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Em sua 21ª edição, de novembro de 2014 a janeiro de 2015, o programa Ocupação Itaú Cultural homenageou e explorou a trajetória do Giramundo.

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Puxando os fios da história do Giramundo, chegamos à infância de Álvaro Apocalypse (1937-

2003) em sua Ouro Fino natal. Era lá que, observados pelas montanhas do sul de Minas Gerais, o menino e seus irmãos brincavam de imaginar e materia-lizar uma cidade povoada só por brinque-dos e bonecos. Álvaro, por assim dizer, não deixou de lado essa brincadeira até morrer, aos 66 anos, mesmo – ou princi-palmente – quando investido de papéis profissionais como os de pintor, desenhis-ta, gravador, cenógrafo e diretor de teatro.

Já em Belo Horizonte, depois de estudar gravura em metal e litografia na lendá-ria Escola Guignard – uma instituição muito mais preocupada em estimular a experimentação e a criação artísticas do

que em produzir e distribuir diplomas –, Álvaro começou, em 1959, a dar aulas de desenho na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Ge-rais (UFMG), onde conheceu sua futura mulher, Terezinha Veloso (1936-2003), também artista plástica e docente no local. Em 1970, os dois iniciaram uma parceria artística com a aluna Maria do Carmo Vivacqua Martins, a Madu, bolan-do apresentações cênicas informais, com bonecos um tanto rudimentares, para crianças, familiares e amigos na residên-cia de campo do casal em Lagoa Santa, região metropolitana da capital mineira. E as sessões domésticas daquela que foi considerada uma inventiva e carismática versão de A Bela Adormecida deram o que falar. Em 1971 o Giramundo levou para o Teatro Marília, no centro da cida-de, sua releitura do conto de fadas do francês Charles Perrault (1628-1703) – e foi justamente para a França que o grupo rumou no ano seguinte, como convidado do 1º Festival Mundial de Teatro de Marionetes, em Charleville-Mézières.

A passagem pela comuna francesa, es-pécie de meca do teatro de bonecos, deu ao grupo a chance de conhecer e absorver a sofisticação das produções europeias – as mais avançadas técnicas de manipulação e o apuro nas concep-ções de luz, cenografia, som e figurinos,

por exemplo. Adaptado da ópera do espanhol Manuel de Falla (1876-1946) – baseada, por sua vez, em passagens do romance Dom Quixote, de Miguel de Cervantes (1547-1616) –, o espetáculo El Retablo de Maese Pedro é prova disso. A montagem estreou na edição de 1976 do Festival de Inverno de Ouro Preto e sua passagem pelo Rio de Janeiro, no ano seguinte, projetou nacionalmente o traba-lho dos artistas – capazes de trazer à luz

“uma pequena joia”, no dizer do crítico Yan Michalski (1932-1990), admirado pela habilidade que a peça tinha de transcen-der o público infantil e fisgar o adulto com igual respeito à inteligência mútua.

“Na roupagem que o grupo lhe deu”, comentou Michalski no extinto Jornal do Brasil, “a pequena ópera de Manuel de Falla é antes de mais nada obra de artistas plásticos, adotando como ponto de partida uma imagem realista da figu-ra humana, mas submetendo-a a uma estilização intensamente expressiva e poética”. Vai ver o crítico chegou a du-vidar se o que via no palco eram atores ou marionetes. “A qualidade técnica da movimentação chega a ser impressionan-te. Os bonecos são dotados de uma agi-

lidade e de uma capacidade de executar com naturalidade e precisão movimentos complexos que lhes conferem um poder de convicção profundamente humano.”

CONSCIÊNCIAS HISTÓRICA, POLÍTICA E CULTURALA ambição pela forma atraiu a ambição pelo conteúdo. E, sem deixar de surpre-ender o público com os – constantemente renovados – aspectos técnicos e esté-ticos dos espetáculos, o Giramundo foi abrindo uma linha de interpretação da realidade e do imaginário brasileiros. Em 1979, por exemplo, o coletivo embonecou o poema “Cobra Norato”, escrito pelo mo-dernista gaúcho Raul Bopp (1898-1984) com base na lenda amazônica do menino que é serpente durante os dias e à noite vira gente novamente. À peça, uma das

A ARTE DE MOVER

Terezinha Veloso, Álvaro Apocalypse e Madu: a origem do Giramundo

A Bela Adormecida: o príncipe acorda a princesa e a peça desperta a atenção do público para o coletivo mineiro[fotos: acervo Giramundo]

O Guarani [foto: acervo Giramundo]

Alice no País das Maravilhas: o passado e o futuro do Giramundo

Beatriz Apocalypse, Ulisses Tavares e Marcos Malafaia (de camiseta preta): a atual diretoria do grupo[fotos: acervo Giramundo]

O garoto – ou melhor, o boneco – Pedro, de Pedro e o Lobo, espetáculo mais apre-sentado da companhia

Museu Giramundo: o maior acervo de teatro de bonecos das Américas[fotos: André Seiti]

sábado 29 novembro 2014 a domingo 11 janeiro 2015terça a sexta 9h às 20h[permanência até as 20h30]sábado, domingo e feriado 11h às 20h

Aos sábados e domingos, das 11h às 15h, trechos de espetáculos do grupo são apresentados em um palco montado dentro do espaço expositivo. E, às quintas e sextas, das 15h às 20h, um artista instala sua oficina por-tátil no local – e o público pode assistir de perto à construção de uma mario-nete (o artista tira folga nos dias 25 e 26 de dezembro e 1º e 2 de janeiro).

A Ocupação Giramundo ainda pro-move, no Itaú Cultural e no Auditório Ibirapuera, a exibição de cinco peças da companhia. Confira a programação em itaucultural.org.br/ocupacao.

38 39

BONECO DE LUVA

Chamado no Brasil de fantoche, o boneco de luva é um dos mais praticados no mundo todo.

Na Europa, assumiu diversas formas sendo conhecido como “Guignol” na França, como “Punch” na Inglaterra, “Karsperl” na Alemanha, “Pulcinnella” na tália.

No Oriente, encontrou na China o local onde desenvolveu forma virtuosística de manipulação, sendo praticado até hoje.

Como personagem anárquica, popular e contraditória, o boneco de luva se identificou fortemente com o povo, criando uma linguagem própria, e fixando a rua como seu teatro.

O Mamulengo do nordeste do Brasil, de fundo popular, utiliza este gênero.

De manipulação muito difícil, o boneco de luva exige muito do marionetista pois este deve atuar criando vozes e interpretando, às vezes, duas personagens ao mesmo tempo.

Dizem que o boneco de luva é o único boneco onde corre sangue dentro, o sangue das mãos do marionetista.

50 51

BONECO DE FIO

Conhecido no Brasil como “marionete”, é de construção complexa e manipulação difícil.

Pode ter entre 12 a 30 fios que convergem para a “cruz de manipulação” onde ficam ao alcance das mãos do marionetista.

É um gênero que permite movimentos muito próximos dos movimentos humanos ou animais.

Por ser acionado por fios, o marionete se move de modo lento e delicado.

Para o desenvolvimento da técnica de manipulação, o marionetista precisa conhecer o comportamento especial do movimento do marionete encarando-o como um pêndulo.

58 59

BONECO DE VARA

Montado em torno de uma vara principal que sustenta o conjunto, este gênero é derivado do “wayang”, gênero de boneco da ilha de Java, Indonésia. A técnica se espandiu modernamente por todo o mundo através de numerosas variações.

Este tipo de boneco é manipulado de baixo para cima sendo o marionetista oculto por uma tapadeira.

No caso do Wayang de Java, o manipulador opera o boneco sentado no chão sendo a tapadeira uma faixa de tecido relativamente baixa.

Já no teatro de vara do ocidente, os marionetistas manipulam estes bonecos de pé, sendo a tapadeira mais alta.

Normalmente, o boneco possui apenas uma vara em uma das mãos. Mas marionetistas habilidosos, podem mover duas varas simultaneamente. Um marionetista auxiliar também pode mover a segunda vara.

66 67

MAROTE

Variação simplificada do boneco de vara, este gênero se presta bem para figurações e dança. Não possui controles nas mãos nem na cabeça mas o bom manipulador pode tirar muitos efeitos de seus movimentos soltos.

68 69

BONECO A TRINGLE

Do francês, “tringle”, vara. Tem o corpo sustentado por uma haste metálica fixada na cabeça.

Pode-se adicionar movimentos de cabeça, pernas e mãos de forma simplificada.

Tradicionalmente praticado ao sul da Itália, na Bélgica e no Norte da França.É considerado o “pai” do boneco de fio.

Por ser movido por varas de ferro, o “tringle” apresentamovimentos de tipobrusco e rápido.

68 69

BONECO DE BALCÃO

Derivado do “bunraku” japonês, que utiliza três

manipuladores por boneco, este gênero difundiu-se

pelo ocidente originando diversas variantes.

Dentre as quais, se destacaa curiosa forma de teatro

onde os marionetistas se vestem de preto e se tornam

invisíveis pelo jogo de luz.

Chamado informalmentede “balcão” é manipulado

por trás apoiando-se num pedestal, mesa ou balcão.

itaucultural.org.br fone 11 2168 1777 [email protected] avenida paulista 149 são paulo sp 01311 000

entrada franca

Realização

Alvará de Funcionamento de Local de Reunião – Protocolo: 2012.0.267.202 – Lotação: 742 pessoas Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) – Número: 121335 – Vencimento: 1/9/2017

[estação brigadeiro do metrô]

OCUPAÇÃO GIRAMUNDO

RealizaçãoItaú Cultural

CuradoriaItaú Cultural [Núcleos de Educação e Relacionamento e de Enciclopédia] e Giramundo [Beatriz Apocalypse, Marcos Malafaia e Ulisses Tavares]

Projeto expográficoThereza FariaAssistência Patrícia ForestiConsultoria Ulisses Tavares

ITAÚ CULTURAL

Presidente Milú VillelaDiretor superintendente Eduardo SaronSuperintendente administrativo Sérgio M. Miyazaki

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO E RELACIONAMENTOGerência Valéria ToloiCoordenação Tatiana PradoProdução executiva Ana Estaregui e Tiago FerrazSupervisão de atendimento ao público Nathalie Bonome e Silvio SantisCoordenação de atendimento educativo Samara FerreiraEducadores Ana Figueiredo (estagiária), Bianca Selofite, Claudia Malaco, Débora Fernandes, Fernanda Kunis (estagiária), Guilherme Ferreira, Isabela Quattrer (estagiária), Josiane Cavalcanti, Maria Meskelis, Raphael Giannini, Samantha Nascimento (estagiária) e Thiago Borazanian

NÚCLEO DE ENCICLOPÉDIAGerência Tânia RodriguesCoordenação Glaucy TuddaProdução executiva Laércio Menezes

NÚCLEO DE AUDIOVISUAL E LITERATURAGerência Claudiney FerreiraCoordenação Kety FernandesProdução de conteúdo audiovisual Jahitza BalaniukRoteiro, captação e edição de imagens Karina FogaçaCaptação de imagens André SeitiCaptação de áudio Ana Paula Fiorotto

NÚCLEO DE COMUNICAÇÃOGerência Ana de Fátima SousaProdução editorial Lívia G. Hazarabedian e Raphaella RodriguesCoordenação de texto Carlos Costa

Produção e edição de texto Thiago RosenbergEdição do site Maria Clara MatosRevisão de texto Polyana LimaCoordenação de design Jader RosaComunicação visual Yoshiharu ArakakiProjeto gráfico e diagramação Liane IwahashiFotos André SeitiTratamento de imagens Humberto Pimentel (terceirizado)

NÚCLEO DE PRODUÇÃO DE EVENTOSGerência Henrique Idoeta SoaresCoordenação (exposição) Edvaldo Inácio Silva e Vinícius RamosProdução (exposição) Aline Arroyo Barbosa de Oliveira (terceirizada), Carmen Cristina Fajardo Luccas, Daniel Suares (terceirizado), Erica Pedrosa Galante, Fabio Marotta, Fernanda Carnaúba (terceirizada) e Wanderley BispoCoordenação (espetáculos) Januario José Rolo de SantisProdução (espetáculos) Janaina Bernardes, Julia Retondo (terceirizada), Marcos Miranda, Priscila Moraes e Vinicius Francisco (terceirizado)

PUBLICAÇÃO IMPRESSATexto Valmir SantosIlustrações intervenção gráfica sobre desenhos de Álvaro Apocalypse e Marcos MalafaiaFotos André Seiti e GiramundoEdição Thiago RosenbergProdução Lívia G. HazarabedianCoordenação de design Jader RosaProjeto gráfico Liane IwahashiRevisão Polyana Lima

GIRAMUNDO

Textos Marcos MalafaiaSupervisão de restauração e direção de ensaios Beatriz ApocalypseAteliê de restauração Ana Fagundes, Bárbara Andalécio e Fabíola RosaCoordenação de produção e montagem Beatriz ApocalypseAuxiliares de montagem Debora Lutz, Guilherme Benoni e Ricardo da MataMarionetistas da exposição Camila Polastchek, Debora Lutz, Guilherme Benoni e Paulo Emílio LuzInstrutor da oficina do marionetista Daniel BowieProgramação visual (ilustrações) Álvaro Apocalypse e Marcos Malafaia

Fundado em 1970 e ainda em atividade, o grupo de teatro de bonecos Giramundo tem uma história tão incrível quanto aquelas que ele leva para os palcos. Ao

longo de mais de 40 anos, o coletivo mineiro explorou as mais diferentes técnicas de construção e manipulação de marionetes e abordou os mais diversos temas em espetáculos para públicos variados – sem contar as recentes experiências com suportes audiovisuais e digitais –, compondo uma trajetória que se reinventa constantemente... Feito o mundo, que não para de girar.

E é nessa rodopiante e incessante trajetória que a 21ª Ocupação Itaú Cultural se aventura. Além de uma exposição, em cartaz entre novembro de 2014 e janeiro de 2015, o programa apresenta uma mostra de peças da companhia – e, em itaucultural.org.br/ocupacao, traz textos, fotos e vídeos ligados ao universo do Giramundo.

Itaú Cultural

Cobra Norato: a cultura brasileira como protagonista[foto e desenho: acervo Giramundo]

mais premiadas na trajetória do grupo, seguiram-se trabalhos como O Guarani, de 1986, adaptação da ópera homônima de Carlos Gomes (1836-1896) – e, con-sequentemente, do romance de José de Alencar (1829-1877) – sobre o choque entre índios e colonizadores; Tiradentes: uma História de Títeres e Marionetes, de 1992, focado no período da inconfidên-cia mineira; e Os Orixás, de 2001, sobre a influência da cultura negra na forma-ção da identidade cultural brasileira.

Mas não é só de história que vive o Giramundo. Atualmente dirigido por Marcos Malafaia, Ulisses Tavares e Beatriz Apocalypse, filha de Álvaro, o grupo conta com outros 22 integrantes e segue somando novas montagens ao seu repertório – como Alice no País das Maravilhas, de 2013. Adaptação hi-tech do livro do inglês Lewis Carroll (1832-1898), o espetáculo bem que poderia ser definido pelo Chapeleiro Maluco como algo que aponta, simultaneamente, para trás e para

a frente. Ao mesmo tempo que revê e resu-me a trajetória do Giramundo, reunindo em uma só apresentação todas as técnicas de manipulação já adotadas pelo coletivo, a peça é a primeira a trazer em seu elenco um boneco digital – no caso, o Gato de Cheshire, elaborado por meio do sensor de movimentos Kinect. Na virada da década de 1960 para a de 1970, por sinal, Álvaro já pensava em produzir animações em stop motion – com fotos de marionetes projetadas a 24 quadros por segundo, ge-rando uma ilusão de movimento. Contudo, e felizmente no caso, as condições de pro-dução em vídeo eram precárias na época.

Localizada desde o início dos anos 2000 no bairro Floresta, em Belo Horizonte, a atual sede do grupo comporta uma ofici-na, um estúdio de animação, um teatro, uma escola – que promove cursos de modelagem, confecção e manipulação de bonecos voltados tanto para crianças e adolescentes quanto para estudantes e profissionais da área – e um museu. Nesse último espaço, como que em uma zona livre onde os personagens de diferentes histórias podem se encontrar,

o Dom Quixote de El Retablo de Maese Pedro descansa ao lado de Cobra No-rato, Alice e centenas de outros atores e atrizes de madeira, pano, papel machê, resina, fibra de vidro, policarbonato... Suspensas no teto ou apoiadas no chão e nas paredes, as marionetes criadas por Álvaro, Terezinha, Madu, Beatriz, Marcos, Ulisses e os outros representantes de carne e osso do Giramundo podem ser vistas de perto, com sua riqueza de deta-lhes e articulações – exibindo uma beleza que, no entanto, só se revela completa-mente quando em movimento.

Seja em ação, seja em repouso, em todo caso, os bonecos do Giramundo podem ser objetos manipuláveis – mas são eles que mexem com a gente.

Valmir Santos é jornalista, crítico e pesquisa-dor teatral. Mestre em artes cênicas e coautor do site Teatrojornal – Leituras de Cena [teatro-jornal.com.br], integrou a comissão de seleção do programa Rumos Itaú Cultural 2013.

Algumas das técnicas de manipulação de bonecos

Puxando os fios da história do Giramundo, chegamos à infância de Álvaro Apocalypse (1937-

2003) em sua Ouro Fino natal. Era lá que, observados pelas montanhas do sul de Minas Gerais, o menino e seus irmãos brincavam de imaginar e materia-lizar uma cidade povoada só por brinque-dos e bonecos. Álvaro, por assim dizer, não deixou de lado essa brincadeira até morrer, aos 66 anos, mesmo – ou princi-palmente – quando investido de papéis profissionais como os de pintor, desenhis-ta, gravador, cenógrafo e diretor de teatro.

Já em Belo Horizonte, depois de estudar gravura em metal e litografia na lendá-ria Escola Guignard – uma instituição muito mais preocupada em estimular a experimentação e a criação artísticas do

que em produzir e distribuir diplomas –, Álvaro começou, em 1959, a dar aulas de desenho na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Ge-rais (UFMG), onde conheceu sua futura mulher, Terezinha Veloso (1936-2003), também artista plástica e docente no local. Em 1970, os dois iniciaram uma parceria artística com a aluna Maria do Carmo Vivacqua Martins, a Madu, bolan-do apresentações cênicas informais, com bonecos um tanto rudimentares, para crianças, familiares e amigos na residên-cia de campo do casal em Lagoa Santa, região metropolitana da capital mineira. E as sessões domésticas daquela que foi considerada uma inventiva e carismática versão de A Bela Adormecida deram o que falar. Em 1971 o Giramundo levou para o Teatro Marília, no centro da cida-de, sua releitura do conto de fadas do francês Charles Perrault (1628-1703) – e foi justamente para a França que o grupo rumou no ano seguinte, como convidado do 1º Festival Mundial de Teatro de Marionetes, em Charleville-Mézières.

A passagem pela comuna francesa, es-pécie de meca do teatro de bonecos, deu ao grupo a chance de conhecer e absorver a sofisticação das produções europeias – as mais avançadas técnicas de manipulação e o apuro nas concep-ções de luz, cenografia, som e figurinos,

por exemplo. Adaptado da ópera do espanhol Manuel de Falla (1876-1946) – baseada, por sua vez, em passagens do romance Dom Quixote, de Miguel de Cervantes (1547-1616) –, o espetáculo El Retablo de Maese Pedro é prova disso. A montagem estreou na edição de 1976 do Festival de Inverno de Ouro Preto e sua passagem pelo Rio de Janeiro, no ano seguinte, projetou nacionalmente o traba-lho dos artistas – capazes de trazer à luz

“uma pequena joia”, no dizer do crítico Yan Michalski (1932-1990), admirado pela habilidade que a peça tinha de transcen-der o público infantil e fisgar o adulto com igual respeito à inteligência mútua.

“Na roupagem que o grupo lhe deu”, comentou Michalski no extinto Jornal do Brasil, “a pequena ópera de Manuel de Falla é antes de mais nada obra de artistas plásticos, adotando como ponto de partida uma imagem realista da figu-ra humana, mas submetendo-a a uma estilização intensamente expressiva e poética”. Vai ver o crítico chegou a du-vidar se o que via no palco eram atores ou marionetes. “A qualidade técnica da movimentação chega a ser impressionan-te. Os bonecos são dotados de uma agi-

lidade e de uma capacidade de executar com naturalidade e precisão movimentos complexos que lhes conferem um poder de convicção profundamente humano.”

CONSCIÊNCIAS HISTÓRICA, POLÍTICA E CULTURALA ambição pela forma atraiu a ambição pelo conteúdo. E, sem deixar de surpre-ender o público com os – constantemente renovados – aspectos técnicos e esté-ticos dos espetáculos, o Giramundo foi abrindo uma linha de interpretação da realidade e do imaginário brasileiros. Em 1979, por exemplo, o coletivo embonecou o poema “Cobra Norato”, escrito pelo mo-dernista gaúcho Raul Bopp (1898-1984) com base na lenda amazônica do menino que é serpente durante os dias e à noite vira gente novamente. À peça, uma das

A ARTE DE MOVER

Terezinha Veloso, Álvaro Apocalypse e Madu: a origem do Giramundo

A Bela Adormecida: o príncipe acorda a princesa e a peça desperta a atenção do público para o coletivo mineiro[fotos: acervo Giramundo]

O Guarani [foto: acervo Giramundo]

Alice no País das Maravilhas: o passado e o futuro do Giramundo

Beatriz Apocalypse, Ulisses Tavares e Marcos Malafaia (de camiseta preta): a atual diretoria do grupo[fotos: acervo Giramundo]

O garoto – ou melhor, o boneco – Pedro, de Pedro e o Lobo, espetáculo mais apre-sentado da companhia

Museu Giramundo: o maior acervo de teatro de bonecos das Américas[fotos: André Seiti]

sábado 29 novembro 2014 a domingo 11 janeiro 2015terça a sexta 9h às 20h[permanência até as 20h30]sábado, domingo e feriado 11h às 20h

Aos sábados e domingos, das 11h às 15h, trechos de espetáculos do grupo são apresentados em um palco montado dentro do espaço expositivo. E, às quintas e sextas, das 15h às 20h, um artista instala sua oficina por-tátil no local – e o público pode assistir de perto à construção de uma mario-nete (o artista tira folga nos dias 25 e 26 de dezembro e 1º e 2 de janeiro).

A Ocupação Giramundo ainda pro-move, no Itaú Cultural e no Auditório Ibirapuera, a exibição de cinco peças da companhia. Confira a programação em itaucultural.org.br/ocupacao.

38 39

BONECO DE LUVA

Chamado no Brasil de fantoche, o boneco de luva é um dos mais praticados no mundo todo.

Na Europa, assumiu diversas formas sendo conhecido como “Guignol” na França, como “Punch” na Inglaterra, “Karsperl” na Alemanha, “Pulcinnella” na tália.

No Oriente, encontrou na China o local onde desenvolveu forma virtuosística de manipulação, sendo praticado até hoje.

Como personagem anárquica, popular e contraditória, o boneco de luva se identificou fortemente com o povo, criando uma linguagem própria, e fixando a rua como seu teatro.

O Mamulengo do nordeste do Brasil, de fundo popular, utiliza este gênero.

De manipulação muito difícil, o boneco de luva exige muito do marionetista pois este deve atuar criando vozes e interpretando, às vezes, duas personagens ao mesmo tempo.

Dizem que o boneco de luva é o único boneco onde corre sangue dentro, o sangue das mãos do marionetista.

50 51

BONECO DE FIO

Conhecido no Brasil como “marionete”, é de construção complexa e manipulação difícil.

Pode ter entre 12 a 30 fios que convergem para a “cruz de manipulação” onde ficam ao alcance das mãos do marionetista.

É um gênero que permite movimentos muito próximos dos movimentos humanos ou animais.

Por ser acionado por fios, o marionete se move de modo lento e delicado.

Para o desenvolvimento da técnica de manipulação, o marionetista precisa conhecer o comportamento especial do movimento do marionete encarando-o como um pêndulo.

58 59

BONECO DE VARA

Montado em torno de uma vara principal que sustenta o conjunto, este gênero é derivado do “wayang”, gênero de boneco da ilha de Java, Indonésia. A técnica se espandiu modernamente por todo o mundo através de numerosas variações.

Este tipo de boneco é manipulado de baixo para cima sendo o marionetista oculto por uma tapadeira.

No caso do Wayang de Java, o manipulador opera o boneco sentado no chão sendo a tapadeira uma faixa de tecido relativamente baixa.

Já no teatro de vara do ocidente, os marionetistas manipulam estes bonecos de pé, sendo a tapadeira mais alta.

Normalmente, o boneco possui apenas uma vara em uma das mãos. Mas marionetistas habilidosos, podem mover duas varas simultaneamente. Um marionetista auxiliar também pode mover a segunda vara.

66 67

MAROTE

Variação simplificada do boneco de vara, este gênero se presta bem para figurações e dança. Não possui controles nas mãos nem na cabeça mas o bom manipulador pode tirar muitos efeitos de seus movimentos soltos.

68 69

BONECO A TRINGLE

Do francês, “tringle”, vara. Tem o corpo sustentado por uma haste metálica fixada na cabeça.

Pode-se adicionar movimentos de cabeça, pernas e mãos de forma simplificada.

Tradicionalmente praticado ao sul da Itália, na Bélgica e no Norte da França.É considerado o “pai” do boneco de fio.

Por ser movido por varas de ferro, o “tringle” apresentamovimentos de tipobrusco e rápido.

68 69

BONECO DE BALCÃO

Derivado do “bunraku” japonês, que utiliza três

manipuladores por boneco, este gênero difundiu-se

pelo ocidente originando diversas variantes.

Dentre as quais, se destacaa curiosa forma de teatro

onde os marionetistas se vestem de preto e se tornam

invisíveis pelo jogo de luz.

Chamado informalmentede “balcão” é manipulado

por trás apoiando-se num pedestal, mesa ou balcão.

itaucultural.org.br fone 11 2168 1777 [email protected] avenida paulista 149 são paulo sp 01311 000

entrada franca

Realização

Alvará de Funcionamento de Local de Reunião – Protocolo: 2012.0.267.202 – Lotação: 742 pessoas Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) – Número: 121335 – Vencimento: 1/9/2017

[estação brigadeiro do metrô]

OCUPAÇÃO GIRAMUNDO

RealizaçãoItaú Cultural

CuradoriaItaú Cultural [Núcleos de Educação e Relacionamento e de Enciclopédia] e Giramundo [Beatriz Apocalypse, Marcos Malafaia e Ulisses Tavares]

Projeto expográficoThereza FariaAssistência Patrícia ForestiConsultoria Ulisses Tavares

ITAÚ CULTURAL

Presidente Milú VillelaDiretor superintendente Eduardo SaronSuperintendente administrativo Sérgio M. Miyazaki

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO E RELACIONAMENTOGerência Valéria ToloiCoordenação Tatiana PradoProdução executiva Ana Estaregui e Tiago FerrazSupervisão de atendimento ao público Nathalie Bonome e Silvio SantisCoordenação de atendimento educativo Samara FerreiraEducadores Ana Figueiredo (estagiária), Bianca Selofite, Claudia Malaco, Débora Fernandes, Fernanda Kunis (estagiária), Guilherme Ferreira, Isabela Quattrer (estagiária), Josiane Cavalcanti, Maria Meskelis, Raphael Giannini, Samantha Nascimento (estagiária) e Thiago Borazanian

NÚCLEO DE ENCICLOPÉDIAGerência Tânia RodriguesCoordenação Glaucy TuddaProdução executiva Laércio Menezes

NÚCLEO DE AUDIOVISUAL E LITERATURAGerência Claudiney FerreiraCoordenação Kety FernandesProdução de conteúdo audiovisual Jahitza BalaniukRoteiro, captação e edição de imagens Karina FogaçaCaptação de imagens André SeitiCaptação de áudio Ana Paula Fiorotto

NÚCLEO DE COMUNICAÇÃOGerência Ana de Fátima SousaProdução editorial Lívia G. Hazarabedian e Raphaella RodriguesCoordenação de texto Carlos Costa

Produção e edição de texto Thiago RosenbergEdição do site Maria Clara MatosRevisão de texto Polyana LimaCoordenação de design Jader RosaComunicação visual Yoshiharu ArakakiProjeto gráfico e diagramação Liane IwahashiFotos André SeitiTratamento de imagens Humberto Pimentel (terceirizado)

NÚCLEO DE PRODUÇÃO DE EVENTOSGerência Henrique Idoeta SoaresCoordenação (exposição) Edvaldo Inácio Silva e Vinícius RamosProdução (exposição) Aline Arroyo Barbosa de Oliveira (terceirizada), Carmen Cristina Fajardo Luccas, Daniel Suares (terceirizado), Erica Pedrosa Galante, Fabio Marotta, Fernanda Carnaúba (terceirizada) e Wanderley BispoCoordenação (espetáculos) Januario José Rolo de SantisProdução (espetáculos) Janaina Bernardes, Julia Retondo (terceirizada), Marcos Miranda, Priscila Moraes e Vinicius Francisco (terceirizado)

PUBLICAÇÃO IMPRESSATexto Valmir SantosIlustrações intervenção gráfica sobre desenhos de Álvaro Apocalypse e Marcos MalafaiaFotos André Seiti e GiramundoEdição Thiago RosenbergProdução Lívia G. HazarabedianCoordenação de design Jader RosaProjeto gráfico Liane IwahashiRevisão Polyana Lima

GIRAMUNDO

Textos Marcos MalafaiaSupervisão de restauração e direção de ensaios Beatriz ApocalypseAteliê de restauração Ana Fagundes, Bárbara Andalécio e Fabíola RosaCoordenação de produção e montagem Beatriz ApocalypseAuxiliares de montagem Debora Lutz, Guilherme Benoni e Ricardo da MataMarionetistas da exposição Camila Polastchek, Debora Lutz, Guilherme Benoni e Paulo Emílio LuzInstrutor da oficina do marionetista Daniel BowieProgramação visual (ilustrações) Álvaro Apocalypse e Marcos Malafaia

Fundado em 1970 e ainda em atividade, o grupo de teatro de bonecos Giramundo tem uma história tão incrível quanto aquelas que ele leva para os palcos. Ao

longo de mais de 40 anos, o coletivo mineiro explorou as mais diferentes técnicas de construção e manipulação de marionetes e abordou os mais diversos temas em espetáculos para públicos variados – sem contar as recentes experiências com suportes audiovisuais e digitais –, compondo uma trajetória que se reinventa constantemente... Feito o mundo, que não para de girar.

E é nessa rodopiante e incessante trajetória que a 21ª Ocupação Itaú Cultural se aventura. Além de uma exposição, em cartaz entre novembro de 2014 e janeiro de 2015, o programa apresenta uma mostra de peças da companhia – e, em itaucultural.org.br/ocupacao, traz textos, fotos e vídeos ligados ao universo do Giramundo.

Itaú Cultural

Cobra Norato: a cultura brasileira como protagonista[foto e desenho: acervo Giramundo]

mais premiadas na trajetória do grupo, seguiram-se trabalhos como O Guarani, de 1986, adaptação da ópera homônima de Carlos Gomes (1836-1896) – e, con-sequentemente, do romance de José de Alencar (1829-1877) – sobre o choque entre índios e colonizadores; Tiradentes: uma História de Títeres e Marionetes, de 1992, focado no período da inconfidên-cia mineira; e Os Orixás, de 2001, sobre a influência da cultura negra na forma-ção da identidade cultural brasileira.

Mas não é só de história que vive o Giramundo. Atualmente dirigido por Marcos Malafaia, Ulisses Tavares e Beatriz Apocalypse, filha de Álvaro, o grupo conta com outros 22 integrantes e segue somando novas montagens ao seu repertório – como Alice no País das Maravilhas, de 2013. Adaptação hi-tech do livro do inglês Lewis Carroll (1832-1898), o espetáculo bem que poderia ser definido pelo Chapeleiro Maluco como algo que aponta, simultaneamente, para trás e para

a frente. Ao mesmo tempo que revê e resu-me a trajetória do Giramundo, reunindo em uma só apresentação todas as técnicas de manipulação já adotadas pelo coletivo, a peça é a primeira a trazer em seu elenco um boneco digital – no caso, o Gato de Cheshire, elaborado por meio do sensor de movimentos Kinect. Na virada da década de 1960 para a de 1970, por sinal, Álvaro já pensava em produzir animações em stop motion – com fotos de marionetes projetadas a 24 quadros por segundo, ge-rando uma ilusão de movimento. Contudo, e felizmente no caso, as condições de pro-dução em vídeo eram precárias na época.

Localizada desde o início dos anos 2000 no bairro Floresta, em Belo Horizonte, a atual sede do grupo comporta uma ofici-na, um estúdio de animação, um teatro, uma escola – que promove cursos de modelagem, confecção e manipulação de bonecos voltados tanto para crianças e adolescentes quanto para estudantes e profissionais da área – e um museu. Nesse último espaço, como que em uma zona livre onde os personagens de diferentes histórias podem se encontrar,

o Dom Quixote de El Retablo de Maese Pedro descansa ao lado de Cobra No-rato, Alice e centenas de outros atores e atrizes de madeira, pano, papel machê, resina, fibra de vidro, policarbonato... Suspensas no teto ou apoiadas no chão e nas paredes, as marionetes criadas por Álvaro, Terezinha, Madu, Beatriz, Marcos, Ulisses e os outros representantes de carne e osso do Giramundo podem ser vistas de perto, com sua riqueza de deta-lhes e articulações – exibindo uma beleza que, no entanto, só se revela completa-mente quando em movimento.

Seja em ação, seja em repouso, em todo caso, os bonecos do Giramundo podem ser objetos manipuláveis – mas são eles que mexem com a gente.

Valmir Santos é jornalista, crítico e pesquisa-dor teatral. Mestre em artes cênicas e coautor do site Teatrojornal – Leituras de Cena [teatro-jornal.com.br], integrou a comissão de seleção do programa Rumos Itaú Cultural 2013.

Algumas das técnicas de manipulação de bonecos

Puxando os fios da história do Giramundo, chegamos à infância de Álvaro Apocalypse (1937-

2003) em sua Ouro Fino natal. Era lá que, observados pelas montanhas do sul de Minas Gerais, o menino e seus irmãos brincavam de imaginar e materia-lizar uma cidade povoada só por brinque-dos e bonecos. Álvaro, por assim dizer, não deixou de lado essa brincadeira até morrer, aos 66 anos, mesmo – ou princi-palmente – quando investido de papéis profissionais como os de pintor, desenhis-ta, gravador, cenógrafo e diretor de teatro.

Já em Belo Horizonte, depois de estudar gravura em metal e litografia na lendá-ria Escola Guignard – uma instituição muito mais preocupada em estimular a experimentação e a criação artísticas do

que em produzir e distribuir diplomas –, Álvaro começou, em 1959, a dar aulas de desenho na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Ge-rais (UFMG), onde conheceu sua futura mulher, Terezinha Veloso (1936-2003), também artista plástica e docente no local. Em 1970, os dois iniciaram uma parceria artística com a aluna Maria do Carmo Vivacqua Martins, a Madu, bolan-do apresentações cênicas informais, com bonecos um tanto rudimentares, para crianças, familiares e amigos na residên-cia de campo do casal em Lagoa Santa, região metropolitana da capital mineira. E as sessões domésticas daquela que foi considerada uma inventiva e carismática versão de A Bela Adormecida deram o que falar. Em 1971 o Giramundo levou para o Teatro Marília, no centro da cida-de, sua releitura do conto de fadas do francês Charles Perrault (1628-1703) – e foi justamente para a França que o grupo rumou no ano seguinte, como convidado do 1º Festival Mundial de Teatro de Marionetes, em Charleville-Mézières.

A passagem pela comuna francesa, es-pécie de meca do teatro de bonecos, deu ao grupo a chance de conhecer e absorver a sofisticação das produções europeias – as mais avançadas técnicas de manipulação e o apuro nas concep-ções de luz, cenografia, som e figurinos,

por exemplo. Adaptado da ópera do espanhol Manuel de Falla (1876-1946) – baseada, por sua vez, em passagens do romance Dom Quixote, de Miguel de Cervantes (1547-1616) –, o espetáculo El Retablo de Maese Pedro é prova disso. A montagem estreou na edição de 1976 do Festival de Inverno de Ouro Preto e sua passagem pelo Rio de Janeiro, no ano seguinte, projetou nacionalmente o traba-lho dos artistas – capazes de trazer à luz

“uma pequena joia”, no dizer do crítico Yan Michalski (1932-1990), admirado pela habilidade que a peça tinha de transcen-der o público infantil e fisgar o adulto com igual respeito à inteligência mútua.

“Na roupagem que o grupo lhe deu”, comentou Michalski no extinto Jornal do Brasil, “a pequena ópera de Manuel de Falla é antes de mais nada obra de artistas plásticos, adotando como ponto de partida uma imagem realista da figu-ra humana, mas submetendo-a a uma estilização intensamente expressiva e poética”. Vai ver o crítico chegou a du-vidar se o que via no palco eram atores ou marionetes. “A qualidade técnica da movimentação chega a ser impressionan-te. Os bonecos são dotados de uma agi-

lidade e de uma capacidade de executar com naturalidade e precisão movimentos complexos que lhes conferem um poder de convicção profundamente humano.”

CONSCIÊNCIAS HISTÓRICA, POLÍTICA E CULTURALA ambição pela forma atraiu a ambição pelo conteúdo. E, sem deixar de surpre-ender o público com os – constantemente renovados – aspectos técnicos e esté-ticos dos espetáculos, o Giramundo foi abrindo uma linha de interpretação da realidade e do imaginário brasileiros. Em 1979, por exemplo, o coletivo embonecou o poema “Cobra Norato”, escrito pelo mo-dernista gaúcho Raul Bopp (1898-1984) com base na lenda amazônica do menino que é serpente durante os dias e à noite vira gente novamente. À peça, uma das

A ARTE DE MOVER

Terezinha Veloso, Álvaro Apocalypse e Madu: a origem do Giramundo

A Bela Adormecida: o príncipe acorda a princesa e a peça desperta a atenção do público para o coletivo mineiro[fotos: acervo Giramundo]

O Guarani [foto: acervo Giramundo]

Alice no País das Maravilhas: o passado e o futuro do Giramundo

Beatriz Apocalypse, Ulisses Tavares e Marcos Malafaia (de camiseta preta): a atual diretoria do grupo[fotos: acervo Giramundo]

O garoto – ou melhor, o boneco – Pedro, de Pedro e o Lobo, espetáculo mais apre-sentado da companhia

Museu Giramundo: o maior acervo de teatro de bonecos das Américas[fotos: André Seiti]

sábado 29 novembro 2014 a domingo 11 janeiro 2015terça a sexta 9h às 20h[permanência até as 20h30]sábado, domingo e feriado 11h às 20h

Aos sábados e domingos, das 11h às 15h, trechos de espetáculos do grupo são apresentados em um palco montado dentro do espaço expositivo. E, às quintas e sextas, das 15h às 20h, um artista instala sua oficina por-tátil no local – e o público pode assistir de perto à construção de uma mario-nete (o artista tira folga nos dias 25 e 26 de dezembro e 1º e 2 de janeiro).

A Ocupação Giramundo ainda pro-move, no Itaú Cultural e no Auditório Ibirapuera, a exibição de cinco peças da companhia. Confira a programação em itaucultural.org.br/ocupacao.

3839

BONECO DE LUVA

Chamado no Brasil de fantoche, o boneco de luva é um dos mais praticados no mundo todo.

Na Europa, assumiu diversas formas sendo conhecido como “Guignol” na França, como “Punch” na Inglaterra, “Karsperl” na Alemanha, “Pulcinnella” na tália.

No Oriente, encontrou na China o local onde desenvolveu forma virtuosística de manipulação, sendo praticado até hoje.

Como personagem anárquica, popular e contraditória, o boneco de luva se identificou fortemente com o povo, criando uma linguagem própria, e fixando a rua como seu teatro.

O Mamulengo do nordeste do Brasil, de fundo popular, utiliza este gênero.

De manipulação muito difícil, o boneco de luva exige muito do marionetista pois este deve atuar criando vozes e interpretando, às vezes, duas personagens ao mesmo tempo.

Dizem que o boneco de luva é o único boneco onde corre sangue dentro, o sangue das mãos do marionetista.

5051

BONECO DE FIO

Conhecido no Brasil como “marionete”, é de construção complexa e manipulação difícil.

Pode ter entre 12 a 30 fios que convergem para a “cruz de manipulação” onde ficam ao alcance das mãos do marionetista.

É um gênero que permite movimentos muito próximos dos movimentos humanos ou animais.

Por ser acionado por fios, o marionete se move de modo lento e delicado.

Para o desenvolvimento da técnica de manipulação, o marionetista precisa conhecer o comportamento especial do movimento do marionete encarando-o como um pêndulo.

5859

BONECO DE VARA

Montado em torno de uma vara principal que sustenta o conjunto, este gênero é derivado do “wayang”, gênero de boneco da ilha de Java, Indonésia. A técnica se espandiu modernamente por todo o mundo através de numerosas variações.

Este tipo de boneco é manipulado de baixo para cima sendo o marionetista oculto por uma tapadeira.

No caso do Wayang de Java, o manipulador opera o boneco sentado no chão sendo a tapadeira uma faixa de tecido relativamente baixa.

Já no teatro de vara do ocidente, os marionetistas manipulam estes bonecos de pé, sendo a tapadeira mais alta.

Normalmente, o boneco possui apenas uma vara em uma das mãos. Mas marionetistas habilidosos, podem mover duas varas simultaneamente. Um marionetista auxiliar também pode mover a segunda vara.

6667

MAROTE

Variação simplificada do boneco de vara, este gênero se presta bem para figurações e dança. Não possui controles nas mãos nem na cabeça mas o bom manipulador pode tirar muitos efeitos de seus movimentos soltos.

6869

BONECO A TRINGLE

Do francês, “tringle”, vara. Tem o corpo sustentado por uma haste metálica fixada na cabeça.

Pode-se adicionar movimentos de cabeça, pernas e mãos de forma simplificada.

Tradicionalmente praticado ao sul da Itália, na Bélgica e no Norte da França.É considerado o “pai” do boneco de fio.

Por ser movido por varas de ferro, o “tringle” apresentamovimentos de tipobrusco e rápido.

6869

BONECO DE BALCÃO

Derivado do “bunraku” japonês, que utiliza três

manipuladores por boneco, este gênero difundiu-se

pelo ocidente originando diversas variantes.

Dentre as quais, se destacaa curiosa forma de teatro

onde os marionetistas se vestem de preto e se tornam

invisíveis pelo jogo de luz.

Chamado informalmentede “balcão” é manipulado

por trás apoiando-se num pedestal, mesa ou balcão.

itaucultural.org.br fone 11 2168 1777 [email protected] avenida paulista 149 são paulo sp 01311 000

entrada franca

Realização

Alvará de Funcionamento de Local de Reunião – Protocolo: 2012.0.267.202 – Lotação: 742 pessoas Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) – Número: 121335 – Vencimento: 1/9/2017

[estação brigadeiro do metrô]

OCUPAÇÃO GIRAMUNDO

RealizaçãoItaú Cultural

CuradoriaItaú Cultural [Núcleos de Educação e Relacionamento e de Enciclopédia] e Giramundo [Beatriz Apocalypse, Marcos Malafaia e Ulisses Tavares]

Projeto expográficoThereza FariaAssistência Patrícia ForestiConsultoria Ulisses Tavares

ITAÚ CULTURAL

Presidente Milú VillelaDiretor superintendente Eduardo SaronSuperintendente administrativo Sérgio M. Miyazaki

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO E RELACIONAMENTOGerência Valéria ToloiCoordenação Tatiana PradoProdução executiva Ana Estaregui e Tiago FerrazSupervisão de atendimento ao público Nathalie Bonome e Silvio SantisCoordenação de atendimento educativo Samara FerreiraEducadores Ana Figueiredo (estagiária), Bianca Selofite, Claudia Malaco, Débora Fernandes, Fernanda Kunis (estagiária), Guilherme Ferreira, Isabela Quattrer (estagiária), Josiane Cavalcanti, Maria Meskelis, Raphael Giannini, Samantha Nascimento (estagiária) e Thiago Borazanian

NÚCLEO DE ENCICLOPÉDIAGerência Tânia RodriguesCoordenação Glaucy TuddaProdução executiva Laércio Menezes

NÚCLEO DE AUDIOVISUAL E LITERATURAGerência Claudiney FerreiraCoordenação Kety FernandesProdução de conteúdo audiovisual Jahitza BalaniukRoteiro, captação e edição de imagens Karina FogaçaCaptação de imagens André SeitiCaptação de áudio Ana Paula Fiorotto

NÚCLEO DE COMUNICAÇÃOGerência Ana de Fátima SousaProdução editorial Lívia G. Hazarabedian e Raphaella RodriguesCoordenação de texto Carlos Costa

Produção e edição de texto Thiago RosenbergEdição do site Maria Clara MatosRevisão de texto Polyana LimaCoordenação de design Jader RosaComunicação visual Yoshiharu ArakakiProjeto gráfico e diagramação Liane IwahashiFotos André SeitiTratamento de imagens Humberto Pimentel (terceirizado)

NÚCLEO DE PRODUÇÃO DE EVENTOSGerência Henrique Idoeta SoaresCoordenação (exposição) Edvaldo Inácio Silva e Vinícius RamosProdução (exposição) Aline Arroyo Barbosa de Oliveira (terceirizada), Carmen Cristina Fajardo Luccas, Daniel Suares (terceirizado), Erica Pedrosa Galante, Fabio Marotta, Fernanda Carnaúba (terceirizada) e Wanderley BispoCoordenação (espetáculos) Januario José Rolo de SantisProdução (espetáculos) Janaina Bernardes, Julia Retondo (terceirizada), Marcos Miranda, Priscila Moraes e Vinicius Francisco (terceirizado)

PUBLICAÇÃO IMPRESSATexto Valmir SantosIlustrações intervenção gráfica sobre desenhos de Álvaro Apocalypse e Marcos MalafaiaFotos André Seiti e GiramundoEdição Thiago RosenbergProdução Lívia G. HazarabedianCoordenação de design Jader RosaProjeto gráfico Liane IwahashiRevisão Polyana Lima

GIRAMUNDO

Textos Marcos MalafaiaSupervisão de restauração e direção de ensaios Beatriz ApocalypseAteliê de restauração Ana Fagundes, Bárbara Andalécio e Fabíola RosaCoordenação de produção e montagem Beatriz ApocalypseAuxiliares de montagem Debora Lutz, Guilherme Benoni e Ricardo da MataMarionetistas da exposição Camila Polastchek, Debora Lutz, Guilherme Benoni e Paulo Emílio LuzInstrutor da oficina do marionetista Daniel BowieProgramação visual (ilustrações) Álvaro Apocalypse e Marcos Malafaia

Fundado em 1970 e ainda em atividade, o grupo de teatro de bonecos Giramundo tem uma história tão incrível quanto aquelas que ele leva para os palcos. Ao

longo de mais de 40 anos, o coletivo mineiro explorou as mais diferentes técnicas de construção e manipulação de marionetes e abordou os mais diversos temas em espetáculos para públicos variados – sem contar as recentes experiências com suportes audiovisuais e digitais –, compondo uma trajetória que se reinventa constantemente... Feito o mundo, que não para de girar.

E é nessa rodopiante e incessante trajetória que a 21ª Ocupação Itaú Cultural se aventura. Além de uma exposição, em cartaz entre novembro de 2014 e janeiro de 2015, o programa apresenta uma mostra de peças da companhia – e, em itaucultural.org.br/ocupacao, traz textos, fotos e vídeos ligados ao universo do Giramundo.

Itaú Cultural

Cobra Norato: a cultura brasileira como protagonista[foto e desenho: acervo Giramundo]

mais premiadas na trajetória do grupo, seguiram-se trabalhos como O Guarani, de 1986, adaptação da ópera homônima de Carlos Gomes (1836-1896) – e, con-sequentemente, do romance de José de Alencar (1829-1877) – sobre o choque entre índios e colonizadores; Tiradentes: uma História de Títeres e Marionetes, de 1992, focado no período da inconfidên-cia mineira; e Os Orixás, de 2001, sobre a influência da cultura negra na forma-ção da identidade cultural brasileira.

Mas não é só de história que vive o Giramundo. Atualmente dirigido por Marcos Malafaia, Ulisses Tavares e Beatriz Apocalypse, filha de Álvaro, o grupo conta com outros 22 integrantes e segue somando novas montagens ao seu repertório – como Alice no País das Maravilhas, de 2013. Adaptação hi-tech do livro do inglês Lewis Carroll (1832-1898), o espetáculo bem que poderia ser definido pelo Chapeleiro Maluco como algo que aponta, simultaneamente, para trás e para

a frente. Ao mesmo tempo que revê e resu-me a trajetória do Giramundo, reunindo em uma só apresentação todas as técnicas de manipulação já adotadas pelo coletivo, a peça é a primeira a trazer em seu elenco um boneco digital – no caso, o Gato de Cheshire, elaborado por meio do sensor de movimentos Kinect. Na virada da década de 1960 para a de 1970, por sinal, Álvaro já pensava em produzir animações em stop motion – com fotos de marionetes projetadas a 24 quadros por segundo, ge-rando uma ilusão de movimento. Contudo, e felizmente no caso, as condições de pro-dução em vídeo eram precárias na época.

Localizada desde o início dos anos 2000 no bairro Floresta, em Belo Horizonte, a atual sede do grupo comporta uma ofici-na, um estúdio de animação, um teatro, uma escola – que promove cursos de modelagem, confecção e manipulação de bonecos voltados tanto para crianças e adolescentes quanto para estudantes e profissionais da área – e um museu. Nesse último espaço, como que em uma zona livre onde os personagens de diferentes histórias podem se encontrar,

o Dom Quixote de El Retablo de Maese Pedro descansa ao lado de Cobra No-rato, Alice e centenas de outros atores e atrizes de madeira, pano, papel machê, resina, fibra de vidro, policarbonato... Suspensas no teto ou apoiadas no chão e nas paredes, as marionetes criadas por Álvaro, Terezinha, Madu, Beatriz, Marcos, Ulisses e os outros representantes de carne e osso do Giramundo podem ser vistas de perto, com sua riqueza de deta-lhes e articulações – exibindo uma beleza que, no entanto, só se revela completa-mente quando em movimento.

Seja em ação, seja em repouso, em todo caso, os bonecos do Giramundo podem ser objetos manipuláveis – mas são eles que mexem com a gente.

Valmir Santos é jornalista, crítico e pesquisa-dor teatral. Mestre em artes cênicas e coautor do site Teatrojornal – Leituras de Cena [teatro-jornal.com.br], integrou a comissão de seleção do programa Rumos Itaú Cultural 2013.

Algumas das técnicas de manipulação de bonecos

Puxando os fios da história do Giramundo, chegamos à infância de Álvaro Apocalypse (1937-

2003) em sua Ouro Fino natal. Era lá que, observados pelas montanhas do sul de Minas Gerais, o menino e seus irmãos brincavam de imaginar e materia-lizar uma cidade povoada só por brinque-dos e bonecos. Álvaro, por assim dizer, não deixou de lado essa brincadeira até morrer, aos 66 anos, mesmo – ou princi-palmente – quando investido de papéis profissionais como os de pintor, desenhis-ta, gravador, cenógrafo e diretor de teatro.

Já em Belo Horizonte, depois de estudar gravura em metal e litografia na lendá-ria Escola Guignard – uma instituição muito mais preocupada em estimular a experimentação e a criação artísticas do

que em produzir e distribuir diplomas –, Álvaro começou, em 1959, a dar aulas de desenho na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Ge-rais (UFMG), onde conheceu sua futura mulher, Terezinha Veloso (1936-2003), também artista plástica e docente no local. Em 1970, os dois iniciaram uma parceria artística com a aluna Maria do Carmo Vivacqua Martins, a Madu, bolan-do apresentações cênicas informais, com bonecos um tanto rudimentares, para crianças, familiares e amigos na residên-cia de campo do casal em Lagoa Santa, região metropolitana da capital mineira. E as sessões domésticas daquela que foi considerada uma inventiva e carismática versão de A Bela Adormecida deram o que falar. Em 1971 o Giramundo levou para o Teatro Marília, no centro da cida-de, sua releitura do conto de fadas do francês Charles Perrault (1628-1703) – e foi justamente para a França que o grupo rumou no ano seguinte, como convidado do 1º Festival Mundial de Teatro de Marionetes, em Charleville-Mézières.

A passagem pela comuna francesa, es-pécie de meca do teatro de bonecos, deu ao grupo a chance de conhecer e absorver a sofisticação das produções europeias – as mais avançadas técnicas de manipulação e o apuro nas concep-ções de luz, cenografia, som e figurinos,

por exemplo. Adaptado da ópera do espanhol Manuel de Falla (1876-1946) – baseada, por sua vez, em passagens do romance Dom Quixote, de Miguel de Cervantes (1547-1616) –, o espetáculo El Retablo de Maese Pedro é prova disso. A montagem estreou na edição de 1976 do Festival de Inverno de Ouro Preto e sua passagem pelo Rio de Janeiro, no ano seguinte, projetou nacionalmente o traba-lho dos artistas – capazes de trazer à luz

“uma pequena joia”, no dizer do crítico Yan Michalski (1932-1990), admirado pela habilidade que a peça tinha de transcen-der o público infantil e fisgar o adulto com igual respeito à inteligência mútua.

“Na roupagem que o grupo lhe deu”, comentou Michalski no extinto Jornal do Brasil, “a pequena ópera de Manuel de Falla é antes de mais nada obra de artistas plásticos, adotando como ponto de partida uma imagem realista da figu-ra humana, mas submetendo-a a uma estilização intensamente expressiva e poética”. Vai ver o crítico chegou a du-vidar se o que via no palco eram atores ou marionetes. “A qualidade técnica da movimentação chega a ser impressionan-te. Os bonecos são dotados de uma agi-

lidade e de uma capacidade de executar com naturalidade e precisão movimentos complexos que lhes conferem um poder de convicção profundamente humano.”

CONSCIÊNCIAS HISTÓRICA, POLÍTICA E CULTURALA ambição pela forma atraiu a ambição pelo conteúdo. E, sem deixar de surpre-ender o público com os – constantemente renovados – aspectos técnicos e esté-ticos dos espetáculos, o Giramundo foi abrindo uma linha de interpretação da realidade e do imaginário brasileiros. Em 1979, por exemplo, o coletivo embonecou o poema “Cobra Norato”, escrito pelo mo-dernista gaúcho Raul Bopp (1898-1984) com base na lenda amazônica do menino que é serpente durante os dias e à noite vira gente novamente. À peça, uma das

A ARTE DE MOVER

Terezinha Veloso, Álvaro Apocalypse e Madu: a origem do Giramundo

A Bela Adormecida: o príncipe acorda a princesa e a peça desperta a atenção do público para o coletivo mineiro[fotos: acervo Giramundo]

O Guarani [foto: acervo Giramundo]

Alice no País das Maravilhas: o passado e o futuro do Giramundo

Beatriz Apocalypse, Ulisses Tavares e Marcos Malafaia (de camiseta preta): a atual diretoria do grupo[fotos: acervo Giramundo]

O garoto – ou melhor, o boneco – Pedro, de Pedro e o Lobo, espetáculo mais apre-sentado da companhia

Museu Giramundo: o maior acervo de teatro de bonecos das Américas[fotos: André Seiti]

sábado 29 novembro 2014 a domingo 11 janeiro 2015terça a sexta 9h às 20h[permanência até as 20h30]sábado, domingo e feriado 11h às 20h

Aos sábados e domingos, das 11h às 15h, trechos de espetáculos do grupo são apresentados em um palco montado dentro do espaço expositivo. E, às quintas e sextas, das 15h às 20h, um artista instala sua oficina por-tátil no local – e o público pode assistir de perto à construção de uma mario-nete (o artista tira folga nos dias 25 e 26 de dezembro e 1º e 2 de janeiro).

A Ocupação Giramundo ainda pro-move, no Itaú Cultural e no Auditório Ibirapuera, a exibição de cinco peças da companhia. Confira a programação em itaucultural.org.br/ocupacao.

3839

BONECO DE LUVA

Chamado no Brasil de fantoche, o boneco de luva é um dos mais praticados no mundo todo.

Na Europa, assumiu diversas formas sendo conhecido como “Guignol” na França, como “Punch” na Inglaterra, “Karsperl” na Alemanha, “Pulcinnella” na tália.

No Oriente, encontrou na China o local onde desenvolveu forma virtuosística de manipulação, sendo praticado até hoje.

Como personagem anárquica, popular e contraditória, o boneco de luva se identificou fortemente com o povo, criando uma linguagem própria, e fixando a rua como seu teatro.

O Mamulengo do nordeste do Brasil, de fundo popular, utiliza este gênero.

De manipulação muito difícil, o boneco de luva exige muito do marionetista pois este deve atuar criando vozes e interpretando, às vezes, duas personagens ao mesmo tempo.

Dizem que o boneco de luva é o único boneco onde corre sangue dentro, o sangue das mãos do marionetista.

5051

BONECO DE FIO

Conhecido no Brasil como “marionete”, é de construção complexa e manipulação difícil.

Pode ter entre 12 a 30 fios que convergem para a “cruz de manipulação” onde ficam ao alcance das mãos do marionetista.

É um gênero que permite movimentos muito próximos dos movimentos humanos ou animais.

Por ser acionado por fios, o marionete se move de modo lento e delicado.

Para o desenvolvimento da técnica de manipulação, o marionetista precisa conhecer o comportamento especial do movimento do marionete encarando-o como um pêndulo.

5859

BONECO DE VARA

Montado em torno de uma vara principal que sustenta o conjunto, este gênero é derivado do “wayang”, gênero de boneco da ilha de Java, Indonésia. A técnica se espandiu modernamente por todo o mundo através de numerosas variações.

Este tipo de boneco é manipulado de baixo para cima sendo o marionetista oculto por uma tapadeira.

No caso do Wayang de Java, o manipulador opera o boneco sentado no chão sendo a tapadeira uma faixa de tecido relativamente baixa.

Já no teatro de vara do ocidente, os marionetistas manipulam estes bonecos de pé, sendo a tapadeira mais alta.

Normalmente, o boneco possui apenas uma vara em uma das mãos. Mas marionetistas habilidosos, podem mover duas varas simultaneamente. Um marionetista auxiliar também pode mover a segunda vara.

6667

MAROTE

Variação simplificada do boneco de vara, este gênero se presta bem para figurações e dança. Não possui controles nas mãos nem na cabeça mas o bom manipulador pode tirar muitos efeitos de seus movimentos soltos.

6869

BONECO A TRINGLE

Do francês, “tringle”, vara. Tem o corpo sustentado por uma haste metálica fixada na cabeça.

Pode-se adicionar movimentos de cabeça, pernas e mãos de forma simplificada.

Tradicionalmente praticado ao sul da Itália, na Bélgica e no Norte da França.É considerado o “pai” do boneco de fio.

Por ser movido por varas de ferro, o “tringle” apresentamovimentos de tipobrusco e rápido.

6869

BONECO DE BALCÃO

Derivado do “bunraku” japonês, que utiliza três

manipuladores por boneco, este gênero difundiu-se

pelo ocidente originando diversas variantes.

Dentre as quais, se destacaa curiosa forma de teatro

onde os marionetistas se vestem de preto e se tornam

invisíveis pelo jogo de luz.

Chamado informalmentede “balcão” é manipulado

por trás apoiando-se num pedestal, mesa ou balcão.

itaucultural.org.br fone 11 2168 1777 [email protected] avenida paulista 149 são paulo sp 01311 000

entrada franca

Realização

Alvará de Funcionamento de Local de Reunião – Protocolo: 2012.0.267.202 – Lotação: 742 pessoas Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) – Número: 121335 – Vencimento: 1/9/2017

[estação brigadeiro do metrô]

OCUPAÇÃO GIRAMUNDO

RealizaçãoItaú Cultural

CuradoriaItaú Cultural [Núcleos de Educação e Relacionamento e de Enciclopédia] e Giramundo [Beatriz Apocalypse, Marcos Malafaia e Ulisses Tavares]

Projeto expográficoThereza FariaAssistência Patrícia ForestiConsultoria Ulisses Tavares

ITAÚ CULTURAL

Presidente Milú VillelaDiretor superintendente Eduardo SaronSuperintendente administrativo Sérgio M. Miyazaki

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO E RELACIONAMENTOGerência Valéria ToloiCoordenação Tatiana PradoProdução executiva Ana Estaregui e Tiago FerrazSupervisão de atendimento ao público Nathalie Bonome e Silvio SantisCoordenação de atendimento educativo Samara FerreiraEducadores Ana Figueiredo (estagiária), Bianca Selofite, Claudia Malaco, Débora Fernandes, Fernanda Kunis (estagiária), Guilherme Ferreira, Isabela Quattrer (estagiária), Josiane Cavalcanti, Maria Meskelis, Raphael Giannini, Samantha Nascimento (estagiária) e Thiago Borazanian

NÚCLEO DE ENCICLOPÉDIAGerência Tânia RodriguesCoordenação Glaucy TuddaProdução executiva Laércio Menezes

NÚCLEO DE AUDIOVISUAL E LITERATURAGerência Claudiney FerreiraCoordenação Kety FernandesProdução de conteúdo audiovisual Jahitza BalaniukRoteiro, captação e edição de imagens Karina FogaçaCaptação de imagens André SeitiCaptação de áudio Ana Paula Fiorotto

NÚCLEO DE COMUNICAÇÃOGerência Ana de Fátima SousaProdução editorial Lívia G. Hazarabedian e Raphaella RodriguesCoordenação de texto Carlos Costa

Produção e edição de texto Thiago RosenbergEdição do site Maria Clara MatosRevisão de texto Polyana LimaCoordenação de design Jader RosaComunicação visual Yoshiharu ArakakiProjeto gráfico e diagramação Liane IwahashiFotos André SeitiTratamento de imagens Humberto Pimentel (terceirizado)

NÚCLEO DE PRODUÇÃO DE EVENTOSGerência Henrique Idoeta SoaresCoordenação (exposição) Edvaldo Inácio Silva e Vinícius RamosProdução (exposição) Aline Arroyo Barbosa de Oliveira (terceirizada), Carmen Cristina Fajardo Luccas, Daniel Suares (terceirizado), Erica Pedrosa Galante, Fabio Marotta, Fernanda Carnaúba (terceirizada) e Wanderley BispoCoordenação (espetáculos) Januario José Rolo de SantisProdução (espetáculos) Janaina Bernardes, Julia Retondo (terceirizada), Marcos Miranda, Priscila Moraes e Vinicius Francisco (terceirizado)

PUBLICAÇÃO IMPRESSATexto Valmir SantosIlustrações intervenção gráfica sobre desenhos de Álvaro Apocalypse e Marcos MalafaiaFotos André Seiti e GiramundoEdição Thiago RosenbergProdução Lívia G. HazarabedianCoordenação de design Jader RosaProjeto gráfico Liane IwahashiRevisão Polyana Lima

GIRAMUNDO

Textos Marcos MalafaiaSupervisão de restauração e direção de ensaios Beatriz ApocalypseAteliê de restauração Ana Fagundes, Bárbara Andalécio e Fabíola RosaCoordenação de produção e montagem Beatriz ApocalypseAuxiliares de montagem Debora Lutz, Guilherme Benoni e Ricardo da MataMarionetistas da exposição Camila Polastchek, Debora Lutz, Guilherme Benoni e Paulo Emílio LuzInstrutor da oficina do marionetista Daniel BowieProgramação visual (ilustrações) Álvaro Apocalypse e Marcos Malafaia

Fundado em 1970 e ainda em atividade, o grupo de teatro de bonecos Giramundo tem uma história tão incrível quanto aquelas que ele leva para os palcos. Ao

longo de mais de 40 anos, o coletivo mineiro explorou as mais diferentes técnicas de construção e manipulação de marionetes e abordou os mais diversos temas em espetáculos para públicos variados – sem contar as recentes experiências com suportes audiovisuais e digitais –, compondo uma trajetória que se reinventa constantemente... Feito o mundo, que não para de girar.

E é nessa rodopiante e incessante trajetória que a 21ª Ocupação Itaú Cultural se aventura. Além de uma exposição, em cartaz entre novembro de 2014 e janeiro de 2015, o programa apresenta uma mostra de peças da companhia – e, em itaucultural.org.br/ocupacao, traz textos, fotos e vídeos ligados ao universo do Giramundo.

Itaú Cultural

Cobra Norato: a cultura brasileira como protagonista[foto e desenho: acervo Giramundo]

mais premiadas na trajetória do grupo, seguiram-se trabalhos como O Guarani, de 1986, adaptação da ópera homônima de Carlos Gomes (1836-1896) – e, con-sequentemente, do romance de José de Alencar (1829-1877) – sobre o choque entre índios e colonizadores; Tiradentes: uma História de Títeres e Marionetes, de 1992, focado no período da inconfidên-cia mineira; e Os Orixás, de 2001, sobre a influência da cultura negra na forma-ção da identidade cultural brasileira.

Mas não é só de história que vive o Giramundo. Atualmente dirigido por Marcos Malafaia, Ulisses Tavares e Beatriz Apocalypse, filha de Álvaro, o grupo conta com outros 22 integrantes e segue somando novas montagens ao seu repertório – como Alice no País das Maravilhas, de 2013. Adaptação hi-tech do livro do inglês Lewis Carroll (1832-1898), o espetáculo bem que poderia ser definido pelo Chapeleiro Maluco como algo que aponta, simultaneamente, para trás e para

a frente. Ao mesmo tempo que revê e resu-me a trajetória do Giramundo, reunindo em uma só apresentação todas as técnicas de manipulação já adotadas pelo coletivo, a peça é a primeira a trazer em seu elenco um boneco digital – no caso, o Gato de Cheshire, elaborado por meio do sensor de movimentos Kinect. Na virada da década de 1960 para a de 1970, por sinal, Álvaro já pensava em produzir animações em stop motion – com fotos de marionetes projetadas a 24 quadros por segundo, ge-rando uma ilusão de movimento. Contudo, e felizmente no caso, as condições de pro-dução em vídeo eram precárias na época.

Localizada desde o início dos anos 2000 no bairro Floresta, em Belo Horizonte, a atual sede do grupo comporta uma ofici-na, um estúdio de animação, um teatro, uma escola – que promove cursos de modelagem, confecção e manipulação de bonecos voltados tanto para crianças e adolescentes quanto para estudantes e profissionais da área – e um museu. Nesse último espaço, como que em uma zona livre onde os personagens de diferentes histórias podem se encontrar,

o Dom Quixote de El Retablo de Maese Pedro descansa ao lado de Cobra No-rato, Alice e centenas de outros atores e atrizes de madeira, pano, papel machê, resina, fibra de vidro, policarbonato... Suspensas no teto ou apoiadas no chão e nas paredes, as marionetes criadas por Álvaro, Terezinha, Madu, Beatriz, Marcos, Ulisses e os outros representantes de carne e osso do Giramundo podem ser vistas de perto, com sua riqueza de deta-lhes e articulações – exibindo uma beleza que, no entanto, só se revela completa-mente quando em movimento.

Seja em ação, seja em repouso, em todo caso, os bonecos do Giramundo podem ser objetos manipuláveis – mas são eles que mexem com a gente.

Valmir Santos é jornalista, crítico e pesquisa-dor teatral. Mestre em artes cênicas e coautor do site Teatrojornal – Leituras de Cena [teatro-jornal.com.br], integrou a comissão de seleção do programa Rumos Itaú Cultural 2013.

Algumas das técnicas de manipulação de bonecos

Puxando os fios da história do Giramundo, chegamos à infância de Álvaro Apocalypse (1937-

2003) em sua Ouro Fino natal. Era lá que, observados pelas montanhas do sul de Minas Gerais, o menino e seus irmãos brincavam de imaginar e materia-lizar uma cidade povoada só por brinque-dos e bonecos. Álvaro, por assim dizer, não deixou de lado essa brincadeira até morrer, aos 66 anos, mesmo – ou princi-palmente – quando investido de papéis profissionais como os de pintor, desenhis-ta, gravador, cenógrafo e diretor de teatro.

Já em Belo Horizonte, depois de estudar gravura em metal e litografia na lendá-ria Escola Guignard – uma instituição muito mais preocupada em estimular a experimentação e a criação artísticas do

que em produzir e distribuir diplomas –, Álvaro começou, em 1959, a dar aulas de desenho na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Ge-rais (UFMG), onde conheceu sua futura mulher, Terezinha Veloso (1936-2003), também artista plástica e docente no local. Em 1970, os dois iniciaram uma parceria artística com a aluna Maria do Carmo Vivacqua Martins, a Madu, bolan-do apresentações cênicas informais, com bonecos um tanto rudimentares, para crianças, familiares e amigos na residên-cia de campo do casal em Lagoa Santa, região metropolitana da capital mineira. E as sessões domésticas daquela que foi considerada uma inventiva e carismática versão de A Bela Adormecida deram o que falar. Em 1971 o Giramundo levou para o Teatro Marília, no centro da cida-de, sua releitura do conto de fadas do francês Charles Perrault (1628-1703) – e foi justamente para a França que o grupo rumou no ano seguinte, como convidado do 1º Festival Mundial de Teatro de Marionetes, em Charleville-Mézières.

A passagem pela comuna francesa, es-pécie de meca do teatro de bonecos, deu ao grupo a chance de conhecer e absorver a sofisticação das produções europeias – as mais avançadas técnicas de manipulação e o apuro nas concep-ções de luz, cenografia, som e figurinos,

por exemplo. Adaptado da ópera do espanhol Manuel de Falla (1876-1946) – baseada, por sua vez, em passagens do romance Dom Quixote, de Miguel de Cervantes (1547-1616) –, o espetáculo El Retablo de Maese Pedro é prova disso. A montagem estreou na edição de 1976 do Festival de Inverno de Ouro Preto e sua passagem pelo Rio de Janeiro, no ano seguinte, projetou nacionalmente o traba-lho dos artistas – capazes de trazer à luz

“uma pequena joia”, no dizer do crítico Yan Michalski (1932-1990), admirado pela habilidade que a peça tinha de transcen-der o público infantil e fisgar o adulto com igual respeito à inteligência mútua.

“Na roupagem que o grupo lhe deu”, comentou Michalski no extinto Jornal do Brasil, “a pequena ópera de Manuel de Falla é antes de mais nada obra de artistas plásticos, adotando como ponto de partida uma imagem realista da figu-ra humana, mas submetendo-a a uma estilização intensamente expressiva e poética”. Vai ver o crítico chegou a du-vidar se o que via no palco eram atores ou marionetes. “A qualidade técnica da movimentação chega a ser impressionan-te. Os bonecos são dotados de uma agi-

lidade e de uma capacidade de executar com naturalidade e precisão movimentos complexos que lhes conferem um poder de convicção profundamente humano.”

CONSCIÊNCIAS HISTÓRICA, POLÍTICA E CULTURALA ambição pela forma atraiu a ambição pelo conteúdo. E, sem deixar de surpre-ender o público com os – constantemente renovados – aspectos técnicos e esté-ticos dos espetáculos, o Giramundo foi abrindo uma linha de interpretação da realidade e do imaginário brasileiros. Em 1979, por exemplo, o coletivo embonecou o poema “Cobra Norato”, escrito pelo mo-dernista gaúcho Raul Bopp (1898-1984) com base na lenda amazônica do menino que é serpente durante os dias e à noite vira gente novamente. À peça, uma das

A ARTE DE MOVER

Terezinha Veloso, Álvaro Apocalypse e Madu: a origem do Giramundo

A Bela Adormecida: o príncipe acorda a princesa e a peça desperta a atenção do público para o coletivo mineiro[fotos: acervo Giramundo]

O Guarani [foto: acervo Giramundo]

Alice no País das Maravilhas: o passado e o futuro do Giramundo

Beatriz Apocalypse, Ulisses Tavares e Marcos Malafaia (de camiseta preta): a atual diretoria do grupo[fotos: acervo Giramundo]

O garoto – ou melhor, o boneco – Pedro, de Pedro e o Lobo, espetáculo mais apre-sentado da companhia

Museu Giramundo: o maior acervo de teatro de bonecos das Américas[fotos: André Seiti]

sábado 29 novembro 2014 a domingo 11 janeiro 2015terça a sexta 9h às 20h[permanência até as 20h30]sábado, domingo e feriado 11h às 20h

Aos sábados e domingos, das 11h às 15h, trechos de espetáculos do grupo são apresentados em um palco montado dentro do espaço expositivo. E, às quintas e sextas, das 15h às 20h, um artista instala sua oficina por-tátil no local – e o público pode assistir de perto à construção de uma mario-nete (o artista tira folga nos dias 25 e 26 de dezembro e 1º e 2 de janeiro).

A Ocupação Giramundo ainda pro-move, no Itaú Cultural e no Auditório Ibirapuera, a exibição de cinco peças da companhia. Confira a programação em itaucultural.org.br/ocupacao.

38 39

BONECO DE LUVA

Chamado no Brasil de fantoche, o boneco de luva é um dos mais praticados no mundo todo.

Na Europa, assumiu diversas formas sendo conhecido como “Guignol” na França, como “Punch” na Inglaterra, “Karsperl” na Alemanha, “Pulcinnella” na tália.

No Oriente, encontrou na China o local onde desenvolveu forma virtuosística de manipulação, sendo praticado até hoje.

Como personagem anárquica, popular e contraditória, o boneco de luva se identificou fortemente com o povo, criando uma linguagem própria, e fixando a rua como seu teatro.

O Mamulengo do nordeste do Brasil, de fundo popular, utiliza este gênero.

De manipulação muito difícil, o boneco de luva exige muito do marionetista pois este deve atuar criando vozes e interpretando, às vezes, duas personagens ao mesmo tempo.

Dizem que o boneco de luva é o único boneco onde corre sangue dentro, o sangue das mãos do marionetista.

50 51

BONECO DE FIO

Conhecido no Brasil como “marionete”, é de construção complexa e manipulação difícil.

Pode ter entre 12 a 30 fios que convergem para a “cruz de manipulação” onde ficam ao alcance das mãos do marionetista.

É um gênero que permite movimentos muito próximos dos movimentos humanos ou animais.

Por ser acionado por fios, o marionete se move de modo lento e delicado.

Para o desenvolvimento da técnica de manipulação, o marionetista precisa conhecer o comportamento especial do movimento do marionete encarando-o como um pêndulo.

58 59

BONECO DE VARA

Montado em torno de uma vara principal que sustenta o conjunto, este gênero é derivado do “wayang”, gênero de boneco da ilha de Java, Indonésia. A técnica se espandiu modernamente por todo o mundo através de numerosas variações.

Este tipo de boneco é manipulado de baixo para cima sendo o marionetista oculto por uma tapadeira.

No caso do Wayang de Java, o manipulador opera o boneco sentado no chão sendo a tapadeira uma faixa de tecido relativamente baixa.

Já no teatro de vara do ocidente, os marionetistas manipulam estes bonecos de pé, sendo a tapadeira mais alta.

Normalmente, o boneco possui apenas uma vara em uma das mãos. Mas marionetistas habilidosos, podem mover duas varas simultaneamente. Um marionetista auxiliar também pode mover a segunda vara.

66 67

MAROTE

Variação simplificada do boneco de vara, este gênero se presta bem para figurações e dança. Não possui controles nas mãos nem na cabeça mas o bom manipulador pode tirar muitos efeitos de seus movimentos soltos.

68 69

BONECO A TRINGLE

Do francês, “tringle”, vara. Tem o corpo sustentado por uma haste metálica fixada na cabeça.

Pode-se adicionar movimentos de cabeça, pernas e mãos de forma simplificada.

Tradicionalmente praticado ao sul da Itália, na Bélgica e no Norte da França.É considerado o “pai” do boneco de fio.

Por ser movido por varas de ferro, o “tringle” apresentamovimentos de tipobrusco e rápido.

68 69

BONECO DE BALCÃO

Derivado do “bunraku” japonês, que utiliza três

manipuladores por boneco, este gênero difundiu-se

pelo ocidente originando diversas variantes.

Dentre as quais, se destacaa curiosa forma de teatro

onde os marionetistas se vestem de preto e se tornam

invisíveis pelo jogo de luz.

Chamado informalmentede “balcão” é manipulado

por trás apoiando-se num pedestal, mesa ou balcão.

itaucultural.org.br fone 11 2168 1777 [email protected] avenida paulista 149 são paulo sp 01311 000

entrada franca

Realização

Alvará de Funcionamento de Local de Reunião – Protocolo: 2012.0.267.202 – Lotação: 742 pessoas Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) – Número: 121335 – Vencimento: 1/9/2017

[estação brigadeiro do metrô]

OCUPAÇÃO GIRAMUNDO

RealizaçãoItaú Cultural

CuradoriaItaú Cultural [Núcleos de Educação e Relacionamento e de Enciclopédia] e Giramundo [Beatriz Apocalypse, Marcos Malafaia e Ulisses Tavares]

Projeto expográficoThereza FariaAssistência Patrícia ForestiConsultoria Ulisses Tavares

ITAÚ CULTURAL

Presidente Milú VillelaDiretor superintendente Eduardo SaronSuperintendente administrativo Sérgio M. Miyazaki

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO E RELACIONAMENTOGerência Valéria ToloiCoordenação Tatiana PradoProdução executiva Ana Estaregui e Tiago FerrazSupervisão de atendimento ao público Nathalie Bonome e Silvio SantisCoordenação de atendimento educativo Samara FerreiraEducadores Ana Figueiredo (estagiária), Bianca Selofite, Claudia Malaco, Débora Fernandes, Fernanda Kunis (estagiária), Guilherme Ferreira, Isabela Quattrer (estagiária), Josiane Cavalcanti, Maria Meskelis, Raphael Giannini, Samantha Nascimento (estagiária) e Thiago Borazanian

NÚCLEO DE ENCICLOPÉDIAGerência Tânia RodriguesCoordenação Glaucy TuddaProdução executiva Laércio Menezes

NÚCLEO DE AUDIOVISUAL E LITERATURAGerência Claudiney FerreiraCoordenação Kety FernandesProdução de conteúdo audiovisual Jahitza BalaniukRoteiro, captação e edição de imagens Karina FogaçaCaptação de imagens André SeitiCaptação de áudio Ana Paula Fiorotto

NÚCLEO DE COMUNICAÇÃOGerência Ana de Fátima SousaProdução editorial Lívia G. Hazarabedian e Raphaella RodriguesCoordenação de texto Carlos Costa

Produção e edição de texto Thiago RosenbergEdição do site Maria Clara MatosRevisão de texto Polyana LimaCoordenação de design Jader RosaComunicação visual Yoshiharu ArakakiProjeto gráfico e diagramação Liane IwahashiFotos André SeitiTratamento de imagens Humberto Pimentel (terceirizado)

NÚCLEO DE PRODUÇÃO DE EVENTOSGerência Henrique Idoeta SoaresCoordenação (exposição) Edvaldo Inácio Silva e Vinícius RamosProdução (exposição) Aline Arroyo Barbosa de Oliveira (terceirizada), Carmen Cristina Fajardo Luccas, Daniel Suares (terceirizado), Erica Pedrosa Galante, Fabio Marotta, Fernanda Carnaúba (terceirizada) e Wanderley BispoCoordenação (espetáculos) Januario José Rolo de SantisProdução (espetáculos) Janaina Bernardes, Julia Retondo (terceirizada), Marcos Miranda, Priscila Moraes e Vinicius Francisco (terceirizado)

PUBLICAÇÃO IMPRESSATexto Valmir SantosIlustrações intervenção gráfica sobre desenhos de Álvaro Apocalypse e Marcos MalafaiaFotos André Seiti e GiramundoEdição Thiago RosenbergProdução Lívia G. HazarabedianCoordenação de design Jader RosaProjeto gráfico Liane IwahashiRevisão Polyana Lima

GIRAMUNDO

Textos Marcos MalafaiaSupervisão de restauração e direção de ensaios Beatriz ApocalypseAteliê de restauração Ana Fagundes, Bárbara Andalécio e Fabíola RosaCoordenação de produção e montagem Beatriz ApocalypseAuxiliares de montagem Debora Lutz, Guilherme Benoni e Ricardo da MataMarionetistas da exposição Camila Polastchek, Debora Lutz, Guilherme Benoni e Paulo Emílio LuzInstrutor da oficina do marionetista Daniel BowieProgramação visual (ilustrações) Álvaro Apocalypse e Marcos Malafaia

Fundado em 1970 e ainda em atividade, o grupo de teatro de bonecos Giramundo tem uma história tão incrível quanto aquelas que ele leva para os palcos. Ao

longo de mais de 40 anos, o coletivo mineiro explorou as mais diferentes técnicas de construção e manipulação de marionetes e abordou os mais diversos temas em espetáculos para públicos variados – sem contar as recentes experiências com suportes audiovisuais e digitais –, compondo uma trajetória que se reinventa constantemente... Feito o mundo, que não para de girar.

E é nessa rodopiante e incessante trajetória que a 21ª Ocupação Itaú Cultural se aventura. Além de uma exposição, em cartaz entre novembro de 2014 e janeiro de 2015, o programa apresenta uma mostra de peças da companhia – e, em itaucultural.org.br/ocupacao, traz textos, fotos e vídeos ligados ao universo do Giramundo.

Itaú Cultural

Cobra Norato: a cultura brasileira como protagonista[foto e desenho: acervo Giramundo]

mais premiadas na trajetória do grupo, seguiram-se trabalhos como O Guarani, de 1986, adaptação da ópera homônima de Carlos Gomes (1836-1896) – e, con-sequentemente, do romance de José de Alencar (1829-1877) – sobre o choque entre índios e colonizadores; Tiradentes: uma História de Títeres e Marionetes, de 1992, focado no período da inconfidên-cia mineira; e Os Orixás, de 2001, sobre a influência da cultura negra na forma-ção da identidade cultural brasileira.

Mas não é só de história que vive o Giramundo. Atualmente dirigido por Marcos Malafaia, Ulisses Tavares e Beatriz Apocalypse, filha de Álvaro, o grupo conta com outros 22 integrantes e segue somando novas montagens ao seu repertório – como Alice no País das Maravilhas, de 2013. Adaptação hi-tech do livro do inglês Lewis Carroll (1832-1898), o espetáculo bem que poderia ser definido pelo Chapeleiro Maluco como algo que aponta, simultaneamente, para trás e para

a frente. Ao mesmo tempo que revê e resu-me a trajetória do Giramundo, reunindo em uma só apresentação todas as técnicas de manipulação já adotadas pelo coletivo, a peça é a primeira a trazer em seu elenco um boneco digital – no caso, o Gato de Cheshire, elaborado por meio do sensor de movimentos Kinect. Na virada da década de 1960 para a de 1970, por sinal, Álvaro já pensava em produzir animações em stop motion – com fotos de marionetes projetadas a 24 quadros por segundo, ge-rando uma ilusão de movimento. Contudo, e felizmente no caso, as condições de pro-dução em vídeo eram precárias na época.

Localizada desde o início dos anos 2000 no bairro Floresta, em Belo Horizonte, a atual sede do grupo comporta uma ofici-na, um estúdio de animação, um teatro, uma escola – que promove cursos de modelagem, confecção e manipulação de bonecos voltados tanto para crianças e adolescentes quanto para estudantes e profissionais da área – e um museu. Nesse último espaço, como que em uma zona livre onde os personagens de diferentes histórias podem se encontrar,

o Dom Quixote de El Retablo de Maese Pedro descansa ao lado de Cobra No-rato, Alice e centenas de outros atores e atrizes de madeira, pano, papel machê, resina, fibra de vidro, policarbonato... Suspensas no teto ou apoiadas no chão e nas paredes, as marionetes criadas por Álvaro, Terezinha, Madu, Beatriz, Marcos, Ulisses e os outros representantes de carne e osso do Giramundo podem ser vistas de perto, com sua riqueza de deta-lhes e articulações – exibindo uma beleza que, no entanto, só se revela completa-mente quando em movimento.

Seja em ação, seja em repouso, em todo caso, os bonecos do Giramundo podem ser objetos manipuláveis – mas são eles que mexem com a gente.

Valmir Santos é jornalista, crítico e pesquisa-dor teatral. Mestre em artes cênicas e coautor do site Teatrojornal – Leituras de Cena [teatro-jornal.com.br], integrou a comissão de seleção do programa Rumos Itaú Cultural 2013.

Algumas das técnicas de manipulação de bonecos

Puxando os fios da história do Giramundo, chegamos à infância de Álvaro Apocalypse (1937-

2003) em sua Ouro Fino natal. Era lá que, observados pelas montanhas do sul de Minas Gerais, o menino e seus irmãos brincavam de imaginar e materia-lizar uma cidade povoada só por brinque-dos e bonecos. Álvaro, por assim dizer, não deixou de lado essa brincadeira até morrer, aos 66 anos, mesmo – ou princi-palmente – quando investido de papéis profissionais como os de pintor, desenhis-ta, gravador, cenógrafo e diretor de teatro.

Já em Belo Horizonte, depois de estudar gravura em metal e litografia na lendá-ria Escola Guignard – uma instituição muito mais preocupada em estimular a experimentação e a criação artísticas do

que em produzir e distribuir diplomas –, Álvaro começou, em 1959, a dar aulas de desenho na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Ge-rais (UFMG), onde conheceu sua futura mulher, Terezinha Veloso (1936-2003), também artista plástica e docente no local. Em 1970, os dois iniciaram uma parceria artística com a aluna Maria do Carmo Vivacqua Martins, a Madu, bolan-do apresentações cênicas informais, com bonecos um tanto rudimentares, para crianças, familiares e amigos na residên-cia de campo do casal em Lagoa Santa, região metropolitana da capital mineira. E as sessões domésticas daquela que foi considerada uma inventiva e carismática versão de A Bela Adormecida deram o que falar. Em 1971 o Giramundo levou para o Teatro Marília, no centro da cida-de, sua releitura do conto de fadas do francês Charles Perrault (1628-1703) – e foi justamente para a França que o grupo rumou no ano seguinte, como convidado do 1º Festival Mundial de Teatro de Marionetes, em Charleville-Mézières.

A passagem pela comuna francesa, es-pécie de meca do teatro de bonecos, deu ao grupo a chance de conhecer e absorver a sofisticação das produções europeias – as mais avançadas técnicas de manipulação e o apuro nas concep-ções de luz, cenografia, som e figurinos,

por exemplo. Adaptado da ópera do espanhol Manuel de Falla (1876-1946) – baseada, por sua vez, em passagens do romance Dom Quixote, de Miguel de Cervantes (1547-1616) –, o espetáculo El Retablo de Maese Pedro é prova disso. A montagem estreou na edição de 1976 do Festival de Inverno de Ouro Preto e sua passagem pelo Rio de Janeiro, no ano seguinte, projetou nacionalmente o traba-lho dos artistas – capazes de trazer à luz

“uma pequena joia”, no dizer do crítico Yan Michalski (1932-1990), admirado pela habilidade que a peça tinha de transcen-der o público infantil e fisgar o adulto com igual respeito à inteligência mútua.

“Na roupagem que o grupo lhe deu”, comentou Michalski no extinto Jornal do Brasil, “a pequena ópera de Manuel de Falla é antes de mais nada obra de artistas plásticos, adotando como ponto de partida uma imagem realista da figu-ra humana, mas submetendo-a a uma estilização intensamente expressiva e poética”. Vai ver o crítico chegou a du-vidar se o que via no palco eram atores ou marionetes. “A qualidade técnica da movimentação chega a ser impressionan-te. Os bonecos são dotados de uma agi-

lidade e de uma capacidade de executar com naturalidade e precisão movimentos complexos que lhes conferem um poder de convicção profundamente humano.”

CONSCIÊNCIAS HISTÓRICA, POLÍTICA E CULTURALA ambição pela forma atraiu a ambição pelo conteúdo. E, sem deixar de surpre-ender o público com os – constantemente renovados – aspectos técnicos e esté-ticos dos espetáculos, o Giramundo foi abrindo uma linha de interpretação da realidade e do imaginário brasileiros. Em 1979, por exemplo, o coletivo embonecou o poema “Cobra Norato”, escrito pelo mo-dernista gaúcho Raul Bopp (1898-1984) com base na lenda amazônica do menino que é serpente durante os dias e à noite vira gente novamente. À peça, uma das

A ARTE DE MOVER

Terezinha Veloso, Álvaro Apocalypse e Madu: a origem do Giramundo

A Bela Adormecida: o príncipe acorda a princesa e a peça desperta a atenção do público para o coletivo mineiro[fotos: acervo Giramundo]

O Guarani [foto: acervo Giramundo]

Alice no País das Maravilhas: o passado e o futuro do Giramundo

Beatriz Apocalypse, Ulisses Tavares e Marcos Malafaia (de camiseta preta): a atual diretoria do grupo[fotos: acervo Giramundo]

O garoto – ou melhor, o boneco – Pedro, de Pedro e o Lobo, espetáculo mais apre-sentado da companhia

Museu Giramundo: o maior acervo de teatro de bonecos das Américas[fotos: André Seiti]

sábado 29 novembro 2014 a domingo 11 janeiro 2015terça a sexta 9h às 20h[permanência até as 20h30]sábado, domingo e feriado 11h às 20h

Aos sábados e domingos, das 11h às 15h, trechos de espetáculos do grupo são apresentados em um palco montado dentro do espaço expositivo. E, às quintas e sextas, das 15h às 20h, um artista instala sua oficina por-tátil no local – e o público pode assistir de perto à construção de uma mario-nete (o artista tira folga nos dias 25 e 26 de dezembro e 1º e 2 de janeiro).

A Ocupação Giramundo ainda pro-move, no Itaú Cultural e no Auditório Ibirapuera, a exibição de cinco peças da companhia. Confira a programação em itaucultural.org.br/ocupacao.

38 39

BONECO DE LUVA

Chamado no Brasil de fantoche, o boneco de luva é um dos mais praticados no mundo todo.

Na Europa, assumiu diversas formas sendo conhecido como “Guignol” na França, como “Punch” na Inglaterra, “Karsperl” na Alemanha, “Pulcinnella” na tália.

No Oriente, encontrou na China o local onde desenvolveu forma virtuosística de manipulação, sendo praticado até hoje.

Como personagem anárquica, popular e contraditória, o boneco de luva se identificou fortemente com o povo, criando uma linguagem própria, e fixando a rua como seu teatro.

O Mamulengo do nordeste do Brasil, de fundo popular, utiliza este gênero.

De manipulação muito difícil, o boneco de luva exige muito do marionetista pois este deve atuar criando vozes e interpretando, às vezes, duas personagens ao mesmo tempo.

Dizem que o boneco de luva é o único boneco onde corre sangue dentro, o sangue das mãos do marionetista.

50 51

BONECO DE FIO

Conhecido no Brasil como “marionete”, é de construção complexa e manipulação difícil.

Pode ter entre 12 a 30 fios que convergem para a “cruz de manipulação” onde ficam ao alcance das mãos do marionetista.

É um gênero que permite movimentos muito próximos dos movimentos humanos ou animais.

Por ser acionado por fios, o marionete se move de modo lento e delicado.

Para o desenvolvimento da técnica de manipulação, o marionetista precisa conhecer o comportamento especial do movimento do marionete encarando-o como um pêndulo.

58 59

BONECO DE VARA

Montado em torno de uma vara principal que sustenta o conjunto, este gênero é derivado do “wayang”, gênero de boneco da ilha de Java, Indonésia. A técnica se espandiu modernamente por todo o mundo através de numerosas variações.

Este tipo de boneco é manipulado de baixo para cima sendo o marionetista oculto por uma tapadeira.

No caso do Wayang de Java, o manipulador opera o boneco sentado no chão sendo a tapadeira uma faixa de tecido relativamente baixa.

Já no teatro de vara do ocidente, os marionetistas manipulam estes bonecos de pé, sendo a tapadeira mais alta.

Normalmente, o boneco possui apenas uma vara em uma das mãos. Mas marionetistas habilidosos, podem mover duas varas simultaneamente. Um marionetista auxiliar também pode mover a segunda vara.

66 67

MAROTE

Variação simplificada do boneco de vara, este gênero se presta bem para figurações e dança. Não possui controles nas mãos nem na cabeça mas o bom manipulador pode tirar muitos efeitos de seus movimentos soltos.

68 69

BONECO A TRINGLE

Do francês, “tringle”, vara. Tem o corpo sustentado por uma haste metálica fixada na cabeça.

Pode-se adicionar movimentos de cabeça, pernas e mãos de forma simplificada.

Tradicionalmente praticado ao sul da Itália, na Bélgica e no Norte da França.É considerado o “pai” do boneco de fio.

Por ser movido por varas de ferro, o “tringle” apresentamovimentos de tipobrusco e rápido.

68 69

BONECO DE BALCÃO

Derivado do “bunraku” japonês, que utiliza três

manipuladores por boneco, este gênero difundiu-se

pelo ocidente originando diversas variantes.

Dentre as quais, se destacaa curiosa forma de teatro

onde os marionetistas se vestem de preto e se tornam

invisíveis pelo jogo de luz.

Chamado informalmentede “balcão” é manipulado

por trás apoiando-se num pedestal, mesa ou balcão.

itaucultural.org.br fone 11 2168 1777 [email protected] avenida paulista 149 são paulo sp 01311 000

entrada franca

Realização

Alvará de Funcionamento de Local de Reunião – Protocolo: 2012.0.267.202 – Lotação: 742 pessoas Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) – Número: 121335 – Vencimento: 1/9/2017

[estação brigadeiro do metrô]

OCUPAÇÃO GIRAMUNDO

RealizaçãoItaú Cultural

CuradoriaItaú Cultural [Núcleos de Educação e Relacionamento e de Enciclopédia] e Giramundo [Beatriz Apocalypse, Marcos Malafaia e Ulisses Tavares]

Projeto expográficoThereza FariaAssistência Patrícia ForestiConsultoria Ulisses Tavares

ITAÚ CULTURAL

Presidente Milú VillelaDiretor superintendente Eduardo SaronSuperintendente administrativo Sérgio M. Miyazaki

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO E RELACIONAMENTOGerência Valéria ToloiCoordenação Tatiana PradoProdução executiva Ana Estaregui e Tiago FerrazSupervisão de atendimento ao público Nathalie Bonome e Silvio SantisCoordenação de atendimento educativo Samara FerreiraEducadores Ana Figueiredo (estagiária), Bianca Selofite, Claudia Malaco, Débora Fernandes, Fernanda Kunis (estagiária), Guilherme Ferreira, Isabela Quattrer (estagiária), Josiane Cavalcanti, Maria Meskelis, Raphael Giannini, Samantha Nascimento (estagiária) e Thiago Borazanian

NÚCLEO DE ENCICLOPÉDIAGerência Tânia RodriguesCoordenação Glaucy TuddaProdução executiva Laércio Menezes

NÚCLEO DE AUDIOVISUAL E LITERATURAGerência Claudiney FerreiraCoordenação Kety FernandesProdução de conteúdo audiovisual Jahitza BalaniukRoteiro, captação e edição de imagens Karina FogaçaCaptação de imagens André SeitiCaptação de áudio Ana Paula Fiorotto

NÚCLEO DE COMUNICAÇÃOGerência Ana de Fátima SousaProdução editorial Lívia G. Hazarabedian e Raphaella RodriguesCoordenação de texto Carlos Costa

Produção e edição de texto Thiago RosenbergEdição do site Maria Clara MatosRevisão de texto Polyana LimaCoordenação de design Jader RosaComunicação visual Yoshiharu ArakakiProjeto gráfico e diagramação Liane IwahashiFotos André SeitiTratamento de imagens Humberto Pimentel (terceirizado)

NÚCLEO DE PRODUÇÃO DE EVENTOSGerência Henrique Idoeta SoaresCoordenação (exposição) Edvaldo Inácio Silva e Vinícius RamosProdução (exposição) Aline Arroyo Barbosa de Oliveira (terceirizada), Carmen Cristina Fajardo Luccas, Daniel Suares (terceirizado), Erica Pedrosa Galante, Fabio Marotta, Fernanda Carnaúba (terceirizada) e Wanderley BispoCoordenação (espetáculos) Januario José Rolo de SantisProdução (espetáculos) Janaina Bernardes, Julia Retondo (terceirizada), Marcos Miranda, Priscila Moraes e Vinicius Francisco (terceirizado)

PUBLICAÇÃO IMPRESSATexto Valmir SantosIlustrações intervenção gráfica sobre desenhos de Álvaro Apocalypse e Marcos MalafaiaFotos André Seiti e GiramundoEdição Thiago RosenbergProdução Lívia G. HazarabedianCoordenação de design Jader RosaProjeto gráfico Liane IwahashiRevisão Polyana Lima

GIRAMUNDO

Textos Marcos MalafaiaSupervisão de restauração e direção de ensaios Beatriz ApocalypseAteliê de restauração Ana Fagundes, Bárbara Andalécio e Fabíola RosaCoordenação de produção e montagem Beatriz ApocalypseAuxiliares de montagem Debora Lutz, Guilherme Benoni e Ricardo da MataMarionetistas da exposição Camila Polastchek, Debora Lutz, Guilherme Benoni e Paulo Emílio LuzInstrutor da oficina do marionetista Daniel BowieProgramação visual (ilustrações) Álvaro Apocalypse e Marcos Malafaia

Fundado em 1970 e ainda em atividade, o grupo de teatro de bonecos Giramundo tem uma história tão incrível quanto aquelas que ele leva para os palcos. Ao

longo de mais de 40 anos, o coletivo mineiro explorou as mais diferentes técnicas de construção e manipulação de marionetes e abordou os mais diversos temas em espetáculos para públicos variados – sem contar as recentes experiências com suportes audiovisuais e digitais –, compondo uma trajetória que se reinventa constantemente... Feito o mundo, que não para de girar.

E é nessa rodopiante e incessante trajetória que a 21ª Ocupação Itaú Cultural se aventura. Além de uma exposição, em cartaz entre novembro de 2014 e janeiro de 2015, o programa apresenta uma mostra de peças da companhia – e, em itaucultural.org.br/ocupacao, traz textos, fotos e vídeos ligados ao universo do Giramundo.

Itaú Cultural

Cobra Norato: a cultura brasileira como protagonista[foto e desenho: acervo Giramundo]

mais premiadas na trajetória do grupo, seguiram-se trabalhos como O Guarani, de 1986, adaptação da ópera homônima de Carlos Gomes (1836-1896) – e, con-sequentemente, do romance de José de Alencar (1829-1877) – sobre o choque entre índios e colonizadores; Tiradentes: uma História de Títeres e Marionetes, de 1992, focado no período da inconfidên-cia mineira; e Os Orixás, de 2001, sobre a influência da cultura negra na forma-ção da identidade cultural brasileira.

Mas não é só de história que vive o Giramundo. Atualmente dirigido por Marcos Malafaia, Ulisses Tavares e Beatriz Apocalypse, filha de Álvaro, o grupo conta com outros 22 integrantes e segue somando novas montagens ao seu repertório – como Alice no País das Maravilhas, de 2013. Adaptação hi-tech do livro do inglês Lewis Carroll (1832-1898), o espetáculo bem que poderia ser definido pelo Chapeleiro Maluco como algo que aponta, simultaneamente, para trás e para

a frente. Ao mesmo tempo que revê e resu-me a trajetória do Giramundo, reunindo em uma só apresentação todas as técnicas de manipulação já adotadas pelo coletivo, a peça é a primeira a trazer em seu elenco um boneco digital – no caso, o Gato de Cheshire, elaborado por meio do sensor de movimentos Kinect. Na virada da década de 1960 para a de 1970, por sinal, Álvaro já pensava em produzir animações em stop motion – com fotos de marionetes projetadas a 24 quadros por segundo, ge-rando uma ilusão de movimento. Contudo, e felizmente no caso, as condições de pro-dução em vídeo eram precárias na época.

Localizada desde o início dos anos 2000 no bairro Floresta, em Belo Horizonte, a atual sede do grupo comporta uma ofici-na, um estúdio de animação, um teatro, uma escola – que promove cursos de modelagem, confecção e manipulação de bonecos voltados tanto para crianças e adolescentes quanto para estudantes e profissionais da área – e um museu. Nesse último espaço, como que em uma zona livre onde os personagens de diferentes histórias podem se encontrar,

o Dom Quixote de El Retablo de Maese Pedro descansa ao lado de Cobra No-rato, Alice e centenas de outros atores e atrizes de madeira, pano, papel machê, resina, fibra de vidro, policarbonato... Suspensas no teto ou apoiadas no chão e nas paredes, as marionetes criadas por Álvaro, Terezinha, Madu, Beatriz, Marcos, Ulisses e os outros representantes de carne e osso do Giramundo podem ser vistas de perto, com sua riqueza de deta-lhes e articulações – exibindo uma beleza que, no entanto, só se revela completa-mente quando em movimento.

Seja em ação, seja em repouso, em todo caso, os bonecos do Giramundo podem ser objetos manipuláveis – mas são eles que mexem com a gente.

Valmir Santos é jornalista, crítico e pesquisa-dor teatral. Mestre em artes cênicas e coautor do site Teatrojornal – Leituras de Cena [teatro-jornal.com.br], integrou a comissão de seleção do programa Rumos Itaú Cultural 2013.

Algumas das técnicas de manipulação de bonecos