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2ª FASE - OAB XIII - FGV DIREITO PENAL

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2 Fase OAB Direito Penal

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2ª FASE - OAB XIII - FGV

DIREITO PENAL

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Direito Penal

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Disciplina: Direito Penal Professor: Cristiano Rodrigues

Material: Letícia Pinheiro

TEMA I - TEORIA DA PENA 1. DOSIMETRIA DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

1.1 Sistema trifásico O Brasil adotou o chamado sistema trifásico, desenvolvido por Nelson Hungria, pelo qual o juiz deverá levar em conta cada fase, seguindo suas regras. Na primeira fase, analisa as circunstâncias judiciais (artigo 59, CP), para estabelecer a pena-base. Na segunda fase, serão consideradas circunstâncias agravantes (artigos 61 e 62 do CP) e atenuantes (artigos 65 e 66 do CP), para aumentar ou diminuir a pena-base estabelecida na fase anterior. Na terceira fase, por sua vez, serão consideradas as chamadas causas de aumento e de diminuição de pena, que possuem valor certo para aumentar ou reduzir a pena, e aparecem tanto na Parte Geral quanto na Parte Especial do CP.

1.2 Primeira fase Na primeira fase da dosimetria da pena, o juiz deve calcular a pena-base, o que fará observando as circunstâncias judiciais do artigo 59 do CP. Essa pena-base deverá respeitar o mínimo e o máximo estabelecidos na Lei, em cada crime, jamais podendo ficar aquém do mínima ou acima do máxima. As circunstâncias judiciais são: culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade e motivos determinantes do crime. De acordo com o STF, a pena-base jamais poderá ultrapassar o ponto médio entre o mínimo e o máximo abstratamente previstos. Se todas as circunstâncias judiciais forem valoradas negativamente para o agente, o juiz não pode colocar a pena-base no máximo. Da mesma forma, se não houver nenhuma circunstância judicial efetiva a ser considerada, a pena-base deve ficar no mínimo legal. Os crimes qualificados são aqueles que trazem nova pena mínima e nova pena máxima, de modo que são levados em conta nessa primeira fase, respeitando todas as regras. Advertência: Os antecedentes criminais surgem quando o acusado, no momento da sentença condenatória do seu crime, já tem uma outra sentença condenatória transitada em julgado anterior. Inquéritos policiais e ações penais anteriores em curso não geram maus antecedentes (Súmula 444, STJ). Mas para que haja maus antecedentes, não se exige que a prática do segundo crime ocorra após o trânsito em julgado condenatório do primeiro, mas sim que a sentença condenatória do segundo fato, quando for proferida, ocorra após haver trânsito em julgado condenatório do primeiro fato.

STJ: Súmula 444. Vedação - Utilização de Inquéritos Policiais e Ações Penais em Curso para Agravar a Pena-Base: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.

No caso de antecedentes criminais, diferente da reincidência, não há prazo. Uma vez que há a sentença condenatória transitada em julgado, os maus antecedentes são levados em conta.

1.3 Segunda fase Na segunda fase da dosimetria da pena, serão levadas em conta as circunstâncias agravantes (artigos 61 e 62 do CP) e as circunstâncias atenuantes (artigos 65 e 66 do CP). Tal como na primeira fase, a segunda fase também deve respeitar o mínimo e o máximo abstratamente previstos.

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Destaca-se que, embora não haja previsão legal, os Tribunais Superiores já consolidaram que o limite máximo para aumento de pena em uma agravante é de 1/6 (um sexto), assim como o limite para redução de pena em uma atenuante será também de 1/6 (um sexto), respeitando-se, em ambos os casos, os limites mínimo e máximo abstratamente previstos. Então, mesmo existindo a atenuante, se a pena-base foi arbitrada no mínimo legal, a atenuante deve ser desconsiderada.

1.3.1 Agravantes Das agravantes, a reincidência (artigos 63 e 64 do CP) é a mais importante a ser estudada. Para efeitos de reincidência, importa a data da prática. O segundo crime deve ter sido praticado após o trânsito em julgado condenatório do primeiro. Além disso, reincidência tem prazo. Passados 5 (cinco) anos, contados do término de cumprimento da pena (ou da extinção da punibilidade), passa a ser, o agente, considerado, tecnicamente, réu primário. Para que haja reincidência, de acordo com o CP e a LCP (artigo 7º), deve haver: crime + crime; contravenção + contravenção; ou crime + contravenção. Não há reincidência quando ocorre contravenção + crime.

1.3.2 Atenuantes Se o autor, na data da prática do fato, era menor de 21 anos e maior de 18 ou maior de 70 anos na data da sentença condenatória, recai sobre ele uma atenuante (artigo 65, I, CP).

Advertência: De acordo com o artigo 67 do CP, são preponderantes, prevalecendo sobre as demais, as circunstâncias agravantes e atenuantes ligadas à personalidade, à reincidência e aos motivos determinantes do crime. Logo, havendo conflito entre a idade do autor (atenuante) e a reincidência (agravante), prevalece a atenuação da pena.

1.4 Terceira fase Na terceira fase da dosimetria, são levadas em conta as causas de aumento e as causas de diminuição da pena. Para se identificar uma dessas causas, basta observar que toda causa de aumento ou de diminuição tem um valor expresso na lei. Nessa fase, pela primeira vez é possível extrapolar o mínimo ou o máximo da pena em abstrato. 2. EXECUÇÃO DA PENA

2.1 Sistema progressivo de cumprimento de pena O ordenamento jurídico brasileiro adotou o sistema progressivo de cumprimento de pena, através do qual o indivíduo deverá cumprir, ao menos, 1/6 (um sexto) da pena no regime em que se encontra para progredir ao regime subsequente menos rigoroso (artigo 112 da LEP). São os regimes o fechado, o semiaberto e o aberto.

2.1.1 Crimes hediondos A. De acordo com a Lei 8/072/90, a progressão está condicionada ao cumprimento de 2/5 (dois

quintos) da pena, se réu primário, ou 3/5 (três quintos) da pena, caso seja reincidente (não há exigência que essa reincidência seja específica), conforme artigo 2º, § 2º da Lei 8.072/90.

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B. Destaca-se, contudo, que crimes hediondos praticados antes da Lei 11.464/07 poderão progredir, porém utilizando os parâmetros da LEP de 1/6, sendo que a progressão irá acontecer com base nos parâmetros mais severos desta Lei (2/5 e 3/5) para crimes hediondos praticados após a Lei 11.464.

C. Outra questão é quanto ao regime inicial. Embora a Lei 11.464/07 preveja a exigência de regime inicial fechado para crimes hediondos, o STF vem entendendo ser possível começar a cumprir a pena em outro regime menos rigoroso (artigo 2º, § 2º da Lei 8.072/90).

2.1.2 Crimes contra a Administração Pública Em caso de crime contra a Administração Pública, a progressão de regime fica condicionada à reparação do dano, à restituição da coisa, consoante redação do § 4º do artigo 33 do CP.

2.1.3 Progressão per saltum Consoante a súmula 491 do STJ, é inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional. Ao contrário, a regressão de regime per saltum é possível, podendo o sujeito sair do regime aberto para o regime fechado, caso o condenado não cumpra as regras do regime ou seja condenado por outro crime cuja pena exija regime mais severo.

2.1.4 Espécies de pena (artigo 33 do CP) Há duas espécies de pena privativa de liberdade, a reclusão, prevista para crimes mais graves e que admite regime fechado, e a detenção, para crimes menos graves, e não admite regime fechado, salvo em hipótese de regressão.

2.2 Regimes inicial de cumprimento de pena – § 2º do artigo 33 do CP

2.2.1 Regime fechado Reincidente em crime doloso, não importando o valor da pena; O condenado a pena superior a 8 (oito) anos.

2.2.2 Regime semiaberto O não reincidente com pena inferior a 8 (oito) e superior a 4 (quatro) anos.

2.2.3 Regime aberto O não reincidente com pena inferior ou igual a 4 (quatro) anos.

Observação: De acordo com a Súmula 269 do STJ, o reincidente condenado a pena de até 4 (quatro) anos poderá iniciar o cumprimento de pena em regime semiaberto.

2.4 Livramento condicional O livramento condicional vem previsto nos artigos 83 e ss. do CP. Ele tem regras muito claras, sendo aplicado para condenados a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos. Não se trata de regime de cumprimento de pena, mas de um benefício concedido ao condenado que tenha cumprido 1/3 (um terço) da pena, caso não seja reincidente, 1/2 (metade) da pena, se reincidente, ou 2/3 (dois terços) se o crime for hediondo, atendido os requisitos subjetivos para que fique solto com algumas condições impostas, como, por exemplo, estar trabalhando. Frise-se que o reincidente que comete crime hediondo não tem direito ao livramento condicional.

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2.5 Trabalho prisional O trabalho prisional é dever e direito do preso, devendo ser remunerado e, tendo como principal consequência e benefício a remição da pena. A remição é o abatimento do tempo de pena com base no trabalho, sendo que para cada três dias trabalhados, abate-se um dia de pena. Funciona como uma forma de incentivar o trabalho para que ele adquira os benefícios (exemplo: remição, livramento condicional). É uma forma de controle da massa carcerária.

2.5.1 Alterações importantes na LEP Quanto ao trabalho prisional e à remição, a LEP sofreu alterações em seus artigos 126 e 127. O estudo, que já era aceito pelo STJ (inclusive matéria sumulada) como causa de diminuição, passa a gerar, formalmente, remição. Mas é criada uma contagem diferente daquela do trabalho, porque para abater um dia de pena, são necessárias de 12 horas de estudo, cumpridas em no mínimo três dias. Além disso, o trabalho gera remição apenas nos regimes fechado e semiaberto, não incluindo os que estão no regime aberto ou em livramento condicional. O estudo, por sua vez, gera remição em todos os regimes, inclusive o aberto e também no livramento condicional. A jurisprudência vem se posicionando no sentido de uma analogia, querendo estender a remição pelo trabalho também para quem está em regime aberto ou no livramento. Outra alteração é que a falta grave faz com que o condenado perca até, no máximo, 1/3 (um terço) do tempo remido, diferentemente do que era adotado com base na Súmula Vinculante 9 do STF, que permitia a perda de até todo o tempo remido. Com isso, a Súmula Vinculante perdeu a sua utilidade.

Observação: Para efeitos de remição, nada impede que haja cumulação de trabalho e estudo, desde que os períodos sejam compatíveis, não ocorrendo conflito de horário. A partir disso, ele consegue dobrar o tempo de remição, devendo se atentar à contagem.

2.6 Conversão da pena As penas restritivas de direito vêm previstas nos artigos 43 e ss. do CP. Representam uma modalidade autônoma de pena para substituir a pena privativa de liberdade concretamente aplicada, de acordo com certos requisitos. Jamais poderá ser cumulada com a pena privativa de liberdade. As duas espécies mais utilizadas são a prestação de serviço à comunidade e a prestação pecuniária. A prestação pecuniária consiste no pagamento à vítima, aos seus familiares ou à instituição com destinação social de determinado valor, com base nos danos causados.

2.6.1 Requisitos de conversão 2.6.1.1 Crimes culposos: Os crimes culposos sempre terão a pena concretamente aplicada convertida em restritivas de direito, não importando o valor da pena ou qual tenha sido o crime. Isso é justificável porque o agente atua por imprudência, negligência ou imperícia, sem intenção de gerar qualquer resultado criminoso.

2.6.1.2 Crimes dolosos: a conversão nos crimes dolosos ocorrerá quando preenchidos, cumulativamente os requisitos do artigo 44 do CP. São eles: (1) pena concreta de até 4 anos; (2) não ser reincidente específico; (3) crime sem violência ou grave ameaça à pessoa.

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Observação: De acordo com o § 3º do artigo 44 do CP, havendo reincidência por crimes diferentes, o juiz poderá conceder a conversão, se as condições forem favoráveis e os demais requisitos estiverem preenchidos. No entanto, se a reincidência for pelo mesmo crime (reincidência específica), a conversão é vedada.

2.6.2 Regra do artigo 44, § 2º As penas de até 1 (um) ano serão convertidas em uma restritiva de direitos ou por multa, e penas superiores a 1 (um) ano e até 4 (quatro), convertidas em duas restritivas de direitos ou por uma restritivas de direito e multa.

2.7 Pena de multa 2.7.1 Conceito Multa no Direito Penal tem natureza jurídica de pena (modalidade autônoma de pena; sanção pecuniária), produto da prática de crime e que consiste de pagamento para o Estado de determinados valores, calculados através do sistema de dias-multa, não possuindo cunho indenizatório ou de ressarcimento de danos.

2.7.2 Princípio da intranscendência Em face do princípio da intranscendência das penas, a pena é pessoal, individual e intransferível, jamais ultrapassando a pessoa do autor (artigo 5º, XLV). Isso é princípio consituticonal, assim como a o princípio da individualização da pena está previsto no artigo 5º, XLVI da CF/88. Nesse sentido, embora seja dívida de valor inscrita na dívida ativa da Fazenda Pública (artigo 51, CP), a pena de multa não perde sua natureza jurídica originária, que é de sanção penal produto da prática de crime e que, em face do princípio da intranscendência das penas, jamais se transfere ou se transmite a terceiros, nem mesma a herança, no caso de morte do autor.

2.7.3 Aplicação A pena de multa poderá ser aplicada de três formas. São elas: (1) cumulativamente à pena privativa de liberdade quando houver expressa previsão no tipo (e multa); (2) de forma alternativa à pena privativa de liberdade quando houver expressão previsão no tipo (ou multa); e (3) de forma substitutiva à pena privativa de liberdade de até um ano, atendidos aos demais requisitos do artigo 44 do CP.

2.7.4 Sistema de dias-multa O ordenamento brasileiro adotou o sistema de dias-multa, pelo qual se estipula o número de dias com base na gravidade do fato entre 10 e 360 dias. Depois, determina-se o valor da unidade de referência (dia-multa) entre um 1/30 (um trinta avos) até 5 vezes o salário mínimo, para, multiplicando, chegar ao valor da multa. Se a unidade de referência da multa já foi aplicada no teto (5 vezes o salário mínimo) e, ainda assim, o resultado foi pouco comparado ao poder aquisitivo do réu, é possível até triplicar o valor final.

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TEMA II - ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS 1. CONCEITO

As escusas absolutórias são causas pessoais de isenção de pena, exclusão da punibilidade, que afastam a responsabilidade penal em crimes patrimoniais (sobretudo furto, dano, expropriação e estelionato) não violentos praticados contra ascendente, descendentes e cônjuges na constância do casamento. O regramento dessas escusas absolutórias encontra-se nos artigos 181 a 183 do CP. 2. REQUISITOS E CARACTERÍSTICAS

2.1 Causas pessoais As escusas não se comunicam aos co-autores e partícipes do fato, sendo exclusivamente aplicável ao autor, que possua as características exigidas.

2.2 Aplicação em linha reta Aplica-se a escusa também para o avô e o neto, bem como para hipóteses de união estável. É posição pacificada na jurisprudência que vale para a união estável, porque a lei fala em cônjuge na constância do casamento, mas como isso é uma norma benéfica, é possível usar o instituto da analogia in bonam partem.

2.3 Vítima maior de sessenta anos Não se aplica a escusa se a vítima possui 60 (sessenta) anos ou mais e o autor responderá pelo crime normalmente. 3. AÇÃO PENAL Em regra, a ação penal é pública incondicionada. De acordo com o artigo 182 do CP, nos crimes patrimoniais não violentos, quando a vítima for cônjuge separado, irmão, legítimo ou ilegítimo, tio ou sobrinho, com quem o agente coabita, não haverá escusa absolutória, mas a ação penal deixa de ser pública incondicionada para ser pública condicionada à representação (condição de procedibilidade).

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TEMA III – TEORIA DO CRIME PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

1. CONCEITO

O princípio da insignificância não tem previsão legal, é oriundo da estrutura dogmática e das decisões jurisprudenciais, fundamentalmente as do STF. Por esse princípio, para que o fato seja típico, ele precisa gerar uma lesão significante ao bem jurídico alheio. Assim, lesões pequenas, ínfimas, insignificantes a um bem jurídico de terceiro devem ser desconsideradas, e o fato, reconhecido como atípico, por ausência de tipicidade material. Ele provém de outro princípio conhecido, chamado de princípio da lesividade ou ofensividade, pelo qual apenas há o crime se a lesão ao bem alheio for relevante. Dessa ideia de relevância da lesão, surge o princípio da insignificância. De acordo com o STF, a tipicidade penal resulta da tipicidade formal, agregada à chamada tipicidade material. A tipicidade formal é o próprio artigo de lei, o agente preenche o tipo penal na hora de agir. Tipicidade material tem a ver com a lesão do bem jurídico de terceiro (princípio da lesividade ou ofensividade). Trata-se de um princípio observado preponderantemente nos crimes patrimoniais e nos tributários. 2. CARACTERÍSTICAS

Não se aplica a insignificância para os crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa. Exemplo: artigo 157 do CP, bem como não se o aplica para o crime de tráfico de droga – artigo 33 da Lei 11.343/06. Apenas no caso do artigo 28 da mesma lei, é admitida a aplicação desse princípio. Também não se aplica a insignificância quando se tratar de falsificação de moeda ou outras falsidades no que tange ao pequeno valor falsificado – artigo 289. O STF entende que por ser crime contra a fé pública (e não um crime patrimonial), não importa o quanto será auferido de lucro patrimonial, o que interessa é que mesmo uma única moeda falsa circulando, isso já traduz uma ofensa à confiança que se tem à fé pública na moeda circulante Atenção: A falsificação grosseira da moeda, incapaz de iludir uma pessoa comum, dá origem à tese de defesa do crime impossível, nas bases do artigo 17 do CP, gerando atipicidade do fato, embora nada impeça que outros crimes realizados, a exemplo do estelionato (artigo 171 do CP), sejam imputados ao autor.

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CRIMES TRIBUTÁRIOS

1. LEGISLAÇÃO PERTINENTE

Lei 8.137/90 - Crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo. Código Penal. 2. ALGUNS CRIMES TRIBUTÁRIOS

2.1 Contrabando ou descaminho – Artigo 334, Código Penal O crime de descaminho nada mais é do que entrar no país com mercadoria lícita fraudando o recolhimento do tributo. Não se confunde com o crime de contrabando, no qual a mercadoria trazida ao país é ilícita, proibida.

2.2 Apropriação indébita previdenciária – Artigo 168-A, Código Penal Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional. 3. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

3.1 Pagamento integral do tributo

O pagamento integral do tributo devido (pela pessoa autuada por crime tributário), por expressa previsão legal é causa extinção da punibilidade. O Código Penal, em seu artigo 16, prevê a figura do arrependimento posterior, pelo qual se aplica uma causa de diminuição de pena (de 1/3 a 2/3) à pessoa que, após a consumação, repara o dano, restitui a coisa, devolve o prejuízo. No crime tributário existe um arrependimento posterior à consumação, mas que não se confunde com esse arrependimento posterior do CP. Esse arrependimento posterior lato sensu no crime tributário sai do Código Penal (porque tem previsão diferenciada para essa categoria) como causa de extinção da punibilidade. O mais importante de se entender é que o arrependimento posterior do Código Penal é causa de diminuição da pena e tem prazo (até o início do processo – recebimento da denúncia). No crime tributário, por sua vez, o arrependimento (pagamento do tributo devido), a qualquer tempo, mesmo após o trânsito em julgado condenatório, é causa de extinção da punibilidade.

3.2 Parcelamento do tributo O parcelamento do tributo devido é causa de suspensão da punibilidade do fato e só pode ser feito até o recebimento da denúncia, embora o pagamento integral possa ser realizado a qualquer tempo, tenha feito ou não o parcelamento.

3.3 Lançamento definitivo do tributo Não há crime tributário e o fato é atípico enquanto não houver o lançamento definitivo do tributo na esfera administrativa (Súmula Vinculante 24).

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Súmula vinculante 24: Tipificação. Crime Material Contra a Ordem Tributária. Lançamento do Tributo. Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo. 3. INSIGNIFICÂNCIA NO CRIME TRIBUTÁRIO

O crime tributário é a única categoria de crime em que há parâmetro objetivo adotado pelo STF para declarar a insignificância. Durante muito tempo, esse parâmetro foi de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Isso porque a Lei de Execução Tributária nº 10.522/02 diz que não se executa o tributo se ele é inferior a R$ 10.000,00, porque não vale a pena o Estado mover a máquina nesse caso, já que o custo da ação de execução tributária muito provavelmente superaria esse valor. Então, o STF adotava esse parâmetro também para o crime, porque se não vale a pena mover a máquina para cobrar o tributo, menos ainda para processar criminalmente, que é ainda mais dispendioso para o Estado. O Ministério da Fazenda e a Procuradoria passaram a entender que esse valor estava defasado, ao que defenderam que o valor deveria ser reajustado para R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Então, por meio da Portaria nº 75, reajustou-se o valor. Logo a doutrina entendeu que o parâmetro para a insignificância também subiu. O STF também já traz decisões favoráveis à adoção desse novo parâmetro.

ESTRUTURA DO CRIME Configura-se crime a conduta que em que se pode observar o fato típico, o qual se desmembra em tipicidade material e tipicidade formal, a ilicitude, dentro da qual se estuda as excludentes (CP, artigo 23), e culpabilidade, que é sinônimo de reprovabilidade, tema em que se estuda a imputabilidade, o potencial conhecimento da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa. 1. FATO TÍPICO

1.1 Tipicidade material (princípio da insignificância) O fato se torna atípico por ausência de tipicidade material. Nessa hipótese, não há um artigo para mencionar.

1.2 Tipicidade formal Trata-se da conduta descrita em lei, é o que está descrito no artigo. Para se falar em atipicidade, há que se avaliar fatores que se refiram a dolo e culpa. Qualquer questão que toque nesses fatores, é questão de tipicidade. A atipicidade é verificada quando ausentes dolo e culpa. Alguns temas importantes merecem destaque.

1.2.1 Erro de tipo (artigo 20 do CP) O erro de tipo incriminador sempre terá como consequência afastar o dolo. Pode ser que gere punição pela forma culposa ou pode haver exclusão tanto de dolo quanto de culpa e a conduta será atípico.

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1.2.2 Desistência voluntária e arrependimento eficaz (artigo 15 do CP). Pode o sujeito iniciar a execução e, durante essa execução desistir de prosseguir por sua própria escolha, ou, depois de executar todos os atos, de forma eficaz, ele mesmo impedir a consumação. Tais situações se enquadram no artigo 15 do CP. A doutrina e a jurisprudência têm posicionamentos voltados para a atipicidade do agente. O fato se torna atípico porque ele desistiu voluntariamente, de modo que não se pode falar nem consumação, nem em crime tentado, embora outros fatos que ele tenha praticado podessam ser imputados a ele. Vale dizer, se o agente for denunciado pelo cometimento de um crime tentado (artigo 14, II do CP), deve-se reproduzir na tese de defesa a desclassificação da conduta do agente para desistência voluntária ou arrependimento eficaz, gerando, assim, a atipicidade.

1.2.3 Crime impossível (artigo 17 do CP). É possível também que haja uma situação apresentada como tentativa que leva, diferentemente do caso anterior, ao requerimento de reconhecimento da atipicidade.

No artigo, devem ser observados os elementos objetivos do tipo penal e o elemento subjetivo especial (especial fim de agir). Exemplo: furto de uso. Alega-se, no furto de uso, que não há especial fim de ter o bem para si ou para outrem, o que é exigido nos elementos objetivos da tipicidade formal do artigo do furto.

2. ILICITUDE

A ilicitude é a relação de contrariedade de um fato típico em face do ordenamento jurídico. Como regra, qualquer que seja o fato típico já é contrário ao ordenamento jurídico. É a chamada teoria indiciária da ilicitude, adotada pelo ordenamento. Então, todo fato típico tende a ser ilícito, salvo as excludentes de ilicitude (artigo 23 do CP).

2.1 Estado de necessidade (artigo 24 do CP) A palavra chave para identificar o estado de necessidade é "perigo", que deve ser atual e inevitável, não criado por vontade do agente, de bem próprio ou de terceiro e inexigibilidade de sacrifício do bem. Se o bem sacrificado era exigido do agente (exemplo: vida contra patrimônio), não há exclusão da ilicitude por estado de necessidade, mas há a causa de diminuição do artigo 24, § 2º, de 1/3 a 2/3.

2.2 Legítima defesa (artigo 25 do CP) A palavra chave aqui é "agressão" (conduta humana direcionada a atingir outra pessoa). A "agressão" deve ser atual ou iminente, injusta (agressão que não foi autorizada), a bem próprio ou de terceiro e os meios devem ser moderados, ou seja, meios suficientes, necessários ou disponíveis para cessar a agressão. Os excessos estão no artigo 23, parágrafo único do CP. 1

2.3 Estrito cumprimento de dever legal É um instituto exclusivamente voltado para o funcionário público que atua no exercício da função, cumprindo o seu dever legal (amparado por lei).

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Não é apenas para a legítima defesa, mas também para as outras excludentes.1

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Advertência: Quando o policial dispara sua arma contra um meliante não atua em estrito cumprimento de dever legal e só terá a sua ilicitude e o crime afastados pela legítima defesa própria ou de terceiro, devendo haver, portanto, agressão.

2.4 Exercício regular de direito Qualquer pessoa que exerça o seu direito próprio. Exemplo: poder familiar, intervenção cirúrgica, lesões desportivas, ofendículas ou ofensáculos, como a cerca elétrica, o casco de vidro, o cachorro. 2

2.5 Consentimento do ofendido O titular do bem consente com a lesão desse bem previamente. O bem deve ser disponível. Assim, não cabe para crime contra a vida (exemplo: eutanásia). 3. CULPABILIDADE (reprovabilidade) A culpabilidade é a reprovabilidade pessoal da conduta típica e ilícita praticada. Nosso ordenamento adota a teoria normativa pura da culpabilidade (estrutura finalista), para a qual o juízo de reprovação é formado pelos elementos cumulativos e necessários da imputabilidade, da potencial consciência da ilicitude e da exigibilidade de conduta diversa.

3.1 Imputabilidade Haverá exclusão da culpabilidade quando a ocorrência da inimpubalidade, decorre de doença mental (artigo 26, CP), menoridade (artigo 27 do CP) e embriaguez acidental completa - involuntária (artigo 28, II, §§ 1º e 2º do CP). A teoria da "actio libera in causa" dispõe que em caso de embriaguez voluntária ou culposa o agente deve ser responsabilizado.

3.2 Potencial conhecimento da ilicitude Erro de proibição (artigo 21 do CP) As consequências do erro de proibição serão a diminuição da pena de 1/6 a 1/3 ou o afastamento da culpabilidade.

3.3 Exigibilidade de conduta diversa O agente deveria ter tido um comportamento diferente da conduta que teve. Ocorre em dois casos: coação moral irresistível e obediência hierárquica.

3.3.1 Coação moral irresistível (artigo 22 do CP) O agente foi coagido. Exemplo: faça determinada coisa se não matarei o seu filho.

3.3.2 Obediência hierárquica (artigo 22 do CP) O superior hierárquico, por vínculo de direito público, recebe uma ordem que acredita ser legítima/legal. Se a ordem for clara e manifestamente ilegal, não há obediência hierárquica. Assim, o superior e o subordinado responderão pela infração penal.

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Há autores que preferem enquadrar a cerca elétrica na legítima defesa, como legítima defesa previamente colocada, mas 2

isso é indiferente, porque essa seria uma legítima defesa preordenada, que também é excludente de ilicitude.

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PENA 1. QUANTO À APLICAÇÃO DA PENA 1.1 Dosimetria 1.2 Concurso de crimes (artigos 69 ao 71 do CP) 1.3 Prescrição 1.4 Escusas absolutórias (artigos 181 a 183 do CP) 2. QUANTO À EXECUÇÃO DA PENA 2.1 Regime inicial (artigos 33 e 34 do CP) 2.2 Conversão em restritiva de direitos (artigos 44 do CP) 2.3 Avaliar progressão de regime (artigo 112 da LEP) 2.4 Livramento condicional (artigo 83 e ss. do CP) 2.5 SURSIS (artigos 77 e ss. do CP)

ITER CRIMINIS 1. CONCEITO

Iter criminis são as etapas de realização do crime doloso. O indivíduo, ao realizar ou para realizar um crime doloso, passa por quatro etapas: cogitação, preparação, execução e consumação. 2. ETAPAS DO ITER CRIMINIS

2.1 Cogitação Trata-se de uma etapa psicológica, mental, em que o sujeito planeja, elabora mentalmente a realização do crime. Como se trata de uma fase que está no estrito plano psíquico, a cogitação é etapa absolutamente impunível. Isso pelo próprio princípio que baseou todo o estudo da insignificância, o da lesividade (ou ofensividade). Se lesões pequenas, ínfimas, insignificantes a um bem jurídico alheio devem ser desconsideradas, em uma situação em que o agente sequer ofende o bem jurídico alheio, menos ainda faz sentido punir. Trata-se de uma etapa na qual não se ultrapassa a esfera do próprio agente, ele sequer inicia a realização dos atos, não chega a interferir na esfera do bem alheio. Assim, é por total ausência de lesividade que a etapa de cogitação é impunível.

2.1 Preparação (ou atos proparatórios) Nos atos preparatórios, já há algo concreto, ocorre no mundo real, no mundo fático, no mundo das coisas. O agente se organiza, prepara, instrumentaliza a realização do crime. Dessa forma, embora nela também não haja ainda uma interferência na esfera do bem jurídico alheio, já é algo que se pode presenciar, visualizar ou identificar. Ainda assim, contudo, a preparação é etapa, via de regra, impunível, justamente por não afetar bem alheio.

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Há, todavia, exceção. Em alguns casos, o próprio legislador opta por tipificar, autonomamente (crime autônomo) atos que seriam atos de preparação para outros tipos de crimes. Esse é o caso da associação criminosa (antiga formação de quadrilha), prevista no artigo 288 do CP. A reunião de três ou mais pessoas com o intuito de cometer crimes é uma preparação para cometer os crimes, o que seria impunível, mas o legislador optou por criminalizar autonomamente essa conduta. Outro exemplo é o crime tipificado no artigo 291 do CP (petrechos para falsificação de moeda).

2.3 Execução (ou atos executórios Execução acontece quando o sujeito da início à realização do crime, passando a interferir na esfera do bem jurídico alheio. É nessa fase, efetivamente, que o Direito Penal começa a atuar. Surge a intervenção penal, a existência do fato. A partir da execução, o Direito Penal passa a punir o fato, inicialmente, através da tentativa (artigo 14, II e parágrafo único do CP), caso, por motivo alheio a vontade (dolo), não chegue a obter a consumação. Na tentativa, o dolo do agente é o mesmo dolo de consumar, não existe dolo de tentativa. A capitulação legal vai pelo dolo. O que se deve apurar, como tese defensiva, é se o crime se completou, para fins de diminuição da pena (de 1/3 a 2/3). A chamada tentativa branca (incruenta, não produziu resultados) é tentativa da mesma forma, mas pode gerar diminuição maior.

2.3 Consumação A consumação se dá quando o crime está completo. Cada crime se completa de uma maneira diferente. Há os que se completam quando se materializa o resultado concreto previsto na lei com essa intenção (crimes materiais), a consumação depende da materialização do resultado. Há outros casos em que há a conduta e o resultado previstos na lei, mas a conduta narrada não exige, para que tudo que foi proibido seja realizado, que o resultado surja (crimes formais). Exemplo disso é a extorsão mediante sequestro (artigo 159 do CP). A lesão não precisa ser materializada, bastando se fazer o que, formalmente, a lei proibiu. Há, ainda, crimes, em que o legislador nem se preocupa em prever o resultado (crimes de mera conduta – ou mera atividade), a exemplo do crime de desobediência (artigo 330 do CP). Para se consumar o crime, basta a efetivação de toda a conduta. Assim, tanto o crime formal quanto o de mera conduta se consumam da mesma forma, bastando a efetivação da conduta toda. A diferença é que no formal há o resultado previsto (que pode ou não acontecer) e no de mera conduta não. No crime formal, se o resultado acontecer, isso é chamado de exaurimento, porque o crime se esgotou e não tem nada mais para acontecer. 3. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA (CP, ARTIGO 15)

A desistência voluntária é um instituto que foi criado com um viés de política criminal. Por ele, se pretende permitir ao sujeito desistir de prosseguir na realização do crime. O sujeito dá início à realização do crime, planejando alcançar um resultado, manifestando seu dolo ou sua intenção, mas, durante a realização desse ato (em processo de execução, em prosseguimento dos atos executórios) desiste, voluntariamente, de prosseguir nessa realização que está em curso.

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Frise-se que esse "voluntariamente" não quer dizer que precisa ser expontâneo, apenas significa que foi escolha dele, mesmo que isso tenha sido influenciado por alguém. Quando isso ocorre, o crime não se consuma, de modo que não responde pelo crime consumado. O resultado não se produziu. Não se confunde, também, com tentativa, porque nesta a não consumação ocorre por circunstâncias alheias à vontade do sujeito. Assim, não sendo consumado nem tentado, o crime é atípico. Nada impede que ele responda por outros crimes, mas por aquele que desistiu de prosseguir, cabe à defesa alegar atipicidade do fato. 3

Para diferençar, no caso concreto, tentativa de desistência voluntária, utiliza-se a fórmula de Frank: se posso prosseguir e não quero, haverá desistência, mas se quero prosseguir e não posso, tentativa. 4. ARREPENDIMENTO EFICAZ (CP, ARTIGO 15)

A característica base de um arrependimento eficaz é o fim dos atos executórios. O autor já deve ter realizado todos os atos que tinha para realizar. Eficaz aponta para a ideia de que o arrependimento deva levar ao impedimento da consumação, do resultado pretendido. E isso não ocorre por motivo alheio, mas porque ele mesmo quis. A diferença para a desistência é que nesta ele já executou e no arrependimento já foram executados todos os atos. Em ambas, contudo, há a mesma consequência, de atipicidade da conduta. Ocorre arrependimento eficaz, portanto, quando os atos executórios estão completos não havendo mais nada a realizar e o agente, por sua própria escolha, atua eficazmente e consegue impedir a consumação, a produção do resultado. Não há consumação, afasta-se a tentativa e o fato iniciado torna-se atípico.

Eu desisto daquilo que estou fazendo e me arrependo somente do que eu já fiz. 5. ARREPENDIMENTO POSTERIOR (CP, ARTIGO 16) O instituto do arrependimento posterior é totalmente produto de dedução lógica. O arrependimento posterior ocorre depois que o dano já foi produzido, depois da consumação. Assim, ele se concretiza com a reparação desse dano causado (restituição do prejuízo, devolução da coisa). Diante disso, já se percebe que não é possível se falar em atipicidade de conduta, mas há como falar em diminuição da pena. Há, crimes, contudo, nos quais não há como se falar em reparação do prejuízo. São os crimes com violência ou grave ameaça à pessoa. Nesses casos, portanto, não cabe arrependimento posterior. Geralmente, o arrependimento posterior aparece em casos de crimes patrimoniais não violentos, como furto (artigo 155), dano (artigo 163), apropriação indébita (artigo 168), estelionato (artigo 171). Vale lembrar, ainda, que nos crimes tributários, a reparação não é arrependimento posterior, é causa de extinção da punibilidade. Remarca-se também que só cabe até o recebimento da denúncia. Depois desse prazo, é até possível se falar em atenunate (artigo 65 do CP), mas não se fala em arrependimento posterior do artigo 16.

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A doutrina chega a dizer que a desistência voluntária é a ponte de ouro do Direito Penal.3

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6. CRIME IMPOSSÍVEL (CP, ARTIGO 17) O crime impossível é aquele absolutamente impossível de se consumar, embora seja um crime pretendido pelo sujeito. O dolo é perfeito, a conduta é perfeita, mas o sujeito não sabe que é impossível a concretização. É uma tentativa no aspecto fático, mas uma "tentativa" ineficaz, "tentativa" imprópria ou "tentativa" inidônea. O fato que é impossível de se consumar será considerado atípico. No entanto, nada impede que outros crimes ocorridos sejam imputados ao agente. A tentativa será inidônea e o fato atípico pela ineficácia absoluta do meio ou, ainda, pela impropriedade absoluta do objeto a ser atingido pela conduta (exemplo: homicídio contra alguém já morto). Se o meio for relativamente ineficaz para gerar o resultado ou o objeto relativamente impróprio de sofrer o resultado, não haverá crime impossível, mas tentativa e tentativa punível (artigo 14 do CP). Exemplo clássico é a tentativa de furto em estabelecimento com câmera de segurança. De acordo com a Súmula 145 do STF, o flagrante preparado, também chamado de delito de ensaio (ou de delito de ensaio por obra do agente provocador), que ocorre na situação em que a autoridade policial monta uma situação para levar o sujeito a cometer o crime e prendê-lo, configura crime impossível (artigo 17 do CP) e a conduta é reconhecida como atípica. O flagrante esperado, por sua vez, é válido, porque ninguém montou nada, apenas há uma espera da conduta que se imagina que pode acontecer. Às vezes, um policial se disfarça de usuário para comprar droga, o que poderia parecer uma espécie de flagrante preparado. Mas no tráfico é diferente, porque além da venda, há várias outras condutas previstas no artigo 33 da Lei de Tóxicos. Ou seja, o crime de tráfico é permanente em muitos verbos, porque já se consumou e fica em estado de consumação enquanto o sujeito porta para a venda, transporta, entre outros casos. Assim, ele prende não pela venda, mas por outros núcleos que estão se consumando.

TEORIA DO ERRO 1. ERROS ESSENCIAIS

Os erros essenciais são aqueles que tocam nos elementos essenciais do conceito de crime. Fala-se do fato típico, do fato ilícito e da culpabilidade. Cada um desses elementos terá um erro referente a eles. O erro de tipo incriminador toca em elementos do fato típico, o erro de tipo permissivo toca nas excludentes de ilicitude e o erro de proibição, em culpabilidade.

1.1 Erro de tipo incriminador (CP, artigo 20) No erro de tipo incriminador, o agente efetivamente pratica o crime narrado, mas sem perceber ou saber o que estava fazendo (exemplo: achando que atirava em um animal, acerta uma pessoa). Ele erra em relação aos elementos que compõem o tipo penal. Assim, erro de tipo incriminador ocorre quando um agente comete um crime, errando a respeito da situação fática que realiza, ou seja, errando em relação aos elementos que compõem tipo penal ("acha que está fazendo algo diferente do crime realizado").

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O erro de tipo sempre afasta o dolo, podendo afastar também a culpa e tornar o fato atípico (erro inevitável). Pode, ainda, afastar o dolo e punir a forma culposa do crime, obviamente um erro que seja produto de uma falta de cuidado, ou de uma desatenção, é o erro evitável.

1.2 Erro de proibição (CP, artigo 21) O erro de proibição ocorre quando o agente comete um crime, mas, em erro a respeito do caráter proibido, ilícito (contrário ao ordenamento) do seu ato ("acha que pode fazer aquilo que realiza"). Conhecer ou não a ilicitude do ato faz parte da análise da culpabilidade. Assim, o erro de proibição, ou afasta a culpabilidade e, logo, isenta o agente de pena, excluindo o crime (erro inevitável), ou, ainda, em caso de erro evitável, reduz-se o juízo de reprovação e a pena (de 1/6 a 2/3).

1.3 Erro de tipo permissivo (CP, artigo 20, § 1º) Tipo permissivo é um artigo no Código que permite e autoriza o sujeito a atuar. Via de regra, são as excludentes de ilicitude. No caso da legítima defesa, há a chamada legítima defesa putativa, que é aquela virtual, que apenas existe na mente do sujeito. Ele erra porque acredita estar sendo agredido. Sendo erro de tipo, pouco importa o dolo, o sujeito já não responde, devendo ser afastado. Mas pode o erro ser evitável e não será possível afastar a culpa. No erro de tipo permissivo, portanto, o agente erra a respeito da situação fática e acredita estar agindo em situação de exclusão da ilicitude, erra a respeito de elementos fáticos presentes em uma excludente de ilicitude (exemplo: erra sobre uma agressão pensando estar em legítima defesa – legítima defesa putativa). Consequências: Afasta a responsabilidade por dolo e culpa, isentando de pena, excluindo o crime (erro inevitável). Ou afasta o dolo e pune a forma culposa do crime (erro evitável), é o produto do descuido, da falta de cuidado ou de atenção. 2. ERROS ACIDENTAIS

O erro acidental é aquele que foi produto de um acidente no momento de realizar o crime. Alguma coisa não saiu como queria o autor. Aqui, não se fala em confusão sobre elementos que compõem o crime, mas é o sujeito que atua e, por conta de uma falha, produz resultado diferente do que queria. Pode atingir vítima diversa da pretendida ou lesionar bem jurídico diverso do desejado.

2.1 Erro sobre a pessoa – CP, artigo 20, § 3º No erro sobre a pessoa, o agente se confunde a respeito da identidade da vítima. Trata-se de um erro de valoração a respeito da identidade dessa vítima ("erro do irmão gêmeo"). Nesse caso, ignora-se as características da vítima que foi efetivamente lesionada, imputando-se o crime como se tivesse atingido quem pretendia.

2.2 Erro de execução (ou aberratio ictus) – CP, artigo 73 O erro de execução é erro fático, a respeito da situação concreta e não um erro de valoração. O agente erra o alvo e atinge pessoa diversa da pretendida. É o famoso "erro da bala perdida".

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Da mesma forma que no erro sobre a pessoa, ignora-se a vítima lesionada, imputando-se o crime como se tivesse atingido a pessoa pretendia, o alvo visado. Havendo dois ou mais resultados (sendo um deles contra a vítima pretendida), trabalha-se, normalmente, com o concurso formal perfeito (CP, artigo 70, primeira parte).

2.3 Aberratio criminis – CP, artigo 74 Trata-se de uma aberração quanto ao crime. Erra o alvo também, mas ao invés de ser com relação a pessoa, é mais contra os objetos que serão atingidos. Trata-se do erro quanto ao bem jurídico atingido, em que o agente quer lesionar uma coisa (patrimônio – dano, artigo 163), mas acaba atingindo uma pessoa (lesão corporal ou homicídio por culpa – artigos 120 e 129) – "erro da pedrada". Afasta-se a tentativa do crime doloso realizado (dano), imputando-se somente o crime culposo gerado na pessoa (homicídio ou lesão corporal). Havendo os dois resultados com a prática de uma só conduta, há concurso de crimes (concurso formal), porque não é efetivamente um erro, embora alguns autores falem em aberratio criminis com pluralidade de resultados, resultando, na prática, também em concurso. Se ocorrer o contrário (intenção de atingir pessoa, mas atinge patrimônio), não há como seguir o mesmo raciocínio, porque não há crime de dano na forma culposa. O dano contra o patrimônio é um indiferente penal, importando apenas a tentativa da lesão corporal dolosa ou do homicídio culposo.

CONCURSO DE CRIMES

1. CONCEITO O Concurso de crimes ocorre quando determinado sujeito realiza dois ou mais crimes por meio de uma só conduta ou de várias condutas, determinando, assim, a forma de aplicação de pena no caso concreto. 2. ESPÉCIES

2.1 Concurso material (artigo 69 do CP) O concurso material ocorre quando o sujeito realiza vários crimes, idênticos ou não, por meio de condutas independentes, ou seja, por meio de vários assuntos. Nesse caso, deve-se somar as penas aplicadas a cada um dos crimes. No nosso ordenamento, o limite máximo de cumprimento de pena é 30 anos, conforme disciplina o artigo 75 do CP e se a pena definitiva ultrapassar esse limite, ela será reduzida até o patamar de 30 anos. Ocorre que para efeito de progressão de regime e de livramento condicional, a pena considerada será o total das penas somadas, ainda que for ultrapassado o limite máximo de 30, conforme súmula 715 do STF.

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2.2 Concurso formal

2.2.1 Perfeito (CP, artigo 70, 1ª parte) Ocorre quando, por meio de uma só conduta (ação ou omissão), são produzidos dois ou mais resultados e o agente atua com unidade de desígnio (dolo ou culpa). Aplica-se a mais grave das penas ou, se iguais, de um só crime, aumentada de 1/6 até a metade, salvo se o aumento de pena de 1/6 gerar uma pena maior que o equivalente à soma das penas apresentadas na questão. Nesse caso, afasta-se o concurso formal, aplicando-se a regra do concurso material benéfico (artigo 70, parágrafo único do CP), somando-se as penas.

2.2.2 Imperfeito (CP, artigo 70, 2ª parte) Ocorre o concurso formal imperfeito quando, por meio de uma só conduta, o agente pratica vários crimes, possuindo dolos independentes, desígnios autônomos, e quer cada um dos resultados. Aplica-se a pena da mesma forma que no concurso material, ou seja, somadas. Exemplo: bomba no avião.

2.3 Crime continuado (artigo 71 do CP) O crime continuado é uma ficção jurídica, criada para evitar a aplicação do concurso material e sua regra (soma das penas) para se considerar os vários crimes como um só realizado em continuidade, para que se aplique a pena de um só crime aumentada (sistema de exasperação).

2.3.1 Requisitos

• Crimes de mesma espécie (mesmo artigo, conforme entendimento do STF);

• Circunstâncias de tempo, lugar e modo de execução semelhantes (exemplo: chacina, arrastão, crime do maníaco do parque em SP);

• Aplicação da pena: de um só crime (o mais grave), aumentada de 1/6 a 2/3;

• Afastar o concurso material e a soma.

2.3.2 Crime continuado específico (artigo 71, parágrafo único do CP) O crime continuado específico foi criado para crimes mais graves, que são praticados com violência ou grave ameaça a pessoa (em todas as condutas) e onde haja pluralidade de vítimas. Preenchidos tais requisitos, o aumento de pena pode ir de 1/6 até o triplo.

Observação 1: A súmula 605 do STF perdeu aplicação. Observação 2: O limite máximo de tempo entre as condutas será de 30 dias. Passando desse período de intervalo, afasta-se o crime continuado, aplicando-se o concurso material. Observação 3: De acordo com a súmula 711 do STF, havendo uma lei nova mais severa durante a permanência em crime permanente (artigo 288 e 148 do CP) ou durante a continuidade delitiva, essa lei nova se aplica em conjunto. Observação 4: O valor da pena aumentada no crime continuado e no concurso formal perfeito jamais poderá ultrapassar o equivalente à soma das penas (artigo 70, parágrafo único do CP – concurso material benéfico).

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CONCURSO DE PESSOAS 1. CONCEITO O CP adotou a teoria monista, pela qual todos que concorrem para o crime como coautores ou partícipes, através de concurso de pessoas, e por isso ligados por um liame subjetivo (acordo de vontades), respondem pelo mesmo crime, mas na medida de sua culpabilidade com as penas individualizadas. Observação: o crime de aborto pode ser considerado uma exceção em que dois coautores respondem cada um por um crime diferente. Ela responde pelo artigo 124 e aquele que praticou com o consentimento da gestante, pelo artigo 126, ambos do CP. 2. AUTORIA Nosso ordenamento adota, majoritariamente, a teoria do domínio do fato, pela qual o autor será aquele que possui o controle (as rédeas) da situação, o domínio sobre o final dos fatos, independentemente de realizar o verbo (núcleo) do tipo ou não. Analisemos as espécies de autoria.

2.1 Autor-direto / Autor-executor O autor-executor é o que pratica o verbo e tem o domínio do fato.

2.2. Autor intelectual / Autor direto O autor intelectual é aquele que planeja, elabora e controla a situação sem realizar o verbo que será praticado por um autor-executor que também tem o domínio do fato.

2.3 Autoria mediata ou indireta A autoria mediata ocorre quando determinado sujeito, com domínio do fato, leva outrem a praticar a conduta criminosa sem domínio do fato. Responde pelo crime somente esse autor "por detrás", enquanto quem praticou a ação não é autor e não responde por nada. Exemplos: coação moral irresistível e obediência hierárquica (deve ter vínculo de direito público), erro determinado por terceiro (artigo 20, § 2º do CP) e uso de inimputável.

2.4 Autoria colateral Quando dois sujeitos, um sem saber do outro e sem acordo de vontades, atuam, ao mesmo tempo, realizando o mesmo crime contra a mesma vítima. Nesse caso, aquele que obtiver o resultado responde pelo crime consumado e o outro, apenas pela tentativa. Observação: Se, na autoria colateral, sem acordo de vontades, não for possível identificar quem gerou o resultado, ambos respondem pela tentativa (in dúbio pro reo e presunção de inocência). 3. COAUTORIA A coautoria é apenas uma autoria em conjunto, em que dois ou mais agentes, mediante um acordo de vontades, todos com domínio do fato, concorrem para a prática de um crime. Pode ocorrer de duas

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formas: todos realizando juntos a conduta típica ou através da divisão de tarefas quando cada um dos coautores desempenha uma função essencial para a empreitada. 4. PARTICIPAÇÃO A participação é a colaboração dolosa no fato alheio sem o domínio do fato e, portanto, de forma acessória. Nosso ordenamento adotou a teoria da acessoriedade limitada, pela qual, para se responsabilizar um partícipe, a conduta principal do autor deve ser típica e ilícita. Logo, havendo exclusão da ilicitude do autor, afasta-se também a responsabilidade penal do partícipe.

4.1 Espécies As formas de ocorrer a participação são melhor compreendidas quando divididas em dois grandes grupos. Não se trata de uma divisão da lei, mas doutrinária.

4.1.1 Participação moral A participação moral ocorre pelo induzimento (criar a idéia na cabeça do sujeito), pela instigação (aumentar uma vontade que já existe) ou pelo auxílio (dar uma dica, um conselho).

4.1.2 Participação material A participação material ocorre pelo auxílio concreto ou material, que é visualizado por uma atitude concreta (emprestar uma arma, por exemplo).

4.2 Participação de menor importância (artigo 19, § 1º do CP) A participação de menor importância é causa de diminuição de pena. É uma diminuição exclusiva para o caso de participação em sentido estrito (não cabe para coautoria).

4.3 Cooperação dolosamente distitna (artigo 29, § 2º do CP) Ocorre a cooperação dolosamente distinta quando o coautor ou o partícipe quer colaborar para um crime, mas o autor-executor acaba praticando outro mais grave. Nesse caso, o autor responde pelo que fez e o participante responde somente pelo crime pelo qual quis colaborar. Caso o resultado mais grave fosse previsível, a pena do crime para o qual quis colaborar será aumentada até a metade.

Observação: Admite-se coautoria e participação em crimes omissivos, e também coautoria em crime culposo. Não se aceita participação em crime culposo porque todos que concorrem com falta de cuidado para um resultado serão considerados autores, já que na participação a pessoa quer colaborar para o crime.

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PRESCRIÇÃO 1. CONCEITO A prescrição é causa de extinção da punibilidade, prevista no artigo 107 do CP, em face do decurso de certo período de tempo, devido à inércia do Estado em promover a ação penal, em dar andamento à ação penal ou, ainda, em executar a pena. Assim, é possível afastar o direito de punir (ius puniendi) pela extinção da punibilidade, isentando o réu de pena. 2. ESPÉCIES 2.1 Prescrição da pretensão punitiva Trata-se da prescrição da ação penal, começando a correr na data da consumação do crime ou do último ato executório no caso de uma tentativa. E, prosseguindo, até o trânsito em julgado da sentença condenatória, passando por etapas em que o prazo prescricional poderá ser interrompido ou suspenso.

2.2 Prescrição da pretensão executória Trata-se da prescrição da pena definitiva aplicada, sendo seu prazo contado a partir do trânsito em julgado da sentença.

- FORMA DE CONTAGEM O prazo prescricional será apurado com base na tabela do artigo 109 do CP considerando-se como base a pena máxima abstrata prevista para o crime ou, havendo sentença e pena concreta, essa pena aplicada é que servirá de base para o prazo prescricional.

Observação 1: De acordo com o artigo 115 do CP reduz-se os prazo prescricionais pela metade se o autor é menor de 21 anos na data do fato ou maior de 70 anos na data da sentença.

Quanto aos prazos prescricionais, pode ocorrer causas interruptivas da prescrição em que a contagem do prazo é interrompida voltando-se ao ponto de partida, recomeçando a contagem do prazo do zero, sendo que isso ocorre a cada movimento do Estado no processo (artigo 117 do CP).

Observação 2: Causas suspensivas da prescrição são fatores que impedem o andamento da ação penal e que por isso suspendem a contagem do prazo até que sejam resolvidos, sendo que após a causa suspensiva a contagem é reiniciada do ponto onde parou (artigo 116 do CP).

De acordo com o artigo 111 do CP, nos crimes permanentes a contagem do prazo prescricional só começa a contar a partir do término da permanência e, ainda, em crimes sexuais praticados contra menores de 18 anos, o prazo começa a correr a partir da data em que a vítima completa 18 anos.

Na prescrição da pretensão executória, uma vez iniciado o cumprimento de pena, caso o condenado fuja, recomeça a contagem do prazo prescricional, mas, levando em conta o restante de tempo da pena a cumprir, com base na tabela do artigo 109 do CP. É o que está disciplinado no artigo 113 do CP.

Observação 3: Pena de multa: A pena de multa prescreve em 2 anos ou havendo pena privativa de liberdade, prescreve junto com esta pena (artigo 114 do CP)

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2.3 Prescrição intercorrente ou superveniente (artigo 110, § 1º do CP) Após a sentença condenatória de 1ª instância começa a correr um prazo até o trânsito em julgado ou até o acórdão de 2ª instância para a prescrição da pretensão punitiva, sendo que esse prazo será calculado de acordo com a pena concreta da sentença de 1ª instância, com base na tabela do artigo 109 do CP.

2.4 Prescrição retroativa (artigo 110, § 1º do CP) Depois de transitada em julgado a sentença condenatória, e com base na tabela do artigo 109, entre as causas de interrupção do processo, ou seja, do trânsito em julgado até o acórdão ou – se não houver–, até a sentença de 1ª instância, dessa sentença de 1ª instância até o recebimento da denúncia, deve-se refazer a contagem para avaliar se, com base nesse novo prazo prescricional que teve como base a pena definitiva, houve prescrição. Não se faz contagem de prescrição retroativa da etapa pré-processual, não se conta o período do recebimento da denúncia até a data da consumação.

3.5 Prescrição pela pena abstrata ou ideal ou prescrição virtual A prescrição virtual ou pela pena ideal não é mais aceita pelo STF, pelo STJ e pela lei, já que na contagem da prescrição retroativa não se leva mais em conta o primeiro lapso interruptivo (do recebimento da denúncia até a data do fato). Logo, não se pode, ao início do processo, considerar o fato já prescrito devido ao tempo passado da data do fato ao recebimento da denúncia, projetando, para isso, a pena final definitiva que poderá ser aplicada, já que esse período inicial não é levado em conta na prescrição retroativa, com base na pena concreta definitiva.

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TEMA IV – CRIMES EM ESPÉCIE CRIMES CONTRA A HONRA

1. CONCEITO

Há duas espécies de honra. A objetiva é a que atinge a imagem pública e a reputação social da vítima, é algo concreto. É atingida em dois crimes contra a honra: calúnia e difamação. A subjetiva reside no fato de que a expressão "subjetivo", em Direito Penal, tem sempre a ver com o sujeito, a ele como pessoa, a seu sentimento pessoal, orgulho, decoro, dignidade. Essa honra é afetada no crime de injúria. 2. CALÚNIA (ARTIGO 138 DO CP) – Sinônimo de mentira sobre a prática do crime O crime de calúnia ocorre quando se atribui falsamente a alguém algum crime, de modo que se o fato atribuído não for crime, não será calúnia. Além disso, somente se configura quando uma terceira pessoa sabe do fato, só se consuma com a publicidade. Admite-se a tentativa, sobretudo na forma escrita. A prova da verdade do fato narrado (exceção da verdade) gera atipicidade, afasta-se a calúnia. Há algumas situações, contudo, em que não cabe a prova da verdade, são os previstos no § 3º do artigo. 3. DIFAMAÇÃO (ARTIGO 139 DO CP) – Sinônimo de fofoca A difamação ocorre quando se atribui fatos desonrosos a alguém. Assim, pressupõe publicidade para se consumar. Cabe tentativa também na forma escrita. Diferente da calúnia, contudo, não importa se os fatos atribuídos são verdadeiros ou falsos, logo não se admite exceção da verdade, salvo uma única hipótese, que é quando a vítima é funcionário público e a difamação se refere ao exercício funcional, como dispõe o parágrafo único do artigo). 4. INJÚRIA (ARTIGO 140 DO CP) – Sinônimo de xingamento A injúria é o único crime contra a honra que não pressupõe publicidade. Embora raro, é possível a tentativa também na forma escrita. Não cabe prova da verdade. Mas ela pode deixar de ser aplicada nos casos do § 1º do artigo 140.

4.1 Injúria real (CP, artigo 140, § 2º) A injúria real é aquela que se caracteriza por atos concretos de violência ou vias de fato. Os danos decorrentes dessa violência também podem ser imputados em concurso com a injúria.

4.2 Injúria preconceituosa (CP, artigo 140, § 3º) A injúria preconceituosa ofende, não apenas etnia como também origem, religião, condição de idoso ou deficiente, cujo rol é taxativo. Não sendo uma dessas hipóteses (homossexual, v.g.), injúria comum. Não se confunde injúria preconceituosa com crime de racismo. Neste, o que ocorre é a segregação e não apenas o xingamento com motivação racial. 5. AÇÃO PENAL Via de regra, a ação penal é a privada. O artigo 145 do CP, contudo, traz algumas exceções.

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TEMA V – LEGISLAÇÃO ESPECIAL INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA – LEI 9.296/96

1. PREVISÃO NORMATIVA Trata-se de uma matéria completamente excepcional, ou seja, a regra, no Brasil, é que a pessoa tem o direito ao sigilo das comunicações telefônicas, telemáticas. É um direito constitucionalmente garantido, conforme dispõe o artigo 5º, XII da CF. A Lei 9.296/96, portanto, vem regulamentar esse dispositivo constitucional. 2. FINALIDADE DA LEI 9.296/96 A finalidade da lei é obter a prova para a investigação criminal ou para a instrução criminal. Essa finalidade está prevista no artigo 1º da Lei 9.296/96. 3. REQUERIMENTO A decretação da interceptação telefônica só poderá ser determinada, apenas e tão somente, por autoridade judiciária, pelo juiz. Ela poderá ocorrer de ofício ou a requerimento da autoridade policial (apenas e tão somente durante a investigação). Pode, ainda, ocorrer mediante requerimento do Ministério Público durante a investigação ou durante a instrução processual penal (artigo 3º da Lei 9.296/96). Nesse requerimento da autoridade policial ou do Ministério Público, exige-se determinado conteúdo. Primeiro, deve demonstrar que a realização da interceptação é necessária. Ademais, deve demonstrar que tem a necessidade de uma interceptação telefônica para apurar a infração penal. Deve, também, indicar os meios que serão empregados para a realização da interceptação. Observação: Excepcionalmente, o requerimento verbal para decretar a interceptação pdoerá ser formulado oralmente e reduzido a termo (artigo 4º da Lei 9.296/96). O juiz deve decidir sobre esse requerimento no prazo de 24 horas. Essa decisão, por conta de um princípio constitucional, deve ser devidamente fundamentada, sob pena de nulidade. Deve, ainda, indicar a forma de execução da diligência (artigo 5º da Lei 9.296/96). 4. PRAZO Caso seja decretada ou deferida a interceptação telefônica pelo juiz, ela terá prazo de duração de 15 dias, que pode ser renovado por igual período. A jurisprudência, inclusive do STF, admite, analisando o caso concreto, que seja possível prorrogar por mais de uma vez. Mas a prorrogação somente poderá haver quando ficar demonstrada que ela é indispensável. 5. VEDAÇÃO O artigo 2º da Lei 9.296/96 traz hipóteses em que descabe a interceptação telefônica.

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1. Não cabe interceptação telefônica se não houver indícios razoáveis de autoria ou de participação em infração penal.

2. Além disso, não cabe também em crime de detenção, somente em crime de reclusão. 3. Ou, ainda, descabe quando se pode fazer a prova por outros meios. 6. CRIME DO ARTIGO 10 A realização de interceptação telefônica no Brasil sem autorização judicial ou com autorização judicial, mas fora dos casos previstos em lei configura crime, tipificado no artigo 10 da Lei 9.296/96.

LEI DE DROGAS – LEI 11.343/06 1. OBJETO JURÍDICO DA LEI A Lei procura, como um todo, proteger aquilo que chamamos de saúde pública, que é um bem supraindividual, um bem coletivo. A saúde pública é também o somatório de todas as saúdes. 2. SUJEITOS

2.1 Sujeito ativo Em regra, os crimes previstos na Lei, no que diz respeito ao sujeito ativo, ele pode ser qualquer pessoa, não há exigência de qualidade especial daquele que pratica. Assim, aos olhos daquele que pratica é o chamado crime comum. Exceção: artigo 38 da Lei traz um crime culposo, que exige qualidade especial de quem pratica o crime, exige que aquele que pratica o crime seja uma pessoa que prescreva ou que ministre determinada substância, sendo essa pessoa médico, dentista, farmacêutico, profissional de enfermagem.

2.2 Sujeito passivo O sujeito passivo é a vítima, que, em regra, é a coletividade, uma vez que a saúde pública é um bem coletivo, supraindividual. 3. NORMA PENAL EM BRANCO Essa lei, em regra, é uma norma penal em branco, porque o rol de substâncias entorpecentes ou psicotrópicas não é previsto pela própria lei, mas é lançado pela ANVISA. Ou seja, para que haja tipicidade dos crimes dessa lei, há necessidade de norma complementar, é a chamada norma de cominação cega. 4. CRIME DE USO – ARTIGO 28 O crime do artigo 28 da Lei 11.343/06 tipifica o chamado "porte ilegal de drogas", pelo qual quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido a determinadas penas. Entende-se que o artigo 28, portanto, é crime, mas ele não possui pena privativa de liberdade, ao que STF entendeu que houve uma despenalização e não uma descriminalização. Apenas são

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aplicadas penas mais brandas (advertência; prestação de serviços à comunidade; ou medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo). A partir disso, é possível, em defesa do acusado, utilizar como tese de desclassificação.

4.1 Critérios para se determinar uso pessoal e não tráfico (§ 2º, artigo 28 da Lei de Drogas)

• Natureza e quantidade da substância;

• Local e condições em que se desenvolveu a ação criminosa;

• Circunstâncias sociais e pessoais do agente;

• Conduta do indivíduo e os antecedentes.

4.2 Prescrição O prazo de prescrição é de 2 anos, definido pela própria lei de drogas no artigo 30.

4.3 Flagrante O indivíduo flagrado com droga para uso pessoal não permanece preso em flagrante. Ele é levado à delegacia, onde será lavrado um termo circunstanciado e ele é liberado. 5. CRIME DE TRÁFICO – ARTIGO 33 O crime de tráfico de drogas é crime de perigo abstrato, equiparado a hediondo apenas no caput e no seu § 1º. Assim, os §§ 2º e 3º não são equiparados a hediondo.

5.1 Comparativo entre os artigos 28 e 33 Há 5 condutas previstas no artigo 33 que também estão no artigo 28: adquirir, guardar, ter em depósito, transportar e trazer consigo. Observar o § 2º do artigo 28 do CP.

5.2 Sujeitos O sujeito ativo do crime de tráfico de drogas pode ser qualquer pessoa, e o sujeito passivo (vítima) é a sociedade, a coletividade.

5.3 Lei 9.099/95 O § 2º do artigo 33 traz a figura daquele que induz, instiga ou auxilia alguém ao uso indevido de droga. Isso é uma figura branda de tráfico e não é equiparado a hediondo, com pena de detenção de 1 a 3 anos. Havendo pena mínima de 1 ano, é aplicado o instituto da suspensão condicional do processo do artigo 89 da Lei 9.099/95. Além disso, o § 3º prevê que oferecer droga, eventualmente, sem a obtenção ou o objetivo de lucro, para pessoa do relacionamento, querendo o consumo em conjunto, é uma espécie de tráfico em que a pena é de detenção de 6 meses a 1 ano e multa. Trata-se de uma infração de menor potencial ofensivo, também com possibilidade de aplicação da Lei 9.099/95

5.4 Causa de diminuição de pena O § 4º do artigo 33 é uma minorante, prevendo a diminuição de 1/6 a 2/3. Trata-se de uma causa de diminuição de pena aplicada apenas à figura do caput e à figura do § 1º do artigo 33 da Lei.

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Atenção: aplica-se o § 4º para o traficante que é primário, de bons antecedentes e que não se dedica a atividades criminosas e que não integra uma organização criminosa.

5.5 Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito A lei veda a substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos. O STF e o STJ, por suas vezes, admitem-na, porque refutam artigos que fazem vedação geral, considerando-os inconstitucionais. Inclusive, ambos já enfrentaram o artigo 44 da Lei de Drogas e entenderam que não pode prosperar, devendo ser analisado o caso em concreto. Além do artigo 33, caput e do 33, § 1º, são equiparados a hediondos os artigos 34 a 37. E mesmo em relação a esses dispositivos, o STF e o STJ admitem a possibilidade de liberdade provisória, regime aberto e substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

5.6 Isenção de pena (artigo 45 da Lei de Drogas) Agente que, em razão de dependência, ou sob efeito proveninente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da conduta, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato, fica isento de pena.

LEI DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ("MARIA DA PENHA") – LEI 11.340/06 1. OBJETIVO JURÍDICO DA LEI O objetivo jurídico da lei é coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, mas isso apenas e tão somente regulamentando (ou potencializando) aquilo que a Constituição Federal já previa no § 8º do artigo 226. 2. SUJEITOS Trata-se de uma lei que tem a chamada vítima própria, determinada. Somente é aplicada para proteger a mulher e no ambiente doméstico, familiar e de intimidade. Assim, o sujeito passivo (vítima) é próprio. O sujeito ativo, por sua vez, não necessariamente precisa ser homem. Essa lei pode ser aplicada contra homem e contra mulher, inclusive em relações homoafetivas entre mulheres. Observação: Mulher é a vítima independentemente da sua orientação sexual, o que vem regido no artigo 5º da Lei. 3. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

3.1 Conceito Violência doméstica e familiar pode ser qualquer ação ou omissão que possa resultar morte, lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico, dano moral e material (artigo 5º, caput, Lei 11.343/06).

3.1 Unidade doméstica A unidade doméstica é o local de convívio permanente de pessoas com ou sem vínculo familair, inclusive os esporadicamente agregados (patrão ou patroa e empregada doméstica – artigo 5º, I).

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3.2. Ambiente familiar No âmbito da família, incluem-se pessoas que são ou que se consideram parentes (laços naturais ou biológicos, afinidade ou vontade expressa – adoção) – artigo 5º, III: "qualquer relação íntima de afeto". Isso fez a jurisprudência reconhecer a Lei até em relacionamentos de namorados e ex-namorados. 4. CARACTERÍSTICA DA LEI

4.1 Em termos materiais A Lei Maria da Penha não é exemplo de novatio legis incriminadora. Apenas criou, em termos penais, uma agravante genérica do artigo 61, II, alínea "f" do CP. Essa lei aumentou a pena do § 9º do artigo 129 (qualificadora já existente que foi aumentada). Criou uma causa de aumento de pena no artigo 129 do CP, criando o § 11 desse artigo.

4.2 Em termos processuais No que diz respeito à fase de flagrante em crime praticado em violência doméstica e familiar contra a mulher, vale uma observação. Via de regra, aquele que comete infração penal de menor potencial ofensivo, ainda que esteja em condição de flagrante, não é preso em flagrante, desde que se comprometa a comparecer em juízo quando chamado. Se essa infração penal de menor potencial ofensivo é praticada em violência doméstica e familiar contra a mulher, contudo, pelo que dispõe o artigo 41, não se aplica a Lei 9.099/95, o que significa que o indivíduo será preso em flagrante.

No que diz respeito à fase de ação penal, há também apontamentos: A ação penal no crime de lesão corporal de natureza leve (artigo 129, caput do CP), por conta da Lei 9.099/95, foi transformada em ação penal pública condicionada à representação da vítima. Como o artigo 41 da Lei Maria da Penha determinou que não se aplica a Lei 9.099/95 nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, o crime de lesão corporal leve passa a ser de ação penal pública incondicionada, assim decidido pelo STF. No que diz respeito à retratação, permite-se à mulher retratar-se da representação oferecida, mas isso somente pode acontecer em juízo, por meio de audiência específica, devendo o Ministério Público ser ouvido (artigo 16 da Lei 11.340/06).

Na fase procedimental, há mais apontamentos. A Lei Maria da Penha determinou a criação dos Juizados Especiais de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher (vara especializada). No entanto, esse juizado tem a chamada competência cumulativa, de modo que o juiz tem competência cível e criminal no mesmo processo (artigo 14 da Lei 11.340/06). Além disso, esses Juizados Especiais não possuem um rito específico, vai depender do crime, embora nunca seja o procedimento sumaríssimo, já que não se aplica a Lei 9.099/95. Se o crime tem pena máxima inferior a 4 anos, segue-se o rito sumário, e se superior a 4 anos, rito ordinário. Se for crime doloso contra a vida, obviamente, segue o rito do júri. Os atos processuais desses juizados poderão ser aplicados inclusive no período noturno, devido à urgência da situação.

Quanto à fase judicial-procedimental, afirma-se que não há um colegiado de juízes da mesma comarca, recorre-se para o tribunal comum, porque não foi criado um sistema recursal próprio.

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LEI DE CRIMES HEDIONDOS – LEI 8.072/90 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Na Lei de Crimes Hediondos, encontra-se maior rigor no tratamento de determinados crimes. A Lei adotou um critério legal para definir quais crimes são hediondos e quais são equiparados a hediondos. É dizer, o legislador, de maneira aleatória, escolheu determinados crimes para que fossem considerados hediondos. E esse rol definido é taxativo (exaustivo, de numerus clausus). 2. OS CRIMES HEDIONDOS A Lei escolheu, para taxar como hediondos, crimes previstos no Código Penal. Apenas um crime hediondo está disciplinado fora do CP. Trata-se do genocídio (Lei 2.889/56). Equiparados (previstos fora do CP): Tráfico (11.343/06); Terrorismo (9.455/97) e Tortura (7.170/83). Os crimes hediondos e os equiparados a hediondos têm em comum as proibições. São elas: anistia, graça, indulto e fiança. Observação: Há proibição de fiança, mas não há vedação à liberdade provisória. 3. REGIME DE CUMPRIMENTO DE PENA (ARTIGO 2º, § 1º) A Lei , em seu artigo 2º, § 1º, determina que o regime deve ser inicialmente fechado. Mas o STF e o STJ já se manifestaram pela inconstitucionalidade desse dispositivo. Assim, ainda que o sujeito tenha sido condenado por um crime hediondo, pode iniciar o cumprimento de pena em regime aberto. Para fins de progressão de regime, contudo, o indivíduo deve cumprir um tempo de pena diferenciado, conforme definido na Lei e por determinação da Súmula 715 do STF. O indivíduo que praticou o crime hediondo ou equiparado a hediondo antes da Lei 11.464/07, que é a lei que criou os 2/5 e 3/5 dos crimes hediondos, ele tem direito a progredir de regime com 1/6 da pena (LEP), conforme Súmula 471 do STJ e Súmula Vinculante 26. 4. LIVRAMENTO CONDICIONAL Exige-se o cumprimento 2/3 da pena imposta para obtenção de livramento condicional previsto no artigo 83, V do CP c/c Súmula 715 do STF. Observação: o reincidente específico em crime hediondo ou equiparado a hediondo não tem direito a livramento condicional. Afirma-se, em tempo, que o reincidente específico é aquele que foi condenado com trânsito em julgado por qualquer crime hediondo ou equiparado e, depois do trânsito em julgado, comete outro crime hediondo ou equiparado, não sendo, necessariamete, o mesmo crime. 5. PRISÃO TEMPORÁRIA Em regra, o prazo da prisão temporária é de 5 dias, prorrogado por mais 5 dias. Mas para aquele que comete crime hediondo, a prisão temporária tem duração de 30 dias, podendo ser prorrogada por mais 30 (artigo 2º, § 5º).

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Direito Processual Penal

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TEMA I – JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA 1. CONCEITO 1.1 Jurisdição A palavra jurisdição, etimologicamente, vem de juris dictio, que significa a ação de dizer o direito. Essa mera ação mecânica de dizer o direito não é suficiente para melhor conceituá-la, importando adotar um conceito intimamente aliado ao texto constitucional, em que a jurisdição seria um poder-dever. Trata-se, portanto, de um poder-dever entregue ao judiciário para que ele aplique a lei ao caso concreto e resolva a demanda.

1.2 Competência Em um país de dimensões continentais como o Brasil, seria inimaginável que houvesse apenas um órgão para resolver todas as demandas, do mesmo modo que também não é aceitável que todos os órgãos jurisdicionais já criados pudessem julgar qualquer tipo de conflito. Portanto, para organizar a jurisdição, para setorizá-la, foi criada a competência. A competência é a medida da jurisdição, ou seja, é a quantidade de poder, especificado em lei e entregue a determinado órgão, delimitando a sua margem de atuação. 2. CRITÉRIOS DE DEFINIÇÃO DA COMPETÊNCIA Ada Pelegrini partia da premissa de que estudar competência permite responder a três perguntas específicas. É o mesmo que aliar o raciocínio de que é preciso responder a três indagações para concluir, efetivamente, qual o órgão que julgará determinado crime. Há três subcritérios de definição da competência, quais sejam: ratione materiae (em razão da matéria), ratione loci (em razão do lugar) e ratione personae (em razão da pessoa). 3. COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE 3.1 Conceito Por esse critério, detecta-se qual a justiça competente.

3.2 Distribuição

3.2.1 Justiça Comum 3.2.1.1 Estadual: é residual, periférica, acessória. Isso porque cabe a ela julgar aquilo que não foi entregue, expressamente, pela CF/88 às demais justiças, de modo que a sua competência não é definida por afirmação, mas por exclusão.

3.2.1.2 Federal: é a justiça da União e a sua competência está integralmente prevista na CF/88. Artigo 108 da CF/88: Competência do TRF. Artigo 109 da CF/88 (incisos IV e ss.): Competência dos Juízes Federais de 1º Grau.

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3.2.2 Justiça Especial

3.2.2.1 Eleitoral: é uma justiça aberta, miscigenada. Além das infrações eleitorais, cabe a ela julgar todas as infrações comuns eventualmente conexas a um crime eleitoral. Observação: A infração eleitoral, eventualmente, pode ser de menor potencial ofensivo. Para elas, então, é possível aplicar os institutos benéficos da Lei 9.099/95 (composição civil, transação penal, suspensão condicional do processo) – Artigos 69, 74, 76 e 89 da Lei 9.099/95.

3.2.2.2 Militar: A competência da Justiça Militar é restrita, tendo competência tão somente para julgar as infrações militares assim definidas na legislação militar (artigos 9º e 10 do CPM), não podendo julgar nenhum outro tipo de crime que não seja crime militar. Observação 1: A Justiça Militar não tem competência para julgar infrações comuns conexas. A solução seria a separação de processos. Observação 2: Destaca-se três crimes que são comuns e que, naturalmente, se forem praticados por um militar, não serão julgados na Justiça Militar, mas na Justiça Comum. São eles o abuso de autoridade, a tortura e os crimes dolosos contra a vida (estes no Tribunal do Júri). Observação 3: Se a infração militar se enquadrar no contexto de infração de menor potencial ofensivo, ainda assim, não será possível aplicar os institutos benéficos da Lei 9.099/95. A disposição legal expressa nesse sentido é a contida no artigo 90-A da Lei 9.099/95.

3.2.2.2.1 Estadual: A Justiça Militar Estadual julga os Policiais Militares e os Bombeiros Militares, mas, obviamente, apenas se praticarem crime militar. Observação: As pessoas comuns jamais serão julgadas na Justiça Militar Estadual.

3.2.2.2.2 Federal: A Justiça Militar Federal julga os militares das Forças Armadas, ou seja, os membros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Além deles, pode julgar também pessoas comuns que pratiquem crime militar federal.

3.3 Competência pela natureza da infração

3.3.1 Conceito

O nosso legislador pode estabelecer, dentro de uma determinada Justiça, o órgão competente para julgar determinado tipo de crime, em razão da sua natureza. A competência pela natureza da infração permite, portanto, detectar o órgão que julgará determinado tipo de delito.

3.3.2 Hipóteses constitucionais

Quem define o órgão competente para julgar determinado tipo de crime é a Lei de Organização Judiciária de cada Estado, mas própria CF/88, em dois momentos, estabelece a competência pela natureza da infração. 1º momento: De acordo com o artigo 5º, inciso XXXVIII, alínea "d", da CF/88, os crimes dolosos contra a vida, tentados ou consumados, serão julgados pelo Tribunal do Júri.

Artigos 121 ao 128 do CP.

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2º momento: De acordo com o artigo 98, inciso I, da CF/88, as infrações de menor potencial ofensivo (crimes com pena de até dois anos e as contravenções penais), por sua natureza serão julgados nos Juizados Especiais Criminais.

Artigos 60 e ss. da Lei 9.099/95. 4. COMPETÊNCIA RATIONE LOCI

4.1 Conceito Por esse critério, determina-se o juízo territorialmente competente.

4.2 Regras definidoras

As regras definidoras seguem um grau de hierarquização, uma referência de predileção. Cria-se, assim, um sistema piramidal (de predileção), detectando três regras em escalonamento hierárquico. As teorias não são doutrinárias, mas normativas, de modo que são extraídas do CPP.

4.2.1 Teorias Territoriais 4.2.1.1 Teoria do Resultado: Por ela, a competência territorial é estabelecida pelo local da consumação do delito. É a regra prevista no artigo 70, caput, do CPP. A teoria do resultado convive harmonicamente, ainda, com duas outras teorias. Cada uma tem o seu espaço, não se excluem, mas se complementam abrangendo todas as situações específicas.

4.2.1.2 Teoria da Ação: Por ela, a competência é definida pelo local dos atos executórios. Essa teoria é aplicada aos crimes tentados (artigo 14, II do CP). Não havendo consumação, define-se a competência territorial pelo local da ação. Em situação análoga, a nossa doutrina vem se inclinando para reconhecer que nos Juizados Especiais Criminais, a competência territorial, é definida pelo local da ação, de modo que não interessaria saber onde a infração de menor potencial ofensivo se consumou.

4.2.1.3 Teoria da Ubiquidade: Essa é teoria híbrida, da mescla (entre as duas teorias anteriores). Tanto faz o local da ação como o do resultado. Aplicação: Essa teoria é aplicada aos crimes à distância. Crime à distância é aquele em que a ação criminal nasce no Brasil e o resultado ocorre no estrangeiro ou vice e versa. Neste caso, a competência brasileira será fixada pelo local no Brasil em que ocorrer a ação ou o resultado (artigo 70, §§ 1º e 2º do CPP).

4.2.2 Domicílio / Residência (Réu)

É possível, em outra análise, que as teorias territoriais não resolvam o problema, porque pode ser que a pessoa não tenha domínio territorial da situação. Nesse caso, vale-se da segunda regra de competência em razão do local, que é a regra do domicílio ou residência do réu. Frise-se que o domicílio da vítima não fixa competência na esfera penal, afina, o réu é a grande referência normativa (artigo 72 e ss. do CPP).

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4.2.3 Prevenção (antecipação)

Não havendo, o réu, domicílio ou residência, a segunda regra fica frustrada e passa a ser necessário adotar a terceira regra, que é a regra da prevenção, a mais subsidiária de todas. O juiz prevento é aquele que se antecipa.

4.2.3.1 Conceito técnico: Juiz prevento é aquele que primeiro pratica um ato do processo (recebimento da inicial acusatória) ou juiz prevento é aquele que durante o inquérito já adotou medidas cautelares inerentes ao futuro processo (artigo 83 do CPP).

4.3 Situações especiais de interpretação das regras de fixação da competência territorial

4.3.1 Infrações consumadas na divisa entre duas ou mais comarcas A competência será resolvida pela prevenção (artigo 70, § 3º, CPP).

4.3.2 Crime continuado ou permanente que venha a se estender por mais de uma comarca A competência será fixada pela prevenção (artigo 71, CPP).

4.3.3 Pluralidade de domicílios ou residências A competência será fixada pela prevenção (artigo 72, § 1º).

4.3.4 Peculiaridade das ações privadas O querelante pode optar por promover a ação no domicílio do réu, em detrimento do local da consumação. Observação: essa prerrogativa não se aplica à ação privada subsidiária da pública. 5. COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE

5.1 Conceito

Algumas autoridades, em razão da importância do cargo ou da função desempenhada serão julgadas originariamente perante tribunal, em um verdadeiro critério de paridade no tratamento entre os diversos poderes (foro por prerrogativa de função).

5.2 Regras interpretativas

5.2.1 Foro por prerrogativa x Deslocamento

As autoridades com foro por prerrogativa no TJ ou no TRF, ao praticarem crime fora do Estado ou da região, serão julgadas no seu tribunal de origem.

5.2.2 Foro por prerrogativa x Júri

Para o STF, na súmula 721, as autoridades com foro por prerrogativa na Constituição Federal não vão a júri. O mesmo não ocorre quando a prerrogativa é estabelecida apenas na Constituição Estadual. O Defensor Público, por exemplo, quando tem foro por prerrogativa, esse foro por prerrogativa lhe é dado pela Constituição Estadual. Nesse caso, ele será julgado pelo Tribunal do Júri, porque a Constituição Estadual não pode se sobrepor à Constituição Federal.

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5.2.3 Cidadão comum

Segundo o STF, na súmula 704, não há violação às garantias constitucionais quando o cidadão comum é julgado, originariamente, perante o tribunal, por ter praticado o crime com a autoridade que goza de prerrogativa funcional.

5.2.4 (TJ e TRF) x TRE

O TJ e o TRF têm competência para julgar algumas autoridades extremamente importantes. Prefeitos, Deputados Estaduais, Juízes de 1º grau e membros do Ministério Público são julgados no TJ (esfera Estadual) ou no TRF (esfera Federal). Quando essas autoridades praticam crime eleitoral, devem ser julgadas no TRE.

5.2.5 Perpetuação no tempo da prerrogativa de função

�5OAB 2ª FASE - Direito Penal

FORO PRIVILEGIADO

CF EXECUTIVO LEGISLATIVO JUDICIÁRIO OUTRAS

STF (Artigo 102 da CF/88)

Presidente; Vice-Presidente;

Ministros de Estado.

Senadores; Deputados Federais.

Membros do: STF; STJ; TST;

TSE e STM

MPU (PGR); TCU;

Comandante das forças armadas; Chefes em missão diplomática

permanente.

STJ (Artigo 101 da CF/88) Governadores Não há previsão. Tribunais Estaduais;

Tribunais Federais.

MPU (membros que atuam no Tribunal – chamados de procuradores regionais);

Os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado.

TJ Prefeitos (Artigo 29, X, CF/88) Deputados Estaduais Juízes Estaduais de

1º grauTodos os membros do MP Estadual

(Procurador/Promotor).

TRF (Artigo 108 da CF)

Prefeitos (Súmula 702, STF) Deputados Estaduais Juízes Federais de

1º grau Membros do MPU (1º grau)

Obs. 1: Possuem status de Ministro: Presidente do Banco Central, Chefe da AGU, Chefe da Casa Civil e Controlador Geral da União.

Obs. 2: As autoridades com foro privilegiado no TJ e no TRF, ao praticarem crimes eleitorais, serão julgados no TRE.

Obs. 3: Segundo o STF (súmula 721), as autoridades com foro privilegiado na Constituição Federal não vão a Júri, serão julgadas no seu tribunal de origem. Se o privilégio é estabelecido apenas na Constituição Estadual, a autoridade vai a Júri.

Obs. 4: As autoridades com foro privilegiado no TJ ou no TRF, ao praticarem crime fora do Estado ou da região, serão julgadas no seu tribunal de origem.

Obs. 5: Com a declaração de inconstitucionalidade dos §§ 1º e 2º do artigo 84 do CPP, passa-se a duas regras: 1ª: quanto aos crimes, uma vez encerrado o cargo ou o mandato, encerra-se o foro privilegiado. 2ª: para ação de improbidade administrativa, não há privilégio em nenhum momento, salvo, segundo STF, se o réu é Ministro do STF.

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TEMA II – PROCEDIMENTOS 1. CONSIDERAÇÕES

1.1 Enquadramento terminológico 1.1.1 Procedimento O procedimento é a sequência lógica de atos concatenados em lei e destinados a uma finalidade.

1.1.2 Processo O conceito carnelutiano de processo continua atual. O processo é um procedimento em contraditório (é uma sequência lógica de atos imersa no contraditório) enriquecido pela relação jurídica construída entre o juiz e as partes.

1.1.3 Rito O rito deriva de ritmo, sendo a amplitude assumida por determinado procedimento.

1.1.4 Ação A convivência em sociedade é por demais onerosa. Uma sociedade devidamente organizada é aquela que confere ao Estado a administração de alguns poderes. Para que fosse possível reconhecer que a nossa sociedade é, de fato, civilizada, um poder precisou ser retirado do cidadão e entregue ao Estado. Trata-se do poder de punir. O poder de punir é privativo do Estado, de acordo com a CF/88. Mas para equilibrar a balança, já que foi retirado do cidadão o poder de punir, a CF/88, em contrapartida, deu ao cidadão o direito de exigir do Estado que ele puna aplicando a lei ao caso concreto. Esse direito que nos foi entregue pela CF/88 é o direito de ação. Dessa forma, ação é um direito público e subjetivo constitucionalmente assegurado de exigir do estado-juiz a aplicação da lei ao caso concreto, para a solução da demanda penal.

1.2 Classificação procedimental 1.2.1 Procedimento Comum O procedimento comum pode assumir três ritos distintos: Ordinário, Sumário e Sumaríssimo.

1.2.2 Procedimentos Especiais Os procedimentos especiais seguem uma peculiaridade em razão da estratégia política do legislador. Entre eles, destacam-se: Júri, Tóxicos (Lei 11.343/06) e Ações originárias em tribunal (Lei 8.038/90).

1.3 Escolha do rito no procedimento comum

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Ritos Regras

Ordinário Crimes com pena máxima igual ou superior a quatro anos

Sumário Crimes com pena máxima inferior a 4 (quatro) anos

Sumaríssimo Crimes com pena máxima de até 2 (dois) anos e contravenções penais.

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Observação 1: Eventualmente, as infrações de menor potencial ofensivo vão tramitar no rito sumário, ou porque não há citação por edital no Juizado ou quando a complexidade do fato inviabiliza a oferta oral da denúncia. Essas situações estão cirurgicamente previstas na Lei. Observação 2: Base normativa para escolha do rito: § 1º do artigo 394 do CPP. 2. ESTRUTURA DO PROCEDIMENTO COMUM DE RITO ORDINÁRIO (ARTIGOS 394 A 405, CPP)

2.1 Primeiro Passo Oferta da inicial acusatória (denúncia ou queixa-crime). Observação: Os requisitos formais da inicial acusatória estão construídos no artigo 41 do CPP.

2.2 Segundo Passo Realização do juízo de admissibilidade (pode ser de duas naturezas): negativo ou positivo.

2.2.1 Negativo: rejeitar Se o juízo de admissibilidade é negativo, a peça deve ser rejeitada.

2.2.1.1 Conceito: A rejeição da inicial é o ato judicial que denega início ao processo em razão da ausência dos respectivos requisitos legais.

2.2.1.2 Hipóteses (artigo 395, CPP): São três hipóteses: 1ª hipótese: Inépcia: caracteriza-se por um defeito formal grave na inicial acusatória que normalmente compromete a narrativa dos fatos. 2ª hipótese: Faltar condição da ação ou pressuposto processual. 3ª hipótese: Faltar justa causa: significa a ausência de lastro probatório mínimo dando sustentabilidade a respectiva inicial. Para que uma inicial acusatória seja oferecida, é preciso fomentá-la com indícios de autoria e materialidade.

2.2.1.3 Sistema recursal: Sistema recursal não é uniforme, é oscilante em virtude do tipo de rito. Regra geral, se o juiz rejeitar a inicial acusatória, caberá Recurso em Sentido Estrito – RESE (artigo 581, I, CPP). Exceção: Nos juizados especiais, o recurso adequado é a apelação (artigo 82 da Lei 9.099/95).

2.2.1.4 Notificar defesa: Rejeitada a inicial, o juiz deverá notificar a defesa para apresentar contrarrazões ao recurso, sob pena de nulidade. Observação: A ausência da defesa não é suprida pela mera nomeação de advogado dativo (Súmula 707 do STF).

2.2.2 Positivo: receber Estando presentes os requisitos legais, a inicial acusatória deve ser recebida.

2.2.2.1 Conceito: O recebimento da inicial é o ato que demarca o início do processo em razão da presença dos requisitos legais diante da análise da inicial acusatória.

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2.2.2.2 Consequências: O ato de recebimento da inicial provoca quatro consequências jurídicas: demarca o início do processo; o mero suspeito vira réu; interrupção da prescrição; e servirá para fixar a prevenção.

2.2.2.3 Fundamentação: O entendimento prevalente, para o STF e o STJ, é que o recebimento da inicial acusatória dispensa motivação. Esse ato é feito por mero despacho.

2.2.2.4 Sistema recursal: O recebimento da inicial não comporta recurso, por ausência de previsão legal no artigo 581 do CPP. A defesa poderá impetrar habeas corpus (ação autônoma) objetivando trancar o processo (artigo 648, I, CPP), em razão de alguma manifesta ilegalidade.

2.3 Terceiro passo Realização da citação.

2.3.1 Conceito A citação é o ato de comunicação processual que informa o réu sobre o início do processo (finalidade informativa) e o convoca a apresentar defesa (resposta escrita à acusação). A citação é o mais importante ato de comunicação justamente porque informa ao réu sobre a deflagração do processo (dos demais atos do processo, o réu apenas será intimado ou notificado) e porque o convoca a apresentar uma das mais importantes peças de todo o direito processual penal, que é a resposta à acusação.

2.3.2 Modalidades Há três modalidades citatórias.

2.3.2.1 Pessoal (ou real): A citação pessoal é cumprida por intermédio de Oficial de Justiça, que vai ao encontro do réu, promove a leitura do mandado e entrega a ele a contra-fé (cópia da ordem) – artigos 351 a 360, CPP . Com isso, seria possível afirmar com convicção que o réu foi informado sobre o início do processo. Por isso também é chamada de real.

2.3.2.2 Edital (ou ficta): Caracteriza-se pela ausência de má-fé do réu, que apenas não foi encontrado para ser citado pessoalmente (artigo 361 do CPP). Diz-se que é ficta porque não é comum as pessoas lerem Diário Oficial ou publicações que ficam apregoadas no átrio do Fórum. Advertência: O prazo do edital é de 15 (quinze) dias.

2.3.2.3 Por hora certa: Está pautada na má-fé do réu que está se escondendo para não ser citado pessoalmente (artigo 362 do CPP). Também é enquadrada como uma modalidade de citação ficta. Advertência: O procedimento da efetivação da citação por hora certa está delineado nos artigos 227 ao 229 do CPC.

Observação: No processo penal não há citação por AR (correios) ou citação por e-mail, sob pena de nulidade do processo. Do mesmo modo, os vícios eventualmente existentes nas três modalidades citatórias admitidas também são fato gerador de nulidade (artigo 564, III, "e", CPP).

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2.4 Quarto passo Apresentação da resposta escrita à acusação.

2.4.1 Conceito É a peça defensiva que vai resistir aos termos da inicial acusatória, alimentando a esperança de que o réu seja absolvido no início do processo (absolvição sumária) sem a necessidade de uma audiência de instrução e julgamento (artigos 396 e 396-A do CPP).

2.4.2 Capacidade postulatória Essa peça deve ser subscrita por advogado, sob pena de nulidade absoluta, afinal, a defesa técnica é obrigatória (súmula 523 do STF).

2.4.3 Prazo O prazo é de até 10 (dez) dias, contados da efetiva citação (artigo 396 do CPP), sendo indiferente à data da juntada aos autos do processo do mandado cumprido.

2.4.3.1 Forma de contagem: Trata-se de prazo de natureza processual, sendo contado de acordo com as regras do artigo 798 do CPP, ou seja, desconsidera-se o primeiro dia e inclui-se o do vencimento. Advertência: Se o último dia se encerrar em feriado ou final de semana, prorrogaremos o prazo para o primeiro dia útil subsequente.

2.4.4 Conteúdo

2.4.4.1 Conceito: Na resposta escrita podem ser apresentadas todas as teses favoráveis ao agente na expectativa de impugnar os termos da inicial acusatória e convencer o juiz de que o réu deve ser absolvido sumariamente.

2.4.4.2 Estrutura do conteúdo 2.4.4.2.1 Preliminares Preliminares processuais: São aquelas que ocasionam a nulidade do processo, em virtude de eventual vício por ofensa à CF/88, ou nos termos do artigo 564 do CPP. Preliminares de mérito: Caracterizam-se pelas causas de extinção de punibilidade (artigo 107 do CP).

2.4.4.2.2 Mérito principal da peça: Se o que se deseja com a resposta escrita é a absolvição sumária, o mérito principal dessa resposta escrita precisa ser uma tese que, efetivamente, a ocasione. Principais teses que justificam a absolvição sumária do réu (todas elas são construídas diante de um juízo de certeza) – artigo 397 do CPP: - Negativa de autoria; - Inexistência do fato; - Excludente de tipicidade - Excludente de ilicitude;

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- Excludente de culpabilidade. Advertência: A inimputabilidade não autoriza absolvição sumária no procedimento comum, afinal, ela antecipa a medida de segurança, o que não é favorável à defesa (artigo 397, II, CPP).

Observação: As três últimas hipóteses permitem construir o conceito tripartido de crime. Crime é fato típico ilícito e culpável. Assim, afastada uma dessas características, não há crime, exigindo a absolvição.

2.4.4.2.3 Requerimento de diligências: Em homenagem ao princípio da eventualidade, na resposta escrita, a defesa já irá consignar as diligências que ela pretende que sejam produzidas ao longo do processo, uma vez que, ao invés da absolvição sumária, corre-se o risco de o juiz marcar a audiência de instrução e julgamento. Advertência: Na resposta, a defesa terá a oportunidade, sob pena de preclusão, de arrolar as suas testemunhas em número máximo de oito.

2.4.5 Deixa para a peça

Na prova prático-profissional da OAB, na parte em que é exigida a redação de uma peça, se o comando da questão fala que o réu foi citado, ainda que não fale em peça privativa do advogado, isso demonstra a sequência lógica do procedimento, de modo que o que se pretende não é habeas corpus, mas resposta escrita à acusação.

2.4.6 Apresentação da resposta escrita à acusação.

A apresentação da resposta escrita é obrigatória, mas questiona-se se, eventualmente, a defesa não apresentá-la, quais seriam as consequências processuais. Tais consequências, contudo, dependerão do tipo de citação ocorrida. Assim, a depender da modalidade citatória ocorrida, há consequências jurídicas diferentes.

2.4.6.1 Pessoal: O réu será considerado revel e o juiz nomeia advogado dativo para a apresentação da resposta com a devolução, a esse advogado dativo, da integralidade do prazo. Havendo revelia no Processo Civil, presumem-se verdadeiros os fatos alegados na inicial. No Processo Penal, isso não ocorre, porque no Direito Penal existe presunção de inocência. A revelia, então, importa na dispensa da intimação pessoal do réu para os atos subsequentes do processo, salvo a sentença. Vale lembrar que o advogado continuará sendo intimado, já que a defesa técnica é obrigatória.

2.4.6.2 Por hora certa: Se o réu é citado por hora certa e não apresenta resposta escrita, o juiz o declarará revel, nomeando advogado dativo para apresentar peça, com a devolução do prazo.

2.4.6.3 Por edital: O juiz, diante da não apresentação da resposta, deve suspender o processo e a prescrição nos termos do artigo 366 do CPP. Observação 1: Situação prisional: a mera suspensão do processo e da prescrição pela não apresentação da resposta não justifica a decretação automática da preventiva. Para tanto, é necessário que estejam presentes os requisitos dos artigos 312 e 313 do CPP.

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Observação 2: Antecipação probatória: para o STJ, na súmula 455, o mero decurso do tempo não justifica a antecipação probatória durante a paralisação do processo na hipótese do artigo 366 do CPP. Logo, a antecipação probatória vai se justificar nas hipóteses de eminente perecimento. Observação 3: Tempo de suspensão da prescrição: de acordo com a súmula 415 do STJ, interpretando o artigo 366 do CPP, deve o juiz suspender o processo e a prescrição pelo tempo abstratamente previsto em lei para o crime praticado prescrever (artigo 109, CP). Superado esse prazo e mantida a ausência, o processo permanecerá suspenso, mas a prescrição passa a correr normalmente.

2.5 Quinto passo Absolvição sumária.

2.5.1 Conceito

A absolvição sumária é a sentença que antecipa o mérito da causa reconhecendo a inocência do réu, sem a necessidade da realização de audiência de instrução e julgamento e tendo aptidão para coisa julgada material.

2.5.2 Hipóteses

As hipóteses que justificam a absolvição sumária estão concentradas no artigo 397 do CPP (negativa de autoria; inexistência do fato, excludentes de tipicidade, de ilicitude e de culpabilidade) e todas elas exigem do juiz certeza, de modo que o juiz não pode absolver sumariamente se restar alguma dúvida. Os elementos concluem as teses do mérito principal da resposta escrita.

2.5.2.1 O artigo 397 do CPP admite interpretação extensiva para englobar a negativa de autoria e a inexistência do fato como fundamentos da absolvição sumária. Isso porque, tecnicamente, ele só faz previsão expressa, justificando a absolvição sumária, das excedentes de tipicidade, de ilicitude e de culpabilidade.

2.5.2.2 O artigo 397 traz como fundamento da absolvição sumária as hipóteses da extinção da punibilidade (artigo 107, CP). Na percepção da doutrina majoritária, houve um equívoco técnico nessa referência, porque quando o juiz reconhece a extinção da punibilidade, ele não está dizendo, tecnicamente, que a pessoa é inocente, mas está apenas dizendo, na verdade, que a pessoa não pode ser punida em razão do desatendimento das regras do jogo. Assim, na resposta escrita à acusação (na peça), vamos apresentá-las como preliminar de mérito e no pedido da peça vamos requerer a declaração da extinção da punibilidade.

2.5.2.3 Não se pode confundir as hipóteses do artigo 397 do CPP, que justificam a absolvição sumária e estão pautadas em uma análise de certeza, com as hipóteses de absolvição do artigo 386 do Código, que são aplicáveis ao final da audiência de instrução, no fecho do processo, momento em que há uma série de fundamentos que justificam a absolvição, muito mais amplos do que na absolvição sumária. Ao final do processo, então, a certeza da inocência justifica a absolvição , mas a dúvida da culpa também, porque vale o in dubio pro reu. Por tal razão, não se pode, em resposta escrita, pleitear

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absolvição invocando o artigo 386, já que ele traz outras hipóteses incompatíveis com uma absolvição sumária (no início do processo), que só é pautada na certeza da inocência.

2.5.3 Sistema recursal

O recurso cabível para impugnar absolvição sumária é a apelação, mas essa apelação está desprovida de efeito suspensivo, de forma que se o réu estava preso e foi absolvido sumariamente, mesmo que a acusação recorra, essa apelação não suspende a imediata libertação do agente (artigo 593, I, CPP).

2.5.3.1 Extinção da punibilidade: A decisão, por juiz singular, que declara ou denega a extinção da punibilidade, comporta recurso próprio, caberá recurso em sentido estrito (artigo 581, VIII e IX, CPP). Então, a extinção da punibilidade tem mundo próprio, tem vida autônoma.

2.5.3.2 Denegação da absolvição sumária: Se o juiz denegar a absolvição sumária, por meio de uma decisão interlocutória simples, o juiz vai marcar audiência de instrução e julgamento. Decisão interlocutória simples é irrecorrível, mas a defesa pode impetrar Habeas Corpus com a finaldiade de trancar o processo (artigo 648, I, CPP).

2.6. Sexto passo Audiência de instrução/debates e julgamento.

2.6.1 Prazo O prazo para realização da AIJ é de 60 (sessenta dias), independente da situação prisional do indivíduo. Contudo, a lei não traz um marco inicial de contagem, de modo que essa lacuna deve ser suprida por analogia. Assim, segundo a doutrina, esse prazo é contado a partir do recebimento da inicial acusatória.

2.6.2 Audiência una A proposta do legislador é que essa audiência seja una, de modo que teremos a concentração dos atos nessa audiência (artigo 400, CPP), admitindo-se, contudo, o desmembramento, em razão da complexidade do caso ou do volume de atos que precisam ser praticados (o que não descaracteriza o critério da sua unicidade).

2.6.3 Estrutura da audiência

2.6.3.1 Instrução: a instrução caracteriza a produção probatória. A base normativa dessa instrução é extraída do artigo 400 do CPP

1º ato instrutório: Oitiva da vítima. Observação: A ausência injustificada da vítima ocasiona, na ação pública, a condução coercitiva. Entretanto, na ação privada, em que a vítima é titular da ação, a ausência injustificada da vítima caracteriza uma desídia que será sancionada, e a sanção é a perempção (artigo 60, III, CPP), que leva à extinção da punibilidade. 2º ato instrutório: Oitiva das testemunhas. Primeiro são ouvidas as testemunhas da acusação, em número máximo de oito, e, na sequência, são ouvidas as testemunhas da defesa, também em número máximo de oito (artigo 401, CPP).

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Observação: A inversão da ordem ocasiona nulidade do processo. 3º ato instrutório: Interpelação do perito e do assistente técnico. Observação: Para que o perito seja ouvido, ele será notificado com antecedência mínima de 10 (dez) dias da realização da audiência (artigo 159, § 5º, I, CPP). 4º ato instrutório: Acareações. 5º ato instrutório: Reconhecimento de pessoas ou objetos. 6º ato instrutório: Interrogatório do réu.

2.6.3.2 Debates orais: os debates orais estão organizados da seguinte maneira: 1º: Acusação: 20 (vinte) minutos prorrogáveis por mais 10 (dez) minutos. Advertência: O assistente de acusação é a vítima ou quem venha a sucedê-la (artigos 268 e ss., CPP), habilitando-se no processo para auxiliar o Ministério Pública e, com direito à fala por meio do seu advogado, pelo tempo de 10 (dez) minutos improrrogáveis). 2º: Defesa: 20 (vinte) minutos prorrogáveis por mais 10 (dez) minutos. Advertência: O tempo do assistente será acrescido ao tempo primário de fala do advogado de defesa, por um critério de isonomia (artigo 403, CPP), de modo que sua fala inicial será de 30 (trinta) minutos prorrogáveis por mais 10 (dez).

2.6.3.3 Sentença: Se o juiz não se sentir a vontade de sentenciar em audiência, os autos lhe serão conclusos e ele vai dispor de 10 (dez) dias para sentenciar, prorrogáveis por mais 10 (dez).

Advertência: Base principiológica. A - Princípio da oralidade: se o princípio da oralidade, atualmente, disciplina o procedimento comum ordinário, significa que é dada preferência à palavra falada.

A. 1 - Princípios decorrentes: Princípio da concentração: por ele, os atos instrutórios serão reunidos em audiência una,

que admite, contudo, desmembramento. Princípio da imediatidade: por ele, as provas serão produzidas, imediatamente, perante a

autoridade judicial. Princípio da identidade física do juiz: por ele, o magistrado que preside a instrução deverá

sentenciar a causa, ressalvadas as hipóteses de caso fortuito, força maior ou as escusas legais (artigo 399, § 2º, CPP).

A. 2 - Mitigação do princípio da oralidade Conceito: Eventualmente, os debates orais podem ser substituídos por memoriais

(alegações escritas), nas hipóteses legalmente disciplinadas. Hipóteses: complexidade da causa; pluralidade de réus; surgimento de prova nova em

audiência; segundo o STJ, o juiz pode autorizar a substituição inclusive fora das hipóteses disciplinadas em lei (artigos 403, § 3º, e 404, CPP), desde que se entenda razoável.

A. 3 - Procedimento da substituição dos debates por memoriais: O juiz vai suspender a audiência após o interrogatório do réu;

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O juiz vai notificar a acusação para apresentar memoriais no prazo de 5 (cinco) dias; O juiz vai notificar a defesa para apresentar memoriais no prazo de 5 (cinco) dias; Os autos são conclusos ao juiz para sentença no prazo de 10 dias prorrogáveis por mais 10.

2.6.4 Deixa para a peça (Memoriais) Na prova prático-profissional da OAB, na parte em que é exigida a redação da peça, se o comando da questão fala que a acusação apresentou memoriais ou que a instrução está encerrada, solicitando que o examinando apresente a peça cabível, deve ser elaborado o memorial.

2.6.4.1 Conceito: É a peça cabível ao final da instrução processual e que antecede a prolação da sentença. 2.6.4.2 Prazo: O prazo dos memoriais é de 5 (cinco) dias contados da respectiva notificação ou intimação. 2.6.4.3 Capacidade postulatória: A peça será subscrita por advogado, sob pena de nulidade, afinal a defesa técnica é obrigatória. 2.6.4.4 Conteúdo:

2.6.4.4.1 Preliminares: Podem ser apresentadas, dentro dos memoriais as preliminares de natureza processual (artigo 564, CPP), que são as causas que levam ao reconhecimento de nulidade, e preliminares de mérito, que se caracterizam pelas teses que levam à extinção da punibilidade (artigo 107, CP). 2.6.4.4.2 Mérito Principal: Como os memoriais são apresentados após a fase de instrução, se o processo está chegando ao fim, justifica-se uma absolvição não só pela certeza da inocência, como também pela dúvida da culpa (o que, em última análise, caracteriza debilidade probatória – artigo 386, CPP). Assim, serão apresentadas teses amplas, que resultam em absolvição ao final do processo.

Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: I - estar provada a inexistência do fato; (certeza) II - não haver prova da existência do fato; (debilidade probatória) III - não constituir o fato infração penal; (certeza) IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; (certeza) V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; (debilidade probatória) VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência; (certeza) VII – não existir prova suficiente para a condenação. (debilidade probatória)

Advertência: a tese da inimputabilidade, absoluta ou relativa, pode ser validamente apresentada em memoriais, o que não pode ocorrer na resposta escrita à acusação.

2.6.4.4.3 Mérito Secundário: Como, ao final do processo, corre-se o risco de haver a condenação do réu, pode-se pleitear em memoriais: afastamento de qualificadoras; de causas de aumento de pena; de agravantes; inclusão de causas de diminuição de pena existente; ou reconhecimento de atenuantes. Advertência: Em memoriais, ordinariamente, não se faz requerimento de diligências, porque usualmente o momento adequado é a Resposta Escrita à Acusação.

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TEMA III – PRISÕES 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Depois da vida, o bem mais importante é a liberdade, e o sistema prisional vem montado, dentro do CPP, em uma sistemática que apresenta ferramentas de impugnação do cárcere. É a visão maniqueísta entre o bem e o mal. Se o mal é o cárcere, o bem vem a ser traduzido pelas ferramentas impugnativas. Importante destacar que a sistemática prisional foi reformada recentemente no CPP. A nova lei é a Lei 12.403 de 2011.

1.1 Prisão pena A prisão pena é aquela que decorre de uma sentença condenatória transitada em julgado. É uma prisão que certifica o direito, que representa a retribuição do Estado pelo mal causado pelo crime. Essa prisão é importante para efeito do estudo da execução penal.

1.2 Prisão sem pena / Prisão cautelar / Prisão processual / Prisão provisória A prisão sem pena é também conhecida como prisão cautelar ou, ainda, prisão processual ou prisão provisória. Trata-se de uma espécie de prisão que antecede o trânsito em julgado. Se essa prisão antecede o trânsito, é aplicável ou na fase do inquérito policial ou na fase processual. Atualmente, há três modalidades de prisão sem pena, a flagrante, a preventiva e a temporária. Observação: Compatibilização com o princípio da presunção de inocência: Para o STF, a presunção de inocência perdura até o trânsito em julgado da decisão e, antes desse marco, o cárcere só é possível se presentes os requisitos de uma prisão cautelar. Advertência: O STF foi provocado a se manifestar sobre a existência de execução provisória no Direito Processual Penal. Não há, no Brasil, execução provisória de pena. Quando, antes do trânsito em julgado, a pessoa está presa, está-se diante de uma prisão cautelar e não de uma prisão pena. Assim, não há sentido executar, provisoriamente, pena, no Direito Criminal, até porque isso ofenderia a presunção de inocência. Então, o O STF foi provocado a se manifestar sobre a execução provisória de benefício. Para o STF, nas súmulas 716 e 717, o preso cautelar pode usufruiu dos benefícios da lei de execução penal, desde que presentes os seguintes requisitos:

- que, inicialmente, já exista uma sentença condenatória proferida; e - desta sentença, é necessário que o recurso tenha sido apresentado apenas pela defesa.

2. PRISÃO FLAGRANTE

2.1 Conceito

Dentro da percepção meramente etimológica, o flagrante seria uma característica da situação delituosa, porque nos permitiria enxergar um crime que ainda está acontecendo. É uma percepção importante, mas que precisa ser complementada com uma visão, efetivamente, processualista. O flagrante, então, é uma prisão constitucionalmente assegurada e que funciona como uma ferramenta de preservação social, porque, diante do flagrante, estamos autorizados a capturar o indivíduo que é surpreendido delinquindo e, nesse caso, há três finaldiades:

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- Evitar a consumação do delito - Evitar que o criminoso empreenda fuga - Levantar indícios que viabilizem a futura deflagração do processo.

2.2 Modalidades

Nos estudos das modalidades flagranciais, é importante detectar, diante de uma situação concreta, onde ela se amolda na lei como uma hipótese válida de flagrante. O flagrante é prisão típica, de modo que somente vai existir captura em flagrante se aquela situação concreta se amoldar na lei como uma hipótese autorizadora. Caso contrário, a prisão seria ilegal.

2.2.1 Flagrante próprio / Flagrante real / Flagrante propriamente dito

2.1.1.1 Capturado praticando a infração: Ocorre quando o agente é capturado cometendo o delito, é capturado realizando os atos executórios da infração (artigo 302, I, CPP). 2.1.1.2 Capturado ao acabar de cometer a infração: Ocorre quando o agente já concluiu os atos executórios, mas não se livrou do ambiente do crime (artigo 302, II, CPP).

2.2.2 Flagrante impróprio / Flagrante irreal / Quase Flagrante No flagrante impróprio, o agente é perseguido logo após a prática da infração e, havendo, êxito, ele será capturado em situação que faça presumir que é ele o responsável (artigo 302, III, CPP). Observação 1: O conceito de perseguição nos é fornecido pelos artigos 250 e 290 do CPP. Observação 2: Tempo de perseguição: não há prazo, e a perseguição perdura enquanto houver necessidade. O legislador não poderia estabelecer prazo para aquilo que, na prática, é incomensurável. Observação 3: Requisito de validade: não é necessário contato visual, mas para que essa perseguição deságue em uma prisão válida, é necessário que ela seja contínua.

2.2.3 Flagrante presumido / Flagrante ficto / Flagrante assimilado O flagrante presumido está pautado, essencialmente, no fator sorte. O indivíduo é encontrado (por acaso) logo depois da prática do crime, com objetos, armas ou papeis que façam presumir que é ele o responsável pela infração (artigo 302, IV, CPP).

2.2.4 Flagrante obrigatório / Flagrante compulsório É aquele inerente à atuação das forças policiais (artigo 301, CPP). Independente de qual seja o braço da polícia (Militar, Civil, Rodoviária, Federal), deve efetivar a prisão sempre que diante de uma situação de flagrância, seja esse flagrante próprio, impróprio ou presumido.

2.2.5 Flagrante facultativo É inerente à atividade de qualquer pessoa (artigo 301, CPP), seja para caracterizar um flagrante próprio, impróprio ou presumido.

2.2.6 Flagrante forjado No flagrante forjado, a pessoa capturada não tinha desejo de delinquir, nem possuía conhecimento do que estava acontecendo. É a expressão do mais absoluto arbítrio. Nessa espécie, a prisão efetivada é manifestamente ilegal, devendo ser RELAXADA (artigo 310, I do CPP c/c artigo 5º, LXV da CF/88).

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2.2.7 Flagrante esperado O flagrante não tem previsão normativa, é uma idealização doutrinária. Nele, há a caracterização do que se espera da polícia, uma polícia de intensa investigação, que se antecipa ao crime, no momento exato e no local adequado. Assim, a polícia promove campana (tocaia) no aguardo da prática do primeiro ato executório para promover a captura. Há que aguardar o primeiro ato, porque antes da execução, está-se diante apenas da mera preparação para o crime, o que, em regra, é impunível. Advertência: Em nenhum momento, a polícia se intrometeu na conduta criminosa ou incentivou a prática do delito.

2.2.8 Flagrante preparado / Flagrante provocado / Delito de ensaio / Delito putativo (imaginado) por obra do agente provocador

Segundo o STF, na súmula 145, não se pode estimular ardilosamente, a prática de delito na esperança de capturar as pessoas seduzidas, já que os fins não justificam os meios. Nesse caso, a prisão, é ilegal, devendo ser relaxada, e o fato praticado pela pessoa seduzida é atípico, pois caracteriza crime impossível por absoluta eficácia do meio. Observação: Situação especial do tráfico de drogas: se o traficante já tinha a droga consigo ou em estoque para comercializar quando é abordado por policial disfarçado de usuário, estaremos diante de uma prisão legal, pois a consumação do tráfico era pré-existente à provocação.

2.2.9 Flagrante postergado / Flagrante diferido / Flagrante retardado / Ação controlada Houve uma lei recente que repaginou o tema da ação controlada. Na década de (19)90, o Brasil estabeleceu uma lei de combate e repressão ao crime organizado. Àquela época, idealizou-e que uma facção criminosa poderia ser monitorada pela polícia. Quando a polícia faz esse monitoramento, é muito provável que acabe presenciando a prática de algum crime. Como o artigo 301 do CPP afirma que se o policial presencia a prática do crime ele está obrigado a prender na hora, o problema seria que uma grande operação policial de inteligência, monitorando uma facção criminosa para exterminá-la pelos crimes exponenciais, essa macro-operação poderia cair por terra, eis que a polícia poderia se ver obrigada a prender os integrantes da facção criminosa por crimes de somenos importância. Então, a lei de combate e repressão ao crime organizado admitiu que a polícia, quando está monitorando uma facção, mesmo presenciando a prática de um crime, poderá retardar a prisão, desde que continue controlando a facção. Ao assim agir, o que ela quer é levantar o maior número de provas, prender o maior número de criminosos e promover a prisão pelo crime exponencial da organização. Observação 1: No crime organizado, se a polícia postergar o flagrante, é necessário que o juiz competente seja informado (não é pedir autorização, é informar) e, ouvindo o Ministério Público, ele poderá definir os limites da diligência (artigo 8º da Lei 12.850/13). Observação 2: A Lei de Tóxicos também disciplina o flagrante postergado, mas o regramento normativo em relação ao da lei de combate e repressão ao crime organizado. Na lei de tóxicos, admite-se a ação controlada naquelas situações onde a droga vai circular. A intenção era focar não apenas naquela pessoa que carrega a droga (mula), mas principalmente no grande traficante, que é quem capilariza a droga no território brasileiro. Ocorre que na lei de tóxicos, o flagrante postergado, pressupõe prévia

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autorização do juiz com oitiva do MP. Além disso, é necessário que seja informado o provável itinerário da droga e quem são os infratores envolvidos (artigo 53 da Lei 11.343/06).

2.3 Procedimento

2.3.1 Flagrante nas várias espécies de infração

2.3.1.1 Regra geral: O flagrante é cabível para todo tipo de infração.

2.3.1.2 Situações especiais

2.3.1.2.1 Infrações de menor potencial ofensivo (crimes com pena de até dois anos e contravenções): Ao invés da lavratura do auto de prisão em flagrante, há a mera confecção do termo circunstanciado de ocorrência e o agente não ficará encarcerado (artigo 69, Lei 9.099/95).

2.3.1.2.2 Crimes permanentes (crime está se consumando a todo tempo enquanto perdurar a permanência): A prisão em flagrante é cabível a qualquer tempo enquanto perdurar a permanência (artigo 303, CPP), admitindo-se, inclusive, a invasão domiciliar. A lógica da inviolabilidade domiciliar cede espaço para a prisão em flagrante.

2.3.1.2.3 Crimes de ação privada e de ação pública condicionada: A lavratura do auto pressupõe manifestação de vontade do legítimo interessado, sob pena de patente ilegalidade. Os crimes de ação privada são aqueles que ofendem de tal maneira a intimidade da vítima, que ela própria é a titular da ação. Já nos crimes de ação pública condicionada, o titular é o Ministério Público, mas é necessário que exista prévia autorização para que as providencias criminais sejam adotadas. Assim, se o legítimo interessado não autorizar, não se pode lavrar auto de prisão em flagrante.

2.3.2 Estrutura do procedimento

2.3.2.1 Primeiro passo: captura - a captura caracteriza o imediato cerceamento da liberdade. Observação: Os parâmetros para utilização de algemas está na súmula vinculante 11 do STF, e o descumprimento dos preceitos da súmula ocasiona a ilegalidade prisional sem prejuízo da responsabilidade penal administrativa e civil do responsável pelo ato, o que não inibe a responsabilidade objetiva do estado no que tange à indenização Súmula Vinculante 11 - Uso de Algemas. Restrições. Responsabilidades do Agente e do Estado. Nulidade

Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

2.3.2.2 Segundo passo: condução coercitiva até a presença da autoridade (artigo 308, CPP). Isso, na expectativa de que ocorra a formalização da prisão, que é o terceiro passo.

2.3.2.3 Terceiro passo: Lavratura do auto (artigo 304, CPP).

2.3.2.4 Quarto passo: Recolhimento à prisão.

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2.3.3 Postura final do delegado Em 24 horas, contadas da prisão (captura), o delegado tem as seguintes obrigações a cumprir:

2.3.3.1 Remeter o auto ao juiz.

2.3.3.1.1 O magistrado pode entender a prisão é ilegal e, portanto, vai relaxar a prisão. O relaxamento da prisão é a libertação incondicional do agente que foi preso ilegalmente (artigo 5º, LXV da CF/88 c/c artigo 310, I do CPP) Advertência: Nada impede que o advogado apresente um REQUERIMENTO DE RELAXAMENTO ao juiz por meio de uma petição.

2.3.3.1.2 Magistrado pode entender que a prisão é legal, homologando o auto. A partir daí, há um desdobramento lógico muito importante, em que são abertas duas alternativas para o juiz.

A. Se o juiz entender que a prisão é necessária, deve converter o flagrante em prisão preventiva. O sujeito somente poderá permanecer preso se a prisão em flagrante for convertida em prisão preventiva e só pode fazer isso se presentes os requisitos dos artigos 312 e 313 do CPP.

B. Se o juiz entender que a prisão não é necessária, concederá liberdade provisória, nos termos do artigo 5º, LXVI da CF/88 c/c artigo 310, III do CPP. A regra é a liberdade. O cárcere, no Brasil, é exceção, uma vez que somos regidos pela presunção de inocência.

- A liberdade provisória é cabível para o agente que atua amparado por eventual excludente de ilicitude (artigo 310, parágrafo único, CPP).

Observação: Quando o agente está usufruindo da liberdade provisória, não se pode esquecer que ela tinha sido presa em flagrante. Assim, quando o agente se enquadra nessa primeira hipótese de liberdade provisória, ela vai ser libertado, mas será compromissado pelo juiz a comparecer a todos os termos da persecução penal para os quais ele seja devidamente convocado. Trata-se, portanto, de uma liberdade com ônus, com obrigações. Além disso, o magistrado poderá aplicar as medidas cautelares do artigo 319. - A liberdade provisória é aplicável quando o agente não se enquadra nos requisitos da

prisão preventiva (artigo 321, CPP). Observação: A liberdade provisória, como se sabe, é onerada, em que o juiz está autorizado a impor obrigações ao beneficiado. Nesse segundo caso, o legislador se esqueceu de prever o compromisso de comparecer a todos os termos da persecução penal, não havendo tal imposição normativa. Então, o magistrado poderá aplicar ao beneficiário as medidas cautelares do artigo 319 do CPP. A liberdade provisória de que se tem tratado até então é a liberdade provisória sem pagamento de fiança. Nos casos de crimes graves, a Constituição Federal constitui a inafiançabilidade para alguns delitos extremamente graves no artigo 5º, XLII, XLIII e XLIV. Todavia, a Constituição não vedou liberdade provisória sem fiança para tais delitos, de forma que poderemos requerer a liberdade provisória nessas circunstâncias. Conclusão: Percebe-se, então, que cabe liberdade provisória sem fiança nos crimes hediondos (artigo 2º, II, Lei 8.072/90) e no tráfico de drogas, já que o STF reconheceu a

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inconstitucionalidade do artigo 44 da lei de tóxicos no que se refere à vedação da liberdade provisória sem fiança. "Modus operandi": Poderemos requerer a liberdade provisória por meio de petição endereçada ao próprio juiz responsável pela homologação do auto de flagrante.

2.3.3.2 Defensoria Pública Nas mesmas 24 horas, se o preso não tem advogado, uma cópia do auto será encaminhada à Defensoria Pública (artigo 305, § 1º, CPP).

2.3.3.3 Nota de Culpa A nossa Constituição Federal exige que todo aquele que é preso seja informado dos motivos e dos responsáveis pela prisão. Esse mandamento constitucional se perfaz, na prática, por meio da nota de culpa, a qual é uma breve declaração que, além dos motivos e dos responsáveis pela prisão, informa os nomes de eventuais testemunhas (artigo 306, § 2º, CPP). Cabe ao delegado entregar ao preso essa nota, em, no máximo, 24 horas contadas da efetivação da prisão.

3. PRISÃO PREVENTIVA Depois da prisão em flagrante, que, sem dúvida, é uma das mais ordinarizadas, mais conhecidas, a prisão preventiva é a que mais se notorizou com a reforma do sistema prisional. É uma prisão ampla, que tem uma série de previsões de cabimento.

3.1 Conceito Faz-se um conceito estratificado da prisão preventiva, conceituando-a de maneira individualizada, para que, em cada tópico do conceito, seja possível estabelecer os vínculos lógicos importantes. Tecnicamente, portanto, prisão preventiva é:

- Prisão cautelar; - Cabível durante toda a persecução penal (portanto, durante o inquérito policial, o processo e,

havendo urgência, poderá ser decretada mesmo antes do início formal da investigação); - Decretada pelo juiz ex officio (na fase processual) ou por provocação;

Observação: Os legitimados para provocar são o Ministério Público, o querelante (ações privadas), o Delegado e o assistente de acusação (vítima do crime ou quem venha a sucedê-la, que se habilita no processo para auxiliar o Ministério Público – artigos 268 ao 273 do CPP).

- Sem prazo; - Desde que presentes os requisitos dos artigos 312 e 313 do CPP.

3.2 Requisitos de admissibilidade No Processo Civil, os requisitos de uma medida cautelar são fumus boni iuris e periculum in mora. Não se confunde, contudo, com a esfera penal. Há que se fazer uma correção terminológica.

3.2.1 Fumus commissi delicti (fumaça da prática do delito) Na esfera penal, há outro tipo de fumaça, o chamado fumus commissi delicti. Assim, para decretar a prisão preventiva, é necessário haver indícios de autoria somados à prova da materialidade. É isso que se conhece como justa causa da prisão preventiva.

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3.2.2 Periculum libertatis (perigo da liberdade) O periculum libertatis, em última análise, vai dar as hipóteses de decretação da preventiva. Afinal, se a liberdade da pessoa é um perigo, ela merece ser presa. As hipóteses amparadas por lei que justificam o cárcere são sete:

A. Garantia da ordem pública (para o STJ, a ordem pública está em risco quando o agente, em liberdade, provavelmente continuará a delinquir, é sinal de que a ordem pública está em risco, e, portanto, almeja-se, com a prisão, preservar a paz social que poderia ficar fragilizada).

B. Garantia da ordem econômica (almeja-se evitar a reiteração de delitos contra a ordem econômica).

C. Garantia da instrução criminal (a fase instrutória é a fase de prospecção de provas, de modo que se aquele indivíduo é um risco à demonstração da verdade por estar comprometendo a livre produção probatória, ele deve ser preso – almeja-se, portanto, preservar a livre produção probatória).

D. Garantia da aplicação da lei penal (almeja-se evitar a ocorrência de fuga). Observação: A mera ausência injustificado do réu a um ato do processo, por si só, não autoria a decretação da preventia. A medida adequada é a condução coercitiva. A prisão não pode ser banalizada. Do mesmo modo, a situação econômica privilegiada (riqueza absoluta) ou a condição de hipossuficiência econômica (miserabilidade extrema), por si sós, não são fundamentos individual do cárcere.

E. Ausência de identificação civil (com a reforma do sistema prisional, fica autorizada, para a pessoa que não tem nada que a identifique civilmente, a decretação da prisão preventiva – nesse caso, a preventiva perdura até a apresentação do documento ou o esclarecimento da dúvida quanto à identidade).

F. Violência doméstica (a Lei Maria da Penha, para blindar a vítima da violência doméstica, trouxe as chamadas medidas protetivas de urgência, as quais criam uma membrana protetora na vítima da violência doméstica na expectativa de que ela possa voltar a viver com dignidade – o descumprimento dessas medidas autorizam a prisão preventiva).

Observação: Além da mulher, as medidas albergam os idosos, as crianças, os adolescente e os enfermos.

G. Medidas cautelares do artigo 319 do CPP (havendo descumprimento das medidas, o magistrado poderá: (I) substituir a medida por outra mais adequada ao agente; (II) cumular, também, com outra ou outras, aumentando o ônus; e (III) decretar a preventiva.

Observação: Nos crimes contra o sistema financeiro, haveria uma hipótese autônoma de decretação da prisão preventiva. Extremamente polêmica e de duvidosa constitucionalidade. O sistema financeiro brasileiro é composto pelos bancos públicos ou privados e das instituições equiparadas. Nos crimes contra o sistema financeiro, a prisão preventiva seria cabível em razão da magnitude da lesão (se houve um rombo vultoso, significativo, com envergadura, a prisão estaria autorizada.

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3.3 Admissibilidade da preventiva nos diversos delitos

A prisão preventiva não é uma prisão banalizada, que cabe para todo tipo de crime, mas ela cabe para um núcleo específico predefinido em virtude de determinados parâmetros. Assim, além da fumaça e do perigo, que, efetivamente, caracterizam os requisitos de admissibilidade da preventiva, ainda haverá uma reflexão complementar, para saber se o crime comporta preventiva. Regra geral, a preventiva é cabível em crime doloso com pena superior a quatro anos. Eventualmente, contudo, a quantidade de pena será indiferente para a decretação da preventiva.

3.3.1 Hipóteses em que a quantidade de pena é indiferente: A. Ausência de identificação civil (a doutrina chega a dizer que nem se o crime é culposo interessa); B. Descumprimento de medida protetiva no âmbito da violência doméstica; C. Reincidência em crime doloso.

3.4 Questões complementares

3.4.1 Preventiva x Excludente de ilicitude Havendo indícios da presença de uma excludente de ilicitude, a prisão preventiva não poderá ser decretada (artigo 314, CPP).

3.4.2 Fundamentação do mandado Quando o juiz decreta uma prisão preventiva, ele o faz por intermédio de uma decisão interlocutória. Toda e qualquer decisão judicial deve ser motivada. Essa exigência de motivação é estabelecida no texto da Constituição, tendo respaldo, também, no CPP, que repete a exigência da devida e adequada motivação. Então, de acordo com o artigo 93, IX, da CF/88 c/c artigo 315 do CPP, prisão preventiva decretada sem a idônea fundamentação é manifestamente ilegal e, como tal, merece relaxamento. A mera repetição do texto normativo pelo juiz ao decretar a prisão não significa fundamentação. Isso é o que prevê o STJ. Assim, a fundamentação da decretação da prisão preventiva exige que o juiz, no mandado, apresente os fundamentos que revelem que a liberdade do agente é um risco.

3.4.3 Tempo da prisão preventiva Não há previsão legal de prazo de durabilidade. Dessa forma, afirma-se que a prisão se estende no tempo enquanto houver necessidade, que é medida pela presença das respectivas hipóteses de decretação. Se as hipóteses desaparecerem, a preventiva deverá ser REVOGADA (artigo 316, CPP). Assim, para prisão preventiva decretada legalmente, mas que passou a ser desnecessária, cabe o requerimento de revogação da preventiva como meio de se conseguir a liberdade. Advertência 1: Como advogado, o requerimento de revogação da preventiva é apresentado ao juiz responsável pela decretação, pleiteando-se a revogação da medida, em virtude do desaparecimento do motivo justificante. Advertência 2: Nada impede que a prisão preventiva seja redecretada pelo surgimento de novas provas, denotando a respectiva necessidade. A prisão preventiva é volúvel, instrumental, podendo ser decretada, revogada e redecretada quantas vezes se fizerem necessárias. É por isso que é senso comum na doutrina afirmar que a prisão preventiva segue a cláusula rebus sic standibus (como as

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coisas estão), ou seja, a prisão preventiva segue seu curso natural enquanto as coisas permanecerem como estão. A prisão preventiva, portanto, é adaptável à realidade da persecução penal. Advertência 3: Preventiva temporalmente excessiva. Se o indivíduo está preso preventivamente, de forma imoderada, sem que o processo evolua, é sinal que a razoável duração do processo e a razoável duração da prisão cautelar não foram atendidas, de forma que o cárcere é manifestamente ilegal e a prisão deve ser RELAXADA (artigo 5º, LXXVIII, CF/88).

3.4.4 Prisão domiciliar Em 2011, quando o sistema prisional foi reformulado, a prisão domiciliar foi inaugurada como fator de substituição da prisão preventiva. Assim, o juiz, está autorizado, por um critério nitidamente humanitário, a substituir a prisão preventiva pela prisão domiciliar, desde que exista estrita necessidade, devidamente motivada, nas hipóteses legalmente estabelecidas (artigos 317 e 318, CPP). Isso porque existem pessoas que se forem levadas ao estabelecimento prisional comum, correrão sérios riscos (exemplo: gravidez de risco; indivíduo com mais de oitenta anos; pessoa gravemente enferma). 4. PRISÃO TEMPORÁRIA

A prisão temporária é a única prisão cautelar que não está prevista no CPP, mas vem modulada na legislação extravagante. Trata-se da Lei 7.960/89, com um marco temporal importante, porque foi aprovada um ano após o advento da CF/88. Afirma-se, para fins de referência interpretativa, que foi uma lei promovida para atender aos interesses da polícia.

4.1 Conceito Tecnicamente, a prisão temporária é a prisão cautelar cabível tão somente na fase de investigação policial, decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, ou por representação da autoridade policial, com prazo de 5 dias, desde que presentes os requisitos do artigo 1º da Lei 7.960/89. Observação: Se a prisão temporária subsiste na fase do processo, isso caracteriza uma prisão manifestamente ilegal e, como tal, merece ser relaxada. O mesmo vale para a prisão temporária que é decretada de ofício.

4.2 Requisitos (artigo 1º, Lei 7.960/89) Em se tratando de prisão cautelar, a prisão temporária pressupõe os requisitos genéricos do fumus commissi delicti e do periculum libertatis. Assim, a decretação da prisão temporária será decretada se:

I. Imprescindível ao inquérito policial = periculum libertatis; II. O indivíduo não possui residência fixa ou identificação civil = periculum libertatis; III. Houver indícios de autoria ou de participação em um dos crimes graves previstos em lei (artigo

1º, III, Lei 7.960/89) = fumus commissi delicti. Advertência 1: Uma parte da doutrina entende que o artigo 1º da Lei 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos) apresenta um rol complementar de delitos que admitiriam temporária.

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Em favor do réu, é possível defender a tese de que, fora do inciso III do artigo 1º da Lei 7.960/89), nenhum outro crime comportaria prisão temporária, o rol estaria fechado no inciso III. Trata-se de uma visão restritiva, garantista, mas pode ser adotada se vier embasada. Observação: Conjugação de incisos: para decretar a prisão temporária sempre será necessário o inciso III, mas ele deverá ser somado ao inciso I OU inciso II.

4.3 Procedimentos O procedimento começa com uma provocação. Em última análise, ele começa com um requerimento do Ministério Público ou com uma representação da autoridade policial. E essa provocação é feita ao juiz que dispõe de um prazo de 24 horas para deliberar.

4.3.1 Consequências.

4.3.1.1 Existência de prazo: Nos crimes comuns, o prazo de duração da prisão temporária é de 5 (cinco) dias, prorrogáveis por mais cinco, uma única vez. Nos crimes hediondos e assemelhados, por sua vez, o prazo é de 30 (trinta) dias, prorrogáveis por mais trinta, uma única vez. Advertência: Quando o prazo da temporária acaba, nada impede que o juiz decrete a preventiva, se seus requisitos estiverem presentes. Mas se o prazo da temporária chega ao fim sem que o juiz a revogue ou decrete a preventiva, a prisão temporária se autorevoga pelo decurso do tempo, e a libertação do agente independe da expedição de alvará de soltura, sob pena de manifesta ilegalidade.

4.3.1.2 Oitiva do MP: A decretação da temporária e a prorrogação do prazo pressupõe deliberação do juiz com prévia oitiva do Ministério Público.

4.3.1.3 Postura do juiz: Quando o magistrado decreta uma prisão temporária, ele tem a sua disposição um cardápio de atos para fiscalizar o bom andamento da prisão, o que, em última análise, tem como objetivo coibir a tortura. São três alternativas: - Apresentação do preso (condução do preso ao fórum para que ele o inspecione pessoalmente); - Submeter o preso a exame de corpo de delito; - Requisitar informações à autoridade policial.

4.3.1.4 Mandado prisional: Na prisão temporária, o mandado será expedido em duas vias, sendo que uma é entregue ao preso para comunicá-lo dos motivos e dos responsáveis pela prisão, servindo como "nota de culpa". Advertência: Essa formalidade é também aplicável na prisão preventiva.

4.3.1.5 Separação do preso: A lei de prisão temporária (Lei 7.960/89) determinava que o preso temporário ficaria separado do preso definitivo (aquele que já tem contra si uma sentença transitada em julgado), o que era feito para preservar o preso temporário, uma vez que ele é presumivelmente inocente. Essa era a previsão da antiga redação do artigo 3º da Lei. No entanto, o artigo 300 do CPP instituía que isso só aconteceria se fosse possível, deixando uma zona de conforto para o juiz. O artigo 300 do CPP foi, então, reformado, havendo redação similar ao artigo

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3º da Lei de Prisão Temporária. Assim, o preso cautelar deve ficar separado do preso definitivo. Se o juiz acomodar todos juntos por ausência de estrutura prisional, essa prisão passa a ser ilegal, merecendo relaxamento. Não se pode flexibilizar garantias.

5. PRISÃO POR APRESENTAÇÃO

Quem se apresenta voluntariamente à autoridade policia e confessa um crime não será preso em flagrante, pois tal situação não se enquadra nas hipóteses legais de flagrância (artigo 302, CPP). Todavia, em havendo estrita necessidade, poderá representar pela decretação da prisão preventiva ou da prisão temporária, desde que os requisitos de admissibilidade estejam presentes. 6. COMPARATIVO PRISIONAL

Advertência: Requerimento apresentado ao juiz, por intermédio de uma petição: - Relaxamento - Revogação - Liberdade provisória

Essas são as peças privativas de advogado. O HC não é peça privativa de advogado, e sim ação autônoma.

PRISÃO EM FLAGRANTE PRISÃO PREVENTIVA PRISÃO TEMPORÁRIA

Ilegal: Relaxada. Ilegal: Relaxada. Ilegal: Relaxada.

Legal, mas desnecessária: Liberdade provisória.

Legal, mas desnecessária: Revogada.

Autorrevoga-se pelo decurso do prazo.

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TEMA IV – AÇÃO PENAL PRIVADA 1. PRINCÍPIOS

1.1 Conveniência / Oportunidade O ofendido, mesmo possuindo em suas mãos indícios de autoria e prova da materialidade delitiva, pode optar por não oferecer a queixa crime, ou seja, não está obrigado. Essa é a chamada renúncia da queixa (causa extintiva de punibilidade), podendo ser expressa ou tácita. Pode, ainda, não oferecer a queixa-crime no prazo legal de 6 (seis) meses.

1.2 Disponibilidade Após o oferecimento da queixa-crime, a vítima pode dela desistir, dispor. Isso porque o interesse não é público, mas particular do ofendido. Não depende de anuência do Ministério Público. Via de regra, pode ser externado pelo instituto do perdão do ofendido. Para que tenha função jurídica, contudo, o ofensor deve aceitar esse perdão, de maneira expressa ou tácita. Quando aceito, estará extinta a punibilidade do ofensor. O perdão tácito se dá com a prática incompatível de querer continuar a processar o autor do crime. A aceitação tácita, por sua vez, ocorre com o silêncio (exemplo: intimado a se manifestar, não responde dentro do prazo de três dias). É possível que a disponibilidade da ação penal privada seja exercida pelo instituto da perempção. O titular da Ação Privada precisa dar andamento a ela (não é o MP o titular, nem o Estado). Caso a vítima, após oferecer a queixa crime, intimada, e.g., não dê andamento ao feito pelo prazo de até 30 (trinta) dias, haverá perempção (artigo 60, CPP) e estará extinta a punibilidade do agente (artigo 107, CP).

1.3 Intranscendência / Pessoalidade / Instransmissibilidae O mencionado princípio prevê que a queixa crime somente pode ser oferecida contra aquele que, de alguma maneira, contribuiu para a prática do crime. Isso porque o Brasil adota a responsabilidade penal subjetiva, não sendo possível oferecer a queixa crime contra um responsável civil do autor do crime ou contra o seu herdeiro, porque a responsabilidade não é objetiva, é personalíssima.

1.4 Indivisibilidade O princípio da indivisibilidade leciona que quando alguém é vítima de crime de ação penal de iniciativa privada e é vítima de várias pessoas (pluralidade de sujeitos ativos), esse ofendido não pode oferecer a queixa crime contra um e não contra outro. Obrigatoriamente, ela deve ser oferecida contra todos aqueles que concorreram para a prática do crime ou não deve ser oferecida contra ninguém. Queixa crime não pode ser objeto de vingança, ou de extorsão ou coação (se não houvesse o princípio ora em análise, poderia ser possível, inclusive, leiloar a queixa crime). Para se evitar isso foi que a Lei Penal previu tal princípio. O MP deve zelar por sua indivisibilidade. Esses são os termos do artigo 48 do CPP.

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2. ESPÉCIES

São três as espécies de ação penal de iniciativa privada. São elas a Ação Penal Privada Exclusiva, a Ação Privada Personalíssima e a Ação Penal Privada Subsidiária da Pública.

2.1 Ação Penal Privada Exclusiva A ação penal privada exclusiva é também conhecida como Ação Principal. Isso porque dentre as espécies de ação penal privada, ela é a regra. Quase a totalidade dos crimes de iniciativa privada são dessa espécie. Aliás, a esse propósito, inclusive, dos crimes que são de iniciativa privada, há apenas um que não é de ação penal privada exclusiva (e, sim, personalíssima). A identificação de um crime como dessa espécie de ação se dá com a leitura da própria lei, que vai dizer "somente se procede mediante queixa". Os crimes contra a honra, e.g., quando são de ação privada, são de ação exclusiva. Outro exemplo é o crime de dano contra o patrimônio privado. Sendo caso de Ação Penal Exclusiva, poderá haver a substituição na titularidade da Ação. Assim, se a vítima do crime vier a falecer ou se tornar incapaz, podem assumir a ação o cônjuge, o companheiro, o ascendente, o descendente ou o irmão (C.C.A.D.I.). Essa substituição pode ocorrer antes ou depois do oferecimento da queixa. O prazo para o oferecimento da queixa é de 6 (seis) meses, contados do conhecimento da autoria delitiva. Em se tratando de prazo decadencial, sua inobservância gera a extinção da punibilidade. A contagem desse prazo deve ser feita nos termos do artigo 10 do CP, ou seja, inclui-se o dia do início e exclui-se o dia do fim. Frise-se, ainda, que esse prazo não se suspende, nem se interrompe, de modo que se o prazo terminar em sábados, domingos ou feriados, não há prorrogação para o próximo dia útil. É prazo de natureza material e não de natureza processual.

2.2 Ação Penal Privada Personalíssima A ação Penal Privada Personalíssima somente se aplica em um único caso, qual seja, o crime de induzimento a erro essencial ou ocultação de impedimento para o casamento (que não seja casamento anterior), artigo 236 do CP. Nesse caso, apenas e tão somente o cônjuge enganado é que pode oferecer a queixa crime. Não pode haver substituição da parte na titularidade da ação. Se a vítima morrer, a ação será parada. Tal como na ação principal, o prazo para intentar a ação personalíssima é de 6 (seis) meses, mas, nesse caso, é contado não do conhecimento da autoria delitiva, mas do trânsito em julgado da sentença anulatória do casamento. Se o sujeito é menor de 18 (dezoito) anos, o casamento, para fins penais, não o emancipa. Com isso, o prazo de seis meses só começa a contar quando ele completar os 18 anos, ainda que já tenha o trânsito em julgado da sentença anulatória do casamento.

2.3 Ação Penal Subsidiária da Pública A ação penal privada subsidiária da pública é também conhecida como queixa-crime subsidiária. Essa ação penal tem previsão constitucional (artigo 5º, LIX), bem como no CPP (artigo 29) e no CP (artigo 100, § 3º).

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O crime tratado na ação penal privada subsidiária da pública não é crime que nasceu na lei como crime de ação penal privada. É crime de ação penal de iniciativa pública, cujo titular é o MP. Mas o MP, dentro do prazo que possui para o oferecimento da denúncia, fica inerte, não a oferecendo ou não requerendo novas diligências ou não requerendo arquivamento. Ao permanecer silente, surge para a vítima a possibilidade, a legitimidade para o oferecimento da queixa-crime subsidiária. O prazo para o oferecimento também é de 6 (seis) meses, mas, nesse caso, conta-se a partir de quando termina o prazo que o MP tinha para se manifestar. Quando o acusado está solto, por exemplo, o MP tem, em regra, 15 (quinze) dias para oferecer a denúncia (artigo 46, CPP). Dessa forma, se permanecer inerte, a contagem do prazo começa no 16º dia. 3. QUEIXA CRIME 3.1 Momento Se a queixa crime é uma petição inicial (inicial acusatória), o momento dela, obrigatoriamente, é antes do processo. A partir de um caso concreto, facilmente se percebe que não houve recebimento, citação, sentença, mas apenas haverá a narrativa de um fato. Nesse caso, o redator da peça está na qualidade de advogado da vítima.

Observação: Não basta observar a disposição do tipo penal ("somente se procede mediante queixa") para saber se o crime é de iniciativa privada. Deve-se, também, observar as disposições penais do capítulo ou do título em que aquele crime se encontra.

3.2 Crimes contra a honra Os crimes contra a honra são calúnia (artigo 138, CP), difamação (artigo 139, CP) e injúria (artigo 140, CP). Nenhum desses artigos diz que são de ação penal privada. Essa disposição se encontra no artigo 145 do CP.

3.3 Crime de Dano O crime de dano contra o patrimônio privado vem tipificado no artigo 163 do CP, mas é o artigo 167 do CP que traz a previsão de que a ação penal do crime é privada.

3.4 Endereçamento A queixa-crime deve ser endereçada ao Juiz de direito (se o crime é de competência da Justiça Comum Estadual), ou Juiz Federal (se o crime é de competência da Justiça Comum Federal – artigo 109, CF). Esse juiz pode estar alocado no Juizado Especial Criminal (se se tratar de infração penal de menor potencial ofensivo), ou em uma Vara Criminal, ou, ainda, em uma Vara do Júri. Destaca-se que se houver Justiça Estadual, o nome correto é Comarca. Se for Justiça Comum Federal, fala-se em subseção judiciária.

3.5 Preâmbulo 1. Qualificação da vítima: nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF, endereço, devendo o

querelante estar representada por advogado (deve-se indicar procuração específica em anexo).

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2. Previsão legal: o fundamento legal da peça é o artigo 41 do CPP (c/c o artigo que diz que o crime é de ação penal de iniciativa privada).

3. Qualificação do acusado: nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF, endereço.

3.6 Fatos Narrar fatos de maneira objetiva, contendo início, meio e fim.

3.7 Direito Identificar os crimes e narrar crime a crime, observando se há dolo, se foi tentado ou consumado. Após, observar se há agravantes (artigo 61 do CP) ou concurso de crimes (artigos 69/71).

3.8 Pedidos Primeiramente, pedir o recebimento da queixa-crime. Após, pedir a citação dos querelados para que sejam processados e, ao final, condenados pelos crimes em questão. Em seguida, pedir a manifestação do Ministério Público. Prosseguir requerendo a fixação de valor mínimo de indenização pelos prejuízos sofridos (artigo 387, IV do CPP). Por fim, requerer a intimação e a oitiva de testemunhas.

3.9 Procuração específica A procuração específica vem como anexo. Na OAB, após a peça, em uma folha separada. Deve-se qualificar a vítima, que nomeia e constitui o procurador, outorgando-lhe poderes específicos para oferecer a queixa-crime. Afirmar contra quem se está oferecendo a queixa, qualificando, também, o querelado. Ao final, fazer um breve relato dos fatos. Inserir local e data e o nome da vítima ao final. Observação: Não colocar "Advogado… OAB nº".

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TEMA V – JÚRI 1. CONSIDERAÇÕES INICIAS O procedimento do Júri foi remodelado pela reforma de 2008, com a Lei 11.689/08. Essa Lei propôs uma repaginação do procedimento escalonado do Júri. A partir desse novo influxo de tratamento, algumas peças podem ser extraídas desse procedimento. O Júri tem disciplina na CF, em seu artigo 5º, inciso XXXVIII da CF. Assim, o Júri, hoje, tem status de verdadeira cláusula pétrea. Funciona tanto como direito quanto como garantia fundamental. Dentro dessa dúplice análise, o Júri é um direito fundamental de participação popular na administração da Justiça. Participação do povo na condição de jurados. A garantia fundamental é a possibilidade (garantia) de ser julgado por seus pares, caso, eventualmente, se pratique um crime doloso contra a vida. 2. PRINCÍPIOS

Há quatro princípios constitucionais específicos que regem o procedimento e o tribunal do júri.

2.1 Princípio da plenitude de defesa Pelo princípio da plenitude de defesa, além da defesa técnica pelo advogado, também a defesa pode invocar argumentos metajurídicos (sentimentais, filosóficos, econômicos).

2.2 Princípio do Sigilo das Votações O jurado pode sofrer intimidações pelas partes ou de seus familiares, caso seja identificado o seu voto. O sigilo ocorre por intermédio da sala secreta, onde pessoas que possam intimidar o jurado não terão acesso, sob pena de nulidade absoluta. Além disso, o voto ocorre de maneira impessoal para que o jurado não seja identificado. Advertência: Atualmente, para preservar o sigilo, a unanimidade está vedada e com quatro votos em determinado sentido, o quesito estará suficientemente julgado.

2.3 Princípio da soberania dos veredictos O mérito da deliberação dos jurados não poderá, em regra, ser alterado pelos demais órgãos do Judiciário. Pode, contudo, sofrer mitigações. A primeira mitigação ocorrerá quando os jurados julgarem a decisão manifestamente contrária às provas. A defesa, então, interpõe apelação e o TJ pode cassar o julgamento e mandar o réu para novo Júri, mas isso será feito apenas uma vez (CPP, artigo 593, III, "d"), esse fundamento da apelação só poderá ser invocado uma vez. A segunda mitigação decore da ação de revisão criminal. À luz do artigo 621 do CPP, aquele que foi injustamente condenado por decisão transitada em julgado emanada do Júri, poderá ser diretamente absolvido na ação de revisão criminal.

2.4 Princípio da competência mínima para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida O júri tem competência mínima para julgar crimes dolosos contra a vida, tentados ou consumados.

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Os artigos 121 a 128 do CP elencam as infrações dolosas contra a vida, quais sejam: homicídio, infanticídio, aborto e auxílio, induzimento ou instigação ao suicídio. O júri não julga apenas os crimes dolosos contra a vida, mas desde que sejam infrações comuns conexas, ainda que de menor potencial ofensivo. O simples fato de o crime consumar em morte não traz para o delito o status de infração dolosa contra a vida, não quer dizer que irão a júri, a exemplo da lesão corporal seguida de morte (crime contra a pessoa), do estupro seguido de morte (crime contra a honra) e do latrocínio (crime contra o patrimônio – súmula 603 do STF). 3. COMPOSIÇÃO O tribunal do júri é composto por um juiz presidente e 25 jurados, dos quais 7 serão sorteados para integrar o Conselho de Sentença.

3.1 Características 3.1.1 Tribunal heterogêneo O júri é um Tribunal heterogêneo, vez que é integrado por um Juiz Togado e Juízes do Povo.

3.1.2 Tribunal horizontal Entre o juiz togado e os jurados leigos não há hierarquia. Dessa forma, o júri é um Tribunal horizontal.

3.1.3 Órgão temporário O Júri é um órgão temporário, porque irá funcionar por determinados períodos do ano, definidos na Lei de organização Judiciária de cada Estado.

3.1.3.1 Enquadramento terminológico A. Reunião do Júri: Considerando que o Júri é um órgão temporário, a reunião do júri é

caracterizada pelos períodos do ano em que o Júri vai atuar. B. Sessão do Júri: é o ato solene onde o processo será submetido a julgamento.

3.2 Tribunal que vota por maioria

Há um total de 7 votos, mas havendo quatro votos no mesmo sentido, descartam-se as demais, vedando-se a unanimidade. 4. ESTRUTURA O procedimento do Júri é composto por duas fases (bifásico ou escalonado).

4.1 Judicium acusationis (ou sumário da culpa) 4.1.1 Oferta da inicial acusatória O primeiro passo é a oferta da inicial acusatória, seja ela a denúncia, seja ela a queixa crime. Isso porque, eventualmente, mesmo no procedimento do Júri, caberá ação privada subsidiária da pública.

4.1.2 Juízo de admissibilidade da inicial Faz-se o juízo de admissibilidade, podendo ser de duas naturezas: negativo, em caso de rejeição (artigo 395 do CPP), e, no caso de recebimento da inicial, positivo, quando haverá o início do processo.

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4.1.3 Citação Passa-se, na sequência, à citação, a qual pode ocorrer de forma pessoa, por edital ou por hora certa.

4.1.4 Apresentação da resposta escrita à acusação Segue-se a apresentação da resposta escrita à acusação (artigo 406-A, § 3º do CPP).

4.1.5 Juiz deve abrir vistas à acusação Depois que a resposta escrita é apresentada, cabe ao Juiz abrir vistas à acusação, para que ela se manifeste sobre os termos da resposta escrita, no prazo de 5 dias (artigo 409 do CPP).

4.1.6 Conclusão dos autos ao Juiz A partir daí, os autos seguem conclusos para o Juiz, que deverá sanear em 10 dias o processo. Observação: Conteúdo saneador:

1. Primeira posição: o Juiz irá deliberar sobre diligências que foram requeridas pelas partes. Além disso, o juiz superará nulidades e, na sequência, marcará a audiência de instrução, debates e julgamento, conforme interpretação do artigo 410 do CPP.

2. Segunda posição: o Juiz deverá deliberar sobre diligências, sanar nulidades, absolver sumariamente o réu, aplicando o artigo 397 do CPP, por autorização do § 4º do artigo 394 do CPP. Por essa posição, na resposta escrita no Júri, estaremos autorizados a requerer a absolvição sumária antes da audiência de instrução, aplicando-se o artigo 397 do CPP. Se o Juiz assim não entender, marcará a audiência de instrução e julgamento.

4.1.7 Audiência de instrução, debates e julgamentos Na sequência, passa-se à realização da audiência de instrução, debates e julgamento da 1ª fase.

4.1.7.1 Prazo: O prazo para que essa audiência seja realizada é de 90 dias, pouco importando se o réu está preso ou solto (artigo 412 do CPP). Como o CPP nada previu, por analogia, esse prazo é contado do recebimento da inicial acusatória. 4.1.7.2 Estrutura: A instrução e os debates orais são similares ao que acontece no procedimento comum ordinário.

A. Instrução: artigo 411, caput e §§ 1º e 2º do CPP. B. Debates orais: artigo 411, caput e §§ 1º e 2º do CPP. Advertência: nada impede que os debates orais sejam substituídos por memoriais e, na peça, deve-se conjugar o artigo 411, § 4º do CPP com o § 3º do artigo 403, também do CPP. C. Decisões do Juiz: O juiz tem a sua disposição quatro situações que podem impactar na

remessa ou não do réu aos jurados. 1ª Decisão: havendo indícios de autoria e prova da materialidade, o juiz estará autorizado a proferir pronúncia. A pronúncia é a decisão interlocutória mista não terminativa que encerra a primeira fase do Júri com a remessa do réu ao corpo de jurados (artigo 413 do CPP).

• Conteúdo: o juiz vai valorar: indícios de autoria; prova de materialidade; qualificadoras; causas de aumento de pena; eventual tese da tentativa ; eventual concurso de pessoas.

• Proibições: o juiz está proibido de analisar: causas de diminuição de pena; atenuantes; agravantes; concurso de crimes.

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• Postura do juiz: o juiz não poderá antecipar o juízo de culpa ou afastar peremptoriamente as teses de defesa, sob pena de nulidade absoluta (eloquência acusatória).

• Situação prisional do réu: o magistrado só poderá decretar o cárcere se presentes os requisitos da prisão preventiva (artigos 312 e 313 do CPP).

• Sistema recursal: o recurso cabível para impuganar a decisão de pronúncia é o RESE (artigo 581, IV, do CPP).

Advertência: nada impede que os debates orais sejam substituídos por memoriais e, na peça, deve-se conjugar o artigo 411, § 4º do CPP com o § 3º do artigo 403, também do CPP.

2ª Decisão: Ao final da primeira fase do júri, o magistrado pode estar convencido de que não há indícios de autoria ou materialidade impronúncia. A decisão de impronúncia é a sentença que extingue o processo sem julgamento de mérito, por ausência de lastro probatório que permita a remessa do réu aos jurados.

• Definitividade: a decisão de impronúncia não faz coisa julgada, tanto que, surgindo novas provas enquanto o crime não estiver prescrito, o Ministério Público terá aptidão para oferecer uma nova denúncia (parágrafo único do artigo 414 do CPP). Percebe-se que a impronúncia segue a cláusula rebus sic standibus (como as coisas estão).

• Sistema recursal: o recurso cabível para impugnar a decisão de impronúncia é o recurso de Apelação (artigo 416 do CPP).

Advertência: Essa apelação não possui efeito suspensivo, de forma de se o réu estava preso, será automativamente libertado, porque a apelação não obsta a libertação daquele que foi impronunciado. Observação: "Despronúncia" é a obtenção da impronúncia pelo êxito do RESE, apresentado para combater a pronúncia.

3ª Decisão: Havendo o juiz plena convicção da inocência do réu, a decisão que deve proferir é a de absolvição sumária, que é a sentença que extingue o processo com julgamento de mérito, reconhecendo a inocência do réu sem a necessidade de remetê-lo aos jurados.

• Hipóteses (pautadas em uma análise de certeza – artigo 415 do CPP –, porque a dúvida não autoriza a absolvição sumária): negativa de autoria; inexistência do fato; excludente de tipicidade; excludente de ilicitude; excludente de culpabilidade (a inimputabildiade só vai justificar a absolvição sumária ao final da instrução da primeira fase do júri se for a única tese da defesa – parágrafo único do artigo 415 do CPP).

• Sistema recursal: o recurso cabível para impugnar a sentença de absolvição sumária é o recurso de Apelação (artigo 416 do CPP).

Advertência: essa apelação não tem efeito suspensivo, de forma que se o réu estava preso, será imediatamente libertado.

4ª Decisão: Quando o magistrado se convence, ao final da primeira fase do júri, que o réu não atuou com dolo de matar (não houve animus necandi), e, dessa forma, aquele fato não integra um dos crimes da competência do Júri. Resta ao juiz proferir a decisão de desclassificação. A decisão de desclassificação, tecnicamente, é a decisão interlocutória mista que encerra a 1ª

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fase do júri, com a remessa dos autos ao juízo competente, afinal, o delito praticado não é da competência dos jurados.

• Sistema recursal: o recurso adequado para impugnar a decisão de desclassificação é o RESE (artigo 581, II do CPP).

• Situação prisional: o réu preso ficará à disposição do juízo competente (artigo 419 do CPP).

4.2 Judicium causae (Juizo da culpa) 4.2.1 Pressuposto lógico O pressuposto lógico para que a segunda fase comece é a existência da pronúncia.

4.2.2 Intimação da pronúncia O réu é intimado da intimação de forma pessoal, nos termos do inciso I do artigo 420 do CPP. Antes da reforma de 2008, se não fosse encontrado, o processo ficava parado até que ele fosse encontrado para ser intimado pessoalmente e, enquanto não fosse encontrado, o processo ficaria parado e o prazo prescricional corria normalmente. Era a chamada crise de instância. Atualmente, isso foi superado. Se o réu não for encontrado, será intimado por edital e o processo prossegue a sua revelia.

4.2.3 Definitividade da pronúncia Após a preclusão, a pronúncia torna-se inalterável, salvo pela ocorrência de fato novo superveniente, quando, então, o juiz vai oportunizar que a acusação adite a denúncia e que a defesa se manifeste, proferindo, assim, uma nova pronúncia (§ 1º do artigo 421 do CPP) de acordo com a nova realidade.

4.2.4 Início da segunda fase A segunda fase do júri começa com a preclusão da pronúncia, que ocorre por não ter havido recurso ou porque o recurso apresentado encontra-se definitivamente julgado.

4.2.5 Passo a passo da 2ª Fase do Júri 4.2.5.1 Primeiro passo: juiz deve abrir vistas à acusação para apresentação de requerimento de diligências em um prazo de 5 dias, podendo arrolar 5 testemunhas, conforme 422 do CPP, que serão ouvidas na sessão plenária. 4.2.5.2 Segundo passo:o juiz deve abrir vistas à defesa para apresentação de requerimento de diligências no prazo de 5 dias, podendo arrolar até 5 testemunhas, na órbita do artigo 522 do CPP, assim atendendo o critério da isonomia. 4.2.5.3 Terceiro passo: os autos serão conclusos ao juiz para sanear o processo.

• Conteúdo (artigo 423 do CPP): o juiz irá: sanear nulidades; deliberar sobre diligências requeridas; acostar um relatório que funciona como uma síntese do processo e que será entregue aos jurados, juntamente com a cópia da pronúncia; marcar audiência de instrução, debates e julgamento (sessão plenária).

4.2.5.4 Quarto passo: realização da sessão plenária.

• Abertura da sessão: Dos 25 jurados convocados, nos termos do artigo 432 ao 435 do CPP, devem comparecer ao menos 15 jurados para que a sessão seja aberta. Caso contrário, a

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sessão será remarcada (artigo 463 do CPP). Se o juiz abrir a sessão sem respeito ao quórum legal, haverá nulidade absoluta do processo, que pode ser invocada em preliminar de futura apelação (artigo 364, III, "i" do CPP).

• Sorteio do Conselho de Sentença: Serão sorteados os 7 jurados que efetivamente irão integrar o julgamento. Observação 1: Recusa – A recusa é a possibilidade de a parte impugnar o jurado sorteado. Há duas modalidades de recusa:

a) Recusas motivadas: caracterizam-se pela possibilidade de alegar e provar, naquele momento, a eventual suspeição ou impedimento do jurado, e o juiz decidirá de plano. Não há limitação numérica, podendo a parte impugnar quantos jurados quiser, desde que prove o fato gerador da suspeição daqueles jurado.

b) Recusas imotivadas (ou peremptórias): à luz do artigo 468 do CPP são aquelas conduzidas estrategicamente de acordo com o interesse da parte, havendo limitação de três recusas para cada uma das partes.

Observação 2: Pluralidade de advogados – Havendo pluralidade de advogados entre os réus, eles podem acordar que um só deles exerça a recusa em nome de todos os réus. Não havendo consenso, eles atuarão individualmente (artigo 469 do CPP). Observação 3: Estouro de urna – O estouro de urna ocorre pela não subsistência de 7 jurados para integrar o conselho, em razão das recusas. Resta ao juiz remarcar a sessão para o primeiro dia útil subsequente, convocando jurados suplentes. Nessa nova sessão, havendo mais de um réu, o juiz pode optar por desmembrar o julgamento, sendo cada um julgado em um dia diferente, de modo a evitar novo estouro de urna.

• Realização do compromisso: O jurado será compromissados a bem e fielmente desempenhar o seu papel, e será informado do dever de incomunicabilidade, ou seja, os jurados não podem conversar entre si ou com terceiros acerca dos fatos que integram o processo, sob pena de nulidade absoluta do processo.

• Realização da instrução: Os atos de prospecção de prova na sessão plenária são, estruturalmente análogos ao que ocorre na 1ª fase do júri com a alteração do número de testemunhas que na 2ª fase são em 5 para cada parte (artigos 473 a 475 do CPP).

• Debates orais: a) Distribuição: acusação: 1h30min; defesa: 1h30min; réplica (facultativa): 1h; e tréplica

(facultativa): 1h. Essa tréplica só corre se a acusação for à réplica. Advertência: No caso de pluralidade de réus, acrescenta-se 1h a mais em cada trecho dos debates, independente da quantidade de réus a mais. b) Proibições: as partes não poderão fazer referência, sob pena de nulidade, aos

seguintes itens: decisão de pronúncia; uso de algemas; referência ao silêncio; documento novo só poderá ser apresentado no plenário se a parte contrária foi comunicada com antecedência mínima de 3 dias úteis;artigos 476 a 781 do CPP.

c) Apartes: aparte é a intromissão de uma das partes na fala da outra e será disciplinada pelo Juiz.

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Advertência: o tempo do aparte é acrescido ao tempo de fala de quem foi interrompido.

• Parte para esclarecimentos: Encerrados os debates orais, cabe ao Juiz indagar aos jurados se estão aptos a julgar a causa, promovendo eventuais esclarecimentos. Na sequência, os quesitos serão lidos e explicados e as partes poderão promover eventuais contribuições.

• Sala secreta: Na sala secreta, será promovida a votação dos quesitos, vale dizer, das perguntas que serão formuladas aos jurados dentro da disciplina dos artigos 482 a 491 do CPP.

• Desfecho: Votados os quesitos, cabe ao Juiz confeccionar a sentença vinculada à deliberação dos jurados (artigos 492 a 493 do CPP), sendo que a sentença será lida em plenário e as partes já sairão intimadas para eventuais recursos (artigo 593, III do CPP).

5. PEÇAS NA 1ª FASE DO JÚRI

5.1 Queixa crime No Júri, há a possibilidade de uma ação privada, a partir de uma ação privada subsidiária da pública.

5.2 Resposta escrita à acusação No procedimento do Júri, logo após a citação do réu, caberá resposta escrita. Os termos da resposta escrita no Júri estão consubstanciados no artigo 406, § 3º do CPP. A partir disso, é possível suscitar preliminares de natureza processual (causas que são fatos geradores de nulidades), à luz do artigo 564 do CPP, bem como preliminares de mérito (causas de extinção da punibilidade), à luz do artigo 107 do CP. No mérito principal, é possível requerer absolvição sumária antes da audiência de instrução, à luz do artigo 397 do CPP (que seria aplicado a qualquer procedimento que tramita no 1º grau), como autoriza o 394, § 4º do CPP. Se o juiz não entender por absolver sumariamente o réu, ele pode protestar pelas provas admitidas em lei, aguardando a audiência de instrução e julgamento da primeira fase.

5.3 Memoriais Os memoriais, no Júri, acabam sendo apresentados como peça que vai anteceder a decisão final de primeira fase. Isso lembrando que, ao final da primeira fase do júri, há quatro decisões possíveis (pronúncia, impronúncia, absolvição sumária ou desclassificação). Assim, ao final da primeira fase do Júri, o embasamento normativo é o do artigo 411, § 4º c/c artigo 403, § 3º, ambos do CPP. Outra observação é quanto às teses. Em memoriais, pode-se pleitear preliminares, tanto processuais (564 do CPP) quanto de mérito (artigo 107 do CP). Os memoriais são aquela peça apresentada ao final da audiência de instrução da primeira fase do Júri. Assim, no mérito principal, pode-se requerer absolvição sumária, aquela pautada no artigo 415 do CPP, que é aquela ao final da AIJ, mas pode pleitear, ainda, a impronúncia (artigo 414 do CPP) e desclassificação do crime (419 do CPP).

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5.4 Sistema recursal

5.4.1 RESE para impugnar a pronúncia A base normativa desse RESE é o artigo 581, IV do CPP. No tocante às teses, é possível apresentar preliminares processuais (artigo 564 do CPP) ou de mérito, que se caracterizam como as causas de extinção de punibilidade (artigo 107 do CP). No mérito principal, requer-se a absolvição sumária (artigo 415 do CPP), impronúncia (artigo 414 do CPP) e desclassificação (artigo 419 do CPP). Como se vê, as teses sustentadas podem ser as mesmas cabíveis nos memoriais defensivos.

5.4.2 Apelação de impronúncia 5.4.2.1 Advogado de defesa: o advogado de defesa, muito provavelmente, estaria apelando da impronúncia para pleitear que o seu cliente fosse absolvido sumariamente (artigo 415 do CPP). Esse seria o mérito principal. Mas, por óbvio, também é possível pleitear preliminares processuais e de mérito. Observação: O embasamento normativo dessa apelação é o artigo 416 do CPP. 5.4.2.2 Advogado de acusação: esse advogado de acusação pode ser o advogado do assistente de acusação ou, em caso de subsidiária da pública, advogado do querelante. Nas teses, o advogado pode sustentar preliminares processuais (artigo 564 do CPP) ou de mérito (artigo 107 do CP). Além disso, deve-se atentar ao mérito principal, requerendo a pronúncia, esta pautada no artigo 413 do CPP. Como visto, essa apelação está embasada no artigo 416 do CPP. Se, eventualmente, essa apelação está sendo apresentada pelo assistente de acusação (que só poderá apelar se o MP não o fizer), o artigo 416 deve ser conjugado com o 598 do CPP.

5.4.3 Apelação da Absolvição Sumária O embasamento normativo é o artigo 416 do CPP. 5.4.3.1 Advogado de defesa: Ao final da primeira fase do Júri, o juiz pode absolver sumariamente o seu cliente a aplicar a ele medida de segurança, desde que a tese da inimputabilidade seja a única apresentada pela defesa. Se o juiz aplica a medida de segurança havendo mais de uma tese, ele proferiu decisão contrária ao parágrafo único do artigo 415 do CPP. A partir disso, é possível apelar dessa absolvição sumária pleiteando ao Tribunal de Justiça que absolva o réu em virtude da tese que lhe é mais favorável (aquela que não ocasiona aplicação de medida de segurança). Assim, além de preliminares, no mérito discute-se a contrariedade ao parágrafo único do artigo 415 do CPP, afinal o juiz só poderá absolver sumariamente aplicando medida de segurança se a tese da inimputabilidade for a única apresentada pela defesa. Existe, ainda, a possibilidade de um pedido alternativo. Se o Tribunal discordar da absolvição pautada na tese mais favorável ao cliente, que é a de uma absolvição própria, o Tribunal deveria pronunciá-lo. Pleiteia-se uma absolvição própria, pautada em outras teses defensivas eventualmente levantadas na 1ª fase do Júri.

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5.4.3.2 Advogado de acusação: Como advogado de acusação, a atuação ocorreria em uma ação privada subsidiária da pública ou na atuação como advogado do assistente de acusação. Advertência: o recurso do assistente de acusação é supletivo, ou seja, ele só irá apelar se o MP não o fizer (artigo 598 do CPP). Se o apelo é do assistente, o artigo 416 do CPP deve ser combinado com o artigo 598 do CPP.

5.4.4 RESE da Desclassificação O embasamento normativo do RESE é o artigo 581, II do CPP.

5.4.4.1 Advogado de defesa: É possível invocar preliminares e, no mérito, pleitear a absolvição sumária ou, eventualmente, a impronúncia. 5.4.4.2 Advogado de acusação (advogado do querelante ou do assistente de acusação): No recurso, podem ser invocadas preliminares e, no mérito, admite-se o pleito da pronúncia do réu.

6. PEÇAS NA 2ª FASE DO JÚRI Ao final da 2ª fase do Júri, o juiz, encerrando a sessão plenária, irá proferir sentença, que comporta Apelação, nas hipóteses do artigo 593, III do CPP. E o Código idealiza quatro situações de apelação, que podem ser invocadas na peça, inclusive de maneira alternativa. Essas alíneas do inciso III do artigo 593 do CPP, eventualmente, podem ser conjugadas havendo pertinência com o caso trazido na OAB.

6.1 Nulidade posterior à decisão de pronúncia Caberá apelação se houver nulidade posterior à decisão de pronúncia. As nulidades relativas ocorridas antes da pronúncia já estarão preclusas. Todavia, as nulidades absolutas ocorridas antes da pronúncia não precluíram (seja antes ou depois, nulidade absoluta não preclui) e podem ser invocadas na Apelação apresentada ao final da sessão plenária. Como consequência, havendo êxito na Apelação, o procedimento do Júri será anulado a partir da ocorrência do vício e o réu será submetido a um novo Júri com outros Jurados. Na peça, pleiteia-se a declaração de nulidade do procedimento e a submissão do réu a um novo Júri com outros Jurados.

6.2 Sentença do Juiz Presidente do Júri contrária à lei ou à deliberação dos Jurados O Juiz Presidente está vinculado à lei e, claro, ao veredicto dos Jurados, não podendo se distanciar, objetivamente, do teor da votação. Se, contudo, o juiz se comportar dessa maneira, cabe Apelação. Nessa Apelação, pleiteia-se que o Tribunal profira um acórdão ajustando a decisão ao texto da lei ou à deliberação dos jurados (artigo 593, § 1º do CPP). Isso, embora diferente do que acontece em outros procedimentos, em que há nulidade do processo, justifica-se no fato de que a sessão plenária é uma sessão que movimenta várias pessoas, demanda tempo substancial e custo para o Estado muito alto. Assim, por questão de política criminal, o legislador preferiu não permitir ao Tribunal invalidar a decisão e mandar proferir nova decisão e, sim, fazer o ajuste necessário.

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6.3 Sentença do Juiz Presidente do Júri com erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança

Mais uma vez, é cabível apelação por um problema relacionado ao Juiz Presidente do Júri, mas aqui um problema mais específico. Juiz injusto é aquele muito rígido ou muito brando dentro dos limites da lei. Por sua vez, o magistrado que comete erro é aquele que transborda os limites da norma. Pleiteia-se, na Apelação, que o Tribunal profira um acórdão em substituição à decisão proferida, corrigindo o erro ou a eventual injustiça (artigo 593, § 2º do CPP).

6.4 Decisão dos Jurados manifestamente contrária à prova dos autos O veredicto dos jurados goza de soberania, mas, por essa previsão legal, percebe-se que não é absoluta essa soberania. Nesse caso, pleiteia-se que o Tribunal casse o julgamento, remetendo o réu a um novo Júri com outros Jurados (artigo 593, § 3º do CPP). Destaca-se, contudo, que, por um critério político, o fundamento ora em questão (da alínea "d" do inciso III do artigo 593 do CPP) somente poderá ser invocado uma única vez no processo independente da parte que o invocou primeiro.

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TEMA VI – PROVAS 1. INTERROGATÓRIO DO RÉU O interrogatório do réu vem disciplinado nos artigos 185 a 196 do CPP.

1.1 Conceito O interrogatório do réu é o momento da persecução penal, em que o réu, se desejar, poderá apresentar a sua versão dos fatos.

1.2 Natureza jurídica O interrogatório tem natureza jurídica mista, híbrida, porque pode ser meio de prova ou meio de defesa. É meio de defesa porque, no interrogatório, o réu pode apresentar a sua versão dos fatos, de modo que, em última análise, o interrogatório caracteriza o exercício da autodefesa, bem como é meio de defesa porque o réu pode invocar o direito ao silêncio e este pode ser encarado como a melhor defesa a ser construída.

1.3 Necessidade O juiz NÃO pode, por mera conveniência, sonegar o momento para realização do interrogatório, sob pena de nulidade absoluta, conforme artigo 564, III, "e" do CPP.

1.4 Procedimento

1.4.1 Entrevista preliminar reservada com advogado A pessoa que será interrogada tem direito de se consultar, reservadamente, com o advogado ou com o defensor público. Isso potencializa o exercício do princípio constitucional da ampla defesa. O obstáculo a esse direito é fato gerador de nulidade absoluta por cerceamento ao exercício da defesa.

1.4.2 Presença obrigatória de defesa técnica Além disso, a presença de advogado é obrigatória, e a sua ausência ocasiona nulidade absoluta do ato (Súmula 523 do STF).

1.4.3 Interrogatório do réu preso 1.4.3.1 Regra geral: como regra geral, o juiz realiza o interrogatório dentro do estabelecimento prisional, mas isso acontece se os requisitos legais estiverem presentes (sala própria, publicidade do ato, presença do advogado e garantia da integridade do juiz, do promotor e dos auxiliares do juiz). Esses requisitos são cumulativos e estão pontificados no artigo 185, § 1º do CPP. 1.4.3.2 Regra especial: a regra específica, cabíveis nas hipóteses objetivamente selecionadas por lei, é o interrogatório por vídeo conferência (teleinterrogatório ou interrogatório online). Assim, o interrogatório por vídeo conferência é aquele realizado com captação de som e imagem com transmissão ao vivo por sistema satelitário ou tecnologia similar. As hipóteses taxativas do § 2º do artigo 185 do CPP são: risco à segurança pública (quem integra facção criminosa ou quem pode fugir); impossibilidade de o réu ser deslocado até o Fórum

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(pessoa gravemente enferma ou idosa); vítima ou testemunhas temerosas pela presença do réu na audiência; risco à ordem pública (ordem pública é sinônimo de paz social). Peculiaridades formais para que a vídeo conferência seja autorizada: 1ª - Ordem judicial motivada (somente o juiz pode autorizar a vídeo conferência, sob pena de nulidade do ato, e ele deve fazer isso de forma motivada) – se esse requisito não for atendido, o ato é nulo, porque a prova seria ilícita; 2ª Direito de entrevista preliminar reservada; 3ª - Direito de comunicação (os advogados terão direito de falar entre si sem ingerência do Estado e, além disso, o réu terá direito de se comunicar com o advogado que está no fórum; 4ª - Haverá intimação das partes com antecedência mínima de 10 dias para que possam se preparar. 5ª - Fiscalização (a sala de vídeo conferência sofre a chamada "pam fiscalização", porque será fiscalizada pela OAB, pelo Juiz da causa, pelo Promotor da causa e pela Corregedoria do Judiciário). 1.4.3.3 Regra subsidiária: Se não estiverem presentes os requisitos do artigo 185, § 1º do CPP (ida do juiz ao estabelecimento prisional) ou sendo hipótese de vídeo conferência, mas não há tecnologia para tanto, resta aplicar a regra subsidiária (determinar a condução do preso ao fórum).

1.4.4 Estrutura do procedimento O primeiro ato no corpo do interrogatório é a qualificação do réu (o juiz colhe elementos para diferenciá-lo das demais pessoas). O próximo passo é a informação sobre o direito ao silêncio (na composição do artigo 186 do CPP, percebe-se que o direito ao silêncio não acoberta a qualificação – primeiro ele é qualificado e só depois informado sobre o direito ao silêncio). A seguir, há as perguntas do juiz. São feitas, primeiro, perguntas sobre a pessoa do réu (histórico de vida). Após, perguntas sobre os fatos que lhe são imputados (artigo 187 do CPP). O quarto passo é o de reperguntas, em que são feitas perguntas formuladas pela acusação e pelo advogado de defesa. Eventualmente as reperguntas podem se submeter a filtro judicial, mas o juiz só pode denegar pergunta impertinente ou irrelevante (artigo 188 do CPP). Ao final, há o desfecho, quando o ato será formalizado no respectivo termo a ser devidamente assinado pelo interrogado. Se o réu não sabe, não pode ou não quer assinar tal circunstância, ficará consignada no termo. Observação: Predomínio da palavra falada. O interrogatório do portador de necessidades especiais será promovido de acordo com as diretrizes do artigo 192 do CPP. Por sua vez, o interrogatório do estrangeiro será promovido com a utilização de intérprete (artigo 193 do CPP). 2. EXAME DE CORPO DE DELITO

2.1 Conceito O exame de corpo de delito pode ser conceituado de maneira bifurcada, estudando o que é corpo de delito e o que é exame de corpo de delito. O corpo de delito são os vestígios deixados pela infração quaisquer que sejam eles. Em uma lesão corporal, por exemplo, o hematoma. Quando o crime deixa vestígio ele é chamado de não transeúnte. O exame de corpo de delito, por sua vez, tem por objeto os vestígios deixados pela infração.

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2.2 Realização Para bem compreender o exame de corpo de delito exige a conjugação dos artigos 158 e 167 do CPP. De acordo com o artigo 158 do CPP, se o crime deixou vestígio, é obrigatório o exame de corpo de delito, sendo realizado o exame direto, no qual os peritos dispõe dos próprios vestígios para analisar. Não sendo possível, será elaborado o exame indireto, no qual os peritos se valem dos elementos acessórios para elaboração do laudo. Não sendo possível a realização nem do exame direto, nem do exame indireto, à luz do artigo 158, a ausência da perícia não será suprida pela confissão. Entretanto, a ausência desse exame de corpo de delito pode ser suprido com a utilização da prova testemunhal (artigo 167 do CPP). Advertência: Quando o STJ analisa a contemporização entre os artigos 158 e 167 do CPP, percebe que o exame indireto não precisa contar com intervenção de perito, sendo sinônimo de ouvir a prova testemunhal. Trata-se de uma visão pragmática do STJ. 3. PROVA ILÍCITA A prova ilícita está disciplinada no artigo 5º, LVI da CF e no artigo 157 do CPP.

3.1 Conceito 3.1.1 Doutrina Para a doutrina, há um gênero, que é a prova vedada, que comporta duas espécies, a prova ilícita e a prova ilegítima. A prova ilícita é aquela que viola o direito material (CP, legislação penal e princípios constitucionais penais). A prova ilegítima, por sua vez, é aquela que viola o direito processual (CPP, legislação processual e princípios constitucionais).

3.1.2 Legal O CPP, no artigo 157, não promoveu a diferenciação doutrinária, considerando como ilícita a prova que viola a norma constitucional ou infraconstitucional. Pouco importa se de direito material ou processual.

3.2 Teorias sobre a utilização da prova ilítica

3.2.1 Teoria da Proporcionalidade / da Razoabilidade / do Sacrifício O STF e a doutrina amplamente majoritária entendem pela admissibilidade da prova ilícita, desde que seja para beneficiar o réu. Então, entre a legalidade na produção da prova e o status libertatis, este deve prevalecer e a prova ilícita pode ser utilizada para inocentar o réu.

3.2.2 Teoria dos Frutos da Árvores Envenenada (fruits of the poisonous tree) / Teoria da Prova ilícita por Derivação

Por essa teoria, as provas que decorrem de uma prova ilícita também estarão contaminadas por derivação (§ 1º, primeira parte, artigo 157 do CPP). Duas teorias decorrem da teoria dos frutos da árvore envenenada.

3.2.2.1 Teoria da descoberta inevitável: A prova que decorre de uma ilícita não estará contaminada se ela fatalmente já seria descoberta por uma outra fonte independente (parte final do § 1º do artigo 157 do CPP).

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3.2.2.2 Prova Absolutamente Independente: Se a prova ilícita existente está isolada, ela será retirada dos autos e destruída na presença facultativa das partes (§ 3º do artigo 157 do CPP). Por sua vez, o processo poderá ser aproveitado se existirem outras provas válidas absolutamente independentes da prova ilícita. Se essas outras provas dependerem, não há como aproveitar.

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TEMA VII – TEORIA GERAL DOS RECURSOS 1. CONCEITO O recurso é uma ferramenta voluntária de impugnação das decisões judiciais, construída na mesma relação processual, que antecede a coisa julgada, tendo aptidão para esclarecer, integrar, reformar ou anular o julgado. 2. NATUREZA JURÍDICA O recurso nada mais é do que um desdobramento (temporal e espacial) do direito de ação. 3. PRINCÍPIOS

3.1 Princípio da voluntariedade O recurso é intimamente ligado à estratégia da parte, que só recorrerá se entender conveniente. Não é algo coativo. Nem mesmo o promotor e o defensor que são concursados são obrigados a recorrer.

3.1.1 Recurso de ofício (segundo grau necessário ou obrigatório) O recurso de ofício nada mais é do que um fenômeno que exige que o juiz remeta a decisão dele para que o tribunal reanalise mesmo que as partes não recorram dessa decisão. Mas isso ocorre apenas naquelas hipóteses objetivamente selecionadas por lei. O STF, na súmula 423, se o juiz, nas hipóteses legalmente exigidas, não promover a remessa, a decisão ficará pendente e não transitará em julgado. Logo, o recurso de ofício nada mais é do que um requisito para que a decisão transite em julgado, é uma condição de eficácia da decisão. São as principais hipóteses:

A. Concessão de HC para juiz de 1º grau (artigo 574, I do CPP). B. Concessão da reabilitação criminal (artigo 746 do CPP).

3.2 Princípio da taxatividade Pelo princípio da taxatividade, os recursos, na esfera penal, estão exaustivamente previstos em lei. É também chamado de princípio da legalidade recursal.

3.3 Princípio da fungibilidade De acordo com a fungibilidade, um recurso equivocado pode ser conhecido como se fosse o recurso correto, desde que presentes os seguintes requisitos:

A. Ausência de má-fé (segundo o STF, presume-se a má-fé quando o recurso equivocado goza de mais prazo do que o recurso correto, e o recorrente se beneficiou do excesso).

B. Ausência de erro grosseiro (na escolha do recurso).

3.4 Princípio da convenção Pelo princípio da convenção, o tribunal incompetente reapontará e remeterá o recurso de ofício para o tribunal competente em homenagem a instrumentalidade das formas (erro no endereçamento).

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3.5 Princípio da proibição da reformatio in pejus

3.5.1 Conceito O tratamento normativo é estabelecido na parte final do artigo 617 do CPP. Pelo princípio da proibição de reforma para pior, quando o tribunal julgar o recurso da defesa, a situação do réu não pode ser piorada (proibição direta). Por sua vez, se o tribunal anula a decisão em virtude de recurso da defesa, devolvendo os autos para que o juiz profira nova decisão, a situação do réu também não poderá ser piorada (proibição indireta) pela nova decisão. Percebe-se que para exasperar a situação do réu, é necessário que tenha havido recurso de Apelação (recurso da acusação).

3.5.2 Reformatio in pejus X Júri A nossa doutrina, historicamente, afirma que esse princípio não seria aplicado aos Jurados, uma vez que estes atuam com soberania (artigo 5º, XXXVIII da CF). Todavia, o STF, em recente decisão, reconheceu que se o réu vai a novo Júri porque o primeiro foi invalidado em razão de recurso da defesa, a situação do réu na nova decisão a ser proferida não poderá ser piorada, aplicando-se a proibição da reformatio in pejus.

3.5.3 Reformatio in melius Segundo a doutrina, quando o tribunal julga recurso acusatório pleiteando a exasperação da situação do réu, nada impede que o tribunal venha a abrandá-la, mesmo julgando extra petita.

3.5.4 Interpretação extensiva Para o STF, na súmula 160, o tribunal não poderá reconhecer nulidades contra a defesa que não foram pleiteados no recurso da acusação, mesmo que tais nulidades sejam absolutas. 4. EFEITOS

4.1 Devolutivo No efeito devolutivo, o recurso devolve ao judiciário a matéria impugnada para que ela seja reapreciada.

4.2 Suspensivo Pelo efeito suspensivo, a decisão não se implementa no mundo jurídico enquanto o recurso não for definitivamente julgado. Observação: para que exista efeito suspensivo é necessária previsão legal expressa.

4.3 Extensivo No efeito suspensivo, um réu que não recorreu poderá ser beneficiado pelo recurso do seu comparsa (artigo 580 do CPP). Advertência: também se aplica nas ações autônomas de impugnação (HC e Revisão Criminal).

4.4 Iterativo / Reiterativo / Regressivo Pelo princípio iterativo, o juiz poderá se retratar da decisão proferida em razão do recurso apresentado. Observação: Aplicação: RESE, agravo em execução, carta testemunhal e o agravo para destrancar recurso especial e recurso extraordinário.

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TEMA VIII – RECURSOS EM ESPÉCIE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

1. CONCEITO O RESE é a ferramenta impugnativa destinada a impugnar as decisões interlocutórias e as demais decisões apontadas no artigo 581 do CPP. 2. HIPÓTESES O artigo 581 do CPP indica 24 incisos as hipóteses de cabimento de RESE, valendo destacar as seguintes regras interpretativas:

1ª regra: RESE é um recurso cabível das decisões de 1º grau nas hióteses taxativas do artigo 581. 2ª regra: A redação do artigo 581 é da década de (19)40, época em que cabia RESE, inclusive, de decisão do juiz da execução penal, porque esta era tratada dentro do CPP. Após, com o advento da Lei 7.210/84, que tratou das Execuções Penais, todos os incisos do artigo 581 que traziam aquela previsão, estão tacitamente revogados (XI, XII, XVII, XIX ao XXIV). Atualmente, portanto, das decisões do juiz das execuções penais, o recurso cabível será o agravo em execução (artigo 197 da LEP). 3ª regra: De acordo com o inciso I do artigo 581 do CPP, a rejeição da inicial comporta RESE. Todavia, nos Juizados especiais caberá apelação (artigo 82 da Lei 9.099/95). 4ª regra: Atualmente, uma parte da doutrina considera que o inciso XIV do artigo 581 do CPP encontra-se tacitamente revogado, porque, ao invés de RESE, a ferramente cabível para impugnar a lista geral dos jurados é a reclamação ao próprio juiz que preside o Júri (artigo 426, § 1º do CPP). 3. PROCESSAMENTO

3.1 Primeiro passo: Interposição do RESE O RESE é interposto por petição ou por termo, que é aquele apresentado sem rigor formal. O prazo para essa interposição é de 5 dias, contados da respectiva intimação da decisão. Essa petição de interposição será endereçada ao juiz de 1º grau, que proferiu a decisão que estamos impugnando. Observa-se, ainda, que o artigo 583 do CPP indica as hipóteses nas quais o RESE sobe ao tribunal junto com os autos do processo principal. Nas demais hipóteses, haverá formação de instrumento e faremos referência na petição de interposição.

3.2 Segundo passo: Intimação para apresentação de razões O recorrente será intimado para apresentar as razões. Estas contemplam os fundamnetos do Recurso e serão apresentadas no prazo de 2 dias (artigo 588 do CPP). Advertência: Na OAB, normalmente, apresentamos a petição de interposição e as razões com a mesma data, pois o recurso está sendo apresentado em um único contexto. Todavia, se a OAB requerer que apresentemos só as razões, pois o recurso já tinha sido interposto, o prazo é de dois dias.

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3.3 Terceiro passo: Intimação da parte contrária para apresentar contrarrazões O prazo para as contrarrazões da parte contrária é de dois dias.

3.4 Quarto passo: Autos conclusos ao juiz Depois de apresentadas as razões e as contrarrazões, os autos serão conclusos ao juiz, que poderá ratificar a decisão ao tribunal ou retratar da decisão. Observação 1: Percebe-se que o RESE goza de efeito iterativo, sendo que, na petição de interposição, faremos a respectiva referência acerca dessa possibilidade. Observação 2: De acordo com o parágrafo único do artigo 589 do CPP, a parte que se sentir prejudicada pela retratação pode, por mera petição, requerer ao juiz que os autos sejam remetidos ao tribunal, desde que a decisão fruto da retratação também se enquadre no artigo 581 do CPP como hipótese de cabimento.

APELAÇÃO 1. CONCEITO

A Apelação é o recurso com ampla devolutividade, que objetiva a impugnação das sentenças, das decisões definitivas e das decisões com força de definitivas, nas hipóteses legalmente disciplinadas. 2. ORGANIZAÇÃO DAS DECISÕES

2.1 Análise das decisões do juiz de 1º grau

2.1.1 Decisões interlocutórias SIMPLES 2.1.1.1 Conceito: São aquelas que integram a estrutura do procedimento, possuindo conteúdo decisório. Entretanto, elas não encerram etapas procedimentais ou o próprio processo.

2.1.1.2 Sistema recursal: Em regra, são irrecorríveis, mas comporta uma exceção. Vai caber RESE à luz do artigo 581 do CPP.

2.1.2 Decisões interlocutórias MISTAS 2.1.2.1 Conceito: As interlocutórias mistas são aquelas que possuem conteúdo decisório e se caracterizam por encerrar etapas do procedimento ou o procedimento como um todo.

2.1.2.2 Classificação: Classificam-se em não terminativas e terminativas. A. Não terminativas: a interlocutória mista não terminativa encerra uma etapa do procedimento

sem por fim ao processo. Exemplo: decisão de pronúncia. B. Terminativa: a interlocutória mista terminativa se caracteriza por encerrar o próprio

procedimento. Exemplo: rejeição da inicial acusatória.

2.1.2.3 Sistema recursal: Regra geral, cabe RESE para impugnar decisão interlocutória mista. Há, todavia, exceção, quando caberá Apelação. Se a decisão não estiver contemplada no artigo 581 do CPP, cabe Apelação.

2.1.3 Sentenças

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2.1.3.1 Sentenças condenatórias: As sentenças condenatórias são aquelas que dão provimento à pretensão acusatória (artigo 387 do CPP).

2.1.3.2 Sentenças absolutórias: A sentença absolutória é aquela que julga improcedente a pretensão acusatória, declarando a inocência do réu (artigo 386 do CPP). Essas sentenças absolutórias classificam-se em antecipadas e não antecipadas e em impróprias e próprias. As antecipadas são aquelas que julgam, antecipadamente o mérito da causa. Essa sentença é chamada de absolvição sumária, que vai estar pautada ou no artigo 397 do CPP, que trata do procedimento comum, ou no artigo 415 do CPP, que disciplina o procedimento do Júri. A sentença absolutória não antecipada é aquela proferida ao final do processo, após a competente instrução da causa (artigo 386 do CPP), depois que o processo foi adequadamente instruído e depois que os atos de estrutura processual já estão exauridos. Também as decisões absolutórias classificam-se em próprias e impróprias. As impróprias são aquelas que aplicam MS ao absolutamente inimputável. As próprias, por sua vez, são aquelas que não importam na aplicação de medida de segurança ou qualquer outra ação.

2.1.3.3 Sistema recursal: Regra geral, cabe apelação, nos termos do artigo 593 do CPP. Advertência: Se a apelação é pautada nos Juizados Especiais, o artigo que vai embasá-la é o 82 da Lei 9.099/95. O apelo da absolvição sumária ao final da audiência de instrução da primeira fase do júri está pautado no artigo 416 do CPP. Exceção: cabe ROC para o STF no julgamento dos crimes políticos (CF, artigo 102, II, alínea "b").

2.2 Análise das decisões de tribunal

2.2.1 Decisões monocráticas Quando o relator, no tribunal, delibera monocraticamente, o recurso adequado é o agravo regimental (que é definido no Regimento Interno do Tribunal), no prazo de 5 dias, que será julgado pelo órgão colegiado do tribunal de que o relator faz parte.

2.2.2 Decisões colegiadas Nas decisões colegiadas, o Tribunal profere Acórdão. Se esse acórdão violar lei federal infraconstitucional, cabe Recurso Especial para o STJ. Se violar, por outro lado, a Constituição Federal, cabe Recurso Extraordinário para o STF, Advertência: Só caberá Recurso Especial ou Extraordinário quando esgotadas as vias ordinárias, ou seja, quando não couber nenhum recurso ordinário para impugnar decisão. Se o acórdão julga improcedente apelação ou RESE em desfavor da defesa e tenha sido proferido por maioria de votos (2x1), caracterizando acórdão não unânime, cabe Embargos Infringentes ou de Nulidade (artigo 609, parágrafo único do CPP). Se o acórdão denegou habeas corpus (denegação pelo tribunal), cabe ROC para o STJ ou para o STF. 3. CABIMENTO (ARTIGO 593 DO CPP)

3.1 Sentenças condenatórias ou absolutórias (artigo 593, I do CPP)

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Advertência 1: Das sentenças condenatórias ou absolutórias no Juizado Especial é cabível apelação pautada no artigo 82 da Lei 9.099/95. Advertência 2: Da absolvição sumária, no procedimento comum, a apelação está pautada no artigo 593, I do CPP. Já a absolvição sumária do Júri é embasada no artigo 416 do CPP. Advertência 3: Em caso de acórdão condenatório ou absolutório não há que se falar em Apelação. É importante, todavia, destacar as seguintes situações:

1. Se o acórdão denega apelação da defesa por maioria de votos, admite-se embargos infringentes ou de nulidade.

2. Se o acórdão emanado do tribunal viola a CF caberá Recurso Extraordinário ao STF. 3. Se o acórdão violar a legislação federal infraconstitucional, caberá Recurso Especial ao STJ.

3.2 Decisões definitivas ou com força de definitivas proferidas por juiz de 1º grau (artigo 593, II do CPP) Essas decisões nada mais são do que as interlocutórias mistas não contempladas pelo artigo 581 do CPP e que, de forma subsidiária, comportarão apelação.

3.3 Decisões proferidas ao final da segunda fase do Júri Ao final da sessão plenária do júri, o recurso de apelação está estritamente disciplinado nas hipóteses do artigo 593, III do CPP (Súmula 713 do STF). 4. PROCEDIMENTO

4.1 Interposição A apelação pode ser interposta por petição ou por termo (aquele sem rigor formal). Observação: O prazo para apelar é de 5 dias, contados da respectiva intimação da decisão. Nos Juizados Especiais, o prazo é de 10 dias, contados da respectiva intimação.

4.2 Intimação do recorrente para apresentar razões Depois que o recurso é interposto, o recorrente é intimado para apresentar as respectivas razões. Para isso, o prazo é de 8 dias, consoante disciplina do artigo 600, caput do CPP. Observação: Na OAB, normalmente, apresenta-se as razões no mesmo prazo da peça de interposição, porque a peça é apresentada em contexto único. Nos Juizados Especiais, esse já é o procedimento padrão, pois a lei prevê que a petição de interposição e as razões serão apresentadas na mesma data.

4.3 Intimação da parte contrária para apresentar contrarrazões O prazo para a apresentação das contrarrazões é o mesmo das razões, 8 dias.

4.4 Os autos serão conclusos ao juiz para que ele remeta a apelação ao TJ ou ao TRF conforme o caso A apelação não goza de efeito iterativo, ou seja, o juiz NÃO poderá retratar da decisão proferida. Ainda, o apelante pode optar por apresentar as razões tão somente na 2ª instância (artigo 600, § 4º do CPP). Por força de lei, a apelação pode subir ao tribunal com ou sem as razões (artigo 601, caput do CPP). Ordinariamente, a apelação sobe ao tribunal com os autos do processo principal, não se fazendo referência à formação de instrumento. Observação: Efeitos: devolutivo (se o recorrente deseja limitar a amplitude da apelação, deverá fazer na petição de interposição e não nas razões; se não o fizer, presume-se que recorreu de todo o

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julgado); suspensivo (a apelação da sentença absolutória não tem efeito suspensivo e não impede a imediata libertação do réu preso); e extensivo (o réu que não recorreu pode ser beneficiado pelo recurso do comparsa, desde que o fundamento da apelação aproveite a todos os réus). 5. PROCESSAMENTO Entender o processamento do ROC é fundamental para detectar a própria estrutura da peça, que deverá ser organizada da seguinte maneira: Como o ROC é um recurso, há primeiro uma petição de interposição, a qual é endereçada ao presidente do tribunal que proferiu a decisão que estamos impugnando. Já as razões, serão endereçadas ao tribunal competente para julgar o ROC, ou seja, ao STJ ou ao STF.

RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL 1. CONCEITO

O ROC é a ferramenta impugnativa constitucionalmente disciplinada que nos permite levar ao STJ e ao STF a rediscussão fática e jurídica daquelas matérias constitucionalmente selecionadas. 2. PREVISÃO NORMATIVA O preâmbulo da peça vai contar com a indicação da previsão constitucional, porque essa matéria não está disciplinada no CPP, mas em uma legislação especial (Lei 8.038/90). No STF: Artigo 102, II da CF c/c Lei 8.038/90. No STJ: Artigo 105, II da CF c/c Lei 8.038/90. 3. LEGITIMIDADE A legitimidade também vai impactar na indicação preambular. A peça deverá ser em nome do cliente que estará devidamente assistido por advogado. 4. CABIMENTO DO ROC

4.1 Para o STF (artigo 102, II da CF) 4.1.1 Do julgamento de crime POLÍTICO Todas as vezes que o juiz de 1º grau julga o mérito da açãoe condena ou absolve o réu de sentença condenatória ou absolutória proferida pelo juiz de 1º grau, em todas as situações, de acordo com 593 do CPP, cabe apelação, salvo em uma hipótese, que é quando o juiz de 1º grau condena ou absolve o réu de crime político, quando caberá ROC para o STF. Este, portanto, funciona, grosseiramente, como uma apelação. Mas não cabe apelação por razões da história do Brasil, porque em razão dos longos anos de ditadura, os crimes políticos eram julgados dentro da Justiça Militar. Assim, em 1988, o desejo da Constituição foi mudar isso e, levando para o órgão máximo (STF), isso seria uma forma de democratização.

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Os crimes políticos são de competência da Justiça Federal (artigo 109, IV da CF) e ofendem a própria estrutura das instituições que consolidam o estado democrático de direito. Se o Juiz de 1º grau condena ou absolve o réu por crime político, à luz da Lei 7.170/83, ou, ainda, se o TRF, proferindo acórdão condena ou absolve o réu por crime político, caberá ROC ao STF, que é transformado, nesse caso, em verdadeiro órgão de segundo grau de jurisdição.

4.1.2 Denegação de HC ou de Mandado de Segurança em ÚNICA INSTÂNCIA por Tribunal Superior HC e MS denegados em única instância são aqueles impetrados diretamente (originariamente) no tribunal e que foram indeferidos.

4.2 Cabimento de ROC para o STJ (artigo 105, II da CF) 4.2.1 Denegação de MS em ÚNICA INSTÂNCIA pelo TJ ou TRF MS em única instância é aquele impetrado diretamente no tribunal.

4.2.2 Denegação de HC em única ou última instância por tribunal estadual ou por tribunal regional HC denegado em única instância é aquele que tinha sido impetrado diretamente no Tribunal. Por sua vez, o HC denegado em última instância é aquele que chegou ao tribunal por força do RESE, tendo havido a denegação desse RESE, de maneira que caberá ROC ao STJ. 5. PRAZO

5.1 Julgamento do crime poítico O ROC tem a estrutura formal do recurso de apelação e identidade de prazo, que é de 5 dias.

5.2 Denegação de HC Se ocorrer denegação de HC, o prazo do ROC é de 5 dias.

5.3 Denegação de MS Se ocorrer denegação de Mandado de Segurança, o prazo é de 15 dias.

Observação: Para o STF, na Súmula 319, o ROC para essa casa (STF) tem prazo de 5 dias, pouco importando se a denegação é de HC ou de MS. 6. PROCESSAMENTO Entender o processamento do ROC é fundamental para detectar a própria estrutura da peça, que deverá ser organizada da seguinte maneira: Como o ROC é um recurso, há primeiro uma petição de interposição, a qual é endereçada ao presidente do tribunal que proferiu a decisão que estamos impugnando. Já as razões, estas serão endereçadas ao tribunal competente para julgar o ROC, ou seja, ao STJ ou ao STF.

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EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE 1. PREVISÃO LEGAL Os embargos infringentes e de nulidade estão disciplinados no parágrafo único do artigo 609 do CPP. 2. CABIMENTO Obrigatoriamente, para se falar em embargos infringentes e de nulidade, há que haver acórdão não unânime proferido em segunda instância (TJ ou TRF), especificamente nos julgamentos dos recursos de Apelação, RESE e Agravo em execução. 3. PRAZO O prazo para interposição do recurso é de 10 dias. Não há um prazo para petição de interposição e outro para as razões, o prazo é único. 4. DEFINIÇÕES

4.1 Acórdão não unânime Uma Câmara ou uma Turma criminal de um Tribunal vota, dentro de sua composição, com 3 (três) desembargadores. Assim, a não unanimidade é sempre 2x1. Para caber embargos, o voto vencido deve ser favorável ao réu. É bem por isso que os embargos infringentes ou de nulidade são um recurso exclusivo da defesa.

4.2 Infringentes e Nulidade A tese utilizada no corpo do recurso é aquela constante do voto vencido. É essa tese que dará nome ao recurso. É dizer, há uma diferença entre infringentes e nulidade. "Infringentes" é para quando a matéria impugnada é de mérito. São exemplos: absolvição, diminuição da pena, desclassificação, início de cumprimento de pena em regime prisional mais brando, substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito. Por sua vez, "nulidade" é para tratar de matéria processual. É possível que a matéria impugnada seja tanto de mérito quanto processual, caso em que a peça receberá o nome de "embargos infringentes e de nulidade". 5. ESTRUTURA DA PEÇA 5.1 Petição de interposição 5.1.1 Endereçamento: Ao Desembargador Relator do Acórdão proferido em Apelação, RESE ou Agravo em execução.

5.1.2 Preâmbulo No preâmbulo, deve constar o nome da peça e não é necessário qualificar o réu.

5.1.3 Previsão legal Artigo 609, parágrafo único do CPP.

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5.2 Razões Nas razões, devem constar os fatos, o direito e o pedido. Vale lembras que, no direito, não se pode criar teses, trazendo apenas as constantes do voto vencido. 6. NÃO CABIMENTO NO JECRIM Os embargos infringentes e de nulidade são inadmissíveis contra decisão de turma recursal de Juizado Especial Criminal, porque não é turma recursal de Tribunal. A turma recursal, embora funcione, no sistema do juizado, como órgão de segundo grau, não tem composição de Tribunal, não tem status de Tribunal, a turma recursal é integrada por juízes do primeiro grau.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO PRIMEIRA INSTÂNCIA 1. PREVISÃO LEGAL Os embargos de declaração em primeira instância estão disciplinados no artigo 382 do CPP. 2. CABIMENTO Cabe contra qualquer decisão, incluindo sentença, cabe embargos de declaração. Será cabível quando, nessa decisão, houver ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão.

2.1 Vícios AMBIGUIDADE: Situação da qual a decisão admite mais de uma interpretação, ou seja, há, ao menos, duplo sentido na decisão. OBSCURIDADE: É a ausência de clareza na decisão, ou seja, trata-se de decisão de difícil entendimento, seja pela inépcia no uso do vernáculo, seja pela prolixidade. CONTRADIÇÃO: É a decisão que contém a incompatibilidade em seus termos, conceitos, afirmações etc. Basicamente, quando há incompatibilidade entre duas proposições dentro da mesma decisão. OMISSÃO: Ocorrerá nas situações em que o magistrado não mencionou algo que deveria mencionar, ou seja, não foi dito o que era indispensável dizer. Exemplo: sentença condenatória, mas o magistrado se manifesta sobre o regime inicial de cumprimento de pena. 3. PRAZO O prazo para oposição dos embargos é de 2 dias. Destaca-se, ainda, que sua oposição INTERROMPE o prazo para os demais recursos. 4. ESTRUTURA DA PEÇA 4.1 Endereçamento: Ao próprio magistrado que prolatou a decisão.

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4.2 Preâmbulo No preâmbulo, deve constar o nome da peça e não é necessário qualificar o réu.

4.3 Fatos, Direito e Pedidos A tese é, estritamente, o vício contido na decisão. Esses embargos não têm efeito infringente, tanto que são processados sem ouvir a outra parte. 5. JECRIM No JECRIM, não se fala em ambiguidade. Cabe embargos de declaração quando há obscuridade, contradição, omissão ou dúvida. O prazo para oposição é de 5 dias, mas, diferente do juízo comum, não interrompe, SUSPENDE o prazo para os demais recursos. SEGUNDA INSTÂNCIA 1. PREVISÃO LEGAL Os embargos de declaração em segunda instância estão disciplinados no artigo 619 do CPP. 2. PRAZO O prazo para oposição dos embargos é de 2 dias. 3. CABIMENTO Não cabe em face de decisão interlocutória, mas apenas em face de acórdão ou decisão monocrática. Será cabível quando, nessa decisão, houver ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão.

4. ESTRUTURA DA PEÇA 4.1 Endereçamento: Ao desembargador relator daquele recurso que foi julgado e que foi proferido o acórdão.

4.2 Preâmbulo No preâmbulo, deve constar o nome da peça e não é necessário qualificar o réu.

4.3 Fatos, Direito e Pedidos A tese é, estritamente, o vício contido na decisão. Esses embargos não têm efeito infringente, tanto que são processados sem ouvir a outra parte.

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RECURSO ESPECIAL 1. CONCEITO O Recurso Especial (REsp) é um recurso direcionado, exclusivamente, para o STJ. 2. HIPÓTESES DE CABIMENTO As hipóteses de cabimento do Recurso Especial são extraídas do artigo 105, III do CF.

A. Alínea "a": Contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;

B. Alínea "b": Julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; Observação: Essa alínea é descabida em matéria penal, uma vez que governo local não legisla sobre matéria penal ou processual penal.

C. Alínea "c": Der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal. Trata-se da divergência jurisprudencial, quando os tribunais entendem de modo diferente sobre a mesma matéria.

3. PREVISÃO LEGAL Além do inciso III do artigo 105 da CF/88, há previsão legal na Lei 8.038/90, no artigo 26. O artigo 26 diz o que, basicamente, deve conter no REsp. 4. CONTEÚDO Artigo 26 da Lei 8.038/90:

• Exposição do fato e do direito;

• Demonstração do cabimento do recurso (Observar súmula 7 do STJ);

• Razões do pedido de reforma da decisão. 5. ESTRUTURA DO RECURSO

5.1 Petição de interposição

• Endereçamento: ao presidente do Tribunal que proferiu a decisão recorrida (TJ ou TRF);

• Prazo: 15 dias (artigo 26 da Lei 8.038/90) – razões em anexo, não há prazo para elas;

• Preâmbulo: Indicar o nome da peça e a previsão legal.

5.2 Razões recursais

• Endereçamento: Colendo Superior Tribunal de Justiça;

• Fatos;

• Direito: cabimento do recurso (artigo 105, III da CF – indicar alínea); prequestionamento; mérito;

• Pedido: conhecimento e provimento do recurso.

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1. CONCEITO O Recurso Extraodinário (RExt) é um recurso direcionado, exclusivamente, para o STF. Trata-se de um mecanismo processual apto a viabilizar a análise de questões constitucionais. 2. HIPÓTESES DE CABIMENTO As hipóteses de cabimento do Recurso Extraordinário são extraídas do artigo 102, III do CF/88.

A. Alínea "a": Contrariar dispositivo constitucional; B. Alínea "b": Declarar a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal; C. Alínea "c": Julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. D. Alínea "d": Julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

Observação: Em matéria penal, as alíneas mais comuns são "a". 3. PREVISÃO LEGAL Além do inciso III do artigo 102 da CF/88, há previsão legal na Lei 8.038/90, no artigo 26. 4. CONTEÚDO Artigo 26 da Lei 8.038/90:

• Exposição do fato e do direito;

• Demonstração do cabimento do recurso (Observar súmula 7 do STJ);

• Razões do pedido de reforma da decisão. 5. ESTRUTURA DO RECURSO

5.1 Petição de interposição

• Endereçamento: ao presidente do Tribunal que proferiu o acórdão combatido (TJ ou TRF);

• Prazo: 15 dias (artigo 26 da Lei 8.038/90) – razões em anexo, não há prazo para elas;

• Preâmbulo: Indicar o nome da peça e a previsão legal.

5.2 Razões recursais

• Endereçamento: Supremo Tribunal Federal;

• Fatos;

• Direito: cabimento do recurso; prequestionamento (súmula 356 e 252 do STF); repercussão geral (§ 3º do artigo 102 da CF; § 1º do artigo 543-A do CPP); mérito;

• Pedido: conhecimento e provimento do recurso.

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TEMA IX – AÇÕES AUTÔNOMAS DE IMPUGNAÇÃO HABEAS CORPUS

1. CONCEITO O Habeas Corpus é a ferramenta constitucionalmente assegurada (artigo 5º, inciso LXVIII da CF) que almeja a tutela do nosso direito líquido e certo de locomoção, contra ilegalidade ou abuso de poder atual ou iminente que comprometa o nosso direito de ir, vir, ficar. 2. NATUREZA JURÍDICA

2.1 CPP O nosso CPP trata do HC no capítulo dos recursos. O CPP, contudo, é da década de (19)40.

2.2 Doutrina e jurisprudência O HC é uma ação autônoma de impugnação de caráter popular e com previsão constitucional. 3. LEGITIMIDADE A legitimidade do habeas corpus tem importância, sobretudo, no preâmbulo da peça. O preâmbulo do HC é o mais rico entre todas as epças, com o maior requinte de detalhes.

3.1 Ativa A legitimidade ativa para impetrar o HC é de qualquer pessoa, incluídos os menores, os loucos, a pessoa jurídica e até mesmo o analfabeto. Apenas não se admite HC apócrifo, ou seja, anônimo.

3.2 Passiva A legitimidade passiva é inerente ao autor da ilegalidade ou do abuso de poder, que normalmente é um funcionário público e, excepcionalmente, um particular, notadamente nas relações médico hospitalares.

3.3 Paciente Não se pode confundir o legitimado passivo com o paciente. Este é o beneficiado pela ação de HC. É a pessoa que tem a sua liberdade de locomoção cerceada ou em risco. Advertência: Vale lembrar que a pessoa jurídica, embora pratique crimes, notadamente os ambientais, havendo, portanto, responsabilidade criminal, se for ré em processo criminal, a tutela de seus interesses não pode ser veiculada por meio de HC. Isso porque este tutela liberdade de locomoção, a qual é incompatível com a constituição da pessoa jurídica. Para tutelar os interesses dessa pessoa jurídica, a ação adequada é Mandado de Segurança. Da mesma forma, não há que se falar de HC em favor de animais. 4. MODALIDADES

4.1 Repressivo No HC repressivo, a liberdade de locomoção já foi cerceada e pleiteia-se a expedição de alvará de soltura em face da procedência da ordem.

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4.2 Preventivo No HC preventivo, existe um risco iminente a liberdade de locomoção e pleiteia-se, em razão da procedência da ordem, a expedição de salvo conduto.

4.3 Suspensivo No HC suspensivo, existe mandado prisional expedido que ainda não foi cumprido. Pleiteia-se, assim, que o HC seja julgado procedente e que, diante disso, seja expedida uma contra-ordem ou um contramandado de prisão.

4.4 Trancativo O HC trancativo é aquele que almeja extinguir, de imediato, uma investigação manifestamente ilegal ou processo patentemente arbitrário. na peça, requer-se que o procedimento em curso seja imediatamente trancado.

4.5 Nulificador Pelo HC nulificador, almeja-se que o ato vivido seja declarado nulo e, por desdobramento lógico, os demais atos que dele decorrem também serão inválidos.

4.6 Para extinção da punibilidade Com o HC para extinção da punibilidade, almeja-se a declaração da extinção da punibilidade pela prescrição ou por qualquer outra causa extintiva (CP, artigo 107). Advertência 1: Vale lembrar que no preâmbulo da peça não é necessário promover a respectiva especificação. Advertência 2: Se a OAB requerer, no caso concreto, a peça privativa de advogado ou o recurso cabível para impugnar a decisão, o HC estará automaticamente afastado. 5. HIPÓTESES DE CABIMENTO As hipóteses de cabimento são importantes para as teses ventiladas. O artigo 648 do CPP, de forma não exaustiva, apresenta-nos as hipóteses de cabimento do HC.

5.1 Ausência de justa causa

5.1.1 Enquadramento da expressão "justa causa". A. Ausência de legalidade lato sensu. B. Ausência de lastro probatório mínimo dando sustentabilidade ao inquérito, ao processo ou a

eventual medida cautelar.

5.1.2 Consequências A. Prisão ilegal e, portanto, deve ser relaxada e expedido o competente alvará de soltura. B. Inquérito Policial deve ser trancado. C. O processo também deve ser trancado.

5.2 Prisão por mais tempo do que determina a lei A prisão temporária é a única que possui prazo de duração (Lei 7.960/89). Superado o prazo e mantido o cárcere, a prisão passará a ser ilegal, devendo ser relaxada com a expedição do alvará de soltura.

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5.3 Autoridade coatora incompetente

5.3.1 Consequências As competências irão depender do tipo de ato que a autoridade praticou.

A. Se a autoridade incompetente decreta prisão, esta é ilegal e, portanto, deve ser relaxada. B. Se a autoridade incompetente preside o processo, nesse caso, os atos processuais praticados

devem ser declarados nulos (artigo 567 do CPP) e os autos do processo serão remetidos ao juízo competente.

5.4 Cessação do motivo da coação Observação: A prisão preventiva se estende enquanto houver necessidade, que é medida pela presença das suas hipóteses de decretação (artigo 312 do CPP). Se qualquer dessas hipóteses desaparece, a preventiva será revogada, pleiteando-se, para tanto, a expedição de alvará de soltura, o que pode ser feito no HC.

5.5 Inadmissão do agente a prestar fiança Como já visto no capítulo de prisões, a liberdade provisória sem fiança é proposta ou quando o indivíduo não cumpre os requisitos da prisão preventiva ou quando atua amparado por excludente de ilicitude. A fiança é uma espécie de liberdade provisória, permitindo-se a liberdade mediante pagamento. O CPP, contudo, não diz quando cabe fiança, mas explicita as hipóteses nas quais ela é vedada. A fiança, destaca-se, é um instituto marginalizado, em desuso, porque o mais comum é o pleito da liberdade provisória sem o pagamento de fiança.

Observação 1: A liberdade provisória mediante fiança é um verdadeiro direito do agente, desde que ele não se enquadre nas limitações propostas pelos artigos 323 e 324 do CPP. Os parâmetros de arbitramento do valor estão consolidados nos artigos 325 e 326 do CPP.

Observação 2: Legitimidade para o arbitramento. Na liberdade provisória sem fiança, quem concede ou não é o juiz. Eventualmente, contudo, o delegado pode arbitrar fiança. Isso nos delitos com pena máxima de até quadro anos. Superado esse patamar, só o juiz poderá fazê-lo (artigo 322 do CPP).

Observação 3: No caso de não se admitir ao agente prestar a fiança, então, impetra-se o HC, almejando que a fiança seja arbitrada nos termos dos artigos 325 e 326 do CPP, expedindo-se, para tanto, o competente alvará de soltura. Advertência: O CPP, quando disciplinou o HC, não falou que é possível impetrar HC se a liberdade sem fiança foi denegada. Isso porque esta foi criada no artigo 310 em 1977 e a redação original do Código é de 1941. Assim, vale lembrar que se o agente não for admitido a usufruir da liberdade provisória sem fiança, também caberá HC, já que o inciso V do artigo 648 do CPP admite interpretação extensiva.

5.6 Processo manifestamente nulo Nesse caso, pleiteia-se o reconhecimento da nulidade do processo, que deve ser reconstruído a partir da ocorrência do vício.

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5.7 Extinta a punibilidade Nesse caso, almeja-se a declaração da extinção da punibilidade pela prescrição ou por qualquer outra causa (artigo 107 do CP). 6. COMPETÊNCIA PARA JULGAR O HC A importância do estudo da competência está em saber o endereçamento da peça. Normalmente, a competência se estabelece em virtude de quem seja a autoridade coatora. O Tribunal competente para julgar o responsável pela ilegalidae ou pelo abuso de poder caso praticasse um crime é o mesmo competente para julgar o HC quando ela é a autoridade coatora. Assim, a tabela do foro por prerrogativa de função (das autoridades que integram cada um dos Poderes com julgamento nos respectivos tribunais) é, portanto, importante na presente identificação.

Advertência 1: Eventualmente, a competência do STF e do STJ para julgar o HC é definida não em razão da autoridade coatora, mas em virtude do paciente, nos termos do artigo 102, inciso I, "d", CF e do artigo 105, inciso I, "c", CF.

Advertência 2: Juizados Especiais Criminais. a) Se o juiz de 1º grau do Juizado é o coator, o HC será impetrado perante a turma recursal. b) Se a turma recursal é a coatora, o HC será impetrado no TJ quando a turma é estadual ou no TRF se a turma é Federal. Conclusão: atualmente, a Súmula 690 do STF (a qual dizia que se a turma recursal fosse a coatora, o HC deveria ser impetrado no STF) não tem mais aplicação.

Advertência 3: Nas Súmulas 693, 694 e 695 do STF, não cabe HC se não existir risco, mesmo que remoto, à liberdade de locomoção.

Advertência 4: Em que pese a ausência de previsão legal, admite-se a concessão de liminar em HC para conseguir imediatamente o que só seria dado no julgamento final da ação.

�60OAB 2ª FASE - Direito Penal

AUTORIDADE COATORA COMPETÊNCIA PARA JULGAR O HC

A. PARTICULAR Juiz de 1º grau

B. DELEGADO ESTADUAL Juiz Estadual de 1º grau

C. DELEGADO FEDERAL Juiz Federal de 1º grau

D. MEMBRO DO MP ESTADUAL TJ

E. MEMRO DO MPU (1º GRAU) TRF

F. JUIZ ESTADUAL DE 1º GRAU TJ

G. JUIZ FEDERAL DE 1º GRAU TRF

H. MEMBRO DO TJ/TRF STJ

I. TRIBUNAL SUPERIOR STF

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7. SISTEMA RECURSAL DO HC Trabalhar com o sistema recursal da ação de habeas corpus é fundamental para efetivamente enfrentar o Recurso Ordinário Constitucional (ROC).

7.1 HC julgado em 1º grau Quando um HC é impetrado perante o juiz de 1º grau, ao final desse processo, o juiz vai proferir uma sentença, que pode ser procedente ou improcedente. O recurso cabível para impugnar a sentença do juiz de 1º grau para impugnar a sentença que julga o HC é o RESE (artigo 581, X do CPP). Advertência: Procedência do HC em 1º grau. De acordo com o artigo 574, I do CPP, se o juiz de 1º grau julga procedente o HC, ele está obrigado a remeter a decisão para que o tribunal reanalise e se isso não ocorrer, a decisão fica pendente, ou seja, ela não transitará em julgado (Súmula 423 do STF). Esse fenômeno é conhecido como recurso de ofício ou segundo grau necessário.

7.2 Julgamento do HC pelo TJ ou pelo TRF Os Tribunais, ao julgar um HC, proferirão não uma sentença, mas um acórdão, que pode ser de procedência ou de improcedência. Em relação ao acórdão de improcedência, caberá ROC ao STJ. Se o acórdão for de procedência do HC, muito provavelmente o interesse de recorrer é da acusação. Não caberá ROC. Se o acórdão violar a Constituição, caberá Recurso Extraordinário ao STF. Se, por outro lado, houver ofensa à lei federal infraconstitucional, caberá Recurso Especial ao STJ.

7.3 HC julgado no STJ ou em Tribunal Superior O STJ pode proferir acórdão de procedência ou de improcedência. Contra acórdão pela improcedência do HC, cabe ROC para o STF. E contra acórdão pela procedência do HC, havendo ofensa à Constituição Federal, caberá Recurso Extraordinário para o STF.

7.4 Situação Especial

A partir da denegação da liminar do HC, os advogados costumavam impetrar outro HC perante o STJ, antes do mérito ser julgado. Isso também era comum nos Tribunais Superiores, em que, a partir da denegação da liminar, impetrava-se outro HC perante o STF, sem que fosse analisado o mérito. O STF, então, acabou com isso. Para o STF, não cabe HC de denegação de liminar por desembargador ou ministro relator no Tribunal. Nesse caso, resta ao advogado aguardar o julgamento do mérito do HC perante o Tribunal em que a liminar foi denegada, e se no acórdão, o HC for enfim denegado, caberá ROC (Súmula 691 do STF).

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REVISÃO CRIMINAL 1. CONCEITO A Revisão Criminal é a ação autônoma de impugnação (natureza jurídica) que inaugura uma nova relação processual, tendo aptidão para impugnar uma decisão de trânsito em julgado e que é desfavorável aos interesses da defesa (só existe revisão criminal em favor dos interesses da defesa). Assim, o nosso ordenamento nos assegura uma ferramenta para impugnar decisões que já transitaram em julgado e que são injustas. No Processo Civil, a ação que faz esse papel é a Ação Rescisória. 2. MOMENTO Após o trânsito em julgado da decisão injusta, a revisão criminal pode ser apresentada a qualquer tempo, mesmo depois do cumprimento integral da pena, porque almeja, dentre outras coisas, a reconstrução do patrimônio moral do agente. 3. PRESSUPOSTOS

3.1 Lógico Há necessidade de existir uma decisão condenatória transitada em julgado injusta ou uma decisão absolutória imprópria com trânsito em julgado. Quando se fala "decisão", quer-se englobar a sentença ou o acórdão, ou seja, a revisão criminal é cabível de sentença ou de acórdão com trânsito em julgado. Acórdão que transitou em julgado é chamado de ARESTO.

3.2 Formal Ao ingressar com a Revisão Criminal, é necessário demonstrar que aquela decisão, de fato, transitou em julgado. Essa demonstração, via de regra, é feita por carta de sentença (certidão). 4. LEGITIMIDADE A legitimidade é importante para efeitos do preâmbulo da peça. A peça será apresentada em nome do cliente (revisionando), devidamente assistido por advogado.

Observação 1: Havendo falecimento do réu, a revisão ainda pode ser proposta pelos seus sucessores (cônjuge, ascendente, descendente e irão – CADI).

Observação 2: Em que pese a omissão do artigo 623 do CPP, que trata da legitimidade para a revisão, existe forte entendimento doutrinário de que o MP pode propor a revisão criminal em favor do réu.

Observação 3: Apesar da redação do artigo 623 do CPP, afirmando que o próprio réu, sem advogado, pode ingressar com a ação de revisão, há forte corrente doutrinária entendendo que o artigo deve ser lido à luz do artigo 133 da CF, que afirma ser, o advogado, essencial à administração da justiça. 5. HIPÓTESES DE CABIMENTO As hipóteses de cabimento são importantes não só para as teses, mas também para o preâmbulo.

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5.1 Artigo 621 do CPP A revisão criminal é cabível nas hipóteses taxativamente previstas em lei, no artigo 621 do CPP, de modo que elas irão compor as próprias teses elaboradas na peça. Dessa forma, no preâmbulo da peça, deve-se indicar por qual inciso se está propondo a ação. Advertência: Segundo o STF, na Súmula 611, caberá ao juiz das execuções penais aplicar, eventual nova lei favorável ao réu após o trânsito em julgado da condenação. É dizer, nova lei favorável ao réu, na fase de execução penal, não dá margem à revisão criminal, porque, para que essa lei seja aplicada, basta pedir ao juiz da execução penal (por meio de mera petição), que é a autoridade competente para aplicar novas leis favoráveis ao réu depois do trânsito em julgado da sentença.

5.2 Hipóteses em espécie 5.2.1 Inciso I, artigo 621 do CPP A primeira hipótese do inciso I é para quando a decisão é contrária a texto expresso de lei. Nesse caso, a revisão almeja que o réu, condenado ilegalmente, seja absolvido. Frise-se que nada impede que nessa revisão se possa pleitear o afastamento de qualificadoras, de causas de aumento ou de agravantes contrárias a lei. Da mesma forma, pleitear o acolhimento de causas de diminuição de pena ou atenunantes afastadas em contrariedade a lei.

A segunda hipótese do inciso I é para quando a decisão contraria a evidência dos autos. Nesse caso, percebe-se que o juiz valorou mal a prova dos autos e, na revisão, normalmente pleiteia-se que o réu seja inocentado. Em acréscimo, é possível pleitear o afastamento de qualificadoras, de causas de aumento ou de agravante reconhecidas em dissonância ao material probatório. Por outro lado, ainda é possível o requerimento para reconhecimento de causas de diminuição ou de atenunates, em virtude do lastro probatório do processo.

5.2.2 Inciso II, artigo 621 do CPP Cabe revisão criminal quando a decisão está pautada em depoimentos, exames ou documentos falsos. Nesse caso, como o manancial probatória não é idôneo, estamos autorizados a pleitear a absolvição do réu. Por outro lado, se a prova ilícita sustenta apenas as qualificadoras, as causas de aumento ou as agravantes, pleitea-se que elas sejam afastadas.

5.2.3 Inciso III, artigo 621 do CPP A revisão é cabível quando, após o trânsito em julgado, são descobertas novas provas que revelem a inocência do réu ou que justifiquem um abrandamento da pena. A prova nova deve ser pré-constituída, o que normalmente ocorre pelo procedimento de justificação (artigo 863 do CPC), que nada mais é do que um procedimento de produção antecipada de prova (antecede a revisão criminal, é instaurado para obter a prova nova). Advertência: Na peça, vamos fazer referência de que a prova nova já foi pré-constituída e embasa a nossa petição (normalmente, na parte do direito).

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6. COMPETÊNCIA A competência tem efeito no endereçamento da peça. A revisão criminal não é julgada pelo juiz de 1º grau, valendo destacar que os tribunais são competentes para julgar a revisão criminal dos seus próprios julgados.

Observação: A petição será endereçada ao presidente do tribunal competente para julgar a ação revisional. 7. JUSTA INDENIZAÇÃO De acordo com o artigo 630 do CPP, estamos autorizados a pleitear a justa indenização na própria revisão criminal, em virtude dos danos causados pelo erro judiciário. Advertência: Devemos filtrar a alínea "b" do § 2º do artigo 630 do CPP para reconhecer que a indenização é cabível, pouco importando se a ação é pública ou privada.

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Sentença do juiz de 1º grau estadual transitou em julgado TJ

Sentença do juiz de 1º grau federal transitou em julgado TRF

Acórdão do TJ transitou em julgado TJ

Acórdão do TRF transitou em julgado TRF

Acórdão do STJ transitou em julgado STJ

Acórdão do STF transitou em julgado STF

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TEMA X – EXECUÇÃO PENAL 1. EXECUÇÃO PENAL NO BRASIL

1.1 Regra A execução penal no Brasil (Lei 7.210/94), em regra, terá início com o trânsito em julgado de uma sentença penal condenatória ou absolutória imprópria.

1.2 Exceção A execução provisória, por sua vez, ocorre antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória e absolutória imprópria. Observação 1: A execução provisória é admitida pela própria LEP (parágrafo único, artigo 2º). Ademais, também é reconhecida na jurisprudência, inclusive na jurisprudência do STF (súmulas 716 e 717) Observação 2: Detração penal. Existem várias pessoas que estão condenadas no Brasil e continuam presas preventivamente porque não transitou em julgado a condenação. O tempo de prisão provisória, preventiva, flagrante é abatido do tempo de prisão definitiva. Significa que esse indivíduo utilizará o tempo para efeitos de detração penal. Durante a provisória, pode até receber alguns benefícios penais. 2. COMPETÊNCIA A competência no processo penal de execução é completamente diferente da competência no processo penal de conhecimento. A competência, na execução penal, pode ser da Justiça Comum Federal ou Estadual. Quando se trata de processo penal de conhecimento, basicamente, a competência da Justiça Federal é definida observando o artigo 109 da CF/88 (exemplos: quando o crime envolve bem ou interessa da União, das suas autarquias, de empresas públicas federais ou o crime é praticado por funcionário público federal no exercício da sua função ou contra funcionário público federal no exercício da sua profissão). Quando não é de competência da Justiça Comum Federal, é da Estadual (residual). Na execução penal, toma-se como exemplo o seguinte: indivíduo condenado com trânsito em julgado perante a Justiça Comum Federal. Após, tem início o processo de execução definitivo. A execução se inicia na Justiça Federal ou na Estadual? Depende. Para saber isso não importará a natureza do crime a que o indivíduo foi condenado, mas será preciso saber apenas se o estabelecimento prisional onde ele cumpre a pena ou a medida de segurança é pertencente à União. Além disso, esse Juiz sempre será um Juiz da Vara de Execuções Criminais.

Assim: A. Se o apenado cumpre pena em presídio federal, a competência é da Justiça Federal. B. Se o apenado cumpre a pena em presídio estadual, a competência é da Justiça Estadual.

Observação: Sempre que o preso é transferido de um presídio a outro, o processo de execução segue ("aonde o preso vai a execução vai atrás"), sendo enviado para a vara de execução responsável pelo novo presídio.

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3. PROGRESSÃO DE REGIME

3.1 Cumprimento de pena progressivo O artigo 33, § 2º do CP e o artigo 112 da LEP estabelecem que o cumprimento de pena deve ser feito de maneira progressiva, em que o indivíduo sai do regime mais gravoso até chegar ao menos gravoso, passando, via de regra, pelo regime intermediário.

3.2 Regimes de cumprimento de pena Em regra, o condenado inicia as penas no fechado, no semiaberto ou aberto conforme determinam as alíneas do § 2º do artigo 33 do CP:

- Fechado: Indivíduo condenado à pena maior que 8 anos. - Semiaberto: Indivíduo condenado à pena maior que 4 anos e menor que 8. - Aberto: Indivíduo condenado à pena de até 4 anos.

Observação: O condenado à pena de detenção, ainda que maior que 8 anos, iniciará o cumprimento da pena no regime aberto ou no semiaberto. Nada impede, contudo, que haja regressão de regime prisional, desde que respeitadas a ampla defesa e o contraditório.

3.3 Requisitos 3.3.1 Tempo de cumprimento de pena Em regra, o sujeito deve cumprir 1/6 da pena efetivamente aplicada na sentença, não respeitando o limite máximo de cumprimento de pena. É o que dispõe o artigo 112 da LEP e a súmula 715 do STF. Exceção: Crimes hediondos e equiparados (Lei 8.072/90 – artigo 2º, § 2º): nesse caso, o condenado deve cumprir 2/5 da pena (se primário) e 3/5 (se reincidente). Atenção: A lei que tratou dessa progressão especial nos crimes hediondos foi a Lei 11.464/07. Os indivíduos que cometeram crimes hediondos ou equiparados antes dessa Lei, têm direito à progressão de regime com o patamar de 1/6, conforme súmula 471 do STJ. Também tratou do assunto a súmula vinculante nº 26.

3.3.2 Bom comportamento carcerário.

Observação: Condenado por crime contra a Administração Pública: além dos requisitos básicos de tempo de cumprimento de pena e do bom comportamento carcerário, ele precisa do requisito exposto no § 4º do artigo 33 do CP, qual seja, reparação do dano ou restituição da coisa.

3.4 Observações importantes

• Para fins de progressão, o exame criminológico não é necessário, ficando a critério do magistrado.

• Não se admite a chama progressão per saltum, de modo que aquele que cumpre pena no regime fechado não pode, em regra, pedir progressão direto para o aberto (súmula 491 do STJ). Observação: Pode acontecer de o sujeito, ao preencher todos os requisitos, formular pedido de progressão do fechado para o semiaberto, ter seu pedido deferido pelo juiz da execução penal, mas não encontrar vaga no semiaberto. Nessa situação, a jurisprudência do STJ e do STF entende que o indivíduo deve ficar no regime aberto, enquanto aguarda vaga no semiaberto. O tempo que ficar no aberto conta como se estivesse no semiaberto para efeitos de progressão novamente.

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4. LIVRAMENTO CONDICIONAL

4.1 Conceito No livramento condicional, o indivíduo não cumpriu toda a pena, mas recebe uma libertação antecipada. É dizer, o sujeito é colocado em liberdade, antecipadamente, antes de cumprir a pena por completo, mas, para tanto, precisa cumprir alguns requisitos. Tal como na progressão de regime, o exame criminológico fica a critério do juiz, analisando o caso concreto. O livramento condicional vem disciplinado nos artigos 83 e seguintes do CP e 131 e seguintes da LEP.

4.2 Requisitos 4.2.1 Requisitos ligados ao tempo de cumprimento de pena

• Cumprimento de mais de 1/3 da pena efetivamente imposta, quando o condenado é primário e tem bons antecedentes.

• Cumprimento de mais da metade da pena imposta, quando o condenado é reincidente em crime doloso.

• Cumprimento de mais de 2/3 da pena imposta para o condenado por crime hediondo ou equiparado. Observação: o condenado reincidente específico em crime hediondo ou equiparado a hediondo não tem direito ao livramento condicional.

4.2.2 Outros requisitos

• Comportamento carcerário satisfatório.

• Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído durante o cumprimento da pena.

• Aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto. Observação: Para aquele que foi condenado por crime doloso praticado com violência ou grave ameaça à pessoa, deve provar também que houve a cessação da periculosidade (parágrafo único do artigo 33 do CP). 5. REMIÇÃO PENAL 5.1 Conceito A remição penal é um benefício que apenas é aplicável aos que estão cumprimento pena no regime fechado e no semiaberto. Pode se dar mediante trabalho ou, ainda, mediante estudo.

5.2 Aplicação

• Remição pelo trabalho: a cada 3 dias de trabalho, abate-se 1 dia de pena.

• Remição pelo estudo: a cada 12 horas de estudo (fracionadas em, no mínimo, 3 dias), abate-se 1 dia de pena. Observação 1: Não há discriminação, podendo ser qualquer curso, inclusive, à distância. Observação 2: Pelo fato de terminar os estudos e receber certificado, recebe 1/3 a mais de remição, segundo o § 5º do artigo 126 da LEP.

• Cumulação de remição pelo trabalho e pelo estudo: É plenamente aceitável a cumulação, na forma do § 3º do artigo 126 da LEP.

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Advertência 1: condenado que sofre acidente e fica impossibilitado de trabalhar ou de estudar, continua fazendo jus à remição (§ 4º do artigo 126 da LEP). Advertência 2: Indivíduo que está cumprindo pena e se beneficiando da remição, ao cumprir falta grave não tem mais a perda total dos dias remidos, como ocorria antes da reforma. Atualmente, ele pode ter uma diminuição dos dias remidos em, no máximo, 1/3 (artigo 127 da LEP).

ESTUDO DO AGRAVO EM EXECUÇÃO

1. CONCEITO Durante o processo penal de conhecimento, decisão interlocutória prevista no artigo 581 é impugnada por Recurso em Sentido Estrito. Durante o processo penal de execução, todavia, não há RESE. O recurso cabível contra as decisões interlocutórias será o Agravo em Execução. 2. HIPÓTESES DE CABIMENTO São alguns exemplos de decisões que darão ensejo ao agravo em excução:

1. Decisão que defere ou indefere o pedido de progressão de regime; 2. Decisão que defere ou indefere o pedido de livramento condicional; 3. Decisão que trata sobre pedido de remição da pena;

Além desses exemplos, outros mais são encontrados nas hipóteses do artigo 66 da LEP. As hipóteses previstas no artigo 581 que tratam da fase de execução (incisos XI, XII, XVII, XIX, XX, XXI, XXII, XXIII) são atacáveis por agravo em execução. 3. ESTRUTURA

3.1 Petição de interposição 3.1.1 Endereçamento O endereçamento da petição de interposição é para o juízo de piso (primeira instância), que proferiu a decisão impugnada, ao juiz da Vara de Execuções Criminais, podendo ser juiz de direito ou juiz Federal, a depender da natureza do estabelecimento prisional que o indivíduo cumpre sua pena ou sua medida de segurança.

3.1.2 Preâmbulo No preâmbulo da peça, deve constar o nome da peça e a previsão legal. E o artigo que dá a previsão legal ao recurso é o artigo 197 da LEP.

3.1.3 Pedido de retratação Após o preâmbulo, é preciso elaborar um pedido de reconsideração (ou retratação). Como a LEP não traz expressamente esse pedido, ele é feito com base no artigo 589 do CPP (pedido de retratação do

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RESE). Essa retratação é possível, porque a decisão impugnada é decisão interlocutória, a qual permite a retratação daquele que a proferiu e pouco importa se foi na fase de conhecimento ou na de execução.

3.1.4 Prazo O prazo para interposição dessa petição de interposição é de 5 dias (súmula 700 do STF).

3.2 Razões recursais 3.2.1 Prazo Nas razões, o prazo é apartado, havendo 2 dias para elaborá-las. É mesmo prazo para apresentação das razões no RESE. Trata-se de aplicação por analogia, segundo a doutrina e a jurisprudência, não há nada na LEP de maneira explícita. 3.2.2 Endereçamento O endereçamento das razões será para o TJ (se interposto perante juiz de direito) ou para o TRF (se interposto perante juiz federal).

3.2.3 Dados do recurso e do recorrente

3.2.4 Conteúdo

• Fatos: deve ser narrado de maneira objetiva, sem tratar do mérito da causa.

• Direito: desenvolvimento das teses. São várias as teses possíveis de serem discutidas em agravo em execução. Nas teses preliminares, muito comum tratar de nulidades.

• Pedido. 4. EFEITOS O agravo em execução, em regra, não possui efeito suspensivo (artigo 197 da LEP), exceto na hipótese do artigo 179 da LEP (decisão que determina a desinternação ou libertação).

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TEMA XI – PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO

1. CONCEITO O processo começa com a inicial acusatória até chegar a sentença. Essa sentença precisa ser correlata à inicial acusatória. Essa é a lógica do princípio da correlação. Por ele, os limites da sentença condenatória estão prefixados na inicial acusatória, já que o juiz não poderá julgar ultra, citra ou extra petita. 2. EMENDATIO LIBELLI

2.1 Conceito Trata-se do instituto que permite ao juiz, sem nenhuma formalidade prévia, corrigir os equívocos de enquadramento de artigo existentes na inicial acusatória, no momento em que for proferir a sentença. Exemplo: Na petição inicial, o promotor narra que a pessoa subtraiu um objeto sem violência ou grave ameaça. Narra, portanto, o furto. Por equívoco, todavia, ele enquadra o fato no artigo 157 do CP (roubo). A denúncia é apresentada ao juiz, que não pode corrigir o enquadramento criminal. Apenas o titular da ação é quem pode fazê-lo. Ainda, esse juiz não deve rejeitar a denúncia, ele a recebe mesmo com o artigo errado. Isso porque o réu se defende dos fatos narrados (e não do artigo de lei). Durante a instrução, as provas corroboram a narrativa fática do MP. Cabe ao juiz proferir a sentença. Ele condenará o réu pelo fato narrado na denúncia e provado na instrução. O juiz aplica o artigo correto.

2.2 Aplicação O instituto em questão é aplicado tanto na ação pública quanto na ação privada.

2.3 Momento A emendatio normalmente é aplicada no momento em que o juiz profere a sentença, mas nada impede que ela seja aplicada na fase recursal, a não ser que isso caracterize reformatio in pejus. Se somente a defesa recorreu da decisão, não se pode aplicar se isso causar prejuízo à defesa (artigo 617 do CPP). Na 1ª fase do júri, na pronúncia do réu, o juiz aplica a emendatio, conforme artigo 413 do CPP.

2.4 Inovações - Artigo 383 1. Se, no momento da emendatio, o juiz perceber que não tem competência para julgar a causa, ele

deve remeter o processo ao juízo competente. 2. Se, no momento de aplicar a emendatio, chegar à conclusão de que cabe suspensão condicional do

processo (pena mínima de até 1 ano), o juiz, ao invés de proferir a sentença, deve abrir vistas ao Ministério Público para a oferta da suspensão condicional do processo (artigo 89 da Lei 9.099/95). O furto, por exemplo, comporta suspensão condicional do processo.

3. MUTATIO LIBELLI

3.1 Conceito

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Trata-se do instituto que permite uma readequação da imputação, porque os fatos revelados na instrução são distintos dos narrados na inicial acusatória (artigo 384 do CPP). Exemplo: Na denúncia, o promotor narra um furto, enquadrando-o corretamente no artigo 155 do CP. Ocorre que uma testemunha afirma que o que ocorreu foi um roubo e as provas, de fato, demonstram isso. Com isso, diante da nova realidade fática, necessário se faz uma readequação da imputação, para que, só então, o juiz possa proferir a sentença. Essa readequação, no entanto, não pode ser feita sem a manifestação das partes (os fatos é que revelaram nova realidade e o réu se defende dos fatos).

3.2 Aplicação Como envolve provocação das partes, somente é aplicada na ação pública e na ação privada subsidiária da pública.

3.3 Momento A mutatio normalmente é aplicada antes de o juiz proferir a sentença, mas na fase recursal não é possível, porque se estaria discutindo uma nova situação fática só em grau de recurso. O STF, na súmula 453, afirmou que não cabe mutatio na fase recursal, justamente para que não ocorra supressão de instância. Esse instituto será aplicado antes de o juiz proferir a sentença. Observação: A mutatio também é aplicada na primeira fase do júri se ficar provado que os fatos são diferentes do que foi narrado na denúncia.

3.4 Procedimento Toma-se como exemplo o narrado acima. Quando o juiz observa que as provas revelam que o fato verdadeiramente ocorrido se caracteriza como roubo, ele deve, logo após o interrogatório do réu, parar a audiência (que fica sobrestada) e abrir vistas ao promotor para que ele adite a denúncia no prazo de 5 dias. Isso nada mais é do que a adequação à nova realidade fática. Se o promotor se negar a aditar, o juiz manda os autos ao Procurador-Geral, para que ele supra essa inatividade do promotor, aditando a denúncia. Após, a defesa se manifesta. Quando a acusação adita a denúncia e a defesa se manifesta, eles podem arrolar, cada um, até 3 testemunhas para demonstrar essa nova realidade fática ou para resisti-la. Em seguida, a instrução é retomada com oitiva das novas testemunhas arroladas. Na sequência, o réu é interrogado acerca da nova realidade dos fatos e ocorrem os debates orais (que, eventualmente, podem ser substituídos por memoriais – artigo 403, § 3º do CPP). Ao final, o juiz profere sentença, que estará, obrigatoriamente pautada no julgamento dessa nova realidade fática.

3.5 Inovações 1. Se, no momento da mutatio, o juiz perceber que não tem competência para julgar a causa, ele deve

remeter o processo ao juízo competente. 2. Por sua vez, aplicando a mutatio, se o crime realmente ocorrido tem pena mínima de até 1 ano,

caberá suspensão condicional do processo (artigo 89 da Lei 9.099/95). Essas inovações são encontradas no artigo 384 do CPP.

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TEMA XII – NULIDADES 1. CONCEITO Nulidade é sanção judicialmente imposta pelo descumprimento da Lei ou dos princípios constitucionais. 2. CLASSIFICAÇÃO

2.1 Nulidade absoluta Em uma nulidade absoluta, algumas são as características: (a) interesse público está em jogo; (b) o vício não se convalida; (c) o vício pode ser arguido a qualquer tempo, ou seja, não preclui; (d) o prejuízo é presumido.

2.2 Nulidade relativa Os elementos de uma nulidade relativa são as seguintes: (a) o interesse das partes prepondera; (b) o vício é passível de convalidação; (c) o vício deve ser arguido oportunamente, ou seja, se não for arguido no momento estabelecido em lei, haverá preclusão – artigo 572 do CPP. (d) o prejuízo precisa ser demonstrado. 3. PRINCÍPIOS

3.1 Princípio do prejuízo O princípio do prejuízo é também conhecido como "Princípio da Pas de Nullité Sans Grief". Por ele, só haverá declaração de nulidade se houver prejuízo, assim definido pelo artigo 593 do CPP. Na nulidade absoluta, esse prejuízo é presumido por Lei, enquanto na nulidade relativa o prejuízo deve ser demonstrado para que a nulidade seja declarada.

3.2 Princípio da instrumentalidade das formas Pelo princípio da instrumentalidade das formas, se o ato atingir a sua finalidade, a nulidade não será declarada (artigo 566 do CPP). Na nulidade relativa, se o ato atingiu a sua finalidade, não haverá declaração de nulidade (impera a ideia de instrumentalidade das formas). Na nulidade absoluta, por sua vez, mesmo que o ato viciado atinja a finalidade, o vício será declarado, porque os fins não irão justificar os meios.

3.3 Princípio da causalidade ou da consequencialidade Pelo princípio da causalidade ou da consequência, os atos que decorrem de um ato viciado serão declarados nulos (artigo 573 do CPP).

3.4 Princípio da conservação Por esse princípio, os atos que não decorrem do ato viciado não se contaminam, são conservados.

3.5 Princípio do interesse Por esse princípio, só é possível invocar a nulidade aquele que tem interesse na sua declaração (artigo 565 do CPP).

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Advertência: Como desdobramento lógico, quem deu causa à nulidade, não poderá invocá-la, afinal, o agente não poderá se beneficiar da sua própria torpeza.

3.6. Princípio da convalidação O princípio da convalidação afirma que se a nulidade não for arguida no momento oportuno, o ato viciado estará convalidado. Trata-se de um princípio aplicável somente às nulidades relativas, porque nas absolutas o vício não preclui. E esse momento oportuno para suscitar as nulidades absolutas é tratado no artigo 571 do CPP. 4. NULIDADES EM ESPÉCIE O artigo 564 do CPP indica um grande rol de nulidades, mas ele não exauriu a matéria.

4.1 Inciso I 4.1.1 Incompetência do juízo

4.1.1.1 Enquadramento: Se a incompetência é absoluta, teremos uma hipótese de nulidade absoluta, um vício insanável. Se a incompetência é relativa (territorial), a nulidade será relativa. 4.1.1.2 Consequência: Havendo êxito no reconhecimento dessa nulidade, os autos do processo serão remetidos ao juízo competente. Para a doutrina majoritária, interpretando o artigo 567 do CPP, ele seria aplicado quando o processo é declarado nulo em virtude da incompetência relativa. Por sua vez, se a incompetência é absoluta, todos os atos do processo são anulados, não havendo aproveitamento.

4.1.2 Suspeição / Impedimento / Suborno 4.1.2.1 Enquadramento: Essa segunda parte do inciso I trata da quebra de imparcialidade pelo julgador. O princípio do devido processo legal assegura um juízo imparcial. Se o juiz é parcial, o processo é nulo, e essa nulidade é absoluta. Observação: As hipóteses de suspeição e impedimento do juiz estão catalogadas nos artigos 252 e 254 do CPP. Por sua vez, juiz subornado é aquele que recebeu vantagem indevida. 4.1.2.2 Consequência: A quebra da imparcialidade do juiz é fato gerador de nulidade absoluta e todos os atos praticados pelo magistrado serão declarados nulo, sendo que os autos do processo devem ser remetidos ao substituto legal do magistrado. 4.1.2.3 Suspeição - Preclusão: A suspeição é hipótese de nulidade absoluta, mas mesmo assim, a parte deve argui-la no primeiro momento em que ela se manifestar após tomar conhecimento, porque se, sabendo do fato gerador da suspeição, não a invocar, no primeiro momento em que se manifestar, haverá preclusão e o vício vai se convalidar.

4.2 Inciso II - Ilegitimidade da parte 4.2.1 Enquadramento

4.2.1.1 Ilegitimidade ad causam: Caracteriza-se por uma impertinência subjetiva da ação, ocasionada quando, ilegitimamente, o MP oferece denúncia em crime de ação privada ou quando a vítima oferece queixa-crime na ação pública, fora das hipóteses de ação privada subsidiária. Nesse caso, o processo é integralmente nulo e deve ser extinto sem julgamento de mérito.

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4.2.1.2 Ilegitimidade ad processum: Trata-se de um vício de representação quando o querelante propõe a ação privada sem ser maior e capaz. Nesse caso, a defesa vai pleitear a nulidade do processo e a sua extinção, sem julgamento de mérito. Por força do artigo 568 do CPP, o representante legal do acusado pode intervir e ratificar os atos até então praticados.

4.3 Inciso III 4.3.1 Alínea "a" - 1ª PARTE – Defeito da denúncia ou da queixa-crime

4.3.1.1 Enquadramento: Havendo denúncia ou queixa defeituosas, elas são ineptas e, por tal motivo, o juiz deveria rejeitá-las. Ao invés disso, ele recebe e o processo se inicia. Esse processo é nulo, devendo ser invalidado a partir da ocorrência do vício. Advertência: Se a queixa-crime for oferecida fora do prazo, ocorrerá decadência e devemos pleitear a extinção da punibilidade (artigo 107 do CP). 4.3.1.2 Momento: Os vícios da inicial acusatória são suscitados até antes de a sentença ser proferida, ou seja, normalmente é invocado na resposta escrita ou nos memoriais. Depois de proferida a sentença, é possível apelar e os vícios invocados na apelação não são mais os vícios da inicial, mas os vícios da própria sentença, que está embasada em uma inicial acusatória viciada. Assim, os vícios discutidos são os vícios da própria sentença.

4.3.2 Alínea "a" - 2ª PARTE – Vício na denúncia ou da queixa-crime 4.3.1.1 Enquadramento: Em crime de ação pública condicionada, se o MP oferece a denúncia sem a representação, a nulidade é absoluta e o processo deve ser extinto sem julgamento de mérito. Isso se o oferecimento ocorre quando a vítima ainda tinha prazo para representar. Todavia, se o promotor ofereceu a denúncia com ou sem a representação, mas a vítima já tinha perdido prazo para representar, vamos pleitear a declaração da extinção da punibilidade, em virtude da decadência (artigo 107 do CP).

4.3.3 Alínea "a" - FINAL – Falta de portaria ou de auto de prisão em flagrante nas hipóteses de contravenção penal

4.3.3.1 Observação: A parte final da alínea "a" do inciso III do artigo 564 está tacitamente revogada, eis que afirma que haveria nulidade nas contravenções em virtude de vício na portaria ou no auto de flagrante.

4.3.4 Alínea "b" – Ausência de corpo de delito nas infrações que deixam vestígios 4.3.4.1 Enquadramento: Quando crime deixa vestígio, é necessário realizar essa perícia chamada de "exame de corpo de delito" para demonstrar que o crime existiu. A sua ausência não pode ser suprida pela confissão do réu. Se não foi feito o exame, essa ausência só pode ser suprida pela prova testemunhal (artigo 167 do CPP). 4.3.4.2 Postura na peça: Se o exame não foi feito e nem foi suprido pela prova testemunhal, na preliminar da peça, estamos autorizados a invocar a nulidade, mas, no mérito, vamos pleitear (em memoriais ou apelação), a absolvição do réu, por não estar provada a existência do crime (artigo 386 do CPP).

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4.3.5 Alínea "c" - 1ª PARTE – Falta de nomeação de defensor quando necessário 4.3.5.1 Enquadramento: A defesa técnica é obrigatória e o STF tem uma súmula para afirmar que a sua ausência é fato gerador de nulidade absoluta (súmula 523), ao passo que sua deficiência gera nulidade relativa. Assim, se o processo tramita sem que o réu esteja devidamente assistido, deve-se pleitear a declaração dessa nulidade a partir do momento em que houve atos processuais praticados com essa situação. 4.3.5.2 Postura na peça: Deveremos pleitear a declaração de nulidade do processo a partir da ocorrência do vício, quando atos processuais foram praticados sem a devida assistência técnica.

4.3.6 Alínea "c" - 2ª PARTE – Falta de nomeação de curador ao menor de 21 anos 4.3.6.1 Observação: Com o advento do Código Civil de 2002, as pessoas maiores de 18 anos são absolutamente capazes. Logo, não há mais nomeação de curador para essa pessoa em virtude dessa faixa etária. Assim, essa segunda parte da alínea "c" está tacitamente revogada. Todavia, o curador subsiste para os indivíduos que são inimputáveis por doença mental.

4.3.7 Alínea "d" – Ausência de intervenção do Ministério Público nas ações públicas ou nas subsidiárias 4.3.7.1 Enquadramento: Na esfera criminal, o promotor ou vai atuar como titular da ação ou como "custus legis". Assim, se não intervir nos atos persecutórios, haverá nulidade. É dizer, haverá nulidade caso ausente a intervenção do MP, seja como titular da ação na ação pública, seja como interveniente adesivo na ação privada subsidiária. O CPP, no artigo 572, afirma que essa alínea "d" é fato gerador de nulidade relativa, mas a doutrina critica a previsão do código, entendendo que seria hipóteses de nulidade absoluta. Independente do enquadramento, deve ser declarada a nulidade a partir da ocorrência do vício.

4.3.8 Alínea "e" - 1ª PARTE – Vício na citação 4.3.8.1 Enquadramento: Embora o nosso código enquadre essa hipótese como fato gerador de nulidade absoluta, esse mesmo código, no artigo 570, admite convalidação. Observação: O vício na citação é conhecido como circundução. 4.3.8.2 Postura na peça: Na peça, deveremos invocar a respectiva nulidade, que deve ser declarada a partir da ocorrência do vício.

4.3.9 Alínea "e" - 2ª PARTE – Vício no interrogatório 4.3.9.1 Enquadramento: O juiz deve oportunizar a realização do interrogatório (pouco importa se o réu vai comparecer ou não ou se vai invocar o direito ao silêncio ou não), sob pena de nulidade absoluta a ser declarada a partir da ocorrência do vício.

4.3.10 Alínea "e" - 3ª PARTE – Vício nos prazos concedidos à acusação ou à defesa 4.3.10.1 Enquadramento: De acordo com o artigo 572 do CPP, essa hipótese é fato gerador de nulidade relativa. De todo modo, na peça, vamos pleitear a declaração da nulidade para que o ato viciado seja refeito com a respectiva concessão do prazo.

4.3.11 Alínea "f" - 1ª PARTE – Vício na decisão de pronúncia 4.3.11.1 Enquadramento: Na decisão de pronúncia, juiz não pode antecipar juízo de culpa, afastar peremptoriamente as teses de defesa, porque esses fatos seriam geradores de nulidade. A

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peça cabível para impugnar essa decisão de pronúncia é o RESE. Assim, se a peça for um RESE para impugnar pronúncia, poderemos invocar eventuais nulidades dessa decisão na preliminar do recurso.

4.3.12 Alínea "f" - 2ª PARTE – Vício no libelo crime acusatório 4.3.12.1 Observação: Essa segunda parte está tacitamente revogado, porque não mais existe libelo crime acusatório. Era uma peça que deflagrava a segunda fase do Júri, mas foi revogada do ordenamento.

4.3.13 Alínea "g" – Vício na intimação do réu para a sessão plenária (Júri) 4.3.13.1 Enquadramento: De acordo com o artigo 572 do CPP, essa hipótese é fato gerador de nulidade relativa. De todo modo, na peça, vamos pleitear a declaração da nulidade para que o ato viciado seja refeito com a competente e adequada intimação. Observação: Nada impede que o réu devidamente intimado subscreva requerimento com o seu advogado (os dois precisam) para não comparecer à sessão plenária se assim lhe for estratégico.

4.3.14 Alínea "h" – Vício de intimação das testemunhas para comparecimento na sessão plenária (Júri) 4.3.14.1 Enquadramento: De acordo com o artigo 572 do CPP, essa hipótese é fato gerador de nulidade relativa. 4.3.14.2 Postura na peça: Na peça, vamos suscitar a ocorrência da nulidade e o processo deve ser refeito para que a testemunha seja devidamente intimada a comparecer na sessão plenária.

4.3.15 Alínea "i" – Vício no quórum legal para abertura da sessão plenária 4.3.15.1 Enquadramento: Se não estiverem presentes ao menos 15 jurados e o juiz, ainda assim, abrir a sessão, há nulidade absoluta. 4.3.15.2 Postura na peça: Se a sessão for aberta e o réu sentenciado, na apelação vamos suscitar a nulidade e o processo deve ser refeito a partir do vício com a realização de uma nova sessão com outros jurados (artigo 593, III, "a" do CPP).

4.3.16 Alínea "j" - 1ª PARTE – Vício no sorteio do conselho de sentença 4.3.16.1 Enquadramento: Há nulidade caso haja vício no sorteio dos 7 jurados que efetivamente irão integrar o julgamento.

4.3.17 Alínea "j" - 2ª PARTE – Quebra da incomunicabilidade 4.3.17.1 Enquadramento: Se os jurados conversarem entre si ou com terceiros sobre os fatos que são objeto do julgamento, haverá nulidade absoluta. 4.3.17.2 Postura na peça: Nesse caso, vamos suscitar a nulidade no recurso de apelação e o réu será levado a novo júri com outros jurados.

4.3.18 Alínea "k" – Vício nos quesitos formulados aos jurados 4.3.18.1 Enquadramento: Os quesitos são perguntas formuladas aos jurados na sala secreta e a sua estrutura normativa é disciplinada nos artigos 482 e seguintes do CPP – Súmula 156 do STF. À luz da Súmula 162 do STF, haverá nulidade absoluta se as qualificadoras e as causas de aumento forem quesitadas antes das causas de diminuição. Nesse caso, em eventual apelação, esse processo será declarado nulo e o réu será submetido a novo julgamento com outros jurados.

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4.3.19 Alínea "l" – Vício na acusação ou na defesa durante a sessão plenária do Júri 4.3.19.1 Enquadramento: Segundo o STF, na súmula 523, a ausência de defesa técnica é fato gerador de nulidade absoluta e a mera deficiência é fato gerador de nulidade relativa. Em eventual apelação, pleiteia-se a nulidade do processo e o réu será levado a novo julgamento.

4.3.20 Alínea "m" – Vício na sentença 4.3.20.1 Enquadramento: Como regra, a sentença viciada será declarada nula pelo tribunal com a devolução dos autos para que o juiz profira uma nova corrigindo o vício. 4.3.20.2 Situações: De acordo com as alíneas "b" e "c" do inciso II do artigo 593 do CPP, que tratam de problemas na sentença que encerra a segunda fase do Júri, ao apresentarmos apelação, vamos pedir que o tribunal profira acórdão substituindo a sentença impugnada e corrigindo, de imediato, o vício, como autoriza os §§ 1º e 2º do artigo 593 do CPP.

4.3.21 Alínea "n" – Ausência de recurso "ex officio" nas hipóteses legalmente exigidas 4.3.21.1 Enquadramento: Segundo o STF, na súmula 423, o recurso de ofício nada mais é do que um requisito necessário para que a decisão transite em julgado. As principais hipóteses de cabimento de recurso de ofício estão previstas nos artigos 574, I e 746, ambos do CPP.

4.3.22 Alínea "o" – Ausência de intimação das sentenças e das decisões que comportam recurso 4.3.22.1 Enquadramento: Nesse caso, o processo deve ser declarado nulo por ofensa ao contraditório e à ampla defesa, devendo ser refeito a partir da ocorrência do vício, oportunizando-se a adequada intimação.

4.3.23 Alínea "p" – Vício no quórum legal dos órgãos colegiados 4.3.23.1 Enquadramento: O desrespeito à composição de desembargadores ou de Ministros caracteriza nulidade absoluta e, assim, a decisão deve ser reconstruída pelo quórum adequado. Normalmente, esse quórum vem definido nos Regimentos Internos dos Tribunais.

4.4 Inciso IV – Falta de formalidade essencial para determinado ato processual 4.4.1 Enquadramento A nulidade ocorre em razão de omissão de formalidade essencial para determinado ato. Observação: De acordo com o artigo 572 do CPP, essa hipótese é fato gerador de nulidade relativa. O ato viciado e os que dele decorrem serão declarados nulos, para o respectivo refazimento.

4.5 Parágrafo único – Vício nos quesitos do Júri 4.5.1 Enquadramento Somando-se à alínea "k" do inciso III do artigo 564 (nulidade proveniente do vício nos quesitos formulados aos jurados), o parágrafo único prevê como fato gerador de nulidade a deficiência ou contradição nos quesitos e nas respectivas respostas dos jurados.

4.5.2 Postura na peça Nesse caso, pleiteia-se, em eventual apelação, a nulidade absoluta do processo e o réu será submetido a um novo julgamento com outros jurados.

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P E Ç A S INQUÉRITO A. QUEIXA-CRIME Ação privada; Ação privada subsidiária da pública.

B. REQUERIMENTO DE RELAXAMENTO (PEÇA PRIVATIVA DE ADVOGADO) Requerimento de relaxamento da prisão em flagrante; Requerimento de revogação de prisão preventiva; Requerimento de concessão da liberdade provisória.

C. HABEAS CORPUS Relaxamento da prisão em flagrante; Revogação de prisão preventiva; Concessão de liberdade provisória. PROCESSO A. RESPOSTA ESCRITA À ACUSAÇÃO B. MEMORIAIS C. APELAÇÃO D. RESE E. ROC F. EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE G. RESP E REXT H. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EXECUÇÃO A. AGRAVO EM EXECUÇÃO Para impugnar decisão do juízo das execuções.

B. REVISÃO CRIMINAL Para atacar decisão condenatória ou absolutória imprópria, transitadas em julgado.

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QUEIXA-CRIME CASO PRÁTICO Cacá, no dia 25 de setembro de 201, sabendo que o fato era falso, mediante o uso de twitter em ambiente público disse a Tício (que leu a mensagem) que Mévio havia praticado o crime de furto contra a Lotérica Estrela em data de 20 de setembro do mesmo ano. Mévio teve conhecimento da imputação no mesmo dia. No dia seguinte, Cacá encontrou Mévio e, com a intenção de ofender Mévio, disse-lhe: “você é um sujeito desonesto e trapaceiro”. Tal fato foi presenciado por Mário. Por sua vez, Mévio se sentiu ofendido com as condutas praticadas por Cacá. Com base somente nas informações constantes no caso acima, elabore peça processual exclusiva de advogado, tendo em vista que Mévio, em data de 23/03/2014 procurou seu escritório e pediu que ingressasse com a medida judicial cabível.

-------------------------------------------------------- EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ... ESTADO DE ...

.

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. MÉVIO, nacionalidade ..., estado civil ..., profissão ...,

portador do RG nº ... e do CPF ..., residente e domiciliado sito à Rua ..., nº ..., na cidade de ..., por intermédio de seu advogado e procurador que esta subscreve (procuração específica em anexo), vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, oferecer QUEIXA-CRIME, com fundamento no artigo 41 do Código de Processo Penal c/c o artigo 145 do Código Penal contra CACÁ, nacionalidade ..., estado civil ..., profissão ..., portador do RG nº ... e do CPF ..., residente e domiciliado sito à Rua ..., nº ..., na cidade de ..., pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

. CALÚNIA – art. 138, CP: Em razão do fato que no dia 25 de setembro de 2013,

sabendo que o fato era falso e mediante o uso de twitter, o querelado imputou ao ora querelante a prática de crime de furto.

Tal imputação chegou ao conhecimento de terceiro, qual seja, Tício, bem como foi conhecida pelo Querelante.

Diane de tal conduta, inequívoco que o querelado praticou o delito de calúnia, figura prevista no artigo 138 do Código Penal, em razão da falsa imputação de delito:

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Art. 138 - "Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime".

Além disso, o crime foi praticado via twitter, portanto, em ambiente que facilita a divulgação da calúnia. Com efeito, aplicável ao caso a causa de aumento de pena prevista no artigo 141, III do Código penal:

Art. 143: "III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria".

INJÚRIA – art. 140, CP: Não satisfeito com a prática do delito de calúnia, no

dia 26 de setembro de 2013, com ânimo de afrontar a honra do querelante, o querelado, mais uma vez delinquiu, dizendo pessoalmente àquele a seguinte frase “você é um sujeito desonesto e trapaceiro”.

Praticando tal conduta, o querelado consumou o delito de injúria, previsto no artigo 140 do Código Penal.

Art. 140 - "Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:".

Com a frase prefalada, evidente que o querelado agiu com dolo de ofender a honra alheia e sem dúvida alcançou seu intento, pois o querelante se sentiu extremamente ofendido em sua honra subjetiva.

CONCURSO DE CRIMES: No caso em tela, o querelado mediante pluralidade de

condutas praticou uma pluralidade de crimes. Quer dizer, em 25 de setembro de 2013, agindo com

dolo, ofendeu a honra objetivo do querelante praticando o delito de calúnia (art. 138, CP). Por sua vez, em 26 de setembro de 2013,

dolosamente, afrontou a honra subjetiva da vítima, consumando o delito de injúria (art. 140, CP). Vale lembrar que os crimes em pauta não são da

mesma espécie. Assim, a pluralidade de conduta e de crimes configura a incidência do concurso material previsto no art. 69 do Código Penal, que estabelece que as penas de todos os crimes praticados devem ser aritmeticamente somadas, senão vejamos:

Art. 69 - "Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela".

DOS PEDIDOS: Por tudo quanto foi exposto e inequivocamente

demonstrado, requer: a) O recebimento da presente queixa-crime;

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b) A citação do querelado para responder a presente inicial e, ao final, ser condenado pelas penas previstas nos artigos 138 c.c 141, III e 140, todos combinados com o artigo 69 do Código Penal.

c) A manifestação do Ministério Público; d) A fixação de valor mínimo de indenização pelos

danos morais causados ao ora querelante, nos moldes do artigo 387, IV do Código de Processo Penal; e) A intimação das testemunhas fáticas, cujo rol segue

abaixo para prestarem depoimento durante a instrução criminal. Termos em que, pede deferimento.

Local e data Advogado OAB Nº

Rol de testemunhas: 1) Mário (qualificação). 2) Tício (qualificação).

-------------------------------------------------------- PROCURAÇÃO ESPECÍFICA

MÉVIO, nacionalidade ..., estado civil ..., profissão ..., portador do RG nº ... e do CPF ..., residente e domiciliado sito à Rua ..., nº ..., na cidade de ..., noema e constitui seu procurador o Dr ..., nacionalidade ..., estado civil ..., advogado, inscrito na OAB/..., nº ..., com escritório profissional sito à Rua ..., nº ..., cidade de ..., a quem confere específicos poderes para oferecer Queixa-Crime contra CACÁ, nacionalidade ..., estado civil ..., profissão ..., portador do RG nº ... e do CPF ..., residente e domiciliado sito à Rua ..., nº ..., na cidade de ..., pelos seguintes fatos:

No dia 25 de setembro de 2013, sabendo que o fato era falso, mediante o uso de twitter, Cacá disse a terceiro que o outorgante havia praticado o crime de furto. No dia seguinte, Cacá encontrou o ora outorgante e lhe disse “você é um sujeito desonesto e trapaceiro”.

Local e data MÉVIO ...

RG nº / CPF nº

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REQUERIMENTO DE RELAXAMENTO PRISIONAL TÉCNICA REDACIONAL DA PEÇA

CASO CONCRETO José foi capturado em flagrante dentro da sua residência. Como relata o auto flagrancial, ele supostamente teria praticado um roubo (artigo 157, CP), duas semanas antes da captura. Lavrado o auto, a autoridade policial não promoveu a remessa ao magistrado, e José encontra-se incomunicável há 72 horas. Em acréscimo, não lhe foi entregue a nota de culpa e o cárcere se mantém até o presente momento. Procurado pela família de José, apresente a peça privativa de advogado, com todas as teses adequadas ao caso. 1º Passo: Endereçamento. O requerimento de relaxamento é endereçado ao magistrado que recebeu ou deveria ter recebido o auto de flagrante.

2º Passo: Espaçamento de 5 (cinco) linhas.

3º Passo: Apontamento do auto de flagrante (Autos de flagrante n.º "..."). Observação: Não se trata de uma fase processual, mas de fase pré-processual, havendo apenas um auto de prisão em flagrante lavrado. Assim, esse apontamento não dispensa a qualificação exauriente do agente no preâmbulo da peça. Assim ocorre em todas as peças da fase preliminar.

4º passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

5º Passo: Preâmbulo.

Conteúdo:

A. Qualificação: deve ser exauriente. B. Assistência por advogado: apontamento da procuração. C. Nome jurídico da peça: REQUERIMENTO DE RELAXAMENTO. D. Artigos de lei para embasamento: artigo 5º, LXV da CF c/c artigo 310, I do CPP.

6º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

7º Passo: Narrativa fática.

Regras de construção:

A. Evitar parágrafos longos; B. Estamos proibidos de inventar informações; C. Seguir uma sequência lógica, temporalmente adequada ao caso narrado na questão.

8º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

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9º Passo: O direito.

10º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

11º Passo: Análise dos pedidos.

12º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

13º Passo: Parte autenticativa.

-------------------------------------------------------- EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA "…" VARA CRIMINAL DA COMARCA DE "…"

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.

. Autos de flagrante n.º "…"

. José, nacionalidade "...", estado civil "…", profissão "…", filiação "…", portador do RG nº "…", CPF nº "…", residente e domiciliado na Rua "…", por meio do seu advogado que esta subscreve (procuração anexa), vem, à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 5º, LXV da CF/88 c/c artigo 310, I do CPP, apresentar REQUERIMENTO DE RELAXAMENTO PRISIONAL, pelas razões de fato e de direito a seguir apontadas.

. Narram os autos de flagrante que José foi capturado dentro da sua resid6encia,

supostamente sob alegação de ter praticado um crime de roubo (artigo 157, CP), ocorrido duas semanas antes da efetivação da captura.

Promovida a lavratura do auto pela autoridade, é sabido que a remessa ao juízo competente ainda não ocorreu. Como se não bastasse, o flagranteado encontra-se incomunicável, por período de aproximadamente 72 horas.

Em outro giro, não lhe foi entregue a nota de culpa, sendo que a prisão persiste até o presente momento.

. I - O DIREITO

A captura em flagrante, como instituto de preservação social, exige prisão legal quanto à admissibilidade. Dessa forma, as hipóteses de cabimento de flagrante, revelando a imediatidade entre o delito e a captura, estão disciplinadas no artigo 302 do CPP.

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Material: Letícia Pinheiro

No caso em tela, percebe-se que o agente foi capturado duas semanas depois da suposta ocorrência dos crimes, dentro da própria residência. Em tal circunstância, é patente o reconhecimento de que a situação fática apresentada não encontra guarida legal como hipótese válida de flagrante.

Nesse contexto, percebe-se a manifesta ilegalidade da captura, pois ocorrida à margem da lei, denotando a necessidade do imediato relaxamento do cárcere, nos termos do artigo 5º, LXV, da Constituição Federal, "verbis":

. Art. 5º. LXV, CF: "a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária".

. Por outro lado, o respeito ao procedimento flagrancial é uma das premissas necessárias à

legalidade. No desdobramento da captura, percebe-se que o auto não foi remetido ao magistrado, ofendendo-se frontalmente o mandamento do artigo 306, § 1º do CPP, que exige a remessa em, no máximo, vinte e quatro horas da prisão.

Além disso, o capturado encontra-se incomunicável, o que é injustificável, afinal, nos termos do artigo 5º, LXII da CF/88, o direito de assistência deve ser preservado, e a prisão deve ser comunicada à família do preso, ou a alguém de sua confiança, o que é ratificado pelo artigo 306 do CPP, valendo a transcrição:

. Art. 306, "caput", CPP: "A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada".

. Em arremate, a autoridade também não entregou ao preso a nota de culpa, como

declaração necessária para informar os motivos e os responsáveis pelo cárcere, além da indicação de eventuais testemunhas. Tal omissão ofende a exigência do artigo 306, § 2º do CPP, ratificando, em acréscimo, a manifesta ilegalidade não só da captura, como também do desdobramento procedimental.

. II - PEDIDOS

Diante do exposto, requer a Vossa Excelência o imediato relaxamento da prisão em flagrante, por sua manifesta ilegalidade, nos termos do artigo 5º, inciso LXV da CF/88 c/c artigo 310, I do CPP, expedindo-se, para tanto, o competente alvará de soltura.

. Termos em que pede deferimento.

. Local "…", dia "…", mês "…", ano "…"

. Advogado…, OAB n.º…

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Material: Letícia Pinheiro

HABEAS CORPUS TÉCNICA REDACIONAL DA PEÇA

CASO CONCRETO: Rogerio Cury foi acusado da prática do crime de apropriação indébita (artigo 168 do CP). Ele teria se apropriado indevidamente do celular do professor Cristiano Rodrigues, que apelas lhe emprestou o aparelho. Preso em flagrante, Cury foi conduzido ao departamento de polícia, onde foram adotadas as providências de rotina, com a remessa, no mesmo dia, do auto de flagrante ao juiz da 1ª Vara Criminal da Cidade de São Paulo. A autoridade judicial homologou o auto, convertendo-o em prisão preventiva, sob o fundamento de que Cury é um risco social, já que o fato causou clamor público no LFG. Diante da decretação da prisão, a defesa apresentou petição ao juiz impugnando o cárcere, pois Cury é primário, tem bons antecedentes, residência fixa e emprego. Apesar dos argumentos defensivos, o pleito restou negado pelo magistrado, que indeferiu a petição. Como advogado contratado, apresente a peça apropriada para combater o cárcere, com todos os argumentos pertinentes. 1º Passo: Endereçamento. A partir do momento em que o magistrado homologou o auto, ele passou a ser a autoridade coatora, servindo de base para a definição de competência. Assim, o HC é endereçado ao presidente do tribunal competente.

2º Passo: Espaçamento de 5 (cinco) linhas.

3º Passo: Apontamento dos autos de flagrante (Autos de flagrante nº "...").

4º passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

5º Passo: Preâmbulo.

Conteúdo:

A. Impetrante: na OAB, normalmente, o HC é impetrado pelo advogado, que atua em favor do cliente.

B. Nome jurídico da peça: ORDEM DE HABEAS CORPUS / AÇÃO DE HABEAS CORPUS. C. Artigos de lei para embasamento: artigo 5º, inciso LXVIII da CF cc artigos 647 e ss. do CPP. D. Indicação de liminar. E. Indicação da autoridade coatora. F. Indicação do paciente, com qualificação exauriente.

6º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

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7º Passo: Narrativa fática.

8º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

9º Passo: O Direito.

10º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

11º Passo: A liminar.

12º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

13º Passo: Pedido.

14º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

15º Passo: Parte autenticativa.

Observação: A ação de HC não tem prazo.

-------------------------------------------------------- EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

.

.

.

.

. Autos de flagrante n.º "…"

. "...", advogado regularmente inscrito nos quadros da OAB, sob o nº "…", com escritório na Rua "…" (procuração anexa), vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 5º, inciso LXVIII da Constituição Federal c/c artigos 647 e seguintes do Código de Processo Penal, impetrar ORDEM DE HABEAS CORPUS, com pedido liminar, em razão de ato praticado pelo Meritíssimo Juiz da 1ª Vara Criminal da Cidade de São Paulo-SP, ora apontado como autoridade coatora, em favor de Rogério Cury, nacionalidade "…", estado civil "…", profissão "…", filiação "…", portador do RG nº "…", CPF nº "…", residente e domiciliado na Rua "…", ora apontado como paciente, pelas razões de fato e de direito a seguir indicadas.

. (Narrativa fática)

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Material: Letícia Pinheiro

. O DIREITO

A prisão preventiva deve ser interpretada, na atual ordem constitucional, como uma medida extrema, sendo tolerada em situações de gravidade considerável, pautadas inclusive, pela pena máxima abstratamente cominada ao delito.

No caso em tele, o paciente foi autuado em flagrante pela suposta prática do delito de apropriação indébita, disciplinado no art. 168 do Código Penal, cuja pela máxima é de 4 (quatro) anos de restrição da liberdade.

De acordo com art. 313 do CPP, em regra, a preventiva só é passível de decretação nas infrações cuja pena máxima seja superior a 4 a nos, o que não ocorre na espécie.

Logo, os limites objetivos de admissibilidade da prisão foram flagrantemente violados, o que denota uma patente ilegalidade.

Como se não bastasse, a preventiva exige a presença do “fumus commissi delicti” e do “periculum libertatis” que vem a justificar as razões legais do cárcere.

No caso em tela, o juiz, com a máxima vênia, não atendeu ao imperativo legal, decretando a prisão em virtude de um suposto risco social, e pelo clamor causado pelo suposto ato criminoso. Como é sabido, tais argumentos, à luz do art. 312 do CPP, não podem servir para lastrear a preventiva, pois não revelam a necessidade do cárcere

Ademais, são contrários ao próprio perfil do agente, que possui bons antecedentes, residência, emprego e não é, claramente, um risco social.

Não resta dúvida assim, que a liberdade é uma exigência ao caso, não só pela impossibilidade objetiva da conversão da prisão, como também pela absoluta dissonância com as hipóteses legais de admissibilidade da preventiva.

. Liminarmente, requer a imediata concessão da ordem de "habeas corpus", expedindo-se,

para tanto, o competente alvará de soltura, fazendo cessar, de imediato, o intolerável constrangimento à liberdade do paciente.

. PEDIDOS Diante do exposto e com base no artigo 5º, LXVIII da CF c/c artigos 647 do CPP, requer: I. A oitiva da Douta Procuradoria de Justiça na condição de "custos legis", para que apresente

parecer; II. A requisição de informações ao Meritíssimo Juiz da 1ª Vara Criminal da Comarca de São Paulo, ora

apontado como autoridade coatora; III. A confirmação, no mérito da liminar pleiteada, para que se consolide a ordem de "habeas corpus"

pretendida, como medida da mais inteira Justiça, com o respectivo alvará de soltura.. .

Termos em que pede deferimento. .

São Paulo, dia "…" de mês "…" de ano .

Advogado "…", OAB n.º "…"

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Material: Letícia Pinheiro

RESPOSTA À ACUSAÇÃO TÉCNICA REDACIONAL DA PEÇA

1º Passo: Endereçamento. A peça deve ser endereçada ao juiz de primeiro grau que preside o processo, porque se trata de uma peça que compõe a estrutura do procedimento comum ordinário.

2º Passo: Espaçamento de 5 (cinco) linhas.

3º Passo: Apontamento processual (Processo n.º "...").

4º passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

5º Passo: Preâmbulo.

Conteúdo:

A. Qualificação do réu: como o réu já está qualificado na inicial, faz-se, na resposta, uma qualificação resumida.

B. Assistência por advogado: faremos referência de que a procuração acompanha a peça. C. Nome jurídico da peça: RESPOSTA ESCRITA À ACUSAÇÃO. D. Artigos de lei para embasamento: artigos 396 e 396-A do CPP

6º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

7º Passo: Narrativa fática

Regras de construção:

A. Evitar parágrafos longos; B. Estamos proibidos de inventar informações; C. Seguir uma sequência lógica, temporalmente adequada ao caso narrado na questão.

8º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

9º Passo: Construção das teses jurídicas.

Regras de construção:

A. As preliminares serão tratadas em separado; B. As teses de mérito principal devem ser devidamente organizadas, para que possamos

desenvolver o raciocínio de cada uma delas separadamente; C. Deve-se evitar parágrafos longos; D. Deve-se indicar os artigos de lei e eventuais súmulas que embasam a tese; E. Indicação de doutrina: nada impede que na peça façamos referência à "doutrina majoritária"

para embasar o argumento jurídico apresentado.

10º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

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11º Passo: Os pedidos

Regras de construção:

A. Deveremos estabelecer o vínculo lógico entre os pedidos e as teses apresentadas. B. Recomenda-se que os pedidos sejam feitos em itens separados, para auxiliar na correção.

12º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

13º Passo: Parte autenticativa.

14º Passo: Rol de testemunhas.

Se a OAB apresentar quem são as testemunhas de defesa no caso, vamos indicá-las nas peças.

�11OAB 2ª FASE - Direito Penal

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Material: Letícia Pinheiro

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA "…" VARA CRIMINAL DA COMARCA DE "…"

.

.

.

.

. Processo n.º "…"

. "...", já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por meio do seu advogado que esta subscreve (procuração anexa), vem, à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 396 e 396-A do Código de Processo Penal, apresentar RESPOSTA ESCRITA À ACUSAÇÃO, pelas razões de fato e de direito a seguir apontadas.

. Narram os autos que "…" foi indiciado em inquérito policial por ter subtraído de Maria, sem

violência ou grave ameaça, a quantia de R$ 1.000,00 (mil reais). "…", em uma terça-feira, precisava da quantia em questão para comprar medicamento para

a sua filha, Marcela, que está com uma grave doença degenerativa. Por estar desempregado, e não tendo a quem recorrer, optou por subtrair a quantia de

Maria, que tinha acabado de receber o salário mensal. Após a conclusão da investigação, o Ministério Público ofereceu denúncia, que foi rejeitada

pelo magistrado ao considerar que a tragédia social em questão não merecia reprimenda criminal. Inconformado, o promotor apresentou recurso, que subiu ao Tribunal sem a notificação da

defesa para apresentar contrarrazões. O Tribunal julgou procedente o recurso acusatório, recebendo a inicial. Considerando que o réu foi citado no dia 12.04.2014, uma quarta-feira, não restou

alternativa à defesa que não a apresentação na presente peça. .

O DIREITO I - Preliminares

Preliminarmente, é necessário o reconhecimento da nulidade absoluta do processo, afinal o recurso acusatório apresentado para impugnar a rejeição da inicial, foi remetido ao Tribunal sem que a defesa tivesse a oportunidade de apresentar contrarrazões, em grave ofensa aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa.

Não é outro o entendimento sumulado do Supremo Tribunal Federal, vejamos: Súmula 707 do STF: "Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contra-razões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo.".

. II - Mérito

A responsabilidade criminal pressupõe a prática de um fato típico, ilícito e culpável, para justificar qualquer reprimenda.

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No caso em tela, estamos diante de uma subtração da quantia de R$ 1.000,00, com a finalidade de comprar medicamento para uma criança enferma, cuja gravidade é medida pela qualidade da doença, que no caso é degenerativa.

Na situação posta, o pai, para resguardar os interesses da filha e em situação de verdadeiro desespero, acabou por transgredir a lei, praticando um fato típico disciplinado no art. 155, "caput", do Código Penal.

Percebe-se que o imputado foi levado a praticar tal conduta para salvaguardar um bem jurídico relevante, qual seja, a vida e a saúde da sua filha. Para tanto, almeja evitar um perigo atual, ao qual não deu causa, já que a infeliz situação de enfermidade não escolhe vítima, sendo verdadeira provação.

Em conclusão, acabou por comprometer bem jurídico alheio, qual seja, o patrimônio, mas na presente circunstância, não seria razoável exigir-se o sacrifício de sua filha.

É solar o reconhecimento de que o imputado atuou em verdadeiro estado de necessidade em favor de terceiro, excluindo-se, assim, a ilicitude da conduta, como verdadeira causa justificante, a merecer um decreto absolutório, como indica a direção do artigo 24 do Código Penal, vejamos:

Artigo 24 do CP: "Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.".

. PEDIDOS Diante do apresentado, requer a Vossa Excelência: I. A declaração de nulidade absoluta do processo, pela não oportunidade de contrarrazões ao recurso

acusatório (Súmula 707 do STF); II. No mérito, requer a absolvição sumária do réu, nos termos do artigo 397, inciso I, do Código de

Processo Penal, já que é patente a presença da excludente de ilicitude do estado de necessidade (artigo 24 do Código Penal);

III. Pelo princípio da eventualidade, protesta de imediato pela produção de todas as provas admitidas no direito, para efeito de possível marcação de audiência de instrução, debates e julgamento.

. Termos em que pede deferimento. Local "…", 24 de abril de 2014

. Advogado…, OAB n.º…

. Rol de testemunhas: 1) "…"; 2) "…".

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MEMORIAIS TÉCNICA REDACIONAL DA PEÇA

1º Passo: Endereçamento. A peça deve ser endereçada ao juiz de primeiro grau que preside o processo, porque se trata de uma peça que compõe a estrutura do procedimento comum ordinário.

2º Passo: Espaçamento de 5 (cinco) linhas.

3º Passo: Apontamento processual (Processo n.º "...").

4º passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

5º Passo: Preâmbulo.

Conteúdo:

A. Qualificação do réu: será resumida, porque o réu foi qualificado na inicial acusatória. B. Assistência por advogado: indicar procuração. C. Nome jurídico da peça: MEMORIAIS. D. Artigos de lei para embasamento: artigo 403, § 3º c/c artigo 404, ambos do CPP.

6º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

7º Passo: Narrativa fática.

Regras de construção:

A. Evitar parágrafos longos; B. Estamos proibidos de inventar informações; C. Seguir uma sequência lógica, temporalmente adequada ao caso narrado na questão.

8º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

9º Passo: Construção das teses jurídicas.

10º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

11º Passo: Análise dos pedidos

12º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

13º Passo: Parte autenticativa.

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Material: Letícia Pinheiro

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA "…" VARA CRIMINAL DA COMARCA DE "…"

.

.

.

.

. Processo n.º "…"

. "...", já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por meio do seu advogado que esta subscreve (procuração anexa), vem, à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 403, § 3º e 404 do Código de Processo Penal, apresentar MEMORIAIS, pelas razões de fato e de direito a seguir apontadas.

. Narram os autos que José foi indiciado pela prática do crime de lesão corporal grave, por ter

atingido Joaquim com uma barra de ferro, ocasionando lesão corporal de natureza grave, com debilidade permanente de membro, leia-se, do seu braço esquerdo (artigo 129, § 1º, III, CP).

Sabe-se, como demonstrou o inquérito policial, que Joaquim é pessoa violenta, sendo vizinho de José por longos anos.

Numa quarta-feira, Joaquim, irritado pelo fato de José não ter recolhido o lixo em frente de sua residência, foi armado tirar satisfação com José. De imediato, sacou a arma de fogo e apontou para José, fazendo menção de atirar.

José, habilidoso, pegou uma pequena barra de ferro que estava no chão da calçada e com um só golpe conseguiu atingir Joaquim e imobilizá-lo, tomando-lhe a arma.

Concluída a investigação, José foi denunciado pelo crime de lesão corporal grave. Citado, o juiz não concedeu prazo para a apresentação da resposta escrita, marcando, de imediato, audiência de instrução e julgamento.

Na audiência, Joaquim ratificou todo o ocorrido. As testemunhas da acusação foram unânimes quanto a conduta de José, que repeliu a agressão de Joaquim, que, por sua vez, estava extremamente nervoso.

Encerrada a instrução, o Ministério Público apresentou memoriais, sendo a defesa intimada para manifestação no dia 11 de novembro de 2016 (quarta-feira).

. I - Preliminares

Preliminarmente, é necessário o reconhecimento da nulidade processual, em razão da não concessão de prazo para a apresentação da resposta escrita à acusação (artigos 396 e 396-A, CPP).

Como é sabido, a resposta escrita concretiza o exercício do princípio constitucional da ampla defesa, e a sonegação do prazo é fato gerador de prejuízo, comprometendo a atividade técnica, nos termos do artigo 564, III, "e", in fine, do CPP, verbis:

Art. 564. "A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: III. "e" … 'e os prazos concedidos à acusação e à defesa'"

.

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Material: Letícia Pinheiro

II - Mérito A responsabilidade criminal exige a ocorrência de um fato típico, ilícito e culpável. Para

tanto, é necessário que a instrução processual revele, em grau de certeza, todos os elementos que integrem o crime.

No caso em tela, percebe-se que o imputado, em que pese ter praticado um fato aparentemente típico, atuou impelido por uma justificadora, qual seja, a legítima defesa.

Nos termos do artigo 23 do CP, "entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem".

José, ao atingir um golpe contra Joaquim, estava, como revelou cabalmente a instrução processual, repelindo uma injusta agressão armada, e, para tanto, valeu-se dos meios necessários e de forma moderada, afinal, com um só golpe, conseguiu neutralizar o agressor, tomando-lhe a arma.

Nesse caso, é solar o reconhecimento da causa de exclusão da ilicitude, de forma que a conduta não merece reprimenda penal, exigindo-se, como única alternativa, a absolvição do réu, nos termos do artigo 386, VI, do CPP.

. PEDIDOS

Diante do apresentado, requer a Vossa Excelência: I. Preliminarmente, a declaração de nulidade do processo, pelo prejuízo ocasionado em

face da não concessão de prazo para apresentação da resposta escrita à acusação (artigo 564, III, "e", do CPP);

II. No mérito, requer a absolvição do réu, nos termos do artigo 386, VI, do Código de Processo Penal, por estar cabalmente demonstrada a excludente de ilicitude de legítima defesa (artigo 25 do Código Penal);

. Termos em que pede deferimento.

. Local "…", 17 de novembro de 2016.

. Advogado…, OAB n.º…

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Material: Letícia Pinheiro

APELAÇÃO TÉCNICA REDACIONAL DA PEÇA

CASO CONCRETO: João da Silva foi preso em flagrante pela suposta prática do crime de roubo qualificado pelo emprego de arma de fogo. Devidamente relatado o inquérito policial, João foi denunciado perante a 1ª Vara Criminal da Comarca de Sorocaba/SP, como incurso no art. 157, § 2°, inc. I do CP. Recebida a inicial, o acusado foi citado para apresentação da resposta escrita à acusação, oportunidade em que, sem condições de contratar advogado, apresentou a peça de próprio punho. O magistrado, entendendo não ser caso de absolvição sumária, designou a audiência de instrução, debates e julgamento. Iniciada a audiência, a vítima não reconheceu o réu com plena certeza, informando que no momento dos fatos estava muito assustada e não prestou a devida atenção à fisionomia do criminoso. Também asseverou que não teve contato visual com a suposta arma de fogo, mas notou um volume no casaco do acusado, o que aparentava ser uma arma de fogo. Durante a oitiva dos milicianos envolvidos no flagrante, estes afirmaram que o acusado dispensou certo objeto em um rio durante a perseguição, mas que nenhum objeto foi localizado ou periciado. O acusado, acompanhando por advogado designado, exerceu o direito constitucional ao silêncio durante o interrogatório. Ao final da instrução, João da Silva foi condenado a oito anos e seis meses de prisão, fixando-se o regime inicial fechado para o cumprimento da reprimenda. Sendo o réu intimado da decisão no dia 09 de junho de 2016, uma quarta feira, apresente a peça privativa de advogado, no último dia do prazo, com todas as teses aplicáveis. I - PETIÇÃO DE INTERPOSIÇÃO

1º Passo: Endereçamento. A petição é endereçada ao juiz de 1º grau que proferiu a sentença que estamos impugnando.

2º Passo: Espaçamento de 5 (cinco) linhas.

3º Passo: Apontamento processual (Processo nº "...").

4º passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

5º Passo: Preâmbulo. Conteúdo:

A. Qualificação. B. Assistência por advogado. C. Nome jurídico da peça: RECURSO DE APELAÇÃO. D. Artigos de lei para embasamento: artigo 593, I do CPP.

6º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

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Professor Nestor Távora Professor Rogério Cury

Material: Letícia Pinheiro

7º Passo: Desfecho da petição de interposição. Observação: Requer-se que o recurso seja recebido e processado ao Egrégio Tribunal de Justiça. Advertência 1: Não faremos referência à formação de instrumento. Advertência 2: Sem referência a juízo de retratação, pois este não se aplica ao recurso de apelação

8º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

9º Passo: Parte autenticativa.

Advertência: Normalmente na OAB, faremos a petição de interposição na primeira página de caderno de resposta, destinado à elaboração da peça. II - ELABORAÇÃO DAS RAZÕES

1º Passo: Referência às razões A referência estará no topo da segunda página do espelho de resposta.

2º Passo: Espaçamento de 3 (três) linhas.

3º Passo: Apontamento processual Indicaremos, aqui, o recorrente, o recorrido e o número do processo.

4º passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

5º Passo: Endereçamento das razões.

6º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

7º Passo: Preâmbulo das razões. Conteúdo:

A. Demonstração de inconformismo com a decisão; B. Indicação das razões de fato e de direito que se seguem.

8º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

9º Passo: Análise dos fatos.

10º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

11º Passo: Direito.

12º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

13º Passo: Elaboração do pedido.

14º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

15º Passo: Parte autenticativa da peça.

�18OAB 2ª FASE - Direito Penal

Page 129: 2ª Fase Penal - Arquivo Completo (2)

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Professor Nestor Távora Professor Rogério Cury

Material: Letícia Pinheiro

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SOROCABA/SP

.

.

.

.

. Processo nº "…"

. JOÃO DA SILVA, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por meio do seu

advogado que esta subscreve (procuração anexa), vem perante Vossa Excelência, com fulcro no art. 593, inc. I do CPP, interpor RECURSO DE APELAÇÃO, diante da irresignação com a respeitável sentença proferida pelo Meritíssimo Juiz da 1° Vara Criminal da Comarca de Sorocaba/SP.Requer, assim, o recebimento e o processamento do presente recurso, com as inclusas razões ao Colendo Superior Tribunal de Justiça.

Requer, assim, o recebimento e o processamento do presente recurso ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, com as inclusas razões.

Termos em que pede deferimento. .

Sorocaba, 14 de junho de 2016 .

Advogado "…", OAB n.º "…"

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Professor Nestor Távora Professor Rogério Cury

Material: Letícia Pinheiro

RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO . . .

Apelante: João da Silva. Recorrido: Justiça Pública. Autos do Processo nº "…"

. EGRÉGIO TRIBUNAL COLENDA CÂMARA DOUTOS JULGADORES

. Em que pese a respeitável decisão de fls. "…", proferida pelo Meritíssimo Juiz da 1ª Vara

Criminal da Comarca de Sorocaba/SP, a mesma não pode prosperar, pelas razões de fato e de direito a seguir apresentadas.

. I. Preliminares

Preliminarmente, é necessário apontar grave violação ocorrida logo após o recebimento da denúncia. Nota-se que após a citação do acusado, foi apresentada a resposta escrita à acusação de próprio punho, sem a necessária assistência por advogado.

Sendo a resposta escrita à acusação ato de defesa, que poderá ocasionar até mesmo a absolvição sumária, é indispensável a subscrição por advogado, nos termos do art. 396-A, § 2º do CPP, corroborado pela súmula n.° 523 do STF, ao aduzir que a defesa técnica é obrigatória, e a sua ausência é fato gerador de nulidade absoluta.

Como se não bastasse, o art. 261 do CPP informa que nenhum acusado será processado ou julgado sem a respectiva assistência do advogado, afinal, a ampla defesa não poderá sem amputada na condução do processo criminal (art. 5°, inc. LV da CF).

Em conclusão, não resta alternativa que não o reconhecimento da nulidade absoluta do processo, a partir da ocorrência do respectivo vício.

. II. Mérito

No mérito, é necessária a reforma do julgado de primeiro grau, diante do frágil conjunto probatório.

A condenação criminal exige certeza não só da autoria como também de todas as circunstância que irrigam a materialidade.

No caso em tela, percebe-se que a vítima, em seu depoimento (fls. “...”), afirmou não reconhecer, com convicção, que o apelante é o responsável pelo delito.

Desta feita, não é possível imputar a conduta narrada na inicial ao suplicante, sendo que as testemunhas, assim como a vítima, não tiveram condições de imputar o delito perante o Merítissimo juiz ao réu, impondo-se assim a absolvição como medida de Justiça, nos termos do art. 386, inc. V do CPP.

Em outro giro, é necessário o afastamento da causa de exasperação do roubo, senão vejamos:

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O crime de roubo, de acordo com o parágrafo 1° do art. 157 do CP tem sua pena aumentada de 1/3 a ½ se houver o emprego de arma.

Tal circunstância deve estar adequadamente demonstrada para que se justifique sua valoração na sentença. No caso em exame, a arma em nenhum momento foi visualizada, seja pela vítima ou pelos policiais.

Quando muito, a vítima viu um volume no casaco do imputado, o que é absolutamente inconsistente.

Como se não bastasse, os policiais presenciaram um descarte de objeto, também não sabendo precisar do que se tratava.

Ademais, o suposto instrumento do crime não se submeteu a perícia, pois sequer foi encontrado, o que inviabiliza a sua valoração na sentença como causa de exasperação da pena, caracterizando uma inaceitável presunção contra o réu.

É necessário dizer, como desdobramento lógico, que o afastamento da causa de exasperação interfere diretamente no regime inicial de cumprimento de pena, que deve ser modificado para o semi-aberto, nos termos do art. 33 do CP.

. II - O PEDIDO

Diante do exposto, requer a Vossas Excelências: a) O acatamento da preliminar apontada, para que se declare a nulidade absoluta do

processo, em virtude da ausência de defesa técnica na apresentação da resposta escrita à acusação (súmula 523 do STF);

b) No mérito, requer a absolvição do réu, afinal não há prova que demonstre a autoria delitiva, nos termos do art. 386, inc. V do CPP;

c) Caso Vossas Excelências assim não entendam, subsidiariamente requer o afastamento causa de aumento capitulada no art. 157, § 2°, inc. I do CP, já que não houve perícia na suposta arma apontada (art. 175 do CPP), e o enquadramento no regime de cumprimento de pena incial correto, qual seja, o semiaberto (art. 33 do CP).

. Termos em que pede deferimento.

. Sorocaba, 14 de junho de 2016.

. Advogado "…", OAB n.º "…"

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RECURSO EM SENTIDO ESTRITO TÉCNICA REDACIONAL DA PEÇA

CASO CONCRETO: Cristiano Rodrigues e Rogério Cury, amigos de infância, resolveram passar alguns dias em um reduto da Mata Atlântica nas imediações do litoral brasileiro. Nas primeiras 24 horas da aventura, os dois se perderam, e passaram 1 semana aproximadamente sem qualquer contato. Desesperado, e acometido por intensa desnutrição, Cristiano, em risco efetivo de vida, matou Rogério Cury, alimentando-se de parte da carne lombar do amigo, como única forma de extrair proteína para continuar vivo. Ao chegar ao local onde os aventureiros estavam perdidos, o Corpo de Bombeiros flagrou Cristiano ainda com sobras do corpo de Rogério Cury. Iniciado o inquérito, Cristiano foi indiciado por homicídio qualificado, indicação esta prontamente acolhida pelo MP, que ofereceu denúncia pelo tipo capitulado no art. 121, § 2°, III do CP, é dizer, homicídio qualificado em virtude do emprego de meio cruel, já que a vítima foi esquartejada. Feita a perícia, ficou demonstrado que Rogério Cury morreu em virtude de um único golpe na cabeça, e o corte do cadáver foi promovido após o óbito. Recebida a inicial, Cristiano, que não é advogado, apresentou a resposta escrita de próprio punho, sem qualquer assistência. Após a instrução da primeira fase do júri, Cristiano foi pronunciado pelo homicídio com a respectiva qualificadora. Contratado como advogado, e sabendo que a intimação ocorreu no dia 19 de maio de 2018, uma terça feira, apresente o recurso cabível, com todas as teses, no último dia do prazo. I - PETIÇÃO DE INTERPOSIÇÃO

1º Passo: Endereçamento. A petição é endereçada ao juiz de 1º grau que proferiu a decisão que estamos impugnando.

2º Passo: Espaçamento de 5 (cinco) linhas.

3º Passo: Apontamento processual (Autos do Processo nº "...").

4º passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

5º Passo: Preâmbulo. Conteúdo:

A. Qualificação: será resumido, porque o réu já está qualificado. B. Assistência por advogado. C. Nome jurídico da peça: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. D. Artigos de lei para embasamento: artigo 581, IV do CPP.

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Material: Letícia Pinheiro

6º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

7º Passo: Desfecho da petição de interposição. A. Requerimento de recebimento e processamento do recurso; B. Referência ao juízo de retratação (artigo 589 do CPP); C. Formação ou não de instrumento (artigo 583 do CPP).

Advertência: Se tivesse que formar instrumento, a redação final do desfecho seria: "subindo o presente recurso com as razões em anexo e com a formação do competente instrumento (artigo 583 do CPP)".

8º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

9º Passo: Parte autenticativa. II - ELABORAÇÃO DAS RAZÕES

1º Passo: Referência às razões A referência estará na parte superior da folha.

2º Passo: Espaçamento de 3 (três) linhas.

3º Passo: Apontamento processual Indicaremos, aqui, o recorrente, o recorrido e o número do processo.

4º passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

5º Passo: Endereçamento das razões. As razões do RESE são endereçadas ao Tribunal competente para julgar o recurso (TJ ou TRF).

6º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

7º Passo: Preâmbulo das razões. Conteúdo:

A. Demonstração de inconformismo com a decisão; B. Indicação das razões de fato e de direito que se seguem.

8º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

9º Passo: Análise dos fatos.

10º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

11º Passo: Direito.

12º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

13º Passo: Elaboração do pedido.

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14º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

15º Passo: Parte autenticativa da peça.

-------------------------------------------------------- EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA "…" VARA DO JÚRI DA COMARCA DE "…"

.

.

.

.

. Autos do Processo nº "…"

. CRISTIANO RODRIGUES, já qualificado nos autos do processo em epígrafe que lhe ove

a Justiça Pública, por meio do seu advogado infrassinado (procuração anexa), vem, perante Vossa Excelência, com fulcro no artigo 581 do CPP, interpor RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.

Requer, assim, o recebimento e o processamento do presente recurso, com a remessa ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de "…", caso Vossa Excelência entenda por manter a r. decisão de fls. "…", nos termos do artigo 589 do CPP, subindo o presente recurso com as razões em anexo e, no bojo do processo principal (artigo 583 do CPP).

Termos em que pede deferimento. .

Local "…", 25 de maio de 2018. .

Advogado "…", OAB n.º "…"

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RAZÕES DO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO . . .

Recorrente: Cristiano Rodrigues. Recorrido: Justiça Pública. Autos do Processo nº "…"

. EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA COLENDA CÂMARA DOUTOS JULGADORES

. Em que pese o teor da respeitável decisão de fls. "…", ela não pode prosperar, pelas razões

de fato e de direito a seguir apresentadas. .

I. Preliminares Preliminarmente é necessário reconhecer que o processo deve seranulado. Isso porque o

recorrente não contou com a necessário intervenção da defesa técnica na formulação da resposta escrita à acusação, nos termos do art. 406, § 3° do CPP.

No presente caso, o juiz tendo verificado que o réu não possui advogado, deveria ter nomeado advogado dativo ou remetido o feito à Defensoria.

Como assevera o Supremo Tribunal Federal, na sua súmula 523, ratificada pelo art. 261 do CPP, a defesa técnica é obrigatória, sob pena de nulidade absoluta do processo, valendo a transcrição:

Súmula 523 do STF: “ No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”.

. II. Mérito

No mérito, o recorrente, a toda evidência, merece ser absolvido sumariamente, nos termos do art. 415, inc. IV do CPP, afinal, atuou amparado pela excludente de ilicitude do estado de necessidade.

Como cabalmente demonstrado nos autos, o réu teve que sacrificar bem jurídico alheio, qual seja, a vida, para salvaguardar a sua própria, em virtude de um risco atual, qual seja, a endêmica inanição, e o risco apontado não lhe pode ser imputado.

O recorrente atuou no mais absoluto desespero, tirando a vida de um querido amigo, como medida extrema para se salvar.

Percebe-se que tal tragédia se enquadra nos moldes da excludente de ilicitude, capitulada no artigo 24 do CP, merecendo, assim, pronto acolhimento para embasar a imediata absolvição, evitando-se a remessa do réu ao Plenário do Júri.

Por outro lado, a apontada qualificadora não pode prosperar, afinal, a perícia demonstra que não houve intenso sofrimento da vítima, que morreu com um golpe na cabeça, sendo que o esquartejamento teve ensejo após o óbito.

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Dessa forma, nunca houve a intenção do réu de cusar desnecessário desconforto ou intenso sofrimento, já que, em situação desesperadora, matou o amigo para salvaguardar a própria vida.

. II - Pedido

Diante do exposto, requer a Vossas Excelências: a) A declaração de nulidade absoluta do processo, com o acolhimento da referida preliminar,

em virtude da ausência de defesa técnica na apresentação da resposta escrita à acusação; b) No mérito, requer a absolvição sumária do réu, nos termos do art. 415, IV do CPP, por

estar patente a excludente de ilicitude do estado de necessidade; a) Caso Vossas Excelências entendam pela manutenção da pronúncia, requer o

afastamento da qualificadora capitulada no art. 121, § 2°, inc. III do CP, pois não ficou demonstrada, restando o enquadramento no homicídio na modalidade simples.

. Termos em que pede deferimento.

. Local "…", 25 de maio de 201.

. Advogado "…", OAB n.º "…"

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RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL TÉCNICA REDACIONAL DA PEÇA

CASO CONCRETO: Advertência: O STF, em recentes decisões, indica que dos acórdãos denegatórios de HC deve-se dar preferência ao ROC.

Cristiano Rodrigues foi indiciado pelo crime de estupro, capitulado no art. 213 do CP. O MP apresentou requerimento pela decretação da prisão preventiva, ao fundamento de que Cristiano é um manifesto risco a ordem pública. Em complemento, argumentou o MP que o fato praticado teria ampla visibilidade midiática, sendo pauta da imprensa televisiva e escrita. O juiz, limitando-se a transcrever o artigo 312 do CPP, decretou de imediato a prisão, sem qualquer outra consideração, determinando o pronto recolhimento ao cárcere. Considerando que foi impetrado HC perante o TJ, e que a ordem foi denegada no mérito, apresente o recurso cabível, no último dia do prazo, considerando que a intimação do acórdão ocorreu no dia 15 março de 2018, uma terça feira. I - PETIÇÃO DE INTERPOSIÇÃO

1º Passo: Endereçamento. A petição é endereçada ao Presidente do Tribunal que denegou o HC

2º Passo: Espaçamento de 5 (cinco) linhas.

3º Passo: Apontamento processual (Autos do processo nº "...").

4º passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

5º Passo: Preâmbulo. Conteúdo:

A. Qualificação: ela será resumida, pois o réu já está qualificado no processo. B. Assistência por advogado. C. Demonstração de inconformismo com a decisão recorrida. D. Nome jurídico da peça: RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL. E. Artigos de lei para embasamento: artigo 105, II, CF c/c artigos 30 e ss. da Lei 8.038/90.

Advertência: Na petição de interposição não indicaremos as razões fáticas e jurídicas, que serão objeto das razões.

6º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

7º Passo: Desfecho da petição de interposição. Observação: Requer-se o recebimento e o processamento do recurso, com as respectivas razões.

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8º Passo: Parte autenticativa.

Advertência: Normalmente na OAB, faremos a petição de interposição na primeira página de caderno de resposta, destinado à elaboração da peça. II - ELABORAÇÃO DAS RAZÕES

1º Passo: Na parte superior da página, iremos indicar as razões do recurso. A petição é endereçada ao Presidente do Tribunal que denegou o HC

2º Passo: Espaçamento de 3 (três) linhas.

3º Passo: Apontamento processual Indicaremos, aqui, o recorrente, o recorrido e o número do processo.

4º passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

5º Passo: Endereçamento das razões. O endereçamento das razões é feito ao tribunal competente para o julgamento do ROC.

6º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

7º Passo: Preâmbulo das razões. Deveremos indicar o inconformismo com a decisão impugnada, em virtude das razões de fato e de direito a serem apresentadas.

8º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

9º Passo: Análise dos fatos.

10º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

11º Passo: Organização jurídica. No ROC, na parte do direito, deve-se mostrar o porquê o cliente deve ser libertado. Deve-se mostrar quais são as teses que justificam a quebra do cárcere, o não encarceramento.

12º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

13º Passo: Elaboração do pedido. Observação: Pede-se a procedência do ROC para que, com isso, possamos reverter o acórdão que denegou o HC, com a consequente expedição do alvará de soltura.

14º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

15º Passo: Parte autenticativa da peça.

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Material: Letícia Pinheiro

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE "…"

.

.

.

.

. Autos do processo nº "…"

. CRISTIANO RODRIGUES, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por meio

do seu advogado que esta subscreve (procuração anexa), inconformado com o venerando acórdão proferido pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de “...”, que denegou ordem de “habeas corpus”, vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 105, inc. II da Constituição Federal c/c arts. 30 e seguintes da Lei 8.038/90, apresentar RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL ao Colendo Superior Tribunal de Justiça.

Requer, assim, o recebimento e o processamento do presente recurso, com as inclusas razões ao Colendo Superior Tribunal de Justiça.

Termos em que pede deferimento. .

Local "…", 21 de março de 2018 .

Advogado "…", OAB n.º "…"

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RAZÕES DO RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL . . .

Recorrente: Cristiano Rodrigues. Recorrido: Justiça Pública. Autos do Processo nº "…"

. COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, DOUTA TURMA, ÍNCLITOS MINISTROS,

. Em que pese o venerando acórdão de fls. "…", emanado do Egrégio Tribunal de Justiça do

Estado de "…", a denegação da ordem de habeas corpus não pode prosperar, em virtude das razões de fato e de direito a seguir apontadas.

. I - OS FATOS

Narram os autos que Cristiano Rodrigues foi indiciado pelo crime de estupro (art. 213 do CP).

Durante a persecução, o MP apresentou requerimento pela decretação da prisão preventiva, ao amparo da garantia da ordem pública, que estaria violada pela ampla repercussão do fato, notadamente na imprensa.

Diante do requerimento, o Meritíssimo Juiz decretou o cárcere cautelar, limitando-se a veicular o texto do art. 312 do CPP.

Impetrado “habeas corpus”, o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de “...” denegou a ordem, não restando alternativa a não ser o presente Recurso Ordinário Constitucional.

. II - O DIREITO

A prisão preventiva é uma medica cautelar pessoal de restrição da liberdade que exige interpretação restritiva e consonante com a atual ordem constitucional.

O cárcere cautelar deve ser interpretado como uma medida extrema, indicando a essencial necessidade para a investigação ou para o futuro processo, nas estritas hipóteses conjugadas pelo art. 312 do CPP.

O recorrente, como bem demonstrado, teve o dissabor da veiculação do fato na imprensa, televisiva e escrita, como comumente ocorre no atual cenário nacional.

Como aponta a melhor doutrina e a jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça, a garantia da ordem pública e o seu significado está a exigir prudente interpretação.

Podemos afirmar, com elevado grau de segurança, que a exposição na mídia ou a repercussão social do fato não são enquadráveis como elementos justificantes do cárcere.

A ordem pública revela uma proximidade com a paz social, que está em risco quando o agente, em liberdade, provavelmente continuará a delinquir, o que, a toda evidência, não se apresenta na hipótese em exame.

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Em acréscimo, é necessário ratificar, nos termos do art. 93, inc. IX da CF que toda e qualquer ordem judicial exige a idônea motivação, revelando a necessidade do cárcere e o risco da liberdade (“periculum libertatis”).

O Meritíssimo Juiz limitou-se a repetir o dispositivo legal, sem apresentar a real necessidade da constrição da liberdade, o que afronta não só o texto constitucional, como também o art. 315 do CPP, “verbis”:

Art. 315 do CPP: “ A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada” (grifo nosso). Não resta dúvida quanto a patente ilegalidade prisional, não só pelo desvio de finalidade

como também pela ausência de motivação (art. 93, IX, CF), merecendo pronto relaxamento. .

II - O PEDIDO Diante do exposto e com base no art. 105, inc. II da CF c/c arts. 30 e seguintes da Lei

8.038/90, requer a este Colendo Tribunal a procedência do presente recurso, para que se reverta a denegação da ordem de “habeas corpus”, expedindo-se para tanto o competente alvará de soltura.

. Termos em que pede deferimento.

. Local "…", 21 de março de 2018.

. Advogado "…", OAB n.º "…"

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EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE TÉCNICA REDACIONAL DA PEÇA

CASO CONCRETO Marcondes, nascido em 20 de janeiro de 1998, subtraiu para si, de uma padaria, duas barras de chocolate, um pacote de pão de forma, e três pacotes de salame italiano, avaliados em R$ 95,00. Denunciado pelo Ministério Público e após regular instrução criminal, foi condenado à pena de um ano de reclusão, sendo-lhe concedido o benefício de sursis. Inconformado com a decisão, o acusado recorreu. Julgado o recurso pelo Tribunal competente, a sentença foi mantida por maioria de votos, sendo que o magistrado vencido, embora mantivesse a condenação, reduzia a pena para 8 (oito) meses em razão do privilégio disposto no próprio tipo penal, convertendo a pena corporal em restritiva de direito. Determinado acórdão foi publicado há 5 dias. Como advogado de Marcondes, tome a providência judicial cabível. ROTEIRO DA PEÇA

Acórdão: julgamento de recurso de apelação, decisão não unânime e desfavorável ao réu. Matéria tratada: diminuição da pena e substituição por restritiva de direito. ESTRUTURA DA PEÇA

Petição de interposição Endereçamento: Ao Desembargador Relator da Apelação nº… Nome da peça: Embargos infringentes. Previsão legal: Artigo 609, parágrafo único do CPP.

Razões Tese: Furto "privilegiado" (tese do voto vencido). No caso, o voto vencido entendeu por bem diminuir a pena privativa de liberdade, bem como substituí-la por restritiva de direitos. Nome do cliente: Embargante / Recorrente. PRAZO

Está dentro do prazo de 10 dias (houve publicação há 5 dias).

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Material: Letícia Pinheiro

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR RELATOR DA APELAÇÃO CRIMINAL Nº…, EM TRÂMITE PERANTE A … CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE…

MARCONDES, já qualificado nos autos em epígrafe, por intermédio de seu advogado que este subscreve, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor EMBARGOS INFRINGENTES, com fundamento no parágrafo único do artigo 609 do Código de Processo Penal, contra o venerando acórdão de fls.

Em anexo, seguem as razões recursais. Nesses termos, pede deferimento

Local e data Advogado…

OAB nº… --------------------------------------------------------

RAZÕES RECURSAIS Apelação nº… Vara de Execuções Penais da Comarca de… Embargante: Marcondes. Embargada: Justiça Pública. Douto Procurador Colenda Câmara Eméritos Desembargadores

O v. acórdão de fls., que manteve a condenação do Embargante, não deu ao caso em questão, o conforto da justiça e, portanto, merece refomar, com a prevalência do voto vencido.

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Material: Letícia Pinheiro

I - FATOS (narrativa) II - DIREITO Contudo, o eminente desembargador vencido,

ainda que mantivesse a condenação, entendeu ser hipótese de aplicação do § 2º do artigo 155 do Código Penal e, com efeito, reduziu a pena de 1 (um) ano para 8 (oito) meses, bem como substitui a reprimenda corporal por restritiva de direitos.

Doutos julgadores, razão assiste ao voto vencido, pois sendo primário o agente e de pequeno valor a coisa furtada, não cabe ao julgador transigir contra a expressa previsão legal, haja vista que não se trata de faculdade do magistrado, mas sim direito do agente a aplicação do privilégio em pauta.

Dessa feita, o eminente desembargador vencido aplicou devidamente a lei ao caso concreto, ou seja, dando ao caso o conforto da justiça. Ora, pensar contrário a isso é desrespeitar os mais comezinhos princípios de direito, é dar as costas à lei expressa.

Assim, Vossas Excelências devem tomar como base o conteúdo do voto vencido, pois com devida vênia aos eminentes desembargadores que votaram de maneira contrária, ficou evidente o completo desrespeito à legislação vigente.

No caso, temos hipótese de preenchimento dos requisitos legais por parte do ora Embargante e, com isso, há direito público subjetivo para que receba os benefícios previstos no § 2º do sobredito artigo.

Dessa feita, sustentar tese diversa será negar ao embargante um direito que lhe assiste, como bem pondera o voto vencido.

III - PEDIDO Por tudo quanto foi exposto, requer o conhecimento

e provimento dos presentes embargos para que prevaleça o voto vencido, havendo a reforma do v. acórdão de fls., com a aplicação da diminuição da pena e consequente substituição da reprimenda corporal por restritiva de direitos.

Local e data. Advogado…

OAB nº…

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Material: Letícia Pinheiro

RECURSO ESPECIAL CASO CONCRETO No curso do processo que teve Mariano como acusao pelo crime de roubo, foi admitida uma fita cassete que continha fatos incriminadores. Entretanto, restou comprovado que tal prova fora obtida por meio ilícito, violando o artigo 157 do CPP. Mesmo assim, sobreveio a condenação. Na confirmação em segunda instância, o acórdão proferido assim dispôs: "mesmo que obtida por meio ilícito, tal prova trouxe incontestável materialidade e autoria delitiva de Mariano". Houve oposição de Embargos Declaratórios, sem êxito. O acórdão foi publicado ontem. Inconformado com a decisão, Mariano lhe contratou para defender seus interesses. Elabore a peça cabível.

-------------------------------------------------------- EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE… Apelação nº…

MARIANO, já qualificado nos autos em epígrafe, por intermédio de seu advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor RECURSO ESPECIAL, com fundamento no artigo 105, III, "a", da Constituição Federal e artigo 26 da Lei 8.038/1990, por não se conformar com o v. acórdão de fls., que violou o artigo 157 do Código de Processo Penal.

Em anexo, seguem as razões recursais, requerendo que seja recebido e processado o presente recurso ao Colendo Superior Tribunal de Justiça.

Termos em que pede deferimento Local e data. Advogado… OAB nº…

�35OAB 2ª FASE - Direito Penal

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Material: Letícia Pinheiro

RAZÕES DE RECURSO ESPECIAL COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Recorrente: Mariano Recorrida: Justiça Pública Colenda Turma Eméritos Julgadores Douto Procurador.

Em que pese o conhecimento técnico dos desembargadores componentes do Tribunal de Justiça do Estado de …, impõe-se a reforma do v. acórdão de fls., pelas razões a seguir aduzidas.

I - FATOS (narrativa) II - DIREITO A - CABIMENTO DO RECURSO No presente caso, houve expressa violação de norma

processual penal, qual seja, o artigo 157 do Código de Processo Penal, pois aceitou-se prova produzida por meio ilícito.

Com efeito, aplicável o artigo 105, III, "a" da Constituição Federal, que prevê:

(transcrever artigo) B - PREQUESTIONAMENTO Um dos requisitos essenciais para a admissibilidade

do presente recurso é a discussão da matéria recorrida perante a instância inferior. No presente caso, houve devido e necessário

prequestionamento, haja vista que o acórdão recorrido tratou da prova ilícita, vejamos: "Mesmo que obtida por meio ilícito, tal prova trouxe

inquestionável materialidade e autoria delitiva de Mariano" (fls.…, acórdão recorrido). C - MÉRITO No presente caso, evidente a violação à norma

infraconstitucional, tendo em vista que fora carreada aos autos prova obtida por meios ilícitos, qual seja, uma fita cassete que continha fatos incriminadores e que levaram à condenação do ora Recorrente.

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Com efeito, houve violação da norma processual contida no artigo 157 do diploma processual penal.

Note-se que a legislação processual em vigor expurga toda e qualquer prova obtida por meio ilícitos, o que não fora observado pelo juízo de piso.

Dessa feita, havendo o reconhecimento da violação de lei federal, Vossas Excelências devem determinar o desentramento da referida prova dos autos, anulando a sentença de primeira instância e as decisões subsequentes, tudo como medida de respeito e aplicabilidade à norma constitucional contida no artigo 105, III, "a" da Carta Maior.

Portanto, diante da patente violação em pauta, não merece prosperar o v. acórdão de fls., devendo ser reformado.

III - PEDIDO Diante do exposto, requer o conhecimento e o

provimento do presente recurso para que haja o reconhecimento da ilicitude da prova consistente em uma fita cassete e, com efeito, determine o seu desentramento dos autos, nos moldes do que preceitua o artigo 157 do Código de Processo Penal, anulando-se as decisões em sentido contrário..

Local e data Advogado…

OAB nº…

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO CASO CONCRETO Joaquim José da Silva Xavier foi condenado pelo Juízo Estadual por crime de roubo contra a Caixa Econômica Federal, empresa pública de propriedade da União. Em sua apelação, foi alegada a nulidade do processo, arguindo-se que o fato deveria ter sido julgado pela Justiça Federal. Não obstante, o Tribunal de Justiça de São Paulo manteve a condenação. Joaquim foi intimado da decisão e procurou-o. Como advogado de Joaquim, adote a medida cabível

-------------------------------------------------------- EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação nº…

JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER, já qualificado nos autos em epígrafe, por intermédio de seu advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor RECURSO EXTRAORDINÁRIO, com fundamento no artigo 102, III, "a", da Constituição Federal e artigo 26 da Lei 8.038/1990, por não se conformar com o v. acórdão de fls., que violou o artigo 109, IV do Constituição Federal.

Em anexo, seguem as razões recursais, requerendo que seja recebido e processado o presente recurso ao Colendo Supremo Tribunal Federal.

Termos em que pede deferimento Local e data. Advogado… OAB nº…

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RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO COLENDO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Recorrente: Joaquim José da Silva Xavier Recorrida: Justiça Pública Colendo Tribunal Eméritos Julgadores Douto Procurador.

Em que pese o conhecimento técnico dos desembargadores componentes do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, impõe-se a reforma do v. acórdão de fls., pelas razões a seguir aduzidas.

FATOS (narrativa) REPERCUSSÃO GERAL Vale destacar a repercussão geral da matéria em

discussão, conforme previsto no artigo 102, § 3º da Constituição Federal e artigo 534-A do Código de Processo Civil, que dispõem:

(transcrever artigos). No presente caso, o recorrente questiona acórdão

proferido pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que contrariou dispositivo constitucional, qual seja, o artigo 109, IV, posi o delito fora praticado em detrimento de empresa pública federal, o que enseja a competência absoluta da Justiça Comum Federal para o processo e julgamento da causa, o que foi cabalmente desrespeitado.

Com efeito, a matéria em pauta possui interesse geral, haja vista que alcançará inúmeras outras infrações penais praticadas contra a Caixa Exonômica Federal, o que explica a necessidade da admissibilidade do presente recurso.

CABIMENTO DO RECURSO No presente caso, houve expressa violação de norma

constitucional, qual seja, o artigo 109, IV da Magna Carta, pois um delito de competência da Justiça Comum Federal foi processado e julgado perante o órgão do judiciário estadual.

Com efeito, aplicável o artigo 102, III, "a" da Constituição Federal, que prevê:

(transcrever artigo). �39OAB 2ª FASE - Direito Penal

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PREQUESTIONAMENTO Um dos requisitos essenciais para a admissibilidade

do presente recurso é a discussão da matéria recorrida perante a instância inferior. No presente caso, houve devido e necessário

prequestionamento, haja vista que o acórdão recorrido tratou da competência, mas não reconheceu que a Justiça Comum Federal deveria julgar o caso, declarando-se competente, mesmo diante de previsão expressa da Constituição Federal em sentido contrário.

C - MÉRITO No presente caso, evidente a violação à norma

constitucional, tendo em vista que infração da Justiça Comum Federal foi indevidamente processada e julgada perante a Justiça Estadual.

Com efeito, a incompetência da Justiça Estadual paulista salta aos olhaos, com a simples leitura do inciso IV do artigo 109 da Constituição Federal.

Note-se que a legislação processual em vigor expurga toda e qualquer prova obtida por meio ilícitos, o que não fora observado pelo juízo de piso.

Dessa feita, havendo a evidente incompetência da Justiça Estadual, Vossas Excelências devem reconhecer a nulidade absoluta do feito "ab initio", anulando-se todos os atos processuais praticados pelo juízo incompetente.

Assim, diante da patente violação em pauta, não merece prosperar o v. acórdão de fls., devendo ser reformado.

III - PEDIDO Diante do exposto, requer o conhecimento e

provimento do presente recurso para que haja o reconhecimento da incompetência absoluta da Justiça Comum Estadual no caso, em razão de desrespeito à norma constitucional inserta no artigo 109, IV da Magna Carta, anulando-se, desde o início, todos os atos praticados pela autoridade judiciária incompetente.

Local e data Advogado…

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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO TÉCNICA REDACIONAL DA PEÇA

CASO CONCRETO Vildo, brasileiro, solteiro, foi processado perante a 78ª Vara Criminal da Comarca de Colina-MG, como incurso nas penas do artigo 213 do CP. Baseou toda a sua defesa no fato de que, apesar de ter sido reconhecido pela vítima, não seria possível ser o autor do crime, uma vez que, no dia dos fatos, estava na cidade do Rio de Janeiro, tendo anexado aos autos notas fiscais de restaurantes e do hotel em que ficou hospedado. Foi concedido a Vildo o direito de recorrer em liberdade. Ele efetivamente apelou ao Tribunal competente, sempre alegando, dentre outras coisas, que não era possível ter ele praticado o crime que fora condenado, pois não se encontrava no Estado de Minas Gerais e que a prova juntada aos autos era robusta e insofismável. A decisão do Tribunal, por sua 1ª Câmara, publicada ontem, negou provimento ao recurso interposto por Vildo, salientando seus péssimos antecedentes criminais, e que era sólida a prova acusatória, mas não mencionou a prova carreada aos autos, no que diz respeito às notas fiscais anexadas.

-------------------------------------------------------- EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR RELATOR DA APELAÇÃO CRIMINAL Nº…, EM TRÂMITE PERANTE A 1ª CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

VILDO, já qualificado nos autos em epígrafe, por intermédio de seu advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, opor EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, com fundamento no artigo 619 do Código de Processo Penal, contra a omissão existente no v. acórdão de fls., pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:

I - FATOS (narrativa)

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II - DIREITO Nobre desembargador relator, com a devida vênia,

há patente omissão no v. acórdão de fls., prolatado por essa Egrégia 1ª Câmara Criminal. O ora Embargante teve seu recurso de apelação

impróvido, sob o fundamento de que possui maus antecedentes e que a prova acusatória é sólida. Contudo, na sobredita decisão, nada se falou sobre

a prova documental carreada pelo Embargante aos autos, apta a demonstrar que não estava no local dos fatos. Para tanto, a tempo e modo oportuno, juntou notas fiscais de hotel e restaurante da cidade do Rio de Janeiro, local onde efetivamente se encontrava na data dos fatos.

Em verdade, a apresentação da prefalada prova é de suma importância, porque serve para contrariar toda a tese acusatória no que diz respeito à autoria delitiva. Entretanto, com o devido respeito, Vossas Excelências ignoraram tais provas ao julgarem o recurso de apelo.

Diante de tal quadro, a omissão constante do v. acórdão é patente e merece ser declarada, a bem da efetivação da justiça e para que a defesa não seja profundamente prejudicada.

Vale salientar que não se quer dar efeito infringente ao presente recurso, mas simplesmente que Vossas Excelências se manifestem expressamente sobre as notas fiscais anexadas pela defesa aos autos.

III - PEDIDO Por tudo quanto foi exposto, requer o conhecimento

e provimento dos presentes embargos para que haja a expressa manifestação dessa douta Câmara Criminal acerca dos documentos carreados pela defesa do ora Embargante, consistente em notas fiscais de hotel e restaurantes aptas a coprovar a completa ausência de autoria delitiva, corrigindo-se, com efeito, o vício da omissão, inequivocamente demonstrado.

Local e data Advogado…

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AGRAVO EM EXECUÇÃO TÉCNICA REDACIONAL DA PEÇA

CASO CONCRETO Tício foi preso em flagrante delito pelo delito de roubo, descrito no artigo 157 o CP. A instrução criminal se encerrou após 5 meses de sua prisão. Foi condenado à pena de 4 anos de reclusão e multa, motivo pelo qual não lhe foi concedido o benefício da suspensão condicional da pena. Você foi contratado para ser advogado de Tício após a sentença ter transitado em julgado. Durante o processo de execução penal, em uma única petição houve, o requerimento para obtenção de progressão de regime, tendo em vista o preenchimento dos requisitos objetivos e subjetivos para tanto, além da restituição de parte dos dias remidos, como base na entrada em vigor da Lei 12.433/2011, haja vista que, meses antes, havia perdido todos os dias remidos em razão do cometimento de falta grave. No entanto, seus pedidos foram indeferidos. Solucione imediatamente o caso de seu cliente, redigindo a devida peça processual. - PEÇA: Trata-se de Agravo em Execução porque houve trânsito em julgado da sentença penal

condenatória e, durante o processo de execução, os pedidos foram indeferidos. Assim, houve decisão na execução penal na forma do artigo 66, III, alíenas "b" e "c" da LEP.

- PREÂMBULO: Nome da peça e previsão legal (artigo 197 da LEP).

- PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO E RETRATAÇÃO: Artigo 589 do CPP.

- ENDEREÇAMENTO: Tribunal de Justiça.

- DADOS DO RECURSOS E DO RECORRENTE.

- FATOS.

- DIREITO: 2 Teses: Progressão de regime (artigo 112 da LEP) e devolução dos dias remidos (artigo 127 da LEP, reformada pela Lei 12.433/2011).

- PEDIDO: Conhecimento e provimento do recurso para reforma da r. decisão de fls.

Observação: nas razões do recurso, não há pedido de deferimento ("termos em que pede deferimento").

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE EXECUÇÕES CRIMINAIS DA COMARCA DE… DO ESTADO… Execução nº …

. TÍCIO, já qualificado nos autos em epígrafe, por

intermédio de seu advogado e procurador que esta subscreve, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor AGRAVO EM EXECUÇÃO, com fundamento no artigo 197 da Lei 7.210/1984, por não se conformar com a r. decisão de fls.

Requer que Vossa Excelência se retrate da decisão ora recorrida, nos termos do artigo 589 do Código de Processo Penal. Caso entenda por bem mantê-la, que haja o processamento do presente recurso, com as razões recursais em anexo, à superior instância.

Termos em que pede deferimento. Local e data Advogado…

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EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE… RAZÕES DO RECURSO DE AGRAVO EM EXECUÇÃO

Execução nº… Vara de Execuções Penais da Comarca de… Agravante: Tício. Agravada: Justiça Pública. Douto Procurador Colenda Câmara Eméritos Julgadores

A r. decisão de fls. não deu ao caso o conforto da justiça e merece ser reformada pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

I - FATOS (narrativa) II - DIREITO A) Da pogressão de regime. O Agravante foi condenado pela prática do delito de

roubo, figura típica prevista no artigo 157 do Código Penal. Ao longo da execução penal, preencheu os

requisitos legais autorizadores para a obtenção do benefício da progressão de regime. Em verdade, o agravante cumpriu 1/6 (um sexto) da

pena que lhe foi imposta no decreto condenatório. Ademais, durante o período de cumprimento da reprimenda, teve bom comportamento carcerário.

Assim, restaram preenchidos os requisitos objetivo e subjetivo, previstos no artigo 112 da Lei 7.210/1984. Com efeito, é direito do Agravante que lhe seja deferida a progressão de regime, devendo ser reformada a decisão ora combatida.

B) Da Restituição dos dias remidos. Se não bastasse, ainda ao Agravante fora negada a

restituição de dias remidos, que haviam sido perdidos, em razão do cometimento de falta grave. Vale ressaltar que, com a entrada em vigor da Lei

7.210/1984, no que tange ao instituto da remição penal. No caso, o artigo 127 da sobredita lei, com a

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nova redação, passou a prever apenas uma redução dos dias remidos para os condenados que, durante o processo de execução, praticam falta grave.

Assim, a nova lei é mais benéfica, pois a redação anterior determinava a perda de todos os dias remidos.

A atual redação do artigo 127 da Lei 7.210/1984 estabelece a perda de, no máximo, 1/3 (um terço) od dias remidos. Dessa feita, diante da nova situação legal, o Agravante tem direito à restituição de, no mínimo, 2/3 (dois terços) dos dias remidos que havia perdido, devendo se reformada a decisão de indeferimento de seu pedido, pois em tudo e por tudo, contrária à lei expressa.

Tivesse o magistrado de piso maior zelo e atenção à mudança legislativa, teria deferido os requerimentos outrora formulados pela ora Agravante.

Dessa forma, resta evidente o direito do Requerente em obter a progressão de regime prisional, bem como a restituição de parte dos dias remidos.

III - PEDIDO Por tudo quanto foi exposto, requer o conhecimento

e provimento do presente recurso para que haja a reforma da decisão de fls., determinando-se a progressão de regime prisional nos termos do artigo 112 da Lei 7.210/1984, bem como a restituição de, no mínimo, 2/3 (dois terços) dos dias remidos anteriormente perdidos, nos moldes da nova redação do artigo 127 da lei em questão, conforme exaustivamente demonstrado.

Local e data. Advogado…

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REVISÃO CRIMINAL TÉCNICA REDACIONAL DA PEÇA

CASO CONCRETO Cristiano Rodrigues foi indiciado e processado pelo crime de apropriação indébita, com exasperação da pena, por ter se apropriado do carro de sua tutelada, Maria da Silva (art. 168, § 1°, inciso II, CP). Durante a instrução, Cristiano negou veementemente o fato, afirmando que o veículo lhe pertencia, e que apenas tinha emprestado o carro a Maria da Silva. Em acréscimo, afirmou que em nenhum momento foi constituído como tutor de Maria da Silva e que, como amigo da família, apenas orientava a garota. As testemunhas ouvidas afirmaram que já viram o referido veículo na casa de Maria da Silva e que não sabem precisar se o veículo de fato pertencia a Maria, ou a eventual data da aquisição. A defesa, ainda na instrução, apresentou documento do veículo em nome de Cristiano, mas com prazo de validade vencido. A suposta vítima afirmou em depoimento que Cristiano sempre foi seu mentor intelectual, e que o carro era comumente utilizado por ela, com autorização de Cristiano, o que a fazia crer que ele a tinha presenteado. Encerrada a instrução, o magistrado proferiu sentença condenando o réu a quatro ano e dois meses de reclusão, estabelecendo o regime semiaberto. Apresentada apelação, o recurso foi julgado pelo Tribunal de Justiça, por maioria de votos. Interpostos embargos infringentes, também não tiveram êxito, e a decisão transitou em julgado. Contratado como advogado, apresente a peça cabível com todos os argumentos favoráveis ao réu. 1º Passo: Endereçamento. A peça é endereçada ao Presidente do Tribunal competente para julgar a ação revisional.

2º Passo: Espaçamento de 5 (cinco) linhas.

Observação: Não há apontamento processual, porque se trata de ação autônoma de impugnação. Não há autos de processo, está-se inaugurando um novo processo.

3º Passo: Preâmbulo.

Conteúdo:

A. Qualificação do réu: exauriente. B. Assistência por advogado: faremos referência de que a procuração acompanha a peça. C. Nome jurídico da peça: AÇÃO DE REVISÃO CRIMINAL . D. Artigos de lei para embasamento: artigo 621 do CPP (deve-se, ainda, indicar o inciso ou os

incisos que embasam a revisão. E. Demonstração de inconformismo com a decisão que já transitou em julgado.

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Advertência: Por se tratar de uma ação autônoma, a revisão é apresentada em contexto único, e os argumentos fáticos e jurídicos se seguem ao preâmbulo.

4º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

5º Passo: Narrativa fática.

6º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

7º Passo: Construção das teses jurídicas.

8º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

9º Passo: Os pedidos

10º Passo: Espaçamento de 1 (uma) linha.

11º Passo: Parte autenticativa.

Advertência 1: Revisão criminal não tem prazo.

Advertência 2: Optar pela elaboração, logo após o tópico do Direito, por um tópico autônomo para tratar da justa indenização, que deverá ser ratificada nos pedidos.

-------------------------------------------------------- EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE "…"

.

.

.

.

. Processo n.º "…"

. Cristiano Rodrigues, nacionalidade “...”, filiação “...”, estado civil “...”, profissão “...”, RG n°“...”, CPF n.º “...”, residente e domiciliado na Rua “...”, por meio do seu advogado que esta subscreve (procuração anexa), vem à presença de Vossa Excelência, inconformado com o acórdão emanado do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de “...”, já transitado em julgado (certidão anexa), apresentar AÇÃO DE REVISÃO CRIMINAL, com fulcro no art. 621, inciso I do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de direito a seguir apontadas.

. (Narrativa fática)

. O DIREITO

A responsabilidade criminal que justifica eventual condenação é pautada na certeza da materialidade, da autoria, assim como na tipicidade da conduta imputada.

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A subsunção do fato à norma deve ser precisa, afinal, o enquadramento normativo é pressuposto necessário para a sanção criminal, que deve ser vista como última “ratio”.

O crime atribuindo ao revisionando, qual seja, a apropriação indébita, está assim disciplinado no art. 168 do CP, “verbis”: Art. 168 do CP: “Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou detenção” (grifo nosso).

Assim, um dos elementos que integram o tipo, como exigência necessária para a caracterização do delito, é que o objeto, fruto da apropriação, pertença a outrem.

Como a instrução bem revelou, o veículo supostamente apropriado pertencia e pertence ao próprio réu, o que ficou ratificado, inclusive, por prova documental, com a apresentação do documento do veículo.

Em acréscimo, as testemunhas, em nenhum momento, apontaram com veemência que o bem pertencia a suposta vítima.

A própria Maria da Silva, ao prestar depoimento, afirmou que imaginava ter sido presenteada, numa absurda presunção, onde o empréstimo e propriedade passaram a ser vistos como se fossem sinônimos, o que é inconcebível.

Logo, percebe-se a visível atipicidade da conduta, o que justificaria a pronta absolvição do réu, nos termos do art. 386, inc. III do CPP, que infelizmente não veio a ocorrer.

Em outro giro, o revisionando nunca figurou como tutor da vítima, sendo apenas amigo da família, o que torna injustificável a causa de aumento de pena capitulada do § 1°, inc. II do art. 168 do CP, que merece peremptório afastamento, influenciando, inclusive, no regime de cumprimento de pena, nos termos do art. 33 do CP.

. PEDIDOS

Diante do exposto e com base no art. 621, inciso I do CPP, requer: 1. A revisão da decisão impugnada, para que se absolva o réu, por ser medida da mais

inteira Justiça. 2. Se Vossas Excelências assim não entenderem, requer o afastamento da causa de

aumento de pena capitulada no § 1°, inciso II do art. 168 do CP, por sua parente incongruência, ajustando-se o regime de cumprimento de pena para o aberto, nos termos do art. 33, § 2°, “c” do CP.

Para tanto, requer ainda a oitiva da Douta Procuradoria de Justiça e o reconhecimento da justa indenização pelo erro judiciário apresentado, no termos do artigo 630 do CPP.

. Termos em que pede deferimento.

. Local "…", dia "…", mês "…", ano "…"

. Advogado…, OAB n.º…

. Rol de testemunhas: 1) "…"; 2) "…".

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