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TEATRO DE MARIONETES DE PAUL KLEE E A PRODUÇÃO DE BONECOS. Amanda Cristina de Sousa [email protected] E.M. Freitas Azevedo Comunicação – Relato de Experiência Resumo: O presente relato trata da experiência realizada na E.M. Freitas Azevedo, realizada no ano de 2010 com alunos do oitavo ano. Considero que a experiência não fazia parte do meu plano anual de aula, no qual constava o conteúdo de Desenho para aquele trimestre. Foram feitas várias atividades de desenho (desenho cego, desenho de observação, desenho de memória etc.) a próxima atividade foi um Ditado Visual da obra “Teatro de Marionetes” do artista Paul Klee. Após essa atividade os alunos se mostraram muito interessados na obra e, mais ainda, em seu título, depois de longa conversa a respeito de marionetes, teatro e escultura, os alunos me pediram para trabalharmos tais temas e construirmos marionetes. Fiquei surpresa com o interesse dos alunos, pois foi a primeira vez que me apresentaram propostas de trabalho. O projeto foi crescendo, construímos os bonecos de jornal, em seguida os pintamos, depois partimos para a caracterização, produção de roupas e acessórios, e assim vários personagens carregados de força expressiva e referências culturais foram aparecendo. Considero que a importância de tal experiência se dá principalmente na maneira que foi proposto, onde os alunos criaram junto ao professor um plano de ação e continuaram durante todo o processo levantando possibilidades, trabalhando com autonomia e liberdade. Decidiram então partir para a produção de vídeos, confessei a eles não ter experiência no assunto, nem conhecimento de programas de computador para as intenções apresentadas. Os alunos que tinham esses conhecimentos se proporão a cuidar desta parte, formamos equipes e cada um contribuía com o que lhe interessava. Foi por isso a experiência mais significativa que tive em sala de aula até hoje, pois tudo foi elaborado e desenvolvido mais pelos alunos que pelo professor e acredito que assim os conhecimentos são realmente efetivos.

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TEATRO DE MARIONETES DE PAUL KLEE E A PRODUÇÃO DE

BONECOS.

Amanda Cristina de Sousa

[email protected] E.M. Freitas Azevedo

Comunicação – Relato de Experiência Resumo: O presente relato trata da experiência realizada na E.M. Freitas Azevedo, realizada no ano de 2010 com alunos do oitavo ano. Considero que a experiência não fazia parte do meu plano anual de aula, no qual constava o conteúdo de Desenho para aquele trimestre. Foram feitas várias atividades de desenho (desenho cego, desenho de observação, desenho de memória etc.) a próxima atividade foi um Ditado Visual da obra “Teatro de Marionetes” do artista Paul Klee. Após essa atividade os alunos se mostraram muito interessados na obra e, mais ainda, em seu título, depois de longa conversa a respeito de marionetes, teatro e escultura, os alunos me pediram para trabalharmos tais temas e construirmos marionetes. Fiquei surpresa com o interesse dos alunos, pois foi a primeira vez que me apresentaram propostas de trabalho. O projeto foi crescendo, construímos os bonecos de jornal, em seguida os pintamos, depois partimos para a caracterização, produção de roupas e acessórios, e assim vários personagens carregados de força expressiva e referências culturais foram aparecendo. Considero que a importância de tal experiência se dá principalmente na maneira que foi proposto, onde os alunos criaram junto ao professor um plano de ação e continuaram durante todo o processo levantando possibilidades, trabalhando com autonomia e liberdade. Decidiram então partir para a produção de vídeos, confessei a eles não ter experiência no assunto, nem conhecimento de programas de computador para as intenções apresentadas. Os alunos que tinham esses conhecimentos se proporão a cuidar desta parte, formamos equipes e cada um contribuía com o que lhe interessava. Foi por isso a experiência mais significativa que tive em sala de aula até hoje, pois tudo foi elaborado e desenvolvido mais pelos alunos que pelo professor e acredito que assim os conhecimentos são realmente efetivos.

Produção de Bonecos

“Antes de qualquer trabalho com esculturas é necessário contextualizar o tema

esculturas através de pesquisas ou aulas expositivas que situem a criança dentro do tema a ser

abordado.” (RAFFA, 2007, p. 9)

A escultura e o boneco

Para iniciarmos a produção dos bonecos foi necessário trabalhar o conceito de

bidimensionalidade e tridimensionalidade, o que realizei em aula expositiva e com

apresentação de imagens de esculturas.

Da aula expositiva foi discutido:

1- História da escultura;

2- Os diferentes materiais que podem ser utilizados para a produção de

esculturas;

3- Técnicas utilizadas em alguns períodos da história e nos dias atuais;

4- Escultores de grande destaque: Michelangelo, Aleijadinho, Auguste

Rodin, Mestre Vitalino, Alfredo Ceschiatti, entre outros.

5-

Da leitura de imagens:

Os alunos deveriam observar e expor suas idéias a respeito dos materiais utilizados,

tamanhos, proporções, cores, volumes, composição, movimento, harmonia, além de sensações

que tiveram sobre as intenções dos artistas em cada imagem. As imagens escolhidas foram

dos artistas citados acima e serão apresentadas caso a proposta de apresentação seja aprovada.

O material escolhido para construção dos bonecos foi o jornal, pela facilidade técnica

e também por estar relacionado a um projeto interdisciplinar que estava sendo desenvolvido

na escola chamado “reciclarte”. Além do jornal foram utilizados barbantes e fita crepe para

unir as partes do boneco.

Montagem da estrutura do boneco: os membros eram feitos de rolinhos de jornal, a

cabeça com uma bola de jornal encapada e amarrada como uma peteca, a ponta da peteca é

enrolada e se torna o tronco do boneco, os membros são presos ao tronco, e assim está pronta

a estrutura. Foram necessárias duas aulas para construir a estrutura, cada aluno construía seu

boneco, alguns não se preocupavam muito com as proporções e foram deixados à vontade

quanto a isso, um aluno fez o seu com uma perna só, fiquei feliz por não serem todos iguais e

por trabalharem com liberdade.

A Marionete e o Teatro

Após a atividade do ditado visual da obra teatro de marionetes de Paul Klee, os

alunos demonstraram interesse por marionetes, questionando a possibilidade de produzirmos

em sala.

Iniciamos assim uma longa discussão sobre o que entendiam por marionete, a

resposta foi no geral que tratam-se de bonecos manipuláveis. Devíamos agora pensar então no

boneco como personagem teatral, apesar de não ser uma professora de teatro, tentei explorar a

proposta.

Se nos propomos a criar um personagem e uma ação teatral, os alunos então deviam

pensar e definir em que espaço se daria a ação e construir também este espaço, ou seja, um

cenário, também é necessário um tema para direcionar tanto o cenário quanto os tipos de

personagem.

Quanto a isso decidiram:

Tema- Festival de música

Cenário- Um palco

Personagens- Um apresentador e cantores

Em se tratando da criação teatral, me faltam conhecimentos específicos, mas como

decidiram por um festival de música isso seria mais fácil. Sugeri a improvisação, cada boneco

representaria um cantor, o aluno escolheu um artista para representar e uma música. Pedi que

eles assistissem vídeos do cantor escolhido para que observassem as características físicas e o

estilo de cada um e assim tentassem criar proximidade na imagem do boneco com a pessoa

que ele representaria.

O projeto surgiu no último trimestre do ano letivo, e como tínhamos data para encerrar

tivemos algumas falhas que não foram resolvidas. O cenário não ficou pronto, os alunos

tiveram dificuldades com o programa de computador, pois ocorreu o seguinte: Alguns alunos

queriam fazer paródias, outros queriam cantar, e outros não cantariam de jeito nenhum.

Ficou definido então que seria feito uma montagem no computador, colocando um

play back da música escolhida para quem tinha feito paródia, e colocaria a música com letra

para quem não quisesse paródia.

Não conseguindo marcar laboratório de informática ficou ainda mais difícil concluir a

idéia, e tudo então passou a ocorrer de forma mais improvisada pra mim e mais livre para os

alunos, já que tudo era cada vez mais sugerido e dirigido por eles.

“A pedagogia do meio coloca como referência a preparação para a construção coletiva

do futuro, o que só pode ser aprendido por meio da própria vivência da vida coletiva.”

(PISTRAK, 2009, p.93)

A caracterização dos personagens e a produção dos vídeos

Para caracterização dos personagens, como foi dito acima, se iniciava na observação

de vídeos e imagens do cantor que desejavam representar, depois procuramos encontrar

materiais que possibilitassem melhores resultados. Nas imagens que seguem abaixo podemos

identificar alguns materiais: espoja de aço (cabelo) e retalhos de tecido. Os alunos foram

muito criativos na escolha de materiais principalmente para fazer o cabelo de seus

personagens, foram usados: fita magnética, papel, linhas de vários tipos, cabelo sintético,

espuma, e até cabelo humano.

Grande parte da caracterização era feita individualmente e fora da escola, muitos

alunos envolveram toda a família na sua produção. As roupas eram costuradas ou coladas,

feitas com retalhos de tecido, também capricharam nos acessórios: colares, pulseiras, sapatos,

um aluno imprimiu a imagem de um relógio e um par de tênis. Fiquei surpresa com a

dedicação dos alunos, muitos bonecos eram trazidos para escola como acabados e voltavam

pra casa para serem melhorados por vontade de seus criadores, que após observarem a

produção dos colegas percebia novas possibilidades. Eles foram muito exigentes na

caracterização tentando representar através dela questões ligadas à cultura do artista, seu lugar

de origem, e até alguns valores. É interessante relatar que oitenta por cento dos bonecos foram

pintados de preto por opção dos alunos.

A produção de vídeos foi apenas o registro das experiências que desenvolvemos,

devido ao tempo que tínhamos, a disputa pelo laboratório de informática e o pouco

conhecimento que tenho em produção de vídeo, foi uma troca de experiências e

enfrentamento do desafio de produzir por parte de todos nós.

Fizemos algumas gravações “caseiras” sem utilização de recursos da informática, em

alguns os alunos cantavam, outros gravavam com o som do celular, e assim fomos

experimentando. Um dos alunos que tinha mais conhecimento em informática tentou criar o

vídeo dele com play back, não conseguiu, mas conseguiu fazer um bom vídeo com imagem e

som. Inclusive quero convidá-lo para participar da comunicação caso seja aprovada.

Infelizmente estou enviando a imagem de apenas um boneco, devido a um problema

em meu computador, e não consegui resgatar as fotos antes do término das inscrições, mas se

for apresentar já estarei com as imagens e vídeos.

Considero esta experiência relevante, por ter sido construída por todos, aluno e

professor trabalhando como iguais, pois creio que quando o aluno acredita que o professor

sabe tudo, e só faz o que este pede, ele deixa de produzir com autonomia, limitando seu

desejo de criar e o efetivo conhecimento.

“O movimento para transformar a escola não é mais que o mesmo movimento que

transformará a sociedade: cada avanço parcial vale por si mesmo e como garantia de que é

possível uma mudança total”. (GUTIÉRREZ, 1988, p.43)

IMAGENS

Boneco de Jornal – 0,30m

Boneco de Jornal – 0,30m

Boneco de Jornal – 0,30m

Referências Bibliográficas: BRIOSCHI, Gabriela. Arte hoje. 5ed. São Paulo. FTD. 2003

GUTIÉRREZ, Francisco. Educação como práxis política. 1ed. São Paulo. Summus. 1988.

PISTRAK, Moisey. A escola-comuna. 1ed. São Paulo. Expressão Popular. 2009.

RAFFA, Ivete. Fazendo arte com os mestres. 3ed. São Paulo. Escolar. 2007.