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DireitoConstitucional1a edio2010DireitoConstitucional:$/7(5&/$8',86527+(1%85*1a edio2010Direitos reservados desta edio porEDITORA VERBATIM LTDA.Rua Zacarias de Gis, 2006CEP 04610-000 So Paulo SPTel. (0xx11) 5533.0692www.editoraverbatim.com.bre-mail: [email protected] Antonio Carlos A P Serrano Antonio Carlos Alves Pinto Serrano (presidente), Felippe Nogueira Monteiro, Fernando Reverendo Vidal Akaoui, Hlio Pereira Bicudo, Luiz Alberto David Araujo, Marcelo Sciorilli, Marilena I. Lazzarini, Motauri Ciochetti de Souza, Oswaldo Peregrina Rodrigues, Roberto Ferreira Archanjo da Silva, Vanderlei Siraque e Vidal Serrano Nunes Jnior.Capa e diagramaao: Manuel Rebelato MiramontesDadosInternacionaisdeCatalogao naPublicao{CIP}{CmaraBrasileiradoLivro,SP,Brasil}Rothenburg, Walter Claudius Direito constitucional / Walter Claudius Rothenburg. ~~ l. ed. ~~ So Paulo : Editora Verbatim, 20l0. Bibliografia. ISBN 978~85~6l996~28~4 l. Brasil ~ Direito constitucional 2. Direito constitucional I. Titulo.l0~0ll30CDU~342Indices para catlogo sistemtico:l. Direito constitucional 342Este livro dedicado a minha mae Dovo1ui. e a meu irmao Dii1iv.A chaveE de repenteo resumo de tudo uma chave.A chave de uma porta que nao abrepara o interior desabitadono solo que inexiste,mas a chave existe.(...)A porta principal, esta que abresem fechadura e gesto.Abre para o imenso.Vai-me empurrando e revelandoo que nao sei de mim e esta nos Outros.(...)(C.vios DvUmmou ui Auv.ui)9lndioe por assunto1. CONSTITUIAO CONCEITO, CLASSIFICAAO,CARACTERISTICAS E ESTRUTURA ............................................................................ 171.1.Conceito .......................................................................................................................... 171.2.Classificaao .................................................................................................................. 171.2.1 quanto ao contedo (natureza) das normas: Constituio material ou substancial; Constituio formal ................................................................ 181.2.2quanto forma de expresso das normas: Constituio no-escrita, histrica, costumeira ou consuetudinria; Constituio escrita ou dogmtica ....................................................................................................... 211.2.2.1 quanto unidade textual (documental): Constituies codificadas ou reduzidas; Constituies legais ou variadas ...........221.2.3quanto origem: Constituio outorgada (includa a Constituio cesarista); Constituio pactuada; Constituio promulgada, popular ou democrtica (votada) ....................................................................................221.2.4quanto extenso (tamanho): Constituio sinttica ou concisa; Constituio analtica, extensa ou prolixa......................................................231.2.3quanto ao fundamento: Constituio simples; Constituio complexa, compromissria ou ecltica................................................................................241.2.6quanto finalidade (ideologia): Constituio liberal ou garantista ou orgnica ou Constituio-balano; Constituio dirigente, programtica (Constituio-programa), social, diretiva ou prospectiva .....231.2.7quanto rigidez ou estabilidade ou reforma ou mudana: Constituio flexvel; Constituio rgida (includa a super-rgida); Constituio semi-rgida e outras variaes ...................................................231.2.8quanto ao objeto (contedo): Constituio material; Constituio procedimental ..............................................................................281.2.9 quanto estatalidade (soberania): Constituio estatal (nacional); Constituio supraestatal (supranacional) interconstitucionalismo e transconstitucionalismo .................................................................................291.2.10 quanto efetividade ou conformao realidade (classificaao ontologica): Constituio semntica; Constituio nominal; Constituio normativa ............................................. 311.3. Constitucionalismo ....................................................................................................... 321.4. De volta ao conceito: caractersticas da Constituiao ............................................. 331.4.1 contedo (determinadas matrias) .................................................................... 331.4.2 finalidades (funao) .............................................................................................3410WALTER CLAUDIUS ROTHENBURG1.4.3 carter jurdico .....................................................................................................341.4.4 escritura, sistematicidade e rigidez ....................................................................341.4.3 legitimidade democrtica .................................................................................... 331.4.6 efetividade ............................................................................................................. 331.3. Constituiao e realidade ............................................................................................... 331.6. Estrutura ......................................................................................................................... 371.6.1 Prembulo ............................................................................................................. 371.6.2 Disposies permanentes ..................................................................................... 391.6.3 Disposies transitrias ....................................................................................... 391.6.4 Elementos das Constituies .............................................................................40Referncias bibliograficas ........................................................................................................ 412. A CONSTITUIAO E SUAS REPRESENTAOES .......................................................432.1. Introduao sonora: msica ...........................................................................................432.2. O livro sagrado .............................................................................................................. 472.3. Razao e sensibilidade compem a esttica constitucional......................................482.4. A Constituiao como smbolo .....................................................................................302.3. Preambulo: a primeira impressao a que fica .......................................................... 332.6. Literatura ........................................................................................................................342.7. Datas ................................................................................................................................382.8. Lugares ............................................................................................................................602.9. Monumentos...................................................................................................................602.10. Desenhos ....................................................................................................................... 612.11. Pinturas ......................................................................................................................... 612.12. Filmes ............................................................................................................................ 622.13. A Constituiao ao alcance de todos ..........................................................................632.14. Constituiao distante ..................................................................................................63Referncias bibliograficas ........................................................................................................633. PODER CONSTITUINTE (quem faz a Constituiao) E REFORMACONSTITUCIONAL: (quem refaz a Constituiao) ........................................................693.1. Poder constituinte (originario) caractersticas ......................................................693.2. Natureza jurdica do poder constituinte ...................................................................723.3. Limitaes jurdicas do poder constituinte...............................................................733.4. Poder constituinte fundacional ................................................................................... 743.3. Revoluao e transiao constitucional ......................................................................... 733.6. Poder constituinte transnacional ................................................................................ 763.7. Estabilidade e mudana da Constituiao ...................................................................773.8. Alteraes formais e informais (mutaao constitucional) ...................................... 783.9. Poder constituinte derivado, de 2 grau ou institudo .............................................793.9.1. Poder de reforma .................................................................................................803.9.2. Poder constituinte decorrente (Estados, DF e Municpios) .....................803.10. Limites da reforma constitucional ............................................................................ 813.10.1 limites procedimentais (formais) ..................................................................... 813.10.2 limites materiais................................................................................................. 813.10.3 limites temporais ................................................................................................ 81113.10.4 limites subjetivos ................................................................................................823.10.3 limites circunstanciais .......................................................................................823.11. Duplo grau de reforma (revisao) e fraude Constituiao .....................................833.12. Reforma da Constituiao de 1988 .............................................................................843.12.1. Emendas Constituiao (CR 60)....................................................................843.12.1.1. Tratados aprovados como emenda (CR 3 3) ...........................863.12.2. Revisao da Constituiao (ADCT 3) .............................................................873.12.3. Plebiscito sobre forma e sistema de governo (ADCT 2) ...........................89Quadro sinotico do poder constituinte .................................................................................90Referncias bibliograficas ........................................................................................................ 914. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ...............................................................934.1.Conceito ..........................................................................................................................934.2.Pressupostos ...................................................................................................................964.3.Inconstitucionalidade classificaao ........................................................................964.3.1.Quanto natureza (o tipo da doena): a) inconstitucionalidade material ou substancial; b) inconstitucionalidade formal ...........................................964.3.2.Quanto extenso (o quanto a doena atingiu do organismo): a) inconstitucionalidade total todo o ato normativo (ex: uma lei com 30 artigos) comprometido; b) inconstitucionalidade parcial ...................974.3.3.Quanto causa (a origem ou motivo da doena): a) inconstitucionalidade por ao; b) inconstitucionalidade por omisso; c) inconstitucionalidade interventiva ..............................................................984.3.4.Quanto ao momento do surgimento (quando aparece a doena): a) inconstitucionalidade originria; b) inconstitucionalidade superveniente .......................................................................................................994.3.3.Quanto relao com o objeto da inconstitucionalidade: a) inconstitucionalidade antecedente ou imediata; b) inconstitucionalidade conseqente ou derivada .....................................1004.3.6.Quanto ao parmetro de constitucionalidade: a) inconstitucionalidade direta ou imediata ha desconformidade diretamente em relaao Constituiao; b) inconstitucionalidadeindireta, mediata ou reflexa ............................................................................1004.3.7.Quanto evidncia do parmetro de constitucionalidade: a) inconstitucio-nalidade direta ou expressa aquela em que violada norma constitucional expressa; b) inconstitucionalidade indireta, decorrente ou implcita ...... 1014.4.Controle de constitucionalidade classificaao .................................................... 1014.4.1.Quanto ao rgo (quem realiza o controle de constitucionalidade, quem o mdico que vai tratar da doena): a) controle poltico; b) controle judicial............................................................................................ 1014.4.2. Quanto ao momento (quando ocorre o controle de constitucionalidade; quando hora de realizar o tratamento, de dar o remdio):a) controle preventivo, a priori, prvio, antecedente ou anterior; b) controle repressivo, a posteriori, posterior, conseqente ou sucessivo.....1014.4.3. Quanto ao nmero de rgos judiciais (quantos sao os orgaos judiciais que farao o controle de constitucionalidade: quantos sao os componentes 12WALTER CLAUDIUS ROTHENBURGda equipe mdica): a) controle difuso ou aberto; b) controle concentrado ou reservado; c) controle misto .......................................................................1024.4.4. Quanto ao modo (como realizado o controle de constitucionalidade; como o tratamento): a) controle incidental, por via de exceo ou defesa; b) controle principal ou por via de ao direta ..........................1024.4.3.Quanto ao objeto (o que vai ser controlado; quem o doente): a) controle concreto ou subjetivo realizado em funao de um caso concreto, em que se discutem, normalmente, direitos subjetivos;b) controle abstrato, objetivo ou em tese ....................................................... 1034.4.6. No Brasil ............................................................................................................ 1034.3. Sistema brasileiro de controle de constitucionalidade .......................................... 1034.3.1 Controle judicial difuso e em concreto de constitucionalidade ................1044.3.1.1.Verticalizaao do controle de consitucionalidade judicialdifuso e em concreto ......................................................................1064.3.1.2.Recurso extraordinario .................................................................1074.3.1.3.Suspensao pelo Senado Federal (CR 32 X) .................................1084.3.1.4.Smula vinculante .........................................................................1094.3.2. Controle judicial concentrado e em abstrato de constitucionalidade (aes diretas).................................................................................................... 1134.3.2.1. Aao direta de inconstitucionalidade (ADI) ................................ 1134.3.2.1.1 Parametro ........................................................................... 1134.3.2.1.2 Objeto .................................................................................. 1134.3.2.1.2.1 normas constitucionais inconstitucionais . 1184.3.2.1.3 Legitimaao ativa .............................................................. 1194.3.2.1.4 Legitimaao passiva .......................................................... 1214.3.2.1.3 Intervenao de terceiros ...................................................1224.3.2.1.3.1 amicus curiae ..................................................1224.3.2.1.6 Processo ..............................................................................1224.3.2.2. Aao declaratoria de constitucionalidade (ADC) .......................1244.3.2.3. A decisao no processo objetivo de controle deconstitucionalidade e seus efeitos ................................................ 1314.3.2.3.1 Quorum .............................................................................. 1314.3.2.3.2 Comunicaao e publicaao ............................................. 1314.3.2.3.3 Eficacia erga omnes e efeito vinculante......................1324.3.2.3.4 Efeito transcendente dos motivos determinantes da declaraao de (in)constitucionalidade ..................... 1334.3.2.3.3 Efeito repristinatorio ........................................................ 1334.3.2.3.6 Modulaao dos efeitos ......................................................1344.3.2.3.7 Recursos .............................................................................1334.3.2.3.8 Tcnicas de decisao...........................................................1334.3.2.3.8.1 Interpretaao conforme a Constituiao .....1334.3.2.3.8.2 Declaraao de inconstitucionalidade sem reduao de texto ........................................ 1374.3.2.3.8.3 Declaraao de inconstitucionalidade sem pronncia de nulidade .............................138DIREITO CONSTITUCIONAL134.3.2.3.8.4 Transito para a inconstitucionalidade (normas ainda constitucionais) ..............1384.3.2.4 Reclamaao .........................................................................................1394.3.2.3 Aproximaes entre as modalidades de controle(difuso/em concreto e concentrado/em abstrato) .....................1404.3.2.3.1 Aao civil pblica e controle de constitucionalidade.. 1414.3.2.6 Aao direta de inconstitucionalidade por omissao (ADIo) ........ 1414.3.2.7. Arguiao de descumprimento de preceitofundamental (ADPF) .....................................................................148Referncias bibliograficas ......................................................................................................1363. INTERVENAO NA FEDERAAO ............................................................................... 1613.1 Caractersticas ............................................................................................................... 1613.1.1 ingerncia ............................................................................................................. 1613.1.2 medida excepcional ............................................................................................ 1613.1.3 restrita .................................................................................................................. 1623.1.4 limitada ................................................................................................................ 1623.1.3 tpica da federao ............................................................................................. 1633.1.6 com finalidade especfica ...................................................................................1643.1.7 por determinao do ente federativo imediatamente mais amplo ..............1643.1.8 com eventual substituio ................................................................................. 1633.2 Conceito ......................................................................................................................... 1673.3 Causas (hipoteses) de intervenao .............................................................................1683.3.1 Manuteno da integridade nacional ........................................................... 1683.3.2 Repulsa invaso estrangeira ou de uma unidade da federao em outra 1683.3.3 Grave comprometimento da ordem pblica ................................................... 1693.3.4 Garantia do livre exerccio de qualquer dos Poderes nas unidades da federao ....................................................................................................... 1693.3.3 Reorganizao das finanas da unidade da federao que suspender o pagamento da dvida fundada por mais de dois anos consecutivos,salvo motivo de fora maior ............................................................................. 1703.3.6 Reorganizao das finanas da unidade da federao que deixar de entregar aos Municpios receitas tributrias fixadas na Constituio,dentro dos prazos estabelecidos em lei ........................................................... 1703.3.7 Execuo de lei federal, ordem ou deciso judicial ....................................... 1703.3.8 Observncia da forma republicana, do regime representativo e do regime democrtico ................................................................................... 1713.3.9 Observncia dos direitos da pessoa humana .................................................. 1713.3.10 Observncia da autonomia municipal .......................................................... 1733.3.11 Observncia da prestao de contas da Administrao Pblica direta e indireta ................................................................................................. 1743.3.12 Observncia da aplicao do mnimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferncias,na manuteno e desenvolvimento do ensino e nas aes e serviospblicos de sade ............................................................................................... 1743.4 Intervenao em Municpio .......................................................................................... 17314WALTER CLAUDIUS ROTHENBURG3.3 Iniciativa (quem se manifesta pela intervenao) .....................................................1773.6 Intervenao normativa e intervenao material ........................................................ 1833.7 Intervenao por requisiao do Judiciario ................................................................. 1833.7.1 o Judiciario o Poder coagido ......................................................................... 1833.7.2 desobedincia a ordem ou decisao judicial ....................................................1863.7.3 inexecuao de lei ................................................................................................1923.7.4 inobservancia de princpio constitucional sensvel ......................................1943.8 Interventor .....................................................................................................................2033.9 Controle poltico-parlamentar do decreto de intervenao ....................................2033.10 Controle judicial .........................................................................................................2083.11 Perda de importancia .................................................................................................209Referncias bibliograficas ...................................................................................................... 21015ApresentaoOestudodoDireitoConstitucionaltemdeserprticoantesdetudo.E nessa perspectiva que sao reunidas informaes e reflexes sobre alguns dos maisimportantesassuntosdoDireitoConstitucional,frutodaexperincia comoprofessordegraduaao,pos-graduaaoecursospreparatorios,con-ferencista,autordetextos,examinadordeprovasemconcursospblicose Procurador da Repblica.Haduasmaneirasdeoleitorlocalizarostemasdestelivro.Aprimeira ondiceporassunto,emquesaoindicadososdiversospontosabordados. A segunda o ndice por artigos da Constituio, em que se pode facilmente procurar pelo nmero do artigo da Constituiao de 1988 (com a menao do tema de que trata), sendo indicados os pontos que referem o respectivo artigo.A Constituiao melhor compreendida quando sao apresentados os di-versosmodelosqueensejamaclassificaaodasespciesdeConstituiaoe quando sao apontadas as caractersticas da Constituiao, bem como a forma como ela estruturada. A partir desses dados, a elaboraao de um conceito deConstituiaotorna-seumexerccioaoalcancedetodos.Mesmoquan-doesseconceitopassaaserdiscutidonoambitointernacional,dianteda realidadedascomunidadesdeEstados,emqueofenomenoconstitucional projeta-se supranacionalmente (o interconstitucionalismo e o transconstitu-cionalismo). Esta a proposta do primeiro captulo.O autor da Constituiao, o Poder Constituinte originario, ja nao se mani-festa abrupta e incondicionalmente, conforme uma visao romantica o figu-rava. Analisar quem e como se faz e refaz a Constituiao; as modalidades de reforma constitucional, que permite a adaptaao da Constituiao aos novos tempos, mas representa o desafio de nao descaracterizar a essncia da pers-pectiva original, eis a proposta do terceiro captulo.A tecnologia de proteao da Constituiao e de compatibilizaao dos com-portamentos (ou de anulaao dos comportamentos incompatveis) talvez seja o tema mais evidente do Direito Constitucional na atualidade: o controle de constitucionalidade. Apontamentos de teoria geral da inconstitucionalidade edefiscalizaaodaconstitucionalidadenocontextodocomplexosistema brasileiro estao no quarto captulo.16WALTER CLAUDIUS ROTHENBURGA intervenao na federaao um dos assuntos classicos do federalismo. Ressentimo-nos,noBrasil,deumtratamentomaisfrequenteecuidadoso desse tema, e por isso que ele forma o quinto captulo.Faltava dizer do segundo captulo e nao foi um vacilo. Trata-se de uma brincadeira: um ensaio sobre o sucesso da ideia Constituiao, de como essa instituiao arraigou-se na cultura e projeta-se no cotidiano, das ruas s ar-tes. E possvel que a Constituiao seja at mais projetada do que respeitada, mas as tantas representaes podem, sim, contribuir para o cumprimento da Constituiao.Estudar Direito Constitucional de modo pratico nao impe superficiali-dade: pode ser uma viagem interessante e produtiva.(Piracicaba-SP, janeiro de 2010)171.Constituio - oonoeito, olassifioao, oaraoteristioas e estrutura1.1. ConceitoA Constituiao o conjunto das normas jurdicas fundamentais de uma sociedadeequetratamespecialmentedosdireitoshumanos(fundamen-tais),daestruturaedofuncionamentodoEstado1(e,quemsabe,deuma comunidade de Estados). A palavra constituiao tem o significado corrente deelementosqueformam(constituem)algo,pormprecisocompletare ajustar esse conceito num sentido tcnico (jurdico-normativo). No mundo contemporaneo, podemos considerar que a Constituiao aquele grupo de normas jurdicas que esta expresso num documento escrito, que fundamenta (dasustentaaoeilumina)todooDireitodasociedade,sendodotadode superioridade. Esta presente uma dimensao dinamica: a Constituiao ain-da o modo como essa regulamentaao acontece, como ela se projeta e integra arealidade(mesmoquandoasnormasnaosaoaplicadas,saodescumpri-das). Por isso, numa imagem, a Constituiao esta mais para cinema do que para fotografia.ODireitorequerumparametrosuperior,umainstanciadevalidaaoe de referncia ltima, que, tradicionalmente, oferecido pela Constituiao. 1.2. ClassificaoO duplo interesse em se proceder a uma classificaao das Constituies estaemoferecerumaapresentaaoorganizadadostiposhistoricos(histo-ria),apartirdasprincipaiscaractersticasqueasConstituiesapresenta-1Ro1uivUvc (2007, p. 78).18WALTER CLAUDIUS ROTHENBURGrameapresentam(natureza),segundodeterminadoscritriospropostos pela doutrina. A terminologia diversa e varia conforme autores e idiomas. Adotamos algumas das expresses mais correntes.1.2.1 quanto ao contedo (natureza) das normas: Constituio material ou substancial; Constituio formalLevandoemconsideraaoocontedo,ouseja,aqualidadequeidenti-ficaasnormasconstitucionais,haoconceitodeConstituiaoemsentido material (composto de normas materialmente constitucionais) e o conceito de Constituiao em sentido formal (composto de normas formalmente cons-titucionais). OconceitodeConstituiaomaterialousubstancialcorrespondeauma idia intuitiva de Constituiao enquanto conjunto de normas jurdicas sobre osassuntosfundamentaisdeumasociedade(critriomaterial),sendo,por issomesmo,oregramentojurdicoqueinstitui(constitui)essasociedade. Nesse sentido elementar, quando uma sociedade esta minimamente organi-zada, ou seja, quando ha normas que a definem, sendo reconhecidas as ins-tituies basicas que a compem e estando atribudos os principais direitos, ja existe Constituiao em sentido material, ainda que rudimentar, ainda que nao-escrita, ainda que as pessoas nao se dem exata conta disso: todo Estado tem Constituiao (em sentido material).2 Equaisseriamtaisassuntosmaisimportantesdopontodevistajur-dico:Ocontedodeterminadohistoricamente(naoreveladodeuma fonte transcendente) e, embora variavel na historia, diz respeito estrutura eaofuncionamentodoEstadoeaosdireitosfundamentais3(tantodireitos individuais quanto direitos sociais, economicos, culturais). Os desafios dos tempos propem temas constitucionais, como o caso, atualmente, da preo-cupaao com o ambiente ecologicamente equilibrado (CR 223).4Aquilo que hoje se consideram as primeiras Constituies (ou protocons-tituies) prende-se a um conceito material: desde Aristoteles (A constitui-ao do Estado tem por objecto a organizaao das magistraturas, a distribui-ao dos poderes, as atribuies de soberania, numa palavra, a determinaao dofimespecialdecadaassociaaopoltica.)3DeclaraaoUniversaldos 2Ivvic S1ivis (1o, p. 3-4).3A fundamentaao material hoje essencialmente fornecida pelo catlogo de direitos fundamentais (direi-tos, liberdades e garantias e direitos economicos, sociais e culturais). (C.o1iiuo, 1993, p. 74.)4Ro1uivUvc(2003).Sobreocaraterdedireitofundamentaldasnormasconstitucionaisconcernentes: M.cu.uo (2008, p. 123-123). 3C.o1iiuo (1993, p. 38).DIREITO CONSTITUCIONAL19Direitos do Homem e do Cidadao, de 1789 (Art. 16. Toda sociedade em que nao assegurada a garantia dos direitos nem determinada a separaao dos poderes, nao tem constituiao.). O conceito de Constituiao material que apresentamos pretende ser nor-mativo, ou seja, considera o contedo de normas jurdicas que compem a Constituiao, e, portanto, nao se confunde com uma perspectiva que consi-deraasrelaessociaisespecialmenteosfatoresreaisdopoder(Ferdi-nand Lassalle6) que correspondem a um conceito sociologico de Cons-tituiao.AConstituiaoformalcaracteriza-sepelaapresentaoeproduoes-pecficas (diferenciadas) de suas normas, antes que pelo contedo. Trata-se de normas criadas intencional e solenemente (num momento de importan-ciaesvezesderupturahistorica),peloPoderConstituinte,eestabeleci-dasemdocumento(s)portantoescritas(todaConstituiaoformaluma Constituiao escrita e vice-versa). O conceito formal de Constituiao oferece umcritriosegurodereconhecimentodasnormasconstitucionais(e,por meio delas, do contedo de determinada Constituiao), conquanto eventual-mente artificial: sabe-se o que constitucional (o que esta na Constituiao), qualquer que seja o assunto tratado (embora os assuntos mais importantes tendamasertratadosporessaforma),poisocritriodereconhecimento aformacomoasnormasforamcriadasesaoapresentadas.Temascon-sideradosmerecedoresdefigurarnaConstituiao,eassimobterevidncia eestabilidade7,aindaquandonaofaampartedostemastradicionalmente constitucionais,integramaConstituiaoemsentidoformal.Eocaso,no Brasil,porexemplo,dotombamentodosdocumentosestiosdetentores de reminiscncias historicas dos antigos quilombos (CR 216 3), do prazo para conversao da separaao judicial em divorcio (CR 226 6), da manuten-ao do Colgio Pedro II, do Rio de Janeiro, na orbita federal (CR 242 2)8 e no limite do absurdo do art. 42 do Ato das Disposies Constitucionais Transitorias (ADCT) da Constituiao do Estado da Bahia (hoje revogado9): O Estado promovera e estimulara a inclusao do chocolate na merenda esco-lar, nas creches, na alimentaao da Polcia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, dos presdios e reformatorios, em todas as reparties pblicas e au-tarquicas e em todos os programas sociais do Estado.; bem como do art. 36 do ADCT da Constituiao do Estado do Parana, de 1989: O Estado promo-vera concorrncia publica entre firmas nacionais, internacionais ou grupos 61983, p. 11-12.7LoUs F.voviU et al. (2001, p. 78).8Piuvo Liz. (2003, p. 42) tambm usa esse exemplo.9 Revogado pela Emenda Constitucional 7, de 18/01/1999.20WALTER CLAUDIUS ROTHENBURGdeempresas,paraaconstruaodeumapontesobreabaadeGuaratuba, cujo pagamento sera feito com a cobrana de pedagio pelo prazo maximo de quinze anos.. Nos Estados Unidos, a despeito do sintetismo de sua Consti-tuiao, ilustrativa a proibiao de fabricaao, venda ou transporte de bebidas alcoolicas, instituda pela 18 emenda e posteriormente revogada pela 21.10Pode-se definir a Constituiao formal a partir de trs diferentes critrios: a forma (por exemplo, normas escritas), a fonte de produao (um orgao es-pecfico que edita ou tem o poder de revisar as normas constitucionais) ou um procedimento especfico de ediao ou revisao (Pierre Pactet).11 Nenhum desses trs critrios suficiente isoladamente: a mera escritura (que carac-terstica das Constituies escritas) deve estar acompanhada de intencionali-dade e solenidade; um determinado orgao pode, alm de ser titular do Poder Constituinteemcertomomento,produzirordinariamenteoutrasnormas jurdicas alm das constitucionais (com o que nao seria um orgao especfico), etalvezpossaproduzirnormasnao-escritas;secertoqueasnormasfor-malmente constitucionais tm uma forma especfica de ediao (mas nao tan-to um procedimento especfico), nao precisam, porm, ter um procedimento especfico de revisao, que caracterstico apenas das Constituies rgidas).Normalmente,aConstituiaoformalrgida,ouseja,suasnormasso-mentepoderaoseralteradasporumprocedimentodiferenciado.Essa,no entanto, nao uma correlaao necessaria12: possvel que as normas de uma Constituiao formal que foram produzidas de um modo diferenciado (in-tencionalesolene)sejamalteradascomooutrasnormasjurdicas,isto, que essa seja uma Constituiao flexvel.Aapresentaaosobformaescritaeorganizada(expressaodocumental) fornece o conceito de Constituio instrumental. Nesse sentido, a compreen-sao de Constituiao formal aqui adotada confunde-se com a de Constituiao instrumental, que rene os efeitos racionalizador, estabilizante, de seguran-a jurdica e calculabilidade, de publicidade (Canotilho13).ConstituiaomaterialeConstituiaoformal,antesdeconsistiremem dois tipos diferentes de Constituiao, sao dois aspectos (conceitos) comple-mentares,sobosquaispossvelabordaromesmofenomeno:asnormas constitucionaissobreosassuntosfundamentais(Constituiaoemsentido 10 A referncia feita por Piivvi P.c1i1 (11, p. 67).111991, p. 67.12Diz Jovci Miv.u. (1996, p. 30) que as normas formalmente constitucionais exigem um processo espe-cifco de formaao (conquanto nao necessariamente um processo especial de modifcaao).131993, p. 63. Cuidado para nao confundir com outro sentido de Constituio instrumental, como o conjunto de normas jurdicas de carater procedimental, que deve ser utilizado para o governo da sociedade (instru-ment of government); essa concepao aqui combatida: processo e a forma so tm sentido, num Estado Democratico, quando relacionados com um certo contedo (C.o1iiuo, idem, p. 80-82). DIREITO CONSTITUCIONAL21material) aparecem sob forma especfica (Constituiao em sentido formal), assim que a maior importancia das normas constitucionais traduzida pela formaespecial.AmaioriadasnormasdaConstituiaonosentidomate-rialencontra-senaConstituiaonosentidoformal.(DimitriDimoulis14). Pode, entretanto, a Constituiao formal conter normas que nao tratem dos assuntos fundamentais (normas apenas formalmente constitucionais), bem comopodehaveremboradificilmentenormasquetratemdeassuntos fundamentais mas nao faam parte da Constituiao formal (normas apenas materialmente constitucionais).1.2.2 quanto forma de expresso das normas: Constituio no-escrita, histrica, costumeira ou consuetudinria; Constituio escrita ou dogmticaEssa classificaao parte da forma como as normas constitucionais apare-cem expressas.Constituies nao-escritas sao manifestaao do Direito consuetudinario: aquele cujas normas sao formadas por costumes (tradiao), usos e conven-es, adotados (e impostos) com conscincia de sua obrigatoriedade e hete-ronomia13,oquepressupeumsolidoeestavelconsensosocial,assentado emumahomogeneidadepoltica16.Nostemposatuais,defrancapredomi-nancia do Direito escrito, mesmo Estados de tradiao costumeira do qual a Inglaterra o exemplo mais destacado (sendo tambm referidos Nova Zelan-dia e Israel)17 adotam diversos textos de valor constitucional (que integram embora nao esgotem a Constituiao jurdica, composta de varias outras normas nao-escritas), tais como a Magna Charta (1213) e o Act of Settlement (1700).18 A eventual reduao a escrito (mera compilaao de textos) das nor-mas de uma Constituiao consuetudinaria nao a modifica, se ela mantiver o carater costumeiro.Escrita (ou dogmatica) a Constituiao cujas normas, alm de grafadas (sobformatextual)emumoumaisdocumentos,estaoorganizadas(siste-matizadas):Constituiaoescrita=escritura+sistematizaao.Quasetodas as Constituies contemporaneas o sao.142003, p. 310.13Dimi1vi DimoUiis (2003, p. 204-206).16Timis1ocii M.v1iis (2003 , p. 183).17Adverte,porm,Roviv1D.ui(2001,p.136;nota2):Pormeiodeumasriedeleissancionadaspelo Parlamento reunido como corpo constitucional, Israel tem transformado seus arranjos constitucionais em uma constituiao escrita.; Ivvic S1ivis (1996, p. 4). 18Ivvic S1ivis (1996, p. 3-6 e 13-14); Auvi R.mos T.v.vis (2006, p. 66).22WALTER CLAUDIUS ROTHENBURGOparadoxo(aparente)estaemqueumaConstituiaonao-escritapode at ser escrita, enquanto, para uma Constituiao ser considerada escrita, nao basta que seja escrita (uma Constituiao escrita pode nao ser escrita). Expli-ca-se: se algum decidisse escrever (retratar) as normas de uma Constituiao costumeira, isso nao bastaria para retirar-lhe a caracterstica de compor-se de normas que se formaram e se alteram como Direito consuetudinario; as-sim tambm a mera escritura (reduao a texto) das normas constitucionais, eventualmenteesparsaedesordenada,naosuficienteparacaracterizara Constituiao escrita (no sentido de dogmatica), que, alm disso, precisa estar ordenada racionalmente (sistematizada).1.2.2.1quanto unidade textual (documental): Constituies codificadas ou reduzidas; Constituies legais19 ou variadasTrata-sedeumaclassificaaodasConstituiesescritas,quepodem(o que comum) compor-se de um nico corpo de normas (um so documento) ditas Constituies codificadas ou reduzidas a um codigo nico, sistema-tizado (LUiz Aiviv1o D.viu Av.U,o i Viu.i Sivv.o NUis J0iovio) ou de alguns textos (diplomas legais) distintos, provavelmente editados em momentos diversos ditas Constituies legais (expressao equvoca, pois ig-nora a provavel superioridade das normas constitucionais, a despeito da di-versidade documental, e que por isso nao sao normas meramente legais) ou variadas, de que sao exemplo clebre as leis constitucionais da 3 Repblica francesa (1873)21. 1.2.3 quanto origem: Constituio outorgada (includa a Constituio cesarista); Constituio pactuada; Constituio promulgada, popular ou democrtica (votada)InteressaaquiomodocomosurgemasConstituies,dequempartea iniciativa de produzi-las.Outorgada a Constituiao que nasce de um ato unilateral do detentor do poder poltico no Estado, e pode at ter sido imposta ou ter nascido de uma reivindicaao(degruposoudamaioriadapopulaao).Paradesignaresse tipo de Constituiao, tradicionalmente utilizado o termo Carta e, moder-namente, heteroconstituiao. As Constituies brasileiras de 1824 (outor-19P.Uio Bo.viuis (1o, p. 70-71).202003, p. 6-7.21Piivvi P.c1i1 (11, p. 283).DIREITO CONSTITUCIONAL23gada pelo imperador D. Pedro I), de 1937 (outorgada pelo presidente Getlio Vargas) e de 1967/1969 (outorgada pelos militares), sao exemplos. Nao deixa de haver imposiao (portanto, outorga) quando Estados colonialistas ou ven-cedores da guerra estabelecem a Constituiao dos Estados vencidos (como, no primeiro caso, a Constituiao da Africa do Sul, de 1909, outorgada pelo Parlamento britanico, e, no segundo, a Constituiao do Japao, de 1943, ou-torgada sob dominaao dos Estados Unidos), dita heteroconstituio.22ModalidademaissofisticadadeConstituiaooutorgada,aConstituio cesarista aquela em que o detentor despotico do poder (monarca, ditador, grupohegemonico)submeteaConstituiaoareferendopopular,manipu-lando e induzindo a opiniao pblica.23 Citem-se a Constituiao francesa de 1832,deLusNapoleaoBonaparte(NapoleaoIII),eaConstituiaochilena sob o general Pinochet.Pactuada a Constituiao que se origina de um acordo (pacto) ou com-posiaodeforasentre(normalmente)doisgruposhegemonicos,quando nao viavel a imposiao de apenas um deles.24 O exemplo classico da Mag-na Charta inglesa (1213), que resultou de um pacto entre a nobreza (os ba-res) e o enfraquecido rei Joao Sem Terra. PromulgadaaConstituiaoquenascedarepresentaaopopular,nor-malmente produzida por representantes eleitos, seja para esse fim especfico (convenao constituinte), seja tambm para a representaao poltica ordina-ria (assembleia constituinte), podendo ou nao ser submetida diretamente populaao (via referendo ou at plebiscito).1.2.4quanto extenso (tamanho): Constituio sinttica ou concisa; Constituio analtica, extensa ou prolixaEssa classificaao conforme o tamanho da Constituiao, a extensao de seu texto (traduzida quase sempre pelo nmero de dispositivos).A Constituiao sinttica tem poucos artigos, curta, resume-se a alguns princpios e regras basicos. A Constituiao dos Estados Unidos da Amrica, cujaorigemremontaa1786,ograndeexemploatual.Constituiaoana-lticaademuitosartigos,queversamsobrediversostemas,decontedo nao apenas materialmente constitucional (pensamos que uma Constituiao analticasejanecessariamenteformal,querdizer,naocontmapenasnor-22Jovci Miv.u. (1996, p. 80-81); Josi Auivcio Lii1i S.mv.io (2002, p. 346-347).23Josi Aioso u. Siiv. (1999, p. 43-44).24P.Uio Bo.viuis (1996, p. 72), acrescentando que o compromisso () instavel... (e) o equilbrio preca-rio.24WALTER CLAUDIUS ROTHENBURGmas materialmente constitucionais). Por exemplo, a Constituiao portugue-sade1976tinha,inicialmente312artigos(onmerodiminuiuumpouco, apos sucessivas revises, ao contrario da Constituiao brasileira de 1988); a Constituiao espanhola de 1978 tem 167 artigos, mais algumas disposies adicionais, transitorias e derrogatorias. Paulo Bonavides aponta as seguintes causas das Constituies prolixas (analticas): a preocupaao de dotar cer-tos institutos de proteao eficaz, o sentimento de que a rigidez constitucional amparo ao exerccio discricionario da autoridade, o anseio de conferir esta-bilidade ao direito legislado sobre determinadas matrias e, enfim, a conve-nincia de atribuir ao Estado, atravs do mais alto instrumento jurdico que a Constituiao, os encargos indispensaveis manutenao da paz social.231.2.5 quanto ao fundamento: Constituio simples; Constituio complexa, compromissria ou eclticaPodemasConstituiesserclassificadasdeacordocomabase(funda-mento) em que se assentam, que pode ser simples e pouco numerosa, ou mais complexa e diversificada.SimplesseriamasConstituiesassentadasempoucosfundamentos (princpios);umaConstituiaomonocratica.Seriaocaso,principalmente, de Constituies de regimes absolutistas (por exemplo, centradas na figura superpotente do monarca ou ditador, representante da unidade da naao26) ou de sociedades extremamente singelas.Hoje,emsociedadesheterogneas(pluralismopolticoemulticultura-lismo), as Constituies possuem diversos fundamentos (por isso, sao ditas complexas), estabelecem acordos de compromisso entre os diversos segmen-tos sociais (compromissrias) e podem contemplar interesses contraditorios e conflitantes (eclticas).231996, p. 74.26Talvez a concepao de Constituiao formulada por C.vi Scumi11 (1998[1931], p. 113) possa ser considera-da correspondente ao tipo simples: decisao poltica positiva estabelecida mediante um ato unilateral. Fundamenta-se numa pretensa unidade homognea e indivisvel de todo o povo alemao e surge apos a Primeira Grande Guerra, poca da ascensao do regime nacional-socialista. A Constituiao vigente no Reich(Imprio)afrmaaidiademocraticadaunidadehomogneaeindivisveldetodoopovoalemao, que,emvirtudedeseupoderconstituinte,deu-seasimesmoestaConstituiaomedianteumadecisao poltica positiva, quer dizer, mediante um ato unilateral.. DIREITO CONSTITUCIONAL251.2.6 quanto finalidade (ideologia): Constituio liberal ou garantista ou orgnica ou Constituio-balano; Constituio dirigente, programtica (Constituio-programa), social, diretiva ou prospectivaQualquerConstituiaoencerraumaperspectivafinalista,umobjetivo orientado pela ideologia prevalecente.As Constituies liberais, que se centram na forma e no sistema de go-verno,sem(naaparncia,pelomenos)curaremdosistemaeconomicoe social(JorgeMiranda)27,tmemvistaestabelecerumquadronormativo de garantia do liberalismo poltico-economico, sem maiores disposies de contedo socio-economico no sentido da intervenao do Poder Pblico para corrigirexcessoscapitalistasepromoveraemancipaaodasclassesmenos favorecidas; trata-se de uma perspectiva conservadora (negativa).Constituies de tendncia intervencionista, promocional, at socialista, queestabelecemprogramas(metas)eorientam(dirigem)oEstadoeaso-ciedade em determinados rumos de transformaao, caracterizam as Cons-tituiesprogramticasoudirigentes.28EocasodediversasConstituies contemporaneaseespecialmentedasanalticas,que,semdeixardeserga-rantistas(querdizer,incorporamconquistasalcanadas,especialmenteno domnio das liberdades), apresentam tendncia prospectiva (positiva).291.2.7 quanto rigidez ou estabilidade ou reforma ou mudana: Constituio flexvel; Constituio rgida (includa a super-rgida); Constituio semi-rgida e outras variaesConsideram-se aqui as Constituies segundo sua capacidade de altera-ao formal. Quanto mais dificilmente modificavel uma Constituiao, maior o seu grau de rigidez ou, o que dizer o mesmo, menor a sua capacidade de alteraao, e vice-versa. Tambm em relaao s Constituies reflete-se o pro-271996, p. 26.28C.o1iiuo (2001, p. 12).29As normas jurdicas em geral tm algo de prospectivo, como modelos de condutas que sao. Especialmente as Constituies, tentando confgurar o Estado segundo um modelo preferido, traam fnalidades alme-jadas, pelo que talvez todas as Constituies desde as primeiras sejam programaticas. D.vcv Riviivo (2000, p. 64) localiza ja nos primitivos estados rurais artesanais fruto da Revoluao Urbana as ex-presses mais claras dos objetivos gerais da sociedade, cuja consecuao cabe a todos os cidadaos, bem como dasmetasindividuaissocialmenteprescritascomodesejaveis,emtermosdeconsentimentos,prmiose sanes.26WALTER CLAUDIUS ROTHENBURGpositohumanodeconstruirmonumentosjurdicosqueduremomaximo possvel, expectativa nao raramente frustrada pela historia. Reproduz-se no Direito a oposiao filosofica entre a permanncia ou estabilidade (Parmni-des) e a contnua modificaao (Heraclito).Flexvel a Constituiao cujas normas podem ser modificadas como as outras normas do ordenamento jurdico, ou seja, o procedimento de reforma daConstituiaonaosedistingue,sendoomesmodaproduaodeoutras normasjurdicas.Sobessaperspectiva,aConstituiaoflexvelnaoofere-ceintegralmenteagarantiadarigidez(supremacia),pois,sesuasnormas podem ser alteradas do mesmo modo que as outras normas jurdicas, uma destas outras normas jurdicas que violasse a Constituiao, antes de ser in-compatvel com ela, estaria a modifica-la.30 Por hipotese, se a Constituiao dissesse que apenas brasileiros natos poderiam ser juzes de direito, e uma leiqualquerviesseestabelecerqueestrangeirosresidentesnopashamais de oito anos tambm poderiam ser juzes, essa lei alteraria a norma consti-tucional, pois a maneira de reformar a Constituiao nao se diferenciaria da produao normativa ordinaria.Advirta-se,porm,queumanormajurdicaqualquerteriaderespei-tar o procedimento de elaboraao previsto na propria Constituiao: se esta dito que somente o Congresso Nacional pode aprovar leis e pelo quorum de maioria absoluta, uma pretensa lei feita pelo Superior Tribunal de Justia ou umaleiaprovadapeloCongressocomquorumdemaioriasimplesseriam inconstitucionais (a menos que uma lei qualquer preceituasse que leis pode-riam ser feitas pelo STJ ou aprovadas por maioria simples). Em resumo, num ambiente (hipottico) de Constituiao flexvel, a falta de rigidez impediria o controle de constitucionalidade sob o aspecto material (nao haveria incons-titucionalidadematerial),masnaoocontroledeconstitucionalidadesobo aspecto formal (poderia haver inconstitucionalidade formal).Naoseignore,todavia,queosimplesfatodesurgircomoumanorma constitucional e estar contida no documento Constituiao confere nor-maalgumadistinao.OEstatutoAlbertino(1848-1948)queviriaasera primeira Constituiao da Italia , a Constituiao neozelandesa e a israelita sao exemplos de Constituiao flexvel, segundo Jorge Miranda31.AsConstituiesconsuetudinariastambmseriam,paramuitos,flex-veis, pois sua transformaao dar-se-ia como a das demais normas jurdicas deumambientedeDireitocostumeiro.Ousamosdiscordar,poiscarac-30H.sKiisi(1998,p.373).ApontaNiisouiSoUs.S.mv.io(1934,p.26)aConstituiaoalemade Weimar (1919), cujo procedimento de reforma previa alteraao por via legislativa, pela maioria prevista no art. 76, tendo-se desenvolvido a pratica de um processo subreptcio de emenda, pois todas as leis que logravamalcanaraprovaaodaquelamaioria,aindaquandonaotrouxessemorotuloavisadordeleis onstitucionais,teriam,secontrariasConstituiao,foradereforma-la,escapandodadecretaaode inconstitucionalidade.311996, p. 144.DIREITO CONSTITUCIONAL27terstica do Direito costumeiro justamente a estabilidade.32 Essa associaao entre Constituiao nao-escrita e Constituiao flexvel, embora natural, nao necessaria. A Constituiao flexvel caracteriza-se por poder ser modificada pelo mesmo procedimento das demais normas; no contexto da Constituiao costumeira, verdade que os costumes, usos e convenes produzem/modi-ficam o Direito em geral, mas este supe um ambiente cultural de forte esta-bilidade, que se reflete com mais intensidade nas normas constitucionais, as quais exigem (por hipotese) uma alteraao muito relevante (conquanto nao necessariamentedemorada)doscostumes,usoseconvenes;provaque as Constituies consideradas costumeiras (o caso da Inglaterra) sao muito estaveis, dificilmente modificadas.33 RgidaaConstituiaocujasnormassomentepodemsermodificadas porumprocedimentodiferentedodaproduaodasdemaisnormasjur-dicas: um procedimento de reforma mais complexo e previsto pela propria Constituiao. Dessa rigidez decorre uma supremacia formal: sabe-se exata-mente quais sao as normas constitucionais: aquelas que estao na Constitui-ao e so podem ser alteradas pelo procedimento especial previsto; qualquer outranormajurdicaincompatvelcomaquelasnormas(constitucionais) sera inconstitucional.Osgrausderigidez/flexibilidadeeosmodos(procedimentos)derefor-ma da Constituiao variam muito. A primeira Constituiao brasileira (a im-perial, de 1824) apresentava um ncleo rgido de matrias (correspondente Constituiaoemsentidomaterial)eumrestanteflexvel:Art.178.Eso constitucionaloquedizrespeitoaoslimiteseatribuiesrespectivasdos poderespolticos,eaosdireitospolticoseindividuaisdoscidadaos;tudo o que nao constitucional pode ser alterado sem as formalidades referidas, pelaslegislaturasordinarias.;porisso,aConstituiaode1824tidapor semi-rgida (ou semiflexvel).Fala-sedeConstituiosuper-rgidacomrefernciaquelaque,almde prever um procedimento qualificado de reforma, estabelece um ncleo tema-tico que nao pode ser alterado em sua essncia. No Brasil, esse ncleo tradi-cionalmente chamado de clausulas ptreas e esta previsto no art. 60 4 CR. Nelson de Sousa Sampaio apresenta ainda, num crescendo de rigidez, a ConstituiaofixaeaConstituiaoimutvel.Constituiaofixaseriaaque-la que expressa ou implicitamente estabelece que a sua reforma somente se verifica por meio de uma assemblia constituinte de poderes iguais da que 32Talvez a fexibilidade atribuda Constituiao inglesa refra-se apenas e discutivelmente parte escrita dessa complexa Constituiao (P. Bo.viuis, 1996, p. 66, citando Barthlemy).33P.Uio Bo.viuis (1996, p. 66). Niiso ui SoUs. S.mv.io (1934, p. 23) aponta as aludidas virtudes da Constituiao inglesa, cuja solidez organica provm de ser alimentada com a seiva da tradiao, formada pela experincia das geraes e nao pela especulaao abstrata.28WALTER CLAUDIUS ROTHENBURGa criou..., podendo, por conseqncia, tanto auto-limitar-se reforma como revogarousubstituiraconstituiao.Supe-sequeassimsejamasCons-tituiesemquenaoprevistaareformaconstitucional.Exemploshisto-ricosseriamasConstituiesfrancesasde1799(AnoVIII),1814e1830.34 As Constituies imutveis, eternas, nao admitiriam qualquer reforma, pois seassentamsobreacrenadequesoexisteumanicamanifestaaoda atividade constituinte. Romanticos exemplos sao dados pelo Codigo de Ha-murabi,cujospreceitosestavamgravadosempedra,comadeterminaao de que, para todo o sempre, o governante que estiver no Pas observara as palavras de justia que estao escritas sobre meu obelisco, e com a invocaao, para o caso de descumprimento, das maldies de rebeliao... tumulto e re-volta; e, na Grcia antiga, pelas leis de Esparta, outorgadas por Licurgo sob o juramento dos concidadaos, de manterem-nas inalteradas enquanto o lder fosse consultar a opiniao do oraculo de Delfos, tendo Licurgo, apos obter do deus Apolo a resposta de que suas leis eram perfeitas, posto fim a seus dias, ou seja, cometido suicdio, nao tendo regressado sua patria para que nao se quebrasse o juramento dos seus concidadaos de manterem inalteradas as suas leis.331.2.8 quanto ao objeto (contedo): Constituio substancial (material); Constituio procedimentalTrata-se de outra classificaao quanto ao contedo. Quando uma Cons-tituiao esta voltada principalmente tomada de certas posies e defini-ao de objetivos predeterminados, ela considerada Constituiao material. Quando,numsentidomaisformalista36,elaestavoltadaprincipalmentea estabelecer procedimentos (regras do jogo) que garantam a tomada adequa-da de posies e a definiao adequada de objetivos que nao estao predetermi-nados, ela considerada Constituiao procedimental (que tende a equivaler noao de instrumento de governo).37EnquantoaConstituiaoprocedimentalaproxima-sedeumaideologia liberal garantista, a Constituiao material tem uma perspectiva social e pros-pectiva.341934, p. 34-36.33Idem, p. 43-47.36Josi Auivcio Lii1i S.mv.io, (2002, p. 11-12).37Sobre o debate entre substancialismo e procedimentalismo, veja-se Liio L. S1vicx (2004, p. 147-196).DIREITO CONSTITUCIONAL291.2.9 quanto estatalidade (soberania): Constituio estatal (nacional); Constituio supraestatal (supranacional) interconstitucionalismo e transconstitucionalismoTradicionalmente, a Constituiao foi concebida como projeao da identi-dade nacional, ou melhor, como manifestaao da soberania de determinado Estado, em confronto com outros Estados soberanos; a Constituiao esta-tal. Com o desenvolvimento do Direito Internacional, especialmente do Di-reito comunitario europeu, projeta-se a possibilidade de estabelecimento de uma Constituiao de Estados, supranacional, que conviveria com as Cons-tituies particulares desses Estados e se sobreporia s suas soberanias (ex.: projetodeumaConstituiaodaUniaoEuropeia,2004).38AConstituiao seria, assim, a configuraao jurdica suprema de uma comunidade poltica, tanto na dimensao do Estado (nacional), quanto numa dimensao supraesta-tal (supranacional).Na concepao tradicional de Estados independentes e autonomos, o iso-lamentojurdicorepresentavaumaafirmaaodaidentidadenacional.Os Estados viam uns aos outros como separados e suas Constituies reconhe-ciam-secomodistintas.Aforteintegraaodomundocontemporaneoleva os Estados a relacionarem-se mais intimamente, com o que atingida (rela-tivizada) a perspectiva classica da soberania.39 Ha uma integraao jurdica e as Constituies nacionais passam a atuar em rede: o interconstituciona-lismo, como o complexo das relaes interconstitucionais de concorrncia, convergncia, justaposiao e conflitos de varias constituies e de varios po-deres constituintes no mesmo espao poltico (C.o1iiuo)40.A perspectiva supranacional impe-se realidade constitucional e con-voca para uma releitura das Constituies. As normas jurdicas internacio-naiselucidamecomplementamasnormasinternas,comoque(re)foram a abertura das Constituies estatais, de acordo com Auvi ui C.vv.iuo R.mos: as normas constitucionais passam a se constituir clausulas abertas de compatibilizaao com os mandamentos internacionais..41At aqui, as Constituies estatais mantm seu valor e funao (seu ca-racterautodescritivoeauto-referente):descemdocasteloparaarede, mas nao perderam as funes identificadoras pelo facto de agora estarem em 38Oiiviiv DUu.mii (2003); Aiix.uvi CoU1iuo P.ci.vii (2003).39ZUim.v F.cui (2008, p. 44) adverte: O Direito Constitucional nao esta mais centrado apenas no ambito do Estado nacional....402006, p. 266.412004.30WALTER CLAUDIUS ROTHENBURGligaao umas com as outras (C.o1iiuo)42. Mais alm, o espao das comu-nidades de Estados integrados vai cunhar parametros jurdicos em tratados e outras formas normativas supraestatais, que se aproximam da concepao deConstituiao(masjanaoseprendemaumEstado)esesobrepems Constituies estatais: o supraconstitucionalismo.43Alogicadoconstitucionalismo,comaconsagraaodedocumentosju-rdicos vinculantes, portadores de direitos fundamentais e de instituies e procedimentos estruturais da organizaao poltica, garantidos judicialmente por tribunais internacionais, projeta-se numa dimensao supraestatal (cons-titucionalismo global44). Ainda que nao surja ou nao seja adequado um do-cumento do tipo Constituiao em escala supraestatal, existem problemas quesaoconstitucionaisedesafiamsoluesquedemandamaarticulaao de diversos ambitos constitucionais (estatais, extraestatais e at intraesta-tais, com base em normas estabelecidas em Constituies, tratados e outras fontes, sobretudo de Direito Internacional, bem como com base na atuaao de orgaos nacionais e internacionais), o que requer antes um mtodo do que uma autoridade, segundo M.vciio Nivis, que se refere ao transconsti-tucionalismo de um sistema jurdico mundial de nveis mltiplos.43 EmboraesseprocessosejaincipientenaAmricadoSul,oBrasildeve estarpreparadoparaintegrar-se.NossaConstituiaodispe,porexemplo, que o Brasil buscara a integraao economica, poltica, social e cultural dos povos da Amrica Latina, visando formaao de uma comunidade latino-americana de naes (art. 4 paragrafo nico); que Os tratados e conven-esinternacionaissobredireitoshumanosqueforemaprovados,emcada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por trs quintos dos votos dos respectivosmembros,seraoequivalentessemendasconstitucionais.(CR 33);queOBrasilsesubmetejurisdiaodeTribunalPenalInterna-cional a cuja criaao tenha manifestado adesao. (art. 3 4); que O Brasil propugnara pela formaao de um tribunal internacional dos direitos huma-nos. (art. 7 ADCT). 422006, p. 269.43Sobre a importancia do papel dos juzes (do Judiciario) na conversao do(s) tratado(s) da Uniao Europeia em um documento com mais caractersticas de constituiao, veja-se Acxivm. (2007, p. 108). 44C.o1iiuo (2006, p. 239 e s.).432009, especialmente p. XXI, 242, 243, 249, 264 e 269.