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DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO IFPB | 2012 17 21 21

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  • D I V U L G A Ç Ã O C I E N T Í F I C A E T E C N O L Ó G I C A D O I F P B | 2 0 1 2

    17nº

    2121

  • Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIPBiblioteca Nilo Peçanha - IFPB

    Revistaprincipia:divulgaçãocientíficaetecnológicadoIFPB.Ano14,nº21(dez.2012)-JoãoPessoa:IFPB,2012.

    120p.:il.210x290cm

    Quadrimestral

    ISSN1517-0306

    1.Educaçãotecnológica-Paraíba.I.DivulgaçãocientíficaetecnológicadoIFPB

    CDU378.6(05)(813.3)

    Os trabalhos publicados nesta revista são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não representam,necessariamente, o ponoto de vista do Conselho Editorial e/ou daInstituição.

    É permitida a reprodução parcial dos artigos desta revista, desde quecitadaafonte.

  • REITOR

    PRÓ-REITORA DE PEsquIsA, INOVAÇÃO

    E PÓs-gRADuAÇÃO

    JoãoBatistadeOliveriraSilva

    NelmaMirianChagasdeAraújoMeira

    PREsIDENTE

    VICE-PREsIDENTE

    sECRETÁRIA

    sECRETÁRIO-ADJuNTO

    MEMBROs

    REVIsOREs REfEREE

    KennedyFlávioMeiradeLucena

    FrancildaAraújoInácio

    MônicaMariaSoutoMaior

    Ridelson Farias de Sousa

    AleksandroGuedesdeLima

    AlessandraMarconeTavaresAlvesdeFigueiredo

    AnaLúciaFerreiradeQueiroga

    AnaPauladaCruzPereiraMoraes

    Arilde Franco Alves

    Augusto Francisco da Silva Neto

    Iana Daya Facundo Cavalcante Passos

    JoselíMariadaSilva

    MariaVerônicaAndradedaSilveiraEdmundson

    MarileuzaFernandesCorreiadeLima

    NelmaMirianChagasdeAraújoMeira

    SeverinoCesarinodaNóbregaNeto

    AlfrêdoGomesNeto

    AnaCarolinadeAraújoAbiahy

    AngelinaDiasLeãoCosta

    Arilde Franco Alves

    CarlosDaniloMirandaRégis

    CíceroMarcianodaSilvaSantos

    ClaudiaCoutinhoNóbrega

    ClaudianaMariadaSilvaLeal

    DiegoErnestoRosaPessoa

    EvaldoRobertodeSouza

    Gilcean Silva Alves

    LucianoCandeia

    NelmaMirianChagasdeAraújo

    TâniaMariadeAndrade

    ValériaMariaBezerraCavalcanti

    CONsELHO EDITORIAL

  • REVIsÃO ORTOgRÁfICA

    PROJETO gRÁfICO E

    DIAgRAMAÇÃO

    JORNALIsTA REsPONsÁVEL

    DOCuMENTAÇÃO E

    NORMALIZAÇÃO

    CONTATO

    HallissonViniciusdeOliveiraRufino

    LucianaCabralFarias

    TamiresRamalhodeSousa

    Adino Bandeira

    FilipeFrancelinodeSouza(DRT-PB1051)

    Beatriz Alves de Sousa

    IvaniseAndradeMelo

    InstitutoFederaldeEducação,CiênciaeTecnológicadaParaíba

    ConselhoEditorial-Pró-ReitoriadePesquisa,InovaçãoePós-Graduação

    Avenida1ºdeMaio,720-Jaguaribe-58.015-430-JoãoPessoa-PB

    Fone:(83)3208-3032-Fax:(83)3208-3088

    www.ifpb.edu.br/pesquisa/[email protected]

  • Ononoartigotratadocomprometimen-to ambiental da balneabilidade de uma praia,enquantoodécimoanalisaa tipologiadeapar-tamentosnacidadedeJoãoPessoa.Odécimoprimeiroartigotemcomofocoapersonalizaçãode consultas a dados, baseada no contexto dousuário.Porfim,odécimosegundoartigoabordaumtemaquevemganhandorelevânciaacadaano:osresíduosdaconstruçãocivil.

    Acreditamos que os temas abordadosnos doze artigos sejam úteis para o aprimora-mentodepesquisascorrelatas,inclusivepoden-doserutilizadoscomofontedeconsultanassuasrespectivasáreas.

    Nesse sentido, agradecemos imensa-menteacontribuiçãodosautoreseavaliadoresinternoseexternos,osquais,comafinco,sede-dicaramàelaboraçãoouavaliaçãodosartigos,de forma que pudéssemos ter como resultadooaprimoramentodas informaçõescontidasnosartigos.Atodos,nossomuitoobrigado.

    Desejamosaosleitoresumaboaleitura,aotempoemquerenovamosoconviteparasub-missãodeartigosaesteperiódico.

    Prezados leitores da Revista Principia, é commuita satisfaçãoque lhesapresentamosmaisumaediçãodesteperiódicoinstitucionaldoIFPB.

    Estavigésima primeira ediçãoécom-posta por doze artigos oriundos de cinco dis-tintasáreasdoconhecimento:Ciências Exatas e da Terra; Ciências Humanas; Ciências so-ciais Aplicadas; Engenharias; e Linguística, Letras e Artes.

    Oprimeiroartigodiscuteosatosdede-predaçãoesuasmotivações,muitoalémdeserapenas uma questão educacional. O segundodiscorre sobre como a indisciplina em sala deaula interfere no trabalho docente. O terceiroartigo fazumacontextualizaçãodasociedadeedomeioambientenoSertãodoRioPiranhasnoséculoXVIII,enquantooquartoartigodiscuteacrônicajornalísticadeMáriodeAndrade.

    Oquintoartigo fazumaanálisecompa-rativa entre técnicas de classificação de vozessaudáveis e patológicas.O sexto artigo abordaa caracterização e confecção de antena para re-cepçãodeTVdigitaleaplicaçãoemnotebooks.Jáosétimoartigoapresentaasoficinasdecom-postagemcomopropostadeeducaçãoambien-tal e o oitavo artigo discorre sobre o ensino de história.

    Editorial

    Conselho Editorial

  • suMÁRIO

    Avaliação dos atos de depredação e suas motivações no IfPB – Campus João Pessoa. Muito além de uma questão educacionalRaissadeMeloVieira,LeilianeS.deMorais,JoyceAlvesdaS.Barbosa,ClauberLuciandaSilvaMaia,ArildeFrancoAlves...................................

    Como a indisciplina em sala de aula interfere no trabalho docenteIcaroArcêniodeAlencarRodrigues,LarissaCarvalhoMarques,MárciaMariaCostaGomes....................................................................................

    sociedade e meio ambiente no sertão do Rio Piranhas, Capitania da Paraíba do Norte, século XVIIIAnaPauladaCruzPereiradeMoraes,SebastiãoJuniodaSilvaGonçalvesSales,DafiIrenicedeAbreu......................................................

    A crônica jornalística de Mário de AndradeCíceroNicáciodoNascimentoLopes,FrancildaAraújoInácio.................

    Análise comparativa entre técnicas de classificação de vozes saudáveis e patológicas utilizando sVM e LDAJaynedosSantosLima,ThamyresTâmullaCavalcantePalitó,ViníciusJeffersonDiasVieira,SilvanaCunhaCosta,SuzeteÉlidaN.Correia,WashingtonCésardeAlmeidaCosta.........................................................

    Caracterização e confecção de uma antena de microfita para recepção de TV digital e aplicação em notebooks através do Ansoft HfssJéssicaPederneirasMoraesRocha,CíntiaJoséMendes,JaynedosSantosLima,JeffersonCostaeSilva,AlfrêdoGomesNeto......................

    Oficinas de compostagem: uma proposta de educação ambiental no IfPB – Campus Cajazeiras e na AsCAMARCAndréPereiradaCosta,WilzaCarlaMoreiraSilva...................................

    Ensino de História, Memória e História LocalCarlosHenriqueFariasdeBarros..............................................................

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  • Investigação sobre o comprometimento ambiental da balneabilidade da praia de Manaíra em João Pessoa-PBDárioMacedoLima,MirellaLeôncioMottaeCosta,VivianeSilvaLima,GilceanSilvaAlves,DiegoRodriguesdeLucena.......................................

    Tipologia de apartamentos: uma análise dos cômodos na cidade de João PessoaJoanaDarcLúciodaCosta,LuanaMoraisSá,MaísaBeatrizMarinhoFaustodaSilva,PatríciaRêgodeOliveira,AlexsandraRochaMeira.......

    CODI4In + Movieshow: em busca de personalização de consultas baseadas no contexto do usuárioMarceloFreitas,LivioRibeiro,ThiagoMoura,DamiresSouza.................

    Resíduos da construção civil: análise de uma obra e de uma usina de reciclagemRobertaEstevãodaSilva,AlexsandraRochaMeira,NelmaMirianChagasdeAraújo........................................................................................

    87

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    75

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    Avaliação dos atos de depredação e suas motivações no IFPB – Campus João Pessoa. Muito além de uma questão educacional

    Raissa de Melo Vieira[1], Leiliane S. de Morais[2], Joyce Alves da S. Barbosa[3], Clauber Lucian da Silva Maia[4], Arilde Franco Alves[5]

    [1] [email protected]; autora para correspondência, ex-Bolsista do Projeto, Técnica em Controle Ambiental, Graduanda em Engenharia Ambiental – UFPB. [2] [email protected]; Colaboradora do Projeto, Técnica em Controle Ambiental, Graduanda em Engenharia. Ambiental – UFPB. [3] [email protected]; ex-Bolsista do Projeto, Curso Técnico em Eletrotécnica – IFPB. [4] [email protected]; Colaborador do Projeto, Técnico em Controle Ambiental, Graduando em Engenharia Química – UFPB. [5] [email protected] – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba-IFPB – Campus João Pessoa.

    ReSuMo

    Rabiscos nas carteiras escolares e nas paredes das salas de aula, entre tantos outros atos de depredação, são situações [até] corriqueiras, que representam um grande problema de conscientização educacional. Muitas dessas descrições [pichações] estão associadas ao imaginário pejorativo, denotando enorme poluição visual. No sentido de verificar a amplitude dessa problemática, realizou-se uma pesquisa no espaço escolar do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) – Campus João Pessoa, no tocante a atos de depredação e falta de consciência ambiental, envolvendo alunos, com apoio dos servidores, especialmente aqueles que executam os serviços de limpeza e manutenção do patrimônio da Instituição. Nessa pesquisa também se desenvolveram algumas atividades educativas, como palestra, oficina de grafitagem e cartazes de conscientização. Esses resultados foram comparados com a situação escolar numa escola da rede pública municipal. Os resultados revelaram falta de consciência com aquilo que é público, bem como falta do senso de qualidade de vida, através do bom aspecto visual no ambiente escolar.

    Palavras-chave: Depredação. Pichações. Poluição visual. Conscientização educacional.

    ABStRACt

    Scratches on desks and walls of classrooms, among many other acts of depredation are situations [even] unexceptional, which represent a major problem of educational awareness. Many of these descriptions [graffiti] are associated with the pejorative imaginary, denoting huge visual pollution. In order to establish the extent of this problem, we carried out a survey in the school’s Federal Institute of Education, Science and Technology of Paraíba (IFPB) – Campus João Pessoa, in respect of acts of vandalism and lack of environmental awareness, involving students with support of servers, especially those that perform cleaning services and maintenance of the heritage of the institution. This research also developed some educational activities, such as lecture, graffiti workshop and awareness posters. These results were compared with the situation in a school of municipal public educational system. The results revealed a lack of awareness to what are public, as well as a lack of sense of quality of life through good visual appearance in the school environment.

    Keywords: Depredation. Graffiti. Visual pollution. Educational awareness.

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    1 Introdução

    Rabiscos nas mesas da biblioteca, nas carteiras escolares e nas paredes das salas de aula, a quebra de espelhos nos banheiros, a fixação de papel higiêni-co molhado nas paredes, o uso de tintas na recepção dos calouros, entre tantos outros atos de depredação do patrimônio escolar, são situações [até] corriquei-ras e que representam um grande problema de cons-cientização educacional.

    Além disso, muitas dessas descrições [pichações] estão associadas ao imaginário pejorativo, denotando enorme poluição visual. Com isso, faz-se necessário tentar desvendar as mensagens escondidas nos atos de violência contra o patrimônio escolar, que podem ter vários significados: desde a necessidade de cha-mar atenção, de exibir-se para os colegas, expressar revolta ou até mesmo querer deixar sua marca no mundo (DAY, 1996), uma vez que os que cometem tais atos estão colocando para fora alguma rebeldia, seja ela contra o governo, os pais, a sociedade, a escola ou contra alguém indefinidamente.

    Este trabalho é, portanto, o resultado de um projeto de pesquisa que teve como um dos objetivos caracterizar essa situação de poluição visual no inte-rior do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tec-nologia da Paraíba (IFPB) – Campus João Pessoa, no tocante a atos de depredação e falta de consciência ambiental, expressada no uso excessivo de cartazes.

    Para tanto, foram realizadas diversas atividades de pesquisa1, que envolveram toda a comunidade escolar (alunos dos Cursos Técnicos Integrados e servidores, em especial aqueles que executam os serviços de limpeza e manutenção do patrimônio da Instituição), através da elaboração de questionários, da criação de um blog de mobilização em torno da conscientização e exposições de fotos, bem como a realização de palestras e oficina de grafitagem edu-cativa, no sentido de melhorar o visual ambiental do espaço escolar.

    Assim, o presente artigo está estruturado nas seguintes seções: primeiro, um sintético apanhado teórico em relação a essa problemática educativo--ambiental relacionada com a depredação, quando se apresenta, também, a seguir, os objetivos e as justificativas da necessidade de uma mudança de atitudes no espaço escolar; depois, a metodologia

    aplicada nesse processo investigatório interativo; na sequência, um levantamento inicial realizado sobre a problemática, tanto no âmbito do IFPB como noutra escola pesquisada, sobre a qual se buscou fazer algumas observações qualificáveis importantes; por fim, uma análise dos dados e observações, especial-mente as de cunho comportamental, sobretudo após a realização das atividades de oficina de grafitagem educativa e de cartazes de conscientização, encerra-das com uma avaliação que permitiu-nos apontar al-gumas recomendações importantes desse processo educativo e comportamental.

    2 Revendo algumas questões que envolvem a depredação do espaço escolar

    A instrução educacional sempre foi concebida como um dos maiores pilares na formação da so-ciedade. Uma das finalidades da Educação previstas pela LDB2 é o preparo para o exercício da cidadania.

    Segundo Souza (2003) este processo só é possível se dentro do ambiente escolar forem desenvolvidas práticas que levem os indivíduos a promover ações de solidariedade, respeito mútuo, ética, responsabili-dade social, cooperação e consciência ambiental.

    Para esse autor, a escola “é sempre um subsiste-ma do Mundo Social e deve representar certamente os anseios e desejos da comunidade que a ela bus-ca”. Além disso, sabemos que as escolas têm sido, contemporaneamente, o ambiente onde a maioria das pessoas passa boa parte do tempo de suas vidas, pelo menos da infância até o final da adolescência. É, pois, nesse espaço que emergem oportunidades para o desenvolvimento do conhecimento e a formação intelectual. E é desse espaço que emanam atitudes cidadãs.

    Nesse sentido, a escola deve, necessariamente, promover oportunidades de desenvolvimento de ati-tudes de respeito e valorização dos bens patrimoniais do ambiente escolar, dadas através de um processo de conscientização acerca da importância da pre-servação dos elementos (materiais) que compõem o espaço escolar. Ou seja, que a escola promova discussões acerca da importância do patrimônio que pertence a todos. Mas isso não é o que muitas vezes ocorre, pois a escola torna-se o alvo principal

    1 Do tipo Pesquisa-Ação. Ver mais sobre essa metodologia em TIOLLENT, 1985.

    2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996).

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    satisfatória para um processo de defesa dos bens ambientais, dos ambientes de cultura e dos marcos das histórias dos homens em sua luta cotidiana. Ou, como defende Souza (op. cit.), ao externar que a es-cola deva desenvolver práticas pedagógicas voltadas para o reconhecimento dos bens patrimoniais e de sua valorização ativa e consciente:

    No ambiente escolar é importante realizar ativi-

    dades que envolvam toda a sua comunidade em

    defesa do patrimônio e na luta pela valorização

    dos bens que cercam os membros do espaço

    intra e extra-escolar. É vital que cada indivíduo

    que faz parte da escola seja um agente ativo na

    proposta de preservação e/ou valorização dos

    bens patrimoniais da sociedade. O espaço es-

    colar abre oportunidades para uma atitude que

    tenha como ponto de partida a união entre a

    escola e os anseios de sua comunidade promo-

    vendo um processo de trocas e de construção

    ativa da cidadania. (SOUZA, 2011).

    3 A depredação e a poluição visual: uma questão de mudança de atitudes

    Sabemos que as depredações e as pichações apresentam muitas conotações, geralmente pejo-rativas, associando-se à poluição visual urbana e ao vandalismo. Além de danificar economicamente os objetos atingidos, esses atos trazem desastrosas consequências ao ambiente, à estética e paisagismo urbanos.

    A pichação é tida como um dos principais pro-blemas causadores de poluição visual nas escolas, impactando o ambiente e destoando totalmente dos propósitos maiores da escola – o da educação para a cidadania, que, também, inclui todas as questões ambientais.

    No Brasil, a pichação é considerada vandalis-mo e crime ambiental, nos termos do art. 65 da Lei 9.605/983. Assim, como crime ambiental, a solução para o problema através da punição fundamenta a concepção de que as mesmas são delitos graves con-tra o bem-estar ambiental e a boa qualidade de vida.

    Por isso, atitudes depredatórias são considera-das um modo de expressão que tem como objetivo a destruição de determinadas regras sociais e culturas

    de atitudes de vandalismo e depredação, na maioria das vezes pelos próprios usuários – os alunos, que agridem o meio ambiente e, consequentemente, o bem-estar das pessoas.

    Por se tratar de um espaço público ou “coisa pública”, utilizando as palavras de Oliveira & Camillo (2009) quando sustentam que “a escola, no Brasil apresenta um quadro de desgaste e depredação que a afeta e que acarreta despesas [...] desnecessárias ao erário”, sem deixarmos de considerar a questão da poluição visual, quando o problema são as picha-ções, devemos compreender a questão como uma problemática educacional.

    Neste cenário, referimo-nos à depredação que pode estar relacionada ao ato de uniformização do comportamento das pessoas. Salientamos, ainda, que a depredação no seu significado stricto sensu surge quiçá como uma forma de contestação aos modos pelos quais essa uniformização se expressa, notadamente a vigilância e a punição (GUIMARÃES, 1987, p. 71).

    Para tentar minimizar essa situação é importante lembrarmos-nos das considerações de Guimarães (1987), em sua obra Vigilância, Punição e Depreda-ção Escolar, de que a escola reage, ao afirmar que “[...] a resposta da escola vem com investimentos em vigilância, construção e ampliação de muros e de serviços de segurança, inclusive através de rondas policiais”.

    Nesse contexto, a vigilância se apresenta como forma normatizadora de condutas qualificáveis das pessoas, uma espécie de enquadramento a padrões. Para essa autora, a vigilância é

    O suporte básico para o funcionamento dessas

    práticas políticas disciplinares, por esse motivo

    ela está inserida na prática do ensino, transfor-

    mando a escola num ‘observatório político’, ou

    seja, num local onde se pode ter conhecimento

    de todos os indivíduos, possibilitando classificar,

    qualificar, punir e normatizar todas as pessoas

    inseridas no ambiente escolar. (GUIMARÃES,

    1987, p. 72).

    Nossa pesquisa partiu do entendimento de que a escola é o espaço ideal para uma prática de valorização e defesa do patrimônio, pois tem todas as condições para uma atitude que será sempre

    3 Lei dos Crimes Ambientais, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e

    atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.

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    visual e depredação patrimonial. Assim, foi levantada uma amostragem com cinco alunos de cada turma dos Cursos Técnicos Integrados, totalizando um uni-verso de 140 entrevistados5.

    Além disso, a interação dos pesquisadores com os alunos, também, foi feita a partir da criação do blog, onde eles puderam estar constantemente atu-alizados sobre as novidades da pesquisa, bem como postando sugestões e ideias em busca de melhorias das condições visuais do ambiente patrimonial esco-lar. Nesse sentido, a investigação assumiu um caráter de Pesquisa-Ação, quando a equipe de pesquisado-res interagiu com o universo de sujeitos analisados (TIOLLENT, 1985).

    Em face do caráter visual percebido durante a pesquisa, também, foram postadas nesse blog fotos mostrando a realidade visual impactante de vários espaços do IFPB, bem como a situação de degra-dação que causam desconforto e mal-estar. Como alternativas às atitudes de vandalismo, propusemos, por exemplo, a disponibilização de blocos de rascu-nho nas mesas da biblioteca; quadros de aviso, nos quais o aluno pudesse expressar o que escreveria nas paredes e nos banheiros.

    Ademais, no sentido de, inicialmente, minimizar a problemática da poluição visual dos espaços aca-dêmicos no IFPB, foram, também, realizadas palestra e oficina de grafitagem, nas quais os interessados puderam externalizar atos pela justiça social, igual-dade de gênero, proteção do meio ambiente, etc., estimulando, assim, a melhoria visual dos espaços acadêmicos. Isso veio despertar em toda a comuni-dade o interesse em prosseguir contribuindo para a conservação da Instituição.

    Por fim, todo esse trabalho de pesquisa e intera-ção com o público envolvido (a comunidade acadêmi-ca) teve duração de aproximadamente 11 meses, a partir da aprovação do projeto, contando com o apoio da Direção-Geral do IFPB – Campus João Pessoa, que intermediou a disponibilização do espaço para a ati-vidade educativa conscientizadora – palestra/oficina educativa de grafitagem – em relação à importância da preservação do patrimônio e do ambiente visual no espaço escolar.

    patrimoniais. Por isso, a avaliação destes atos de depredação possibilita minimizar estes atos, através do entendimento das causas que levaram a essas atitudes e o comprometimento das partes envolvidas.

    A depredação é, geralmente, o caminho trilhado por jovens que não encontram outra forma de canali-zar sua energia e agressividade. Há vários exemplos de agressividade, dentre os quais aqueles expressa-dos através de atos de vandalismo, mas que, tam-bém, podem despertar outro lado. Referimo-nos ao potencial artístico que, muitas vezes, está oculto nes-ses jovens. Por isso, bastam oportunidades e espaços apropriados para aflorarem tais potencialidades, mui-to importantes no processo de diminuição de atos de depredação no interior das escolas.

    Com isso, o objetivo foi o de levantar dados a res-peito da situação da degradação visual causada por atos de depredação nos espaços físicos e instalações do IFPB, bem como propor soluções à comunidade escolar no sentido de uma mudança de atitudes e de uma melhoria do bem-estar social.

    Este objetivo desdobrou-se em outros mais específicos, como: identificar as origens, causas e opiniões a respeito da problemática da poluição visual e da depredação do espaço escolar; mobili-zar a comunidade escolar, no sentido do despertar para o enfrentamento dessa contestável realidade comportamental, por meio da exposição de fotos dos ambientes que exemplifiquem a situação estudada; manter os alunos atualizados sobre a situação am-biental [visual] do IFPB e de outras escolas da cidade, através de um blog4; investigar as possíveis explica-ções para tais ocorrências, demonstradas pela exe-cução de experimentos psicopedagógicos; dinamizar o processo ensino-aprendizagem da problemática, através de palestras com especialistas da área de conduta escolar, educação ambiental e habilidades artísticas educativas.

    4 Apontamentos metodológicos

    Em se tratando de uma pesquisa qualitativa, os dados necessários para que se pudesse detectar um panorama geral [do aspecto visual] foram adquiridos por meio de questionário aplicado junto aos alunos, quando eles opinaram sobre as possíveis causas e sugestões de soluções a respeito do assunto poluição

    4 Disponível em: www.vandalismonasescolas.wordpress.com

    5 No IFPB – Campus João Pessoa há 6 (seis) Cursos Técnicos Integrados (Edificações, Mecânica, Eletrotécnica, Eletrônica, Instrumento Musical

    e Controle Ambiental), totalizando 28 turmas.

    http://www.vandalismonasescolas.wordpress.com

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    o Gráfico 2 a seguir demonstra que quase 30% dos estudantes entrevistados reconheceram neles pró-prios, como atitudes de falta de educação, verdadei-ramente uma falta de consciência individual e coletiva em relação à importância de preservar o patrimônio público. Além disso, mais de 20% responderam que se trata de desvios de conduta individuais, puro ato de vandalismo. Outras causas, em menor percentu-al, foram apontadas, como: problemas emocionais, maus exemplos, atitudes de irreverência, atos para chamar a atenção.

    Gráfico 2 – Motivos da depredação ou atos de vandalismo do espaço escolar.

    Quando a questão partiu dos motivos apontados por esses alunos entrevistados, sobretudo daqueles relacionados a atitudes de irreverência, perguntou-se se, caso houvesse um espaço para alguma manifes-tação de contestação, estariam dispostos a mudar as atitudes depredatórias ou vândalas por manifesta-ções com um tom artístico ou cultural, minimizando assim a própria poluição visual resultante dos atos de depredação ou vandalismo, como as pichações pejo-rativas. Como resultado, o Gráfico 3 a seguir aponta que quase 70% se mostraram dispostos a essa opor-tunidade de mudança do cenário, pela qual passam as instituições públicas no que se refere ao aspecto visual do patrimônio.

    5 o que encontramos no espaço escolar analisado

    O primeiro levantamento, realizado junto a alunos do Ensino Básico e Fundamental de outra instituição de ensino6, teve como premissa basilar a possibilidade de fazermos algumas comparações, já que, mesmo sendo públicas, são esferas distintas. Assim, foram entrevistados 34 alunos das séries do Ensino Básico.

    As questões levantadas foram: Praticou depreda-ção? Quais os motivos para as pessoas depredarem? Caso houvesse espaço para expressar atitudes artís-ticas ou de manifestação de contestação, mudaria o problema da depredação/vandalismo? Quais são os mais prejudicados com a depredação? Que postura tomaria presente um ato de depredação? Vê neces-sária a punição para os atos de depredação? Apoiaria algum tipo de mobilização contra atos de vandalismo/depredação?

    Os resultados, representados através do Gráfico 1 apresentado a seguir, apontaram que 85% dos alunos já praticaram algum tipo de atitude de depre-dação no interior da escola.

    Esse é um dado bastante preocupante, corro-borando com as observações de Guimarães (1987), quando a uniformização é a tônica de uma desigual sociedade.

    Gráfico 1 – A depredação ou atos de

    vandalismo no interior da escola.

    Em relação aos motivos que os levaram a prati-car algum tipo de depredação no interior da escola,

    6 Escola Municipal Oscar de Castro, João Pessoa-PB.

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    Gráfico 5 – Atitude pessoal frente a um ato de depredação ou vandalismo no espaço escolar.

    Concomitantes a esse levantamento, realizaram--se internamente no IFPB – palco principal de nossa pesquisa – inúmeros contatos com alunos, observan-do-se sua postura quando o assunto era a questão da depredação do ambiente escolar e os reflexos disso na estrutura da Instituição e no aspecto da poluição visual.

    Nessa fase da pesquisa, também ocorreu a estruturação de um blog voltado a fomentar uma discussão interna, especialmente entre os alunos dos Cursos Técnicos Integrados.

    Além disso, metodologicamente, fez-se uma am-pla divulgação da pesquisa entre as turmas de alunos dos Cursos Técnicos Integrados do IFPB – Campus João Pessoa, momento em que despertou o interesse por essa problemática educacional.

    Nessa etapa, contou-se com o apoio do Depar-tamento de Ensino, que disponibilizou espaço para que a equipe de pesquisadores interagisse com esse público-alvo, momento em que passaram a aplicar uma enquete entre os alunos, na mesma lógica de questões abordadas entre os pesquisados da outra escola, na perspectiva de uma análise comparativa, referente à amplitude e às causas da depredação no espaço escolar.

    Assim, nesse segundo levantamento, numa amostragem de cinco alunos por turma, a primeira questão foi se já haviam praticado algum tipo de ato depredatório do patrimônio escolar.

    No Gráfico 6 a seguir, as respostas apontam que mais de 60% dos entrevistados jamais haviam pra-ticado algum ato que prejudicasse o ambiente físico escolar. No entanto, quase 40% dos entrevistados confessaram que em algum momento já havia reali-zado algum tipo de dano ao patrimônio escolar.

    Gráfico 3 – Oportunidades de expressão de atitudes artístico-culturais em relação à depredação

    ou atos de vandalismo no espaço escolar.

    Na sequência, buscou-se saber em relação aos prejuízos decorrentes das atitudes de depredação no interior das escolas, especialmente daquelas praticadas pelos próprios alunos usuários do espaço escolar. Como respostas, o Gráfico 4 a seguir indica que, na opinião de mais de 60% dos entrevistados, os maiores prejudicados são os próprios alunos, que passam a ter equipamentos danificados, instalações depredadas, sem levar em conta o péssimo aspecto visual, que influencia diretamente no bem-estar dos alunos em processo de aprendizagem.

    Gráfico 4 – Os prejuízos decorrentes da depredação ou vandalismo no espaço escolar.

    Por fim, quando a questão enveredou na direção de alguma medida coibitiva frente a essas atitudes de depredação, o Gráfico 5 demonstra que quase 50% dos entrevistados disseram que, caso tomassem conhecimento de atos dessa natureza, comunicariam as autoridades educacionais, aqui entendidas como direção, coordenação pedagógica ou qualquer outro funcionário da escola. Significativo número de entre-vistados (quase 25%) disseram que agiriam por conta própria, chamando a atenção dos autores para não praticarem atos de vandalismo no espaço escolar.

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    Em patamares menores, outros motivos para a ocorrência de atitudes de depredação foram apon-tados, como: problemas pessoais/emocionais dos praticantes, falta de consciência, chamar atenção e até motivos fúteis, denominados por eles “diversão”.

    Entendemos com esses resultados que a varie-dade de motivos apresentados não dá, por si só, uma total dimensão do problema, que tem outras causas que serão apontadas mais adiante.

    Gráfico 8 – Motivos da depredação ou vandalismo no espaço escolar

    Da mesma forma que foi feito o levantamento na outra escola, partindo dos motivos apontados pelos alunos entrevistados, sobretudo daqueles motivos relacionados a atitudes de irreverência e/ou para cha-mar atenção, internamente no IFPB, questionou-se: caso houvesse um apropriado espaço para alguma manifestação de contestação ou irreverência, esta-riam dispostos a mudar as atitudes de depredação por atos num tom artístico-cultural, minimizando assim a própria poluição visual com os atos de vandalismos como as pichações pejorativas?

    Como resultado, o Gráfico 9 a seguir aponta que quase 80% se mostraram dispostos a essa opor-tunidade de mudança do cenário pela qual passam as instituições públicas, no que se refere ao aspecto visual do patrimônio.

    Gráfico 9 – Oportunidades de expressão no espaço escolar do IFPB.

    Gráfico 6 – A depredação ou o vandalismo no espaço escolar do IFPB.

    Mas quando a questão foi em relação à forma desse ato de depredação, levada a termo entre os que haviam confidenciado ter realizado algum ato de dano patrimonial, o Gráfico 7 revela-nos que dois terços o praticaram de maneira inconsciente e, prati-camente, o terço restante diz ter realizado de forma proposital, sem, necessariamente, justificar tais pro-pósitos que os levaram a praticar atos de vandalismo no espaço escolar.

    Gráfico 7– Característica das atitudes (de depredação ou vandalismo) no

    espaço escolar do IFPB.

    De maneira semelhante ao questionário realiza-do na outra escola, que interrogou sobre os motivos que levaram os entrevistados a praticar algum tipo de depredação na escola, o Gráfico 8 demonstra, na sequência, que mais de 25% dos entrevistados não conseguiram apontar exatamente o motivo, pois a maioria desses denominou ‘esse motivo’ como sendo o que chamaram vulgarmente de “falta do que fazer”, referindo-se ao ato praticado como sendo, de fato, uma falta de consciência em relação ao valor de uso do patrimônio coletivo.

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    Gráfico 11 – Postura frente a uma atitude de depredação do espaço escolar.

    Porém, no Gráfico 12, como desdobramento da primeira questão, em que a maioria apontou a dis-posição de alguma iniciativa de intervenção, assim como a aplicação de algum tipo de punição, se bus-cou saber qual ou quais seriam os tipos de medidas coibitivas ou punitivas aos praticantes de algum ato depredativo ou vândalo no espaço escolar.

    Como respostas, quase 50% dos entrevistados disseram que a melhor medida seria cobrar do prati-cante a reparação do dano, enquanto a outra metade respondeu que o melhor seria excluir esses vândalos da escola ou algum tipo de castigo administrativo. Ambas as respostas tiveram um viés punitivo, e merecem ser mais bem discutidas enquanto práticas minimizantes do problema educacional.

    Gráfico 12 – Formas de coibir as atitudes de depredação do espaço escolar.

    E em relação aos prejuízos materiais decorrentes das atitudes de depredação no interior das escolas, especialmente daquelas praticadas pelos próprios usuários do espaço escolar, os dados colhidos no interior do IFPB revelaram, majoritariamente, que os mais prejudicados são os próprios alunos, que ficam sem os equipamentos/espaços depredados, sem uma posterior condição de uso didático, sem deixar de considerar o péssimo aspecto visual apresentado pelo espaço escolar poluído ou danificado.

    Nesse sentido, podemos ver no Gráfico 10 a seguir essa percepção dos alunos. Mesmo assim, constatamos, através de fotos que foram postadas no blog, que há muitos equipamentos depredados, com consequente carência de alguns em determinados espaços de aprendizagem.

    Gráfico 10 – Prejuízos com a depredação do espaço escolar do IFPB – Campus João Pessoa.

    Nas questões seguintes rumou-se na direção de verificar, entre os entrevistados, qual a opinião em relação a alguma medida coibitiva frente a essas atitudes de depredação e poluição visual.

    No Gráfico 11 buscou-se saber qual seria a pos-tura do entrevistado quando presenciasse algum co-lega praticando alguma atitude danosa ao patrimônio, independente dos motivos que estariam embutidos nesse ato.

    As respostas apontaram que quase 2/3 dos en-trevistados tomariam a atitude de chamar a atenção, contra mais de 1/3 que não faria qualquer intervenção na atitude do colega. Isso demonstra uma desunifor-me consciência coletiva.

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    suas motivações, como alerta para um problema que é geral no espaço escolar, já amplamente estudado e debatido por outros estudiosos dessa temática com-portamental. Nesse sentido, a utilização do blog, além daquelas garantidas nos questionários semi-dirigidos, permitiu verificar outras causas do problema.

    A utilização da metodologia da grafitagem, como forma de veiculação das mensagens e objetivos a que o Projeto de Pesquisa estava se propondo, surtiu efei-to, na medida em que se buscou a desmistificação de que a grafitagem enquanto expressão tem sua valia quando alerta algo, levanta questões sociais (saúde, educação, meio ambiente, cidadania, etc.), ao invés daquelas conotações pejorativas e/ou depredativas no aspecto visual.

    No aspecto dos resultados, nos dois locais onde se realizou a coleta de dados, demonstrados ante-riormente através dos gráficos e ilustrações, ficou evidente que as justificativas para aqueles atos de vandalismo e/ou depredação têm muitas motivações, muitas das quais enraizadas nas condutas familiares, as quais fogem ao alcance das metodologias pedagó-gicas das escolas, por meio de métodos que se pode-ria chamar “vigiar e punir”. Ou, como demonstramos no próprio título do projeto, vão além de uma questão educacional bancária. Isto é, trata-se de uma educa-ção que advém da família.

    Verificamos, ainda, que essa problemática pode-ria ser mais bem explorada positivamente com um espaço escolar mais dinâmico, que retratasse melhor a realidade que estes estudantes vivem (sua família, sua comunidade, suas angústias socioeconômicas, temas sociais emergentes, etc.), no sentido de uma melhor aproximação da escola enquanto espaço de formação e informação, mas como espaço de vida social, onde as criatividades e anseios podem ser externalizados e não manifestados pejorativamente/degradantemente.

    Portanto, a escola deve oportunizar espaços para a manifestação da arte, revelando-se como es-paço de uma construção cidadã, visto que na maioria das vezes a comunidade, os demais entes públicos não oportunizam isso aos jovens dessa contempora-neidade tão pós-moderna e globalizada, tão instan-tânea em termos de informações e formação que a sociedade pode receber.

    ReFeRênCIAS

    BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação

    Por fim, quando abordamos a real possibilidade de alcançarmos ao conjunto dos entrevistados uma mobilização e/ou alguma atividade interativa que viesse motivar, positivamente, para o desenvolvi-mento de uma consciência coletiva, mostrando a importância de se preservar o espaço escolar, não somente no aspecto valorativo do patrimônio, mas no aspecto do bem-estar visual desse ambiente edu-cacional, a grande maioria manifestou total apoio à iniciativa.

    Isso veio consolidar um dos nossos objetivos – o de dinamizar o processo ensino-aprendizagem e de conscientização, através de palestras com especialis-tas da área de conduta escolar, educação ambiental e habilidades artísticas educativas. Referimo-nos, portanto, à realização da atividade palestra/oficina de grafitagem educativa nos muros da escola, chamando atenção para a conservação do patrimônio escolar.

    Gráfico 13 – Atitudes de enfrentamento do problema da depredação do espaço escolar.

    6 Para concluir nossa avaliação

    O primeiro aprendizado da equipe de alunos pesquisadores nesse processo investigatório a que se propuseram foi no tocante à metodologia de co-leta dos dados, uma vez que puderam exercitar as diferentes formas de abordagem dos entrevistados. Essa consideração se ampara no fato de que o levan-tamento dos dados ocorreu em dois espaços distin-tos, com públicos de diferentes categorias sociais. O segundo aprendizado foi quanto à interatividade en-tre os sujeitos da pesquisa (alunos e servidores), que deram muitas sugestões para minimizar a questão da poluição visual e, sobretudo, da depredação do patrimônio público no espaço escolar.

    Com base nessas duas relevantes questões an-teriormente levantadas, a pesquisa serviu, além de ferramenta de sondagem da situação – depredação e

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    D I V U L G A Ç Ã O C I E N T Í F I C A E T E C N O L Ó G I C A D O I F P B | N º 2 1

    nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Seção 1, p. 27833-27841.

    ______. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 fev. 1998. Seção 1, p. 1-5.

    DAY, N. Violence in schools – learning in fear. Berkeley Heights, NJ: Enslow Publishers, 1996.

    GUIMARÃES, Á. M. Escola e violência: relações entre vigilância, punição e depredação escolar. 1984. 294 f. Dissertação (Mestrado em Educação). PUC Campinas, Campinas, 1984.

    ______. Vigilância – punição e depredação escolar. Educação & Filosofia, Uberlândia, v. 1, n. 2, p. 69-75, jan./jun. 1987.

    OLIVEIRA, F. A. S. de; CAMILLO, M. R. da S. A depredação em uma instituição escolar de Cruzeiro do Sul denominada ABC. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Pedagogia). Universidade Federal do Acre, Rio Branco, 2009.

    SOUZA, D. de. Preservação do ambiente: uma ação de cidadania. Fortaleza: Brasil Tropical, 2003.

    ______. A escola e a defesa do patrimônio. Disponível em: . Acesso em 27 de abr. 2011.

    TIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo, 1985.

    http://www.inep.gov.br/PESQUISA/BBE-ONLINE/obras.asp?autor=GUIMAR%C3ES,+%C1UREA+M.http://www.inep.gov.br/PESQUISA/BBE-ONLINE/det.asp?cod=35622&type=Mhttp://www.inep.gov.br/PESQUISA/BBE-ONLINE/det.asp?cod=35622&type=Mhttp://www.inep.gov.br/PESQUISA/BBE-ONLINE/det.asp?cod=35622&type=M

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    Como a indisciplina em sala de aula interfere no trabalho docente

    Icaro Arcênio de Alencar Rodrigues[1], Larissa Carvalho Marques[2], Márcia Maria Costa Gomes[3]

    [1] [email protected]; Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – Campus Campina Grande. Rua Tranquilino Coelho Lemos, 671, Jardim Dinamérica. CEP: 58.432-300 – Campina Grande/PB

    ResuMo

    A indisciplina em sala de aula é um fato presente no cotidiano das instituições educativas. Até que ponto ela influencia o trabalho do professor em sala de aula? O objetivo deste trabalho é investigar sobre a interferência da indisciplina em sala de aula no trabalho dos professores que lecionam nos Cursos Técnicos Integrados do IFPB – Campus Campina Grande. Esta pesquisa é caracterizada como uma pesquisa de campo, explicativa e quali-quantitativa. Para a coleta de dados utilizou-se o questionário como instrumento e para a análise dos dados, o método da Análise de Conteúdo. As respostas apresentadas pelos educadores, em sua grande maioria, apontam que a indisciplina interfere na prática profissional destes, provocando, como maior consequência, descontração. Sobre o papel do professor na gestão da indisciplina, a maior parte dos docentes afirma que é preciso ter um bom controle da situação. Observou-se que o professor tem o papel de condutor das relações interpessoais em sala de aula mediante as consequências danosas provocadas pela indisciplina em sala de aula ao processo ensino-aprendizagem.

    Palavras-chave: Indisciplina. Sala de aula. Interferência. Professor.

    AbsTRACT

    The indiscipline in the classroom is a present fact in daily educational institutions. To what extent it influences the work of the teacher in the classroom? The objective of this study is to investigate about the interference of indiscipline in the classroom work of teachers who teach in ntegrated technical courses at IFPB – Campina Grande Campus. This research is characterized as a field research, explanatory and qualitative and quantitative. For data collection a questionnaire was used as an instrument and for the data analysis the method of Content Analysis. The answers provided by educators show mostly that indiscipline interfere in the professional practice, causing, as a bigger consequence, deconcentration. On the role of the teacher in the management of indiscipline, most teachers say they need to have good control of the situation. It was observed that the teacher has the role of conductor of interpersonal relationships in the classroom because of the harmful consequences caused by indiscipline in the classroom teaching-learning process.

    Keywords: Indiscipline. Classroom. iIterference. Teacher.

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    1 Introdução

    Este trabalho é resultado de uma pesquisa fo-mentada pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica (PIBICT) intitulado A Gestão da Indisciplina em Sala de Aula pelos Pro-fessores dos Cursos Técnicos Integrados do IFPB – Campus Campina Grande, cujo objetivo foi investigar como os docentes do IFPB – Campus Campina Gran-de gerenciavam a indisciplina em sala de aula.

    A razão de se estudar a indisciplina e sua gestão pelos docentes se justifica pela razão de que a indis-ciplina é um fato presente no trabalho do professor e geri-la não é uma tarefa fácil, pois o comportamento sem disciplina interfere fundamentalmente no objeti-vo primordial da missão desse educador que é o pro-cesso de ensino-aprendizagem, ameaçando, deste modo, a atividade docente.

    O comportamento do estudante que foge às regras disciplinares é um fato compartilhado por praticamente todas as instituições de ensino. Uma pesquisa realizada pela Revista Nova Escola e Ibope, com 500 professores em todo o país, mostrou que cerca de 69% destes educadores apontaram a indis-ciplina e a falta de atenção dos educandos como os problemas basais em sala de aula (VICHESSI, 2011).

    Estrela (1992) comenta sobre a complexidade de se estudar a indisciplina quando, por exemplo, obser-va-se a definição deste vocábulo, pois, por exemplo, disciplina é um termo polissêmico que pode significar matéria de estudo, punição, regra e obediência para reinar a ordem num determinado grupo. Então, é necessário levar em consideração que o conceito de disciplina varia de acordo com o contexto histórico e cultural de cada sociedade, a qual sempre trata da disciplina conforme os padrões em vigor no que diz respeito à função que é dada à escola (Id.,1992).

    Apesar das muitas mudanças pelas quais passou o conceito de educação, a ideia de que o professor é o detentor do saber e de que os alunos são recep-táculos vazios a serem preenchidos ainda está em vigor em muitas sociedades, o que reforça o status de autoridade do professor na sala de aula.

    A relação direta entre disciplina e obediência ainda predomina nos dias de hoje, o que leva ao en-tendimento de que o aluno ainda deve se conformar ao desejo do professor, não obstante o aparecimento da Escola Nova ter feito surgir o entendimento de que disciplina se constrói pela relação interpessoal, até chegar ao autodomínio. O afrouxamento das regras

    que essa Escola propõe tem como objetivo estimular a autorresponsabilidade, a capacidade de se formular críticas e estabelecer a disciplina voluntária.

    Antunes (2010) aponta a escola, o professor e a interação deste com o aluno como pontos fundamen-tais nessa problemática.

    Portanto, esse artigo se propõe a investigar como a indisciplina interfere no trabalho dos docentes que lecionam nos cursos técnicos integrados do IFPB – Campus Campina Grande. De modo específico, esta pesquisa visa identificar se a indisciplina interfere no trabalho dos professores pesquisados, quais são as consequências que esta provoca no exercício do trabalho desses educadores e qual o papel destes no gerenciamento do comportamento indisciplinado.

    Para tanto, este trabalho está estruturado em: materiais e métodos utilizados, que correspondem a uma pesquisa de campo, explicativa e quali-quan-titativa; fundamentação teórica, na qual se abordam os conceitos, causas e influência da indisciplina no trabalho docente, a formação docente e o papel do professor na gestão da indisciplina; discussão e re-sultados obtidos, que está dividida em: a interferência da indisciplina no trabalho do docente, as consequ-ências da interferência da indisciplina no trabalho do professor e a indisciplina e o papel do docente diante do gerenciamento da indisciplina. Na última seção, apresentam-se as considerações finais.

    2 Materiais e métodos

    Esta pesquisa se caracteriza como de campo, explicativa e quali-quantitativa, já que não se prende apenas aos dados quantitativos.

    Para Severino (2007), a coleta dos dados na pes-quisa de campo é feita nas condições naturais em que os fenômenos ocorrem, sendo assim diretamente observados, sem intervenção e manuseio por parte do pesquisador.

    Na visão de Andrade (2002) a pesquisa explicati-va procura aprofundar o conhecimento da realidade na medida em que visa à identificação dos fatores determinantes dos fenômenos estudados.

    Para a coleta de dados utilizamos questionários mistos, constituídos de um conjunto de questões abertas e fechadas voltadas ao gerenciamento da indisciplina pelo professor. Para a elaboração dos questionários, tiveram-se como base os objetivos de estudo e a literatura selecionada.

    A amostragem desse estudo constituiu-se de um grupo de 68 professores, dentre a população de 95

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    professores compartilham a mesma percepção sobre os comportamentos denominados indisciplinados?

    Para um professor, a indisciplina pode significar não ter o caderno organizado; para outro, uma tur-ma será qualificada como indisciplinada se não fizer silêncio absoluto e, já para um terceiro, a indisciplina poderá ser vista de maneira positiva, considerada si-nal de criatividade e de construção de conhecimentos (Id., 2009).

    O conceito de indisciplina, além de ser variável para diferentes docentes, pode influenciar na admi-nistração destes em sala de aula.

    Como exemplo de como os docentes podem definir o comportamento indisciplinado, Ferrari (2005) comenta que comumente muitos educadores compreendem a causa da indisciplina como exclusi-vamente proveniente da força de vontade do aluno e da família. Consequentemente, acreditam que a dis-ciplina só pode ser exercida por meio da imposição.

    Observa-se que, além de ser percebida de vá-rias formas, a indisciplina como comportamento do estudante pode revelar dificuldades deste quanto às práticas pedagógicas no ambiente escolar ou proble-mas de aprendizagem.

    Ainda sobre o conceito de indisciplina, Garcia (1999) comenta que também não se deve olhar o comportamento desobediente como uma questão somente de conduta: o aluno pode ter um bom de-sempenho em uma determinada aula e em outra ter uma atuação não tão satisfatória, o que pode signi-ficar, por exemplo, a dificuldade de adaptação aos regimentos da escola ou até mesmo concordância ou discordância diante de alguma situação ocorrida no ambiente escolar.

    Logo, as causas da indisciplina, que nem sempre são aquilo que aparentam ser quando se observa a conduta do aluno, influenciam o comportamento in-disciplinado do estudante.

    Sobre esse assunto, Parrat-Dayan (2009, p. 9) explica que:

    [...] a indisciplina na escola pode expressar, na

    realidade, alguma coisa para além do desejo

    de perturbar ou de ser indisciplinado. Às vezes,

    ela representa a dificuldade do aluno para ser

    reconhecido; outras é a expressão dos maus

    tratos que recebe ou dos problemas familiares.

    A violência que se produz dentro da escola é

    reflexo do que acontece na sociedade. Leve-

    mos em conta que os conceitos de violência

    docentes que lecionam no ensino nos cursos técnicos integrados do IFPB – Campus Campina Grande.

    Em relação ao método utilizado para analisar as respostas dos questionários, aplicou-se a Análise de Conteúdo. Dentre os domínios possíveis de utilização desse método, Bardin (1979) apresenta um quadro no qual se pode destacar, por exemplo, todas as comu-nicações escritas dentro de um grupo restrito, cartas, respostas a questionários e trabalhos escolares como passíveis de serem aferidos por este método.

    Esse método permite o tratamento descritivo dos dados de forma sistemática e objetiva, a análise quantitativa, e a interpretação destes, a análise quali-tativa (Ibid., p. 34-36, grifo nosso).

    3 Fundamentação teórica

    Para que se dê início ao estudo da problemática da indisciplina em sala de aula, faz-se necessária uma apreciação dos seus diversos conceitos, causas e influências que ela exerce sobre o trabalho do pro-fessor. Do mesmo modo, torna-se indispensável a análise do papel do professor perante a indisciplina do aluno e sobre a preparação destes educadores para lidar com a indisciplina discente. Estes fatores referentes à indisciplina e à gestão da indisciplina em sala de aula pelo professor compõem a discussão teórica desta seção.

    3. 1 A indisciplina: conceitos, causas e influência no trabalho docente

    Parrat-Dayan (2009) explica que o conceito de indisciplina não é estático, nem uniforme, nem uni-versal e que ela está contextualizada com um con-junto de valores e expectativas que variam ao longo da história, entre culturas diferentes, nas diversas classes sociais.

    Segundo Parrat-Dayan:

    A indisciplina é uma infração ao regulamento

    interno, é uma falta de civilidade e um ataque

    às boas maneiras. Mas, acima de tudo, a

    indisciplina é a manifestação de um conflito

    e ninguém está protegido de situações desse

    tipo. Essas dificuldades aparecem em todos os

    níveis de escolaridade. (Ibid., p. 8).

    Como um docente pode caracterizar o compor-tamento de um estudante como indisciplinado? Os

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    matéria ministrada fica prejudicada. Ainda para esta autora, a autoestima do professor se vê diminuída, levando o educador a ficar desestimulado com a pró-pria profissão, frequentemente desistindo da carreira profissional. Por conseguinte esta autora reforça que a relação professor-aluno termina desgastada.

    Sabe-se que a relação professor-aluno varia de acordo com o período histórico em que ela está si-tuada, revelando a concepção pedagógica da época.

    Para Garcia (2009), a relação entre professor e aluno não é mais como em tempos passados, logo não se pode mais olhar para ela somente pelo seu grau de intensidade ao qual está relacionado.

    Segundo Aquino (1998) é possível afirmar, então, que a escola de excelência de antigamente funciona-va, na maioria das vezes, na base da repressão, con-sequência de uma cultura militarizada no cotidiano escolar daquela época da história brasileira.

    Assim, quando verificamos que nosso aluno de hoje não viveu esses tempos, que ele é fruto da épo-ca atual – e agora estamos nos referindo ao tempo democrático – fica claro que a indisciplina realmente tem mudado com o passar do tempo.

    Vasconcellos (199?) explica os motivos que facili-tam o comportamento sem disciplina pelos alunos na contemporaneidade: atualmente existe uma crise de sentido na educação que reflete no comportamento dos discentes em sala de aula. Antigamente se obe-decia passivamente às normas disciplinares, porque se almejava um futuro profissional resultante da edu-cação formal. Na atualidade, esse significado perdeu o valor, pois, por exemplo, existem muitas pessoas formadas sem trabalho ou mal remuneradas.

    Nota-se como a indisciplina intervém no pro-cesso ensino-aprendizagem na escola, interferindo no trabalho docente. Dessa forma, torna-se muito importante o preparo dos professores para lidarem com situações específicas como esta. No entanto, na prática não é isto o que acontece.

    3. 2 A indisciplina em sala de aula: formação docente e o papel do professor na gestão da indisciplina

    A indisciplina está presente no cotidiano do professor e influencia o trabalho deste, como exibe a pesquisa bibliográfica. Perante este fato, de modo geral, os docentes estão preparados para lidar com tal situação? Como a literatura pesquisada se refere a esta questão?

    e indisciplina não têm o mesmo significado,

    mas é possível que da indisciplina se passe à

    violência.

    Aquino (1998) corrobora com a ideia de Garcia (1999) quando diz que o comportamento indiscipli-nado pode estar relacionado a algum distúrbio psi-copedagógico, o qual pode ser classificado como de natureza cognitiva ou comportamental, que por sua vez enquadra-se em um grande conjunto de ações chamadas comumente “indisciplinadas”.

    Vasconcellos (199?), de modo amplo, aponta que a indisciplina é um processo que agrega muitos fatores: o desinteresse do aluno proveniente, por exemplo, da influência midiática externa ao ambien-te escolar, geralmente mais atrativa que a escola; a família que não cumpre com o papel de educar para os limites; a escola que não apoia o professor pedagogicamente; e a influência da desorganização da sociedade.

    Perante os diversos conceitos de indisciplina e suas causas, o lidar com essa problemática é uma tarefa de competência do professor?

    A pesquisa de Endo e Constantino (2012) sobre as representações sociais de professores sobre indis-ciplina em sala de aula revela a complexidade desta questão. Os docentes que ministravam aulas apenas no ensino técnico de uma Escola Técnica no interior paulista apresentaram opiniões divergentes sobre causas e alternativas para lidar com a indisciplina: para a maioria dos pesquisados as causas da indisciplina são atribuídas ao aluno e a sua respectiva família, contudo para lidar com a indisciplina os pró-prios professores pesquisados se referiram ao papel docente nessa função de gerenciamento da indiscipli-na, no que diz respeito à didática, acompanhamento, escuta e orientação do aluno.

    Depreende-se que, por mais que a indisciplina em sala de aula tenha vários fatores ou causas, o pa-pel do docente na administração desta é visivelmente claro para alguns autores, assim como na pesquisa de Endo e Constantino (Id., 2012).

    Aquino (1996) defende que a indisciplina é o maior problema encontrado pelos professores, estan-do muitas vezes relacionada à agitação e ao barulho do discente. Ela causa tumultos à aula e prejudica a atuação docente em sala de aula.

    De acordo com Estrela (1992), os efeitos nega-tivos da indisciplina recaem primeiramente sobre o professor. Muitas vezes, em função do desperdício de tempo e da desordem causados pela indisciplina, a

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    sor deve assumir a função paterna de transmissor de limites, para que cada educando possa construir-se e conviver entre os colegas em sala de aula.

    Portanto, a relação professor-aluno depende primordialmente, no que se refere apenas à respon-sabilidade do professor, do clima estabelecido pelo professor, da relação empática fundamentada com seus alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir e discutir o nível de compreensão dos alunos e da cria-ção das pontes entre o conhecimento do professor e o dos alunos.

    Diante dessa questão, tem-se o professor como o responsável pela administração das diversas rela-ções e acontecimentos indisciplinares da turma, mais especificamente, pela gestão da indisciplina, para que o ensino e a aprendizagem ocorram de maneira satisfatória.

    Conhecer apenas os conteúdos a serem ministra-dos em uma determinada disciplina não é o suficiente para que o docente esteja totalmente capacitado a exercer sua profissão. Com isso, percebe-se a res-ponsabilidade deste profissional no gerenciamento do comportamento indisciplinado.

    Antunes (2010) aponta a escola, o professor e a interação deste com o aluno como pontos fundamen-tais para o gerenciamento da indisciplina e dá algumas sugestões para que isso aconteça de forma centrada nestes focos. Sobre a instituição educacional, sugere que ela tenha claramente definidas as regras para funcionários e alunos; detenha sempre um canal de comunicação aberto a pais, alunos e educadores; im-plante um Núcleo de Apoio Pedagógico integrado a uma Associação de Pais e Mestres, e uma Comissão Permanente de Avaliação Institucional, além de um Projeto Pedagógico voltado para o desenvolvimen-to da aprendizagem significativa, das inteligências múltiplas e para o clareamento das normas discipli-nares. Quanto ao professor, o autor reflete que este profissional deve ter: bom nível de conhecimento dos conteúdos que trabalha e habilidade didática, além de assiduidade e pontualidade.

    Mais diretamente na relação professor e aluno Antunes recomenda que, na administração da indis-ciplina, o docente defina e altere consensualmente a disposição dos alunos na sala; identifique os discentes com dificuldade e se dirija até eles, antes que estes saiam do lugar onde sentam; pratique a calma, a serenidade, a alegria e o respeito na interação com o

    Phelan e Schonour (2009) comentam sobre o despreparo do professor no gerenciamento da disci-plina em sala de aula:

    Muitos professores sentem-se bem-preparados

    para ensinar estudos clássicos aos seus alunos,

    ainda que muito despreparados para enfrentar

    um comportamento desafiador. [...] O com-

    portamento indesejável deve ser administrado

    para que ocorra a aprendizagem. O problema

    é que muitos professores não sabem por onde

    começar a administração do comportamento.

    Eles podem ter tido partes de uma ou de duas

    aulas na universidade que abordaram o as-

    sunto, mas ainda estão inseguros sobre como

    utilizar suas informações limitadas. (PHELAN e

    SCHONOUR, op. cit., p. 20, grifo do autor).

    A opinião sobre essa dificuldade em lidar com as questões de indisciplina proveniente da carência deste conteúdo na formação do educador, apontada por Phelan e Schonour (op. cit.), é compartilhada por Serra (2009) no capítulo denominado A Indisciplina na Escola e os Distúrbios de Conduta como Problemas Reativos de Aprendizagem, quando a autora conjec-tura que perante alguns dilemas éticos que permeiam o ambiente escolar, como o roubo, o uso de drogas, a vida sexual precoce, a gravidez na adolescência e a permissão ou não do namoro na escola, os educado-res buscam na sua formação algo que os fundamente a compreender e intervir nessas situações, mas nem sempre encontram.

    A falta de preparo do professor aliada à comple-xidade da situação de indisciplina que afeta a relação entre professor e aluno podem levar o docente a práticas desrespeitosas para com os discentes.

    Muitas vezes a indisciplina do estudante é trata-da com autoritarismo e abuso de poder por parte do professor, provocando um distanciamento na relação professor-aluno. (Marriel et al., 2006).

    Diante dessa situação, o comportamento que foge às regras disciplinares na sala de aula pode acontecer, muitas vezes, relacionado a esses confli-tos entre adultos e adolescentes.

    Entretanto Silva (2006), ao analisar a relação transferencial, que é um fenômeno psíquico no qual se revela o deslocamento de uma relação com a fa-mília para com outras pessoas, aponta que o profes-

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    ter comportamento respeitoso perante os colegas, professores e demais servidores; abster-se de atos que perturbem a ordem, a moral e os bons costumes e que importem em desacato às leis, às autoridades constituídas e aos colegas; ser assíduo e pontual, par-ticipando ativamente de todas as aulas e atividades escolares programadas; aguardar o professor em sala, evitando sair para os corredores nas substitui-ções de professores; entre outras regras.

    Todavia, nem sempre os discentes cooperam com o cumprimento das regras disciplinares. Para tanto o professor precisa administrar as relações em sala de aula para que o processo educativo aconteça.

    Percebendo a relevância da interferência da in-disciplina em sala de aula no trabalho docente, cabe, na próxima seção desse trabalho, apresentar as respostas desses educadores e confrontar suas res-postas com as teorias que fundamentam esse artigo.

    4 Resultados e discussão

    O questionário aplicado aos professores que lecionavam nos cursos técnicos integrados do IFPB – Campus Campina Grande durante a execução do projeto de pesquisa A Gestão da Indisciplina em Sala de Aula pelos Professores dos Cursos Técnicos Integrados do Instituto Federal da Paraíba – Campus Campina Grande teve como objetivo geral investigar como estes docentes gerenciavam a indisciplina em sala de aula.

    Este artigo enfoca as questões referentes à influência que a indisciplina tem frente ao trabalho docente, as consequências que ela provoca para o professor e seu papel diante do comportamento in-disciplinado.

    4. 1 A indisciplina e a interferência no trabalho do docente

    O gráfico 1 aponta a opinião dos docentes do Campus Campina Grande em relação à existência de interferência da indisciplina no trabalho que exercem.

    Os professores, em sua grande maioria, apon-taram que a indisciplina interfere em sua prática profissional.

    Destaca-se o reconhecimento destes profissio-nais sobre a influência da indisciplina no trabalho que executam. Corrobora-se, assim, a pesquisa apresentada por Vichessi (2011), que mostra que a indisciplina é considerada pelos docentes como um

    alunado; estimule os pontos positivos dos discentes e use de linguagem acessível à faixa etária trabalhada (Id., 2010).

    Para que o professor possa conduzir a disciplina em sala de aula, Antunes (2009), do mesmo modo, propõe uma reflexão sobre habilidades intra e inter-pessoais que este deve exercitar para se apropriar da técnica de gerenciamento da indisciplina em nossos dias: aceitar com bom humor as diferenças entre as pessoas; saber distinguir o essencial do supérfluo; sa-ber ouvir antes de julgar o aluno; ter habilidade de se colocar no lugar do outro; admitir quando estiver er-rado; perceber que quando os alunos são chamados para tratar sobre o comportamento indisciplinado, geralmente respondem com irritação e insegurança; compreender que nem todos precisam corroborar a ideia do educador; reavaliar os casos de indisciplina e aplicar medida disciplinar com seriedade, rapidez e justiça.

    Cabe refletir até que ponto essas medidas são aplicáveis ou se são realmente aplicadas pelos do-centes em sala de aula.

    Endo e Constantino (2012) apresentam o resul-tado de uma pesquisa na qual os professores, pes-quisados sobre as causas e alternativas para gerir a indisciplina em sala de aula, referiram que os outros colegas docentes utilizavam de práticas autoritárias para tratar a indisciplina, e que os próprios pesqui-sados eram ligeiramente mais democráticos que autoritários, todavia relataram que as atitudes demo-cráticas seriam as mais adequadas para tratar deste assunto. Esse fato revela que a fala dos professores sobre as práticas ideais não constituem realmente a própria prática de trabalho (Id., 2012).

    Percebe-se que é fundamental estudar as cau-sas e consequências da indisciplina, mas também o papel do professor na gestão do comportamento indisciplinado do discente, pois este comportamento e o modo como o docente o administra influenciarão no processo de ensino-aprendizagem.

    Porém, para que esse gerenciamento do com-portamento indisciplinado ocorra de uma maneira satisfatória, é necessário que o aluno, consciente dos seus deveres, colabore com o educador em sala de aula. No art. 6º do Regulamento Disciplinar do IFPB – Campus Campina Grande (2011) estão cita-das algumas regras que devem ser seguidas pelos discentes do campus, além das que já são exigidas por legislação própria. Entre elas: observar e cum-prir os regulamentos estabelecidos pela Instituição;

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    Os professores pesquisados, em sua grande maioria, responderam que a maior consequência do comportamento indisciplinado do alunado no seu tra-balho é que este origina uma grande descontração, seguida por redução de tempo da aula e do conteúdo ministrado, da desmotivação e, por último, de agres-sões verbais entre professores e alunos.

    Uma pequena parcela de professores (4%) infor-mou outras consequências da interferência do com-portamento indisciplinado no trabalho docente. Estas respostas foram categorizadas em dois assuntos: sinalização de que a indisciplina discente se refere a um possível problema no modelo da escola e prejuízo do processo de ensino-aprendizagem.

    As respostas dos docentes confirmam quase que totalmente o que Estrela (1992) afirmou sobre as consequências negativas da indisciplina sobre os docentes: desperdício de tempo e desordem, dimi-nuição da autoestima do professor, provocando a desestimulação com a própria profissão e a frequente desistência da carreira profissional.

    Destarte as respostas dos professores prioriza-ram a importância dos conteúdos em detrimento da motivação e das relações interpessoais.

    4. 3 A indisciplina e o papel do professor diante do comportamento indisciplinado

    O gráfico 3 aponta qual a opinião dos docentes em relação a seu próprio papel diante do gerencia-mento da indisciplina.

    Gráfico 3 – O papel do Professor Diante do Gerenciamento da Indisciplina

    Fonte: Questionário

    dos problemas de base para o trabalho em sala de aula.

    Gráfico 1 – Interferência da Indisciplina no Trabalho do Docente

    Fonte: Questionário.

    4. 2 o comportamento indisciplinado e as consequências da sua interferência no trabalho do professor

    O gráfico 2 descreve as várias consequências provocadas pela interferência do comportamento indisciplinado dos discentes do IFPB – Campus Cam-pina Grande.

    Gráfico 2 – Consequências da Interferência do Comportamento Indisciplinado no Trabalho Docente

    Fonte: Questionário

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    Entretanto, pressupõe-se que essa realidade deve ser mais bem estudada para que se encontrem soluções para o problema da interferência da indisci-plina em sala de aula sobre a atividade docente.

    ReFeRênCIAs

    AQUINO, J.G. Da (contra) normatividade do cotidiano escolar: problematizando discursos sobre a indisciplina discente. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, mai./ago. 2011, v. 41, n. 143. Disponível em: . Acesso em: 01 dez. 2012.

    ANDRADE, M. M. de. Como preparar trabalhos para cursos de Pós-Graduação: noções práticas. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

    ANTUNES, Celso. Professor bonzinho = aluno difícil: a questão da indisciplina em sala de aula. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

    ______ . Professores e Professauros: reflexões sobre a aula e práticas pedagógicas diversas. 4 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

    BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979.

    ENDO, Kátia Hatsue; CONSTANTINO, Elizabeth Piemont. Indisciplina no Ensino Técnico: representações sociais de professores. Schème – Revista Eletrônica de Psicologia e Epistemologia Genéticas, ago./dez. 2012, v. 4, n. 2. Disponível em: . Acesso em: 03 fev. 2013.

    ESTRELA, M. T. Relação pedagógica, disciplina e indisciplina na aula. Portugal: Porto Editora, 1992.

    FERRARI, Márcio. Disciplina é um conteúdo como qualquer outro. Entrevista com o Psicólogo Lino de Macedo. Revista Escola, jun./jul. 2005.

    GARCIA, Joe. Indisciplina na Escola: uma reflexão sobre a dimensão preventiva. R. paran. Desenv., Curitiba, jan./abr. 1999, n. 95, p. 101-108.

    INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA PARAÍBA. Regulamento Disciplinar para o Corpo Discente – Cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio. 2011.

    MARRIEL, L.C. et al. Violência Escolar e Autoestima de Adolescentes. Cadernos de Pesquisa, jan./abr. 2006, v.

    Sobre o papel do professor na gestão da indisci-plina, os docentes consideram que para se ter uma boa conduta na resolução dos conflitos é preciso, em primeiro lugar, ter um bom controle das situações, conhecer os procedimentos institucionais e encami-nhar o discente que está com o comportamento ina-dequado ao setor adequado e, por último, conhecer os direitos dos estudantes.

    Uma pequena parcela (7%) opinou sobre o papel do professor diante do gerenciamento da indisciplina com outras opções além das sugeridas no questio-nário, as quais foram categorizadas em: compartilha-mento da responsabilidade sobre o gerenciamento da indisciplina, ou seja, o professor não é totalmente responsável pela disciplina em sala de aula – os pais e a escola como um todo também devem contribuir para isso; interação mútua entre professor e aluno e utilização recíproca das regras disciplinares entre docentes e alunos.

    Não foi relatado durante a pesquisa nenhum exemplo de estratégias que envolvessem o ato de punição do discente indisciplinado. Essas respostas confirmam as estratégias sugeridas por Antunes (2009, 2010) para a condução da disciplina em sala de aula, que compreendem habilidades intra e inter-pessoais. Assim, é possível verificar que os docentes possuem uma visão modificada do conceito de indis-ciplina em relação à visão de tempos atrás, tendo em vista que antigamente as ações indisciplinadas dos alunos na maioria das vezes eram resolvidas com métodos punitivos.

    Aquino (1998) lembra que as escolas do passado, no Brasil, eram militarizadas, e destaca que o respeito que se tinha para com as figuras escolares muitas ve-zes eram medo e repressão. Esse pensamento não foi identificado nas respostas dos docentes pesquisados.

    5 Conclusão

    As referências bibliográficas estudadas e a pes-quisa de campo apontam que a indisciplina em sala de aula interfere sobre o trabalho do docente.

    O papel do professor na administração discipli-nar, especialmente na condução das relações com seus alunos em sala de aula, é essencial, pois diante dos resultados encontrados tem-se que a indisciplina interfere significativamente no trabalho docente, prin-cipalmente na ministração da aula. Do mesmo modo, os docentes pesquisados referem que o controle da situação é a atitude mais contundente, reforçando a importância que o gerenciamento da indisciplina em sala de aula tem para o professor.

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    36, n. 127, p. 35-50. Disponível em: . Acesso em: 05 dez. 2012.

    PARRAT- DAYAN, Silva. Como enfrentar a indisciplina na escola. São Paulo: Contexto, 2009.

    PHELAN, Thomas W.; SCHOUNOUR, Sarah Jane. 1, 2, 3 – mágica para professores – disciplina efetiva em sala de aula. Porto Alegre: Artmed, 2009.

    SERRA, Dayse Carla Gênero. Teorias e Práticas da Psicopedagogia Institucional. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009. 108p.

    SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23 ed. rev. e atual. São Paulo: Cortez, 2007.

    SILVA, Carla Sofia Rocha da. A Relação Dinâmica Transferencial entre professor-aluno no ensino. Revista Ciências e Cognição, 2006, v. 8. Disponível em: . Acesso em: 01 nov. 2011.

    VASCONCELLOS, Celso dos S. [199?]. Os desafios da indisciplina em sala de aula e na escola. Disponível em: . Acesso em: 22 mai. 2009.

    VICHESSI, Beatriz. O que é indisciplina. Nova Escola. Disponível em: . Acesso em: 17 jul. 2011.

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    Sociedade e meio ambiente no Sertão do Rio Piranhas, Capitania da Paraíba do Norte, século XVIII

    Ana Paula da Cruz Pereira de Moraes[1], Sebastião Junio da Silva Gonçalves Sales[2], Dafi Irenice de Abreu[3]

    [1] [email protected]; IFPB – Campus Cajazeiras. [2] [email protected]; IFPB – Campus Cajazeiras. [3] [email protected]; IFPB – Campus Cajazeiras

    ReSuMo

    A ocupação da América Portuguesa passou por diferentes etapas. Em um primeiro momento, as povoações se concentraram nas zonas litorâneas e, posteriormente, se deu um maior investimento na ocupação dos sertões. O presente estudo tem por objetivo problematizar o processo de ocupação do Sertão do Rio Piranhas, localizado no interior da Capitania da Paraíba do Norte. Para a execução da pesquisa foram utilizados os princípios da História Social e Ambiental, na medida em que a presente análise intentou envolver os aspectos sociais e ambientais dentro do processo histórico no Sertão do Rio Piranhas. Também buscou-se dados e documentos históricos empíricos dentro de expoentes clássicos da historiografia paraibana como Wilson Seixas e João de Lira Tavares, e no acervo do Arquivo Histórico Ultramarino. Ao final, observou-se a interferência das questões ambientais, especialmente a presença (ou ausência) de água como fator de distribuição das terras e, consequentemente, reterritorialização do espaço e tessitura de disputas e conflitos em torno dos espaços sertanejos.

    Palavras-chave: Sertão. História Colonial. Capitania da Paraíba. Rio Piranhas.

    AbStRACt

    The occupation of Portuguese America has gone through different stages. At first, the settlements were concentrated in coastal areas, and later took a greater investment in the occupation of the interior. The present study aims to problematize the process of occupation of the backland belonging to the Piranhas River, located inside the Captaincy of Paraíba do Norte. For the execution of the research the principles of Social and Environmental History were used, because this analysis involve social and environmental aspects within the historical process in the backland of Piranhas River. Also sought to empirical data and historical documents within exponents of classical historiography of Paraíba as Wilson Seixas and João de Lira Tavares, and on manuscripts of the Arquivo Histórico Ultramarino. At the end, it was observed the interference from environmental elements, especially the presence (or absence) of water as a factor in the distribution of land, resulting in a change in the territorial space and the formation of disputes and conflicts around the lands of the backlands.

    Keywords: Backland. Colonial History. Captaincy of Paraiba. Piranhas River.

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    1 Introdução

    O processo de ocupação da América pelo Im-pério Português foi marcado por conflitos no âmbito ultramarino e também interno, dado que envolvia interesses tanto do aparato e poder estatal, como das intenções peculiares das elites locais que se envolve-ram na consolidação da presença do poder europeu nas terras “brasilis”.

    Nesse sentido, sobre a formação dessa ambi-ência colonial do Brasil, muito já se pesquisou sobre as zonas do seu litoral e, nos últimos tempos, vêm se ampliando os estudos que buscam lançar o olhar sobre os sertões, ou seja, os interiores da América Portuguesa, sendo que estes apresentam dois aspec-tos importantes: o aspecto social, matizado, dentre outras questões, pela complexidade das relações conflituosas que se deram entre os indígenas (pré--habitantes) e os colonos (membros constituintes do avanço do domínio português); e o aspecto ambiental que, nos sertões do norte semiárido, envolvia a caa-tinga e a falta de águas abundantes e tais marcas in-terferiam na maneira como os sujeitos se envolviam entre si e com a paisagem natural.

    Buscando contribuir com as pesquisas que se de-bruçam sobre a compreensão da formação da socie-dade habitante dos sertões nordestinos, o presente estudo vem problematizar a espacialidade do sertão pertencente ao Rio Piranhas e Piancó na passagem do século XVIII, momento da sua formação social e espacial, que será a base para o que conhecemos como o Alto Sertão Paraibano.

    A análise desenvolvida dentro do presente artigo estará dividida em três momentos, onde abordare-mos:

    • no primeiro, noções da relação entre o estudo da sociedade e da natureza como meio de compreender as práticas e relações sociais no tempo;

    • no segundo, a importância da configu-ração ambiental do sertão de Piranhas na redistribuição (reterritorialização) das terras naquela espacialidade, que ocorreu através da prática de concessão de sesmarias, sendo a água um elemento causador de disputas e conflitos em torno do espaço;

    • no terceiro momento, a partir da ideia de que houve um processo de reterritorialização do sertão engatilhado pela entrada coloniza-

    dora portuguesa marcada pela expansão da economia criatória, abordaremos a imersão do Sertão do Rio Piranhas nos conflitos que marcaram os interiores do Norte (Nordeste) na passagem do século XVII para o século XVIII, conhecidos como “Guerra dos Bárba-ros”.

    Para tal intento recorreremos à historiografia que trata sobre a Paraíba, especialmente aos estudos que se debruçaram sobre o seu período colonial, bem como sobre o sertão foco deste estudo, de modo que utilizaremos obras de Wilson Seixas, Irenêo Joffily e João de Lira Tavares.

    Também nos apoiaremos em documentos pro-duzidos durante o período colonial, que se encontram acondicionados no Arquivo Histórico Ultramarino e que foram socializados com os pesquisadores bra-sileiros através do Projeto Barão Rio Branco, hoje disponibilizado pelo Centro de Memória Digital da Universidade de Brasília através do link .

    2 A relação sociedade e natureza no estudo da história social

    As experiências sociais construídas no tempo e no espaço são o objeto de estudo da História Social, e estas estão envolvidas com os elementos da nature-za em maior ou menor grau, já que a paisagem social está inter-relacionada com a paisagem cultural, ou seja, a paisagem construída a partir da intervenção humana.

    As práticas humanas se constroem e se tornam vivas dentro de um espaço que, por sua vez, passa a existir a partir de seus usos e viventes. Destarte, su-jeito e espaço se constroem um a partir do outro e a História Social pode alargar seus olhares, valorizando a observação do meio ambiente como um elemento importante para se compreender os sujeitos e seus fazeres.

    Logo, para se estudar o Sertão do Rio Piranhas, faz-se necessário atentar para a sua hidrografia, rele-vo, clima, flora e fauna, pois

    las sociedades utilizan ambientes con distin-

    tas condiciones y recursos, y en este sentido

    no existe un mismo ambiente para todas las

    sociedades humanas, sino que cada una tiene

    un entorno ecológico que surge de la interac-

    ción de culturas con el ambiente. (VARELA;

    CARBALLO, 2001, p. 34).

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    é composto pelas sub-bacias do Rio Espinharas, Rio Piancó, Rio do Peixe e Rio Seridó. No entanto, como outros rios do sertão nordestino, suas águas não são perenes, passando longos tempos com seu leito seco.

    Figura 1 – Carte du Brésil, Première Partie: Depuis la Rivière dês Amazones jusq’á la Baye de Tous lês Saints Jean Baptiste Bourguignon D’Anville, 1746.

    Figura 2 – Bacia Hidrográfica “Rio Piranhas – Açu” (atual). Fonte: PARAÍBA, 2007.

    E a busca pelo poder sobre as terras desse sertão, principalmente aquelas localizadas próximas aos rios, gerou tensões envolvendo indígenas e colonizadores,

    Como verificado em outros sertões do Nordeste, o Alto Sertão Paraibano tem clima variante de 25ºC, com um tempo de chuva muito restrito entre as es-tações do verão e do outono, e um tempo de seca mais amplo, entre o inverno e a primavera (ANDRA-DE, 1998, p. 46). Assim, o ritmo da vida dos sujeitos habitantes desses sertões acabava incorporando, em seus hábitos e práticas, o tempo da natureza: o tem-po da chuva, o tempo da seca, o tempo da engorda do gado, o tempo de levar o gado para outros pastos. Este tempo da natureza influenciava as articulações econômicas, sociais e culturais da sociedade sertane-ja do século XVIII.

    O sertão de Piranhas está encravado nessa espacialidade marcada pelo semiárido, de sorte que para ele se dirigiam os sujeitos cujas atividades eco-nômicas não exigiam terras férteis. Assim, a cultura econômica criatória se adaptou bem a este ambiente, já que a sua principal exigência era a vastidão de terras.

    3 A busca por terra e água no Sertão de Piranhas no século XVIII

    Até o século XVII, a grande maioria das povo-ações da América Portuguesa se concentrava na faixa litorânea (cf. Figura 1). Nesse mesmo século, os holandeses invadiram o norte (atual nordeste) dessas terras. Quando estes foram ex