22793 o medo o lar e a escola

56
  

Upload: maria-beatriz-pereira

Post on 04-Oct-2015

10 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

O MEDO INFANTIL

TRANSCRIPT

  • Srie MATERIAIS PARA EXPERIMENTAO

    Publicados

    1. Avaliao do rendimento escolar Srvulo de Souza Paixo

    2. Diviso Lcia Maria Joppert de Moura Carvalho

    3. Trabalho independente Sarah Lerner Sadcovitz

    4. Excurses educativas Letcia Mana Santos de Faria

    5. Transamaznica Luci Carrio Ramos

    6. Primeiro cantinho de leitura Clia Tarnapolsky

    7. Diagnstico de dificuldades na aprendizagem da leitura

    Wanda Rollin Pinheiro Lopes

    8. O medo, o lar e a escola Generce Albertina Vieira

    9. Uma experincia de team-teaching Nise Maria L. 8. Magalhes Martha Albuquerque

    10. A criana de 6 e 7 anos na 1* srie

    Se/ene Ribeiro Kepler

    A sair

    11. Banco do estudante, mtodo de projetos Leo Culz Gaudenzi

    12. O ar, um projeto de cincia Gesa de Mouro Abdon

    13. Dramatizao didtica Letcia Mana Santos de Faria

    14. Caminhos para o ensino da leitura Lcia Marques Pinheiro

    Foto da capa e das pginas 26, 27 e 29 cedidas por M. e E. Teixeira.

  • O MEDO, O LAR E A ESCOLA

  • FICHA CATALOGRFICA

    V658 Vieira, Generice Albertina. O medo, o lar e a escola. Rio de Janeiro, Instituto Nacional

    de Estudos Pedaggicos, 1974. 59 p., il. (Materiais para experimentao, 8). 1. Medo-Crianas. 2. Psicologia infantil. I. Centro Brasileiro

    de Estudos e Pesquisas Educacionais, Rio de Janeiro. II. Ttulo. III. Srie.

    CDU 159.922.7 CDD 155.424

  • Generice Albertina Vieira

    O MEDO, O LAR E A ESCOLA

    MEC INEP CBPE Rio de Janeiro, GB. 1974

  • INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS Diretor Ayrton de Carvalho Mattos

    CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS EDUCACIONAIS

    Diretora Elza Rodrigues Martins

    COORDENAO DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS Responsvel Lcia Marques Pinheiro

    COORDENAO DE PUBLICAES, DOCUMENTAO E INFORMAES Responsvel Regina Helena Tavares

    UNIDADE DE PUBLICAES

    Responsvel Jader Madeiros Britto

    Srie MATERIAIS PARA EXPERIMENTAO Coordenadora Elza Nascimento Alves

    Assessoria e diagramao Generice Albertina Vieira Capa Anna-Beli Honrio de Mello Fotografia Armando Neves Jnior Reviso Walter Maia de Almeida

    Rua Voluntrios da Ptria, 107 - ZC 02 20.000 Rio de Janeiro, GB - Brasil

  • A autora agradece ao psicanalista Pedro de Figueiredo Ferreira,

    ao educador Jader de Medeiros Britto e tcnica de educao Elza Nascimento Alves

    pela valiosa colaborao prestada realizao deste trabalho.

  • SUMRIO

    Apresentao 9

    Conversando com a professora 11

    A criana e suas necessidades emocionais 13

    Depoimento de crianas 17

    Principais verificaes da pesquisa 27

    Reflexes sobre as origens do medo na criana 29

    Revisando atitudes 37

    Desenvolvendo a autoconfiana 41

    transio lar-escola me e professora

    criana e professora

    Vencendo o medo 51

    Leituras sugeridas 53

  • Apresentao

    Este folheto compe a srie "Materiais para Experimentao", relacionada ao Projeto que o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais est desenvolvendo com o objetivo de oferecer aos Estados e Terri trios bases para a elaborao de currculos e programas da escola fundamental.

    Entre os trabalhos realizados para embasamento do Projeto constou um levantamento, em amostragem, da opinio do professorado sobre:

    forma de apresentao do programa

    tipos de orientao aconselhveis

    materiais auxiliares desejados

    A srie "Materiais para Experimentao" constitui, tanto quanto possivel, uma tentativa de resposta ao pronunciamento dos professores sobre materiais de apoio, sentidos como necessrios para implementao das primeiras sries do Ensino de 1. Grau.

    Pretende-se, com esta srie, levar ao conhecimento do professor ex-perincias bem sucedidas de outros professores, bem como orientao sobre aspectos relevantes do processo ensino-aprendizagem, com base nos resultados obtidos ou observados pelos autores em suas atividades profissionais, ligadas direta ou indiretamente prtica docente.

    Objetiva-se, ainda, testar a eficcia do tipo de comunicao escolhido para chegar ao professorado: pequenos folhetos, escritos em linguagem simples e direta, em que princpios e conceitos bsicos de educao so muito mais inferidos pelo leitor do que apresentados sob qualquer forma de sistematizao terica.

  • Trata-se, naturalmente, de materiais que o INEP pretende submeter experimentao controlada, a fim de obter evidncias sobre:

    receptividade do professor

    adequao do contedo, forma e extenso da mensagem transmitida entre professores de diferentes nveis de formao nas vrias regies do Pas

    eficincia do material como elemento de motivao do professor e instrumento para operacionalizao da Reforma do Ensino de 1. Grau.

    A edio desta Srie est a cargo da Unidade de Publicaes do INEP.

    A autora do folheto, professora Generice Albertina Vieira, membro da equipe de redao da Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos do INEP. Colaborou durante cinco anos na pesquisa "Fatores emocionais na aprendizagem" promovida, no INEP, pelo Dr. Pedro de Figueiredo Ferreira. Integrou ainda, em 1972/73, o Grupo-Tarefa Educao Especial que montou o Projeto Prioritrio n. 35 do Plano Setorial de Educao do MEC.

    Elza Nascimento Alves Coordenadora da Srie

  • Conversando com a professora

    O objetivo deste trabalho, prezada professora, chamar sua ateno para a dimenso emocional do comportamento da criana, e de seu prprio, no dia-a-dia escolar.

    Desenvolveu-se a partir do estudo de depoimentos de 2.194 escolares da Guanabara, colhidos atravs de pesquisa promovida pelo Instituto de Psicologia da PUC do Rio de Janeiro em 1961 e publicada no ano seguinte.' Seu objetivo era identificar os medos e preocupaes em crianas e adolescentes, tendo a amostra includo alunos de 7 a 11 e de 14 a 18 anos, dos estratos mdio e superior da sociedade, procedentes de 16 escolas particulares urbanas do Rio de Janeiro, quase todas da zona Sul da Cidade.

    Para o Professor Aroldo Soares de Souza Rodrigues, autor da referida pesquisa, "medo e preocupao so estados emocionais decorrentes da percepo de um ser, situao ou acontecimento ao qual atribudo um carter ameaador iminente, capaz de abalar a segurana da pessoa." O mtodo usado foi o introspectivo-projetivo, consistindo em pedir ao entrevistado que "indique os medos e as preocupaes que tm, em sua opinio, as pessoas de sua idade."

    Ao examinar as origens do medo, professora, nos defrontamos com duas realidades: a externa, vivida pela criana em seu meio social e fsico no ambiente domstico, escolar e comunitrio e, particularmente, a interna, relativa a sua vida emocional.

    1 RODRIGUES, Aroldo Soares de Souza. Medos e preocupaes em crianas e adolescentes. Rio de Janeiro, Instituto de Psicologia da PUC, 1962. 98 p.

    2 e 3 RODRIGUES, Aroldo Soares de Souza. op. cit., p 8 e 14.

  • Em decorrncia desse fato, dois problemas se impem a nossa con-siderao:

    as origens da insegurana infantil desde o nascimento

    os meios que o lar e a escola podem usar para:

    compreender as necessidades da criana

    ajud-la a estabelecer, ou recuperar, seu equilbrio emocional, condio indispensvel sade e ao harmonioso desenvolvimento do ser humano.

    A sumria forma de abordagem no lhe permitir, por certo, ampla explorao do assunto nem esta a pretenso do presente trabalho.

    Os problemas aqui levantados procuram apenas enfatizar a necessidade de observarmos melhor o comportamento da criana, e o nosso prprio, na relao interpessoal do dia-a-dia, tendo em vista o satisfatrio e contnuo desenvolvimento das crianas que nos so confiadas.

    A relao aluno-professora, acredita-se hoje, o meio principal de vitalizar o processo educativo.

    O crescente reconhecimento de que o professor uma "pessoa" e no a encarnao abstrata de uma entidade exigida pela vida da escola ou um canal estril atravs do qual o saber passa de gerao em gerao, '- vem enfatizar a importncia das atitudes do professor e do relacionamento humano que ele consegue estabelecer com seus alunos. Abrem-se assim novas perspectivas compreenso das necessidades emocionais da criana, sobretudo no incio de sua vida escolar, quando ela ingressa no jardim de infncia e nas primeiras sries do ensino de 1. grau.

    a relao criana-adulto que determina a atitude positiva ou negativa da criana diante da vida no lar, na escola, no meio social e, conseqentemente, diante de si mesma.

    4 ROGERS, Carl R. Tornar-se pessoa. Lisboa, Moraes Editores, 1970. p. 260.

  • A criana e suas necessidades emocionais

    A vida e a sade da criana dependem de sua constituio hereditria e do alimento, cuidados e carinho que recebe da famlia e do meio em que vive.

    o atendimento das necessidades fisiolgicas e emocionais que possibilita a sobrevivncia satisfatria, isto , com sade e segurana.

    A educao meio de acesso sade e segurana, mas a criana s se educa quando se sente:

    livre de ameaas e perigos

    confiante, segura do amor e do apoio dos pais ou de quem os substitui

    boa, forte, capaz, estimando portanto a si mesma

    estimulada a criar, "viver" suas fantasias, exercitar seu corpo e sua mente, descobrir o mundo que a cerca

    responsvel, at certo ponto, por seus prprios atos

    capaz de comunicar-se e conviver com as pessoas, especialmente com os companheiros da mesma idade.

    A escola, de modo geral, parece no ter ainda condies de observar e atender a criana em um plano mais profundo.

    Sua principal preocupao, como agente social, tem sido a de fornecer criana "instrumentos" (conhecimentos e tcnicas) que assegurem seu ajustamento, tendo em vista sua participao no meio e no tempo em que vive.

  • Escola Christiano Hamann, Rio - GB

    Como observa Nise Silveira, "os sistemas e mtodos de ensino cultivam quase exclusivamente as funes intelectuais, dirigindo seus maiores cuidados para o treinamento do pensamento que analisa, divide, classifica. As emoes, os sentimentos no constituem objeto da ateno dos educadores, nem tampouco eles se ocupam de aprimorar a percepo das sensaes. A conseqncia que as emoes que no aprendemos a exprimir nem a purgar (catarse), manifestam-se quase sempre distorcidas e, no raro, irrompem violentas produzindo situaes que depois so lamentadas. Certamente, porque no nos exercitando em observar cada sentimento nas suas escalas de tons, perdemos as melhores oportunidades para nos conhecermos a ns mesmos." *

    Muitas vezes a professora acha difcil compreender as motivaes do comportamento de seus alunos. O que no percebe, com freqncia, a origem da prpria dificuldade: o fato de no ter sido ela mes-

    * SILVEIRA, Nise. A concepo educacional de Herbert. Read. R. bras. Est. pedag. Rio de Janeiro, 59 (130): 241, abr./jun. 1973.

  • ma suficientemente compreendida, quando criana, e, ainda hoje, como adulta e educadora.

    De modo geral, tm faltado, escola e famlia, condies para co-nhecerem melhor as razes e o dinamismo da vida mental.

    Procura-se hoje selecionar melhores objetivos, contedos e mtodos, visando aprendizagens mais significativas. Todavia, a eficcia dessas aprendizagens condicionada pela dinmica do contato pessoal na sala de aula. A conscientizao das implicaes desse relacionamento constitui um processo que apenas comea a ser desencadeado, pres-supondo nova orientao na formao do professorado.

  • 2 Depoimento de crianas

    Os medos e preocupaes de crianas, revelados pela pesquisa pro-movida pelo Departamento de Psicologia da PUC, foram agrupados em categorias.

    Embora admitindo que todos os medos e preocupaes possam, em ltima anlise, enquadrar-se em uma categoria geral, muito ampla, que se chamaria segurana e bem-estar, o autor acredita que todos os motivos apresentados so passveis de maior e mais precisa discriminao, da ter estabelecido, aps exame do material colhido, 15 categorias de motivos de medo: animais / vida escolar / sade / fenmenos naturais / conduta pessoal / poltica / sobrenatural / aparncia pessoal / sofrimento, acidente ou morte / segurana e bem-estar de parentes e amigos / humilhao ou inferioridade / sexualidade / economia / segurana e bem-estar presentes / segurana e bem-estar futuros."' Segue-se a reproduo de oito das dez "folhas de aplicao", " selecionadas pelo autor como mais representativas, tais como foram preenchidas pelos examinandos, constando dois exemplos para cada nvel de idade, de 7 a 11 anos, sendo "A" referente ao sexo masculino e "B", ao feminino.7

    Os registros mostram quanto o medo familiar a essas crianas e a facilidade com que elas conseguem express-lo.s

    6 Instrumento de coleta de dados utilizado na pesquisa. 5e7 RODRIGUES, Aroldo Soares de Souza, op. cit., p. 17, 25. 8 Idem, p. 27, 28. 30, 31, 32, 33, 34 e 35.

  • 7 ANOS

    Exemplo B:

    INSTITUTO DE PSICOLOGIA APLICADA DA PONTIFICA

    UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO DB

    JANEIRO 403FOLHA DE APLICAO

    Classificao: Segurana e Bem Estar Presentes. 2; Sobrenatural, 2; Sofrimento. Acidente ou Morte. 2; Conduta Pessoal. 1; Vida Escolar. 1; Seguran a e Bem Estar de Familiares c Amigos, 1. Total: 9. 18 (Reproduo da pgina 27)

  • 8 ANOS

    Exemplo A: INSTITUTO DE PSICOLOGIA APLICADA DA PONTIFICA UNIVERSIDADE

    CATLICA DO RIO DE JANEIRO

    Folha de aplicao 510

    Classificao: Sofrimento. Acidente ou Morte 8; Vida Escolar, 3: Animais, 2; Conduta Pessoal, 2; Segurana c Bem Estar Presentes. 2; Sade. 1; Fenmenos Naturais. 1; Sobrenatural, 1. Total: 20.

    (Reproduo da pgina 28)

  • 9 ANOS

    Exemplo A:

    INSTITUTO DE PSICOLOGIA APLICADA DA PONTIFICA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO DE JANEIRO

    Folha de aplicao 662

    Classificao: Segurana c Bem Estar Presentes. 7; Sofrimento. Acidente ou Morte, 4; Vida Escolar, 3; Segurana e Bem Estar de Familiares e migos. 1. Total: 15.

    (Reproduo da pgina 30)

  • 9 ANOS

    Exemplo B:

    INSTITUTO DE PSICOLOGIA APLICADA DA PONTIFICA

    UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO DE

    JANEIRO

    Folha de aplicao

    Classificao: Animais, 0; Segurana e Bem Estar Presentes. 5; Vida Escolar, 1; Sofrimento. Acidente ou Morte. 1. Total: 16.

    (Reproduo da pgina 31] 21 21

  • 10 ANOS

    Exemplo A:

    INSTITUTO DE PSICOLOGIA APLICADA DA PONTIFICA

    UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO DE

    JANEIRO 820Folha de aplicao

    Classificao: Sofrimento, Acidente ou Morte. 3; Segurana e Bem Estar Presentes, 2; Sobrenatural, 2; Fenmenos Naturais, 2; Vida Escolar, 1; Sade 1; Conduta Pessoal, 1; Humilhao ou Inferioridade, 1. Total- 18

    (Reproduo da pgina 32)

  • 1 ANOS

    .Exemplo B:

    INSTITUTO DE PSICOLOGIA APLICADA DA PONTIFICA UNIVERSIDADE

    CATLICA DO RIO DE JANEIRO

    data 23/10/61

    Classificao: Vida Escolar, 3; Aparncia Pessoal, 1: Sofrimento, Acidente ou Morte. 1. Total: 5.

    (Reproduo da pgina 33)

  • 11 ANOS

    Exemplo A:

    Classificao: Sofrimento, Acidente ou Morte, 10; Segurana e Bem Estar Presentes, 6; Sobrenatural, 2; Segurana e Bem Estar de Familiares e Amigos, 2; Poltica, 1; Animais, 1; Vida Escolar, 1. Total: 23.

    (Reproduo da pgina 34}

  • 11 ANOS Exemplo B:

    INSTITUTO DE PSICOLOGIA APLICADA DA PONTIFICA UNIVERSIDADE CATOLICA DO RIO DE JANEIRO

    Folha de aplicao

    Classificao: Sofrimento, Acidente ou Morte, 4; Conduta Pessoal, 3; Segurana e Bem Estar Presentes, 2; Vida Escolar, 1; Humilhao ou Inferioridade, 1. Total: 11.

    (Reproduo da pgina 35)

  • Principais verificaes da pesquisa

    A pesquisa fornece dados que merecem ampla reflexo. Embora pouco freqentes, investigaes dessa natureza ajudam o educador a ampliar a compreenso do papel das emoes no comportamento da criana.

    Os motivos de medo expressam sentimentos e fantasias, evidenciando uma realidade profunda cujas origens so inconscientes. por essa razo que tal realidade no pode ser percebida pela prpria criana.

    O estudo das vrias categorias estabelecidas pelo autor" conduziu a uma srie de verificaes, relativas a crianas de 7 a 11 anos, dentre as quais destacamos as seguintes:

    O maior motivo de medo refere-se a animais, animais de todos os tipos, reais ou imaginrios, do drago ao marimbondo. Entre os meninos esse motivo atinge cerca de 43%, sendo ainda mais elevado entre as meninas, 49%. Quanto mais nova a criana nessa faixa, maior a freqncia desse motivo (p. 59).

    O segundo motivo, em ordem de freqncia, relaciona-se com sofrimento, acidente ou morte, cerca de 30%, sendo mais elevado nos meninos, mas decrescendo a partir de 11 anos (p. 67).

    Motivo de medo tambm bastante freqente, cerca de 20%, em ambos os sexos, a vida escolar. O medo de tirar ms notas e ser reprovado nos exames aflige mais a criana que o adolescente (p. 60).

    Outro motivo de medo, principalmente nas meninas, o de no agradar. A preocupao com a aparncia pessoal aumenta com a idade (p. 66).

    9 RODRIGUES, Aroldo Soares de Souza, op.cit.

  • Reflexes sobre as origens do medo na criana

    Para compreender as origens do medo na criana preciso considerar, como foi dito anteriormente, que duas realidades integram seu mundo: a externa, referente ao meio em que vive, e a interna, relativa sua vida emocional.

    O medo desencadeado pela realidade externa diferente do medo causado pela realidade interna revelada e projetada na situao externa.

    Quando provocados pela realidade externa, os motivos so objetivos, concretos, como, por exemplo, presena ou ameaa de animais selvagens ou venenosos; rua movimentada quando atravessada fora da faixa de segurana ou antes de abrir o sinal; ms notas na escola quando no se aplicou aos estudos; mar agitado quando no se sabe nadar e j se avanou demais; ferimento ou acidente grave quando no h socorro imediato, e assim por diante.

    Os motivos determinados pela realidade interna so, para quem os experimenta, to reais ou concretos quanto os provocados pela realidade externa, embora paream incoerentes, por vezes absurdos, se vistos racionalmente, do ngulo da lgica. o caso, por exemplo, do medo que revela uma criana que vive no Rio de Janeiro, em zona urbana, de ser devorada por tigres, lees, jibia etc. Ou, ainda, o medo de elevador ou escada rolante, de ser reprovada na escola embora s tenha obtido boas notas no decorrer do ano, medo de que a me morra embora ela no esteja doente, ou de ficar sozinha, ou de escuro, vento, assombrao etc, conforme revelam os depoimentos infantis.

    O medo provocado pela realidade externa defesa instintiva contra perigos e ameaas que podem realmente ocorrer. Assim, quando a pessoa no tem condio de enfrent-los ou venc-los, busca ajuda, se esconde ou foge.

  • Quando o medo de origem interna teria, segundo a Psicanlise, mo-tivao inconsciente. Resultaria do impulso hostil provocado por alguma forma de frustrao. Mas o caso de indagar-se como se formaria esse impulso hostil dentro da criana? Seria uma constante em todas elas ou apenas em algumas? Em quais e por qu? Segundo essa orientao, as razes do medo estariam em fase muito remota. Gestao, herana constitucional, condies de sade da me, sua real aceitao da gravidez, condies do parto, "clima" psicolgico do lar, tudo isso teria grande influncia sobre a sade e predisposio emocional da criana.

    Aps o nascimento, a vida do beb depende essencialmente da me. Como o mais desvalido dos seres, o recm-nascido e o lactente no sobreviveriam sem a figura materna, pois no teriam condio para satisfazer suas necessidades de proteo e alimento.

    No beb os motivos de medo so primrios e as reaes sobretudo fisiolgicas. Ao ouvir uma porta bater, ou ser jogado para cima e aparado no ar, ele estremece da cabea aos ps.

    A ausncia da me tambm causa ansiedade ao beb, pois, como remi-niscncia da vida fetal, ele continua a sentir-se um prolongamento dela. A simples reduo de seu contato pode perturbar-lhe o desenvolvimento e, em conseqncia, a sade. Recusando alimento e respirando mal, ele acaba adoecendo. H criancinhas que entram em tal angstia, quando afastadas da me, que chegam a morrer, como j tem ocorrido com recm-nascidos deixados em orfanato, por melhores cuidados que recebam. Baseada em sua experincia de pediatra e psicanalista, Margaret Ribble 10 relata uma srie de casos, atendidos em creches e hospitais, que comprovam o fato.

    10 RIBBLE, Margaret A. Direitos da criana; satisfao das necessidades psico-lgicas iniciais. Rio de Janeiro, IMAGO, 1970, p. 106.

    A criana aprende a amar atravs da experincia de ser amada

  • A criana sadia e compreendida tolera melhor as frustraes

    A atitude da me nas situaes vitais de amamentao, desmame e cuidados higinicos seria sumamente importante. Tais experincias teriam ligao direta com o carter e a sensibilidade da criana, atuando de maneira positiva ou negativa sobre seu desenvolvimento e formando as bases do equilbrio emocional e do relacionamento interpessoal.

    A propsito, lembra Fraiberg que " a sabedoria e compreenso dos pais na orientao do treinamento higinico, da educao sexual, da disciplina e da formao de hbitos alimentares, que leva o filho a sentir-se confiante e amado, assegurando-lhe assim a sade mental"."

    Segundo autoridades de renome internacional ,2 no estudo do com-portamento do beb e de sua me, a natureza dessa primeira relao que caracteriza a criana como personalidade confiante e afetuosa ou defensiva e hostil.

    11 FRAIBERG, Selma H. Os anos mgicos. Rio de Janeiro, Bloch, 1972. p. 15. 12 Susan Isaacs. Winnicott, Melanie Klein (Inglaterra). Lee Salk, Haim Ginott, Carl Rogers,

    Margaret Ribble, Lindgren (Estados Unidos). Jacques Lacan e Mannoni (Frana) e, no Brasil, Pedro de Figueiredo Ferreira, Dcio Soares de Souza e Jayme Salomo, entre outros.

  • A figura materna, sendo o primeiro ponto de apoio no mundo tumultuado e global do beb, onde alimento e fome se confundem, se tornaria, exatamente por essa razo, seu maior motivo de tenso, raiva, decepo. A me seria boa, quando presente e atenta a suas necessidades, e m, quando ausente ou deixando de atend-las. Quando frustrada, a criana sofreria; experimentaria raiva e impotncia diante dessa me que no momento seria percebida como m ou no amorosa. Seria essa a origem do impulso hostil na criana, impulso esse que mobilizaria sua realidade interna, tornando-a ansiosa.

    Imaginando-se poderosa, a criana frustrada se irritaria, desejando vingar-se da me pelo fato de no a socorrer a tempo e a hora, ou por estar dividindo seu amor com outros (pai, irmos).

    Em sonhos e fantasias, o impulso hostil seria expressado em forma de pesadelos, onde animais selvagens, cobras venenosas, monstros, mquinas imensas, bruxas, acidentes etc, destruiriam o "inimigo". Mas, ao mesmo tempo que desejaria agredir a me e os "rivais", a criana temeria perd-los e temeria tambm a represlia. Imaginaria que, sentindo-se agredidos, eles se vingariam, fazendo com ela o que ela desejaria fazer com eles. Como ainda no tem condio para distinguir entre seus desejos e suas aes, no pode perceber que seus sentimentos de hostilidade jamais se realizaro.

    O maior motivo de medo, revelado pela pesquisa (quase 50%), refere-se a animais ferozes ou venenosos estejam presentes ou sejam apenas imaginados pois para a criana todos so reais.

    Compensao afetiva (Manchete Press)

  • O animal temido serve de vlvula de escape, pretexto para extravasar ansiedade provocada por pessoa ou situao frustradora.

    O que a criana faz, de maneira inconsciente, deslocar para os animais o medo represlia, vingana, pois. ao ser frustrada, ferida, ela sentir raiva. Ao deslocar o medo da pessoa para o animal, a criana estaria utilizando um meio de defesa; seria o recurso para continuar amando e convivendo com as pessoas que a castigam e decepcionam e, assim, manter seu equilbrio psquico.

    Mas, embora temendo os animais selvagens, a criana adora os domsticos e quer ter seu animalzinho de estimao. Nenhuma resiste aos encantos de um coelhinho ou de um filhote de gato ou cachorro. Vivos ou de flanela ou plstico, eles acompanham as crianas de todas as idades, desde muito cedo, preenchendo seus instantes de desconsolo ou solido. conveniente lembrar que gatos ou cachorrinhos de estimao devem ser cuidados, limpos e vacinados, pois as medidas de higiene evitam a transmisso de doenas.

    O interesse da criana em chamar a ateno sobre si, atrair o adulto, pode ser uma forma de reclamar amor.

    Talvez se possa afirmar, sem grande possibilidade de erro, que os motivos de medo na criana, todos eles, tm um denominador comum: expressam uma necessidade intrnseca, a necessidade de ser amada. a experincia do amor que ensina a criana a amar.

    Quando se compreende que s aquele que se sente "bom" pode sentir-se realmente amado, percebe-se melhor a necessidade que toda criana tem de ser ajudada a ver e a desenvolver o que h de bom em si, em suas intenes e atitudes.

    Eu sou como mame?

  • O mesmo motivo pode provocar, em diferentes crianas, reaes diversas e at mesmo opostas. O sucesso na escola um exemplo. Enquanto uma teme ser reprovada nos exames, e assim no corresponder expectativa dos adultos que lhe so queridos, outra insegura do amor dos pais pode sentir o xito nas provas como uma "ameaa". Em suas fantasias, ela poder supor que pais e professores, no precisando dedicar-se tanto a ela, ajudando-a nos estudos, passaro a cuidar de outra criana irmo ou colega algum mais atrasado ou dependente que reclama, ou merece, maior ateno e cuidados, em resumo, mais amor.

    Este fato mostra quanto a criana necessita sentir que os pais a querem incondicionalmente e que a defendero de perigos e ameaas.

    Mas, alm de compreensivos e coerentes, ela tambm precisa sentir firmeza neles. a convico de que pode apoiar-se em pais seguros no tmidos ou vacilantes pais que sabem dizer "no", quando necessrio, e manter suas decises, que lhe infundir confiana.

    S a firmeza dos pais dar criana a certeza de que "eles a defendero at mesmo dela prpria, de suas fantasias hostis." '

    Seria, pois, prejudicial, do ponto de vista psicolgico, tentar resolver as dificuldades da criana, temendo frustr-la.11 No se trata, claro, da frustrao gratuita, arbitrria, que s revela falta de amor e de compreenso.

    Nessa linha de pensamento, podemos concluir que os motivos de medo na criana todos eles quando desencadeados pela realidade interna, teriam a mesma origem: ansiedade.

    possvel concluir-se tambm que o impulso hostil comum a todas as crianas, variando naturalmente em grau, freqncia, intensidade, conforme o caso especfico. que a me, sendo humana, no poder ser perfeita. Alm disso, o adulto tem outra estrutura e age e reage de modo muito diferente do da criana, sobretudo do beb.

    13 GINOTT, Haim. Pais e filhos; novas solues para velhos problemas. Rio de Janeiro, Bloch, 1968. p. 113.

    14 KLEIN, Melanie & RIVIERE, Joan. Amor, dio e reparao. Rio de Janeiro, IMAGO, 1970, p. 115.

  • Assim, por mais que ame o filho e a ele se dedique, a me no poder satisfaz-lo completamente, isto , como, quando e quanto ele deseja. Vrias seriam as razes. Em primeiro lugar, porque o beb no consegue, de incio, identificar suas prprias necessidades, quanto mais express-las. Winnicott, ' um dos mais conhecidos especialistas nesse campo, analisa as principais implicaes emocionais da criana e seu mundo.

    Outro aspecto a considerar a ansiedade dos pais. Quando a dificuldade do prprio filho os angustia, eles no percebem a verdadeira situao. Bloqueados, assim, pela emoo, ficam impedidos de agir racionalmente.

    O caso da criana que tem medo do mar um exemplo. Querendo ajud-la a superar a dificuldade, o pai (ou a me) recorre a todos os meios. Tenta explicar que no h perigo, mostra os outros pequenos que brincam na beira da praia e acaba se zangando diante da recusa do filho. s vezes perde a pacincia e agarra a criana, que grita e esperneia, carregando-a mar a dentro. O fato que, nestas circunstncias, a criana precisa de tempo (varivel segundo o caso) e da pacincia dos pais para que possa, aos poucos, familiarizar-se com a largueza do horizonte e o movimento e o rudo das ondas, fazendo do mar mais um motivo de satisfao. Necessita, sobretudo, confiar nos pais e sentir-se apoiada por eles. Em caso contrrio, se tornar ainda mais ansiosa, portanto mais apavorada.

    15 WINNICCOTT, D. W. A criana e o seu mundo. Rio de Janeiro, Zahar, 1966.

  • Revisando atitudes

    A preocupao com a sade emocional da criana fato bastante recente. "S nos ltimos cinqenta anos comeou a mudar radicalmente a atitude do adulto para com a criana. A partir de ento, livros, artigos e conferncias para pais e professores comeam a abordar conceitos mais dinmicos de educao e de aprendizagem, reconhecendo a importncia das emoes."16

    A preocupao dominante, que era a sade fsica da criana e as tcnicas de controle e direo de seu comportamento, passa a ser sua sade emocional.

    16 LINDGREN, Henri Clay. A sade mental na educao. Rio de Janeiro, USAID, 1965. v. 1 p. 2.

    Comunicando-se pelo desenho

  • Muitos cientistas, depois de Freud, contriburam para desencadear o movimento renovador. Educadores desapontados com as teorias mecanicistas da aprendizagem comeam ento a aceitar a nova abertura.

    Essa tomada de conscincia tornou evidente que o tipo de atendimento at ento prestado pela escola, limitando-se a um contato superficial entre a criana e o adulto, pode provocar e agravar tenses e conflitos psquicos, dificultando o desenvolvimento da personalidade e, conseqentemente, a aprendizagem.

    A divulgao de estudos e pesquisas sobre a criana tem contribudo de maneira decisiva para alertar pais e professores sobre a importncia da vida emocional na educao.

    Os adultos atentos ao comportamento da criana esto procurando respostas mais satisfatrias para uma srie de indagaes. Querem saber, por exemplo, como a criana v o mundo e o que expressa ou tenta expressar atravs do desenho, da pintura etc.

    Com o caminho aberto por Freud, certas verdades comearam a se impor, reconhecendo-se, por exemplo, que:

    a vida da criana no um paraso

    a me nem sempre sabe lidar com o filho

    nem toda pessoa grande adulta emocionalmente

    criana desamada no tem condies para se desenvolver de modo saudvel

    o relacionamento afetivo entre pais e filhos nem sempre autntico

    algumas vezes a pessoa no consegue agir da maneira que lhe parece mais acertada

    a capacidade de amar no surge de sbito, em certa fase da vida da criana, nem se desenvolve independente de experincias externas. Comea fisiologicamente no nascimento, quando as primeiras necessidades so aplacadas, e se desenvolve psicologicamente como reao presena e aos cuidados dos pais.

  • a adequada relao humana pressupe equilbrio emocional

    o apelo inteligncia e vontade, por si s, insuficiente para atingir a realidade interna da pessoa

    a ansiedade bloqueia a inteligncia e a vontade, restringindo a ca-pacidade de sentir, pensar, agir

    a autodisciplina depende da canalizao de impulsos emocionais e no da imposio de normas de conduta ou represso de impulsos

    o respeito criana a nica maneira de lev-la a respeitar a si mesma e os outros.

    Um ponto parece hoje pacfico: o desenvolvimento da psicologia vem despertando, especialmente nos ltimos anos, maior respeito pelo ser humano e por sua liberdade.

  • Desenvolvendo a autoconfiana

    Transio lar-escola

    O ingresso na escola sempre precedido de expectativas. O contato da criana com pessoas e situaes novas, alterando sua rotina de vida, representa, em grau varivel, uma ameaa a sua segurana interior.

    A escola no tem dado a essa fase da vida infantil a ateno devida, embora reconhea que no fcil para a criana aceitar mudanas bruscas em seus hbitos, rompendo com o j estabelecido e aceito em seu meio.

    A permanncia na escola obriga a criana a deixar por algumas horas o lar onde tem "seu" lugar e relaes especficas com cada membro da famlia para viver em novo ambiente.

    Centro Educacional Carneiro Ribeiro, Salvador - BA.

  • Despedir-se da me um momento difcil (foto Agncia JB).

    No lar, ela pode dar livre expanso a sua curiosidade, necessidade de mover-se, de brincar. Na escola diferente. De incio, no passa de uma criana desconhecida entre outras desconhecidas, dependendo de uma professora que no viu antes, no sabe quem , como age nem como a receber ou aceitar. Ter, assim, de comportar-se de maneira diversa, observar mais, decidir sobre o modo mais acertado (ou mais desejado pelos outros) de falar, mover-se, relacionar-se etc, para ajustar-se a exigncias de novo grupo, a atividades dirigidas e a objetivos predeterminados.

    Separar-se da me , pois, para a criana, motivo de expectativa. Ser levada para a escola como ser "abandonada" por ela. Em sua fantasia, se a me gostasse realmente dela, no a mandaria escola. Assim, j que no a quer (mandando-a escola), poder tambm esquec-la ao final das aulas, o que seria sentido como o fim do mundo.

    Embora em sua maioria os pequeninos no chorem nem se queixem, ao serem levados escola, as professoras observam que eles sofrem. Alm da ansiedade provocada pela separao, eles sofrem por ter de controlar suas emoes, pois os pais e familiares j os pressionaram, com determinados padres de comportamento, insistindo que "homem no chora", "chorar feio" etc.

    Essa ansiedade tem sido expressada atravs do desenho, da pintura, da dramatizao, figurando cenas de crianas que a me esqueceu na escola ou que passam o dia nas janelas da sala, como desterradas, esperando a hora de serem apanhadas pela me ou de tomarem o nibus escolar.

  • "Elas suportam melhor a dor da separao, quando preparadas para a experincia atravs de brincadeiras, jogos dramticos, representando a separao." ,T A ansiedade experimentada nesses momentos, pela antecipao do "perigo" (no caso, a prxima separao), tem efeito preventivo, atenuador.

    O brinquedo de esconde-esconde, por exemplo, que a me faz com o beb, ocultando-se sob um leno ou atrs da porta para reaparecer em seguida, sua primeira tentativa de ajudar a criana a aceitar ausncias mais demoradas.

    Dramatizaes dessa natureza so necessrias, antes de mandar o filho escola. O objetivo dessas atividades fazer com que ele se familiarize com a nova situao, pois no suficiente que a compreenda. Ele precisa sentir que. assim como sair todos os dias de casa para ir escola, deixar a escola para retornar a sua casa.

    H tambm outro aspecto a considerar. Apesar de apreensiva em face do desconhecido, a criana deseja ir para a escola. Se no foi ameaada pelos pais com o "castigo" de ser mandada escola, ela vibrar com a idia de conhecer outras crianas, ver coisas novas, participar de atividades de que lhe falam irmos ou ami-guinhos mais velhos, como ouvir histrias, fazer bichinhos de barro, cantar, pintar, representar, merendar com o grupo, fazer excurses etc.

    17 GINOTT. Haim, op. cit, p. 93.

    Jardim de Infncia Campos Salles, Rio - GB.

  • Mas, de qualquer maneira, o ingresso na escola representa sempre para a criana tambm para seus pais um conflito.

    A situao torna-se mais fcil, quando pais e professores compreendem o que est acontecendo com a criana, e com eles prprios, e procuram meios de reduzir a tenso.

    Algumas escolas comeam a se preocupar com esse perodo de transio, fazendo com que a criana v, aos poucos, se familiarizando com o novo ambiente. Observam horrios reduzidos para as primeiras semanas de aula, estabelecem contato direto com os pais para conhec-los um pouco, saber de suas apreenses ou dificuldades. Insistem na convenincia de a me ou o pai trazer o filho at a escola e apanh-lo sada. O objetivo principal fazer com que a criana tolere melhor a separao dos pais e se sinta aceita na escola. Quando ela e os pais se sentem aceitos, passam a aceitar a escola e a dar-lhe maior crdito de confiana, o que favorece a adaptao. Esse primeiro elo famlia-escola, aproximando os adultos que lidam com a criana, os levar identidade de objetivos.

    O contato com os colegas, companheiros da mesma idade, identificados por interesses, necessidades e limitaes comuns, e sem maiores ligaes emocionais, leva a criana a desenvolver padres pessoais de comportamento, conquistar seu lugar no grupo, aprender a participar de atividades construtivas, situar-se, enfim, objetivamente diante das pessoas e dos acontecimentos.

    Jardim de Infncia Campos Salles, Rio - GB.

  • Grande vantagem da escola a oportunidade de a criana poder "experimentar por algumas horas uma atmosfera emocional muito menos tensa que a vivida no lar." ,18

    Obtendo a colaborao da famlia, a escola pode assistir melhor a criana e ajudar os pais a orient-la com maior segurana. Faz com que eles, a me sobretudo, compreendam as exigncias do "des-mame emocional" do filho.

    Em benefcio dele e de si mesmos, os pais tero de admitir que, apesar da total dependncia do beb, ao crescer e ir para a escola o filho tem de iniciar um dos trabalhos mais srios de sua vida: desenvolver a autonomia pessoal, do mesmo modo que, mais tarde, comear a emancipar-se economicamente deles.

    tarefa da escola colaborar com os pais neste sentido, ajudando-os a tomar conscincia de uma realidade aparentemente bvia: o filho no "propriedade" deles.

    Nem sempre fcil aceitar a emancipao do filho. Todavia, ele s se emancipar sem traumas nem culpa se os pais forem gradativamente deixando de ser o seu "mundo" para se tornarem a "grande ponte" que liga o prprio filho ao mundo, sociedade.

    Me e professora

    o conhecimento da realidade interna da criana que leva com-preenso de suas necessidades emocionais.

    Essa realidade comea a se estruturar com a primeira relao, a relao me-filho que molda as matrizes das relaes que a criana ir estabelecer, vida a fora, com as outras pessoas, com o mundo. A criana tem tanta necessidade da me e de seu contato que, ao afastar-se dela, conserva-a presente como se a mantivesse "dentro de si".

    Ao ingressar na escola, faz da professora a substituta da me. Funde a imagem da me com a da professora como se ambas fossem uma nica pessoa. A fantasia se torna to real e atuante na criana pequena que ela at chama a professora de me.

    18 WINNICOTT. D. W.. op. cit., p. 217.

  • Jardim de Infncia Campos Salles, Rio - GB.

    Quando a professora consegue perceber a necessidade que a criana tem de tom-la por sua me, sente-se mais livre e lcida para relacionar-se com ela. a percepo dessa necessidade que torna a professora menos vulnervel s emoes, sentimentos e fantasias dela prpria e tambm s fantasias, aos sentimentos e s emoes da criana.

    S a partir do momento em que consegue compreender o que est acontecendo na base de sua relao com a criana, a professora pode evitar um envolvimento emocional exagerado e falso. Envolvimento esse que poderia prejudicar sua atuao educativa e acarretar-lhe desgaste fsico e psicolgico desnecessrio ou, mesmo, prejudicial sade.

    Ao perceber que a indiferena, o afeto ou a agressividade que a criana lhe dirige tem outro alvo (destina-se me a quem ela est representando ou substituindo), a professora se torna mais serena e objetiva. Adquire assim condies emocionais para assumir atitudes mais adequadas s situaes provocadas pela criana e melhor orient-la em seu desenvolvimento.

    O que a professora nem sempre percebe que sua funo, especialmente na escola maternal e no jardim de infncia, vai muito alm de simples substituta ou representante da me ausente. Cabe-lhe "suplementar e ampliar o papel que, nos primeiros anos de vida. s a me desempenha".10

    19 WINNICOTT, D. W.. op. cit. p. 214.

  • O estudo da criana tem demonstrado que ela incapaz de separar-se completamente tanto da me como da professora, quando se sente bem aceita na escola. Tal comportamento da criana pequena para o adulto uma advertncia. Parece indicar que ela ainda no tem condio, ou amadurecimento suficiente, para separar-se da figura materna ou tolerar a frustrao de tal separao.

    A sade e educao da criana, bem como o equilbrio emocional da professora e sua eficincia, esto levando a escola a observar mais a criana e a compreender sua necessidade de sobrepor ou integrar as imagens professora-me e me-professora.

    Essa necessidade um dos fundamentos que levam psiclogos e educadores a insistir numa maior aproximao lar-escola.

    A identidade de pontos de vista, atitudes e objetivos, entre os adultos que lidam com a criana, se impe por uma necessidade de coerncia, pois lar e escola so sentidos por ela como aspectos da mesma realidade, a vida.

    Criana e professora

    A professora que lida com crianas pequenas muito desafiada pelas emoes e tem, no convvio do dia-a-dia com a turma, grandes pos-sibilidades de usar e desenvolver sua capacidade de percepo.

    Ela sente que quase tudo o que ocorre na sala de aula depende dela, da aceitao de si mesma como pessoa e do relacionamento que levar as crianas a estabelecerem entre si.

    Sabe que a habilidade em comunicar-se com a criana que lhe permitir proporcionar turma um ambiente agradvel e estimulante.

    "A criao desse clima, uma das tarefas mais importantes do professor, que propiciar a aprendizagem significativa."-0

    No momento em que se sente percebida pela professora, comea a aceit-la e, em conseqncia, aceita tudo o que vem por intermdio

    20 ROGERS, Carl R., op. cit, p. 259.

  • dela. "Essa a base da harmoniosa relao criana-professora que promove a experincia pedaggica.

    Sentindo-se aceita pela professora, independentemente de suas falhas ou limitaes, a criana adquire a condio emocional da entrega. Entregar-se professora seu anseio natural. " satisfazendo essa necessidade ou anseio, porque j consegue confiar mais em si prpria e em outras pessoas, alm da me, que a criana pode sentir-se segura.

    Se no conseguir entregar-se, a criana se sentir desamparada, o que, para sua realidade interna, significa no ser querida.

    Incompreendida, ou no amada, ela no consegue expandir-se nem expressar-se autntica e livremente. Responde ento insatisfao, agredindo o ambiente, desafiando os colegas ou a professora, ou agredindo a si mesma atravs da alienao.

    A criana incompreendida desliga-se da vida da classe, desinteres-sando-se dos colegas e dos estudos. Em sua alienao pode criar um mundo imaginrio compensatrio, fantasiando que tem grandes amigos, que compreendida ou aceita como . Essa j "uma forma mais sria de comportamento, pois, no sendo muitas vezes percebida como doena, impede o adulto de tomar as necessrias providncias". "

    21 e 22 FERREIRA, Pedro de Figueiredo. Como a criana aprende. R bras. Est Pedag., 52 (115): 144. 146. jul./set., 1969. 23 ISAACS, Susan. Problemas entre

    pais e filhos. Rio de Janeiro, Fundo do Cultura, 1960. p. 179.

    Ela no participa das brincadeiras, relugiando-se em seu mundo imaginrio

  • Brincar com terra, areia ou gua d criana grande satisfao (foto AJB)

    Uma das grandes preocupaes na escola hoje , cada vez mais, ajudar a criana que apresenta problemas de conduta ou de aprendizagem para que possa encontrar formas sadias de superar tais dificuldades.

    Esses problemas no surgiriam ou no chegariam a se instalar, se as necessidades emocionais do desenvolvimento infantil fossem com-preendidas e atendidas desde o nascimento.

    A maior parte das clnicas psicolgicas que se multiplicam acele-radamente constituda de crianas angustiadas, crianas que o lar e a escola no souberam compreender e, portanto, no conseguiram educar.

    Apesar da insistncia terica, a prtica escolar ainda no incorporou o relacionamento interpessoal como fator decisivo na dinamizao de currculos, mtodos e materiais didticos.

    De modo geral, "tudo o que a professora aprende na prtica de ensino, atravs do convvio com as crianas, e tudo o que faz na sala

  • de aula para canalizar as emoes de seus alunos quase sempre emprico. Sua maneira de agir. no relacionamento com as crianas, tem sido a mais primitiva e, na maioria das vezes, baseada em ensaio e erro e s custas de sua maior ou menor capacidade intuitiva." '

    A experincia tem mostrado que o sucesso da professora na turma, bem como a gratificao emocional de seu trabalho, dependem antes de tudo da prpria capacidade de

    reviver, atravs das reaes da criana, aspectos de sua prpria infncia e reivindicaes pessoais que ainda hoje a mobilizam

    perceber que "sua habilidade para criar relaes que favoream o crescimento do outro, como pessoa independente, mede-se pelo desenvolvimento prprio j atingido"."

    sentir que toda ansiedade desencadeada por insegurana, a qual pode assumir expresses diversas (medo, raiva, inveja, teimosia, timidez etc), e que s a compreenso da dificuldade e seu atendimento podem ajudar a criana a super-la e a confiar mais nela prpria.

    Atravs de minucioso depoimento, a professora Brbara Shiel relata como conseguiu, mudando inteiramente sua filosofia e tcnica de ensinar, ajudar uma turma de crianas muito difceis.

    Dando-lhes maior crdito de confiana e maior liberdade para deter-minarem os prprios objetivos e mtodos de ao, dentro das fronteiras do currculo, concorreu para que as crianas passassem de objeto a sujeito da prpria educao.

    24 FERREIRA, Pedro de Figueiredo. Introduo ao estudo do desenvolvimento emocional da criana. R. bras. Est. pedag., Rio de Janeiro, 56(124).-329, out./dez. 1971.

    25 ROGERS. Car R.. op. cit., p. 59.

    26 ROGERS, Car R., Liberdade para aprender. Belo Horizonte, Interlivros, 1971. p. 12.

  • Vencendo o medo

    O sentimento de medo acompanha o ser humano durante toda sua vida. Da simples apreenso at o pnico, sempre provocado por ansiedade. As reaes diferem de uma pessoa a outra e esto condicionadas a uma srie de fatores: estrutura e equilbrio da personalidade. preocupaes vividas na ocasio, natureza da motivao que desencadeia o medo etc.

    A ansiedade, como reao instintiva ao risco, condio da prpria existncia e cada fase da evoluo do indivduo tem seus prprios riscos e desafios

    Os primeiros motivos de medo vo sendo superados ou substitudos ao longo do tempo. A luta contra o medo. especialmente o desencadeado pela realidade interna, depende muito do meio ambiente e do desenvolvimento emocional de cada um. Tudo se torna mais fcil quando a pessoa procura defrontar-se consigo mesma, tentando reavaliar, de ngulo mais adulto, suas experincias e reivindicaes infantis. ao invs de negar ou subestimar sua dinmica psquica.

    Sendo a ansiedade condio da prpria existncia, seria Impossvel criar uma criana sem que ela experimentasse ansiedade

    Quando intensa ou prolongada. *a ansiedade pode gerar um processo neurtico, no entanto, at certo ponto, ela necessria, pois serve a uma variedade de adaptaes teis e saudveis da personalidade "

    Um ambiente domstico tranqilo, onde predomine o bom senso, muito importante na vida da criana, sobretudo nos primeiros anos.

    27 FRAIBERG. Selma H . op. cit., p 20

  • Pais coerentes, que agem de comum acordo e no encorajam fl dra-maticidade e os "exageros", bastante freqentes nas reaes infantis, ajudam a criana a confiar mais nela prpria e, conseqentemente, a ir superando os motivos de medo desencadeados por sua realidade interna.

    Por outro lado, pais que ainda no se libertaram de medos, que remontam infncia (trovoadas, quarto escuro, baratas etc), podem transmiti-los aos filhos, como uma espcie de herana ambiental, atravs do convvio do dia-a-dia.

    A luta contra o medo no tarefa fcil nem pode ser empreendida pela criana se ela no for ajudada pelos pais. Um comportamento no se modifica de sbito, mas lenta e gradativamente. A criana modifica seu comportamento quando a atitude dos pais, no relacionamento com ela, lcida e adequada.

    Os aspectos da vida emocional da criana, aqui abordados, atravs de situaes vividas no lar, na escola e no meio social, levantam questes para as quais pais e professores esto procurando respostas mais satisfatrias.

    A busca de solues ou um enfoque mais realista de tais problemas parece depender de crescente tomada de conscincia da dinmica emocional do aluno e da professora nos dias de hoje.

    Tudo leva a crer que a ao educativa se tornar mais eficaz, quando os cursos de formao e aperfeioamento de professores derem maior ateno personalidade da criana e da professora, s relaes interpessoais, aproximao lar-escola etc.

    Alertada para as motivaes intrnsecas do comportamento da criana e do seu prprio, a professora ampliar sua capacidade de percepo, compreendendo melhor as bases do contato emocional entre as pessoas.

    Estudiosos do comportamento humano e da educao, cada dia mais desafiados pelas conseqncias sociais do acelerado desenvolvimento tcnico-cientfico, comeam a admitir que a escola s poder adquirir condies para cumprir realmente sua difcil tarefa, quando, em futuro prximo, se constituir em centro de sade emocional da criana e, em conseqncia, centro de Profilaxia da doena mental do adulto. 8

    28 FERREIRA, Pedro de Figueiredo. Fatores emocionais na aprendizagem. Rio de Janeiro. Fundo de Cultura, 1960. p. 163.

  • Leituras sugeridas

    A presente seleo de livros foi organizada com o propsito de facilitar ao leitor o acesso s fontes consultadas para eventual discusso de problemas levantados.

    Nessa perspectiva, o leitor poder encontrar nos textos sugeridos dados recentes sobre o desenvolvimento emocional da criana nos primeiros anos de vida.

    So publicaes atuais, traduzidas em sua maioria, tendo em vista a divulgao das ltimas contribuies de cientistas de vrios pases.

    SALK, Lee. O que toda criana gostaria que seus pais soubessem, para auxili-la nos problemas emocionais de sua vida cotidiana (What every child would like his parents to know). Trad. Luzia Machado da Costa. Rio de Janeiro, Distribuidora Record, 1973. 213 p.

    A afirmao de que a crise fundamental do mundo moderno emocional parece no estar muito longe da verdade. Se todos os mdicos, psiquiatras, psiclogos, assistentes sociais e enfermeiras, existentes nos Estados Unidos, fossem desviados para tratar dos problemas de sade emocional, no conseguiriam atender a maior parte das pessoas que hoje sofrem distrbios dessa natureza.

    A soluo do problema, a mdio e longo prazo, est na preveno, isto , na eliminao das causas dos distrbios emocionais e das molstias debilitantes.

    A esperana de um futuro melhor para a humanidade reside na sanidade emocional das crianas. preciso que elas aprendam a resolver com realismo os problemas do dia-a-dia, impedindo que os mais simples se tornem graves, e assim formando uma atitude adequada e salutar para enfrentar os problemas da vida adulta. O autor procura ajudar os pais

  • a aplicarem, com bom senso, as teorias psicolgicas mais avanadas. Ensina-lhes como estabelecer, com seus filhos, comunicao direta e sincera para chegarem com mais facilidade raiz dos distrbios e encontrarem solues adequadas. De maneira franca e objetiva recorrendo tcnica de perguntas e respostas aborda os seguintes tpicos: desenvolvimento emocional normal; desmame; controle das necessidades; disciplina e castigo; experincias sexuais; avs, parentes, bab, irmos; doenas e remdios; desobedincia, revolta e desafio; discusses entre os pais, divergncias conjugais e divrcio; perguntas sobre a morte; criana com dificuldades.

    GINOTT, Haim. O professor e a criana (Teacher and child). Trad. Helena Boscoli, Rio de Janeiro, Bloch. 1973. 216 p.

    "Como professor cheguei a sria concluso: sou o elemento decisivo na sala de aula. minha relao pessoal com os alunos que cria o ambiente, gera o 'clima' na sala de aula. Posso ser ferramenta de tortura ou instrumento de inspirao, humilhar ou estimular, ferir ou curar, enfim, humanizar ou desumanizar a criana. Muitos problemas do ensino sero resolvidos nas prximas dcadas, haver novos ambientes de apre-dizagem e novos meios de instruo, mas uma funo continuar sempre com o professor: criar o clima emocional da aprendizagem. Mquina alguma ser capaz de substitui-lo nessa tarefa".

    Estudo baseado em situaes reais, onde grande nmero de pais, professores e alunos revelam sua luta e suas conquistas em busca de atitudes, conceitos e linguagem que possam assegurar realmente a comunicao emocional entre criana e adulto.

    FRAIBERG, Selma H. Os anos mgicos [The magic years). Trad. Zinda Maria Carvalho de Vasconcelos, Rio de Janeiro, Bloch, 1972, 292 p.

    Como a criana se "humaniza e quais as bases da relao existente entre o processo humanizador e a estabilidade mental da criana," As qualidades mentais, chamadas 'humanas', no constituem dote constitucional do beb, no podendo ser, portanto, adquiridas simplesmente pela maturao. "A qualidade do amor humano, que transcende o amor egosta, produto da famlia e da espcie particular de afeies que nessa famlia so alimentadas. Mesmo que sejam inexperientes, errem, desobedeam ao padro do grupo, adotem vez por outra mtodos errados ou no endossados, os pais podem criar um filho sadio, desde que os laos entre eles sejam fortes e incentivem o progressivo e o harmonioso desenvolvimento do filho".

    A vida da criana, em seus primeiros seis anos de vida, vista de vrios ngulos: bruxas, bicho-papo, tigres, monstros, sonolncia e cautela; a civilizao e seus dissabores; no pas do faz-de-conta; educao para a

  • realidade; mudana no centro do universo, educao para o amor; educao da conscincia e perspectivas.

    ROGERS, Carl R. Liberdade para aprender [Freedom to learn). Trad. Edgar de Godi da Mata Machado e Mrcio Paulo de Andrade, Belo Horizonte, Interlivros, 1971. 331 p.

    Trs professores de nveis diferentes de ensino (primrio, universitrio e ps-graduao) introduzem modificaes em sua filosofia e tcnica de ensinar para atender a necessidades bsicas do aluno, tornando-o agente da prpria educao. Os professores revelam diferentes maneiras de agir, cada qual em seu prprio estilo, obtendo idnticos resultados; favorecem o desenvolvimento global do aluno e seu comprometimento com a vida e a sociedade.

    Tomando por base os trs depoimentos, o autor aborda problemas bsicos do homem e da cultura: liberdade onde existe ao, criao de um clima de liberdade, pressupostos, a pessoa em pleno funcionamento, um plano de mudana autodirigida num sistema educacional, mudana educacional autodirigida em ao. Apresenta bibliografia comentada, selecionada por reas: necessidade de reviso acadmica, o homem e seus valores em busca de significao e autoconscincia, vises e revises da cincia.

    RIBBLE, Margaret A. Os direitos da criana; necessidades psicolgicas iniciais e sua satisfao (The rights of infants). Trad. Elisa Dias Velloso, Rio de Janeiro, IMAGO Editora, 1970. 125 p.

    A autora, pediatra e psicanalista de crianas, alerta para motivaes do comportamento humano que precisam ser encaradas com maior seriedade a fim de evitar problemas graves relacionados com a sade e o desenvolvimento da personalidade da criana.

    Obra considerada por muitos estudiosos como indispensvel aos pais, es-pecialmente s mes, apresenta de maneira simples e direta os seguintes aspectos da vida do beb: direito de ter me, fome de oxignio, suco, comportamento pr-mental, sono, aprendendo a sentir, hbitos de higiene, ritmos da vida e horrios artificiais, bebs no devem ser contrariados, o pai, incio do desenvolvimento emocional, preparando-se para pensar, sade mental.

    ROGERS, Carl R. Tornar-se pessoa [On becoming a person). Trad. Manuel Jos do Carmo Guerreira, Lisboa, Moraes Editores, 1970. 344 p.

  • Se os conhecimentos referentes compreenso e ao tratamento das tenses interpessoais e intergrupais embora reduzidos fossem postos em prtica poderiam ajudar a diminuir as tenses suscitadas nas relaes inter-raciais, industriais e internacionais da atualidade. "Se aplicados como medida preventiva, tais conhecimentos concorreriam para o desenvolvimento emocional, tornando as pessoas mais maduras, compreensivas e no-defensivas, portanto mais aptas a enfrentarem construtivamente as tenses provocadas pelas circunstncias".

    O autor comea indagando "quem sou eu, como ajudar os outros e qual o processo de tornar-se pessoa" para propor "uma filosofia da pessoa" e analisar "o papel da investigao em psicoterapia, implicaes para a vida e as cincias do comportamento humano". Segue bibliografia cronolgica das publicaes do autor.

    KLEIN, Melanie & RIVIERE, Joan. Amor, dio e reparao; as emoes bsicas do homem do ponto de vista psicanalitico (Love, hate and reparation). Trad. Maria Helena Senise, Rio de Janeiro, IMAGO Editora, 1970. 179 p.

    As autoras aprofundam suas pesquisas para conhecer aspectos destrutivos, que qualificam a natureza humana, por acreditarem que "todo trabalho cientfico tem como fim ver a vida como ". Abordam "manifestaes de sentimentos e pensamentos ilgicos que, embora em conflito com a realidade objetiva, motivam grande parte das relaes humanas". Revelam como os impulsos se desenvolvem a partir de suas origens na infncia, como as nossas capacidades inatas de amor e agresso aproveitam as oportunidades de manifestar-se e como influenciam o desenvolvimento da personalidade.

    Divulgando conhecimentos sobre a relao dinmica entre amor, dio e reparao, as autoras oferecem ao leitor meios para ampliar o conhecimento consciente de si prprio, tendo em vista que "grande parte da vida vivemos alienados de nossa realidade psquica".

    Riviere trata de dio, voracidade e agressividade, abordando os problemas de projeo, rejeio, depresso, inveja, cime, rivalidade, amor ao poder, conscincia e moralidade.

    Klein, focalizando amor, culpa e reparao, analisa a situao emocional do beb, sentimento inconsciente de culpa, amor e conflitos na relao entre os pais, identificao e trabalho de reparao, maternidade, paternidade, conquista da independncia, relacionamentos na vida escolar e adolescncia, amizades na vida adulta, aspectos mais amplos do amor, sentimento de culpa, amor e criatividade e relacionamento conosco e com outros.

    KLEIN, Melanie et alii. A educao da crianas luz da investigao psicanaltica (On bringing up of children). Trad. Ana Mazur Spira, Rio de Janeiro, IMAGO Editora, 1969. 186 p.

  • O estudo do desenvolvimento da criana, desde os primeiros meses de vida, revela os mecanismos de sua vida mental e sua cosmoviso. Explica o significado que a criana atribui s suas funes fisiolgicas, o que se esconde atrs de perguntas e provocaes e, finalmente, como a criana sente a me "dentro" de si. "Compreender melhor as necessidades emocionais do beb um meio de o adulto modificar suas atitudes diante dele, o que capacita os pais a ajud-lo no longo caminho que leva estabilidade emocional".

    Atravs da anlise de uma srie de situaes vividas pelas autoras no atendimento s mes, elas abordam problemas infantis relacionados com planejamento para a estabilidade emocional, desmame, os usos da sexualidade, perguntas e respostas, o hbito, a educao para a limpeza e o quarto das crianas como uma comuniadde.

    GINOTT, Haim, Pais e filhos; novas solues para velhos problemas [Between parent & child). Trad. Flvio Costa, Rio de Janeiro, Bloch, 1968. 137 p.

    O objetivo ajudar os pais a identificarem suas metas em relao aos filhos e sugerir mtodos que os levam a atingi-las. Os problemas com que se defrontam so concretos e exigem solues especficas e no conselhos estereotipados tais como "d ao seu filho mais amor", "mostre-se mais atento para com ele", "conceda-lhe mais tempo" etc.

    O autor abre novas perspectivas a pais e professores, abordando objetivamente os seguintes tpicos: conversar com a criana, novos mtodos de elogiar e criticar, como evitar mtodos derrotistas, responsabilidade e independncia, disciplina, tolerncia e limites, um dia na vida da criana, o cime, origens da ansidedade na criana, educao sexual, sexo e funo social, crianas e pais que necessitam de ajuda profissional.

    WINNICOTT, D. W. A criana e o seu mundo [The child, the family and the outside world). Trad. lvaro Cabral, Rio de Janeiro, Zahar, 1966. 270 p.

    O autor tornou-se universalmente conhecido por suas descobertas e pela clareza com que conseguiu apresentar o extraordinrio mundo da criana e dos pais ao pblico em geral.

    Neste verdadeiro "manual", indispensvel a todos os que lidam com a criana, especialmente a me, o pai e a professora, o autor oferece ampla viso do assunto, abrangendo trs unidades: me e filho, a famlia, o mundo exterior.

  • LINDGREN, Henry Clay. A sade mental na educao [Mental health in education). Trad. Octvio Almerindo Ferreira, Rio de Janeiro, USAID, Editora Cientfica, 1965. v. 1, 328 p.

    A principal preocupao do autor a criana normal, "aquela que tem sadia necessidade de progredir e desenvolver-se de forma social e emo-cionalmente madura".

    A escola s cumprir sua tarefa especfica promover o desenvolvimento global da criana se comear pela base, isto , favorecendo seu desenvolvimento emocional e o equilbrio de sua personalidade. Mesmo que tentasse evitar a rea das emoes, a escola estaria ensinando alguma coisa, estaria comunicando criana que "as emoes no so parte legtima da vida, constituindo-se, portanto, motivos de vergonha".

    O autor discute os seguintes problemas: desenvolvimento da criana como pessoa, motivao, necessidades normais e ansiedade, maturidade emocional, problemas de comportamento, fatores scio-econmicos no comportamento das crianas, comunicao um processo social, a criana e o grupo, foras atuantes nos grupos infantis, aceitao e rejeio, critrios de ensino (tradio, "laissez faire" e orientao). Inclui bibliografia bsica e bibliografia selecionada para leitura adicional.

    RODRIGUES, Aroldo Soares de Souza. Medos e preocupaes em crianas e adolescentes. Rio de Janeiro. PUC, Instituto de Psicologia, 1962. 99 p.

    Monografia referente a pesquisa realizada em colgios particulares da zona urbana da cidade do Rio de Janeiro, no ano letivo de 1961, abrangendo 2194 escolares de ambos os sexos nas faixas etrias de 7 a 11 e de 14 a 18.

    Entre os estados emocionais significativos da infncia e adolescncia, o autor selecionou os de medo e preocupao, como tema de sua pesquisa. Por ordem de prioridade, procurou atender a trplice finalidade: "verificar objetivamente quais os medos e preocupaes apontadas por crianas e adolescentes brasileiros de ambos os sexos, alfabetizados, de nvel scio-econmico mdio ou superior, matriculados em colgios particulares do Rio de Janeiro; em segundo lugar, estabelecer as diferenas porventura existentes entre idades, sexos e estgios de desenvolvimento psicolgico, no que concerne porcentagem de medos e preo-cupaes enquadrveis em determinadas categorias gerais; finalmente. com base nos dados colhidos, levantar as hipteses que o estudo desses dados permitir inferir".

    A matria compreende sete captulos: consideraes tericas preliminares, finalidade e mtodo da pesquisa, categorias gerais, exemplos da classificao de medos e preocupaes, discusso dos dados encontra-

  • dos, resumo e consideraes finais. Inclui tambm 16 tabelas, 15 figuras, 3 apndices, reproduo de 20 folhas de aplicao preenchidas por 10 crianas e 10 adolescentes entrevistados e, ainda, apresenta 12 referncias bibliogrficas.

    FERREIRA, Pedro de Figueiredo. Fatores emocionais na aprendizagem. Rio de Janeiro. Fundo de Cultura, 1960. 165 p.

    Reproduz sesses de estudo realizadas com grupos de me e professores com o objetivo de mostrar como, na prtica diria do jardim de infncia, atendida uma menina de 5 anos que sofreu ruptura em seu desenvolvimento emocional. Tomando por base situaes verificadas atravs da investigao, o estudo procura levar a professora a observar o comportamento da criana, e o dela prpria, de ngulo ainda no explorado pela escola: a dinmica do psiquismo inconsciente.

    A abordagem obedece seguinte ordem: fenmeno da transferncia afetiva na escola; relao parcial evoluindo para a relao completa da criana com a me; reversibilidade do desenvolvimento emocional, inter-nalizao do objeto perseguidor; regresso e frustrao; relao completa de objeto e socializao da criana; necessidade de um jardim de infncia experimental.

    ISAACS, Susan, Problemas entre pais e filhos (Troubles of children and parents). Trad. Ruth Stern, Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1960. 283 p.

    Num mundo de problemas como o de hoje, os mais prementes so os que se formam e agigantam entre pais e filhos. "O rico e o pobre, o realizador e o fracassado, o ignorante e o instrudo, carregam diariamente preocupaes de relaes com seus filhos ou com seus pais.

    Num parlamento ou num congresso internacional, enquanto se debatem problemas mundiais, numa fbrica, numa repartio ou num balco, enquanto a produo, a burocracia ou o comrcio se processam, as pessoas vivem as conseqncias das boas ou ms relaes com seus filhos ou seus pais".

    O assunto examinado de vrios ngulos: relaes entre pais e filhos, obedincia, disciplina e castigo, falta de autocontrole e choro, acessos de clera e teimosia, timidez, cime, fobias e ansiedade, agressividade e tendncias destruio, origem do beb e educao sexual.

  • Este livro foi Impresso nas oficinas grficas da Editora Vozes Limitada Rua Frei Luis, 100 Petrpolis. Estado do Rio de Janeiro, Brasil.