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3 2 a GUERRA MUNDIAL E GUERRA FRIA Nesta Unidade, você estudará a 2 a Guerra Mundial e a oposição entre as potências mundiais que dela emergiu: a Guerra Fria. Revendo a história, parece inconcebível que, cerca de 20 anos depois de encerrada a Grande Guerra, as principais potências mundiais tenham se envolvido em um novo confronto armado. E esse confronto foi ainda mais devastador do que o anterior: os mortos na 1 a Guerra Mundial são estimados em mais de 8,5 milhões, enquanto na 2 a Guerra são cerca de 50 milhões. Como entender tamanha destruição? Na Unidade anterior, você estudou a crise do capitalismo mundial e sua relação com a ascensão do fascismo na Itália e do nazismo na Alemanha. Você viu que esses regimes reprimiram duramente a orga- nização autônoma dos trabalhadores, principalmente as comunistas, ao mesmo tempo que estimularam os negócios capitalistas, sobretudo por meio da indústria bélica. Você também estudou que a ideologia desses regimes, combi- nando um nacionalismo agressivo com o racismo, logo justificou um expansionismo militar. E assim, quando a 2 a Guerra Mundial estou- rou, nacionalismo, racismo, expansionismo, anticomunismo e econo- mia de guerra haviam atingido o ápice. Esta Unidade mostrará que, em virtude do grande poderio militar do regime de Hitler, uma aliança inédita foi mobilizada para combatê-lo. Soviéticos, estadunidenses, ingleses e franceses somaram forças contra os alemães, que foram apoiados por italianos e japoneses. No entanto, logo que foi encerrado o conflito militar mais destrutivo da história da humanidade, a aliança entre os vencedores se rompeu, dando início a uma oposição que marcou a segunda metade do século XX: a Guerra Fria. Como é possível entender essa inversão radical? São esses assuntos que você estudará na Unidade 3. 107

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Page 1: 3 2a Guerra Mundial e Guerra Fria - EJA 3 2a Guerra Mundial e Guerra Fria Nesta Unidade, você estudará a 2a Guerra Mundial e a oposição entre as potências mundiais que dela emergiu:

3 2a Guerra Mundial e Guerra Fria

Nesta Unidade, você estudará a 2a Guerra Mundial e a oposição

entre as potências mundiais que dela emergiu: a Guerra Fria.

Revendo a história, parece inconcebível que, cerca de 20 anos depois

de encerrada a Grande Guerra, as principais potências mundiais tenham

se envolvido em um novo confronto armado. E esse confronto foi ainda

mais devastador do que o anterior: os mortos na 1a Guerra Mundial são

estimados em mais de 8,5 milhões, enquanto na 2a Guerra são cerca de

50 milhões. Como entender tamanha destruição?

Na Unidade anterior, você estudou a crise do capitalismo mundial

e sua relação com a ascensão do fascismo na Itália e do nazismo na

Alemanha. Você viu que esses regimes reprimiram duramente a orga-

nização autônoma dos trabalhadores, principalmente as comunistas,

ao mesmo tempo que estimularam os negócios capitalistas, sobretudo

por meio da indústria bélica.

Você também estudou que a ideologia desses regimes, combi-

nando um nacionalismo agressivo com o racismo, logo justificou um

expansionismo militar. E assim, quando a 2a Guerra Mundial estou-

rou, nacionalismo, racismo, expansionismo, anticomunismo e econo-

mia de guerra haviam atingido o ápice.

Esta Unidade mostrará que, em virtude do grande poderio militar do

regime de Hitler, uma aliança inédita foi mobilizada para combatê-lo.

Soviéticos, estadunidenses, ingleses e franceses somaram forças contra os

alemães, que foram apoiados por italianos e japoneses.

No entanto, logo que foi encerrado o conflito militar mais destrutivo

da história da humanidade, a aliança entre os vencedores se rompeu,

dando início a uma oposição que marcou a segunda metade do século

XX: a Guerra Fria. Como é possível entender essa inversão radical?

São esses assuntos que você estudará na Unidade 3.

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Page 2: 3 2a Guerra Mundial e Guerra Fria - EJA 3 2a Guerra Mundial e Guerra Fria Nesta Unidade, você estudará a 2a Guerra Mundial e a oposição entre as potências mundiais que dela emergiu:

Para iniciar...

Veja qual foi o alinhamento dos principais países que se enfrenta-ram na 2a Guerra Mundial:

Agora, converse com seus colegas e o professor.

• Como se alinharam os principais países que combateram na 1a Guerra Mundial?

• Que mudanças você identifica no alinhamento dos países entre a 1a e a 2a Guerra Mundial? Quais países estiveram envolvidos em ambos os confrontos? Qual deles mudou de lado? Quem era o novo protagonista?

• Localize em um mapa-múndi os países listados. Quantos continen-tes estavam envolvidos? O que isso pode dizer sobre essa guerra?

Debatendo os antecedentes da guerra

A 2a Guerra Mundial teve, de fato, um alcance global, diferen-temente da 1a Guerra Mundial, considerada por muitos um conflito europeu. Mas o que levou o mundo a se envolver em outra guerra, de tamanha dimensão, e em tão pouco tempo?

A dedução mais imediata a que se pode chegar é a de que os pro-blemas que haviam gerado a 1a Guerra Mundial não estavam solu-cionados. De fato, os países protagonistas foram praticamente os mesmos, o que indica que as contradições e as disputas que caracte-rizavam o imperialismo tiveram um papel importante também nesse segundo confronto.

No entanto, ainda que similares, tais questões estruturais adqui-riram uma expressão muito particular na 2a Guerra. O Império Alemão do Kaiser Guilherme II e o Terceiro Reich de Hitler eram muito diferentes. No nazismo, a associação entre nacionalismo e racismo engrenou-se a uma indústria de guerra que assombrou o

Aliados Eixo

União Soviética Alemanha

Estados Unidos Itália

Inglaterra Japão

França

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História – Unidade 3

Page 3: 3 2a Guerra Mundial e Guerra Fria - EJA 3 2a Guerra Mundial e Guerra Fria Nesta Unidade, você estudará a 2a Guerra Mundial e a oposição entre as potências mundiais que dela emergiu:

Apaziguar[...]

2. Pôr(-se) de acordo; pôr(-se) em concórdia; harmonizar(-se) [td.: Apaziguar os países em guerra.] [tr.: Os grupos antagônicos não se apaziguaram.]

© iDicionário Aulete. http://www.aulete.com.br. Acesso

em: 12 nov. 2012.

mundo, motivando algo que parecia impossível: uma aliança militar entre potências capitalistas e a União Soviética, de modo a combater o poderio militar nazista.

Essa aliança não foi fácil nem imediata. Muitos historiadores entendem que as potências liberais (como Inglaterra, França e Estados Unidos) toleraram a ascensão do nazismo e seus primeiros movimen-tos de guerra na expectativa de que eles pudessem reprimir a agita-ção da esquerda na Europa e destruir o Estado soviético. Todavia, quando ficou evidente que os nazistas ambicionavam mais do que isso, pois pretendiam instaurar uma nova ordem mundial sob seu comando, a aliança finalmente aconteceu.

Assim, na dinâmica da 2a Guerra Mundial, associaram-se:

• rivalidades intraimperialistas (disputa por territórios e mercados durante a expansão capitalista);

• contradições sociais, em um contexto de crises, inflação, desem-prego e mobilização dos trabalhadores, apoiada na difusão das ideias socialistas e comunistas;

• ideia crescente de que os comunistas europeus e a União Soviética representavam um mal a ser extirpado pelo mundo capitalista.

A expansão nazista e o início da 2a Guerra Mundial

Em 1938, a Alemanha de Hitler começou sua expansão para o resto da Europa: anexou a Áustria e ocupou a região dos Sudetos na Tchecoslováquia, onde viviam cerca de 3 milhões de pessoas de ori-gem germânica.

Embora inicialmente contrárias à ocupação alemã, França e Ingla-terra acabaram adotando uma política de apaziguamento na Conferên-cia de Munique, realizada em fins de setembro desse mesmo ano, con-vocada por Hitler. Esses países acreditavam que, cedendo na questão da Tchecoslováquia, os nazistas se aquietariam. Estavam enganados.

Por sua vez, ao saber dos resultados da Conferência de Muni-que, a União Soviética sentiu-se temerosa de que a complacência das democracias liberais significasse um sinal verde para que a máquina de guerra nazista se voltasse para a sua direção. Essa foi a justifica-tiva mais provável para a assinatura do Pacto Nazi-Soviético de Não Agressão, firmado cerca de um ano depois da Conferência, em agosto de 1939. Quando divulgado, esse pacto causou repúdio em militantes socialistas em todo o mundo.

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No entanto, também os soviéticos se equivocaram ao se sentir protegidos pelo acordo com a Alemanha. Em 1o de setembro desse ano, poucos dias após a assinatura do pacto, os nazistas invadiram a Polônia, aproximando-se da fronteira com a União Soviética. Esta, por sua vez, entrou na Polônia e, posteriormente, na Estônia, na Lituânia, na Letônia e na Finlândia.

Com a invasão da Polônia, Inglaterra e França declararam guerra à Alemanha. Estava iniciada a 2a Guerra Mundial, em 1o de setembro de 1939.

Atividade 1 Expansão nazista

1. No mapa a seguir, localize a Alemanha, a Tchecoslováquia, a Polônia e a União Soviética.

ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2008, p. 27. Mapa original (mantida a grafia). A URSS seria constituída apenas a partir de 1922 [nota do editor].

2. De acordo com o texto da seção “A expansão nazista e o início da 2a Guerra Mundial”, indique no mapa em que direção, a partir da Alemanha, avançaram os nazistas.

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História – Unidade 3

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3. Considerando a direção da expansão nazista, a União Soviética tinha motivos para se preocupar? Justifique.

O desenrolar da 2a Guerra Mundial

Ao longo do conflito, foram formados dois blocos opositores: o Eixo e os Aliados.

1. O Eixo foi formado por países de desenvolvimento capitalista relativa-mente tardio, que quase não possuíam colônias ou áreas de influência geopolítica: Alemanha, Itália e Japão. Isso quer dizer que, quando se industrializaram, encontraram parte importante dos mercados interna-cionais já ocupados por potências rivais. Embora diferentemente da 1a Guerra, a 2a Guerra Mundial também tinha motivações imperialistas.

Hitler, acompanhado por oficiais do exército alemão e por membros do alto escalão nazista, passeia pelas ruas de Paris após a rendição francesa à Alemanha.

2. O bloco dos Aliados reuniu países que repre-sentavam projetos sociais opostos: de um lado, Estados Unidos, Inglaterra e França eram, e ainda são, potências capitalistas, defensoras do liberalismo; de outro lado, estava a União Soviética, produto da Revolução Russa e de-fensora do comunismo.

O Exército alemão teve um êxito notável no primeiro ano do conflito. Depois dos ataques à Europa Oriental, foi a vez de os vizinhos do Norte e do Ocidente sofrerem a investida alemã: Dina-marca, Noruega, Holanda, Luxemburgo e Bélgica foram ocupados em maio de 1940.

Tropas francesas e inglesas tentaram resistir ao avanço nazista em direção à França, mas foram derrotadas em junho de 1940: cerca de 350 mil sol-dados aliados cruzaram o Canal da Mancha, que separa a França da Inglaterra, em direção à ilha britânica, com o auxílio de todo tipo de embarca-ção. Nesse mesmo mês, os alemães entraram em Paris: a França havia se rendido. Em seguida, na cidade de Vichy, foi instalado um governo francês – comandado pelo marechal Pétain – disposto a cola-borar com os invasores.

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Depois dessa conquista, os alemães mobilizaram sua força de guerra contra a Inglaterra. Com aviões, bombardearam várias cidades, incluindo a capital, Londres. Porém, a reação da Força Aérea Real britânica (Royal Air Force – RAF) foi eficaz, e a invasão não se concretizou.

Com a entrada da Itália no lado alemão da guerra, em setembro de 1940, abriram-se novas frentes de combate na Europa. Alguns paí-ses aliaram-se ao Eixo, como Romênia, Bulgária e Hungria, enquanto outros foram ocupados por tropas nazistas.

Em outros países, como França, Holanda e Noruega, os alemães estabeleceram governos colaboracionistas, que encontravam apoio em setores da sociedade simpáticos ao regime nazista, embora também enfrentassem a resistência heroica de muitos patriotas que organiza-ram a guerrilha, principalmente os militantes comunistas.

Assim, vista no seu conjunto, em meados de 1941 a Europa estava dominada pelo Eixo. Foi nesse contexto que Hitler desencadeou uma ofensiva massiva contra os soviéticos, conhecida como Operação Barba-rossa. As batalhas nessa frente seriam decisivas para o desfecho da guerra.

DUBY, George. Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2001, p. 99. Tradução: Renée Zicman.

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História – Unidade 3

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Em pouco tempo, ficou evidente que os planos do Terceiro Reich para o Leste Europeu eram diferentes dos propostos para o restante do continente. Assim como acontecia com outros povos, como os judeus, a ideologia nazista considerava os eslavos uma raça inferior. Por isso, o “espaço vital” alemão deveria estender-se aos territórios do Leste Europeu, e a população eslava precisaria ser subjugada e, até mesmo, escravizada. Essa foi, portanto, a finalidade inicial de diversos campos de concentração: prover mão de obra para o esforço da indústria de guerra alemã. No entanto, conforme a Alemanha avançava para o leste e impunha seu domínio sobre outros povos, os campos instalados na região começaram a ter outras finalidades: limpeza étnica e extermínio, tanto por motivos racistas como por razões políticas.

Os poloneses experimentaram cedo essa realidade, que então amea-çava os soviéticos. O caso dos soviéticos mostrava-se ainda mais difícil, pois ao racismo nazista somava-se um anticomunismo visceral. Diante dessas circunstâncias, o povo russo percebeu que não lutava apenas por sua pátria, mas por sua própria sobrevivência.

NOAKES, J.; PRIDHAM, G. (Org.), Nazism, 1919-1945. v. 3. Exeter: University of Exeter Press, 1998, p. 645. Disponível em: <http://germanhistorydocs.ghi-dc.org/map.cfm?map_id=3432>. Acesso em: 12 nov. 2012. Tradução: Renée Zicman.

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A vitória soviética

Inicialmente, os nazistas avançaram rapidamente sobre o território soviético. Há indícios de que Stálin tenha sido surpreendido pelo ata-que alemão, demorando inclusive para se convencer de que a invasão de fato acontecia. Do lado alemão, a facilidade do avanço inicial dei-xou os nazistas eufóricos. Impulsionados pelo rápido êxito que tiveram na Europa Ocidental, acreditavam que logo marchariam sobre Mos-cou. Dessa vez, porém, foram os alemães que se enganaram.

Nos campos de batalha, após uma derrota inicial que quase dizimou o exército soviético, uma reestruturação foi bem-sucedida. O Exército Vermelho comandado pelo marechal Zhukov, apoiado em uma eficiente produção industrial baseada no planejamento estatal, e na determina-ção nacionalista de seus soldados, ofereceu uma tenaz resistência aos nazistas. Dessa forma, as tropas de Hitler sofreram sua primeira derrota importante na guerra, na cidade de Stalingrado, no começo de 1943.

Fica a dica

FRANK, Anne. O Diário de Anne Frank. 31. ed. Rio Janeiro: Record, 2011. Esse livro, publicado originalmente em 1947, conta as vivências de uma adolescente judia durante os anos de perseguição nazista, enquanto esteve escondida com sua família em cômodos secretos e no sótão de uma casa em Amsterdã, na Holanda. O diário foi escrito entre os anos de 1942 e 1944 e é um comovente relato sobre o que foi a 2a Guerra Mundial e o nazismo.

Na Batalha de Stalingrado, o exército soviético impôs às tropas alemãs sua primeira derrota.

Mas como os soviéticos conseguiram inverter a situação, tor-nando-se os principais responsáveis pela derrota alemã?

Um dos grandes fatores que explica essa reviravolta foi a tarefa monumental, realizada pelos soviéticos, que dificilmente poderia ser feita em um país no qual prevalecesse a propriedade privada da grande indús-tria: transferiram grande parte de seu parque produtivo para o leste do país, na retaguarda do Exército Vermelho. Com isso, colocada a salvo das tropas alemãs, a indústria soviética pôde se dedicar à produção bélica.

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No entanto, apesar dos apelos de Stálin pelo apoio dos Aliados, o exército soviético teve de esperar até o dia 6 de junho de 1944 pelo desembarque das tropas aliadas nas praias da Normandia, na França. Esse fato ficou conhecido na história ocidental como “Dia D”.

O desfecho da guerra

Até a invasão da Normandia, as principais tropas aliadas comba-teram em territórios marginais ao espaço europeu:

• os estadunidenses, envolvidos na guerra desde dezembro de 1941, quando do ataque japonês a Pearl Harbor, combatiam sobretudo no Pacífico;

• as tropas inglesas lutavam principalmente no Mediterrâneo e no nor-te da África, onde conseguiram abrir caminho para invadir a Itália.

Em julho de 1943, o líder fascista Benito Mussolini foi deposto. Capturado quando tentava fugir para a Suíça, ele foi julgado e conde-nado à morte pelos partigiani (guerrilheiros antifascistas). A rendição de alemães e japoneses tardaria mais do que a dos italianos.

Em 1944, os soldados aliados desembarcaram na França, o que favo-receu o avanço das tropas soviéticas, que vinham pressionando o exér-cito alemão de volta ao seu território, desde a Batalha de Stalingrado.

Quando os soviéticos ocuparam a capital alemã Berlim, em abril de 1945, o líder nazista cometeu suicídio.

Você sabia que brasileiros também combateram na guerra?

No começo da 2a Guerra Mundial, o Brasil adotou uma posição de neutralidade. Na época, o País vivia uma ditadura comandada por Getúlio Vargas, simpático ao regime fascista. No entanto, a pressão dos Estados Unidos acabou se impondo e, em 1943, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB). No ano seguinte, cerca de 25 mil soldados brasileiros foram enviados à Itália, onde combateram ao lado do exército estadunidense.

Fica a dica

Olga (direção de Jayme Monjardim, 2004) é um filme sobre a judeu-alemã Olga Benário Prestes, jovem militante comunista que vivia no Brasil. Durante o governo de Getúlio Vargas ela foi deportada para a Alemanha e lá foi executada pelo regime nazista em um campo de extermínio.

Soldado russo ergue a bandeira de seu país sobre o antigo Parlamento alemão após a invasão de Berlim pelas forças soviéticas.

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Era o fim do nazismo, mas não da guerra: ainda restava a frente do Pacífico, na qual se enfrentavam, principalmente, Estados Unidos e Japão desde 1941, quando as tropas japonesas destruíram uma base estadunidense sediada em Pearl Harbor, no Havaí.

Em uma circunstância em que era iminente a derrota do Japão, os Estados Unidos jogaram uma bomba atômica na cidade japonesa de Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, causando a morte imediata de milhares de civis. A rendição japonesa já se anunciava, mas, mesmo assim, três dias depois, os EUA atiraram uma segunda bomba atô-mica, dessa vez na cidade de Nagasaki. As duas bombas mataram ins-tantaneamente mais de 300 mil pessoas, além de deixarem milhares de sobreviventes com graves sequelas, como mutilações, queimaduras, mutações genéticas e diversos tipos de câncer.

Muitos historiadores acreditam que o objetivo dos Estados Unidos ao atirar essas bombas já não era a vitória sobre os japoneses, uma vez que ela estava garantida. O propósito real seria enviar uma mensagem intimidatória aos soviéticos, que, aos olhos do mundo, saíam como os principais responsáveis pela derrota do nazismo. A forma como termi-nava a 2a Guerra Mundial era um prenúncio da Guerra Fria.

Bomba atômica lançada pelos EUA em Nagasaki, no Japão.

Hiroshima, no Japão, arrasada depois da bomba atômica lançada pelos EUA.

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Atividade 2 O conflito no Pacífico

O Japão, assim como a Alemanha, industrializou-se tardiamente. E, como potência industrial que precisava expandir seus mercados e explorar fontes de matérias-primas, militarizou-se para conquistar novos territórios na Ásia e no Pacífico.

No entanto, outras potências industriais, como a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, já tinham, ou pretendiam ter, colônias nesses territórios.

Nesse contexto, o Japão aliou-se à Alemanha, tornando-se um membro do Eixo. Como o Japão conquistava mais e mais territórios, Grã-Bretanha e Estados Unidos decretaram embargo econômico a esse país. Em resposta, o Japão atacou a base naval estadunidense de Pearl Harbor, no Havaí. Com esse acontecimento, os Estados Unidos declararam guerra ao Japão e o conflito foi deflagrado, com ações tão destrutivas quanto as que ocorriam na Europa.

ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: Editora Ática, 2008, p. 31. Mantida a grafia original.

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Com seus colegas, pesquise esse importante conflito da 2a Guerra Mundial e responda:

1. Quais foram os países envolvidos na guerra da Ásia e do Pacífico?

2. O que motivou cada um desses países a entrar na guerra?

3. Quais foram as consequências dessa guerra para cada um dos países envolvidos?

Atividade 3 Guerras e negócios

Durante a 2a Guerra Mundial, foi necessária a produção de milhões de armas, aviões, foguetes, veículos, uniformes para soldados, a construção de prisões e de campos de extermínio, o fornecimento de combustível etc. Para tudo isso, os países envolvidos precisaram de financiamento de bancos e da produção de empresas.

Em grupos, pesquisem quais foram as empresas que produziram os itens mencionados, tanto para o lado dos Aliados como para o Eixo, e respondam:

1. Quais dessas empresas existem até hoje?

2. O que elas produziram e para quem?

3. Quem produz e financia esses itens mencionados para as guer-ras atuais?

4. Vocês acham que as guerras são bons negócios? Para quem?

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Um novo equilíbrio

Pouco tempo depois de encerrado o conflito mais destrutivo da humanidade, a aliança formada para enfrentar o Eixo se desfez. Emergindo como as grandes potências mundiais ao final da 2a Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética polarizariam a política global ao longo das décadas seguintes.

Como explicar que países antes aliados, em função de um conflito dramático, se tornassem inimigos tão rapidamente?

É necessário lembrar que as alianças construídas no período da 2a Guerra não foram estáveis nem fiéis. Ingleses e franceses fizeram concessões aos nazistas em Munique, Stálin pactuou com Hitler logo depois, e os alemães agrediram os três. Quando a máquina de guerra alemã dirigiu todo o seu poder contra os soviéticos, os Aliados não mostraram determinação em auxiliá-los. Foi somente quando ficou evidente a recuperação do Exército Vermelho e o apuro vivido pelos alemães é que os Aliados efetivamente dialogaram com Stálin.

Os principais líderes do bloco aliado, Josef Stálin (União Sovié-tica), Winston Churchill (Inglaterra) e Franklin Roosevelt (Esta-dos Unidos) encontraram-se pela primeira vez em Teerã (Irã), em novembro de 1943. No ano de 1945, houve novas reuniões em Yalta (URSS, atual Ucrânia) e, depois, em Potsdam (Alemanha), quando os alemães já estavam derrotados.

O principal motivo desses encontros era discutir como ficaria o equilíbrio entre as potências mundiais no mundo do pós-guerra. Em outras palavras, os vencedores discutiam sua influência nas diferentes regiões do planeta.

Os governos dos Estados Unidos e da Inglaterra, expoentes do liberalismo, logo se entenderam. O mesmo, porém, não aconteceu com os soviéticos, que representavam um projeto diferente e, em cer-tos aspectos, oposto ao capitalismo liberal.

Nesse sentido, o que estava em discussão não era uma divisão geopolítica entre iguais, mas uma disputa entre distintos modelos sociais, na qual se interpretava, do lado dos Aliados, uma eventual concessão aos soviéticos como sendo uma ameaça ao capitalismo. Tratava-se, portanto, de uma negociação tensa.

Tensa, mas também desigual. Veja a diferença entre os dois países no quadro a seguir.

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Apesar do desequilíbrio social e econômico, se comparados aos Estados Unidos, os soviéticos conseguiram, ainda durante a guerra, ampliar a área sob sua influência no Leste Europeu. Seu objetivo inicial era romper o isolamento imposto pelos países capitalistas em decorrên-cia do triunfo da Revolução Russa de 1917, firmando, assim, relações de cooperação com os países na sua fronteira europeia. Os demais alia-dos cederam a esse ensejo no calor do confronto, mas logo se arrepen-deram, em função de seus temores ideológicos. No entanto, a presença do Exército Vermelho garantiu o futuro poder soviético na região.

Ao contrário do que se pode imaginar, os soviéticos, sob a lide-rança de Stálin, nem sempre se interessaram pelo triunfo de revo-luções populares em outros países, especialmente quando não esta-vam sob sua tutela direta. Na Iugoslávia, por exemplo, triunfou uma revolução socialista independente dos soviéticos. O mesmo ocorreria depois com a China, também governada pelo Partido Comunista, e com a Albânia. Esses casos demonstram que, de maneira diferente do que se pode acreditar, o bloco socialista nunca foi homogêneo.

Assim, é possível dizer que a oposição entre Estados Unidos e União Soviética não significou necessariamente uma disputa entre

* Fontes: WEINBERG, Gerhard. A world at arms: A Global History of World War II. Cambridge: Cambridge University Press, 1994, p. 894; KNAPP, Wilfrid. “Europa em ruínas”. In: História do Século XX. São Paulo: Abril Cultural, tomo V, p. 2233. Population Statistics. Disponível em:

<http://www.populstat.info/>. Acesso em: 12 nov. 2012.

Estados Unidos União Soviética

Emergiam da guerra com um poderio econômico indisputado. Novamente,

seu território foi preservado das batalhas e a economia do país cresceu aceleradamente

para atender às demandas do bloco aliado ao longo da guerra.

Estima-se que tenham morrido cerca de 300 mil estadunidenses na guerra,

cerca de 0,22% da população do país.*

O território do país foi o principal palco do enfrentamento com os nazistas. Durante a guerra, praticaram a tática

conhecida por “terra arrasada”, na qual se destruía voluntariamente tudo o que pudesse ser utilizado pelo exército inimigo em seu avanço na direção de Moscou.

Isso significa que os soviéticos realizaram um esforço de guerra total, empenhando sua riqueza, seu território e

seus cidadãos contra os alemães. Como resultado, ao final da guerra a economia soviética encontrava-se

prostrada, e parte de seu território, devastado.As perdas humanas foram superiores a 25 milhões

(cerca de 80 vezes maiores do que as estadunidenses), o que equivale a quase 15% da população.*

Contavam com amplos recursos materiais para investir na reconstrução da Europa do

pós-guerra. Ao final do embate, elaboraram um

“Programa de Recuperação Europeia”, mais conhecido como Plano Marshall, por meio do qual investiram mais de 13 bilhões de

dólares em assistência técnica e econômica aos países europeus.

Contavam, principalmente, com o prestígio acumulado como vencedores do nazismo e com as tropas que

ocupavam Berlim, e outras partes do Leste Europeu. Embora precisassem desesperadamente de auxílio para

a reconstrução nacional, recusaram o Plano Marshall, por entender que as condições exigidas implicavam uma

submissão direta aos Estados Unidos.

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História – Unidade 3

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capitalismo e comunismo. Muitas vezes, os discursos anticapitalista e anticomunista foram utilizados para justificar, perante a opinião pública interna, as políticas adotadas pelos países desses dois blocos.

A propaganda anticomunista

Muitos autores entendem que a escalada da propaganda anti-comunista nos Estados Unidos esteve vinculada à formação do cha-mado complexo militar industrial. Para tais autores, foi a economia de guerra, no final dos anos 1930, que possibilitou aos estadunidenses que superassem a Crise de 1929. Por esse motivo, entendem que a manuten-

A queda de braço entre os líderes da URSS (Nikita Kruchev) e dos EUA (John Kennedy) na década de 1960 representa a disputa pela hegemonia mundial entre esses dois países durante a Guerra Fria.

ção e o desenvolvimento de um extraordinário aparato militar tornou-se uma necessidade polí-tica e econômica da hegemonia daquele país.

Segundo essas análises, o agressivo nacionalismo estimu-lado constantemente pela mídia estadunidense ajudou a justifi-car os gastos na indústria bélica diante da população, assim como o envolvimento concreto do país em conflitos no mundo. As altas somas investidas na corrida armamentista também estariam relacionadas a essas motivações ideológicas e econômicas.

No entanto, o risco de um conflito envolvendo potências nucleares era uma possibilidade real, ainda que as motivações dos principais con-tendentes da Guerra Fria não fossem necessariamente aquelas que divul-gavam para os seus cidadãos.

Havia uma disputa real por influência geopolítica, em que se mis-turavam motivos de natureza diversa, principalmente:

• nacionais: o desenvolvimento econômico das duas potências apoiava-se na hegemonia sobre regiões do planeta, ao mesmo tempo que a disputa ideológica reforçava internamente a fidelida-de da população ao seu respectivo país;

• de classe: embora a experiência concreta da União Soviética se distanciasse cada vez mais do comunismo tal qual pensado pelo líder revolucionário russo Lênin, a mera existência de uma “re-pública de operários e camponeses” era considerada um estímulo para uma revolução anticapitalista em todo o mundo.

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E por que essa guerra era “fria”?

Quando os Estados Unidos jogaram as duas bombas atômi-cas no Japão no final da 2a Guerra Mundial, ficou evidente para o mundo que qualquer novo conflito seria letal para quem os enfren-tasse. Intimidados pela ameaça que isso significava, os soviéticos responderam de maneira semelhante e, em poucos anos, também desenvolveram a bomba atômica. Iniciou-se então uma corrida armamentista entre as potências, que se desdobrou em direção a uma corrida espacial.

Com o crescimento do poder destrutivo das armas, ficou claro que um conflito direto entre os Estados Unidos e a União Soviética amea-çaria a própria humanidade. Dessa forma, a criação da ONU (Organi-zação das Nações Unidas), em 1945, na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, deveria auxiliar na manutenção da paz mundial. Na visão de muitos, contudo, a organização tornou-se em pouco tempo

Você sabia que uma das expressões da Guerra Fria foi a formação de dois blocos de aliança militar?

• Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), constituída em 1949 sob a liderança dos Estados Unidos.

• Pacto de Varsóvia, aliança constituída em 1955 sob a liderança da União Soviética, como resposta do bloco socialista à Otan.

Observe o mapa a seguir, que representa as respectivas áreas de influência.

ATELIER de Cartographie da Sciences Po. Mapa original. Tradução: Benjamin Potet.

Geografia8o ano/3o termo

Unidade 2

ALIANÇAS MILITARES DURANTE A GUERRA FRIA, 1948-1989

Pacto de Varsóvia(criado em 1955)

OTAN (criada em 1949)

ANZUS (criado em 1951)

SEATO (criada em 1954,dissolvida em 1977)

Aliados dos EstadosUnidos da América

Fontes: compilação dos autoresa partir de anuários estatísticosdos anos 1980.

Pacto do Rio (criado em 1947)Cuba foi membro, mas foisuspensa a partir de 1962

Bloco socialista

Bloco ocidental

Tratados bilateraisde segurança com a URSS

Tratados canceladosdurante o período

Aliados da URSS quenão assinaram um tratadode segurança

Pacto sino-soviético(anos 1950)

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História – Unidade 3

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A URSS saiu na frente na corrida espacial. Em 1957, a cadelinha Laika foi o primeiro ser vivo lançado ao espaço.

Na corrida pela conquista do espaço, durante a Guerra Fria, os EUA apressaram-se para enviar o primeiro homem à Lua, o que conseguiram em 1969.

um instrumento ineficaz, principalmente por sua falta de autonomia em relação à política externa dos Estados Unidos.

Neste contexto, a expressão “Guerra Fria” significava que a dis-puta entre Estados Unidos e União Soviética não deveria chegar, de fato, a um embate militar, mesmo em seus momentos mais acalorados.

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Atividade 4 Guerra Fria

Leia atentamente o trecho retirado de um discurso feito por Harry Truman, presidente dos Estados Unidos, dirigido ao Congresso de seu país, em 12 de março de 1947. As ideias nele apresentadas ficaram conhecidas como Doutrina Truman. Em seguida, responda às questões.

[...] Atualmente, na história mundial, quase todas as nações devem escolher entre estilos de vida alternativos. Com frequência, essa escolha tem um preço.

Um estilo de vida é baseado na vontade da maioria e distingue-se por ter instituições livres, governo representativo, eleições livres, garantias de liber-dade individual, liberdade de expressão e religião, e por ser livre de repres-são política.

O segundo estilo de vida é baseado na vontade de uma minoria que se impôs sobre a maioria. Ele se sustenta pelo terror e pela opressão, pelo controle da imprensa e do rádio; eleições restritas e a supressão de liberdades individuais.

Eu acredito que a política dos Estados Unidos deve apoiar os povos livres que estejam resistindo à tentativa de subjugação por minorias armadas ou pressões externas [...]

President Harry S. Truman’s address before a joint session of Congress, March 12, 1947. The Avalon Project. Documents in Law, History and Diplomacy. Yale Law School. Disponível em:

<http://avalon.law.yale.edu/20th_century/trudoc.asp>. Acesso em: 12 nov. 2012. Tradução: Eloisa Pires.

1. A quais países se referem as descrições feitas pelo presidente em seu discurso?

2. Esse discurso é considerado por muitos historiadores como uma declaração formal de abertura da Guerra Fria. Quais elementos no texto podem sustentar esta interpretação?

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História – Unidade 3

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A fim de evitar as atrocidades cometidas ao longo da 2a Guerra Mundial e de tentar promover a construção de um mundo mais justo e democrático para todos os povos, os países-membros da Organização das Nações Unidas envolveram-se em um debate com o objetivo de construir parâmetros para mediar a relação entre os governos de todas as nações e destes com seus cidadãos. Liderados pelos Estados Unidos e pela União Soviética, e sob sua influência, os representantes de diversas nações se organizaram para a criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, na perspectiva de que seja garantido a todas as pessoas do mundo o acesso a certos direitos. Essa declaração terminou por combinar as orientações ideológicas do bloco liberal-capitalista (direitos civis e políticos) com as do bloco socialista (direitos econômicos e sociais).

Essa Declaração tornou-se muito importante como marco e referência para a construção de muitas Constituições nacionais (inclusive a última Constituição brasileira, de 1988) e para estabelecer parâmetros internacionais em relação à organização de várias esferas da vida, construídos por órgãos internacionais como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em relação ao trabalho; a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em relação à educação; a Organização Mundial da Saúde (OMS), em relação à saúde; etc. Para conhecer seus artigos na íntegra, acesse o site da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão: <http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/institucional/encontros-nacionais-dos-procuradores-dos-direitos-do-cidadao-enpdc/xiv_encontro-nacional/descarte/bibliografia-basica/programa-nacional-de-direitos-humanos/Declaracao_Universal_dos_DH.pdf>. (Acesso em: 12 dez. 2012.)

Cerca de 20 anos após o final da 1a Guerra, eclodiu um novo confronto mundial. Dessa vez, a destruição causada foi ainda maior e o seu alcance geográfico, mais amplo.

As causas da guerra são diversas e incluem: tensões imperialis-tas não resolvidas na 1a Guerra Mundial; ambições expansionistas da Alemanha, do Japão e da Itália, países de desenvolvimento capi-talista relativamente tardio; e a intenção de sufocar a União Sovié-tica, exemplo incômodo de berço da revolução dos trabalhadores.

Apesar dos sinais de que uma guerra estava para acontecer, as potências liberais praticaram uma política de apaziguamento, enquanto a União Soviética assinava um pacto de não agressão

Você estudou

História – Unidade 3

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com os nazistas. Mas, quando os alemães atacaram a Polônia em 1939, França e Inglaterra declararam guerra à Alemanha.

Depois de dominar a Europa Ocidental continental em pou-cos meses, as tropas alemãs se deslocaram na direção do que se converteria no principal palco da guerra, a União Soviética, cuja resistência desequilibraria a balança do conflito. O papel deci-sivo dos soviéticos na vitória sobre o nazismo e o fascismo foi reconhecido, inclusive, por muitos contemporâneos. Enquanto o Exército Vermelho pressionava os alemães de volta para o seu território, os Estados Unidos enfrentavam o Japão na Ásia e comandavam o desembarque dos Aliados na Europa Ocidental em junho de 1944, embora a Itália de Mussolini já tivesse sido invadida no ano anterior.

No entanto, a aliança que derrotou Hitler se dissolveria logo após a 2a Guerra. As disputas entre os vencedores dariam início à chamada Guerra Fria, na qual a rivalidade entre Estados Unidos e União Soviética se desenrolava sob a ameaça de um conflito nu-clear. Nessa circunstância, os principais confrontos armados da segunda metade do século XX aconteceriam na periferia do capi-talismo e seriam marcados pelo antagonismo entre capitalismo e comunismo, que caracterizava a ideologia da Guerra Fria.

Pense sobre

Conta-se que Albert Einstein (1879-1955), um dos mais brilhantes cientis-tas do século XX, foi questionado por um jornalista a respeito de que armas seriam usadas em uma 3a Guerra Mundial. Pacifista que era, teria respondido que não sabia como seria lutada essa guerra, mas que na 4a Guerra seriam usa-das somente pedras.

Fonte: Interview. Liberal Judaism, Apr.-May 1949. Apud SHAPIRO, F. (Ed.). The Yale Book of Quotations. New Haven; London: Yale University Press, 2006, p. 229.

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História – Unidade 3

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4 Revolução e Contrarrevolução no mundo da Guerra Fria

Na Unidade anterior, você viu que a 2a Guerra Mundial foi um conflito devastador: nunca antes uma guerra tinha atingido tantos pontos do planeta ao mesmo tempo, nem causado tantas mortes, entre militares e civis. Ainda assim, foi discutido que, embora nada de iguais proporções tenha acontecido desde então, o final do conflito não anun-ciou uma época de paz. Por exemplo, as explosões das bombas atômi-cas no Japão, ao final da 2a Guerra, foram interpretadas por muitos como um gesto intimidatório dos Estados Unidos para com a União Soviética. Assim, em pouco tempo, a aliança dos dois países contra o nazismo e o fascismo se desfez, e a rivalidade entre os defensores do capitalismo e os adeptos do regime soviético polarizou o mundo. Tinha início a Guerra Fria, que ficou assim conhecida por não ter sido um embate bélico direto entre essas superpotências mundiais.

Na presente Unidade você verá como a Guerra Fria foi bastante “quente”. Na realidade, o mundo continuou vivendo uma intensa vio-lência, agora expandida da Europa para os demais continentes. Você discutirá, inicialmente, os movimentos de descolonização na Ásia e na África para, depois, ver como a Guerra Fria justificou golpes de Estado e o estabelecimento de ditaduras em países da América Latina.

Para iniciar...

Em um século de tantas transformações, o final da 2a Guerra e o início da Guerra Fria configurou um novo cenário mundial que estava longe de poder ser chamado de pacífico, conforme você estudou na Unidade anterior.

Converse com seus colegas e professor.

• Em sua opinião, como essa nova configuração política do mundo influenciou os acontecimentos em todos os continentes e, em es-pecial, na América Latina? E no Brasil?

• Apesar de novas potências mundiais, os Estados Unidos e a União Soviética não tinham colônias como as antigas potências (como a Inglaterra). Você diria que, na Guerra Fria, esses países possuíam outras formas de garantir sua hegemonia sem a dominação direta de colônias? Quais?

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Os conflitos no contexto da Guerra FriaA Guerra Fria não se limitou às palavras. Ao contrário, a segunda

metade do século XX foi marcada por conflitos violentos em várias par-tes do mundo, principalmente em continentes “periféricos” no quadro do desenvolvimento econômico mundial: África, Ásia e América Latina. Ocorreram, portanto, fora do território dos Estados Unidos e da União Soviética, como também distantes dos principais centros do capitalismo europeu que haviam protagonizado as duas guerras mundiais.

A violência inerente à rivalidade entre Estados Unidos e União Soviética, que muitas vezes representava uma disputa entre capita-lismo e socialismo, influenciou a política em outros países, em confli-tos nos quais estas potências frequentemente intervieram.

A descolonização na Ásia

Com o início da 2a Guerra Mundial, os japoneses decidiram aproveitar-se da posição vulnerável das potências coloniais europeias encurraladas pela Alemanha nazista e invadiram diversos territó-rios nas regiões vizinhas, alguns deles controlados pela França e pela Inglaterra. Nessa época, o Japão ampliou também seu domínio na China, o que já vinha fazendo desde o século XIX.

Em decorrência de seu acelerado desenvolvimento como país capi-talista, iniciado no final do século XIX, o Japão desejava superar as limitações geográficas de seu território insular e expandir-se em dire-ção aos territórios vizinhos. Foi inclusive em função dessa expansão nipônica que os Estados Unidos, também interessados em exercer sua hegemonia no Pacífico, entraram na 2a Guerra.

Com a derrota japonesa no confronto, emergiram movimentos nacionalistas vigorosos em regiões da Ásia afetadas pela guerra, em alguns casos mesclados a ideários sociais revolucionários, sob influên-cia da União Soviética. Em uma conjuntura em que as potências colo-niais europeias estavam enfraquecidas, esses movimentos triunfaram em várias situações, embora sempre ao custo de muita luta, uma vez que era de interesse dos Estados Unidos manter esses países capita-listas. Os casos da China, Índia e Vietnã são bons exemplos para ilustrar as ações das duas superpotências nesse continente.

China

Depois da Revolução Russa, houve outra revolução conduzida por comunistas em um grande país, logo após a 2a Gerra Mundial. Foi a Revolução Chinesa, liderada por Mao Tsé-tung (1893-1976). Ela representou o triunfo final dos comunistas no país, em 1949.

A China vinha de um processo revolucionário que derrubou seu império milenar e o último imperador dinástico, em 1912, e em seu lugar

InsularTerritório que é uma ilha ou um conjunto de ilhas.

NipônicoJaponês.

Você sabia que em alguns países da Europa também houve revoluções no final da 2a Guerra Mundial?

A maioria delas foi derrotada pela intervenção dos Estados Unidos e da Inglaterra, como, por exemplo, na Grécia. No entanto, na vizinha Iugoslávia, a revolução triunfou. Liderado pelo marechal Tito, esse país realizou uma experiência socialista diferente da soviética durante várias décadas.

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História – Unidade 4

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instituiu a república. No entanto, durante esse período, o país foi inva-dido pelo Japão, o que forçou uma aliança entre o partido do governo (capitalista) e o partido comunista, que dominavam diferentes regiões do país. A resistência conduzida pelos chineses comunistas na zona rural foi decisiva para consolidar a liderança política e militar do partido.

No entanto, também como no caso russo, os comunistas tiveram de derrotar militarmente os contrarrevolucionários chineses apoiados pelos Estados Unidos ao longo de uma guerra civil.

Atelier de Cartographie de Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/chine- occupation-trang-re-premi-re-moiti-du-xxe-si-cle>. Acesso em: 19 dez. 2012. Tradução: Renée Zicman.

Fontes: compilação a partir de Georges DUBY,Atlas historique mondial, Paris, Larousse, 1987;Putzger, Historischer Weltatlas. Berlim, Cornelsen, 1992;Jean SELLIER, Atlas des peuples d’Asie méridionale etorientale, Paris, La Découverte, 2004.

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Page 24: 3 2a Guerra Mundial e Guerra Fria - EJA 3 2a Guerra Mundial e Guerra Fria Nesta Unidade, você estudará a 2a Guerra Mundial e a oposição entre as potências mundiais que dela emergiu:

Índia

Na Índia, o movimento pela libertação do colonialismo inglês tornou-se mundialmente famoso por meio da atuação de Mohandas Karamchand Gandhi, conhecido simplesmente como Gandhi (1869- -1948). Inspirado por um ideário que mesclava aspectos da religião hindu à desobediência civil como forma de luta, a atuação de Gandhi combinou resistência cultural e crítica econômica da dominação inglesa.

Como uma ilustração de suas ideias, Gandhi tecia as próprias ves-timentas que usava. Esse gesto significava uma defesa das roupas e costumes tradicionais da Índia, ao mesmo tempo que se convertia em um protesto contra as indústrias têxteis inglesas, que deixavam milha-res de tecelões indianos sem trabalho.

Embora Gandhi pregasse a não violência como forma de resistência, os nacionalistas indianos foram brutalmente reprimidos pelo governo colonial, e seu líder esteve encarcerado inúmeras vezes. Após décadas de luta, a Inglaterra foi obrigada a abrir mão do território indiano, resul-tado do seu enfraquecimento como potência mundial e da consequente dificuldade em manter sua dominação no extenso território indiano.

Gandhi tecendo a própria roupa

Fica a dica

Gandhi (Gandhi, direção de Richard Attenborough, 1982). Esse filme ajuda a conhecer mais sobre a vida e a atuação política de Ghandi, um dos líderes mais importantes da história recente, durante o processo de independência da Índia.

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Vietnã

Assim como na China, a resistência vietnamita à invasão japonesa durante a 2a Guerra Mundial foi conduzida pelos comunistas. Quando a guerra terminou, eles declararam a independência do país, que era colônia francesa. Apesar das dificuldades internas que enfrentava, a França não cedeu ao movimento nacionalista. Pelo contrário, assim como fariam no norte da África, os franceses desencadearam uma cruenta guerra civil que se estendeu até 1954, quando foram vencidos.

Após a derrota da França, estabeleceu-se uma divisão do país, segundo a qual o Norte ficou sob o governo dos comunistas e o Sul, chefiado por um impopular imperador, sustentado pelos Estados Uni-dos. Ante o crescimento do movimento de guerrilha, apoiado pelos vietnamitas do Norte, o governo dos Estados Unidos decidiu intervir maciçamente no Vietnã, provocando um dos conflitos antiimperialis-tas mais sangrentos do século.

Após enfrentarem durante anos a irredutível resistência dos vietna-mitas, somada à impopularidade nacional e internacional da guerra, os Estados Unidos retiraram-se do país em 1975, assumindo, portanto, sua derrota no confronto. Como resultado de quase trinta anos enfrentando a França e os Estados Unidos, o Vietnã tornava-se, enfim, um país soberano.

Fica a dica

Apocalypse Now (Apocalypse Now, direção de Francis Ford Coppola, 1979). Há diversos filmes produzidos por Hollywood que se referem à Guerra do Vietnã. Muitos deles estão marcados pelo discurso anticomunista característico da Guerra Fria, mostrando os vietnamitas como inimigos desumanos e os soldados americanos como heróis. Evidentemente, essa não é a versão vietnamita da história e nem daqueles que se opunham à intervenção dos Estados Unidos no país. Nesse sentido, esse filme é um dos exemplos de discussão crítica da guerra feita pelos próprios estadunidenses.

Platoon (Platoon, direção de Oliver Stone, 1986). O filme é outra amostra do pensamento crítico estadunidense a respeito da guerra no Vietnã.

Crianças vietnamitas fugindo em pânico de ataque aéreo com napalm (arma química inflamável) a seu povoado, em 1972.

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Atividade 1 Os processos de independência na Ásia

1. Leia o diálogo a seguir e responda à questão proposta.

Qual é o argumento do líder Ho Chi Minh para defender que seu povo é politicamente maduro para se autogovernar?

2. Em grupos, estabeleçam semelhanças e diferenças entre os proces-sos de independência dos países estudados (Índia, China e Vietnã), considerando também os principais fatores que levaram à inde-pendência desses países. Para isso, retomem o que vocês estuda-ram sobre a descolonização da Ásia após a 2a Guerra Mundial e tenham em mente o diálogo lido.

Diálogo entre um jornalista francês e o líder vietnamita Ho Chi Minh

James de Coquet: [...] A questão que se coloca é: Seu povo é politicamente maduro para se autogovernar?

Ho Chi Minh: Se um aluno ficar quarenta anos com o mesmo professor, se depois desse tempo todo ele não aprender nada, quem vai ser acusado pela igno-rância, o aluno ou o professor? [...] Não queremos romper com a França. Também não queremos pagar com a nossa liberdade as vantagens de sua civilização. Não queremos mais ser oprimidos. [...] Nossa decisão é inabalável: queremos a nossa independência. [...] Não queremos ser integrados pela força na órbita da França. O reconhecimento da nossa independência em primeiro lugar, depois seria mais fácil elaborar um estatuto de entendimento [...].

SERRANO, Carlos, MUNANGA, Kabengele. A revolta dos colonizados: o processo de descolonização e as independências da África e da Ásia. São Paulo: Atual, 1995, p. 19.

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A descolonização na África

Se o movimento de descolonização asiático decolou logo após a 2a Guerra Mundial, a África seguiria o seu rastro pouco tempo depois. Na Conferência Afro-asiática de Bandung, realizada na Indo-nésia em 1955, com a participação de chefes de 29 Estados desses continentes, foi dado um importante impulso para esse processo. O objetivo desse encontro foi promover a cooperação dos países par-ticipantes como alternativa à hegemonia dos Estados Unidos ou da União Soviética no contexto da Guerra Fria.

Em uma atitude pioneira, a conferência afirmou que o imperia-lismo e o racismo eram crimes, propondo a criação de um “Tribunal da Descolonização” para julgar os responsáveis pelas políticas impe-rialistas, interpretadas como crimes contra a humanidade. Também foram lançados os princípios da política de “não alinhamento”, que propunham defender uma posição de neutralidade dos países partici-pantes da conferência em relação às superpotências.

Posteriormente, Bandung recebeu a adesão de países de outros continentes, como Iugoslávia e Cuba, representando uma consciên-cia generalizada do chamado “Terceiro Mundo” sobre as relações de dominação entre os países industrializados e os países exportadores de produtos primários.

A luta pela independência na África começaria pelos países do Norte do continente, uma região onde predominam a língua árabe e a religião muçulmana. O primeiro processo de libertação ocorreu na Tunísia, em 1956. O movimento anticolonial espalhou-se, em seguida, pela África Subsaariana. Ao longo dos anos 1960, mais de 30 países africanos conquistaram sua independência.

Em muitos casos, alguns elementos presentes no conjunto das lutas anticoloniais na África também se observavam na Ásia, a saber:

• o declínio das potências colonizadoras europeias e a ascensão dos Estados Unidos;

• as tensões ideológicas, políticas e militares características da Guerra Fria;

• uma aproximação frequente entre nacionalismo e socialismo;

• a dificuldade em converter a independência política em genuína soberania.

Terceiro MundoOriginalmente, o termo referia-se aos países que adotaram uma posição neutra na Guerra Fria e que deveriam se unir para revolucionar o mundo, assim como o Terceiro Estado havia feito na Revolução Francesa, quando os estratos desprivilegiados daquela sociedade se uniram. No entanto, o termo foi popularizado como uma referência aos países dependentes e subordinados ao capitalismo central. De acordo com essa visão, os países capitalistas industrializados integrariam o chamado “Primeiro Mundo”, e os socialistas industrializados comporiam o “Segundo Mundo”.

África SubsaarianaParte da África ao sul do Deserto do Saara, em que predomina a população negra, em contraste com o norte do continente, banhado pelo Mar Mediterrâneo e de maioria branca.

História – Unidade 4

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A particularidade da África Subsaariana no contexto das lutas anti-coloniais foi a baixa integração econômica e social desses novos países, inclusive em comparação com outras regiões do chamado “Terceiro Mundo”. Essa região sofreu com a exploração e o preconceito europeus desde o tempo do tráfico de escravos, e suas fronteiras foram definidas sem levar em conta as identidades culturais dos povos que habitavam o território. Essa herança colonial representa um desafio suplementar para concretizar a soberania e a justiça social no continente até os dias de hoje.

Afrique contemporaine, 2010/3 (n. 235),

Agence Française de Développement, De Boeck.

Tradução: Renée Zicman.

Fontes: F. W. Putzger, Historischer Weltatlas, Berlin, Cornelsen, 1995 ; J. Sellier, Atlas des peuples d’Afrique, Paris, La Découverte, 2011.D’après Afrique contemporaine, 235, 2010.

Antes de 1922

1951 - 195819601961 - 19681974 - 19801990 - 19932011

Tanzânia

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012

Cronologia das independências africanas

Marrocos

Líbia

Tunísia

Egito

Sudão

Áfricado Sul

SuazilândiaLesoto

MadagascarMoçambique

Maurício

UgandaQuêniaRuandaBurundi

Seicheles

Somália

Djibuti

Etiópia

Eritreia

Argélia

Mauritânia Mali NígerChade

Nigéria

Camarões

RepúblicaCentro-africana

Costa do Mar�m GabãoGanaTogo

BeninSão Tomé e Príncipe

Guiné EquatorialCongo

GâmbiaGuiné-BissauGuiné

LibériaSerra Leoa

SenegalCaboVerde

SaaraOcidental*

Zâmbia

Zimbábue

Namíbia

Independências:

Países não colonizados

* Território não autônomo

RDC

Angola

Botsuana

Sudãodo Sul

Malauí

BurkinaFaso

Comores

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História – Unidade 4

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O fim da dominação colonial não significa o fim da influência dos antigos colonizadores. Para salvaguardar seus interesses, eles continuam a orientar as evoluções políticas econômicas de suas antigas colônias. Esse fenômeno tem um nome: neocolonialismo. Ele se manifesta de diversas maneiras: relações privi-legiadas entre os antigos colonizadores e as elites dirigentes das novas nações progressivamente colocadas por eles no poder, manutenção de quadros e téc-nicos europeus em alguns postos-chave, dependência econômica (transferência de tecnologia, investimento de capitais etc.), acordos militares e de cooperação científico-cultural etc. Muitas vezes, a antiga potência colonial interfere para eli-minar homens políticos considerados nacionalistas e pouco compreensivos aos interesses do Ocidente – os que são contra a ordem neocolonial. [...] Dessa forma, foram assassinados, entre outros, Patrice Emery Lumumba, que foi primeiro--ministro do primeiro governo independente do atual Zaire*, Amilcar Cabral e Eduardo Mondlane, líderes das independências da Guiné-Bissau e de Moçambi-que. Foram derrubados o presidente Kuame Nkrumah, líder da independência de Gana, e Milton Obote, primeiro-ministro de Uganda.*Antigo Zaire, atual República Democrática do Congo [nota do editor].

a) O que os autores entendem por “neocolonialismo”?

b) Em sua opinião, como o neocolonialismo influenciou os pro-cessos de independência dos países africanos?

2. Faça uma breve pesquisa sobre algum dos líderes africanos citados no texto e escreva um texto sobre ele.

3. Debata com seus colegas: Em sua opinião, o Brasil atual tem ele-mentos desse neocolonialismo? Por quê?

SERRANO, Carlos; MUNANGA, Kabengele. A revolta dos colonizados: o processo de descolonização e as independências da África e da Ásia. São Paulo: Atual, 1995, p. 71.

Atividade 2 Neocolonialismo

1. Leia o texto abaixo e responda às perguntas.Você sabia que, na segunda metade do século XX, Portugal ainda mantinha colônias na África?

Essas colônias estiveram entre as últimas a obter a independência no continente, em meados dos anos 1970, em uma época na qual cada vez mais jovens portugueses morriam na África defendendo uma dominação que muitos viam como injusta.

O descontentamento com essa situação, acrescido de uma grave crise econômica na década de 1960, culminou em Portugal na chamada “Revolução dos Cravos”, um levante de jovens militares de ideias progressistas que derrubou, em 1974, a ditadura vigente. Com o fim do regime de inspiração fascista que governava Portugal desde os anos 1930, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Angola conquistaram a independência.

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Revolução e Contrarrevolução na América Latina

Diferentemente do que ocorria com a Ásia e a África, na Amé-rica quase não havia situações de dominação colonial no século XX, com exceção de algumas ilhas do Caribe e da região das Guia-nas. Após a independência dos Estados Unidos (1776), a maior parte das colônias na América Latina, incluindo o Brasil, alcançou a independência nas primeiras décadas do século XIX. Como resul-tado, um conjunto de novas nações surgiu no continente até fins desse mesmo século.

No entanto, a emancipação política não se traduziu em uma sobe-rania plena para muitos desses países. Especialmente após o final do século XIX, os Estados Unidos advogaram para si a hegemonia sobre a América Latina, entendida como sua área de influência política e econômica. Como resultado, intervieram militarmente muitas vezes no continente, sobretudo na região da América Central e do Caribe.

Com a Guerra Fria, a intervenção dos Estados Unidos na política dos países do continente se tornaria uma violenta rotina. Sob o pre-texto de ameaça comunista, foram orquestrados diversos golpes de Estado que abortaram processos de democratização em países latinos marcados por profundas desigualdades.

Atividade 3 Intervenções dos Estados Unidos na América Latina

1. Leia o texto abaixo para realizar as atividades solicitadas.

América LatinaComo é chamada a parte do continente americano ao sul dos Estados Unidos, colonizada principalmente por povos latinos, como espanhóis e portugueses, e que coincide geograficamente com o México, a América Central e a América do Sul.

EmancipaçãoQuando empregada em um sentido histórico, significa assumir o comando do próprio destino político.

Entre 1895 e 1898, tropas norte-americanas intervieram em Cuba. Em 1898, fuzileiros navais dos EUA bom-bardearam San Juan de Porto Rico. No mesmo ano, a Casa Branca, intervindo na luta dos cubanos por sua inde-pendência da Espanha, impôs a Cuba, durante quatro anos, um governo militar encabeçado pelo general Leonard Wood. Em 1903, a nação do Norte apropriou-se de uma faixa de 8 km de cada lado na região em que se construiu o Canal do Panamá, entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Em 1905, a República Dominicana foi invadida pelos marines, a pretexto de desajuste financeiro naquele país. No ano seguinte, Cuba sofreu uma segunda intervenção militar, comandada pelo general Charles Magoon, e que durou três anos. Em 1909 foi a vez da Nicarágua sofrer intervenção. Um ano depois, as tropas invasoras obrigaram o presidente José Santos Zelaya a abandonar o país. Em 1911, a República Dominicana foi militarmente ocupada até 1914. Naquele mesmo ano, os marines desem-barcaram na Nicarágua, onde permaneceram até 1924.

Cuba e Honduras sofreram mais uma intervenção dos EUA em 1912. Nova ocupação de Cuba ocorreu em 1917, e se prolongou por dois anos, sem que ainda houvesse sequer o pretexto do comunismo... E se repetiu em 1922. Em 1924, Honduras sofreu sua quarta intervenção e, no ano seguinte, a quinta. Em 1926, os marines invadiram de novo a Nicarágua.

Em 1947, por um acordo com os militares nativos, os EUA derrubaram, na Venezuela, o presidente Rómulo Gallegos, como castigo por ter aumentado o preço do petróleo exportado. Em 1954, utilizando aviões de bom-bardeio e mercenários, os “paladinos da liberdade” puseram fim, na Guatemala, ao governo democrático de Jacobo Arbenz. Em 1961, ocorreu a fracassada invasão de Playa Girón, em Cuba. Em 1964, no Panamá, soldados dos EUA mataram 20 estudantes, ao reprimirem a manifestação em que os jovens queriam trocar, na zona do canal, a bandeira estrelada pela bandeira de seu país! No mesmo ano, a CIA participou do golpe militar que

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derrubou o governo João Goulart, no Brasil. Em 1965, num acinte ao Direito Internacional, o Congresso dos EUA reconheceu unilateralmente o “direito” de os EUA intervirem militarmente em qualquer país do conti-nente. No mesmo ano, para livrar a República Dominicana “do perigo comunista”, os marines ocuparam o país, com a ajuda de tropas brasileiras, e impediram a posse de Juan Bosch.

Em 1973, a CIA arquitetou o plano que, em 11 de setembro, resultou no assassinato do presidente Salva-dor Allende, do Chile, e levou o general Augusto Pinochet ao poder. Em 25 de outubro de 1983, tropas da 82a divisão aerotransportada invadiram Granada e assassinaram o presidente Maurice Bishop. Em 1984, para reforçar a contrarrevolução nicaraguense, 11 mil soldados dos EUA se espalharam por Honduras. Em 1988 e 1989, pilotos americanos e a Guarda Nacional de Kentucky participaram de bombardeios à população civil do interior da Guatemala, sob pretexto de combater guerrilhas. Em El Salvador, inúmeros oficiais dos EUA asses-soraram as tropas do governo contra os combatentes da FMLN. Em 20 de dezembro de 1989, 25 mil soldados dos EUA invadiram o Panamá, derrubaram e aprisionaram o presidente Manuel Noriega, sob pretexto de trá-fico de drogas, e impuseram no poder o presidente Guillermo Endara. Mais de mil panamenhos foram mortos durante a ocupação. E entre 1982 e 1990, o governo dos EUA patrocinou uma guerra de agressão à Nicarágua, financiando e treinando mercenários e mantendo o bloqueio econômico.

Por onde andaram, as tropas de invasão dos EUA só deixaram miséria, desigualdade, corrupção e morte. Mas fizeram bem, amado Teófilo, em colocar a Estátua da Liberdade à porta principal dos EUA. Assim, estamos todos cientes de que ela delimita a esfera da liberdade. A todos nós, que não somos norte-americanos, resta-nos a liberdade de jamais contrariar a liberdade de eles restringirem ou suprimirem a nossa.

a) Sistematize as informações apresentadas no texto na tabela abaixo.

BETTO, Frei. O paraíso perdido: nos bastidores do socialismo. São Paulo: Geração, 1993, p. 70-72.

b) Em sua opinião, qual teria sido a razão dessas intervenções?

2. Faça uma pesquisa sobre um episódio ou um personagem mencio-nado no texto.

País Período da intervençãoRepública Dominicana 1905

Cuba

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A Revolução Cubana

Em 1959, um movimento guerrilheiro derrubou a ditadura de Fulgencio Batista em Cuba e começou a implementar um programa de reformas sociais radicais que não agradou aos Estados Unidos: reforma agrária; reforma urbana; nacionalização dos bancos, de algumas empresas estrangeiras e do ensino; campanha nacional para erradicar o analfabetismo, entre outras medidas. Embora, em um pri-meiro momento, o programa do governo revolucionário fosse nacio-nalista, e não socialista, a ousadia dos cubanos não foi tolerada pelo poderoso vizinho, que resolveu intervir.

Os Estados Unidos, governados naquela época por John Kennedy, patrocinaram uma expedição de mercenários com o objetivo de derrubar o governo iniciado por Fidel Castro. Imaginavam que seria uma emprei-tada fácil, mas não foi. Ao longo dos anos de vida guerrilheira nas monta-nhas e no início do governo, os revolucionários ganharam a confiança e o apoio maciço do povo cubano, causando a rápida derrota dos invasores. Desse momento em diante, Cuba iniciou uma aproximação com a União Soviética motivada por razões militares, mas também econômicas, uma vez que os Estados Unidos iniciaram um bloqueio comercial à ilha que, cinquenta anos depois, continua vigente.

O triunfo de uma revolução que logo abraçou o socialismo, em uma ilha situada a cerca de 160 quilômetros da costa dos Estados Unidos, teve profundas repercussões no continente. A política latino--americana radicalizou-se, para a esquerda e para a direita: surgiram movimentos revolucionários que buscaram tomar o poder político, enquanto os grupos dominantes ampliaram a repressão aos movimen-tos sociais.

Em meio a essa agitação, foram abortados diversos processos democráticos de mudança social no continente, dando lugar a ditadu-ras repressivas que asseguraram a manutenção da desigualdade social e da dependência externa. O Brasil foi um dos países em que se instau-raram uma ditadura militar, como você estudará no próximo Caderno.

Fontes: IBGE. Países. Disponível em: <http://

www.ibge.gov.br/paisesat/main.php>; ALMANAQUE

Folha. Disponível em: <http://almanaque.folha.

uol.com.br/mundo80.htm>. Acessos em: 12 nov. 2012.

MercenárioTermo militar utilizado para se referir ao soldado ou civil treinado que luta por dinheiro.

América do Sul – Alguns países onde vigoraram regimes ditatoriais após a Revolução Cubana

País Início Término

Brasil 1964 1985

Chile 1973 1990

Uruguai 1973 1985

Argentina 1976 1983

Você sabia que uma das primeiras medidas da Revolução Cubana, em 1959, foi organizar uma campanha nacional para acabar com o analfabetismo?

Mais de 250 mil professores e estudantes, inclusive jovens de 10 a 19 anos, voluntariaram- -se para essa ação. A maioria deles atuava na área rural, tornando a campanha uma oportunidade para que os estudantes conhecessem melhor a realidade do país. A taxa de analfabetismo, que era superior a 20% antes da Revolução, baixou para menos de 4% em 1961. Pouco tempo depois, Cuba foi declarada território livre de analfabetismo.

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A ditadura no Chile

O Chile viveu uma das ditaduras de maior violação de direitos na América do Sul. Em 1970, na quarta vez em que concorreu à presi-dência nas eleições nacionais, o candidato do Partido Socialista, Sal-vador Allende, venceu a disputa. Allende tinha um ambicioso pro-grama de transformação da sociedade, propondo uma “via chilena” ao socialismo. Sua proposta era construir lentamente, e por meio do caminho eleitoral, as mudanças necessárias para superar a desigual-dade social e a dependência externa do Chile.

No entanto, ao realizar suas propostas, que incluíam a reforma agrária, a nacionalização do cobre (principal riqueza natural do país) e dos bancos, os setores contrariados com o seu projeto começaram a sabotar o governo. Com o objetivo de prejudicar o abastecimento das cidades, empresários articularam uma poderosa greve dos transportes, tentaram paralisar a produção de cobre ou simplesmente procuraram boicotar a circulação dos produtos, por exemplo.

Para enfrentar o desabastecimento, gerir fábricas falidas e conter o boicote patronal, trabalhadores organizados formaram “cordões industriais”. Inevitavelmente, a sociedade chilena polarizou-se.

Uma vez que as táticas políticas e econômicas empregadas pela oposição não surtiram o resultado esperado, recorreu-se à conspi-ração militar, com apoio dos Estados Unidos. Em 11 de setembro de 1973, militares comandados pelo general Augusto Pinochet, que

Fica a dica

Os documentários dirigidos por Patricio Guzmán tratam do governo de Salvador Allende e do golpe militar no Chile: El primer año (1973); A batalha do Chile (La batalla de Chile, 1975, 1977, 1979 – trilogia); Salvador Allende (2004); Chile, a memória obstinada (Chile, la memoria obstinada, 1997); Nostalgia da luz (Nostalgia de la luz, 2010).

O filme Desaparecido – Um grande mistério (Missing, direção de Costa-Gavras, 1982) conta a história de um jornalista e cidadão dos Estados Unidos que desaparece no Chile durante o golpe militar.

Soldados chilenos posicionados em frente ao palácio presidencial de La Moneda, em Santiago, no Chile, durante o golpe militar comandado pelo general Augusto Pinochet, futuro ditador. Com a ajuda dos EUA, ele depôs Salvador Allende, presidente eleito democraticamente.

até a véspera do golpe dera mostras de fidelidade ao pre-sidente, perpetraram o golpe militar que encerrou a “via chilena” ao socialismo.

Por causa da resistência de Allende em renunciar, os insurgentes invadiram o Palá-cio presidencial de La Moneda, que estava em chamas por causa das bombas atiradas. Enquanto as tropas militares tomavam a sede do governo, Allende suicidou-se. Com isso, iniciou-se a ditadura do gene-ral Pinochet, que durou até 1990 e vitimou mais de 40 mil cidadãos, entre torturados, mortos e desaparecidos.

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Atividade 4 Conflitos bélicos na passagem do século XX para o século XXI

Analise a lista dos conflitos bélicos ocorridos entre o final do século XX e o início do XXI por região e responda às perguntas.

OCHOA, José Maria Gonzales; PASCUAL, Ana Isabel Montes. Las guerras olvidadas. Madrid: Acento Editorial, 1977. Apud: SADER, Emir. Século XX: uma biografia não autorizada. São Paulo: Perseu Abramo, 2000, p. 114-115.

1. Pesquise a situação de conflito vivida por algum dos países da lista na virada do século XX para o XXI.

2. Julgando pela lista e pela pesquisa feita, responda: o mundo apro-xima-se da paz? Por quê?

África Ásia América Latina

Saara OcidentalLibéria

Serra LeoaAngola

CabindaSomáliaSudão

RuandaRepública Democrática do Congo

BurundiRepública Centro-Africana

República do CongoEtiópia

ChinaTibete

IndonésiaTimor Leste

FilipinasÍndiaButão

Sri LankaCambojaMianmá

TadjiquistãoAfeganistão

GuatemalaEl SalvadorNicaráguaHonduras

MéxicoColômbia

HaitiPeru

Europa Europa Oriental Oriente Médio

ChipreMacedônia

KosovoAlbânia

GeórgiaAzerbaijãoMoldávia

Chechênia

Arábia SauditaIrã

IraqueBarein

Ilhas HanishCurdistão

Iêmen

Oceania

Papua Nova Guiné

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Você estudou

A segunda metade do século XX foi marcada por conflitos sociais ocorridos ao redor do mundo, mas que raramente en-volveram o território dos países mais industrializados. As duas superpotências mundiais, Estados Unidos e União Soviética, de-senvolveram um arsenal atômico tão poderoso, que um novo confronto direto colocaria em risco a própria humanidade. Des-se modo, a rivalidade geopolítica influenciou processos que opu-nham indiretamente os dois inimigos em todos os continentes, muitos dos quais eram tentativas de mudança social radical.

Na Ásia e na África, produziu-se uma onda de lutas pela libertação nacional, encerrando a dominação colonial direta dos países europeus nesses continentes. Porém, quando surgiram propostas de mudanças sociais mais profundas, ocorreram inter-venções de potências estrangeiras, sob a alegação de combate ao comunismo. Diante dessa realidade, a emancipação nem sempre significou a integração nacional: o desafio de superar o legado de desigualdade social e dependência econômica, reforçado pela colonização, persiste até nossos dias.

A América Latina, apesar da independência política con-quistada por seus países, sofreu a permanente ingerência dos Estados Unidos nos assuntos nacionais ao longo do século XX. Com o triunfo da Revolução Cubana, em 1959, aumentou a pressão estadunidense no sentido de se bloquearem projetos po-líticos que pudessem tirar os países do continente da sua esfera de influência. Assim sendo, processos pacíficos e democráticos de mudança social, como ocorreu no Brasil (1964) e no Chile (1973), foram abortados por golpes de Estado protagonizados por militares, que instalaram regimes repressivos apoiados por setores das classes dominantes locais e pelos Estados Unidos.

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Após sofrer três derrotas nas urnas, o candidato socialista Sal-vador Allende venceu as eleições presidenciais no Chile em 1970. Fiel aos seus ideais, o novo presidente começou a realizar mudan-ças sociais importantes, com os objetivos de diminuir a desigualdade social e fortalecer a soberania nacional.

Apesar da preocupação em dar cada passo respeitando as leis e a Constituição do país, o governo socialista foi derrubado e seus apoia-dores foram violentamente perseguidos, resultando em um número elevado de mortos e torturados. O palácio do governo sofreu explo-sões e o presidente Allende preferiu se matar a deixar o país como refugiado político.

O governo construiu recentemente o Museu da Memória e dos Direitos Humanos a fim de registrar a história do país (disponível em: <http://www.museodelamemoria.cl>, acesso em: 12 nov. 2012).

E você, o que pensa sobre o golpe que derrubou Allende? E sobre a construção de um museu que trate da violação dos direitos huma-nos ocorrida durante a ditadura militar chilena?

Pense sobre

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