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1 Professora da Rede Estadual de Educação-PR Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional/2008 Pós-graduada em Ensino e Aprendizagem Atuante na disciplina de História E-mail: [email protected] 2 Professopr da Universidade Estadual de Maringá-PR Mestre em História Atuante na disciplina Métodos e Técnicas para o Ensino de História E-mail:[email protected] LEITURA, INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS: FERRAMENTAS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA Maria Célia de Souza Pietrovski 1 Hudson Siqueira Amaro 2 RESUMO No cotidiano das escolas públicas deparamos com um problema comum: os alunos têm dificuldades de interpretar, compreender e produzir textos. Neste sentido, o presente artigo caracteriza-se como uma proposta que sintetiza orientações por meio de estratégias para leitura, interpretação e produção de textos tendo como foco os conteúdos da disciplina de História com o objetivo de oferecer subsídios para melhor refletir e propor soluções eficientes para o aprendizado do aluno e seu domínio da leitura, compreensão e expressão por escrito do que foi lido. A aplicação desta proposta foi realizada na sétima série do Ensino Fundamental, na disciplina de História através do uso de diversas fontes históricas. Salientamos a preocupação com a narrativa histórica a fim de oferecer aos alunos noções sobre o passado, de forma a ser compreendido em relação ao processo de constituição das experiências sociais, culturais e políticas do outro, no domínio próprio do conhecimento histórico. Estes procedimentos contribuem para a construção do conhecimento pelo aluno, como forma de desenvolver essas habilidades e melhor apropriar-se dos conhecimentos históricos que a escola lhe oferece, e assim desenvolver-se intelectualmente, como cidadão crítico, consciente e responsável por suas ações. Ao adotar tais referenciais metodológicos têm-se como foco principal a construção da autonomia intelectual, elemento imprescindível à formação da cidadania. Palavras -chave: Ensino de História. Fontes históricas. Interpretação. Produção de textos.

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  • 1Professora da Rede Estadual de Educao-PR Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional/2008 Ps-graduada em Ensino e Aprendizagem Atuante na disciplina de Histria E-mail: [email protected] 2Professopr da Universidade Estadual de Maring-PR Mestre em Histria Atuante na disciplina Mtodos e Tcnicas para o Ensino de Histria E-mail:[email protected]

    LEITURA, INTERPRETAO E PRODUO DE TEXTOS: FERRAMENTAS PARA O ENSINO DE HISTRIA

    Maria Clia de Souza Pietrovski1

    Hudson Siqueira Amaro2

    RESUMO No cotidiano das escolas pblicas deparamos com um problema comum: os alunos tm dificuldades de interpretar, compreender e produzir textos. Neste sentido, o presente artigo caracteriza-se como uma proposta que sintetiza orientaes por meio de estratgias para leitura, interpretao e produo de textos tendo como foco os contedos da disciplina de Histria com o objetivo de oferecer subsdios para melhor refletir e propor solues eficientes para o aprendizado do aluno e seu domnio da leitura, compreenso e expresso por escrito do que foi lido. A aplicao desta proposta foi realizada na stima srie do Ensino Fundamental, na disciplina de Histria atravs do uso de diversas fontes histricas. Salientamos a preocupao com a narrativa histrica a fim de oferecer aos alunos noes sobre o passado, de forma a ser compreendido em relao ao processo de constituio das experincias sociais, culturais e polticas do outro, no domnio prprio do conhecimento histrico. Estes procedimentos contribuem para a construo do conhecimento pelo aluno, como forma de desenvolver essas habilidades e melhor apropriar-se dos conhecimentos histricos que a escola lhe oferece, e assim desenvolver-se intelectualmente, como cidado crtico, consciente e responsvel por suas aes. Ao adotar tais referenciais metodolgicos tm-se como foco principal a construo da autonomia intelectual, elemento imprescindvel formao da cidadania. Palavras -chave: Ensino de Histria. Fontes histricas. Interpretao. Produo de textos.

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    Abstract

    In daily public schools are faced with a common problem: the students have difficulties to interpret, understand and produce texts. In this sense, this article is characterized as a proposal that summarizes guidelines through strategies for reading, interpretation and texts production focusing on the content of the discipline of history in order to offer subsidies to better reflect and propose efficient solutions to student learning and their mastery of reading, comprehension and written expression of what was read. The implementation of this proposal was held in the seventh grade of elementary school, the discipline of history through the use of various historical sources. Underscore the concern with the historical narrative in order to provide students with notions about the past in order to be understood in relation to the process of establishing social experiences, cultural and other policies in the field of historical knowledge itself. These procedures contribute to the construction of knowledge by the student as a way to develop those skills and more appropriate the historical knowledge that the school offers, and so develop intellectually, as a citizen critic, aware and responsible for their actions. By adopting such methodological frameworks have been focused primarily on building the intellectual autonomy, an element essential to the formation of citizenship.

    Keywords: History teaching. Historical sources. Interpretation. Text production

    1. INTRODUO

    A realidade da escola hoje exige que o professor educador utilize alternativas e prticas pedaggicas que propiciem ao aluno o aprimoramento de habilidades como: pensar, atribuir valores, investigar, indagar, relacionar, argumentar, analisar, sintetisar e produzir seu prprio conhecimento. Partindo do princpio de que a transmisso do conhecimento no suficiente para garantir uma slida construo do sujeito histrico, capaz de interferir nos rumos da sua vida e na do grupo social a que pertence, afirmamos que a principal tarefa do professor orient-lo, atravs das atividades escolares, a atingir as habilidades acima mencionadas. Portanto, necessrio buscar outros percursos pedaggicos como instrumentos facilitadores do processo ensino-aprendizagem.

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    Isso significa criar alternativas para lidar com diferentes realidades sociais, diferentes eixos de construo cognitiva, tempos de aprendizagem e momentos conceituais, diferentes expectativas, experincias e saberes constitudos. Uma das tarefas a ser executada pela escola, fazer com que o aluno desenvolva compreenso e domnio da linguagem, proporcionando-lhe condies necessrias para que possa tramitar entre as diversas possibilidades formais da lngua a fim de que consiga realizar uma leitura crtica do mundo. Para isso, imprescindvel a leitura e a produo de textos, e, a escola como um todo precisa pensar sobre o papel do trabalho com os diferentes gneros textuais como ferramentas de apropriao e desenvolvimento no s de competncia lingustica, mas de construo de diversos saberes advindos de diferentes reas.

    Embora o aluno traga da sua realidade social e histrica uma srie de conhecimentos que poderiam auxili-lo na compreenso dos contedos das disciplinas, no cotidiano das escolas pblicas deparamo-nos com um problema comum: os alunos tm dificuldades de interpretar, compreender e produzir os textos com que tm que lidar. Como consequncia disso, no conseguem desenvolver uma postura crtica a respeito das questes que se lhes so apresentadas. O problema de leitura e escrita evidenciado na escola uma deficincia dos alunos na aquisio do cdigo, mas os textos escritos pelos mesmos apontam que o problema mais amplo: falta consistncia em relao ao conhecimento a ser discutido.

    A capacidade de ler, interpretar e produzir narrativas sobre fatos ocorridos com o Homem em sociedade, uma habilidade que deve se construda na sala de aula e sua aquisio pode ser alcanada trilhando diversos caminhos. O aluno, como leitor e escritor, demonstra falta de maturidade e at de vivncias de prticas pedaggicas atrativas que o incentivem a ser perserverante para chegar ao domnio destas habilidades cognitivas.

    O educando precisa se situar no mundo, compreendendo a intrincada teia de relaes que o envolvem, mas para isso preciso que a escola o ensine como conseguir esse objetivo. A capacidade de ler e compreender, e a de expressar o que compreendeu, de forma que esta aprendizagem seja coerente e possa ser incorporado sua vida, ao seu modo de viver, se expressando em suas posturas e atitudes como cidado consciente de si, no inata ao aluno, ele aprende como fazer isso, e funo da escola prepar-lo para tal atividade.

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    Se o aluno se expressa corretamente, consegue expor suas idias de forma compreensvel ao seu interlocutor, isto , a sua compreenso a respeito do assunto em discusso. Apesar de, saber se expressar corretamente no indica necessariamente que o aluno teve a compreenso correta do assunto estudado, ajuda muito no processo ensinoaprendizagem, pois no mnimo o professor pode diagnosticar onde houve falha na compreenso, por parte do aluno, e assim agir de forma a corrigir essa falha. Expressar a compreenso a respeito de um tema uma habilidade que depende das habilidades de ler e interpretar. Isso uma via de duas pistas, se o aluno se expressa melhor, por outro lado tambm se apropria mais do conhecimento que est expressando, e essas duas aes se retroalimentam e estimulam um aprimoramento da habilidade de ler, compreender e comunicar por escrito o que compreendeu da leitura. Ao ler o que escreveu, o aluno pode analisar as idias que exps e assim, interpretando o seu prprio texto, verificar se aquilo que disse no texto exatamente o que queria dizer. Se o aluno l bem e consegue interpretar bem o que l, tem maior probabilidade de compreender melhor as questes com que se depara. Temos ento que essas habilidades so interdependentes e cumulativas, vo se desenvolvendo e se aprimorando ao longo do processo de escolaridade. Mas, ler bem, interpretar bem um texto, expressar corretamente o que entendeu de um texto, no significa que entendeu bem uma questo, pois a mesma pode ter vrias explicaes, dependendo de quem se refere a ela. preciso que o aluno consiga tambm compreender a diversidade a respeito de um tema, expressas em textos diferentes, produzidos por autores diferentes.

    Por isso, no podemos relegar a uma s disciplina a responsabilidade de preparar o aluno para usar bem esse instrumental que o ajudar a compreender o mundo em que est inserido. um trabalho que envolve pelo menos duas disciplinas escolares - Lngua Portuguesa e Histria - com a inteno de pensar e propor estratgias que coloquem o aluno em contato com textos, escritos ou no, e a partir de sua reflexo, produzir textos comunicando o que compreendeu. Neste sentido importante estudar as questes pertinentes, seguinte problemtica:

    - Como fazer com que os alunos aprendam a interpretar a Histria, construindo suas narrativas histricas? Quais as estratgias para que esses sujeitos produzam textos a partir das diversas fontes histricas?

    Acredita-se que esta responsabilidade no exclusiva do professor de Lngua

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    Portuguesa, o professor de Histria muito pode contribuir ao exercitar a leitura e a escrita em suas aulas proporcionando aes de interao dos alunos com o objeto de estudo e no apenas realizar a transmisso de contedos. Assim, preciso utilizar procedimentos que possam auxiliar os alunos a desenvolverem uma capacidade argumentativa prpria, atravs da qual assumam uma posio frente s discusses, mobilizando para isso conceitos histricos de modo claro.

    Se o professor de Histria se preocupar apenas com o desenvolvimento da aprendizagem do ponto de vista do contedo de sua disciplina, se desincumbindo da ao de acompanhar o desenvolvimento da forma com que o aluno se expressa por escrito, estar subtraindo do mesmo a possibilidade de potencializar sua aprendizagem. E esse ganho no aproveitamento do processo ensino-aprendizagem no fica restrito disciplina de Histria, sendo extensivo s outras disciplinas, pois, o mesmo ter instrumentos para aproveitar melhor todos os conhecimentos com os quais se deparar.

    Faz-se necessrio organizar o ensino de Histria de modo a orientar o aprimoramento lingustico do aluno pelo uso e reflexo dos conhecimentos histricos, utilizando-se deles para que ao longo do Ensino Fundamental, o educando possa assumir a palavra, produzir textos coerentes e consistentes, assumindo uma postura crtica adequada s diversas situaes sociais e aos assuntos tratados.

    Neste sentido justifica-se a criao estratgias, que sintetizem orientaes para leitura, interpretao e produo de textos tendo como foco os contedos da disciplina de Histria que viabilizem atingir os objetivos aqui propostos e contribuam para que o aproveitamento dos estudos seja otimizado. Essas so as questes que imbricam a proposta de trabalho que geram as abordagens deste estudo e, esperamos que o mesmo possa oferecer subsdios para melhor refletir e propor solues eficientes para o aprendizado do aluno e seu domnio da leitura, compreenso e expresso por escrito do lido, como forma de que tendo desenvolvido essas habilidades possa se apropriar dos conhecimentos histricos que a escola lhe oferece, e assim desenvolver-se intelectualmente, como cidado crtico, consciente e responsvel por suas aes.

    De qualquer forma, preciso que os rudimentos imprescindveis s habilidades de ler compreender sejam proporcionadas aos alunos a fim de que os mesmos ao final da escolaridade estejam aptos a elaborar raciocnios e

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    compreenso do mundo a partir das informaes que lhe sejam oferecidas pelas diversas mdias e fontes de informao. Ou seja, necessrio que o aluno receba orientaes de como deve proceder ao trabalhar com um texto escrito, como deve apresentar oralmente e por escrito a compreenso que teve das informaes com as quais manteve contato.

    2. FUNDAMENTAO TERICA

    O estudo da Histria j teve vrios significados: narrativa, teolgica, erudita, positivista, materialista; hoje possui uma viso mais ampla: o homem visto como sujeito da prpria histria. A histria da humanidade a histria de todos os homens engajados como seres sociais (sujeitos). Para os historiadores da Escola de Annales, o acontecer histrico se faz a partir das aes dos homens. A partir da o conhecimento histrico se produz com tudo o que pertencendo ao homem, depende, serve e exprime a sua presena, suas atividades, gosto e maneiras (BOIS, 2005).

    As Diretrizes Curriculares para o Ensino de Histria (SEED, 2008, p.18) propem que o ensino de Histria se beneficie da corrente historiogrfica denominada Nova Histria Cultural, porque ela valoriza a diversificao de documentos, como imagens, canes, objetos arqueolgicos, entre outros, na construo do conhecimento histrico. Tal diversidade permite relaes interdisciplinares com outras reas do conhecimento, como o caso desta interveno ao adotar procedimentos e interaes com a disciplina de Lngua Portuguesa e propor o ensino de Histria articulado leitura, interpretao e produo de textos partindo do trabalho com diversas fontes na tentativa de realizar aproximaes com o universo cultural do aluno e contribuir para transform-lo em agente da histria e, portanto tambm produtor de conhecimento.

    A efetividade da linguagem, leitura e escrita, se d no interior das prticas comunicativas, onde esto os processos sociais de comunicao, atravs da ao direta do emissor e do destinatrio, numa relao de mtua implicao e dependncia entre o contexto e os instrumentos postos em movimento para que se d a comunicao construda social e historicamente. Essa complexidade exige que os alunos desenvolvam o domnio da oralidade, leitura e escrita a fim de permitir-lhes, enquanto sujeitos, adquirirem um novo estado ou condio de conhecimento

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    para interagir na prtica social. O conhecimento o fator que determina o grau de compreenso e participao ativa de qualquer cidado, mas para que seja significativo importante obt-lo atravs de diferentes interfaces com a sociedade e sua interao com educao, obtendo condies para agir de forma crtica, responsvel e democrtica de modo que possa transformar os diferentes contextos em que est inserido.

    Da ser papel, tambm do professor de Histria, exercitar a leitura e a escrita em suas aulas. As atividades com a escrita nas aulas de Histria precisam perder o carter meramente burocrtico e, ao invs de exercitarem apenas a memria, desenvolverem nos alunos uma capacidade argumentativa prpria atravs da qual assumam uma posio frente s discusses, mobilizando para isso conceitos histricos de modo claro (SEFFNER, 2006, p. 4).

    Com relao ao ensino de Histria, Seffner (2006, p.108) afirma que no d para imaginar a rea de histria sem atividades especficas de leitura e escrita. Um dos objetivos do ensino de Histria deve ser o de formar um aluno capaz de realizar uma leitura histrica densa do mundo, percebendo a realidade social como construo histrica da humanidade, obra na qual todos tm participao, de forma consciente ou no. Alm disso, a histria uma determinada leitura do real, feita com a utilizao de um conjunto de procedimentos e informaes que orientam e validam a produo do conhecimento histrico ( Seffner, 2006, p.109).

    As Diretrizes Curriculares para o Ensino de Histria (SEED, 2008, p.11) adotam o pensamento de Rsen, (2001, p. 30-36), quando prope, entre os elementos tericos mediadores a serem ser observados na constituio do pensamento e do conhecimento histrico, que:

    As teorias utilizadas pelo historiador instituem uma racionalidade para a relao passado/presente que os sujeitos j trazem na sua vida prtica cotidiana. Estas teorias acabam estabelecendo critrios de sentido para esta prtica social. Estes critrios de sentidos so chamados de idias histricas.

    Os alunos trazem para a escola esta relao passado/presente, mesmo que de uma forma incipiente, j vivenciada na sua vida cotidiana e estas definem de algum modo a sua maneira de ver o mundo, sua idias histricas. A escola deve se incumbir da tarefa de preparar o aluno para que ele consiga, atravs do domnio da leitura e interpretao do conhecimento histrico construdo, analisar os fenmenos, processos, acontecimentos, as relaes entre os sujeitos, o meio e o

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    momento em que estas ocorreram e como estas influenciam na organizao das sociedades atuais.

    O trabalho com as diversas fontes histricas permite a compreenso do conhecimento, historicamente construdo, e, de que, em todas elas est presente uma determinada forma de discurso ou informao. Segundo Bakhtin (1997,p. 6), O enunciado reflete as condies e as necessidades especficas do contexto no qual o sujeito produtor do discurso est inserido. Reflete-as no s atravs do contedo e estilo verbal, mas tambm pela construo composicional. A abordagem da condio de produo e recepo de textos centra-se no estudo das possibilidades de produo e interpretao da linguagem, sejam elas de natureza formal ou contextual, com a participao de fatores de ordem social e histrica.

    Ainda conforme Bakhtin, a linguagem definida como atividade social prtica resultante de uma relao social. a articulao da experincia ativa em constante mudana, com a idia de que a conscincia social; ou seja, entendida como processo dialtico. Assim, como os contextos sociais so diversos e evolutivos, o modo de utilizao da lngua tambm varia, ou seja, sendo as atividades humanas dinmicas e variveis, so tambm elaboradas maneiras diferentes de se compor textos, sejam falados ou escritos (BAKTIN, 1997).

    Dessa forma, os locutores sempre reconhecem um evento comunicativo como uma instncia de um gnero e, ao agirem numa situao determinada, fazem uso dos gneros como elementos que fundam a possibilidade de interao. Quando um sujeito produz um texto, falado ou escrito, mobiliza uma srie de conhecimentos, dentre eles conhecimentos acerca do contexto de produo e dos temas que sero mobilizados no texto. Conhecer as implicaes da sucessividade que envolve a narrativa humana, bem como os conhecimentos dos bons textos, das boas estruturas lingusticas que traduzem tais narrativas no garantem a constituio de um sujeito histrico capaz de agir com adequao para uma sociedade melhor. Faz-se necessrio ajustar esta necessidade de aprendizagem a um projeto educativo que invista na essncia da formao do sujeito crtico, consciente e participativo, ou seja, necessrio que se oferea aos alunos contedos significativos.

    importante optar por uma abordagem histrica em que os conhecimentos histricos, favoream o dilogo com os alunos, no s a apresentao do conhecimento, na forma de contedos apresentados aos mesmos, mas, a sua investigao, isto , em que condio social tal conhecimento foi produzido: o que se

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    diz s pode ser entendido, levando em conta quem diz, por que diz, quando diz, com que matriz ideolgica est afinado e a que matriz ideolgica se ope (MIRANDA; SANTIAGO, s/d).

    Para Seffner (2006, p.111), ler um texto histrico discutir suas razes, seu local de enunciao, seu projeto. A leitura da histria considera anlise dos pressupostos de que parte o autor, j que a narrativa histrica nunca neutra. Nesse sentido, fundamental chamar a conscincia do aluno para perceber que a neutralidade no existe. Todo texto histrico na medida em que revela idias e valores de um grupo social, em uma determinada poca, podendo chamar outros discursos, outros textos, por isso remete a duas concepes diferentes; aquela com a qual concorda e, por implcito, aquela em oposio a qual se constri.

    Narrar a Histria compreender o outro no tempo. A narrativa histrica constri-se por argumentos fundamentados em documentos (DCNs, 2008, p.22). Para os alunos esta narrativa precisa ser plausvel. Para isso o professor precisa propor um dilogo entre as idias histricas presentes nas narrativas dos historiadores, assim possvel perceber que a natureza da Histria interpretativa. A narrativa histrica implica que o passado seja compreendido em relao ao processo de constituio das experincias sociais, culturais e polticas do outro, no domnio prprio do conhecimento histrico. Diante disto, os alunos devem conhecer a interpretao do outro pela narrativa histrica desse sujeito. As narrativas dos estudantes so constitudas pelas temporalidades e intencionalidades especficas deles, a partir do dilogo com as narrativas dos historiadores (DCNs,2008,p22).

    Ainda segundo as DCNs de Histria (SEED, 2008, p.11):

    As relaes humanas determinam os limites e as possibilidades das aes dos sujeitos de modo a demarcar como estes podem transformar constantemente as estruturas scio-histricas. Mesmo condicionadas, as aes dos sujeitos permitem espaos para escolhas e projetos de futuro. A investigao histrica voltada para descoberta das relaes humanas busca compreender e interpretar os sentidos que os sujeitos atribuem s suas aes.

    Para Saviani (1993, p. 27) "o que importa o homem como conjunto das relaes sociais, ou seja, o homem concreto, como sntese das relaes sociais". necessrio realizar a obra educativa com um fim bem claro, conhecendo o tipo de homem que queremos formar, definindo os propsitos e valores que permitam a compreenso explcita, ntida, da condio humano - social vivida e almejada.

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    Neste sentido, fazemos uso das idias de Libneo (1989, p. 35) ao propor:

    O professor no dever se restringir em satisfazer apenas as necessidades e carncias; buscar despertar outras necessidades, acelerar e disciplinar os mtodos de estudos, exigir o esforo do aluno, propor contedos e modelos compatveis com suas experincias vividas para que o aluno se mobilize para uma participao ativa.

    O professor, exercendo o papel de mediador e orientador da aprendizagem deve trabalhar as realidades interacionais vividas no presente, a partir das circunstancias da realidade atual, orientando suas projees futuras. Nos textos usados nas aulas de histria possvel identificar, contextualizar e interpretar as relaes humanas e suas aes, usando para isso diversidades de gneros textuais e outras fontes histricas.

    A atribuio do sentido de um texto historicamente construda. Por conseqncia, as formaes ideolgicas, provenientes das formaes e de suas relaes sociais, s se consubstanciam nas formaes discursivas, por isso a aprendizagem lingustica est ligada a uma identidade ideolgica. Deste modo, discorrer sobre qualquer processo histrico s o incio de um percurso para o desenvolvimento do conhecimento e da conscincia histrica mais ampla.

    A disciplina de Histria repleta de significao para compreender as relaes sociais e importante para a formao da conscincia histrica. De acordo com Rsen, (1989):

    Entende-se que a conscincia histrica seja uma condio da existncia do pensamento humano, pois sob esta perspectiva os sujeitos se constituem a partir de suas relaes sociais, em qualquer perodo e local do processo histrico, ou seja, a conscincia histrica inerente condio humana em sua diversidade. Em outras palavras, as experincias histricas dos sujeitos se expressam em suas conscincias (RSEN,1989 apud DCNs, 2008, p.21).

    Ensinar histria a partir da perspectiva da conscincia histrica significa se orientar no tempo a partir das mltiplas experincias do passado e expectativas de futuro, levando em conta a intencionalidade da ao dos sujeitos no presente. Para Rsen (2001, p. 50-51), as orientaes e os mtodos da pesquisa histrica so distintos das orientaes e dos mtodos de ensino de Histria. Neste, considera-se o aprendizado de conceitos histricos que explicam o processo evolutivo da conscincia histrica nos alunos, que pode ser expressa de formas diferentes.

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    Estes procedimentos possibilitaro ao aluno desenvolver o saber crtico proposto por Saviani. O saber crtico e competente pressupe a capacidade compreender as questes fundamentais e perceber as relaes entre as vrias dimenses da realidade e das perspectivas cientficas. Esse tipo de saber se caracteriza como teoria e prtica que se articulam organicamente. Porm, necessrio buscar formas para desencadear processos que articulem as pessoas na discusso e enfrentamento dos problemas da realidade scio poltico cultural (SAVIANI, 1993).

    Para isso, a formao educativa do aluno depende de uma proposta pedaggica que tenha em vista a preparao do ser humano consciente e interativo, que tenha compromisso, disciplina e conhecimentos, pois esses so componentes bsicos do papel social que a escola cumpre, de formar sujeitos capazes de questionar e transformar a sociedade em que vivem. Cabe aos professores em geral e de maneira especfica aos professores de Histria conhecer o Projeto Poltico Pedaggico da escola, que rene estes preceitos formadores e que so o direcionamento do fazer pedaggico.

    Mas o professor no deve apenas conhecer o Projeto Poltico Pedaggico da escola em que atua, deve tambm concordar com ele e estar disposto a contribuir para que o mesmo seja implementado. Isso implica tambm que o professor participe do processo de elaborao desse projeto a fim de que sinta empenhado em colocar em prtica um projeto que tambm de sua autoria.

    Para alm, ou antecedendo, a feitura do projeto poltico pedaggico da escola, necessrio que o professor enquanto profissional tenha um projeto poltico pedaggico pessoal. necessrio que o professor acredite em algo, em uma determinada configurao da sociedade, que almeje viver nessa sociedade na qual acredita. necessrio que o professor acredite que a aprendizagem por parte do aluno tem a ver com a forma com que o professor o coloca frente aos conhecimentos que deve adquirir e dominar, ou seja, que e metodologia com que implementa o processo ensinoaprendizagem tem importncia fundamental para que o aluno apreenda tais conhecimentos.

    em funo desse projeto pessoal que o professor vai selecionar os conhecimentos significativos para a formao do aluno, nos moldes que ele pretende, dentro dos contedos programticos da disciplina. necessrio ainda que seja um profissional disposto a estar sempre em busca de novos materiais que

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    possa utilizar em seu trabalho, sempre em busca de novas fontes e documentos, nas mais diversas linguagens, a fim de atualizar os conhecimentos e explicaes com que lida em sala de aula. Acrescentamos que o professor deve considerar o conhecimento que o aluno traz de sua realidade social. imperativo o conhecimento de pelo menos uma parte desta realidade, em outras palavras, conhecer o palavreado que o aluno utiliza com seus pares, suas origens tnicas e culturais, o tipo de entretenimento que ele aprecia, os valores de seu crculo de amizade, as msicas que ouve, os filmes que assiste, os vdeos-game que joga, etc. Se estes elementos da vivncia do aluno no forem do conhecimento do professor, tudo o que dizemos sobre considerar a bagagem do aluno, ser mero exerccio de retrica.

    O desafio est em poder enfrentar esta diversidade e a complexidade que ela gera no processo de ensinoaprendizagem. Para que isso ocorra, preciso respeitar os processos singulares das pessoas, muitas vezes imprevisveis, estimulando a empreitada do conhecimento, lidando com a diversidade, oferecendo oportunidades para que todos possam aprender principalmente queles que foram marginalizados do processo de aprendizagem. Por tudo isso, o desafio ensinar e, mesmo assim, colocar-se na situao de um eterno aprendiz.

    A parte difcil nessa empreitada saber selecionar as fontes com as quais deve trabalhar sem perder a coerncia e evitar um tudo relativo tudo vlido que no contribua para a formao que se quer para o aluno. Por exemplo, os alunos Assistem a filmes como os da srie Jogos Mortais, gostam muito de jogos de vdeo-game, principalmente os mais violentos tipo GTA, Bulling, entre outros em que os personagens do jogo devem agir de forma violenta e agressiva. Ouvem msicas que fazem apologia de uma relao hostil entre policiais e traficantes. Na maioria das vezes tais msicas falam claramente que a linguagem da violncia deve prevalecer, que a vida na marginalidade tem seu glamour, que se deve atirar em policiais e outros comportamentos afins.

    H tambm uma literatura disponvel, principalmente na internet que faz apologia de aes terroristas como forma de resolver conflitos tnicos ou diplomticos, inclusive com manuais de instruo de como agir, como montar dispositivos explosivos e utilizar armas. Existe farto material bibliogrfico que faz apologia de ideologias como o nazismo e oferecem outras explicaes para as aes praticadas pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e tambm estimulam a sobrevivncia dessa ideologia hoje.

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    H material que apregoa intolerncia religiosa, a pedofilia, as vantagens do sistema capitalista, da necessidade de uma revoluo socialista, de direitos humanos e da validade de mtodos de tortura para conseguir manter a paz (ou se livrar de desafetos), enfim, a diversidade de materiais, fontes e documentos apresentando diferentes concepes de mundo muito grande, e esto presentes na realidade social e histrica que o aluno tem em sua bagagem e com a qual vem para a escola por no ser possvel deix-la do lado de fora da porta da sala de aula.

    O professor at poder utilizar esses materiais de diversos matizes em sala de aula, desde que seja de forma crtica e com direcionamentos que tenham como base valores ticos e morais, apenas no pode utiliz-los ingenuamente sob a alegao de que deve proporcionar aos alunos o contato com fontes e documentao diferenciada. nesse sentido que advogamos que o professor tenha um projeto pessoal coerente, que saiba selecionar as fontes com as quais vais trabalhar e principalmente como vai utiliz-las, se para fazer uma crtica ou se para instigar o aluno a adotar as idias contidas na documentao com a qual vai trabalhar.

    importante que o professor saiba qual material e como utilizar e esteja consciente de que este provocar determinada reao nos alunos. Neste sentido, a interveno do professor como efetiva prtica de interao, se estabelece na relao com o outro e na mediao com o objeto de conhecimento, restaurando um processo dialgico capaz de ampliar a compreenso sobre os saberes j conquistados, os valores, os conflitos, os processos cognitivos e os mecanismos de resistncia de seus alunos. Tal posicionamento deve ser estabelecido a partir de uma postura de escuta e de efetivo intercmbio, assim, o papel do professor ser o de promover experincias favorveis e situaes de problematizao para que se oportunize a reflexo e com isso proporcione avanos no percurso do processo ensinoaprendizagem.

    A partir deste direcionamento proposto, pretendemos que o aluno, na prtica esteja disposto a cumprir com o seu dever em todos os momentos de sua vida, que possua iniciativa e vontade criadora; preparando-se para ser cidado participante e ativo de sua sociedade, responsvel direto pelo progresso da coletividade. Pretendemos que estes procedimentos, adotados no processo ensino-aprendizagem, venham favorecer a compreenso dos contedos que lhe so

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    oferecidos e que os alunos se tornem dispostos a se empenhar nesse processo em busca de alcanar o domnio dos conhecimentos que lhe so propostos.

    Propomos tambm, mais ateno na oferta de domnio desse instrumental que imprescindvel ao processo ensinoaprendizagem, principalmente ao desenvolvido durante a escolarizao, que o domnio da lngua, leitura, compreenso, associaes e expresso do compreendido e das diferenas entre as leituras realizadas.

    2.1. Mtodo de Trabalho

    As concepes tericas fundamentadas na Escola de Annales e no materialismo histrico dialtico, duas vertentes que na nossa opinio, tem aproximaes, caminham na mesma direo e apontam a produo do conhecimento histrico como processo, construo, organizao e estruturao, realizado pelos homens em suas amplas relaes sociais. Salientamos ainda que as DCNs para o ensino de Histria recomendam cautela em no adotar apenas uma viso terico-metodolgica como a nica resposta para todas as questes pedaggicas ( DCEF/SEED, p.12, 2008).

    Nesta perspectiva a escola deve ser um espao planejado para a transmisso e recriao de conhecimentos de forma crtica, construtiva e significativa. Mas, mesmo que a escola no se apresente ainda constituda e configurada dessa forma, dadas os vrios fatores necessrios para tal e que extrapolam o alcance do professor unicamente, na sala de aula, o mesmo professor no pode ficar alheio aos conhecimentos pr-existentes nos alunos, pois suas experincias serviro de ponto de partida para articular os contedos vinculados ao saber acadmico (historicamente construdos), realizando a ampliao e domnio dos mesmos ao que necessrio para o seu desenvolvimento pessoal e o da sociedade, em consonncia com as atuais propostas pedaggicas e necessidades que a escola v-se abrigada a desempenhar em funo das exigncias da sociedade.

    Visando contribuir com o processo de construo do conhecimento do aluno, o professor de Histria, ao trabalhar os contedos, deve diversificar sua metodologia, tendo como objetivo principal despertar o aluno para desenvolver seu raciocnio, o qual, utiliza operaes similares na aprendizagem das demais disciplinas. Faz-se necessrio proporcionar diversas formas de registro oral, escrito

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    e outras modalidades para oportunizar prticas significativas que venham ao encontro do interesse dos alunos e possibilitem o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas. Com estes procedimentos espera-se que o aluno consiga sistematizar os contedos aprendendo a relacionar as aes dos homens a um contexto scio-econmico-cultural e poltico mais amplo no qual esto inseridos.

    Nesta proposta a sugesto fazer uso de mtodos de aprendizagem utilizados pela disciplina de Lngua Portuguesa que propiciaro formas eficientes para a construo do conhecimento pelo aluno, de maneira especial o texto narrativo. Para conseguir estes resultados, importante que o professor de Histria faa uso de diversas linguagens: verbal, escrita, plstica ou cnica, relacionando, tanto quanto possvel os contedos em estudo aos das demais disciplinas. Assim, o aluno ao contatar diversas oportunidades poder analisar, comparar, discutir e sintetizar, com a finalidade de aumentar seu universo de conhecimento. Quando o aluno for capaz de interpretar, entender a realidade e expressar oralmente e por escrito o que entendeu, podemos considerar que ocorreu uma aprendizagem significativa.

    Sugerimos a utilizao de uma interveno no ensino de Histria por meio de estratgias para leitura, interpretao e produo de textos, apresentadas no decorrer desta exposio. Para melhor identificao, as estratgias direcionadas aos alunos esto organizadas em forma de quadros e identificadas com cone especfico.

    Pretendemos que estas estratgias de ensino-aprendizagem proporcionem aos alunos uma ampliao no repertrio de orientaes de aprendizagem gerais, bem como relacionadas produo de textos atravs dos contedos de Histria no que se refere aos elementos histricos: fato histrico, agentes sociais e cronologia (elementos de contextualizao), semelhanas e diferenas, valores sociais e transformaes ocorridas (articulao de idias) e que possibilitem ainda a reflexo, argumentao e formulao de opinies relacionando os diversos gneros textuais apresentados para estudo, no momento de sua produo, com a realidade mais ampla do passado e da atualidade.

    2.2 Estratgias de Leitura e Interpretao

    A leitura um modo privilegiado de a pessoa conseguir uma melhor compreenso de si e do mundo. Tendo em vista que a leitura uma prtica

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    eminentemente social, o papel da escola ensin-la ao aluno por meio de detalhado esmiuamento dos constituintes histricos de um texto e sua ampla significao.

    Se o aluno tem dificuldade para ler, comecemos com textos bem simples, adaptados por ns professores. O potencial explicativo dos conceitos ser ampliado conforme as oportunidades de ter contato com textos mais complexos que forem surgindo. Haver um avano no processo de leitura se buscarmos os significados dos processos de relacionamento dos homens entre si e com a natureza, das diferentes formas de organizao social e poltica, das diferentes experincias histricas vividas pelos grupos humanos dos outros tempos e espaos. Essa leitura ganha sentido na medida em que realizada com um objetivo claro para o aluno. No ler porque tem que saber ou porque cai na prova. ler em busca da soluo para um problema ou questo.

    A problematizao histrica, ao ser transportada para o ensino, acerca de um objeto de estudo pode ser construda a partir das questes colocadas pelos historiadores ou das que fazem parte das representaes dos alunos, de forma que encontrem significado no contedo que aprendem. preciso lembrar que a histria suscita questes que ela prpria no consegue responder e de que h inmeras interpretaes possveis dos fatos histricos (SCHMIDT, 2005, p.60). Esta compreenso deve estar clara para o pesquisador e para o professor, mas, o aluno da educao bsica precisa de algumas respostas para ver significado no estudo da disciplina.

    Os textos para leitura devem se referir ao contedo e discusso apresentada em aula. So importantes a adequao ao nvel de ensino, bem com faixa etria do aluno. A escolha criteriosa dos textos relevante para no se perder o foco do contedo abordado, de modo a permitir, com a reflexo e a discusso, a ampliao dos horizontes do conhecimento (DEB, 2008).

    importante possibilitar aos alunos a compreenso de que os acontecimentos histricos no podem ser explicados de maneira simplista. necessrio faz-los entender que numerosas relaes, de pesos e caractersticas diferentes, interferem em sua realizao. Essas noes so fundamentais para a compreenso das mudanas e permanncias, das continuidades e descontinuidades.

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    2.2.1 Interpretao e compreenso do texto

    Para compreender bem um texto necessrio identificar o contexto social, econmico, cultural e poltico no qual ele est inserido no momento da sua produo (BOIS, 1990, p.247). Em determinados textos a informao sobre acontecimentos passados contribui para sua compreenso. Essa identificao vai depender do conhecimento sobre o que est sendo abordado e as concluses referentes ao texto. O quadro 1 salienta para o aluno as atividades a serem realizadas que auxiliam a interpretao e compreenso do texto.

    Quadro 1- Atividades de interpretao e compreenso do texto

    Explorar os conhecimentos prvios

    Leitura do ttulo do texto. Explorao do significado das palavras novas. Levantamento: o que sabem acerca deste

    contedo?

    Desenvolver a compreenso do texto

    Antes da leitura de um texto, fazer debates sobre o tema do mesmo.

    Explorar contedo de um texto recorrendo-se apenas ao ttulo e aos subttulos.

    Formular perguntas antes, durante e aps a leitura.

    Explorao do texto

    Identificar a estrutura lgica de textos. Confrontar os alunos com as hipteses

    formuladas previamente. Responder s questes formuladas previamente.

    Integrao dos conhecimentos

    Acompanhar os textos com desenhos alusivos. Organizar a histria com base num conjunto de

    imagens. Fazer resumos e esquemas de diferentes tipos de

    textos.

    Adaptado de RIBEIRO. Marta Flora Almeida Dias (2005, p. 126-134).

  • 17

    Para compreender as mensagens preciso realizar perguntas ao texto e, ao se pensar nas perguntas a fazer, deve-se levar em conta que o texto sempre, ao mesmo tempo, objeto de pesquisa histrica e expresso de sujeitos da histria, ou seja, foi produzido por algum atuante em seu tempo. Eles evidenciam as aes dos sujeitos do processo histrico no qual surgiram. Para ajudar na compreenso do texto procedemos a sua anlise, comparando-o a pontos de vista sobre os fatos apresentados a fim de verificar em que medida o texto permite o conhecimento do passado.

    2.2.2 Explorar os conhecimentos prvios

    Esta uma das atividades de interpretao e compreenso do texto proposta no quadro 1 e aqui vai ser mais detalhada.

    Levantamento: este procedimento vai determinar o ponto de partida para o professor. Perguntar aos alunos: - O que sabem acerca deste contedo?

    Explorao do significado das palavras novas: facilita a compreenso correta do texto.

    2.2.3 Explorao do texto

    Nas atividades de leitura importante identificar a estrutura lgica da construo do texto, explicando quais os pargrafos pertencem respectivamente introduo, desenvolvimento e concluso.

    Formular perguntas direcionadas a identificar as idias centrais do texto por pargrafo. Ex: - O que est sendo narrado no 1 pargrafo?

    Estabelecer relao com as hipteses formuladas previamente pelos alunos e utilizar-se de mais informaes para ampliar a compreenso do tema, isto responder s questes formuladas previamente tanto pelo professor quanto pelo aluno.

    Realizao de questionamentos de acordo com o texto em estudo.

  • 18

    2.2.4 Integrao dos conhecimentos Para ampliar a compreenso podemos acompanhar os textos com desenhos

    alusivos. Sugesto de leitura de imagens: -Imagem 1 : O colar de ferro: castigo dos negros fugitivos; -Imagem 2: Capito-do-mato.

    importante investigar o nvel de compreenso dos alunos. Quando utilizar desenhos, esquemas e grficos devemos observar se percebem as conexes indicadas, seja por setas, linhas, legendas ou detalhes nas imagens.

    Sugerimos o relacionamento entre o contedo em estudo a um contexto maior como: poltica mercantilista, colnia de explorao, monocultura, mercado consumidor externo, os interessados no trfico de escravos e a dvida social que temos com os afro-descendentes.

    2.3 Encaminhamentos para as atividades de estratgias para sublinhar, esquematizar e resumir

    A leitura um processo que envolve algumas habilidades, entre as quais a interpretao do texto e a sua compreenso. O processo se inicia pelo reconhecimento das palavras impressas (decodificao) quando temos contato com o contedo, passa-se interpretao do pensamento do autor, para a seguir, compreend-lo.

    Faz-se necessrio aplicar tcnicas que facilitam a compreenso, a reteno e a documentao posterior. Entre essas estratgias, temos as que so utilizadas para reduzir a informao, destacando as idias essenciais: sublinhar, ressaltando partes do texto, esquematizar, estruturando as informaes e resumir, apresentando as informaes seletivamente.

    Sublinhar: uma tcnica usada para destacar as idias principais e palavras-chave de um texto. Serve para identificar as idias principais e secundrias do texto. A idia principal est cercada de outros elementos que lhe do suporte e a explicam (idias secundrias). Sublinham-se somente palavras-chaves ou grupos de palavras ou frases, mas nunca pargrafos ou frases longas. Usar dois traos para sublinhar as idias principais e um trao para as idias secundrias. As palavras-chave sero usadas para elaborar o esquema.

    2.3.1 Esquema: um trabalho preparatrio para escrever um texto, de qualquer

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    tipo, torna o estudo dinmico, menos montono e cansativo, facilitando a aprendizagem do contedo.

    Pode ser organizado usando-se, setas, linhas, colchetes, e marcadores diversos.

    Deve manter fidelidade ao texto original :- idias do autor, sem alteraes; Seguir a estrutura lgica do assunto (ordem das idias), organizadas da mais

    importante para a menos importante.

    2.3.2 Resumo

    O resumo no comentrio crtico; deve ater-se s idias do autor, sem emitir opinio prpria. Alguns passos devem ser observados para que o resultado final seja satisfatrio: - uma primeira leitura atenta indispensvel para que voc perceba o assunto em questo; outras leituras devem ser feitas (tantas quantas forem necessrias para selecionar as idias principais do texto); importante anotar o que for mais relevante; - todo texto possui palavras-chaves que encerram as idias fundamentais; essas idias devem ser grifadas para que possam servir de ponto de partida para o resumo;

    - nos textos bem estruturados, cada pargrafo corresponde a uma s idia principal; s muda o pargrafo quando muda o assunto; - durante todo o processo, a leitura atenta deve ser feita para verificar se est havendo coerncia e seqncia lgica entre os pargrafos resumidos, para fazer os ajustes necessrios.

    2.4 Estratgias de produo: atividades preparatrias para a escrita

    So estratgias que tm como objetivo esclarecer ao aluno como proceder na construo de um texto, como generalizar idias de um contedo em um texto, ou como usar estratgias de soluo de problemas.

  • 20

    2.4.1 Estratgias para pensar: Ao iniciar a tarefa de escrever uma histria narrativa, a primeira estratgia

    envolve pensar sobre quem ler o texto, ou seja, antecipar quem ser a audincia (a professora, os pais, os colegas). Os alunos podem primeiramente considerar um texto globalmente e, posteriormente, fazer revises detalhadas de partes especficas, fazendo mais eficazmente mltiplas revises das tarefas (RIBEIRO, 2005).

    2.4.2 Estratgia para planejar: Nas etapas anteriores sugerimos a estratgia de sublinhar, ressaltando

    partes do texto, as quais devem ser utilizadas na elaborao de um esquema. Este faz parte do planejamento, sendo um trabalho preparatrio para escrever um texto, de qualquer tipo, serve tambm para aprender mais facilmente o contedo. O esquema uma radiografia do texto, nele aparece o esqueleto do texto, ou seja, as palavras-chaves.

    2.5 As atividades de escrita: construo de narrativa histrica

    Quando o professor considera a produo de pequenos textos escritos pelos alunos, dentro de suas possibilidades, com interpretaes e concluses a respeito daquilo que estiver sendo estudado, utilizando linguagem verbal, plstica ou cnica, estes so respeitados e considerados efetivamente como sujeitos de um processo que deles - a aquisio de conhecimentos.

    Para que o aluno produza algum conhecimento, o professor dever provocar a sua fala para que se expresse sobre seu mundo, sobre o que viu, ouviu e leu para depois estimular a produo do texto escrito, sem qualquer tipo de exigncia ou promessa de avaliao. Supe-se que o aluno, primeiro, compreenda o que leu, o que o professor falou e o que se discutiu em classe; segundo, que se estabelea relaes entre tudo isso, talvez at avanando alm do que j foi dito em sala de aula; terceiro, que consiga colocar tudo isto por escrito.

    Esta produo de conhecimento pelo aluno indicada para concluir o tema quando este j tem informaes suficientes para elaborar uma narrativa histrica. tambm um timo instrumento de avaliao.

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    O quadro 2, apresenta uma srie de perguntas que devem ser feitas a si mesmo e podem ser usadas como um guia para ajudar a generalizar idias e a organizar a seqncia lgica na construo de uma narrativa. Constituem um exerccio de reagrupamento a ser usado como recurso de interpretao e podem permitir a ampliao da anlise de uma problematizao histrica.

    Quadro 2 Orientaes para produo de textos

    Elementos histricos Elementos de orientao 1- Identificao: Agentes sociais (sujeitos)

    -Personagens (quem?), fez o que, uma ao, um objeto. -Quem /so o/os personagem(s) principal(s)? -Quem mais est na histria?

    2- Fato histrico: um acontecimento (o qu?), uma situao

    - Qual o fato, problema ou propsito? - O que mais o personagem principal faz ou quer fazer? -O que os outros personagens fazem?

    3- Cronologia/ Espao - Quando a histria acontece? - Onde a histria acontece?

    4- Objetivos, causas - Por algum motivo ou finalidade (por qu?).

    5- Formas de realizao - Um meio, realizado de tal forma (como?). - O que acontece quando o personagem principal faz ou tenta fazer isso? - O que acontece com os outros personagens?

    6- Semelhanas e diferenas; continuidades e mudanas

    - Quais as relaes do texto no momento da produo e a realidade atual?

    7-Transformaes ocorridas: um resultado

    - Com qual efeito? Como a histria termina? - Como o personagem principal se sente no final da histria? - Como os outros personagens se sentem no final da histria?

    Adaptado de RIBEIRO. Marta Flora Almeida Dias (2005).

    Para voc aluno!

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    2.6 Anlise dos Resultados

    Nesta interveno pedaggica a postura metodolgica diante da utilizao e a sistematizao das estruturas de linguagem, a narrao, a dissertao e a descrio, se realizam no trabalho cotidiano e persistente com o uso da palavra. Nas atividades de produo de texto, na disciplina de Histria, priorizamos a narrativa, porque ela circula no cotidiano dos alunos desde crianas. Eles falam do que sentem, o que vivem, contam histrias e recriam outras, enfim, narrar faz parte do dia-a-dia, sendo a primeira construo da criana. No entanto, por se tratar de alunos da stima srie do Ensino Fundamental, faz-se necessrio ampliar e propor estratgias para a produo de textos narrativos com caractersticas dissertativas. Uma dissertao exige clareza e coeso, precisa ser mais elaborada. So necessrias formulaes de idias, planejamento, organizao da imagem e da seqncia das informaes necessrias para a construo de um texto e no caso desta proposta, o texto escrito.

    No ambiente escolar, preciso abordar o texto em toda a sua dinamicidade, seu processo de construo e significao que inclui a considerao dos conhecimentos prvios, o reconhecimento das estruturas de organizao a contextualizao e a seqncia lgica e ainda o uso de mltiplos recursos metodolgicos, como a imagem ou outros textos produzidos por diversos autores. Estes pressupostos foram detalhados anteriormente atravs da elaborao de um Caderno Pedaggico contendo documentos, textos, imagens e respectivas estratgias para leitura, interpretao e produo de textos. Tendo como base a prtica destes procedimentos que passamos a analisar os resultados desta interveno priorizando os aspectos acima citados.

    2.6.1 Considerao dos conhecimentos prvios

    O processo ensino aprendizagem deve se dar a partir de uma relao dialtica, na qual o saber elaborado deve ser colocado frente ao saber que os alunos trazem e na escola, necessria a ao mediadora do professor para reelaborar esse saber de modo que o aluno possa se apropriar de novos conhecimentos de forma prtica para o seu cotidiano.

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    Na implementao da proposta pedaggica foram trabalhados os seguintes contedos: Sistema escravista no contexto do capitalismo mercantil, o trfico negreiro, a escravido em terras brasileiras, o cotidiano no trabalho e a resistncia contra a escravido. Procurou-se ofertar diversas linguagens ou representaes para que o aluno faa uma construo reflexiva sobre dados ou fatos histricos apresentados.

    Priorizamos a forma oral do trabalho com diversas fontes histricas para dar incio s atividades propostas para que o aluno entendesse como se faz anlise de um texto no escrito. Inicialmente foi escolhida uma imagem (quadro da sala dos professores) e levada para sala de aula. Tambm foram analisadas as obras Capito-do-mato ( RUGENDAS, Johann Moritz., 1823) O colar de ferro: castigo dos negros fugitivos (DEBRET, Jean-B., sc XIX) porque contm o contexto histrico do tema proposto: o trabalho escravo.

    Durante os trabalhos observamos que muitos alunos conseguiam compreender mensagens que no estavam explcitas, mas no contexto histrico estavam presentes. Destacamos alguns resultados desta fase da interveno pedaggica e citamos como exemplo os comentrios dos alunos:

    Se o capito do mato tivesse outras oportunidades de trabalho, talvez no fosse perseguir seus semelhantes (D.D.F.)

    Aps ser capturado, o escravo levava chibatadas do feitor e depois era derramado sobre ele salmoura que possui propriedades curativas, mas, deixa uma dor insuportvel (J. R. S.F.).

    Contribuiu para que os alunos pudessem reelaborar o conhecimento prvio, ou seja o saber que trazem para a escola atravs de suas vivncias e dos contatos anteriores com os temas em estudo contrapondo-os com as informaes trabalhadas em sala de aula;

    Aps observao atenta a cada detalhe da imagem os alunos puderam perceber que a disposio dos elementos, o uso de cores, o jogo de luz e sombra so recursos usados pelo artista para melhor expressar suas idias e sentimentos e formam um conjunto de smbolos a serem compreendidos;

    Permitiu a observao, por parte da professora de como os alunos estabelecem relaes entre as obras apresentadas e o contedo abordado em sala de aula e como se expressam para explicar as impresses que

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    tiveram a partir do contato com diferentes materiais apresentados; Os alunos demonstraram maior percepo na leitura e interpretao, fato que

    contribuiu para desenvolverem habilidades cognitivas que possibilitam a reflexo, a argumentao e formulao de opinies favorecendo a organizao do pensamento para realizar o registro escrito.

    A experincia foi importante porque os alunos demonstraram um timo nvel de participao e passaram a ser mais atentos, pois em momentos anteriores s viam de forma muito vaga o conjunto da obra apresentada.

    2.6.2 Reconhecimento das estruturas de organizao: a contextualizao e a seqncia lgica

    A partir da compreenso da linguagem enquanto sistema simblico, situado num contexto scio-histrico determinado formula-se a expresso produo de texto, com a qual se pretende evidenciar o ato, o processo de elaborar um texto. Uma das maiores dificuldades para propor o estudo de textos se relaciona sua estrutura, ou seja, como se organizar e sistematizar, ao longo das sries do Ensino Fundamental, as formas gerais da estruturao do pensamento por escrito, a narrao, a descrio e a dissertao. So os elementos fundamentais da estrutura lgica do texto introduo, desenvolvimento e concluso que vo determinar a clareza, a compreenso e a qualidade de comunicao, de maneira especial a do texto escrito.

    A escola tomada como um autntico lugar de comunicao e as situaes escolares como ocasies de produo/recepo de textos. Portanto, no ambiente escolar, a produo de textos deve inserir-se num processo de interlocuo que deve ser bem elaborado para ser compreendido. Mesmo no sendo especificidade da disciplina de Histria, este procedimento faz parte da aprendizagem do aluno e todos os professores devem estar atentos forma de como expressam a compreenso dos contedos abordados em aula.

    Quanto contextualizao

    O processo de criao de texto deve estar assentado em passos muito bem definidos pelo professor porque implica a realizao de uma srie de atividades

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    mentais - do planejamento execuo - que no so lineares nem estanques, mas recursivas e interdependentes sendo fundamental a participao real e ativa do aluno e do professor para que haja um bom texto. Assim, procuramos resgatar a unidade do pensamento do aluno sobre o tema, valendo-nos da leitura, da anlise da linguagem e da interpretao do contexto scio-histrico descrito. Tendo por base a anlise das produes realizadas pelos alunos destacamos os seguintes resultados:

    Nas atividades de produo de texto em torno de 90% dos alunos identificaram a situao e o contexto (espao/temporal) onde as aes e relaes humanas foram abordadas porque demonstraram o aprendizado de conceitos e elementos histricos como o fato histrico, agentes sociais e cronologia;

    As informaes adquiridas atravs das leituras de imagens e de outros textos possibilitaram ampliao do conhecimento e foram utilizadas pelos alunos em diversas situaes transcrevendo-as em seus textos;

    O enfoque da valorizao do trabalho escravo, da contribuio do povo negro para a construo da sociedade brasileira, foi importante para que os alunos afro-descendentes se sentissem valorizados.

    As produes escritas pelos alunos permitiram professora afirmar que no geral, todos compreenderam que ao aprender Histria devemos fazer uso desta aprendizagem para realizar transformaes sociais que beneficiem a coletividade em seus direitos de cidados.

    Quanto sequncia lgica

    Constatamos ser este elemento de construo do texto um dos mais trabalhosos porque neste momento se d a construo propriamente dita e vrios elementos que comprometem a realizao do trabalho com o texto esto presentes, a acomodao e resistncia escrita e as dificuldades de organizao do pensamento. Entretanto, este o momento para que o professor enfatize as atitudes positivas sobre a capacidade dos alunos para produzir textos.

    Em torno de 60% dos alunos consegue produzir, sob o direcionamento de um

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    roteiro pr estabelecido, de forma satisfatria um texto, expressando as idias com clareza (coerncia e coeso) estabelecendo relaes entre as partes do texto e entre a tese e os argumentos elaborados para sustent-la;

    Ressaltamos que 20% dos alunos expressam suas idias com clareza, sistematizam o conhecimento de forma adequada e realizam interaes com outros textos por meio de questionamentos, concordncias ou discordncias; demonstrando um timo domnio sobre a produo de textos;

    nesta estrutura de organizao do texto onde 20% dos alunos tm maiores dificuldades, sendo muitas vezes repetitivos nos argumentos e tambm apresentam dificuldades em estabelecer relaes entre as partes do texto, principalmente no que diz respeito ao uso dos elementos de ligao entre os pargrafos;

    A interveno do professor, seu conhecimento e sua disponibilidade em ajudar, aliados ao interesse do aluno pela busca de novos conhecimentos, so fatores essenciais para dar continuidade a este trabalho em busca da construo da autonomia intelectual do aluno como elemento primordial na construo da cidadania.

    2.7 CONSIDERAES FINAIS

    As principais intenes ao realizar a interveno pedaggica centram-se no fato de acreditarmos na necessidade de domnio da leitura, interpretao e produo dos textos como formas de e contribuir para o desenvolvimento do esprito crtico do aluno e favorecer a compreenso da realidade em que est inserido. Leitura, interpretao e compreenso so habilidades necessrias no trabalho com as mais diversas fontes histricas a serem consideradas no estudo e ensino da disciplina de Histria, mas que podem se tornar muito mais teis ao aluno quando, tendo se acostumado a desenvolver todo um processo de raciocnio para processar as informaes, aplica o mesmo procedimento para analisar as informaes que se referem a outras disciplinas escolares ou a outras reas da sua vida em sociedade. Ao adotar tais referenciais metodolgicos tm-se como foco principal a construo da autonomia intelectual, elemento imprescindvel formao da cidadania.

    Na aplicao desta proposta na disciplina de Histria deve haver uma grande preocupao com a narrativa histrica para que ela possibilite aos nossos

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    alunos noes sobre o passado, de forma que o mesmo seja compreendido em relao ao processo de constituio das experincias sociais, culturais e polticas do outro, no domnio prprio do conhecimento histrico.

    A utilizao dos recursos que esto prximos dos alunos como, por exemplo, relacionar os contedos tratados em sala de aula com reportagens da televiso, jornal falado, novelas e at propagandas que usam linguagens com duplo sentido, sugerem reviso de conceitos e nos fazem questionar as mensagens por elas transmitidas. Esses procedimentos podem auxiliar aos alunos a desenvolverem uma capacidade de compreenso e argumentao prprias, de forma que possam assumir uma posio coerente com a de um estudante que caminha para ser um cidado consciente de sua funo em uma sociedade democrtica.

    Ao realizar esta interveno constatou-se que o trabalho com a produo de textos demanda maior disponibilidade de tempo, empenho e dedicao especial por parte dos alunos e do professor, sendo a atuao deste, fundamental para que se obtenha resultados positivos. Neste sentido, necessrio uma formao pedaggica slida para realizar tal direcionamento. Este fator aliado resistncia dos alunos em ler e escrever, conscincia do fato de no saber ou, no dominar os procedimentos essenciais para produzir textos e a acomodao gerada por esta somatria, so dificuldades a serem enfrentadas no dia-a-dia da educao, afinal, no se aprende a ler e escrever em um ano, mas ao longo da vida. Assim, h necessidade de dar continuidade a estas prticas pedaggicas, porm ampliando-as para todo o conjunto das disciplinas, o que s ser possvel atravs da interveno direta do Departamento da Educao Bsica.

    As atividades direcionadas leitura, interpretao e produo de textos permitiram compreender que embutido neste trabalho esto sendo oportunizadas aes que favorecem aos alunos a troca de experincias e conhecimentos adquiridos, a cooperao atravs dos trabalhos em grupo e apresentao dos mesmos alm de comportamentos crticos e auto-avaliativos necessrios convivncia humana. Importante que, estas aes desenvolvem entre os educandos um clima de unio e harmonia, onde todos possam somar e respeitar a individualidade de cada um. Estes valores, aliados ao conhecimento histrico, resultaro em transformaes sociais que iniciaro na sala de aula e se estendero por toda a vida.

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    REFERNCIAS

    BAKHTIN, M. Esttica da criao verbal. So Paulo: Martins Fontes, 1997.

    BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin: Dialogismo e construo do sentido. Campinas: Editora UNICAMP, 2 Ed., 2005.

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