2º encontro em engenharia de edificações e ambiental · para tanto, desenvolveu-se um...
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2º Encontro em Engenharia de Edificações e Ambiental Cuiabá / Mato Grosso / 27 e 28 de novembro de 2014
CONTRIBUIÇÃO AO PROCESSO DE CALIBRAÇÃO DE SENSOR DE
TEMPERATURA DO TIPO TERMISTOR COM AUXILIO DA PLATAFORMA
ARDUINO
Prof. Dr. Ivan Julio Apolônio Callejas ([email protected])
Universidade Federal de Mato Grosso - Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia
Roberto Apolonio ([email protected])
Universidade Federal de Mato Grosso - Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia
Luciane Cleonice Durante ([email protected])
Universidade Federal de Mato Grosso - Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia
RESUMO: Os sensores do tipo termistor têm sido utilizados em medições de temperatura de processos que
envolvam troca de energia térmica decorrentes da variação da resistividade de componentes com a temperatura.
Devido ao baixo custo e exatidão, esses sensores apresentam-se como uma alternativa para utilização em
medições ambientais. Atualmente, algumas plataformas de prototipagem eletrônica de hardware livre têm sido
desenvolvidas como o objetivo de criar ferramentas acessíveis, flexíveis e fáceis de usar, como, por exemplo, a
Plataforma Arduino. Assim sendo, este trabalho teve por objetivo utilizar a plataforma Arduino para calibrar
termistores NTC de 10KΩ a 25C, para fins de uso dos mesmos como dispositivos de medição da temperatura.
A metodologia baseou-se no método Steinhart-Hart. Para tanto, desenvolveu-se um instrumento de medição de
temperatura utilizando uma placa Arduino Uno, um termistor NTC de 10KΩ, uma unidade (módulo) de relógio
de tempo real (RTC) modelo DS1307 e uma unidade armazenadora de dados (Módulo leitor/gravação de cartão).
Os resultados indicaram que o método Steinhart-Hart é um procedimento adequado para calibração de sensores
do tipo termistores NTC visto que foi obtido coeficiente de correlação R2=0,9989 entre os dados calibrados e de
referência. O erro médio absoluto cometido da calibração foi de 0,28C para a faixa de temperatura de 0 a 20C
e de 0,18C para a faixa de 20 a 30C.
Palavras-chave: Prototipagem eletrônica. Termômetro. Equação Steinhart-Hart.
CALIBRATING THERMISTOR TEMPERATURE SENSOR USING ARDUINO
BOARD
ABSTRACT: The thermistor temperature sensors have been used in temperature measurements processes that’s
involves thermal energy exchange because its resistivity varies with temperature. Due to the low cost and
accuracy, these sensors are presented as an alternative for use in environmental measurements. Currently, some
open-source electronics platforms based on easy-to-use hardware and software, such as, Arduino boards, have
been used to develop new instruments. Therefore, this study aimed to use the Arduino platform to calibrate
10KΩ NTC thermistor to use it in temperature measurement. The methodology was based on the Steinhart-Hart
method. It developed an instrument for measuring temperature using an Arduino Uno board, a 10K NTC
thermistor, a real time clock DS1307 module (RTC) and a data storage module (SD card). The results indicated
that Steinhart-Hart method is a adequate procedure for calibration NTC thermistors sensors. It was obtained
Pearson correlation coefficient between the calibrated and reference temperature data equal to R2 = 0.9989. The
mean absolute error committed in the calibration procedure was 0,28C for the temperature range of 0 to 20C
and 0,18C for the temperature range of 20 to 30C.
Keywords: Electronic prototyping. Thermometer. Steinhart-Hart equation.
CALLEJAS, I. A. C.; APOLONIO, R.; DURANTE, L. C.
1_INTRODUÇÃO
Os instrumentos de medição tem se difundido largamente nas áreas de Ciências Naturais e nas
áreas de Engenharia com intuito de medir, controlar, atuar, monitorar e registrar variáveis
físicas ambientais e de equipamentos em processos industriais. Isso tem acontecido devido à
facilidade de manipulação e confiabilidade que estes instrumentos trazem aos processos
ambientais e tecnológicos. Pode-se definir instrumento como um equipamento eletrônico que
apresenta uma entrada de leitura de dados (transdutor), uma interface entre o meio exterior e o
instrumento (processamento do sinal) e, uma saída de dados denominada de terminal, que faz
a interface entre o sistema e o ser humano. Segundo a organização norte-americana
Instrument Society of America (ISA - S5.1, 1992), instrumento é todo dispositivo usado para,
direta ou indiretamente, medir e/ou controlar uma variável.
Dentre as variáveis mais utilizadas na área de Ciências Naturais/ Engenharias e no
monitoramento de processos industriais está a temperatura cinética, definida como a
representação da energia das partículas da matéria molecular em movimento aleatório,
também denominado de calor cinético (JENSEN, 2009). A medição dessa quantidade de calor
ou temperatura cinética pode ser feita a partir de termômetros, geralmente por meio do
contato físico direto entre estes e os objetos de medição, líquidos ou gases.
Os termistores estão entre os termômetros amplamente utilizados para monitoramento de
temperatura e são dispositivos elétricos que utilizam em sua composição semicondutores, cuja
resistência elétrica ôhmica sofre variação exponencial com a temperatura cinética dos corpos
(THOMAZINI, 2005). A sua ampla utilização se dá, principalmente, devido à sua exatidão,
elevada sensibilidade e resposta às mudanças relativamente pequenas de temperatura cinética.
Apresentam baixo custo quando comparados com outros dispositivos, como os termômetros.
Como desvantagens, pode-se citar a não linearidade de resposta (exponencial), faixa de
temperatura limitada, autoaquecimento, fragilidade e necessidade de calibração individual dos
sensores.
Os termistores são divididos em duas categorias: Positive Temperature Coefficient (PTC) e
Negative Temperature Coefficient (NTC). Na categoria PTC encontram-se resistores que
possuem coeficiente térmico positivo, isto é, sua resistência aumenta com a temperatura
cinética dos corpos (Figura 1). Já na categoria NTC, os resistores possuem coeficiente de
temperatura negativo, diminuindo o valor da resistência como aumento da temperatura
cinética dos corpos. O diferencial do NTC é ser muito mais sensível a variações de
temperatura, comparado com outros sensores de resistência variável com a temperatura, como
os termorresistência ( Resistance Temperature Detector - RTD) e os termopares (WERNECK,
1996). Devido a facilidade de obtenção e custo, neste estudo foram utilizados os termistores
do tipo NTC.
Figura 1 – Variação da resistência com a temperatura nos sensores PTC e NTC.
T – Temperatura e R – Resistência ôhmica do sensor
Fonte: Campelli (2012)
CALLEJAS, I. A. C.; APOLONIO, R.; DURANTE, L. C.
Nos termistores, a variação de temperatura causa alteração no valor da resistência ôhmica do
material que o compõe, sendo esta alteração chamada de coeficiente térmico de resistência do
material, expresso em ohms por grau de temperatura, sendo positivo para a maioria dos metais
(AROLD, 2002). Destaca-se que a constante térmica de um termistor, é o tempo requerido
para que este atinja 63% da temperatura de imersão, sendo esta afetada pela massa do
termômetro, assim como por seu acoplamento térmico com o ambiente (HAAGR,
OLIVIEIRA e VEIT, 2003).
Uma expressão empírica muito utilizada para descrever o comportamento de um termistor
NTC na faixa de temperatura entre –50°C a +150°C é conhecida por Equação de Steinhart-
Hart (STEINHART e HART, 1968) A equação é derivada de técnicas de ajuste de curvas
matemáticas a partir da observação da variação da resistência ôhmica em função da variação
da temperatura cinética do dispositivo termistor (LIGHTWAVE CORPORATION, 2006). Na
maioria dos casos, é utilizado o logaritmo natural do valor da resistência (lnR) versus o
inverso da temperatura cinética (1/T) para descrever o comportamento do componente
termistor. Admite-se que o inverso da temperatura (1/T) pode ser representado por um
polinômio em função de ln(R), através da Equação 1, em que T é a temperatura expressa em
Kelvin, e A0.... AN são coeficientes polinomiais.
1
𝑇= 𝐴0+ 𝐴1 ln 𝑅 +…+𝐴𝑛 lnn𝑅 (1)
A ordem do polinômio depende do grau de precisão desejado e da não linearidade do
termistor NTC utilizado. Geralmente, um polinômio de terceira ordem fornece uma excelente
correlação com a curva experimental de R–T e os termos de ordem superior a quadrática
podem ser desprezados. Procedendo desta forma, tem-se, então, a Equação 2, conhecida como
Equação de Steinhart-Hart, onde A, B, e C são constantes, do NTC a ser modelado, R a
resistência do NTC e T a temperatura em graus Kelvin.
1
𝑇= 𝐴 + 𝐵 ln 𝑅 + 𝐶 ln3 𝑅 (2)
Atualmente, algumas plataformas de prototipagem eletrônica de hardware livre e de
plataforma única têm sido desenvolvidas como o objetivo de criar ferramentas acessíveis no
desenvolvimento protótipos para o ensino na área de ciência da computação básica e física,
podendo também ser utilizadas na área robótica e instrumentação, dentre outras. Estas
plataformas são de baixo custo, flexíveis e fáceis de usar. Entre as disponíveis no mercado,
cita-se a Plataforma Arduino e a mais recente, RaspberryPi. De acordo com
Souza et al. (2011), o Arduino é ideal para criação de dispositivos que permitam a interação
com o ambiente, dispositivos estes que utilizem como entrada sensores de variáveis
ambientais e, como saída, leituras dos mesmos (por exemplo: temperatura, luz e som como
leds, motores, display, autofalantes, dentre outros), criando possibilidades ilimitadas.
Uma placa padrão de Arduino é composta por um controlador, algumas linhas de E/S (entrada
e saída) digital e analógica, além de uma interface serial ou USB, para interligar-se ao
hospedeiro, geralmente um computador usado para programá-la e interagir em tempo real. A
plataforma utiliza-se de uma camada simples de software que implementada na própria placa
do Arduino, denominada de bootloader. A interface, comunicação com o hospedeiro
(computador) é feita através de várias linguagens sendo mais comum a Processing, baseada na
linguagem C/C++, a qual é, também, open source (BANZI, 2011).
CALLEJAS, I. A. C.; APOLONIO, R.; DURANTE, L. C.
A plataforma Arduino possui uma vasta documentação disponível, tanto no site dos
desenvolvedores quanto na Web, na forma de aplicações e troca de experiências entre
usuários. Destaca-se que, no próprio ambiente de desenvolvimento da plataforma, são
disponibilizados uma variedade de bibliotecas que permitem o interfaceamento com sensores
e outros hardwares, o que torna possível desenvolvimento de aplicações desde as mais
simples até as mais complexas. A Figura 2 ilustra uma placa de Arduino com suas principais
interfaces. Figura 2 – Modelo de Placa Arduino genérica.
1. Microcontrolador
2. Conector USB
3. Pinos de Entrada e Saída
(analógicos e digitais)
4. Pinos de Alimentação
5. Botão de Reset
6. Conversor Serial-USB e
LEDs TX/RX
7. Conector de Alimentação
8. LED de Alimentação
9. LED Interno
Fonte: < http://blog.vidadesilicio.com.br/Arduino/o-que-e-Arduino/>
O microcontrolador da placa é programado usando a linguagem de programação Arduino e o
ambiente de desenvolvimento Arduino. Projetos Arduino podem ser independentes ou podem
comunicar com outros softwares que estejam sendo processados em um computador. As
placas podem ser compradas com facilidade, e pode ser feito download do software de
desenvolvimento gratuitamente (PEIXOTO et al., 2012).
Diante de suas potencialidades, a plataforma Arduino pode se tornar uma importante
ferramenta no desenvolvimento de instrumentos e de sensores nas áreas de Ciências Naturais
e Engenharias, uma vez que não requer grandes conhecimentos em eletrônica e programação,
e devido à sua simplicidade, bem como facilidade manuseio.
Assim sendo, o Arduino foi utilizado no desenvolvimento de sistema automático de aquisição
de dados que objetivou calibrar e aferir um sensor do tipo termistor NTC 10kΩ com
finalidade de funcionar como dispositivos de medição da temperatura cinética dos corpos.
2_ MATERIAIS E MÉTODO
2.1_ Materiais
No desenvolvimento deste trabalho, foram utilizados os seguintes equipamentos e programas:
- recipiente com isolamento térmico;
- sensor analógico do tipo termistor NTC de 10kΩ a 25C em série com resistor 10kΩ;
- sensor digital DS18B20 da marca Dallas Semicondutor, com precisão de 0,5C na faixa de
-10°C a +85°C, calibrado de fábrica, utilizado como referência para calibração do sensor;
CALLEJAS, I. A. C.; APOLONIO, R.; DURANTE, L. C.
- Placa Arduino UNO R3, com processador Atmega 328 com memória flash de 3 2Kbytes,
SRAM de 2Kbytes, EEPROM de 1Kbyte e velocidade de clock de 16Mhz para leitura
automática dos dados de resistência ôhmica do sensor termistor 10kΩ;
- Módulo de cartão de memória (modelo DS1307) para registro e armazenamento da
temperatura do sensor digital DS18B20 e resistência ôhmica do termistor;
- Módulo de relógio de tempo real (RTC) para armazenamento de data (dia da semana, dia do
mês, mês, ano) e das horas, minutos e segundos das leituras da leituras realizadas processador
da placa do Arduino;
- Matriz de contatos (Mini protoboard) para acoplamento dos módulos de cartão de memória e
módulo de relógio de tempo real ao processador da placa do Arduino Uno;
- Notebook para programar e interagir em tempo real com a placa do Arduino; e,
- Programa Excel para analise de correlação entre os dados de temperatura medida pelo sensor
termistor 10kΩ e pelo sensor digital DS18B20.
2.2_ Método
2.2.1_ Montagem do Sistema Automático de Aquisição dos Dados
Para realizar a calibração e a aferição do termistor de 10kΩ, acoplou-se a uma mini
protoboard um sensor de temperatura NTC 10kΩ em série com um resistor de 10kΩ e um
sensor digital de temperatura (modelo DS18B20) conforme esquema e circuito de montagem
apresentado na Figura 3. O sensores foram devidamente alimentados por tensão 5V e seus
sinais foram coletados na porta analógica e digital da placa do Arduino.
A data e hora do experimento foram obtidas de forma sincronizada aos dados dos sensores por
meio do módulo de relógio de tempo real (RTC). Estas informações foram registradas e
armazenadas no módulo de cartão de memória (modelo DS1307). Todos os procedimentos de
leitura dos sensores, registro e gravação dos dados foi realizado por meio de um programa
desenvolvido em linguagem C, na plataforma de trabalho Arduino 1.0.5 (Figura 4). O
instrumento de medição desenvolvido se equipara a um sistema automático de aquisição dos
dados (datalogger) disponível no mercado.
Figura 3 – (a) Esquema e (b) circuito elétrico de montagem dos sensores.
CALLEJAS, I. A. C.; APOLONIO, R.; DURANTE, L. C.
Figura 4 – Sistema automático de aquisição de dados desenvolvido a partir da plataforma Arduino.
2.2.2_ Montagem do Sistema Automático de Aquisição dos Dados
Para realizar da calibração do sensor termistor, realizou-se um procedimento no qual o sensor
entrou em contato com um meio em diferentes temperaturas, efetuando-se três medições
diretas da resistência ôhmica para determinação dos coeficientes A, B e C da Equação 1,
necessários na calibração pelo método Steinhart-Hart.
Para tanto, utilizou-se um recipiente com isolamento térmico (Figura 5), no qual foi
introduzida água em diferentes temperaturas. Foram definidas três temperaturas para
realização do ensaio de calibração: temperatura na qual a água apresentava energia cinética
próxima ao ponto de congelamento (10ºC), temperatura da água com energia cinética próxima
ao ponto de ebulição 80ºC e temperatura da água com energia cinética próxima à temperatura
ambiente, de 25ºC.
Para cada temperatura, foram realizadas simultaneamente, com auxilio da plataforma
Arduino, três medições diretas da resistência ôhmica do termistor e três medições de
temperatura no sensor de referência. Estes valores foram adicionados no aplicativo
“Calculator V1.1” da Stanford Reseach Systems para determinação das constantes A, B e C
da Equação de Steinhart-Hart.
A programação da placa do Arduino permitiu que a resistência ôhmica do termistor e a
temperatura do sensor padrão fossem lidas e armazenadas em um arquivo do tipo texto no
módulo de cartão de memória (Modelo DS1307). Além desses, foram armazenados no
arquivo, a data e hora das medições, por meio do módulo de relógio de tempo real (RTC). Os
registros formam armazenados a cada 10 segundos, tempo este considerado satisfatório em
função constante térmica do termistor e do uso do recipiente térmico com isolamento.
CALLEJAS, I. A. C.; APOLONIO, R.; DURANTE, L. C.
Figura 5 – (a) Sensores revestidos com filme plástico e (b) sensores em contato com a água no interior do
recipiente com isolamento térmico.
(a) (b)
2.2.2 Aferição do termistor 10kΩ
A aferição do termistor de 10kΩ foi realizada utilizando-se procedimento análogo ao descrito
na calibração do sensor. Na primeira medição realizada, aqueceu-se a água até
aproximadamente 80C, sendo esta colocada no recipiente térmico. Posteriormente, os dois
sensores foram imersos nessa água. Para proteger os sensores, estes foram revestidos com
filme plástico. O programa em linguagem C foi transferido para a Placa Arduino, que ao ser
iniciado passou a registrar concomitantemente os dados de temperatura do sensor DS18B20 e
do termistor. Os dados da data e hora da medição das temperaturas dos sensores foram
armazenados em um arquivo do tipo texto no módulo de cartão de memória (Modelo
DS1307) acoplado ao Arduino. Os registros formam realizados a cada 10 segundos, tempo
este definido em função constante térmica do termistor utilizado. Nesta medição as
temperaturas variaram de 90 a 26C.
Na segunda medição, colocou-se água a temperatura de aproximadamente 5C no recipiente
térmico e os sensores foram nela imersos novamente. Os dados foram coletados de forma
semelhante à primeira medição com as temperaturas variando de 5 a 23C.
Após a finalização do experimento, os dados armazenados no cartão de memória, em forma
de arquivo texto (txt), foram transferidos para um computador e convertidos para uma
planilha eletrônica, para a realização das analises estatísticas.
2.2.3 Validação do modelo
A aferição dos valores das temperaturas fornecida pelo termistor calibrado em relação ao
sensor de referencia (DS18B20) foi realizada por meio de regressão linear (Y = a + bX), onde
Y é a temperatura do termistor calibrado e X é a temperatura do sensor de referência. O
coeficiente de determinação (R2) foi calculado com intuído de verificar o acoplamento dos
dados, sendo sua variação no intervalo de 0 a 1. Valores próximos a 1 indicam que o modelo
proposto na regressão é adequado para descrever o fenômeno estudado, no caso, a calibração
do sensor.
Par aferir o nível de validação entre os dados do sensor de referência e o calibrado, foram
utilizados os seguintes indicadores estatísticos: Erro e Erro em percentagem (%) existente
entre os valores do sensor termistor e o de referência (Equação 3), Erro Absoluto Médio
(EAM) cometido durante todo o procedimento de calibração (Equação 4), a Raiz do Erro
Quadrático Médio (REQM) (Equação 5) e o Índice de Concordância “d” (Equação 6).
CALLEJAS, I. A. C.; APOLONIO, R.; DURANTE, L. C.
O “REQM” expressa a média dos erros produzida na calibração do sensor. Quanto menor esta
estatística, melhor os resultados encontrados na calibração. Já o Índice de Concordância “d”
mede o grau com o qual os valores estimados no procedimento de calibração estão livres de
erro. Este índice é adimensional. Os valores encontrados variam de 0, que significa
discordância total entre os dados calibrados e os de referencia, a 1, que significa concordância
completa entres entre estes dados.
Nas Equações de 3 a 6, Pi corresponde ao valor calibrado do sensor (previsto), Oi o valor de
referência (observado), Ō o valor médio referência (observado) obtido no intervalo de
calibração e N o número de medições realizadas.
ERRO(%) = 𝑃𝑖−𝑂𝑖
𝑂𝑖𝑥 100 (3)
EAM = ∑ |Pi −Oi|n
i=1
N (4)
REQM =√ ( ∑ (𝑃𝑖 −𝑂𝑖)2 𝑛
i=1 )
𝑁 (5)
d = 1 − [∑ (Pi −Oi)2 n
i=1
∑ (Pi− O)+ |Oi −O|)2ni
] (6)
3_ RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para o procedimento de calibração do sensor, três medições de resistência ôhmica e do sensor
de temperatura de referencia foram realizadas (Tabela 1). Estes valores foram adicionados no
aplicativo “Calculator V1.1” da Stanford Reseach Systems para determinação das constantes
A, B e C da Equação de Steinhart-Hart. Este procedimento permitiu estabelecer a equação
característica do sensor NTC 10KΩ (Figura 6).
Tabela 1 - Pontos utilizados para calibração do sensor termistor - Método Steinhart-Hart.
Temperatura sensor de referencia 10C 25C 80C
Resistencia ôhmica termistor NTC 10k Ω 19.962Ω 9.788 Ω 1242 Ω
Figura 6 – Valores das constantes A, B e C da equação Steinhart-Hart obtidos na calibração do termistor
Fonte: Stanford Reseach Systems (2014)
CALLEJAS, I. A. C.; APOLONIO, R.; DURANTE, L. C.
A aferição do sensor termistor que se desejava calibrar foi realizada a partir de 2468 medições
de temperatura simultâneas com o sensor de referência. Estes dados foram submetidos ao
procedimento estatístico de regressão linear simples, usando o programa de estatística do
Excel. O gráfico do diagrama de dispersão dos dados e a respectiva de curva de regressão
linear (em vermelho), determinada através do ajuste dos mínimos quadrados entre os dados,
podem ser visualizados na Figura 7. Para facilitar a interpretação do resultado foi plotada uma
reta (em preto) com coeficiente angular igual a 1 e origem no zero, que corresponderia ao
ajuste perfeito entre os dados com R2 = 1.
Figura 7 – Regressão linear entre a temperatura de referência e temperatura do termistor.
Como esperado, a correlação foi positiva. Nota-se que o coeficiente angular obtido no ajuste
de regressão linear é ligeiramente superior a 1 e a reta de regressão intercepta o eixo Y em -
0,154. O valor de R2 foi de 0,999, o que indica que o modelo da regressão é adequado para
descrever o fenômeno estudado, indicando que o sensor foi calibrado de forma adequada. Este
comportamento também é explicado pelo índice de concordância “d” igual a 0,999. Desta
forma, confirma-se que o método de Steinhart-Hart é um procedimento adequado para
calibração de sensores do tipo termistores NTC.
Ocorreu grande variabilidade nos erros ao longo das faixas de trabalho do sensor, o que indica
que, ora o sensor sobrestima a temperatura e ora subestima (Figura 8a e 8b). Isso se deve ao
modelo matemático adotado na calibração do sensor que utiliza apenas três pontos como
referenciais de calibração. Devido a isso, é esperado que valores próximos aos pontos de
calibração apresentassem erros menores que os valores intermediários. Os valores máximos
dos erros positivos e negativos encontrados na calibração foram de 1,36C e -0,94C, nas
faixas de temperatura entre 50-60C e maior que 70C, respectivamente (Figura 8a). Em
termos percentuais, as máximas porcentagens de erro positivo e negativo foram de 27,2 e -
5,6% e nas faixas de 0-10C e 10-20C (Figura 8b). O Erro Absoluto Médio (EAM) e a Raiz
do Erro Quadrático Médio (REQM) cometido durante todo o procedimento de calibração
foram de 0,44C e 0,53C, respectivamente.
y = 1,0082x - 0,154C
R² = 0,999
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Tem
per
atura
ter
mis
tor
(C
)
Temperatura sensor de referencia (C)
CALLEJAS, I. A. C.; APOLONIO, R.; DURANTE, L. C.
Figura 8 – (a) Erro (C) e erro percentual (%) no procedimento de calibração.
(a)
(b)
Para a faixa de trabalho entre 0-20C, o erro absoluto médio observado foi inferior a 0,50C,
enquanto na faixa de temperatura 20-30C, o erro médio se reduziu para a metade, 0,25C
(Figura 9). Estes valores são superiores aos resultados encontrados por Guadagnini e
Barlette (2005) que determinaram precisão de 0,1C para a faixa de trabalho de 0-32C.
Steidle e Zolnier (2006) encontram erro médio de 0,26C para faixa de validação de 10 a
40ºC, coerentes com os resultados encontrados neste trabalho. Nota-se que para faixas de
trabalho entre 30-40C, o erro absoluto se elevou para 0,82C. Os maiores erros foram
observados na faixa de 40-50C, próximos a 1,0C. Entre 50-70C, os erros médios se
reduziram abaixo de 0,5C. Acima de 70C, o erro absoluto médio foi superior a 0,50C.
-1.00
-0.50
0.00
0.50
1.00
1.50
Err
o (C
)
Faixa de temperatura (0 - 80C)
10C 25C 80C
-10.00
-7.50
-5.00
-2.50
0.00
2.50
5.00
7.50
10.00
Err
o P
erce
ntu
al
(%)
Faixa de temperatura (0 - 80C)
10C 25C 80C
CALLEJAS, I. A. C.; APOLONIO, R.; DURANTE, L. C.
Figura 9 – Erro médio por faixa de trabalho cometido no procedimento de calibração.
Os resultados demonstram que nas faixas onde se inserem os pontos utilizados no
procedimento de calibração, os erros induzidos pelo procedimento de calibração foram
menores, o que ratifica o que o Método Steinhart-Hart tende a introduzir temperaturas mais
precisas no entorno dos pontos utilizados para a calibração. Diante desta constatação, é
importante se conhecer antecipadamente a faixa de trabalho do sensor, pois a sua calibração a
partir de pontos dentro da faixa de trabalho proporcionarão maior exatidão ao sensor.
Todos os parágrafos devem ser redigidos em coluna única, justificados e com espaçamento
simples entre as linhas. Não deverá haver tabulação no texto.
4_ CONCLUSÃO
O uso da placa Arduino em conjunto com o módulo de relógio de tempo real (RTC) e o
módulo de cartão de memória permitiram o desenvolvimento de um sistema automático de
aquisição de dados semelhante a um datalogger, a um custo bem inferior aos disponíveis no
mercado.
No procedimento realizado, os dados de temperatura do sensor de referência e do sensor
termistor puderam ser armazenados de forma concomitante, o que facilitou os procedimentos
de calibração e de aferição, visto que os dados foram armazenados no cartão de memória, com
data e hora dos registros de temperatura realizados. Os dados foram importados diretamente
para planilha eletrônica e as análises estatísticas puderam ser realizadas de forma rápida e
com precisão.
Foi possível notar que o erro no procedimento de calibração é dependente dos pontos
utilizados para a calibração do sensor. Nas faixas nas quais se inseriam os pontos utilizados
como referencia na calibração, os erros observados foram menores. Por outro lado, nas faixas
distantes dos pontos de calibração, os erros foram maiores. Este comportamento está
relacionado ao método de Steinhart-Hart, que utiliza apenas três pontos de referencia para
calibração. O Erro Absoluto Médio (EAM) e a Raiz do Erro Quadrático Médio (REQM)
cometido durante todo o procedimento de calibração foram de 0,44C e 0,53C,
respectivamente. Na faixa de temperatura ambiente, o erro absoluto médio foi de 0,25C.
0.00
0.25
0.50
0.75
1.00
0-10 10-20 20-30 30-40 40-50 50-60 60-70 >70
Err
o m
édio
(C
)
Faixa de trabalho (0-100C)
CALLEJAS, I. A. C.; APOLONIO, R.; DURANTE, L. C.
Como a faixa de calibração do sensor adotada foi muito extensa (0-100C), notou-se que, a
exatidão na faixa usual de trabalho do sensor (temperatura ambiente) ficou comprometida e
foi superior à determinada por alguns autores (0,1C). É importante ressaltar que alguns
equipamentos disponíveis no mercado que fazem uso do termistor para avaliação da
temperatura cinética, apresentam exatidão na ordem de 0,35C para faixa de temperatura
ambiente, valor este compatível ao determinado neste trabalho (0,25C).
Sugere-se que em trabalhos futuros a faixa de trabalho do sensor seja reduzida para dentro da
faixa de trabalho usual do sensor (0-50C) com intuito de verificar se a exatidão do sensor
pode ser aperfeiçoada.
5_ REFERÊNCIAS
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