28. referências documentais: 29. informações complementares · muitas mulheres relatam que se a...

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181 difusão do seu uso foi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu estandarte. Foi na Idade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos e regiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz como de guerra. Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos aliados. Para não se confundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo, usavam um pedaço de pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação do batalhão ou companhia envolvida. De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima. Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificar os corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara, atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalão é uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a uma haste com três ou quatro pontas pendentes. Os Estandartes do Congado mesclam elementos das bandeiras militares e religiosas e são utilizados para identificar o terno que os conduz e para louvar os santos de sua devoção. 28. Referências Documentais: * Entrevista e fotografias realizadas no trabalho de campo no quartel do Congo Branco*Fotografias do Congado dos anos 2004 e 2006*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no Século XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e 2005, através da lei municipal de Incentivo à Cultura. 29. Informações Complementares: O Estandarte é uma espécie de Bandeira e falar em Bandeira no congado é um pouco complexo, pois possui pelo menos três significados. Bandeira pode se referir à jornada, ao trajeto, à caminhada realizada nas campanhas e festas. Também pode ser utilizado para se referir à bandeira em tecido no formato retangular de aproximadamente 60 x 40 cm que trás estampado imagens dos santos, com um cabo de madeira na extremidade superior por onde a bandeireira (virgem, menor de 10 anos) segura. Esta pequena bandeira sempre acompanha o terno, abrindo-lhe os caminhos, tanto em dias de campanha quanto no dia da festa. Bandeira também pode referir-se ao estandarte em formato retangular de aproximadamente 1,5 m de altura por 1m de comprimento, sustentado por um mastro que o eleva à aproximadamente 2,5m de altura donde pendem fitas cujas pontas as Bandeireiras seguram enquanto dançam e que traz identificações do terno e homenagens aos santos. Geralmente o estandarte e as Bandeireiras só saem em dia de festa. As Bandeireiras ou Andorinhas são meninas que conduzem as fitas do estandarte fazendo coreografias. “Antigamente” esta função só era desempenhada pelas garotas virgens. Muitas mulheres relatam que se a menina não fosse virgem e levasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos acidentes poderiam

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difusão do seu uso foi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu

estandarte. Foi na Idade Média que bandeiras e estandartes começaram a

representar reinos e regiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz

como de guerra. Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos

aliados. Para não se confundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo,

usavam um pedaço de pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de

identificação do batalhão ou companhia envolvida. De acordo com seu tamanho ou

uso, a bandeira tem uma palavra sinônima. Estandarte é utilizado para insígnias

militares, mais especificamente para identificar os corpos de cavalaria. O Pendão

é uma bandeira grande, armada em vara, atravessada horizontalmente sobre o

mastro e levada em procissões. O Gonfalão é uma bandeira de guerra com partes

que prendem perpendicularmente a uma haste com três ou quatro pontas pendentes.

Os Estandartes do Congado mesclam elementos das bandeiras militares e

religiosas e são utilizados para identificar o terno que os conduz e para louvar os

santos de sua devoção.

28. Referências Documentais: * Entrevista e fotografias realizadas no trabalho

de campo no quartel do Congo Branco*Fotografias do Congado dos anos 2004 e

2006*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no

Século XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e

2005, através da lei municipal de Incentivo à Cultura.

29. Informações Complementares: O Estandarte é uma espécie de Bandeira e

falar em Bandeira no congado é um pouco complexo, pois possui pelo menos três

significados. Bandeira pode se referir à jornada, ao trajeto, à caminhada realizada

nas campanhas e festas. Também pode ser utilizado para se referir à bandeira em

tecido no formato retangular de aproximadamente 60 x 40 cm que trás estampado

imagens dos santos, com um cabo de madeira na extremidade superior por onde a

bandeireira (virgem, menor de 10 anos) segura. Esta pequena bandeira sempre

acompanha o terno, abrindo-lhe os caminhos, tanto em dias de campanha quanto

no dia da festa. Bandeira também pode referir-se ao estandarte em formato

retangular de aproximadamente 1,5 m de altura por 1m de comprimento, sustentado

por um mastro que o eleva à aproximadamente 2,5m de altura donde pendem fitas

cujas pontas as Bandeireiras seguram enquanto dançam e que traz identificações

do terno e homenagens aos santos. Geralmente o estandarte e as Bandeireiras só

saem em dia de festa. As Bandeireiras ou Andorinhas são meninas que conduzem

as fitas do estandarte fazendo coreografias. “Antigamente” esta função só era

desempenhada pelas garotas virgens. Muitas mulheres relatam que se a menina

não fosse virgem e levasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos acidentes poderiam

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acontecer. Nossa Senhora do Rosário seria a responsável por denunciar a farsa.

Adereços de cabelo poderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria bandeira poderia

sofrer danificações, como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças também

dificultariam a execução da função. Caberia a menina se afastar quando não fosse

mais “digna” de carregar a bandeira do Congado. A execução desta função

indevidamente poderia acarretar problemas ainda maiores para os ternos, como

esquecer música ou errar a “batida”. Hoje, no entanto, esta tradição não é mantida

pela maioria dos ternos.30. Atualização das informações:

31. Ficha Técnica

Levantamento Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)

Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)

Elaboração Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Revisão Data: Abril de 2007

Anderson Henrique Ferreira (Historiador)

Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)

183

BENS MÓVEIS E INEGRADOS

04.Propriedade: Particular

05. Endereço: Rua da Ternura, 131 – Bairro São

Francisco

06. Responsável: Marlene de Oliveira e Osmar

Aparecido da Costa

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

03. Acervo: Terno Congo

Branco

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

07. Designação: Oratório08. Localização Especifica: quando não está em campanha o oratório fica numacantoneira na sala.09. Espécie: Móvel religioso10. Época: Ignorada11. Autoria: Ignorada12. Origem: Ignorada13. Procedência: Congo de Camisa Verde14. Material / Técnica:estrutura em madeira, tecido veludo branco, bordados àmáquina em azul, amarelo e branco, fitas de cetim, franja de cetim, marabô verde efranja de cetim verde.15. Marcas / Inscrições / Legendas: Dois pombos entalhados (riscados),acompanhado as curvas do recorte da parte superior da frente do oratório, ladeiamuma taça com hóstia, estrelas de cinco pontas na porta e nas laterais.16. Descrição: Oratório em madeira peroba recortada e lixada com desenhosentalhados (riscados) na parte superior. Dois pombos entalhados (riscados,certamente com superfície pontiaguda e incandescente), acompanhado as curvasdo recorte da parte superior da frente do oratório, ladeiam uma taça com hóstia.Seis estrelas de cinco pontas em alto-relevo, dentro de círculos entalhados, na portae nas laterais. Sinal de princípio de incêndio na base de madeira, próximo à porta.Transparência garantida por vidro em três lados, encaixados numa base arredondadana parte superior e sustentado por pequeno pregos. A parte de trás do oratório é demadeira com soquete para lâmpada afixada, os fios ficam enrolados na parte dafrente. Uma cortina de cetim branco cobre o fundo do oratório, logo abaixo dosoquete. Dois terços de contas de plástico, um cor de rosa e o outro vermelho. Trêssantos figuram o oratório: uma Imagens em gesso, com destaque para NossaSenhora do Rosário, com manto de cetim branco com marabô

184

17- Condições de segurança:

( X) Boa

( ) Razoável

( ) Ruim

Obs:

18- Proteção Legal:

( ) Federal

( ) Estadual

( ) Municipal

(X ) Nenhuma

( ) Tombamento Isolado

( ) Tombamento em Conjunto

19- Documentação fotográfica

Fotos do Terno Congo Branco

Uberlândia/MG Ano 2007

185

20- Estado de Conservação:

( ) Excelente (X ) Bom

( ) Regular ( ) Péssimo

Obs:

21- Dimensões:

Altura: 0,50 + 0,13m

Profundidade: 0,32m

Largura 0,35m

22. Análise do Estado de Conservação: Oratório em regular estado de

conservação, apresentando sinal de princípio incêndio.

23. Intervenções – Responsável / Data: NT

24. Características Técnicas:. Oratório em madeira peroba recortada e lixada

com desenhos entalhados (riscados) na parte superior. Dois pombos entalhados

(riscados, certamente com superfície pontiaguda e incandescente), acompanhado

as curvas do recorte da parte superior da frente do oratório, ladeiam uma taça com

hóstia. Seis estrelas de cinco pontas em alto-relevo, dentro de círculos entalhados,

na porta e nas laterais. Sinal de princípio de incêndio na base de madeira, próximo

à porta. Transparência garantida por vidro em três lados, encaixados numa base

arredondada na parte superior e sustentado por pequeno pregos. A parte de trás

do oratório é de madeira com soquete para lâmpada afixada, os fios ficam enrolados

na parte da frente. Uma cortina de cetim cobre o fundo do oratório, logo abaixo do

soquete. Dois terços de contas de plástico. Três imagens religiosas em gesso,

uma com manto de cetim com marabô e lantejoulas; outra, bem menor, com manto

de cetim com marabô e renda; e uma pequenina imagem. Flores de plástico, dentro

do oratório e dentro de vasos sobre o oratório e ao seu lado. Dentro do oratório,

livro com orações da novena e orações com imagens de santos.

25. Características Estilísticas:Estilo popular (sem característica estilística

específica).

26. Características Iconográficas: Nos oratórios do Congado figuram as imagens

de Nossa Senhora do Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens

como a de Santa Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.Cada

santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que os

congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo Câmara

Cascudo1 é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas menos

favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a santa

negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles criam

186

a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo, pesquisador

do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam o rosário

que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do Perpétuo

Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo Seu

Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu terno o nome

de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a festa é dela.

Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque somente os

padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa Senhora do

Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os pretos e os

brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa Senhora

do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade de Nossa

Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito que não é

Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário algum dia

trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. De acordo com

seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora do Rosário como

um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezão introduz a

história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos. Mas, o que mais

chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido como mártir

sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os alimentos, uma

espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como um militar frio, capaz

de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros. Não ouvi de mais

ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando se conversa com seu Zezão

percebe-se claramente a existência de uma disputa pelo capital simbólico. Em meio

às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentes sobre o congado ele

questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua prática ritual tanto

pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos. Insinuando ser ele um

dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como “fundamentos” do Congado.

Diversas outras pessoas tomam este comportamento como prática. Fazer o

Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos quartéis envolve

aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar por esta escola e

aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio terno.O lendário Chico

Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais, era rei em

Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido como

escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os

conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os

invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um

grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a

187

alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa

Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse

que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e

parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais

tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara

Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham

com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra

existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia

para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449)2. O Rei “Moçambiqueiro” que

no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a

condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros

se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para

a libertação de seu povo. Os negros então alforriados passam a viver nos centros

urbanos nascentes e/ou se deslocam com as expedições desempenhando funções

de carpinteiro, pedreiro, ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e

outras profissões tidas hoje como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro

se retira do sistema de escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do

sistema capitalista. Ocorre um rompimento com a escravidão, mas não com sua

lógica, pois há uma busca pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente

desta. Nos movimentos quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova

forma de associação e de socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma

quebra com os padrões antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam

permanecer em estado de vigília por causa das constantes investidas das

expedições contra suas comunidades. Mas esta é uma outra história.Voltando aos

mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em relação à

alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito está mais

ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo mesmo

em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me foi

contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de Uberlândia,

ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada, que certa feita,

o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou que ele

preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a provisão

suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão eram pouco.

O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo Poderoso

que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne de um dos

porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar a comida.

E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora retirada se

reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os escravos se

188

alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e dançaram em

agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança, foi ter com o

Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento. O Benedito

então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não acreditando

no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o São Benedito

levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto “multiplicador dos

alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada pelos seus. Esta

narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo que São Benedito

é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento, da fartura, por isso

sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na casa não falte o alimento.

É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,

é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado

popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de

qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e

participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma

bebida capaz de proteger a quem a ingere. Nossa Senhora do Rosário está sempre

relacionada à chuva, às riquezas, à proteção, à geração da vida e também à morte.

Recorrem a Nossa Senhora para pedir um bom parto e também uma “boa morte”,

a ela intercedem a favor dos entes queridos que já partiram. Em todas as festas

que presenciei houve homenagens a congadeiros falecidos no período entre festas.

Nossa Senhora está vinculada à vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave

Maria”, isto fica explicito: “Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores

agora e na hora de nossa morte. Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa

Senhora do Rosário pela vida e pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem

saúde para os seus, proteção em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande

Mãe. O culto às deusas mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e

demais religiões patriarcais, mas encontra solo fértil nas tradições afro-

descendentes e católicas. Uma música muito difundida tanto no Congado como na

Capoeira e na religiosidade ressalta o aspecto protetor de Nossa Senhora: “No

tempo do cativeiro, quando o senhor me batia, eu gritava por Nossa Senhora, ai

meu Deus, quando a pancada doía.” O mito fundante do Congado em Uberlândia é

um relato da aparição e resgate de Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos

duas versões aqui sintetizadas: a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do

mar, um garoto a vê submergir, chama os pais para verem, eles não acreditam.

Então ele chama os Marinheiros, que também presenciam a santa submergir, eles

tentam tirá-la com suas cordas, mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres

que conseguem retira-la da água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do

189

altar e volta para o mar. Vem então o terno de Congo, todo colorido e canta para

ela sair da água, ela submerge, mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta

a “fugir” para o mar. Então um terno de Moçambique, todo vestido de branco e

descalço, canta para ela, que então submerge e lhes acompanha, eles a levam

devagar até o local onde constroem uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário

permanece, o terno de Moçambique então se retira sem lhe dar as costas, lhe

fazendo reverência; b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso,

do Moçambique Rosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar

escravos fugidos na serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra

um grupo de negros, vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima

em frente a uma árvore de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava

encravada num galho. Os capitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los,

mas eles permanecem imóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados

com a visão voltam para a cidade e chamam um padre para ir até o local verificar o

fato. E como na primeira versão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa

Senhora do Rosário acompanha apenas o Moçambique que canta vestido de

branco, de pés descalços, que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá

as costas ao se retirar de sua presença.27. Dados Históricos Os primeiros oratórios

datam dos primórdios da Idade Média. Pequenos armários que podiam guardar

não só o santo protetor, mas tudo que se relaciona à devoção cotidiana. Propiciando

um ambiente adequado às reflexões e orações no interior das residências. Os

oratórios geralmente simulam pequenos templos, trazidos para o interior das casas

para conferir aos seus donos segurança e intimidade com o mundo do sagrado.

Utilizados também em momentos festivos e em celebrações coletivas. Nos primeiros

anos da colonização do Brasil, os oratórios exerceram importante papel no exercício

da fé, pois inexistindo igrejas, era diante desses nichos ou armários de guardar

santos que o povo fazia suas rezas. Deste modo as casas se constituíam no local

mais reservado para a devoção religiosa.O oratório utilizado no Congado é o que

designam por Esmoler ou oratório Itinerante ou de viagem. Estes oratórios são

encontrados principalmente em espaços urbanos e utilizados para arrecadar dinheiro

para a edificação de um templo de uma irmandade e para angariar recursos para a

realização de festas religiosas.

28. Referências Documentais: Fotografias e entrevistas realizadas em visitas à

residência de Marlene de Oliveira e Osmar Aparecido da Costa, onde se localiza o

quartel do Terno Congo Branco. Site: http://www.museudoratorio.com.brCD Rom

“Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes em Uberlândia no Século XX” –

Produzido por Fabíola Benfica Marra, com recurso da lei Municipal de Incentivo à

Cultura, finalizado em 2005.

190

29.Informações Complementares: O oratório cumpre uma importante função

no Congado. Durante as campanhas o oratório fica na casa onde será realizada a

novena e/ou o leilão. Quando o terno sai para as novenas, as mulheres vão à frente

para rezar com os moradores da casa. A bateria chega quando a novena já encerrou.

Uma virgem (geralmente criança menor de 10 anos) leva uma bandeira com a

imagem de São Benedito ou de Nossa Senhora do Rosário, ou ambos, “escoltados”

pela mãe e pela madrinha da bandeira e do terno à frente da guarda. Eles tocam

em saudação aos donos da casa que sai para recebê-los. A bandeira é saudada

com devoção e após passar sobre as cabeças das pessoas da casa é levada para

o interior da residência para que sejam abençoados todos os cômodos e todos os

moradores. Os dançadores também entram tocando e realizando suas performances

e logo se retiram. Após o terço é realizado o leilão das prendas arrecadadas pelo

morador da casa que está recebendo o oratório do terno. O oratório andor

permanece no interior da casa até que todas as prendas sejam compradas. Uma

“secretária”, geralmente uma das Madrinhas, anota em um caderno cada produto e

o valor arrematado e o nome do comprador. Os produtos geralmente são

arrematados por valores acima do valor real de mercado. Encerrado o leilão, o

terno toca para sair, agradece aos donos da casa, que em alguns casos também

oferecem um lanche. Os soldados descansam as caixas do lado de fora enquanto

as meninas rezam se despedindo. Os donos da casa se despedem dos santos e

do oratório que irá partir para abençoar outra casa. Quando a bandeira sai, o capitão

e seus soldados cantam e tocam se despedindo e as meninas levam dançando o

oratório andor com os santos e a bandeira para a casa onde será realizada a próxima

novena e/ou leilão. Ao chegar os soldados chamam o morador que sai até a porta

para receber a Bandeira (terno) e o oratório. Todos rezam e combinam o dia certo

para o leilão e/ou novena, que poderá ser no dia seguinte ou nos próximos. A

Bandeira (o terno) parte de volta para o quartel, onde ficará a bandeira (levada pela

virgem) e os instrumentos até o próximo leilão. O oratório com as imagens dos

santos é levado no dia da festa por alguns ternos.(Footnotes)

1Cascudo, Luiz da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Edições de

Ouro, 19722 Idem

191

30. Atualização das informações:

31. Ficha Técnica

Levantamento Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)

Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)

Elaboração Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Revisão Data: Abril de 2007

Anderson Henrique Ferreira (Historiador)

Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)

192

ESTRUTURAS ARQUITETONICAS URBANISTICAS

04. Endereço: Rua da Ternura, 131 – São

Francisco

05. Propriedade: Privada

06. Responsável: Marlene de Oliveira e Osmar

Aparecido da Costa (Osmarão)

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

03. Designação: Quartel do

Terno Congo Branco

07. Histórico:O terno Congo Branco foi fundado em 1982, na época Osmar e

Marlene moravam na Rua Roma, 252 – Bairro Tibery, na casa do pai de Marlene.

Quando o pai de Marlene falece, a casa no Tibery é vendida e após o inventário,

Marlene adquiri a casa no Bairro São Francisco, na Rua Ternura, 131, mudando-se

em dezembro de 2006.

08. Descrição:A área construída ocupa aproximadamente 30% do terreno, diversas

árvores frutíferas fazem sombra no quintal. No dia da festa é feito uma cobertura na

porta da casa para os soldados descansarem e fazerem as refeições. No ano de

2007 a cobertura será feita com telha de amianto, que já foi adquirida e se encontra

depositada na frente da casa. Os instrumentos, bastões e estrutura do estandarte

ocupam a copa da casa, o oratório permanece na sala e os tecidos do estandarte,

bandeira, chapéus e capas guardados em caixas no quarto do casal.

09. Documentação Fotográfica:

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

Fotos do Terno Congo Branco

Uberlândia/MG Ano 2007

193

Fotos do Terno Congo Branco

Uberlândia/MG Ano 2007

194

10. Uso Atual:

( x ) Residencial ( ) Serviço

( ) Comercial ( ) Institucional

( ) Industrial ( ) Outros

11. Situação de Ocupação:

( x ) Própria ( ) Alugada

( ) Cedida ( ) Comodato

( ) Outros

12. Proteção Legal Existente

( ) Tombamento

( ) Municipal

( ) Federal

( ) Estadual

( x ) Nenhuma

13. Proteção Legal Proposta:

( ) Tombamento Federal

( ) Tombamento Estadual

( ) Tombamento Municipal

( ) Entorno de Bem Tombado

( )Documentação Histórica

( x ) Inventário

( ) Tombamento Integral

( ) Tombamento Parcial

( ) Fachadas

( ) Volumetria

( ) Restrições de Uso e Ocupação

14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência: Localiza-se em área plana com

com passeios, arborização, redes elétrica, rede de esgoto, rede de água tratada,

As edificações são predominantemente de volumetria simples apresentando

partidos retangulares, com vários “puxadinhos”, altimetria de um pavimento,

materiais de acabamento de alvenaria de tijolo cerâmico, pintura com grande

variação de cores e esquadrias de metalon ou alumínio, coberturas metálicas ou

com telhas cerâmicas.

15. Estado de Conservação:

( ) Excelente

( x ) Bom

( ) Regular

( ) Péssimo

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16. Análise do Estado de Conservação:Bom estado de conservação,necessitando apenas de repintura.17. Fatores de Degradação:Os fatores de degradação desta casa se restringemà ação das intempéries e falta de manutenção preventiva.18. Medidas de Conservação:Manutenção preventiva.19. Intervenções:Troca das telhas da cobertura.20. Referências Bibliográficas:*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família:Famílias Afro-descendentes no Século XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzidoentre os anos de 2004 e 2005, através da lei municipal de Incentivo àCultura.*SLENES, Robert W. “Na Senzala uma flor: esperanças e recordações dafamília escrava, Brasil Sudeste, Século XIX” Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.21. Informações Complementares:Os quartéis são os locais onde os soldadosde cada guarda se reúnem para fazer as campanhas ou para sair em viagens. Étambém onde guardam os instrumentos e realizam as refeições durante os dias defesta e fazem intervalos de descanso. Todas as atividades do Congado começame terminam no quartel. Geralmente o quartel é o local de moradia da família docapitão ou da madrinha do terno. As construções são o que se chamam colônias:diversas casas pequenas, construídas em períodosdistintos, dispostas umas ao lado das outras e com um pátio, uma área comum um terreiro no meio. A área não construída no meio é utilizada para reunir o terno,para realizar as refeições coletivas, afinar instrumentos. Em muitos casos, banheiros,tanques, pias e locais para passar roupas são de uso comum a todos os moradoresda colônia. Nos Quartéis, realizam grandes refeições conjuntas, mesmo não sendodia de festa Congado. O milagre multiplicador dos alimentos promovido por SãoBenedito é realizado pelas matriarcas todos os dias e se estende aos “praticamentefilhos”, pois muitas crianças, jovens e adultos são atraídas para o convívio das famíliasde congo, estendendo os laços familiares para além dos consangüíneos. O Congadoque acontece na porta da igreja Católica é o ápice, o momento máximo desta festaque dura praticamente o ano inteiro dentro dos terreiros e quartéis. A família éfestejada diariamente. Grandes matriarcas reúnem ao seu redor seus muitos filhostodos os dias.Segundo Robert W. Slenes1, a palavra Senzala origina-se do dialetoKimbundu e significa “residência de serviçais em propriedade agrícola” ou ainda“moradia de gente separada da casa principal”. Senzala também pode significar“Povoado”ou “grupo de parentesco”. (p. 148). Enquanto a expressão Quilombo éutilizada para designar “acampamento de guerreiros” (p. 173). Os Quartéis deCongado abriga Soldados com suas caixas e seus Estandartes durante asCampanhas. No Congado, os guerreiros conduzem caixas e são designadosSoldados, organizados por Capitães, seguem seus Estandartes e se abrigam noQuilombo chamado Quartel.Designação: Quartel do terno Congo Branco(Footnotes)

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22. Atualização de Informações:NT

23. Ficha Técnica:

Levantamento Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)

Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)

Elaboração Data: Abril de 2007

Fabíola Benfica Marra (Historiadora)

Revisão Data: Abril de 2007

Anderson Henrique Ferreira (Historiador)

Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)

CONGO CATUPÉ DE NOSSASENHORA DO ROSÁRIO E

SÃO BENEDITO

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BENS IMATERIAIS

01. Município: Uberlândia

02. Distrito: Sede

INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL

Minas Gerais-MG

03. Natureza: Festas Populares/ Celebrações/

Cultos Afro-brasileiros

04. Responsável: Ubiratan César Nascimento

05. Denominação: Terno “Congo Catupé de Nossa Senhora do Rosário e São

Benedito”

06. Informe Histórico:

Na década de 40, vem para Uberlândia, da cidade de Formiga-MG, os irmãos

“Benedito da Silva”, os “Matinada”: José Matinada, Maria – a Lica –, Emanuel – o

Lico –, Sebastião – o Tiãozinho –, João Matinada, Lourdes, Maria Capitão e Dona.

Junto a Euclides Lindolfo, natural de Uberlândia e Irene Rosa, cumadre e primeira

mãe de santo a abrir um terreiro de Umbanda em Uberlândia (a Tenda Coração de

Jesus), fundam o Congo Catupé de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, o

Catupé do Martins. Durante muitos anos o quartel do Catupé fica na rua Rafael

Rinaldi, no mesmo local onde funciona a Tenda Coração de Jesus e o depósito de

lenha de Irene Rosa.

Irene Rosa migra em direção à Uberlândia no início do século XX. Sua única filha

“legítima”, Maria do Rosário, nasce em 1929, próximo a Uberaba, “às margens do

córrego Fortaleza”. Quando Maria do Rosário está com 10 anos, mudam-se para

próximo à Sucupira, pois o padrasto trabalhava na Linha Mogiana que estava sendo

construída. Permanecem neste local por 4 anos e depois se mudam para Uberlândia.

Irene Rosa fazia quitandas que vendia na “beira da Linha Mogiana”. Quando se

muda para Uberlândia passa a desenvolver a mesma atividade do pai: proprietária

de depósito de lenha, atividade desenvolvida com o auxílio dos filhos e netos. Com

o tempo consegue comprar 3 lotes na rua Rafael Rinaldi, onde hoje se localiza a

“tenda Coração de Jesus”, primeiro terreiro de Umbanda a abrir as portas na cidade.

Além da filha, criou mais 18 filhos adotivos. Irene Rosa lecionava para os filhos e

para as crianças vizinhas. Dona Maria do Rosário relata que ela ensinava mais a

ler do que escrever, pois as condições econômicas não permitiam comprar material

como cadernos, lápis e giz de escrever.

SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA

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Fabricavam giz com pedaços de mandioca para escrever na lousa. Sua casa era

também abrigo para muitas pessoas que vinham para a cidade em busca de

tratamento médico ou em busca de trabalho. Irene Rosa era “a madrinha Irene”, ou

“mãe Ireninha”. Em sua casa surge o terno de Catupé de Nossa Senhora do Rosário

e São Benedito, o Catupé do Martins. Diversos outros ternos contavam com sua

benção. No dia 17 de setembro de 1974 falece Irene Rosa, deixando a direção da

Tenda para Pai Roque, marido de sua sobrinha, e para a neta Maria Irene, que

ainda hoje dirige os trabalhos auxiliada por suas irmãs Marlene, Janaina e Joana.

Antes de virem para Uberlândia, os irmãos Matinada integravam o terno de Catupé

do seu Zacarias em Formiga. Pertenciam àquele terno porque residiam perto do

quartel, fazem parte da “família territorial” do terno e não da “família genética”. O

patriarca da Família, o seu Benedito da Silva, não vem com eles de Formiga.

Quando o Congo Catupé de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito é

fundado, o Euclides Lindolfo é o Marechal, o regente. O José Matinada é o primeiro

Capitão e toca sanfona. O Lico e o João Matinada também eram capitães. José

Augusto era outro capitão, mas não faz parte da família consangüínea. Irene Rosa é

a primeira madrinha do terno junto a Lourdes. As filhas e netas de Irene Rosa também

integram o terno na função de bandeireiras. A Lica, a Maria Capitão e a Dona eram

as cozinheiras. Maria Capitão e Irene Rosa eram as mentoras espirituais do terno.

O Lázaro, genro do Euclides Lindolfo tocava banjo. As filhas e filhos dos Matinada

e da Irene Rosa e respectivos conjugues foram os primeiros dançadores do terno.

Quando dona Mariinha era criança, ela carregava a “Urna” para arrecadar

donativos para a igreja. A Maria Irene, neta da Irene Rosa e atual zeladora da Tenda

Coração de Jesus também carregava a “urna”. Dona Maria dos Reis se afastou do

terno, se casou, e aproximadamente a 20 anos passou a desempenhar a função de

madrinha antes desempenhada por Irene Rosa. Seu José Matinada quem a

convocou para desempenhar esta função. Maria Irene, a atual zeladora da Tenda

Coração de Jesus não participa diretamente do terno, mas é visitada todo ano.

Os Matinada frequentavam o terreiro de Umbanda de Mãe Irene Rosa. Dona

Mariinha se casa com Paulo Cesar Nascimento, o Pai Pedrinho, que é filho de

santo de Mãe Delfina zeladora das tradições Omolokô e é iniciada neste ritual

tornando-se uma Yalorixá. A dona Mariinha, mulher de Euclides Lindolfo, também

dirige trabalhos de Umbanda no bairro Dona Zulmira. Os integrantes da família

dividem-se entre os trabalhos do centro, o congado e o carnaval. Alguns, como a

família do Tiãozinho e da Lourdes viraram crentes e não realizam mais estes rituais.

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Fotos do Terno “Congo Catupé de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito”

Uberlândia/MG Ano 2007

Quando os tocadores de sanfona, banjo, violão e cavaquinho morrem, nenhum dos

filhos ou dançadores aprende a tocar estes instrumentos, que deixam de ser

utilizados pelo terno. Os familiares guardam os instrumentos intocados como

reliquias que contam a história de lendarios congadeiros. Alguns instrumentos

acabam com o tempo.

Antes de morrer, o José Matinada iria passar o seu Bastão para o seu filho Raimundo

– o Pacú, mas ele não quis aceitar a resposabilidade de ser capitão. Então o bastão

de capitão é passado para o neto, Ubiratan, que na época tocava maracanã. O

Bastão do Euclides Lindolfo é passado para o Amador.

07. Documentação fotográfica:

08. Descrição:Com idumentária branca com faixas rosa e azul cruzadas no peito e nas costas,traz sobre a cabeça uma coroa. É o único terno da cidade que traz dois estandartesem homenagem aos santos Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.Na atual formação, Ubiratan é o Primeiro Capitão. Amador é o Segundo Capitão.Maria dos Reis e Maria são as madrinhas e mentoras espirituais do terno. Francelinaé a madrinha da bandeira, Patricia ajuda na coordenação e Rosária é fiscal dasbandeireiras. O Flávio é o Presidente e Marcos é vice presidente e fiscal junto como Raimundo – Pacu. Adilson é tesoureiro. Amilton faz parte do conselho fiscal. O Gilé esposo da França e além de um dos puladores de frente é também um doscoordenadores da diretoria A Patricia é responsável pelas crianças. O MarcosPaulo é o Chefe de Caixaria, ou seja, cuida dos instrumentos, ensina os novatos atocar, afina os instrumentos. A Cleide é mulher do Amador e chefe de cozinha. Kareme Gabriela carregam as bandeiras.