ao relevo da cidade (área montanhosa, encostas com

altas declividades e pequenos vales fluviais);

Com o fechamento das fábricas, além das perdas econômicas e sociais,

apresentam-se outros problemas, entre eles o da possível contaminação dos solos e das

águas subterrâneas (pode ter ocorrido também contaminação do ar, à época de

funcionamento) dos locais anteriormente ocupados por essas indústrias, o que pode

ocasionar risco à população que habita ao redor, aos trabalhadores e ao meio-ambiente.

A desindustrialização seria o fechamento ou a transferência de algumas plantas

industriais para outras regiões do país. No entanto, é importante salientar que, na

maioria dos casos, somente a unidade produtiva é transferida, ficando o controle

gerencial na área de origem, como no caso de São Paulo. As fábricas são transferidas

para locais que ofereçam melhor infra-estrutura, incentivos fiscais, mão-de-obra e

terrenos mais baratos; porém, a sede da empresa mantém-se em na cidade de São Paulo.

29

Desde a década de 70 o município de Petrópolis está se desindustrializando

rapidamente, destacando-se o fechamento das grandes indústrias, principalmente as

têxteis. No entanto, outras grandes fábricas, além de médias e pequenas, também estão

tendo suas atividades paralisadas. As principais indústrias do município começaram a

ser instaladas a partir da década de 1880 e, localizaram-se, preferencialmente, nas áreas

mais planas e melhor localizadas. Atualmente, há dezenas de fábricas desativadas e que

estão em áreas altamente valorizadas, tanto pela ótima infra-estrutura básica, quanto

pelas vias de transporte e pelo fato de estarem próximas a rios ou nascentes e em

terrenos relativamente planos, quando em comparação com outras áreas do município.

À época de suas fundações, somente residiam ao redor dessas fábricas, em sua

maioria, empregados das mesmas. A paisagem comum era a grande fábrica com

algumas vilas operárias ao seu redor. Havia pessoas que trabalhavam em mercearias,

padarias, plantações, pequenas fábricas de alimentos, móveis, etc.; porém, a maior parte

dos trabalhadores estava empregada nas indústrias e a densidade populacional era muito

baixa. Nos dias atuais, os arredores das fábricas estão densamente ocupados. Como as

mesmas, em sua maioria, foram desativadas, seus respectivos prédios/terrenos são

utilizados para outras atividades ou se encontram abandonados.

1.1 – Análise do Problema das Áreas Contaminadas

O solo foi considerado por muito tempo um receptor ilimitado de substâncias

nocivas descartáveis, como o lixo doméstico e os resíduos industriais, com base no

suposto poder tampão e potencial de autodepuração, que leva ao saneamento dos

impactos criados. Porém essa capacidade, como ficou comprovado posteriormente, foi

superestimada e, somente a partir da década de 70, direcionada maior atenção à sua

proteção (CETESB9, 2001).

De acordo com McCarthy24 (2002) muitas áreas contaminadas localizam-se nas

áreas centrais das cidades e nos subúrbios industriais com histórias de manufaturas

tradicionais. Essas áreas podem ser prédios industriais ou estradas abandonadas ou

plantas de manufaturas que estão operando, mas que mostram sinais de poluição. Áreas

contaminadas, no entanto, também podem ser pequenos lotes comerciais ou mesmo

residências apenas suspeitos de contaminação.

30

Petrópolis não apresenta nenhum tipo de levantamento dessas áreas e as

informações, quando existentes, restringem-se somente a um tipo de característica sobre

o local. Não existem estudos no município que relacionem essas grandes áreas com

possíveis danos ambientais e à saúde. Além disso, outro problema que se apresenta em

Petrópolis é que muitas dessas áreas são reutilizadas para outros fins (estacionamentos,

supermercados, escolas, serrarias, serralherias, fábricas de tintas e confecções) e não se

sabe quais produtos poderiam estar no local e, em caso positivo de presença de

contaminantes, que danos os mesmos poderiam acarretar.

Além disso, próximo a muitas áreas desativadas o crescimento populacional foi

intenso. Há locais onde existem plantações ao lado de terrenos que possivelmente

estariam contaminados, embora ainda não seja possível determinar o grau de

contaminação que os mesmos apresentam. Dentro de muitos prédios abandonados, a

exemplo da antiga Fábrica de Papel Petrópolis, são encontrados barris com produtos

químicos, alguns dos quais apresentam vazamentos. O maquinário de algumas antigas

fábricas, por exemplo, ainda se encontra no local. Muitas dessas máquinas apresentam

vazamentos de óleo, graxas e demais produtos químicos. Muitos desses lugares são

utilizados por crianças, as quais brincam nesses terrenos ou dentro desses prédios e,

entram em contato direto com o solo, as máquinas, as paredes, barris e outros meios que

podem vir a provocar-lhes danos. Muitos animais e seres humanos (mendigos) moram

ou dormem nesses locais, o que também lhes representa riscos.

No anexo C encontra-se uma tabela (Sánchez31, 2001) que apresenta uma lista de

atividades suscetíveis de causarem contaminação dos solos, da qual a fonte é Quebec,

no Canadá. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1984 apud

CETESB9, 2001) também tem uma lista (anexo C) de atividades industriais/comerciais

potencialmente contaminadoras do solo e águas subterrâneas. Petrópolis apresenta

muitas atividades com potencial de contaminação e baseado nesses dados, seria urgente

que algum tipo de estudo fosse iniciado no município. Pelos fatos apresentados

anteriormente é que se pretendeu desenvolver este estudo, que poderá vir a ajudar na

caracterização dessas áreas, identificando se estão ou não contaminadas.

31

Capítulo 2 - Revisão da Literatura

2.1 - O Problema Conceitual: Definições de áreas contaminadas,

potencialmente contaminadas e suspeitas de contaminação.

Os termos brownfield e derelict lands são utilizados em vários países para

descrever as “áreas potencialmente contaminadas” e “contaminadas”, porém não há

uma conceituação única para esses termos. Na realização deste trabalho será utilizada a

definição de área potencialmente contaminada (AP) da CETESB9 (2001), a qual diz o

seguinte: “Área onde estão sendo ou onde foram desenvolvidas atividades

potencialmente contaminadoras”.

Ainda de acordo com a CETESB9 (2001) há também a área suspeita de

contaminação (AS), que é a “área na qual, após a realização de uma avaliação

preliminar, foram observadas indicações que induzem a suspeitar da presença de

contaminação”.

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (U.S. EPA37, 2004)

conceitua área contaminada como: “áreas abandonadas, ociosas ou subutilizadas de

origem industrial ou comercial, onde a expansão ou o redesenvolvimento é dificultado

pela contaminação ambiental real ou percebida”. A EPA somente trabalha com áreas

comerciais e industriais, deixando de lado áreas que tiveram usos diferentes, como

agricultura e portos.

Alker3 et al (2000) definem área contaminada como “qualquer área ou

propriedade que foi utilizada ou ‘desenvolvida’ anteriormente e que não se encontra

atualmente em total uso. Ela pode estar parcialmente ocupada ou utilizada. Ela pode

também estar desocupada, abandonada ou contaminada. Essa área não se encontra apta

para seu uso imediato, sendo necessária uma intervenção”.

32

A Europa também sofre com o problema dos terrenos contaminados e, também

tem desenvolvido “estratégias” para a localização, avaliação, descontaminação e reúso

dessas áreas. Grimski e Ferber15 (2001) afirmam que “o redesenvolvimento das áreas

contaminadas é amplamente aceito como a principal ferramenta para alcançar um

desenvolvimento sustentável. Como a principal causa de surgimento de terrenos

contaminados é a mudança econômica estrutural e o declínio das indústrias tradicionais,

as áreas contaminadas geralmente estão ‘relacionadas’ a uma severa perda de empregos

e, como conseqüência direta, ao declínio das vizinhanças do sítio contaminado ou, até

mesmo, de cidades inteiras”.

Freier11 (1998) definiu área contaminada como: “áreas abandonadas,

principalmente no interior das cidades, que geralmente estão ‘inutilizadas’ para o

desenvolvimento econômico devido aos seus riscos ambientais e econômicos”. Esta

definição restringe um pouco a localização desses sítios à área urbana, fato este que,

dependendo da especificidade de cada local, pode fazer com que áreas contaminadas

localizadas em áreas rurais não sejam identificadas.

A CETESB9 (2001) define área contaminada como: “área, local ou terreno onde

há, comprovadamente, poluição ou contaminação, causada pela introdução de quaisquer

substâncias ou resíduos que nela tenham sido depositados, acumulados, armazenados,

enterrados ou infiltrados de forma planejada, acidental ou até mesmo natural. Nessa

área, os poluentes ou contaminantes podem concentrar-se em subsuperfície nos

diferentes compartimentos do ambiente, por exemplo, no solo, nos sedimentos, nas

rochas, nos materiais utilizados para aterrar os terrenos, nas águas subterrâneas ou, de

uma forma geral, nas zonas não saturada e saturada, além de poderem concentrar-se nas

paredes, nos pisos e nas estruturas de construções. Os poluentes ou contaminantes

podem ser transportados a partir desses meios, propagando-se por diferentes vias, como,

por exemplo, o ar, o próprio solo, as águas subterrâneas e superficiais, alterando suas

características naturais ou qualidades e determinado impactos negativos e/ou riscos

sobre os bens a proteger, localizados na própria área ou em seus arredores”.

33

2.2 - Áreas Contaminadas

De Sousa10 (2002) afirma que no “Canadá, assim como nos Estados Unidos, há

um crescente interesse em renovar áreas urbanas para aumentar a qualidade de vida na

cidade e que, neste contexto, os brownfields têm recebido atenção particular por parte

dos legisladores e dos pesquisadores urbanos, devido à ampla gama de benefícios que o

redesenvolvimento pode gerar para o meio urbano: expansão da base de impostos,

limpeza de áreas contaminadas, criação de empregos, promoção de uma imagem urbana

revitalizada e positiva”.

Segundo Ackerman1 (2001) uma maneira de entender o significado das áreas

contaminadas é classificá-las de acordo com o “tipo de lugar”. Para este autor, existem

sete grandes categorias principais de terrenos contaminados:

1. Locais de Antiga Utilidade;

2. Matriz de Fábricas Têxteis;

3. Antigas propriedades Institucionais, Comerciais ou Residenciais;

4. Antigos Sítios Petroquímicos;

5. Propriedades de Manufatura;

6. Aterros Fechados;

7. Antigas Propriedades Governamentais.

Ainda de acordo com Ackerman1 (2001), nos Estados Unidos a iniciativa de

recuperação dos Brownfields, formalmente conhecida como Programa para o

Redesenvolvimento Econômico das Áreas Contaminadas (Brownfields Economic

Redevelopment Program), provocou uma onda de atividades de recuperação de

propriedades contaminadas e, com isso, também se tornou uma indústria em si mesma.

Na legislação do Reino Unido (“Section 57 of the Environment Act, 1995”),

uma área contaminada é qualquer área ou terreno que se apresenta para a autoridade

local em tal condição, apresentando substâncias dentro ou abaixo da superfície do

terreno, onde um dano significativo está sendo causado ou existe a possibilidade de tal

dano ser causado; ou a poluição de águas controladas está provavelmente sendo

causada” (Pollard, Herbert, 1998 apud CETESB9, 2001).

34

Os complexos industriais, seja por meio das suas atividades, ou do terreno onde

se localizam, ou pelas emissões, entre outros, podem originar problemas. Segundo Parsa

e Farshchi28 (1996) “o impacto ambiental do patrimônio industrial varia desde a saúde

individual, à poluição interna (dentro do prédio), a problemas ambientais locais,

problemas nacionais e internacionais como a chuva ácida, até problemas globais que

incluem a diminuição da camada de ozônio”.

Normalmente as atividades humanas desenvolvem-se ao longo de uma bacia

hidrográfica, seja ela de pequena ordem (poucos m2), até àquelas de grande ordem

(centenas de km2). De acordo com essa premissa, Murray e Rogers25 (1999) relatam que

“estudos recentes quantificaram a variedade de fontes de poluição pontuais e não-

pontuais, que se originaram com as porções urbanizadas e rurais da bacia hidrográfica.

Essas fontes de poluição incluem: descargas diretas de sítios industriais operantes ou

abandonados; deposição de poluentes da atmosfera; água de escoamento superficial das

chuvas; sistemas sépticos falhos; escoamento superficial rural; fluxos de esgotos

combinados e depósitos de lixo e/ou entulhos abandonados”.

2.3 - O Problema das Áreas Contaminadas

As economias urbanas são entidades complexas que não existem isoladamente.

Nesses termos, as ações a nível urbano precisam sempre ser postas em um contexto

muito maior, ou seja, seus impactos e suas implicações globais. As áreas urbanas são os

maiores consumidores dos escassos recursos e os maiores geradores de uma grande

variedade de poluentes ‘transfronteiriços’ e globais (Button7, 2002).

De acordo com Howland18 (2003) “a contaminação é vista como uma barreira

significativa para o redesenvolvimento de áreas industriais urbanas. A despeito da

grande quantidade de estudos sobre os custos, riscos, passivos e barreiras ao

redesenvolvimento de um sítio contaminado, muitas décadas de projetos de limpeza e

redesenvolvimento bem sucedidos refletem a existência de condições sobre as quais

alguns ‘empresários’ acham proveitoso, em algumas localidades, absorver os riscos de

compra, limpeza e reúso de terrenos contaminados”.

35

Os problemas de áreas contaminadas podem ser vistos através de duas

perspectivas: sítios poluídos que prejudicam a saúde humana ou ecológica são

geralmente considerados como um problema ambiental. Por outro lado uma área

contaminada que não causa qualquer risco imediato pode ser considerada como um

problema de planejamento espacial (Vegter38, 2001). Ou seja, uma área contaminada

pode não oferecer riscos imediatos, no entanto, sua utilização futura pode trazer riscos

ambientais e às pessoas, dificultando sua reutilização, por exemplo, para uso residencial

e comercial.

Ao se pesquisar áreas potencialmente contaminadas, também se faz necessário

analisar onde se concentram esses sítios e como a população ‘percebe’ esses locais. Em

um estudo de promoção urbana, Hise e Nelson17 (1999) afirmam que “muitos sítios

contaminados estão em comunidades pobres, com altos níveis de desemprego e grande

número de negócios fechados”.

Já em relação à percepção do risco que a população tem quanto a essas áreas,

Syms34 (1996) diz que o problema do estigma desses sítios é encontrado em todos os

lugares onde haja áreas contaminadas e, segundo este autor, o estigma pode ser definido

como: “aquela parte de qualquer diminuição no valor atribuível à existência de solo

contaminado, quer tratado ou não, que excede os custos atribuídos: a) à remediação da

propriedade, b) à prevenção de uma futura contaminação, c) quaisquer penalidades ou

passivos civis, d) segurança e, por fim, e) monitoramento futuro”.

Segundo Beinat e Nijkamp (1998, apud P. Nijkamp26 et al, 2002), os governos

devem dar maior atenção à questão da poluição dos solos, pois:

• A poluição do solo é uma fonte de risco para humanos e ecossistemas,

que são (potencialmente) afetados pela exposição direta a uma superfície

contaminada ou por exposição indireta, como por exemplo, por meio da

contaminação das águas subterrâneas.

• A contaminação do solo é uma fonte de risco para trabalhos terrestres

(como gasodutos ou redes de utilidades) devido às propriedades químicas

do contaminante e ao risco de ignição e explosão, por exemplo, para

contaminação por combustível.

36

• Para sítios de propriedade pública, uma área poluída é um grande

empecilho de planejamento, pois o uso do local pode ser impossível ou

limitado a uma funcionalidade específica, como armazenagem de bens

industriais, por exemplo.

• Para sítios de propriedade privada, uma área poluída é uma pesada carga

econômica em termos de valor dos bens, de gastos com remediação

(custo para o dono da companhia) e de uso do solo.

• A presença de áreas poluídas pode esconder e retardar alguns usos

específicos, que implicam uso da terra e trabalhos terrestres (como a

provisão ou manutenção de infra-estruturas).

• Os gastos com a remediação normalmente não oferecem um aumento

na produtividade, mas oferecem uma maior possibilidade de remover

uma fonte de risco e um empecilho de planejamento.

• Atualmente, muitas firmas, novamente, estão procurando terras para

sítios industriais ou de escritórios dentro da cidade (ou de uma área

metropolitana), desde que suas idas para os subúrbios (ou mesmo mais

distante) as levou a ficarem alienadas das fontes de trabalho

(especialmente em um mercado de trabalho ‘compacto’).

Para Thomas35 (2002), “para avaliar as opções de uso do solo com respeito a

inventário, caracterização e potencial para o redesenvolvimento de terras contaminadas,

tanto pelo governo como por agentes privados, é necessário acesso a informações como

capacidade do sítio; incentivos ao desenvolvimento; metas públicas, interesses e

preferências; e questões ambientais como contaminação da área e qualidade ambiental”.

2.4 – Danos Ambientais e à Saúde Pública

Ao se tratar da questão dos possíveis danos ao meio ambiente e à saúde da

população provenientes de sítios industriais desativados, faz-se necessário saber quais

tipos de contaminantes podem existir na área, e por quais meios os mesmos podem

afetar o meio ambiente e as populações do entorno.

37

Em países em desenvolvimento, a maioria das referências à qualidade da saúde

ambiental, ainda são os fatores ambientais que podem contribuir para a propagação de

doenças infecciosas e, para evitá-las, são necessários abastecimento de água seguro,

saneamento básico, abrigo adequado, disponibilidade de comida, práticas de higiene e

controle de vetores de doenças. A questão das áreas contaminadas por resíduos

perigosos não parece ser uma prioridade nesses países, devido à falta de divulgação dos

casos existentes e ausência de informação até mesmo do que sejam sítios contaminados

por resíduos perigosos (Magalhães23, 2000).

Segundo Greenberg14 et al (2001), o benefício para a saúde pública da limpeza

de áreas contaminadas é a remoção de terra contaminada, que pode ser uma fonte de

exposição para a vizinhança, devido à poeira levada pelo vento e entrada ilegal de

pessoas no terreno. Nos piores casos, as áreas contaminadas tornam-se lugares onde

ocorrem atividades clandestinas e onde drogas ilegais são refinadas e vendidas. A

demolição de prédios dilapidados e a remediação da contaminação oferecem benefícios

variados para a saúde pública.

De acordo com Brilhante6 (1998), até pouco tempo quando se falava em saúde,

referia-se apenas à saúde do homem, porém hoje se reconhece que se o meio ambiente

adoece, o homem também é afetado, propiciando o desenvolvimento de procedimentos

que relacionem os efeitos na saúde do homem à dependência dos fatores

socioeconômicos.

A avaliação de saúde ambiental de sítios contaminados por resíduos perigosos é

resultante do processo de gestão de riscos para a saúde pública. Este processo utiliza

dados de avaliações de riscos à saúde humana e ambiental, além de considerar outros

fatores como regulamentos estaduais e federais, custos, técnicas de tratamento e

interação com a comunidade. A avaliação da saúde ambiental parte do princípio de que

homem e ecossistemas são interdependentes: toda e qualquer alteração no meio

ambiente vai afetar a saúde do homem, assim como as ações antrópicas vão ocasionar

impactos ambientais (Magalhães23, 2000).

38

O MOEE (1996a, apud Magalhães23, 2000) diz que a avaliação de risco à saúde

humana é a avaliação da probabilidade de conseqüências adversas na saúde do homem

pela presença de substâncias perigosas em um determinado sítio, levando em

consideração que muitos contaminantes podem estar presentes simultaneamente nos

vários meios, tais como alimento, ar, água, solo ou poeira e produtos de consumo, e que

eles podem alcançar os receptores através das rotas de exposição.

Ainda segundo o MOEE (1996a, apud Magalhães23, 2000), a avaliação de risco

ecológico tenta estimar e, quando possível, quantificar o risco atribuído ao meio

ambiente e a seus habitantes não-humanos através de uma determinada condição, no

caso a presença de substância química em concentrações mais elevadas do que em

níveis naturais, ou seja, os níveis normais presentes na natureza. Pode ser preditiva ou

retrospectiva. A primeira procura predizer os futuros danos de um contaminante

existente no meio ambiente e é utilizada para determinar previamente o risco potencial

de uma substância química pelas suas liberações para o ambiente. A retrospectiva

procura estimar o dano de um contaminante que já tem ocorrido no meio ambiente, e é

utilizada para ajudar a determinar procedimentos para a remediação.

A existência de áreas contaminadas gera não somente problemas evidentes, com

a ocorrência ou a possibilidade de explosões e incêndios, mas também ocasiona danos

ou riscos à saúde das pessoas e ecossistemas, ocasionados por processos que se

manifestam, em sua maioria, em longo prazo, provocando: o aumento da incidência de

doenças em pessoas expostas às substâncias químicas presentes em águas subterrâneas

coletadas em poços; contato dermal e ingestão de solos contaminados por crianças ou

trabalhadores, inalação de vapores e consumo de alimentos contaminados [hortas

irrigadas com águas contaminadas ou cultivadas em solo contaminado, além de animais

contaminados] (Sánchez, 1998, apud CETESB9, 2001).

39

Na avaliação de riscos a ecossistemas, os procedimentos comuns de avaliação de

riscos tornam-se mais complexos porque a toxicidade deve ser avaliada em um número

de organismos e deve também considerar a sua parte e função na estrutura do

ecossistema. Sabe-se que os organismos no meio ambiente são parte da cadeia

alimentar, cada um consome ou é consumido. Somente no caso de proteção de espécies

raras, de vida longa ou em perigo de extinção, tais organismos no meio ambiente

dispõem de proteção similar a que é desfrutada pelos seres humanos, ou seja, proteção

individual. Desse modo, o objetivo da avaliação de risco ecológico é proteger as

funções das populações, comunidades e ecossistemas (Solomon, 1996, apud

Magalhães23, 2000).

2.5 – Rotas de Exposição

Segundo a ATSDR2 (2005), uma rota de exposição é um processo ou caminho

que permite o contato de indivíduos com os contaminantes originados de uma fonte de

contaminação, incluindo todos os elementos de ligação (solo, água, ar, etc.). Podem

ocorrer no passado, presente ou futuro. As diversas rotas de exposição, mesmo tendo em

comum um mesmo contaminante, podem significar diferentes problemas de saúde. A

rota de exposição se compõe de cinco elementos: fonte de contaminação; via de

exposição; meio ambiente e meios de transporte; ponto de exposição; e população

receptora.

2.5.1 – Fonte de Contaminação

Uma fonte de contaminação é, simplesmente, o ponto de onde a contaminação

originou-se. A fonte representa uma localização através da qual, por meio de algum

transporte, chegam ao meio ambiente. Áreas industriais desativadas, que são objetos

deste trabalho, podem ter uma ou várias fontes de contaminação.

40

Ainda de acordo com a ATSDR2 (2005), a história do sítio de estudo pode

oferecer antecedentes sobre a descarga dos contaminantes. Baseando-se no período de

operação e nas condições atuais, pode-se então definir o período que deve ser

considerado quando se avalia uma rota de exposição. Devem ser observados

cuidadosamente quanto aos contaminantes: localização ou ponto de emissão; histórico

do armazenamento, disposição ou descarga; contaminantes e concentrações na fonte;

taxas de emissões; freqüência de descargas; período de operação; e estado atual.

Exemplos de fontes de contaminação: aterro de resíduos; área de detonação; áreas

abertas de queima de resíduos; depósito confinado de resíduos; pilha de tambores;

tanque de armazenamento; vala de disposição; lagoa com resíduos; etc.

Fetter (1993, apud CETESB9, 2001) apresenta uma complementação do relatório

do Congresso americano, “Protecting the Nation’s Ground Water from Contamination,

the Office of Technology Assessment (OTA)”, de 1984, mostrando as fontes de

contaminação das águas subterrâneas que podem ser consideradas também como fontes

de contaminação do solo, classificadas em seis categorias:

• A primeira categoria é constituída por fontes projetadas para descarga de

substâncias no subsolo, incluindo tanques sépticos e fossas negras

(normalmente descarregam efluentes de origem domestica, vários tipos

de compostos orgânicos e inorgânicos); poços de injeção de substâncias

perigosas, águas salgadas da exploração de petróleo, etc. (a

contaminação das águas subterrâneas pode ocorrer devido à má

construção do poço ou falhas de projeto); aplicação de efluentes

municipais ou industriais no solo, lodos de tratamento de água utilizados

como fertilizantes, resíduos oleosos de refinarias (landfarming);

• Na segunda categoria estão incluídas as fontes projetadas para

armazenar, tratar e/ou dispor substâncias no solo, na qual estão incluídas

as áreas de disposição de resíduos (aterros sanitários e industriais, lixões,

botas-fora, etc.); lagoas de armazenamento e tratamento de vários tipos

de efluentes industriais; depósitos ou pilhas de resíduos de mineração;

tanques de armazenamento de substâncias, aéreos ou subterrâneos;

41

• Na terceira categoria estão enquadradas as fontes projetadas para reter

substâncias durante o seu transporte, como oleodutos, tubulações para o

transporte de esgoto e efluentes industriais; transporte de substâncias

químicas, como combustíveis por meio de caminhões e trens;

• Na quarta categoria estão as fontes utilizadas para descarregar

substâncias como conseqüência de atividades planejadas, na qual estão

incluídas a irrigação ou fertirrigação de lavouras, aplicação de pesticidas

e fertilizantes na lavoura; percolação de poluentes atmosféricos;

• A quinta categoria é constituída por fontes que funcionam como um

caminho preferencial para que os contaminantes entrem em um aqüífero,

como, por exemplo, poços de produção de petróleo e poços de

monitoramento com falhas de construção e projeto;

• Na sexta categoria estão posicionadas as fontes naturais ou fenômenos

naturais associados às atividades humanas, das quais pode-se citar a

interação entre águas subterrâneas e superficiais contaminadas, a

ocorrência natural de substâncias inorgânicas nas águas subterrâneas e a

intrusão salina. A esta sexta categoria pode ser adicionada a

contaminação do solo e das águas subterrâneas ocasionada pelos gases de

processos produtivos, ou outras fontes de poluição atmosférica (por

exemplo, veículos automotivos), quando estes, contendo substâncias

perigosas de alta toxicidade, podem ser lançados à atmosfera e se

infiltrarem no solo, carreados pelas águas de chuva.

42

2.5.2 – Meio Ambiental e Mecanismos de Transporte

Os meios ambientais incluem: materiais de resíduos, lixiviados, gás, lodos, solo

superficial, subsolo, sedimentos, água superficial, água subterrânea (com subcategorias

de poços/sistemas municipais, poços privados e de monitoramento), ar e biota. O

transporte envolve movimentos de gases, líquidos e partículas sólidas dentro de um

meio determinado e através de interfaces entre ar, água, sedimento, solo, plantas e

animais (ATSDR2, 2005).

2.5.3 – Ponto de Exposição

Segundo a ATSDR2 (2005) o ponto de exposição é o ponto da rota no qual as

pessoas entram em contato com um meio contaminado. Pode ser identificado por meio

de usos passados, presentes e futuros do solo e dos recursos naturais. Possíveis pontos

de exposição:

• Água subterrânea: poços para usos municipal, doméstico, industrial e

agrícola, além de atividades recreacionais.

• Água superficial: fontes de água para irrigação, uso público, indústrias e

gados.

• Solo: é um ponto de exposição tanto para os que trabalham como os que

residem no local, considerando-se solo e subsolo, ambiente externo e

ambiente interno (transporte, via suspensão, deposição e pisadas).

• Ar: os pontos de exposição estão relacionados a contaminantes voláteis

ou adsorvidos a partículas suspensas, o contato podendo ocorrer em

ambiente externo ou interno. Para determinar a direção dos

contaminantes transportados pelo ar, é apropriado a utilização de uma

rosa dos ventos. Pode haver uma migração de contaminantes para as

estruturas de uma edificação devido à liberação de gases oriundos do

solo, principalmente em porões.

43

• Cadeia alimentar: o ponto de exposição ocorre quando as pessoas

consomem plantas, animais e outros produtos alimentícios que tiveram

contato com solos, sedimentos, resíduos industriais, água subterrânea,

água superficial, ar ou biota contaminados.

• Outros meios: pontos de exposição como sedimentos contaminados para

organismos aquáticos ou transportados a outras zonas e sendo utilizados

como solo superficial; materiais de construção de sítios industriais ou

comerciais contaminados podem ser removidos e usados fora do sítio;

lodos resultantes de processos de tratamento de resíduos industriais ou

municipais e materiais dragados.

2.5.4 – Vias de Exposição

De acordo com a ATSDR2 (2005), as vias de exposição são os meios pelos quais

os contaminantes entram no organismo humano, tais como (tabela 1):

• Ingestão de contaminantes através da ingestão de água subterrânea,

água superficial, solo e alimentos;

• Inalação de contaminantes do ar (gases, partículas de solo e poeira) e

das águas subterrânea e superficial (vapores e aerossóis);

• Contato dérmico com contaminantes presentes na água, solo, ar,

alimentos e outros meios;

• Absorção dérmica de contaminantes presentes na água, solo, ar,

alimentos e outros meios.

44

Tabela 1: Vias de exposição específicas de cada meio.

Fonte: ATSDR2, 2005.

Loomis21 (1991) diz que as substâncias químicas podem ser introduzidas no

complexo organismo biológico por várias vias. As propriedades químicas e físicas de

cada composto determinam substancialmente a via pela qual tem lugar a exposição

intencional ou acidental. Loomis20 (1991) denomina as vias de exposição de vias de

administração, as quais são:

• Via Percutânea: é a exposição mais simples e mais comum do homem e

dos animais a substâncias químicas estranhas de todo o tipo e consiste no

contato acidental ou intencional de uma substância química com a pele.

• Via Inalatória: a exposição a substâncias químicas na atmosfera tem

lugar pela inevitável inalação desses agentes, a menos que se empreguem

recursos para eliminar os contaminantes atmosféricos, antes que se

introduzam no trato respiratório.

45

• Via Oral: a via oral provavelmente é o terceiro caminho mais comum

através do qual as substâncias químicas entram no organismo.

• Vias Parenterais: é a introdução de substâncias químicas no organismo

injetando-as com uma seringa, por meio de uma agulha côncava em

lugares específicos dos animais. É um procedimento comum na

administração de medicamentos.

2.5.5 – População Receptora

A população receptora é o elemento final da rota de exposição, no qual devem

ser considerados: trabalhadores, residentes, população de passagem ou população

flutuante, caçadores e pescadores. As populações expostas devem ser identificadas com

o máximo de precisão, inclusive as vias de exposição para cada população

(Magalhães23, 2000).

46

Capítulo 3 – Área de Estudo

3.1 – Características Ambientais do Município de Petrópolis

Neste capítulo foi feita uma caracterização ambiental do município de

Petrópolis, apresentando as situações geográficas onde as indústrias encontram-se

inseridas. As fábricas analisadas neste estudo localizam-se próximas a rios e em

encostas. Também estão próximas de áreas florestais. Seus solos são semelhantes, com

poucas diferenciações.

3.1.1 - Estrutura Geológica e Geomorfológica

A Serra do mar foi gerada por dobras deitadas, que datam do final do Pré-

Cambriano, com predomínio da direção nordeste-sudoeste. Depois desses fortes

enrugamentos da crosta, que se prolongaram até o Algonquiano, ocorreram intrusões

graníticas que abaularam a Serra dos Órgãos. A erosão removeu parcialmente a

cobertura de gnaisses e fez aflorar o granito, sobretudo nas partes elevadas. Porém a

quase totalidade dos terrenos do município de Petrópolis é constituída de diferentes

tipos de gnaisses, sendo predominante em área os gnaisses graníticos, embora em toda a

sua área setentrional prevaleçam os gnaisses mais recentes muito bem estratificados.

Encontram-se, também, diques de diabásio e de basaltito que datam do Mesozóico

(Hack16, 2002).

O reverso do conjunto topográfico da Serra dos Órgãos é definido por seu

aspecto morfoestrutural, caracterizado por lineações de vales estruturais e cristas

serranas, maciços graníticos, morros com desníveis altimétricos acentuados e alvéolos

intermontanos. Essas feições refletem áreas de dobramentos remobilizados sob forma de

blocos justapostos, com sistemas reticulados de falhas. A Serra do Mar forma portentosa

muralha montanhosa que despenca quase abrupta sobre o mar. Quando envolve a Baía

da Guanabara, as topografias se tornam muito críticas e as altitudes crescem

notavelmente. É a Serra dos Órgãos, conjunto orográfico mundialmente conhecido pela

forma de suas agulhas a imitar tubos de um antigo órgão (instrumento musical). Nesse

trecho, no qual está inserido o município de Petrópolis, atingem-se altitudes da ordem

dos 2.000 m e abundam os afloramentos rochosos (APA de Petrópolis4, 2003).

47

Embora Petrópolis apresente um relevo predominantemente montanhoso, as suas

principais fábricas localizaram-se, preferencialmente, nas áreas mais planas ou com as

encostas menos íngremes. A vantagem do relevo acidentado era a formação de rios com

corredeiras, que podiam ser utilizados para a produção de energia elétrica, por meio de

pequenas usinas hidrelétricas. A Companhia Petropolitana de Tecidos e a Fábrica de

Papel Petrópolis tinham pequenas geradoras de energia elétrica.

3.1.2 – Clima e Rede de Drenagem

O clima petropolitano é do tipo mesotérmico brando superúmido, que de acordo

com Nimer27 (1989), “compreende as superfícies mais elevadas do sul de Minas Gerais,

da serra do Espinhaço, das Serras do Mar e Mantiqueira. Trata-se de um clima cujo

predomínio de temperaturas amenas durante todo ano (média anual varia entre 18 ºC e

19 ºC) é devido principalmente à orografia. Com efeito, do centro de Minas Gerais ao

extremo da Região Sudeste, este clima aparece acima das seguintes cotas altimétricas:

900 a 1.000 m no Espinhaço; 900 m no sul de Minas Gerais; 700 a 800 m no Caparaó,

700 m na escarpa da Mantiqueira e na Serra do Mar e 500 m em torno da Baía de

Paranaguá. A característica de superúmido deve-se ao fato de não ocorrer um período de

seca”.

Ainda de acordo com Nimer27 (1989), em quase todas essas áreas o verão é

brando e seu mês mais quente acusa média inferior a 22 ºC, predominando entre 18 ºC e

20 ºC. Entretanto, o inverno é bastante sensível e possui pelo menos um mês com

temperatura média inferior a 15 ºC, porém nunca abaixo de 10 ºC. em junho-julho, seus

meses mais frios, são comuns mínimas diárias acerca de 0 ºC, motivo pelo qual a média

das mínimas nestas áreas varia, nestes meses, em torno de 6 ºC a 8 ºC.

O clima influenciou também na preferência pela instalação de indústrias,

principalmente têxteis. Primeiro, devido à sua altitude e à distância do mar, as máquinas

não sofriam os problemas relacionados à ação do sal, que corroia as engrenagens das

máquinas. As baixas temperaturas facilitavam a fiação dos fios e não deixavam que os

mesmos tivessem nós ou ficassem embolados. A grande quantidade de chuva permitia

rios caudalosos, facilitando a geração de energia elétrica.

48

A drenagem na Serra dos Órgãos se desenvolve obedecendo ao controle

estrutural, apresentando-se com três disposições: 1 – rios oriundos da escarpa principal

voltada para o Atlântico; 2 – rios do reverso da serra, seguindo as lineações de falhas e

fraturas; e 3 – rios que drenam para a baixada campista (RADAMBRASIL29, 1983).

O município de Petrópolis encontra-se inserido nos dois primeiros casos,

apresentando rios que são drenados diretamente para o Oceano Atlântico, descendo a

escarpa da Serra dos Órgãos, como os rios Major Archer e Bonini. E outros que afluem

para o rio Paraíba do Sul, constituindo as principais bacias hidrográficas do município.

Entre eles destaca-se o Piabanha, tributário do Paraíba do Sul e que tem sua bacia

orientada no sentido sul-norte. O rio Piabanha com seus afluentes principais: rios

Quitandinha, Palatinato, Itamarati e Rio da Cidade, bem como seus subafluentes e

ainda, vários córregos, escavaram vales geralmente digitados, separados uns dos outros

pelas linhas de relevo (Hack16, 2002).

3.1.3 - Solos

Há a presença de grande variedade de tipos de solos, porém os tipos

predominantes são o Latossolo Vermelho-Amarelo, o Cambissolo e o Neossolo

Litólico. As características desses solos são, de acordo com Resende30 et al (1998):

• Latossolo Vermelho-Amarelo: classe bastante ampla no que se refere à coloração

e a teores de Fe2O3. Estes solos são muito expressivos no domínio pedoclimático

do Mar de Morros Florestados; ocorrem extensamente também no Planalto

Central.

• Cambissolos: caracterizam-se essencialmente pelo horizonte B incipiente – Bi,

cujas características gerais são: presença de muito mineral primário facilmente

intemperizável; ou argila mais ativa; ou teores elevados de silte em relação à

argila e ausência de cerosidade; ou espessura menor que 50 cm; ou resquícios da

rocha mãe ou saprolito.

49

• Neossolos Litólicos: solo raso sobre rocha. Geralmente, em condições de

topografia acidentada, há a formação de um solo raso (menos de 50 cm), perfil

tipo A-R, isto é, um horizonte A sobre a rocha, ou tipo A-C-R, sendo o C pouco

espesso. Onde há muitos afloramentos de rocha, muitas vezes estes solos estão

presentes.

Esses são os solos predominantes em Petrópolis e as indústrias estão localizadas

sobre esses tipos de solos, principalmente sobre os latossolos. É importante esse

conhecimento para que, em futuros estudos sobre a contaminação dos solos, possa-se

saber o caminho preferencial de um tipo de contaminante em determinada classe de

solo. Nos estudos de contaminação dos solos, as características dos solos da área

estudada são de elevada importância, pois, através desse conhecimento, determina-se o

comportamento que as substâncias contaminadoras terão no interior do solo e, por quais

vias essa contaminação chegará aos seres humanos, plantas e animais e a velocidade em

que ocorrerá tal contaminação.

Os latossolos são solos antigos e bastante profundos e, geralmente, não são

muito ricos em argila; por isso, se esses solos sofrerem quaisquer tipos de

contaminação, é provável que os contaminantes alcancem as águas subterrâneas

rapidamente, pois com o baixo teor de argila, a lixiviação dos contaminantes torna-se

mais rápida. Já os cambissolos e os neossolos litólicos são solos jovens, onde a rocha-

mãe (rocha primária ou rocha matriz) encontra-se a poucos centímetros de

profundidade. Nesses tipos de solos, a probabilidade de um contaminante chegar às

águas subterrâneas é menor, pois a poucos centímetros de profundidade já se encontra a

rocha matriz. No entanto, nesse tipo de solo, pode ocorrer mais facilmente o

carreamento dos contaminantes para as águas superficiais, devido à pouca profundidade

do horizontes do solo.

50

3.1.4 - Cobertura Vegetal

As Florestas Montana e Submontana revestem as formações superficiais de

textura argilosa correspondentes aos Cambissolos, concentrados nas escarpas e na maior

parte dos seus reversos. Em algumas colinas e morros, recobertos por formações

superficiais mais espessas e evoluídas que as anteriores, classificadas como Latossolos,

a floresta primitiva foi devastada, ocorrendo vegetação secundária e pastagens, que

favorecem a atuação dos processos morfogenéticos onde os movimentos de massa são

constantes (RADAMBRASIL29, 1983).

Os ambientes da Formação Montana da Floresta Ombrófila Densa ocupam

faixas de altitude de 500 a 1.500 m, sobre litologia pré-cambriana de modo geral;

caracteriza-se por apresentar um estrato dominante com altura até 25 m. A Vegetação

Secundária, assim denominada toda a vegetação desde o primeiro estágio de ocupação

até o conhecido capoeirão, assim como toda vegetação natural primitiva que já sofreu

exploração seletiva, sendo, por esta razão, descaracterizada e dominada, atualmente, por

indivíduos secundários.

As florestas da Mata Atlântica, em alguns casos, como o da Companhia

Petropolitana, durante crises internacionais de abastecimento de petróleo e, devido à

diminuição da lâmina d’água dos rios (onde haviam represas para a produção de

energia), foram desmatadas para fornecer energia às indústrias, pois as árvores foram

transformadas em carvão e, posteriormente, utilizadas na produção energética da

indústria. Essas áreas, posteriormente, foram replantadas com espécies nativas de outras

regiões e mesmo continentes, com predominância dos pinheiros.

51

3.2 – Características Econômicas do Município de Petrópolis

Petrópolis, desde a década de 1970, passa por uma grave crise econômica, na

qual dezenas de estabelecimentos comerciais e industrias foram e ainda são fechados e

desativados. Atualmente o papel da indústria para a economia do município diminuiu

muito e o setor de serviços cresceu e cresce a cada dia. No entanto, o número de

empregos gerados é muito menor do que aqueles perdidos pelo fechamento das

indústrias, principalmente. Este subcapítulo mostra algumas das características dos

setores de atividades no município.

3.2.1 – Setor Primário

Petrópolis é produtor de hortaliças, tendo potencial para desenvolver seu

processamento industrial, como o empacotamento a vácuo, desidratação e fabricação de

conservas. Necessita, entretanto, de melhor organização dos produtores, que são

excessivamente fragmentados. A principal atividade do setor primário, pouco

expressiva na economia municipal, é a olericultura (chuchu, alface e cenoura, entre

outros), que representa 80% da produção agrícola do município (TCERJ36, 2004).

3.2.2 – Setor Secundário

Em Petrópolis existe relevante tradição na preparação semi-artesanal de

conservas, doces e alimentos finos, com ampla gama de produtos, tais como chocolates,

doces, frutas cristalizadas, condimentos, cogumelos, mel, escargots, patês, compotas,

geléias e remédios naturais. Esta indústria apresenta um bom potencial de

desenvolvimento em função, além dos centros gastronômicos da região, da proximidade

com o mercado consumidor da capital (TCERJ36, 2004).

52

Ainda segundo o TCERJ36 (2004), em Petrópolis, as atividades de fabricação de

cerveja e de engarrafamento de água mineral já são tradicionais e podem ser expandidas

com sucesso. A indústria de mobiliário tem tradição e potencial de desenvolvimento. A

indústria mecânica, inclusive a mecânica de precisão, tem grande desenvolvimento,

representando um dos principais potenciais do município, além de apresentar potencial

para o desenvolvimento de indústrias produtoras de material elétrico leve. A indústria

do vestuário teve grande desenvolvimento, consolidando a marca da “Rua Teresa”. No

entanto, a concorrência dos importados e a insuficiente especialização têm ocasionado

um processo de declínio que poderá ser revertido através do aprimoramento gerencial e

maior especialização, e de melhorias na infra-estrutura de comercialização da indústria.

O setor secundário tem na indústria de transformação o seu maior peso. Cerca de

24% do total do valor da produção industrial vêm da indústria de máquinas e

equipamentos, 19% da indústria de equipamentos e materiais médicos, 18% da indústria

têxtil e do vestuário, 7% da indústria de bebidas, 7% da indústria de produtos

alimentares e 7% da metalúrgica, entre várias outras, configurando assim um parque

industrial bem diversificado (TCERJ36, 2004).

3.2.3 – Setor Terciário

Diversos municípios da Região Serrana apresentam recursos, especialmente

naturais, favoráveis à atração de empreendimentos turísticos. Petrópolis apresenta maior

potencial, por possuir atrativos históricos e de gastronomia. Em função da sua

característica de pólo de atração regional e da existência de um setor de serviços bem

estruturado, Petrópolis apresenta um bom potencial de desenvolvimento para serviços

auxiliares, educacionais e de saúde. No setor terciário, em função do turismo e das

indústrias locais, as atividades que mais sobressaem, por importância, são: prestação de

serviços, comércio varejista e atacadista, transporte e comunicações (TCERJ36, 2004).

53

Capítulo 4 – Metodologia da Pesquisa

Nesta pesquisa fez-se uma análise de quatro áreas industriais desativadas e que

se encontram em reúso ou em reforma para serem reutilizadas posteriormente,

procurando averiguar, através da aplicação de um formulário da CETESB, se essas

indústrias poderiam ser consideradas como suspeitas de contaminação.

Também foram realizadas entrevistas com moradores próximos aos sítios

industriais selecionados e com corretores de imóveis. O intuito dessas entrevistas foi

analisar a percepção dos moradores quanto aos sítios industriais, avaliando, dessa

maneira, se os mesmos têm conhecimento dos riscos potenciais oferecidos pelas

indústrias. Já quanto aos corretores de imóveis, pretendeu-se analisar se existe algum

tipo de impedimento (contaminação, infra-estrutura precária, etc.) para a venda, a

compra ou o aluguel de uma antiga indústria e avaliar, também, se são conhecidos os

riscos que essas áreas podem vir a oferecer ao meio ambiente e à saúde humana.

4.1- Critérios de Seleção

Neste estudo foram considerados os seguintes critérios de seleção:

1. Critério Temporal: trabalhou-se, neste estudo, com quatro grandes

indústrias do município (principalmente do 2º distrito) que foram desativadas

e/ou abandonadas a partir da década de 1970 até o ano de 2005. A escolha

desse período de tempo (35 anos) deveu-se ao fato de que, foi a partir de fins

dos anos 1960 e o início dos anos 1970 que o problema da desativação das

grandes indústrias agravou-se em Petrópolis, levando ao desemprego de

milhares de pessoas e, conseqüentemente, diminuição na renda e

empobrecimento de parte da população local.

54

2. Critério Espacial: Escolheu-se o município de Petrópolis, localizado na

Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro. Dentro do município, o estudo

concentrou-se no distrito de Cascatinha (2º distrito), mais especificamente

nos bairros de Cascatinha e do Itamarati. Estes bairros foram selecionados

porque apresentam grandes áreas industriais desativadas e, além disso, esses

sítios encontram-se próximos a rios, parques públicos, estabelecimentos

comerciais, áreas de captação de água e a muitas residências. Esses sítios

também se encontram em reúso ou em processos de reforma, para serem

reutilizados.

3. Critério de Seleção das Áreas Industriais: trabalhou-se com quatro áreas

industriais desativadas no distrito de Cascatinha. Esses sítios foram

escolhidos porque apresentam as seguintes características:

• Para os padrões municipais, essas quatro antigas indústrias eram

consideradas de grande porte; em Petrópolis, eram grandes indústrias aquelas

que tivessem mais de 200 funcionários, em 1962, ano em que a produção

industrial estava em alta.

• As atividades que foram desenvolvidas nesses sítios, à época de seu

funcionamento, segundo a classificação utilizada pelo IBGE (anexo C), são

consideradas potencialmente contaminadoras dos solos e das águas

subterrâneas;

• As adjacências desses sítios são densamente ocupadas por residências e, há

também, em alguns casos, hortas, estabelecimentos comerciais, áreas de

captação de água para consumo humano, outras indústrias e parques

públicos;

• As indústrias selecionadas para este estudo estão em reúso, no entanto, os

novos usos talvez não sejam os mais adequados, devido à possível

contaminação desses sítios.

55

Como foi dito anteriormente, a seleção dessas quatro indústrias seguiram

diversos critérios. A questão de ser uma indústria grande ou não foi resolvido através do

levantamento bibliográfico de estudos sobre as indústrias no município. Magalhães22

(1966) tem uma pesquisa onde classifica as indústrias petropolitanas, desde muito

pequenas até muito grandes, de acordo com o número de funcionários. Segundo esse

autor, a classificação seria a seguinte (tabela 2):

Tabela 2: Classificação das indústrias por número de funcionários.

Tamanho da Indústria Nº de Operários em 1962

Indústrias muito pequenas 1 a 10 Indústrias pequenas 11 a 50 Indústrias médias 51 a 200

Indústrias grandes 201 a 1000 Indústrias muito grandes Mais de 1000

Fonte: Magalhães22 (1966).

É necessário salientar que essa classificação é exclusiva para o município de

Petrópolis, estando de acordo com suas características sociais, ambientais, geográficas,

populacionais e econômicas. Uma indústria considerada grande em Petrópolis poderia,

por exemplo, ser de médio porte em uma cidade maior, como o Rio de Janeiro. O autor

classificou as indústrias mais importantes da cidade e, entre elas, algumas de grande

importância no cenário nacional. A tabela 3, a seguir, apresenta essas indústrias.

56

Tabela 3: Principais indústrias de Petrópolis em 1962 e, em negrito, as indústrias

selecionadas.

Indústria Nº de Operários em 1962

Cia. de Tecidos Aurora 565 Cia. Fábrica de Tecidos Dona Isabel 1166

Companhia Petropolitana 2268 Lanifício Interamericano 496

Cia. Fiação de Tecidos Cometa 839 Cia. Fábrica de Tecidos D. Pedro de Alcântara 602

Primeira Indústria Brasileira de Feltros 394 Petrópolis Confecções S.A. 203

Santa Júlia Têxtil S. A. 237

Cia. Agro-Pecuária Ind. de Campinas (Fábrica Santa Irene) 244 Indaiá Modas 184

Tecelagem Safira S. A. Sem Dados

S. A. Lanifício São José 193 S. A. Fábrica Santa Helena 290

Fagam S. A. 210

Cia. Fábrica de Papel Petrópolis 438 Standard Brands of Brazil Inco. (Fleischmann Royal) 260

Ferraria Petropolitana S. A. 282

ATA Combustão Técnica S. A. 205 I.F.F. Essências e Fragrâncias 45 Alfa S. A. Fábrica de Talheres 93

Fábrica de Chocolates Patrone S. A. 28 Santa Maria Goretti Industrial Ltda. 49

Fonte: Magalhães22 (1966).

Essas eram as principais indústrias de Petrópolis e as quatro que se encontram

em negrito foram as selecionadas para este estudo, de acordo com os critérios

anteriormente detalhados. Atualmente, somente a Fábrica de Chocolates Patrone S. A., a

S. A. Santa Helena e a Primeira Indústria Brasileira de Feltros encontram-se em

funcionamento. As demais indústrias estão fechadas ou têm algum tipo de reúso.

57

4.2 – Análise Técnica

A análise técnica foi baseada em uma revisão da literatura sobre o tema, através

de pesquisas em bases de dados constantes, principalmente, no portal de periódicos da

Capes e no ProQuest, página da internet onde também se pode pesquisar periódicos

científicos. Pretendeu-se aprofundar os conhecimentos sobre as áreas contaminadas,

potencialmente contaminadas, abandonadas e/ou subutilizadas e seus possíveis danos à

saúde ambiental e humana.

Para o desenvolvimento deste estudo também se fez uso da internet, para

pesquisa de artigos relacionados ao tema do estudo, assim como visita a páginas que

abordavam essa problemática. Foram analisados documentos sobre as indústrias, para a

obtenção de informações sobre tipo de atividade desenvolvida, métodos utilizados,

locais onde eram depositados os resíduos da produção, localização das várias áreas de

produção, produtos que eram utilizados, destinação dos efluentes líquidos.

Ao longo do desenvolvimento deste trabalho, também foram realizados

trabalhos de campo, visando a coleta de informações sobre os sítios industriais. Nessas

pesquisas de campo foram tiradas algumas fotografias das indústrias e de seus

arredores, potenciais áreas onde se poderia originar a contaminação ambiental e/ou

humana.

Há várias definições de áreas potencialmente contaminadas e contaminadas em

vários países do mundo, além de existirem diversas ferramentas para a identificação e

análise desses locais. Neste estudo utilizou-se parte da metodologia e a classificação

propostas pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São

Paulo, as quais se encontram no “Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas”

(CETESB9, 2001).

58

Foi feita uma avaliação preliminar dos quatro sítios industriais que poderiam

estar contaminados em Petrópolis, os quais foram selecionados porque estão geográfica

e economicamente bem localizados (próximos a rios, a infra-estrutura elétrica e de

transportes, entre outros) no território municipal. Além disso, foram indústrias que

desenvolveram atividades potencialmente contaminadoras e o entorno das mesmas se

encontra altamente urbanizado e habitado, oferecendo riscos à população. Essas

indústrias encontram-se em reúso (ou em reforma) e, por isso, podem oferecer riscos à

população e ao meio ambiente. Para a elaboração da avaliação utilizou-se a Ficha

Cadastral de Áreas Contaminadas da CETESB9 (2001).

Em relação ao uso da Ficha Cadastral, ela não foi completamente utilizada para

a análise dos sítios desta pesquisa; o capítulo 2, que trata da disposição dos resíduos,

não foi utilizado, devido à falta de informações acerca dos métodos de disposição. O

subitem 5.13, que avalia o contexto hidrogeológico da área também não foi analisado,

pois as feições descritas na Ficha referem-se ao Estado de São Paulo. Por fim, o capítulo

7 também não foi aplicado, pois se trata de confirmar a contaminação de um sítio e, para

isso, seriam necessários estudos mais aprofundados dos que os que são propostos nesta

pesquisa.

4.3 – Questionários aos moradores e corretores de imóveis

Para a análise da percepção foram feitas entrevistas com a população que mora

próximo às áreas pesquisadas (50 questionários) e com alguns corretores de imóveis (10

questionários), averiguando se os moradores têm alguma preocupação de morar

próximo a um antigo sítio industrial - se têm conhecimentos dos potenciais riscos e qual

a percepção dos moradores sobre as antigas fábricas. Aos corretores de imóveis foi

aplicado outro questionário, para analisar se os corretores têm algum conhecimento dos

riscos oferecidos por indústrias desativadas, assim como analisar questões relativas à

compra, venda e demais negociações, além de abordar, também, se há descontaminação

dessas áreas em Petrópolis. Será uma análise qualitativa.

59

É importante salientar que as perguntas feitas nos questionários não tinham

cunho pessoal, ou seja, não foram feitas perguntas pessoais (nome, endereço, cor, etc.)

aos entrevistados; as perguntas feitas relacionavam-se às áreas industriais. Inicialmente,

seriam aplicados, aos moradores, 20 questionários em cada área. No entanto, decidiu-se

pela redução a apenas 10 questionários por área, caso os mesmos apresentassem idéias e

respostas semelhantes. É importante esclarecer, que o autor desta pesquisa foi morador

do bairro de Cascatinha e adjacências por aproximadamente 20 anos. Com isso, durante

as entrevistas, as observações do autor foram participantes e também foi utilizado seu

conhecimento prévio das características sociais, econômicas e ambientais. No entanto,

teve-se o cuidado de distanciar-se dos problemas na hora da análise. Durante a aplicação

e a posterior análise dos questionários, o conhecimento prévio do autor não foi

utilizado, ou seja, não interferiu, embora o mesmo também fosse parte interessada no

problema.

Como a pesquisador morou em Cascatinha por mais de 20 anos, algumas

respostas dos moradores já eram esperadas. Porém, a redução do número de perguntas

de 20 para 10 não sofreu interferência do pesquisador. Essa decisão foi subjetiva e, ao

serem aplicados 10 questionários, os mesmos eram analisados. Caso as respostas fossem

muito parecidas entre si, as entrevistas seriam finalizadas. As respostas somente foram

discrepantes em uma das áreas pesquisadas e, por isso, foram aplicados mais 10

questionários à população, totalizando 20 entrevistas.

Antes da aplicação dos questionários, no entanto, houve um pré-teste do mesmo,

no bairro do Morin, o qual também apresenta grandes indústrias desativadas. Esse pré-

teste foi aplicado a aproximadamente procurando-se averiguar se as questões estavam

bem formuladas e, se não estariam influenciando os moradores nas respostas. Por fim, o

pré-teste foi satisfatório, pois não surgiram quaisquer problemas durante as entrevistas.

60

As perguntas estavam relacionadas, no caso da população residente próxima a

esses sítios, se o fato de suas residências localizarem-se próximo a uma antiga indústria

(até 500 metros de distância) provoca algum temor (medo de contaminação e problemas

de saúde) e, no caso dos corretores de imóveis, foi perguntado se o fato de aquele

imóvel ter sido utilizado para uma atividade industrial poderia provocar alguma

desvalorização no valor do imóvel, independente das economias de aglomeração que

possam existir na localidade estudada.

Todas as perguntas foram direcionadas para a percepção existente sobre a região

que circunda as fábricas. Também se utilizou um Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido na aplicação das entrevistas, mesmo que as mesmas não abordassem

perguntas pessoais. O tema de pesquisa deste estudo e sua metodologia foram todos

submetidos e aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fiocruz.

No Comitê de Ética, foram aprovados a pesquisa proposta e também o teor das

perguntas que seriam feitas aos moradores. O Comitê apenas solicitou que o telefone de

contato do autor desta pesquisa fosse disponibilizado aos moradores, para que os

mesmos pudessem, a qualquer momento, pedir maiores esclarecimentos sobre a

pesquisa ou, mesmo, pedir a retirada de sua entrevista dos resultados obtidos.

61

Capítulo 5 – Apresentação e Análise dos Resultados

5.1 - Caracterização dos Sítios Industriais e Alguns Contaminantes Típicos

Neste capítulo foi feita a caracterização dos quatro sítios industriais

selecionados, assim como de seus arredores. A Ficha Cadastral de Áreas Contaminadas

da CETESB foi utilizada para a caracterização da região de entorno das fábricas. Outros

documentos foram utilizados, dentro das possibilidades de obtenção dos mesmos, para

se aprofundar o histórico da área.

Os sítios que foram objeto deste estudo, até dezembro de 2005, não haviam

passado por nenhum tipo de estudo sobre contaminação do solo, águas subterrâneas,

superficiais, do próprio prédio e suas paredes. A utilização do formulário da CETESB

visou somente comprovar se as áreas seriam suspeitas de contaminação e se deveriam

passar por estudos aprofundados antes de serem reutilizadas para quaisquer outras

atividades.

Esses sítios atualmente estão em reúso, no entanto, não se sabe os potenciais

riscos que as mesmas oferecem ao meio ambiente e às pessoas. Outra característica

semelhante nas áreas de estudo é que todas se encontram dentro da Área de Proteção

Ambiental (APA) de Petrópolis. Essa APA abrange cerca de 80% do município.

As indústrias tinham atividades com potencial de contaminação ambiental e da

saúde humana. A Companhia Petropolitana de Tecidos era uma indústria têxtil; a ATA

Combustão Técnica era uma siderúrgica/metalúrgica; a Fleischmann Royal era uma

fábrica do ramo de alimentos e, por fim, a Fábrica de Papel Petrópolis era, como o

próprio nome já diz, uma indústria do ramo papeleiro. A tabela 4 apresenta os

contaminantes típicos por ramo de atividades.

62

Tabela 4: Contaminantes típicos por ramo de atividade.

Atividades Cn CrTOT Cu Fenol Zn Sulfeto Pb

Papel X X X X Têxtil X X

Alimentos X

Siderurgia/Metalurgia X X X X X X X

Fonte: Larini20, 1987 e Goldmann e Bennet13, 2001.

Os levantamentos para a identificação dos contaminantes típicos foram

importantes. No entanto, a obtenção dos contaminantes exatos, produzidos pelas

indústrias que foram objeto deste estudo, apresentou dificuldades, devido,

principalmente, à grande variedade de contaminantes produzidos e, também, a

discrepâncias existentes na literatura (há diferenças entre os contaminantes produzidos

por um tipo de indústria, em cada literatura pesquisada).

Os quatro sítios de estudo encontram-se geograficamente próximos, como se

pode observar na figura 3, que se encontra abaixo. Na figura, a linha de cor preta é a

divisão entre o primeiro e o segundo distrito de Petrópolis; as indústrias estão no

segundo distrito. Circulado pela cor laranja está a Fleischmann Royal e, circulada por

verde está a Fábrica de Papel Petrópolis. Ambas estão no bairro do Itamarati.

Circundada pela cor azul está a antiga ATA Combustão Técnica e, em vermelho temos

a antiga Companhia Petropolitana de Tecidos. Ambas se localizam na sede do distrito, o

bairro de Cascatinha.

63

Figura 3: Imagem aérea de toda a área de estudo.

Fonte: CIDE8, 2003.

Na fotografia pode-se observar que as quatro áreas encontram-se bastante

próximas umas das outras; além disso, a quantidade de residências próximas a essas

antigas indústrias é bastante elevado, fato este que pode trazer riscos a essa população,

devido ao potencial de contaminação desses sítios. Nos próximos subcapítulos, cada um

dos sítios será analisado separadamente.

64

5.1.1 – Companhia Petropolitana de Tecidos

Para analisar a industrialização em Cascatinha faz-se necessário aprofundar o

conhecimento sobre aquela que foi sua principal fábrica – A Companhia Petropolitana

de Tecidos. Antes de 1873 o distrito não passava de um pequeno povoado, com meia

dúzia de casas esparsas, cobertas de zinco e suspensas nas encostas. No entanto, em

1873 o cubano Bernardo Caymari fundou a Companhia Petropolitana, que à época era a

maior e a principal fábrica de tecidos da América Latina. No ano de 1884 a fábrica foi

reorganizada (figura 4), sendo que em 1886 a nova fábrica, junto com a antiga,

empregava 1.071 operários (FUNDREM12, 1986).

Figura 4: Cascatinha na década de 1880, vendo-se a Companhia Petropolitana.

65

No ano de 1904 a fábrica adquiriu a Fazenda do Alcobaça (Atual Reserva

Ecológica do Alcobaça) para garantir a pureza das águas potáveis e de uso industrial.

Nota-se que os diretores da fábrica preocupavam-se em manter as encostas com a

floresta nativa, garantindo assim o fornecimento e a qualidade das águas. Dessa forma, a

qualidade da água e também dos tecidos produzidos seriam sempre altas. No entanto, é

importante salientar que essa “preservação” tinha fins econômicos e não ambientais. Os

diretores da Companhia Petropolitana de Tecidos somente deixavam poucas pessoas

construírem na área e, as mesmas deveriam estar ligadas à Companhia ou outras

fábricas da região. Havia desencorajamento para a ocupação populacional. Até meados

da década de 1950 a área era pouco ocupada.

Na fotografia aérea (figura 5), todo o terreno da Companhia Petropolitana de

tecidos está circulado pela linha de cor vermelha. Até o início da década de 1970 todo

esse complexo pertencia somente a uma fábrica, a Petropolitana, que fazia e tingia

tecidos. A partir de 1970, a fábrica terminou suas atividades e, desde então, os diversos

galpões foram ocupados por pequenas fábricas, confecções de roupas, restaurantes,

serrarias, serralherias, entre outras.

Ainda na fotografia aérea, circulada por uma linha verde, observa-se a área onde

existem plantações, bem ao lado do sítio industrial. A água utilizada na irrigação é

retirada do rio Piabanha, que no mesmo local recebe as águas do rio Itamarati. O

Piabanha recebia diversos tipos de efluentes sem nenhum tratamento e, provavelmente,

essas hortaliças poderiam ter algum grau de contaminação. Além disso, a área se

localiza muito próxima à antiga Companhia Petropolitana, outra fonte potencial de

contaminação. A Cia. Petropolitana possuía aproximadamente 41.000 m2 de área total.

66

Figura 5: Fotografia aérea da Companhia Petropolitana e adjacências.

Fonte: CIDE8, 2003.

Na lista de atividades industriais/comerciais potencialmente contaminadoras do

solo e águas subterrâneas do IBGE (1984, apud CETESB9, 2001.), a Cia. Petropolitana

foi classificada como (tabela 5):

Tabela 5: Atividades Desenvolvidas pela Companhia Petropolitana de Tecidos segundo

o IBGE.

CÓDIGO IBGE DESCRIÇÃO

2420000 a 2429999 Fiação, Fiação e Tecelagem, Tecelagem

2460000 a 2469999 Acabamento de fios e tecidos

2570000 a 2429999

Tingimento, estamparia e outros

acabamentos em roupas, peças do

vestuário e artefatos diversos de tecidos

A Companhia Petropolitana de Tecidos foi desativada no início da década de

1970. A fábrica gerava grande quantidade de efluentes líquidos e de gases e vapores. Os

efluentes eram jogados diretamente no rio Piabanha, que passa ao lado do sítio.

Quaisquer tipos de drenagens de águas de escoamento superficial, nascentes, gases e

líquidos percolados são desconhecidas.

67

Os efluentes da indústria eram destinados ao rio e, provavelmente havia

infiltração no solo. Os efluentes também não passavam por tratamentos antes de serem

despejados no rio. O descarte era feito in natura.Também é desconhecida a existência

de vazamentos e/ou infiltrações. As prováveis fontes de contaminação do sítio

decorriam da produção, tratamento e infiltração. As condições de impermeabilização da

área, de maneira geral, eram ruins e, em vários galpões a mesma é desconhecida.

A descrição da área e suas adjacências em um raio de 1000 metros forneceu

informações preocupantes, as quais atestam a necessidade de estudos mais

aprofundados nesta antiga área industrial:

• Áreas comerciais, industriais e de interesse público;

• Rede de esgoto, telefone, gás, etc.;

• Residências com hortas;

• Áreas de lazer, parques e escolas;

• Área de proteção ambiental; área inundável e de várzea, além de mata

natural;

• Poços utilizados para abastecimento público, de propriedade da

Companhia Águas do Imperador, que é a responsável pela distribuição e

tratamento da água e coleta e tratamento de esgotos em Petrópolis.

Atualmente, os arredores da antiga Companhia Petropolitana de Tecidos

mostram o quanto a situação é crítica, pois se as águas subterrâneas, superficiais e os

solos estiverem contaminados, os riscos à população e ao meio ambiente serão enormes.

O sítio está completamente “cercado” por grande quantidade de residências, algumas

com hortas (figura 6). Além disso, nas proximidades também existem áreas de lazer e

desportos e de circulação.

68

Figura 6: Hortas ao lado da antiga Companhia Petropolitana de Tecidos.

O antigo prédio da Companhia Petropolitana é utilizado por diversas fábricas de

pequeno porte e por comércios variados. Nos galpões existem fábricas de tintas e

móveis, serrarias, confecções de roupas, bares, marcenarias. Chama também a atenção

que, embora o prédio esteja sendo reutilizado, o mesmo se encontra em péssimas

condições de conservação. Há vazamentos e infiltrações, resíduos (óleos e graxas)

espalhados por todo o terreno, telhas quebradas, paredes quebradas e descascadas. O

mato se espalha por vários pontos do terreno. Há animais (principalmente cavalos e

cachorros) andando em meio a entulhos. As serrarias jogam seus entulhos diretamente

sobre o solo e no local, próximo às fábricas de tintas, o cheiro dos produtos químicos

utilizados na produção é muito forte. Além disso, as atuais atividades, também oferecem

riscos de contaminação, como podemos ver pelo IBGE (tabela 6):

69

Tabela 6: Atuais atividades desenvolvidas no sítio da Companhia Petropolitana.

CÓDIGO IBGE DESCRIÇÃO

1520000 a 1529999 Produção de casas de madeira pré-

fabricadas e fabricação de estruturas de

madeira e artigos de carpintaria

1530000 a 1539999 Fabricação de chapas e placas de madeira

aglomerada ou prensada, e madeira

compensada, revestida ou não com

material plástico

1610000 a 1619999 Fabricação de móveis de madeira, vime e

junco

As edificações mais próximas do terreno encontram-se a menos de 50 metros e

são casas, restaurantes e bares. O prédio da Companhia localiza-se em um fundo de

vale, uma área plana. Ao lado do sítio há a confluência de dois grandes rios, o Piabanha

e o Itamarati. Ambos estão poluídos e contaminados, pois os esgotos residenciais e

industriais do município, em sua maioria, são despejados in natura nos mesmos.

Em relação à existência de solo contaminado na área, é desconhecida, pois não

foram feitas análises e não há presença de produto ou substância. No entanto, devido às

atividades desenvolvidas no passado e as atuais, há um grande potencial para que o solo

esteja contaminado. Não foram feitos levantamentos sobre as águas subterrâneas e, por

isso, não é possível afirmar o nível da mesma e se ela encontra-se ou não contaminada.

A área pode ter influência direta sobre as águas superficiais, pois ao lado do sítio

existem hortas que são irrigadas com as águas do Piabanha. A região também está

sujeita a enchentes, embora as mesmas sejam raras.

As atuais atividades oferecem riscos iguais ou até superiores aos da antiga

fábrica de tecidos. Durante os trabalhos de campo, alguns galpões que abrigam

pequenas indústrias exalavam um cheiro bastante forte e ruim e, os trabalhadores

informaram que esse odor deve-se aos produtos utilizados na fabricação de tintas. Mas

também existem confecções, serrarias, serralherias e bares nessa área, os quais podem

sofrer contaminação por parte da antiga atividade, mas que, ao mesmo tempo, também

oferecem novos riscos aos trabalhadores, à população circundante e ao meio ambiente.

70

Através das pesquisas realizadas neste sítio, conclui-se que a área é suspeita de

contaminação. Além disso, a área apresenta condições ruins de armazenagem dos

produtos e, há óleos, graxas e outros tipos de produtos químicos (desconhecidos) no

solo e na construção em si. Os efluentes líquidos eram despejados (ainda o são pelas

atuais indústrias) diretamente nos rios Piabanha e Itamarati, o que provavelmente gerou

problemas.

5.1.2 – Fábrica de Papel Petrópolis

A Fábrica de Papel Petrópolis foi fundada no final do século XIX. Ela era a

segunda maior indústria da região, perdendo em importância somente para a Companhia

Petropolitana de Tecidos. Essa fábrica terminou suas atividades em 1988 e, enquanto

funcionou, foi referência nacional e internacional no ramo da fabricação de papel,

papelão e derivados. A fábrica construiu uma pequena represa no rio Itamarati, para

poder retirar do mesmo a água utilizada no processo produtivo.

Na lista de atividades potencialmente contaminadoras do solo e águas

subterrâneas do IBGE, a indústria foi classificada como (tabela 7):

Tabela 7: Atividades da Fábrica de Papel Petrópolis segundo o IBGE.

CÓDIGO IBGE DESCRIÇÃO

1720000 a 1729999 Fabricação de papel, papelão, cartolina e

cartão

Por meio de imagem de satélite, pode-se observar que a indústria localiza-se

bem próxima ao rio Itamarati, de onde, inclusive, retirava a água utilizada na produção

de papel, por meio de uma represa construída pelos diretores da fábrica. A área é

densamente ocupada e, exatamente ao lado da fábrica localiza-se a antiga Fleischmann

Royal. A área total da indústria era de aproximadamente 13.700 m2 (figura 7).

71

Figura 7: Fotografia aérea da Fábrica de Papel e adjacências.

Fonte: CIDE8, 2003.

A fábrica gerava grande quantidade de efluentes líquidos e de gases. Não havia

nenhum sistema de filtragem de gases e tratamento de efluentes. Na fotografia a seguir

(figura 8) pode ser visto uma grande tubulação de efluentes que desemboca diretamente

no rio, sem nenhum tipo de tratamento prévio.

Figura 8: Tubulação de efluentes desembocando diretamente no rio Itamarati.

72

Antes de a área ser ocupada pela indústria, era apenas um sítio natural, com

vegetação primária. A descrição do sítio e do seu entorno será também realizada em um

raio de 1000 metros. A situação também é crítica e devem ser feitos muitos estudos para

o aprofundamento dos conhecimentos a respeito de possíveis contaminantes no local.

Dentro do sítio não existem bens a proteger, no entanto, fora do mesmo encontra-se:

• Áreas comercial, industrial, de interesse público, lazer e desportos;

• Rede de esgoto, telefone, gás, etc.

• Parques;

• Residencial sem hortas;

• Área de proteção ambiental.

Embora a ocupação por residências também seja elevada, a sua densidade é

menor do que na Companhia Petropolitana de Tecidos. A fábrica atualmente está em

reúso; um dos galpões foi reformado e virou estacionamento do supermercado Bramil,

que ocupou o prédio da Fleischmann Royal. De acordo com o IBGE, essa atividade é

potencialmente contaminadora (tabela 8). Outro galpão foi reformado e, nele, funciona

uma confecção de roupas denominada Hurry Up. Os demais galpões continuam

abandonados; essa atividade não é considerada potencialmente contaminadora pelo

IBGE.

Tabela 8: Atividade de estacionamento de automóveis em um galpão da antiga Fábrica

de Papel Petrópolis.

CÓDIGO IBGE DESCRIÇÃO

5048000 a 5048999 Garagens e parqueamentos de veículos

73

Nos galpões que ainda não foram reformados, foram encontradas dezenas de

tambores onde estavam guardados produtos químicos. A pessoa que tomava conta do

local não soube responder quais tipos de produtos estariam ali armazenados. As

condições eram precárias e diversos tambores estavam com vazamentos. A condição do

galpão também era muito precária, pois as paredes estavam descascadas e algumas

haviam ruído. Partes do telhado não têm mais telhas ou quaisquer outros tipos de

cobertura. No chão, em muitos lugares o cimento está destruído e o solo aparece e já há

crescimento de vegetação rasteira (figura 9).

Figura 9: Galpão em péssimo estado de conservação.

O maquinário que era utilizado na fabricação e beneficiamento dos artigos de

papel está completamente abandonado e com vazamento de graxas, óleos e demais

produtos químicos e, além disso, também estão enferrujados (figura 10). Os galpões

ainda são utilizados como moradias por mendigos da região, que passam as noites entre

os tambores e o maquinário. No chão há grande quantidade de papel e demais tipos de

detritos relacionados à antiga produção. Há cachorros nos galpões.

74

Figura 10: Maquinário com vazamentos e enferrujado.

Ao contrário da Companhia Petropolitana de Tecidos, aqui não há circulação de

grande número de pessoas. O principal motivo é o fato de a área não ter sido reutilizada

logo após o seu fechamento. Porém, crianças e adolescentes costumam brincar nos

galpões e terrenos da fábrica. As telhas estão quebradas e, durante as chuvas, a água

infiltra-se pelas mesmas e, acabam por carrear os óleos, graxas e demais produtos

químicos, contaminando o solo e a água do rio Itamarati. Por isso, esta também é uma

área suspeita de contaminação.

5.1.3 – Fleischmann Royal

Inicialmente com o nome de Standard Brands of Brazil Inco, a Fleischmann

Royal iniciou as suas atividades na década de 30. A fábrica dedicava-se ao ramo

alimentício, principalmente na preparação de fermentos; mas também havia outras

atividades, além da venda de produtos alimentícios no próprio local. A indústria

funcionou até junho de 2004, quando finalmente encerrou suas atividades. A lista de

atividades potencialmente contaminadoras do IBGE fornece a seguinte classificação

para as atividades desenvolvidas na Fleischmann Royal (tabela 9):

75

Tabela 9: Atividades desenvolvidas na Fleischmann Royal.

CÓDIGO IBGE DESCRIÇÃO

2691000 a 2691999 Refinação e preparação de óleos e gorduras

vegetais e produtos do beneficiamento do

cacau destinados à alimentação

3121000 a 3121199 Moagem, embalagem, envasamento,

acondicionamento e empacotamento de

produtos alimentícios, bebidas e

condimentos

A fotografia aérea nos mostra que a Fleischmann Royal estava localizada bem ao

lado da Fábrica de Papel Petrópolis. A área total da antiga Fleischmann Royal é de

aproximadamente 14.500 m2 (figura 11). Atualmente o prédio foi reformado e abriga o

supermercado Bramil; esta rede de supermercados, inclusive, reformou um galpão da

Fábrica de papel, transformando-o em estacionamento. O supermercado em si não é

potencialmente contaminador, mas o estacionamento oferece riscos, de acordo com o

IBGE (tabela 10).

Figura 11: Antiga Fleischmann Royal e adjacências.

Fonte: CIDE8, 2003.

76

Tabela 10: Atividade de estacionamento de automóveis.

CÓDIGO IBGE DESCRIÇÃO

5048000 a 5048999 Garagens e parqueamentos de veículos

Os efluentes eram jogados diretamente no rio Itamarati. Durante o seu

funcionamento, era bastante forte o cheiro de produtos químicos e da fábrica, saíam

diversos vapores.

As áreas de produção e de armazenagem de substâncias eram impermeabilizadas

com pavimentação asfáltica ou de cimento e as demais áreas são desconhecidas (figura

12). A descrição da área e de suas adjacências em um raio de 1000 metros mostrou que

dentro do terreno não há ocupações, no entanto, fora do sítio observam-se:

• Áreas comercial, industrial, de interesse público, lazer e desportos;

• Rede de esgoto, telefone, gás, etc.

• Parques;

• Residencial sem hortas;

• Área de proteção ambiental;

• Escola.

Figura 12: Grandes reservatórios de produtos que eram utilizados na fabricação de

fermento e demais produtos alimentícios.

77

O prédio foi reformado pela rede de supermercados Bramil (figura 13), no

entanto, não foram feitos quaisquer tipos de estudos para analisar se havia algum tipo de

contaminação no local.

Figura 13: Atual Supermercado Bramil.

Atualmente não é possível afirmar se os solos e o lençol freático estão

contaminados, no entanto, durante seu funcionamento, a fábrica poluiu o rio Itamarati

com o despejo dos seus efluentes líquidos. Além disso, havia a emissão de muita

fumaça e os odores eram muito fortes e ruins. Também é um sítio que apresenta suspeita

de estar contaminado.

5.1.4 – ATA Combustão Técnica

O último sítio a ser analisado neste estudo é a antiga ATA Combustão Técnica,

que era uma fábrica de caldeiras industriais. Segundo a classificação do IBGE, as

atividades desenvolvidas no local eram potencialmente contaminadoras (tabela 11). A

ATA começou a funcionar na década de 1930 e interrompeu suas atividades em meados

dos anos de 1980, mudando-se para um prédio maior e melhor localizado no bairro do

Carangola, onde funciona até hoje.

78

Tabela 11: Atividades desenvolvidas na época do funcionamento da ATA Combustão

Técnica.

CÓDIGO IBGE DESCRIÇÃO

1100000 a 1199999 Metalúrgica

1200000 a 1299999 Mecânica

A ATA combustão técnica foi desativada em 1988 e o prédio permaneceu

abandonado até o fim da década de 90. Então, no final na década de 90 a Prefeitura

adquiriu o prédio e o reformou, transformando-o em uma escola municipal. Esse sítio

industrial tem área de aproximadamente 4.000 m2 (figura 14).

Figura 14: ATA Combustão Técnica e adjacências.

Fonte: CIDE8, 2003.

A fotografia aérea permite analisar o entorno da ATA; o prédio da fábrica está

circulado de vermelho. É possível notar que existem centenas de residências ao redor da

mesma. Circulado em azul estão um colégio estadual e uma faculdade e, na vizinhança

existem mercadinhos, padarias, restaurantes, outras escolas, açougues e clubes.

79

A indústria produzia caldeiras industriais, que eram enviadas a fábricas,

metalúrgicas e siderúrgicas de todo o país. O local não era utilizado como depósito de

resíduos. Assim como as demais fábricas analisadas neste trabalho, a ATA Combustão

Técnica também não possuía quaisquer tipos de tratamentos de seus efluentes líquidos

e/ou gasosos. Seus efluentes líquidos eram despejados diretamente na rede de esgoto e

de águas pluviais, as quais desembocam em um pequeno riacho que deságua no rio

Itamarati.

A análise das adjacências em um raio de 1000 metros nos mostra que, dentro do

sítio existe a própria escola, ao passo que nas adjacências existem:

• Áreas comercial, industrial, bens de interesse público;

• Áreas de lazer, desportos, de proteção ambiental ;

• Rede de esgoto, gás, telefone, etc.;

• Escolas;

• Residencial sem hortas.

Presentemente, o prédio da antiga fábrica pertence à Prefeitura, que ali construiu

uma escola municipal de ensino fundamental, que funciona durante todo o dia. Há

também outras atividades oferecidas à comunidade gratuitamente, como supletivos,

aulas de educação física, academia de ginástica, aulas de hidromassagem, entre outras.

Em conversas com antigos funcionários da fábrica que atualmente trabalham nessa

escola, os mesmos disseram que no local onde eram depositados os resíduos da

produção. A Prefeitura, sem quaisquer estudos, construiu a quadra de esportes da escola.

De acordo com esses mesmos funcionários, o prédio foi reformado, mas não foram

realizadas análises no local (solos, prédio, encanamentos, etc.) para averiguar se havia

ou não a possibilidade de contaminação no local. Essa escola atualmente é freqüentada

por pessoas de todo o bairro e de outras áreas da cidade e as idades variam de crianças a

pessoas idosas.

80

As construções mais próximas dessa antiga fábrica encontram-se a menos de 50

metros de distância; na realidade, as casas estão do outro lado da rua (figura 15). Essa

região apresenta encostas bastante íngremes, no entanto, o prédio localiza-se um pouco

na encosta e, em grande parte, no fundo do vale. As declividades são bem baixas. O solo

é do tipo latossolo, porém suas características texturais não foram analisadas. Embora os

funcionários antigos tenham afirmado que no local houvesse a deposição de resíduos,

não foram feitas análises no solo, sendo, por isso, desconhecida a existência ou não de

solo contaminado.

Figura 15: Casas próximas à ATA.

O grande problema desse antigo sítio industrial é que, segundo antigos

funcionários, havia um local onde eram enterrados barris e demais sobras da produção

de caldeiras. De acordo com esses mesmos funcionários, a atual quadra de esportes da

Escola Municipal Fábrica do Saber localiza-se sobre esse depósito. Não são conhecidos

os riscos que os freqüentadores correm, mas como os barris continham produtos

químicos variados, é possível que os riscos sejam elevados.

Assim como as indústrias anteriores, a ATA também se encontra suspeita de

contaminação e, o fato agrava-se porque é, das indústrias deste estudo, aquela onde há

maior concentração de pessoas, moradias, escolas, faculdades, bares e clubes ao redor.

Além disso, o prédio atualmente é uma escola, a qual oferece aulas nos turnos da

manhã, tarde e noite e, é freqüentada não somente por crianças, mas por pessoas de

todas as idades, que se utilizam dos cursos gratuitos (ginástica, hidroginástica, dança,

dança de rua, supletivos, entre outros cursos).

81

Conforme informação de antigo funcionário da fábrica, a quadra de esportes está

construída sobre o antigo depósito de produtos químicos e demais efluentes da

produção. A quadra da escola é o local mais utilizado por todos os freqüentadores,

estando todas essas pessoas expostas a um alto risco de contaminação.

5.2 – Resultados dos Questionários aos Moradores

A aplicação de questionários aos moradores próximos das quatro áreas de estudo

teve como objetivo principal avaliar a percepção dos moradores em relação a esses

antigos sítios industriais. Não ocorreram problemas na aplicação dos questionários e as

pessoas não tiveram dificuldades na compreensão e na resposta das perguntas. A seguir,

será feita a análise dos questionários em cada área de estudo.

5.2.1 – Companhia Petropolitana de Tecidos

Nos arredores da companhia Petropolitana de Tecidos foram aplicados dez

questionários. O questionário abordou questões referentes ao bairro onde a pessoa

reside. Por meio das perguntas feitas, procurou-se analisar a opinião dos entrevistados

acerca da localidade onde reside. No gráfico a seguir (figura 16) é apresentado o que as

pessoas mais gostam na localidade.

Atrativos do Local - Companhia Petropolitana de Tecidos

39%

20%

7%

27%

7%

COMÉRCIO

CLIMA

TRANSPORTES

VIZINHANÇA

LAZER

Figura 16: Preferências dos moradores residentes próximos à Companhia Petropolitana.

82

Quanto ao que os moradores consideram de pior na região, as respostas foram

bastante variadas:

• Rio poluído: nas épocas de menos chuva, o odor do rio Piabanha (o rio Itamarati

junta-se ao Piabanha na área) torna-se bastante desagradável, devido à

diminuição da carga d’água. Além disso, ambos os rios recebem todos os

esgotos residenciais e industriais sem tratamento prévio.

• Greves: um morador escolheu as greves no local, pois disse que atrapalham

bastante. Ele se referiu, principalmente, às greves nos transportes públicos.

• Risco de enchentes: algumas casas da região encontram-se próximas ao rio e,

nas épocas chuvosas (novembro a março) é grande o risco de enchentes.

• Lixo: alguns moradores costumam jogar lixo nas ruas, nas margens e dentro do

leito do rio.

• Falta de lazer: não existem opções de lazer para os moradores, a não ser

conversar com vizinhos ou ir à praça principal.

• Barulho: na rua principal do bairro (rua Bernardo de Vasconcellos) há um

clube/boate e, ao sair do mesmo, os freqüentadores fazem muito barulho,

ocorrem brigas e tumultos e, às vezes, quebra-quebra.

• Favelas: problema comum em todo o município, o crescimento desordenado tem

originado diversas favelas; os moradores temem o aumento da violência. Em

Cascatinha existem diversas áreas carentes em grande crescimento.

• Fechamento das fábricas: o desemprego tem aumentando na região, por causa do

fechamento ou da mudança de indústrias e também comércios.

• Matagal: algumas ruas do bairro não passam por manutenção; com isso, o mato

cresce e aparecem muitos ratos e mosquitos.

83

Todos os entrevistados, posteriormente, disseram saber que naquele local

funcionava uma fábrica de tecidos e, quando indagados sobre a época do fechamento da

mesma, as respostas aproximaram-se bastante da época correta do fechamento, ou seja,

início dos anos 1970. Quando questionados se vêem algum problema em morar perto

daquele sítio industrial desativado, 70% dos moradores afirmaram que não havia

problema em residir próximo à fábrica e 30% responderam que sim e, o motivo que eles

alegaram foi que aquela área deveria ter uma melhor utilização, ou seja, deveria ser

reutilizada para melhores fins do que aqueles para os quais tem sido utilizada (pequenas

fábricas).

Ao serem perguntados se o preço de suas casas diminuiria por causa da

proximidade com a fábrica, 90% disseram que não, pois a fábrica criou muitos

empregos e, além disso, que a maior parte da infra-estrutura existente no local havia

sido construída ou patrocinada pela própria indústria. A única pessoa que respondeu sim

disse que, como a fábrica está mal conservada e tem aspecto de abandono, a sua

residência poderia ter seu valor econômico reduzido. Em nenhum momento os

entrevistados citam quaisquer riscos de o terreno e o prédio estarem contaminados.

Ao serem indagados se sabiam de alguém que já teve qualquer problema de

saúde que estivesse relacionado à fábrica, todos os entrevistados afirmaram desconhecer

pessoas com tais problemas. Quando foi feita uma pergunta mais geral, questionando se

alguém sabia ou havia percebido algum dano que a indústria houvesse provocado

enquanto funcionava, 20% disseram que sim e, o problema relatado foi a poluição do

rio. Disseram que a fábrica jogava todo o esgoto diretamente no rio e, que este

costumava apresentar variadas cores e tonalidades.

Percebemos, pelas respostas às perguntas feitas, que em nenhum momento os

moradores têm uma percepção ruim do sítio industrial da pesquisa. Os moradores

preocupam-se quando há o fechamento de uma fábrica, devido à perda de empregos,

mas não se preocupam, de maneira geral, se a fábrica lhes oferece algum tipo de risco à

saúde.

84

5.2.2 – Fábrica de Papel Petrópolis

Para os moradores próximos à Fábrica de Papel Petrópolis foram aplicados dez

questionários. No gráfico a seguir (figura 17) é apresentado o que as pessoas mais

gostam na localidade.

Atrativos do Local - Fábrica de Papel Petrópolis

31%

23%

38%

8%

COMÉRCIO

TRANSPORTES

VIZINHANÇA

POSTO DE SAÚDE

Figura 17: Preferências dos moradores residentes próximos à Fábrica de Papel.

Ao se analisar o que os moradores consideram pior no bairro, temos o seguinte:

• Rio poluído: foi o problema mais citado; o rio Itamarati está altamente poluído e,

além disso, nas proximidades da Fábrica de Papel há uma pequena represa, na

qual todo o lixo jogado no rio fica represado, aumentando o mau cheiro.

• Pessoas que freqüentam bailes e boates: segundo os moradores, os

freqüentadores do clube Palmeira, localizado no bairro, saem dos bailes de

madrugada e fazem algazarras, gritaria, sujam as ruas, picham as residências e

os estabelecimentos comerciais, além de quebrar telefones públicos e demais

bens de utilidade pública.

• Lixo: houve reclamação sobre o local onde os moradores deixam o lixo para ser

recolhido. Segundo os mesmos, a coleta pública não é regular, fazendo com que

fique muito lixo acumulado e, conseqüentemente, este se espalhe pela rua,

provocando o aparecimento de ratos, mosquitos e provocando mau cheiro.

• Saúde: de acordo com um morador, o posto de saúde está abandonado pela

prefeitura. Não se encontram remédios e demais objetos de uso comum.

85

Todos os moradores afirmaram saber que naquele local funcionava uma fábrica

de papel e papelão e, ao serem questionados se o preço de suas casas diminuiria por

causa da proximidade com a fábrica, 80% disseram que não, pois a fábrica criou muitos

empregos e, também disseram que a indústria não tinha nenhuma relação com suas

residências. 20% disseram que a presença da fábrica abandonada diminui o valor de

seus imóveis e, alegaram que uma indústria fechada afasta outros possíveis

investimentos na região. Em nenhum momento os moradores citaram qualquer receio

em relação a uma possível contaminação proveniente da fábrica.

De acordo com as entrevistas, os moradores também não têm conhecimento de

pessoas que já tiveram problemas de saúde por causa da fábrica. Quando indagados se

sabiam ou perceberam algum problema que a fábrica pudesse ter provocado, dois

moradores citaram que ela poluía o rio Itamarati. Os entrevistados disseram que a área

poderia ser reutilizada para uma outra finalidade e, a maior preferência seria por outras

fábricas ou por uma faculdade pública. Em relação ao fato se haveria restrição para

alguma atividade, 50% disse que não, pois consideram o sítio grande e bem localizado.

Os demais entrevistados disseram que sim e, não gostariam de ter por perto atividades

poluidoras, hospitais e boates.

Os entrevistados mais novos sentem falta, principalmente, de áreas de lazer e

estudo. Disseram que gostariam que fossem instalados uma faculdade pública ou uma

escola técnica no local. Em nenhum momento os moradores disseram temer algum tipo

de dano ambiental ou à saúde devido ao abandono da fábrica. Ou seja, aqui também a

população desconhece os potenciais riscos ambientais e à saúde oferecidos pelo sítio em

análise.

86

5.2.3 – Fleischmann Royal

Ainda no bairro do Itamarati, vizinha à Fábrica de Papel Petrópolis, tem-se a

Fleischmann Royal. Também foram aplicados dez questionários em suas adjacências.

No gráfico a seguir (figura 18) é apresentado o que as pessoas mais gostam na

localidade.

Atrativos do Local - Fleischmann Royal

38%

8%15%

15%

8%

8%

8% COMÉRCIO

CLIMA

TRANSPORTES

VIZINHANÇA

SEGURANÇA

ESCOLAS

TRÂNSITO

Figura 18: Preferências dos moradores residentes próximos à Fleischmann Royal.

As pessoas que consideram a área ruim de se morar disseram que a fábrica

Fleischmann emitia gases com odores desagradáveis, algo parecido com ovo podre e

lixo em decomposição. Logo em seguida há uma lista do que as pessoas acham pior no

bairro:

• Barulho: a reclamação do barulho está relacionada principalmente às

crianças das escolas próximas, como foi dito no parágrafo anterior;

• Favelização: há grande empobrecimento das pessoas e a ocupação

desordenada das encostas é elevada. As pessoas temem aumento da

violência;

• Rio poluído: o rio Itamarati está muito poluído e exala um péssimo odor;

• Trânsito: tráfego muito intenso e barulhento;

• Lazer: não há onde os moradores se divertirem;

87

• Saúde: os entrevistados disseram que a prefeitura abandonou o posto de

saúde, que não conta com os matérias mais essenciais ao funcionamento.

Após analisar a percepção dos moradores em relação ao bairro, passou-se às

perguntas referentes à área de estudo. Ao serem perguntados se viam algum problema

em residir próximo àquela fábrica, 40% disseram ter receios, por causa da poluição do

ar, do mau cheiro e do barulho (provocavam desmaios, dores de cabeça, náuseas, etc.),

mas que agora, após seu fechamento, não vêem problemas; os demais entrevistados

disseram que não, argumentando que a fábrica oferecia oportunidade de empregos e

atraía investimentos. Quando questionados se o preço das suas residências poderia

sofrer diminuição devido à proximidade com a indústria, metade disse que sim, devido à

falta de emprego e à poluição e, os demais disseram que não, pois ela gerava empregos.

Quando a pergunta feita foi sobre se os entrevistados conheceriam alguém que já

teve problemas de saúde por causa da fábrica, 70% disseram que sim. Os moradores

falaram que a fábrica, enquanto funcionava, emitia muita fumaça mau cheirosa e que,

também, de dentro da fábrica vinham odores muito ruins e fortes. Entre os problemas

relatados estão: dores de cabeça, náuseas, vômitos, problemas respiratórios e desmaios.

O desmaio ocorreu dentro de uma sala de aula de um colégio próximo e, a entrevistada

falou que era comum os alunos passarem mal durante as aulas.

Aproximadamente 80% dos entrevistados disseram que a fábrica poluía o rio e o

ar e, um dos moradores disse ter ouvido falar que a fábrica fechou por causa de tanta

poluição, pois o IBAMA estava fazendo exigências e multando a mesma. Todos os

moradores disseram que a fábrica deveria ser reutilizada, principalmente como escolas

ou centros de lazer e cultura, supermercado (uso atual), depósito ou indústria.

Em todas as áreas onde foram feitas entrevistas, as respostas são muito

parecidas; no entanto, os moradores do Itamarati demonstraram que não estavam muito

satisfeitos com a presença da Fleischmann Royal; além disso, das quatro áreas

estudadas, a Fleischmann foi a única onde os moradores relataram problemas de saúde

relacionados com a indústria. Embora as demais áreas apresentem grandes riscos de

contaminação, somente a Fleischmann apresentou problemas de saúde enquanto estava

em funcionamento (de acordo com os moradores).

88

5.2.4 – ATA Combustão Técnica

Voltando ao bairro de Cascatinha, encontra-se a última indústria objeto deste

estudo, a ATA Combustão Técnica, que fabricava caldeiras. Essa indústria apresenta

alto potencial de contaminação, devido às atividades desenvolvidas e, devido ao seu

atual reúso. Alguns moradores confirmaram o receio de que possa ter ocorrido algum

tipo de contaminação. No gráfico a seguir (figura 19) é apresentado o que as pessoas

mais gostam na localidade.

Atrativos do Local - ATA Combustão Técnica

18%

28%

27%

18%

9%

COMÉRCIO

CLIMA

VIZINHANÇA

SEGURANÇA

ESCOLAS

Figura 19: Preferências dos moradores residentes próximos à ATA.

Em relação à moradia próximo à área de estudo, 55% disseram não ver problema

em morar perto daquele sítio, principalmente porque agora é uma escola municipal, no

entanto, 45% disseram não gostar de morar ali. Entre as reclamações dos moradores, as

principais são:

• Emissão de raios-x: segundo uma senhora de mais de 82 anos, a fábrica

emitia raios-x para verificar se as caldeiras tinham algum tipo de falha ou

defeito. A moradora disse ter medo de que aqueles raios-x tenham

contaminado o local;

89

• Possível contaminação: seis moradores disseram temer um possível risco

de contaminação, pois a indústria utilizava muitos produtos químicos.

Além disso, segundo os entrevistados, após ser fechada, a fábrica deixou

muitos barris com produtos químicos. Uma moradora, inclusive, relatou

que houve uma época em que o prédio era utilizado por vândalos e,

houve uma vez em que eles atearam fogo em um dos barris e o mesmo

explodiu.

Em relação à questão da emissão dos raios-x, essa informação foi obtida

somente por meio da entrevista com a moradora. A confirmação ou não dessas emissões

só pode ser feita com pesquisas mais aprofundadas, tanto no sítio da indústria, quanto

em documentação relativa à época de funcionamento da fábrica. Ao serem perguntados

se o preço de suas residências sofre diminuição por se localizar próximo de uma antiga

indústria, 60% afirmaram que não, pois acham que a indústria trouxe o desenvolvimento

para a área e, além disso, disseram que ela foi a responsável por uma parte da infra-

estrutura da área e que gerava muitos empregos. 40% afirmaram que a proximidade da

área provoca a diminuição do valor de suas casas e, como argumentos apresentaram:

possível contaminação, desvalorização da vizinhança, invasões por vândalos, barulho

excessivo e o desemprego. Nenhuma das pessoas conhece alguém que já teve problema

de saúde por causa da fábrica, mas seis entrevistados afirmaram que a mesma provocou

danos ambientais, pois poluía o ar e, a fumaça apresentava um cheiro bastante

desagradável.

Como foi possível levantar com a aplicação do questionário, esta é a área onde

há maior número de pessoas descontentes e, é onde também há o maior número de

entrevistados que têm noção de que o prédio pode estar contaminado (seis moradores,

dos 20 entrevistados). A grande reclamação dos moradores é a questão das favelas, pois

essa parte de Cascatinha está se favelizando rapidamente. Alguns moradores

demonstraram certa resistência à presença de igrejas evangélicas, pois, segundo eles, a

gritaria é muito grande nesses estabelecimentos.

90

5.3 – Resultados e Análise dos Questionários aos Corretores

Quando perguntados se o preço de um antigo sítio industrial, se comparado a

outro de iguais características (tamanho, infra-estrutura, boa localização), que não foram

ocupados por indústrias seria maior, menor ou equivalente, 20% disseram que os preços

seriam muito maiores, outros 20% afirmaram que os valores seriam maiores e, 60%

disseram que os preços seriam iguais, ou seja, não haveria diferenciação entre terrenos

parecidos.

Em seguida, foi abordada a questão se a proximidade de um imóvel de

determinados locais (cadeia, favela, etc.) podem desvalorizá-lo. Essa pergunta foi uma

maneira encontrada para averiguarmos se uma indústria desativada, na opinião dos

corretores, interferiria muito ou pouco no valor de imóveis próximos. A tabela 12 nos

mostra o resultado.

Tabela 12: Locais que mais desvalorizam um imóvel segundo os corretores de imóveis

entrevistados.

LOCAL NOTA

PRESÍDIO/CADEIA 5,0 LIXÃO 5,0

FAVELA 5,0

CEMITÉRIO 4,8 ÁREA DE ATERRO 4,6

IGREJA 4,4

ENCOSTA 4,4 DELEGACIA 3,6

RODOVIÁRIA 3,4

INDÚSTRIAS FECHADAS 3,4 ESTAÇÃO FERROVIÁRIA 3,4

ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTOS 3,4

INDÚSTRIA FUNCIONANDO 2,5 HOSPITAL/POSTO DE SAÚDE 1,5

91

Por meio da tabela anterior, que foi feita através da média das respostas dadas

pelos corretores, nota-se que, em termos de desvalorização, as indústrias desativadas

ficaram em sexto lugar (nota 3,4), ou seja, segundo os entrevistados uma indústria

fechada não desvaloriza muito uma região e seu entorno. No entanto, quase todos

disseram que a desvalorização também depende muito do tipo de indústria.

70% disseram que não há desvalorização dos imóveis do entorno, porém,

afirmaram que se a fábrica que se encontra desativada foi uma indústria química (não

importando de o tipo de indústria química), aí sim a desvalorização é muito alta, pois o

potencial de contaminação ambiental e humana desse tipo de indústria é bastante alto.

Também já eram esperados os resultados para lixões, favelas, cemitérios, presídios e

áreas de aterro, pois a proximidade de tais locais são altamente desvalorizantes para

qualquer tipo de imóvel, no entanto, o que mais chamou a atenção nessa parte da

entrevista foi a colocação das igrejas. Todos os corretores foram categóricos ao afirmar

que a proximidade de uma igreja desvaloriza um imóvel.

Dos corretores entrevistados, 70% afirmaram que um antigo terreno industrial

poderia ser utilizado em outra atividade no futuro e a maioria afirmou que a infra-

estrutura desses sítios, geralmente, é muito boa e que, com isso, os futuros proprietários

não teriam necessidade de investir na construção da mesma. A localização dos imóveis

também foi muito citada, pois essas áreas abandonadas geralmente se localizam em

áreas valorizadas. Os 30% que disseram que não, relataram que se a área foi utilizada

por uma indústria química, os riscos de contaminação dos solos, das águas subterrâneas

e, até mesmo das pessoas, são muito elevados e, impediriam a reutilização da área.

No entanto, quando perguntados se o preço do terreno seria afetado pelo fato de

já ter sido utilizado por uma indústria, metade dos entrevistados afirmou que sim, pois

haveria a chance de a área estar contaminada, caso tivesse sido utilizada por uma

indústria química e, a outra metade disse que não, pois a localização e a infra-estrutura

desses sítios, geralmente, são muito boas.

92

Todos os entrevistados disseram não conhecer quaisquer sítios industriais que

tenham passado por avaliações técnicas antes ou após a sua negociação. E, ao serem

perguntados se, em caso de o proprietário investir em descontaminação, se no momento

da venda ele recuperaria o investimento, 90% afirmaram que não e deram como motivos

o alto custo das técnicas de descontaminação e a eficácia pouco comprovada dos

métodos utilizados.

Além disso, disseram que o tempo para a recuperação da área é muito demorado.

Somente um entrevistado disse que o investimento seria recuperado, caso o proprietário

conseguisse comprovar a contaminação da área e também demonstrasse que a mesma

foi eficientemente descontaminada.

Por fim, 90% dos entrevistados disseram que o mercado de negociação de sítios

industriais desativados deveria ser controlado e quando questionados para se saber por

quem deveria ser exercido esse controle, os órgãos mais citados foram a Secretaria de

Obras da Prefeitura. Também foram citados órgãos da esfera do governo estadual e o

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Somente um corretor

afirmou que não deveria haver controle, pois isso dependeria do vendedor e do

comprador e não de terceiros. E, os que responderam que deveria haver controle,

disseram que o mesmo seria devido ao valor histórico de muitas propriedades e, que

esses sítios também podem e devem ser reutilizados.

Através das análises das respostas que os corretores deram às perguntas do

questionário, pode-se concluir que, segundo os mesmos, uma antiga área industrial

abandonada não ofereceria grandes riscos para a população e para o meio ambiente. No

entanto, 70% dos entrevistados colocou o problema da indústria química, pois esse tipo

de indústria pode provocar grave contaminação ambiental e gerar problemas à saúde

humana e animal. Disseram que essa categoria de indústria é altamente contaminadora

e, que ela oferece altíssimos riscos para os trabalhadores, como para os moradores das

adjacências. Os corretores de imóveis, no entanto, não conceituaram indústria química.

93

Em relação às industrias desativadas de Petrópolis, disseram não haver indústrias

químicas no município. Todos são unânimes ao afirmarem que esses antigos sítios

devem ser reutilizados, sejam como novas indústrias, ou como áreas de lazer, cultura,

educação. Relataram que as indústrias fechadas em Petrópolis geralmente têm infra-

estrutura de ótima qualidade e estão bem localizados e, para uma cidade que está se

desindustrializando rapidamente, a reutilização dessas áreas deveria ser prioritária.

Além disso, os corretores de imóveis falaram que o mercado imobiliário no

município passa por grandes dificuldades, pois praticamente não se pode mais construir

em nenhum lugar, devido à cidade encontrar-se dentro de uma área de proteção

ambiental (a Área de Proteção Ambiental de Petrópolis). Por esse motivo, consideram

que a reutilização de imóveis fechados é a única saída viável para a recuperação

econômica da cidade. E, por esse motivo também, é que diversos prédios industriais

vêm sendo reutilizados sem quaisquer tipos de análises, pois a depressão econômica

leva as corretoras a comercializarem qualquer tipo de imóvel, não importando a

atividade anteriormente desenvolvida no mesmo.

Porém, afirmaram que essas áreas deveriam ser reutilizadas prioritariamente

para a instalação de novas indústrias e não como estacionamentos, mercados ou escolas.

Disseram que indústrias geram mais impostos e empregam mais pessoas que

supermercados, estacionamentos e escolas. Pelas respostas apresentadas, notou-se que,

embora os corretores tenham alguma noção dos riscos oferecidos por indústrias

desativadas, os mesmos não têm noção da verdadeira situação do município de

Petrópolis. O município apresenta dezenas de sítios industriais desativados e

potencialmente contaminados, com características semelhantes àquelas das indústrias

analisadas neste estudo.

Muitas outras antigas fábricas vêm sendo reutilizadas em Petrópolis e em

nenhuma delas são feitos quaisquer tipos de estudos. As corretoras de imóveis negociam

essas áreas para qualquer interessado e, nem mesmo há fiscalização sobre o tipo de

atividade a ser desenvolvido em tais lugares.

94

Considerações Finais

Quando se analisou a questão das áreas contaminadas nos países centrais,

percebeu-se que as pesquisas nesses países encontram-se bastante desenvolvidas, pois já

há cadastros das áreas que oferecem riscos, também existem levantamentos históricos

das atividades desenvolvidas, possíveis contaminantes e, em muitos casos, já são

realizadas análises dos solos, das águas superficiais e subterrâneas e do ar. Além disso,

existem legislações próprias para esse tema, assim como incentivos à descontaminação

e reutilização desses sítios.

O desconhecimento do problema dos sítios contaminados no Brasil é bastante

amplo, no entanto, essa situação vem mudando, com a aprovação de novas legislações e

a preocupação com o levantamento e posterior pesquisa desses sítios. Este trabalho foi

baseado em apenas quatro indústrias do município de Petrópolis e, embora tenha sido

um primeiro passo para aprofundamentos futuros, foi possível perceber que as indústrias

oferecem riscos ambientais e à saúde pública. Então, pode-se imaginar como não será a

situação em locais onde as concentrações de atividades industriais seja maior.

No estudo realizado foi possível analisar a situação de quatro sítios industriais

desativados, atualmente em processo de reúso e suspeitos de contaminação, seja dos

solos, da água subterrânea ou do próprio prédio em si. Embora somente pela lista de

atividades potencialmente contaminadoras do IBGE fosse possível classificar

preliminarmente um sítio em potencialmente contaminado ou não, essa abordagem seria

insuficiente para as áreas de estudo. Isso porque uma indústria pode desenvolver uma

atividade potencialmente contaminadora e, no entanto, podem não ocorrer problemas

devido aos cuidados (solo impermeabilizado, tratamento de efluentes,

acondicionamento adequado de rejeitos, etc.) durante o funcionamento.

95

A CETESB9 (2001) tem três classificações para sítios que podem apresentar

contaminação:

1. Área Contaminada: onde há comprovadamente poluição causada por

quaisquer substâncias ou resíduos que nela tenham sido depositados,

acumulados, armazenados, enterrados ou infiltrados, e que determina

impactos negativos sobre os bens a proteger.

2. Área Potencialmente Contaminada: onde estão sendo ou foram

desenvolvidas atividades potencialmente contaminadoras.

3. Área Suspeita de Contaminação: onde, após a realização de uma

avaliação preliminar, foram observadas indicações que induzem a

suspeitar da presença de contaminação.

No caso deste estudo, com a utilização da Ficha Cadastral da CETESB,

encontraram-se indícios de que os sítios são suspeitos de contaminação. As atividades

que foram desenvolvidas já eram potencialmente contaminadoras, porém, a pesquisa

preliminar mostrou que as áreas oferecem riscos. Alguns desses sítios passaram anos, e

até mesmo décadas, sem nenhuma outra utilização e com total abandono de

maquinários, barris e, no caso da Fábrica de Papel Petrópolis, até parte da matéria-prima

foi abandonada. E, por fim, com a reutilização desses locais, as pessoas poderiam ficar

ainda mais expostas a áreas que podem conter algum tipo de contaminação.

As quatro áreas deste estudo: Companhia Petropolitana de Tecidos (têxtil),

Fábrica de Papel Petrópolis (papel e derivados), Fleischmann Royal (alimentícia) e

ATA Combustão Técnica (maquinário) são suspeitas de contaminação e podem oferecer

riscos às pessoas e ao meio ambiente. Os dois casos que mais chamam a atenção são a

Fábrica de Papel, pois parte de seus galpões estão em reúso e nos demais ainda existem

barris com produtos químicos, máquinas abandonadas, óleos e graxas espalhados pelo

chão, infiltração de água da chuva, etc.; e, A ATA Combustão Técnica, pois dentro do

prédio havia uma área onde eram enterrados barris e demais sobras da cadeia produtiva

e, onde atualmente, existe uma escola, da qual a quadra esportiva está localizada

exatamente sobre esse antigo depósito. A ATA ainda apresenta grande quantidade de

pessoas residindo em seus arredores, o que agrava mais a sua situação.

96

Outro fator que contribuiu para que esses dois sítios fossem considerados com

maior grau de risco foi que ambos apresentam grande quantidade de pessoas morando a

menos de 100 metros de distância, facilitando o acesso das mesmas a esses sítios e o

contato com maquinários, tambores, solo, chão e paredes da fábrica.

A Companhia Petropolitana de Tecidos ainda contém muita graxa e óleos

espalhados pelo sítio e, além disso, ao lado do terreno existem áreas de plantio de

hortaliças e poços de água para consumo humano. Já a Fleischmann Royal exalava

fortes e mau cheirosos odores, que provocavam desmaios, dores de cabeça, etc.; além

disso, a fábrica poluía o rio Itamarati. Atualmente, o prédio foi reformado e tornou-se

supermercado e já não há mais o problema do cheiro ruim, no entanto, os efluentes

continuam a ser despejados in natura no rio Itamarati.

Para as indústrias que foram objeto deste estudo, suspeita de contaminação

existe, no entanto, as mesmas já se encontram em reúso, oferecendo riscos aos

trabalhadores e aos moradores próximos. No caso desses sítios, antes da reutilização

para outros fins, deveriam ter sido feitos estudos aprofundados para evitar quaiquer

riscos ou danos ambientais e à saúde humana e animal. Os atuais usos desses sítios são

incompatíveis com o potencial de contaminação existente.

Essas indústrias que já estão em reúso deveriam passar por avaliações

ambientais e de saúde bastante aprofundadas, de maneira a averiguar se há confirmação

ou não de contaminação no sítio, pois, existe potencial de contaminação. Em caso de

confirmação de contaminação, esses sítios deveriam ser fechados e, dentro das

possibilidades, recuperados, para depois serem reutilizados, sem oferecer riscos

ambientais e à saúde humana e animal.

97

Por serem sítios muito grandes, o mais indicado seriam novas atividades

industriais (devido à infra-estrutura industrial já existente) as quais criariam maior

quantidade de empregos e, como resultado, levariam a uma maior atividade econômica,

revitalizando as áreas e, também todo o município. No entanto, novos tipos de usos

também são possíveis, desde que esses sítios fossem analisados e descontaminados, em

caso de confirmação de contaminação. No CONAMA (Conselho Nacional de Meio

Ambiente) há um projeto de legislação que visa o gerenciamento de áreas

contaminadas. No entanto, precisam ser aprovadas leis que contemplem todo o

processo, desde a instalação de uma indústria, até seu fechamento, possível

descontaminação, usos futuros, entre outros.

Antes do reúso dos sítios, não foram feitos quaisquer estudos sobre a potencial

contaminação da área, ou mesmo estudos de impacto ambiental e possíveis riscos à

saúde. Os prédios simplesmente foram reformados (a Companhia Petropolitana não

passou por reformas) e reutilizados para novas atividades. Esses estudos não foram

feitos porque, em primeiro lugar, a lei não obriga os proprietários a fazê-los. Em

segundo lugar, não existem incentivos econômicos para que um sítio industrial

desativado seja analisado e, em caso positivo de contaminação, seja recuperado, pois o

custo da recuperação não seria compensado na venda do imóvel.

Em relação à parte técnica, fez-se uma avaliação preliminar das quatro áreas de

estudo e, de acordo com o que a CETESB sugere; primeiramente foram coletados os

dados existentes, por meio de estudos históricos e sobre o meio físico. Posteriormente,

foi feita a inspeção de reconhecimento das áreas. Os sítios foram classificados como

suspeitos de contaminação devido aos indícios encontrados, já descritos. Por fim, todas

as informações obtidas foram apresentadas neste documento, na forma de textos,

fotografias e gráficos.

98

Já nos questionários aplicados à população, pareceu que a mesma desconhece os

riscos potenciais que essas áreas oferecem. De maneira geral, os moradores sentem falta

das indústrias funcionando, devido à criação de empregos e à movimentação do

comércio local. A indústria da qual os entrevistados não gostavam era a Fleischmann

Royal, devido aos possíveis danos provocados à saúde. A ATA gerou resultados

controversos, pois algumas pessoas gostariam que a fábrica continuasse em

funcionamento e outros entrevistados temiam possíveis contaminações.

Dentre os corretores de imóveis, alguns têm noção dos riscos oferecidos por

esses sítios, mas, em sua maioria, desconhecem os potenciais riscos de contaminação. A

negociação de compra e venda é feita livremente e, não são feitas avaliações para

analisar possíveis contaminações ambientais ou da saúde animal e humana. No entanto,

dentre os corretores de imóveis, alguns têm noção dos riscos oferecidos por indústrias,

pois citaram o problema das indústrias químicas, que, em sua opinião, são altamente

contaminadoras ambientais e humanas, seja em funcionamento ou desativadas. Quase

todos os entrevistados para este trabalho de pesquisa disseram que as indústrias

deveriam voltar a funcionar ou, então, que em seus antigos prédios fossem instaladas

outras indústrias, de forma a gerar empregos e, conseqüentemente, aumentar o capital

em circulação no município, movimentando a economia deste.

A negociação desses sítios por meio das corretoras de imóveis deveria ser maior

e, feita por pessoas especializadas em indústrias e todas suas características.

Atualmente, a negociação dessas áreas não passa por avaliações ambientais e de

qualidade da área. O único tipo de indústria que sofre algum tipo de controle

(levantamentos de impactos ambientais, riscos à população, etc.) são as químicas; as

demais são negociadas sem controle algum por parte dos órgãos federais, estaduais e

municipais. Mesmo assim, existem problemas para se caracterizar uma indústria como

sendo química, pois a maioria das indústrias utilizam produtos químicos em sua cadeia

produtiva.

99

O município de Petrópolis, devido à sua tradição industrial, apresenta,

atualmente, dezenas de sítios industriais desativados com características geográficas,

ambientais e socioeconômicas semelhantes aos quatro sítios objetos deste estudo. Há

áreas abandonadas por toda a cidade. Algumas são reutilizadas como estacionamentos,

outras foram abandonadas com todo o maquinário. Mendigos, marginais e crianças têm

fácil acesso a fábricas antigas, podendo ser contaminados. Todas essas antigas

indústrias concentram grande número de residências em seu entorno. A pobreza,

violência e favelização aumentaram consideravelmente após o fechamento das fábricas.

Os impactos ambientais cresceram e tornaram-se críticos.

Para Petrópolis, inicialmente sugere-se que seja feito, com urgência, um cadastro

de todas as áreas industriais desativadas. Esse cadastro, deveria ter a maior quantidade

de informações possíveis sobre cada sítio, como:

• Geologia;

• Hidrologia e hidrogeologia;

• Tipos de solos e suas caractrísticas;

• Características geográficas e geomorfológicas;

• Cobertura florestal;

• Histórico das atividades desenvolvidas;

• Cadastro dos produtos químicos utilizados e dos processos produtivos;

• Características atmosféricas e climáticas;

• Caracterização socioeconômica da região do entorno.

Após esse cadastro de industrias desativadas, deveria ser feito um levantamento

daquelas que apresentam alguma potencialidade de contaminação ambiental, animal ou

humana. Nos casos em que fossem confirmados riscos de contaminação, a área deveria

ser fechada para qualquer tipo de utilização futura, sendo somente permitidos reúsos

após estudos mais aprofundados sobre os tipos de contaminantes, características do sítio

e da contaminação e, posteriores métodos de descontaminação da área.

100

Conjuntamente com essas ações, as leis que visam a melhoria da qualidade

ambiental das indústrias deveriam ser aplicadas e fiscalizadas pelos órgãos competentes.

Em caso de fechamento das fábricas, os proprietários deveriam ser obrigados a

promover a retirada de todos os equipamentos e a limpeza da área

(descomissionamento, já existente na indústria petrolífera), removendo, também,

quaisquer tipos de depósitos, matérias-primas e demais produtos que ofereçam riscos.

Este estudo mostrou que realmente há áreas suspeitas de contaminação no

município de Petrópolis, pois existem outros sítios na cidade que se encontram em

condições análogas aos quatro sítios objeto deste estudo. As pesquisas precisam ser

aprofundadas nos sítios analisados e nos demais em Petrópolis. Outras antigas indústrias

encontram-se desativadas e, muitas delas têm outros usos atuais, como a São Pedro de

Alcântara, que virou estacionamento de automóveis, e que se localiza no Centro da

cidade, área economicamente valorizada e onde residem e trafegam milhares de

pessoas.

Além disso, a recuperação de uma área contaminada pode demorar anos e, nem

sempre o resultado é satisfatório, limitando ainda mais os possíveis usos futuros da área

(somente usos industriais seriam permitidos após a descontaminação, por exemplo).

Outro fator que, ao menos em Petrópolis (provavelmente na maior parte do país seja

igual), faz com que esses sítios sejam reutilizados, é o desconhecimento da população

quanto aos riscos oferecidos por indústrias desativadas; desta maneira, as pessoas

acreditam estar seguras nesses ambientes ou próximas a eles.

Por fim, outra questão importante quanto à reutilização desses sítios é que, o

mercado imobiliário em Petrópolis passa por grandes dificuldades econômicas e, com

isso, diversas imobiliárias procuram vender esses sítios a qualquer custo, não

importando o histórico da área, os riscos potenciais, a população do entorno ou as

questões ambientais. Além disso, a depressão econômica de Petrópolis faz com que a

prefeitura ofereça incentivos fiscais às empresas que se estabelecerem no município e,

com isso, os sítios industrioais abandonados e/ou desativados tornam-se atraentes, pois

são bem localizados e possuem infra-estrutura de boa qualidade.

101

Sugerem-se novos estudos sobre indústrias desativadas no município de

Petrópolis, utilizando-se, para esse fim, análises de solos e de águas, para oferecer um

panorama mais completo da realidade desses locais. Com esses estudos, poder-se-á ter

um quadro da real situação em que se encontram esses sítios e, posteriormente, sugerir

novos usos, mais adequados à realidade local.

102

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106

ANEXO A

QUESTIONÁRIO AOS MORADORES

107

Qualificação do Respondente:

a. Você mora próximo deste local?

[ ] Sim [ ] Não

b. Há que distância?

[ ] Menos de 100 metros [ ] 100 a 500 metros [ ] Mais de 500 metros

c. Há quanto tempo?

[ ] 0 – 5 [ ] 5-10 [ ] 10-15 [ ] 15-20 [ ] 20-25 [ ] mais de 25

anos

d. Você é proprietário, inquilino ou outro (definir) da casa onde mora?

Resposta:____________________

1. O que você acha de morar neste local?

[ ] Muito bom [ ] Bom [ ] Indiferente [ ] Ruim [ ] Muito ruim

Por quê? _____________________________

2. O que você acha pior em morar neste local?

Resposta:____________________

Por quê? _____________________________

3. O que você acha melhor em morar neste local?

Resposta:____________________ Por quê? _____________________________

108

4. Dê uma nota para cada um dos itens abaixo referente a locais perto dos

quais você acha que mais desvalorizaria a sua casa (nota 5 é o item que

desvaloriza muito e nota 1 é o item que desvaloriza pouco):

A Proximidade de:

[ ] Cemitério [ ] Hospital/Posto de Saúde [ ] Favela [ ] Indústria

Funcionando [ ] Indústrias Fechadas [ ] Lixão [ ] Estação de tratamento de

esgotos [ ] Igreja [ ] Delegacia/DPO [ ] Presídio/Cadeia [ ] Encosta

[ ] Rodoviária [ ] Estação ferroviária [ ] Área de aterro [ ] Outros

A Falta de:

[ ] Rede Elétrica [ ] Rede Escolar [ ] Transporte Público [ ] Ruas Calçadas

[ ] Rede de Coleta de Esgoto [ ] Rede de Abastecimento de Água

[ ] Coleta Regular de Lixo [ ] Comércio Próximo [ ] Segurança [ ] Outros

Quais os três itens que mais desvalorizam a sua casa, em ordem? _______

5. Você sabe qual era a indústria que funcionava naquele terreno?

[ ] Sim [ ] Não

Em caso de sim, o que ela fazia?

___________________________________________

Há quanto tempo parou de funcionar?

______________________________________

6. Você vê algum problema em morar perto daquele terreno?

[ ] Sim [ ] Não

Em caso de sim, qual? ___________________________________________

109

7. Você acha que o preço de sua casa diminui pelo fato de se localizar perto de

uma antiga indústria?

[ ] Sim [ ] Não

Por que? ___________________________________________________________

8. Você sabe de alguém que já teve problema de saúde por causa dessa

fábrica?

[ ] Sim [ ] Não

Era quando a fábrica ainda funcionava?

[ ] Sim [ ] Não

Qual (is) problema (s): ____________________________________________

9. Você soube/percebeu algum dano que esta fábrica tenha provocado

enquanto funcionava?

[ ] Sim [ ] Não

Se sim, qual (is) dano (s): _________________________________

10. Você acha que essa área poderia ser reutilizada para outra finalidade?

[ ] Sim [ ] Não

Quais finalidades?

Existiria restrição para alguma atividade específica? Quais? Por que?

110

ANEXO B

QUESTIONÁRIO AOS CORRETORES

111

1. Você já negociou ou sabe de alguma negociação de terrenos (áreas?) que já

foram ocupados por alguma indústria no passado?

[ ] Sim [ ] Não

2. Com relação aos terrenos (áreas?) que já foram ocupados por alguma

indústria no passado, você acha que quando comparados com outras áreas

(terrenos) semelhantes em tamanho, geografia e localização, mas que não

foram ocupados por indústrias, em termos dos preços negociados estes

seriam:

[ ] Muito maiores [ ] Maiores [ ] Iguais [ ] Menores [ ] Muito

menores

3. Dê uma nota para cada um dos itens abaixo em ordem de desvalorização de

uma propriedade ou imóvel, em geral (não é só industrial; nota 5 é o item

que desvaloriza muito e nota 1 é o item que desvaloriza pouco):

A Proximidade de:

[ ] Cemitério [ ] Hospital/Posto de Saúde [ ] Favela [ ] Indústria

Funcionando [ ] Indústrias Fechadas [ ] Lixão [ ] Estação de tratamento de

esgotos [ ] Igreja [ ] Delegacia/DPO [ ] Presídio/Cadeia [ ] Encosta

[ ] Rodoviária [ ] Estação ferroviária [ ] Área de aterro [ ] Outros

A Falta de:

[ ] Rede Elétrica [ ] Rede Escolar [ ] Transporte Público [ ] Ruas Calçadas

[ ] Rede de Coleta de Esgoto [ ] Rede de Abastecimento de Água

[ ] Coleta Regular de Lixo [ ] Comércio Próximo [ ] Segurança [ ] Outros

Quais os três itens que mais desvalorizam, em ordem? _______

112

4. Você acha que um terreno, que já foi ocupado por uma indústria, poderia

ser utilizado em outra atividade no futuro?

[ ] Sim [ ] Não

Por quê?__________________________________

5. Você acha que o preço de um terreno (área) seria afetado pelo fato de já ter

sido utilizado por uma indústria no passado?

[ ] Sim [ ] Não

Por quê? ___________________________

E o preço das propriedades próximas dessa(e) área (terreno) seriam afetados?

[ ] Sim [ ] Não

Por quê? ___________________________

6. Você conhece alguma área ou imóvel que já foi ocupada por uma indústria

e que tiveram outras utilizações posteriores?

[ ] Sim [ ] Não

Se sim, quais: _________________________________

7. Você sabe de algum(a) terreno(área) que foi ocupado por indústria no

passado em que tenha sido feito alguma avaliação técnica antes ou depois

da sua negociação?

[ ] Sim [ ] Não

Se sim, quais: _________________________________

113

8. Se os proprietários investissem em avaliar uma possível contaminação

destes terrenos que já foram ocupados por indústrias e os

descontaminassem, quando necessário, antes de tentar vendê-los de

imediato, eles conseguiriam recuperam esse investimento?

[ ] Sim [ ] Não

Por quê? ____________________________________

9. Você acha que haveria vantagens financeiras em se adquirir uma área ou

imóvel que já foi ocupada por uma indústria no passado?

[ ] Sim [ ] Não

Por quê? ____________________________________

10. Você acha que este mercado de compra e venda de áreas que já tiveram

ocupação industrial deveria ser controlado?

[ ] Sim [ ] Não

Se sim, por quem: ________________________________________

Por quê deveria ser (ou não) controlado? __________________________________

114

ANEXO C

TABELAS DE ATIVIDADES POTENCIALMENTE

CONTAMINADORAS

115

Atividades susceptíveis de causarem contaminação dos solos.

ELIMINAÇÃO DE RESÍDUOS

Aterros sanitários de depósitos de entulhos

Aterros para construção com resíduos industriais

Eliminação de resíduos industriais

Lixões

Depósitos de resíduos de mineração

ATIVIDADES INDUSTRIAIS E COMERCIAIS

Indústria química e petroquímica

Indústria farmacêutica

Indústria de produção de pesticidas

Indústria de produção de tintas e vernizes

Indústria de reciclagem de solventes

Indústria de papel e celulose

Indústria metalúrgica

Indústria eletrotécnica

Indústria de galvanização

Fundições

Indústria de preservação de madeiras

Curtumes

Estaleiros

Indústria têxtil

Coquerias e gaseificação de carvão

Indústria de produção de fertilizantes

Empresas de recuperação de baterias, óleos usados, efluentes líquidos e embalagens.

Postos de gasolina

Lavanderias e tinturarias

Oficinas de mecânica de veículos automotores

Subestações elétricas

DEPÓSITO E TRANSFERÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS PERIGOSAS

Depósito de substâncias químicas e petroquímicas

Depósito de pesticidas

Depósito de solventes

Faixas de oleodutos

"LANDFARMING"

De sedimentos contaminados

De resíduos de hidrocarbonetos

De lamas de tratamento de esgotos e de fossas sépticas

Fonte: Sánchez31 (2001).

116

Lista de atividades industriais/comerciais do IBGE potencialmente contaminadoras do

solo e águas subterrâneas.

Fonte: IBGE, 1984, apud CETESB9, 2001.

117

Lista de atividades industriais/comerciais do IBGE potencialmente contaminadoras do

solo e águas subterrâneas.

Fonte: IBGE, 1984, apud CETESB9, 2001.

118

Lista de atividades industriais/comerciais do IBGE potencialmente contaminadoras do

solo e águas subterrâneas.

Fonte: IBGE, 1984, apud CETESB9, 2001.

119

ANEXO D

FICHA CADASTRAL DE ÁREAS

CONTAMINADAS DA CETESB

120

121

122

123

124

125

126

127

128

129

130

131

132

133

134

135