2ª edição resultados 2012 - oei.es · 2 editorial 3 apresentação 4 ii prêmio experiências...

32
2ª edição Resultados 2012

Upload: phamkhuong

Post on 10-Dec-2018

220 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

2ª ediçãoResultados

2012

2

O Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (MEC/SECADI), a Organização dos Estados Ibero-america-nos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) e a Funda-ção Mapfre têm a honra de apresentar à sociedade brasi-leira os resultados do II Prêmio Experiências Educacionais Inclusivas – A Escola Aprendendo com as Diferenças.

Esta publicação pode ser compreendida a partir de dois pontos de vista distintos. Em primeiro lugar, é preciso dizer que os projetos vencedores, aqui resumidamente apresen-tados, têm um valor intrínseco. Mostram, sem deixar mar-gem de dúvidas, como redes de ensino, escolas, professores e alunos vêm enfrentando o desafio da educação especial na perspectiva contemporânea da inclusão com um vigor cada vez maior.

Nas capitais ou nas pequenas cidades desse imenso país, a mentalidade de uma escola regular excludente, diri-gida apenas a um hipotético aluno “normal”, cede a vez para uma educação de fato para todos, embebida pela riqueza da diversidade, na qual não se fala de limites, mas de potencia-lidades que cada ser humano possui em diferentes graus. Uma escola que ensina tolerância, respeito, humanidade, na qual todos aprendem juntos.

Ao mesmo tempo, os relatos aqui apresentados sinali-zam também para um caminho possível para aqueles que ainda precisam ser estimulados a mudar de ponto de vista. Embora tenham sido selecionados projetos que se destaca-ram, o objetivo maior do II Prêmio Experiências Educacio-nais Inclusivas é a formação de um banco de experiências multicultural, acessível a todos, construído a partir de práti-cas concretas e bem-sucedidas, iluminadas pela boa teoria. Desde 2009, quando foi lançado o I Prêmio, os ministérios da Educação de nove países aceitaram o convite da OEI e da Fundação Mapfre. Apenas no Brasil já foi gerado um acervo com mais de 1,5 mil experiências.

Essa trajetória de um prêmio tão recente e tão profí-cuo diz algo de importante sobre os rumos da educação na ibero-América. Há desafios que todos conhecem. Mas há avanços claros e, provavelmente, o traçado de um caminho sem volta rumo a uma educação de qualidade para todos. Efetivamente para todos.

Sumário

Editorial

2 Editorial

3 Apresentação

4 II Prêmio Experiências Educacionais Inclusivas evidencia avanço da educação especial no Brasil

6 Entrevista: Cláudia Pereira Dutra

8 Categoria I – 1ª colocada - Escola de Ensino Fundamental em Tempo Integral Professora Claudecy Bispo dos Santos - Arapiraca - AL

10 Categoria I – 2ª colocada - Escola Municipal de Ensino Fundamental José Dantas Sobrinho – Maracanaú - CE

12 Categoria I – 3ª colocada - Escola Municipal de Ensino Fundamental Taufik Germano - Cachoeira do Sul - RS

14 Categoria II – 1ª colocada - Secretaria Municipal de Educação de Ipixuna do Pará - PA

16 Categoria II – 2ª colocada - Secretaria Municipal de Educação de Floriano - PI

18 Categoria II – 3ª colocada - Secretaria Municipal de Educação de Poços de Caldas – MG

20 Categoria III – Anos Finais Ensino Fundamental Aluno Kyeves Siqueira Silva

22 Categoria III – Anos Finais Ensino Fundamental Aluna Merilena Alves de Lima Bueno

24 Categoria III – Anos Finais Ensino Fundamental Aluna Suellen Oliveira dos Santos

26 Categoria III – Ensino Médio – Aluna Anicler Santana Balbino

27 Categoria III – Ensino Médio – Aluno Francisco Yuri Carvalho Barboza

28 Categoria III – Ensino Médio – Aluno Luiz Gustavo Sincaruk Vieira

30 Categoria Menção Honrosa - Escola Municipal de Educação Infantil Creche “Criança Feliz” – Marília - SP

3

O Prêmio Experiências Educacionais InclusivasA Escola Aprendendo com as Diferenças

A Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura – OEI e a Fundação Ma-pfre vêm trabalhando juntas, desde 2009, para elaborar e executar o Projeto Ibero-Americano para a melhoria da Educação Inclusiva de alunos com necessidades educa-cionais especiais. Além de reconhecer as iniciativas de redes, escolas e professores em diferentes nações, o pro-jeto tem a finalidade de criar um espaço de intercâmbio de projetos, ideias e expectativas por meio da identifica-ção de experiências educativas de inclusão em cada país. O resultado final será a organização de um banco de boas práticas de educação inclusiva em cada país participante do projeto e disponibilizado para toda a região.

Hoje, a OEI e a Fundação Mapfre são parceiras dos ministérios da Educação da Argentina, Brasil, Panamá, Paraguai, Chile, Colômbia, Peru, República Dominicana e Guatemala. Em cada país, foi organizada uma convocató-ria nacional para identificar experiências educativas que tenham favorecido a inclusão de alunos com necessida-des educacionais especiais, que possam servir de boas práticas para outras escolas e sistemas de ensino.

É importante ressaltar que a OEI define como boa prática uma atuação “situada”, ou seja, contextualizada, que adquire sentido e é viável a partir da realidade con-creta, de condições estruturais que a fazem única e irre-produzível em sua essência.

Não se trata, pois, de organizar um conjunto de mo-delos ideais, mas de criar um banco de projetos que possam servir de fato para que outros reflitam sobre a situação em que ocorreram, identificar os passos que se-guiram para realizar e os princípios que orientaram cada uma das experiências. Assim, as boas práticas podem iluminar o caminho, servir de inspiração e enriquecer nosso horizonte a partir da reflexão das respostas que os outros encontraram para os problemas parecidos.

No Brasil, a ideia foi plenamente acolhida e criou-se, em 2009, por meio de uma Portaria do Ministro de Edu-cação, o Prêmio Experiências Educacionais Inclusivas – A Escola Aprendendo com as Diferenças. Já foram realiza-das duas edições (2010 – 2012), acumulando no banco de projetos mais de 1.500 experiências apresentadas, advin-das de todos os Estados brasileiros.

Ivana de Siqueira Diretora da OEI no Brasil

É uma honra para a Fundación Mapfre poder participar e apoiar uma iniciativa tão relevante como esta, instituída pelo Mi-nistério da Educação em conjunto com a OEI, que reconhece experiências efetivas de inclusão escolar para estudantes com deficiência nas escolas públicas do Brasil.

A Fundación Mapfre acredita no poder de transformação dos jovens e na impor-tância de seu papel como agentes fomen-tadores de um novo posicionamento em relação à responsabilidade social, ao meio ambiente e às discussões sobre ética e distribuição de riquezas. Com entusias-mo, espírito empreendedor e capacidade de inovar, tenho certeza de que eles serão os responsáveis por construir um futuro ainda mais promissor para o nosso país e para o mundo.

Por isso, reiteramos nosso compro-misso com a construção de uma cultura de respeito às diferenças, que promove a diversidade e garante a igualdade de opor-tunidades para pessoas com qualquer tipo de deficiência. Sem preconceitos ou bar-reiras, acreditamos que esse posiciona-mento pode — e deve — ser disseminado.

Fátima LimaDiretora Fundación MapfreDelegação Brasil

Fundación Mapfre: compromisso com

uma cultura de respeito às diferenças

44

Com 738 inscritos, divididos em três categorias, o II Prêmio Experiências Educacionais Inclusivas – A Escola Aprendendo com as Diferenças representou um marco positivo na construção de uma escola mais inclusiva no Brasil. Pelo número de projetos inscritos, pela qualidade das propostas, pela interiorização da cultura da educa-ção especial sob a perspectiva da inclusão, ou sob qual-quer outro ângulo que se adote, o balanço do processo, que culminou com a divulgação de 12 vencedores, sina-liza para um movimento de avanço das políticas públicas para a área.

Instituído pela Portaria MEC 1246/2011, o Prêmio tem por objetivo promover, difundir e valorizar experiências inovadoras de inclusão escolar de estudantes com defici-ência, transtornos globais do desenvolvimento e altas ha-bilidades/superdotação. É uma realização do Ministério da Educação – MEC por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – MEC/SECADI, em conjunto com a Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura – OEI, com apoio do Consed e da Undime e patrocínio da Fundação Mapfre.

O II Prêmio trouxe inovações importantes em relação à primeira edição, realizada em 2010, explica Martinha Clarete Dutra, Diretora de Políticas de Educação Especial do Ministério da Educação – DPEE/MEC. Se a primeira iniciativa buscou centrar seu foco na identificação das experiências existentes nas escolas e na forma como se articulavam com seu projeto político pedagógico, o II Prê-mio foi mais longe, ao tentar reconhecer as experiências

Categoria 1

Escolas Públicas

519 inscrições

Reg

ião

Norte 35

Nordeste 95

Centro-Oeste 39

Sudeste 187

Sul 163

Categoria 2

Secretarias de Educação

123 inscrições

Reg

ião

Norte 11

Nordeste 26

Centro-Oeste 10

Sudeste 44

Sul 32

Categoria 3

Textos Narrativos de Estudantes de Escolas Públicas

75 inscrições

Reg

ião

Norte 1

Nordeste 28

Centro-Oeste 4

Sudeste 15

Sul 27

inclusivas no âmbito das redes, como políticas das se-cretarias de Educação. “No ano passado, tivemos grande êxito porque identificamos uma rija trajetória de práticas inclusivas. Agora, foi muito rico ampliar o foco para os sistemas de ensino”, lembra Martinha.

A edição atual do prêmio conjugou, assim, a perspec-tiva dos gestores dos sistemas, das escolas e, também, dos alunos, que participaram com narrativas subjetivas muito ricas. “Trata-se de um processo muito estimulan-te, que mostra como a educação inclusiva vem se con-solidando no Brasil e se incorporando às práticas das redes públicas de ensino como direito constituído, como política pública, e não como ação filantrópica”, explica a diretora de Políticas de Educação Especial do MEC.

ContextoO II Prêmio Experiências Educacionais Inclusivas – A

Escola Aprendendo com as Diferenças se insere em um contexto amplo de difusão de uma política nacional da educação especial, na perspectiva da educação inclusiva, que começou a ser implantada no Brasil em 2003.

Essa política confronta práticas sociais arraigadas, refletidas no sistema educacional, segundo as quais crianças e jovens com deficiência não teriam lugar na es-cola regular e deveriam ser institucionalizados, ou seja, atendidos em ambientes especiais e excluídos das pos-sibilidades de convivência comum. Por isso, as escolas regulares não recebiam estudantes público-alvo da edu-cação especial, tampouco os gestores dos sistemas pro-viam as condições necessárias para esse atendimento.

Educação Inclusiva por todo o País

II Prêmio Experiências Educacionais Inclusivas evidencia avanço da educação especial no Brasil

APRESENTAÇÃO

AP

RES

ENTA

ÇÃ

O

Na primeira fase do processo de seleção, foram habilitados 717 Relatos de Experiência e Textos Narrativos inscritos da seguinte forma:

55

Ratificando diferentes documentos internacionais so-bre a inclusão, como a Declaração de Salamanca, a Con-venção da Guatemala e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, o governo federal consolidou a formulação de uma po-lítica pública para a área, que tem por base a Educação Especial sob a Perspectiva Inclusiva.

Nessa ótica, a educação especial integra o projeto pe-dagógico da escola regular e funciona articulada ao ensi-no comum a todos, com uma orientação às necessidades educacionais especiais dos alunos. A Política Nacional estabelece, também, que cabe aos sistemas de ensino “[...] disponibilizar as funções de instrutor, tradutor/in-térprete de Libras e guia-intérprete, bem como de moni-tor ou cuidador dos alunos com necessidade de apoio nas atividades de higiene, alimentação, locomoção, entre ou-tras, que exijam auxílio constante no cotidiano escolar”.

Por isso, explica a diretora Martinha Clarete Dutra, a presença das secretarias de Educação é fundamental para a implementação dos programas do Ministério da Edu-cação, seja pela formação continuada, pela definição de um cronograma, pelo investimento arquitetônico ou pela tecnologia assistiva, medidas que cabem ao poder público.

Nesse contexto, o II Prêmio Experiências Educacio-nais Inclusivas representou um termômetro da difusão das políticas educacionais do Ministério da Educação nesta área. Assim, tão importante como o significativo número de experiências foi a sua dispersão pelo territó-rio, o que demonstra a interiorização das propostas.

Esse efeito é fruto direto dos vínculos estabelecidos di-retamente entre o MEC e os municípios. Tradicionalmente, o MEC mantinha relações com as secretarias de Estado da Educação. A partir de 2003, iniciou-se uma atuação com municípios polo do Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade (MEC/SECADI/DPEE). Hoje, são 166 municípios, cada um agregando outros menores em sua área de abran-gência. Os recursos são repassados para apoiar a formação regional, que mobiliza a comunidade (incluindo os familia-res), congrega professores, gestores, universidades e movi-mentos sociais. “Isso confere capilaridade para a política de educação inclusiva”, diz a diretora Martinha Dutra.

QualidadeNem a quantidade de projetos inscritos, nem sua dis-

seminação por todas as regiões do País teriam a mesma importância se a qualidade das propostas não fosse um dos pontos altos desta edição do prêmio. A seleção dos projetos passou por etapas rigorosas e envolveu inúme-ros especialistas que emitiram seus pareceres, e culmi-naram com visitas técnicas ao grupo final.

Na primeira fase do processo de seleção, foram ha-bilitados 717 Relatos de Experiência e Textos Narrativos. Na segunda fase, a Comissão de Seleção classificou 40 relatos e textos, que foram objetos das visitas técnicas. Essas visitas, como ressaltam os organizadores, foram muito importantes, e permitiram dar dimensão mais jus-ta para os relatos, até mesmo valorizando as informa-ções inicialmente enviadas pelos inscritos. Com todas as

Ao final, foram premiadas três Experiências de Escolas Públicas, três Experiências de Secretarias de Educação, três Textos Narrativos de Estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e três Tex-tos Narrativos de Estudantes do Ensino Médio.

Como previsto no regulamento, os prêmios fo-ram assim distribuídos:

Na Categoria 1 – Escolas Públicas, todas as experiências vencedoras receberam troféu; certi-ficado; intercâmbio envolvendo quatro represen-tantes da escola com experiências premiadas na categoria; participação no VII Seminário Nacional do Programa Educação Inclusiva: Direito à Diver-sidade, e divulgação da experiência premiada. Além disso, a primeira colocada recebeu um prê-mio em dinheiro no valor de R$ 10.000,00; a se-gunda colocada recebeu R$ 8.000,00, e a terceira colocada ganhou R$ 6.000,00.

Na Categoria 2 – Secretarias de Educação, os três primeiros colocados receberam Intercâmbio envolvendo três representantes com experiências premiadas na categoria (sendo que o 1o colocado tem direito a 4 participantes no intercâmbio; o segun-do colocado a 3 participantes e o 3o colocado a dois participantes, respectivamente); troféu; certificado; participação no VII Seminário Nacional do Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, e divulga-ção da experiência premiada. Os dois primeiros colo-cados ganham também bolsas de estudos (duas para o primeiro colocado e uma para o segundo), no curso “Posgrado en Inclusión Educativa – Escuelas Inclusi-vas Enseñar y Aprender en la Diversidad” – Centro de Altos Estudios Universitários – OEI.

Na Categoria 3 – Textos Narrativos de Estu-dantes de Escolas Públicas, foram premiados seis Textos Narrativos, sendo dois de estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e três de estu-dantes do Ensino Médio.

Cada estudante premiado recebeu um note-book; passeio turístico por Brasília; troféu; certi-ficado; participação no VII Seminário Nacional do Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, bem como a divulgação do texto premiado. y

Prêmios merecidos

APRESENTAÇÃO

informações à mão, novamente uma equipe trabalhou sobre os resultados, incluindo os profissionais da Organi-zação dos Estados Ibero-americanos, que coordenaram a organização do processo até a sua divulgação final.

Os prêmios foram entregues no VII Seminário Nacio-nal do Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversida-de, realizado entre os dias 2 e 4 de julho, em Brasília. Os representantes das escolas, secretarias de Educação e alunos vencedores estavam entre os 700 participantes do evento, e com justo orgulho compartilharam sua experi-ência com dirigentes estaduais e municipais, gestores e educadores dos 166 polos de educação inclusiva, repre-sentantes de organizações sociais e educadores. y

66 ENTREviSTA

ENTR

EviS

TA

“Este prêmio representa uma conquista para que to-das as escolas, sistemas de ensino e estudantes possam apresentar seus trabalhos, afirmando os avanços do sis-tema público de ensino na transformação do processo histórico de exclusão, por meio da prática pedagógica e de gestão comprometidas com a inclusão.” Assim a his-toriadora Cláudia Pereira Dutra, Secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SE-CADI), contextualiza a importância do Prêmio Experiên-cias Educacionais Inclusivas: A Escola Aprendendo com as Diferenças.

Para ela, as experiências pedagógicas e de gestão de-monstram que a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva é uma realidade nas redes públicas. “Essas experiências apontam que as escolas estão modificando seus espaços e práticas educacionais. Assim, ressalta-se que a inclusão escolar pressupõe alteração na concepção da gestão e do traba-lho pedagógico em sala de aula, que não pode ser ação de um professor, isoladamente. A inclusão escolar re-quer uma mudança de perspectiva, e as experiências têm assinalado o compromisso da gestão da rede e da escola, em sintonia com a família, envolvendo toda a comunidade escolar”, afirma a secretária, nesta entrevista.

Quais são os desafios que vivemos hoje na Educação Inclusiva? Que diretrizes o MEC vêm implantando ao longo dos últimos anos?

O MEC, por intermédio da SECADI, orienta os siste-mas de ensino, objetivando garantir o acesso, a participa-ção e a aprendizagem às pessoas com deficiência, trans-tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação nas escolas de ensino regular. A Educação Especial é compreendida como modalidade transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, responsável pela organização e oferta do atendimento educacional espe-cializado complementar e dos serviços de acessibilidade.

Nesse contexto, a Política Nacional da Educação Es-pecial na Perspectiva da Educação Inclusiva – MEC/2008, fundamentada nos princípios da Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência – ONU/2006, definiu como diretriz a transformação dos sistemas educacio-nais em sistemas educacionais inclusivos para assegu-rar a matrícula desses estudantes em classes comuns do ensino regular e as medidas de apoio necessárias à con-tinuidade nos mais elevados níveis de ensino. O desafio é promover a formação continuada de professores para o atendimento educacional especializado complementar e as políticas públicas intersetoriais para a garantia da acessibilidade arquitetônica, urbanística, nas comunica-ções, informações e no transporte.

Para atender a esse desafio, o MEC/SECADI ampliou o financiamento para essa modalidade no âmbito do Fun-deb, disponibiliza cursos no âmbito da Rede Nacional de Formação Continuada, apoia a implantação de Salas de Recursos Multifuncionais nas escolas de ensino regular para a oferta do atendimento educacional especializado e a adequação dos espaços escolares para a acessibilidade.

As matrículas na Educação Infantil e no Ensino Fun-damental vêm crescendo. Esse crescimento ocorre na velocidade necessária?

De acordo com os dados do Censo Escolar/Inep, as matrículas dos estudantes que são o público-alvo da educação especial em classes comuns do ensino regular passaram de um índice de 28%, em 2003, para 74%, em 2011. Nesse período, o número de escolas de educação básica que registraram matrícula de estudantes da edu-cação especial passou de 13.087 para 93.641, em 2011. Esse crescimento é muito significativo, considerando que a implementação da Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva é uma construção recente no País.

O País atingiu patamares de universalização do ensi-no fundamental. Dentre aqueles que estão fora da escola, um terço é constituído por pessoas com deficiência, be-

A inclusão avança no País

Secretária Cláudia Pereira Dutra

77ENTREviSTA

neficiárias do Benefício da Prestação Continuada – BPC. Para assegurar o direito de todos à educação, o gover-no federal, em parceria com os demais entes federados, instituiu o Programa BPC na Escola e passou a realizar a busca ativa dessa população, atuando na identificação e na eliminação de barreiras que impedem o acesso à escola. Essa política provocou o aumento das matrículas, passando de 78.849 (21%) beneficiários com deficiência na escola, em 2007, para 306.371 (69%), em 2011. Até 2014, objetiva-se a inclusão escolar de 378 mil pessoas com deficiência, de zero a 18 anos.

A inclusão de pessoas com deficiência foi impulsio-nada também, a partir de 2008, quando esses estudan-tes passaram a receber financiamento via Fundeb para a matrícula no ensino regular e no atendimento educacio-nal especializado realizado como atividade complemen-tar. Muitos alunos que ingressavam apenas em institui-ções especializadas passaram a efetivar matrícula nas escolas comuns de educação básica.

A garantia do acesso ao ensino regular e a disponi-bilização de recursos de acessibilidade nas redes públi-cas de ensino vêm consolidando uma cultura de inclusão escolar que prevê atendimento a todo o público-alvo da educação especial na rede regular de ensino, até o final da década. É possível prever uma ampliação das matrí-culas no Ensino Médio nos próximos anos decorrente de boas práticas pedagógicas inclusivas no Ensino Funda-mental. O Censo Escolar registra que essa evolução já vem ocorrendo. Em 1998, existiam 2.944 matrículas do Ensino Médio em classes comuns e, em 2011, são 34.278, passando de 42% de inclusão para 97%.

Vivemos um momento de interiorização da educa-ção inclusiva?

O Ministério da Educação vem ampliando seu in-centivo aos sistemas de ensino, visando apoiar a todos os municípios brasileiros na implantação da política de inclusão escolar. Em 2003, criou o Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, com 166 municípios po-los que atuam na formação continuada de gestores e educadores. Com uma abrangência de 100% dos mu-nicípios, essa ação constituiu a principal estratégia de mobilização da sociedade brasileira pelo direito da pes-soa com deficiência a uma educação inclusiva.

Nesse contexto, teve início também o Programa de Implantação das Salas de Recursos Multifuncionais nas escolas da rede pública, que em 2012 contemplará 90% dos municípios. As salas de recursos contemplam recursos de tecnologia assistiva, mobiliário e materiais didáticos acessíveis destinados à oferta do atendimen-to educacional especializado complementar. As escolas

com salas de recursos implantadas recebem recurso fi-nanceiro do Programa Escola Acessível para as adequa-ções destinadas à acessibilidade nos espaços escolares e vagas nos cursos ofertados pelas Instituições Públicas de Educação Superior, por meio da Rede Nacional de For-mação Continuada.

Quais são as possibilidades de formação continua-da hoje disponíveis para os professores da rede pública que desejam aprender mais sobre educação inclusiva?

Atualmente, o MEC/SECADI apoia a formação conti-nuada de professores para a educação especial na pers-pectiva inclusiva, por meio das seguintes ações:z Na Rede Nacional de Formação Continuada dos Pro-

fissionais da Educação Básica Pública – RENAFOR, são disponibilizadas vagas nos cursos de aperfeiçoa-mento e especialização na área de atendimento edu-cacional especializado, ofertadas pelas instituições públicas de educação superior.

z No âmbito do Plano de Ações Articuladas – PAR, as Secretarias de Estado da Educação fazem o planeja-mento da formação continuada de professores e re-cebem recursos financeiros para organizar a oferta de cursos de aperfeiçoamento, de acordo com as ne-cessidades específicas das suas redes de ensino.

z O Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, por meio dos municípios polos, realiza os seminários regionais de formação para gestores e educadores.

z As instituições públicas de educação superior, com apoio do MEC/SECADI/SESU, ofertam cursos de Le-tras Libras/Língua Portuguesa e de Pedagogia na perspectiva bilíngue. Essa oferta é disponibilizada a todos os interessados e o ingresso é de acordo com os critérios de seleção próprios de cada instituição.

Como a senhora definiria a importância de se abrir as escolas para a inclusão?

Todos ganham com uma escola inclusiva, pois nela as estratégias pedagógicas beneficiam o coletivo e, a partir de experiências plurais de ensino e aprendiza-gem, nas quais os sujeitos protagonizam a construção do conhecimento, a diversidade humana é reconhecida e valorizada. Dessa forma, o caráter inclusivo da esco-la torna-se primordial para a qualidade da aprendiza-gem, considerando que a educação é direito humano incondicional e que o preconceito, a discriminação e a segregação traduzem violência contra os direitos hu-manos. A política de educação inclusiva, assim posto, busca o enfrentamento da violação de direitos huma-nos no contexto educacional e a construção da quali-dade social da educação. y

8

A Escola Professora Claudecy Bispo dos Santos, em parceria com o Centro de Orientação Educacional Es-pecializado (Coee) e o apoio da Secretaria Municipal de Educação (Arapiraca – AL) tem se empenhado em desen-volver um ensino de qualidade e apresentar uma prática educativa inclusiva.

CATEGORIA I – 1ª COLOCADA

Escola de Ensino Fundamental em Tempo Integral Professora Claudecy Bispo dos Santos - Arapiraca - AL

Leitura e escrita para todos

Baseando-se na concepção de que uma escola de qualidade respeita e valoriza a diversidade, desenvolvendo práticas educativas voltadas a formar redes de apoio à inclusão, a Escola de Ensino Fundamental em Tempo de Integral Professora Claudecy Bispo dos Santos (Arapiraca – AL) objetiva um ensino que contempla o direito de todos à educação, promovendo a inclusão e o respeito às diferenças. Um exemplo desse princípio pode ser visto no projeto Leitura e Escrita, do qual toda a escola, inclusive os alunos com deficiência, participou.

Para isso, a escola busca uma prática inovadora, con-tando com o engajamento da direção escolar, corpo do-cente, coordenação pedagógica e de todos os envolvidos no contexto escolar.

Esta prática também tem o intuito de atender aos alu-nos com necessidades educacionais específicas, favore-

vENcEdORES

ESc

OlA

S P

úb

lic

AS

9

cendo a efetiva participação desses alunos nas atividades propostas no cotidiano escolar, já que se trata de uma escola em tempo integral que oferece diversas atividades socioeducativas, oportunizando a todos os alunos a des-coberta de suas habilidades e, evidentemente, respeitan-do suas limitações e/ou especificidades.

A escola conta com uma sala de recursos multifun-cionais (SRM) que oferece atendimento educacional es-pecializado (AEE) aos alunos com necessidades educa-cionais específicas da escola ou oriundos de instituições de ensino circunvizinhas.

Fazem parte dos objetivos da proposta da Escola Claudecy:

1. Estimular a participação dos alunos com deficiência intelectual no ensino comum de forma prazerosa e espontânea, fazendo com que detenham sua aten-ção no que é significativo para indicar-lhes caminhos como lidar com o conhecimento em seu processo construtivo de acordo com suas possibilidades moto-ras, cognitivas e afetivas.

2. Incentivar o aluno a desenvolver sua criatividade e de-monstrar o que está compreendendo daquilo que lhe é apresentado.

3. Apresentar ao aluno com deficiência intelectual a im-portância do contato e das interações com as outras pessoas para um bom desenvolvimento no cotidiano escolar e no convívio social.

4. Desenvolver estratégias e recursos que facilitem o desempenho do aluno nas produções textuais, seja por meio da escrita ou de desenhos, seja oralmente.

Tomamos como ponto de partida o Projeto Político Pedagógico (PPP), que tem como proposta relevante a prática de projetos que envolvem toda a comunidade es-colar. Um deles é o “Projeto Leitura e Escrita”.

Nesse projeto são desenvolvidas atividades que abor-dam diferentes tipos de texto — gêneros textuais, livros literários e infanto-juvenis, exploração e produções tex-tuais — com toda a escola (Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental).

Almejando maior participação dos alunos com de-ficiência intelectual nessas atividades, a professora de atendimento educacional especializado e as pro-fessoras da sala de aula comum, em parceria com a coordenação pedagógica e apoio da direção escolar, decidiram que esses alunos devem ser incentivados a participar efetivamente de todo o projeto juntamen-te com seus colegas de turma, ou melhor, de todo o ambiente escolar. Para isso, contamos com recursos e estratégias específicos que facilitaram o desempenho dos alunos nas apresentações literárias, dramatiza-ções e até mesmo a se relacionarem bem com os seus colegas na concretização das atividades propostas, tanto na sala de aula comum quanto no atendimento educacional especializado.

Todos os alunos com deficiência intelectual que es-tão sendo analisados durante o processo do projeto ain-da não detêm o conhecimento acadêmico, mas alguns já conseguem fazer a leitura de mundo ao seu redor e iden-tificam alguns códigos linguísticos (letras e números).

Durante o processo, na sala de aula comum todos os alunos têm acesso a diferentes textos e livros, produzem coletiva e individualmente, cada um dentro de suas po-tencialidades e habilidades – evidentemente, com a me-diação do professor e sendo respeitados o seu “jeito de fazer” e seu tempo em desenvolver determinadas ativida-des. Ao término de cada atividade (produções), os traba-lhos são expostos em murais na sala de aula. E algumas vezes são expostos em murais no pátio.

Na sala de recursos, a professora proporciona o contato com diversas formas de leitura (livros literários, manchetes de jornais, diversas gravuras, pequenos tex-tos etc.) e observa o interesse de cada um. A partir daí, direciona a atividade de acordo com o interesse do grupo ou do aluno, dependendo da situação. Explora os livros de histórias de várias maneiras: fazendo a leitura ora uti-lizando fantoches, ora com gravuras, dentre outras es-tratégias e/ou recursos necessários. Isso deixa o aluno à vontade, oportunizando-lhe utilizar seus recursos de comunicação oral, exprimir sua compreensão, interesse, ideias e estabelecer trocas com o outro (colegas e profes-sora). Em muitos momentos, a professora é a redatora na construção de textos ou nas produções após a leitura de uma história. Também são feitos passeios /visitas perió-dicas à biblioteca próximo à escola, onde todos os alunos têm acesso a um grande acervo literário.

É fundamental a importância da participação da fa-mília no desenvolvimento dos filhos e o apoio que dão durante o processo do ano letivo. Estão sempre dispostos a atender aos pedidos e presentes nas reuniões para um bom acompanhamento da vida escolar de seus filhos.

Ao término do projeto, percebe-se que alguns alu-nos com deficiência intelectual já conseguem identificar a sequência textual de pequenos textos (histórias), fazer observações significativas sobre determinados persona-gens; outros já tentam escrever os nomes dos persona-gens, utilizando códigos de seu conhecimento, e reco-nhecem que ao terminar as atividades é necessário que se escreva o nome como forma de identificação pessoal. Também se nota que houve a aquisição da capacidade de compreender e ter atenção no que o professor transmite oralmente, como, por exemplo, nos momentos de conta-ção de histórias para a turma.

Ainda vale salientar que os alunos adquiriram exce-lente socialização e interação com os colegas, professo-res e em todo ambiente escolar. Muitos deles perderam a inibição e participam das brincadeiras, dinâmicas em grupo e apresentações da turma. Segundo relatos de al-guns pais e mães, os filhos estão tendo melhor desem-penho e comunicação no ambiente familiar.

Diante dos resultados positivos nos aspectos cognitivo, interacional, familiar e social, bem como no desempenho e autonomia no âmbito escolar dos alunos com deficiência intelectual, percebe-se a importância de mudanças signi-ficativas na organização da prática pedagógica no proces-so escolar para que haja sucesso em relação à inclusão.

“Aprender é uma ação humana criativa, individual, heterogênea e regulada pelo sujeito da aprendizagem, independentemente de sua condição intelectual ser mais ou menos privilegiada” (MANTOAN, p. 17, 2007 ). y

vENcEdORES

10

A inclusão escolar é o processo de adequação das esco-las para que todos os alunos possam aprender com o outro, independente de etnia, gênero, situação socioeconômica ou deficiências. Em muitos lugares a inclusão já está aconte-cendo com sucesso, resultado do trabalho colaborativo de toda a comunidade escolar. E isso faz a diferença.

A experiência da Emef José Dantas Sobrinho, no mu-nicípio de Maracanaú, Fortaleza, CE, comprova essa rea-lidade no Brasil. Entre os alunos do Ensino Fundamental está Gabriel (nome fictício), 10 anos, que tem paralisia cerebral e apresenta alterações no desempenho motor, interferindo no andar, escrever e falar.

No início do ano de 2010, por ocasião da matrícula, a mãe de Gabriel procurou a direção da escola e falou da insegurança que sentia quanto à inclusão do filho. Por se tratar de uma experiência nova para a instituição e a fa-mília, o grupo gestor buscou, por meio da reestruturação da escola (espaço físico e sensibilização da comunidade), as mudanças para que de fato o aluno fosse incluído.

De acordo com os princípios do Desenho Universal da Aprendizagem, a escola passou por pequenas reformas para oferecer acessibilidade arquitetônica, ou seja, adap-tações dos banheiros, construção de rampas e piso tátil.

CATEGORIA I – 2ª COLOCADA

Escola Municipal de Ensino Fundamental José Dantas Sobrinho - Maracanaú - CE

Uma rede de relacionamento humano

A experiência inclusiva descrita neste trabalho diz respeito a um aluno com paralisia cerebral matriculado na escola desde 2010 que se encontra no 3o ano do Ensino Fundamental e frequenta a Sala de Recursos Multifuncionais desde o início de sua implantação, em março de 2011.

Além dos equipamentos disponibilizados pelo MEC, houve a aquisição de mobiliários, tais como mesa adap-tada, quadro magnético, monitor com toque na tela, im-pressora e diversos jogos pedagógicos (painéis psicomo-tores, kit de aramados, caixa tátil em EVA e kit de jogos pedagógicos em Libras).

Outro fator de relevada importância na inclusão de Gabriel tem sido a participação da família. Trata-se do acompanhamento de uma mãe atuante, conhecedora dos direitos do filho e, por acreditar em sua potencialidade, buscou desde o nascimento os acompanhamentos que o ajudassem a superar suas limitações.

Atualmente, Gabriel está no 3o ano do Ensino Fun-damental, com outros 27 alunos, e conta com o acom-panhamento da professora regente de sala de aula e da profissional de apoio que auxilia nas atividades de ali-mentação, higiene pessoal e locomoção.

Outras parceiras são as professoras especializadas do AEE, que, após a anamnese feita com a família e a sondagem das dificuldades apresentadas pelo aluno em sala de aula, realizam avaliações continuadas para a elaboração de um plano de ação adequado às suas necessidades.

A maior dificuldade no trabalho em sala de aula com Gabriel está na falta de concentração e aceitação de re-gras que dificulta a execução das atividades e causa in-quietação nos colegas de sala.

Ao iniciar o Atendimento Educacional Especializa-do, foram realizadas atividades com o plano inclinado e os instrumentos musicais (bandinha rítmica), durante a contação de histórias, respeitando o interesse apresen-tado pelo aluno relacionado à música.

Após o período de adaptação, os recursos aplicados nas intervenções foram os sistemas de símbolos (ele-mentos pictográficos, ideográficos e/ou outros) utilizando cartolina ou papel pardo e fita adesiva.

Para melhorar o desempenho motor, estão sendo utilizados o painel psicomotor, o kit de aramados e re-cursos pedagógicos adaptados, como: engrossadores de espuma para lápis, pincéis, giz de cera e tubo de cola

vENcEdORES

ESc

OlA

S P

úb

lic

AS

11

colorida, tapete com letras do alfabeto em EVA (utilizado como molde vazado), além de outros materiais didáti-cos, caixa de carimbos educativos (alfabeto, números e animais), conjunto de numerais com pinos e diversos jogos educativos.

Gabriel também interage com a informática acessí-vel, através do teclado colmeia, do acionador, do monitor com tela sensível ao toque (touch screen) e dos softwares educativos (Boardmaker e o kit multimídia).

Quanto à limitação na sua comunicação, foi utilizada a tecnologia assistiva: Comunicação Aumentativa e Alterna-tiva (CAA), através de cartões confeccionados artesanal-mente com temáticas envolvendo a rotina de vida do aluno.

A experiência da inclusão do aluno com paralisia ce-rebral tem repercutido em toda a escola. Contudo, um espaço inclusivo requer mudanças de valores preestabe-lecidos. É necessária, na ação educativa, uma conexão entre teoria e prática.

ResultadosA Sala de Atendimento Educacional Especializado

tornou-se um espaço acolhedor em que todos os atores educativos estão envolvidos no trabalho. Um fato marcante é a disposição da comunidade escolar em auxiliar na con-fecção de materiais de baixa tecnologia, tais como: cartões de comunicação, pranchas personalizadas, engrossadores de espuma e jogos pedagógicos. Há um trabalho colabo-rativo entre gestão escolar, sala de aula comum, sala de recursos multifuncionais, família e comunidade.

No que diz respeito à acessibilidade pedagógica, o aluno utiliza o caderno de caligrafia, conseguindo mais definição no traçado, e desenvolve maior concentração nas atividades lúdicas (teatro de fantoches) envolvendo conteúdo de língua portuguesa .

Na dimensão relacional, está mais sociável, na intera-ção com os colegas, na aceitação de regras e limites, com melhor participação nas atividades escolares: informática, biblioteca, eventos sociais, conquistando maior indepen-dência. O aluno vem superando as barreiras existentes para sua efetiva inclusão com a acessibilidade arquitetôni-ca, atitudinal e pedagógica implantadas na escola.

Considerando os desafios diante do caso apresenta-do, observam-se pontos positivos e outros a serem me-lhorados na experiência educacional inclusiva da Emef José Dantas Sobrinho.

A Sala de Atendimento Educacional Especializado está se tornando um espaço humanizado, em que a rela-ção afetiva é um elemento básico a ser considerado nas intervenções realizadas.

O relacionamento família/escola gerou conhecimen-tos e estratégias de ação, o que melhorou significativa-mente a qualidade da aprendizagem do aluno, em espe-cial nas dificuldades comportamentais (limites e regras), consequentemente desenvolvendo maior concentração, necessária para a otimização dos recursos digitais dispo-níveis no AEE desta escola.

O trabalho realizado com a tecnologia assistiva — Co-municação Alternativa (painel de comunicação, prancha de comunicação) — está fazendo com que as limitações na comunicação sejam superadas nos âmbitos familiar e escolar.

Consideramos que a mudança educacional compre-ende uma vasta rede de relacionamentos humanos que são interligados procurando alcançar objetivos comuns por meio do trabalho colaborativo. Logo, é preciso que cada protagonista social se conscientize de seu papel para garantir o cumprimento da legislação.

Nesse sentido, a gestão compartilhada é um ele-mento crucial para a construção de um espaço inclusivo, desde que toda a comunidade permaneça envolvida na efetivação das ações descritas no Projeto Político Peda-gógico da escola.

A inclusão do aluno Gabriel é um exemplo de supera-ção e participação, pois comprova que na diversidade se constrói uma aprendizagem significativa, desde que o es-paço escolar seja acolhedor e respeite as características individuais do ser humano.

“Precisamos nos desviar da culpa e do medo e, em vez

disso, investir em nossa intuição e experiência como pais. Não precisamos rotular nossas crianças; precisamos, sim, redefinir o termo vencedor” (STAINBACK, 1999, p. 416 ). y

12

No ano de 2011, na Escola Taufik Germano, foi viven-ciado o processo inclusivo de uma aluna com deficiên-cia múltipla. Constatamos várias mudanças ocorridas no ambiente escolar, familiar e social, o que motivou a construção desse relato, visando compartilhar fatos mar-cantes e decisivos na busca de uma escola para todos.

A E.M.E.F. Taufik Germano está localizada no Passo do Moura, distrito do Bosque, limite entre as zonas rural e urbana do município de Cachoeira do Sul. A maioria das famílias vive da agricultura familiar e também de servi-ços gerais. Ao concluir os estudos na escola, a grande maioria segue estudando na rede estadual, na sede do município, necessitando de transporte escolar.

Apesar de a escola ter vivenciado outras experiências com a inclusão de alunos com deficiência e desenvolver projeto “Aprendendo Libras”, para promover o estudo e o

CATEGORIA I – 3ª COLOCADA

Escola Municipal de Ensino Fundamental Taufik Germano - Cachoeira do Sul - RS

Uma escola para todos

Um fato causou surpresa à comunidade da Escola Taufik Germano. Chegou ao conhecimento da escola que havia uma criança com deficiência múltipla, cuja família não pretendia matriculá-la na escola.

aprendizado da Libras, surge um novo desafio e com ele várias mudanças. Em pleno século XXI, um fato causou surpresa à comunidade escolar: chegou ao conhecimen-to da escola que havia uma criança com deficiência múl-tipla, cuja família não pretendia matriculá-la na escola.

Diante desse fato, a escola investigou a informação e constatou que se tratava de uma criança com 8 anos. A diretora da escola e a professora do AEE entraram em contato com a família. A mãe da menina relatou não saber que a filha tinha direito à educação. As visitas à família foram várias, para que esta pudesse perceber e reconhecer a importância e o direito à educação. O que para a escola era incontestável não parecia claro para a família, que permanecia à luz da exclusão.

A escola promoveu condições de acessibilidade sob a perspectiva do desenho universal, articulando ações para a participação efetiva de todos os alunos. As mudanças ocorreram. Rompimento de barreiras. Dessa forma, foi necessário construir rampas, mexer na infraestrutura do banheiro e demais dependências da escola. No início do ano letivo foram realizadas reuniões de estudos visando o esclarecimento de dúvidas e sugestões de leituras para o embasamento teórico.

É na caminhada que se faz o caminho, isso foi e está sendo vivenciado pelo grupo. Sendo assim, durante o ano foram organizados encontros semanais para planejar, discutir e refletir sobre a ação docente e da gestão. Mo-mento de os professores repensarem sua prática e or-ganizarem estratégias diferenciadas de aprendizagem, com o propósito de assegurar a aprendizagem de todos embasados no conceito de desenho universal na aprendi-zagem. Tornar a aprendizagem acessível. Ter consciência de que não existe um único meio de aprender e que da interação com materiais e métodos inflexíveis é que sur-gem as barreiras na aprendizagem. A gestão é peça fun-damental na articulação de ações no contexto escolar, ela fortalece e propulsiona as mudanças em consonância com todos os envolvidos no processo educativo, na busca e construção de uma escola para todos.

Iniciado o ano letivo de 2011, lá estava Taís, acom-panhada pela mãe. Uma cadeira de rodas precisou ser

vENcEdORES

ESc

OlA

S P

úb

lic

AS

13

providenciada, pois até então a família não dispunha de uma. Nas primeiras semanas de aula, Taís permanecia somente até a hora do recreio. Mais que isso ficava brava, demonstrava cansaço e irritabilidade. Fato compreensí-vel, pois sua rotina de vida estava sofrendo alterações. Para quem passava seus dias sentada em um sofá ou na cama, apenas escutando música, ela repentinamente deparou-se com novos desafios. Era a descoberta e o in-gresso em um mundo novo, até então desconhecido.

Nos primeiros dias, a mãe permanecia na escola e auxiliava quando necessário. A partir da segunda semana, era acompanhada por um profissional auxiliar. Com a che-gada deste profissional, a mãe foi ficando mais afastada. Logo, somente acompanhava a filha à escola, no transpor-te, e depois retornava à sua residência. No segundo mês de aula, já permanecia toda a manhã na escola.

Após vencer a barreira do preconceito da própria fa-mília, o desafio era provocar a mudança na comunida-de escolar, ampliando e fortalecendo os mecanismos de informação. Algumas mães que questionavam a inclu-são — “O que ela faz na escola?”, “Mas professora, ela aprende?” ou “Coitadinha!” — já modificaram sua manei-ra de pensar, reconhecem a “diferença” como aspecto integrante do humano.

As atividades primaram pela integração com o am-biente escolar, envolvendo a família nas atividades, bus-cando uma mudança no meio familiar e envolvendo-a no processo educacional. Ou seja, a família reconhece que Taís tem condições de aprender e, para tanto, precisa ser estimulada e contar com o envolvimento de todos. A presença da mãe ou de um familiar sempre foi peça fun-damental, pois durante o AEE, a família tomava conheci-mento de estratégias e era orientada a como proceder, para dar continuidade e enriquecer o processo educativo.

O êxito do trabalho proposto dependeu da parceria de todos. Consequentemente, iniciou-se o uso de recursos da tecnologia assistiva, através da exploração e uso do software do Boardmaker, acionadores etc. Material de excelente qualidade, abre caminhos para expandir as possibilidades de acesso à aprendizagem.

Partindo de suas habilidades, aproveitando o que Taís conseguia fazer, iniciou-se a introdução de novos recur-sos. Por meio da valorização e ampliação de suas capaci-dades, foi-se proporcionando a troca de experiências com os demais colegas e professores.

O uso da tecnologia assistiva e as oportunidades de interação com a turma favoreceram a compreensão do recurso no coletivo. Iniciaram-se oficinas de tecnologia assistiva envolvendo toda a turma. No decorrer das ofi-cinas, os alunos aprenderam com Taís o quanto a tecno-logia assistiva possibilita e favorece o acesso à aprendi-zagem. A família reconheceu os avanços e a importância de seu ingresso na escola, e o quanto isso a ajudou a me-lhorar sua qualidade de vida e a ser reconhecida como cidadã de direitos e deveres.

A acessibilidade é condição prévia para o sucesso de qualquer ação, nos faz repensar sobre o ambiente, consi-derando possibilidades e dificuldades. Assim, foi de suma importância atuar de forma colaborativa com o professor da classe regular para definição de estratégias pedagó-gicas a fim de prover o acesso ao currículo.

As atividades da sala regular organizaram-se através de projetos de trabalho, envolvendo todos os alunos no seu planejamento e execução. Estimulando os alunos a aprender a aprender e a saber pensar, alterando toda uma organização tradicional, para uma construção co-letiva do conhecimento. O crescimento e envolvimento do grupo foram evoluindo dia a dia.

O que a mãe jamais imaginou é que assistiria sua filha apresentando uma coreografia junto ao grupo de dança da escola, na abertura de um seminário de educa-ção no município. A mãe parecia não acreditar. “Olha só, que linda a minha filha!” Quando chegava alguém para cumprimentá-la, Taís sorria, demonstrando a satisfação de fazer parte do grupo. Essa foi só a primeira oportuni-dade, depois surgiram outras. Na celebração de Natal, encantou a todos com sua participação e o envolvimento da família.

“Para as pessoas, a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com deficiência, a tecnologia tor-na as coisas possíveis.” Mary Pat Radabaugh. y

vENcEdORES

14

O trabalho de coordenação de educação especial na perspectiva inclusiva em Ipixuna funciona como departa-mento organizado por núcleos.

O Núcleo de Libras, liderado por instrutores surdos, é responsável pela organização e oferta dos cursos em Língua Brasileira de Sinais aos professores da rede, co-munidade e outros profissionais, ofertados nas zonas ru-ral e urbana. Realizam adaptações de provas, produção, confecção de material e apresentações culturais na rede.

CATEGORIA II - 1ª COLOCADA

Secretaria Municipal de Educação de Ipixuna do Pará - PA

Atendimento educacional especializado em Ipixuna (PA)

A motivação vem da chegada das salas de recurso multifuncional, a partir de um esforço coletivo. Para isso, foi necessário um conjunto de ações sistematizadas: diagnóstico do município, estrutura, formação continuada e orientação, avaliação e parcerias para realizar uma Política Inclusiva nas escolas concretamente com mobilização dos educadores para transformar os espaços e as práticas educacionais.

O Núcleo de Formação Continuada possibilita a for-mação específica uma vez por semana aos professores de Atendimento Educacional Especializado (AEE). Além disso, oferta curso aos coordenadoras pedagógicos e di-retores visando ao desenvolvimento inclusivo da gestão.

O Núcleo de Avaliação identifica a demanda do AEE, procedimento feito em colaboração com os professores da sala multifuncional no diálogo com os professores das salas comuns e com os coordenadores das escolas.

vENcEdORES

SEc

RET

AR

iAS

dE

Edu

cA

ÇÃ

O

15

O processo de avaliação pedagógica requer, em alguns casos, a interface com a área da Saúde e da Assistên-cia Social. Há também a avaliação das barreiras físicas, em que são identificadas e analisadas, com auxílio dos profissionais da secretaria de Obras, as dificuldades e as condições de acesso às dependências das escolas, obje-tivando a eliminação de barreiras arquitetônicas.

Além dessas ações, faz-se um trabalho de conscien-tização acerca das potencialidades das pessoas com deficiência por meio de oficinas específicas, palestras e eventos culturais realizados durante dois dias no fórum “Inclusão e Atendimento Educacional Especializado”, uma vez ao ano, aberto ao público em geral e a municí-pios vizinhos.

As atividades para o AEE respeitam a necessidade de aprendizagem, interesse, limite, ritmo e tempo da cada aluno.

Na Sala de Recurso Multifuncionais, os alunos são atendidos no contraturno do ensino regular, três vezes por semana, por uma hora e de acordo com a necessida-de específica e as potencialidades.

As turmas foram criadas para beneficiar esse po-tencial, priorizando o desenvolvimento. Há turmas com um, dois ou mais alunos — no caso de alunos surdos, agrupados até quatro para facilitar a interação, a aqui-sição de Libras e a comunicação na língua materna. Há também duplas em que estão alunos com deficiências diferentes, observando-se o interesse, a amizade e a afinidade. A interação entre um aluno com síndrome de Down e outro com deficiência física com ausência de fala favoreceu a influência mútua e motivou a fala, por exemplo.

O apoio à inclusão aos alunos com deficiência na sala comum é feita mediante a orientação aos professores uma vez por semana pelo professor do AEE. O trabalho é pautado na colaboração, na análise e reflexão sobre o currículo, na metodologia, na avaliação, nas estratégias didáticas e nas atividades como forma de identificação de barreiras que impedem a aprendizagem.

Para os pais, a orientação ocorre sempre que os pro-fessores julguem necessário ou os pais solicitem, além de um encontro regular bimestral.

Semanalmente os professores do AEE realizam o planejamento coletivo ou individual, conforme a neces-sidade apresentada, em que há flexibilidade quanto à or-ganização, à ordem e ao tempo previsto. É uma forma de acompanhar sistematicamente os professores da Sala de Recurso, de ouvir as dificuldades, identificar o que deu certo ou errado, reorientar, elaborar novas estratégias de aprendizagem para os alunos, para a escola e para os professores da sala comum; pensar e criar juntos ativida-des por área e para a escola de um modo geral.

Resultados

Com tudo isso, os resultados alcançados foram mui-tos e em frentes diversas: z na disponibilização de professores para atuarem

no atendimento educacional especializado, além de tradutores e intérpretes da Libras, tanto para esco-las da cidade, quanto do campo, assim como profis-sionais de apoio às atividades de alunos público alvo da educação especial, no ambiente escolar.

z na infraestrutura, com a disponibilização de espaço específico para realizar as avaliações, formações, orientações e reuniões, além de transporte para vi-sitas técnicas à zona rural. Foram construídos ba-nheiros adaptados e rampas onde havia escadas nas escolas-polos.

z no engajamento e participação dos pais dos alunos sur-dos ou com deficiência auditiva, educadores, alunos nos cursos de Libras, bem como da comunidade, incluindo conselheiros tutelares e profissionais da saúde.

z nos inúmeros momentos de formação, como os 48 encontros para professores do AEE, na orientação e no acompanhamento aos professores da sala regular e aos alunos do atendimento especializado.

z mudanças gradativas nas práticas pedagógicas dos professores, gestores e coordenadores foram per-cebidas. Hoje, pais e professores têm expectativas elevadas sobre a aprendizagem e o futuro dos alunos com deficiência. Do mesmo modo, os alunos do AEE são apoiados pelos colegas de sala regular.

z na adequação do projeto político-pedagógico das es-colas polos, garantindo o AEE e a inclusão dos alunos no processo de aprendizagem e na escola.

z na produção de material didático próprio para cada público-alvo.

z na colaboração, fortalecendo-se a parceria entre AEE e ensino regular, com assistência social e saúde se consolidando a cada dia.A implantação do AEE e inclusão nas escolas não

foi fácil. Houve conflitos e resistências, porque mudar a prática pedagógica não é uma tarefa simples. Isso exigiu assumir a mudança com perseverança, com-promisso, coragem, força de vontade e principalmente acreditar que é possível fazer e fazer melhor juntos. Contudo, é preciso continuar progredindo, ampliar o atendimento e o apoio, manter a formação continua-da reflexiva direcionada a dar respostas aos desafios que vão surgindo. Ouvir é fundamental, como também a atenção às necessidades, que nos ajudou a construir um sistema menos excludente. z

vENcEdORES

O impacto do Programa de Educação Inclusiva: Direi-to à Diversidade no Município de Floriano é grande e visí-vel, tanto no que diz respeito ao crescimento da matrícula dos alunos público-alvo da Educação Especial nas esco-las regulares como na efetivação do AEE – Atendimento Educacional Especializado (que hoje conta com quatro Salas de Recurso Multifuncional) e na qualificação pro-fissional, que envolve gestores e educadores.

CATEGORIA II - 2ª COLOCADA

Secretaria Municipal de Educação de Floriano - PI

O impacto do Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade no município de Floriano (PI)

Em 2005, a Secretaria da Educação de Floriano (PI) deu início a um processo de sensibilização para a inclusão de crianças especiais na rede de ensino. O número de alunos público-alvo da Educação Especial matriculados na rede de ensino era de apenas 17. Em 2011, a rede municipal de ensino matriculou 7.997 alunos – destes, 259 alunos com necessidades educacionais especiais.

Tudo começou após a realização do I Seminário Municipal de Formação de Gestores e Educadores do Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, em 2005. Nesse mesmo ano, a Secretaria da Educação recebeu uma Sala de Recursos Multifuncional, e inicia-mos a formação em AEE para as professoras que atua-riam no programa. No ano seguinte, a procura por vagas em nossas escolas aumentou consideravelmente. Por

16 vENcEdORES

SEc

RET

AR

iAS

dE

Edu

cA

ÇÃ

O

isso, foram realizadas oficinas sobre o projeto “Educar na Diversidade”.

Em 2007, exercendo a função de multiplicadores na formação de educadores, realizamos o primeiro cur-so de aperfeiçoamento em AEE para professores de Floriano e da abrangência do polo, para que o grupo de professores participantes da capacitação realizada pudesse atuar no AEE. Esse grupo de professores pas-sou a contribuir como multiplicador na formação do professor da classe comum de ensino regular, forta-lecendo, assim, a formação continuada e o processo de inclusão.

O município, usufruindo da orientação oferecida ao polo, fortaleceu-se em projetos com características de intersetorialidade, na gestão municipal, com o objetivo de ampliar a viabilidade da Educação Inclusiva – Direito à Diversidade nas diferentes áreas. Efetivamos parcerias com a Secretaria de Saúde.

A Secretaria de Educação contribuiu com as ações multiplicadoras dos seminários do programa. Foi am-pliado o atendimento aos alunos com deficiência na Educação infantil e no Ensino Fundamental, bem como o programa Brasil Alfabetizado, oferecendo ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras para alunos surdos, professores e familiares. Usufruímos ainda de parcerias de cursos a distância das instituições de nível superior indicadas pela Secretaria de Educação Continuada, Al-fabetização, Diversidade e Inclusão – Secadi.

Por fim, prédios escolares foram construídos e adaptados em conformidade com os padrões mínimos de infraestrutura para receber alunos com necessida-des educacionais especiais. Atualmente, o município de Floriano, pelo seu nível de compromisso com a Educa-

ção Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, é tido como referência para os demais municípios do polo, justamente por focar tanto a formação de professores para o AEE quanto para os demais professores da sala de aula regular.

Nesta caminhada desde 2005 até os dias atuais foram oferecidos cursos, oficinas, encontros peda-gógicos para professores e gestores, contabilizando mais de mil horas distribuídas em cursos promovidos e apoiados pela Secretaria Municipal da Educação de Floriano (PI).

O município de Floriano soube aproveitar com garra e empenho as oportunidades viabilizadas pelo Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade. y

17vENcEdORES

O Programa: “Caminhando todos juntos: Educação Inclusiva – acolher, desenvolver, participar” desenvolve ações através dos seguintes campos de atuação:

1. Profissionais de apoio/cuidadoresO programa iniciou com a disponibilização de estagiários

contratados, em convênio com a PUC-MG/Poços de Caldas, das áreas de Pedagogia, Psicologia, Enfermagem e Fisiote-rapia, para atuarem como profissionais de apoio/cuidadores.

CATEGORIA II - 3ª COLOCADA

Secretaria Municipal de Educação de Poços de Caldas – MG

Programa “Caminhando todos juntos: Educação Inclusiva – acolher, desenvolver, participar”

Desde 2009, Poços de Caldas (MG) implementa ações com o propósito de tornar efetivo o direito de todos à educação, com três pontos centrais: a) a presença, o que significa o estar na escola, com a inclusão do estudante no espaço público de socialização e aprendizagem; b) a participação, que depende das condições necessárias para que o aluno possa interagir e participar; c) a construção de conhecimentos, função primordial da escola, sem a qual pouco adiantam os itens anteriores.

O cuidador tem como função apoiar diariamente o tra-balho do professor em sala de aula, auxiliando na execução das atividades, na alimentação, na locomoção e na higiene pessoal, entre outras que exijam auxílio constante no coti-diano escolar.

Os objetivos deste profissional são atuar como extensão da criança – fazendo com ela e não por ela, possibilitando gradativamente sua autonomia – e auxiliar o professor na confecção e utilização de recursos adaptados.

18

SEc

RET

AR

iAS

dE

Edu

cA

ÇÃ

O

2. Salas de Recursos Multifuncionais – Atendimento Educacional EspecializadoO Programa conta com 21 salas de recursos multi-

funcionais, um espaço organizado nas escolas munici-pais, com materiais didáticos pedagógicos, equipamen-tos, em parceria com o MEC/SECADI e quatro salas com recursos próprios do município. Os professores que atu-am nessas salas têm formação específica para oferecer o Atendimento Educacional Especializado.

3. Atendimento aos estudantes com altas habilidades/superdotaçãoNo 2o semestre de 2009, iniciaram-se as providên-

cias para a implantação do Centro para Desenvolvimen-to do Potencial e Talento – Cedet.

Atualmente, a equipe conta com cinco facilitadores, atende 135 alunos, de 19 escolas municipais, oferecendo atividades de enriquecimento educativo por meio dos volun-tários absorvidos na comunidade local nas diferentes áreas sinalizadas pelos orientadores, tais como: arquitetura, esti-lismo, mangá, veterinária, inglês, espanhol, francês, infor-mática, teoria musical, violão, flauta doce, teclado, bateria, guitarra, desenho, literatura, trabalhos manuais, ciências, kung fu, matemática, contabilidade, programação, jornalis-mo, natação e futebol, de modo que cada um receba aquilo de que realmente precisa, através do plano individual, feito pelo aluno em conjunto com seu orientador.

4. Formação ContinuadaPara assegurar a intersetorialidade, o programa con-

ta com uma gestão de sistema educacional inclusivo que

visa o desenvolvimento de projetos em parceria com ou-tras áreas, promovendo formação continuada, interação, orientação, acompanhamento e avaliação entre os pro-fissionais envolvidos no programa e que atuam direta e indiretamente com Educação Especial.

5. AcessibilidadeQuando tratamos da inclusão escolar, é preciso pen-

sar na acessibilidade dos alunos com deficiência nas es-colas regulares, e entendemos que a acessibilidade não se resume somente na questão arquitetônica, ela passa pelas adaptações curriculares e atitudinais.

Dessa forma, a acessibilidade arquitetônica, os aten-dimentos de saúde, a promoção de ações de assistência social, de trabalho e justiça, estão inseridos no progra-ma, formando, assim, uma rede de parcerias.

6. Considerações finaisA consolidação deste Programa é percebida pela

crescente evolução das matrículas do público-alvo. Atu-almente estão incluídos 434 alunos do público-alvo da Educação Especial. Hoje, Poços de Caldas conta com o apoio de 89 profissionais de apoio/cuidadores nas unida-des educacionais. Com a criação desse programa, nasce um novo paradigma de educação em nosso município, onde o que importa é a capacidade que o aluno tem de adquirir o conhecimento, e não a forma como ele adqui-re. Nesse contexto, o processo de construção de escolas verdadeiramente inclusivas — que não cumprem a Lei, apenas, mas que possibilitam mais do que instrução e socialização, promovem dignidade — vem se efetivando. y

19vENcEdORES

20

Eu estudo na Escola Estadual de Ensino Fundamental Escritor Alceu Amoroso Lima, estou cursando o 9o ano. Sou surdo e tenho 16 anos. E apresento este texto para participar do Prêmio Experiências Educacionais Inclusi-vas — A Escola Aprendendo com as Diferenças, instituído pelo Ministério da Educação.

Estudo nesta escola já há seis anos. Antes estudei numa escola particular no mesmo bairro, onde come-

CATEGORIA III - ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Escola Estadual de Ensino Fundamental Escritor Alceu Amoroso LimaCampina Grande - PB

Inclusão: ensinando e aprendendo com as diferenças

Texto Narrativo do Estudante Kyeves Siqueira Silva

cei a aprender a ler e a escrever. Só comecei a estudar com 10 anos. Isso pelo motivo de ter enfrentado uma doença muito ruim, quando tinha 4 anos. Tive caxumba e fui perdendo a audição gradativamente. À medida que o tempo vai passando, a perda da audição vai piorando.

Aos 4 anos de idade, quando aconteceu a perda da au-dição, minha mãe me levou para muitos médicos, muitos especialistas. Naquela ocasião fui orientado a usar um

vENcEdORES

ESTu

dA

NTE

S d

E ES

cO

lAS

bli

cA

S

21

aparelho de ampliação sonora. Usei o aparelho por dois anos. Depois, não foi mais possível à minha mãe conse-guir o aparelho.

Os anos foram se passando e eu me acostumando a viver no silêncio. Sem o aparelho não escutava nada, nenhum barulho, nenhum ruído. Sempre me comuni-quei, mesmo sem escutar, de forma verbal, isso porque quando perdi a audição, já sabia falar. Aprendi a entender o que as pessoas falavam apenas pelos movimentos de seus lábios.

Comecei este ano novamente com o uso do aparelho de ampliação sonora. Após muitos anos, volto a usar o aparelho no ouvido. Estou adaptado. É muito bom voltar a escutar. Só não escuto quando as pessoas falam longe de mim. Estou escutando música, o que tanto gosto. E participo das aulas de forma mais plena e confortável.

Quando eu comecei a estudar no Lima em 2007, eu sofria bullying e passei a entender que esse tipo de brin-cadeira pode ferir as pessoas. Os alunos me achavam diferente e mexiam muito comigo. Hoje sei que quem se educa aprende a respeitar os outros colegas.

Na escola, em 2008, houve um projeto, Diga Não ao Bullying, e eu fui chamado para participar. E contei tudo o que aconteceu comigo.

O tempo passou e quando comecei a ir para a Sala de Recursos Multifuncionais, a professora me deu vários conselhos e eu aprendi a vencer o medo e também ajudo outros meninos que sofrem com isso.

No ano de 2010, a escola teve muita repercussão na mídia. Houve algumas reportagens sobre o trabalho da escola, e eu fui várias vezes entrevistado. E falei que esta escola mudou minha vida para melhor. Estou aprendendo a me tornar um garoto com muita educação e consciente de meus direitos e deveres.

O ano de 2011 foi marcado pela realização de mui-tos projetos. Teve o Cardápio de Leitura, o ano inteiro, a cada bimestre a leitura foi trabalhada de uma forma diferente. Realizamos o projeto de Revitalização e Sus-tentabilidade do Açude Velho, estudamos muitos textos, foi feita uma visita ao açude, tiramos muitas fotos, fi-zemos entrevistas com os comerciantes ambulantes, cadastramos os donos dos bares que circundam o açu-de, coletamos o óleo usado e na escola a professora de Ciências nos ensinou a fazer o “sabão”. Foi muito bom, pois pudemos apresentar o resultado do nosso trabalho na Mostra Pedagógica da escola.

O projeto da Sala de Recursos Multifuncionais foi so-bre o uso do computador. Todos os alunos entenderam que o computador é um potente instrumento utilizado pelo aluno com deficiência. Fizemos muitas atividades no computador. Eu mesmo, que já sabia usar, ajudei os co-legas que tinham dificuldades. É interessante notar que a ajuda entre os próprios alunos é um ponto positivo. As atividades acontecem com o rodízio do uso dos computa-dores, onde todos vão participando um a um, mesmo que algumas vezes haja mais de um aluno por computador.

A Sala de Recursos Multifuncionais é muito impor-tante para mim. Faço pesquisas no computador, respon-do meus exercícios e estudo para fazer as avaliações. Na Sala de Recurso eu também leio bastante. Um dia li um livro da professora que achei muito interessante: Aten-dimento Educacional Especializado. Na verdade é uma

coleção de livros coloridos, e me chamou a atenção o livro que fala de Pessoas com Surdez. Eu até copiei o tre-cho, que diz assim: “As pessoas com surdez enfrentam inúmeros entraves para participar da educação escolar, decorrentes da perda da audição e da forma como se es-truturam as propostas educacionais das escolas. Muitos alunos com surdez podem ser prejudicados pela falta de estímulos adequados ao seu potencial cognitivo, socioa-fetivo, linguístico e político-cultural e ter perdas conside-ráveis no desenvolvimento da aprendizagem”.

Pensei logo em mim e entendi que a escola Lima é responsável pelos estímulos de que preciso para me desenvolver cada vez melhor. No começo ninguém me deixava apresentar nada, o tempo foi passando e mudou bastante, e agora posso me apresentar com muita calma. Eu sinto que sou valorizado.

Trabalhamos nas salas de aulas, todos os alunos e professores, com o mesmo objetivo. Estudar nesta escola tem sido uma experiência muito positiva.

Eu aprendi muito. Espero que esta escola ensine a todos os alunos tudo que aprendi. Tenho certeza de que esta escola vai ficar cada vez melhor.

Hoje posso dizer que sou um jovem educado pela escola Lima. Compreendo que a melhor forma de ensi-no para um estudante surdo, depende da habilidade de cada um de se comunicar. Sem comunicação não existe aprendizado. Por isso eu vou à luta pelos meus direitos e estou estudando bastante para me tornar um grande es-tudante, e futuramente um trabalhador competente para ajudar minha mãe. E, acima de tudo, ser respeitado por todos. A minha escola é o meu orgulho. y

vENcEdORES

O que vou contar não é um conto de fadas, apesar de ter como personagem principal alguém que é uma prin-cesa para o reino encantado de nossa escola e que tem ensinado muito com sua presença mais do que especial. Não é uma narrativa de ficção, pois tem um enredo real e verdadeiro e que conta sobre a inclusão de uma menina muito especial nas nossas turmas de ensino regular.

Eu, Merilena, aluna da 8a série, 14 anos de idade, nar-radora dessa história, vou assumir literalmente o papel de narrador-observador, pois é impossível não observar a presença marcante da desta personagem. É impossí-vel não parar para prestar atenção na movimentação dos alunos em torno da cadeira de rodas dela para brincar, conversar, fazer o lanche juntos. Sua presença é facil-mente observada nas atividades cívicas e culturais rea-lizadas pela escola. Às vezes, mesmo quando é apenas para ela fazer figuração, acaba sendo a estrela principal. Até o palco da nossa escola ganhou rampas para facilitar o acesso dela.

A personagem da minha historia é a Geliely Aparecida Schulucubier, 15 anos, aluna da 6a série do período matu-tino. Ela é a filha mais velha do casal Adilson Schulucubier e Margarete Simões de Lorena. Suas características psi-cológicas: meiga, delicada, vaidosa, simpática. Bom, suas características físicas são facilmente percebidas pela sua impossibilidade de se locomover sem a cadeira de rodas, os movimentos das mãos limitados; tudo isso consequên-cia de ser uma menina com múltiplas deficiências.

No ano de 2006, no dia 9 de maio, a Escola Luiz Da-vet recebeu este presente: uma nova aluna que, mesmo com suas dificuldades motoras e mentais, nunca deixou de esbanjar muita simpatia e carinho para com todos. No começo foi difícil, tanto para os professores, quanto para sua classe e até mesmo para a própria aluna, enfrentar os desafios do dia a dia. O principal desses desafios era que a menina só se comunicava por gestos. Não era ape-nas uma aluna nova, mas sim uma pessoa diferente.

A menina, que tem o nome de Geliely, mas é conhe-cida por Geli, aos poucos conseguiu derrubar barreiras, graças ao apoio incondicional de sua família e da escola. Conseguiu um banheiro adaptado, começou a fazer aulas de Libras, entre muitas outras conquistas tanto da esco-la, dos colegas, quanto da própria aluna.

Os professores nos falam da Geli com muito orgulho, pois desde que chegou, há cinco anos, ela se desenvol-

CATEGORIA III - ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Escola de Educação Básica Luiz Davet - Major Vieira - SC

Educação e Inclusão na EEB Luiz Davet: Aqui aprendemos também com as diferenças

Texto Narrativo da Estudante Merilena Alves de Lima Bueno

veu de forma surpreendente. Os colegas gostam muito da menina e quando ela falta na aula querem saber depres-sa o que aconteceu.

Mas faltar na aula é uma coisa que Geli odeia. Quan-do chegam as férias escolares, ela diz sentir falta dos colegas e professores. Com tanta dedicação e estímulo, Geliely acompanha sua turma de modo a ser amada por todos. Após um dia cansativo, de muitas atividades, a Geli vai para casa, com o transporte adaptado, e novamente recebe carinho e dedicação de sua mãe, que a ajuda nos deveres escolares e nas tarefas cotidianas.

Ainda no primeiro ano de ensino regular, Geli de-monstrou interesse pelas letras do alfabeto. Assim, foi decidido iniciar sua alfabetização por meio do dicio-nário ilustrado, usando muitos recortes de imagens e colagens. E, é claro, em mais essa atividade, ela se dedicou muito, aprendeu novas palavras e conheceu muitas letras, com o apoio da segunda professora e de toda a escola. Mas o que realmente agradou a Geli foi conhecer a letra G, inicial de seu nome. Em seu di-cionário ela colou uma linda foto sua. Emoção. Palavra que Geliely conhece bem, afinal ela sempre emociona pela pessoa que já é, e que a cada dia se transforma mais e mais.

Assim foram os cinco primeiros anos de Geli no en-sino regular: de luta e momentos maravilhosos. O maior exemplo de um desses momentos foi o aniversário de 15 anos dela. Nossa! A Geli está fazendo 15 anos. Então, a nossa princesinha merece uma festa. E assim aconteceu.

Foi no dia 20 de setembro de 2011. Uma festa sim-ples, porém com muito empenho, foi preparada pelas professoras, alunos e todo o pessoal que trabalha na escola Luiz Davet. O auditório da escola foi todinho de-corado. Havia muitos balões rosa e um painel de fotos que contavam a trajetória da Geliely. Mas, o mais boni-to era a ansiedade dos colegas a esperar pela aniver-sariante, empolgados com a festinha da amiga. E o dia tão esperado por todos tornou-se uma data inesquecí-vel. A mãe de Geliely levantou cedo e, entre sorrisos e lagrimas, chegou à escola trazendo a filha para o gran-de dia. Ela ajudou-a a se arrumar e fez um penteado especial para deixar a garota ainda mais linda.

A biblioteca da escola se transformou em um grande salão de beleza. Entre livros, revistas e material de pesqui-sa estavam os produtos de maquiagem da Geli, secador

22 vENcEdORES

ESTu

dA

NTE

S d

E ES

cO

lAS

bli

cA

S

de cabelo, gel, perfume e todos os apetrechos que toda debutante merece, principalmente no dia de sua festa.

As telas que decoram as paredes da biblioteca per-deram a notoriedade ao concorrer com a moldura de um grande espelho que refletia o sorriso indescritível da jovenzinha.

Entre lágrimas de alegria da garota e de sua mãe e suspiros emocionados e de satisfação dos funcionários, professores e colegas da então 6a série, a festa começou.

A Geliely entra usando um lindo vestido rosa e bran-co. Estava maravilhosa. Conduzida pela mãe, a cadeira de rodas dela parecia uma carruagem a conduzir uma princesa. Sim, ela era uma princesa! Seus pezinhos pe-quenos e que nunca pisaram o chão exibiam sapatinhos brancos que pareciam ser de uma Cinderela.

Quando a aniversariante entrou, ninguém percebeu que não tocou a música de entrada, pois os corações de todos os presentes batiam emocionados em uma cadên-cia em que o silêncio fez-se música.

A festa foi maravilhosa, um verdadeiro sonho reali-zado. Cada garota se sentiu uma princesa no baile da melhor amiga e os garotos eram os príncipes da Geli, e, sem nenhum constrangimento, rodeavam a sua cadeira de rodas para dançar com ela.

Ao final da festinha Geli não queria ir para casa, que-ria aproveitar ainda mais o seu momento especial. Mas só havia acabado a festa de seu aniversário, pois a dedi-cação dela, que permanece, permite aos professores que retribuam ensinando.

No Brasil, a educação para pessoas especiais está sendo aprimorada e é cada vez mais comum em todos os níveis de educação. No colégio Luiz Davet, no ensino regular, a inclusão não é diferente. Os professores estão sempre que possível fazendo cursos e especializações para trabalhar da melhor maneira com a Geliely, com os outros alunos especiais e, enfim, com todos os estu-dantes major-vieirenses. Sempre haverá algo a ensinar e muito que aprender.

A querida Geli gosta de estudar e esse é o seu di-ferencial. Essa é a garota que veio para aprender, hoje nos ensina. Ensina o quanto é preciso amar todos os dias cada pessoa de cada cor, fisionomia ou jeito.

Temos a certeza de que somos muito iguais, pois enquanto crianças e adolescentes temos muitos so-nhos, desejos, carências e a grande vontade de fazer um mundo melhor e para todos, sem distinção ou ex-clusão. Percebemos isso nos nossos coleguinhas in-cluídos da nossa escola. Eles se sentem bem conviven-do conosco. Demonstram um carinho muito especial e há muita reciprocidade.

Não basta incluir os alunos nas salas de aula. É ne-cessário que eles façam parte de todas as atividades da escola e que toda a escola não somente perceba as suas presenças, mas os valorize. Na vida de todos os demais alunos especiais é possível perceber um gran-de avanço e para nós, colegas e professores da escola, existe a certeza de que é possível aprender muito com as diferenças. y

23vENcEdORES

Sou aluna do Núcleo Municipal Getúlio Vargas, esco-la situada no município de Curitibanos, SC. Meu nome é Suellen Oliveira dos Santos, tenho 14 anos, sou cega e não apresento nenhum comprometimento cognitivo. Estou cursando o 7° ano do Ensino Fundamental, sou al-fabetizada pelo sistema Braille. Frequento o Atendimento Educacional Especializado (AEE) na mesma escola em período contrário de aula e também o Saed-DV em uma outra escola no município.

Não sou diferente de ninguém, nem tampouco coita-dinha. Não é porque sou cega que não possuo anseios, angústias e preocupações. Tenho alguns sonhos e dese-

CATEGORIA III - ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Escola Núcleo Municipal Getúlio Vargas - Curitibanos - SC

Sou cega, e daí?

Texto Narrativo da Estudante Suellen Oliveira dos Santos

jos como todo mundo, sendo assim, ao frequentar o AEE, percebi que tudo poderia mudar, pois agora sim alguém veio para olhar para mim de outra forma e assim fazer com que todos os meus colegas, professores e funcioná-rios da escola possam aprender com as diferenças. Eu acredito em mim, sei tudo o que posso fazer, se acredi-tarem que possuo capacidades e acima de tudo poten-cialidades. Mas para isso a nossa escola passou por uma mudança radical, onde as diferenças passaram a ser re-conhecidas e respeitadas dia após dia. Como qualquer criança na escola, eu também queria ser ouvida e reco-nhecida; Foi quando falei de meus sonhos.

24 vENcEdORES

ESTu

dA

NTE

S d

E ES

cO

lAS

bli

cA

S

Meus sonhos não eram difíceis de serem realizados, porém nunca antes tinham me dado a oportunidade de poder compartilhá-los. Um deles era conhecer o locutor da rádio Coroado AM de Curitibanos e o outro era tornar- me uma contadora de histórias.

No rádio tinha encontrado um amigo que me acompa-nhava nas tardes solitárias em meu quarto, com frases to-cantes e dono de uma voz que eu não conhecia, mas que já fazia parte do meu dia a dia. Esse locutor chama-se André Pozzo. Pedi muito a Deus para que pudesse ter a oportu-nidade de conhecer aquele que me inspirava a contar his-tórias e quem sabe um dia me tornar sua colega como ra-dialista também, para assim levar às pessoas a afirmação de que os cegos, surdos, deficientes físicos ou intelectuais podem ir muito além do que as pessoas pensam.

Foi então que um projeto realizado na sala de AEE, em parceria com o jornal da escola, veio ao encontro de meus sonhos e desejos, pois se tratava de uma contação de histórias na escola com turmas do Ensino Fundamen-tal I (séries iniciais). Inicialmente foi um desafio imenso, pois eu tinha que falar em público. Mas aceitei o desafio e comecei a ler o livro Girafinha flor faz uma descoberta, com transcrição e impressão em Braille.

Ao ler essa história me identifiquei com a persona-gem principal, que pensava ser sozinha e sem amigos, assim como eu, sem oportunidades de mostrar tudo o que sabia. Dessa forma a história vai se desenrolando e a Girafinha (eu) vai descobrindo que há um mundo de pos-sibilidades, e as coisas podem ser diferentes se tivermos um olhar diferenciado para as coisas que nos rodeiam. Chega a um determinado momento em que escurece e fica difícil encontrar o caminho, mas é nesse momento que vaga-lumes iluminam as trilhas e a girafinha tem a segurança e a certeza de que não está sozinha. Essa lei-tura ajudou a abrir portas e janelas do meu coração e senti que falar em público não era tão difícil assim.

Foram momentos de muita aflição de cada turma que chegava, eu não podia ver as carinhas ou caretinhas de cada turma que chegava, mas eles podiam me ver, e talvez pensassem “Coitadinha, não vê nada”. Enganados esta-vam, porque não sou coitadinha e sim uma vencedora, que teve de vencer seus medos e enfrentá-los. Diz a professora que foi um sucesso. Eu também tenho certeza de que foi.

Fui convidada a fazer a abertura de cursos de capa-citação de professores na perspectiva inclusiva da rede municipal de ensino. Lá, a cada dia pude mostrar que é possível. Basta o professor acreditar e explorar as poten-cialidades de seus alunos incluídos. Dei meu depoimento de que sou cega sim, coitadinha não.

Na manhã do dia 21 de outubro, na escola, meus pro-fessores me surpreenderam. O locutor André Pozzo de repente começa a falar ao meu lado. Eu me senti muito feliz com a presença de alguém que eu admiro tanto, bem do meu ladinho. Ele me presenteou com um kit especial da rádio. Após nos conhecermos, pude fazer uma visita à rádio local e para minha alegria no dia seguinte o locutor compartilhou com os ouvintes o seguinte relato:

“A contadora de histórias: sonhos e superações fa-zem parte da vida de muitos. Algo que buscamos inces-santemente. Procuramos viver a vida da forma que pos-samos dar nosso melhor, erramos, tropeçamos, caímos e levantamos sempre focados naquilo que queremos. To-dos temos nossos sonhos e nossa história de superação,

trilhamos nosso caminho buscando alcançar a perfeição. Mas insistimos em sonhar com o impossível ou fazer de pequenos gestos nossa superação.

Agora, por alguma vez na sua vida, mesmo quando criança, passou pela sua cabeça ser um contador de his-tórias? Fazer disso a sua profissão? E ter como aquilo que você quer para o futuro? Alcançar o sonho de ser um contador de histórias? Parece pouco?

Pois para Suellen é o que ela busca para sua vida, seria a realização do seu sonho. E quais histórias ela contaria? Talvez aquelas dos tantos livros que ela lê com as mãos, ou como ela vê o mundo em que vive sendo de-ficiente visual.

Suellen tem 13 anos, vai todos os dias à escola como uma aluna normal. Apesar do preconceito que ainda existe, nunca se sentiu ameaçada, sempre gostou de ler e escrever e como ela mesmo diz, age como uma criança normal.

E é isso que ela é, uma criança como as outras, é assim que ela se sente sem procurar culpados ou sem se abater pelo fato de ter uma deficiência. Suellen ri, chora, vive todas as emoções como as outras meninas de sua idade e principalmente vê o mundo da sua forma. E mesmo que seus olhos sejam suas mãos, ela nun-ca perdeu a alegria e a vontade de viver. Talvez ela nem perceba, mas se supera a cada dia; talvez ela nem note, mas já realizou o seu sonho por diversas vezes ao contar a sua história de vida, sem dúvida a melhor de todas que ela passou a contar.

Suellen é um exemplo de vida para cada um de nós, que muitas vezes reclamamos por pouco, que enxerga-mos, mas que não conseguimos ver o mundo da maneira que é preciso. Quando deixar se abater por algo, lembre--se das dificuldades que ela enfrenta a todo momento sorrindo e alegre-se, pois as dificuldades aparecem para todos, só se diferencia a maneira de encará-las.

Conheci a Suellen em uma visita que fiz à sua escola depois de receber um chamado de que havia uma ouvinte que queria me conhecer. Nunca me senti tão à vontade ao lado de uma pessoa que não conhecia.

Ao ser questionada sobre o que queria ser no futu-ro, ela simplesmente nos disse que seu sonho é ser uma contadora de histórias, e ao falar que havia a possibilida-de de ela contar uma de suas histórias na rádio, segurou sua emoção, a qual pude sentir em suas mãos trêmulas. Quanto à história que ela vai contar, não importa muito, a maior delas ela já nos contou”.

Assim meus sonhos estavam sendo realizados. Nun-ca tinha sentido emoção tão forte. Mostrei meus traba-lhos da escola, fiz leituras, demonstrei que posso usar com facilidade o computador (faço uso do teclado em Braille, máquina Braille, sistema Dosvox e livros trans-critos e impressos em Braille). Dessa forma realizo ativi-dades comuns aos meus colegas de classe.

A visita de André à minha escola rendeu uma re-portagem que tocou a população curitibanense, e mais uma prova de que não só a escola pode aprender com as diferenças, mas que toda a comunidade também pode ser incluída.

Recebi mais um convite para me apresentar na rádio. Nesse momento percebi que contar histórias ia mudar para sempre a minha vida, porque todos queriam me ver contando histórias e lendo. Alguns ainda não acreditam que é possível, mas eu digo: “É possível sim”. y

25vENcEdORES

Sou uma aluna com deficiência visual e desde a in-fância estudei em escolas comuns da rede pública de ensino. Hoje estou cursando o 2o ano do Ensino Médio. Estudo neste colégio desde a 5a série e minha convivência com os colegas sempre foi muito boa.

No Eleodoro existe um Centro de Atendimento Edu-cacional Especializado na Área da Deficiência Visual (CA-EDV), que tem como um dos objetivos contribuir para a inclusão educacional, pois aqui tenho acesso ao apoio especializado em contraturno, além do acesso a outros serviços, como a orientação e mobilidade, a informática adaptada etc.

Sou participativa e gosto de estudar, tendo uma boa relação com meus professores. Sobre o Eleodoro Dance, sabia de sua existência, pois já havia prestigiado a apre-sentação de outros alunos, achando tudo muito bonito e envolvente, pois adoro música. Mas como sou um pouco tímida para me expressar em público, somente compare-cia às apresentações no auditório do colégio.

Certo dia, quando estava na 8a série, minha profes-sora de História Sônia me convidou para participar do Eleodoro Dance com mais duas amigas. Eu me senti meio intimidada, pois achava que não poderia dançar e me apresentar em um palco devido à cegueira, mas com muito incentivo dos meus pais, amigos e professores, aceitei o desafio.

Minha professora explicou-me os objetivos do proje-to e falou sobre os benefícios para mim, a exemplo do aprendizado e desenvolvimento, tais como da memória e da interpretação, a melhora da autoestima, a convivência mais próxima dos integrantes do grupo, o desabrochar de novas emoções, sensações, dentre outros.

CATEGORIA III - ENSINO MÉDIO

Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira - Cascavel - PR

A escola aprendendo com as diferenças

Texto Narrativo da Estudante Anicler Santana Balbino

Após conversarmos, minhas amigas e minha professo-ra escolheram a música “Sonata ao Luar”, de Beethoven, uma música com ritmos redondos e com som de brisa leve ao fundo. Criaram uma coreografia que acompanhava o rit-mo do som e com passos de balé. Os ensaios eram sempre tranquilos, minhas amigas me ajudavam com os passos. Apesar de não ter tido experiência com dança antes, não tive dificuldade, pois os passos e a música eram calmos e eu conseguia acompanhá-los.

Apresentei-me com um vestido branco e prata, sa-patilhas e meias rosa, o cabelo feito um coque e brilho no rosto e no cabelo. Estava um pouco nervosa no dia da apresentação, imaginando os jurados e o público me ob-servando dançar. Quando entrei no palco e a música co-meçou, fiquei mais nervosa ainda, mas com o tempo fui me acalmando. Fiquei muito contente com os aplausos. Minha prima disse que chorou, e minha tia e minha mãe acharam muito bonita a nossa apresentação.

Apesar de não termos ganhado o festival, gostei mui-to de participar, porque acredito que um troféu não é o mais importante, e sim o que você sente ao estar em um palco dançando e as pessoas te aplaudindo. Uma emoção que não tem como explicar com palavras.

Participar do Eleodoro Dance contribuiu para a minha formação cultural. Aprendi a me expressar corporalmen-te e a conhecer capacidades que até então desconhecia. Ensinei aos estudantes do Eleodoro, professores, funcio-nários e demais participantes, a exemplo dos familiares que estiveram no evento, que a deficiência visual não é motivo para que uma pessoa se isole e deixe de vivenciar diferentes experiências sociais. Minha escola aprendeu com a diferença. y

26 vENcEdORES

ESTu

dA

NTE

S d

E ES

cO

lAS

bli

cA

S

CATEGORIA III - ENSINO MÉDIO

Escola de Ensino Médio Ana Facó - Beberibe - CE

Minha escola me aceita

Texto Narrativo do Estudante Francisco Yuri Carvalho Barboza

27vENcEdORES

Eu estudava na Escola Mário Alencar de Ensino Fun-damental. Em 2010 concluí o 9o ano e tinha muita vontade de continuar meus estudos, fazer o Ensino Médio na Es-cola Ana Facó, mas pensava que seria muito difícil. Minha mãe e eu concordamos em fazer minha matrícula e eu fui matriculado no 1o ano do Ensino Médio.

Não me lembro bem do primeiro dia de aula, mas acho que foi de conhecimento com colegas e professo-res. Passei a frequentar a aula todos os dias. Não tinha amigos, falava pouco com alguns colegas, tinha muitas dificuldades para compreender as aulas.

No 1o período não consegui a média em Matemática e Biologia. Não era bom em Matemática. Em Biologia, o professor não me compreendia, anulava meus trabalhos, só queria ver meus cadernos. Achava malfeitas minhas respostas e com isso eu ficava muito angustiado, triste. Achava que não era capaz de aprender.

Penso que os professores conversavam sobre mim. Passei a ser visto de forma diferente. Um dia fui cha-mado pelo coordenador pedagógico, que me levou até a sala de AEE (Atendimento Educacional Especializado) para conversar com a professora da Sala Multifuncio-nal. A partir desse dia, foi tudo diferente. Minha vida co-meçou a mudar e todos na escola me tratavam bem, até o diretor.

A professora me fazia muitas perguntas, estava sem-pre conversando comigo. Também conversou muito com minha mãe e eu passei a frequentar a Sala de Atendi-mento Especial no contraturno, duas vezes por semana. Mamãe também ia comigo. Olhava-me fazendo as ativi-dades e achava legal. A professora perguntava muito so-bre mim aos professores da minha sala comum.

Às vezes assistia à aula comigo na sala comum. No outro dia, na sala especial, fazíamos tarefas diferentes. Conversávamos, mas eu não tinha muita paciência. Mes-mo assim ela me elogiava muito. Depois de algum tempo fui mudando e já conseguia formar até frases com pala-vras soltas, montar quebra-cabeças, completar textos e interpretar histórias. Das histórias que eu mais lembro é do texto “Segredo”, que tinha um menino chamado Faís-ca, que trabalhava como engraxate na praça. E a fábula “A raposa e a cegonha”? Achei muito interessante porque a raposa pagou o que ela fez com a cegonha.

Eu acho que depois que passei a frequentar a sala de Atendimento Especial, melhorei muito nos meus estu-dos. Hoje estou na média em todas as disciplinas, inclu-sive segundo o professor de Física, sou o melhor aluno da classe na matéria dele. Ah! Esqueci de dizer que sei consertar lâmpada fluorescente, quando não está total-mente queimada. y

Foi lá pelos últimos meses do ano passado. O celular cantava uma música irritante, daquelas que vêm junto com o aparelho, mas era de longe a mais suportável de-las. Nada mais apropriado para um despertador. Mover--se em velocidade recorde para desligá-lo sempre foi mais do que uma tradição, era um instinto. Dez segundos após, minha consciência havia se adaptado ao mundo real, aquele que é meio complicado de se lidar. Era um choque sair repentinamente da dimensão dos sonhos, ou até mesmo do vazio quase absoluto, mas às vezes isso dá uma certa vontade de sair da cama e encarar essa realidade. Era como se a vida começasse novamente, querendo ou não.

As primeiras memórias logo vieram. Havia uma ex-cursão para Miracatu, cidade vizinha. Gostava, e ainda gosto de dias fora da rotina, mesmo sendo meio assus-tadores. Ainda faltava alguma coisa: a autorização, a procura dela estava me deixando ansioso, ainda mais do que já estava.

A hora havia chegado. Todos foram pegar a dita carru-agem, que por sinal que confortável, o que era uma sur-presa, pois a companhia tinha fama de possuir os piores “cata-ossos” da cidade. Acabei sentando junto com meu amigo e parceiro criativo, Andrews. Comecei a olhar aque-le tempo, a estrada e tudo pelo que o veículo passava.

Detalhes à parte, chegamos ao nosso objetivo, avis-tamos o museu, que parecia menor do que pensávamos. Estranhamos de primeira vista, mas não era algo que po-deria estragar a viagem. Ao descer, tivemos uma surpre-sa (ou pelo menos eu tive): o lugar era um pouco maior do que pensávamos, havia várias peças de artesanato do começo do século passado, moedas antigas, balas de fu-zil da revolução paulista e documentos sobre a cidade de Miracatu. E o mais impressionante era que o local tinha algumas câmeras específicas para vigiar uma bandeira brasileira, a qual tampou o caixão de Santos-Dummont. Foi agradável saber que tínhamos coisas de valor históri-co perto de onde morávamos.

Fiquei perdido depois de um tempo, acabei ficando zanzando pelo lugar por conta própria, meio sozinho. Ainda havia um lugar para ir, o subsolo. Acabei encontrando uns três amigos lá. Eles estavam discutindo sobre a natureza de um objeto estranho, logo chamaram a minha atenção:

— Ei, Luiz, você sabe o que é isso aqui?Cheguei perto para responder.

CATEGORIA III - ENSINO MÉDIO

Escola Estadual João Adorno Vassão - Juquiá - SP

Apenas um detalhe

Texto Narrativo do Estudante Luiz Gustavo Sincaruk Vieira

— Isso daí é um telégrafo, eles mandavam mensa-gens por isso, principalmente na Primeira Guerra.

E uma garota acabou respondendo: — Ah, tinha que ser o Google mesmo.

Isso acontecia toda vez que sabia algo que a maioria não sabia; não que dizer o que era um telégrafo fosse algo que apenas gente privilegiada soubesse, na verda-de só usei este exemplo porque era do que eu melhor me lembrava. Nunca tomei aquele apelido por ofensa, na verdade havia vezes em que soava mais como um elo-gio. Há algum tempo eles já sabiam que tinha altas ha-bilidades, e isso dava a ideia de que conseguia achar as respostas, igual a tal ferramenta de busca pela internet.

Aqui acontece um fenômeno curioso: conhecendo meus amigos, sabia que todos eram muito diferentes uns dos outros, e ainda sim, eram amigos, ou pelo menos co-legas que se davam muito bem. A minha superdotação e meu jeito desajeitado eram coisas comuns naquela sala, assim como as manias, os talentos, a personalidade e as excentricidades de cada um. É algo tão legal de ver o gor-dinho nerd dando risadas junto com o cara descolado, o esportista e o desenhista. É nessas horas que se vê que a humanidade ainda tem chance de ser pacífica.

É claro que há pessoas que não aceitam diferenças e acabam prejudicando muita gente, e pior, muitas con-seguem influenciar outras pessoas para pensarem da mesma maneira; outras já o fazem por certa ignorância. Lembro-me de quando morei por um curto período na cidade grande, lugar em que as pessoas sabiam que eu era diferente, de alguma maneira. Certa vez, havia ficado com uma garota nessa cidade, e ela me disse:

— Você é diferente, sabia?— Desde os 8 anos — respondi.E foi estranho. Ela não parecia estar me elogiando, e

sim querendo que fosse mais parecido com as pessoas com as quais ela se encontrava no dia a dia. Uma pena, gostava dela e não me pergunte o porquê. Perdemos con-tato. E, com certeza, ela não era a única que estranhava aquilo tudo. Muita gente tinha a mente fechada como ela, e a maioria ia além de simplesmente estranhar. Esse tipo de mentalidade é apenas saudável para um ou outro gru-po de pessoas, já que as outras terão que fingir o que são para serem incluídas.

É interessante lembrar que a diferença é algo rela-tivo, pois quase todos nós temos os mesmos tipos de

28 vENcEdORES

ESTu

dA

NTE

S d

E ES

cO

lAS

bli

cA

S

desejos, quase sempre é a mesma coisa que nos alegra ou desanima. Isso foi algo que aprendi muito bem com pessoas que têm necessidades especiais. Tive a honra de conhecer algumas delas durante a minha vida. O desejo da maioria das pessoas com deficiência é apenas viver uma vida normal, assim como todos os outros, tendo suas limitações apenas como obstáculos, e para falar a verdade, não há um ser humano que não enfrente obstá-culos na sua vida. Ao contrário do que se pensa, não são poucos aqueles que aceitam suas dificuldades e cheguei até a me espantar quando um deles brincou com a pró-pria deficiência. Recentemente conheci um casal que era assim, e foi surpreendente o modo como falaram de suas deficiências. Os nomes deles eram André e Michelle. O primeiro era cego e a outra, deficiente física, usava ca-deira de rodas.

— A vantagem é que ele não pode olhar para outra mulher — disse ela.

— E a minha é que ela não pode me chutar para es-canteio — respondeu ele.

Pareceu-me de início (e até acredito que você mes-mo, leitor, irá ter a mesma sensação), o diálogo de al-guma peça de humor em 3D, mas pensando por outro lado, talvez isso seja até um progresso. Afinal, acredito que o primeiro passo para resolver algum problema é simplesmente aceitar que o tal problema existe, logo em

seguida arruma-se um jeito de resolvê-lo ou sucumbe--se às circunstâncias. Aprendi que a humanidade dentro deles não é tão diferente da de outras pessoas que nós encontramos.

Na teoria, a escola é um lugar para onde várias pes-soas, em sua maioria jovens, se dirigem para aprender matérias como Matemática, Filosofia, Química, entre ou-tras, mas não é bem assim. A escola é também um lugar onde aprendemos sobre a vida, a nos socializar e tam-bém a nos tornar pessoas melhores, ou até mesmo (infe-lizmente) piores (dependendo de com quem você anda). A melhor coisa que pode acontecer vendo as coisas na prá-tica é aprender com a diversidade. Não apenas os alunos aprendem, mas a escola em si também.

Gosto da sala onde estou, mas mudanças ainda são necessárias, porque nem toda diversidade ainda é aceita. Uma boa classe é aquela onde o convívio é possível. A escola precisa aprender com as diferenças, pois assim estará cumprindo com um de seus maiores deveres: a formação de todos. O que é um desafio para o professor, já que é preciso uma mudança na metodologia e prática didática para isso acontecer. A excursão que aconteceu foi só um dos marcos em minha vida, onde vi que as pes-soas estavam felizes, isso porque se respeitavam apesar das brincadeiras. É nessas horas que percebemos que a diferença é apenas um detalhe. y

29vENcEdORES

30

O projeto Como flores em um jardim teve início em nossa escola no mês de março de 2010. Primeiramente foi apresentado na Reunião de Pais. A reunião foi realizada pela direção da escola, que fez a leitura compartilhada do livro Os amigos de Júlia e orientou os registros a serem depois realizados pelas famílias presentes.

Foram realizados diferentes projetos, entre eles:Plantio de Sementes de Rabanete e Cenoura: essa

atividade foi desenvolvida com as turmas do Infantil I e do Maternal II, turma que tem a aluna Júlia, com síndrome de Down. Foi explicada aos alunos a atividade: preparar a ter-ra, encher os buracos da bandeja, manipular as sementes e, por fim, plantá-las. Observaram durante vários dias e cuidaram desse plantio, colocando água quando necessá-rio. Após 14 dias, as mudas foram replantadas em cantei-ros cultivados na horta da escola. Em seguida, chegou o dia tão esperado para a garotada. Foi aquela euforia não só para comerem, mas sim pelo prazer de colherem algo que elas próprias plantaram e cuidaram.

MENÇÃO HONROSA

Escola Municipal de Educação Infantil Creche “Criança Feliz” - Marília - SP

Como flores em um jardim

Jogos e brincadeiras: a primeira atividade proposta foi realizada com as turmas do Kaiky e do Gabriel, duas crianças que apresentam uma deficiência física parecida. Nesse primeiro momento, foram realizadas formalmente as apresentações de todas as crianças. Kaiky e Gabriel são crianças muito alegres e apresentam disposição para tudo que lhes é proposto. Inicialmente foi realiza-da uma atividade utilizando as “cinco Marias” (saquinhos pequenos costurados com areia dentro). Nessa proposta as crianças permaneciam sentadas e arremessavam es-ses saquinhos de areia o mais longe que conseguissem. Em seguida foi proposta uma nova brincadeira, bola ao cesto. Nessa brincadeira as crianças poderiam lançar a bola como quisessem desde que respeitando a ordem da fila, mas o espírito de cooperação e solidariedade das crianças é muito espontâneo. Assim, logo todas estavam realizando a atividade de joelhos, assim como o Kaiky e o Gabriel, e sem nenhuma intervenção de qualquer adulto presente no local.ES

cO

lA P

úb

lic

A

31

Inclusão através de históriasA literatura infantil pode ser um elemento facilitador

na promoção da inclusão: há um despertar que promove a identificação com os problemas físicos, sociais e emo-cionais dos personagens. Quando uma história é boa, ela pode fazer a criança viver outra vida, ou seja, a vida da personagem da história, e usando a imaginação, a crian-ça vai viajando, reelaborando sua realidade pelo imagi-nário, pela fantasia e ainda faz relações como as que vi-vencia na turma, já que temos duas crianças cadeirantes nas turmas. A história do Dognaldo, por exemplo, é de um cachorro que é cadeirante e faz tudo que um cachor-ro “normal” faz. Ele mora numa cidade só de cachorros, chamada Doglândia.

ConclusõesAnalisando o trabalho desenvolvido no decorrer do

projeto, foi possível perceber uma mudança significativa no comportamento da turma.

O assunto da inclusão foi trabalhado em muitos mo-mentos com histórias que retratavam questões de supe-ração, diferenças e semelhanças, atitudes de respeito, preconceito etc. Assim, foi possível mostrar aos alunos que somos diferentes e devemos respeitar ao próximo, valorizando a história de vida de cada um. Tratar do tema inclusão com crianças nos mostra que a aceitação dos limites individuais é a melhor forma de se conviver bem com as diferenças.

Assuntos como esse merecem muita dedicação por parte da professora, pois são necessárias reflexão, pesqui-sa e flexibilidade para envolver alunos, familiares e profis-sionais da escola, alunos portadores de necessidades edu-cacionais específicas de aprendizagem que são cidadãos dignos de respeito e não de piedade.

A organização da sala de aula, as atividades e experi-ências apresentadas foram variadas e flexíveis, contem-plando as necessidades de todas as crianças, permitindo que cada uma pudesse avançar em relação às próprias possibilidades. Realizamos muitas brincadeiras em que todos passaram por privação de algum sentido. De ma-neira lúdica aprenderam a reconhecer objetos apenas ta-teando, mover sem tocar as mãos, correr sem utilizar as pernas, entre muitas propostas, e em nenhum momen-to ouvi ou senti na turma algum tipo de preconceito ou discriminação em relação à característica do colega. Fi-caram evidentes as várias diferenças individuais e como devemos respeitá-las.

Foi realmente muito bom ter escolhido desenvolver o projeto ao longo do ano, pois tivemos oportunidade de abor-dar muitos aspectos, propor vivências relevantes, sentir nos alunos conscientização e respeito. Realmente somos como flores em um jardim, cada qual com seus aspectos, e todas as flores são lindas.

Interagimos com outras turmas e todos brincaram com total naturalidade. Alguns mais observadores que-riam saber: “Por que você traz seu filho bebê nesse car-rinho para a escola?”. Antes que respondêssemos, o Ga-briel, por exemplo, de pronto argumentava sorrindo: “Ela é minha professora, é que meu pé ficou assim...”, e se da-vam por satisfeitos e continuavam a brincar. Os funcioná-rios, logo que o conheceram, se mostraram respeitosos, como com todos os demais alunos. Nas situações em que foram solicitados, de pronto nos atenderam, pois sabiam que em alguns momentos precisávamos de mais ajuda.

Com a exposição pedagógica, concluímos o nosso tra-balho por este ano. Observando a linha temporal, foi possí-vel constatar que foi um trabalho muito produtivo, em que alcançamos os objetivos com vivências inesquecíveis. y

Para mais informações, acesse:

peei.mec.gov.br