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  • 7/27/2019 23261324 Alvaro de Campos

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    lvaro de Campos:

    Dos heternimos aquele que mais sensivelmente percorre uma curvaevolutiva. Nasceu em Tavira, a 15 de Outubro de 1890 (dois anos depois de FernandoPessoa). Era alto, magro e com tendncia a curvar-se, tinha o cabelo preto e usavamonculo. Fez o liceu em Portugal e o curso de Engenharia Naval em Glasgow, naEsccia. Viajou pelo Oriente, regressou a Portugal, viveu depois uns anos entre

    Londres, onde trabalhou, e Lisboa, acabando por se fixar na capital portuguesa.lvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente um sbito impulsopara escrever. Para Campos a sentir tudo e o seu desejo sentir tudo de todas asmaneiras. O sensacionismo torna a sensao a realidade da vida e a base da arte. Oeu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existncia oupossibilidade de existir. lvaro de Campos quem melhor procura a totalizao dassensaes, mas sobretudo das percepes conforme as sente, ou como ele prprioafirma sentir tudo de todas as maneiras. O seu sensacionismo distingue-se do deAlberto Caeiro, na medida em que este considera a sensao captada pelos sentidoscomo a nica realidade, mas rejeita o pensamento. Caeiro, na sua simplicidade eserenidade, via tudo ntido e recusava o pensamento para fundamentar a sua

    felicidade por estar de acordo com a Natureza; Campos, sentindo a complexidade e adinmica da vida moderna, procura sentir a violncia e a fora das sensaes.

    A obra de lvaro de Campos passa por trs fases:

    I. Decadentista que exprime o tdio, o cansao e a necessidade de novassensaes;

    II. Futurista e Sensacionista que se caracteriza pela exaltao da energia,de todas as dinmicas, da velocidade e da fora at situaes deparadoxismo;

    III. Intimista e Pessimista que, perante a incapacidade das realizaes, trazde volta o abatimento que provoca o cansao.

    Decadentismo:

    Nesta primeira fase, lvaro de Campos exprime o tdio, o desencanto, o enfado,a nusea, a melancolia, o cansao, o abatimento e a necessidade de novassensaes. Traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga monotonia. Esta fase apresenta-se marcada pelo simbolismo e pelo romantismo.

    O nico poema que representa esta fase o Opirio. Pessoa escreveu-o de

    propsito para o n1 da revista Orpheu. Campos t-lo-ia concebido no decurso de umaviagem ao Oriente. Neste poema, a nostalgia e a expresso do tdio, do cansao e dasaturao da civilizao provocam a necessidade de novas sensaes, muitas vezes,tentadas na embriaguez do pio. No fundo, o pio o refgio de Campos paraultrapassar a ausncia de sentido para a vida e a revolta de algum inadaptadocontra a ordem estabelecida. Os estupefacientes surgem aqui como escape monotonia e a um certo horror vida. So um estimulante que, no entanto, nadaresolvem.

    Futurista e Sensacionista:

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    A poesia desta fase de lvaro de Campos expressa um entusiasmo por umapoesia que espelhasse a civilizao industrial da poca. A inteno inicial de Pessoaera criar um poeta das sensaes modernas, do prazer sensual da imaginao, daenergia explosiva.

    Campos adoptou, alm do verso livre, um estilo esfuziante, torrencial, espraiadoem longos versos de duas ou trs linhas, anafrico, exclamativo, interjectivo,montono pela simplicidade dos processos, pela reafirmao de apstrofes eenumeraes.

    Nesta fase, lvaro de Campos celebra o triunfo da mquina, da energiamecnica e da civilizao moderna. Apresenta a beleza dos maquinismos em fria eda fora da mquina por oposio beleza tradicionalmente concebida. Exalta oprogresso tcnico, a intensidade e totalizao das sensaes.

    A sua procura da chave do ser e da inteligncia do mundo torna-sedesesperante. Tanto a Ode Triunfal como a Ode Martima so uma epopeia domundo mecnico, do mundo do futuro que caminha para o absurdo. Canta acivilizao e a corrupo na poltica, os progressos, todas as coisas modernas; canta araiva mecnica em contraste com o desejo de sossego e de serenidade. Camposdeseja ser a prpria mquina. Futurista, canta a civilizao industrial e,

    estilisticamente, introduz na linguagem potica a terminologia desse mundomecnico citadino e cosmopolita, contemporneo das mquinas e da luz elctrica.Campos aproxima-se muito de Pessoa ao recusar as verdades definitivas.

    O futurismo caracteriza-se pela exaltao da energia, de todas as dinmicas,da velocidade e da fora, at situaes de paradoxismo. Procura um corte e mesmo oaniquilamento do passado, para exaltar a necessidade de uma nova vida futura, ondese tenha a conscincia da sensao do poder e do triunfo. o heternimo que mais seaproxima do Modernismo.

    A segunda fase tambm est marcada pela intelectualizao das sensaes oupela sua desordem, pela integrao na civilizao da mquina, pela pressamecanicista e pela inquietude.

    Campos, nesta exaltao do paradoxismo, da velocidade e da fora, mostra-seimpaciente, sente a fora da realidade que lhe faz vibrar todo o corpo. Cativo dossentidos, verdadeiro sensacionista, procura o excesso violento de sensaes.

    O sensacionismo de Campos comea com a premissa de que a nica realidade a sensao. Mas a nova tecnologia na fbrica e nas ruas da metrpole modernaprovocam-lhe a vontade de ultrapassar os limites das prprias sensaes, numavertigem insacivel.

    O sensacionismo, inspirado por Walt Whitman, apresenta-se como uma procurade totalizao de todas as possibilidades dadas pelas sensaes ou percepes detoda a humanidade, qualquer que seja o tempo ou o espao. lvaro de Campos

    quem melhor procura a totalizao das sensaes, mas sobretudo das percepesconforme as sente, ou como ele prprio informa sentir tudo de todas as maneiras. Oseu sensacionismo distingue-se do Alberto Caeiro na medida em que este heternimoconsidera a sensao captada pelos sentidos como a nica realidade, mas rejeita opensamento; Campos procura a totalizao das sensaes, sobretudo das percepesconforme as sente ou pensa.

    Campos busca, na linguagem potica, exprimir a energia ou a fora que semanifesta na vida. Da o surgimento de versos livres, vigorosos, submetidos expresso da sensibilidade, dos impulsos, das emoes.

    Intimista e Pessimista:

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    Caracterizada pelo sono e pelo casano, nela se revela a desiluso, a revolta, ainadaptao, a disperso, o cansao e uma grande angstia. Aps a exaltao hericae a obsesso dos maquinismos em fria, cai no desnimo e na frustrao. Face aincapacidade das realizaes, sente-se abatido.

    Este abatimento, que provoca em Campos Um supremssimo cansao lembrao decadentismo, mas esta decadncia no possui o mesmo sentido literrio ehistrico, antes traduz a reflexo intimista e angustiada de quem apenas sente ovazio depois da caminhada herica.

    Campos, atordoado pelo mistrio das sensaes que busca compreender,procura mergulhar em si mesmo, Por exemplo, em Apontamento, lvaro de Camposapresenta-se como um vaso vazio que a empregada deixou cair na escada. A imagemdos cascos mostra-nos a fragmentaridade em que se sente. Os cascos, apesar deconscientes de si mesmos, no tm conscincia de uma essncia, da unidade: Aminha obra? A minha alma principal? A minha vida?/ Um caco. Que os deuses olham,pois no sabem porque ficou ali.

    Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofrefechado em si mesmo, angustiado e cansado.

    Quadro sntese das fases de lvaro de Campos:

    Temas

    1 Fase Expresso do tdio, do desencanto, da abulia, do cansao e da nusea Ausncia de um sentido para a vida Angstia existencial Procura de novas sensaes Estilo confessional e divagador

    2 Fase Culto de uma esttica no aristotlica Exaltao da civilizao industrial moderna, da mquina, da fora, da

    velocidade da energia e do processo Evocao da corrupo, dos escndalos, da imoralidade, das falhas, da

    tcnica, da pobreza Atitude febril, doentia, e feroz Postura sadomasoquista auto punitiva Vivncia do presente, do instante Busca incessante de novas sensaes, modernas e intensas Exploso sentimental e emocional

    3 Fase Retrocesso ao abatimento, ao cansao, ao tdio, ao desnimo Postura introspectiva e reflexiva Sofrimento derivado da sua lucidez Evocao da infncia como o paraso perdido Perda da identidade

    Linguagem/Forma

    Estilo esfuziante, torrencial e excessivo Linguagem prosaica e tcnica Predomnio de exclamaes, interjeies, apstrofes, onomatopeias,

    enumeraes caticas, imagens arrojadas Adjectivaes mltiplas, metforas, hiprboles, hiplages, anforas,

    anstrofes Primazia do presente do indicativo e do gerndio Estrofes e versos longos

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    Privilgio do verso livre e branco

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