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UNIVERSIDADE POTIGUAR - UNP PRÓ - REITORIA DE PESQUISA E GRADUAÇÃO CURSO DE DIREITO SIMONE PEREIRA DA CAMARA DEFESA E PROTEÇÃO JURÍDICA DO CONSUMIDOR X CAOS AÉREO NA CIDADE DE NATAL/RN NATAL 2007

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UNIVERSIDADE POTIGUAR - UNP PRÓ - REITORIA DE PESQUISA E GRADUAÇÃO

CURSO DE DIREITO

SIMONE PEREIRA DA CAMARA

DEFESA E PROTEÇÃO JURÍDICA DO CONSUMIDOR X CAOS AÉREO NA CIDADE DE NATAL/RN

NATAL

2007

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SIMONE PEREIRA DA CÂMARA

DEFESA E PROTEÇÃO JURÍDICA DO CONSUMIDOR X CAOS AÉREO NA CIDADE DE NATAL/RN

Artigo apresentado à Universidade Potiguar – UNP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Direito. ORIENTADOR: Liana Maia de Oliveira

NATAL 2007

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SIMONE PEREIRA DA CÂMARA

DEFESA E PROTEÇÃO JURÍDICA DO CONSUMIDOR X CAOS AÉREO NA CIDADE DE NATAL/RN

Artigo apresentado à Universidade Potiguar – Unp, como parte dos requisitos para obtenção do título Bacharel em Direito.

Aprovado em: ____/____/_____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________

Profa. Dra. Ana Maria da Rocha

Universidade Potiguar – UnP

_____________________________________

Profa. Liana Maia

Universidade Potiguar - UnP

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AGRADECIMENTOS

Ao bom Deus, esteio e amparo das nossas vicissitudes, esperanças e

aspirações, por ter nos dado força ao longo da jornada, que, com sua ajuda, ora se

finda.

Aos meus pais, que me deram à vida, o seu amor, a força de lutar e me

ensinar a viver.

Aos meus irmãos pelo incentivo e pela ajuda inestimável a mim prestada no

decorrer do curso.

A José Arimatéa Coriolano de Araújo, pelo incentivo saudável, com

seriedade e dedicação, para que eu alcançasse mais um mérito.

Em especial, desejo expressar minha gratidão aos ilustres professores

colaboradores que nos auxiliaram em tal tarefa.

A Professora Liana Maia de Oliveira, pela orientação e subsídios que nos

levou a concluir este trabalho.

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RESUMO

O presente estudo tem como objetivo principal diagnosticar no âmbito jurídico, a

defesa e proteção ao consumidor x caos aéreo na cidade de Natal/RN e suas

conseqüências, buscando a efetivação do Código do Consumidor, seja na esfera da

responsabilidade civil do fornecedor e/ou no direito a segurança assistido ao

consumidor, baseando-se no princípio constitucional dos direitos individuais. Desde

a previsão e implementação do Código de Defesa do Consumidor é necessária à

observação de sua aplicação frente à realidade encontrada pelos consumidores

especificamente em Natal/RN. Desta forma, pesquisando as problemáticas

apresentadas aos que se encontram sob a égide da Lei nº. 8.078/90, estes serão

abordados, seja por meio de pesquisa bibliográficas, doutrinarias, jurisprudências

entre outras, para melhor exemplificá-las. A preocupação em aprofundar o estudo

sobre a questão aérea e suas conseqüências encontram-se diretamente ligadas ao

direito do consumidor, enquanto parte hipossuficiente na relação de consumo.

Evidenciaremos as questões relacionadas à falta de planejamento do Estado como

um dos pilares em que se sustenta o notório caos em que se tornou a aviação civil

do nosso país. O objetivo empírico do trabalho de pesquisa, está direcionado para

as transformações no sistema de transporte aéreo decorrente da má prestação de

serviços prestados aos consumidores no Brasil, especificamente em Natal/RN.

Adotar-se-á, no decorrer da pesquisa, instrumentos e procedimentos que nos darão

subsídios pra concretização dos nossos objetivos, que podem sofrer mudanças, uma

vez que os mesmos não são rígidos e inalteráveis. Os instrumentos ou técnicas

utilizadas na pesquisa serão: pesquisas bibliográficas da doutrina dominante acerca

do tema, bem como através da legislação aplicável ao caso e os princípios

constitucionais a garantir a efetivação desses direitos e jurisprudências. Assim, o

estudo pretende levantar questões acerca da defesa e proteção do consumidor

especificamente em Natal, tendo em vista a realidade totalmente diferente da

previsão legal brasileira, apontando novas sistemáticas na defesa e proteção,

demonstrando a relevância jurídica do trabalho, frente até aos operadores de direitos

que desconhecem meios legais para a segurança do consumidor.

Palavras-chave: consumidor, fornecedor e responsabilidade civil.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 07

2 CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL .......................................... 09

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS............................................................................ 09

3 MODELO DE RESPONSABILIDADE CIVIL................................................... 10

3.1 MODELO SUBJETIVO................................................................................... 10

3.2 MODELO OBJETIVO..................................................................................... 10

3.3 MODELO MISTO........................................................................................... 11

4 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO...................................................12

4.1 RESPONSABILIDADE POR DANO DECORRENTE DE PLANEJAMENTO. 13

5 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DAS EMPRESAS AÉREAS .................. 16

5.1 CONSUMIDOR...............................................................................................16

5.2 FORNECEDOR ............................................................................................. 18

6 DAS IMPLICAÇÕES DO CAOS AÉREO NA CIDADE DE NATAL ............ 22

7 DA JURISPRUDÊNCIA................................................................................ 24

CONCLUSÃO......................................................................................................... 26

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 27

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1. INTRODUÇÃO

A amplitude do tema: responsabilidade civil, no direito brasileiro, evidencia a

existência de um verdadeiro hiato doutrinário e jurisprudencial sobre as questões

envolvendo a responsabilidade civil do Estado por danos decorrentes de causas

diversas. Mais, especificamente, em se tratando da questão da aviação civil

brasileira que notoriamente se potencializa por um total desprezo as questões

relacionadas a planejamento.

É possível afirmar que a doutrina desenvolvida em nosso país sobre a

responsabilidade civil de dano causado por particular já se encontra em um

processo mais evoluído, embasado nas tendências do direito. Entretanto, é público e

notório que o mesmo não se pode concluir acerca do exame da responsabilidade

civil do Estado por não planejar. Neste quesito a doutrina e jurisprudência ainda

submergem em mar de dúvidas fundamentais como, por exemplo, sobre qual

modelo, se objetivo ou subjetivo, deverá ser adotado na responsabilização de atos

omissivos praticados pelo Estado.

Portanto, diante dessa insuficiência conceitual em termos da responsabilidade

civil no campo do direito público, constata-se que analisar a possibilidade de

responsabilização do Estado por danos decorrentes de responsabilidade civil

apresenta-se como um verdadeiro desafio doutrinário.

Assim, visando a colaborar no debate das causas e conseqüências do caos

aéreo que se instalou no Brasil desde o acidente da Gol Linhas Aéreas e

entendendo que o Código de Defesa do Consumidor estabelece que as empresas

aéreas sejam responsáveis pela qualidade inequívoca da prestação de serviço de

transporte aéreo civil, apresentaremos algumas considerações sobre o tema,

apontando algumas linhas de raciocínio que poderão ser úteis às discussões que

certamente ainda irão se suceder na linha do tempo até que se estabeleçam

claramente as responsabilidades civis do Estado e das empresas aéreas.

Analisaremos as reais implicações e os aparatos legais que podem nortear a linha

de conduta do consumidor quando lesado for o seu direito. Esse estudo também

contemplará em seus capítulos, uma avaliação sobre a crise aérea e suas reais

implicações, bem como, os aparatos legais que podem nortear o consumidor, a

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relevância da crise aérea no Brasil, e mais especificamente em Natal, da abordagem

legal do tema, como também sua origem e problemática.

Reportar-nos-emos ao histórico dessa crise, retratando os direitos inerentes

ao consumidor, focalizando a situação atual e, ainda, as estratégias de orientação:

propagandas informativas por via televisiva, revistas, campanhas de sensibilização

que objetivem atingir a proposta em comento.

O assunto também em questão nos fará enveredar por esferas políticas, pois,

não se pode discutir um tema dessa relevância sem estabelecermos as reais

competências e responsabilidades dos nossos governantes, haja vista que não

percebemos nenhum tipo de planejamento seja a curto, médio ou longo prazo, que

vislumbre na sua essência uma preocupação legítima em se achar soluções

adequadas às realidades de cada Estado da Federação e que tenha a capacidade

de unir essas realidades tão particulares dentro de um conceito moderno, amplo e

que, sobretudo, vislumbre o crescimento do país e a perceptível mudança na renda

dos brasileiros, obrigando aos poderes promoverem políticas públicas de

salvaguarda dos nossos direitos, enquanto consumidores, como também, criar um

ambiente competitivo que estimule a iniciativa privada a investir no setor.

Para tanto, se faz necessário que a defesa do consumidor, não seja maculada

pelo poder econômico, muito melhor aparelhado e amparado nas referidas questões,

e que a facilitação ao acesso a justiça e aos seus instrumentos de defesa,

estabeleçam o equilíbrio necessário na relação consumidor-fornecedor.

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2. CONCEITO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS

À luz de Sílvio de Salvo Venosa, o termo responsabilidade traduz, em sentido

amplo, "a noção em virtude da qual se atribui a um sujeito o dever de assumir as

conseqüências de um evento ou de uma ação". Transpondo este conceito lato para

seara indenizatória, ele significará a responsabilidade que impõe o dever de

indenizar.

Outro doutrinador, Eugênio Facchini Neto, diz que: Responsabilidade civil é a

obrigação que incumbe a uma pessoa de reparar o dano causado a outrem por ato

seu (responsabilidade direta), ou pelo ato de pessoas..., fato das coisas..., ou fato

dos animais a ela ligados.

Na acepção de Fernando Noronha, a responsabilidade civil é sempre uma

obrigação de reparar danos: danos causados à pessoa ou ao patrimônio de outrem,

ou danos causados a interesses coletivos, ou transindividuais, sejam estes difusos

ou coletivos “stricto sensu”... Se a responsabilidade atinge o causador do dano, ela

será dita direta; ao revés, se alcançar terceiro, denominar-se-á indireta.

Analisando esses conceitos introdutórios que traduzem com perfeição o que

pensam alguns doutrinadores sobre o assunto, pode-se facilmente entender que a

responsabilidade civil está intrinsecamente ligada ao dever, que é imposto a alguém,

de reparar os danos causados a outrem. Atualmente, esta idéia de necessidade de

reparação de dano é ponto pacífico na doutrina; contudo, nem sempre foi assim,

como mostra o histórico evolutivo desse instituto.

Para perfeita compreensão da teoria da responsabilidade civil, para futura

aplicação no objeto desse estudo, também é conveniente realizar uma breve

exposição sobre seus modelos e funções.

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3. MODELO DE RESPONSABILIDADE CIVIL

3.1 MODELO SUBJETIVO

Esse modelo de responsabilidade remonta ao Código Napoleônico de 1804,

que estabelecia, em seu artigo 1.382, a regra de que o dano causado a alguém por

outro, obriga o causador a repará-lo. Em suma, o direito napoleônico estabelecia a

necessidade de se determinar a culpa do agente como aspecto imprescindível na

apuração da responsabilidade civil. Sem culpa, não há responsabilidade.

Nesse modelo de responsabilidade, caracteriza o dever de indenizar se existir

os seguintes elementos: ação ou omissão voluntária, nexo causal, dano e culpa.

O modelo subjetivo atendeu satisfatoriamente às demandas de

responsabilidade civil até a metade do século XIX, porém, após o advento da

Revolução Industrial, significativas mudanças nas relações de trabalho ocorreram,

uma delas, o crescente aumento de acidentes que vitimavam os empregados que

operavam as máquinas no ambiente de trabalho que tinham que operá-las

sugeriram outras linhas de raciocínio.

3.2 MODELO OBJETIVO

Diante da nova realidade, marcada pela situação em que a máquina, e não o

patrão, passou a ser o direto causador do dano ao empregado, surgiu a necessidade

de se teorizar um novo modelo de responsabilidade civil que pudesse resolver

adequadamente as demandas de empregados lesados pelas máquinas industriais e

comerciais.

Esta teoria desenvolveu-se, sobretudo, na segunda metade do século XIX, na

França, através da doutrina elaborada por Saleilles, Josserand, Ripert, Demongue,

Savatier, Mazeaud e Mazeaud.

O questionamento que se fazia na época e que inquieta os juristas era:

se não se caracterizar a culpa por parte do empregador, como imputar-lhe a

responsabilidade por quaisquer danos decorrentes da utilização das máquinas pelo

operário?

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Assim, dentro dessa visão prática, foi apresentado o modelo objetivo de

responsabilidade civil, no qual, a teoria da culpa foi substituída pela teoria do risco,

evidenciando-se, nesse singular momento da história evolutiva da responsabilidade

civil, uma importante mudança de abordagem teórica, pois o ponto de convergência

da atenção jurídica deixou de ser o exame da culpa do agente para migrar para a

necessidade de reparação do dano, ainda que esta constatação, sob o ponto de

vista pragmático, possa ser considerada absolutamente irrelevante.

3.3 MODELO MISTO

Examinadas as principais teorias que ensejaram o desenvolvimento e

consagração do modelo objetivo de responsabilidade nos diversos ordenamentos

jurídicos existentes no mundo ocidental, passa-se agora ao exame do modelo misto.

A prática jurídica verificou que a eleição de apenas um dos modelos (subjetivo

ou objetivo) não seria suficiente para resolver a problemática da responsabilidade.

Pois, ora a solução encontraria "amparo numa das teorias, ora na outra".

Assim, a doutrina e a legislação pátria houveram por bem acatar hipótese

teórica na qual se verifica a combinação dos modelos subjetivo e objetivo. É o que a

doutrina brasileira assevera quando examina os artigos 186 e 927, caput e parágrafo

único, da Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). De fato,

interpretação sistemática dos dois artigos permite concluir que a regra da

responsabilidade civil no ordenamento pátrio é o modelo subjetivista. Contudo, do

exame do parágrafo único segundo, exsurge cristalina a eleição da responsabilidade

objetiva "nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente

desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de

outrem". Seria o caso, exemplificativamente, dos danos decorrentes das atividades

de uma fábrica de explosivos, mina de minérios ou de uma plataforma de extração

de petróleo ou, ainda, de um acidente de trânsito envolvendo automóveis de

passeio.

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4. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

Elencados os elementos necessários ao enfrentamento do objeto do presente

estudo – responsabilidade do Estado por danos decorrentes de planejamento –,

impende-se adentrar no mérito do tema.

Antes de tudo, é preciso delinear os aspectos do conceito de

responsabilidade civil do Estado. Nesse sentido, Hely Lopes Meirelles que ensina

que Responsabilidade civil da Administração Pública é, pois, a que impõe à Fazenda

Pública a obrigação de compor o dano causado a terceiros por agentes públicos, no

desempenho de suas atribuições ou a pretexto de exercê-las. É distinta da

responsabilidade contratual e legal.

Na acepção de Juarez Freitas, a responsabilidade objetiva do Estado merece

ser traduzida como obrigação de reparar ou compensar os danos materiais e

imateriais causados a terceiros por ação ou omissão desproporcional e antijurídica

dos agentes públicos, nessa qualidade.

O jurista gaúcho fundamenta sua concepção alargada, referindo que o

ordenamento jurídico brasileiro consagra a eficácia direta e imediata dos direitos

fundamentais, que também devem ser respeitados pelo Poder Público. Assim, as

condutas comissivas ou omissivas do Estado que infligem tais direitos serão

consideradas ilícitas, objetivando a necessária reparação.

Márcia Andréa Bühring adverte que as atividades de risco do Estado se

apresentam mais evidentes no exercício do poder de polícia, onde "a falta de

fiscalização ou mesmo o abuso no seu exercício traz a responsabilidade tanto por

sua ação ou omissão".

Mas, qual a relação que podemos fazer dos recentes acontecimentos da

aviação civil brasileira com a responsabilidade do Estado?

Se considerarmos que é obrigação do Estado investir na infra-estrutura

aeroportuária do nosso país, de imediato já terá um fato de responsabilidade civil

aplicável nesses acontecimentos. Equipamentos de controle de tráfego aéreo

ultrapassados, aeroportos que só primam pela estética e conforto dos que os

utilizam, negligenciando aspectos de segurança de vôo. Pistas que foram projetadas

para receber aeronaves da década de 50, corrupção desmedida nos órgãos que

deveriam promover a fiscalização das empresas aéreas, e por fim, a inércia e a

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completa e evidente falta de um planejamento estratégico que contemple ações de

curto, médio e longo prazo para o setor, colocam o Estado Brasileiro como agente

de relevante contribuição para o caos que se alojou em nosso país.

Dentro ainda da perspectiva de política nacional de relações de consumo,

cabe ao Estado não apenas desenvolver atividades nesse sentido, mediante a

instituição de órgão regulatórios, como também incentivar a criação de associações

civis que tenham por objeto a defesa dos interesses dos consumidores.

Após décadas de ausência de uma lei que protegesse a parte mais fraca da

relação jurídica de consumo, é regulamentada o Código de Proteção e Defesa do

Consumidor, Lei 8.078/90. O CDC a ser implantado com o intuito de diminuir as

disparidades entre a desequilibrada relação, ou seja, de um lado o fornecedor, do

outro lado um consumidor vulnerável e entre eles um vínculo dado pela aquisição de

bem ou serviço.

Justamente esta vulnerabilidade é que justifica a existência do CDC. O

consumidor com raríssimas exceções é a parte mais fraca da relação de consumo.

Nesta busca pela aquisição de um produto ou serviço, os fornecedores agem de

maneira além do limite do tolerável.

A liberdade para contratar, escolher e dispor, hoje é totalmente mitigada. Na

relação de consumo em regra estamos sujeitos a contratos massificados, ou seja, os

famosos contratos por adesão recheados de abusividades, onde a autonomia do

consumidor na sua grande maioria fica a cargo de uma simples aceitação.

Neste contexto, através de um mercado capitalista globalizado, contar com os

ditames do CDC, primando pela defesa do consumidor harmoniza a relação de

consumo.

A nossa Carta Magna determina em seu bojo que é dever do Estado a defesa

do consumidor, bem como o respeito à dignidade humana. É importante ressaltar

que se entenda pelo termo Estado, não apenas o ente federativo, mas também toda

a sociedade organizada, do judiciário, Ministério Público e o próprio consumidor.

4.1 RESPONSABILIDADE POR DANOS DECORRENTES DE PLANEJAMENTO

Mesmo diante de gritantes ausências do Estado nas políticas de sua

responsabilidade, cabe aludir que o assunto em questão parece não despertar a

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devida atenção do meio jurídico haja vista a falta de produção doutrinária acerca do

tema. Todavia, é notório nos dias atuais que as gritantes insuficiências e

ineficiências da Administração Pública no que tange o planejamento das políticas de

saúde, educação, segurança pública, infra-estrutura, entre outras, têm gerado

crescentes danos aos cidadãos brasileiros.

Exemplo do que se afirma: a crise do sistema aéreo brasileiro que, nos

últimos meses, como exaustivamente veiculado pela mídia nacional, concorreu para

o desencadeamento de dois acidentes aéreos de grandes proporções e o que é pior:

temos a perspectiva de novos fatos dessa natureza assolarem os brasileiros.

O primeiro, em 29 de setembro de 2006, em que um Boeing 737 da empresa

aérea Gol caiu em Mato Grosso depois de ter se chocado em pleno ar com um jato

executivo Legacy da empresa norte-americana Excel Air. Nesse sinistro, morreram

cento e cinqüenta e quatro pessoas. Em levantamento pericial constatou-se, que

foram fatores decisivos para o desastre, falhas técnico-operacionais do sistema de

controle aéreo, cuja gestão, em última análise, é de responsabilidade do Estado.

No segundo acidente, ocorrido em 17 de julho de 2007, uma aeronave Airbus

A320 da TAM Linhas Aéreas, em frustrada tentativa de pouso em pista molhada no

Aeroporto de Congonhas (São Paulo-SP), acabou colidindo em prédio administrativo

da própria empresa, vitimando todos os seus cento e oitenta e um passageiros, seis

tripulantes, além de outras pessoas que se encontravam no local do acidente.

Neste caso, o indício da existência da responsabilidade estatal pelos danos

decorrentes dessa tragédia parece pairar sobre o fato de que a pista utilizada pela

aeronave acidentada havia sido recentemente reformada pela Empresa Brasileira de

Infra-estrutura Aeroportuária (INFRAERO).

A possibilidade de ocorrência de acidentes no Aeroporto de Congonhas, em

razão do excesso de água na pista em dias de chuva, era tão evidente que o

Ministério Público Federal de São Paulo pleiteou judicialmente, sem sucesso, a

interdição da pista principal do referido aeroporto em face de cinco episódios dessa

natureza terem ocorrido em janeiro de 2007, como noticiado pela imprensa.

Todavia, a INFRAERO comprometeu-se, mesmo assim, a providenciar o

conserto da pista, aplainando as depressões onde a água ficava empoçada, tendo a

pista sido liberada para operação, após a referida reforma, cerca de vinte dias antes

do acidente.

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Vale ressaltar o que preconiza a INFRAERO no art. 4º de seu Estatuto, que

diz: a INFRAERO tem por finalidade implantar, administrar, operar e explorar

industrial e comercialmente a infra-estrutura aeroportuária e de apoio à navegação

aérea, prestar consultoria e assessoramento em suas áreas de atuação e na

construção de aeroportos, bem como realizar quaisquer atividades correlatas ou

afins, que lhe forem atribuídas pelo Ministério da Defesa.

Percebe-se que o artigo 174 da Constituição Federal atribui expressamente

ao Estado a função de planejamento enquanto agente normativo e regulador da

atividade econômica, ressaltando sê-lo determinante para o setor público e indicativo

para o privado.

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5. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DAS EMPRESAS AÉREAS

5.1 CONSUMIDOR

O conceito de consumidor adotado pelo Código foi exclusivamente de caráter

econômico, ou seja, levando-se em consideração tão-somente o personagem que

no mercado de consumo adquire bens ou então contrata a prestação de serviços,

como destinatário final, pressupondo-se que assim age com vistas ao atendimento

de uma necessidade própria e não para o desenvolvimento de uma outra atividade

negocial.

Numa concepção de natureza sociológica consumidor é qualquer indivíduo

que frui ou se utiliza de bens e serviços e que pertence a uma determinada categoria

ou classe social. Sobre o aspecto da natureza psicológica o consumidor é visto

como o individuo sobre o qual se estudam as reações a fim de se individualizarem

os critérios para a produção e as motivações internas que o levam ao consumo.

Da mesma forma, procurou-se evitar considerações de ordem literária e até

filosófica, embora também sejam relevantes.

Conclui-se, no código de defesa do consumidor, então, que consumidor é

qualquer pessoa, natural ou jurídica, que contrata para usufruto, mercadoria ou a

prestação de serviço, sem que haja considerações especiais.

Não podemos encarar ou analisar o consumidor, do ponto de vista isolado,

mas sim coletivamente, sobretudo quando se tem em vista sua sujeição a

campanhas publicitárias enganosas e abusivas, ou então ao consumo de produtos e

serviços perigosos ou nocivos à saúde e segurança.

Pode-se deste modo inferir que toda relação de consumo envolve

basicamente duas partes bem definidas: de um lado, o adquirente de um produto ou

serviço (consumidor), e, de outro, o fornecedor de um produto ou serviço

(produtor/fornecedor). Tal relação destina-se à satisfação de uma necessidade

privada do consumidor destinatário final.

O traço marcante da conceituação de consumidor está na perspectiva de

considerá-lo como hipossuficiente ou vulnerável. Isto pela simples constatação

de que dispõem as pessoas jurídicas de força suficiente para sua defesa, enquanto

o consumidor, ou, ainda, a coletividade de consumidores ficam inteiramente

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desprotegidos e imobilizados pelos altos custos e morosidade crônica da justiça

comum e dos artifícios das grandes empresas.

Prevaleceu, entretanto, a inclusão das pessoa jurídicas igualmente como

consumidores de produtos e serviços, embora com a ressalva de que assim são

entendidas aquelas como destinatárias finais dos produtos e serviços que adquirem,

e não como insumos necessários ao desempenho de sua atividade lucrativa.

Entendemos, contudo, mais racional sejam consideradas aqui as pessoas

jurídicas equiparadas aos consumidores hipossuficientes.

É certo, continua, que uma pessoa jurídica pode ser consumidora em relação

à outra: mas tal condição depende de dois elementos que não foram

adequadamente explicitados no Código.

O Código de Defesa do Consumidor não veio para revogar o Código civil no

que diz respeito a relações jurídicas entre partes iguais, do ponto de vista

econômico. Uma grande empresa oligopolista não pode valer-se do Código de

Defesa do Consumidor da mesma forma que um microempresário. Este critério, cuja

explicitação na lei é insuficiente, é, no entanto, o único que dá sentido a todo o texto.

Sem ele, teríamos um sem sentido jurídico.

Para os teóricos “finalistas”, pioneiros do consumerismo, a definição de

consumidor é o pilar que sustenta a tutela especial, agora concedida aos

consumidores. Esta tutela só existe porque o consumidor é a parte vulnerável nas

relações contratuais no mercado, como afirma o próprio CDC no art. 4º, inc.I. Logo,

convém delimitar claramente quem merece esta tutela e quem não a necessita,

quem é o consumidor e quem não é.

Propõem, então que se interprete a expressão destinatário final do art. 2º de

maneira restrita, como requerem os princípios básicos do CDC, expostos nos arts. 4º

e 6º.

Esta interpretação limita a figura do consumidor àquele que adquire um

produto para uso próprio e de sua família; consumidor seria o não profissional, pois

o fim do CDC é tutelar de maneira especial um grupo da sociedade que é mais

vulnerável.

Quanto aos “maximalitas”, uma outra vertente de pensadores, observa nas

normas do CDC o novo regulamento do mercado de consumo brasileiro, e não

normas orientadas para proteger somente o consumidor não profissional.

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O CDC seria um código geral sobre o consumo, um código para a sociedade

de consumo, o qual institui normas e princípios para todos os agentes do mercado,

os quais podem assumir os papéis ora de fornecedores, ora de consumidores.

Dissemos de forma limitada, já que o artigo 51 do Código do Consumidor,

versa sobre as cláusulas abusivas, que em seu inciso I são tidas como nulas de

pleno direito, ao determinar serem assim consideradas aquelas que impossibilitem,

exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vício de qualquer

natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos,

ressalva, ainda, que, nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor-

pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis.

Em princípio cada caso deverá ser analisado individualmente, até porque a

sua essência está em proteger às pessoas mais fragilizadas no mercado de

consumo, sendo a pessoa considerada como tal se equiparável à pessoa física.

Por fim é importante evidenciar que os preceitos do Código de Defesa do

Consumidor além de enunciar princípios que lhe são próprios, apenas relembram

princípios tão antigos quanto à própria consciência do Direito e que devem permear

todas as relações humanas, dando amplitude aos termos harmonia, boa-fé e

equilíbrio entre as partes.

5.2 FORNECEDOR

Fornecedor é todo responsável, na relação de consumo, de prover o

consumidor de produtos ou serviços. Ou ainda, aquele que abastece ou fornece de

forma corriqueira e habitual o ente residencial ou comercial de mercadorias

necessárias ao consumo. Consequentemente, todo aquele que oferta produto ou

serviço no mercado de consumo através de uma atividade mercantil e de forma a

suprir uma necessidade denomina-se: fornecedor.

O CDC em seu art. 3º afirma que o fornecedor pode ser público ou privado.

entendendo-se no primeiro caso o próprio poder público, por si ou então por suas

empresas públicas que desenvolvam atividade de produção, ou ainda as

concessionárias de serviços públicos, vale salientar nesse aspecto que um dos

direitos dos consumidores expressamente consagrados pelo art. 6º, mais

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precisamente em seu inciso x, é a adequada e eficaz prestação dos serviços

públicos em geral.

Quanto às atividades desempenhadas pelos fornecedores, são utilizados os

termos produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,

exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços e

sua condição de fornecedor está relacionada à sua atividade, desde que coloquem

aqueles produtos e serviços efetivamente no mercado. Nesse momento nasce a

eventual responsabilidade por danos causados aos consumidores do seu produto.

Entendendo melhor o que caracteriza a figura do fornecedor fica mais fácil

traçarmos um paralelo entre a conceituação e a efetiva aplicação desses conceitos.

Antes de enveredarmos pela celeuma da responsabilidade civil das empresas

aéreas, enquanto fornecedoras desse serviço, cabe-nos analisar o ambiente em que

essas empresas desenvolvem suas atividades.

A tragédia do vôo 1907 da Gol Linhas Aéreas consternou o nosso país e

dramaticamente chamou a nossa atenção para o transporte aéreo brasileiro. Apesar

de ostentar excelentes números de segurança e de possuir uma antiga tradição, o

setor aéreo não tem tido por parte dos governantes devida atenção desde os idos

nos anos 90 do século passado.

Em um país com dimensões continentais, o transporte aéreo é fundamental

não só pela interligação entre as cidades como pela circulação de mercadorias. Um

sistema aéreo eficiente deve contemplar quatro pilares de sustentação: segurança,

modicidade das tarifas, rede extensa de abrangência e condições de competitividade

das empresas do setor.

Nesse contexto, a decisão de intervir menos ou mais no segmento aéreo de

transporte de passageiros impõe ao Estado severas críticas por tratar esse

segmento com regras de livre mercado. De fato o Estado brasileiro não oferece às

companhias aéreas um cenário favorável no quesito gestão de custos. Os juros são

altos, o trafego aéreo não alcança escala que possam representar redução de tarifas

sem prejuízo de margens.

Além de tudo, temos uma carga tributária excessiva e os insumos são

calculados em moeda forte.

Esse aparente contraste do sucesso das companhias aéreas brasileiras

recém chegadas ao mercado deve-se muito mais pela redução das atividades de

empresas tradicionais como: Vasp, Transbrasil e Varig. Não seria absurdo validar

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opinião de que essas empresas hoje beneficiadas pelas dificuldades das já

mencionadas tradicionais empresas do setor, possam enfrentar os mesmos

problemas.

O que se percebe então é uma necessidade gritante de auferir lucros, o que

impõe ao consumidor práticas não muito simpáticas como: a redução de espaço nas

aeronaves para aumentar o número de assentos, o overbooking, os atrasos

incontroláveis e a questionável qualidade na manutenção periódica nos

equipamentos. Trazendo essa discussão a luz do cenário atual é possível

estabelecer conexões, embora que em algumas situações sejam subjetivas, sobre a

relevância do papel das empresas aéreas no caos que se alojou em nosso país.

Diante do dinamismo de uma sociedade que se formou a partir do século XX

a necessidade de se criar um instrumento regulador era imperativo. Almejando

alcançar esse objetivo o Ministério da Justiça criou uma comissão de juristas com a

finalidade explícita de elaborar um anteprojeto de lei. Para Finalmente em 1990 o

CDC foi promulgado e inaugurou importantes mudanças nas relações de consumo,

bem como estabeleceu mecanismos que disciplinam as relações de consumo entre

fornecedores e consumidores. Instituído pela Lei nº. 8.078 de 11 de setembro de

1990, o CDC foi o resultado de uma exaustiva busca pelo preenchimento da lacuna

existente no Direito Brasileiro, onde as relações comerciais eram tratadas por um

obsoleto Código Comercial datado do século XIX e que não contemplava em seu

bojo nenhuma proteção ao consumidor.

Uma das premissas essências para se estabelecer a chamada relação de

consumo era conceituar legalmente as partes envolvidas: consumidor, serviço ou

produto e fornecedor.

Entendendo essas questões nos dispomos a atender qual a responsabilidade

civil das empresas de transporte aéreo, enquanto fornecedoras, no caos que se

alojou em nossos aeroportos.

O art. 14 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor disciplina a

responsabilidade por danos causados aos consumidores em razão da prestação de

serviços defeituosos em exata correspondência com o disposto no art. 12.

Com efeito, deverá ser o Código de Defesa do Consumidor aplicado em

detrimento de qualquer outro diploma legal, pois se trata de legislação de ordem

pública. Convém, contudo, verificar se os elementos essenciais que configuram o

ato ilícito que ensejam reparação estão sendo ou foram evidenciados na conduta

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das empresas aéreas durante o advento do caos aéreo: fato lesivo voluntário, dano

moral ou patrimonial decorrentes do mesmo fato e o nexo de casualidade entre o

dano e o comportamento do agente.

Pode-se dizer que os elementos essenciais à caracterização da

responsabilidade civil das empresas aéreas no episódio em estudo, ficam

exaustivamente demonstrados nas razões explicitadas.

A responsabilidade dessas empresas prestadoras de serviços independe da

extensão da culpa, acolhendo, também nesta sede, os postulados da

responsabilidade objetiva.

O código de Defesa do Consumidor garante aos passageiros que utilizam

transporte aéreo a assistência das companhias, de acordo com suas necessidades.

Diversas são as situações que poderão ser enfrentadas na hora do embarque

devido aos problemas que estão ocorrendo nos aeroportos, ressalta-se que,

independente da responsabilidade sobre os atrasos ou cancelamentos dos vôos, as

empresas são obrigadas a fornecer alimentação, hospedagem, transporte, entre

outros serviços, de forma a minimizar os transtornos já causados aos passageiros.

No caso de cancelamento, os passageiros poderão ainda exigir o dinheiro da

passagem de volta, no mesmo dia, ou exigir que a empresa endosse seu bilhete

para outra companhia de forma que a viagem possa ser feita.

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6. DAS IMPLICAÇÕES DO CAOS AÉREO NA CIDADE DE NATAL

Natal é um centro de turismo nacional e, nesta cidade, o mar é um dos

principais elementos de sua paisagem. O azul de suas águas, a serenidade das

ondulações das dunas de areia tão brancas, formam sem dúvidas os elementos da

natureza que inspiram os turistas a desembarcar em nossa cidade. A porta de

entrada para esse deslumbramento é o Aeroporto Augusto Severo. Localizado na

cidade de Parnamirim, a 18 km da capital, o aeroporto foi concebido durante a II

guerra mundial com a finalidade de preparar uma unidade tática de envergadura a

fim de enfrentar ameaças à segurança do hemisfério ocidental, servindo de base de

apoio as forças aliadas.

No ano de 1980 o Ministério da Aeronáutica transfere para a Infraero a

missão de administrar o aeroporto. Em 24 de março de 2000 foi inaugurado o novo

terminal de passageiros com capacidade para 1,5 milhão de viajantes ano.

Observa-se que, Natal, e por não dizer o Rio Grande do Norte, não obstante

ao que aconteceu em todo o país nas últimas décadas, também só recebeu por

parte das autoridades uma preocupação muito mais estética do que operacional,

isso teve reflexo imediato no advento do apagão aéreo.

O famoso efeito dominó alimentado pelos aeroportos de Congonhas e

Guarulhos aportou em nossa cidade e demonstrou toda a ineficiência do aparato

existente no Aeroporto Augusto Severo. Tumulto, ausência de informações corretas

nos monitores que anunciavam as partidas e as chegadas dos vôos e nos últimos 4

meses uma central de ar-condicionado que não funciona e com previsão de início

das obras de reparação em no máximo 60 dias.

No que tange às conseqüências do apagão aéreo no Estado do Rio Grande

do Norte percebe-se que seus reflexos foram muito mais no aspecto econômico do

que no jurídico. Não obstante aos atrasos e cancelamentos de vôos que também

foram uma tônica no nosso Estado, a relevância das perdas de divisas à economia e

o notório prejuízo ao esforço dos órgãos competentes em promover Natal como

destino turístico sentenciou a obtermos um retrocesso em tudo o que já havíamos

conquistado.

Contrariando a crescente freqüência de turistas advindos, principalmente, da

Europa e em especial dos países Escandinavos, que em 2006 representou um

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substancial crescimento na ordem de 27% no número de vôos fretados desses

países com destino à cidade do Natal, o balanço de 2007 não evidenciará a mesma

situação.

Como resultado: hotéis com baixa taxa de ocupação, pacotes turísticos

cancelados, turismo interno enfraquecido e menos dinheiro circulando. O resultado

dessa equação: menos turistas = menos emprego e renda.

É relevante evidenciarmos que, não diferentemente do resto da nação é

necessário e urgente promover no nosso Estado algumas adequações que permitam

equacionar algumas questões pontuais que se evidenciaram com o advento do caos

aéreo. A recente reforma do aeroporto Augusto Severo já não atende a nossa

demanda, que se não tivesse pousado em nosso solo os reflexos do apagão aéreo,

já estaria bem acentuada. É preciso primar pela segurança e pelo respeito aos

usuários que são a mola mestra do desenvolvimento do setor de aviação civil. Não

podemos negligenciar essas questões. É perceptível a falta de infra-estrutura que

demanda todas as dificuldades que hora passam os usuários desse terminal é um

fator a ser equacionado.

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7. JURISPRUDÊNCIA

Em termos jurisprudenciais, pesquisa realizada no portal do Tribunal de

Justiça do Estado do Rio Grande do Sul encontramos alguns ajuizamentos

relacionados com questões decorrentes de falha ou inexistência de planejamento do

Poder Público.

O primeiro acórdão colacionado, cujo julgamento data de 26 de março de

1996, demonstra que o Poder público já havia sido condenado a indenizar particular

por danos decorrentes de falha de planejamento em obras de duplicação de rodovia,

fundado na responsabilidade objetiva do Estado.

Também se verifica que o Tribunal de Justiça gaúcho (TJRS) já se manifestou

no sentido de entender que não deve imiscuir-se nas questões de planejamento,

atividade exclusiva do Poder Executivo, contudo, ratificando sua possibilidade de

intervir nos atos e omissões administrativos dos quais resultem prejuízos aos

usuários de serviços públicos. O Poder Judiciário não age com os atributos da

generalidade, abstratividade e impessoalidade, características estas próprias da lei e

não do ato judicial. A atuação do Judiciário na fiscalização dos atos e omissões

administrativos é corretiva e repressiva, e não prospectiva, esta sim o campo próprio

do Executivo e de seu planejamento. Verificando-se, pela prova dos autos e com

base nos fatos públicos e notórios. O descaso da Administração com as estradas,

expondo permanentemente a população a riscos, não se trata apenas de

ilegalidade, mas de descumprimento da própria Constituição Federal (art. 5º, caput).

O Poder Público, independentemente da esfera governamental, tem dever

constitucional de proteger a vida e a segurança dos seus cidadãos, e assim, por

óbvio, o Estado do Rio Grande do Sul, dentro da necessária, normal, cotidiana e

rotineira utilização, pelas pessoas, de um de seus bens (as rodovias, conforme art.

7º, IX, da CE/89), seja de forma própria ou mediante os entes públicos ou privados,

a quem eventualmente se atribua ou se delegue a tarefa, como, no caso da

conservação das rodovias estaduais, o DAER (art. 1º, IV, da Lei Estadual nº.

11.090/98).

Encontra-se ainda, no debate da responsabilidade civil das empresas aéreas

jurisprudência específica sobre o assunto, inclusive do Superior Tribunal de Justiça:

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“Agravo regimental. Responsabilidade civil objetiva. Vôo internacional, atraso.

Extravio de bagagem. Aplicação do CDC. Problema técnico. Fato previsível. Dano

moral. Cabimento. Argumentação inovadora. Vedado”. Após o advento do CDC, as

hipóteses de indenização por atraso de vôo não se restringem àquelas descritas na

convenção de Varsóvia. A ocorrência de problema técnico é algo previsível... (STJ,

AgRg no Ag 442487, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA

TURMA, julgamento 25.09.2006, publicação DJ 09.10.2006 p.284.

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CONCLUSÃO

Com o intuito de promover o debate sobre o importante e atualíssimo tema da

responsabilidade civil do Estado e das empresas aéreas por danos decorrentes do

caos que se alojou no sistema aeroportuário Brasileiro, iniciamos este trabalho

centrando na análise nos principais elementos do instituto da responsabilidade civil:

os modelos em que se divide – objetivo e subjetivo.

Em seguida, foram trazidos à luz da reflexão, estudos específicos elaborados

por juristas sobre a matéria da responsabilidade civil por erro ou ausência de

planejamento, onde ficou evidenciado que o assunto ainda não mereceu a devida

importância do mundo acadêmico, tendo em conta o reduzidíssimo acervo

doutrinário encontrado acerca do tema.

Nesse sentido, foram apresentados alguns julgados do Tribunal de Justiça do

Estado do Rio Grande do Sul, relacionados com planejamento, nos quais se

verificou que o tema planejamento do Poder Público vem ganhando relevância nas

questões relativas ao exame da responsabilidade civil do Estado.

Verificou-se que a responsabilidade civil do Estado, em nosso ordenamento,

fundamenta-se na teoria do risco administrativo, sendo possível responsabilizar

objetivamente o Poder Público por danos decorrentes tanto de sua ação quanto de

sua omissão na realização de suas atividades voltadas à satisfação do interesse

público.

Por fim, diante de tudo quanto foi exposto, conclui-se que a responsabilidade

civil do Estado por dano decorrente de planejamento apresenta-se, no plano teórico.

Todavia, no plano material, verifica-se que é ainda insignificante a utilização dessa

teoria, evidenciando-se a necessidade de se intensificar o debate do assunto no

meio jurídico.

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TERMO DE AUTORIZAÇÃO Eu, Simone Pereira da Câmara, solteira, concluinte do curso de bacharel em Direito, residente e domiciliada na Rua da Saudade, 1088, Morro Branco, na cidade de Natal, Estado do Rio Grande do Norte, portadora do documento de Identidade: 1.127.436 – SSP/RN, CPF: 807.332.984-00, na qualidade de titular dos direitos morais e patrimoniais de autora da obra sob o título: Defesa e Proteção Jurídica do Consumidor x Caos Aéreo na Cidade de Natal/RN, sob a forma de Artigo e orientação de Liana Maia de Oliveira e Ana Maria da Rocha, CPF/MF nº 156.460.684-87, apresentada na Universidade Potiguar – UnP, em 30/11/2007, com base no disposto na Lei Federal nº 9.160, de 19 de fevereiro de 1998: 1. (X) AUTORIZO, disponibilizar nas Bibliotecas do SIB / UnP para consulta a OBRA, a partir desta data e até que manifestações em sentido contrário de minha parte determinem a cessação desta autorização sob a forma de depósito legal nas Bibliotecas, bem como disponibilizar o título da obra na Internet e em outros meios eletrônicos." 2. ( ) AUTORIZO, disponibilizar nas Bibliotecas do SIB / UnP, para consulta e eventual empréstimo, a OBRA, a partir desta data e até que manifestações em sentido contrário de minha parte determinem a cessação desta autorização sob a forma de depósito legal nas Bibliotecas. 3. ( ) AUTORIZO, a partir de dois anos após esta data, a Universidade Potiguar - UnP, a reproduzir, disponibilizar na rede mundial de computadores - Internet e permitir a reprodução por meio eletrônico, da OBRA, até que manifestações contrárias da minha parte determinem a cessação desta autorização. 4. ( ) CONSULTE-ME, dois anos após esta data, quanto à possibilidade de minha AUTORIZAÇÃO à Universidade Potiguar - UnP, a reproduzir, disponibilizar na rede mundial de computadores - Internet - e permitir a reprodução por meio eletrônico, da OBRA. Natal, 20 de novembro de 2007. ______________________________ Simone Pereira da Câmara