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498 22 Neste capítulo: Página Petróleo, doenças e direitos humanos Petróleo e saúde comunitária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 500 História: Comunidades afectadas pelo petróleo organizam um estudo sobre saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 500 O petróleo causa problemas de saúde graves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 506 Cada parte da produção petrolífera é perigosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 508 Chamas de gás . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 511 História: As chamas podem ser paradas! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 512 Refinarias de petróleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 513 Derrames de petróleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 514 Actividade: O óleo e a água misturam-se? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 514 Limpar os derrames de petróleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 516 História: Limpeza de derrame de petróleo torna os trabalhadores doentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 516 Fazer um plano de segurança para emergências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 518 Restaurar terra danificada pelo petróleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 519 História: Uma nova forma de limpar petróleo derramado? . . . . . . . . . 520 Justiça ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 521 História: Mulheres protestam contra a exploração petrolífera . . . . . . . 521 O petróleo e a lei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 522 História: O caso contra a Texaco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 523

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22

Neste capítulo: Página

Petróleo, doençase direitos humanos

Petróleo e saúde comunitária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 500

História: Comunidades afectadas pelo petróleo organizam

um estudo sobre saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 500

O petróleo causa problemas de saúde graves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 506

Cada parte da produção petrolífera é perigosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 508

Chamas de gás . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 511

História: As chamas podem ser paradas! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 512

Refinarias de petróleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 513

Derrames de petróleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 514

Actividade: O óleo e a água misturam-se? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 514

Limpar os derrames de petróleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 516

História: Limpeza de derrame de petróleo torna os

trabalhadores doentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 516

Fazer um plano de segurança para emergências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 518

Restaurar terra danificada pelo petróleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 519

História: Uma nova forma de limpar petróleo derramado? . . . . . . . . . 520

Justiça ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 521

História: Mulheres protestam contra a exploração petrolífera . . . . . . . 521

O petróleo e a lei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 522

História: O caso contra a Texaco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 523

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O petróleo faz parte de muitos produtos usados todos os dias, como por exemplo a gasolina, o propano, o querosene, o óleo para aquecimento e o asfalto, além de fazer parte de muitos plásticos, tintas, pesticidas, solventes e cosméticos. Até mesmo algumas roupas e medicamentos são feitos com petróleo. Mas o petróleo é tóxico e tem efeitos perigosos sobre a nossa saúde e o meio ambiente, a começar pelos métodos usados para o encontrar, transportar e refinar, bem como as formas sob as quais depois é usado.

As pessoas das áreas ricas em petróleo esperam que ele lhes vá trazer riqueza. Mas, na maior parte dos casos, a riqueza vai para as empresas petrolíferas, enquanto as pessoas das comunidades são deixadas na pobreza, e sózinhas com a poluição, as doenças e a violência que parecem alastrar-se nos locais onde o petróleo é encontrado. Como a economia mundial depende do petróleo, a indústria do petróleo tem suficiente poder para influenciar governos e políticas internacionais. Isto leva a que muitas vezes as pessoas pobres das comunidades ricas em petróleo tenham de lutar para se protegerem a si próprias e à sua terra, enquanto as pessoas das comunidades ricas ou em desenvolvimento lutam contra a poluição do ar.

O petróleo, o carvão e o gás natural são combustíveis fósseis. Eles são feitos de restos de plantas e animais que morreram há milhões de anos, e só existem em quantidade limitada. Nos últimos 100 anos, o petróleo tornou-se na principal fonte de energia para a maior parte do mundo. Agora, a maior parte dos recursos petrolíferos do mundo foi usada. Queimar tanto petróleo ou outros combustíveis fósseis deu origem ao aquecimento global (ver página 33), um dos maiores problemas ambientais que o mundo hoje enfrenta. Cada vez mais, as pessoas em todo o mundo estão a exigir o fim da economia do petróleo e o desenvolvimento de formas de energia mais limpas e mais sustentáveis (ver Capítulo 23).

Petróleo, doenças e direitos humanos

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PETRÓLEO, DOENÇAS E DIREITOS500

Petróleo e saúde comunitáriaNos lugares onde o petróleo é descoberto, a economia desenvolve-se rapidamente, mas é uma economia de miséria. Campos petrolíferos mal construídos são estabelecidos na paisagem e trazem com eles muitos problemas sociais, como deslocações forçadas, alcoolismo, infecções sexualmente transmitidas e HIV (ver também página 474). Muitas vezes, as empresas petrolíferas e os governos não querem saber das comunidades mais prejudicadas pelo desenvolvimento petrolífero. Estas comunidades são muitas vezes entregues a si próprias para tentarem perceber quantos e que tipo de danos o petróleo causou e para investigarem formas de restaurar a saúde das suas comunidades.

O gás natural também causa problemas de saúdeQueimar gás natural produz menos dióxido de carbono (uma causa do aquecimento global) e outros poluentes do que queimar petróleo. Mas as perfurações para procurar gás natural são parecidas com as perfurações para procurar petróleo e criam muitos dos mesmos problemas sociais. Quase tudo o que é verdade sobre o petróleo neste capítulo também é verdade para o gás natural.

Comunidades afectadas pelo petróleo organizam um estudo sobre saúdeEm 1992, um grupo de promotores de saúde na selva amazónica do Equador estudou a forma como a perfuração para procurar petróleo estava a afectar as comunidades locais. Eles sabiam que as empresas petrolíferas estavam a destruir a sua terra, mas havia pouca compreensão sobre a forma como o petróleo afectava a saúde das pessoas. Por isso, os promotores de saúde começaram a recolher informação nas suas vilas e aldeias.

O estudo sobre saúde implicou muito trabalho e muito tempo. Quando começaram, os promotores de saúde não sabiam o que iam aprender. Eles contam a sua história, pelas suas próprias palavras, ao longo deste capítulo.

Vivemos numa área que é rica em petróleo. Mas

aqui ninguém é rico.

Durante milhares de anos esta região foi a casa dos povos indígenas. Na nossa parte da selva amazónica vivem muitas pessoas diferentes: os Shuar-Achuar, os Runa, os Quichua, os Huaorani, os Siona-Secoya e os Cofan. Cada uma destas culturas tem a sua própria língua e arte e a sua própria visão da realidade. Antes dos tempos modernos, todas estas tribos viviam em harmonia com a natureza. Depois, esta harmonia foi quebrada. Se quisermos compreender o que nos está a acontecer, temos que olhar para a nossa história.

Em 1492, chegaram aqui

pessoas da Europa…

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PETRÓLEO E SAÚDE COMUNITÁRIA 501

A nossa equipa foi constituída por 6 pessoas: 3 promotores de saúde (2 que trabalhavam em comunidades e 1 que trabalhava num laboratório de saúde) e 3 técnicos de saúde (um médico, um bioquímico e um técnico de medicina).

Isto foi o princípio da quebra do equilíbrio entre os nossos antepassados e a natureza. Primeiro, os Espanhóis percorreram as nossas terras à procura de ouro e prata. Os nossos antepassados foram forçados a trabalhar como escravos, retirando ouro e prata da terra. Depois, vieram os Ingleses. Em vez de ouro, eles queriam borracha. Fizeram de nós escravos para tirar a borracha das nossas terras. Depois disto, vieram as empresas petrolíferas. Elas fizeram a mesma coisa.

Sabemos que as empresas petrolíferas estão a destruir a nossa saúde. É por isso que os nossos promotores de saúde decidiram estudar a poluição e a forma como ela nos afecta. Queremos trabalhar em conjunto por uma situação económica, política e cultural melhores.

Os promotores de saúde ficaram a saber que as pessoas das comunidades poluídas pelo petróleo têm mais doenças do que as das comunidades não poluídas. As mulheres destas comunidades sofrem mais de abortos espontâneos. As crianças sofrem de malnutrição e muitas vezes morrem quando ainda são pequenas. Muitas pessoas têm doenças de pele que não desaparecem (para aprender mais sobre os problemas de saúde causados pelo petróleo, ver páginas 506 a 507).

Isto é só um pouco do que eles aprenderam. Depois do seu estudo, os promotores de saúde escreveram um livro chamado Culturas Banhadas em Petróleo, para que outras pessoas pudessem aprender com o trabalho que eles tinham feito.

Primeiro formámos uma equipa, juntando

pessoas que tinham conhecimentos

técnicos e médicos com pessoas das

nossas organizações comunitárias.

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PETRÓLEO, DOENÇAS E DIREITOS502

Aqui estão os passos que seguimos para o nosso estudo, para que você possa fazer a mesma coisa:

1. Recolhemos informaçãoRecolhemos informação sobre o tipo de exploração petrolífera na nossa área, os produtos químicos usados e os efeitos desses químicos na saúde. Aprendemos que os químicos eram conhecidos por causar abortos espontâneos, defeitos de nascença, cancro e outras doenças. Também ficámos a saber que as pessoas apanham estas doenças por beberem a água poluída com estes produtos químicos.

2. Escolhemos quais as comunidades que iríamos estudarEscolhemos 7 comunidades que tinham água poluída por causa do desenvolvimento e extracção petrolífera. Escolher os lugares poluídos foi fácil, porque quase todas as comunidades na nossa área estão poluídas pelos poços de petróleo, tanques de resíduos ou estações de bombagem. Também escolhemos 3 comunidades que não tinham actividade petrolífera, mas que eram parecidas com as primeiras 7 comunidades em todos os outros aspectos.

3. Recolhemos as histórias médicas das pessoas dessas comunidadesRecolhemos informação dos últimos 4 anos para ver que doenças eram mais comuns de um ano para o seguinte. Aprendemos que muitas, muitas pessoas tiveram acidentes e doenças. Até termos recolhido toda esta informação, não sabíamos que tantos de nós estavam doentes!

4. Contactámos cientistas para nos ajudarem... mas eles não nos queriam ajudarFomos a um centro local de estudos sobre saúde e pedimos uma aula sobre métodos de pesquisa popular. No princípio, eles estavam interessados, mas no fim não queriam ajudar-nos. Depois, pedimos ajuda à escola de medicina que ficava perto de nós e eles também não nos queriam ajudar.Os alunos da escola recomendaram-nos que estudássemos os químicos na nossa água de beber. Uma vez que isto era caro, eles sugeriram que tentássemos recolher dinheiro noutros países.

Ninguém nos queria ajudar a fazer o estudo. Por isso,

decidimos fazê-lo nós mesmos.

Posto de saúde

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PETRÓLEO E SAÚDE COMUNITÁRIA 503

5. Organizámos uma reunião de todas as comunidades na nossa áreaExplicámos porque é que queríamos fazer este estudo e perguntámos se as comunidades estavam preparadas para ajudar. No final da reunião, todas as pessoas votaram para que o estudo se fizesse. Organizámos um comité para realizar o estudo e analisar os resultados. O comité incluía os promotores de saúde, pessoas de diferentes comunidades e pessoas com conhecimentos sobre como é que os produtos químicos afectam as pessoas e o meio ambiente.

6. Fizemos um plano de trabalhoPlaneámos levar 5 meses a fazer o estudo. Havíamos de ir a uma comunidade diferente de 15 em 15 dias e ficar 3 ou 4 dias em cada lugar. Íamos avaliar a comunidade e recolher amostras de sangue, urina e fezes para testagem. Quando tivéssemos os resultados dos testes do laboratório da cidade, iríamos voltar à comunidade para partilhar os resultados. Isto foi muito importante, porque nos permitiu tomar decisões em conjunto. Também planeámos ter uma reunião de 2 em 2 meses, em que o comité coordenador e os representantes da comunidade poderiam falar sobre como é que o estudo estava a decorrer.

Os problemas

do Petróleo

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PETRÓLEO, DOENÇAS E DIREITOS504

7. Procurámos financiamento para o nosso trabalho e para os custos do laboratórioFormámos uma comissão para procurar o dinheiro necessário. Depois de muitos contactos, conseguimos dinheiro para o estudo através de um grupo de médicos em Espanha.

8. Fizemos mapas das comunidadesAs pessoas de cada uma das comunidades fizeram mapas que mostravam os poços de petróleo, a água poluída e as localizações das aldeias e áreas agrícolas. Ao mesmo tempo, fizemos uma lista de todas as pessoas que vivem em cada comunidade (um recenseamento). A lista incluía o nome e idade de cada pessoa e se era homem ou mulher.

9. Começámos a visitar as comunidades e a fazer o estudoEm vez de enviar as amostras para a cidade, criámos um laboratório na escola comunitária, onde testámos o sangue, a urina e as fezes das pessoas (você precisa de equipamento de laboratório e de alguma formação sobre como fazer estes testes, por isso não vamos explicar aqui estas questões). Nas manhãs, íamos de casa em casa a recolher as amostras. Depois disso, outro grupo ia a cada casa fazer exames para recolher informação e os promotores de saúde faziam uma verificação médica de cada pessoa.

10. Depois de termos acabado de recolher toda a informação, organizámo-laDepois comparámos a informação das comunidades poluídas e das comunidades que não estavam poluídas. Comparámos muitas coisas – a situação económica, a situação política, a cultura local e, acima de tudo, a saúde das pessoas.

11. O último passo foi escrever tudo isto e discuti-lo em conjuntoIsto ajudou todas as comunidades envolvidas a decidirem como tomar medidas para melhorar a nossa saúde.

No nosso último dia, em cada vila ou aldeia, fi zemos outra reunião com a comunidade sobre o que é que íamos fazer a seguir e o que é que esperávamos aprender ainda mais.

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PETRÓLEO E SAÚDE COMUNITÁRIA 505

O estudo sobre a saúde levou à tomada de medidas comunitáriasO trabalho dos promotores de saúde mostrou às pessoas que muitos dos seus problemas de saúde eram causados pela poluição petrolífera. Os químicos tóxicos provenientes do petróleo foram encontrados na água, no solo, no sangue, urina e fezes das pessoas. Saber isto ajudou-as a começarem a trabalhar para encontrarem uma solução. Elas sabiam que, desde que a contaminação continuasse, seria difícil ter água mais segura, comida saudável ou ar limpo.

Foi formado um grupo, que se chamou a si próprio Comité de Pessoas Afectadas, que pediu ajuda ao governo. E a organização de promotores de saúde continuou a apoiar a saúde das pessoas e a mostrar-lhes como é que os seus problemas de saúde eram causados pelo petróleo.

Outra organização, a Frente de Defesa do Amazonas, iniciou uma acção em tribunal para processar a empresa petrolífera pelos danos que ela tinha causado (para aprender mais sobre esta acção em tribunal, ver página 523). Enormes áreas da floresta tropical tinham sido destruídas e as leis ambientais sobre como é que os danos tinham que ser reparados foram ignoradas. A empresa petrolífera estrangeira só pegou no seu lucro e foi-se embora.

O estudo comunitário e a acção em tribunal inspiraram outras organizações a envolverem-se na luta para salvarem a floresta tropical e as suas pessoas. Universidades e escolas de medicina do Equador, Inglaterra e Estados Unidos realizaram mais estudos para apoiar a acção em tribunal conta a empresa petrolífera e mostrar que o petróleo causava terríveis problemas. Estes estudos também ajudaram os autores deste livro a saberem mais sobre os efeitos do petróleo na saúde.

Mas o trabalho principal foi feito pelos promotores de saúde. Ao estudarem por si próprios os efeitos do petróleo na saúde, eles trabalharam localmente sobre uma questão de importância global. Ao mostrar como é que a saúde dos seus vizinhos estava a ser devastada pela destruição da floresta tropical pelas empresas petrolíferas multinacionais, eles trouxeram as questões locais para a arena internacional. Eles foram uma fonte de inspiração para nós, à medida que escrevíamos este livro.

Os promotores de saúde e outras pessoas da comunidade aperceberam-se de que o seu estudo era só o princípio da sua luta pela saúde e pela justiça.

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PETRÓLEO, DOENÇAS E DIREITOS506

O petróleo causa problemas de saúde gravesTal como acontece com outros químicos tóxicos, os problemas de saúde causados pelo petróleo podem ser difíceis de provar, porque levam muito tempo a afectar as pessoas. Mas a maior parte das pessoas que vivem e trabalham perto de refinarias e locais de perfuração para procurar petróleo conhecem a poluição do ar e da água causada pelo petróleo. Perfurar o solo à procura de petróleo, refiná-lo e queimar o petróleo como combustível traz muitos problemas de saúde graves, como os que são apresentados na lista que se segue e os que são discutidos, com mais pormenor, nas páginas que se seguem:

• Visão desfocada e outros problemas dos olhos;

• Dores de cabeça, alucinações, euforia (sensações repentinas de felicidade), cansaço, fala pouco clara, danos no cérebro, coma;

• Convulsões e mortes pouco habituais;

• Feridas no nariz e sangramento do nariz;

• Infecções nos ouvidos;

• Asma, bronquite, pneumonia e outras doenças respiratórias;

• Cancros e infecções do pulmão e da garganta;

• Maior risco de tuberculose;• Ataques de coração;• Problemas digestivos, incluindo

vómitos, úlceras e cancro do estômago;

• Danos no fígado, rins e medula óssea;

• Problemas menstruais, abortos espontâneos, nados-mortos e defeitos de nascença;

• Erupções da pele, fungos e cancros.

Nalguns lugares, as pessoas inalam os fumos da gasolina para terem efeitos parecidos com os da droga. Isto é muito perigoso. Para algumas pessoas, inalar gasolina com força, mesmo que seja só uma vez, pode

causar morte súbita.

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O PETRÓLEO CAUSA PROBLEMAS DE SAÚDE GRAVES 507

Efeitos na saúde a longo prazo O petróleo causa problemas de saúde reprodutivaRespirar os fumos ou engolir alimentos ou líquidos contaminados pelo petróleo e pelo gás causa problemas de saúde reprodutiva, como por exemplo ciclos menstruais irregulares, abortos espontâneos, nascimento de filhos mortos e defeitos de nascença. Estes problemas podem ter sinais de aviso antecipados, como dores abdominais ou sangramento irregular (ver Capítulo 16 para mais informação).

O petróleo causa cancroO contacto regular com o petróleo e o gás causa cancro. As crianças que vivem perto de refinarias de petróleo têm muito mais probabilidade de ter cancro do sangue (leucemia) do que as que vivem longe. As pessoas que vivem em áreas onde o petróleo é extraído têm muito mais probabilidade de desenvolver cancros do estômago, bexiga e pulmões do que as pessoas que vivem noutros lugares. Os trabalhadores das refinarias de petróleo têm um risco elevado de cancro dos lábios, estômago, fígado, pâncreas, tecido conjuntivo, próstata, olhos, cérebro e sangue (para mais informação sobre o cancro, ver Capítulo 16).

Quando a empresa Texaco começou a extrair petróleo no Equador, o cancro não era conhecido na região. Quarenta anos mais tarde, o cancro é um dos maiores problemas de saúde da região. Em duas das regiões petrolíferas mais exploradas do Amazonas, os trabalhadores comunitários de saúde fizeram um inquérito em 80 comunidades e encontraram taxas elevadas de cancro, especialmente da boca, estômago e bexiga.

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PETRÓLEO, DOENÇAS E DIREITOS508

Cada parte da produção petrolífera é perigosaCompreender os danos causados tanto à saúde como ao meio ambiente, durante cada fase da produção de petróleo, pode ajudá-lo a reagir.

ExploraçãoQuando as empresas começam por procurar petróleo, as florestas são abatidas e as casas são destruídas. São construídas estradas e os rios e ribeiros são obstruídos. Muitas vezes, a procura de petróleo envolve uma série de explosões criadas para ajudar as empresas petrolíferas a saberem o que é que está debaixo do solo. A isto chama-se testagem sísmica. A testagem sísmica estraga as casas, a vida animal selvagem e a terra.

Antes de as empresas começarem a procurar petróleo, os grupos comunitários podem visitar os representantes do governo para tentarem parar a invasão das suas terras, aprender com a experiência das ONGs e das comunidades afectadas pelo petróleo e educar todas as pessoas sobre a ameaça para a saúde da comunidade. A empresa petrolífera deve realizar um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) (ver Apêndice B). Se o EIA mostrar que o projecto vai ser destrutivo, a comunidade pode exigir que ele seja parado. A empresa petrolífera deve incluir no EIA um plano para eliminar os resíduos, para proteger a água superficial e subterrânea, e para alertar e evacuar as comunidades vizinhas em caso de acidentes.

PerfuraçãoOs poços de petróleo são perfurados para trazer petróleo para fora do solo. A perfuração pode causar incêndios, explosões e outros acidentes que põem em perigo os trabalhadores e a comunidade. Quando o petróleo se derrama, ele polui a água subterrânea e os cursos de água, prejudica as plantas e os animais e destrói recursos ligados às actividades da caça, pesca e agricultura.

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CADA PARTE DA PRODUÇÃO PETROLÍFERA É PERIGOSA 509

As comunidades podem usar máquinas fotográficas, vídeos, anúncios de rádio, relatórios escritos e até mesmo desenhos de crianças para documentar os danos provocados pela perfuração. Esta documentação pode ser usada como prova quando a comunidade fizer alguma exigência no sentido de se parar a perfuração e a destruição ambiental, fazendo cumprir as normas definidas pelo Estudo de Impacto Ambiental ou para realizar acções legais contra a empresa petrolífera.

SeparaçãoO petróleo sai do solo misturado com gás, metais pesados e água tóxica. O petróleo precisa de ser separado destes outros materiais.

Deitar fora a água tóxica é muitas vezes a principal causa de poluição. As leis sobre a perfuração nos países ricos requerem que a água tóxica seja posta de volta no solo, em vez de ser deitada à superfície. Esta prática deve ser seguida em todo o lado.

Os outros resíduos são separados e deitados fora em tanques de contenção. Muitas vezes, as empresas petrolíferas não fazem mais do que cavar um buraco e deitar lá para dentro o crude (petróleo em bruto), os resíduos da perfuração, a água tóxica e outros resíduos. Estes tanques têm muitas vezes fugas para a água subterrânea ou transbordam, contaminando a água subterrânea e a terra.

Os tanques de contenção devem ser revestidos com betão. Os tanques precisam de ser monitorizados para ver se têm fugas e derrames, e precisam de ser limpos antes de acabar a operação petrolífera.

Chamas de gásOs gases encontrados juntamente com o petróleo são muitas vezes separados através da sua queima. As chamas de gás (ver páginas 511 a 512) expõem os trabalhadores, as comunidades e os animais selvagens à poluição que causa cancro, doenças da pele, asma, bronquite e outros problemas de saúde. As chamas de gás poluem as nuvens, causando a “chuva negra” que envenena os pontos de água.

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PETRÓLEO, DOENÇAS E DIREITOS510

Transporte e armazenamentoO petróleo é muitas vezes derramado durante o seu transporte através de oleodutos, camiões e barcos. O petróleo também pode vazar dos tanques onde é armazenado. Estes derrames podem causar danos no solo, na água subterrânea, nos animais e nas pessoas, danos esses que duram anos. As empresas petrolíferas devem avisar as comunidades quando há

um derrame, devem conter o derrame e limpá-lo imediatamente (para reduzir os danos dos derrames de petróleo e para saber mais sobre a limpeza de derrames de petróleo, ver páginas 514 a 519).

Os Estudos de Impacto Ambiental para as operações petrolíferas devem incluir planos para construção e uso de oleodutos. Você pode conseguir apoio regional organizando as comunidades ao longo do oleoduto para que estas se oponham às práticas pouco seguras das empresas petrolíferas.

RefinaçãoAs refinarias são fábricas onde o petróleo é transformado em produtos como gasolina, gasóleo e combustíveis para aquecimento, asfalto, óleos lubrificantes e plásticos. As refinarias libertam resíduos tóxicos para a água, o solo e o ar. A poluição das refinarias dá origem à asma, bronquite, cancro, problemas reprodutivos e desenvolvimento anormal do cérebro e do sistema nervoso das crianças. Esta poluição também contribui para o aquecimento global (para mais informação sobre como é que as comunidades podem prevenir e reduzir os danos das refinarias, ver páginas 455 a 458 e página 513).

Queimar petróleo como combustívelQueimar petróleo e gás nas fábricas e nos automóveis cria diferentes tipos de poluição do ar. Um gás libertado é o dióxido de carbono, que retém o calor no ar. Esta é uma das principais causas do aquecimento global, causando desastres como cheias, tempestades, secas e subida da água do mar. Também afecta as culturas, os animais e os insectos, permitindo que doenças como a malária se propaguem para novas áreas. Nas bombas de gasolina e em cidades cheias de gente, as pessoas estão expostas a fumos tóxicos que podem causar cancro e muitas outras doenças.

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CHAMAS DE GÁS 511

Chamas de gásQuando o petróleo é encontrado em conjunto com o gás natural, as empresas petrolíferas podem queimar o gás para o separar do petróleo. Queimar gás cria chamas gigantes que iluminam o céu e fazem um barulho muito grande e terrível. As chamas de gás são perigosas, devastadoras e muito poluentes.

As empresas petrolíferas podem vender o gás em vez de o queimar. Mas isto é mais caro e difícil, porque o gás tem que ser guardado sob pressão, aumentando o risco de incêndios e explosões. Por isso, as empresas queimam o gás simplesmente porque é mais barato, mesmo que isso aumente os danos causados às pessoas e ao meio ambiente.

Saúde e segurança em torno das chamas de gásTodas as chamas de gás poluem o ar e podem causar problemas de saúde. Mas algumas chamas de gás são piores do que outras.

O gás pode ser queimado ocasionalmente como medida de segurança para prevenir explosões (chama-se a isto chamas seguras) ou todos os dias como parte das operações petrolíferas (chama-se a isto chamas de rotina). Cada tipo de chama requer uma resposta diferente.

Chamas de segurançaAs refinarias usam as chamas de segurança para aliviar a pressão quando há demasiado gás nos tubos. Mesmo que isto não aconteça todas as vezes, ainda assim é muito perigoso! Se houver chamas de segurança na sua comunidade, exija uma informação antecipada por parte da empresa sobre quando é que as chamas vão ocorrer. A empresa deve sempre avisar as comunidades vizinhas 24 horas antes de as chamas acontecerem.

Quando há uma chama, todas as pessoas devem ficar tão longe quanto possível. Fique dentro de casa com as portas e janelas fechadas (para saber o que fazer numa emergência, ver página 457).

Chamas de rotinaNalguns lugares, o gás é queimado todos os dias, simplesmente porque isso é mais barato para a empresa. Para as pessoas que vivem perto do lugar onde ocorrem chamas de rotina, é muito difícil tomar precauções todas as vezes. A única maneira de estar seguro em relação às chamas de rotina é que elas não aconteçam mais.

Chamas de gás que são mais altas do que uma pessoa são menos perigosas.

Chamas de gás que estão à altura da pessoa ou chamas que estão na horizontal são muito perigosas.

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PETRÓLEO, DOENÇAS E DIREITOS512

As chamas podem ser paradas!As piores chamas de gás de rotina no mundo ocorreram durante muitos anos no Delta do Níger, na Nigéria. A queima de gás pelas empresas petrolíferas internacionais na Nigéria custou muitas vidas. E os venenos libertados pelas chamas de gás nigeriano contribuíram mais para as mudanças climáticas e para o aquecimento global do que todas as fontes juntas na África subsariana.

O camarada Che Ibegwura, um homem do estado de Rivers, na Nigéria, disse: “Durante anos, vivemos com as chamas contínuas de gás. As nossas terras agrícolas foram poluídas. Trabalhamos muito para plantar, mas o resultado é pouco. Os nossos telhados estão corroídos. O nosso ar está poluído. As nossas crianças estão doentes. Até a água da chuva que bebemos está contaminada com fuligem preta que vem das chamas de gás. Não podemos continuar com este sofrimento.”

Em 2005, depois de muitos anos a protestar e lutar, as chamas de gás de rotina foram proibidas no Delta do Níger. Um juiz decidiu que todas as empresas petrolíferas na Nigéria deviam parar imediatamente as chamas de gás, por causa dos problemas de saúde que elas causam e porque isso viola o direito humano a ter um ambiente saudável.

Se houver queima de gás de rotina perto de si:• Discuta os perigos das chamas de gás e

forme um comité para se queixar junto da empresa e dos representantes do governo. Fale também com trabalhadores de saúde, jornalistas e ONGs.

• Mantenha um registo da sua campanha. Incentive as pessoas a marcarem os dias e as horas das chamas e os problemas que elas causaram.

• Organize reuniões para partilhar estes registos com outras comunidades, jornalistas e representantes do governo. Mantenha registos das suas conversas com eles. Tomar nota ou filmar o que os representantes dizem também vai mostrar que você está a falar a sério. Mais importante do que tudo, não desista!

Estas acções podem não parar as chamas imediatamente. Mas o objectivo comum de parar as chamas pode unir a comunidade e criar forças para proteger a saúde de todos a longo prazo.

A empresa recusa-se a falar connosco sobre as chamas. Com quem é que podemos

de novo tentar falar?

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REFINARIAS DE PETRÓLEO 513

Refinarias de petróleoAs refinarias de petróleo são fábricas onde o petróleo é transformado em gasolina e outros combustíveis, e em materiais como o asfalto e o plástico. As refinarias de petróleo são uma grande fonte de poluição do ar para as pessoas que vivem perto delas ou trabalham nelas. Os produtos químicos dentro e à volta das refinarias causam cancro, danos reprodutivos, problemas de respiração como asma e enfisema, e defeitos de nascimento, bem como outros problemas de saúde como dores de cabeça, enjoos, tonturas e ansiedade. As refinarias também são uma grande fonte de gases que causam aquecimento global.

Tornar as refinarias mais segurasAs refinarias não têm que causar estes problemas de saúde terríveis. A poluição podia ser prevenida se as empresas petrolíferas fizessem tudo o que podem para prevenir acidentes e conter os gases e líquidos tóxicos em todas as fases do processo de refinação. Se você e a sua comunidade estão a trabalhar para tornar uma refinaria mais segura, a vossa campanha pode concentrar-se nalgumas destas ideias:

Monitorar a poluição do ar pode identificar problemas e neutralizarfaze er com que situações de emergência antes de elas se tornarem graves. As empresas devem monitorar o ar e responder imediatamente aos problemas. Se elas não monitorizarem a poluição, as comunidades podem fazê-lo (ver páginas 455 a 457).

As chamas de gás podem ser substituídas por métodos mais seguros, como por exemplo recuperar os gases para reutilização (ver página 511).

Os tanques usados para armazenar o crude, a gasolina e outras substâncias libertam por vezes fumos tóxicos quando são enchidos, esvaziados ou limpos. Estes fumos podem ser contidos com melhor equipamento e procedimentos. Tanques e válvulas devem ser inspeccionados e reparados regularmente para prevenir fugas para o ar e para a água subterrânea.

Os navios petroleiros e as barcas cheios com petróleo e gasolina libertam fumos para o ar e vazam líquidos para a água. Devem ser usados sistemas mais seguros em todas as situações para prevenir derrames e fumos tóxicos. Os navios petroleiros devem ter cascos com duplo ou triplo revestimento para prevenir derrames.

As águas residuais que contêm químicos tóxicos muitas vezes derramam-se ou vazam para a água subterrânea. Ao construir e manter sistemas de águas residuais, estes problemas podem ser evitados.

O crude sujo cria mais resíduos e polui o ar e a água, sobretudo se uma refinaria for construída para processar formas de petróleo mais limpas e leves. Refinar petróleo mais limpo resulta em menos poluição.

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PETRÓLEO, DOENÇAS E DIREITOS514

Derrames de petróleoOnde quer que haja petróleo, há derrames de petróleo. Os barcos e camiões têm acidentes e os oleodutos têm fugas. É responsabilidade das empresas petrolíferas prevenir os derrames e limpá-los quando eles acontecem.

Há um ditado que diz: “O óleo e a água não se misturam”. Mas quando o petróleo se derrama para a água, os químicos tóxicos do petróleo misturam-se com a água e ficam aí durante muito tempo. A parte mais espessa do petróleo espalha-se pela superfície e impede o ar de entrar na água. Os peixes, os animais e a as plantas que vivem na água não são capazes de respirar. Quando o petróleo se derrama para a água, os químicos deixados para trás podem tornar a água pouco segura para beber, mesmo depois de ser removido o petróleo que podermos ver.

Quando o petróleo se derrama para a terra, ele destrói o solo, abafando o ar e matando os seres vivos que tornam o solo saudável. Algo de parecido acontece quando o petróleo entra na nossa pele ou na pele dos animais. O petróleo cobre a pele e impede o ar de entrar. As toxinas do petróleo também entram no corpo através da pele, causando doenças.

bcnbxncbO óleo e a água misturam-se?

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➋➋

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Esta actividade pode ajudar as pessoas a perceberem os efeitos de um derrame de petróleo na água.

Tempo: 1,5 horas

Materiais: frasco de vidro transparente, água, óleo de cozinha

Encher o frasco com água. Juntar 2 colheres cheias de óleo. Abanar o frasco para misturar o óleo com a água. Deixar estar o frasco durante uma hora.

Voltar ao frasco. Você vai ver que a maior parte do óleo está em cima. O óleo de cozinha não faz mal, mas tente imaginar que o frasco é um rio com um derrame de petróleo.

Começar uma discussão em grupo sobre os efeitos que isso possa ter. Imaginar os peixes a tentarem sobreviver neste rio com uma camada de petróleo a bloquear o ar e a luz do sol. Imaginar o que acontece aos pássaros que tentam caçar os peixes no rio.

Usar uma colher para tentar tirar o óleo da superfície. Depois de ter tirado tanto óleo quanto possível, ver se algumas bolhas de óleo permanecem dentro da água. Isto é óleo que mergulha para dentro da água. Ter em consideração o ditado: “O óleo e a água não se misturam”. Discutir com o grupo o que acontece quando o petróleo e a água se misturam.

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DERRAMES DE PETRÓLEO 515

Poluição da água causada pelo petróleoÉ muito perigoso beber água que tenha petróleo. A água que vem do solo quando o petróleo é extraído também é muito tóxica.

Os filtros que limpam o petróleo e os químicos tóxicos da água são muito caros. Ferver a água, usar desinfecção solar e acrescentar cloro à água (ver páginas 92 a 99) mata os micróbios mas não consegue eliminar a poluição do petróleo.

Na realidade, acrescentar cloro torna pior a poluição do petróleo, porque ele se combina com alguns dos químicos chamados “fenóis” para formar um produto químico ainda mais tóxico chamado “clorofenol”.

Se um derrame de petróleo foi limpo, mesmo que você não veja petróleo na água, é provável que a água ainda não seja segura. Muitas das toxinas do petróleo assentam na água e ficam aí durante muito tempo. A única forma de garantir que a água é segura é fazer com que ela seja testada.

Como manter-se seguro depois de um derrame de petróleo• Evitar o contacto com o petróleo. Manter as crianças e os

animais longe do derrame. Se possível, pôr uma vedação à volta da área e pôr um sinal de aviso.

• Usar uma fonte de água a montante do derrame. Mesmo que você tenha que caminhar durante muito tempo, vale a pena, para prevenir problemas de saúde. No lugar onde o petróleo se derramou, a água da chuva pode ser a única água segura para beber.

• Evitar comer animais que vivem na água, como caranguejos, camarões e caracóis, perto do derrame e nas áreas a jusante dele.

• Evitar tomar banho com a água afectada. Se alguém cair na água, deve lavar-se imediatamente com sabão forte e água limpa.

• Informar os vizinhos, os representantes do governo, a imprensa e as ONGs que lidam com questões de saúde e do meio ambiente

• Ensinar as pessoas nas escolas e reuniões comunitárias sobre os perigos do petróleo.

Vamos mas é buscar água ao

terreno do teu tio.

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PETRÓLEO, DOENÇAS E DIREITOS516

Limpar derrames de petróleoLimpar derrames é responsabilidade da empresa petrolífera. As empresas alegam que podem limpar qualquer derrame. Mas a verdade é que, mesmo com o melhor equipamento, os derrames de petróleo e as limpezas de derrames de petróleo são muito perigosos e difíceis. Na maior parte dos casos, as pessoas afectadas por derrames não têm equipamento de protecção.

A empresa petrolífera deve começar a limpar assim que o derrame acontece. Como as toxinas do petróleo assentam na água e no solo, retirar a lama preta da superfície nem sempre retira a fonte dos danos (ver página 514).

Limpeza de derrame de petróleo torna os trabalhadores doentes

Quando um navio petroleiro chamado Exxon Valdez encalhou ao largo da costa do Alasca em 1989, derramou milhões de litros de petróleo na água. O derrame matou inúmeros animais e pássaros e destruiu a indústria pesqueira local. O petróleo causou danos que continuam até hoje.

A empresa Exxon contratou 10.000 trabalhadores para limpar o petróleo e salvar os animais. Usando o melhor equipamento, eles trabalharam 12 a 16 horas por dia durante muitos meses a limpar o derrame e a tentar prevenir o petróleo de se espalhar. Eles usaram roupas de protecção para manter o petróleo longe da sua pele e usaram máscaras para os impedir de respirarem os fumos tóxicos.

No fim de cada dia, os trabalhadores retiravam as suas capas de chuva, botas e luvas. Os fatos e os próprios trabalhadores eram limpos com solventes químicos. No dia seguinte, eles punham de volta os fatos e regressavam ao trabalho. Mas, apesar do equipamento de protecção, muitos trabalhadores queixaram-se de tosse, dores de cabeça, tonturas e pingar do nariz. “À noite, na cama, todos estavam a tossir. Parecia uma enfermaria de tuberculosos”, disse um trabalhador. Dez anos mais tarde, muitos trabalhadores tinham desenvolvido perda de memória, danos nos pulmões e cancro. Centenas de trabalhadores morreram.

A Exxon foi processada para pagar pelos danos. Mas, passados todos estes anos, ainda não pagou nada.

Sempre que há derrames, na água ou na terra, os produtos químicos no petróleo envenenam

pessoas, animais, plantas, terra e água.

A empresa diz que este oleo é bom para as plantas

Não serás capaz de comer nada que

cresça aqui, nem daqui a um milhão

de anos.

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DERRAMES DE PETRÓLEO 517

O que fazer em caso de derrame de petróleoQuando o petróleo se derrama ou vaza de um tanque de armazenamento, ele deve ser contido e absorvido. Assim que tiver sido absorvido, o petróleo e qualquer material usado para o absorver deve ser retirado e eliminado com segurança, por exemplo num fosso revestido com cimento, para que não vá poluir a água subterrânea.

Os derrames de petróleo na água também podem ser contidos e absorvidos, mas isto é difícil se não se tiver um equipamento especial. Qualquer pessoa que entra na água para limpar petróleo derramado pode ficar muito doente. Tentar retirar petróleo da água apanhando-o em baldes é perigoso e não funciona muito bem. Com equipamento e formação adequados, é assim que os derrames de petróleo na água são limpos:

Alguns materiais para absorver petróleo são palha, serradura, maçarocas de milho

moídas, penas, barro, lã e areia.

Depois de a maior parte do petróleo ter sido coada da superfície, embebida e retirada, o que sobra é queimado. Queimar petróleo cria fumo tóxico, mas pode ser melhor do que deixar o petróleo na água.

Uma máquina chamada coadeira tira o petróleo da superfície da água e suga-o, através de uma mangueira, para dentro de um tanque de armazenamento.

O petróleo é mantido no lugar com uma baliza, uma espécie de vedação fl utuante segura por âncoras ou atada a barcos ou a coisas na costa. A baliza impede que a maior parte do petróleo fl utue para longe.

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➍➍

O petróleo que permanece na água é absorvido com materiais como serradura, turfa, penas ou barro.

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PETRÓLEO, DOENÇAS E DIREITOS518

Se você limpar um derrame de petróleo, proteja-se!Se você, ou a sua comunidade, tiverem que limpar um derrame de petróleo por si mesmos ou se forem pagos por uma empresa petrolífera para limpar um derrame de petróleo, você deve saber:

• O petróleo é sempre tóxico. Tocar nele ou respirá-lo pode trazer problemas de saúde graves (ver página 506).

• Os solventes usados para limpar o petróleo também são tóxicos e podem trazer problemas de saúde graves (ver página 516).

• As mangueiras de alta pressão habitualmente usadas para pulverizar o petróleo para fora das rochas fazem com que o petróleo se vaporize (se transforme num gás) e tornam o petróleo mais fácil de inalar. Isto pode trazer problemas da garganta e dos pulmões.

• A empresa responsável pelo derrame e pela limpeza deve disponibilizar-lhe roupa de protecção, incluindo um fato para o corpo, luvas, botas, respiradouro, óculos de protecção e cobertura para a cabeça (ver Apêndice A).

• Trabalhar longas horas em água contaminada com petróleo ou ficar exposto a solventes pode causar problemas de saúde graves. É melhor trabalhar menos horas e descansar longe dos fumos tóxicos, entre os turnos de trabalho.

Fazer um plano de segurança para emergênciasSe você vive num lugar onde há extracção ou refinarias de petróleo, trabalhe com a sua comunidade para fazer um plano de segurança para proteger a saúde de todos em caso de emergências, como por exemplo chamas ou derrames (para aprender mais sobre o que um plano de segurança inclui, ver página 545).

Mapear a sua comunidadeUm plano de segurança deve procurar saber onde é que os problemas podem surgir e onde estão os recursos para prevenir e recuperar de uma situação de emergência. Mapear a comunidade pode ser uma ajuda.

Em conjunto com outras pessoas da comunidade, desenhe um mapa do lugar onde você vive. Inclua poços de petróleo, locais de perfuração, oleodutos, fossos de resíduos, refinarias e outras fontes de poluição. Inclua também lugares onde você obtém água, cultiva ou recolhe alimentos e mantém animais, bem como os recursos comunitários.

Fale sobre onde é que houve derrames, acidentes ou poluição no passado. Qual foi o impacto? Marque o mapa onde você viu os efeitos dos derrames de petróleo. Depois, faça uma lista dos seus recursos disponíveis e faça um plano sobre como usá-los em caso de emergência.

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DERRAMES DE PETRÓLEO 519

Restaurar terra danificada pelo petróleo

PRECISAMOS DEPRECISAMOS DE• Uma fonte de água a montante ou um

tanque de água comunitário

• Mudar a água armazenada a cada 6 a 12 meses.

• Camiões ou outros veículos para levar as pessoas para longe com segurança.

• Escolher 1 ou mais pessoas para alertarem as comunidades vizinhas, os representantes e os meios de comunicação social numa emergência.

• Uma escola, igreja ou outros locais de encontro.

• Telefone ou rádio para pedir ajuda e alertar os representantes e os meios de comunicação social.

• Números de telefone de hospitais, postos de saúde e trabalhadores de saúde.

RESPONSÁVELRESPONSÁVEL• José

• Sala, Naisha, Njuma

• Táxi do Ahmed, Camião do Kwame

Os derrames de petróleo causam danos prolongados graves à terra. Se o petróleo for limpo e a terra for deixada para recuperar durante muitos anos, pode ser possível restaurar a terra para a tornar fértil outra vez. Mas isso vai levar muito, muito tempo (para mais informação sobre como restaurar a terra, ver Capítulo 11 e página 496).

Quantos de nós temos telefones

celulares que podemos

usar numa emergência?

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PETRÓLEO, DOENÇAS E DIREITOS520

Uma nova forma de limpar petróleo derramado?Depois de um derrame de combustível para fazer gasóleo nos EUA, foi pedido a diferentes empresas que vissem o que podiam fazer para o limpar. O solo onde o petróleo se derramou foi acumulado em montes e cada empresa recebeu um monte sobre o qual trabalhar.

Uma das empresas era um pequeno negócio dedicado a criar e a vender cogumelos comestíveis. O homem que geria o negócio tinha visto os cogumelos crescerem depois de incêndios florestais e outros desastres naturais. Ele acreditava que os cogumelos tinham o poder de restaurar a terra danificada. A sua equipa foi trabalhar enchendo o seu monte cheio de petróleo com fibras das raízes dos cogumelos ostra. Depois, taparam o monte e esperaram.

Quando destaparam o monte 6 semanas mais tarde, o que viram era extraordinário. O solo estava coberto de enormes cogumelos, alguns chegando a ter 30 cm de largura. Eles levaram os cogumelos e o solo para um laboratório e testaram-nos. Os cogumelos não tinham qualquer vestígio de petróleo ou quaisquer químicos tóxicos que o petróleo contém. Os cogumelos tinham limpo totalmente o solo!

A parte excitante desta história foi o que aconteceu a seguir. Depois de os cogumelos terem amadurecido, as moscas vieram e puseram ovos neles. Apareceram larvas, os pássaros voaram para aqui e outros animais pequenos começaram a comer os cogumelos e as larvas. Os pássaros e os animais transportaram sementes e as plantas começaram a crescer. O monte de lixo poluído foi transformado num rico jardim com vida.

Este método funcionou na experiência, mas ninguém sabe ainda se ele também vai funcionar em todas as condições e em todos os lugares. Mais trabalho precisa de ser feito para descobrir se os cogumelos ou outros “remédios naturais” podem limpar derrames de petróleo.

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JUST IÇA AMBIENTAL 521

Justiça ambientalUma das únicas formas de as pessoas protegerem a sua saúde em áreas ricas em petróleo é garantir que quem quer que controla os recursos petrolíferos trabalha de maneira a proteger as pessoas dos riscos para a saúde e que lhes dá alguns benefícios. Porque o petróleo é tão valioso, eles têm muita riqueza para poderem gastar com quem trabalha.

Mulheres protestam contra exploração petrolíferaO Delta do Rio Níger, na Nigéria, foi em tempos uma terra fértil com muito peixe, animais selvagens e áreas agrícolas saudáveis. Quando as empresas petrolíferas começaram a chegar à região, elas prometeram benefícios económicos para todas as pessoas. Mas, passados mais de 30 anos de desenvolvimento petrolífero, as empresas ainda não cumpriram o que tinham prometido. Tal como explicou uma mulher nigeriana: “Estamos zangados. Desde 1970, quando a empresa veio para aqui, eles têm-nos negado tudo. Não temos nada para mostrar, a não ser a poluição dos nossos rios e enseadas, a destruição das nossas florestas e zonas de mangue, e o barulho terrível das chamas de gás. Não temos esperança, enquanto eles estão a fazer milhões com as nossas dádivas de Deus. Eles não se preocupam nem querem ouvir o nosso choro.”

(história continua na página seguinte)

Chega de

Destruição!

Água limpa agora!

Chevron-Texacomentiu!

Mulheres do Delta do Níger pela justiça

Salvem o Delta do Níger!

Parem a

violência!

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PETRÓLEO, DOENÇAS E DIREITOS522

As mulheres nigerianas começaram uma campanha de protesto pacífico envolvendo pessoas de cada tribo da região. As mulheres exigiram que a Chevron-Texaco, umas das principais empresas petrolíferas a trabalhar na região, desse empregos, recursos para a educação, água, electricidade e desenvolvimento comunitário. E elas exigiram uma compensação por todos os danos que a empresa petrolífera tinha causado.

A Chevron-Texaco pediu ao governo que reagisse com mão de ferro. A polícia e os militares atiraram gás lacrimogéneo e atacaram as mulheres, batendo-lhes e torturando-as. Muitas ficaram feridas e algumas foram mortas. Mas as mulheres reagiram com determinação e criatividade. Algumas fizeram piquetes na sede da empresa petrolífera, outras ocuparam o principal terminal de exportação e centenas delas ocuparam 4 estações no rio Níger para impedir que as empresas enviassem o petróleo para fora por barco. A Chevron-Texaco perdeu mais de $100.000 dólares por cada dia que as mulheres ocuparam o terminal e as estações de embarque!

Finalmente, os representantes da empresa petrolífera cederam. A Chevron-Texaco concordou em criar empregos e estabelecer um programa de microcrédito para ajudar as mulheres a começarem os seus próprios negócios.

As acções brutais das empresas petrolíferas e dos seus aliados do governo na Nigéria mostram que eles não vão parar por nada para aumentarem os seus lucros. As mulheres da Nigéria inspiraram pessoas em todo o mundo a exigirem uma parte dos benefícios, e não o sofrimento, causados pelo desenvolvimento petrolífero. Senão, elas vão parar o desenvolvimento petrolífero na totalidade.

O petróleo e a leiMuitos países fazem leis para protegerem da poluição as pessoas, a água e a vida selvagem e para terem condições de trabalho mais seguras. Também existem leis e acordos regionais e internacionais para responsabilizar as empresas petrolíferas pelos derrames. Mas as leis só são eficazes se as pessoas trabalharem em conjunto para garantir que elas se fazem cumprir (para saber mais sobre leis internacionais, ver Apêndice B).

A empresa petrolífera deve realizar um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) antes de extrair petróleo. O EIA define aquilo pelo qual a empresa é legalmente responsável em caso de derrame. Discuta como é que a sua comunidade pode usar o EIA para responsabilizar a empresa numa emergência. Por exemplo, será que você pode exigir que eles fechem o oleoduto que causou o derrame até que eles o limpem? Será que a empresa pode fornecer água de beber à comunidade ou pagar por serviços de saúde e danos à propriedade? (Para aprender mais sobre EIA, ver Apêndice B).

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O PETRÓLEO E A LEI 523

O caso contra a TexacoQuando a Texaco chegou ao Equador para extrair petróleo, o povo Cofan que aí vivia não fazia ideia de que uma empresa petrolífera norte-americana ia destruir as suas vidas. Durante mais de 20 anos, a empresa deitou milhões de litros de petróleo e águas residuais tóxicas para o meio ambiente.

Os rios que tinham suportado os Cofan durante gerações tornaram-se inúteis como fontes de alimento. As pessoas passavam muitas horas de cada dia a procurar água para beber e a caçar animais. Muitas pessoas fugiram da área devido à destruição. Os líderes Cofan disseram que a Texaco tinha destruído a sua forma de vida tradicional e causado doenças a milhares de pessoas. O povo Cofan reduziu de 15.000 pessoas para apenas 500. As vítimas da contaminação da Texaco formaram uma Frente para a Defesa do Amazonas. Eles organizaram cuidados médicos para os que sofriam de doenças graves. Ajudaram a organizar estudos sobre os efeitos das operações petrolíferas da Texaco na saúde. Falaram com activistas do ambiente da capital, Quito, e advogados dos Estados Unidos. Em conjunto, criaram um plano. Os líderes e activistas viajaram a pé, de canoa e de avião para a cidade de Nova Iorque para pôr um processo em tribunal de milhares de milhões de dólares contra a Texaco.

A Texaco tentou que o caso fosse rejeitado. A empresa alegava que o caso devia ser julgado num tribunal do Equador, porque a poluição tinha acontecido nesse país. Os activistas tinham medo que fosse difícil conseguir justiça no Equador. Eles explicaram ao juiz que as decisões de poluir o Amazonas tinham sido feitas nos Estados Unidos. O juiz aceitou ouvi-los. Foi a primeira vez que um caso internacional foi aceite num tribunal americano! Os líderes Cofan estavam muito contentes.

Durante 10 anos, a Texaco lutou para que o caso fosse rejeitado. Um novo juiz decidiu que o caso devia ser julgado no Equador, mas, se não houvesse um resultado justo, o caso seria novamente julgado em Nova Iorque. O processo legal ainda não acabou. As pessoas continuam a sofrer de problemas de saúde à medida que o petróleo é bombeado para fora da floresta tropical.

A sua persistência em procurar justiça por parte da empresa Texaco ensinou muitas pessoas sobre os danos feitos pelo petróleo e forçou a Texaco e outras empresas petrolíferas a usarem métodos mais seguros para extraírem petróleo.

A Tóxica tem que ir embora!

Defendam o

Amazonas! A extracção de petróleo

mata!