2l~gis- ·palavras~chave - bdjur.stj.jus.br · judiciário brasileiro, reeditada recentemente) da...

7
1 LESSA, Pedro. Do Poder Judiciário. Brasília: Senado federal, 2003- 2 CASTRO NUNES. Teoria e prática do PoderJudiciário. Rio de Ja- neiro: Ed. forense, 1943. J NEQUETE, Lenine. O Poder Judiciário no Brasil. Brasília: Supremo Tribunal Federal, 2000. 4 BITTENCOURT; Edgard de Moura. O juiz. São Paulo: EUD, 1982. . S DALLARI, Dalmo. O Poder dos juízes. São'Paulo: Saraiva, 1996. 6 NALlNI, José Renato. A rebelião da toga. Campinas: Millennium Ed.,2006. . 7 Vide: www.ibrajus.org.br. 10 Poder Judiciário no Brasil O Brasil não tem tradição de estudos do seu p6derJudiciário. Prova dissoé que a literatura ainda é escassa, muito embora tenha evoluído bem na úl- '. tima década. Na primeira metade do século passa- do, duasgrandes obras foram publicadas, ade Pedro Lessa, escrita em 1915 e recentemente reeditada', ea '. de Castro Nunes 2 , em 1943: Mais tarde, o magistrado gaúcho tenine Nequete publicou, em quatro volu- mes, a mais completa obra sobre a história doPoder Judiciário brasileiro, reeditada recentemente) Da mesma .forma, escreveram sobre o juiz e a Justiça, entre outros, Edgard Moura Bittencourt4, Dalmo Dallari>, José Renato Nalini. 6 . .' / .." O que disso se conclui é que os brasileiros, e não apenas os operadores do Direito, no passado pouco se davam conta do relevante papel que oJu- diciári'o exerce nas suas vidas. Mais recentemente, contudo, o quadro vem mudando, e boas obras têm sido escritas. Há, .ao que parece, uméj conscientiza- ção crescente da sociedade sobre a relevância do tema. A relação de livros e seus autores pode ser visualizada na página de abertura de sítio juridico.7 Vladimir Passos de FREITAS' Interesses Difusos e Coletivos / OifTuse /nterests and Rights 95 - ---:------_. __ .__._--_.. ... _---- O'Poder Judiciário Direito Ambiental no Brasil . ;'Desembargãd'orfederal aposentado, ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 4' Região (RS). Professor doutor de Direito Ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Representante do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), para cursos de capacitação de juízes da América Latina. Diretor da Escola da fv\agistratura Federal do Paraná e Presidente do Ibrajus. . '. -.-------,_.. ....... e RESUMO: O presénte estudo destina-se à anali- . sara atuação do PoderJudiciário doBrasilnâs questões ambientais quê lhe são submetidas. En- volve uma introdução sobre o Poder Judiciário e depois passa pela legislação ambiental brasileira e a iniciativa dessas ações. Nesses tópicos, analisa- se o tema antes da existêhciá de uma consciênCia ambiental, màs, de qualquer modo, por normas e'·' ações que tiveram influência sobre o meio ambi- ente. Eron um passo seguinte, a ques- tão da competência, que tantas dúvidas provoca, e a do papel do Judiciário nas últimas décadas. A efetividade, que é o grande desafio, é abordada em seguida, junto com a·form.açãod'os juízes. Fi- nalmente, â especialização de va ras ambientais, o problema da falta de estatísticas e a gestão admi-' nistrativa dos tribunais no aspecto ambiental.En- cerra-se o trabalho com conclusões sobre todo o comentado.- :;eSUMÁRIO:1 O Poder Judiciário noBrasU. . Evolução dO'direito ambien- .- lação ambiental. 3 Neproced?i judex ex affleia. 4" tal. Efetividade das normas ambienta'is.Judiciário e Competência e direcionamento'dos tribunais fe- meio ambiente. Decisõesjudiciais ambientais. For- derais e estaduais na área ambiental. 5 O Judiciá- mação dejuízes em direito ambiental. Estatísticas. rio frente às questões ambientais. 5.1 O Judiciário Especialização de tribunais e varas ambientais. até os anos 1980. 5.2 O Judiciário nos anos 1980e 1990: 5,3 O Judiciário nos anos 2000. 6 Efetivida- . de e deficiências do Judiciário. 6.1 Formasão dos • juízes. 6,2 A especiàlização de varas, câmaras'e tur- mas. 6.3 Estatísticas. 7 Os tribunais na sua ativida- de administrativa eo meio ambiente. Conclusões. Referências bibliográficas. . T"... _ ". ,,:.," '1. Justitia. São Paulo, 65 ( 198). jan./jun 2008

Upload: voque

Post on 28-Jan-2019

221 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: 2L~gis- ·PALAVRAS~CHAVE - bdjur.stj.jus.br · Judiciário brasileiro, reeditada recentemente) Da ... legitimidade processual foi estendida à União, es ... Livro V, Titulo LVIII

1 LESSA, Pedro. Do Poder Judiciário. Brasília: Senado federal, 2003­2 CASTRO NUNES. Teoria e prática do Poder Judiciário. Rio de Ja­

neiro: Ed. forense, 1943.J NEQUETE, Lenine. O Poder Judiciário no Brasil. Brasília: Supremo

Tribunal Federal, 2000.4 BITTENCOURT; Edgard de Moura. O juiz. São Paulo: EUD, 1982.

. S DALLARI, Dalmo. O Poder dos juízes. São'Paulo: Saraiva, 1996.6 NALlNI, José Renato. A rebelião da toga. Campinas: Millennium

Ed.,2006. .

7 Vide: www.ibrajus.org.br.

10 Poder Judiciário no BrasilO Brasil não tem tradição de estudos do seu

p6derJudiciário. Prova dissoé que a literatura aindaé escassa, muito embora tenha evoluído bem na úl­

'. tima década. Na primeira metade do século passa­do, duasgrandes obras foram publicadas, ade PedroLessa, escrita em 1915 e recentemente reeditada', ea

'. de Castro Nunes2, em 1943: Mais tarde, o magistrado

gaúcho tenine Nequete publicou, em quatro volu­mes, a mais completa obra sobre a história doPoderJudiciário brasileiro, reeditada recentemente) Damesma .forma, escreveram sobre o juiz ea Justiça,entre outros, Edgard Moura Bittencourt4, DalmoDallari>, José Renato Nalini.6 . .' / .."

O que disso se conclui é que os brasileiros, enão apenas os operadores do Direito, no passadopouco se davam conta do relevante papel que oJu­diciári'o exerce nas suas vidas. Mais recentemente,contudo, o quadro vem mudando, e boas obras têmsido escritas. Há, .ao que parece, uméj conscientiza­ção crescente da sociedade sobre a relevância dotema. A relação de livros e seus autores pode servisualizada na página de abertura de sítio juridico.7

Vladimir Passos de FREITAS'

Interesses Difusos e Coletivos / OifTuse /nterests and Rights 95._~ - ---:------_.__ .__._--_..-~-----_ ..._----

O'Poder Judiciário eó Direito Ambiental no Brasil

. ;'Desembargãd'orfederal aposentado, ex-presidente do TribunalRegional Federal da 4' Região (RS). Professor doutor de DireitoAmbiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.Representante do Programa das Nações Unidas para o MeioAmbiente (Pnuma), para cursos de capacitação de juízes daAmérica Latina. Diretor da Escola da fv\agistratura Federal doParaná e Presidente do Ibrajus. .

'. -.-------,_..

....... e RESUMO: O presénte estudo destina-se à anali-. sara atuação do PoderJudiciário doBrasilnâsquestões ambientais quê lhe são submetidas. En­volve uma introdução sobre o Poder Judiciário edepois passa pela legislação ambiental brasileirae a iniciativa dessas ações. Nesses tópicos, analisa­se o tema antes da existêhciá de uma consciênCiaambiental, màs, de qualquer modo, por normas e'·'ações que tiveram influência sobre o meio ambi­ente. Eron um passo seguinte, enfrenta~se a ques­tão da competência, que tantas dúvidas provoca,e a do papel do Judiciário nas últimas décadas. Aefetividade, que é o grande desafio, é abordadaem seguida, junto com a·form.açãod'os juízes. Fi­nalmente, â especialização de va ras ambientais, oproblema da falta de estatísticas e a gestão admi-'nistrativa dos tribunais no aspecto ambiental.En­cerra-se o trabalho com conclusões sobre todo ocomentado.-

:;eSUMÁRIO:1 O Poder Judiciário noBrasU. 2L~gis- . ·PALAVRAS~CHAVE: Evolução dO'direito ambien­. - lação ambiental. 3 Neproced?i judex ex affleia.4" tal. Efetividade das normas ambienta'is.Judiciário e

Competência e direcionamento' dos tribunais fe- meio ambiente. Decisões judiciais ambientais. For-derais e estaduais na área ambiental. 5 O Judiciá- mação dejuízes em direito ambiental. Estatísticas.rio frente às questões ambientais. 5.1 O Judiciário Especialização de tribunais evaras ambientais.até os anos 1980. 5.2 O Judiciário nos anos 1980e1990: 5,3 O Judiciário nos anos 2000. 6 Efetivida-

. de e deficiências do Judiciário. 6.1 Formasão dos• juízes. 6,2 A especiàlização de varas, câmaras'e tur­

mas. 6.3 Estatísticas. 7 Os tribunais na sua ativida­de administrativa eo meio ambiente. Conclusões.Referências bibliográficas.

. T"... _ ".

,,:.,"'1.

Justitia. São Paulo, 65 ( 198). jan./jun 2008

Page 2: 2L~gis- ·PALAVRAS~CHAVE - bdjur.stj.jus.br · Judiciário brasileiro, reeditada recentemente) Da ... legitimidade processual foi estendida à União, es ... Livro V, Titulo LVIII

97

[... ] esta nova missao lançou a Policia Federalnuma batalha que se caracteriza sobretudopela premência, pois o que difere o crime am-

. biental dos demais crimes é o seu caráter defatalidade. Há, nos efeitos do crime ambien­tai, uma irreversibilidade que nâo 'concederáao Homem uma segunda chance, especifica­mente no que diz respeito à extinção de espé­cies animais e vegetais (PONTES, 2005, p. 177).

dano ambiental e estabeleceu a responsabilidadeobjetiva do infrator. Em um passo seguinte, com aLei da Açao Civil Pública, de 24.07.198S (Lei 7-347), alegitimidade processual foi estendida à União, es­tados, Distrito Federal,municipios, órgaos ámbien­tais, fundações e ONGs, desde que' criadas há pelomenos um ano. Mais recentemente, a Lei 11-448, de15.01.2007, outorgou legitimidade processual à De­fensoria Pública. Esses textos legais fizeram com quemilh,lres d.e ações fossem propostas em todo o ter­ritório nacional, principalmente pelo ill\inistério PÚ­blico, formando-se uma sólida jurisprudência noâmbito civil.

Na esfera penal, só há precedentes se hoúvereficiente açao policial e um Ministério Público cons­ciente da releváncia do tema, No Brasil, em termosgenéricos, a atividade policial ne,m sempre é valori­zada. Em matéria de meio ambiente, dá-se o.mes­mo. Nos congressos e estudos de direito ambiental,raramente participam como palestrantes delegadOs,peritos 9u oficiais da Polícia Militar. Poucas sao assuas publicações. No entanto, a lógica ésimples:onde a policia tiver melhor estrutura para combatertal tipode crime, as decisões judiciais serao em mai­or número.

Vejamos, por exemplo, o que vem ocorrendonoâmbito federal. Com a criação da Divisa0 dê Repressaoa Crimes contra o Meio Ambiente e o Patrimônio His­tórico/DMAPH, no Departamento de Polícia Federal, aatuaçao deste órgão passou a ter efetividadeincom­paravelmente maior do que no passado. Nas palavrasdo delegado Jorge Pontes, chefe da divisa0:

Antes da (riaçao da DMAPH, em 09.09.2003, porintermédio da Portaria 1.300 do ministro da Justiça,que aprovou o Regimento Interno do Departamento

Interesses Difusos e Coletivos / Oiffusc Interests and-------- ---~~--

3 Ne procedá judex ex offlcíoO Poder Judiciário só age por iniciativa de ter­

ceiros. Já diziam os romanos, ne proceda judex exofflcío. Édizer, sua atúaçao depende daquele.s quese dispõem a provocá-lo, mediante propositura de'ações, Assim, o pressuposto para que o Judiciáriojulgue é que ações penais e civi.s sejam propostas.Dai ser essencial que advogados, organizações n'ao­governamentais (ONGs), órgaos da administraçaoambiental, Policia Judiciária, Militar e o MinistérioPúblico sejam atuantes. Em outras palavras, de nadáadiantaraoboas leis e um Judiciário consciente daimportância do-direito ambiental se aqueles que pré­examinam os litigios se omitirem, Ai ocorrerá umaaparente eficiência, sem qualquer efetividade.

O Brasil, como já foi dito, possui, desde os tem­pos da dominação portuguesa, normas protetorasdos recursos naturais. Todavia, a proteção do meioambiente como um todo veio com a Lei da PoliticaNacional do Meio Ambiente, em 30.08.1981 (Lei6.938/81). Entre outras inovações, essa avançada leideu ao Ministério Público legitimidade para proporação coletiva para restauraçao ou indenizaçao do

ma. No ehtanto, nesse particular, a falta de lei com­plementar definindo a divisão de competências temacarretado dificuldades aos órgaos públicos e aosempreendedores. NoCongresso Nacional tramita oProjeto de Lei Complementar 388/2007, que visadefinir a situaçao. O art. '70, inc. VI, condiciona odesenvolvimento econômico à proteção ambiental,na forma do que sé convencionou chamar de desen­voivimento sustentável. O art. 216 protegeu o meioambiente cultural, dando à matéria destaque jamaisvisto. Protege, por exemplo, até mesmo o meio am­biente imaterial, como os usos, costumes, iíngua,música, artes populares enfim.

Após a Constituiçao de 1988, algumas leisampliaram a proteçao do meio ambiente. Entre elas,a 9.98S, de 2000, que dispõe sobre as unidades deconservação, e a Lei 9.605, de1998, que cuida doscrimes ambientais e infrações administrativas. Comtais diplomas é posslvel dizer que a legislaçao brasi­ieira se encontra entre as mais avançadas do mundo.Em breve sintese, podemos dizer que leis as tem"Os, eboas. Agora nos cabefazer cumpri-Ias.

2008

" """ t.), 2000, p. 99.

ela dispós sobre a criação de um Sistema Nacionaldo Meio Ambiente (Sis.nama), unindo órgaos federais,estaduais e municipais, estabeleceu a responsabilida­de objetiva (ou seja, independentemente de culpa) doscausadores de dano ambiental e deu ao MinistérioPúblico legitimidade para ingressar em juizo na de­fesa do meio ambiente. Em1985, a Lei 7.347 discipli­nou a Açao Civil Pública, dando aos legitimados a viaprocessual para acionar os infratores.

Em 1988, çom a entrada em vigor da nova Cons"tituiçao, o Brasil deu à matéria maior dignidade. EJáera tempo. Com o histórico congresso de Estocol­mo, Suécia, em '972, o meio ambiente passou a seruma preocupação mundial. Etal inclusão nas Consti­tuições tornou-se regra geral. Bons exemplos disso

. foram as Constituições de Portugal (1974), Grécia(197S) eEspanha (1978). Com propriedade, o profes"sor Raul Branes observou que "se trata delo quehemos Ilamado um 'enverdecimiento' (greening) delas Constituciones politicas de la región, que paula­tinamente se han ocupado más y más de establecerlasbas'es para el desarrollo de una legislación ambi-entai moderna".' .

Oart. 25S da Lei Fundamental brasileira, diVidi­do em parágrafos e incisos, foi inovador ao dar a to­dos, poder público e particulares, a responsabilidadepela preservaçao do meio ambiente, Inclusive ado­tou o principio intergeneracional, ou seja, .arespon­sabilidade de todos alcança a proteção daqueles queainda estão porvir, asfuturas gerações. E mais, no §30

estabeleceu que o dano ambiental gera as responsabi­lidades administrativa, civil e penal, todas a-utõnomas,impondo, ainda, às pessoas juridicas a responsabili­dade penal, na linha de posicionamento que vem sen­do adotado nos paises mais adiantados. O art. 225deu dignidade constitucional ao estudo de impactoambiental e se preocupou em estabelecer a obrigato­riedade da educaçao ambiental.

Mas·, além do dispositivo 22S, a Carta Magna,em outros dispositivos, cuida também do meio am­biente. Por exemplo, o art. 23, inciso VI, dá à Uniao,estados e municipios o poder de proteger o meioambiente e combater a poluição sob quaiquer for-

comoEstado diante

cotlflitosambientais que lhe sao sub-E, mais além ainda, como esse

poder de Estado se comporta em relaçao ilomeio am­biente na esfera administrativa. Uma visao critica,sem o afago corporativo de quem pertenceu à ma­gistratura'por 26 anos e sem a""mordacidade daque­les que, por Uma razão ou outra, se voltam contra ainstituiçao.

8 PÁDUA, 2004, p. 137.

2 Legislação ambientalNo Brasil, a legislação sem pre protegeu seto­

res do meio ambiente. As Ordenações Afonsinas, noLivro V, Titulo LVIII, proibiam o corte deliberado deárvores frutiferas. As Ordenações Manuelinas, noLivro V, Titulo LXXXIII, proibiam a caça de perdizes,lebres e coelhos com redes, fios, bois ou outros mei­os e instrumentos capazes de causar sofrimento namorte desses animais. Nas Ordenações Filipinas, aságuas eram protegidas no Livro LV, Titulo LXXXVIII,parágrafo sétimo, punindo com multa quem as su,jasse. Por isso tudo. é que no inicio do século XIX,José Augusto de Pádua, ao comentar a intransigen­te defesa que JoséBonifácio de Andrade' e Silva fa­zia de nossas florestas, registrou que "ao criticar adestruição ambiental do Brasil em 1823, ele profeti­z.ou que o mesmo poderia ocorrer com esse rico ter­ritório nacional, que em menos de dois séculos Seconverteria nos 'paramos e desertos áridos daUbia'''.8

Em '934, foi editado diploma protegendo osanimais de maus-tratos (Decreto 26.645), no mes­mo ano, o Decreto-Lei .Instituia o Código Florestal(23.793) e em '937 cuidou-se de zelar por nosso patri­mõnio cultural (Decreto"Lei n° 37). Em 1961, a Lei 3-924

. veio a proteger monumentos arqueológicos,"" pré­históricos, em 1965 foi promulgado o Código Flo­restal (Lei 4.771) e, em 1967, a Lei de Proteçao à Fauna(Lei 5.197). Mas foi somente em 1981, através da Lei6.938, de 30 de agosto, que passamos a ter regrasprotegendo o meio ambiente como um todo. Cha­mada de Lei da Politica Nacional do MeioAmbiente,

Page 3: 2L~gis- ·PALAVRAS~CHAVE - bdjur.stj.jus.br · Judiciário brasileiro, reeditada recentemente) Da ... legitimidade processual foi estendida à União, es ... Livro V, Titulo LVIII

99

5.2 O Judiciário nos anos 1980 e 1990Nos anos 1980, promulgada a Lei 7-437/85, que

trata da Ação Civii Pública, começou o Judiciário a

Também eram propostas ações penais por con­travenções florestais ou caça, com base n05 códigos,respectivamente, de 1965 e 1967. Tais ações eIam de­cididas principalmente no Tribunai de AI~ada Crimi­nal de São Paulo e no Tribunal de Alçada do Paraná,por uma razão muitos simples: esses dois estados,nos anos 1950, criaram Policias Florestais. Aação des­ses órgãos resultava em ações penais e correspon­dente jurisprudência. E, ao contrário do que se podeimaginar, os acórdãos de então revelavam preocupa­ção com a proteção dos recursos naturais. Vale coneferir julgados existentes nas Revistas dos Tribunaisdas décadas de 1970 e 1980, como, por exemplo, osvolumes 405, p. 310;430, p. 429; 437, p. 320; 414, p.271; 537, p. 333; 542, p. 370; e 543, p. 381 .

No âmbito civel, em 15.°5.1974, foi proferidapelo juiz de direito José Geraldo Jacobina Rabelio aprimeira sentença do Brasil revelando rara conscien­tização ambientaL" Tratava-se de ação. pópular pro­posta por Ernesto Zwarg, ecologista então residentena cidade de Itanhaém, litoral do estado de São Pau­lo, contra as ieis municipais de números 989 e 990,que permitiam a construção de prédios de até 15 an­dares em vias não dotadas de rede de esgoto ou naorla maritima. Ocaso envolvia um edifício de frentepara uma praia, e o magistrado juigou a ação proce­dente, não .apenas por reconhecer falha no processolegislativo, como por atentar contraa saúde e o lazerda população. Asentença monocrática foi reforma­da pelo Tribunal de Justiça paulista.'3

trias dos pacientes, se encontram intensamen­te poluidas. ""

;; TJSP, HC 44.710, Câmaras Criminais Conjuntas, Piracicaba, rei.

Hyldebrando Dantas de Freitas, j. 29.03-'955, em Revista dosTribunais v. 238, p. 72.

" Justiça Estadual, SP, proc. 1.700/73, 2° Cal"tório, comarca deItanhaém,j.15·05·1974·

'3 TJSP, Ap. Cível 237.209, 3" Câmara Civil, reI. des. ramaz Rodri­

gues, j.°7.11.1974,'

Interesses Difusos e Coletivos / Diffuse interosts 3nd----

tembro de 1994, a Associação dos Magistrados Bra­sileiros, sob a dihâmica presidência de Francisco dePaula Xavier Neto, promov~u, na cidade de Santos(SP): um bem-sucedido congresso sobre o tema. E, de­pois, também cursos na Universidade Lewis & Clark eem Limoges, França. Porém com maiores dificuldadesoperacionais, pois os juizes de direito são em númeromaior e se espalham por 26 estados e o Distrito Fede­ral, sendo mais complexo reuni-los em congressos.

Constitui matéria de fato, que só pode ser exa­minada no âmbito da ação penal e não em"habeas corpus", a referente à anterior corru­ção do rio, cujas águas, antes de adentrarem omunicipio onde se acham instaiadas as indús-

5 O Judiciário frente às questões ambientais5.1 O Judiciário até os ahos 1980

Até os anos 1980, praticamente não havia sen·tenças em matéria ambiental. No C1vei, existiam açõesenvolvendo direitos de vizinhança ou disputa de vi­zinhos em área rural pelo uso de águas e que acaba­vam decidindo, por reflexo, matéria ambiental. Por

. exemplo, o julgamento inserto na Revista dos Tribu­nais, v. 301, p. 84, envolvendo querela entre vizinhospor construção que impedi" a ventilação.

Na esfera criminal, foram propostas algumasações com base no artigo 271 do Código Penal, que'trata de poluição.de água. No julgamento de habeascorpus impetrado para trancar ação penal instaura­da contra diretores de usina de cana,de-açúcar quelançavam restilo e proprietário de um curtume quejogava águas servidas, ambos ao rio Piracicaba, oTribunal de Justiça de São Paulo, em 1955, denegoua ordem por ma-ioria de votos. O voto em separadodo des. O. Costa Manso surpreende pelo rigor técnicoe pelos conhecimentos que demonstra, não apenasdo Direito pátrio como do italiano, além de revelaruma posição por demais avançada para a época. Porexemplo, ao rechaçar o argumento de que haviaoutro rio poluido, respondeu: "Porque não cheirebem o Tietê em certo trecho, há de mal cheirar oPiracicaba, corrompido no interesse de usineiros?":Aementa do acórdão estabeleceu que:

2008

la Vide nota específica no item 6.1, Formação dos juízes.

so de graduação, dissertações de mestrado e tesesde doutorado "optam por temas teórico-abstratos,muitas vezes sem utilidade. Na Academia não sepesquisa, todavia, sobre estatistica judiciária, açõespenais originárias, efeitos da participação da mu­lher na magistratura e outros tantos assuntos re"levantes e que poderiam trazer resultados maispositivos no aprimoramento do Poder Judiciário.As­sim, neste subitem, em breves considerações, se ten­tarão estabelecer as peculiaridades dos dois ramosdo poder Judiciário nas questões ambientais. Écer­to que a Justiçado Trabalho tem competência paraacões envolvendo o meio ambiente do trabalho. Noe~tanto, estas são em número mais restrito e sobuma ótica direcionada mais às relações de trabalho.

A primeira observação que se faz é a de que, .com raras exceções, a Justiça· Federal e a Estadualnão incluiam a matéria em seus concursos para amagistratpra.w A segunda é a de que as Escolas daMagistratura, da mesma forma, não costumavamcolocar o direito ambiental em seus cursos de capa­citação ou seminários. A terceira observação é nosentido de que os juizes federais, desde o concurso,dedicam-semais ao estudo do direito público, in­cluido, é óbvio, o constitucional, e os juizes de di­reito, mais ao direito privado. Issó por força dacompetência de suas Justiças. Isso, ainda que nãocomo regra geral, resulta maior vocação para aanálise constitucional e coletiva dos temas pe­los magistrados federais.

No entanto, no àmbito da Justiça Federal re­alizaram-se importantes congressos de direitoambiental desde o fim dos anos 1990 até hoje,promovidos pelo Centro de Estudos Judiciários dóConselho da Justiça Federal. Por sua vez, a Associa­ção dosJuizes Federais (Ajufe), sempre presente eincentivadora dessas iniciativas, atuou da mesmaforma, inclusive no exterior. Mencionam-se, a titulode exemplo, cursos realizados em Portland, estado

.do Oregon, Estados Unidos da América, na Univer­sidade Lewis & Clark, a primeira no ranking norte­americano da área. A magistratura estaduai não semanteve alheia ao tema. Tanto assim que, em se-

rp<1 ","n,,< a favor doNo âmbito administrativo, órgâos ambien­

tais das administrações federai, estaduai e munici­pal encontram sérias dificuldades. Se estivessembem estruturados, com equipamentos modernos,funcionários motivados e bem remunerados, a efe­tividade seria bem maior. Eo resultado seria a muL­tiplicação de questões discutidas junto ao PoderJudiciário. Porém, muitas vezes desprovidos derecursos minimos, a eficiênciá ainda está longe doideai. Edisso resultam menos temas a serem discu­tidos na Justiça. Deq'ualquerforma, registre-se que,nos últimos cinco anos, a atividade administrativacresceu bastante. Mais pelá dediéação de funcio­nários abnegados do que propriamente pelo for­necimento de meios modernos e adequados detrabalho.

4 Competência e direcionamento dos tribunaisfederais e estaduais na área ambiental

Posta a questão no que há de mais essencial,cumpre lembrar que as ações civis e penais envol­vendo questões ambientais são levadas à JustiçaFederal ou à' Estaduai. Tramitarão na Justiça Federalquando haja algum interesse da União, suas autar­quias ou empresas públicas. Por exemplo, a polui­ção de um rio de' propriedade da União, como é ocaso do rio Paraná, que separa o Brasil do Paraguai.O fato de o dano ambiental ter sidó praticado emlocalidade que não é sede de vara federal em nadaaltera essa situação. A ação deverá ser processadana subseção judiciária da Justiça Federal mais pró­xima. ASúmula 183 do Superior Tribunal de Justiça,que dispunha em contrário, foi revogada. Na JustiçaEstaduai tramitarão as demais ações. Assim, porexemplo, o corte irregular de árvores em um parquemunicipal será decidido na respectiva comarca daJustiça Estaduai.

A análise aqui feita é uma tentativa de esta­belecer a posição das Justiças Federal e Estadual noenfoque que dão ao direito ambientai. Tal tipo deestudo, que é da maior importància, ràramente éfeito no Brasil. As monografias de conciusão do cur-

Page 4: 2L~gis- ·PALAVRAS~CHAVE - bdjur.stj.jus.br · Judiciário brasileiro, reeditada recentemente) Da ... legitimidade processual foi estendida à União, es ... Livro V, Titulo LVIII

Il1teres~~ Difusos e Coletivos! Diffuse Interests and Rights iOI

A lei 8.171/91 vigora para todos os proprietáriosrurais ainda que não sejam eles os responsáveispor eventuais desmatamentos anteriores. Na

. verdade, a referida norma referendou o própriocôdigoflorestal (lei 4771/65) que estabelecia Umalimitação administrativa às propriedades ruráis,obrigando os seus proprietários a instituíremáreas.de resérvas iegai5, de no mínimo 20% .de cada propriedade, em prol de ihteressescoletivos.'o

3. Épor isso que, na interpretação do art. 3° dalei 7.347/85 ("a ação civil pública poderá terpor objeto condenação em dinheiro ou o cum­primento de obrigação de fazer ou não fazer"),a conjunção "ou" deve ser considerada com osentido de ediçao (permitindo, com a cumuia­ção dos pedidos, a tutela integral do meio am­biente) e não a alternativa excludente (o quetornaria a ação civil púbiica instrumento ina­dequado a seus fins). É conclusão imposta,outr.ossim, por interpretação sistemática do

Outra relevante decisão·do Superior Tribunalde Justiça deu-se na interpretação do artigo 13 dateidil Ação Civil Pública, que impõe ao causador do danoo dever de recuperar o meio ambiente ou arcarcomuma indenização. A Corte Superior, em uma interc

pretação da matéria sob a ótica sistemática, a partirdos principios consagrados na Constituição Fede­ral, decidiu que:

maritima, proteção a imóveis tómbados, enfim, osmais variados temas. O Superior Tribuna.1 de JustiçapacifiGOu sua jurisprudência, no sehtido da obrigato­riedade dos proprietários de área rural de manterema área de preservação permanente (20% do imóvelnas/egiões Sul/Sudeste), inclusive quando a tiveremcomprado desmatada. Cita-se, apenas a título deexemplo, um dos muitos acôrdãos existentes sobre.otema:

20 STJ, Dec. em Ag. Regimental no RESP 255.170/SP, 1" Turma,reI. min. Luiz Fux,j. 01.04.200j, em Revista de DireitoAmbientalv. 37, p. 278.

ambiental da FATMA, impedindo a regenera­ção da vegetação nativa do local. 4. Apelo des:provido."

Atualmente, os casos de microcriminaiidade(p. ex., a morte de uma capivara), onde a pena máxi,ma é dedois anos de prisão,resolvem-se através datransação, l1'OS Juizados Especiais. Os casos em que apena mínima é de um ano de reclusãO podem serobjeto de s'uspensão do process.o: Nasduas hipôte,ses, o infrator deve aceitar medidas de recuperaçãodo dano ambiental ou, se isso revelar-se Impossível,praticar medídas compensatórias. Os processos crimi,nai5 ficam reservados apenas para casos mais graves e,emhipôteses extremas, têm se mantido inclusive osacusados presos. Nesse sentido, precedente do Tri­bunalRegional Federal da 4' Região:

1. Há diversas provas da existência dos delitoscontra a fauna e de formação de quadrilha,dentre os quais podem-se destacar a transcri­ção das interceptações telefônicas e os diversosanimais apreendidos em poder dos suspeitos.2. Nos termos do artigo 312, in fine, do Códigode Processo Penal, basta'um mini mo de ele"mentos indicativos do autor do illcito, sendodesnecessária a mesma certeza exigida para aprolação do decreto condenatório. 3. Asdegravações das ligações interceptadas reve­lam que a paciente ihtegrava a cadeia elitilÍaem questão. 4. No caso sub judice, as evidên-_cias apontam que a custôdia ante tempus dainvestigadase faz necessária para garantia daordem pública, uma vez que, caso solta, irádispor de todo o aparato para retomar seusnegóci05 ilicitos, contribuindo na reestrutu­ração do grupo.,g

Na esfera civii, são miihares de ações envol­vendo aterros sanitários, desmatamentos, poluição

R., ACR 2001.72.04.002225-0/SC; 8~ Turma, reI. des. federalPinheiro de Castro,j. 06.08.2003.

'9 TRF 4" R., HC 2005.04.01.046463~1/RS, 8~ Turma, reI. des. fede­ral Pinheiro de Castro,j. 18.01.2006.

2008

1. Segundo e.ntendimento doutrinário e ju­risprudenciai predominante, a ConstituiçãoFederal (art. 225, §3°) bem como a lei n° 9.605/98 (art. 3°) inovaram o ordenamento penalpátrio, tornando possível a responsabiliza­ção criminat da pessoa jurídica. 2. Nos termosdo art. 563 do CPP, nenhum ato será declaradonulo, ~ dele não resultar prejuízo à defesa (pasde nullité sans grief). 3. Na hipótese em tela,restou evidenciada a prática de extrair mine­rais sem autorização do DNPM, nem licença

5.3 O Judiciário nos anos 2000

A partir de 2000, o número de ações penaisaumentou consideravelmente. Para tanto, contribuiUa existência da Lei 9.605198, especifi~a para crimes'ambientais. Referido diploma promoveu a especia­lização de delegacias de Policia Civil, batalhões dePolicia Ambiental (dentro da Polícia Militar), estudosuniversitários, livros, conscientização dos empresários,enfim, significou uma autêntica mudança de mentali.dade. Tal lei, entre outras coisas, responsabiliza crimi­nalmente a pessoa jurídica. OTribunal Regional Federalda 4' Região proferiu a primeira condenação da Amé­rica Latina. Eis a el)1enta do importante acôrdão:

mais de três décadas, causando grande malefício aomeio ambiente." . .

Em 30.04.1998, o Tribunal de Justiça do RioGrande do Sul, relator desembargador VladimirGiacomuzzi, condenou aum ano de reclusão o pre­feito do município de Rolante, que lançava lixo emnascente de rio, mesmo estando embargada a açãoadministrativo." O juigamento, por maioria de vo­tos,abandonou o cômoda posição complacente emrelação aos agentes politicos e fez prevalecer a pro­teção.ao meio ambiente. O chefe do Executivotevesua pena substituída por prestação de serviços emum dos parques da cidade.

____ o

)6 TRF la R., prOL 95.01.11S86-o/PI, reI. juiz Tourinho Neto, j.25.0].1996.

'7TJRS, proc. 695.950, Comarca de Rolante, 4~ Câm. Crim., reI. des.Vladimir Giacomuzzi,j. 3°.04.1998.

14 TRF 3d R" prOL 2005.93.90, reI. Juíza Lúcia Figueiredo, j.03. 01 .1992.

'5 STJ, REsp. 31.150/SP, 2 a T., reI. 'mínistroAri Pargendler, j.20.05.1996.

Criou-se umPúlJlioa, que se organi-

e se especializava em Promoto-rias do Meio Ambie~te, e osjuizes, que, além de nãoterem competência exclusiva, sequer haviam estu-dado a matéria na Faculdade de Direito. .

Nos anos 1990, inicioU-se a mudança. Porexemplo, em OlO1.1992, o Tribunal Regional Fede­ral da 3'. Região (SP) ordenou que um boto cor~de­

rosa que se achava em um aquário em um centrocomercial fosse devolvido ao seu habitat natural, RioFormoso, Amazonas.'4 A decisão colegiada, de for:ma inédita, privilegiou o espécime da fauna aquáti­ca em desfavor do Homem. Com isso, afastou-se aidéia antropocéntrica de queo Homem tudo pode, ea natureza está para lhe servir.

Em 20.05.1996, o Superior Tribunal de Justiçareconheceu o direito de uma associação de bairropropor ação civil pública, mesmo não tendo entre assuas finalidades a proteção do meio ambiente." Essa'd~cisão colegiada pode parecer de pouca complexi­dade. Mas é preciso ver que a legitimidade é a grandebarreira de acesso à justiça na maioria dos paises.Assim, se oJudiciáriotiver uma visão restritlvil, menorserá o seu conhecimento dos casos e, conseqüente-.mente, à número de julgamentos. Portanto, interpre'tando de forma ampia a legitimidade de uma ONGnão-ambientai, o STJ abriu espaço para que outrassituações.assemelhadas pudessem Ingressar emjuizo.

O Tribunal Regional Federal da l' Região (DF),.em }5.03.1996, condenou o proprietário de umcurtume que lançava os dejetos no rio Parnaiba acumprir um ano de reclusão. Essa decisão foimarcante porque afastou a antiga tese de que nãose polui o que já está poluido, tese esta que serviupara absolver e gerar impunidade de infratores por

Page 5: 2L~gis- ·PALAVRAS~CHAVE - bdjur.stj.jus.br · Judiciário brasileiro, reeditada recentemente) Da ... legitimidade processual foi estendida à União, es ... Livro V, Titulo LVIII

103

oS SANCHES, 1988, p. '9.'\ FREITAS, '990, p. 29·26 NALlNI, 1998.

O papel do magistrado nas ações ambientaispode ser encontrado em artigos de Sydney Sanches",Vladimir Passos de Freitas" e Josê Renato Nalini.'6

No ãmbito internacional, OPrograma das Na­ções Unidas para o MeioAmbiente (Pnuma)realizou,em 2002, o Congresso de Joanesburgo, África doSul, que teve em paralelo um Simpósio Mundial deJuizes, com cerca de 120 magistrados de paises di­versos. Dele resultou uma declaração de Princípiossobre o papel do Direito no desenvolvimento sus­tentável. Além dessa iniciativa, promove o Pnumapublicações de doutrina e jurisprudência e, mais re­centemente, um Manual de direito ambiental parajuizes da common lawe da civillaw; com preceden­tes de diversos paises. Ainda na área internacional,

o juiz, em verdade, raramente atua de formatotalmente neutra ou isenta, no julgamentoda ação ambiental, eis que ele éstá integradono local onde vive e, tambêm,no mundo glo­balizado, a tal ponto que, dependendo da ori­entação que adotar, similarmente a outraspessoas, poderá ser vítima individual dos efei­tos negativos de sua decisão judicial(JUCOVSKY, 2005, p. 578).

Rondõnia. Na esfera federal, foi o Tribunal Regional·Federal da4' Região. A partir de 2008, por força deresoiuções da Escola Nacionai de Formação e Aper­feiçoàmento de Magistrados (Enfam), criada pelaEmenda Constitucional 02, de 2005, e que atua juntoao Superior Tribunal de Justiça, todos os concursospara ingresso na carreira de juiz substituto, federalou estadual, bem como cursos de formação, terão odireito ambiental como matêria obrigatória.

Em suma, é preciso dar ao juiz a formação ne­cessária para bem compreender a complexidade e adimensão de uma causa ambiental, cujos efeitos, porvezes, se farão sentir muitos anos depois. Por issomesmo, são oportunas as palavras de VeraLúclaSouza Jucovsky, ao lembrar qU.e:

Interesses Diíusos,! Coletivos / Diffuseln!erestsand_R(i;/1_ts -

Aquelas proféticas palavras revelam-se maisatuais do que nunca, cinco décadas depois.

Se a conclusão da necessidade do estudo dodireito ambiental é hoje tranqüila, o primeiro passo,como já foi afirmado, foi exigir a matéria nos concur­sos públicos de ingresso na magistratura. Com efei­to, o que era usual no ãmbito do Ministério Público,que em todos os estados já colocava o direito ambi­entai como matéria de seus concursos, no JudiCiárioainda era ignorado. Nos Tribunais Federais e na mai­oria dos Tribunais Estaduais isso podia ser feito atra­vés de alteração dos regimentos internos, ou mesmoem resoluções que disciplinam os certames; Essa atri­buição condiz com a autonomia administrativa quegoza o Poder Judiciário (CF, art. 99).

O primeiro órgão do Poder Judiciário a incluira matéria nos certames foi o Tribunal de Justiça de

[...]justam!,nte a Escola da Magistratura podeensejar essa visão mais ampla, não se restrin­gindo somente aos enfoques técnicos da Dog­mática Juridica, mas percorrendo os caminhosda Filosofia do Direito, da Sociologia Jurídica,da Psicoiogla Judiciária, da Hermenêutica Ju­ridica, da Metodologia Científica, da Ética, atéatingir o desiderato maior que é o da forma­ção completa do juiz, fornecendo-lhe maioresinstrumentos para o desenvolvimento da artede julgar (GOMES, 2007, p. 187).

a continuação do silêncio nacional, por maísde cem anos, nesta matéria, trará, como con­seqüência irremovivel o desaparecimento dosdemais quadros do direito, por inúteis. Paraque estudar Direito civil, comercial, penai, ju­diciário, etc. às margens do Saara? Este será odestino do Brasil, se continuarmos de braçoscruzados, nesse período, não tenhamos dúvi­das (PEREIRA, 1950, p. 156):

Pois bem, dentro da formação gerai do magis­trado, sem dúvida alguma, assume especial relevãnciaa capacitação em direito ambientai. Não será demaislembrar as palavras de Osny Duarte Pereira, eh1195o':

2008

6 Efetividade e deficiências do JudiciárioO Poder Judiciário brasileiro situa-se em boa po­

sição no trato da questão ambientai. Boas iniciativas eresultados positivos devem ser divulgados, reconhe­cidos e valorizados. As deficiências também devemser apontadas. Não para ressaltar omissões ou acõesnegativas, mas sim para orientar no sentido de 'quesejam evitadas ou corrigidas. Para construir, aprimo­rar, isso sim.

6.1 Formação dos juízesA par dos julgamentos, o Judiciário também

tem cuidado da formação de seus juizes. Épacifico,atuaimente, que o juiz não pode ser apenas um téc­nico do Direito, mas sim uma pessoa com visãohumanista e interdisciplinar. Ecomo bem observaSuzana Camargo Gomes:

2, Justiça yederal, proc. 20-02.61.11,OO'467~2!Marília, SP, juiz,federal Alexandre Sormani, em 31.12.20°3, em Revista de DireitoAmbiental v. 3', p. 375.

ça Federal de primeira instãncia, Subseção Judiciária deMaríiia, SP. O caso envolvia a indústria de cerveja que,no Brasii, é das mais promissoras. Apenas para que setenha uma idéia, nosso país é o quarto consumidorde cerveja do mundo, com 8,45 bilhões de iitros poranos, Pois bem, o que buscava o meio produtor eraconseguir autorização do Ministério da Agrículturapara que o líquido pudesse ser embalado empolietileno tereftalato (PET). Essas garrafas, sabida­mente, não se dissolvem em prazo inferior a cemanos. O.dano ambiental era previsível e de fortesconseqüências negatívas. Atendendo a pedido doMinistério Público Federal, o magistrado concedeuantecipação de tutela para que a autoridade admi-

. nistrativa condicionasse a permissão á apresenta­ção de iicenciamento ambiental junto ao Ibama,eque este condicionasse a emissão da iicencaã ado­ção de medidas eficazes estabelecidas em E'studo deImpacto Ambiental. A medida judicial, confirmadaem grau "de recurso de agravo de instrumento, estabe­lecia que, em caso de descumprimento, seria impostamuita de R$100.000,00 por registro ou licença ambi­entai expedidos."

caç,az<,s de propiciar suae pfpti", tuteia.") e, ainda, peioart.

25 da iei8.625/1993, segundo o qual incumbeao ministério púbiico "iv - promover o inqué­rito civil e a ação civii púbiica, na forma da lei:a) para a proteção, preservação e reparaçãodos danos causados ao meio ambiente [...]"."

Outro aspecto que só agora chega aos tribunaisé o do dano ambiental iRdividual. Na verdade,preocupamo-nos muito com atuteia coietiva, mas nosolvidamos que, junto, existem pessoas que, individu­almente, sofrem danos patrimoniais e morais. O Tri­bunal de Justiça do Estado do ,~io de Janeiro proferiuas, primeiras decisões a respeito do assunto, julgandorecursàs de apelação decorrentes de desastre ecológi­,co ocorrido em 18.01.2000, quando 1miihão e 300 millitros de óleo cru provenientes da Refinaria Duque deCaxias foram despejados na baia de Guànabara, Rio deJaneiro. Ofato gerou contaminação da água, com pre­juizo á fauna e aos manguezais, afetando, ainda, apesca e o turismo. Foram propostas inúmeras açõescontra a Petrobras 5.A. Os casos estão relatados emestudo especifico sobre o tema", e a orientação dosjulgados foi, basicamente, no sentido de que: a) a res­ponsabilidade, no caso de danos individuais, é objeti­va (TJRJ,AC 2002.001.16035, reI. des. Luiz Roldão deFreitas Gomes, j. 1.10.2002); b) há direito a indeniza­ção, mas o autor deve provar o prejuizo (TJRJ, AC2002.001.25165, 15'. CC, reI. des. Fernando CamposCabral,j. 26.2.2003; c) ao autor cabe provar o prejuízo eo seu exato valor, sob pena de improcedência (TJRJ, AC2002.001.23682, 3'. CC, rei. des. Antonio F. Duarte, j.25.02.2003); e d) o dano moral não foi reconhecido(TJRJ, AC 2002.001.09351, 8'. CC, rei. des. Leticia F. Sar­das, j. 17.12.2002).

I~a línha do desenvolvimento sustentáveldecisão da maíor importãncia foi proferida pela Justí~

C,' STJ, RESP 6oS.3231IVIG, la Turma, relator p/acôrdão ministro TeoriZavascki, j. 18.08.2005.

n FREITAS. 2005, pp. 591-601.

Page 6: 2L~gis- ·PALAVRAS~CHAVE - bdjur.stj.jus.br · Judiciário brasileiro, reeditada recentemente) Da ... legitimidade processual foi estendida à União, es ... Livro V, Titulo LVIII

-,1-,0_4~~__~~~~~~"-Ju_s_tit_ia_,S~o Páulo, 65 (198), jan./jul1. 2008

tos de ineficiência que, a partir da Identificação, po­deriam ser combatidos. Espera-se, contudo, que nospróximos anos a atividade venha a ser desenvoivi­da, Inclusive com a nomeação de profissionais for­mados em Faculdades de Estatistica para exerceremsuasfunçõésnostrlbunals.

28 Ministério dO'Meio Ambiente, 2001.

29 Pessoal encarregado dos serviços mais simples, contratados porempresas particulares e sem vínculo,com o poder público.

7 Os tribunais na sua atividade administrativae o meio ambiente -

O poder público tem que defender o meioambiente e preservá-lo para as fUTuras geraç,ões, pordever constitucional (art. 225, caput). No entanto, sópor exceção os tribunais adotam politicaspúbllcasde proteção ambiental. Essa afirmativa pode surpre­ender porque, na verdade, dela nem se cogita. Aliás,essa é, da mesma forma, a conduta que prevalecenos órgãos do Poder Executivo e no Legislativo, nosâmbitos federal, estadual e municipal, muito embo­ra o Ministério do Meio Ambiente tenha editado in­túessante gula de conduta para a administraçãopública."

Para falarmos apenas do Poder Judiciário, bas­ta observar que os tribunais possuem orçamentossignificativos e que neles trabalham, por vezes, maisde mil pessoas. Assim sucede, por exemplo, nos Tri­bunais de Justiça dos grandes estados e na maioriados Tribunais Regionais Federais. Nos TRFs (possi­velmente à exceção da 5' Região, que émenor) tra­balham diariamente, entre maglstrados,servidores,estagiários e tercelrizados", mais de 1.200 pessoas.O mesmo, certamente, deve ocorrer nos Tribunaisde Justiça dos grandes éstados, como São Paulo,Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Gran­de do Sul e Paraná. Na Justiça do estado de São Pau"lo, afirma-se que nos cartórios judiciais de primeirainstância trabalham mais de 60.000 pessoas. So­mem-se os quase cem tribunais do pais e as milharesde comarcas e juizos existentes em todos os ramosdo Poder Judiciário e se calculem os gastoçde luz,água, papel e outros tantos.

, " Interesses Difusos e Coletivos / Oiffuse interests and3ig~ts '..c... 105

pelo preparo de seus juizes, pelas decisões bem fun­damentadas, julgamentos mais céleres e, acima detudo, pela segurança jurldica que dão âs partes, ou­trora sujeitas a julgam~ntos que variavam de umpara outro juizo.

Na segunda Instância, a iniciativa pioneira foido Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que seml­espécializou a sua 4' Câmara Criminal nojulgamentodos recursos relacionados a crimes ambientais. O re­sultado foi que a referida Corte Estadual é a que maisjulga, possuindo o maior número de precedentes so­'bre a matéria. E mais, os julgamentos' são tecnica­mente bem fundamentados, com o conhecimento damatéria que só tem quem se especializa.

Asegunda experiência é dO,Tribunal de J,usti­ca do Estado de São Paulo que, em 2006, por pro­poste.do des. Jacobina Rabello, Instalou a CâmaraEspecial de Direito Ambiental. Composta por cincodesembargadores afeiçoados á mátérla, a referidacâmara julga recursos relacionados a ações ambien­tais de natureza civel. Auniformização dosjulgadose a melhor qualldade'técnlca das decisões são osresultados que jb despontaram. Espera-se que, nofuturo, tal câmara assuma o julgamento dos crimesambientais que, por serem estreitamente ligados ásações civis e administrativas, não devem ficar sujei"tos a desembargadores de outras câmaras.

6.3 EstatísticasAs~statisticas são pouco desenvolvidas no

Poder Judiciário brasileiro. Com efeito, desconhece-seo que se passa além da mera distribuição e arquiva­mento de process.os, número de audiências e outrosdados óbvios. Faltam elementos que distingam ostipos de ações é que, com isso, possam colaborarpara o próprio aprimoramento do Poder Judiciário.Assim, em matéria de ações de ~atureza ambiental,dificilmente se acharão dados para saber seu volu­me, percentual de ações precedentes, valores reco­lhidos em juizo a titulo de multas administrativasambientais, valores recolhidos ao Fundo de DireitosDifusos por força de decisão judicial em Açáo CivilPública e outros dados pertinentes.

Acoleta de tais informações seria importantenão apenas para avaliar a eficiência do Judiciário naárea, mas também para que sevisualizassem os pon-

blemas econõmicos, sociais e ambientais daregiâo, que encontrou sua expressão maiscompleta na "Memória Topográfica e Econõ­mica da Comàrca dos Ilhéus", publicada pelaAcademia das Ciências de Lisboa em 1825, ape­sar de sua primeira versão datar de 1799(PÁDUA, op. cit., p. 102.).

No entanto, as propostas do juiz Baltazar nosentido de realizar cortes de árvores de maneira maiscuidadosa e de estabelecer viveiros e plantação deárvores nas margens das fazendas e nas terrasdevolutas não foram benvecebidas pela sociedadelocal. Assim, muito embora ele tenha permanecidono cargo até 1818, suas funções foram reduzidas a,tarefas burocráticas. '

Em temiJo recente, sem que se tenha noticiade qualquer outra iniciativa semelhante â da comarcade Ilhéus, a Iniciativa foi do Tribunal de Justiça deMato Grosso que, em 1997, implantou o JuizadóVolante Ambientai, que atua em Cuiabá, capital doestado, e cidades mais próximas, com grande suces­so. Pouco tempo depois, no mesmo ano de 1997, o

, Tribunal de Justiça do Amazonas criou, atra\iésdaResolução 05, de 25 de julho, a Vara Especializada'do Meio Ambiente e de Questões Agrárias, que in­cluí, também, um Juizado Volante Ambiental. OjuizAdalberto Carim Antõnio, titular da vara, com entusi­asmo converteu a experiência em sucesso, Inclusiveescrevendo sobre o tema.'7,

AJustiça Federal conta com três varas semi-es­pecializadas em direito ambientai e agrário, criadaspelo Trlbunai Regional Federal da 4' Região, todas nastrês capitais do Sul do pais, ou seja, em Curitiba (PR),Florianópolis (Se) e Porto Alegre (RS). Implantadasno ano de 2005, não foram exclusivamente ambi­entais porque o movimento forense não justificava.Assim, ficaram com matéria agrária e ainda com umacompetência residual em processos civeis. Todavia,o aumento de processos de natureza ambientai, fru­to do próprio sucesso das varas, leva a crer que, embreve tempo, elas se tornarão exclusivamente varasambientais, As três varas federais sobressaem-se

a União Mundial pára à Conservação da Natureza(iUCN) promoveu em Bangcoc, Tailândia, em setem­bro de 2004, um encontro de juízes e membros doMinistério Público, para estudos e troca de experieências na área do direito ambiental. Além disso, aComissão de Direito Ambiental confa com o GrupoJudiciário, que tem por meta promover a efetivida­de da Justiça ambiental.

Baitazar chegou à região com grande disposi­ção intelectual e politlca. Realizou importantesestudos de mapeamento geográfico e inventáriofloristico da mata atlântica regiona'l; tambémproduziu um lúcido diagnóstico sobre os pro-

G.zA especialização de varas, câmaras e'turmasO conhecimento cientifico compartimeiltado

nem sempre é visto com bons olhos. Sob uma abor­dagem crítica, pode-se afirmar que limita a visão deconjuntõ e confina o saber. Todavia, no modelode civilização ocidental, noqual estamos inseridos,a especialização aca.bou tornando-se necessária emtodas as atividades. EoJudiciario não escapa à regrageral. .

Uma ação ambiental, seja de natureza admi­nistrativa, civil ou penal, acaba sendo solucionada,regra geral, por umjuiz federal ou um juiz de direitoque tem sob sua responsabilidade uma grande di­versidade de processos e que, regra geral, não teveaulas de direito ambiental no seu curso de gradua­ção. A questão que lhe é submetida a julgam'entotraz consigo temas novos, leis e atos administrati­vos pouéo conhecidos e nem sempre expostos como esmero técnico desejado. Sem a menor sombra dedúvida, a especialização constitui a melhor via paraque haja eficiência e ganho na qualidade. Não só,juizes mas também funcionários expertos na maté-

. ria encaminham a solução com maior apuro técnicoe em menos tempo.O Brasil conta com varas especi-

. alizadas. Mas, é preciso que se diga, em númeroqua-se inexpressivo.

A primeira iniciativa nessa área é de maio de1797, quando Baltazar da Silva Lisboa foi nomeadopara os cargos de ouvidor e juiz conservador dasmatas da comarca de ilhéus, Bahia. Segundq JoséAugusto Pádua,

Page 7: 2L~gis- ·PALAVRAS~CHAVE - bdjur.stj.jus.br · Judiciário brasileiro, reeditada recentemente) Da ... legitimidade processual foi estendida à União, es ... Livro V, Titulo LVIII

JUCOVSKY, Vera Lúcia Souza. O papel do Poder Judi­ciário na proteção do meio ambiente. In: MILARÉ,Edis (coord.). A Ação Civil Pública. São Paulo; Ed. Re­vista dos Tribunais, 2005.USSA, Pedro. Do Poder judiciário. Brasília: SenadoFederal, 2003.MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Agenda ambien­tai na adminIstração pública, Brasília: Criativa Grá­fica e Editora, 2001.NALlNI, José Renato. A rebelião da toga. Campinas:Millennium Ed.,2006.----:-:c Magistratura e meio ambíehte. In: Lex­Jurisprudência do 5TJ e TRF's, São Paulo, v. 83, 1998.NEQUETE, Lenin~. O Poder Judiciário no Brasil. Bra­sília; Supremo Tribunal Federal, 2000.PÀDUÁ, José Augusto. Um sopro de destruição. 2 ed.Rio de Janeiro; J. Zahar Ed., 2004.PEREIRA, Osny Duarte. Direito florestal brasileiro. Riode Janeiro: Ed. Borsoi, 1950.PONTES, Jorge Barbosa. A Policia Federal na prote­ção do meio ambiente. In: FREITAS, Vladimir Passosde. (coord.) .. Direlto ambientai em e'foiução nO 4.Curitiba; Juruá Ed., 2005.PRESTES, Maria da Graça Orsatto. Gestãoambientalno Poder Judiciário: implementação de.práticas ad­ministrativas e coeficientes. In: FREITAS, VladimirPassos de (coord.). Direito ambiental em evoluçãonO 5. Cu(itiba: Juruá Ed., 2007.SANCHES, Sydney. O Poder Judiciário e a tutela domelo ambiente. Revista de Informação Legislativa,Brasília, 1988.

__lnteresse~Difusos~ ..c.:.()Íetiv~Eiffuse Intcres/s and RI.i;h/s__.... .~__I 07

• KEYWORDS: Evolution of environmental law.Effectiveness of environmentai norms. Judiciaryand environment. Environmental decisions.Judges' capa'cíty building in environmental law.Statistics. 5peclalization of environmental courtsand tribunais.

Referências bibliográficasANTÔNIO, Adalberto Carim. Vara Ambiental: umareálidade. In: FREITAS, Vladímir Passos de (coord.),Direito ambientai em evolução nO 2.4. Til'. Curitiba:Juruá Ed., 2004.BITTENCOURT, Edgard de Moura. O juiz. São Paulo;EUD,1982.BRANES, Raúl. Manual de derecho ambiental mexi­cano. Cidade do México: Fundación Mexicana parala Educación Ambiental, 2000.CASTRO NUNES. Teoria e prática do Poder Judiciá"rio. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1943DALLARI, Dalmo. Opoder dosjuizes. São Paulo: Saraiva,1996.FREITAS, Vladimir Passos de. Ação civil pública e danoambientai individual. In: MILARÉ, Edis (coordl AAção Civil Pública. São Paulo: Ed. Revista dos Tribu­nais, 2005._~_~'O magistrado e o meio ambíente: Revis­ta dos Tribunais, São Paulo, v. 659,1990GOMES, Suzana de Càmargo. A Escola de Magistradose a formação do juiz. In: ALMEIDA, José Maurício Píntode; LEARDINI, Maria (coord.). Recrutamento e forma­ção de magistrados no Brasil. Curitiba; Juruá Ed., 2007.

2008

res e avisos especificos; g) eliminação, até onde possí­vel, de requerimentos, oficiOs, precatórias eiTI papelimpresso, optando pelo uso de mensagens eletrôni­cas; h) aquisição de veículos movidos a álcool, e nãoa gasolina; í) colocação de cláusulas em processosde licitação, privilegiando concorrentes que adotempráticas protetoras do meio ambiente; j) incentivaro transporte solidárío entrê 05 seus servidores.

• ABSTRACT: The present article analyzes how theBrazilian Judicial Power acts towards theenvironmental issues before it. It begins with anintroduction about the Judicial Power, and thenmoves to the Brazilian e'nvironmental legislationand the initiatíve ofthese actions. In these topics,the subject is analyzed before the existence of anenvironmental awareness, but by means ofnormsand actions that had influence onthe environment.Afterwards, the article deals wíth the competence,issue that arises many doubts, and the role oftheJudiciary in the past decadeS. The effectiveness,which is the great 'challenge, 15 presented next,together with judges' capacity building. Finally,the specialization of environmental courts andtribunais, the problem ofthe lack of statistics andthe admi[1istratlve management of courtsregarding the environment. The article ends wlthconclusions about ali the mentioned points.

FREITAS, V. P. de. Judicíal Power and environmentallaw in Brazil. Revista Justitia(5ão Paulo}, v. 198, p.95-107 I jan/jun. 2008

São Paulo, 65 (1981,

a matéria, Maria das\ec,++n D,,,Ct~c n",,;,nrln experiéncia do

4' Região, onde se pro­preservação ambiental, assina-

[...] desde a implementação do Programa deReciclagem de Materiais, em outubro de 2000,o Tribunal contribuiu para a defesa do meioambiente, com a preservação dê no mínimo .Conclusões3-357,00 (três mil, trêzentos e cinqüenta e sete) '1)O PoderJudiciário do Brasil acompanha, aten-árvores, e com a economia de 14.955 kl (cato 1'- to, 05 graves problemas ambientais que afligem aze mil, novecentos e cinqüenta e cinco quilo- Humanidade e, nos seus julgamentos; vem demons-litros) de água e 381 MW/h (trezentos e oiten" trando uma'senslbilidade crescente;ta e um megawatts/hora) de energía elétrica, 2) Nas iniciativas de implementação de medi-aproximadamente (PRESTES, 2007, p. 311). das que favoreçam a dívulgação de conhecime.ntos

e a celeridade nos julgamentos, o Poder Judiciáriotem atuado de maneira razoável;

3) Na atividade administrativa de proteção aomeio ambiente, como poder público que é,'o poderJudiciário tem sido, regra geral, omisso..

O Tribunal Superior Eleitoral revela louvávelpreocupação coiTI o assuntoJO, o que acaba se refle­tindo nos Tribunais Regionais Eleitorais, vários de­les com boas práticas na área. O Conselhp Nacíonalde Justíça, dentro de sua competência de condutorda política nacional do Poder Judiciário, editou re­comendação aos tribunais brasileiros para a toma­da de medidas de boa gestão ambiental.3'

ÉImprescindível- não apenas oportuno - que05 tribunais brasileiros, valendo-se da autonomiaadmínistrativa que lhes reserva a Constituição Fe­deral (art. 99), tomem medidas de economia dos re­cursos naturais, não apenas pelo bem que estarãofazendo em prol do meio ambiente, como, ainda,pela economia de dinheiro público. Entre outras coisas,é recomendável: a) adquirir papel não-clcrado parauso nos processos; b) adquirir.impressoras que uti­lizem o verso das folhas, reduzindo o seu (.150 à me­tade; c) construir fóruns com local para captação deágua de chuvas; d) controle do gasto de luz, atravésde orientação a todos que trabalham no local; e)destino adequado àslãmpadas de mercúrio; f) colo­cação de recipientes de lixo seletivo, dotados de co-

'''Tribunal Superior Eleitora I: www.tse.gov.br. Acesso em: 3. set.2008.

3' Conselho Nacional de Justiça: www.cnj.gov.br.Açessoem: 3. set.2008.