ufc · 2019. 6. 4. · presidente da república dilma vana rousseff ministro da educação aloizio...

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Acessibilidade na UFC Tessituras Possíveis 167

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Page 1: UFC · 2019. 6. 4. · Presidente da República Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Aloizio Mercadante Universidade Federal do Ceará Reitor Prof. Jesualdo Pereira Farias Vice-Reitor

Acessibilidade na UFCTessituras Possiacuteveis

167

Presidente da RepuacuteblicaDilma Vana Rousseff

Ministro da EducaccedilatildeoAloizio Mercadante

Universidade Federal do CearaacuteReitor

Prof Jesualdo Pereira FariasVice-Reitor

Prof Henry de Holanda Campos

Conselho EditorialPresidente

Prof Antocircnio Claacuteudio Lima GuimaratildeesConselheiros

Profa Adelaide Maria Gonccedilalves PereiraProfa Acircngela Maria Mota Rossas de Gutieacuterrez

Prof Gil de Aquino FariasProf Italo Gurgel

Prof Joseacute Edmar da Silva Ribeiro

Diretor da Faculdade de EducaccedilatildeoMaria Isabel Filgueiras Lima Ciasca

Coordenador do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo BrasileiraJoatildeo Batista de Albuquerque Figueiredo

Chefe do Departamento de Fundamentos da EducaccedilatildeoAdriana Eufraacutesio Braga Sobral

Seacuterie Diaacutelogos IntempestivosCoordenaccedilatildeo Editorial

Joseacute Gerardo Vasconcelos (Editor-Chefe)Kelma Socorro Alves Lopes de Matos

Wagner Bandeira Andriola

Dra Ana Maria Ioacuterio Dias (UFC)Dra Acircngela Arruda (UFRJ)Dra Acircngela T Sousa (UFC)Dr Antonio Germano M Junior (UECE)Dra Antocircnia Dilamar Arauacutejo (UECE)Dr Antonio Paulino de Sousa (UFMA)Dra Carla Viana Coscarelli (UFMG)Dra Cellina Rodrigues Muniz (UFRN)Dra Dora Leal Rosa (UFBA)Dra Eliane dos S Cavalleiro (UNB)Dr Elizeu Clementino de Souza (UNEB)Dr Emanuel Luiacutes Roque Soares (UFRB)Dr Eneacuteas Arrais Neto (UFC)Dra Francimar Duarte Arruda (UFF)Dr Hermiacutenio Borges Neto (UFC)Dra Ilma Vieira do Nascimento (UFMA)Dra Jaileila Menezes (UFPE)Dr Jorge Carvalho (UFS)Dr Joseacute Aires de Castro Filho (UFC)Dr Joseacute Gerardo Vasconcelos (UFC)Dr Joseacute Levi Furtado Sampaio (UFC)Dr Juarez Dayrell (UFMG)Dr Juacutelio Cesar R de Arauacutejo (UFC)

Dr Justino de Sousa Juacutenior (UFC)Dra Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (UFC)Dra Lia Machado Fiuza Fialho (UECE)Dra Luciana Lobo (UFC)Dra Maria de Faacutetima V da Costa (UFC)Dra Maria do Carmo Alves do Bomfim (UFPI)Dra Maria Izabel Pedrosa (UFPE)Dra Maria Juraci Maia Cavalcante (UFC)Dra Maria Nobre Damasceno (UFC)Dra Marly Amarilha (UFRN)Dra Marta Arauacutejo (UFRN)Dr Messias Holanda Dieb (UERN)Dr Nelson Barros da Costa (UFC)Dr Ozir Tesser (UFC)Dr Paulo Seacutergio Tumolo (UFSC)Dra Raquel S Gonccedilalves (UFMT)Dr Raimundo Elmo de Paula V Juacutenior (UECE)Dra Sandra H Petit (UFC)Dra Shara Jane Holanda Costa Adad (UFPI)Dra Silvia Roberta da M Rocha (UFCG)Dra Valeska Fortes de Oliveira (UFSM)Dra Veriana de Faacutetima R Colaccedilo (UFC)Dr Wagner Bandeira Andriola (UFC)

Conselho Editorial

Fortaleza2014

Vanda Magalhatildees LeitatildeoTania Vicente VianaO r g a n i z a d o r a s

Acessibilidade na UFCTessituras Possiacuteveis

BEATRIZ FURTADO ALENCAR LIMA

CARLA POENNIA GADELHA SOARES

CLEMILDA DOS SANTOS SOUSA

EDSON SILVA SOARES

FRANCISCA SAMARA TEIXEIRA CARVALHO

HAMILTON RODRIGUES TABOSA

INEcircS CRISTINA DE MELO MAMEDE

JERIANE DA SILVA RABELO

LUCIMEIRE ALVES MOURA

MARIA CLARISSA MACIEL RODRIGUES

MARIA IZALETE INAacuteCIO VIEIRA

MARTA CAVALCANTE BENEVIDES

PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA

RITA DE CAacuteSSIA BARBOSA PAIVA MAGALHAtildeES

TANIA VICENTE VIANA

TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES

VALEacuteRIA GOMES PEREIRA

VANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO

ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO

Acessibilidade na UFC tessituras possiacuteveiscopy 2014 Vanda Magalhatildees Leitatildeo e Tania Vicente Viana (Organizadoras)Impresso no Brasil Printed in BrazilEfetuado depoacutesito legal na Biblioteca NacionalTODOS OS DIREITOS RESERVADOSEditora Universidade Federal do Cearaacute ndash UFCAv da Universidade 2932 Benfica Fortaleza-CearaacuteCEP 60020-181 ndash Livraria (85) 33667439 Diretoria (85) 33667766 Administraccedilatildeo FoneFax (85) 33667499Site wwweditoraufcbr ndash E-mail editoraufcbrFaculdade de EducaccedilatildeoRua Waldery Uchoa No 1 Benfica ndash CEP 60020-110Telefones (85) 336676633366766533667667 ndash Fax (85) 33667666Distribuiccedilatildeo Fone (85) 32145129 ndash E-mail aurelio-fernandesigcombrProjeto Graacutefico e CapaCarlos Alberto A Dantas (carlosalbertoadantasgmailcom)Revisatildeo de TextoLeonora Vale de AlbuquerqueNormalizaccedilatildeo BibliograacuteficaPerpeacutetua Socorro Tavares Guimaratildees

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na PublicaccedilatildeoUniversidade Federal do Cearaacute ndash Ediccedilotildees UFC

SOBRE OS AUTORES

Acessibilidade na UFC tessituras possiacuteveis Vanda Magalhatildees Lei-tatildeo e Tania Vicente Viana [organizadoras] ndash Fortaleza Edi-ccedilotildees UFC 2014

238 il Isbn 978-85-7282-611-2

1 Acessibilidade 2 Inclusatildeo 3 Educaccedilatildeo Especial I I Tiacutetulo

CDD 376

Beatriz Furtado Alencar Lima ndash Professora Assistente do Depar-tamento de Letras Estrangeiras do curso de Letras da Universidade Fe-deral do Cearaacute (UFC) Doutoranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da UFC Linha de Pesquisa Praacuteticas Discursivas Aacutereas de pesquisa Letramentos de pessoas com deficiecircncia visual Estudos do Letramento Estudos Criacuteticos do Discurso Mestre em Linguistica Apli-cada pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica Aplicada da Uni-versidade Estadual do Cearaacute (UECE) E-mail alencarbiagmailcom

Carla Poennia Gadelha Soares ndash Graduada em Letras pela Universi-dade Federal do Cearaacute (UFC) Especialista em Linguiacutestica pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza (FGF) Mestranda em Educaccedilatildeo Brasileira pela Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFC Professora da rede puacuteblica estadual Superintendente Escolar da Coordenadoria Regional de Desen-volvimento da Educaccedilatildeo (CREDE 1) E-mail poenniasoaresgmailcom

Clemilda dos Santos Sousa ndash Bibliotecaacuteria do Sistema de Bibliote-cas da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Bacharel em Bibliotecono-mia pela UFC Especialista em Metodologia Cientiacutefica pela Universidade Estatual do Cearaacute (UECE) Coordenadora do serviccedilo de digitalizaccedilatildeo do Sistema de Bibliotecas da UFCE-mail cleoufcbr

Edson Silva Soares ndash Professor Assistente do Instituto de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Esportes da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Graduado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela UFC Mestre em Sauacutede Puacuteblica pela Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) E-mail edsonsoaresufcbr

Francisca Samara Teixeira Carvalho ndash Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Especialista em Psicomotri-cidade Cliacutenica pela UFC Membro da diretoria da Sociedade Brasileira

de Psicomotricidade Sessatildeo Cearaacute (SBPC) Mestre em Educaccedilatildeo Brasi-leira pela Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFCE-mail ssamarateixeirayahoocombr

Hamilton Rodrigues Tabosa ndash Professor do Departamento de Ciecircn-cias da Informaccedilatildeo da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Douto-rando do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Universidade Federal da Para-iacuteba (UFPB) Mestre em Avaliaccedilatildeo de Poliacuteticas Puacuteblicas Especialista em Gestatildeo Universitaacuteria e Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Cearaacute E-mail hamiltonrtufcbr

Inecircs Cristina de Melo Mamede ndash Professora Associada da Fa-culdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela FacedUFC e Poacutes-Dou-toranda em Formaccedilatildeo Cultural Esteacutetica Artiacutestica de Professores pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) E-mail imamedeufcbr

Jeriane da Silva Rabelo ndash Graduanda do curso de Pedagogia da Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) Estagiaacuteria do projeto Aprender Jun-tos do programa Palavra de Crianccedila UNICEFFCPC Bolsista voluntaacuteria do programa de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PID) E-mail jerianeufcgmailcom

Lucimeire Alves Moura ndash Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Especialista em Planejamento Educacional e Psicopedagogia Cliacutenica e Institucional (UVA) Atendimento Educacional Especializado (UFC) Professora da Universidade Estadual Vale do Aca-rauacute (UVA) Psicopedagoga e professora do Instituto Cearense de Educa-ccedilatildeo de Surdos (ICES) E-mail meireamourayahoocombr

Maria Clarissa Maciel Rodrigues ndash Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Professora da Escola de Ensino Fundamental Instituto dos Cegos do Cea raacute atuando nas seacuteries iniciais

do Ensino Fundamental Reabilitaccedilatildeo Braille Surdocegueira e Educa-ccedilatildeo de Jovens e Adultos E-mail clarissa_rodriguezhotmailcom

Maria Izalete Inaacutecio Vieira ndash Licenciada em Pedagogia pela Uni-versidade Estadual Vale do Acarauacute (UVA) Bacharel em traduccedilatildeo e in-terpretaccedilatildeo Portuguecircs-Libras-Portuguecircs pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Especialista em Educaccedilatildeo Especial pela UVA Professora de Libras do Instituto Federal de Ciecircncia e Tecnologia do Ce-araacute ndash Campus de Juazeiro do NorteE-mail izaletevieirayahoocombr

Marta Cavalcante Benevides Loureiro ndash Doutoranda em Educa-ccedilatildeo Brasileira pela Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Universidade Fe-deral do Cearaacute (UFC) Especialista em Avaliaccedilatildeo Psicoloacutegica pela UFC Bolsista do Programa REUNI de Orientaccedilatildeo e Operacionalizaccedilatildeo da Poacutes-Graduaccedilatildeo articulada agrave Graduaccedilatildeo ndash PROPAG do Projeto CAPESREUNI E-mail martacbenevidesgmailcom

Pliacutenio Renan Gonccedilalves da Silveira ndash Arquiteto e Urbanista gra-duado pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Desenvolve Projetos e Diagnoacutesticos das Condiccedilotildees de Acessibilidade Fiacutesica Linha de Pesquisa Acessibilidade e Acessibilidade para Idosos E-mail pliniorenangmailcom

Tania Vicente Viana ndash Professora Adjunta do Departamento de Fundamentos da Educaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) Professora do Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da FacedUFC Linha de pesquisa Avaliaccedilatildeo Educacional Eixo temaacutetico Avaliaccedilatildeo da aprendizagem Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela FacedUFC E-mail taniavianaufcbr

Tereza Liduina Grigoacuterio Fernandes ndash Professora de Apoio Peda-goacutegico na aacuterea de surdez do Centro de Referecircncia em Educaccedilatildeo Especial

SUMAacuteRIOdo Estado do Cearaacute Integrante da Equipe de Educaccedilatildeo Especial da Se-cretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio de Fortaleza Doutoranda em Educa-ccedilatildeo pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail teresaliduinagmailcom

Vanda Magalhatildees Leitatildeo ndash Professora Associada I do Departamento de Estudos Especializados da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) Diretora da Secretaria de Acessibili-dade UFC Inclui Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela FacedUFCE-mail vandaufcbr

Valeacuteria Gomes Pereira ndash Graduada em Biblioteconomia pela Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail 2005valeriabolcombr

Zilsa Maria Pinto Santiago ndash Professora Adjunta do Curso de Ar-quitetura e Urbanismo do Centro de Tecnologia da Universidade Fede-ral do Cearaacute (UFC) Mestre em Arquitetura e Urbanismo pelo Mestra-do Interinstitucional com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela Faculdade de Educaccedilatildeo ndash FacedUFC Professora de Educaccedilatildeo e Mobi-lidade no curso de Especializaccedilatildeo em Gestatildeo de Tracircnsito e Transportes Urbanos do Departamento de Engenharia de TransportesUFC Mem-bro do Grupo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC IncluiE-mail zilsaarquiteturaufcbr

PREFAacuteCIORita de Caacutessia Barbosa Paiva Magalhatildees 11

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVanda Magalhatildees Leitatildeo 19

ACESSO Agrave INFORMACcedilAtildeO POR DEFICIENTES VISUAIS EM BIBLIOTECAS CEARENSESValeacuteria Gomes PereiraHamilton Rodrigues Tabosa 39

BIBLIOTECA INCLUSIVA CONSTRUINDO PONTES ENTRE O VISIacuteVEL E O INVISIacuteVELClemilda dos Santos SousaJeriane da Silva Rabelo 59

O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIABeatriz Furtado Alencar LimaCarla Poennia Gadelha Soares 75

SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLEMaria Clarissa Maciel RodriguesInecircs Cristina de Melo Mamede 95

ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeOMaria Izalete Inaacutecio Vieira 123

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteMarta Cavalcante BenevidesTania Vicente Viana 147

d 11

PREFAacuteCIO

Tudo passa e tudo fica poreacutem o nosso eacute passar passar fazendo caminhos

(Antonio Machado )

No Brasil ateacute a deacutecada de 1980 poucas pessoas com deficiecircncia1 ingressavam no Ensino Superior fato que pode estar diretamente relacionado ao acesso restrito dessa popu-laccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Baacutesica aos serviccedilos especializados e indica o longo periacuteodo de sua exclusatildeo dos direitos sociais baacutesicos em nosso paiacutes Gradativamente com o advento da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva inclusiva tal populaccedilatildeo enfren-tando condiccedilotildees ainda adversas finaliza o Ensino Meacutedio e al-meja o ingresso no Ensino Superior

A despeito de todas as ponderaccedilotildees passiacuteveis de serem realizadas sobre sua funccedilatildeo social no contexto da atual crise do capitalismo com suas modalidades precaacuterias de participa-ccedilatildeo e de acesso ao conjunto dos bens e serviccedilos socialmente produzidos a Educaccedilatildeo Especial na perspectiva inclusiva des-ponta como um princiacutepio eacutetico em busca da garantia do direi-to agrave Educaccedilatildeo peremptoriamente negado a muitas geraccedilotildees de estudantes com deficiecircncia

No caso brasileiro a Educaccedilatildeo Especial com feiccedilotildees es-tatais surgiu apenas no apogeu do ldquomilagre brasileirordquo propa-lado pelos governos militares De certa forma seu ldquosucessordquo naufraga com estes governos para ressurgir com extraordi-

1 Embora a Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva Inclusiva reco-nheccedila que seu puacuteblico eacute composto por pessoas com deficiecircncia transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo neste prefaacutecio usaremos predominantemente a expressatildeo pessoas com deficiecircncia

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteFrancisca Samara Teixeira CarvalhoTania Vicente Viana 169

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ Tereza Liduina Grigoacuterio FernandesLucimeire Alves MouraEdson Silva SoaresTania Vicente Viana 193

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute Zilsa Maria Pinto SantiagoPliacutenio Renan Gonccedilalves da Silveira 213

12 d d 13

naacuteria forccedila no acircmbito do debate da ldquoEducaccedilatildeo para todosrdquo na deacutecada de 1990 Esse debate aponta para a perspectiva de democratizaccedilatildeo dos sistemas escolares em todos os seus niacute-veis e modalidades Todavia quando o assunto eacute Educaccedilatildeo Inclusiva o foco hegemocircnico das investigaccedilotildees cientiacuteficas e publicaccedilotildees eacute a inclusatildeo na Educaccedilatildeo Baacutesica Ora atualmente a Educaccedilatildeo Inclusiva no Ensino Superior representa um dos desafios prementes para a real democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior e consequentemente para a denominada docecircncia universitaacuteria dimensatildeo que natildeo tem recebido o tratamento necessaacuterio

Na contracorrente da tradicional seletividade e elitismo que caracterizam a Educaccedilatildeo Superior no Brasil a universi-dade constitui um rico espaccedilo social onde as ldquodiferenccedilasrdquo co-meccedilam a estar presentes Nesse sentido a instituiccedilatildeo univer-sitaacuteria necessita envidar esforccedilos e planejar accedilotildees educativas com vistas agrave garantia de condiccedilotildees de acesso de participaccedilatildeo de aprendizagem isto eacute assegurar o sucesso escolar da popu-laccedilatildeo-alvo da Educaccedilatildeo Inclusiva

Essa garantia pode dinamizar accedilotildees formativas po-tencializadoras tanto da aprendizagem desses estudantes quanto de atividades pedagoacutegicas necessaacuterias para a quebra de barreiras arquitetocircnicas atitudinais e pedagoacutegicas tatildeo co-muns nos processos de Educaccedilatildeo de pessoas consideradas de-ficientes A superaccedilatildeo dessas barreiras especialmente aque-las de cunho pedagoacutegico exige das universidades estrateacutegias capazes de fomentar programas de formaccedilatildeo para docentes universitaacuterios bem como formas de questionar praacuteticas cris-talizadas e pautadas na desinformaccedilatildeo no preconceito e na estigmatizaccedilatildeo

Este livro ndash fruto de trabalho desenvolvido na Univer-sidade Federal do Cearaacute (UFC) ndash apresenta um robusto pano-

rama de investigaccedilotildees reflexotildees e praacuteticas desenvolvidas na referida universidade na busca por uma Educaccedilatildeo Superior democraacutetica e acessiacutevel

O capiacutetulo ldquoCaminhos para a acessibilidade na UFCrdquo de autoria da doutora Vanda Magalhatildees Leitatildeo docente da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFC abre o livro e traccedila um panorama das demandas por acessibilidade na referida universidade aleacutem de descrever o nascedouro da ldquoSecretaria de Acessibilidade da UFCrdquo Discute a experiecircncia vivenciada pautada sobremodo na afirmaccedilatildeo das diferenccedilas e na cons-truccedilatildeo de perspectiva chamada ldquocaminho de matildeo duplardquo na qual sujeitos com e sem deficiecircncia encontram-se implicados no desafio de construir uma universidade de fato inclusiva

No segundo capiacutetulo denominado ldquoAcesso agrave informa-ccedilatildeo por deficientes visuais em bibliotecas cearensesrdquo Valeacuteria Gomes Pereira e Hamilton Rodrigues Tabosa respectivamen-te aluna e docente do curso de Biblioteconomia da UFC dis-cutem a situaccedilatildeo das bibliotecas cearenses quanto agrave acessibi-lidade atraveacutes de tecnologias assistivas eletrocircnicas O estudo ressalta a importacircncia da biblioteca e do acesso agrave informaccedilatildeo como agentes transformadores Mostra tambeacutem o papel do bibliotecaacuterio como suporte para estudantes com deficiecircncia visual no acesso agrave informaccedilatildeo

O capiacutetulo terceiro do livro denominado ldquoBiblioteca Inclusiva construindo pontes entre o visiacutevel e o invisiacutevelrdquo escrito em parceria por Clemilda dos Santos Sousa (Biblio-tecaacuteria do Sistema de Bibliotecas da UFC) e por Jeriane da Silva Rabelo (graduanda em Pedagogia da mesma instituiccedilatildeo) volta a discutir questotildees relativas agraves bibliotecas no contexto dos processos de Educaccedilatildeo Inclusiva no Ensino Superior De-fende a importacircncia da acessibilidade ao espaccedilo da biblioteca aleacutem de mostrar a organizaccedilatildeo do Sistema de Biblioteca da

14 d d 15

UFC no que concerne ao contato com o material bibliograacutefico por parte de pessoas com deficiecircncia visual Evidencia que a digitalizaccedilatildeo de material bibliograacutefico natildeo constitui atividade--fim mas um meio para mediar o contato dessas pessoas com o conhecimento cientiacutefico

No segmento o quarto capiacutetulo intitulado ldquoO serviccedilo de ledores na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui um re-lato de experiecircnciardquo escrito por Beatriz Furtado Alencar Lima (Professora do curso de Letras da UFC) e Carla Poennia Ga-delha Soares (Superintendente Escolar da Coordenadoria Re-gional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo do Estado do Cearaacute) relata a experiecircncia vivenciada no projeto ldquoAtendimento Edu-cacional Especializado para alunos com deficiecircncia visual de universidades puacuteblicas do municiacutepio de Fortalezardquo Explicita a relevacircncia da organizaccedilatildeo de alternativas de atendimento agraves necessidades especiacuteficas de estudantes com deficiecircncia no acircmbito do Ensino Superior com vistas a colaborar para a que-bra de barreiras e promover a participaccedilatildeo e aprendizagem dos mesmos

O quinto capiacutetulo denominado ldquoSeis pontos para a alfa-betizaccedilatildeo especificidades na aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas cegas por meio do Sistema Braillerdquo escrito em parceria pela aluna do curso de Pedagogia da UFC Maria Clarissa Maciel Rodrigues e pela professora Inecircs Cristina de Melo Mamede docente da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFC mostra resultados de uma investigaccedilatildeo cientiacutefica um estudo de caso cujo objetivo foi investigar as especificidades do processo de aquisiccedilatildeo da escrita pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille Aleacutem de revelar tais peculiaridades estabelece interlocuccedilatildeo com a perspectiva de construccedilatildeo da liacutengua escrita proposta pela psicogecircnese piagetiana com fulcro nos estudos de Emiacutelia Ferreiro

O sexto capiacutetulo designado ldquoAbrindo uma janela para a comunicaccedilatildeordquo de autoria de Maria Izalete Inaacutecio Vieira dis-cute a importacircncia da liacutengua de sinais no processo de educa-ccedilatildeo de pessoas surdas e descreve a expansatildeo da acessibilidade para surdos por intermeacutedio de um projeto piloto de legenda-gem em Libras do programa televisivo com periodicidade se-manal UFCTV Essa experiecircncia demonstra a incontornaacutevel necessidade de accedilotildees capazes de revelar para a comunidade em geral que a garantia do direito agrave informaccedilatildeo a toda a po-pulaccedilatildeo inclusive os surdos depende da construccedilatildeo de uma universidade inclusiva e acessiacutevel para todos

No seacutetimo capiacutetulo a doutoranda em Educaccedilatildeo pela UFC Marta Cavalcante Benevides e Tania Vicente Viana do-cente da citada instituiccedilatildeo discutem a ldquoAvaliaccedilatildeo da apren-dizagem de alunos com deficiecircncia estudo de caso em uma instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza--Cearaacuterdquo Destacam aspectos relativos agrave avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem desses alunos ponderando sobre a adequaccedilatildeo da ava-liaccedilatildeo formativa realizada com atividades contextualizadas Evidenciam que a praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem des-tinada aos alunos com deficiecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo de uma IES puacuteblica ainda carece de condiccedilotildees de acessibilidade

O capiacutetulo oito denominado ldquoAvaliaccedilatildeo da aprendiza-gem de alunos com deficiecircncia em Cursos das Ciecircncias Exa-tas estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica Federal de Fortaleza-Cearaacuterdquo escrito por Fran-cisca Samara Teixeira Carvalho (Mestre em Educaccedilatildeo pela UFC) e Tania Vicente Viana (docente da referida instituiccedilatildeo) discute o processo de avaliaccedilatildeo de aprendizagem no contexto inclusivo tecendo criacuteticas aos modelos tradicionais pautado em exames e defende a perspectiva da avaliaccedilatildeo como media-

16 d d 17

dora dos processos de ensino-aprendizagem Mostra ainda que no acircmbito dos Cursos de Ciecircncias Exatas investigados embora se reconheccedila a necessidade de adequaccedilotildees no proces-so avaliativo de pessoas com deficiecircncia existe a necessidade de implantar uma cultura avaliativa que supere a perspectiva tradicional

O nono capiacutetulo intitulado ldquoCapacidades silentes iden-tificaccedilatildeo educacional de altas habilidades em alunos com sur-dezrdquo retoma a temaacutetica do artigo anterior e foi elaborado por Tereza Liduina Grigoacuterio Fernandes e Lucimeire Alves Moura ambas do Centro de Referecircncia em Educaccedilatildeo Especial do Es-tado do Cearaacute em parceria com Edson Silva Soares (docen-te da UFC) e Tania Vicente Viana (docente da UFC) Revela originalidade em duas vertentes Por um lado trata-se do re-sultado de uma investigaccedilatildeo elaborada de modo interinstitu-cional por outro lado trata-se de um trabalho original para a pesquisa em Educaccedilatildeo Especial por pesquisar nas interfaces entre surdez e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo

Finalizando o livro o artigo ldquoPercursos e perspectivas da acessibilidade fiacutesica na Universidade Federal do Cearaacuterdquo de autoria de Zilsa Maria Pinto Santiago (docente do curso de Arquitetura da UFC) e Pliacutenio Renan Gonccedilalves da Silvei-ra (monitor do Projeto UFC Inclui) descreve accedilotildees desen-volvidas por esta universidade na melhoria da qualidade do acesso fiacutesico aos campi bem como enfatiza questotildees teacutecnicas relativas aos desafios pertinentes agrave acessibilidade nos espaccedilos da citada universidade

O conjunto de artigos enfeixados na presente obra aborda um leque variado de temas pertinentes para o cam-po da Educaccedilatildeo Inclusiva e instigam nossa capacidade criacuteti-ca e investigativa Revelam caminhos conquistas e desafios peculiares agrave constituiccedilatildeo de uma universidade puacuteblica atenta

as demandas de seu alunado Fica expliacutecito o engajamento dos(as) autores(as) na conquista diaacuteria por espaccedilos acessiacuteveis e por uma Educaccedilatildeo Superior Inclusiva Sua leitura revela-se pois essencial para todos os que lutam por uma universidade puacuteblica de qualidade

Rita de Caacutessia Barbosa Paiva Magalhatildees Docente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Educaccedilatildeo Centro de Educaccedilatildeo Universidade Federal do Rio Grande do Norte

d 19

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFC

Vanda Magalhatildees Leitatildeo

Introduccedilatildeo

A inclusatildeo social de pessoas com deficiecircncia no Bra-sil eacute um tema em efervescecircncia e resulta da dialeticidade de muacuteltiplos fatores Em meio ao processo soacutecio-histoacuterico destacam-se as contribuiccedilotildees teoacutericas das Ciecircncias Sociais e Humanas que se entrelaccedilam dando suporte e forccedila poliacuteti-ca aos movimentos sociais organizados por essas pessoas em defesa dos seus direitos Esses segmentos sociais desafiam o poder puacuteblico se fortalecem e se tornam visiacuteveis falando de si e de suas necessidades sob a maacutexima Nada Sobre Noacutes Sem Noacutes1

No Brasil a mobilizaccedilatildeo da sociedade civil em busca dos direitos humanos de pessoas com deficiecircncia se eviden-cia a partir dos meados do seacuteculo XX quando haacute registro de criaccedilatildeo das primeiras instituiccedilotildees especializadas para o aten-dimento dessas pessoas o Instituto Pestalozzi e a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE) satildeo exemplos Aleacutem disso as Campanhas Nacionais2 ocorridas entre 1957 e 1960 em defesa da educaccedilatildeo de cegos surdos e deficientes mentais3 sob a lideranccedila do Instituto Benjamim Constant Instituto Na-cional de Educaccedilatildeo de Surdos Sociedade Pestalozzi do Bra-

1 Lema internacional indicativo de que as organizaccedilotildees de pessoas com deficiecircncia devem ser consultadas sempre que estiverem sendo desenvolvidos programas padrotildees e normas para a acessibilidade2 Refiro-me agrave Campanha de Educaccedilatildeo de Surdos no Brasil (CESB 1957) Campa-nha Nacional de Educaccedilatildeo de Cegos (CNEC 1960) e a Campanha de Educaccedilatildeo de Deficientes Mentais (CADEME 1960) 3 Terminologia utilizada naquele momento histoacuterico

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO20 d d 21

sil e APAE datildeo respaldo agrave organizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial como uma modalidade de ensino voltada a pessoas com defi-ciecircncia e transversal a todas as etapas e niacuteveis de ensino ndash da Educaccedilatildeo Baacutesica ao Ensino Superior Nesse contexto os mo-vimentos pela aceitaccedilatildeo dessas pessoas tambeacutem se evidencia com vista a integraacute-las agrave sociedade Eacute possiacutevel observar que tal movimentaccedilatildeo eacute acompanhada de mudanccedilas terminoloacutegi-cas para designar todos aqueles que se diferenciam por seus modos singulares de apreender o mundo agrave sua volta e com ele se relacionar Satildeo diferenccedilas que resultam de alguma condi-ccedilatildeo de deficiecircncia sensorial intelectual mental ou fiacutesica que apresentem

No Cearaacute os outrora intitulados desvalidos nos primei-ros cinquenta anos do seacuteculo XX passaram a ser denomina-dos de excepcionais numa tentativa de amenizar o significado da deficiecircncia pautado pelo paradigma meacutedico-organicista--funcional Na sequecircncia histoacuterica foram adotadas

[] expressotildees como deficientes portadores de deficiecircn-cia portadores de necessidades especiais Apesar disso satildeo frequentes as manifestaccedilotildees constrangedoras de pessoas que natildeo sabem como se referir ou se aproximar adequadamente daqueles que compotildeem os grupos de pessoas que apresentam diferenccedilas resultantes de suas singulares condiccedilotildees (LEITAtildeO 2010)

Tais denominaccedilotildees reveladas pela historiografia ao longo das uacuteltimas seis deacutecadas baseadas em normas e valores sociais situam esse contingente social em um lugar marginal com intensa valoraccedilatildeo negativa Eacute como se o tempo fosse de-lineando essa categoria de pessoas no esforccedilo de amenizar a carga negativa por meio dos termos e expressotildees substituiacutedos mas que na verdade parecem manter em sua essecircncia o es-tigma da deficiecircncia (LEITAtildeO 2008)

O Ano Internacional das Pessoas com Deficiecircncia insti-tuiacutedo em 1981 marca no Brasil a emergecircncia de movimentos sociais organizados por pessoas com deficiecircncia que estimula reflexotildees num convite ao abandono do conceito de deficiecircncia sob o acircngulo da falta da perda ou diminuiccedilatildeo funcional para uma compreensatildeo social e afirmativa Sem negar a condiccedilatildeo bioloacutegico-funcional que resulta em suas singulares condiccedilotildees sensorial intelectual fiacutesica ou linguiacutestica passam a adotar expressotildees afirmativas como pessoas com deficiecircncia ou tatildeo somente cegas surdas cadeirantes e outras denominaccedilotildees atualmente usuais Sob esse paradigma a afirmaccedilatildeo das con-diccedilotildees de deficiecircncia daacute suporte agrave passagem para as condiccedilotildees de possibilidades

Atualmente com o respaldo das Ciecircncias Humanas e Sociais o conceito de deficiecircncia eacute posto em xeque pelos grupos organizados em associaccedilotildees de pessoas com deficiecircn-cia ao se apropriarem dos estudos socioantropoloacutegicos que datildeo realce agrave diferenccedila como ldquorecortes de um mesmo tecidordquo (OMOTE 1994)

Ao situar as ambiguidades sobre a compreensatildeo que se tem da deficiecircncia o referido autor afirma que

[] a deficiecircncia natildeo eacute algo que emerge com o nasci-mento de algueacutem ou com a enfermidade que algueacutem contrai mas eacute produzida e mantida por um grupo social na medida em que interpreta e trata como desvantagens certas diferenccedilas [] A deficiecircncia e a natildeo-deficiecircncia fazem parte do mesmo quadro fazem parte do mesmo tecido padratildeo (OMOTE 1994 p 69)

A compreensatildeo de que as deficiecircncias satildeo construccedilotildees sociais trazidas por tais estudos e elaboraccedilotildees tecircm reflexo nas palavras da ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidecircncia da Repuacuteblica Maria do Rosaacuterio ao prefaciar o

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texto que resultou da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pesso-as com Deficiecircncia4 Diz a ministra

estamos conscientes por exemplo de que hoje natildeo eacute o limite individual que determina a deficiecircncia mas sim as barreiras existentes nos espaccedilos no meio fiacutesico no transporte na informaccedilatildeo na comunicaccedilatildeo e nos serviccedilos (BRASIL 2011)

Nesta perspectiva as pessoas com deficiecircncia satildeo aque-las que se diferenciam por suas singularidades determinadas pela condiccedilatildeo de deficiecircncia que apresentam seja de nature-za fiacutesica sensorial eou intelectual As transformaccedilotildees que outrora eram centradas nas pessoas voltam-se ao ambiente fiacutesico e social para garantir o acesso para tudo a todos5 Eacute com tal compreensatildeo que esse contingente social minoritaacute-rio promove o reconhecimento de que a deficiecircncia eacute um con-ceito em transformaccedilatildeo e que resulta de sua interaccedilatildeo com o meio social Certamente esse entendimento fundamenta-se nas vivecircncias de confronto e enfrentamento com as barreiras a ele impostas Satildeo barreiras que se expressam das mais va-riadas formas tais como as de ordem fiacutesica linguiacutestica comu-nicacional e informacional tecnoloacutegica dentre outras e que certamente tecircm como pano de fundo as atitudes inadequadas que influenciam uma organizaccedilatildeo social muitas vezes hostil e que bloqueia a inserccedilatildeo plena dessas pessoas em igualdade de oportunidades com as demais

No contexto atual as condiccedilotildees de deficiecircncia parecem ser as mesmas transformando-se os modos de se apresenta-rem e de serem compreendidas Percebe-se facilmente que a convivecircncia diaacuteria com pessoas com deficiecircncia traz mudan-

4 Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) ocorrida em 2007 na cidade de Nova Iorque (EUA) O Brasil aprovou o texto da citada Convenccedilatildeo por meio do Decreto Legislativo nordm 186 de 9 de julho de 2008 5 Preceito adotado pela Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

ccedilas de atitudes grupais e individuais ateacute mesmo porque essas pessoas ao revelarem suas possibilidades e autonomia des-fazem muitos mitos construiacutedos socialmente em torno delas Eacute portanto razoaacutevel pensar que algumas atitudes preconcei-tuosas voltadas aos ldquoditos deficientesrdquo resultam tambeacutem do desconhecimento acerca das singularidades que caracterizam as muacuteltiplas condiccedilotildees de deficiecircncia

Assistem-se tambeacutem na atualidade aos debates e em-bates relativos agraves poliacuteticas de inclusatildeo educacional nas redes de educaccedilatildeo que abrangem todos os niacuteveis e modalidades de ensino Tais debates trazem em seu conjunto entrelaccedilamen-tos conceituais que para este texto destaco a inter-relaccedilatildeo de inclusatildeo e acessibilidade No senso comum acessibilidade parece evidenciar os aspectos referentes ao uso dos espaccedilos fiacutesicos Entretanto a acessibilidade numa acepccedilatildeo mais am-pla eacute condiccedilatildeo de possibilidade para a transposiccedilatildeo de barrei-ras que entravam a efetiva participaccedilatildeo com autonomia de pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida nos vaacuterios acircmbitos da vida social

A acessibilidade eacute portanto condiccedilatildeo fundamental e imprescindiacutevel a todo e qualquer processo de inclusatildeo social e se apresenta em muacuteltiplas dimensotildees incluindo aquelas de natureza atitudinal fiacutesica tecnoloacutegica informacional comunicacional linguiacutestica e pedagoacutegica dentre outras E mais eacute uma questatildeo de direito conquistado gradualmente ao longo da histoacuteria social e implica no respeito agraves diferenccedilas e na identificaccedilatildeo e eliminaccedilatildeo dos diversos tipos de barreiras E ainda acessibilidade eacute para todos sobretudo segundo o Decreto nordm 5296 de 2 de dezembro de 2004 para as pes-soas que possuem limitaccedilatildeo para o desempenho de ativida-des enquadrando-se nessa categoria aquelas com deficiecircncia fiacutesica deficiecircncia intelectual deficiecircncia visual (cegueira ou

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baixa visatildeo) deficiecircncia auditiva (surdez ou audiccedilatildeo reduzi-da) deficiecircncias muacuteltiplas e as que apresentam mobilidade reduzida

Demandas por Acessibilidade na Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

A amplitude da legislaccedilatildeo brasileira6 atual no tocante agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas a pessoas com deficiecircncia fez surgir muitos programas por parte do governo federal Em se tratan-do da inclusatildeo escolar no acircmbito do Ensino Superior destaca--se o Programa Incluir do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MECSESu) criado em 2005 que convoca as Instituiccedilotildees Federais de Ensino Superior (IFES) para o compromisso com a inclu-satildeo educacional de pessoas que apresentem alguma condiccedilatildeo de deficiecircncia oferecendo suporte para a criaccedilatildeo de nuacutecleos de inclusatildeo Este foi o marco institucional que impulsionou as IFES a avaliarem as suas condiccedilotildees de acessibilidade

Na UFC embora muitas accedilotildees jaacute se fizessem presen-tes ou em desenvolvimento destaca-se o Projeto UFC Inclui contemplado em trecircs chamadas puacuteblicas7 do MECSESu que tinha como objetivo central a estruturaccedilatildeo de um setor que garantisse as accedilotildees de inclusatildeo de alunos no ensino su-perior Dentre as muitas accedilotildees destacaram-se a realizaccedilatildeo de Ciclos de Debates oferta de cursos de Leitura e Escrita no Sistema Braille de Liacutengua Brasileira de Sinais e de Tecno-

6 Refiro-me aos Decretos que tratam especificamente do tema em foco Satildeo eles os principais Decreto nordm 52962004 (Regulamenta as Leis de nordm 100482000 e nordm 100982000) e Decreto nordm 56262005 (Regulamenta a Lei nordm 103462002)7 Na primeira chamada em 2005 a UFC eacute contemplada com Projeto UFC Inclui sob a coordenaccedilatildeo da professora Ana Karina Morais de Lira e coparticipaccedilatildeo das professoras Zilsa Maria Pinto Santiago e Vanda Magalhatildees Leitatildeo Mais duas versotildees desse Projeto foram submetidas agrave concorrecircncia puacuteblica e aprovadas em 2007 e em 2009 dessa feita sob a coordenaccedilatildeo da professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo e copar-ticipaccedilatildeo das professoras Ana Karina Morais de Lira e Zilsa Maria Pinto Santiago

logias Assistivas adaptaccedilotildees de espaccedilos fiacutesicos para a aces-sibilidade implantaccedilatildeo do Centro Digital para Alunos com Deficiecircncia e aquisiccedilatildeo de equipamentos de tecnologias da informaccedilatildeo

Nesse contexto o Magniacutefico Reitor da UFC professor Jesualdo Pereira Farias criou em novembro de 2009 a Co-missatildeo Especial de Educaccedilatildeo Inclusiva (CEIn) responsaacutevel por realizar estudos das condiccedilotildees de acessibilidade com o fim de propor poliacuteticas voltadas para a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia na UFC A equipe composta de professores das vaacuterias aacutereas do conhecimento e de representaccedilatildeo do segmento de servidor teacutecnico-administrativo e de aluno com deficiecircncia realizou um intenso trabalho durante seis meses Nesse periacuteodo foram compartilhadas expectativas e proposi-ccedilotildees discutidos aspectos conceituais realizados levantamen-tos e estudos das condiccedilotildees de acessibilidade

Os levantamentos realizados pela CEIn permitiram a coleta de dados e informaccedilotildees parciais acerca das condiccedilotildees de acessibilidade na UFC abordando os aspectos que dizem respeito agraves atitudes condiccedilotildees fiacutesicas tecnoloacutegicas acesso ao conhecimento e a informaccedilotildees formaccedilatildeo de discentes docen-tes e servidores teacutecnico-administrativos para a acessibilidade e desenvolvimento de pesquisas e estudos realizados nos cur-sos de graduaccedilatildeo e de poacutes-graduaccedilatildeo A esses levantamentos realizados por amostragem foram acrescentados os resulta-dos de estudos anteriores8 acerca das condiccedilotildees pedagoacutegicas oferecidas aos estudantes e depoimentos de servidores

8 Esses estudos se referem agrave pesquisa intitulada ldquoQuem satildeo e como estatildeo os estu-dantes com Deficiecircncia na UFCrdquo realizada em 2006 coordenada pela professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo como parte da programaccedilatildeo do Projeto UFC Inclui (20052006) e a depoimentos de alunos e de servidores teacutecnico-administrativos que foram colhidos em reuniatildeo ampliada promovida pela Comissatildeo Especial de Educaccedilatildeo Inclusiva (CEIn) em 9 de abril de 2010

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Tais estudos levantamentos e escutas revelaram que as accedilotildees inclusivas voltadas a estudantes na UFC eram realiza-das de forma pouco sistemaacutetica contingente e emergencial ocorrendo quase que exclusivamente sob a demanda daquelas pessoas com deficiecircncia que nela ingressavam e que por ve-zes as condiccedilotildees em que se encontram os servidores ainda se apresentam inadequadas agrave medida que enfrentam barreiras de natureza fiacutesica atitudinal e linguiacutestica

No tocante agrave acessibilidade arquitetocircnica os estudos evidenciaram que em sua maioria os preacutedios da UFC se apresentam fora dos padrotildees estabelecidos pela legislaccedilatildeo vi-gente Mesmo nas edificaccedilotildees mais recentes ainda eacute possiacutevel se observar inadequaccedilotildees quanto aos padrotildees de acessibilida-de Nessa avaliaccedilatildeo eacute importante considerar que muitos dos equipamentos da UFC foram construiacutedos haacute mais de 50 anos quando os direitos das pessoas com deficiecircncia natildeo eram pau-tados nos debates e discursos da eacutepoca tampouco nos proje-tos Apesar dos esforccedilos realizados pela UFC para adequar sua grande aacuterea fiacutesica as accedilotildees ainda mantecircm caraacuteter emergen-cial e contingencial

Mediante anaacutelise dos projetos pedagoacutegicos dos cursos de graduaccedilatildeo da UFC pocircde-se observar a quase inexistecircncia de componentes curriculares que contemplem conteuacutedos re-lativos agrave temaacutetica da inclusatildeo acessibilidade ou condiccedilotildees de deficiecircncia Destacam-se como exceccedilotildees a disciplina de Liacuten-gua Brasileira de Sinais (Libras) que a partir do Decreto ndeg 5626 de dezembro de 2005 passa a ser ofertada obrigato-riamente para os cursos de graduaccedilatildeo na modalidade licen-ciatura e optativas para a modalidade bacharelado Psicologia Aplicada aos Portadores de Necessidades Especiais de oferta obrigatoacuteria para o bacharelado em Psicologia Desenho Uni-versal como opccedilatildeo para o curso de Arquitetura e Urbanismo

Educaccedilatildeo Especial9 Educaccedilatildeo Inclusiva e Fundamentos da Educaccedilatildeo de Surdos de oferta opcional para os cursos de Pe-dagogia e Introduccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Especial e Educaccedilatildeo Fiacutesi-ca para Portadores de Necessidades Especiais disciplinas de oferta opcional para o curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas modali-dades bacharelado e licenciatura

Estudos muito recentes10 desenvolvidos no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo (Fa-ced) da UFC no acircmbito dos cursos de mestrado e doutorado mostram que a significativa maioria dos docentes desconhece as singularidades dos processos de aprendizagem de seus alu-nos com deficiecircncia revelando a complexidade que eacute adaptar recursos e estrateacutegias de ensino e de avaliaccedilatildeo da aprendiza-gem assim como ao que se refere agraves adaptaccedilotildees curricula-res Esses estudos demonstram as dificuldades que em geral tecircm os professores em lidar com os processos de avaliaccedilatildeo da aprendizagem de seus alunos e principalmente com aqueles que tecircm alguma necessidade especiacutefica resultante das condi-ccedilotildees de deficiecircncia sensoriais ou fiacutesicas que apresentam

No acircmbito do Sistema de Bibliotecas importante ins-trumento de acesso ao conhecimento e um dos pilares da for-maccedilatildeo profissional e da atividade acadecircmica a CEIn registrou a Comissatildeo de Acessibilidade que se propotildee agrave definiccedilatildeo de accedilotildees em busca da construccedilatildeo de bibliotecas acessiacuteveis Cons-

9 Essa disciplina passa a ter caraacuteter obrigatoacuterio a partir do ajuste curricular dos cursos de Pedagogia (diurno e noturno)10 Refiro-me aos estudos de mestrado e doutorado intitulados Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem de Alunos com Deficiecircncia estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza-Ce (2011) Direito agrave diferenccedila a inclusatildeo de alunos com deficiecircncia visual na UFC (2011) e Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem de Alunos com Deficiecircncia em Cursos das Ciecircncias Exatas estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza-Cearaacute realizados por Marta Cavalcante Benevides Ana Cristina Silva Soares e Francisca Samara Teixeira Carvalho respectivamente

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tituiacuteda por bibliotecaacuterios a referida comissatildeo desenvolve ati-vidades tais como levantamento acerca de bibliotecas que oferecem serviccedilos ou produtos em atenccedilatildeo agraves pessoas com deficiecircncia anaacutelise da potencialidade de serviccedilos em curso no Sistema de Bibliotecas que podem ajudar na promoccedilatildeo da acessibilidade como Biblioteca Digital de Teses e Disser-taccedilotildees Livros Eletrocircnicos Portal da Coordenaccedilatildeo de Aperfei-ccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) diagnoacutestico das condiccedilotildees de acessibilidade fiacutesica tecnoloacutegica e de recur-sos humanos do Sistema de Bibliotecas dentre outras

Muito embora a UFC jaacute venha desenvolvendo algumas accedilotildees que satildeo favoraacuteveis agrave condiccedilatildeo de acessibilidade as re-velaccedilotildees resultantes dos referidos estudos e levantamentos apontavam para a urgecircncia de proposiccedilotildees e efetivaccedilatildeo de accedilotildees que garantam a adequaccedilatildeo de praacuteticas e recursos peda-goacutegicos que atendam agraves necessidades especiacuteficas dos estudan-tes promovam a formaccedilatildeo docente e do segmento teacutecnico--administrativo e de serviccedilos para a acessibilidade estimulem a realizaccedilatildeo de pesquisas para o desenvolvimento de tecnolo-gias assistivas permita que com autonomia todos tenham o acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo e ainda a adequaccedilatildeo dos ambientes e condiccedilotildees de trabalho

Secretaria de Acessibilidade Quem Somos

Os estudos e levantamentos ora referidos acerca das condiccedilotildees da acessibilidade realizados pela CEIn alicerccedilaram a elaboraccedilatildeo do documento Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC no qual satildeo propostas poliacuteticas e estrateacutegias de accedilatildeo que permitam o acesso e a inclusatildeo de alunos docentes e servido-res teacutecnico-administrativos com deficiecircncia considerando-se as muacuteltiplas dimensotildees da acessibilidade

A apresentaccedilatildeo do referido documento que tinha como proposta primordial a criaccedilatildeo de uma instacircncia administra-tiva capaz de cuidar em definitivo da elaboraccedilatildeo e conduccedilatildeo de poliacuteticas de acessibilidade na Universidade resultou na criaccedilatildeo da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui por meio da Resoluccedilatildeo nordm 26 de agosto de 2010 do Conselho Univer-sitaacuterio (CONSUNI) Essa decisatildeo deu enorme relevacircncia para a UFC pois pela primeira vez na histoacuteria desta universida-de uma accedilatildeo voltada agrave acessibilidade eacute institucionalizada por seu executivo maior aleacutem da demonstraccedilatildeo e disposiccedilatildeo da Administraccedilatildeo Superior para fazer acontecer a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia na UFC Com objetivos de elaborar executar e gerenciar accedilotildees oferecer suporte agraves unidades aca-decircmicas e administrativas para a efetivaccedilatildeo da acessibilida-de e estimular o desenvolvimento de uma cultura inclusiva na UFC a Secretaria tem como puacuteblico-alvo todas as pessoas sobretudo as pessoas com deficiecircncia integrantes da comu-nidade interna acrescida das pessoas que usufruem de servi-ccedilos por ela oferecidos por meio de accedilotildees de extensatildeo A tiacutetulo de exemplificaccedilatildeo de tais accedilotildees destacam-se aquelas desen-volvidas pelos setores de sauacutede da UFC (serviccedilos meacutedico e odontoloacutegico)

Implantada em outubro de 2010 a Secretaria de Aces-sibilidade UFC Inclui inicialmente constituiacuteda pela direccedilatildeo e pelo setor de apoio administrativo conta com um Grupo de Trabalho composto por nove membros representantes de professores das mais variadas aacutereas de conhecimento servi-dores e estudantes com deficiecircncia Esse grupo de assessoria permanente vem garantindo as realizaccedilotildees da Secretaria por meio da coordenaccedilatildeo de programa de extensatildeo e de projeto de monitoria de graduaccedilatildeo da oferta de serviccedilos das articu-laccedilotildees intersetoriais das mediaccedilotildees entre estudantes e coor-

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denadores eou professores dentre outras Parte desse grupo orienta a equipe de estudantes bolsistas de graduaccedilatildeo inte-grantes de projetos de bolsas11 de Iniciaccedilatildeo Acadecircmica Moni-toria de Projetos e de Extensatildeo aleacutem de voluntaacuterios Mais re-centemente com a atualizaccedilatildeo do Regimento Interno da UFC foram acrescidos agrave estrutura da Secretaria mais quatro seto-res assessoria a projetos arquitetocircnicos acompanhamento a alunos tecnologia assistiva e formaccedilatildeo para acessibilidade A equipe a partir de maio do corrente ano foi ampliada e estaacute composta por dez servidores sendo dois assistentes de admi-nistraccedilatildeo quatro tradutores e inteacuterpretes dois teacutecnicos em informaacutetica um teacutecnico em multimiacutedia e um teacutecnico em as-suntos educacionais12

No que diz respeito ao ingresso do segmento de estu-dantes com deficiecircncia nos cursos de graduaccedilatildeo na UFC foi realizado um estudo13 acerca do ingresso dessas pessoas no periacuteodo de 2005 a 2009 por meio do concurso vestibular14 A partir das informaccedilotildees oferecidas pela Comissatildeo de Con-curso Vestibular (CCV) quanto agraves inscriccedilotildees e resultados foram construiacutedas tabelas com dados quantitativos referen-tes agrave categorizaccedilatildeo dos alunos pela condiccedilatildeo de deficiecircncia agrave identificaccedilatildeo dos cursos por eles escolhidos e resultados finais dos concursos realizados Desses registros foi possiacutevel

11 No total a equipe de bolsistas eacute composta por dezoito estudantes de graduaccedilatildeo sendo quatro bolsistas da Proacute-Reitoria de Graduaccedilatildeo seis da Proacute-Reitoria de Exten-satildeo e oito bolsistas de Iniciaccedilatildeo Acadecircmica da Proacute-Reitoria de Assuntos Estudantis 12 Esse quadro de servidores teacutecnico-administrativos eacute parte das metas do Programa Viver Sem Limites do governo federal (Decreto nordm 76122011) encontrando--se em processo o concurso para seleccedilatildeo de mais seis profissionais tradutores e inteacuterpretes de Libras13 Estudo realizado e apresentado nos Encontros Universitaacuterios em 2009 por Antocircnia Kaacutetia Soares Maciel bolsista de graduaccedilatildeo do Projeto UFC Inclui UFC sob a orientaccedilatildeo da professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo14 A partir de 2010 a UFC passa a adotar o Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM) como criteacuterio de ingresso de alunos em seus cursos de graduaccedilatildeo

perceber o crescimento da demanda de alunos com defici-ecircncia para os cursos de graduaccedilatildeo muito embora isto natildeo corresponda ao efetivo ingresso Em 2005 dos 31 candida-tos inscritos no concurso vestibular 4 foram aprovados no ano de 2006 registram-se 48 inscriccedilotildees e 3 aprovaccedilotildees em 2007 dos 50 inscritos 5 foram aprovados no concurso ves-tibular de 2008 inscreveram-se 48 candidatos com defici-ecircncia e 2 foram aprovados em 2009 uacuteltimo periacuteodo em que o ingresso na UFC foi mediante o concurso vestibular ins-creveram-se 73 candidatos com deficiecircncia destes 24 foram aprovados para a segunda fase e 4 ingressaram nos cursos de graduaccedilatildeo pretendidos Dentre eles 3 apresentavam defi-ciecircncia visual e 1 deficiecircncia fiacutesica Pode-se observar ainda que em sua maioria a demanda se concentrava em cursos da aacuterea de Ciecircncias Humanas como Pedagogia Letras Ciecircn-cias Sociais e Psicologia aleacutem de algum interesse por Ciecircn-cias Econocircmicas Aleacutem destes cursos haacute registro de ingresso de um aluno no curso de bacharelado em Quiacutemica e um no curso de Farmaacutecia

Quanto ao contingente15 de alunos atualmente matricu-lados nos cursos da UFC no censo realizado em fevereiro de 2011 e atualizado em julho de 201216 haacute registro de 45 ma-triacuteculas de alunos com deficiecircncia nos cursos de Pedagogia Psicologia Ciecircncias Sociais Ciecircncias Contaacutebeis Ciecircncias da Computaccedilatildeo Engenharia de Teleinformaacutetica Engenharia de

15 Quanto ao quantitativo de servidores (teacutecnicos e docentes) natildeo se tem um dado confiaacutevel Ao certo haacute registro de um professor cego trecircs professores surdos uma professora com deficiecircncia fiacutesica Dentre os servidores teacutecnicos tem-se registro de um surdo O cadastramento de servidores teacutecnicos e docentes estaacute em anda-mento sob a coordenaccedilatildeo da Proacute-Reitoria de Gestatildeo de Pessoas em parceria com a Secretaria de Acessibilidade 16 O referido censo foi realizado por autodeclaraccedilatildeo do aluno no ato da matriacutecula e atualizado em julho de 2012 mediante informaccedilotildees obtidas diretamente nas coordenaccedilotildees de cursos

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Alimentaccedilatildeo Letras Administraccedilatildeo Agronomia e Biblioteco-nomia da UFC sendo uma delas no curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia (Mestrado) Dentre alunos ingressos nos cursos de graduaccedilatildeo nove tecircm cegueira ou baixa visatildeo dezesseis satildeo surdos ou com audiccedilatildeo reduzida dezessete apresentam defi-ciecircncias fiacutesicas diversas um apresenta transtorno global do desenvolvimento e dois apresentam muacuteltipla deficiecircncia Es-tes dados17 se alteram com o ingresso de 12 estudantes surdos no curso de Letras Libras licenciatura presencial implantado no segundo semestre de 2013 como mais uma accedilatildeo afirmati-va da UFC e atendendo a metas do Plano Viver Sem Limites haacute pouco referido

A partir dos dados ora expostos e tendo-se como re-ferecircncia o universo de cerca de 2500 matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo presencial da UFC 45 alunos com deficiecircncia representam 184 do total de alunos matriculados Isto eacute um convite agrave reflexatildeo em busca de identificar fatores que de-finem tal panorama Certamente que satildeo muacuteltiplos esses fa-tores entretanto eacute razoaacutevel pensar que dentre eles podem ser considerados pelo menos dois Em primeiro lugar arris-co o destaque na qualidade das experiecircncias de escolarizaccedilatildeo ofertada a esse contingente da populaccedilatildeo ao longo dos anos da educaccedilatildeo baacutesica A historiografia revela que o atendimen-to educacional ofertado agraves crianccedilas e jovens com deficiecircncia durante muito tempo teve um forte caraacuteter assistencialista com foco na reabilitaccedilatildeo Isto pode levar agrave suposiccedilatildeo de que os projetos e programas da escolarizaccedilatildeo propriamente ditos foram negligenciados

17 O uacuteltimo relatoacuterio com o quantitativo de alunos com deficiecircncia autodeclarados fornecido pela Proacute-Reitoria de Graduaccedilatildeo em 2013 revela que satildeo 218 alunos Estes dados estatildeo sendo conferidos pela equipe da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

Em segundo lugar eacute possiacutevel uma reflexatildeo acerca das condiccedilotildees oferecidas pelos mecanismos atuais utilizados para o ingresso de alunos no ensino superior Apesar da dita ga-rantia de recursos pedagoacutegicos que atendam agraves necessidades singulares resultantes principalmente das deficiecircncias sen-soriais tais instrumentos ainda parecem natildeo satisfazer ple-namente as necessidades demandadas Quanto agrave condiccedilatildeo de surdez por exemplo ainda haacute dificuldades por parte das instacircncias organizadoras de concurso em reconhecer que a Libras eacute a primeira liacutengua dessas pessoas e que a avaliaccedilatildeo da sua produccedilatildeo textual em Liacutengua Portuguesa deve levar em consideraccedilatildeo que essa eacute a sua segunda liacutengua

Nossos Avanccedilos

A partir de marccedilo de 2011 jaacute devidamente instalada a Secretaria passou a desenvolver accedilotildees abrangendo as vaacuterias dimensotildees da acessibilidade e tomando como ponto de par-tida o estabelecido no documento Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC propostas agregando alguns projetos de inclusatildeo de-senvolvidos por professores da UFC membros do Grupo de Trabalho da Secretaria Assim iniciaram-se diaacutelogos com as unidades acadecircmicas e administrativas na perspectiva de di-vulgar e discutir a poliacutetica de acessibilidade da UFC mas tam-beacutem no intuito de numa abordagem interdisciplinar e inter-setorial motivar a interlocuccedilatildeo entre suas diversas unidades em busca do desenvolvimento da cultura de inclusatildeo Nesse sentido a Secretaria em busca de novos paradigmas que deem suporte agrave construccedilatildeo de uma cultura da inclusatildeo na UFC vem promovendo accedilotildees diversas para atender prioritariamente agraves demandas mais urgentes consolidar projetos iniciados e pro-por a efetivaccedilatildeo da Poliacutetica de Acessibilidade na UFC

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No tocante agrave acessibilidade fiacutesico-arquitetocircnica18 ob-serva-se a realizaccedilatildeo de adaptaccedilotildees de setores ou unidades acadecircmicas prioritariamente onde haacute alunos ou servidores com deficiecircncia Nesse acircmbito vale destacar o interesse dos gestores de unidades acadecircmicas quanto ao atendimento aos itens de acessibilidade nos projetos e obras em desenvolvi-mento sob sua responsabilidade ao convocarem a Secretaria para a realizaccedilatildeo de visitas teacutecnicas com vistas agrave garantia de itens de acessibilidade em seus espaccedilos fiacutesicos

No tocante agrave acessibilidade na WEB a Secretaria de Acessibilidade em articulaccedilatildeo com a Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo promoveu encontros e reuniotildees que culmina-ram com a realizaccedilatildeo do Treinamento em Acessibilidade na WEB19 em parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Isto resultou na adoccedilatildeo de procedimentos tecno-loacutegicos que transformou o Portal da UFC20 acessiacutevel a todos Tornar os demais portais da UFC acessiacuteveis eacute um projeto que estaacute em andamento

Ainda sobre o acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo o Sistema de Bibliotecas da UFC com o apoio da Secretaria vem aprimorando suas estrateacutegias para tornar suas atuais unidades em ldquoBibliotecas Acessiacuteveisrdquo atendendo ao aluno

18 Accedilatildeo realizada pela Coordenadoria de Obras e Projetos com assessoria da pro-fessora Zilsa Maria Pinto Santiago professora do curso de Arquitetura e Urbanismo e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Esta accedilatildeo resultou num denso projeto de tornar acessiacuteveis todos os ambientes da UFC em Fortaleza ateacute o ano de 2016 19 Referido treinamento realizado na Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo (STI) foi conduzido pela professora Andrea Polleto Sonza e equipe do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e sob a coordenaccedilatildeo local do professor Joseacute Marques Soares professor do curso de Teleinformaacutetica e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC20 Accedilatildeo realizada pela equipe da Diretoria de Portais Universitaacuterios da Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo sob a direccedilatildeo da teacutecnica Emilia Maria Holanda Crispim Dioacutegenes

com deficiecircncia no campus onde estaacute situado o seu curso Aleacutem disso por meio da consolidaccedilatildeo do serviccedilo de digitali-zaccedilatildeo de textos21 com audiodescriccedilatildeo de imagens para alunos cegos ou com baixa visatildeo aos poucos se amplia o ldquoAcervo Acessiacutevelrdquo visando disponibilizar literatura cientiacutefica aos usuaacuterios com deficiecircncia visual Para os usuaacuterios com surdez a proposta eacute tornar disponiacuteveis de imediato informaccedilotildees em Libras acerca dos serviccedilos que a biblioteca oferece Destaca--se ainda no tocante agrave dimensatildeo da acessibilidade agrave comu-nicaccedilatildeo e agrave informaccedilatildeo a inserccedilatildeo de ldquojanelas de Librasrdquo nos programas produzidos pela equipe da UFCTV que eacute uma accedilatildeo em andamento

Quanto agrave acessibilidade linguiacutestica foram oferecidos cursos de Libras agrave comunidade universitaacuteria numa parceria com o curso de Letras-Libras graduaccedilatildeo a distacircncia22 to-talizando 49 turmas visando agrave difusatildeo dessa liacutengua e agrave co-municaccedilatildeo entre surdos e ouvintes A oferta de profissionais tradutores e inteacuterpretes23 de Libras que garante a acessibili-dade na comunicaccedilatildeo e na interaccedilatildeo entre surdos e ouvintes rompendo a barreira linguiacutestica tambeacutem eacute outra realidade na UFC

21 Serviccedilo coordenado pela bibliotecaacuteria Clemilda dos Santos Sousa da Biblioteca de Ciecircncias Humanas da UFC e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui22 Curso semipresencial de formaccedilatildeo de professores para o ensino da Libras e de tradutores e inteacuterpretes de Libras oferecido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em convecircnio com 15 Instituiccedilotildees de Ensino Superior dentre as quais a UFC foi uma delas Em 2010 no polo da UFC foram licenciados 47 professores para o ensino de Libras dentre os quais 44 satildeo surdos Em novembro do ano de 2012 licenciaram-se mais 22 professores dentre eles 20 surdos e 24 se graduaram em Traduccedilatildeo e Interpretaccedilatildeo (Libras-Portuguecircs-Libras) 23 Nos anos de 2010 e 2011 a UFC contratou uma tradutora e inteacuterprete de Libras Em 2012 ingressou por concurso puacuteblico a primeira tradutora e inteacuterprete de Libras na UFC Em 2013 mais trecircs profissionais concursados assumiram esse cargo A previsatildeo eacute a de que ateacute iniacutecio de 2014 a equipe de tradutores e inteacuterpretes de Libras na UFC seja constituiacuteda por dez profissionais concursados

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO36 d d 37

A formaccedilatildeo para a acessibilidade tambeacutem eacute outra accedilatildeo importante em desenvolvimento pela Secretaria Nesse acircm-bito registram-se a oferta de cursos de Sistema de Leitura e Escrita Braille de Libras24 e de Tecnologias Assistivas Nes-sa perspectiva a Secretaria participa efetivamente dos gran-des eventos promovidos pela UFC tais como os Seminaacuterios de Ambientaccedilatildeo Encontros Universitaacuterios e Feiras das Pro-fissotildees aleacutem dos Seminaacuterios de Gestatildeo Muito relevante eacute a criaccedilatildeo em dezembro de 2012 do curso de Licenciatura em Letras Libras que tem como objetivo a formaccedilatildeo de professo-res para o ensino de Libras como primeira e segunda liacutengua Essa eacute uma oferta com iniacutecio em 20132 e que teraacute importante repercussatildeo para a rede de educaccedilatildeo baacutesica e superior

Balanccedilo Parcial Algumas Consideraccedilotildees

Os ecos das accedilotildees desenvolvidas pela Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui tecircm sido muitos e importantes Grande parte das demandas que chegam agrave Secretaria eacute acolhi-da Alunos professores e servidores teacutecnico-administrativos sistematicamente fazem suas solicitaccedilotildees com a expectativa de que seratildeo atendidos muito embora se reconheccedila as fragili-dades do processo de implantaccedilatildeo da poliacutetica de acessibilida-de tendo em vista o fato de que as demandas por acessibilida-de na UFC satildeo muacuteltiplas e muitas

Destacam-se ainda os frutos do conviacutevio com as pes-soas com deficiecircncia que eacute de fundamental importacircncia para que se possa dimensionar as especificidades necessidades limites e possibilidades dessas pessoas As interaccedilotildees com

24 No periacuteodo de 2008 a 2011 foram ofertadas a alunos e servidores da UFC 49 turmas de ensino de Libras em parceria com o curso de licenciatura em Letras-Libras graduaccedilatildeo a distacircncia

elas propiciam aprendizados que os livros natildeo oferecem e mobilizam nas pessoas mudanccedilas em suas atitudes Suas presenccedilas participando efetivamente dos diversos progra-mas e projetos da UFC e da Secretaria de Acessibilidade as-sim como de eventos acadecircmicos eacute essencial para a criaccedilatildeo de uma cultura inclusiva Estabelecer essa parceria com elas tem promovido aprendizados de enorme significaccedilatildeo Eacute des-se modo que passam a exercer a funccedilatildeo de ldquofacilitadoras da inclusatildeordquo colaborando com a estruturaccedilatildeo de um ambiente fiacutesico e socialmente acessiacutevel aleacutem de suscitarem o desman-telamento dos mitos em torno das condiccedilotildees de deficiecircncia que apresentam

As experiecircncias vividas ao longo desse curto periacuteodo de trecircs anos permitiram agrave equipe da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui realccedilar alguns aspectos dentre os quais se des-tacam as accedilotildees de acessibilidade satildeo possiacuteveis desde que se tenha vontade e decisatildeo poliacutetica a afirmaccedilatildeo das diferenccedilas para transformar as barreiras em caminhos acessiacuteveis a con-cepccedilatildeo de que a inclusatildeo social e educacional tem a ver com todos noacutes a compreensatildeo de que o processo de inclusatildeo eacute ldquoca-minho de matildeo duplardquo no qual os segmentos com e sem defi-ciecircncia devem estar organicamente implicados e finalmente reconhecer e aceitar os limites como possibilidade de trans-pocirc-los assimilando a perspectiva conceitual que Vygotsky (1985) oferece acerca do fenocircmeno da compensaccedilatildeo

Ainda se tem muitas liccedilotildees a serem incorporadas Eacute preci-so avaliar valores e estar disponiacutevel agraves oportunidades de apren-der uns com os outros Afinal somos todos seres em formaccedilatildeo portanto passiacuteveis de transformaccedilotildees favoraacuteveis a convivecircncias respeitosas frente agraves diferenccedilas e singularidades humanas

d 39VANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO38 d

Referecircncias Bibliograacuteficas

BRASIL Convenccedilatildeo sobre os direitos da pessoa com defici-ecircncia (2007) Protocolo facultativo agrave Convenccedilatildeo sobre os di-reitos da pessoa com deficiecircncia Decreto legislativo nordm 186 de 9 de julho de 2008 Decreto nordm 6949 de 25 de agosto de 2009 Brasiacutelia Secretaria dos Direitos Humanos 2011 LEITAtildeO V M (Coord) Poliacutetica de acessibilidade na UFC propostas Texto impresso apresentado agrave Administraccedilatildeo Su-perior da UFC em agosto de 2010______ Instituiccedilotildees campanhas e lutas histoacuteria da educa-ccedilatildeo especial no Cearaacute Fortaleza Ediccedilotildees UFC 2008OMOTE S Deficiecircncia e natildeo-deficiecircncia recortes do mesmo tecido Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Especial Piracicaba-SP v 1 n 2 p 65-73 1994VYGOTSKY L S El defecto y la compensacioacuten In Obras Completas Fundamentos de defectologia Habana Editorial Pueblo y Educacioacuten 1985

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Valeacuteria Gomes PereiraHamilton Rodrigues Tabosa

Introduccedilatildeo

Este trabalho vem ressaltar a importacircncia do acesso agrave informaccedilatildeo e da biblioteca como agentes transformadores mostrando o papel do bibliotecaacuterio como suporte para os de-ficientes visuais no acesso agrave informaccedilatildeo Segundo Carvalho e Kanishi (2000) o avanccedilo das Novas Tecnologias de Infor-maccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo (NTIC) contribui para a inclusatildeo ao conhecimento por parte desses profissionais Eacute reforccedilada assim a importacircncia do bibliotecaacuterio como um dos profissio-nais da sociedade da informaccedilatildeo que tem como uma de suas principais caracteriacutesticas o uso das tecnologias por saberem da importacircncia delas na disseminaccedilatildeo do conhecimento

Traccedilamos entatildeo como objetivo geral deste trabalho verificar se os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute conhecem utilizam e dominam algumas das tecnologias assistivas ele-trocircnicas que facilitam o atendimento e o acesso de usuaacuterios com deficiecircncia visual agrave informaccedilatildeo se estatildeo capacitados para atuarem com esses usuaacuterios

Podemos classificar esta pesquisa como exploratoacuteria e descritiva Para a realizaccedilatildeo da anaacutelise dos dados coletados optamos por uma abordagem quanti-qualitativa O meacutetodo escolhido foi o funcionalista que segundo Lakatos e Marconi (1991) estuda a sociedade a partir do ponto de vista da fun-

1 Este artigo eacute uma siacutentese da monografia de conclusatildeo de curso de graduaccedilatildeo da primeira autora

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ccedilatildeo de suas unidades isto eacute como um sistema organizado de atividades

Optou-se por fazer a pesquisa com bibliotecaacuterios que estivessem exercendo a profissatildeo e cadastrados no Conselho Regional de Biblioteconomia para que o Conselho enviasse os questionaacuterios por e-mail Dessa forma pretendiacuteamos atingir um nuacutemero razoaacutevel de respostas aos questionaacuterios

O Acesso agrave Informaccedilatildeo

Cada vez mais percebe-se como o acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento eacute instrumento de mudanccedila social Os cida-datildeos cientes de seus deveres e direitos satildeo capazes de operar revoluccedilotildees em suas vidas e ao seu redor

Dessa forma cabe ao governo promover a socializaccedilatildeo do conhecimento proporcionando a todos sem distinccedilatildeo in-clusive agraves pessoas com deficiecircncia o acesso agrave informaccedilatildeo Em relaccedilatildeo ao Estado este tem promovido campanhas de aces-sibilidade na busca de eliminar a exclusatildeo entretanto essa mobilizaccedilatildeo natildeo estaacute alcanccedilando suas metas em totalidade no tocante agrave facilitaccedilatildeo aos deficientes do acesso ao conhe-cimento Paula (2009) frisa que a sociedade da informaccedilatildeo sugere a universalizaccedilatildeo do conhecimento produzido natildeo se admitindo que parcelas da comunidade sejam excluiacutedas simplesmente por apresentarem algum tipo de deficiecircncia Enfatiza-se assim a importacircncia da disponibilizaccedilatildeo do co-nhecimento em todos os suportes para toda a diversidade de indiviacuteduos Entatildeo a quem caberaacute esse papel de disseminar a informaccedilatildeo importando-se com a acessibilidade com o apri-moramento do uso das novas tecnologias

Independentemente de que nomes deram agraves unidades de informaccedilatildeo ndash como arquivos museus universidades es-

colas etc ndash eacute importante sabermos que elas satildeo transmissoras do conhecimento As bibliotecas trazem consigo a memoacuteria humana registrada sendo de sua responsabilidade propor-cionar o acesso agraves informaccedilotildees codificadas registradas gra-vadas nesses documentos contribuindo para a formaccedilatildeo de uma sociedade mais humana e dignificadora (CARVALHO KANISHI 2000)

Cabe entatildeo agraves bibliotecas disseminar o conhecimento preocupando-se em suprir as necessidades informacionais de qualquer um que a busque sem se deparar com barreiras de acesso Assis Barreto e Parandella (2008) afirmam que aleacutem das bibliotecas serem guardiatildes da memoacuteria a disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo atraveacutes da dinamizaccedilatildeo de seus acervos gera um processo inclusivo pelo acesso uso e democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo cientiacutefica e cultural aleacutem das informaccedilotildees uacuteteis e necessaacuterias agrave atuaccedilatildeo do cidadatildeo no seu dia a dia Reforccedila as-sim a importacircncia da biblioteca na sociedade da informaccedilatildeo e na vida do cidadatildeo

As tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo devem ser utilizadas pelas bibliotecas para a democratizaccedilatildeo dos pro-cessos sociais buscando formar os cidadatildeos para que possam exercer uma cidadania ativa e consciente e incluir socialmente atraveacutes do saber para que esses indiviacuteduos possam suscitar a transparecircncia de poliacuteticas e accedilotildees do governo formando-os para qualquer circunstacircncia havendo assim uma inclusatildeo social (TAKAHASHI 2000 apud PAULA 2009)

A informaccedilatildeo eacute uma necessidade fundamental do ser humano e para suprirmos essa necessidade eacute preciso que o bibliotecaacuterio esteja atualizado diante do uso das NTIC para assim favorecer o acesso agrave informaccedilatildeo aos usuaacuterios Segundo Carvalho e Kanishi (2000) os bibliotecaacuterios satildeo os profissio-nais que devem manter-se como elementos facilitadores do

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acesso agrave informaccedilatildeo aos usuaacuterios de suas instituiccedilotildees permi-tindo a inclusatildeo social de qualquer indiviacuteduo

Cabe aos bibliotecaacuterios se manterem atualizados no uso dessas tecnologias contribuindo assim para a inclusatildeo social e construccedilatildeo da sociedade a partir do acesso ao conhecimento

Tecnologias Assistivas Eletrocircnicas de Acesso agrave Informaccedilatildeo

Segundo Bersch (2008) a tecnologia assistiva eacute enten-dida como um auxiacutelio que promoveraacute a ampliaccedilatildeo de uma habilidade funcional deficitaacuteria ou possibilitaraacute a realizaccedilatildeo da funccedilatildeo desejada e que se encontra impedida por circuns-tacircncia de deficiecircncia ou pelo envelhecimento Em poucas palavras eacute qualquer instrumento que facilite a pessoa com deficiecircncia a fazer uma atividade desde um ruacutestico apetre-cho de madeira acoplado a um talher que permite a pessoa com deficiecircncia de habilidade motora comer a uma tecnolo-gia de ponta que permita a um usuaacuterio com deficiecircncia visual navegar pela internet

A Comissatildeo Executiva do Comitecirc de Ajudas Teacutecnicas (CAT) acredita que a tecnologia assistiva eacute uma aacuterea de co-nhecimento interdisciplinar que engloba produtos recursos metodologias estrateacutegias praacuteticas e serviccedilos que objetivam promover a funcionalidade relacionada agrave atividade e partici-paccedilatildeo de pessoas com deficiecircncia com incapacidades ou mo-bilidade reduzida visando a sua autonomia independecircncia qualidade de vida e inclusatildeo social (COMITEcirc DE AJUDAS TEacuteCNICAS apud BERSCH 2008)

Existem diversos tipos de tecnologia assistiva como mencionam Pupo Melo e Ferreacutes (2006) no controle do am-biente no trabalho e lazer na locomoccedilatildeo e em diversas ativi-dades do cotidiano como o estudo e o acesso agrave comunicaccedilatildeo

e informaccedilatildeo Usaremos principalmente os estudos de Bersch (2008) que eacute ilustrativa e concisa em sua abordagem sobre as tecnologias assistivas eletrocircnicas utilizadas pelas pessoas com deficiecircncia e os estudos de Fonseca e Pinto (2010) que tecircm uma linguagem clara e objetiva ao falar dessas tecnolo-gias aplicadas em uma biblioteca

Dentre as principais tecnologias de acesso agrave informaccedilatildeo para deficientes visuais podemos citar

y Ampliadores de tela satildeo aplicativos que aumentam o tamanho das letras na tela do computador e dessa forma facilitam o uso das pessoas com baixa visatildeo fazendo com que os textos e imagens sejam melhor visualizados por quem tem essa deficiecircncia Exemplos de ampliadores de tela Magic Zoom Text e o lente-Pro

y Leitores de tela satildeo aplicativos que leem as informaccedilotildees que estatildeo na tela do computador por isso satildeo tambeacutem chamados de sintetizadores de voz Eles reproduzem a voz do ser humano Com o desenvolvimento da tecnologia eles tecircm se tornado mais perfeitos em sua decodificaccedilatildeo sonora Exemplos de leitores de tela Vihortual Visiona Monitivox e Jaws e o Dosvox sendo este uacuteltimo um dos mais difundido no Brasil pois aleacutem da leitura de tela oferece inuacutemeros recursos como editores de texto jogos formatador para Braille e programas para acesso agrave internet como correio eletrocircnico navegador etc

y Linhas Braille dispositivos de saiacuteda composto por fileiras de ceacutedulas Braille por intermeacutedio de um sistema eletro-mecacircnico no qual conjuntos de pontos satildeo levantados e abaixados conseguindo-se assim uma linha de texto em Braille Eacute utilizado como alternativa ao leitor Braille sendo principalmente usado por pessoas surdas-cegas que podem

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superar a ausecircncia ou dificuldade de audiccedilatildeo e visatildeo atraveacutes do tato Infelizmente eacute pouco usado no Brasil devido ao seu altiacutessimo valor

y Impressoras Braille imprimem no papel as informaccedilotildees contidas no texto para o sistema Braille Existem dois tipos a natildeo-interponto as que imprimem apenas de um lado do papel e as com interpontos que imprimem dos dois lados do papel

Metodologia

Partimos de uma pesquisa bibliograacutefica para nos apro-fundarmos nos conceitos nas terminologias da aacuterea e para de-terminarmos as categorias de anaacutelise para a pesquisa Quan-to ao tipo de pesquisa podemos classificar este estudo como exploratoacuterio e descritivo Gil (1991) menciona que a pesquisa exploratoacuteria eacute realizada com o objetivo de fornecer uma vi-satildeo geral do tipo aproximativo do objeto de estudo Assinala ainda que as pesquisas descritivas tecircm por objetivo a descri-ccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo

Para a realizaccedilatildeo da anaacutelise dos dados coletados opta-mos por uma abordagem qualitativa devido agrave possibilidade que esse meacutetodo permite de analisar atitudes como pensa-mentos accedilotildees opiniotildees e informaccedilotildees livres do pesquisado Segundo Maanen (1979 apud NEVES 1996) a pesquisa qua-litativa refere-se

[] ao conjunto de diferentes teacutecnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados Tem por objetivo traduzir e expressar os sentidos dos fenocircmenos do mun-do social trata-se de reduzir a distacircncia entre indicador e indicado entre teoria e dados entre contexto e accedilatildeo

O meacutetodo escolhido foi o funcionalista que segundo Lakatos e Marconi (1991) estuda a sociedade a partir do pon-to de vista da funccedilatildeo de suas unidades isto eacute como um siste-ma organizado de atividades

A pesquisa empiacuterica foi realizada com os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute Optou-se por fazer a pesquisa com biblio-tecaacuterios devidamente cadastrados no Conselho Regional de Biblioteconomia (CRB) e que estivessem exercendo a profis-satildeo Dessa forma buscamos atingir uma grande populaccedilatildeo a ser pesquisada e fornecer dados mais significativos para a pesquisa

O instrumento de coleta de dados utilizado foi o ques-tionaacuterio por oferecer alguns benefiacutecios atingir uma grande populaccedilatildeo poder ser enviado por e-mail e natildeo necessitar da presenccedila do pesquisador ao ser preenchido Lakatos e Marco-ni (1991) descrevem que o questionaacuterio eacute um conjunto orde-nado de perguntas que devem ser respondidas sem a presenccedila do pesquisador Vai portanto ao encontro da nossa necessi-dade pois o nosso universo de pesquisa eacute muito vasto e natildeo seria possiacutevel a presenccedila do pesquisador em todas as cidades do Cearaacute O questionaacuterio foi enviado por e-mail a todos os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute cadastrados no CRB tendo sido respondidos um total de 40 questionaacuterios

Essa estrateacutegia na coleta de dados nos permitiu atingir instituiccedilotildees de portes variados com diferentes tipos de uni-dades de informaccedilatildeo puacuteblicas e privadas bibliotecas especia-lizadas comunitaacuterias ou puacuteblicas universitaacuterias escolares arquivos centros de documentaccedilatildeo e tambeacutem outros tipos de empresas onde haacute atuaccedilatildeo de bibliotecaacuterios Dos 40 questio-naacuterios que retornaram respondidos 5 eram de instituiccedilotildees de economia mista 10 de instituiccedilotildees privadas e 25 de institui-ccedilotildees puacuteblicas

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A Situaccedilatildeo das Bibliotecas Cearenses Quanto agrave Acessibilidade Atraveacutes de Tecnologias Assistivas Eletrocircnicas

Averiguamos se os bibliotecaacuterios cearenses conhecem o conceito de tecnologia assistiva e se conseguem mencionar exemplos dessas tecnologias assitivas para pessoas com defi-ciecircncia Apenas 4 dos respondentes natildeo possuem nenhum entendimento sobre o que eacute uma tecnologia assistiva Quere-mos esclarecer que natildeo houve relaccedilatildeo quanto agrave natureza eco-nocircmica da instituiccedilatildeo na qual atuam se eacute mista puacuteblica ou privada Dos respondentes 91 informaram que sabem o que eacute uma tecnologia assitiva

Surprendeu-nos o conhecimento que a maioria dos su-jeitos apresentou da definiccedilatildeo do termo Alguns citaram que antes de responder procuraram um conhecimento maior sobre o assunto mas ficou claro que essa porcentagem que respondeu tinha uma ideia um conhecimento preacutevio mesmo que vago sobre o que eacute tecnologia assistiva Ainda houve quem fizesse uma descriccedilatildeo das tecnologias assistivas e mencionasse a im-portacircncia que elas exercem na vida das pessoas com deficiecircn-cia demonstrando assim que conheciam de fato a definiccedilatildeo

Os sujeitos que responderam com maior propriedade a essa pergunta eram de instiuiccedilotildees puacuteblicas podendo haver uma relaccedilatildeo com as poliacuteticas de inclusatildeo e acessibilidade das pessoas com deficiecircncia agrave informaccedilatildeo Um exemplo seria o ci-clo de debates desenvolvidos pela Secretaria de Acessiblidade da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) convidando sensi-bilizando e desenvolvendo atividades de promoccedilatildeo do acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com deficiecircncia tendo como ne-cessaacuteria uma biblioteca acessiacutevel para esses usuaacuterios

Perguntamos quais os tipos de tecnologias assistivas eletrocircnicas que conheciam A comparaccedilatildeo entre o conheci-

mento que os respondentes demonstraram ter sobre o que satildeo tecnologias assistivas natildeo foi condizente com as respostas a essa pergunta pois alguns confundiram tecnologias assistivas com as NTIC dando como exemplos monitores de Reconhe-cimento Oacutetico de Caracteres (OCR) e teclado virtual que natildeo satildeo tecnologias assistivas aleacutem de terem citado a Liacutengua Bra-sileira de Sinais (Libras) que eacute a primeira lingua dos surdos e o Braille que eacute um sistema de leitura e escrita atraacuteves do tato Libras e Braille satildeo considerados tecnologias assistivas mas natildeo eletrocircnicas como mencionado por dois dos nossos respondentes

Outros mencionaram duas interfaces a microFecircnix que eacute uma ferramenta voltada para pessoas com dificuldades motoras e o Dosvox que eacute uma ferramenta voltada para os deficientes visuais terem acesso agrave informaccedilatildeo atraveacutes do com-putador permitindo que seu usuaacuterio utilize as ferramentas normais de um computador e navegue pela web

O Dosvox foi a uacutenica interface mencionada para defi-cientes visuais sua fama se espalhou para aleacutem dos muros acadecircmicos como uma ferramenta de acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com deficiecircncia Estaacute disponiacutevel para downlo-ad gratuito na web e suas configuraccedilotildees satildeo compatiacuteveis com qualquer sistema operacional bastando apenas escolher a versatildeo que melhor conveacutem agrave realidade do usuaacuterio ou da insti-tuiccedilatildeo que o busca

Investigamos se as instituiccedilotildees onde os bibliotecaacuterios trabalham possuem alguma tecnologia assistiva eletrocircnica quais os tipos que possuem e se natildeo possuem e quais as razotildees disso Verificamos que as instituiccedilotildees privadas natildeo possuem tecnologias assistivas eletrocircnicas e se justificavam por natildeo pos-suiacuterem porque natildeo tinham puacuteblico-alvo que demandasse es-sas tecnologias Como afirma o deacutecimo segundo respondente

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A faculdade ainda natildeo vecirc ldquonecessidaderdquo de adequar tantos recursos de tecnologia assistiva jaacute que natildeo temos alunos com deficiecircncia visual Para cadeirantes temos os elevadores e os espaccedilos foram pensados levando em consideraccedilatildeo a movimentaccedilatildeo desse cadeirante no espaccedilo da faculdade mas na minha visatildeo isso natildeo eacute tecnologia assistiva eletrocircnica Para os surdos temos apenas os inteacuterpretes de Libras o que tambeacutem natildeo considero uma tecnologia assistiva eletrocircnica

Ficou niacutetido que as instituiccedilotildees privadas preocupam-se em adequar suas instalaccedilotildees para o acesso arquitetocircnico nas bibliotecas como rampas corrimatildeos computadores com me-sas adaptadas para cadeirantes As instituiccedilotildees privadas consi-deram que natildeo eacute necessaacuterio investir em tecnologias assistivas eletrocircnicas pois natildeo haacute um puacuteblico-alvo natildeo haacute demanda

Quanto agraves empresas de economia mista apenas uma disponibiliza uma tecnologia assistiva eletrocircnica que eacute uma in-terface para deficientes visuais O vigeacutesimo oitavo respondente mencionou que havia apenas a preocupaccedilatildeo com as barreiras arquitetocircnicas ldquoBototildees de elevadores e corrimatildeo de escadas com sinalizaccedilatildeo em Braillerdquo Na instituiccedilatildeo do deacutecimo e do tri-geacutesimo terceiro sujeitos a justificativa para natildeo possuiacuterem eacute a mesma das instituiccedilotildees privadas a falta de puacuteblico-alvo

A resposta que nos chamou atenccedilatildeo das instituiccedilotildees de economia mista foi referente ao vigeacutesimo primeiro responden-te ldquoNatildeo temos nenhum usuaacuterio que necessite dessa ferramen-ta pois nossa biblioteca eacute especializada em Medicina e atende somente ao puacuteblico do hospital onde ela estaacute instaladardquo

Essa resposta nos intrigou Visto que eacute uma instituiccedilatildeo de economia mista haacute incentivos financeiros do governo des-sa forma o acesso deve ser pensado para todo tipo de usuaacute-rio O motivo de ser especializado natildeo torna esse acervo dife-rente dos demais pois existem em potencial usuaacuterios com

deficiecircncia para essa unidade de informaccedilatildeo Jaacute existem em algumas instituiccedilotildees de Ensino Superior alunos que possuem deficiecircncia visual cursando Medicina e que ao procurar por informaccedilotildees especializadas se deparam com esse tipo de ati-tude e entrave da instituiccedilatildeo e dos profissionais que as geren-ciam Um exemplo bem-sucedido desse tipo de relaccedilatildeo eacute o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que possui um aluno com 80 da visatildeo comprometida2

Das vinte instituiccedilotildees puacuteblicas consultadas apenas trecircs informaram que em suas unidades de informaccedilatildeo natildeo pos-suem nenhuma tecnologia assistiva eletrocircnica mas nas de-mais existem tecnologias assistivas e elas estatildeo desenvolven-do atividades de acesso ao conhecimento para as pessoas com deficiecircncia Essas tecnologias existentes foram mencionadas no iniacutecio deste artigo e discutiremos mais adiante as ativida-des de acesso

As unidades puacuteblicas mencionaram que suas maiores dificuldades satildeo a falta de investimento na aquisiccedilatildeo de tec-nologias assistivas eletrocircnicas e a dificuldade com os demais setores que natildeo compreendem a importacircncia de tornaacute-las acessiacuteveis de acordo com os padrotildees de acessibilidade Como mencionado pelo terceiro respondente

Temos trabalhado apenas com digitalizaccedilatildeo das biblio-grafias dos alunos com deficiecircncia visual A dificuldade de inclusatildeo de outros mecanismos se daacute pela neces-sidade de outros setores entenderem a importacircncia e a necessidade da criaccedilatildeo desses mecanismos Por exemplo Natildeo existe acessibilidade no nosso sistema e no nosso site Apesar de jaacute termos constatado que a soluccedilatildeo perpassa por outros setores

2 A UFMG possui dentre seus estudantes de Medicina um aluno que apresenta 80 da visatildeo comprometida Para dirimir as dificuldades desse aluno no acesso agrave informaccedilatildeo a instituiccedilatildeo adquiriu equipamentos para auxiliar nas atividades do estudante (UFMG 2009)

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Independentemente das dificuldades mencionadas as instituiccedilotildees puacuteblicas estatildeo promovendo serviccedilos de informa-ccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncia visual como digitalizaccedilatildeo do acervo aquisiccedilatildeo de obras em Braille linhas Braille acesso agrave interface especializada aacuteudio-livro etc

Podemos perceber nas instituiccedilotildees puacuteblicas um gran-de avanccedilo em busca de serem unidades informacionais aces-siacuteveis para todos apesar das dificuldades financeiras da lentidatildeo das licitaccedilotildeespregotildees da falta de matildeo de obra espe-cializada e da falta de conscientizaccedilatildeo dos demais setores que compotildeem a estrutura funcional Essas unidades tecircm buscado desempenhar seu real papel que eacute o de disponibilizar a in-formaccedilatildeo a quem a busque tornando-se bibliotecas acessiacuteveis em seus ambientes estruturais com rampas e elevadores e principalmente disponibilizando a informaccedilatildeo nos diversos suportes que o avanccedilo tecnoloacutegico possibilita A montagem de uma biblioteca inclusiva natildeo eacute necessariamente dispendiosa Devem-se buscar soluccedilotildees como os softwares livres para usu-aacuterios com deficiecircncia

Fizemos uma anaacutelise sobre o conhecimento que os biblio-tecaacuterios possuem das tecnologias assistivas eletrocircnicas para os deficientes visuais e como eles se comportariam diante de uma situaccedilatildeo hipoteacutetica de atendimento imediato para esses usuaacute-rios em suas unidades de informaccedilatildeo salientando que a infor-maccedilatildeo buscada soacute existiria na instituiccedilatildeo do sujeito pesquisado

Como pudemos perceber em paraacutegrafos anteriores os bibliotecaacuterios disseram conhecer algumas das tecnologias as-sistivas eletrocircnicas existentes Um dos bibliotecaacuterios respon-deu ldquoSim conheccedilo a Base de Dados Sophia a Gnuteca entre outrasrdquo Ficou claro que esse respondente natildeo consegue dis-tinguir a diferenccedila entre uma base de dados e uma tecnologia assistiva eletrocircnica Os sujeitos consultados ao responderem

agrave pergunta sobre se conheciam algum tipo de tecnologia as-sistiva eletrocircnica especiacutefica para deficientes visuais ficaram divididos em grupos nas seguintes proporccedilotildees 9 dos sujei-tos natildeo responderam pois natildeo sabiam nem conceituar o que era uma tecnologia assistiva 40 natildeo mencionaram nenhu-ma tecnologia para os deficientes visuais e 51 enumeraram o que pensavam ser tecnologias especiacuteficas para deficientes visuais pois houve alguns equiacutevocos por parte desse grupo

Dos dezoito respondentes que deram exemplos de tec-nologias assitivas apenas dois dominam o uso de alguma tecnologia assistiva voltada para as pessoas com deficiecircncia visual Isso provavelmente ocorre pela pequena procura des-se tipo de usuaacuterio agraves instituiccedilotildees pois caso o bibliotecaacuterio se deparasse com semelhante situaccedilatildeo constantemente prova-velmente buscaria se adequar agraves necessidades de demanda de seus usuaacuterios

A tecnologia que os respondentes mais citaram foi a interface Dosvox considerada por noacutes com niacutevel de usabili-dade intermediaacuterio avanccedilado O Dosvox eacute considerado uma ferramenta completa para o uso pelo deficiente visual pois aleacutem do usuaacuterio utilizar as ferramentas corriqueiras de um computador tais como digitar um texto fazer uma planilha a interface tambeacutem permite que a pessoa com deficiecircncia na-vegue pela Web

O vigeacutesimo nono respondente mencionou ldquoSei da exis-tecircncia do Dosvox mas natildeo de forma aprofundada e tambeacutem natildeo o temos ainda no nosso setor que eacute um Nuacutecleo de Docu-mentaccedilatildeordquo Eacute interessante que qualquer unidade de informa-ccedilatildeo independentemente do nome que utilize possua uma tec-nologia assistiva que possa atender aos seus futuros usuaacuterios

Outra sugestatildeo aleacutem do Dosvox seria o uso do MecDaisy um leitor de texto O MecDaisy eacute um software gratuito que

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transforma qualquer texto para o formato daisy permitindo as-sim a leitura pelo software Seu niacutevel de manuseio eacute faacutecil e se adequa agraves instituiccedilotildees que querem apenas disponibilizar suas obras para o acesso das informaccedilotildees que estatildeo em sua guarda

Fizemos um questionamento para os nossos sujeitos como eles agiriam para atender agraves necessidades de informa-ccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncia visual sabendo que a in-formaccedilatildeo de que essa pessoa precisa soacute existe na instituiccedilatildeo onde o sujeito consultado trabalha Diante de tal pergunta nossos respondentes informaram que natildeo tinham conheci-mento que consultariam locais de atendimento especializado e encaminhariam o deficiente para tal instituiccedilatildeo capacitada para atendecirc-lo

O terceiro sujeito consultado nos disse ldquoCom certeza me esforccedilaria ao maacuteximo para conseguir Mas acredito que a dificuldade eacute de conseguir a informaccedilatildeo em formato que pos-sa ser lidordquo E ele estaacute certo Conseguir a informaccedilatildeo no for-mato correto eacute um trabalho aacuterduo desde que o bibliotecaacuterio nunca tenha ouvido falar de nenhum dos softwares jaacute men-cionados para pessoas com deficiecircncia visual Eacute necessaacuterio entatildeo adequar-se a essa realidade hoje Urge a conscientiza-ccedilatildeo da importacircncia desses softwares que podem ser gratuitos cabendo ao gestor da unidade de informaccedilatildeo aleacutem de possuir o conhecimento de que a tecnologia existe saber persuadir seus superiores da importacircncia de estar preparado para essa realidade em sua instituiccedilatildeo

Informou o trigeacutesimo quinto respondente que ldquoSe as informaccedilotildees estivessem apenas em formato impresso eu di-gitaria os textos para que a mesma pudesse fazer a leitura do material com os programas leitores de tela que satildeo softwares livresrdquo Relembrando alguns paraacutegrafos acima tanto o Dos-vox como o MecDaisy atenderiam a essa demanda

A reaccedilatildeo do deacutecimo sujeito foi a seguinte ldquoBem como na instituiccedilatildeo natildeo existe material em Braille talvez indicas-se algum material em aacuteudio (CDDVD) e tambeacutem um local especiacutefico que atendesse sua deficiecircncia no caso a Biblioteca Puacuteblica Menezes Pimentelrdquo Lembrando que a informaccedilatildeo es-taria apenas na unidade de informaccedilatildeo do nosso respondente ao pedir que fosse encaminhado agrave Biblioteca Municipal Me-nezes Pimentel o usuaacuterio natildeo conseguiria suprir a sua neces-sidade de informaccedilatildeo e retornaria agrave instituiccedilatildeo Caso o seu material em aacuteudio-livro natildeo suprisse a necessidade teria que haver um leitor ou dependendo da complexidade da informa-ccedilatildeo a instalaccedilatildeo de uma tecnologia assistiva

Constatamos que eacute necessaacuteria a adequaccedilatildeo das unidades de informaccedilatildeo independentemente de sua natureza econocircmi-ca para o recebimento desses usuaacuterios pois a informaccedilatildeo eacute agente transformador de uma sociedade e direito de todos A formaccedilatildeo dos bibliotecaacuterio deve apontar para a qualificaccedilatildeo de um bom atendimento aos usuaacuterios com deficiecircncia visual Dos sujeitos consultados 81 natildeo se consideram capacitados para atender usuaacuterios com algum tipo de deficiecircncia Para que seja possiacutevel oferecer um atendimento com eficaacutecia e qualida-de para as pessoas com deficiecircncia visual eacute necessaacuteria a soma de dois fatores a qualificaccedilatildeo para o atendimento e os recur-sos tecnoloacutegicos disponiacuteveis especiacuteficos para esses usuaacuterios

O deacutecimo segundo respondente declarou ldquoAinda haacute muito a ser melhorado muitos treinamentos a fazer Daria o meu melhor com certeza mas eacute bem difiacutecil atender a esses usuaacuterios a contento e com tudo o que eacute necessaacuteriordquo

Consideramos que o importante eacute que os profissionais estejam cientes de seu papel como agentes intermediadores da informaccedilatildeo e que para alcanccedilar esse objetivo eacute necessaacuterio qualificar-se aleacutem das habilidades que o projeto pedagoacutegico

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da formaccedilatildeo inicial em Biblioteconomia prevecirc Um exemplo dessa atitude seria o do deacutecimo quarto respondente

Acredito que embora eu mesma tenha buscado conhe-cer essas tecnologias isto partiu de um anseio pessoal natildeo de uma proposta que estava incluiacuteda nas atividades curriculares do curso Para a formaccedilatildeo do bibliotecaacuterio de hoje eacute funda-mental conhecer as tecnologias baacutesicas ou ao menos discutir essa questatildeo da inclusatildeo da acessibilidade

Pensamos que o bibliotecaacuterio natildeo eacute obrigado a domi-nar nenhuma tecnologia assistiva para os deficientes visuais visto que na maioria das instituiccedilotildees como mencionado an-teriormente esse perfil de usuaacuterio natildeo existe mas concluiacutemos que o profissional deve ter um conhecimento baacutesico sobre o assunto

Todos os sujeitos consultados consideram esse tema de extrema relevacircncia e acreditam ser importante que os estu-dantes de Biblioteconomia recebam formaccedilatildeo acadecircmica no sentido de serem capacitados ao atendimento de usuaacuterios com deficiecircncia pois em sua vida acadecircmica houve aborda-gem da acessibilidade arquitetocircnica poreacutem nenhuma disci-plina que abordasse acessibilidade agrave informaccedilatildeo atraveacutes de tecnologias assistivas eletrocircnicas

Trata-se de um nicho mercadoloacutegico pouco explorado pois as maiorias das instituiccedilotildees adquirem livros CDs e sof-twares mas natildeo a matildeo de obra qualificada Por isso devemos preparar futuros gestores com habilidade teacutecnica e visatildeo criacute-tica sobre acessibilidade e inclusatildeo aleacutem de ampliar os espa-ccedilos de debates na universidade qualificando o estudante para atender a todas as demandas de usuaacuterio e de um mercado es-peciacutefico que necessita de matildeo de obra qualificada

Conclusatildeo

Pudemos perceber como defendem Carvalho e Kanishi (2000) a real importacircncia da atuaccedilatildeo do bibliotecaacuterio como gestor de informaccedilatildeo na atual sociedade do conhecimento para a promoccedilatildeo do acesso irrestrito agrave informaccedilatildeo a todos os tipos de usuaacuterios considerando suas preferecircncias demandas e necessidades de atendimento especiacuteficas assim como suas limitaccedilotildees sejam fiacutesicas cognitivas dentre outras

Nas bibliotecas do estado do Cearaacute agraves quais tivemos acesso verificamos a necessidade de aparelhamento e mesmo do domiacutenio das teacutecnicas de uso por parte dos bibliotecaacuterios das tecnologias assistivas eletrocircnicas para acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com baixa visatildeo ou cegas descritas por Fonseca e Pinto (2010) e Pupo Melo e Ferreacutes (2006) Identificamos que os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute investigados sabem o que satildeo tecnologias assistivas eletrocircnicas e que as instituiccedilotildees que possuem uma quantidade expressiva dessas tecnologias satildeo as de natureza puacuteblica Poreacutem satildeo pouquiacutessimos os bibliotecaacute-rios que dominam e utilizam algumas dessas ferramentas ten-do mencionado que o puacuteblico-alvo eacute muito pequeno para que tenham sentido necessidade de qualificaccedilatildeo nessa aacuterea

Haacute um grande caminho a ser percorrido na conscienti-zaccedilatildeo das instituiccedilotildees em estarem preparadas para todo tipo de situaccedilatildeo e puacuteblico As instituiccedilotildees privadas necessitam de um maior desenvolvimento de suas atividades quanto ao fo-mento de acesso agrave informaccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncia em seus diversos niacuteveis

Os resultados reforccedilam a importacircncia de os bibliotecaacute-rios se qualificarem para o atendimento dos usuaacuterios com de-ficiecircncia visual com conhecimento baacutesico de como agir para suprir suas necessidades informacionais

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Os bibliotecaacuterios cearenses de modo geral natildeo se sen-tem qualificados para atuar com essas necessidades conside-rando que tal lacuna em sua formaccedilatildeo profissional nasce na vida universitaacuteria que natildeo os capacita a atuar com os diferen-tes tipos de usuaacuterio Contudo um questionamento precisa ser feito seraacute que a universidade eacute a uacutenica causa dos bibliotecaacute-rios natildeo estarem qualificados para poderem gerir tecnologias eletrocircnicas de acesso agrave informaccedilatildeo

Entendemos que este estudo trouxe contribuiccedilotildees para futuros pesquisadores que busquem fazer uma relaccedilatildeo do desenvolvimento do bibliotecaacuterio na realidade das insti-tuiccedilotildees na qual atuam e nas mudanccedilas sobre acessibilidade e inclusatildeo Tambeacutem acreditamos que sirva como orientaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de acesso agrave informaccedilatildeo e inclusatildeo das pessoas com deficiecircncia nas unidades de informaccedilatildeo e para os bibliotecaacuterios mapearem seus pontos a desenvolver a fim de se tornarem qualificados para o atendimento a tais pessoas

Nossas sugestotildees para o curso de Biblioteconomia satildeo a criaccedilatildeo de algumas disciplinas com essa temaacutetica voltada para a inclusatildeo social e do uso das tecnologias de acesso agrave in-formaccedilatildeo pelas pessoas com deficiecircncia a criaccedilatildeo pelo De-partamento de Ciecircncia da Informaccedilatildeo de uma especializaccedilatildeo sobre o tema

Finalmente acreditamos que os bibliotecaacuterios devem procurar uma qualificaccedilatildeo profissional para desempenharem seu papel de gestores de informaccedilatildeo Sendo imprescindiacutevel para a efetiva implementaccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento inclusivas pelo bibliotecaacuterio para poderem assim disponibili-zar a informaccedilatildeo a qualquer usuaacuterio que a busque tornando--se um profissional diferenciado no mercado em um campo de atuaccedilatildeo que cresce a cada dia

Referecircncias Bibliograacuteficas

ASSIS S BARRETO A M PARANDELLA M D Bibliote-cas puacuteblicas e telecentros ambientes democraacuteticos e alterna-tivos para a inclusatildeo social Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 37 n 1 p 27-36 janabr 2008BERSCH R Introduccedilatildeo agrave tecnologia assistiva Porto Alegre CEDI 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwassistivacombrIntroducao20TA20Rita20Berschpdfgt Acesso em 3 dez 2011CARVALHO I C L KANISHI A L A sociedade do conheci-mento e o acesso agrave informaccedilatildeo para que e para quem Ciecircn-cia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia n 3 p 33-39 setdez 2000UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Faculdade de Medicina Aluno com visatildeo subnormal daacute exemplo na fa-culdade Belo Horizonte jul 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwmedicinaufmgbrnoticiasp=7063gt Acesso em 10 dez 2011FONSECA J C PINTO T L Tecnologias assistivas para biblioteca inclusiva uma forma de oferecer informaccedilotildees a todos Paraiacuteba [sn] 2010 Disponiacutevel em lthttpdciccsaufpbbrenebdindexphpenebdarticle view78gt Acesso em 1 jun 2011GIL A C Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa social 3 ed Satildeo Paulo Atlas 1991LAKATOS E M MARCONI M de A Fundamentos de me-todologia cientiacutefica 3 ed Satildeo Paulo Atlas 1991NEVES Joseacute Luis Pesquisa qualitativa caracteriacutesticas usos e possibilidades Cadernos de Pesquisa em Administraccedilatildeo Satildeo Paulo v 1 n 3 p 1-6 1996PAULA S N de Acessibilidade agrave informaccedilatildeo em bibliote-cas universitaacuterias e a formaccedilatildeo do bibliotecaacuterio Campinas PUC 2009

d 59VALEacuteRIA GOMES PEREIRA bull HAMILTON RODRIGUES TABOSA58 d

PUPO D T MELO A M FERREacuteS S P (Orgs) Acessi-bilidade discurso e praacutetica no cotidiano das bibliotecas Campinas UNICAMP 2006 Disponiacutevel em lthttplabbcunicampbr8080labproducaolivro_acessibilidade_bi-bliotecaspdfpage=65gt Acesso em 13 abr 2012

BIBLIOTECA INCLUSIVA CONSTRUINDO PONTES ENTRE O VISIacuteVEL E O INVISIacuteVEL

Clemilda dos Santos SousaJeriane da Silva Rabelo

Introduccedilatildeo

Cursar uma universidade eacute projeto de vida de muitas pessoas Ter uma profissatildeo e estruturar a vida econocircmica eacute um sonho comum entretanto para pessoas com deficiecircncia natildeo eacute uma tarefa das mais faacuteceis Muitas dificuldades se mani-festam oriundas das barreiras arquitetocircnicas atitudinais de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo Segundo Pupo e Vicentini (2002 p 3) ldquomuitos alunos com deficiecircncia iniciam uma atividade de pesquisa na universidade e satildeo lsquobarradosrsquo pela inexistecircncia de uma infraestrutura adequadardquo Isso porque as universida-des e faculdades ainda natildeo atendem agraves condiccedilotildees de acessibi-lidade para pessoas com deficiecircncia No que se refere agraves pes-soas com deficiecircncia visual o acesso ao acervo das bibliotecas eacute um grande problema porque grande parte desse acervo estaacute impresso em tinta inviabilizando o seu acesso

Visando resolver essas questotildees o Sistema de Bibliote-cas da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) criou em 2009 a Comissatildeo de Acessibilidade1 que tem como objetivo principal diagnosticar as condiccedilotildees de acessibilidade nas bibliotecas da instituiccedilatildeo e propor accedilotildees que visassem estimular a criaccedilatildeo de uma poliacutetica inclusiva que fosse diluiacuteda nos serviccedilos e produ-

1 A Comissatildeo de Acessibilidade fez parte das Comissotildees Especializadas de Estudo (CEE) criadas pela Biblioteca Universitaacuteria da UFC com o objetivo de descentralizar as decisotildees administrativas contribuindo para diagnosticar as necessidades de mudanccedilas e soluccedilatildeo de problemas teacutecnicos e estruturais do Sistema de Bibliotecas da UFC

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tos oferecidos pelo Sistema de Bibliotecas da UFC nos diver-sos campi da universidade Nos primeiros estudos realizados por essa comissatildeo foram apontados diversos aspectos dentre eles a dificuldade que tecircm os alunos com deficiecircncia visual para realizarem suas leituras visto que na ocasiatildeo natildeo havia acervo em Braille2 nas bibliotecas da UFC nem serviccedilos de in-formaccedilatildeo que fizessem a conversatildeo de documentos impressos em tinta para os formatos acessiacuteveis Diante dessa realidade foi proposto pela comissatildeo de acessibilidade do Sistema de Biblioteca o projeto de Desenvolvimento de Acervo Acessiacute-vel tendo como puacuteblico-alvo pessoas com deficiecircncia visual accedilatildeo essa em curso atualmente

Em meados do ano de 2010 foi criada pela UFC a Se-cretaria de Acessibilidade UFC Inclui formada por uma equi-pe de trabalho da qual um membro da Comissatildeo de Acessibi-lidade da Biblioteca Universitaacuteria faz parte representando o Sistema de Bibliotecas Dentre as atribuiccedilotildees da Secretaria haacute uma que apresenta relaccedilatildeo direta com a biblioteca a que se refere agrave dimensatildeo pedagoacutegica e ao acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo (UFC 2012)

A biblioteca eacute um espaccedilo que proporciona a difusatildeo de informaccedilatildeo e permite a produccedilatildeo do conhecimento e sua dis-seminaccedilatildeo Para os estudantes eacute fonte primordial de pesquisa e apoio agraves accedilotildees pedagoacutegicas No caso das pessoas com defici-ecircncia visual se a biblioteca universitaacuteria oferecesse um acer-vo acessiacutevel facilitaria o processo de aprendizagem e inclusatildeo dos referidos discentes na vida acadecircmica proporcionando aos seus professores uma diversidade maior de material bi-bliograacutefico nas atividades cotidianas em sala de aula Aleacutem

2 Inventado pelo francecircs Louis Braille no ano de 1827 em Paris consiste num sistema de escrita com pontos em relevo que permite agraves pessoas privadas da visatildeo a leitura atraveacutes do tato (HOUAISS 2009)

disso a acessibilidade ao acervo das bibliotecas da UFC po-deraacute gerar ao aluno com deficiecircncia visual e ao seu professor uma ponte de interaccedilatildeo possibilidades de muacuteltiplas leituras e produccedilatildeo intelectual

Entretanto do que se trata um acervo acessiacutevel Se-gundo a Norma Brasileira (NBR) 9050 da Associaccedilatildeo Brasi-leira de Normas Teacutecnicas (ABNT 2004) no toacutepico referente agrave biblioteca e centros de leitura quando se refere ao acervo afirma ldquoRecomenda-se que as bibliotecas possuam publica-ccedilotildees em Braille ou outros recursos audiovisuaisrdquo Isto eacute as bibliotecas devem oferecer aos seus usuaacuterios com deficiecircncia visual material bibliograacutefico publicaccedilotildees em formato acessiacute-vel agraves condiccedilotildees de leitura desse puacuteblico

Nesse estudo entendemos por acervo acessiacutevel o con-junto de publicaccedilotildees ndash livros perioacutedicos monografias disser-taccedilotildees teses dentre outros materiais informacionais ndash que satildeo disponibilizados agrave comunidade acadecircmica para suas leituras com um diferencial essas publicaccedilotildees devem ser em Braille (importante para leitura e escrita de pessoas cegas principal-mente nos estudos de liacutenguas) ou em arquivos digitais em for-mato compatiacutevel para o uso de leitores de tela tais como pdf editaacutevel txt ou doc tendo tambeacutem a opccedilatildeo por aacuteudio-livros

Esse tipo de especificaccedilatildeo de formato eacute indispensaacutevel agrave acessibilidade dos usuaacuterios com deficiecircncia visual conjuga-da a serviccedilos de referecircncia pensados para esse segmento de usuaacuterios Com isso eacute possiacutevel proporcionar a equiparaccedilatildeo de oportunidades nas atividades acadecircmicas no que se refere ao acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento

Na experiecircncia do Sistema de Biblioteca da UFC o pro-jeto de Desenvolvimento de Acervo Acessiacutevel eacute uma resposta agrave demanda por acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento das pessoas com deficiecircncia visual na universidade No referido

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projeto haacute dentre outros o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de mate-rial bibliograacutefico que eacute realizado em parceria com a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Esse serviccedilo eacute a principal de-manda no momento por parte dos usuaacuterios com deficiecircncia visual (discentes servidores da universidade) do Sistema de Bibliotecas da UFC O objetivo do projeto supracitado eacute criar uma coleccedilatildeo com material em formato acessiacutevel de natureza cientiacutefica exclusivo para esses usuaacuterios A metodologia utili-zada como tambeacutem a estrutura eacute o que constitui o assunto que abordaremos a seguir

Serviccedilo de Digitalizaccedilatildeo de Materiais Bibliograacuteficos Acesso agrave Informaccedilatildeo e ao Conhecimento

Certa vez a equipe de digitalizadores da Secretaria de Acessibilidade da UFC recebeu um livro para digitalizaccedilatildeo em liacutengua italiana Tratava-se de uma gramaacutetica repleta de exerciacutecios em que um deles solicitava ldquoObserve as figuras e descreva os animaisrdquo O leitor seria capaz de responder essa pergunta A que animais o exerciacutecio se referia se fosse soacute essa a informaccedilatildeo visiacutevel Na verdade a gramaacutetica trazia as figuras dos animais desenhos para que o aluno ao vecirc-los escreves-se os nomes em liacutengua italiana Para uma pessoa vidente natildeo seria nenhum problema mas para uma pessoa cega como saber de quais figuras tratava o exerciacutecio

Para uma pessoa cega soacute seria ldquovisiacutevelrdquo essa informa-ccedilatildeo se a mesma fosse audiodescrita isto eacute ao digitalizar o texto do exerciacutecio as figuras seriam descritas Dessa forma o invisiacutevel se tornaria visiacutevel e a pessoa com deficiecircncia visual teria condiccedilatildeo de responder o exerciacutecio A outra forma seria imprimir o exerciacutecio em Braille caso a pessoa soubesse ler em Braille

Mas do que se trata a audiodescriccedilatildeo Para Vieira e Lima (2010 p 3)

A aacuteudio-descriccedilatildeo eacute uma teacutecnica de representaccedilatildeo dos elementos-chave presentes numa dada imagem que ao dialogar com os elementos de um texto verbal pode ser descrita tambeacutem de forma verbal para formar uma unidade completa de significaccedilatildeo A aacuteudio-descriccedilatildeo pode ser de uma imagem estaacutetica como uma pintura no museu de uma escultura em trecircs dimensotildees da gravura bidimensional presente nos livros didaacuteticos ou de ima-gens dinacircmicas que nada mais satildeo do que um conjunto de imagens estaacuteticas que juntas criam a ilusatildeo de mo-vimento como o que se processa nos filmes de cinema televisatildeo peccedilas de teatro ou viacutedeos de computador

A audiodescriccedilatildeo eacute importante no processo de digita-lizaccedilatildeo porque oferece acesso para pessoas com deficiecircncia visual agraves informaccedilotildees tipograacuteficas contidas no texto como ilustraccedilotildees siacutembolos negritos e outras Satildeo fundamentais para a compreensatildeo de conteuacutedos e por isso devem ser men-cionadas visto que natildeo podem ser lidas pelos programas lei-tores de tela

Visando a essa compreensatildeo eacute que a audiodescriccedilatildeo foi inserida no serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de materiais bibliograacutefi-cos como fator agregador no processo de transformaccedilatildeo de informaccedilotildees visuais em audiacuteveis Objetivando em um futuro proacuteximo a formaccedilatildeo de um acervo acessiacutevel para as pessoas com deficiecircncia visual o referido serviccedilo eacute o que discutiremos a seguir Conta com uma equipe coordenada por uma biblio-tecaacuteria do Sistema de Bibliotecas da UFC e oito digitalizado-res (bolsistas de projetos de graduaccedilatildeo e iniciaccedilatildeo acadecircmica da UFC) com suporte teacutecnico da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

A metodologia de trabalho segue os seguintes passos

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1) Entrevista de referecircncia feita por bibliotecaacuterio em que o usuaacuterio eacute identificado e manifesta suas necessidades informacionais isto eacute apresenta sua bibliografia e demais materiais necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo de trabalhos eou agrave ela-boraccedilatildeo de monografias Outro aspecto importante se refere agrave condiccedilatildeo de deficiecircncia apresentada pelo solicitante haacute que se levar em consideraccedilatildeo o fato de o indiviacuteduo ter nas-cido cego e ou adquirido essa condiccedilatildeo depois de adulto Eacute tambeacutem importante observar se a pessoa tem deficiecircncia visual total ou apresenta baixa visatildeo3 Todos esses aspectos iratildeo definir o atendimento necessaacuterio

2) Cadastramento do discente e assinatura de termo de com-promisso pelo mesmo objetivando informaacute-lo de que o material digitalizado eacute de seu uso exclusivo conforme a Lei nordm 9610 de 1998 dos direitos autorais (BRASIL 1998)

3) Anaacutelise das demandas informacionais dos discentes pesqui-sa nas bases de dados em sites que disponibilizam e-book para saber se as obras solicitadas jaacute estatildeo disponiacuteveis o que evita a perda de tempo em digitalizar novamente os textos

4) Identificaccedilatildeo das obras a serem digitalizadas no acervo da biblioteca Caso sejam do acervo analisar as condiccedilotildees de conservaccedilatildeo tais como paacuteginas riscadas ausecircncia de folhas dentre outras que atrapalham o processo de digitalizaccedilatildeo

5) Digitalizaccedilatildeo do material descriccedilatildeo de figuras graacuteficos e tabelas correccedilatildeo gramatical do texto e formataccedilatildeo do docu-mento final eliminaccedilatildeo de espaccedilos elaboraccedilatildeo de referecircncia bibliograacutefica

6) Envio do material ao solicitante

3 Segundo o Decreto nordm 5296 a baixa visatildeo eacute compreendida como acuidade visual entre 03 e 005 no melhor olho com a melhor correccedilatildeo oacuteptica os casos nos quais a somatoacuteria da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60ordm ou a ocorrecircncia simultacircnea de quaisquer das condiccedilotildees anteriores (BRASIL 2004)

7) Catalogaccedilatildeo e indexaccedilatildeo do material digitalizado no Sistema de Bibliotecas da UFC atraveacutes do Cataacutelogo online da Biblio-teca Universitaacuteria Esse material digitalizado soacute poderaacute ser acessado pelo usuaacuterio com deficiecircncia visual cadastrado atraveacutes de senha e login Essa accedilatildeo estaacute gerando um acervo online de materiais digitalizados de natureza cientiacutefica

Figura 1 ndash Paacutegina do cataacutelogo online da Biblioteca Universitaacuteria da UFC onde se acessam as obras digitalizadas

Figura 2 ndash Paacutegina do cataacutelogo online da Biblioteca Universitaacuteria da UFC com login e senha para acesso agraves obras digitalizadas

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Para ajudar no processo de digitalizaccedilatildeo a equipe res-ponsaacutevel utiliza o programa ABBY FineReader que possibili-ta fazer a digitalizaccedilatildeo dos materiais bibliograacuteficos em diver-sos formatos pdf doc txt aleacutem de eliminar figuras erros de digitalizaccedilatildeo oriundos de manchas riscos e incorreccedilotildees das paacuteginas dos livros

Figura 3 ndash Tela inicial do programa ABBY FineReader

Atraveacutes dessa nova ferramenta no periacuteodo de marccedilo a maio de 2012 foram digitalizados 34 tiacutetulos aproximada-mente 1064 paacuteginas Os primeiros resultados apontam que os alunos com deficiecircncia visual da UFC estatildeo tendo acesso aos materiais digitalizados em tempo haacutebil para acompanhar os estudos em sala de aula Estima-se a ampliaccedilatildeo do aten-dimento realizado atualmente facilitando assim o acesso das pessoas com deficiecircncia visual a materiais bibliograacuteficos di-gitalizados viabilizando o seu acesso agrave informaccedilatildeo e ao co-nhecimento A seguir discutiremos quem satildeo os usuaacuterios do serviccedilo de digitalizaccedilatildeo

Quem satildeo os usuaacuterios com deficiecircncia visual do Sistema de Bibliotecas da UFC

Para aperfeiccediloar o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo e conhecer melhor quem satildeo os usuaacuterios com deficiecircncia do Sistema de Bibliotecas da UFC como tambeacutem seu niacutevel de satisfaccedilatildeo com o serviccedilo foi elaborado um estudo atraveacutes de um questionaacute-rio semiestruturado com uma amostra composta inicialmen-te por seis alunos com deficiecircncia visual da UFC atendidos pelo serviccedilo de digitalizaccedilatildeo dos quais somente quatro se submeteram ao questionaacuterio no segundo semestre de 2011 Na tabela 1 encontramos a caracterizaccedilatildeo da amostra dos alu-nos consultados

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia visual

ALUNO GEcircNERO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A1 Masculino 24 Computaccedilatildeo Baixa visatildeo

A2 Feminino 24Mestrado em Psicologia

Visual total

A3 Masculino 22 Biblioteconomia Baixa visatildeo

A4 Feminino 23 Letras ndash Italiano Baixa visatildeo

Temos como sujeito A1 um discente do curso de Com-putaccedilatildeo com 24 anos com baixa visatildeo do sexo masculino como A2 um estudante de 24 anos cursando mestrado em Psicologia com deficiecircncia visual total do sexo feminino A3 eacute aluno do curso de Biblioteconomia possui 22 anos apre-senta baixa visatildeo e eacute do sexo masculino Por fim A4 estuda no curso de Letras-Italiano possui 23 anos apresenta baixa visatildeo e eacute do sexo feminino

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Anaacutelise dos Dados

Todos os alunos atendidos por esse serviccedilo se mostra-ram satisfeitos com essa iniciativa relatando principalmente as diferenccedilas do periacuteodo anterior a essa accedilatildeo em comparaccedilatildeo com o momento atual Essa constataccedilatildeo eacute importante para perceber se o serviccedilo com a oferta de material digital atende as expectativas dos discentes

Segundo Torres Mazzoni e Alves (2001) o espaccedilo digi-tal apresenta muitas possibilidades Criado pelas Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) oferece para o atendi-mento distintas formas de interaccedilatildeo das pessoas com a infor-maccedilatildeo respeitando as suas preferecircncias e limitaccedilotildees sejam relacionadas aos equipamentos utilizados sejam agraves limita-ccedilotildees orgacircnicas Nessa perspectiva o estudo buscou avaliar a satisfaccedilatildeo dos alunos com o do serviccedilo de digitalizaccedilatildeo visto que este busca oferecer acesso agrave informaccedilatildeo

Dos alunos consultados todos apontaram a preferecircncia por material digitalizado ao inveacutes do Sistema Braille justifi-cada pela facilidade de manuseio praticidade e tempo bem como por natildeo correr o risco de rasgar Para A1 eacute essencial a existecircncia de um serviccedilo de digitalizaccedilatildeo na universidade

Acho essencial ter um serviccedilo desses na Universidade para pessoas com alguma limitaccedilatildeo visual A digitaliza-ccedilatildeo permite uma abrangecircncia de formas de utilizaccedilatildeo desse material No meu caso com o alto contraste ou no aumento de fonte da forma com que quiser entre outras que possam haver A qualidade desse material eacute muito boa e ajuda bastante nos estudos Acho que devia ter-se um maior foco nesse trabalho para que as digita-lizaccedilotildees fossem mais raacutepidas pois muitos materiais satildeo precisos e muitos alunos o necessitam Acho que natildeo eacute lento pois jaacute solicitei uma digitalizaccedilatildeo de mais de 100 paacuteginas e em pouco mais de uma semana jaacute estavam

prontos (e jaacute deixo aqui meu agradecimento agrave Secretaria de Acessibilidade e a todos os que dela fazem parte)

O estudante A2 relatou que tem preferecircncia por mate-rial digitalizado porque quando estaacute no computador o tex-to eacute mais faacutecil de ser manuseado Apontou que a escrita em Braille com reglete4 eacute muito trabalhosa e lenta aleacutem de natildeo constituir uma linguagem acessiacutevel agrave avaliaccedilatildeo dos professo-res Assim os trabalhos devem ser entregues digitalizados Se os textos estatildeo em linguagem virtual facilitam a produccedilatildeo textual e inclusive o registro de citaccedilotildees pois natildeo precisa-mos digitar o que ouvimos (aacuteudio) ou o que lemos no papel (Braille)

O discente A3 apresentou igualmente preferecircncia pelo material digitalizado apesar de utilizar textos eletrocircnicos como o mp4 Conforme seu relato

Em vaacuterios momentos tenho que fazer leitura de textos que natildeo satildeo disponibilizados em miacutedia digital O acuacute-mulo deste material daacute volume e quase sempre estaacute em um tamanho que dificulta muito a leitura por causa da minha baixa visatildeo O serviccedilo de digitalizaccedilatildeo facilita este processo uma vez que me daacute a oportunidade de fazer a leitura deste material em casa ou no trabalho utilizando os recursos de ampliaccedilatildeo do computador e facilitando o seu transporte

O aluno A4 argumentou a importacircncia do acesso ao material utilizado em sala de aula porque satildeo avaliados e co-brados da mesma maneira que os alunos sem deficiecircncia Re-latou a preferecircncia de textos digitalizados porque podem ser

4 ldquoReglete eacute uma placa de metal dobraacutevel que eacute encaixada a uma taacutebua de madeira de aproximadamente 30x20 cm onde eacute preso o papel Ela conteacutem quatro linhas com 27 pequenos retacircngulos vazados cada Esses retacircngulos satildeo chamados de celas e neles estatildeo os seis pontos do sistema Braille que satildeo impressos no papel sulfite 40 com um objeto chamado punccedilatildeordquo (MARUCH STEINLE 2009 p 9)

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levados para onde queira podem ser lidos quantas vezes for necessaacuterio natildeo se apagam com o tempo e natildeo satildeo pesados

Os discentes ressaltaram a importacircncia dos materiais digitalizados para o acesso igualitaacuterio agrave universidade Atraveacutes desses materiais a promoccedilatildeo da inclusatildeo eacute mais efetiva re-duzindo as barreiras existentes entre o estudante com defici-ecircncia visual e o conhecimento cientiacutefico visto que contribuem no processo de sua formaccedilatildeo acadecircmica

A acessibilidade agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento por-tanto representa para os indiviacuteduos com deficiecircncia visual uma etapa importante rumo agrave independecircncia permitindo que participem das atividades cotidianas como agentes ativos na construccedilatildeo de seu conhecimento Desse modo nos ambientes universitaacuterios associados agrave produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do co-nhecimento eacute necessaacuterio que esse direito seja cumprido em toda sua plenitude

Ateacute pouco tempo atraacutes alunos da UFC com deficiecircncia visual enfrentavam inuacutemeras dificuldades no seu cotidiano acadecircmico para ter acesso a materiais digitalizados De acor-do com os depoimentos dos estudantes com o advento da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui e o serviccedilo de digita-lizaccedilatildeo do Sistema de Bibliotecas da UFC no iniacutecio de 2011 a digitalizaccedilatildeo de textos solicitados pelos professores em sala de aula constituiu uma conquista pois tem facilitado bastante a compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados pelos docentes

Consideraccedilotildees Finais

No livro Acessibilidade em bibliotecas Baptista (2009) ao comentar sobre inclusatildeo ressalta que as diferenccedilas fazem parte da vida que nenhuma pessoa eacute igual a outra e que cada indiviacuteduo demonstra qualidades defeitos potencialidades

surpresas que satildeo infindaacuteveis e imprevisiacuteveis A diferenccedila se apresenta portanto como fator enriquecedor parte da dinacirc-mica da vida humana e natildeo deveria ser um fator de exclusatildeo nos espaccedilos sociais Nesse sentido as bibliotecas como espa-ccedilos culturais sociais natildeo poderiam deixar de ser inclusivas As mesmas satildeo espaccedilos de epifania do saber onde os rios de diversos saberes se encontram formando um oceano de conhe-cimento em constante movimento de evaporaccedilatildeo e fortes ondas de transformaccedilatildeo codificaccedilatildeo e recodificaccedilatildeo

Nesse processo os movimentos das aacuteguas desse oceano satildeo muacuteltiplos Haacute diversas formas de navegar diversas for-mas de vida a inclusatildeo eacute a compreensatildeo do muacuteltiplo como fator produtor de possibilidades Nesse contexto compreen-de-se a acessibilidade em bibliotecas como o entendimento e o movimento de expansatildeo do seu potencial educador No caso de pessoas com deficiecircncia visual estas trazem agrave biblioteca uma nova leitura sobre produccedilatildeo e aquisiccedilatildeo do conhecimen-to novas formas de perceber o mundo e representaacute-lo

Onde se encontram portanto nos bibliotecaacuterios a ou-sadia e a humildade de navegar o oceano que a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia pode oferecer agrave sociedade trazendo novos horizontes para aleacutem das ilhas costumeiras

Eacute nessa perspectiva que o trabalho do Sistema de Bi-bliotecas da UFC e da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui se apresenta como um olhar dinacircmico sobre as novas ilhas Criar um acervo acessiacutevel para pessoas com deficiecircncia visual eacute um movimento de navegar em aacuteguas desconhecidas extre-mamente atraentes cheias de descobertas gratificantes e re-veladoras do poder de superaccedilatildeo do ser humano

Eacute nesse navegar que se constitui o objetivo da Secreta-ria de Acessibilidade UFC Inclui em promover uma poliacutetica de acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo para pessoas com

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deficiecircncia nesse caso especiacutefico as que tecircm cegueira Deve--se institucionalizar essa accedilatildeo na vida da universidade tendo o Sistema de Biblioteca como foco visto que eacute o equipamento cultural institucional na universidade com a missatildeo de orga-nizar preservar e disseminar a informaccedilatildeo e a produccedilatildeo do conhecimento

Criar um acervo acessiacutevel de natureza cientiacutefica para as pessoas com deficiecircncia visual como jaacute dito eacute um desafio visto as dificuldades oriundas do pouco conhecimento sobre o tema na aacuterea de Biblioteconomia Poucos bibliotecaacuterios co-nhecem o tema de forma que os capacite a interferir e crias soluccedilotildees que venham atender os usuaacuterios com deficiecircncia visual

Portanto o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de material biblio-graacutefico natildeo eacute uma atividade-fim mas um meio com vistas a contribuir para o desenvolvimento de um acervo que con-temple as necessidades de informaccedilatildeo das pessoas com defi-ciecircncia visual possibilitando a criaccedilatildeo de pontes entre elas e o conhecimento mediando-se essa relaccedilatildeo intercedendo no navegar entre uma ilha e outra entre os mares os continen-tes Avanccedilando mar adentro descobrindo ignorados horizon-tes escondidos pela ilusoacuteria ideia de ver apenas com os olhos equivocando-se que ver enxergar estaacute para aleacutem do visiacutevel passa pelo cheiro pelo toque pelo sentir pelo perceber-se humano capaz de superaccedilatildeo de recriar o mundo as ideias e a si mesmo o que diraacute as instituiccedilotildees e suas poliacuteticas

Referecircncias Bibliograacuteficas

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS ABNT acessibilidade a edificaccedilotildees mobiliaacuterio espaccedilos e equipamentos urbanos Rio de Janeiro ABNT 2004

BAPTISTA M I S D Convivendo com as diferenccedilas In PUPO D T MELO A M FERREacuteS S P Acessibilidade discurso e praacutetica no cotidiano das bibliotecas Satildeo Paulo Unicamp 2006 p 13-16 BRASIL Decreto nordm 5296 de 2 de dezembro de 2004 Regu-lamenta as leis nordm 10048 de 8 de novembro de 2000 que daacute prioridade de atendimento agraves pessoas que especifica e 10098 de 19 de dezembro de 2000 que estabelece normas gerais e criteacuterios baacutesicos para a promoccedilatildeo da acessibilidade das pessoas com deficiecircncia ou com mobilidade reduzida e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em lthttpwwwpla-naltogovbrccivil_ato2004-20062004decretod5296htmgt Acesso em 14 maio 2010______ Lei no 9610 de 19 de fevereiro de 1998 Altera atu-aliza e consolida a legislaccedilatildeo sobre os direitos autorais e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em lthttpwwwplanalto govbrccivil_03leisL9610htmgt Acesso em 02 out 2012 HOUAISS A Dicionaacuterio eletrocircnico da liacutengua portuguesa 20093 Rio de Janeiro Editora Objetiva 2009 1 CD-ROMTORRES E F MAZZONI A A ALVES J B da M A acessi-bilidade agrave informaccedilatildeo no espaccedilo digital Ciecircncia da Informa-ccedilatildeo v 31 n 3 p 83-91 setdez 2002MARUCH M A S STEINLE M C B O aluno cego e seu processo de alfabetizaccedilatildeo e letramento Disponiacutevel em lthttpwwwdiaadiaeducacaoprgovbrportalspdearqui-vos2348-8pdfPHPSESSID=2010011108145452gt Acesso em 19 dez 2012PUPO D T VICENTINI R A B A integraccedilatildeo do usuaacuterio portador de deficiecircncia agraves atividades de ensino e pesquisa o papel das bibliotecas virtuais 2002 Disponiacutevel em ltfilec|netscapeanaistrabalhocomunaintegrahtmgt Acesso em 09 set 2009

d 75CLEMILDA DOS SANTOS SOUSA bull JERIANE DA SILVA RABELO74 d

UFC Conceito de acessibilidade Disponiacutevel em ltlink httpwwwufcbracessibilidadeconceito-de-acessibilidadegt Acesso em 29 out 2012VIEIRA P A de M LIMA F J de A teoria na praacutetica aacuteu-dio-descriccedilatildeo uma inovaccedilatildeo no material didaacutetico Revista Brasileira de Traduccedilatildeo Visual v 2 p 3 2010

O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIA

Beatriz Furtado Alencar LimaCarla Poennia Gadelha Soares

Refletindo sobre a Accedilatildeo e a Extensatildeo do Projeto

Neste artigo relatamos as experiecircncias vivenciadas du-rante a execuccedilatildeo do Projeto de Extensatildeo realizado pela Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) por meio da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui O projeto intitulado Atendimento Educacional Especializado para alunos com deficiecircncia visu-al de universidades puacuteblicas do municiacutepio de Fortaleza reali-zou-se no periacuteodo de 3 de maio a 23 de novembro de 2011 sob a coordenaccedilatildeo da professora Beatriz Furtado Alencar Lima e apresentou como objetivo em linhas gerais oferecer Aten-dimento Educacional Especializado (AEE) para alunos com deficiecircncia visual matriculados em universidades puacuteblicas de Fortaleza ndash UFC e Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) ndash por meio do serviccedilo de leitura de textos

A Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui com o intui-to de possibilitar o acesso agrave leitura de materiais em tinta ao puacuteblico mencionado estaacute desenvolvendo um soacutelido trabalho de digitalizaccedilatildeo de textos sob a coordenaccedilatildeo da bibliotecaacuteria Clemilda dos Santos Sousa Assim o intuito de nosso projeto foi oferecer mais um serviccedilo que pudesse ajudar no acesso aos textos com os quais os alunos devem travar contato em suas atividades acadecircmicas

Nesse sentido eacute importante reforccedilar que a ideia que nos orientou ao propormos esse projeto foi a de ampliar o leque de possibilidades dos estudantes em suas praacuteticas de letra-

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mento acadecircmico Compreendemos letramento como uma praacutetica social intermediada por textos escritos (BARTON HAMILTON 1998) e foi com base nessa concepccedilatildeo sobre le-tramento que desenvolvemos nosso projeto

Eacute importante dizer no entanto que natildeo consideramos em nenhuma hipoacutetese a atividade de ler para pessoas com deficiecircncia visual a melhor ou mais acertada Trata-se de mais um recurso dentre tantos outros existentes ndash tais como leitores de tela sistema de leitura e de escrita Braille1 etc ndash para que esse estudante tenha o seu direito assegurado de acesso agrave informaccedilatildeo Quando entramos nesta seara do acesso ao consumo e agrave produccedilatildeo de informaccedilatildeo eacute importante refle-tir sobre a multiplicidade de recursos existentes atualmen-te no campo das Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)

Torres Mazzoni e Mello (2007) no trabalho intitulado Nem toda pessoa cega lecirc em Braille nem toda pessoa sur-da se comunica em liacutengua de sinais alertam-nos para o fato de que no contexto em que atualmente vivenciamos de con-tato intenso com muacuteltiplas semioses jaacute natildeo haacute espaccedilo para pensarmos em uma uacutenica forma de entrar em contato com as praacuteticas sociais de leitura e escrita quando se fala em acesso e produccedilatildeo de informaccedilatildeo Segundo as autoras sabe-se que atualmente as TICs com o uso de ajudas teacutecnicas adequadas

1 Trata-se de um sistema de leitura e escrita destinado a pessoas cegas por meio do tato Sua escrita eacute baseada na combinaccedilatildeo de seis pontos dispostos em duas colunas de trecircs pontos que permite a formaccedilatildeo de 63 caracteres diferentes que representam as letras nuacutemeros foneacutetica etc Foi criado por Louis Braille nascido na Franccedila no ano de 1809 Ficou cego em 1812 em um acidente na oficina do pai Louis Braille em 1825 apresentou a primeira versatildeo do sistema de leitura e escrita em relevo taacutetil para pessoas cegas Utilizou como referecircncia o sistema de Barbier ndash sistema utilizado para a comunicaccedilatildeo noturna entre os soldados do exeacutercito francecircs Em 1837 apresentou o que viria a ser a versatildeo final do sistema Braille Desde entatildeo eacute um dos sistemas utilizados pelas pessoas com deficiecircncia para o contato com a leitura e a escrita (SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS 2011)

permitem a comunicaccedilatildeo direta e instantacircnea entre pessoas com deficiecircncias sensoriais distintas

Essas tecnologias permitem que por exemplo possa realizar-se a comunicaccedilatildeo entre uma pessoa surda e uma pes-soa cega sem que elas optem em utilizar o Braille ou a Liacutengua Brasileira de Sinais2 (Libras) Essa realidade de comunicaccedilatildeo leva-nos a dizer que nos dias de hoje o maior obstaacuteculo en-frentado pelas pessoas com deficiecircncia diz respeito ao acesso a essa informaccedilatildeo caracterizando-se esta como uma riqueza inestimaacutevel que se relaciona a aacutereas como a Educaccedilatildeo o tra-balho e o lazer Dada a relevacircncia desse acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo em nossa sociedade sempre que falamos sobre barreiras agrave acessibilidade de cidadatildeos eacute fundamental destacar aquelas que impedem o acesso pleno e irrestrito a essas duas instacircncias Acreditamos pois que a quebra dessas barreiras poderaacute advir de forma mais justa e de fato acessiacutevel a partir do momento em que cidadatildeos com ou sem deficiecircn-cia tenham o direito de escolher de maneira plena e irrestrita a forma pela qual desejam entrar em contato com o consumo e a produccedilatildeo da informaccedilatildeo Para que isso ocorra faz-se ne-cessaacuterio ouvir conversar e refletir com as pessoas com defici-ecircncia e natildeo somente sobre as pessoas que se ressentem das barreiras a esse acesso

Sendo assim nosso projeto eacute delineado pelo pensamen-to de que para realizarmos um trabalho satisfatoacuterio junto aos alunos com deficiecircncia faz-se necessaacuterio sobretudo ouvir o que eles tecircm a nos dizer sugerir criticar Por essa razatildeo an-tes ou depois de realizarmos um trabalho de leitura de um

2 A liacutengua de sinais natildeo eacute universal e cada paiacutes possui a sua Como toda liacutengua possui uma estrutura gramatical e aspectos linguiacutesticos fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico No Brasil a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) eacute reconhecida pela lei nordm 104362002 como o sistema linguiacutestico visual-motor da comunidade surda brasileira (BRASIL 2005)

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texto ao universitaacuterio cego propomos informalmente ao aluno que ele nos aponte possibilidades de melhoria Dessa forma fazemos sempre que possiacutevel os ajustes necessaacuterios em prol de uma praacutetica de leitura melhor e mais eficaz Para que se compreenda melhor o funcionamento do nosso projeto de extensatildeo descrevemos na seccedilatildeo trecircs as principais accedilotildees desenvolvidas

Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

A realizaccedilatildeo deste projeto levou-nos agrave reflexatildeo sobre o aspecto de que o acesso agrave leitura e agrave escrita porpara pessoas com deficiecircncia visual natildeo se restringe a um uacutenico recurso Pelo contraacuterio muacuteltiplos satildeo os letramentos considerando que muacuteltiplas satildeo nossas praacuteticas sociais de contato com a lei-tura e a escrita Uma vez que vemos como indissociaacuteveis os letramentos e as praacuteticas sociais pensar o acesso agrave comunica-ccedilatildeo por meio de somente um recurso ndash quer sejam leitores de tela serviccedilo de ledores sistema Braille ndash eacute uma praacutetica redu-cionista e perigosa que leva agrave exclusatildeo de vaacuterios cidadatildeos de uma praacutetica social fundamental em nosso cenaacuterio contempo-racircneo que diz respeito ao acesso agrave informaccedilatildeo de forma irres-trita e acessiacutevel com todas as consequecircncias que as palavras irrestrita e acessiacutevel possam remeter

Eacute neste sentido que a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui ndash e no acircmbito da secretaria inserimos nosso projeto ndash tem direcionado suas accedilotildees com o intuito de promover dentro dos limites que lhe satildeo colocados a acessibilidade agrave informaccedilatildeo sob muacuteltiplas formas e perspectivas A rota precisa deste cami-nho para uma plena e irrestrita acessibilidade Natildeo a temos Satildeo somente dois anos de caminhada diante de tantas deacutecadas em que imperaram e ainda imperam uma concepccedilatildeo visiocecircn-

trica cartesiana e positivista de ensino de aprendizagem e de acesso agrave informaccedilatildeo ldquoCaminante no hay camino Se hace camino al andar Golpe a golpe verso a versordquo 3 Nos pa-raacutegrafos que se seguem faremos uma exposiccedilatildeo sobre as bases teoacutericas que fundamentaram esses nossos primeiros passos

Comecemos esclarecendo o conceito de letramento com o qual trabalhamos uma vez que este foi um dos conceitos que guiou nossa trilha durante a realizaccedilatildeo do projeto Tra-balhamos com o conceito de letramento desenvolvido pelos Novos Estudos do Letramento o qual entende o letramento como uma praacutetica social que envolve atividades de leitura e de escrita inseridas em estruturas sociais (BARTON HA-MILTON 1998) Satildeo praacuteticas que se localizam em um tempo e em um momento especiacuteficos ou seja as praacuteticas de letra-mento acontecem em contextos histoacutericos sociais e poliacuteticos situados Em resumo o letramento significa conforme a pers-pectiva que adotamos algo que as pessoas fazem natildeo se tra-ta de algo que reside somente na cogniccedilatildeo dos indiviacuteduos O letramento estaacute aleacutem de habilidades para aprender a ler e a escrever estaacute aleacutem dos textos que se limitam ao suporte do papel eacute uma atividade social por excelecircncia e portanto iraacute ocorrer na interaccedilatildeo entre as pessoas

Para ilustrar o que dizemos utilizamo-nos da voz de um dos participantes de uma pesquisa em andamento sobre letra-mentos para pessoas com deficiecircncia visual que estaacute sendo desenvolvida pela professora Beatriz Furtado Alencar Lima como aluna do doutorado em Linguiacutestica do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da UFC4

3 Passagem do poema Caminante no hay camino (MACHADO 2004)4 A pesquisa teve iniacutecio em maio de 2010 e trabalha com dez participantes cinco homens e cinco mulheres situados na faixa etaacuteria entre 23 e 50 anos Os participantes que integram a pesquisas satildeo pessoas com deficiecircncia visual quatro deles com niacutevel superior completo e seis se encontram com os cursos de niacutevel

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Ao finalizar a entrevista ndash de natureza semiestruturada ndash foi perguntado ao participante5 se ele gostaria de comentar algo mais aleacutem do que jaacute havia dito O que obtivemos foi en-tatildeo o seguinte depoimento6

Beatriz e pra gente terminar vocecirc gostaria de comentar algo mais Ricardo Natildeo acho que basicamente isso mesmo acho que tem Beatriz Sobre o que a gente conversou ou algo que vocecirc gostaria de comentar que independente das perguntasRicardo Natildeo eu acho que era basicamente isso mesmo Tipo as coisas tatildeo caminhando jaacute caminharam muitas coisas mas eu acho que tinha que ser feito conversar mais com os cegos ou se aproximar um pouco mais Enfim jaacute melhorou muita coisa mas muita coisa ainda taacute pra melhorar aindaBeatriz O que seriam essas coisas ainda pra melhorarRicardo Eu acho que da maneira que taacute acontecendo taacute acontecendo ateacute duma maneira legal Soacute que eu acho que tinha que melhorar era ouvir mais os cegos ouvir mais o deficiente e natildeo lsquoAh Eu estudei Eu sou formado Eu sou doutorrsquo Eu sou natildeo sei o quecirc Eu sei o que eu tocirc fazendo Tinha que ouvir mais Entatildeo muitas vezes a gente pega a pessoa lsquoAh Eu sou sei laacute eu sou irmatildeo dum cegorsquo lsquoeu sou casado com um cegorsquo lsquoeu sou assim assadorsquo lsquoeu estudeirsquo lsquoeu fiz pesquisarsquo lsquoeu fui pra forarsquo

superior em andamento A pesquisa acontece em diferentes locais de trabalho e de estudo dos participantes e tem como um de seus objetivos descrever compreender e explicar os letramentos presentes nas praacuteticas sociais dessas pessoas com deficiecircncia visual5 Para preservar a identidade dos participantes que aceitaram contribuir com nossa entrevista usamos nomes meramente fictiacutecios 6 Entrevista gravada em 10 de novembro de 2011 Essa entrevista faz parte do projeto de doutoramento de Beatriz Furtado Alencar Lima sobre os muacuteltiplos letramentos para pessoas com deficiecircncia visual A pesquisa estaacute vinculada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da UFC O projeto encontra-se devidamente aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFC ofiacutecio nuacutemero 18511 protocolo COMEPE nuacutemero 13411

lsquoeu fui pros Estados Unidosrsquo lsquoestudei laacute e eacute assimrsquo E natildeo a verdade natildeo eacute assim Acho que quem sabe onde o sapato aperta eacute o deficiente Natildeo adianta vocecirc ter es-tudado vocecirc ter feito um bocado de coisas se vocecirc natildeo eacute o puacuteblico-alvo daquilo Claro que vocecirc ter estudado vocecirc vai ter uma bagagenzinha bem legal mas isso natildeo quer dizer que aquilo dali eacute tudoBeatriz E o que vocecirc diria pra esse pessoal que estuda e que acha que entendeRicardo Descesse um pouquinho do salto Soacute issoBeatriz CertoRicardo Escutasse mais descesse um pouquinho do sal-to e enfim escutasse mesmo Tipo seria isso escutasse um pouquinho porque o cego ele pode natildeo ter a baga-gem teacutecnica mas ele tem a bagagem praacutetica da coisa

Haacute outro depoimento que dialoga com o que Ricardo nos fala No depoimento abaixo estamos conversando sobre as tecnologias ndash de forma mais especiacutefica sobre a presenccedila dos computadores ndash na vida das pessoas com deficiecircncia visual Por meio de um exemplo simples que envolve o letramento (poder utilizar um micro-ondas) a participante levanta um ponto complexo sobre a falta de acessibilidade que adveacutem de nosso visiocentrismo7

Beatriz Humrum humrum Pegando aiacute uma apro-veitando isso aiacute que vocecirc acabou de comentar tem um pouco a ver com uma outra pergunta que eu gostaria de te fazer eacute como eacute que vocecirc sente e percebe as tecnologias da comunicaccedilatildeo na tua vida

7 Sobre este visiocentrismo Joana Belarmino de Sousa (2004) em sua tese Aspectos comunicativos da percepccedilatildeo taacutetil a escrita em relevo como mecanismo semioacutetico da cultura nos fala da existecircncia de uma mundividecircncia taacutetil ndash em contraposiccedilatildeo agrave nossa sociedade visiocecircntrica ndash como uma forma distinta de vivenciar o mundo Ou seja o tato eacute uma das formas pelas quais as pessoas com deficiecircncia visual experienciam o mundo e dentro dessas experiecircncias encontramos a leitura e a escrita por meio do sistema Braille

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Leda Ah eu assim eu costumo valorizar tudo que vem facilitar neacute Eu acho que tudo que vem me proporcionar uma independecircncia neacute Eu eu acho que natildeo tem por que natildeo tem como vocecirc recusar eu acho que vocecirc tem que aproveitar neacute Um celular um computador um programa aqui e ali mesmo que vocecirc coloque no seu computador pirata mesmo que vocecirc busque de uma forma ou de outra um meio pra utilizar qualquer coisa que venha te ajudar que venha te tornar mais indepen-dente mais autocircnomo eu acho que eacute valido Por exem-plo vocecirc quer ver uma coisa lsquoolha eu quero comprar um micro-ondas pra mim haacute tempo que eu quero comprar um micro-ondas pra mimrsquo Atualmente natildeo tem mais nenhum micro-ondas pra pessoa cega utilizar todos os micro-ondas olhe como as coisas natildeo satildeo para todos todos os micro-ondas atuais satildeo digitais Nenhum fala nenhum tem uma adaptaccedilatildeo pra pessoa cega utilizar aiacute as pessoas dizem assim lsquoah mas tem aquele micro--ondas x de mil novecentos e me esqueci que esse daiacute serve pra vocecircrsquo Ou seja nem escolher a marca do meu micro-ondas nem escolher o tamanho do meu micro--ondas nem escolher o tipo do meu micro-ondas que eu quero ter eu posso Entatildeo eu tenho que comprar aquele do seacuteculo XIX porque soacute aquele do seacuteculo XIX pra caacute foi que foi feito eacute o que permite que eu possa utilizar entatildeo assim eu acho que nessa questatildeo a gente ainda precisa evoluir neacute Apesar de que jaacute que soacute tem essa daiacute esse daiacute esquenta a comida do mesmo jeito dos atuais eu natildeo tenho escolha Se eu quero comprar um de 30 litros mas soacute tem um de 19 litros eu fico com esse mesmo eacute melhor do que eu natildeo esquentar nunca minha comida Agora natildeo eacute correto natildeo eacute justo natildeo taacute certo natildeo tem acessibilidade O mundo natildeo eacute para todos

Essa passagem da entrevista com Leda reitera a impor-tacircncia de entendermos que quando falamos sobre o acesso agrave leitura e agrave escrita para pessoas com deficiecircncia visual natildeo podemos pensar em uma uacutenica forma de acesso a textos es-critos mas em muacuteltiplas maneiras de vivenciar essa leitura e

essa escrita e em uma multiplicidade de suportes e de meios que proporcionam esse acesso

Daiacute dizermos que estamos trabalhando numa perspec-tiva de muacuteltiplos letramentos e de multiletramentos O termo muacuteltiplos letramentos foi desenvolvido por Street (1984) com o objetivo de opocirc-lo a uma concepccedilatildeo de letramento autocircno-mo a qual reifica a ideia de letramento reduzindo-o a uma noccedilatildeo simplista e redutora Essa concepccedilatildeo autocircnoma vecirc o letramento como uma habilidade a ser adquirida sem consi-derar as praacuteticas sociais e culturais em que os seres humanos estatildeo imersos A atividade de interagir com textos reduz-se a uma interaccedilatildeo com textos escritos que devem ser devidamen-te decodificados e internalizados O letramento autocircnomo assume atualmente um papel dominante em muitos meios educacionais do Brasil e do mundo em ciacuterculos governamen-tais em agecircncias internacionais como a UNESCO e tambeacutem estaacute na base dos discursos dos mais variados segmentos da sociedade ndash escolas universidades academias de letras miacute-dia dentre outros ndash sobre o que entendem por letramento A ideia pois dos muacuteltiplos letramentos vem opor e desafiar o que difunde o letramento autocircnomo (STREET 2010)

No que diz respeito aos multiletramentos esse termo faz referecircncia natildeo a muacuteltiplos letramentos associados a di-ferentes contextos sociais mas a formas diversas muacuteltiplas de letramento que se associam a diferentes canais ou mo-dos como letramento visual letramento do computador etc (STREET 2010)

Eacute pois tendo como referecircncia a noccedilatildeo de letramento acima exposta que reiteramos ser perigoso e redutor afir-marmos e agirmos em prol do acesso agrave leitura para as pes-soas com deficiecircncia visual tendo como paracircmetro um uacutenico meio Braille ou leitores de tela por exemplo Isso significaria

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apagar e negar as muacuteltiplas maneiras pelas quais elas podem vivenciar a leitura em suas mais diversas praacuteticas sociais Eacute importante sempre ter em vista que satildeo muacuteltiplos os letra-mentos que respondem agraves demandas peculiares das pessoas com eficiecircncia visual a partir de suas diferentes praacuteticas so-ciais e culturais e muacuteltiplas satildeo as formas com que essas pes-soas vivenciam interagem e reagem a esses letramentos de acordo com os diferentes canais ou meios que utilizam Faz-se necessaacuterio entender como esses muacuteltiplos e multiletramentos respondem agraves necessidades especiacuteficas das pessoas com de-ficiecircncia visual para que se possa realizar de fato um acesso pleno e irrestrito da leitura agravequeles que se encontram fora do campo de visatildeo de um mundo pautado no visiocentrismo

Descrevendo as Accedilotildees do Projeto

Partindo do princiacutepio de que a universidade estaacute forma-da por um puacuteblico heterogecircneo de estudantes encontrando--se nessa heterogeneidade inseridas as mais diversas formas de contato com a leitura e a escrita entendemos ser importan-te considerar essas idiossincrasias promovendo uma forma a mais de acesso aos textos em tinta com os quais os alunos com deficiecircncia visual teriam que travar contato ao longo de seu curso de graduaccedilatildeo Daiacute a criaccedilatildeo de um projeto que prestasse AEE aos estudantes com deficiecircncia visual com o objetivo de auxiliaacute-los nas atividades discentes de que prescindiam nos cursos em que estavam matriculados

Durante a execuccedilatildeo do projeto atendemos a quatro alu-nos cujos dados estatildeo detalhados na tabela abaixo

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos atendidos

CARACTERIZACcedilAtildeO DOS ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA

IDADE CURSO DEFICIEcircNCIA

28 Ciecircncias Sociais Fiacutesica ndash Torcicolo Espasmoacutedico

45 Pedagogia Visual ndash Baixa Visatildeo

22 Letras Espanhol-Literatura Visual Total ndash Retinoblastoma

23 Psicologia Baixa Visatildeo ndash Visatildeo Unilateral

A accedilatildeo do projeto se inseriu conforme jaacute mencionamos anteriormente como mais uma das iniciativas que estatildeo sen-do desenvolvidas na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui no sentido de disponibilizar material bibliograacutefico para as pessoas com deficiecircncia visual Nesse sentido trabalhos vecircm sendo empreendidos como a digitalizaccedilatildeo de materiais que precisam ser usados pelos alunos com deficiecircncia visual No entanto dado que este serviccedilo demanda certo tempo o aten-dimento prestado pelas ledoras veio auxiliar e complementar o trabalho de digitalizaccedilatildeo8 de livros e textos com o intuito de atender aos alunos nas leituras de seus textos em tempo haacutebil

De forma mais especiacutefica centramo-nos nos seguintes aspectos promover o acesso de textos por meio do trabalho de ledoras realizado por duas bolsistas pertencentes agrave Se-

8 O trabalho de digitalizaccedilatildeo consiste no processo de digitalizar textos em tinta para que possam ser utilizados pelas pessoas com deficiecircncia visual por meio do suporte do computador com o uso de leitores de tela ou do programa DOSVOX Tanto o programa DOSVOX quanto os leitores de tela leem o que se encontra na tela do computador para as pessoas que os utilizam Essa leitura ocorre atraveacutes de uma voz sinteacutetica que decodifica as palavras que se encontram na tela Ou seja jaacute que as pessoas com deficiecircncia visual natildeo podem ter acesso aos textos em tinta por meio da visatildeo entram em contato com as informaccedilotildees escritas por meio da audiccedilatildeo

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cretaria de Acessibilidade UFC Inclui coletar e gerar dados para a elaboraccedilatildeo de uma estatiacutestica sobre a quantidade de alunos atendidos e a metodologia que eacute utilizada nesses aten-dimentos coletar e gerar dados para a elaboraccedilatildeo de novas metodologias no tocante agrave leitura para cegos com o intuito de aprimorar essa teacutecnica e com isso contribuir com mais uma ferramenta de acesso ao conhecimento para os estudan-tes com deficiecircncia visual

Dessa maneira as duas bolsistas envolvidas neste pro-jeto atuaram da seguinte forma realizaccedilatildeo do trabalho de lei-tura de textos para os estudantes que buscavam o atendimen-to na secretaria construccedilatildeo de formas alternativas de acesso ao conhecimento presente nos textos (leitura pausada leitura contiacutenua leitura para fichamento) acompanhamento e ano-taccedilatildeo das estrateacutegias que eram utilizadas e construiacutedas nesse atendimento com o intuito de gerar dados para a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Essas formas de atuar podiam acontecer de maneira conjunta ou em separado dependendo das necessidades e estilos de aprendizagem dos alunos Cada atendimento teve a duraccedilatildeo aproximada de uma hora e meia nos turnos da manhatilde e da tarde dependendo de cada caso e foram realizados em uma sala situada na Secretaria de Aces-sibilidade UFC Inclui

Aleacutem disso as bolsistas do projeto participaram se-manalmente de atividades de estudo planejamento e acom-panhamento sob supervisatildeo da coordenaccedilatildeo do projeto A pauta desses encontros estava centrada na discussatildeo sobre a forma como as ledoras realizavam os atendimentos a fim de aperfeiccediloar as teacutecnicas utilizadas Tanto nos atendimentos ao puacuteblico- -alvo do projeto quanto nos encontros junto agrave coor-denaccedilatildeo a intenccedilatildeo foi a de oferecer oportunidades para que as bolsistas se deparassem com situaccedilotildees-problema para as

quais deveriam buscar formas criativas de intervir pedagogi-camente no AEE Isso exigiu delas a capacidade de ir ao en-contro de soluccedilotildees que atendessem a cada aluno

Compartilhando Nossas Experiecircncias

Relatar experiecircncias implica compartilhar com o outro por meio da narrativa emoccedilotildees medos desejos e dificuldades vivenciadas durante algum momento especiacutefico ndash em nosso caso durante todos os instantes que circundaram a praacutetica da leitura para os universitaacuterios com deficiecircncia visual que busca-ram em nossa voz uma alternativa para dar vida aos textos

A esse respeito cabe mencionar que diferentemente do que previacuteamos durante a elaboraccedilatildeo do projeto nosso puacuteblico natildeo se restringiu apenas aos alunos com deficiecircncia visual ou de baixa visatildeo uma vez que um aluno acometido por torcicolo espasmoacutedico ndash o que provocava movimentos involuntaacuterios re-petidos do pescoccedilo ndash tambeacutem buscou nas ledoras uma forma de acessar o conteuacutedo de um texto impresso Isto porque os movimentos involuntaacuterios da parte superior do corpo tornava o fixar dos olhos nas paacuteginas de papel ou na tela do computa-dor uma tarefa dolorosa lenta e por vezes frustrante Dessa forma procedemos com a seguinte correccedilatildeo nossas ledoras emprestaram a voz natildeo soacute aos alunos impossibilitados de ver mas tambeacutem aos que encontravam outras dificuldades decor-rentes de condiccedilotildees fiacutesicas ndash que natildeo a deficiecircncia visual ndash no momento de praticar a leitura

Aclarados esses pontos dividimos nosso relato em trecircs breves momentos inicialmente discorreremos sobre nossas expectativas antes de iniciar as atividades de ledoras em se-guida na parte mais longa do relato compartilhamos nossa vivecircncia durante a execuccedilatildeo do projeto e por fim com base

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em nossa experiecircncia deixamos algumas breves sugestotildees para o aprimoramento de projetos futuros

Antes do nosso projeto atender o primeiro aluno nos-sas expectativas sempre otimistas apontavam para uma re-laccedilatildeo perfeita entre ledor-texto-leitor9 Isto eacute imaginaacutevamos que a nossa voz sempre fosse ter a capacidade de despertar o interesse no leitor acerca do conteuacutedo que liacuteamos Erronea-mente atribuiacuteamos a noacutes ledoras a responsabilidade de tor-nar o texto uma fonte de prazer aos ouvidos do leitor

Mais tarde durante a execuccedilatildeo do projeto e apoacutes apre-ciaccedilatildeo de textos da literatura especializada fomos nos cons-cientizando de nossas responsabilidades e limitaccedilotildees Apren-demos que nem sempre o leitor se envolveraacute com as histoacuterias lidas o que natildeo significa que a nossa leitura natildeo tenha cum-prido o seu papel Afinal eacute comum que todos noacutes videntes ou natildeo enfademo-nos ou ajamos de forma indiferente frente a um texto em algum momento algumas vezes em virtude da linguagem utilizada pelo autor noutras pela forma densa como o escritor conduz suas ideias ou simplesmente pela nos-sa falta de interesse no tema

No entanto natildeo podemos deixar de mencionar a sa-tisfaccedilatildeo que sentiacuteamos quando percebiacuteamos nas atitudes do leitor o contentamento de quem estava completamente en-volvido com nossa leitura Era muito gratificante notar que o nosso tom de voz entonaccedilatildeo pausas e respiraccedilatildeo aliados a um texto de interesse do universitaacuterio conseguiam provocar nele emoccedilotildees e reflexotildees diversas

Certa vez ao teacutermino da leitura de um texto10 relati-vamente denso em funccedilatildeo de uma longa discussatildeo teoacuterica

9 Denominamos ledor agravequele que lecirc para as pessoas com deficiecircncia visual e leitor cego os que escutam as leituras feitas em voz alta10 Referecircncia completa do texto LYONS J Linguagem e Linguiacutestica Rio de Janeiro Guanabara Koogan SA 1981

a aluna leitora para a qual estaacutevamos lendo soltou repenti-namente uma gargalhada e em seguida disse-nos algo que se aproximou com ldquoeacute engraccedilado a forma alegre como vocecirc lecirc um texto difiacutecil E o mais engraccedilado eacute que ele acaba se tor-nando faacutecilrdquo Naquele dia percebemos que noacutes ledores natildeo podemos esquecer jamais que uma leitura realizada de forma mecacircnica e fria despertaraacute sentimentos bem diferentes do que aqueles aflorados quando realizamos uma leitura com entu-siasmo e alegria Os sentimentos satildeo contagiosos

Schinca (1994 p 2) no artigo intitulado ldquoConfissotildees de algueacutem que lecirc para cegosrdquo traduz muito sabiamente as nossas anguacutestias na empreitada de sermos ledores

A quais expectativas dos usuaacuterios temos correspondi-do Que demandas natildeo foram satisfeitas Somos aceitos bem tolerados Ou apenas nos suportam Emocionam-se ou ficam frios com a nossa leitura Somos claros Ou natildeo propiciamos nenhum entendimento uacutetil do texto Consideram-nos intru-sos nesta intermediaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o autor

Esses questionamentos sem duacutevida satildeo ainda mais angustiantes quando o ledor natildeo tem um feedback por parte do leitor acerca de seu trabalho No nosso caso em virtude da intimidade que alcanccedilamos com os alunos com deficiecircncia que nos procuravam no espaccedilo da Secretaria de Acessibilida-de UFC Inclui pudemos conhecer melhor nossas fragilidades e pontos fortes no exerciacutecio da funccedilatildeo de ledoras Quase sem-pre ao teacutermino de uma leitura era comum uma conversa sem cerimocircnias entre as ledoras e os alunos com deficiecircncia sobre os pontos que mereciam ser melhorados em nosso trabalho

Em relaccedilatildeo a isso destacamos aqui um aspecto que merece atenccedilatildeo em nossa praacutetica como ledoras a apropria-ccedilatildeo das teorias que versam sobre a descriccedilatildeo de imagens para cegos (GUEDES 2010 LIacuteVIA FILHO 2010 PAYA 2007)

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Descrever imagens fotos mapas muito mais do que sensi-bilidade requer conhecimento teacutecnico e teoacuterico acerca do assunto Para ilustrar nossa dificuldade sugerimos que vocecirc caro leitor pense em como descreveria a imagem que segue para uma pessoa cega

Figura 1 ndash Indicaccedilatildeo de voo das abelhasFonte LYONS J Linguagem e Linguiacutestica Rio de Janeiro Guanabara Koogan SA 1981

Conseguiu Para noacutes essa descriccedilatildeo tambeacutem natildeo foi

tarefa simples Outra dificuldade que notamos em nosso tra-balho diz respeito agrave leitura de textos em Liacutengua Estrangeira (LE) Apesar de as ledoras serem proficientes em liacutengua in-glesa e espanhola deparaacutevamo-nos muitas vezes com textos escritos em liacutenguas diferentes daquelas

Conclusatildeo

Desse modo acreditamos que ser um bom ledor vai muito aleacutem de simplesmente saber ler A nosso ver os ledores necessitam receber capacitaccedilatildeo adequada que lhe garanta a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas especiacuteficas contar com lugares apro-priados para a praacutetica de leitura em voz alta e ser consciente de que desenvolver um trabalho junto a esses alunos implica

estar atento agraves suas necessidades no momento da leitura ou seja eacute o aluno quem sugere o tipo de metodologia que noacutes le-dores empregamos no momento do atendimento Por exem-plo se o aluno com deficiecircncia precisa ler um texto para fa-zer um fichamento acadecircmico certamente ele solicitaraacute uma leitura mais lenta e uma releitura dos pontos que ele definiu como relevantes por outro lado se ele necessita ler uma crocirc-nica a leitura deveraacute ser realizada de uma uacutenica vez

Como jaacute mencionamos a questatildeo do espaccedilo fiacutesico em que o atendimento ocorre tambeacutem influencia na qualidade da compreensatildeo por parte do aluno Para entender isso bas-ta pensarmos em nossa experiecircncia individual como leitores algumas pessoas preferem ler sentadas em uma cadeira ou-tras deitadas num sofaacute alguns optam por lugares silenciosos ao passo que outros gostam mesmo eacute de no momento da lei-tura ouvir vaacuterias outras vozes (televisatildeo muacutesica etc) Certa vez um aluno interrompeu a leitura de uma das ledoras e de forma tiacutemida sugeriu que saiacutessemos da sala e focircssemos para debaixo de uma aacutervore Indaguei-me por que natildeo ir Ser le-dor eacute entregar-se completamente agrave tarefa de tornar possiacutevel o acesso ao rico mundo das letras agraves pessoas com deficiecircncia visual Ser ledor eacute principalmente saber aventurar-se nas no-vas experiecircncias sem medos e preconceitos

Concluiacutemos apresentando algumas sugestotildees para tra-balhos futuros a partir do que pudemos constatar e analisar durante a vigecircncia de nossa accedilatildeo A execuccedilatildeo do projeto le-vou-nos ao mapeamento de alguns pontos que merecem ser pensados para a realizaccedilatildeo de ediccedilotildees futuras Sobre estes pontos destacamos a realizaccedilatildeo de um levantamento da de-manda pela leitura de textos em LE (inglecircs espanhol francecircs italiano e alematildeo) para que em versotildees posteriores do pro-jeto sejam requisitados ledores proficientes nas liacutenguas su-

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pracitadas caso haja demanda de leitura levantamento e dis-ponibilizaccedilatildeo de materiais em Braille em LE tendo em vista principalmente estudantes com deficiecircncia visual dos cursos de Letras com habilitaccedilatildeo em LE levantamento pesquisa e aquisiccedilatildeo de leitores de tela com versatildeo em LE

Talvez o ponto a ser explorado natildeo resida em uma opo-siccedilatildeo ou uma hierarquia de valores entre diferentes formas de acesso ao conhecimento quer seja ele o Braille o computador ou os ledores mas em uma reflexatildeo sobre determinada forma diferente de ser estar ou perceber o mundo forma que se en-contra cansada desgastada e questiona sobre uma sociedade que definitivamente natildeo tem pensado no acesso ao conheci-mento e portanto agrave leitura e agrave escrita (aqui leitura e escrita pensadas em seus multiletramentos e muacuteltiplos letramentos) para todos

Referecircncias Bibliograacuteficas

BARTON D HAMILTON M Local literacies Reading and writing in one community LondresNova York Routledge 1998BRASIL Decreto nordm 5626 de 22 de dezembro de 2005 Re-gulamenta a lei nordm 10436 que dispotildee sobre a Liacutengua Brasilei-ra de Sinais ndash Libras Diaacuterio Oficial [da Repuacuteblica Federativa do Brasil] Poder Executivo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Brasiacutelia DF 23 dez 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2004-20062005decretod5626htmgt Acesso em 12 dez 2011GUEDES L C Audiodescriccedilatildeo orientaccedilotildees para uma praacuteti-ca sem barreiras atitudinais 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwvezdavozcombr2vrsnoticiasviewphpid=86gt Aces-so em maio 2011

LIacuteVIA V M FILHO P R Audiodescriccedilatildeo transformando imagens em palavras Satildeo Paulo Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiecircncia do Estado de Satildeo Paulo 2010LYONS J Linguagem e linguiacutestica Rio de Janeiro Guana-bara Koogan SA 1981 MACHADO A Antologiacutea poeacutetica de Antonio Machado Ma-drid Editorial Vicens Vive 2004 PAYA M P La audiodescripcioacuten traduciendo el lenguaje de las caacutemaras In HURTADO C J Traduccioacuten y accessibili-dad Frankfurt Peter Lang 2007 p 32-53SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS O Sistema Braille Disponiacutevel em lthttpwwwsacorgbrAPR_BR2htmgt Acesso em 1 nov 2011SCHINCA M Confissotildees de algueacutem que lecirc para cegos Revis-ta INSIGHT Psicoterapia Satildeo Paulo mar 1994 Disponiacutevel em lthttpwwwbancodeescolacomschincahtmgt Acesso em jul 2011 SOUSA J B Aspectos comunicativos da percepccedilatildeo taacutetil a es-crita em relevo como mecanismo semioacutetico da cultura 2004 252 p (Doutorado em Comunicaccedilatildeo e Semioacutetica) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004 STREET B V Os novos estudos sobre o letramento histoacuterico e perspectivas In MARINHO M CARVALHO G T (Orgs) Cultura escrita e letramento Belo Horizonte Editora UFMG 2010 p 33-53 ______ Literacy in theory and practice Cambridge Cam-bridge University Press 1984TORRES E F MAZZONI A A MELLO A G de Nem toda pessoa cega lecirc em Braille nem toda pessoa surda se comunica em liacutengua de sinais Educ Pesqui [online] 2007 v 33 n 2 p 369-386

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SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLE

Maria Clarissa Maciel RodriguesInecircs Cristina de Melo Mamede

Introduccedilatildeo

Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky trouxeram grandes contribuiccedilotildees para professores alfabetizadores quando des-vendaram a ideia de que a alfabetizaccedilatildeo natildeo eacute o resultado de algo mecacircnico e repetitivo Ao longo de uma caminhada ateacute a elaboraccedilatildeo de como o sistema de escrita deve ser organizado o sujeito que se depara com tantos materiais escritos ao seu redor formula hipoacuteteses sobre como esse sistema se consti-tui para que possa ser interpretado De acordo com Ferreiro (2000) a alfabetizaccedilatildeo natildeo pode ser vista como algo mecacircni-co pois a crianccedila ao longo desse fenocircmeno se impotildee proble-mas interpreta e reinterpreta o sistema de escrita

No Brasil muitos autores se dedicaram a colher dados a respeito do tema a fim de dar continuidade a tais inves-tigaccedilotildees As pesquisas entretanto satildeo praticamente escas-sas quando se trata da investigaccedilatildeo das hipoacuteteses de leitura e escrita levantadas pelas crianccedilas que apresentam alguma deficiecircncia mais especificamente as crianccedilas cegas Eacute visu-alizando tal situaccedilatildeo que nossa pesquisa se faz relevante e eacute inovadora pois traz contribuiccedilotildees ainda que modestas do ponto de vista de sua abrangecircncia metodoloacutegica1 a respeito

1 Ressaltamos ao leitor a importacircncia de buscar investigaccedilotildees mais aprofundadas a respeito da aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille com acesso inclusive ao alfabeto Braille aqui natildeo apresentado dados os limites de espaccedilo Recomendamos o programa Braille Faacutecil Disponiacutevel em lthttpintervoxnceufrjbrbrfacilgt

SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLEMARIA CLARISSA MACIEL RODRIGUES bull INEcircS CRISTINA DE MELO MAMEDE96 d d 97

da temaacutetica no campo da aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille2

Este experimento acadecircmico tem como objetivo geral investigar as especificidades no processo de aquisiccedilatildeo da es-crita pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille Pretendemos al-canccedilar este propoacutesito por meio da anaacutelise dos dados obtidos em nossa busca tendo por sujeitos crianccedilas cegas usuaacuterias do Sistema Braille tomando como base teoacuterica os dados obtidos na investigaccedilatildeo realizada por Emiacutelia Ferreiro e Ana Tebe-rosky Procuramos assim identificar o modo como as crianccedilas cegas manifestam suas hipoacuteteses a respeito da escrita e se es-tas apresentam ou natildeo especificidades em relaccedilatildeo agraves hipoacutete-ses jaacute conhecidas

Com efeito este ensaio traz a seguinte questatildeo norte-adora quais as especificidades apresentadas pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille durante a aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita Com suporte nesta indagaccedilatildeo pretendemos tambeacutem ao longo desta pesquisa relacionar as hipoacuteteses psicogeneacuteti-cas da aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita apresentadas pelas crianccedilas cegas com as hipoacuteteses trazidas pelas crianccedilas que enxergam

Aprender a ler e a escrever eacute um fenocircmeno socialmente facilitado pelo uso da escrita pelo contato com os diferentes portadores sociais de texto (SOARES 1998) presentes nos mais diversos ambientes e que trazem os mais variados tipos de informaccedilotildees O contato com esses portadores eacute fundamen-tal para que a crianccedila formule suas hipoacuteteses sobre o que eacute a escrita e acerca da funccedilatildeo social de cada um dos diferen-tes gecircneros textuais Mesmo natildeo sabendo ler e escrever uma crianccedila que enxerga tem enormes benefiacutecios ao manusear um livro ela aprende a direccedilatildeo do sentido da leitura e da escrita

2 Sistema de leitura e escrita taacutetil desenvolvido por Louis Braille para ser utilizado por pessoas cegas ou com deficiecircncia visual grave (baixa visatildeo acentuada)

se um adulto fizer a leitura apontando com o dedo por exem-plo Almeida (1992) destaca a ideia de que para uma crianccedila cega ou com deficiecircncia visual grave que necessita do Sistema Braille para se alfabetizar o contato com portadores sociais de texto se torna mais difiacutecil pois na maioria dos casos o Sistema Braille natildeo faz parte do meio social onde a crianccedila cega estaacute inserida

Como jaacute mencionado as pesquisas sobre a aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille satildeo bastante escassas principalmente no que se refere agraves hipoacuteteses psicogeneacuteticas da aquisiccedilatildeo da escrita Em busca de levantar dados sobre o tema fizemos pesquisas na Biblioteca do Centro de Humani-dades da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) na internet no acervo da instituiccedilatildeo onde aconteceu a pesquisa que aten-de crianccedilas cegas bem como em contatos via e-mail com o Instituto Benjamin Constant do Rio de Janeiro

Na metodologia deste trabalho apresentamos ao leitor os procedimentos adotados para a coleta de dados bem como mencionamos caracteriacutesticas dos sujeitos que participaram da pesquisa Introduzimos consideraccedilotildees a respeito da defi-ciecircncia visual e da aprendizagem das pessoas que possuem essa limitaccedilatildeo e anaacutelise dos dados oferecidos pelas crianccedilas agrave luz da psicogecircnese da liacutengua escrita na seccedilatildeo resultados e discussatildeo Para concluir o artigo tecemos algumas conside-raccedilotildees sobre as produccedilotildees escritas realizadas pelos sujeitos da pesquisa que se encontram em decurso de aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita

Metodologia

Considerando o objetivo deste trabalho de investigar as especificidades da aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas cegas

SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLEMARIA CLARISSA MACIEL RODRIGUES bull INEcircS CRISTINA DE MELO MAMEDE98 d d 99

por meio do Sistema Braille a metodologia empregada na pesquisa foi o estudo de caso com vistas agrave obtenccedilatildeo de da-dos mais precisos devido ao contato direto do pesquisador com os sujeitos da investigaccedilatildeo consoante ao entendimento de Araujo et al (2008) De acordo com Yin citado por Arauacutejo et al (2008 p 4) esta estrateacutegia eacute adequada ldquo[] quando o investigador procura respostas para o lsquocomorsquo e o lsquoporquecircrsquo quando o investigador procura encontrar interacccedilotildees entre factores relevantes proacuteprios dessa entidade quando o objecti-vo eacute descrever ou analisar o fenoacutemenordquo

A investigaccedilatildeo aconteceu em uma instituiccedilatildeo filantroacute-pica3 fundada na deacutecada de 1940 situada no municiacutepio de Fortaleza-Cearaacute Algumas das modalidades de ensino por ela ofertadas satildeo Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental I e II Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Desenvolvemos a pesquisa nas turmas de Infantil IV Infantil V e 1ordm ano Neste estudo de caso selecionamos nove sujeitos dos quais seis satildeo crianccedilas com idades entre seis e dez anos e trecircs satildeo suas professoras de sala de aula As crianccedilas4 satildeo Edwiges Ariel Tatiana Alex Joatildeo e Diel Todas as crianccedilas possuem patologias congecircnitas Suas professoras satildeo Roberta (1ordm ano) Angeacutelica (Infantil V) e Julieta (Infantil IV) Nenhuma das trecircs professoras da Insti-tuiccedilatildeo apresentou dados relevantes sobre as hipoacuteteses de lei-tura e escrita da crianccedila cega e ateacute mencionaram desconhecer o estudo de Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky5

3 Por questotildees eacuteticas natildeo citaremos o nome da instituiccedilatildeo onde se realizou a pesquisa ao longo deste trabalho nos referiremos ao local como Instituiccedilatildeo4 A fim de preservar a identidade das crianccedilas e das professoras utilizaremos nomes fictiacutecios para nos referirmos aos sujeitos da pesquisa Para efeitos de anaacutelise de dados o nome fictiacutecio das crianccedilas apresenta correspondecircncia com o nuacutemero de siacutelabas de seu nome a fim de facilitar a compreensatildeo da escrita do nome proacuteprio de cada um5 Sentimos a necessidade de buscar novos sujeitos que pudessem contribuir com tais informaccedilotildees para a pesquisa O sujeito encontrado foi a professora Jordana

A fim de facilitar a compreensatildeo do leitor no que se re-fere agrave identificaccedilatildeo dos sujeitos ao longo deste ensaio apre-sentamos um quadro-resumo com os principais dados de cada crianccedila

Quadro 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos Alunos com Deficiecircncia Visual

SUJEITO IDADE ESCOLARIDADE CONDICcedilAtildeO VISUAL

Edwiges 6 anos Infantil IV Cegueira bilateral total

Ariel 7 anos Infantil IV

Olho direito enucleado e vi-satildeo subnormal perifeacuterica no olho esquerdo com encami-nhamento meacutedico para o Sistema Braille

Tatiane 7 anos Infantil VVisatildeo subnormal com enca-minhamento meacutedico para o Sistema Braille

Alex 8 anos Infantil V Cegueira bilateral total

Joatildeo 9 anos 1ordm ano Cegueira bilateral total

Diel 10 anos 1ordm ano Cegueira bilateral total

As palavras e a frase selecionadas para o teste perten-cem ao campo semacircntico corpo humano Satildeo elas perna bar-riga sobrancelha e peacute A frase foi O menino machucou a per-na As crianccedilas tambeacutem tiveram que criar um desfecho para a seguinte histoacuteria Joatildeo e seu amigo Joseacute saiacuteram para passear quando de repente eles acharam uma caixa muito pesada Eles decidiram entatildeo

mestra em Ciecircncias da Educaccedilatildeo que trabalha em duas instituiccedilotildees estaduais especializadas no atendimento a deficientes visuais no municiacutepio de Fortaleza Jordana contribuiu ao responder agraves mesmas perguntas dirigidas agraves demais professoras mas tambeacutem afirmou natildeo ter muitos conhecimentos a respeito da Psicogecircnese da Liacutengua Escrita

SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLEMARIA CLARISSA MACIEL RODRIGUES bull INEcircS CRISTINA DE MELO MAMEDE100 d d 101

Resultados e Discussatildeo

A deficiecircncia visual eacute do tipo sensorial e abrange desde a cegueira total em que natildeo haacute percepccedilatildeo da luz ateacute a bai-xa visatildeo (visatildeo subnormal) Cegueira pode ser a perda total da visatildeo e as pessoas acometidas dessa deficiecircncia precisam se utilizar dos sentidos remanescentes para aprender sobre o mundo que as cerca A baixa visatildeo eacute a incapacidade de enxer-gar com clareza mas trata-se de uma pessoa que ainda possui resiacuteduos visuais Contudo mesmo com o auxiacutelio de oacuteculos ou lupas a visatildeo se mostra baccedila diminuiacuteda ou prejudicada de algum modo O documento esclarece que algumas patologias ndash como miopia estrabismo astigmatismo e hipermetropia por exemplo- natildeo constituem deficiecircncia visual mas quan-do diagnosticadas devem ser tratadas o mais raacutepido possiacute-vel para natildeo prejudicar o desenvolvimento e a aprendizagem (BRASIL 2000)

Braille O Que Satildeo Esses Pontos As Primeiras Experiecircncias da Crianccedila Cega com a Leitura e a Escrita em Relevo

Almeida (1992) nos chama a atenccedilatildeo para um fato que aqui neste trabalho podemos apontar como uma especifici-dade da crianccedila cega A autora exprime que de acordo com Emiacutelia Ferreiro eacute comum ver crianccedilas ainda bem pequenas imitarem os adultos ao manusearem livros jornais revistas e tantos outros materiais escritos Mesmo as crianccedilas oriundas de classes sociais mais desfavorecidas satildeo detentoras de algum conhecimento sobre a leitura e a escrita pois o elemento es-crito eacute objeto presente por toda parte Ao fingir que lecirc aquelas linhas cheias de rabiscos claramente diferentes do desenho a crianccedila que enxerga aos poucos se apropria do que eacute a es-

crita Quando chegam agrave escola essas crianccedilas veratildeo a escrita como objeto jaacute conhecido de sorte que o desafio entatildeo seraacute de compreender como o sistema estaacute organizado para permi-tir o registro de ideias Almeida (1992) ressalta que quando se trata de crianccedilas cegas as descobertas a respeito da escrita se tornam impraticaacuteveis pois o Sistema Braille natildeo faz parte do cotidiano logo essas crianccedilas demoram muito tempo para entrar no mundo das letras O contato com o Sistema Brail-le soacute acontece quando a crianccedila inicia o periacuteodo escolar pois dificilmente seus instrumentos estaratildeo presentes no acircmbito familiar Para a autora essa demora pode causar prejuiacutezos e atrasos no processo de alfabetizaccedilatildeo

Segundo o portal eletrocircnico da Sociedade de Assistecircn-cia aos Cegos (SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS 2011) o Sistema Braille eacute formado a partir de um conjunto de seis pontos em relevo organizados em duas colunas de trecircs pontos Este conjunto de pontos recebe o nome de cela As di-ferentes disposiccedilotildees e combinaccedilotildees dos pontos na cela geram 63 siacutembolos que satildeo aplicados agrave escrita agrave muacutesica e agraves ciecircncias A escrita Braille pode ser produzida agrave matildeo utilizando-se o conjunto reglete e punccedilatildeo6 instrumentos utilizados em nossa investigaccedilatildeo ou a maacutequina proacutepria para esta escrita

6 A reglete pode ter formas diferentes mas consiste essencialmente em uma reacutegua que geralmente estaacute acoplada a uma prancheta Em alguns modelos a reacutegua eacute dupla face com dobradiccedilas no lado esquerdo e a parte de cima da reacutegua eacute vazada com retacircngulos no formato da cela Braille Na parte de baixo encontramos as celas Braille em baixo relevo Em outros modelos a reacutegua possui apenas uma face a vazada a parte do baixo (relevo) encontra-se na proacutepria prancheta Para produzir a escrita a pessoa prende uma folha de papel 40kg entre as duas faces da reacutegua ou entre a reacutegua e a prancheta dependendo do modelo da reglete O punccedilatildeo eacute usado para pressionar o papel e formar o relevo Utilizando esse conjunto eacute necessaacuterio escrever da direita para a esquerda invertendo a ordem da numeraccedilatildeo dos pontos Assim quando a folha for virada as letras estaratildeo na ordem correta e a leitura seraacute feita de maneira convencional ndash da esquerda para a direita

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Figura 1 ndash A cela Braille agrave Esquerda no Sentido da Leitura e agrave Di-reita no Sentido da Escrita

Almeida (2002) tambeacutem chama a atenccedilatildeo para o fato de que os instrumentos de escrita agrave tinta fazem parte do co-tidiano das crianccedilas que veem pois ao manusear laacutepis ca-netas giz de cera para fazer desenhos ou fingir que escreve eacute possiacutevel atingir certo desenvolvimento da motricidade fina

A crianccedila cega natildeo passa com tal naturalidade por essas experiecircncias enriquecedoras Falta-lhe a condiccedilatildeo de imitar acaba por essa razatildeo natildeo tendo reais oportu-nidades de aprendizagem O ato da escrita tatildeo simples e prazeroso para uma crianccedila vidente transforma--se numa lacuna para ela nos primeiros anos de vida ( ALMEIDA 2002 p 15-16)

Da mesma forma entatildeo o contato com a escrita duran-te a aprendizagem do Sistema Braille eacute necessaacuterio para que a crianccedila possa ampliar seus conhecimentos refinar percep-ccedilotildees e inclusive ajustar condutas motoras e exercitar as arti-culaccedilotildees De iniacutecio eacute interessante que os exerciacutecios de leitura e escrita sejam conduzidos de maneira livre para que com o tempo se possa elaborar a ideia de que aquele conjunto de pontos representa as letras do alfabeto No caminho que iraacute percorrer ateacute se apropriar do sistema de escrita eacute fundamen-tal que o professor ajude a crianccedila a descobrir a organizaccedilatildeo

da paacutegina escrita de cima para baixo e da esquerda para a di-reita linhas contiacutenuas interrompidas etc aleacutem da aplicaccedilatildeo de determinados meacutetodos para a formulaccedilatildeo de tais concei-tos Deixar as crianccedilas manusearem livros eacute essencial o luacutedi-co nesse processo tambeacutem eacute fundamental pois brincadeiras que estimulem a discriminaccedilatildeo classificaccedilatildeo e ordenaccedilatildeo de diferentes objetos trazem mais seguranccedila para a crianccedila na hora de diferenciar os pontos no papel (ALMEIDA 2002)

Em nossa pesquisa conversamos com as docentes da Instituiccedilatildeo e tambeacutem com a professora Jordana a respeito dos conhecimentos que as crianccedilas cegas tecircm sobre a leitura e a escrita Braille bem como dos instrumentos necessaacuterios para produzi-la

As consideraccedilotildees feitas pela professora Julieta que le-ciona no Infantil IV a respeito dos conhecimentos das crian-ccedilas cegas acerca do Sistema Braille e dos materiais que se uti-lizam para produzir a escrita antes de iniciarem a fase escolar satildeo as seguintes

Nenhuma das crianccedilas que eu tenho recebido e creio que as minhas colegas tambeacutem nenhuma sabe que vatildeo se utilizar desses instrumentos Por exemplo quando pegam no punccedilatildeo pela primeira vez perguntam logo lsquoTia mas o que eacute isso Para que serversquo Eles natildeo tecircm conhecimento da existecircncia desse material nem eles nem a famiacutelia Muitos pais ateacute sabem que o filho vai se utilizar do Braille mas natildeo tecircm noccedilatildeo do que eacute o Braille

Indagamos tambeacutem acerca do conhecimento que as crianccedilas tecircm sobre a existecircncia da escrita ldquoNatildeo Jaacute aconte-ceu por exemplo da crianccedila passar as matildeos num livrinho em Braille e perguntar lsquoTia o que eacute isso aquirsquo Temos que explicar que ali estaacute escrita uma histoacuteria que fala sobre alguma coisa Geralmente eles ficam admirados porque natildeo sabem o que eacuterdquo

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As consideraccedilotildees sobre o tema feitas pela professora Roberta que leciona no primeiro ano satildeo as seguintes

Quando as crianccedilas cegas chegam agrave escola natildeo tecircm noccedilatildeo de que existe esse material (reglete e punccedilatildeo) ateacute porque elas natildeo tecircm acesso a esse material em casa Muitas vezes querem usar papel e caneta fa-zem muitos rabiscos com a intenccedilatildeo de desenhar [] Quando acontece o primeiro contato da crianccedila com o Braille elas natildeo sabem o que eacute Nesse momento entra o professor para explicar que ali estaacute escrita alguma coisa que pode ser uma histoacuteria [] No primeiro mo-mento elas vatildeo explorar naturalmente o material vatildeo descobrir que abre e fecha que tem furinhos mas natildeo sabem utilizar Dependendo da crianccedila elas podem passar por toda a Educaccedilatildeo Infantil e chegar ao 1ordm ano ainda com dificuldades de colocar a folha outros jaacute conseguem se adaptar melhor a esse processo varia muito de crianccedila para crianccedila [] Mesmo que ainda natildeo saiba ler eacute necessaacuterio que tudo que escreva (na reglete) vire a folha para ler e assim construir noccedilotildees de leitura e escrita

Consideraccedilotildees da professora Angeacutelica sobre o tema

A crianccedila cega quando ela entra na escola ela natildeo tem nenhum conhecimento relacionado agrave reglete ao punccedilatildeo a livros em Braille Agora se ela tiver um parente que se utiliza desse material ele pode mostrar a ela todo esse material Geralmente quando eles conhecem esse material ficam muito surpresos [] para aprender a utilizar eacute necessaacuterio toda uma orientaccedilatildeo da professora e eacute necessaacuterio que esse contato com o material seja diaacuterio para que aos poucos vaacute dominando o uso da reglete e do punccedilatildeo mas esse processo geralmente eacute lento [] As maiores dificuldades satildeo de colocar a folha identificar a posiccedilatildeo dos pontos de retirar a folha e compreender que pra ler eacute preciso virar o papel e identificar os pontos com o tato

A professora Jordana fez algumas consideraccedilotildees a res-peito ldquoAs crianccedilas cegas possuem as mesmas hipoacuteteses que as crianccedilas videntes podem por exemplo pensar que uma palavra eacute maior dependendo das informaccedilotildees que tem sobre o objetordquo

Alfabetizaccedilatildeo em Braille Hipoacuteteses em Seis Pontos

A teoria da psicogecircnese da liacutengua escrita revela as etapas que as pessoas (crianccedilas ou adultos) atravessam ao se apro-priarem da leitura e da escrita Do ponto de vista da elaboraccedilatildeo da escrita a pessoa que estaacute se alfabetizando segue uma evolu-ccedilatildeo de suas hipoacuteteses linguiacutesticas que podem ser descritas em trecircs grandes periacuteodos I) distinccedilatildeo entre o modo de represen-taccedilatildeo icocircnico e natildeo icocircnico II) estabelecimento de formas de diferenciaccedilatildeo e III) fonetizaccedilatildeo da escrita (FERREIRO 2000)

Na perspectiva de Ferreiro e Teberosky (1999) a crian-ccedila desde o iniacutecio procura reproduzir traccedilos tiacutepicos da escri-ta que identifica como sua forma baacutesica podendo ser linhas curvas ligadas entre si quando o indiviacuteduo toma como padratildeo a escrita cursiva ou grafismos curvos separados entre si quan-do toma a escrita em imprensa como base Quando se trata da interpretaccedilatildeo da escrita as autoras expressam que as escritas se assemelham muito umas com as outras mas que isso natildeo impede que as crianccedilas as considerem diferentes ldquo[] a inten-ccedilatildeo subjetiva do escritor conta mais que as diferenccedilas objetivas no resultadordquo (FERREIRO 2000 p 193) ou seja as escritas apesar de semelhantes podem ser consideradas diferentes pois ao escrever se tem a intenccedilatildeo de grafar palavras diferen-tes As autoras tambeacutem esclarecem que ldquoAs crianccedilas deste niacute-vel pareceriam trabalhar sobre a hipoacutetese de que faz falta cer-to nuacutemero de caracteres ndash mas sempre o mesmo ndash quando se

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trata de escrever algordquo (FERREIRO 2000 p 202) Assinalam ainda que a leitura do que foi escrito eacute sempre global ou seja cada letra vale pelo todo e natildeo pelas partes da palavra

Neste trabalho relacionaremos cada niacutevel da Psicogecirc-nese da Liacutengua Escrita com os dados coletados no estudo de caso agrave medida que apresentarmos exemplos da escrita das crianccedilas cegas

Observamos a escrita de Edwiges (seis anos) na qual podemos identificar caracteriacutesticas deste niacutevel

Figura 2 ndash A palavra perna escrita por Edwiges utilizando os pontos 1 e 2 em 26 celas numa das linhas da reglete

Quando solicitamos que Edwiges escrevesse a palavra perna ela disse que iria usar a letra b e que a palavra possui duas letras Ela inicia a escrita pelo lado esquerdo da reacutegua e logo ultrapassa a quantidade que estabeleceu anteriormente Ao ser interrogada se jaacute havia colocado duas letras com um ar de surpresa ela imediatamente responde ldquoeu jaacute estou botan-dordquo e continua a grafar dois pontos por cela Na escrita da pa-lavra perna e na das demais a menina nomeou os pontos de le-tras Essa caracteriacutestica tambeacutem foi observada na produccedilatildeo de outro sujeito da pesquisa como comentaremos mais agrave frente

Interrogamos sobre ateacute que cela ela escreveria a palavra perna a fim de identificar quantas letras ela utilizaria para escrever a palavra Ela apontou entatildeo a margem direita da reglete explicando que se natildeo escrever duas letras ldquo[] vai ficar faltando um pedaccedilo da pernardquo Ao finalizar a escrita da palavra ela leu ldquoaqui estaacute a coxa (deslizando o dedo da 1ordf agrave 8ordf letra b) esse pedacinho aqui eacute o joelho (9ordf letra b) e depois

tem o resto da perna (da 11ordf agrave 24ordf letra b) e no final o peacute (25ordf e 26ordf letras b)rdquo Segundo Ferreiro (1999 p 194) trata-se nes-te momento do percurso de uma ldquo[] tendecircncia da crianccedila de refletir na escrita algumas das caracteriacutesticas do objetordquo ou como jaacute defendia Luacutecia Lins Browne Rego apud Carraher (1998 p 34) sobre realismo nominal Nesse sentido

Piaget (1967) demonstrou que num determinado estaacutegio do seu desenvolvimento cognitivo a crianccedila natildeo conse-gue conceber a palavra e o objeto a que esta se refere como duas realidades distintas Ele denominou este fenocircmeno de realismo nominal [] Um grupo de crian-ccedilas demonstrou o que consideramos um niacutevel primitivo do realismo nominal Estas crianccedilas ao compararem pares de palavras quanto ao tamanho e agrave semelhanccedila mostravam-se incapazes de focalizar a palavra enquanto sequecircncia de sons independentemente do seu signifi-cado Para estas crianccedilas a palavra devia possuir as mesmas caracteriacutesticas dos objetos que representavam

Figura 3 ndash Sentenccedila empregada para grafar as palavras barriga e matildeo a frase e o texto

A sentenccedila apresentada acima foi empregada para gra-far as palavras barriga e matildeo a frase e o texto Estes exem-plos nos indicam que para produzir a escrita a menina ainda natildeo julga necessaacuterio empregar criteacuterios de diferenciaccedilatildeo dos caracteres dentro de uma palavra e tambeacutem de uma palavra para outra Durante a leitura das palavras Edwiges sempre indica os componentes de tal parte do corpo como por exem-plo os dedos da matildeo e o umbigo na barriga refletindo nova-mente na escrita caracteriacutesticas do objeto Durante a anaacutelise da produccedilatildeo surgiu a duacutevida se o que estava expresso ali era

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desenho ou escrita Jaacute que durante a leitura a garota indicou tantos detalhes das partes do corpo decidimos entatildeo refazer o teste com ela desta vez utilizando o campo semacircntico ani-mais Ao final do novo teste solicitamos a Edwiges que fizesse um desenho e perguntamos ldquoVocecirc vai precisar da reglete para fazer o desenhordquo E ela respondeu com ar de admiraccedilatildeo ldquoAh Natildeo Natildeo que reglete eu num vou usar pra desenhar porque reglete natildeo serve pra desenhar serve pra furarrdquo Obtivemos a certeza de que a menina natildeo se encontrava no domiacutenio do icocirc-nico ou seja jaacute sabia que a escrita era diferente do desenho pois aceitou papel e giz de cera para fazer um desenho

Na escrita da palavra boi tudo indica que existe uma es-pecificidade no raciociacutenio empregado para grafar o vocaacutebulo Observemos agora um recorte do diaacutelogo entre noacutes e Edwiges

Pesquisadora Escreva a palavra boiEdwiges Boi comeccedila com b entatildeo eu vou escrever 1 e (pausa) Deixa eu pensar primeiro (dezesseis segundos depois analisados na gravaccedilatildeo ela completa o raciociacute-nio) Eu vou escrever 1 3 e 4Pesquisadora De quantas letras vocecirc vai precisarEdwiges Trecircs (novamente natildeo fez diferenccedila entre pontos e letras)Pesquisadora E quantas celasEdwiges Deixa eu ver (pausa de 20 segundos para pensar) Eu vou colocar mais esse ponto aqui tambeacutem (acrescenta o ponto 6 aos pontos 1 3 e 4 que acabou de grafar na primeira cela pensa novamente e grafa os pontos 1 3 e 6 em mais uma cela Ela para de escrever) Natildeo eu vou escrever soacute duas igual ao gato que eacute pra terminar logoPesquisadora Jaacute estaacute escrita a palavra boiEdwiges JaacutePesquisadora O nome do boi eacute grande ou eacute pequeno

Edwiges GrandePesquisadora Vocecirc sabe o que eacute um boiEdwiges Ah Eu sei que jaacute vi uma vaca aqui na escola de brinquedo (estaacutetua em tamanho natural) Eu vi uma vaca bem grandona aiacute parecia um touro

Figura 4 ndash Palavra boi escrita com duas celas da reglete

Edwiges sinaliza que boi co-meccedila com b o que poderia dar ideia de um iniacutecio da relaccedilatildeo grafema--fonema (fala e escrita) poreacutem natildeo grafa na palavra a letra mencionada e que ela jaacute conhece Isso natildeo nos daacute a certeza se o fato de ela ter dito b foi apenas um acaso e natildeo o iniacutecio da fonetizaccedilatildeo da escrita ou se ela estava comeccedilando a fonetizar mas natildeo transformou a ideia em accedilatildeo ou seja natildeo representou na grafia o que falou Quando in-terrogamos Edwiges sobre a quantidade de letras da palavra boi a pausa que a menina deu para pensar e a decisatildeo de natildeo mais grafar com dois pontos padratildeo adotado para produzir as outras palavras parece indicar que para escrever boi o nuacute-mero de pontos considerado suficiente eacute de trecircs por cela O conflito parece ser ainda maior quando perguntamos quantas celas satildeo necessaacuterias para escrever a palavra Apoacutes pensar ela decidiu acrescentar mais um ponto aos que jaacute tinha grafado e grafa mais trecircs na cela seguinte Mesmo tendo dito que escre-veu soacute duas celas no nome do boi para terminar logo quando ela compara o nome do boi com o do gato que jaacute havia confir-mado antes ser um nome pequeno porque o gato eacute pequeno tudo indica que ela comparou apenas o nuacutemero de celas pois parece ter a convicccedilatildeo de que o nome do boi eacute maior do que

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o nome do gato por ter uma quantidade maior de pontos e porque o animal eacute maior

Articulando esse dado fornecido por Edwiges com os achados das pesquisas psicogeneacuteticas (FERREIRO TEBE-ROSKY 1999 PIAGET apud REGO 1988) que constataram que as crianccedilas que enxergam manifestam o realismo nomi-nal se utilizando de um grande nuacutemero de letras para escre-ver quando o objeto que pretendem representar eacute maior tudo parece nos indicar que a crianccedila cega manifesta o realismo nominal se utilizando tanto de um grande nuacutemero de celas (letras) quanto de pontos Esta pode ser uma interessante es-pecificidade da aprendizagem da escrita Braille por crianccedilas cegas

Ariel (sete anos) aparenta estar comeccedilando a fazer di-ferenciaccedilatildeo entre os caracteres empregados para grafar uma palavra pois em algumas ocasiotildees fez esforccedilo para diferen-ccedilar os caracteres empregados para grafar cada letra e assim produzir caracteres diferentes em uma mesma palavra Natildeo repetiu sequecircncias jaacute empregadas em outras palavras garan-tindo assim escritas diferentes para palavras diferentes ca-racteriacutesticas deste momento

Conforme comentado durante a anaacutelise das produccedilotildees de Edwiges que nomeia os pontos de letras observamos que Ariel apresentou o mesmo pensamento Tudo indica que as crianccedilas cegas no iniacutecio do processo de aquisiccedilatildeo da escrita natildeo apresentam consolidados conceitos de diferenciaccedilatildeo en-tre pontos e letras pois costumam com frequecircncia apontar e nomear os pontos como sendo letras Cabe nesse momento fazer a seguinte indagaccedilatildeo em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combi-naccedilatildeo de pontos

Observemos entatildeo algumas partes do diaacutelogo entre noacutes e Ariel

Pesquisadora De quantas letras vocecirc vai precisar para escrever a palavra pernaEle pensa por alguns segundosAriel Eu acho que soacute duas estaacute de bom tamanho[] Pesquisadora Vocecirc disse que soacute vai precisar de duas letras De quantas celas vocecirc vai precisarAriel Um montePesquisadora Por quecircAriel Pra terminar logo Eacute que essas celas satildeo pra fazer todas as letras Entendeu Se tivesse soacute uma a pessoa ia acabar logo[] Ariel Que letra comeccedila a palavra pernaPesquisadora Qual eacute a letra que vocecirc acha que co-meccedila perna(Para um instante para pensar)Ariel Eu acho que comeccedila com c de casa (letra que ele jaacute estaacute grafando algum tempo depois a pesquisadora interroga novamente)Pesquisadora Mas por que vocecirc estaacute usando dois pontinhosAriel Eacute que se eu usar todos esses pontinhos que tem aqui na reglete nesses furos aqui aiacute eu num vou saber qual eacute o ponto que eu fureiPesquisadora quer dizer que vocecirc natildeo pode furar todosAriel Eacute Soacute os que a tia [professora do menino] manda

Ao terminar a escrita da palavra perna o menino desli-zou o dedo sobre todos os pontos e fez uma leitura global An-tes de comeccedilar a escrever cada palavra foi indagado sobre a

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quantidade de letras necessaacuterias Como em todos os momen-tos ele nomeou os pontos como letras Optamos por pergun-tar de quantas celas ele precisaria Em todos os casos Ariel comeccedilou a escrever pela extremidade direita e apontou que escreveria ateacute a extremidade esquerda da reacutegua Analisando o comentaacuterio do menino de que para escrever a palavra perna duas letras (pontos) ldquoestatildeo de bom tamanhordquo tudo indica que tal comentaacuterio vem reforccedilar nossa suposiccedilatildeo de que a crianccedila cega manifesta o realismo nominal tanto por meio de deter-minada quantidade de celas quanto de pontos

Quando ele afirmou que todas as celas da reglete de-vem ser utilizadas para que a pessoa natildeo acabe logo isso parece indicar que leva em consideraccedilatildeo para produzir a es-crita a utilizaccedilatildeo de todas as celas da reglete Relacionando este comentaacuterio do menino com a caracteriacutestica que apre-sentaram as escritas de seu nome e da palavra perna bem como praticamente todos os escritos de Edwiges tanto ele quanto ela escreveram de uma extremidade a outra de uma das linhas da reacutegua Essa repeticcedilatildeo pode ser uma especifici-dade decorrente do material utilizado para produzir a escrita em Braille a reglete pois permite ou pode mesmo de algu-ma maneira induzir a crianccedila ao uso das 27 celas mas de-vemos considerar tambeacutem que tal resposta pode decorrer da praacutetica pedagoacutegica pois o menino jaacute havia comentado antes que na sala de aula tem que escrever utilizando toda uma linha da reglete

A fonetizaccedilatildeo da escrita eacute o iniacutecio da compreensatildeo de que a escrita estaacute relacionada aos sons da fala A primeira fase desse periacuteodo eacute a hipoacutetese silaacutebica em que a crianccedila relaciona uma letra para cada siacutelaba Tatiane (sete anos) eacute o sujeito da pesquisa que na nossa maneira de interpretar os dados se encontra nesse niacutevel No momento em que foi solicitada a es-

crever a palavra perna observamos que ela grafou duas letras agrave medida que silaba a palavra ldquoper(e)ndashna(g)rdquo a vogal e possui valor sonoro convencional jaacute a letra g apesar de natildeo ter va-lor sonoro convencional demonstra que a menina estabelece correspondecircncia entre a emissatildeo oral e a pauta escrita Isso tambeacutem estaacute bem claro quando na leitura silaacutebica da palavra ela indica com o dedo uma letra para cada siacutelaba ndash ldquopernardquo Diferentemente dos casos anteriores ela jaacute natildeo nomeia mais os pontos de letras

Figura 5 ndash Escrita silaacutebica da palavra perna

Figura 6 ndash Escrita silaacutebica da palavra dedos um ponto para cada siacutelaba

Apoacutes escrever a palavra matildeo Tatiane pede para escre-ver a palavra dedos Enquanto grafa a menina vai silabando para a primeira letra b que aparece na figura acima ldquode (pon-to 1) ndash dos (ponto 2) agora vou escrever os dedos da outra matildeordquo para a segunda letra b que aparece na figura ldquode (pon-to 1) ndash dos (ponto 2)rdquo Na nossa maneira de interpretar tal produccedilatildeo a menina ainda necessita escrever a palavra dedos

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usando menos celas do que na palavra matildeo mas como jaacute gra-fou duas celas para o monossiacutelabo a soluccedilatildeo encontrada para representar o dissiacutelabo dedos eacute grafaacute-lo com apenas uma cela poreacutem dando a cada um dos pontos o valor correspondente de uma siacutelaba o que pode tambeacutem ser uma especificidade da aprendizagem do Braille A escrita da palavra dedos foi seg-mentada siacutelaba por siacutelaba mas a leitura foi global

Cabe aqui retomar o ponto suscitado quando analisa-mos as produccedilotildees de Edwiges e Ariel Em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combinaccedilatildeo de pontos Refletindo sobre os dados fornecidos por Tatiane tudo indica que eacute no niacutevel silaacutebico da escrita que a crianccedila cega comeccedila a mostrar uma compre-ensatildeo mais complexa de que as letras satildeo formadas por um conjunto de pontos mas este conceito parece ainda natildeo se en-contrar plenamente consolidado Observemos que o compor-tamento de grafar na mesma cela um ponto para cada siacutelaba pode indicar que enquanto na hipoacutetese anterior os pontos eram nomeados de letras neste momento do percurso eles tambeacutem podem ser considerados como siacutelabas

De acordo com Ferreiro e Teberosky (1999) quando a crianccedila opera na hipoacutetese silaacutebica duas caracteriacutesticas da es-crita anterior podem desaparecer momentaneamente a exi-gecircncia de uma quantidade miacutenima de caracteres e de varia-ccedilatildeo desses Pois nessa hipoacutetese a principal preocupaccedilatildeo da crianccedila eacute com o recorte silaacutebico da palavra e ela natildeo consegue atender simultaneamente essas exigecircncias mas quando a hi-poacutetese silaacutebica se encontra consolidada a exigecircncia de varie-dade reaparece pois muitos recortes silaacutebicos implicam letras repetidas e as crianccedilas jaacute tecircm consciecircncia de que com letras repetidas natildeo se pode ler

A hipoacutetese silaacutebico-alfabeacutetica comeccedila com a descoberta de que a siacutelaba pode ser representada com mais de uma letra Surge aqui o iniacutecio da representaccedilatildeo dos fonemas O sujeito da pesquisa situado neste niacutevel eacute Alex (oito anos) O menino natildeo sente dificuldades para escrever palavras compostas de siacutelabas canocircnicas que obedecem agrave seguinte ordem conso-ante vogal consoante vogal Quando as siacutelabas natildeo satildeo ca-nocircnicas ele se recusa a escrevecirc-las fato que Emiacutelia Ferreiro classifica em sua pesquisa ldquo[] de bloqueio por consciecircncia aguda das dificuldades impossiacuteveis de transporrdquo (FERREIRO TEBEROSKY 1999 p 218) Vejam um trecho do diaacutelogo en-tre a pesquisadora e o sujeito

Pesquisadora Escreva sobrancelha (soletrando ele comeccedila)Alex Su(cu) ndash bran(ele para) Que letra eacute o branPesquisadora Como vocecirc acha que eacuteAlex Eu natildeo sei Soacute posso escrever se a tia [pesquisa-dora] disser como eacuteComo neste caso ele natildeo conhece as letras que deve empregar e se referiu ao som bran como apenas uma le-tra nada dissemos com relaccedilatildeo agrave combinaccedilatildeo de pontos das letras Ele hesita em escrever bran e natildeo quer mais escrever a palavra Com insistecircncia da pesquisadora ele continua a escrever mas pula a siacutelaba na qual estaacute com dificuldades Alex Su(cu) ndash (pulou) ndash ce(c) ndash lha (ele para nova-mente) Que letra eacute o lhaPesquisadora Como vocecirc acha que eacuteAlex Eu vou colocar qualquer letra Ele grafa os pontos 3 e 6Pesquisadora Estaacute escrita a palavra sobrancelhaAlex Natildeo que a tia num quis me dizer os pontos das letras

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Figura 7 ndash Escrita silaacutebico-alfabeacutetica da palavra sobrancelha

Na escrita da palavra sobrancelha Alex apresenta tan-to elementos da escrita silaacutebica quanto da alfabeacutetica As duas primeiras letras compotildeem a siacutelaba so o que nos permite iden-tificar a hipoacutetese alfabeacutetica enquanto a letra c que correspon-de agrave terceira siacutelaba da palavra encontra-se na hipoacutetese silaacute-bica ou apenas revela a coincidecircncia do nome da letra com a siacutelaba ce Notemos que ele analisa o som das siacutelabas bran e lha como letras e o fato de ter grafado apenas uma cela para a uacutel-tima siacutelaba parece confirmar nossa suspeita de que ele opera na hipoacutetese silaacutebico-alfabeacutetica7

Apesar de Alex durante a escrita das palavras perna e barriga tecer comentaacuterios de que natildeo conhece a combinaccedilatildeo de pontos das letras p e r pensamos que ele apresenta concei-tos mais elaborados sobre a diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras

A elaboraccedilatildeo do niacutevel alfabeacutetico se completa quando a crianccedila compreende que a escrita se caracteriza por unidades sonoras menores do que a siacutelaba No iniacutecio dessa fase o desa-fio eacute a ortografia haja vista que a escrita se apresentaraacute pro-fundamente marcada pela oralidade

7 Dados os limites de espaccedilo para a elaboraccedilatildeo deste artigo natildeo faremos consideraccedilotildees aqui a respeito das produccedilotildees textuais das crianccedilas tambeacutem solicitadas por ocasiatildeo de nossa investigaccedilatildeo

A escrita alfabeacutetica constitui o final desta evoluccedilatildeo Ao chegar a este niacutevel a crianccedila jaacute franqueou a lsquobarreira do coacutedigorsquo compreendeu que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a siacutelaba e realiza sistematicamente uma anaacutelise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever Isto natildeo quer dizer que todas as dificuldades tenham sido superadas a partir desse momento a crianccedila se defrontaraacute com as dificuldades proacuteprias da ortografia mas natildeo teraacute problemas de escrita no sentido estrito (FERREIRO TEBEROSKY 1999 p 219)

Joatildeo (nove anos) e Diel (dez anos) satildeo os sujeitos da pesquisa que se encontram nesse niacutevel da escrita Na escrita das palavras os meninos natildeo sentiram dificuldades em men-cionar quantas e quais letras iriam empregar Veja as frases produzidas pelas crianccedilas Na frase de Joatildeo durante a leitura ele sinaliza que se esqueceu de escrever o i na palavra menino e o u na palavra machucou Na frase de Diel a junccedilatildeo da letra a com a palavra perna foi sinalizada durante a leitura

Figura 8 ndash Frase de Joatildeo o menino machucou a perna

Figura 9 ndash Frase de Diel o menino machucou a perna

Propomos agora uma resposta ao questionamento que levantamos para uma das possiacuteveis especificidades da escrita de nossos sujeitos usuaacuterios do Sistema Braille em que mo-mento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega com-preende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute

SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLEMARIA CLARISSA MACIEL RODRIGUES bull INEcircS CRISTINA DE MELO MAMEDE118 d d 119

formada por uma combinaccedilatildeo de pontos As evidecircncias nos conduzem a pensar que ao longo desse processo as crian-ccedilas cegas vatildeo refinando seus conceitos de diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras mas esse conceito soacute estaacute constituiacutedo quando se atinge a hipoacutetese alfabeacutetica

Consideraccedilotildees Finais

As pesquisas de Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky (1999) apontam que todo indiviacuteduo em decurso de aquisiccedilatildeo da liacuten-gua escrita se impotildee hipoacuteteses sobre a organizaccedilatildeo deste sis-tema Essas hipoacuteteses satildeo favorecidas pelo contato que estes sujeitos tecircm com a escrita que estaacute presente por toda parte mas como ressalta Almeida (1992) uma crianccedila cega natildeo tem as mesmas oportunidades de contato com materiais escritos como ocorre com a crianccedila que enxerga Se considerarmos que as fontes de pesquisa a respeito da aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita por meio do Sistema Braille ainda satildeo escassas podemos res-saltar a importacircncia de pesquisas mais aprofundadas sobre o tema bem como destacamos a relevacircncia desta investigaccedilatildeo

Retomamos agora a questatildeo que norteou esta pesqui-sa a fim de tecer uma resposta consoante aos seus achados Quais as especificidades apresentadas pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille durante a aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita Mediante a anaacutelise das produccedilotildees escritas dos sujeitos par-ticipantes da pesquisa eacute possiacutevel supor que assim como as crianccedilas que veem as crianccedilas cegas no percurso de aquisi-ccedilatildeo da liacutengua escrita tambeacutem seguem a evoluccedilatildeo das hipoacutete-ses linguiacutesticas descritas por Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky Entretanto no decorrer da pesquisa realizada com sujeitos que tecircm problemas visuais tudo parece indicar que eles apre-sentam algumas especificidades

Podemos destacar o fato de que ao longo da pesquisa principalmente por meio das falas das professoras notamos que para a crianccedila cega o processo de aprender a manusear os instrumentos necessaacuterios agrave escrita Braille para poder re-presentar a escrita eacute bem mais aacuterduo do que para a crianccedila de boa visatildeo Almeida (1992) ressalta que as crianccedilas que veem aprendem a manusear laacutepis e cadernos de maneira ldquonaturalrdquo mas o Sistema Braille natildeo eacute algo presente em nossa sociedade logo os instrumentos necessaacuterios agrave sua escrita tambeacutem natildeo

Na hipoacutetese preacute-silaacutebica assim como a crianccedila que en-xerga a crianccedila cega tambeacutem imagina que a escrita pode repre-sentar caracteriacutesticas do objeto Temos razatildeo para compreen-der que para os que natildeo enxergam eacute possiacutevel representar natildeo apenas com muitas letras (utilizaccedilatildeo de muitas celas) se o ob-jeto eacute grande mas tambeacutem com muitos pontos como foi o caso de Edwiges ao escrever a palavra boi ou ainda podemos supor que uma determinada quantidade de pontos por cela eacute suficien-te para representar algo como eacute o caso de Ariel que ao repre-sentar a palavra perna mencionou que ldquoduas letras (pontos) estaacute de bom tamanhordquo Nessa hipoacutetese a crianccedila cega parece ainda natildeo ter definido um conceito de diferenciaccedilatildeo entre o que satildeo letras e o que satildeo pontos Assim como tambeacutem no iniacutecio da aprendizagem a crianccedila que enxerga natildeo diferencia letras de outros sinais graacuteficos como por exemplo os nuacutemeros Essa constataccedilatildeo nos levou a outra pergunta em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combinaccedilatildeo de pontos Para essa indagaccedilatildeo procuramos ao longo deste trabalho preparar uma resposta com suporte nos dados recolhidos que nos levaram a crer que tal definiccedilatildeo apesar de mais elaborada nas hipoacuteteses silaacutebica e silaacutebico-alfa-beacutetica parece estar consolidada apenas na hipoacutetese alfabeacutetica

SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLEMARIA CLARISSA MACIEL RODRIGUES bull INEcircS CRISTINA DE MELO MAMEDE120 d d 121

pois tanto para Tatiane quanto para Alex eles podem assumir a funccedilatildeo de siacutelabas palavras ou ateacute mesmo sentenccedilas curtas Cremos com base na pesquisa como um todo que em decor-recircncia da interaccedilatildeo das crianccedilas com o formato da cela Braille durante as hipoacuteteses silaacutebica e silaacutebico-alfabeacutetica elas podem grafar um ponto na cela agrave medida que pronunciam uma siacutelaba o ponto pode representar uma siacutelaba ou mesmo uma palavra

Nossas primeiras hipoacuteteses sobre a aprendizagem da escrita Braille se referem tanto ao material empregado para produzir esta escrita a reglete quanto ao formato da cela Braille No que se refere agrave reglete notamos que os sujeitos que vivenciam hipoacuteteses mais elementares exibem a tendecircn-cia de utilizar toda uma linha do instrumento para produzir a escrita o que pode ser permitido ou induzido pelo material mas natildeo devemos descartar a ideia de que isso tambeacutem pode decorrer da influecircncia da praacutetica pedagoacutegica

Diante do exposto este ensaio se faz relevante pois apesar do pequeno grupo de sujeitos que participaram da in-vestigaccedilatildeo foi possiacutevel perceber algumas possiacuteveis especifici-dades no processo de aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas usuaacuterias do Sistema Braille Percebemos que essas particularidades da crianccedila cega decorrem do contato tardio com a escrita Braille dos instrumentos necessaacuterios agrave sua produccedilatildeo e de pensamen-tos proacuteprios da crianccedila cega

Destacamos tambeacutem nossas contribuiccedilotildees acerca do que pensam as crianccedilas cegas a respeito da organizaccedilatildeo do sistema de escrita para que futuras pesquisas mais aprofun-dadas e com um grupo maior de sujeitos possam confrontar os primeiros achados deste ensaio como por exemplo o con-ceito de diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras que diante das evidecircncias parece estar em elaboraccedilatildeo ao longo do processo de aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita

Por fim intermediada pela anaacutelise dos escritos dos su-jeitos enfeixamos aquilo que parece indicar serem especifici-dades das hipoacuteteses de que as crianccedilas cegas se colocam em cada um dos niacuteveis descritos na teoria psicogeneacutetica da aqui-siccedilatildeo da leitura e da escrita bem como sobre as funccedilotildees que os seis pontos podem assumir ao longo desta caminhada

Referecircncias Bibliograacuteficas

ALMEIDA M da G de S Fundamentos da alfabetizaccedilatildeo uma construccedilatildeo sobre quatro pilares Benjamin Constant Rio de Janeiro ano VIII n 22 p 13-21 2002______ Alfabetizaccedilatildeo da crianccedila cega dentro da visatildeo cons-trutivista a busca de um novo caminho 1992 99f Monogra-fia (Especializaccedilatildeo em Alfabetizaccedilatildeo em Deficientes Visuais) ndash Universidade do Rio de Janeiro 1992ARAUJO C PINTO E M F LOPES J et al Estudo de caso Disponiacutevel em lthttpgrupo4tecomsapoptestudo_casopdfgt Acesso em 4 out 2011BRASIL Deficiecircncia visual GIL M (Org) Brasiacutelia Minis-teacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo a Distacircncia 2000 CARRAHER T N Aprender pensando Petroacutepolis Vozes 1988FERREIRO E TEBEROSKY A Psicogecircnese da liacutengua escri-ta Porto Alegre Artmed 1999FERREIRO E Reflexotildees sobre alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo Cor-tez 2000SOARES M Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Ho-rizonte Autecircntica 1998 SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS O Sistema Braille Disponiacutevel em lthttpwwwsacorgbrAPR_BR2htmgt Acesso em 1 nov 2011

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ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeO

Maria Izalete Inaacutecio Vieira

Introduccedilatildeo

A liacutengua natural dos surdos eacute a liacutengua de sinais no caso dos surdos brasileiros a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) Em uma perspectiva de inclusatildeo social e educacional essa liacutengua deve ser ofertada como principal meio de acessibili-dade seja no acircmbito educacional no da sauacutede seguranccedila eou lazer Considerando que a visatildeo eacute o canal perceptual mais importante para a pessoa surda a liacutengua de sinais por se apresentar na modalidade viso-espacial (QUADROS 2004) atende a essa especificidade satisfazendo a sua condiccedilatildeo lin-guiacutestica Por isso o seu uso nos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo se constitui em um meio eficaz de promoccedilatildeo da inclusatildeo social

No Brasil em 2002 a Libras foi oficializada como liacuten-gua das comunidades surdas brasileiras atraveacutes da lei nordm 0436 (BRASIL 2002) e foi regulamentada pelo Decreto nordm 562605 (BRASIL 2005) Esse dispotildee sobre seu uso e difu-satildeo nas instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas na formaccedilatildeo de pro-fessores e inteacuterpretes de Libras Mas natildeo faz menccedilatildeo ao lazer cultura e informaccedilatildeo sendo esses aspectos contemplados na lei nordm 10098 de 2000 Apesar disso informaccedilotildees eventos culturais e entretenimentos veiculados nos meios de comuni-caccedilatildeo audiovisual em sua totalidade natildeo alcanccedilam os surdos Asseveram os artigos 17 e 19 do capiacutetulo VII da lei nordm 10098 que deve ser ofertada nos programas de imagens e outros a ldquolinguagem de sinaisrdquo eou legenda (BRASIL 2002)

No decreto nordm 529604 em seu capitulo VI haacute deter-minaccedilotildees quanto agrave acessibilidade para surdos nas emissoras

ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeOMARIA IZALETE INAacuteCIO VIEIRA124 d d 125

de TV incluindo prazos para que possam se adequar a essa legislaccedilatildeo Isso representou um avanccedilo significativo para a comunidade surda no que se refere ao direito agrave informaccedilatildeo cultura e entretenimento Contudo haacute ainda algumas consi-deraccedilotildees a serem feitas

A legendagem atualmente eacute a forma de acessibilidade para surdos mais usada pelas emissoras de TV e produtoras de filmes para o cinema Poreacutem empiricamente podemos afirmar que estaacute limitada a uns poucos programas de canais abertos A maioria parece ainda natildeo ter incorporado a cultura de acessibilidade pois natildeo legenda nem insere a janela de Li-bras em suas produccedilotildees Assim a comunidade surda brasilei-ra continua excluiacuteda de algumas atividades de entretenimento e informaccedilotildees que para noacutes ouvintes satildeo corriqueiras Outro ponto a ser considerado eacute a liacutengua em que o acesso eacute ofertado Os surdos como mencionado haacute pouco satildeo falantes da Li-bras uma liacutengua viso-espacial que difere da liacutengua portugue-sa em modalidade e gramaacutetica (QUADROS 2004) Segundo Harrison e Nakasato (apud LODI LACERDA 2009) quando as particularidades linguiacutesticas dos surdos satildeo desconsidera-das natildeo haacute o compartilhamento de um mesmo horizonte so-cioloacutegico por surdos e ouvintes no que se refere agrave realidade vivenciada por ambos mesmo nas situaccedilotildees cotidianas

Vivendo em uma sociedade constituiacuteda por maioria ou-vinte os surdos precisam aprender o Portuguecircs para estabe-lecer relaccedilotildees com quem convivem em ambientes familiares no trabalho dentre outros Esse fato leva os surdos a viverem em uma situaccedilatildeo biliacutengue e de interculturalismo como afir-ma Strobel (2008) isto eacute satildeo participantes da cultura surda e da ouvinte e por isso utilizam a Libras e o Portuguecircs (em sua modalidade escrita eou oral) Eacute importante explicitar que a apropriaccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa na modalidade escri-

ta pelo surdo natildeo eacute uma tarefa faacutecil visto que esses natildeo satildeo usuaacuterios dessa liacutengua (LODI LACERDA 2009) A realidade educacional da maioria e a proacutepria modalidade Liacutengua Portu-guesa que se fundamenta em unidades sonoras natildeo contri-bui para essa aquisiccedilatildeo

Satildeo poucos os surdos de nascenccedila que receberam uma educaccedilatildeo que lhes proporcionou a aquisiccedilatildeo da leitura e escri-ta em Portuguecircs Mas mesmo esses que adquiriram a leitura em Portuguecircs natildeo satildeo proficientes nessa liacutengua Geralmen-te tecircm dificuldades com a sua semacircntica pragmaacutetica e com a identificaccedilatildeo de gecircneros como metaacuteforas ironias humor e outros como afirma Sousa (2008) Assim pelo fato de ser inteacuterprete de LibrasPortuguecircs haacute pouco mais de 20 anos e ter realizado trabalhos de interpretaccedilatildeo e traduccedilatildeo de pro-gramas ao vivo na TV e em filmes nacionais gravados essas experiecircncias profissionais me fizeram perceber que os surdos datildeo especial atenccedilatildeo a essas produccedilotildees quando o acesso lhes eacute ofertado em sua proacutepria liacutengua por meio da janela de Libras

TradutorInteacuterprete da Libras Qual a Parte Que lhe Cabe

Na obra intitulada O Tradutor e Inteacuterprete de Liacutengua de Sinais e Liacutengua Portuguesa para familiarizar o leitor com os termos pertencentes agrave temaacutetica abordada Quadros (2004) decide iniciaacute-la com um pequeno dicionaacuterio apresentando as terminologias e suas respectivas significaccedilotildees usadas por profissionais que atuam na aacuterea da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo e outros que de alguma forma tecircm envolvimento com as liacuten-guas de sinais

Segundo definiccedilatildeo da referida autora o inteacuterprete de liacutengua de sinais eacute aquele que interpreta de uma liacutengua de si-nais (liacutengua de partida) para outra liacutengua (liacutengua de chegada)

ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeOMARIA IZALETE INAacuteCIO VIEIRA126 d d 127

sejam essas orais ou sinalizadas Para aclarar e delimitar os campos de atuaccedilatildeo Quadros (2004) diferencia o tradutor do inteacuterprete afirmando que o tradutor eacute a pessoa que traduz de uma liacutengua para outra assim como faz o inteacuterprete poreacutem o processo de traduccedilatildeo implica pelo menos que uma das liacuten-guas esteja na modalidade escrita A mesma autora faz a inte-graccedilatildeo dos dois termos (inteacuterprete e tradutor) afirmando que o tradutor-inteacuterprete de liacutengua de sinais eacute aquele que traduz e interpreta a liacutengua de sinais para a liacutengua oral nas modalida-des escrita eou oralsinalizada

Para Lacerda (2009) traduzir estaacute relacionado agrave ativi-dade de versar de uma liacutengua para outra trabalhando com tex-tos escritos e o interpretar se relaciona ao trabalho de versar de uma liacutengua para outra nas relaccedilotildees interpessoais simulta-neamente Diferencia ainda uma atividade da outra ressaltan-do que para se efetuar uma traduccedilatildeo o tradutor pode ler a obra refletir sobre as escolhas lexicais semacircnticas e consultar outras fontes para alcanccedilar os sentidos mais adequados ao seu trabalho Diferentemente o inteacuterprete atua com a simultanei-dade sem tempo para reflexotildees tomando decisotildees raacutepidas sobre como versar de um sentido para o outro e sem poder consultar outras fontes Por questotildees relacionadas ao tempo enquanto o tradutor pode revisar o seu texto de chegada com tranquilidade pois tem agrave sua disposiccedilatildeo o texto de partida o inteacuterprete natildeo tem como rever sua produccedilatildeo

Sobre o tempo de trabalho do tradutor e do inteacuterprete Pagura (2003 p 227) afirma

Enquanto nas organizaccedilotildees internacionais espera-se que os tradutores de tempo integral traduzam cerca de 50 linhas a cada duas horas um discurso cujo texto transcrito tenha as mesmas 50 linhas seraacute interpretado em oito minutos

A referida autora esclarece que o termo ldquotradutorin-teacuterpreterdquo eacute encontrado em documentos da deacutecada de 1970 no Brasil e que por isso ainda eacute utilizado por muitos mas que eacute importante diferenciar um do outro

Como mencionado anteriormente Santos (2006) afir-ma que as traduccedilotildees e interpretaccedilotildees em liacutengua de sinais no Brasil surgiram na deacutecada de 1980 Eram feitas por familia-res de surdos eou religiosos que natildeo tinham formaccedilatildeo pro-fissional para o exerciacutecio dessa funccedilatildeo A maioria desses in-teacuterpretes tinha apenas conhecimento empiacuterico da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo mas natildeo tinha nenhuma formaccedilatildeo ou embasa-mento teoacuterico para o exerciacutecio dessa funccedilatildeo Esse aspecto tem refletido em seu status profissional A falta de profissionali-zaccedilatildeo por meio de cursos de niacutevel superior tem colocado os tradutoresinteacuterpretes de Libras em situaccedilatildeo de inferioridade em relaccedilatildeo aos tradutoresinteacuterpretes de liacutenguas orais Esse fato eacute percebido pela falta de compreensatildeo da sociedade do seu trabalho e pela diferenccedila nos valores estabelecidos para remuneraccedilatildeo de serviccedilos de um e de outro

Durante muito tempo a accedilatildeo do tradutorinteacuterprete de Libras foi vista pela sociedade sob um aspecto assistencialis-ta jaacute que era realizada por pessoas que geralmente tinham viacutenculo de parentesco com as pessoas surdas e faziam tradu-ccedilotildeesinterpretaccedilotildees sem remuneraccedilatildeo Ainda segundo Santos (2006) as primeiras traduccedilotildeesinterpretaccedilotildees foram realiza-das nos ambientes empiacutericos desses atores ou seja no acircmbito religioso e familiar

Voltando um pouco mais no tempo encontraremos os inteacuterpretes de liacutenguas orais desempenhando a funccedilatildeo de apa-ziguadores culturais Seus serviccedilos eram requisitados geral-mente para estabelecimento de negociaccedilatildeo de paz entre paiacute-ses que estavam em guerra como afirma Pagura (2003) Seu

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trabalho natildeo era focado somente nas questotildees linguiacutesticas mas tambeacutem na cultura dos paiacuteses que estavam envolvidos no processo de apaziguamento Assim podemos inferir que o ato tradutoacuterio eou interpretativo natildeo eacute apenas linguiacutestico mas tambeacutem cultural

Sobre isso Segala (2010 p 30) em um contexto em que as liacutenguas de contato dizem respeito agraves comunidades sur-das e ouvintes afirma

Ser tradutor natildeo eacute ser aquele que sabe duas liacutenguas e que simplesmente transpotildee uma liacutengua para outra Natildeo eacute soacute estrutura linguiacutestica precisa conhecer e saber a cultura a linguiacutestica e outras sutilezas das liacutenguas fonte e alvo aleacutem de ter experiecircncia na vida social []

No Brasil a liacutengua de sinais foi reconhecida como a liacutengua natural das comunidades surdas em 2002 quando o entatildeo presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei nordm 10436 (BRASIL 2002) que oficializou a Libras como liacutengua das comunidades surdas do Brasil jaacute em 2005 o presi-dente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva sancionou o decreto nordm 5626 (BRASIL 2005) que a regulamenta

O reconhecimento tardio da liacutengua de sinais afeta o re-conhecimento do ato tradutoacuteriointerpretativo que envolve essa liacutengua Empiricamente eacute possiacutevel afirmar que o processo de traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo natildeo tem o reconhecimento da so-ciedade ouvinte nem a compreensatildeo dos surdos no Brasil No caso dos surdos eacute possiacutevel que isso aconteccedila pelo fato de que esses ainda natildeo tenham informaccedilotildees suficientes para levaacute-los a compreender a complexidade desse ato

Segundo Gesser (2011) a traduccedilatildeo compreende as se-guintes modalidades a consecutiva a simultacircnea ndash mais usa-da pelos inteacuterpretes de liacutenguas de sinais ndash e a sussurrada A autora esclarece que esta se trata da mesma modalidade da

traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo simultacircnea mas eacute realizada em situ-accedilatildeo geralmente de reuniotildees em pequenos grupos em que o inteacuterprete se senta proacuteximo de alguns ouvintes e traduz o texto de partida cochichando

De acordo com Lacerda (2009 p 15) traduccedilatildeointer-pretaccedilatildeo simultacircnea eacute a mais usada atualmente em grandes eventos e ldquo[] a traduccedilatildeo simultacircnea natildeo ocorre ao mesmo tempo da fala originalrdquo Isso porque o inteacuterprete leva um tem-po para processar a informaccedilatildeo recebida e organizaacute-la na liacuten-gua alvo Por sua vez Pagura (2003) explicita que a traduccedilatildeo consecutiva eacute aquela em que o inteacuterprete ouve um trecho sig-nificativo ou todo o discurso toma nota e em seguida assu-me a palavra e passa a informaccedilatildeo na liacutengua alvo

Ainda segundo Pagura (apud LACERDA 2009) a traduccedilatildeo consecutiva auxilia o inteacuterprete a desenvolver a ca-pacidade de analisar e compreender o discurso de partida permitindo o surgimento de teacutecnicas que o preparam para a traduccedilatildeo simultacircnea A traduccedilatildeo simultacircnea como foi dito haacute pouco parece ser a modalidade eleita pela maioria dos inteacuter-pretes de Libras e preferida pelos surdos Segundo o professor Marcos Vaining durante a videoconferecircncia de 10 de abril de 2011 na disciplina de Aquisiccedilatildeo da Linguagem do curso de Bacharelado em Letras-Libras1 a escolha por essa modalidade se daacute pela falta de conhecimento tanto por parte de inteacuterpretes quanto pelos surdos sobre o processo tradutoacuterio Segundo ele essa modalidade eacute a que mais oferece possibilidade de cometer erros Isso por causa do pouco tempo existente para anaacutelise compreensatildeo processamento e remarcaccedilatildeo de paracircmetro na

1 O curso de Licenciatura e Bacharelado em Letras-Libras foi desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e oferecido em 2006 em conjunto a oito instituiccedilotildees federais de niacutevel superior por meio da Secretaria de Educaccedilatildeo a Distacircncia e da Secretaria de Educaccedilatildeo Especial (QUADROS 2008)

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liacutengua alvo Vaining acrescenta ainda que todo esse processo demanda grande esforccedilo por parte do inteacuterprete

Ainda sobre o ato tradutoacuteriointerpretativo Jakobson (1995) o classifica em trecircs tipos intralingual interlingual e semioacutetica A traduccedilatildeo intralingual ou reformulaccedilatildeo segundo o autor eacute a traduccedilatildeo de um signo2 por outro da mesma liacuten-gua Isso pode ser feito por meio da sinoniacutemia ou paraacutefrase Quanto agrave interpretaccedilatildeo interlingual refere-se agrave interpretaccedilatildeo de um dado signo por outro equivalente em uma outra liacutengua Jaacute a traduccedilatildeo ldquo[] intersemioacutetica ou transmutaccedilatildeo consiste na interpretaccedilatildeo de signos verbais por meio de um sistema de signos natildeo verbaisrdquo (JAKOBSON 1995 p 64)

O inteacuterprete de liacutengua de sinais recorre a essas catego-rias com certa frequecircncia Natildeo eacute raro nos depararmos com situaccedilotildees de traduccedilatildeo em que uma das pessoas envolvidas no processo natildeo compreende conceitos em sua proacutepria liacutengua Isso nos impele a reorganizar a traduccedilatildeo tendo que explicar de forma diferente o mesmo assunto parafraseando ou utili-zando o recurso da expansatildeo (uma combinaccedilatildeo equivalente de unidades de coacutedigos) Podemos categorizar esse tipo de tradu-ccedilatildeointerpretaccedilatildeo como intralingual (JAKOBSON 1995)

A modalidade em que a liacutengua de sinais se apresenta ndash espaccedilo visual ndash exige leitura e traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo das ex-pressotildees natildeo manuais e a compreensatildeo de imagens construiacutedas com as matildeos pelo sinalizante (classificadores) como explica Segala (2010) A essa leitura efetuada durante a traduccedilatildeoin-terpretaccedilatildeo chamamos de semioacutetica Embora nos utilizemos de todas as modalidades aqui apresentadas a mais recorrente

2 Os signos satildeo entidades em que sons ou sequecircncias de sons ndash ou as suas correspon-decircncias graacuteficas ndash estatildeo relacionados com significados ou conteuacutedos Os signos satildeo portanto instrumentos de comunicaccedilatildeo e representaccedilatildeo agrave medida que configuram linguisticamente a realidade e distinguem os objetos entre si (VYGOTSKY 2000)

em nosso trabalho eacute a traduccedilatildeo interlingual pois geralmente nossas traduccedilotildees envolvem a Liacutengua Portuguesa e a Libras

O ato de traduzirinterpretar natildeo eacute faacutecil especialmente para o inteacuterprete de liacutengua de sinais que estabelece transiccedilatildeo com liacutenguas muito distantes no que diz respeito agrave forma e ao modo Sobre isso Segala (2010) afirma que o inteacuterprete natildeo apenas versa de uma liacutengua para outra mas tambeacutem consi-dera ao executar uma interpretaccedilatildeo eou traduccedilatildeo a cultura dos povos imbricados nesse processo

Mesmo que muitas vezes esse trabalho seja exaustivo para o inteacuterprete ele eacute extremamente necessaacuterio agrave comuni-dade surda pois quebra as barreiras comunicativas e retira o surdo do isolamento linguiacutestico como afirmam Massutti e Sil-va (2011) Isso torna a interpretaccedilatildeo da Libras para a Liacutengua Portuguesa e vice-versa aleacutem de necessaacuteria compensadora para quem a faz e a recebe

O tradutorinteacuterprete vem atuando em aacutereas antes natildeo alcanccediladas Certamente por causa de poliacuteticas afirmativas e de acessibilidade especiacuteficas para pessoas surdas No Cearaacute aleacutem da aacuterea da Educaccedilatildeo o inteacuterprete de Libras tem desem-penhado a funccedilatildeo em palestras que abrangem os mais varia-dos temas Atuando igualmente em janelas de Libras de pro-gramas poliacuteticos televisionados (LEMOS 2012)

UFCTV Implicaccedilotildees Trazidas pela Inserccedilatildeo da Janela de Libras

Assim preocupados com a expansatildeo da acessibilidade de pessoas surdas na aacuterea acadecircmica foi que se pensou em tornar o programa jornaliacutestico televisionado da Universidade Federal do Cearaacute (UFCTV) acessiacutevel para surdos segundo in-formou a coordenadora da Secretaria de Acessibilidade pro-fessora doutora Vanda Magalhatildees que propocircs a inserccedilatildeo da

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janela de Libras no referido programa Para tanto foi necessaacute-rio contatar a equipe de comunicaccedilatildeo responsaacutevel pela execu-ccedilatildeo do mesmo

Essa concordou em implementar um projeto-piloto para analisar a viabilidade desse instrumento no programa Nesse periacuteodo por me encontrar na condiccedilatildeo de prestadora de serviccedilo na funccedilatildeo de inteacuterprete pela UFC e estar lotada na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui aceitei participar do projeto fazendo as traduccedilotildeesinterpretaccedilotildees do referido pro-grama Os profissionais que trabalharam diretamente nessa empreitada foram aleacutem da interprete de Libras uma produ-tora um cinegrafista e um editor de imagens O projeto teve duraccedilatildeo de seis meses

O UFCTV eacute um programa que vai ao ar semanalmente aos domingos sendo reprisado agraves terccedilas-feiras pela TV Cul-tura no canal 5 com alcance em todo o estado do Cearaacute3

Segundo informa o site o programa

Mostra a produccedilatildeo da Universidade informando onde e como ela estaacute presente no cotidiano das pessoas contribuindo para melhorar as condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo cearense UFCTV tambeacutem traz um resumo dos principais acontecimentos na Universidade e uma agenda cultural voltada para atividades gratuitas ou a preccedilos populares (UFC 2012)

O referido programa eacute elaborado e gravado em estuacute-dio situado no Bloco de Comunicaccedilatildeo da UFC no campus do Benfica As atividades da equipe que trabalha no desen-volvimento do programa ocupam o estuacutedio durante o expe-diente de trabalho normal da UFC de 8h agraves 12h e de 14h agraves

3 O programa tambeacutem eacute veiculado na internet Encontra-se disponiacutevel no seguinte endereccedilo eletrocircnico lthttpwwwufcbrcomunicacao-e-marketing956-conheca-o-programa-ufctvgt

17h Por essa razatildeo a gravaccedilatildeo da sua traduccedilatildeo em Libras era realizada no intervalo do almoccedilo entre 12h e 14h sempre agraves segundas-feiras A duraccedilatildeo do programa eacute de 30 minutos enquanto a gravaccedilatildeo de sua traduccedilatildeo tinha duraccedilatildeo de duas horas O profissional encarregado de editar a janela de Libras natildeo conhecia a liacutengua por isso minha presenccedila como inteacuter-prete durante a ediccedilatildeo fazia-se necessaacuteria Ao lado do editor ajudava a sincronizar o texto produzido em Libras ao texto correspondente na Liacutengua Portuguesa Assim suas horas de trabalho se prolongavam ateacute agraves 18h

Conforme mencionado anteriormente o programa traz informaccedilotildees sobre as vaacuterias atividades da universidade abrangendo assim assuntos das mais diversas aacutereas do conhe-cimento Segundo Aubert (apud VASCONCELOS BARTHO-LAMEI JUNIOR p 15) a competecircncia referencial ou seja a ldquo[] capacidade de buscar conhecer e se familiarizar com os referentes dos diversos universos em que uma atividade de traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo pode ocorrer []rdquo eacute muito impor-tante para que a traduccedilatildeo se decirc a contento Podemos entatildeo concluir que conhecer o assunto de que se trata a traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo colabora para a otimizaccedilatildeo do resultado do tra-balho tradutoacuterio

Nessa perspectiva buscava essa competecircncia por meio da leitura dos espelhos que eacute o cronograma de como o tele-jornal iraacute se desenrolar Nele eacute previsto a entrada de mateacute-rias notas blocos chamadas e encerramento do telejornal Os espelhos eram enviados para mim por e-mail com ante-cedecircncia mas natildeo traziam detalhes das mateacuterias abordadas no programa Por exemplo o conteuacutedo das sonoras que eacute o segmento do programa em que o repoacuterter aparece junto ao entrevistado natildeo era explicitado Isso me impelia a fazer uma pesquisa preacutevia na internet sobre o tema que seria aborda-

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do Havia tambeacutem um espaccedilo de tempo antes de iniciar as gravaccedilotildees em que podia assistir ao programa completo Eacute im-portante salientar que a competecircncia referencial tem relaccedilatildeo direta com a qualidade da traduccedilatildeo e que alguns dos temas abordados eram de completo desconhecimento da inteacuterprete

Por isso o fato de assistir ao programa antes de iniciar sua traduccedilatildeo poderia colaborar para que por meio da visuali-zaccedilatildeo de imagens mesmo natildeo dominando o assunto pudesse descrever os elementos a ele pertencentes Segundo Pizzo et al (2010 p 15) a liacutengua de sinais traz recursos que permitem transmitir informaccedilotildees de forma clara ldquo[] descrevendo a forma e tamanho ou descrever a maneira como esse referente se comporta na accedilatildeo verbalrdquo Esse recurso eacute chamado de Clas-sificador (CL) Por isso a visualizaccedilatildeo das imagens contidas no programa por mim na condiccedilatildeo de tradutorainteacuterprete era de fundamental importacircncia para a construccedilatildeo desses re-ferentes no texto em Libras Os classificadores aleacutem de des-crever o objeto permitem que o texto se torne sucinto sem que haja perdas de informaccedilatildeo

Como afirma Lacerda (2009) o inteacuterprete trabalha na urgecircncia e natildeo tem tempo para refazer sua interpretaccedilatildeo Na traduccedilatildeo haacute tempo para analisar pesquisar e refazer se ne-cessaacuterio Como foi dito anteriormente eu recebia da produ-ccedilatildeo do programa instrumentos para pesquisa e durante as gravaccedilotildees de sua interpretaccedilatildeo havia tempo para refazecirc-la caso achasse necessaacuterio Por essa razatildeo podemos concluir que esse trabalho se caracterizou como sendo uma traduccedilatildeo

Outro ponto importante a salientar eacute o tempo televisi-vo O programa produzido pela equipe da UFCTV como dito anteriormente tem 30 minutos de duraccedilatildeo jaacute com os comer-cias adicionados Eacute dividido em ldquocabeccedilasrdquo que eacute segmento do programa em que a apresentadora aparece sozinha anuncian-

do as manchetes do dia ldquooffsrdquo segmento do programa em que o repoacuterter relata as notiacutecias sem aparecer na cena e sonoras As janelas correspondentes a esses segmentos precisavam es-tar sincronizadas com o tempo de cada um deles

Segundo Ronai (1987) tudo que eacute dito em uma determi-nada liacutengua pode ser dito em outra mas para isso eacute preciso buscar equivalecircncias e quando por alguma razatildeo natildeo eacute pos-siacutevel encontraacute-las a traduccedilatildeo pode ser feita de forma explica-tiva Poreacutem em se tratando de explicaccedilotildees de termos usados na liacutengua fonte (liacutengua a ser traduzida) para a alvo (liacutengua traduzida) eacute possiacutevel que o texto traduzido se prolongue mais que o texto original Isso eacute bastante comum acontecer em tra-duccedilotildees envolvendo a Libras e o Portuguecircs dadas as modali-dades em que se encontram espaccedilo-viso-manual e oral au-ditiva respectivamente (QUADROS KARNOPP 2004) Esse fato ocorria com frequecircncia desafiando-me a buscar recursos inerentes agrave atividade tradutoacuteria e os que a proacutepria liacutengua de sinais oferece para possibilitar a sincronia entre os textos

Os recursos linguiacutesticos por mim utilizados durante as atividade tradutoacuterias foram os empreacutestimos linguiacutesticos que segundo Barbosa (2004) trata-se de uma escolha pessoal do tradutor por tomar um empreacutestimo da liacutengua fonte e usa--lo na liacutengua alvo No caso da traduccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa para a Libras esse empreacutestimo eacute feito por meio da soletraccedilatildeo da palavra utilizando-se do alfabeto manual (SOUZA 2010) Esse recurso tem sido utilizado quando natildeo haacute um vocaacutebulo na liacutengua alvo equivalente ao da liacutengua fonte Assuntos relaciona-dos agrave Fiacutesica Quiacutemica Engenharia e especialmente agrave Medicina foram os que mais exigiram o uso desse recurso Ex Palavra em Portuguecircs leishmaniose No empreacutestimo para a Libras a mesma palavra eacute feita sem alteraccedilatildeo na estrutura fonoloacutegica por meio do alfabeto manual conforme ilustra a Figura 1

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Figura 1 ndash Alfabeto manualFonte httpwwwlibrasorgbr

Assim o puacuteblico-alvo recebe a palavra em uma liacutengua que natildeo eacute a sua o que pode gerar problemas de compreen-satildeo Para traduzir essa palavra com clareza seria necessaacuterio entatildeo a utilizaccedilatildeo de outra estrateacutegia chamada de explicita-ccedilatildeo Segundo Lemos (2012) o uso dessa estrateacutegia consiste na adiccedilatildeo de informaccedilotildees por parte do tradutorinteacuterprete para aclarar a mensagem na liacutengua alvo Poreacutem por haver adiccedilatildeo de vocaacutebulo o tempo empregado nesse tipo de estra-teacutegia ultrapassa o tempo do texto fonte o que pode constituir um problema na sincronia dos textos e interferir no tempo da realizaccedilatildeo do programa Por isso optei por natildeo usaacute-la

Outro recurso utilizado na traduccedilatildeo foi o Role Shift que segundo Pizzo et al (2010) consiste na mudanccedila da posi-ccedilatildeo do corpo ou da direccedilatildeo do olhar para marcar a fala de mais

de um personagem Esses personagens (referentes) podem tambeacutem ser marcados por meio de estabelecimento de pon-tos no espaccedilo Isso permite economia de tempo pois uma vez que os pontos estatildeo estabelecidos e nominados natildeo haacute mais necessidade de citaacute-los por nome basta apontar olhar ou di-recionar o corpo para a localizaccedilatildeo em que esses pontos foram estabelecidos Essa apontaccedilatildeo na liacutengua de sinais eacute uma for-ma pronominal e pode ser usada como referecircncia anafoacuterica4

O uso de classificadores (CL) tambeacutem foi outro recur-so utilizado como foi dito anteriormente Esses podem des-crever de forma clara objetos pessoas e animais de forma detalhada e raacutepida Quando o uso desses recursos natildeo era su-ficiente para sincronizar os textos fonte e alvo o editor no momento da ediccedilatildeo e com a minha ajuda retirava dos sinais movimentos que natildeo integravam a sua formaccedilatildeo Esses eram os movimentos de passagem de um sinal para o outro como um levantar ou baixar de matildeos Os cortes eram de mileacutesimos de segundos mas que somados apresentavam uma quanti-dade significativa de tempo para um programa televisivo

O uso de todas essas estrateacutegias natildeo era de conheci-mento da equipe responsaacutevel pelo programa da UFCTV com exceccedilatildeo dos cortes para reduccedilatildeo do tempo da traduccedilatildeo na ja-nela de Libras Assim o desafio da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo se tornou uma busca individual de minha parte Segundo Souza (2010) para realizar uma traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo envolvendo recursos midiaacuteticos eacute necessaacuterio uma equipe semelhante agrave que foi citada anteriormente Poreacutem o autor acrescenta que a essa equipe devem ser adicionados outros profissionais da traduccedilatildeo surdos e ouvintes para dar suporte agrave inteacuterprete e

4 Anafoacuterico genericamente pode ser definido como uma palavra ou expressatildeo que serve para retomar um termo jaacute expresso no texto ou tambeacutem para antecipar termos que viratildeo depois

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analisar juntamente com ela a qualidade da traduccedilatildeo objeti-vando sua otimizaccedilatildeo

Todo esse trabalho relacionado agrave traduccedilatildeointerpre-taccedilatildeo requer um relativo empenho da equipe envolvida Tambeacutem eacute necessaacuterio a essa equipe disponibilidade para alteraccedilotildees fiacutesicas na aparecircncia do programa ocasionada pela inserccedilatildeo da janela de Libras

Janela de Libras na Tela da TV

A janela de Libras eacute um instrumento de acessibilida-de para surdos descrito na Portaria nordm 310 de 27-06-2006 como sendo ldquo[] espaccedilo delimitado no viacutedeo onde as infor-maccedilotildees satildeo interpretadas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LI-BRAS)rdquo (BRASIL 2006)

A maioria dos programas de TV que se utiliza da janela de Libras apresenta irregularidades no seu formato tamanho e contraste Isto ocorre pela inobservacircncia das normas estabe-lecidas pela ABNTNBR15290 (ABNT 2005)

A janela de Libras deve conter as seguintes caracteriacutesti-cas (BRASIL 2009)

y A altura da janela deve ser no miacutenimo metade da altura da tela do televisor (NBR 15290) y A largura da janela deve ocupar no miacutenimo a quarta parte da largura da tela do televisor (NBR 15290) y O recorte deve estar localizado de modo a natildeo ser encoberto pela tarja preta da legenda oculta (NBR 15290) y No recorte natildeo devem ser incluiacutedas ou sobrepostas quais-quer outras imagens (NBR 15290)

Como sugestatildeo o documento (BRASIL 2009) acres-centa que a janela de Libras natildeo deve encobrir a marca drsquoagua

da emissora nem a tarja preta da legenda Assim a janela deve ser posicionada na tela da TV de acordo com a sua localiza-ccedilatildeo podendo ficar agrave esquerda agrave direita ou ao centro da tela Quanto ao enquadramento do tradutorinteacuterprete deve ser feito de maneira que os braccedilos e cotovelos natildeo sejam corta-dos O enquadramento deve abarcar toda a sua movimenta-ccedilatildeo e vai do alto da cabeccedila ateacute a altura da cintura O referido documento explicita que o plano meacutedio eacute o ideal para o en-quadramento do tradutorinteacuterprete

Assim a UFCTV buscou respeitar as normas estabele-cidas pela ABNT optando por colocar a janela de Libras na parte inferior direita da tela Para que isso fosse possiacutevel foi necessaacuterio o deslocamento da apresentadora um pouco mais para o centro da tela para deixar livre o espaccedilo destinado agrave janela De modo semelhante os repoacuterteres ao gravarem as sonoras foram orientados a se posicionar de maneira que na tela da TV ficassem agrave esquerda do viacutedeo para que agrave direita sobrasse espaccedilo suficiente para posicionar a janela

Como explicitado haacute pouco a Figura 2 mostra uma ca-beccedila em que a apresentadora do Programa da UFCTV se en-contra posicionada no centro da tela deixando um espaccedilo agrave direita suficiente para a inserccedilatildeo da janela

Figura 2 ndash Ca-beccedila do Programa

UFCTV

Fonte httpwwwufcbr

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Em relaccedilatildeo ao tradutorinteacuterprete a ABNTNBR 15290 (ABNT 2005) determina que quando na janela de Li-bras deve usar blusas de cor distanciada da tonalidade de sua pele Complementando as determinaccedilotildees citadas haacute ainda as seguintes sugestotildees

y Natildeo usar amarelo vermelho laranja e preto (principalmen-te) no plano de fundo do inteacuterprete

y A iluminaccedilatildeo adequada deve evitar sombras nos olhos eou seu ofuscamento e

y A cor adequada e sugerida por todos os surdos para o cenaacuterio foi o azul-claro sem detalhes (BRASIL 2009)

Assim como tradutorinteacuterprete da janela de Libras da UFCTV adotei o seguinte padratildeo esteacutetico cabelos pre-sos blusa preta de mangas cur-tas para contras-tar com o fundo azul ausecircncia de adereccedilos como reloacutegios colares e outros conforme ilustra a Figura 3

Figura 3 ndash Padratildeo esteacutetico para inteacuter-pretes que atuam em janelas de LibrasFonte httpwwwi n c l u s i v e o r g b r wp-contentuploa-ds201007Carti-lha_libraspdf

Consideraccedilotildees Finais Embora tenha havido zelo para com as exigecircncias esta-

belecidas pela ABNT (2005) por parte da equipe envolvida no projeto de implementaccedilatildeo da janela de Libras no programa produzido pela equipe da UFCTV houve alguns problemas de ordem teacutecnica O equipamento tecnoloacutegico usado nas ediccedilotildees apresentava problemas e por vezes parava de funcionar im-pedindo a finalizaccedilatildeo da ediccedilatildeo Foi constatada tambeacutem a ne-cessidade de acreacutescimo de pessoal agrave equipe Os profissionais envolvidos usavam seu horaacuterio de almoccedilo para gravar a tra-duccedilatildeo da janela de Libras pois esse era o uacutenico horaacuterio dispo-niacutevel para uso do estuacutedio Assim podemos concluir que seria necessaacuteria uma equipe especiacutefica com horaacuterios previamente definidos para esse fim

Quanto agrave traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo a presenccedila de outro inteacuterprete poderia contribuir com a otimizaccedilatildeo do resultado final da traduccedilatildeo Seria tambeacutem uma contribuiccedilatildeo para com a inteacuterprete efetiva no sentido de que caso houvesse a ne-cessidade de se ausentar nos dias destinados agrave gravaccedilatildeo ha-veria outra pessoa que poderia substituiacute-la Em decorrecircncia dessas dificuldades o projeto foi interrompido para anaacutelise e busca de soluccedilotildees junto a outras instacircncias da UFC para sua viabilizaccedilatildeo

Em conjunto com a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui a equipe anteriormente mencionada se prepara para viabilizar e retomar o projeto propiciando a inserccedilatildeo de for-ma permanente e qualitativa da janela de Libras nos progra-mas produzidos pela equipe da UFCTV e assim contribuir para a acessibilidade agrave informaccedilatildeo das pessoas surdas

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Referecircncias Bibliograacuteficas

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25 abr 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Leis2002L10436htmgt Acesso em 12 dez 2011GESSER A Traduccedilatildeo e Interpretaccedilatildeo da Libras II Apostila do Curso de Educaccedilatildeo a Distacircncia de Bacharelado em Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina 2011 JAKOBSON R Linguiacutestica e comunicaccedilatildeo Satildeo Paulo Cul-trix 1995LACERDA C B F Inteacuterprete de Libras em atuaccedilatildeo na Edu-caccedilatildeo Infantil e no Ensino Fundamental Porto Alegre Me-diaccedilatildeoFAPESP 2009LEMOS A M As estrateacutegias de interpretaccedilatildeo de unidades fraseoloacutegicas do Portuguecircs para a Libras em discursos poliacute-ticos Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 150f Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2012 LODI A C B LACERDA C B F de (Orgs) Uma escola duas liacutenguas letramento em liacutengua portuguesa e liacutengua de sinais nas etapas iniciais de escolarizaccedilatildeo Porto Alegre Me-diaccedilatildeo 2009MASSUTTI M L e SILVA S G de L da Traduccedilatildeo e in-terpretaccedilatildeo de Libras I Apostila do curso de Bacharelado em Letras na modalidade a Distacircncia Universidade Fede-ral de Santa Catarina Centro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE)Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2011PAGURA R J A interpretaccedilatildeo de conferecircncias interfaces com a traduccedilatildeo escrita e implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo de in-teacuterpretes e tradutores DELTA ndash Revista de Documentaccedilatildeo de Estudos em Linguiacutestica Teoacuterica e Aplicada Satildeo Paulo v 19 p 209-236 2003PIZZO A L CAMPELLO A R e S REZENDE P L F QUA-DROS R M de Q Liacutengua Brasileira de Sinais III Apostila do curso de Bacharelado em Letras Libras na modalidade

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a Distacircncia Universidade Federal de Santa Catarina Cen-tro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE) Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2010QUADROS R M de (Org) Estudos surdos III Petroacutepolis RJ Arara Azul 2008______ O tradutor e inteacuterprete de liacutengua brasileira de si-nais e liacutengua portuguesa Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Programa Nacional de Apoio agrave Educaccedilatildeo de Surdos MEC SEESP 2004 QUADROS R M de KARNOPP L B Liacutengua Brasileira de Sinais estudos linguiacutesticos Porto Alegre Artmed 2004 RONAI P Escolas de tradutores Rio de Janeiro Ed Nova Fronteira 1987SANTOS S A Inteacuterpretes de liacutengua de sinais um estudo sobre as identidades Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 198f Universidade Federal de Santa Catarina Flo-rianoacutepolis 2006SEGALA R R Traduccedilatildeo intermodal e intersemioacuteticainter-lingual Portuguecircs brasileiro escrito para Liacutengua Brasileira de Sinais Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 74f Universidade Federal de Santa Catarina Trindade Florianoacute-polis 2010 SOUSA A N de A escrita de surdos uma exploraccedilatildeo de textos em portuguecircs e inglecircs Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Lin-guiacutestica Aplicada) 237 f Universidade Estadual do Cearaacute Fortaleza 2008SOUZA X de Performances de traduccedilatildeo para a liacutengua bra-sileira de sinais observadas no curso de Letras-Libras Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 174f Universi-dade Federal de Santa Catariana Florianoacutepolis 2010STROBEL K As imagens do outro sobre a cultura surda Florianoacutepolis Editora da UFSC 2008

UFC Conheccedila o programa UFCTV Disponiacutevel em lthttpwwwufcbrcomunicacao-e-marketing956-conheca-o-pro-grama-ufctvgt Acesso em 6 dez 2012VASCONCELOS M L BARTHOLAMEI JUNIOR L A B Estudos da traduccedilatildeo I Apostila do curso de Bacharelado em Letras Libras na modalidade a Distacircncia Universidade Fe-deral de Santa Catarina Centro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE) Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2009VYGOTSKY L S Internalizaccedilatildeo das funccedilotildees psicoloacutegicas su-periores In VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente o desenvolvimento dos processos psicoloacutegicos superiores Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 69-76

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AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA

FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacute

Marta Cavalcante BenevidesTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (LDB nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996) prevecirc para o alu-nado da Educaccedilatildeo Especial uma praacutetica avaliativa na pers-pectiva formativa de acompanhamento permanente junto ao estudante Deve considerar portanto os aspectos individuais da aprendizagem realizando um diagnoacutestico do que foi apren-dido e favorecendo a aproximaccedilatildeo do professor junto ao agir e pensar do aluno e deste com o objeto de conhecimento A lei recomenda igualmente a realizaccedilatildeo de ajustes sempre que necessaacuterio com o emprego de recursos adequados agraves necessi-dades de cada aprendiz Contudo haacute indiacutecios de que as praacuteti-cas educacionais ainda se centram em atividades que enfati-zam a exposiccedilatildeo de conteuacutedos pelo professor e a passividade do aluno que deve reproduzir a informaccedilatildeo memorizada nos momentos de avaliaccedilatildeo Se essa praacutetica prejudica o desenvol-vimento dos alunos de forma geral provoca consequecircncias mais graves nos alunos que apresentam algum tipo de defici-ecircncia visto que apresentam modos singulares de aprendiza-gem de acordo com as especificidades do seu perfil (BEYER 2005 BRASIL 2001 HADJI 2001 HOFFMANN 2005)

No Ensino Superior a realizaccedilatildeo de uma praacutetica avalia-tiva inclusiva torna-se de modo anaacutelogo um desafio pois de acordo com Demo (2008) a avaliaccedilatildeo na Instituiccedilatildeo de Ensi-

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteMARTA CAVALCANTE BENEVIDES bull TANIA VICENTE VIANA148 d d 149

no Superior (IES) aleacutem de ponderar as diferenccedilas individuais de aprendizagem deve incluir outros aspectos uma vez que a IES tem como papel fundamental formar o aluno para o exer-ciacutecio da cidadania reconstruir continuamente o saber e for-mar pessoas autocircnomas capazes de pensar intervir e influen-ciar o seu ambiente para aleacutem dos limites da universidade

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada ao aluno com deficiecircncia constitui um elemento pedagoacutegico que pode auxi-liar ou dificultar a inclusatildeo do aluno na instituiccedilatildeo de ensino Uma avaliaccedilatildeo realizada de modo intuitivo eou superficial se mostra nociva podendo rebaixar as expectativas do professor em relaccedilatildeo a esse grupo especiacutefico A avaliaccedilatildeo inclusiva deve ser prospectiva e diagnosticar as condiccedilotildees cognitivas emer-gentes natildeo devendo limitar-se agrave verificaccedilatildeo das capacidades adquiridas (BEYER 2005 BRASIL 2001 HADJI 2001 HO-FFMANN 2005)

A Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem do Aluno com Deficiecircncia e os Desafios de sua Inclusatildeo no Ensino Superior

O aluno com deficiecircncia por apresentar condiccedilotildees di-ferenciadas necessita de praacuteticas de ensino e de avaliaccedilatildeo da aprendizagem capazes de atender suas demandas educacio-nais e promover o desenvolvimento das suas capacidades A escola e a universidade inseridas nesse contexto deveratildeo ade-quar a sua praacutetica educativa e avaliativa agrave legislaccedilatildeo vigente visando garantir oportunidades equiparadas de atendimento Para esse alunado existem propostas de avaliaccedilatildeo da apren-dizagem fundamentadas nas ideias de Vygotsky (1896-1934) e no conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)1

1 A ZDP eacute definida como ldquoA distacircncia entre o niacutevel de desenvolvimento real que se costuma determinar atraveacutes da soluccedilatildeo independente de problemas e o niacutevel

Utilizando o conceito de ZDP Guthke apud Beyer (2005) propotildee que natildeo basta que a avaliaccedilatildeo verifique as atu-ais condiccedilotildees do desempenho escolar mas eacute essencial estimu-lar a condiccedilatildeo intelectual do indiviacuteduo frente agraves situaccedilotildees de mediaccedilatildeo em que conceitos e informaccedilotildees venham a provo-car a consolidaccedilatildeo de niacuteveis reais de desenvolvimento Nes-se sentido a verificaccedilatildeo do que foi alcanccedilado pelo aprendiz (rendimento) natildeo eacute suficiente para uma avaliaccedilatildeo adequada tornando imprescindiacutevel a investigaccedilatildeo das condiccedilotildees cogni-tivas emergentes

Para avaliar a aprendizagem dos alunos da Educa-ccedilatildeo Especial durante o ano letivo o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) recomenda a avaliaccedilatildeo formativa ou seja a avaliaccedilatildeo processual com o uso de instrumentos variados e com uma aproximaccedilatildeo da relaccedilatildeo professor-aluno deve acontecer de forma individualizada realizando modificaccedilotildees sempre que necessaacuterio com o emprego de recursos adequados agraves neces-sidades de cada aprendiz A avaliaccedilatildeo tambeacutem deve ser diag-noacutestica ou seja ter por objetivo realizar um diagnoacutestico da si-tuaccedilatildeo da aprendizagem do educando que sirva de base para uma tomada de decisatildeo por parte do avaliador em prol do desenvolvimento e da aprendizagem do aluno Eacute importante tambeacutem avaliar as caracteriacutesticas funcionais do aluno a fim de avaliar as habilidades baacutesicas que ele possui e que lhe per-mitem enfrentar de forma mais ou menos eficaz a demanda educacional (BRASIL 2005 FERNANDES VIANA 2009)

As avaliaccedilotildees da aprendizagem devem sempre conside-rar a situaccedilatildeo vivenciada pelo aluno com deficiecircncia para que o professor possa propor atividades avaliativas contextua-

de desenvolvimento potencial determinado atraveacutes da soluccedilatildeo de problemas sob a orientaccedilatildeo de um adulto ou em colaboraccedilatildeo com companheiros mais capazesrdquo (VYGOTSKY 1994 p 112)

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteMARTA CAVALCANTE BENEVIDES bull TANIA VICENTE VIANA150 d d 151

lizadas As comparaccedilotildees entre os alunos devem ser evitadas mesmo que possuam deficiecircncia similar o aluno deve ser comparado consigo mesmo com a evoluccedilatildeo de suas produ-ccedilotildees e atitudes ao longo do desenvolvimento As adequaccedilotildees nas avaliaccedilotildees realizadas pelo professor devem sempre con-siderar o curriacuteculo comum Outro aspecto a se ponderar eacute a importacircncia dos conteuacutedos presentes na avaliaccedilatildeo visto que a supressatildeo de determinados conteuacutedos podem comprometer uma avaliaccedilatildeo efetiva da aprendizagem O planejamento de uma avaliaccedilatildeo com conteuacutedo diferenciado caracteriza por-tanto uma exclusatildeo que discrimina o aluno por sua deficiecircn-cia Dessa forma satildeo necessaacuterios cuidados especiais na elimi-naccedilatildeo de conteuacutedos (FERNANDES 2010)

Ainda segundo as orientaccedilotildees do MEC satildeo recomen-dadas adequaccedilotildees nos instrumentos avaliativos conforme o tipo de deficiecircncia i) para alunos com deficiecircncia fiacutesica deve ser considerada a utilizaccedilatildeo de Tecnologia Assistiva (TA)2 au-toavaliaccedilatildeo uso de avaliaccedilatildeo digital ii) para a o aluno com deficiecircn cia visual os procedimentos e instrumentos de avalia-ccedilatildeo da aprendizagem que satildeo baseados em referecircncias visu-ais devem ser alterados ou adaptados atraveacutes da transcriccedilatildeo para o sistema Braille3 eou representaccedilotildees em relevo Ou-tras sugestotildees satildeo a avaliaccedilatildeo oral o uso do computador ou da maacutequina de escrever Braille e um tempo ampliado para a realizaccedilatildeo das atividades (iii) a avaliaccedilatildeo da aprendizagem

2 ldquo[] arsenal de recursos e serviccedilos que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiecircncia e consequentemente promover vida independente e inclusatildeordquo (BRASIL 2007d p 31)3 O sistema Braille eacute um coacutedigo ou meio de leitura e escrita para pessoas cegas e foi criado por Louis Braille em 1825 Constitui-se de uma combinaccedilatildeo de 63 pontos que representam as letras do alfabeto os nuacutemeros e outros siacutembolos graacuteficos A combinaccedilatildeo dos pontos eacute obtida pela disposiccedilatildeo de seis pontos baacutesicos organizados em duas colunas verticais dispostas em trecircs pontos do lado esquerdo e trecircs pontos do lado direito (BRASIL 2007c)

da pessoa surda deve considerar a existecircncia do uso de duas liacutenguas por parte do aluno jaacute que a liacutengua de sinais liacutengua de origem do surdo se reflete em suas produccedilotildees escritas em Portuguecircs Portanto o docente ao se deparar com um texto escrito por um aluno surdo deve manter uma atitude diferen-ciada e encarar os supostos erros cometidos na escrita como decorrentes do aprendizado de uma segunda liacutengua (Liacutengua Portuguesa) e da interferecircncia de sua primeira liacutengua (a liacuten-gua de sinais) sobre ela Em todo tipo de avaliaccedilatildeo eacute necessaacute-rio que o ritmo e o estilo individual de aprendizagem do aluno sejam respeitados (BRASIL 2007b FERNANDES 2010)

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada para o alunado com deficiecircncia deve considerar as condiccedilotildees de acessibilida-de4 prevista nos documentos legais brasileiros como a Cons-tituiccedilatildeo Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-caccedilatildeo Nacional (LDB nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996) (BRASIL 2001 2007a)

A praacutetica avaliativa destinada ao aluno com deficiecircncia torna-se um desafio para todos os niacuteveis de ensino inclusive o Ensino Superior que aleacutem de atender as caracteriacutesticas es-peciacuteficas desse alunado deve tambeacutem inserir na avaliaccedilatildeo as-pectos como flexibilidade e autonomia De acordo com Demo (2008) a universidade deve estar comprometida com a re-construccedilatildeo contiacutenua do conhecimento e com a formaccedilatildeo para a cidadania

4 SASSAKI (2005) aponta para a existecircncia de seis dimensotildees da acessibilidade i) arquitetocircnica que diz respeito agrave ausecircncia de barreiras fiacutesicas ii) comunicacional que se refere agrave ausecircncia de barreiras na comunicaccedilatildeo interpessoal escrita e virtual iii) atitudinal concernente a praacuteticas que resultem em superaccedilatildeo de preconceito discriminaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo iv) metodoloacutegica relativa agrave ausecircncia de barreiras nos meacutetodos e teacutecnicas de estudo v) instrumental que se refere agrave ausecircncia de barreiras nos instrumentos e utensiacutelios de estudo nas atividades da vida diaacuteria de lazer esporte e recreaccedilatildeo vi) programaacutetica que consiste na ausecircncia de barreiras invisiacuteveis embutidas em poliacuteticas puacuteblicas em regulamentos e normas

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Assim o aluno que ingressa na universidade deve ter a oportunidade de aprender a aprender reconstruir permanen-temente o conhecimento e saber pensar para melhor inter-vir O conhecimento nessa perspectiva aleacutem de disruptivo eacute tambeacutem poliacutetico porque o sujeito que aprende eacute capaz de histoacuteria proacutepria e caminha para a autonomia de modo que natildeo seja soacute influenciado mas influencie o seu meio natildeo seja submisso mas possa confrontar ideias teorias opiniotildees e re-alidades (DEMO 2008)

Metodologia

O objetivo geral deste estudo foi investigar a praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada aos alunos com defici-ecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do Centro de Humanidades (CH) e da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) de uma IES da rede puacuteblica federal de Fortaleza-Cea-raacute Especificamente intencionou-se i) conhecer as dificulda-des vivenciadas por alunos professores e coordenadores da IES na avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia ii) identificar as condiccedilotildees de acessibilidade referentes agraves praacute-ticas avaliativas iii) reunir contribuiccedilotildees de alunos profes-sores e coordenadores da IES para uma praacutetica inclusiva de avaliaccedilatildeo de aprendizagem

Assim foi realizada uma pesquisa de natureza qualitati-va na forma de um estudo de caso com amostras compostas por i) nove alunos com deficiecircncia matriculados nos cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do CH e da Faced da IES ii) dezenove professores indicados pelos alunos com deficiecircn-cia que haviam ministrado disciplinas para esses alunos no semestre 20102 e iii) sete coordenadores dos cursos em que esses alunos se encontravam matriculados A amostra perfez um total de trinta e cinco sujeitos

Na tabela 1 encontramos a caracterizaccedilatildeo da amostra dos alunos investigados Os estudantes consultados seratildeo ale-atoriamente chamados de A1 A2 A9

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia

MASCULINO

ALUNO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A1 24 Letras-Portuguecircs Auditiva

A2 28 Ciecircncias Sociais Fiacutesica ndash Torcicolo Espas-moacutedico

A3 23 Biblioteconomia Muacuteltipla ndash Fiacutesica e Baixa Visatildeo

A4 45 Pedagogia Visual ndash Baixa Visatildeo FEMININO

ALUNO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A5 22 Letras Espanhol--Literatura

Visual Total ndash Retinoblas-toma

A6 20 Letras-Portuguecircs Fiacutesica ndash Paralisia Cerebral

A7 24 Ciecircncias Sociais Auditiva Moderada ndash Gra-ve

A8 23 Psicologia Baixa Visatildeo ndash Visatildeo Uni-lateral

A9 32 Mestrado em Edu-caccedilatildeo Auditiva

Os coordenadores pesquisados seratildeo aleatoriamente chamados de C1 C2 C7 e os professores que participaram da pesquisa seratildeo chamados aleatoriamente de P1 P2 P19 Vale ressaltar que o nome da instituiccedilatildeo quando presente no relato dos entrevistados foi substituiacutedo pela palavra UNI-VERSIDADE (em letras maiuacutesculas) Os dados obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas junto aos alunos e coor-denadores de curso e atraveacutes de questionaacuterios junto aos pro-fessores no segundo semestre de 2010 foram submetidos agrave anaacutelise de conteuacutedo

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Anaacutelise dos Dados

Formaccedilatildeo docente

A equipe docente pesquisada mostrou-se com qualifica-ccedilatildeo elevada conforme se pode constatar no Graacutefico 1 A forma-ccedilatildeo docente eacute vista como um fator de grande importacircncia para a adequaccedilatildeo dos processos de ensino e avaliaccedilatildeo tornando-se imprescindiacutevel para auxiliar no processo de aprendizado do aluno (BEYER 2005 HOFFMANN 2005 PASCUAL 2006)

GRAacuteFICO 1 ndash Formaccedilatildeo Docente

No entanto para os coordenadores a formaccedilatildeo do do-cente em graus elevados muitas vezes natildeo prepara o profes-sor para a experiecircncia em sala de aula visto que nos cursos de origem natildeo satildeo trabalhadas questotildees pedagoacutegicas nem de teorias do conhecimento e da aprendizagem tampouco de as-suntos referentes ao tema da Educaccedilatildeo Inclusiva

Segundo relato dos coordenadores

A maioria das pessoas que daacute aula na universidade elas nunca se prepararam na vida dela para ser professor Vocecirc imagine uma pessoa que estudou que fez douto-rado ela faz um concurso [] O que ela aprendeu em sala de aula foi com os professores em sala de aula mas ela nunca discutiu a metodologia [] Vocecirc imagina aiacute o

cara que fez Fiacutesica se formou em Fiacutesica o tempo dele foi fazendo caacutelculo e ele aprendeu a dar aula as aulas que ele via foi dos professores dele mas nunca ele discutiu nada Entatildeo ele faz um concurso porque ele tem doutorado domina um conjunto de questotildees que taacute laacute no programa passa e quando ele entra vai laacute no [setor de] Recursos Humanos natildeo tem ningueacutem pra dizer que vaacute fazer um cursinho sobre Pedagogia sobre aprendizado essa coisa toda E eacute assim em quase todo canto Com exceccedilatildeo da Pedagogia que eacute um curso que forma pedagogo Nosso curso aqui eacute muito focado no bacharelado licenciatura aqui eacute uma coisa quase que marginal (C7)Agraves vezes os professores efetivamente tecircm dificuldade de lidar com esse tipo de aluno neacute Noacutes eu tambeacutem tenho dificuldade porque tambeacutem natildeo sou formado para isso neacute Eu natildeo tenho uma capacitaccedilatildeo pra isso mas natildeo necessariamente pra avaliaccedilatildeo agraves vezes ateacute para a proacutepria convivecircncia a gestatildeo da sala de aula com o aluno quando distoa do padratildeo meacutedio do aluno a gente natildeo sabe como fazer No instante em que nos tornamos professores da UNIVERSIDADE eu desco-nheccedilo qualquer formaccedilatildeo que tenha sido proposta pra gente E bom assim enquanto socioacutelogo de formaccedilatildeo eu tambeacutem natildeo tive essa formaccedilatildeo aqui na UNIVER-SIDADE no doutorado na graduaccedilatildeo ou no mestrado tampouco (C4)

Do mesmo modo foi verificado na pesquisa que a ca-pacitaccedilatildeo especiacutefica voltada para o atendimento agraves necessi-dades educacionais da pessoa com deficiecircncia embora consi-derada necessaacuteria pelos coordenadores tem acontecido como uma procura individual e particular de cada professor natildeo existindo ou existindo de forma precaacuteria nos programas que destinam formaccedilatildeo continuada aos seus docentes dentro da universidade

A situaccedilatildeo encontrada na universidade pesquisada estaacute em consonacircncia com o que afirma Hoffmann (2005) sobre a

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realidade encontrada nas universidades brasileiras em que haacute docentes que embora com competecircncia em sua aacuterea de origem possuem formaccedilatildeo pedagoacutegica precaacuteria desconhe-cendo teorias do conhecimento e do curriacuteculo que deveriam fundamentar sua atividade avaliativa

Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia

No que se refere agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem do aluno com deficiecircncia verificou-se que os coordenadores natildeo tecircm informaccedilotildees sobre como acontece a avaliaccedilatildeo da aprendiza-gem voltada para esse alunado dentro da universidade e re-latam a existecircncia de uma avaliaccedilatildeo homogecircnea como uma praacutetica comum na IES que desconsidera as particularidades do aluno A avaliaccedilatildeo que considera a construccedilatildeo individual da aprendizagem reflete uma visatildeo tradicional de avaliaccedilatildeo (HOFFMANN 2005 PERRENOUD 1999)

De acordo com o relato do coordenador

[] imagino que haacute todo um processo complexo inclu-sive muito rico de adequaccedilatildeo disso da proacutepria pessoa a um sistema de Educaccedilatildeo que natildeo tem a tradiccedilatildeo de lidar com as dificuldades das pessoas Todo um sistema ele eacute montado com um pressuposto falso e perigoso que eacute o pressuposto da homogeneidade se trata todos os alunos como se fossem iguais como se partissem do mesmo ponto e como tivessem que chegar ao mesmo ponto Quer dizer natildeo haacute consideraccedilatildeo da personalidade natildeo eacute nem no sentido psicoloacutegico eacute no sentido mais amplo de que cada pessoa eacute uma pessoa com interesse com a proacutepria histoacuteria com dificuldades e com potenciais entatildeo o sistema eacute todo montado para um aluno amorfo padratildeo estereotipado Qualquer pessoa que rompa com essa padronizaccedilatildeo teraacute dificuldades em geral dificul-dades para os docentes tambeacutem (C5)

Para a maioria dos professores a avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem do aluno com deficiecircncia deve apresentar as seguintes caracteriacutesticas I) ser igual para todos alunos com e sem defi-ciecircncia (63) II) abordar o mesmo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade (84) III) apresentar adapta-ccedilotildees conforme o tipo de deficiecircncia (84) IV) dispor de um tempo maior para o aluno com deficiecircncia (68) e V) deve acontecer em sala de aula (84)

De acordo com as informaccedilotildees coletadas os professores entendem a avaliaccedilatildeo do aluno com deficiecircncia em consonacircn-cia com o que eacute proposto pela literatura especializada que as-severa que o planejamento de uma avaliaccedilatildeo para o aluno com deficiecircncia deve considerar o curriacuteculo comum Um conteuacutedo diferenciado ou a supressatildeo arbitraacuteria de conteuacutedos com o ob-jetivo de tornar a avaliaccedilatildeo mais faacutecil caracterizariam uma ex-clusatildeo discriminando-se o aluno por sua deficiecircncia A maio-ria dos professores respondeu tambeacutem que o aluno precisa de maior tempo para a realizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo outra estra-teacutegia adaptativa apontada pela literatura em que o professor deve considerar que o aluno com deficiecircncia pode alcanccedilar os mesmos objetivos do grupo poreacutem com um periacuteodo maior de tempo (FERNANDES 2010)

Foi constatada nos depoimentos dos alunos a exis-tecircncia de algumas adaptaccedilotildees na avaliaccedilatildeo da aprendizagem tais como substituiccedilatildeo do seminaacuterio por instrumentos escri-tos para o aluno com deficiecircncia auditiva que natildeo conhecia a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) (A1) o uso do computa-dor como recurso para auxiliar nas provas escritas ou provas orais para o estudante cego (A3 A4 A5 A8) provas orais para o aluno com torcicolo espasmoacutedico (A2) e o tempo es-tendido para entrega dos trabalhos (A2 A9) A boa relaccedilatildeo entre professor e aluno apareceu como elemento fundamental

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para adaptar os instrumentos avaliativos agraves necessidades dos educandos visto que nem sempre o professor sabe como pro-ceder (A2 A3 A4 A5 A8)

As adequaccedilotildees encontradas na universidade estatildeo de acordo com o que estabelece a literatura especializada devem contar com o uso de recursos adequados agraves necessidades de cada aprendiz como o uso de material em Braille para o aluno cego a presenccedila do inteacuterprete de Libras para o aluno surdo o uso de provas orais quando necessaacuterio e a extensatildeo de tem-po para entrega de trabalhos dentre outros (BRASIL 2005 FERNANDES 2010)

Por outro lado os alunos relataram uma seacuterie de dificul-dades enfrentadas em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem O desconhecimento por parte do professor da existecircncia do aluno com deficiecircncia em sua sala de aula antes do iniacutecio do periacuteodo letivo impede um planejamento que considere as es-pecificidades do aluno Os estudantes relataram que os pro-fessores na maioria das vezes desconhecem o fato de que le-cionaratildeo para alunos com deficiecircncia e quando os encontram em sala de aula sequer o procuram para investigar sobre a melhor forma de realizar a avaliaccedilatildeo Houve ainda relatos de situaccedilotildees em que o aluno com deficiecircncia foi dispensado da avaliaccedilatildeo e momentos em que participou das avaliaccedilotildees em condiccedilotildees desfavoraacuteveis frente agraves condiccedilotildees apresentadas aos demais alunos por falta de recursos que pudessem auxiliaacute--lo Essas atitudes natildeo estatildeo em consonacircncia com a literatura especializada que afirma ser necessaacuteria a identificaccedilatildeo das caracteriacutesticas cognitivas do aluno com deficiecircncia para uma praacutetica pedagoacutegica adequada As adaptaccedilotildees devem conside-rar o curriacuteculo natildeo podendo o aluno ser dispensado da avalia-ccedilatildeo (BEYER 2005 FERNANDES 2010)

Segundo relato de um dos alunos

[] professor nesse semestre pediu uma siacutentese de um texto que eu natildeo tinha como ler porque natildeo foi possiacutevel digitalizar Eu tentei digitalizar mas a digitalizaccedilatildeo natildeo saiu boa o texto natildeo existia na internet eacute de uma obra claacutessica e eu natildeo consegui fazer a siacutentese porque eu natildeo tive como ler o texto E aiacute eu tentei de todas as ma-neiras que eu pude Eu realmente fiz muito esforccedilo pra digitalizar esse texto mas natildeo foi possiacutevel e aiacute eu falei com o professor e ele disse entatildeo vocecirc se compromete a ler a tentar de alguma maneira ler esse texto ateacute vocecirc se formar porque eacute um claacutessico e eu dispenso vocecirc de fazer essa parte (A8)

Os relatos demonstraram que as accedilotildees pedagoacutegicas de ensino e avaliaccedilatildeo para o aluno com deficiecircncia ainda se en-contram inadequadas A falta de conhecimento do professor sobre as praacuteticas pedagoacutegicas apropriadas e sobre os recursos que possam auxiliar o aluno a desenvolver seu aprendizado de forma mais adequada satildeo fatores que prejudicam o aluno den-tro da instituiccedilatildeo Mesmo fazendo parte de uma instituiccedilatildeo de ensino regular o que se percebe eacute que muitas vezes o aluno procura recursos e alternativas que possam ajudaacute-lo a superar as necessidades que apresenta nem sempre contando com o auxiacutelio ou a compreensatildeo dos demais agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem As adaptaccedilotildees realizadas revelaram-se como alternativas emergenciais devido agrave ausecircn-cia de recursos apropriados na universidade ou agrave falta de co-nhecimentos do professor sobre a melhor maneira de proceder

Inclusatildeo acessibilidade

A universidade apresentou a existecircncia de alguns re-cursos para a acessibilidade Os recursos conhecidos pelos

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coordenadores satildeo i) transposiccedilatildeo para o Braille serviccedilo re-alizado pela biblioteca ii) acesso agrave inteacuterprete de Libras iii) alguns computadores com programas para o deficiente visu-al iv) a existecircncia de uma secretaria especiacutefica para trabalhar questotildees da inclusatildeo na universidade Por outro lado foi ve-rificada a ausecircncia de recursos essenciais para a garantia da acessibilidade dos alunos com deficiecircncia como laboratoacuterios de informaacutetica sem softwares adequados para o aluno com deficiecircncia visual

Dos professores entrevistados 58 desconheciam os recursos oferecidos pela universidade para o atendimento ao aluno com deficiecircncia E os que revelaram conhecer relata-ram a existecircncia de suporte de Psicologia da UNIVERSIDA-DE (P1) presenccedila de softwares para o aluno cego (P4) Proje-to UNIVERSIDADE Inclui [projeto anterior agrave inauguraccedilatildeo da secretaria com objetivo de promover a inclusatildeo na universi-dade estudada] (P14 P19) Secretaria de Acessibilidade (P1) adaptaccedilatildeo do material didaacutetico para o aluno com deficiecircncia visual como o Braille e a transposiccedilatildeo para a versatildeo eletrocircni-ca realizada pela biblioteca (P5 P12 P15 P19) Um dos pro-fessores natildeo especificou qual recurso conhece e relatou natildeo precisar utilizar nenhum recurso

Relaccedilotildees interpessoais

As relaccedilotildees interpessoais aparecem como fator de grande importacircncia para a motivaccedilatildeo e o aprendizado do aluno po-dendo favorecer ou dificultar o processo de aprendizado A boa qualidade da relaccedilatildeo entre o aluno com deficiecircncia e o professor contribui de forma positiva para o aprendizado e a motivaccedilatildeo do aluno no ambiente acadecircmico A ausecircncia de conhecimen-tos teacutecnicos por parte do professor sobre o ensino e avaliaccedilatildeo

apropriados para o aluno com deficiecircncia pode ser mais facil-mente contornada se houver uma boa relaccedilatildeo com o professor

[] eu sempre me relacionei muito bem com os profes-sores daqui e nunca teve assim nenhuma rejeiccedilatildeo quanto ao meu meacutetodo de avaliaccedilatildeo E quando o professor natildeo sabe muito bem o que fazer entatildeo a gente senta conversa sobre de que maneira eu posso ser avaliado e tal [] (A3)

Na relaccedilatildeo entre docente e discente foram relatadas situaccedilotildees tanto de intransigecircncia quanto de aceitaccedilatildeo O comprometimento e a disposiccedilatildeo de todos os sujeitos partici-pantes do processo de ensino-aprendizagem eacute de grande im-portacircncia para a plena efetivaccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo Inclusiva (BEYER 2005)

No caso do professor receptivo

Pra mim o caso mais interessante foi o dessa aluna com deficiecircncia auditiva que eu notava que ela natildeo conseguia se expressar oralmente logo nos primeiros dias de aula E aiacute eu fui conversar com ela e ela me explicou que tinha um problema de deficiecircncia auditiva e a partir desse dia ela me explicou que sabia fazer leitura labial e a partir desse dia eu passei a dar aula olhando pra ela tentava mesmo que eu mudasse de posiccedilatildeo como eu dou aula em peacute andando eu tava sempre o tempo todo a olhar pra ela Eu me lembro que ela assistiu alguns seminaacuterios e eu chamei os alunos que iam apresentar seminaacuterios pedi permissatildeo a ela antes e ela autorizou que fosse dito que ela tinha deficiecircncia auditiva que os alunos falassem olhando pra ela (C4)

No caso do professor intransigente

Eu reprovei por um trabalho um grande trabalho dele que eu levei eu tinha frac34 do trabalho feito ele nem aceitou natildeo quis nem ver Entatildeo pra mim isso eacute muita intransigecircncia eacute sofriacutevel ter esse relacionamento com

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os coordenadores com os professores que natildeo podem me dar uma abertura ou me escutar Isso que eacute o pior que eu acho natildeo ser escutado (A2)

A falta de uma formaccedilatildeo adequada para lidar com alu-nos com deficiecircncia em sala de aula apresentou-se como ele-mento comum agrave variaccedilatildeo de atitudes apresentada pelo docen-te A conduta profissional desse modo depende dos valores pessoais do docente e natildeo estaacute pautada em conhecimentos es-pecializados sobre o assunto Na situaccedilatildeo encontrada na uni-versidade percebemos a existecircncia de uma realidade em que as reaccedilotildees do grupo podem facilitar pela empatia ou preju-dicar pelo preconceito ou incompreensatildeo o desenvolvimento global do indiviacuteduo Os professores como participantes do grupo social estatildeo imbuiacutedos desses valores que afetaratildeo suas praacuteticas de ensino e avaliaccedilatildeo A expectativa que o professor elabora sobre a aprendizagem do aluno pode interferir de modo significativo no processo de ensino-aprendizagem de modo que o comportamento do aluno seja modelado pela ex-pectativa do professor e este por sua vez responde de acordo com o que ele supotildee ser possiacutevel ao seu aluno (BEYER 2005 ROSENTHAL JACOBSON 1968)

Os depoimentos dos alunos revelam haver dentro da universidade atitudes de aceitaccedilatildeo e solidariedade mas tam-beacutem atitudes de estranhamento em relaccedilatildeo agrave pessoa com deficiecircncia As primeiras demonstram auxiliar o aluno no processo de Inclusatildeo favorecendo o aprendizado e ajudando a preencher lacunas deixadas pelos serviccedilos ainda natildeo ade-quados agraves necessidades do alunado No entanto as demais atitudes ainda revelam a existecircncia de um desconhecimento tambeacutem por parte do aluno das formas de lidar com a pessoa com deficiecircncia e das necessidades apresentadas por esse alu-nado Essa atitude indica um reflexo de uma sociedade ainda

natildeo preparada para o modelo de Inclusatildeo em que as insti-tuiccedilotildees os serviccedilos e os procedimentos ainda satildeo pensados e montados para um puacuteblico homogecircneo padratildeo sem deman-das especiacuteficas

Dificuldades enfrentadas

Os coordenadores de curso revelaram natildeo ter acesso agraves dificuldades do aluno com deficiecircncia em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem o que dificulta inclusive o reconhecimento das demandas discentes e a solicitaccedilatildeo agraves instacircncias superio-res de recursos que atendam a essas necessidades A coorde-naccedilatildeo aparece como um oacutergatildeo burocraacutetico onde natildeo haacute dis-cussotildees rotineiras sobre a aprendizagem do aluno A ausecircncia de recursos humanos capacitados para lidar com o aluno com deficiecircncia a ausecircncia ou insuficiecircncia de recursos didaacuteticos e de recursos que possibilitem a acessibilidade instrumental a falta de acessibilidade arquitetocircnica e a natildeo identificaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia foram indicadas pelos coordenadores como dificuldades enfrentadas para a efetivaccedilatildeo de uma ava-liaccedilatildeo inclusiva

De acordo com as respostas apresentadas pelos pro-fessores as dificuldades enfrentadas pelos docentes satildeo i) a ausecircncia de formaccedilatildeo adequada (P2 P4 P7 P10 P15 P16 P17 P19) ii) a falta de adequaccedilatildeo dos espaccedilos fiacutesicos (P1 P14 P17) iii) a ausecircncia ou insuficiecircncia de recursos (P6 P13 P14 P17 P18) iv) o fato de que os professores natildeo conhecem os recursos nem a forma de acessaacute-los (P10 P18) Cinco profes-sores relataram natildeo apresentar dificuldades e um professor natildeo respondeu

Os alunos apresentaram como dificuldades i) o fato de que o professor natildeo tem o conhecimento preacutevio de que iraacute le-

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cionar para o aluno com deficiecircncia e como consequecircncia natildeo conhece as caracteriacutesticas de aprendizagem do aluno (A2 A7 A8) ii) a falta de comunicaccedilatildeo entre professores e alunos bem como a intransigecircncia do professor (A2) iii) a falta de acessibilidade arquitetocircnica (A3) iv) a falta de recursos para a acessibilidade instrumental (A3 A5 A8) v) a dificuldade de redigir textos e a demora do processo em conseguir o inteacuter-prete de Libras foi apresentada pela aluna com surdez

Vale ressaltar que a falta de acessibilidade arquitetocirc-nica e instrumental aparece no discurso de coordenadores e alunos como impeditivo para a entrada do aluno na universi-dade No relato de um dos alunos

[] Eu falo minhas porque minhas soacute tem eu aqui Mas a partir do momento que as necessidades forem aceitas o que vai ter de deficiente entrando na univer-sidade vocecirc natildeo queira nem saber Porque o pessoal fala assim natildeo natildeo vou entrar na universidade natildeo porque natildeo tem nenhuma acessibilidade laacute [] Eu fre-quentei o Instituto dos Cegos um ano e meio Tinham pessoas laacute que falaram isso eu natildeo vou me dar o tra-balho de passar na universidade pra chegar laacute e ter que ficar lutando pelos meus direitos os meus direitos jaacute satildeo os meus direitos as pessoas tecircm que saber que eles existem Claro que vocecirc vecirc agraves vezes as pessoas dando essa desculpa de natildeo tentar a universidade Mas ou-tras pessoas que eu via que tinham potencial diziam o que me mata eacute essa ideia de chegar na universidade e ela natildeo estar preparada pra me receber (A3)

As dificuldades enfrentadas pelos alunos e a forma como satildeo administradas pelos oacutergatildeos superiores podem in-terferir negativamente para a entrada e permanecircncia do aluno no Ensino Superior A demora na resoluccedilatildeo dos problemas existentes acaba por desestimular o aluno e interferir em seu desempenho na universidade A longa espera para a resoluccedilatildeo

dos problemas traz um sentimento de solidatildeo para o aluno e muitas vezes ele acaba por resignar-se e aceitar a realidade imposta adequando-se ao que estaacute posto

Sugestotildees

Os trecircs grupos de sujeitos pesquisados apresentaram como sugestotildees i) o investimento em um setor que possa dar suporte para profissionais da Educaccedilatildeo e para o aluno (C1 C2 C3 C7 P1 P7 P18 A2 A7) ii) a importacircncia de identificar o aluno para que haja um conhecimento preacutevio do professor sobre o aluno com deficiecircncia suas caracteriacutesticas de aprendi-zado e suas limitaccedilotildees (C1 P4 P5 A2 A5 A8) iii) a aquisiccedilatildeo de equipamentos e recursos para auxiliar professores e alunos no processo de ensino-aprendizagem e a adequaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico apareceu nas sugestotildees dos professores de um coorde-nador e um aluno (C1 P6 P8 P10 P13 P14 P18 P19 A3) A capacitaccedilatildeo docente a realizaccedilatildeo de seminaacuterios de discussotildees sobre temas pedagoacutegicos e o atendimento ao aluno com de-ficiecircncia apareceu como sugestatildeo dada por coordenadores e professores (C2 C6 C5 C7 P1 P2 P3 P6 P15 P19) As mu-danccedilas nas atitudes e metodologias dos professores e adequa-ccedilatildeo de avaliaccedilotildees agraves especificidades das necessidades de cada aluno apareceram no discurso de professores e alunos (P8 P9 P11 P12 A1 A2 A3 A4 A9) A valorizaccedilatildeo da unidade da coordenaccedilatildeo foi sugerida apenas por um coordenador (C7)

Conclusatildeo

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem eacute um elemento pedagoacutegico que pode auxiliar ou dificultar a inclusatildeo do aluno na instituiccedilatildeo de ensino Para que esta seja inclusiva faz-se necessaacuterio consi-

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteMARTA CAVALCANTE BENEVIDES bull TANIA VICENTE VIANA166 d d 167

derar uma seacuterie de fatores como o conhecimento das necessi-dades educacionais apresentadas pela pessoa com deficiecircncia a adequaccedilatildeo dos instrumentos avaliativos conforme as especi-ficidades do perfil do aluno o uso de uma avaliaccedilatildeo formativa e diagnoacutestica que possibilitem o avanccedilo do conhecimento dis-cente A avaliaccedilatildeo deve ser ainda prospectiva natildeo devendo portanto se limitar agrave verificaccedilatildeo das capacidades adquiridas (BEYER 2005 BRASIL 2005 LUCKESI 2001 2005)

A pesquisa revelou que as condiccedilotildees de acessibilida-de no que diz respeito agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem ainda se encontram insuficientes Embora a maioria dos professores apresente concepccedilotildees sobre a avaliaccedilatildeo desse alunado que es-tejam de acordo com o que propotildee a literatura especializada as praacuteticas ainda natildeo atendem de modo satisfatoacuterio as de-mandas apresentadas pelo aluno que apresente algum tipo de deficiecircncia As dificuldades se referem a uma formaccedilatildeo docen-te inadequada agrave falta de adequaccedilatildeo fiacutesica e agrave ausecircncia de uma maior discussatildeo sobre o tema da Educaccedilatildeo Inclusiva que atin-ja a todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem As sugestotildees apontam para a importacircncia de investimento em recursos materiais e humanos

Diante do exposto a inclusatildeo educacional do aluno com deficiecircncia se torna um desafio visto que as praacuteticas ava-liativas atuais ainda acabam por excluir aqueles alunos que possuem maneiras diferenciadas de aprender e de vivenciar o mundo A realidade observada ainda natildeo reflete a existecircncia de uma verdadeira inclusatildeo do aluno com deficiecircncia na IES investigada Ainda estamos vivenciando praacuteticas que apenas integram o aluno na universidade sem contudo oferecer condiccedilotildees para o seu desenvolvimento pleno A verdadeira inclusatildeo aparece ainda como um grande desafio mas espera-mos que muito em breve ela seja alcanccedilada de modo a pos-

sibilitar a efetivaccedilatildeo do que estaacute previsto por lei e eacute buscado por tantos brasileiros vivenciar de forma plena a cidadania atraveacutes dos direitos jaacute legalmente conquistados

Referecircncias Bibliograacuteficas

BEYER H O Inclusatildeo e avaliaccedilatildeo na escola de alunos com necessidades educacionais especiais Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2005BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988 com as alteraccedilotildees adotadas pelas Emendas Constitucionais n 192 a 532006 e pelas Emendas Constitucionais de Revisatildeo n 1 a 694 Brasiacutelia Senado Federal Subsecretaria de Edi-ccedilotildees Teacutecnicas 2007a______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o Atendimento Educacional Especializado deficiecircncia vi-sual Brasiacutelia-DF MECSEEDSEESP 2007b______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o atendimento educacional especializado deficiecircncia vi-sual Brasiacutelia-DF MECSEESP 2007c______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o Atendimento Educacional Especializado deficiecircncia fiacutesica Brasiacutelia-DF MECSEEDSEESP 2007d______ Avaliaccedilatildeo para identificaccedilatildeo das necessidades edu-cacionais especiais saberes e praacuteticas da inclusatildeo Brasiacutelia-DF MECSEESP 2005 ______ Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional nordm 9394 de 20 de outubro de 1996 Brasiacutelia-DF MECSEESP 2001DEMO P Universidade aprendizagem e avaliaccedilatildeo hori-zontes reconstrutivos Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2008

d 169MARTA CAVALCANTE BENEVIDES bull TANIA VICENTE VIANA168 d

FERNANDES T L G Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo documental das diretrizes oficiais 2010 152 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2010FERNANDES T L G VIANA T V Alunos com necessidades educacionais especiais (NEEs) avaliar para o desenvolvimen-to pleno de suas capacidades Estudos em Avaliaccedilatildeo Educa-cional Satildeo Paulo v 20 n 43 p 201-213 maioago 2009HADJI C Avaliaccedilatildeo desmistificada Porto Alegre Artmed 2001 HOFFMANN J Pontos e contrapontos do pensar ao agir em avaliaccedilatildeo Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2005 LUCKESI C C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem na escola reelabo-rando conceitos e recriando a praacutetica Salvador Malabares 2005______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem escolar Satildeo Paulo Cortez 2001PASCUAL J G Educaccedilatildeo Superior reflexotildees acerca da ava-liaccedilatildeo In PASCUAL J G DIAS A M I (Org) Fragmen-tos Filosofia Sociologia Psicologia o que isso interessa agrave educaccedilatildeo Fortaleza Brasil Tropical 2006 p 175-192PERRENOUD P Avaliaccedilatildeo da excelecircncia agrave regulaccedilatildeo das aprendizagens ndash entre duas loacutegicas Porto Alegre Artmed 1999ROSENTHAL R JACOBSON L Pygmalion in the class-room teacher expectation and pupilrsquos intellectual develop-ment New York Holt Rhinehat amp Winston 1968SASSAKI R K Inclusatildeo o paradigma do seacuteculo 21 Inclu-satildeo Revista da Educaccedilatildeo Especial Brasiacutelia ano I n1 p 19-23 out 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscribdcomdoc35852350Sassaki-R-K-Inclusao-o-paradigma-do--sec-21gt Acesso em 12 fev 2011VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente o desenvolvi-mento dos processos psicoloacutegicos superiores Satildeo Paulo Mar-tins Fontes 1994

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO

DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacute

Francisca Samara Teixeira CarvalhoTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

As praacuteticas avaliativas traduzem o ecircxito ou o fracas-so do aluno em sua aprendizagem atribuindo valores que marcaratildeo significativamente toda a sua trajetoacuteria escolar e mesmo a sua vida pessoal Quando realizadas de forma con-vencional segundo a definiccedilatildeo do exame impedem a mudan-ccedila de uma tradicional e persistente praacutetica pedagoacutegica fun-damentada na memorizaccedilatildeo e na reproduccedilatildeo de conteuacutedo como tambeacutem na relaccedilatildeo distanciada entre professor e aluno regulada por uma autoridade imposta pelo medo O exame se diferencia sobretudo por sua natureza classificatoacuteria e so-mativa direcionada para os resultados finais em detrimento de uma visatildeo processual da aprendizagem (LUCKESI 2001 2005 2011 PERRENOUD 1999)

Com isso a avaliaccedilatildeo formativa se revelou um modelo mais adequado para avaliar os alunos na atualidade por natildeo ser de caraacuteter classificatoacuterio nem pontual Dessa maneira natildeo eacute excludente demonstrando sua importacircncia no processo avaliativo com elementos capazes de responder e respeitar as necessidades limitaccedilotildees e possibilidades de cada aluno acer-ca da sua aprendizagem Tem-se percebido a importacircncia dos modelos que propotildeem uma avaliaccedilatildeo formativa de aspecto contiacutenuo considerando a construccedilatildeo individual e coletiva do

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FORTALEZA-CEARAacuteFRANCISCA SAMARA TEIXEIRA CARVALHO bull TANIA VICENTE VIANA170 d d 171

educando oferecendo-lhe apoio pedagoacutegico adequado agraves suas particularidades especialmente em termos de aprendizagem desafiando-o a ir adiante a avanccedilar em suas possibilidades nas atividades escolares auxiliando assim em sua formaccedilatildeo como sujeito

Diante dessa realidade tambeacutem vivenciada por alunos com deficiecircncia nos meios educacionais o exame demonstra um caraacuteter comparativo excludente e discriminatoacuterio em que a praacutetica avaliativa tradicional se limita agrave classificaccedilatildeo e agrave iden-tificaccedilatildeo das dificuldades e fragilidades desses alunos Por cau-sa disso esses aprendizes enfrentam mais uma dificuldade em suas vidas a de encontrar um ambiente educacional propiacutecio ao desenvolvimento de suas capacidades visto que apresen-tam modos singulares de aprender de acordo com as especifi-cidades de seu perfil (BEYER 2010 VYGOTSKY 2000)

A realidade avaliativa encontrada no Ensino Superior acaba por prejudicar de uma forma geral o desenvolvimen-to dos alunos principalmente aqueles com algum tipo de de-ficiecircncia visto que objetiva de modo geral uma verificaccedilatildeo estaacutetica do seu ldquosucessordquo ou ldquofracassordquo escolar com base no desempenho acadecircmico expresso pelo valor numeacuterico de uma nota Nesse contexto o aluno com deficiecircncia eacute frequente-mente excluiacutedo das atividades cotidianas estigmatizado e impedido da convivecircncia social agrave qual possui direito A uni-versidade tem que estar atenta ao conhecimento e agrave aprendi-zagem dos alunos com deficiecircncia no intuito de favorecer no-vas perspectivas para a melhor formaccedilatildeo desse alunado Aleacutem disso eacute necessaacuterio contribuir para a sua devida inclusatildeo no Ensino Superior pois a universidade deve formar natildeo soacute para o mercado de trabalho mas sobretudo para uma consciecircncia criacutetica e o exerciacutecio da cidadania (DEMO 2005)

A Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem como Mediadora da Inclusatildeo no Ensino Superior

A Pedagogia do Exame se fundamenta na Pedagogia Tradicional A praacutetica do exame ainda se encontra presente nos nossos meios educacionais priorizando notas em detri-mento da real aprendizagem do aluno Prejudica portan-to o desenvolvimento dos alunos de forma geral e provoca consequecircncias mais graves nos estudantes que apresentam algum tipo de deficiecircncia Essa realidade natildeo permite ao aluno com deficiecircncia encontrar no ambiente de ensino um local para o desenvolvimento das suas potencialidades Apesar de solicitarem intervenccedilotildees pedagoacutegicas diferencia-das capazes de atender suas necessidades e de promover o desenvolvimento das suas capacidades o aluno com defi-ciecircncia se depara com uma realidade de ensino e avaliaccedilatildeo que se limita agrave classificaccedilatildeo normativa1 e agrave identificaccedilatildeo das suas limitaccedilotildees e dificuldades (BENEVIDES 2011 BEYER 2010 LUCKESI 2011)

Beyer (2010) aponta a existecircncia de cinco paradigmas na Educaccedilatildeo Especial que refletem diretamente no mode-lo de avaliaccedilatildeo adotado Cumpre mencionar que a sucessatildeo desses paradigmas natildeo eacute linear pois mesmo o mais antigo baseado na concepccedilatildeo meacutedica da deficiecircncia ainda persiste em permanecer Na reflexatildeo do autor os paradigmas identi-ficados satildeo I) cliacutenico-meacutedico II) sistecircmico III) socioloacutegico IV) criacutetico-materialista e V) inclusivo Esses pontos de vista foram construiacutedos historicamente pela sociedade e a forma de avaliar as pessoas com deficiecircncia estaacute atrelada a eles

1 Uma avaliaccedilatildeo de referecircncia normativa compara os alunos em relaccedilatildeo a uma norma ou padratildeo hierarquizando-os e assim reproduz as desigualdades sociais (PERRENOUD 1999)

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O paradigma cliacutenico-meacutedico enfoca a pessoa com defi-ciecircncia de maneira extremamente individualizada A praacutetica da avaliaccedilatildeo ocorre atraveacutes de aspectos cliacutenicos da deficiecircncia A partir da histoacuteria cliacutenica do sujeito eacute indicada uma escola espe-cial onde o indiviacuteduo obteraacute atendimento terapecircutico em vez de accedilatildeo pedagoacutegica especializada No paradigma sistecircmico a deficiecircncia eacute avaliada por meio de demandas impostas pelo sis-tema escolar no que diz respeito ao curriacuteculo o paracircmetro nor-mativo que eacute estabelecido identifica os que natildeo se adaptam Os procedimentos avaliativos satildeo seletivos e encaminham o aluno avaliado para a escola regular ou para a especial

No paradigma socioloacutegico a deficiecircncia eacute definida atraveacutes da atribuiccedilatildeo social em que as reaccedilotildees do grupo po-dem prejudicar (pela incompreensatildeo ou preconceito) ou faci-litar (pela compreensatildeo ou empatia) o desenvolvimento glo-bal do indiviacuteduo O paradigma criacutetico-materialista entende a deficiecircncia como uma limitaccedilatildeo ou ateacute uma incapacidade para a vida produtiva por se fundamentar numa sociedade de classes a avaliaccedilatildeo torna-se um modo efetivo de excluir a pessoa com deficiecircncia natildeo apenas do meio educacional mas sobretudo do mercado de trabalho (BEYER 2010)

O paradigma inclusivo eacute muito discutido atualmente pois visa amenizar e mesmo superar a segregaccedilatildeo e o precon-ceito estabelecidos historicamente possibilitando uma maior interaccedilatildeo social entre as pessoas com deficiecircncia A avaliaccedilatildeo da aprendizagem pode contribuir no sentido de incentivar essa interaccedilatildeo progredindo da visatildeo cliacutenico-meacutedica para a concepccedilatildeo inclusiva considerando natildeo somente os limites demarcados pela deficiecircncia mas principalmente as poten-cialidades do indiviacuteduo

As avaliaccedilotildees da aprendizagem devem sempre conside-rar a situaccedilatildeo vivenciada pelo aluno com deficiecircncia para que

o professor possa propor atividades avaliativas adequadas e contextualizadas Cabe ao docente o papel de considerar a avaliaccedilatildeo tendo como base o curriacuteculo regular respeitando o caraacuteter processual da aprendizagem de modo a permitir alteraccedilotildees nas tomadas de decisatildeo As comparaccedilotildees entre os alunos devem ser evitadas mesmo que possuam deficiecircncia similar pois cada pessoa eacute uacutenica O estudante deve ser com-parado consigo mesmo com a evoluccedilatildeo de suas produccedilotildees e atitudes ao longo do seu desenvolvimento (BEYER 2010 FERNANDES 2010)

No que diz respeito agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alu-nos com deficiecircncia recomenda-se oficialmente I) mediaccedilotildees complementares oferecidas em salas de recursos ou similares para alunos com deficiecircncia em turmas comuns II) a presenccedila em sala de aula de inteacuterpretes da Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) para surdos III) o uso de proacuteteses auditivas sempre que necessaacuterias ou de lupas para alunos com visatildeo subnormal IV) o ensino da Libras para alunos surdos e para surdos-cegos das liacutenguas de sinais digitais tadoma2 e outras teacutecnicas V) o uso de computadores se houver e a acessibilidade a estes para todos os alunos VI) a participaccedilatildeo (frequecircncia e condiccedilotildees de apoio) de profissionais da Educaccedilatildeo Especial como especia-listas em meacutetodos e recursos especiacuteficos para ajudar a alunos professores e familiares VII) diversidade de materiais VIII) utilizaccedilatildeo pelo professor de variados recursos pedagoacutegicos IX) planos elaborados flexiacuteveis para atender agrave diversidade do alunado X) respeito aos ritmos diferenciados de aprendi-

2 ldquoOs surdos-cegos possuem diversas formas para se comunicar com as outras pessoas A LIBRAS Liacutengua Brasileira de Sinais desenvolvida para a educaccedilatildeo dos portadores de deficiecircncia auditiva pode ser adaptada aos surdos-cegos utilizando-se o tato Colocando a matildeo sobre a boca e o pescoccedilo de um inteacuterprete o portador de surdo-cegueira pode sentir a vibraccedilatildeo de sua voz e entender o que estaacute sendo dito esse meacutetodo de comunicaccedilatildeo eacute chamado de tadomardquo (USP 2012)

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zagem dos alunos XI) ajuda individualizada a determinados aprendizes conforme suas necessidades pedagoacutegicas XII) utilizaccedilatildeo de linguagens e coacutedigos aplicaacuteveis para estudantes que apresentem dificuldades de comunicaccedilatildeo e sinalizaccedilatildeo di-ferenciadas dos demais alunos XIII) avaliaccedilatildeo por meio de vaacute-rias tarefas em diferentes contextos XIV) avaliaccedilatildeo da praacutetica docente pelos educandos XV) a participaccedilatildeo dos alunos em processos autoavaliativos (BRASIL 2006)

A universidade precisa acolher e cumprir o objetivo de educar os alunos com deficiecircncia adaptando-se agraves suas pe-culiaridades no campo da aprendizagem Deve-se lutar por-tanto para a conquista de uma nova cultura avaliativa mais democraacutetica para com a diversidade cultural e com as neces-sidades individuais presentes nas instituiccedilotildees de ensino apta a estimular as possibilidades do aluno em seu processo de apropriaccedilatildeo dos conhecimentos A avaliaccedilatildeo realizada nesses moldes torna-se inclusiva (FERNANDES VIANA 2009)

Metodologia O objetivo geral deste estudo consistiu em investigar a

praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem realizada junto aos alu-nos com deficiecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do Centro de Tecnologia de uma Instituiccedilatildeo Federal de Ensino Superior (IFES) da rede puacuteblica federal de ensino na cidade de Fortaleza-Cearaacute Especificamente ob-jetivou I) conhecer as dificuldades vivenciadas por alunos professores e coordenadores da IFES na avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem de alunos com deficiecircncia II) identificar as condiccedilotildees de acessibilidade referentes agraves praacuteticas avaliativas III) reunir contribuiccedilotildees de alunos professores e coordenadores da IFES para uma praacutetica inclusiva de avaliaccedilatildeo de aprendizagem

Para esse propoacutesito foi efetuada uma investigaccedilatildeo de natureza qualitativa na forma de um estudo de caso Os ins-trumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevis-ta semiestruturada e o questionaacuterio misto Foi realizada uma anaacutelise de conteuacutedo dos dados coletados As amostras foram constituiacutedas por sete alunos com deficiecircncia sete professores indicados pelos proacuteprios alunos e quatro coordenadores per-fazendo um total de 18 sujeitos investigados

Na Tabela 1 eacute caracterizada a amostra dos alunos inves-tigados Foram encontrados trecircs tipos de deficiecircncia auditi-va visual e motora

TABELA 1 ndash Distribuiccedilatildeo dos Tipos de Deficiecircncias dos Alunos

Frequecircncia Percentual PercentualAcumulado

Vaacutelido Auditiva 1 143 143

Visual 2 286 857

Motora 4 571 1000

Total 7 1000Fonte Pesquisa aplicada

Os cursos atendidos na pesquisa foram graduaccedilatildeo em Computaccedilatildeo Engenharia Mecacircnica Teleinformaacutetica e curso de mestrado em Quiacutemica A escolha dos alunos de Ciecircncias Exatas tornou viaacutevel a pesquisa visto que a IFES apresentava registros que possibilitaram a sua identificaccedilatildeo e o respectivo contato

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Anaacutelise dos Dados

Perfil de formaccedilatildeo dos entrevistados docentes e coordenadores

Sobre o niacutevel de instruccedilatildeo dos sete docentes consulta-dos seis apresentam doutorado e um possui poacutes-doutorado Todos os professores e coordenadores investigados apresen-tam portanto niacutevel de qualificaccedilatildeo profissional bastante ele-vado A realidade encontrada na instituiccedilatildeo pesquisada estaacute em consonacircncia com o que afirma Hoffmann (2005) sobre a realidade das IFES brasileiras em que se observa a existecircn-cia de educadores com bastante competecircncia em sua aacuterea de ensino A autora assinala contudo que esse elevado niacutevel de formaccedilatildeo natildeo eacute necessariamente acompanhado de uma base pedagoacutegica apropriada que favoreceria uma melhor atuaccedilatildeo docente no processo de ensino-aprendizagem especialmente no que se refere agrave avaliaccedilatildeo

Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia

De acordo com os dados obtidos no questionaacuterio para a maioria dos professores a avaliaccedilatildeo da aprendizagem do alu-no com deficiecircncia deve apresentar as seguintes caracteriacutesti-cas I) ser igual para todos alunos com e sem deficiecircncia II) abordar o mesmo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade III) apresentar adaptaccedilotildees conforme a deficiecircn-cia IV) natildeo dispor de um tempo maior para o aluno com defi-ciecircncia e V) acontecer em sala de aula

Sobre a avaliaccedilatildeo da aprendizagem da pessoa com defici-ecircncia observou-se que a maioria dos professores (seis) advoga uma avaliaccedilatildeo igual para todos os alunos com ou sem defici-ecircncia A mesma quantidade de docentes se apresenta favoraacutevel

em relaccedilatildeo agrave abordagem do mesmo conteuacutedo com o mesmo niacute-vel de dificuldade para todos os alunos No que concerne agrave ava-liaccedilatildeo com adaptaccedilotildees conforme a deficiecircncia cinco professo-res se mostraram favoraacuteveis Em relaccedilatildeo agrave necessidade de um maior tempo para a realizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo a maioria (cinco) mostrou-se desfavoraacutevel Por fim a maior parte acredita que o aluno com deficiecircncia deve ser avaliado em sala de aula (seis)

A maior parte dos professores pelos dados expostos entende a avaliaccedilatildeo do aluno com deficiecircncia em consonacircncia com o que eacute proposto pela literatura especializada em que de-vem ser realizadas adequaccedilotildees nos instrumentos avaliativos conforme a deficiecircncia apresentada pelo aluno com o mes-mo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade em sala de aula junto aos demais alunos Todavia no que se refere agrave concessatildeo de um maior periacuteodo de tempo para a re-alizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo a maioria dos professores acha natildeo ser necessaacuteria provavelmente por falta de conhecimento sobre como lidar com o aluno com deficiecircncia em suas praacuteticas de ensino e avaliaccedilatildeo O direito a mais tempo para a avaliaccedilatildeo da aprendizagem eacute assegurado por lei (BEYER 2010 BRASIL 2006 FERNANDES 2010 FERNANDES VIANA 2009)

Sobre as demandas apresentadas pelo aluno com de-ficiecircncia em cursos de Ciecircncias Exatas os coordenadores declararam

Ateacute agora natildeo pelo menos ateacute o tempo que estou aqui natildeo posso dizer se antes isso acontecia Teve um caso de uns pais que vieram reclamar da parte da acessi-bilidade aqui no departamento (C1)Isso aiacute a maioria das vezes o aluno resolve com o pro-fessor A nossa demanda e o nosso alunado que entra com algum tipo de deficiecircncia eacute pouco e agraves vezes natildeo temos conhecimento (C2)

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Bom noacutes aqui temos poucos nesse periacuteodo que estou aqui nunca recebi nenhuma solicitaccedilatildeo especial Tive um aluno no comeccedilo do curso que tem deficiecircncia fiacutesica dificuldade de locomoccedilatildeo ele se vira ele anda normal-mente tem muletas e tudo Mas ele nunca chegou pra noacutes para questionar fazer algum tipo de solicitaccedilatildeo pra isso natildeo Natildeo sei se ele tem algum tipo de retraccedilatildeo pra fazer isso Tambeacutem aqui estaacute tudo em obra Mas ateacute hoje natildeo teve nenhum solicitaccedilatildeo em especial natildeo (C3)Natildeo Ateacute agora que eu saiba nenhum veio natildeo (C4)

Constata-se por conseguinte um desconhecimento por parte dos coordenadores das necessidades educacionais desse alunado Percebe-se igualmente a concepccedilatildeo de que esse aluno eacute de responsabilidade do professor e natildeo do co-ordenador A porcentagem reduzida quando comparada ao restante da populaccedilatildeo do curso aparece como justificativa para a falta de mais accedilotildees da coordenaccedilatildeo As relaccedilotildees entre coordenador e aluno constituem um fator importante para a motivaccedilatildeo discente bem como para a busca de novos elemen-tos para a inclusatildeo dos alunos com deficiecircncia Aleacutem disso na ausecircncia de um bom relacionamento a sua inclusatildeo educacio-nal eacute prejudicada (BENEVIDES 2011)

No que diz respeito a uma avaliaccedilatildeo diferenciada os es-tudantes esclarecem

Natildeo Eles natildeo percebem isso os professores natildeo dife-renciam natildeo se importam Mas acho que teve uma vez uma de laboratoacuterio que a gente tem umas disci-plinas praacuteticas era uma prova que teria um tempo por conta da substacircncia que demorava e eu precisava de um tempo a mais Geralmente em laboratoacuterio eu demoro mais aiacute ela considerou permitiu que eu pas-sasse um tempo a mais Mas foi soacute essa vez mesmo (A1)Eacute exatamente como eu citei natildeo Eu acho que no geral satildeo as mesmas condiccedilotildees de tempo as mesmas con-

diccedilotildees de textos Enfim as mesmas condiccedilotildees que satildeo impostas pras pessoas consideradas lsquonormaisrsquo eram impostas pra mim tambeacutem as mesmas condiccedilotildees (A2)Natildeo Normal mesmo Mesmo horaacuterio mesmo tempo mudou nada natildeo (A3)

Natildeo De jeito nenhum nunca Natildeo perguntam nada os professores nem percebem (A4)

Natildeo Nunca ouvi falar nisso aqui na universidade Nem tempo e nem espaccedilo tudo igual para um aluno lsquonormalrsquo (A5)

A prova eacute a mesma Com relaccedilatildeo agrave acessibilidade eacute que eacute difiacutecil mesmo porque tem professor que natildeo atende ao pedido muda de sala pra uma mais confortaacutevel pros outros alunos E como eu natildeo posso subir entatildeo tenho que ficar soacute em uma sala aqui em baixo sem poder ter nenhum duacutevida (A6)

Alguns professores chegaram a imprimir provas com letras maiores pra mim a maioria natildeo quer ter esse trabalho Quando natildeo fazem eu me esforccedilo pra fazer a prova forccedilo mais a vista eacute cansativo mas eu jaacute acostumei sei fazer assim mesmo Mas se fosse maior seria melhor menos cansativo Agora com relaccedilatildeo a tempo natildeo eles natildeo datildeo (A7)

Os discursos dos estudantes revelam que qualquer di-ferenciaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo de modo a atender agraves necessidades educacionais do aluno com deficiecircncia depende sobretudo da boa vontade do professor Os educadores ignoram por-tanto a legislaccedilatildeo nacional para esse alunado que assegu-ra a adaptaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo bem como a concessatildeo de um maior periacuteodo de tempo para sua realizaccedilatildeo (BRASIL 2006 FERNANDES 2010)

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Dificuldades vivenciadas nas praacuteticas avaliativas para o aluno com deficiecircncia

Sobre a dificuldade que o professor encontra para ava-

liar o aluno com deficiecircncia no Ensino Superior a maioria (cinco) declarou natildeo encontrar dificuldades justificando que esse estudante eacute tratado como os demais alunos da turma Apenas dois professores consultados identificaram a necessi-dade de modificar a didaacutetica das aulas ou a forma de avaliaccedilatildeo em virtude da deficiecircncia apresentada pelo aluno

Os coordenadores dos cursos tambeacutem se posicionaram acerca das dificuldades encontradas em relaccedilatildeo ao aluno com deficiecircncia no Ensino Superior

[] fica estranho vocecirc conversar com o aluno sendo que vocecirc natildeo tem soluccedilatildeo para o problema dele O que a gente busca eacute uma compreensatildeo mas isso natildeo eacute soluccedilatildeo Os alunos quando tecircm deficiecircncia o profes-sor desce e vai falar com eles no teacuterreo Mas isso natildeo eacute soluccedilatildeo eacute um paliativo e corre o risco de criar um comodismo de achar que estaacute resolvendo o problema e natildeo precisa (C1)

Bom a gente tem que ver Vai depender da deficiecircncia do aluno Se for deficiecircncia visual eacute ateacute complicado o curso pra quem tem esse problema Tem curso que o aluno com deficiecircncia visual consegue ter um desem-penho mas na Quiacutemica que tem muita coisa praacutetica de laboratoacuterio isso aiacute eacute uma coisa criacutetica que a coor-denaccedilatildeo pode orientar o aluno na sua escolha do curso vendo suas habilidades o que se sabe fazer (C2)

[] Natildeo estamos encontrando dificuldades porque natildeo estamos nos colocando a esse problema particularmen-te entendeu Natildeo estamos procurando dificuldades porque ainda natildeo estamos buscando o problema Talvez por ter uma necessidade pequena enfim (C3)

Natildeo Natildeo tem dificuldade natildeo tem necessidade natildeo houve necessidade (C4)

A indiferenccedila da coordenaccedilatildeo a escassez de acessibi-lidade fiacutesica e principalmente a falta de uma formaccedilatildeo ade-quada para lidar com alunos com deficiecircncia apresentou-se como elemento comum de atitudes apresentadas pelos coor-denadores Na situaccedilatildeo encontrada na instituiccedilatildeo investigada percebemos a predominacircncia do paradigma socioloacutegico da deficiecircncia em que as reaccedilotildees do grupo podem facilitar pela empatia ou prejudicar pelo preconceito ou incompreensatildeo o desenvolvimento global do indiviacuteduo E a atitude empaacutetica e compreensiva constitui uma exceccedilatildeo restrita a uma mino-ria de professores que trabalha diretamente com esses alunos (BEYER 2005)

Os alunos por sua vez relatam as suas proacuteprias dificul-dades no processo avaliativo

As dificuldades das mateacuterias do retorno das avalia-ccedilotildees que precisava melhorar com certa urgecircncia do preconceito dos professores e falta de atenccedilatildeo dos coordenadores tambeacutem com relaccedilatildeo aos acessos para as salas de aulas laboratoacuterios (A1)

Eacute uma coisa que eu volto a bater na mesma tecla dizer a mesma coisa Eacute que alguns passos das questotildees quan-do eu simplesmente natildeo sabia fazer porque natildeo tinha conseguido acompanhar em sala natildeo tinha conseguido enxergar na hora que o professor explicou Haacute uma espeacutecie de esquecimento uma amneacutesia nos professores que eles quando eu peccedilo comeccedilam a escrever bem mas logo depois voltam a escrever pequeno novamente E eu de tanto falar e muitas vezes com o mesmo profes-sor eu me sinto sinceramente me sinto constrangido e agraves vezes eu natildeo falo mais Eu me sinto constrangido e agraves vezes meus pais falam pra mim que eu natildeo posso fazer isso Mas eu ouvi desaforos algumas coisas ruins

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palavras ruins e isso faz com que eu me sinta constran-gido em pedir de novo Alguns tecircm atenccedilatildeo fazem o possiacutevel mas justificam por causa da infraestrutura da sala Conteuacutedo extenso quando eu ia copiar jaacute ti-nha sido apagado infelizmente A coordenaccedilatildeo ajuda pouco ateacute a sala da coordenaccedilatildeo eacute no andar superior os professores natildeo escutam e natildeo tem acessibilidade nenhuma aqui nada Estamos esquecidos (A2)

O que complica eacute a falta de retorno correccedilotildees notas baixas excesso de conteuacutedo o acesso aqui eacute horriacutevel e se chegar atrasado por isso pelo acesso lsquojaacute erarsquo Eles aqui natildeo entendem de dificuldades Eu jaacute estou acostumando (A3)

Tempo geralmente o tempo mesmo que coloque uma questatildeo mas agraves vezes essa questatildeo pode levar seis horas pra fazer Eles podem estabelecer um prazo de 1620h as 1820h pronto nem mais nem menos Os professores natildeo se interessam pras dificuldades nem conhecem a gente Isso dificulta (A4)

Esse caso de fazer prova em local diferente de ter que subir escadas e eu natildeo podendo natildeo tenho como subir natildeo existem rampas pro andar de cima O professor querer mudar de sala pra fazer a prova e eu ficar longe da turma Tudo isso pra ser mais confortaacutevel pra eles uma sala melhor e eu aqui embaixo sozinho sem ter com quem tirar duacutevidas e muitas vezes ficar com o celular pra falar com algum colega pra ele passar ao professor pra eu tirar duacutevidas e natildeo me prejudicar Acontece de eu cair e precisar de ajuda dos colegas tambeacutem pra sentar e levantar A estrutura aqui eacute ruim mesmo (A6)

O depoimento dos alunos remete sobretudo a uma criacute-tica do exame Haacute referecircncias a uma relaccedilatildeo de poder em que os meacutetodos de ensino e de avaliaccedilatildeo natildeo podem ser mudados com a falta de adaptaccedilotildees dos instrumentos de avaliaccedilatildeo para as necessidades educacionais especiacuteficas de cada deficiecircncia direito garantido por lei (BENEVIDES 2011 BEYER 2010

FERNANDES 2010 FERNANDES VIANA 2009 LUCKESI 2001 2005 2011)

Os dados oferecidos pelos alunos consultados revelam a inexistecircncia de discussotildees dos aspectos positivos e negati-vos na devoluccedilatildeo dos instrumentos pois os professores de modo geral natildeo devolvem a avaliaccedilatildeo tampouco a comen-tam configurando uma praacutetica avaliativa em que se enfatiza a obtenccedilatildeo de notas natildeo dando oportunidade agrave construccedilatildeo de novos conhecimentos O momento de devoluccedilatildeo dos instru-mentos constitui um momento de aprendizado para o aluno permitindo ao professor observar e investigar como o alu-no se posiciona diante do processo de ensino-aprendizagem (HOFFMANN 2005 LUCKESI 2001 2005 2011)

Essa perspectiva se distancia da avaliaccedilatildeo em sua con-cepccedilatildeo formativa visto que o instrumento avaliativo natildeo eacute usado pelos professores como recurso de informaccedilatildeo nem pode servir como um recurso para reformulaccedilotildees dos meacuteto-dos de ensino e avaliaccedilatildeo Cumpre mencionar igualmente que no Ensino Superior a avaliaccedilatildeo deve ter o compromisso com a reconstruccedilatildeo do conhecimento e a formaccedilatildeo para cida-dania (DEMO 2004 HADJI 2001 LUCKESI 2005 2011)

Contribuiccedilotildees para uma praacutetica avaliativa inclusiva

Sobre as sugestotildees para melhoria da praacutetica avaliativa cinco professores identificaram a necessidade de uma forma-ccedilatildeo sobre a temaacutetica e dois sugeriram a realizaccedilatildeo de seminaacute-rios isolados ou no curso que a instituiccedilatildeo de Ensino Superior pesquisada oferece por ocasiatildeo do ingresso do professor na instituiccedilatildeo

Os docentes indicaram a importacircncia de uma forma-ccedilatildeo baacutesica eou continuada dos profissionais envolvidos para

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a concretizaccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo adequada a esse alunado Identificar os alunos suas necessidades e suas singularidades satildeo tambeacutem aspectos importantes assim como a promoccedilatildeo de espaccedilos para o debate sobre avaliaccedilatildeo e inclusatildeo revelando que a falta de preparo se mostra o principal obstaacuteculo para a concretizaccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo inclusiva (BENEVIDES 2011)

Os coordenadores tambeacutem expressaram suas sugestotildees para esse alunado

Os preacutedios novos sem acesso com os mesmos proble-mas sem estrutura A universidade natildeo tem priorida-des soacute obstaacuteculos para trabalhar com as deficiecircncias O uacutenico auditoacuterio eacute no andar de cima E tem alunos de extensatildeo [que participam de projetos de extensatildeo da universidade] que tecircm deficiecircncia que natildeo conseguem subir pra ter orientaccedilatildeo com o professor e natildeo tecircm essa orientaccedilatildeo pois o professor natildeo desce e o aluno com problemas motores natildeo sobe Deve-se mudar isso (C1)

Deve melhorar a acessibilidade Natildeo sei nem como eacute que faz isso soacute estou pensando alto aqui Seria bom atualizar o sistema pra buscar na coordenaccedilatildeo alunos com deficiecircncia pois acabei de ver que eu natildeo tenho acesso nenhum Tambeacutem ajudar o aluno com defici-ecircncia a ser encaminhado para um curso especiacutefico jaacute que por exemplo como um aluno cego iraacute estudar Quiacutemica Laboratoacuterio Impossiacutevel (C2)

Eu natildeo sei a gente tem primeiro que conhecer a primeira sugestatildeo eacute essa Tem que pegar o pessoal do primeiro ano o pessoal que entra e fazer esse mapeamento um mapeamento retroativo pra pegar o pessoal que jaacute estaacute na universidade os alunos que jaacute fazem parte do corpo discente e mapear Se jaacute existe esse mapeamento eu natildeo conheccedilo talvez a univer-sidade deva conhecer e tem que repassar fazer com que a informaccedilatildeo chegue ateacute noacutes Porque se haacute essa informaccedilatildeo e a gente natildeo sabe que existe tem uma falta de comunicaccedilatildeo que deve ser superada Entatildeo

deve-se conhecer e se jaacute conhece fazer todo mundo conhecer e mapear a quem interessar as coordenaccedilotildees os departamentos Eu acho que esse eacute o ponto (C3)

Eu acho que deveria ter um levantamento jaacute na entrada do SISU [Sistema de Seleccedilatildeo Unificada] e ali ele ser cadastrado pra universidade e ele ter um encaminha-mento para um curso bem especiacutefico A partir disso o curso ser informado ser preparado pra isso ser dis-cutido o que seraacute necessaacuterio ser feito por aquele aluno e uma vez isso determinado a gente tentar resolver Eu penso que funcionaria legal assim (C4)

Os coordenadores relataram que deveria haver mais in-vestimentos estruturais com relaccedilatildeo agrave acessibilidade por par-te da instituiccedilatildeo com a adequaccedilatildeo dos espaccedilos fiacutesicos Assi-nalaram da mesma forma a necessidade de identificaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia visto que a ausecircncia de informaccedilotildees sobre onde estatildeo e o que curso fazem esses alunos na impossi-bilita o atendimento educacional adequado

Os alunos com deficiecircncia tambeacutem expuseram suas sugestotildees

Acho que as primeiras vezes que me senti discriminado foi aqui Que os professores natildeo faccedilam preacute-julgamen-tos como trabalhar em laboratoacuterios Muitos falaram que eu natildeo podia mas passei em seleccedilatildeo e natildeo fiquei por conta da minha deficiecircncia fiacutesica Isso me faz questionar sobre minhas capacidades e se realmente eu continuaria a fazer Quiacutemica se faria Quiacutemica Tem que acabar com os preconceitos com as pessoas diferentes como um professor meu que disse na aula dele na minha presenccedila que as pessoas poderiam olhar com quem iriam se relacionar se a pessoas tecircm algum aleijado hemofiacutelico ou homossexual na famiacutelia pra natildeo se relacionarem pra que natildeo nasccedila mais gente assim [] Tambeacutem com relaccedilatildeo agrave acessibilidade pois a aacuterea que escolhi no mestrado o laboratoacuterio natildeo tem

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acesso com relaccedilatildeo agrave estrutura Eu faccedilo o trabalho soacute de escrever em casa outros alunos que fizessem a parte experimental porque o laboratoacuterio daqui pra chegar laacute eacute um caminho de terra de pedra Ultimamente teve umas mudanccedilas mas estaacute no segundo andar que eacute mesmo que nada Aiacute acabo desenvolvendo um trabalho soacute escrevendo mesmo mas eacute difiacutecil porque eacute diferente vocecirc acompanhar um trabalho assim soacute de boca e vocecirc estar no laboratoacuterio realmente vendo o que estaacute acontecendo Sinto falta Ateacute penso que chato Seraacute que natildeo devia ter escolhido outra aacuterea Mas eu gosto bastante e queria estar em laboratoacuterio Enfim foram situaccedilotildees muito chatas que natildeo deveriam acontecer na universidade pois os professores e coordenadores estatildeo utilizando um espaccedilo que era pra educar e natildeo para deseducar Natildeo era pra ensinar preconceitos para as pessoas discriminaccedilatildeo e o que eu acho pior eacute usar o espaccedilo da sala de aula pra isso um cargo puacuteblico pra isso Eacute um absurdo (A1)

Primeiramente um dos principais passos deveria ser o professor ele conhecer a sua turma Natildeo saber de tudo antes mas que tivesse certo bom senso quando o aluno tem deficiecircncia Ele natildeo julgar essa deficiecircncia mesmo que seja baixa visatildeo ou pouca deficiecircncia mo-tora O professor natildeo deve arredondar pra menos o problema sem tomar cuidado Tomar cuidado em natildeo generalizar Mas eacute o que eu vejo na universidade eacute natildeo prestarem a atenccedilatildeo nas necessidades dos seus alunos [] No mais eacute isso atentar para as reais necessidades das pessoas (A2)

Tirar esses batentes das salas Os professores me deixam ficar em qualquer lugar da sala fico onde daacute muitas vezes perto da porta e acaba atrapalhando a entrada e agraves vezes natildeo escuto direito Pra mim (sic) entrar e sair da sala preciso que abram a porta Jaacute me falavam dessas dificuldades antes de eu entrar aqui mas com a ajuda dos amigos neacute Que me levam pros cantos Aiacute como tem batentes nas salas eles levantam

os amigos ajudam muito nisso no deslocamento Mas vivo de precisar da ajuda dos amigos pois estar aqui na universidade eacute muito difiacutecil A universidade deveria nos ajudar e natildeo excluir (A3)

A avaliaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave minha deficiecircncia seria falar alto e explicado pra eu escutar na explicaccedilatildeo ser mais devagar e clara Porque se o professor fala baixo eu fico com receio de perguntar de novo Per-guntar e o pessoal zoar Tem um professor ou soacute 1 que eacute preocupado com a aprendizagem do aluno o resto eacute indiferente Agraves vezes estamos presente em sala e levamos falta Acho que o professor dever escolher ser professor natildeo pra se vingar do que fizeram ou do que ele passou porque ele tem que escolher pra repassar o conhecimento O conhecimento natildeo deve ser restrito ele deve ser partilhado Partilhar e natildeo restringir e natildeo exigir o que ele restringiu (A4)

Fazer provas trabalhos junto com a turma sem que eu fique soacute Antes de o professor marcar locais de aulas de provas eles conversarem com a gente pra saber se estaacute tudo bem se a gente pode fazer ou entatildeo ele fornecer locais possiacuteveis pra gente ter acesso e natildeo soacute local que decirc pra toda a turma mas tambeacutem pra gente ir Outra questatildeo eacute de acessar os andares superiores um elevador seria essencial pra isso pois a cada ano estaacute se passando e as pessoas com deficiecircncia estatildeo ingressando na universidade com frequecircncia Entatildeo jaacute estaacute mais que na hora de se fazer isso Sou bolsista de extensatildeo mas tenho dificuldades de me encontrar com o orientador pois a sala do orientador fica no andar de cima no qual natildeo tenho acesso e o orientador natildeo desce e natildeo facilita o meu trabalho como bolsista Injusto neacute (A6)

Quanto agraves avaliaccedilotildees a questatildeo de aumentar a letra o tempo O resto eu estou acostumado Aqui falta tudo natildeo tem acesso a nada tudo eacute bem difiacutecil as pessoas natildeo querem conhecer problemas Eles deveriam ter

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mais atenccedilatildeo e menos descaso com o aluno com rela-ccedilatildeo a acesso avaliaccedilotildees Conhecer que na sala nem todo mundo eacute igual e sermos respeitados por isso (A7)

Os alunos entrevistados sugeriram a necessidade de sua proacutepria identificaccedilatildeo e de seu acompanhamento na ins-tituiccedilatildeo ndash visto que a ausecircncia de informaccedilotildees sobre onde es-tatildeo e o que fazem dificulta a sua inclusatildeo educacional Que o professor possa com essas informaccedilotildees planejar-se sabendo das necessidades especiacuteficas do aluno ou pelo menos que procure conversar com os alunos As dificuldades de acessi-bilidade fiacutesica tambeacutem aparecem no discurso dos estudantes geralmente natildeo tecircm acesso a todas as dependecircncias dos preacute-dios da universidade A indiferenccedila e o preconceito de alguns professores causam grandes impactos na aprendizagem do aluno desmotivando-os levando-os a questionarem a esco-lha do curso e ameaccedilando a sua permanecircncia na universida-de Em relaccedilatildeo ao preconceito foi expresso que o professor na condiccedilatildeo de educador natildeo deveria possuir preconceito e sequer repassaacute-los em sala de aula mesmo que de forma natildeo intencional No paradigma socioloacutegico Beyer (2010) escla-rece o quanto o preconceito eacute prejudicial agrave inclusatildeo social e educacional dos alunos com deficiecircncia de maneira geral e na avaliaccedilatildeo de sua aprendizagem especificamente

Conclusatildeo

Uma avaliaccedilatildeo da aprendizagem inclusiva para o aluno com deficiecircncia tem se mostrado historicamente um desafio Mesmo nos dias atuais os atos avaliativos satildeo fortemente in-fluenciados pelas antigas praacuteticas examinativas que apresen-tam dificuldade expressiva em se desvencilharem de elemen-tos como a medida a comparaccedilatildeo e a verificaccedilatildeo estaacutetica do

desempenho dos aprendizes classificados em uma nota Essa forma de avaliar eacute prejudicial para todos os alunos mas em especial para o alunado com deficiecircncia excluiacutedo por causa da singularidade de suas necessidades educacionais (BEYER 2004 LIMA 2008 LUCKESI 2011 HOFFMANN 2005)

No discurso dos alunos as dificuldades identificadas no que se refere agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem refletiu a fal-ta de preparo dos docentes e coordenadores dos cursos para lidar com suas necessidades educacionais As dificuldades se aplicam a todos os estudantes que ainda satildeo avaliados nos moldes excludentes do exame mas o prejuiacutezo eacute ainda maior para o educando que apresenta algum tipo de deficiecircncia O resultado das avaliaccedilotildees natildeo eacute discutido com desperdiacutecio de um momento importante do processo de ensino-aprendi-zagem Aleacutem disso os alunos natildeo recebem os instrumentos ndash geralmente provas ndash o que fomenta a ideia de que natildeo haacute modificaccedilotildees ou inovaccedilotildees no instrumental de avaliaccedilatildeo com a possibilidade do mesmo instrumento ser utilizado repetida-mente nos semestres letivos seguintes

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem da forma que vem acon-tecendo na IFES pesquisada natildeo oferece as condiccedilotildees ne-cessaacuterias para o desenvolvimento do aluno com deficiecircncia As praacuteticas docentes encontradas na instituiccedilatildeo acabam por reproduzir a exclusatildeo presente na sociedade natildeo possibilitan-do a esse aluno uma participaccedilatildeo ativa e democraacutetica em sua vida acadecircmica Direitos garantidos por lei como adaptaccedilotildees na avaliaccedilatildeo e concessatildeo a um maior periacuteodo de tempo natildeo satildeo respeitados Diante de uma formaccedilatildeo docente precaacuteria para lidar com esses aprendizes uma melhor avaliaccedilatildeo se re-aliza atualmente sobretudo devido agrave boa vontade de alguns professores diante das peculiaridades de cada aluno (BEYER 2010 BRASIL 2006)

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Referecircncias Bibliograacuteficas

DEMO P Universidade aprendizagem avaliaccedilatildeo horizon-tes reconstrutivos Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2005BENEVIDES M C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo de caso em uma instituiccedilatildeo de ensino superior da rede puacuteblica de Fortaleza-Cearaacute 2011 179f Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza-CE 2011BEYER H O Inclusatildeo e avaliaccedilatildeo na escola de alunos com necessidades especiais Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2010BRASIL Formaccedilatildeo continuada a distacircncia de professores para o atendimento educacional especializado deficiecircncia fiacutesica In SCHIRMER C R BROWNING N BERSCH R DE C R MACHADO R (Coords) Satildeo Paulo MECSEESP 2006FERNANDES T L G Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo documental das diretrizes oficiais 2010 152 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2010 FERNANDES T L G VIANA T V Alunos com Necessida-des Educacionais Especiais (NEEs) avaliar para o desenvol-vimento pleno de suas capacidades Estudos em Avaliaccedilatildeo Educacional Satildeo Paulo v 20 n 43 p 201-213 maioago 2009HADJI C Avaliaccedilatildeo desmistificada Porto Alegre Artmed 2001HOFFMANN J Pontos e contrapontos do pensar ao agir em avaliaccedilatildeo Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2005LUCKESI C C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem componente do ato pedagoacutegico Satildeo Paulo Cortez 2011______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem na escola reelaboran-do conceitos e recriando a praacutetica Salvador Malabares 2005

______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem escolar Satildeo Paulo Cortez 2001PERRENOUD P Avaliaccedilatildeo da excelecircncia agrave regulaccedilatildeo das aprendizagens ndash entre duas loacutegicas Porto Alegre Artmed 1999VIANNA H M Avaliaccedilatildeo educacional teoria planejamen-to modelos Satildeo Paulo IBRASA 2000VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

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CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ

Tereza Liduina Grigoacuterio FernandesLucimeire Alves Moura

Edson Silva SoaresTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

No decorrer da histoacuteria a educaccedilatildeo de crianccedilas com al-tas habilidades1 ou superdotaccedilatildeo sempre foi motivo de discus-satildeo em culturas de diferentes povos A literatura especializada faz breve referecircncia ao interesse por crianccedilas com capacida-des notaacuteveis em periacuteodos histoacutericos remotos aludindo inclu-sive agrave necessidade de segregaacute-las para conferir-lhes assistecircn-cia educacional apropriada Na concepccedilatildeo de Alencar (1986) Confuacutecio foi um dos primeiros filoacutesofos a interceder pela identificaccedilatildeo e atendimento dessas crianccedilas que costumavam ser encaminhadas agrave Corte para aprimorar suas capacidades literaacuterias No tratado A Repuacuteblica Platatildeo advogou o reconhe-cimento das crianccedilas de ouro que deveriam ser educadas nos campos da Filosofia e da Metafiacutesica bem como preparadas para postos de lideranccedila na sociedade o filoacutesofo se contrapocircs portanto agraves concepccedilotildees vigentes que pregavam uma lideran-ccedila de caraacuteter hereditaacuterio circunscrita agrave elite aristocraacutetica De

1 A expressatildeo altas habilidades surge como uma denominaccedilatildeo recente na literatura especializada a fim de reduzir preconceitos associados historicamente ao vocaacutebulo superdotado As ideias usuais decorrentes do termo superdotado favorecem muitos equiacutevocos como a noccedilatildeo de um ser humano perfeito com habilidades elevadas em todas as aacutereas do saber e do fazer e de que seria sobretudo predes-tinado ao sucesso acadecircmico e profissional em consequecircncia de sua inteligecircncia Assim sendo adotaremos a expressatildeo ldquoaltas habilidadesrdquo neste estudo que indica genericamente a presenccedila de uma ou mais habilidades elevadas ou acima da meacutedia populacional e descreve de modo fidedigno esse alunado (VIRGOLIM 2007)

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA194 d d 195

modo anaacutelogo no seacuteculo XVI Suleiman o Magniacutefico enviou emissaacuterios a todo o impeacuterio turco para identificar as crian-ccedilas mais inteligentes e as mais fortes presentes em quaisquer classes sociais a fim de instruiacute-las como artistas saacutebios ou chefes de guerra numa escola fundada para esse propoacutesito em Constantinopla (ALENCAR E S 1986 ANASTASI URBI-NA 2000 NOVAES 1979)

Embora jaacute se tenha avanccedilado consideravelmente no sentido de uma melhor compreensatildeo das caracteriacutesticas e ne-cessidades educacionais dessas pessoas observa-se na atua-lidade pouco investimento nesse potencial humano No Bra-sil sua identificaccedilatildeo ainda eacute escassa mesmo com a existecircncia de diretrizes oficiais do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) nesse sentido (BRASIL 2005 2007 2010)

As pessoas com altas habilidades tambeacutem compotildeem o alunado da Educaccedilatildeo Especial demonstrando capacidades elevadas em uma ou mais aacutereas do saber ou do fazer De acor-do com o pensamento de Mettrau (2000) representam um patrimocircnio social da humanidade que precisa ser reconheci-do e valorizado pela natureza das suas capacidades no acircmbito educacional e social Como agente responsaacutevel pelo desenvol-vimento desse potencial estaacute a escola aqui representada pela figura do professor que como facilitador desse processo deve acreditar na capacidade de todos os seus alunos e incentivaacute--los a desenvolver trabalhos significativos e relevantes tanto para a sua realizaccedilatildeo pessoal quanto para que ofereccedilam uma contribuiccedilatildeo social estimulando-os na produccedilatildeo do novo e do diferente

Assim o ambiente escolar deve se consolidar como um espaccedilo para a identificaccedilatildeo e progresso das diversas habilida-des humanas Cumpre considerar a multiplicidade de situa-ccedilotildees em que a inteligecircncia se manifesta segundo as necessi-

dades baacutesicas do estudante para seu aperfeiccediloamento como ser humano integral Nessa perspectiva podemos assinalar que tambeacutem a pessoa com deficiecircncia pode ser definida em funccedilatildeo de suas capacidades contribuindo de forma relevan-te para a evoluccedilatildeo do saber Beethoven por exemplo compocircs sua famosa Nona Sinfonia quando estava completamente sur-do (ALENCAR VIANA 2002 BRASIL 1999a 1999b)

Diante do exposto este trabalho objetiva de modo ge-ral identificar alunos surdos com altas habilidades no Ensino Fundamental atraveacutes de uma avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutes-tica realizada com o auxiacutelio do professor Constitui dessa maneira um meacutetodo de avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica de altas habilidades em pessoas com surdez Visto que o profes-sor eacute o profissional que participa mais sistematicamente do cotidiano dos seus alunos apresenta melhores condiccedilotildees de reconhecer suas caracteriacutesticas pessoais e seus desempenhos comparando-os com o esperado para a capacidade de reali-zaccedilatildeo de sua faixa etaacuteria Assim sendo pode colaborar ativa-mente na identificaccedilatildeo desse alunado (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Cumpre mencionar que a estrateacutegia de observaccedilatildeo dirigida para identificar altas habilidades com o auxiacutelio do professor apresenta eficaacutecia estimada em 91 e constitui um procedimento mais adequado ao estaacutegio inicial da identifica-ccedilatildeo com a seleccedilatildeo de um primeiro grupo de alunos em que se encontram os que demonstram altas habilidades Faz-se necessaacuteria uma avaliaccedilatildeo posterior agrave observaccedilatildeo do profes-sor para identificar de modo mais preciso os aprendizes com altas habilidades (GUENTHER 2000 VIANA 2005)

A importacircncia deste estudo se justifica como uma al-ternativa ao reconhecimento tradicional de altas habilidades cujos testes psicomeacutetricos com resultados em Quociente de

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA196 d d 197

Inteligecircncia (QI)2 aleacutem de onerosos satildeo de uso exclusivo do psicoacutelogo e apresentam conteuacutedo restrito abordando apenas as convencionais aacutereas acadecircmicas da loacutegico-matemaacutetica e linguagem verbal A investigaccedilatildeo eacute relevante da mesma for-ma pelo fato de ampliar o instrumental de avaliaccedilatildeo diagnoacutes-tica de altas habilidades para o alunado com algum tipo de deficiecircncia no caso a surdez A pessoa com deficiecircncia passa a ser vista assim sob a perspectiva de suas capacidades a partir de uma visatildeo multidimensional das potencialidades do indiviacuteduo ao inveacutes de ser definida apenas em funccedilatildeo do deacutefi-cit que porventura apresente como ocorre tradicionalmente

Para Aleacutem da Sala de Aula Altas Habilidades em Muacuteltiplas Dimensotildees

A concepccedilatildeo de altas habilidades tem sido acompanha-da de amplas discussotildees em muitos paiacuteses envolvendo opini-otildees e teorias divergentes O proacuteprio conceito de modo geral tem evoluiacutedo de uma concepccedilatildeo unidimensional centrada em habilidades acadecircmicas para uma compreensatildeo multidimen-sional voltada para a totalidade do indiviacuteduo e para as rela-ccedilotildees que estabelece com o ambiente fiacutesico e social As pessoas com altas habilidades correspondem a uma proporccedilatildeo de 3 a 5 da populaccedilatildeo mundial presente em homens e mulheres de todas as classes sociais Demonstram uma ou mais capa-cidades elevadas acima da meacutedia populacional (ALENCAR E S 2000 BRASIL 1995 1999a 2005 GUENTHER 2000 NOVAES 1979 SABATELLA 2008 VIANA 2003 2004 WINNER 1998)

2 O QI eacute atualmente criticado por se ater a aspectos verbais e loacutegico-matemaacuteticos e por vincular a inteligecircncia agrave hereditariedade advogando uma concepccedilatildeo inatista das capacidades Nos dias atuais o QI eacute considerado como um modo de predizer o desempenho acadecircmico mas natildeo a inteligecircncia de forma geral (ANASTASI URBINA 2000)

O termo superdotado tem sido recentemente questio-nado e rejeitado por especialistas da aacuterea pelo fato do prefixo ldquosuperrdquo sugerir a ideia de um desempenho extraordinaacuterio in-clusive sobre-humano Conveacutem assinalar igualmente a con-cepccedilatildeo inatista de inteligecircncia vinculada aos primoacuterdios da Psicometria e aos testes de QI de origem bioloacutegica ou geneacute-tica a inteligecircncia seria um dom jaacute presente no nascimento estaacutevel e que se desenvolveria independentemente das con-diccedilotildees ambientais o que de fato natildeo corresponde agrave realida-de Toda capacidade mesmo que seja comprovada uma base geneacutetica ou cerebral necessita de estimulaccedilatildeo ambiental para se desenvolver Em caso contraacuterio natildeo se desenvolve ficando estagnada (ALENCAR E S 2001)

A representaccedilatildeo de Renzulli (2004) psicoacutelogo da Uni-versidade de Connecticut eacute usualmente referida na atualida-de por transpor a identificaccedilatildeo restrita a aptidotildees cognitivas e conferir ecircnfase a variaacuteveis criativas e motivacionais Em seu Modelo dos trecircs aneacuteis pressupotildee que as altas habilidades re-sultam da interaccedilatildeo de trecircs caracteriacutesticas i) aptidatildeo acima da meacutedia ii) criatividade elevada e iii) envolvimento com a tare-fa A aptidatildeo acima da meacutedia deve permanecer relativamente estaacutevel e natildeo necessita ser excepcional a criatividade elevada se remete agrave flexibilidade e agrave originalidade do pensamento e o envolvimento com a tarefa remete a caracteriacutesticas de perso-nalidade como persistecircncia dedicaccedilatildeo esforccedilo e autoconfian-ccedila Cumpre mencionar que as altas habilidades residem exa-tamente no ponto de interseccedilatildeo desses trecircs elementos Duas caracteriacutesticas contudo costumam indicar pessoas talentosas

A proposta de Renzulli (2004) possui o meacuterito de reco-nhecer de maneira simples e praacutetica um largo contingente de sujeitos cujas capacidades referem expressotildees da inteligecircncia em qualquer aacuterea do saber ou do fazer Desse modo pessoas

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA198 d d 199

com altas habilidades em aacutereas tatildeo diversificadas como aca-decircmicas musicais e motoras podem ser rapidamente iden-tificadas por intermeacutedio da presenccedila de atributos criativos e motivacionais associados a um desempenho situado acima da meacutedia da populaccedilatildeo comparaacutevel

Na deacutecada de 1980 Howard Gardner da Universidade de Harvard apresentou uma nova concepccedilatildeo de inteligecircncia que repercutiu sobre o conceito de altas habilidades em con-traposiccedilatildeo agrave visatildeo unitaacuteria dos testes de QI3 Assim estabe-leceu o reconhecimento de que as habilidades humanas po-deriam se apresentar em muitas aacutereas e de que a inteligecircncia natildeo poderia ser medida somente atraveacutes de respostas sobre conteuacutedos escolares em testes convencionais Diante disso Gardner (1994 1995 2001) delimitou ateacute o momento oito tipos de inteligecircncia presentes no ser humano como capa-cidades universais I) linguiacutestica II) loacutegico-matemaacutetica III) espacial IV) corporal-cinesteacutesica V) musical VI) interpesso-al VII) intrapessoal e VIII) naturalista (CAMPBELL 2000 GARDNER 1994 1995 2001)

Com base nessa perspectiva amplia-se a noccedilatildeo de inte-ligecircncia que pode ser estendida para pessoas que apresentem limitaccedilotildees sensoriais e inclusive mentais Desse modo as inteligecircncias seriam potenciais que mesmo com base geneacute-tica ou cerebral podem ou natildeo ser ativados de acordo com os valores da cultura especiacutefica das oportunidades disponiacuteveis e das decisotildees pessoais tomadas por indiviacuteduos famiacutelias pro-fessores dentre outras pessoas proacuteximas (GARDNER 1994 1995 2001)

3 A Teoria das Inteligecircncias Muacuteltiplas (IM) foi elaborada como uma reaccedilatildeo agrave Psicometria e aos testes de QI Gardner (1994 1995 2001) trabalhou com sujeitos detentores de perfis cognitivos diferenciados como pacientes com lesatildeo cerebral e pessoas com altas habilidades

Eacute relativamente comum confundir a pessoa que apre-senta altas habilidades com o gecircnio o que interpotildee mais um obstaacuteculo agrave identificaccedilatildeo desse alunado Em relaccedilatildeo agrave pessoa com altas habilidades o gecircnio estaria em um patamar supe-rior O gecircnio com efeito eacute um indiviacuteduo que realmente apre-senta um desempenho iacutempar e extraordinaacuterio A incidecircncia estatiacutestica da genialidade eacute extremamente reduzida estima-da numa proporccedilatildeo de apenas uma pessoa para cada milhatildeo dificultando assim pesquisas com amostras amplas e anaacutelise quantitativa De modo geral procede-se a um estudo biograacute-fico de personalidades eminentes A obra do gecircnio eacute capaz de transcender limitaccedilotildees temporais e espaciais e permanecer atual sendo por conseguinte de natureza universal Einstein Freud Leonardo da Vinci e Santos Dumont satildeo exemplos de pessoas que demonstraram genialidade alterando de forma bastante original um determinado campo do saber (ALEN-CAR E S 2001 BRASIL 1999a 1999b 2007)

Conveacutem esclarecer as caracteriacutesticas do sujeito talento-so que se situaria por outro lado em um niacutevel abaixo da pes-soa com altas habilidades O talentoso se destaca da multidatildeo por meio de um desempenho significativo em algum setor das atividades humanas O termo descreve de modo geral uma habilidade especiacutefica como musical ou artiacutestica efetuada de maneira especialmente elaborada superior agrave capacidade de realizaccedilatildeo da maioria Instrumentos de medida natildeo satildeo ne-cessaacuterios para a identificaccedilatildeo de talentos visto que mesmo o cidadatildeo comum pode reconhececirc-lo atingido por um estado de admiraccedilatildeo e enlevo O talento eacute encontrado em cerca de 25 da populaccedilatildeo Altas habilidades genialidade e talento se distribuem portanto igualmente na populaccedilatildeo mundial manifestando-se em homens e mulheres em todo o mundo independentemente de credo ou classe social bem como em

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA200 d d 201

pessoas com algum tipo de deficiecircncia inclusive em casos de deficiecircncia intelectual4

O conceito contemporacircneo de altas habilidades eacute de natureza multidimensional posto remeter agrave compreensatildeo do sujeito em sua totalidade nas diversas relaccedilotildees que estabele-ce com o ambiente fiacutesico e social Importa referir a interde-pendecircncia de fatores geneacuteticos e ambientais na determinaccedilatildeo de altas habilidades A participaccedilatildeo geneacutetica das capacidades eacute observada na distribuiccedilatildeo igualitaacuteria das altas habilidades em toda a populaccedilatildeo mundial sem distinccedilotildees de gecircnero ou origem social A incidecircncia eacute tambeacutem constatada em pessoas com deficiecircncia Contudo a estimulaccedilatildeo ambiental fiacutesica e social eacute necessaacuteria para o desenvolvimento dessas capacida-des (ALENCAR M L 2003 BRASIL 1999a)

A evoluccedilatildeo histoacuterica do conceito de inteligecircncia apre-sentou por conseguinte repercussotildees diretas para a compre-ensatildeo das caracteriacutesticas e necessidades das pessoas com altas habilidades Acarretou da mesma maneira a evoluccedilatildeo simul-tacircnea dos procedimentos de identificaccedilatildeo desses sujeitos ini-cialmente restritos a instrumentos de medida intelectual com resultados organizados em QI Os processos atuais de reco-nhecimento de altas habilidades satildeo diversificados e incluem a percepccedilatildeo de pais e educadores Visto que o professor eacute o profissional que participa mais sistematicamente do cotidia-no dos seus alunos apresenta condiccedilotildees mais favoraacuteveis de reconhecer suas caracteriacutesticas pessoais e seus desempenhos comparando-os com o niacutevel esperado da capacidade de reali-

4 Pessoas com siacutendrome savant usualmente apresentam deficiecircncia intelectual autismo ou ambos A siacutendrome eacute seis vezes maior em homens do que em mulheres Costumam apresentar habilidades nos seguintes domiacutenios artes visuais (desenho realista) muacutesica e caacutelculo mental Alguns satildeo capazes de efetuar caacutelculos de calendaacuterio prevendo por exemplo o dia da semana em que determinada data cairaacute daqui a vaacuterios anos (WINNER 1998)

zaccedilatildeo de uma determinada faixa etaacuteria (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Capacidades Silentes O filoacutesofo grego Aristoacuteteles que viveu cerca de 366 a

C valorizava a inteligecircncia humana como uacutenica forma de al-canccedilar a verdade e acreditava que o pensamento era desenvol-vido por meio da linguagem e da fala Com base nesse posicio-namento afirmava que como o surdo natildeo pensa natildeo poderia ser considerado humano (GOLDFELD 1997)

Desde eacutepocas remotas discute-se sobre a inteligecircncia humana No caso especiacutefico da pessoa com surdez o fato de natildeo ouvir natildeo impossibilita que seu potencial seja identificado e reconhecido Confirmando esse pensamento Dupret (1998) afirma explicitamente que o fato de o surdo apresentar um deacute-ficit sensorial natildeo possuir percepccedilatildeo auditiva ou apresentaacute-la minimamente natildeo eacute suficiente para lhe conferir o pesado es-tigma do diagnoacutestico de incapaz

Sobre essa singularidade

A condiccedilatildeo moral a qual estabelece que somos todos iguais perante a lei natildeo deve prevalecer sobre a questatildeo eacutetica de que somos diferentes frente a noacutes mesmos Eacute esta diferenccedila que marca nossa individualidade e singu-laridade ao mesmo tempo em que se coloca como algo generalizaacutevel a todos Eacute ela que me permite entender o surdo como diferente do ouvinte pelo fato de natildeo poder escutar mas natildeo porque suas capacidades estatildeo previamente limitadas (DUPRET 1998 p 13)

Porque a pessoa com surdez natildeo tem acesso agrave liacutengua fa-lada natildeo significa que natildeo tenha outra ferramenta que possi-bilite uma forma efetiva de comunicaccedilatildeo Pontuamos assim que a dificuldade de expressatildeo da pessoa surda estaacute vinculada

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agrave acessibilidade da informaccedilatildeo e natildeo a um deacuteficit intelectu-al pois a nossa diferenccedila estaacute marcada pela individualidade e singularidade que eacute comum a todos os indiviacuteduos Isso faz com que a pessoa com surdez seja diferente do ouvinte pelo fato de apresentar um deacuteficit sensorial e natildeo porque seu po-tencial cognitivo seja por causa disso limitado

Na compreensatildeo de Skliar (2004 p 71)

Quando nos referimos ao potencial cognitivo do sur-do nos remetemos imediatamente agrave qualidade das inter-relaccedilotildees que este manteacutem com as pessoas que o rodeiam Por esta razatildeo acreditamos que as crianccedilas surdas embora sendo filhas de ouvintes devem ter acesso o mais cedo possiacutevel agrave liacutengua de sinais e conse-quentemente agrave comunidade surda

Eacute oportuno afirmar que com o domiacutenio da liacutengua de sinais o indiviacuteduo com surdez adquire novos conhecimentos e consequentemente seraacute capaz de atos criativos Eacute entatildeo con-tradita a proposta oralista5 que provoca no educador baixas expectativas pedagoacutegicas no que se refere ao processo de co-nhecimento de crianccedilas surdas justificando seu fracasso es-colar em funccedilatildeo do deacuteficit Desse modo confere agrave surdez a responsabilidade pelas dificuldades em seu desenvolvimento cognitivo e em sua educaccedilatildeo

A tradicional explicaccedilatildeo de atrasos cognitivos da pessoa com surdez se sustenta na relaccedilatildeo entre pensamento e lingua-gem desconsiderando-se fatores como os tipos de experiecircncias por ela vivenciados a qualidade das suas interaccedilotildees sociais a

5 O Oralismo ou filosofia oralista visa agrave integraccedilatildeo da crianccedila surda na comunidade de ouvintes dando-lhe condiccedilotildees de desenvolver a liacutengua oral (no caso do Brasil a liacutengua portuguesa) O Oralismo concebe a surdez como uma deficiecircncia que deve ser minimizada atraveacutes da estimulaccedilatildeo auditiva Essa estimulaccedilatildeo possibilitaria a aprendizagem da liacutengua portuguesa e levaria a crianccedila surda a integrar-se na comunidade ouvinte e a desenvolver sua personalidade como a de um ouvinte (LORENZINI 2004)

existecircncia da liacutengua de sinais na famiacutelia ou na comunidade ou-vinte da qual faz parte dentre outros fatores (SKLIAR 2004)

Dessa forma um instrumento de avaliaccedilatildeo educacio-nal diagnoacutestica baseado numa concepccedilatildeo multidimensional de inteligecircncia poderaacute contribuir de modo efetivo para o crescimento e autonomia de alunos com surdez muitas vezes ainda considerados pessoas com reduzida possibilidade de crescimento intelectual

Avaliaccedilatildeo Educacional Diagnoacutestica em Busca de Novas Trilhas

Como preacute-requisito das accedilotildees educacionais a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica de altas habilidades evita o desperdiacutecio do poten-cial humano imprescindiacutevel para os tempos atuais caracte-rizados por uma renovaccedilatildeo contiacutenua do conhecimento Para que o alunado surdo com altas habilidades seja corretamente identificado a escola desempenha um papel fundamental nes-se processo demonstrado pela importacircncia dos professores na observaccedilatildeo de indiacutecios de altas habilidades Cumpre men-cionar que ainda persistem dificuldades centrais na aborda-gem do diagnoacutestico de altas habilidades para pessoas surdas no que se refere agrave significativa escassez de instrumentos uti-lizados para essa identificaccedilatildeo (GUENTHER 2000 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Para a identificaccedilatildeo desses indiviacuteduos devem ser consi-derados os diversos traccedilos que determinam as altas habilidades em diferentes niacuteveis e intensidades Para o aluno com surdez a identificaccedilatildeo de altas habilidades valoriza suas capacidades e seu papel ativo como cidadatildeo para o progresso do saber

Diante da dificuldade da avaliaccedilatildeo diagnoacutestica de alu-nos com deficiecircncia que apresentam altas habilidades foi elaborada uma lista de indicadores para alunos com surdez

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por ocasiatildeo desse estudo Embora a literatura especializada mencione a presenccedila de altas habilidades e talentos em pes-soas com deficiecircncia os exemplos costumam se limitar agraves pessoas com siacutendrome savant Os estudos de identificaccedilatildeo e atendimento a pessoas com deficiecircncia que tambeacutem apresen-tam altas habilidades e talentos satildeo ainda pioneiros tanto em acircmbito nacional como internacional (NEGRINI 2004 UFC 2006 WINNER 1998)

Assim pretendemos oferecer aos professores que atu-am na aacuterea da surdez um instrumento simples e uacutetil aces-siacutevel para os profissionais da Educaccedilatildeo que pode constituir efetivamente um norte na identificaccedilatildeo desses alunos

Percurso Metodoloacutegico

Foi realizada uma pesquisa qualiquantitativa na forma de um estudo de caso no segundo semestre de 20056 numa Escola Especial para surdos na cidade de Fortaleza-Cearaacute Na ocasiatildeo foram observados 411 alunos surdos do 1ordm ao 8ordm ano do Ensino Fundamental

Foi elaborada uma lista de indicadores de altas habili-dades para o aluno surdo A lista inicial foi analisada por sete especialistas da aacuterea da surdez que propuseram algumas mo-dificaccedilotildees e foi entatildeo submetida agrave preacute-testagem A escala final foi aplicada pelo professor com o apoio de um dos pesquisa-dores e a presenccedila de um inteacuterprete visto que a metodolo-gia de ensino da escola citada se voltava para o bilinguismo7

6 Sugere-se que a aplicaccedilatildeo de instrumentos de observaccedilatildeo em sala de aula para a identificaccedilatildeo de altas habilidades ocorra no segundo semestre letivo quando o professor jaacute demonstra um maior conhecimento das caracteriacutesticas cognitivas e afetivas dos seus alunos (VIANA 2005) 7 O biliacutenguismo advoga que a pessoa com surdez deve dominar como liacutengua materna a liacutengua de sinais que seria a sua liacutengua natural e como segunda liacutengua

Para realizar a observaccedilatildeo os professores participaram de um curso de formaccedilatildeo continuada sobre a temaacutetica com 60 ho-ras-aula pois a aplicaccedilatildeo de instrumentos de observaccedilatildeo ou listas de indicadores para a identificaccedilatildeo de altas habilidades requer domiacutenio conceitual da temaacutetica

O instrumento eacute composto de 36 itens conforme se pode observar no Quadro 1 com habilidades que podem ser encontradas em alunos com surdez que deveratildeo ser identifi-cadas pelo professor em sala de aula As sentenccedilas referem capacidades diversificadas baseadas numa concepccedilatildeo mul-tidimensional de inteligecircncia Foi adotada uma distribuiccedilatildeo aleatoacuteria dos itens para evitar rotinas de respostas As asserti-vas foram redigidas de modo claro e conciso com vocabulaacuterio acessiacutevel a fim de tornar o instrumento de uso praacutetico cuja aplicaccedilatildeo utilize um curto periacuteodo de tempo com o objetivo de natildeo prejudicar as atividades do professor em sala de aula Com a lista em matildeos o professor eacute solicitado a marcar alu-nos que apresentem determinada habilidade presente na lista com a letra X

Quadro 1 ndash Itens da Lista de Observaccedilatildeo Aplicada

1 Tem boa expressatildeo facial quando utiliza a Libras2 Mostra-se criacutetico questionando as mateacuterias ensinadas3 Eacute liacuteder em sala de aula4 Faz perguntas ou daacute respostas raras ou incomuns5 Apresenta senso de humor eacute o engraccediladinho da turma6 Eacute amadurecido fala e se comporta como se tivesse mais idade7 Termina as tarefas rapidamente e fica disperso em sala de aula8 Apresenta facilidade para o desenho ou trabalhos manuais9 Tem boa expressatildeo corporal quando utiliza a Libras10 Apresenta facilidade em escrever redaccedilotildees ou poesias11 Eacute concentrado e perfeccionista com as atividades escolares

a liacutengua oficial do seu paiacutes Isso natildeo significa que a pessoa com surdez deva ficar isolada numa comunidade soacute para surdos configurando guetos e utilizando apenas a liacutengua de sinais (BRASIL 2010 DUPRET 1998 PEREIRA 2004)

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12 Consegue expressar bem suas opiniotildees com a Libras13 Eacute independente faz as atividades sem ajuda14 Questiona regras que satildeo impostas sem uma justificativa15 Demonstra interesse contiacutenuo em aprender16 Escreve frases em Portuguecircs usando pronomes preposiccedilotildees e ver-

bos nos tempos presente passado e futuro17 Relaciona conhecimentos de diferentes mateacuterias escolares18 Faz muitas perguntas ao professor19 Prefere amizade com pessoas mais velhas20 Desenha com detalhes e criatividade21 Demonstra aptidatildeo para as artes22 Cria diaacutelogos em Libras23 Eacute indisciplinado em sala de aula24 Demonstra senso de justiccedila25 Apresenta facilidade em memorizar informaccedilotildees como datas histoacute-

ricas e capitais de estados e paiacuteses26 Conhece muitos sinais da Libras e sabe empregaacute-los para se comunicar27 Responde raacutepida e corretamente agraves perguntas do professor28 Gosta de fazer as coisas do seu proacuteprio jeito29 Resolve os exerciacutecios de uma forma diferente da que o professor en-

sinou mas correta30 Mostra-se entediado em sala de aula31 Apresenta formas originais de solucionar problemas32 Tem agilidade de movimento (corrida velocidade e forccedila)33 Gosta de ler textos livros jornais eou revistas34 Aprende com facilidade o que foi ensinado35 Demonstra aptidatildeo para esportes

A heterogeneidade conceitual do instrumento pode ser observada no Quadro 2 que apresenta os itens pertencentes agraves categorias dimensionadas I) Linguagem II) Criatividade III) Aprendizagem IV) Motivaccedilatildeo V) Aspectos afetivos e in-terpessoais e VI) Motricidade

Quadro 2 ndash Categorias Avaliadas na Escala e Itens Correspondentes

CATEGORIA QUESTOtildeESLinguagem Q10 + Q12 + Q16 + Q23 +Q27 + Q34 Criatividade Q4 + Q20 + Q21 + Q29 + Q30 + Q32

Aprendizagem Q2 + Q17 + Q18 + Q26 + Q28 +Q35 Motivaccedilatildeo Q7 + Q11 + Q13 +Q15 + Q24 + Q31

Aspectos afetivos e interpessoais Q3 + Q5 +Q6 + Q14 + Q19 + Q25

Motricidade Q1 + Q8 + Q9 + Q22 + Q33 + Q36

Conforme indica a anaacutelise meacutetrica a lista de indicado-res construiacuteda se apresenta como instrumento potencialmen-te apto a identificar alunos surdos com altas habilidades do Ensino Fundamental A anaacutelise de variacircncia realizada indi-cou coeficiente de precisatildeo (α de Cronbach) com valor igual a 090 Aleacutem disso nenhum item ao ser excluiacutedo do caacutelcu-lo desse coeficiente gerou modificaccedilotildees substanciais em seu valor O erro-padratildeo da medida foi igual a 008 equivalente a 022 da amplitude da escala [0-36] A escala apresentou meacutedia 1890 e desvio-padratildeo 88 A teacutecnica t2 de Hotelling mostrou-se estatisticamente significativa (F = 70 para p = 0001) demonstrando diferenccedila entre as meacutedias de cada item e natildeo indicando a presenccedila de efeito de halo O que significa que natildeo ocorreu a tendecircncia dos indiviacuteduos responderem a um mesmo item em cada pergunta

O grupo inicial de alunos surdos identificados pelos professores atraveacutes da lista foi submetido a entrevistas se-midirigidas realizadas com o auxiacutelio de um inteacuterprete Tam-beacutem foram entrevistados os professores que indicaram esses educandos bem como seus familiares Esse procedimento foi realizado para selecionar com maior precisatildeo os alunos com altas habilidades pois o grupo inicial identificados atraveacutes da observaccedilatildeo dirigida realizada pelos docentes costuma apre-sentar outras indicaccedilotildees como a presenccedila de educandos ta-lentosos (GUENTHER 2000 VIANA 2005)

Resultados

Do total de 411 alunos surdos observados pelos profes-sores em sala de aula foram indicados 30 sujeitos Foram entatildeo entrevistados os 30 estudantes indicados 30 familiares desses estudantes (ou responsaacuteveis) e os 12 professores que os

(Continuaccedilatildeo)

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA208 d d 209

indicaram Do grupo inicial de alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas semidirigidas 20 aprendizes foram sinalizados com altas habilidades correspondendo a uma proporccedilatildeo de 5 do total de sujeitos inicialmente observados O nuacutemero de alunos identificados com altas habilidades estaacute de acordo com a proporccedilatildeo de 3 a 5 estimada na literatura especializada (ALENCAR E S 2000 BRASIL 1995 1999a 2005 GUEN-THER 2000 NOVAES 1979 SABATELLA 2008 VIANA 2003 2004 WINNER 1998)

Conclusotildees

Para a concretizaccedilatildeo desse estudo tomou-se como pon-to de partida a necessidade de reconhecimento da presenccedila de altas habilidades do aluno surdo desviando-se portanto da tradicional ecircnfase conferida agrave sua deficiecircncia Aleacutem de obs-taacuteculos atitudinais associados ao preconceito o instrumental para a identificaccedilatildeo desse alunado eacute por demasiado escasso dificultando assim a identificaccedilatildeo de alunos surdos com altas habilidades (DRUPET 1998 SKLIAR 2004)

Uma avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica adequada deve esclarecer os aspectos individuais mas natildeo pode negligenciar os sociais Conveacutem assinalar que mesmo diante de limita-ccedilotildees particulares inclusive de natureza geneacutetica ou bioloacutegi-ca como no caso da pessoa com deficiecircncia um melhor de-senvolvimento pode ser obtido como resultado de condiccedilotildees favoraacuteveis e estimulaccedilotildees adequadas do meio fiacutesico e social (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

A identificaccedilatildeo de alunos surdos com altas habilidades pretende desmistificar a ideia ainda vigente na sociedade de que a surdez traz consigo algum tipo de deacuteficit intelectual

Suas capacidades estatildeo presentes mas ainda abrigadas em silecircncio Para aleacutem do preconceito a insuficiecircncia na forma-ccedilatildeo baacutesica do professor para lidar com esse alunado constitui outro fator que contribui para que as capacidades do aluno surdo permaneccedilam silentes despercebidas pela escola e pela sociedade

Referecircncias Bibliograacuteficas

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CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA210 d d 211

______ Saberes e praacuteticas da inclusatildeo desenvolvendo competecircncias para o atendimento agraves necessidades educacio-nais de alunos com altas habilidadessuperdotaccedilatildeo Brasiacutelia MECSEESP 2005______ Programa de capacitaccedilatildeo de recursos humanos do Ensino Fundamental superdotaccedilatildeo e talento v 1 Brasiacute-lia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Especial 1999a ______ Programa de capacitaccedilatildeo de recursos humanos do Ensino Fundamental superdotaccedilatildeo e talento v 2 Brasiacutelia Mi-nisteacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Especial 1999b______ Diretrizes gerais para o atendimento educacional aos alunos portadores de altas habilidades superdotaccedilatildeo e talentos Brasiacutelia MECSEESP 1995 CAMPBELL L Ensino e aprendizagem por meio das Inte-ligecircncias Muacuteltiplas Porto Alegre Artes Meacutedicas Sul 2000DUPRET L A experiecircncia de aprender com surdos Espaccedilo informativo teacutecnico-cientiacutefico do INES Rio de Janeiro n 10 juldez 1998 GARDNER H Inteligecircncia um conceito reformulado Rio de Janeiro Objetiva 2001______ Inteligecircncias muacuteltiplas a teoria na praacutetica Porto Alegre Artes Meacutedicas 1995 ______ Estruturas da mente a teoria das inteligecircncias muacuteltiplas Porto Alegre Artes Meacutedicas 1994GUENTHER Z C Identificaccedilatildeo de talentos recurso a teacutecni-cas de observaccedilatildeo directa Sobredotaccedilatildeo Braga v 1 n 1 e 2 p 7-36 2000GOLDFELD M A crianccedila surda linguagem e cogniccedilatildeo numa perspectiva soacutecio-interacionista Satildeo Paulo Plexus 1997LORENZINI N M P Aquisiccedilatildeo de um conceito cientiacutefico por alunos surdos de classes regulares do Ensino Fundamental

2004 155fl Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universi-dade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004 METTRAU M B Inteligecircncia patrimocircnio social Rio de Ja-neiro Dunya Ed 2000NEGRINI T A escola de surdo e os alunos com altas habi-lidadessuperdotaccedilatildeo uma problematizaccedilatildeo decorrente do processo de identificaccedilatildeo das pessoas surdas 2009 151f Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria-RS 2009 NOVAES M H Desenvolvimento psicoloacutegico do superdota-do Satildeo Paulo Atlas 1979PEREIRA C E K Estrangeiros em sua proacutepria cultura Espa-ccedilo informativo teacutecnico-cientiacutefico do INES Rio de Janeiro n 22 juldez 2004RENZULLI J S O que eacute esta coisa chamada superdotaccedilatildeo e como a desenvolvemos Uma retrospectiva de vinte e cin-co anos Educaccedilatildeo Porto Alegre n 1 p 75-121 janabr 2004 Disponiacutevel em ltwwwcaiobapucrsbrgt Acesso em 24022012 SABATELLA M L P Talento e superdotaccedilatildeo problema ou soluccedilatildeo Curitiba Ibpex 2008SKLIAR C (Org) Educaccedilatildeo e exclusatildeo abordagens soacutecio--antropoloacutegicas em Educaccedilatildeo Especial Porto Alegre Media-ccedilatildeo 2004 UFC Educar Igual a Motivar o Conhecimento Criativo (E=MC2) Projeto de Extensatildeo Coordenadora VIANA T V Fortaleza UFC 2006 5 p VIANA T V Avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica uma proposta para identificar altas habilidades 2005 324f Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2005 ______ Avaliando alunos com altas habilidades resulta-dos preliminares In ANDRIOLA W B MCDONALD B C

d 213TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA212 d

(Org) Avaliaccedilatildeo educacional navegar eacute preciso Fortaleza Editora UFC 2004 p 113-134 ______ Caminhos da excelecircncia da escola puacuteblica de For-taleza O conceito de altas habilidades dos professores 2003 147f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universidade Fe-deral do Cearaacute (UFC) Fortaleza 2003 VIRGOLIM A M R Talento criativo expressatildeo em muacuteltiplos contextos Brasiacutelia Editora Universidade de Brasiacutelia 2007 WINNER E Crianccedilas superdotadas mitos e realidades Por-to Alegre Artes Meacutedicas 1998

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute

Zilsa Maria Pinto SantiagoPliacutenio Renan Gonccedilalves da Silveira

Introduccedilatildeo

A discussatildeo sobre o conceito de cidadania eacute complexa e sugere inuacutemeras vertentes A praacutetica da cidadania partindo da escola ou da comunidade escolar com o apoio dos movimen-tos sociais de inclusatildeo principalmente no que diz respeito aos direitos da pessoa com deficiecircncia e da praacutetica de um ensino na diversidade eacute uma abordagem necessaacuteria nesta discussatildeo Iniciamos com o conceito de inclusatildeo social que segundo Sas-saki (1997 p 41) eacute

[] o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir em seus sistemas sociais gerais pessoas com necessidades especiais e simultaneamente estas se preparam para assumir seus papeacuteis na sociedade A inclusatildeo social constitui entatildeo um processo bilateral no qual as pessoas ainda excluiacutedas e a sociedade bus-cam em parceria equacionar problemas decidir sobre soluccedilotildees e efetivar a equiparaccedilatildeo de oportunidades para todos

A escola na condiccedilatildeo de espaccedilo social deve portanto apresentar condiccedilotildees de acessibilidade a todos inclusive a pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida aleacutem de pro-ver uma Educaccedilatildeo de qualidade a todas as crianccedilas modificar atitudes discriminatoacuterias criando comunidades acolhedoras (SANTIAGO 2005) Existe assim um caminho a ser percor-rido qual seja a organizaccedilatildeo da sociedade e as administraccedilotildees escolares inseridas em um novo contexto apoiadas pelo Siste-

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ma Educacional e Ministeacuterio Puacuteblico capaz de transformar a situaccedilatildeo de exclusatildeo e gerir uma cultura inclusiva

E quando chegamos ao patamar do Ensino Superior o que acontece Que condiccedilotildees existem para receber pessoas com deficiecircncia na universidade

A problemaacutetica da acessibilidade de pessoas com defi-ciecircn cia no Ensino Superior jaacute eacute tema de muitas discussotildees e estudos Na Universidade Federal do Cearaacute (UFC) este assunto vem sendo discutido numa visatildeo ampla mas de certa forma em termos de accedilotildees nos uacuteltimos dez anos trabalhadas pontual-mente pelas diversas unidades administrativas e de ensino na perspectiva da informaccedilatildeo do conhecimento das atitudes e do espaccedilo fiacutesico

Neste artigo abordaremos alguns aspectos da poliacutetica de acessibilidade e das accedilotildees que estatildeo sendo realizadas no acircmbito da Universidade por meio da Secretaria de Acessi-bilidade UFC Inclui tendo como base a realizaccedilatildeo de traba-lhos de pesquisa ensino e extensatildeo perpassando por todas as aacutereas e setores De forma mais especiacutefica trataremos da aacuterea relativa agrave acessibilidade fiacutesica em que as atividades estatildeo relativamente iniciando num processo de construccedilatildeo de uma cultura de inclusatildeo a fim de incorporar paracircmetros de acessi-bilidade na realizaccedilatildeo de projetos e reformas

Acessibilidade como Fator de Inclusatildeo

Accedilotildees realizadas pelo poder puacuteblico em relaccedilatildeo ao aten-dimento agraves pessoas com deficiecircncia fiacutesica visual auditiva e intelectual no Brasil ateacute os anos 1960 abstraiacuteam o conteuacute-do educacional da questatildeo e contemplavam basicamente a problemaacutetica social e da sauacutede culminando com accedilotildees as-sistencialistas ou de reabilitaccedilatildeo As primeiras iniciativas de

atendimento agraves pessoas com deficiecircncia no Cearaacute partiram de atitudes isoladas ou de pequenos grupos e organizaccedilotildees de pessoas que natildeo contavam com o apoio do poder puacuteblico Conforme Leitatildeo (1997)

[] A criaccedilatildeo destas entidades especializadas no aten-dimento aos portadores de deficiecircncia visual mental auditiva e fiacutesica no Cearaacute foi possiacutevel [] na medida em que se aliou aos desejos de indiviacuteduos ou grupo de indiviacuteduos o conhecimento especializado a assimilaccedilatildeo de saberes especiacuteficos que passam a esclarecer alguns mitos construiacutedos em torno dos intitulados deficientes e fornecem as bases para uma accedilatildeo terapecircutica ou educacional embora que ainda de caraacuteter assistencial segregativo e pouco eficiente No entanto essas enti-dades surgidas nesse periacuteodo histoacuterico representaram significativos avanccedilos oferecendo agravequeles indiviacuteduos melhores condiccedilotildees de vida e a possibilidade de uma desejaacutevel integraccedilatildeo social

A questatildeo educacional das pessoas com deficiecircncia natildeo veio acompanhada de imediato de estudos de adequaccedilatildeo e adaptaccedilotildees do ambiente fiacutesico Para a inclusatildeo nem sempre satildeo necessaacuterios recursos educacionais especializados mas o espaccedilo adequado eacute fator de inclusatildeo Neste caso compreen-demos que a crianccedila pode estar na escola regular desde o iniacute-cio de sua escolarizaccedilatildeo (MAZZOTTA apud GODOY 2002)

Reforccedilando esta ideia Glat (1995) considera que o gru-po de pessoas com deficiecircncia fiacutesica natildeo se constitui tradicio-nalmente como clientela da Educaccedilatildeo Especial A inclusatildeo eacute facilitada pela acessibilidade fiacutesica nos espaccedilos escolares natildeo sendo necessaacuterio nenhum outro tipo de assistecircncia especial ao aluno que tenha dificuldade de locomoccedilatildeo (usuaacuterio de ca-deira de rodas muletas andador ou pessoa com perna mais curta ou outro tipo de deficiecircncia fiacutesica)

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Neste sentido temos dois problemas imbricados tanto a dificuldade e iniciativa tardia do poder puacuteblico no trato das condiccedilotildees de Educaccedilatildeo de pessoas com deficiecircncia quanto agrave falta de acessibilidade ao meio ambiente fiacutesico construiacutedo O que resulta numa situaccedilatildeo em que ateacute bem pouco tempo atraacutes dificilmente encontrariacuteamos uma pessoa com defici-ecircncia visual com surdez ou ateacute mesmo em cadeira de rodas transitando nas salas de aula de uma universidade

A acessibilidade nos espaccedilos da universidade e de um modo geral nos espaccedilos puacuteblicos de Fortaleza vem sendo discutida nesta uacuteltima deacutecada em foacuteruns seminaacuterios au-diecircncias na Cacircmara Municipal na Assembleacuteia Legislativa dentre outros eventos tendo os movimentos e associaccedilotildees de pessoas com deficiecircncia com o apoio do Ministeacuterio Puacuteblico como impulsionadores destes eventos

O governo do estado com a participaccedilatildeo da UFC deu um passo importante com a elaboraccedilatildeo do Guia de Acessibili-dade espaccedilo puacuteblico e edificaccedilotildees publicado em 2009 e sua divulgaccedilatildeo junto aos prefeitos municipais entidades associa-ccedilotildees e a sociedade em geral

Accedilotildees Referentes agrave Acessibilidade Fiacutesica nos Campi da UFC

Ao se abordarem questotildees concernentes agrave inclusatildeo ou acessibilidade de pessoas com deficiecircncia eacute senso comum a referecircncia imediata aos aspectos relativos agraves barreiras arqui-tetocircnicas talvez por serem as mais visiacuteveis Eacute importante en-tretanto destacar o fato de que as barreiras enfrentadas por essas pessoas satildeo muacuteltiplas a comeccedilar pelas atitudes inade-quadas manifestas pelas pessoas em geral em funccedilatildeo de um desconhecimento sobre as reais necessidades da pessoa com deficiecircncia

A acessibilidade fiacutesica eacute hoje uma necessidade baacutesica para que todas as pessoas independentemente de suas habi-lidades possam desenvolver atividades da vida cotidiana com autonomia e mobilidade bem como usufruir dos espaccedilos com seguranccedila e comodidade O aspecto importante da acessibili-dade fiacutesica eacute ser um facilitador da inclusatildeo das pessoas com deficiecircncia

Em dados da UFC (2010) a universidade conta com a aacuterea fiacutesica em Fortaleza de 287258148 msup2 e aacuterea constru-iacuteda de 29131311 msup2 distribuiacuteda em trecircs aacutereas Pici Benfica e Porangabussu e mais algumas unidades dispersas sem di-mensionar os novos campi do interior Aleacutem disso conta nos trecircs terrenos com aacuterea urbanizada de 21841000 msup2 Tem portanto o grande desafio de dar continuidade agrave universali-zaccedilatildeo da acessibilidade adequando os edifiacutecios existentes e implementando nas novas edificaccedilotildees o conceito do Dese-nho Universal (que propotildee um espaccedilo constituiacutedo do maior nuacutemero de dimensotildees acessos tamanhos possibilitando seu uso pelo maior nuacutemero de pessoas) obedecendo agrave legislaccedilatildeo vigente dirimindo possiacuteveis barreiras arquitetocircnicas e pro-porcionando a todos os usuaacuterios sejam alunos servidores ou visitantes o acesso e a livre circulaccedilatildeo

A UFC tem realizado um esforccedilo de adequar sua grande aacuterea fiacutesica contudo as accedilotildees natildeo alcanccedilavam a plenitude de-vido agraves questotildees de recursos caracterizando-se assim como emergenciais ou contingenciais A antiga Superintendecircncia de Obras e Planejamento (PLANOP) atual Coordenadoria de Projetos e Obras (COP) elaborou em 2002 o projeto Acesso UFC sob a coordenaccedilatildeo da arquiteta Magda Campelo e dire-ccedilatildeo geral do professor Ademar Gondim com a intenccedilatildeo de incluir nas atividades dessa Superintendecircncia estudos de acessibilidade para os edifiacutecios da UFC Contou com o envol-

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vimento de alunos e servidores com deficiecircncia e bolsistas in-dicados pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Esse projeto tinha como objetivos principais a execu-ccedilatildeo do levantamento do nuacutemero de pessoas com deficiecircncia na UFC seus respectivos locais e condiccedilotildees de trabalho bem como a elaboraccedilatildeo de estudos para atendimento prioritaacuterio a este puacuteblico-alvo

No segundo momento foi realizado um levantamen-to da necessidade de intervenccedilatildeo em toda a aacuterea construiacuteda da UFC restringindo-se poreacutem agrave adequaccedilatildeo de banheiros construccedilatildeo de rampas e instalaccedilatildeo de plataformas a fim de mensurar os custos necessaacuterios para eliminaccedilatildeo de barreiras arquitetocircnicas na instituiccedilatildeo

No periacuteodo entre 2002 e 2003 foram executados e or-ccedilados pela PLANOP vinte e quatro projetos de acessibilida-de com ecircnfase tambeacutem na instalaccedilatildeo de rampas e adequa-ccedilatildeo de banheiros em preacutedios Do total 62 das intervenccedilotildees deram-se no Benfica aacuterea com maior nuacutemero de pessoas com deficiecircncia 34 no Pici e 4 no Porangabussu

Alguns destes projetos natildeo foram efetivados por indis-ponibilidade orccedilamentaacuteria na eacutepoca poreacutem com recursos do Projeto UFC Inclui em 2006 e 2007 sob a coordenaccedilatildeo da professora doutora Ana Karina Lira foram realizadas vaacuterias accedilotildees dentre elas o Ciclo de Debates Exposiccedilotildees e execuccedilatildeo de nove dos projetos disponibilizados pela Superintendente da PLANOP Aleacutem disso por iniciativa de diretores dos cen-tros e faculdades vaacuterias outras adaptaccedilotildees foram executadas como as passarelas de ligaccedilatildeo de preacutedios rampas de acesso aos edifiacutecios bem como intervenccedilotildees em banheiros

Registramos ainda um processo movido pelo Nuacutecleo de Tutela Coletiva da Procuradoria da Repuacuteblica no Estado do Cearaacute em 2005 que exigiu da UFC adoccedilatildeo de medidas

de condiccedilotildees miacutenimas e baacutesicas para o acesso e permanecircncia de estudantes com deficiecircncia em suas dependecircncias Desde entatildeo intervenccedilotildees foram feitas em todos os centros e facul-dades mas em face da dimensatildeo da UFC e da limitaccedilatildeo orccedila-mentaacuteria muitas das demandas ainda natildeo foram totalmente atendidas conforme imperativo legal vigente Contudo algu-mas plataformas verticais para conduccedilatildeo de pessoas com de-ficiecircncia ou mobilidade reduzida e rampas foram implantadas em algumas das edificaccedilotildees existentes como eacute o caso da Fa-culdade de Direito dentre outras (Fotos 01 e 02)

Foto 1 ndash Faculdade de DireitoUFC ndash Plataforma vertical no curso de DireitoFoto 2 ndash Faculdade de DireitoUFC ndash Rampa para o bloco antigo do curso de Direito

Com a criaccedilatildeo da Secretaria de Acessibilidade UFC In-clui em 2010 os trabalhos de acompanhamento de adequa-ccedilatildeo dos espaccedilos construiacutedos foram retomados de forma mais ampla e sistematizada

Como instrumento de verificaccedilatildeo das condiccedilotildees de acessibilidade na universidade iniciaram utilizando o levan-tamento de necessidades no acervo da COP dados resultan-tes da realizaccedilatildeo de vistoria da Comissatildeo de Acessibilidade do

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Sistema de Bibliotecas da UFC como tambeacutem indicadores le-vantados por membros da Comissatildeo Especial de Educaccedilatildeo In-clusiva (CEIn) em 2009 juntamente com alunos bolsistas dos cursos de Arquitetura e Urbanismo Enfermagem Pedagogia e de um aluno do curso de bacharelado em Quiacutemica ndash usuaacuterio de cadeira de rodas

A CEIn foi criada pelo Magniacutefico Reitor Jesualdo Pe-reira Farias em 2009 com o objetivo de fazer uma propos-ta de estruturaccedilatildeo administrativa cuidando da elaboraccedilatildeo conduccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas de Educaccedilatildeo Inclusiva na universidade

Os bolsistas da comissatildeo na aacuterea de Arquitetura e Ur-banismo eram inicialmente responsaacuteveis por realizar visitas teacutecnicas agraves edificaccedilotildees da universidade que foram mapeadas atraveacutes do Plano Diretor da UFC a fim de se obter uma di-mensatildeo geral sobre os problemas de acessibilidade da uni-versidade Posteriormente nesta agregaram-se os teacutecnicos a serviccedilo da COP

Estes trabalhos satildeo compostos de observaccedilotildees in loco mediccedilotildees e anotaccedilotildees sobre a estrutura fiacutesica registros foto-graacuteficos Posteriormente os dados satildeo organizados eacute feita uma anaacutelise resultando em Relatoacuterios Teacutecnicos das edifica-ccedilotildees visitadas com apontamentos referentes agrave necessidade de intervenccedilotildees para o cumprimento da legislaccedilatildeo existente

Para tanto foi elaborado um check list envolvendo as principais questotildees da acessibilidade de forma a simplificar tanto o processo de recolhimento de dados in loco quanto a proacutepria leitura do laudo Natildeo soacute os ambientes e acessos inter-nos agrave edificaccedilatildeo foram analisados mas tambeacutem as aacutereas livres comuns (paacutetios jardins caminhos) O diagnoacutestico tinha uma preocupaccedilatildeo urbaniacutestica analisando o entorno da edificaccedilatildeo as faixas de travessia os rebaixos as paradas de ocircnibus e se

a chegada da pessoa com deficiecircncia ao edifiacutecio estaria sendo executada de forma livre e segura

A metodologia de diagnosticar atraveacutes de um check list padratildeo pode ser observada no recorte do relatoacuterio abaixo

Foto 3 ndash Relatoacuterio de Condiccedilotildees de Acessibilidade Fiacutesica da FEAAC

Depois de uma anaacutelise geral dos problemas de acessi-bilidade nas edificaccedilotildees existentes na universidade os bol-sistas de Arquitetura e Urbanismo foram direcionados para trabalhar em parceria com a COP Este trabalho consistiu em realizar uma anaacutelise minuciosa das questotildees de acessibilidade nos novos projetos Infelizmente nos processos de licitaccedilatildeo

yRebaixosrampas Apresenta alguns rebai-xos inadequados nas travessias internas Nas entradas dos Centros Acadecircmicos e em alguns pontos do passeio natildeo haacute rampas A rampa encontrada na entrada do edifiacutecio estaacute com inclinaccedilatildeo adequada poreacutem o cor-rimatildeo estaacute em desacordo com a NBR9050

yBarreiras arquitetocircnicas desniacuteveis Alguns desniacuteveis foram encontrados sem rebaixo e com grelha na direccedilatildeo errada impossibili-tando a passagem da pessoa em cadeira de rodas As barreiras arquitetocircnicas natildeo pos-suem piso alerta

ySinalizaccedilatildeo Natildeo haacute sinalizaccedilatildeo direcional nem alertas para a pessoa com deficiecircncia visual

yAparelhos telefocircnicos puacuteblicos Os apare-lhos puacuteblicos encontrados estatildeo todos com alturas acima de 120 m alcance maacuteximo da pessoa em cadeira de rodas

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natildeo haacute uma cobranccedila rigorosa com base na legislaccedilatildeo vigente no que diz respeito a estas questotildees o que resulta em projetos que cumprem apenas parcialmente as determinaccedilotildees da nor-ma e em outros que ignoram os efeitos desta

O trabalho de anaacutelise projetual consiste na leitura pran-cha a prancha do projeto utilizando a mesma metodologia do check list Os dados desta anaacutelise resultam tambeacutem em um Relatoacuterio Teacutecnico de Acessibilidade conforme recorte abaixo

y Prancga 94 ndash Detalhe de banheiroDeve-se colocar as barras de apoio vertical em pelo menos um dos mic-toacuterios (com espaccedilo livre de 60 cm de largura) Rebaixar pelo menos uma extensatildeo de 90 cm da bancada para altura de 80 cm respeitando a altura de 73 cm para entrada da cadeira

Exemplo de mictoacuterios ndash Fonte NBR9050

y Prancha 95 ndash No WC Feminino deve-se rebaixar pelo menos uma extensatildeo de 90 cm da bancada para altura de 80 cm respeitando a altura de 73 cm para entrada da cadeira

y Prancha 102 ndash Detalhamento de Portas ndash Na porta P3 (acesiacutevel) o siacutembolo natildeo segue as corretas proporccedilotildees da NBR9050 que deve ser universal

Foto 4 ndash Relatoacuterio de Acessibilidade ICA

Passaram por esta anaacutelise grandes novas edificaccedilotildees da UFC como o Instituto de Cultura e Arte (ICA) o Instituto Pa-leontoloacutegico e Geoloacutegico e a 4ordf Etapa do Campus Juazeiro do Norte

Ratifica-se a necessidade da manutenccedilatildeo deste trabalho de anaacutelise projetual das novas edificaccedilotildees Analisar o edifiacutecio ainda na fase de projeto propicia a condiccedilatildeo de tempo haacutebil para correccedilotildees antes da execuccedilatildeo da obra A projetaccedilatildeo acessiacute-vel eacute mais simples proporcionando a condiccedilatildeo de concepccedilotildees esteacuteticas sem prejuiacutezo das visuais plaacutesticas do edifiacutecio Eacute ainda mais econocircmica evitando gastos futuros com reformas mui-tas vezes que natildeo conseguem chegar a um resultado satisfa-toacuterio sendo meras adaptaccedilotildees de uma realidade estabelecida

Com o crescimento dos investimentos em novas edifica-ccedilotildees e obras devido ao Programa de Reestruturaccedilatildeo e Expan-satildeo das Universidades Federais (REUNI) nos campi da UFC surgiu a necessidade da COP realizar um novo levantamento das condiccedilotildees de acessibilidade verificando as necessidades de adaptaccedilatildeo das antigas edificaccedilotildees bem como a sinalizaccedilatildeo das pendecircncias restantes nas novas edificaccedilotildees

A realizaccedilatildeo deste trabalho foi fundamentada no Decre-to nordm 52962004 que trata da prioridade de atendimento agraves pessoas com deficiecircncia que estabelece normas gerais e criteacuterios baacutesicos para a promoccedilatildeo da acessibilidade em rela-ccedilatildeo agraves edificaccedilotildees espaccedilo mobiliaacuterio e equipamento urbano incluindo elevadores plataformas de elevaccedilatildeo motorizadas e requisitos para seguranccedila dimensotildees e operaccedilatildeo funcional Deve-se salientar sua importacircncia tambeacutem por estabelecer ainda os criteacuterios para instruir os processos de autorizaccedilatildeo e de reconhecimento de cursos bem como o credenciamento de instituiccedilotildees considerando a acessibilidade aos edifiacutecios de uso puacuteblico ao espaccedilo e utilizaccedilatildeo de mobiliaacuterio

Vista frontal Vista frontalVista lateral

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Temos alguns exemplos desta nova fase de implantaccedilatildeo de requisitos de acessibilidade nos projetos de edificaccedilotildees e espaccedilos livres na UFC (Fotos 05 e 06)

Foto 5 ndash Auditoacuterio Valnir Chagas ndash FacedUFC Rampa com incli-naccedilatildeo adequada e corrimatildeo proacuteximo ao exigido pela NBR-9050Foto 6 ndash Entrada do curso de PsicologiaUFC Rebaixos de rampas de acesso adequados e vaga reservada

Conclusatildeo

A obrigatoriedade ao cumprimento do Decreto nordm 52962004 e a conscientizaccedilatildeo da necessidade de se projetar para todos impotildeem aos oacutergatildeos puacuteblicos dentre eles a univer-sidade a execuccedilatildeo de projetos em observacircncia agrave NBR 9050 Uma dificuldade percebida se refere agrave dimensatildeo da equipe que trabalha nos projetos e obras da instituiccedilatildeo o que dificulta o andamento de accedilotildees de um modo geral bem como de obras de pequeno porte que poderiam ser realizadas pelos proacuteprios diretores de centros e faculdades Ao que parece desde o ano de 2011 este trabalho vem sendo acelerado com a terceiriza-ccedilatildeo de parte destes projetos

O atendimento agraves normas de acessibilidade passou a ser adotado quando da elaboraccedilatildeo de projetos para novas edificaccedilotildees Mesmo sendo a nova concepccedilatildeo inserida nos pre-

ceitos da acessibilidade fiacutesica algumas accedilotildees como eacute o caso da locaccedilatildeo de equipamentos como as plataformas verticais retardam a finalizaccedilatildeo completa da obra por constituiacuterem um procedimento obrigatoacuterio de licitaccedilatildeo para compra de equi-pamentos explicando o fato de encontrarmos nos preacutedios novos apenas as estruturas que abrigam estes equipamentos Isso resulta no atraso da instalaccedilatildeo das mesmas em relaccedilatildeo agrave obra como um todo

Estes satildeo instrumentos contundentes relativos ao fato de que mesmo tendo sido realizadas muitas accedilotildees ainda haacute de se fazer para que a universidade atinja um niacutevel plenamen-te satisfatoacuterio de acessibilidade em sua estrutura fiacutesica

Em decorrecircncia de novos eventos como a promulgaccedilatildeo da Lei nordm 12587 de 3 de janeiro de 2012 ndash que institui as dire-trizes da Poliacutetica Nacional de Mobilidade Urbana bem como o Decreto Legislativo nordm 186 2008 no qual em seu Art 1ordm ndash Fica aprovado nos termos do sect 3ordm do Art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal o texto da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia e de seu Protocolo Facultativo assinados em Nova Iorque em 2007 igualmente o Decreto nordm 6949 de 2009 que determina em seu Art 1ordm ndash A Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia e seu Protocolo Faculta-tivo ndash seratildeo executados e cumpridos tatildeo inteiramente como neles se contecircm as accedilotildees para inserccedilatildeo de requisitos para a acessibilidade sendo assim cada vez mais incorporados ao co-tidiano das realizaccedilotildees das obras na universidade

Neste sentido podemos afirmar que a execuccedilatildeo de pro-jetos de edificaccedilotildees nos vaacuterios campi da UFC bem como as reformas e adaptaccedilotildees de antigas edificaccedilotildees estatildeo sendo re-alizadas cada vez mais assumindo o compromisso com os pa-radigmas da inclusatildeo observando criteacuterios e determinaccedilotildees legais amparadas pelos princiacutepios da acessibilidade universal

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Referecircncias Normativas e Leis

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 9050 ndash Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiecircncias a edificaccedilotildees espaccedilo mobiliaacuterio e equipamento urbano Rio de Janeiro ABNT 2004BRASIL Lei n 12587 de 3 de Janeiro de 2012 ndash que institui as diretrizes da Poliacutetica Nacional de Mobilidade Urbana______ Decreto nordm 6949 de 25 de agosto de 2009 Pro-mulga a Convenccedilatildeo Internacional sobre os Direitos das Pesso-as com Deficiecircncia e seu Protocolo Facultativo assinados em Nova York em 30 de marccedilo de 2007______ Decreto Ndeg 5626 de 22 de dezembro de 2005 re-gulamenta a Lei Nordm 10436 de 24 de abril de 2002 que dispotildee sobre a Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras e o art 18 da Lei Nordm 10098 de 19 de dezembro de 2000______ Decreto Nordm 5296 de 2 de dezembro de 2004 que regulamenta as Leis nordms 10048 de 8 de novembro de 2000 que daacute prioridade de atendimento agraves pessoas que especifica e 10098 de 19 de dezembro de 2000 que estabelece normas gerais e criteacuterios baacutesicos para a promoccedilatildeo da acessibilidade das pessoas com deficiecircncia ou com mobilidade reduzida e daacute outras providecircnciasCEARAacute Guia de acessibilidade espaccedilo puacuteblico e edificaccedilotildees 1 ed Elaboraccedilatildeo Nadja GS Dutra Montenegro Zilsa Maria Pinto Santiago e Valdemice Costa de Sousa Fortaleza SEIN-FRA-CE 2009

Referecircncias Bibliograacuteficas

GLAT Rosana A Integraccedilatildeo social dos portadores de defici-ecircncias uma reflexatildeo Rio de Janeiro Sete Letras 1995

GODOY H P Inclusatildeo de alunos portadores de deficiecircncia no ensino regular paulista recomendaccedilotildees internacionais e normas oficiais Satildeo Paulo Editora Mackenzie 2002LEITAtildeO V M et al Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC Pro-postas Fortaleza UFC 2010______ Para aleacutem da diferenccedila e do tempo Ensaio soacutecio--histoacuterico da Educaccedilatildeo dos portadores de necessidades es-peciais no Cearaacute Uma trajetoacuteria de luta da segregaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira ndash UFC) Fortaleza 1997MAZZOTTA Marcos J S Educaccedilatildeo Especial no Brasil histoacute-ria e poliacuteticas puacuteblicas Satildeo Paulo Cortez 1996SANTIAGO Z M P Acessibilidade fiacutesica no ambiente cons-truiacutedo o caso das escolas municipais de ensino fundamental de Fortaleza ndash CE (1990 ndash 2003) Dissertaccedilatildeo (Mestrado ndash FAUUSP) Satildeo Paulo 2005SASSAKI R K Inclusatildeo construindo uma sociedade para to-dos 5 ed Rio de Janeiro VWA 1997

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SEacuteRIE DIAacuteLOGOS INTEMPESTIVOS

1 Ditos (mau)ditos Joseacute Gerardo Vasconcelos Antonio Germano Magalhatildees Junior e Joseacute Mendes Fonteles (Orgs) 2001 208p 2001 ISBN 85-86627-13-5

2 Memoacuterias no plural Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Magalhatildees Junior (Orgs) 140p 2001 ISBN 85-86627-21-6

3 Trajetoacuterias da juventude Maria Nobre Damasceno Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 112p 2001 ISBN 85-86627-22-4

4 Trabalho e educaccedilatildeo face agrave crise global do capitalismo Eneacuteas Arrais Neto Manuel Joseacute Pina Fernandes e Sandra Cordeiro Felismino (Orgs) 2002 218p ISBN 85-86627-23-2

5 Um dispositivo chamado Foucault Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Magalhatildees Junior (Orgs) 120p 2002 ISBN 85-86627-24-0

6 Registros de pesquisa na educaccedilatildeo Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2002 216p ISBN 85-86627-25-9

7 Linguagens da histoacuteria Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Maga-lhatildees Junior (Orgs) 2003 154p ISBN 85-7564084-4

8 Esboccedilos em avaliaccedilatildeo educacional Brendan Coleman Mc Donald (Org) 2003 168p ISBN 85-7282-131-7

9 Informaacutetica na escola um olhar multidisciplinar Edla Maria Faust Ramos Marta Costa Rosatelli e Raul Sidnei Wazlawick (Orgs) 2003 135p ISBN 85-7282-130-9

10 Filosofia educaccedilatildeo e realidade Joseacute Gerardo Vasconcelos (Org) 2003 300p ISBN 85-7282-132-5

11 Avaliaccedilatildeo Fiat Lux em Educaccedilatildeo Wagner Bandeira Andriola e Brendan Coleman Mc Donald (Orgs) 2003 212p ISBN 85-7282-136-8

12 Biografias instituiccedilotildees ideias experiecircncias e poliacuteticas educacionais Maria Juraci Maia Cavalcante e Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Orgs) 2003 467p ISBN 85-7282-137-6

13 Movimentos sociais educaccedilatildeo popular e escola a favor da diversidade Kelma Socorro Lopes de Matos (Org) 2003 312p ISBN 85-7282-138-4

14 Trabalho sociabilidade e educaccedilatildeo uma criacutetica agrave ordem do capital Ana Maria Dorta de Menezes e Faacutebio Fonseca Figueiredo (Orgs) 2003 396p ISBN 85-7282-139-2

15 Mundo do trabalho debates contemporacircneos Eneacuteas Arrais Neto Elenice Gomes de Oliveira e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2004 154p ISBN 85-7282-142-2

16 Formaccedilatildeo humana liberdade e historicidade Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2004 250p ISBN 85-7282-143-0

17 Diversidade cultural e desigualdade dinacircmicas identitaacuterias em jogo Maria de Faacutetima Vasconcelos e Rosa Barros Ribeiro (Orgs) 2004 324p ISBN 85-7282-144-9

18 Corporeidade ensaios que envolvem o corpo Antonio Germano Magalhatildees Junior e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2004 114p ISBN85-7282-146-5

19 Linguagem e educaccedilatildeo da crianccedila Silvia Helena Vieira Cruz e Mocircnica Petra-landa Holanda (Orgs) 2004 369p ISBN85-7282-149-X

20 Educaccedilatildeo ambiental em tempos de semear Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Levi Furtado Sampaio (Orgs) 2004 203p ISBN 85-7282-150-3

21 Saberes populares e praacuteticas educativas Joseacute Arimatea Barros Bezerra Catarina Farias de Oliveira e Rosa Maria Barros Ribeiro (Orgs) 2004 186p ISBN 85-7282-162-7

230 d d 231

22 Culturas curriacuteculos e identidades Luiz Botelho de Albuquerque (Org) 231p ISBN 85-7282-165-1

23 Polifonias vozes olhares e registros na filosofia da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Andreacutea Pinheiro e Eacuterica Atem (Orgs) 274p ISBN 857282166-X

24 Coisas de cidade Joseacute Gerardo Vasconcelos e Shara Jane Holanda Costa Adad ISBN 85-7282-172-4

25 O caminho se faz ao caminhar Maria Nobre Damasceno e Celecina de Maria Vera Sales (Orgs) 2005 230p ISBN 85-7282-179-1

26 Artesania do saber tecendo os fios da educaccedilatildeo popular Maria Nobre Damasceno (Org) 2005 169p ISBN 85-7282-181-3

27 Histoacuteria da educaccedilatildeo instituiccedilotildees protagonistas e praacuteticas Maria Juraci Maia Cavalcante e Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Orgs) 458p ISBN 85-7282-182-1

28 Linguagens literatura e escola Sylvie Delacours-Lins e Siacutelvia Helena Vieira Cruz (Orgs) 2005 221p ISBN 85-7282-184-8

29 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade em Paulo Freire Maria Erciacutelia Braga de Olinda e Joatildeo Batista de A Figueiredo (Orgs) 2006 ISBN 85-7282-186-4

30 Curriacuteculos contemporacircneos formaccedilatildeo diversidade e identidades em transiccedilatildeo Luiz Botelho Albuquerque (Org) 2006 ISBN 85-7282-188-0

31 Cultura de paz educaccedilatildeo ambiental e movimentos sociais Kelma Socorro Lopes de Matos (Org) 2006 ISBN 85-7282-189-9

32 Movimentos sociais educaccedilatildeo popular e escola a favor da diversidade II Sylvio de Sousa Gadelha e Socircnia Pereira Barreto (Orgs) 2006 172p ISBN 85-7282-192-9

33 Entretantos diversidade na pesquisa educacional Joseacute Gerardo Vasconcelos Emanoel Luiacutes Roque Soares e Isabel Magda Said Pierre Carneiro (Orgs) ISBN 85-7282-194-5

34 Juventudes cultura de paz e violecircncias na escola Maria do Carmo Alves do Bomfim e Kelma Socorro Lopes de Matos (Orgs) 2006 276p ISBN 85-7282-204-6

35 Diversidade sexual perspectivas educacionais Luiacutes Palhano Loiola 183p ISBN 85-7282-214-3

36 Estaacutegio nos cursos tecnoloacutegicos conhecendo a profissatildeo e o profissional Gregoacuterio Maranguape da Cunha Patriacutecia Helena Carvalho Holanda Cristiano Lins de Vasconcelos (Orgs) 93p ISBN 85-7282-215-1

37 Jovens e crianccedilas outras imagens Kelma Socorro Lopes de Matos Shara Jane Ho-landa Costa Adad e Maria Dalva Macedo Ferreira (Orgs) 221p ISBN 85-7282-219-4

38 Histoacuteria da educaccedilatildeo no Nordeste brasileiro Joseacute Gerardo Vasconcelos e Jorge Carvalho do Nascimento (Orgs) 2006 193p ISBN 85-7282-220-8

39 Pensando com arte Joseacute Gerardo Vasconcelos e Joseacute Albio Moreira de Sales (Orgs) 2006 212p ISBN 85-7282-221-6

40 Educaccedilatildeo poliacutetica e modernidade Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Paulino de Sousa (Orgs) 2006 209p ISBN 978-85-7282-231-2

41 Interfaces metodoloacutegicas na histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconce-los Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Zuleide Fernandes de Queiroz e Joseacute Edvar Costa de Arauacutejo (Orgs) 2007 286p ISBN 978-85-7282-232-9

42 Praacuteticas e aprendizagens docentes Erciacutelia Maria Braga de Olinda e Dorgival Gonccedilalves Fernandes (Orgs) 2007 196p ISBN 97885-7282246-6

43 Educaccedilatildeo ambiental dialoacutegica as contribuiccedilotildees de Paulo Freire e as repre-sentaccedilotildees sociais da aacutegua em cultura sertaneja nordestina Joatildeo B A Figueiredo 2007 385p ISBN 978-85-7282-245-9

44 Espaccedilo urbano e afrodescendecircncia estudos da espacialidade negra urbana para o debate das poliacuteticas puacuteblicas Henrique Cunha Juacutenior e Maria Estela Rocha Ramos (Orgs) 2007 209 ISBN 978-85-7282-259-6

45 Outras histoacuterias do Piauiacute Roberto Kennedy Gomes Franco e Joseacute Gerardo Vasconcelos 2007 197p ISBN 978-85-7282-263-3

46 Estaacutegio supervisionado questotildees da praacutetica profissional Gregoacuterio Maranguape da Cunha Patriacutecia Helena Carvalho Holanda e Cristiano Lins de Vasconcelos (Orgs) 2007 163p ISBN 978-85-7282-265-7

47 Alienaccedilatildeo trabalho e emancipaccedilatildeo humana em Marx Jorge Luiacutes de Oli-veira 2007 291p ISBN 978-85-7282-264-0

48 Modo de brincar lembrar e dizer discursividade e subjetivaccedilatildeo Maria de Faacutetima Vasconcelos da Costa Veriana de Faacutetima Rodrigues Colaccedilo e Nelson Barros da Costa (Orgs) 2007 347p ISBN 97885-7282-267-1

49 De novo ensino meacutedio aos problemas de sempre entre marasmos apro-priaccedilotildees e resistecircncias escolares Jean Mac Cole Tavares Santos 2007 270p ISBN 97885-7282-278-7

50 Nietzscheanismos Joseacute Gerardo Vasconcelos Cellina Muniz e Roberto Kennedy Gomes Franco (Orgs) 2008 150p ISBN 97885-7282-277-0

51 Artes do existir trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda e Francisco Silva Cavalcante Juacutenior (Orgs) 2008 353p ISBN 978-85-7282-269-5

52 Em cada sala um altar em cada quintal uma oficina o tradicional e o novo na histoacuteria da educaccedilatildeo tecnoloacutegica no Cariri cearense Zuleide Fernandes de Queiroz (Org) 2008 403p ISBN 978-85-7282-280-0

53 Instituiccedilotildees campanhas e lutas histoacuteria da educaccedilatildeo especial no Cearaacute Vanda Magalhatildees Leitatildeo 2008 169p ISBN 978-85-7282-281-7

54 A pedagogia feminina das casas de caridade do padre Ibiapina Maria das Graccedilas de Loiola Madeira 2008 391p ISBN 978-85-7282-282-4

55 Histoacuteria da educaccedilatildeo mdash vitrais da memoacuteria lugares imagens e praacuteticas culturais Maria Juraci Maia Cavalcante Zuleide Fernandes de Queiroz Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Joseacute Edvar Costa de Araujo (Orgs) 2008 560p ISBN 978-85-7282-284-8

56 Histoacuteria educacional de Portugal discurso cronologia e comparaccedilatildeo Maria Juraci Maia Cavalcante 2008 342p ISBN 978-85-7282-283-1

57 Juventudes e formaccedilatildeo de professores o ProJovem em Fortaleza Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Paulo Roberto de Sousa Silva (Orgs) 2008 198p ISBN 978-85-7282-295-4

58 Histoacuteria da educaccedilatildeo arquivos documentos historiografia narrativas orais e outros rastros Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Org) 2008 276p ISBN 978-85-7282-285-5

59 Educaccedilatildeo utopia e emancipaccedilatildeo Casemiro de Medeiros Campos 2008 104p ISBN 978-85-7282-305-0

60 Entre liacutenguas movimentos e mistura de saberes Shara Jane Holanda Costa Adad Ana Cristina Meneses de Sousa Brandim e Maria do Socorro Rangel (Orgs) 2008 202p ISBN 978-85-7282-306-7

61 Reinventar o presente pois o amanhatilde se faz com a transformaccedilatildeo do hoje Reinaldo Matias Fleuri 2008 76p ISBN 978-85-7282-307-4

62 Cultura de paz do Conhecimento agrave Sabedoria Kelma Socorro Lopes de Matos Verocircnica Salgueiro do Nascimento e Raimundo Nonato Juacutenior (Orgs) 2008 260p ISBN 978-85-7282-311-1

63 Educaccedilatildeo e afrodescendecircncia no Brasil Ana Beatriz Sousa Gomes e Henrique Cunha Juacutenior (Orgs) 2008 291p ISBN 978-85-7282-310-4

64 Reflexotildees sobre a fenomenologia do espiacuterito de Hegel Eduardo Ferreira Chagas Marcos Faacutebio Alexandre Nicolau e Renato Almeida de Oliveira (Orgs) 2008 285p ISBN 978-85-7282-313-5

232 d d 233

65 Gestatildeo escolar saber fazer Casemiro de Medeiros Campos e Milena Marcintha Alves Braz (Orgs) 2009 166p ISBN 978-85-7282-316-6

66 Psicologia da educaccedilatildeo teorias do desenvolvimento e da aprendizagem em discussatildeo Maria Vilani Cosme de Carvalho e Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Orgs) 2008 241p ISBN 978-85-7282-322-7

67 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2008 210p ISBN 978-85-7282-323-4

68 Projovem experiecircncias com formaccedilatildeo de professores em Fortaleza Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2008 214p ISBN 978-85-7282-324-1

69 A filosofia moderna Antonio Paulino de Sousa e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2008 212p ISBN 978-85-7282-314-2

70 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade em Paulo Freire II reflexotildees e possi-bilidades em movimento Joatildeo B A Figueiredo e Maria Eleni Henrique da Silva (Orgs) 2009 189p ISBN 978-85-7282-312-8

71 Letramentos na Web Gecircneros Interaccedilatildeo e Ensino Juacutelio Ceacutesar Arauacutejo e Messias Dieb (Orgs) 2009 286p ISBN 978-85-7282-328-9

72 Marabaixo danccedila afrodescendente Significando a Identidade Eacutetnica do Negro Amapaense Piedade Lino Videira 2009 274p ISBN 978-85-7282-325-8

73 Escolas e culturas poliacuteticas tempos e territoacuterios de accedilotildees educacionais Maria Juraci Maia Cavalcante Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Edvar Costa de Araujo e Zuleide Fernandes de Queiroz (Orgs) 2009 445p ISBN 978-85-7282-333-3

74 Educaccedilatildeo saberes e praacuteticas no Oeste Potiguar Jean Mac Cole Tavares Santos e Zacarias Marinho (Orgs) 2009 225p ISBN 978-85-7282-342-5

75 Labirintos de clio praacuteticas de pesquisa em Histoacuteria Joseacute Gerardo Vasconcelos Samara Mendes Arauacutejo Silva e Raimundo Nonato Lima dos Santos (Orgs) 2009 171p ISNB 978-85-7282-354-8

76 Fanzines autoria subjetividade e invenccedilatildeo de si Cellina Rodrigues Muniz (Org) 2009 139p ISBN 978-85-7282-366-1

77 Besouro cordatildeo de ouro o capoeira justiceiro Joseacute Gerardo Vasconcelos 2009 109p ISBN 978-85-7282-362-3

78 Da teoria agrave praacutetica a escola dos sonhos eacute possiacutevel Adelar Hengemuhle Deacutebora Luacutecia Lima Leite Mendes Casemiro de Medeiros Campos (Orgs) 2010 167p ISBN 978-85-7282-363-0

79 Eacutetica e cidadania educaccedilatildeo para a formaccedilatildeo de pessoas eacuteticas Maacuterie dos Santos Ferreira e Raphaela Cacircndido (Orgs) 2010 115p ISBN 978-85-7282-373-9

80 Qualidade de vida na infacircncia visatildeo de alunos da rede puacuteblica e privada de ensino Lia Machado Fiuza Fialho e Maria Teresa Moreno Valdeacutes 2009 113p ISBN 978-85-7282-369-2

81 Federalismo cultural e sistema nacional de cultura contribuiccedilatildeo ao debate Francisco Humberto Cunha Filho 2010 155p ISBN 978-85-7282-378-4

82 Experiecircncias e diaacutelogos em educaccedilatildeo do campo Kelma Socorro Alves Lopes de Matos Carmen Rejane Flores Wizniewsky Ane Carine Meurer e Cesar De David (Orgs) 2010 129p ISBN 978-85-7282-377-7

83 Tempo espaccedilo e memoacuteria da educaccedilatildeo pressupostos teoacutericos metodoloacutegi-cos e seus objetos de estudo Joseacute Gerardo Vasconcelos Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Edvar Costa de Arauacutejo Joseacute Rogeacuterio Santana Zuleide Fernandes de Queiroz e Ivna de Holanda Pereira (Orgs) 2010 718p ISBN 978-85-7282-385-282

84 Os Diferentes olhares do cotidiano profissional Cassandra Maria Bastos Franco Joseacute Gerardo Vasconcelos e Patriacutecia Maria Bastos Franco 2010 275p ISBN 978-85-7282-381-4

85 Fontes meacutetodos e registros para a histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2010 221p ISBN 978-85-7282-383-8

86 Temas educacionais uma coletacircnea de artigos Luiacutes Taacutevora Furtado Ribeiro e Marco Aureacutelio de Patriacutecio Ribeiro 2010 261p ISBN 978-85-7282-389-0

87 Educaccedilatildeo e diversidade cultural Maria do Carmo Alves do Bomfim Kelma Socorro Alves Lopes de Matos Ana Beatriz Sousa Gomes e Ana Ceacutelia de Sousa Santos 2009 463p ISBN 978-85-7282-376-0

88 Histoacuteria da educaccedilatildeo nas trilhas da pesquisa Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2010 239p ISBN 978-85-7282-384-5

89 Artes do fazer trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2010 335p ISBN 978-85-7282-398-2

90 Laacutepis agulhas e amores histoacuteria de mulheres na contemporaneidade Joseacute Gerardo Vasconcelos Samara Mendes Arauacutejo Silva Cassandra Maria Bastos Franco e Joseacute Rogeacuterio Santana (Orgs) 2010 327p ISBN 978-85-7282-395-1

91 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Raimundo Nonato Junior (Orgs) 2010 337p ISBN 978-85-7282-403-3

92 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade II Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2010 241p ISBN 978-85-7282-407-1

93 Eacutetica e as reverberaccedilotildees do fazer Kleber Jean Matos Lopes Emiacutelio Nolasco de Carvalho e Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Orgs) 2011 205p ISBN 978-85-7282-424-8

94 Contrapontos democracia repuacuteblica e constituiccedilatildeo no Brasil Filomeno Moraes 2010 205p ISBN 978-85-7282-421-7

95 Paulo Freire teorias e praacuteticas em educaccedilatildeo popular mdash escola puacuteblica inclusatildeo humanizaccedilatildeo (Org) 2011 241p ISBN 978-85-7282-419-4

96 Formaccedilatildeo de professores e pesquisas em educaccedilatildeo teorias metodologias praacuteticas e experiecircncias docentes Francisco Ari de Andrade e Jean Mac Cole Tavares Santos (Orgs) 2011 307p ISBN 978-85-7282-427-9

97 Experiecircncias de avaliaccedilatildeo curricular possibilidades teoacuterico-praacuteticas Mei-recele Caliope Leitinho e Patriacutecia Helena Carvalho Holanda (Orgs) 2011 208p ISBN 978-85-7282-437-8

98 Elogio do cotidiano educaccedilatildeo ambiental e a pedagogia silenciosa da caatinga no sertatildeo piauiense Saacutedia Gonccedilalves de Castro (Orgs) 2011 243p ISBN 978-85-7282-438-6

99 Recortes das sexualidades Adriano Henrique Caetano Costa Alexandre Martins Joca e Francisco Pedrosa Ramos Xavier Filho (Orgs) 2011 214p ISBN 978-85-7282-444-6

100 O Pensamento pedagoacutegico hoje Joseacute Gerardo Vasconcelos e Joseacute Rogeacuterio Santana (Orgs) 2011 187p ISBN 978-85-7282-428-6

101 Inovaccedilotildees cibercultura e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vasconcelos Vania Marilande Ceccatto Francisco Herbert Lima Vasconcelos e Juacutelio Wilson Ribeiro (Orgs) 2011 301p ISBN 978-85-7282-429-3

102 Tribuna de vozes Joseacute Gerardo Vasconcelos Renata Rovaris Diorio e Flaacutevio Joseacute Moreira Gonccedilalves (Orgs) 2011 530p ISBN 978-85-7282-446-0

103 Bioinformaacutetica ciecircncias biomeacutedicas e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho Francisco Fleury Uchoa Santos Juacutenior Vacircnia Marilande Ceccatto (Orgs) 2011 277p ISBN 978-85-7282-450-7

104 Dialogando sobre metodologia cientiacutefica Helena Marinho Joseacute Rogeacuterio Santana e (Orgs) 2011 165p ISBN 978-85-7282-463-7

234 d d 235

105 Cultura educaccedilatildeo espaccedilo e tempo Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Keila Andrade Haiashida Lia Machado Fiuza Fialho Rui Martinho Rodrigues e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2011 743p ISBN 978-85-7282-453-8

106 Artefatos da cultura negra no Cearaacute Henrique Cunha Juacutenior Joselina da Silva e Cicera Nunes (Orgs) 2011 283p ISBN 978-85-7282-464-4

107 Espaccedilos e tempos de aprendizagens geografia e educaccedilatildeo na cultura Stanley Braz de Oliveira Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Gerardo Vasconcelos e Maacutercio Igleacutesias Arauacutejo Silva (Orgs) 2011 157p ISBN 978-85-7282-483-5

108 Muitas histoacuterias muitos olhares relatos de pesquisas na histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vasconcelos Gablielle Bessa Pereira Maia e Lia Machado Fiuza Fialho (Orgs) 2011 339p ISBN 978-85-7282-466-8

109 Imagem memoacuteria e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vas-concelos Lia Machado Fiuza Fialho Cibelle Amorim Martins e Favianni da Silva (Orgs) 2011 322p ISBN 978-85-7282-480-4

110 Corpos de rua cartografia dos saberes Juvenis e o Sociopoetizar dos Desejos dos Educadores Shara Jane Holanda Costa Adad 2011 391p ISBN 978-85-7282-447-7

111 Baratildeo e o prisioneiro biografia e histoacuteria de vida em debate Charliton Joseacute dos Santos Machado Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Joseacute Gerardo Vasconcelos 2011 76p ISBN 978-85-7282-475-0

112 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade II Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2011 363p ISBN 978-85-7282-481-1

113 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade III Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2011 331p ISBN 978-85-7282-484-2

114 Diaacutelogos em educaccedilatildeo ambiental Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Joseacute Levi Furtado Sampaio (Org) 2012 350p ISBN 978-85-7282-488-0

115 Artes do sentir trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2011 406p ISBN 978-85-7282-490-3

116 Milagre martiacuterio protagonismo da tradiccedilatildeo religiosa popular de Juazeiro padre Ciacutecero beata Maria de Arauacutejo romeirosas e romarias Luis Eduardo Torres Bedoya (Org) 2011 189p ISBN 978-85-7282-462-091

117 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade III encantos que se encontram nos diaacutelogos que acompanham Freire Joatildeo Batista de Oliveira Figueiredo e Maria Eleni Henrique da Silva (Orgs) 2012 212p ISBN 978-85-7282-454-5

118 As contribuiccedilotildees de Paramahansa Yogananda agrave educaccedilatildeo ambiental Arnoacutebio Albuquerque 2011 233p ISBN 978-85-7282-456-9

119 Educaccedilatildeo brasileira em muacuteltiplos olhares Francisco Ari de Andrade Anto-nia Rozimar Machado e Rocha Janote Pires Marques e Helena de Lima Marinho Rodrigues Arauacutejo 2012 326p ISBN 978-85-7282-499-6

120 Educaccedilatildeo musical campos de pesquisa formaccedilatildeo e experiecircncias Luiz Botelho Albuquerque e Pedro Rogeacuterio (Orgs) 2012 296p ISBN 978-7282-505-4

121 A questatildeo da praacutetica e da teoria na formaccedilatildeo do professor Ada Augus-ta Celestino Bezerra Marilene Batista da Cruz Nascimento e Edineide Santana (Orgs) 2012 218p ISBN 978-7282-503-0

122 Histoacuteria da educaccedilatildeo real e virtual em debate Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho (Orgs) 2012 524p ISBN 978-85-7282-509-2

123 Educaccedilatildeo perspectivas e reflexotildees contemporacircneas Alice Nayara dos Santos Ana Paula Vasconcelos de Oliveira Tahim e Gabrielle Silva Marinho (Orgs) 2012 191p ISBN 978-85-7282-491-0

124 Uacutelceras por pressatildeo uma Abordagem Multidisciplinar Miriam Viviane Baron Joseacute Rogeacuterio Santana Cristine Brandenburg Lia Machado Fiuza Fialho e Marcelo Carneiro (Orgs) 2012 315p ISBN 978-85-7282-489-7

125 Somos todos seres muito especiais uma anaacutelise psico-pedagoacutegica da poliacutetica de educaccedilatildeo inclusiva Ada Augusta Celestino Bezerra e Maria Auxiliadora Aragatildeo de Souza 2012 183p ISBN 978-85-7282-517-7

126 Memoacuterias de Baobaacute Sandra Haydeacutee Petit e Geranilde Costa e Silva (Orgs) 2012 281p ISBN 978-85-7282-501-6

127 Caldeiratildeo saberes e praacuteticas educativas Ceacutelia Camelo de Sousa e Lecircda Vascon-celos Carvalho 2012 135p ISBN 978-85-7282-521-4

128 As Redes sociais e seu impacto na cultura e na educaccedilatildeo do seacuteculo XXI Ronaldo Nunes Linhares Simone Lucena e Andrea Versuti (Orgs) 2012 369p ISBN 978-85-7282-522-1

129 Corpografia multiplicidades em fusatildeo Shara Jane Holanda Costa Adad e Fran-cisco de Oliveira Barros Juacutenior (Orgs) 2012 417p ISBN 978-85-7282-527-6

130 Infacircncia e instituiccedilotildees educativas em Sergipe Miguel Andreacute Berger (Org) 2012 203p ISBN 978-85-7282-519-1

131 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade III Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2012 441p ISBN 978-85-7282-530-6

132 Imprensa impressos e praacuteticas educativas estudos em histoacuteria da edu-caccedilatildeo Miguel Andreacute Berger e Ester Fraga Vilas-Bocircas Carvalho do Nascimento (Orgs) 2012 333p ISBN 978-85-7282-531-3

133 Proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro por meio do tombamento estudo criacutetico e comparado das legislaccedilotildees estaduais mdash Organizadas por Regiotildees Francisco Humberto Cunha Filho (Org) 2012 183p ISBN 978-85-7282-535-1

134 Afro arte memoacuterias e maacutescaras Henrique Cunha Junior e Maria Ceciacutelia Felix Calaccedila (Orgs) 2012 91p ISBN 978-85-7282-439-2

135 Educaccedilatildeo musical em todos os sentidos Luiz Botelho Albuquerque e Pedro Rogeacuterio (Orgs) 2013 300p ISBN 978-85-7282-559-7

136 Africanidades Caucaienses saberes conceitos e sentimentos Sandra Haydeacutee Petit e Geranilde Costa e Silva (Orgs) 2012 206p ISBN 978-85-7282-590-0

137 Batuques folias e ladainhas [manuscrito] a cultura do quilombo do Cria-uacute em Macapaacute e sua educaccedilatildeo Videira Piedade Lino 2012 399p ISBN 978-85-7282-536-8

138 Conselho escolar processos mobilizaccedilatildeo formaccedilatildeo e tecnologia Francisco Herbert Lima Vasconcelos Swamy de Paula Lima Soares Cibelle Amorim Martins Cefisa Maria Sabino Aguiar (Orgs) 2013 370p ISBN 978-85-7282-563-4

139 Sindicalismo sem Marx a CUT como espelho Jorge Luiacutes de Oliveira 2013 570p ISBN 978-85-7282-572-6

140 Catharina Moura e o Feminismo na Parahyba do Norte processos mobilizaccedilatildeo formaccedilatildeo e tecnologia Charliton Joseacute dos Santos Machado Maria Luacutecia da Silva Nunes e Maacutercia Cristiane Ferreira Mendes (Autores) 2013 131p ISBN 978-85-7282-574-0

141 Sequecircncia Fedathi uma proposta pedagoacutegica para o ensino de matemaacute-tica e ciecircncias Francisco Edisom Eugenio de Sousa Francisco Herbert Lima Vasconcelos Hermiacutenio Borges Neto et al (organizadores) 2013 184p ISBN

978-85-7282-573-3142 Transdisciplinaridade na educaccedilatildeo de jovens e adultos colcha de retalhos

ndash conhecimento emancipaccedilatildeo e autoria Ada Augusta Celestino Bezerra e Paula Tauana Santos 2013 109p ISBN 978-85-7282-476-7

236 d d 237

143 Pedagogia organizacional gestatildeo avaliaccedilatildeo amp praacuteticas educacionais Marcos Antonio Martins Lima e Gabrielle Silva Marinho (organizadores) 2013 221p ISBN 978-85-7282-496-5

144 Educaccedilatildeo e formaccedilatildeo de professores questotildees contemporacircneas Ada Augusta Celestino Bezerra e Marilene Batista da Cruz Nascimento (organizadoras) 2013 368p ISBN 978-85-7282-576-4

145 Configuraccedilatildeo do trabalho docente a instruccedilatildeo primaacuteria em Sergipe no seacuteculo XIX (1826-1889) Simone Silveira Amorim 2013 331p ISBN 978-85-7282-575-7

146 Dez anos da Lei No 1063903 memoacuterias e perspectivas Regina de Fatima de Jesus Mairce da Silva Arauacutejo e Henrique Cunha Juacutenior (Orgs) 2013 366p ISBN 978-85-7282-577-1

147 A Histoacuteria Autores e Atores compreensatildeo do mundo educaccedilatildeo e cidadania Rui Martinho Rodrigues 2013 306p ISBN 978-85-7282-583-2

148 Os intelectuais Rui Martinho Rodrigues 2013 164p ISBN 978-85-7282-581-8149 Dinameacuterico Soares do Nascimento uma histoacuteria de poesia paixatildeo e dor

Charliton Joseacute dos Santos Machado Eliel Ferreira Soares e Fabiana Sena (Autores) 2013 76p ISBN 978-85-7282-580-1

150 Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo no Cearaacute Joseacute Gerardo Vasconcelos Lia Machado Fiuza Fialho Joseacute Rogeacuterio Santana Lourdes Rafaella Santos Florecircncio Rui Martinho Rodrigues Dijane Maria Rocha Viacutector e Stanley Braz de Oliveira (Orgs) 2013 218p ISBN 978-85-7282-591-7

151 Pesquisas Biograacuteficas na Educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho Dijane Maria Rocha Victor Antonio Roberto Xavier e Roberta Luacutecia Santos de Oliveira (Orgs) 2013 299p ISBN 978-85-7282-578-8

152 Vejo um museu de grandes novidades o tempo natildeo para Sociopoe-tizando o museu e musealizando a vida Elane Carneiro de Albuquerque 2013 233p ISBN 978-85-7282-587-0

153 A construccedilatildeo da tradiccedilatildeo no Jongo da Serrinha uma etnografia visual do seu processo de espetacularizaccedilatildeo Pedro Somonard 2013 225p ISBN 978-85-7282-588-7

154 Medida socioeducativa de internaccedilatildeo educa Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Organizadora) 2013 370p ISBN 978-85-7282-592-4

155 Palavras e admiraccedilotildees Fernando Luiz Ximenes Rocha 2013 208 ISBN 978-85-7282-593-1

156 Educaccedilatildeo Ambiental e sustentabilidade IV Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Organizadora) 2013 564p ISBN 978-85-7282-596-2

157 Educaccedilatildeo Brasileira rumos e prumos Francisco Ari de Andrade Dijane Maria Rocha Viacutector e Regina Claacuteudia Oliveira da Silva (Orgs) 2013 462pISBN 978-85-7282-594-8

158 Curriacuteculo diaacutelogos possiacuteveis Alice Nayara dos Santos e Pedro Rogeacuterio (organizadoras) 2013 418p ISBN 978-85-7282-585-6

159 Pesquisas educacionais biograacuteficas Lia Machado Fiuza Fialho Gildecircnia Moura de Arauacutejo Almeida e Edilson Silva Castro (Orgs) 2013 166p ISBN 978-85-7282-600-6

160 Hieroacutepolis o sagrado o profano e o urbano Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joumlrn Seemann Josier Ferreira da Silva Christian Dennys

Monteiro de Oliveira e Stanley Braz de Oliveira (Organizadores) 2013 486p ISBN 978-85-7282-603-7

161 Praacuteticas educativas exclusatildeo e resistecircncia Joseacute Gerardo Vasconcelos Lia Machado Fiuza Fialho e Lourdes Rafaella Santos Florecircncio (Organizadores) 2013 166p ISBN 978-85-7282-601-3

162 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade IV Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Organizadora) 2014 520p ISBN 978-85-7282-602-0

163 No ar um poeta Henrique Beltratildeo 2014 361p ISBN 978-85-7282-615-0164 Caacute e Acolaacute experiecircncias e debates Multiculturais Gledson Ribeiro de Olivei-

ra Jeannette Filomeno Pouchain Ramos e Bruno Okoudowa (Organizadores) 2014 339p ISBN 978-85-7282-607-5

165 Ensaios em memoacuterias e oralidades Lia Machado Fiuza Fialho Charliton Joseacute dos Santos Machado Gildecircnia Moura de Arauacutejo Almeida e Joseacute Rogeacuterio Santana (Organizadores) 2014 183p ISBN 978-85-7282-610-5

166 Pelos fios da memoacuteria Lia Machado Fiuza Fialho Charliton Joseacute dos Santos Machado Josier Ferreira da Silva e Joseacute Rogeacuterio Santana (Organizadores) 2013 154p ISBN 978-85-7282-609-9

167 Acessibilidade na UFC tessituras possiacuteveis Vanda Magalhatildees Leitatildeo e Tania Vicente Viana (Organizadoras) 2014 237p ISBN 978-85-7282- 611-2

Page 2: UFC · 2019. 6. 4. · Presidente da República Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Aloizio Mercadante Universidade Federal do Ceará Reitor Prof. Jesualdo Pereira Farias Vice-Reitor

Presidente da RepuacuteblicaDilma Vana Rousseff

Ministro da EducaccedilatildeoAloizio Mercadante

Universidade Federal do CearaacuteReitor

Prof Jesualdo Pereira FariasVice-Reitor

Prof Henry de Holanda Campos

Conselho EditorialPresidente

Prof Antocircnio Claacuteudio Lima GuimaratildeesConselheiros

Profa Adelaide Maria Gonccedilalves PereiraProfa Acircngela Maria Mota Rossas de Gutieacuterrez

Prof Gil de Aquino FariasProf Italo Gurgel

Prof Joseacute Edmar da Silva Ribeiro

Diretor da Faculdade de EducaccedilatildeoMaria Isabel Filgueiras Lima Ciasca

Coordenador do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo BrasileiraJoatildeo Batista de Albuquerque Figueiredo

Chefe do Departamento de Fundamentos da EducaccedilatildeoAdriana Eufraacutesio Braga Sobral

Seacuterie Diaacutelogos IntempestivosCoordenaccedilatildeo Editorial

Joseacute Gerardo Vasconcelos (Editor-Chefe)Kelma Socorro Alves Lopes de Matos

Wagner Bandeira Andriola

Dra Ana Maria Ioacuterio Dias (UFC)Dra Acircngela Arruda (UFRJ)Dra Acircngela T Sousa (UFC)Dr Antonio Germano M Junior (UECE)Dra Antocircnia Dilamar Arauacutejo (UECE)Dr Antonio Paulino de Sousa (UFMA)Dra Carla Viana Coscarelli (UFMG)Dra Cellina Rodrigues Muniz (UFRN)Dra Dora Leal Rosa (UFBA)Dra Eliane dos S Cavalleiro (UNB)Dr Elizeu Clementino de Souza (UNEB)Dr Emanuel Luiacutes Roque Soares (UFRB)Dr Eneacuteas Arrais Neto (UFC)Dra Francimar Duarte Arruda (UFF)Dr Hermiacutenio Borges Neto (UFC)Dra Ilma Vieira do Nascimento (UFMA)Dra Jaileila Menezes (UFPE)Dr Jorge Carvalho (UFS)Dr Joseacute Aires de Castro Filho (UFC)Dr Joseacute Gerardo Vasconcelos (UFC)Dr Joseacute Levi Furtado Sampaio (UFC)Dr Juarez Dayrell (UFMG)Dr Juacutelio Cesar R de Arauacutejo (UFC)

Dr Justino de Sousa Juacutenior (UFC)Dra Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (UFC)Dra Lia Machado Fiuza Fialho (UECE)Dra Luciana Lobo (UFC)Dra Maria de Faacutetima V da Costa (UFC)Dra Maria do Carmo Alves do Bomfim (UFPI)Dra Maria Izabel Pedrosa (UFPE)Dra Maria Juraci Maia Cavalcante (UFC)Dra Maria Nobre Damasceno (UFC)Dra Marly Amarilha (UFRN)Dra Marta Arauacutejo (UFRN)Dr Messias Holanda Dieb (UERN)Dr Nelson Barros da Costa (UFC)Dr Ozir Tesser (UFC)Dr Paulo Seacutergio Tumolo (UFSC)Dra Raquel S Gonccedilalves (UFMT)Dr Raimundo Elmo de Paula V Juacutenior (UECE)Dra Sandra H Petit (UFC)Dra Shara Jane Holanda Costa Adad (UFPI)Dra Silvia Roberta da M Rocha (UFCG)Dra Valeska Fortes de Oliveira (UFSM)Dra Veriana de Faacutetima R Colaccedilo (UFC)Dr Wagner Bandeira Andriola (UFC)

Conselho Editorial

Fortaleza2014

Vanda Magalhatildees LeitatildeoTania Vicente VianaO r g a n i z a d o r a s

Acessibilidade na UFCTessituras Possiacuteveis

BEATRIZ FURTADO ALENCAR LIMA

CARLA POENNIA GADELHA SOARES

CLEMILDA DOS SANTOS SOUSA

EDSON SILVA SOARES

FRANCISCA SAMARA TEIXEIRA CARVALHO

HAMILTON RODRIGUES TABOSA

INEcircS CRISTINA DE MELO MAMEDE

JERIANE DA SILVA RABELO

LUCIMEIRE ALVES MOURA

MARIA CLARISSA MACIEL RODRIGUES

MARIA IZALETE INAacuteCIO VIEIRA

MARTA CAVALCANTE BENEVIDES

PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA

RITA DE CAacuteSSIA BARBOSA PAIVA MAGALHAtildeES

TANIA VICENTE VIANA

TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES

VALEacuteRIA GOMES PEREIRA

VANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO

ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO

Acessibilidade na UFC tessituras possiacuteveiscopy 2014 Vanda Magalhatildees Leitatildeo e Tania Vicente Viana (Organizadoras)Impresso no Brasil Printed in BrazilEfetuado depoacutesito legal na Biblioteca NacionalTODOS OS DIREITOS RESERVADOSEditora Universidade Federal do Cearaacute ndash UFCAv da Universidade 2932 Benfica Fortaleza-CearaacuteCEP 60020-181 ndash Livraria (85) 33667439 Diretoria (85) 33667766 Administraccedilatildeo FoneFax (85) 33667499Site wwweditoraufcbr ndash E-mail editoraufcbrFaculdade de EducaccedilatildeoRua Waldery Uchoa No 1 Benfica ndash CEP 60020-110Telefones (85) 336676633366766533667667 ndash Fax (85) 33667666Distribuiccedilatildeo Fone (85) 32145129 ndash E-mail aurelio-fernandesigcombrProjeto Graacutefico e CapaCarlos Alberto A Dantas (carlosalbertoadantasgmailcom)Revisatildeo de TextoLeonora Vale de AlbuquerqueNormalizaccedilatildeo BibliograacuteficaPerpeacutetua Socorro Tavares Guimaratildees

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na PublicaccedilatildeoUniversidade Federal do Cearaacute ndash Ediccedilotildees UFC

SOBRE OS AUTORES

Acessibilidade na UFC tessituras possiacuteveis Vanda Magalhatildees Lei-tatildeo e Tania Vicente Viana [organizadoras] ndash Fortaleza Edi-ccedilotildees UFC 2014

238 il Isbn 978-85-7282-611-2

1 Acessibilidade 2 Inclusatildeo 3 Educaccedilatildeo Especial I I Tiacutetulo

CDD 376

Beatriz Furtado Alencar Lima ndash Professora Assistente do Depar-tamento de Letras Estrangeiras do curso de Letras da Universidade Fe-deral do Cearaacute (UFC) Doutoranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da UFC Linha de Pesquisa Praacuteticas Discursivas Aacutereas de pesquisa Letramentos de pessoas com deficiecircncia visual Estudos do Letramento Estudos Criacuteticos do Discurso Mestre em Linguistica Apli-cada pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica Aplicada da Uni-versidade Estadual do Cearaacute (UECE) E-mail alencarbiagmailcom

Carla Poennia Gadelha Soares ndash Graduada em Letras pela Universi-dade Federal do Cearaacute (UFC) Especialista em Linguiacutestica pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza (FGF) Mestranda em Educaccedilatildeo Brasileira pela Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFC Professora da rede puacuteblica estadual Superintendente Escolar da Coordenadoria Regional de Desen-volvimento da Educaccedilatildeo (CREDE 1) E-mail poenniasoaresgmailcom

Clemilda dos Santos Sousa ndash Bibliotecaacuteria do Sistema de Bibliote-cas da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Bacharel em Bibliotecono-mia pela UFC Especialista em Metodologia Cientiacutefica pela Universidade Estatual do Cearaacute (UECE) Coordenadora do serviccedilo de digitalizaccedilatildeo do Sistema de Bibliotecas da UFCE-mail cleoufcbr

Edson Silva Soares ndash Professor Assistente do Instituto de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Esportes da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Graduado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela UFC Mestre em Sauacutede Puacuteblica pela Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) E-mail edsonsoaresufcbr

Francisca Samara Teixeira Carvalho ndash Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Especialista em Psicomotri-cidade Cliacutenica pela UFC Membro da diretoria da Sociedade Brasileira

de Psicomotricidade Sessatildeo Cearaacute (SBPC) Mestre em Educaccedilatildeo Brasi-leira pela Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFCE-mail ssamarateixeirayahoocombr

Hamilton Rodrigues Tabosa ndash Professor do Departamento de Ciecircn-cias da Informaccedilatildeo da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Douto-rando do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Universidade Federal da Para-iacuteba (UFPB) Mestre em Avaliaccedilatildeo de Poliacuteticas Puacuteblicas Especialista em Gestatildeo Universitaacuteria e Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Cearaacute E-mail hamiltonrtufcbr

Inecircs Cristina de Melo Mamede ndash Professora Associada da Fa-culdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela FacedUFC e Poacutes-Dou-toranda em Formaccedilatildeo Cultural Esteacutetica Artiacutestica de Professores pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) E-mail imamedeufcbr

Jeriane da Silva Rabelo ndash Graduanda do curso de Pedagogia da Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) Estagiaacuteria do projeto Aprender Jun-tos do programa Palavra de Crianccedila UNICEFFCPC Bolsista voluntaacuteria do programa de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PID) E-mail jerianeufcgmailcom

Lucimeire Alves Moura ndash Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Especialista em Planejamento Educacional e Psicopedagogia Cliacutenica e Institucional (UVA) Atendimento Educacional Especializado (UFC) Professora da Universidade Estadual Vale do Aca-rauacute (UVA) Psicopedagoga e professora do Instituto Cearense de Educa-ccedilatildeo de Surdos (ICES) E-mail meireamourayahoocombr

Maria Clarissa Maciel Rodrigues ndash Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Professora da Escola de Ensino Fundamental Instituto dos Cegos do Cea raacute atuando nas seacuteries iniciais

do Ensino Fundamental Reabilitaccedilatildeo Braille Surdocegueira e Educa-ccedilatildeo de Jovens e Adultos E-mail clarissa_rodriguezhotmailcom

Maria Izalete Inaacutecio Vieira ndash Licenciada em Pedagogia pela Uni-versidade Estadual Vale do Acarauacute (UVA) Bacharel em traduccedilatildeo e in-terpretaccedilatildeo Portuguecircs-Libras-Portuguecircs pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Especialista em Educaccedilatildeo Especial pela UVA Professora de Libras do Instituto Federal de Ciecircncia e Tecnologia do Ce-araacute ndash Campus de Juazeiro do NorteE-mail izaletevieirayahoocombr

Marta Cavalcante Benevides Loureiro ndash Doutoranda em Educa-ccedilatildeo Brasileira pela Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Universidade Fe-deral do Cearaacute (UFC) Especialista em Avaliaccedilatildeo Psicoloacutegica pela UFC Bolsista do Programa REUNI de Orientaccedilatildeo e Operacionalizaccedilatildeo da Poacutes-Graduaccedilatildeo articulada agrave Graduaccedilatildeo ndash PROPAG do Projeto CAPESREUNI E-mail martacbenevidesgmailcom

Pliacutenio Renan Gonccedilalves da Silveira ndash Arquiteto e Urbanista gra-duado pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Desenvolve Projetos e Diagnoacutesticos das Condiccedilotildees de Acessibilidade Fiacutesica Linha de Pesquisa Acessibilidade e Acessibilidade para Idosos E-mail pliniorenangmailcom

Tania Vicente Viana ndash Professora Adjunta do Departamento de Fundamentos da Educaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) Professora do Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da FacedUFC Linha de pesquisa Avaliaccedilatildeo Educacional Eixo temaacutetico Avaliaccedilatildeo da aprendizagem Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela FacedUFC E-mail taniavianaufcbr

Tereza Liduina Grigoacuterio Fernandes ndash Professora de Apoio Peda-goacutegico na aacuterea de surdez do Centro de Referecircncia em Educaccedilatildeo Especial

SUMAacuteRIOdo Estado do Cearaacute Integrante da Equipe de Educaccedilatildeo Especial da Se-cretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio de Fortaleza Doutoranda em Educa-ccedilatildeo pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail teresaliduinagmailcom

Vanda Magalhatildees Leitatildeo ndash Professora Associada I do Departamento de Estudos Especializados da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) Diretora da Secretaria de Acessibili-dade UFC Inclui Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela FacedUFCE-mail vandaufcbr

Valeacuteria Gomes Pereira ndash Graduada em Biblioteconomia pela Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail 2005valeriabolcombr

Zilsa Maria Pinto Santiago ndash Professora Adjunta do Curso de Ar-quitetura e Urbanismo do Centro de Tecnologia da Universidade Fede-ral do Cearaacute (UFC) Mestre em Arquitetura e Urbanismo pelo Mestra-do Interinstitucional com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela Faculdade de Educaccedilatildeo ndash FacedUFC Professora de Educaccedilatildeo e Mobi-lidade no curso de Especializaccedilatildeo em Gestatildeo de Tracircnsito e Transportes Urbanos do Departamento de Engenharia de TransportesUFC Mem-bro do Grupo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC IncluiE-mail zilsaarquiteturaufcbr

PREFAacuteCIORita de Caacutessia Barbosa Paiva Magalhatildees 11

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVanda Magalhatildees Leitatildeo 19

ACESSO Agrave INFORMACcedilAtildeO POR DEFICIENTES VISUAIS EM BIBLIOTECAS CEARENSESValeacuteria Gomes PereiraHamilton Rodrigues Tabosa 39

BIBLIOTECA INCLUSIVA CONSTRUINDO PONTES ENTRE O VISIacuteVEL E O INVISIacuteVELClemilda dos Santos SousaJeriane da Silva Rabelo 59

O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIABeatriz Furtado Alencar LimaCarla Poennia Gadelha Soares 75

SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLEMaria Clarissa Maciel RodriguesInecircs Cristina de Melo Mamede 95

ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeOMaria Izalete Inaacutecio Vieira 123

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteMarta Cavalcante BenevidesTania Vicente Viana 147

d 11

PREFAacuteCIO

Tudo passa e tudo fica poreacutem o nosso eacute passar passar fazendo caminhos

(Antonio Machado )

No Brasil ateacute a deacutecada de 1980 poucas pessoas com deficiecircncia1 ingressavam no Ensino Superior fato que pode estar diretamente relacionado ao acesso restrito dessa popu-laccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Baacutesica aos serviccedilos especializados e indica o longo periacuteodo de sua exclusatildeo dos direitos sociais baacutesicos em nosso paiacutes Gradativamente com o advento da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva inclusiva tal populaccedilatildeo enfren-tando condiccedilotildees ainda adversas finaliza o Ensino Meacutedio e al-meja o ingresso no Ensino Superior

A despeito de todas as ponderaccedilotildees passiacuteveis de serem realizadas sobre sua funccedilatildeo social no contexto da atual crise do capitalismo com suas modalidades precaacuterias de participa-ccedilatildeo e de acesso ao conjunto dos bens e serviccedilos socialmente produzidos a Educaccedilatildeo Especial na perspectiva inclusiva des-ponta como um princiacutepio eacutetico em busca da garantia do direi-to agrave Educaccedilatildeo peremptoriamente negado a muitas geraccedilotildees de estudantes com deficiecircncia

No caso brasileiro a Educaccedilatildeo Especial com feiccedilotildees es-tatais surgiu apenas no apogeu do ldquomilagre brasileirordquo propa-lado pelos governos militares De certa forma seu ldquosucessordquo naufraga com estes governos para ressurgir com extraordi-

1 Embora a Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva Inclusiva reco-nheccedila que seu puacuteblico eacute composto por pessoas com deficiecircncia transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo neste prefaacutecio usaremos predominantemente a expressatildeo pessoas com deficiecircncia

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteFrancisca Samara Teixeira CarvalhoTania Vicente Viana 169

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ Tereza Liduina Grigoacuterio FernandesLucimeire Alves MouraEdson Silva SoaresTania Vicente Viana 193

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute Zilsa Maria Pinto SantiagoPliacutenio Renan Gonccedilalves da Silveira 213

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naacuteria forccedila no acircmbito do debate da ldquoEducaccedilatildeo para todosrdquo na deacutecada de 1990 Esse debate aponta para a perspectiva de democratizaccedilatildeo dos sistemas escolares em todos os seus niacute-veis e modalidades Todavia quando o assunto eacute Educaccedilatildeo Inclusiva o foco hegemocircnico das investigaccedilotildees cientiacuteficas e publicaccedilotildees eacute a inclusatildeo na Educaccedilatildeo Baacutesica Ora atualmente a Educaccedilatildeo Inclusiva no Ensino Superior representa um dos desafios prementes para a real democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior e consequentemente para a denominada docecircncia universitaacuteria dimensatildeo que natildeo tem recebido o tratamento necessaacuterio

Na contracorrente da tradicional seletividade e elitismo que caracterizam a Educaccedilatildeo Superior no Brasil a universi-dade constitui um rico espaccedilo social onde as ldquodiferenccedilasrdquo co-meccedilam a estar presentes Nesse sentido a instituiccedilatildeo univer-sitaacuteria necessita envidar esforccedilos e planejar accedilotildees educativas com vistas agrave garantia de condiccedilotildees de acesso de participaccedilatildeo de aprendizagem isto eacute assegurar o sucesso escolar da popu-laccedilatildeo-alvo da Educaccedilatildeo Inclusiva

Essa garantia pode dinamizar accedilotildees formativas po-tencializadoras tanto da aprendizagem desses estudantes quanto de atividades pedagoacutegicas necessaacuterias para a quebra de barreiras arquitetocircnicas atitudinais e pedagoacutegicas tatildeo co-muns nos processos de Educaccedilatildeo de pessoas consideradas de-ficientes A superaccedilatildeo dessas barreiras especialmente aque-las de cunho pedagoacutegico exige das universidades estrateacutegias capazes de fomentar programas de formaccedilatildeo para docentes universitaacuterios bem como formas de questionar praacuteticas cris-talizadas e pautadas na desinformaccedilatildeo no preconceito e na estigmatizaccedilatildeo

Este livro ndash fruto de trabalho desenvolvido na Univer-sidade Federal do Cearaacute (UFC) ndash apresenta um robusto pano-

rama de investigaccedilotildees reflexotildees e praacuteticas desenvolvidas na referida universidade na busca por uma Educaccedilatildeo Superior democraacutetica e acessiacutevel

O capiacutetulo ldquoCaminhos para a acessibilidade na UFCrdquo de autoria da doutora Vanda Magalhatildees Leitatildeo docente da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFC abre o livro e traccedila um panorama das demandas por acessibilidade na referida universidade aleacutem de descrever o nascedouro da ldquoSecretaria de Acessibilidade da UFCrdquo Discute a experiecircncia vivenciada pautada sobremodo na afirmaccedilatildeo das diferenccedilas e na cons-truccedilatildeo de perspectiva chamada ldquocaminho de matildeo duplardquo na qual sujeitos com e sem deficiecircncia encontram-se implicados no desafio de construir uma universidade de fato inclusiva

No segundo capiacutetulo denominado ldquoAcesso agrave informa-ccedilatildeo por deficientes visuais em bibliotecas cearensesrdquo Valeacuteria Gomes Pereira e Hamilton Rodrigues Tabosa respectivamen-te aluna e docente do curso de Biblioteconomia da UFC dis-cutem a situaccedilatildeo das bibliotecas cearenses quanto agrave acessibi-lidade atraveacutes de tecnologias assistivas eletrocircnicas O estudo ressalta a importacircncia da biblioteca e do acesso agrave informaccedilatildeo como agentes transformadores Mostra tambeacutem o papel do bibliotecaacuterio como suporte para estudantes com deficiecircncia visual no acesso agrave informaccedilatildeo

O capiacutetulo terceiro do livro denominado ldquoBiblioteca Inclusiva construindo pontes entre o visiacutevel e o invisiacutevelrdquo escrito em parceria por Clemilda dos Santos Sousa (Biblio-tecaacuteria do Sistema de Bibliotecas da UFC) e por Jeriane da Silva Rabelo (graduanda em Pedagogia da mesma instituiccedilatildeo) volta a discutir questotildees relativas agraves bibliotecas no contexto dos processos de Educaccedilatildeo Inclusiva no Ensino Superior De-fende a importacircncia da acessibilidade ao espaccedilo da biblioteca aleacutem de mostrar a organizaccedilatildeo do Sistema de Biblioteca da

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UFC no que concerne ao contato com o material bibliograacutefico por parte de pessoas com deficiecircncia visual Evidencia que a digitalizaccedilatildeo de material bibliograacutefico natildeo constitui atividade--fim mas um meio para mediar o contato dessas pessoas com o conhecimento cientiacutefico

No segmento o quarto capiacutetulo intitulado ldquoO serviccedilo de ledores na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui um re-lato de experiecircnciardquo escrito por Beatriz Furtado Alencar Lima (Professora do curso de Letras da UFC) e Carla Poennia Ga-delha Soares (Superintendente Escolar da Coordenadoria Re-gional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo do Estado do Cearaacute) relata a experiecircncia vivenciada no projeto ldquoAtendimento Edu-cacional Especializado para alunos com deficiecircncia visual de universidades puacuteblicas do municiacutepio de Fortalezardquo Explicita a relevacircncia da organizaccedilatildeo de alternativas de atendimento agraves necessidades especiacuteficas de estudantes com deficiecircncia no acircmbito do Ensino Superior com vistas a colaborar para a que-bra de barreiras e promover a participaccedilatildeo e aprendizagem dos mesmos

O quinto capiacutetulo denominado ldquoSeis pontos para a alfa-betizaccedilatildeo especificidades na aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas cegas por meio do Sistema Braillerdquo escrito em parceria pela aluna do curso de Pedagogia da UFC Maria Clarissa Maciel Rodrigues e pela professora Inecircs Cristina de Melo Mamede docente da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFC mostra resultados de uma investigaccedilatildeo cientiacutefica um estudo de caso cujo objetivo foi investigar as especificidades do processo de aquisiccedilatildeo da escrita pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille Aleacutem de revelar tais peculiaridades estabelece interlocuccedilatildeo com a perspectiva de construccedilatildeo da liacutengua escrita proposta pela psicogecircnese piagetiana com fulcro nos estudos de Emiacutelia Ferreiro

O sexto capiacutetulo designado ldquoAbrindo uma janela para a comunicaccedilatildeordquo de autoria de Maria Izalete Inaacutecio Vieira dis-cute a importacircncia da liacutengua de sinais no processo de educa-ccedilatildeo de pessoas surdas e descreve a expansatildeo da acessibilidade para surdos por intermeacutedio de um projeto piloto de legenda-gem em Libras do programa televisivo com periodicidade se-manal UFCTV Essa experiecircncia demonstra a incontornaacutevel necessidade de accedilotildees capazes de revelar para a comunidade em geral que a garantia do direito agrave informaccedilatildeo a toda a po-pulaccedilatildeo inclusive os surdos depende da construccedilatildeo de uma universidade inclusiva e acessiacutevel para todos

No seacutetimo capiacutetulo a doutoranda em Educaccedilatildeo pela UFC Marta Cavalcante Benevides e Tania Vicente Viana do-cente da citada instituiccedilatildeo discutem a ldquoAvaliaccedilatildeo da apren-dizagem de alunos com deficiecircncia estudo de caso em uma instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza--Cearaacuterdquo Destacam aspectos relativos agrave avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem desses alunos ponderando sobre a adequaccedilatildeo da ava-liaccedilatildeo formativa realizada com atividades contextualizadas Evidenciam que a praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem des-tinada aos alunos com deficiecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo de uma IES puacuteblica ainda carece de condiccedilotildees de acessibilidade

O capiacutetulo oito denominado ldquoAvaliaccedilatildeo da aprendiza-gem de alunos com deficiecircncia em Cursos das Ciecircncias Exa-tas estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica Federal de Fortaleza-Cearaacuterdquo escrito por Fran-cisca Samara Teixeira Carvalho (Mestre em Educaccedilatildeo pela UFC) e Tania Vicente Viana (docente da referida instituiccedilatildeo) discute o processo de avaliaccedilatildeo de aprendizagem no contexto inclusivo tecendo criacuteticas aos modelos tradicionais pautado em exames e defende a perspectiva da avaliaccedilatildeo como media-

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dora dos processos de ensino-aprendizagem Mostra ainda que no acircmbito dos Cursos de Ciecircncias Exatas investigados embora se reconheccedila a necessidade de adequaccedilotildees no proces-so avaliativo de pessoas com deficiecircncia existe a necessidade de implantar uma cultura avaliativa que supere a perspectiva tradicional

O nono capiacutetulo intitulado ldquoCapacidades silentes iden-tificaccedilatildeo educacional de altas habilidades em alunos com sur-dezrdquo retoma a temaacutetica do artigo anterior e foi elaborado por Tereza Liduina Grigoacuterio Fernandes e Lucimeire Alves Moura ambas do Centro de Referecircncia em Educaccedilatildeo Especial do Es-tado do Cearaacute em parceria com Edson Silva Soares (docen-te da UFC) e Tania Vicente Viana (docente da UFC) Revela originalidade em duas vertentes Por um lado trata-se do re-sultado de uma investigaccedilatildeo elaborada de modo interinstitu-cional por outro lado trata-se de um trabalho original para a pesquisa em Educaccedilatildeo Especial por pesquisar nas interfaces entre surdez e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo

Finalizando o livro o artigo ldquoPercursos e perspectivas da acessibilidade fiacutesica na Universidade Federal do Cearaacuterdquo de autoria de Zilsa Maria Pinto Santiago (docente do curso de Arquitetura da UFC) e Pliacutenio Renan Gonccedilalves da Silvei-ra (monitor do Projeto UFC Inclui) descreve accedilotildees desen-volvidas por esta universidade na melhoria da qualidade do acesso fiacutesico aos campi bem como enfatiza questotildees teacutecnicas relativas aos desafios pertinentes agrave acessibilidade nos espaccedilos da citada universidade

O conjunto de artigos enfeixados na presente obra aborda um leque variado de temas pertinentes para o cam-po da Educaccedilatildeo Inclusiva e instigam nossa capacidade criacuteti-ca e investigativa Revelam caminhos conquistas e desafios peculiares agrave constituiccedilatildeo de uma universidade puacuteblica atenta

as demandas de seu alunado Fica expliacutecito o engajamento dos(as) autores(as) na conquista diaacuteria por espaccedilos acessiacuteveis e por uma Educaccedilatildeo Superior Inclusiva Sua leitura revela-se pois essencial para todos os que lutam por uma universidade puacuteblica de qualidade

Rita de Caacutessia Barbosa Paiva Magalhatildees Docente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Educaccedilatildeo Centro de Educaccedilatildeo Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFC

Vanda Magalhatildees Leitatildeo

Introduccedilatildeo

A inclusatildeo social de pessoas com deficiecircncia no Bra-sil eacute um tema em efervescecircncia e resulta da dialeticidade de muacuteltiplos fatores Em meio ao processo soacutecio-histoacuterico destacam-se as contribuiccedilotildees teoacutericas das Ciecircncias Sociais e Humanas que se entrelaccedilam dando suporte e forccedila poliacuteti-ca aos movimentos sociais organizados por essas pessoas em defesa dos seus direitos Esses segmentos sociais desafiam o poder puacuteblico se fortalecem e se tornam visiacuteveis falando de si e de suas necessidades sob a maacutexima Nada Sobre Noacutes Sem Noacutes1

No Brasil a mobilizaccedilatildeo da sociedade civil em busca dos direitos humanos de pessoas com deficiecircncia se eviden-cia a partir dos meados do seacuteculo XX quando haacute registro de criaccedilatildeo das primeiras instituiccedilotildees especializadas para o aten-dimento dessas pessoas o Instituto Pestalozzi e a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE) satildeo exemplos Aleacutem disso as Campanhas Nacionais2 ocorridas entre 1957 e 1960 em defesa da educaccedilatildeo de cegos surdos e deficientes mentais3 sob a lideranccedila do Instituto Benjamim Constant Instituto Na-cional de Educaccedilatildeo de Surdos Sociedade Pestalozzi do Bra-

1 Lema internacional indicativo de que as organizaccedilotildees de pessoas com deficiecircncia devem ser consultadas sempre que estiverem sendo desenvolvidos programas padrotildees e normas para a acessibilidade2 Refiro-me agrave Campanha de Educaccedilatildeo de Surdos no Brasil (CESB 1957) Campa-nha Nacional de Educaccedilatildeo de Cegos (CNEC 1960) e a Campanha de Educaccedilatildeo de Deficientes Mentais (CADEME 1960) 3 Terminologia utilizada naquele momento histoacuterico

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sil e APAE datildeo respaldo agrave organizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial como uma modalidade de ensino voltada a pessoas com defi-ciecircncia e transversal a todas as etapas e niacuteveis de ensino ndash da Educaccedilatildeo Baacutesica ao Ensino Superior Nesse contexto os mo-vimentos pela aceitaccedilatildeo dessas pessoas tambeacutem se evidencia com vista a integraacute-las agrave sociedade Eacute possiacutevel observar que tal movimentaccedilatildeo eacute acompanhada de mudanccedilas terminoloacutegi-cas para designar todos aqueles que se diferenciam por seus modos singulares de apreender o mundo agrave sua volta e com ele se relacionar Satildeo diferenccedilas que resultam de alguma condi-ccedilatildeo de deficiecircncia sensorial intelectual mental ou fiacutesica que apresentem

No Cearaacute os outrora intitulados desvalidos nos primei-ros cinquenta anos do seacuteculo XX passaram a ser denomina-dos de excepcionais numa tentativa de amenizar o significado da deficiecircncia pautado pelo paradigma meacutedico-organicista--funcional Na sequecircncia histoacuterica foram adotadas

[] expressotildees como deficientes portadores de deficiecircn-cia portadores de necessidades especiais Apesar disso satildeo frequentes as manifestaccedilotildees constrangedoras de pessoas que natildeo sabem como se referir ou se aproximar adequadamente daqueles que compotildeem os grupos de pessoas que apresentam diferenccedilas resultantes de suas singulares condiccedilotildees (LEITAtildeO 2010)

Tais denominaccedilotildees reveladas pela historiografia ao longo das uacuteltimas seis deacutecadas baseadas em normas e valores sociais situam esse contingente social em um lugar marginal com intensa valoraccedilatildeo negativa Eacute como se o tempo fosse de-lineando essa categoria de pessoas no esforccedilo de amenizar a carga negativa por meio dos termos e expressotildees substituiacutedos mas que na verdade parecem manter em sua essecircncia o es-tigma da deficiecircncia (LEITAtildeO 2008)

O Ano Internacional das Pessoas com Deficiecircncia insti-tuiacutedo em 1981 marca no Brasil a emergecircncia de movimentos sociais organizados por pessoas com deficiecircncia que estimula reflexotildees num convite ao abandono do conceito de deficiecircncia sob o acircngulo da falta da perda ou diminuiccedilatildeo funcional para uma compreensatildeo social e afirmativa Sem negar a condiccedilatildeo bioloacutegico-funcional que resulta em suas singulares condiccedilotildees sensorial intelectual fiacutesica ou linguiacutestica passam a adotar expressotildees afirmativas como pessoas com deficiecircncia ou tatildeo somente cegas surdas cadeirantes e outras denominaccedilotildees atualmente usuais Sob esse paradigma a afirmaccedilatildeo das con-diccedilotildees de deficiecircncia daacute suporte agrave passagem para as condiccedilotildees de possibilidades

Atualmente com o respaldo das Ciecircncias Humanas e Sociais o conceito de deficiecircncia eacute posto em xeque pelos grupos organizados em associaccedilotildees de pessoas com deficiecircn-cia ao se apropriarem dos estudos socioantropoloacutegicos que datildeo realce agrave diferenccedila como ldquorecortes de um mesmo tecidordquo (OMOTE 1994)

Ao situar as ambiguidades sobre a compreensatildeo que se tem da deficiecircncia o referido autor afirma que

[] a deficiecircncia natildeo eacute algo que emerge com o nasci-mento de algueacutem ou com a enfermidade que algueacutem contrai mas eacute produzida e mantida por um grupo social na medida em que interpreta e trata como desvantagens certas diferenccedilas [] A deficiecircncia e a natildeo-deficiecircncia fazem parte do mesmo quadro fazem parte do mesmo tecido padratildeo (OMOTE 1994 p 69)

A compreensatildeo de que as deficiecircncias satildeo construccedilotildees sociais trazidas por tais estudos e elaboraccedilotildees tecircm reflexo nas palavras da ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidecircncia da Repuacuteblica Maria do Rosaacuterio ao prefaciar o

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texto que resultou da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pesso-as com Deficiecircncia4 Diz a ministra

estamos conscientes por exemplo de que hoje natildeo eacute o limite individual que determina a deficiecircncia mas sim as barreiras existentes nos espaccedilos no meio fiacutesico no transporte na informaccedilatildeo na comunicaccedilatildeo e nos serviccedilos (BRASIL 2011)

Nesta perspectiva as pessoas com deficiecircncia satildeo aque-las que se diferenciam por suas singularidades determinadas pela condiccedilatildeo de deficiecircncia que apresentam seja de nature-za fiacutesica sensorial eou intelectual As transformaccedilotildees que outrora eram centradas nas pessoas voltam-se ao ambiente fiacutesico e social para garantir o acesso para tudo a todos5 Eacute com tal compreensatildeo que esse contingente social minoritaacute-rio promove o reconhecimento de que a deficiecircncia eacute um con-ceito em transformaccedilatildeo e que resulta de sua interaccedilatildeo com o meio social Certamente esse entendimento fundamenta-se nas vivecircncias de confronto e enfrentamento com as barreiras a ele impostas Satildeo barreiras que se expressam das mais va-riadas formas tais como as de ordem fiacutesica linguiacutestica comu-nicacional e informacional tecnoloacutegica dentre outras e que certamente tecircm como pano de fundo as atitudes inadequadas que influenciam uma organizaccedilatildeo social muitas vezes hostil e que bloqueia a inserccedilatildeo plena dessas pessoas em igualdade de oportunidades com as demais

No contexto atual as condiccedilotildees de deficiecircncia parecem ser as mesmas transformando-se os modos de se apresenta-rem e de serem compreendidas Percebe-se facilmente que a convivecircncia diaacuteria com pessoas com deficiecircncia traz mudan-

4 Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) ocorrida em 2007 na cidade de Nova Iorque (EUA) O Brasil aprovou o texto da citada Convenccedilatildeo por meio do Decreto Legislativo nordm 186 de 9 de julho de 2008 5 Preceito adotado pela Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

ccedilas de atitudes grupais e individuais ateacute mesmo porque essas pessoas ao revelarem suas possibilidades e autonomia des-fazem muitos mitos construiacutedos socialmente em torno delas Eacute portanto razoaacutevel pensar que algumas atitudes preconcei-tuosas voltadas aos ldquoditos deficientesrdquo resultam tambeacutem do desconhecimento acerca das singularidades que caracterizam as muacuteltiplas condiccedilotildees de deficiecircncia

Assistem-se tambeacutem na atualidade aos debates e em-bates relativos agraves poliacuteticas de inclusatildeo educacional nas redes de educaccedilatildeo que abrangem todos os niacuteveis e modalidades de ensino Tais debates trazem em seu conjunto entrelaccedilamen-tos conceituais que para este texto destaco a inter-relaccedilatildeo de inclusatildeo e acessibilidade No senso comum acessibilidade parece evidenciar os aspectos referentes ao uso dos espaccedilos fiacutesicos Entretanto a acessibilidade numa acepccedilatildeo mais am-pla eacute condiccedilatildeo de possibilidade para a transposiccedilatildeo de barrei-ras que entravam a efetiva participaccedilatildeo com autonomia de pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida nos vaacuterios acircmbitos da vida social

A acessibilidade eacute portanto condiccedilatildeo fundamental e imprescindiacutevel a todo e qualquer processo de inclusatildeo social e se apresenta em muacuteltiplas dimensotildees incluindo aquelas de natureza atitudinal fiacutesica tecnoloacutegica informacional comunicacional linguiacutestica e pedagoacutegica dentre outras E mais eacute uma questatildeo de direito conquistado gradualmente ao longo da histoacuteria social e implica no respeito agraves diferenccedilas e na identificaccedilatildeo e eliminaccedilatildeo dos diversos tipos de barreiras E ainda acessibilidade eacute para todos sobretudo segundo o Decreto nordm 5296 de 2 de dezembro de 2004 para as pes-soas que possuem limitaccedilatildeo para o desempenho de ativida-des enquadrando-se nessa categoria aquelas com deficiecircncia fiacutesica deficiecircncia intelectual deficiecircncia visual (cegueira ou

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baixa visatildeo) deficiecircncia auditiva (surdez ou audiccedilatildeo reduzi-da) deficiecircncias muacuteltiplas e as que apresentam mobilidade reduzida

Demandas por Acessibilidade na Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

A amplitude da legislaccedilatildeo brasileira6 atual no tocante agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas a pessoas com deficiecircncia fez surgir muitos programas por parte do governo federal Em se tratan-do da inclusatildeo escolar no acircmbito do Ensino Superior destaca--se o Programa Incluir do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MECSESu) criado em 2005 que convoca as Instituiccedilotildees Federais de Ensino Superior (IFES) para o compromisso com a inclu-satildeo educacional de pessoas que apresentem alguma condiccedilatildeo de deficiecircncia oferecendo suporte para a criaccedilatildeo de nuacutecleos de inclusatildeo Este foi o marco institucional que impulsionou as IFES a avaliarem as suas condiccedilotildees de acessibilidade

Na UFC embora muitas accedilotildees jaacute se fizessem presen-tes ou em desenvolvimento destaca-se o Projeto UFC Inclui contemplado em trecircs chamadas puacuteblicas7 do MECSESu que tinha como objetivo central a estruturaccedilatildeo de um setor que garantisse as accedilotildees de inclusatildeo de alunos no ensino su-perior Dentre as muitas accedilotildees destacaram-se a realizaccedilatildeo de Ciclos de Debates oferta de cursos de Leitura e Escrita no Sistema Braille de Liacutengua Brasileira de Sinais e de Tecno-

6 Refiro-me aos Decretos que tratam especificamente do tema em foco Satildeo eles os principais Decreto nordm 52962004 (Regulamenta as Leis de nordm 100482000 e nordm 100982000) e Decreto nordm 56262005 (Regulamenta a Lei nordm 103462002)7 Na primeira chamada em 2005 a UFC eacute contemplada com Projeto UFC Inclui sob a coordenaccedilatildeo da professora Ana Karina Morais de Lira e coparticipaccedilatildeo das professoras Zilsa Maria Pinto Santiago e Vanda Magalhatildees Leitatildeo Mais duas versotildees desse Projeto foram submetidas agrave concorrecircncia puacuteblica e aprovadas em 2007 e em 2009 dessa feita sob a coordenaccedilatildeo da professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo e copar-ticipaccedilatildeo das professoras Ana Karina Morais de Lira e Zilsa Maria Pinto Santiago

logias Assistivas adaptaccedilotildees de espaccedilos fiacutesicos para a aces-sibilidade implantaccedilatildeo do Centro Digital para Alunos com Deficiecircncia e aquisiccedilatildeo de equipamentos de tecnologias da informaccedilatildeo

Nesse contexto o Magniacutefico Reitor da UFC professor Jesualdo Pereira Farias criou em novembro de 2009 a Co-missatildeo Especial de Educaccedilatildeo Inclusiva (CEIn) responsaacutevel por realizar estudos das condiccedilotildees de acessibilidade com o fim de propor poliacuteticas voltadas para a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia na UFC A equipe composta de professores das vaacuterias aacutereas do conhecimento e de representaccedilatildeo do segmento de servidor teacutecnico-administrativo e de aluno com deficiecircncia realizou um intenso trabalho durante seis meses Nesse periacuteodo foram compartilhadas expectativas e proposi-ccedilotildees discutidos aspectos conceituais realizados levantamen-tos e estudos das condiccedilotildees de acessibilidade

Os levantamentos realizados pela CEIn permitiram a coleta de dados e informaccedilotildees parciais acerca das condiccedilotildees de acessibilidade na UFC abordando os aspectos que dizem respeito agraves atitudes condiccedilotildees fiacutesicas tecnoloacutegicas acesso ao conhecimento e a informaccedilotildees formaccedilatildeo de discentes docen-tes e servidores teacutecnico-administrativos para a acessibilidade e desenvolvimento de pesquisas e estudos realizados nos cur-sos de graduaccedilatildeo e de poacutes-graduaccedilatildeo A esses levantamentos realizados por amostragem foram acrescentados os resulta-dos de estudos anteriores8 acerca das condiccedilotildees pedagoacutegicas oferecidas aos estudantes e depoimentos de servidores

8 Esses estudos se referem agrave pesquisa intitulada ldquoQuem satildeo e como estatildeo os estu-dantes com Deficiecircncia na UFCrdquo realizada em 2006 coordenada pela professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo como parte da programaccedilatildeo do Projeto UFC Inclui (20052006) e a depoimentos de alunos e de servidores teacutecnico-administrativos que foram colhidos em reuniatildeo ampliada promovida pela Comissatildeo Especial de Educaccedilatildeo Inclusiva (CEIn) em 9 de abril de 2010

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Tais estudos levantamentos e escutas revelaram que as accedilotildees inclusivas voltadas a estudantes na UFC eram realiza-das de forma pouco sistemaacutetica contingente e emergencial ocorrendo quase que exclusivamente sob a demanda daquelas pessoas com deficiecircncia que nela ingressavam e que por ve-zes as condiccedilotildees em que se encontram os servidores ainda se apresentam inadequadas agrave medida que enfrentam barreiras de natureza fiacutesica atitudinal e linguiacutestica

No tocante agrave acessibilidade arquitetocircnica os estudos evidenciaram que em sua maioria os preacutedios da UFC se apresentam fora dos padrotildees estabelecidos pela legislaccedilatildeo vi-gente Mesmo nas edificaccedilotildees mais recentes ainda eacute possiacutevel se observar inadequaccedilotildees quanto aos padrotildees de acessibilida-de Nessa avaliaccedilatildeo eacute importante considerar que muitos dos equipamentos da UFC foram construiacutedos haacute mais de 50 anos quando os direitos das pessoas com deficiecircncia natildeo eram pau-tados nos debates e discursos da eacutepoca tampouco nos proje-tos Apesar dos esforccedilos realizados pela UFC para adequar sua grande aacuterea fiacutesica as accedilotildees ainda mantecircm caraacuteter emergen-cial e contingencial

Mediante anaacutelise dos projetos pedagoacutegicos dos cursos de graduaccedilatildeo da UFC pocircde-se observar a quase inexistecircncia de componentes curriculares que contemplem conteuacutedos re-lativos agrave temaacutetica da inclusatildeo acessibilidade ou condiccedilotildees de deficiecircncia Destacam-se como exceccedilotildees a disciplina de Liacuten-gua Brasileira de Sinais (Libras) que a partir do Decreto ndeg 5626 de dezembro de 2005 passa a ser ofertada obrigato-riamente para os cursos de graduaccedilatildeo na modalidade licen-ciatura e optativas para a modalidade bacharelado Psicologia Aplicada aos Portadores de Necessidades Especiais de oferta obrigatoacuteria para o bacharelado em Psicologia Desenho Uni-versal como opccedilatildeo para o curso de Arquitetura e Urbanismo

Educaccedilatildeo Especial9 Educaccedilatildeo Inclusiva e Fundamentos da Educaccedilatildeo de Surdos de oferta opcional para os cursos de Pe-dagogia e Introduccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Especial e Educaccedilatildeo Fiacutesi-ca para Portadores de Necessidades Especiais disciplinas de oferta opcional para o curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas modali-dades bacharelado e licenciatura

Estudos muito recentes10 desenvolvidos no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo (Fa-ced) da UFC no acircmbito dos cursos de mestrado e doutorado mostram que a significativa maioria dos docentes desconhece as singularidades dos processos de aprendizagem de seus alu-nos com deficiecircncia revelando a complexidade que eacute adaptar recursos e estrateacutegias de ensino e de avaliaccedilatildeo da aprendiza-gem assim como ao que se refere agraves adaptaccedilotildees curricula-res Esses estudos demonstram as dificuldades que em geral tecircm os professores em lidar com os processos de avaliaccedilatildeo da aprendizagem de seus alunos e principalmente com aqueles que tecircm alguma necessidade especiacutefica resultante das condi-ccedilotildees de deficiecircncia sensoriais ou fiacutesicas que apresentam

No acircmbito do Sistema de Bibliotecas importante ins-trumento de acesso ao conhecimento e um dos pilares da for-maccedilatildeo profissional e da atividade acadecircmica a CEIn registrou a Comissatildeo de Acessibilidade que se propotildee agrave definiccedilatildeo de accedilotildees em busca da construccedilatildeo de bibliotecas acessiacuteveis Cons-

9 Essa disciplina passa a ter caraacuteter obrigatoacuterio a partir do ajuste curricular dos cursos de Pedagogia (diurno e noturno)10 Refiro-me aos estudos de mestrado e doutorado intitulados Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem de Alunos com Deficiecircncia estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza-Ce (2011) Direito agrave diferenccedila a inclusatildeo de alunos com deficiecircncia visual na UFC (2011) e Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem de Alunos com Deficiecircncia em Cursos das Ciecircncias Exatas estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza-Cearaacute realizados por Marta Cavalcante Benevides Ana Cristina Silva Soares e Francisca Samara Teixeira Carvalho respectivamente

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tituiacuteda por bibliotecaacuterios a referida comissatildeo desenvolve ati-vidades tais como levantamento acerca de bibliotecas que oferecem serviccedilos ou produtos em atenccedilatildeo agraves pessoas com deficiecircncia anaacutelise da potencialidade de serviccedilos em curso no Sistema de Bibliotecas que podem ajudar na promoccedilatildeo da acessibilidade como Biblioteca Digital de Teses e Disser-taccedilotildees Livros Eletrocircnicos Portal da Coordenaccedilatildeo de Aperfei-ccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) diagnoacutestico das condiccedilotildees de acessibilidade fiacutesica tecnoloacutegica e de recur-sos humanos do Sistema de Bibliotecas dentre outras

Muito embora a UFC jaacute venha desenvolvendo algumas accedilotildees que satildeo favoraacuteveis agrave condiccedilatildeo de acessibilidade as re-velaccedilotildees resultantes dos referidos estudos e levantamentos apontavam para a urgecircncia de proposiccedilotildees e efetivaccedilatildeo de accedilotildees que garantam a adequaccedilatildeo de praacuteticas e recursos peda-goacutegicos que atendam agraves necessidades especiacuteficas dos estudan-tes promovam a formaccedilatildeo docente e do segmento teacutecnico--administrativo e de serviccedilos para a acessibilidade estimulem a realizaccedilatildeo de pesquisas para o desenvolvimento de tecnolo-gias assistivas permita que com autonomia todos tenham o acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo e ainda a adequaccedilatildeo dos ambientes e condiccedilotildees de trabalho

Secretaria de Acessibilidade Quem Somos

Os estudos e levantamentos ora referidos acerca das condiccedilotildees da acessibilidade realizados pela CEIn alicerccedilaram a elaboraccedilatildeo do documento Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC no qual satildeo propostas poliacuteticas e estrateacutegias de accedilatildeo que permitam o acesso e a inclusatildeo de alunos docentes e servido-res teacutecnico-administrativos com deficiecircncia considerando-se as muacuteltiplas dimensotildees da acessibilidade

A apresentaccedilatildeo do referido documento que tinha como proposta primordial a criaccedilatildeo de uma instacircncia administra-tiva capaz de cuidar em definitivo da elaboraccedilatildeo e conduccedilatildeo de poliacuteticas de acessibilidade na Universidade resultou na criaccedilatildeo da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui por meio da Resoluccedilatildeo nordm 26 de agosto de 2010 do Conselho Univer-sitaacuterio (CONSUNI) Essa decisatildeo deu enorme relevacircncia para a UFC pois pela primeira vez na histoacuteria desta universida-de uma accedilatildeo voltada agrave acessibilidade eacute institucionalizada por seu executivo maior aleacutem da demonstraccedilatildeo e disposiccedilatildeo da Administraccedilatildeo Superior para fazer acontecer a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia na UFC Com objetivos de elaborar executar e gerenciar accedilotildees oferecer suporte agraves unidades aca-decircmicas e administrativas para a efetivaccedilatildeo da acessibilida-de e estimular o desenvolvimento de uma cultura inclusiva na UFC a Secretaria tem como puacuteblico-alvo todas as pessoas sobretudo as pessoas com deficiecircncia integrantes da comu-nidade interna acrescida das pessoas que usufruem de servi-ccedilos por ela oferecidos por meio de accedilotildees de extensatildeo A tiacutetulo de exemplificaccedilatildeo de tais accedilotildees destacam-se aquelas desen-volvidas pelos setores de sauacutede da UFC (serviccedilos meacutedico e odontoloacutegico)

Implantada em outubro de 2010 a Secretaria de Aces-sibilidade UFC Inclui inicialmente constituiacuteda pela direccedilatildeo e pelo setor de apoio administrativo conta com um Grupo de Trabalho composto por nove membros representantes de professores das mais variadas aacutereas de conhecimento servi-dores e estudantes com deficiecircncia Esse grupo de assessoria permanente vem garantindo as realizaccedilotildees da Secretaria por meio da coordenaccedilatildeo de programa de extensatildeo e de projeto de monitoria de graduaccedilatildeo da oferta de serviccedilos das articu-laccedilotildees intersetoriais das mediaccedilotildees entre estudantes e coor-

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denadores eou professores dentre outras Parte desse grupo orienta a equipe de estudantes bolsistas de graduaccedilatildeo inte-grantes de projetos de bolsas11 de Iniciaccedilatildeo Acadecircmica Moni-toria de Projetos e de Extensatildeo aleacutem de voluntaacuterios Mais re-centemente com a atualizaccedilatildeo do Regimento Interno da UFC foram acrescidos agrave estrutura da Secretaria mais quatro seto-res assessoria a projetos arquitetocircnicos acompanhamento a alunos tecnologia assistiva e formaccedilatildeo para acessibilidade A equipe a partir de maio do corrente ano foi ampliada e estaacute composta por dez servidores sendo dois assistentes de admi-nistraccedilatildeo quatro tradutores e inteacuterpretes dois teacutecnicos em informaacutetica um teacutecnico em multimiacutedia e um teacutecnico em as-suntos educacionais12

No que diz respeito ao ingresso do segmento de estu-dantes com deficiecircncia nos cursos de graduaccedilatildeo na UFC foi realizado um estudo13 acerca do ingresso dessas pessoas no periacuteodo de 2005 a 2009 por meio do concurso vestibular14 A partir das informaccedilotildees oferecidas pela Comissatildeo de Con-curso Vestibular (CCV) quanto agraves inscriccedilotildees e resultados foram construiacutedas tabelas com dados quantitativos referen-tes agrave categorizaccedilatildeo dos alunos pela condiccedilatildeo de deficiecircncia agrave identificaccedilatildeo dos cursos por eles escolhidos e resultados finais dos concursos realizados Desses registros foi possiacutevel

11 No total a equipe de bolsistas eacute composta por dezoito estudantes de graduaccedilatildeo sendo quatro bolsistas da Proacute-Reitoria de Graduaccedilatildeo seis da Proacute-Reitoria de Exten-satildeo e oito bolsistas de Iniciaccedilatildeo Acadecircmica da Proacute-Reitoria de Assuntos Estudantis 12 Esse quadro de servidores teacutecnico-administrativos eacute parte das metas do Programa Viver Sem Limites do governo federal (Decreto nordm 76122011) encontrando--se em processo o concurso para seleccedilatildeo de mais seis profissionais tradutores e inteacuterpretes de Libras13 Estudo realizado e apresentado nos Encontros Universitaacuterios em 2009 por Antocircnia Kaacutetia Soares Maciel bolsista de graduaccedilatildeo do Projeto UFC Inclui UFC sob a orientaccedilatildeo da professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo14 A partir de 2010 a UFC passa a adotar o Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM) como criteacuterio de ingresso de alunos em seus cursos de graduaccedilatildeo

perceber o crescimento da demanda de alunos com defici-ecircncia para os cursos de graduaccedilatildeo muito embora isto natildeo corresponda ao efetivo ingresso Em 2005 dos 31 candida-tos inscritos no concurso vestibular 4 foram aprovados no ano de 2006 registram-se 48 inscriccedilotildees e 3 aprovaccedilotildees em 2007 dos 50 inscritos 5 foram aprovados no concurso ves-tibular de 2008 inscreveram-se 48 candidatos com defici-ecircncia e 2 foram aprovados em 2009 uacuteltimo periacuteodo em que o ingresso na UFC foi mediante o concurso vestibular ins-creveram-se 73 candidatos com deficiecircncia destes 24 foram aprovados para a segunda fase e 4 ingressaram nos cursos de graduaccedilatildeo pretendidos Dentre eles 3 apresentavam defi-ciecircncia visual e 1 deficiecircncia fiacutesica Pode-se observar ainda que em sua maioria a demanda se concentrava em cursos da aacuterea de Ciecircncias Humanas como Pedagogia Letras Ciecircn-cias Sociais e Psicologia aleacutem de algum interesse por Ciecircn-cias Econocircmicas Aleacutem destes cursos haacute registro de ingresso de um aluno no curso de bacharelado em Quiacutemica e um no curso de Farmaacutecia

Quanto ao contingente15 de alunos atualmente matricu-lados nos cursos da UFC no censo realizado em fevereiro de 2011 e atualizado em julho de 201216 haacute registro de 45 ma-triacuteculas de alunos com deficiecircncia nos cursos de Pedagogia Psicologia Ciecircncias Sociais Ciecircncias Contaacutebeis Ciecircncias da Computaccedilatildeo Engenharia de Teleinformaacutetica Engenharia de

15 Quanto ao quantitativo de servidores (teacutecnicos e docentes) natildeo se tem um dado confiaacutevel Ao certo haacute registro de um professor cego trecircs professores surdos uma professora com deficiecircncia fiacutesica Dentre os servidores teacutecnicos tem-se registro de um surdo O cadastramento de servidores teacutecnicos e docentes estaacute em anda-mento sob a coordenaccedilatildeo da Proacute-Reitoria de Gestatildeo de Pessoas em parceria com a Secretaria de Acessibilidade 16 O referido censo foi realizado por autodeclaraccedilatildeo do aluno no ato da matriacutecula e atualizado em julho de 2012 mediante informaccedilotildees obtidas diretamente nas coordenaccedilotildees de cursos

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Alimentaccedilatildeo Letras Administraccedilatildeo Agronomia e Biblioteco-nomia da UFC sendo uma delas no curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia (Mestrado) Dentre alunos ingressos nos cursos de graduaccedilatildeo nove tecircm cegueira ou baixa visatildeo dezesseis satildeo surdos ou com audiccedilatildeo reduzida dezessete apresentam defi-ciecircncias fiacutesicas diversas um apresenta transtorno global do desenvolvimento e dois apresentam muacuteltipla deficiecircncia Es-tes dados17 se alteram com o ingresso de 12 estudantes surdos no curso de Letras Libras licenciatura presencial implantado no segundo semestre de 2013 como mais uma accedilatildeo afirmati-va da UFC e atendendo a metas do Plano Viver Sem Limites haacute pouco referido

A partir dos dados ora expostos e tendo-se como re-ferecircncia o universo de cerca de 2500 matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo presencial da UFC 45 alunos com deficiecircncia representam 184 do total de alunos matriculados Isto eacute um convite agrave reflexatildeo em busca de identificar fatores que de-finem tal panorama Certamente que satildeo muacuteltiplos esses fa-tores entretanto eacute razoaacutevel pensar que dentre eles podem ser considerados pelo menos dois Em primeiro lugar arris-co o destaque na qualidade das experiecircncias de escolarizaccedilatildeo ofertada a esse contingente da populaccedilatildeo ao longo dos anos da educaccedilatildeo baacutesica A historiografia revela que o atendimen-to educacional ofertado agraves crianccedilas e jovens com deficiecircncia durante muito tempo teve um forte caraacuteter assistencialista com foco na reabilitaccedilatildeo Isto pode levar agrave suposiccedilatildeo de que os projetos e programas da escolarizaccedilatildeo propriamente ditos foram negligenciados

17 O uacuteltimo relatoacuterio com o quantitativo de alunos com deficiecircncia autodeclarados fornecido pela Proacute-Reitoria de Graduaccedilatildeo em 2013 revela que satildeo 218 alunos Estes dados estatildeo sendo conferidos pela equipe da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

Em segundo lugar eacute possiacutevel uma reflexatildeo acerca das condiccedilotildees oferecidas pelos mecanismos atuais utilizados para o ingresso de alunos no ensino superior Apesar da dita ga-rantia de recursos pedagoacutegicos que atendam agraves necessidades singulares resultantes principalmente das deficiecircncias sen-soriais tais instrumentos ainda parecem natildeo satisfazer ple-namente as necessidades demandadas Quanto agrave condiccedilatildeo de surdez por exemplo ainda haacute dificuldades por parte das instacircncias organizadoras de concurso em reconhecer que a Libras eacute a primeira liacutengua dessas pessoas e que a avaliaccedilatildeo da sua produccedilatildeo textual em Liacutengua Portuguesa deve levar em consideraccedilatildeo que essa eacute a sua segunda liacutengua

Nossos Avanccedilos

A partir de marccedilo de 2011 jaacute devidamente instalada a Secretaria passou a desenvolver accedilotildees abrangendo as vaacuterias dimensotildees da acessibilidade e tomando como ponto de par-tida o estabelecido no documento Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC propostas agregando alguns projetos de inclusatildeo de-senvolvidos por professores da UFC membros do Grupo de Trabalho da Secretaria Assim iniciaram-se diaacutelogos com as unidades acadecircmicas e administrativas na perspectiva de di-vulgar e discutir a poliacutetica de acessibilidade da UFC mas tam-beacutem no intuito de numa abordagem interdisciplinar e inter-setorial motivar a interlocuccedilatildeo entre suas diversas unidades em busca do desenvolvimento da cultura de inclusatildeo Nesse sentido a Secretaria em busca de novos paradigmas que deem suporte agrave construccedilatildeo de uma cultura da inclusatildeo na UFC vem promovendo accedilotildees diversas para atender prioritariamente agraves demandas mais urgentes consolidar projetos iniciados e pro-por a efetivaccedilatildeo da Poliacutetica de Acessibilidade na UFC

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No tocante agrave acessibilidade fiacutesico-arquitetocircnica18 ob-serva-se a realizaccedilatildeo de adaptaccedilotildees de setores ou unidades acadecircmicas prioritariamente onde haacute alunos ou servidores com deficiecircncia Nesse acircmbito vale destacar o interesse dos gestores de unidades acadecircmicas quanto ao atendimento aos itens de acessibilidade nos projetos e obras em desenvolvi-mento sob sua responsabilidade ao convocarem a Secretaria para a realizaccedilatildeo de visitas teacutecnicas com vistas agrave garantia de itens de acessibilidade em seus espaccedilos fiacutesicos

No tocante agrave acessibilidade na WEB a Secretaria de Acessibilidade em articulaccedilatildeo com a Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo promoveu encontros e reuniotildees que culmina-ram com a realizaccedilatildeo do Treinamento em Acessibilidade na WEB19 em parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Isto resultou na adoccedilatildeo de procedimentos tecno-loacutegicos que transformou o Portal da UFC20 acessiacutevel a todos Tornar os demais portais da UFC acessiacuteveis eacute um projeto que estaacute em andamento

Ainda sobre o acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo o Sistema de Bibliotecas da UFC com o apoio da Secretaria vem aprimorando suas estrateacutegias para tornar suas atuais unidades em ldquoBibliotecas Acessiacuteveisrdquo atendendo ao aluno

18 Accedilatildeo realizada pela Coordenadoria de Obras e Projetos com assessoria da pro-fessora Zilsa Maria Pinto Santiago professora do curso de Arquitetura e Urbanismo e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Esta accedilatildeo resultou num denso projeto de tornar acessiacuteveis todos os ambientes da UFC em Fortaleza ateacute o ano de 2016 19 Referido treinamento realizado na Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo (STI) foi conduzido pela professora Andrea Polleto Sonza e equipe do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e sob a coordenaccedilatildeo local do professor Joseacute Marques Soares professor do curso de Teleinformaacutetica e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC20 Accedilatildeo realizada pela equipe da Diretoria de Portais Universitaacuterios da Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo sob a direccedilatildeo da teacutecnica Emilia Maria Holanda Crispim Dioacutegenes

com deficiecircncia no campus onde estaacute situado o seu curso Aleacutem disso por meio da consolidaccedilatildeo do serviccedilo de digitali-zaccedilatildeo de textos21 com audiodescriccedilatildeo de imagens para alunos cegos ou com baixa visatildeo aos poucos se amplia o ldquoAcervo Acessiacutevelrdquo visando disponibilizar literatura cientiacutefica aos usuaacuterios com deficiecircncia visual Para os usuaacuterios com surdez a proposta eacute tornar disponiacuteveis de imediato informaccedilotildees em Libras acerca dos serviccedilos que a biblioteca oferece Destaca--se ainda no tocante agrave dimensatildeo da acessibilidade agrave comu-nicaccedilatildeo e agrave informaccedilatildeo a inserccedilatildeo de ldquojanelas de Librasrdquo nos programas produzidos pela equipe da UFCTV que eacute uma accedilatildeo em andamento

Quanto agrave acessibilidade linguiacutestica foram oferecidos cursos de Libras agrave comunidade universitaacuteria numa parceria com o curso de Letras-Libras graduaccedilatildeo a distacircncia22 to-talizando 49 turmas visando agrave difusatildeo dessa liacutengua e agrave co-municaccedilatildeo entre surdos e ouvintes A oferta de profissionais tradutores e inteacuterpretes23 de Libras que garante a acessibili-dade na comunicaccedilatildeo e na interaccedilatildeo entre surdos e ouvintes rompendo a barreira linguiacutestica tambeacutem eacute outra realidade na UFC

21 Serviccedilo coordenado pela bibliotecaacuteria Clemilda dos Santos Sousa da Biblioteca de Ciecircncias Humanas da UFC e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui22 Curso semipresencial de formaccedilatildeo de professores para o ensino da Libras e de tradutores e inteacuterpretes de Libras oferecido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em convecircnio com 15 Instituiccedilotildees de Ensino Superior dentre as quais a UFC foi uma delas Em 2010 no polo da UFC foram licenciados 47 professores para o ensino de Libras dentre os quais 44 satildeo surdos Em novembro do ano de 2012 licenciaram-se mais 22 professores dentre eles 20 surdos e 24 se graduaram em Traduccedilatildeo e Interpretaccedilatildeo (Libras-Portuguecircs-Libras) 23 Nos anos de 2010 e 2011 a UFC contratou uma tradutora e inteacuterprete de Libras Em 2012 ingressou por concurso puacuteblico a primeira tradutora e inteacuterprete de Libras na UFC Em 2013 mais trecircs profissionais concursados assumiram esse cargo A previsatildeo eacute a de que ateacute iniacutecio de 2014 a equipe de tradutores e inteacuterpretes de Libras na UFC seja constituiacuteda por dez profissionais concursados

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A formaccedilatildeo para a acessibilidade tambeacutem eacute outra accedilatildeo importante em desenvolvimento pela Secretaria Nesse acircm-bito registram-se a oferta de cursos de Sistema de Leitura e Escrita Braille de Libras24 e de Tecnologias Assistivas Nes-sa perspectiva a Secretaria participa efetivamente dos gran-des eventos promovidos pela UFC tais como os Seminaacuterios de Ambientaccedilatildeo Encontros Universitaacuterios e Feiras das Pro-fissotildees aleacutem dos Seminaacuterios de Gestatildeo Muito relevante eacute a criaccedilatildeo em dezembro de 2012 do curso de Licenciatura em Letras Libras que tem como objetivo a formaccedilatildeo de professo-res para o ensino de Libras como primeira e segunda liacutengua Essa eacute uma oferta com iniacutecio em 20132 e que teraacute importante repercussatildeo para a rede de educaccedilatildeo baacutesica e superior

Balanccedilo Parcial Algumas Consideraccedilotildees

Os ecos das accedilotildees desenvolvidas pela Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui tecircm sido muitos e importantes Grande parte das demandas que chegam agrave Secretaria eacute acolhi-da Alunos professores e servidores teacutecnico-administrativos sistematicamente fazem suas solicitaccedilotildees com a expectativa de que seratildeo atendidos muito embora se reconheccedila as fragili-dades do processo de implantaccedilatildeo da poliacutetica de acessibilida-de tendo em vista o fato de que as demandas por acessibilida-de na UFC satildeo muacuteltiplas e muitas

Destacam-se ainda os frutos do conviacutevio com as pes-soas com deficiecircncia que eacute de fundamental importacircncia para que se possa dimensionar as especificidades necessidades limites e possibilidades dessas pessoas As interaccedilotildees com

24 No periacuteodo de 2008 a 2011 foram ofertadas a alunos e servidores da UFC 49 turmas de ensino de Libras em parceria com o curso de licenciatura em Letras-Libras graduaccedilatildeo a distacircncia

elas propiciam aprendizados que os livros natildeo oferecem e mobilizam nas pessoas mudanccedilas em suas atitudes Suas presenccedilas participando efetivamente dos diversos progra-mas e projetos da UFC e da Secretaria de Acessibilidade as-sim como de eventos acadecircmicos eacute essencial para a criaccedilatildeo de uma cultura inclusiva Estabelecer essa parceria com elas tem promovido aprendizados de enorme significaccedilatildeo Eacute des-se modo que passam a exercer a funccedilatildeo de ldquofacilitadoras da inclusatildeordquo colaborando com a estruturaccedilatildeo de um ambiente fiacutesico e socialmente acessiacutevel aleacutem de suscitarem o desman-telamento dos mitos em torno das condiccedilotildees de deficiecircncia que apresentam

As experiecircncias vividas ao longo desse curto periacuteodo de trecircs anos permitiram agrave equipe da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui realccedilar alguns aspectos dentre os quais se des-tacam as accedilotildees de acessibilidade satildeo possiacuteveis desde que se tenha vontade e decisatildeo poliacutetica a afirmaccedilatildeo das diferenccedilas para transformar as barreiras em caminhos acessiacuteveis a con-cepccedilatildeo de que a inclusatildeo social e educacional tem a ver com todos noacutes a compreensatildeo de que o processo de inclusatildeo eacute ldquoca-minho de matildeo duplardquo no qual os segmentos com e sem defi-ciecircncia devem estar organicamente implicados e finalmente reconhecer e aceitar os limites como possibilidade de trans-pocirc-los assimilando a perspectiva conceitual que Vygotsky (1985) oferece acerca do fenocircmeno da compensaccedilatildeo

Ainda se tem muitas liccedilotildees a serem incorporadas Eacute preci-so avaliar valores e estar disponiacutevel agraves oportunidades de apren-der uns com os outros Afinal somos todos seres em formaccedilatildeo portanto passiacuteveis de transformaccedilotildees favoraacuteveis a convivecircncias respeitosas frente agraves diferenccedilas e singularidades humanas

d 39VANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO38 d

Referecircncias Bibliograacuteficas

BRASIL Convenccedilatildeo sobre os direitos da pessoa com defici-ecircncia (2007) Protocolo facultativo agrave Convenccedilatildeo sobre os di-reitos da pessoa com deficiecircncia Decreto legislativo nordm 186 de 9 de julho de 2008 Decreto nordm 6949 de 25 de agosto de 2009 Brasiacutelia Secretaria dos Direitos Humanos 2011 LEITAtildeO V M (Coord) Poliacutetica de acessibilidade na UFC propostas Texto impresso apresentado agrave Administraccedilatildeo Su-perior da UFC em agosto de 2010______ Instituiccedilotildees campanhas e lutas histoacuteria da educa-ccedilatildeo especial no Cearaacute Fortaleza Ediccedilotildees UFC 2008OMOTE S Deficiecircncia e natildeo-deficiecircncia recortes do mesmo tecido Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Especial Piracicaba-SP v 1 n 2 p 65-73 1994VYGOTSKY L S El defecto y la compensacioacuten In Obras Completas Fundamentos de defectologia Habana Editorial Pueblo y Educacioacuten 1985

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Valeacuteria Gomes PereiraHamilton Rodrigues Tabosa

Introduccedilatildeo

Este trabalho vem ressaltar a importacircncia do acesso agrave informaccedilatildeo e da biblioteca como agentes transformadores mostrando o papel do bibliotecaacuterio como suporte para os de-ficientes visuais no acesso agrave informaccedilatildeo Segundo Carvalho e Kanishi (2000) o avanccedilo das Novas Tecnologias de Infor-maccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo (NTIC) contribui para a inclusatildeo ao conhecimento por parte desses profissionais Eacute reforccedilada assim a importacircncia do bibliotecaacuterio como um dos profissio-nais da sociedade da informaccedilatildeo que tem como uma de suas principais caracteriacutesticas o uso das tecnologias por saberem da importacircncia delas na disseminaccedilatildeo do conhecimento

Traccedilamos entatildeo como objetivo geral deste trabalho verificar se os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute conhecem utilizam e dominam algumas das tecnologias assistivas ele-trocircnicas que facilitam o atendimento e o acesso de usuaacuterios com deficiecircncia visual agrave informaccedilatildeo se estatildeo capacitados para atuarem com esses usuaacuterios

Podemos classificar esta pesquisa como exploratoacuteria e descritiva Para a realizaccedilatildeo da anaacutelise dos dados coletados optamos por uma abordagem quanti-qualitativa O meacutetodo escolhido foi o funcionalista que segundo Lakatos e Marconi (1991) estuda a sociedade a partir do ponto de vista da fun-

1 Este artigo eacute uma siacutentese da monografia de conclusatildeo de curso de graduaccedilatildeo da primeira autora

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ccedilatildeo de suas unidades isto eacute como um sistema organizado de atividades

Optou-se por fazer a pesquisa com bibliotecaacuterios que estivessem exercendo a profissatildeo e cadastrados no Conselho Regional de Biblioteconomia para que o Conselho enviasse os questionaacuterios por e-mail Dessa forma pretendiacuteamos atingir um nuacutemero razoaacutevel de respostas aos questionaacuterios

O Acesso agrave Informaccedilatildeo

Cada vez mais percebe-se como o acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento eacute instrumento de mudanccedila social Os cida-datildeos cientes de seus deveres e direitos satildeo capazes de operar revoluccedilotildees em suas vidas e ao seu redor

Dessa forma cabe ao governo promover a socializaccedilatildeo do conhecimento proporcionando a todos sem distinccedilatildeo in-clusive agraves pessoas com deficiecircncia o acesso agrave informaccedilatildeo Em relaccedilatildeo ao Estado este tem promovido campanhas de aces-sibilidade na busca de eliminar a exclusatildeo entretanto essa mobilizaccedilatildeo natildeo estaacute alcanccedilando suas metas em totalidade no tocante agrave facilitaccedilatildeo aos deficientes do acesso ao conhe-cimento Paula (2009) frisa que a sociedade da informaccedilatildeo sugere a universalizaccedilatildeo do conhecimento produzido natildeo se admitindo que parcelas da comunidade sejam excluiacutedas simplesmente por apresentarem algum tipo de deficiecircncia Enfatiza-se assim a importacircncia da disponibilizaccedilatildeo do co-nhecimento em todos os suportes para toda a diversidade de indiviacuteduos Entatildeo a quem caberaacute esse papel de disseminar a informaccedilatildeo importando-se com a acessibilidade com o apri-moramento do uso das novas tecnologias

Independentemente de que nomes deram agraves unidades de informaccedilatildeo ndash como arquivos museus universidades es-

colas etc ndash eacute importante sabermos que elas satildeo transmissoras do conhecimento As bibliotecas trazem consigo a memoacuteria humana registrada sendo de sua responsabilidade propor-cionar o acesso agraves informaccedilotildees codificadas registradas gra-vadas nesses documentos contribuindo para a formaccedilatildeo de uma sociedade mais humana e dignificadora (CARVALHO KANISHI 2000)

Cabe entatildeo agraves bibliotecas disseminar o conhecimento preocupando-se em suprir as necessidades informacionais de qualquer um que a busque sem se deparar com barreiras de acesso Assis Barreto e Parandella (2008) afirmam que aleacutem das bibliotecas serem guardiatildes da memoacuteria a disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo atraveacutes da dinamizaccedilatildeo de seus acervos gera um processo inclusivo pelo acesso uso e democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo cientiacutefica e cultural aleacutem das informaccedilotildees uacuteteis e necessaacuterias agrave atuaccedilatildeo do cidadatildeo no seu dia a dia Reforccedila as-sim a importacircncia da biblioteca na sociedade da informaccedilatildeo e na vida do cidadatildeo

As tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo devem ser utilizadas pelas bibliotecas para a democratizaccedilatildeo dos pro-cessos sociais buscando formar os cidadatildeos para que possam exercer uma cidadania ativa e consciente e incluir socialmente atraveacutes do saber para que esses indiviacuteduos possam suscitar a transparecircncia de poliacuteticas e accedilotildees do governo formando-os para qualquer circunstacircncia havendo assim uma inclusatildeo social (TAKAHASHI 2000 apud PAULA 2009)

A informaccedilatildeo eacute uma necessidade fundamental do ser humano e para suprirmos essa necessidade eacute preciso que o bibliotecaacuterio esteja atualizado diante do uso das NTIC para assim favorecer o acesso agrave informaccedilatildeo aos usuaacuterios Segundo Carvalho e Kanishi (2000) os bibliotecaacuterios satildeo os profissio-nais que devem manter-se como elementos facilitadores do

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acesso agrave informaccedilatildeo aos usuaacuterios de suas instituiccedilotildees permi-tindo a inclusatildeo social de qualquer indiviacuteduo

Cabe aos bibliotecaacuterios se manterem atualizados no uso dessas tecnologias contribuindo assim para a inclusatildeo social e construccedilatildeo da sociedade a partir do acesso ao conhecimento

Tecnologias Assistivas Eletrocircnicas de Acesso agrave Informaccedilatildeo

Segundo Bersch (2008) a tecnologia assistiva eacute enten-dida como um auxiacutelio que promoveraacute a ampliaccedilatildeo de uma habilidade funcional deficitaacuteria ou possibilitaraacute a realizaccedilatildeo da funccedilatildeo desejada e que se encontra impedida por circuns-tacircncia de deficiecircncia ou pelo envelhecimento Em poucas palavras eacute qualquer instrumento que facilite a pessoa com deficiecircncia a fazer uma atividade desde um ruacutestico apetre-cho de madeira acoplado a um talher que permite a pessoa com deficiecircncia de habilidade motora comer a uma tecnolo-gia de ponta que permita a um usuaacuterio com deficiecircncia visual navegar pela internet

A Comissatildeo Executiva do Comitecirc de Ajudas Teacutecnicas (CAT) acredita que a tecnologia assistiva eacute uma aacuterea de co-nhecimento interdisciplinar que engloba produtos recursos metodologias estrateacutegias praacuteticas e serviccedilos que objetivam promover a funcionalidade relacionada agrave atividade e partici-paccedilatildeo de pessoas com deficiecircncia com incapacidades ou mo-bilidade reduzida visando a sua autonomia independecircncia qualidade de vida e inclusatildeo social (COMITEcirc DE AJUDAS TEacuteCNICAS apud BERSCH 2008)

Existem diversos tipos de tecnologia assistiva como mencionam Pupo Melo e Ferreacutes (2006) no controle do am-biente no trabalho e lazer na locomoccedilatildeo e em diversas ativi-dades do cotidiano como o estudo e o acesso agrave comunicaccedilatildeo

e informaccedilatildeo Usaremos principalmente os estudos de Bersch (2008) que eacute ilustrativa e concisa em sua abordagem sobre as tecnologias assistivas eletrocircnicas utilizadas pelas pessoas com deficiecircncia e os estudos de Fonseca e Pinto (2010) que tecircm uma linguagem clara e objetiva ao falar dessas tecnolo-gias aplicadas em uma biblioteca

Dentre as principais tecnologias de acesso agrave informaccedilatildeo para deficientes visuais podemos citar

y Ampliadores de tela satildeo aplicativos que aumentam o tamanho das letras na tela do computador e dessa forma facilitam o uso das pessoas com baixa visatildeo fazendo com que os textos e imagens sejam melhor visualizados por quem tem essa deficiecircncia Exemplos de ampliadores de tela Magic Zoom Text e o lente-Pro

y Leitores de tela satildeo aplicativos que leem as informaccedilotildees que estatildeo na tela do computador por isso satildeo tambeacutem chamados de sintetizadores de voz Eles reproduzem a voz do ser humano Com o desenvolvimento da tecnologia eles tecircm se tornado mais perfeitos em sua decodificaccedilatildeo sonora Exemplos de leitores de tela Vihortual Visiona Monitivox e Jaws e o Dosvox sendo este uacuteltimo um dos mais difundido no Brasil pois aleacutem da leitura de tela oferece inuacutemeros recursos como editores de texto jogos formatador para Braille e programas para acesso agrave internet como correio eletrocircnico navegador etc

y Linhas Braille dispositivos de saiacuteda composto por fileiras de ceacutedulas Braille por intermeacutedio de um sistema eletro-mecacircnico no qual conjuntos de pontos satildeo levantados e abaixados conseguindo-se assim uma linha de texto em Braille Eacute utilizado como alternativa ao leitor Braille sendo principalmente usado por pessoas surdas-cegas que podem

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superar a ausecircncia ou dificuldade de audiccedilatildeo e visatildeo atraveacutes do tato Infelizmente eacute pouco usado no Brasil devido ao seu altiacutessimo valor

y Impressoras Braille imprimem no papel as informaccedilotildees contidas no texto para o sistema Braille Existem dois tipos a natildeo-interponto as que imprimem apenas de um lado do papel e as com interpontos que imprimem dos dois lados do papel

Metodologia

Partimos de uma pesquisa bibliograacutefica para nos apro-fundarmos nos conceitos nas terminologias da aacuterea e para de-terminarmos as categorias de anaacutelise para a pesquisa Quan-to ao tipo de pesquisa podemos classificar este estudo como exploratoacuterio e descritivo Gil (1991) menciona que a pesquisa exploratoacuteria eacute realizada com o objetivo de fornecer uma vi-satildeo geral do tipo aproximativo do objeto de estudo Assinala ainda que as pesquisas descritivas tecircm por objetivo a descri-ccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo

Para a realizaccedilatildeo da anaacutelise dos dados coletados opta-mos por uma abordagem qualitativa devido agrave possibilidade que esse meacutetodo permite de analisar atitudes como pensa-mentos accedilotildees opiniotildees e informaccedilotildees livres do pesquisado Segundo Maanen (1979 apud NEVES 1996) a pesquisa qua-litativa refere-se

[] ao conjunto de diferentes teacutecnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados Tem por objetivo traduzir e expressar os sentidos dos fenocircmenos do mun-do social trata-se de reduzir a distacircncia entre indicador e indicado entre teoria e dados entre contexto e accedilatildeo

O meacutetodo escolhido foi o funcionalista que segundo Lakatos e Marconi (1991) estuda a sociedade a partir do pon-to de vista da funccedilatildeo de suas unidades isto eacute como um siste-ma organizado de atividades

A pesquisa empiacuterica foi realizada com os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute Optou-se por fazer a pesquisa com biblio-tecaacuterios devidamente cadastrados no Conselho Regional de Biblioteconomia (CRB) e que estivessem exercendo a profis-satildeo Dessa forma buscamos atingir uma grande populaccedilatildeo a ser pesquisada e fornecer dados mais significativos para a pesquisa

O instrumento de coleta de dados utilizado foi o ques-tionaacuterio por oferecer alguns benefiacutecios atingir uma grande populaccedilatildeo poder ser enviado por e-mail e natildeo necessitar da presenccedila do pesquisador ao ser preenchido Lakatos e Marco-ni (1991) descrevem que o questionaacuterio eacute um conjunto orde-nado de perguntas que devem ser respondidas sem a presenccedila do pesquisador Vai portanto ao encontro da nossa necessi-dade pois o nosso universo de pesquisa eacute muito vasto e natildeo seria possiacutevel a presenccedila do pesquisador em todas as cidades do Cearaacute O questionaacuterio foi enviado por e-mail a todos os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute cadastrados no CRB tendo sido respondidos um total de 40 questionaacuterios

Essa estrateacutegia na coleta de dados nos permitiu atingir instituiccedilotildees de portes variados com diferentes tipos de uni-dades de informaccedilatildeo puacuteblicas e privadas bibliotecas especia-lizadas comunitaacuterias ou puacuteblicas universitaacuterias escolares arquivos centros de documentaccedilatildeo e tambeacutem outros tipos de empresas onde haacute atuaccedilatildeo de bibliotecaacuterios Dos 40 questio-naacuterios que retornaram respondidos 5 eram de instituiccedilotildees de economia mista 10 de instituiccedilotildees privadas e 25 de institui-ccedilotildees puacuteblicas

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A Situaccedilatildeo das Bibliotecas Cearenses Quanto agrave Acessibilidade Atraveacutes de Tecnologias Assistivas Eletrocircnicas

Averiguamos se os bibliotecaacuterios cearenses conhecem o conceito de tecnologia assistiva e se conseguem mencionar exemplos dessas tecnologias assitivas para pessoas com defi-ciecircncia Apenas 4 dos respondentes natildeo possuem nenhum entendimento sobre o que eacute uma tecnologia assistiva Quere-mos esclarecer que natildeo houve relaccedilatildeo quanto agrave natureza eco-nocircmica da instituiccedilatildeo na qual atuam se eacute mista puacuteblica ou privada Dos respondentes 91 informaram que sabem o que eacute uma tecnologia assitiva

Surprendeu-nos o conhecimento que a maioria dos su-jeitos apresentou da definiccedilatildeo do termo Alguns citaram que antes de responder procuraram um conhecimento maior sobre o assunto mas ficou claro que essa porcentagem que respondeu tinha uma ideia um conhecimento preacutevio mesmo que vago sobre o que eacute tecnologia assistiva Ainda houve quem fizesse uma descriccedilatildeo das tecnologias assistivas e mencionasse a im-portacircncia que elas exercem na vida das pessoas com deficiecircn-cia demonstrando assim que conheciam de fato a definiccedilatildeo

Os sujeitos que responderam com maior propriedade a essa pergunta eram de instiuiccedilotildees puacuteblicas podendo haver uma relaccedilatildeo com as poliacuteticas de inclusatildeo e acessibilidade das pessoas com deficiecircncia agrave informaccedilatildeo Um exemplo seria o ci-clo de debates desenvolvidos pela Secretaria de Acessiblidade da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) convidando sensi-bilizando e desenvolvendo atividades de promoccedilatildeo do acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com deficiecircncia tendo como ne-cessaacuteria uma biblioteca acessiacutevel para esses usuaacuterios

Perguntamos quais os tipos de tecnologias assistivas eletrocircnicas que conheciam A comparaccedilatildeo entre o conheci-

mento que os respondentes demonstraram ter sobre o que satildeo tecnologias assistivas natildeo foi condizente com as respostas a essa pergunta pois alguns confundiram tecnologias assistivas com as NTIC dando como exemplos monitores de Reconhe-cimento Oacutetico de Caracteres (OCR) e teclado virtual que natildeo satildeo tecnologias assistivas aleacutem de terem citado a Liacutengua Bra-sileira de Sinais (Libras) que eacute a primeira lingua dos surdos e o Braille que eacute um sistema de leitura e escrita atraacuteves do tato Libras e Braille satildeo considerados tecnologias assistivas mas natildeo eletrocircnicas como mencionado por dois dos nossos respondentes

Outros mencionaram duas interfaces a microFecircnix que eacute uma ferramenta voltada para pessoas com dificuldades motoras e o Dosvox que eacute uma ferramenta voltada para os deficientes visuais terem acesso agrave informaccedilatildeo atraveacutes do com-putador permitindo que seu usuaacuterio utilize as ferramentas normais de um computador e navegue pela web

O Dosvox foi a uacutenica interface mencionada para defi-cientes visuais sua fama se espalhou para aleacutem dos muros acadecircmicos como uma ferramenta de acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com deficiecircncia Estaacute disponiacutevel para downlo-ad gratuito na web e suas configuraccedilotildees satildeo compatiacuteveis com qualquer sistema operacional bastando apenas escolher a versatildeo que melhor conveacutem agrave realidade do usuaacuterio ou da insti-tuiccedilatildeo que o busca

Investigamos se as instituiccedilotildees onde os bibliotecaacuterios trabalham possuem alguma tecnologia assistiva eletrocircnica quais os tipos que possuem e se natildeo possuem e quais as razotildees disso Verificamos que as instituiccedilotildees privadas natildeo possuem tecnologias assistivas eletrocircnicas e se justificavam por natildeo pos-suiacuterem porque natildeo tinham puacuteblico-alvo que demandasse es-sas tecnologias Como afirma o deacutecimo segundo respondente

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A faculdade ainda natildeo vecirc ldquonecessidaderdquo de adequar tantos recursos de tecnologia assistiva jaacute que natildeo temos alunos com deficiecircncia visual Para cadeirantes temos os elevadores e os espaccedilos foram pensados levando em consideraccedilatildeo a movimentaccedilatildeo desse cadeirante no espaccedilo da faculdade mas na minha visatildeo isso natildeo eacute tecnologia assistiva eletrocircnica Para os surdos temos apenas os inteacuterpretes de Libras o que tambeacutem natildeo considero uma tecnologia assistiva eletrocircnica

Ficou niacutetido que as instituiccedilotildees privadas preocupam-se em adequar suas instalaccedilotildees para o acesso arquitetocircnico nas bibliotecas como rampas corrimatildeos computadores com me-sas adaptadas para cadeirantes As instituiccedilotildees privadas consi-deram que natildeo eacute necessaacuterio investir em tecnologias assistivas eletrocircnicas pois natildeo haacute um puacuteblico-alvo natildeo haacute demanda

Quanto agraves empresas de economia mista apenas uma disponibiliza uma tecnologia assistiva eletrocircnica que eacute uma in-terface para deficientes visuais O vigeacutesimo oitavo respondente mencionou que havia apenas a preocupaccedilatildeo com as barreiras arquitetocircnicas ldquoBototildees de elevadores e corrimatildeo de escadas com sinalizaccedilatildeo em Braillerdquo Na instituiccedilatildeo do deacutecimo e do tri-geacutesimo terceiro sujeitos a justificativa para natildeo possuiacuterem eacute a mesma das instituiccedilotildees privadas a falta de puacuteblico-alvo

A resposta que nos chamou atenccedilatildeo das instituiccedilotildees de economia mista foi referente ao vigeacutesimo primeiro responden-te ldquoNatildeo temos nenhum usuaacuterio que necessite dessa ferramen-ta pois nossa biblioteca eacute especializada em Medicina e atende somente ao puacuteblico do hospital onde ela estaacute instaladardquo

Essa resposta nos intrigou Visto que eacute uma instituiccedilatildeo de economia mista haacute incentivos financeiros do governo des-sa forma o acesso deve ser pensado para todo tipo de usuaacute-rio O motivo de ser especializado natildeo torna esse acervo dife-rente dos demais pois existem em potencial usuaacuterios com

deficiecircncia para essa unidade de informaccedilatildeo Jaacute existem em algumas instituiccedilotildees de Ensino Superior alunos que possuem deficiecircncia visual cursando Medicina e que ao procurar por informaccedilotildees especializadas se deparam com esse tipo de ati-tude e entrave da instituiccedilatildeo e dos profissionais que as geren-ciam Um exemplo bem-sucedido desse tipo de relaccedilatildeo eacute o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que possui um aluno com 80 da visatildeo comprometida2

Das vinte instituiccedilotildees puacuteblicas consultadas apenas trecircs informaram que em suas unidades de informaccedilatildeo natildeo pos-suem nenhuma tecnologia assistiva eletrocircnica mas nas de-mais existem tecnologias assistivas e elas estatildeo desenvolven-do atividades de acesso ao conhecimento para as pessoas com deficiecircncia Essas tecnologias existentes foram mencionadas no iniacutecio deste artigo e discutiremos mais adiante as ativida-des de acesso

As unidades puacuteblicas mencionaram que suas maiores dificuldades satildeo a falta de investimento na aquisiccedilatildeo de tec-nologias assistivas eletrocircnicas e a dificuldade com os demais setores que natildeo compreendem a importacircncia de tornaacute-las acessiacuteveis de acordo com os padrotildees de acessibilidade Como mencionado pelo terceiro respondente

Temos trabalhado apenas com digitalizaccedilatildeo das biblio-grafias dos alunos com deficiecircncia visual A dificuldade de inclusatildeo de outros mecanismos se daacute pela neces-sidade de outros setores entenderem a importacircncia e a necessidade da criaccedilatildeo desses mecanismos Por exemplo Natildeo existe acessibilidade no nosso sistema e no nosso site Apesar de jaacute termos constatado que a soluccedilatildeo perpassa por outros setores

2 A UFMG possui dentre seus estudantes de Medicina um aluno que apresenta 80 da visatildeo comprometida Para dirimir as dificuldades desse aluno no acesso agrave informaccedilatildeo a instituiccedilatildeo adquiriu equipamentos para auxiliar nas atividades do estudante (UFMG 2009)

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Independentemente das dificuldades mencionadas as instituiccedilotildees puacuteblicas estatildeo promovendo serviccedilos de informa-ccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncia visual como digitalizaccedilatildeo do acervo aquisiccedilatildeo de obras em Braille linhas Braille acesso agrave interface especializada aacuteudio-livro etc

Podemos perceber nas instituiccedilotildees puacuteblicas um gran-de avanccedilo em busca de serem unidades informacionais aces-siacuteveis para todos apesar das dificuldades financeiras da lentidatildeo das licitaccedilotildeespregotildees da falta de matildeo de obra espe-cializada e da falta de conscientizaccedilatildeo dos demais setores que compotildeem a estrutura funcional Essas unidades tecircm buscado desempenhar seu real papel que eacute o de disponibilizar a in-formaccedilatildeo a quem a busque tornando-se bibliotecas acessiacuteveis em seus ambientes estruturais com rampas e elevadores e principalmente disponibilizando a informaccedilatildeo nos diversos suportes que o avanccedilo tecnoloacutegico possibilita A montagem de uma biblioteca inclusiva natildeo eacute necessariamente dispendiosa Devem-se buscar soluccedilotildees como os softwares livres para usu-aacuterios com deficiecircncia

Fizemos uma anaacutelise sobre o conhecimento que os biblio-tecaacuterios possuem das tecnologias assistivas eletrocircnicas para os deficientes visuais e como eles se comportariam diante de uma situaccedilatildeo hipoteacutetica de atendimento imediato para esses usuaacute-rios em suas unidades de informaccedilatildeo salientando que a infor-maccedilatildeo buscada soacute existiria na instituiccedilatildeo do sujeito pesquisado

Como pudemos perceber em paraacutegrafos anteriores os bibliotecaacuterios disseram conhecer algumas das tecnologias as-sistivas eletrocircnicas existentes Um dos bibliotecaacuterios respon-deu ldquoSim conheccedilo a Base de Dados Sophia a Gnuteca entre outrasrdquo Ficou claro que esse respondente natildeo consegue dis-tinguir a diferenccedila entre uma base de dados e uma tecnologia assistiva eletrocircnica Os sujeitos consultados ao responderem

agrave pergunta sobre se conheciam algum tipo de tecnologia as-sistiva eletrocircnica especiacutefica para deficientes visuais ficaram divididos em grupos nas seguintes proporccedilotildees 9 dos sujei-tos natildeo responderam pois natildeo sabiam nem conceituar o que era uma tecnologia assistiva 40 natildeo mencionaram nenhu-ma tecnologia para os deficientes visuais e 51 enumeraram o que pensavam ser tecnologias especiacuteficas para deficientes visuais pois houve alguns equiacutevocos por parte desse grupo

Dos dezoito respondentes que deram exemplos de tec-nologias assitivas apenas dois dominam o uso de alguma tecnologia assistiva voltada para as pessoas com deficiecircncia visual Isso provavelmente ocorre pela pequena procura des-se tipo de usuaacuterio agraves instituiccedilotildees pois caso o bibliotecaacuterio se deparasse com semelhante situaccedilatildeo constantemente prova-velmente buscaria se adequar agraves necessidades de demanda de seus usuaacuterios

A tecnologia que os respondentes mais citaram foi a interface Dosvox considerada por noacutes com niacutevel de usabili-dade intermediaacuterio avanccedilado O Dosvox eacute considerado uma ferramenta completa para o uso pelo deficiente visual pois aleacutem do usuaacuterio utilizar as ferramentas corriqueiras de um computador tais como digitar um texto fazer uma planilha a interface tambeacutem permite que a pessoa com deficiecircncia na-vegue pela Web

O vigeacutesimo nono respondente mencionou ldquoSei da exis-tecircncia do Dosvox mas natildeo de forma aprofundada e tambeacutem natildeo o temos ainda no nosso setor que eacute um Nuacutecleo de Docu-mentaccedilatildeordquo Eacute interessante que qualquer unidade de informa-ccedilatildeo independentemente do nome que utilize possua uma tec-nologia assistiva que possa atender aos seus futuros usuaacuterios

Outra sugestatildeo aleacutem do Dosvox seria o uso do MecDaisy um leitor de texto O MecDaisy eacute um software gratuito que

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transforma qualquer texto para o formato daisy permitindo as-sim a leitura pelo software Seu niacutevel de manuseio eacute faacutecil e se adequa agraves instituiccedilotildees que querem apenas disponibilizar suas obras para o acesso das informaccedilotildees que estatildeo em sua guarda

Fizemos um questionamento para os nossos sujeitos como eles agiriam para atender agraves necessidades de informa-ccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncia visual sabendo que a in-formaccedilatildeo de que essa pessoa precisa soacute existe na instituiccedilatildeo onde o sujeito consultado trabalha Diante de tal pergunta nossos respondentes informaram que natildeo tinham conheci-mento que consultariam locais de atendimento especializado e encaminhariam o deficiente para tal instituiccedilatildeo capacitada para atendecirc-lo

O terceiro sujeito consultado nos disse ldquoCom certeza me esforccedilaria ao maacuteximo para conseguir Mas acredito que a dificuldade eacute de conseguir a informaccedilatildeo em formato que pos-sa ser lidordquo E ele estaacute certo Conseguir a informaccedilatildeo no for-mato correto eacute um trabalho aacuterduo desde que o bibliotecaacuterio nunca tenha ouvido falar de nenhum dos softwares jaacute men-cionados para pessoas com deficiecircncia visual Eacute necessaacuterio entatildeo adequar-se a essa realidade hoje Urge a conscientiza-ccedilatildeo da importacircncia desses softwares que podem ser gratuitos cabendo ao gestor da unidade de informaccedilatildeo aleacutem de possuir o conhecimento de que a tecnologia existe saber persuadir seus superiores da importacircncia de estar preparado para essa realidade em sua instituiccedilatildeo

Informou o trigeacutesimo quinto respondente que ldquoSe as informaccedilotildees estivessem apenas em formato impresso eu di-gitaria os textos para que a mesma pudesse fazer a leitura do material com os programas leitores de tela que satildeo softwares livresrdquo Relembrando alguns paraacutegrafos acima tanto o Dos-vox como o MecDaisy atenderiam a essa demanda

A reaccedilatildeo do deacutecimo sujeito foi a seguinte ldquoBem como na instituiccedilatildeo natildeo existe material em Braille talvez indicas-se algum material em aacuteudio (CDDVD) e tambeacutem um local especiacutefico que atendesse sua deficiecircncia no caso a Biblioteca Puacuteblica Menezes Pimentelrdquo Lembrando que a informaccedilatildeo es-taria apenas na unidade de informaccedilatildeo do nosso respondente ao pedir que fosse encaminhado agrave Biblioteca Municipal Me-nezes Pimentel o usuaacuterio natildeo conseguiria suprir a sua neces-sidade de informaccedilatildeo e retornaria agrave instituiccedilatildeo Caso o seu material em aacuteudio-livro natildeo suprisse a necessidade teria que haver um leitor ou dependendo da complexidade da informa-ccedilatildeo a instalaccedilatildeo de uma tecnologia assistiva

Constatamos que eacute necessaacuteria a adequaccedilatildeo das unidades de informaccedilatildeo independentemente de sua natureza econocircmi-ca para o recebimento desses usuaacuterios pois a informaccedilatildeo eacute agente transformador de uma sociedade e direito de todos A formaccedilatildeo dos bibliotecaacuterio deve apontar para a qualificaccedilatildeo de um bom atendimento aos usuaacuterios com deficiecircncia visual Dos sujeitos consultados 81 natildeo se consideram capacitados para atender usuaacuterios com algum tipo de deficiecircncia Para que seja possiacutevel oferecer um atendimento com eficaacutecia e qualida-de para as pessoas com deficiecircncia visual eacute necessaacuteria a soma de dois fatores a qualificaccedilatildeo para o atendimento e os recur-sos tecnoloacutegicos disponiacuteveis especiacuteficos para esses usuaacuterios

O deacutecimo segundo respondente declarou ldquoAinda haacute muito a ser melhorado muitos treinamentos a fazer Daria o meu melhor com certeza mas eacute bem difiacutecil atender a esses usuaacuterios a contento e com tudo o que eacute necessaacuteriordquo

Consideramos que o importante eacute que os profissionais estejam cientes de seu papel como agentes intermediadores da informaccedilatildeo e que para alcanccedilar esse objetivo eacute necessaacuterio qualificar-se aleacutem das habilidades que o projeto pedagoacutegico

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da formaccedilatildeo inicial em Biblioteconomia prevecirc Um exemplo dessa atitude seria o do deacutecimo quarto respondente

Acredito que embora eu mesma tenha buscado conhe-cer essas tecnologias isto partiu de um anseio pessoal natildeo de uma proposta que estava incluiacuteda nas atividades curriculares do curso Para a formaccedilatildeo do bibliotecaacuterio de hoje eacute funda-mental conhecer as tecnologias baacutesicas ou ao menos discutir essa questatildeo da inclusatildeo da acessibilidade

Pensamos que o bibliotecaacuterio natildeo eacute obrigado a domi-nar nenhuma tecnologia assistiva para os deficientes visuais visto que na maioria das instituiccedilotildees como mencionado an-teriormente esse perfil de usuaacuterio natildeo existe mas concluiacutemos que o profissional deve ter um conhecimento baacutesico sobre o assunto

Todos os sujeitos consultados consideram esse tema de extrema relevacircncia e acreditam ser importante que os estu-dantes de Biblioteconomia recebam formaccedilatildeo acadecircmica no sentido de serem capacitados ao atendimento de usuaacuterios com deficiecircncia pois em sua vida acadecircmica houve aborda-gem da acessibilidade arquitetocircnica poreacutem nenhuma disci-plina que abordasse acessibilidade agrave informaccedilatildeo atraveacutes de tecnologias assistivas eletrocircnicas

Trata-se de um nicho mercadoloacutegico pouco explorado pois as maiorias das instituiccedilotildees adquirem livros CDs e sof-twares mas natildeo a matildeo de obra qualificada Por isso devemos preparar futuros gestores com habilidade teacutecnica e visatildeo criacute-tica sobre acessibilidade e inclusatildeo aleacutem de ampliar os espa-ccedilos de debates na universidade qualificando o estudante para atender a todas as demandas de usuaacuterio e de um mercado es-peciacutefico que necessita de matildeo de obra qualificada

Conclusatildeo

Pudemos perceber como defendem Carvalho e Kanishi (2000) a real importacircncia da atuaccedilatildeo do bibliotecaacuterio como gestor de informaccedilatildeo na atual sociedade do conhecimento para a promoccedilatildeo do acesso irrestrito agrave informaccedilatildeo a todos os tipos de usuaacuterios considerando suas preferecircncias demandas e necessidades de atendimento especiacuteficas assim como suas limitaccedilotildees sejam fiacutesicas cognitivas dentre outras

Nas bibliotecas do estado do Cearaacute agraves quais tivemos acesso verificamos a necessidade de aparelhamento e mesmo do domiacutenio das teacutecnicas de uso por parte dos bibliotecaacuterios das tecnologias assistivas eletrocircnicas para acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com baixa visatildeo ou cegas descritas por Fonseca e Pinto (2010) e Pupo Melo e Ferreacutes (2006) Identificamos que os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute investigados sabem o que satildeo tecnologias assistivas eletrocircnicas e que as instituiccedilotildees que possuem uma quantidade expressiva dessas tecnologias satildeo as de natureza puacuteblica Poreacutem satildeo pouquiacutessimos os bibliotecaacute-rios que dominam e utilizam algumas dessas ferramentas ten-do mencionado que o puacuteblico-alvo eacute muito pequeno para que tenham sentido necessidade de qualificaccedilatildeo nessa aacuterea

Haacute um grande caminho a ser percorrido na conscienti-zaccedilatildeo das instituiccedilotildees em estarem preparadas para todo tipo de situaccedilatildeo e puacuteblico As instituiccedilotildees privadas necessitam de um maior desenvolvimento de suas atividades quanto ao fo-mento de acesso agrave informaccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncia em seus diversos niacuteveis

Os resultados reforccedilam a importacircncia de os bibliotecaacute-rios se qualificarem para o atendimento dos usuaacuterios com de-ficiecircncia visual com conhecimento baacutesico de como agir para suprir suas necessidades informacionais

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Os bibliotecaacuterios cearenses de modo geral natildeo se sen-tem qualificados para atuar com essas necessidades conside-rando que tal lacuna em sua formaccedilatildeo profissional nasce na vida universitaacuteria que natildeo os capacita a atuar com os diferen-tes tipos de usuaacuterio Contudo um questionamento precisa ser feito seraacute que a universidade eacute a uacutenica causa dos bibliotecaacute-rios natildeo estarem qualificados para poderem gerir tecnologias eletrocircnicas de acesso agrave informaccedilatildeo

Entendemos que este estudo trouxe contribuiccedilotildees para futuros pesquisadores que busquem fazer uma relaccedilatildeo do desenvolvimento do bibliotecaacuterio na realidade das insti-tuiccedilotildees na qual atuam e nas mudanccedilas sobre acessibilidade e inclusatildeo Tambeacutem acreditamos que sirva como orientaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de acesso agrave informaccedilatildeo e inclusatildeo das pessoas com deficiecircncia nas unidades de informaccedilatildeo e para os bibliotecaacuterios mapearem seus pontos a desenvolver a fim de se tornarem qualificados para o atendimento a tais pessoas

Nossas sugestotildees para o curso de Biblioteconomia satildeo a criaccedilatildeo de algumas disciplinas com essa temaacutetica voltada para a inclusatildeo social e do uso das tecnologias de acesso agrave in-formaccedilatildeo pelas pessoas com deficiecircncia a criaccedilatildeo pelo De-partamento de Ciecircncia da Informaccedilatildeo de uma especializaccedilatildeo sobre o tema

Finalmente acreditamos que os bibliotecaacuterios devem procurar uma qualificaccedilatildeo profissional para desempenharem seu papel de gestores de informaccedilatildeo Sendo imprescindiacutevel para a efetiva implementaccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento inclusivas pelo bibliotecaacuterio para poderem assim disponibili-zar a informaccedilatildeo a qualquer usuaacuterio que a busque tornando--se um profissional diferenciado no mercado em um campo de atuaccedilatildeo que cresce a cada dia

Referecircncias Bibliograacuteficas

ASSIS S BARRETO A M PARANDELLA M D Bibliote-cas puacuteblicas e telecentros ambientes democraacuteticos e alterna-tivos para a inclusatildeo social Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 37 n 1 p 27-36 janabr 2008BERSCH R Introduccedilatildeo agrave tecnologia assistiva Porto Alegre CEDI 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwassistivacombrIntroducao20TA20Rita20Berschpdfgt Acesso em 3 dez 2011CARVALHO I C L KANISHI A L A sociedade do conheci-mento e o acesso agrave informaccedilatildeo para que e para quem Ciecircn-cia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia n 3 p 33-39 setdez 2000UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Faculdade de Medicina Aluno com visatildeo subnormal daacute exemplo na fa-culdade Belo Horizonte jul 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwmedicinaufmgbrnoticiasp=7063gt Acesso em 10 dez 2011FONSECA J C PINTO T L Tecnologias assistivas para biblioteca inclusiva uma forma de oferecer informaccedilotildees a todos Paraiacuteba [sn] 2010 Disponiacutevel em lthttpdciccsaufpbbrenebdindexphpenebdarticle view78gt Acesso em 1 jun 2011GIL A C Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa social 3 ed Satildeo Paulo Atlas 1991LAKATOS E M MARCONI M de A Fundamentos de me-todologia cientiacutefica 3 ed Satildeo Paulo Atlas 1991NEVES Joseacute Luis Pesquisa qualitativa caracteriacutesticas usos e possibilidades Cadernos de Pesquisa em Administraccedilatildeo Satildeo Paulo v 1 n 3 p 1-6 1996PAULA S N de Acessibilidade agrave informaccedilatildeo em bibliote-cas universitaacuterias e a formaccedilatildeo do bibliotecaacuterio Campinas PUC 2009

d 59VALEacuteRIA GOMES PEREIRA bull HAMILTON RODRIGUES TABOSA58 d

PUPO D T MELO A M FERREacuteS S P (Orgs) Acessi-bilidade discurso e praacutetica no cotidiano das bibliotecas Campinas UNICAMP 2006 Disponiacutevel em lthttplabbcunicampbr8080labproducaolivro_acessibilidade_bi-bliotecaspdfpage=65gt Acesso em 13 abr 2012

BIBLIOTECA INCLUSIVA CONSTRUINDO PONTES ENTRE O VISIacuteVEL E O INVISIacuteVEL

Clemilda dos Santos SousaJeriane da Silva Rabelo

Introduccedilatildeo

Cursar uma universidade eacute projeto de vida de muitas pessoas Ter uma profissatildeo e estruturar a vida econocircmica eacute um sonho comum entretanto para pessoas com deficiecircncia natildeo eacute uma tarefa das mais faacuteceis Muitas dificuldades se mani-festam oriundas das barreiras arquitetocircnicas atitudinais de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo Segundo Pupo e Vicentini (2002 p 3) ldquomuitos alunos com deficiecircncia iniciam uma atividade de pesquisa na universidade e satildeo lsquobarradosrsquo pela inexistecircncia de uma infraestrutura adequadardquo Isso porque as universida-des e faculdades ainda natildeo atendem agraves condiccedilotildees de acessibi-lidade para pessoas com deficiecircncia No que se refere agraves pes-soas com deficiecircncia visual o acesso ao acervo das bibliotecas eacute um grande problema porque grande parte desse acervo estaacute impresso em tinta inviabilizando o seu acesso

Visando resolver essas questotildees o Sistema de Bibliote-cas da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) criou em 2009 a Comissatildeo de Acessibilidade1 que tem como objetivo principal diagnosticar as condiccedilotildees de acessibilidade nas bibliotecas da instituiccedilatildeo e propor accedilotildees que visassem estimular a criaccedilatildeo de uma poliacutetica inclusiva que fosse diluiacuteda nos serviccedilos e produ-

1 A Comissatildeo de Acessibilidade fez parte das Comissotildees Especializadas de Estudo (CEE) criadas pela Biblioteca Universitaacuteria da UFC com o objetivo de descentralizar as decisotildees administrativas contribuindo para diagnosticar as necessidades de mudanccedilas e soluccedilatildeo de problemas teacutecnicos e estruturais do Sistema de Bibliotecas da UFC

BIBLIOTECA INCLUSIVA CONSTRUINDO PONTES ENTRE O VISIacuteVEL E O INVISIacuteVELCLEMILDA DOS SANTOS SOUSA bull JERIANE DA SILVA RABELO60 d d 61

tos oferecidos pelo Sistema de Bibliotecas da UFC nos diver-sos campi da universidade Nos primeiros estudos realizados por essa comissatildeo foram apontados diversos aspectos dentre eles a dificuldade que tecircm os alunos com deficiecircncia visual para realizarem suas leituras visto que na ocasiatildeo natildeo havia acervo em Braille2 nas bibliotecas da UFC nem serviccedilos de in-formaccedilatildeo que fizessem a conversatildeo de documentos impressos em tinta para os formatos acessiacuteveis Diante dessa realidade foi proposto pela comissatildeo de acessibilidade do Sistema de Biblioteca o projeto de Desenvolvimento de Acervo Acessiacute-vel tendo como puacuteblico-alvo pessoas com deficiecircncia visual accedilatildeo essa em curso atualmente

Em meados do ano de 2010 foi criada pela UFC a Se-cretaria de Acessibilidade UFC Inclui formada por uma equi-pe de trabalho da qual um membro da Comissatildeo de Acessibi-lidade da Biblioteca Universitaacuteria faz parte representando o Sistema de Bibliotecas Dentre as atribuiccedilotildees da Secretaria haacute uma que apresenta relaccedilatildeo direta com a biblioteca a que se refere agrave dimensatildeo pedagoacutegica e ao acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo (UFC 2012)

A biblioteca eacute um espaccedilo que proporciona a difusatildeo de informaccedilatildeo e permite a produccedilatildeo do conhecimento e sua dis-seminaccedilatildeo Para os estudantes eacute fonte primordial de pesquisa e apoio agraves accedilotildees pedagoacutegicas No caso das pessoas com defici-ecircncia visual se a biblioteca universitaacuteria oferecesse um acer-vo acessiacutevel facilitaria o processo de aprendizagem e inclusatildeo dos referidos discentes na vida acadecircmica proporcionando aos seus professores uma diversidade maior de material bi-bliograacutefico nas atividades cotidianas em sala de aula Aleacutem

2 Inventado pelo francecircs Louis Braille no ano de 1827 em Paris consiste num sistema de escrita com pontos em relevo que permite agraves pessoas privadas da visatildeo a leitura atraveacutes do tato (HOUAISS 2009)

disso a acessibilidade ao acervo das bibliotecas da UFC po-deraacute gerar ao aluno com deficiecircncia visual e ao seu professor uma ponte de interaccedilatildeo possibilidades de muacuteltiplas leituras e produccedilatildeo intelectual

Entretanto do que se trata um acervo acessiacutevel Se-gundo a Norma Brasileira (NBR) 9050 da Associaccedilatildeo Brasi-leira de Normas Teacutecnicas (ABNT 2004) no toacutepico referente agrave biblioteca e centros de leitura quando se refere ao acervo afirma ldquoRecomenda-se que as bibliotecas possuam publica-ccedilotildees em Braille ou outros recursos audiovisuaisrdquo Isto eacute as bibliotecas devem oferecer aos seus usuaacuterios com deficiecircncia visual material bibliograacutefico publicaccedilotildees em formato acessiacute-vel agraves condiccedilotildees de leitura desse puacuteblico

Nesse estudo entendemos por acervo acessiacutevel o con-junto de publicaccedilotildees ndash livros perioacutedicos monografias disser-taccedilotildees teses dentre outros materiais informacionais ndash que satildeo disponibilizados agrave comunidade acadecircmica para suas leituras com um diferencial essas publicaccedilotildees devem ser em Braille (importante para leitura e escrita de pessoas cegas principal-mente nos estudos de liacutenguas) ou em arquivos digitais em for-mato compatiacutevel para o uso de leitores de tela tais como pdf editaacutevel txt ou doc tendo tambeacutem a opccedilatildeo por aacuteudio-livros

Esse tipo de especificaccedilatildeo de formato eacute indispensaacutevel agrave acessibilidade dos usuaacuterios com deficiecircncia visual conjuga-da a serviccedilos de referecircncia pensados para esse segmento de usuaacuterios Com isso eacute possiacutevel proporcionar a equiparaccedilatildeo de oportunidades nas atividades acadecircmicas no que se refere ao acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento

Na experiecircncia do Sistema de Biblioteca da UFC o pro-jeto de Desenvolvimento de Acervo Acessiacutevel eacute uma resposta agrave demanda por acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento das pessoas com deficiecircncia visual na universidade No referido

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projeto haacute dentre outros o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de mate-rial bibliograacutefico que eacute realizado em parceria com a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Esse serviccedilo eacute a principal de-manda no momento por parte dos usuaacuterios com deficiecircncia visual (discentes servidores da universidade) do Sistema de Bibliotecas da UFC O objetivo do projeto supracitado eacute criar uma coleccedilatildeo com material em formato acessiacutevel de natureza cientiacutefica exclusivo para esses usuaacuterios A metodologia utili-zada como tambeacutem a estrutura eacute o que constitui o assunto que abordaremos a seguir

Serviccedilo de Digitalizaccedilatildeo de Materiais Bibliograacuteficos Acesso agrave Informaccedilatildeo e ao Conhecimento

Certa vez a equipe de digitalizadores da Secretaria de Acessibilidade da UFC recebeu um livro para digitalizaccedilatildeo em liacutengua italiana Tratava-se de uma gramaacutetica repleta de exerciacutecios em que um deles solicitava ldquoObserve as figuras e descreva os animaisrdquo O leitor seria capaz de responder essa pergunta A que animais o exerciacutecio se referia se fosse soacute essa a informaccedilatildeo visiacutevel Na verdade a gramaacutetica trazia as figuras dos animais desenhos para que o aluno ao vecirc-los escreves-se os nomes em liacutengua italiana Para uma pessoa vidente natildeo seria nenhum problema mas para uma pessoa cega como saber de quais figuras tratava o exerciacutecio

Para uma pessoa cega soacute seria ldquovisiacutevelrdquo essa informa-ccedilatildeo se a mesma fosse audiodescrita isto eacute ao digitalizar o texto do exerciacutecio as figuras seriam descritas Dessa forma o invisiacutevel se tornaria visiacutevel e a pessoa com deficiecircncia visual teria condiccedilatildeo de responder o exerciacutecio A outra forma seria imprimir o exerciacutecio em Braille caso a pessoa soubesse ler em Braille

Mas do que se trata a audiodescriccedilatildeo Para Vieira e Lima (2010 p 3)

A aacuteudio-descriccedilatildeo eacute uma teacutecnica de representaccedilatildeo dos elementos-chave presentes numa dada imagem que ao dialogar com os elementos de um texto verbal pode ser descrita tambeacutem de forma verbal para formar uma unidade completa de significaccedilatildeo A aacuteudio-descriccedilatildeo pode ser de uma imagem estaacutetica como uma pintura no museu de uma escultura em trecircs dimensotildees da gravura bidimensional presente nos livros didaacuteticos ou de ima-gens dinacircmicas que nada mais satildeo do que um conjunto de imagens estaacuteticas que juntas criam a ilusatildeo de mo-vimento como o que se processa nos filmes de cinema televisatildeo peccedilas de teatro ou viacutedeos de computador

A audiodescriccedilatildeo eacute importante no processo de digita-lizaccedilatildeo porque oferece acesso para pessoas com deficiecircncia visual agraves informaccedilotildees tipograacuteficas contidas no texto como ilustraccedilotildees siacutembolos negritos e outras Satildeo fundamentais para a compreensatildeo de conteuacutedos e por isso devem ser men-cionadas visto que natildeo podem ser lidas pelos programas lei-tores de tela

Visando a essa compreensatildeo eacute que a audiodescriccedilatildeo foi inserida no serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de materiais bibliograacutefi-cos como fator agregador no processo de transformaccedilatildeo de informaccedilotildees visuais em audiacuteveis Objetivando em um futuro proacuteximo a formaccedilatildeo de um acervo acessiacutevel para as pessoas com deficiecircncia visual o referido serviccedilo eacute o que discutiremos a seguir Conta com uma equipe coordenada por uma biblio-tecaacuteria do Sistema de Bibliotecas da UFC e oito digitalizado-res (bolsistas de projetos de graduaccedilatildeo e iniciaccedilatildeo acadecircmica da UFC) com suporte teacutecnico da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

A metodologia de trabalho segue os seguintes passos

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1) Entrevista de referecircncia feita por bibliotecaacuterio em que o usuaacuterio eacute identificado e manifesta suas necessidades informacionais isto eacute apresenta sua bibliografia e demais materiais necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo de trabalhos eou agrave ela-boraccedilatildeo de monografias Outro aspecto importante se refere agrave condiccedilatildeo de deficiecircncia apresentada pelo solicitante haacute que se levar em consideraccedilatildeo o fato de o indiviacuteduo ter nas-cido cego e ou adquirido essa condiccedilatildeo depois de adulto Eacute tambeacutem importante observar se a pessoa tem deficiecircncia visual total ou apresenta baixa visatildeo3 Todos esses aspectos iratildeo definir o atendimento necessaacuterio

2) Cadastramento do discente e assinatura de termo de com-promisso pelo mesmo objetivando informaacute-lo de que o material digitalizado eacute de seu uso exclusivo conforme a Lei nordm 9610 de 1998 dos direitos autorais (BRASIL 1998)

3) Anaacutelise das demandas informacionais dos discentes pesqui-sa nas bases de dados em sites que disponibilizam e-book para saber se as obras solicitadas jaacute estatildeo disponiacuteveis o que evita a perda de tempo em digitalizar novamente os textos

4) Identificaccedilatildeo das obras a serem digitalizadas no acervo da biblioteca Caso sejam do acervo analisar as condiccedilotildees de conservaccedilatildeo tais como paacuteginas riscadas ausecircncia de folhas dentre outras que atrapalham o processo de digitalizaccedilatildeo

5) Digitalizaccedilatildeo do material descriccedilatildeo de figuras graacuteficos e tabelas correccedilatildeo gramatical do texto e formataccedilatildeo do docu-mento final eliminaccedilatildeo de espaccedilos elaboraccedilatildeo de referecircncia bibliograacutefica

6) Envio do material ao solicitante

3 Segundo o Decreto nordm 5296 a baixa visatildeo eacute compreendida como acuidade visual entre 03 e 005 no melhor olho com a melhor correccedilatildeo oacuteptica os casos nos quais a somatoacuteria da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60ordm ou a ocorrecircncia simultacircnea de quaisquer das condiccedilotildees anteriores (BRASIL 2004)

7) Catalogaccedilatildeo e indexaccedilatildeo do material digitalizado no Sistema de Bibliotecas da UFC atraveacutes do Cataacutelogo online da Biblio-teca Universitaacuteria Esse material digitalizado soacute poderaacute ser acessado pelo usuaacuterio com deficiecircncia visual cadastrado atraveacutes de senha e login Essa accedilatildeo estaacute gerando um acervo online de materiais digitalizados de natureza cientiacutefica

Figura 1 ndash Paacutegina do cataacutelogo online da Biblioteca Universitaacuteria da UFC onde se acessam as obras digitalizadas

Figura 2 ndash Paacutegina do cataacutelogo online da Biblioteca Universitaacuteria da UFC com login e senha para acesso agraves obras digitalizadas

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Para ajudar no processo de digitalizaccedilatildeo a equipe res-ponsaacutevel utiliza o programa ABBY FineReader que possibili-ta fazer a digitalizaccedilatildeo dos materiais bibliograacuteficos em diver-sos formatos pdf doc txt aleacutem de eliminar figuras erros de digitalizaccedilatildeo oriundos de manchas riscos e incorreccedilotildees das paacuteginas dos livros

Figura 3 ndash Tela inicial do programa ABBY FineReader

Atraveacutes dessa nova ferramenta no periacuteodo de marccedilo a maio de 2012 foram digitalizados 34 tiacutetulos aproximada-mente 1064 paacuteginas Os primeiros resultados apontam que os alunos com deficiecircncia visual da UFC estatildeo tendo acesso aos materiais digitalizados em tempo haacutebil para acompanhar os estudos em sala de aula Estima-se a ampliaccedilatildeo do aten-dimento realizado atualmente facilitando assim o acesso das pessoas com deficiecircncia visual a materiais bibliograacuteficos di-gitalizados viabilizando o seu acesso agrave informaccedilatildeo e ao co-nhecimento A seguir discutiremos quem satildeo os usuaacuterios do serviccedilo de digitalizaccedilatildeo

Quem satildeo os usuaacuterios com deficiecircncia visual do Sistema de Bibliotecas da UFC

Para aperfeiccediloar o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo e conhecer melhor quem satildeo os usuaacuterios com deficiecircncia do Sistema de Bibliotecas da UFC como tambeacutem seu niacutevel de satisfaccedilatildeo com o serviccedilo foi elaborado um estudo atraveacutes de um questionaacute-rio semiestruturado com uma amostra composta inicialmen-te por seis alunos com deficiecircncia visual da UFC atendidos pelo serviccedilo de digitalizaccedilatildeo dos quais somente quatro se submeteram ao questionaacuterio no segundo semestre de 2011 Na tabela 1 encontramos a caracterizaccedilatildeo da amostra dos alu-nos consultados

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia visual

ALUNO GEcircNERO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A1 Masculino 24 Computaccedilatildeo Baixa visatildeo

A2 Feminino 24Mestrado em Psicologia

Visual total

A3 Masculino 22 Biblioteconomia Baixa visatildeo

A4 Feminino 23 Letras ndash Italiano Baixa visatildeo

Temos como sujeito A1 um discente do curso de Com-putaccedilatildeo com 24 anos com baixa visatildeo do sexo masculino como A2 um estudante de 24 anos cursando mestrado em Psicologia com deficiecircncia visual total do sexo feminino A3 eacute aluno do curso de Biblioteconomia possui 22 anos apre-senta baixa visatildeo e eacute do sexo masculino Por fim A4 estuda no curso de Letras-Italiano possui 23 anos apresenta baixa visatildeo e eacute do sexo feminino

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Anaacutelise dos Dados

Todos os alunos atendidos por esse serviccedilo se mostra-ram satisfeitos com essa iniciativa relatando principalmente as diferenccedilas do periacuteodo anterior a essa accedilatildeo em comparaccedilatildeo com o momento atual Essa constataccedilatildeo eacute importante para perceber se o serviccedilo com a oferta de material digital atende as expectativas dos discentes

Segundo Torres Mazzoni e Alves (2001) o espaccedilo digi-tal apresenta muitas possibilidades Criado pelas Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) oferece para o atendi-mento distintas formas de interaccedilatildeo das pessoas com a infor-maccedilatildeo respeitando as suas preferecircncias e limitaccedilotildees sejam relacionadas aos equipamentos utilizados sejam agraves limita-ccedilotildees orgacircnicas Nessa perspectiva o estudo buscou avaliar a satisfaccedilatildeo dos alunos com o do serviccedilo de digitalizaccedilatildeo visto que este busca oferecer acesso agrave informaccedilatildeo

Dos alunos consultados todos apontaram a preferecircncia por material digitalizado ao inveacutes do Sistema Braille justifi-cada pela facilidade de manuseio praticidade e tempo bem como por natildeo correr o risco de rasgar Para A1 eacute essencial a existecircncia de um serviccedilo de digitalizaccedilatildeo na universidade

Acho essencial ter um serviccedilo desses na Universidade para pessoas com alguma limitaccedilatildeo visual A digitaliza-ccedilatildeo permite uma abrangecircncia de formas de utilizaccedilatildeo desse material No meu caso com o alto contraste ou no aumento de fonte da forma com que quiser entre outras que possam haver A qualidade desse material eacute muito boa e ajuda bastante nos estudos Acho que devia ter-se um maior foco nesse trabalho para que as digita-lizaccedilotildees fossem mais raacutepidas pois muitos materiais satildeo precisos e muitos alunos o necessitam Acho que natildeo eacute lento pois jaacute solicitei uma digitalizaccedilatildeo de mais de 100 paacuteginas e em pouco mais de uma semana jaacute estavam

prontos (e jaacute deixo aqui meu agradecimento agrave Secretaria de Acessibilidade e a todos os que dela fazem parte)

O estudante A2 relatou que tem preferecircncia por mate-rial digitalizado porque quando estaacute no computador o tex-to eacute mais faacutecil de ser manuseado Apontou que a escrita em Braille com reglete4 eacute muito trabalhosa e lenta aleacutem de natildeo constituir uma linguagem acessiacutevel agrave avaliaccedilatildeo dos professo-res Assim os trabalhos devem ser entregues digitalizados Se os textos estatildeo em linguagem virtual facilitam a produccedilatildeo textual e inclusive o registro de citaccedilotildees pois natildeo precisa-mos digitar o que ouvimos (aacuteudio) ou o que lemos no papel (Braille)

O discente A3 apresentou igualmente preferecircncia pelo material digitalizado apesar de utilizar textos eletrocircnicos como o mp4 Conforme seu relato

Em vaacuterios momentos tenho que fazer leitura de textos que natildeo satildeo disponibilizados em miacutedia digital O acuacute-mulo deste material daacute volume e quase sempre estaacute em um tamanho que dificulta muito a leitura por causa da minha baixa visatildeo O serviccedilo de digitalizaccedilatildeo facilita este processo uma vez que me daacute a oportunidade de fazer a leitura deste material em casa ou no trabalho utilizando os recursos de ampliaccedilatildeo do computador e facilitando o seu transporte

O aluno A4 argumentou a importacircncia do acesso ao material utilizado em sala de aula porque satildeo avaliados e co-brados da mesma maneira que os alunos sem deficiecircncia Re-latou a preferecircncia de textos digitalizados porque podem ser

4 ldquoReglete eacute uma placa de metal dobraacutevel que eacute encaixada a uma taacutebua de madeira de aproximadamente 30x20 cm onde eacute preso o papel Ela conteacutem quatro linhas com 27 pequenos retacircngulos vazados cada Esses retacircngulos satildeo chamados de celas e neles estatildeo os seis pontos do sistema Braille que satildeo impressos no papel sulfite 40 com um objeto chamado punccedilatildeordquo (MARUCH STEINLE 2009 p 9)

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levados para onde queira podem ser lidos quantas vezes for necessaacuterio natildeo se apagam com o tempo e natildeo satildeo pesados

Os discentes ressaltaram a importacircncia dos materiais digitalizados para o acesso igualitaacuterio agrave universidade Atraveacutes desses materiais a promoccedilatildeo da inclusatildeo eacute mais efetiva re-duzindo as barreiras existentes entre o estudante com defici-ecircncia visual e o conhecimento cientiacutefico visto que contribuem no processo de sua formaccedilatildeo acadecircmica

A acessibilidade agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento por-tanto representa para os indiviacuteduos com deficiecircncia visual uma etapa importante rumo agrave independecircncia permitindo que participem das atividades cotidianas como agentes ativos na construccedilatildeo de seu conhecimento Desse modo nos ambientes universitaacuterios associados agrave produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do co-nhecimento eacute necessaacuterio que esse direito seja cumprido em toda sua plenitude

Ateacute pouco tempo atraacutes alunos da UFC com deficiecircncia visual enfrentavam inuacutemeras dificuldades no seu cotidiano acadecircmico para ter acesso a materiais digitalizados De acor-do com os depoimentos dos estudantes com o advento da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui e o serviccedilo de digita-lizaccedilatildeo do Sistema de Bibliotecas da UFC no iniacutecio de 2011 a digitalizaccedilatildeo de textos solicitados pelos professores em sala de aula constituiu uma conquista pois tem facilitado bastante a compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados pelos docentes

Consideraccedilotildees Finais

No livro Acessibilidade em bibliotecas Baptista (2009) ao comentar sobre inclusatildeo ressalta que as diferenccedilas fazem parte da vida que nenhuma pessoa eacute igual a outra e que cada indiviacuteduo demonstra qualidades defeitos potencialidades

surpresas que satildeo infindaacuteveis e imprevisiacuteveis A diferenccedila se apresenta portanto como fator enriquecedor parte da dinacirc-mica da vida humana e natildeo deveria ser um fator de exclusatildeo nos espaccedilos sociais Nesse sentido as bibliotecas como espa-ccedilos culturais sociais natildeo poderiam deixar de ser inclusivas As mesmas satildeo espaccedilos de epifania do saber onde os rios de diversos saberes se encontram formando um oceano de conhe-cimento em constante movimento de evaporaccedilatildeo e fortes ondas de transformaccedilatildeo codificaccedilatildeo e recodificaccedilatildeo

Nesse processo os movimentos das aacuteguas desse oceano satildeo muacuteltiplos Haacute diversas formas de navegar diversas for-mas de vida a inclusatildeo eacute a compreensatildeo do muacuteltiplo como fator produtor de possibilidades Nesse contexto compreen-de-se a acessibilidade em bibliotecas como o entendimento e o movimento de expansatildeo do seu potencial educador No caso de pessoas com deficiecircncia visual estas trazem agrave biblioteca uma nova leitura sobre produccedilatildeo e aquisiccedilatildeo do conhecimen-to novas formas de perceber o mundo e representaacute-lo

Onde se encontram portanto nos bibliotecaacuterios a ou-sadia e a humildade de navegar o oceano que a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia pode oferecer agrave sociedade trazendo novos horizontes para aleacutem das ilhas costumeiras

Eacute nessa perspectiva que o trabalho do Sistema de Bi-bliotecas da UFC e da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui se apresenta como um olhar dinacircmico sobre as novas ilhas Criar um acervo acessiacutevel para pessoas com deficiecircncia visual eacute um movimento de navegar em aacuteguas desconhecidas extre-mamente atraentes cheias de descobertas gratificantes e re-veladoras do poder de superaccedilatildeo do ser humano

Eacute nesse navegar que se constitui o objetivo da Secreta-ria de Acessibilidade UFC Inclui em promover uma poliacutetica de acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo para pessoas com

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deficiecircncia nesse caso especiacutefico as que tecircm cegueira Deve--se institucionalizar essa accedilatildeo na vida da universidade tendo o Sistema de Biblioteca como foco visto que eacute o equipamento cultural institucional na universidade com a missatildeo de orga-nizar preservar e disseminar a informaccedilatildeo e a produccedilatildeo do conhecimento

Criar um acervo acessiacutevel de natureza cientiacutefica para as pessoas com deficiecircncia visual como jaacute dito eacute um desafio visto as dificuldades oriundas do pouco conhecimento sobre o tema na aacuterea de Biblioteconomia Poucos bibliotecaacuterios co-nhecem o tema de forma que os capacite a interferir e crias soluccedilotildees que venham atender os usuaacuterios com deficiecircncia visual

Portanto o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de material biblio-graacutefico natildeo eacute uma atividade-fim mas um meio com vistas a contribuir para o desenvolvimento de um acervo que con-temple as necessidades de informaccedilatildeo das pessoas com defi-ciecircncia visual possibilitando a criaccedilatildeo de pontes entre elas e o conhecimento mediando-se essa relaccedilatildeo intercedendo no navegar entre uma ilha e outra entre os mares os continen-tes Avanccedilando mar adentro descobrindo ignorados horizon-tes escondidos pela ilusoacuteria ideia de ver apenas com os olhos equivocando-se que ver enxergar estaacute para aleacutem do visiacutevel passa pelo cheiro pelo toque pelo sentir pelo perceber-se humano capaz de superaccedilatildeo de recriar o mundo as ideias e a si mesmo o que diraacute as instituiccedilotildees e suas poliacuteticas

Referecircncias Bibliograacuteficas

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS ABNT acessibilidade a edificaccedilotildees mobiliaacuterio espaccedilos e equipamentos urbanos Rio de Janeiro ABNT 2004

BAPTISTA M I S D Convivendo com as diferenccedilas In PUPO D T MELO A M FERREacuteS S P Acessibilidade discurso e praacutetica no cotidiano das bibliotecas Satildeo Paulo Unicamp 2006 p 13-16 BRASIL Decreto nordm 5296 de 2 de dezembro de 2004 Regu-lamenta as leis nordm 10048 de 8 de novembro de 2000 que daacute prioridade de atendimento agraves pessoas que especifica e 10098 de 19 de dezembro de 2000 que estabelece normas gerais e criteacuterios baacutesicos para a promoccedilatildeo da acessibilidade das pessoas com deficiecircncia ou com mobilidade reduzida e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em lthttpwwwpla-naltogovbrccivil_ato2004-20062004decretod5296htmgt Acesso em 14 maio 2010______ Lei no 9610 de 19 de fevereiro de 1998 Altera atu-aliza e consolida a legislaccedilatildeo sobre os direitos autorais e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em lthttpwwwplanalto govbrccivil_03leisL9610htmgt Acesso em 02 out 2012 HOUAISS A Dicionaacuterio eletrocircnico da liacutengua portuguesa 20093 Rio de Janeiro Editora Objetiva 2009 1 CD-ROMTORRES E F MAZZONI A A ALVES J B da M A acessi-bilidade agrave informaccedilatildeo no espaccedilo digital Ciecircncia da Informa-ccedilatildeo v 31 n 3 p 83-91 setdez 2002MARUCH M A S STEINLE M C B O aluno cego e seu processo de alfabetizaccedilatildeo e letramento Disponiacutevel em lthttpwwwdiaadiaeducacaoprgovbrportalspdearqui-vos2348-8pdfPHPSESSID=2010011108145452gt Acesso em 19 dez 2012PUPO D T VICENTINI R A B A integraccedilatildeo do usuaacuterio portador de deficiecircncia agraves atividades de ensino e pesquisa o papel das bibliotecas virtuais 2002 Disponiacutevel em ltfilec|netscapeanaistrabalhocomunaintegrahtmgt Acesso em 09 set 2009

d 75CLEMILDA DOS SANTOS SOUSA bull JERIANE DA SILVA RABELO74 d

UFC Conceito de acessibilidade Disponiacutevel em ltlink httpwwwufcbracessibilidadeconceito-de-acessibilidadegt Acesso em 29 out 2012VIEIRA P A de M LIMA F J de A teoria na praacutetica aacuteu-dio-descriccedilatildeo uma inovaccedilatildeo no material didaacutetico Revista Brasileira de Traduccedilatildeo Visual v 2 p 3 2010

O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIA

Beatriz Furtado Alencar LimaCarla Poennia Gadelha Soares

Refletindo sobre a Accedilatildeo e a Extensatildeo do Projeto

Neste artigo relatamos as experiecircncias vivenciadas du-rante a execuccedilatildeo do Projeto de Extensatildeo realizado pela Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) por meio da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui O projeto intitulado Atendimento Educacional Especializado para alunos com deficiecircncia visu-al de universidades puacuteblicas do municiacutepio de Fortaleza reali-zou-se no periacuteodo de 3 de maio a 23 de novembro de 2011 sob a coordenaccedilatildeo da professora Beatriz Furtado Alencar Lima e apresentou como objetivo em linhas gerais oferecer Aten-dimento Educacional Especializado (AEE) para alunos com deficiecircncia visual matriculados em universidades puacuteblicas de Fortaleza ndash UFC e Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) ndash por meio do serviccedilo de leitura de textos

A Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui com o intui-to de possibilitar o acesso agrave leitura de materiais em tinta ao puacuteblico mencionado estaacute desenvolvendo um soacutelido trabalho de digitalizaccedilatildeo de textos sob a coordenaccedilatildeo da bibliotecaacuteria Clemilda dos Santos Sousa Assim o intuito de nosso projeto foi oferecer mais um serviccedilo que pudesse ajudar no acesso aos textos com os quais os alunos devem travar contato em suas atividades acadecircmicas

Nesse sentido eacute importante reforccedilar que a ideia que nos orientou ao propormos esse projeto foi a de ampliar o leque de possibilidades dos estudantes em suas praacuteticas de letra-

O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIABEATRIZ FURTADO ALENCAR LIMA bull CARLA POENNIA GADELHA SOARES76 d d 77

mento acadecircmico Compreendemos letramento como uma praacutetica social intermediada por textos escritos (BARTON HAMILTON 1998) e foi com base nessa concepccedilatildeo sobre le-tramento que desenvolvemos nosso projeto

Eacute importante dizer no entanto que natildeo consideramos em nenhuma hipoacutetese a atividade de ler para pessoas com deficiecircncia visual a melhor ou mais acertada Trata-se de mais um recurso dentre tantos outros existentes ndash tais como leitores de tela sistema de leitura e de escrita Braille1 etc ndash para que esse estudante tenha o seu direito assegurado de acesso agrave informaccedilatildeo Quando entramos nesta seara do acesso ao consumo e agrave produccedilatildeo de informaccedilatildeo eacute importante refle-tir sobre a multiplicidade de recursos existentes atualmen-te no campo das Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)

Torres Mazzoni e Mello (2007) no trabalho intitulado Nem toda pessoa cega lecirc em Braille nem toda pessoa sur-da se comunica em liacutengua de sinais alertam-nos para o fato de que no contexto em que atualmente vivenciamos de con-tato intenso com muacuteltiplas semioses jaacute natildeo haacute espaccedilo para pensarmos em uma uacutenica forma de entrar em contato com as praacuteticas sociais de leitura e escrita quando se fala em acesso e produccedilatildeo de informaccedilatildeo Segundo as autoras sabe-se que atualmente as TICs com o uso de ajudas teacutecnicas adequadas

1 Trata-se de um sistema de leitura e escrita destinado a pessoas cegas por meio do tato Sua escrita eacute baseada na combinaccedilatildeo de seis pontos dispostos em duas colunas de trecircs pontos que permite a formaccedilatildeo de 63 caracteres diferentes que representam as letras nuacutemeros foneacutetica etc Foi criado por Louis Braille nascido na Franccedila no ano de 1809 Ficou cego em 1812 em um acidente na oficina do pai Louis Braille em 1825 apresentou a primeira versatildeo do sistema de leitura e escrita em relevo taacutetil para pessoas cegas Utilizou como referecircncia o sistema de Barbier ndash sistema utilizado para a comunicaccedilatildeo noturna entre os soldados do exeacutercito francecircs Em 1837 apresentou o que viria a ser a versatildeo final do sistema Braille Desde entatildeo eacute um dos sistemas utilizados pelas pessoas com deficiecircncia para o contato com a leitura e a escrita (SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS 2011)

permitem a comunicaccedilatildeo direta e instantacircnea entre pessoas com deficiecircncias sensoriais distintas

Essas tecnologias permitem que por exemplo possa realizar-se a comunicaccedilatildeo entre uma pessoa surda e uma pes-soa cega sem que elas optem em utilizar o Braille ou a Liacutengua Brasileira de Sinais2 (Libras) Essa realidade de comunicaccedilatildeo leva-nos a dizer que nos dias de hoje o maior obstaacuteculo en-frentado pelas pessoas com deficiecircncia diz respeito ao acesso a essa informaccedilatildeo caracterizando-se esta como uma riqueza inestimaacutevel que se relaciona a aacutereas como a Educaccedilatildeo o tra-balho e o lazer Dada a relevacircncia desse acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo em nossa sociedade sempre que falamos sobre barreiras agrave acessibilidade de cidadatildeos eacute fundamental destacar aquelas que impedem o acesso pleno e irrestrito a essas duas instacircncias Acreditamos pois que a quebra dessas barreiras poderaacute advir de forma mais justa e de fato acessiacutevel a partir do momento em que cidadatildeos com ou sem deficiecircn-cia tenham o direito de escolher de maneira plena e irrestrita a forma pela qual desejam entrar em contato com o consumo e a produccedilatildeo da informaccedilatildeo Para que isso ocorra faz-se ne-cessaacuterio ouvir conversar e refletir com as pessoas com defici-ecircncia e natildeo somente sobre as pessoas que se ressentem das barreiras a esse acesso

Sendo assim nosso projeto eacute delineado pelo pensamen-to de que para realizarmos um trabalho satisfatoacuterio junto aos alunos com deficiecircncia faz-se necessaacuterio sobretudo ouvir o que eles tecircm a nos dizer sugerir criticar Por essa razatildeo an-tes ou depois de realizarmos um trabalho de leitura de um

2 A liacutengua de sinais natildeo eacute universal e cada paiacutes possui a sua Como toda liacutengua possui uma estrutura gramatical e aspectos linguiacutesticos fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico No Brasil a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) eacute reconhecida pela lei nordm 104362002 como o sistema linguiacutestico visual-motor da comunidade surda brasileira (BRASIL 2005)

O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIABEATRIZ FURTADO ALENCAR LIMA bull CARLA POENNIA GADELHA SOARES78 d d 79

texto ao universitaacuterio cego propomos informalmente ao aluno que ele nos aponte possibilidades de melhoria Dessa forma fazemos sempre que possiacutevel os ajustes necessaacuterios em prol de uma praacutetica de leitura melhor e mais eficaz Para que se compreenda melhor o funcionamento do nosso projeto de extensatildeo descrevemos na seccedilatildeo trecircs as principais accedilotildees desenvolvidas

Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

A realizaccedilatildeo deste projeto levou-nos agrave reflexatildeo sobre o aspecto de que o acesso agrave leitura e agrave escrita porpara pessoas com deficiecircncia visual natildeo se restringe a um uacutenico recurso Pelo contraacuterio muacuteltiplos satildeo os letramentos considerando que muacuteltiplas satildeo nossas praacuteticas sociais de contato com a lei-tura e a escrita Uma vez que vemos como indissociaacuteveis os letramentos e as praacuteticas sociais pensar o acesso agrave comunica-ccedilatildeo por meio de somente um recurso ndash quer sejam leitores de tela serviccedilo de ledores sistema Braille ndash eacute uma praacutetica redu-cionista e perigosa que leva agrave exclusatildeo de vaacuterios cidadatildeos de uma praacutetica social fundamental em nosso cenaacuterio contempo-racircneo que diz respeito ao acesso agrave informaccedilatildeo de forma irres-trita e acessiacutevel com todas as consequecircncias que as palavras irrestrita e acessiacutevel possam remeter

Eacute neste sentido que a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui ndash e no acircmbito da secretaria inserimos nosso projeto ndash tem direcionado suas accedilotildees com o intuito de promover dentro dos limites que lhe satildeo colocados a acessibilidade agrave informaccedilatildeo sob muacuteltiplas formas e perspectivas A rota precisa deste cami-nho para uma plena e irrestrita acessibilidade Natildeo a temos Satildeo somente dois anos de caminhada diante de tantas deacutecadas em que imperaram e ainda imperam uma concepccedilatildeo visiocecircn-

trica cartesiana e positivista de ensino de aprendizagem e de acesso agrave informaccedilatildeo ldquoCaminante no hay camino Se hace camino al andar Golpe a golpe verso a versordquo 3 Nos pa-raacutegrafos que se seguem faremos uma exposiccedilatildeo sobre as bases teoacutericas que fundamentaram esses nossos primeiros passos

Comecemos esclarecendo o conceito de letramento com o qual trabalhamos uma vez que este foi um dos conceitos que guiou nossa trilha durante a realizaccedilatildeo do projeto Tra-balhamos com o conceito de letramento desenvolvido pelos Novos Estudos do Letramento o qual entende o letramento como uma praacutetica social que envolve atividades de leitura e de escrita inseridas em estruturas sociais (BARTON HA-MILTON 1998) Satildeo praacuteticas que se localizam em um tempo e em um momento especiacuteficos ou seja as praacuteticas de letra-mento acontecem em contextos histoacutericos sociais e poliacuteticos situados Em resumo o letramento significa conforme a pers-pectiva que adotamos algo que as pessoas fazem natildeo se tra-ta de algo que reside somente na cogniccedilatildeo dos indiviacuteduos O letramento estaacute aleacutem de habilidades para aprender a ler e a escrever estaacute aleacutem dos textos que se limitam ao suporte do papel eacute uma atividade social por excelecircncia e portanto iraacute ocorrer na interaccedilatildeo entre as pessoas

Para ilustrar o que dizemos utilizamo-nos da voz de um dos participantes de uma pesquisa em andamento sobre letra-mentos para pessoas com deficiecircncia visual que estaacute sendo desenvolvida pela professora Beatriz Furtado Alencar Lima como aluna do doutorado em Linguiacutestica do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da UFC4

3 Passagem do poema Caminante no hay camino (MACHADO 2004)4 A pesquisa teve iniacutecio em maio de 2010 e trabalha com dez participantes cinco homens e cinco mulheres situados na faixa etaacuteria entre 23 e 50 anos Os participantes que integram a pesquisas satildeo pessoas com deficiecircncia visual quatro deles com niacutevel superior completo e seis se encontram com os cursos de niacutevel

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Ao finalizar a entrevista ndash de natureza semiestruturada ndash foi perguntado ao participante5 se ele gostaria de comentar algo mais aleacutem do que jaacute havia dito O que obtivemos foi en-tatildeo o seguinte depoimento6

Beatriz e pra gente terminar vocecirc gostaria de comentar algo mais Ricardo Natildeo acho que basicamente isso mesmo acho que tem Beatriz Sobre o que a gente conversou ou algo que vocecirc gostaria de comentar que independente das perguntasRicardo Natildeo eu acho que era basicamente isso mesmo Tipo as coisas tatildeo caminhando jaacute caminharam muitas coisas mas eu acho que tinha que ser feito conversar mais com os cegos ou se aproximar um pouco mais Enfim jaacute melhorou muita coisa mas muita coisa ainda taacute pra melhorar aindaBeatriz O que seriam essas coisas ainda pra melhorarRicardo Eu acho que da maneira que taacute acontecendo taacute acontecendo ateacute duma maneira legal Soacute que eu acho que tinha que melhorar era ouvir mais os cegos ouvir mais o deficiente e natildeo lsquoAh Eu estudei Eu sou formado Eu sou doutorrsquo Eu sou natildeo sei o quecirc Eu sei o que eu tocirc fazendo Tinha que ouvir mais Entatildeo muitas vezes a gente pega a pessoa lsquoAh Eu sou sei laacute eu sou irmatildeo dum cegorsquo lsquoeu sou casado com um cegorsquo lsquoeu sou assim assadorsquo lsquoeu estudeirsquo lsquoeu fiz pesquisarsquo lsquoeu fui pra forarsquo

superior em andamento A pesquisa acontece em diferentes locais de trabalho e de estudo dos participantes e tem como um de seus objetivos descrever compreender e explicar os letramentos presentes nas praacuteticas sociais dessas pessoas com deficiecircncia visual5 Para preservar a identidade dos participantes que aceitaram contribuir com nossa entrevista usamos nomes meramente fictiacutecios 6 Entrevista gravada em 10 de novembro de 2011 Essa entrevista faz parte do projeto de doutoramento de Beatriz Furtado Alencar Lima sobre os muacuteltiplos letramentos para pessoas com deficiecircncia visual A pesquisa estaacute vinculada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da UFC O projeto encontra-se devidamente aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFC ofiacutecio nuacutemero 18511 protocolo COMEPE nuacutemero 13411

lsquoeu fui pros Estados Unidosrsquo lsquoestudei laacute e eacute assimrsquo E natildeo a verdade natildeo eacute assim Acho que quem sabe onde o sapato aperta eacute o deficiente Natildeo adianta vocecirc ter es-tudado vocecirc ter feito um bocado de coisas se vocecirc natildeo eacute o puacuteblico-alvo daquilo Claro que vocecirc ter estudado vocecirc vai ter uma bagagenzinha bem legal mas isso natildeo quer dizer que aquilo dali eacute tudoBeatriz E o que vocecirc diria pra esse pessoal que estuda e que acha que entendeRicardo Descesse um pouquinho do salto Soacute issoBeatriz CertoRicardo Escutasse mais descesse um pouquinho do sal-to e enfim escutasse mesmo Tipo seria isso escutasse um pouquinho porque o cego ele pode natildeo ter a baga-gem teacutecnica mas ele tem a bagagem praacutetica da coisa

Haacute outro depoimento que dialoga com o que Ricardo nos fala No depoimento abaixo estamos conversando sobre as tecnologias ndash de forma mais especiacutefica sobre a presenccedila dos computadores ndash na vida das pessoas com deficiecircncia visual Por meio de um exemplo simples que envolve o letramento (poder utilizar um micro-ondas) a participante levanta um ponto complexo sobre a falta de acessibilidade que adveacutem de nosso visiocentrismo7

Beatriz Humrum humrum Pegando aiacute uma apro-veitando isso aiacute que vocecirc acabou de comentar tem um pouco a ver com uma outra pergunta que eu gostaria de te fazer eacute como eacute que vocecirc sente e percebe as tecnologias da comunicaccedilatildeo na tua vida

7 Sobre este visiocentrismo Joana Belarmino de Sousa (2004) em sua tese Aspectos comunicativos da percepccedilatildeo taacutetil a escrita em relevo como mecanismo semioacutetico da cultura nos fala da existecircncia de uma mundividecircncia taacutetil ndash em contraposiccedilatildeo agrave nossa sociedade visiocecircntrica ndash como uma forma distinta de vivenciar o mundo Ou seja o tato eacute uma das formas pelas quais as pessoas com deficiecircncia visual experienciam o mundo e dentro dessas experiecircncias encontramos a leitura e a escrita por meio do sistema Braille

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Leda Ah eu assim eu costumo valorizar tudo que vem facilitar neacute Eu acho que tudo que vem me proporcionar uma independecircncia neacute Eu eu acho que natildeo tem por que natildeo tem como vocecirc recusar eu acho que vocecirc tem que aproveitar neacute Um celular um computador um programa aqui e ali mesmo que vocecirc coloque no seu computador pirata mesmo que vocecirc busque de uma forma ou de outra um meio pra utilizar qualquer coisa que venha te ajudar que venha te tornar mais indepen-dente mais autocircnomo eu acho que eacute valido Por exem-plo vocecirc quer ver uma coisa lsquoolha eu quero comprar um micro-ondas pra mim haacute tempo que eu quero comprar um micro-ondas pra mimrsquo Atualmente natildeo tem mais nenhum micro-ondas pra pessoa cega utilizar todos os micro-ondas olhe como as coisas natildeo satildeo para todos todos os micro-ondas atuais satildeo digitais Nenhum fala nenhum tem uma adaptaccedilatildeo pra pessoa cega utilizar aiacute as pessoas dizem assim lsquoah mas tem aquele micro--ondas x de mil novecentos e me esqueci que esse daiacute serve pra vocecircrsquo Ou seja nem escolher a marca do meu micro-ondas nem escolher o tamanho do meu micro--ondas nem escolher o tipo do meu micro-ondas que eu quero ter eu posso Entatildeo eu tenho que comprar aquele do seacuteculo XIX porque soacute aquele do seacuteculo XIX pra caacute foi que foi feito eacute o que permite que eu possa utilizar entatildeo assim eu acho que nessa questatildeo a gente ainda precisa evoluir neacute Apesar de que jaacute que soacute tem essa daiacute esse daiacute esquenta a comida do mesmo jeito dos atuais eu natildeo tenho escolha Se eu quero comprar um de 30 litros mas soacute tem um de 19 litros eu fico com esse mesmo eacute melhor do que eu natildeo esquentar nunca minha comida Agora natildeo eacute correto natildeo eacute justo natildeo taacute certo natildeo tem acessibilidade O mundo natildeo eacute para todos

Essa passagem da entrevista com Leda reitera a impor-tacircncia de entendermos que quando falamos sobre o acesso agrave leitura e agrave escrita para pessoas com deficiecircncia visual natildeo podemos pensar em uma uacutenica forma de acesso a textos es-critos mas em muacuteltiplas maneiras de vivenciar essa leitura e

essa escrita e em uma multiplicidade de suportes e de meios que proporcionam esse acesso

Daiacute dizermos que estamos trabalhando numa perspec-tiva de muacuteltiplos letramentos e de multiletramentos O termo muacuteltiplos letramentos foi desenvolvido por Street (1984) com o objetivo de opocirc-lo a uma concepccedilatildeo de letramento autocircno-mo a qual reifica a ideia de letramento reduzindo-o a uma noccedilatildeo simplista e redutora Essa concepccedilatildeo autocircnoma vecirc o letramento como uma habilidade a ser adquirida sem consi-derar as praacuteticas sociais e culturais em que os seres humanos estatildeo imersos A atividade de interagir com textos reduz-se a uma interaccedilatildeo com textos escritos que devem ser devidamen-te decodificados e internalizados O letramento autocircnomo assume atualmente um papel dominante em muitos meios educacionais do Brasil e do mundo em ciacuterculos governamen-tais em agecircncias internacionais como a UNESCO e tambeacutem estaacute na base dos discursos dos mais variados segmentos da sociedade ndash escolas universidades academias de letras miacute-dia dentre outros ndash sobre o que entendem por letramento A ideia pois dos muacuteltiplos letramentos vem opor e desafiar o que difunde o letramento autocircnomo (STREET 2010)

No que diz respeito aos multiletramentos esse termo faz referecircncia natildeo a muacuteltiplos letramentos associados a di-ferentes contextos sociais mas a formas diversas muacuteltiplas de letramento que se associam a diferentes canais ou mo-dos como letramento visual letramento do computador etc (STREET 2010)

Eacute pois tendo como referecircncia a noccedilatildeo de letramento acima exposta que reiteramos ser perigoso e redutor afir-marmos e agirmos em prol do acesso agrave leitura para as pes-soas com deficiecircncia visual tendo como paracircmetro um uacutenico meio Braille ou leitores de tela por exemplo Isso significaria

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apagar e negar as muacuteltiplas maneiras pelas quais elas podem vivenciar a leitura em suas mais diversas praacuteticas sociais Eacute importante sempre ter em vista que satildeo muacuteltiplos os letra-mentos que respondem agraves demandas peculiares das pessoas com eficiecircncia visual a partir de suas diferentes praacuteticas so-ciais e culturais e muacuteltiplas satildeo as formas com que essas pes-soas vivenciam interagem e reagem a esses letramentos de acordo com os diferentes canais ou meios que utilizam Faz-se necessaacuterio entender como esses muacuteltiplos e multiletramentos respondem agraves necessidades especiacuteficas das pessoas com de-ficiecircncia visual para que se possa realizar de fato um acesso pleno e irrestrito da leitura agravequeles que se encontram fora do campo de visatildeo de um mundo pautado no visiocentrismo

Descrevendo as Accedilotildees do Projeto

Partindo do princiacutepio de que a universidade estaacute forma-da por um puacuteblico heterogecircneo de estudantes encontrando--se nessa heterogeneidade inseridas as mais diversas formas de contato com a leitura e a escrita entendemos ser importan-te considerar essas idiossincrasias promovendo uma forma a mais de acesso aos textos em tinta com os quais os alunos com deficiecircncia visual teriam que travar contato ao longo de seu curso de graduaccedilatildeo Daiacute a criaccedilatildeo de um projeto que prestasse AEE aos estudantes com deficiecircncia visual com o objetivo de auxiliaacute-los nas atividades discentes de que prescindiam nos cursos em que estavam matriculados

Durante a execuccedilatildeo do projeto atendemos a quatro alu-nos cujos dados estatildeo detalhados na tabela abaixo

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos atendidos

CARACTERIZACcedilAtildeO DOS ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA

IDADE CURSO DEFICIEcircNCIA

28 Ciecircncias Sociais Fiacutesica ndash Torcicolo Espasmoacutedico

45 Pedagogia Visual ndash Baixa Visatildeo

22 Letras Espanhol-Literatura Visual Total ndash Retinoblastoma

23 Psicologia Baixa Visatildeo ndash Visatildeo Unilateral

A accedilatildeo do projeto se inseriu conforme jaacute mencionamos anteriormente como mais uma das iniciativas que estatildeo sen-do desenvolvidas na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui no sentido de disponibilizar material bibliograacutefico para as pessoas com deficiecircncia visual Nesse sentido trabalhos vecircm sendo empreendidos como a digitalizaccedilatildeo de materiais que precisam ser usados pelos alunos com deficiecircncia visual No entanto dado que este serviccedilo demanda certo tempo o aten-dimento prestado pelas ledoras veio auxiliar e complementar o trabalho de digitalizaccedilatildeo8 de livros e textos com o intuito de atender aos alunos nas leituras de seus textos em tempo haacutebil

De forma mais especiacutefica centramo-nos nos seguintes aspectos promover o acesso de textos por meio do trabalho de ledoras realizado por duas bolsistas pertencentes agrave Se-

8 O trabalho de digitalizaccedilatildeo consiste no processo de digitalizar textos em tinta para que possam ser utilizados pelas pessoas com deficiecircncia visual por meio do suporte do computador com o uso de leitores de tela ou do programa DOSVOX Tanto o programa DOSVOX quanto os leitores de tela leem o que se encontra na tela do computador para as pessoas que os utilizam Essa leitura ocorre atraveacutes de uma voz sinteacutetica que decodifica as palavras que se encontram na tela Ou seja jaacute que as pessoas com deficiecircncia visual natildeo podem ter acesso aos textos em tinta por meio da visatildeo entram em contato com as informaccedilotildees escritas por meio da audiccedilatildeo

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cretaria de Acessibilidade UFC Inclui coletar e gerar dados para a elaboraccedilatildeo de uma estatiacutestica sobre a quantidade de alunos atendidos e a metodologia que eacute utilizada nesses aten-dimentos coletar e gerar dados para a elaboraccedilatildeo de novas metodologias no tocante agrave leitura para cegos com o intuito de aprimorar essa teacutecnica e com isso contribuir com mais uma ferramenta de acesso ao conhecimento para os estudan-tes com deficiecircncia visual

Dessa maneira as duas bolsistas envolvidas neste pro-jeto atuaram da seguinte forma realizaccedilatildeo do trabalho de lei-tura de textos para os estudantes que buscavam o atendimen-to na secretaria construccedilatildeo de formas alternativas de acesso ao conhecimento presente nos textos (leitura pausada leitura contiacutenua leitura para fichamento) acompanhamento e ano-taccedilatildeo das estrateacutegias que eram utilizadas e construiacutedas nesse atendimento com o intuito de gerar dados para a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Essas formas de atuar podiam acontecer de maneira conjunta ou em separado dependendo das necessidades e estilos de aprendizagem dos alunos Cada atendimento teve a duraccedilatildeo aproximada de uma hora e meia nos turnos da manhatilde e da tarde dependendo de cada caso e foram realizados em uma sala situada na Secretaria de Aces-sibilidade UFC Inclui

Aleacutem disso as bolsistas do projeto participaram se-manalmente de atividades de estudo planejamento e acom-panhamento sob supervisatildeo da coordenaccedilatildeo do projeto A pauta desses encontros estava centrada na discussatildeo sobre a forma como as ledoras realizavam os atendimentos a fim de aperfeiccediloar as teacutecnicas utilizadas Tanto nos atendimentos ao puacuteblico- -alvo do projeto quanto nos encontros junto agrave coor-denaccedilatildeo a intenccedilatildeo foi a de oferecer oportunidades para que as bolsistas se deparassem com situaccedilotildees-problema para as

quais deveriam buscar formas criativas de intervir pedagogi-camente no AEE Isso exigiu delas a capacidade de ir ao en-contro de soluccedilotildees que atendessem a cada aluno

Compartilhando Nossas Experiecircncias

Relatar experiecircncias implica compartilhar com o outro por meio da narrativa emoccedilotildees medos desejos e dificuldades vivenciadas durante algum momento especiacutefico ndash em nosso caso durante todos os instantes que circundaram a praacutetica da leitura para os universitaacuterios com deficiecircncia visual que busca-ram em nossa voz uma alternativa para dar vida aos textos

A esse respeito cabe mencionar que diferentemente do que previacuteamos durante a elaboraccedilatildeo do projeto nosso puacuteblico natildeo se restringiu apenas aos alunos com deficiecircncia visual ou de baixa visatildeo uma vez que um aluno acometido por torcicolo espasmoacutedico ndash o que provocava movimentos involuntaacuterios re-petidos do pescoccedilo ndash tambeacutem buscou nas ledoras uma forma de acessar o conteuacutedo de um texto impresso Isto porque os movimentos involuntaacuterios da parte superior do corpo tornava o fixar dos olhos nas paacuteginas de papel ou na tela do computa-dor uma tarefa dolorosa lenta e por vezes frustrante Dessa forma procedemos com a seguinte correccedilatildeo nossas ledoras emprestaram a voz natildeo soacute aos alunos impossibilitados de ver mas tambeacutem aos que encontravam outras dificuldades decor-rentes de condiccedilotildees fiacutesicas ndash que natildeo a deficiecircncia visual ndash no momento de praticar a leitura

Aclarados esses pontos dividimos nosso relato em trecircs breves momentos inicialmente discorreremos sobre nossas expectativas antes de iniciar as atividades de ledoras em se-guida na parte mais longa do relato compartilhamos nossa vivecircncia durante a execuccedilatildeo do projeto e por fim com base

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em nossa experiecircncia deixamos algumas breves sugestotildees para o aprimoramento de projetos futuros

Antes do nosso projeto atender o primeiro aluno nos-sas expectativas sempre otimistas apontavam para uma re-laccedilatildeo perfeita entre ledor-texto-leitor9 Isto eacute imaginaacutevamos que a nossa voz sempre fosse ter a capacidade de despertar o interesse no leitor acerca do conteuacutedo que liacuteamos Erronea-mente atribuiacuteamos a noacutes ledoras a responsabilidade de tor-nar o texto uma fonte de prazer aos ouvidos do leitor

Mais tarde durante a execuccedilatildeo do projeto e apoacutes apre-ciaccedilatildeo de textos da literatura especializada fomos nos cons-cientizando de nossas responsabilidades e limitaccedilotildees Apren-demos que nem sempre o leitor se envolveraacute com as histoacuterias lidas o que natildeo significa que a nossa leitura natildeo tenha cum-prido o seu papel Afinal eacute comum que todos noacutes videntes ou natildeo enfademo-nos ou ajamos de forma indiferente frente a um texto em algum momento algumas vezes em virtude da linguagem utilizada pelo autor noutras pela forma densa como o escritor conduz suas ideias ou simplesmente pela nos-sa falta de interesse no tema

No entanto natildeo podemos deixar de mencionar a sa-tisfaccedilatildeo que sentiacuteamos quando percebiacuteamos nas atitudes do leitor o contentamento de quem estava completamente en-volvido com nossa leitura Era muito gratificante notar que o nosso tom de voz entonaccedilatildeo pausas e respiraccedilatildeo aliados a um texto de interesse do universitaacuterio conseguiam provocar nele emoccedilotildees e reflexotildees diversas

Certa vez ao teacutermino da leitura de um texto10 relati-vamente denso em funccedilatildeo de uma longa discussatildeo teoacuterica

9 Denominamos ledor agravequele que lecirc para as pessoas com deficiecircncia visual e leitor cego os que escutam as leituras feitas em voz alta10 Referecircncia completa do texto LYONS J Linguagem e Linguiacutestica Rio de Janeiro Guanabara Koogan SA 1981

a aluna leitora para a qual estaacutevamos lendo soltou repenti-namente uma gargalhada e em seguida disse-nos algo que se aproximou com ldquoeacute engraccedilado a forma alegre como vocecirc lecirc um texto difiacutecil E o mais engraccedilado eacute que ele acaba se tor-nando faacutecilrdquo Naquele dia percebemos que noacutes ledores natildeo podemos esquecer jamais que uma leitura realizada de forma mecacircnica e fria despertaraacute sentimentos bem diferentes do que aqueles aflorados quando realizamos uma leitura com entu-siasmo e alegria Os sentimentos satildeo contagiosos

Schinca (1994 p 2) no artigo intitulado ldquoConfissotildees de algueacutem que lecirc para cegosrdquo traduz muito sabiamente as nossas anguacutestias na empreitada de sermos ledores

A quais expectativas dos usuaacuterios temos correspondi-do Que demandas natildeo foram satisfeitas Somos aceitos bem tolerados Ou apenas nos suportam Emocionam-se ou ficam frios com a nossa leitura Somos claros Ou natildeo propiciamos nenhum entendimento uacutetil do texto Consideram-nos intru-sos nesta intermediaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o autor

Esses questionamentos sem duacutevida satildeo ainda mais angustiantes quando o ledor natildeo tem um feedback por parte do leitor acerca de seu trabalho No nosso caso em virtude da intimidade que alcanccedilamos com os alunos com deficiecircncia que nos procuravam no espaccedilo da Secretaria de Acessibilida-de UFC Inclui pudemos conhecer melhor nossas fragilidades e pontos fortes no exerciacutecio da funccedilatildeo de ledoras Quase sem-pre ao teacutermino de uma leitura era comum uma conversa sem cerimocircnias entre as ledoras e os alunos com deficiecircncia sobre os pontos que mereciam ser melhorados em nosso trabalho

Em relaccedilatildeo a isso destacamos aqui um aspecto que merece atenccedilatildeo em nossa praacutetica como ledoras a apropria-ccedilatildeo das teorias que versam sobre a descriccedilatildeo de imagens para cegos (GUEDES 2010 LIacuteVIA FILHO 2010 PAYA 2007)

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Descrever imagens fotos mapas muito mais do que sensi-bilidade requer conhecimento teacutecnico e teoacuterico acerca do assunto Para ilustrar nossa dificuldade sugerimos que vocecirc caro leitor pense em como descreveria a imagem que segue para uma pessoa cega

Figura 1 ndash Indicaccedilatildeo de voo das abelhasFonte LYONS J Linguagem e Linguiacutestica Rio de Janeiro Guanabara Koogan SA 1981

Conseguiu Para noacutes essa descriccedilatildeo tambeacutem natildeo foi

tarefa simples Outra dificuldade que notamos em nosso tra-balho diz respeito agrave leitura de textos em Liacutengua Estrangeira (LE) Apesar de as ledoras serem proficientes em liacutengua in-glesa e espanhola deparaacutevamo-nos muitas vezes com textos escritos em liacutenguas diferentes daquelas

Conclusatildeo

Desse modo acreditamos que ser um bom ledor vai muito aleacutem de simplesmente saber ler A nosso ver os ledores necessitam receber capacitaccedilatildeo adequada que lhe garanta a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas especiacuteficas contar com lugares apro-priados para a praacutetica de leitura em voz alta e ser consciente de que desenvolver um trabalho junto a esses alunos implica

estar atento agraves suas necessidades no momento da leitura ou seja eacute o aluno quem sugere o tipo de metodologia que noacutes le-dores empregamos no momento do atendimento Por exem-plo se o aluno com deficiecircncia precisa ler um texto para fa-zer um fichamento acadecircmico certamente ele solicitaraacute uma leitura mais lenta e uma releitura dos pontos que ele definiu como relevantes por outro lado se ele necessita ler uma crocirc-nica a leitura deveraacute ser realizada de uma uacutenica vez

Como jaacute mencionamos a questatildeo do espaccedilo fiacutesico em que o atendimento ocorre tambeacutem influencia na qualidade da compreensatildeo por parte do aluno Para entender isso bas-ta pensarmos em nossa experiecircncia individual como leitores algumas pessoas preferem ler sentadas em uma cadeira ou-tras deitadas num sofaacute alguns optam por lugares silenciosos ao passo que outros gostam mesmo eacute de no momento da lei-tura ouvir vaacuterias outras vozes (televisatildeo muacutesica etc) Certa vez um aluno interrompeu a leitura de uma das ledoras e de forma tiacutemida sugeriu que saiacutessemos da sala e focircssemos para debaixo de uma aacutervore Indaguei-me por que natildeo ir Ser le-dor eacute entregar-se completamente agrave tarefa de tornar possiacutevel o acesso ao rico mundo das letras agraves pessoas com deficiecircncia visual Ser ledor eacute principalmente saber aventurar-se nas no-vas experiecircncias sem medos e preconceitos

Concluiacutemos apresentando algumas sugestotildees para tra-balhos futuros a partir do que pudemos constatar e analisar durante a vigecircncia de nossa accedilatildeo A execuccedilatildeo do projeto le-vou-nos ao mapeamento de alguns pontos que merecem ser pensados para a realizaccedilatildeo de ediccedilotildees futuras Sobre estes pontos destacamos a realizaccedilatildeo de um levantamento da de-manda pela leitura de textos em LE (inglecircs espanhol francecircs italiano e alematildeo) para que em versotildees posteriores do pro-jeto sejam requisitados ledores proficientes nas liacutenguas su-

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pracitadas caso haja demanda de leitura levantamento e dis-ponibilizaccedilatildeo de materiais em Braille em LE tendo em vista principalmente estudantes com deficiecircncia visual dos cursos de Letras com habilitaccedilatildeo em LE levantamento pesquisa e aquisiccedilatildeo de leitores de tela com versatildeo em LE

Talvez o ponto a ser explorado natildeo resida em uma opo-siccedilatildeo ou uma hierarquia de valores entre diferentes formas de acesso ao conhecimento quer seja ele o Braille o computador ou os ledores mas em uma reflexatildeo sobre determinada forma diferente de ser estar ou perceber o mundo forma que se en-contra cansada desgastada e questiona sobre uma sociedade que definitivamente natildeo tem pensado no acesso ao conheci-mento e portanto agrave leitura e agrave escrita (aqui leitura e escrita pensadas em seus multiletramentos e muacuteltiplos letramentos) para todos

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SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLE

Maria Clarissa Maciel RodriguesInecircs Cristina de Melo Mamede

Introduccedilatildeo

Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky trouxeram grandes contribuiccedilotildees para professores alfabetizadores quando des-vendaram a ideia de que a alfabetizaccedilatildeo natildeo eacute o resultado de algo mecacircnico e repetitivo Ao longo de uma caminhada ateacute a elaboraccedilatildeo de como o sistema de escrita deve ser organizado o sujeito que se depara com tantos materiais escritos ao seu redor formula hipoacuteteses sobre como esse sistema se consti-tui para que possa ser interpretado De acordo com Ferreiro (2000) a alfabetizaccedilatildeo natildeo pode ser vista como algo mecacircni-co pois a crianccedila ao longo desse fenocircmeno se impotildee proble-mas interpreta e reinterpreta o sistema de escrita

No Brasil muitos autores se dedicaram a colher dados a respeito do tema a fim de dar continuidade a tais inves-tigaccedilotildees As pesquisas entretanto satildeo praticamente escas-sas quando se trata da investigaccedilatildeo das hipoacuteteses de leitura e escrita levantadas pelas crianccedilas que apresentam alguma deficiecircncia mais especificamente as crianccedilas cegas Eacute visu-alizando tal situaccedilatildeo que nossa pesquisa se faz relevante e eacute inovadora pois traz contribuiccedilotildees ainda que modestas do ponto de vista de sua abrangecircncia metodoloacutegica1 a respeito

1 Ressaltamos ao leitor a importacircncia de buscar investigaccedilotildees mais aprofundadas a respeito da aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille com acesso inclusive ao alfabeto Braille aqui natildeo apresentado dados os limites de espaccedilo Recomendamos o programa Braille Faacutecil Disponiacutevel em lthttpintervoxnceufrjbrbrfacilgt

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da temaacutetica no campo da aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille2

Este experimento acadecircmico tem como objetivo geral investigar as especificidades no processo de aquisiccedilatildeo da es-crita pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille Pretendemos al-canccedilar este propoacutesito por meio da anaacutelise dos dados obtidos em nossa busca tendo por sujeitos crianccedilas cegas usuaacuterias do Sistema Braille tomando como base teoacuterica os dados obtidos na investigaccedilatildeo realizada por Emiacutelia Ferreiro e Ana Tebe-rosky Procuramos assim identificar o modo como as crianccedilas cegas manifestam suas hipoacuteteses a respeito da escrita e se es-tas apresentam ou natildeo especificidades em relaccedilatildeo agraves hipoacutete-ses jaacute conhecidas

Com efeito este ensaio traz a seguinte questatildeo norte-adora quais as especificidades apresentadas pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille durante a aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita Com suporte nesta indagaccedilatildeo pretendemos tambeacutem ao longo desta pesquisa relacionar as hipoacuteteses psicogeneacuteti-cas da aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita apresentadas pelas crianccedilas cegas com as hipoacuteteses trazidas pelas crianccedilas que enxergam

Aprender a ler e a escrever eacute um fenocircmeno socialmente facilitado pelo uso da escrita pelo contato com os diferentes portadores sociais de texto (SOARES 1998) presentes nos mais diversos ambientes e que trazem os mais variados tipos de informaccedilotildees O contato com esses portadores eacute fundamen-tal para que a crianccedila formule suas hipoacuteteses sobre o que eacute a escrita e acerca da funccedilatildeo social de cada um dos diferen-tes gecircneros textuais Mesmo natildeo sabendo ler e escrever uma crianccedila que enxerga tem enormes benefiacutecios ao manusear um livro ela aprende a direccedilatildeo do sentido da leitura e da escrita

2 Sistema de leitura e escrita taacutetil desenvolvido por Louis Braille para ser utilizado por pessoas cegas ou com deficiecircncia visual grave (baixa visatildeo acentuada)

se um adulto fizer a leitura apontando com o dedo por exem-plo Almeida (1992) destaca a ideia de que para uma crianccedila cega ou com deficiecircncia visual grave que necessita do Sistema Braille para se alfabetizar o contato com portadores sociais de texto se torna mais difiacutecil pois na maioria dos casos o Sistema Braille natildeo faz parte do meio social onde a crianccedila cega estaacute inserida

Como jaacute mencionado as pesquisas sobre a aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille satildeo bastante escassas principalmente no que se refere agraves hipoacuteteses psicogeneacuteticas da aquisiccedilatildeo da escrita Em busca de levantar dados sobre o tema fizemos pesquisas na Biblioteca do Centro de Humani-dades da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) na internet no acervo da instituiccedilatildeo onde aconteceu a pesquisa que aten-de crianccedilas cegas bem como em contatos via e-mail com o Instituto Benjamin Constant do Rio de Janeiro

Na metodologia deste trabalho apresentamos ao leitor os procedimentos adotados para a coleta de dados bem como mencionamos caracteriacutesticas dos sujeitos que participaram da pesquisa Introduzimos consideraccedilotildees a respeito da defi-ciecircncia visual e da aprendizagem das pessoas que possuem essa limitaccedilatildeo e anaacutelise dos dados oferecidos pelas crianccedilas agrave luz da psicogecircnese da liacutengua escrita na seccedilatildeo resultados e discussatildeo Para concluir o artigo tecemos algumas conside-raccedilotildees sobre as produccedilotildees escritas realizadas pelos sujeitos da pesquisa que se encontram em decurso de aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita

Metodologia

Considerando o objetivo deste trabalho de investigar as especificidades da aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas cegas

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por meio do Sistema Braille a metodologia empregada na pesquisa foi o estudo de caso com vistas agrave obtenccedilatildeo de da-dos mais precisos devido ao contato direto do pesquisador com os sujeitos da investigaccedilatildeo consoante ao entendimento de Araujo et al (2008) De acordo com Yin citado por Arauacutejo et al (2008 p 4) esta estrateacutegia eacute adequada ldquo[] quando o investigador procura respostas para o lsquocomorsquo e o lsquoporquecircrsquo quando o investigador procura encontrar interacccedilotildees entre factores relevantes proacuteprios dessa entidade quando o objecti-vo eacute descrever ou analisar o fenoacutemenordquo

A investigaccedilatildeo aconteceu em uma instituiccedilatildeo filantroacute-pica3 fundada na deacutecada de 1940 situada no municiacutepio de Fortaleza-Cearaacute Algumas das modalidades de ensino por ela ofertadas satildeo Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental I e II Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Desenvolvemos a pesquisa nas turmas de Infantil IV Infantil V e 1ordm ano Neste estudo de caso selecionamos nove sujeitos dos quais seis satildeo crianccedilas com idades entre seis e dez anos e trecircs satildeo suas professoras de sala de aula As crianccedilas4 satildeo Edwiges Ariel Tatiana Alex Joatildeo e Diel Todas as crianccedilas possuem patologias congecircnitas Suas professoras satildeo Roberta (1ordm ano) Angeacutelica (Infantil V) e Julieta (Infantil IV) Nenhuma das trecircs professoras da Insti-tuiccedilatildeo apresentou dados relevantes sobre as hipoacuteteses de lei-tura e escrita da crianccedila cega e ateacute mencionaram desconhecer o estudo de Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky5

3 Por questotildees eacuteticas natildeo citaremos o nome da instituiccedilatildeo onde se realizou a pesquisa ao longo deste trabalho nos referiremos ao local como Instituiccedilatildeo4 A fim de preservar a identidade das crianccedilas e das professoras utilizaremos nomes fictiacutecios para nos referirmos aos sujeitos da pesquisa Para efeitos de anaacutelise de dados o nome fictiacutecio das crianccedilas apresenta correspondecircncia com o nuacutemero de siacutelabas de seu nome a fim de facilitar a compreensatildeo da escrita do nome proacuteprio de cada um5 Sentimos a necessidade de buscar novos sujeitos que pudessem contribuir com tais informaccedilotildees para a pesquisa O sujeito encontrado foi a professora Jordana

A fim de facilitar a compreensatildeo do leitor no que se re-fere agrave identificaccedilatildeo dos sujeitos ao longo deste ensaio apre-sentamos um quadro-resumo com os principais dados de cada crianccedila

Quadro 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos Alunos com Deficiecircncia Visual

SUJEITO IDADE ESCOLARIDADE CONDICcedilAtildeO VISUAL

Edwiges 6 anos Infantil IV Cegueira bilateral total

Ariel 7 anos Infantil IV

Olho direito enucleado e vi-satildeo subnormal perifeacuterica no olho esquerdo com encami-nhamento meacutedico para o Sistema Braille

Tatiane 7 anos Infantil VVisatildeo subnormal com enca-minhamento meacutedico para o Sistema Braille

Alex 8 anos Infantil V Cegueira bilateral total

Joatildeo 9 anos 1ordm ano Cegueira bilateral total

Diel 10 anos 1ordm ano Cegueira bilateral total

As palavras e a frase selecionadas para o teste perten-cem ao campo semacircntico corpo humano Satildeo elas perna bar-riga sobrancelha e peacute A frase foi O menino machucou a per-na As crianccedilas tambeacutem tiveram que criar um desfecho para a seguinte histoacuteria Joatildeo e seu amigo Joseacute saiacuteram para passear quando de repente eles acharam uma caixa muito pesada Eles decidiram entatildeo

mestra em Ciecircncias da Educaccedilatildeo que trabalha em duas instituiccedilotildees estaduais especializadas no atendimento a deficientes visuais no municiacutepio de Fortaleza Jordana contribuiu ao responder agraves mesmas perguntas dirigidas agraves demais professoras mas tambeacutem afirmou natildeo ter muitos conhecimentos a respeito da Psicogecircnese da Liacutengua Escrita

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Resultados e Discussatildeo

A deficiecircncia visual eacute do tipo sensorial e abrange desde a cegueira total em que natildeo haacute percepccedilatildeo da luz ateacute a bai-xa visatildeo (visatildeo subnormal) Cegueira pode ser a perda total da visatildeo e as pessoas acometidas dessa deficiecircncia precisam se utilizar dos sentidos remanescentes para aprender sobre o mundo que as cerca A baixa visatildeo eacute a incapacidade de enxer-gar com clareza mas trata-se de uma pessoa que ainda possui resiacuteduos visuais Contudo mesmo com o auxiacutelio de oacuteculos ou lupas a visatildeo se mostra baccedila diminuiacuteda ou prejudicada de algum modo O documento esclarece que algumas patologias ndash como miopia estrabismo astigmatismo e hipermetropia por exemplo- natildeo constituem deficiecircncia visual mas quan-do diagnosticadas devem ser tratadas o mais raacutepido possiacute-vel para natildeo prejudicar o desenvolvimento e a aprendizagem (BRASIL 2000)

Braille O Que Satildeo Esses Pontos As Primeiras Experiecircncias da Crianccedila Cega com a Leitura e a Escrita em Relevo

Almeida (1992) nos chama a atenccedilatildeo para um fato que aqui neste trabalho podemos apontar como uma especifici-dade da crianccedila cega A autora exprime que de acordo com Emiacutelia Ferreiro eacute comum ver crianccedilas ainda bem pequenas imitarem os adultos ao manusearem livros jornais revistas e tantos outros materiais escritos Mesmo as crianccedilas oriundas de classes sociais mais desfavorecidas satildeo detentoras de algum conhecimento sobre a leitura e a escrita pois o elemento es-crito eacute objeto presente por toda parte Ao fingir que lecirc aquelas linhas cheias de rabiscos claramente diferentes do desenho a crianccedila que enxerga aos poucos se apropria do que eacute a es-

crita Quando chegam agrave escola essas crianccedilas veratildeo a escrita como objeto jaacute conhecido de sorte que o desafio entatildeo seraacute de compreender como o sistema estaacute organizado para permi-tir o registro de ideias Almeida (1992) ressalta que quando se trata de crianccedilas cegas as descobertas a respeito da escrita se tornam impraticaacuteveis pois o Sistema Braille natildeo faz parte do cotidiano logo essas crianccedilas demoram muito tempo para entrar no mundo das letras O contato com o Sistema Brail-le soacute acontece quando a crianccedila inicia o periacuteodo escolar pois dificilmente seus instrumentos estaratildeo presentes no acircmbito familiar Para a autora essa demora pode causar prejuiacutezos e atrasos no processo de alfabetizaccedilatildeo

Segundo o portal eletrocircnico da Sociedade de Assistecircn-cia aos Cegos (SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS 2011) o Sistema Braille eacute formado a partir de um conjunto de seis pontos em relevo organizados em duas colunas de trecircs pontos Este conjunto de pontos recebe o nome de cela As di-ferentes disposiccedilotildees e combinaccedilotildees dos pontos na cela geram 63 siacutembolos que satildeo aplicados agrave escrita agrave muacutesica e agraves ciecircncias A escrita Braille pode ser produzida agrave matildeo utilizando-se o conjunto reglete e punccedilatildeo6 instrumentos utilizados em nossa investigaccedilatildeo ou a maacutequina proacutepria para esta escrita

6 A reglete pode ter formas diferentes mas consiste essencialmente em uma reacutegua que geralmente estaacute acoplada a uma prancheta Em alguns modelos a reacutegua eacute dupla face com dobradiccedilas no lado esquerdo e a parte de cima da reacutegua eacute vazada com retacircngulos no formato da cela Braille Na parte de baixo encontramos as celas Braille em baixo relevo Em outros modelos a reacutegua possui apenas uma face a vazada a parte do baixo (relevo) encontra-se na proacutepria prancheta Para produzir a escrita a pessoa prende uma folha de papel 40kg entre as duas faces da reacutegua ou entre a reacutegua e a prancheta dependendo do modelo da reglete O punccedilatildeo eacute usado para pressionar o papel e formar o relevo Utilizando esse conjunto eacute necessaacuterio escrever da direita para a esquerda invertendo a ordem da numeraccedilatildeo dos pontos Assim quando a folha for virada as letras estaratildeo na ordem correta e a leitura seraacute feita de maneira convencional ndash da esquerda para a direita

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Figura 1 ndash A cela Braille agrave Esquerda no Sentido da Leitura e agrave Di-reita no Sentido da Escrita

Almeida (2002) tambeacutem chama a atenccedilatildeo para o fato de que os instrumentos de escrita agrave tinta fazem parte do co-tidiano das crianccedilas que veem pois ao manusear laacutepis ca-netas giz de cera para fazer desenhos ou fingir que escreve eacute possiacutevel atingir certo desenvolvimento da motricidade fina

A crianccedila cega natildeo passa com tal naturalidade por essas experiecircncias enriquecedoras Falta-lhe a condiccedilatildeo de imitar acaba por essa razatildeo natildeo tendo reais oportu-nidades de aprendizagem O ato da escrita tatildeo simples e prazeroso para uma crianccedila vidente transforma--se numa lacuna para ela nos primeiros anos de vida ( ALMEIDA 2002 p 15-16)

Da mesma forma entatildeo o contato com a escrita duran-te a aprendizagem do Sistema Braille eacute necessaacuterio para que a crianccedila possa ampliar seus conhecimentos refinar percep-ccedilotildees e inclusive ajustar condutas motoras e exercitar as arti-culaccedilotildees De iniacutecio eacute interessante que os exerciacutecios de leitura e escrita sejam conduzidos de maneira livre para que com o tempo se possa elaborar a ideia de que aquele conjunto de pontos representa as letras do alfabeto No caminho que iraacute percorrer ateacute se apropriar do sistema de escrita eacute fundamen-tal que o professor ajude a crianccedila a descobrir a organizaccedilatildeo

da paacutegina escrita de cima para baixo e da esquerda para a di-reita linhas contiacutenuas interrompidas etc aleacutem da aplicaccedilatildeo de determinados meacutetodos para a formulaccedilatildeo de tais concei-tos Deixar as crianccedilas manusearem livros eacute essencial o luacutedi-co nesse processo tambeacutem eacute fundamental pois brincadeiras que estimulem a discriminaccedilatildeo classificaccedilatildeo e ordenaccedilatildeo de diferentes objetos trazem mais seguranccedila para a crianccedila na hora de diferenciar os pontos no papel (ALMEIDA 2002)

Em nossa pesquisa conversamos com as docentes da Instituiccedilatildeo e tambeacutem com a professora Jordana a respeito dos conhecimentos que as crianccedilas cegas tecircm sobre a leitura e a escrita Braille bem como dos instrumentos necessaacuterios para produzi-la

As consideraccedilotildees feitas pela professora Julieta que le-ciona no Infantil IV a respeito dos conhecimentos das crian-ccedilas cegas acerca do Sistema Braille e dos materiais que se uti-lizam para produzir a escrita antes de iniciarem a fase escolar satildeo as seguintes

Nenhuma das crianccedilas que eu tenho recebido e creio que as minhas colegas tambeacutem nenhuma sabe que vatildeo se utilizar desses instrumentos Por exemplo quando pegam no punccedilatildeo pela primeira vez perguntam logo lsquoTia mas o que eacute isso Para que serversquo Eles natildeo tecircm conhecimento da existecircncia desse material nem eles nem a famiacutelia Muitos pais ateacute sabem que o filho vai se utilizar do Braille mas natildeo tecircm noccedilatildeo do que eacute o Braille

Indagamos tambeacutem acerca do conhecimento que as crianccedilas tecircm sobre a existecircncia da escrita ldquoNatildeo Jaacute aconte-ceu por exemplo da crianccedila passar as matildeos num livrinho em Braille e perguntar lsquoTia o que eacute isso aquirsquo Temos que explicar que ali estaacute escrita uma histoacuteria que fala sobre alguma coisa Geralmente eles ficam admirados porque natildeo sabem o que eacuterdquo

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As consideraccedilotildees sobre o tema feitas pela professora Roberta que leciona no primeiro ano satildeo as seguintes

Quando as crianccedilas cegas chegam agrave escola natildeo tecircm noccedilatildeo de que existe esse material (reglete e punccedilatildeo) ateacute porque elas natildeo tecircm acesso a esse material em casa Muitas vezes querem usar papel e caneta fa-zem muitos rabiscos com a intenccedilatildeo de desenhar [] Quando acontece o primeiro contato da crianccedila com o Braille elas natildeo sabem o que eacute Nesse momento entra o professor para explicar que ali estaacute escrita alguma coisa que pode ser uma histoacuteria [] No primeiro mo-mento elas vatildeo explorar naturalmente o material vatildeo descobrir que abre e fecha que tem furinhos mas natildeo sabem utilizar Dependendo da crianccedila elas podem passar por toda a Educaccedilatildeo Infantil e chegar ao 1ordm ano ainda com dificuldades de colocar a folha outros jaacute conseguem se adaptar melhor a esse processo varia muito de crianccedila para crianccedila [] Mesmo que ainda natildeo saiba ler eacute necessaacuterio que tudo que escreva (na reglete) vire a folha para ler e assim construir noccedilotildees de leitura e escrita

Consideraccedilotildees da professora Angeacutelica sobre o tema

A crianccedila cega quando ela entra na escola ela natildeo tem nenhum conhecimento relacionado agrave reglete ao punccedilatildeo a livros em Braille Agora se ela tiver um parente que se utiliza desse material ele pode mostrar a ela todo esse material Geralmente quando eles conhecem esse material ficam muito surpresos [] para aprender a utilizar eacute necessaacuterio toda uma orientaccedilatildeo da professora e eacute necessaacuterio que esse contato com o material seja diaacuterio para que aos poucos vaacute dominando o uso da reglete e do punccedilatildeo mas esse processo geralmente eacute lento [] As maiores dificuldades satildeo de colocar a folha identificar a posiccedilatildeo dos pontos de retirar a folha e compreender que pra ler eacute preciso virar o papel e identificar os pontos com o tato

A professora Jordana fez algumas consideraccedilotildees a res-peito ldquoAs crianccedilas cegas possuem as mesmas hipoacuteteses que as crianccedilas videntes podem por exemplo pensar que uma palavra eacute maior dependendo das informaccedilotildees que tem sobre o objetordquo

Alfabetizaccedilatildeo em Braille Hipoacuteteses em Seis Pontos

A teoria da psicogecircnese da liacutengua escrita revela as etapas que as pessoas (crianccedilas ou adultos) atravessam ao se apro-priarem da leitura e da escrita Do ponto de vista da elaboraccedilatildeo da escrita a pessoa que estaacute se alfabetizando segue uma evolu-ccedilatildeo de suas hipoacuteteses linguiacutesticas que podem ser descritas em trecircs grandes periacuteodos I) distinccedilatildeo entre o modo de represen-taccedilatildeo icocircnico e natildeo icocircnico II) estabelecimento de formas de diferenciaccedilatildeo e III) fonetizaccedilatildeo da escrita (FERREIRO 2000)

Na perspectiva de Ferreiro e Teberosky (1999) a crian-ccedila desde o iniacutecio procura reproduzir traccedilos tiacutepicos da escri-ta que identifica como sua forma baacutesica podendo ser linhas curvas ligadas entre si quando o indiviacuteduo toma como padratildeo a escrita cursiva ou grafismos curvos separados entre si quan-do toma a escrita em imprensa como base Quando se trata da interpretaccedilatildeo da escrita as autoras expressam que as escritas se assemelham muito umas com as outras mas que isso natildeo impede que as crianccedilas as considerem diferentes ldquo[] a inten-ccedilatildeo subjetiva do escritor conta mais que as diferenccedilas objetivas no resultadordquo (FERREIRO 2000 p 193) ou seja as escritas apesar de semelhantes podem ser consideradas diferentes pois ao escrever se tem a intenccedilatildeo de grafar palavras diferen-tes As autoras tambeacutem esclarecem que ldquoAs crianccedilas deste niacute-vel pareceriam trabalhar sobre a hipoacutetese de que faz falta cer-to nuacutemero de caracteres ndash mas sempre o mesmo ndash quando se

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trata de escrever algordquo (FERREIRO 2000 p 202) Assinalam ainda que a leitura do que foi escrito eacute sempre global ou seja cada letra vale pelo todo e natildeo pelas partes da palavra

Neste trabalho relacionaremos cada niacutevel da Psicogecirc-nese da Liacutengua Escrita com os dados coletados no estudo de caso agrave medida que apresentarmos exemplos da escrita das crianccedilas cegas

Observamos a escrita de Edwiges (seis anos) na qual podemos identificar caracteriacutesticas deste niacutevel

Figura 2 ndash A palavra perna escrita por Edwiges utilizando os pontos 1 e 2 em 26 celas numa das linhas da reglete

Quando solicitamos que Edwiges escrevesse a palavra perna ela disse que iria usar a letra b e que a palavra possui duas letras Ela inicia a escrita pelo lado esquerdo da reacutegua e logo ultrapassa a quantidade que estabeleceu anteriormente Ao ser interrogada se jaacute havia colocado duas letras com um ar de surpresa ela imediatamente responde ldquoeu jaacute estou botan-dordquo e continua a grafar dois pontos por cela Na escrita da pa-lavra perna e na das demais a menina nomeou os pontos de le-tras Essa caracteriacutestica tambeacutem foi observada na produccedilatildeo de outro sujeito da pesquisa como comentaremos mais agrave frente

Interrogamos sobre ateacute que cela ela escreveria a palavra perna a fim de identificar quantas letras ela utilizaria para escrever a palavra Ela apontou entatildeo a margem direita da reglete explicando que se natildeo escrever duas letras ldquo[] vai ficar faltando um pedaccedilo da pernardquo Ao finalizar a escrita da palavra ela leu ldquoaqui estaacute a coxa (deslizando o dedo da 1ordf agrave 8ordf letra b) esse pedacinho aqui eacute o joelho (9ordf letra b) e depois

tem o resto da perna (da 11ordf agrave 24ordf letra b) e no final o peacute (25ordf e 26ordf letras b)rdquo Segundo Ferreiro (1999 p 194) trata-se nes-te momento do percurso de uma ldquo[] tendecircncia da crianccedila de refletir na escrita algumas das caracteriacutesticas do objetordquo ou como jaacute defendia Luacutecia Lins Browne Rego apud Carraher (1998 p 34) sobre realismo nominal Nesse sentido

Piaget (1967) demonstrou que num determinado estaacutegio do seu desenvolvimento cognitivo a crianccedila natildeo conse-gue conceber a palavra e o objeto a que esta se refere como duas realidades distintas Ele denominou este fenocircmeno de realismo nominal [] Um grupo de crian-ccedilas demonstrou o que consideramos um niacutevel primitivo do realismo nominal Estas crianccedilas ao compararem pares de palavras quanto ao tamanho e agrave semelhanccedila mostravam-se incapazes de focalizar a palavra enquanto sequecircncia de sons independentemente do seu signifi-cado Para estas crianccedilas a palavra devia possuir as mesmas caracteriacutesticas dos objetos que representavam

Figura 3 ndash Sentenccedila empregada para grafar as palavras barriga e matildeo a frase e o texto

A sentenccedila apresentada acima foi empregada para gra-far as palavras barriga e matildeo a frase e o texto Estes exem-plos nos indicam que para produzir a escrita a menina ainda natildeo julga necessaacuterio empregar criteacuterios de diferenciaccedilatildeo dos caracteres dentro de uma palavra e tambeacutem de uma palavra para outra Durante a leitura das palavras Edwiges sempre indica os componentes de tal parte do corpo como por exem-plo os dedos da matildeo e o umbigo na barriga refletindo nova-mente na escrita caracteriacutesticas do objeto Durante a anaacutelise da produccedilatildeo surgiu a duacutevida se o que estava expresso ali era

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desenho ou escrita Jaacute que durante a leitura a garota indicou tantos detalhes das partes do corpo decidimos entatildeo refazer o teste com ela desta vez utilizando o campo semacircntico ani-mais Ao final do novo teste solicitamos a Edwiges que fizesse um desenho e perguntamos ldquoVocecirc vai precisar da reglete para fazer o desenhordquo E ela respondeu com ar de admiraccedilatildeo ldquoAh Natildeo Natildeo que reglete eu num vou usar pra desenhar porque reglete natildeo serve pra desenhar serve pra furarrdquo Obtivemos a certeza de que a menina natildeo se encontrava no domiacutenio do icocirc-nico ou seja jaacute sabia que a escrita era diferente do desenho pois aceitou papel e giz de cera para fazer um desenho

Na escrita da palavra boi tudo indica que existe uma es-pecificidade no raciociacutenio empregado para grafar o vocaacutebulo Observemos agora um recorte do diaacutelogo entre noacutes e Edwiges

Pesquisadora Escreva a palavra boiEdwiges Boi comeccedila com b entatildeo eu vou escrever 1 e (pausa) Deixa eu pensar primeiro (dezesseis segundos depois analisados na gravaccedilatildeo ela completa o raciociacute-nio) Eu vou escrever 1 3 e 4Pesquisadora De quantas letras vocecirc vai precisarEdwiges Trecircs (novamente natildeo fez diferenccedila entre pontos e letras)Pesquisadora E quantas celasEdwiges Deixa eu ver (pausa de 20 segundos para pensar) Eu vou colocar mais esse ponto aqui tambeacutem (acrescenta o ponto 6 aos pontos 1 3 e 4 que acabou de grafar na primeira cela pensa novamente e grafa os pontos 1 3 e 6 em mais uma cela Ela para de escrever) Natildeo eu vou escrever soacute duas igual ao gato que eacute pra terminar logoPesquisadora Jaacute estaacute escrita a palavra boiEdwiges JaacutePesquisadora O nome do boi eacute grande ou eacute pequeno

Edwiges GrandePesquisadora Vocecirc sabe o que eacute um boiEdwiges Ah Eu sei que jaacute vi uma vaca aqui na escola de brinquedo (estaacutetua em tamanho natural) Eu vi uma vaca bem grandona aiacute parecia um touro

Figura 4 ndash Palavra boi escrita com duas celas da reglete

Edwiges sinaliza que boi co-meccedila com b o que poderia dar ideia de um iniacutecio da relaccedilatildeo grafema--fonema (fala e escrita) poreacutem natildeo grafa na palavra a letra mencionada e que ela jaacute conhece Isso natildeo nos daacute a certeza se o fato de ela ter dito b foi apenas um acaso e natildeo o iniacutecio da fonetizaccedilatildeo da escrita ou se ela estava comeccedilando a fonetizar mas natildeo transformou a ideia em accedilatildeo ou seja natildeo representou na grafia o que falou Quando in-terrogamos Edwiges sobre a quantidade de letras da palavra boi a pausa que a menina deu para pensar e a decisatildeo de natildeo mais grafar com dois pontos padratildeo adotado para produzir as outras palavras parece indicar que para escrever boi o nuacute-mero de pontos considerado suficiente eacute de trecircs por cela O conflito parece ser ainda maior quando perguntamos quantas celas satildeo necessaacuterias para escrever a palavra Apoacutes pensar ela decidiu acrescentar mais um ponto aos que jaacute tinha grafado e grafa mais trecircs na cela seguinte Mesmo tendo dito que escre-veu soacute duas celas no nome do boi para terminar logo quando ela compara o nome do boi com o do gato que jaacute havia confir-mado antes ser um nome pequeno porque o gato eacute pequeno tudo indica que ela comparou apenas o nuacutemero de celas pois parece ter a convicccedilatildeo de que o nome do boi eacute maior do que

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o nome do gato por ter uma quantidade maior de pontos e porque o animal eacute maior

Articulando esse dado fornecido por Edwiges com os achados das pesquisas psicogeneacuteticas (FERREIRO TEBE-ROSKY 1999 PIAGET apud REGO 1988) que constataram que as crianccedilas que enxergam manifestam o realismo nomi-nal se utilizando de um grande nuacutemero de letras para escre-ver quando o objeto que pretendem representar eacute maior tudo parece nos indicar que a crianccedila cega manifesta o realismo nominal se utilizando tanto de um grande nuacutemero de celas (letras) quanto de pontos Esta pode ser uma interessante es-pecificidade da aprendizagem da escrita Braille por crianccedilas cegas

Ariel (sete anos) aparenta estar comeccedilando a fazer di-ferenciaccedilatildeo entre os caracteres empregados para grafar uma palavra pois em algumas ocasiotildees fez esforccedilo para diferen-ccedilar os caracteres empregados para grafar cada letra e assim produzir caracteres diferentes em uma mesma palavra Natildeo repetiu sequecircncias jaacute empregadas em outras palavras garan-tindo assim escritas diferentes para palavras diferentes ca-racteriacutesticas deste momento

Conforme comentado durante a anaacutelise das produccedilotildees de Edwiges que nomeia os pontos de letras observamos que Ariel apresentou o mesmo pensamento Tudo indica que as crianccedilas cegas no iniacutecio do processo de aquisiccedilatildeo da escrita natildeo apresentam consolidados conceitos de diferenciaccedilatildeo en-tre pontos e letras pois costumam com frequecircncia apontar e nomear os pontos como sendo letras Cabe nesse momento fazer a seguinte indagaccedilatildeo em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combi-naccedilatildeo de pontos

Observemos entatildeo algumas partes do diaacutelogo entre noacutes e Ariel

Pesquisadora De quantas letras vocecirc vai precisar para escrever a palavra pernaEle pensa por alguns segundosAriel Eu acho que soacute duas estaacute de bom tamanho[] Pesquisadora Vocecirc disse que soacute vai precisar de duas letras De quantas celas vocecirc vai precisarAriel Um montePesquisadora Por quecircAriel Pra terminar logo Eacute que essas celas satildeo pra fazer todas as letras Entendeu Se tivesse soacute uma a pessoa ia acabar logo[] Ariel Que letra comeccedila a palavra pernaPesquisadora Qual eacute a letra que vocecirc acha que co-meccedila perna(Para um instante para pensar)Ariel Eu acho que comeccedila com c de casa (letra que ele jaacute estaacute grafando algum tempo depois a pesquisadora interroga novamente)Pesquisadora Mas por que vocecirc estaacute usando dois pontinhosAriel Eacute que se eu usar todos esses pontinhos que tem aqui na reglete nesses furos aqui aiacute eu num vou saber qual eacute o ponto que eu fureiPesquisadora quer dizer que vocecirc natildeo pode furar todosAriel Eacute Soacute os que a tia [professora do menino] manda

Ao terminar a escrita da palavra perna o menino desli-zou o dedo sobre todos os pontos e fez uma leitura global An-tes de comeccedilar a escrever cada palavra foi indagado sobre a

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quantidade de letras necessaacuterias Como em todos os momen-tos ele nomeou os pontos como letras Optamos por pergun-tar de quantas celas ele precisaria Em todos os casos Ariel comeccedilou a escrever pela extremidade direita e apontou que escreveria ateacute a extremidade esquerda da reacutegua Analisando o comentaacuterio do menino de que para escrever a palavra perna duas letras (pontos) ldquoestatildeo de bom tamanhordquo tudo indica que tal comentaacuterio vem reforccedilar nossa suposiccedilatildeo de que a crianccedila cega manifesta o realismo nominal tanto por meio de deter-minada quantidade de celas quanto de pontos

Quando ele afirmou que todas as celas da reglete de-vem ser utilizadas para que a pessoa natildeo acabe logo isso parece indicar que leva em consideraccedilatildeo para produzir a es-crita a utilizaccedilatildeo de todas as celas da reglete Relacionando este comentaacuterio do menino com a caracteriacutestica que apre-sentaram as escritas de seu nome e da palavra perna bem como praticamente todos os escritos de Edwiges tanto ele quanto ela escreveram de uma extremidade a outra de uma das linhas da reacutegua Essa repeticcedilatildeo pode ser uma especifici-dade decorrente do material utilizado para produzir a escrita em Braille a reglete pois permite ou pode mesmo de algu-ma maneira induzir a crianccedila ao uso das 27 celas mas de-vemos considerar tambeacutem que tal resposta pode decorrer da praacutetica pedagoacutegica pois o menino jaacute havia comentado antes que na sala de aula tem que escrever utilizando toda uma linha da reglete

A fonetizaccedilatildeo da escrita eacute o iniacutecio da compreensatildeo de que a escrita estaacute relacionada aos sons da fala A primeira fase desse periacuteodo eacute a hipoacutetese silaacutebica em que a crianccedila relaciona uma letra para cada siacutelaba Tatiane (sete anos) eacute o sujeito da pesquisa que na nossa maneira de interpretar os dados se encontra nesse niacutevel No momento em que foi solicitada a es-

crever a palavra perna observamos que ela grafou duas letras agrave medida que silaba a palavra ldquoper(e)ndashna(g)rdquo a vogal e possui valor sonoro convencional jaacute a letra g apesar de natildeo ter va-lor sonoro convencional demonstra que a menina estabelece correspondecircncia entre a emissatildeo oral e a pauta escrita Isso tambeacutem estaacute bem claro quando na leitura silaacutebica da palavra ela indica com o dedo uma letra para cada siacutelaba ndash ldquopernardquo Diferentemente dos casos anteriores ela jaacute natildeo nomeia mais os pontos de letras

Figura 5 ndash Escrita silaacutebica da palavra perna

Figura 6 ndash Escrita silaacutebica da palavra dedos um ponto para cada siacutelaba

Apoacutes escrever a palavra matildeo Tatiane pede para escre-ver a palavra dedos Enquanto grafa a menina vai silabando para a primeira letra b que aparece na figura acima ldquode (pon-to 1) ndash dos (ponto 2) agora vou escrever os dedos da outra matildeordquo para a segunda letra b que aparece na figura ldquode (pon-to 1) ndash dos (ponto 2)rdquo Na nossa maneira de interpretar tal produccedilatildeo a menina ainda necessita escrever a palavra dedos

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usando menos celas do que na palavra matildeo mas como jaacute gra-fou duas celas para o monossiacutelabo a soluccedilatildeo encontrada para representar o dissiacutelabo dedos eacute grafaacute-lo com apenas uma cela poreacutem dando a cada um dos pontos o valor correspondente de uma siacutelaba o que pode tambeacutem ser uma especificidade da aprendizagem do Braille A escrita da palavra dedos foi seg-mentada siacutelaba por siacutelaba mas a leitura foi global

Cabe aqui retomar o ponto suscitado quando analisa-mos as produccedilotildees de Edwiges e Ariel Em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combinaccedilatildeo de pontos Refletindo sobre os dados fornecidos por Tatiane tudo indica que eacute no niacutevel silaacutebico da escrita que a crianccedila cega comeccedila a mostrar uma compre-ensatildeo mais complexa de que as letras satildeo formadas por um conjunto de pontos mas este conceito parece ainda natildeo se en-contrar plenamente consolidado Observemos que o compor-tamento de grafar na mesma cela um ponto para cada siacutelaba pode indicar que enquanto na hipoacutetese anterior os pontos eram nomeados de letras neste momento do percurso eles tambeacutem podem ser considerados como siacutelabas

De acordo com Ferreiro e Teberosky (1999) quando a crianccedila opera na hipoacutetese silaacutebica duas caracteriacutesticas da es-crita anterior podem desaparecer momentaneamente a exi-gecircncia de uma quantidade miacutenima de caracteres e de varia-ccedilatildeo desses Pois nessa hipoacutetese a principal preocupaccedilatildeo da crianccedila eacute com o recorte silaacutebico da palavra e ela natildeo consegue atender simultaneamente essas exigecircncias mas quando a hi-poacutetese silaacutebica se encontra consolidada a exigecircncia de varie-dade reaparece pois muitos recortes silaacutebicos implicam letras repetidas e as crianccedilas jaacute tecircm consciecircncia de que com letras repetidas natildeo se pode ler

A hipoacutetese silaacutebico-alfabeacutetica comeccedila com a descoberta de que a siacutelaba pode ser representada com mais de uma letra Surge aqui o iniacutecio da representaccedilatildeo dos fonemas O sujeito da pesquisa situado neste niacutevel eacute Alex (oito anos) O menino natildeo sente dificuldades para escrever palavras compostas de siacutelabas canocircnicas que obedecem agrave seguinte ordem conso-ante vogal consoante vogal Quando as siacutelabas natildeo satildeo ca-nocircnicas ele se recusa a escrevecirc-las fato que Emiacutelia Ferreiro classifica em sua pesquisa ldquo[] de bloqueio por consciecircncia aguda das dificuldades impossiacuteveis de transporrdquo (FERREIRO TEBEROSKY 1999 p 218) Vejam um trecho do diaacutelogo en-tre a pesquisadora e o sujeito

Pesquisadora Escreva sobrancelha (soletrando ele comeccedila)Alex Su(cu) ndash bran(ele para) Que letra eacute o branPesquisadora Como vocecirc acha que eacuteAlex Eu natildeo sei Soacute posso escrever se a tia [pesquisa-dora] disser como eacuteComo neste caso ele natildeo conhece as letras que deve empregar e se referiu ao som bran como apenas uma le-tra nada dissemos com relaccedilatildeo agrave combinaccedilatildeo de pontos das letras Ele hesita em escrever bran e natildeo quer mais escrever a palavra Com insistecircncia da pesquisadora ele continua a escrever mas pula a siacutelaba na qual estaacute com dificuldades Alex Su(cu) ndash (pulou) ndash ce(c) ndash lha (ele para nova-mente) Que letra eacute o lhaPesquisadora Como vocecirc acha que eacuteAlex Eu vou colocar qualquer letra Ele grafa os pontos 3 e 6Pesquisadora Estaacute escrita a palavra sobrancelhaAlex Natildeo que a tia num quis me dizer os pontos das letras

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Figura 7 ndash Escrita silaacutebico-alfabeacutetica da palavra sobrancelha

Na escrita da palavra sobrancelha Alex apresenta tan-to elementos da escrita silaacutebica quanto da alfabeacutetica As duas primeiras letras compotildeem a siacutelaba so o que nos permite iden-tificar a hipoacutetese alfabeacutetica enquanto a letra c que correspon-de agrave terceira siacutelaba da palavra encontra-se na hipoacutetese silaacute-bica ou apenas revela a coincidecircncia do nome da letra com a siacutelaba ce Notemos que ele analisa o som das siacutelabas bran e lha como letras e o fato de ter grafado apenas uma cela para a uacutel-tima siacutelaba parece confirmar nossa suspeita de que ele opera na hipoacutetese silaacutebico-alfabeacutetica7

Apesar de Alex durante a escrita das palavras perna e barriga tecer comentaacuterios de que natildeo conhece a combinaccedilatildeo de pontos das letras p e r pensamos que ele apresenta concei-tos mais elaborados sobre a diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras

A elaboraccedilatildeo do niacutevel alfabeacutetico se completa quando a crianccedila compreende que a escrita se caracteriza por unidades sonoras menores do que a siacutelaba No iniacutecio dessa fase o desa-fio eacute a ortografia haja vista que a escrita se apresentaraacute pro-fundamente marcada pela oralidade

7 Dados os limites de espaccedilo para a elaboraccedilatildeo deste artigo natildeo faremos consideraccedilotildees aqui a respeito das produccedilotildees textuais das crianccedilas tambeacutem solicitadas por ocasiatildeo de nossa investigaccedilatildeo

A escrita alfabeacutetica constitui o final desta evoluccedilatildeo Ao chegar a este niacutevel a crianccedila jaacute franqueou a lsquobarreira do coacutedigorsquo compreendeu que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a siacutelaba e realiza sistematicamente uma anaacutelise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever Isto natildeo quer dizer que todas as dificuldades tenham sido superadas a partir desse momento a crianccedila se defrontaraacute com as dificuldades proacuteprias da ortografia mas natildeo teraacute problemas de escrita no sentido estrito (FERREIRO TEBEROSKY 1999 p 219)

Joatildeo (nove anos) e Diel (dez anos) satildeo os sujeitos da pesquisa que se encontram nesse niacutevel da escrita Na escrita das palavras os meninos natildeo sentiram dificuldades em men-cionar quantas e quais letras iriam empregar Veja as frases produzidas pelas crianccedilas Na frase de Joatildeo durante a leitura ele sinaliza que se esqueceu de escrever o i na palavra menino e o u na palavra machucou Na frase de Diel a junccedilatildeo da letra a com a palavra perna foi sinalizada durante a leitura

Figura 8 ndash Frase de Joatildeo o menino machucou a perna

Figura 9 ndash Frase de Diel o menino machucou a perna

Propomos agora uma resposta ao questionamento que levantamos para uma das possiacuteveis especificidades da escrita de nossos sujeitos usuaacuterios do Sistema Braille em que mo-mento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega com-preende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute

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formada por uma combinaccedilatildeo de pontos As evidecircncias nos conduzem a pensar que ao longo desse processo as crian-ccedilas cegas vatildeo refinando seus conceitos de diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras mas esse conceito soacute estaacute constituiacutedo quando se atinge a hipoacutetese alfabeacutetica

Consideraccedilotildees Finais

As pesquisas de Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky (1999) apontam que todo indiviacuteduo em decurso de aquisiccedilatildeo da liacuten-gua escrita se impotildee hipoacuteteses sobre a organizaccedilatildeo deste sis-tema Essas hipoacuteteses satildeo favorecidas pelo contato que estes sujeitos tecircm com a escrita que estaacute presente por toda parte mas como ressalta Almeida (1992) uma crianccedila cega natildeo tem as mesmas oportunidades de contato com materiais escritos como ocorre com a crianccedila que enxerga Se considerarmos que as fontes de pesquisa a respeito da aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita por meio do Sistema Braille ainda satildeo escassas podemos res-saltar a importacircncia de pesquisas mais aprofundadas sobre o tema bem como destacamos a relevacircncia desta investigaccedilatildeo

Retomamos agora a questatildeo que norteou esta pesqui-sa a fim de tecer uma resposta consoante aos seus achados Quais as especificidades apresentadas pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille durante a aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita Mediante a anaacutelise das produccedilotildees escritas dos sujeitos par-ticipantes da pesquisa eacute possiacutevel supor que assim como as crianccedilas que veem as crianccedilas cegas no percurso de aquisi-ccedilatildeo da liacutengua escrita tambeacutem seguem a evoluccedilatildeo das hipoacutete-ses linguiacutesticas descritas por Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky Entretanto no decorrer da pesquisa realizada com sujeitos que tecircm problemas visuais tudo parece indicar que eles apre-sentam algumas especificidades

Podemos destacar o fato de que ao longo da pesquisa principalmente por meio das falas das professoras notamos que para a crianccedila cega o processo de aprender a manusear os instrumentos necessaacuterios agrave escrita Braille para poder re-presentar a escrita eacute bem mais aacuterduo do que para a crianccedila de boa visatildeo Almeida (1992) ressalta que as crianccedilas que veem aprendem a manusear laacutepis e cadernos de maneira ldquonaturalrdquo mas o Sistema Braille natildeo eacute algo presente em nossa sociedade logo os instrumentos necessaacuterios agrave sua escrita tambeacutem natildeo

Na hipoacutetese preacute-silaacutebica assim como a crianccedila que en-xerga a crianccedila cega tambeacutem imagina que a escrita pode repre-sentar caracteriacutesticas do objeto Temos razatildeo para compreen-der que para os que natildeo enxergam eacute possiacutevel representar natildeo apenas com muitas letras (utilizaccedilatildeo de muitas celas) se o ob-jeto eacute grande mas tambeacutem com muitos pontos como foi o caso de Edwiges ao escrever a palavra boi ou ainda podemos supor que uma determinada quantidade de pontos por cela eacute suficien-te para representar algo como eacute o caso de Ariel que ao repre-sentar a palavra perna mencionou que ldquoduas letras (pontos) estaacute de bom tamanhordquo Nessa hipoacutetese a crianccedila cega parece ainda natildeo ter definido um conceito de diferenciaccedilatildeo entre o que satildeo letras e o que satildeo pontos Assim como tambeacutem no iniacutecio da aprendizagem a crianccedila que enxerga natildeo diferencia letras de outros sinais graacuteficos como por exemplo os nuacutemeros Essa constataccedilatildeo nos levou a outra pergunta em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combinaccedilatildeo de pontos Para essa indagaccedilatildeo procuramos ao longo deste trabalho preparar uma resposta com suporte nos dados recolhidos que nos levaram a crer que tal definiccedilatildeo apesar de mais elaborada nas hipoacuteteses silaacutebica e silaacutebico-alfa-beacutetica parece estar consolidada apenas na hipoacutetese alfabeacutetica

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pois tanto para Tatiane quanto para Alex eles podem assumir a funccedilatildeo de siacutelabas palavras ou ateacute mesmo sentenccedilas curtas Cremos com base na pesquisa como um todo que em decor-recircncia da interaccedilatildeo das crianccedilas com o formato da cela Braille durante as hipoacuteteses silaacutebica e silaacutebico-alfabeacutetica elas podem grafar um ponto na cela agrave medida que pronunciam uma siacutelaba o ponto pode representar uma siacutelaba ou mesmo uma palavra

Nossas primeiras hipoacuteteses sobre a aprendizagem da escrita Braille se referem tanto ao material empregado para produzir esta escrita a reglete quanto ao formato da cela Braille No que se refere agrave reglete notamos que os sujeitos que vivenciam hipoacuteteses mais elementares exibem a tendecircn-cia de utilizar toda uma linha do instrumento para produzir a escrita o que pode ser permitido ou induzido pelo material mas natildeo devemos descartar a ideia de que isso tambeacutem pode decorrer da influecircncia da praacutetica pedagoacutegica

Diante do exposto este ensaio se faz relevante pois apesar do pequeno grupo de sujeitos que participaram da in-vestigaccedilatildeo foi possiacutevel perceber algumas possiacuteveis especifici-dades no processo de aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas usuaacuterias do Sistema Braille Percebemos que essas particularidades da crianccedila cega decorrem do contato tardio com a escrita Braille dos instrumentos necessaacuterios agrave sua produccedilatildeo e de pensamen-tos proacuteprios da crianccedila cega

Destacamos tambeacutem nossas contribuiccedilotildees acerca do que pensam as crianccedilas cegas a respeito da organizaccedilatildeo do sistema de escrita para que futuras pesquisas mais aprofun-dadas e com um grupo maior de sujeitos possam confrontar os primeiros achados deste ensaio como por exemplo o con-ceito de diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras que diante das evidecircncias parece estar em elaboraccedilatildeo ao longo do processo de aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita

Por fim intermediada pela anaacutelise dos escritos dos su-jeitos enfeixamos aquilo que parece indicar serem especifici-dades das hipoacuteteses de que as crianccedilas cegas se colocam em cada um dos niacuteveis descritos na teoria psicogeneacutetica da aqui-siccedilatildeo da leitura e da escrita bem como sobre as funccedilotildees que os seis pontos podem assumir ao longo desta caminhada

Referecircncias Bibliograacuteficas

ALMEIDA M da G de S Fundamentos da alfabetizaccedilatildeo uma construccedilatildeo sobre quatro pilares Benjamin Constant Rio de Janeiro ano VIII n 22 p 13-21 2002______ Alfabetizaccedilatildeo da crianccedila cega dentro da visatildeo cons-trutivista a busca de um novo caminho 1992 99f Monogra-fia (Especializaccedilatildeo em Alfabetizaccedilatildeo em Deficientes Visuais) ndash Universidade do Rio de Janeiro 1992ARAUJO C PINTO E M F LOPES J et al Estudo de caso Disponiacutevel em lthttpgrupo4tecomsapoptestudo_casopdfgt Acesso em 4 out 2011BRASIL Deficiecircncia visual GIL M (Org) Brasiacutelia Minis-teacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo a Distacircncia 2000 CARRAHER T N Aprender pensando Petroacutepolis Vozes 1988FERREIRO E TEBEROSKY A Psicogecircnese da liacutengua escri-ta Porto Alegre Artmed 1999FERREIRO E Reflexotildees sobre alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo Cor-tez 2000SOARES M Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Ho-rizonte Autecircntica 1998 SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS O Sistema Braille Disponiacutevel em lthttpwwwsacorgbrAPR_BR2htmgt Acesso em 1 nov 2011

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ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeO

Maria Izalete Inaacutecio Vieira

Introduccedilatildeo

A liacutengua natural dos surdos eacute a liacutengua de sinais no caso dos surdos brasileiros a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) Em uma perspectiva de inclusatildeo social e educacional essa liacutengua deve ser ofertada como principal meio de acessibili-dade seja no acircmbito educacional no da sauacutede seguranccedila eou lazer Considerando que a visatildeo eacute o canal perceptual mais importante para a pessoa surda a liacutengua de sinais por se apresentar na modalidade viso-espacial (QUADROS 2004) atende a essa especificidade satisfazendo a sua condiccedilatildeo lin-guiacutestica Por isso o seu uso nos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo se constitui em um meio eficaz de promoccedilatildeo da inclusatildeo social

No Brasil em 2002 a Libras foi oficializada como liacuten-gua das comunidades surdas brasileiras atraveacutes da lei nordm 0436 (BRASIL 2002) e foi regulamentada pelo Decreto nordm 562605 (BRASIL 2005) Esse dispotildee sobre seu uso e difu-satildeo nas instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas na formaccedilatildeo de pro-fessores e inteacuterpretes de Libras Mas natildeo faz menccedilatildeo ao lazer cultura e informaccedilatildeo sendo esses aspectos contemplados na lei nordm 10098 de 2000 Apesar disso informaccedilotildees eventos culturais e entretenimentos veiculados nos meios de comuni-caccedilatildeo audiovisual em sua totalidade natildeo alcanccedilam os surdos Asseveram os artigos 17 e 19 do capiacutetulo VII da lei nordm 10098 que deve ser ofertada nos programas de imagens e outros a ldquolinguagem de sinaisrdquo eou legenda (BRASIL 2002)

No decreto nordm 529604 em seu capitulo VI haacute deter-minaccedilotildees quanto agrave acessibilidade para surdos nas emissoras

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de TV incluindo prazos para que possam se adequar a essa legislaccedilatildeo Isso representou um avanccedilo significativo para a comunidade surda no que se refere ao direito agrave informaccedilatildeo cultura e entretenimento Contudo haacute ainda algumas consi-deraccedilotildees a serem feitas

A legendagem atualmente eacute a forma de acessibilidade para surdos mais usada pelas emissoras de TV e produtoras de filmes para o cinema Poreacutem empiricamente podemos afirmar que estaacute limitada a uns poucos programas de canais abertos A maioria parece ainda natildeo ter incorporado a cultura de acessibilidade pois natildeo legenda nem insere a janela de Li-bras em suas produccedilotildees Assim a comunidade surda brasilei-ra continua excluiacuteda de algumas atividades de entretenimento e informaccedilotildees que para noacutes ouvintes satildeo corriqueiras Outro ponto a ser considerado eacute a liacutengua em que o acesso eacute ofertado Os surdos como mencionado haacute pouco satildeo falantes da Li-bras uma liacutengua viso-espacial que difere da liacutengua portugue-sa em modalidade e gramaacutetica (QUADROS 2004) Segundo Harrison e Nakasato (apud LODI LACERDA 2009) quando as particularidades linguiacutesticas dos surdos satildeo desconsidera-das natildeo haacute o compartilhamento de um mesmo horizonte so-cioloacutegico por surdos e ouvintes no que se refere agrave realidade vivenciada por ambos mesmo nas situaccedilotildees cotidianas

Vivendo em uma sociedade constituiacuteda por maioria ou-vinte os surdos precisam aprender o Portuguecircs para estabe-lecer relaccedilotildees com quem convivem em ambientes familiares no trabalho dentre outros Esse fato leva os surdos a viverem em uma situaccedilatildeo biliacutengue e de interculturalismo como afir-ma Strobel (2008) isto eacute satildeo participantes da cultura surda e da ouvinte e por isso utilizam a Libras e o Portuguecircs (em sua modalidade escrita eou oral) Eacute importante explicitar que a apropriaccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa na modalidade escri-

ta pelo surdo natildeo eacute uma tarefa faacutecil visto que esses natildeo satildeo usuaacuterios dessa liacutengua (LODI LACERDA 2009) A realidade educacional da maioria e a proacutepria modalidade Liacutengua Portu-guesa que se fundamenta em unidades sonoras natildeo contri-bui para essa aquisiccedilatildeo

Satildeo poucos os surdos de nascenccedila que receberam uma educaccedilatildeo que lhes proporcionou a aquisiccedilatildeo da leitura e escri-ta em Portuguecircs Mas mesmo esses que adquiriram a leitura em Portuguecircs natildeo satildeo proficientes nessa liacutengua Geralmen-te tecircm dificuldades com a sua semacircntica pragmaacutetica e com a identificaccedilatildeo de gecircneros como metaacuteforas ironias humor e outros como afirma Sousa (2008) Assim pelo fato de ser inteacuterprete de LibrasPortuguecircs haacute pouco mais de 20 anos e ter realizado trabalhos de interpretaccedilatildeo e traduccedilatildeo de pro-gramas ao vivo na TV e em filmes nacionais gravados essas experiecircncias profissionais me fizeram perceber que os surdos datildeo especial atenccedilatildeo a essas produccedilotildees quando o acesso lhes eacute ofertado em sua proacutepria liacutengua por meio da janela de Libras

TradutorInteacuterprete da Libras Qual a Parte Que lhe Cabe

Na obra intitulada O Tradutor e Inteacuterprete de Liacutengua de Sinais e Liacutengua Portuguesa para familiarizar o leitor com os termos pertencentes agrave temaacutetica abordada Quadros (2004) decide iniciaacute-la com um pequeno dicionaacuterio apresentando as terminologias e suas respectivas significaccedilotildees usadas por profissionais que atuam na aacuterea da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo e outros que de alguma forma tecircm envolvimento com as liacuten-guas de sinais

Segundo definiccedilatildeo da referida autora o inteacuterprete de liacutengua de sinais eacute aquele que interpreta de uma liacutengua de si-nais (liacutengua de partida) para outra liacutengua (liacutengua de chegada)

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sejam essas orais ou sinalizadas Para aclarar e delimitar os campos de atuaccedilatildeo Quadros (2004) diferencia o tradutor do inteacuterprete afirmando que o tradutor eacute a pessoa que traduz de uma liacutengua para outra assim como faz o inteacuterprete poreacutem o processo de traduccedilatildeo implica pelo menos que uma das liacuten-guas esteja na modalidade escrita A mesma autora faz a inte-graccedilatildeo dos dois termos (inteacuterprete e tradutor) afirmando que o tradutor-inteacuterprete de liacutengua de sinais eacute aquele que traduz e interpreta a liacutengua de sinais para a liacutengua oral nas modalida-des escrita eou oralsinalizada

Para Lacerda (2009) traduzir estaacute relacionado agrave ativi-dade de versar de uma liacutengua para outra trabalhando com tex-tos escritos e o interpretar se relaciona ao trabalho de versar de uma liacutengua para outra nas relaccedilotildees interpessoais simulta-neamente Diferencia ainda uma atividade da outra ressaltan-do que para se efetuar uma traduccedilatildeo o tradutor pode ler a obra refletir sobre as escolhas lexicais semacircnticas e consultar outras fontes para alcanccedilar os sentidos mais adequados ao seu trabalho Diferentemente o inteacuterprete atua com a simultanei-dade sem tempo para reflexotildees tomando decisotildees raacutepidas sobre como versar de um sentido para o outro e sem poder consultar outras fontes Por questotildees relacionadas ao tempo enquanto o tradutor pode revisar o seu texto de chegada com tranquilidade pois tem agrave sua disposiccedilatildeo o texto de partida o inteacuterprete natildeo tem como rever sua produccedilatildeo

Sobre o tempo de trabalho do tradutor e do inteacuterprete Pagura (2003 p 227) afirma

Enquanto nas organizaccedilotildees internacionais espera-se que os tradutores de tempo integral traduzam cerca de 50 linhas a cada duas horas um discurso cujo texto transcrito tenha as mesmas 50 linhas seraacute interpretado em oito minutos

A referida autora esclarece que o termo ldquotradutorin-teacuterpreterdquo eacute encontrado em documentos da deacutecada de 1970 no Brasil e que por isso ainda eacute utilizado por muitos mas que eacute importante diferenciar um do outro

Como mencionado anteriormente Santos (2006) afir-ma que as traduccedilotildees e interpretaccedilotildees em liacutengua de sinais no Brasil surgiram na deacutecada de 1980 Eram feitas por familia-res de surdos eou religiosos que natildeo tinham formaccedilatildeo pro-fissional para o exerciacutecio dessa funccedilatildeo A maioria desses in-teacuterpretes tinha apenas conhecimento empiacuterico da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo mas natildeo tinha nenhuma formaccedilatildeo ou embasa-mento teoacuterico para o exerciacutecio dessa funccedilatildeo Esse aspecto tem refletido em seu status profissional A falta de profissionali-zaccedilatildeo por meio de cursos de niacutevel superior tem colocado os tradutoresinteacuterpretes de Libras em situaccedilatildeo de inferioridade em relaccedilatildeo aos tradutoresinteacuterpretes de liacutenguas orais Esse fato eacute percebido pela falta de compreensatildeo da sociedade do seu trabalho e pela diferenccedila nos valores estabelecidos para remuneraccedilatildeo de serviccedilos de um e de outro

Durante muito tempo a accedilatildeo do tradutorinteacuterprete de Libras foi vista pela sociedade sob um aspecto assistencialis-ta jaacute que era realizada por pessoas que geralmente tinham viacutenculo de parentesco com as pessoas surdas e faziam tradu-ccedilotildeesinterpretaccedilotildees sem remuneraccedilatildeo Ainda segundo Santos (2006) as primeiras traduccedilotildeesinterpretaccedilotildees foram realiza-das nos ambientes empiacutericos desses atores ou seja no acircmbito religioso e familiar

Voltando um pouco mais no tempo encontraremos os inteacuterpretes de liacutenguas orais desempenhando a funccedilatildeo de apa-ziguadores culturais Seus serviccedilos eram requisitados geral-mente para estabelecimento de negociaccedilatildeo de paz entre paiacute-ses que estavam em guerra como afirma Pagura (2003) Seu

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trabalho natildeo era focado somente nas questotildees linguiacutesticas mas tambeacutem na cultura dos paiacuteses que estavam envolvidos no processo de apaziguamento Assim podemos inferir que o ato tradutoacuterio eou interpretativo natildeo eacute apenas linguiacutestico mas tambeacutem cultural

Sobre isso Segala (2010 p 30) em um contexto em que as liacutenguas de contato dizem respeito agraves comunidades sur-das e ouvintes afirma

Ser tradutor natildeo eacute ser aquele que sabe duas liacutenguas e que simplesmente transpotildee uma liacutengua para outra Natildeo eacute soacute estrutura linguiacutestica precisa conhecer e saber a cultura a linguiacutestica e outras sutilezas das liacutenguas fonte e alvo aleacutem de ter experiecircncia na vida social []

No Brasil a liacutengua de sinais foi reconhecida como a liacutengua natural das comunidades surdas em 2002 quando o entatildeo presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei nordm 10436 (BRASIL 2002) que oficializou a Libras como liacutengua das comunidades surdas do Brasil jaacute em 2005 o presi-dente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva sancionou o decreto nordm 5626 (BRASIL 2005) que a regulamenta

O reconhecimento tardio da liacutengua de sinais afeta o re-conhecimento do ato tradutoacuteriointerpretativo que envolve essa liacutengua Empiricamente eacute possiacutevel afirmar que o processo de traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo natildeo tem o reconhecimento da so-ciedade ouvinte nem a compreensatildeo dos surdos no Brasil No caso dos surdos eacute possiacutevel que isso aconteccedila pelo fato de que esses ainda natildeo tenham informaccedilotildees suficientes para levaacute-los a compreender a complexidade desse ato

Segundo Gesser (2011) a traduccedilatildeo compreende as se-guintes modalidades a consecutiva a simultacircnea ndash mais usa-da pelos inteacuterpretes de liacutenguas de sinais ndash e a sussurrada A autora esclarece que esta se trata da mesma modalidade da

traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo simultacircnea mas eacute realizada em situ-accedilatildeo geralmente de reuniotildees em pequenos grupos em que o inteacuterprete se senta proacuteximo de alguns ouvintes e traduz o texto de partida cochichando

De acordo com Lacerda (2009 p 15) traduccedilatildeointer-pretaccedilatildeo simultacircnea eacute a mais usada atualmente em grandes eventos e ldquo[] a traduccedilatildeo simultacircnea natildeo ocorre ao mesmo tempo da fala originalrdquo Isso porque o inteacuterprete leva um tem-po para processar a informaccedilatildeo recebida e organizaacute-la na liacuten-gua alvo Por sua vez Pagura (2003) explicita que a traduccedilatildeo consecutiva eacute aquela em que o inteacuterprete ouve um trecho sig-nificativo ou todo o discurso toma nota e em seguida assu-me a palavra e passa a informaccedilatildeo na liacutengua alvo

Ainda segundo Pagura (apud LACERDA 2009) a traduccedilatildeo consecutiva auxilia o inteacuterprete a desenvolver a ca-pacidade de analisar e compreender o discurso de partida permitindo o surgimento de teacutecnicas que o preparam para a traduccedilatildeo simultacircnea A traduccedilatildeo simultacircnea como foi dito haacute pouco parece ser a modalidade eleita pela maioria dos inteacuter-pretes de Libras e preferida pelos surdos Segundo o professor Marcos Vaining durante a videoconferecircncia de 10 de abril de 2011 na disciplina de Aquisiccedilatildeo da Linguagem do curso de Bacharelado em Letras-Libras1 a escolha por essa modalidade se daacute pela falta de conhecimento tanto por parte de inteacuterpretes quanto pelos surdos sobre o processo tradutoacuterio Segundo ele essa modalidade eacute a que mais oferece possibilidade de cometer erros Isso por causa do pouco tempo existente para anaacutelise compreensatildeo processamento e remarcaccedilatildeo de paracircmetro na

1 O curso de Licenciatura e Bacharelado em Letras-Libras foi desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e oferecido em 2006 em conjunto a oito instituiccedilotildees federais de niacutevel superior por meio da Secretaria de Educaccedilatildeo a Distacircncia e da Secretaria de Educaccedilatildeo Especial (QUADROS 2008)

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liacutengua alvo Vaining acrescenta ainda que todo esse processo demanda grande esforccedilo por parte do inteacuterprete

Ainda sobre o ato tradutoacuteriointerpretativo Jakobson (1995) o classifica em trecircs tipos intralingual interlingual e semioacutetica A traduccedilatildeo intralingual ou reformulaccedilatildeo segundo o autor eacute a traduccedilatildeo de um signo2 por outro da mesma liacuten-gua Isso pode ser feito por meio da sinoniacutemia ou paraacutefrase Quanto agrave interpretaccedilatildeo interlingual refere-se agrave interpretaccedilatildeo de um dado signo por outro equivalente em uma outra liacutengua Jaacute a traduccedilatildeo ldquo[] intersemioacutetica ou transmutaccedilatildeo consiste na interpretaccedilatildeo de signos verbais por meio de um sistema de signos natildeo verbaisrdquo (JAKOBSON 1995 p 64)

O inteacuterprete de liacutengua de sinais recorre a essas catego-rias com certa frequecircncia Natildeo eacute raro nos depararmos com situaccedilotildees de traduccedilatildeo em que uma das pessoas envolvidas no processo natildeo compreende conceitos em sua proacutepria liacutengua Isso nos impele a reorganizar a traduccedilatildeo tendo que explicar de forma diferente o mesmo assunto parafraseando ou utili-zando o recurso da expansatildeo (uma combinaccedilatildeo equivalente de unidades de coacutedigos) Podemos categorizar esse tipo de tradu-ccedilatildeointerpretaccedilatildeo como intralingual (JAKOBSON 1995)

A modalidade em que a liacutengua de sinais se apresenta ndash espaccedilo visual ndash exige leitura e traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo das ex-pressotildees natildeo manuais e a compreensatildeo de imagens construiacutedas com as matildeos pelo sinalizante (classificadores) como explica Segala (2010) A essa leitura efetuada durante a traduccedilatildeoin-terpretaccedilatildeo chamamos de semioacutetica Embora nos utilizemos de todas as modalidades aqui apresentadas a mais recorrente

2 Os signos satildeo entidades em que sons ou sequecircncias de sons ndash ou as suas correspon-decircncias graacuteficas ndash estatildeo relacionados com significados ou conteuacutedos Os signos satildeo portanto instrumentos de comunicaccedilatildeo e representaccedilatildeo agrave medida que configuram linguisticamente a realidade e distinguem os objetos entre si (VYGOTSKY 2000)

em nosso trabalho eacute a traduccedilatildeo interlingual pois geralmente nossas traduccedilotildees envolvem a Liacutengua Portuguesa e a Libras

O ato de traduzirinterpretar natildeo eacute faacutecil especialmente para o inteacuterprete de liacutengua de sinais que estabelece transiccedilatildeo com liacutenguas muito distantes no que diz respeito agrave forma e ao modo Sobre isso Segala (2010) afirma que o inteacuterprete natildeo apenas versa de uma liacutengua para outra mas tambeacutem consi-dera ao executar uma interpretaccedilatildeo eou traduccedilatildeo a cultura dos povos imbricados nesse processo

Mesmo que muitas vezes esse trabalho seja exaustivo para o inteacuterprete ele eacute extremamente necessaacuterio agrave comuni-dade surda pois quebra as barreiras comunicativas e retira o surdo do isolamento linguiacutestico como afirmam Massutti e Sil-va (2011) Isso torna a interpretaccedilatildeo da Libras para a Liacutengua Portuguesa e vice-versa aleacutem de necessaacuteria compensadora para quem a faz e a recebe

O tradutorinteacuterprete vem atuando em aacutereas antes natildeo alcanccediladas Certamente por causa de poliacuteticas afirmativas e de acessibilidade especiacuteficas para pessoas surdas No Cearaacute aleacutem da aacuterea da Educaccedilatildeo o inteacuterprete de Libras tem desem-penhado a funccedilatildeo em palestras que abrangem os mais varia-dos temas Atuando igualmente em janelas de Libras de pro-gramas poliacuteticos televisionados (LEMOS 2012)

UFCTV Implicaccedilotildees Trazidas pela Inserccedilatildeo da Janela de Libras

Assim preocupados com a expansatildeo da acessibilidade de pessoas surdas na aacuterea acadecircmica foi que se pensou em tornar o programa jornaliacutestico televisionado da Universidade Federal do Cearaacute (UFCTV) acessiacutevel para surdos segundo in-formou a coordenadora da Secretaria de Acessibilidade pro-fessora doutora Vanda Magalhatildees que propocircs a inserccedilatildeo da

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janela de Libras no referido programa Para tanto foi necessaacute-rio contatar a equipe de comunicaccedilatildeo responsaacutevel pela execu-ccedilatildeo do mesmo

Essa concordou em implementar um projeto-piloto para analisar a viabilidade desse instrumento no programa Nesse periacuteodo por me encontrar na condiccedilatildeo de prestadora de serviccedilo na funccedilatildeo de inteacuterprete pela UFC e estar lotada na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui aceitei participar do projeto fazendo as traduccedilotildeesinterpretaccedilotildees do referido pro-grama Os profissionais que trabalharam diretamente nessa empreitada foram aleacutem da interprete de Libras uma produ-tora um cinegrafista e um editor de imagens O projeto teve duraccedilatildeo de seis meses

O UFCTV eacute um programa que vai ao ar semanalmente aos domingos sendo reprisado agraves terccedilas-feiras pela TV Cul-tura no canal 5 com alcance em todo o estado do Cearaacute3

Segundo informa o site o programa

Mostra a produccedilatildeo da Universidade informando onde e como ela estaacute presente no cotidiano das pessoas contribuindo para melhorar as condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo cearense UFCTV tambeacutem traz um resumo dos principais acontecimentos na Universidade e uma agenda cultural voltada para atividades gratuitas ou a preccedilos populares (UFC 2012)

O referido programa eacute elaborado e gravado em estuacute-dio situado no Bloco de Comunicaccedilatildeo da UFC no campus do Benfica As atividades da equipe que trabalha no desen-volvimento do programa ocupam o estuacutedio durante o expe-diente de trabalho normal da UFC de 8h agraves 12h e de 14h agraves

3 O programa tambeacutem eacute veiculado na internet Encontra-se disponiacutevel no seguinte endereccedilo eletrocircnico lthttpwwwufcbrcomunicacao-e-marketing956-conheca-o-programa-ufctvgt

17h Por essa razatildeo a gravaccedilatildeo da sua traduccedilatildeo em Libras era realizada no intervalo do almoccedilo entre 12h e 14h sempre agraves segundas-feiras A duraccedilatildeo do programa eacute de 30 minutos enquanto a gravaccedilatildeo de sua traduccedilatildeo tinha duraccedilatildeo de duas horas O profissional encarregado de editar a janela de Libras natildeo conhecia a liacutengua por isso minha presenccedila como inteacuter-prete durante a ediccedilatildeo fazia-se necessaacuteria Ao lado do editor ajudava a sincronizar o texto produzido em Libras ao texto correspondente na Liacutengua Portuguesa Assim suas horas de trabalho se prolongavam ateacute agraves 18h

Conforme mencionado anteriormente o programa traz informaccedilotildees sobre as vaacuterias atividades da universidade abrangendo assim assuntos das mais diversas aacutereas do conhe-cimento Segundo Aubert (apud VASCONCELOS BARTHO-LAMEI JUNIOR p 15) a competecircncia referencial ou seja a ldquo[] capacidade de buscar conhecer e se familiarizar com os referentes dos diversos universos em que uma atividade de traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo pode ocorrer []rdquo eacute muito impor-tante para que a traduccedilatildeo se decirc a contento Podemos entatildeo concluir que conhecer o assunto de que se trata a traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo colabora para a otimizaccedilatildeo do resultado do tra-balho tradutoacuterio

Nessa perspectiva buscava essa competecircncia por meio da leitura dos espelhos que eacute o cronograma de como o tele-jornal iraacute se desenrolar Nele eacute previsto a entrada de mateacute-rias notas blocos chamadas e encerramento do telejornal Os espelhos eram enviados para mim por e-mail com ante-cedecircncia mas natildeo traziam detalhes das mateacuterias abordadas no programa Por exemplo o conteuacutedo das sonoras que eacute o segmento do programa em que o repoacuterter aparece junto ao entrevistado natildeo era explicitado Isso me impelia a fazer uma pesquisa preacutevia na internet sobre o tema que seria aborda-

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do Havia tambeacutem um espaccedilo de tempo antes de iniciar as gravaccedilotildees em que podia assistir ao programa completo Eacute im-portante salientar que a competecircncia referencial tem relaccedilatildeo direta com a qualidade da traduccedilatildeo e que alguns dos temas abordados eram de completo desconhecimento da inteacuterprete

Por isso o fato de assistir ao programa antes de iniciar sua traduccedilatildeo poderia colaborar para que por meio da visuali-zaccedilatildeo de imagens mesmo natildeo dominando o assunto pudesse descrever os elementos a ele pertencentes Segundo Pizzo et al (2010 p 15) a liacutengua de sinais traz recursos que permitem transmitir informaccedilotildees de forma clara ldquo[] descrevendo a forma e tamanho ou descrever a maneira como esse referente se comporta na accedilatildeo verbalrdquo Esse recurso eacute chamado de Clas-sificador (CL) Por isso a visualizaccedilatildeo das imagens contidas no programa por mim na condiccedilatildeo de tradutorainteacuterprete era de fundamental importacircncia para a construccedilatildeo desses re-ferentes no texto em Libras Os classificadores aleacutem de des-crever o objeto permitem que o texto se torne sucinto sem que haja perdas de informaccedilatildeo

Como afirma Lacerda (2009) o inteacuterprete trabalha na urgecircncia e natildeo tem tempo para refazer sua interpretaccedilatildeo Na traduccedilatildeo haacute tempo para analisar pesquisar e refazer se ne-cessaacuterio Como foi dito anteriormente eu recebia da produ-ccedilatildeo do programa instrumentos para pesquisa e durante as gravaccedilotildees de sua interpretaccedilatildeo havia tempo para refazecirc-la caso achasse necessaacuterio Por essa razatildeo podemos concluir que esse trabalho se caracterizou como sendo uma traduccedilatildeo

Outro ponto importante a salientar eacute o tempo televisi-vo O programa produzido pela equipe da UFCTV como dito anteriormente tem 30 minutos de duraccedilatildeo jaacute com os comer-cias adicionados Eacute dividido em ldquocabeccedilasrdquo que eacute segmento do programa em que a apresentadora aparece sozinha anuncian-

do as manchetes do dia ldquooffsrdquo segmento do programa em que o repoacuterter relata as notiacutecias sem aparecer na cena e sonoras As janelas correspondentes a esses segmentos precisavam es-tar sincronizadas com o tempo de cada um deles

Segundo Ronai (1987) tudo que eacute dito em uma determi-nada liacutengua pode ser dito em outra mas para isso eacute preciso buscar equivalecircncias e quando por alguma razatildeo natildeo eacute pos-siacutevel encontraacute-las a traduccedilatildeo pode ser feita de forma explica-tiva Poreacutem em se tratando de explicaccedilotildees de termos usados na liacutengua fonte (liacutengua a ser traduzida) para a alvo (liacutengua traduzida) eacute possiacutevel que o texto traduzido se prolongue mais que o texto original Isso eacute bastante comum acontecer em tra-duccedilotildees envolvendo a Libras e o Portuguecircs dadas as modali-dades em que se encontram espaccedilo-viso-manual e oral au-ditiva respectivamente (QUADROS KARNOPP 2004) Esse fato ocorria com frequecircncia desafiando-me a buscar recursos inerentes agrave atividade tradutoacuteria e os que a proacutepria liacutengua de sinais oferece para possibilitar a sincronia entre os textos

Os recursos linguiacutesticos por mim utilizados durante as atividade tradutoacuterias foram os empreacutestimos linguiacutesticos que segundo Barbosa (2004) trata-se de uma escolha pessoal do tradutor por tomar um empreacutestimo da liacutengua fonte e usa--lo na liacutengua alvo No caso da traduccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa para a Libras esse empreacutestimo eacute feito por meio da soletraccedilatildeo da palavra utilizando-se do alfabeto manual (SOUZA 2010) Esse recurso tem sido utilizado quando natildeo haacute um vocaacutebulo na liacutengua alvo equivalente ao da liacutengua fonte Assuntos relaciona-dos agrave Fiacutesica Quiacutemica Engenharia e especialmente agrave Medicina foram os que mais exigiram o uso desse recurso Ex Palavra em Portuguecircs leishmaniose No empreacutestimo para a Libras a mesma palavra eacute feita sem alteraccedilatildeo na estrutura fonoloacutegica por meio do alfabeto manual conforme ilustra a Figura 1

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Figura 1 ndash Alfabeto manualFonte httpwwwlibrasorgbr

Assim o puacuteblico-alvo recebe a palavra em uma liacutengua que natildeo eacute a sua o que pode gerar problemas de compreen-satildeo Para traduzir essa palavra com clareza seria necessaacuterio entatildeo a utilizaccedilatildeo de outra estrateacutegia chamada de explicita-ccedilatildeo Segundo Lemos (2012) o uso dessa estrateacutegia consiste na adiccedilatildeo de informaccedilotildees por parte do tradutorinteacuterprete para aclarar a mensagem na liacutengua alvo Poreacutem por haver adiccedilatildeo de vocaacutebulo o tempo empregado nesse tipo de estra-teacutegia ultrapassa o tempo do texto fonte o que pode constituir um problema na sincronia dos textos e interferir no tempo da realizaccedilatildeo do programa Por isso optei por natildeo usaacute-la

Outro recurso utilizado na traduccedilatildeo foi o Role Shift que segundo Pizzo et al (2010) consiste na mudanccedila da posi-ccedilatildeo do corpo ou da direccedilatildeo do olhar para marcar a fala de mais

de um personagem Esses personagens (referentes) podem tambeacutem ser marcados por meio de estabelecimento de pon-tos no espaccedilo Isso permite economia de tempo pois uma vez que os pontos estatildeo estabelecidos e nominados natildeo haacute mais necessidade de citaacute-los por nome basta apontar olhar ou di-recionar o corpo para a localizaccedilatildeo em que esses pontos foram estabelecidos Essa apontaccedilatildeo na liacutengua de sinais eacute uma for-ma pronominal e pode ser usada como referecircncia anafoacuterica4

O uso de classificadores (CL) tambeacutem foi outro recur-so utilizado como foi dito anteriormente Esses podem des-crever de forma clara objetos pessoas e animais de forma detalhada e raacutepida Quando o uso desses recursos natildeo era su-ficiente para sincronizar os textos fonte e alvo o editor no momento da ediccedilatildeo e com a minha ajuda retirava dos sinais movimentos que natildeo integravam a sua formaccedilatildeo Esses eram os movimentos de passagem de um sinal para o outro como um levantar ou baixar de matildeos Os cortes eram de mileacutesimos de segundos mas que somados apresentavam uma quanti-dade significativa de tempo para um programa televisivo

O uso de todas essas estrateacutegias natildeo era de conheci-mento da equipe responsaacutevel pelo programa da UFCTV com exceccedilatildeo dos cortes para reduccedilatildeo do tempo da traduccedilatildeo na ja-nela de Libras Assim o desafio da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo se tornou uma busca individual de minha parte Segundo Souza (2010) para realizar uma traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo envolvendo recursos midiaacuteticos eacute necessaacuterio uma equipe semelhante agrave que foi citada anteriormente Poreacutem o autor acrescenta que a essa equipe devem ser adicionados outros profissionais da traduccedilatildeo surdos e ouvintes para dar suporte agrave inteacuterprete e

4 Anafoacuterico genericamente pode ser definido como uma palavra ou expressatildeo que serve para retomar um termo jaacute expresso no texto ou tambeacutem para antecipar termos que viratildeo depois

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analisar juntamente com ela a qualidade da traduccedilatildeo objeti-vando sua otimizaccedilatildeo

Todo esse trabalho relacionado agrave traduccedilatildeointerpre-taccedilatildeo requer um relativo empenho da equipe envolvida Tambeacutem eacute necessaacuterio a essa equipe disponibilidade para alteraccedilotildees fiacutesicas na aparecircncia do programa ocasionada pela inserccedilatildeo da janela de Libras

Janela de Libras na Tela da TV

A janela de Libras eacute um instrumento de acessibilida-de para surdos descrito na Portaria nordm 310 de 27-06-2006 como sendo ldquo[] espaccedilo delimitado no viacutedeo onde as infor-maccedilotildees satildeo interpretadas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LI-BRAS)rdquo (BRASIL 2006)

A maioria dos programas de TV que se utiliza da janela de Libras apresenta irregularidades no seu formato tamanho e contraste Isto ocorre pela inobservacircncia das normas estabe-lecidas pela ABNTNBR15290 (ABNT 2005)

A janela de Libras deve conter as seguintes caracteriacutesti-cas (BRASIL 2009)

y A altura da janela deve ser no miacutenimo metade da altura da tela do televisor (NBR 15290) y A largura da janela deve ocupar no miacutenimo a quarta parte da largura da tela do televisor (NBR 15290) y O recorte deve estar localizado de modo a natildeo ser encoberto pela tarja preta da legenda oculta (NBR 15290) y No recorte natildeo devem ser incluiacutedas ou sobrepostas quais-quer outras imagens (NBR 15290)

Como sugestatildeo o documento (BRASIL 2009) acres-centa que a janela de Libras natildeo deve encobrir a marca drsquoagua

da emissora nem a tarja preta da legenda Assim a janela deve ser posicionada na tela da TV de acordo com a sua localiza-ccedilatildeo podendo ficar agrave esquerda agrave direita ou ao centro da tela Quanto ao enquadramento do tradutorinteacuterprete deve ser feito de maneira que os braccedilos e cotovelos natildeo sejam corta-dos O enquadramento deve abarcar toda a sua movimenta-ccedilatildeo e vai do alto da cabeccedila ateacute a altura da cintura O referido documento explicita que o plano meacutedio eacute o ideal para o en-quadramento do tradutorinteacuterprete

Assim a UFCTV buscou respeitar as normas estabele-cidas pela ABNT optando por colocar a janela de Libras na parte inferior direita da tela Para que isso fosse possiacutevel foi necessaacuterio o deslocamento da apresentadora um pouco mais para o centro da tela para deixar livre o espaccedilo destinado agrave janela De modo semelhante os repoacuterteres ao gravarem as sonoras foram orientados a se posicionar de maneira que na tela da TV ficassem agrave esquerda do viacutedeo para que agrave direita sobrasse espaccedilo suficiente para posicionar a janela

Como explicitado haacute pouco a Figura 2 mostra uma ca-beccedila em que a apresentadora do Programa da UFCTV se en-contra posicionada no centro da tela deixando um espaccedilo agrave direita suficiente para a inserccedilatildeo da janela

Figura 2 ndash Ca-beccedila do Programa

UFCTV

Fonte httpwwwufcbr

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Em relaccedilatildeo ao tradutorinteacuterprete a ABNTNBR 15290 (ABNT 2005) determina que quando na janela de Li-bras deve usar blusas de cor distanciada da tonalidade de sua pele Complementando as determinaccedilotildees citadas haacute ainda as seguintes sugestotildees

y Natildeo usar amarelo vermelho laranja e preto (principalmen-te) no plano de fundo do inteacuterprete

y A iluminaccedilatildeo adequada deve evitar sombras nos olhos eou seu ofuscamento e

y A cor adequada e sugerida por todos os surdos para o cenaacuterio foi o azul-claro sem detalhes (BRASIL 2009)

Assim como tradutorinteacuterprete da janela de Libras da UFCTV adotei o seguinte padratildeo esteacutetico cabelos pre-sos blusa preta de mangas cur-tas para contras-tar com o fundo azul ausecircncia de adereccedilos como reloacutegios colares e outros conforme ilustra a Figura 3

Figura 3 ndash Padratildeo esteacutetico para inteacuter-pretes que atuam em janelas de LibrasFonte httpwwwi n c l u s i v e o r g b r wp-contentuploa-ds201007Carti-lha_libraspdf

Consideraccedilotildees Finais Embora tenha havido zelo para com as exigecircncias esta-

belecidas pela ABNT (2005) por parte da equipe envolvida no projeto de implementaccedilatildeo da janela de Libras no programa produzido pela equipe da UFCTV houve alguns problemas de ordem teacutecnica O equipamento tecnoloacutegico usado nas ediccedilotildees apresentava problemas e por vezes parava de funcionar im-pedindo a finalizaccedilatildeo da ediccedilatildeo Foi constatada tambeacutem a ne-cessidade de acreacutescimo de pessoal agrave equipe Os profissionais envolvidos usavam seu horaacuterio de almoccedilo para gravar a tra-duccedilatildeo da janela de Libras pois esse era o uacutenico horaacuterio dispo-niacutevel para uso do estuacutedio Assim podemos concluir que seria necessaacuteria uma equipe especiacutefica com horaacuterios previamente definidos para esse fim

Quanto agrave traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo a presenccedila de outro inteacuterprete poderia contribuir com a otimizaccedilatildeo do resultado final da traduccedilatildeo Seria tambeacutem uma contribuiccedilatildeo para com a inteacuterprete efetiva no sentido de que caso houvesse a ne-cessidade de se ausentar nos dias destinados agrave gravaccedilatildeo ha-veria outra pessoa que poderia substituiacute-la Em decorrecircncia dessas dificuldades o projeto foi interrompido para anaacutelise e busca de soluccedilotildees junto a outras instacircncias da UFC para sua viabilizaccedilatildeo

Em conjunto com a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui a equipe anteriormente mencionada se prepara para viabilizar e retomar o projeto propiciando a inserccedilatildeo de for-ma permanente e qualitativa da janela de Libras nos progra-mas produzidos pela equipe da UFCTV e assim contribuir para a acessibilidade agrave informaccedilatildeo das pessoas surdas

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25 abr 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Leis2002L10436htmgt Acesso em 12 dez 2011GESSER A Traduccedilatildeo e Interpretaccedilatildeo da Libras II Apostila do Curso de Educaccedilatildeo a Distacircncia de Bacharelado em Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina 2011 JAKOBSON R Linguiacutestica e comunicaccedilatildeo Satildeo Paulo Cul-trix 1995LACERDA C B F Inteacuterprete de Libras em atuaccedilatildeo na Edu-caccedilatildeo Infantil e no Ensino Fundamental Porto Alegre Me-diaccedilatildeoFAPESP 2009LEMOS A M As estrateacutegias de interpretaccedilatildeo de unidades fraseoloacutegicas do Portuguecircs para a Libras em discursos poliacute-ticos Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 150f Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2012 LODI A C B LACERDA C B F de (Orgs) Uma escola duas liacutenguas letramento em liacutengua portuguesa e liacutengua de sinais nas etapas iniciais de escolarizaccedilatildeo Porto Alegre Me-diaccedilatildeo 2009MASSUTTI M L e SILVA S G de L da Traduccedilatildeo e in-terpretaccedilatildeo de Libras I Apostila do curso de Bacharelado em Letras na modalidade a Distacircncia Universidade Fede-ral de Santa Catarina Centro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE)Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2011PAGURA R J A interpretaccedilatildeo de conferecircncias interfaces com a traduccedilatildeo escrita e implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo de in-teacuterpretes e tradutores DELTA ndash Revista de Documentaccedilatildeo de Estudos em Linguiacutestica Teoacuterica e Aplicada Satildeo Paulo v 19 p 209-236 2003PIZZO A L CAMPELLO A R e S REZENDE P L F QUA-DROS R M de Q Liacutengua Brasileira de Sinais III Apostila do curso de Bacharelado em Letras Libras na modalidade

ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeOMARIA IZALETE INAacuteCIO VIEIRA144 d d 145

a Distacircncia Universidade Federal de Santa Catarina Cen-tro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE) Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2010QUADROS R M de (Org) Estudos surdos III Petroacutepolis RJ Arara Azul 2008______ O tradutor e inteacuterprete de liacutengua brasileira de si-nais e liacutengua portuguesa Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Programa Nacional de Apoio agrave Educaccedilatildeo de Surdos MEC SEESP 2004 QUADROS R M de KARNOPP L B Liacutengua Brasileira de Sinais estudos linguiacutesticos Porto Alegre Artmed 2004 RONAI P Escolas de tradutores Rio de Janeiro Ed Nova Fronteira 1987SANTOS S A Inteacuterpretes de liacutengua de sinais um estudo sobre as identidades Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 198f Universidade Federal de Santa Catarina Flo-rianoacutepolis 2006SEGALA R R Traduccedilatildeo intermodal e intersemioacuteticainter-lingual Portuguecircs brasileiro escrito para Liacutengua Brasileira de Sinais Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 74f Universidade Federal de Santa Catarina Trindade Florianoacute-polis 2010 SOUSA A N de A escrita de surdos uma exploraccedilatildeo de textos em portuguecircs e inglecircs Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Lin-guiacutestica Aplicada) 237 f Universidade Estadual do Cearaacute Fortaleza 2008SOUZA X de Performances de traduccedilatildeo para a liacutengua bra-sileira de sinais observadas no curso de Letras-Libras Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 174f Universi-dade Federal de Santa Catariana Florianoacutepolis 2010STROBEL K As imagens do outro sobre a cultura surda Florianoacutepolis Editora da UFSC 2008

UFC Conheccedila o programa UFCTV Disponiacutevel em lthttpwwwufcbrcomunicacao-e-marketing956-conheca-o-pro-grama-ufctvgt Acesso em 6 dez 2012VASCONCELOS M L BARTHOLAMEI JUNIOR L A B Estudos da traduccedilatildeo I Apostila do curso de Bacharelado em Letras Libras na modalidade a Distacircncia Universidade Fe-deral de Santa Catarina Centro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE) Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2009VYGOTSKY L S Internalizaccedilatildeo das funccedilotildees psicoloacutegicas su-periores In VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente o desenvolvimento dos processos psicoloacutegicos superiores Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 69-76

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AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA

FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacute

Marta Cavalcante BenevidesTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (LDB nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996) prevecirc para o alu-nado da Educaccedilatildeo Especial uma praacutetica avaliativa na pers-pectiva formativa de acompanhamento permanente junto ao estudante Deve considerar portanto os aspectos individuais da aprendizagem realizando um diagnoacutestico do que foi apren-dido e favorecendo a aproximaccedilatildeo do professor junto ao agir e pensar do aluno e deste com o objeto de conhecimento A lei recomenda igualmente a realizaccedilatildeo de ajustes sempre que necessaacuterio com o emprego de recursos adequados agraves necessi-dades de cada aprendiz Contudo haacute indiacutecios de que as praacuteti-cas educacionais ainda se centram em atividades que enfati-zam a exposiccedilatildeo de conteuacutedos pelo professor e a passividade do aluno que deve reproduzir a informaccedilatildeo memorizada nos momentos de avaliaccedilatildeo Se essa praacutetica prejudica o desenvol-vimento dos alunos de forma geral provoca consequecircncias mais graves nos alunos que apresentam algum tipo de defici-ecircncia visto que apresentam modos singulares de aprendiza-gem de acordo com as especificidades do seu perfil (BEYER 2005 BRASIL 2001 HADJI 2001 HOFFMANN 2005)

No Ensino Superior a realizaccedilatildeo de uma praacutetica avalia-tiva inclusiva torna-se de modo anaacutelogo um desafio pois de acordo com Demo (2008) a avaliaccedilatildeo na Instituiccedilatildeo de Ensi-

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteMARTA CAVALCANTE BENEVIDES bull TANIA VICENTE VIANA148 d d 149

no Superior (IES) aleacutem de ponderar as diferenccedilas individuais de aprendizagem deve incluir outros aspectos uma vez que a IES tem como papel fundamental formar o aluno para o exer-ciacutecio da cidadania reconstruir continuamente o saber e for-mar pessoas autocircnomas capazes de pensar intervir e influen-ciar o seu ambiente para aleacutem dos limites da universidade

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada ao aluno com deficiecircncia constitui um elemento pedagoacutegico que pode auxi-liar ou dificultar a inclusatildeo do aluno na instituiccedilatildeo de ensino Uma avaliaccedilatildeo realizada de modo intuitivo eou superficial se mostra nociva podendo rebaixar as expectativas do professor em relaccedilatildeo a esse grupo especiacutefico A avaliaccedilatildeo inclusiva deve ser prospectiva e diagnosticar as condiccedilotildees cognitivas emer-gentes natildeo devendo limitar-se agrave verificaccedilatildeo das capacidades adquiridas (BEYER 2005 BRASIL 2001 HADJI 2001 HO-FFMANN 2005)

A Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem do Aluno com Deficiecircncia e os Desafios de sua Inclusatildeo no Ensino Superior

O aluno com deficiecircncia por apresentar condiccedilotildees di-ferenciadas necessita de praacuteticas de ensino e de avaliaccedilatildeo da aprendizagem capazes de atender suas demandas educacio-nais e promover o desenvolvimento das suas capacidades A escola e a universidade inseridas nesse contexto deveratildeo ade-quar a sua praacutetica educativa e avaliativa agrave legislaccedilatildeo vigente visando garantir oportunidades equiparadas de atendimento Para esse alunado existem propostas de avaliaccedilatildeo da apren-dizagem fundamentadas nas ideias de Vygotsky (1896-1934) e no conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)1

1 A ZDP eacute definida como ldquoA distacircncia entre o niacutevel de desenvolvimento real que se costuma determinar atraveacutes da soluccedilatildeo independente de problemas e o niacutevel

Utilizando o conceito de ZDP Guthke apud Beyer (2005) propotildee que natildeo basta que a avaliaccedilatildeo verifique as atu-ais condiccedilotildees do desempenho escolar mas eacute essencial estimu-lar a condiccedilatildeo intelectual do indiviacuteduo frente agraves situaccedilotildees de mediaccedilatildeo em que conceitos e informaccedilotildees venham a provo-car a consolidaccedilatildeo de niacuteveis reais de desenvolvimento Nes-se sentido a verificaccedilatildeo do que foi alcanccedilado pelo aprendiz (rendimento) natildeo eacute suficiente para uma avaliaccedilatildeo adequada tornando imprescindiacutevel a investigaccedilatildeo das condiccedilotildees cogni-tivas emergentes

Para avaliar a aprendizagem dos alunos da Educa-ccedilatildeo Especial durante o ano letivo o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) recomenda a avaliaccedilatildeo formativa ou seja a avaliaccedilatildeo processual com o uso de instrumentos variados e com uma aproximaccedilatildeo da relaccedilatildeo professor-aluno deve acontecer de forma individualizada realizando modificaccedilotildees sempre que necessaacuterio com o emprego de recursos adequados agraves neces-sidades de cada aprendiz A avaliaccedilatildeo tambeacutem deve ser diag-noacutestica ou seja ter por objetivo realizar um diagnoacutestico da si-tuaccedilatildeo da aprendizagem do educando que sirva de base para uma tomada de decisatildeo por parte do avaliador em prol do desenvolvimento e da aprendizagem do aluno Eacute importante tambeacutem avaliar as caracteriacutesticas funcionais do aluno a fim de avaliar as habilidades baacutesicas que ele possui e que lhe per-mitem enfrentar de forma mais ou menos eficaz a demanda educacional (BRASIL 2005 FERNANDES VIANA 2009)

As avaliaccedilotildees da aprendizagem devem sempre conside-rar a situaccedilatildeo vivenciada pelo aluno com deficiecircncia para que o professor possa propor atividades avaliativas contextua-

de desenvolvimento potencial determinado atraveacutes da soluccedilatildeo de problemas sob a orientaccedilatildeo de um adulto ou em colaboraccedilatildeo com companheiros mais capazesrdquo (VYGOTSKY 1994 p 112)

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lizadas As comparaccedilotildees entre os alunos devem ser evitadas mesmo que possuam deficiecircncia similar o aluno deve ser comparado consigo mesmo com a evoluccedilatildeo de suas produ-ccedilotildees e atitudes ao longo do desenvolvimento As adequaccedilotildees nas avaliaccedilotildees realizadas pelo professor devem sempre con-siderar o curriacuteculo comum Outro aspecto a se ponderar eacute a importacircncia dos conteuacutedos presentes na avaliaccedilatildeo visto que a supressatildeo de determinados conteuacutedos podem comprometer uma avaliaccedilatildeo efetiva da aprendizagem O planejamento de uma avaliaccedilatildeo com conteuacutedo diferenciado caracteriza por-tanto uma exclusatildeo que discrimina o aluno por sua deficiecircn-cia Dessa forma satildeo necessaacuterios cuidados especiais na elimi-naccedilatildeo de conteuacutedos (FERNANDES 2010)

Ainda segundo as orientaccedilotildees do MEC satildeo recomen-dadas adequaccedilotildees nos instrumentos avaliativos conforme o tipo de deficiecircncia i) para alunos com deficiecircncia fiacutesica deve ser considerada a utilizaccedilatildeo de Tecnologia Assistiva (TA)2 au-toavaliaccedilatildeo uso de avaliaccedilatildeo digital ii) para a o aluno com deficiecircn cia visual os procedimentos e instrumentos de avalia-ccedilatildeo da aprendizagem que satildeo baseados em referecircncias visu-ais devem ser alterados ou adaptados atraveacutes da transcriccedilatildeo para o sistema Braille3 eou representaccedilotildees em relevo Ou-tras sugestotildees satildeo a avaliaccedilatildeo oral o uso do computador ou da maacutequina de escrever Braille e um tempo ampliado para a realizaccedilatildeo das atividades (iii) a avaliaccedilatildeo da aprendizagem

2 ldquo[] arsenal de recursos e serviccedilos que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiecircncia e consequentemente promover vida independente e inclusatildeordquo (BRASIL 2007d p 31)3 O sistema Braille eacute um coacutedigo ou meio de leitura e escrita para pessoas cegas e foi criado por Louis Braille em 1825 Constitui-se de uma combinaccedilatildeo de 63 pontos que representam as letras do alfabeto os nuacutemeros e outros siacutembolos graacuteficos A combinaccedilatildeo dos pontos eacute obtida pela disposiccedilatildeo de seis pontos baacutesicos organizados em duas colunas verticais dispostas em trecircs pontos do lado esquerdo e trecircs pontos do lado direito (BRASIL 2007c)

da pessoa surda deve considerar a existecircncia do uso de duas liacutenguas por parte do aluno jaacute que a liacutengua de sinais liacutengua de origem do surdo se reflete em suas produccedilotildees escritas em Portuguecircs Portanto o docente ao se deparar com um texto escrito por um aluno surdo deve manter uma atitude diferen-ciada e encarar os supostos erros cometidos na escrita como decorrentes do aprendizado de uma segunda liacutengua (Liacutengua Portuguesa) e da interferecircncia de sua primeira liacutengua (a liacuten-gua de sinais) sobre ela Em todo tipo de avaliaccedilatildeo eacute necessaacute-rio que o ritmo e o estilo individual de aprendizagem do aluno sejam respeitados (BRASIL 2007b FERNANDES 2010)

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada para o alunado com deficiecircncia deve considerar as condiccedilotildees de acessibilida-de4 prevista nos documentos legais brasileiros como a Cons-tituiccedilatildeo Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-caccedilatildeo Nacional (LDB nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996) (BRASIL 2001 2007a)

A praacutetica avaliativa destinada ao aluno com deficiecircncia torna-se um desafio para todos os niacuteveis de ensino inclusive o Ensino Superior que aleacutem de atender as caracteriacutesticas es-peciacuteficas desse alunado deve tambeacutem inserir na avaliaccedilatildeo as-pectos como flexibilidade e autonomia De acordo com Demo (2008) a universidade deve estar comprometida com a re-construccedilatildeo contiacutenua do conhecimento e com a formaccedilatildeo para a cidadania

4 SASSAKI (2005) aponta para a existecircncia de seis dimensotildees da acessibilidade i) arquitetocircnica que diz respeito agrave ausecircncia de barreiras fiacutesicas ii) comunicacional que se refere agrave ausecircncia de barreiras na comunicaccedilatildeo interpessoal escrita e virtual iii) atitudinal concernente a praacuteticas que resultem em superaccedilatildeo de preconceito discriminaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo iv) metodoloacutegica relativa agrave ausecircncia de barreiras nos meacutetodos e teacutecnicas de estudo v) instrumental que se refere agrave ausecircncia de barreiras nos instrumentos e utensiacutelios de estudo nas atividades da vida diaacuteria de lazer esporte e recreaccedilatildeo vi) programaacutetica que consiste na ausecircncia de barreiras invisiacuteveis embutidas em poliacuteticas puacuteblicas em regulamentos e normas

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Assim o aluno que ingressa na universidade deve ter a oportunidade de aprender a aprender reconstruir permanen-temente o conhecimento e saber pensar para melhor inter-vir O conhecimento nessa perspectiva aleacutem de disruptivo eacute tambeacutem poliacutetico porque o sujeito que aprende eacute capaz de histoacuteria proacutepria e caminha para a autonomia de modo que natildeo seja soacute influenciado mas influencie o seu meio natildeo seja submisso mas possa confrontar ideias teorias opiniotildees e re-alidades (DEMO 2008)

Metodologia

O objetivo geral deste estudo foi investigar a praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada aos alunos com defici-ecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do Centro de Humanidades (CH) e da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) de uma IES da rede puacuteblica federal de Fortaleza-Cea-raacute Especificamente intencionou-se i) conhecer as dificulda-des vivenciadas por alunos professores e coordenadores da IES na avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia ii) identificar as condiccedilotildees de acessibilidade referentes agraves praacute-ticas avaliativas iii) reunir contribuiccedilotildees de alunos profes-sores e coordenadores da IES para uma praacutetica inclusiva de avaliaccedilatildeo de aprendizagem

Assim foi realizada uma pesquisa de natureza qualitati-va na forma de um estudo de caso com amostras compostas por i) nove alunos com deficiecircncia matriculados nos cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do CH e da Faced da IES ii) dezenove professores indicados pelos alunos com deficiecircn-cia que haviam ministrado disciplinas para esses alunos no semestre 20102 e iii) sete coordenadores dos cursos em que esses alunos se encontravam matriculados A amostra perfez um total de trinta e cinco sujeitos

Na tabela 1 encontramos a caracterizaccedilatildeo da amostra dos alunos investigados Os estudantes consultados seratildeo ale-atoriamente chamados de A1 A2 A9

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia

MASCULINO

ALUNO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A1 24 Letras-Portuguecircs Auditiva

A2 28 Ciecircncias Sociais Fiacutesica ndash Torcicolo Espas-moacutedico

A3 23 Biblioteconomia Muacuteltipla ndash Fiacutesica e Baixa Visatildeo

A4 45 Pedagogia Visual ndash Baixa Visatildeo FEMININO

ALUNO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A5 22 Letras Espanhol--Literatura

Visual Total ndash Retinoblas-toma

A6 20 Letras-Portuguecircs Fiacutesica ndash Paralisia Cerebral

A7 24 Ciecircncias Sociais Auditiva Moderada ndash Gra-ve

A8 23 Psicologia Baixa Visatildeo ndash Visatildeo Uni-lateral

A9 32 Mestrado em Edu-caccedilatildeo Auditiva

Os coordenadores pesquisados seratildeo aleatoriamente chamados de C1 C2 C7 e os professores que participaram da pesquisa seratildeo chamados aleatoriamente de P1 P2 P19 Vale ressaltar que o nome da instituiccedilatildeo quando presente no relato dos entrevistados foi substituiacutedo pela palavra UNI-VERSIDADE (em letras maiuacutesculas) Os dados obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas junto aos alunos e coor-denadores de curso e atraveacutes de questionaacuterios junto aos pro-fessores no segundo semestre de 2010 foram submetidos agrave anaacutelise de conteuacutedo

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Anaacutelise dos Dados

Formaccedilatildeo docente

A equipe docente pesquisada mostrou-se com qualifica-ccedilatildeo elevada conforme se pode constatar no Graacutefico 1 A forma-ccedilatildeo docente eacute vista como um fator de grande importacircncia para a adequaccedilatildeo dos processos de ensino e avaliaccedilatildeo tornando-se imprescindiacutevel para auxiliar no processo de aprendizado do aluno (BEYER 2005 HOFFMANN 2005 PASCUAL 2006)

GRAacuteFICO 1 ndash Formaccedilatildeo Docente

No entanto para os coordenadores a formaccedilatildeo do do-cente em graus elevados muitas vezes natildeo prepara o profes-sor para a experiecircncia em sala de aula visto que nos cursos de origem natildeo satildeo trabalhadas questotildees pedagoacutegicas nem de teorias do conhecimento e da aprendizagem tampouco de as-suntos referentes ao tema da Educaccedilatildeo Inclusiva

Segundo relato dos coordenadores

A maioria das pessoas que daacute aula na universidade elas nunca se prepararam na vida dela para ser professor Vocecirc imagine uma pessoa que estudou que fez douto-rado ela faz um concurso [] O que ela aprendeu em sala de aula foi com os professores em sala de aula mas ela nunca discutiu a metodologia [] Vocecirc imagina aiacute o

cara que fez Fiacutesica se formou em Fiacutesica o tempo dele foi fazendo caacutelculo e ele aprendeu a dar aula as aulas que ele via foi dos professores dele mas nunca ele discutiu nada Entatildeo ele faz um concurso porque ele tem doutorado domina um conjunto de questotildees que taacute laacute no programa passa e quando ele entra vai laacute no [setor de] Recursos Humanos natildeo tem ningueacutem pra dizer que vaacute fazer um cursinho sobre Pedagogia sobre aprendizado essa coisa toda E eacute assim em quase todo canto Com exceccedilatildeo da Pedagogia que eacute um curso que forma pedagogo Nosso curso aqui eacute muito focado no bacharelado licenciatura aqui eacute uma coisa quase que marginal (C7)Agraves vezes os professores efetivamente tecircm dificuldade de lidar com esse tipo de aluno neacute Noacutes eu tambeacutem tenho dificuldade porque tambeacutem natildeo sou formado para isso neacute Eu natildeo tenho uma capacitaccedilatildeo pra isso mas natildeo necessariamente pra avaliaccedilatildeo agraves vezes ateacute para a proacutepria convivecircncia a gestatildeo da sala de aula com o aluno quando distoa do padratildeo meacutedio do aluno a gente natildeo sabe como fazer No instante em que nos tornamos professores da UNIVERSIDADE eu desco-nheccedilo qualquer formaccedilatildeo que tenha sido proposta pra gente E bom assim enquanto socioacutelogo de formaccedilatildeo eu tambeacutem natildeo tive essa formaccedilatildeo aqui na UNIVER-SIDADE no doutorado na graduaccedilatildeo ou no mestrado tampouco (C4)

Do mesmo modo foi verificado na pesquisa que a ca-pacitaccedilatildeo especiacutefica voltada para o atendimento agraves necessi-dades educacionais da pessoa com deficiecircncia embora consi-derada necessaacuteria pelos coordenadores tem acontecido como uma procura individual e particular de cada professor natildeo existindo ou existindo de forma precaacuteria nos programas que destinam formaccedilatildeo continuada aos seus docentes dentro da universidade

A situaccedilatildeo encontrada na universidade pesquisada estaacute em consonacircncia com o que afirma Hoffmann (2005) sobre a

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realidade encontrada nas universidades brasileiras em que haacute docentes que embora com competecircncia em sua aacuterea de origem possuem formaccedilatildeo pedagoacutegica precaacuteria desconhe-cendo teorias do conhecimento e do curriacuteculo que deveriam fundamentar sua atividade avaliativa

Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia

No que se refere agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem do aluno com deficiecircncia verificou-se que os coordenadores natildeo tecircm informaccedilotildees sobre como acontece a avaliaccedilatildeo da aprendiza-gem voltada para esse alunado dentro da universidade e re-latam a existecircncia de uma avaliaccedilatildeo homogecircnea como uma praacutetica comum na IES que desconsidera as particularidades do aluno A avaliaccedilatildeo que considera a construccedilatildeo individual da aprendizagem reflete uma visatildeo tradicional de avaliaccedilatildeo (HOFFMANN 2005 PERRENOUD 1999)

De acordo com o relato do coordenador

[] imagino que haacute todo um processo complexo inclu-sive muito rico de adequaccedilatildeo disso da proacutepria pessoa a um sistema de Educaccedilatildeo que natildeo tem a tradiccedilatildeo de lidar com as dificuldades das pessoas Todo um sistema ele eacute montado com um pressuposto falso e perigoso que eacute o pressuposto da homogeneidade se trata todos os alunos como se fossem iguais como se partissem do mesmo ponto e como tivessem que chegar ao mesmo ponto Quer dizer natildeo haacute consideraccedilatildeo da personalidade natildeo eacute nem no sentido psicoloacutegico eacute no sentido mais amplo de que cada pessoa eacute uma pessoa com interesse com a proacutepria histoacuteria com dificuldades e com potenciais entatildeo o sistema eacute todo montado para um aluno amorfo padratildeo estereotipado Qualquer pessoa que rompa com essa padronizaccedilatildeo teraacute dificuldades em geral dificul-dades para os docentes tambeacutem (C5)

Para a maioria dos professores a avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem do aluno com deficiecircncia deve apresentar as seguintes caracteriacutesticas I) ser igual para todos alunos com e sem defi-ciecircncia (63) II) abordar o mesmo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade (84) III) apresentar adapta-ccedilotildees conforme o tipo de deficiecircncia (84) IV) dispor de um tempo maior para o aluno com deficiecircncia (68) e V) deve acontecer em sala de aula (84)

De acordo com as informaccedilotildees coletadas os professores entendem a avaliaccedilatildeo do aluno com deficiecircncia em consonacircn-cia com o que eacute proposto pela literatura especializada que as-severa que o planejamento de uma avaliaccedilatildeo para o aluno com deficiecircncia deve considerar o curriacuteculo comum Um conteuacutedo diferenciado ou a supressatildeo arbitraacuteria de conteuacutedos com o ob-jetivo de tornar a avaliaccedilatildeo mais faacutecil caracterizariam uma ex-clusatildeo discriminando-se o aluno por sua deficiecircncia A maio-ria dos professores respondeu tambeacutem que o aluno precisa de maior tempo para a realizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo outra estra-teacutegia adaptativa apontada pela literatura em que o professor deve considerar que o aluno com deficiecircncia pode alcanccedilar os mesmos objetivos do grupo poreacutem com um periacuteodo maior de tempo (FERNANDES 2010)

Foi constatada nos depoimentos dos alunos a exis-tecircncia de algumas adaptaccedilotildees na avaliaccedilatildeo da aprendizagem tais como substituiccedilatildeo do seminaacuterio por instrumentos escri-tos para o aluno com deficiecircncia auditiva que natildeo conhecia a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) (A1) o uso do computa-dor como recurso para auxiliar nas provas escritas ou provas orais para o estudante cego (A3 A4 A5 A8) provas orais para o aluno com torcicolo espasmoacutedico (A2) e o tempo es-tendido para entrega dos trabalhos (A2 A9) A boa relaccedilatildeo entre professor e aluno apareceu como elemento fundamental

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteMARTA CAVALCANTE BENEVIDES bull TANIA VICENTE VIANA158 d d 159

para adaptar os instrumentos avaliativos agraves necessidades dos educandos visto que nem sempre o professor sabe como pro-ceder (A2 A3 A4 A5 A8)

As adequaccedilotildees encontradas na universidade estatildeo de acordo com o que estabelece a literatura especializada devem contar com o uso de recursos adequados agraves necessidades de cada aprendiz como o uso de material em Braille para o aluno cego a presenccedila do inteacuterprete de Libras para o aluno surdo o uso de provas orais quando necessaacuterio e a extensatildeo de tem-po para entrega de trabalhos dentre outros (BRASIL 2005 FERNANDES 2010)

Por outro lado os alunos relataram uma seacuterie de dificul-dades enfrentadas em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem O desconhecimento por parte do professor da existecircncia do aluno com deficiecircncia em sua sala de aula antes do iniacutecio do periacuteodo letivo impede um planejamento que considere as es-pecificidades do aluno Os estudantes relataram que os pro-fessores na maioria das vezes desconhecem o fato de que le-cionaratildeo para alunos com deficiecircncia e quando os encontram em sala de aula sequer o procuram para investigar sobre a melhor forma de realizar a avaliaccedilatildeo Houve ainda relatos de situaccedilotildees em que o aluno com deficiecircncia foi dispensado da avaliaccedilatildeo e momentos em que participou das avaliaccedilotildees em condiccedilotildees desfavoraacuteveis frente agraves condiccedilotildees apresentadas aos demais alunos por falta de recursos que pudessem auxiliaacute--lo Essas atitudes natildeo estatildeo em consonacircncia com a literatura especializada que afirma ser necessaacuteria a identificaccedilatildeo das caracteriacutesticas cognitivas do aluno com deficiecircncia para uma praacutetica pedagoacutegica adequada As adaptaccedilotildees devem conside-rar o curriacuteculo natildeo podendo o aluno ser dispensado da avalia-ccedilatildeo (BEYER 2005 FERNANDES 2010)

Segundo relato de um dos alunos

[] professor nesse semestre pediu uma siacutentese de um texto que eu natildeo tinha como ler porque natildeo foi possiacutevel digitalizar Eu tentei digitalizar mas a digitalizaccedilatildeo natildeo saiu boa o texto natildeo existia na internet eacute de uma obra claacutessica e eu natildeo consegui fazer a siacutentese porque eu natildeo tive como ler o texto E aiacute eu tentei de todas as ma-neiras que eu pude Eu realmente fiz muito esforccedilo pra digitalizar esse texto mas natildeo foi possiacutevel e aiacute eu falei com o professor e ele disse entatildeo vocecirc se compromete a ler a tentar de alguma maneira ler esse texto ateacute vocecirc se formar porque eacute um claacutessico e eu dispenso vocecirc de fazer essa parte (A8)

Os relatos demonstraram que as accedilotildees pedagoacutegicas de ensino e avaliaccedilatildeo para o aluno com deficiecircncia ainda se en-contram inadequadas A falta de conhecimento do professor sobre as praacuteticas pedagoacutegicas apropriadas e sobre os recursos que possam auxiliar o aluno a desenvolver seu aprendizado de forma mais adequada satildeo fatores que prejudicam o aluno den-tro da instituiccedilatildeo Mesmo fazendo parte de uma instituiccedilatildeo de ensino regular o que se percebe eacute que muitas vezes o aluno procura recursos e alternativas que possam ajudaacute-lo a superar as necessidades que apresenta nem sempre contando com o auxiacutelio ou a compreensatildeo dos demais agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem As adaptaccedilotildees realizadas revelaram-se como alternativas emergenciais devido agrave ausecircn-cia de recursos apropriados na universidade ou agrave falta de co-nhecimentos do professor sobre a melhor maneira de proceder

Inclusatildeo acessibilidade

A universidade apresentou a existecircncia de alguns re-cursos para a acessibilidade Os recursos conhecidos pelos

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coordenadores satildeo i) transposiccedilatildeo para o Braille serviccedilo re-alizado pela biblioteca ii) acesso agrave inteacuterprete de Libras iii) alguns computadores com programas para o deficiente visu-al iv) a existecircncia de uma secretaria especiacutefica para trabalhar questotildees da inclusatildeo na universidade Por outro lado foi ve-rificada a ausecircncia de recursos essenciais para a garantia da acessibilidade dos alunos com deficiecircncia como laboratoacuterios de informaacutetica sem softwares adequados para o aluno com deficiecircncia visual

Dos professores entrevistados 58 desconheciam os recursos oferecidos pela universidade para o atendimento ao aluno com deficiecircncia E os que revelaram conhecer relata-ram a existecircncia de suporte de Psicologia da UNIVERSIDA-DE (P1) presenccedila de softwares para o aluno cego (P4) Proje-to UNIVERSIDADE Inclui [projeto anterior agrave inauguraccedilatildeo da secretaria com objetivo de promover a inclusatildeo na universi-dade estudada] (P14 P19) Secretaria de Acessibilidade (P1) adaptaccedilatildeo do material didaacutetico para o aluno com deficiecircncia visual como o Braille e a transposiccedilatildeo para a versatildeo eletrocircni-ca realizada pela biblioteca (P5 P12 P15 P19) Um dos pro-fessores natildeo especificou qual recurso conhece e relatou natildeo precisar utilizar nenhum recurso

Relaccedilotildees interpessoais

As relaccedilotildees interpessoais aparecem como fator de grande importacircncia para a motivaccedilatildeo e o aprendizado do aluno po-dendo favorecer ou dificultar o processo de aprendizado A boa qualidade da relaccedilatildeo entre o aluno com deficiecircncia e o professor contribui de forma positiva para o aprendizado e a motivaccedilatildeo do aluno no ambiente acadecircmico A ausecircncia de conhecimen-tos teacutecnicos por parte do professor sobre o ensino e avaliaccedilatildeo

apropriados para o aluno com deficiecircncia pode ser mais facil-mente contornada se houver uma boa relaccedilatildeo com o professor

[] eu sempre me relacionei muito bem com os profes-sores daqui e nunca teve assim nenhuma rejeiccedilatildeo quanto ao meu meacutetodo de avaliaccedilatildeo E quando o professor natildeo sabe muito bem o que fazer entatildeo a gente senta conversa sobre de que maneira eu posso ser avaliado e tal [] (A3)

Na relaccedilatildeo entre docente e discente foram relatadas situaccedilotildees tanto de intransigecircncia quanto de aceitaccedilatildeo O comprometimento e a disposiccedilatildeo de todos os sujeitos partici-pantes do processo de ensino-aprendizagem eacute de grande im-portacircncia para a plena efetivaccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo Inclusiva (BEYER 2005)

No caso do professor receptivo

Pra mim o caso mais interessante foi o dessa aluna com deficiecircncia auditiva que eu notava que ela natildeo conseguia se expressar oralmente logo nos primeiros dias de aula E aiacute eu fui conversar com ela e ela me explicou que tinha um problema de deficiecircncia auditiva e a partir desse dia ela me explicou que sabia fazer leitura labial e a partir desse dia eu passei a dar aula olhando pra ela tentava mesmo que eu mudasse de posiccedilatildeo como eu dou aula em peacute andando eu tava sempre o tempo todo a olhar pra ela Eu me lembro que ela assistiu alguns seminaacuterios e eu chamei os alunos que iam apresentar seminaacuterios pedi permissatildeo a ela antes e ela autorizou que fosse dito que ela tinha deficiecircncia auditiva que os alunos falassem olhando pra ela (C4)

No caso do professor intransigente

Eu reprovei por um trabalho um grande trabalho dele que eu levei eu tinha frac34 do trabalho feito ele nem aceitou natildeo quis nem ver Entatildeo pra mim isso eacute muita intransigecircncia eacute sofriacutevel ter esse relacionamento com

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os coordenadores com os professores que natildeo podem me dar uma abertura ou me escutar Isso que eacute o pior que eu acho natildeo ser escutado (A2)

A falta de uma formaccedilatildeo adequada para lidar com alu-nos com deficiecircncia em sala de aula apresentou-se como ele-mento comum agrave variaccedilatildeo de atitudes apresentada pelo docen-te A conduta profissional desse modo depende dos valores pessoais do docente e natildeo estaacute pautada em conhecimentos es-pecializados sobre o assunto Na situaccedilatildeo encontrada na uni-versidade percebemos a existecircncia de uma realidade em que as reaccedilotildees do grupo podem facilitar pela empatia ou preju-dicar pelo preconceito ou incompreensatildeo o desenvolvimento global do indiviacuteduo Os professores como participantes do grupo social estatildeo imbuiacutedos desses valores que afetaratildeo suas praacuteticas de ensino e avaliaccedilatildeo A expectativa que o professor elabora sobre a aprendizagem do aluno pode interferir de modo significativo no processo de ensino-aprendizagem de modo que o comportamento do aluno seja modelado pela ex-pectativa do professor e este por sua vez responde de acordo com o que ele supotildee ser possiacutevel ao seu aluno (BEYER 2005 ROSENTHAL JACOBSON 1968)

Os depoimentos dos alunos revelam haver dentro da universidade atitudes de aceitaccedilatildeo e solidariedade mas tam-beacutem atitudes de estranhamento em relaccedilatildeo agrave pessoa com deficiecircncia As primeiras demonstram auxiliar o aluno no processo de Inclusatildeo favorecendo o aprendizado e ajudando a preencher lacunas deixadas pelos serviccedilos ainda natildeo ade-quados agraves necessidades do alunado No entanto as demais atitudes ainda revelam a existecircncia de um desconhecimento tambeacutem por parte do aluno das formas de lidar com a pessoa com deficiecircncia e das necessidades apresentadas por esse alu-nado Essa atitude indica um reflexo de uma sociedade ainda

natildeo preparada para o modelo de Inclusatildeo em que as insti-tuiccedilotildees os serviccedilos e os procedimentos ainda satildeo pensados e montados para um puacuteblico homogecircneo padratildeo sem deman-das especiacuteficas

Dificuldades enfrentadas

Os coordenadores de curso revelaram natildeo ter acesso agraves dificuldades do aluno com deficiecircncia em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem o que dificulta inclusive o reconhecimento das demandas discentes e a solicitaccedilatildeo agraves instacircncias superio-res de recursos que atendam a essas necessidades A coorde-naccedilatildeo aparece como um oacutergatildeo burocraacutetico onde natildeo haacute dis-cussotildees rotineiras sobre a aprendizagem do aluno A ausecircncia de recursos humanos capacitados para lidar com o aluno com deficiecircncia a ausecircncia ou insuficiecircncia de recursos didaacuteticos e de recursos que possibilitem a acessibilidade instrumental a falta de acessibilidade arquitetocircnica e a natildeo identificaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia foram indicadas pelos coordenadores como dificuldades enfrentadas para a efetivaccedilatildeo de uma ava-liaccedilatildeo inclusiva

De acordo com as respostas apresentadas pelos pro-fessores as dificuldades enfrentadas pelos docentes satildeo i) a ausecircncia de formaccedilatildeo adequada (P2 P4 P7 P10 P15 P16 P17 P19) ii) a falta de adequaccedilatildeo dos espaccedilos fiacutesicos (P1 P14 P17) iii) a ausecircncia ou insuficiecircncia de recursos (P6 P13 P14 P17 P18) iv) o fato de que os professores natildeo conhecem os recursos nem a forma de acessaacute-los (P10 P18) Cinco profes-sores relataram natildeo apresentar dificuldades e um professor natildeo respondeu

Os alunos apresentaram como dificuldades i) o fato de que o professor natildeo tem o conhecimento preacutevio de que iraacute le-

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cionar para o aluno com deficiecircncia e como consequecircncia natildeo conhece as caracteriacutesticas de aprendizagem do aluno (A2 A7 A8) ii) a falta de comunicaccedilatildeo entre professores e alunos bem como a intransigecircncia do professor (A2) iii) a falta de acessibilidade arquitetocircnica (A3) iv) a falta de recursos para a acessibilidade instrumental (A3 A5 A8) v) a dificuldade de redigir textos e a demora do processo em conseguir o inteacuter-prete de Libras foi apresentada pela aluna com surdez

Vale ressaltar que a falta de acessibilidade arquitetocirc-nica e instrumental aparece no discurso de coordenadores e alunos como impeditivo para a entrada do aluno na universi-dade No relato de um dos alunos

[] Eu falo minhas porque minhas soacute tem eu aqui Mas a partir do momento que as necessidades forem aceitas o que vai ter de deficiente entrando na univer-sidade vocecirc natildeo queira nem saber Porque o pessoal fala assim natildeo natildeo vou entrar na universidade natildeo porque natildeo tem nenhuma acessibilidade laacute [] Eu fre-quentei o Instituto dos Cegos um ano e meio Tinham pessoas laacute que falaram isso eu natildeo vou me dar o tra-balho de passar na universidade pra chegar laacute e ter que ficar lutando pelos meus direitos os meus direitos jaacute satildeo os meus direitos as pessoas tecircm que saber que eles existem Claro que vocecirc vecirc agraves vezes as pessoas dando essa desculpa de natildeo tentar a universidade Mas ou-tras pessoas que eu via que tinham potencial diziam o que me mata eacute essa ideia de chegar na universidade e ela natildeo estar preparada pra me receber (A3)

As dificuldades enfrentadas pelos alunos e a forma como satildeo administradas pelos oacutergatildeos superiores podem in-terferir negativamente para a entrada e permanecircncia do aluno no Ensino Superior A demora na resoluccedilatildeo dos problemas existentes acaba por desestimular o aluno e interferir em seu desempenho na universidade A longa espera para a resoluccedilatildeo

dos problemas traz um sentimento de solidatildeo para o aluno e muitas vezes ele acaba por resignar-se e aceitar a realidade imposta adequando-se ao que estaacute posto

Sugestotildees

Os trecircs grupos de sujeitos pesquisados apresentaram como sugestotildees i) o investimento em um setor que possa dar suporte para profissionais da Educaccedilatildeo e para o aluno (C1 C2 C3 C7 P1 P7 P18 A2 A7) ii) a importacircncia de identificar o aluno para que haja um conhecimento preacutevio do professor sobre o aluno com deficiecircncia suas caracteriacutesticas de aprendi-zado e suas limitaccedilotildees (C1 P4 P5 A2 A5 A8) iii) a aquisiccedilatildeo de equipamentos e recursos para auxiliar professores e alunos no processo de ensino-aprendizagem e a adequaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico apareceu nas sugestotildees dos professores de um coorde-nador e um aluno (C1 P6 P8 P10 P13 P14 P18 P19 A3) A capacitaccedilatildeo docente a realizaccedilatildeo de seminaacuterios de discussotildees sobre temas pedagoacutegicos e o atendimento ao aluno com de-ficiecircncia apareceu como sugestatildeo dada por coordenadores e professores (C2 C6 C5 C7 P1 P2 P3 P6 P15 P19) As mu-danccedilas nas atitudes e metodologias dos professores e adequa-ccedilatildeo de avaliaccedilotildees agraves especificidades das necessidades de cada aluno apareceram no discurso de professores e alunos (P8 P9 P11 P12 A1 A2 A3 A4 A9) A valorizaccedilatildeo da unidade da coordenaccedilatildeo foi sugerida apenas por um coordenador (C7)

Conclusatildeo

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem eacute um elemento pedagoacutegico que pode auxiliar ou dificultar a inclusatildeo do aluno na instituiccedilatildeo de ensino Para que esta seja inclusiva faz-se necessaacuterio consi-

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derar uma seacuterie de fatores como o conhecimento das necessi-dades educacionais apresentadas pela pessoa com deficiecircncia a adequaccedilatildeo dos instrumentos avaliativos conforme as especi-ficidades do perfil do aluno o uso de uma avaliaccedilatildeo formativa e diagnoacutestica que possibilitem o avanccedilo do conhecimento dis-cente A avaliaccedilatildeo deve ser ainda prospectiva natildeo devendo portanto se limitar agrave verificaccedilatildeo das capacidades adquiridas (BEYER 2005 BRASIL 2005 LUCKESI 2001 2005)

A pesquisa revelou que as condiccedilotildees de acessibilida-de no que diz respeito agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem ainda se encontram insuficientes Embora a maioria dos professores apresente concepccedilotildees sobre a avaliaccedilatildeo desse alunado que es-tejam de acordo com o que propotildee a literatura especializada as praacuteticas ainda natildeo atendem de modo satisfatoacuterio as de-mandas apresentadas pelo aluno que apresente algum tipo de deficiecircncia As dificuldades se referem a uma formaccedilatildeo docen-te inadequada agrave falta de adequaccedilatildeo fiacutesica e agrave ausecircncia de uma maior discussatildeo sobre o tema da Educaccedilatildeo Inclusiva que atin-ja a todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem As sugestotildees apontam para a importacircncia de investimento em recursos materiais e humanos

Diante do exposto a inclusatildeo educacional do aluno com deficiecircncia se torna um desafio visto que as praacuteticas ava-liativas atuais ainda acabam por excluir aqueles alunos que possuem maneiras diferenciadas de aprender e de vivenciar o mundo A realidade observada ainda natildeo reflete a existecircncia de uma verdadeira inclusatildeo do aluno com deficiecircncia na IES investigada Ainda estamos vivenciando praacuteticas que apenas integram o aluno na universidade sem contudo oferecer condiccedilotildees para o seu desenvolvimento pleno A verdadeira inclusatildeo aparece ainda como um grande desafio mas espera-mos que muito em breve ela seja alcanccedilada de modo a pos-

sibilitar a efetivaccedilatildeo do que estaacute previsto por lei e eacute buscado por tantos brasileiros vivenciar de forma plena a cidadania atraveacutes dos direitos jaacute legalmente conquistados

Referecircncias Bibliograacuteficas

BEYER H O Inclusatildeo e avaliaccedilatildeo na escola de alunos com necessidades educacionais especiais Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2005BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988 com as alteraccedilotildees adotadas pelas Emendas Constitucionais n 192 a 532006 e pelas Emendas Constitucionais de Revisatildeo n 1 a 694 Brasiacutelia Senado Federal Subsecretaria de Edi-ccedilotildees Teacutecnicas 2007a______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o Atendimento Educacional Especializado deficiecircncia vi-sual Brasiacutelia-DF MECSEEDSEESP 2007b______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o atendimento educacional especializado deficiecircncia vi-sual Brasiacutelia-DF MECSEESP 2007c______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o Atendimento Educacional Especializado deficiecircncia fiacutesica Brasiacutelia-DF MECSEEDSEESP 2007d______ Avaliaccedilatildeo para identificaccedilatildeo das necessidades edu-cacionais especiais saberes e praacuteticas da inclusatildeo Brasiacutelia-DF MECSEESP 2005 ______ Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional nordm 9394 de 20 de outubro de 1996 Brasiacutelia-DF MECSEESP 2001DEMO P Universidade aprendizagem e avaliaccedilatildeo hori-zontes reconstrutivos Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2008

d 169MARTA CAVALCANTE BENEVIDES bull TANIA VICENTE VIANA168 d

FERNANDES T L G Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo documental das diretrizes oficiais 2010 152 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2010FERNANDES T L G VIANA T V Alunos com necessidades educacionais especiais (NEEs) avaliar para o desenvolvimen-to pleno de suas capacidades Estudos em Avaliaccedilatildeo Educa-cional Satildeo Paulo v 20 n 43 p 201-213 maioago 2009HADJI C Avaliaccedilatildeo desmistificada Porto Alegre Artmed 2001 HOFFMANN J Pontos e contrapontos do pensar ao agir em avaliaccedilatildeo Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2005 LUCKESI C C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem na escola reelabo-rando conceitos e recriando a praacutetica Salvador Malabares 2005______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem escolar Satildeo Paulo Cortez 2001PASCUAL J G Educaccedilatildeo Superior reflexotildees acerca da ava-liaccedilatildeo In PASCUAL J G DIAS A M I (Org) Fragmen-tos Filosofia Sociologia Psicologia o que isso interessa agrave educaccedilatildeo Fortaleza Brasil Tropical 2006 p 175-192PERRENOUD P Avaliaccedilatildeo da excelecircncia agrave regulaccedilatildeo das aprendizagens ndash entre duas loacutegicas Porto Alegre Artmed 1999ROSENTHAL R JACOBSON L Pygmalion in the class-room teacher expectation and pupilrsquos intellectual develop-ment New York Holt Rhinehat amp Winston 1968SASSAKI R K Inclusatildeo o paradigma do seacuteculo 21 Inclu-satildeo Revista da Educaccedilatildeo Especial Brasiacutelia ano I n1 p 19-23 out 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscribdcomdoc35852350Sassaki-R-K-Inclusao-o-paradigma-do--sec-21gt Acesso em 12 fev 2011VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente o desenvolvi-mento dos processos psicoloacutegicos superiores Satildeo Paulo Mar-tins Fontes 1994

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO

DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacute

Francisca Samara Teixeira CarvalhoTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

As praacuteticas avaliativas traduzem o ecircxito ou o fracas-so do aluno em sua aprendizagem atribuindo valores que marcaratildeo significativamente toda a sua trajetoacuteria escolar e mesmo a sua vida pessoal Quando realizadas de forma con-vencional segundo a definiccedilatildeo do exame impedem a mudan-ccedila de uma tradicional e persistente praacutetica pedagoacutegica fun-damentada na memorizaccedilatildeo e na reproduccedilatildeo de conteuacutedo como tambeacutem na relaccedilatildeo distanciada entre professor e aluno regulada por uma autoridade imposta pelo medo O exame se diferencia sobretudo por sua natureza classificatoacuteria e so-mativa direcionada para os resultados finais em detrimento de uma visatildeo processual da aprendizagem (LUCKESI 2001 2005 2011 PERRENOUD 1999)

Com isso a avaliaccedilatildeo formativa se revelou um modelo mais adequado para avaliar os alunos na atualidade por natildeo ser de caraacuteter classificatoacuterio nem pontual Dessa maneira natildeo eacute excludente demonstrando sua importacircncia no processo avaliativo com elementos capazes de responder e respeitar as necessidades limitaccedilotildees e possibilidades de cada aluno acer-ca da sua aprendizagem Tem-se percebido a importacircncia dos modelos que propotildeem uma avaliaccedilatildeo formativa de aspecto contiacutenuo considerando a construccedilatildeo individual e coletiva do

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FORTALEZA-CEARAacuteFRANCISCA SAMARA TEIXEIRA CARVALHO bull TANIA VICENTE VIANA170 d d 171

educando oferecendo-lhe apoio pedagoacutegico adequado agraves suas particularidades especialmente em termos de aprendizagem desafiando-o a ir adiante a avanccedilar em suas possibilidades nas atividades escolares auxiliando assim em sua formaccedilatildeo como sujeito

Diante dessa realidade tambeacutem vivenciada por alunos com deficiecircncia nos meios educacionais o exame demonstra um caraacuteter comparativo excludente e discriminatoacuterio em que a praacutetica avaliativa tradicional se limita agrave classificaccedilatildeo e agrave iden-tificaccedilatildeo das dificuldades e fragilidades desses alunos Por cau-sa disso esses aprendizes enfrentam mais uma dificuldade em suas vidas a de encontrar um ambiente educacional propiacutecio ao desenvolvimento de suas capacidades visto que apresen-tam modos singulares de aprender de acordo com as especifi-cidades de seu perfil (BEYER 2010 VYGOTSKY 2000)

A realidade avaliativa encontrada no Ensino Superior acaba por prejudicar de uma forma geral o desenvolvimen-to dos alunos principalmente aqueles com algum tipo de de-ficiecircncia visto que objetiva de modo geral uma verificaccedilatildeo estaacutetica do seu ldquosucessordquo ou ldquofracassordquo escolar com base no desempenho acadecircmico expresso pelo valor numeacuterico de uma nota Nesse contexto o aluno com deficiecircncia eacute frequente-mente excluiacutedo das atividades cotidianas estigmatizado e impedido da convivecircncia social agrave qual possui direito A uni-versidade tem que estar atenta ao conhecimento e agrave aprendi-zagem dos alunos com deficiecircncia no intuito de favorecer no-vas perspectivas para a melhor formaccedilatildeo desse alunado Aleacutem disso eacute necessaacuterio contribuir para a sua devida inclusatildeo no Ensino Superior pois a universidade deve formar natildeo soacute para o mercado de trabalho mas sobretudo para uma consciecircncia criacutetica e o exerciacutecio da cidadania (DEMO 2005)

A Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem como Mediadora da Inclusatildeo no Ensino Superior

A Pedagogia do Exame se fundamenta na Pedagogia Tradicional A praacutetica do exame ainda se encontra presente nos nossos meios educacionais priorizando notas em detri-mento da real aprendizagem do aluno Prejudica portan-to o desenvolvimento dos alunos de forma geral e provoca consequecircncias mais graves nos estudantes que apresentam algum tipo de deficiecircncia Essa realidade natildeo permite ao aluno com deficiecircncia encontrar no ambiente de ensino um local para o desenvolvimento das suas potencialidades Apesar de solicitarem intervenccedilotildees pedagoacutegicas diferencia-das capazes de atender suas necessidades e de promover o desenvolvimento das suas capacidades o aluno com defi-ciecircncia se depara com uma realidade de ensino e avaliaccedilatildeo que se limita agrave classificaccedilatildeo normativa1 e agrave identificaccedilatildeo das suas limitaccedilotildees e dificuldades (BENEVIDES 2011 BEYER 2010 LUCKESI 2011)

Beyer (2010) aponta a existecircncia de cinco paradigmas na Educaccedilatildeo Especial que refletem diretamente no mode-lo de avaliaccedilatildeo adotado Cumpre mencionar que a sucessatildeo desses paradigmas natildeo eacute linear pois mesmo o mais antigo baseado na concepccedilatildeo meacutedica da deficiecircncia ainda persiste em permanecer Na reflexatildeo do autor os paradigmas identi-ficados satildeo I) cliacutenico-meacutedico II) sistecircmico III) socioloacutegico IV) criacutetico-materialista e V) inclusivo Esses pontos de vista foram construiacutedos historicamente pela sociedade e a forma de avaliar as pessoas com deficiecircncia estaacute atrelada a eles

1 Uma avaliaccedilatildeo de referecircncia normativa compara os alunos em relaccedilatildeo a uma norma ou padratildeo hierarquizando-os e assim reproduz as desigualdades sociais (PERRENOUD 1999)

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O paradigma cliacutenico-meacutedico enfoca a pessoa com defi-ciecircncia de maneira extremamente individualizada A praacutetica da avaliaccedilatildeo ocorre atraveacutes de aspectos cliacutenicos da deficiecircncia A partir da histoacuteria cliacutenica do sujeito eacute indicada uma escola espe-cial onde o indiviacuteduo obteraacute atendimento terapecircutico em vez de accedilatildeo pedagoacutegica especializada No paradigma sistecircmico a deficiecircncia eacute avaliada por meio de demandas impostas pelo sis-tema escolar no que diz respeito ao curriacuteculo o paracircmetro nor-mativo que eacute estabelecido identifica os que natildeo se adaptam Os procedimentos avaliativos satildeo seletivos e encaminham o aluno avaliado para a escola regular ou para a especial

No paradigma socioloacutegico a deficiecircncia eacute definida atraveacutes da atribuiccedilatildeo social em que as reaccedilotildees do grupo po-dem prejudicar (pela incompreensatildeo ou preconceito) ou faci-litar (pela compreensatildeo ou empatia) o desenvolvimento glo-bal do indiviacuteduo O paradigma criacutetico-materialista entende a deficiecircncia como uma limitaccedilatildeo ou ateacute uma incapacidade para a vida produtiva por se fundamentar numa sociedade de classes a avaliaccedilatildeo torna-se um modo efetivo de excluir a pessoa com deficiecircncia natildeo apenas do meio educacional mas sobretudo do mercado de trabalho (BEYER 2010)

O paradigma inclusivo eacute muito discutido atualmente pois visa amenizar e mesmo superar a segregaccedilatildeo e o precon-ceito estabelecidos historicamente possibilitando uma maior interaccedilatildeo social entre as pessoas com deficiecircncia A avaliaccedilatildeo da aprendizagem pode contribuir no sentido de incentivar essa interaccedilatildeo progredindo da visatildeo cliacutenico-meacutedica para a concepccedilatildeo inclusiva considerando natildeo somente os limites demarcados pela deficiecircncia mas principalmente as poten-cialidades do indiviacuteduo

As avaliaccedilotildees da aprendizagem devem sempre conside-rar a situaccedilatildeo vivenciada pelo aluno com deficiecircncia para que

o professor possa propor atividades avaliativas adequadas e contextualizadas Cabe ao docente o papel de considerar a avaliaccedilatildeo tendo como base o curriacuteculo regular respeitando o caraacuteter processual da aprendizagem de modo a permitir alteraccedilotildees nas tomadas de decisatildeo As comparaccedilotildees entre os alunos devem ser evitadas mesmo que possuam deficiecircncia similar pois cada pessoa eacute uacutenica O estudante deve ser com-parado consigo mesmo com a evoluccedilatildeo de suas produccedilotildees e atitudes ao longo do seu desenvolvimento (BEYER 2010 FERNANDES 2010)

No que diz respeito agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alu-nos com deficiecircncia recomenda-se oficialmente I) mediaccedilotildees complementares oferecidas em salas de recursos ou similares para alunos com deficiecircncia em turmas comuns II) a presenccedila em sala de aula de inteacuterpretes da Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) para surdos III) o uso de proacuteteses auditivas sempre que necessaacuterias ou de lupas para alunos com visatildeo subnormal IV) o ensino da Libras para alunos surdos e para surdos-cegos das liacutenguas de sinais digitais tadoma2 e outras teacutecnicas V) o uso de computadores se houver e a acessibilidade a estes para todos os alunos VI) a participaccedilatildeo (frequecircncia e condiccedilotildees de apoio) de profissionais da Educaccedilatildeo Especial como especia-listas em meacutetodos e recursos especiacuteficos para ajudar a alunos professores e familiares VII) diversidade de materiais VIII) utilizaccedilatildeo pelo professor de variados recursos pedagoacutegicos IX) planos elaborados flexiacuteveis para atender agrave diversidade do alunado X) respeito aos ritmos diferenciados de aprendi-

2 ldquoOs surdos-cegos possuem diversas formas para se comunicar com as outras pessoas A LIBRAS Liacutengua Brasileira de Sinais desenvolvida para a educaccedilatildeo dos portadores de deficiecircncia auditiva pode ser adaptada aos surdos-cegos utilizando-se o tato Colocando a matildeo sobre a boca e o pescoccedilo de um inteacuterprete o portador de surdo-cegueira pode sentir a vibraccedilatildeo de sua voz e entender o que estaacute sendo dito esse meacutetodo de comunicaccedilatildeo eacute chamado de tadomardquo (USP 2012)

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FORTALEZA-CEARAacuteFRANCISCA SAMARA TEIXEIRA CARVALHO bull TANIA VICENTE VIANA174 d d 175

zagem dos alunos XI) ajuda individualizada a determinados aprendizes conforme suas necessidades pedagoacutegicas XII) utilizaccedilatildeo de linguagens e coacutedigos aplicaacuteveis para estudantes que apresentem dificuldades de comunicaccedilatildeo e sinalizaccedilatildeo di-ferenciadas dos demais alunos XIII) avaliaccedilatildeo por meio de vaacute-rias tarefas em diferentes contextos XIV) avaliaccedilatildeo da praacutetica docente pelos educandos XV) a participaccedilatildeo dos alunos em processos autoavaliativos (BRASIL 2006)

A universidade precisa acolher e cumprir o objetivo de educar os alunos com deficiecircncia adaptando-se agraves suas pe-culiaridades no campo da aprendizagem Deve-se lutar por-tanto para a conquista de uma nova cultura avaliativa mais democraacutetica para com a diversidade cultural e com as neces-sidades individuais presentes nas instituiccedilotildees de ensino apta a estimular as possibilidades do aluno em seu processo de apropriaccedilatildeo dos conhecimentos A avaliaccedilatildeo realizada nesses moldes torna-se inclusiva (FERNANDES VIANA 2009)

Metodologia O objetivo geral deste estudo consistiu em investigar a

praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem realizada junto aos alu-nos com deficiecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do Centro de Tecnologia de uma Instituiccedilatildeo Federal de Ensino Superior (IFES) da rede puacuteblica federal de ensino na cidade de Fortaleza-Cearaacute Especificamente ob-jetivou I) conhecer as dificuldades vivenciadas por alunos professores e coordenadores da IFES na avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem de alunos com deficiecircncia II) identificar as condiccedilotildees de acessibilidade referentes agraves praacuteticas avaliativas III) reunir contribuiccedilotildees de alunos professores e coordenadores da IFES para uma praacutetica inclusiva de avaliaccedilatildeo de aprendizagem

Para esse propoacutesito foi efetuada uma investigaccedilatildeo de natureza qualitativa na forma de um estudo de caso Os ins-trumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevis-ta semiestruturada e o questionaacuterio misto Foi realizada uma anaacutelise de conteuacutedo dos dados coletados As amostras foram constituiacutedas por sete alunos com deficiecircncia sete professores indicados pelos proacuteprios alunos e quatro coordenadores per-fazendo um total de 18 sujeitos investigados

Na Tabela 1 eacute caracterizada a amostra dos alunos inves-tigados Foram encontrados trecircs tipos de deficiecircncia auditi-va visual e motora

TABELA 1 ndash Distribuiccedilatildeo dos Tipos de Deficiecircncias dos Alunos

Frequecircncia Percentual PercentualAcumulado

Vaacutelido Auditiva 1 143 143

Visual 2 286 857

Motora 4 571 1000

Total 7 1000Fonte Pesquisa aplicada

Os cursos atendidos na pesquisa foram graduaccedilatildeo em Computaccedilatildeo Engenharia Mecacircnica Teleinformaacutetica e curso de mestrado em Quiacutemica A escolha dos alunos de Ciecircncias Exatas tornou viaacutevel a pesquisa visto que a IFES apresentava registros que possibilitaram a sua identificaccedilatildeo e o respectivo contato

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Anaacutelise dos Dados

Perfil de formaccedilatildeo dos entrevistados docentes e coordenadores

Sobre o niacutevel de instruccedilatildeo dos sete docentes consulta-dos seis apresentam doutorado e um possui poacutes-doutorado Todos os professores e coordenadores investigados apresen-tam portanto niacutevel de qualificaccedilatildeo profissional bastante ele-vado A realidade encontrada na instituiccedilatildeo pesquisada estaacute em consonacircncia com o que afirma Hoffmann (2005) sobre a realidade das IFES brasileiras em que se observa a existecircn-cia de educadores com bastante competecircncia em sua aacuterea de ensino A autora assinala contudo que esse elevado niacutevel de formaccedilatildeo natildeo eacute necessariamente acompanhado de uma base pedagoacutegica apropriada que favoreceria uma melhor atuaccedilatildeo docente no processo de ensino-aprendizagem especialmente no que se refere agrave avaliaccedilatildeo

Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia

De acordo com os dados obtidos no questionaacuterio para a maioria dos professores a avaliaccedilatildeo da aprendizagem do alu-no com deficiecircncia deve apresentar as seguintes caracteriacutesti-cas I) ser igual para todos alunos com e sem deficiecircncia II) abordar o mesmo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade III) apresentar adaptaccedilotildees conforme a deficiecircn-cia IV) natildeo dispor de um tempo maior para o aluno com defi-ciecircncia e V) acontecer em sala de aula

Sobre a avaliaccedilatildeo da aprendizagem da pessoa com defici-ecircncia observou-se que a maioria dos professores (seis) advoga uma avaliaccedilatildeo igual para todos os alunos com ou sem defici-ecircncia A mesma quantidade de docentes se apresenta favoraacutevel

em relaccedilatildeo agrave abordagem do mesmo conteuacutedo com o mesmo niacute-vel de dificuldade para todos os alunos No que concerne agrave ava-liaccedilatildeo com adaptaccedilotildees conforme a deficiecircncia cinco professo-res se mostraram favoraacuteveis Em relaccedilatildeo agrave necessidade de um maior tempo para a realizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo a maioria (cinco) mostrou-se desfavoraacutevel Por fim a maior parte acredita que o aluno com deficiecircncia deve ser avaliado em sala de aula (seis)

A maior parte dos professores pelos dados expostos entende a avaliaccedilatildeo do aluno com deficiecircncia em consonacircncia com o que eacute proposto pela literatura especializada em que de-vem ser realizadas adequaccedilotildees nos instrumentos avaliativos conforme a deficiecircncia apresentada pelo aluno com o mes-mo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade em sala de aula junto aos demais alunos Todavia no que se refere agrave concessatildeo de um maior periacuteodo de tempo para a re-alizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo a maioria dos professores acha natildeo ser necessaacuteria provavelmente por falta de conhecimento sobre como lidar com o aluno com deficiecircncia em suas praacuteticas de ensino e avaliaccedilatildeo O direito a mais tempo para a avaliaccedilatildeo da aprendizagem eacute assegurado por lei (BEYER 2010 BRASIL 2006 FERNANDES 2010 FERNANDES VIANA 2009)

Sobre as demandas apresentadas pelo aluno com de-ficiecircncia em cursos de Ciecircncias Exatas os coordenadores declararam

Ateacute agora natildeo pelo menos ateacute o tempo que estou aqui natildeo posso dizer se antes isso acontecia Teve um caso de uns pais que vieram reclamar da parte da acessi-bilidade aqui no departamento (C1)Isso aiacute a maioria das vezes o aluno resolve com o pro-fessor A nossa demanda e o nosso alunado que entra com algum tipo de deficiecircncia eacute pouco e agraves vezes natildeo temos conhecimento (C2)

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Bom noacutes aqui temos poucos nesse periacuteodo que estou aqui nunca recebi nenhuma solicitaccedilatildeo especial Tive um aluno no comeccedilo do curso que tem deficiecircncia fiacutesica dificuldade de locomoccedilatildeo ele se vira ele anda normal-mente tem muletas e tudo Mas ele nunca chegou pra noacutes para questionar fazer algum tipo de solicitaccedilatildeo pra isso natildeo Natildeo sei se ele tem algum tipo de retraccedilatildeo pra fazer isso Tambeacutem aqui estaacute tudo em obra Mas ateacute hoje natildeo teve nenhum solicitaccedilatildeo em especial natildeo (C3)Natildeo Ateacute agora que eu saiba nenhum veio natildeo (C4)

Constata-se por conseguinte um desconhecimento por parte dos coordenadores das necessidades educacionais desse alunado Percebe-se igualmente a concepccedilatildeo de que esse aluno eacute de responsabilidade do professor e natildeo do co-ordenador A porcentagem reduzida quando comparada ao restante da populaccedilatildeo do curso aparece como justificativa para a falta de mais accedilotildees da coordenaccedilatildeo As relaccedilotildees entre coordenador e aluno constituem um fator importante para a motivaccedilatildeo discente bem como para a busca de novos elemen-tos para a inclusatildeo dos alunos com deficiecircncia Aleacutem disso na ausecircncia de um bom relacionamento a sua inclusatildeo educacio-nal eacute prejudicada (BENEVIDES 2011)

No que diz respeito a uma avaliaccedilatildeo diferenciada os es-tudantes esclarecem

Natildeo Eles natildeo percebem isso os professores natildeo dife-renciam natildeo se importam Mas acho que teve uma vez uma de laboratoacuterio que a gente tem umas disci-plinas praacuteticas era uma prova que teria um tempo por conta da substacircncia que demorava e eu precisava de um tempo a mais Geralmente em laboratoacuterio eu demoro mais aiacute ela considerou permitiu que eu pas-sasse um tempo a mais Mas foi soacute essa vez mesmo (A1)Eacute exatamente como eu citei natildeo Eu acho que no geral satildeo as mesmas condiccedilotildees de tempo as mesmas con-

diccedilotildees de textos Enfim as mesmas condiccedilotildees que satildeo impostas pras pessoas consideradas lsquonormaisrsquo eram impostas pra mim tambeacutem as mesmas condiccedilotildees (A2)Natildeo Normal mesmo Mesmo horaacuterio mesmo tempo mudou nada natildeo (A3)

Natildeo De jeito nenhum nunca Natildeo perguntam nada os professores nem percebem (A4)

Natildeo Nunca ouvi falar nisso aqui na universidade Nem tempo e nem espaccedilo tudo igual para um aluno lsquonormalrsquo (A5)

A prova eacute a mesma Com relaccedilatildeo agrave acessibilidade eacute que eacute difiacutecil mesmo porque tem professor que natildeo atende ao pedido muda de sala pra uma mais confortaacutevel pros outros alunos E como eu natildeo posso subir entatildeo tenho que ficar soacute em uma sala aqui em baixo sem poder ter nenhum duacutevida (A6)

Alguns professores chegaram a imprimir provas com letras maiores pra mim a maioria natildeo quer ter esse trabalho Quando natildeo fazem eu me esforccedilo pra fazer a prova forccedilo mais a vista eacute cansativo mas eu jaacute acostumei sei fazer assim mesmo Mas se fosse maior seria melhor menos cansativo Agora com relaccedilatildeo a tempo natildeo eles natildeo datildeo (A7)

Os discursos dos estudantes revelam que qualquer di-ferenciaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo de modo a atender agraves necessidades educacionais do aluno com deficiecircncia depende sobretudo da boa vontade do professor Os educadores ignoram por-tanto a legislaccedilatildeo nacional para esse alunado que assegu-ra a adaptaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo bem como a concessatildeo de um maior periacuteodo de tempo para sua realizaccedilatildeo (BRASIL 2006 FERNANDES 2010)

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Dificuldades vivenciadas nas praacuteticas avaliativas para o aluno com deficiecircncia

Sobre a dificuldade que o professor encontra para ava-

liar o aluno com deficiecircncia no Ensino Superior a maioria (cinco) declarou natildeo encontrar dificuldades justificando que esse estudante eacute tratado como os demais alunos da turma Apenas dois professores consultados identificaram a necessi-dade de modificar a didaacutetica das aulas ou a forma de avaliaccedilatildeo em virtude da deficiecircncia apresentada pelo aluno

Os coordenadores dos cursos tambeacutem se posicionaram acerca das dificuldades encontradas em relaccedilatildeo ao aluno com deficiecircncia no Ensino Superior

[] fica estranho vocecirc conversar com o aluno sendo que vocecirc natildeo tem soluccedilatildeo para o problema dele O que a gente busca eacute uma compreensatildeo mas isso natildeo eacute soluccedilatildeo Os alunos quando tecircm deficiecircncia o profes-sor desce e vai falar com eles no teacuterreo Mas isso natildeo eacute soluccedilatildeo eacute um paliativo e corre o risco de criar um comodismo de achar que estaacute resolvendo o problema e natildeo precisa (C1)

Bom a gente tem que ver Vai depender da deficiecircncia do aluno Se for deficiecircncia visual eacute ateacute complicado o curso pra quem tem esse problema Tem curso que o aluno com deficiecircncia visual consegue ter um desem-penho mas na Quiacutemica que tem muita coisa praacutetica de laboratoacuterio isso aiacute eacute uma coisa criacutetica que a coor-denaccedilatildeo pode orientar o aluno na sua escolha do curso vendo suas habilidades o que se sabe fazer (C2)

[] Natildeo estamos encontrando dificuldades porque natildeo estamos nos colocando a esse problema particularmen-te entendeu Natildeo estamos procurando dificuldades porque ainda natildeo estamos buscando o problema Talvez por ter uma necessidade pequena enfim (C3)

Natildeo Natildeo tem dificuldade natildeo tem necessidade natildeo houve necessidade (C4)

A indiferenccedila da coordenaccedilatildeo a escassez de acessibi-lidade fiacutesica e principalmente a falta de uma formaccedilatildeo ade-quada para lidar com alunos com deficiecircncia apresentou-se como elemento comum de atitudes apresentadas pelos coor-denadores Na situaccedilatildeo encontrada na instituiccedilatildeo investigada percebemos a predominacircncia do paradigma socioloacutegico da deficiecircncia em que as reaccedilotildees do grupo podem facilitar pela empatia ou prejudicar pelo preconceito ou incompreensatildeo o desenvolvimento global do indiviacuteduo E a atitude empaacutetica e compreensiva constitui uma exceccedilatildeo restrita a uma mino-ria de professores que trabalha diretamente com esses alunos (BEYER 2005)

Os alunos por sua vez relatam as suas proacuteprias dificul-dades no processo avaliativo

As dificuldades das mateacuterias do retorno das avalia-ccedilotildees que precisava melhorar com certa urgecircncia do preconceito dos professores e falta de atenccedilatildeo dos coordenadores tambeacutem com relaccedilatildeo aos acessos para as salas de aulas laboratoacuterios (A1)

Eacute uma coisa que eu volto a bater na mesma tecla dizer a mesma coisa Eacute que alguns passos das questotildees quan-do eu simplesmente natildeo sabia fazer porque natildeo tinha conseguido acompanhar em sala natildeo tinha conseguido enxergar na hora que o professor explicou Haacute uma espeacutecie de esquecimento uma amneacutesia nos professores que eles quando eu peccedilo comeccedilam a escrever bem mas logo depois voltam a escrever pequeno novamente E eu de tanto falar e muitas vezes com o mesmo profes-sor eu me sinto sinceramente me sinto constrangido e agraves vezes eu natildeo falo mais Eu me sinto constrangido e agraves vezes meus pais falam pra mim que eu natildeo posso fazer isso Mas eu ouvi desaforos algumas coisas ruins

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palavras ruins e isso faz com que eu me sinta constran-gido em pedir de novo Alguns tecircm atenccedilatildeo fazem o possiacutevel mas justificam por causa da infraestrutura da sala Conteuacutedo extenso quando eu ia copiar jaacute ti-nha sido apagado infelizmente A coordenaccedilatildeo ajuda pouco ateacute a sala da coordenaccedilatildeo eacute no andar superior os professores natildeo escutam e natildeo tem acessibilidade nenhuma aqui nada Estamos esquecidos (A2)

O que complica eacute a falta de retorno correccedilotildees notas baixas excesso de conteuacutedo o acesso aqui eacute horriacutevel e se chegar atrasado por isso pelo acesso lsquojaacute erarsquo Eles aqui natildeo entendem de dificuldades Eu jaacute estou acostumando (A3)

Tempo geralmente o tempo mesmo que coloque uma questatildeo mas agraves vezes essa questatildeo pode levar seis horas pra fazer Eles podem estabelecer um prazo de 1620h as 1820h pronto nem mais nem menos Os professores natildeo se interessam pras dificuldades nem conhecem a gente Isso dificulta (A4)

Esse caso de fazer prova em local diferente de ter que subir escadas e eu natildeo podendo natildeo tenho como subir natildeo existem rampas pro andar de cima O professor querer mudar de sala pra fazer a prova e eu ficar longe da turma Tudo isso pra ser mais confortaacutevel pra eles uma sala melhor e eu aqui embaixo sozinho sem ter com quem tirar duacutevidas e muitas vezes ficar com o celular pra falar com algum colega pra ele passar ao professor pra eu tirar duacutevidas e natildeo me prejudicar Acontece de eu cair e precisar de ajuda dos colegas tambeacutem pra sentar e levantar A estrutura aqui eacute ruim mesmo (A6)

O depoimento dos alunos remete sobretudo a uma criacute-tica do exame Haacute referecircncias a uma relaccedilatildeo de poder em que os meacutetodos de ensino e de avaliaccedilatildeo natildeo podem ser mudados com a falta de adaptaccedilotildees dos instrumentos de avaliaccedilatildeo para as necessidades educacionais especiacuteficas de cada deficiecircncia direito garantido por lei (BENEVIDES 2011 BEYER 2010

FERNANDES 2010 FERNANDES VIANA 2009 LUCKESI 2001 2005 2011)

Os dados oferecidos pelos alunos consultados revelam a inexistecircncia de discussotildees dos aspectos positivos e negati-vos na devoluccedilatildeo dos instrumentos pois os professores de modo geral natildeo devolvem a avaliaccedilatildeo tampouco a comen-tam configurando uma praacutetica avaliativa em que se enfatiza a obtenccedilatildeo de notas natildeo dando oportunidade agrave construccedilatildeo de novos conhecimentos O momento de devoluccedilatildeo dos instru-mentos constitui um momento de aprendizado para o aluno permitindo ao professor observar e investigar como o alu-no se posiciona diante do processo de ensino-aprendizagem (HOFFMANN 2005 LUCKESI 2001 2005 2011)

Essa perspectiva se distancia da avaliaccedilatildeo em sua con-cepccedilatildeo formativa visto que o instrumento avaliativo natildeo eacute usado pelos professores como recurso de informaccedilatildeo nem pode servir como um recurso para reformulaccedilotildees dos meacuteto-dos de ensino e avaliaccedilatildeo Cumpre mencionar igualmente que no Ensino Superior a avaliaccedilatildeo deve ter o compromisso com a reconstruccedilatildeo do conhecimento e a formaccedilatildeo para cida-dania (DEMO 2004 HADJI 2001 LUCKESI 2005 2011)

Contribuiccedilotildees para uma praacutetica avaliativa inclusiva

Sobre as sugestotildees para melhoria da praacutetica avaliativa cinco professores identificaram a necessidade de uma forma-ccedilatildeo sobre a temaacutetica e dois sugeriram a realizaccedilatildeo de seminaacute-rios isolados ou no curso que a instituiccedilatildeo de Ensino Superior pesquisada oferece por ocasiatildeo do ingresso do professor na instituiccedilatildeo

Os docentes indicaram a importacircncia de uma forma-ccedilatildeo baacutesica eou continuada dos profissionais envolvidos para

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a concretizaccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo adequada a esse alunado Identificar os alunos suas necessidades e suas singularidades satildeo tambeacutem aspectos importantes assim como a promoccedilatildeo de espaccedilos para o debate sobre avaliaccedilatildeo e inclusatildeo revelando que a falta de preparo se mostra o principal obstaacuteculo para a concretizaccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo inclusiva (BENEVIDES 2011)

Os coordenadores tambeacutem expressaram suas sugestotildees para esse alunado

Os preacutedios novos sem acesso com os mesmos proble-mas sem estrutura A universidade natildeo tem priorida-des soacute obstaacuteculos para trabalhar com as deficiecircncias O uacutenico auditoacuterio eacute no andar de cima E tem alunos de extensatildeo [que participam de projetos de extensatildeo da universidade] que tecircm deficiecircncia que natildeo conseguem subir pra ter orientaccedilatildeo com o professor e natildeo tecircm essa orientaccedilatildeo pois o professor natildeo desce e o aluno com problemas motores natildeo sobe Deve-se mudar isso (C1)

Deve melhorar a acessibilidade Natildeo sei nem como eacute que faz isso soacute estou pensando alto aqui Seria bom atualizar o sistema pra buscar na coordenaccedilatildeo alunos com deficiecircncia pois acabei de ver que eu natildeo tenho acesso nenhum Tambeacutem ajudar o aluno com defici-ecircncia a ser encaminhado para um curso especiacutefico jaacute que por exemplo como um aluno cego iraacute estudar Quiacutemica Laboratoacuterio Impossiacutevel (C2)

Eu natildeo sei a gente tem primeiro que conhecer a primeira sugestatildeo eacute essa Tem que pegar o pessoal do primeiro ano o pessoal que entra e fazer esse mapeamento um mapeamento retroativo pra pegar o pessoal que jaacute estaacute na universidade os alunos que jaacute fazem parte do corpo discente e mapear Se jaacute existe esse mapeamento eu natildeo conheccedilo talvez a univer-sidade deva conhecer e tem que repassar fazer com que a informaccedilatildeo chegue ateacute noacutes Porque se haacute essa informaccedilatildeo e a gente natildeo sabe que existe tem uma falta de comunicaccedilatildeo que deve ser superada Entatildeo

deve-se conhecer e se jaacute conhece fazer todo mundo conhecer e mapear a quem interessar as coordenaccedilotildees os departamentos Eu acho que esse eacute o ponto (C3)

Eu acho que deveria ter um levantamento jaacute na entrada do SISU [Sistema de Seleccedilatildeo Unificada] e ali ele ser cadastrado pra universidade e ele ter um encaminha-mento para um curso bem especiacutefico A partir disso o curso ser informado ser preparado pra isso ser dis-cutido o que seraacute necessaacuterio ser feito por aquele aluno e uma vez isso determinado a gente tentar resolver Eu penso que funcionaria legal assim (C4)

Os coordenadores relataram que deveria haver mais in-vestimentos estruturais com relaccedilatildeo agrave acessibilidade por par-te da instituiccedilatildeo com a adequaccedilatildeo dos espaccedilos fiacutesicos Assi-nalaram da mesma forma a necessidade de identificaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia visto que a ausecircncia de informaccedilotildees sobre onde estatildeo e o que curso fazem esses alunos na impossi-bilita o atendimento educacional adequado

Os alunos com deficiecircncia tambeacutem expuseram suas sugestotildees

Acho que as primeiras vezes que me senti discriminado foi aqui Que os professores natildeo faccedilam preacute-julgamen-tos como trabalhar em laboratoacuterios Muitos falaram que eu natildeo podia mas passei em seleccedilatildeo e natildeo fiquei por conta da minha deficiecircncia fiacutesica Isso me faz questionar sobre minhas capacidades e se realmente eu continuaria a fazer Quiacutemica se faria Quiacutemica Tem que acabar com os preconceitos com as pessoas diferentes como um professor meu que disse na aula dele na minha presenccedila que as pessoas poderiam olhar com quem iriam se relacionar se a pessoas tecircm algum aleijado hemofiacutelico ou homossexual na famiacutelia pra natildeo se relacionarem pra que natildeo nasccedila mais gente assim [] Tambeacutem com relaccedilatildeo agrave acessibilidade pois a aacuterea que escolhi no mestrado o laboratoacuterio natildeo tem

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acesso com relaccedilatildeo agrave estrutura Eu faccedilo o trabalho soacute de escrever em casa outros alunos que fizessem a parte experimental porque o laboratoacuterio daqui pra chegar laacute eacute um caminho de terra de pedra Ultimamente teve umas mudanccedilas mas estaacute no segundo andar que eacute mesmo que nada Aiacute acabo desenvolvendo um trabalho soacute escrevendo mesmo mas eacute difiacutecil porque eacute diferente vocecirc acompanhar um trabalho assim soacute de boca e vocecirc estar no laboratoacuterio realmente vendo o que estaacute acontecendo Sinto falta Ateacute penso que chato Seraacute que natildeo devia ter escolhido outra aacuterea Mas eu gosto bastante e queria estar em laboratoacuterio Enfim foram situaccedilotildees muito chatas que natildeo deveriam acontecer na universidade pois os professores e coordenadores estatildeo utilizando um espaccedilo que era pra educar e natildeo para deseducar Natildeo era pra ensinar preconceitos para as pessoas discriminaccedilatildeo e o que eu acho pior eacute usar o espaccedilo da sala de aula pra isso um cargo puacuteblico pra isso Eacute um absurdo (A1)

Primeiramente um dos principais passos deveria ser o professor ele conhecer a sua turma Natildeo saber de tudo antes mas que tivesse certo bom senso quando o aluno tem deficiecircncia Ele natildeo julgar essa deficiecircncia mesmo que seja baixa visatildeo ou pouca deficiecircncia mo-tora O professor natildeo deve arredondar pra menos o problema sem tomar cuidado Tomar cuidado em natildeo generalizar Mas eacute o que eu vejo na universidade eacute natildeo prestarem a atenccedilatildeo nas necessidades dos seus alunos [] No mais eacute isso atentar para as reais necessidades das pessoas (A2)

Tirar esses batentes das salas Os professores me deixam ficar em qualquer lugar da sala fico onde daacute muitas vezes perto da porta e acaba atrapalhando a entrada e agraves vezes natildeo escuto direito Pra mim (sic) entrar e sair da sala preciso que abram a porta Jaacute me falavam dessas dificuldades antes de eu entrar aqui mas com a ajuda dos amigos neacute Que me levam pros cantos Aiacute como tem batentes nas salas eles levantam

os amigos ajudam muito nisso no deslocamento Mas vivo de precisar da ajuda dos amigos pois estar aqui na universidade eacute muito difiacutecil A universidade deveria nos ajudar e natildeo excluir (A3)

A avaliaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave minha deficiecircncia seria falar alto e explicado pra eu escutar na explicaccedilatildeo ser mais devagar e clara Porque se o professor fala baixo eu fico com receio de perguntar de novo Per-guntar e o pessoal zoar Tem um professor ou soacute 1 que eacute preocupado com a aprendizagem do aluno o resto eacute indiferente Agraves vezes estamos presente em sala e levamos falta Acho que o professor dever escolher ser professor natildeo pra se vingar do que fizeram ou do que ele passou porque ele tem que escolher pra repassar o conhecimento O conhecimento natildeo deve ser restrito ele deve ser partilhado Partilhar e natildeo restringir e natildeo exigir o que ele restringiu (A4)

Fazer provas trabalhos junto com a turma sem que eu fique soacute Antes de o professor marcar locais de aulas de provas eles conversarem com a gente pra saber se estaacute tudo bem se a gente pode fazer ou entatildeo ele fornecer locais possiacuteveis pra gente ter acesso e natildeo soacute local que decirc pra toda a turma mas tambeacutem pra gente ir Outra questatildeo eacute de acessar os andares superiores um elevador seria essencial pra isso pois a cada ano estaacute se passando e as pessoas com deficiecircncia estatildeo ingressando na universidade com frequecircncia Entatildeo jaacute estaacute mais que na hora de se fazer isso Sou bolsista de extensatildeo mas tenho dificuldades de me encontrar com o orientador pois a sala do orientador fica no andar de cima no qual natildeo tenho acesso e o orientador natildeo desce e natildeo facilita o meu trabalho como bolsista Injusto neacute (A6)

Quanto agraves avaliaccedilotildees a questatildeo de aumentar a letra o tempo O resto eu estou acostumado Aqui falta tudo natildeo tem acesso a nada tudo eacute bem difiacutecil as pessoas natildeo querem conhecer problemas Eles deveriam ter

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mais atenccedilatildeo e menos descaso com o aluno com rela-ccedilatildeo a acesso avaliaccedilotildees Conhecer que na sala nem todo mundo eacute igual e sermos respeitados por isso (A7)

Os alunos entrevistados sugeriram a necessidade de sua proacutepria identificaccedilatildeo e de seu acompanhamento na ins-tituiccedilatildeo ndash visto que a ausecircncia de informaccedilotildees sobre onde es-tatildeo e o que fazem dificulta a sua inclusatildeo educacional Que o professor possa com essas informaccedilotildees planejar-se sabendo das necessidades especiacuteficas do aluno ou pelo menos que procure conversar com os alunos As dificuldades de acessi-bilidade fiacutesica tambeacutem aparecem no discurso dos estudantes geralmente natildeo tecircm acesso a todas as dependecircncias dos preacute-dios da universidade A indiferenccedila e o preconceito de alguns professores causam grandes impactos na aprendizagem do aluno desmotivando-os levando-os a questionarem a esco-lha do curso e ameaccedilando a sua permanecircncia na universida-de Em relaccedilatildeo ao preconceito foi expresso que o professor na condiccedilatildeo de educador natildeo deveria possuir preconceito e sequer repassaacute-los em sala de aula mesmo que de forma natildeo intencional No paradigma socioloacutegico Beyer (2010) escla-rece o quanto o preconceito eacute prejudicial agrave inclusatildeo social e educacional dos alunos com deficiecircncia de maneira geral e na avaliaccedilatildeo de sua aprendizagem especificamente

Conclusatildeo

Uma avaliaccedilatildeo da aprendizagem inclusiva para o aluno com deficiecircncia tem se mostrado historicamente um desafio Mesmo nos dias atuais os atos avaliativos satildeo fortemente in-fluenciados pelas antigas praacuteticas examinativas que apresen-tam dificuldade expressiva em se desvencilharem de elemen-tos como a medida a comparaccedilatildeo e a verificaccedilatildeo estaacutetica do

desempenho dos aprendizes classificados em uma nota Essa forma de avaliar eacute prejudicial para todos os alunos mas em especial para o alunado com deficiecircncia excluiacutedo por causa da singularidade de suas necessidades educacionais (BEYER 2004 LIMA 2008 LUCKESI 2011 HOFFMANN 2005)

No discurso dos alunos as dificuldades identificadas no que se refere agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem refletiu a fal-ta de preparo dos docentes e coordenadores dos cursos para lidar com suas necessidades educacionais As dificuldades se aplicam a todos os estudantes que ainda satildeo avaliados nos moldes excludentes do exame mas o prejuiacutezo eacute ainda maior para o educando que apresenta algum tipo de deficiecircncia O resultado das avaliaccedilotildees natildeo eacute discutido com desperdiacutecio de um momento importante do processo de ensino-aprendi-zagem Aleacutem disso os alunos natildeo recebem os instrumentos ndash geralmente provas ndash o que fomenta a ideia de que natildeo haacute modificaccedilotildees ou inovaccedilotildees no instrumental de avaliaccedilatildeo com a possibilidade do mesmo instrumento ser utilizado repetida-mente nos semestres letivos seguintes

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem da forma que vem acon-tecendo na IFES pesquisada natildeo oferece as condiccedilotildees ne-cessaacuterias para o desenvolvimento do aluno com deficiecircncia As praacuteticas docentes encontradas na instituiccedilatildeo acabam por reproduzir a exclusatildeo presente na sociedade natildeo possibilitan-do a esse aluno uma participaccedilatildeo ativa e democraacutetica em sua vida acadecircmica Direitos garantidos por lei como adaptaccedilotildees na avaliaccedilatildeo e concessatildeo a um maior periacuteodo de tempo natildeo satildeo respeitados Diante de uma formaccedilatildeo docente precaacuteria para lidar com esses aprendizes uma melhor avaliaccedilatildeo se re-aliza atualmente sobretudo devido agrave boa vontade de alguns professores diante das peculiaridades de cada aluno (BEYER 2010 BRASIL 2006)

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FORTALEZA-CEARAacuteFRANCISCA SAMARA TEIXEIRA CARVALHO bull TANIA VICENTE VIANA190 d d 191

Referecircncias Bibliograacuteficas

DEMO P Universidade aprendizagem avaliaccedilatildeo horizon-tes reconstrutivos Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2005BENEVIDES M C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo de caso em uma instituiccedilatildeo de ensino superior da rede puacuteblica de Fortaleza-Cearaacute 2011 179f Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza-CE 2011BEYER H O Inclusatildeo e avaliaccedilatildeo na escola de alunos com necessidades especiais Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2010BRASIL Formaccedilatildeo continuada a distacircncia de professores para o atendimento educacional especializado deficiecircncia fiacutesica In SCHIRMER C R BROWNING N BERSCH R DE C R MACHADO R (Coords) Satildeo Paulo MECSEESP 2006FERNANDES T L G Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo documental das diretrizes oficiais 2010 152 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2010 FERNANDES T L G VIANA T V Alunos com Necessida-des Educacionais Especiais (NEEs) avaliar para o desenvol-vimento pleno de suas capacidades Estudos em Avaliaccedilatildeo Educacional Satildeo Paulo v 20 n 43 p 201-213 maioago 2009HADJI C Avaliaccedilatildeo desmistificada Porto Alegre Artmed 2001HOFFMANN J Pontos e contrapontos do pensar ao agir em avaliaccedilatildeo Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2005LUCKESI C C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem componente do ato pedagoacutegico Satildeo Paulo Cortez 2011______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem na escola reelaboran-do conceitos e recriando a praacutetica Salvador Malabares 2005

______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem escolar Satildeo Paulo Cortez 2001PERRENOUD P Avaliaccedilatildeo da excelecircncia agrave regulaccedilatildeo das aprendizagens ndash entre duas loacutegicas Porto Alegre Artmed 1999VIANNA H M Avaliaccedilatildeo educacional teoria planejamen-to modelos Satildeo Paulo IBRASA 2000VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

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CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ

Tereza Liduina Grigoacuterio FernandesLucimeire Alves Moura

Edson Silva SoaresTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

No decorrer da histoacuteria a educaccedilatildeo de crianccedilas com al-tas habilidades1 ou superdotaccedilatildeo sempre foi motivo de discus-satildeo em culturas de diferentes povos A literatura especializada faz breve referecircncia ao interesse por crianccedilas com capacida-des notaacuteveis em periacuteodos histoacutericos remotos aludindo inclu-sive agrave necessidade de segregaacute-las para conferir-lhes assistecircn-cia educacional apropriada Na concepccedilatildeo de Alencar (1986) Confuacutecio foi um dos primeiros filoacutesofos a interceder pela identificaccedilatildeo e atendimento dessas crianccedilas que costumavam ser encaminhadas agrave Corte para aprimorar suas capacidades literaacuterias No tratado A Repuacuteblica Platatildeo advogou o reconhe-cimento das crianccedilas de ouro que deveriam ser educadas nos campos da Filosofia e da Metafiacutesica bem como preparadas para postos de lideranccedila na sociedade o filoacutesofo se contrapocircs portanto agraves concepccedilotildees vigentes que pregavam uma lideran-ccedila de caraacuteter hereditaacuterio circunscrita agrave elite aristocraacutetica De

1 A expressatildeo altas habilidades surge como uma denominaccedilatildeo recente na literatura especializada a fim de reduzir preconceitos associados historicamente ao vocaacutebulo superdotado As ideias usuais decorrentes do termo superdotado favorecem muitos equiacutevocos como a noccedilatildeo de um ser humano perfeito com habilidades elevadas em todas as aacutereas do saber e do fazer e de que seria sobretudo predes-tinado ao sucesso acadecircmico e profissional em consequecircncia de sua inteligecircncia Assim sendo adotaremos a expressatildeo ldquoaltas habilidadesrdquo neste estudo que indica genericamente a presenccedila de uma ou mais habilidades elevadas ou acima da meacutedia populacional e descreve de modo fidedigno esse alunado (VIRGOLIM 2007)

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modo anaacutelogo no seacuteculo XVI Suleiman o Magniacutefico enviou emissaacuterios a todo o impeacuterio turco para identificar as crian-ccedilas mais inteligentes e as mais fortes presentes em quaisquer classes sociais a fim de instruiacute-las como artistas saacutebios ou chefes de guerra numa escola fundada para esse propoacutesito em Constantinopla (ALENCAR E S 1986 ANASTASI URBI-NA 2000 NOVAES 1979)

Embora jaacute se tenha avanccedilado consideravelmente no sentido de uma melhor compreensatildeo das caracteriacutesticas e ne-cessidades educacionais dessas pessoas observa-se na atua-lidade pouco investimento nesse potencial humano No Bra-sil sua identificaccedilatildeo ainda eacute escassa mesmo com a existecircncia de diretrizes oficiais do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) nesse sentido (BRASIL 2005 2007 2010)

As pessoas com altas habilidades tambeacutem compotildeem o alunado da Educaccedilatildeo Especial demonstrando capacidades elevadas em uma ou mais aacutereas do saber ou do fazer De acor-do com o pensamento de Mettrau (2000) representam um patrimocircnio social da humanidade que precisa ser reconheci-do e valorizado pela natureza das suas capacidades no acircmbito educacional e social Como agente responsaacutevel pelo desenvol-vimento desse potencial estaacute a escola aqui representada pela figura do professor que como facilitador desse processo deve acreditar na capacidade de todos os seus alunos e incentivaacute--los a desenvolver trabalhos significativos e relevantes tanto para a sua realizaccedilatildeo pessoal quanto para que ofereccedilam uma contribuiccedilatildeo social estimulando-os na produccedilatildeo do novo e do diferente

Assim o ambiente escolar deve se consolidar como um espaccedilo para a identificaccedilatildeo e progresso das diversas habilida-des humanas Cumpre considerar a multiplicidade de situa-ccedilotildees em que a inteligecircncia se manifesta segundo as necessi-

dades baacutesicas do estudante para seu aperfeiccediloamento como ser humano integral Nessa perspectiva podemos assinalar que tambeacutem a pessoa com deficiecircncia pode ser definida em funccedilatildeo de suas capacidades contribuindo de forma relevan-te para a evoluccedilatildeo do saber Beethoven por exemplo compocircs sua famosa Nona Sinfonia quando estava completamente sur-do (ALENCAR VIANA 2002 BRASIL 1999a 1999b)

Diante do exposto este trabalho objetiva de modo ge-ral identificar alunos surdos com altas habilidades no Ensino Fundamental atraveacutes de uma avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutes-tica realizada com o auxiacutelio do professor Constitui dessa maneira um meacutetodo de avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica de altas habilidades em pessoas com surdez Visto que o profes-sor eacute o profissional que participa mais sistematicamente do cotidiano dos seus alunos apresenta melhores condiccedilotildees de reconhecer suas caracteriacutesticas pessoais e seus desempenhos comparando-os com o esperado para a capacidade de reali-zaccedilatildeo de sua faixa etaacuteria Assim sendo pode colaborar ativa-mente na identificaccedilatildeo desse alunado (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Cumpre mencionar que a estrateacutegia de observaccedilatildeo dirigida para identificar altas habilidades com o auxiacutelio do professor apresenta eficaacutecia estimada em 91 e constitui um procedimento mais adequado ao estaacutegio inicial da identifica-ccedilatildeo com a seleccedilatildeo de um primeiro grupo de alunos em que se encontram os que demonstram altas habilidades Faz-se necessaacuteria uma avaliaccedilatildeo posterior agrave observaccedilatildeo do profes-sor para identificar de modo mais preciso os aprendizes com altas habilidades (GUENTHER 2000 VIANA 2005)

A importacircncia deste estudo se justifica como uma al-ternativa ao reconhecimento tradicional de altas habilidades cujos testes psicomeacutetricos com resultados em Quociente de

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Inteligecircncia (QI)2 aleacutem de onerosos satildeo de uso exclusivo do psicoacutelogo e apresentam conteuacutedo restrito abordando apenas as convencionais aacutereas acadecircmicas da loacutegico-matemaacutetica e linguagem verbal A investigaccedilatildeo eacute relevante da mesma for-ma pelo fato de ampliar o instrumental de avaliaccedilatildeo diagnoacutes-tica de altas habilidades para o alunado com algum tipo de deficiecircncia no caso a surdez A pessoa com deficiecircncia passa a ser vista assim sob a perspectiva de suas capacidades a partir de uma visatildeo multidimensional das potencialidades do indiviacuteduo ao inveacutes de ser definida apenas em funccedilatildeo do deacutefi-cit que porventura apresente como ocorre tradicionalmente

Para Aleacutem da Sala de Aula Altas Habilidades em Muacuteltiplas Dimensotildees

A concepccedilatildeo de altas habilidades tem sido acompanha-da de amplas discussotildees em muitos paiacuteses envolvendo opini-otildees e teorias divergentes O proacuteprio conceito de modo geral tem evoluiacutedo de uma concepccedilatildeo unidimensional centrada em habilidades acadecircmicas para uma compreensatildeo multidimen-sional voltada para a totalidade do indiviacuteduo e para as rela-ccedilotildees que estabelece com o ambiente fiacutesico e social As pessoas com altas habilidades correspondem a uma proporccedilatildeo de 3 a 5 da populaccedilatildeo mundial presente em homens e mulheres de todas as classes sociais Demonstram uma ou mais capa-cidades elevadas acima da meacutedia populacional (ALENCAR E S 2000 BRASIL 1995 1999a 2005 GUENTHER 2000 NOVAES 1979 SABATELLA 2008 VIANA 2003 2004 WINNER 1998)

2 O QI eacute atualmente criticado por se ater a aspectos verbais e loacutegico-matemaacuteticos e por vincular a inteligecircncia agrave hereditariedade advogando uma concepccedilatildeo inatista das capacidades Nos dias atuais o QI eacute considerado como um modo de predizer o desempenho acadecircmico mas natildeo a inteligecircncia de forma geral (ANASTASI URBINA 2000)

O termo superdotado tem sido recentemente questio-nado e rejeitado por especialistas da aacuterea pelo fato do prefixo ldquosuperrdquo sugerir a ideia de um desempenho extraordinaacuterio in-clusive sobre-humano Conveacutem assinalar igualmente a con-cepccedilatildeo inatista de inteligecircncia vinculada aos primoacuterdios da Psicometria e aos testes de QI de origem bioloacutegica ou geneacute-tica a inteligecircncia seria um dom jaacute presente no nascimento estaacutevel e que se desenvolveria independentemente das con-diccedilotildees ambientais o que de fato natildeo corresponde agrave realida-de Toda capacidade mesmo que seja comprovada uma base geneacutetica ou cerebral necessita de estimulaccedilatildeo ambiental para se desenvolver Em caso contraacuterio natildeo se desenvolve ficando estagnada (ALENCAR E S 2001)

A representaccedilatildeo de Renzulli (2004) psicoacutelogo da Uni-versidade de Connecticut eacute usualmente referida na atualida-de por transpor a identificaccedilatildeo restrita a aptidotildees cognitivas e conferir ecircnfase a variaacuteveis criativas e motivacionais Em seu Modelo dos trecircs aneacuteis pressupotildee que as altas habilidades re-sultam da interaccedilatildeo de trecircs caracteriacutesticas i) aptidatildeo acima da meacutedia ii) criatividade elevada e iii) envolvimento com a tare-fa A aptidatildeo acima da meacutedia deve permanecer relativamente estaacutevel e natildeo necessita ser excepcional a criatividade elevada se remete agrave flexibilidade e agrave originalidade do pensamento e o envolvimento com a tarefa remete a caracteriacutesticas de perso-nalidade como persistecircncia dedicaccedilatildeo esforccedilo e autoconfian-ccedila Cumpre mencionar que as altas habilidades residem exa-tamente no ponto de interseccedilatildeo desses trecircs elementos Duas caracteriacutesticas contudo costumam indicar pessoas talentosas

A proposta de Renzulli (2004) possui o meacuterito de reco-nhecer de maneira simples e praacutetica um largo contingente de sujeitos cujas capacidades referem expressotildees da inteligecircncia em qualquer aacuterea do saber ou do fazer Desse modo pessoas

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com altas habilidades em aacutereas tatildeo diversificadas como aca-decircmicas musicais e motoras podem ser rapidamente iden-tificadas por intermeacutedio da presenccedila de atributos criativos e motivacionais associados a um desempenho situado acima da meacutedia da populaccedilatildeo comparaacutevel

Na deacutecada de 1980 Howard Gardner da Universidade de Harvard apresentou uma nova concepccedilatildeo de inteligecircncia que repercutiu sobre o conceito de altas habilidades em con-traposiccedilatildeo agrave visatildeo unitaacuteria dos testes de QI3 Assim estabe-leceu o reconhecimento de que as habilidades humanas po-deriam se apresentar em muitas aacutereas e de que a inteligecircncia natildeo poderia ser medida somente atraveacutes de respostas sobre conteuacutedos escolares em testes convencionais Diante disso Gardner (1994 1995 2001) delimitou ateacute o momento oito tipos de inteligecircncia presentes no ser humano como capa-cidades universais I) linguiacutestica II) loacutegico-matemaacutetica III) espacial IV) corporal-cinesteacutesica V) musical VI) interpesso-al VII) intrapessoal e VIII) naturalista (CAMPBELL 2000 GARDNER 1994 1995 2001)

Com base nessa perspectiva amplia-se a noccedilatildeo de inte-ligecircncia que pode ser estendida para pessoas que apresentem limitaccedilotildees sensoriais e inclusive mentais Desse modo as inteligecircncias seriam potenciais que mesmo com base geneacute-tica ou cerebral podem ou natildeo ser ativados de acordo com os valores da cultura especiacutefica das oportunidades disponiacuteveis e das decisotildees pessoais tomadas por indiviacuteduos famiacutelias pro-fessores dentre outras pessoas proacuteximas (GARDNER 1994 1995 2001)

3 A Teoria das Inteligecircncias Muacuteltiplas (IM) foi elaborada como uma reaccedilatildeo agrave Psicometria e aos testes de QI Gardner (1994 1995 2001) trabalhou com sujeitos detentores de perfis cognitivos diferenciados como pacientes com lesatildeo cerebral e pessoas com altas habilidades

Eacute relativamente comum confundir a pessoa que apre-senta altas habilidades com o gecircnio o que interpotildee mais um obstaacuteculo agrave identificaccedilatildeo desse alunado Em relaccedilatildeo agrave pessoa com altas habilidades o gecircnio estaria em um patamar supe-rior O gecircnio com efeito eacute um indiviacuteduo que realmente apre-senta um desempenho iacutempar e extraordinaacuterio A incidecircncia estatiacutestica da genialidade eacute extremamente reduzida estima-da numa proporccedilatildeo de apenas uma pessoa para cada milhatildeo dificultando assim pesquisas com amostras amplas e anaacutelise quantitativa De modo geral procede-se a um estudo biograacute-fico de personalidades eminentes A obra do gecircnio eacute capaz de transcender limitaccedilotildees temporais e espaciais e permanecer atual sendo por conseguinte de natureza universal Einstein Freud Leonardo da Vinci e Santos Dumont satildeo exemplos de pessoas que demonstraram genialidade alterando de forma bastante original um determinado campo do saber (ALEN-CAR E S 2001 BRASIL 1999a 1999b 2007)

Conveacutem esclarecer as caracteriacutesticas do sujeito talento-so que se situaria por outro lado em um niacutevel abaixo da pes-soa com altas habilidades O talentoso se destaca da multidatildeo por meio de um desempenho significativo em algum setor das atividades humanas O termo descreve de modo geral uma habilidade especiacutefica como musical ou artiacutestica efetuada de maneira especialmente elaborada superior agrave capacidade de realizaccedilatildeo da maioria Instrumentos de medida natildeo satildeo ne-cessaacuterios para a identificaccedilatildeo de talentos visto que mesmo o cidadatildeo comum pode reconhececirc-lo atingido por um estado de admiraccedilatildeo e enlevo O talento eacute encontrado em cerca de 25 da populaccedilatildeo Altas habilidades genialidade e talento se distribuem portanto igualmente na populaccedilatildeo mundial manifestando-se em homens e mulheres em todo o mundo independentemente de credo ou classe social bem como em

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pessoas com algum tipo de deficiecircncia inclusive em casos de deficiecircncia intelectual4

O conceito contemporacircneo de altas habilidades eacute de natureza multidimensional posto remeter agrave compreensatildeo do sujeito em sua totalidade nas diversas relaccedilotildees que estabele-ce com o ambiente fiacutesico e social Importa referir a interde-pendecircncia de fatores geneacuteticos e ambientais na determinaccedilatildeo de altas habilidades A participaccedilatildeo geneacutetica das capacidades eacute observada na distribuiccedilatildeo igualitaacuteria das altas habilidades em toda a populaccedilatildeo mundial sem distinccedilotildees de gecircnero ou origem social A incidecircncia eacute tambeacutem constatada em pessoas com deficiecircncia Contudo a estimulaccedilatildeo ambiental fiacutesica e social eacute necessaacuteria para o desenvolvimento dessas capacida-des (ALENCAR M L 2003 BRASIL 1999a)

A evoluccedilatildeo histoacuterica do conceito de inteligecircncia apre-sentou por conseguinte repercussotildees diretas para a compre-ensatildeo das caracteriacutesticas e necessidades das pessoas com altas habilidades Acarretou da mesma maneira a evoluccedilatildeo simul-tacircnea dos procedimentos de identificaccedilatildeo desses sujeitos ini-cialmente restritos a instrumentos de medida intelectual com resultados organizados em QI Os processos atuais de reco-nhecimento de altas habilidades satildeo diversificados e incluem a percepccedilatildeo de pais e educadores Visto que o professor eacute o profissional que participa mais sistematicamente do cotidia-no dos seus alunos apresenta condiccedilotildees mais favoraacuteveis de reconhecer suas caracteriacutesticas pessoais e seus desempenhos comparando-os com o niacutevel esperado da capacidade de reali-

4 Pessoas com siacutendrome savant usualmente apresentam deficiecircncia intelectual autismo ou ambos A siacutendrome eacute seis vezes maior em homens do que em mulheres Costumam apresentar habilidades nos seguintes domiacutenios artes visuais (desenho realista) muacutesica e caacutelculo mental Alguns satildeo capazes de efetuar caacutelculos de calendaacuterio prevendo por exemplo o dia da semana em que determinada data cairaacute daqui a vaacuterios anos (WINNER 1998)

zaccedilatildeo de uma determinada faixa etaacuteria (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Capacidades Silentes O filoacutesofo grego Aristoacuteteles que viveu cerca de 366 a

C valorizava a inteligecircncia humana como uacutenica forma de al-canccedilar a verdade e acreditava que o pensamento era desenvol-vido por meio da linguagem e da fala Com base nesse posicio-namento afirmava que como o surdo natildeo pensa natildeo poderia ser considerado humano (GOLDFELD 1997)

Desde eacutepocas remotas discute-se sobre a inteligecircncia humana No caso especiacutefico da pessoa com surdez o fato de natildeo ouvir natildeo impossibilita que seu potencial seja identificado e reconhecido Confirmando esse pensamento Dupret (1998) afirma explicitamente que o fato de o surdo apresentar um deacute-ficit sensorial natildeo possuir percepccedilatildeo auditiva ou apresentaacute-la minimamente natildeo eacute suficiente para lhe conferir o pesado es-tigma do diagnoacutestico de incapaz

Sobre essa singularidade

A condiccedilatildeo moral a qual estabelece que somos todos iguais perante a lei natildeo deve prevalecer sobre a questatildeo eacutetica de que somos diferentes frente a noacutes mesmos Eacute esta diferenccedila que marca nossa individualidade e singu-laridade ao mesmo tempo em que se coloca como algo generalizaacutevel a todos Eacute ela que me permite entender o surdo como diferente do ouvinte pelo fato de natildeo poder escutar mas natildeo porque suas capacidades estatildeo previamente limitadas (DUPRET 1998 p 13)

Porque a pessoa com surdez natildeo tem acesso agrave liacutengua fa-lada natildeo significa que natildeo tenha outra ferramenta que possi-bilite uma forma efetiva de comunicaccedilatildeo Pontuamos assim que a dificuldade de expressatildeo da pessoa surda estaacute vinculada

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agrave acessibilidade da informaccedilatildeo e natildeo a um deacuteficit intelectu-al pois a nossa diferenccedila estaacute marcada pela individualidade e singularidade que eacute comum a todos os indiviacuteduos Isso faz com que a pessoa com surdez seja diferente do ouvinte pelo fato de apresentar um deacuteficit sensorial e natildeo porque seu po-tencial cognitivo seja por causa disso limitado

Na compreensatildeo de Skliar (2004 p 71)

Quando nos referimos ao potencial cognitivo do sur-do nos remetemos imediatamente agrave qualidade das inter-relaccedilotildees que este manteacutem com as pessoas que o rodeiam Por esta razatildeo acreditamos que as crianccedilas surdas embora sendo filhas de ouvintes devem ter acesso o mais cedo possiacutevel agrave liacutengua de sinais e conse-quentemente agrave comunidade surda

Eacute oportuno afirmar que com o domiacutenio da liacutengua de sinais o indiviacuteduo com surdez adquire novos conhecimentos e consequentemente seraacute capaz de atos criativos Eacute entatildeo con-tradita a proposta oralista5 que provoca no educador baixas expectativas pedagoacutegicas no que se refere ao processo de co-nhecimento de crianccedilas surdas justificando seu fracasso es-colar em funccedilatildeo do deacuteficit Desse modo confere agrave surdez a responsabilidade pelas dificuldades em seu desenvolvimento cognitivo e em sua educaccedilatildeo

A tradicional explicaccedilatildeo de atrasos cognitivos da pessoa com surdez se sustenta na relaccedilatildeo entre pensamento e lingua-gem desconsiderando-se fatores como os tipos de experiecircncias por ela vivenciados a qualidade das suas interaccedilotildees sociais a

5 O Oralismo ou filosofia oralista visa agrave integraccedilatildeo da crianccedila surda na comunidade de ouvintes dando-lhe condiccedilotildees de desenvolver a liacutengua oral (no caso do Brasil a liacutengua portuguesa) O Oralismo concebe a surdez como uma deficiecircncia que deve ser minimizada atraveacutes da estimulaccedilatildeo auditiva Essa estimulaccedilatildeo possibilitaria a aprendizagem da liacutengua portuguesa e levaria a crianccedila surda a integrar-se na comunidade ouvinte e a desenvolver sua personalidade como a de um ouvinte (LORENZINI 2004)

existecircncia da liacutengua de sinais na famiacutelia ou na comunidade ou-vinte da qual faz parte dentre outros fatores (SKLIAR 2004)

Dessa forma um instrumento de avaliaccedilatildeo educacio-nal diagnoacutestica baseado numa concepccedilatildeo multidimensional de inteligecircncia poderaacute contribuir de modo efetivo para o crescimento e autonomia de alunos com surdez muitas vezes ainda considerados pessoas com reduzida possibilidade de crescimento intelectual

Avaliaccedilatildeo Educacional Diagnoacutestica em Busca de Novas Trilhas

Como preacute-requisito das accedilotildees educacionais a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica de altas habilidades evita o desperdiacutecio do poten-cial humano imprescindiacutevel para os tempos atuais caracte-rizados por uma renovaccedilatildeo contiacutenua do conhecimento Para que o alunado surdo com altas habilidades seja corretamente identificado a escola desempenha um papel fundamental nes-se processo demonstrado pela importacircncia dos professores na observaccedilatildeo de indiacutecios de altas habilidades Cumpre men-cionar que ainda persistem dificuldades centrais na aborda-gem do diagnoacutestico de altas habilidades para pessoas surdas no que se refere agrave significativa escassez de instrumentos uti-lizados para essa identificaccedilatildeo (GUENTHER 2000 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Para a identificaccedilatildeo desses indiviacuteduos devem ser consi-derados os diversos traccedilos que determinam as altas habilidades em diferentes niacuteveis e intensidades Para o aluno com surdez a identificaccedilatildeo de altas habilidades valoriza suas capacidades e seu papel ativo como cidadatildeo para o progresso do saber

Diante da dificuldade da avaliaccedilatildeo diagnoacutestica de alu-nos com deficiecircncia que apresentam altas habilidades foi elaborada uma lista de indicadores para alunos com surdez

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por ocasiatildeo desse estudo Embora a literatura especializada mencione a presenccedila de altas habilidades e talentos em pes-soas com deficiecircncia os exemplos costumam se limitar agraves pessoas com siacutendrome savant Os estudos de identificaccedilatildeo e atendimento a pessoas com deficiecircncia que tambeacutem apresen-tam altas habilidades e talentos satildeo ainda pioneiros tanto em acircmbito nacional como internacional (NEGRINI 2004 UFC 2006 WINNER 1998)

Assim pretendemos oferecer aos professores que atu-am na aacuterea da surdez um instrumento simples e uacutetil aces-siacutevel para os profissionais da Educaccedilatildeo que pode constituir efetivamente um norte na identificaccedilatildeo desses alunos

Percurso Metodoloacutegico

Foi realizada uma pesquisa qualiquantitativa na forma de um estudo de caso no segundo semestre de 20056 numa Escola Especial para surdos na cidade de Fortaleza-Cearaacute Na ocasiatildeo foram observados 411 alunos surdos do 1ordm ao 8ordm ano do Ensino Fundamental

Foi elaborada uma lista de indicadores de altas habili-dades para o aluno surdo A lista inicial foi analisada por sete especialistas da aacuterea da surdez que propuseram algumas mo-dificaccedilotildees e foi entatildeo submetida agrave preacute-testagem A escala final foi aplicada pelo professor com o apoio de um dos pesquisa-dores e a presenccedila de um inteacuterprete visto que a metodolo-gia de ensino da escola citada se voltava para o bilinguismo7

6 Sugere-se que a aplicaccedilatildeo de instrumentos de observaccedilatildeo em sala de aula para a identificaccedilatildeo de altas habilidades ocorra no segundo semestre letivo quando o professor jaacute demonstra um maior conhecimento das caracteriacutesticas cognitivas e afetivas dos seus alunos (VIANA 2005) 7 O biliacutenguismo advoga que a pessoa com surdez deve dominar como liacutengua materna a liacutengua de sinais que seria a sua liacutengua natural e como segunda liacutengua

Para realizar a observaccedilatildeo os professores participaram de um curso de formaccedilatildeo continuada sobre a temaacutetica com 60 ho-ras-aula pois a aplicaccedilatildeo de instrumentos de observaccedilatildeo ou listas de indicadores para a identificaccedilatildeo de altas habilidades requer domiacutenio conceitual da temaacutetica

O instrumento eacute composto de 36 itens conforme se pode observar no Quadro 1 com habilidades que podem ser encontradas em alunos com surdez que deveratildeo ser identifi-cadas pelo professor em sala de aula As sentenccedilas referem capacidades diversificadas baseadas numa concepccedilatildeo mul-tidimensional de inteligecircncia Foi adotada uma distribuiccedilatildeo aleatoacuteria dos itens para evitar rotinas de respostas As asserti-vas foram redigidas de modo claro e conciso com vocabulaacuterio acessiacutevel a fim de tornar o instrumento de uso praacutetico cuja aplicaccedilatildeo utilize um curto periacuteodo de tempo com o objetivo de natildeo prejudicar as atividades do professor em sala de aula Com a lista em matildeos o professor eacute solicitado a marcar alu-nos que apresentem determinada habilidade presente na lista com a letra X

Quadro 1 ndash Itens da Lista de Observaccedilatildeo Aplicada

1 Tem boa expressatildeo facial quando utiliza a Libras2 Mostra-se criacutetico questionando as mateacuterias ensinadas3 Eacute liacuteder em sala de aula4 Faz perguntas ou daacute respostas raras ou incomuns5 Apresenta senso de humor eacute o engraccediladinho da turma6 Eacute amadurecido fala e se comporta como se tivesse mais idade7 Termina as tarefas rapidamente e fica disperso em sala de aula8 Apresenta facilidade para o desenho ou trabalhos manuais9 Tem boa expressatildeo corporal quando utiliza a Libras10 Apresenta facilidade em escrever redaccedilotildees ou poesias11 Eacute concentrado e perfeccionista com as atividades escolares

a liacutengua oficial do seu paiacutes Isso natildeo significa que a pessoa com surdez deva ficar isolada numa comunidade soacute para surdos configurando guetos e utilizando apenas a liacutengua de sinais (BRASIL 2010 DUPRET 1998 PEREIRA 2004)

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12 Consegue expressar bem suas opiniotildees com a Libras13 Eacute independente faz as atividades sem ajuda14 Questiona regras que satildeo impostas sem uma justificativa15 Demonstra interesse contiacutenuo em aprender16 Escreve frases em Portuguecircs usando pronomes preposiccedilotildees e ver-

bos nos tempos presente passado e futuro17 Relaciona conhecimentos de diferentes mateacuterias escolares18 Faz muitas perguntas ao professor19 Prefere amizade com pessoas mais velhas20 Desenha com detalhes e criatividade21 Demonstra aptidatildeo para as artes22 Cria diaacutelogos em Libras23 Eacute indisciplinado em sala de aula24 Demonstra senso de justiccedila25 Apresenta facilidade em memorizar informaccedilotildees como datas histoacute-

ricas e capitais de estados e paiacuteses26 Conhece muitos sinais da Libras e sabe empregaacute-los para se comunicar27 Responde raacutepida e corretamente agraves perguntas do professor28 Gosta de fazer as coisas do seu proacuteprio jeito29 Resolve os exerciacutecios de uma forma diferente da que o professor en-

sinou mas correta30 Mostra-se entediado em sala de aula31 Apresenta formas originais de solucionar problemas32 Tem agilidade de movimento (corrida velocidade e forccedila)33 Gosta de ler textos livros jornais eou revistas34 Aprende com facilidade o que foi ensinado35 Demonstra aptidatildeo para esportes

A heterogeneidade conceitual do instrumento pode ser observada no Quadro 2 que apresenta os itens pertencentes agraves categorias dimensionadas I) Linguagem II) Criatividade III) Aprendizagem IV) Motivaccedilatildeo V) Aspectos afetivos e in-terpessoais e VI) Motricidade

Quadro 2 ndash Categorias Avaliadas na Escala e Itens Correspondentes

CATEGORIA QUESTOtildeESLinguagem Q10 + Q12 + Q16 + Q23 +Q27 + Q34 Criatividade Q4 + Q20 + Q21 + Q29 + Q30 + Q32

Aprendizagem Q2 + Q17 + Q18 + Q26 + Q28 +Q35 Motivaccedilatildeo Q7 + Q11 + Q13 +Q15 + Q24 + Q31

Aspectos afetivos e interpessoais Q3 + Q5 +Q6 + Q14 + Q19 + Q25

Motricidade Q1 + Q8 + Q9 + Q22 + Q33 + Q36

Conforme indica a anaacutelise meacutetrica a lista de indicado-res construiacuteda se apresenta como instrumento potencialmen-te apto a identificar alunos surdos com altas habilidades do Ensino Fundamental A anaacutelise de variacircncia realizada indi-cou coeficiente de precisatildeo (α de Cronbach) com valor igual a 090 Aleacutem disso nenhum item ao ser excluiacutedo do caacutelcu-lo desse coeficiente gerou modificaccedilotildees substanciais em seu valor O erro-padratildeo da medida foi igual a 008 equivalente a 022 da amplitude da escala [0-36] A escala apresentou meacutedia 1890 e desvio-padratildeo 88 A teacutecnica t2 de Hotelling mostrou-se estatisticamente significativa (F = 70 para p = 0001) demonstrando diferenccedila entre as meacutedias de cada item e natildeo indicando a presenccedila de efeito de halo O que significa que natildeo ocorreu a tendecircncia dos indiviacuteduos responderem a um mesmo item em cada pergunta

O grupo inicial de alunos surdos identificados pelos professores atraveacutes da lista foi submetido a entrevistas se-midirigidas realizadas com o auxiacutelio de um inteacuterprete Tam-beacutem foram entrevistados os professores que indicaram esses educandos bem como seus familiares Esse procedimento foi realizado para selecionar com maior precisatildeo os alunos com altas habilidades pois o grupo inicial identificados atraveacutes da observaccedilatildeo dirigida realizada pelos docentes costuma apre-sentar outras indicaccedilotildees como a presenccedila de educandos ta-lentosos (GUENTHER 2000 VIANA 2005)

Resultados

Do total de 411 alunos surdos observados pelos profes-sores em sala de aula foram indicados 30 sujeitos Foram entatildeo entrevistados os 30 estudantes indicados 30 familiares desses estudantes (ou responsaacuteveis) e os 12 professores que os

(Continuaccedilatildeo)

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA208 d d 209

indicaram Do grupo inicial de alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas semidirigidas 20 aprendizes foram sinalizados com altas habilidades correspondendo a uma proporccedilatildeo de 5 do total de sujeitos inicialmente observados O nuacutemero de alunos identificados com altas habilidades estaacute de acordo com a proporccedilatildeo de 3 a 5 estimada na literatura especializada (ALENCAR E S 2000 BRASIL 1995 1999a 2005 GUEN-THER 2000 NOVAES 1979 SABATELLA 2008 VIANA 2003 2004 WINNER 1998)

Conclusotildees

Para a concretizaccedilatildeo desse estudo tomou-se como pon-to de partida a necessidade de reconhecimento da presenccedila de altas habilidades do aluno surdo desviando-se portanto da tradicional ecircnfase conferida agrave sua deficiecircncia Aleacutem de obs-taacuteculos atitudinais associados ao preconceito o instrumental para a identificaccedilatildeo desse alunado eacute por demasiado escasso dificultando assim a identificaccedilatildeo de alunos surdos com altas habilidades (DRUPET 1998 SKLIAR 2004)

Uma avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica adequada deve esclarecer os aspectos individuais mas natildeo pode negligenciar os sociais Conveacutem assinalar que mesmo diante de limita-ccedilotildees particulares inclusive de natureza geneacutetica ou bioloacutegi-ca como no caso da pessoa com deficiecircncia um melhor de-senvolvimento pode ser obtido como resultado de condiccedilotildees favoraacuteveis e estimulaccedilotildees adequadas do meio fiacutesico e social (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

A identificaccedilatildeo de alunos surdos com altas habilidades pretende desmistificar a ideia ainda vigente na sociedade de que a surdez traz consigo algum tipo de deacuteficit intelectual

Suas capacidades estatildeo presentes mas ainda abrigadas em silecircncio Para aleacutem do preconceito a insuficiecircncia na forma-ccedilatildeo baacutesica do professor para lidar com esse alunado constitui outro fator que contribui para que as capacidades do aluno surdo permaneccedilam silentes despercebidas pela escola e pela sociedade

Referecircncias Bibliograacuteficas

ALENCAR E S Criatividade e educaccedilatildeo de superdotados Petroacutepolis Vozes 2001______ Psicologia introduccedilatildeo aos princiacutepios baacutesicos do comportamento Petropoacutelis Vozes 2000______ Psicologia e educaccedilatildeo do superdotado Satildeo Paulo E P U 1986 ALENCAR M L Alunos com necessidades educacionais es-peciais anaacutelise conceitual e implicaccedilotildees pedagoacutegicas In MAGALHAtildeES R C B P Reflexotildees sobre a diferenccedila uma introduccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Especial Fortaleza Demoacutecrito Rocha 2003 p 85-91ALENCAR M L VIANA T V O papel do professor na edu-caccedilatildeo de crianccedilas sobredotadas Sobredotaccedilatildeo Braga v 3 n 2 p 165-176 2002ANASTASI A URBINA S Testagem psicoloacutegica Porto Ale-gre Artmed 2000BRASIL A Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da inclusatildeo es-colar altas habilidadessuperdotaccedilatildeo Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Especial 2010______ A construccedilatildeo de praacuteticas educacionais para alunos com altas habilidadessuperdotados orientaccedilatildeo a professo-res v 1 Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Edu-caccedilatildeo Especial 2007

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA210 d d 211

______ Saberes e praacuteticas da inclusatildeo desenvolvendo competecircncias para o atendimento agraves necessidades educacio-nais de alunos com altas habilidadessuperdotaccedilatildeo Brasiacutelia MECSEESP 2005______ Programa de capacitaccedilatildeo de recursos humanos do Ensino Fundamental superdotaccedilatildeo e talento v 1 Brasiacute-lia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Especial 1999a ______ Programa de capacitaccedilatildeo de recursos humanos do Ensino Fundamental superdotaccedilatildeo e talento v 2 Brasiacutelia Mi-nisteacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Especial 1999b______ Diretrizes gerais para o atendimento educacional aos alunos portadores de altas habilidades superdotaccedilatildeo e talentos Brasiacutelia MECSEESP 1995 CAMPBELL L Ensino e aprendizagem por meio das Inte-ligecircncias Muacuteltiplas Porto Alegre Artes Meacutedicas Sul 2000DUPRET L A experiecircncia de aprender com surdos Espaccedilo informativo teacutecnico-cientiacutefico do INES Rio de Janeiro n 10 juldez 1998 GARDNER H Inteligecircncia um conceito reformulado Rio de Janeiro Objetiva 2001______ Inteligecircncias muacuteltiplas a teoria na praacutetica Porto Alegre Artes Meacutedicas 1995 ______ Estruturas da mente a teoria das inteligecircncias muacuteltiplas Porto Alegre Artes Meacutedicas 1994GUENTHER Z C Identificaccedilatildeo de talentos recurso a teacutecni-cas de observaccedilatildeo directa Sobredotaccedilatildeo Braga v 1 n 1 e 2 p 7-36 2000GOLDFELD M A crianccedila surda linguagem e cogniccedilatildeo numa perspectiva soacutecio-interacionista Satildeo Paulo Plexus 1997LORENZINI N M P Aquisiccedilatildeo de um conceito cientiacutefico por alunos surdos de classes regulares do Ensino Fundamental

2004 155fl Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universi-dade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004 METTRAU M B Inteligecircncia patrimocircnio social Rio de Ja-neiro Dunya Ed 2000NEGRINI T A escola de surdo e os alunos com altas habi-lidadessuperdotaccedilatildeo uma problematizaccedilatildeo decorrente do processo de identificaccedilatildeo das pessoas surdas 2009 151f Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria-RS 2009 NOVAES M H Desenvolvimento psicoloacutegico do superdota-do Satildeo Paulo Atlas 1979PEREIRA C E K Estrangeiros em sua proacutepria cultura Espa-ccedilo informativo teacutecnico-cientiacutefico do INES Rio de Janeiro n 22 juldez 2004RENZULLI J S O que eacute esta coisa chamada superdotaccedilatildeo e como a desenvolvemos Uma retrospectiva de vinte e cin-co anos Educaccedilatildeo Porto Alegre n 1 p 75-121 janabr 2004 Disponiacutevel em ltwwwcaiobapucrsbrgt Acesso em 24022012 SABATELLA M L P Talento e superdotaccedilatildeo problema ou soluccedilatildeo Curitiba Ibpex 2008SKLIAR C (Org) Educaccedilatildeo e exclusatildeo abordagens soacutecio--antropoloacutegicas em Educaccedilatildeo Especial Porto Alegre Media-ccedilatildeo 2004 UFC Educar Igual a Motivar o Conhecimento Criativo (E=MC2) Projeto de Extensatildeo Coordenadora VIANA T V Fortaleza UFC 2006 5 p VIANA T V Avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica uma proposta para identificar altas habilidades 2005 324f Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2005 ______ Avaliando alunos com altas habilidades resulta-dos preliminares In ANDRIOLA W B MCDONALD B C

d 213TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA212 d

(Org) Avaliaccedilatildeo educacional navegar eacute preciso Fortaleza Editora UFC 2004 p 113-134 ______ Caminhos da excelecircncia da escola puacuteblica de For-taleza O conceito de altas habilidades dos professores 2003 147f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universidade Fe-deral do Cearaacute (UFC) Fortaleza 2003 VIRGOLIM A M R Talento criativo expressatildeo em muacuteltiplos contextos Brasiacutelia Editora Universidade de Brasiacutelia 2007 WINNER E Crianccedilas superdotadas mitos e realidades Por-to Alegre Artes Meacutedicas 1998

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute

Zilsa Maria Pinto SantiagoPliacutenio Renan Gonccedilalves da Silveira

Introduccedilatildeo

A discussatildeo sobre o conceito de cidadania eacute complexa e sugere inuacutemeras vertentes A praacutetica da cidadania partindo da escola ou da comunidade escolar com o apoio dos movimen-tos sociais de inclusatildeo principalmente no que diz respeito aos direitos da pessoa com deficiecircncia e da praacutetica de um ensino na diversidade eacute uma abordagem necessaacuteria nesta discussatildeo Iniciamos com o conceito de inclusatildeo social que segundo Sas-saki (1997 p 41) eacute

[] o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir em seus sistemas sociais gerais pessoas com necessidades especiais e simultaneamente estas se preparam para assumir seus papeacuteis na sociedade A inclusatildeo social constitui entatildeo um processo bilateral no qual as pessoas ainda excluiacutedas e a sociedade bus-cam em parceria equacionar problemas decidir sobre soluccedilotildees e efetivar a equiparaccedilatildeo de oportunidades para todos

A escola na condiccedilatildeo de espaccedilo social deve portanto apresentar condiccedilotildees de acessibilidade a todos inclusive a pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida aleacutem de pro-ver uma Educaccedilatildeo de qualidade a todas as crianccedilas modificar atitudes discriminatoacuterias criando comunidades acolhedoras (SANTIAGO 2005) Existe assim um caminho a ser percor-rido qual seja a organizaccedilatildeo da sociedade e as administraccedilotildees escolares inseridas em um novo contexto apoiadas pelo Siste-

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO bull PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA214 d d 215

ma Educacional e Ministeacuterio Puacuteblico capaz de transformar a situaccedilatildeo de exclusatildeo e gerir uma cultura inclusiva

E quando chegamos ao patamar do Ensino Superior o que acontece Que condiccedilotildees existem para receber pessoas com deficiecircncia na universidade

A problemaacutetica da acessibilidade de pessoas com defi-ciecircn cia no Ensino Superior jaacute eacute tema de muitas discussotildees e estudos Na Universidade Federal do Cearaacute (UFC) este assunto vem sendo discutido numa visatildeo ampla mas de certa forma em termos de accedilotildees nos uacuteltimos dez anos trabalhadas pontual-mente pelas diversas unidades administrativas e de ensino na perspectiva da informaccedilatildeo do conhecimento das atitudes e do espaccedilo fiacutesico

Neste artigo abordaremos alguns aspectos da poliacutetica de acessibilidade e das accedilotildees que estatildeo sendo realizadas no acircmbito da Universidade por meio da Secretaria de Acessi-bilidade UFC Inclui tendo como base a realizaccedilatildeo de traba-lhos de pesquisa ensino e extensatildeo perpassando por todas as aacutereas e setores De forma mais especiacutefica trataremos da aacuterea relativa agrave acessibilidade fiacutesica em que as atividades estatildeo relativamente iniciando num processo de construccedilatildeo de uma cultura de inclusatildeo a fim de incorporar paracircmetros de acessi-bilidade na realizaccedilatildeo de projetos e reformas

Acessibilidade como Fator de Inclusatildeo

Accedilotildees realizadas pelo poder puacuteblico em relaccedilatildeo ao aten-dimento agraves pessoas com deficiecircncia fiacutesica visual auditiva e intelectual no Brasil ateacute os anos 1960 abstraiacuteam o conteuacute-do educacional da questatildeo e contemplavam basicamente a problemaacutetica social e da sauacutede culminando com accedilotildees as-sistencialistas ou de reabilitaccedilatildeo As primeiras iniciativas de

atendimento agraves pessoas com deficiecircncia no Cearaacute partiram de atitudes isoladas ou de pequenos grupos e organizaccedilotildees de pessoas que natildeo contavam com o apoio do poder puacuteblico Conforme Leitatildeo (1997)

[] A criaccedilatildeo destas entidades especializadas no aten-dimento aos portadores de deficiecircncia visual mental auditiva e fiacutesica no Cearaacute foi possiacutevel [] na medida em que se aliou aos desejos de indiviacuteduos ou grupo de indiviacuteduos o conhecimento especializado a assimilaccedilatildeo de saberes especiacuteficos que passam a esclarecer alguns mitos construiacutedos em torno dos intitulados deficientes e fornecem as bases para uma accedilatildeo terapecircutica ou educacional embora que ainda de caraacuteter assistencial segregativo e pouco eficiente No entanto essas enti-dades surgidas nesse periacuteodo histoacuterico representaram significativos avanccedilos oferecendo agravequeles indiviacuteduos melhores condiccedilotildees de vida e a possibilidade de uma desejaacutevel integraccedilatildeo social

A questatildeo educacional das pessoas com deficiecircncia natildeo veio acompanhada de imediato de estudos de adequaccedilatildeo e adaptaccedilotildees do ambiente fiacutesico Para a inclusatildeo nem sempre satildeo necessaacuterios recursos educacionais especializados mas o espaccedilo adequado eacute fator de inclusatildeo Neste caso compreen-demos que a crianccedila pode estar na escola regular desde o iniacute-cio de sua escolarizaccedilatildeo (MAZZOTTA apud GODOY 2002)

Reforccedilando esta ideia Glat (1995) considera que o gru-po de pessoas com deficiecircncia fiacutesica natildeo se constitui tradicio-nalmente como clientela da Educaccedilatildeo Especial A inclusatildeo eacute facilitada pela acessibilidade fiacutesica nos espaccedilos escolares natildeo sendo necessaacuterio nenhum outro tipo de assistecircncia especial ao aluno que tenha dificuldade de locomoccedilatildeo (usuaacuterio de ca-deira de rodas muletas andador ou pessoa com perna mais curta ou outro tipo de deficiecircncia fiacutesica)

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO bull PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA216 d d 217

Neste sentido temos dois problemas imbricados tanto a dificuldade e iniciativa tardia do poder puacuteblico no trato das condiccedilotildees de Educaccedilatildeo de pessoas com deficiecircncia quanto agrave falta de acessibilidade ao meio ambiente fiacutesico construiacutedo O que resulta numa situaccedilatildeo em que ateacute bem pouco tempo atraacutes dificilmente encontrariacuteamos uma pessoa com defici-ecircncia visual com surdez ou ateacute mesmo em cadeira de rodas transitando nas salas de aula de uma universidade

A acessibilidade nos espaccedilos da universidade e de um modo geral nos espaccedilos puacuteblicos de Fortaleza vem sendo discutida nesta uacuteltima deacutecada em foacuteruns seminaacuterios au-diecircncias na Cacircmara Municipal na Assembleacuteia Legislativa dentre outros eventos tendo os movimentos e associaccedilotildees de pessoas com deficiecircncia com o apoio do Ministeacuterio Puacuteblico como impulsionadores destes eventos

O governo do estado com a participaccedilatildeo da UFC deu um passo importante com a elaboraccedilatildeo do Guia de Acessibili-dade espaccedilo puacuteblico e edificaccedilotildees publicado em 2009 e sua divulgaccedilatildeo junto aos prefeitos municipais entidades associa-ccedilotildees e a sociedade em geral

Accedilotildees Referentes agrave Acessibilidade Fiacutesica nos Campi da UFC

Ao se abordarem questotildees concernentes agrave inclusatildeo ou acessibilidade de pessoas com deficiecircncia eacute senso comum a referecircncia imediata aos aspectos relativos agraves barreiras arqui-tetocircnicas talvez por serem as mais visiacuteveis Eacute importante en-tretanto destacar o fato de que as barreiras enfrentadas por essas pessoas satildeo muacuteltiplas a comeccedilar pelas atitudes inade-quadas manifestas pelas pessoas em geral em funccedilatildeo de um desconhecimento sobre as reais necessidades da pessoa com deficiecircncia

A acessibilidade fiacutesica eacute hoje uma necessidade baacutesica para que todas as pessoas independentemente de suas habi-lidades possam desenvolver atividades da vida cotidiana com autonomia e mobilidade bem como usufruir dos espaccedilos com seguranccedila e comodidade O aspecto importante da acessibili-dade fiacutesica eacute ser um facilitador da inclusatildeo das pessoas com deficiecircncia

Em dados da UFC (2010) a universidade conta com a aacuterea fiacutesica em Fortaleza de 287258148 msup2 e aacuterea constru-iacuteda de 29131311 msup2 distribuiacuteda em trecircs aacutereas Pici Benfica e Porangabussu e mais algumas unidades dispersas sem di-mensionar os novos campi do interior Aleacutem disso conta nos trecircs terrenos com aacuterea urbanizada de 21841000 msup2 Tem portanto o grande desafio de dar continuidade agrave universali-zaccedilatildeo da acessibilidade adequando os edifiacutecios existentes e implementando nas novas edificaccedilotildees o conceito do Dese-nho Universal (que propotildee um espaccedilo constituiacutedo do maior nuacutemero de dimensotildees acessos tamanhos possibilitando seu uso pelo maior nuacutemero de pessoas) obedecendo agrave legislaccedilatildeo vigente dirimindo possiacuteveis barreiras arquitetocircnicas e pro-porcionando a todos os usuaacuterios sejam alunos servidores ou visitantes o acesso e a livre circulaccedilatildeo

A UFC tem realizado um esforccedilo de adequar sua grande aacuterea fiacutesica contudo as accedilotildees natildeo alcanccedilavam a plenitude de-vido agraves questotildees de recursos caracterizando-se assim como emergenciais ou contingenciais A antiga Superintendecircncia de Obras e Planejamento (PLANOP) atual Coordenadoria de Projetos e Obras (COP) elaborou em 2002 o projeto Acesso UFC sob a coordenaccedilatildeo da arquiteta Magda Campelo e dire-ccedilatildeo geral do professor Ademar Gondim com a intenccedilatildeo de incluir nas atividades dessa Superintendecircncia estudos de acessibilidade para os edifiacutecios da UFC Contou com o envol-

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO bull PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA218 d d 219

vimento de alunos e servidores com deficiecircncia e bolsistas in-dicados pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Esse projeto tinha como objetivos principais a execu-ccedilatildeo do levantamento do nuacutemero de pessoas com deficiecircncia na UFC seus respectivos locais e condiccedilotildees de trabalho bem como a elaboraccedilatildeo de estudos para atendimento prioritaacuterio a este puacuteblico-alvo

No segundo momento foi realizado um levantamen-to da necessidade de intervenccedilatildeo em toda a aacuterea construiacuteda da UFC restringindo-se poreacutem agrave adequaccedilatildeo de banheiros construccedilatildeo de rampas e instalaccedilatildeo de plataformas a fim de mensurar os custos necessaacuterios para eliminaccedilatildeo de barreiras arquitetocircnicas na instituiccedilatildeo

No periacuteodo entre 2002 e 2003 foram executados e or-ccedilados pela PLANOP vinte e quatro projetos de acessibilida-de com ecircnfase tambeacutem na instalaccedilatildeo de rampas e adequa-ccedilatildeo de banheiros em preacutedios Do total 62 das intervenccedilotildees deram-se no Benfica aacuterea com maior nuacutemero de pessoas com deficiecircncia 34 no Pici e 4 no Porangabussu

Alguns destes projetos natildeo foram efetivados por indis-ponibilidade orccedilamentaacuteria na eacutepoca poreacutem com recursos do Projeto UFC Inclui em 2006 e 2007 sob a coordenaccedilatildeo da professora doutora Ana Karina Lira foram realizadas vaacuterias accedilotildees dentre elas o Ciclo de Debates Exposiccedilotildees e execuccedilatildeo de nove dos projetos disponibilizados pela Superintendente da PLANOP Aleacutem disso por iniciativa de diretores dos cen-tros e faculdades vaacuterias outras adaptaccedilotildees foram executadas como as passarelas de ligaccedilatildeo de preacutedios rampas de acesso aos edifiacutecios bem como intervenccedilotildees em banheiros

Registramos ainda um processo movido pelo Nuacutecleo de Tutela Coletiva da Procuradoria da Repuacuteblica no Estado do Cearaacute em 2005 que exigiu da UFC adoccedilatildeo de medidas

de condiccedilotildees miacutenimas e baacutesicas para o acesso e permanecircncia de estudantes com deficiecircncia em suas dependecircncias Desde entatildeo intervenccedilotildees foram feitas em todos os centros e facul-dades mas em face da dimensatildeo da UFC e da limitaccedilatildeo orccedila-mentaacuteria muitas das demandas ainda natildeo foram totalmente atendidas conforme imperativo legal vigente Contudo algu-mas plataformas verticais para conduccedilatildeo de pessoas com de-ficiecircncia ou mobilidade reduzida e rampas foram implantadas em algumas das edificaccedilotildees existentes como eacute o caso da Fa-culdade de Direito dentre outras (Fotos 01 e 02)

Foto 1 ndash Faculdade de DireitoUFC ndash Plataforma vertical no curso de DireitoFoto 2 ndash Faculdade de DireitoUFC ndash Rampa para o bloco antigo do curso de Direito

Com a criaccedilatildeo da Secretaria de Acessibilidade UFC In-clui em 2010 os trabalhos de acompanhamento de adequa-ccedilatildeo dos espaccedilos construiacutedos foram retomados de forma mais ampla e sistematizada

Como instrumento de verificaccedilatildeo das condiccedilotildees de acessibilidade na universidade iniciaram utilizando o levan-tamento de necessidades no acervo da COP dados resultan-tes da realizaccedilatildeo de vistoria da Comissatildeo de Acessibilidade do

1 2

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO bull PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA220 d d 221

Sistema de Bibliotecas da UFC como tambeacutem indicadores le-vantados por membros da Comissatildeo Especial de Educaccedilatildeo In-clusiva (CEIn) em 2009 juntamente com alunos bolsistas dos cursos de Arquitetura e Urbanismo Enfermagem Pedagogia e de um aluno do curso de bacharelado em Quiacutemica ndash usuaacuterio de cadeira de rodas

A CEIn foi criada pelo Magniacutefico Reitor Jesualdo Pe-reira Farias em 2009 com o objetivo de fazer uma propos-ta de estruturaccedilatildeo administrativa cuidando da elaboraccedilatildeo conduccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas de Educaccedilatildeo Inclusiva na universidade

Os bolsistas da comissatildeo na aacuterea de Arquitetura e Ur-banismo eram inicialmente responsaacuteveis por realizar visitas teacutecnicas agraves edificaccedilotildees da universidade que foram mapeadas atraveacutes do Plano Diretor da UFC a fim de se obter uma di-mensatildeo geral sobre os problemas de acessibilidade da uni-versidade Posteriormente nesta agregaram-se os teacutecnicos a serviccedilo da COP

Estes trabalhos satildeo compostos de observaccedilotildees in loco mediccedilotildees e anotaccedilotildees sobre a estrutura fiacutesica registros foto-graacuteficos Posteriormente os dados satildeo organizados eacute feita uma anaacutelise resultando em Relatoacuterios Teacutecnicos das edifica-ccedilotildees visitadas com apontamentos referentes agrave necessidade de intervenccedilotildees para o cumprimento da legislaccedilatildeo existente

Para tanto foi elaborado um check list envolvendo as principais questotildees da acessibilidade de forma a simplificar tanto o processo de recolhimento de dados in loco quanto a proacutepria leitura do laudo Natildeo soacute os ambientes e acessos inter-nos agrave edificaccedilatildeo foram analisados mas tambeacutem as aacutereas livres comuns (paacutetios jardins caminhos) O diagnoacutestico tinha uma preocupaccedilatildeo urbaniacutestica analisando o entorno da edificaccedilatildeo as faixas de travessia os rebaixos as paradas de ocircnibus e se

a chegada da pessoa com deficiecircncia ao edifiacutecio estaria sendo executada de forma livre e segura

A metodologia de diagnosticar atraveacutes de um check list padratildeo pode ser observada no recorte do relatoacuterio abaixo

Foto 3 ndash Relatoacuterio de Condiccedilotildees de Acessibilidade Fiacutesica da FEAAC

Depois de uma anaacutelise geral dos problemas de acessi-bilidade nas edificaccedilotildees existentes na universidade os bol-sistas de Arquitetura e Urbanismo foram direcionados para trabalhar em parceria com a COP Este trabalho consistiu em realizar uma anaacutelise minuciosa das questotildees de acessibilidade nos novos projetos Infelizmente nos processos de licitaccedilatildeo

yRebaixosrampas Apresenta alguns rebai-xos inadequados nas travessias internas Nas entradas dos Centros Acadecircmicos e em alguns pontos do passeio natildeo haacute rampas A rampa encontrada na entrada do edifiacutecio estaacute com inclinaccedilatildeo adequada poreacutem o cor-rimatildeo estaacute em desacordo com a NBR9050

yBarreiras arquitetocircnicas desniacuteveis Alguns desniacuteveis foram encontrados sem rebaixo e com grelha na direccedilatildeo errada impossibili-tando a passagem da pessoa em cadeira de rodas As barreiras arquitetocircnicas natildeo pos-suem piso alerta

ySinalizaccedilatildeo Natildeo haacute sinalizaccedilatildeo direcional nem alertas para a pessoa com deficiecircncia visual

yAparelhos telefocircnicos puacuteblicos Os apare-lhos puacuteblicos encontrados estatildeo todos com alturas acima de 120 m alcance maacuteximo da pessoa em cadeira de rodas

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO bull PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA222 d d 223

natildeo haacute uma cobranccedila rigorosa com base na legislaccedilatildeo vigente no que diz respeito a estas questotildees o que resulta em projetos que cumprem apenas parcialmente as determinaccedilotildees da nor-ma e em outros que ignoram os efeitos desta

O trabalho de anaacutelise projetual consiste na leitura pran-cha a prancha do projeto utilizando a mesma metodologia do check list Os dados desta anaacutelise resultam tambeacutem em um Relatoacuterio Teacutecnico de Acessibilidade conforme recorte abaixo

y Prancga 94 ndash Detalhe de banheiroDeve-se colocar as barras de apoio vertical em pelo menos um dos mic-toacuterios (com espaccedilo livre de 60 cm de largura) Rebaixar pelo menos uma extensatildeo de 90 cm da bancada para altura de 80 cm respeitando a altura de 73 cm para entrada da cadeira

Exemplo de mictoacuterios ndash Fonte NBR9050

y Prancha 95 ndash No WC Feminino deve-se rebaixar pelo menos uma extensatildeo de 90 cm da bancada para altura de 80 cm respeitando a altura de 73 cm para entrada da cadeira

y Prancha 102 ndash Detalhamento de Portas ndash Na porta P3 (acesiacutevel) o siacutembolo natildeo segue as corretas proporccedilotildees da NBR9050 que deve ser universal

Foto 4 ndash Relatoacuterio de Acessibilidade ICA

Passaram por esta anaacutelise grandes novas edificaccedilotildees da UFC como o Instituto de Cultura e Arte (ICA) o Instituto Pa-leontoloacutegico e Geoloacutegico e a 4ordf Etapa do Campus Juazeiro do Norte

Ratifica-se a necessidade da manutenccedilatildeo deste trabalho de anaacutelise projetual das novas edificaccedilotildees Analisar o edifiacutecio ainda na fase de projeto propicia a condiccedilatildeo de tempo haacutebil para correccedilotildees antes da execuccedilatildeo da obra A projetaccedilatildeo acessiacute-vel eacute mais simples proporcionando a condiccedilatildeo de concepccedilotildees esteacuteticas sem prejuiacutezo das visuais plaacutesticas do edifiacutecio Eacute ainda mais econocircmica evitando gastos futuros com reformas mui-tas vezes que natildeo conseguem chegar a um resultado satisfa-toacuterio sendo meras adaptaccedilotildees de uma realidade estabelecida

Com o crescimento dos investimentos em novas edifica-ccedilotildees e obras devido ao Programa de Reestruturaccedilatildeo e Expan-satildeo das Universidades Federais (REUNI) nos campi da UFC surgiu a necessidade da COP realizar um novo levantamento das condiccedilotildees de acessibilidade verificando as necessidades de adaptaccedilatildeo das antigas edificaccedilotildees bem como a sinalizaccedilatildeo das pendecircncias restantes nas novas edificaccedilotildees

A realizaccedilatildeo deste trabalho foi fundamentada no Decre-to nordm 52962004 que trata da prioridade de atendimento agraves pessoas com deficiecircncia que estabelece normas gerais e criteacuterios baacutesicos para a promoccedilatildeo da acessibilidade em rela-ccedilatildeo agraves edificaccedilotildees espaccedilo mobiliaacuterio e equipamento urbano incluindo elevadores plataformas de elevaccedilatildeo motorizadas e requisitos para seguranccedila dimensotildees e operaccedilatildeo funcional Deve-se salientar sua importacircncia tambeacutem por estabelecer ainda os criteacuterios para instruir os processos de autorizaccedilatildeo e de reconhecimento de cursos bem como o credenciamento de instituiccedilotildees considerando a acessibilidade aos edifiacutecios de uso puacuteblico ao espaccedilo e utilizaccedilatildeo de mobiliaacuterio

Vista frontal Vista frontalVista lateral

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO bull PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA224 d d 225

Temos alguns exemplos desta nova fase de implantaccedilatildeo de requisitos de acessibilidade nos projetos de edificaccedilotildees e espaccedilos livres na UFC (Fotos 05 e 06)

Foto 5 ndash Auditoacuterio Valnir Chagas ndash FacedUFC Rampa com incli-naccedilatildeo adequada e corrimatildeo proacuteximo ao exigido pela NBR-9050Foto 6 ndash Entrada do curso de PsicologiaUFC Rebaixos de rampas de acesso adequados e vaga reservada

Conclusatildeo

A obrigatoriedade ao cumprimento do Decreto nordm 52962004 e a conscientizaccedilatildeo da necessidade de se projetar para todos impotildeem aos oacutergatildeos puacuteblicos dentre eles a univer-sidade a execuccedilatildeo de projetos em observacircncia agrave NBR 9050 Uma dificuldade percebida se refere agrave dimensatildeo da equipe que trabalha nos projetos e obras da instituiccedilatildeo o que dificulta o andamento de accedilotildees de um modo geral bem como de obras de pequeno porte que poderiam ser realizadas pelos proacuteprios diretores de centros e faculdades Ao que parece desde o ano de 2011 este trabalho vem sendo acelerado com a terceiriza-ccedilatildeo de parte destes projetos

O atendimento agraves normas de acessibilidade passou a ser adotado quando da elaboraccedilatildeo de projetos para novas edificaccedilotildees Mesmo sendo a nova concepccedilatildeo inserida nos pre-

ceitos da acessibilidade fiacutesica algumas accedilotildees como eacute o caso da locaccedilatildeo de equipamentos como as plataformas verticais retardam a finalizaccedilatildeo completa da obra por constituiacuterem um procedimento obrigatoacuterio de licitaccedilatildeo para compra de equi-pamentos explicando o fato de encontrarmos nos preacutedios novos apenas as estruturas que abrigam estes equipamentos Isso resulta no atraso da instalaccedilatildeo das mesmas em relaccedilatildeo agrave obra como um todo

Estes satildeo instrumentos contundentes relativos ao fato de que mesmo tendo sido realizadas muitas accedilotildees ainda haacute de se fazer para que a universidade atinja um niacutevel plenamen-te satisfatoacuterio de acessibilidade em sua estrutura fiacutesica

Em decorrecircncia de novos eventos como a promulgaccedilatildeo da Lei nordm 12587 de 3 de janeiro de 2012 ndash que institui as dire-trizes da Poliacutetica Nacional de Mobilidade Urbana bem como o Decreto Legislativo nordm 186 2008 no qual em seu Art 1ordm ndash Fica aprovado nos termos do sect 3ordm do Art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal o texto da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia e de seu Protocolo Facultativo assinados em Nova Iorque em 2007 igualmente o Decreto nordm 6949 de 2009 que determina em seu Art 1ordm ndash A Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia e seu Protocolo Faculta-tivo ndash seratildeo executados e cumpridos tatildeo inteiramente como neles se contecircm as accedilotildees para inserccedilatildeo de requisitos para a acessibilidade sendo assim cada vez mais incorporados ao co-tidiano das realizaccedilotildees das obras na universidade

Neste sentido podemos afirmar que a execuccedilatildeo de pro-jetos de edificaccedilotildees nos vaacuterios campi da UFC bem como as reformas e adaptaccedilotildees de antigas edificaccedilotildees estatildeo sendo re-alizadas cada vez mais assumindo o compromisso com os pa-radigmas da inclusatildeo observando criteacuterios e determinaccedilotildees legais amparadas pelos princiacutepios da acessibilidade universal

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PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO bull PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA226 d d 227

Referecircncias Normativas e Leis

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 9050 ndash Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiecircncias a edificaccedilotildees espaccedilo mobiliaacuterio e equipamento urbano Rio de Janeiro ABNT 2004BRASIL Lei n 12587 de 3 de Janeiro de 2012 ndash que institui as diretrizes da Poliacutetica Nacional de Mobilidade Urbana______ Decreto nordm 6949 de 25 de agosto de 2009 Pro-mulga a Convenccedilatildeo Internacional sobre os Direitos das Pesso-as com Deficiecircncia e seu Protocolo Facultativo assinados em Nova York em 30 de marccedilo de 2007______ Decreto Ndeg 5626 de 22 de dezembro de 2005 re-gulamenta a Lei Nordm 10436 de 24 de abril de 2002 que dispotildee sobre a Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras e o art 18 da Lei Nordm 10098 de 19 de dezembro de 2000______ Decreto Nordm 5296 de 2 de dezembro de 2004 que regulamenta as Leis nordms 10048 de 8 de novembro de 2000 que daacute prioridade de atendimento agraves pessoas que especifica e 10098 de 19 de dezembro de 2000 que estabelece normas gerais e criteacuterios baacutesicos para a promoccedilatildeo da acessibilidade das pessoas com deficiecircncia ou com mobilidade reduzida e daacute outras providecircnciasCEARAacute Guia de acessibilidade espaccedilo puacuteblico e edificaccedilotildees 1 ed Elaboraccedilatildeo Nadja GS Dutra Montenegro Zilsa Maria Pinto Santiago e Valdemice Costa de Sousa Fortaleza SEIN-FRA-CE 2009

Referecircncias Bibliograacuteficas

GLAT Rosana A Integraccedilatildeo social dos portadores de defici-ecircncias uma reflexatildeo Rio de Janeiro Sete Letras 1995

GODOY H P Inclusatildeo de alunos portadores de deficiecircncia no ensino regular paulista recomendaccedilotildees internacionais e normas oficiais Satildeo Paulo Editora Mackenzie 2002LEITAtildeO V M et al Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC Pro-postas Fortaleza UFC 2010______ Para aleacutem da diferenccedila e do tempo Ensaio soacutecio--histoacuterico da Educaccedilatildeo dos portadores de necessidades es-peciais no Cearaacute Uma trajetoacuteria de luta da segregaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira ndash UFC) Fortaleza 1997MAZZOTTA Marcos J S Educaccedilatildeo Especial no Brasil histoacute-ria e poliacuteticas puacuteblicas Satildeo Paulo Cortez 1996SANTIAGO Z M P Acessibilidade fiacutesica no ambiente cons-truiacutedo o caso das escolas municipais de ensino fundamental de Fortaleza ndash CE (1990 ndash 2003) Dissertaccedilatildeo (Mestrado ndash FAUUSP) Satildeo Paulo 2005SASSAKI R K Inclusatildeo construindo uma sociedade para to-dos 5 ed Rio de Janeiro VWA 1997

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SEacuteRIE DIAacuteLOGOS INTEMPESTIVOS

1 Ditos (mau)ditos Joseacute Gerardo Vasconcelos Antonio Germano Magalhatildees Junior e Joseacute Mendes Fonteles (Orgs) 2001 208p 2001 ISBN 85-86627-13-5

2 Memoacuterias no plural Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Magalhatildees Junior (Orgs) 140p 2001 ISBN 85-86627-21-6

3 Trajetoacuterias da juventude Maria Nobre Damasceno Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 112p 2001 ISBN 85-86627-22-4

4 Trabalho e educaccedilatildeo face agrave crise global do capitalismo Eneacuteas Arrais Neto Manuel Joseacute Pina Fernandes e Sandra Cordeiro Felismino (Orgs) 2002 218p ISBN 85-86627-23-2

5 Um dispositivo chamado Foucault Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Magalhatildees Junior (Orgs) 120p 2002 ISBN 85-86627-24-0

6 Registros de pesquisa na educaccedilatildeo Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2002 216p ISBN 85-86627-25-9

7 Linguagens da histoacuteria Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Maga-lhatildees Junior (Orgs) 2003 154p ISBN 85-7564084-4

8 Esboccedilos em avaliaccedilatildeo educacional Brendan Coleman Mc Donald (Org) 2003 168p ISBN 85-7282-131-7

9 Informaacutetica na escola um olhar multidisciplinar Edla Maria Faust Ramos Marta Costa Rosatelli e Raul Sidnei Wazlawick (Orgs) 2003 135p ISBN 85-7282-130-9

10 Filosofia educaccedilatildeo e realidade Joseacute Gerardo Vasconcelos (Org) 2003 300p ISBN 85-7282-132-5

11 Avaliaccedilatildeo Fiat Lux em Educaccedilatildeo Wagner Bandeira Andriola e Brendan Coleman Mc Donald (Orgs) 2003 212p ISBN 85-7282-136-8

12 Biografias instituiccedilotildees ideias experiecircncias e poliacuteticas educacionais Maria Juraci Maia Cavalcante e Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Orgs) 2003 467p ISBN 85-7282-137-6

13 Movimentos sociais educaccedilatildeo popular e escola a favor da diversidade Kelma Socorro Lopes de Matos (Org) 2003 312p ISBN 85-7282-138-4

14 Trabalho sociabilidade e educaccedilatildeo uma criacutetica agrave ordem do capital Ana Maria Dorta de Menezes e Faacutebio Fonseca Figueiredo (Orgs) 2003 396p ISBN 85-7282-139-2

15 Mundo do trabalho debates contemporacircneos Eneacuteas Arrais Neto Elenice Gomes de Oliveira e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2004 154p ISBN 85-7282-142-2

16 Formaccedilatildeo humana liberdade e historicidade Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2004 250p ISBN 85-7282-143-0

17 Diversidade cultural e desigualdade dinacircmicas identitaacuterias em jogo Maria de Faacutetima Vasconcelos e Rosa Barros Ribeiro (Orgs) 2004 324p ISBN 85-7282-144-9

18 Corporeidade ensaios que envolvem o corpo Antonio Germano Magalhatildees Junior e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2004 114p ISBN85-7282-146-5

19 Linguagem e educaccedilatildeo da crianccedila Silvia Helena Vieira Cruz e Mocircnica Petra-landa Holanda (Orgs) 2004 369p ISBN85-7282-149-X

20 Educaccedilatildeo ambiental em tempos de semear Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Levi Furtado Sampaio (Orgs) 2004 203p ISBN 85-7282-150-3

21 Saberes populares e praacuteticas educativas Joseacute Arimatea Barros Bezerra Catarina Farias de Oliveira e Rosa Maria Barros Ribeiro (Orgs) 2004 186p ISBN 85-7282-162-7

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22 Culturas curriacuteculos e identidades Luiz Botelho de Albuquerque (Org) 231p ISBN 85-7282-165-1

23 Polifonias vozes olhares e registros na filosofia da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Andreacutea Pinheiro e Eacuterica Atem (Orgs) 274p ISBN 857282166-X

24 Coisas de cidade Joseacute Gerardo Vasconcelos e Shara Jane Holanda Costa Adad ISBN 85-7282-172-4

25 O caminho se faz ao caminhar Maria Nobre Damasceno e Celecina de Maria Vera Sales (Orgs) 2005 230p ISBN 85-7282-179-1

26 Artesania do saber tecendo os fios da educaccedilatildeo popular Maria Nobre Damasceno (Org) 2005 169p ISBN 85-7282-181-3

27 Histoacuteria da educaccedilatildeo instituiccedilotildees protagonistas e praacuteticas Maria Juraci Maia Cavalcante e Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Orgs) 458p ISBN 85-7282-182-1

28 Linguagens literatura e escola Sylvie Delacours-Lins e Siacutelvia Helena Vieira Cruz (Orgs) 2005 221p ISBN 85-7282-184-8

29 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade em Paulo Freire Maria Erciacutelia Braga de Olinda e Joatildeo Batista de A Figueiredo (Orgs) 2006 ISBN 85-7282-186-4

30 Curriacuteculos contemporacircneos formaccedilatildeo diversidade e identidades em transiccedilatildeo Luiz Botelho Albuquerque (Org) 2006 ISBN 85-7282-188-0

31 Cultura de paz educaccedilatildeo ambiental e movimentos sociais Kelma Socorro Lopes de Matos (Org) 2006 ISBN 85-7282-189-9

32 Movimentos sociais educaccedilatildeo popular e escola a favor da diversidade II Sylvio de Sousa Gadelha e Socircnia Pereira Barreto (Orgs) 2006 172p ISBN 85-7282-192-9

33 Entretantos diversidade na pesquisa educacional Joseacute Gerardo Vasconcelos Emanoel Luiacutes Roque Soares e Isabel Magda Said Pierre Carneiro (Orgs) ISBN 85-7282-194-5

34 Juventudes cultura de paz e violecircncias na escola Maria do Carmo Alves do Bomfim e Kelma Socorro Lopes de Matos (Orgs) 2006 276p ISBN 85-7282-204-6

35 Diversidade sexual perspectivas educacionais Luiacutes Palhano Loiola 183p ISBN 85-7282-214-3

36 Estaacutegio nos cursos tecnoloacutegicos conhecendo a profissatildeo e o profissional Gregoacuterio Maranguape da Cunha Patriacutecia Helena Carvalho Holanda Cristiano Lins de Vasconcelos (Orgs) 93p ISBN 85-7282-215-1

37 Jovens e crianccedilas outras imagens Kelma Socorro Lopes de Matos Shara Jane Ho-landa Costa Adad e Maria Dalva Macedo Ferreira (Orgs) 221p ISBN 85-7282-219-4

38 Histoacuteria da educaccedilatildeo no Nordeste brasileiro Joseacute Gerardo Vasconcelos e Jorge Carvalho do Nascimento (Orgs) 2006 193p ISBN 85-7282-220-8

39 Pensando com arte Joseacute Gerardo Vasconcelos e Joseacute Albio Moreira de Sales (Orgs) 2006 212p ISBN 85-7282-221-6

40 Educaccedilatildeo poliacutetica e modernidade Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Paulino de Sousa (Orgs) 2006 209p ISBN 978-85-7282-231-2

41 Interfaces metodoloacutegicas na histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconce-los Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Zuleide Fernandes de Queiroz e Joseacute Edvar Costa de Arauacutejo (Orgs) 2007 286p ISBN 978-85-7282-232-9

42 Praacuteticas e aprendizagens docentes Erciacutelia Maria Braga de Olinda e Dorgival Gonccedilalves Fernandes (Orgs) 2007 196p ISBN 97885-7282246-6

43 Educaccedilatildeo ambiental dialoacutegica as contribuiccedilotildees de Paulo Freire e as repre-sentaccedilotildees sociais da aacutegua em cultura sertaneja nordestina Joatildeo B A Figueiredo 2007 385p ISBN 978-85-7282-245-9

44 Espaccedilo urbano e afrodescendecircncia estudos da espacialidade negra urbana para o debate das poliacuteticas puacuteblicas Henrique Cunha Juacutenior e Maria Estela Rocha Ramos (Orgs) 2007 209 ISBN 978-85-7282-259-6

45 Outras histoacuterias do Piauiacute Roberto Kennedy Gomes Franco e Joseacute Gerardo Vasconcelos 2007 197p ISBN 978-85-7282-263-3

46 Estaacutegio supervisionado questotildees da praacutetica profissional Gregoacuterio Maranguape da Cunha Patriacutecia Helena Carvalho Holanda e Cristiano Lins de Vasconcelos (Orgs) 2007 163p ISBN 978-85-7282-265-7

47 Alienaccedilatildeo trabalho e emancipaccedilatildeo humana em Marx Jorge Luiacutes de Oli-veira 2007 291p ISBN 978-85-7282-264-0

48 Modo de brincar lembrar e dizer discursividade e subjetivaccedilatildeo Maria de Faacutetima Vasconcelos da Costa Veriana de Faacutetima Rodrigues Colaccedilo e Nelson Barros da Costa (Orgs) 2007 347p ISBN 97885-7282-267-1

49 De novo ensino meacutedio aos problemas de sempre entre marasmos apro-priaccedilotildees e resistecircncias escolares Jean Mac Cole Tavares Santos 2007 270p ISBN 97885-7282-278-7

50 Nietzscheanismos Joseacute Gerardo Vasconcelos Cellina Muniz e Roberto Kennedy Gomes Franco (Orgs) 2008 150p ISBN 97885-7282-277-0

51 Artes do existir trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda e Francisco Silva Cavalcante Juacutenior (Orgs) 2008 353p ISBN 978-85-7282-269-5

52 Em cada sala um altar em cada quintal uma oficina o tradicional e o novo na histoacuteria da educaccedilatildeo tecnoloacutegica no Cariri cearense Zuleide Fernandes de Queiroz (Org) 2008 403p ISBN 978-85-7282-280-0

53 Instituiccedilotildees campanhas e lutas histoacuteria da educaccedilatildeo especial no Cearaacute Vanda Magalhatildees Leitatildeo 2008 169p ISBN 978-85-7282-281-7

54 A pedagogia feminina das casas de caridade do padre Ibiapina Maria das Graccedilas de Loiola Madeira 2008 391p ISBN 978-85-7282-282-4

55 Histoacuteria da educaccedilatildeo mdash vitrais da memoacuteria lugares imagens e praacuteticas culturais Maria Juraci Maia Cavalcante Zuleide Fernandes de Queiroz Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Joseacute Edvar Costa de Araujo (Orgs) 2008 560p ISBN 978-85-7282-284-8

56 Histoacuteria educacional de Portugal discurso cronologia e comparaccedilatildeo Maria Juraci Maia Cavalcante 2008 342p ISBN 978-85-7282-283-1

57 Juventudes e formaccedilatildeo de professores o ProJovem em Fortaleza Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Paulo Roberto de Sousa Silva (Orgs) 2008 198p ISBN 978-85-7282-295-4

58 Histoacuteria da educaccedilatildeo arquivos documentos historiografia narrativas orais e outros rastros Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Org) 2008 276p ISBN 978-85-7282-285-5

59 Educaccedilatildeo utopia e emancipaccedilatildeo Casemiro de Medeiros Campos 2008 104p ISBN 978-85-7282-305-0

60 Entre liacutenguas movimentos e mistura de saberes Shara Jane Holanda Costa Adad Ana Cristina Meneses de Sousa Brandim e Maria do Socorro Rangel (Orgs) 2008 202p ISBN 978-85-7282-306-7

61 Reinventar o presente pois o amanhatilde se faz com a transformaccedilatildeo do hoje Reinaldo Matias Fleuri 2008 76p ISBN 978-85-7282-307-4

62 Cultura de paz do Conhecimento agrave Sabedoria Kelma Socorro Lopes de Matos Verocircnica Salgueiro do Nascimento e Raimundo Nonato Juacutenior (Orgs) 2008 260p ISBN 978-85-7282-311-1

63 Educaccedilatildeo e afrodescendecircncia no Brasil Ana Beatriz Sousa Gomes e Henrique Cunha Juacutenior (Orgs) 2008 291p ISBN 978-85-7282-310-4

64 Reflexotildees sobre a fenomenologia do espiacuterito de Hegel Eduardo Ferreira Chagas Marcos Faacutebio Alexandre Nicolau e Renato Almeida de Oliveira (Orgs) 2008 285p ISBN 978-85-7282-313-5

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65 Gestatildeo escolar saber fazer Casemiro de Medeiros Campos e Milena Marcintha Alves Braz (Orgs) 2009 166p ISBN 978-85-7282-316-6

66 Psicologia da educaccedilatildeo teorias do desenvolvimento e da aprendizagem em discussatildeo Maria Vilani Cosme de Carvalho e Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Orgs) 2008 241p ISBN 978-85-7282-322-7

67 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2008 210p ISBN 978-85-7282-323-4

68 Projovem experiecircncias com formaccedilatildeo de professores em Fortaleza Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2008 214p ISBN 978-85-7282-324-1

69 A filosofia moderna Antonio Paulino de Sousa e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2008 212p ISBN 978-85-7282-314-2

70 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade em Paulo Freire II reflexotildees e possi-bilidades em movimento Joatildeo B A Figueiredo e Maria Eleni Henrique da Silva (Orgs) 2009 189p ISBN 978-85-7282-312-8

71 Letramentos na Web Gecircneros Interaccedilatildeo e Ensino Juacutelio Ceacutesar Arauacutejo e Messias Dieb (Orgs) 2009 286p ISBN 978-85-7282-328-9

72 Marabaixo danccedila afrodescendente Significando a Identidade Eacutetnica do Negro Amapaense Piedade Lino Videira 2009 274p ISBN 978-85-7282-325-8

73 Escolas e culturas poliacuteticas tempos e territoacuterios de accedilotildees educacionais Maria Juraci Maia Cavalcante Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Edvar Costa de Araujo e Zuleide Fernandes de Queiroz (Orgs) 2009 445p ISBN 978-85-7282-333-3

74 Educaccedilatildeo saberes e praacuteticas no Oeste Potiguar Jean Mac Cole Tavares Santos e Zacarias Marinho (Orgs) 2009 225p ISBN 978-85-7282-342-5

75 Labirintos de clio praacuteticas de pesquisa em Histoacuteria Joseacute Gerardo Vasconcelos Samara Mendes Arauacutejo Silva e Raimundo Nonato Lima dos Santos (Orgs) 2009 171p ISNB 978-85-7282-354-8

76 Fanzines autoria subjetividade e invenccedilatildeo de si Cellina Rodrigues Muniz (Org) 2009 139p ISBN 978-85-7282-366-1

77 Besouro cordatildeo de ouro o capoeira justiceiro Joseacute Gerardo Vasconcelos 2009 109p ISBN 978-85-7282-362-3

78 Da teoria agrave praacutetica a escola dos sonhos eacute possiacutevel Adelar Hengemuhle Deacutebora Luacutecia Lima Leite Mendes Casemiro de Medeiros Campos (Orgs) 2010 167p ISBN 978-85-7282-363-0

79 Eacutetica e cidadania educaccedilatildeo para a formaccedilatildeo de pessoas eacuteticas Maacuterie dos Santos Ferreira e Raphaela Cacircndido (Orgs) 2010 115p ISBN 978-85-7282-373-9

80 Qualidade de vida na infacircncia visatildeo de alunos da rede puacuteblica e privada de ensino Lia Machado Fiuza Fialho e Maria Teresa Moreno Valdeacutes 2009 113p ISBN 978-85-7282-369-2

81 Federalismo cultural e sistema nacional de cultura contribuiccedilatildeo ao debate Francisco Humberto Cunha Filho 2010 155p ISBN 978-85-7282-378-4

82 Experiecircncias e diaacutelogos em educaccedilatildeo do campo Kelma Socorro Alves Lopes de Matos Carmen Rejane Flores Wizniewsky Ane Carine Meurer e Cesar De David (Orgs) 2010 129p ISBN 978-85-7282-377-7

83 Tempo espaccedilo e memoacuteria da educaccedilatildeo pressupostos teoacutericos metodoloacutegi-cos e seus objetos de estudo Joseacute Gerardo Vasconcelos Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Edvar Costa de Arauacutejo Joseacute Rogeacuterio Santana Zuleide Fernandes de Queiroz e Ivna de Holanda Pereira (Orgs) 2010 718p ISBN 978-85-7282-385-282

84 Os Diferentes olhares do cotidiano profissional Cassandra Maria Bastos Franco Joseacute Gerardo Vasconcelos e Patriacutecia Maria Bastos Franco 2010 275p ISBN 978-85-7282-381-4

85 Fontes meacutetodos e registros para a histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2010 221p ISBN 978-85-7282-383-8

86 Temas educacionais uma coletacircnea de artigos Luiacutes Taacutevora Furtado Ribeiro e Marco Aureacutelio de Patriacutecio Ribeiro 2010 261p ISBN 978-85-7282-389-0

87 Educaccedilatildeo e diversidade cultural Maria do Carmo Alves do Bomfim Kelma Socorro Alves Lopes de Matos Ana Beatriz Sousa Gomes e Ana Ceacutelia de Sousa Santos 2009 463p ISBN 978-85-7282-376-0

88 Histoacuteria da educaccedilatildeo nas trilhas da pesquisa Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2010 239p ISBN 978-85-7282-384-5

89 Artes do fazer trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2010 335p ISBN 978-85-7282-398-2

90 Laacutepis agulhas e amores histoacuteria de mulheres na contemporaneidade Joseacute Gerardo Vasconcelos Samara Mendes Arauacutejo Silva Cassandra Maria Bastos Franco e Joseacute Rogeacuterio Santana (Orgs) 2010 327p ISBN 978-85-7282-395-1

91 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Raimundo Nonato Junior (Orgs) 2010 337p ISBN 978-85-7282-403-3

92 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade II Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2010 241p ISBN 978-85-7282-407-1

93 Eacutetica e as reverberaccedilotildees do fazer Kleber Jean Matos Lopes Emiacutelio Nolasco de Carvalho e Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Orgs) 2011 205p ISBN 978-85-7282-424-8

94 Contrapontos democracia repuacuteblica e constituiccedilatildeo no Brasil Filomeno Moraes 2010 205p ISBN 978-85-7282-421-7

95 Paulo Freire teorias e praacuteticas em educaccedilatildeo popular mdash escola puacuteblica inclusatildeo humanizaccedilatildeo (Org) 2011 241p ISBN 978-85-7282-419-4

96 Formaccedilatildeo de professores e pesquisas em educaccedilatildeo teorias metodologias praacuteticas e experiecircncias docentes Francisco Ari de Andrade e Jean Mac Cole Tavares Santos (Orgs) 2011 307p ISBN 978-85-7282-427-9

97 Experiecircncias de avaliaccedilatildeo curricular possibilidades teoacuterico-praacuteticas Mei-recele Caliope Leitinho e Patriacutecia Helena Carvalho Holanda (Orgs) 2011 208p ISBN 978-85-7282-437-8

98 Elogio do cotidiano educaccedilatildeo ambiental e a pedagogia silenciosa da caatinga no sertatildeo piauiense Saacutedia Gonccedilalves de Castro (Orgs) 2011 243p ISBN 978-85-7282-438-6

99 Recortes das sexualidades Adriano Henrique Caetano Costa Alexandre Martins Joca e Francisco Pedrosa Ramos Xavier Filho (Orgs) 2011 214p ISBN 978-85-7282-444-6

100 O Pensamento pedagoacutegico hoje Joseacute Gerardo Vasconcelos e Joseacute Rogeacuterio Santana (Orgs) 2011 187p ISBN 978-85-7282-428-6

101 Inovaccedilotildees cibercultura e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vasconcelos Vania Marilande Ceccatto Francisco Herbert Lima Vasconcelos e Juacutelio Wilson Ribeiro (Orgs) 2011 301p ISBN 978-85-7282-429-3

102 Tribuna de vozes Joseacute Gerardo Vasconcelos Renata Rovaris Diorio e Flaacutevio Joseacute Moreira Gonccedilalves (Orgs) 2011 530p ISBN 978-85-7282-446-0

103 Bioinformaacutetica ciecircncias biomeacutedicas e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho Francisco Fleury Uchoa Santos Juacutenior Vacircnia Marilande Ceccatto (Orgs) 2011 277p ISBN 978-85-7282-450-7

104 Dialogando sobre metodologia cientiacutefica Helena Marinho Joseacute Rogeacuterio Santana e (Orgs) 2011 165p ISBN 978-85-7282-463-7

234 d d 235

105 Cultura educaccedilatildeo espaccedilo e tempo Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Keila Andrade Haiashida Lia Machado Fiuza Fialho Rui Martinho Rodrigues e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2011 743p ISBN 978-85-7282-453-8

106 Artefatos da cultura negra no Cearaacute Henrique Cunha Juacutenior Joselina da Silva e Cicera Nunes (Orgs) 2011 283p ISBN 978-85-7282-464-4

107 Espaccedilos e tempos de aprendizagens geografia e educaccedilatildeo na cultura Stanley Braz de Oliveira Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Gerardo Vasconcelos e Maacutercio Igleacutesias Arauacutejo Silva (Orgs) 2011 157p ISBN 978-85-7282-483-5

108 Muitas histoacuterias muitos olhares relatos de pesquisas na histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vasconcelos Gablielle Bessa Pereira Maia e Lia Machado Fiuza Fialho (Orgs) 2011 339p ISBN 978-85-7282-466-8

109 Imagem memoacuteria e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vas-concelos Lia Machado Fiuza Fialho Cibelle Amorim Martins e Favianni da Silva (Orgs) 2011 322p ISBN 978-85-7282-480-4

110 Corpos de rua cartografia dos saberes Juvenis e o Sociopoetizar dos Desejos dos Educadores Shara Jane Holanda Costa Adad 2011 391p ISBN 978-85-7282-447-7

111 Baratildeo e o prisioneiro biografia e histoacuteria de vida em debate Charliton Joseacute dos Santos Machado Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Joseacute Gerardo Vasconcelos 2011 76p ISBN 978-85-7282-475-0

112 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade II Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2011 363p ISBN 978-85-7282-481-1

113 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade III Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2011 331p ISBN 978-85-7282-484-2

114 Diaacutelogos em educaccedilatildeo ambiental Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Joseacute Levi Furtado Sampaio (Org) 2012 350p ISBN 978-85-7282-488-0

115 Artes do sentir trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2011 406p ISBN 978-85-7282-490-3

116 Milagre martiacuterio protagonismo da tradiccedilatildeo religiosa popular de Juazeiro padre Ciacutecero beata Maria de Arauacutejo romeirosas e romarias Luis Eduardo Torres Bedoya (Org) 2011 189p ISBN 978-85-7282-462-091

117 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade III encantos que se encontram nos diaacutelogos que acompanham Freire Joatildeo Batista de Oliveira Figueiredo e Maria Eleni Henrique da Silva (Orgs) 2012 212p ISBN 978-85-7282-454-5

118 As contribuiccedilotildees de Paramahansa Yogananda agrave educaccedilatildeo ambiental Arnoacutebio Albuquerque 2011 233p ISBN 978-85-7282-456-9

119 Educaccedilatildeo brasileira em muacuteltiplos olhares Francisco Ari de Andrade Anto-nia Rozimar Machado e Rocha Janote Pires Marques e Helena de Lima Marinho Rodrigues Arauacutejo 2012 326p ISBN 978-85-7282-499-6

120 Educaccedilatildeo musical campos de pesquisa formaccedilatildeo e experiecircncias Luiz Botelho Albuquerque e Pedro Rogeacuterio (Orgs) 2012 296p ISBN 978-7282-505-4

121 A questatildeo da praacutetica e da teoria na formaccedilatildeo do professor Ada Augus-ta Celestino Bezerra Marilene Batista da Cruz Nascimento e Edineide Santana (Orgs) 2012 218p ISBN 978-7282-503-0

122 Histoacuteria da educaccedilatildeo real e virtual em debate Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho (Orgs) 2012 524p ISBN 978-85-7282-509-2

123 Educaccedilatildeo perspectivas e reflexotildees contemporacircneas Alice Nayara dos Santos Ana Paula Vasconcelos de Oliveira Tahim e Gabrielle Silva Marinho (Orgs) 2012 191p ISBN 978-85-7282-491-0

124 Uacutelceras por pressatildeo uma Abordagem Multidisciplinar Miriam Viviane Baron Joseacute Rogeacuterio Santana Cristine Brandenburg Lia Machado Fiuza Fialho e Marcelo Carneiro (Orgs) 2012 315p ISBN 978-85-7282-489-7

125 Somos todos seres muito especiais uma anaacutelise psico-pedagoacutegica da poliacutetica de educaccedilatildeo inclusiva Ada Augusta Celestino Bezerra e Maria Auxiliadora Aragatildeo de Souza 2012 183p ISBN 978-85-7282-517-7

126 Memoacuterias de Baobaacute Sandra Haydeacutee Petit e Geranilde Costa e Silva (Orgs) 2012 281p ISBN 978-85-7282-501-6

127 Caldeiratildeo saberes e praacuteticas educativas Ceacutelia Camelo de Sousa e Lecircda Vascon-celos Carvalho 2012 135p ISBN 978-85-7282-521-4

128 As Redes sociais e seu impacto na cultura e na educaccedilatildeo do seacuteculo XXI Ronaldo Nunes Linhares Simone Lucena e Andrea Versuti (Orgs) 2012 369p ISBN 978-85-7282-522-1

129 Corpografia multiplicidades em fusatildeo Shara Jane Holanda Costa Adad e Fran-cisco de Oliveira Barros Juacutenior (Orgs) 2012 417p ISBN 978-85-7282-527-6

130 Infacircncia e instituiccedilotildees educativas em Sergipe Miguel Andreacute Berger (Org) 2012 203p ISBN 978-85-7282-519-1

131 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade III Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2012 441p ISBN 978-85-7282-530-6

132 Imprensa impressos e praacuteticas educativas estudos em histoacuteria da edu-caccedilatildeo Miguel Andreacute Berger e Ester Fraga Vilas-Bocircas Carvalho do Nascimento (Orgs) 2012 333p ISBN 978-85-7282-531-3

133 Proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro por meio do tombamento estudo criacutetico e comparado das legislaccedilotildees estaduais mdash Organizadas por Regiotildees Francisco Humberto Cunha Filho (Org) 2012 183p ISBN 978-85-7282-535-1

134 Afro arte memoacuterias e maacutescaras Henrique Cunha Junior e Maria Ceciacutelia Felix Calaccedila (Orgs) 2012 91p ISBN 978-85-7282-439-2

135 Educaccedilatildeo musical em todos os sentidos Luiz Botelho Albuquerque e Pedro Rogeacuterio (Orgs) 2013 300p ISBN 978-85-7282-559-7

136 Africanidades Caucaienses saberes conceitos e sentimentos Sandra Haydeacutee Petit e Geranilde Costa e Silva (Orgs) 2012 206p ISBN 978-85-7282-590-0

137 Batuques folias e ladainhas [manuscrito] a cultura do quilombo do Cria-uacute em Macapaacute e sua educaccedilatildeo Videira Piedade Lino 2012 399p ISBN 978-85-7282-536-8

138 Conselho escolar processos mobilizaccedilatildeo formaccedilatildeo e tecnologia Francisco Herbert Lima Vasconcelos Swamy de Paula Lima Soares Cibelle Amorim Martins Cefisa Maria Sabino Aguiar (Orgs) 2013 370p ISBN 978-85-7282-563-4

139 Sindicalismo sem Marx a CUT como espelho Jorge Luiacutes de Oliveira 2013 570p ISBN 978-85-7282-572-6

140 Catharina Moura e o Feminismo na Parahyba do Norte processos mobilizaccedilatildeo formaccedilatildeo e tecnologia Charliton Joseacute dos Santos Machado Maria Luacutecia da Silva Nunes e Maacutercia Cristiane Ferreira Mendes (Autores) 2013 131p ISBN 978-85-7282-574-0

141 Sequecircncia Fedathi uma proposta pedagoacutegica para o ensino de matemaacute-tica e ciecircncias Francisco Edisom Eugenio de Sousa Francisco Herbert Lima Vasconcelos Hermiacutenio Borges Neto et al (organizadores) 2013 184p ISBN

978-85-7282-573-3142 Transdisciplinaridade na educaccedilatildeo de jovens e adultos colcha de retalhos

ndash conhecimento emancipaccedilatildeo e autoria Ada Augusta Celestino Bezerra e Paula Tauana Santos 2013 109p ISBN 978-85-7282-476-7

236 d d 237

143 Pedagogia organizacional gestatildeo avaliaccedilatildeo amp praacuteticas educacionais Marcos Antonio Martins Lima e Gabrielle Silva Marinho (organizadores) 2013 221p ISBN 978-85-7282-496-5

144 Educaccedilatildeo e formaccedilatildeo de professores questotildees contemporacircneas Ada Augusta Celestino Bezerra e Marilene Batista da Cruz Nascimento (organizadoras) 2013 368p ISBN 978-85-7282-576-4

145 Configuraccedilatildeo do trabalho docente a instruccedilatildeo primaacuteria em Sergipe no seacuteculo XIX (1826-1889) Simone Silveira Amorim 2013 331p ISBN 978-85-7282-575-7

146 Dez anos da Lei No 1063903 memoacuterias e perspectivas Regina de Fatima de Jesus Mairce da Silva Arauacutejo e Henrique Cunha Juacutenior (Orgs) 2013 366p ISBN 978-85-7282-577-1

147 A Histoacuteria Autores e Atores compreensatildeo do mundo educaccedilatildeo e cidadania Rui Martinho Rodrigues 2013 306p ISBN 978-85-7282-583-2

148 Os intelectuais Rui Martinho Rodrigues 2013 164p ISBN 978-85-7282-581-8149 Dinameacuterico Soares do Nascimento uma histoacuteria de poesia paixatildeo e dor

Charliton Joseacute dos Santos Machado Eliel Ferreira Soares e Fabiana Sena (Autores) 2013 76p ISBN 978-85-7282-580-1

150 Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo no Cearaacute Joseacute Gerardo Vasconcelos Lia Machado Fiuza Fialho Joseacute Rogeacuterio Santana Lourdes Rafaella Santos Florecircncio Rui Martinho Rodrigues Dijane Maria Rocha Viacutector e Stanley Braz de Oliveira (Orgs) 2013 218p ISBN 978-85-7282-591-7

151 Pesquisas Biograacuteficas na Educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho Dijane Maria Rocha Victor Antonio Roberto Xavier e Roberta Luacutecia Santos de Oliveira (Orgs) 2013 299p ISBN 978-85-7282-578-8

152 Vejo um museu de grandes novidades o tempo natildeo para Sociopoe-tizando o museu e musealizando a vida Elane Carneiro de Albuquerque 2013 233p ISBN 978-85-7282-587-0

153 A construccedilatildeo da tradiccedilatildeo no Jongo da Serrinha uma etnografia visual do seu processo de espetacularizaccedilatildeo Pedro Somonard 2013 225p ISBN 978-85-7282-588-7

154 Medida socioeducativa de internaccedilatildeo educa Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Organizadora) 2013 370p ISBN 978-85-7282-592-4

155 Palavras e admiraccedilotildees Fernando Luiz Ximenes Rocha 2013 208 ISBN 978-85-7282-593-1

156 Educaccedilatildeo Ambiental e sustentabilidade IV Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Organizadora) 2013 564p ISBN 978-85-7282-596-2

157 Educaccedilatildeo Brasileira rumos e prumos Francisco Ari de Andrade Dijane Maria Rocha Viacutector e Regina Claacuteudia Oliveira da Silva (Orgs) 2013 462pISBN 978-85-7282-594-8

158 Curriacuteculo diaacutelogos possiacuteveis Alice Nayara dos Santos e Pedro Rogeacuterio (organizadoras) 2013 418p ISBN 978-85-7282-585-6

159 Pesquisas educacionais biograacuteficas Lia Machado Fiuza Fialho Gildecircnia Moura de Arauacutejo Almeida e Edilson Silva Castro (Orgs) 2013 166p ISBN 978-85-7282-600-6

160 Hieroacutepolis o sagrado o profano e o urbano Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joumlrn Seemann Josier Ferreira da Silva Christian Dennys

Monteiro de Oliveira e Stanley Braz de Oliveira (Organizadores) 2013 486p ISBN 978-85-7282-603-7

161 Praacuteticas educativas exclusatildeo e resistecircncia Joseacute Gerardo Vasconcelos Lia Machado Fiuza Fialho e Lourdes Rafaella Santos Florecircncio (Organizadores) 2013 166p ISBN 978-85-7282-601-3

162 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade IV Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Organizadora) 2014 520p ISBN 978-85-7282-602-0

163 No ar um poeta Henrique Beltratildeo 2014 361p ISBN 978-85-7282-615-0164 Caacute e Acolaacute experiecircncias e debates Multiculturais Gledson Ribeiro de Olivei-

ra Jeannette Filomeno Pouchain Ramos e Bruno Okoudowa (Organizadores) 2014 339p ISBN 978-85-7282-607-5

165 Ensaios em memoacuterias e oralidades Lia Machado Fiuza Fialho Charliton Joseacute dos Santos Machado Gildecircnia Moura de Arauacutejo Almeida e Joseacute Rogeacuterio Santana (Organizadores) 2014 183p ISBN 978-85-7282-610-5

166 Pelos fios da memoacuteria Lia Machado Fiuza Fialho Charliton Joseacute dos Santos Machado Josier Ferreira da Silva e Joseacute Rogeacuterio Santana (Organizadores) 2013 154p ISBN 978-85-7282-609-9

167 Acessibilidade na UFC tessituras possiacuteveis Vanda Magalhatildees Leitatildeo e Tania Vicente Viana (Organizadoras) 2014 237p ISBN 978-85-7282- 611-2

Page 3: UFC · 2019. 6. 4. · Presidente da República Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Aloizio Mercadante Universidade Federal do Ceará Reitor Prof. Jesualdo Pereira Farias Vice-Reitor

Acessibilidade na UFC tessituras possiacuteveiscopy 2014 Vanda Magalhatildees Leitatildeo e Tania Vicente Viana (Organizadoras)Impresso no Brasil Printed in BrazilEfetuado depoacutesito legal na Biblioteca NacionalTODOS OS DIREITOS RESERVADOSEditora Universidade Federal do Cearaacute ndash UFCAv da Universidade 2932 Benfica Fortaleza-CearaacuteCEP 60020-181 ndash Livraria (85) 33667439 Diretoria (85) 33667766 Administraccedilatildeo FoneFax (85) 33667499Site wwweditoraufcbr ndash E-mail editoraufcbrFaculdade de EducaccedilatildeoRua Waldery Uchoa No 1 Benfica ndash CEP 60020-110Telefones (85) 336676633366766533667667 ndash Fax (85) 33667666Distribuiccedilatildeo Fone (85) 32145129 ndash E-mail aurelio-fernandesigcombrProjeto Graacutefico e CapaCarlos Alberto A Dantas (carlosalbertoadantasgmailcom)Revisatildeo de TextoLeonora Vale de AlbuquerqueNormalizaccedilatildeo BibliograacuteficaPerpeacutetua Socorro Tavares Guimaratildees

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na PublicaccedilatildeoUniversidade Federal do Cearaacute ndash Ediccedilotildees UFC

SOBRE OS AUTORES

Acessibilidade na UFC tessituras possiacuteveis Vanda Magalhatildees Lei-tatildeo e Tania Vicente Viana [organizadoras] ndash Fortaleza Edi-ccedilotildees UFC 2014

238 il Isbn 978-85-7282-611-2

1 Acessibilidade 2 Inclusatildeo 3 Educaccedilatildeo Especial I I Tiacutetulo

CDD 376

Beatriz Furtado Alencar Lima ndash Professora Assistente do Depar-tamento de Letras Estrangeiras do curso de Letras da Universidade Fe-deral do Cearaacute (UFC) Doutoranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da UFC Linha de Pesquisa Praacuteticas Discursivas Aacutereas de pesquisa Letramentos de pessoas com deficiecircncia visual Estudos do Letramento Estudos Criacuteticos do Discurso Mestre em Linguistica Apli-cada pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica Aplicada da Uni-versidade Estadual do Cearaacute (UECE) E-mail alencarbiagmailcom

Carla Poennia Gadelha Soares ndash Graduada em Letras pela Universi-dade Federal do Cearaacute (UFC) Especialista em Linguiacutestica pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza (FGF) Mestranda em Educaccedilatildeo Brasileira pela Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFC Professora da rede puacuteblica estadual Superintendente Escolar da Coordenadoria Regional de Desen-volvimento da Educaccedilatildeo (CREDE 1) E-mail poenniasoaresgmailcom

Clemilda dos Santos Sousa ndash Bibliotecaacuteria do Sistema de Bibliote-cas da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Bacharel em Bibliotecono-mia pela UFC Especialista em Metodologia Cientiacutefica pela Universidade Estatual do Cearaacute (UECE) Coordenadora do serviccedilo de digitalizaccedilatildeo do Sistema de Bibliotecas da UFCE-mail cleoufcbr

Edson Silva Soares ndash Professor Assistente do Instituto de Educaccedilatildeo Fiacutesica e Esportes da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Graduado em Educaccedilatildeo Fiacutesica pela UFC Mestre em Sauacutede Puacuteblica pela Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) E-mail edsonsoaresufcbr

Francisca Samara Teixeira Carvalho ndash Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Especialista em Psicomotri-cidade Cliacutenica pela UFC Membro da diretoria da Sociedade Brasileira

de Psicomotricidade Sessatildeo Cearaacute (SBPC) Mestre em Educaccedilatildeo Brasi-leira pela Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFCE-mail ssamarateixeirayahoocombr

Hamilton Rodrigues Tabosa ndash Professor do Departamento de Ciecircn-cias da Informaccedilatildeo da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Douto-rando do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Universidade Federal da Para-iacuteba (UFPB) Mestre em Avaliaccedilatildeo de Poliacuteticas Puacuteblicas Especialista em Gestatildeo Universitaacuteria e Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Cearaacute E-mail hamiltonrtufcbr

Inecircs Cristina de Melo Mamede ndash Professora Associada da Fa-culdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela FacedUFC e Poacutes-Dou-toranda em Formaccedilatildeo Cultural Esteacutetica Artiacutestica de Professores pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) E-mail imamedeufcbr

Jeriane da Silva Rabelo ndash Graduanda do curso de Pedagogia da Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) Estagiaacuteria do projeto Aprender Jun-tos do programa Palavra de Crianccedila UNICEFFCPC Bolsista voluntaacuteria do programa de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PID) E-mail jerianeufcgmailcom

Lucimeire Alves Moura ndash Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Especialista em Planejamento Educacional e Psicopedagogia Cliacutenica e Institucional (UVA) Atendimento Educacional Especializado (UFC) Professora da Universidade Estadual Vale do Aca-rauacute (UVA) Psicopedagoga e professora do Instituto Cearense de Educa-ccedilatildeo de Surdos (ICES) E-mail meireamourayahoocombr

Maria Clarissa Maciel Rodrigues ndash Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Professora da Escola de Ensino Fundamental Instituto dos Cegos do Cea raacute atuando nas seacuteries iniciais

do Ensino Fundamental Reabilitaccedilatildeo Braille Surdocegueira e Educa-ccedilatildeo de Jovens e Adultos E-mail clarissa_rodriguezhotmailcom

Maria Izalete Inaacutecio Vieira ndash Licenciada em Pedagogia pela Uni-versidade Estadual Vale do Acarauacute (UVA) Bacharel em traduccedilatildeo e in-terpretaccedilatildeo Portuguecircs-Libras-Portuguecircs pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Especialista em Educaccedilatildeo Especial pela UVA Professora de Libras do Instituto Federal de Ciecircncia e Tecnologia do Ce-araacute ndash Campus de Juazeiro do NorteE-mail izaletevieirayahoocombr

Marta Cavalcante Benevides Loureiro ndash Doutoranda em Educa-ccedilatildeo Brasileira pela Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Universidade Fe-deral do Cearaacute (UFC) Especialista em Avaliaccedilatildeo Psicoloacutegica pela UFC Bolsista do Programa REUNI de Orientaccedilatildeo e Operacionalizaccedilatildeo da Poacutes-Graduaccedilatildeo articulada agrave Graduaccedilatildeo ndash PROPAG do Projeto CAPESREUNI E-mail martacbenevidesgmailcom

Pliacutenio Renan Gonccedilalves da Silveira ndash Arquiteto e Urbanista gra-duado pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Desenvolve Projetos e Diagnoacutesticos das Condiccedilotildees de Acessibilidade Fiacutesica Linha de Pesquisa Acessibilidade e Acessibilidade para Idosos E-mail pliniorenangmailcom

Tania Vicente Viana ndash Professora Adjunta do Departamento de Fundamentos da Educaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) Professora do Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da FacedUFC Linha de pesquisa Avaliaccedilatildeo Educacional Eixo temaacutetico Avaliaccedilatildeo da aprendizagem Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela FacedUFC E-mail taniavianaufcbr

Tereza Liduina Grigoacuterio Fernandes ndash Professora de Apoio Peda-goacutegico na aacuterea de surdez do Centro de Referecircncia em Educaccedilatildeo Especial

SUMAacuteRIOdo Estado do Cearaacute Integrante da Equipe de Educaccedilatildeo Especial da Se-cretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio de Fortaleza Doutoranda em Educa-ccedilatildeo pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail teresaliduinagmailcom

Vanda Magalhatildees Leitatildeo ndash Professora Associada I do Departamento de Estudos Especializados da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) Diretora da Secretaria de Acessibili-dade UFC Inclui Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela FacedUFCE-mail vandaufcbr

Valeacuteria Gomes Pereira ndash Graduada em Biblioteconomia pela Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail 2005valeriabolcombr

Zilsa Maria Pinto Santiago ndash Professora Adjunta do Curso de Ar-quitetura e Urbanismo do Centro de Tecnologia da Universidade Fede-ral do Cearaacute (UFC) Mestre em Arquitetura e Urbanismo pelo Mestra-do Interinstitucional com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela Faculdade de Educaccedilatildeo ndash FacedUFC Professora de Educaccedilatildeo e Mobi-lidade no curso de Especializaccedilatildeo em Gestatildeo de Tracircnsito e Transportes Urbanos do Departamento de Engenharia de TransportesUFC Mem-bro do Grupo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC IncluiE-mail zilsaarquiteturaufcbr

PREFAacuteCIORita de Caacutessia Barbosa Paiva Magalhatildees 11

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVanda Magalhatildees Leitatildeo 19

ACESSO Agrave INFORMACcedilAtildeO POR DEFICIENTES VISUAIS EM BIBLIOTECAS CEARENSESValeacuteria Gomes PereiraHamilton Rodrigues Tabosa 39

BIBLIOTECA INCLUSIVA CONSTRUINDO PONTES ENTRE O VISIacuteVEL E O INVISIacuteVELClemilda dos Santos SousaJeriane da Silva Rabelo 59

O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIABeatriz Furtado Alencar LimaCarla Poennia Gadelha Soares 75

SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLEMaria Clarissa Maciel RodriguesInecircs Cristina de Melo Mamede 95

ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeOMaria Izalete Inaacutecio Vieira 123

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteMarta Cavalcante BenevidesTania Vicente Viana 147

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PREFAacuteCIO

Tudo passa e tudo fica poreacutem o nosso eacute passar passar fazendo caminhos

(Antonio Machado )

No Brasil ateacute a deacutecada de 1980 poucas pessoas com deficiecircncia1 ingressavam no Ensino Superior fato que pode estar diretamente relacionado ao acesso restrito dessa popu-laccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Baacutesica aos serviccedilos especializados e indica o longo periacuteodo de sua exclusatildeo dos direitos sociais baacutesicos em nosso paiacutes Gradativamente com o advento da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva inclusiva tal populaccedilatildeo enfren-tando condiccedilotildees ainda adversas finaliza o Ensino Meacutedio e al-meja o ingresso no Ensino Superior

A despeito de todas as ponderaccedilotildees passiacuteveis de serem realizadas sobre sua funccedilatildeo social no contexto da atual crise do capitalismo com suas modalidades precaacuterias de participa-ccedilatildeo e de acesso ao conjunto dos bens e serviccedilos socialmente produzidos a Educaccedilatildeo Especial na perspectiva inclusiva des-ponta como um princiacutepio eacutetico em busca da garantia do direi-to agrave Educaccedilatildeo peremptoriamente negado a muitas geraccedilotildees de estudantes com deficiecircncia

No caso brasileiro a Educaccedilatildeo Especial com feiccedilotildees es-tatais surgiu apenas no apogeu do ldquomilagre brasileirordquo propa-lado pelos governos militares De certa forma seu ldquosucessordquo naufraga com estes governos para ressurgir com extraordi-

1 Embora a Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva Inclusiva reco-nheccedila que seu puacuteblico eacute composto por pessoas com deficiecircncia transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo neste prefaacutecio usaremos predominantemente a expressatildeo pessoas com deficiecircncia

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteFrancisca Samara Teixeira CarvalhoTania Vicente Viana 169

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ Tereza Liduina Grigoacuterio FernandesLucimeire Alves MouraEdson Silva SoaresTania Vicente Viana 193

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute Zilsa Maria Pinto SantiagoPliacutenio Renan Gonccedilalves da Silveira 213

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naacuteria forccedila no acircmbito do debate da ldquoEducaccedilatildeo para todosrdquo na deacutecada de 1990 Esse debate aponta para a perspectiva de democratizaccedilatildeo dos sistemas escolares em todos os seus niacute-veis e modalidades Todavia quando o assunto eacute Educaccedilatildeo Inclusiva o foco hegemocircnico das investigaccedilotildees cientiacuteficas e publicaccedilotildees eacute a inclusatildeo na Educaccedilatildeo Baacutesica Ora atualmente a Educaccedilatildeo Inclusiva no Ensino Superior representa um dos desafios prementes para a real democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior e consequentemente para a denominada docecircncia universitaacuteria dimensatildeo que natildeo tem recebido o tratamento necessaacuterio

Na contracorrente da tradicional seletividade e elitismo que caracterizam a Educaccedilatildeo Superior no Brasil a universi-dade constitui um rico espaccedilo social onde as ldquodiferenccedilasrdquo co-meccedilam a estar presentes Nesse sentido a instituiccedilatildeo univer-sitaacuteria necessita envidar esforccedilos e planejar accedilotildees educativas com vistas agrave garantia de condiccedilotildees de acesso de participaccedilatildeo de aprendizagem isto eacute assegurar o sucesso escolar da popu-laccedilatildeo-alvo da Educaccedilatildeo Inclusiva

Essa garantia pode dinamizar accedilotildees formativas po-tencializadoras tanto da aprendizagem desses estudantes quanto de atividades pedagoacutegicas necessaacuterias para a quebra de barreiras arquitetocircnicas atitudinais e pedagoacutegicas tatildeo co-muns nos processos de Educaccedilatildeo de pessoas consideradas de-ficientes A superaccedilatildeo dessas barreiras especialmente aque-las de cunho pedagoacutegico exige das universidades estrateacutegias capazes de fomentar programas de formaccedilatildeo para docentes universitaacuterios bem como formas de questionar praacuteticas cris-talizadas e pautadas na desinformaccedilatildeo no preconceito e na estigmatizaccedilatildeo

Este livro ndash fruto de trabalho desenvolvido na Univer-sidade Federal do Cearaacute (UFC) ndash apresenta um robusto pano-

rama de investigaccedilotildees reflexotildees e praacuteticas desenvolvidas na referida universidade na busca por uma Educaccedilatildeo Superior democraacutetica e acessiacutevel

O capiacutetulo ldquoCaminhos para a acessibilidade na UFCrdquo de autoria da doutora Vanda Magalhatildees Leitatildeo docente da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFC abre o livro e traccedila um panorama das demandas por acessibilidade na referida universidade aleacutem de descrever o nascedouro da ldquoSecretaria de Acessibilidade da UFCrdquo Discute a experiecircncia vivenciada pautada sobremodo na afirmaccedilatildeo das diferenccedilas e na cons-truccedilatildeo de perspectiva chamada ldquocaminho de matildeo duplardquo na qual sujeitos com e sem deficiecircncia encontram-se implicados no desafio de construir uma universidade de fato inclusiva

No segundo capiacutetulo denominado ldquoAcesso agrave informa-ccedilatildeo por deficientes visuais em bibliotecas cearensesrdquo Valeacuteria Gomes Pereira e Hamilton Rodrigues Tabosa respectivamen-te aluna e docente do curso de Biblioteconomia da UFC dis-cutem a situaccedilatildeo das bibliotecas cearenses quanto agrave acessibi-lidade atraveacutes de tecnologias assistivas eletrocircnicas O estudo ressalta a importacircncia da biblioteca e do acesso agrave informaccedilatildeo como agentes transformadores Mostra tambeacutem o papel do bibliotecaacuterio como suporte para estudantes com deficiecircncia visual no acesso agrave informaccedilatildeo

O capiacutetulo terceiro do livro denominado ldquoBiblioteca Inclusiva construindo pontes entre o visiacutevel e o invisiacutevelrdquo escrito em parceria por Clemilda dos Santos Sousa (Biblio-tecaacuteria do Sistema de Bibliotecas da UFC) e por Jeriane da Silva Rabelo (graduanda em Pedagogia da mesma instituiccedilatildeo) volta a discutir questotildees relativas agraves bibliotecas no contexto dos processos de Educaccedilatildeo Inclusiva no Ensino Superior De-fende a importacircncia da acessibilidade ao espaccedilo da biblioteca aleacutem de mostrar a organizaccedilatildeo do Sistema de Biblioteca da

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UFC no que concerne ao contato com o material bibliograacutefico por parte de pessoas com deficiecircncia visual Evidencia que a digitalizaccedilatildeo de material bibliograacutefico natildeo constitui atividade--fim mas um meio para mediar o contato dessas pessoas com o conhecimento cientiacutefico

No segmento o quarto capiacutetulo intitulado ldquoO serviccedilo de ledores na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui um re-lato de experiecircnciardquo escrito por Beatriz Furtado Alencar Lima (Professora do curso de Letras da UFC) e Carla Poennia Ga-delha Soares (Superintendente Escolar da Coordenadoria Re-gional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo do Estado do Cearaacute) relata a experiecircncia vivenciada no projeto ldquoAtendimento Edu-cacional Especializado para alunos com deficiecircncia visual de universidades puacuteblicas do municiacutepio de Fortalezardquo Explicita a relevacircncia da organizaccedilatildeo de alternativas de atendimento agraves necessidades especiacuteficas de estudantes com deficiecircncia no acircmbito do Ensino Superior com vistas a colaborar para a que-bra de barreiras e promover a participaccedilatildeo e aprendizagem dos mesmos

O quinto capiacutetulo denominado ldquoSeis pontos para a alfa-betizaccedilatildeo especificidades na aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas cegas por meio do Sistema Braillerdquo escrito em parceria pela aluna do curso de Pedagogia da UFC Maria Clarissa Maciel Rodrigues e pela professora Inecircs Cristina de Melo Mamede docente da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFC mostra resultados de uma investigaccedilatildeo cientiacutefica um estudo de caso cujo objetivo foi investigar as especificidades do processo de aquisiccedilatildeo da escrita pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille Aleacutem de revelar tais peculiaridades estabelece interlocuccedilatildeo com a perspectiva de construccedilatildeo da liacutengua escrita proposta pela psicogecircnese piagetiana com fulcro nos estudos de Emiacutelia Ferreiro

O sexto capiacutetulo designado ldquoAbrindo uma janela para a comunicaccedilatildeordquo de autoria de Maria Izalete Inaacutecio Vieira dis-cute a importacircncia da liacutengua de sinais no processo de educa-ccedilatildeo de pessoas surdas e descreve a expansatildeo da acessibilidade para surdos por intermeacutedio de um projeto piloto de legenda-gem em Libras do programa televisivo com periodicidade se-manal UFCTV Essa experiecircncia demonstra a incontornaacutevel necessidade de accedilotildees capazes de revelar para a comunidade em geral que a garantia do direito agrave informaccedilatildeo a toda a po-pulaccedilatildeo inclusive os surdos depende da construccedilatildeo de uma universidade inclusiva e acessiacutevel para todos

No seacutetimo capiacutetulo a doutoranda em Educaccedilatildeo pela UFC Marta Cavalcante Benevides e Tania Vicente Viana do-cente da citada instituiccedilatildeo discutem a ldquoAvaliaccedilatildeo da apren-dizagem de alunos com deficiecircncia estudo de caso em uma instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza--Cearaacuterdquo Destacam aspectos relativos agrave avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem desses alunos ponderando sobre a adequaccedilatildeo da ava-liaccedilatildeo formativa realizada com atividades contextualizadas Evidenciam que a praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem des-tinada aos alunos com deficiecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo de uma IES puacuteblica ainda carece de condiccedilotildees de acessibilidade

O capiacutetulo oito denominado ldquoAvaliaccedilatildeo da aprendiza-gem de alunos com deficiecircncia em Cursos das Ciecircncias Exa-tas estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica Federal de Fortaleza-Cearaacuterdquo escrito por Fran-cisca Samara Teixeira Carvalho (Mestre em Educaccedilatildeo pela UFC) e Tania Vicente Viana (docente da referida instituiccedilatildeo) discute o processo de avaliaccedilatildeo de aprendizagem no contexto inclusivo tecendo criacuteticas aos modelos tradicionais pautado em exames e defende a perspectiva da avaliaccedilatildeo como media-

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dora dos processos de ensino-aprendizagem Mostra ainda que no acircmbito dos Cursos de Ciecircncias Exatas investigados embora se reconheccedila a necessidade de adequaccedilotildees no proces-so avaliativo de pessoas com deficiecircncia existe a necessidade de implantar uma cultura avaliativa que supere a perspectiva tradicional

O nono capiacutetulo intitulado ldquoCapacidades silentes iden-tificaccedilatildeo educacional de altas habilidades em alunos com sur-dezrdquo retoma a temaacutetica do artigo anterior e foi elaborado por Tereza Liduina Grigoacuterio Fernandes e Lucimeire Alves Moura ambas do Centro de Referecircncia em Educaccedilatildeo Especial do Es-tado do Cearaacute em parceria com Edson Silva Soares (docen-te da UFC) e Tania Vicente Viana (docente da UFC) Revela originalidade em duas vertentes Por um lado trata-se do re-sultado de uma investigaccedilatildeo elaborada de modo interinstitu-cional por outro lado trata-se de um trabalho original para a pesquisa em Educaccedilatildeo Especial por pesquisar nas interfaces entre surdez e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo

Finalizando o livro o artigo ldquoPercursos e perspectivas da acessibilidade fiacutesica na Universidade Federal do Cearaacuterdquo de autoria de Zilsa Maria Pinto Santiago (docente do curso de Arquitetura da UFC) e Pliacutenio Renan Gonccedilalves da Silvei-ra (monitor do Projeto UFC Inclui) descreve accedilotildees desen-volvidas por esta universidade na melhoria da qualidade do acesso fiacutesico aos campi bem como enfatiza questotildees teacutecnicas relativas aos desafios pertinentes agrave acessibilidade nos espaccedilos da citada universidade

O conjunto de artigos enfeixados na presente obra aborda um leque variado de temas pertinentes para o cam-po da Educaccedilatildeo Inclusiva e instigam nossa capacidade criacuteti-ca e investigativa Revelam caminhos conquistas e desafios peculiares agrave constituiccedilatildeo de uma universidade puacuteblica atenta

as demandas de seu alunado Fica expliacutecito o engajamento dos(as) autores(as) na conquista diaacuteria por espaccedilos acessiacuteveis e por uma Educaccedilatildeo Superior Inclusiva Sua leitura revela-se pois essencial para todos os que lutam por uma universidade puacuteblica de qualidade

Rita de Caacutessia Barbosa Paiva Magalhatildees Docente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Educaccedilatildeo Centro de Educaccedilatildeo Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFC

Vanda Magalhatildees Leitatildeo

Introduccedilatildeo

A inclusatildeo social de pessoas com deficiecircncia no Bra-sil eacute um tema em efervescecircncia e resulta da dialeticidade de muacuteltiplos fatores Em meio ao processo soacutecio-histoacuterico destacam-se as contribuiccedilotildees teoacutericas das Ciecircncias Sociais e Humanas que se entrelaccedilam dando suporte e forccedila poliacuteti-ca aos movimentos sociais organizados por essas pessoas em defesa dos seus direitos Esses segmentos sociais desafiam o poder puacuteblico se fortalecem e se tornam visiacuteveis falando de si e de suas necessidades sob a maacutexima Nada Sobre Noacutes Sem Noacutes1

No Brasil a mobilizaccedilatildeo da sociedade civil em busca dos direitos humanos de pessoas com deficiecircncia se eviden-cia a partir dos meados do seacuteculo XX quando haacute registro de criaccedilatildeo das primeiras instituiccedilotildees especializadas para o aten-dimento dessas pessoas o Instituto Pestalozzi e a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE) satildeo exemplos Aleacutem disso as Campanhas Nacionais2 ocorridas entre 1957 e 1960 em defesa da educaccedilatildeo de cegos surdos e deficientes mentais3 sob a lideranccedila do Instituto Benjamim Constant Instituto Na-cional de Educaccedilatildeo de Surdos Sociedade Pestalozzi do Bra-

1 Lema internacional indicativo de que as organizaccedilotildees de pessoas com deficiecircncia devem ser consultadas sempre que estiverem sendo desenvolvidos programas padrotildees e normas para a acessibilidade2 Refiro-me agrave Campanha de Educaccedilatildeo de Surdos no Brasil (CESB 1957) Campa-nha Nacional de Educaccedilatildeo de Cegos (CNEC 1960) e a Campanha de Educaccedilatildeo de Deficientes Mentais (CADEME 1960) 3 Terminologia utilizada naquele momento histoacuterico

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO20 d d 21

sil e APAE datildeo respaldo agrave organizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial como uma modalidade de ensino voltada a pessoas com defi-ciecircncia e transversal a todas as etapas e niacuteveis de ensino ndash da Educaccedilatildeo Baacutesica ao Ensino Superior Nesse contexto os mo-vimentos pela aceitaccedilatildeo dessas pessoas tambeacutem se evidencia com vista a integraacute-las agrave sociedade Eacute possiacutevel observar que tal movimentaccedilatildeo eacute acompanhada de mudanccedilas terminoloacutegi-cas para designar todos aqueles que se diferenciam por seus modos singulares de apreender o mundo agrave sua volta e com ele se relacionar Satildeo diferenccedilas que resultam de alguma condi-ccedilatildeo de deficiecircncia sensorial intelectual mental ou fiacutesica que apresentem

No Cearaacute os outrora intitulados desvalidos nos primei-ros cinquenta anos do seacuteculo XX passaram a ser denomina-dos de excepcionais numa tentativa de amenizar o significado da deficiecircncia pautado pelo paradigma meacutedico-organicista--funcional Na sequecircncia histoacuterica foram adotadas

[] expressotildees como deficientes portadores de deficiecircn-cia portadores de necessidades especiais Apesar disso satildeo frequentes as manifestaccedilotildees constrangedoras de pessoas que natildeo sabem como se referir ou se aproximar adequadamente daqueles que compotildeem os grupos de pessoas que apresentam diferenccedilas resultantes de suas singulares condiccedilotildees (LEITAtildeO 2010)

Tais denominaccedilotildees reveladas pela historiografia ao longo das uacuteltimas seis deacutecadas baseadas em normas e valores sociais situam esse contingente social em um lugar marginal com intensa valoraccedilatildeo negativa Eacute como se o tempo fosse de-lineando essa categoria de pessoas no esforccedilo de amenizar a carga negativa por meio dos termos e expressotildees substituiacutedos mas que na verdade parecem manter em sua essecircncia o es-tigma da deficiecircncia (LEITAtildeO 2008)

O Ano Internacional das Pessoas com Deficiecircncia insti-tuiacutedo em 1981 marca no Brasil a emergecircncia de movimentos sociais organizados por pessoas com deficiecircncia que estimula reflexotildees num convite ao abandono do conceito de deficiecircncia sob o acircngulo da falta da perda ou diminuiccedilatildeo funcional para uma compreensatildeo social e afirmativa Sem negar a condiccedilatildeo bioloacutegico-funcional que resulta em suas singulares condiccedilotildees sensorial intelectual fiacutesica ou linguiacutestica passam a adotar expressotildees afirmativas como pessoas com deficiecircncia ou tatildeo somente cegas surdas cadeirantes e outras denominaccedilotildees atualmente usuais Sob esse paradigma a afirmaccedilatildeo das con-diccedilotildees de deficiecircncia daacute suporte agrave passagem para as condiccedilotildees de possibilidades

Atualmente com o respaldo das Ciecircncias Humanas e Sociais o conceito de deficiecircncia eacute posto em xeque pelos grupos organizados em associaccedilotildees de pessoas com deficiecircn-cia ao se apropriarem dos estudos socioantropoloacutegicos que datildeo realce agrave diferenccedila como ldquorecortes de um mesmo tecidordquo (OMOTE 1994)

Ao situar as ambiguidades sobre a compreensatildeo que se tem da deficiecircncia o referido autor afirma que

[] a deficiecircncia natildeo eacute algo que emerge com o nasci-mento de algueacutem ou com a enfermidade que algueacutem contrai mas eacute produzida e mantida por um grupo social na medida em que interpreta e trata como desvantagens certas diferenccedilas [] A deficiecircncia e a natildeo-deficiecircncia fazem parte do mesmo quadro fazem parte do mesmo tecido padratildeo (OMOTE 1994 p 69)

A compreensatildeo de que as deficiecircncias satildeo construccedilotildees sociais trazidas por tais estudos e elaboraccedilotildees tecircm reflexo nas palavras da ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidecircncia da Repuacuteblica Maria do Rosaacuterio ao prefaciar o

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO22 d d 23

texto que resultou da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pesso-as com Deficiecircncia4 Diz a ministra

estamos conscientes por exemplo de que hoje natildeo eacute o limite individual que determina a deficiecircncia mas sim as barreiras existentes nos espaccedilos no meio fiacutesico no transporte na informaccedilatildeo na comunicaccedilatildeo e nos serviccedilos (BRASIL 2011)

Nesta perspectiva as pessoas com deficiecircncia satildeo aque-las que se diferenciam por suas singularidades determinadas pela condiccedilatildeo de deficiecircncia que apresentam seja de nature-za fiacutesica sensorial eou intelectual As transformaccedilotildees que outrora eram centradas nas pessoas voltam-se ao ambiente fiacutesico e social para garantir o acesso para tudo a todos5 Eacute com tal compreensatildeo que esse contingente social minoritaacute-rio promove o reconhecimento de que a deficiecircncia eacute um con-ceito em transformaccedilatildeo e que resulta de sua interaccedilatildeo com o meio social Certamente esse entendimento fundamenta-se nas vivecircncias de confronto e enfrentamento com as barreiras a ele impostas Satildeo barreiras que se expressam das mais va-riadas formas tais como as de ordem fiacutesica linguiacutestica comu-nicacional e informacional tecnoloacutegica dentre outras e que certamente tecircm como pano de fundo as atitudes inadequadas que influenciam uma organizaccedilatildeo social muitas vezes hostil e que bloqueia a inserccedilatildeo plena dessas pessoas em igualdade de oportunidades com as demais

No contexto atual as condiccedilotildees de deficiecircncia parecem ser as mesmas transformando-se os modos de se apresenta-rem e de serem compreendidas Percebe-se facilmente que a convivecircncia diaacuteria com pessoas com deficiecircncia traz mudan-

4 Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) ocorrida em 2007 na cidade de Nova Iorque (EUA) O Brasil aprovou o texto da citada Convenccedilatildeo por meio do Decreto Legislativo nordm 186 de 9 de julho de 2008 5 Preceito adotado pela Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

ccedilas de atitudes grupais e individuais ateacute mesmo porque essas pessoas ao revelarem suas possibilidades e autonomia des-fazem muitos mitos construiacutedos socialmente em torno delas Eacute portanto razoaacutevel pensar que algumas atitudes preconcei-tuosas voltadas aos ldquoditos deficientesrdquo resultam tambeacutem do desconhecimento acerca das singularidades que caracterizam as muacuteltiplas condiccedilotildees de deficiecircncia

Assistem-se tambeacutem na atualidade aos debates e em-bates relativos agraves poliacuteticas de inclusatildeo educacional nas redes de educaccedilatildeo que abrangem todos os niacuteveis e modalidades de ensino Tais debates trazem em seu conjunto entrelaccedilamen-tos conceituais que para este texto destaco a inter-relaccedilatildeo de inclusatildeo e acessibilidade No senso comum acessibilidade parece evidenciar os aspectos referentes ao uso dos espaccedilos fiacutesicos Entretanto a acessibilidade numa acepccedilatildeo mais am-pla eacute condiccedilatildeo de possibilidade para a transposiccedilatildeo de barrei-ras que entravam a efetiva participaccedilatildeo com autonomia de pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida nos vaacuterios acircmbitos da vida social

A acessibilidade eacute portanto condiccedilatildeo fundamental e imprescindiacutevel a todo e qualquer processo de inclusatildeo social e se apresenta em muacuteltiplas dimensotildees incluindo aquelas de natureza atitudinal fiacutesica tecnoloacutegica informacional comunicacional linguiacutestica e pedagoacutegica dentre outras E mais eacute uma questatildeo de direito conquistado gradualmente ao longo da histoacuteria social e implica no respeito agraves diferenccedilas e na identificaccedilatildeo e eliminaccedilatildeo dos diversos tipos de barreiras E ainda acessibilidade eacute para todos sobretudo segundo o Decreto nordm 5296 de 2 de dezembro de 2004 para as pes-soas que possuem limitaccedilatildeo para o desempenho de ativida-des enquadrando-se nessa categoria aquelas com deficiecircncia fiacutesica deficiecircncia intelectual deficiecircncia visual (cegueira ou

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO24 d d 25

baixa visatildeo) deficiecircncia auditiva (surdez ou audiccedilatildeo reduzi-da) deficiecircncias muacuteltiplas e as que apresentam mobilidade reduzida

Demandas por Acessibilidade na Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

A amplitude da legislaccedilatildeo brasileira6 atual no tocante agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas a pessoas com deficiecircncia fez surgir muitos programas por parte do governo federal Em se tratan-do da inclusatildeo escolar no acircmbito do Ensino Superior destaca--se o Programa Incluir do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MECSESu) criado em 2005 que convoca as Instituiccedilotildees Federais de Ensino Superior (IFES) para o compromisso com a inclu-satildeo educacional de pessoas que apresentem alguma condiccedilatildeo de deficiecircncia oferecendo suporte para a criaccedilatildeo de nuacutecleos de inclusatildeo Este foi o marco institucional que impulsionou as IFES a avaliarem as suas condiccedilotildees de acessibilidade

Na UFC embora muitas accedilotildees jaacute se fizessem presen-tes ou em desenvolvimento destaca-se o Projeto UFC Inclui contemplado em trecircs chamadas puacuteblicas7 do MECSESu que tinha como objetivo central a estruturaccedilatildeo de um setor que garantisse as accedilotildees de inclusatildeo de alunos no ensino su-perior Dentre as muitas accedilotildees destacaram-se a realizaccedilatildeo de Ciclos de Debates oferta de cursos de Leitura e Escrita no Sistema Braille de Liacutengua Brasileira de Sinais e de Tecno-

6 Refiro-me aos Decretos que tratam especificamente do tema em foco Satildeo eles os principais Decreto nordm 52962004 (Regulamenta as Leis de nordm 100482000 e nordm 100982000) e Decreto nordm 56262005 (Regulamenta a Lei nordm 103462002)7 Na primeira chamada em 2005 a UFC eacute contemplada com Projeto UFC Inclui sob a coordenaccedilatildeo da professora Ana Karina Morais de Lira e coparticipaccedilatildeo das professoras Zilsa Maria Pinto Santiago e Vanda Magalhatildees Leitatildeo Mais duas versotildees desse Projeto foram submetidas agrave concorrecircncia puacuteblica e aprovadas em 2007 e em 2009 dessa feita sob a coordenaccedilatildeo da professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo e copar-ticipaccedilatildeo das professoras Ana Karina Morais de Lira e Zilsa Maria Pinto Santiago

logias Assistivas adaptaccedilotildees de espaccedilos fiacutesicos para a aces-sibilidade implantaccedilatildeo do Centro Digital para Alunos com Deficiecircncia e aquisiccedilatildeo de equipamentos de tecnologias da informaccedilatildeo

Nesse contexto o Magniacutefico Reitor da UFC professor Jesualdo Pereira Farias criou em novembro de 2009 a Co-missatildeo Especial de Educaccedilatildeo Inclusiva (CEIn) responsaacutevel por realizar estudos das condiccedilotildees de acessibilidade com o fim de propor poliacuteticas voltadas para a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia na UFC A equipe composta de professores das vaacuterias aacutereas do conhecimento e de representaccedilatildeo do segmento de servidor teacutecnico-administrativo e de aluno com deficiecircncia realizou um intenso trabalho durante seis meses Nesse periacuteodo foram compartilhadas expectativas e proposi-ccedilotildees discutidos aspectos conceituais realizados levantamen-tos e estudos das condiccedilotildees de acessibilidade

Os levantamentos realizados pela CEIn permitiram a coleta de dados e informaccedilotildees parciais acerca das condiccedilotildees de acessibilidade na UFC abordando os aspectos que dizem respeito agraves atitudes condiccedilotildees fiacutesicas tecnoloacutegicas acesso ao conhecimento e a informaccedilotildees formaccedilatildeo de discentes docen-tes e servidores teacutecnico-administrativos para a acessibilidade e desenvolvimento de pesquisas e estudos realizados nos cur-sos de graduaccedilatildeo e de poacutes-graduaccedilatildeo A esses levantamentos realizados por amostragem foram acrescentados os resulta-dos de estudos anteriores8 acerca das condiccedilotildees pedagoacutegicas oferecidas aos estudantes e depoimentos de servidores

8 Esses estudos se referem agrave pesquisa intitulada ldquoQuem satildeo e como estatildeo os estu-dantes com Deficiecircncia na UFCrdquo realizada em 2006 coordenada pela professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo como parte da programaccedilatildeo do Projeto UFC Inclui (20052006) e a depoimentos de alunos e de servidores teacutecnico-administrativos que foram colhidos em reuniatildeo ampliada promovida pela Comissatildeo Especial de Educaccedilatildeo Inclusiva (CEIn) em 9 de abril de 2010

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO26 d d 27

Tais estudos levantamentos e escutas revelaram que as accedilotildees inclusivas voltadas a estudantes na UFC eram realiza-das de forma pouco sistemaacutetica contingente e emergencial ocorrendo quase que exclusivamente sob a demanda daquelas pessoas com deficiecircncia que nela ingressavam e que por ve-zes as condiccedilotildees em que se encontram os servidores ainda se apresentam inadequadas agrave medida que enfrentam barreiras de natureza fiacutesica atitudinal e linguiacutestica

No tocante agrave acessibilidade arquitetocircnica os estudos evidenciaram que em sua maioria os preacutedios da UFC se apresentam fora dos padrotildees estabelecidos pela legislaccedilatildeo vi-gente Mesmo nas edificaccedilotildees mais recentes ainda eacute possiacutevel se observar inadequaccedilotildees quanto aos padrotildees de acessibilida-de Nessa avaliaccedilatildeo eacute importante considerar que muitos dos equipamentos da UFC foram construiacutedos haacute mais de 50 anos quando os direitos das pessoas com deficiecircncia natildeo eram pau-tados nos debates e discursos da eacutepoca tampouco nos proje-tos Apesar dos esforccedilos realizados pela UFC para adequar sua grande aacuterea fiacutesica as accedilotildees ainda mantecircm caraacuteter emergen-cial e contingencial

Mediante anaacutelise dos projetos pedagoacutegicos dos cursos de graduaccedilatildeo da UFC pocircde-se observar a quase inexistecircncia de componentes curriculares que contemplem conteuacutedos re-lativos agrave temaacutetica da inclusatildeo acessibilidade ou condiccedilotildees de deficiecircncia Destacam-se como exceccedilotildees a disciplina de Liacuten-gua Brasileira de Sinais (Libras) que a partir do Decreto ndeg 5626 de dezembro de 2005 passa a ser ofertada obrigato-riamente para os cursos de graduaccedilatildeo na modalidade licen-ciatura e optativas para a modalidade bacharelado Psicologia Aplicada aos Portadores de Necessidades Especiais de oferta obrigatoacuteria para o bacharelado em Psicologia Desenho Uni-versal como opccedilatildeo para o curso de Arquitetura e Urbanismo

Educaccedilatildeo Especial9 Educaccedilatildeo Inclusiva e Fundamentos da Educaccedilatildeo de Surdos de oferta opcional para os cursos de Pe-dagogia e Introduccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Especial e Educaccedilatildeo Fiacutesi-ca para Portadores de Necessidades Especiais disciplinas de oferta opcional para o curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas modali-dades bacharelado e licenciatura

Estudos muito recentes10 desenvolvidos no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo (Fa-ced) da UFC no acircmbito dos cursos de mestrado e doutorado mostram que a significativa maioria dos docentes desconhece as singularidades dos processos de aprendizagem de seus alu-nos com deficiecircncia revelando a complexidade que eacute adaptar recursos e estrateacutegias de ensino e de avaliaccedilatildeo da aprendiza-gem assim como ao que se refere agraves adaptaccedilotildees curricula-res Esses estudos demonstram as dificuldades que em geral tecircm os professores em lidar com os processos de avaliaccedilatildeo da aprendizagem de seus alunos e principalmente com aqueles que tecircm alguma necessidade especiacutefica resultante das condi-ccedilotildees de deficiecircncia sensoriais ou fiacutesicas que apresentam

No acircmbito do Sistema de Bibliotecas importante ins-trumento de acesso ao conhecimento e um dos pilares da for-maccedilatildeo profissional e da atividade acadecircmica a CEIn registrou a Comissatildeo de Acessibilidade que se propotildee agrave definiccedilatildeo de accedilotildees em busca da construccedilatildeo de bibliotecas acessiacuteveis Cons-

9 Essa disciplina passa a ter caraacuteter obrigatoacuterio a partir do ajuste curricular dos cursos de Pedagogia (diurno e noturno)10 Refiro-me aos estudos de mestrado e doutorado intitulados Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem de Alunos com Deficiecircncia estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza-Ce (2011) Direito agrave diferenccedila a inclusatildeo de alunos com deficiecircncia visual na UFC (2011) e Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem de Alunos com Deficiecircncia em Cursos das Ciecircncias Exatas estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza-Cearaacute realizados por Marta Cavalcante Benevides Ana Cristina Silva Soares e Francisca Samara Teixeira Carvalho respectivamente

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO28 d d 29

tituiacuteda por bibliotecaacuterios a referida comissatildeo desenvolve ati-vidades tais como levantamento acerca de bibliotecas que oferecem serviccedilos ou produtos em atenccedilatildeo agraves pessoas com deficiecircncia anaacutelise da potencialidade de serviccedilos em curso no Sistema de Bibliotecas que podem ajudar na promoccedilatildeo da acessibilidade como Biblioteca Digital de Teses e Disser-taccedilotildees Livros Eletrocircnicos Portal da Coordenaccedilatildeo de Aperfei-ccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) diagnoacutestico das condiccedilotildees de acessibilidade fiacutesica tecnoloacutegica e de recur-sos humanos do Sistema de Bibliotecas dentre outras

Muito embora a UFC jaacute venha desenvolvendo algumas accedilotildees que satildeo favoraacuteveis agrave condiccedilatildeo de acessibilidade as re-velaccedilotildees resultantes dos referidos estudos e levantamentos apontavam para a urgecircncia de proposiccedilotildees e efetivaccedilatildeo de accedilotildees que garantam a adequaccedilatildeo de praacuteticas e recursos peda-goacutegicos que atendam agraves necessidades especiacuteficas dos estudan-tes promovam a formaccedilatildeo docente e do segmento teacutecnico--administrativo e de serviccedilos para a acessibilidade estimulem a realizaccedilatildeo de pesquisas para o desenvolvimento de tecnolo-gias assistivas permita que com autonomia todos tenham o acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo e ainda a adequaccedilatildeo dos ambientes e condiccedilotildees de trabalho

Secretaria de Acessibilidade Quem Somos

Os estudos e levantamentos ora referidos acerca das condiccedilotildees da acessibilidade realizados pela CEIn alicerccedilaram a elaboraccedilatildeo do documento Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC no qual satildeo propostas poliacuteticas e estrateacutegias de accedilatildeo que permitam o acesso e a inclusatildeo de alunos docentes e servido-res teacutecnico-administrativos com deficiecircncia considerando-se as muacuteltiplas dimensotildees da acessibilidade

A apresentaccedilatildeo do referido documento que tinha como proposta primordial a criaccedilatildeo de uma instacircncia administra-tiva capaz de cuidar em definitivo da elaboraccedilatildeo e conduccedilatildeo de poliacuteticas de acessibilidade na Universidade resultou na criaccedilatildeo da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui por meio da Resoluccedilatildeo nordm 26 de agosto de 2010 do Conselho Univer-sitaacuterio (CONSUNI) Essa decisatildeo deu enorme relevacircncia para a UFC pois pela primeira vez na histoacuteria desta universida-de uma accedilatildeo voltada agrave acessibilidade eacute institucionalizada por seu executivo maior aleacutem da demonstraccedilatildeo e disposiccedilatildeo da Administraccedilatildeo Superior para fazer acontecer a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia na UFC Com objetivos de elaborar executar e gerenciar accedilotildees oferecer suporte agraves unidades aca-decircmicas e administrativas para a efetivaccedilatildeo da acessibilida-de e estimular o desenvolvimento de uma cultura inclusiva na UFC a Secretaria tem como puacuteblico-alvo todas as pessoas sobretudo as pessoas com deficiecircncia integrantes da comu-nidade interna acrescida das pessoas que usufruem de servi-ccedilos por ela oferecidos por meio de accedilotildees de extensatildeo A tiacutetulo de exemplificaccedilatildeo de tais accedilotildees destacam-se aquelas desen-volvidas pelos setores de sauacutede da UFC (serviccedilos meacutedico e odontoloacutegico)

Implantada em outubro de 2010 a Secretaria de Aces-sibilidade UFC Inclui inicialmente constituiacuteda pela direccedilatildeo e pelo setor de apoio administrativo conta com um Grupo de Trabalho composto por nove membros representantes de professores das mais variadas aacutereas de conhecimento servi-dores e estudantes com deficiecircncia Esse grupo de assessoria permanente vem garantindo as realizaccedilotildees da Secretaria por meio da coordenaccedilatildeo de programa de extensatildeo e de projeto de monitoria de graduaccedilatildeo da oferta de serviccedilos das articu-laccedilotildees intersetoriais das mediaccedilotildees entre estudantes e coor-

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO30 d d 31

denadores eou professores dentre outras Parte desse grupo orienta a equipe de estudantes bolsistas de graduaccedilatildeo inte-grantes de projetos de bolsas11 de Iniciaccedilatildeo Acadecircmica Moni-toria de Projetos e de Extensatildeo aleacutem de voluntaacuterios Mais re-centemente com a atualizaccedilatildeo do Regimento Interno da UFC foram acrescidos agrave estrutura da Secretaria mais quatro seto-res assessoria a projetos arquitetocircnicos acompanhamento a alunos tecnologia assistiva e formaccedilatildeo para acessibilidade A equipe a partir de maio do corrente ano foi ampliada e estaacute composta por dez servidores sendo dois assistentes de admi-nistraccedilatildeo quatro tradutores e inteacuterpretes dois teacutecnicos em informaacutetica um teacutecnico em multimiacutedia e um teacutecnico em as-suntos educacionais12

No que diz respeito ao ingresso do segmento de estu-dantes com deficiecircncia nos cursos de graduaccedilatildeo na UFC foi realizado um estudo13 acerca do ingresso dessas pessoas no periacuteodo de 2005 a 2009 por meio do concurso vestibular14 A partir das informaccedilotildees oferecidas pela Comissatildeo de Con-curso Vestibular (CCV) quanto agraves inscriccedilotildees e resultados foram construiacutedas tabelas com dados quantitativos referen-tes agrave categorizaccedilatildeo dos alunos pela condiccedilatildeo de deficiecircncia agrave identificaccedilatildeo dos cursos por eles escolhidos e resultados finais dos concursos realizados Desses registros foi possiacutevel

11 No total a equipe de bolsistas eacute composta por dezoito estudantes de graduaccedilatildeo sendo quatro bolsistas da Proacute-Reitoria de Graduaccedilatildeo seis da Proacute-Reitoria de Exten-satildeo e oito bolsistas de Iniciaccedilatildeo Acadecircmica da Proacute-Reitoria de Assuntos Estudantis 12 Esse quadro de servidores teacutecnico-administrativos eacute parte das metas do Programa Viver Sem Limites do governo federal (Decreto nordm 76122011) encontrando--se em processo o concurso para seleccedilatildeo de mais seis profissionais tradutores e inteacuterpretes de Libras13 Estudo realizado e apresentado nos Encontros Universitaacuterios em 2009 por Antocircnia Kaacutetia Soares Maciel bolsista de graduaccedilatildeo do Projeto UFC Inclui UFC sob a orientaccedilatildeo da professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo14 A partir de 2010 a UFC passa a adotar o Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM) como criteacuterio de ingresso de alunos em seus cursos de graduaccedilatildeo

perceber o crescimento da demanda de alunos com defici-ecircncia para os cursos de graduaccedilatildeo muito embora isto natildeo corresponda ao efetivo ingresso Em 2005 dos 31 candida-tos inscritos no concurso vestibular 4 foram aprovados no ano de 2006 registram-se 48 inscriccedilotildees e 3 aprovaccedilotildees em 2007 dos 50 inscritos 5 foram aprovados no concurso ves-tibular de 2008 inscreveram-se 48 candidatos com defici-ecircncia e 2 foram aprovados em 2009 uacuteltimo periacuteodo em que o ingresso na UFC foi mediante o concurso vestibular ins-creveram-se 73 candidatos com deficiecircncia destes 24 foram aprovados para a segunda fase e 4 ingressaram nos cursos de graduaccedilatildeo pretendidos Dentre eles 3 apresentavam defi-ciecircncia visual e 1 deficiecircncia fiacutesica Pode-se observar ainda que em sua maioria a demanda se concentrava em cursos da aacuterea de Ciecircncias Humanas como Pedagogia Letras Ciecircn-cias Sociais e Psicologia aleacutem de algum interesse por Ciecircn-cias Econocircmicas Aleacutem destes cursos haacute registro de ingresso de um aluno no curso de bacharelado em Quiacutemica e um no curso de Farmaacutecia

Quanto ao contingente15 de alunos atualmente matricu-lados nos cursos da UFC no censo realizado em fevereiro de 2011 e atualizado em julho de 201216 haacute registro de 45 ma-triacuteculas de alunos com deficiecircncia nos cursos de Pedagogia Psicologia Ciecircncias Sociais Ciecircncias Contaacutebeis Ciecircncias da Computaccedilatildeo Engenharia de Teleinformaacutetica Engenharia de

15 Quanto ao quantitativo de servidores (teacutecnicos e docentes) natildeo se tem um dado confiaacutevel Ao certo haacute registro de um professor cego trecircs professores surdos uma professora com deficiecircncia fiacutesica Dentre os servidores teacutecnicos tem-se registro de um surdo O cadastramento de servidores teacutecnicos e docentes estaacute em anda-mento sob a coordenaccedilatildeo da Proacute-Reitoria de Gestatildeo de Pessoas em parceria com a Secretaria de Acessibilidade 16 O referido censo foi realizado por autodeclaraccedilatildeo do aluno no ato da matriacutecula e atualizado em julho de 2012 mediante informaccedilotildees obtidas diretamente nas coordenaccedilotildees de cursos

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO32 d d 33

Alimentaccedilatildeo Letras Administraccedilatildeo Agronomia e Biblioteco-nomia da UFC sendo uma delas no curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia (Mestrado) Dentre alunos ingressos nos cursos de graduaccedilatildeo nove tecircm cegueira ou baixa visatildeo dezesseis satildeo surdos ou com audiccedilatildeo reduzida dezessete apresentam defi-ciecircncias fiacutesicas diversas um apresenta transtorno global do desenvolvimento e dois apresentam muacuteltipla deficiecircncia Es-tes dados17 se alteram com o ingresso de 12 estudantes surdos no curso de Letras Libras licenciatura presencial implantado no segundo semestre de 2013 como mais uma accedilatildeo afirmati-va da UFC e atendendo a metas do Plano Viver Sem Limites haacute pouco referido

A partir dos dados ora expostos e tendo-se como re-ferecircncia o universo de cerca de 2500 matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo presencial da UFC 45 alunos com deficiecircncia representam 184 do total de alunos matriculados Isto eacute um convite agrave reflexatildeo em busca de identificar fatores que de-finem tal panorama Certamente que satildeo muacuteltiplos esses fa-tores entretanto eacute razoaacutevel pensar que dentre eles podem ser considerados pelo menos dois Em primeiro lugar arris-co o destaque na qualidade das experiecircncias de escolarizaccedilatildeo ofertada a esse contingente da populaccedilatildeo ao longo dos anos da educaccedilatildeo baacutesica A historiografia revela que o atendimen-to educacional ofertado agraves crianccedilas e jovens com deficiecircncia durante muito tempo teve um forte caraacuteter assistencialista com foco na reabilitaccedilatildeo Isto pode levar agrave suposiccedilatildeo de que os projetos e programas da escolarizaccedilatildeo propriamente ditos foram negligenciados

17 O uacuteltimo relatoacuterio com o quantitativo de alunos com deficiecircncia autodeclarados fornecido pela Proacute-Reitoria de Graduaccedilatildeo em 2013 revela que satildeo 218 alunos Estes dados estatildeo sendo conferidos pela equipe da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

Em segundo lugar eacute possiacutevel uma reflexatildeo acerca das condiccedilotildees oferecidas pelos mecanismos atuais utilizados para o ingresso de alunos no ensino superior Apesar da dita ga-rantia de recursos pedagoacutegicos que atendam agraves necessidades singulares resultantes principalmente das deficiecircncias sen-soriais tais instrumentos ainda parecem natildeo satisfazer ple-namente as necessidades demandadas Quanto agrave condiccedilatildeo de surdez por exemplo ainda haacute dificuldades por parte das instacircncias organizadoras de concurso em reconhecer que a Libras eacute a primeira liacutengua dessas pessoas e que a avaliaccedilatildeo da sua produccedilatildeo textual em Liacutengua Portuguesa deve levar em consideraccedilatildeo que essa eacute a sua segunda liacutengua

Nossos Avanccedilos

A partir de marccedilo de 2011 jaacute devidamente instalada a Secretaria passou a desenvolver accedilotildees abrangendo as vaacuterias dimensotildees da acessibilidade e tomando como ponto de par-tida o estabelecido no documento Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC propostas agregando alguns projetos de inclusatildeo de-senvolvidos por professores da UFC membros do Grupo de Trabalho da Secretaria Assim iniciaram-se diaacutelogos com as unidades acadecircmicas e administrativas na perspectiva de di-vulgar e discutir a poliacutetica de acessibilidade da UFC mas tam-beacutem no intuito de numa abordagem interdisciplinar e inter-setorial motivar a interlocuccedilatildeo entre suas diversas unidades em busca do desenvolvimento da cultura de inclusatildeo Nesse sentido a Secretaria em busca de novos paradigmas que deem suporte agrave construccedilatildeo de uma cultura da inclusatildeo na UFC vem promovendo accedilotildees diversas para atender prioritariamente agraves demandas mais urgentes consolidar projetos iniciados e pro-por a efetivaccedilatildeo da Poliacutetica de Acessibilidade na UFC

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO34 d d 35

No tocante agrave acessibilidade fiacutesico-arquitetocircnica18 ob-serva-se a realizaccedilatildeo de adaptaccedilotildees de setores ou unidades acadecircmicas prioritariamente onde haacute alunos ou servidores com deficiecircncia Nesse acircmbito vale destacar o interesse dos gestores de unidades acadecircmicas quanto ao atendimento aos itens de acessibilidade nos projetos e obras em desenvolvi-mento sob sua responsabilidade ao convocarem a Secretaria para a realizaccedilatildeo de visitas teacutecnicas com vistas agrave garantia de itens de acessibilidade em seus espaccedilos fiacutesicos

No tocante agrave acessibilidade na WEB a Secretaria de Acessibilidade em articulaccedilatildeo com a Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo promoveu encontros e reuniotildees que culmina-ram com a realizaccedilatildeo do Treinamento em Acessibilidade na WEB19 em parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Isto resultou na adoccedilatildeo de procedimentos tecno-loacutegicos que transformou o Portal da UFC20 acessiacutevel a todos Tornar os demais portais da UFC acessiacuteveis eacute um projeto que estaacute em andamento

Ainda sobre o acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo o Sistema de Bibliotecas da UFC com o apoio da Secretaria vem aprimorando suas estrateacutegias para tornar suas atuais unidades em ldquoBibliotecas Acessiacuteveisrdquo atendendo ao aluno

18 Accedilatildeo realizada pela Coordenadoria de Obras e Projetos com assessoria da pro-fessora Zilsa Maria Pinto Santiago professora do curso de Arquitetura e Urbanismo e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Esta accedilatildeo resultou num denso projeto de tornar acessiacuteveis todos os ambientes da UFC em Fortaleza ateacute o ano de 2016 19 Referido treinamento realizado na Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo (STI) foi conduzido pela professora Andrea Polleto Sonza e equipe do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e sob a coordenaccedilatildeo local do professor Joseacute Marques Soares professor do curso de Teleinformaacutetica e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC20 Accedilatildeo realizada pela equipe da Diretoria de Portais Universitaacuterios da Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo sob a direccedilatildeo da teacutecnica Emilia Maria Holanda Crispim Dioacutegenes

com deficiecircncia no campus onde estaacute situado o seu curso Aleacutem disso por meio da consolidaccedilatildeo do serviccedilo de digitali-zaccedilatildeo de textos21 com audiodescriccedilatildeo de imagens para alunos cegos ou com baixa visatildeo aos poucos se amplia o ldquoAcervo Acessiacutevelrdquo visando disponibilizar literatura cientiacutefica aos usuaacuterios com deficiecircncia visual Para os usuaacuterios com surdez a proposta eacute tornar disponiacuteveis de imediato informaccedilotildees em Libras acerca dos serviccedilos que a biblioteca oferece Destaca--se ainda no tocante agrave dimensatildeo da acessibilidade agrave comu-nicaccedilatildeo e agrave informaccedilatildeo a inserccedilatildeo de ldquojanelas de Librasrdquo nos programas produzidos pela equipe da UFCTV que eacute uma accedilatildeo em andamento

Quanto agrave acessibilidade linguiacutestica foram oferecidos cursos de Libras agrave comunidade universitaacuteria numa parceria com o curso de Letras-Libras graduaccedilatildeo a distacircncia22 to-talizando 49 turmas visando agrave difusatildeo dessa liacutengua e agrave co-municaccedilatildeo entre surdos e ouvintes A oferta de profissionais tradutores e inteacuterpretes23 de Libras que garante a acessibili-dade na comunicaccedilatildeo e na interaccedilatildeo entre surdos e ouvintes rompendo a barreira linguiacutestica tambeacutem eacute outra realidade na UFC

21 Serviccedilo coordenado pela bibliotecaacuteria Clemilda dos Santos Sousa da Biblioteca de Ciecircncias Humanas da UFC e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui22 Curso semipresencial de formaccedilatildeo de professores para o ensino da Libras e de tradutores e inteacuterpretes de Libras oferecido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em convecircnio com 15 Instituiccedilotildees de Ensino Superior dentre as quais a UFC foi uma delas Em 2010 no polo da UFC foram licenciados 47 professores para o ensino de Libras dentre os quais 44 satildeo surdos Em novembro do ano de 2012 licenciaram-se mais 22 professores dentre eles 20 surdos e 24 se graduaram em Traduccedilatildeo e Interpretaccedilatildeo (Libras-Portuguecircs-Libras) 23 Nos anos de 2010 e 2011 a UFC contratou uma tradutora e inteacuterprete de Libras Em 2012 ingressou por concurso puacuteblico a primeira tradutora e inteacuterprete de Libras na UFC Em 2013 mais trecircs profissionais concursados assumiram esse cargo A previsatildeo eacute a de que ateacute iniacutecio de 2014 a equipe de tradutores e inteacuterpretes de Libras na UFC seja constituiacuteda por dez profissionais concursados

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO36 d d 37

A formaccedilatildeo para a acessibilidade tambeacutem eacute outra accedilatildeo importante em desenvolvimento pela Secretaria Nesse acircm-bito registram-se a oferta de cursos de Sistema de Leitura e Escrita Braille de Libras24 e de Tecnologias Assistivas Nes-sa perspectiva a Secretaria participa efetivamente dos gran-des eventos promovidos pela UFC tais como os Seminaacuterios de Ambientaccedilatildeo Encontros Universitaacuterios e Feiras das Pro-fissotildees aleacutem dos Seminaacuterios de Gestatildeo Muito relevante eacute a criaccedilatildeo em dezembro de 2012 do curso de Licenciatura em Letras Libras que tem como objetivo a formaccedilatildeo de professo-res para o ensino de Libras como primeira e segunda liacutengua Essa eacute uma oferta com iniacutecio em 20132 e que teraacute importante repercussatildeo para a rede de educaccedilatildeo baacutesica e superior

Balanccedilo Parcial Algumas Consideraccedilotildees

Os ecos das accedilotildees desenvolvidas pela Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui tecircm sido muitos e importantes Grande parte das demandas que chegam agrave Secretaria eacute acolhi-da Alunos professores e servidores teacutecnico-administrativos sistematicamente fazem suas solicitaccedilotildees com a expectativa de que seratildeo atendidos muito embora se reconheccedila as fragili-dades do processo de implantaccedilatildeo da poliacutetica de acessibilida-de tendo em vista o fato de que as demandas por acessibilida-de na UFC satildeo muacuteltiplas e muitas

Destacam-se ainda os frutos do conviacutevio com as pes-soas com deficiecircncia que eacute de fundamental importacircncia para que se possa dimensionar as especificidades necessidades limites e possibilidades dessas pessoas As interaccedilotildees com

24 No periacuteodo de 2008 a 2011 foram ofertadas a alunos e servidores da UFC 49 turmas de ensino de Libras em parceria com o curso de licenciatura em Letras-Libras graduaccedilatildeo a distacircncia

elas propiciam aprendizados que os livros natildeo oferecem e mobilizam nas pessoas mudanccedilas em suas atitudes Suas presenccedilas participando efetivamente dos diversos progra-mas e projetos da UFC e da Secretaria de Acessibilidade as-sim como de eventos acadecircmicos eacute essencial para a criaccedilatildeo de uma cultura inclusiva Estabelecer essa parceria com elas tem promovido aprendizados de enorme significaccedilatildeo Eacute des-se modo que passam a exercer a funccedilatildeo de ldquofacilitadoras da inclusatildeordquo colaborando com a estruturaccedilatildeo de um ambiente fiacutesico e socialmente acessiacutevel aleacutem de suscitarem o desman-telamento dos mitos em torno das condiccedilotildees de deficiecircncia que apresentam

As experiecircncias vividas ao longo desse curto periacuteodo de trecircs anos permitiram agrave equipe da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui realccedilar alguns aspectos dentre os quais se des-tacam as accedilotildees de acessibilidade satildeo possiacuteveis desde que se tenha vontade e decisatildeo poliacutetica a afirmaccedilatildeo das diferenccedilas para transformar as barreiras em caminhos acessiacuteveis a con-cepccedilatildeo de que a inclusatildeo social e educacional tem a ver com todos noacutes a compreensatildeo de que o processo de inclusatildeo eacute ldquoca-minho de matildeo duplardquo no qual os segmentos com e sem defi-ciecircncia devem estar organicamente implicados e finalmente reconhecer e aceitar os limites como possibilidade de trans-pocirc-los assimilando a perspectiva conceitual que Vygotsky (1985) oferece acerca do fenocircmeno da compensaccedilatildeo

Ainda se tem muitas liccedilotildees a serem incorporadas Eacute preci-so avaliar valores e estar disponiacutevel agraves oportunidades de apren-der uns com os outros Afinal somos todos seres em formaccedilatildeo portanto passiacuteveis de transformaccedilotildees favoraacuteveis a convivecircncias respeitosas frente agraves diferenccedilas e singularidades humanas

d 39VANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO38 d

Referecircncias Bibliograacuteficas

BRASIL Convenccedilatildeo sobre os direitos da pessoa com defici-ecircncia (2007) Protocolo facultativo agrave Convenccedilatildeo sobre os di-reitos da pessoa com deficiecircncia Decreto legislativo nordm 186 de 9 de julho de 2008 Decreto nordm 6949 de 25 de agosto de 2009 Brasiacutelia Secretaria dos Direitos Humanos 2011 LEITAtildeO V M (Coord) Poliacutetica de acessibilidade na UFC propostas Texto impresso apresentado agrave Administraccedilatildeo Su-perior da UFC em agosto de 2010______ Instituiccedilotildees campanhas e lutas histoacuteria da educa-ccedilatildeo especial no Cearaacute Fortaleza Ediccedilotildees UFC 2008OMOTE S Deficiecircncia e natildeo-deficiecircncia recortes do mesmo tecido Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Especial Piracicaba-SP v 1 n 2 p 65-73 1994VYGOTSKY L S El defecto y la compensacioacuten In Obras Completas Fundamentos de defectologia Habana Editorial Pueblo y Educacioacuten 1985

ACESSO Agrave INFORMACcedilAtildeO POR DEFICIENTES VISUAIS EM BIBLIOTECAS CEARENSES1

Valeacuteria Gomes PereiraHamilton Rodrigues Tabosa

Introduccedilatildeo

Este trabalho vem ressaltar a importacircncia do acesso agrave informaccedilatildeo e da biblioteca como agentes transformadores mostrando o papel do bibliotecaacuterio como suporte para os de-ficientes visuais no acesso agrave informaccedilatildeo Segundo Carvalho e Kanishi (2000) o avanccedilo das Novas Tecnologias de Infor-maccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo (NTIC) contribui para a inclusatildeo ao conhecimento por parte desses profissionais Eacute reforccedilada assim a importacircncia do bibliotecaacuterio como um dos profissio-nais da sociedade da informaccedilatildeo que tem como uma de suas principais caracteriacutesticas o uso das tecnologias por saberem da importacircncia delas na disseminaccedilatildeo do conhecimento

Traccedilamos entatildeo como objetivo geral deste trabalho verificar se os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute conhecem utilizam e dominam algumas das tecnologias assistivas ele-trocircnicas que facilitam o atendimento e o acesso de usuaacuterios com deficiecircncia visual agrave informaccedilatildeo se estatildeo capacitados para atuarem com esses usuaacuterios

Podemos classificar esta pesquisa como exploratoacuteria e descritiva Para a realizaccedilatildeo da anaacutelise dos dados coletados optamos por uma abordagem quanti-qualitativa O meacutetodo escolhido foi o funcionalista que segundo Lakatos e Marconi (1991) estuda a sociedade a partir do ponto de vista da fun-

1 Este artigo eacute uma siacutentese da monografia de conclusatildeo de curso de graduaccedilatildeo da primeira autora

ACESSO Agrave INFORMACcedilAtildeO POR DEFICIENTES VISUAIS EM BIBLIOTECAS CEARENSESVALEacuteRIA GOMES PEREIRA bull HAMILTON RODRIGUES TABOSA40 d d 41

ccedilatildeo de suas unidades isto eacute como um sistema organizado de atividades

Optou-se por fazer a pesquisa com bibliotecaacuterios que estivessem exercendo a profissatildeo e cadastrados no Conselho Regional de Biblioteconomia para que o Conselho enviasse os questionaacuterios por e-mail Dessa forma pretendiacuteamos atingir um nuacutemero razoaacutevel de respostas aos questionaacuterios

O Acesso agrave Informaccedilatildeo

Cada vez mais percebe-se como o acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento eacute instrumento de mudanccedila social Os cida-datildeos cientes de seus deveres e direitos satildeo capazes de operar revoluccedilotildees em suas vidas e ao seu redor

Dessa forma cabe ao governo promover a socializaccedilatildeo do conhecimento proporcionando a todos sem distinccedilatildeo in-clusive agraves pessoas com deficiecircncia o acesso agrave informaccedilatildeo Em relaccedilatildeo ao Estado este tem promovido campanhas de aces-sibilidade na busca de eliminar a exclusatildeo entretanto essa mobilizaccedilatildeo natildeo estaacute alcanccedilando suas metas em totalidade no tocante agrave facilitaccedilatildeo aos deficientes do acesso ao conhe-cimento Paula (2009) frisa que a sociedade da informaccedilatildeo sugere a universalizaccedilatildeo do conhecimento produzido natildeo se admitindo que parcelas da comunidade sejam excluiacutedas simplesmente por apresentarem algum tipo de deficiecircncia Enfatiza-se assim a importacircncia da disponibilizaccedilatildeo do co-nhecimento em todos os suportes para toda a diversidade de indiviacuteduos Entatildeo a quem caberaacute esse papel de disseminar a informaccedilatildeo importando-se com a acessibilidade com o apri-moramento do uso das novas tecnologias

Independentemente de que nomes deram agraves unidades de informaccedilatildeo ndash como arquivos museus universidades es-

colas etc ndash eacute importante sabermos que elas satildeo transmissoras do conhecimento As bibliotecas trazem consigo a memoacuteria humana registrada sendo de sua responsabilidade propor-cionar o acesso agraves informaccedilotildees codificadas registradas gra-vadas nesses documentos contribuindo para a formaccedilatildeo de uma sociedade mais humana e dignificadora (CARVALHO KANISHI 2000)

Cabe entatildeo agraves bibliotecas disseminar o conhecimento preocupando-se em suprir as necessidades informacionais de qualquer um que a busque sem se deparar com barreiras de acesso Assis Barreto e Parandella (2008) afirmam que aleacutem das bibliotecas serem guardiatildes da memoacuteria a disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo atraveacutes da dinamizaccedilatildeo de seus acervos gera um processo inclusivo pelo acesso uso e democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo cientiacutefica e cultural aleacutem das informaccedilotildees uacuteteis e necessaacuterias agrave atuaccedilatildeo do cidadatildeo no seu dia a dia Reforccedila as-sim a importacircncia da biblioteca na sociedade da informaccedilatildeo e na vida do cidadatildeo

As tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo devem ser utilizadas pelas bibliotecas para a democratizaccedilatildeo dos pro-cessos sociais buscando formar os cidadatildeos para que possam exercer uma cidadania ativa e consciente e incluir socialmente atraveacutes do saber para que esses indiviacuteduos possam suscitar a transparecircncia de poliacuteticas e accedilotildees do governo formando-os para qualquer circunstacircncia havendo assim uma inclusatildeo social (TAKAHASHI 2000 apud PAULA 2009)

A informaccedilatildeo eacute uma necessidade fundamental do ser humano e para suprirmos essa necessidade eacute preciso que o bibliotecaacuterio esteja atualizado diante do uso das NTIC para assim favorecer o acesso agrave informaccedilatildeo aos usuaacuterios Segundo Carvalho e Kanishi (2000) os bibliotecaacuterios satildeo os profissio-nais que devem manter-se como elementos facilitadores do

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acesso agrave informaccedilatildeo aos usuaacuterios de suas instituiccedilotildees permi-tindo a inclusatildeo social de qualquer indiviacuteduo

Cabe aos bibliotecaacuterios se manterem atualizados no uso dessas tecnologias contribuindo assim para a inclusatildeo social e construccedilatildeo da sociedade a partir do acesso ao conhecimento

Tecnologias Assistivas Eletrocircnicas de Acesso agrave Informaccedilatildeo

Segundo Bersch (2008) a tecnologia assistiva eacute enten-dida como um auxiacutelio que promoveraacute a ampliaccedilatildeo de uma habilidade funcional deficitaacuteria ou possibilitaraacute a realizaccedilatildeo da funccedilatildeo desejada e que se encontra impedida por circuns-tacircncia de deficiecircncia ou pelo envelhecimento Em poucas palavras eacute qualquer instrumento que facilite a pessoa com deficiecircncia a fazer uma atividade desde um ruacutestico apetre-cho de madeira acoplado a um talher que permite a pessoa com deficiecircncia de habilidade motora comer a uma tecnolo-gia de ponta que permita a um usuaacuterio com deficiecircncia visual navegar pela internet

A Comissatildeo Executiva do Comitecirc de Ajudas Teacutecnicas (CAT) acredita que a tecnologia assistiva eacute uma aacuterea de co-nhecimento interdisciplinar que engloba produtos recursos metodologias estrateacutegias praacuteticas e serviccedilos que objetivam promover a funcionalidade relacionada agrave atividade e partici-paccedilatildeo de pessoas com deficiecircncia com incapacidades ou mo-bilidade reduzida visando a sua autonomia independecircncia qualidade de vida e inclusatildeo social (COMITEcirc DE AJUDAS TEacuteCNICAS apud BERSCH 2008)

Existem diversos tipos de tecnologia assistiva como mencionam Pupo Melo e Ferreacutes (2006) no controle do am-biente no trabalho e lazer na locomoccedilatildeo e em diversas ativi-dades do cotidiano como o estudo e o acesso agrave comunicaccedilatildeo

e informaccedilatildeo Usaremos principalmente os estudos de Bersch (2008) que eacute ilustrativa e concisa em sua abordagem sobre as tecnologias assistivas eletrocircnicas utilizadas pelas pessoas com deficiecircncia e os estudos de Fonseca e Pinto (2010) que tecircm uma linguagem clara e objetiva ao falar dessas tecnolo-gias aplicadas em uma biblioteca

Dentre as principais tecnologias de acesso agrave informaccedilatildeo para deficientes visuais podemos citar

y Ampliadores de tela satildeo aplicativos que aumentam o tamanho das letras na tela do computador e dessa forma facilitam o uso das pessoas com baixa visatildeo fazendo com que os textos e imagens sejam melhor visualizados por quem tem essa deficiecircncia Exemplos de ampliadores de tela Magic Zoom Text e o lente-Pro

y Leitores de tela satildeo aplicativos que leem as informaccedilotildees que estatildeo na tela do computador por isso satildeo tambeacutem chamados de sintetizadores de voz Eles reproduzem a voz do ser humano Com o desenvolvimento da tecnologia eles tecircm se tornado mais perfeitos em sua decodificaccedilatildeo sonora Exemplos de leitores de tela Vihortual Visiona Monitivox e Jaws e o Dosvox sendo este uacuteltimo um dos mais difundido no Brasil pois aleacutem da leitura de tela oferece inuacutemeros recursos como editores de texto jogos formatador para Braille e programas para acesso agrave internet como correio eletrocircnico navegador etc

y Linhas Braille dispositivos de saiacuteda composto por fileiras de ceacutedulas Braille por intermeacutedio de um sistema eletro-mecacircnico no qual conjuntos de pontos satildeo levantados e abaixados conseguindo-se assim uma linha de texto em Braille Eacute utilizado como alternativa ao leitor Braille sendo principalmente usado por pessoas surdas-cegas que podem

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superar a ausecircncia ou dificuldade de audiccedilatildeo e visatildeo atraveacutes do tato Infelizmente eacute pouco usado no Brasil devido ao seu altiacutessimo valor

y Impressoras Braille imprimem no papel as informaccedilotildees contidas no texto para o sistema Braille Existem dois tipos a natildeo-interponto as que imprimem apenas de um lado do papel e as com interpontos que imprimem dos dois lados do papel

Metodologia

Partimos de uma pesquisa bibliograacutefica para nos apro-fundarmos nos conceitos nas terminologias da aacuterea e para de-terminarmos as categorias de anaacutelise para a pesquisa Quan-to ao tipo de pesquisa podemos classificar este estudo como exploratoacuterio e descritivo Gil (1991) menciona que a pesquisa exploratoacuteria eacute realizada com o objetivo de fornecer uma vi-satildeo geral do tipo aproximativo do objeto de estudo Assinala ainda que as pesquisas descritivas tecircm por objetivo a descri-ccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo

Para a realizaccedilatildeo da anaacutelise dos dados coletados opta-mos por uma abordagem qualitativa devido agrave possibilidade que esse meacutetodo permite de analisar atitudes como pensa-mentos accedilotildees opiniotildees e informaccedilotildees livres do pesquisado Segundo Maanen (1979 apud NEVES 1996) a pesquisa qua-litativa refere-se

[] ao conjunto de diferentes teacutecnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados Tem por objetivo traduzir e expressar os sentidos dos fenocircmenos do mun-do social trata-se de reduzir a distacircncia entre indicador e indicado entre teoria e dados entre contexto e accedilatildeo

O meacutetodo escolhido foi o funcionalista que segundo Lakatos e Marconi (1991) estuda a sociedade a partir do pon-to de vista da funccedilatildeo de suas unidades isto eacute como um siste-ma organizado de atividades

A pesquisa empiacuterica foi realizada com os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute Optou-se por fazer a pesquisa com biblio-tecaacuterios devidamente cadastrados no Conselho Regional de Biblioteconomia (CRB) e que estivessem exercendo a profis-satildeo Dessa forma buscamos atingir uma grande populaccedilatildeo a ser pesquisada e fornecer dados mais significativos para a pesquisa

O instrumento de coleta de dados utilizado foi o ques-tionaacuterio por oferecer alguns benefiacutecios atingir uma grande populaccedilatildeo poder ser enviado por e-mail e natildeo necessitar da presenccedila do pesquisador ao ser preenchido Lakatos e Marco-ni (1991) descrevem que o questionaacuterio eacute um conjunto orde-nado de perguntas que devem ser respondidas sem a presenccedila do pesquisador Vai portanto ao encontro da nossa necessi-dade pois o nosso universo de pesquisa eacute muito vasto e natildeo seria possiacutevel a presenccedila do pesquisador em todas as cidades do Cearaacute O questionaacuterio foi enviado por e-mail a todos os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute cadastrados no CRB tendo sido respondidos um total de 40 questionaacuterios

Essa estrateacutegia na coleta de dados nos permitiu atingir instituiccedilotildees de portes variados com diferentes tipos de uni-dades de informaccedilatildeo puacuteblicas e privadas bibliotecas especia-lizadas comunitaacuterias ou puacuteblicas universitaacuterias escolares arquivos centros de documentaccedilatildeo e tambeacutem outros tipos de empresas onde haacute atuaccedilatildeo de bibliotecaacuterios Dos 40 questio-naacuterios que retornaram respondidos 5 eram de instituiccedilotildees de economia mista 10 de instituiccedilotildees privadas e 25 de institui-ccedilotildees puacuteblicas

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A Situaccedilatildeo das Bibliotecas Cearenses Quanto agrave Acessibilidade Atraveacutes de Tecnologias Assistivas Eletrocircnicas

Averiguamos se os bibliotecaacuterios cearenses conhecem o conceito de tecnologia assistiva e se conseguem mencionar exemplos dessas tecnologias assitivas para pessoas com defi-ciecircncia Apenas 4 dos respondentes natildeo possuem nenhum entendimento sobre o que eacute uma tecnologia assistiva Quere-mos esclarecer que natildeo houve relaccedilatildeo quanto agrave natureza eco-nocircmica da instituiccedilatildeo na qual atuam se eacute mista puacuteblica ou privada Dos respondentes 91 informaram que sabem o que eacute uma tecnologia assitiva

Surprendeu-nos o conhecimento que a maioria dos su-jeitos apresentou da definiccedilatildeo do termo Alguns citaram que antes de responder procuraram um conhecimento maior sobre o assunto mas ficou claro que essa porcentagem que respondeu tinha uma ideia um conhecimento preacutevio mesmo que vago sobre o que eacute tecnologia assistiva Ainda houve quem fizesse uma descriccedilatildeo das tecnologias assistivas e mencionasse a im-portacircncia que elas exercem na vida das pessoas com deficiecircn-cia demonstrando assim que conheciam de fato a definiccedilatildeo

Os sujeitos que responderam com maior propriedade a essa pergunta eram de instiuiccedilotildees puacuteblicas podendo haver uma relaccedilatildeo com as poliacuteticas de inclusatildeo e acessibilidade das pessoas com deficiecircncia agrave informaccedilatildeo Um exemplo seria o ci-clo de debates desenvolvidos pela Secretaria de Acessiblidade da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) convidando sensi-bilizando e desenvolvendo atividades de promoccedilatildeo do acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com deficiecircncia tendo como ne-cessaacuteria uma biblioteca acessiacutevel para esses usuaacuterios

Perguntamos quais os tipos de tecnologias assistivas eletrocircnicas que conheciam A comparaccedilatildeo entre o conheci-

mento que os respondentes demonstraram ter sobre o que satildeo tecnologias assistivas natildeo foi condizente com as respostas a essa pergunta pois alguns confundiram tecnologias assistivas com as NTIC dando como exemplos monitores de Reconhe-cimento Oacutetico de Caracteres (OCR) e teclado virtual que natildeo satildeo tecnologias assistivas aleacutem de terem citado a Liacutengua Bra-sileira de Sinais (Libras) que eacute a primeira lingua dos surdos e o Braille que eacute um sistema de leitura e escrita atraacuteves do tato Libras e Braille satildeo considerados tecnologias assistivas mas natildeo eletrocircnicas como mencionado por dois dos nossos respondentes

Outros mencionaram duas interfaces a microFecircnix que eacute uma ferramenta voltada para pessoas com dificuldades motoras e o Dosvox que eacute uma ferramenta voltada para os deficientes visuais terem acesso agrave informaccedilatildeo atraveacutes do com-putador permitindo que seu usuaacuterio utilize as ferramentas normais de um computador e navegue pela web

O Dosvox foi a uacutenica interface mencionada para defi-cientes visuais sua fama se espalhou para aleacutem dos muros acadecircmicos como uma ferramenta de acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com deficiecircncia Estaacute disponiacutevel para downlo-ad gratuito na web e suas configuraccedilotildees satildeo compatiacuteveis com qualquer sistema operacional bastando apenas escolher a versatildeo que melhor conveacutem agrave realidade do usuaacuterio ou da insti-tuiccedilatildeo que o busca

Investigamos se as instituiccedilotildees onde os bibliotecaacuterios trabalham possuem alguma tecnologia assistiva eletrocircnica quais os tipos que possuem e se natildeo possuem e quais as razotildees disso Verificamos que as instituiccedilotildees privadas natildeo possuem tecnologias assistivas eletrocircnicas e se justificavam por natildeo pos-suiacuterem porque natildeo tinham puacuteblico-alvo que demandasse es-sas tecnologias Como afirma o deacutecimo segundo respondente

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A faculdade ainda natildeo vecirc ldquonecessidaderdquo de adequar tantos recursos de tecnologia assistiva jaacute que natildeo temos alunos com deficiecircncia visual Para cadeirantes temos os elevadores e os espaccedilos foram pensados levando em consideraccedilatildeo a movimentaccedilatildeo desse cadeirante no espaccedilo da faculdade mas na minha visatildeo isso natildeo eacute tecnologia assistiva eletrocircnica Para os surdos temos apenas os inteacuterpretes de Libras o que tambeacutem natildeo considero uma tecnologia assistiva eletrocircnica

Ficou niacutetido que as instituiccedilotildees privadas preocupam-se em adequar suas instalaccedilotildees para o acesso arquitetocircnico nas bibliotecas como rampas corrimatildeos computadores com me-sas adaptadas para cadeirantes As instituiccedilotildees privadas consi-deram que natildeo eacute necessaacuterio investir em tecnologias assistivas eletrocircnicas pois natildeo haacute um puacuteblico-alvo natildeo haacute demanda

Quanto agraves empresas de economia mista apenas uma disponibiliza uma tecnologia assistiva eletrocircnica que eacute uma in-terface para deficientes visuais O vigeacutesimo oitavo respondente mencionou que havia apenas a preocupaccedilatildeo com as barreiras arquitetocircnicas ldquoBototildees de elevadores e corrimatildeo de escadas com sinalizaccedilatildeo em Braillerdquo Na instituiccedilatildeo do deacutecimo e do tri-geacutesimo terceiro sujeitos a justificativa para natildeo possuiacuterem eacute a mesma das instituiccedilotildees privadas a falta de puacuteblico-alvo

A resposta que nos chamou atenccedilatildeo das instituiccedilotildees de economia mista foi referente ao vigeacutesimo primeiro responden-te ldquoNatildeo temos nenhum usuaacuterio que necessite dessa ferramen-ta pois nossa biblioteca eacute especializada em Medicina e atende somente ao puacuteblico do hospital onde ela estaacute instaladardquo

Essa resposta nos intrigou Visto que eacute uma instituiccedilatildeo de economia mista haacute incentivos financeiros do governo des-sa forma o acesso deve ser pensado para todo tipo de usuaacute-rio O motivo de ser especializado natildeo torna esse acervo dife-rente dos demais pois existem em potencial usuaacuterios com

deficiecircncia para essa unidade de informaccedilatildeo Jaacute existem em algumas instituiccedilotildees de Ensino Superior alunos que possuem deficiecircncia visual cursando Medicina e que ao procurar por informaccedilotildees especializadas se deparam com esse tipo de ati-tude e entrave da instituiccedilatildeo e dos profissionais que as geren-ciam Um exemplo bem-sucedido desse tipo de relaccedilatildeo eacute o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que possui um aluno com 80 da visatildeo comprometida2

Das vinte instituiccedilotildees puacuteblicas consultadas apenas trecircs informaram que em suas unidades de informaccedilatildeo natildeo pos-suem nenhuma tecnologia assistiva eletrocircnica mas nas de-mais existem tecnologias assistivas e elas estatildeo desenvolven-do atividades de acesso ao conhecimento para as pessoas com deficiecircncia Essas tecnologias existentes foram mencionadas no iniacutecio deste artigo e discutiremos mais adiante as ativida-des de acesso

As unidades puacuteblicas mencionaram que suas maiores dificuldades satildeo a falta de investimento na aquisiccedilatildeo de tec-nologias assistivas eletrocircnicas e a dificuldade com os demais setores que natildeo compreendem a importacircncia de tornaacute-las acessiacuteveis de acordo com os padrotildees de acessibilidade Como mencionado pelo terceiro respondente

Temos trabalhado apenas com digitalizaccedilatildeo das biblio-grafias dos alunos com deficiecircncia visual A dificuldade de inclusatildeo de outros mecanismos se daacute pela neces-sidade de outros setores entenderem a importacircncia e a necessidade da criaccedilatildeo desses mecanismos Por exemplo Natildeo existe acessibilidade no nosso sistema e no nosso site Apesar de jaacute termos constatado que a soluccedilatildeo perpassa por outros setores

2 A UFMG possui dentre seus estudantes de Medicina um aluno que apresenta 80 da visatildeo comprometida Para dirimir as dificuldades desse aluno no acesso agrave informaccedilatildeo a instituiccedilatildeo adquiriu equipamentos para auxiliar nas atividades do estudante (UFMG 2009)

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Independentemente das dificuldades mencionadas as instituiccedilotildees puacuteblicas estatildeo promovendo serviccedilos de informa-ccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncia visual como digitalizaccedilatildeo do acervo aquisiccedilatildeo de obras em Braille linhas Braille acesso agrave interface especializada aacuteudio-livro etc

Podemos perceber nas instituiccedilotildees puacuteblicas um gran-de avanccedilo em busca de serem unidades informacionais aces-siacuteveis para todos apesar das dificuldades financeiras da lentidatildeo das licitaccedilotildeespregotildees da falta de matildeo de obra espe-cializada e da falta de conscientizaccedilatildeo dos demais setores que compotildeem a estrutura funcional Essas unidades tecircm buscado desempenhar seu real papel que eacute o de disponibilizar a in-formaccedilatildeo a quem a busque tornando-se bibliotecas acessiacuteveis em seus ambientes estruturais com rampas e elevadores e principalmente disponibilizando a informaccedilatildeo nos diversos suportes que o avanccedilo tecnoloacutegico possibilita A montagem de uma biblioteca inclusiva natildeo eacute necessariamente dispendiosa Devem-se buscar soluccedilotildees como os softwares livres para usu-aacuterios com deficiecircncia

Fizemos uma anaacutelise sobre o conhecimento que os biblio-tecaacuterios possuem das tecnologias assistivas eletrocircnicas para os deficientes visuais e como eles se comportariam diante de uma situaccedilatildeo hipoteacutetica de atendimento imediato para esses usuaacute-rios em suas unidades de informaccedilatildeo salientando que a infor-maccedilatildeo buscada soacute existiria na instituiccedilatildeo do sujeito pesquisado

Como pudemos perceber em paraacutegrafos anteriores os bibliotecaacuterios disseram conhecer algumas das tecnologias as-sistivas eletrocircnicas existentes Um dos bibliotecaacuterios respon-deu ldquoSim conheccedilo a Base de Dados Sophia a Gnuteca entre outrasrdquo Ficou claro que esse respondente natildeo consegue dis-tinguir a diferenccedila entre uma base de dados e uma tecnologia assistiva eletrocircnica Os sujeitos consultados ao responderem

agrave pergunta sobre se conheciam algum tipo de tecnologia as-sistiva eletrocircnica especiacutefica para deficientes visuais ficaram divididos em grupos nas seguintes proporccedilotildees 9 dos sujei-tos natildeo responderam pois natildeo sabiam nem conceituar o que era uma tecnologia assistiva 40 natildeo mencionaram nenhu-ma tecnologia para os deficientes visuais e 51 enumeraram o que pensavam ser tecnologias especiacuteficas para deficientes visuais pois houve alguns equiacutevocos por parte desse grupo

Dos dezoito respondentes que deram exemplos de tec-nologias assitivas apenas dois dominam o uso de alguma tecnologia assistiva voltada para as pessoas com deficiecircncia visual Isso provavelmente ocorre pela pequena procura des-se tipo de usuaacuterio agraves instituiccedilotildees pois caso o bibliotecaacuterio se deparasse com semelhante situaccedilatildeo constantemente prova-velmente buscaria se adequar agraves necessidades de demanda de seus usuaacuterios

A tecnologia que os respondentes mais citaram foi a interface Dosvox considerada por noacutes com niacutevel de usabili-dade intermediaacuterio avanccedilado O Dosvox eacute considerado uma ferramenta completa para o uso pelo deficiente visual pois aleacutem do usuaacuterio utilizar as ferramentas corriqueiras de um computador tais como digitar um texto fazer uma planilha a interface tambeacutem permite que a pessoa com deficiecircncia na-vegue pela Web

O vigeacutesimo nono respondente mencionou ldquoSei da exis-tecircncia do Dosvox mas natildeo de forma aprofundada e tambeacutem natildeo o temos ainda no nosso setor que eacute um Nuacutecleo de Docu-mentaccedilatildeordquo Eacute interessante que qualquer unidade de informa-ccedilatildeo independentemente do nome que utilize possua uma tec-nologia assistiva que possa atender aos seus futuros usuaacuterios

Outra sugestatildeo aleacutem do Dosvox seria o uso do MecDaisy um leitor de texto O MecDaisy eacute um software gratuito que

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transforma qualquer texto para o formato daisy permitindo as-sim a leitura pelo software Seu niacutevel de manuseio eacute faacutecil e se adequa agraves instituiccedilotildees que querem apenas disponibilizar suas obras para o acesso das informaccedilotildees que estatildeo em sua guarda

Fizemos um questionamento para os nossos sujeitos como eles agiriam para atender agraves necessidades de informa-ccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncia visual sabendo que a in-formaccedilatildeo de que essa pessoa precisa soacute existe na instituiccedilatildeo onde o sujeito consultado trabalha Diante de tal pergunta nossos respondentes informaram que natildeo tinham conheci-mento que consultariam locais de atendimento especializado e encaminhariam o deficiente para tal instituiccedilatildeo capacitada para atendecirc-lo

O terceiro sujeito consultado nos disse ldquoCom certeza me esforccedilaria ao maacuteximo para conseguir Mas acredito que a dificuldade eacute de conseguir a informaccedilatildeo em formato que pos-sa ser lidordquo E ele estaacute certo Conseguir a informaccedilatildeo no for-mato correto eacute um trabalho aacuterduo desde que o bibliotecaacuterio nunca tenha ouvido falar de nenhum dos softwares jaacute men-cionados para pessoas com deficiecircncia visual Eacute necessaacuterio entatildeo adequar-se a essa realidade hoje Urge a conscientiza-ccedilatildeo da importacircncia desses softwares que podem ser gratuitos cabendo ao gestor da unidade de informaccedilatildeo aleacutem de possuir o conhecimento de que a tecnologia existe saber persuadir seus superiores da importacircncia de estar preparado para essa realidade em sua instituiccedilatildeo

Informou o trigeacutesimo quinto respondente que ldquoSe as informaccedilotildees estivessem apenas em formato impresso eu di-gitaria os textos para que a mesma pudesse fazer a leitura do material com os programas leitores de tela que satildeo softwares livresrdquo Relembrando alguns paraacutegrafos acima tanto o Dos-vox como o MecDaisy atenderiam a essa demanda

A reaccedilatildeo do deacutecimo sujeito foi a seguinte ldquoBem como na instituiccedilatildeo natildeo existe material em Braille talvez indicas-se algum material em aacuteudio (CDDVD) e tambeacutem um local especiacutefico que atendesse sua deficiecircncia no caso a Biblioteca Puacuteblica Menezes Pimentelrdquo Lembrando que a informaccedilatildeo es-taria apenas na unidade de informaccedilatildeo do nosso respondente ao pedir que fosse encaminhado agrave Biblioteca Municipal Me-nezes Pimentel o usuaacuterio natildeo conseguiria suprir a sua neces-sidade de informaccedilatildeo e retornaria agrave instituiccedilatildeo Caso o seu material em aacuteudio-livro natildeo suprisse a necessidade teria que haver um leitor ou dependendo da complexidade da informa-ccedilatildeo a instalaccedilatildeo de uma tecnologia assistiva

Constatamos que eacute necessaacuteria a adequaccedilatildeo das unidades de informaccedilatildeo independentemente de sua natureza econocircmi-ca para o recebimento desses usuaacuterios pois a informaccedilatildeo eacute agente transformador de uma sociedade e direito de todos A formaccedilatildeo dos bibliotecaacuterio deve apontar para a qualificaccedilatildeo de um bom atendimento aos usuaacuterios com deficiecircncia visual Dos sujeitos consultados 81 natildeo se consideram capacitados para atender usuaacuterios com algum tipo de deficiecircncia Para que seja possiacutevel oferecer um atendimento com eficaacutecia e qualida-de para as pessoas com deficiecircncia visual eacute necessaacuteria a soma de dois fatores a qualificaccedilatildeo para o atendimento e os recur-sos tecnoloacutegicos disponiacuteveis especiacuteficos para esses usuaacuterios

O deacutecimo segundo respondente declarou ldquoAinda haacute muito a ser melhorado muitos treinamentos a fazer Daria o meu melhor com certeza mas eacute bem difiacutecil atender a esses usuaacuterios a contento e com tudo o que eacute necessaacuteriordquo

Consideramos que o importante eacute que os profissionais estejam cientes de seu papel como agentes intermediadores da informaccedilatildeo e que para alcanccedilar esse objetivo eacute necessaacuterio qualificar-se aleacutem das habilidades que o projeto pedagoacutegico

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da formaccedilatildeo inicial em Biblioteconomia prevecirc Um exemplo dessa atitude seria o do deacutecimo quarto respondente

Acredito que embora eu mesma tenha buscado conhe-cer essas tecnologias isto partiu de um anseio pessoal natildeo de uma proposta que estava incluiacuteda nas atividades curriculares do curso Para a formaccedilatildeo do bibliotecaacuterio de hoje eacute funda-mental conhecer as tecnologias baacutesicas ou ao menos discutir essa questatildeo da inclusatildeo da acessibilidade

Pensamos que o bibliotecaacuterio natildeo eacute obrigado a domi-nar nenhuma tecnologia assistiva para os deficientes visuais visto que na maioria das instituiccedilotildees como mencionado an-teriormente esse perfil de usuaacuterio natildeo existe mas concluiacutemos que o profissional deve ter um conhecimento baacutesico sobre o assunto

Todos os sujeitos consultados consideram esse tema de extrema relevacircncia e acreditam ser importante que os estu-dantes de Biblioteconomia recebam formaccedilatildeo acadecircmica no sentido de serem capacitados ao atendimento de usuaacuterios com deficiecircncia pois em sua vida acadecircmica houve aborda-gem da acessibilidade arquitetocircnica poreacutem nenhuma disci-plina que abordasse acessibilidade agrave informaccedilatildeo atraveacutes de tecnologias assistivas eletrocircnicas

Trata-se de um nicho mercadoloacutegico pouco explorado pois as maiorias das instituiccedilotildees adquirem livros CDs e sof-twares mas natildeo a matildeo de obra qualificada Por isso devemos preparar futuros gestores com habilidade teacutecnica e visatildeo criacute-tica sobre acessibilidade e inclusatildeo aleacutem de ampliar os espa-ccedilos de debates na universidade qualificando o estudante para atender a todas as demandas de usuaacuterio e de um mercado es-peciacutefico que necessita de matildeo de obra qualificada

Conclusatildeo

Pudemos perceber como defendem Carvalho e Kanishi (2000) a real importacircncia da atuaccedilatildeo do bibliotecaacuterio como gestor de informaccedilatildeo na atual sociedade do conhecimento para a promoccedilatildeo do acesso irrestrito agrave informaccedilatildeo a todos os tipos de usuaacuterios considerando suas preferecircncias demandas e necessidades de atendimento especiacuteficas assim como suas limitaccedilotildees sejam fiacutesicas cognitivas dentre outras

Nas bibliotecas do estado do Cearaacute agraves quais tivemos acesso verificamos a necessidade de aparelhamento e mesmo do domiacutenio das teacutecnicas de uso por parte dos bibliotecaacuterios das tecnologias assistivas eletrocircnicas para acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com baixa visatildeo ou cegas descritas por Fonseca e Pinto (2010) e Pupo Melo e Ferreacutes (2006) Identificamos que os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute investigados sabem o que satildeo tecnologias assistivas eletrocircnicas e que as instituiccedilotildees que possuem uma quantidade expressiva dessas tecnologias satildeo as de natureza puacuteblica Poreacutem satildeo pouquiacutessimos os bibliotecaacute-rios que dominam e utilizam algumas dessas ferramentas ten-do mencionado que o puacuteblico-alvo eacute muito pequeno para que tenham sentido necessidade de qualificaccedilatildeo nessa aacuterea

Haacute um grande caminho a ser percorrido na conscienti-zaccedilatildeo das instituiccedilotildees em estarem preparadas para todo tipo de situaccedilatildeo e puacuteblico As instituiccedilotildees privadas necessitam de um maior desenvolvimento de suas atividades quanto ao fo-mento de acesso agrave informaccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncia em seus diversos niacuteveis

Os resultados reforccedilam a importacircncia de os bibliotecaacute-rios se qualificarem para o atendimento dos usuaacuterios com de-ficiecircncia visual com conhecimento baacutesico de como agir para suprir suas necessidades informacionais

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Os bibliotecaacuterios cearenses de modo geral natildeo se sen-tem qualificados para atuar com essas necessidades conside-rando que tal lacuna em sua formaccedilatildeo profissional nasce na vida universitaacuteria que natildeo os capacita a atuar com os diferen-tes tipos de usuaacuterio Contudo um questionamento precisa ser feito seraacute que a universidade eacute a uacutenica causa dos bibliotecaacute-rios natildeo estarem qualificados para poderem gerir tecnologias eletrocircnicas de acesso agrave informaccedilatildeo

Entendemos que este estudo trouxe contribuiccedilotildees para futuros pesquisadores que busquem fazer uma relaccedilatildeo do desenvolvimento do bibliotecaacuterio na realidade das insti-tuiccedilotildees na qual atuam e nas mudanccedilas sobre acessibilidade e inclusatildeo Tambeacutem acreditamos que sirva como orientaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de acesso agrave informaccedilatildeo e inclusatildeo das pessoas com deficiecircncia nas unidades de informaccedilatildeo e para os bibliotecaacuterios mapearem seus pontos a desenvolver a fim de se tornarem qualificados para o atendimento a tais pessoas

Nossas sugestotildees para o curso de Biblioteconomia satildeo a criaccedilatildeo de algumas disciplinas com essa temaacutetica voltada para a inclusatildeo social e do uso das tecnologias de acesso agrave in-formaccedilatildeo pelas pessoas com deficiecircncia a criaccedilatildeo pelo De-partamento de Ciecircncia da Informaccedilatildeo de uma especializaccedilatildeo sobre o tema

Finalmente acreditamos que os bibliotecaacuterios devem procurar uma qualificaccedilatildeo profissional para desempenharem seu papel de gestores de informaccedilatildeo Sendo imprescindiacutevel para a efetiva implementaccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento inclusivas pelo bibliotecaacuterio para poderem assim disponibili-zar a informaccedilatildeo a qualquer usuaacuterio que a busque tornando--se um profissional diferenciado no mercado em um campo de atuaccedilatildeo que cresce a cada dia

Referecircncias Bibliograacuteficas

ASSIS S BARRETO A M PARANDELLA M D Bibliote-cas puacuteblicas e telecentros ambientes democraacuteticos e alterna-tivos para a inclusatildeo social Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 37 n 1 p 27-36 janabr 2008BERSCH R Introduccedilatildeo agrave tecnologia assistiva Porto Alegre CEDI 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwassistivacombrIntroducao20TA20Rita20Berschpdfgt Acesso em 3 dez 2011CARVALHO I C L KANISHI A L A sociedade do conheci-mento e o acesso agrave informaccedilatildeo para que e para quem Ciecircn-cia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia n 3 p 33-39 setdez 2000UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Faculdade de Medicina Aluno com visatildeo subnormal daacute exemplo na fa-culdade Belo Horizonte jul 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwmedicinaufmgbrnoticiasp=7063gt Acesso em 10 dez 2011FONSECA J C PINTO T L Tecnologias assistivas para biblioteca inclusiva uma forma de oferecer informaccedilotildees a todos Paraiacuteba [sn] 2010 Disponiacutevel em lthttpdciccsaufpbbrenebdindexphpenebdarticle view78gt Acesso em 1 jun 2011GIL A C Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa social 3 ed Satildeo Paulo Atlas 1991LAKATOS E M MARCONI M de A Fundamentos de me-todologia cientiacutefica 3 ed Satildeo Paulo Atlas 1991NEVES Joseacute Luis Pesquisa qualitativa caracteriacutesticas usos e possibilidades Cadernos de Pesquisa em Administraccedilatildeo Satildeo Paulo v 1 n 3 p 1-6 1996PAULA S N de Acessibilidade agrave informaccedilatildeo em bibliote-cas universitaacuterias e a formaccedilatildeo do bibliotecaacuterio Campinas PUC 2009

d 59VALEacuteRIA GOMES PEREIRA bull HAMILTON RODRIGUES TABOSA58 d

PUPO D T MELO A M FERREacuteS S P (Orgs) Acessi-bilidade discurso e praacutetica no cotidiano das bibliotecas Campinas UNICAMP 2006 Disponiacutevel em lthttplabbcunicampbr8080labproducaolivro_acessibilidade_bi-bliotecaspdfpage=65gt Acesso em 13 abr 2012

BIBLIOTECA INCLUSIVA CONSTRUINDO PONTES ENTRE O VISIacuteVEL E O INVISIacuteVEL

Clemilda dos Santos SousaJeriane da Silva Rabelo

Introduccedilatildeo

Cursar uma universidade eacute projeto de vida de muitas pessoas Ter uma profissatildeo e estruturar a vida econocircmica eacute um sonho comum entretanto para pessoas com deficiecircncia natildeo eacute uma tarefa das mais faacuteceis Muitas dificuldades se mani-festam oriundas das barreiras arquitetocircnicas atitudinais de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo Segundo Pupo e Vicentini (2002 p 3) ldquomuitos alunos com deficiecircncia iniciam uma atividade de pesquisa na universidade e satildeo lsquobarradosrsquo pela inexistecircncia de uma infraestrutura adequadardquo Isso porque as universida-des e faculdades ainda natildeo atendem agraves condiccedilotildees de acessibi-lidade para pessoas com deficiecircncia No que se refere agraves pes-soas com deficiecircncia visual o acesso ao acervo das bibliotecas eacute um grande problema porque grande parte desse acervo estaacute impresso em tinta inviabilizando o seu acesso

Visando resolver essas questotildees o Sistema de Bibliote-cas da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) criou em 2009 a Comissatildeo de Acessibilidade1 que tem como objetivo principal diagnosticar as condiccedilotildees de acessibilidade nas bibliotecas da instituiccedilatildeo e propor accedilotildees que visassem estimular a criaccedilatildeo de uma poliacutetica inclusiva que fosse diluiacuteda nos serviccedilos e produ-

1 A Comissatildeo de Acessibilidade fez parte das Comissotildees Especializadas de Estudo (CEE) criadas pela Biblioteca Universitaacuteria da UFC com o objetivo de descentralizar as decisotildees administrativas contribuindo para diagnosticar as necessidades de mudanccedilas e soluccedilatildeo de problemas teacutecnicos e estruturais do Sistema de Bibliotecas da UFC

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tos oferecidos pelo Sistema de Bibliotecas da UFC nos diver-sos campi da universidade Nos primeiros estudos realizados por essa comissatildeo foram apontados diversos aspectos dentre eles a dificuldade que tecircm os alunos com deficiecircncia visual para realizarem suas leituras visto que na ocasiatildeo natildeo havia acervo em Braille2 nas bibliotecas da UFC nem serviccedilos de in-formaccedilatildeo que fizessem a conversatildeo de documentos impressos em tinta para os formatos acessiacuteveis Diante dessa realidade foi proposto pela comissatildeo de acessibilidade do Sistema de Biblioteca o projeto de Desenvolvimento de Acervo Acessiacute-vel tendo como puacuteblico-alvo pessoas com deficiecircncia visual accedilatildeo essa em curso atualmente

Em meados do ano de 2010 foi criada pela UFC a Se-cretaria de Acessibilidade UFC Inclui formada por uma equi-pe de trabalho da qual um membro da Comissatildeo de Acessibi-lidade da Biblioteca Universitaacuteria faz parte representando o Sistema de Bibliotecas Dentre as atribuiccedilotildees da Secretaria haacute uma que apresenta relaccedilatildeo direta com a biblioteca a que se refere agrave dimensatildeo pedagoacutegica e ao acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo (UFC 2012)

A biblioteca eacute um espaccedilo que proporciona a difusatildeo de informaccedilatildeo e permite a produccedilatildeo do conhecimento e sua dis-seminaccedilatildeo Para os estudantes eacute fonte primordial de pesquisa e apoio agraves accedilotildees pedagoacutegicas No caso das pessoas com defici-ecircncia visual se a biblioteca universitaacuteria oferecesse um acer-vo acessiacutevel facilitaria o processo de aprendizagem e inclusatildeo dos referidos discentes na vida acadecircmica proporcionando aos seus professores uma diversidade maior de material bi-bliograacutefico nas atividades cotidianas em sala de aula Aleacutem

2 Inventado pelo francecircs Louis Braille no ano de 1827 em Paris consiste num sistema de escrita com pontos em relevo que permite agraves pessoas privadas da visatildeo a leitura atraveacutes do tato (HOUAISS 2009)

disso a acessibilidade ao acervo das bibliotecas da UFC po-deraacute gerar ao aluno com deficiecircncia visual e ao seu professor uma ponte de interaccedilatildeo possibilidades de muacuteltiplas leituras e produccedilatildeo intelectual

Entretanto do que se trata um acervo acessiacutevel Se-gundo a Norma Brasileira (NBR) 9050 da Associaccedilatildeo Brasi-leira de Normas Teacutecnicas (ABNT 2004) no toacutepico referente agrave biblioteca e centros de leitura quando se refere ao acervo afirma ldquoRecomenda-se que as bibliotecas possuam publica-ccedilotildees em Braille ou outros recursos audiovisuaisrdquo Isto eacute as bibliotecas devem oferecer aos seus usuaacuterios com deficiecircncia visual material bibliograacutefico publicaccedilotildees em formato acessiacute-vel agraves condiccedilotildees de leitura desse puacuteblico

Nesse estudo entendemos por acervo acessiacutevel o con-junto de publicaccedilotildees ndash livros perioacutedicos monografias disser-taccedilotildees teses dentre outros materiais informacionais ndash que satildeo disponibilizados agrave comunidade acadecircmica para suas leituras com um diferencial essas publicaccedilotildees devem ser em Braille (importante para leitura e escrita de pessoas cegas principal-mente nos estudos de liacutenguas) ou em arquivos digitais em for-mato compatiacutevel para o uso de leitores de tela tais como pdf editaacutevel txt ou doc tendo tambeacutem a opccedilatildeo por aacuteudio-livros

Esse tipo de especificaccedilatildeo de formato eacute indispensaacutevel agrave acessibilidade dos usuaacuterios com deficiecircncia visual conjuga-da a serviccedilos de referecircncia pensados para esse segmento de usuaacuterios Com isso eacute possiacutevel proporcionar a equiparaccedilatildeo de oportunidades nas atividades acadecircmicas no que se refere ao acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento

Na experiecircncia do Sistema de Biblioteca da UFC o pro-jeto de Desenvolvimento de Acervo Acessiacutevel eacute uma resposta agrave demanda por acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento das pessoas com deficiecircncia visual na universidade No referido

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projeto haacute dentre outros o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de mate-rial bibliograacutefico que eacute realizado em parceria com a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Esse serviccedilo eacute a principal de-manda no momento por parte dos usuaacuterios com deficiecircncia visual (discentes servidores da universidade) do Sistema de Bibliotecas da UFC O objetivo do projeto supracitado eacute criar uma coleccedilatildeo com material em formato acessiacutevel de natureza cientiacutefica exclusivo para esses usuaacuterios A metodologia utili-zada como tambeacutem a estrutura eacute o que constitui o assunto que abordaremos a seguir

Serviccedilo de Digitalizaccedilatildeo de Materiais Bibliograacuteficos Acesso agrave Informaccedilatildeo e ao Conhecimento

Certa vez a equipe de digitalizadores da Secretaria de Acessibilidade da UFC recebeu um livro para digitalizaccedilatildeo em liacutengua italiana Tratava-se de uma gramaacutetica repleta de exerciacutecios em que um deles solicitava ldquoObserve as figuras e descreva os animaisrdquo O leitor seria capaz de responder essa pergunta A que animais o exerciacutecio se referia se fosse soacute essa a informaccedilatildeo visiacutevel Na verdade a gramaacutetica trazia as figuras dos animais desenhos para que o aluno ao vecirc-los escreves-se os nomes em liacutengua italiana Para uma pessoa vidente natildeo seria nenhum problema mas para uma pessoa cega como saber de quais figuras tratava o exerciacutecio

Para uma pessoa cega soacute seria ldquovisiacutevelrdquo essa informa-ccedilatildeo se a mesma fosse audiodescrita isto eacute ao digitalizar o texto do exerciacutecio as figuras seriam descritas Dessa forma o invisiacutevel se tornaria visiacutevel e a pessoa com deficiecircncia visual teria condiccedilatildeo de responder o exerciacutecio A outra forma seria imprimir o exerciacutecio em Braille caso a pessoa soubesse ler em Braille

Mas do que se trata a audiodescriccedilatildeo Para Vieira e Lima (2010 p 3)

A aacuteudio-descriccedilatildeo eacute uma teacutecnica de representaccedilatildeo dos elementos-chave presentes numa dada imagem que ao dialogar com os elementos de um texto verbal pode ser descrita tambeacutem de forma verbal para formar uma unidade completa de significaccedilatildeo A aacuteudio-descriccedilatildeo pode ser de uma imagem estaacutetica como uma pintura no museu de uma escultura em trecircs dimensotildees da gravura bidimensional presente nos livros didaacuteticos ou de ima-gens dinacircmicas que nada mais satildeo do que um conjunto de imagens estaacuteticas que juntas criam a ilusatildeo de mo-vimento como o que se processa nos filmes de cinema televisatildeo peccedilas de teatro ou viacutedeos de computador

A audiodescriccedilatildeo eacute importante no processo de digita-lizaccedilatildeo porque oferece acesso para pessoas com deficiecircncia visual agraves informaccedilotildees tipograacuteficas contidas no texto como ilustraccedilotildees siacutembolos negritos e outras Satildeo fundamentais para a compreensatildeo de conteuacutedos e por isso devem ser men-cionadas visto que natildeo podem ser lidas pelos programas lei-tores de tela

Visando a essa compreensatildeo eacute que a audiodescriccedilatildeo foi inserida no serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de materiais bibliograacutefi-cos como fator agregador no processo de transformaccedilatildeo de informaccedilotildees visuais em audiacuteveis Objetivando em um futuro proacuteximo a formaccedilatildeo de um acervo acessiacutevel para as pessoas com deficiecircncia visual o referido serviccedilo eacute o que discutiremos a seguir Conta com uma equipe coordenada por uma biblio-tecaacuteria do Sistema de Bibliotecas da UFC e oito digitalizado-res (bolsistas de projetos de graduaccedilatildeo e iniciaccedilatildeo acadecircmica da UFC) com suporte teacutecnico da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

A metodologia de trabalho segue os seguintes passos

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1) Entrevista de referecircncia feita por bibliotecaacuterio em que o usuaacuterio eacute identificado e manifesta suas necessidades informacionais isto eacute apresenta sua bibliografia e demais materiais necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo de trabalhos eou agrave ela-boraccedilatildeo de monografias Outro aspecto importante se refere agrave condiccedilatildeo de deficiecircncia apresentada pelo solicitante haacute que se levar em consideraccedilatildeo o fato de o indiviacuteduo ter nas-cido cego e ou adquirido essa condiccedilatildeo depois de adulto Eacute tambeacutem importante observar se a pessoa tem deficiecircncia visual total ou apresenta baixa visatildeo3 Todos esses aspectos iratildeo definir o atendimento necessaacuterio

2) Cadastramento do discente e assinatura de termo de com-promisso pelo mesmo objetivando informaacute-lo de que o material digitalizado eacute de seu uso exclusivo conforme a Lei nordm 9610 de 1998 dos direitos autorais (BRASIL 1998)

3) Anaacutelise das demandas informacionais dos discentes pesqui-sa nas bases de dados em sites que disponibilizam e-book para saber se as obras solicitadas jaacute estatildeo disponiacuteveis o que evita a perda de tempo em digitalizar novamente os textos

4) Identificaccedilatildeo das obras a serem digitalizadas no acervo da biblioteca Caso sejam do acervo analisar as condiccedilotildees de conservaccedilatildeo tais como paacuteginas riscadas ausecircncia de folhas dentre outras que atrapalham o processo de digitalizaccedilatildeo

5) Digitalizaccedilatildeo do material descriccedilatildeo de figuras graacuteficos e tabelas correccedilatildeo gramatical do texto e formataccedilatildeo do docu-mento final eliminaccedilatildeo de espaccedilos elaboraccedilatildeo de referecircncia bibliograacutefica

6) Envio do material ao solicitante

3 Segundo o Decreto nordm 5296 a baixa visatildeo eacute compreendida como acuidade visual entre 03 e 005 no melhor olho com a melhor correccedilatildeo oacuteptica os casos nos quais a somatoacuteria da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60ordm ou a ocorrecircncia simultacircnea de quaisquer das condiccedilotildees anteriores (BRASIL 2004)

7) Catalogaccedilatildeo e indexaccedilatildeo do material digitalizado no Sistema de Bibliotecas da UFC atraveacutes do Cataacutelogo online da Biblio-teca Universitaacuteria Esse material digitalizado soacute poderaacute ser acessado pelo usuaacuterio com deficiecircncia visual cadastrado atraveacutes de senha e login Essa accedilatildeo estaacute gerando um acervo online de materiais digitalizados de natureza cientiacutefica

Figura 1 ndash Paacutegina do cataacutelogo online da Biblioteca Universitaacuteria da UFC onde se acessam as obras digitalizadas

Figura 2 ndash Paacutegina do cataacutelogo online da Biblioteca Universitaacuteria da UFC com login e senha para acesso agraves obras digitalizadas

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Para ajudar no processo de digitalizaccedilatildeo a equipe res-ponsaacutevel utiliza o programa ABBY FineReader que possibili-ta fazer a digitalizaccedilatildeo dos materiais bibliograacuteficos em diver-sos formatos pdf doc txt aleacutem de eliminar figuras erros de digitalizaccedilatildeo oriundos de manchas riscos e incorreccedilotildees das paacuteginas dos livros

Figura 3 ndash Tela inicial do programa ABBY FineReader

Atraveacutes dessa nova ferramenta no periacuteodo de marccedilo a maio de 2012 foram digitalizados 34 tiacutetulos aproximada-mente 1064 paacuteginas Os primeiros resultados apontam que os alunos com deficiecircncia visual da UFC estatildeo tendo acesso aos materiais digitalizados em tempo haacutebil para acompanhar os estudos em sala de aula Estima-se a ampliaccedilatildeo do aten-dimento realizado atualmente facilitando assim o acesso das pessoas com deficiecircncia visual a materiais bibliograacuteficos di-gitalizados viabilizando o seu acesso agrave informaccedilatildeo e ao co-nhecimento A seguir discutiremos quem satildeo os usuaacuterios do serviccedilo de digitalizaccedilatildeo

Quem satildeo os usuaacuterios com deficiecircncia visual do Sistema de Bibliotecas da UFC

Para aperfeiccediloar o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo e conhecer melhor quem satildeo os usuaacuterios com deficiecircncia do Sistema de Bibliotecas da UFC como tambeacutem seu niacutevel de satisfaccedilatildeo com o serviccedilo foi elaborado um estudo atraveacutes de um questionaacute-rio semiestruturado com uma amostra composta inicialmen-te por seis alunos com deficiecircncia visual da UFC atendidos pelo serviccedilo de digitalizaccedilatildeo dos quais somente quatro se submeteram ao questionaacuterio no segundo semestre de 2011 Na tabela 1 encontramos a caracterizaccedilatildeo da amostra dos alu-nos consultados

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia visual

ALUNO GEcircNERO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A1 Masculino 24 Computaccedilatildeo Baixa visatildeo

A2 Feminino 24Mestrado em Psicologia

Visual total

A3 Masculino 22 Biblioteconomia Baixa visatildeo

A4 Feminino 23 Letras ndash Italiano Baixa visatildeo

Temos como sujeito A1 um discente do curso de Com-putaccedilatildeo com 24 anos com baixa visatildeo do sexo masculino como A2 um estudante de 24 anos cursando mestrado em Psicologia com deficiecircncia visual total do sexo feminino A3 eacute aluno do curso de Biblioteconomia possui 22 anos apre-senta baixa visatildeo e eacute do sexo masculino Por fim A4 estuda no curso de Letras-Italiano possui 23 anos apresenta baixa visatildeo e eacute do sexo feminino

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Anaacutelise dos Dados

Todos os alunos atendidos por esse serviccedilo se mostra-ram satisfeitos com essa iniciativa relatando principalmente as diferenccedilas do periacuteodo anterior a essa accedilatildeo em comparaccedilatildeo com o momento atual Essa constataccedilatildeo eacute importante para perceber se o serviccedilo com a oferta de material digital atende as expectativas dos discentes

Segundo Torres Mazzoni e Alves (2001) o espaccedilo digi-tal apresenta muitas possibilidades Criado pelas Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) oferece para o atendi-mento distintas formas de interaccedilatildeo das pessoas com a infor-maccedilatildeo respeitando as suas preferecircncias e limitaccedilotildees sejam relacionadas aos equipamentos utilizados sejam agraves limita-ccedilotildees orgacircnicas Nessa perspectiva o estudo buscou avaliar a satisfaccedilatildeo dos alunos com o do serviccedilo de digitalizaccedilatildeo visto que este busca oferecer acesso agrave informaccedilatildeo

Dos alunos consultados todos apontaram a preferecircncia por material digitalizado ao inveacutes do Sistema Braille justifi-cada pela facilidade de manuseio praticidade e tempo bem como por natildeo correr o risco de rasgar Para A1 eacute essencial a existecircncia de um serviccedilo de digitalizaccedilatildeo na universidade

Acho essencial ter um serviccedilo desses na Universidade para pessoas com alguma limitaccedilatildeo visual A digitaliza-ccedilatildeo permite uma abrangecircncia de formas de utilizaccedilatildeo desse material No meu caso com o alto contraste ou no aumento de fonte da forma com que quiser entre outras que possam haver A qualidade desse material eacute muito boa e ajuda bastante nos estudos Acho que devia ter-se um maior foco nesse trabalho para que as digita-lizaccedilotildees fossem mais raacutepidas pois muitos materiais satildeo precisos e muitos alunos o necessitam Acho que natildeo eacute lento pois jaacute solicitei uma digitalizaccedilatildeo de mais de 100 paacuteginas e em pouco mais de uma semana jaacute estavam

prontos (e jaacute deixo aqui meu agradecimento agrave Secretaria de Acessibilidade e a todos os que dela fazem parte)

O estudante A2 relatou que tem preferecircncia por mate-rial digitalizado porque quando estaacute no computador o tex-to eacute mais faacutecil de ser manuseado Apontou que a escrita em Braille com reglete4 eacute muito trabalhosa e lenta aleacutem de natildeo constituir uma linguagem acessiacutevel agrave avaliaccedilatildeo dos professo-res Assim os trabalhos devem ser entregues digitalizados Se os textos estatildeo em linguagem virtual facilitam a produccedilatildeo textual e inclusive o registro de citaccedilotildees pois natildeo precisa-mos digitar o que ouvimos (aacuteudio) ou o que lemos no papel (Braille)

O discente A3 apresentou igualmente preferecircncia pelo material digitalizado apesar de utilizar textos eletrocircnicos como o mp4 Conforme seu relato

Em vaacuterios momentos tenho que fazer leitura de textos que natildeo satildeo disponibilizados em miacutedia digital O acuacute-mulo deste material daacute volume e quase sempre estaacute em um tamanho que dificulta muito a leitura por causa da minha baixa visatildeo O serviccedilo de digitalizaccedilatildeo facilita este processo uma vez que me daacute a oportunidade de fazer a leitura deste material em casa ou no trabalho utilizando os recursos de ampliaccedilatildeo do computador e facilitando o seu transporte

O aluno A4 argumentou a importacircncia do acesso ao material utilizado em sala de aula porque satildeo avaliados e co-brados da mesma maneira que os alunos sem deficiecircncia Re-latou a preferecircncia de textos digitalizados porque podem ser

4 ldquoReglete eacute uma placa de metal dobraacutevel que eacute encaixada a uma taacutebua de madeira de aproximadamente 30x20 cm onde eacute preso o papel Ela conteacutem quatro linhas com 27 pequenos retacircngulos vazados cada Esses retacircngulos satildeo chamados de celas e neles estatildeo os seis pontos do sistema Braille que satildeo impressos no papel sulfite 40 com um objeto chamado punccedilatildeordquo (MARUCH STEINLE 2009 p 9)

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levados para onde queira podem ser lidos quantas vezes for necessaacuterio natildeo se apagam com o tempo e natildeo satildeo pesados

Os discentes ressaltaram a importacircncia dos materiais digitalizados para o acesso igualitaacuterio agrave universidade Atraveacutes desses materiais a promoccedilatildeo da inclusatildeo eacute mais efetiva re-duzindo as barreiras existentes entre o estudante com defici-ecircncia visual e o conhecimento cientiacutefico visto que contribuem no processo de sua formaccedilatildeo acadecircmica

A acessibilidade agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento por-tanto representa para os indiviacuteduos com deficiecircncia visual uma etapa importante rumo agrave independecircncia permitindo que participem das atividades cotidianas como agentes ativos na construccedilatildeo de seu conhecimento Desse modo nos ambientes universitaacuterios associados agrave produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do co-nhecimento eacute necessaacuterio que esse direito seja cumprido em toda sua plenitude

Ateacute pouco tempo atraacutes alunos da UFC com deficiecircncia visual enfrentavam inuacutemeras dificuldades no seu cotidiano acadecircmico para ter acesso a materiais digitalizados De acor-do com os depoimentos dos estudantes com o advento da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui e o serviccedilo de digita-lizaccedilatildeo do Sistema de Bibliotecas da UFC no iniacutecio de 2011 a digitalizaccedilatildeo de textos solicitados pelos professores em sala de aula constituiu uma conquista pois tem facilitado bastante a compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados pelos docentes

Consideraccedilotildees Finais

No livro Acessibilidade em bibliotecas Baptista (2009) ao comentar sobre inclusatildeo ressalta que as diferenccedilas fazem parte da vida que nenhuma pessoa eacute igual a outra e que cada indiviacuteduo demonstra qualidades defeitos potencialidades

surpresas que satildeo infindaacuteveis e imprevisiacuteveis A diferenccedila se apresenta portanto como fator enriquecedor parte da dinacirc-mica da vida humana e natildeo deveria ser um fator de exclusatildeo nos espaccedilos sociais Nesse sentido as bibliotecas como espa-ccedilos culturais sociais natildeo poderiam deixar de ser inclusivas As mesmas satildeo espaccedilos de epifania do saber onde os rios de diversos saberes se encontram formando um oceano de conhe-cimento em constante movimento de evaporaccedilatildeo e fortes ondas de transformaccedilatildeo codificaccedilatildeo e recodificaccedilatildeo

Nesse processo os movimentos das aacuteguas desse oceano satildeo muacuteltiplos Haacute diversas formas de navegar diversas for-mas de vida a inclusatildeo eacute a compreensatildeo do muacuteltiplo como fator produtor de possibilidades Nesse contexto compreen-de-se a acessibilidade em bibliotecas como o entendimento e o movimento de expansatildeo do seu potencial educador No caso de pessoas com deficiecircncia visual estas trazem agrave biblioteca uma nova leitura sobre produccedilatildeo e aquisiccedilatildeo do conhecimen-to novas formas de perceber o mundo e representaacute-lo

Onde se encontram portanto nos bibliotecaacuterios a ou-sadia e a humildade de navegar o oceano que a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia pode oferecer agrave sociedade trazendo novos horizontes para aleacutem das ilhas costumeiras

Eacute nessa perspectiva que o trabalho do Sistema de Bi-bliotecas da UFC e da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui se apresenta como um olhar dinacircmico sobre as novas ilhas Criar um acervo acessiacutevel para pessoas com deficiecircncia visual eacute um movimento de navegar em aacuteguas desconhecidas extre-mamente atraentes cheias de descobertas gratificantes e re-veladoras do poder de superaccedilatildeo do ser humano

Eacute nesse navegar que se constitui o objetivo da Secreta-ria de Acessibilidade UFC Inclui em promover uma poliacutetica de acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo para pessoas com

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deficiecircncia nesse caso especiacutefico as que tecircm cegueira Deve--se institucionalizar essa accedilatildeo na vida da universidade tendo o Sistema de Biblioteca como foco visto que eacute o equipamento cultural institucional na universidade com a missatildeo de orga-nizar preservar e disseminar a informaccedilatildeo e a produccedilatildeo do conhecimento

Criar um acervo acessiacutevel de natureza cientiacutefica para as pessoas com deficiecircncia visual como jaacute dito eacute um desafio visto as dificuldades oriundas do pouco conhecimento sobre o tema na aacuterea de Biblioteconomia Poucos bibliotecaacuterios co-nhecem o tema de forma que os capacite a interferir e crias soluccedilotildees que venham atender os usuaacuterios com deficiecircncia visual

Portanto o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de material biblio-graacutefico natildeo eacute uma atividade-fim mas um meio com vistas a contribuir para o desenvolvimento de um acervo que con-temple as necessidades de informaccedilatildeo das pessoas com defi-ciecircncia visual possibilitando a criaccedilatildeo de pontes entre elas e o conhecimento mediando-se essa relaccedilatildeo intercedendo no navegar entre uma ilha e outra entre os mares os continen-tes Avanccedilando mar adentro descobrindo ignorados horizon-tes escondidos pela ilusoacuteria ideia de ver apenas com os olhos equivocando-se que ver enxergar estaacute para aleacutem do visiacutevel passa pelo cheiro pelo toque pelo sentir pelo perceber-se humano capaz de superaccedilatildeo de recriar o mundo as ideias e a si mesmo o que diraacute as instituiccedilotildees e suas poliacuteticas

Referecircncias Bibliograacuteficas

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O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIA

Beatriz Furtado Alencar LimaCarla Poennia Gadelha Soares

Refletindo sobre a Accedilatildeo e a Extensatildeo do Projeto

Neste artigo relatamos as experiecircncias vivenciadas du-rante a execuccedilatildeo do Projeto de Extensatildeo realizado pela Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) por meio da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui O projeto intitulado Atendimento Educacional Especializado para alunos com deficiecircncia visu-al de universidades puacuteblicas do municiacutepio de Fortaleza reali-zou-se no periacuteodo de 3 de maio a 23 de novembro de 2011 sob a coordenaccedilatildeo da professora Beatriz Furtado Alencar Lima e apresentou como objetivo em linhas gerais oferecer Aten-dimento Educacional Especializado (AEE) para alunos com deficiecircncia visual matriculados em universidades puacuteblicas de Fortaleza ndash UFC e Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) ndash por meio do serviccedilo de leitura de textos

A Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui com o intui-to de possibilitar o acesso agrave leitura de materiais em tinta ao puacuteblico mencionado estaacute desenvolvendo um soacutelido trabalho de digitalizaccedilatildeo de textos sob a coordenaccedilatildeo da bibliotecaacuteria Clemilda dos Santos Sousa Assim o intuito de nosso projeto foi oferecer mais um serviccedilo que pudesse ajudar no acesso aos textos com os quais os alunos devem travar contato em suas atividades acadecircmicas

Nesse sentido eacute importante reforccedilar que a ideia que nos orientou ao propormos esse projeto foi a de ampliar o leque de possibilidades dos estudantes em suas praacuteticas de letra-

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mento acadecircmico Compreendemos letramento como uma praacutetica social intermediada por textos escritos (BARTON HAMILTON 1998) e foi com base nessa concepccedilatildeo sobre le-tramento que desenvolvemos nosso projeto

Eacute importante dizer no entanto que natildeo consideramos em nenhuma hipoacutetese a atividade de ler para pessoas com deficiecircncia visual a melhor ou mais acertada Trata-se de mais um recurso dentre tantos outros existentes ndash tais como leitores de tela sistema de leitura e de escrita Braille1 etc ndash para que esse estudante tenha o seu direito assegurado de acesso agrave informaccedilatildeo Quando entramos nesta seara do acesso ao consumo e agrave produccedilatildeo de informaccedilatildeo eacute importante refle-tir sobre a multiplicidade de recursos existentes atualmen-te no campo das Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)

Torres Mazzoni e Mello (2007) no trabalho intitulado Nem toda pessoa cega lecirc em Braille nem toda pessoa sur-da se comunica em liacutengua de sinais alertam-nos para o fato de que no contexto em que atualmente vivenciamos de con-tato intenso com muacuteltiplas semioses jaacute natildeo haacute espaccedilo para pensarmos em uma uacutenica forma de entrar em contato com as praacuteticas sociais de leitura e escrita quando se fala em acesso e produccedilatildeo de informaccedilatildeo Segundo as autoras sabe-se que atualmente as TICs com o uso de ajudas teacutecnicas adequadas

1 Trata-se de um sistema de leitura e escrita destinado a pessoas cegas por meio do tato Sua escrita eacute baseada na combinaccedilatildeo de seis pontos dispostos em duas colunas de trecircs pontos que permite a formaccedilatildeo de 63 caracteres diferentes que representam as letras nuacutemeros foneacutetica etc Foi criado por Louis Braille nascido na Franccedila no ano de 1809 Ficou cego em 1812 em um acidente na oficina do pai Louis Braille em 1825 apresentou a primeira versatildeo do sistema de leitura e escrita em relevo taacutetil para pessoas cegas Utilizou como referecircncia o sistema de Barbier ndash sistema utilizado para a comunicaccedilatildeo noturna entre os soldados do exeacutercito francecircs Em 1837 apresentou o que viria a ser a versatildeo final do sistema Braille Desde entatildeo eacute um dos sistemas utilizados pelas pessoas com deficiecircncia para o contato com a leitura e a escrita (SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS 2011)

permitem a comunicaccedilatildeo direta e instantacircnea entre pessoas com deficiecircncias sensoriais distintas

Essas tecnologias permitem que por exemplo possa realizar-se a comunicaccedilatildeo entre uma pessoa surda e uma pes-soa cega sem que elas optem em utilizar o Braille ou a Liacutengua Brasileira de Sinais2 (Libras) Essa realidade de comunicaccedilatildeo leva-nos a dizer que nos dias de hoje o maior obstaacuteculo en-frentado pelas pessoas com deficiecircncia diz respeito ao acesso a essa informaccedilatildeo caracterizando-se esta como uma riqueza inestimaacutevel que se relaciona a aacutereas como a Educaccedilatildeo o tra-balho e o lazer Dada a relevacircncia desse acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo em nossa sociedade sempre que falamos sobre barreiras agrave acessibilidade de cidadatildeos eacute fundamental destacar aquelas que impedem o acesso pleno e irrestrito a essas duas instacircncias Acreditamos pois que a quebra dessas barreiras poderaacute advir de forma mais justa e de fato acessiacutevel a partir do momento em que cidadatildeos com ou sem deficiecircn-cia tenham o direito de escolher de maneira plena e irrestrita a forma pela qual desejam entrar em contato com o consumo e a produccedilatildeo da informaccedilatildeo Para que isso ocorra faz-se ne-cessaacuterio ouvir conversar e refletir com as pessoas com defici-ecircncia e natildeo somente sobre as pessoas que se ressentem das barreiras a esse acesso

Sendo assim nosso projeto eacute delineado pelo pensamen-to de que para realizarmos um trabalho satisfatoacuterio junto aos alunos com deficiecircncia faz-se necessaacuterio sobretudo ouvir o que eles tecircm a nos dizer sugerir criticar Por essa razatildeo an-tes ou depois de realizarmos um trabalho de leitura de um

2 A liacutengua de sinais natildeo eacute universal e cada paiacutes possui a sua Como toda liacutengua possui uma estrutura gramatical e aspectos linguiacutesticos fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico No Brasil a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) eacute reconhecida pela lei nordm 104362002 como o sistema linguiacutestico visual-motor da comunidade surda brasileira (BRASIL 2005)

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texto ao universitaacuterio cego propomos informalmente ao aluno que ele nos aponte possibilidades de melhoria Dessa forma fazemos sempre que possiacutevel os ajustes necessaacuterios em prol de uma praacutetica de leitura melhor e mais eficaz Para que se compreenda melhor o funcionamento do nosso projeto de extensatildeo descrevemos na seccedilatildeo trecircs as principais accedilotildees desenvolvidas

Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

A realizaccedilatildeo deste projeto levou-nos agrave reflexatildeo sobre o aspecto de que o acesso agrave leitura e agrave escrita porpara pessoas com deficiecircncia visual natildeo se restringe a um uacutenico recurso Pelo contraacuterio muacuteltiplos satildeo os letramentos considerando que muacuteltiplas satildeo nossas praacuteticas sociais de contato com a lei-tura e a escrita Uma vez que vemos como indissociaacuteveis os letramentos e as praacuteticas sociais pensar o acesso agrave comunica-ccedilatildeo por meio de somente um recurso ndash quer sejam leitores de tela serviccedilo de ledores sistema Braille ndash eacute uma praacutetica redu-cionista e perigosa que leva agrave exclusatildeo de vaacuterios cidadatildeos de uma praacutetica social fundamental em nosso cenaacuterio contempo-racircneo que diz respeito ao acesso agrave informaccedilatildeo de forma irres-trita e acessiacutevel com todas as consequecircncias que as palavras irrestrita e acessiacutevel possam remeter

Eacute neste sentido que a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui ndash e no acircmbito da secretaria inserimos nosso projeto ndash tem direcionado suas accedilotildees com o intuito de promover dentro dos limites que lhe satildeo colocados a acessibilidade agrave informaccedilatildeo sob muacuteltiplas formas e perspectivas A rota precisa deste cami-nho para uma plena e irrestrita acessibilidade Natildeo a temos Satildeo somente dois anos de caminhada diante de tantas deacutecadas em que imperaram e ainda imperam uma concepccedilatildeo visiocecircn-

trica cartesiana e positivista de ensino de aprendizagem e de acesso agrave informaccedilatildeo ldquoCaminante no hay camino Se hace camino al andar Golpe a golpe verso a versordquo 3 Nos pa-raacutegrafos que se seguem faremos uma exposiccedilatildeo sobre as bases teoacutericas que fundamentaram esses nossos primeiros passos

Comecemos esclarecendo o conceito de letramento com o qual trabalhamos uma vez que este foi um dos conceitos que guiou nossa trilha durante a realizaccedilatildeo do projeto Tra-balhamos com o conceito de letramento desenvolvido pelos Novos Estudos do Letramento o qual entende o letramento como uma praacutetica social que envolve atividades de leitura e de escrita inseridas em estruturas sociais (BARTON HA-MILTON 1998) Satildeo praacuteticas que se localizam em um tempo e em um momento especiacuteficos ou seja as praacuteticas de letra-mento acontecem em contextos histoacutericos sociais e poliacuteticos situados Em resumo o letramento significa conforme a pers-pectiva que adotamos algo que as pessoas fazem natildeo se tra-ta de algo que reside somente na cogniccedilatildeo dos indiviacuteduos O letramento estaacute aleacutem de habilidades para aprender a ler e a escrever estaacute aleacutem dos textos que se limitam ao suporte do papel eacute uma atividade social por excelecircncia e portanto iraacute ocorrer na interaccedilatildeo entre as pessoas

Para ilustrar o que dizemos utilizamo-nos da voz de um dos participantes de uma pesquisa em andamento sobre letra-mentos para pessoas com deficiecircncia visual que estaacute sendo desenvolvida pela professora Beatriz Furtado Alencar Lima como aluna do doutorado em Linguiacutestica do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da UFC4

3 Passagem do poema Caminante no hay camino (MACHADO 2004)4 A pesquisa teve iniacutecio em maio de 2010 e trabalha com dez participantes cinco homens e cinco mulheres situados na faixa etaacuteria entre 23 e 50 anos Os participantes que integram a pesquisas satildeo pessoas com deficiecircncia visual quatro deles com niacutevel superior completo e seis se encontram com os cursos de niacutevel

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Ao finalizar a entrevista ndash de natureza semiestruturada ndash foi perguntado ao participante5 se ele gostaria de comentar algo mais aleacutem do que jaacute havia dito O que obtivemos foi en-tatildeo o seguinte depoimento6

Beatriz e pra gente terminar vocecirc gostaria de comentar algo mais Ricardo Natildeo acho que basicamente isso mesmo acho que tem Beatriz Sobre o que a gente conversou ou algo que vocecirc gostaria de comentar que independente das perguntasRicardo Natildeo eu acho que era basicamente isso mesmo Tipo as coisas tatildeo caminhando jaacute caminharam muitas coisas mas eu acho que tinha que ser feito conversar mais com os cegos ou se aproximar um pouco mais Enfim jaacute melhorou muita coisa mas muita coisa ainda taacute pra melhorar aindaBeatriz O que seriam essas coisas ainda pra melhorarRicardo Eu acho que da maneira que taacute acontecendo taacute acontecendo ateacute duma maneira legal Soacute que eu acho que tinha que melhorar era ouvir mais os cegos ouvir mais o deficiente e natildeo lsquoAh Eu estudei Eu sou formado Eu sou doutorrsquo Eu sou natildeo sei o quecirc Eu sei o que eu tocirc fazendo Tinha que ouvir mais Entatildeo muitas vezes a gente pega a pessoa lsquoAh Eu sou sei laacute eu sou irmatildeo dum cegorsquo lsquoeu sou casado com um cegorsquo lsquoeu sou assim assadorsquo lsquoeu estudeirsquo lsquoeu fiz pesquisarsquo lsquoeu fui pra forarsquo

superior em andamento A pesquisa acontece em diferentes locais de trabalho e de estudo dos participantes e tem como um de seus objetivos descrever compreender e explicar os letramentos presentes nas praacuteticas sociais dessas pessoas com deficiecircncia visual5 Para preservar a identidade dos participantes que aceitaram contribuir com nossa entrevista usamos nomes meramente fictiacutecios 6 Entrevista gravada em 10 de novembro de 2011 Essa entrevista faz parte do projeto de doutoramento de Beatriz Furtado Alencar Lima sobre os muacuteltiplos letramentos para pessoas com deficiecircncia visual A pesquisa estaacute vinculada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da UFC O projeto encontra-se devidamente aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFC ofiacutecio nuacutemero 18511 protocolo COMEPE nuacutemero 13411

lsquoeu fui pros Estados Unidosrsquo lsquoestudei laacute e eacute assimrsquo E natildeo a verdade natildeo eacute assim Acho que quem sabe onde o sapato aperta eacute o deficiente Natildeo adianta vocecirc ter es-tudado vocecirc ter feito um bocado de coisas se vocecirc natildeo eacute o puacuteblico-alvo daquilo Claro que vocecirc ter estudado vocecirc vai ter uma bagagenzinha bem legal mas isso natildeo quer dizer que aquilo dali eacute tudoBeatriz E o que vocecirc diria pra esse pessoal que estuda e que acha que entendeRicardo Descesse um pouquinho do salto Soacute issoBeatriz CertoRicardo Escutasse mais descesse um pouquinho do sal-to e enfim escutasse mesmo Tipo seria isso escutasse um pouquinho porque o cego ele pode natildeo ter a baga-gem teacutecnica mas ele tem a bagagem praacutetica da coisa

Haacute outro depoimento que dialoga com o que Ricardo nos fala No depoimento abaixo estamos conversando sobre as tecnologias ndash de forma mais especiacutefica sobre a presenccedila dos computadores ndash na vida das pessoas com deficiecircncia visual Por meio de um exemplo simples que envolve o letramento (poder utilizar um micro-ondas) a participante levanta um ponto complexo sobre a falta de acessibilidade que adveacutem de nosso visiocentrismo7

Beatriz Humrum humrum Pegando aiacute uma apro-veitando isso aiacute que vocecirc acabou de comentar tem um pouco a ver com uma outra pergunta que eu gostaria de te fazer eacute como eacute que vocecirc sente e percebe as tecnologias da comunicaccedilatildeo na tua vida

7 Sobre este visiocentrismo Joana Belarmino de Sousa (2004) em sua tese Aspectos comunicativos da percepccedilatildeo taacutetil a escrita em relevo como mecanismo semioacutetico da cultura nos fala da existecircncia de uma mundividecircncia taacutetil ndash em contraposiccedilatildeo agrave nossa sociedade visiocecircntrica ndash como uma forma distinta de vivenciar o mundo Ou seja o tato eacute uma das formas pelas quais as pessoas com deficiecircncia visual experienciam o mundo e dentro dessas experiecircncias encontramos a leitura e a escrita por meio do sistema Braille

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Leda Ah eu assim eu costumo valorizar tudo que vem facilitar neacute Eu acho que tudo que vem me proporcionar uma independecircncia neacute Eu eu acho que natildeo tem por que natildeo tem como vocecirc recusar eu acho que vocecirc tem que aproveitar neacute Um celular um computador um programa aqui e ali mesmo que vocecirc coloque no seu computador pirata mesmo que vocecirc busque de uma forma ou de outra um meio pra utilizar qualquer coisa que venha te ajudar que venha te tornar mais indepen-dente mais autocircnomo eu acho que eacute valido Por exem-plo vocecirc quer ver uma coisa lsquoolha eu quero comprar um micro-ondas pra mim haacute tempo que eu quero comprar um micro-ondas pra mimrsquo Atualmente natildeo tem mais nenhum micro-ondas pra pessoa cega utilizar todos os micro-ondas olhe como as coisas natildeo satildeo para todos todos os micro-ondas atuais satildeo digitais Nenhum fala nenhum tem uma adaptaccedilatildeo pra pessoa cega utilizar aiacute as pessoas dizem assim lsquoah mas tem aquele micro--ondas x de mil novecentos e me esqueci que esse daiacute serve pra vocecircrsquo Ou seja nem escolher a marca do meu micro-ondas nem escolher o tamanho do meu micro--ondas nem escolher o tipo do meu micro-ondas que eu quero ter eu posso Entatildeo eu tenho que comprar aquele do seacuteculo XIX porque soacute aquele do seacuteculo XIX pra caacute foi que foi feito eacute o que permite que eu possa utilizar entatildeo assim eu acho que nessa questatildeo a gente ainda precisa evoluir neacute Apesar de que jaacute que soacute tem essa daiacute esse daiacute esquenta a comida do mesmo jeito dos atuais eu natildeo tenho escolha Se eu quero comprar um de 30 litros mas soacute tem um de 19 litros eu fico com esse mesmo eacute melhor do que eu natildeo esquentar nunca minha comida Agora natildeo eacute correto natildeo eacute justo natildeo taacute certo natildeo tem acessibilidade O mundo natildeo eacute para todos

Essa passagem da entrevista com Leda reitera a impor-tacircncia de entendermos que quando falamos sobre o acesso agrave leitura e agrave escrita para pessoas com deficiecircncia visual natildeo podemos pensar em uma uacutenica forma de acesso a textos es-critos mas em muacuteltiplas maneiras de vivenciar essa leitura e

essa escrita e em uma multiplicidade de suportes e de meios que proporcionam esse acesso

Daiacute dizermos que estamos trabalhando numa perspec-tiva de muacuteltiplos letramentos e de multiletramentos O termo muacuteltiplos letramentos foi desenvolvido por Street (1984) com o objetivo de opocirc-lo a uma concepccedilatildeo de letramento autocircno-mo a qual reifica a ideia de letramento reduzindo-o a uma noccedilatildeo simplista e redutora Essa concepccedilatildeo autocircnoma vecirc o letramento como uma habilidade a ser adquirida sem consi-derar as praacuteticas sociais e culturais em que os seres humanos estatildeo imersos A atividade de interagir com textos reduz-se a uma interaccedilatildeo com textos escritos que devem ser devidamen-te decodificados e internalizados O letramento autocircnomo assume atualmente um papel dominante em muitos meios educacionais do Brasil e do mundo em ciacuterculos governamen-tais em agecircncias internacionais como a UNESCO e tambeacutem estaacute na base dos discursos dos mais variados segmentos da sociedade ndash escolas universidades academias de letras miacute-dia dentre outros ndash sobre o que entendem por letramento A ideia pois dos muacuteltiplos letramentos vem opor e desafiar o que difunde o letramento autocircnomo (STREET 2010)

No que diz respeito aos multiletramentos esse termo faz referecircncia natildeo a muacuteltiplos letramentos associados a di-ferentes contextos sociais mas a formas diversas muacuteltiplas de letramento que se associam a diferentes canais ou mo-dos como letramento visual letramento do computador etc (STREET 2010)

Eacute pois tendo como referecircncia a noccedilatildeo de letramento acima exposta que reiteramos ser perigoso e redutor afir-marmos e agirmos em prol do acesso agrave leitura para as pes-soas com deficiecircncia visual tendo como paracircmetro um uacutenico meio Braille ou leitores de tela por exemplo Isso significaria

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apagar e negar as muacuteltiplas maneiras pelas quais elas podem vivenciar a leitura em suas mais diversas praacuteticas sociais Eacute importante sempre ter em vista que satildeo muacuteltiplos os letra-mentos que respondem agraves demandas peculiares das pessoas com eficiecircncia visual a partir de suas diferentes praacuteticas so-ciais e culturais e muacuteltiplas satildeo as formas com que essas pes-soas vivenciam interagem e reagem a esses letramentos de acordo com os diferentes canais ou meios que utilizam Faz-se necessaacuterio entender como esses muacuteltiplos e multiletramentos respondem agraves necessidades especiacuteficas das pessoas com de-ficiecircncia visual para que se possa realizar de fato um acesso pleno e irrestrito da leitura agravequeles que se encontram fora do campo de visatildeo de um mundo pautado no visiocentrismo

Descrevendo as Accedilotildees do Projeto

Partindo do princiacutepio de que a universidade estaacute forma-da por um puacuteblico heterogecircneo de estudantes encontrando--se nessa heterogeneidade inseridas as mais diversas formas de contato com a leitura e a escrita entendemos ser importan-te considerar essas idiossincrasias promovendo uma forma a mais de acesso aos textos em tinta com os quais os alunos com deficiecircncia visual teriam que travar contato ao longo de seu curso de graduaccedilatildeo Daiacute a criaccedilatildeo de um projeto que prestasse AEE aos estudantes com deficiecircncia visual com o objetivo de auxiliaacute-los nas atividades discentes de que prescindiam nos cursos em que estavam matriculados

Durante a execuccedilatildeo do projeto atendemos a quatro alu-nos cujos dados estatildeo detalhados na tabela abaixo

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos atendidos

CARACTERIZACcedilAtildeO DOS ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA

IDADE CURSO DEFICIEcircNCIA

28 Ciecircncias Sociais Fiacutesica ndash Torcicolo Espasmoacutedico

45 Pedagogia Visual ndash Baixa Visatildeo

22 Letras Espanhol-Literatura Visual Total ndash Retinoblastoma

23 Psicologia Baixa Visatildeo ndash Visatildeo Unilateral

A accedilatildeo do projeto se inseriu conforme jaacute mencionamos anteriormente como mais uma das iniciativas que estatildeo sen-do desenvolvidas na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui no sentido de disponibilizar material bibliograacutefico para as pessoas com deficiecircncia visual Nesse sentido trabalhos vecircm sendo empreendidos como a digitalizaccedilatildeo de materiais que precisam ser usados pelos alunos com deficiecircncia visual No entanto dado que este serviccedilo demanda certo tempo o aten-dimento prestado pelas ledoras veio auxiliar e complementar o trabalho de digitalizaccedilatildeo8 de livros e textos com o intuito de atender aos alunos nas leituras de seus textos em tempo haacutebil

De forma mais especiacutefica centramo-nos nos seguintes aspectos promover o acesso de textos por meio do trabalho de ledoras realizado por duas bolsistas pertencentes agrave Se-

8 O trabalho de digitalizaccedilatildeo consiste no processo de digitalizar textos em tinta para que possam ser utilizados pelas pessoas com deficiecircncia visual por meio do suporte do computador com o uso de leitores de tela ou do programa DOSVOX Tanto o programa DOSVOX quanto os leitores de tela leem o que se encontra na tela do computador para as pessoas que os utilizam Essa leitura ocorre atraveacutes de uma voz sinteacutetica que decodifica as palavras que se encontram na tela Ou seja jaacute que as pessoas com deficiecircncia visual natildeo podem ter acesso aos textos em tinta por meio da visatildeo entram em contato com as informaccedilotildees escritas por meio da audiccedilatildeo

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cretaria de Acessibilidade UFC Inclui coletar e gerar dados para a elaboraccedilatildeo de uma estatiacutestica sobre a quantidade de alunos atendidos e a metodologia que eacute utilizada nesses aten-dimentos coletar e gerar dados para a elaboraccedilatildeo de novas metodologias no tocante agrave leitura para cegos com o intuito de aprimorar essa teacutecnica e com isso contribuir com mais uma ferramenta de acesso ao conhecimento para os estudan-tes com deficiecircncia visual

Dessa maneira as duas bolsistas envolvidas neste pro-jeto atuaram da seguinte forma realizaccedilatildeo do trabalho de lei-tura de textos para os estudantes que buscavam o atendimen-to na secretaria construccedilatildeo de formas alternativas de acesso ao conhecimento presente nos textos (leitura pausada leitura contiacutenua leitura para fichamento) acompanhamento e ano-taccedilatildeo das estrateacutegias que eram utilizadas e construiacutedas nesse atendimento com o intuito de gerar dados para a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Essas formas de atuar podiam acontecer de maneira conjunta ou em separado dependendo das necessidades e estilos de aprendizagem dos alunos Cada atendimento teve a duraccedilatildeo aproximada de uma hora e meia nos turnos da manhatilde e da tarde dependendo de cada caso e foram realizados em uma sala situada na Secretaria de Aces-sibilidade UFC Inclui

Aleacutem disso as bolsistas do projeto participaram se-manalmente de atividades de estudo planejamento e acom-panhamento sob supervisatildeo da coordenaccedilatildeo do projeto A pauta desses encontros estava centrada na discussatildeo sobre a forma como as ledoras realizavam os atendimentos a fim de aperfeiccediloar as teacutecnicas utilizadas Tanto nos atendimentos ao puacuteblico- -alvo do projeto quanto nos encontros junto agrave coor-denaccedilatildeo a intenccedilatildeo foi a de oferecer oportunidades para que as bolsistas se deparassem com situaccedilotildees-problema para as

quais deveriam buscar formas criativas de intervir pedagogi-camente no AEE Isso exigiu delas a capacidade de ir ao en-contro de soluccedilotildees que atendessem a cada aluno

Compartilhando Nossas Experiecircncias

Relatar experiecircncias implica compartilhar com o outro por meio da narrativa emoccedilotildees medos desejos e dificuldades vivenciadas durante algum momento especiacutefico ndash em nosso caso durante todos os instantes que circundaram a praacutetica da leitura para os universitaacuterios com deficiecircncia visual que busca-ram em nossa voz uma alternativa para dar vida aos textos

A esse respeito cabe mencionar que diferentemente do que previacuteamos durante a elaboraccedilatildeo do projeto nosso puacuteblico natildeo se restringiu apenas aos alunos com deficiecircncia visual ou de baixa visatildeo uma vez que um aluno acometido por torcicolo espasmoacutedico ndash o que provocava movimentos involuntaacuterios re-petidos do pescoccedilo ndash tambeacutem buscou nas ledoras uma forma de acessar o conteuacutedo de um texto impresso Isto porque os movimentos involuntaacuterios da parte superior do corpo tornava o fixar dos olhos nas paacuteginas de papel ou na tela do computa-dor uma tarefa dolorosa lenta e por vezes frustrante Dessa forma procedemos com a seguinte correccedilatildeo nossas ledoras emprestaram a voz natildeo soacute aos alunos impossibilitados de ver mas tambeacutem aos que encontravam outras dificuldades decor-rentes de condiccedilotildees fiacutesicas ndash que natildeo a deficiecircncia visual ndash no momento de praticar a leitura

Aclarados esses pontos dividimos nosso relato em trecircs breves momentos inicialmente discorreremos sobre nossas expectativas antes de iniciar as atividades de ledoras em se-guida na parte mais longa do relato compartilhamos nossa vivecircncia durante a execuccedilatildeo do projeto e por fim com base

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em nossa experiecircncia deixamos algumas breves sugestotildees para o aprimoramento de projetos futuros

Antes do nosso projeto atender o primeiro aluno nos-sas expectativas sempre otimistas apontavam para uma re-laccedilatildeo perfeita entre ledor-texto-leitor9 Isto eacute imaginaacutevamos que a nossa voz sempre fosse ter a capacidade de despertar o interesse no leitor acerca do conteuacutedo que liacuteamos Erronea-mente atribuiacuteamos a noacutes ledoras a responsabilidade de tor-nar o texto uma fonte de prazer aos ouvidos do leitor

Mais tarde durante a execuccedilatildeo do projeto e apoacutes apre-ciaccedilatildeo de textos da literatura especializada fomos nos cons-cientizando de nossas responsabilidades e limitaccedilotildees Apren-demos que nem sempre o leitor se envolveraacute com as histoacuterias lidas o que natildeo significa que a nossa leitura natildeo tenha cum-prido o seu papel Afinal eacute comum que todos noacutes videntes ou natildeo enfademo-nos ou ajamos de forma indiferente frente a um texto em algum momento algumas vezes em virtude da linguagem utilizada pelo autor noutras pela forma densa como o escritor conduz suas ideias ou simplesmente pela nos-sa falta de interesse no tema

No entanto natildeo podemos deixar de mencionar a sa-tisfaccedilatildeo que sentiacuteamos quando percebiacuteamos nas atitudes do leitor o contentamento de quem estava completamente en-volvido com nossa leitura Era muito gratificante notar que o nosso tom de voz entonaccedilatildeo pausas e respiraccedilatildeo aliados a um texto de interesse do universitaacuterio conseguiam provocar nele emoccedilotildees e reflexotildees diversas

Certa vez ao teacutermino da leitura de um texto10 relati-vamente denso em funccedilatildeo de uma longa discussatildeo teoacuterica

9 Denominamos ledor agravequele que lecirc para as pessoas com deficiecircncia visual e leitor cego os que escutam as leituras feitas em voz alta10 Referecircncia completa do texto LYONS J Linguagem e Linguiacutestica Rio de Janeiro Guanabara Koogan SA 1981

a aluna leitora para a qual estaacutevamos lendo soltou repenti-namente uma gargalhada e em seguida disse-nos algo que se aproximou com ldquoeacute engraccedilado a forma alegre como vocecirc lecirc um texto difiacutecil E o mais engraccedilado eacute que ele acaba se tor-nando faacutecilrdquo Naquele dia percebemos que noacutes ledores natildeo podemos esquecer jamais que uma leitura realizada de forma mecacircnica e fria despertaraacute sentimentos bem diferentes do que aqueles aflorados quando realizamos uma leitura com entu-siasmo e alegria Os sentimentos satildeo contagiosos

Schinca (1994 p 2) no artigo intitulado ldquoConfissotildees de algueacutem que lecirc para cegosrdquo traduz muito sabiamente as nossas anguacutestias na empreitada de sermos ledores

A quais expectativas dos usuaacuterios temos correspondi-do Que demandas natildeo foram satisfeitas Somos aceitos bem tolerados Ou apenas nos suportam Emocionam-se ou ficam frios com a nossa leitura Somos claros Ou natildeo propiciamos nenhum entendimento uacutetil do texto Consideram-nos intru-sos nesta intermediaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o autor

Esses questionamentos sem duacutevida satildeo ainda mais angustiantes quando o ledor natildeo tem um feedback por parte do leitor acerca de seu trabalho No nosso caso em virtude da intimidade que alcanccedilamos com os alunos com deficiecircncia que nos procuravam no espaccedilo da Secretaria de Acessibilida-de UFC Inclui pudemos conhecer melhor nossas fragilidades e pontos fortes no exerciacutecio da funccedilatildeo de ledoras Quase sem-pre ao teacutermino de uma leitura era comum uma conversa sem cerimocircnias entre as ledoras e os alunos com deficiecircncia sobre os pontos que mereciam ser melhorados em nosso trabalho

Em relaccedilatildeo a isso destacamos aqui um aspecto que merece atenccedilatildeo em nossa praacutetica como ledoras a apropria-ccedilatildeo das teorias que versam sobre a descriccedilatildeo de imagens para cegos (GUEDES 2010 LIacuteVIA FILHO 2010 PAYA 2007)

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Descrever imagens fotos mapas muito mais do que sensi-bilidade requer conhecimento teacutecnico e teoacuterico acerca do assunto Para ilustrar nossa dificuldade sugerimos que vocecirc caro leitor pense em como descreveria a imagem que segue para uma pessoa cega

Figura 1 ndash Indicaccedilatildeo de voo das abelhasFonte LYONS J Linguagem e Linguiacutestica Rio de Janeiro Guanabara Koogan SA 1981

Conseguiu Para noacutes essa descriccedilatildeo tambeacutem natildeo foi

tarefa simples Outra dificuldade que notamos em nosso tra-balho diz respeito agrave leitura de textos em Liacutengua Estrangeira (LE) Apesar de as ledoras serem proficientes em liacutengua in-glesa e espanhola deparaacutevamo-nos muitas vezes com textos escritos em liacutenguas diferentes daquelas

Conclusatildeo

Desse modo acreditamos que ser um bom ledor vai muito aleacutem de simplesmente saber ler A nosso ver os ledores necessitam receber capacitaccedilatildeo adequada que lhe garanta a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas especiacuteficas contar com lugares apro-priados para a praacutetica de leitura em voz alta e ser consciente de que desenvolver um trabalho junto a esses alunos implica

estar atento agraves suas necessidades no momento da leitura ou seja eacute o aluno quem sugere o tipo de metodologia que noacutes le-dores empregamos no momento do atendimento Por exem-plo se o aluno com deficiecircncia precisa ler um texto para fa-zer um fichamento acadecircmico certamente ele solicitaraacute uma leitura mais lenta e uma releitura dos pontos que ele definiu como relevantes por outro lado se ele necessita ler uma crocirc-nica a leitura deveraacute ser realizada de uma uacutenica vez

Como jaacute mencionamos a questatildeo do espaccedilo fiacutesico em que o atendimento ocorre tambeacutem influencia na qualidade da compreensatildeo por parte do aluno Para entender isso bas-ta pensarmos em nossa experiecircncia individual como leitores algumas pessoas preferem ler sentadas em uma cadeira ou-tras deitadas num sofaacute alguns optam por lugares silenciosos ao passo que outros gostam mesmo eacute de no momento da lei-tura ouvir vaacuterias outras vozes (televisatildeo muacutesica etc) Certa vez um aluno interrompeu a leitura de uma das ledoras e de forma tiacutemida sugeriu que saiacutessemos da sala e focircssemos para debaixo de uma aacutervore Indaguei-me por que natildeo ir Ser le-dor eacute entregar-se completamente agrave tarefa de tornar possiacutevel o acesso ao rico mundo das letras agraves pessoas com deficiecircncia visual Ser ledor eacute principalmente saber aventurar-se nas no-vas experiecircncias sem medos e preconceitos

Concluiacutemos apresentando algumas sugestotildees para tra-balhos futuros a partir do que pudemos constatar e analisar durante a vigecircncia de nossa accedilatildeo A execuccedilatildeo do projeto le-vou-nos ao mapeamento de alguns pontos que merecem ser pensados para a realizaccedilatildeo de ediccedilotildees futuras Sobre estes pontos destacamos a realizaccedilatildeo de um levantamento da de-manda pela leitura de textos em LE (inglecircs espanhol francecircs italiano e alematildeo) para que em versotildees posteriores do pro-jeto sejam requisitados ledores proficientes nas liacutenguas su-

O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIABEATRIZ FURTADO ALENCAR LIMA bull CARLA POENNIA GADELHA SOARES92 d d 93

pracitadas caso haja demanda de leitura levantamento e dis-ponibilizaccedilatildeo de materiais em Braille em LE tendo em vista principalmente estudantes com deficiecircncia visual dos cursos de Letras com habilitaccedilatildeo em LE levantamento pesquisa e aquisiccedilatildeo de leitores de tela com versatildeo em LE

Talvez o ponto a ser explorado natildeo resida em uma opo-siccedilatildeo ou uma hierarquia de valores entre diferentes formas de acesso ao conhecimento quer seja ele o Braille o computador ou os ledores mas em uma reflexatildeo sobre determinada forma diferente de ser estar ou perceber o mundo forma que se en-contra cansada desgastada e questiona sobre uma sociedade que definitivamente natildeo tem pensado no acesso ao conheci-mento e portanto agrave leitura e agrave escrita (aqui leitura e escrita pensadas em seus multiletramentos e muacuteltiplos letramentos) para todos

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SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLE

Maria Clarissa Maciel RodriguesInecircs Cristina de Melo Mamede

Introduccedilatildeo

Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky trouxeram grandes contribuiccedilotildees para professores alfabetizadores quando des-vendaram a ideia de que a alfabetizaccedilatildeo natildeo eacute o resultado de algo mecacircnico e repetitivo Ao longo de uma caminhada ateacute a elaboraccedilatildeo de como o sistema de escrita deve ser organizado o sujeito que se depara com tantos materiais escritos ao seu redor formula hipoacuteteses sobre como esse sistema se consti-tui para que possa ser interpretado De acordo com Ferreiro (2000) a alfabetizaccedilatildeo natildeo pode ser vista como algo mecacircni-co pois a crianccedila ao longo desse fenocircmeno se impotildee proble-mas interpreta e reinterpreta o sistema de escrita

No Brasil muitos autores se dedicaram a colher dados a respeito do tema a fim de dar continuidade a tais inves-tigaccedilotildees As pesquisas entretanto satildeo praticamente escas-sas quando se trata da investigaccedilatildeo das hipoacuteteses de leitura e escrita levantadas pelas crianccedilas que apresentam alguma deficiecircncia mais especificamente as crianccedilas cegas Eacute visu-alizando tal situaccedilatildeo que nossa pesquisa se faz relevante e eacute inovadora pois traz contribuiccedilotildees ainda que modestas do ponto de vista de sua abrangecircncia metodoloacutegica1 a respeito

1 Ressaltamos ao leitor a importacircncia de buscar investigaccedilotildees mais aprofundadas a respeito da aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille com acesso inclusive ao alfabeto Braille aqui natildeo apresentado dados os limites de espaccedilo Recomendamos o programa Braille Faacutecil Disponiacutevel em lthttpintervoxnceufrjbrbrfacilgt

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da temaacutetica no campo da aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille2

Este experimento acadecircmico tem como objetivo geral investigar as especificidades no processo de aquisiccedilatildeo da es-crita pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille Pretendemos al-canccedilar este propoacutesito por meio da anaacutelise dos dados obtidos em nossa busca tendo por sujeitos crianccedilas cegas usuaacuterias do Sistema Braille tomando como base teoacuterica os dados obtidos na investigaccedilatildeo realizada por Emiacutelia Ferreiro e Ana Tebe-rosky Procuramos assim identificar o modo como as crianccedilas cegas manifestam suas hipoacuteteses a respeito da escrita e se es-tas apresentam ou natildeo especificidades em relaccedilatildeo agraves hipoacutete-ses jaacute conhecidas

Com efeito este ensaio traz a seguinte questatildeo norte-adora quais as especificidades apresentadas pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille durante a aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita Com suporte nesta indagaccedilatildeo pretendemos tambeacutem ao longo desta pesquisa relacionar as hipoacuteteses psicogeneacuteti-cas da aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita apresentadas pelas crianccedilas cegas com as hipoacuteteses trazidas pelas crianccedilas que enxergam

Aprender a ler e a escrever eacute um fenocircmeno socialmente facilitado pelo uso da escrita pelo contato com os diferentes portadores sociais de texto (SOARES 1998) presentes nos mais diversos ambientes e que trazem os mais variados tipos de informaccedilotildees O contato com esses portadores eacute fundamen-tal para que a crianccedila formule suas hipoacuteteses sobre o que eacute a escrita e acerca da funccedilatildeo social de cada um dos diferen-tes gecircneros textuais Mesmo natildeo sabendo ler e escrever uma crianccedila que enxerga tem enormes benefiacutecios ao manusear um livro ela aprende a direccedilatildeo do sentido da leitura e da escrita

2 Sistema de leitura e escrita taacutetil desenvolvido por Louis Braille para ser utilizado por pessoas cegas ou com deficiecircncia visual grave (baixa visatildeo acentuada)

se um adulto fizer a leitura apontando com o dedo por exem-plo Almeida (1992) destaca a ideia de que para uma crianccedila cega ou com deficiecircncia visual grave que necessita do Sistema Braille para se alfabetizar o contato com portadores sociais de texto se torna mais difiacutecil pois na maioria dos casos o Sistema Braille natildeo faz parte do meio social onde a crianccedila cega estaacute inserida

Como jaacute mencionado as pesquisas sobre a aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille satildeo bastante escassas principalmente no que se refere agraves hipoacuteteses psicogeneacuteticas da aquisiccedilatildeo da escrita Em busca de levantar dados sobre o tema fizemos pesquisas na Biblioteca do Centro de Humani-dades da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) na internet no acervo da instituiccedilatildeo onde aconteceu a pesquisa que aten-de crianccedilas cegas bem como em contatos via e-mail com o Instituto Benjamin Constant do Rio de Janeiro

Na metodologia deste trabalho apresentamos ao leitor os procedimentos adotados para a coleta de dados bem como mencionamos caracteriacutesticas dos sujeitos que participaram da pesquisa Introduzimos consideraccedilotildees a respeito da defi-ciecircncia visual e da aprendizagem das pessoas que possuem essa limitaccedilatildeo e anaacutelise dos dados oferecidos pelas crianccedilas agrave luz da psicogecircnese da liacutengua escrita na seccedilatildeo resultados e discussatildeo Para concluir o artigo tecemos algumas conside-raccedilotildees sobre as produccedilotildees escritas realizadas pelos sujeitos da pesquisa que se encontram em decurso de aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita

Metodologia

Considerando o objetivo deste trabalho de investigar as especificidades da aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas cegas

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por meio do Sistema Braille a metodologia empregada na pesquisa foi o estudo de caso com vistas agrave obtenccedilatildeo de da-dos mais precisos devido ao contato direto do pesquisador com os sujeitos da investigaccedilatildeo consoante ao entendimento de Araujo et al (2008) De acordo com Yin citado por Arauacutejo et al (2008 p 4) esta estrateacutegia eacute adequada ldquo[] quando o investigador procura respostas para o lsquocomorsquo e o lsquoporquecircrsquo quando o investigador procura encontrar interacccedilotildees entre factores relevantes proacuteprios dessa entidade quando o objecti-vo eacute descrever ou analisar o fenoacutemenordquo

A investigaccedilatildeo aconteceu em uma instituiccedilatildeo filantroacute-pica3 fundada na deacutecada de 1940 situada no municiacutepio de Fortaleza-Cearaacute Algumas das modalidades de ensino por ela ofertadas satildeo Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental I e II Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Desenvolvemos a pesquisa nas turmas de Infantil IV Infantil V e 1ordm ano Neste estudo de caso selecionamos nove sujeitos dos quais seis satildeo crianccedilas com idades entre seis e dez anos e trecircs satildeo suas professoras de sala de aula As crianccedilas4 satildeo Edwiges Ariel Tatiana Alex Joatildeo e Diel Todas as crianccedilas possuem patologias congecircnitas Suas professoras satildeo Roberta (1ordm ano) Angeacutelica (Infantil V) e Julieta (Infantil IV) Nenhuma das trecircs professoras da Insti-tuiccedilatildeo apresentou dados relevantes sobre as hipoacuteteses de lei-tura e escrita da crianccedila cega e ateacute mencionaram desconhecer o estudo de Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky5

3 Por questotildees eacuteticas natildeo citaremos o nome da instituiccedilatildeo onde se realizou a pesquisa ao longo deste trabalho nos referiremos ao local como Instituiccedilatildeo4 A fim de preservar a identidade das crianccedilas e das professoras utilizaremos nomes fictiacutecios para nos referirmos aos sujeitos da pesquisa Para efeitos de anaacutelise de dados o nome fictiacutecio das crianccedilas apresenta correspondecircncia com o nuacutemero de siacutelabas de seu nome a fim de facilitar a compreensatildeo da escrita do nome proacuteprio de cada um5 Sentimos a necessidade de buscar novos sujeitos que pudessem contribuir com tais informaccedilotildees para a pesquisa O sujeito encontrado foi a professora Jordana

A fim de facilitar a compreensatildeo do leitor no que se re-fere agrave identificaccedilatildeo dos sujeitos ao longo deste ensaio apre-sentamos um quadro-resumo com os principais dados de cada crianccedila

Quadro 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos Alunos com Deficiecircncia Visual

SUJEITO IDADE ESCOLARIDADE CONDICcedilAtildeO VISUAL

Edwiges 6 anos Infantil IV Cegueira bilateral total

Ariel 7 anos Infantil IV

Olho direito enucleado e vi-satildeo subnormal perifeacuterica no olho esquerdo com encami-nhamento meacutedico para o Sistema Braille

Tatiane 7 anos Infantil VVisatildeo subnormal com enca-minhamento meacutedico para o Sistema Braille

Alex 8 anos Infantil V Cegueira bilateral total

Joatildeo 9 anos 1ordm ano Cegueira bilateral total

Diel 10 anos 1ordm ano Cegueira bilateral total

As palavras e a frase selecionadas para o teste perten-cem ao campo semacircntico corpo humano Satildeo elas perna bar-riga sobrancelha e peacute A frase foi O menino machucou a per-na As crianccedilas tambeacutem tiveram que criar um desfecho para a seguinte histoacuteria Joatildeo e seu amigo Joseacute saiacuteram para passear quando de repente eles acharam uma caixa muito pesada Eles decidiram entatildeo

mestra em Ciecircncias da Educaccedilatildeo que trabalha em duas instituiccedilotildees estaduais especializadas no atendimento a deficientes visuais no municiacutepio de Fortaleza Jordana contribuiu ao responder agraves mesmas perguntas dirigidas agraves demais professoras mas tambeacutem afirmou natildeo ter muitos conhecimentos a respeito da Psicogecircnese da Liacutengua Escrita

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Resultados e Discussatildeo

A deficiecircncia visual eacute do tipo sensorial e abrange desde a cegueira total em que natildeo haacute percepccedilatildeo da luz ateacute a bai-xa visatildeo (visatildeo subnormal) Cegueira pode ser a perda total da visatildeo e as pessoas acometidas dessa deficiecircncia precisam se utilizar dos sentidos remanescentes para aprender sobre o mundo que as cerca A baixa visatildeo eacute a incapacidade de enxer-gar com clareza mas trata-se de uma pessoa que ainda possui resiacuteduos visuais Contudo mesmo com o auxiacutelio de oacuteculos ou lupas a visatildeo se mostra baccedila diminuiacuteda ou prejudicada de algum modo O documento esclarece que algumas patologias ndash como miopia estrabismo astigmatismo e hipermetropia por exemplo- natildeo constituem deficiecircncia visual mas quan-do diagnosticadas devem ser tratadas o mais raacutepido possiacute-vel para natildeo prejudicar o desenvolvimento e a aprendizagem (BRASIL 2000)

Braille O Que Satildeo Esses Pontos As Primeiras Experiecircncias da Crianccedila Cega com a Leitura e a Escrita em Relevo

Almeida (1992) nos chama a atenccedilatildeo para um fato que aqui neste trabalho podemos apontar como uma especifici-dade da crianccedila cega A autora exprime que de acordo com Emiacutelia Ferreiro eacute comum ver crianccedilas ainda bem pequenas imitarem os adultos ao manusearem livros jornais revistas e tantos outros materiais escritos Mesmo as crianccedilas oriundas de classes sociais mais desfavorecidas satildeo detentoras de algum conhecimento sobre a leitura e a escrita pois o elemento es-crito eacute objeto presente por toda parte Ao fingir que lecirc aquelas linhas cheias de rabiscos claramente diferentes do desenho a crianccedila que enxerga aos poucos se apropria do que eacute a es-

crita Quando chegam agrave escola essas crianccedilas veratildeo a escrita como objeto jaacute conhecido de sorte que o desafio entatildeo seraacute de compreender como o sistema estaacute organizado para permi-tir o registro de ideias Almeida (1992) ressalta que quando se trata de crianccedilas cegas as descobertas a respeito da escrita se tornam impraticaacuteveis pois o Sistema Braille natildeo faz parte do cotidiano logo essas crianccedilas demoram muito tempo para entrar no mundo das letras O contato com o Sistema Brail-le soacute acontece quando a crianccedila inicia o periacuteodo escolar pois dificilmente seus instrumentos estaratildeo presentes no acircmbito familiar Para a autora essa demora pode causar prejuiacutezos e atrasos no processo de alfabetizaccedilatildeo

Segundo o portal eletrocircnico da Sociedade de Assistecircn-cia aos Cegos (SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS 2011) o Sistema Braille eacute formado a partir de um conjunto de seis pontos em relevo organizados em duas colunas de trecircs pontos Este conjunto de pontos recebe o nome de cela As di-ferentes disposiccedilotildees e combinaccedilotildees dos pontos na cela geram 63 siacutembolos que satildeo aplicados agrave escrita agrave muacutesica e agraves ciecircncias A escrita Braille pode ser produzida agrave matildeo utilizando-se o conjunto reglete e punccedilatildeo6 instrumentos utilizados em nossa investigaccedilatildeo ou a maacutequina proacutepria para esta escrita

6 A reglete pode ter formas diferentes mas consiste essencialmente em uma reacutegua que geralmente estaacute acoplada a uma prancheta Em alguns modelos a reacutegua eacute dupla face com dobradiccedilas no lado esquerdo e a parte de cima da reacutegua eacute vazada com retacircngulos no formato da cela Braille Na parte de baixo encontramos as celas Braille em baixo relevo Em outros modelos a reacutegua possui apenas uma face a vazada a parte do baixo (relevo) encontra-se na proacutepria prancheta Para produzir a escrita a pessoa prende uma folha de papel 40kg entre as duas faces da reacutegua ou entre a reacutegua e a prancheta dependendo do modelo da reglete O punccedilatildeo eacute usado para pressionar o papel e formar o relevo Utilizando esse conjunto eacute necessaacuterio escrever da direita para a esquerda invertendo a ordem da numeraccedilatildeo dos pontos Assim quando a folha for virada as letras estaratildeo na ordem correta e a leitura seraacute feita de maneira convencional ndash da esquerda para a direita

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Figura 1 ndash A cela Braille agrave Esquerda no Sentido da Leitura e agrave Di-reita no Sentido da Escrita

Almeida (2002) tambeacutem chama a atenccedilatildeo para o fato de que os instrumentos de escrita agrave tinta fazem parte do co-tidiano das crianccedilas que veem pois ao manusear laacutepis ca-netas giz de cera para fazer desenhos ou fingir que escreve eacute possiacutevel atingir certo desenvolvimento da motricidade fina

A crianccedila cega natildeo passa com tal naturalidade por essas experiecircncias enriquecedoras Falta-lhe a condiccedilatildeo de imitar acaba por essa razatildeo natildeo tendo reais oportu-nidades de aprendizagem O ato da escrita tatildeo simples e prazeroso para uma crianccedila vidente transforma--se numa lacuna para ela nos primeiros anos de vida ( ALMEIDA 2002 p 15-16)

Da mesma forma entatildeo o contato com a escrita duran-te a aprendizagem do Sistema Braille eacute necessaacuterio para que a crianccedila possa ampliar seus conhecimentos refinar percep-ccedilotildees e inclusive ajustar condutas motoras e exercitar as arti-culaccedilotildees De iniacutecio eacute interessante que os exerciacutecios de leitura e escrita sejam conduzidos de maneira livre para que com o tempo se possa elaborar a ideia de que aquele conjunto de pontos representa as letras do alfabeto No caminho que iraacute percorrer ateacute se apropriar do sistema de escrita eacute fundamen-tal que o professor ajude a crianccedila a descobrir a organizaccedilatildeo

da paacutegina escrita de cima para baixo e da esquerda para a di-reita linhas contiacutenuas interrompidas etc aleacutem da aplicaccedilatildeo de determinados meacutetodos para a formulaccedilatildeo de tais concei-tos Deixar as crianccedilas manusearem livros eacute essencial o luacutedi-co nesse processo tambeacutem eacute fundamental pois brincadeiras que estimulem a discriminaccedilatildeo classificaccedilatildeo e ordenaccedilatildeo de diferentes objetos trazem mais seguranccedila para a crianccedila na hora de diferenciar os pontos no papel (ALMEIDA 2002)

Em nossa pesquisa conversamos com as docentes da Instituiccedilatildeo e tambeacutem com a professora Jordana a respeito dos conhecimentos que as crianccedilas cegas tecircm sobre a leitura e a escrita Braille bem como dos instrumentos necessaacuterios para produzi-la

As consideraccedilotildees feitas pela professora Julieta que le-ciona no Infantil IV a respeito dos conhecimentos das crian-ccedilas cegas acerca do Sistema Braille e dos materiais que se uti-lizam para produzir a escrita antes de iniciarem a fase escolar satildeo as seguintes

Nenhuma das crianccedilas que eu tenho recebido e creio que as minhas colegas tambeacutem nenhuma sabe que vatildeo se utilizar desses instrumentos Por exemplo quando pegam no punccedilatildeo pela primeira vez perguntam logo lsquoTia mas o que eacute isso Para que serversquo Eles natildeo tecircm conhecimento da existecircncia desse material nem eles nem a famiacutelia Muitos pais ateacute sabem que o filho vai se utilizar do Braille mas natildeo tecircm noccedilatildeo do que eacute o Braille

Indagamos tambeacutem acerca do conhecimento que as crianccedilas tecircm sobre a existecircncia da escrita ldquoNatildeo Jaacute aconte-ceu por exemplo da crianccedila passar as matildeos num livrinho em Braille e perguntar lsquoTia o que eacute isso aquirsquo Temos que explicar que ali estaacute escrita uma histoacuteria que fala sobre alguma coisa Geralmente eles ficam admirados porque natildeo sabem o que eacuterdquo

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As consideraccedilotildees sobre o tema feitas pela professora Roberta que leciona no primeiro ano satildeo as seguintes

Quando as crianccedilas cegas chegam agrave escola natildeo tecircm noccedilatildeo de que existe esse material (reglete e punccedilatildeo) ateacute porque elas natildeo tecircm acesso a esse material em casa Muitas vezes querem usar papel e caneta fa-zem muitos rabiscos com a intenccedilatildeo de desenhar [] Quando acontece o primeiro contato da crianccedila com o Braille elas natildeo sabem o que eacute Nesse momento entra o professor para explicar que ali estaacute escrita alguma coisa que pode ser uma histoacuteria [] No primeiro mo-mento elas vatildeo explorar naturalmente o material vatildeo descobrir que abre e fecha que tem furinhos mas natildeo sabem utilizar Dependendo da crianccedila elas podem passar por toda a Educaccedilatildeo Infantil e chegar ao 1ordm ano ainda com dificuldades de colocar a folha outros jaacute conseguem se adaptar melhor a esse processo varia muito de crianccedila para crianccedila [] Mesmo que ainda natildeo saiba ler eacute necessaacuterio que tudo que escreva (na reglete) vire a folha para ler e assim construir noccedilotildees de leitura e escrita

Consideraccedilotildees da professora Angeacutelica sobre o tema

A crianccedila cega quando ela entra na escola ela natildeo tem nenhum conhecimento relacionado agrave reglete ao punccedilatildeo a livros em Braille Agora se ela tiver um parente que se utiliza desse material ele pode mostrar a ela todo esse material Geralmente quando eles conhecem esse material ficam muito surpresos [] para aprender a utilizar eacute necessaacuterio toda uma orientaccedilatildeo da professora e eacute necessaacuterio que esse contato com o material seja diaacuterio para que aos poucos vaacute dominando o uso da reglete e do punccedilatildeo mas esse processo geralmente eacute lento [] As maiores dificuldades satildeo de colocar a folha identificar a posiccedilatildeo dos pontos de retirar a folha e compreender que pra ler eacute preciso virar o papel e identificar os pontos com o tato

A professora Jordana fez algumas consideraccedilotildees a res-peito ldquoAs crianccedilas cegas possuem as mesmas hipoacuteteses que as crianccedilas videntes podem por exemplo pensar que uma palavra eacute maior dependendo das informaccedilotildees que tem sobre o objetordquo

Alfabetizaccedilatildeo em Braille Hipoacuteteses em Seis Pontos

A teoria da psicogecircnese da liacutengua escrita revela as etapas que as pessoas (crianccedilas ou adultos) atravessam ao se apro-priarem da leitura e da escrita Do ponto de vista da elaboraccedilatildeo da escrita a pessoa que estaacute se alfabetizando segue uma evolu-ccedilatildeo de suas hipoacuteteses linguiacutesticas que podem ser descritas em trecircs grandes periacuteodos I) distinccedilatildeo entre o modo de represen-taccedilatildeo icocircnico e natildeo icocircnico II) estabelecimento de formas de diferenciaccedilatildeo e III) fonetizaccedilatildeo da escrita (FERREIRO 2000)

Na perspectiva de Ferreiro e Teberosky (1999) a crian-ccedila desde o iniacutecio procura reproduzir traccedilos tiacutepicos da escri-ta que identifica como sua forma baacutesica podendo ser linhas curvas ligadas entre si quando o indiviacuteduo toma como padratildeo a escrita cursiva ou grafismos curvos separados entre si quan-do toma a escrita em imprensa como base Quando se trata da interpretaccedilatildeo da escrita as autoras expressam que as escritas se assemelham muito umas com as outras mas que isso natildeo impede que as crianccedilas as considerem diferentes ldquo[] a inten-ccedilatildeo subjetiva do escritor conta mais que as diferenccedilas objetivas no resultadordquo (FERREIRO 2000 p 193) ou seja as escritas apesar de semelhantes podem ser consideradas diferentes pois ao escrever se tem a intenccedilatildeo de grafar palavras diferen-tes As autoras tambeacutem esclarecem que ldquoAs crianccedilas deste niacute-vel pareceriam trabalhar sobre a hipoacutetese de que faz falta cer-to nuacutemero de caracteres ndash mas sempre o mesmo ndash quando se

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trata de escrever algordquo (FERREIRO 2000 p 202) Assinalam ainda que a leitura do que foi escrito eacute sempre global ou seja cada letra vale pelo todo e natildeo pelas partes da palavra

Neste trabalho relacionaremos cada niacutevel da Psicogecirc-nese da Liacutengua Escrita com os dados coletados no estudo de caso agrave medida que apresentarmos exemplos da escrita das crianccedilas cegas

Observamos a escrita de Edwiges (seis anos) na qual podemos identificar caracteriacutesticas deste niacutevel

Figura 2 ndash A palavra perna escrita por Edwiges utilizando os pontos 1 e 2 em 26 celas numa das linhas da reglete

Quando solicitamos que Edwiges escrevesse a palavra perna ela disse que iria usar a letra b e que a palavra possui duas letras Ela inicia a escrita pelo lado esquerdo da reacutegua e logo ultrapassa a quantidade que estabeleceu anteriormente Ao ser interrogada se jaacute havia colocado duas letras com um ar de surpresa ela imediatamente responde ldquoeu jaacute estou botan-dordquo e continua a grafar dois pontos por cela Na escrita da pa-lavra perna e na das demais a menina nomeou os pontos de le-tras Essa caracteriacutestica tambeacutem foi observada na produccedilatildeo de outro sujeito da pesquisa como comentaremos mais agrave frente

Interrogamos sobre ateacute que cela ela escreveria a palavra perna a fim de identificar quantas letras ela utilizaria para escrever a palavra Ela apontou entatildeo a margem direita da reglete explicando que se natildeo escrever duas letras ldquo[] vai ficar faltando um pedaccedilo da pernardquo Ao finalizar a escrita da palavra ela leu ldquoaqui estaacute a coxa (deslizando o dedo da 1ordf agrave 8ordf letra b) esse pedacinho aqui eacute o joelho (9ordf letra b) e depois

tem o resto da perna (da 11ordf agrave 24ordf letra b) e no final o peacute (25ordf e 26ordf letras b)rdquo Segundo Ferreiro (1999 p 194) trata-se nes-te momento do percurso de uma ldquo[] tendecircncia da crianccedila de refletir na escrita algumas das caracteriacutesticas do objetordquo ou como jaacute defendia Luacutecia Lins Browne Rego apud Carraher (1998 p 34) sobre realismo nominal Nesse sentido

Piaget (1967) demonstrou que num determinado estaacutegio do seu desenvolvimento cognitivo a crianccedila natildeo conse-gue conceber a palavra e o objeto a que esta se refere como duas realidades distintas Ele denominou este fenocircmeno de realismo nominal [] Um grupo de crian-ccedilas demonstrou o que consideramos um niacutevel primitivo do realismo nominal Estas crianccedilas ao compararem pares de palavras quanto ao tamanho e agrave semelhanccedila mostravam-se incapazes de focalizar a palavra enquanto sequecircncia de sons independentemente do seu signifi-cado Para estas crianccedilas a palavra devia possuir as mesmas caracteriacutesticas dos objetos que representavam

Figura 3 ndash Sentenccedila empregada para grafar as palavras barriga e matildeo a frase e o texto

A sentenccedila apresentada acima foi empregada para gra-far as palavras barriga e matildeo a frase e o texto Estes exem-plos nos indicam que para produzir a escrita a menina ainda natildeo julga necessaacuterio empregar criteacuterios de diferenciaccedilatildeo dos caracteres dentro de uma palavra e tambeacutem de uma palavra para outra Durante a leitura das palavras Edwiges sempre indica os componentes de tal parte do corpo como por exem-plo os dedos da matildeo e o umbigo na barriga refletindo nova-mente na escrita caracteriacutesticas do objeto Durante a anaacutelise da produccedilatildeo surgiu a duacutevida se o que estava expresso ali era

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desenho ou escrita Jaacute que durante a leitura a garota indicou tantos detalhes das partes do corpo decidimos entatildeo refazer o teste com ela desta vez utilizando o campo semacircntico ani-mais Ao final do novo teste solicitamos a Edwiges que fizesse um desenho e perguntamos ldquoVocecirc vai precisar da reglete para fazer o desenhordquo E ela respondeu com ar de admiraccedilatildeo ldquoAh Natildeo Natildeo que reglete eu num vou usar pra desenhar porque reglete natildeo serve pra desenhar serve pra furarrdquo Obtivemos a certeza de que a menina natildeo se encontrava no domiacutenio do icocirc-nico ou seja jaacute sabia que a escrita era diferente do desenho pois aceitou papel e giz de cera para fazer um desenho

Na escrita da palavra boi tudo indica que existe uma es-pecificidade no raciociacutenio empregado para grafar o vocaacutebulo Observemos agora um recorte do diaacutelogo entre noacutes e Edwiges

Pesquisadora Escreva a palavra boiEdwiges Boi comeccedila com b entatildeo eu vou escrever 1 e (pausa) Deixa eu pensar primeiro (dezesseis segundos depois analisados na gravaccedilatildeo ela completa o raciociacute-nio) Eu vou escrever 1 3 e 4Pesquisadora De quantas letras vocecirc vai precisarEdwiges Trecircs (novamente natildeo fez diferenccedila entre pontos e letras)Pesquisadora E quantas celasEdwiges Deixa eu ver (pausa de 20 segundos para pensar) Eu vou colocar mais esse ponto aqui tambeacutem (acrescenta o ponto 6 aos pontos 1 3 e 4 que acabou de grafar na primeira cela pensa novamente e grafa os pontos 1 3 e 6 em mais uma cela Ela para de escrever) Natildeo eu vou escrever soacute duas igual ao gato que eacute pra terminar logoPesquisadora Jaacute estaacute escrita a palavra boiEdwiges JaacutePesquisadora O nome do boi eacute grande ou eacute pequeno

Edwiges GrandePesquisadora Vocecirc sabe o que eacute um boiEdwiges Ah Eu sei que jaacute vi uma vaca aqui na escola de brinquedo (estaacutetua em tamanho natural) Eu vi uma vaca bem grandona aiacute parecia um touro

Figura 4 ndash Palavra boi escrita com duas celas da reglete

Edwiges sinaliza que boi co-meccedila com b o que poderia dar ideia de um iniacutecio da relaccedilatildeo grafema--fonema (fala e escrita) poreacutem natildeo grafa na palavra a letra mencionada e que ela jaacute conhece Isso natildeo nos daacute a certeza se o fato de ela ter dito b foi apenas um acaso e natildeo o iniacutecio da fonetizaccedilatildeo da escrita ou se ela estava comeccedilando a fonetizar mas natildeo transformou a ideia em accedilatildeo ou seja natildeo representou na grafia o que falou Quando in-terrogamos Edwiges sobre a quantidade de letras da palavra boi a pausa que a menina deu para pensar e a decisatildeo de natildeo mais grafar com dois pontos padratildeo adotado para produzir as outras palavras parece indicar que para escrever boi o nuacute-mero de pontos considerado suficiente eacute de trecircs por cela O conflito parece ser ainda maior quando perguntamos quantas celas satildeo necessaacuterias para escrever a palavra Apoacutes pensar ela decidiu acrescentar mais um ponto aos que jaacute tinha grafado e grafa mais trecircs na cela seguinte Mesmo tendo dito que escre-veu soacute duas celas no nome do boi para terminar logo quando ela compara o nome do boi com o do gato que jaacute havia confir-mado antes ser um nome pequeno porque o gato eacute pequeno tudo indica que ela comparou apenas o nuacutemero de celas pois parece ter a convicccedilatildeo de que o nome do boi eacute maior do que

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o nome do gato por ter uma quantidade maior de pontos e porque o animal eacute maior

Articulando esse dado fornecido por Edwiges com os achados das pesquisas psicogeneacuteticas (FERREIRO TEBE-ROSKY 1999 PIAGET apud REGO 1988) que constataram que as crianccedilas que enxergam manifestam o realismo nomi-nal se utilizando de um grande nuacutemero de letras para escre-ver quando o objeto que pretendem representar eacute maior tudo parece nos indicar que a crianccedila cega manifesta o realismo nominal se utilizando tanto de um grande nuacutemero de celas (letras) quanto de pontos Esta pode ser uma interessante es-pecificidade da aprendizagem da escrita Braille por crianccedilas cegas

Ariel (sete anos) aparenta estar comeccedilando a fazer di-ferenciaccedilatildeo entre os caracteres empregados para grafar uma palavra pois em algumas ocasiotildees fez esforccedilo para diferen-ccedilar os caracteres empregados para grafar cada letra e assim produzir caracteres diferentes em uma mesma palavra Natildeo repetiu sequecircncias jaacute empregadas em outras palavras garan-tindo assim escritas diferentes para palavras diferentes ca-racteriacutesticas deste momento

Conforme comentado durante a anaacutelise das produccedilotildees de Edwiges que nomeia os pontos de letras observamos que Ariel apresentou o mesmo pensamento Tudo indica que as crianccedilas cegas no iniacutecio do processo de aquisiccedilatildeo da escrita natildeo apresentam consolidados conceitos de diferenciaccedilatildeo en-tre pontos e letras pois costumam com frequecircncia apontar e nomear os pontos como sendo letras Cabe nesse momento fazer a seguinte indagaccedilatildeo em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combi-naccedilatildeo de pontos

Observemos entatildeo algumas partes do diaacutelogo entre noacutes e Ariel

Pesquisadora De quantas letras vocecirc vai precisar para escrever a palavra pernaEle pensa por alguns segundosAriel Eu acho que soacute duas estaacute de bom tamanho[] Pesquisadora Vocecirc disse que soacute vai precisar de duas letras De quantas celas vocecirc vai precisarAriel Um montePesquisadora Por quecircAriel Pra terminar logo Eacute que essas celas satildeo pra fazer todas as letras Entendeu Se tivesse soacute uma a pessoa ia acabar logo[] Ariel Que letra comeccedila a palavra pernaPesquisadora Qual eacute a letra que vocecirc acha que co-meccedila perna(Para um instante para pensar)Ariel Eu acho que comeccedila com c de casa (letra que ele jaacute estaacute grafando algum tempo depois a pesquisadora interroga novamente)Pesquisadora Mas por que vocecirc estaacute usando dois pontinhosAriel Eacute que se eu usar todos esses pontinhos que tem aqui na reglete nesses furos aqui aiacute eu num vou saber qual eacute o ponto que eu fureiPesquisadora quer dizer que vocecirc natildeo pode furar todosAriel Eacute Soacute os que a tia [professora do menino] manda

Ao terminar a escrita da palavra perna o menino desli-zou o dedo sobre todos os pontos e fez uma leitura global An-tes de comeccedilar a escrever cada palavra foi indagado sobre a

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quantidade de letras necessaacuterias Como em todos os momen-tos ele nomeou os pontos como letras Optamos por pergun-tar de quantas celas ele precisaria Em todos os casos Ariel comeccedilou a escrever pela extremidade direita e apontou que escreveria ateacute a extremidade esquerda da reacutegua Analisando o comentaacuterio do menino de que para escrever a palavra perna duas letras (pontos) ldquoestatildeo de bom tamanhordquo tudo indica que tal comentaacuterio vem reforccedilar nossa suposiccedilatildeo de que a crianccedila cega manifesta o realismo nominal tanto por meio de deter-minada quantidade de celas quanto de pontos

Quando ele afirmou que todas as celas da reglete de-vem ser utilizadas para que a pessoa natildeo acabe logo isso parece indicar que leva em consideraccedilatildeo para produzir a es-crita a utilizaccedilatildeo de todas as celas da reglete Relacionando este comentaacuterio do menino com a caracteriacutestica que apre-sentaram as escritas de seu nome e da palavra perna bem como praticamente todos os escritos de Edwiges tanto ele quanto ela escreveram de uma extremidade a outra de uma das linhas da reacutegua Essa repeticcedilatildeo pode ser uma especifici-dade decorrente do material utilizado para produzir a escrita em Braille a reglete pois permite ou pode mesmo de algu-ma maneira induzir a crianccedila ao uso das 27 celas mas de-vemos considerar tambeacutem que tal resposta pode decorrer da praacutetica pedagoacutegica pois o menino jaacute havia comentado antes que na sala de aula tem que escrever utilizando toda uma linha da reglete

A fonetizaccedilatildeo da escrita eacute o iniacutecio da compreensatildeo de que a escrita estaacute relacionada aos sons da fala A primeira fase desse periacuteodo eacute a hipoacutetese silaacutebica em que a crianccedila relaciona uma letra para cada siacutelaba Tatiane (sete anos) eacute o sujeito da pesquisa que na nossa maneira de interpretar os dados se encontra nesse niacutevel No momento em que foi solicitada a es-

crever a palavra perna observamos que ela grafou duas letras agrave medida que silaba a palavra ldquoper(e)ndashna(g)rdquo a vogal e possui valor sonoro convencional jaacute a letra g apesar de natildeo ter va-lor sonoro convencional demonstra que a menina estabelece correspondecircncia entre a emissatildeo oral e a pauta escrita Isso tambeacutem estaacute bem claro quando na leitura silaacutebica da palavra ela indica com o dedo uma letra para cada siacutelaba ndash ldquopernardquo Diferentemente dos casos anteriores ela jaacute natildeo nomeia mais os pontos de letras

Figura 5 ndash Escrita silaacutebica da palavra perna

Figura 6 ndash Escrita silaacutebica da palavra dedos um ponto para cada siacutelaba

Apoacutes escrever a palavra matildeo Tatiane pede para escre-ver a palavra dedos Enquanto grafa a menina vai silabando para a primeira letra b que aparece na figura acima ldquode (pon-to 1) ndash dos (ponto 2) agora vou escrever os dedos da outra matildeordquo para a segunda letra b que aparece na figura ldquode (pon-to 1) ndash dos (ponto 2)rdquo Na nossa maneira de interpretar tal produccedilatildeo a menina ainda necessita escrever a palavra dedos

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usando menos celas do que na palavra matildeo mas como jaacute gra-fou duas celas para o monossiacutelabo a soluccedilatildeo encontrada para representar o dissiacutelabo dedos eacute grafaacute-lo com apenas uma cela poreacutem dando a cada um dos pontos o valor correspondente de uma siacutelaba o que pode tambeacutem ser uma especificidade da aprendizagem do Braille A escrita da palavra dedos foi seg-mentada siacutelaba por siacutelaba mas a leitura foi global

Cabe aqui retomar o ponto suscitado quando analisa-mos as produccedilotildees de Edwiges e Ariel Em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combinaccedilatildeo de pontos Refletindo sobre os dados fornecidos por Tatiane tudo indica que eacute no niacutevel silaacutebico da escrita que a crianccedila cega comeccedila a mostrar uma compre-ensatildeo mais complexa de que as letras satildeo formadas por um conjunto de pontos mas este conceito parece ainda natildeo se en-contrar plenamente consolidado Observemos que o compor-tamento de grafar na mesma cela um ponto para cada siacutelaba pode indicar que enquanto na hipoacutetese anterior os pontos eram nomeados de letras neste momento do percurso eles tambeacutem podem ser considerados como siacutelabas

De acordo com Ferreiro e Teberosky (1999) quando a crianccedila opera na hipoacutetese silaacutebica duas caracteriacutesticas da es-crita anterior podem desaparecer momentaneamente a exi-gecircncia de uma quantidade miacutenima de caracteres e de varia-ccedilatildeo desses Pois nessa hipoacutetese a principal preocupaccedilatildeo da crianccedila eacute com o recorte silaacutebico da palavra e ela natildeo consegue atender simultaneamente essas exigecircncias mas quando a hi-poacutetese silaacutebica se encontra consolidada a exigecircncia de varie-dade reaparece pois muitos recortes silaacutebicos implicam letras repetidas e as crianccedilas jaacute tecircm consciecircncia de que com letras repetidas natildeo se pode ler

A hipoacutetese silaacutebico-alfabeacutetica comeccedila com a descoberta de que a siacutelaba pode ser representada com mais de uma letra Surge aqui o iniacutecio da representaccedilatildeo dos fonemas O sujeito da pesquisa situado neste niacutevel eacute Alex (oito anos) O menino natildeo sente dificuldades para escrever palavras compostas de siacutelabas canocircnicas que obedecem agrave seguinte ordem conso-ante vogal consoante vogal Quando as siacutelabas natildeo satildeo ca-nocircnicas ele se recusa a escrevecirc-las fato que Emiacutelia Ferreiro classifica em sua pesquisa ldquo[] de bloqueio por consciecircncia aguda das dificuldades impossiacuteveis de transporrdquo (FERREIRO TEBEROSKY 1999 p 218) Vejam um trecho do diaacutelogo en-tre a pesquisadora e o sujeito

Pesquisadora Escreva sobrancelha (soletrando ele comeccedila)Alex Su(cu) ndash bran(ele para) Que letra eacute o branPesquisadora Como vocecirc acha que eacuteAlex Eu natildeo sei Soacute posso escrever se a tia [pesquisa-dora] disser como eacuteComo neste caso ele natildeo conhece as letras que deve empregar e se referiu ao som bran como apenas uma le-tra nada dissemos com relaccedilatildeo agrave combinaccedilatildeo de pontos das letras Ele hesita em escrever bran e natildeo quer mais escrever a palavra Com insistecircncia da pesquisadora ele continua a escrever mas pula a siacutelaba na qual estaacute com dificuldades Alex Su(cu) ndash (pulou) ndash ce(c) ndash lha (ele para nova-mente) Que letra eacute o lhaPesquisadora Como vocecirc acha que eacuteAlex Eu vou colocar qualquer letra Ele grafa os pontos 3 e 6Pesquisadora Estaacute escrita a palavra sobrancelhaAlex Natildeo que a tia num quis me dizer os pontos das letras

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Figura 7 ndash Escrita silaacutebico-alfabeacutetica da palavra sobrancelha

Na escrita da palavra sobrancelha Alex apresenta tan-to elementos da escrita silaacutebica quanto da alfabeacutetica As duas primeiras letras compotildeem a siacutelaba so o que nos permite iden-tificar a hipoacutetese alfabeacutetica enquanto a letra c que correspon-de agrave terceira siacutelaba da palavra encontra-se na hipoacutetese silaacute-bica ou apenas revela a coincidecircncia do nome da letra com a siacutelaba ce Notemos que ele analisa o som das siacutelabas bran e lha como letras e o fato de ter grafado apenas uma cela para a uacutel-tima siacutelaba parece confirmar nossa suspeita de que ele opera na hipoacutetese silaacutebico-alfabeacutetica7

Apesar de Alex durante a escrita das palavras perna e barriga tecer comentaacuterios de que natildeo conhece a combinaccedilatildeo de pontos das letras p e r pensamos que ele apresenta concei-tos mais elaborados sobre a diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras

A elaboraccedilatildeo do niacutevel alfabeacutetico se completa quando a crianccedila compreende que a escrita se caracteriza por unidades sonoras menores do que a siacutelaba No iniacutecio dessa fase o desa-fio eacute a ortografia haja vista que a escrita se apresentaraacute pro-fundamente marcada pela oralidade

7 Dados os limites de espaccedilo para a elaboraccedilatildeo deste artigo natildeo faremos consideraccedilotildees aqui a respeito das produccedilotildees textuais das crianccedilas tambeacutem solicitadas por ocasiatildeo de nossa investigaccedilatildeo

A escrita alfabeacutetica constitui o final desta evoluccedilatildeo Ao chegar a este niacutevel a crianccedila jaacute franqueou a lsquobarreira do coacutedigorsquo compreendeu que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a siacutelaba e realiza sistematicamente uma anaacutelise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever Isto natildeo quer dizer que todas as dificuldades tenham sido superadas a partir desse momento a crianccedila se defrontaraacute com as dificuldades proacuteprias da ortografia mas natildeo teraacute problemas de escrita no sentido estrito (FERREIRO TEBEROSKY 1999 p 219)

Joatildeo (nove anos) e Diel (dez anos) satildeo os sujeitos da pesquisa que se encontram nesse niacutevel da escrita Na escrita das palavras os meninos natildeo sentiram dificuldades em men-cionar quantas e quais letras iriam empregar Veja as frases produzidas pelas crianccedilas Na frase de Joatildeo durante a leitura ele sinaliza que se esqueceu de escrever o i na palavra menino e o u na palavra machucou Na frase de Diel a junccedilatildeo da letra a com a palavra perna foi sinalizada durante a leitura

Figura 8 ndash Frase de Joatildeo o menino machucou a perna

Figura 9 ndash Frase de Diel o menino machucou a perna

Propomos agora uma resposta ao questionamento que levantamos para uma das possiacuteveis especificidades da escrita de nossos sujeitos usuaacuterios do Sistema Braille em que mo-mento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega com-preende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute

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formada por uma combinaccedilatildeo de pontos As evidecircncias nos conduzem a pensar que ao longo desse processo as crian-ccedilas cegas vatildeo refinando seus conceitos de diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras mas esse conceito soacute estaacute constituiacutedo quando se atinge a hipoacutetese alfabeacutetica

Consideraccedilotildees Finais

As pesquisas de Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky (1999) apontam que todo indiviacuteduo em decurso de aquisiccedilatildeo da liacuten-gua escrita se impotildee hipoacuteteses sobre a organizaccedilatildeo deste sis-tema Essas hipoacuteteses satildeo favorecidas pelo contato que estes sujeitos tecircm com a escrita que estaacute presente por toda parte mas como ressalta Almeida (1992) uma crianccedila cega natildeo tem as mesmas oportunidades de contato com materiais escritos como ocorre com a crianccedila que enxerga Se considerarmos que as fontes de pesquisa a respeito da aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita por meio do Sistema Braille ainda satildeo escassas podemos res-saltar a importacircncia de pesquisas mais aprofundadas sobre o tema bem como destacamos a relevacircncia desta investigaccedilatildeo

Retomamos agora a questatildeo que norteou esta pesqui-sa a fim de tecer uma resposta consoante aos seus achados Quais as especificidades apresentadas pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille durante a aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita Mediante a anaacutelise das produccedilotildees escritas dos sujeitos par-ticipantes da pesquisa eacute possiacutevel supor que assim como as crianccedilas que veem as crianccedilas cegas no percurso de aquisi-ccedilatildeo da liacutengua escrita tambeacutem seguem a evoluccedilatildeo das hipoacutete-ses linguiacutesticas descritas por Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky Entretanto no decorrer da pesquisa realizada com sujeitos que tecircm problemas visuais tudo parece indicar que eles apre-sentam algumas especificidades

Podemos destacar o fato de que ao longo da pesquisa principalmente por meio das falas das professoras notamos que para a crianccedila cega o processo de aprender a manusear os instrumentos necessaacuterios agrave escrita Braille para poder re-presentar a escrita eacute bem mais aacuterduo do que para a crianccedila de boa visatildeo Almeida (1992) ressalta que as crianccedilas que veem aprendem a manusear laacutepis e cadernos de maneira ldquonaturalrdquo mas o Sistema Braille natildeo eacute algo presente em nossa sociedade logo os instrumentos necessaacuterios agrave sua escrita tambeacutem natildeo

Na hipoacutetese preacute-silaacutebica assim como a crianccedila que en-xerga a crianccedila cega tambeacutem imagina que a escrita pode repre-sentar caracteriacutesticas do objeto Temos razatildeo para compreen-der que para os que natildeo enxergam eacute possiacutevel representar natildeo apenas com muitas letras (utilizaccedilatildeo de muitas celas) se o ob-jeto eacute grande mas tambeacutem com muitos pontos como foi o caso de Edwiges ao escrever a palavra boi ou ainda podemos supor que uma determinada quantidade de pontos por cela eacute suficien-te para representar algo como eacute o caso de Ariel que ao repre-sentar a palavra perna mencionou que ldquoduas letras (pontos) estaacute de bom tamanhordquo Nessa hipoacutetese a crianccedila cega parece ainda natildeo ter definido um conceito de diferenciaccedilatildeo entre o que satildeo letras e o que satildeo pontos Assim como tambeacutem no iniacutecio da aprendizagem a crianccedila que enxerga natildeo diferencia letras de outros sinais graacuteficos como por exemplo os nuacutemeros Essa constataccedilatildeo nos levou a outra pergunta em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combinaccedilatildeo de pontos Para essa indagaccedilatildeo procuramos ao longo deste trabalho preparar uma resposta com suporte nos dados recolhidos que nos levaram a crer que tal definiccedilatildeo apesar de mais elaborada nas hipoacuteteses silaacutebica e silaacutebico-alfa-beacutetica parece estar consolidada apenas na hipoacutetese alfabeacutetica

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pois tanto para Tatiane quanto para Alex eles podem assumir a funccedilatildeo de siacutelabas palavras ou ateacute mesmo sentenccedilas curtas Cremos com base na pesquisa como um todo que em decor-recircncia da interaccedilatildeo das crianccedilas com o formato da cela Braille durante as hipoacuteteses silaacutebica e silaacutebico-alfabeacutetica elas podem grafar um ponto na cela agrave medida que pronunciam uma siacutelaba o ponto pode representar uma siacutelaba ou mesmo uma palavra

Nossas primeiras hipoacuteteses sobre a aprendizagem da escrita Braille se referem tanto ao material empregado para produzir esta escrita a reglete quanto ao formato da cela Braille No que se refere agrave reglete notamos que os sujeitos que vivenciam hipoacuteteses mais elementares exibem a tendecircn-cia de utilizar toda uma linha do instrumento para produzir a escrita o que pode ser permitido ou induzido pelo material mas natildeo devemos descartar a ideia de que isso tambeacutem pode decorrer da influecircncia da praacutetica pedagoacutegica

Diante do exposto este ensaio se faz relevante pois apesar do pequeno grupo de sujeitos que participaram da in-vestigaccedilatildeo foi possiacutevel perceber algumas possiacuteveis especifici-dades no processo de aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas usuaacuterias do Sistema Braille Percebemos que essas particularidades da crianccedila cega decorrem do contato tardio com a escrita Braille dos instrumentos necessaacuterios agrave sua produccedilatildeo e de pensamen-tos proacuteprios da crianccedila cega

Destacamos tambeacutem nossas contribuiccedilotildees acerca do que pensam as crianccedilas cegas a respeito da organizaccedilatildeo do sistema de escrita para que futuras pesquisas mais aprofun-dadas e com um grupo maior de sujeitos possam confrontar os primeiros achados deste ensaio como por exemplo o con-ceito de diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras que diante das evidecircncias parece estar em elaboraccedilatildeo ao longo do processo de aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita

Por fim intermediada pela anaacutelise dos escritos dos su-jeitos enfeixamos aquilo que parece indicar serem especifici-dades das hipoacuteteses de que as crianccedilas cegas se colocam em cada um dos niacuteveis descritos na teoria psicogeneacutetica da aqui-siccedilatildeo da leitura e da escrita bem como sobre as funccedilotildees que os seis pontos podem assumir ao longo desta caminhada

Referecircncias Bibliograacuteficas

ALMEIDA M da G de S Fundamentos da alfabetizaccedilatildeo uma construccedilatildeo sobre quatro pilares Benjamin Constant Rio de Janeiro ano VIII n 22 p 13-21 2002______ Alfabetizaccedilatildeo da crianccedila cega dentro da visatildeo cons-trutivista a busca de um novo caminho 1992 99f Monogra-fia (Especializaccedilatildeo em Alfabetizaccedilatildeo em Deficientes Visuais) ndash Universidade do Rio de Janeiro 1992ARAUJO C PINTO E M F LOPES J et al Estudo de caso Disponiacutevel em lthttpgrupo4tecomsapoptestudo_casopdfgt Acesso em 4 out 2011BRASIL Deficiecircncia visual GIL M (Org) Brasiacutelia Minis-teacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo a Distacircncia 2000 CARRAHER T N Aprender pensando Petroacutepolis Vozes 1988FERREIRO E TEBEROSKY A Psicogecircnese da liacutengua escri-ta Porto Alegre Artmed 1999FERREIRO E Reflexotildees sobre alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo Cor-tez 2000SOARES M Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Ho-rizonte Autecircntica 1998 SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS O Sistema Braille Disponiacutevel em lthttpwwwsacorgbrAPR_BR2htmgt Acesso em 1 nov 2011

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ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeO

Maria Izalete Inaacutecio Vieira

Introduccedilatildeo

A liacutengua natural dos surdos eacute a liacutengua de sinais no caso dos surdos brasileiros a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) Em uma perspectiva de inclusatildeo social e educacional essa liacutengua deve ser ofertada como principal meio de acessibili-dade seja no acircmbito educacional no da sauacutede seguranccedila eou lazer Considerando que a visatildeo eacute o canal perceptual mais importante para a pessoa surda a liacutengua de sinais por se apresentar na modalidade viso-espacial (QUADROS 2004) atende a essa especificidade satisfazendo a sua condiccedilatildeo lin-guiacutestica Por isso o seu uso nos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo se constitui em um meio eficaz de promoccedilatildeo da inclusatildeo social

No Brasil em 2002 a Libras foi oficializada como liacuten-gua das comunidades surdas brasileiras atraveacutes da lei nordm 0436 (BRASIL 2002) e foi regulamentada pelo Decreto nordm 562605 (BRASIL 2005) Esse dispotildee sobre seu uso e difu-satildeo nas instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas na formaccedilatildeo de pro-fessores e inteacuterpretes de Libras Mas natildeo faz menccedilatildeo ao lazer cultura e informaccedilatildeo sendo esses aspectos contemplados na lei nordm 10098 de 2000 Apesar disso informaccedilotildees eventos culturais e entretenimentos veiculados nos meios de comuni-caccedilatildeo audiovisual em sua totalidade natildeo alcanccedilam os surdos Asseveram os artigos 17 e 19 do capiacutetulo VII da lei nordm 10098 que deve ser ofertada nos programas de imagens e outros a ldquolinguagem de sinaisrdquo eou legenda (BRASIL 2002)

No decreto nordm 529604 em seu capitulo VI haacute deter-minaccedilotildees quanto agrave acessibilidade para surdos nas emissoras

ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeOMARIA IZALETE INAacuteCIO VIEIRA124 d d 125

de TV incluindo prazos para que possam se adequar a essa legislaccedilatildeo Isso representou um avanccedilo significativo para a comunidade surda no que se refere ao direito agrave informaccedilatildeo cultura e entretenimento Contudo haacute ainda algumas consi-deraccedilotildees a serem feitas

A legendagem atualmente eacute a forma de acessibilidade para surdos mais usada pelas emissoras de TV e produtoras de filmes para o cinema Poreacutem empiricamente podemos afirmar que estaacute limitada a uns poucos programas de canais abertos A maioria parece ainda natildeo ter incorporado a cultura de acessibilidade pois natildeo legenda nem insere a janela de Li-bras em suas produccedilotildees Assim a comunidade surda brasilei-ra continua excluiacuteda de algumas atividades de entretenimento e informaccedilotildees que para noacutes ouvintes satildeo corriqueiras Outro ponto a ser considerado eacute a liacutengua em que o acesso eacute ofertado Os surdos como mencionado haacute pouco satildeo falantes da Li-bras uma liacutengua viso-espacial que difere da liacutengua portugue-sa em modalidade e gramaacutetica (QUADROS 2004) Segundo Harrison e Nakasato (apud LODI LACERDA 2009) quando as particularidades linguiacutesticas dos surdos satildeo desconsidera-das natildeo haacute o compartilhamento de um mesmo horizonte so-cioloacutegico por surdos e ouvintes no que se refere agrave realidade vivenciada por ambos mesmo nas situaccedilotildees cotidianas

Vivendo em uma sociedade constituiacuteda por maioria ou-vinte os surdos precisam aprender o Portuguecircs para estabe-lecer relaccedilotildees com quem convivem em ambientes familiares no trabalho dentre outros Esse fato leva os surdos a viverem em uma situaccedilatildeo biliacutengue e de interculturalismo como afir-ma Strobel (2008) isto eacute satildeo participantes da cultura surda e da ouvinte e por isso utilizam a Libras e o Portuguecircs (em sua modalidade escrita eou oral) Eacute importante explicitar que a apropriaccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa na modalidade escri-

ta pelo surdo natildeo eacute uma tarefa faacutecil visto que esses natildeo satildeo usuaacuterios dessa liacutengua (LODI LACERDA 2009) A realidade educacional da maioria e a proacutepria modalidade Liacutengua Portu-guesa que se fundamenta em unidades sonoras natildeo contri-bui para essa aquisiccedilatildeo

Satildeo poucos os surdos de nascenccedila que receberam uma educaccedilatildeo que lhes proporcionou a aquisiccedilatildeo da leitura e escri-ta em Portuguecircs Mas mesmo esses que adquiriram a leitura em Portuguecircs natildeo satildeo proficientes nessa liacutengua Geralmen-te tecircm dificuldades com a sua semacircntica pragmaacutetica e com a identificaccedilatildeo de gecircneros como metaacuteforas ironias humor e outros como afirma Sousa (2008) Assim pelo fato de ser inteacuterprete de LibrasPortuguecircs haacute pouco mais de 20 anos e ter realizado trabalhos de interpretaccedilatildeo e traduccedilatildeo de pro-gramas ao vivo na TV e em filmes nacionais gravados essas experiecircncias profissionais me fizeram perceber que os surdos datildeo especial atenccedilatildeo a essas produccedilotildees quando o acesso lhes eacute ofertado em sua proacutepria liacutengua por meio da janela de Libras

TradutorInteacuterprete da Libras Qual a Parte Que lhe Cabe

Na obra intitulada O Tradutor e Inteacuterprete de Liacutengua de Sinais e Liacutengua Portuguesa para familiarizar o leitor com os termos pertencentes agrave temaacutetica abordada Quadros (2004) decide iniciaacute-la com um pequeno dicionaacuterio apresentando as terminologias e suas respectivas significaccedilotildees usadas por profissionais que atuam na aacuterea da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo e outros que de alguma forma tecircm envolvimento com as liacuten-guas de sinais

Segundo definiccedilatildeo da referida autora o inteacuterprete de liacutengua de sinais eacute aquele que interpreta de uma liacutengua de si-nais (liacutengua de partida) para outra liacutengua (liacutengua de chegada)

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sejam essas orais ou sinalizadas Para aclarar e delimitar os campos de atuaccedilatildeo Quadros (2004) diferencia o tradutor do inteacuterprete afirmando que o tradutor eacute a pessoa que traduz de uma liacutengua para outra assim como faz o inteacuterprete poreacutem o processo de traduccedilatildeo implica pelo menos que uma das liacuten-guas esteja na modalidade escrita A mesma autora faz a inte-graccedilatildeo dos dois termos (inteacuterprete e tradutor) afirmando que o tradutor-inteacuterprete de liacutengua de sinais eacute aquele que traduz e interpreta a liacutengua de sinais para a liacutengua oral nas modalida-des escrita eou oralsinalizada

Para Lacerda (2009) traduzir estaacute relacionado agrave ativi-dade de versar de uma liacutengua para outra trabalhando com tex-tos escritos e o interpretar se relaciona ao trabalho de versar de uma liacutengua para outra nas relaccedilotildees interpessoais simulta-neamente Diferencia ainda uma atividade da outra ressaltan-do que para se efetuar uma traduccedilatildeo o tradutor pode ler a obra refletir sobre as escolhas lexicais semacircnticas e consultar outras fontes para alcanccedilar os sentidos mais adequados ao seu trabalho Diferentemente o inteacuterprete atua com a simultanei-dade sem tempo para reflexotildees tomando decisotildees raacutepidas sobre como versar de um sentido para o outro e sem poder consultar outras fontes Por questotildees relacionadas ao tempo enquanto o tradutor pode revisar o seu texto de chegada com tranquilidade pois tem agrave sua disposiccedilatildeo o texto de partida o inteacuterprete natildeo tem como rever sua produccedilatildeo

Sobre o tempo de trabalho do tradutor e do inteacuterprete Pagura (2003 p 227) afirma

Enquanto nas organizaccedilotildees internacionais espera-se que os tradutores de tempo integral traduzam cerca de 50 linhas a cada duas horas um discurso cujo texto transcrito tenha as mesmas 50 linhas seraacute interpretado em oito minutos

A referida autora esclarece que o termo ldquotradutorin-teacuterpreterdquo eacute encontrado em documentos da deacutecada de 1970 no Brasil e que por isso ainda eacute utilizado por muitos mas que eacute importante diferenciar um do outro

Como mencionado anteriormente Santos (2006) afir-ma que as traduccedilotildees e interpretaccedilotildees em liacutengua de sinais no Brasil surgiram na deacutecada de 1980 Eram feitas por familia-res de surdos eou religiosos que natildeo tinham formaccedilatildeo pro-fissional para o exerciacutecio dessa funccedilatildeo A maioria desses in-teacuterpretes tinha apenas conhecimento empiacuterico da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo mas natildeo tinha nenhuma formaccedilatildeo ou embasa-mento teoacuterico para o exerciacutecio dessa funccedilatildeo Esse aspecto tem refletido em seu status profissional A falta de profissionali-zaccedilatildeo por meio de cursos de niacutevel superior tem colocado os tradutoresinteacuterpretes de Libras em situaccedilatildeo de inferioridade em relaccedilatildeo aos tradutoresinteacuterpretes de liacutenguas orais Esse fato eacute percebido pela falta de compreensatildeo da sociedade do seu trabalho e pela diferenccedila nos valores estabelecidos para remuneraccedilatildeo de serviccedilos de um e de outro

Durante muito tempo a accedilatildeo do tradutorinteacuterprete de Libras foi vista pela sociedade sob um aspecto assistencialis-ta jaacute que era realizada por pessoas que geralmente tinham viacutenculo de parentesco com as pessoas surdas e faziam tradu-ccedilotildeesinterpretaccedilotildees sem remuneraccedilatildeo Ainda segundo Santos (2006) as primeiras traduccedilotildeesinterpretaccedilotildees foram realiza-das nos ambientes empiacutericos desses atores ou seja no acircmbito religioso e familiar

Voltando um pouco mais no tempo encontraremos os inteacuterpretes de liacutenguas orais desempenhando a funccedilatildeo de apa-ziguadores culturais Seus serviccedilos eram requisitados geral-mente para estabelecimento de negociaccedilatildeo de paz entre paiacute-ses que estavam em guerra como afirma Pagura (2003) Seu

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trabalho natildeo era focado somente nas questotildees linguiacutesticas mas tambeacutem na cultura dos paiacuteses que estavam envolvidos no processo de apaziguamento Assim podemos inferir que o ato tradutoacuterio eou interpretativo natildeo eacute apenas linguiacutestico mas tambeacutem cultural

Sobre isso Segala (2010 p 30) em um contexto em que as liacutenguas de contato dizem respeito agraves comunidades sur-das e ouvintes afirma

Ser tradutor natildeo eacute ser aquele que sabe duas liacutenguas e que simplesmente transpotildee uma liacutengua para outra Natildeo eacute soacute estrutura linguiacutestica precisa conhecer e saber a cultura a linguiacutestica e outras sutilezas das liacutenguas fonte e alvo aleacutem de ter experiecircncia na vida social []

No Brasil a liacutengua de sinais foi reconhecida como a liacutengua natural das comunidades surdas em 2002 quando o entatildeo presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei nordm 10436 (BRASIL 2002) que oficializou a Libras como liacutengua das comunidades surdas do Brasil jaacute em 2005 o presi-dente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva sancionou o decreto nordm 5626 (BRASIL 2005) que a regulamenta

O reconhecimento tardio da liacutengua de sinais afeta o re-conhecimento do ato tradutoacuteriointerpretativo que envolve essa liacutengua Empiricamente eacute possiacutevel afirmar que o processo de traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo natildeo tem o reconhecimento da so-ciedade ouvinte nem a compreensatildeo dos surdos no Brasil No caso dos surdos eacute possiacutevel que isso aconteccedila pelo fato de que esses ainda natildeo tenham informaccedilotildees suficientes para levaacute-los a compreender a complexidade desse ato

Segundo Gesser (2011) a traduccedilatildeo compreende as se-guintes modalidades a consecutiva a simultacircnea ndash mais usa-da pelos inteacuterpretes de liacutenguas de sinais ndash e a sussurrada A autora esclarece que esta se trata da mesma modalidade da

traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo simultacircnea mas eacute realizada em situ-accedilatildeo geralmente de reuniotildees em pequenos grupos em que o inteacuterprete se senta proacuteximo de alguns ouvintes e traduz o texto de partida cochichando

De acordo com Lacerda (2009 p 15) traduccedilatildeointer-pretaccedilatildeo simultacircnea eacute a mais usada atualmente em grandes eventos e ldquo[] a traduccedilatildeo simultacircnea natildeo ocorre ao mesmo tempo da fala originalrdquo Isso porque o inteacuterprete leva um tem-po para processar a informaccedilatildeo recebida e organizaacute-la na liacuten-gua alvo Por sua vez Pagura (2003) explicita que a traduccedilatildeo consecutiva eacute aquela em que o inteacuterprete ouve um trecho sig-nificativo ou todo o discurso toma nota e em seguida assu-me a palavra e passa a informaccedilatildeo na liacutengua alvo

Ainda segundo Pagura (apud LACERDA 2009) a traduccedilatildeo consecutiva auxilia o inteacuterprete a desenvolver a ca-pacidade de analisar e compreender o discurso de partida permitindo o surgimento de teacutecnicas que o preparam para a traduccedilatildeo simultacircnea A traduccedilatildeo simultacircnea como foi dito haacute pouco parece ser a modalidade eleita pela maioria dos inteacuter-pretes de Libras e preferida pelos surdos Segundo o professor Marcos Vaining durante a videoconferecircncia de 10 de abril de 2011 na disciplina de Aquisiccedilatildeo da Linguagem do curso de Bacharelado em Letras-Libras1 a escolha por essa modalidade se daacute pela falta de conhecimento tanto por parte de inteacuterpretes quanto pelos surdos sobre o processo tradutoacuterio Segundo ele essa modalidade eacute a que mais oferece possibilidade de cometer erros Isso por causa do pouco tempo existente para anaacutelise compreensatildeo processamento e remarcaccedilatildeo de paracircmetro na

1 O curso de Licenciatura e Bacharelado em Letras-Libras foi desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e oferecido em 2006 em conjunto a oito instituiccedilotildees federais de niacutevel superior por meio da Secretaria de Educaccedilatildeo a Distacircncia e da Secretaria de Educaccedilatildeo Especial (QUADROS 2008)

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liacutengua alvo Vaining acrescenta ainda que todo esse processo demanda grande esforccedilo por parte do inteacuterprete

Ainda sobre o ato tradutoacuteriointerpretativo Jakobson (1995) o classifica em trecircs tipos intralingual interlingual e semioacutetica A traduccedilatildeo intralingual ou reformulaccedilatildeo segundo o autor eacute a traduccedilatildeo de um signo2 por outro da mesma liacuten-gua Isso pode ser feito por meio da sinoniacutemia ou paraacutefrase Quanto agrave interpretaccedilatildeo interlingual refere-se agrave interpretaccedilatildeo de um dado signo por outro equivalente em uma outra liacutengua Jaacute a traduccedilatildeo ldquo[] intersemioacutetica ou transmutaccedilatildeo consiste na interpretaccedilatildeo de signos verbais por meio de um sistema de signos natildeo verbaisrdquo (JAKOBSON 1995 p 64)

O inteacuterprete de liacutengua de sinais recorre a essas catego-rias com certa frequecircncia Natildeo eacute raro nos depararmos com situaccedilotildees de traduccedilatildeo em que uma das pessoas envolvidas no processo natildeo compreende conceitos em sua proacutepria liacutengua Isso nos impele a reorganizar a traduccedilatildeo tendo que explicar de forma diferente o mesmo assunto parafraseando ou utili-zando o recurso da expansatildeo (uma combinaccedilatildeo equivalente de unidades de coacutedigos) Podemos categorizar esse tipo de tradu-ccedilatildeointerpretaccedilatildeo como intralingual (JAKOBSON 1995)

A modalidade em que a liacutengua de sinais se apresenta ndash espaccedilo visual ndash exige leitura e traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo das ex-pressotildees natildeo manuais e a compreensatildeo de imagens construiacutedas com as matildeos pelo sinalizante (classificadores) como explica Segala (2010) A essa leitura efetuada durante a traduccedilatildeoin-terpretaccedilatildeo chamamos de semioacutetica Embora nos utilizemos de todas as modalidades aqui apresentadas a mais recorrente

2 Os signos satildeo entidades em que sons ou sequecircncias de sons ndash ou as suas correspon-decircncias graacuteficas ndash estatildeo relacionados com significados ou conteuacutedos Os signos satildeo portanto instrumentos de comunicaccedilatildeo e representaccedilatildeo agrave medida que configuram linguisticamente a realidade e distinguem os objetos entre si (VYGOTSKY 2000)

em nosso trabalho eacute a traduccedilatildeo interlingual pois geralmente nossas traduccedilotildees envolvem a Liacutengua Portuguesa e a Libras

O ato de traduzirinterpretar natildeo eacute faacutecil especialmente para o inteacuterprete de liacutengua de sinais que estabelece transiccedilatildeo com liacutenguas muito distantes no que diz respeito agrave forma e ao modo Sobre isso Segala (2010) afirma que o inteacuterprete natildeo apenas versa de uma liacutengua para outra mas tambeacutem consi-dera ao executar uma interpretaccedilatildeo eou traduccedilatildeo a cultura dos povos imbricados nesse processo

Mesmo que muitas vezes esse trabalho seja exaustivo para o inteacuterprete ele eacute extremamente necessaacuterio agrave comuni-dade surda pois quebra as barreiras comunicativas e retira o surdo do isolamento linguiacutestico como afirmam Massutti e Sil-va (2011) Isso torna a interpretaccedilatildeo da Libras para a Liacutengua Portuguesa e vice-versa aleacutem de necessaacuteria compensadora para quem a faz e a recebe

O tradutorinteacuterprete vem atuando em aacutereas antes natildeo alcanccediladas Certamente por causa de poliacuteticas afirmativas e de acessibilidade especiacuteficas para pessoas surdas No Cearaacute aleacutem da aacuterea da Educaccedilatildeo o inteacuterprete de Libras tem desem-penhado a funccedilatildeo em palestras que abrangem os mais varia-dos temas Atuando igualmente em janelas de Libras de pro-gramas poliacuteticos televisionados (LEMOS 2012)

UFCTV Implicaccedilotildees Trazidas pela Inserccedilatildeo da Janela de Libras

Assim preocupados com a expansatildeo da acessibilidade de pessoas surdas na aacuterea acadecircmica foi que se pensou em tornar o programa jornaliacutestico televisionado da Universidade Federal do Cearaacute (UFCTV) acessiacutevel para surdos segundo in-formou a coordenadora da Secretaria de Acessibilidade pro-fessora doutora Vanda Magalhatildees que propocircs a inserccedilatildeo da

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janela de Libras no referido programa Para tanto foi necessaacute-rio contatar a equipe de comunicaccedilatildeo responsaacutevel pela execu-ccedilatildeo do mesmo

Essa concordou em implementar um projeto-piloto para analisar a viabilidade desse instrumento no programa Nesse periacuteodo por me encontrar na condiccedilatildeo de prestadora de serviccedilo na funccedilatildeo de inteacuterprete pela UFC e estar lotada na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui aceitei participar do projeto fazendo as traduccedilotildeesinterpretaccedilotildees do referido pro-grama Os profissionais que trabalharam diretamente nessa empreitada foram aleacutem da interprete de Libras uma produ-tora um cinegrafista e um editor de imagens O projeto teve duraccedilatildeo de seis meses

O UFCTV eacute um programa que vai ao ar semanalmente aos domingos sendo reprisado agraves terccedilas-feiras pela TV Cul-tura no canal 5 com alcance em todo o estado do Cearaacute3

Segundo informa o site o programa

Mostra a produccedilatildeo da Universidade informando onde e como ela estaacute presente no cotidiano das pessoas contribuindo para melhorar as condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo cearense UFCTV tambeacutem traz um resumo dos principais acontecimentos na Universidade e uma agenda cultural voltada para atividades gratuitas ou a preccedilos populares (UFC 2012)

O referido programa eacute elaborado e gravado em estuacute-dio situado no Bloco de Comunicaccedilatildeo da UFC no campus do Benfica As atividades da equipe que trabalha no desen-volvimento do programa ocupam o estuacutedio durante o expe-diente de trabalho normal da UFC de 8h agraves 12h e de 14h agraves

3 O programa tambeacutem eacute veiculado na internet Encontra-se disponiacutevel no seguinte endereccedilo eletrocircnico lthttpwwwufcbrcomunicacao-e-marketing956-conheca-o-programa-ufctvgt

17h Por essa razatildeo a gravaccedilatildeo da sua traduccedilatildeo em Libras era realizada no intervalo do almoccedilo entre 12h e 14h sempre agraves segundas-feiras A duraccedilatildeo do programa eacute de 30 minutos enquanto a gravaccedilatildeo de sua traduccedilatildeo tinha duraccedilatildeo de duas horas O profissional encarregado de editar a janela de Libras natildeo conhecia a liacutengua por isso minha presenccedila como inteacuter-prete durante a ediccedilatildeo fazia-se necessaacuteria Ao lado do editor ajudava a sincronizar o texto produzido em Libras ao texto correspondente na Liacutengua Portuguesa Assim suas horas de trabalho se prolongavam ateacute agraves 18h

Conforme mencionado anteriormente o programa traz informaccedilotildees sobre as vaacuterias atividades da universidade abrangendo assim assuntos das mais diversas aacutereas do conhe-cimento Segundo Aubert (apud VASCONCELOS BARTHO-LAMEI JUNIOR p 15) a competecircncia referencial ou seja a ldquo[] capacidade de buscar conhecer e se familiarizar com os referentes dos diversos universos em que uma atividade de traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo pode ocorrer []rdquo eacute muito impor-tante para que a traduccedilatildeo se decirc a contento Podemos entatildeo concluir que conhecer o assunto de que se trata a traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo colabora para a otimizaccedilatildeo do resultado do tra-balho tradutoacuterio

Nessa perspectiva buscava essa competecircncia por meio da leitura dos espelhos que eacute o cronograma de como o tele-jornal iraacute se desenrolar Nele eacute previsto a entrada de mateacute-rias notas blocos chamadas e encerramento do telejornal Os espelhos eram enviados para mim por e-mail com ante-cedecircncia mas natildeo traziam detalhes das mateacuterias abordadas no programa Por exemplo o conteuacutedo das sonoras que eacute o segmento do programa em que o repoacuterter aparece junto ao entrevistado natildeo era explicitado Isso me impelia a fazer uma pesquisa preacutevia na internet sobre o tema que seria aborda-

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do Havia tambeacutem um espaccedilo de tempo antes de iniciar as gravaccedilotildees em que podia assistir ao programa completo Eacute im-portante salientar que a competecircncia referencial tem relaccedilatildeo direta com a qualidade da traduccedilatildeo e que alguns dos temas abordados eram de completo desconhecimento da inteacuterprete

Por isso o fato de assistir ao programa antes de iniciar sua traduccedilatildeo poderia colaborar para que por meio da visuali-zaccedilatildeo de imagens mesmo natildeo dominando o assunto pudesse descrever os elementos a ele pertencentes Segundo Pizzo et al (2010 p 15) a liacutengua de sinais traz recursos que permitem transmitir informaccedilotildees de forma clara ldquo[] descrevendo a forma e tamanho ou descrever a maneira como esse referente se comporta na accedilatildeo verbalrdquo Esse recurso eacute chamado de Clas-sificador (CL) Por isso a visualizaccedilatildeo das imagens contidas no programa por mim na condiccedilatildeo de tradutorainteacuterprete era de fundamental importacircncia para a construccedilatildeo desses re-ferentes no texto em Libras Os classificadores aleacutem de des-crever o objeto permitem que o texto se torne sucinto sem que haja perdas de informaccedilatildeo

Como afirma Lacerda (2009) o inteacuterprete trabalha na urgecircncia e natildeo tem tempo para refazer sua interpretaccedilatildeo Na traduccedilatildeo haacute tempo para analisar pesquisar e refazer se ne-cessaacuterio Como foi dito anteriormente eu recebia da produ-ccedilatildeo do programa instrumentos para pesquisa e durante as gravaccedilotildees de sua interpretaccedilatildeo havia tempo para refazecirc-la caso achasse necessaacuterio Por essa razatildeo podemos concluir que esse trabalho se caracterizou como sendo uma traduccedilatildeo

Outro ponto importante a salientar eacute o tempo televisi-vo O programa produzido pela equipe da UFCTV como dito anteriormente tem 30 minutos de duraccedilatildeo jaacute com os comer-cias adicionados Eacute dividido em ldquocabeccedilasrdquo que eacute segmento do programa em que a apresentadora aparece sozinha anuncian-

do as manchetes do dia ldquooffsrdquo segmento do programa em que o repoacuterter relata as notiacutecias sem aparecer na cena e sonoras As janelas correspondentes a esses segmentos precisavam es-tar sincronizadas com o tempo de cada um deles

Segundo Ronai (1987) tudo que eacute dito em uma determi-nada liacutengua pode ser dito em outra mas para isso eacute preciso buscar equivalecircncias e quando por alguma razatildeo natildeo eacute pos-siacutevel encontraacute-las a traduccedilatildeo pode ser feita de forma explica-tiva Poreacutem em se tratando de explicaccedilotildees de termos usados na liacutengua fonte (liacutengua a ser traduzida) para a alvo (liacutengua traduzida) eacute possiacutevel que o texto traduzido se prolongue mais que o texto original Isso eacute bastante comum acontecer em tra-duccedilotildees envolvendo a Libras e o Portuguecircs dadas as modali-dades em que se encontram espaccedilo-viso-manual e oral au-ditiva respectivamente (QUADROS KARNOPP 2004) Esse fato ocorria com frequecircncia desafiando-me a buscar recursos inerentes agrave atividade tradutoacuteria e os que a proacutepria liacutengua de sinais oferece para possibilitar a sincronia entre os textos

Os recursos linguiacutesticos por mim utilizados durante as atividade tradutoacuterias foram os empreacutestimos linguiacutesticos que segundo Barbosa (2004) trata-se de uma escolha pessoal do tradutor por tomar um empreacutestimo da liacutengua fonte e usa--lo na liacutengua alvo No caso da traduccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa para a Libras esse empreacutestimo eacute feito por meio da soletraccedilatildeo da palavra utilizando-se do alfabeto manual (SOUZA 2010) Esse recurso tem sido utilizado quando natildeo haacute um vocaacutebulo na liacutengua alvo equivalente ao da liacutengua fonte Assuntos relaciona-dos agrave Fiacutesica Quiacutemica Engenharia e especialmente agrave Medicina foram os que mais exigiram o uso desse recurso Ex Palavra em Portuguecircs leishmaniose No empreacutestimo para a Libras a mesma palavra eacute feita sem alteraccedilatildeo na estrutura fonoloacutegica por meio do alfabeto manual conforme ilustra a Figura 1

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Figura 1 ndash Alfabeto manualFonte httpwwwlibrasorgbr

Assim o puacuteblico-alvo recebe a palavra em uma liacutengua que natildeo eacute a sua o que pode gerar problemas de compreen-satildeo Para traduzir essa palavra com clareza seria necessaacuterio entatildeo a utilizaccedilatildeo de outra estrateacutegia chamada de explicita-ccedilatildeo Segundo Lemos (2012) o uso dessa estrateacutegia consiste na adiccedilatildeo de informaccedilotildees por parte do tradutorinteacuterprete para aclarar a mensagem na liacutengua alvo Poreacutem por haver adiccedilatildeo de vocaacutebulo o tempo empregado nesse tipo de estra-teacutegia ultrapassa o tempo do texto fonte o que pode constituir um problema na sincronia dos textos e interferir no tempo da realizaccedilatildeo do programa Por isso optei por natildeo usaacute-la

Outro recurso utilizado na traduccedilatildeo foi o Role Shift que segundo Pizzo et al (2010) consiste na mudanccedila da posi-ccedilatildeo do corpo ou da direccedilatildeo do olhar para marcar a fala de mais

de um personagem Esses personagens (referentes) podem tambeacutem ser marcados por meio de estabelecimento de pon-tos no espaccedilo Isso permite economia de tempo pois uma vez que os pontos estatildeo estabelecidos e nominados natildeo haacute mais necessidade de citaacute-los por nome basta apontar olhar ou di-recionar o corpo para a localizaccedilatildeo em que esses pontos foram estabelecidos Essa apontaccedilatildeo na liacutengua de sinais eacute uma for-ma pronominal e pode ser usada como referecircncia anafoacuterica4

O uso de classificadores (CL) tambeacutem foi outro recur-so utilizado como foi dito anteriormente Esses podem des-crever de forma clara objetos pessoas e animais de forma detalhada e raacutepida Quando o uso desses recursos natildeo era su-ficiente para sincronizar os textos fonte e alvo o editor no momento da ediccedilatildeo e com a minha ajuda retirava dos sinais movimentos que natildeo integravam a sua formaccedilatildeo Esses eram os movimentos de passagem de um sinal para o outro como um levantar ou baixar de matildeos Os cortes eram de mileacutesimos de segundos mas que somados apresentavam uma quanti-dade significativa de tempo para um programa televisivo

O uso de todas essas estrateacutegias natildeo era de conheci-mento da equipe responsaacutevel pelo programa da UFCTV com exceccedilatildeo dos cortes para reduccedilatildeo do tempo da traduccedilatildeo na ja-nela de Libras Assim o desafio da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo se tornou uma busca individual de minha parte Segundo Souza (2010) para realizar uma traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo envolvendo recursos midiaacuteticos eacute necessaacuterio uma equipe semelhante agrave que foi citada anteriormente Poreacutem o autor acrescenta que a essa equipe devem ser adicionados outros profissionais da traduccedilatildeo surdos e ouvintes para dar suporte agrave inteacuterprete e

4 Anafoacuterico genericamente pode ser definido como uma palavra ou expressatildeo que serve para retomar um termo jaacute expresso no texto ou tambeacutem para antecipar termos que viratildeo depois

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analisar juntamente com ela a qualidade da traduccedilatildeo objeti-vando sua otimizaccedilatildeo

Todo esse trabalho relacionado agrave traduccedilatildeointerpre-taccedilatildeo requer um relativo empenho da equipe envolvida Tambeacutem eacute necessaacuterio a essa equipe disponibilidade para alteraccedilotildees fiacutesicas na aparecircncia do programa ocasionada pela inserccedilatildeo da janela de Libras

Janela de Libras na Tela da TV

A janela de Libras eacute um instrumento de acessibilida-de para surdos descrito na Portaria nordm 310 de 27-06-2006 como sendo ldquo[] espaccedilo delimitado no viacutedeo onde as infor-maccedilotildees satildeo interpretadas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LI-BRAS)rdquo (BRASIL 2006)

A maioria dos programas de TV que se utiliza da janela de Libras apresenta irregularidades no seu formato tamanho e contraste Isto ocorre pela inobservacircncia das normas estabe-lecidas pela ABNTNBR15290 (ABNT 2005)

A janela de Libras deve conter as seguintes caracteriacutesti-cas (BRASIL 2009)

y A altura da janela deve ser no miacutenimo metade da altura da tela do televisor (NBR 15290) y A largura da janela deve ocupar no miacutenimo a quarta parte da largura da tela do televisor (NBR 15290) y O recorte deve estar localizado de modo a natildeo ser encoberto pela tarja preta da legenda oculta (NBR 15290) y No recorte natildeo devem ser incluiacutedas ou sobrepostas quais-quer outras imagens (NBR 15290)

Como sugestatildeo o documento (BRASIL 2009) acres-centa que a janela de Libras natildeo deve encobrir a marca drsquoagua

da emissora nem a tarja preta da legenda Assim a janela deve ser posicionada na tela da TV de acordo com a sua localiza-ccedilatildeo podendo ficar agrave esquerda agrave direita ou ao centro da tela Quanto ao enquadramento do tradutorinteacuterprete deve ser feito de maneira que os braccedilos e cotovelos natildeo sejam corta-dos O enquadramento deve abarcar toda a sua movimenta-ccedilatildeo e vai do alto da cabeccedila ateacute a altura da cintura O referido documento explicita que o plano meacutedio eacute o ideal para o en-quadramento do tradutorinteacuterprete

Assim a UFCTV buscou respeitar as normas estabele-cidas pela ABNT optando por colocar a janela de Libras na parte inferior direita da tela Para que isso fosse possiacutevel foi necessaacuterio o deslocamento da apresentadora um pouco mais para o centro da tela para deixar livre o espaccedilo destinado agrave janela De modo semelhante os repoacuterteres ao gravarem as sonoras foram orientados a se posicionar de maneira que na tela da TV ficassem agrave esquerda do viacutedeo para que agrave direita sobrasse espaccedilo suficiente para posicionar a janela

Como explicitado haacute pouco a Figura 2 mostra uma ca-beccedila em que a apresentadora do Programa da UFCTV se en-contra posicionada no centro da tela deixando um espaccedilo agrave direita suficiente para a inserccedilatildeo da janela

Figura 2 ndash Ca-beccedila do Programa

UFCTV

Fonte httpwwwufcbr

portalindexphp

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Em relaccedilatildeo ao tradutorinteacuterprete a ABNTNBR 15290 (ABNT 2005) determina que quando na janela de Li-bras deve usar blusas de cor distanciada da tonalidade de sua pele Complementando as determinaccedilotildees citadas haacute ainda as seguintes sugestotildees

y Natildeo usar amarelo vermelho laranja e preto (principalmen-te) no plano de fundo do inteacuterprete

y A iluminaccedilatildeo adequada deve evitar sombras nos olhos eou seu ofuscamento e

y A cor adequada e sugerida por todos os surdos para o cenaacuterio foi o azul-claro sem detalhes (BRASIL 2009)

Assim como tradutorinteacuterprete da janela de Libras da UFCTV adotei o seguinte padratildeo esteacutetico cabelos pre-sos blusa preta de mangas cur-tas para contras-tar com o fundo azul ausecircncia de adereccedilos como reloacutegios colares e outros conforme ilustra a Figura 3

Figura 3 ndash Padratildeo esteacutetico para inteacuter-pretes que atuam em janelas de LibrasFonte httpwwwi n c l u s i v e o r g b r wp-contentuploa-ds201007Carti-lha_libraspdf

Consideraccedilotildees Finais Embora tenha havido zelo para com as exigecircncias esta-

belecidas pela ABNT (2005) por parte da equipe envolvida no projeto de implementaccedilatildeo da janela de Libras no programa produzido pela equipe da UFCTV houve alguns problemas de ordem teacutecnica O equipamento tecnoloacutegico usado nas ediccedilotildees apresentava problemas e por vezes parava de funcionar im-pedindo a finalizaccedilatildeo da ediccedilatildeo Foi constatada tambeacutem a ne-cessidade de acreacutescimo de pessoal agrave equipe Os profissionais envolvidos usavam seu horaacuterio de almoccedilo para gravar a tra-duccedilatildeo da janela de Libras pois esse era o uacutenico horaacuterio dispo-niacutevel para uso do estuacutedio Assim podemos concluir que seria necessaacuteria uma equipe especiacutefica com horaacuterios previamente definidos para esse fim

Quanto agrave traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo a presenccedila de outro inteacuterprete poderia contribuir com a otimizaccedilatildeo do resultado final da traduccedilatildeo Seria tambeacutem uma contribuiccedilatildeo para com a inteacuterprete efetiva no sentido de que caso houvesse a ne-cessidade de se ausentar nos dias destinados agrave gravaccedilatildeo ha-veria outra pessoa que poderia substituiacute-la Em decorrecircncia dessas dificuldades o projeto foi interrompido para anaacutelise e busca de soluccedilotildees junto a outras instacircncias da UFC para sua viabilizaccedilatildeo

Em conjunto com a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui a equipe anteriormente mencionada se prepara para viabilizar e retomar o projeto propiciando a inserccedilatildeo de for-ma permanente e qualitativa da janela de Libras nos progra-mas produzidos pela equipe da UFCTV e assim contribuir para a acessibilidade agrave informaccedilatildeo das pessoas surdas

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Referecircncias Bibliograacuteficas

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25 abr 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Leis2002L10436htmgt Acesso em 12 dez 2011GESSER A Traduccedilatildeo e Interpretaccedilatildeo da Libras II Apostila do Curso de Educaccedilatildeo a Distacircncia de Bacharelado em Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina 2011 JAKOBSON R Linguiacutestica e comunicaccedilatildeo Satildeo Paulo Cul-trix 1995LACERDA C B F Inteacuterprete de Libras em atuaccedilatildeo na Edu-caccedilatildeo Infantil e no Ensino Fundamental Porto Alegre Me-diaccedilatildeoFAPESP 2009LEMOS A M As estrateacutegias de interpretaccedilatildeo de unidades fraseoloacutegicas do Portuguecircs para a Libras em discursos poliacute-ticos Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 150f Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2012 LODI A C B LACERDA C B F de (Orgs) Uma escola duas liacutenguas letramento em liacutengua portuguesa e liacutengua de sinais nas etapas iniciais de escolarizaccedilatildeo Porto Alegre Me-diaccedilatildeo 2009MASSUTTI M L e SILVA S G de L da Traduccedilatildeo e in-terpretaccedilatildeo de Libras I Apostila do curso de Bacharelado em Letras na modalidade a Distacircncia Universidade Fede-ral de Santa Catarina Centro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE)Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2011PAGURA R J A interpretaccedilatildeo de conferecircncias interfaces com a traduccedilatildeo escrita e implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo de in-teacuterpretes e tradutores DELTA ndash Revista de Documentaccedilatildeo de Estudos em Linguiacutestica Teoacuterica e Aplicada Satildeo Paulo v 19 p 209-236 2003PIZZO A L CAMPELLO A R e S REZENDE P L F QUA-DROS R M de Q Liacutengua Brasileira de Sinais III Apostila do curso de Bacharelado em Letras Libras na modalidade

ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeOMARIA IZALETE INAacuteCIO VIEIRA144 d d 145

a Distacircncia Universidade Federal de Santa Catarina Cen-tro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE) Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2010QUADROS R M de (Org) Estudos surdos III Petroacutepolis RJ Arara Azul 2008______ O tradutor e inteacuterprete de liacutengua brasileira de si-nais e liacutengua portuguesa Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Programa Nacional de Apoio agrave Educaccedilatildeo de Surdos MEC SEESP 2004 QUADROS R M de KARNOPP L B Liacutengua Brasileira de Sinais estudos linguiacutesticos Porto Alegre Artmed 2004 RONAI P Escolas de tradutores Rio de Janeiro Ed Nova Fronteira 1987SANTOS S A Inteacuterpretes de liacutengua de sinais um estudo sobre as identidades Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 198f Universidade Federal de Santa Catarina Flo-rianoacutepolis 2006SEGALA R R Traduccedilatildeo intermodal e intersemioacuteticainter-lingual Portuguecircs brasileiro escrito para Liacutengua Brasileira de Sinais Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 74f Universidade Federal de Santa Catarina Trindade Florianoacute-polis 2010 SOUSA A N de A escrita de surdos uma exploraccedilatildeo de textos em portuguecircs e inglecircs Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Lin-guiacutestica Aplicada) 237 f Universidade Estadual do Cearaacute Fortaleza 2008SOUZA X de Performances de traduccedilatildeo para a liacutengua bra-sileira de sinais observadas no curso de Letras-Libras Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 174f Universi-dade Federal de Santa Catariana Florianoacutepolis 2010STROBEL K As imagens do outro sobre a cultura surda Florianoacutepolis Editora da UFSC 2008

UFC Conheccedila o programa UFCTV Disponiacutevel em lthttpwwwufcbrcomunicacao-e-marketing956-conheca-o-pro-grama-ufctvgt Acesso em 6 dez 2012VASCONCELOS M L BARTHOLAMEI JUNIOR L A B Estudos da traduccedilatildeo I Apostila do curso de Bacharelado em Letras Libras na modalidade a Distacircncia Universidade Fe-deral de Santa Catarina Centro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE) Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2009VYGOTSKY L S Internalizaccedilatildeo das funccedilotildees psicoloacutegicas su-periores In VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente o desenvolvimento dos processos psicoloacutegicos superiores Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 69-76

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AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA

FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacute

Marta Cavalcante BenevidesTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (LDB nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996) prevecirc para o alu-nado da Educaccedilatildeo Especial uma praacutetica avaliativa na pers-pectiva formativa de acompanhamento permanente junto ao estudante Deve considerar portanto os aspectos individuais da aprendizagem realizando um diagnoacutestico do que foi apren-dido e favorecendo a aproximaccedilatildeo do professor junto ao agir e pensar do aluno e deste com o objeto de conhecimento A lei recomenda igualmente a realizaccedilatildeo de ajustes sempre que necessaacuterio com o emprego de recursos adequados agraves necessi-dades de cada aprendiz Contudo haacute indiacutecios de que as praacuteti-cas educacionais ainda se centram em atividades que enfati-zam a exposiccedilatildeo de conteuacutedos pelo professor e a passividade do aluno que deve reproduzir a informaccedilatildeo memorizada nos momentos de avaliaccedilatildeo Se essa praacutetica prejudica o desenvol-vimento dos alunos de forma geral provoca consequecircncias mais graves nos alunos que apresentam algum tipo de defici-ecircncia visto que apresentam modos singulares de aprendiza-gem de acordo com as especificidades do seu perfil (BEYER 2005 BRASIL 2001 HADJI 2001 HOFFMANN 2005)

No Ensino Superior a realizaccedilatildeo de uma praacutetica avalia-tiva inclusiva torna-se de modo anaacutelogo um desafio pois de acordo com Demo (2008) a avaliaccedilatildeo na Instituiccedilatildeo de Ensi-

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteMARTA CAVALCANTE BENEVIDES bull TANIA VICENTE VIANA148 d d 149

no Superior (IES) aleacutem de ponderar as diferenccedilas individuais de aprendizagem deve incluir outros aspectos uma vez que a IES tem como papel fundamental formar o aluno para o exer-ciacutecio da cidadania reconstruir continuamente o saber e for-mar pessoas autocircnomas capazes de pensar intervir e influen-ciar o seu ambiente para aleacutem dos limites da universidade

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada ao aluno com deficiecircncia constitui um elemento pedagoacutegico que pode auxi-liar ou dificultar a inclusatildeo do aluno na instituiccedilatildeo de ensino Uma avaliaccedilatildeo realizada de modo intuitivo eou superficial se mostra nociva podendo rebaixar as expectativas do professor em relaccedilatildeo a esse grupo especiacutefico A avaliaccedilatildeo inclusiva deve ser prospectiva e diagnosticar as condiccedilotildees cognitivas emer-gentes natildeo devendo limitar-se agrave verificaccedilatildeo das capacidades adquiridas (BEYER 2005 BRASIL 2001 HADJI 2001 HO-FFMANN 2005)

A Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem do Aluno com Deficiecircncia e os Desafios de sua Inclusatildeo no Ensino Superior

O aluno com deficiecircncia por apresentar condiccedilotildees di-ferenciadas necessita de praacuteticas de ensino e de avaliaccedilatildeo da aprendizagem capazes de atender suas demandas educacio-nais e promover o desenvolvimento das suas capacidades A escola e a universidade inseridas nesse contexto deveratildeo ade-quar a sua praacutetica educativa e avaliativa agrave legislaccedilatildeo vigente visando garantir oportunidades equiparadas de atendimento Para esse alunado existem propostas de avaliaccedilatildeo da apren-dizagem fundamentadas nas ideias de Vygotsky (1896-1934) e no conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)1

1 A ZDP eacute definida como ldquoA distacircncia entre o niacutevel de desenvolvimento real que se costuma determinar atraveacutes da soluccedilatildeo independente de problemas e o niacutevel

Utilizando o conceito de ZDP Guthke apud Beyer (2005) propotildee que natildeo basta que a avaliaccedilatildeo verifique as atu-ais condiccedilotildees do desempenho escolar mas eacute essencial estimu-lar a condiccedilatildeo intelectual do indiviacuteduo frente agraves situaccedilotildees de mediaccedilatildeo em que conceitos e informaccedilotildees venham a provo-car a consolidaccedilatildeo de niacuteveis reais de desenvolvimento Nes-se sentido a verificaccedilatildeo do que foi alcanccedilado pelo aprendiz (rendimento) natildeo eacute suficiente para uma avaliaccedilatildeo adequada tornando imprescindiacutevel a investigaccedilatildeo das condiccedilotildees cogni-tivas emergentes

Para avaliar a aprendizagem dos alunos da Educa-ccedilatildeo Especial durante o ano letivo o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) recomenda a avaliaccedilatildeo formativa ou seja a avaliaccedilatildeo processual com o uso de instrumentos variados e com uma aproximaccedilatildeo da relaccedilatildeo professor-aluno deve acontecer de forma individualizada realizando modificaccedilotildees sempre que necessaacuterio com o emprego de recursos adequados agraves neces-sidades de cada aprendiz A avaliaccedilatildeo tambeacutem deve ser diag-noacutestica ou seja ter por objetivo realizar um diagnoacutestico da si-tuaccedilatildeo da aprendizagem do educando que sirva de base para uma tomada de decisatildeo por parte do avaliador em prol do desenvolvimento e da aprendizagem do aluno Eacute importante tambeacutem avaliar as caracteriacutesticas funcionais do aluno a fim de avaliar as habilidades baacutesicas que ele possui e que lhe per-mitem enfrentar de forma mais ou menos eficaz a demanda educacional (BRASIL 2005 FERNANDES VIANA 2009)

As avaliaccedilotildees da aprendizagem devem sempre conside-rar a situaccedilatildeo vivenciada pelo aluno com deficiecircncia para que o professor possa propor atividades avaliativas contextua-

de desenvolvimento potencial determinado atraveacutes da soluccedilatildeo de problemas sob a orientaccedilatildeo de um adulto ou em colaboraccedilatildeo com companheiros mais capazesrdquo (VYGOTSKY 1994 p 112)

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lizadas As comparaccedilotildees entre os alunos devem ser evitadas mesmo que possuam deficiecircncia similar o aluno deve ser comparado consigo mesmo com a evoluccedilatildeo de suas produ-ccedilotildees e atitudes ao longo do desenvolvimento As adequaccedilotildees nas avaliaccedilotildees realizadas pelo professor devem sempre con-siderar o curriacuteculo comum Outro aspecto a se ponderar eacute a importacircncia dos conteuacutedos presentes na avaliaccedilatildeo visto que a supressatildeo de determinados conteuacutedos podem comprometer uma avaliaccedilatildeo efetiva da aprendizagem O planejamento de uma avaliaccedilatildeo com conteuacutedo diferenciado caracteriza por-tanto uma exclusatildeo que discrimina o aluno por sua deficiecircn-cia Dessa forma satildeo necessaacuterios cuidados especiais na elimi-naccedilatildeo de conteuacutedos (FERNANDES 2010)

Ainda segundo as orientaccedilotildees do MEC satildeo recomen-dadas adequaccedilotildees nos instrumentos avaliativos conforme o tipo de deficiecircncia i) para alunos com deficiecircncia fiacutesica deve ser considerada a utilizaccedilatildeo de Tecnologia Assistiva (TA)2 au-toavaliaccedilatildeo uso de avaliaccedilatildeo digital ii) para a o aluno com deficiecircn cia visual os procedimentos e instrumentos de avalia-ccedilatildeo da aprendizagem que satildeo baseados em referecircncias visu-ais devem ser alterados ou adaptados atraveacutes da transcriccedilatildeo para o sistema Braille3 eou representaccedilotildees em relevo Ou-tras sugestotildees satildeo a avaliaccedilatildeo oral o uso do computador ou da maacutequina de escrever Braille e um tempo ampliado para a realizaccedilatildeo das atividades (iii) a avaliaccedilatildeo da aprendizagem

2 ldquo[] arsenal de recursos e serviccedilos que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiecircncia e consequentemente promover vida independente e inclusatildeordquo (BRASIL 2007d p 31)3 O sistema Braille eacute um coacutedigo ou meio de leitura e escrita para pessoas cegas e foi criado por Louis Braille em 1825 Constitui-se de uma combinaccedilatildeo de 63 pontos que representam as letras do alfabeto os nuacutemeros e outros siacutembolos graacuteficos A combinaccedilatildeo dos pontos eacute obtida pela disposiccedilatildeo de seis pontos baacutesicos organizados em duas colunas verticais dispostas em trecircs pontos do lado esquerdo e trecircs pontos do lado direito (BRASIL 2007c)

da pessoa surda deve considerar a existecircncia do uso de duas liacutenguas por parte do aluno jaacute que a liacutengua de sinais liacutengua de origem do surdo se reflete em suas produccedilotildees escritas em Portuguecircs Portanto o docente ao se deparar com um texto escrito por um aluno surdo deve manter uma atitude diferen-ciada e encarar os supostos erros cometidos na escrita como decorrentes do aprendizado de uma segunda liacutengua (Liacutengua Portuguesa) e da interferecircncia de sua primeira liacutengua (a liacuten-gua de sinais) sobre ela Em todo tipo de avaliaccedilatildeo eacute necessaacute-rio que o ritmo e o estilo individual de aprendizagem do aluno sejam respeitados (BRASIL 2007b FERNANDES 2010)

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada para o alunado com deficiecircncia deve considerar as condiccedilotildees de acessibilida-de4 prevista nos documentos legais brasileiros como a Cons-tituiccedilatildeo Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-caccedilatildeo Nacional (LDB nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996) (BRASIL 2001 2007a)

A praacutetica avaliativa destinada ao aluno com deficiecircncia torna-se um desafio para todos os niacuteveis de ensino inclusive o Ensino Superior que aleacutem de atender as caracteriacutesticas es-peciacuteficas desse alunado deve tambeacutem inserir na avaliaccedilatildeo as-pectos como flexibilidade e autonomia De acordo com Demo (2008) a universidade deve estar comprometida com a re-construccedilatildeo contiacutenua do conhecimento e com a formaccedilatildeo para a cidadania

4 SASSAKI (2005) aponta para a existecircncia de seis dimensotildees da acessibilidade i) arquitetocircnica que diz respeito agrave ausecircncia de barreiras fiacutesicas ii) comunicacional que se refere agrave ausecircncia de barreiras na comunicaccedilatildeo interpessoal escrita e virtual iii) atitudinal concernente a praacuteticas que resultem em superaccedilatildeo de preconceito discriminaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo iv) metodoloacutegica relativa agrave ausecircncia de barreiras nos meacutetodos e teacutecnicas de estudo v) instrumental que se refere agrave ausecircncia de barreiras nos instrumentos e utensiacutelios de estudo nas atividades da vida diaacuteria de lazer esporte e recreaccedilatildeo vi) programaacutetica que consiste na ausecircncia de barreiras invisiacuteveis embutidas em poliacuteticas puacuteblicas em regulamentos e normas

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Assim o aluno que ingressa na universidade deve ter a oportunidade de aprender a aprender reconstruir permanen-temente o conhecimento e saber pensar para melhor inter-vir O conhecimento nessa perspectiva aleacutem de disruptivo eacute tambeacutem poliacutetico porque o sujeito que aprende eacute capaz de histoacuteria proacutepria e caminha para a autonomia de modo que natildeo seja soacute influenciado mas influencie o seu meio natildeo seja submisso mas possa confrontar ideias teorias opiniotildees e re-alidades (DEMO 2008)

Metodologia

O objetivo geral deste estudo foi investigar a praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada aos alunos com defici-ecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do Centro de Humanidades (CH) e da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) de uma IES da rede puacuteblica federal de Fortaleza-Cea-raacute Especificamente intencionou-se i) conhecer as dificulda-des vivenciadas por alunos professores e coordenadores da IES na avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia ii) identificar as condiccedilotildees de acessibilidade referentes agraves praacute-ticas avaliativas iii) reunir contribuiccedilotildees de alunos profes-sores e coordenadores da IES para uma praacutetica inclusiva de avaliaccedilatildeo de aprendizagem

Assim foi realizada uma pesquisa de natureza qualitati-va na forma de um estudo de caso com amostras compostas por i) nove alunos com deficiecircncia matriculados nos cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do CH e da Faced da IES ii) dezenove professores indicados pelos alunos com deficiecircn-cia que haviam ministrado disciplinas para esses alunos no semestre 20102 e iii) sete coordenadores dos cursos em que esses alunos se encontravam matriculados A amostra perfez um total de trinta e cinco sujeitos

Na tabela 1 encontramos a caracterizaccedilatildeo da amostra dos alunos investigados Os estudantes consultados seratildeo ale-atoriamente chamados de A1 A2 A9

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia

MASCULINO

ALUNO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A1 24 Letras-Portuguecircs Auditiva

A2 28 Ciecircncias Sociais Fiacutesica ndash Torcicolo Espas-moacutedico

A3 23 Biblioteconomia Muacuteltipla ndash Fiacutesica e Baixa Visatildeo

A4 45 Pedagogia Visual ndash Baixa Visatildeo FEMININO

ALUNO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A5 22 Letras Espanhol--Literatura

Visual Total ndash Retinoblas-toma

A6 20 Letras-Portuguecircs Fiacutesica ndash Paralisia Cerebral

A7 24 Ciecircncias Sociais Auditiva Moderada ndash Gra-ve

A8 23 Psicologia Baixa Visatildeo ndash Visatildeo Uni-lateral

A9 32 Mestrado em Edu-caccedilatildeo Auditiva

Os coordenadores pesquisados seratildeo aleatoriamente chamados de C1 C2 C7 e os professores que participaram da pesquisa seratildeo chamados aleatoriamente de P1 P2 P19 Vale ressaltar que o nome da instituiccedilatildeo quando presente no relato dos entrevistados foi substituiacutedo pela palavra UNI-VERSIDADE (em letras maiuacutesculas) Os dados obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas junto aos alunos e coor-denadores de curso e atraveacutes de questionaacuterios junto aos pro-fessores no segundo semestre de 2010 foram submetidos agrave anaacutelise de conteuacutedo

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Anaacutelise dos Dados

Formaccedilatildeo docente

A equipe docente pesquisada mostrou-se com qualifica-ccedilatildeo elevada conforme se pode constatar no Graacutefico 1 A forma-ccedilatildeo docente eacute vista como um fator de grande importacircncia para a adequaccedilatildeo dos processos de ensino e avaliaccedilatildeo tornando-se imprescindiacutevel para auxiliar no processo de aprendizado do aluno (BEYER 2005 HOFFMANN 2005 PASCUAL 2006)

GRAacuteFICO 1 ndash Formaccedilatildeo Docente

No entanto para os coordenadores a formaccedilatildeo do do-cente em graus elevados muitas vezes natildeo prepara o profes-sor para a experiecircncia em sala de aula visto que nos cursos de origem natildeo satildeo trabalhadas questotildees pedagoacutegicas nem de teorias do conhecimento e da aprendizagem tampouco de as-suntos referentes ao tema da Educaccedilatildeo Inclusiva

Segundo relato dos coordenadores

A maioria das pessoas que daacute aula na universidade elas nunca se prepararam na vida dela para ser professor Vocecirc imagine uma pessoa que estudou que fez douto-rado ela faz um concurso [] O que ela aprendeu em sala de aula foi com os professores em sala de aula mas ela nunca discutiu a metodologia [] Vocecirc imagina aiacute o

cara que fez Fiacutesica se formou em Fiacutesica o tempo dele foi fazendo caacutelculo e ele aprendeu a dar aula as aulas que ele via foi dos professores dele mas nunca ele discutiu nada Entatildeo ele faz um concurso porque ele tem doutorado domina um conjunto de questotildees que taacute laacute no programa passa e quando ele entra vai laacute no [setor de] Recursos Humanos natildeo tem ningueacutem pra dizer que vaacute fazer um cursinho sobre Pedagogia sobre aprendizado essa coisa toda E eacute assim em quase todo canto Com exceccedilatildeo da Pedagogia que eacute um curso que forma pedagogo Nosso curso aqui eacute muito focado no bacharelado licenciatura aqui eacute uma coisa quase que marginal (C7)Agraves vezes os professores efetivamente tecircm dificuldade de lidar com esse tipo de aluno neacute Noacutes eu tambeacutem tenho dificuldade porque tambeacutem natildeo sou formado para isso neacute Eu natildeo tenho uma capacitaccedilatildeo pra isso mas natildeo necessariamente pra avaliaccedilatildeo agraves vezes ateacute para a proacutepria convivecircncia a gestatildeo da sala de aula com o aluno quando distoa do padratildeo meacutedio do aluno a gente natildeo sabe como fazer No instante em que nos tornamos professores da UNIVERSIDADE eu desco-nheccedilo qualquer formaccedilatildeo que tenha sido proposta pra gente E bom assim enquanto socioacutelogo de formaccedilatildeo eu tambeacutem natildeo tive essa formaccedilatildeo aqui na UNIVER-SIDADE no doutorado na graduaccedilatildeo ou no mestrado tampouco (C4)

Do mesmo modo foi verificado na pesquisa que a ca-pacitaccedilatildeo especiacutefica voltada para o atendimento agraves necessi-dades educacionais da pessoa com deficiecircncia embora consi-derada necessaacuteria pelos coordenadores tem acontecido como uma procura individual e particular de cada professor natildeo existindo ou existindo de forma precaacuteria nos programas que destinam formaccedilatildeo continuada aos seus docentes dentro da universidade

A situaccedilatildeo encontrada na universidade pesquisada estaacute em consonacircncia com o que afirma Hoffmann (2005) sobre a

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realidade encontrada nas universidades brasileiras em que haacute docentes que embora com competecircncia em sua aacuterea de origem possuem formaccedilatildeo pedagoacutegica precaacuteria desconhe-cendo teorias do conhecimento e do curriacuteculo que deveriam fundamentar sua atividade avaliativa

Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia

No que se refere agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem do aluno com deficiecircncia verificou-se que os coordenadores natildeo tecircm informaccedilotildees sobre como acontece a avaliaccedilatildeo da aprendiza-gem voltada para esse alunado dentro da universidade e re-latam a existecircncia de uma avaliaccedilatildeo homogecircnea como uma praacutetica comum na IES que desconsidera as particularidades do aluno A avaliaccedilatildeo que considera a construccedilatildeo individual da aprendizagem reflete uma visatildeo tradicional de avaliaccedilatildeo (HOFFMANN 2005 PERRENOUD 1999)

De acordo com o relato do coordenador

[] imagino que haacute todo um processo complexo inclu-sive muito rico de adequaccedilatildeo disso da proacutepria pessoa a um sistema de Educaccedilatildeo que natildeo tem a tradiccedilatildeo de lidar com as dificuldades das pessoas Todo um sistema ele eacute montado com um pressuposto falso e perigoso que eacute o pressuposto da homogeneidade se trata todos os alunos como se fossem iguais como se partissem do mesmo ponto e como tivessem que chegar ao mesmo ponto Quer dizer natildeo haacute consideraccedilatildeo da personalidade natildeo eacute nem no sentido psicoloacutegico eacute no sentido mais amplo de que cada pessoa eacute uma pessoa com interesse com a proacutepria histoacuteria com dificuldades e com potenciais entatildeo o sistema eacute todo montado para um aluno amorfo padratildeo estereotipado Qualquer pessoa que rompa com essa padronizaccedilatildeo teraacute dificuldades em geral dificul-dades para os docentes tambeacutem (C5)

Para a maioria dos professores a avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem do aluno com deficiecircncia deve apresentar as seguintes caracteriacutesticas I) ser igual para todos alunos com e sem defi-ciecircncia (63) II) abordar o mesmo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade (84) III) apresentar adapta-ccedilotildees conforme o tipo de deficiecircncia (84) IV) dispor de um tempo maior para o aluno com deficiecircncia (68) e V) deve acontecer em sala de aula (84)

De acordo com as informaccedilotildees coletadas os professores entendem a avaliaccedilatildeo do aluno com deficiecircncia em consonacircn-cia com o que eacute proposto pela literatura especializada que as-severa que o planejamento de uma avaliaccedilatildeo para o aluno com deficiecircncia deve considerar o curriacuteculo comum Um conteuacutedo diferenciado ou a supressatildeo arbitraacuteria de conteuacutedos com o ob-jetivo de tornar a avaliaccedilatildeo mais faacutecil caracterizariam uma ex-clusatildeo discriminando-se o aluno por sua deficiecircncia A maio-ria dos professores respondeu tambeacutem que o aluno precisa de maior tempo para a realizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo outra estra-teacutegia adaptativa apontada pela literatura em que o professor deve considerar que o aluno com deficiecircncia pode alcanccedilar os mesmos objetivos do grupo poreacutem com um periacuteodo maior de tempo (FERNANDES 2010)

Foi constatada nos depoimentos dos alunos a exis-tecircncia de algumas adaptaccedilotildees na avaliaccedilatildeo da aprendizagem tais como substituiccedilatildeo do seminaacuterio por instrumentos escri-tos para o aluno com deficiecircncia auditiva que natildeo conhecia a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) (A1) o uso do computa-dor como recurso para auxiliar nas provas escritas ou provas orais para o estudante cego (A3 A4 A5 A8) provas orais para o aluno com torcicolo espasmoacutedico (A2) e o tempo es-tendido para entrega dos trabalhos (A2 A9) A boa relaccedilatildeo entre professor e aluno apareceu como elemento fundamental

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para adaptar os instrumentos avaliativos agraves necessidades dos educandos visto que nem sempre o professor sabe como pro-ceder (A2 A3 A4 A5 A8)

As adequaccedilotildees encontradas na universidade estatildeo de acordo com o que estabelece a literatura especializada devem contar com o uso de recursos adequados agraves necessidades de cada aprendiz como o uso de material em Braille para o aluno cego a presenccedila do inteacuterprete de Libras para o aluno surdo o uso de provas orais quando necessaacuterio e a extensatildeo de tem-po para entrega de trabalhos dentre outros (BRASIL 2005 FERNANDES 2010)

Por outro lado os alunos relataram uma seacuterie de dificul-dades enfrentadas em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem O desconhecimento por parte do professor da existecircncia do aluno com deficiecircncia em sua sala de aula antes do iniacutecio do periacuteodo letivo impede um planejamento que considere as es-pecificidades do aluno Os estudantes relataram que os pro-fessores na maioria das vezes desconhecem o fato de que le-cionaratildeo para alunos com deficiecircncia e quando os encontram em sala de aula sequer o procuram para investigar sobre a melhor forma de realizar a avaliaccedilatildeo Houve ainda relatos de situaccedilotildees em que o aluno com deficiecircncia foi dispensado da avaliaccedilatildeo e momentos em que participou das avaliaccedilotildees em condiccedilotildees desfavoraacuteveis frente agraves condiccedilotildees apresentadas aos demais alunos por falta de recursos que pudessem auxiliaacute--lo Essas atitudes natildeo estatildeo em consonacircncia com a literatura especializada que afirma ser necessaacuteria a identificaccedilatildeo das caracteriacutesticas cognitivas do aluno com deficiecircncia para uma praacutetica pedagoacutegica adequada As adaptaccedilotildees devem conside-rar o curriacuteculo natildeo podendo o aluno ser dispensado da avalia-ccedilatildeo (BEYER 2005 FERNANDES 2010)

Segundo relato de um dos alunos

[] professor nesse semestre pediu uma siacutentese de um texto que eu natildeo tinha como ler porque natildeo foi possiacutevel digitalizar Eu tentei digitalizar mas a digitalizaccedilatildeo natildeo saiu boa o texto natildeo existia na internet eacute de uma obra claacutessica e eu natildeo consegui fazer a siacutentese porque eu natildeo tive como ler o texto E aiacute eu tentei de todas as ma-neiras que eu pude Eu realmente fiz muito esforccedilo pra digitalizar esse texto mas natildeo foi possiacutevel e aiacute eu falei com o professor e ele disse entatildeo vocecirc se compromete a ler a tentar de alguma maneira ler esse texto ateacute vocecirc se formar porque eacute um claacutessico e eu dispenso vocecirc de fazer essa parte (A8)

Os relatos demonstraram que as accedilotildees pedagoacutegicas de ensino e avaliaccedilatildeo para o aluno com deficiecircncia ainda se en-contram inadequadas A falta de conhecimento do professor sobre as praacuteticas pedagoacutegicas apropriadas e sobre os recursos que possam auxiliar o aluno a desenvolver seu aprendizado de forma mais adequada satildeo fatores que prejudicam o aluno den-tro da instituiccedilatildeo Mesmo fazendo parte de uma instituiccedilatildeo de ensino regular o que se percebe eacute que muitas vezes o aluno procura recursos e alternativas que possam ajudaacute-lo a superar as necessidades que apresenta nem sempre contando com o auxiacutelio ou a compreensatildeo dos demais agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem As adaptaccedilotildees realizadas revelaram-se como alternativas emergenciais devido agrave ausecircn-cia de recursos apropriados na universidade ou agrave falta de co-nhecimentos do professor sobre a melhor maneira de proceder

Inclusatildeo acessibilidade

A universidade apresentou a existecircncia de alguns re-cursos para a acessibilidade Os recursos conhecidos pelos

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coordenadores satildeo i) transposiccedilatildeo para o Braille serviccedilo re-alizado pela biblioteca ii) acesso agrave inteacuterprete de Libras iii) alguns computadores com programas para o deficiente visu-al iv) a existecircncia de uma secretaria especiacutefica para trabalhar questotildees da inclusatildeo na universidade Por outro lado foi ve-rificada a ausecircncia de recursos essenciais para a garantia da acessibilidade dos alunos com deficiecircncia como laboratoacuterios de informaacutetica sem softwares adequados para o aluno com deficiecircncia visual

Dos professores entrevistados 58 desconheciam os recursos oferecidos pela universidade para o atendimento ao aluno com deficiecircncia E os que revelaram conhecer relata-ram a existecircncia de suporte de Psicologia da UNIVERSIDA-DE (P1) presenccedila de softwares para o aluno cego (P4) Proje-to UNIVERSIDADE Inclui [projeto anterior agrave inauguraccedilatildeo da secretaria com objetivo de promover a inclusatildeo na universi-dade estudada] (P14 P19) Secretaria de Acessibilidade (P1) adaptaccedilatildeo do material didaacutetico para o aluno com deficiecircncia visual como o Braille e a transposiccedilatildeo para a versatildeo eletrocircni-ca realizada pela biblioteca (P5 P12 P15 P19) Um dos pro-fessores natildeo especificou qual recurso conhece e relatou natildeo precisar utilizar nenhum recurso

Relaccedilotildees interpessoais

As relaccedilotildees interpessoais aparecem como fator de grande importacircncia para a motivaccedilatildeo e o aprendizado do aluno po-dendo favorecer ou dificultar o processo de aprendizado A boa qualidade da relaccedilatildeo entre o aluno com deficiecircncia e o professor contribui de forma positiva para o aprendizado e a motivaccedilatildeo do aluno no ambiente acadecircmico A ausecircncia de conhecimen-tos teacutecnicos por parte do professor sobre o ensino e avaliaccedilatildeo

apropriados para o aluno com deficiecircncia pode ser mais facil-mente contornada se houver uma boa relaccedilatildeo com o professor

[] eu sempre me relacionei muito bem com os profes-sores daqui e nunca teve assim nenhuma rejeiccedilatildeo quanto ao meu meacutetodo de avaliaccedilatildeo E quando o professor natildeo sabe muito bem o que fazer entatildeo a gente senta conversa sobre de que maneira eu posso ser avaliado e tal [] (A3)

Na relaccedilatildeo entre docente e discente foram relatadas situaccedilotildees tanto de intransigecircncia quanto de aceitaccedilatildeo O comprometimento e a disposiccedilatildeo de todos os sujeitos partici-pantes do processo de ensino-aprendizagem eacute de grande im-portacircncia para a plena efetivaccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo Inclusiva (BEYER 2005)

No caso do professor receptivo

Pra mim o caso mais interessante foi o dessa aluna com deficiecircncia auditiva que eu notava que ela natildeo conseguia se expressar oralmente logo nos primeiros dias de aula E aiacute eu fui conversar com ela e ela me explicou que tinha um problema de deficiecircncia auditiva e a partir desse dia ela me explicou que sabia fazer leitura labial e a partir desse dia eu passei a dar aula olhando pra ela tentava mesmo que eu mudasse de posiccedilatildeo como eu dou aula em peacute andando eu tava sempre o tempo todo a olhar pra ela Eu me lembro que ela assistiu alguns seminaacuterios e eu chamei os alunos que iam apresentar seminaacuterios pedi permissatildeo a ela antes e ela autorizou que fosse dito que ela tinha deficiecircncia auditiva que os alunos falassem olhando pra ela (C4)

No caso do professor intransigente

Eu reprovei por um trabalho um grande trabalho dele que eu levei eu tinha frac34 do trabalho feito ele nem aceitou natildeo quis nem ver Entatildeo pra mim isso eacute muita intransigecircncia eacute sofriacutevel ter esse relacionamento com

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os coordenadores com os professores que natildeo podem me dar uma abertura ou me escutar Isso que eacute o pior que eu acho natildeo ser escutado (A2)

A falta de uma formaccedilatildeo adequada para lidar com alu-nos com deficiecircncia em sala de aula apresentou-se como ele-mento comum agrave variaccedilatildeo de atitudes apresentada pelo docen-te A conduta profissional desse modo depende dos valores pessoais do docente e natildeo estaacute pautada em conhecimentos es-pecializados sobre o assunto Na situaccedilatildeo encontrada na uni-versidade percebemos a existecircncia de uma realidade em que as reaccedilotildees do grupo podem facilitar pela empatia ou preju-dicar pelo preconceito ou incompreensatildeo o desenvolvimento global do indiviacuteduo Os professores como participantes do grupo social estatildeo imbuiacutedos desses valores que afetaratildeo suas praacuteticas de ensino e avaliaccedilatildeo A expectativa que o professor elabora sobre a aprendizagem do aluno pode interferir de modo significativo no processo de ensino-aprendizagem de modo que o comportamento do aluno seja modelado pela ex-pectativa do professor e este por sua vez responde de acordo com o que ele supotildee ser possiacutevel ao seu aluno (BEYER 2005 ROSENTHAL JACOBSON 1968)

Os depoimentos dos alunos revelam haver dentro da universidade atitudes de aceitaccedilatildeo e solidariedade mas tam-beacutem atitudes de estranhamento em relaccedilatildeo agrave pessoa com deficiecircncia As primeiras demonstram auxiliar o aluno no processo de Inclusatildeo favorecendo o aprendizado e ajudando a preencher lacunas deixadas pelos serviccedilos ainda natildeo ade-quados agraves necessidades do alunado No entanto as demais atitudes ainda revelam a existecircncia de um desconhecimento tambeacutem por parte do aluno das formas de lidar com a pessoa com deficiecircncia e das necessidades apresentadas por esse alu-nado Essa atitude indica um reflexo de uma sociedade ainda

natildeo preparada para o modelo de Inclusatildeo em que as insti-tuiccedilotildees os serviccedilos e os procedimentos ainda satildeo pensados e montados para um puacuteblico homogecircneo padratildeo sem deman-das especiacuteficas

Dificuldades enfrentadas

Os coordenadores de curso revelaram natildeo ter acesso agraves dificuldades do aluno com deficiecircncia em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem o que dificulta inclusive o reconhecimento das demandas discentes e a solicitaccedilatildeo agraves instacircncias superio-res de recursos que atendam a essas necessidades A coorde-naccedilatildeo aparece como um oacutergatildeo burocraacutetico onde natildeo haacute dis-cussotildees rotineiras sobre a aprendizagem do aluno A ausecircncia de recursos humanos capacitados para lidar com o aluno com deficiecircncia a ausecircncia ou insuficiecircncia de recursos didaacuteticos e de recursos que possibilitem a acessibilidade instrumental a falta de acessibilidade arquitetocircnica e a natildeo identificaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia foram indicadas pelos coordenadores como dificuldades enfrentadas para a efetivaccedilatildeo de uma ava-liaccedilatildeo inclusiva

De acordo com as respostas apresentadas pelos pro-fessores as dificuldades enfrentadas pelos docentes satildeo i) a ausecircncia de formaccedilatildeo adequada (P2 P4 P7 P10 P15 P16 P17 P19) ii) a falta de adequaccedilatildeo dos espaccedilos fiacutesicos (P1 P14 P17) iii) a ausecircncia ou insuficiecircncia de recursos (P6 P13 P14 P17 P18) iv) o fato de que os professores natildeo conhecem os recursos nem a forma de acessaacute-los (P10 P18) Cinco profes-sores relataram natildeo apresentar dificuldades e um professor natildeo respondeu

Os alunos apresentaram como dificuldades i) o fato de que o professor natildeo tem o conhecimento preacutevio de que iraacute le-

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cionar para o aluno com deficiecircncia e como consequecircncia natildeo conhece as caracteriacutesticas de aprendizagem do aluno (A2 A7 A8) ii) a falta de comunicaccedilatildeo entre professores e alunos bem como a intransigecircncia do professor (A2) iii) a falta de acessibilidade arquitetocircnica (A3) iv) a falta de recursos para a acessibilidade instrumental (A3 A5 A8) v) a dificuldade de redigir textos e a demora do processo em conseguir o inteacuter-prete de Libras foi apresentada pela aluna com surdez

Vale ressaltar que a falta de acessibilidade arquitetocirc-nica e instrumental aparece no discurso de coordenadores e alunos como impeditivo para a entrada do aluno na universi-dade No relato de um dos alunos

[] Eu falo minhas porque minhas soacute tem eu aqui Mas a partir do momento que as necessidades forem aceitas o que vai ter de deficiente entrando na univer-sidade vocecirc natildeo queira nem saber Porque o pessoal fala assim natildeo natildeo vou entrar na universidade natildeo porque natildeo tem nenhuma acessibilidade laacute [] Eu fre-quentei o Instituto dos Cegos um ano e meio Tinham pessoas laacute que falaram isso eu natildeo vou me dar o tra-balho de passar na universidade pra chegar laacute e ter que ficar lutando pelos meus direitos os meus direitos jaacute satildeo os meus direitos as pessoas tecircm que saber que eles existem Claro que vocecirc vecirc agraves vezes as pessoas dando essa desculpa de natildeo tentar a universidade Mas ou-tras pessoas que eu via que tinham potencial diziam o que me mata eacute essa ideia de chegar na universidade e ela natildeo estar preparada pra me receber (A3)

As dificuldades enfrentadas pelos alunos e a forma como satildeo administradas pelos oacutergatildeos superiores podem in-terferir negativamente para a entrada e permanecircncia do aluno no Ensino Superior A demora na resoluccedilatildeo dos problemas existentes acaba por desestimular o aluno e interferir em seu desempenho na universidade A longa espera para a resoluccedilatildeo

dos problemas traz um sentimento de solidatildeo para o aluno e muitas vezes ele acaba por resignar-se e aceitar a realidade imposta adequando-se ao que estaacute posto

Sugestotildees

Os trecircs grupos de sujeitos pesquisados apresentaram como sugestotildees i) o investimento em um setor que possa dar suporte para profissionais da Educaccedilatildeo e para o aluno (C1 C2 C3 C7 P1 P7 P18 A2 A7) ii) a importacircncia de identificar o aluno para que haja um conhecimento preacutevio do professor sobre o aluno com deficiecircncia suas caracteriacutesticas de aprendi-zado e suas limitaccedilotildees (C1 P4 P5 A2 A5 A8) iii) a aquisiccedilatildeo de equipamentos e recursos para auxiliar professores e alunos no processo de ensino-aprendizagem e a adequaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico apareceu nas sugestotildees dos professores de um coorde-nador e um aluno (C1 P6 P8 P10 P13 P14 P18 P19 A3) A capacitaccedilatildeo docente a realizaccedilatildeo de seminaacuterios de discussotildees sobre temas pedagoacutegicos e o atendimento ao aluno com de-ficiecircncia apareceu como sugestatildeo dada por coordenadores e professores (C2 C6 C5 C7 P1 P2 P3 P6 P15 P19) As mu-danccedilas nas atitudes e metodologias dos professores e adequa-ccedilatildeo de avaliaccedilotildees agraves especificidades das necessidades de cada aluno apareceram no discurso de professores e alunos (P8 P9 P11 P12 A1 A2 A3 A4 A9) A valorizaccedilatildeo da unidade da coordenaccedilatildeo foi sugerida apenas por um coordenador (C7)

Conclusatildeo

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem eacute um elemento pedagoacutegico que pode auxiliar ou dificultar a inclusatildeo do aluno na instituiccedilatildeo de ensino Para que esta seja inclusiva faz-se necessaacuterio consi-

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derar uma seacuterie de fatores como o conhecimento das necessi-dades educacionais apresentadas pela pessoa com deficiecircncia a adequaccedilatildeo dos instrumentos avaliativos conforme as especi-ficidades do perfil do aluno o uso de uma avaliaccedilatildeo formativa e diagnoacutestica que possibilitem o avanccedilo do conhecimento dis-cente A avaliaccedilatildeo deve ser ainda prospectiva natildeo devendo portanto se limitar agrave verificaccedilatildeo das capacidades adquiridas (BEYER 2005 BRASIL 2005 LUCKESI 2001 2005)

A pesquisa revelou que as condiccedilotildees de acessibilida-de no que diz respeito agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem ainda se encontram insuficientes Embora a maioria dos professores apresente concepccedilotildees sobre a avaliaccedilatildeo desse alunado que es-tejam de acordo com o que propotildee a literatura especializada as praacuteticas ainda natildeo atendem de modo satisfatoacuterio as de-mandas apresentadas pelo aluno que apresente algum tipo de deficiecircncia As dificuldades se referem a uma formaccedilatildeo docen-te inadequada agrave falta de adequaccedilatildeo fiacutesica e agrave ausecircncia de uma maior discussatildeo sobre o tema da Educaccedilatildeo Inclusiva que atin-ja a todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem As sugestotildees apontam para a importacircncia de investimento em recursos materiais e humanos

Diante do exposto a inclusatildeo educacional do aluno com deficiecircncia se torna um desafio visto que as praacuteticas ava-liativas atuais ainda acabam por excluir aqueles alunos que possuem maneiras diferenciadas de aprender e de vivenciar o mundo A realidade observada ainda natildeo reflete a existecircncia de uma verdadeira inclusatildeo do aluno com deficiecircncia na IES investigada Ainda estamos vivenciando praacuteticas que apenas integram o aluno na universidade sem contudo oferecer condiccedilotildees para o seu desenvolvimento pleno A verdadeira inclusatildeo aparece ainda como um grande desafio mas espera-mos que muito em breve ela seja alcanccedilada de modo a pos-

sibilitar a efetivaccedilatildeo do que estaacute previsto por lei e eacute buscado por tantos brasileiros vivenciar de forma plena a cidadania atraveacutes dos direitos jaacute legalmente conquistados

Referecircncias Bibliograacuteficas

BEYER H O Inclusatildeo e avaliaccedilatildeo na escola de alunos com necessidades educacionais especiais Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2005BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988 com as alteraccedilotildees adotadas pelas Emendas Constitucionais n 192 a 532006 e pelas Emendas Constitucionais de Revisatildeo n 1 a 694 Brasiacutelia Senado Federal Subsecretaria de Edi-ccedilotildees Teacutecnicas 2007a______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o Atendimento Educacional Especializado deficiecircncia vi-sual Brasiacutelia-DF MECSEEDSEESP 2007b______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o atendimento educacional especializado deficiecircncia vi-sual Brasiacutelia-DF MECSEESP 2007c______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o Atendimento Educacional Especializado deficiecircncia fiacutesica Brasiacutelia-DF MECSEEDSEESP 2007d______ Avaliaccedilatildeo para identificaccedilatildeo das necessidades edu-cacionais especiais saberes e praacuteticas da inclusatildeo Brasiacutelia-DF MECSEESP 2005 ______ Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional nordm 9394 de 20 de outubro de 1996 Brasiacutelia-DF MECSEESP 2001DEMO P Universidade aprendizagem e avaliaccedilatildeo hori-zontes reconstrutivos Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2008

d 169MARTA CAVALCANTE BENEVIDES bull TANIA VICENTE VIANA168 d

FERNANDES T L G Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo documental das diretrizes oficiais 2010 152 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2010FERNANDES T L G VIANA T V Alunos com necessidades educacionais especiais (NEEs) avaliar para o desenvolvimen-to pleno de suas capacidades Estudos em Avaliaccedilatildeo Educa-cional Satildeo Paulo v 20 n 43 p 201-213 maioago 2009HADJI C Avaliaccedilatildeo desmistificada Porto Alegre Artmed 2001 HOFFMANN J Pontos e contrapontos do pensar ao agir em avaliaccedilatildeo Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2005 LUCKESI C C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem na escola reelabo-rando conceitos e recriando a praacutetica Salvador Malabares 2005______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem escolar Satildeo Paulo Cortez 2001PASCUAL J G Educaccedilatildeo Superior reflexotildees acerca da ava-liaccedilatildeo In PASCUAL J G DIAS A M I (Org) Fragmen-tos Filosofia Sociologia Psicologia o que isso interessa agrave educaccedilatildeo Fortaleza Brasil Tropical 2006 p 175-192PERRENOUD P Avaliaccedilatildeo da excelecircncia agrave regulaccedilatildeo das aprendizagens ndash entre duas loacutegicas Porto Alegre Artmed 1999ROSENTHAL R JACOBSON L Pygmalion in the class-room teacher expectation and pupilrsquos intellectual develop-ment New York Holt Rhinehat amp Winston 1968SASSAKI R K Inclusatildeo o paradigma do seacuteculo 21 Inclu-satildeo Revista da Educaccedilatildeo Especial Brasiacutelia ano I n1 p 19-23 out 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscribdcomdoc35852350Sassaki-R-K-Inclusao-o-paradigma-do--sec-21gt Acesso em 12 fev 2011VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente o desenvolvi-mento dos processos psicoloacutegicos superiores Satildeo Paulo Mar-tins Fontes 1994

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO

DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacute

Francisca Samara Teixeira CarvalhoTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

As praacuteticas avaliativas traduzem o ecircxito ou o fracas-so do aluno em sua aprendizagem atribuindo valores que marcaratildeo significativamente toda a sua trajetoacuteria escolar e mesmo a sua vida pessoal Quando realizadas de forma con-vencional segundo a definiccedilatildeo do exame impedem a mudan-ccedila de uma tradicional e persistente praacutetica pedagoacutegica fun-damentada na memorizaccedilatildeo e na reproduccedilatildeo de conteuacutedo como tambeacutem na relaccedilatildeo distanciada entre professor e aluno regulada por uma autoridade imposta pelo medo O exame se diferencia sobretudo por sua natureza classificatoacuteria e so-mativa direcionada para os resultados finais em detrimento de uma visatildeo processual da aprendizagem (LUCKESI 2001 2005 2011 PERRENOUD 1999)

Com isso a avaliaccedilatildeo formativa se revelou um modelo mais adequado para avaliar os alunos na atualidade por natildeo ser de caraacuteter classificatoacuterio nem pontual Dessa maneira natildeo eacute excludente demonstrando sua importacircncia no processo avaliativo com elementos capazes de responder e respeitar as necessidades limitaccedilotildees e possibilidades de cada aluno acer-ca da sua aprendizagem Tem-se percebido a importacircncia dos modelos que propotildeem uma avaliaccedilatildeo formativa de aspecto contiacutenuo considerando a construccedilatildeo individual e coletiva do

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FORTALEZA-CEARAacuteFRANCISCA SAMARA TEIXEIRA CARVALHO bull TANIA VICENTE VIANA170 d d 171

educando oferecendo-lhe apoio pedagoacutegico adequado agraves suas particularidades especialmente em termos de aprendizagem desafiando-o a ir adiante a avanccedilar em suas possibilidades nas atividades escolares auxiliando assim em sua formaccedilatildeo como sujeito

Diante dessa realidade tambeacutem vivenciada por alunos com deficiecircncia nos meios educacionais o exame demonstra um caraacuteter comparativo excludente e discriminatoacuterio em que a praacutetica avaliativa tradicional se limita agrave classificaccedilatildeo e agrave iden-tificaccedilatildeo das dificuldades e fragilidades desses alunos Por cau-sa disso esses aprendizes enfrentam mais uma dificuldade em suas vidas a de encontrar um ambiente educacional propiacutecio ao desenvolvimento de suas capacidades visto que apresen-tam modos singulares de aprender de acordo com as especifi-cidades de seu perfil (BEYER 2010 VYGOTSKY 2000)

A realidade avaliativa encontrada no Ensino Superior acaba por prejudicar de uma forma geral o desenvolvimen-to dos alunos principalmente aqueles com algum tipo de de-ficiecircncia visto que objetiva de modo geral uma verificaccedilatildeo estaacutetica do seu ldquosucessordquo ou ldquofracassordquo escolar com base no desempenho acadecircmico expresso pelo valor numeacuterico de uma nota Nesse contexto o aluno com deficiecircncia eacute frequente-mente excluiacutedo das atividades cotidianas estigmatizado e impedido da convivecircncia social agrave qual possui direito A uni-versidade tem que estar atenta ao conhecimento e agrave aprendi-zagem dos alunos com deficiecircncia no intuito de favorecer no-vas perspectivas para a melhor formaccedilatildeo desse alunado Aleacutem disso eacute necessaacuterio contribuir para a sua devida inclusatildeo no Ensino Superior pois a universidade deve formar natildeo soacute para o mercado de trabalho mas sobretudo para uma consciecircncia criacutetica e o exerciacutecio da cidadania (DEMO 2005)

A Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem como Mediadora da Inclusatildeo no Ensino Superior

A Pedagogia do Exame se fundamenta na Pedagogia Tradicional A praacutetica do exame ainda se encontra presente nos nossos meios educacionais priorizando notas em detri-mento da real aprendizagem do aluno Prejudica portan-to o desenvolvimento dos alunos de forma geral e provoca consequecircncias mais graves nos estudantes que apresentam algum tipo de deficiecircncia Essa realidade natildeo permite ao aluno com deficiecircncia encontrar no ambiente de ensino um local para o desenvolvimento das suas potencialidades Apesar de solicitarem intervenccedilotildees pedagoacutegicas diferencia-das capazes de atender suas necessidades e de promover o desenvolvimento das suas capacidades o aluno com defi-ciecircncia se depara com uma realidade de ensino e avaliaccedilatildeo que se limita agrave classificaccedilatildeo normativa1 e agrave identificaccedilatildeo das suas limitaccedilotildees e dificuldades (BENEVIDES 2011 BEYER 2010 LUCKESI 2011)

Beyer (2010) aponta a existecircncia de cinco paradigmas na Educaccedilatildeo Especial que refletem diretamente no mode-lo de avaliaccedilatildeo adotado Cumpre mencionar que a sucessatildeo desses paradigmas natildeo eacute linear pois mesmo o mais antigo baseado na concepccedilatildeo meacutedica da deficiecircncia ainda persiste em permanecer Na reflexatildeo do autor os paradigmas identi-ficados satildeo I) cliacutenico-meacutedico II) sistecircmico III) socioloacutegico IV) criacutetico-materialista e V) inclusivo Esses pontos de vista foram construiacutedos historicamente pela sociedade e a forma de avaliar as pessoas com deficiecircncia estaacute atrelada a eles

1 Uma avaliaccedilatildeo de referecircncia normativa compara os alunos em relaccedilatildeo a uma norma ou padratildeo hierarquizando-os e assim reproduz as desigualdades sociais (PERRENOUD 1999)

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE

FORTALEZA-CEARAacuteFRANCISCA SAMARA TEIXEIRA CARVALHO bull TANIA VICENTE VIANA172 d d 173

O paradigma cliacutenico-meacutedico enfoca a pessoa com defi-ciecircncia de maneira extremamente individualizada A praacutetica da avaliaccedilatildeo ocorre atraveacutes de aspectos cliacutenicos da deficiecircncia A partir da histoacuteria cliacutenica do sujeito eacute indicada uma escola espe-cial onde o indiviacuteduo obteraacute atendimento terapecircutico em vez de accedilatildeo pedagoacutegica especializada No paradigma sistecircmico a deficiecircncia eacute avaliada por meio de demandas impostas pelo sis-tema escolar no que diz respeito ao curriacuteculo o paracircmetro nor-mativo que eacute estabelecido identifica os que natildeo se adaptam Os procedimentos avaliativos satildeo seletivos e encaminham o aluno avaliado para a escola regular ou para a especial

No paradigma socioloacutegico a deficiecircncia eacute definida atraveacutes da atribuiccedilatildeo social em que as reaccedilotildees do grupo po-dem prejudicar (pela incompreensatildeo ou preconceito) ou faci-litar (pela compreensatildeo ou empatia) o desenvolvimento glo-bal do indiviacuteduo O paradigma criacutetico-materialista entende a deficiecircncia como uma limitaccedilatildeo ou ateacute uma incapacidade para a vida produtiva por se fundamentar numa sociedade de classes a avaliaccedilatildeo torna-se um modo efetivo de excluir a pessoa com deficiecircncia natildeo apenas do meio educacional mas sobretudo do mercado de trabalho (BEYER 2010)

O paradigma inclusivo eacute muito discutido atualmente pois visa amenizar e mesmo superar a segregaccedilatildeo e o precon-ceito estabelecidos historicamente possibilitando uma maior interaccedilatildeo social entre as pessoas com deficiecircncia A avaliaccedilatildeo da aprendizagem pode contribuir no sentido de incentivar essa interaccedilatildeo progredindo da visatildeo cliacutenico-meacutedica para a concepccedilatildeo inclusiva considerando natildeo somente os limites demarcados pela deficiecircncia mas principalmente as poten-cialidades do indiviacuteduo

As avaliaccedilotildees da aprendizagem devem sempre conside-rar a situaccedilatildeo vivenciada pelo aluno com deficiecircncia para que

o professor possa propor atividades avaliativas adequadas e contextualizadas Cabe ao docente o papel de considerar a avaliaccedilatildeo tendo como base o curriacuteculo regular respeitando o caraacuteter processual da aprendizagem de modo a permitir alteraccedilotildees nas tomadas de decisatildeo As comparaccedilotildees entre os alunos devem ser evitadas mesmo que possuam deficiecircncia similar pois cada pessoa eacute uacutenica O estudante deve ser com-parado consigo mesmo com a evoluccedilatildeo de suas produccedilotildees e atitudes ao longo do seu desenvolvimento (BEYER 2010 FERNANDES 2010)

No que diz respeito agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alu-nos com deficiecircncia recomenda-se oficialmente I) mediaccedilotildees complementares oferecidas em salas de recursos ou similares para alunos com deficiecircncia em turmas comuns II) a presenccedila em sala de aula de inteacuterpretes da Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) para surdos III) o uso de proacuteteses auditivas sempre que necessaacuterias ou de lupas para alunos com visatildeo subnormal IV) o ensino da Libras para alunos surdos e para surdos-cegos das liacutenguas de sinais digitais tadoma2 e outras teacutecnicas V) o uso de computadores se houver e a acessibilidade a estes para todos os alunos VI) a participaccedilatildeo (frequecircncia e condiccedilotildees de apoio) de profissionais da Educaccedilatildeo Especial como especia-listas em meacutetodos e recursos especiacuteficos para ajudar a alunos professores e familiares VII) diversidade de materiais VIII) utilizaccedilatildeo pelo professor de variados recursos pedagoacutegicos IX) planos elaborados flexiacuteveis para atender agrave diversidade do alunado X) respeito aos ritmos diferenciados de aprendi-

2 ldquoOs surdos-cegos possuem diversas formas para se comunicar com as outras pessoas A LIBRAS Liacutengua Brasileira de Sinais desenvolvida para a educaccedilatildeo dos portadores de deficiecircncia auditiva pode ser adaptada aos surdos-cegos utilizando-se o tato Colocando a matildeo sobre a boca e o pescoccedilo de um inteacuterprete o portador de surdo-cegueira pode sentir a vibraccedilatildeo de sua voz e entender o que estaacute sendo dito esse meacutetodo de comunicaccedilatildeo eacute chamado de tadomardquo (USP 2012)

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zagem dos alunos XI) ajuda individualizada a determinados aprendizes conforme suas necessidades pedagoacutegicas XII) utilizaccedilatildeo de linguagens e coacutedigos aplicaacuteveis para estudantes que apresentem dificuldades de comunicaccedilatildeo e sinalizaccedilatildeo di-ferenciadas dos demais alunos XIII) avaliaccedilatildeo por meio de vaacute-rias tarefas em diferentes contextos XIV) avaliaccedilatildeo da praacutetica docente pelos educandos XV) a participaccedilatildeo dos alunos em processos autoavaliativos (BRASIL 2006)

A universidade precisa acolher e cumprir o objetivo de educar os alunos com deficiecircncia adaptando-se agraves suas pe-culiaridades no campo da aprendizagem Deve-se lutar por-tanto para a conquista de uma nova cultura avaliativa mais democraacutetica para com a diversidade cultural e com as neces-sidades individuais presentes nas instituiccedilotildees de ensino apta a estimular as possibilidades do aluno em seu processo de apropriaccedilatildeo dos conhecimentos A avaliaccedilatildeo realizada nesses moldes torna-se inclusiva (FERNANDES VIANA 2009)

Metodologia O objetivo geral deste estudo consistiu em investigar a

praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem realizada junto aos alu-nos com deficiecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do Centro de Tecnologia de uma Instituiccedilatildeo Federal de Ensino Superior (IFES) da rede puacuteblica federal de ensino na cidade de Fortaleza-Cearaacute Especificamente ob-jetivou I) conhecer as dificuldades vivenciadas por alunos professores e coordenadores da IFES na avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem de alunos com deficiecircncia II) identificar as condiccedilotildees de acessibilidade referentes agraves praacuteticas avaliativas III) reunir contribuiccedilotildees de alunos professores e coordenadores da IFES para uma praacutetica inclusiva de avaliaccedilatildeo de aprendizagem

Para esse propoacutesito foi efetuada uma investigaccedilatildeo de natureza qualitativa na forma de um estudo de caso Os ins-trumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevis-ta semiestruturada e o questionaacuterio misto Foi realizada uma anaacutelise de conteuacutedo dos dados coletados As amostras foram constituiacutedas por sete alunos com deficiecircncia sete professores indicados pelos proacuteprios alunos e quatro coordenadores per-fazendo um total de 18 sujeitos investigados

Na Tabela 1 eacute caracterizada a amostra dos alunos inves-tigados Foram encontrados trecircs tipos de deficiecircncia auditi-va visual e motora

TABELA 1 ndash Distribuiccedilatildeo dos Tipos de Deficiecircncias dos Alunos

Frequecircncia Percentual PercentualAcumulado

Vaacutelido Auditiva 1 143 143

Visual 2 286 857

Motora 4 571 1000

Total 7 1000Fonte Pesquisa aplicada

Os cursos atendidos na pesquisa foram graduaccedilatildeo em Computaccedilatildeo Engenharia Mecacircnica Teleinformaacutetica e curso de mestrado em Quiacutemica A escolha dos alunos de Ciecircncias Exatas tornou viaacutevel a pesquisa visto que a IFES apresentava registros que possibilitaram a sua identificaccedilatildeo e o respectivo contato

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Anaacutelise dos Dados

Perfil de formaccedilatildeo dos entrevistados docentes e coordenadores

Sobre o niacutevel de instruccedilatildeo dos sete docentes consulta-dos seis apresentam doutorado e um possui poacutes-doutorado Todos os professores e coordenadores investigados apresen-tam portanto niacutevel de qualificaccedilatildeo profissional bastante ele-vado A realidade encontrada na instituiccedilatildeo pesquisada estaacute em consonacircncia com o que afirma Hoffmann (2005) sobre a realidade das IFES brasileiras em que se observa a existecircn-cia de educadores com bastante competecircncia em sua aacuterea de ensino A autora assinala contudo que esse elevado niacutevel de formaccedilatildeo natildeo eacute necessariamente acompanhado de uma base pedagoacutegica apropriada que favoreceria uma melhor atuaccedilatildeo docente no processo de ensino-aprendizagem especialmente no que se refere agrave avaliaccedilatildeo

Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia

De acordo com os dados obtidos no questionaacuterio para a maioria dos professores a avaliaccedilatildeo da aprendizagem do alu-no com deficiecircncia deve apresentar as seguintes caracteriacutesti-cas I) ser igual para todos alunos com e sem deficiecircncia II) abordar o mesmo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade III) apresentar adaptaccedilotildees conforme a deficiecircn-cia IV) natildeo dispor de um tempo maior para o aluno com defi-ciecircncia e V) acontecer em sala de aula

Sobre a avaliaccedilatildeo da aprendizagem da pessoa com defici-ecircncia observou-se que a maioria dos professores (seis) advoga uma avaliaccedilatildeo igual para todos os alunos com ou sem defici-ecircncia A mesma quantidade de docentes se apresenta favoraacutevel

em relaccedilatildeo agrave abordagem do mesmo conteuacutedo com o mesmo niacute-vel de dificuldade para todos os alunos No que concerne agrave ava-liaccedilatildeo com adaptaccedilotildees conforme a deficiecircncia cinco professo-res se mostraram favoraacuteveis Em relaccedilatildeo agrave necessidade de um maior tempo para a realizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo a maioria (cinco) mostrou-se desfavoraacutevel Por fim a maior parte acredita que o aluno com deficiecircncia deve ser avaliado em sala de aula (seis)

A maior parte dos professores pelos dados expostos entende a avaliaccedilatildeo do aluno com deficiecircncia em consonacircncia com o que eacute proposto pela literatura especializada em que de-vem ser realizadas adequaccedilotildees nos instrumentos avaliativos conforme a deficiecircncia apresentada pelo aluno com o mes-mo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade em sala de aula junto aos demais alunos Todavia no que se refere agrave concessatildeo de um maior periacuteodo de tempo para a re-alizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo a maioria dos professores acha natildeo ser necessaacuteria provavelmente por falta de conhecimento sobre como lidar com o aluno com deficiecircncia em suas praacuteticas de ensino e avaliaccedilatildeo O direito a mais tempo para a avaliaccedilatildeo da aprendizagem eacute assegurado por lei (BEYER 2010 BRASIL 2006 FERNANDES 2010 FERNANDES VIANA 2009)

Sobre as demandas apresentadas pelo aluno com de-ficiecircncia em cursos de Ciecircncias Exatas os coordenadores declararam

Ateacute agora natildeo pelo menos ateacute o tempo que estou aqui natildeo posso dizer se antes isso acontecia Teve um caso de uns pais que vieram reclamar da parte da acessi-bilidade aqui no departamento (C1)Isso aiacute a maioria das vezes o aluno resolve com o pro-fessor A nossa demanda e o nosso alunado que entra com algum tipo de deficiecircncia eacute pouco e agraves vezes natildeo temos conhecimento (C2)

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Bom noacutes aqui temos poucos nesse periacuteodo que estou aqui nunca recebi nenhuma solicitaccedilatildeo especial Tive um aluno no comeccedilo do curso que tem deficiecircncia fiacutesica dificuldade de locomoccedilatildeo ele se vira ele anda normal-mente tem muletas e tudo Mas ele nunca chegou pra noacutes para questionar fazer algum tipo de solicitaccedilatildeo pra isso natildeo Natildeo sei se ele tem algum tipo de retraccedilatildeo pra fazer isso Tambeacutem aqui estaacute tudo em obra Mas ateacute hoje natildeo teve nenhum solicitaccedilatildeo em especial natildeo (C3)Natildeo Ateacute agora que eu saiba nenhum veio natildeo (C4)

Constata-se por conseguinte um desconhecimento por parte dos coordenadores das necessidades educacionais desse alunado Percebe-se igualmente a concepccedilatildeo de que esse aluno eacute de responsabilidade do professor e natildeo do co-ordenador A porcentagem reduzida quando comparada ao restante da populaccedilatildeo do curso aparece como justificativa para a falta de mais accedilotildees da coordenaccedilatildeo As relaccedilotildees entre coordenador e aluno constituem um fator importante para a motivaccedilatildeo discente bem como para a busca de novos elemen-tos para a inclusatildeo dos alunos com deficiecircncia Aleacutem disso na ausecircncia de um bom relacionamento a sua inclusatildeo educacio-nal eacute prejudicada (BENEVIDES 2011)

No que diz respeito a uma avaliaccedilatildeo diferenciada os es-tudantes esclarecem

Natildeo Eles natildeo percebem isso os professores natildeo dife-renciam natildeo se importam Mas acho que teve uma vez uma de laboratoacuterio que a gente tem umas disci-plinas praacuteticas era uma prova que teria um tempo por conta da substacircncia que demorava e eu precisava de um tempo a mais Geralmente em laboratoacuterio eu demoro mais aiacute ela considerou permitiu que eu pas-sasse um tempo a mais Mas foi soacute essa vez mesmo (A1)Eacute exatamente como eu citei natildeo Eu acho que no geral satildeo as mesmas condiccedilotildees de tempo as mesmas con-

diccedilotildees de textos Enfim as mesmas condiccedilotildees que satildeo impostas pras pessoas consideradas lsquonormaisrsquo eram impostas pra mim tambeacutem as mesmas condiccedilotildees (A2)Natildeo Normal mesmo Mesmo horaacuterio mesmo tempo mudou nada natildeo (A3)

Natildeo De jeito nenhum nunca Natildeo perguntam nada os professores nem percebem (A4)

Natildeo Nunca ouvi falar nisso aqui na universidade Nem tempo e nem espaccedilo tudo igual para um aluno lsquonormalrsquo (A5)

A prova eacute a mesma Com relaccedilatildeo agrave acessibilidade eacute que eacute difiacutecil mesmo porque tem professor que natildeo atende ao pedido muda de sala pra uma mais confortaacutevel pros outros alunos E como eu natildeo posso subir entatildeo tenho que ficar soacute em uma sala aqui em baixo sem poder ter nenhum duacutevida (A6)

Alguns professores chegaram a imprimir provas com letras maiores pra mim a maioria natildeo quer ter esse trabalho Quando natildeo fazem eu me esforccedilo pra fazer a prova forccedilo mais a vista eacute cansativo mas eu jaacute acostumei sei fazer assim mesmo Mas se fosse maior seria melhor menos cansativo Agora com relaccedilatildeo a tempo natildeo eles natildeo datildeo (A7)

Os discursos dos estudantes revelam que qualquer di-ferenciaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo de modo a atender agraves necessidades educacionais do aluno com deficiecircncia depende sobretudo da boa vontade do professor Os educadores ignoram por-tanto a legislaccedilatildeo nacional para esse alunado que assegu-ra a adaptaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo bem como a concessatildeo de um maior periacuteodo de tempo para sua realizaccedilatildeo (BRASIL 2006 FERNANDES 2010)

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Dificuldades vivenciadas nas praacuteticas avaliativas para o aluno com deficiecircncia

Sobre a dificuldade que o professor encontra para ava-

liar o aluno com deficiecircncia no Ensino Superior a maioria (cinco) declarou natildeo encontrar dificuldades justificando que esse estudante eacute tratado como os demais alunos da turma Apenas dois professores consultados identificaram a necessi-dade de modificar a didaacutetica das aulas ou a forma de avaliaccedilatildeo em virtude da deficiecircncia apresentada pelo aluno

Os coordenadores dos cursos tambeacutem se posicionaram acerca das dificuldades encontradas em relaccedilatildeo ao aluno com deficiecircncia no Ensino Superior

[] fica estranho vocecirc conversar com o aluno sendo que vocecirc natildeo tem soluccedilatildeo para o problema dele O que a gente busca eacute uma compreensatildeo mas isso natildeo eacute soluccedilatildeo Os alunos quando tecircm deficiecircncia o profes-sor desce e vai falar com eles no teacuterreo Mas isso natildeo eacute soluccedilatildeo eacute um paliativo e corre o risco de criar um comodismo de achar que estaacute resolvendo o problema e natildeo precisa (C1)

Bom a gente tem que ver Vai depender da deficiecircncia do aluno Se for deficiecircncia visual eacute ateacute complicado o curso pra quem tem esse problema Tem curso que o aluno com deficiecircncia visual consegue ter um desem-penho mas na Quiacutemica que tem muita coisa praacutetica de laboratoacuterio isso aiacute eacute uma coisa criacutetica que a coor-denaccedilatildeo pode orientar o aluno na sua escolha do curso vendo suas habilidades o que se sabe fazer (C2)

[] Natildeo estamos encontrando dificuldades porque natildeo estamos nos colocando a esse problema particularmen-te entendeu Natildeo estamos procurando dificuldades porque ainda natildeo estamos buscando o problema Talvez por ter uma necessidade pequena enfim (C3)

Natildeo Natildeo tem dificuldade natildeo tem necessidade natildeo houve necessidade (C4)

A indiferenccedila da coordenaccedilatildeo a escassez de acessibi-lidade fiacutesica e principalmente a falta de uma formaccedilatildeo ade-quada para lidar com alunos com deficiecircncia apresentou-se como elemento comum de atitudes apresentadas pelos coor-denadores Na situaccedilatildeo encontrada na instituiccedilatildeo investigada percebemos a predominacircncia do paradigma socioloacutegico da deficiecircncia em que as reaccedilotildees do grupo podem facilitar pela empatia ou prejudicar pelo preconceito ou incompreensatildeo o desenvolvimento global do indiviacuteduo E a atitude empaacutetica e compreensiva constitui uma exceccedilatildeo restrita a uma mino-ria de professores que trabalha diretamente com esses alunos (BEYER 2005)

Os alunos por sua vez relatam as suas proacuteprias dificul-dades no processo avaliativo

As dificuldades das mateacuterias do retorno das avalia-ccedilotildees que precisava melhorar com certa urgecircncia do preconceito dos professores e falta de atenccedilatildeo dos coordenadores tambeacutem com relaccedilatildeo aos acessos para as salas de aulas laboratoacuterios (A1)

Eacute uma coisa que eu volto a bater na mesma tecla dizer a mesma coisa Eacute que alguns passos das questotildees quan-do eu simplesmente natildeo sabia fazer porque natildeo tinha conseguido acompanhar em sala natildeo tinha conseguido enxergar na hora que o professor explicou Haacute uma espeacutecie de esquecimento uma amneacutesia nos professores que eles quando eu peccedilo comeccedilam a escrever bem mas logo depois voltam a escrever pequeno novamente E eu de tanto falar e muitas vezes com o mesmo profes-sor eu me sinto sinceramente me sinto constrangido e agraves vezes eu natildeo falo mais Eu me sinto constrangido e agraves vezes meus pais falam pra mim que eu natildeo posso fazer isso Mas eu ouvi desaforos algumas coisas ruins

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palavras ruins e isso faz com que eu me sinta constran-gido em pedir de novo Alguns tecircm atenccedilatildeo fazem o possiacutevel mas justificam por causa da infraestrutura da sala Conteuacutedo extenso quando eu ia copiar jaacute ti-nha sido apagado infelizmente A coordenaccedilatildeo ajuda pouco ateacute a sala da coordenaccedilatildeo eacute no andar superior os professores natildeo escutam e natildeo tem acessibilidade nenhuma aqui nada Estamos esquecidos (A2)

O que complica eacute a falta de retorno correccedilotildees notas baixas excesso de conteuacutedo o acesso aqui eacute horriacutevel e se chegar atrasado por isso pelo acesso lsquojaacute erarsquo Eles aqui natildeo entendem de dificuldades Eu jaacute estou acostumando (A3)

Tempo geralmente o tempo mesmo que coloque uma questatildeo mas agraves vezes essa questatildeo pode levar seis horas pra fazer Eles podem estabelecer um prazo de 1620h as 1820h pronto nem mais nem menos Os professores natildeo se interessam pras dificuldades nem conhecem a gente Isso dificulta (A4)

Esse caso de fazer prova em local diferente de ter que subir escadas e eu natildeo podendo natildeo tenho como subir natildeo existem rampas pro andar de cima O professor querer mudar de sala pra fazer a prova e eu ficar longe da turma Tudo isso pra ser mais confortaacutevel pra eles uma sala melhor e eu aqui embaixo sozinho sem ter com quem tirar duacutevidas e muitas vezes ficar com o celular pra falar com algum colega pra ele passar ao professor pra eu tirar duacutevidas e natildeo me prejudicar Acontece de eu cair e precisar de ajuda dos colegas tambeacutem pra sentar e levantar A estrutura aqui eacute ruim mesmo (A6)

O depoimento dos alunos remete sobretudo a uma criacute-tica do exame Haacute referecircncias a uma relaccedilatildeo de poder em que os meacutetodos de ensino e de avaliaccedilatildeo natildeo podem ser mudados com a falta de adaptaccedilotildees dos instrumentos de avaliaccedilatildeo para as necessidades educacionais especiacuteficas de cada deficiecircncia direito garantido por lei (BENEVIDES 2011 BEYER 2010

FERNANDES 2010 FERNANDES VIANA 2009 LUCKESI 2001 2005 2011)

Os dados oferecidos pelos alunos consultados revelam a inexistecircncia de discussotildees dos aspectos positivos e negati-vos na devoluccedilatildeo dos instrumentos pois os professores de modo geral natildeo devolvem a avaliaccedilatildeo tampouco a comen-tam configurando uma praacutetica avaliativa em que se enfatiza a obtenccedilatildeo de notas natildeo dando oportunidade agrave construccedilatildeo de novos conhecimentos O momento de devoluccedilatildeo dos instru-mentos constitui um momento de aprendizado para o aluno permitindo ao professor observar e investigar como o alu-no se posiciona diante do processo de ensino-aprendizagem (HOFFMANN 2005 LUCKESI 2001 2005 2011)

Essa perspectiva se distancia da avaliaccedilatildeo em sua con-cepccedilatildeo formativa visto que o instrumento avaliativo natildeo eacute usado pelos professores como recurso de informaccedilatildeo nem pode servir como um recurso para reformulaccedilotildees dos meacuteto-dos de ensino e avaliaccedilatildeo Cumpre mencionar igualmente que no Ensino Superior a avaliaccedilatildeo deve ter o compromisso com a reconstruccedilatildeo do conhecimento e a formaccedilatildeo para cida-dania (DEMO 2004 HADJI 2001 LUCKESI 2005 2011)

Contribuiccedilotildees para uma praacutetica avaliativa inclusiva

Sobre as sugestotildees para melhoria da praacutetica avaliativa cinco professores identificaram a necessidade de uma forma-ccedilatildeo sobre a temaacutetica e dois sugeriram a realizaccedilatildeo de seminaacute-rios isolados ou no curso que a instituiccedilatildeo de Ensino Superior pesquisada oferece por ocasiatildeo do ingresso do professor na instituiccedilatildeo

Os docentes indicaram a importacircncia de uma forma-ccedilatildeo baacutesica eou continuada dos profissionais envolvidos para

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a concretizaccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo adequada a esse alunado Identificar os alunos suas necessidades e suas singularidades satildeo tambeacutem aspectos importantes assim como a promoccedilatildeo de espaccedilos para o debate sobre avaliaccedilatildeo e inclusatildeo revelando que a falta de preparo se mostra o principal obstaacuteculo para a concretizaccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo inclusiva (BENEVIDES 2011)

Os coordenadores tambeacutem expressaram suas sugestotildees para esse alunado

Os preacutedios novos sem acesso com os mesmos proble-mas sem estrutura A universidade natildeo tem priorida-des soacute obstaacuteculos para trabalhar com as deficiecircncias O uacutenico auditoacuterio eacute no andar de cima E tem alunos de extensatildeo [que participam de projetos de extensatildeo da universidade] que tecircm deficiecircncia que natildeo conseguem subir pra ter orientaccedilatildeo com o professor e natildeo tecircm essa orientaccedilatildeo pois o professor natildeo desce e o aluno com problemas motores natildeo sobe Deve-se mudar isso (C1)

Deve melhorar a acessibilidade Natildeo sei nem como eacute que faz isso soacute estou pensando alto aqui Seria bom atualizar o sistema pra buscar na coordenaccedilatildeo alunos com deficiecircncia pois acabei de ver que eu natildeo tenho acesso nenhum Tambeacutem ajudar o aluno com defici-ecircncia a ser encaminhado para um curso especiacutefico jaacute que por exemplo como um aluno cego iraacute estudar Quiacutemica Laboratoacuterio Impossiacutevel (C2)

Eu natildeo sei a gente tem primeiro que conhecer a primeira sugestatildeo eacute essa Tem que pegar o pessoal do primeiro ano o pessoal que entra e fazer esse mapeamento um mapeamento retroativo pra pegar o pessoal que jaacute estaacute na universidade os alunos que jaacute fazem parte do corpo discente e mapear Se jaacute existe esse mapeamento eu natildeo conheccedilo talvez a univer-sidade deva conhecer e tem que repassar fazer com que a informaccedilatildeo chegue ateacute noacutes Porque se haacute essa informaccedilatildeo e a gente natildeo sabe que existe tem uma falta de comunicaccedilatildeo que deve ser superada Entatildeo

deve-se conhecer e se jaacute conhece fazer todo mundo conhecer e mapear a quem interessar as coordenaccedilotildees os departamentos Eu acho que esse eacute o ponto (C3)

Eu acho que deveria ter um levantamento jaacute na entrada do SISU [Sistema de Seleccedilatildeo Unificada] e ali ele ser cadastrado pra universidade e ele ter um encaminha-mento para um curso bem especiacutefico A partir disso o curso ser informado ser preparado pra isso ser dis-cutido o que seraacute necessaacuterio ser feito por aquele aluno e uma vez isso determinado a gente tentar resolver Eu penso que funcionaria legal assim (C4)

Os coordenadores relataram que deveria haver mais in-vestimentos estruturais com relaccedilatildeo agrave acessibilidade por par-te da instituiccedilatildeo com a adequaccedilatildeo dos espaccedilos fiacutesicos Assi-nalaram da mesma forma a necessidade de identificaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia visto que a ausecircncia de informaccedilotildees sobre onde estatildeo e o que curso fazem esses alunos na impossi-bilita o atendimento educacional adequado

Os alunos com deficiecircncia tambeacutem expuseram suas sugestotildees

Acho que as primeiras vezes que me senti discriminado foi aqui Que os professores natildeo faccedilam preacute-julgamen-tos como trabalhar em laboratoacuterios Muitos falaram que eu natildeo podia mas passei em seleccedilatildeo e natildeo fiquei por conta da minha deficiecircncia fiacutesica Isso me faz questionar sobre minhas capacidades e se realmente eu continuaria a fazer Quiacutemica se faria Quiacutemica Tem que acabar com os preconceitos com as pessoas diferentes como um professor meu que disse na aula dele na minha presenccedila que as pessoas poderiam olhar com quem iriam se relacionar se a pessoas tecircm algum aleijado hemofiacutelico ou homossexual na famiacutelia pra natildeo se relacionarem pra que natildeo nasccedila mais gente assim [] Tambeacutem com relaccedilatildeo agrave acessibilidade pois a aacuterea que escolhi no mestrado o laboratoacuterio natildeo tem

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acesso com relaccedilatildeo agrave estrutura Eu faccedilo o trabalho soacute de escrever em casa outros alunos que fizessem a parte experimental porque o laboratoacuterio daqui pra chegar laacute eacute um caminho de terra de pedra Ultimamente teve umas mudanccedilas mas estaacute no segundo andar que eacute mesmo que nada Aiacute acabo desenvolvendo um trabalho soacute escrevendo mesmo mas eacute difiacutecil porque eacute diferente vocecirc acompanhar um trabalho assim soacute de boca e vocecirc estar no laboratoacuterio realmente vendo o que estaacute acontecendo Sinto falta Ateacute penso que chato Seraacute que natildeo devia ter escolhido outra aacuterea Mas eu gosto bastante e queria estar em laboratoacuterio Enfim foram situaccedilotildees muito chatas que natildeo deveriam acontecer na universidade pois os professores e coordenadores estatildeo utilizando um espaccedilo que era pra educar e natildeo para deseducar Natildeo era pra ensinar preconceitos para as pessoas discriminaccedilatildeo e o que eu acho pior eacute usar o espaccedilo da sala de aula pra isso um cargo puacuteblico pra isso Eacute um absurdo (A1)

Primeiramente um dos principais passos deveria ser o professor ele conhecer a sua turma Natildeo saber de tudo antes mas que tivesse certo bom senso quando o aluno tem deficiecircncia Ele natildeo julgar essa deficiecircncia mesmo que seja baixa visatildeo ou pouca deficiecircncia mo-tora O professor natildeo deve arredondar pra menos o problema sem tomar cuidado Tomar cuidado em natildeo generalizar Mas eacute o que eu vejo na universidade eacute natildeo prestarem a atenccedilatildeo nas necessidades dos seus alunos [] No mais eacute isso atentar para as reais necessidades das pessoas (A2)

Tirar esses batentes das salas Os professores me deixam ficar em qualquer lugar da sala fico onde daacute muitas vezes perto da porta e acaba atrapalhando a entrada e agraves vezes natildeo escuto direito Pra mim (sic) entrar e sair da sala preciso que abram a porta Jaacute me falavam dessas dificuldades antes de eu entrar aqui mas com a ajuda dos amigos neacute Que me levam pros cantos Aiacute como tem batentes nas salas eles levantam

os amigos ajudam muito nisso no deslocamento Mas vivo de precisar da ajuda dos amigos pois estar aqui na universidade eacute muito difiacutecil A universidade deveria nos ajudar e natildeo excluir (A3)

A avaliaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave minha deficiecircncia seria falar alto e explicado pra eu escutar na explicaccedilatildeo ser mais devagar e clara Porque se o professor fala baixo eu fico com receio de perguntar de novo Per-guntar e o pessoal zoar Tem um professor ou soacute 1 que eacute preocupado com a aprendizagem do aluno o resto eacute indiferente Agraves vezes estamos presente em sala e levamos falta Acho que o professor dever escolher ser professor natildeo pra se vingar do que fizeram ou do que ele passou porque ele tem que escolher pra repassar o conhecimento O conhecimento natildeo deve ser restrito ele deve ser partilhado Partilhar e natildeo restringir e natildeo exigir o que ele restringiu (A4)

Fazer provas trabalhos junto com a turma sem que eu fique soacute Antes de o professor marcar locais de aulas de provas eles conversarem com a gente pra saber se estaacute tudo bem se a gente pode fazer ou entatildeo ele fornecer locais possiacuteveis pra gente ter acesso e natildeo soacute local que decirc pra toda a turma mas tambeacutem pra gente ir Outra questatildeo eacute de acessar os andares superiores um elevador seria essencial pra isso pois a cada ano estaacute se passando e as pessoas com deficiecircncia estatildeo ingressando na universidade com frequecircncia Entatildeo jaacute estaacute mais que na hora de se fazer isso Sou bolsista de extensatildeo mas tenho dificuldades de me encontrar com o orientador pois a sala do orientador fica no andar de cima no qual natildeo tenho acesso e o orientador natildeo desce e natildeo facilita o meu trabalho como bolsista Injusto neacute (A6)

Quanto agraves avaliaccedilotildees a questatildeo de aumentar a letra o tempo O resto eu estou acostumado Aqui falta tudo natildeo tem acesso a nada tudo eacute bem difiacutecil as pessoas natildeo querem conhecer problemas Eles deveriam ter

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE

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mais atenccedilatildeo e menos descaso com o aluno com rela-ccedilatildeo a acesso avaliaccedilotildees Conhecer que na sala nem todo mundo eacute igual e sermos respeitados por isso (A7)

Os alunos entrevistados sugeriram a necessidade de sua proacutepria identificaccedilatildeo e de seu acompanhamento na ins-tituiccedilatildeo ndash visto que a ausecircncia de informaccedilotildees sobre onde es-tatildeo e o que fazem dificulta a sua inclusatildeo educacional Que o professor possa com essas informaccedilotildees planejar-se sabendo das necessidades especiacuteficas do aluno ou pelo menos que procure conversar com os alunos As dificuldades de acessi-bilidade fiacutesica tambeacutem aparecem no discurso dos estudantes geralmente natildeo tecircm acesso a todas as dependecircncias dos preacute-dios da universidade A indiferenccedila e o preconceito de alguns professores causam grandes impactos na aprendizagem do aluno desmotivando-os levando-os a questionarem a esco-lha do curso e ameaccedilando a sua permanecircncia na universida-de Em relaccedilatildeo ao preconceito foi expresso que o professor na condiccedilatildeo de educador natildeo deveria possuir preconceito e sequer repassaacute-los em sala de aula mesmo que de forma natildeo intencional No paradigma socioloacutegico Beyer (2010) escla-rece o quanto o preconceito eacute prejudicial agrave inclusatildeo social e educacional dos alunos com deficiecircncia de maneira geral e na avaliaccedilatildeo de sua aprendizagem especificamente

Conclusatildeo

Uma avaliaccedilatildeo da aprendizagem inclusiva para o aluno com deficiecircncia tem se mostrado historicamente um desafio Mesmo nos dias atuais os atos avaliativos satildeo fortemente in-fluenciados pelas antigas praacuteticas examinativas que apresen-tam dificuldade expressiva em se desvencilharem de elemen-tos como a medida a comparaccedilatildeo e a verificaccedilatildeo estaacutetica do

desempenho dos aprendizes classificados em uma nota Essa forma de avaliar eacute prejudicial para todos os alunos mas em especial para o alunado com deficiecircncia excluiacutedo por causa da singularidade de suas necessidades educacionais (BEYER 2004 LIMA 2008 LUCKESI 2011 HOFFMANN 2005)

No discurso dos alunos as dificuldades identificadas no que se refere agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem refletiu a fal-ta de preparo dos docentes e coordenadores dos cursos para lidar com suas necessidades educacionais As dificuldades se aplicam a todos os estudantes que ainda satildeo avaliados nos moldes excludentes do exame mas o prejuiacutezo eacute ainda maior para o educando que apresenta algum tipo de deficiecircncia O resultado das avaliaccedilotildees natildeo eacute discutido com desperdiacutecio de um momento importante do processo de ensino-aprendi-zagem Aleacutem disso os alunos natildeo recebem os instrumentos ndash geralmente provas ndash o que fomenta a ideia de que natildeo haacute modificaccedilotildees ou inovaccedilotildees no instrumental de avaliaccedilatildeo com a possibilidade do mesmo instrumento ser utilizado repetida-mente nos semestres letivos seguintes

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem da forma que vem acon-tecendo na IFES pesquisada natildeo oferece as condiccedilotildees ne-cessaacuterias para o desenvolvimento do aluno com deficiecircncia As praacuteticas docentes encontradas na instituiccedilatildeo acabam por reproduzir a exclusatildeo presente na sociedade natildeo possibilitan-do a esse aluno uma participaccedilatildeo ativa e democraacutetica em sua vida acadecircmica Direitos garantidos por lei como adaptaccedilotildees na avaliaccedilatildeo e concessatildeo a um maior periacuteodo de tempo natildeo satildeo respeitados Diante de uma formaccedilatildeo docente precaacuteria para lidar com esses aprendizes uma melhor avaliaccedilatildeo se re-aliza atualmente sobretudo devido agrave boa vontade de alguns professores diante das peculiaridades de cada aluno (BEYER 2010 BRASIL 2006)

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE

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Referecircncias Bibliograacuteficas

DEMO P Universidade aprendizagem avaliaccedilatildeo horizon-tes reconstrutivos Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2005BENEVIDES M C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo de caso em uma instituiccedilatildeo de ensino superior da rede puacuteblica de Fortaleza-Cearaacute 2011 179f Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza-CE 2011BEYER H O Inclusatildeo e avaliaccedilatildeo na escola de alunos com necessidades especiais Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2010BRASIL Formaccedilatildeo continuada a distacircncia de professores para o atendimento educacional especializado deficiecircncia fiacutesica In SCHIRMER C R BROWNING N BERSCH R DE C R MACHADO R (Coords) Satildeo Paulo MECSEESP 2006FERNANDES T L G Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo documental das diretrizes oficiais 2010 152 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2010 FERNANDES T L G VIANA T V Alunos com Necessida-des Educacionais Especiais (NEEs) avaliar para o desenvol-vimento pleno de suas capacidades Estudos em Avaliaccedilatildeo Educacional Satildeo Paulo v 20 n 43 p 201-213 maioago 2009HADJI C Avaliaccedilatildeo desmistificada Porto Alegre Artmed 2001HOFFMANN J Pontos e contrapontos do pensar ao agir em avaliaccedilatildeo Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2005LUCKESI C C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem componente do ato pedagoacutegico Satildeo Paulo Cortez 2011______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem na escola reelaboran-do conceitos e recriando a praacutetica Salvador Malabares 2005

______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem escolar Satildeo Paulo Cortez 2001PERRENOUD P Avaliaccedilatildeo da excelecircncia agrave regulaccedilatildeo das aprendizagens ndash entre duas loacutegicas Porto Alegre Artmed 1999VIANNA H M Avaliaccedilatildeo educacional teoria planejamen-to modelos Satildeo Paulo IBRASA 2000VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

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CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ

Tereza Liduina Grigoacuterio FernandesLucimeire Alves Moura

Edson Silva SoaresTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

No decorrer da histoacuteria a educaccedilatildeo de crianccedilas com al-tas habilidades1 ou superdotaccedilatildeo sempre foi motivo de discus-satildeo em culturas de diferentes povos A literatura especializada faz breve referecircncia ao interesse por crianccedilas com capacida-des notaacuteveis em periacuteodos histoacutericos remotos aludindo inclu-sive agrave necessidade de segregaacute-las para conferir-lhes assistecircn-cia educacional apropriada Na concepccedilatildeo de Alencar (1986) Confuacutecio foi um dos primeiros filoacutesofos a interceder pela identificaccedilatildeo e atendimento dessas crianccedilas que costumavam ser encaminhadas agrave Corte para aprimorar suas capacidades literaacuterias No tratado A Repuacuteblica Platatildeo advogou o reconhe-cimento das crianccedilas de ouro que deveriam ser educadas nos campos da Filosofia e da Metafiacutesica bem como preparadas para postos de lideranccedila na sociedade o filoacutesofo se contrapocircs portanto agraves concepccedilotildees vigentes que pregavam uma lideran-ccedila de caraacuteter hereditaacuterio circunscrita agrave elite aristocraacutetica De

1 A expressatildeo altas habilidades surge como uma denominaccedilatildeo recente na literatura especializada a fim de reduzir preconceitos associados historicamente ao vocaacutebulo superdotado As ideias usuais decorrentes do termo superdotado favorecem muitos equiacutevocos como a noccedilatildeo de um ser humano perfeito com habilidades elevadas em todas as aacutereas do saber e do fazer e de que seria sobretudo predes-tinado ao sucesso acadecircmico e profissional em consequecircncia de sua inteligecircncia Assim sendo adotaremos a expressatildeo ldquoaltas habilidadesrdquo neste estudo que indica genericamente a presenccedila de uma ou mais habilidades elevadas ou acima da meacutedia populacional e descreve de modo fidedigno esse alunado (VIRGOLIM 2007)

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modo anaacutelogo no seacuteculo XVI Suleiman o Magniacutefico enviou emissaacuterios a todo o impeacuterio turco para identificar as crian-ccedilas mais inteligentes e as mais fortes presentes em quaisquer classes sociais a fim de instruiacute-las como artistas saacutebios ou chefes de guerra numa escola fundada para esse propoacutesito em Constantinopla (ALENCAR E S 1986 ANASTASI URBI-NA 2000 NOVAES 1979)

Embora jaacute se tenha avanccedilado consideravelmente no sentido de uma melhor compreensatildeo das caracteriacutesticas e ne-cessidades educacionais dessas pessoas observa-se na atua-lidade pouco investimento nesse potencial humano No Bra-sil sua identificaccedilatildeo ainda eacute escassa mesmo com a existecircncia de diretrizes oficiais do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) nesse sentido (BRASIL 2005 2007 2010)

As pessoas com altas habilidades tambeacutem compotildeem o alunado da Educaccedilatildeo Especial demonstrando capacidades elevadas em uma ou mais aacutereas do saber ou do fazer De acor-do com o pensamento de Mettrau (2000) representam um patrimocircnio social da humanidade que precisa ser reconheci-do e valorizado pela natureza das suas capacidades no acircmbito educacional e social Como agente responsaacutevel pelo desenvol-vimento desse potencial estaacute a escola aqui representada pela figura do professor que como facilitador desse processo deve acreditar na capacidade de todos os seus alunos e incentivaacute--los a desenvolver trabalhos significativos e relevantes tanto para a sua realizaccedilatildeo pessoal quanto para que ofereccedilam uma contribuiccedilatildeo social estimulando-os na produccedilatildeo do novo e do diferente

Assim o ambiente escolar deve se consolidar como um espaccedilo para a identificaccedilatildeo e progresso das diversas habilida-des humanas Cumpre considerar a multiplicidade de situa-ccedilotildees em que a inteligecircncia se manifesta segundo as necessi-

dades baacutesicas do estudante para seu aperfeiccediloamento como ser humano integral Nessa perspectiva podemos assinalar que tambeacutem a pessoa com deficiecircncia pode ser definida em funccedilatildeo de suas capacidades contribuindo de forma relevan-te para a evoluccedilatildeo do saber Beethoven por exemplo compocircs sua famosa Nona Sinfonia quando estava completamente sur-do (ALENCAR VIANA 2002 BRASIL 1999a 1999b)

Diante do exposto este trabalho objetiva de modo ge-ral identificar alunos surdos com altas habilidades no Ensino Fundamental atraveacutes de uma avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutes-tica realizada com o auxiacutelio do professor Constitui dessa maneira um meacutetodo de avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica de altas habilidades em pessoas com surdez Visto que o profes-sor eacute o profissional que participa mais sistematicamente do cotidiano dos seus alunos apresenta melhores condiccedilotildees de reconhecer suas caracteriacutesticas pessoais e seus desempenhos comparando-os com o esperado para a capacidade de reali-zaccedilatildeo de sua faixa etaacuteria Assim sendo pode colaborar ativa-mente na identificaccedilatildeo desse alunado (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Cumpre mencionar que a estrateacutegia de observaccedilatildeo dirigida para identificar altas habilidades com o auxiacutelio do professor apresenta eficaacutecia estimada em 91 e constitui um procedimento mais adequado ao estaacutegio inicial da identifica-ccedilatildeo com a seleccedilatildeo de um primeiro grupo de alunos em que se encontram os que demonstram altas habilidades Faz-se necessaacuteria uma avaliaccedilatildeo posterior agrave observaccedilatildeo do profes-sor para identificar de modo mais preciso os aprendizes com altas habilidades (GUENTHER 2000 VIANA 2005)

A importacircncia deste estudo se justifica como uma al-ternativa ao reconhecimento tradicional de altas habilidades cujos testes psicomeacutetricos com resultados em Quociente de

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Inteligecircncia (QI)2 aleacutem de onerosos satildeo de uso exclusivo do psicoacutelogo e apresentam conteuacutedo restrito abordando apenas as convencionais aacutereas acadecircmicas da loacutegico-matemaacutetica e linguagem verbal A investigaccedilatildeo eacute relevante da mesma for-ma pelo fato de ampliar o instrumental de avaliaccedilatildeo diagnoacutes-tica de altas habilidades para o alunado com algum tipo de deficiecircncia no caso a surdez A pessoa com deficiecircncia passa a ser vista assim sob a perspectiva de suas capacidades a partir de uma visatildeo multidimensional das potencialidades do indiviacuteduo ao inveacutes de ser definida apenas em funccedilatildeo do deacutefi-cit que porventura apresente como ocorre tradicionalmente

Para Aleacutem da Sala de Aula Altas Habilidades em Muacuteltiplas Dimensotildees

A concepccedilatildeo de altas habilidades tem sido acompanha-da de amplas discussotildees em muitos paiacuteses envolvendo opini-otildees e teorias divergentes O proacuteprio conceito de modo geral tem evoluiacutedo de uma concepccedilatildeo unidimensional centrada em habilidades acadecircmicas para uma compreensatildeo multidimen-sional voltada para a totalidade do indiviacuteduo e para as rela-ccedilotildees que estabelece com o ambiente fiacutesico e social As pessoas com altas habilidades correspondem a uma proporccedilatildeo de 3 a 5 da populaccedilatildeo mundial presente em homens e mulheres de todas as classes sociais Demonstram uma ou mais capa-cidades elevadas acima da meacutedia populacional (ALENCAR E S 2000 BRASIL 1995 1999a 2005 GUENTHER 2000 NOVAES 1979 SABATELLA 2008 VIANA 2003 2004 WINNER 1998)

2 O QI eacute atualmente criticado por se ater a aspectos verbais e loacutegico-matemaacuteticos e por vincular a inteligecircncia agrave hereditariedade advogando uma concepccedilatildeo inatista das capacidades Nos dias atuais o QI eacute considerado como um modo de predizer o desempenho acadecircmico mas natildeo a inteligecircncia de forma geral (ANASTASI URBINA 2000)

O termo superdotado tem sido recentemente questio-nado e rejeitado por especialistas da aacuterea pelo fato do prefixo ldquosuperrdquo sugerir a ideia de um desempenho extraordinaacuterio in-clusive sobre-humano Conveacutem assinalar igualmente a con-cepccedilatildeo inatista de inteligecircncia vinculada aos primoacuterdios da Psicometria e aos testes de QI de origem bioloacutegica ou geneacute-tica a inteligecircncia seria um dom jaacute presente no nascimento estaacutevel e que se desenvolveria independentemente das con-diccedilotildees ambientais o que de fato natildeo corresponde agrave realida-de Toda capacidade mesmo que seja comprovada uma base geneacutetica ou cerebral necessita de estimulaccedilatildeo ambiental para se desenvolver Em caso contraacuterio natildeo se desenvolve ficando estagnada (ALENCAR E S 2001)

A representaccedilatildeo de Renzulli (2004) psicoacutelogo da Uni-versidade de Connecticut eacute usualmente referida na atualida-de por transpor a identificaccedilatildeo restrita a aptidotildees cognitivas e conferir ecircnfase a variaacuteveis criativas e motivacionais Em seu Modelo dos trecircs aneacuteis pressupotildee que as altas habilidades re-sultam da interaccedilatildeo de trecircs caracteriacutesticas i) aptidatildeo acima da meacutedia ii) criatividade elevada e iii) envolvimento com a tare-fa A aptidatildeo acima da meacutedia deve permanecer relativamente estaacutevel e natildeo necessita ser excepcional a criatividade elevada se remete agrave flexibilidade e agrave originalidade do pensamento e o envolvimento com a tarefa remete a caracteriacutesticas de perso-nalidade como persistecircncia dedicaccedilatildeo esforccedilo e autoconfian-ccedila Cumpre mencionar que as altas habilidades residem exa-tamente no ponto de interseccedilatildeo desses trecircs elementos Duas caracteriacutesticas contudo costumam indicar pessoas talentosas

A proposta de Renzulli (2004) possui o meacuterito de reco-nhecer de maneira simples e praacutetica um largo contingente de sujeitos cujas capacidades referem expressotildees da inteligecircncia em qualquer aacuterea do saber ou do fazer Desse modo pessoas

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com altas habilidades em aacutereas tatildeo diversificadas como aca-decircmicas musicais e motoras podem ser rapidamente iden-tificadas por intermeacutedio da presenccedila de atributos criativos e motivacionais associados a um desempenho situado acima da meacutedia da populaccedilatildeo comparaacutevel

Na deacutecada de 1980 Howard Gardner da Universidade de Harvard apresentou uma nova concepccedilatildeo de inteligecircncia que repercutiu sobre o conceito de altas habilidades em con-traposiccedilatildeo agrave visatildeo unitaacuteria dos testes de QI3 Assim estabe-leceu o reconhecimento de que as habilidades humanas po-deriam se apresentar em muitas aacutereas e de que a inteligecircncia natildeo poderia ser medida somente atraveacutes de respostas sobre conteuacutedos escolares em testes convencionais Diante disso Gardner (1994 1995 2001) delimitou ateacute o momento oito tipos de inteligecircncia presentes no ser humano como capa-cidades universais I) linguiacutestica II) loacutegico-matemaacutetica III) espacial IV) corporal-cinesteacutesica V) musical VI) interpesso-al VII) intrapessoal e VIII) naturalista (CAMPBELL 2000 GARDNER 1994 1995 2001)

Com base nessa perspectiva amplia-se a noccedilatildeo de inte-ligecircncia que pode ser estendida para pessoas que apresentem limitaccedilotildees sensoriais e inclusive mentais Desse modo as inteligecircncias seriam potenciais que mesmo com base geneacute-tica ou cerebral podem ou natildeo ser ativados de acordo com os valores da cultura especiacutefica das oportunidades disponiacuteveis e das decisotildees pessoais tomadas por indiviacuteduos famiacutelias pro-fessores dentre outras pessoas proacuteximas (GARDNER 1994 1995 2001)

3 A Teoria das Inteligecircncias Muacuteltiplas (IM) foi elaborada como uma reaccedilatildeo agrave Psicometria e aos testes de QI Gardner (1994 1995 2001) trabalhou com sujeitos detentores de perfis cognitivos diferenciados como pacientes com lesatildeo cerebral e pessoas com altas habilidades

Eacute relativamente comum confundir a pessoa que apre-senta altas habilidades com o gecircnio o que interpotildee mais um obstaacuteculo agrave identificaccedilatildeo desse alunado Em relaccedilatildeo agrave pessoa com altas habilidades o gecircnio estaria em um patamar supe-rior O gecircnio com efeito eacute um indiviacuteduo que realmente apre-senta um desempenho iacutempar e extraordinaacuterio A incidecircncia estatiacutestica da genialidade eacute extremamente reduzida estima-da numa proporccedilatildeo de apenas uma pessoa para cada milhatildeo dificultando assim pesquisas com amostras amplas e anaacutelise quantitativa De modo geral procede-se a um estudo biograacute-fico de personalidades eminentes A obra do gecircnio eacute capaz de transcender limitaccedilotildees temporais e espaciais e permanecer atual sendo por conseguinte de natureza universal Einstein Freud Leonardo da Vinci e Santos Dumont satildeo exemplos de pessoas que demonstraram genialidade alterando de forma bastante original um determinado campo do saber (ALEN-CAR E S 2001 BRASIL 1999a 1999b 2007)

Conveacutem esclarecer as caracteriacutesticas do sujeito talento-so que se situaria por outro lado em um niacutevel abaixo da pes-soa com altas habilidades O talentoso se destaca da multidatildeo por meio de um desempenho significativo em algum setor das atividades humanas O termo descreve de modo geral uma habilidade especiacutefica como musical ou artiacutestica efetuada de maneira especialmente elaborada superior agrave capacidade de realizaccedilatildeo da maioria Instrumentos de medida natildeo satildeo ne-cessaacuterios para a identificaccedilatildeo de talentos visto que mesmo o cidadatildeo comum pode reconhececirc-lo atingido por um estado de admiraccedilatildeo e enlevo O talento eacute encontrado em cerca de 25 da populaccedilatildeo Altas habilidades genialidade e talento se distribuem portanto igualmente na populaccedilatildeo mundial manifestando-se em homens e mulheres em todo o mundo independentemente de credo ou classe social bem como em

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pessoas com algum tipo de deficiecircncia inclusive em casos de deficiecircncia intelectual4

O conceito contemporacircneo de altas habilidades eacute de natureza multidimensional posto remeter agrave compreensatildeo do sujeito em sua totalidade nas diversas relaccedilotildees que estabele-ce com o ambiente fiacutesico e social Importa referir a interde-pendecircncia de fatores geneacuteticos e ambientais na determinaccedilatildeo de altas habilidades A participaccedilatildeo geneacutetica das capacidades eacute observada na distribuiccedilatildeo igualitaacuteria das altas habilidades em toda a populaccedilatildeo mundial sem distinccedilotildees de gecircnero ou origem social A incidecircncia eacute tambeacutem constatada em pessoas com deficiecircncia Contudo a estimulaccedilatildeo ambiental fiacutesica e social eacute necessaacuteria para o desenvolvimento dessas capacida-des (ALENCAR M L 2003 BRASIL 1999a)

A evoluccedilatildeo histoacuterica do conceito de inteligecircncia apre-sentou por conseguinte repercussotildees diretas para a compre-ensatildeo das caracteriacutesticas e necessidades das pessoas com altas habilidades Acarretou da mesma maneira a evoluccedilatildeo simul-tacircnea dos procedimentos de identificaccedilatildeo desses sujeitos ini-cialmente restritos a instrumentos de medida intelectual com resultados organizados em QI Os processos atuais de reco-nhecimento de altas habilidades satildeo diversificados e incluem a percepccedilatildeo de pais e educadores Visto que o professor eacute o profissional que participa mais sistematicamente do cotidia-no dos seus alunos apresenta condiccedilotildees mais favoraacuteveis de reconhecer suas caracteriacutesticas pessoais e seus desempenhos comparando-os com o niacutevel esperado da capacidade de reali-

4 Pessoas com siacutendrome savant usualmente apresentam deficiecircncia intelectual autismo ou ambos A siacutendrome eacute seis vezes maior em homens do que em mulheres Costumam apresentar habilidades nos seguintes domiacutenios artes visuais (desenho realista) muacutesica e caacutelculo mental Alguns satildeo capazes de efetuar caacutelculos de calendaacuterio prevendo por exemplo o dia da semana em que determinada data cairaacute daqui a vaacuterios anos (WINNER 1998)

zaccedilatildeo de uma determinada faixa etaacuteria (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Capacidades Silentes O filoacutesofo grego Aristoacuteteles que viveu cerca de 366 a

C valorizava a inteligecircncia humana como uacutenica forma de al-canccedilar a verdade e acreditava que o pensamento era desenvol-vido por meio da linguagem e da fala Com base nesse posicio-namento afirmava que como o surdo natildeo pensa natildeo poderia ser considerado humano (GOLDFELD 1997)

Desde eacutepocas remotas discute-se sobre a inteligecircncia humana No caso especiacutefico da pessoa com surdez o fato de natildeo ouvir natildeo impossibilita que seu potencial seja identificado e reconhecido Confirmando esse pensamento Dupret (1998) afirma explicitamente que o fato de o surdo apresentar um deacute-ficit sensorial natildeo possuir percepccedilatildeo auditiva ou apresentaacute-la minimamente natildeo eacute suficiente para lhe conferir o pesado es-tigma do diagnoacutestico de incapaz

Sobre essa singularidade

A condiccedilatildeo moral a qual estabelece que somos todos iguais perante a lei natildeo deve prevalecer sobre a questatildeo eacutetica de que somos diferentes frente a noacutes mesmos Eacute esta diferenccedila que marca nossa individualidade e singu-laridade ao mesmo tempo em que se coloca como algo generalizaacutevel a todos Eacute ela que me permite entender o surdo como diferente do ouvinte pelo fato de natildeo poder escutar mas natildeo porque suas capacidades estatildeo previamente limitadas (DUPRET 1998 p 13)

Porque a pessoa com surdez natildeo tem acesso agrave liacutengua fa-lada natildeo significa que natildeo tenha outra ferramenta que possi-bilite uma forma efetiva de comunicaccedilatildeo Pontuamos assim que a dificuldade de expressatildeo da pessoa surda estaacute vinculada

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA202 d d 203

agrave acessibilidade da informaccedilatildeo e natildeo a um deacuteficit intelectu-al pois a nossa diferenccedila estaacute marcada pela individualidade e singularidade que eacute comum a todos os indiviacuteduos Isso faz com que a pessoa com surdez seja diferente do ouvinte pelo fato de apresentar um deacuteficit sensorial e natildeo porque seu po-tencial cognitivo seja por causa disso limitado

Na compreensatildeo de Skliar (2004 p 71)

Quando nos referimos ao potencial cognitivo do sur-do nos remetemos imediatamente agrave qualidade das inter-relaccedilotildees que este manteacutem com as pessoas que o rodeiam Por esta razatildeo acreditamos que as crianccedilas surdas embora sendo filhas de ouvintes devem ter acesso o mais cedo possiacutevel agrave liacutengua de sinais e conse-quentemente agrave comunidade surda

Eacute oportuno afirmar que com o domiacutenio da liacutengua de sinais o indiviacuteduo com surdez adquire novos conhecimentos e consequentemente seraacute capaz de atos criativos Eacute entatildeo con-tradita a proposta oralista5 que provoca no educador baixas expectativas pedagoacutegicas no que se refere ao processo de co-nhecimento de crianccedilas surdas justificando seu fracasso es-colar em funccedilatildeo do deacuteficit Desse modo confere agrave surdez a responsabilidade pelas dificuldades em seu desenvolvimento cognitivo e em sua educaccedilatildeo

A tradicional explicaccedilatildeo de atrasos cognitivos da pessoa com surdez se sustenta na relaccedilatildeo entre pensamento e lingua-gem desconsiderando-se fatores como os tipos de experiecircncias por ela vivenciados a qualidade das suas interaccedilotildees sociais a

5 O Oralismo ou filosofia oralista visa agrave integraccedilatildeo da crianccedila surda na comunidade de ouvintes dando-lhe condiccedilotildees de desenvolver a liacutengua oral (no caso do Brasil a liacutengua portuguesa) O Oralismo concebe a surdez como uma deficiecircncia que deve ser minimizada atraveacutes da estimulaccedilatildeo auditiva Essa estimulaccedilatildeo possibilitaria a aprendizagem da liacutengua portuguesa e levaria a crianccedila surda a integrar-se na comunidade ouvinte e a desenvolver sua personalidade como a de um ouvinte (LORENZINI 2004)

existecircncia da liacutengua de sinais na famiacutelia ou na comunidade ou-vinte da qual faz parte dentre outros fatores (SKLIAR 2004)

Dessa forma um instrumento de avaliaccedilatildeo educacio-nal diagnoacutestica baseado numa concepccedilatildeo multidimensional de inteligecircncia poderaacute contribuir de modo efetivo para o crescimento e autonomia de alunos com surdez muitas vezes ainda considerados pessoas com reduzida possibilidade de crescimento intelectual

Avaliaccedilatildeo Educacional Diagnoacutestica em Busca de Novas Trilhas

Como preacute-requisito das accedilotildees educacionais a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica de altas habilidades evita o desperdiacutecio do poten-cial humano imprescindiacutevel para os tempos atuais caracte-rizados por uma renovaccedilatildeo contiacutenua do conhecimento Para que o alunado surdo com altas habilidades seja corretamente identificado a escola desempenha um papel fundamental nes-se processo demonstrado pela importacircncia dos professores na observaccedilatildeo de indiacutecios de altas habilidades Cumpre men-cionar que ainda persistem dificuldades centrais na aborda-gem do diagnoacutestico de altas habilidades para pessoas surdas no que se refere agrave significativa escassez de instrumentos uti-lizados para essa identificaccedilatildeo (GUENTHER 2000 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Para a identificaccedilatildeo desses indiviacuteduos devem ser consi-derados os diversos traccedilos que determinam as altas habilidades em diferentes niacuteveis e intensidades Para o aluno com surdez a identificaccedilatildeo de altas habilidades valoriza suas capacidades e seu papel ativo como cidadatildeo para o progresso do saber

Diante da dificuldade da avaliaccedilatildeo diagnoacutestica de alu-nos com deficiecircncia que apresentam altas habilidades foi elaborada uma lista de indicadores para alunos com surdez

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA204 d d 205

por ocasiatildeo desse estudo Embora a literatura especializada mencione a presenccedila de altas habilidades e talentos em pes-soas com deficiecircncia os exemplos costumam se limitar agraves pessoas com siacutendrome savant Os estudos de identificaccedilatildeo e atendimento a pessoas com deficiecircncia que tambeacutem apresen-tam altas habilidades e talentos satildeo ainda pioneiros tanto em acircmbito nacional como internacional (NEGRINI 2004 UFC 2006 WINNER 1998)

Assim pretendemos oferecer aos professores que atu-am na aacuterea da surdez um instrumento simples e uacutetil aces-siacutevel para os profissionais da Educaccedilatildeo que pode constituir efetivamente um norte na identificaccedilatildeo desses alunos

Percurso Metodoloacutegico

Foi realizada uma pesquisa qualiquantitativa na forma de um estudo de caso no segundo semestre de 20056 numa Escola Especial para surdos na cidade de Fortaleza-Cearaacute Na ocasiatildeo foram observados 411 alunos surdos do 1ordm ao 8ordm ano do Ensino Fundamental

Foi elaborada uma lista de indicadores de altas habili-dades para o aluno surdo A lista inicial foi analisada por sete especialistas da aacuterea da surdez que propuseram algumas mo-dificaccedilotildees e foi entatildeo submetida agrave preacute-testagem A escala final foi aplicada pelo professor com o apoio de um dos pesquisa-dores e a presenccedila de um inteacuterprete visto que a metodolo-gia de ensino da escola citada se voltava para o bilinguismo7

6 Sugere-se que a aplicaccedilatildeo de instrumentos de observaccedilatildeo em sala de aula para a identificaccedilatildeo de altas habilidades ocorra no segundo semestre letivo quando o professor jaacute demonstra um maior conhecimento das caracteriacutesticas cognitivas e afetivas dos seus alunos (VIANA 2005) 7 O biliacutenguismo advoga que a pessoa com surdez deve dominar como liacutengua materna a liacutengua de sinais que seria a sua liacutengua natural e como segunda liacutengua

Para realizar a observaccedilatildeo os professores participaram de um curso de formaccedilatildeo continuada sobre a temaacutetica com 60 ho-ras-aula pois a aplicaccedilatildeo de instrumentos de observaccedilatildeo ou listas de indicadores para a identificaccedilatildeo de altas habilidades requer domiacutenio conceitual da temaacutetica

O instrumento eacute composto de 36 itens conforme se pode observar no Quadro 1 com habilidades que podem ser encontradas em alunos com surdez que deveratildeo ser identifi-cadas pelo professor em sala de aula As sentenccedilas referem capacidades diversificadas baseadas numa concepccedilatildeo mul-tidimensional de inteligecircncia Foi adotada uma distribuiccedilatildeo aleatoacuteria dos itens para evitar rotinas de respostas As asserti-vas foram redigidas de modo claro e conciso com vocabulaacuterio acessiacutevel a fim de tornar o instrumento de uso praacutetico cuja aplicaccedilatildeo utilize um curto periacuteodo de tempo com o objetivo de natildeo prejudicar as atividades do professor em sala de aula Com a lista em matildeos o professor eacute solicitado a marcar alu-nos que apresentem determinada habilidade presente na lista com a letra X

Quadro 1 ndash Itens da Lista de Observaccedilatildeo Aplicada

1 Tem boa expressatildeo facial quando utiliza a Libras2 Mostra-se criacutetico questionando as mateacuterias ensinadas3 Eacute liacuteder em sala de aula4 Faz perguntas ou daacute respostas raras ou incomuns5 Apresenta senso de humor eacute o engraccediladinho da turma6 Eacute amadurecido fala e se comporta como se tivesse mais idade7 Termina as tarefas rapidamente e fica disperso em sala de aula8 Apresenta facilidade para o desenho ou trabalhos manuais9 Tem boa expressatildeo corporal quando utiliza a Libras10 Apresenta facilidade em escrever redaccedilotildees ou poesias11 Eacute concentrado e perfeccionista com as atividades escolares

a liacutengua oficial do seu paiacutes Isso natildeo significa que a pessoa com surdez deva ficar isolada numa comunidade soacute para surdos configurando guetos e utilizando apenas a liacutengua de sinais (BRASIL 2010 DUPRET 1998 PEREIRA 2004)

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA206 d d 207

12 Consegue expressar bem suas opiniotildees com a Libras13 Eacute independente faz as atividades sem ajuda14 Questiona regras que satildeo impostas sem uma justificativa15 Demonstra interesse contiacutenuo em aprender16 Escreve frases em Portuguecircs usando pronomes preposiccedilotildees e ver-

bos nos tempos presente passado e futuro17 Relaciona conhecimentos de diferentes mateacuterias escolares18 Faz muitas perguntas ao professor19 Prefere amizade com pessoas mais velhas20 Desenha com detalhes e criatividade21 Demonstra aptidatildeo para as artes22 Cria diaacutelogos em Libras23 Eacute indisciplinado em sala de aula24 Demonstra senso de justiccedila25 Apresenta facilidade em memorizar informaccedilotildees como datas histoacute-

ricas e capitais de estados e paiacuteses26 Conhece muitos sinais da Libras e sabe empregaacute-los para se comunicar27 Responde raacutepida e corretamente agraves perguntas do professor28 Gosta de fazer as coisas do seu proacuteprio jeito29 Resolve os exerciacutecios de uma forma diferente da que o professor en-

sinou mas correta30 Mostra-se entediado em sala de aula31 Apresenta formas originais de solucionar problemas32 Tem agilidade de movimento (corrida velocidade e forccedila)33 Gosta de ler textos livros jornais eou revistas34 Aprende com facilidade o que foi ensinado35 Demonstra aptidatildeo para esportes

A heterogeneidade conceitual do instrumento pode ser observada no Quadro 2 que apresenta os itens pertencentes agraves categorias dimensionadas I) Linguagem II) Criatividade III) Aprendizagem IV) Motivaccedilatildeo V) Aspectos afetivos e in-terpessoais e VI) Motricidade

Quadro 2 ndash Categorias Avaliadas na Escala e Itens Correspondentes

CATEGORIA QUESTOtildeESLinguagem Q10 + Q12 + Q16 + Q23 +Q27 + Q34 Criatividade Q4 + Q20 + Q21 + Q29 + Q30 + Q32

Aprendizagem Q2 + Q17 + Q18 + Q26 + Q28 +Q35 Motivaccedilatildeo Q7 + Q11 + Q13 +Q15 + Q24 + Q31

Aspectos afetivos e interpessoais Q3 + Q5 +Q6 + Q14 + Q19 + Q25

Motricidade Q1 + Q8 + Q9 + Q22 + Q33 + Q36

Conforme indica a anaacutelise meacutetrica a lista de indicado-res construiacuteda se apresenta como instrumento potencialmen-te apto a identificar alunos surdos com altas habilidades do Ensino Fundamental A anaacutelise de variacircncia realizada indi-cou coeficiente de precisatildeo (α de Cronbach) com valor igual a 090 Aleacutem disso nenhum item ao ser excluiacutedo do caacutelcu-lo desse coeficiente gerou modificaccedilotildees substanciais em seu valor O erro-padratildeo da medida foi igual a 008 equivalente a 022 da amplitude da escala [0-36] A escala apresentou meacutedia 1890 e desvio-padratildeo 88 A teacutecnica t2 de Hotelling mostrou-se estatisticamente significativa (F = 70 para p = 0001) demonstrando diferenccedila entre as meacutedias de cada item e natildeo indicando a presenccedila de efeito de halo O que significa que natildeo ocorreu a tendecircncia dos indiviacuteduos responderem a um mesmo item em cada pergunta

O grupo inicial de alunos surdos identificados pelos professores atraveacutes da lista foi submetido a entrevistas se-midirigidas realizadas com o auxiacutelio de um inteacuterprete Tam-beacutem foram entrevistados os professores que indicaram esses educandos bem como seus familiares Esse procedimento foi realizado para selecionar com maior precisatildeo os alunos com altas habilidades pois o grupo inicial identificados atraveacutes da observaccedilatildeo dirigida realizada pelos docentes costuma apre-sentar outras indicaccedilotildees como a presenccedila de educandos ta-lentosos (GUENTHER 2000 VIANA 2005)

Resultados

Do total de 411 alunos surdos observados pelos profes-sores em sala de aula foram indicados 30 sujeitos Foram entatildeo entrevistados os 30 estudantes indicados 30 familiares desses estudantes (ou responsaacuteveis) e os 12 professores que os

(Continuaccedilatildeo)

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA208 d d 209

indicaram Do grupo inicial de alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas semidirigidas 20 aprendizes foram sinalizados com altas habilidades correspondendo a uma proporccedilatildeo de 5 do total de sujeitos inicialmente observados O nuacutemero de alunos identificados com altas habilidades estaacute de acordo com a proporccedilatildeo de 3 a 5 estimada na literatura especializada (ALENCAR E S 2000 BRASIL 1995 1999a 2005 GUEN-THER 2000 NOVAES 1979 SABATELLA 2008 VIANA 2003 2004 WINNER 1998)

Conclusotildees

Para a concretizaccedilatildeo desse estudo tomou-se como pon-to de partida a necessidade de reconhecimento da presenccedila de altas habilidades do aluno surdo desviando-se portanto da tradicional ecircnfase conferida agrave sua deficiecircncia Aleacutem de obs-taacuteculos atitudinais associados ao preconceito o instrumental para a identificaccedilatildeo desse alunado eacute por demasiado escasso dificultando assim a identificaccedilatildeo de alunos surdos com altas habilidades (DRUPET 1998 SKLIAR 2004)

Uma avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica adequada deve esclarecer os aspectos individuais mas natildeo pode negligenciar os sociais Conveacutem assinalar que mesmo diante de limita-ccedilotildees particulares inclusive de natureza geneacutetica ou bioloacutegi-ca como no caso da pessoa com deficiecircncia um melhor de-senvolvimento pode ser obtido como resultado de condiccedilotildees favoraacuteveis e estimulaccedilotildees adequadas do meio fiacutesico e social (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

A identificaccedilatildeo de alunos surdos com altas habilidades pretende desmistificar a ideia ainda vigente na sociedade de que a surdez traz consigo algum tipo de deacuteficit intelectual

Suas capacidades estatildeo presentes mas ainda abrigadas em silecircncio Para aleacutem do preconceito a insuficiecircncia na forma-ccedilatildeo baacutesica do professor para lidar com esse alunado constitui outro fator que contribui para que as capacidades do aluno surdo permaneccedilam silentes despercebidas pela escola e pela sociedade

Referecircncias Bibliograacuteficas

ALENCAR E S Criatividade e educaccedilatildeo de superdotados Petroacutepolis Vozes 2001______ Psicologia introduccedilatildeo aos princiacutepios baacutesicos do comportamento Petropoacutelis Vozes 2000______ Psicologia e educaccedilatildeo do superdotado Satildeo Paulo E P U 1986 ALENCAR M L Alunos com necessidades educacionais es-peciais anaacutelise conceitual e implicaccedilotildees pedagoacutegicas In MAGALHAtildeES R C B P Reflexotildees sobre a diferenccedila uma introduccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Especial Fortaleza Demoacutecrito Rocha 2003 p 85-91ALENCAR M L VIANA T V O papel do professor na edu-caccedilatildeo de crianccedilas sobredotadas Sobredotaccedilatildeo Braga v 3 n 2 p 165-176 2002ANASTASI A URBINA S Testagem psicoloacutegica Porto Ale-gre Artmed 2000BRASIL A Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da inclusatildeo es-colar altas habilidadessuperdotaccedilatildeo Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Especial 2010______ A construccedilatildeo de praacuteticas educacionais para alunos com altas habilidadessuperdotados orientaccedilatildeo a professo-res v 1 Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Edu-caccedilatildeo Especial 2007

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA210 d d 211

______ Saberes e praacuteticas da inclusatildeo desenvolvendo competecircncias para o atendimento agraves necessidades educacio-nais de alunos com altas habilidadessuperdotaccedilatildeo Brasiacutelia MECSEESP 2005______ Programa de capacitaccedilatildeo de recursos humanos do Ensino Fundamental superdotaccedilatildeo e talento v 1 Brasiacute-lia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Especial 1999a ______ Programa de capacitaccedilatildeo de recursos humanos do Ensino Fundamental superdotaccedilatildeo e talento v 2 Brasiacutelia Mi-nisteacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Especial 1999b______ Diretrizes gerais para o atendimento educacional aos alunos portadores de altas habilidades superdotaccedilatildeo e talentos Brasiacutelia MECSEESP 1995 CAMPBELL L Ensino e aprendizagem por meio das Inte-ligecircncias Muacuteltiplas Porto Alegre Artes Meacutedicas Sul 2000DUPRET L A experiecircncia de aprender com surdos Espaccedilo informativo teacutecnico-cientiacutefico do INES Rio de Janeiro n 10 juldez 1998 GARDNER H Inteligecircncia um conceito reformulado Rio de Janeiro Objetiva 2001______ Inteligecircncias muacuteltiplas a teoria na praacutetica Porto Alegre Artes Meacutedicas 1995 ______ Estruturas da mente a teoria das inteligecircncias muacuteltiplas Porto Alegre Artes Meacutedicas 1994GUENTHER Z C Identificaccedilatildeo de talentos recurso a teacutecni-cas de observaccedilatildeo directa Sobredotaccedilatildeo Braga v 1 n 1 e 2 p 7-36 2000GOLDFELD M A crianccedila surda linguagem e cogniccedilatildeo numa perspectiva soacutecio-interacionista Satildeo Paulo Plexus 1997LORENZINI N M P Aquisiccedilatildeo de um conceito cientiacutefico por alunos surdos de classes regulares do Ensino Fundamental

2004 155fl Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universi-dade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004 METTRAU M B Inteligecircncia patrimocircnio social Rio de Ja-neiro Dunya Ed 2000NEGRINI T A escola de surdo e os alunos com altas habi-lidadessuperdotaccedilatildeo uma problematizaccedilatildeo decorrente do processo de identificaccedilatildeo das pessoas surdas 2009 151f Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria-RS 2009 NOVAES M H Desenvolvimento psicoloacutegico do superdota-do Satildeo Paulo Atlas 1979PEREIRA C E K Estrangeiros em sua proacutepria cultura Espa-ccedilo informativo teacutecnico-cientiacutefico do INES Rio de Janeiro n 22 juldez 2004RENZULLI J S O que eacute esta coisa chamada superdotaccedilatildeo e como a desenvolvemos Uma retrospectiva de vinte e cin-co anos Educaccedilatildeo Porto Alegre n 1 p 75-121 janabr 2004 Disponiacutevel em ltwwwcaiobapucrsbrgt Acesso em 24022012 SABATELLA M L P Talento e superdotaccedilatildeo problema ou soluccedilatildeo Curitiba Ibpex 2008SKLIAR C (Org) Educaccedilatildeo e exclusatildeo abordagens soacutecio--antropoloacutegicas em Educaccedilatildeo Especial Porto Alegre Media-ccedilatildeo 2004 UFC Educar Igual a Motivar o Conhecimento Criativo (E=MC2) Projeto de Extensatildeo Coordenadora VIANA T V Fortaleza UFC 2006 5 p VIANA T V Avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica uma proposta para identificar altas habilidades 2005 324f Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2005 ______ Avaliando alunos com altas habilidades resulta-dos preliminares In ANDRIOLA W B MCDONALD B C

d 213TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA212 d

(Org) Avaliaccedilatildeo educacional navegar eacute preciso Fortaleza Editora UFC 2004 p 113-134 ______ Caminhos da excelecircncia da escola puacuteblica de For-taleza O conceito de altas habilidades dos professores 2003 147f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universidade Fe-deral do Cearaacute (UFC) Fortaleza 2003 VIRGOLIM A M R Talento criativo expressatildeo em muacuteltiplos contextos Brasiacutelia Editora Universidade de Brasiacutelia 2007 WINNER E Crianccedilas superdotadas mitos e realidades Por-to Alegre Artes Meacutedicas 1998

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute

Zilsa Maria Pinto SantiagoPliacutenio Renan Gonccedilalves da Silveira

Introduccedilatildeo

A discussatildeo sobre o conceito de cidadania eacute complexa e sugere inuacutemeras vertentes A praacutetica da cidadania partindo da escola ou da comunidade escolar com o apoio dos movimen-tos sociais de inclusatildeo principalmente no que diz respeito aos direitos da pessoa com deficiecircncia e da praacutetica de um ensino na diversidade eacute uma abordagem necessaacuteria nesta discussatildeo Iniciamos com o conceito de inclusatildeo social que segundo Sas-saki (1997 p 41) eacute

[] o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir em seus sistemas sociais gerais pessoas com necessidades especiais e simultaneamente estas se preparam para assumir seus papeacuteis na sociedade A inclusatildeo social constitui entatildeo um processo bilateral no qual as pessoas ainda excluiacutedas e a sociedade bus-cam em parceria equacionar problemas decidir sobre soluccedilotildees e efetivar a equiparaccedilatildeo de oportunidades para todos

A escola na condiccedilatildeo de espaccedilo social deve portanto apresentar condiccedilotildees de acessibilidade a todos inclusive a pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida aleacutem de pro-ver uma Educaccedilatildeo de qualidade a todas as crianccedilas modificar atitudes discriminatoacuterias criando comunidades acolhedoras (SANTIAGO 2005) Existe assim um caminho a ser percor-rido qual seja a organizaccedilatildeo da sociedade e as administraccedilotildees escolares inseridas em um novo contexto apoiadas pelo Siste-

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO bull PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA214 d d 215

ma Educacional e Ministeacuterio Puacuteblico capaz de transformar a situaccedilatildeo de exclusatildeo e gerir uma cultura inclusiva

E quando chegamos ao patamar do Ensino Superior o que acontece Que condiccedilotildees existem para receber pessoas com deficiecircncia na universidade

A problemaacutetica da acessibilidade de pessoas com defi-ciecircn cia no Ensino Superior jaacute eacute tema de muitas discussotildees e estudos Na Universidade Federal do Cearaacute (UFC) este assunto vem sendo discutido numa visatildeo ampla mas de certa forma em termos de accedilotildees nos uacuteltimos dez anos trabalhadas pontual-mente pelas diversas unidades administrativas e de ensino na perspectiva da informaccedilatildeo do conhecimento das atitudes e do espaccedilo fiacutesico

Neste artigo abordaremos alguns aspectos da poliacutetica de acessibilidade e das accedilotildees que estatildeo sendo realizadas no acircmbito da Universidade por meio da Secretaria de Acessi-bilidade UFC Inclui tendo como base a realizaccedilatildeo de traba-lhos de pesquisa ensino e extensatildeo perpassando por todas as aacutereas e setores De forma mais especiacutefica trataremos da aacuterea relativa agrave acessibilidade fiacutesica em que as atividades estatildeo relativamente iniciando num processo de construccedilatildeo de uma cultura de inclusatildeo a fim de incorporar paracircmetros de acessi-bilidade na realizaccedilatildeo de projetos e reformas

Acessibilidade como Fator de Inclusatildeo

Accedilotildees realizadas pelo poder puacuteblico em relaccedilatildeo ao aten-dimento agraves pessoas com deficiecircncia fiacutesica visual auditiva e intelectual no Brasil ateacute os anos 1960 abstraiacuteam o conteuacute-do educacional da questatildeo e contemplavam basicamente a problemaacutetica social e da sauacutede culminando com accedilotildees as-sistencialistas ou de reabilitaccedilatildeo As primeiras iniciativas de

atendimento agraves pessoas com deficiecircncia no Cearaacute partiram de atitudes isoladas ou de pequenos grupos e organizaccedilotildees de pessoas que natildeo contavam com o apoio do poder puacuteblico Conforme Leitatildeo (1997)

[] A criaccedilatildeo destas entidades especializadas no aten-dimento aos portadores de deficiecircncia visual mental auditiva e fiacutesica no Cearaacute foi possiacutevel [] na medida em que se aliou aos desejos de indiviacuteduos ou grupo de indiviacuteduos o conhecimento especializado a assimilaccedilatildeo de saberes especiacuteficos que passam a esclarecer alguns mitos construiacutedos em torno dos intitulados deficientes e fornecem as bases para uma accedilatildeo terapecircutica ou educacional embora que ainda de caraacuteter assistencial segregativo e pouco eficiente No entanto essas enti-dades surgidas nesse periacuteodo histoacuterico representaram significativos avanccedilos oferecendo agravequeles indiviacuteduos melhores condiccedilotildees de vida e a possibilidade de uma desejaacutevel integraccedilatildeo social

A questatildeo educacional das pessoas com deficiecircncia natildeo veio acompanhada de imediato de estudos de adequaccedilatildeo e adaptaccedilotildees do ambiente fiacutesico Para a inclusatildeo nem sempre satildeo necessaacuterios recursos educacionais especializados mas o espaccedilo adequado eacute fator de inclusatildeo Neste caso compreen-demos que a crianccedila pode estar na escola regular desde o iniacute-cio de sua escolarizaccedilatildeo (MAZZOTTA apud GODOY 2002)

Reforccedilando esta ideia Glat (1995) considera que o gru-po de pessoas com deficiecircncia fiacutesica natildeo se constitui tradicio-nalmente como clientela da Educaccedilatildeo Especial A inclusatildeo eacute facilitada pela acessibilidade fiacutesica nos espaccedilos escolares natildeo sendo necessaacuterio nenhum outro tipo de assistecircncia especial ao aluno que tenha dificuldade de locomoccedilatildeo (usuaacuterio de ca-deira de rodas muletas andador ou pessoa com perna mais curta ou outro tipo de deficiecircncia fiacutesica)

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO bull PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA216 d d 217

Neste sentido temos dois problemas imbricados tanto a dificuldade e iniciativa tardia do poder puacuteblico no trato das condiccedilotildees de Educaccedilatildeo de pessoas com deficiecircncia quanto agrave falta de acessibilidade ao meio ambiente fiacutesico construiacutedo O que resulta numa situaccedilatildeo em que ateacute bem pouco tempo atraacutes dificilmente encontrariacuteamos uma pessoa com defici-ecircncia visual com surdez ou ateacute mesmo em cadeira de rodas transitando nas salas de aula de uma universidade

A acessibilidade nos espaccedilos da universidade e de um modo geral nos espaccedilos puacuteblicos de Fortaleza vem sendo discutida nesta uacuteltima deacutecada em foacuteruns seminaacuterios au-diecircncias na Cacircmara Municipal na Assembleacuteia Legislativa dentre outros eventos tendo os movimentos e associaccedilotildees de pessoas com deficiecircncia com o apoio do Ministeacuterio Puacuteblico como impulsionadores destes eventos

O governo do estado com a participaccedilatildeo da UFC deu um passo importante com a elaboraccedilatildeo do Guia de Acessibili-dade espaccedilo puacuteblico e edificaccedilotildees publicado em 2009 e sua divulgaccedilatildeo junto aos prefeitos municipais entidades associa-ccedilotildees e a sociedade em geral

Accedilotildees Referentes agrave Acessibilidade Fiacutesica nos Campi da UFC

Ao se abordarem questotildees concernentes agrave inclusatildeo ou acessibilidade de pessoas com deficiecircncia eacute senso comum a referecircncia imediata aos aspectos relativos agraves barreiras arqui-tetocircnicas talvez por serem as mais visiacuteveis Eacute importante en-tretanto destacar o fato de que as barreiras enfrentadas por essas pessoas satildeo muacuteltiplas a comeccedilar pelas atitudes inade-quadas manifestas pelas pessoas em geral em funccedilatildeo de um desconhecimento sobre as reais necessidades da pessoa com deficiecircncia

A acessibilidade fiacutesica eacute hoje uma necessidade baacutesica para que todas as pessoas independentemente de suas habi-lidades possam desenvolver atividades da vida cotidiana com autonomia e mobilidade bem como usufruir dos espaccedilos com seguranccedila e comodidade O aspecto importante da acessibili-dade fiacutesica eacute ser um facilitador da inclusatildeo das pessoas com deficiecircncia

Em dados da UFC (2010) a universidade conta com a aacuterea fiacutesica em Fortaleza de 287258148 msup2 e aacuterea constru-iacuteda de 29131311 msup2 distribuiacuteda em trecircs aacutereas Pici Benfica e Porangabussu e mais algumas unidades dispersas sem di-mensionar os novos campi do interior Aleacutem disso conta nos trecircs terrenos com aacuterea urbanizada de 21841000 msup2 Tem portanto o grande desafio de dar continuidade agrave universali-zaccedilatildeo da acessibilidade adequando os edifiacutecios existentes e implementando nas novas edificaccedilotildees o conceito do Dese-nho Universal (que propotildee um espaccedilo constituiacutedo do maior nuacutemero de dimensotildees acessos tamanhos possibilitando seu uso pelo maior nuacutemero de pessoas) obedecendo agrave legislaccedilatildeo vigente dirimindo possiacuteveis barreiras arquitetocircnicas e pro-porcionando a todos os usuaacuterios sejam alunos servidores ou visitantes o acesso e a livre circulaccedilatildeo

A UFC tem realizado um esforccedilo de adequar sua grande aacuterea fiacutesica contudo as accedilotildees natildeo alcanccedilavam a plenitude de-vido agraves questotildees de recursos caracterizando-se assim como emergenciais ou contingenciais A antiga Superintendecircncia de Obras e Planejamento (PLANOP) atual Coordenadoria de Projetos e Obras (COP) elaborou em 2002 o projeto Acesso UFC sob a coordenaccedilatildeo da arquiteta Magda Campelo e dire-ccedilatildeo geral do professor Ademar Gondim com a intenccedilatildeo de incluir nas atividades dessa Superintendecircncia estudos de acessibilidade para os edifiacutecios da UFC Contou com o envol-

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vimento de alunos e servidores com deficiecircncia e bolsistas in-dicados pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Esse projeto tinha como objetivos principais a execu-ccedilatildeo do levantamento do nuacutemero de pessoas com deficiecircncia na UFC seus respectivos locais e condiccedilotildees de trabalho bem como a elaboraccedilatildeo de estudos para atendimento prioritaacuterio a este puacuteblico-alvo

No segundo momento foi realizado um levantamen-to da necessidade de intervenccedilatildeo em toda a aacuterea construiacuteda da UFC restringindo-se poreacutem agrave adequaccedilatildeo de banheiros construccedilatildeo de rampas e instalaccedilatildeo de plataformas a fim de mensurar os custos necessaacuterios para eliminaccedilatildeo de barreiras arquitetocircnicas na instituiccedilatildeo

No periacuteodo entre 2002 e 2003 foram executados e or-ccedilados pela PLANOP vinte e quatro projetos de acessibilida-de com ecircnfase tambeacutem na instalaccedilatildeo de rampas e adequa-ccedilatildeo de banheiros em preacutedios Do total 62 das intervenccedilotildees deram-se no Benfica aacuterea com maior nuacutemero de pessoas com deficiecircncia 34 no Pici e 4 no Porangabussu

Alguns destes projetos natildeo foram efetivados por indis-ponibilidade orccedilamentaacuteria na eacutepoca poreacutem com recursos do Projeto UFC Inclui em 2006 e 2007 sob a coordenaccedilatildeo da professora doutora Ana Karina Lira foram realizadas vaacuterias accedilotildees dentre elas o Ciclo de Debates Exposiccedilotildees e execuccedilatildeo de nove dos projetos disponibilizados pela Superintendente da PLANOP Aleacutem disso por iniciativa de diretores dos cen-tros e faculdades vaacuterias outras adaptaccedilotildees foram executadas como as passarelas de ligaccedilatildeo de preacutedios rampas de acesso aos edifiacutecios bem como intervenccedilotildees em banheiros

Registramos ainda um processo movido pelo Nuacutecleo de Tutela Coletiva da Procuradoria da Repuacuteblica no Estado do Cearaacute em 2005 que exigiu da UFC adoccedilatildeo de medidas

de condiccedilotildees miacutenimas e baacutesicas para o acesso e permanecircncia de estudantes com deficiecircncia em suas dependecircncias Desde entatildeo intervenccedilotildees foram feitas em todos os centros e facul-dades mas em face da dimensatildeo da UFC e da limitaccedilatildeo orccedila-mentaacuteria muitas das demandas ainda natildeo foram totalmente atendidas conforme imperativo legal vigente Contudo algu-mas plataformas verticais para conduccedilatildeo de pessoas com de-ficiecircncia ou mobilidade reduzida e rampas foram implantadas em algumas das edificaccedilotildees existentes como eacute o caso da Fa-culdade de Direito dentre outras (Fotos 01 e 02)

Foto 1 ndash Faculdade de DireitoUFC ndash Plataforma vertical no curso de DireitoFoto 2 ndash Faculdade de DireitoUFC ndash Rampa para o bloco antigo do curso de Direito

Com a criaccedilatildeo da Secretaria de Acessibilidade UFC In-clui em 2010 os trabalhos de acompanhamento de adequa-ccedilatildeo dos espaccedilos construiacutedos foram retomados de forma mais ampla e sistematizada

Como instrumento de verificaccedilatildeo das condiccedilotildees de acessibilidade na universidade iniciaram utilizando o levan-tamento de necessidades no acervo da COP dados resultan-tes da realizaccedilatildeo de vistoria da Comissatildeo de Acessibilidade do

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Sistema de Bibliotecas da UFC como tambeacutem indicadores le-vantados por membros da Comissatildeo Especial de Educaccedilatildeo In-clusiva (CEIn) em 2009 juntamente com alunos bolsistas dos cursos de Arquitetura e Urbanismo Enfermagem Pedagogia e de um aluno do curso de bacharelado em Quiacutemica ndash usuaacuterio de cadeira de rodas

A CEIn foi criada pelo Magniacutefico Reitor Jesualdo Pe-reira Farias em 2009 com o objetivo de fazer uma propos-ta de estruturaccedilatildeo administrativa cuidando da elaboraccedilatildeo conduccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas de Educaccedilatildeo Inclusiva na universidade

Os bolsistas da comissatildeo na aacuterea de Arquitetura e Ur-banismo eram inicialmente responsaacuteveis por realizar visitas teacutecnicas agraves edificaccedilotildees da universidade que foram mapeadas atraveacutes do Plano Diretor da UFC a fim de se obter uma di-mensatildeo geral sobre os problemas de acessibilidade da uni-versidade Posteriormente nesta agregaram-se os teacutecnicos a serviccedilo da COP

Estes trabalhos satildeo compostos de observaccedilotildees in loco mediccedilotildees e anotaccedilotildees sobre a estrutura fiacutesica registros foto-graacuteficos Posteriormente os dados satildeo organizados eacute feita uma anaacutelise resultando em Relatoacuterios Teacutecnicos das edifica-ccedilotildees visitadas com apontamentos referentes agrave necessidade de intervenccedilotildees para o cumprimento da legislaccedilatildeo existente

Para tanto foi elaborado um check list envolvendo as principais questotildees da acessibilidade de forma a simplificar tanto o processo de recolhimento de dados in loco quanto a proacutepria leitura do laudo Natildeo soacute os ambientes e acessos inter-nos agrave edificaccedilatildeo foram analisados mas tambeacutem as aacutereas livres comuns (paacutetios jardins caminhos) O diagnoacutestico tinha uma preocupaccedilatildeo urbaniacutestica analisando o entorno da edificaccedilatildeo as faixas de travessia os rebaixos as paradas de ocircnibus e se

a chegada da pessoa com deficiecircncia ao edifiacutecio estaria sendo executada de forma livre e segura

A metodologia de diagnosticar atraveacutes de um check list padratildeo pode ser observada no recorte do relatoacuterio abaixo

Foto 3 ndash Relatoacuterio de Condiccedilotildees de Acessibilidade Fiacutesica da FEAAC

Depois de uma anaacutelise geral dos problemas de acessi-bilidade nas edificaccedilotildees existentes na universidade os bol-sistas de Arquitetura e Urbanismo foram direcionados para trabalhar em parceria com a COP Este trabalho consistiu em realizar uma anaacutelise minuciosa das questotildees de acessibilidade nos novos projetos Infelizmente nos processos de licitaccedilatildeo

yRebaixosrampas Apresenta alguns rebai-xos inadequados nas travessias internas Nas entradas dos Centros Acadecircmicos e em alguns pontos do passeio natildeo haacute rampas A rampa encontrada na entrada do edifiacutecio estaacute com inclinaccedilatildeo adequada poreacutem o cor-rimatildeo estaacute em desacordo com a NBR9050

yBarreiras arquitetocircnicas desniacuteveis Alguns desniacuteveis foram encontrados sem rebaixo e com grelha na direccedilatildeo errada impossibili-tando a passagem da pessoa em cadeira de rodas As barreiras arquitetocircnicas natildeo pos-suem piso alerta

ySinalizaccedilatildeo Natildeo haacute sinalizaccedilatildeo direcional nem alertas para a pessoa com deficiecircncia visual

yAparelhos telefocircnicos puacuteblicos Os apare-lhos puacuteblicos encontrados estatildeo todos com alturas acima de 120 m alcance maacuteximo da pessoa em cadeira de rodas

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natildeo haacute uma cobranccedila rigorosa com base na legislaccedilatildeo vigente no que diz respeito a estas questotildees o que resulta em projetos que cumprem apenas parcialmente as determinaccedilotildees da nor-ma e em outros que ignoram os efeitos desta

O trabalho de anaacutelise projetual consiste na leitura pran-cha a prancha do projeto utilizando a mesma metodologia do check list Os dados desta anaacutelise resultam tambeacutem em um Relatoacuterio Teacutecnico de Acessibilidade conforme recorte abaixo

y Prancga 94 ndash Detalhe de banheiroDeve-se colocar as barras de apoio vertical em pelo menos um dos mic-toacuterios (com espaccedilo livre de 60 cm de largura) Rebaixar pelo menos uma extensatildeo de 90 cm da bancada para altura de 80 cm respeitando a altura de 73 cm para entrada da cadeira

Exemplo de mictoacuterios ndash Fonte NBR9050

y Prancha 95 ndash No WC Feminino deve-se rebaixar pelo menos uma extensatildeo de 90 cm da bancada para altura de 80 cm respeitando a altura de 73 cm para entrada da cadeira

y Prancha 102 ndash Detalhamento de Portas ndash Na porta P3 (acesiacutevel) o siacutembolo natildeo segue as corretas proporccedilotildees da NBR9050 que deve ser universal

Foto 4 ndash Relatoacuterio de Acessibilidade ICA

Passaram por esta anaacutelise grandes novas edificaccedilotildees da UFC como o Instituto de Cultura e Arte (ICA) o Instituto Pa-leontoloacutegico e Geoloacutegico e a 4ordf Etapa do Campus Juazeiro do Norte

Ratifica-se a necessidade da manutenccedilatildeo deste trabalho de anaacutelise projetual das novas edificaccedilotildees Analisar o edifiacutecio ainda na fase de projeto propicia a condiccedilatildeo de tempo haacutebil para correccedilotildees antes da execuccedilatildeo da obra A projetaccedilatildeo acessiacute-vel eacute mais simples proporcionando a condiccedilatildeo de concepccedilotildees esteacuteticas sem prejuiacutezo das visuais plaacutesticas do edifiacutecio Eacute ainda mais econocircmica evitando gastos futuros com reformas mui-tas vezes que natildeo conseguem chegar a um resultado satisfa-toacuterio sendo meras adaptaccedilotildees de uma realidade estabelecida

Com o crescimento dos investimentos em novas edifica-ccedilotildees e obras devido ao Programa de Reestruturaccedilatildeo e Expan-satildeo das Universidades Federais (REUNI) nos campi da UFC surgiu a necessidade da COP realizar um novo levantamento das condiccedilotildees de acessibilidade verificando as necessidades de adaptaccedilatildeo das antigas edificaccedilotildees bem como a sinalizaccedilatildeo das pendecircncias restantes nas novas edificaccedilotildees

A realizaccedilatildeo deste trabalho foi fundamentada no Decre-to nordm 52962004 que trata da prioridade de atendimento agraves pessoas com deficiecircncia que estabelece normas gerais e criteacuterios baacutesicos para a promoccedilatildeo da acessibilidade em rela-ccedilatildeo agraves edificaccedilotildees espaccedilo mobiliaacuterio e equipamento urbano incluindo elevadores plataformas de elevaccedilatildeo motorizadas e requisitos para seguranccedila dimensotildees e operaccedilatildeo funcional Deve-se salientar sua importacircncia tambeacutem por estabelecer ainda os criteacuterios para instruir os processos de autorizaccedilatildeo e de reconhecimento de cursos bem como o credenciamento de instituiccedilotildees considerando a acessibilidade aos edifiacutecios de uso puacuteblico ao espaccedilo e utilizaccedilatildeo de mobiliaacuterio

Vista frontal Vista frontalVista lateral

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Temos alguns exemplos desta nova fase de implantaccedilatildeo de requisitos de acessibilidade nos projetos de edificaccedilotildees e espaccedilos livres na UFC (Fotos 05 e 06)

Foto 5 ndash Auditoacuterio Valnir Chagas ndash FacedUFC Rampa com incli-naccedilatildeo adequada e corrimatildeo proacuteximo ao exigido pela NBR-9050Foto 6 ndash Entrada do curso de PsicologiaUFC Rebaixos de rampas de acesso adequados e vaga reservada

Conclusatildeo

A obrigatoriedade ao cumprimento do Decreto nordm 52962004 e a conscientizaccedilatildeo da necessidade de se projetar para todos impotildeem aos oacutergatildeos puacuteblicos dentre eles a univer-sidade a execuccedilatildeo de projetos em observacircncia agrave NBR 9050 Uma dificuldade percebida se refere agrave dimensatildeo da equipe que trabalha nos projetos e obras da instituiccedilatildeo o que dificulta o andamento de accedilotildees de um modo geral bem como de obras de pequeno porte que poderiam ser realizadas pelos proacuteprios diretores de centros e faculdades Ao que parece desde o ano de 2011 este trabalho vem sendo acelerado com a terceiriza-ccedilatildeo de parte destes projetos

O atendimento agraves normas de acessibilidade passou a ser adotado quando da elaboraccedilatildeo de projetos para novas edificaccedilotildees Mesmo sendo a nova concepccedilatildeo inserida nos pre-

ceitos da acessibilidade fiacutesica algumas accedilotildees como eacute o caso da locaccedilatildeo de equipamentos como as plataformas verticais retardam a finalizaccedilatildeo completa da obra por constituiacuterem um procedimento obrigatoacuterio de licitaccedilatildeo para compra de equi-pamentos explicando o fato de encontrarmos nos preacutedios novos apenas as estruturas que abrigam estes equipamentos Isso resulta no atraso da instalaccedilatildeo das mesmas em relaccedilatildeo agrave obra como um todo

Estes satildeo instrumentos contundentes relativos ao fato de que mesmo tendo sido realizadas muitas accedilotildees ainda haacute de se fazer para que a universidade atinja um niacutevel plenamen-te satisfatoacuterio de acessibilidade em sua estrutura fiacutesica

Em decorrecircncia de novos eventos como a promulgaccedilatildeo da Lei nordm 12587 de 3 de janeiro de 2012 ndash que institui as dire-trizes da Poliacutetica Nacional de Mobilidade Urbana bem como o Decreto Legislativo nordm 186 2008 no qual em seu Art 1ordm ndash Fica aprovado nos termos do sect 3ordm do Art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal o texto da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia e de seu Protocolo Facultativo assinados em Nova Iorque em 2007 igualmente o Decreto nordm 6949 de 2009 que determina em seu Art 1ordm ndash A Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia e seu Protocolo Faculta-tivo ndash seratildeo executados e cumpridos tatildeo inteiramente como neles se contecircm as accedilotildees para inserccedilatildeo de requisitos para a acessibilidade sendo assim cada vez mais incorporados ao co-tidiano das realizaccedilotildees das obras na universidade

Neste sentido podemos afirmar que a execuccedilatildeo de pro-jetos de edificaccedilotildees nos vaacuterios campi da UFC bem como as reformas e adaptaccedilotildees de antigas edificaccedilotildees estatildeo sendo re-alizadas cada vez mais assumindo o compromisso com os pa-radigmas da inclusatildeo observando criteacuterios e determinaccedilotildees legais amparadas pelos princiacutepios da acessibilidade universal

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Referecircncias Normativas e Leis

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 9050 ndash Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiecircncias a edificaccedilotildees espaccedilo mobiliaacuterio e equipamento urbano Rio de Janeiro ABNT 2004BRASIL Lei n 12587 de 3 de Janeiro de 2012 ndash que institui as diretrizes da Poliacutetica Nacional de Mobilidade Urbana______ Decreto nordm 6949 de 25 de agosto de 2009 Pro-mulga a Convenccedilatildeo Internacional sobre os Direitos das Pesso-as com Deficiecircncia e seu Protocolo Facultativo assinados em Nova York em 30 de marccedilo de 2007______ Decreto Ndeg 5626 de 22 de dezembro de 2005 re-gulamenta a Lei Nordm 10436 de 24 de abril de 2002 que dispotildee sobre a Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras e o art 18 da Lei Nordm 10098 de 19 de dezembro de 2000______ Decreto Nordm 5296 de 2 de dezembro de 2004 que regulamenta as Leis nordms 10048 de 8 de novembro de 2000 que daacute prioridade de atendimento agraves pessoas que especifica e 10098 de 19 de dezembro de 2000 que estabelece normas gerais e criteacuterios baacutesicos para a promoccedilatildeo da acessibilidade das pessoas com deficiecircncia ou com mobilidade reduzida e daacute outras providecircnciasCEARAacute Guia de acessibilidade espaccedilo puacuteblico e edificaccedilotildees 1 ed Elaboraccedilatildeo Nadja GS Dutra Montenegro Zilsa Maria Pinto Santiago e Valdemice Costa de Sousa Fortaleza SEIN-FRA-CE 2009

Referecircncias Bibliograacuteficas

GLAT Rosana A Integraccedilatildeo social dos portadores de defici-ecircncias uma reflexatildeo Rio de Janeiro Sete Letras 1995

GODOY H P Inclusatildeo de alunos portadores de deficiecircncia no ensino regular paulista recomendaccedilotildees internacionais e normas oficiais Satildeo Paulo Editora Mackenzie 2002LEITAtildeO V M et al Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC Pro-postas Fortaleza UFC 2010______ Para aleacutem da diferenccedila e do tempo Ensaio soacutecio--histoacuterico da Educaccedilatildeo dos portadores de necessidades es-peciais no Cearaacute Uma trajetoacuteria de luta da segregaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira ndash UFC) Fortaleza 1997MAZZOTTA Marcos J S Educaccedilatildeo Especial no Brasil histoacute-ria e poliacuteticas puacuteblicas Satildeo Paulo Cortez 1996SANTIAGO Z M P Acessibilidade fiacutesica no ambiente cons-truiacutedo o caso das escolas municipais de ensino fundamental de Fortaleza ndash CE (1990 ndash 2003) Dissertaccedilatildeo (Mestrado ndash FAUUSP) Satildeo Paulo 2005SASSAKI R K Inclusatildeo construindo uma sociedade para to-dos 5 ed Rio de Janeiro VWA 1997

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SEacuteRIE DIAacuteLOGOS INTEMPESTIVOS

1 Ditos (mau)ditos Joseacute Gerardo Vasconcelos Antonio Germano Magalhatildees Junior e Joseacute Mendes Fonteles (Orgs) 2001 208p 2001 ISBN 85-86627-13-5

2 Memoacuterias no plural Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Magalhatildees Junior (Orgs) 140p 2001 ISBN 85-86627-21-6

3 Trajetoacuterias da juventude Maria Nobre Damasceno Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 112p 2001 ISBN 85-86627-22-4

4 Trabalho e educaccedilatildeo face agrave crise global do capitalismo Eneacuteas Arrais Neto Manuel Joseacute Pina Fernandes e Sandra Cordeiro Felismino (Orgs) 2002 218p ISBN 85-86627-23-2

5 Um dispositivo chamado Foucault Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Magalhatildees Junior (Orgs) 120p 2002 ISBN 85-86627-24-0

6 Registros de pesquisa na educaccedilatildeo Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2002 216p ISBN 85-86627-25-9

7 Linguagens da histoacuteria Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Maga-lhatildees Junior (Orgs) 2003 154p ISBN 85-7564084-4

8 Esboccedilos em avaliaccedilatildeo educacional Brendan Coleman Mc Donald (Org) 2003 168p ISBN 85-7282-131-7

9 Informaacutetica na escola um olhar multidisciplinar Edla Maria Faust Ramos Marta Costa Rosatelli e Raul Sidnei Wazlawick (Orgs) 2003 135p ISBN 85-7282-130-9

10 Filosofia educaccedilatildeo e realidade Joseacute Gerardo Vasconcelos (Org) 2003 300p ISBN 85-7282-132-5

11 Avaliaccedilatildeo Fiat Lux em Educaccedilatildeo Wagner Bandeira Andriola e Brendan Coleman Mc Donald (Orgs) 2003 212p ISBN 85-7282-136-8

12 Biografias instituiccedilotildees ideias experiecircncias e poliacuteticas educacionais Maria Juraci Maia Cavalcante e Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Orgs) 2003 467p ISBN 85-7282-137-6

13 Movimentos sociais educaccedilatildeo popular e escola a favor da diversidade Kelma Socorro Lopes de Matos (Org) 2003 312p ISBN 85-7282-138-4

14 Trabalho sociabilidade e educaccedilatildeo uma criacutetica agrave ordem do capital Ana Maria Dorta de Menezes e Faacutebio Fonseca Figueiredo (Orgs) 2003 396p ISBN 85-7282-139-2

15 Mundo do trabalho debates contemporacircneos Eneacuteas Arrais Neto Elenice Gomes de Oliveira e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2004 154p ISBN 85-7282-142-2

16 Formaccedilatildeo humana liberdade e historicidade Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2004 250p ISBN 85-7282-143-0

17 Diversidade cultural e desigualdade dinacircmicas identitaacuterias em jogo Maria de Faacutetima Vasconcelos e Rosa Barros Ribeiro (Orgs) 2004 324p ISBN 85-7282-144-9

18 Corporeidade ensaios que envolvem o corpo Antonio Germano Magalhatildees Junior e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2004 114p ISBN85-7282-146-5

19 Linguagem e educaccedilatildeo da crianccedila Silvia Helena Vieira Cruz e Mocircnica Petra-landa Holanda (Orgs) 2004 369p ISBN85-7282-149-X

20 Educaccedilatildeo ambiental em tempos de semear Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Levi Furtado Sampaio (Orgs) 2004 203p ISBN 85-7282-150-3

21 Saberes populares e praacuteticas educativas Joseacute Arimatea Barros Bezerra Catarina Farias de Oliveira e Rosa Maria Barros Ribeiro (Orgs) 2004 186p ISBN 85-7282-162-7

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22 Culturas curriacuteculos e identidades Luiz Botelho de Albuquerque (Org) 231p ISBN 85-7282-165-1

23 Polifonias vozes olhares e registros na filosofia da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Andreacutea Pinheiro e Eacuterica Atem (Orgs) 274p ISBN 857282166-X

24 Coisas de cidade Joseacute Gerardo Vasconcelos e Shara Jane Holanda Costa Adad ISBN 85-7282-172-4

25 O caminho se faz ao caminhar Maria Nobre Damasceno e Celecina de Maria Vera Sales (Orgs) 2005 230p ISBN 85-7282-179-1

26 Artesania do saber tecendo os fios da educaccedilatildeo popular Maria Nobre Damasceno (Org) 2005 169p ISBN 85-7282-181-3

27 Histoacuteria da educaccedilatildeo instituiccedilotildees protagonistas e praacuteticas Maria Juraci Maia Cavalcante e Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Orgs) 458p ISBN 85-7282-182-1

28 Linguagens literatura e escola Sylvie Delacours-Lins e Siacutelvia Helena Vieira Cruz (Orgs) 2005 221p ISBN 85-7282-184-8

29 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade em Paulo Freire Maria Erciacutelia Braga de Olinda e Joatildeo Batista de A Figueiredo (Orgs) 2006 ISBN 85-7282-186-4

30 Curriacuteculos contemporacircneos formaccedilatildeo diversidade e identidades em transiccedilatildeo Luiz Botelho Albuquerque (Org) 2006 ISBN 85-7282-188-0

31 Cultura de paz educaccedilatildeo ambiental e movimentos sociais Kelma Socorro Lopes de Matos (Org) 2006 ISBN 85-7282-189-9

32 Movimentos sociais educaccedilatildeo popular e escola a favor da diversidade II Sylvio de Sousa Gadelha e Socircnia Pereira Barreto (Orgs) 2006 172p ISBN 85-7282-192-9

33 Entretantos diversidade na pesquisa educacional Joseacute Gerardo Vasconcelos Emanoel Luiacutes Roque Soares e Isabel Magda Said Pierre Carneiro (Orgs) ISBN 85-7282-194-5

34 Juventudes cultura de paz e violecircncias na escola Maria do Carmo Alves do Bomfim e Kelma Socorro Lopes de Matos (Orgs) 2006 276p ISBN 85-7282-204-6

35 Diversidade sexual perspectivas educacionais Luiacutes Palhano Loiola 183p ISBN 85-7282-214-3

36 Estaacutegio nos cursos tecnoloacutegicos conhecendo a profissatildeo e o profissional Gregoacuterio Maranguape da Cunha Patriacutecia Helena Carvalho Holanda Cristiano Lins de Vasconcelos (Orgs) 93p ISBN 85-7282-215-1

37 Jovens e crianccedilas outras imagens Kelma Socorro Lopes de Matos Shara Jane Ho-landa Costa Adad e Maria Dalva Macedo Ferreira (Orgs) 221p ISBN 85-7282-219-4

38 Histoacuteria da educaccedilatildeo no Nordeste brasileiro Joseacute Gerardo Vasconcelos e Jorge Carvalho do Nascimento (Orgs) 2006 193p ISBN 85-7282-220-8

39 Pensando com arte Joseacute Gerardo Vasconcelos e Joseacute Albio Moreira de Sales (Orgs) 2006 212p ISBN 85-7282-221-6

40 Educaccedilatildeo poliacutetica e modernidade Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Paulino de Sousa (Orgs) 2006 209p ISBN 978-85-7282-231-2

41 Interfaces metodoloacutegicas na histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconce-los Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Zuleide Fernandes de Queiroz e Joseacute Edvar Costa de Arauacutejo (Orgs) 2007 286p ISBN 978-85-7282-232-9

42 Praacuteticas e aprendizagens docentes Erciacutelia Maria Braga de Olinda e Dorgival Gonccedilalves Fernandes (Orgs) 2007 196p ISBN 97885-7282246-6

43 Educaccedilatildeo ambiental dialoacutegica as contribuiccedilotildees de Paulo Freire e as repre-sentaccedilotildees sociais da aacutegua em cultura sertaneja nordestina Joatildeo B A Figueiredo 2007 385p ISBN 978-85-7282-245-9

44 Espaccedilo urbano e afrodescendecircncia estudos da espacialidade negra urbana para o debate das poliacuteticas puacuteblicas Henrique Cunha Juacutenior e Maria Estela Rocha Ramos (Orgs) 2007 209 ISBN 978-85-7282-259-6

45 Outras histoacuterias do Piauiacute Roberto Kennedy Gomes Franco e Joseacute Gerardo Vasconcelos 2007 197p ISBN 978-85-7282-263-3

46 Estaacutegio supervisionado questotildees da praacutetica profissional Gregoacuterio Maranguape da Cunha Patriacutecia Helena Carvalho Holanda e Cristiano Lins de Vasconcelos (Orgs) 2007 163p ISBN 978-85-7282-265-7

47 Alienaccedilatildeo trabalho e emancipaccedilatildeo humana em Marx Jorge Luiacutes de Oli-veira 2007 291p ISBN 978-85-7282-264-0

48 Modo de brincar lembrar e dizer discursividade e subjetivaccedilatildeo Maria de Faacutetima Vasconcelos da Costa Veriana de Faacutetima Rodrigues Colaccedilo e Nelson Barros da Costa (Orgs) 2007 347p ISBN 97885-7282-267-1

49 De novo ensino meacutedio aos problemas de sempre entre marasmos apro-priaccedilotildees e resistecircncias escolares Jean Mac Cole Tavares Santos 2007 270p ISBN 97885-7282-278-7

50 Nietzscheanismos Joseacute Gerardo Vasconcelos Cellina Muniz e Roberto Kennedy Gomes Franco (Orgs) 2008 150p ISBN 97885-7282-277-0

51 Artes do existir trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda e Francisco Silva Cavalcante Juacutenior (Orgs) 2008 353p ISBN 978-85-7282-269-5

52 Em cada sala um altar em cada quintal uma oficina o tradicional e o novo na histoacuteria da educaccedilatildeo tecnoloacutegica no Cariri cearense Zuleide Fernandes de Queiroz (Org) 2008 403p ISBN 978-85-7282-280-0

53 Instituiccedilotildees campanhas e lutas histoacuteria da educaccedilatildeo especial no Cearaacute Vanda Magalhatildees Leitatildeo 2008 169p ISBN 978-85-7282-281-7

54 A pedagogia feminina das casas de caridade do padre Ibiapina Maria das Graccedilas de Loiola Madeira 2008 391p ISBN 978-85-7282-282-4

55 Histoacuteria da educaccedilatildeo mdash vitrais da memoacuteria lugares imagens e praacuteticas culturais Maria Juraci Maia Cavalcante Zuleide Fernandes de Queiroz Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Joseacute Edvar Costa de Araujo (Orgs) 2008 560p ISBN 978-85-7282-284-8

56 Histoacuteria educacional de Portugal discurso cronologia e comparaccedilatildeo Maria Juraci Maia Cavalcante 2008 342p ISBN 978-85-7282-283-1

57 Juventudes e formaccedilatildeo de professores o ProJovem em Fortaleza Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Paulo Roberto de Sousa Silva (Orgs) 2008 198p ISBN 978-85-7282-295-4

58 Histoacuteria da educaccedilatildeo arquivos documentos historiografia narrativas orais e outros rastros Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Org) 2008 276p ISBN 978-85-7282-285-5

59 Educaccedilatildeo utopia e emancipaccedilatildeo Casemiro de Medeiros Campos 2008 104p ISBN 978-85-7282-305-0

60 Entre liacutenguas movimentos e mistura de saberes Shara Jane Holanda Costa Adad Ana Cristina Meneses de Sousa Brandim e Maria do Socorro Rangel (Orgs) 2008 202p ISBN 978-85-7282-306-7

61 Reinventar o presente pois o amanhatilde se faz com a transformaccedilatildeo do hoje Reinaldo Matias Fleuri 2008 76p ISBN 978-85-7282-307-4

62 Cultura de paz do Conhecimento agrave Sabedoria Kelma Socorro Lopes de Matos Verocircnica Salgueiro do Nascimento e Raimundo Nonato Juacutenior (Orgs) 2008 260p ISBN 978-85-7282-311-1

63 Educaccedilatildeo e afrodescendecircncia no Brasil Ana Beatriz Sousa Gomes e Henrique Cunha Juacutenior (Orgs) 2008 291p ISBN 978-85-7282-310-4

64 Reflexotildees sobre a fenomenologia do espiacuterito de Hegel Eduardo Ferreira Chagas Marcos Faacutebio Alexandre Nicolau e Renato Almeida de Oliveira (Orgs) 2008 285p ISBN 978-85-7282-313-5

232 d d 233

65 Gestatildeo escolar saber fazer Casemiro de Medeiros Campos e Milena Marcintha Alves Braz (Orgs) 2009 166p ISBN 978-85-7282-316-6

66 Psicologia da educaccedilatildeo teorias do desenvolvimento e da aprendizagem em discussatildeo Maria Vilani Cosme de Carvalho e Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Orgs) 2008 241p ISBN 978-85-7282-322-7

67 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2008 210p ISBN 978-85-7282-323-4

68 Projovem experiecircncias com formaccedilatildeo de professores em Fortaleza Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2008 214p ISBN 978-85-7282-324-1

69 A filosofia moderna Antonio Paulino de Sousa e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2008 212p ISBN 978-85-7282-314-2

70 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade em Paulo Freire II reflexotildees e possi-bilidades em movimento Joatildeo B A Figueiredo e Maria Eleni Henrique da Silva (Orgs) 2009 189p ISBN 978-85-7282-312-8

71 Letramentos na Web Gecircneros Interaccedilatildeo e Ensino Juacutelio Ceacutesar Arauacutejo e Messias Dieb (Orgs) 2009 286p ISBN 978-85-7282-328-9

72 Marabaixo danccedila afrodescendente Significando a Identidade Eacutetnica do Negro Amapaense Piedade Lino Videira 2009 274p ISBN 978-85-7282-325-8

73 Escolas e culturas poliacuteticas tempos e territoacuterios de accedilotildees educacionais Maria Juraci Maia Cavalcante Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Edvar Costa de Araujo e Zuleide Fernandes de Queiroz (Orgs) 2009 445p ISBN 978-85-7282-333-3

74 Educaccedilatildeo saberes e praacuteticas no Oeste Potiguar Jean Mac Cole Tavares Santos e Zacarias Marinho (Orgs) 2009 225p ISBN 978-85-7282-342-5

75 Labirintos de clio praacuteticas de pesquisa em Histoacuteria Joseacute Gerardo Vasconcelos Samara Mendes Arauacutejo Silva e Raimundo Nonato Lima dos Santos (Orgs) 2009 171p ISNB 978-85-7282-354-8

76 Fanzines autoria subjetividade e invenccedilatildeo de si Cellina Rodrigues Muniz (Org) 2009 139p ISBN 978-85-7282-366-1

77 Besouro cordatildeo de ouro o capoeira justiceiro Joseacute Gerardo Vasconcelos 2009 109p ISBN 978-85-7282-362-3

78 Da teoria agrave praacutetica a escola dos sonhos eacute possiacutevel Adelar Hengemuhle Deacutebora Luacutecia Lima Leite Mendes Casemiro de Medeiros Campos (Orgs) 2010 167p ISBN 978-85-7282-363-0

79 Eacutetica e cidadania educaccedilatildeo para a formaccedilatildeo de pessoas eacuteticas Maacuterie dos Santos Ferreira e Raphaela Cacircndido (Orgs) 2010 115p ISBN 978-85-7282-373-9

80 Qualidade de vida na infacircncia visatildeo de alunos da rede puacuteblica e privada de ensino Lia Machado Fiuza Fialho e Maria Teresa Moreno Valdeacutes 2009 113p ISBN 978-85-7282-369-2

81 Federalismo cultural e sistema nacional de cultura contribuiccedilatildeo ao debate Francisco Humberto Cunha Filho 2010 155p ISBN 978-85-7282-378-4

82 Experiecircncias e diaacutelogos em educaccedilatildeo do campo Kelma Socorro Alves Lopes de Matos Carmen Rejane Flores Wizniewsky Ane Carine Meurer e Cesar De David (Orgs) 2010 129p ISBN 978-85-7282-377-7

83 Tempo espaccedilo e memoacuteria da educaccedilatildeo pressupostos teoacutericos metodoloacutegi-cos e seus objetos de estudo Joseacute Gerardo Vasconcelos Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Edvar Costa de Arauacutejo Joseacute Rogeacuterio Santana Zuleide Fernandes de Queiroz e Ivna de Holanda Pereira (Orgs) 2010 718p ISBN 978-85-7282-385-282

84 Os Diferentes olhares do cotidiano profissional Cassandra Maria Bastos Franco Joseacute Gerardo Vasconcelos e Patriacutecia Maria Bastos Franco 2010 275p ISBN 978-85-7282-381-4

85 Fontes meacutetodos e registros para a histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2010 221p ISBN 978-85-7282-383-8

86 Temas educacionais uma coletacircnea de artigos Luiacutes Taacutevora Furtado Ribeiro e Marco Aureacutelio de Patriacutecio Ribeiro 2010 261p ISBN 978-85-7282-389-0

87 Educaccedilatildeo e diversidade cultural Maria do Carmo Alves do Bomfim Kelma Socorro Alves Lopes de Matos Ana Beatriz Sousa Gomes e Ana Ceacutelia de Sousa Santos 2009 463p ISBN 978-85-7282-376-0

88 Histoacuteria da educaccedilatildeo nas trilhas da pesquisa Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2010 239p ISBN 978-85-7282-384-5

89 Artes do fazer trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2010 335p ISBN 978-85-7282-398-2

90 Laacutepis agulhas e amores histoacuteria de mulheres na contemporaneidade Joseacute Gerardo Vasconcelos Samara Mendes Arauacutejo Silva Cassandra Maria Bastos Franco e Joseacute Rogeacuterio Santana (Orgs) 2010 327p ISBN 978-85-7282-395-1

91 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Raimundo Nonato Junior (Orgs) 2010 337p ISBN 978-85-7282-403-3

92 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade II Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2010 241p ISBN 978-85-7282-407-1

93 Eacutetica e as reverberaccedilotildees do fazer Kleber Jean Matos Lopes Emiacutelio Nolasco de Carvalho e Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Orgs) 2011 205p ISBN 978-85-7282-424-8

94 Contrapontos democracia repuacuteblica e constituiccedilatildeo no Brasil Filomeno Moraes 2010 205p ISBN 978-85-7282-421-7

95 Paulo Freire teorias e praacuteticas em educaccedilatildeo popular mdash escola puacuteblica inclusatildeo humanizaccedilatildeo (Org) 2011 241p ISBN 978-85-7282-419-4

96 Formaccedilatildeo de professores e pesquisas em educaccedilatildeo teorias metodologias praacuteticas e experiecircncias docentes Francisco Ari de Andrade e Jean Mac Cole Tavares Santos (Orgs) 2011 307p ISBN 978-85-7282-427-9

97 Experiecircncias de avaliaccedilatildeo curricular possibilidades teoacuterico-praacuteticas Mei-recele Caliope Leitinho e Patriacutecia Helena Carvalho Holanda (Orgs) 2011 208p ISBN 978-85-7282-437-8

98 Elogio do cotidiano educaccedilatildeo ambiental e a pedagogia silenciosa da caatinga no sertatildeo piauiense Saacutedia Gonccedilalves de Castro (Orgs) 2011 243p ISBN 978-85-7282-438-6

99 Recortes das sexualidades Adriano Henrique Caetano Costa Alexandre Martins Joca e Francisco Pedrosa Ramos Xavier Filho (Orgs) 2011 214p ISBN 978-85-7282-444-6

100 O Pensamento pedagoacutegico hoje Joseacute Gerardo Vasconcelos e Joseacute Rogeacuterio Santana (Orgs) 2011 187p ISBN 978-85-7282-428-6

101 Inovaccedilotildees cibercultura e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vasconcelos Vania Marilande Ceccatto Francisco Herbert Lima Vasconcelos e Juacutelio Wilson Ribeiro (Orgs) 2011 301p ISBN 978-85-7282-429-3

102 Tribuna de vozes Joseacute Gerardo Vasconcelos Renata Rovaris Diorio e Flaacutevio Joseacute Moreira Gonccedilalves (Orgs) 2011 530p ISBN 978-85-7282-446-0

103 Bioinformaacutetica ciecircncias biomeacutedicas e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho Francisco Fleury Uchoa Santos Juacutenior Vacircnia Marilande Ceccatto (Orgs) 2011 277p ISBN 978-85-7282-450-7

104 Dialogando sobre metodologia cientiacutefica Helena Marinho Joseacute Rogeacuterio Santana e (Orgs) 2011 165p ISBN 978-85-7282-463-7

234 d d 235

105 Cultura educaccedilatildeo espaccedilo e tempo Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Keila Andrade Haiashida Lia Machado Fiuza Fialho Rui Martinho Rodrigues e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2011 743p ISBN 978-85-7282-453-8

106 Artefatos da cultura negra no Cearaacute Henrique Cunha Juacutenior Joselina da Silva e Cicera Nunes (Orgs) 2011 283p ISBN 978-85-7282-464-4

107 Espaccedilos e tempos de aprendizagens geografia e educaccedilatildeo na cultura Stanley Braz de Oliveira Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Gerardo Vasconcelos e Maacutercio Igleacutesias Arauacutejo Silva (Orgs) 2011 157p ISBN 978-85-7282-483-5

108 Muitas histoacuterias muitos olhares relatos de pesquisas na histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vasconcelos Gablielle Bessa Pereira Maia e Lia Machado Fiuza Fialho (Orgs) 2011 339p ISBN 978-85-7282-466-8

109 Imagem memoacuteria e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vas-concelos Lia Machado Fiuza Fialho Cibelle Amorim Martins e Favianni da Silva (Orgs) 2011 322p ISBN 978-85-7282-480-4

110 Corpos de rua cartografia dos saberes Juvenis e o Sociopoetizar dos Desejos dos Educadores Shara Jane Holanda Costa Adad 2011 391p ISBN 978-85-7282-447-7

111 Baratildeo e o prisioneiro biografia e histoacuteria de vida em debate Charliton Joseacute dos Santos Machado Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Joseacute Gerardo Vasconcelos 2011 76p ISBN 978-85-7282-475-0

112 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade II Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2011 363p ISBN 978-85-7282-481-1

113 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade III Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2011 331p ISBN 978-85-7282-484-2

114 Diaacutelogos em educaccedilatildeo ambiental Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Joseacute Levi Furtado Sampaio (Org) 2012 350p ISBN 978-85-7282-488-0

115 Artes do sentir trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2011 406p ISBN 978-85-7282-490-3

116 Milagre martiacuterio protagonismo da tradiccedilatildeo religiosa popular de Juazeiro padre Ciacutecero beata Maria de Arauacutejo romeirosas e romarias Luis Eduardo Torres Bedoya (Org) 2011 189p ISBN 978-85-7282-462-091

117 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade III encantos que se encontram nos diaacutelogos que acompanham Freire Joatildeo Batista de Oliveira Figueiredo e Maria Eleni Henrique da Silva (Orgs) 2012 212p ISBN 978-85-7282-454-5

118 As contribuiccedilotildees de Paramahansa Yogananda agrave educaccedilatildeo ambiental Arnoacutebio Albuquerque 2011 233p ISBN 978-85-7282-456-9

119 Educaccedilatildeo brasileira em muacuteltiplos olhares Francisco Ari de Andrade Anto-nia Rozimar Machado e Rocha Janote Pires Marques e Helena de Lima Marinho Rodrigues Arauacutejo 2012 326p ISBN 978-85-7282-499-6

120 Educaccedilatildeo musical campos de pesquisa formaccedilatildeo e experiecircncias Luiz Botelho Albuquerque e Pedro Rogeacuterio (Orgs) 2012 296p ISBN 978-7282-505-4

121 A questatildeo da praacutetica e da teoria na formaccedilatildeo do professor Ada Augus-ta Celestino Bezerra Marilene Batista da Cruz Nascimento e Edineide Santana (Orgs) 2012 218p ISBN 978-7282-503-0

122 Histoacuteria da educaccedilatildeo real e virtual em debate Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho (Orgs) 2012 524p ISBN 978-85-7282-509-2

123 Educaccedilatildeo perspectivas e reflexotildees contemporacircneas Alice Nayara dos Santos Ana Paula Vasconcelos de Oliveira Tahim e Gabrielle Silva Marinho (Orgs) 2012 191p ISBN 978-85-7282-491-0

124 Uacutelceras por pressatildeo uma Abordagem Multidisciplinar Miriam Viviane Baron Joseacute Rogeacuterio Santana Cristine Brandenburg Lia Machado Fiuza Fialho e Marcelo Carneiro (Orgs) 2012 315p ISBN 978-85-7282-489-7

125 Somos todos seres muito especiais uma anaacutelise psico-pedagoacutegica da poliacutetica de educaccedilatildeo inclusiva Ada Augusta Celestino Bezerra e Maria Auxiliadora Aragatildeo de Souza 2012 183p ISBN 978-85-7282-517-7

126 Memoacuterias de Baobaacute Sandra Haydeacutee Petit e Geranilde Costa e Silva (Orgs) 2012 281p ISBN 978-85-7282-501-6

127 Caldeiratildeo saberes e praacuteticas educativas Ceacutelia Camelo de Sousa e Lecircda Vascon-celos Carvalho 2012 135p ISBN 978-85-7282-521-4

128 As Redes sociais e seu impacto na cultura e na educaccedilatildeo do seacuteculo XXI Ronaldo Nunes Linhares Simone Lucena e Andrea Versuti (Orgs) 2012 369p ISBN 978-85-7282-522-1

129 Corpografia multiplicidades em fusatildeo Shara Jane Holanda Costa Adad e Fran-cisco de Oliveira Barros Juacutenior (Orgs) 2012 417p ISBN 978-85-7282-527-6

130 Infacircncia e instituiccedilotildees educativas em Sergipe Miguel Andreacute Berger (Org) 2012 203p ISBN 978-85-7282-519-1

131 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade III Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2012 441p ISBN 978-85-7282-530-6

132 Imprensa impressos e praacuteticas educativas estudos em histoacuteria da edu-caccedilatildeo Miguel Andreacute Berger e Ester Fraga Vilas-Bocircas Carvalho do Nascimento (Orgs) 2012 333p ISBN 978-85-7282-531-3

133 Proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro por meio do tombamento estudo criacutetico e comparado das legislaccedilotildees estaduais mdash Organizadas por Regiotildees Francisco Humberto Cunha Filho (Org) 2012 183p ISBN 978-85-7282-535-1

134 Afro arte memoacuterias e maacutescaras Henrique Cunha Junior e Maria Ceciacutelia Felix Calaccedila (Orgs) 2012 91p ISBN 978-85-7282-439-2

135 Educaccedilatildeo musical em todos os sentidos Luiz Botelho Albuquerque e Pedro Rogeacuterio (Orgs) 2013 300p ISBN 978-85-7282-559-7

136 Africanidades Caucaienses saberes conceitos e sentimentos Sandra Haydeacutee Petit e Geranilde Costa e Silva (Orgs) 2012 206p ISBN 978-85-7282-590-0

137 Batuques folias e ladainhas [manuscrito] a cultura do quilombo do Cria-uacute em Macapaacute e sua educaccedilatildeo Videira Piedade Lino 2012 399p ISBN 978-85-7282-536-8

138 Conselho escolar processos mobilizaccedilatildeo formaccedilatildeo e tecnologia Francisco Herbert Lima Vasconcelos Swamy de Paula Lima Soares Cibelle Amorim Martins Cefisa Maria Sabino Aguiar (Orgs) 2013 370p ISBN 978-85-7282-563-4

139 Sindicalismo sem Marx a CUT como espelho Jorge Luiacutes de Oliveira 2013 570p ISBN 978-85-7282-572-6

140 Catharina Moura e o Feminismo na Parahyba do Norte processos mobilizaccedilatildeo formaccedilatildeo e tecnologia Charliton Joseacute dos Santos Machado Maria Luacutecia da Silva Nunes e Maacutercia Cristiane Ferreira Mendes (Autores) 2013 131p ISBN 978-85-7282-574-0

141 Sequecircncia Fedathi uma proposta pedagoacutegica para o ensino de matemaacute-tica e ciecircncias Francisco Edisom Eugenio de Sousa Francisco Herbert Lima Vasconcelos Hermiacutenio Borges Neto et al (organizadores) 2013 184p ISBN

978-85-7282-573-3142 Transdisciplinaridade na educaccedilatildeo de jovens e adultos colcha de retalhos

ndash conhecimento emancipaccedilatildeo e autoria Ada Augusta Celestino Bezerra e Paula Tauana Santos 2013 109p ISBN 978-85-7282-476-7

236 d d 237

143 Pedagogia organizacional gestatildeo avaliaccedilatildeo amp praacuteticas educacionais Marcos Antonio Martins Lima e Gabrielle Silva Marinho (organizadores) 2013 221p ISBN 978-85-7282-496-5

144 Educaccedilatildeo e formaccedilatildeo de professores questotildees contemporacircneas Ada Augusta Celestino Bezerra e Marilene Batista da Cruz Nascimento (organizadoras) 2013 368p ISBN 978-85-7282-576-4

145 Configuraccedilatildeo do trabalho docente a instruccedilatildeo primaacuteria em Sergipe no seacuteculo XIX (1826-1889) Simone Silveira Amorim 2013 331p ISBN 978-85-7282-575-7

146 Dez anos da Lei No 1063903 memoacuterias e perspectivas Regina de Fatima de Jesus Mairce da Silva Arauacutejo e Henrique Cunha Juacutenior (Orgs) 2013 366p ISBN 978-85-7282-577-1

147 A Histoacuteria Autores e Atores compreensatildeo do mundo educaccedilatildeo e cidadania Rui Martinho Rodrigues 2013 306p ISBN 978-85-7282-583-2

148 Os intelectuais Rui Martinho Rodrigues 2013 164p ISBN 978-85-7282-581-8149 Dinameacuterico Soares do Nascimento uma histoacuteria de poesia paixatildeo e dor

Charliton Joseacute dos Santos Machado Eliel Ferreira Soares e Fabiana Sena (Autores) 2013 76p ISBN 978-85-7282-580-1

150 Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo no Cearaacute Joseacute Gerardo Vasconcelos Lia Machado Fiuza Fialho Joseacute Rogeacuterio Santana Lourdes Rafaella Santos Florecircncio Rui Martinho Rodrigues Dijane Maria Rocha Viacutector e Stanley Braz de Oliveira (Orgs) 2013 218p ISBN 978-85-7282-591-7

151 Pesquisas Biograacuteficas na Educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho Dijane Maria Rocha Victor Antonio Roberto Xavier e Roberta Luacutecia Santos de Oliveira (Orgs) 2013 299p ISBN 978-85-7282-578-8

152 Vejo um museu de grandes novidades o tempo natildeo para Sociopoe-tizando o museu e musealizando a vida Elane Carneiro de Albuquerque 2013 233p ISBN 978-85-7282-587-0

153 A construccedilatildeo da tradiccedilatildeo no Jongo da Serrinha uma etnografia visual do seu processo de espetacularizaccedilatildeo Pedro Somonard 2013 225p ISBN 978-85-7282-588-7

154 Medida socioeducativa de internaccedilatildeo educa Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Organizadora) 2013 370p ISBN 978-85-7282-592-4

155 Palavras e admiraccedilotildees Fernando Luiz Ximenes Rocha 2013 208 ISBN 978-85-7282-593-1

156 Educaccedilatildeo Ambiental e sustentabilidade IV Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Organizadora) 2013 564p ISBN 978-85-7282-596-2

157 Educaccedilatildeo Brasileira rumos e prumos Francisco Ari de Andrade Dijane Maria Rocha Viacutector e Regina Claacuteudia Oliveira da Silva (Orgs) 2013 462pISBN 978-85-7282-594-8

158 Curriacuteculo diaacutelogos possiacuteveis Alice Nayara dos Santos e Pedro Rogeacuterio (organizadoras) 2013 418p ISBN 978-85-7282-585-6

159 Pesquisas educacionais biograacuteficas Lia Machado Fiuza Fialho Gildecircnia Moura de Arauacutejo Almeida e Edilson Silva Castro (Orgs) 2013 166p ISBN 978-85-7282-600-6

160 Hieroacutepolis o sagrado o profano e o urbano Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joumlrn Seemann Josier Ferreira da Silva Christian Dennys

Monteiro de Oliveira e Stanley Braz de Oliveira (Organizadores) 2013 486p ISBN 978-85-7282-603-7

161 Praacuteticas educativas exclusatildeo e resistecircncia Joseacute Gerardo Vasconcelos Lia Machado Fiuza Fialho e Lourdes Rafaella Santos Florecircncio (Organizadores) 2013 166p ISBN 978-85-7282-601-3

162 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade IV Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Organizadora) 2014 520p ISBN 978-85-7282-602-0

163 No ar um poeta Henrique Beltratildeo 2014 361p ISBN 978-85-7282-615-0164 Caacute e Acolaacute experiecircncias e debates Multiculturais Gledson Ribeiro de Olivei-

ra Jeannette Filomeno Pouchain Ramos e Bruno Okoudowa (Organizadores) 2014 339p ISBN 978-85-7282-607-5

165 Ensaios em memoacuterias e oralidades Lia Machado Fiuza Fialho Charliton Joseacute dos Santos Machado Gildecircnia Moura de Arauacutejo Almeida e Joseacute Rogeacuterio Santana (Organizadores) 2014 183p ISBN 978-85-7282-610-5

166 Pelos fios da memoacuteria Lia Machado Fiuza Fialho Charliton Joseacute dos Santos Machado Josier Ferreira da Silva e Joseacute Rogeacuterio Santana (Organizadores) 2013 154p ISBN 978-85-7282-609-9

167 Acessibilidade na UFC tessituras possiacuteveis Vanda Magalhatildees Leitatildeo e Tania Vicente Viana (Organizadoras) 2014 237p ISBN 978-85-7282- 611-2

Page 4: UFC · 2019. 6. 4. · Presidente da República Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Aloizio Mercadante Universidade Federal do Ceará Reitor Prof. Jesualdo Pereira Farias Vice-Reitor

de Psicomotricidade Sessatildeo Cearaacute (SBPC) Mestre em Educaccedilatildeo Brasi-leira pela Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFCE-mail ssamarateixeirayahoocombr

Hamilton Rodrigues Tabosa ndash Professor do Departamento de Ciecircn-cias da Informaccedilatildeo da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Douto-rando do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo da Universidade Federal da Para-iacuteba (UFPB) Mestre em Avaliaccedilatildeo de Poliacuteticas Puacuteblicas Especialista em Gestatildeo Universitaacuteria e Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Cearaacute E-mail hamiltonrtufcbr

Inecircs Cristina de Melo Mamede ndash Professora Associada da Fa-culdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela FacedUFC e Poacutes-Dou-toranda em Formaccedilatildeo Cultural Esteacutetica Artiacutestica de Professores pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) E-mail imamedeufcbr

Jeriane da Silva Rabelo ndash Graduanda do curso de Pedagogia da Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) Estagiaacuteria do projeto Aprender Jun-tos do programa Palavra de Crianccedila UNICEFFCPC Bolsista voluntaacuteria do programa de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia (PID) E-mail jerianeufcgmailcom

Lucimeire Alves Moura ndash Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Especialista em Planejamento Educacional e Psicopedagogia Cliacutenica e Institucional (UVA) Atendimento Educacional Especializado (UFC) Professora da Universidade Estadual Vale do Aca-rauacute (UVA) Psicopedagoga e professora do Instituto Cearense de Educa-ccedilatildeo de Surdos (ICES) E-mail meireamourayahoocombr

Maria Clarissa Maciel Rodrigues ndash Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Professora da Escola de Ensino Fundamental Instituto dos Cegos do Cea raacute atuando nas seacuteries iniciais

do Ensino Fundamental Reabilitaccedilatildeo Braille Surdocegueira e Educa-ccedilatildeo de Jovens e Adultos E-mail clarissa_rodriguezhotmailcom

Maria Izalete Inaacutecio Vieira ndash Licenciada em Pedagogia pela Uni-versidade Estadual Vale do Acarauacute (UVA) Bacharel em traduccedilatildeo e in-terpretaccedilatildeo Portuguecircs-Libras-Portuguecircs pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Especialista em Educaccedilatildeo Especial pela UVA Professora de Libras do Instituto Federal de Ciecircncia e Tecnologia do Ce-araacute ndash Campus de Juazeiro do NorteE-mail izaletevieirayahoocombr

Marta Cavalcante Benevides Loureiro ndash Doutoranda em Educa-ccedilatildeo Brasileira pela Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Universidade Fe-deral do Cearaacute (UFC) Especialista em Avaliaccedilatildeo Psicoloacutegica pela UFC Bolsista do Programa REUNI de Orientaccedilatildeo e Operacionalizaccedilatildeo da Poacutes-Graduaccedilatildeo articulada agrave Graduaccedilatildeo ndash PROPAG do Projeto CAPESREUNI E-mail martacbenevidesgmailcom

Pliacutenio Renan Gonccedilalves da Silveira ndash Arquiteto e Urbanista gra-duado pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Desenvolve Projetos e Diagnoacutesticos das Condiccedilotildees de Acessibilidade Fiacutesica Linha de Pesquisa Acessibilidade e Acessibilidade para Idosos E-mail pliniorenangmailcom

Tania Vicente Viana ndash Professora Adjunta do Departamento de Fundamentos da Educaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) Professora do Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da FacedUFC Linha de pesquisa Avaliaccedilatildeo Educacional Eixo temaacutetico Avaliaccedilatildeo da aprendizagem Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela FacedUFC E-mail taniavianaufcbr

Tereza Liduina Grigoacuterio Fernandes ndash Professora de Apoio Peda-goacutegico na aacuterea de surdez do Centro de Referecircncia em Educaccedilatildeo Especial

SUMAacuteRIOdo Estado do Cearaacute Integrante da Equipe de Educaccedilatildeo Especial da Se-cretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio de Fortaleza Doutoranda em Educa-ccedilatildeo pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail teresaliduinagmailcom

Vanda Magalhatildees Leitatildeo ndash Professora Associada I do Departamento de Estudos Especializados da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) Diretora da Secretaria de Acessibili-dade UFC Inclui Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela FacedUFCE-mail vandaufcbr

Valeacuteria Gomes Pereira ndash Graduada em Biblioteconomia pela Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail 2005valeriabolcombr

Zilsa Maria Pinto Santiago ndash Professora Adjunta do Curso de Ar-quitetura e Urbanismo do Centro de Tecnologia da Universidade Fede-ral do Cearaacute (UFC) Mestre em Arquitetura e Urbanismo pelo Mestra-do Interinstitucional com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela Faculdade de Educaccedilatildeo ndash FacedUFC Professora de Educaccedilatildeo e Mobi-lidade no curso de Especializaccedilatildeo em Gestatildeo de Tracircnsito e Transportes Urbanos do Departamento de Engenharia de TransportesUFC Mem-bro do Grupo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC IncluiE-mail zilsaarquiteturaufcbr

PREFAacuteCIORita de Caacutessia Barbosa Paiva Magalhatildees 11

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVanda Magalhatildees Leitatildeo 19

ACESSO Agrave INFORMACcedilAtildeO POR DEFICIENTES VISUAIS EM BIBLIOTECAS CEARENSESValeacuteria Gomes PereiraHamilton Rodrigues Tabosa 39

BIBLIOTECA INCLUSIVA CONSTRUINDO PONTES ENTRE O VISIacuteVEL E O INVISIacuteVELClemilda dos Santos SousaJeriane da Silva Rabelo 59

O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIABeatriz Furtado Alencar LimaCarla Poennia Gadelha Soares 75

SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLEMaria Clarissa Maciel RodriguesInecircs Cristina de Melo Mamede 95

ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeOMaria Izalete Inaacutecio Vieira 123

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteMarta Cavalcante BenevidesTania Vicente Viana 147

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PREFAacuteCIO

Tudo passa e tudo fica poreacutem o nosso eacute passar passar fazendo caminhos

(Antonio Machado )

No Brasil ateacute a deacutecada de 1980 poucas pessoas com deficiecircncia1 ingressavam no Ensino Superior fato que pode estar diretamente relacionado ao acesso restrito dessa popu-laccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Baacutesica aos serviccedilos especializados e indica o longo periacuteodo de sua exclusatildeo dos direitos sociais baacutesicos em nosso paiacutes Gradativamente com o advento da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva inclusiva tal populaccedilatildeo enfren-tando condiccedilotildees ainda adversas finaliza o Ensino Meacutedio e al-meja o ingresso no Ensino Superior

A despeito de todas as ponderaccedilotildees passiacuteveis de serem realizadas sobre sua funccedilatildeo social no contexto da atual crise do capitalismo com suas modalidades precaacuterias de participa-ccedilatildeo e de acesso ao conjunto dos bens e serviccedilos socialmente produzidos a Educaccedilatildeo Especial na perspectiva inclusiva des-ponta como um princiacutepio eacutetico em busca da garantia do direi-to agrave Educaccedilatildeo peremptoriamente negado a muitas geraccedilotildees de estudantes com deficiecircncia

No caso brasileiro a Educaccedilatildeo Especial com feiccedilotildees es-tatais surgiu apenas no apogeu do ldquomilagre brasileirordquo propa-lado pelos governos militares De certa forma seu ldquosucessordquo naufraga com estes governos para ressurgir com extraordi-

1 Embora a Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva Inclusiva reco-nheccedila que seu puacuteblico eacute composto por pessoas com deficiecircncia transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo neste prefaacutecio usaremos predominantemente a expressatildeo pessoas com deficiecircncia

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteFrancisca Samara Teixeira CarvalhoTania Vicente Viana 169

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ Tereza Liduina Grigoacuterio FernandesLucimeire Alves MouraEdson Silva SoaresTania Vicente Viana 193

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute Zilsa Maria Pinto SantiagoPliacutenio Renan Gonccedilalves da Silveira 213

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naacuteria forccedila no acircmbito do debate da ldquoEducaccedilatildeo para todosrdquo na deacutecada de 1990 Esse debate aponta para a perspectiva de democratizaccedilatildeo dos sistemas escolares em todos os seus niacute-veis e modalidades Todavia quando o assunto eacute Educaccedilatildeo Inclusiva o foco hegemocircnico das investigaccedilotildees cientiacuteficas e publicaccedilotildees eacute a inclusatildeo na Educaccedilatildeo Baacutesica Ora atualmente a Educaccedilatildeo Inclusiva no Ensino Superior representa um dos desafios prementes para a real democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior e consequentemente para a denominada docecircncia universitaacuteria dimensatildeo que natildeo tem recebido o tratamento necessaacuterio

Na contracorrente da tradicional seletividade e elitismo que caracterizam a Educaccedilatildeo Superior no Brasil a universi-dade constitui um rico espaccedilo social onde as ldquodiferenccedilasrdquo co-meccedilam a estar presentes Nesse sentido a instituiccedilatildeo univer-sitaacuteria necessita envidar esforccedilos e planejar accedilotildees educativas com vistas agrave garantia de condiccedilotildees de acesso de participaccedilatildeo de aprendizagem isto eacute assegurar o sucesso escolar da popu-laccedilatildeo-alvo da Educaccedilatildeo Inclusiva

Essa garantia pode dinamizar accedilotildees formativas po-tencializadoras tanto da aprendizagem desses estudantes quanto de atividades pedagoacutegicas necessaacuterias para a quebra de barreiras arquitetocircnicas atitudinais e pedagoacutegicas tatildeo co-muns nos processos de Educaccedilatildeo de pessoas consideradas de-ficientes A superaccedilatildeo dessas barreiras especialmente aque-las de cunho pedagoacutegico exige das universidades estrateacutegias capazes de fomentar programas de formaccedilatildeo para docentes universitaacuterios bem como formas de questionar praacuteticas cris-talizadas e pautadas na desinformaccedilatildeo no preconceito e na estigmatizaccedilatildeo

Este livro ndash fruto de trabalho desenvolvido na Univer-sidade Federal do Cearaacute (UFC) ndash apresenta um robusto pano-

rama de investigaccedilotildees reflexotildees e praacuteticas desenvolvidas na referida universidade na busca por uma Educaccedilatildeo Superior democraacutetica e acessiacutevel

O capiacutetulo ldquoCaminhos para a acessibilidade na UFCrdquo de autoria da doutora Vanda Magalhatildees Leitatildeo docente da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFC abre o livro e traccedila um panorama das demandas por acessibilidade na referida universidade aleacutem de descrever o nascedouro da ldquoSecretaria de Acessibilidade da UFCrdquo Discute a experiecircncia vivenciada pautada sobremodo na afirmaccedilatildeo das diferenccedilas e na cons-truccedilatildeo de perspectiva chamada ldquocaminho de matildeo duplardquo na qual sujeitos com e sem deficiecircncia encontram-se implicados no desafio de construir uma universidade de fato inclusiva

No segundo capiacutetulo denominado ldquoAcesso agrave informa-ccedilatildeo por deficientes visuais em bibliotecas cearensesrdquo Valeacuteria Gomes Pereira e Hamilton Rodrigues Tabosa respectivamen-te aluna e docente do curso de Biblioteconomia da UFC dis-cutem a situaccedilatildeo das bibliotecas cearenses quanto agrave acessibi-lidade atraveacutes de tecnologias assistivas eletrocircnicas O estudo ressalta a importacircncia da biblioteca e do acesso agrave informaccedilatildeo como agentes transformadores Mostra tambeacutem o papel do bibliotecaacuterio como suporte para estudantes com deficiecircncia visual no acesso agrave informaccedilatildeo

O capiacutetulo terceiro do livro denominado ldquoBiblioteca Inclusiva construindo pontes entre o visiacutevel e o invisiacutevelrdquo escrito em parceria por Clemilda dos Santos Sousa (Biblio-tecaacuteria do Sistema de Bibliotecas da UFC) e por Jeriane da Silva Rabelo (graduanda em Pedagogia da mesma instituiccedilatildeo) volta a discutir questotildees relativas agraves bibliotecas no contexto dos processos de Educaccedilatildeo Inclusiva no Ensino Superior De-fende a importacircncia da acessibilidade ao espaccedilo da biblioteca aleacutem de mostrar a organizaccedilatildeo do Sistema de Biblioteca da

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UFC no que concerne ao contato com o material bibliograacutefico por parte de pessoas com deficiecircncia visual Evidencia que a digitalizaccedilatildeo de material bibliograacutefico natildeo constitui atividade--fim mas um meio para mediar o contato dessas pessoas com o conhecimento cientiacutefico

No segmento o quarto capiacutetulo intitulado ldquoO serviccedilo de ledores na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui um re-lato de experiecircnciardquo escrito por Beatriz Furtado Alencar Lima (Professora do curso de Letras da UFC) e Carla Poennia Ga-delha Soares (Superintendente Escolar da Coordenadoria Re-gional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo do Estado do Cearaacute) relata a experiecircncia vivenciada no projeto ldquoAtendimento Edu-cacional Especializado para alunos com deficiecircncia visual de universidades puacuteblicas do municiacutepio de Fortalezardquo Explicita a relevacircncia da organizaccedilatildeo de alternativas de atendimento agraves necessidades especiacuteficas de estudantes com deficiecircncia no acircmbito do Ensino Superior com vistas a colaborar para a que-bra de barreiras e promover a participaccedilatildeo e aprendizagem dos mesmos

O quinto capiacutetulo denominado ldquoSeis pontos para a alfa-betizaccedilatildeo especificidades na aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas cegas por meio do Sistema Braillerdquo escrito em parceria pela aluna do curso de Pedagogia da UFC Maria Clarissa Maciel Rodrigues e pela professora Inecircs Cristina de Melo Mamede docente da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFC mostra resultados de uma investigaccedilatildeo cientiacutefica um estudo de caso cujo objetivo foi investigar as especificidades do processo de aquisiccedilatildeo da escrita pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille Aleacutem de revelar tais peculiaridades estabelece interlocuccedilatildeo com a perspectiva de construccedilatildeo da liacutengua escrita proposta pela psicogecircnese piagetiana com fulcro nos estudos de Emiacutelia Ferreiro

O sexto capiacutetulo designado ldquoAbrindo uma janela para a comunicaccedilatildeordquo de autoria de Maria Izalete Inaacutecio Vieira dis-cute a importacircncia da liacutengua de sinais no processo de educa-ccedilatildeo de pessoas surdas e descreve a expansatildeo da acessibilidade para surdos por intermeacutedio de um projeto piloto de legenda-gem em Libras do programa televisivo com periodicidade se-manal UFCTV Essa experiecircncia demonstra a incontornaacutevel necessidade de accedilotildees capazes de revelar para a comunidade em geral que a garantia do direito agrave informaccedilatildeo a toda a po-pulaccedilatildeo inclusive os surdos depende da construccedilatildeo de uma universidade inclusiva e acessiacutevel para todos

No seacutetimo capiacutetulo a doutoranda em Educaccedilatildeo pela UFC Marta Cavalcante Benevides e Tania Vicente Viana do-cente da citada instituiccedilatildeo discutem a ldquoAvaliaccedilatildeo da apren-dizagem de alunos com deficiecircncia estudo de caso em uma instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza--Cearaacuterdquo Destacam aspectos relativos agrave avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem desses alunos ponderando sobre a adequaccedilatildeo da ava-liaccedilatildeo formativa realizada com atividades contextualizadas Evidenciam que a praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem des-tinada aos alunos com deficiecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo de uma IES puacuteblica ainda carece de condiccedilotildees de acessibilidade

O capiacutetulo oito denominado ldquoAvaliaccedilatildeo da aprendiza-gem de alunos com deficiecircncia em Cursos das Ciecircncias Exa-tas estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica Federal de Fortaleza-Cearaacuterdquo escrito por Fran-cisca Samara Teixeira Carvalho (Mestre em Educaccedilatildeo pela UFC) e Tania Vicente Viana (docente da referida instituiccedilatildeo) discute o processo de avaliaccedilatildeo de aprendizagem no contexto inclusivo tecendo criacuteticas aos modelos tradicionais pautado em exames e defende a perspectiva da avaliaccedilatildeo como media-

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dora dos processos de ensino-aprendizagem Mostra ainda que no acircmbito dos Cursos de Ciecircncias Exatas investigados embora se reconheccedila a necessidade de adequaccedilotildees no proces-so avaliativo de pessoas com deficiecircncia existe a necessidade de implantar uma cultura avaliativa que supere a perspectiva tradicional

O nono capiacutetulo intitulado ldquoCapacidades silentes iden-tificaccedilatildeo educacional de altas habilidades em alunos com sur-dezrdquo retoma a temaacutetica do artigo anterior e foi elaborado por Tereza Liduina Grigoacuterio Fernandes e Lucimeire Alves Moura ambas do Centro de Referecircncia em Educaccedilatildeo Especial do Es-tado do Cearaacute em parceria com Edson Silva Soares (docen-te da UFC) e Tania Vicente Viana (docente da UFC) Revela originalidade em duas vertentes Por um lado trata-se do re-sultado de uma investigaccedilatildeo elaborada de modo interinstitu-cional por outro lado trata-se de um trabalho original para a pesquisa em Educaccedilatildeo Especial por pesquisar nas interfaces entre surdez e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo

Finalizando o livro o artigo ldquoPercursos e perspectivas da acessibilidade fiacutesica na Universidade Federal do Cearaacuterdquo de autoria de Zilsa Maria Pinto Santiago (docente do curso de Arquitetura da UFC) e Pliacutenio Renan Gonccedilalves da Silvei-ra (monitor do Projeto UFC Inclui) descreve accedilotildees desen-volvidas por esta universidade na melhoria da qualidade do acesso fiacutesico aos campi bem como enfatiza questotildees teacutecnicas relativas aos desafios pertinentes agrave acessibilidade nos espaccedilos da citada universidade

O conjunto de artigos enfeixados na presente obra aborda um leque variado de temas pertinentes para o cam-po da Educaccedilatildeo Inclusiva e instigam nossa capacidade criacuteti-ca e investigativa Revelam caminhos conquistas e desafios peculiares agrave constituiccedilatildeo de uma universidade puacuteblica atenta

as demandas de seu alunado Fica expliacutecito o engajamento dos(as) autores(as) na conquista diaacuteria por espaccedilos acessiacuteveis e por uma Educaccedilatildeo Superior Inclusiva Sua leitura revela-se pois essencial para todos os que lutam por uma universidade puacuteblica de qualidade

Rita de Caacutessia Barbosa Paiva Magalhatildees Docente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Educaccedilatildeo Centro de Educaccedilatildeo Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFC

Vanda Magalhatildees Leitatildeo

Introduccedilatildeo

A inclusatildeo social de pessoas com deficiecircncia no Bra-sil eacute um tema em efervescecircncia e resulta da dialeticidade de muacuteltiplos fatores Em meio ao processo soacutecio-histoacuterico destacam-se as contribuiccedilotildees teoacutericas das Ciecircncias Sociais e Humanas que se entrelaccedilam dando suporte e forccedila poliacuteti-ca aos movimentos sociais organizados por essas pessoas em defesa dos seus direitos Esses segmentos sociais desafiam o poder puacuteblico se fortalecem e se tornam visiacuteveis falando de si e de suas necessidades sob a maacutexima Nada Sobre Noacutes Sem Noacutes1

No Brasil a mobilizaccedilatildeo da sociedade civil em busca dos direitos humanos de pessoas com deficiecircncia se eviden-cia a partir dos meados do seacuteculo XX quando haacute registro de criaccedilatildeo das primeiras instituiccedilotildees especializadas para o aten-dimento dessas pessoas o Instituto Pestalozzi e a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE) satildeo exemplos Aleacutem disso as Campanhas Nacionais2 ocorridas entre 1957 e 1960 em defesa da educaccedilatildeo de cegos surdos e deficientes mentais3 sob a lideranccedila do Instituto Benjamim Constant Instituto Na-cional de Educaccedilatildeo de Surdos Sociedade Pestalozzi do Bra-

1 Lema internacional indicativo de que as organizaccedilotildees de pessoas com deficiecircncia devem ser consultadas sempre que estiverem sendo desenvolvidos programas padrotildees e normas para a acessibilidade2 Refiro-me agrave Campanha de Educaccedilatildeo de Surdos no Brasil (CESB 1957) Campa-nha Nacional de Educaccedilatildeo de Cegos (CNEC 1960) e a Campanha de Educaccedilatildeo de Deficientes Mentais (CADEME 1960) 3 Terminologia utilizada naquele momento histoacuterico

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO20 d d 21

sil e APAE datildeo respaldo agrave organizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial como uma modalidade de ensino voltada a pessoas com defi-ciecircncia e transversal a todas as etapas e niacuteveis de ensino ndash da Educaccedilatildeo Baacutesica ao Ensino Superior Nesse contexto os mo-vimentos pela aceitaccedilatildeo dessas pessoas tambeacutem se evidencia com vista a integraacute-las agrave sociedade Eacute possiacutevel observar que tal movimentaccedilatildeo eacute acompanhada de mudanccedilas terminoloacutegi-cas para designar todos aqueles que se diferenciam por seus modos singulares de apreender o mundo agrave sua volta e com ele se relacionar Satildeo diferenccedilas que resultam de alguma condi-ccedilatildeo de deficiecircncia sensorial intelectual mental ou fiacutesica que apresentem

No Cearaacute os outrora intitulados desvalidos nos primei-ros cinquenta anos do seacuteculo XX passaram a ser denomina-dos de excepcionais numa tentativa de amenizar o significado da deficiecircncia pautado pelo paradigma meacutedico-organicista--funcional Na sequecircncia histoacuterica foram adotadas

[] expressotildees como deficientes portadores de deficiecircn-cia portadores de necessidades especiais Apesar disso satildeo frequentes as manifestaccedilotildees constrangedoras de pessoas que natildeo sabem como se referir ou se aproximar adequadamente daqueles que compotildeem os grupos de pessoas que apresentam diferenccedilas resultantes de suas singulares condiccedilotildees (LEITAtildeO 2010)

Tais denominaccedilotildees reveladas pela historiografia ao longo das uacuteltimas seis deacutecadas baseadas em normas e valores sociais situam esse contingente social em um lugar marginal com intensa valoraccedilatildeo negativa Eacute como se o tempo fosse de-lineando essa categoria de pessoas no esforccedilo de amenizar a carga negativa por meio dos termos e expressotildees substituiacutedos mas que na verdade parecem manter em sua essecircncia o es-tigma da deficiecircncia (LEITAtildeO 2008)

O Ano Internacional das Pessoas com Deficiecircncia insti-tuiacutedo em 1981 marca no Brasil a emergecircncia de movimentos sociais organizados por pessoas com deficiecircncia que estimula reflexotildees num convite ao abandono do conceito de deficiecircncia sob o acircngulo da falta da perda ou diminuiccedilatildeo funcional para uma compreensatildeo social e afirmativa Sem negar a condiccedilatildeo bioloacutegico-funcional que resulta em suas singulares condiccedilotildees sensorial intelectual fiacutesica ou linguiacutestica passam a adotar expressotildees afirmativas como pessoas com deficiecircncia ou tatildeo somente cegas surdas cadeirantes e outras denominaccedilotildees atualmente usuais Sob esse paradigma a afirmaccedilatildeo das con-diccedilotildees de deficiecircncia daacute suporte agrave passagem para as condiccedilotildees de possibilidades

Atualmente com o respaldo das Ciecircncias Humanas e Sociais o conceito de deficiecircncia eacute posto em xeque pelos grupos organizados em associaccedilotildees de pessoas com deficiecircn-cia ao se apropriarem dos estudos socioantropoloacutegicos que datildeo realce agrave diferenccedila como ldquorecortes de um mesmo tecidordquo (OMOTE 1994)

Ao situar as ambiguidades sobre a compreensatildeo que se tem da deficiecircncia o referido autor afirma que

[] a deficiecircncia natildeo eacute algo que emerge com o nasci-mento de algueacutem ou com a enfermidade que algueacutem contrai mas eacute produzida e mantida por um grupo social na medida em que interpreta e trata como desvantagens certas diferenccedilas [] A deficiecircncia e a natildeo-deficiecircncia fazem parte do mesmo quadro fazem parte do mesmo tecido padratildeo (OMOTE 1994 p 69)

A compreensatildeo de que as deficiecircncias satildeo construccedilotildees sociais trazidas por tais estudos e elaboraccedilotildees tecircm reflexo nas palavras da ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidecircncia da Repuacuteblica Maria do Rosaacuterio ao prefaciar o

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO22 d d 23

texto que resultou da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pesso-as com Deficiecircncia4 Diz a ministra

estamos conscientes por exemplo de que hoje natildeo eacute o limite individual que determina a deficiecircncia mas sim as barreiras existentes nos espaccedilos no meio fiacutesico no transporte na informaccedilatildeo na comunicaccedilatildeo e nos serviccedilos (BRASIL 2011)

Nesta perspectiva as pessoas com deficiecircncia satildeo aque-las que se diferenciam por suas singularidades determinadas pela condiccedilatildeo de deficiecircncia que apresentam seja de nature-za fiacutesica sensorial eou intelectual As transformaccedilotildees que outrora eram centradas nas pessoas voltam-se ao ambiente fiacutesico e social para garantir o acesso para tudo a todos5 Eacute com tal compreensatildeo que esse contingente social minoritaacute-rio promove o reconhecimento de que a deficiecircncia eacute um con-ceito em transformaccedilatildeo e que resulta de sua interaccedilatildeo com o meio social Certamente esse entendimento fundamenta-se nas vivecircncias de confronto e enfrentamento com as barreiras a ele impostas Satildeo barreiras que se expressam das mais va-riadas formas tais como as de ordem fiacutesica linguiacutestica comu-nicacional e informacional tecnoloacutegica dentre outras e que certamente tecircm como pano de fundo as atitudes inadequadas que influenciam uma organizaccedilatildeo social muitas vezes hostil e que bloqueia a inserccedilatildeo plena dessas pessoas em igualdade de oportunidades com as demais

No contexto atual as condiccedilotildees de deficiecircncia parecem ser as mesmas transformando-se os modos de se apresenta-rem e de serem compreendidas Percebe-se facilmente que a convivecircncia diaacuteria com pessoas com deficiecircncia traz mudan-

4 Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) ocorrida em 2007 na cidade de Nova Iorque (EUA) O Brasil aprovou o texto da citada Convenccedilatildeo por meio do Decreto Legislativo nordm 186 de 9 de julho de 2008 5 Preceito adotado pela Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

ccedilas de atitudes grupais e individuais ateacute mesmo porque essas pessoas ao revelarem suas possibilidades e autonomia des-fazem muitos mitos construiacutedos socialmente em torno delas Eacute portanto razoaacutevel pensar que algumas atitudes preconcei-tuosas voltadas aos ldquoditos deficientesrdquo resultam tambeacutem do desconhecimento acerca das singularidades que caracterizam as muacuteltiplas condiccedilotildees de deficiecircncia

Assistem-se tambeacutem na atualidade aos debates e em-bates relativos agraves poliacuteticas de inclusatildeo educacional nas redes de educaccedilatildeo que abrangem todos os niacuteveis e modalidades de ensino Tais debates trazem em seu conjunto entrelaccedilamen-tos conceituais que para este texto destaco a inter-relaccedilatildeo de inclusatildeo e acessibilidade No senso comum acessibilidade parece evidenciar os aspectos referentes ao uso dos espaccedilos fiacutesicos Entretanto a acessibilidade numa acepccedilatildeo mais am-pla eacute condiccedilatildeo de possibilidade para a transposiccedilatildeo de barrei-ras que entravam a efetiva participaccedilatildeo com autonomia de pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida nos vaacuterios acircmbitos da vida social

A acessibilidade eacute portanto condiccedilatildeo fundamental e imprescindiacutevel a todo e qualquer processo de inclusatildeo social e se apresenta em muacuteltiplas dimensotildees incluindo aquelas de natureza atitudinal fiacutesica tecnoloacutegica informacional comunicacional linguiacutestica e pedagoacutegica dentre outras E mais eacute uma questatildeo de direito conquistado gradualmente ao longo da histoacuteria social e implica no respeito agraves diferenccedilas e na identificaccedilatildeo e eliminaccedilatildeo dos diversos tipos de barreiras E ainda acessibilidade eacute para todos sobretudo segundo o Decreto nordm 5296 de 2 de dezembro de 2004 para as pes-soas que possuem limitaccedilatildeo para o desempenho de ativida-des enquadrando-se nessa categoria aquelas com deficiecircncia fiacutesica deficiecircncia intelectual deficiecircncia visual (cegueira ou

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO24 d d 25

baixa visatildeo) deficiecircncia auditiva (surdez ou audiccedilatildeo reduzi-da) deficiecircncias muacuteltiplas e as que apresentam mobilidade reduzida

Demandas por Acessibilidade na Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

A amplitude da legislaccedilatildeo brasileira6 atual no tocante agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas a pessoas com deficiecircncia fez surgir muitos programas por parte do governo federal Em se tratan-do da inclusatildeo escolar no acircmbito do Ensino Superior destaca--se o Programa Incluir do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MECSESu) criado em 2005 que convoca as Instituiccedilotildees Federais de Ensino Superior (IFES) para o compromisso com a inclu-satildeo educacional de pessoas que apresentem alguma condiccedilatildeo de deficiecircncia oferecendo suporte para a criaccedilatildeo de nuacutecleos de inclusatildeo Este foi o marco institucional que impulsionou as IFES a avaliarem as suas condiccedilotildees de acessibilidade

Na UFC embora muitas accedilotildees jaacute se fizessem presen-tes ou em desenvolvimento destaca-se o Projeto UFC Inclui contemplado em trecircs chamadas puacuteblicas7 do MECSESu que tinha como objetivo central a estruturaccedilatildeo de um setor que garantisse as accedilotildees de inclusatildeo de alunos no ensino su-perior Dentre as muitas accedilotildees destacaram-se a realizaccedilatildeo de Ciclos de Debates oferta de cursos de Leitura e Escrita no Sistema Braille de Liacutengua Brasileira de Sinais e de Tecno-

6 Refiro-me aos Decretos que tratam especificamente do tema em foco Satildeo eles os principais Decreto nordm 52962004 (Regulamenta as Leis de nordm 100482000 e nordm 100982000) e Decreto nordm 56262005 (Regulamenta a Lei nordm 103462002)7 Na primeira chamada em 2005 a UFC eacute contemplada com Projeto UFC Inclui sob a coordenaccedilatildeo da professora Ana Karina Morais de Lira e coparticipaccedilatildeo das professoras Zilsa Maria Pinto Santiago e Vanda Magalhatildees Leitatildeo Mais duas versotildees desse Projeto foram submetidas agrave concorrecircncia puacuteblica e aprovadas em 2007 e em 2009 dessa feita sob a coordenaccedilatildeo da professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo e copar-ticipaccedilatildeo das professoras Ana Karina Morais de Lira e Zilsa Maria Pinto Santiago

logias Assistivas adaptaccedilotildees de espaccedilos fiacutesicos para a aces-sibilidade implantaccedilatildeo do Centro Digital para Alunos com Deficiecircncia e aquisiccedilatildeo de equipamentos de tecnologias da informaccedilatildeo

Nesse contexto o Magniacutefico Reitor da UFC professor Jesualdo Pereira Farias criou em novembro de 2009 a Co-missatildeo Especial de Educaccedilatildeo Inclusiva (CEIn) responsaacutevel por realizar estudos das condiccedilotildees de acessibilidade com o fim de propor poliacuteticas voltadas para a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia na UFC A equipe composta de professores das vaacuterias aacutereas do conhecimento e de representaccedilatildeo do segmento de servidor teacutecnico-administrativo e de aluno com deficiecircncia realizou um intenso trabalho durante seis meses Nesse periacuteodo foram compartilhadas expectativas e proposi-ccedilotildees discutidos aspectos conceituais realizados levantamen-tos e estudos das condiccedilotildees de acessibilidade

Os levantamentos realizados pela CEIn permitiram a coleta de dados e informaccedilotildees parciais acerca das condiccedilotildees de acessibilidade na UFC abordando os aspectos que dizem respeito agraves atitudes condiccedilotildees fiacutesicas tecnoloacutegicas acesso ao conhecimento e a informaccedilotildees formaccedilatildeo de discentes docen-tes e servidores teacutecnico-administrativos para a acessibilidade e desenvolvimento de pesquisas e estudos realizados nos cur-sos de graduaccedilatildeo e de poacutes-graduaccedilatildeo A esses levantamentos realizados por amostragem foram acrescentados os resulta-dos de estudos anteriores8 acerca das condiccedilotildees pedagoacutegicas oferecidas aos estudantes e depoimentos de servidores

8 Esses estudos se referem agrave pesquisa intitulada ldquoQuem satildeo e como estatildeo os estu-dantes com Deficiecircncia na UFCrdquo realizada em 2006 coordenada pela professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo como parte da programaccedilatildeo do Projeto UFC Inclui (20052006) e a depoimentos de alunos e de servidores teacutecnico-administrativos que foram colhidos em reuniatildeo ampliada promovida pela Comissatildeo Especial de Educaccedilatildeo Inclusiva (CEIn) em 9 de abril de 2010

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO26 d d 27

Tais estudos levantamentos e escutas revelaram que as accedilotildees inclusivas voltadas a estudantes na UFC eram realiza-das de forma pouco sistemaacutetica contingente e emergencial ocorrendo quase que exclusivamente sob a demanda daquelas pessoas com deficiecircncia que nela ingressavam e que por ve-zes as condiccedilotildees em que se encontram os servidores ainda se apresentam inadequadas agrave medida que enfrentam barreiras de natureza fiacutesica atitudinal e linguiacutestica

No tocante agrave acessibilidade arquitetocircnica os estudos evidenciaram que em sua maioria os preacutedios da UFC se apresentam fora dos padrotildees estabelecidos pela legislaccedilatildeo vi-gente Mesmo nas edificaccedilotildees mais recentes ainda eacute possiacutevel se observar inadequaccedilotildees quanto aos padrotildees de acessibilida-de Nessa avaliaccedilatildeo eacute importante considerar que muitos dos equipamentos da UFC foram construiacutedos haacute mais de 50 anos quando os direitos das pessoas com deficiecircncia natildeo eram pau-tados nos debates e discursos da eacutepoca tampouco nos proje-tos Apesar dos esforccedilos realizados pela UFC para adequar sua grande aacuterea fiacutesica as accedilotildees ainda mantecircm caraacuteter emergen-cial e contingencial

Mediante anaacutelise dos projetos pedagoacutegicos dos cursos de graduaccedilatildeo da UFC pocircde-se observar a quase inexistecircncia de componentes curriculares que contemplem conteuacutedos re-lativos agrave temaacutetica da inclusatildeo acessibilidade ou condiccedilotildees de deficiecircncia Destacam-se como exceccedilotildees a disciplina de Liacuten-gua Brasileira de Sinais (Libras) que a partir do Decreto ndeg 5626 de dezembro de 2005 passa a ser ofertada obrigato-riamente para os cursos de graduaccedilatildeo na modalidade licen-ciatura e optativas para a modalidade bacharelado Psicologia Aplicada aos Portadores de Necessidades Especiais de oferta obrigatoacuteria para o bacharelado em Psicologia Desenho Uni-versal como opccedilatildeo para o curso de Arquitetura e Urbanismo

Educaccedilatildeo Especial9 Educaccedilatildeo Inclusiva e Fundamentos da Educaccedilatildeo de Surdos de oferta opcional para os cursos de Pe-dagogia e Introduccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Especial e Educaccedilatildeo Fiacutesi-ca para Portadores de Necessidades Especiais disciplinas de oferta opcional para o curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas modali-dades bacharelado e licenciatura

Estudos muito recentes10 desenvolvidos no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo (Fa-ced) da UFC no acircmbito dos cursos de mestrado e doutorado mostram que a significativa maioria dos docentes desconhece as singularidades dos processos de aprendizagem de seus alu-nos com deficiecircncia revelando a complexidade que eacute adaptar recursos e estrateacutegias de ensino e de avaliaccedilatildeo da aprendiza-gem assim como ao que se refere agraves adaptaccedilotildees curricula-res Esses estudos demonstram as dificuldades que em geral tecircm os professores em lidar com os processos de avaliaccedilatildeo da aprendizagem de seus alunos e principalmente com aqueles que tecircm alguma necessidade especiacutefica resultante das condi-ccedilotildees de deficiecircncia sensoriais ou fiacutesicas que apresentam

No acircmbito do Sistema de Bibliotecas importante ins-trumento de acesso ao conhecimento e um dos pilares da for-maccedilatildeo profissional e da atividade acadecircmica a CEIn registrou a Comissatildeo de Acessibilidade que se propotildee agrave definiccedilatildeo de accedilotildees em busca da construccedilatildeo de bibliotecas acessiacuteveis Cons-

9 Essa disciplina passa a ter caraacuteter obrigatoacuterio a partir do ajuste curricular dos cursos de Pedagogia (diurno e noturno)10 Refiro-me aos estudos de mestrado e doutorado intitulados Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem de Alunos com Deficiecircncia estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza-Ce (2011) Direito agrave diferenccedila a inclusatildeo de alunos com deficiecircncia visual na UFC (2011) e Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem de Alunos com Deficiecircncia em Cursos das Ciecircncias Exatas estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza-Cearaacute realizados por Marta Cavalcante Benevides Ana Cristina Silva Soares e Francisca Samara Teixeira Carvalho respectivamente

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO28 d d 29

tituiacuteda por bibliotecaacuterios a referida comissatildeo desenvolve ati-vidades tais como levantamento acerca de bibliotecas que oferecem serviccedilos ou produtos em atenccedilatildeo agraves pessoas com deficiecircncia anaacutelise da potencialidade de serviccedilos em curso no Sistema de Bibliotecas que podem ajudar na promoccedilatildeo da acessibilidade como Biblioteca Digital de Teses e Disser-taccedilotildees Livros Eletrocircnicos Portal da Coordenaccedilatildeo de Aperfei-ccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) diagnoacutestico das condiccedilotildees de acessibilidade fiacutesica tecnoloacutegica e de recur-sos humanos do Sistema de Bibliotecas dentre outras

Muito embora a UFC jaacute venha desenvolvendo algumas accedilotildees que satildeo favoraacuteveis agrave condiccedilatildeo de acessibilidade as re-velaccedilotildees resultantes dos referidos estudos e levantamentos apontavam para a urgecircncia de proposiccedilotildees e efetivaccedilatildeo de accedilotildees que garantam a adequaccedilatildeo de praacuteticas e recursos peda-goacutegicos que atendam agraves necessidades especiacuteficas dos estudan-tes promovam a formaccedilatildeo docente e do segmento teacutecnico--administrativo e de serviccedilos para a acessibilidade estimulem a realizaccedilatildeo de pesquisas para o desenvolvimento de tecnolo-gias assistivas permita que com autonomia todos tenham o acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo e ainda a adequaccedilatildeo dos ambientes e condiccedilotildees de trabalho

Secretaria de Acessibilidade Quem Somos

Os estudos e levantamentos ora referidos acerca das condiccedilotildees da acessibilidade realizados pela CEIn alicerccedilaram a elaboraccedilatildeo do documento Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC no qual satildeo propostas poliacuteticas e estrateacutegias de accedilatildeo que permitam o acesso e a inclusatildeo de alunos docentes e servido-res teacutecnico-administrativos com deficiecircncia considerando-se as muacuteltiplas dimensotildees da acessibilidade

A apresentaccedilatildeo do referido documento que tinha como proposta primordial a criaccedilatildeo de uma instacircncia administra-tiva capaz de cuidar em definitivo da elaboraccedilatildeo e conduccedilatildeo de poliacuteticas de acessibilidade na Universidade resultou na criaccedilatildeo da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui por meio da Resoluccedilatildeo nordm 26 de agosto de 2010 do Conselho Univer-sitaacuterio (CONSUNI) Essa decisatildeo deu enorme relevacircncia para a UFC pois pela primeira vez na histoacuteria desta universida-de uma accedilatildeo voltada agrave acessibilidade eacute institucionalizada por seu executivo maior aleacutem da demonstraccedilatildeo e disposiccedilatildeo da Administraccedilatildeo Superior para fazer acontecer a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia na UFC Com objetivos de elaborar executar e gerenciar accedilotildees oferecer suporte agraves unidades aca-decircmicas e administrativas para a efetivaccedilatildeo da acessibilida-de e estimular o desenvolvimento de uma cultura inclusiva na UFC a Secretaria tem como puacuteblico-alvo todas as pessoas sobretudo as pessoas com deficiecircncia integrantes da comu-nidade interna acrescida das pessoas que usufruem de servi-ccedilos por ela oferecidos por meio de accedilotildees de extensatildeo A tiacutetulo de exemplificaccedilatildeo de tais accedilotildees destacam-se aquelas desen-volvidas pelos setores de sauacutede da UFC (serviccedilos meacutedico e odontoloacutegico)

Implantada em outubro de 2010 a Secretaria de Aces-sibilidade UFC Inclui inicialmente constituiacuteda pela direccedilatildeo e pelo setor de apoio administrativo conta com um Grupo de Trabalho composto por nove membros representantes de professores das mais variadas aacutereas de conhecimento servi-dores e estudantes com deficiecircncia Esse grupo de assessoria permanente vem garantindo as realizaccedilotildees da Secretaria por meio da coordenaccedilatildeo de programa de extensatildeo e de projeto de monitoria de graduaccedilatildeo da oferta de serviccedilos das articu-laccedilotildees intersetoriais das mediaccedilotildees entre estudantes e coor-

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO30 d d 31

denadores eou professores dentre outras Parte desse grupo orienta a equipe de estudantes bolsistas de graduaccedilatildeo inte-grantes de projetos de bolsas11 de Iniciaccedilatildeo Acadecircmica Moni-toria de Projetos e de Extensatildeo aleacutem de voluntaacuterios Mais re-centemente com a atualizaccedilatildeo do Regimento Interno da UFC foram acrescidos agrave estrutura da Secretaria mais quatro seto-res assessoria a projetos arquitetocircnicos acompanhamento a alunos tecnologia assistiva e formaccedilatildeo para acessibilidade A equipe a partir de maio do corrente ano foi ampliada e estaacute composta por dez servidores sendo dois assistentes de admi-nistraccedilatildeo quatro tradutores e inteacuterpretes dois teacutecnicos em informaacutetica um teacutecnico em multimiacutedia e um teacutecnico em as-suntos educacionais12

No que diz respeito ao ingresso do segmento de estu-dantes com deficiecircncia nos cursos de graduaccedilatildeo na UFC foi realizado um estudo13 acerca do ingresso dessas pessoas no periacuteodo de 2005 a 2009 por meio do concurso vestibular14 A partir das informaccedilotildees oferecidas pela Comissatildeo de Con-curso Vestibular (CCV) quanto agraves inscriccedilotildees e resultados foram construiacutedas tabelas com dados quantitativos referen-tes agrave categorizaccedilatildeo dos alunos pela condiccedilatildeo de deficiecircncia agrave identificaccedilatildeo dos cursos por eles escolhidos e resultados finais dos concursos realizados Desses registros foi possiacutevel

11 No total a equipe de bolsistas eacute composta por dezoito estudantes de graduaccedilatildeo sendo quatro bolsistas da Proacute-Reitoria de Graduaccedilatildeo seis da Proacute-Reitoria de Exten-satildeo e oito bolsistas de Iniciaccedilatildeo Acadecircmica da Proacute-Reitoria de Assuntos Estudantis 12 Esse quadro de servidores teacutecnico-administrativos eacute parte das metas do Programa Viver Sem Limites do governo federal (Decreto nordm 76122011) encontrando--se em processo o concurso para seleccedilatildeo de mais seis profissionais tradutores e inteacuterpretes de Libras13 Estudo realizado e apresentado nos Encontros Universitaacuterios em 2009 por Antocircnia Kaacutetia Soares Maciel bolsista de graduaccedilatildeo do Projeto UFC Inclui UFC sob a orientaccedilatildeo da professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo14 A partir de 2010 a UFC passa a adotar o Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM) como criteacuterio de ingresso de alunos em seus cursos de graduaccedilatildeo

perceber o crescimento da demanda de alunos com defici-ecircncia para os cursos de graduaccedilatildeo muito embora isto natildeo corresponda ao efetivo ingresso Em 2005 dos 31 candida-tos inscritos no concurso vestibular 4 foram aprovados no ano de 2006 registram-se 48 inscriccedilotildees e 3 aprovaccedilotildees em 2007 dos 50 inscritos 5 foram aprovados no concurso ves-tibular de 2008 inscreveram-se 48 candidatos com defici-ecircncia e 2 foram aprovados em 2009 uacuteltimo periacuteodo em que o ingresso na UFC foi mediante o concurso vestibular ins-creveram-se 73 candidatos com deficiecircncia destes 24 foram aprovados para a segunda fase e 4 ingressaram nos cursos de graduaccedilatildeo pretendidos Dentre eles 3 apresentavam defi-ciecircncia visual e 1 deficiecircncia fiacutesica Pode-se observar ainda que em sua maioria a demanda se concentrava em cursos da aacuterea de Ciecircncias Humanas como Pedagogia Letras Ciecircn-cias Sociais e Psicologia aleacutem de algum interesse por Ciecircn-cias Econocircmicas Aleacutem destes cursos haacute registro de ingresso de um aluno no curso de bacharelado em Quiacutemica e um no curso de Farmaacutecia

Quanto ao contingente15 de alunos atualmente matricu-lados nos cursos da UFC no censo realizado em fevereiro de 2011 e atualizado em julho de 201216 haacute registro de 45 ma-triacuteculas de alunos com deficiecircncia nos cursos de Pedagogia Psicologia Ciecircncias Sociais Ciecircncias Contaacutebeis Ciecircncias da Computaccedilatildeo Engenharia de Teleinformaacutetica Engenharia de

15 Quanto ao quantitativo de servidores (teacutecnicos e docentes) natildeo se tem um dado confiaacutevel Ao certo haacute registro de um professor cego trecircs professores surdos uma professora com deficiecircncia fiacutesica Dentre os servidores teacutecnicos tem-se registro de um surdo O cadastramento de servidores teacutecnicos e docentes estaacute em anda-mento sob a coordenaccedilatildeo da Proacute-Reitoria de Gestatildeo de Pessoas em parceria com a Secretaria de Acessibilidade 16 O referido censo foi realizado por autodeclaraccedilatildeo do aluno no ato da matriacutecula e atualizado em julho de 2012 mediante informaccedilotildees obtidas diretamente nas coordenaccedilotildees de cursos

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO32 d d 33

Alimentaccedilatildeo Letras Administraccedilatildeo Agronomia e Biblioteco-nomia da UFC sendo uma delas no curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia (Mestrado) Dentre alunos ingressos nos cursos de graduaccedilatildeo nove tecircm cegueira ou baixa visatildeo dezesseis satildeo surdos ou com audiccedilatildeo reduzida dezessete apresentam defi-ciecircncias fiacutesicas diversas um apresenta transtorno global do desenvolvimento e dois apresentam muacuteltipla deficiecircncia Es-tes dados17 se alteram com o ingresso de 12 estudantes surdos no curso de Letras Libras licenciatura presencial implantado no segundo semestre de 2013 como mais uma accedilatildeo afirmati-va da UFC e atendendo a metas do Plano Viver Sem Limites haacute pouco referido

A partir dos dados ora expostos e tendo-se como re-ferecircncia o universo de cerca de 2500 matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo presencial da UFC 45 alunos com deficiecircncia representam 184 do total de alunos matriculados Isto eacute um convite agrave reflexatildeo em busca de identificar fatores que de-finem tal panorama Certamente que satildeo muacuteltiplos esses fa-tores entretanto eacute razoaacutevel pensar que dentre eles podem ser considerados pelo menos dois Em primeiro lugar arris-co o destaque na qualidade das experiecircncias de escolarizaccedilatildeo ofertada a esse contingente da populaccedilatildeo ao longo dos anos da educaccedilatildeo baacutesica A historiografia revela que o atendimen-to educacional ofertado agraves crianccedilas e jovens com deficiecircncia durante muito tempo teve um forte caraacuteter assistencialista com foco na reabilitaccedilatildeo Isto pode levar agrave suposiccedilatildeo de que os projetos e programas da escolarizaccedilatildeo propriamente ditos foram negligenciados

17 O uacuteltimo relatoacuterio com o quantitativo de alunos com deficiecircncia autodeclarados fornecido pela Proacute-Reitoria de Graduaccedilatildeo em 2013 revela que satildeo 218 alunos Estes dados estatildeo sendo conferidos pela equipe da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

Em segundo lugar eacute possiacutevel uma reflexatildeo acerca das condiccedilotildees oferecidas pelos mecanismos atuais utilizados para o ingresso de alunos no ensino superior Apesar da dita ga-rantia de recursos pedagoacutegicos que atendam agraves necessidades singulares resultantes principalmente das deficiecircncias sen-soriais tais instrumentos ainda parecem natildeo satisfazer ple-namente as necessidades demandadas Quanto agrave condiccedilatildeo de surdez por exemplo ainda haacute dificuldades por parte das instacircncias organizadoras de concurso em reconhecer que a Libras eacute a primeira liacutengua dessas pessoas e que a avaliaccedilatildeo da sua produccedilatildeo textual em Liacutengua Portuguesa deve levar em consideraccedilatildeo que essa eacute a sua segunda liacutengua

Nossos Avanccedilos

A partir de marccedilo de 2011 jaacute devidamente instalada a Secretaria passou a desenvolver accedilotildees abrangendo as vaacuterias dimensotildees da acessibilidade e tomando como ponto de par-tida o estabelecido no documento Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC propostas agregando alguns projetos de inclusatildeo de-senvolvidos por professores da UFC membros do Grupo de Trabalho da Secretaria Assim iniciaram-se diaacutelogos com as unidades acadecircmicas e administrativas na perspectiva de di-vulgar e discutir a poliacutetica de acessibilidade da UFC mas tam-beacutem no intuito de numa abordagem interdisciplinar e inter-setorial motivar a interlocuccedilatildeo entre suas diversas unidades em busca do desenvolvimento da cultura de inclusatildeo Nesse sentido a Secretaria em busca de novos paradigmas que deem suporte agrave construccedilatildeo de uma cultura da inclusatildeo na UFC vem promovendo accedilotildees diversas para atender prioritariamente agraves demandas mais urgentes consolidar projetos iniciados e pro-por a efetivaccedilatildeo da Poliacutetica de Acessibilidade na UFC

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO34 d d 35

No tocante agrave acessibilidade fiacutesico-arquitetocircnica18 ob-serva-se a realizaccedilatildeo de adaptaccedilotildees de setores ou unidades acadecircmicas prioritariamente onde haacute alunos ou servidores com deficiecircncia Nesse acircmbito vale destacar o interesse dos gestores de unidades acadecircmicas quanto ao atendimento aos itens de acessibilidade nos projetos e obras em desenvolvi-mento sob sua responsabilidade ao convocarem a Secretaria para a realizaccedilatildeo de visitas teacutecnicas com vistas agrave garantia de itens de acessibilidade em seus espaccedilos fiacutesicos

No tocante agrave acessibilidade na WEB a Secretaria de Acessibilidade em articulaccedilatildeo com a Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo promoveu encontros e reuniotildees que culmina-ram com a realizaccedilatildeo do Treinamento em Acessibilidade na WEB19 em parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Isto resultou na adoccedilatildeo de procedimentos tecno-loacutegicos que transformou o Portal da UFC20 acessiacutevel a todos Tornar os demais portais da UFC acessiacuteveis eacute um projeto que estaacute em andamento

Ainda sobre o acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo o Sistema de Bibliotecas da UFC com o apoio da Secretaria vem aprimorando suas estrateacutegias para tornar suas atuais unidades em ldquoBibliotecas Acessiacuteveisrdquo atendendo ao aluno

18 Accedilatildeo realizada pela Coordenadoria de Obras e Projetos com assessoria da pro-fessora Zilsa Maria Pinto Santiago professora do curso de Arquitetura e Urbanismo e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Esta accedilatildeo resultou num denso projeto de tornar acessiacuteveis todos os ambientes da UFC em Fortaleza ateacute o ano de 2016 19 Referido treinamento realizado na Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo (STI) foi conduzido pela professora Andrea Polleto Sonza e equipe do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e sob a coordenaccedilatildeo local do professor Joseacute Marques Soares professor do curso de Teleinformaacutetica e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC20 Accedilatildeo realizada pela equipe da Diretoria de Portais Universitaacuterios da Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo sob a direccedilatildeo da teacutecnica Emilia Maria Holanda Crispim Dioacutegenes

com deficiecircncia no campus onde estaacute situado o seu curso Aleacutem disso por meio da consolidaccedilatildeo do serviccedilo de digitali-zaccedilatildeo de textos21 com audiodescriccedilatildeo de imagens para alunos cegos ou com baixa visatildeo aos poucos se amplia o ldquoAcervo Acessiacutevelrdquo visando disponibilizar literatura cientiacutefica aos usuaacuterios com deficiecircncia visual Para os usuaacuterios com surdez a proposta eacute tornar disponiacuteveis de imediato informaccedilotildees em Libras acerca dos serviccedilos que a biblioteca oferece Destaca--se ainda no tocante agrave dimensatildeo da acessibilidade agrave comu-nicaccedilatildeo e agrave informaccedilatildeo a inserccedilatildeo de ldquojanelas de Librasrdquo nos programas produzidos pela equipe da UFCTV que eacute uma accedilatildeo em andamento

Quanto agrave acessibilidade linguiacutestica foram oferecidos cursos de Libras agrave comunidade universitaacuteria numa parceria com o curso de Letras-Libras graduaccedilatildeo a distacircncia22 to-talizando 49 turmas visando agrave difusatildeo dessa liacutengua e agrave co-municaccedilatildeo entre surdos e ouvintes A oferta de profissionais tradutores e inteacuterpretes23 de Libras que garante a acessibili-dade na comunicaccedilatildeo e na interaccedilatildeo entre surdos e ouvintes rompendo a barreira linguiacutestica tambeacutem eacute outra realidade na UFC

21 Serviccedilo coordenado pela bibliotecaacuteria Clemilda dos Santos Sousa da Biblioteca de Ciecircncias Humanas da UFC e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui22 Curso semipresencial de formaccedilatildeo de professores para o ensino da Libras e de tradutores e inteacuterpretes de Libras oferecido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em convecircnio com 15 Instituiccedilotildees de Ensino Superior dentre as quais a UFC foi uma delas Em 2010 no polo da UFC foram licenciados 47 professores para o ensino de Libras dentre os quais 44 satildeo surdos Em novembro do ano de 2012 licenciaram-se mais 22 professores dentre eles 20 surdos e 24 se graduaram em Traduccedilatildeo e Interpretaccedilatildeo (Libras-Portuguecircs-Libras) 23 Nos anos de 2010 e 2011 a UFC contratou uma tradutora e inteacuterprete de Libras Em 2012 ingressou por concurso puacuteblico a primeira tradutora e inteacuterprete de Libras na UFC Em 2013 mais trecircs profissionais concursados assumiram esse cargo A previsatildeo eacute a de que ateacute iniacutecio de 2014 a equipe de tradutores e inteacuterpretes de Libras na UFC seja constituiacuteda por dez profissionais concursados

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO36 d d 37

A formaccedilatildeo para a acessibilidade tambeacutem eacute outra accedilatildeo importante em desenvolvimento pela Secretaria Nesse acircm-bito registram-se a oferta de cursos de Sistema de Leitura e Escrita Braille de Libras24 e de Tecnologias Assistivas Nes-sa perspectiva a Secretaria participa efetivamente dos gran-des eventos promovidos pela UFC tais como os Seminaacuterios de Ambientaccedilatildeo Encontros Universitaacuterios e Feiras das Pro-fissotildees aleacutem dos Seminaacuterios de Gestatildeo Muito relevante eacute a criaccedilatildeo em dezembro de 2012 do curso de Licenciatura em Letras Libras que tem como objetivo a formaccedilatildeo de professo-res para o ensino de Libras como primeira e segunda liacutengua Essa eacute uma oferta com iniacutecio em 20132 e que teraacute importante repercussatildeo para a rede de educaccedilatildeo baacutesica e superior

Balanccedilo Parcial Algumas Consideraccedilotildees

Os ecos das accedilotildees desenvolvidas pela Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui tecircm sido muitos e importantes Grande parte das demandas que chegam agrave Secretaria eacute acolhi-da Alunos professores e servidores teacutecnico-administrativos sistematicamente fazem suas solicitaccedilotildees com a expectativa de que seratildeo atendidos muito embora se reconheccedila as fragili-dades do processo de implantaccedilatildeo da poliacutetica de acessibilida-de tendo em vista o fato de que as demandas por acessibilida-de na UFC satildeo muacuteltiplas e muitas

Destacam-se ainda os frutos do conviacutevio com as pes-soas com deficiecircncia que eacute de fundamental importacircncia para que se possa dimensionar as especificidades necessidades limites e possibilidades dessas pessoas As interaccedilotildees com

24 No periacuteodo de 2008 a 2011 foram ofertadas a alunos e servidores da UFC 49 turmas de ensino de Libras em parceria com o curso de licenciatura em Letras-Libras graduaccedilatildeo a distacircncia

elas propiciam aprendizados que os livros natildeo oferecem e mobilizam nas pessoas mudanccedilas em suas atitudes Suas presenccedilas participando efetivamente dos diversos progra-mas e projetos da UFC e da Secretaria de Acessibilidade as-sim como de eventos acadecircmicos eacute essencial para a criaccedilatildeo de uma cultura inclusiva Estabelecer essa parceria com elas tem promovido aprendizados de enorme significaccedilatildeo Eacute des-se modo que passam a exercer a funccedilatildeo de ldquofacilitadoras da inclusatildeordquo colaborando com a estruturaccedilatildeo de um ambiente fiacutesico e socialmente acessiacutevel aleacutem de suscitarem o desman-telamento dos mitos em torno das condiccedilotildees de deficiecircncia que apresentam

As experiecircncias vividas ao longo desse curto periacuteodo de trecircs anos permitiram agrave equipe da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui realccedilar alguns aspectos dentre os quais se des-tacam as accedilotildees de acessibilidade satildeo possiacuteveis desde que se tenha vontade e decisatildeo poliacutetica a afirmaccedilatildeo das diferenccedilas para transformar as barreiras em caminhos acessiacuteveis a con-cepccedilatildeo de que a inclusatildeo social e educacional tem a ver com todos noacutes a compreensatildeo de que o processo de inclusatildeo eacute ldquoca-minho de matildeo duplardquo no qual os segmentos com e sem defi-ciecircncia devem estar organicamente implicados e finalmente reconhecer e aceitar os limites como possibilidade de trans-pocirc-los assimilando a perspectiva conceitual que Vygotsky (1985) oferece acerca do fenocircmeno da compensaccedilatildeo

Ainda se tem muitas liccedilotildees a serem incorporadas Eacute preci-so avaliar valores e estar disponiacutevel agraves oportunidades de apren-der uns com os outros Afinal somos todos seres em formaccedilatildeo portanto passiacuteveis de transformaccedilotildees favoraacuteveis a convivecircncias respeitosas frente agraves diferenccedilas e singularidades humanas

d 39VANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO38 d

Referecircncias Bibliograacuteficas

BRASIL Convenccedilatildeo sobre os direitos da pessoa com defici-ecircncia (2007) Protocolo facultativo agrave Convenccedilatildeo sobre os di-reitos da pessoa com deficiecircncia Decreto legislativo nordm 186 de 9 de julho de 2008 Decreto nordm 6949 de 25 de agosto de 2009 Brasiacutelia Secretaria dos Direitos Humanos 2011 LEITAtildeO V M (Coord) Poliacutetica de acessibilidade na UFC propostas Texto impresso apresentado agrave Administraccedilatildeo Su-perior da UFC em agosto de 2010______ Instituiccedilotildees campanhas e lutas histoacuteria da educa-ccedilatildeo especial no Cearaacute Fortaleza Ediccedilotildees UFC 2008OMOTE S Deficiecircncia e natildeo-deficiecircncia recortes do mesmo tecido Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Especial Piracicaba-SP v 1 n 2 p 65-73 1994VYGOTSKY L S El defecto y la compensacioacuten In Obras Completas Fundamentos de defectologia Habana Editorial Pueblo y Educacioacuten 1985

ACESSO Agrave INFORMACcedilAtildeO POR DEFICIENTES VISUAIS EM BIBLIOTECAS CEARENSES1

Valeacuteria Gomes PereiraHamilton Rodrigues Tabosa

Introduccedilatildeo

Este trabalho vem ressaltar a importacircncia do acesso agrave informaccedilatildeo e da biblioteca como agentes transformadores mostrando o papel do bibliotecaacuterio como suporte para os de-ficientes visuais no acesso agrave informaccedilatildeo Segundo Carvalho e Kanishi (2000) o avanccedilo das Novas Tecnologias de Infor-maccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo (NTIC) contribui para a inclusatildeo ao conhecimento por parte desses profissionais Eacute reforccedilada assim a importacircncia do bibliotecaacuterio como um dos profissio-nais da sociedade da informaccedilatildeo que tem como uma de suas principais caracteriacutesticas o uso das tecnologias por saberem da importacircncia delas na disseminaccedilatildeo do conhecimento

Traccedilamos entatildeo como objetivo geral deste trabalho verificar se os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute conhecem utilizam e dominam algumas das tecnologias assistivas ele-trocircnicas que facilitam o atendimento e o acesso de usuaacuterios com deficiecircncia visual agrave informaccedilatildeo se estatildeo capacitados para atuarem com esses usuaacuterios

Podemos classificar esta pesquisa como exploratoacuteria e descritiva Para a realizaccedilatildeo da anaacutelise dos dados coletados optamos por uma abordagem quanti-qualitativa O meacutetodo escolhido foi o funcionalista que segundo Lakatos e Marconi (1991) estuda a sociedade a partir do ponto de vista da fun-

1 Este artigo eacute uma siacutentese da monografia de conclusatildeo de curso de graduaccedilatildeo da primeira autora

ACESSO Agrave INFORMACcedilAtildeO POR DEFICIENTES VISUAIS EM BIBLIOTECAS CEARENSESVALEacuteRIA GOMES PEREIRA bull HAMILTON RODRIGUES TABOSA40 d d 41

ccedilatildeo de suas unidades isto eacute como um sistema organizado de atividades

Optou-se por fazer a pesquisa com bibliotecaacuterios que estivessem exercendo a profissatildeo e cadastrados no Conselho Regional de Biblioteconomia para que o Conselho enviasse os questionaacuterios por e-mail Dessa forma pretendiacuteamos atingir um nuacutemero razoaacutevel de respostas aos questionaacuterios

O Acesso agrave Informaccedilatildeo

Cada vez mais percebe-se como o acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento eacute instrumento de mudanccedila social Os cida-datildeos cientes de seus deveres e direitos satildeo capazes de operar revoluccedilotildees em suas vidas e ao seu redor

Dessa forma cabe ao governo promover a socializaccedilatildeo do conhecimento proporcionando a todos sem distinccedilatildeo in-clusive agraves pessoas com deficiecircncia o acesso agrave informaccedilatildeo Em relaccedilatildeo ao Estado este tem promovido campanhas de aces-sibilidade na busca de eliminar a exclusatildeo entretanto essa mobilizaccedilatildeo natildeo estaacute alcanccedilando suas metas em totalidade no tocante agrave facilitaccedilatildeo aos deficientes do acesso ao conhe-cimento Paula (2009) frisa que a sociedade da informaccedilatildeo sugere a universalizaccedilatildeo do conhecimento produzido natildeo se admitindo que parcelas da comunidade sejam excluiacutedas simplesmente por apresentarem algum tipo de deficiecircncia Enfatiza-se assim a importacircncia da disponibilizaccedilatildeo do co-nhecimento em todos os suportes para toda a diversidade de indiviacuteduos Entatildeo a quem caberaacute esse papel de disseminar a informaccedilatildeo importando-se com a acessibilidade com o apri-moramento do uso das novas tecnologias

Independentemente de que nomes deram agraves unidades de informaccedilatildeo ndash como arquivos museus universidades es-

colas etc ndash eacute importante sabermos que elas satildeo transmissoras do conhecimento As bibliotecas trazem consigo a memoacuteria humana registrada sendo de sua responsabilidade propor-cionar o acesso agraves informaccedilotildees codificadas registradas gra-vadas nesses documentos contribuindo para a formaccedilatildeo de uma sociedade mais humana e dignificadora (CARVALHO KANISHI 2000)

Cabe entatildeo agraves bibliotecas disseminar o conhecimento preocupando-se em suprir as necessidades informacionais de qualquer um que a busque sem se deparar com barreiras de acesso Assis Barreto e Parandella (2008) afirmam que aleacutem das bibliotecas serem guardiatildes da memoacuteria a disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo atraveacutes da dinamizaccedilatildeo de seus acervos gera um processo inclusivo pelo acesso uso e democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo cientiacutefica e cultural aleacutem das informaccedilotildees uacuteteis e necessaacuterias agrave atuaccedilatildeo do cidadatildeo no seu dia a dia Reforccedila as-sim a importacircncia da biblioteca na sociedade da informaccedilatildeo e na vida do cidadatildeo

As tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo devem ser utilizadas pelas bibliotecas para a democratizaccedilatildeo dos pro-cessos sociais buscando formar os cidadatildeos para que possam exercer uma cidadania ativa e consciente e incluir socialmente atraveacutes do saber para que esses indiviacuteduos possam suscitar a transparecircncia de poliacuteticas e accedilotildees do governo formando-os para qualquer circunstacircncia havendo assim uma inclusatildeo social (TAKAHASHI 2000 apud PAULA 2009)

A informaccedilatildeo eacute uma necessidade fundamental do ser humano e para suprirmos essa necessidade eacute preciso que o bibliotecaacuterio esteja atualizado diante do uso das NTIC para assim favorecer o acesso agrave informaccedilatildeo aos usuaacuterios Segundo Carvalho e Kanishi (2000) os bibliotecaacuterios satildeo os profissio-nais que devem manter-se como elementos facilitadores do

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acesso agrave informaccedilatildeo aos usuaacuterios de suas instituiccedilotildees permi-tindo a inclusatildeo social de qualquer indiviacuteduo

Cabe aos bibliotecaacuterios se manterem atualizados no uso dessas tecnologias contribuindo assim para a inclusatildeo social e construccedilatildeo da sociedade a partir do acesso ao conhecimento

Tecnologias Assistivas Eletrocircnicas de Acesso agrave Informaccedilatildeo

Segundo Bersch (2008) a tecnologia assistiva eacute enten-dida como um auxiacutelio que promoveraacute a ampliaccedilatildeo de uma habilidade funcional deficitaacuteria ou possibilitaraacute a realizaccedilatildeo da funccedilatildeo desejada e que se encontra impedida por circuns-tacircncia de deficiecircncia ou pelo envelhecimento Em poucas palavras eacute qualquer instrumento que facilite a pessoa com deficiecircncia a fazer uma atividade desde um ruacutestico apetre-cho de madeira acoplado a um talher que permite a pessoa com deficiecircncia de habilidade motora comer a uma tecnolo-gia de ponta que permita a um usuaacuterio com deficiecircncia visual navegar pela internet

A Comissatildeo Executiva do Comitecirc de Ajudas Teacutecnicas (CAT) acredita que a tecnologia assistiva eacute uma aacuterea de co-nhecimento interdisciplinar que engloba produtos recursos metodologias estrateacutegias praacuteticas e serviccedilos que objetivam promover a funcionalidade relacionada agrave atividade e partici-paccedilatildeo de pessoas com deficiecircncia com incapacidades ou mo-bilidade reduzida visando a sua autonomia independecircncia qualidade de vida e inclusatildeo social (COMITEcirc DE AJUDAS TEacuteCNICAS apud BERSCH 2008)

Existem diversos tipos de tecnologia assistiva como mencionam Pupo Melo e Ferreacutes (2006) no controle do am-biente no trabalho e lazer na locomoccedilatildeo e em diversas ativi-dades do cotidiano como o estudo e o acesso agrave comunicaccedilatildeo

e informaccedilatildeo Usaremos principalmente os estudos de Bersch (2008) que eacute ilustrativa e concisa em sua abordagem sobre as tecnologias assistivas eletrocircnicas utilizadas pelas pessoas com deficiecircncia e os estudos de Fonseca e Pinto (2010) que tecircm uma linguagem clara e objetiva ao falar dessas tecnolo-gias aplicadas em uma biblioteca

Dentre as principais tecnologias de acesso agrave informaccedilatildeo para deficientes visuais podemos citar

y Ampliadores de tela satildeo aplicativos que aumentam o tamanho das letras na tela do computador e dessa forma facilitam o uso das pessoas com baixa visatildeo fazendo com que os textos e imagens sejam melhor visualizados por quem tem essa deficiecircncia Exemplos de ampliadores de tela Magic Zoom Text e o lente-Pro

y Leitores de tela satildeo aplicativos que leem as informaccedilotildees que estatildeo na tela do computador por isso satildeo tambeacutem chamados de sintetizadores de voz Eles reproduzem a voz do ser humano Com o desenvolvimento da tecnologia eles tecircm se tornado mais perfeitos em sua decodificaccedilatildeo sonora Exemplos de leitores de tela Vihortual Visiona Monitivox e Jaws e o Dosvox sendo este uacuteltimo um dos mais difundido no Brasil pois aleacutem da leitura de tela oferece inuacutemeros recursos como editores de texto jogos formatador para Braille e programas para acesso agrave internet como correio eletrocircnico navegador etc

y Linhas Braille dispositivos de saiacuteda composto por fileiras de ceacutedulas Braille por intermeacutedio de um sistema eletro-mecacircnico no qual conjuntos de pontos satildeo levantados e abaixados conseguindo-se assim uma linha de texto em Braille Eacute utilizado como alternativa ao leitor Braille sendo principalmente usado por pessoas surdas-cegas que podem

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superar a ausecircncia ou dificuldade de audiccedilatildeo e visatildeo atraveacutes do tato Infelizmente eacute pouco usado no Brasil devido ao seu altiacutessimo valor

y Impressoras Braille imprimem no papel as informaccedilotildees contidas no texto para o sistema Braille Existem dois tipos a natildeo-interponto as que imprimem apenas de um lado do papel e as com interpontos que imprimem dos dois lados do papel

Metodologia

Partimos de uma pesquisa bibliograacutefica para nos apro-fundarmos nos conceitos nas terminologias da aacuterea e para de-terminarmos as categorias de anaacutelise para a pesquisa Quan-to ao tipo de pesquisa podemos classificar este estudo como exploratoacuterio e descritivo Gil (1991) menciona que a pesquisa exploratoacuteria eacute realizada com o objetivo de fornecer uma vi-satildeo geral do tipo aproximativo do objeto de estudo Assinala ainda que as pesquisas descritivas tecircm por objetivo a descri-ccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo

Para a realizaccedilatildeo da anaacutelise dos dados coletados opta-mos por uma abordagem qualitativa devido agrave possibilidade que esse meacutetodo permite de analisar atitudes como pensa-mentos accedilotildees opiniotildees e informaccedilotildees livres do pesquisado Segundo Maanen (1979 apud NEVES 1996) a pesquisa qua-litativa refere-se

[] ao conjunto de diferentes teacutecnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados Tem por objetivo traduzir e expressar os sentidos dos fenocircmenos do mun-do social trata-se de reduzir a distacircncia entre indicador e indicado entre teoria e dados entre contexto e accedilatildeo

O meacutetodo escolhido foi o funcionalista que segundo Lakatos e Marconi (1991) estuda a sociedade a partir do pon-to de vista da funccedilatildeo de suas unidades isto eacute como um siste-ma organizado de atividades

A pesquisa empiacuterica foi realizada com os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute Optou-se por fazer a pesquisa com biblio-tecaacuterios devidamente cadastrados no Conselho Regional de Biblioteconomia (CRB) e que estivessem exercendo a profis-satildeo Dessa forma buscamos atingir uma grande populaccedilatildeo a ser pesquisada e fornecer dados mais significativos para a pesquisa

O instrumento de coleta de dados utilizado foi o ques-tionaacuterio por oferecer alguns benefiacutecios atingir uma grande populaccedilatildeo poder ser enviado por e-mail e natildeo necessitar da presenccedila do pesquisador ao ser preenchido Lakatos e Marco-ni (1991) descrevem que o questionaacuterio eacute um conjunto orde-nado de perguntas que devem ser respondidas sem a presenccedila do pesquisador Vai portanto ao encontro da nossa necessi-dade pois o nosso universo de pesquisa eacute muito vasto e natildeo seria possiacutevel a presenccedila do pesquisador em todas as cidades do Cearaacute O questionaacuterio foi enviado por e-mail a todos os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute cadastrados no CRB tendo sido respondidos um total de 40 questionaacuterios

Essa estrateacutegia na coleta de dados nos permitiu atingir instituiccedilotildees de portes variados com diferentes tipos de uni-dades de informaccedilatildeo puacuteblicas e privadas bibliotecas especia-lizadas comunitaacuterias ou puacuteblicas universitaacuterias escolares arquivos centros de documentaccedilatildeo e tambeacutem outros tipos de empresas onde haacute atuaccedilatildeo de bibliotecaacuterios Dos 40 questio-naacuterios que retornaram respondidos 5 eram de instituiccedilotildees de economia mista 10 de instituiccedilotildees privadas e 25 de institui-ccedilotildees puacuteblicas

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A Situaccedilatildeo das Bibliotecas Cearenses Quanto agrave Acessibilidade Atraveacutes de Tecnologias Assistivas Eletrocircnicas

Averiguamos se os bibliotecaacuterios cearenses conhecem o conceito de tecnologia assistiva e se conseguem mencionar exemplos dessas tecnologias assitivas para pessoas com defi-ciecircncia Apenas 4 dos respondentes natildeo possuem nenhum entendimento sobre o que eacute uma tecnologia assistiva Quere-mos esclarecer que natildeo houve relaccedilatildeo quanto agrave natureza eco-nocircmica da instituiccedilatildeo na qual atuam se eacute mista puacuteblica ou privada Dos respondentes 91 informaram que sabem o que eacute uma tecnologia assitiva

Surprendeu-nos o conhecimento que a maioria dos su-jeitos apresentou da definiccedilatildeo do termo Alguns citaram que antes de responder procuraram um conhecimento maior sobre o assunto mas ficou claro que essa porcentagem que respondeu tinha uma ideia um conhecimento preacutevio mesmo que vago sobre o que eacute tecnologia assistiva Ainda houve quem fizesse uma descriccedilatildeo das tecnologias assistivas e mencionasse a im-portacircncia que elas exercem na vida das pessoas com deficiecircn-cia demonstrando assim que conheciam de fato a definiccedilatildeo

Os sujeitos que responderam com maior propriedade a essa pergunta eram de instiuiccedilotildees puacuteblicas podendo haver uma relaccedilatildeo com as poliacuteticas de inclusatildeo e acessibilidade das pessoas com deficiecircncia agrave informaccedilatildeo Um exemplo seria o ci-clo de debates desenvolvidos pela Secretaria de Acessiblidade da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) convidando sensi-bilizando e desenvolvendo atividades de promoccedilatildeo do acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com deficiecircncia tendo como ne-cessaacuteria uma biblioteca acessiacutevel para esses usuaacuterios

Perguntamos quais os tipos de tecnologias assistivas eletrocircnicas que conheciam A comparaccedilatildeo entre o conheci-

mento que os respondentes demonstraram ter sobre o que satildeo tecnologias assistivas natildeo foi condizente com as respostas a essa pergunta pois alguns confundiram tecnologias assistivas com as NTIC dando como exemplos monitores de Reconhe-cimento Oacutetico de Caracteres (OCR) e teclado virtual que natildeo satildeo tecnologias assistivas aleacutem de terem citado a Liacutengua Bra-sileira de Sinais (Libras) que eacute a primeira lingua dos surdos e o Braille que eacute um sistema de leitura e escrita atraacuteves do tato Libras e Braille satildeo considerados tecnologias assistivas mas natildeo eletrocircnicas como mencionado por dois dos nossos respondentes

Outros mencionaram duas interfaces a microFecircnix que eacute uma ferramenta voltada para pessoas com dificuldades motoras e o Dosvox que eacute uma ferramenta voltada para os deficientes visuais terem acesso agrave informaccedilatildeo atraveacutes do com-putador permitindo que seu usuaacuterio utilize as ferramentas normais de um computador e navegue pela web

O Dosvox foi a uacutenica interface mencionada para defi-cientes visuais sua fama se espalhou para aleacutem dos muros acadecircmicos como uma ferramenta de acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com deficiecircncia Estaacute disponiacutevel para downlo-ad gratuito na web e suas configuraccedilotildees satildeo compatiacuteveis com qualquer sistema operacional bastando apenas escolher a versatildeo que melhor conveacutem agrave realidade do usuaacuterio ou da insti-tuiccedilatildeo que o busca

Investigamos se as instituiccedilotildees onde os bibliotecaacuterios trabalham possuem alguma tecnologia assistiva eletrocircnica quais os tipos que possuem e se natildeo possuem e quais as razotildees disso Verificamos que as instituiccedilotildees privadas natildeo possuem tecnologias assistivas eletrocircnicas e se justificavam por natildeo pos-suiacuterem porque natildeo tinham puacuteblico-alvo que demandasse es-sas tecnologias Como afirma o deacutecimo segundo respondente

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A faculdade ainda natildeo vecirc ldquonecessidaderdquo de adequar tantos recursos de tecnologia assistiva jaacute que natildeo temos alunos com deficiecircncia visual Para cadeirantes temos os elevadores e os espaccedilos foram pensados levando em consideraccedilatildeo a movimentaccedilatildeo desse cadeirante no espaccedilo da faculdade mas na minha visatildeo isso natildeo eacute tecnologia assistiva eletrocircnica Para os surdos temos apenas os inteacuterpretes de Libras o que tambeacutem natildeo considero uma tecnologia assistiva eletrocircnica

Ficou niacutetido que as instituiccedilotildees privadas preocupam-se em adequar suas instalaccedilotildees para o acesso arquitetocircnico nas bibliotecas como rampas corrimatildeos computadores com me-sas adaptadas para cadeirantes As instituiccedilotildees privadas consi-deram que natildeo eacute necessaacuterio investir em tecnologias assistivas eletrocircnicas pois natildeo haacute um puacuteblico-alvo natildeo haacute demanda

Quanto agraves empresas de economia mista apenas uma disponibiliza uma tecnologia assistiva eletrocircnica que eacute uma in-terface para deficientes visuais O vigeacutesimo oitavo respondente mencionou que havia apenas a preocupaccedilatildeo com as barreiras arquitetocircnicas ldquoBototildees de elevadores e corrimatildeo de escadas com sinalizaccedilatildeo em Braillerdquo Na instituiccedilatildeo do deacutecimo e do tri-geacutesimo terceiro sujeitos a justificativa para natildeo possuiacuterem eacute a mesma das instituiccedilotildees privadas a falta de puacuteblico-alvo

A resposta que nos chamou atenccedilatildeo das instituiccedilotildees de economia mista foi referente ao vigeacutesimo primeiro responden-te ldquoNatildeo temos nenhum usuaacuterio que necessite dessa ferramen-ta pois nossa biblioteca eacute especializada em Medicina e atende somente ao puacuteblico do hospital onde ela estaacute instaladardquo

Essa resposta nos intrigou Visto que eacute uma instituiccedilatildeo de economia mista haacute incentivos financeiros do governo des-sa forma o acesso deve ser pensado para todo tipo de usuaacute-rio O motivo de ser especializado natildeo torna esse acervo dife-rente dos demais pois existem em potencial usuaacuterios com

deficiecircncia para essa unidade de informaccedilatildeo Jaacute existem em algumas instituiccedilotildees de Ensino Superior alunos que possuem deficiecircncia visual cursando Medicina e que ao procurar por informaccedilotildees especializadas se deparam com esse tipo de ati-tude e entrave da instituiccedilatildeo e dos profissionais que as geren-ciam Um exemplo bem-sucedido desse tipo de relaccedilatildeo eacute o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que possui um aluno com 80 da visatildeo comprometida2

Das vinte instituiccedilotildees puacuteblicas consultadas apenas trecircs informaram que em suas unidades de informaccedilatildeo natildeo pos-suem nenhuma tecnologia assistiva eletrocircnica mas nas de-mais existem tecnologias assistivas e elas estatildeo desenvolven-do atividades de acesso ao conhecimento para as pessoas com deficiecircncia Essas tecnologias existentes foram mencionadas no iniacutecio deste artigo e discutiremos mais adiante as ativida-des de acesso

As unidades puacuteblicas mencionaram que suas maiores dificuldades satildeo a falta de investimento na aquisiccedilatildeo de tec-nologias assistivas eletrocircnicas e a dificuldade com os demais setores que natildeo compreendem a importacircncia de tornaacute-las acessiacuteveis de acordo com os padrotildees de acessibilidade Como mencionado pelo terceiro respondente

Temos trabalhado apenas com digitalizaccedilatildeo das biblio-grafias dos alunos com deficiecircncia visual A dificuldade de inclusatildeo de outros mecanismos se daacute pela neces-sidade de outros setores entenderem a importacircncia e a necessidade da criaccedilatildeo desses mecanismos Por exemplo Natildeo existe acessibilidade no nosso sistema e no nosso site Apesar de jaacute termos constatado que a soluccedilatildeo perpassa por outros setores

2 A UFMG possui dentre seus estudantes de Medicina um aluno que apresenta 80 da visatildeo comprometida Para dirimir as dificuldades desse aluno no acesso agrave informaccedilatildeo a instituiccedilatildeo adquiriu equipamentos para auxiliar nas atividades do estudante (UFMG 2009)

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Independentemente das dificuldades mencionadas as instituiccedilotildees puacuteblicas estatildeo promovendo serviccedilos de informa-ccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncia visual como digitalizaccedilatildeo do acervo aquisiccedilatildeo de obras em Braille linhas Braille acesso agrave interface especializada aacuteudio-livro etc

Podemos perceber nas instituiccedilotildees puacuteblicas um gran-de avanccedilo em busca de serem unidades informacionais aces-siacuteveis para todos apesar das dificuldades financeiras da lentidatildeo das licitaccedilotildeespregotildees da falta de matildeo de obra espe-cializada e da falta de conscientizaccedilatildeo dos demais setores que compotildeem a estrutura funcional Essas unidades tecircm buscado desempenhar seu real papel que eacute o de disponibilizar a in-formaccedilatildeo a quem a busque tornando-se bibliotecas acessiacuteveis em seus ambientes estruturais com rampas e elevadores e principalmente disponibilizando a informaccedilatildeo nos diversos suportes que o avanccedilo tecnoloacutegico possibilita A montagem de uma biblioteca inclusiva natildeo eacute necessariamente dispendiosa Devem-se buscar soluccedilotildees como os softwares livres para usu-aacuterios com deficiecircncia

Fizemos uma anaacutelise sobre o conhecimento que os biblio-tecaacuterios possuem das tecnologias assistivas eletrocircnicas para os deficientes visuais e como eles se comportariam diante de uma situaccedilatildeo hipoteacutetica de atendimento imediato para esses usuaacute-rios em suas unidades de informaccedilatildeo salientando que a infor-maccedilatildeo buscada soacute existiria na instituiccedilatildeo do sujeito pesquisado

Como pudemos perceber em paraacutegrafos anteriores os bibliotecaacuterios disseram conhecer algumas das tecnologias as-sistivas eletrocircnicas existentes Um dos bibliotecaacuterios respon-deu ldquoSim conheccedilo a Base de Dados Sophia a Gnuteca entre outrasrdquo Ficou claro que esse respondente natildeo consegue dis-tinguir a diferenccedila entre uma base de dados e uma tecnologia assistiva eletrocircnica Os sujeitos consultados ao responderem

agrave pergunta sobre se conheciam algum tipo de tecnologia as-sistiva eletrocircnica especiacutefica para deficientes visuais ficaram divididos em grupos nas seguintes proporccedilotildees 9 dos sujei-tos natildeo responderam pois natildeo sabiam nem conceituar o que era uma tecnologia assistiva 40 natildeo mencionaram nenhu-ma tecnologia para os deficientes visuais e 51 enumeraram o que pensavam ser tecnologias especiacuteficas para deficientes visuais pois houve alguns equiacutevocos por parte desse grupo

Dos dezoito respondentes que deram exemplos de tec-nologias assitivas apenas dois dominam o uso de alguma tecnologia assistiva voltada para as pessoas com deficiecircncia visual Isso provavelmente ocorre pela pequena procura des-se tipo de usuaacuterio agraves instituiccedilotildees pois caso o bibliotecaacuterio se deparasse com semelhante situaccedilatildeo constantemente prova-velmente buscaria se adequar agraves necessidades de demanda de seus usuaacuterios

A tecnologia que os respondentes mais citaram foi a interface Dosvox considerada por noacutes com niacutevel de usabili-dade intermediaacuterio avanccedilado O Dosvox eacute considerado uma ferramenta completa para o uso pelo deficiente visual pois aleacutem do usuaacuterio utilizar as ferramentas corriqueiras de um computador tais como digitar um texto fazer uma planilha a interface tambeacutem permite que a pessoa com deficiecircncia na-vegue pela Web

O vigeacutesimo nono respondente mencionou ldquoSei da exis-tecircncia do Dosvox mas natildeo de forma aprofundada e tambeacutem natildeo o temos ainda no nosso setor que eacute um Nuacutecleo de Docu-mentaccedilatildeordquo Eacute interessante que qualquer unidade de informa-ccedilatildeo independentemente do nome que utilize possua uma tec-nologia assistiva que possa atender aos seus futuros usuaacuterios

Outra sugestatildeo aleacutem do Dosvox seria o uso do MecDaisy um leitor de texto O MecDaisy eacute um software gratuito que

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transforma qualquer texto para o formato daisy permitindo as-sim a leitura pelo software Seu niacutevel de manuseio eacute faacutecil e se adequa agraves instituiccedilotildees que querem apenas disponibilizar suas obras para o acesso das informaccedilotildees que estatildeo em sua guarda

Fizemos um questionamento para os nossos sujeitos como eles agiriam para atender agraves necessidades de informa-ccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncia visual sabendo que a in-formaccedilatildeo de que essa pessoa precisa soacute existe na instituiccedilatildeo onde o sujeito consultado trabalha Diante de tal pergunta nossos respondentes informaram que natildeo tinham conheci-mento que consultariam locais de atendimento especializado e encaminhariam o deficiente para tal instituiccedilatildeo capacitada para atendecirc-lo

O terceiro sujeito consultado nos disse ldquoCom certeza me esforccedilaria ao maacuteximo para conseguir Mas acredito que a dificuldade eacute de conseguir a informaccedilatildeo em formato que pos-sa ser lidordquo E ele estaacute certo Conseguir a informaccedilatildeo no for-mato correto eacute um trabalho aacuterduo desde que o bibliotecaacuterio nunca tenha ouvido falar de nenhum dos softwares jaacute men-cionados para pessoas com deficiecircncia visual Eacute necessaacuterio entatildeo adequar-se a essa realidade hoje Urge a conscientiza-ccedilatildeo da importacircncia desses softwares que podem ser gratuitos cabendo ao gestor da unidade de informaccedilatildeo aleacutem de possuir o conhecimento de que a tecnologia existe saber persuadir seus superiores da importacircncia de estar preparado para essa realidade em sua instituiccedilatildeo

Informou o trigeacutesimo quinto respondente que ldquoSe as informaccedilotildees estivessem apenas em formato impresso eu di-gitaria os textos para que a mesma pudesse fazer a leitura do material com os programas leitores de tela que satildeo softwares livresrdquo Relembrando alguns paraacutegrafos acima tanto o Dos-vox como o MecDaisy atenderiam a essa demanda

A reaccedilatildeo do deacutecimo sujeito foi a seguinte ldquoBem como na instituiccedilatildeo natildeo existe material em Braille talvez indicas-se algum material em aacuteudio (CDDVD) e tambeacutem um local especiacutefico que atendesse sua deficiecircncia no caso a Biblioteca Puacuteblica Menezes Pimentelrdquo Lembrando que a informaccedilatildeo es-taria apenas na unidade de informaccedilatildeo do nosso respondente ao pedir que fosse encaminhado agrave Biblioteca Municipal Me-nezes Pimentel o usuaacuterio natildeo conseguiria suprir a sua neces-sidade de informaccedilatildeo e retornaria agrave instituiccedilatildeo Caso o seu material em aacuteudio-livro natildeo suprisse a necessidade teria que haver um leitor ou dependendo da complexidade da informa-ccedilatildeo a instalaccedilatildeo de uma tecnologia assistiva

Constatamos que eacute necessaacuteria a adequaccedilatildeo das unidades de informaccedilatildeo independentemente de sua natureza econocircmi-ca para o recebimento desses usuaacuterios pois a informaccedilatildeo eacute agente transformador de uma sociedade e direito de todos A formaccedilatildeo dos bibliotecaacuterio deve apontar para a qualificaccedilatildeo de um bom atendimento aos usuaacuterios com deficiecircncia visual Dos sujeitos consultados 81 natildeo se consideram capacitados para atender usuaacuterios com algum tipo de deficiecircncia Para que seja possiacutevel oferecer um atendimento com eficaacutecia e qualida-de para as pessoas com deficiecircncia visual eacute necessaacuteria a soma de dois fatores a qualificaccedilatildeo para o atendimento e os recur-sos tecnoloacutegicos disponiacuteveis especiacuteficos para esses usuaacuterios

O deacutecimo segundo respondente declarou ldquoAinda haacute muito a ser melhorado muitos treinamentos a fazer Daria o meu melhor com certeza mas eacute bem difiacutecil atender a esses usuaacuterios a contento e com tudo o que eacute necessaacuteriordquo

Consideramos que o importante eacute que os profissionais estejam cientes de seu papel como agentes intermediadores da informaccedilatildeo e que para alcanccedilar esse objetivo eacute necessaacuterio qualificar-se aleacutem das habilidades que o projeto pedagoacutegico

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da formaccedilatildeo inicial em Biblioteconomia prevecirc Um exemplo dessa atitude seria o do deacutecimo quarto respondente

Acredito que embora eu mesma tenha buscado conhe-cer essas tecnologias isto partiu de um anseio pessoal natildeo de uma proposta que estava incluiacuteda nas atividades curriculares do curso Para a formaccedilatildeo do bibliotecaacuterio de hoje eacute funda-mental conhecer as tecnologias baacutesicas ou ao menos discutir essa questatildeo da inclusatildeo da acessibilidade

Pensamos que o bibliotecaacuterio natildeo eacute obrigado a domi-nar nenhuma tecnologia assistiva para os deficientes visuais visto que na maioria das instituiccedilotildees como mencionado an-teriormente esse perfil de usuaacuterio natildeo existe mas concluiacutemos que o profissional deve ter um conhecimento baacutesico sobre o assunto

Todos os sujeitos consultados consideram esse tema de extrema relevacircncia e acreditam ser importante que os estu-dantes de Biblioteconomia recebam formaccedilatildeo acadecircmica no sentido de serem capacitados ao atendimento de usuaacuterios com deficiecircncia pois em sua vida acadecircmica houve aborda-gem da acessibilidade arquitetocircnica poreacutem nenhuma disci-plina que abordasse acessibilidade agrave informaccedilatildeo atraveacutes de tecnologias assistivas eletrocircnicas

Trata-se de um nicho mercadoloacutegico pouco explorado pois as maiorias das instituiccedilotildees adquirem livros CDs e sof-twares mas natildeo a matildeo de obra qualificada Por isso devemos preparar futuros gestores com habilidade teacutecnica e visatildeo criacute-tica sobre acessibilidade e inclusatildeo aleacutem de ampliar os espa-ccedilos de debates na universidade qualificando o estudante para atender a todas as demandas de usuaacuterio e de um mercado es-peciacutefico que necessita de matildeo de obra qualificada

Conclusatildeo

Pudemos perceber como defendem Carvalho e Kanishi (2000) a real importacircncia da atuaccedilatildeo do bibliotecaacuterio como gestor de informaccedilatildeo na atual sociedade do conhecimento para a promoccedilatildeo do acesso irrestrito agrave informaccedilatildeo a todos os tipos de usuaacuterios considerando suas preferecircncias demandas e necessidades de atendimento especiacuteficas assim como suas limitaccedilotildees sejam fiacutesicas cognitivas dentre outras

Nas bibliotecas do estado do Cearaacute agraves quais tivemos acesso verificamos a necessidade de aparelhamento e mesmo do domiacutenio das teacutecnicas de uso por parte dos bibliotecaacuterios das tecnologias assistivas eletrocircnicas para acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com baixa visatildeo ou cegas descritas por Fonseca e Pinto (2010) e Pupo Melo e Ferreacutes (2006) Identificamos que os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute investigados sabem o que satildeo tecnologias assistivas eletrocircnicas e que as instituiccedilotildees que possuem uma quantidade expressiva dessas tecnologias satildeo as de natureza puacuteblica Poreacutem satildeo pouquiacutessimos os bibliotecaacute-rios que dominam e utilizam algumas dessas ferramentas ten-do mencionado que o puacuteblico-alvo eacute muito pequeno para que tenham sentido necessidade de qualificaccedilatildeo nessa aacuterea

Haacute um grande caminho a ser percorrido na conscienti-zaccedilatildeo das instituiccedilotildees em estarem preparadas para todo tipo de situaccedilatildeo e puacuteblico As instituiccedilotildees privadas necessitam de um maior desenvolvimento de suas atividades quanto ao fo-mento de acesso agrave informaccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncia em seus diversos niacuteveis

Os resultados reforccedilam a importacircncia de os bibliotecaacute-rios se qualificarem para o atendimento dos usuaacuterios com de-ficiecircncia visual com conhecimento baacutesico de como agir para suprir suas necessidades informacionais

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Os bibliotecaacuterios cearenses de modo geral natildeo se sen-tem qualificados para atuar com essas necessidades conside-rando que tal lacuna em sua formaccedilatildeo profissional nasce na vida universitaacuteria que natildeo os capacita a atuar com os diferen-tes tipos de usuaacuterio Contudo um questionamento precisa ser feito seraacute que a universidade eacute a uacutenica causa dos bibliotecaacute-rios natildeo estarem qualificados para poderem gerir tecnologias eletrocircnicas de acesso agrave informaccedilatildeo

Entendemos que este estudo trouxe contribuiccedilotildees para futuros pesquisadores que busquem fazer uma relaccedilatildeo do desenvolvimento do bibliotecaacuterio na realidade das insti-tuiccedilotildees na qual atuam e nas mudanccedilas sobre acessibilidade e inclusatildeo Tambeacutem acreditamos que sirva como orientaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de acesso agrave informaccedilatildeo e inclusatildeo das pessoas com deficiecircncia nas unidades de informaccedilatildeo e para os bibliotecaacuterios mapearem seus pontos a desenvolver a fim de se tornarem qualificados para o atendimento a tais pessoas

Nossas sugestotildees para o curso de Biblioteconomia satildeo a criaccedilatildeo de algumas disciplinas com essa temaacutetica voltada para a inclusatildeo social e do uso das tecnologias de acesso agrave in-formaccedilatildeo pelas pessoas com deficiecircncia a criaccedilatildeo pelo De-partamento de Ciecircncia da Informaccedilatildeo de uma especializaccedilatildeo sobre o tema

Finalmente acreditamos que os bibliotecaacuterios devem procurar uma qualificaccedilatildeo profissional para desempenharem seu papel de gestores de informaccedilatildeo Sendo imprescindiacutevel para a efetiva implementaccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento inclusivas pelo bibliotecaacuterio para poderem assim disponibili-zar a informaccedilatildeo a qualquer usuaacuterio que a busque tornando--se um profissional diferenciado no mercado em um campo de atuaccedilatildeo que cresce a cada dia

Referecircncias Bibliograacuteficas

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d 59VALEacuteRIA GOMES PEREIRA bull HAMILTON RODRIGUES TABOSA58 d

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BIBLIOTECA INCLUSIVA CONSTRUINDO PONTES ENTRE O VISIacuteVEL E O INVISIacuteVEL

Clemilda dos Santos SousaJeriane da Silva Rabelo

Introduccedilatildeo

Cursar uma universidade eacute projeto de vida de muitas pessoas Ter uma profissatildeo e estruturar a vida econocircmica eacute um sonho comum entretanto para pessoas com deficiecircncia natildeo eacute uma tarefa das mais faacuteceis Muitas dificuldades se mani-festam oriundas das barreiras arquitetocircnicas atitudinais de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo Segundo Pupo e Vicentini (2002 p 3) ldquomuitos alunos com deficiecircncia iniciam uma atividade de pesquisa na universidade e satildeo lsquobarradosrsquo pela inexistecircncia de uma infraestrutura adequadardquo Isso porque as universida-des e faculdades ainda natildeo atendem agraves condiccedilotildees de acessibi-lidade para pessoas com deficiecircncia No que se refere agraves pes-soas com deficiecircncia visual o acesso ao acervo das bibliotecas eacute um grande problema porque grande parte desse acervo estaacute impresso em tinta inviabilizando o seu acesso

Visando resolver essas questotildees o Sistema de Bibliote-cas da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) criou em 2009 a Comissatildeo de Acessibilidade1 que tem como objetivo principal diagnosticar as condiccedilotildees de acessibilidade nas bibliotecas da instituiccedilatildeo e propor accedilotildees que visassem estimular a criaccedilatildeo de uma poliacutetica inclusiva que fosse diluiacuteda nos serviccedilos e produ-

1 A Comissatildeo de Acessibilidade fez parte das Comissotildees Especializadas de Estudo (CEE) criadas pela Biblioteca Universitaacuteria da UFC com o objetivo de descentralizar as decisotildees administrativas contribuindo para diagnosticar as necessidades de mudanccedilas e soluccedilatildeo de problemas teacutecnicos e estruturais do Sistema de Bibliotecas da UFC

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tos oferecidos pelo Sistema de Bibliotecas da UFC nos diver-sos campi da universidade Nos primeiros estudos realizados por essa comissatildeo foram apontados diversos aspectos dentre eles a dificuldade que tecircm os alunos com deficiecircncia visual para realizarem suas leituras visto que na ocasiatildeo natildeo havia acervo em Braille2 nas bibliotecas da UFC nem serviccedilos de in-formaccedilatildeo que fizessem a conversatildeo de documentos impressos em tinta para os formatos acessiacuteveis Diante dessa realidade foi proposto pela comissatildeo de acessibilidade do Sistema de Biblioteca o projeto de Desenvolvimento de Acervo Acessiacute-vel tendo como puacuteblico-alvo pessoas com deficiecircncia visual accedilatildeo essa em curso atualmente

Em meados do ano de 2010 foi criada pela UFC a Se-cretaria de Acessibilidade UFC Inclui formada por uma equi-pe de trabalho da qual um membro da Comissatildeo de Acessibi-lidade da Biblioteca Universitaacuteria faz parte representando o Sistema de Bibliotecas Dentre as atribuiccedilotildees da Secretaria haacute uma que apresenta relaccedilatildeo direta com a biblioteca a que se refere agrave dimensatildeo pedagoacutegica e ao acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo (UFC 2012)

A biblioteca eacute um espaccedilo que proporciona a difusatildeo de informaccedilatildeo e permite a produccedilatildeo do conhecimento e sua dis-seminaccedilatildeo Para os estudantes eacute fonte primordial de pesquisa e apoio agraves accedilotildees pedagoacutegicas No caso das pessoas com defici-ecircncia visual se a biblioteca universitaacuteria oferecesse um acer-vo acessiacutevel facilitaria o processo de aprendizagem e inclusatildeo dos referidos discentes na vida acadecircmica proporcionando aos seus professores uma diversidade maior de material bi-bliograacutefico nas atividades cotidianas em sala de aula Aleacutem

2 Inventado pelo francecircs Louis Braille no ano de 1827 em Paris consiste num sistema de escrita com pontos em relevo que permite agraves pessoas privadas da visatildeo a leitura atraveacutes do tato (HOUAISS 2009)

disso a acessibilidade ao acervo das bibliotecas da UFC po-deraacute gerar ao aluno com deficiecircncia visual e ao seu professor uma ponte de interaccedilatildeo possibilidades de muacuteltiplas leituras e produccedilatildeo intelectual

Entretanto do que se trata um acervo acessiacutevel Se-gundo a Norma Brasileira (NBR) 9050 da Associaccedilatildeo Brasi-leira de Normas Teacutecnicas (ABNT 2004) no toacutepico referente agrave biblioteca e centros de leitura quando se refere ao acervo afirma ldquoRecomenda-se que as bibliotecas possuam publica-ccedilotildees em Braille ou outros recursos audiovisuaisrdquo Isto eacute as bibliotecas devem oferecer aos seus usuaacuterios com deficiecircncia visual material bibliograacutefico publicaccedilotildees em formato acessiacute-vel agraves condiccedilotildees de leitura desse puacuteblico

Nesse estudo entendemos por acervo acessiacutevel o con-junto de publicaccedilotildees ndash livros perioacutedicos monografias disser-taccedilotildees teses dentre outros materiais informacionais ndash que satildeo disponibilizados agrave comunidade acadecircmica para suas leituras com um diferencial essas publicaccedilotildees devem ser em Braille (importante para leitura e escrita de pessoas cegas principal-mente nos estudos de liacutenguas) ou em arquivos digitais em for-mato compatiacutevel para o uso de leitores de tela tais como pdf editaacutevel txt ou doc tendo tambeacutem a opccedilatildeo por aacuteudio-livros

Esse tipo de especificaccedilatildeo de formato eacute indispensaacutevel agrave acessibilidade dos usuaacuterios com deficiecircncia visual conjuga-da a serviccedilos de referecircncia pensados para esse segmento de usuaacuterios Com isso eacute possiacutevel proporcionar a equiparaccedilatildeo de oportunidades nas atividades acadecircmicas no que se refere ao acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento

Na experiecircncia do Sistema de Biblioteca da UFC o pro-jeto de Desenvolvimento de Acervo Acessiacutevel eacute uma resposta agrave demanda por acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento das pessoas com deficiecircncia visual na universidade No referido

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projeto haacute dentre outros o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de mate-rial bibliograacutefico que eacute realizado em parceria com a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Esse serviccedilo eacute a principal de-manda no momento por parte dos usuaacuterios com deficiecircncia visual (discentes servidores da universidade) do Sistema de Bibliotecas da UFC O objetivo do projeto supracitado eacute criar uma coleccedilatildeo com material em formato acessiacutevel de natureza cientiacutefica exclusivo para esses usuaacuterios A metodologia utili-zada como tambeacutem a estrutura eacute o que constitui o assunto que abordaremos a seguir

Serviccedilo de Digitalizaccedilatildeo de Materiais Bibliograacuteficos Acesso agrave Informaccedilatildeo e ao Conhecimento

Certa vez a equipe de digitalizadores da Secretaria de Acessibilidade da UFC recebeu um livro para digitalizaccedilatildeo em liacutengua italiana Tratava-se de uma gramaacutetica repleta de exerciacutecios em que um deles solicitava ldquoObserve as figuras e descreva os animaisrdquo O leitor seria capaz de responder essa pergunta A que animais o exerciacutecio se referia se fosse soacute essa a informaccedilatildeo visiacutevel Na verdade a gramaacutetica trazia as figuras dos animais desenhos para que o aluno ao vecirc-los escreves-se os nomes em liacutengua italiana Para uma pessoa vidente natildeo seria nenhum problema mas para uma pessoa cega como saber de quais figuras tratava o exerciacutecio

Para uma pessoa cega soacute seria ldquovisiacutevelrdquo essa informa-ccedilatildeo se a mesma fosse audiodescrita isto eacute ao digitalizar o texto do exerciacutecio as figuras seriam descritas Dessa forma o invisiacutevel se tornaria visiacutevel e a pessoa com deficiecircncia visual teria condiccedilatildeo de responder o exerciacutecio A outra forma seria imprimir o exerciacutecio em Braille caso a pessoa soubesse ler em Braille

Mas do que se trata a audiodescriccedilatildeo Para Vieira e Lima (2010 p 3)

A aacuteudio-descriccedilatildeo eacute uma teacutecnica de representaccedilatildeo dos elementos-chave presentes numa dada imagem que ao dialogar com os elementos de um texto verbal pode ser descrita tambeacutem de forma verbal para formar uma unidade completa de significaccedilatildeo A aacuteudio-descriccedilatildeo pode ser de uma imagem estaacutetica como uma pintura no museu de uma escultura em trecircs dimensotildees da gravura bidimensional presente nos livros didaacuteticos ou de ima-gens dinacircmicas que nada mais satildeo do que um conjunto de imagens estaacuteticas que juntas criam a ilusatildeo de mo-vimento como o que se processa nos filmes de cinema televisatildeo peccedilas de teatro ou viacutedeos de computador

A audiodescriccedilatildeo eacute importante no processo de digita-lizaccedilatildeo porque oferece acesso para pessoas com deficiecircncia visual agraves informaccedilotildees tipograacuteficas contidas no texto como ilustraccedilotildees siacutembolos negritos e outras Satildeo fundamentais para a compreensatildeo de conteuacutedos e por isso devem ser men-cionadas visto que natildeo podem ser lidas pelos programas lei-tores de tela

Visando a essa compreensatildeo eacute que a audiodescriccedilatildeo foi inserida no serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de materiais bibliograacutefi-cos como fator agregador no processo de transformaccedilatildeo de informaccedilotildees visuais em audiacuteveis Objetivando em um futuro proacuteximo a formaccedilatildeo de um acervo acessiacutevel para as pessoas com deficiecircncia visual o referido serviccedilo eacute o que discutiremos a seguir Conta com uma equipe coordenada por uma biblio-tecaacuteria do Sistema de Bibliotecas da UFC e oito digitalizado-res (bolsistas de projetos de graduaccedilatildeo e iniciaccedilatildeo acadecircmica da UFC) com suporte teacutecnico da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

A metodologia de trabalho segue os seguintes passos

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1) Entrevista de referecircncia feita por bibliotecaacuterio em que o usuaacuterio eacute identificado e manifesta suas necessidades informacionais isto eacute apresenta sua bibliografia e demais materiais necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo de trabalhos eou agrave ela-boraccedilatildeo de monografias Outro aspecto importante se refere agrave condiccedilatildeo de deficiecircncia apresentada pelo solicitante haacute que se levar em consideraccedilatildeo o fato de o indiviacuteduo ter nas-cido cego e ou adquirido essa condiccedilatildeo depois de adulto Eacute tambeacutem importante observar se a pessoa tem deficiecircncia visual total ou apresenta baixa visatildeo3 Todos esses aspectos iratildeo definir o atendimento necessaacuterio

2) Cadastramento do discente e assinatura de termo de com-promisso pelo mesmo objetivando informaacute-lo de que o material digitalizado eacute de seu uso exclusivo conforme a Lei nordm 9610 de 1998 dos direitos autorais (BRASIL 1998)

3) Anaacutelise das demandas informacionais dos discentes pesqui-sa nas bases de dados em sites que disponibilizam e-book para saber se as obras solicitadas jaacute estatildeo disponiacuteveis o que evita a perda de tempo em digitalizar novamente os textos

4) Identificaccedilatildeo das obras a serem digitalizadas no acervo da biblioteca Caso sejam do acervo analisar as condiccedilotildees de conservaccedilatildeo tais como paacuteginas riscadas ausecircncia de folhas dentre outras que atrapalham o processo de digitalizaccedilatildeo

5) Digitalizaccedilatildeo do material descriccedilatildeo de figuras graacuteficos e tabelas correccedilatildeo gramatical do texto e formataccedilatildeo do docu-mento final eliminaccedilatildeo de espaccedilos elaboraccedilatildeo de referecircncia bibliograacutefica

6) Envio do material ao solicitante

3 Segundo o Decreto nordm 5296 a baixa visatildeo eacute compreendida como acuidade visual entre 03 e 005 no melhor olho com a melhor correccedilatildeo oacuteptica os casos nos quais a somatoacuteria da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60ordm ou a ocorrecircncia simultacircnea de quaisquer das condiccedilotildees anteriores (BRASIL 2004)

7) Catalogaccedilatildeo e indexaccedilatildeo do material digitalizado no Sistema de Bibliotecas da UFC atraveacutes do Cataacutelogo online da Biblio-teca Universitaacuteria Esse material digitalizado soacute poderaacute ser acessado pelo usuaacuterio com deficiecircncia visual cadastrado atraveacutes de senha e login Essa accedilatildeo estaacute gerando um acervo online de materiais digitalizados de natureza cientiacutefica

Figura 1 ndash Paacutegina do cataacutelogo online da Biblioteca Universitaacuteria da UFC onde se acessam as obras digitalizadas

Figura 2 ndash Paacutegina do cataacutelogo online da Biblioteca Universitaacuteria da UFC com login e senha para acesso agraves obras digitalizadas

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Para ajudar no processo de digitalizaccedilatildeo a equipe res-ponsaacutevel utiliza o programa ABBY FineReader que possibili-ta fazer a digitalizaccedilatildeo dos materiais bibliograacuteficos em diver-sos formatos pdf doc txt aleacutem de eliminar figuras erros de digitalizaccedilatildeo oriundos de manchas riscos e incorreccedilotildees das paacuteginas dos livros

Figura 3 ndash Tela inicial do programa ABBY FineReader

Atraveacutes dessa nova ferramenta no periacuteodo de marccedilo a maio de 2012 foram digitalizados 34 tiacutetulos aproximada-mente 1064 paacuteginas Os primeiros resultados apontam que os alunos com deficiecircncia visual da UFC estatildeo tendo acesso aos materiais digitalizados em tempo haacutebil para acompanhar os estudos em sala de aula Estima-se a ampliaccedilatildeo do aten-dimento realizado atualmente facilitando assim o acesso das pessoas com deficiecircncia visual a materiais bibliograacuteficos di-gitalizados viabilizando o seu acesso agrave informaccedilatildeo e ao co-nhecimento A seguir discutiremos quem satildeo os usuaacuterios do serviccedilo de digitalizaccedilatildeo

Quem satildeo os usuaacuterios com deficiecircncia visual do Sistema de Bibliotecas da UFC

Para aperfeiccediloar o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo e conhecer melhor quem satildeo os usuaacuterios com deficiecircncia do Sistema de Bibliotecas da UFC como tambeacutem seu niacutevel de satisfaccedilatildeo com o serviccedilo foi elaborado um estudo atraveacutes de um questionaacute-rio semiestruturado com uma amostra composta inicialmen-te por seis alunos com deficiecircncia visual da UFC atendidos pelo serviccedilo de digitalizaccedilatildeo dos quais somente quatro se submeteram ao questionaacuterio no segundo semestre de 2011 Na tabela 1 encontramos a caracterizaccedilatildeo da amostra dos alu-nos consultados

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia visual

ALUNO GEcircNERO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A1 Masculino 24 Computaccedilatildeo Baixa visatildeo

A2 Feminino 24Mestrado em Psicologia

Visual total

A3 Masculino 22 Biblioteconomia Baixa visatildeo

A4 Feminino 23 Letras ndash Italiano Baixa visatildeo

Temos como sujeito A1 um discente do curso de Com-putaccedilatildeo com 24 anos com baixa visatildeo do sexo masculino como A2 um estudante de 24 anos cursando mestrado em Psicologia com deficiecircncia visual total do sexo feminino A3 eacute aluno do curso de Biblioteconomia possui 22 anos apre-senta baixa visatildeo e eacute do sexo masculino Por fim A4 estuda no curso de Letras-Italiano possui 23 anos apresenta baixa visatildeo e eacute do sexo feminino

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Anaacutelise dos Dados

Todos os alunos atendidos por esse serviccedilo se mostra-ram satisfeitos com essa iniciativa relatando principalmente as diferenccedilas do periacuteodo anterior a essa accedilatildeo em comparaccedilatildeo com o momento atual Essa constataccedilatildeo eacute importante para perceber se o serviccedilo com a oferta de material digital atende as expectativas dos discentes

Segundo Torres Mazzoni e Alves (2001) o espaccedilo digi-tal apresenta muitas possibilidades Criado pelas Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) oferece para o atendi-mento distintas formas de interaccedilatildeo das pessoas com a infor-maccedilatildeo respeitando as suas preferecircncias e limitaccedilotildees sejam relacionadas aos equipamentos utilizados sejam agraves limita-ccedilotildees orgacircnicas Nessa perspectiva o estudo buscou avaliar a satisfaccedilatildeo dos alunos com o do serviccedilo de digitalizaccedilatildeo visto que este busca oferecer acesso agrave informaccedilatildeo

Dos alunos consultados todos apontaram a preferecircncia por material digitalizado ao inveacutes do Sistema Braille justifi-cada pela facilidade de manuseio praticidade e tempo bem como por natildeo correr o risco de rasgar Para A1 eacute essencial a existecircncia de um serviccedilo de digitalizaccedilatildeo na universidade

Acho essencial ter um serviccedilo desses na Universidade para pessoas com alguma limitaccedilatildeo visual A digitaliza-ccedilatildeo permite uma abrangecircncia de formas de utilizaccedilatildeo desse material No meu caso com o alto contraste ou no aumento de fonte da forma com que quiser entre outras que possam haver A qualidade desse material eacute muito boa e ajuda bastante nos estudos Acho que devia ter-se um maior foco nesse trabalho para que as digita-lizaccedilotildees fossem mais raacutepidas pois muitos materiais satildeo precisos e muitos alunos o necessitam Acho que natildeo eacute lento pois jaacute solicitei uma digitalizaccedilatildeo de mais de 100 paacuteginas e em pouco mais de uma semana jaacute estavam

prontos (e jaacute deixo aqui meu agradecimento agrave Secretaria de Acessibilidade e a todos os que dela fazem parte)

O estudante A2 relatou que tem preferecircncia por mate-rial digitalizado porque quando estaacute no computador o tex-to eacute mais faacutecil de ser manuseado Apontou que a escrita em Braille com reglete4 eacute muito trabalhosa e lenta aleacutem de natildeo constituir uma linguagem acessiacutevel agrave avaliaccedilatildeo dos professo-res Assim os trabalhos devem ser entregues digitalizados Se os textos estatildeo em linguagem virtual facilitam a produccedilatildeo textual e inclusive o registro de citaccedilotildees pois natildeo precisa-mos digitar o que ouvimos (aacuteudio) ou o que lemos no papel (Braille)

O discente A3 apresentou igualmente preferecircncia pelo material digitalizado apesar de utilizar textos eletrocircnicos como o mp4 Conforme seu relato

Em vaacuterios momentos tenho que fazer leitura de textos que natildeo satildeo disponibilizados em miacutedia digital O acuacute-mulo deste material daacute volume e quase sempre estaacute em um tamanho que dificulta muito a leitura por causa da minha baixa visatildeo O serviccedilo de digitalizaccedilatildeo facilita este processo uma vez que me daacute a oportunidade de fazer a leitura deste material em casa ou no trabalho utilizando os recursos de ampliaccedilatildeo do computador e facilitando o seu transporte

O aluno A4 argumentou a importacircncia do acesso ao material utilizado em sala de aula porque satildeo avaliados e co-brados da mesma maneira que os alunos sem deficiecircncia Re-latou a preferecircncia de textos digitalizados porque podem ser

4 ldquoReglete eacute uma placa de metal dobraacutevel que eacute encaixada a uma taacutebua de madeira de aproximadamente 30x20 cm onde eacute preso o papel Ela conteacutem quatro linhas com 27 pequenos retacircngulos vazados cada Esses retacircngulos satildeo chamados de celas e neles estatildeo os seis pontos do sistema Braille que satildeo impressos no papel sulfite 40 com um objeto chamado punccedilatildeordquo (MARUCH STEINLE 2009 p 9)

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levados para onde queira podem ser lidos quantas vezes for necessaacuterio natildeo se apagam com o tempo e natildeo satildeo pesados

Os discentes ressaltaram a importacircncia dos materiais digitalizados para o acesso igualitaacuterio agrave universidade Atraveacutes desses materiais a promoccedilatildeo da inclusatildeo eacute mais efetiva re-duzindo as barreiras existentes entre o estudante com defici-ecircncia visual e o conhecimento cientiacutefico visto que contribuem no processo de sua formaccedilatildeo acadecircmica

A acessibilidade agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento por-tanto representa para os indiviacuteduos com deficiecircncia visual uma etapa importante rumo agrave independecircncia permitindo que participem das atividades cotidianas como agentes ativos na construccedilatildeo de seu conhecimento Desse modo nos ambientes universitaacuterios associados agrave produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do co-nhecimento eacute necessaacuterio que esse direito seja cumprido em toda sua plenitude

Ateacute pouco tempo atraacutes alunos da UFC com deficiecircncia visual enfrentavam inuacutemeras dificuldades no seu cotidiano acadecircmico para ter acesso a materiais digitalizados De acor-do com os depoimentos dos estudantes com o advento da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui e o serviccedilo de digita-lizaccedilatildeo do Sistema de Bibliotecas da UFC no iniacutecio de 2011 a digitalizaccedilatildeo de textos solicitados pelos professores em sala de aula constituiu uma conquista pois tem facilitado bastante a compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados pelos docentes

Consideraccedilotildees Finais

No livro Acessibilidade em bibliotecas Baptista (2009) ao comentar sobre inclusatildeo ressalta que as diferenccedilas fazem parte da vida que nenhuma pessoa eacute igual a outra e que cada indiviacuteduo demonstra qualidades defeitos potencialidades

surpresas que satildeo infindaacuteveis e imprevisiacuteveis A diferenccedila se apresenta portanto como fator enriquecedor parte da dinacirc-mica da vida humana e natildeo deveria ser um fator de exclusatildeo nos espaccedilos sociais Nesse sentido as bibliotecas como espa-ccedilos culturais sociais natildeo poderiam deixar de ser inclusivas As mesmas satildeo espaccedilos de epifania do saber onde os rios de diversos saberes se encontram formando um oceano de conhe-cimento em constante movimento de evaporaccedilatildeo e fortes ondas de transformaccedilatildeo codificaccedilatildeo e recodificaccedilatildeo

Nesse processo os movimentos das aacuteguas desse oceano satildeo muacuteltiplos Haacute diversas formas de navegar diversas for-mas de vida a inclusatildeo eacute a compreensatildeo do muacuteltiplo como fator produtor de possibilidades Nesse contexto compreen-de-se a acessibilidade em bibliotecas como o entendimento e o movimento de expansatildeo do seu potencial educador No caso de pessoas com deficiecircncia visual estas trazem agrave biblioteca uma nova leitura sobre produccedilatildeo e aquisiccedilatildeo do conhecimen-to novas formas de perceber o mundo e representaacute-lo

Onde se encontram portanto nos bibliotecaacuterios a ou-sadia e a humildade de navegar o oceano que a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia pode oferecer agrave sociedade trazendo novos horizontes para aleacutem das ilhas costumeiras

Eacute nessa perspectiva que o trabalho do Sistema de Bi-bliotecas da UFC e da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui se apresenta como um olhar dinacircmico sobre as novas ilhas Criar um acervo acessiacutevel para pessoas com deficiecircncia visual eacute um movimento de navegar em aacuteguas desconhecidas extre-mamente atraentes cheias de descobertas gratificantes e re-veladoras do poder de superaccedilatildeo do ser humano

Eacute nesse navegar que se constitui o objetivo da Secreta-ria de Acessibilidade UFC Inclui em promover uma poliacutetica de acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo para pessoas com

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deficiecircncia nesse caso especiacutefico as que tecircm cegueira Deve--se institucionalizar essa accedilatildeo na vida da universidade tendo o Sistema de Biblioteca como foco visto que eacute o equipamento cultural institucional na universidade com a missatildeo de orga-nizar preservar e disseminar a informaccedilatildeo e a produccedilatildeo do conhecimento

Criar um acervo acessiacutevel de natureza cientiacutefica para as pessoas com deficiecircncia visual como jaacute dito eacute um desafio visto as dificuldades oriundas do pouco conhecimento sobre o tema na aacuterea de Biblioteconomia Poucos bibliotecaacuterios co-nhecem o tema de forma que os capacite a interferir e crias soluccedilotildees que venham atender os usuaacuterios com deficiecircncia visual

Portanto o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de material biblio-graacutefico natildeo eacute uma atividade-fim mas um meio com vistas a contribuir para o desenvolvimento de um acervo que con-temple as necessidades de informaccedilatildeo das pessoas com defi-ciecircncia visual possibilitando a criaccedilatildeo de pontes entre elas e o conhecimento mediando-se essa relaccedilatildeo intercedendo no navegar entre uma ilha e outra entre os mares os continen-tes Avanccedilando mar adentro descobrindo ignorados horizon-tes escondidos pela ilusoacuteria ideia de ver apenas com os olhos equivocando-se que ver enxergar estaacute para aleacutem do visiacutevel passa pelo cheiro pelo toque pelo sentir pelo perceber-se humano capaz de superaccedilatildeo de recriar o mundo as ideias e a si mesmo o que diraacute as instituiccedilotildees e suas poliacuteticas

Referecircncias Bibliograacuteficas

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d 75CLEMILDA DOS SANTOS SOUSA bull JERIANE DA SILVA RABELO74 d

UFC Conceito de acessibilidade Disponiacutevel em ltlink httpwwwufcbracessibilidadeconceito-de-acessibilidadegt Acesso em 29 out 2012VIEIRA P A de M LIMA F J de A teoria na praacutetica aacuteu-dio-descriccedilatildeo uma inovaccedilatildeo no material didaacutetico Revista Brasileira de Traduccedilatildeo Visual v 2 p 3 2010

O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIA

Beatriz Furtado Alencar LimaCarla Poennia Gadelha Soares

Refletindo sobre a Accedilatildeo e a Extensatildeo do Projeto

Neste artigo relatamos as experiecircncias vivenciadas du-rante a execuccedilatildeo do Projeto de Extensatildeo realizado pela Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) por meio da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui O projeto intitulado Atendimento Educacional Especializado para alunos com deficiecircncia visu-al de universidades puacuteblicas do municiacutepio de Fortaleza reali-zou-se no periacuteodo de 3 de maio a 23 de novembro de 2011 sob a coordenaccedilatildeo da professora Beatriz Furtado Alencar Lima e apresentou como objetivo em linhas gerais oferecer Aten-dimento Educacional Especializado (AEE) para alunos com deficiecircncia visual matriculados em universidades puacuteblicas de Fortaleza ndash UFC e Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) ndash por meio do serviccedilo de leitura de textos

A Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui com o intui-to de possibilitar o acesso agrave leitura de materiais em tinta ao puacuteblico mencionado estaacute desenvolvendo um soacutelido trabalho de digitalizaccedilatildeo de textos sob a coordenaccedilatildeo da bibliotecaacuteria Clemilda dos Santos Sousa Assim o intuito de nosso projeto foi oferecer mais um serviccedilo que pudesse ajudar no acesso aos textos com os quais os alunos devem travar contato em suas atividades acadecircmicas

Nesse sentido eacute importante reforccedilar que a ideia que nos orientou ao propormos esse projeto foi a de ampliar o leque de possibilidades dos estudantes em suas praacuteticas de letra-

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mento acadecircmico Compreendemos letramento como uma praacutetica social intermediada por textos escritos (BARTON HAMILTON 1998) e foi com base nessa concepccedilatildeo sobre le-tramento que desenvolvemos nosso projeto

Eacute importante dizer no entanto que natildeo consideramos em nenhuma hipoacutetese a atividade de ler para pessoas com deficiecircncia visual a melhor ou mais acertada Trata-se de mais um recurso dentre tantos outros existentes ndash tais como leitores de tela sistema de leitura e de escrita Braille1 etc ndash para que esse estudante tenha o seu direito assegurado de acesso agrave informaccedilatildeo Quando entramos nesta seara do acesso ao consumo e agrave produccedilatildeo de informaccedilatildeo eacute importante refle-tir sobre a multiplicidade de recursos existentes atualmen-te no campo das Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)

Torres Mazzoni e Mello (2007) no trabalho intitulado Nem toda pessoa cega lecirc em Braille nem toda pessoa sur-da se comunica em liacutengua de sinais alertam-nos para o fato de que no contexto em que atualmente vivenciamos de con-tato intenso com muacuteltiplas semioses jaacute natildeo haacute espaccedilo para pensarmos em uma uacutenica forma de entrar em contato com as praacuteticas sociais de leitura e escrita quando se fala em acesso e produccedilatildeo de informaccedilatildeo Segundo as autoras sabe-se que atualmente as TICs com o uso de ajudas teacutecnicas adequadas

1 Trata-se de um sistema de leitura e escrita destinado a pessoas cegas por meio do tato Sua escrita eacute baseada na combinaccedilatildeo de seis pontos dispostos em duas colunas de trecircs pontos que permite a formaccedilatildeo de 63 caracteres diferentes que representam as letras nuacutemeros foneacutetica etc Foi criado por Louis Braille nascido na Franccedila no ano de 1809 Ficou cego em 1812 em um acidente na oficina do pai Louis Braille em 1825 apresentou a primeira versatildeo do sistema de leitura e escrita em relevo taacutetil para pessoas cegas Utilizou como referecircncia o sistema de Barbier ndash sistema utilizado para a comunicaccedilatildeo noturna entre os soldados do exeacutercito francecircs Em 1837 apresentou o que viria a ser a versatildeo final do sistema Braille Desde entatildeo eacute um dos sistemas utilizados pelas pessoas com deficiecircncia para o contato com a leitura e a escrita (SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS 2011)

permitem a comunicaccedilatildeo direta e instantacircnea entre pessoas com deficiecircncias sensoriais distintas

Essas tecnologias permitem que por exemplo possa realizar-se a comunicaccedilatildeo entre uma pessoa surda e uma pes-soa cega sem que elas optem em utilizar o Braille ou a Liacutengua Brasileira de Sinais2 (Libras) Essa realidade de comunicaccedilatildeo leva-nos a dizer que nos dias de hoje o maior obstaacuteculo en-frentado pelas pessoas com deficiecircncia diz respeito ao acesso a essa informaccedilatildeo caracterizando-se esta como uma riqueza inestimaacutevel que se relaciona a aacutereas como a Educaccedilatildeo o tra-balho e o lazer Dada a relevacircncia desse acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo em nossa sociedade sempre que falamos sobre barreiras agrave acessibilidade de cidadatildeos eacute fundamental destacar aquelas que impedem o acesso pleno e irrestrito a essas duas instacircncias Acreditamos pois que a quebra dessas barreiras poderaacute advir de forma mais justa e de fato acessiacutevel a partir do momento em que cidadatildeos com ou sem deficiecircn-cia tenham o direito de escolher de maneira plena e irrestrita a forma pela qual desejam entrar em contato com o consumo e a produccedilatildeo da informaccedilatildeo Para que isso ocorra faz-se ne-cessaacuterio ouvir conversar e refletir com as pessoas com defici-ecircncia e natildeo somente sobre as pessoas que se ressentem das barreiras a esse acesso

Sendo assim nosso projeto eacute delineado pelo pensamen-to de que para realizarmos um trabalho satisfatoacuterio junto aos alunos com deficiecircncia faz-se necessaacuterio sobretudo ouvir o que eles tecircm a nos dizer sugerir criticar Por essa razatildeo an-tes ou depois de realizarmos um trabalho de leitura de um

2 A liacutengua de sinais natildeo eacute universal e cada paiacutes possui a sua Como toda liacutengua possui uma estrutura gramatical e aspectos linguiacutesticos fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico No Brasil a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) eacute reconhecida pela lei nordm 104362002 como o sistema linguiacutestico visual-motor da comunidade surda brasileira (BRASIL 2005)

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texto ao universitaacuterio cego propomos informalmente ao aluno que ele nos aponte possibilidades de melhoria Dessa forma fazemos sempre que possiacutevel os ajustes necessaacuterios em prol de uma praacutetica de leitura melhor e mais eficaz Para que se compreenda melhor o funcionamento do nosso projeto de extensatildeo descrevemos na seccedilatildeo trecircs as principais accedilotildees desenvolvidas

Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

A realizaccedilatildeo deste projeto levou-nos agrave reflexatildeo sobre o aspecto de que o acesso agrave leitura e agrave escrita porpara pessoas com deficiecircncia visual natildeo se restringe a um uacutenico recurso Pelo contraacuterio muacuteltiplos satildeo os letramentos considerando que muacuteltiplas satildeo nossas praacuteticas sociais de contato com a lei-tura e a escrita Uma vez que vemos como indissociaacuteveis os letramentos e as praacuteticas sociais pensar o acesso agrave comunica-ccedilatildeo por meio de somente um recurso ndash quer sejam leitores de tela serviccedilo de ledores sistema Braille ndash eacute uma praacutetica redu-cionista e perigosa que leva agrave exclusatildeo de vaacuterios cidadatildeos de uma praacutetica social fundamental em nosso cenaacuterio contempo-racircneo que diz respeito ao acesso agrave informaccedilatildeo de forma irres-trita e acessiacutevel com todas as consequecircncias que as palavras irrestrita e acessiacutevel possam remeter

Eacute neste sentido que a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui ndash e no acircmbito da secretaria inserimos nosso projeto ndash tem direcionado suas accedilotildees com o intuito de promover dentro dos limites que lhe satildeo colocados a acessibilidade agrave informaccedilatildeo sob muacuteltiplas formas e perspectivas A rota precisa deste cami-nho para uma plena e irrestrita acessibilidade Natildeo a temos Satildeo somente dois anos de caminhada diante de tantas deacutecadas em que imperaram e ainda imperam uma concepccedilatildeo visiocecircn-

trica cartesiana e positivista de ensino de aprendizagem e de acesso agrave informaccedilatildeo ldquoCaminante no hay camino Se hace camino al andar Golpe a golpe verso a versordquo 3 Nos pa-raacutegrafos que se seguem faremos uma exposiccedilatildeo sobre as bases teoacutericas que fundamentaram esses nossos primeiros passos

Comecemos esclarecendo o conceito de letramento com o qual trabalhamos uma vez que este foi um dos conceitos que guiou nossa trilha durante a realizaccedilatildeo do projeto Tra-balhamos com o conceito de letramento desenvolvido pelos Novos Estudos do Letramento o qual entende o letramento como uma praacutetica social que envolve atividades de leitura e de escrita inseridas em estruturas sociais (BARTON HA-MILTON 1998) Satildeo praacuteticas que se localizam em um tempo e em um momento especiacuteficos ou seja as praacuteticas de letra-mento acontecem em contextos histoacutericos sociais e poliacuteticos situados Em resumo o letramento significa conforme a pers-pectiva que adotamos algo que as pessoas fazem natildeo se tra-ta de algo que reside somente na cogniccedilatildeo dos indiviacuteduos O letramento estaacute aleacutem de habilidades para aprender a ler e a escrever estaacute aleacutem dos textos que se limitam ao suporte do papel eacute uma atividade social por excelecircncia e portanto iraacute ocorrer na interaccedilatildeo entre as pessoas

Para ilustrar o que dizemos utilizamo-nos da voz de um dos participantes de uma pesquisa em andamento sobre letra-mentos para pessoas com deficiecircncia visual que estaacute sendo desenvolvida pela professora Beatriz Furtado Alencar Lima como aluna do doutorado em Linguiacutestica do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da UFC4

3 Passagem do poema Caminante no hay camino (MACHADO 2004)4 A pesquisa teve iniacutecio em maio de 2010 e trabalha com dez participantes cinco homens e cinco mulheres situados na faixa etaacuteria entre 23 e 50 anos Os participantes que integram a pesquisas satildeo pessoas com deficiecircncia visual quatro deles com niacutevel superior completo e seis se encontram com os cursos de niacutevel

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Ao finalizar a entrevista ndash de natureza semiestruturada ndash foi perguntado ao participante5 se ele gostaria de comentar algo mais aleacutem do que jaacute havia dito O que obtivemos foi en-tatildeo o seguinte depoimento6

Beatriz e pra gente terminar vocecirc gostaria de comentar algo mais Ricardo Natildeo acho que basicamente isso mesmo acho que tem Beatriz Sobre o que a gente conversou ou algo que vocecirc gostaria de comentar que independente das perguntasRicardo Natildeo eu acho que era basicamente isso mesmo Tipo as coisas tatildeo caminhando jaacute caminharam muitas coisas mas eu acho que tinha que ser feito conversar mais com os cegos ou se aproximar um pouco mais Enfim jaacute melhorou muita coisa mas muita coisa ainda taacute pra melhorar aindaBeatriz O que seriam essas coisas ainda pra melhorarRicardo Eu acho que da maneira que taacute acontecendo taacute acontecendo ateacute duma maneira legal Soacute que eu acho que tinha que melhorar era ouvir mais os cegos ouvir mais o deficiente e natildeo lsquoAh Eu estudei Eu sou formado Eu sou doutorrsquo Eu sou natildeo sei o quecirc Eu sei o que eu tocirc fazendo Tinha que ouvir mais Entatildeo muitas vezes a gente pega a pessoa lsquoAh Eu sou sei laacute eu sou irmatildeo dum cegorsquo lsquoeu sou casado com um cegorsquo lsquoeu sou assim assadorsquo lsquoeu estudeirsquo lsquoeu fiz pesquisarsquo lsquoeu fui pra forarsquo

superior em andamento A pesquisa acontece em diferentes locais de trabalho e de estudo dos participantes e tem como um de seus objetivos descrever compreender e explicar os letramentos presentes nas praacuteticas sociais dessas pessoas com deficiecircncia visual5 Para preservar a identidade dos participantes que aceitaram contribuir com nossa entrevista usamos nomes meramente fictiacutecios 6 Entrevista gravada em 10 de novembro de 2011 Essa entrevista faz parte do projeto de doutoramento de Beatriz Furtado Alencar Lima sobre os muacuteltiplos letramentos para pessoas com deficiecircncia visual A pesquisa estaacute vinculada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da UFC O projeto encontra-se devidamente aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFC ofiacutecio nuacutemero 18511 protocolo COMEPE nuacutemero 13411

lsquoeu fui pros Estados Unidosrsquo lsquoestudei laacute e eacute assimrsquo E natildeo a verdade natildeo eacute assim Acho que quem sabe onde o sapato aperta eacute o deficiente Natildeo adianta vocecirc ter es-tudado vocecirc ter feito um bocado de coisas se vocecirc natildeo eacute o puacuteblico-alvo daquilo Claro que vocecirc ter estudado vocecirc vai ter uma bagagenzinha bem legal mas isso natildeo quer dizer que aquilo dali eacute tudoBeatriz E o que vocecirc diria pra esse pessoal que estuda e que acha que entendeRicardo Descesse um pouquinho do salto Soacute issoBeatriz CertoRicardo Escutasse mais descesse um pouquinho do sal-to e enfim escutasse mesmo Tipo seria isso escutasse um pouquinho porque o cego ele pode natildeo ter a baga-gem teacutecnica mas ele tem a bagagem praacutetica da coisa

Haacute outro depoimento que dialoga com o que Ricardo nos fala No depoimento abaixo estamos conversando sobre as tecnologias ndash de forma mais especiacutefica sobre a presenccedila dos computadores ndash na vida das pessoas com deficiecircncia visual Por meio de um exemplo simples que envolve o letramento (poder utilizar um micro-ondas) a participante levanta um ponto complexo sobre a falta de acessibilidade que adveacutem de nosso visiocentrismo7

Beatriz Humrum humrum Pegando aiacute uma apro-veitando isso aiacute que vocecirc acabou de comentar tem um pouco a ver com uma outra pergunta que eu gostaria de te fazer eacute como eacute que vocecirc sente e percebe as tecnologias da comunicaccedilatildeo na tua vida

7 Sobre este visiocentrismo Joana Belarmino de Sousa (2004) em sua tese Aspectos comunicativos da percepccedilatildeo taacutetil a escrita em relevo como mecanismo semioacutetico da cultura nos fala da existecircncia de uma mundividecircncia taacutetil ndash em contraposiccedilatildeo agrave nossa sociedade visiocecircntrica ndash como uma forma distinta de vivenciar o mundo Ou seja o tato eacute uma das formas pelas quais as pessoas com deficiecircncia visual experienciam o mundo e dentro dessas experiecircncias encontramos a leitura e a escrita por meio do sistema Braille

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Leda Ah eu assim eu costumo valorizar tudo que vem facilitar neacute Eu acho que tudo que vem me proporcionar uma independecircncia neacute Eu eu acho que natildeo tem por que natildeo tem como vocecirc recusar eu acho que vocecirc tem que aproveitar neacute Um celular um computador um programa aqui e ali mesmo que vocecirc coloque no seu computador pirata mesmo que vocecirc busque de uma forma ou de outra um meio pra utilizar qualquer coisa que venha te ajudar que venha te tornar mais indepen-dente mais autocircnomo eu acho que eacute valido Por exem-plo vocecirc quer ver uma coisa lsquoolha eu quero comprar um micro-ondas pra mim haacute tempo que eu quero comprar um micro-ondas pra mimrsquo Atualmente natildeo tem mais nenhum micro-ondas pra pessoa cega utilizar todos os micro-ondas olhe como as coisas natildeo satildeo para todos todos os micro-ondas atuais satildeo digitais Nenhum fala nenhum tem uma adaptaccedilatildeo pra pessoa cega utilizar aiacute as pessoas dizem assim lsquoah mas tem aquele micro--ondas x de mil novecentos e me esqueci que esse daiacute serve pra vocecircrsquo Ou seja nem escolher a marca do meu micro-ondas nem escolher o tamanho do meu micro--ondas nem escolher o tipo do meu micro-ondas que eu quero ter eu posso Entatildeo eu tenho que comprar aquele do seacuteculo XIX porque soacute aquele do seacuteculo XIX pra caacute foi que foi feito eacute o que permite que eu possa utilizar entatildeo assim eu acho que nessa questatildeo a gente ainda precisa evoluir neacute Apesar de que jaacute que soacute tem essa daiacute esse daiacute esquenta a comida do mesmo jeito dos atuais eu natildeo tenho escolha Se eu quero comprar um de 30 litros mas soacute tem um de 19 litros eu fico com esse mesmo eacute melhor do que eu natildeo esquentar nunca minha comida Agora natildeo eacute correto natildeo eacute justo natildeo taacute certo natildeo tem acessibilidade O mundo natildeo eacute para todos

Essa passagem da entrevista com Leda reitera a impor-tacircncia de entendermos que quando falamos sobre o acesso agrave leitura e agrave escrita para pessoas com deficiecircncia visual natildeo podemos pensar em uma uacutenica forma de acesso a textos es-critos mas em muacuteltiplas maneiras de vivenciar essa leitura e

essa escrita e em uma multiplicidade de suportes e de meios que proporcionam esse acesso

Daiacute dizermos que estamos trabalhando numa perspec-tiva de muacuteltiplos letramentos e de multiletramentos O termo muacuteltiplos letramentos foi desenvolvido por Street (1984) com o objetivo de opocirc-lo a uma concepccedilatildeo de letramento autocircno-mo a qual reifica a ideia de letramento reduzindo-o a uma noccedilatildeo simplista e redutora Essa concepccedilatildeo autocircnoma vecirc o letramento como uma habilidade a ser adquirida sem consi-derar as praacuteticas sociais e culturais em que os seres humanos estatildeo imersos A atividade de interagir com textos reduz-se a uma interaccedilatildeo com textos escritos que devem ser devidamen-te decodificados e internalizados O letramento autocircnomo assume atualmente um papel dominante em muitos meios educacionais do Brasil e do mundo em ciacuterculos governamen-tais em agecircncias internacionais como a UNESCO e tambeacutem estaacute na base dos discursos dos mais variados segmentos da sociedade ndash escolas universidades academias de letras miacute-dia dentre outros ndash sobre o que entendem por letramento A ideia pois dos muacuteltiplos letramentos vem opor e desafiar o que difunde o letramento autocircnomo (STREET 2010)

No que diz respeito aos multiletramentos esse termo faz referecircncia natildeo a muacuteltiplos letramentos associados a di-ferentes contextos sociais mas a formas diversas muacuteltiplas de letramento que se associam a diferentes canais ou mo-dos como letramento visual letramento do computador etc (STREET 2010)

Eacute pois tendo como referecircncia a noccedilatildeo de letramento acima exposta que reiteramos ser perigoso e redutor afir-marmos e agirmos em prol do acesso agrave leitura para as pes-soas com deficiecircncia visual tendo como paracircmetro um uacutenico meio Braille ou leitores de tela por exemplo Isso significaria

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apagar e negar as muacuteltiplas maneiras pelas quais elas podem vivenciar a leitura em suas mais diversas praacuteticas sociais Eacute importante sempre ter em vista que satildeo muacuteltiplos os letra-mentos que respondem agraves demandas peculiares das pessoas com eficiecircncia visual a partir de suas diferentes praacuteticas so-ciais e culturais e muacuteltiplas satildeo as formas com que essas pes-soas vivenciam interagem e reagem a esses letramentos de acordo com os diferentes canais ou meios que utilizam Faz-se necessaacuterio entender como esses muacuteltiplos e multiletramentos respondem agraves necessidades especiacuteficas das pessoas com de-ficiecircncia visual para que se possa realizar de fato um acesso pleno e irrestrito da leitura agravequeles que se encontram fora do campo de visatildeo de um mundo pautado no visiocentrismo

Descrevendo as Accedilotildees do Projeto

Partindo do princiacutepio de que a universidade estaacute forma-da por um puacuteblico heterogecircneo de estudantes encontrando--se nessa heterogeneidade inseridas as mais diversas formas de contato com a leitura e a escrita entendemos ser importan-te considerar essas idiossincrasias promovendo uma forma a mais de acesso aos textos em tinta com os quais os alunos com deficiecircncia visual teriam que travar contato ao longo de seu curso de graduaccedilatildeo Daiacute a criaccedilatildeo de um projeto que prestasse AEE aos estudantes com deficiecircncia visual com o objetivo de auxiliaacute-los nas atividades discentes de que prescindiam nos cursos em que estavam matriculados

Durante a execuccedilatildeo do projeto atendemos a quatro alu-nos cujos dados estatildeo detalhados na tabela abaixo

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos atendidos

CARACTERIZACcedilAtildeO DOS ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA

IDADE CURSO DEFICIEcircNCIA

28 Ciecircncias Sociais Fiacutesica ndash Torcicolo Espasmoacutedico

45 Pedagogia Visual ndash Baixa Visatildeo

22 Letras Espanhol-Literatura Visual Total ndash Retinoblastoma

23 Psicologia Baixa Visatildeo ndash Visatildeo Unilateral

A accedilatildeo do projeto se inseriu conforme jaacute mencionamos anteriormente como mais uma das iniciativas que estatildeo sen-do desenvolvidas na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui no sentido de disponibilizar material bibliograacutefico para as pessoas com deficiecircncia visual Nesse sentido trabalhos vecircm sendo empreendidos como a digitalizaccedilatildeo de materiais que precisam ser usados pelos alunos com deficiecircncia visual No entanto dado que este serviccedilo demanda certo tempo o aten-dimento prestado pelas ledoras veio auxiliar e complementar o trabalho de digitalizaccedilatildeo8 de livros e textos com o intuito de atender aos alunos nas leituras de seus textos em tempo haacutebil

De forma mais especiacutefica centramo-nos nos seguintes aspectos promover o acesso de textos por meio do trabalho de ledoras realizado por duas bolsistas pertencentes agrave Se-

8 O trabalho de digitalizaccedilatildeo consiste no processo de digitalizar textos em tinta para que possam ser utilizados pelas pessoas com deficiecircncia visual por meio do suporte do computador com o uso de leitores de tela ou do programa DOSVOX Tanto o programa DOSVOX quanto os leitores de tela leem o que se encontra na tela do computador para as pessoas que os utilizam Essa leitura ocorre atraveacutes de uma voz sinteacutetica que decodifica as palavras que se encontram na tela Ou seja jaacute que as pessoas com deficiecircncia visual natildeo podem ter acesso aos textos em tinta por meio da visatildeo entram em contato com as informaccedilotildees escritas por meio da audiccedilatildeo

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cretaria de Acessibilidade UFC Inclui coletar e gerar dados para a elaboraccedilatildeo de uma estatiacutestica sobre a quantidade de alunos atendidos e a metodologia que eacute utilizada nesses aten-dimentos coletar e gerar dados para a elaboraccedilatildeo de novas metodologias no tocante agrave leitura para cegos com o intuito de aprimorar essa teacutecnica e com isso contribuir com mais uma ferramenta de acesso ao conhecimento para os estudan-tes com deficiecircncia visual

Dessa maneira as duas bolsistas envolvidas neste pro-jeto atuaram da seguinte forma realizaccedilatildeo do trabalho de lei-tura de textos para os estudantes que buscavam o atendimen-to na secretaria construccedilatildeo de formas alternativas de acesso ao conhecimento presente nos textos (leitura pausada leitura contiacutenua leitura para fichamento) acompanhamento e ano-taccedilatildeo das estrateacutegias que eram utilizadas e construiacutedas nesse atendimento com o intuito de gerar dados para a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Essas formas de atuar podiam acontecer de maneira conjunta ou em separado dependendo das necessidades e estilos de aprendizagem dos alunos Cada atendimento teve a duraccedilatildeo aproximada de uma hora e meia nos turnos da manhatilde e da tarde dependendo de cada caso e foram realizados em uma sala situada na Secretaria de Aces-sibilidade UFC Inclui

Aleacutem disso as bolsistas do projeto participaram se-manalmente de atividades de estudo planejamento e acom-panhamento sob supervisatildeo da coordenaccedilatildeo do projeto A pauta desses encontros estava centrada na discussatildeo sobre a forma como as ledoras realizavam os atendimentos a fim de aperfeiccediloar as teacutecnicas utilizadas Tanto nos atendimentos ao puacuteblico- -alvo do projeto quanto nos encontros junto agrave coor-denaccedilatildeo a intenccedilatildeo foi a de oferecer oportunidades para que as bolsistas se deparassem com situaccedilotildees-problema para as

quais deveriam buscar formas criativas de intervir pedagogi-camente no AEE Isso exigiu delas a capacidade de ir ao en-contro de soluccedilotildees que atendessem a cada aluno

Compartilhando Nossas Experiecircncias

Relatar experiecircncias implica compartilhar com o outro por meio da narrativa emoccedilotildees medos desejos e dificuldades vivenciadas durante algum momento especiacutefico ndash em nosso caso durante todos os instantes que circundaram a praacutetica da leitura para os universitaacuterios com deficiecircncia visual que busca-ram em nossa voz uma alternativa para dar vida aos textos

A esse respeito cabe mencionar que diferentemente do que previacuteamos durante a elaboraccedilatildeo do projeto nosso puacuteblico natildeo se restringiu apenas aos alunos com deficiecircncia visual ou de baixa visatildeo uma vez que um aluno acometido por torcicolo espasmoacutedico ndash o que provocava movimentos involuntaacuterios re-petidos do pescoccedilo ndash tambeacutem buscou nas ledoras uma forma de acessar o conteuacutedo de um texto impresso Isto porque os movimentos involuntaacuterios da parte superior do corpo tornava o fixar dos olhos nas paacuteginas de papel ou na tela do computa-dor uma tarefa dolorosa lenta e por vezes frustrante Dessa forma procedemos com a seguinte correccedilatildeo nossas ledoras emprestaram a voz natildeo soacute aos alunos impossibilitados de ver mas tambeacutem aos que encontravam outras dificuldades decor-rentes de condiccedilotildees fiacutesicas ndash que natildeo a deficiecircncia visual ndash no momento de praticar a leitura

Aclarados esses pontos dividimos nosso relato em trecircs breves momentos inicialmente discorreremos sobre nossas expectativas antes de iniciar as atividades de ledoras em se-guida na parte mais longa do relato compartilhamos nossa vivecircncia durante a execuccedilatildeo do projeto e por fim com base

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em nossa experiecircncia deixamos algumas breves sugestotildees para o aprimoramento de projetos futuros

Antes do nosso projeto atender o primeiro aluno nos-sas expectativas sempre otimistas apontavam para uma re-laccedilatildeo perfeita entre ledor-texto-leitor9 Isto eacute imaginaacutevamos que a nossa voz sempre fosse ter a capacidade de despertar o interesse no leitor acerca do conteuacutedo que liacuteamos Erronea-mente atribuiacuteamos a noacutes ledoras a responsabilidade de tor-nar o texto uma fonte de prazer aos ouvidos do leitor

Mais tarde durante a execuccedilatildeo do projeto e apoacutes apre-ciaccedilatildeo de textos da literatura especializada fomos nos cons-cientizando de nossas responsabilidades e limitaccedilotildees Apren-demos que nem sempre o leitor se envolveraacute com as histoacuterias lidas o que natildeo significa que a nossa leitura natildeo tenha cum-prido o seu papel Afinal eacute comum que todos noacutes videntes ou natildeo enfademo-nos ou ajamos de forma indiferente frente a um texto em algum momento algumas vezes em virtude da linguagem utilizada pelo autor noutras pela forma densa como o escritor conduz suas ideias ou simplesmente pela nos-sa falta de interesse no tema

No entanto natildeo podemos deixar de mencionar a sa-tisfaccedilatildeo que sentiacuteamos quando percebiacuteamos nas atitudes do leitor o contentamento de quem estava completamente en-volvido com nossa leitura Era muito gratificante notar que o nosso tom de voz entonaccedilatildeo pausas e respiraccedilatildeo aliados a um texto de interesse do universitaacuterio conseguiam provocar nele emoccedilotildees e reflexotildees diversas

Certa vez ao teacutermino da leitura de um texto10 relati-vamente denso em funccedilatildeo de uma longa discussatildeo teoacuterica

9 Denominamos ledor agravequele que lecirc para as pessoas com deficiecircncia visual e leitor cego os que escutam as leituras feitas em voz alta10 Referecircncia completa do texto LYONS J Linguagem e Linguiacutestica Rio de Janeiro Guanabara Koogan SA 1981

a aluna leitora para a qual estaacutevamos lendo soltou repenti-namente uma gargalhada e em seguida disse-nos algo que se aproximou com ldquoeacute engraccedilado a forma alegre como vocecirc lecirc um texto difiacutecil E o mais engraccedilado eacute que ele acaba se tor-nando faacutecilrdquo Naquele dia percebemos que noacutes ledores natildeo podemos esquecer jamais que uma leitura realizada de forma mecacircnica e fria despertaraacute sentimentos bem diferentes do que aqueles aflorados quando realizamos uma leitura com entu-siasmo e alegria Os sentimentos satildeo contagiosos

Schinca (1994 p 2) no artigo intitulado ldquoConfissotildees de algueacutem que lecirc para cegosrdquo traduz muito sabiamente as nossas anguacutestias na empreitada de sermos ledores

A quais expectativas dos usuaacuterios temos correspondi-do Que demandas natildeo foram satisfeitas Somos aceitos bem tolerados Ou apenas nos suportam Emocionam-se ou ficam frios com a nossa leitura Somos claros Ou natildeo propiciamos nenhum entendimento uacutetil do texto Consideram-nos intru-sos nesta intermediaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o autor

Esses questionamentos sem duacutevida satildeo ainda mais angustiantes quando o ledor natildeo tem um feedback por parte do leitor acerca de seu trabalho No nosso caso em virtude da intimidade que alcanccedilamos com os alunos com deficiecircncia que nos procuravam no espaccedilo da Secretaria de Acessibilida-de UFC Inclui pudemos conhecer melhor nossas fragilidades e pontos fortes no exerciacutecio da funccedilatildeo de ledoras Quase sem-pre ao teacutermino de uma leitura era comum uma conversa sem cerimocircnias entre as ledoras e os alunos com deficiecircncia sobre os pontos que mereciam ser melhorados em nosso trabalho

Em relaccedilatildeo a isso destacamos aqui um aspecto que merece atenccedilatildeo em nossa praacutetica como ledoras a apropria-ccedilatildeo das teorias que versam sobre a descriccedilatildeo de imagens para cegos (GUEDES 2010 LIacuteVIA FILHO 2010 PAYA 2007)

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Descrever imagens fotos mapas muito mais do que sensi-bilidade requer conhecimento teacutecnico e teoacuterico acerca do assunto Para ilustrar nossa dificuldade sugerimos que vocecirc caro leitor pense em como descreveria a imagem que segue para uma pessoa cega

Figura 1 ndash Indicaccedilatildeo de voo das abelhasFonte LYONS J Linguagem e Linguiacutestica Rio de Janeiro Guanabara Koogan SA 1981

Conseguiu Para noacutes essa descriccedilatildeo tambeacutem natildeo foi

tarefa simples Outra dificuldade que notamos em nosso tra-balho diz respeito agrave leitura de textos em Liacutengua Estrangeira (LE) Apesar de as ledoras serem proficientes em liacutengua in-glesa e espanhola deparaacutevamo-nos muitas vezes com textos escritos em liacutenguas diferentes daquelas

Conclusatildeo

Desse modo acreditamos que ser um bom ledor vai muito aleacutem de simplesmente saber ler A nosso ver os ledores necessitam receber capacitaccedilatildeo adequada que lhe garanta a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas especiacuteficas contar com lugares apro-priados para a praacutetica de leitura em voz alta e ser consciente de que desenvolver um trabalho junto a esses alunos implica

estar atento agraves suas necessidades no momento da leitura ou seja eacute o aluno quem sugere o tipo de metodologia que noacutes le-dores empregamos no momento do atendimento Por exem-plo se o aluno com deficiecircncia precisa ler um texto para fa-zer um fichamento acadecircmico certamente ele solicitaraacute uma leitura mais lenta e uma releitura dos pontos que ele definiu como relevantes por outro lado se ele necessita ler uma crocirc-nica a leitura deveraacute ser realizada de uma uacutenica vez

Como jaacute mencionamos a questatildeo do espaccedilo fiacutesico em que o atendimento ocorre tambeacutem influencia na qualidade da compreensatildeo por parte do aluno Para entender isso bas-ta pensarmos em nossa experiecircncia individual como leitores algumas pessoas preferem ler sentadas em uma cadeira ou-tras deitadas num sofaacute alguns optam por lugares silenciosos ao passo que outros gostam mesmo eacute de no momento da lei-tura ouvir vaacuterias outras vozes (televisatildeo muacutesica etc) Certa vez um aluno interrompeu a leitura de uma das ledoras e de forma tiacutemida sugeriu que saiacutessemos da sala e focircssemos para debaixo de uma aacutervore Indaguei-me por que natildeo ir Ser le-dor eacute entregar-se completamente agrave tarefa de tornar possiacutevel o acesso ao rico mundo das letras agraves pessoas com deficiecircncia visual Ser ledor eacute principalmente saber aventurar-se nas no-vas experiecircncias sem medos e preconceitos

Concluiacutemos apresentando algumas sugestotildees para tra-balhos futuros a partir do que pudemos constatar e analisar durante a vigecircncia de nossa accedilatildeo A execuccedilatildeo do projeto le-vou-nos ao mapeamento de alguns pontos que merecem ser pensados para a realizaccedilatildeo de ediccedilotildees futuras Sobre estes pontos destacamos a realizaccedilatildeo de um levantamento da de-manda pela leitura de textos em LE (inglecircs espanhol francecircs italiano e alematildeo) para que em versotildees posteriores do pro-jeto sejam requisitados ledores proficientes nas liacutenguas su-

O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIABEATRIZ FURTADO ALENCAR LIMA bull CARLA POENNIA GADELHA SOARES92 d d 93

pracitadas caso haja demanda de leitura levantamento e dis-ponibilizaccedilatildeo de materiais em Braille em LE tendo em vista principalmente estudantes com deficiecircncia visual dos cursos de Letras com habilitaccedilatildeo em LE levantamento pesquisa e aquisiccedilatildeo de leitores de tela com versatildeo em LE

Talvez o ponto a ser explorado natildeo resida em uma opo-siccedilatildeo ou uma hierarquia de valores entre diferentes formas de acesso ao conhecimento quer seja ele o Braille o computador ou os ledores mas em uma reflexatildeo sobre determinada forma diferente de ser estar ou perceber o mundo forma que se en-contra cansada desgastada e questiona sobre uma sociedade que definitivamente natildeo tem pensado no acesso ao conheci-mento e portanto agrave leitura e agrave escrita (aqui leitura e escrita pensadas em seus multiletramentos e muacuteltiplos letramentos) para todos

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SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLE

Maria Clarissa Maciel RodriguesInecircs Cristina de Melo Mamede

Introduccedilatildeo

Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky trouxeram grandes contribuiccedilotildees para professores alfabetizadores quando des-vendaram a ideia de que a alfabetizaccedilatildeo natildeo eacute o resultado de algo mecacircnico e repetitivo Ao longo de uma caminhada ateacute a elaboraccedilatildeo de como o sistema de escrita deve ser organizado o sujeito que se depara com tantos materiais escritos ao seu redor formula hipoacuteteses sobre como esse sistema se consti-tui para que possa ser interpretado De acordo com Ferreiro (2000) a alfabetizaccedilatildeo natildeo pode ser vista como algo mecacircni-co pois a crianccedila ao longo desse fenocircmeno se impotildee proble-mas interpreta e reinterpreta o sistema de escrita

No Brasil muitos autores se dedicaram a colher dados a respeito do tema a fim de dar continuidade a tais inves-tigaccedilotildees As pesquisas entretanto satildeo praticamente escas-sas quando se trata da investigaccedilatildeo das hipoacuteteses de leitura e escrita levantadas pelas crianccedilas que apresentam alguma deficiecircncia mais especificamente as crianccedilas cegas Eacute visu-alizando tal situaccedilatildeo que nossa pesquisa se faz relevante e eacute inovadora pois traz contribuiccedilotildees ainda que modestas do ponto de vista de sua abrangecircncia metodoloacutegica1 a respeito

1 Ressaltamos ao leitor a importacircncia de buscar investigaccedilotildees mais aprofundadas a respeito da aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille com acesso inclusive ao alfabeto Braille aqui natildeo apresentado dados os limites de espaccedilo Recomendamos o programa Braille Faacutecil Disponiacutevel em lthttpintervoxnceufrjbrbrfacilgt

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da temaacutetica no campo da aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille2

Este experimento acadecircmico tem como objetivo geral investigar as especificidades no processo de aquisiccedilatildeo da es-crita pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille Pretendemos al-canccedilar este propoacutesito por meio da anaacutelise dos dados obtidos em nossa busca tendo por sujeitos crianccedilas cegas usuaacuterias do Sistema Braille tomando como base teoacuterica os dados obtidos na investigaccedilatildeo realizada por Emiacutelia Ferreiro e Ana Tebe-rosky Procuramos assim identificar o modo como as crianccedilas cegas manifestam suas hipoacuteteses a respeito da escrita e se es-tas apresentam ou natildeo especificidades em relaccedilatildeo agraves hipoacutete-ses jaacute conhecidas

Com efeito este ensaio traz a seguinte questatildeo norte-adora quais as especificidades apresentadas pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille durante a aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita Com suporte nesta indagaccedilatildeo pretendemos tambeacutem ao longo desta pesquisa relacionar as hipoacuteteses psicogeneacuteti-cas da aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita apresentadas pelas crianccedilas cegas com as hipoacuteteses trazidas pelas crianccedilas que enxergam

Aprender a ler e a escrever eacute um fenocircmeno socialmente facilitado pelo uso da escrita pelo contato com os diferentes portadores sociais de texto (SOARES 1998) presentes nos mais diversos ambientes e que trazem os mais variados tipos de informaccedilotildees O contato com esses portadores eacute fundamen-tal para que a crianccedila formule suas hipoacuteteses sobre o que eacute a escrita e acerca da funccedilatildeo social de cada um dos diferen-tes gecircneros textuais Mesmo natildeo sabendo ler e escrever uma crianccedila que enxerga tem enormes benefiacutecios ao manusear um livro ela aprende a direccedilatildeo do sentido da leitura e da escrita

2 Sistema de leitura e escrita taacutetil desenvolvido por Louis Braille para ser utilizado por pessoas cegas ou com deficiecircncia visual grave (baixa visatildeo acentuada)

se um adulto fizer a leitura apontando com o dedo por exem-plo Almeida (1992) destaca a ideia de que para uma crianccedila cega ou com deficiecircncia visual grave que necessita do Sistema Braille para se alfabetizar o contato com portadores sociais de texto se torna mais difiacutecil pois na maioria dos casos o Sistema Braille natildeo faz parte do meio social onde a crianccedila cega estaacute inserida

Como jaacute mencionado as pesquisas sobre a aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille satildeo bastante escassas principalmente no que se refere agraves hipoacuteteses psicogeneacuteticas da aquisiccedilatildeo da escrita Em busca de levantar dados sobre o tema fizemos pesquisas na Biblioteca do Centro de Humani-dades da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) na internet no acervo da instituiccedilatildeo onde aconteceu a pesquisa que aten-de crianccedilas cegas bem como em contatos via e-mail com o Instituto Benjamin Constant do Rio de Janeiro

Na metodologia deste trabalho apresentamos ao leitor os procedimentos adotados para a coleta de dados bem como mencionamos caracteriacutesticas dos sujeitos que participaram da pesquisa Introduzimos consideraccedilotildees a respeito da defi-ciecircncia visual e da aprendizagem das pessoas que possuem essa limitaccedilatildeo e anaacutelise dos dados oferecidos pelas crianccedilas agrave luz da psicogecircnese da liacutengua escrita na seccedilatildeo resultados e discussatildeo Para concluir o artigo tecemos algumas conside-raccedilotildees sobre as produccedilotildees escritas realizadas pelos sujeitos da pesquisa que se encontram em decurso de aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita

Metodologia

Considerando o objetivo deste trabalho de investigar as especificidades da aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas cegas

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por meio do Sistema Braille a metodologia empregada na pesquisa foi o estudo de caso com vistas agrave obtenccedilatildeo de da-dos mais precisos devido ao contato direto do pesquisador com os sujeitos da investigaccedilatildeo consoante ao entendimento de Araujo et al (2008) De acordo com Yin citado por Arauacutejo et al (2008 p 4) esta estrateacutegia eacute adequada ldquo[] quando o investigador procura respostas para o lsquocomorsquo e o lsquoporquecircrsquo quando o investigador procura encontrar interacccedilotildees entre factores relevantes proacuteprios dessa entidade quando o objecti-vo eacute descrever ou analisar o fenoacutemenordquo

A investigaccedilatildeo aconteceu em uma instituiccedilatildeo filantroacute-pica3 fundada na deacutecada de 1940 situada no municiacutepio de Fortaleza-Cearaacute Algumas das modalidades de ensino por ela ofertadas satildeo Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental I e II Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Desenvolvemos a pesquisa nas turmas de Infantil IV Infantil V e 1ordm ano Neste estudo de caso selecionamos nove sujeitos dos quais seis satildeo crianccedilas com idades entre seis e dez anos e trecircs satildeo suas professoras de sala de aula As crianccedilas4 satildeo Edwiges Ariel Tatiana Alex Joatildeo e Diel Todas as crianccedilas possuem patologias congecircnitas Suas professoras satildeo Roberta (1ordm ano) Angeacutelica (Infantil V) e Julieta (Infantil IV) Nenhuma das trecircs professoras da Insti-tuiccedilatildeo apresentou dados relevantes sobre as hipoacuteteses de lei-tura e escrita da crianccedila cega e ateacute mencionaram desconhecer o estudo de Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky5

3 Por questotildees eacuteticas natildeo citaremos o nome da instituiccedilatildeo onde se realizou a pesquisa ao longo deste trabalho nos referiremos ao local como Instituiccedilatildeo4 A fim de preservar a identidade das crianccedilas e das professoras utilizaremos nomes fictiacutecios para nos referirmos aos sujeitos da pesquisa Para efeitos de anaacutelise de dados o nome fictiacutecio das crianccedilas apresenta correspondecircncia com o nuacutemero de siacutelabas de seu nome a fim de facilitar a compreensatildeo da escrita do nome proacuteprio de cada um5 Sentimos a necessidade de buscar novos sujeitos que pudessem contribuir com tais informaccedilotildees para a pesquisa O sujeito encontrado foi a professora Jordana

A fim de facilitar a compreensatildeo do leitor no que se re-fere agrave identificaccedilatildeo dos sujeitos ao longo deste ensaio apre-sentamos um quadro-resumo com os principais dados de cada crianccedila

Quadro 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos Alunos com Deficiecircncia Visual

SUJEITO IDADE ESCOLARIDADE CONDICcedilAtildeO VISUAL

Edwiges 6 anos Infantil IV Cegueira bilateral total

Ariel 7 anos Infantil IV

Olho direito enucleado e vi-satildeo subnormal perifeacuterica no olho esquerdo com encami-nhamento meacutedico para o Sistema Braille

Tatiane 7 anos Infantil VVisatildeo subnormal com enca-minhamento meacutedico para o Sistema Braille

Alex 8 anos Infantil V Cegueira bilateral total

Joatildeo 9 anos 1ordm ano Cegueira bilateral total

Diel 10 anos 1ordm ano Cegueira bilateral total

As palavras e a frase selecionadas para o teste perten-cem ao campo semacircntico corpo humano Satildeo elas perna bar-riga sobrancelha e peacute A frase foi O menino machucou a per-na As crianccedilas tambeacutem tiveram que criar um desfecho para a seguinte histoacuteria Joatildeo e seu amigo Joseacute saiacuteram para passear quando de repente eles acharam uma caixa muito pesada Eles decidiram entatildeo

mestra em Ciecircncias da Educaccedilatildeo que trabalha em duas instituiccedilotildees estaduais especializadas no atendimento a deficientes visuais no municiacutepio de Fortaleza Jordana contribuiu ao responder agraves mesmas perguntas dirigidas agraves demais professoras mas tambeacutem afirmou natildeo ter muitos conhecimentos a respeito da Psicogecircnese da Liacutengua Escrita

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Resultados e Discussatildeo

A deficiecircncia visual eacute do tipo sensorial e abrange desde a cegueira total em que natildeo haacute percepccedilatildeo da luz ateacute a bai-xa visatildeo (visatildeo subnormal) Cegueira pode ser a perda total da visatildeo e as pessoas acometidas dessa deficiecircncia precisam se utilizar dos sentidos remanescentes para aprender sobre o mundo que as cerca A baixa visatildeo eacute a incapacidade de enxer-gar com clareza mas trata-se de uma pessoa que ainda possui resiacuteduos visuais Contudo mesmo com o auxiacutelio de oacuteculos ou lupas a visatildeo se mostra baccedila diminuiacuteda ou prejudicada de algum modo O documento esclarece que algumas patologias ndash como miopia estrabismo astigmatismo e hipermetropia por exemplo- natildeo constituem deficiecircncia visual mas quan-do diagnosticadas devem ser tratadas o mais raacutepido possiacute-vel para natildeo prejudicar o desenvolvimento e a aprendizagem (BRASIL 2000)

Braille O Que Satildeo Esses Pontos As Primeiras Experiecircncias da Crianccedila Cega com a Leitura e a Escrita em Relevo

Almeida (1992) nos chama a atenccedilatildeo para um fato que aqui neste trabalho podemos apontar como uma especifici-dade da crianccedila cega A autora exprime que de acordo com Emiacutelia Ferreiro eacute comum ver crianccedilas ainda bem pequenas imitarem os adultos ao manusearem livros jornais revistas e tantos outros materiais escritos Mesmo as crianccedilas oriundas de classes sociais mais desfavorecidas satildeo detentoras de algum conhecimento sobre a leitura e a escrita pois o elemento es-crito eacute objeto presente por toda parte Ao fingir que lecirc aquelas linhas cheias de rabiscos claramente diferentes do desenho a crianccedila que enxerga aos poucos se apropria do que eacute a es-

crita Quando chegam agrave escola essas crianccedilas veratildeo a escrita como objeto jaacute conhecido de sorte que o desafio entatildeo seraacute de compreender como o sistema estaacute organizado para permi-tir o registro de ideias Almeida (1992) ressalta que quando se trata de crianccedilas cegas as descobertas a respeito da escrita se tornam impraticaacuteveis pois o Sistema Braille natildeo faz parte do cotidiano logo essas crianccedilas demoram muito tempo para entrar no mundo das letras O contato com o Sistema Brail-le soacute acontece quando a crianccedila inicia o periacuteodo escolar pois dificilmente seus instrumentos estaratildeo presentes no acircmbito familiar Para a autora essa demora pode causar prejuiacutezos e atrasos no processo de alfabetizaccedilatildeo

Segundo o portal eletrocircnico da Sociedade de Assistecircn-cia aos Cegos (SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS 2011) o Sistema Braille eacute formado a partir de um conjunto de seis pontos em relevo organizados em duas colunas de trecircs pontos Este conjunto de pontos recebe o nome de cela As di-ferentes disposiccedilotildees e combinaccedilotildees dos pontos na cela geram 63 siacutembolos que satildeo aplicados agrave escrita agrave muacutesica e agraves ciecircncias A escrita Braille pode ser produzida agrave matildeo utilizando-se o conjunto reglete e punccedilatildeo6 instrumentos utilizados em nossa investigaccedilatildeo ou a maacutequina proacutepria para esta escrita

6 A reglete pode ter formas diferentes mas consiste essencialmente em uma reacutegua que geralmente estaacute acoplada a uma prancheta Em alguns modelos a reacutegua eacute dupla face com dobradiccedilas no lado esquerdo e a parte de cima da reacutegua eacute vazada com retacircngulos no formato da cela Braille Na parte de baixo encontramos as celas Braille em baixo relevo Em outros modelos a reacutegua possui apenas uma face a vazada a parte do baixo (relevo) encontra-se na proacutepria prancheta Para produzir a escrita a pessoa prende uma folha de papel 40kg entre as duas faces da reacutegua ou entre a reacutegua e a prancheta dependendo do modelo da reglete O punccedilatildeo eacute usado para pressionar o papel e formar o relevo Utilizando esse conjunto eacute necessaacuterio escrever da direita para a esquerda invertendo a ordem da numeraccedilatildeo dos pontos Assim quando a folha for virada as letras estaratildeo na ordem correta e a leitura seraacute feita de maneira convencional ndash da esquerda para a direita

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Figura 1 ndash A cela Braille agrave Esquerda no Sentido da Leitura e agrave Di-reita no Sentido da Escrita

Almeida (2002) tambeacutem chama a atenccedilatildeo para o fato de que os instrumentos de escrita agrave tinta fazem parte do co-tidiano das crianccedilas que veem pois ao manusear laacutepis ca-netas giz de cera para fazer desenhos ou fingir que escreve eacute possiacutevel atingir certo desenvolvimento da motricidade fina

A crianccedila cega natildeo passa com tal naturalidade por essas experiecircncias enriquecedoras Falta-lhe a condiccedilatildeo de imitar acaba por essa razatildeo natildeo tendo reais oportu-nidades de aprendizagem O ato da escrita tatildeo simples e prazeroso para uma crianccedila vidente transforma--se numa lacuna para ela nos primeiros anos de vida ( ALMEIDA 2002 p 15-16)

Da mesma forma entatildeo o contato com a escrita duran-te a aprendizagem do Sistema Braille eacute necessaacuterio para que a crianccedila possa ampliar seus conhecimentos refinar percep-ccedilotildees e inclusive ajustar condutas motoras e exercitar as arti-culaccedilotildees De iniacutecio eacute interessante que os exerciacutecios de leitura e escrita sejam conduzidos de maneira livre para que com o tempo se possa elaborar a ideia de que aquele conjunto de pontos representa as letras do alfabeto No caminho que iraacute percorrer ateacute se apropriar do sistema de escrita eacute fundamen-tal que o professor ajude a crianccedila a descobrir a organizaccedilatildeo

da paacutegina escrita de cima para baixo e da esquerda para a di-reita linhas contiacutenuas interrompidas etc aleacutem da aplicaccedilatildeo de determinados meacutetodos para a formulaccedilatildeo de tais concei-tos Deixar as crianccedilas manusearem livros eacute essencial o luacutedi-co nesse processo tambeacutem eacute fundamental pois brincadeiras que estimulem a discriminaccedilatildeo classificaccedilatildeo e ordenaccedilatildeo de diferentes objetos trazem mais seguranccedila para a crianccedila na hora de diferenciar os pontos no papel (ALMEIDA 2002)

Em nossa pesquisa conversamos com as docentes da Instituiccedilatildeo e tambeacutem com a professora Jordana a respeito dos conhecimentos que as crianccedilas cegas tecircm sobre a leitura e a escrita Braille bem como dos instrumentos necessaacuterios para produzi-la

As consideraccedilotildees feitas pela professora Julieta que le-ciona no Infantil IV a respeito dos conhecimentos das crian-ccedilas cegas acerca do Sistema Braille e dos materiais que se uti-lizam para produzir a escrita antes de iniciarem a fase escolar satildeo as seguintes

Nenhuma das crianccedilas que eu tenho recebido e creio que as minhas colegas tambeacutem nenhuma sabe que vatildeo se utilizar desses instrumentos Por exemplo quando pegam no punccedilatildeo pela primeira vez perguntam logo lsquoTia mas o que eacute isso Para que serversquo Eles natildeo tecircm conhecimento da existecircncia desse material nem eles nem a famiacutelia Muitos pais ateacute sabem que o filho vai se utilizar do Braille mas natildeo tecircm noccedilatildeo do que eacute o Braille

Indagamos tambeacutem acerca do conhecimento que as crianccedilas tecircm sobre a existecircncia da escrita ldquoNatildeo Jaacute aconte-ceu por exemplo da crianccedila passar as matildeos num livrinho em Braille e perguntar lsquoTia o que eacute isso aquirsquo Temos que explicar que ali estaacute escrita uma histoacuteria que fala sobre alguma coisa Geralmente eles ficam admirados porque natildeo sabem o que eacuterdquo

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As consideraccedilotildees sobre o tema feitas pela professora Roberta que leciona no primeiro ano satildeo as seguintes

Quando as crianccedilas cegas chegam agrave escola natildeo tecircm noccedilatildeo de que existe esse material (reglete e punccedilatildeo) ateacute porque elas natildeo tecircm acesso a esse material em casa Muitas vezes querem usar papel e caneta fa-zem muitos rabiscos com a intenccedilatildeo de desenhar [] Quando acontece o primeiro contato da crianccedila com o Braille elas natildeo sabem o que eacute Nesse momento entra o professor para explicar que ali estaacute escrita alguma coisa que pode ser uma histoacuteria [] No primeiro mo-mento elas vatildeo explorar naturalmente o material vatildeo descobrir que abre e fecha que tem furinhos mas natildeo sabem utilizar Dependendo da crianccedila elas podem passar por toda a Educaccedilatildeo Infantil e chegar ao 1ordm ano ainda com dificuldades de colocar a folha outros jaacute conseguem se adaptar melhor a esse processo varia muito de crianccedila para crianccedila [] Mesmo que ainda natildeo saiba ler eacute necessaacuterio que tudo que escreva (na reglete) vire a folha para ler e assim construir noccedilotildees de leitura e escrita

Consideraccedilotildees da professora Angeacutelica sobre o tema

A crianccedila cega quando ela entra na escola ela natildeo tem nenhum conhecimento relacionado agrave reglete ao punccedilatildeo a livros em Braille Agora se ela tiver um parente que se utiliza desse material ele pode mostrar a ela todo esse material Geralmente quando eles conhecem esse material ficam muito surpresos [] para aprender a utilizar eacute necessaacuterio toda uma orientaccedilatildeo da professora e eacute necessaacuterio que esse contato com o material seja diaacuterio para que aos poucos vaacute dominando o uso da reglete e do punccedilatildeo mas esse processo geralmente eacute lento [] As maiores dificuldades satildeo de colocar a folha identificar a posiccedilatildeo dos pontos de retirar a folha e compreender que pra ler eacute preciso virar o papel e identificar os pontos com o tato

A professora Jordana fez algumas consideraccedilotildees a res-peito ldquoAs crianccedilas cegas possuem as mesmas hipoacuteteses que as crianccedilas videntes podem por exemplo pensar que uma palavra eacute maior dependendo das informaccedilotildees que tem sobre o objetordquo

Alfabetizaccedilatildeo em Braille Hipoacuteteses em Seis Pontos

A teoria da psicogecircnese da liacutengua escrita revela as etapas que as pessoas (crianccedilas ou adultos) atravessam ao se apro-priarem da leitura e da escrita Do ponto de vista da elaboraccedilatildeo da escrita a pessoa que estaacute se alfabetizando segue uma evolu-ccedilatildeo de suas hipoacuteteses linguiacutesticas que podem ser descritas em trecircs grandes periacuteodos I) distinccedilatildeo entre o modo de represen-taccedilatildeo icocircnico e natildeo icocircnico II) estabelecimento de formas de diferenciaccedilatildeo e III) fonetizaccedilatildeo da escrita (FERREIRO 2000)

Na perspectiva de Ferreiro e Teberosky (1999) a crian-ccedila desde o iniacutecio procura reproduzir traccedilos tiacutepicos da escri-ta que identifica como sua forma baacutesica podendo ser linhas curvas ligadas entre si quando o indiviacuteduo toma como padratildeo a escrita cursiva ou grafismos curvos separados entre si quan-do toma a escrita em imprensa como base Quando se trata da interpretaccedilatildeo da escrita as autoras expressam que as escritas se assemelham muito umas com as outras mas que isso natildeo impede que as crianccedilas as considerem diferentes ldquo[] a inten-ccedilatildeo subjetiva do escritor conta mais que as diferenccedilas objetivas no resultadordquo (FERREIRO 2000 p 193) ou seja as escritas apesar de semelhantes podem ser consideradas diferentes pois ao escrever se tem a intenccedilatildeo de grafar palavras diferen-tes As autoras tambeacutem esclarecem que ldquoAs crianccedilas deste niacute-vel pareceriam trabalhar sobre a hipoacutetese de que faz falta cer-to nuacutemero de caracteres ndash mas sempre o mesmo ndash quando se

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trata de escrever algordquo (FERREIRO 2000 p 202) Assinalam ainda que a leitura do que foi escrito eacute sempre global ou seja cada letra vale pelo todo e natildeo pelas partes da palavra

Neste trabalho relacionaremos cada niacutevel da Psicogecirc-nese da Liacutengua Escrita com os dados coletados no estudo de caso agrave medida que apresentarmos exemplos da escrita das crianccedilas cegas

Observamos a escrita de Edwiges (seis anos) na qual podemos identificar caracteriacutesticas deste niacutevel

Figura 2 ndash A palavra perna escrita por Edwiges utilizando os pontos 1 e 2 em 26 celas numa das linhas da reglete

Quando solicitamos que Edwiges escrevesse a palavra perna ela disse que iria usar a letra b e que a palavra possui duas letras Ela inicia a escrita pelo lado esquerdo da reacutegua e logo ultrapassa a quantidade que estabeleceu anteriormente Ao ser interrogada se jaacute havia colocado duas letras com um ar de surpresa ela imediatamente responde ldquoeu jaacute estou botan-dordquo e continua a grafar dois pontos por cela Na escrita da pa-lavra perna e na das demais a menina nomeou os pontos de le-tras Essa caracteriacutestica tambeacutem foi observada na produccedilatildeo de outro sujeito da pesquisa como comentaremos mais agrave frente

Interrogamos sobre ateacute que cela ela escreveria a palavra perna a fim de identificar quantas letras ela utilizaria para escrever a palavra Ela apontou entatildeo a margem direita da reglete explicando que se natildeo escrever duas letras ldquo[] vai ficar faltando um pedaccedilo da pernardquo Ao finalizar a escrita da palavra ela leu ldquoaqui estaacute a coxa (deslizando o dedo da 1ordf agrave 8ordf letra b) esse pedacinho aqui eacute o joelho (9ordf letra b) e depois

tem o resto da perna (da 11ordf agrave 24ordf letra b) e no final o peacute (25ordf e 26ordf letras b)rdquo Segundo Ferreiro (1999 p 194) trata-se nes-te momento do percurso de uma ldquo[] tendecircncia da crianccedila de refletir na escrita algumas das caracteriacutesticas do objetordquo ou como jaacute defendia Luacutecia Lins Browne Rego apud Carraher (1998 p 34) sobre realismo nominal Nesse sentido

Piaget (1967) demonstrou que num determinado estaacutegio do seu desenvolvimento cognitivo a crianccedila natildeo conse-gue conceber a palavra e o objeto a que esta se refere como duas realidades distintas Ele denominou este fenocircmeno de realismo nominal [] Um grupo de crian-ccedilas demonstrou o que consideramos um niacutevel primitivo do realismo nominal Estas crianccedilas ao compararem pares de palavras quanto ao tamanho e agrave semelhanccedila mostravam-se incapazes de focalizar a palavra enquanto sequecircncia de sons independentemente do seu signifi-cado Para estas crianccedilas a palavra devia possuir as mesmas caracteriacutesticas dos objetos que representavam

Figura 3 ndash Sentenccedila empregada para grafar as palavras barriga e matildeo a frase e o texto

A sentenccedila apresentada acima foi empregada para gra-far as palavras barriga e matildeo a frase e o texto Estes exem-plos nos indicam que para produzir a escrita a menina ainda natildeo julga necessaacuterio empregar criteacuterios de diferenciaccedilatildeo dos caracteres dentro de uma palavra e tambeacutem de uma palavra para outra Durante a leitura das palavras Edwiges sempre indica os componentes de tal parte do corpo como por exem-plo os dedos da matildeo e o umbigo na barriga refletindo nova-mente na escrita caracteriacutesticas do objeto Durante a anaacutelise da produccedilatildeo surgiu a duacutevida se o que estava expresso ali era

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desenho ou escrita Jaacute que durante a leitura a garota indicou tantos detalhes das partes do corpo decidimos entatildeo refazer o teste com ela desta vez utilizando o campo semacircntico ani-mais Ao final do novo teste solicitamos a Edwiges que fizesse um desenho e perguntamos ldquoVocecirc vai precisar da reglete para fazer o desenhordquo E ela respondeu com ar de admiraccedilatildeo ldquoAh Natildeo Natildeo que reglete eu num vou usar pra desenhar porque reglete natildeo serve pra desenhar serve pra furarrdquo Obtivemos a certeza de que a menina natildeo se encontrava no domiacutenio do icocirc-nico ou seja jaacute sabia que a escrita era diferente do desenho pois aceitou papel e giz de cera para fazer um desenho

Na escrita da palavra boi tudo indica que existe uma es-pecificidade no raciociacutenio empregado para grafar o vocaacutebulo Observemos agora um recorte do diaacutelogo entre noacutes e Edwiges

Pesquisadora Escreva a palavra boiEdwiges Boi comeccedila com b entatildeo eu vou escrever 1 e (pausa) Deixa eu pensar primeiro (dezesseis segundos depois analisados na gravaccedilatildeo ela completa o raciociacute-nio) Eu vou escrever 1 3 e 4Pesquisadora De quantas letras vocecirc vai precisarEdwiges Trecircs (novamente natildeo fez diferenccedila entre pontos e letras)Pesquisadora E quantas celasEdwiges Deixa eu ver (pausa de 20 segundos para pensar) Eu vou colocar mais esse ponto aqui tambeacutem (acrescenta o ponto 6 aos pontos 1 3 e 4 que acabou de grafar na primeira cela pensa novamente e grafa os pontos 1 3 e 6 em mais uma cela Ela para de escrever) Natildeo eu vou escrever soacute duas igual ao gato que eacute pra terminar logoPesquisadora Jaacute estaacute escrita a palavra boiEdwiges JaacutePesquisadora O nome do boi eacute grande ou eacute pequeno

Edwiges GrandePesquisadora Vocecirc sabe o que eacute um boiEdwiges Ah Eu sei que jaacute vi uma vaca aqui na escola de brinquedo (estaacutetua em tamanho natural) Eu vi uma vaca bem grandona aiacute parecia um touro

Figura 4 ndash Palavra boi escrita com duas celas da reglete

Edwiges sinaliza que boi co-meccedila com b o que poderia dar ideia de um iniacutecio da relaccedilatildeo grafema--fonema (fala e escrita) poreacutem natildeo grafa na palavra a letra mencionada e que ela jaacute conhece Isso natildeo nos daacute a certeza se o fato de ela ter dito b foi apenas um acaso e natildeo o iniacutecio da fonetizaccedilatildeo da escrita ou se ela estava comeccedilando a fonetizar mas natildeo transformou a ideia em accedilatildeo ou seja natildeo representou na grafia o que falou Quando in-terrogamos Edwiges sobre a quantidade de letras da palavra boi a pausa que a menina deu para pensar e a decisatildeo de natildeo mais grafar com dois pontos padratildeo adotado para produzir as outras palavras parece indicar que para escrever boi o nuacute-mero de pontos considerado suficiente eacute de trecircs por cela O conflito parece ser ainda maior quando perguntamos quantas celas satildeo necessaacuterias para escrever a palavra Apoacutes pensar ela decidiu acrescentar mais um ponto aos que jaacute tinha grafado e grafa mais trecircs na cela seguinte Mesmo tendo dito que escre-veu soacute duas celas no nome do boi para terminar logo quando ela compara o nome do boi com o do gato que jaacute havia confir-mado antes ser um nome pequeno porque o gato eacute pequeno tudo indica que ela comparou apenas o nuacutemero de celas pois parece ter a convicccedilatildeo de que o nome do boi eacute maior do que

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o nome do gato por ter uma quantidade maior de pontos e porque o animal eacute maior

Articulando esse dado fornecido por Edwiges com os achados das pesquisas psicogeneacuteticas (FERREIRO TEBE-ROSKY 1999 PIAGET apud REGO 1988) que constataram que as crianccedilas que enxergam manifestam o realismo nomi-nal se utilizando de um grande nuacutemero de letras para escre-ver quando o objeto que pretendem representar eacute maior tudo parece nos indicar que a crianccedila cega manifesta o realismo nominal se utilizando tanto de um grande nuacutemero de celas (letras) quanto de pontos Esta pode ser uma interessante es-pecificidade da aprendizagem da escrita Braille por crianccedilas cegas

Ariel (sete anos) aparenta estar comeccedilando a fazer di-ferenciaccedilatildeo entre os caracteres empregados para grafar uma palavra pois em algumas ocasiotildees fez esforccedilo para diferen-ccedilar os caracteres empregados para grafar cada letra e assim produzir caracteres diferentes em uma mesma palavra Natildeo repetiu sequecircncias jaacute empregadas em outras palavras garan-tindo assim escritas diferentes para palavras diferentes ca-racteriacutesticas deste momento

Conforme comentado durante a anaacutelise das produccedilotildees de Edwiges que nomeia os pontos de letras observamos que Ariel apresentou o mesmo pensamento Tudo indica que as crianccedilas cegas no iniacutecio do processo de aquisiccedilatildeo da escrita natildeo apresentam consolidados conceitos de diferenciaccedilatildeo en-tre pontos e letras pois costumam com frequecircncia apontar e nomear os pontos como sendo letras Cabe nesse momento fazer a seguinte indagaccedilatildeo em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combi-naccedilatildeo de pontos

Observemos entatildeo algumas partes do diaacutelogo entre noacutes e Ariel

Pesquisadora De quantas letras vocecirc vai precisar para escrever a palavra pernaEle pensa por alguns segundosAriel Eu acho que soacute duas estaacute de bom tamanho[] Pesquisadora Vocecirc disse que soacute vai precisar de duas letras De quantas celas vocecirc vai precisarAriel Um montePesquisadora Por quecircAriel Pra terminar logo Eacute que essas celas satildeo pra fazer todas as letras Entendeu Se tivesse soacute uma a pessoa ia acabar logo[] Ariel Que letra comeccedila a palavra pernaPesquisadora Qual eacute a letra que vocecirc acha que co-meccedila perna(Para um instante para pensar)Ariel Eu acho que comeccedila com c de casa (letra que ele jaacute estaacute grafando algum tempo depois a pesquisadora interroga novamente)Pesquisadora Mas por que vocecirc estaacute usando dois pontinhosAriel Eacute que se eu usar todos esses pontinhos que tem aqui na reglete nesses furos aqui aiacute eu num vou saber qual eacute o ponto que eu fureiPesquisadora quer dizer que vocecirc natildeo pode furar todosAriel Eacute Soacute os que a tia [professora do menino] manda

Ao terminar a escrita da palavra perna o menino desli-zou o dedo sobre todos os pontos e fez uma leitura global An-tes de comeccedilar a escrever cada palavra foi indagado sobre a

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quantidade de letras necessaacuterias Como em todos os momen-tos ele nomeou os pontos como letras Optamos por pergun-tar de quantas celas ele precisaria Em todos os casos Ariel comeccedilou a escrever pela extremidade direita e apontou que escreveria ateacute a extremidade esquerda da reacutegua Analisando o comentaacuterio do menino de que para escrever a palavra perna duas letras (pontos) ldquoestatildeo de bom tamanhordquo tudo indica que tal comentaacuterio vem reforccedilar nossa suposiccedilatildeo de que a crianccedila cega manifesta o realismo nominal tanto por meio de deter-minada quantidade de celas quanto de pontos

Quando ele afirmou que todas as celas da reglete de-vem ser utilizadas para que a pessoa natildeo acabe logo isso parece indicar que leva em consideraccedilatildeo para produzir a es-crita a utilizaccedilatildeo de todas as celas da reglete Relacionando este comentaacuterio do menino com a caracteriacutestica que apre-sentaram as escritas de seu nome e da palavra perna bem como praticamente todos os escritos de Edwiges tanto ele quanto ela escreveram de uma extremidade a outra de uma das linhas da reacutegua Essa repeticcedilatildeo pode ser uma especifici-dade decorrente do material utilizado para produzir a escrita em Braille a reglete pois permite ou pode mesmo de algu-ma maneira induzir a crianccedila ao uso das 27 celas mas de-vemos considerar tambeacutem que tal resposta pode decorrer da praacutetica pedagoacutegica pois o menino jaacute havia comentado antes que na sala de aula tem que escrever utilizando toda uma linha da reglete

A fonetizaccedilatildeo da escrita eacute o iniacutecio da compreensatildeo de que a escrita estaacute relacionada aos sons da fala A primeira fase desse periacuteodo eacute a hipoacutetese silaacutebica em que a crianccedila relaciona uma letra para cada siacutelaba Tatiane (sete anos) eacute o sujeito da pesquisa que na nossa maneira de interpretar os dados se encontra nesse niacutevel No momento em que foi solicitada a es-

crever a palavra perna observamos que ela grafou duas letras agrave medida que silaba a palavra ldquoper(e)ndashna(g)rdquo a vogal e possui valor sonoro convencional jaacute a letra g apesar de natildeo ter va-lor sonoro convencional demonstra que a menina estabelece correspondecircncia entre a emissatildeo oral e a pauta escrita Isso tambeacutem estaacute bem claro quando na leitura silaacutebica da palavra ela indica com o dedo uma letra para cada siacutelaba ndash ldquopernardquo Diferentemente dos casos anteriores ela jaacute natildeo nomeia mais os pontos de letras

Figura 5 ndash Escrita silaacutebica da palavra perna

Figura 6 ndash Escrita silaacutebica da palavra dedos um ponto para cada siacutelaba

Apoacutes escrever a palavra matildeo Tatiane pede para escre-ver a palavra dedos Enquanto grafa a menina vai silabando para a primeira letra b que aparece na figura acima ldquode (pon-to 1) ndash dos (ponto 2) agora vou escrever os dedos da outra matildeordquo para a segunda letra b que aparece na figura ldquode (pon-to 1) ndash dos (ponto 2)rdquo Na nossa maneira de interpretar tal produccedilatildeo a menina ainda necessita escrever a palavra dedos

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usando menos celas do que na palavra matildeo mas como jaacute gra-fou duas celas para o monossiacutelabo a soluccedilatildeo encontrada para representar o dissiacutelabo dedos eacute grafaacute-lo com apenas uma cela poreacutem dando a cada um dos pontos o valor correspondente de uma siacutelaba o que pode tambeacutem ser uma especificidade da aprendizagem do Braille A escrita da palavra dedos foi seg-mentada siacutelaba por siacutelaba mas a leitura foi global

Cabe aqui retomar o ponto suscitado quando analisa-mos as produccedilotildees de Edwiges e Ariel Em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combinaccedilatildeo de pontos Refletindo sobre os dados fornecidos por Tatiane tudo indica que eacute no niacutevel silaacutebico da escrita que a crianccedila cega comeccedila a mostrar uma compre-ensatildeo mais complexa de que as letras satildeo formadas por um conjunto de pontos mas este conceito parece ainda natildeo se en-contrar plenamente consolidado Observemos que o compor-tamento de grafar na mesma cela um ponto para cada siacutelaba pode indicar que enquanto na hipoacutetese anterior os pontos eram nomeados de letras neste momento do percurso eles tambeacutem podem ser considerados como siacutelabas

De acordo com Ferreiro e Teberosky (1999) quando a crianccedila opera na hipoacutetese silaacutebica duas caracteriacutesticas da es-crita anterior podem desaparecer momentaneamente a exi-gecircncia de uma quantidade miacutenima de caracteres e de varia-ccedilatildeo desses Pois nessa hipoacutetese a principal preocupaccedilatildeo da crianccedila eacute com o recorte silaacutebico da palavra e ela natildeo consegue atender simultaneamente essas exigecircncias mas quando a hi-poacutetese silaacutebica se encontra consolidada a exigecircncia de varie-dade reaparece pois muitos recortes silaacutebicos implicam letras repetidas e as crianccedilas jaacute tecircm consciecircncia de que com letras repetidas natildeo se pode ler

A hipoacutetese silaacutebico-alfabeacutetica comeccedila com a descoberta de que a siacutelaba pode ser representada com mais de uma letra Surge aqui o iniacutecio da representaccedilatildeo dos fonemas O sujeito da pesquisa situado neste niacutevel eacute Alex (oito anos) O menino natildeo sente dificuldades para escrever palavras compostas de siacutelabas canocircnicas que obedecem agrave seguinte ordem conso-ante vogal consoante vogal Quando as siacutelabas natildeo satildeo ca-nocircnicas ele se recusa a escrevecirc-las fato que Emiacutelia Ferreiro classifica em sua pesquisa ldquo[] de bloqueio por consciecircncia aguda das dificuldades impossiacuteveis de transporrdquo (FERREIRO TEBEROSKY 1999 p 218) Vejam um trecho do diaacutelogo en-tre a pesquisadora e o sujeito

Pesquisadora Escreva sobrancelha (soletrando ele comeccedila)Alex Su(cu) ndash bran(ele para) Que letra eacute o branPesquisadora Como vocecirc acha que eacuteAlex Eu natildeo sei Soacute posso escrever se a tia [pesquisa-dora] disser como eacuteComo neste caso ele natildeo conhece as letras que deve empregar e se referiu ao som bran como apenas uma le-tra nada dissemos com relaccedilatildeo agrave combinaccedilatildeo de pontos das letras Ele hesita em escrever bran e natildeo quer mais escrever a palavra Com insistecircncia da pesquisadora ele continua a escrever mas pula a siacutelaba na qual estaacute com dificuldades Alex Su(cu) ndash (pulou) ndash ce(c) ndash lha (ele para nova-mente) Que letra eacute o lhaPesquisadora Como vocecirc acha que eacuteAlex Eu vou colocar qualquer letra Ele grafa os pontos 3 e 6Pesquisadora Estaacute escrita a palavra sobrancelhaAlex Natildeo que a tia num quis me dizer os pontos das letras

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Figura 7 ndash Escrita silaacutebico-alfabeacutetica da palavra sobrancelha

Na escrita da palavra sobrancelha Alex apresenta tan-to elementos da escrita silaacutebica quanto da alfabeacutetica As duas primeiras letras compotildeem a siacutelaba so o que nos permite iden-tificar a hipoacutetese alfabeacutetica enquanto a letra c que correspon-de agrave terceira siacutelaba da palavra encontra-se na hipoacutetese silaacute-bica ou apenas revela a coincidecircncia do nome da letra com a siacutelaba ce Notemos que ele analisa o som das siacutelabas bran e lha como letras e o fato de ter grafado apenas uma cela para a uacutel-tima siacutelaba parece confirmar nossa suspeita de que ele opera na hipoacutetese silaacutebico-alfabeacutetica7

Apesar de Alex durante a escrita das palavras perna e barriga tecer comentaacuterios de que natildeo conhece a combinaccedilatildeo de pontos das letras p e r pensamos que ele apresenta concei-tos mais elaborados sobre a diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras

A elaboraccedilatildeo do niacutevel alfabeacutetico se completa quando a crianccedila compreende que a escrita se caracteriza por unidades sonoras menores do que a siacutelaba No iniacutecio dessa fase o desa-fio eacute a ortografia haja vista que a escrita se apresentaraacute pro-fundamente marcada pela oralidade

7 Dados os limites de espaccedilo para a elaboraccedilatildeo deste artigo natildeo faremos consideraccedilotildees aqui a respeito das produccedilotildees textuais das crianccedilas tambeacutem solicitadas por ocasiatildeo de nossa investigaccedilatildeo

A escrita alfabeacutetica constitui o final desta evoluccedilatildeo Ao chegar a este niacutevel a crianccedila jaacute franqueou a lsquobarreira do coacutedigorsquo compreendeu que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a siacutelaba e realiza sistematicamente uma anaacutelise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever Isto natildeo quer dizer que todas as dificuldades tenham sido superadas a partir desse momento a crianccedila se defrontaraacute com as dificuldades proacuteprias da ortografia mas natildeo teraacute problemas de escrita no sentido estrito (FERREIRO TEBEROSKY 1999 p 219)

Joatildeo (nove anos) e Diel (dez anos) satildeo os sujeitos da pesquisa que se encontram nesse niacutevel da escrita Na escrita das palavras os meninos natildeo sentiram dificuldades em men-cionar quantas e quais letras iriam empregar Veja as frases produzidas pelas crianccedilas Na frase de Joatildeo durante a leitura ele sinaliza que se esqueceu de escrever o i na palavra menino e o u na palavra machucou Na frase de Diel a junccedilatildeo da letra a com a palavra perna foi sinalizada durante a leitura

Figura 8 ndash Frase de Joatildeo o menino machucou a perna

Figura 9 ndash Frase de Diel o menino machucou a perna

Propomos agora uma resposta ao questionamento que levantamos para uma das possiacuteveis especificidades da escrita de nossos sujeitos usuaacuterios do Sistema Braille em que mo-mento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega com-preende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute

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formada por uma combinaccedilatildeo de pontos As evidecircncias nos conduzem a pensar que ao longo desse processo as crian-ccedilas cegas vatildeo refinando seus conceitos de diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras mas esse conceito soacute estaacute constituiacutedo quando se atinge a hipoacutetese alfabeacutetica

Consideraccedilotildees Finais

As pesquisas de Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky (1999) apontam que todo indiviacuteduo em decurso de aquisiccedilatildeo da liacuten-gua escrita se impotildee hipoacuteteses sobre a organizaccedilatildeo deste sis-tema Essas hipoacuteteses satildeo favorecidas pelo contato que estes sujeitos tecircm com a escrita que estaacute presente por toda parte mas como ressalta Almeida (1992) uma crianccedila cega natildeo tem as mesmas oportunidades de contato com materiais escritos como ocorre com a crianccedila que enxerga Se considerarmos que as fontes de pesquisa a respeito da aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita por meio do Sistema Braille ainda satildeo escassas podemos res-saltar a importacircncia de pesquisas mais aprofundadas sobre o tema bem como destacamos a relevacircncia desta investigaccedilatildeo

Retomamos agora a questatildeo que norteou esta pesqui-sa a fim de tecer uma resposta consoante aos seus achados Quais as especificidades apresentadas pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille durante a aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita Mediante a anaacutelise das produccedilotildees escritas dos sujeitos par-ticipantes da pesquisa eacute possiacutevel supor que assim como as crianccedilas que veem as crianccedilas cegas no percurso de aquisi-ccedilatildeo da liacutengua escrita tambeacutem seguem a evoluccedilatildeo das hipoacutete-ses linguiacutesticas descritas por Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky Entretanto no decorrer da pesquisa realizada com sujeitos que tecircm problemas visuais tudo parece indicar que eles apre-sentam algumas especificidades

Podemos destacar o fato de que ao longo da pesquisa principalmente por meio das falas das professoras notamos que para a crianccedila cega o processo de aprender a manusear os instrumentos necessaacuterios agrave escrita Braille para poder re-presentar a escrita eacute bem mais aacuterduo do que para a crianccedila de boa visatildeo Almeida (1992) ressalta que as crianccedilas que veem aprendem a manusear laacutepis e cadernos de maneira ldquonaturalrdquo mas o Sistema Braille natildeo eacute algo presente em nossa sociedade logo os instrumentos necessaacuterios agrave sua escrita tambeacutem natildeo

Na hipoacutetese preacute-silaacutebica assim como a crianccedila que en-xerga a crianccedila cega tambeacutem imagina que a escrita pode repre-sentar caracteriacutesticas do objeto Temos razatildeo para compreen-der que para os que natildeo enxergam eacute possiacutevel representar natildeo apenas com muitas letras (utilizaccedilatildeo de muitas celas) se o ob-jeto eacute grande mas tambeacutem com muitos pontos como foi o caso de Edwiges ao escrever a palavra boi ou ainda podemos supor que uma determinada quantidade de pontos por cela eacute suficien-te para representar algo como eacute o caso de Ariel que ao repre-sentar a palavra perna mencionou que ldquoduas letras (pontos) estaacute de bom tamanhordquo Nessa hipoacutetese a crianccedila cega parece ainda natildeo ter definido um conceito de diferenciaccedilatildeo entre o que satildeo letras e o que satildeo pontos Assim como tambeacutem no iniacutecio da aprendizagem a crianccedila que enxerga natildeo diferencia letras de outros sinais graacuteficos como por exemplo os nuacutemeros Essa constataccedilatildeo nos levou a outra pergunta em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combinaccedilatildeo de pontos Para essa indagaccedilatildeo procuramos ao longo deste trabalho preparar uma resposta com suporte nos dados recolhidos que nos levaram a crer que tal definiccedilatildeo apesar de mais elaborada nas hipoacuteteses silaacutebica e silaacutebico-alfa-beacutetica parece estar consolidada apenas na hipoacutetese alfabeacutetica

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pois tanto para Tatiane quanto para Alex eles podem assumir a funccedilatildeo de siacutelabas palavras ou ateacute mesmo sentenccedilas curtas Cremos com base na pesquisa como um todo que em decor-recircncia da interaccedilatildeo das crianccedilas com o formato da cela Braille durante as hipoacuteteses silaacutebica e silaacutebico-alfabeacutetica elas podem grafar um ponto na cela agrave medida que pronunciam uma siacutelaba o ponto pode representar uma siacutelaba ou mesmo uma palavra

Nossas primeiras hipoacuteteses sobre a aprendizagem da escrita Braille se referem tanto ao material empregado para produzir esta escrita a reglete quanto ao formato da cela Braille No que se refere agrave reglete notamos que os sujeitos que vivenciam hipoacuteteses mais elementares exibem a tendecircn-cia de utilizar toda uma linha do instrumento para produzir a escrita o que pode ser permitido ou induzido pelo material mas natildeo devemos descartar a ideia de que isso tambeacutem pode decorrer da influecircncia da praacutetica pedagoacutegica

Diante do exposto este ensaio se faz relevante pois apesar do pequeno grupo de sujeitos que participaram da in-vestigaccedilatildeo foi possiacutevel perceber algumas possiacuteveis especifici-dades no processo de aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas usuaacuterias do Sistema Braille Percebemos que essas particularidades da crianccedila cega decorrem do contato tardio com a escrita Braille dos instrumentos necessaacuterios agrave sua produccedilatildeo e de pensamen-tos proacuteprios da crianccedila cega

Destacamos tambeacutem nossas contribuiccedilotildees acerca do que pensam as crianccedilas cegas a respeito da organizaccedilatildeo do sistema de escrita para que futuras pesquisas mais aprofun-dadas e com um grupo maior de sujeitos possam confrontar os primeiros achados deste ensaio como por exemplo o con-ceito de diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras que diante das evidecircncias parece estar em elaboraccedilatildeo ao longo do processo de aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita

Por fim intermediada pela anaacutelise dos escritos dos su-jeitos enfeixamos aquilo que parece indicar serem especifici-dades das hipoacuteteses de que as crianccedilas cegas se colocam em cada um dos niacuteveis descritos na teoria psicogeneacutetica da aqui-siccedilatildeo da leitura e da escrita bem como sobre as funccedilotildees que os seis pontos podem assumir ao longo desta caminhada

Referecircncias Bibliograacuteficas

ALMEIDA M da G de S Fundamentos da alfabetizaccedilatildeo uma construccedilatildeo sobre quatro pilares Benjamin Constant Rio de Janeiro ano VIII n 22 p 13-21 2002______ Alfabetizaccedilatildeo da crianccedila cega dentro da visatildeo cons-trutivista a busca de um novo caminho 1992 99f Monogra-fia (Especializaccedilatildeo em Alfabetizaccedilatildeo em Deficientes Visuais) ndash Universidade do Rio de Janeiro 1992ARAUJO C PINTO E M F LOPES J et al Estudo de caso Disponiacutevel em lthttpgrupo4tecomsapoptestudo_casopdfgt Acesso em 4 out 2011BRASIL Deficiecircncia visual GIL M (Org) Brasiacutelia Minis-teacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo a Distacircncia 2000 CARRAHER T N Aprender pensando Petroacutepolis Vozes 1988FERREIRO E TEBEROSKY A Psicogecircnese da liacutengua escri-ta Porto Alegre Artmed 1999FERREIRO E Reflexotildees sobre alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo Cor-tez 2000SOARES M Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Ho-rizonte Autecircntica 1998 SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS O Sistema Braille Disponiacutevel em lthttpwwwsacorgbrAPR_BR2htmgt Acesso em 1 nov 2011

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ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeO

Maria Izalete Inaacutecio Vieira

Introduccedilatildeo

A liacutengua natural dos surdos eacute a liacutengua de sinais no caso dos surdos brasileiros a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) Em uma perspectiva de inclusatildeo social e educacional essa liacutengua deve ser ofertada como principal meio de acessibili-dade seja no acircmbito educacional no da sauacutede seguranccedila eou lazer Considerando que a visatildeo eacute o canal perceptual mais importante para a pessoa surda a liacutengua de sinais por se apresentar na modalidade viso-espacial (QUADROS 2004) atende a essa especificidade satisfazendo a sua condiccedilatildeo lin-guiacutestica Por isso o seu uso nos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo se constitui em um meio eficaz de promoccedilatildeo da inclusatildeo social

No Brasil em 2002 a Libras foi oficializada como liacuten-gua das comunidades surdas brasileiras atraveacutes da lei nordm 0436 (BRASIL 2002) e foi regulamentada pelo Decreto nordm 562605 (BRASIL 2005) Esse dispotildee sobre seu uso e difu-satildeo nas instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas na formaccedilatildeo de pro-fessores e inteacuterpretes de Libras Mas natildeo faz menccedilatildeo ao lazer cultura e informaccedilatildeo sendo esses aspectos contemplados na lei nordm 10098 de 2000 Apesar disso informaccedilotildees eventos culturais e entretenimentos veiculados nos meios de comuni-caccedilatildeo audiovisual em sua totalidade natildeo alcanccedilam os surdos Asseveram os artigos 17 e 19 do capiacutetulo VII da lei nordm 10098 que deve ser ofertada nos programas de imagens e outros a ldquolinguagem de sinaisrdquo eou legenda (BRASIL 2002)

No decreto nordm 529604 em seu capitulo VI haacute deter-minaccedilotildees quanto agrave acessibilidade para surdos nas emissoras

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de TV incluindo prazos para que possam se adequar a essa legislaccedilatildeo Isso representou um avanccedilo significativo para a comunidade surda no que se refere ao direito agrave informaccedilatildeo cultura e entretenimento Contudo haacute ainda algumas consi-deraccedilotildees a serem feitas

A legendagem atualmente eacute a forma de acessibilidade para surdos mais usada pelas emissoras de TV e produtoras de filmes para o cinema Poreacutem empiricamente podemos afirmar que estaacute limitada a uns poucos programas de canais abertos A maioria parece ainda natildeo ter incorporado a cultura de acessibilidade pois natildeo legenda nem insere a janela de Li-bras em suas produccedilotildees Assim a comunidade surda brasilei-ra continua excluiacuteda de algumas atividades de entretenimento e informaccedilotildees que para noacutes ouvintes satildeo corriqueiras Outro ponto a ser considerado eacute a liacutengua em que o acesso eacute ofertado Os surdos como mencionado haacute pouco satildeo falantes da Li-bras uma liacutengua viso-espacial que difere da liacutengua portugue-sa em modalidade e gramaacutetica (QUADROS 2004) Segundo Harrison e Nakasato (apud LODI LACERDA 2009) quando as particularidades linguiacutesticas dos surdos satildeo desconsidera-das natildeo haacute o compartilhamento de um mesmo horizonte so-cioloacutegico por surdos e ouvintes no que se refere agrave realidade vivenciada por ambos mesmo nas situaccedilotildees cotidianas

Vivendo em uma sociedade constituiacuteda por maioria ou-vinte os surdos precisam aprender o Portuguecircs para estabe-lecer relaccedilotildees com quem convivem em ambientes familiares no trabalho dentre outros Esse fato leva os surdos a viverem em uma situaccedilatildeo biliacutengue e de interculturalismo como afir-ma Strobel (2008) isto eacute satildeo participantes da cultura surda e da ouvinte e por isso utilizam a Libras e o Portuguecircs (em sua modalidade escrita eou oral) Eacute importante explicitar que a apropriaccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa na modalidade escri-

ta pelo surdo natildeo eacute uma tarefa faacutecil visto que esses natildeo satildeo usuaacuterios dessa liacutengua (LODI LACERDA 2009) A realidade educacional da maioria e a proacutepria modalidade Liacutengua Portu-guesa que se fundamenta em unidades sonoras natildeo contri-bui para essa aquisiccedilatildeo

Satildeo poucos os surdos de nascenccedila que receberam uma educaccedilatildeo que lhes proporcionou a aquisiccedilatildeo da leitura e escri-ta em Portuguecircs Mas mesmo esses que adquiriram a leitura em Portuguecircs natildeo satildeo proficientes nessa liacutengua Geralmen-te tecircm dificuldades com a sua semacircntica pragmaacutetica e com a identificaccedilatildeo de gecircneros como metaacuteforas ironias humor e outros como afirma Sousa (2008) Assim pelo fato de ser inteacuterprete de LibrasPortuguecircs haacute pouco mais de 20 anos e ter realizado trabalhos de interpretaccedilatildeo e traduccedilatildeo de pro-gramas ao vivo na TV e em filmes nacionais gravados essas experiecircncias profissionais me fizeram perceber que os surdos datildeo especial atenccedilatildeo a essas produccedilotildees quando o acesso lhes eacute ofertado em sua proacutepria liacutengua por meio da janela de Libras

TradutorInteacuterprete da Libras Qual a Parte Que lhe Cabe

Na obra intitulada O Tradutor e Inteacuterprete de Liacutengua de Sinais e Liacutengua Portuguesa para familiarizar o leitor com os termos pertencentes agrave temaacutetica abordada Quadros (2004) decide iniciaacute-la com um pequeno dicionaacuterio apresentando as terminologias e suas respectivas significaccedilotildees usadas por profissionais que atuam na aacuterea da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo e outros que de alguma forma tecircm envolvimento com as liacuten-guas de sinais

Segundo definiccedilatildeo da referida autora o inteacuterprete de liacutengua de sinais eacute aquele que interpreta de uma liacutengua de si-nais (liacutengua de partida) para outra liacutengua (liacutengua de chegada)

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sejam essas orais ou sinalizadas Para aclarar e delimitar os campos de atuaccedilatildeo Quadros (2004) diferencia o tradutor do inteacuterprete afirmando que o tradutor eacute a pessoa que traduz de uma liacutengua para outra assim como faz o inteacuterprete poreacutem o processo de traduccedilatildeo implica pelo menos que uma das liacuten-guas esteja na modalidade escrita A mesma autora faz a inte-graccedilatildeo dos dois termos (inteacuterprete e tradutor) afirmando que o tradutor-inteacuterprete de liacutengua de sinais eacute aquele que traduz e interpreta a liacutengua de sinais para a liacutengua oral nas modalida-des escrita eou oralsinalizada

Para Lacerda (2009) traduzir estaacute relacionado agrave ativi-dade de versar de uma liacutengua para outra trabalhando com tex-tos escritos e o interpretar se relaciona ao trabalho de versar de uma liacutengua para outra nas relaccedilotildees interpessoais simulta-neamente Diferencia ainda uma atividade da outra ressaltan-do que para se efetuar uma traduccedilatildeo o tradutor pode ler a obra refletir sobre as escolhas lexicais semacircnticas e consultar outras fontes para alcanccedilar os sentidos mais adequados ao seu trabalho Diferentemente o inteacuterprete atua com a simultanei-dade sem tempo para reflexotildees tomando decisotildees raacutepidas sobre como versar de um sentido para o outro e sem poder consultar outras fontes Por questotildees relacionadas ao tempo enquanto o tradutor pode revisar o seu texto de chegada com tranquilidade pois tem agrave sua disposiccedilatildeo o texto de partida o inteacuterprete natildeo tem como rever sua produccedilatildeo

Sobre o tempo de trabalho do tradutor e do inteacuterprete Pagura (2003 p 227) afirma

Enquanto nas organizaccedilotildees internacionais espera-se que os tradutores de tempo integral traduzam cerca de 50 linhas a cada duas horas um discurso cujo texto transcrito tenha as mesmas 50 linhas seraacute interpretado em oito minutos

A referida autora esclarece que o termo ldquotradutorin-teacuterpreterdquo eacute encontrado em documentos da deacutecada de 1970 no Brasil e que por isso ainda eacute utilizado por muitos mas que eacute importante diferenciar um do outro

Como mencionado anteriormente Santos (2006) afir-ma que as traduccedilotildees e interpretaccedilotildees em liacutengua de sinais no Brasil surgiram na deacutecada de 1980 Eram feitas por familia-res de surdos eou religiosos que natildeo tinham formaccedilatildeo pro-fissional para o exerciacutecio dessa funccedilatildeo A maioria desses in-teacuterpretes tinha apenas conhecimento empiacuterico da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo mas natildeo tinha nenhuma formaccedilatildeo ou embasa-mento teoacuterico para o exerciacutecio dessa funccedilatildeo Esse aspecto tem refletido em seu status profissional A falta de profissionali-zaccedilatildeo por meio de cursos de niacutevel superior tem colocado os tradutoresinteacuterpretes de Libras em situaccedilatildeo de inferioridade em relaccedilatildeo aos tradutoresinteacuterpretes de liacutenguas orais Esse fato eacute percebido pela falta de compreensatildeo da sociedade do seu trabalho e pela diferenccedila nos valores estabelecidos para remuneraccedilatildeo de serviccedilos de um e de outro

Durante muito tempo a accedilatildeo do tradutorinteacuterprete de Libras foi vista pela sociedade sob um aspecto assistencialis-ta jaacute que era realizada por pessoas que geralmente tinham viacutenculo de parentesco com as pessoas surdas e faziam tradu-ccedilotildeesinterpretaccedilotildees sem remuneraccedilatildeo Ainda segundo Santos (2006) as primeiras traduccedilotildeesinterpretaccedilotildees foram realiza-das nos ambientes empiacutericos desses atores ou seja no acircmbito religioso e familiar

Voltando um pouco mais no tempo encontraremos os inteacuterpretes de liacutenguas orais desempenhando a funccedilatildeo de apa-ziguadores culturais Seus serviccedilos eram requisitados geral-mente para estabelecimento de negociaccedilatildeo de paz entre paiacute-ses que estavam em guerra como afirma Pagura (2003) Seu

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trabalho natildeo era focado somente nas questotildees linguiacutesticas mas tambeacutem na cultura dos paiacuteses que estavam envolvidos no processo de apaziguamento Assim podemos inferir que o ato tradutoacuterio eou interpretativo natildeo eacute apenas linguiacutestico mas tambeacutem cultural

Sobre isso Segala (2010 p 30) em um contexto em que as liacutenguas de contato dizem respeito agraves comunidades sur-das e ouvintes afirma

Ser tradutor natildeo eacute ser aquele que sabe duas liacutenguas e que simplesmente transpotildee uma liacutengua para outra Natildeo eacute soacute estrutura linguiacutestica precisa conhecer e saber a cultura a linguiacutestica e outras sutilezas das liacutenguas fonte e alvo aleacutem de ter experiecircncia na vida social []

No Brasil a liacutengua de sinais foi reconhecida como a liacutengua natural das comunidades surdas em 2002 quando o entatildeo presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei nordm 10436 (BRASIL 2002) que oficializou a Libras como liacutengua das comunidades surdas do Brasil jaacute em 2005 o presi-dente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva sancionou o decreto nordm 5626 (BRASIL 2005) que a regulamenta

O reconhecimento tardio da liacutengua de sinais afeta o re-conhecimento do ato tradutoacuteriointerpretativo que envolve essa liacutengua Empiricamente eacute possiacutevel afirmar que o processo de traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo natildeo tem o reconhecimento da so-ciedade ouvinte nem a compreensatildeo dos surdos no Brasil No caso dos surdos eacute possiacutevel que isso aconteccedila pelo fato de que esses ainda natildeo tenham informaccedilotildees suficientes para levaacute-los a compreender a complexidade desse ato

Segundo Gesser (2011) a traduccedilatildeo compreende as se-guintes modalidades a consecutiva a simultacircnea ndash mais usa-da pelos inteacuterpretes de liacutenguas de sinais ndash e a sussurrada A autora esclarece que esta se trata da mesma modalidade da

traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo simultacircnea mas eacute realizada em situ-accedilatildeo geralmente de reuniotildees em pequenos grupos em que o inteacuterprete se senta proacuteximo de alguns ouvintes e traduz o texto de partida cochichando

De acordo com Lacerda (2009 p 15) traduccedilatildeointer-pretaccedilatildeo simultacircnea eacute a mais usada atualmente em grandes eventos e ldquo[] a traduccedilatildeo simultacircnea natildeo ocorre ao mesmo tempo da fala originalrdquo Isso porque o inteacuterprete leva um tem-po para processar a informaccedilatildeo recebida e organizaacute-la na liacuten-gua alvo Por sua vez Pagura (2003) explicita que a traduccedilatildeo consecutiva eacute aquela em que o inteacuterprete ouve um trecho sig-nificativo ou todo o discurso toma nota e em seguida assu-me a palavra e passa a informaccedilatildeo na liacutengua alvo

Ainda segundo Pagura (apud LACERDA 2009) a traduccedilatildeo consecutiva auxilia o inteacuterprete a desenvolver a ca-pacidade de analisar e compreender o discurso de partida permitindo o surgimento de teacutecnicas que o preparam para a traduccedilatildeo simultacircnea A traduccedilatildeo simultacircnea como foi dito haacute pouco parece ser a modalidade eleita pela maioria dos inteacuter-pretes de Libras e preferida pelos surdos Segundo o professor Marcos Vaining durante a videoconferecircncia de 10 de abril de 2011 na disciplina de Aquisiccedilatildeo da Linguagem do curso de Bacharelado em Letras-Libras1 a escolha por essa modalidade se daacute pela falta de conhecimento tanto por parte de inteacuterpretes quanto pelos surdos sobre o processo tradutoacuterio Segundo ele essa modalidade eacute a que mais oferece possibilidade de cometer erros Isso por causa do pouco tempo existente para anaacutelise compreensatildeo processamento e remarcaccedilatildeo de paracircmetro na

1 O curso de Licenciatura e Bacharelado em Letras-Libras foi desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e oferecido em 2006 em conjunto a oito instituiccedilotildees federais de niacutevel superior por meio da Secretaria de Educaccedilatildeo a Distacircncia e da Secretaria de Educaccedilatildeo Especial (QUADROS 2008)

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liacutengua alvo Vaining acrescenta ainda que todo esse processo demanda grande esforccedilo por parte do inteacuterprete

Ainda sobre o ato tradutoacuteriointerpretativo Jakobson (1995) o classifica em trecircs tipos intralingual interlingual e semioacutetica A traduccedilatildeo intralingual ou reformulaccedilatildeo segundo o autor eacute a traduccedilatildeo de um signo2 por outro da mesma liacuten-gua Isso pode ser feito por meio da sinoniacutemia ou paraacutefrase Quanto agrave interpretaccedilatildeo interlingual refere-se agrave interpretaccedilatildeo de um dado signo por outro equivalente em uma outra liacutengua Jaacute a traduccedilatildeo ldquo[] intersemioacutetica ou transmutaccedilatildeo consiste na interpretaccedilatildeo de signos verbais por meio de um sistema de signos natildeo verbaisrdquo (JAKOBSON 1995 p 64)

O inteacuterprete de liacutengua de sinais recorre a essas catego-rias com certa frequecircncia Natildeo eacute raro nos depararmos com situaccedilotildees de traduccedilatildeo em que uma das pessoas envolvidas no processo natildeo compreende conceitos em sua proacutepria liacutengua Isso nos impele a reorganizar a traduccedilatildeo tendo que explicar de forma diferente o mesmo assunto parafraseando ou utili-zando o recurso da expansatildeo (uma combinaccedilatildeo equivalente de unidades de coacutedigos) Podemos categorizar esse tipo de tradu-ccedilatildeointerpretaccedilatildeo como intralingual (JAKOBSON 1995)

A modalidade em que a liacutengua de sinais se apresenta ndash espaccedilo visual ndash exige leitura e traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo das ex-pressotildees natildeo manuais e a compreensatildeo de imagens construiacutedas com as matildeos pelo sinalizante (classificadores) como explica Segala (2010) A essa leitura efetuada durante a traduccedilatildeoin-terpretaccedilatildeo chamamos de semioacutetica Embora nos utilizemos de todas as modalidades aqui apresentadas a mais recorrente

2 Os signos satildeo entidades em que sons ou sequecircncias de sons ndash ou as suas correspon-decircncias graacuteficas ndash estatildeo relacionados com significados ou conteuacutedos Os signos satildeo portanto instrumentos de comunicaccedilatildeo e representaccedilatildeo agrave medida que configuram linguisticamente a realidade e distinguem os objetos entre si (VYGOTSKY 2000)

em nosso trabalho eacute a traduccedilatildeo interlingual pois geralmente nossas traduccedilotildees envolvem a Liacutengua Portuguesa e a Libras

O ato de traduzirinterpretar natildeo eacute faacutecil especialmente para o inteacuterprete de liacutengua de sinais que estabelece transiccedilatildeo com liacutenguas muito distantes no que diz respeito agrave forma e ao modo Sobre isso Segala (2010) afirma que o inteacuterprete natildeo apenas versa de uma liacutengua para outra mas tambeacutem consi-dera ao executar uma interpretaccedilatildeo eou traduccedilatildeo a cultura dos povos imbricados nesse processo

Mesmo que muitas vezes esse trabalho seja exaustivo para o inteacuterprete ele eacute extremamente necessaacuterio agrave comuni-dade surda pois quebra as barreiras comunicativas e retira o surdo do isolamento linguiacutestico como afirmam Massutti e Sil-va (2011) Isso torna a interpretaccedilatildeo da Libras para a Liacutengua Portuguesa e vice-versa aleacutem de necessaacuteria compensadora para quem a faz e a recebe

O tradutorinteacuterprete vem atuando em aacutereas antes natildeo alcanccediladas Certamente por causa de poliacuteticas afirmativas e de acessibilidade especiacuteficas para pessoas surdas No Cearaacute aleacutem da aacuterea da Educaccedilatildeo o inteacuterprete de Libras tem desem-penhado a funccedilatildeo em palestras que abrangem os mais varia-dos temas Atuando igualmente em janelas de Libras de pro-gramas poliacuteticos televisionados (LEMOS 2012)

UFCTV Implicaccedilotildees Trazidas pela Inserccedilatildeo da Janela de Libras

Assim preocupados com a expansatildeo da acessibilidade de pessoas surdas na aacuterea acadecircmica foi que se pensou em tornar o programa jornaliacutestico televisionado da Universidade Federal do Cearaacute (UFCTV) acessiacutevel para surdos segundo in-formou a coordenadora da Secretaria de Acessibilidade pro-fessora doutora Vanda Magalhatildees que propocircs a inserccedilatildeo da

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janela de Libras no referido programa Para tanto foi necessaacute-rio contatar a equipe de comunicaccedilatildeo responsaacutevel pela execu-ccedilatildeo do mesmo

Essa concordou em implementar um projeto-piloto para analisar a viabilidade desse instrumento no programa Nesse periacuteodo por me encontrar na condiccedilatildeo de prestadora de serviccedilo na funccedilatildeo de inteacuterprete pela UFC e estar lotada na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui aceitei participar do projeto fazendo as traduccedilotildeesinterpretaccedilotildees do referido pro-grama Os profissionais que trabalharam diretamente nessa empreitada foram aleacutem da interprete de Libras uma produ-tora um cinegrafista e um editor de imagens O projeto teve duraccedilatildeo de seis meses

O UFCTV eacute um programa que vai ao ar semanalmente aos domingos sendo reprisado agraves terccedilas-feiras pela TV Cul-tura no canal 5 com alcance em todo o estado do Cearaacute3

Segundo informa o site o programa

Mostra a produccedilatildeo da Universidade informando onde e como ela estaacute presente no cotidiano das pessoas contribuindo para melhorar as condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo cearense UFCTV tambeacutem traz um resumo dos principais acontecimentos na Universidade e uma agenda cultural voltada para atividades gratuitas ou a preccedilos populares (UFC 2012)

O referido programa eacute elaborado e gravado em estuacute-dio situado no Bloco de Comunicaccedilatildeo da UFC no campus do Benfica As atividades da equipe que trabalha no desen-volvimento do programa ocupam o estuacutedio durante o expe-diente de trabalho normal da UFC de 8h agraves 12h e de 14h agraves

3 O programa tambeacutem eacute veiculado na internet Encontra-se disponiacutevel no seguinte endereccedilo eletrocircnico lthttpwwwufcbrcomunicacao-e-marketing956-conheca-o-programa-ufctvgt

17h Por essa razatildeo a gravaccedilatildeo da sua traduccedilatildeo em Libras era realizada no intervalo do almoccedilo entre 12h e 14h sempre agraves segundas-feiras A duraccedilatildeo do programa eacute de 30 minutos enquanto a gravaccedilatildeo de sua traduccedilatildeo tinha duraccedilatildeo de duas horas O profissional encarregado de editar a janela de Libras natildeo conhecia a liacutengua por isso minha presenccedila como inteacuter-prete durante a ediccedilatildeo fazia-se necessaacuteria Ao lado do editor ajudava a sincronizar o texto produzido em Libras ao texto correspondente na Liacutengua Portuguesa Assim suas horas de trabalho se prolongavam ateacute agraves 18h

Conforme mencionado anteriormente o programa traz informaccedilotildees sobre as vaacuterias atividades da universidade abrangendo assim assuntos das mais diversas aacutereas do conhe-cimento Segundo Aubert (apud VASCONCELOS BARTHO-LAMEI JUNIOR p 15) a competecircncia referencial ou seja a ldquo[] capacidade de buscar conhecer e se familiarizar com os referentes dos diversos universos em que uma atividade de traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo pode ocorrer []rdquo eacute muito impor-tante para que a traduccedilatildeo se decirc a contento Podemos entatildeo concluir que conhecer o assunto de que se trata a traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo colabora para a otimizaccedilatildeo do resultado do tra-balho tradutoacuterio

Nessa perspectiva buscava essa competecircncia por meio da leitura dos espelhos que eacute o cronograma de como o tele-jornal iraacute se desenrolar Nele eacute previsto a entrada de mateacute-rias notas blocos chamadas e encerramento do telejornal Os espelhos eram enviados para mim por e-mail com ante-cedecircncia mas natildeo traziam detalhes das mateacuterias abordadas no programa Por exemplo o conteuacutedo das sonoras que eacute o segmento do programa em que o repoacuterter aparece junto ao entrevistado natildeo era explicitado Isso me impelia a fazer uma pesquisa preacutevia na internet sobre o tema que seria aborda-

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do Havia tambeacutem um espaccedilo de tempo antes de iniciar as gravaccedilotildees em que podia assistir ao programa completo Eacute im-portante salientar que a competecircncia referencial tem relaccedilatildeo direta com a qualidade da traduccedilatildeo e que alguns dos temas abordados eram de completo desconhecimento da inteacuterprete

Por isso o fato de assistir ao programa antes de iniciar sua traduccedilatildeo poderia colaborar para que por meio da visuali-zaccedilatildeo de imagens mesmo natildeo dominando o assunto pudesse descrever os elementos a ele pertencentes Segundo Pizzo et al (2010 p 15) a liacutengua de sinais traz recursos que permitem transmitir informaccedilotildees de forma clara ldquo[] descrevendo a forma e tamanho ou descrever a maneira como esse referente se comporta na accedilatildeo verbalrdquo Esse recurso eacute chamado de Clas-sificador (CL) Por isso a visualizaccedilatildeo das imagens contidas no programa por mim na condiccedilatildeo de tradutorainteacuterprete era de fundamental importacircncia para a construccedilatildeo desses re-ferentes no texto em Libras Os classificadores aleacutem de des-crever o objeto permitem que o texto se torne sucinto sem que haja perdas de informaccedilatildeo

Como afirma Lacerda (2009) o inteacuterprete trabalha na urgecircncia e natildeo tem tempo para refazer sua interpretaccedilatildeo Na traduccedilatildeo haacute tempo para analisar pesquisar e refazer se ne-cessaacuterio Como foi dito anteriormente eu recebia da produ-ccedilatildeo do programa instrumentos para pesquisa e durante as gravaccedilotildees de sua interpretaccedilatildeo havia tempo para refazecirc-la caso achasse necessaacuterio Por essa razatildeo podemos concluir que esse trabalho se caracterizou como sendo uma traduccedilatildeo

Outro ponto importante a salientar eacute o tempo televisi-vo O programa produzido pela equipe da UFCTV como dito anteriormente tem 30 minutos de duraccedilatildeo jaacute com os comer-cias adicionados Eacute dividido em ldquocabeccedilasrdquo que eacute segmento do programa em que a apresentadora aparece sozinha anuncian-

do as manchetes do dia ldquooffsrdquo segmento do programa em que o repoacuterter relata as notiacutecias sem aparecer na cena e sonoras As janelas correspondentes a esses segmentos precisavam es-tar sincronizadas com o tempo de cada um deles

Segundo Ronai (1987) tudo que eacute dito em uma determi-nada liacutengua pode ser dito em outra mas para isso eacute preciso buscar equivalecircncias e quando por alguma razatildeo natildeo eacute pos-siacutevel encontraacute-las a traduccedilatildeo pode ser feita de forma explica-tiva Poreacutem em se tratando de explicaccedilotildees de termos usados na liacutengua fonte (liacutengua a ser traduzida) para a alvo (liacutengua traduzida) eacute possiacutevel que o texto traduzido se prolongue mais que o texto original Isso eacute bastante comum acontecer em tra-duccedilotildees envolvendo a Libras e o Portuguecircs dadas as modali-dades em que se encontram espaccedilo-viso-manual e oral au-ditiva respectivamente (QUADROS KARNOPP 2004) Esse fato ocorria com frequecircncia desafiando-me a buscar recursos inerentes agrave atividade tradutoacuteria e os que a proacutepria liacutengua de sinais oferece para possibilitar a sincronia entre os textos

Os recursos linguiacutesticos por mim utilizados durante as atividade tradutoacuterias foram os empreacutestimos linguiacutesticos que segundo Barbosa (2004) trata-se de uma escolha pessoal do tradutor por tomar um empreacutestimo da liacutengua fonte e usa--lo na liacutengua alvo No caso da traduccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa para a Libras esse empreacutestimo eacute feito por meio da soletraccedilatildeo da palavra utilizando-se do alfabeto manual (SOUZA 2010) Esse recurso tem sido utilizado quando natildeo haacute um vocaacutebulo na liacutengua alvo equivalente ao da liacutengua fonte Assuntos relaciona-dos agrave Fiacutesica Quiacutemica Engenharia e especialmente agrave Medicina foram os que mais exigiram o uso desse recurso Ex Palavra em Portuguecircs leishmaniose No empreacutestimo para a Libras a mesma palavra eacute feita sem alteraccedilatildeo na estrutura fonoloacutegica por meio do alfabeto manual conforme ilustra a Figura 1

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Figura 1 ndash Alfabeto manualFonte httpwwwlibrasorgbr

Assim o puacuteblico-alvo recebe a palavra em uma liacutengua que natildeo eacute a sua o que pode gerar problemas de compreen-satildeo Para traduzir essa palavra com clareza seria necessaacuterio entatildeo a utilizaccedilatildeo de outra estrateacutegia chamada de explicita-ccedilatildeo Segundo Lemos (2012) o uso dessa estrateacutegia consiste na adiccedilatildeo de informaccedilotildees por parte do tradutorinteacuterprete para aclarar a mensagem na liacutengua alvo Poreacutem por haver adiccedilatildeo de vocaacutebulo o tempo empregado nesse tipo de estra-teacutegia ultrapassa o tempo do texto fonte o que pode constituir um problema na sincronia dos textos e interferir no tempo da realizaccedilatildeo do programa Por isso optei por natildeo usaacute-la

Outro recurso utilizado na traduccedilatildeo foi o Role Shift que segundo Pizzo et al (2010) consiste na mudanccedila da posi-ccedilatildeo do corpo ou da direccedilatildeo do olhar para marcar a fala de mais

de um personagem Esses personagens (referentes) podem tambeacutem ser marcados por meio de estabelecimento de pon-tos no espaccedilo Isso permite economia de tempo pois uma vez que os pontos estatildeo estabelecidos e nominados natildeo haacute mais necessidade de citaacute-los por nome basta apontar olhar ou di-recionar o corpo para a localizaccedilatildeo em que esses pontos foram estabelecidos Essa apontaccedilatildeo na liacutengua de sinais eacute uma for-ma pronominal e pode ser usada como referecircncia anafoacuterica4

O uso de classificadores (CL) tambeacutem foi outro recur-so utilizado como foi dito anteriormente Esses podem des-crever de forma clara objetos pessoas e animais de forma detalhada e raacutepida Quando o uso desses recursos natildeo era su-ficiente para sincronizar os textos fonte e alvo o editor no momento da ediccedilatildeo e com a minha ajuda retirava dos sinais movimentos que natildeo integravam a sua formaccedilatildeo Esses eram os movimentos de passagem de um sinal para o outro como um levantar ou baixar de matildeos Os cortes eram de mileacutesimos de segundos mas que somados apresentavam uma quanti-dade significativa de tempo para um programa televisivo

O uso de todas essas estrateacutegias natildeo era de conheci-mento da equipe responsaacutevel pelo programa da UFCTV com exceccedilatildeo dos cortes para reduccedilatildeo do tempo da traduccedilatildeo na ja-nela de Libras Assim o desafio da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo se tornou uma busca individual de minha parte Segundo Souza (2010) para realizar uma traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo envolvendo recursos midiaacuteticos eacute necessaacuterio uma equipe semelhante agrave que foi citada anteriormente Poreacutem o autor acrescenta que a essa equipe devem ser adicionados outros profissionais da traduccedilatildeo surdos e ouvintes para dar suporte agrave inteacuterprete e

4 Anafoacuterico genericamente pode ser definido como uma palavra ou expressatildeo que serve para retomar um termo jaacute expresso no texto ou tambeacutem para antecipar termos que viratildeo depois

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analisar juntamente com ela a qualidade da traduccedilatildeo objeti-vando sua otimizaccedilatildeo

Todo esse trabalho relacionado agrave traduccedilatildeointerpre-taccedilatildeo requer um relativo empenho da equipe envolvida Tambeacutem eacute necessaacuterio a essa equipe disponibilidade para alteraccedilotildees fiacutesicas na aparecircncia do programa ocasionada pela inserccedilatildeo da janela de Libras

Janela de Libras na Tela da TV

A janela de Libras eacute um instrumento de acessibilida-de para surdos descrito na Portaria nordm 310 de 27-06-2006 como sendo ldquo[] espaccedilo delimitado no viacutedeo onde as infor-maccedilotildees satildeo interpretadas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LI-BRAS)rdquo (BRASIL 2006)

A maioria dos programas de TV que se utiliza da janela de Libras apresenta irregularidades no seu formato tamanho e contraste Isto ocorre pela inobservacircncia das normas estabe-lecidas pela ABNTNBR15290 (ABNT 2005)

A janela de Libras deve conter as seguintes caracteriacutesti-cas (BRASIL 2009)

y A altura da janela deve ser no miacutenimo metade da altura da tela do televisor (NBR 15290) y A largura da janela deve ocupar no miacutenimo a quarta parte da largura da tela do televisor (NBR 15290) y O recorte deve estar localizado de modo a natildeo ser encoberto pela tarja preta da legenda oculta (NBR 15290) y No recorte natildeo devem ser incluiacutedas ou sobrepostas quais-quer outras imagens (NBR 15290)

Como sugestatildeo o documento (BRASIL 2009) acres-centa que a janela de Libras natildeo deve encobrir a marca drsquoagua

da emissora nem a tarja preta da legenda Assim a janela deve ser posicionada na tela da TV de acordo com a sua localiza-ccedilatildeo podendo ficar agrave esquerda agrave direita ou ao centro da tela Quanto ao enquadramento do tradutorinteacuterprete deve ser feito de maneira que os braccedilos e cotovelos natildeo sejam corta-dos O enquadramento deve abarcar toda a sua movimenta-ccedilatildeo e vai do alto da cabeccedila ateacute a altura da cintura O referido documento explicita que o plano meacutedio eacute o ideal para o en-quadramento do tradutorinteacuterprete

Assim a UFCTV buscou respeitar as normas estabele-cidas pela ABNT optando por colocar a janela de Libras na parte inferior direita da tela Para que isso fosse possiacutevel foi necessaacuterio o deslocamento da apresentadora um pouco mais para o centro da tela para deixar livre o espaccedilo destinado agrave janela De modo semelhante os repoacuterteres ao gravarem as sonoras foram orientados a se posicionar de maneira que na tela da TV ficassem agrave esquerda do viacutedeo para que agrave direita sobrasse espaccedilo suficiente para posicionar a janela

Como explicitado haacute pouco a Figura 2 mostra uma ca-beccedila em que a apresentadora do Programa da UFCTV se en-contra posicionada no centro da tela deixando um espaccedilo agrave direita suficiente para a inserccedilatildeo da janela

Figura 2 ndash Ca-beccedila do Programa

UFCTV

Fonte httpwwwufcbr

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Em relaccedilatildeo ao tradutorinteacuterprete a ABNTNBR 15290 (ABNT 2005) determina que quando na janela de Li-bras deve usar blusas de cor distanciada da tonalidade de sua pele Complementando as determinaccedilotildees citadas haacute ainda as seguintes sugestotildees

y Natildeo usar amarelo vermelho laranja e preto (principalmen-te) no plano de fundo do inteacuterprete

y A iluminaccedilatildeo adequada deve evitar sombras nos olhos eou seu ofuscamento e

y A cor adequada e sugerida por todos os surdos para o cenaacuterio foi o azul-claro sem detalhes (BRASIL 2009)

Assim como tradutorinteacuterprete da janela de Libras da UFCTV adotei o seguinte padratildeo esteacutetico cabelos pre-sos blusa preta de mangas cur-tas para contras-tar com o fundo azul ausecircncia de adereccedilos como reloacutegios colares e outros conforme ilustra a Figura 3

Figura 3 ndash Padratildeo esteacutetico para inteacuter-pretes que atuam em janelas de LibrasFonte httpwwwi n c l u s i v e o r g b r wp-contentuploa-ds201007Carti-lha_libraspdf

Consideraccedilotildees Finais Embora tenha havido zelo para com as exigecircncias esta-

belecidas pela ABNT (2005) por parte da equipe envolvida no projeto de implementaccedilatildeo da janela de Libras no programa produzido pela equipe da UFCTV houve alguns problemas de ordem teacutecnica O equipamento tecnoloacutegico usado nas ediccedilotildees apresentava problemas e por vezes parava de funcionar im-pedindo a finalizaccedilatildeo da ediccedilatildeo Foi constatada tambeacutem a ne-cessidade de acreacutescimo de pessoal agrave equipe Os profissionais envolvidos usavam seu horaacuterio de almoccedilo para gravar a tra-duccedilatildeo da janela de Libras pois esse era o uacutenico horaacuterio dispo-niacutevel para uso do estuacutedio Assim podemos concluir que seria necessaacuteria uma equipe especiacutefica com horaacuterios previamente definidos para esse fim

Quanto agrave traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo a presenccedila de outro inteacuterprete poderia contribuir com a otimizaccedilatildeo do resultado final da traduccedilatildeo Seria tambeacutem uma contribuiccedilatildeo para com a inteacuterprete efetiva no sentido de que caso houvesse a ne-cessidade de se ausentar nos dias destinados agrave gravaccedilatildeo ha-veria outra pessoa que poderia substituiacute-la Em decorrecircncia dessas dificuldades o projeto foi interrompido para anaacutelise e busca de soluccedilotildees junto a outras instacircncias da UFC para sua viabilizaccedilatildeo

Em conjunto com a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui a equipe anteriormente mencionada se prepara para viabilizar e retomar o projeto propiciando a inserccedilatildeo de for-ma permanente e qualitativa da janela de Libras nos progra-mas produzidos pela equipe da UFCTV e assim contribuir para a acessibilidade agrave informaccedilatildeo das pessoas surdas

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Referecircncias Bibliograacuteficas

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25 abr 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Leis2002L10436htmgt Acesso em 12 dez 2011GESSER A Traduccedilatildeo e Interpretaccedilatildeo da Libras II Apostila do Curso de Educaccedilatildeo a Distacircncia de Bacharelado em Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina 2011 JAKOBSON R Linguiacutestica e comunicaccedilatildeo Satildeo Paulo Cul-trix 1995LACERDA C B F Inteacuterprete de Libras em atuaccedilatildeo na Edu-caccedilatildeo Infantil e no Ensino Fundamental Porto Alegre Me-diaccedilatildeoFAPESP 2009LEMOS A M As estrateacutegias de interpretaccedilatildeo de unidades fraseoloacutegicas do Portuguecircs para a Libras em discursos poliacute-ticos Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 150f Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2012 LODI A C B LACERDA C B F de (Orgs) Uma escola duas liacutenguas letramento em liacutengua portuguesa e liacutengua de sinais nas etapas iniciais de escolarizaccedilatildeo Porto Alegre Me-diaccedilatildeo 2009MASSUTTI M L e SILVA S G de L da Traduccedilatildeo e in-terpretaccedilatildeo de Libras I Apostila do curso de Bacharelado em Letras na modalidade a Distacircncia Universidade Fede-ral de Santa Catarina Centro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE)Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2011PAGURA R J A interpretaccedilatildeo de conferecircncias interfaces com a traduccedilatildeo escrita e implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo de in-teacuterpretes e tradutores DELTA ndash Revista de Documentaccedilatildeo de Estudos em Linguiacutestica Teoacuterica e Aplicada Satildeo Paulo v 19 p 209-236 2003PIZZO A L CAMPELLO A R e S REZENDE P L F QUA-DROS R M de Q Liacutengua Brasileira de Sinais III Apostila do curso de Bacharelado em Letras Libras na modalidade

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a Distacircncia Universidade Federal de Santa Catarina Cen-tro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE) Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2010QUADROS R M de (Org) Estudos surdos III Petroacutepolis RJ Arara Azul 2008______ O tradutor e inteacuterprete de liacutengua brasileira de si-nais e liacutengua portuguesa Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Programa Nacional de Apoio agrave Educaccedilatildeo de Surdos MEC SEESP 2004 QUADROS R M de KARNOPP L B Liacutengua Brasileira de Sinais estudos linguiacutesticos Porto Alegre Artmed 2004 RONAI P Escolas de tradutores Rio de Janeiro Ed Nova Fronteira 1987SANTOS S A Inteacuterpretes de liacutengua de sinais um estudo sobre as identidades Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 198f Universidade Federal de Santa Catarina Flo-rianoacutepolis 2006SEGALA R R Traduccedilatildeo intermodal e intersemioacuteticainter-lingual Portuguecircs brasileiro escrito para Liacutengua Brasileira de Sinais Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 74f Universidade Federal de Santa Catarina Trindade Florianoacute-polis 2010 SOUSA A N de A escrita de surdos uma exploraccedilatildeo de textos em portuguecircs e inglecircs Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Lin-guiacutestica Aplicada) 237 f Universidade Estadual do Cearaacute Fortaleza 2008SOUZA X de Performances de traduccedilatildeo para a liacutengua bra-sileira de sinais observadas no curso de Letras-Libras Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 174f Universi-dade Federal de Santa Catariana Florianoacutepolis 2010STROBEL K As imagens do outro sobre a cultura surda Florianoacutepolis Editora da UFSC 2008

UFC Conheccedila o programa UFCTV Disponiacutevel em lthttpwwwufcbrcomunicacao-e-marketing956-conheca-o-pro-grama-ufctvgt Acesso em 6 dez 2012VASCONCELOS M L BARTHOLAMEI JUNIOR L A B Estudos da traduccedilatildeo I Apostila do curso de Bacharelado em Letras Libras na modalidade a Distacircncia Universidade Fe-deral de Santa Catarina Centro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE) Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2009VYGOTSKY L S Internalizaccedilatildeo das funccedilotildees psicoloacutegicas su-periores In VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente o desenvolvimento dos processos psicoloacutegicos superiores Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 69-76

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AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA

FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacute

Marta Cavalcante BenevidesTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (LDB nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996) prevecirc para o alu-nado da Educaccedilatildeo Especial uma praacutetica avaliativa na pers-pectiva formativa de acompanhamento permanente junto ao estudante Deve considerar portanto os aspectos individuais da aprendizagem realizando um diagnoacutestico do que foi apren-dido e favorecendo a aproximaccedilatildeo do professor junto ao agir e pensar do aluno e deste com o objeto de conhecimento A lei recomenda igualmente a realizaccedilatildeo de ajustes sempre que necessaacuterio com o emprego de recursos adequados agraves necessi-dades de cada aprendiz Contudo haacute indiacutecios de que as praacuteti-cas educacionais ainda se centram em atividades que enfati-zam a exposiccedilatildeo de conteuacutedos pelo professor e a passividade do aluno que deve reproduzir a informaccedilatildeo memorizada nos momentos de avaliaccedilatildeo Se essa praacutetica prejudica o desenvol-vimento dos alunos de forma geral provoca consequecircncias mais graves nos alunos que apresentam algum tipo de defici-ecircncia visto que apresentam modos singulares de aprendiza-gem de acordo com as especificidades do seu perfil (BEYER 2005 BRASIL 2001 HADJI 2001 HOFFMANN 2005)

No Ensino Superior a realizaccedilatildeo de uma praacutetica avalia-tiva inclusiva torna-se de modo anaacutelogo um desafio pois de acordo com Demo (2008) a avaliaccedilatildeo na Instituiccedilatildeo de Ensi-

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteMARTA CAVALCANTE BENEVIDES bull TANIA VICENTE VIANA148 d d 149

no Superior (IES) aleacutem de ponderar as diferenccedilas individuais de aprendizagem deve incluir outros aspectos uma vez que a IES tem como papel fundamental formar o aluno para o exer-ciacutecio da cidadania reconstruir continuamente o saber e for-mar pessoas autocircnomas capazes de pensar intervir e influen-ciar o seu ambiente para aleacutem dos limites da universidade

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada ao aluno com deficiecircncia constitui um elemento pedagoacutegico que pode auxi-liar ou dificultar a inclusatildeo do aluno na instituiccedilatildeo de ensino Uma avaliaccedilatildeo realizada de modo intuitivo eou superficial se mostra nociva podendo rebaixar as expectativas do professor em relaccedilatildeo a esse grupo especiacutefico A avaliaccedilatildeo inclusiva deve ser prospectiva e diagnosticar as condiccedilotildees cognitivas emer-gentes natildeo devendo limitar-se agrave verificaccedilatildeo das capacidades adquiridas (BEYER 2005 BRASIL 2001 HADJI 2001 HO-FFMANN 2005)

A Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem do Aluno com Deficiecircncia e os Desafios de sua Inclusatildeo no Ensino Superior

O aluno com deficiecircncia por apresentar condiccedilotildees di-ferenciadas necessita de praacuteticas de ensino e de avaliaccedilatildeo da aprendizagem capazes de atender suas demandas educacio-nais e promover o desenvolvimento das suas capacidades A escola e a universidade inseridas nesse contexto deveratildeo ade-quar a sua praacutetica educativa e avaliativa agrave legislaccedilatildeo vigente visando garantir oportunidades equiparadas de atendimento Para esse alunado existem propostas de avaliaccedilatildeo da apren-dizagem fundamentadas nas ideias de Vygotsky (1896-1934) e no conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)1

1 A ZDP eacute definida como ldquoA distacircncia entre o niacutevel de desenvolvimento real que se costuma determinar atraveacutes da soluccedilatildeo independente de problemas e o niacutevel

Utilizando o conceito de ZDP Guthke apud Beyer (2005) propotildee que natildeo basta que a avaliaccedilatildeo verifique as atu-ais condiccedilotildees do desempenho escolar mas eacute essencial estimu-lar a condiccedilatildeo intelectual do indiviacuteduo frente agraves situaccedilotildees de mediaccedilatildeo em que conceitos e informaccedilotildees venham a provo-car a consolidaccedilatildeo de niacuteveis reais de desenvolvimento Nes-se sentido a verificaccedilatildeo do que foi alcanccedilado pelo aprendiz (rendimento) natildeo eacute suficiente para uma avaliaccedilatildeo adequada tornando imprescindiacutevel a investigaccedilatildeo das condiccedilotildees cogni-tivas emergentes

Para avaliar a aprendizagem dos alunos da Educa-ccedilatildeo Especial durante o ano letivo o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) recomenda a avaliaccedilatildeo formativa ou seja a avaliaccedilatildeo processual com o uso de instrumentos variados e com uma aproximaccedilatildeo da relaccedilatildeo professor-aluno deve acontecer de forma individualizada realizando modificaccedilotildees sempre que necessaacuterio com o emprego de recursos adequados agraves neces-sidades de cada aprendiz A avaliaccedilatildeo tambeacutem deve ser diag-noacutestica ou seja ter por objetivo realizar um diagnoacutestico da si-tuaccedilatildeo da aprendizagem do educando que sirva de base para uma tomada de decisatildeo por parte do avaliador em prol do desenvolvimento e da aprendizagem do aluno Eacute importante tambeacutem avaliar as caracteriacutesticas funcionais do aluno a fim de avaliar as habilidades baacutesicas que ele possui e que lhe per-mitem enfrentar de forma mais ou menos eficaz a demanda educacional (BRASIL 2005 FERNANDES VIANA 2009)

As avaliaccedilotildees da aprendizagem devem sempre conside-rar a situaccedilatildeo vivenciada pelo aluno com deficiecircncia para que o professor possa propor atividades avaliativas contextua-

de desenvolvimento potencial determinado atraveacutes da soluccedilatildeo de problemas sob a orientaccedilatildeo de um adulto ou em colaboraccedilatildeo com companheiros mais capazesrdquo (VYGOTSKY 1994 p 112)

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lizadas As comparaccedilotildees entre os alunos devem ser evitadas mesmo que possuam deficiecircncia similar o aluno deve ser comparado consigo mesmo com a evoluccedilatildeo de suas produ-ccedilotildees e atitudes ao longo do desenvolvimento As adequaccedilotildees nas avaliaccedilotildees realizadas pelo professor devem sempre con-siderar o curriacuteculo comum Outro aspecto a se ponderar eacute a importacircncia dos conteuacutedos presentes na avaliaccedilatildeo visto que a supressatildeo de determinados conteuacutedos podem comprometer uma avaliaccedilatildeo efetiva da aprendizagem O planejamento de uma avaliaccedilatildeo com conteuacutedo diferenciado caracteriza por-tanto uma exclusatildeo que discrimina o aluno por sua deficiecircn-cia Dessa forma satildeo necessaacuterios cuidados especiais na elimi-naccedilatildeo de conteuacutedos (FERNANDES 2010)

Ainda segundo as orientaccedilotildees do MEC satildeo recomen-dadas adequaccedilotildees nos instrumentos avaliativos conforme o tipo de deficiecircncia i) para alunos com deficiecircncia fiacutesica deve ser considerada a utilizaccedilatildeo de Tecnologia Assistiva (TA)2 au-toavaliaccedilatildeo uso de avaliaccedilatildeo digital ii) para a o aluno com deficiecircn cia visual os procedimentos e instrumentos de avalia-ccedilatildeo da aprendizagem que satildeo baseados em referecircncias visu-ais devem ser alterados ou adaptados atraveacutes da transcriccedilatildeo para o sistema Braille3 eou representaccedilotildees em relevo Ou-tras sugestotildees satildeo a avaliaccedilatildeo oral o uso do computador ou da maacutequina de escrever Braille e um tempo ampliado para a realizaccedilatildeo das atividades (iii) a avaliaccedilatildeo da aprendizagem

2 ldquo[] arsenal de recursos e serviccedilos que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiecircncia e consequentemente promover vida independente e inclusatildeordquo (BRASIL 2007d p 31)3 O sistema Braille eacute um coacutedigo ou meio de leitura e escrita para pessoas cegas e foi criado por Louis Braille em 1825 Constitui-se de uma combinaccedilatildeo de 63 pontos que representam as letras do alfabeto os nuacutemeros e outros siacutembolos graacuteficos A combinaccedilatildeo dos pontos eacute obtida pela disposiccedilatildeo de seis pontos baacutesicos organizados em duas colunas verticais dispostas em trecircs pontos do lado esquerdo e trecircs pontos do lado direito (BRASIL 2007c)

da pessoa surda deve considerar a existecircncia do uso de duas liacutenguas por parte do aluno jaacute que a liacutengua de sinais liacutengua de origem do surdo se reflete em suas produccedilotildees escritas em Portuguecircs Portanto o docente ao se deparar com um texto escrito por um aluno surdo deve manter uma atitude diferen-ciada e encarar os supostos erros cometidos na escrita como decorrentes do aprendizado de uma segunda liacutengua (Liacutengua Portuguesa) e da interferecircncia de sua primeira liacutengua (a liacuten-gua de sinais) sobre ela Em todo tipo de avaliaccedilatildeo eacute necessaacute-rio que o ritmo e o estilo individual de aprendizagem do aluno sejam respeitados (BRASIL 2007b FERNANDES 2010)

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada para o alunado com deficiecircncia deve considerar as condiccedilotildees de acessibilida-de4 prevista nos documentos legais brasileiros como a Cons-tituiccedilatildeo Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-caccedilatildeo Nacional (LDB nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996) (BRASIL 2001 2007a)

A praacutetica avaliativa destinada ao aluno com deficiecircncia torna-se um desafio para todos os niacuteveis de ensino inclusive o Ensino Superior que aleacutem de atender as caracteriacutesticas es-peciacuteficas desse alunado deve tambeacutem inserir na avaliaccedilatildeo as-pectos como flexibilidade e autonomia De acordo com Demo (2008) a universidade deve estar comprometida com a re-construccedilatildeo contiacutenua do conhecimento e com a formaccedilatildeo para a cidadania

4 SASSAKI (2005) aponta para a existecircncia de seis dimensotildees da acessibilidade i) arquitetocircnica que diz respeito agrave ausecircncia de barreiras fiacutesicas ii) comunicacional que se refere agrave ausecircncia de barreiras na comunicaccedilatildeo interpessoal escrita e virtual iii) atitudinal concernente a praacuteticas que resultem em superaccedilatildeo de preconceito discriminaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo iv) metodoloacutegica relativa agrave ausecircncia de barreiras nos meacutetodos e teacutecnicas de estudo v) instrumental que se refere agrave ausecircncia de barreiras nos instrumentos e utensiacutelios de estudo nas atividades da vida diaacuteria de lazer esporte e recreaccedilatildeo vi) programaacutetica que consiste na ausecircncia de barreiras invisiacuteveis embutidas em poliacuteticas puacuteblicas em regulamentos e normas

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Assim o aluno que ingressa na universidade deve ter a oportunidade de aprender a aprender reconstruir permanen-temente o conhecimento e saber pensar para melhor inter-vir O conhecimento nessa perspectiva aleacutem de disruptivo eacute tambeacutem poliacutetico porque o sujeito que aprende eacute capaz de histoacuteria proacutepria e caminha para a autonomia de modo que natildeo seja soacute influenciado mas influencie o seu meio natildeo seja submisso mas possa confrontar ideias teorias opiniotildees e re-alidades (DEMO 2008)

Metodologia

O objetivo geral deste estudo foi investigar a praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada aos alunos com defici-ecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do Centro de Humanidades (CH) e da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) de uma IES da rede puacuteblica federal de Fortaleza-Cea-raacute Especificamente intencionou-se i) conhecer as dificulda-des vivenciadas por alunos professores e coordenadores da IES na avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia ii) identificar as condiccedilotildees de acessibilidade referentes agraves praacute-ticas avaliativas iii) reunir contribuiccedilotildees de alunos profes-sores e coordenadores da IES para uma praacutetica inclusiva de avaliaccedilatildeo de aprendizagem

Assim foi realizada uma pesquisa de natureza qualitati-va na forma de um estudo de caso com amostras compostas por i) nove alunos com deficiecircncia matriculados nos cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do CH e da Faced da IES ii) dezenove professores indicados pelos alunos com deficiecircn-cia que haviam ministrado disciplinas para esses alunos no semestre 20102 e iii) sete coordenadores dos cursos em que esses alunos se encontravam matriculados A amostra perfez um total de trinta e cinco sujeitos

Na tabela 1 encontramos a caracterizaccedilatildeo da amostra dos alunos investigados Os estudantes consultados seratildeo ale-atoriamente chamados de A1 A2 A9

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia

MASCULINO

ALUNO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A1 24 Letras-Portuguecircs Auditiva

A2 28 Ciecircncias Sociais Fiacutesica ndash Torcicolo Espas-moacutedico

A3 23 Biblioteconomia Muacuteltipla ndash Fiacutesica e Baixa Visatildeo

A4 45 Pedagogia Visual ndash Baixa Visatildeo FEMININO

ALUNO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A5 22 Letras Espanhol--Literatura

Visual Total ndash Retinoblas-toma

A6 20 Letras-Portuguecircs Fiacutesica ndash Paralisia Cerebral

A7 24 Ciecircncias Sociais Auditiva Moderada ndash Gra-ve

A8 23 Psicologia Baixa Visatildeo ndash Visatildeo Uni-lateral

A9 32 Mestrado em Edu-caccedilatildeo Auditiva

Os coordenadores pesquisados seratildeo aleatoriamente chamados de C1 C2 C7 e os professores que participaram da pesquisa seratildeo chamados aleatoriamente de P1 P2 P19 Vale ressaltar que o nome da instituiccedilatildeo quando presente no relato dos entrevistados foi substituiacutedo pela palavra UNI-VERSIDADE (em letras maiuacutesculas) Os dados obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas junto aos alunos e coor-denadores de curso e atraveacutes de questionaacuterios junto aos pro-fessores no segundo semestre de 2010 foram submetidos agrave anaacutelise de conteuacutedo

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Anaacutelise dos Dados

Formaccedilatildeo docente

A equipe docente pesquisada mostrou-se com qualifica-ccedilatildeo elevada conforme se pode constatar no Graacutefico 1 A forma-ccedilatildeo docente eacute vista como um fator de grande importacircncia para a adequaccedilatildeo dos processos de ensino e avaliaccedilatildeo tornando-se imprescindiacutevel para auxiliar no processo de aprendizado do aluno (BEYER 2005 HOFFMANN 2005 PASCUAL 2006)

GRAacuteFICO 1 ndash Formaccedilatildeo Docente

No entanto para os coordenadores a formaccedilatildeo do do-cente em graus elevados muitas vezes natildeo prepara o profes-sor para a experiecircncia em sala de aula visto que nos cursos de origem natildeo satildeo trabalhadas questotildees pedagoacutegicas nem de teorias do conhecimento e da aprendizagem tampouco de as-suntos referentes ao tema da Educaccedilatildeo Inclusiva

Segundo relato dos coordenadores

A maioria das pessoas que daacute aula na universidade elas nunca se prepararam na vida dela para ser professor Vocecirc imagine uma pessoa que estudou que fez douto-rado ela faz um concurso [] O que ela aprendeu em sala de aula foi com os professores em sala de aula mas ela nunca discutiu a metodologia [] Vocecirc imagina aiacute o

cara que fez Fiacutesica se formou em Fiacutesica o tempo dele foi fazendo caacutelculo e ele aprendeu a dar aula as aulas que ele via foi dos professores dele mas nunca ele discutiu nada Entatildeo ele faz um concurso porque ele tem doutorado domina um conjunto de questotildees que taacute laacute no programa passa e quando ele entra vai laacute no [setor de] Recursos Humanos natildeo tem ningueacutem pra dizer que vaacute fazer um cursinho sobre Pedagogia sobre aprendizado essa coisa toda E eacute assim em quase todo canto Com exceccedilatildeo da Pedagogia que eacute um curso que forma pedagogo Nosso curso aqui eacute muito focado no bacharelado licenciatura aqui eacute uma coisa quase que marginal (C7)Agraves vezes os professores efetivamente tecircm dificuldade de lidar com esse tipo de aluno neacute Noacutes eu tambeacutem tenho dificuldade porque tambeacutem natildeo sou formado para isso neacute Eu natildeo tenho uma capacitaccedilatildeo pra isso mas natildeo necessariamente pra avaliaccedilatildeo agraves vezes ateacute para a proacutepria convivecircncia a gestatildeo da sala de aula com o aluno quando distoa do padratildeo meacutedio do aluno a gente natildeo sabe como fazer No instante em que nos tornamos professores da UNIVERSIDADE eu desco-nheccedilo qualquer formaccedilatildeo que tenha sido proposta pra gente E bom assim enquanto socioacutelogo de formaccedilatildeo eu tambeacutem natildeo tive essa formaccedilatildeo aqui na UNIVER-SIDADE no doutorado na graduaccedilatildeo ou no mestrado tampouco (C4)

Do mesmo modo foi verificado na pesquisa que a ca-pacitaccedilatildeo especiacutefica voltada para o atendimento agraves necessi-dades educacionais da pessoa com deficiecircncia embora consi-derada necessaacuteria pelos coordenadores tem acontecido como uma procura individual e particular de cada professor natildeo existindo ou existindo de forma precaacuteria nos programas que destinam formaccedilatildeo continuada aos seus docentes dentro da universidade

A situaccedilatildeo encontrada na universidade pesquisada estaacute em consonacircncia com o que afirma Hoffmann (2005) sobre a

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realidade encontrada nas universidades brasileiras em que haacute docentes que embora com competecircncia em sua aacuterea de origem possuem formaccedilatildeo pedagoacutegica precaacuteria desconhe-cendo teorias do conhecimento e do curriacuteculo que deveriam fundamentar sua atividade avaliativa

Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia

No que se refere agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem do aluno com deficiecircncia verificou-se que os coordenadores natildeo tecircm informaccedilotildees sobre como acontece a avaliaccedilatildeo da aprendiza-gem voltada para esse alunado dentro da universidade e re-latam a existecircncia de uma avaliaccedilatildeo homogecircnea como uma praacutetica comum na IES que desconsidera as particularidades do aluno A avaliaccedilatildeo que considera a construccedilatildeo individual da aprendizagem reflete uma visatildeo tradicional de avaliaccedilatildeo (HOFFMANN 2005 PERRENOUD 1999)

De acordo com o relato do coordenador

[] imagino que haacute todo um processo complexo inclu-sive muito rico de adequaccedilatildeo disso da proacutepria pessoa a um sistema de Educaccedilatildeo que natildeo tem a tradiccedilatildeo de lidar com as dificuldades das pessoas Todo um sistema ele eacute montado com um pressuposto falso e perigoso que eacute o pressuposto da homogeneidade se trata todos os alunos como se fossem iguais como se partissem do mesmo ponto e como tivessem que chegar ao mesmo ponto Quer dizer natildeo haacute consideraccedilatildeo da personalidade natildeo eacute nem no sentido psicoloacutegico eacute no sentido mais amplo de que cada pessoa eacute uma pessoa com interesse com a proacutepria histoacuteria com dificuldades e com potenciais entatildeo o sistema eacute todo montado para um aluno amorfo padratildeo estereotipado Qualquer pessoa que rompa com essa padronizaccedilatildeo teraacute dificuldades em geral dificul-dades para os docentes tambeacutem (C5)

Para a maioria dos professores a avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem do aluno com deficiecircncia deve apresentar as seguintes caracteriacutesticas I) ser igual para todos alunos com e sem defi-ciecircncia (63) II) abordar o mesmo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade (84) III) apresentar adapta-ccedilotildees conforme o tipo de deficiecircncia (84) IV) dispor de um tempo maior para o aluno com deficiecircncia (68) e V) deve acontecer em sala de aula (84)

De acordo com as informaccedilotildees coletadas os professores entendem a avaliaccedilatildeo do aluno com deficiecircncia em consonacircn-cia com o que eacute proposto pela literatura especializada que as-severa que o planejamento de uma avaliaccedilatildeo para o aluno com deficiecircncia deve considerar o curriacuteculo comum Um conteuacutedo diferenciado ou a supressatildeo arbitraacuteria de conteuacutedos com o ob-jetivo de tornar a avaliaccedilatildeo mais faacutecil caracterizariam uma ex-clusatildeo discriminando-se o aluno por sua deficiecircncia A maio-ria dos professores respondeu tambeacutem que o aluno precisa de maior tempo para a realizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo outra estra-teacutegia adaptativa apontada pela literatura em que o professor deve considerar que o aluno com deficiecircncia pode alcanccedilar os mesmos objetivos do grupo poreacutem com um periacuteodo maior de tempo (FERNANDES 2010)

Foi constatada nos depoimentos dos alunos a exis-tecircncia de algumas adaptaccedilotildees na avaliaccedilatildeo da aprendizagem tais como substituiccedilatildeo do seminaacuterio por instrumentos escri-tos para o aluno com deficiecircncia auditiva que natildeo conhecia a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) (A1) o uso do computa-dor como recurso para auxiliar nas provas escritas ou provas orais para o estudante cego (A3 A4 A5 A8) provas orais para o aluno com torcicolo espasmoacutedico (A2) e o tempo es-tendido para entrega dos trabalhos (A2 A9) A boa relaccedilatildeo entre professor e aluno apareceu como elemento fundamental

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para adaptar os instrumentos avaliativos agraves necessidades dos educandos visto que nem sempre o professor sabe como pro-ceder (A2 A3 A4 A5 A8)

As adequaccedilotildees encontradas na universidade estatildeo de acordo com o que estabelece a literatura especializada devem contar com o uso de recursos adequados agraves necessidades de cada aprendiz como o uso de material em Braille para o aluno cego a presenccedila do inteacuterprete de Libras para o aluno surdo o uso de provas orais quando necessaacuterio e a extensatildeo de tem-po para entrega de trabalhos dentre outros (BRASIL 2005 FERNANDES 2010)

Por outro lado os alunos relataram uma seacuterie de dificul-dades enfrentadas em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem O desconhecimento por parte do professor da existecircncia do aluno com deficiecircncia em sua sala de aula antes do iniacutecio do periacuteodo letivo impede um planejamento que considere as es-pecificidades do aluno Os estudantes relataram que os pro-fessores na maioria das vezes desconhecem o fato de que le-cionaratildeo para alunos com deficiecircncia e quando os encontram em sala de aula sequer o procuram para investigar sobre a melhor forma de realizar a avaliaccedilatildeo Houve ainda relatos de situaccedilotildees em que o aluno com deficiecircncia foi dispensado da avaliaccedilatildeo e momentos em que participou das avaliaccedilotildees em condiccedilotildees desfavoraacuteveis frente agraves condiccedilotildees apresentadas aos demais alunos por falta de recursos que pudessem auxiliaacute--lo Essas atitudes natildeo estatildeo em consonacircncia com a literatura especializada que afirma ser necessaacuteria a identificaccedilatildeo das caracteriacutesticas cognitivas do aluno com deficiecircncia para uma praacutetica pedagoacutegica adequada As adaptaccedilotildees devem conside-rar o curriacuteculo natildeo podendo o aluno ser dispensado da avalia-ccedilatildeo (BEYER 2005 FERNANDES 2010)

Segundo relato de um dos alunos

[] professor nesse semestre pediu uma siacutentese de um texto que eu natildeo tinha como ler porque natildeo foi possiacutevel digitalizar Eu tentei digitalizar mas a digitalizaccedilatildeo natildeo saiu boa o texto natildeo existia na internet eacute de uma obra claacutessica e eu natildeo consegui fazer a siacutentese porque eu natildeo tive como ler o texto E aiacute eu tentei de todas as ma-neiras que eu pude Eu realmente fiz muito esforccedilo pra digitalizar esse texto mas natildeo foi possiacutevel e aiacute eu falei com o professor e ele disse entatildeo vocecirc se compromete a ler a tentar de alguma maneira ler esse texto ateacute vocecirc se formar porque eacute um claacutessico e eu dispenso vocecirc de fazer essa parte (A8)

Os relatos demonstraram que as accedilotildees pedagoacutegicas de ensino e avaliaccedilatildeo para o aluno com deficiecircncia ainda se en-contram inadequadas A falta de conhecimento do professor sobre as praacuteticas pedagoacutegicas apropriadas e sobre os recursos que possam auxiliar o aluno a desenvolver seu aprendizado de forma mais adequada satildeo fatores que prejudicam o aluno den-tro da instituiccedilatildeo Mesmo fazendo parte de uma instituiccedilatildeo de ensino regular o que se percebe eacute que muitas vezes o aluno procura recursos e alternativas que possam ajudaacute-lo a superar as necessidades que apresenta nem sempre contando com o auxiacutelio ou a compreensatildeo dos demais agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem As adaptaccedilotildees realizadas revelaram-se como alternativas emergenciais devido agrave ausecircn-cia de recursos apropriados na universidade ou agrave falta de co-nhecimentos do professor sobre a melhor maneira de proceder

Inclusatildeo acessibilidade

A universidade apresentou a existecircncia de alguns re-cursos para a acessibilidade Os recursos conhecidos pelos

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coordenadores satildeo i) transposiccedilatildeo para o Braille serviccedilo re-alizado pela biblioteca ii) acesso agrave inteacuterprete de Libras iii) alguns computadores com programas para o deficiente visu-al iv) a existecircncia de uma secretaria especiacutefica para trabalhar questotildees da inclusatildeo na universidade Por outro lado foi ve-rificada a ausecircncia de recursos essenciais para a garantia da acessibilidade dos alunos com deficiecircncia como laboratoacuterios de informaacutetica sem softwares adequados para o aluno com deficiecircncia visual

Dos professores entrevistados 58 desconheciam os recursos oferecidos pela universidade para o atendimento ao aluno com deficiecircncia E os que revelaram conhecer relata-ram a existecircncia de suporte de Psicologia da UNIVERSIDA-DE (P1) presenccedila de softwares para o aluno cego (P4) Proje-to UNIVERSIDADE Inclui [projeto anterior agrave inauguraccedilatildeo da secretaria com objetivo de promover a inclusatildeo na universi-dade estudada] (P14 P19) Secretaria de Acessibilidade (P1) adaptaccedilatildeo do material didaacutetico para o aluno com deficiecircncia visual como o Braille e a transposiccedilatildeo para a versatildeo eletrocircni-ca realizada pela biblioteca (P5 P12 P15 P19) Um dos pro-fessores natildeo especificou qual recurso conhece e relatou natildeo precisar utilizar nenhum recurso

Relaccedilotildees interpessoais

As relaccedilotildees interpessoais aparecem como fator de grande importacircncia para a motivaccedilatildeo e o aprendizado do aluno po-dendo favorecer ou dificultar o processo de aprendizado A boa qualidade da relaccedilatildeo entre o aluno com deficiecircncia e o professor contribui de forma positiva para o aprendizado e a motivaccedilatildeo do aluno no ambiente acadecircmico A ausecircncia de conhecimen-tos teacutecnicos por parte do professor sobre o ensino e avaliaccedilatildeo

apropriados para o aluno com deficiecircncia pode ser mais facil-mente contornada se houver uma boa relaccedilatildeo com o professor

[] eu sempre me relacionei muito bem com os profes-sores daqui e nunca teve assim nenhuma rejeiccedilatildeo quanto ao meu meacutetodo de avaliaccedilatildeo E quando o professor natildeo sabe muito bem o que fazer entatildeo a gente senta conversa sobre de que maneira eu posso ser avaliado e tal [] (A3)

Na relaccedilatildeo entre docente e discente foram relatadas situaccedilotildees tanto de intransigecircncia quanto de aceitaccedilatildeo O comprometimento e a disposiccedilatildeo de todos os sujeitos partici-pantes do processo de ensino-aprendizagem eacute de grande im-portacircncia para a plena efetivaccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo Inclusiva (BEYER 2005)

No caso do professor receptivo

Pra mim o caso mais interessante foi o dessa aluna com deficiecircncia auditiva que eu notava que ela natildeo conseguia se expressar oralmente logo nos primeiros dias de aula E aiacute eu fui conversar com ela e ela me explicou que tinha um problema de deficiecircncia auditiva e a partir desse dia ela me explicou que sabia fazer leitura labial e a partir desse dia eu passei a dar aula olhando pra ela tentava mesmo que eu mudasse de posiccedilatildeo como eu dou aula em peacute andando eu tava sempre o tempo todo a olhar pra ela Eu me lembro que ela assistiu alguns seminaacuterios e eu chamei os alunos que iam apresentar seminaacuterios pedi permissatildeo a ela antes e ela autorizou que fosse dito que ela tinha deficiecircncia auditiva que os alunos falassem olhando pra ela (C4)

No caso do professor intransigente

Eu reprovei por um trabalho um grande trabalho dele que eu levei eu tinha frac34 do trabalho feito ele nem aceitou natildeo quis nem ver Entatildeo pra mim isso eacute muita intransigecircncia eacute sofriacutevel ter esse relacionamento com

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os coordenadores com os professores que natildeo podem me dar uma abertura ou me escutar Isso que eacute o pior que eu acho natildeo ser escutado (A2)

A falta de uma formaccedilatildeo adequada para lidar com alu-nos com deficiecircncia em sala de aula apresentou-se como ele-mento comum agrave variaccedilatildeo de atitudes apresentada pelo docen-te A conduta profissional desse modo depende dos valores pessoais do docente e natildeo estaacute pautada em conhecimentos es-pecializados sobre o assunto Na situaccedilatildeo encontrada na uni-versidade percebemos a existecircncia de uma realidade em que as reaccedilotildees do grupo podem facilitar pela empatia ou preju-dicar pelo preconceito ou incompreensatildeo o desenvolvimento global do indiviacuteduo Os professores como participantes do grupo social estatildeo imbuiacutedos desses valores que afetaratildeo suas praacuteticas de ensino e avaliaccedilatildeo A expectativa que o professor elabora sobre a aprendizagem do aluno pode interferir de modo significativo no processo de ensino-aprendizagem de modo que o comportamento do aluno seja modelado pela ex-pectativa do professor e este por sua vez responde de acordo com o que ele supotildee ser possiacutevel ao seu aluno (BEYER 2005 ROSENTHAL JACOBSON 1968)

Os depoimentos dos alunos revelam haver dentro da universidade atitudes de aceitaccedilatildeo e solidariedade mas tam-beacutem atitudes de estranhamento em relaccedilatildeo agrave pessoa com deficiecircncia As primeiras demonstram auxiliar o aluno no processo de Inclusatildeo favorecendo o aprendizado e ajudando a preencher lacunas deixadas pelos serviccedilos ainda natildeo ade-quados agraves necessidades do alunado No entanto as demais atitudes ainda revelam a existecircncia de um desconhecimento tambeacutem por parte do aluno das formas de lidar com a pessoa com deficiecircncia e das necessidades apresentadas por esse alu-nado Essa atitude indica um reflexo de uma sociedade ainda

natildeo preparada para o modelo de Inclusatildeo em que as insti-tuiccedilotildees os serviccedilos e os procedimentos ainda satildeo pensados e montados para um puacuteblico homogecircneo padratildeo sem deman-das especiacuteficas

Dificuldades enfrentadas

Os coordenadores de curso revelaram natildeo ter acesso agraves dificuldades do aluno com deficiecircncia em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem o que dificulta inclusive o reconhecimento das demandas discentes e a solicitaccedilatildeo agraves instacircncias superio-res de recursos que atendam a essas necessidades A coorde-naccedilatildeo aparece como um oacutergatildeo burocraacutetico onde natildeo haacute dis-cussotildees rotineiras sobre a aprendizagem do aluno A ausecircncia de recursos humanos capacitados para lidar com o aluno com deficiecircncia a ausecircncia ou insuficiecircncia de recursos didaacuteticos e de recursos que possibilitem a acessibilidade instrumental a falta de acessibilidade arquitetocircnica e a natildeo identificaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia foram indicadas pelos coordenadores como dificuldades enfrentadas para a efetivaccedilatildeo de uma ava-liaccedilatildeo inclusiva

De acordo com as respostas apresentadas pelos pro-fessores as dificuldades enfrentadas pelos docentes satildeo i) a ausecircncia de formaccedilatildeo adequada (P2 P4 P7 P10 P15 P16 P17 P19) ii) a falta de adequaccedilatildeo dos espaccedilos fiacutesicos (P1 P14 P17) iii) a ausecircncia ou insuficiecircncia de recursos (P6 P13 P14 P17 P18) iv) o fato de que os professores natildeo conhecem os recursos nem a forma de acessaacute-los (P10 P18) Cinco profes-sores relataram natildeo apresentar dificuldades e um professor natildeo respondeu

Os alunos apresentaram como dificuldades i) o fato de que o professor natildeo tem o conhecimento preacutevio de que iraacute le-

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cionar para o aluno com deficiecircncia e como consequecircncia natildeo conhece as caracteriacutesticas de aprendizagem do aluno (A2 A7 A8) ii) a falta de comunicaccedilatildeo entre professores e alunos bem como a intransigecircncia do professor (A2) iii) a falta de acessibilidade arquitetocircnica (A3) iv) a falta de recursos para a acessibilidade instrumental (A3 A5 A8) v) a dificuldade de redigir textos e a demora do processo em conseguir o inteacuter-prete de Libras foi apresentada pela aluna com surdez

Vale ressaltar que a falta de acessibilidade arquitetocirc-nica e instrumental aparece no discurso de coordenadores e alunos como impeditivo para a entrada do aluno na universi-dade No relato de um dos alunos

[] Eu falo minhas porque minhas soacute tem eu aqui Mas a partir do momento que as necessidades forem aceitas o que vai ter de deficiente entrando na univer-sidade vocecirc natildeo queira nem saber Porque o pessoal fala assim natildeo natildeo vou entrar na universidade natildeo porque natildeo tem nenhuma acessibilidade laacute [] Eu fre-quentei o Instituto dos Cegos um ano e meio Tinham pessoas laacute que falaram isso eu natildeo vou me dar o tra-balho de passar na universidade pra chegar laacute e ter que ficar lutando pelos meus direitos os meus direitos jaacute satildeo os meus direitos as pessoas tecircm que saber que eles existem Claro que vocecirc vecirc agraves vezes as pessoas dando essa desculpa de natildeo tentar a universidade Mas ou-tras pessoas que eu via que tinham potencial diziam o que me mata eacute essa ideia de chegar na universidade e ela natildeo estar preparada pra me receber (A3)

As dificuldades enfrentadas pelos alunos e a forma como satildeo administradas pelos oacutergatildeos superiores podem in-terferir negativamente para a entrada e permanecircncia do aluno no Ensino Superior A demora na resoluccedilatildeo dos problemas existentes acaba por desestimular o aluno e interferir em seu desempenho na universidade A longa espera para a resoluccedilatildeo

dos problemas traz um sentimento de solidatildeo para o aluno e muitas vezes ele acaba por resignar-se e aceitar a realidade imposta adequando-se ao que estaacute posto

Sugestotildees

Os trecircs grupos de sujeitos pesquisados apresentaram como sugestotildees i) o investimento em um setor que possa dar suporte para profissionais da Educaccedilatildeo e para o aluno (C1 C2 C3 C7 P1 P7 P18 A2 A7) ii) a importacircncia de identificar o aluno para que haja um conhecimento preacutevio do professor sobre o aluno com deficiecircncia suas caracteriacutesticas de aprendi-zado e suas limitaccedilotildees (C1 P4 P5 A2 A5 A8) iii) a aquisiccedilatildeo de equipamentos e recursos para auxiliar professores e alunos no processo de ensino-aprendizagem e a adequaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico apareceu nas sugestotildees dos professores de um coorde-nador e um aluno (C1 P6 P8 P10 P13 P14 P18 P19 A3) A capacitaccedilatildeo docente a realizaccedilatildeo de seminaacuterios de discussotildees sobre temas pedagoacutegicos e o atendimento ao aluno com de-ficiecircncia apareceu como sugestatildeo dada por coordenadores e professores (C2 C6 C5 C7 P1 P2 P3 P6 P15 P19) As mu-danccedilas nas atitudes e metodologias dos professores e adequa-ccedilatildeo de avaliaccedilotildees agraves especificidades das necessidades de cada aluno apareceram no discurso de professores e alunos (P8 P9 P11 P12 A1 A2 A3 A4 A9) A valorizaccedilatildeo da unidade da coordenaccedilatildeo foi sugerida apenas por um coordenador (C7)

Conclusatildeo

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem eacute um elemento pedagoacutegico que pode auxiliar ou dificultar a inclusatildeo do aluno na instituiccedilatildeo de ensino Para que esta seja inclusiva faz-se necessaacuterio consi-

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derar uma seacuterie de fatores como o conhecimento das necessi-dades educacionais apresentadas pela pessoa com deficiecircncia a adequaccedilatildeo dos instrumentos avaliativos conforme as especi-ficidades do perfil do aluno o uso de uma avaliaccedilatildeo formativa e diagnoacutestica que possibilitem o avanccedilo do conhecimento dis-cente A avaliaccedilatildeo deve ser ainda prospectiva natildeo devendo portanto se limitar agrave verificaccedilatildeo das capacidades adquiridas (BEYER 2005 BRASIL 2005 LUCKESI 2001 2005)

A pesquisa revelou que as condiccedilotildees de acessibilida-de no que diz respeito agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem ainda se encontram insuficientes Embora a maioria dos professores apresente concepccedilotildees sobre a avaliaccedilatildeo desse alunado que es-tejam de acordo com o que propotildee a literatura especializada as praacuteticas ainda natildeo atendem de modo satisfatoacuterio as de-mandas apresentadas pelo aluno que apresente algum tipo de deficiecircncia As dificuldades se referem a uma formaccedilatildeo docen-te inadequada agrave falta de adequaccedilatildeo fiacutesica e agrave ausecircncia de uma maior discussatildeo sobre o tema da Educaccedilatildeo Inclusiva que atin-ja a todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem As sugestotildees apontam para a importacircncia de investimento em recursos materiais e humanos

Diante do exposto a inclusatildeo educacional do aluno com deficiecircncia se torna um desafio visto que as praacuteticas ava-liativas atuais ainda acabam por excluir aqueles alunos que possuem maneiras diferenciadas de aprender e de vivenciar o mundo A realidade observada ainda natildeo reflete a existecircncia de uma verdadeira inclusatildeo do aluno com deficiecircncia na IES investigada Ainda estamos vivenciando praacuteticas que apenas integram o aluno na universidade sem contudo oferecer condiccedilotildees para o seu desenvolvimento pleno A verdadeira inclusatildeo aparece ainda como um grande desafio mas espera-mos que muito em breve ela seja alcanccedilada de modo a pos-

sibilitar a efetivaccedilatildeo do que estaacute previsto por lei e eacute buscado por tantos brasileiros vivenciar de forma plena a cidadania atraveacutes dos direitos jaacute legalmente conquistados

Referecircncias Bibliograacuteficas

BEYER H O Inclusatildeo e avaliaccedilatildeo na escola de alunos com necessidades educacionais especiais Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2005BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988 com as alteraccedilotildees adotadas pelas Emendas Constitucionais n 192 a 532006 e pelas Emendas Constitucionais de Revisatildeo n 1 a 694 Brasiacutelia Senado Federal Subsecretaria de Edi-ccedilotildees Teacutecnicas 2007a______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o Atendimento Educacional Especializado deficiecircncia vi-sual Brasiacutelia-DF MECSEEDSEESP 2007b______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o atendimento educacional especializado deficiecircncia vi-sual Brasiacutelia-DF MECSEESP 2007c______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o Atendimento Educacional Especializado deficiecircncia fiacutesica Brasiacutelia-DF MECSEEDSEESP 2007d______ Avaliaccedilatildeo para identificaccedilatildeo das necessidades edu-cacionais especiais saberes e praacuteticas da inclusatildeo Brasiacutelia-DF MECSEESP 2005 ______ Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional nordm 9394 de 20 de outubro de 1996 Brasiacutelia-DF MECSEESP 2001DEMO P Universidade aprendizagem e avaliaccedilatildeo hori-zontes reconstrutivos Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2008

d 169MARTA CAVALCANTE BENEVIDES bull TANIA VICENTE VIANA168 d

FERNANDES T L G Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo documental das diretrizes oficiais 2010 152 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2010FERNANDES T L G VIANA T V Alunos com necessidades educacionais especiais (NEEs) avaliar para o desenvolvimen-to pleno de suas capacidades Estudos em Avaliaccedilatildeo Educa-cional Satildeo Paulo v 20 n 43 p 201-213 maioago 2009HADJI C Avaliaccedilatildeo desmistificada Porto Alegre Artmed 2001 HOFFMANN J Pontos e contrapontos do pensar ao agir em avaliaccedilatildeo Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2005 LUCKESI C C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem na escola reelabo-rando conceitos e recriando a praacutetica Salvador Malabares 2005______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem escolar Satildeo Paulo Cortez 2001PASCUAL J G Educaccedilatildeo Superior reflexotildees acerca da ava-liaccedilatildeo In PASCUAL J G DIAS A M I (Org) Fragmen-tos Filosofia Sociologia Psicologia o que isso interessa agrave educaccedilatildeo Fortaleza Brasil Tropical 2006 p 175-192PERRENOUD P Avaliaccedilatildeo da excelecircncia agrave regulaccedilatildeo das aprendizagens ndash entre duas loacutegicas Porto Alegre Artmed 1999ROSENTHAL R JACOBSON L Pygmalion in the class-room teacher expectation and pupilrsquos intellectual develop-ment New York Holt Rhinehat amp Winston 1968SASSAKI R K Inclusatildeo o paradigma do seacuteculo 21 Inclu-satildeo Revista da Educaccedilatildeo Especial Brasiacutelia ano I n1 p 19-23 out 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscribdcomdoc35852350Sassaki-R-K-Inclusao-o-paradigma-do--sec-21gt Acesso em 12 fev 2011VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente o desenvolvi-mento dos processos psicoloacutegicos superiores Satildeo Paulo Mar-tins Fontes 1994

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO

DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacute

Francisca Samara Teixeira CarvalhoTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

As praacuteticas avaliativas traduzem o ecircxito ou o fracas-so do aluno em sua aprendizagem atribuindo valores que marcaratildeo significativamente toda a sua trajetoacuteria escolar e mesmo a sua vida pessoal Quando realizadas de forma con-vencional segundo a definiccedilatildeo do exame impedem a mudan-ccedila de uma tradicional e persistente praacutetica pedagoacutegica fun-damentada na memorizaccedilatildeo e na reproduccedilatildeo de conteuacutedo como tambeacutem na relaccedilatildeo distanciada entre professor e aluno regulada por uma autoridade imposta pelo medo O exame se diferencia sobretudo por sua natureza classificatoacuteria e so-mativa direcionada para os resultados finais em detrimento de uma visatildeo processual da aprendizagem (LUCKESI 2001 2005 2011 PERRENOUD 1999)

Com isso a avaliaccedilatildeo formativa se revelou um modelo mais adequado para avaliar os alunos na atualidade por natildeo ser de caraacuteter classificatoacuterio nem pontual Dessa maneira natildeo eacute excludente demonstrando sua importacircncia no processo avaliativo com elementos capazes de responder e respeitar as necessidades limitaccedilotildees e possibilidades de cada aluno acer-ca da sua aprendizagem Tem-se percebido a importacircncia dos modelos que propotildeem uma avaliaccedilatildeo formativa de aspecto contiacutenuo considerando a construccedilatildeo individual e coletiva do

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FORTALEZA-CEARAacuteFRANCISCA SAMARA TEIXEIRA CARVALHO bull TANIA VICENTE VIANA170 d d 171

educando oferecendo-lhe apoio pedagoacutegico adequado agraves suas particularidades especialmente em termos de aprendizagem desafiando-o a ir adiante a avanccedilar em suas possibilidades nas atividades escolares auxiliando assim em sua formaccedilatildeo como sujeito

Diante dessa realidade tambeacutem vivenciada por alunos com deficiecircncia nos meios educacionais o exame demonstra um caraacuteter comparativo excludente e discriminatoacuterio em que a praacutetica avaliativa tradicional se limita agrave classificaccedilatildeo e agrave iden-tificaccedilatildeo das dificuldades e fragilidades desses alunos Por cau-sa disso esses aprendizes enfrentam mais uma dificuldade em suas vidas a de encontrar um ambiente educacional propiacutecio ao desenvolvimento de suas capacidades visto que apresen-tam modos singulares de aprender de acordo com as especifi-cidades de seu perfil (BEYER 2010 VYGOTSKY 2000)

A realidade avaliativa encontrada no Ensino Superior acaba por prejudicar de uma forma geral o desenvolvimen-to dos alunos principalmente aqueles com algum tipo de de-ficiecircncia visto que objetiva de modo geral uma verificaccedilatildeo estaacutetica do seu ldquosucessordquo ou ldquofracassordquo escolar com base no desempenho acadecircmico expresso pelo valor numeacuterico de uma nota Nesse contexto o aluno com deficiecircncia eacute frequente-mente excluiacutedo das atividades cotidianas estigmatizado e impedido da convivecircncia social agrave qual possui direito A uni-versidade tem que estar atenta ao conhecimento e agrave aprendi-zagem dos alunos com deficiecircncia no intuito de favorecer no-vas perspectivas para a melhor formaccedilatildeo desse alunado Aleacutem disso eacute necessaacuterio contribuir para a sua devida inclusatildeo no Ensino Superior pois a universidade deve formar natildeo soacute para o mercado de trabalho mas sobretudo para uma consciecircncia criacutetica e o exerciacutecio da cidadania (DEMO 2005)

A Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem como Mediadora da Inclusatildeo no Ensino Superior

A Pedagogia do Exame se fundamenta na Pedagogia Tradicional A praacutetica do exame ainda se encontra presente nos nossos meios educacionais priorizando notas em detri-mento da real aprendizagem do aluno Prejudica portan-to o desenvolvimento dos alunos de forma geral e provoca consequecircncias mais graves nos estudantes que apresentam algum tipo de deficiecircncia Essa realidade natildeo permite ao aluno com deficiecircncia encontrar no ambiente de ensino um local para o desenvolvimento das suas potencialidades Apesar de solicitarem intervenccedilotildees pedagoacutegicas diferencia-das capazes de atender suas necessidades e de promover o desenvolvimento das suas capacidades o aluno com defi-ciecircncia se depara com uma realidade de ensino e avaliaccedilatildeo que se limita agrave classificaccedilatildeo normativa1 e agrave identificaccedilatildeo das suas limitaccedilotildees e dificuldades (BENEVIDES 2011 BEYER 2010 LUCKESI 2011)

Beyer (2010) aponta a existecircncia de cinco paradigmas na Educaccedilatildeo Especial que refletem diretamente no mode-lo de avaliaccedilatildeo adotado Cumpre mencionar que a sucessatildeo desses paradigmas natildeo eacute linear pois mesmo o mais antigo baseado na concepccedilatildeo meacutedica da deficiecircncia ainda persiste em permanecer Na reflexatildeo do autor os paradigmas identi-ficados satildeo I) cliacutenico-meacutedico II) sistecircmico III) socioloacutegico IV) criacutetico-materialista e V) inclusivo Esses pontos de vista foram construiacutedos historicamente pela sociedade e a forma de avaliar as pessoas com deficiecircncia estaacute atrelada a eles

1 Uma avaliaccedilatildeo de referecircncia normativa compara os alunos em relaccedilatildeo a uma norma ou padratildeo hierarquizando-os e assim reproduz as desigualdades sociais (PERRENOUD 1999)

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE

FORTALEZA-CEARAacuteFRANCISCA SAMARA TEIXEIRA CARVALHO bull TANIA VICENTE VIANA172 d d 173

O paradigma cliacutenico-meacutedico enfoca a pessoa com defi-ciecircncia de maneira extremamente individualizada A praacutetica da avaliaccedilatildeo ocorre atraveacutes de aspectos cliacutenicos da deficiecircncia A partir da histoacuteria cliacutenica do sujeito eacute indicada uma escola espe-cial onde o indiviacuteduo obteraacute atendimento terapecircutico em vez de accedilatildeo pedagoacutegica especializada No paradigma sistecircmico a deficiecircncia eacute avaliada por meio de demandas impostas pelo sis-tema escolar no que diz respeito ao curriacuteculo o paracircmetro nor-mativo que eacute estabelecido identifica os que natildeo se adaptam Os procedimentos avaliativos satildeo seletivos e encaminham o aluno avaliado para a escola regular ou para a especial

No paradigma socioloacutegico a deficiecircncia eacute definida atraveacutes da atribuiccedilatildeo social em que as reaccedilotildees do grupo po-dem prejudicar (pela incompreensatildeo ou preconceito) ou faci-litar (pela compreensatildeo ou empatia) o desenvolvimento glo-bal do indiviacuteduo O paradigma criacutetico-materialista entende a deficiecircncia como uma limitaccedilatildeo ou ateacute uma incapacidade para a vida produtiva por se fundamentar numa sociedade de classes a avaliaccedilatildeo torna-se um modo efetivo de excluir a pessoa com deficiecircncia natildeo apenas do meio educacional mas sobretudo do mercado de trabalho (BEYER 2010)

O paradigma inclusivo eacute muito discutido atualmente pois visa amenizar e mesmo superar a segregaccedilatildeo e o precon-ceito estabelecidos historicamente possibilitando uma maior interaccedilatildeo social entre as pessoas com deficiecircncia A avaliaccedilatildeo da aprendizagem pode contribuir no sentido de incentivar essa interaccedilatildeo progredindo da visatildeo cliacutenico-meacutedica para a concepccedilatildeo inclusiva considerando natildeo somente os limites demarcados pela deficiecircncia mas principalmente as poten-cialidades do indiviacuteduo

As avaliaccedilotildees da aprendizagem devem sempre conside-rar a situaccedilatildeo vivenciada pelo aluno com deficiecircncia para que

o professor possa propor atividades avaliativas adequadas e contextualizadas Cabe ao docente o papel de considerar a avaliaccedilatildeo tendo como base o curriacuteculo regular respeitando o caraacuteter processual da aprendizagem de modo a permitir alteraccedilotildees nas tomadas de decisatildeo As comparaccedilotildees entre os alunos devem ser evitadas mesmo que possuam deficiecircncia similar pois cada pessoa eacute uacutenica O estudante deve ser com-parado consigo mesmo com a evoluccedilatildeo de suas produccedilotildees e atitudes ao longo do seu desenvolvimento (BEYER 2010 FERNANDES 2010)

No que diz respeito agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alu-nos com deficiecircncia recomenda-se oficialmente I) mediaccedilotildees complementares oferecidas em salas de recursos ou similares para alunos com deficiecircncia em turmas comuns II) a presenccedila em sala de aula de inteacuterpretes da Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) para surdos III) o uso de proacuteteses auditivas sempre que necessaacuterias ou de lupas para alunos com visatildeo subnormal IV) o ensino da Libras para alunos surdos e para surdos-cegos das liacutenguas de sinais digitais tadoma2 e outras teacutecnicas V) o uso de computadores se houver e a acessibilidade a estes para todos os alunos VI) a participaccedilatildeo (frequecircncia e condiccedilotildees de apoio) de profissionais da Educaccedilatildeo Especial como especia-listas em meacutetodos e recursos especiacuteficos para ajudar a alunos professores e familiares VII) diversidade de materiais VIII) utilizaccedilatildeo pelo professor de variados recursos pedagoacutegicos IX) planos elaborados flexiacuteveis para atender agrave diversidade do alunado X) respeito aos ritmos diferenciados de aprendi-

2 ldquoOs surdos-cegos possuem diversas formas para se comunicar com as outras pessoas A LIBRAS Liacutengua Brasileira de Sinais desenvolvida para a educaccedilatildeo dos portadores de deficiecircncia auditiva pode ser adaptada aos surdos-cegos utilizando-se o tato Colocando a matildeo sobre a boca e o pescoccedilo de um inteacuterprete o portador de surdo-cegueira pode sentir a vibraccedilatildeo de sua voz e entender o que estaacute sendo dito esse meacutetodo de comunicaccedilatildeo eacute chamado de tadomardquo (USP 2012)

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zagem dos alunos XI) ajuda individualizada a determinados aprendizes conforme suas necessidades pedagoacutegicas XII) utilizaccedilatildeo de linguagens e coacutedigos aplicaacuteveis para estudantes que apresentem dificuldades de comunicaccedilatildeo e sinalizaccedilatildeo di-ferenciadas dos demais alunos XIII) avaliaccedilatildeo por meio de vaacute-rias tarefas em diferentes contextos XIV) avaliaccedilatildeo da praacutetica docente pelos educandos XV) a participaccedilatildeo dos alunos em processos autoavaliativos (BRASIL 2006)

A universidade precisa acolher e cumprir o objetivo de educar os alunos com deficiecircncia adaptando-se agraves suas pe-culiaridades no campo da aprendizagem Deve-se lutar por-tanto para a conquista de uma nova cultura avaliativa mais democraacutetica para com a diversidade cultural e com as neces-sidades individuais presentes nas instituiccedilotildees de ensino apta a estimular as possibilidades do aluno em seu processo de apropriaccedilatildeo dos conhecimentos A avaliaccedilatildeo realizada nesses moldes torna-se inclusiva (FERNANDES VIANA 2009)

Metodologia O objetivo geral deste estudo consistiu em investigar a

praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem realizada junto aos alu-nos com deficiecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do Centro de Tecnologia de uma Instituiccedilatildeo Federal de Ensino Superior (IFES) da rede puacuteblica federal de ensino na cidade de Fortaleza-Cearaacute Especificamente ob-jetivou I) conhecer as dificuldades vivenciadas por alunos professores e coordenadores da IFES na avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem de alunos com deficiecircncia II) identificar as condiccedilotildees de acessibilidade referentes agraves praacuteticas avaliativas III) reunir contribuiccedilotildees de alunos professores e coordenadores da IFES para uma praacutetica inclusiva de avaliaccedilatildeo de aprendizagem

Para esse propoacutesito foi efetuada uma investigaccedilatildeo de natureza qualitativa na forma de um estudo de caso Os ins-trumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevis-ta semiestruturada e o questionaacuterio misto Foi realizada uma anaacutelise de conteuacutedo dos dados coletados As amostras foram constituiacutedas por sete alunos com deficiecircncia sete professores indicados pelos proacuteprios alunos e quatro coordenadores per-fazendo um total de 18 sujeitos investigados

Na Tabela 1 eacute caracterizada a amostra dos alunos inves-tigados Foram encontrados trecircs tipos de deficiecircncia auditi-va visual e motora

TABELA 1 ndash Distribuiccedilatildeo dos Tipos de Deficiecircncias dos Alunos

Frequecircncia Percentual PercentualAcumulado

Vaacutelido Auditiva 1 143 143

Visual 2 286 857

Motora 4 571 1000

Total 7 1000Fonte Pesquisa aplicada

Os cursos atendidos na pesquisa foram graduaccedilatildeo em Computaccedilatildeo Engenharia Mecacircnica Teleinformaacutetica e curso de mestrado em Quiacutemica A escolha dos alunos de Ciecircncias Exatas tornou viaacutevel a pesquisa visto que a IFES apresentava registros que possibilitaram a sua identificaccedilatildeo e o respectivo contato

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Anaacutelise dos Dados

Perfil de formaccedilatildeo dos entrevistados docentes e coordenadores

Sobre o niacutevel de instruccedilatildeo dos sete docentes consulta-dos seis apresentam doutorado e um possui poacutes-doutorado Todos os professores e coordenadores investigados apresen-tam portanto niacutevel de qualificaccedilatildeo profissional bastante ele-vado A realidade encontrada na instituiccedilatildeo pesquisada estaacute em consonacircncia com o que afirma Hoffmann (2005) sobre a realidade das IFES brasileiras em que se observa a existecircn-cia de educadores com bastante competecircncia em sua aacuterea de ensino A autora assinala contudo que esse elevado niacutevel de formaccedilatildeo natildeo eacute necessariamente acompanhado de uma base pedagoacutegica apropriada que favoreceria uma melhor atuaccedilatildeo docente no processo de ensino-aprendizagem especialmente no que se refere agrave avaliaccedilatildeo

Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia

De acordo com os dados obtidos no questionaacuterio para a maioria dos professores a avaliaccedilatildeo da aprendizagem do alu-no com deficiecircncia deve apresentar as seguintes caracteriacutesti-cas I) ser igual para todos alunos com e sem deficiecircncia II) abordar o mesmo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade III) apresentar adaptaccedilotildees conforme a deficiecircn-cia IV) natildeo dispor de um tempo maior para o aluno com defi-ciecircncia e V) acontecer em sala de aula

Sobre a avaliaccedilatildeo da aprendizagem da pessoa com defici-ecircncia observou-se que a maioria dos professores (seis) advoga uma avaliaccedilatildeo igual para todos os alunos com ou sem defici-ecircncia A mesma quantidade de docentes se apresenta favoraacutevel

em relaccedilatildeo agrave abordagem do mesmo conteuacutedo com o mesmo niacute-vel de dificuldade para todos os alunos No que concerne agrave ava-liaccedilatildeo com adaptaccedilotildees conforme a deficiecircncia cinco professo-res se mostraram favoraacuteveis Em relaccedilatildeo agrave necessidade de um maior tempo para a realizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo a maioria (cinco) mostrou-se desfavoraacutevel Por fim a maior parte acredita que o aluno com deficiecircncia deve ser avaliado em sala de aula (seis)

A maior parte dos professores pelos dados expostos entende a avaliaccedilatildeo do aluno com deficiecircncia em consonacircncia com o que eacute proposto pela literatura especializada em que de-vem ser realizadas adequaccedilotildees nos instrumentos avaliativos conforme a deficiecircncia apresentada pelo aluno com o mes-mo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade em sala de aula junto aos demais alunos Todavia no que se refere agrave concessatildeo de um maior periacuteodo de tempo para a re-alizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo a maioria dos professores acha natildeo ser necessaacuteria provavelmente por falta de conhecimento sobre como lidar com o aluno com deficiecircncia em suas praacuteticas de ensino e avaliaccedilatildeo O direito a mais tempo para a avaliaccedilatildeo da aprendizagem eacute assegurado por lei (BEYER 2010 BRASIL 2006 FERNANDES 2010 FERNANDES VIANA 2009)

Sobre as demandas apresentadas pelo aluno com de-ficiecircncia em cursos de Ciecircncias Exatas os coordenadores declararam

Ateacute agora natildeo pelo menos ateacute o tempo que estou aqui natildeo posso dizer se antes isso acontecia Teve um caso de uns pais que vieram reclamar da parte da acessi-bilidade aqui no departamento (C1)Isso aiacute a maioria das vezes o aluno resolve com o pro-fessor A nossa demanda e o nosso alunado que entra com algum tipo de deficiecircncia eacute pouco e agraves vezes natildeo temos conhecimento (C2)

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Bom noacutes aqui temos poucos nesse periacuteodo que estou aqui nunca recebi nenhuma solicitaccedilatildeo especial Tive um aluno no comeccedilo do curso que tem deficiecircncia fiacutesica dificuldade de locomoccedilatildeo ele se vira ele anda normal-mente tem muletas e tudo Mas ele nunca chegou pra noacutes para questionar fazer algum tipo de solicitaccedilatildeo pra isso natildeo Natildeo sei se ele tem algum tipo de retraccedilatildeo pra fazer isso Tambeacutem aqui estaacute tudo em obra Mas ateacute hoje natildeo teve nenhum solicitaccedilatildeo em especial natildeo (C3)Natildeo Ateacute agora que eu saiba nenhum veio natildeo (C4)

Constata-se por conseguinte um desconhecimento por parte dos coordenadores das necessidades educacionais desse alunado Percebe-se igualmente a concepccedilatildeo de que esse aluno eacute de responsabilidade do professor e natildeo do co-ordenador A porcentagem reduzida quando comparada ao restante da populaccedilatildeo do curso aparece como justificativa para a falta de mais accedilotildees da coordenaccedilatildeo As relaccedilotildees entre coordenador e aluno constituem um fator importante para a motivaccedilatildeo discente bem como para a busca de novos elemen-tos para a inclusatildeo dos alunos com deficiecircncia Aleacutem disso na ausecircncia de um bom relacionamento a sua inclusatildeo educacio-nal eacute prejudicada (BENEVIDES 2011)

No que diz respeito a uma avaliaccedilatildeo diferenciada os es-tudantes esclarecem

Natildeo Eles natildeo percebem isso os professores natildeo dife-renciam natildeo se importam Mas acho que teve uma vez uma de laboratoacuterio que a gente tem umas disci-plinas praacuteticas era uma prova que teria um tempo por conta da substacircncia que demorava e eu precisava de um tempo a mais Geralmente em laboratoacuterio eu demoro mais aiacute ela considerou permitiu que eu pas-sasse um tempo a mais Mas foi soacute essa vez mesmo (A1)Eacute exatamente como eu citei natildeo Eu acho que no geral satildeo as mesmas condiccedilotildees de tempo as mesmas con-

diccedilotildees de textos Enfim as mesmas condiccedilotildees que satildeo impostas pras pessoas consideradas lsquonormaisrsquo eram impostas pra mim tambeacutem as mesmas condiccedilotildees (A2)Natildeo Normal mesmo Mesmo horaacuterio mesmo tempo mudou nada natildeo (A3)

Natildeo De jeito nenhum nunca Natildeo perguntam nada os professores nem percebem (A4)

Natildeo Nunca ouvi falar nisso aqui na universidade Nem tempo e nem espaccedilo tudo igual para um aluno lsquonormalrsquo (A5)

A prova eacute a mesma Com relaccedilatildeo agrave acessibilidade eacute que eacute difiacutecil mesmo porque tem professor que natildeo atende ao pedido muda de sala pra uma mais confortaacutevel pros outros alunos E como eu natildeo posso subir entatildeo tenho que ficar soacute em uma sala aqui em baixo sem poder ter nenhum duacutevida (A6)

Alguns professores chegaram a imprimir provas com letras maiores pra mim a maioria natildeo quer ter esse trabalho Quando natildeo fazem eu me esforccedilo pra fazer a prova forccedilo mais a vista eacute cansativo mas eu jaacute acostumei sei fazer assim mesmo Mas se fosse maior seria melhor menos cansativo Agora com relaccedilatildeo a tempo natildeo eles natildeo datildeo (A7)

Os discursos dos estudantes revelam que qualquer di-ferenciaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo de modo a atender agraves necessidades educacionais do aluno com deficiecircncia depende sobretudo da boa vontade do professor Os educadores ignoram por-tanto a legislaccedilatildeo nacional para esse alunado que assegu-ra a adaptaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo bem como a concessatildeo de um maior periacuteodo de tempo para sua realizaccedilatildeo (BRASIL 2006 FERNANDES 2010)

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Dificuldades vivenciadas nas praacuteticas avaliativas para o aluno com deficiecircncia

Sobre a dificuldade que o professor encontra para ava-

liar o aluno com deficiecircncia no Ensino Superior a maioria (cinco) declarou natildeo encontrar dificuldades justificando que esse estudante eacute tratado como os demais alunos da turma Apenas dois professores consultados identificaram a necessi-dade de modificar a didaacutetica das aulas ou a forma de avaliaccedilatildeo em virtude da deficiecircncia apresentada pelo aluno

Os coordenadores dos cursos tambeacutem se posicionaram acerca das dificuldades encontradas em relaccedilatildeo ao aluno com deficiecircncia no Ensino Superior

[] fica estranho vocecirc conversar com o aluno sendo que vocecirc natildeo tem soluccedilatildeo para o problema dele O que a gente busca eacute uma compreensatildeo mas isso natildeo eacute soluccedilatildeo Os alunos quando tecircm deficiecircncia o profes-sor desce e vai falar com eles no teacuterreo Mas isso natildeo eacute soluccedilatildeo eacute um paliativo e corre o risco de criar um comodismo de achar que estaacute resolvendo o problema e natildeo precisa (C1)

Bom a gente tem que ver Vai depender da deficiecircncia do aluno Se for deficiecircncia visual eacute ateacute complicado o curso pra quem tem esse problema Tem curso que o aluno com deficiecircncia visual consegue ter um desem-penho mas na Quiacutemica que tem muita coisa praacutetica de laboratoacuterio isso aiacute eacute uma coisa criacutetica que a coor-denaccedilatildeo pode orientar o aluno na sua escolha do curso vendo suas habilidades o que se sabe fazer (C2)

[] Natildeo estamos encontrando dificuldades porque natildeo estamos nos colocando a esse problema particularmen-te entendeu Natildeo estamos procurando dificuldades porque ainda natildeo estamos buscando o problema Talvez por ter uma necessidade pequena enfim (C3)

Natildeo Natildeo tem dificuldade natildeo tem necessidade natildeo houve necessidade (C4)

A indiferenccedila da coordenaccedilatildeo a escassez de acessibi-lidade fiacutesica e principalmente a falta de uma formaccedilatildeo ade-quada para lidar com alunos com deficiecircncia apresentou-se como elemento comum de atitudes apresentadas pelos coor-denadores Na situaccedilatildeo encontrada na instituiccedilatildeo investigada percebemos a predominacircncia do paradigma socioloacutegico da deficiecircncia em que as reaccedilotildees do grupo podem facilitar pela empatia ou prejudicar pelo preconceito ou incompreensatildeo o desenvolvimento global do indiviacuteduo E a atitude empaacutetica e compreensiva constitui uma exceccedilatildeo restrita a uma mino-ria de professores que trabalha diretamente com esses alunos (BEYER 2005)

Os alunos por sua vez relatam as suas proacuteprias dificul-dades no processo avaliativo

As dificuldades das mateacuterias do retorno das avalia-ccedilotildees que precisava melhorar com certa urgecircncia do preconceito dos professores e falta de atenccedilatildeo dos coordenadores tambeacutem com relaccedilatildeo aos acessos para as salas de aulas laboratoacuterios (A1)

Eacute uma coisa que eu volto a bater na mesma tecla dizer a mesma coisa Eacute que alguns passos das questotildees quan-do eu simplesmente natildeo sabia fazer porque natildeo tinha conseguido acompanhar em sala natildeo tinha conseguido enxergar na hora que o professor explicou Haacute uma espeacutecie de esquecimento uma amneacutesia nos professores que eles quando eu peccedilo comeccedilam a escrever bem mas logo depois voltam a escrever pequeno novamente E eu de tanto falar e muitas vezes com o mesmo profes-sor eu me sinto sinceramente me sinto constrangido e agraves vezes eu natildeo falo mais Eu me sinto constrangido e agraves vezes meus pais falam pra mim que eu natildeo posso fazer isso Mas eu ouvi desaforos algumas coisas ruins

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palavras ruins e isso faz com que eu me sinta constran-gido em pedir de novo Alguns tecircm atenccedilatildeo fazem o possiacutevel mas justificam por causa da infraestrutura da sala Conteuacutedo extenso quando eu ia copiar jaacute ti-nha sido apagado infelizmente A coordenaccedilatildeo ajuda pouco ateacute a sala da coordenaccedilatildeo eacute no andar superior os professores natildeo escutam e natildeo tem acessibilidade nenhuma aqui nada Estamos esquecidos (A2)

O que complica eacute a falta de retorno correccedilotildees notas baixas excesso de conteuacutedo o acesso aqui eacute horriacutevel e se chegar atrasado por isso pelo acesso lsquojaacute erarsquo Eles aqui natildeo entendem de dificuldades Eu jaacute estou acostumando (A3)

Tempo geralmente o tempo mesmo que coloque uma questatildeo mas agraves vezes essa questatildeo pode levar seis horas pra fazer Eles podem estabelecer um prazo de 1620h as 1820h pronto nem mais nem menos Os professores natildeo se interessam pras dificuldades nem conhecem a gente Isso dificulta (A4)

Esse caso de fazer prova em local diferente de ter que subir escadas e eu natildeo podendo natildeo tenho como subir natildeo existem rampas pro andar de cima O professor querer mudar de sala pra fazer a prova e eu ficar longe da turma Tudo isso pra ser mais confortaacutevel pra eles uma sala melhor e eu aqui embaixo sozinho sem ter com quem tirar duacutevidas e muitas vezes ficar com o celular pra falar com algum colega pra ele passar ao professor pra eu tirar duacutevidas e natildeo me prejudicar Acontece de eu cair e precisar de ajuda dos colegas tambeacutem pra sentar e levantar A estrutura aqui eacute ruim mesmo (A6)

O depoimento dos alunos remete sobretudo a uma criacute-tica do exame Haacute referecircncias a uma relaccedilatildeo de poder em que os meacutetodos de ensino e de avaliaccedilatildeo natildeo podem ser mudados com a falta de adaptaccedilotildees dos instrumentos de avaliaccedilatildeo para as necessidades educacionais especiacuteficas de cada deficiecircncia direito garantido por lei (BENEVIDES 2011 BEYER 2010

FERNANDES 2010 FERNANDES VIANA 2009 LUCKESI 2001 2005 2011)

Os dados oferecidos pelos alunos consultados revelam a inexistecircncia de discussotildees dos aspectos positivos e negati-vos na devoluccedilatildeo dos instrumentos pois os professores de modo geral natildeo devolvem a avaliaccedilatildeo tampouco a comen-tam configurando uma praacutetica avaliativa em que se enfatiza a obtenccedilatildeo de notas natildeo dando oportunidade agrave construccedilatildeo de novos conhecimentos O momento de devoluccedilatildeo dos instru-mentos constitui um momento de aprendizado para o aluno permitindo ao professor observar e investigar como o alu-no se posiciona diante do processo de ensino-aprendizagem (HOFFMANN 2005 LUCKESI 2001 2005 2011)

Essa perspectiva se distancia da avaliaccedilatildeo em sua con-cepccedilatildeo formativa visto que o instrumento avaliativo natildeo eacute usado pelos professores como recurso de informaccedilatildeo nem pode servir como um recurso para reformulaccedilotildees dos meacuteto-dos de ensino e avaliaccedilatildeo Cumpre mencionar igualmente que no Ensino Superior a avaliaccedilatildeo deve ter o compromisso com a reconstruccedilatildeo do conhecimento e a formaccedilatildeo para cida-dania (DEMO 2004 HADJI 2001 LUCKESI 2005 2011)

Contribuiccedilotildees para uma praacutetica avaliativa inclusiva

Sobre as sugestotildees para melhoria da praacutetica avaliativa cinco professores identificaram a necessidade de uma forma-ccedilatildeo sobre a temaacutetica e dois sugeriram a realizaccedilatildeo de seminaacute-rios isolados ou no curso que a instituiccedilatildeo de Ensino Superior pesquisada oferece por ocasiatildeo do ingresso do professor na instituiccedilatildeo

Os docentes indicaram a importacircncia de uma forma-ccedilatildeo baacutesica eou continuada dos profissionais envolvidos para

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a concretizaccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo adequada a esse alunado Identificar os alunos suas necessidades e suas singularidades satildeo tambeacutem aspectos importantes assim como a promoccedilatildeo de espaccedilos para o debate sobre avaliaccedilatildeo e inclusatildeo revelando que a falta de preparo se mostra o principal obstaacuteculo para a concretizaccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo inclusiva (BENEVIDES 2011)

Os coordenadores tambeacutem expressaram suas sugestotildees para esse alunado

Os preacutedios novos sem acesso com os mesmos proble-mas sem estrutura A universidade natildeo tem priorida-des soacute obstaacuteculos para trabalhar com as deficiecircncias O uacutenico auditoacuterio eacute no andar de cima E tem alunos de extensatildeo [que participam de projetos de extensatildeo da universidade] que tecircm deficiecircncia que natildeo conseguem subir pra ter orientaccedilatildeo com o professor e natildeo tecircm essa orientaccedilatildeo pois o professor natildeo desce e o aluno com problemas motores natildeo sobe Deve-se mudar isso (C1)

Deve melhorar a acessibilidade Natildeo sei nem como eacute que faz isso soacute estou pensando alto aqui Seria bom atualizar o sistema pra buscar na coordenaccedilatildeo alunos com deficiecircncia pois acabei de ver que eu natildeo tenho acesso nenhum Tambeacutem ajudar o aluno com defici-ecircncia a ser encaminhado para um curso especiacutefico jaacute que por exemplo como um aluno cego iraacute estudar Quiacutemica Laboratoacuterio Impossiacutevel (C2)

Eu natildeo sei a gente tem primeiro que conhecer a primeira sugestatildeo eacute essa Tem que pegar o pessoal do primeiro ano o pessoal que entra e fazer esse mapeamento um mapeamento retroativo pra pegar o pessoal que jaacute estaacute na universidade os alunos que jaacute fazem parte do corpo discente e mapear Se jaacute existe esse mapeamento eu natildeo conheccedilo talvez a univer-sidade deva conhecer e tem que repassar fazer com que a informaccedilatildeo chegue ateacute noacutes Porque se haacute essa informaccedilatildeo e a gente natildeo sabe que existe tem uma falta de comunicaccedilatildeo que deve ser superada Entatildeo

deve-se conhecer e se jaacute conhece fazer todo mundo conhecer e mapear a quem interessar as coordenaccedilotildees os departamentos Eu acho que esse eacute o ponto (C3)

Eu acho que deveria ter um levantamento jaacute na entrada do SISU [Sistema de Seleccedilatildeo Unificada] e ali ele ser cadastrado pra universidade e ele ter um encaminha-mento para um curso bem especiacutefico A partir disso o curso ser informado ser preparado pra isso ser dis-cutido o que seraacute necessaacuterio ser feito por aquele aluno e uma vez isso determinado a gente tentar resolver Eu penso que funcionaria legal assim (C4)

Os coordenadores relataram que deveria haver mais in-vestimentos estruturais com relaccedilatildeo agrave acessibilidade por par-te da instituiccedilatildeo com a adequaccedilatildeo dos espaccedilos fiacutesicos Assi-nalaram da mesma forma a necessidade de identificaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia visto que a ausecircncia de informaccedilotildees sobre onde estatildeo e o que curso fazem esses alunos na impossi-bilita o atendimento educacional adequado

Os alunos com deficiecircncia tambeacutem expuseram suas sugestotildees

Acho que as primeiras vezes que me senti discriminado foi aqui Que os professores natildeo faccedilam preacute-julgamen-tos como trabalhar em laboratoacuterios Muitos falaram que eu natildeo podia mas passei em seleccedilatildeo e natildeo fiquei por conta da minha deficiecircncia fiacutesica Isso me faz questionar sobre minhas capacidades e se realmente eu continuaria a fazer Quiacutemica se faria Quiacutemica Tem que acabar com os preconceitos com as pessoas diferentes como um professor meu que disse na aula dele na minha presenccedila que as pessoas poderiam olhar com quem iriam se relacionar se a pessoas tecircm algum aleijado hemofiacutelico ou homossexual na famiacutelia pra natildeo se relacionarem pra que natildeo nasccedila mais gente assim [] Tambeacutem com relaccedilatildeo agrave acessibilidade pois a aacuterea que escolhi no mestrado o laboratoacuterio natildeo tem

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acesso com relaccedilatildeo agrave estrutura Eu faccedilo o trabalho soacute de escrever em casa outros alunos que fizessem a parte experimental porque o laboratoacuterio daqui pra chegar laacute eacute um caminho de terra de pedra Ultimamente teve umas mudanccedilas mas estaacute no segundo andar que eacute mesmo que nada Aiacute acabo desenvolvendo um trabalho soacute escrevendo mesmo mas eacute difiacutecil porque eacute diferente vocecirc acompanhar um trabalho assim soacute de boca e vocecirc estar no laboratoacuterio realmente vendo o que estaacute acontecendo Sinto falta Ateacute penso que chato Seraacute que natildeo devia ter escolhido outra aacuterea Mas eu gosto bastante e queria estar em laboratoacuterio Enfim foram situaccedilotildees muito chatas que natildeo deveriam acontecer na universidade pois os professores e coordenadores estatildeo utilizando um espaccedilo que era pra educar e natildeo para deseducar Natildeo era pra ensinar preconceitos para as pessoas discriminaccedilatildeo e o que eu acho pior eacute usar o espaccedilo da sala de aula pra isso um cargo puacuteblico pra isso Eacute um absurdo (A1)

Primeiramente um dos principais passos deveria ser o professor ele conhecer a sua turma Natildeo saber de tudo antes mas que tivesse certo bom senso quando o aluno tem deficiecircncia Ele natildeo julgar essa deficiecircncia mesmo que seja baixa visatildeo ou pouca deficiecircncia mo-tora O professor natildeo deve arredondar pra menos o problema sem tomar cuidado Tomar cuidado em natildeo generalizar Mas eacute o que eu vejo na universidade eacute natildeo prestarem a atenccedilatildeo nas necessidades dos seus alunos [] No mais eacute isso atentar para as reais necessidades das pessoas (A2)

Tirar esses batentes das salas Os professores me deixam ficar em qualquer lugar da sala fico onde daacute muitas vezes perto da porta e acaba atrapalhando a entrada e agraves vezes natildeo escuto direito Pra mim (sic) entrar e sair da sala preciso que abram a porta Jaacute me falavam dessas dificuldades antes de eu entrar aqui mas com a ajuda dos amigos neacute Que me levam pros cantos Aiacute como tem batentes nas salas eles levantam

os amigos ajudam muito nisso no deslocamento Mas vivo de precisar da ajuda dos amigos pois estar aqui na universidade eacute muito difiacutecil A universidade deveria nos ajudar e natildeo excluir (A3)

A avaliaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave minha deficiecircncia seria falar alto e explicado pra eu escutar na explicaccedilatildeo ser mais devagar e clara Porque se o professor fala baixo eu fico com receio de perguntar de novo Per-guntar e o pessoal zoar Tem um professor ou soacute 1 que eacute preocupado com a aprendizagem do aluno o resto eacute indiferente Agraves vezes estamos presente em sala e levamos falta Acho que o professor dever escolher ser professor natildeo pra se vingar do que fizeram ou do que ele passou porque ele tem que escolher pra repassar o conhecimento O conhecimento natildeo deve ser restrito ele deve ser partilhado Partilhar e natildeo restringir e natildeo exigir o que ele restringiu (A4)

Fazer provas trabalhos junto com a turma sem que eu fique soacute Antes de o professor marcar locais de aulas de provas eles conversarem com a gente pra saber se estaacute tudo bem se a gente pode fazer ou entatildeo ele fornecer locais possiacuteveis pra gente ter acesso e natildeo soacute local que decirc pra toda a turma mas tambeacutem pra gente ir Outra questatildeo eacute de acessar os andares superiores um elevador seria essencial pra isso pois a cada ano estaacute se passando e as pessoas com deficiecircncia estatildeo ingressando na universidade com frequecircncia Entatildeo jaacute estaacute mais que na hora de se fazer isso Sou bolsista de extensatildeo mas tenho dificuldades de me encontrar com o orientador pois a sala do orientador fica no andar de cima no qual natildeo tenho acesso e o orientador natildeo desce e natildeo facilita o meu trabalho como bolsista Injusto neacute (A6)

Quanto agraves avaliaccedilotildees a questatildeo de aumentar a letra o tempo O resto eu estou acostumado Aqui falta tudo natildeo tem acesso a nada tudo eacute bem difiacutecil as pessoas natildeo querem conhecer problemas Eles deveriam ter

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE

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mais atenccedilatildeo e menos descaso com o aluno com rela-ccedilatildeo a acesso avaliaccedilotildees Conhecer que na sala nem todo mundo eacute igual e sermos respeitados por isso (A7)

Os alunos entrevistados sugeriram a necessidade de sua proacutepria identificaccedilatildeo e de seu acompanhamento na ins-tituiccedilatildeo ndash visto que a ausecircncia de informaccedilotildees sobre onde es-tatildeo e o que fazem dificulta a sua inclusatildeo educacional Que o professor possa com essas informaccedilotildees planejar-se sabendo das necessidades especiacuteficas do aluno ou pelo menos que procure conversar com os alunos As dificuldades de acessi-bilidade fiacutesica tambeacutem aparecem no discurso dos estudantes geralmente natildeo tecircm acesso a todas as dependecircncias dos preacute-dios da universidade A indiferenccedila e o preconceito de alguns professores causam grandes impactos na aprendizagem do aluno desmotivando-os levando-os a questionarem a esco-lha do curso e ameaccedilando a sua permanecircncia na universida-de Em relaccedilatildeo ao preconceito foi expresso que o professor na condiccedilatildeo de educador natildeo deveria possuir preconceito e sequer repassaacute-los em sala de aula mesmo que de forma natildeo intencional No paradigma socioloacutegico Beyer (2010) escla-rece o quanto o preconceito eacute prejudicial agrave inclusatildeo social e educacional dos alunos com deficiecircncia de maneira geral e na avaliaccedilatildeo de sua aprendizagem especificamente

Conclusatildeo

Uma avaliaccedilatildeo da aprendizagem inclusiva para o aluno com deficiecircncia tem se mostrado historicamente um desafio Mesmo nos dias atuais os atos avaliativos satildeo fortemente in-fluenciados pelas antigas praacuteticas examinativas que apresen-tam dificuldade expressiva em se desvencilharem de elemen-tos como a medida a comparaccedilatildeo e a verificaccedilatildeo estaacutetica do

desempenho dos aprendizes classificados em uma nota Essa forma de avaliar eacute prejudicial para todos os alunos mas em especial para o alunado com deficiecircncia excluiacutedo por causa da singularidade de suas necessidades educacionais (BEYER 2004 LIMA 2008 LUCKESI 2011 HOFFMANN 2005)

No discurso dos alunos as dificuldades identificadas no que se refere agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem refletiu a fal-ta de preparo dos docentes e coordenadores dos cursos para lidar com suas necessidades educacionais As dificuldades se aplicam a todos os estudantes que ainda satildeo avaliados nos moldes excludentes do exame mas o prejuiacutezo eacute ainda maior para o educando que apresenta algum tipo de deficiecircncia O resultado das avaliaccedilotildees natildeo eacute discutido com desperdiacutecio de um momento importante do processo de ensino-aprendi-zagem Aleacutem disso os alunos natildeo recebem os instrumentos ndash geralmente provas ndash o que fomenta a ideia de que natildeo haacute modificaccedilotildees ou inovaccedilotildees no instrumental de avaliaccedilatildeo com a possibilidade do mesmo instrumento ser utilizado repetida-mente nos semestres letivos seguintes

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem da forma que vem acon-tecendo na IFES pesquisada natildeo oferece as condiccedilotildees ne-cessaacuterias para o desenvolvimento do aluno com deficiecircncia As praacuteticas docentes encontradas na instituiccedilatildeo acabam por reproduzir a exclusatildeo presente na sociedade natildeo possibilitan-do a esse aluno uma participaccedilatildeo ativa e democraacutetica em sua vida acadecircmica Direitos garantidos por lei como adaptaccedilotildees na avaliaccedilatildeo e concessatildeo a um maior periacuteodo de tempo natildeo satildeo respeitados Diante de uma formaccedilatildeo docente precaacuteria para lidar com esses aprendizes uma melhor avaliaccedilatildeo se re-aliza atualmente sobretudo devido agrave boa vontade de alguns professores diante das peculiaridades de cada aluno (BEYER 2010 BRASIL 2006)

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE

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Referecircncias Bibliograacuteficas

DEMO P Universidade aprendizagem avaliaccedilatildeo horizon-tes reconstrutivos Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2005BENEVIDES M C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo de caso em uma instituiccedilatildeo de ensino superior da rede puacuteblica de Fortaleza-Cearaacute 2011 179f Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza-CE 2011BEYER H O Inclusatildeo e avaliaccedilatildeo na escola de alunos com necessidades especiais Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2010BRASIL Formaccedilatildeo continuada a distacircncia de professores para o atendimento educacional especializado deficiecircncia fiacutesica In SCHIRMER C R BROWNING N BERSCH R DE C R MACHADO R (Coords) Satildeo Paulo MECSEESP 2006FERNANDES T L G Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo documental das diretrizes oficiais 2010 152 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2010 FERNANDES T L G VIANA T V Alunos com Necessida-des Educacionais Especiais (NEEs) avaliar para o desenvol-vimento pleno de suas capacidades Estudos em Avaliaccedilatildeo Educacional Satildeo Paulo v 20 n 43 p 201-213 maioago 2009HADJI C Avaliaccedilatildeo desmistificada Porto Alegre Artmed 2001HOFFMANN J Pontos e contrapontos do pensar ao agir em avaliaccedilatildeo Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2005LUCKESI C C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem componente do ato pedagoacutegico Satildeo Paulo Cortez 2011______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem na escola reelaboran-do conceitos e recriando a praacutetica Salvador Malabares 2005

______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem escolar Satildeo Paulo Cortez 2001PERRENOUD P Avaliaccedilatildeo da excelecircncia agrave regulaccedilatildeo das aprendizagens ndash entre duas loacutegicas Porto Alegre Artmed 1999VIANNA H M Avaliaccedilatildeo educacional teoria planejamen-to modelos Satildeo Paulo IBRASA 2000VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

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CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ

Tereza Liduina Grigoacuterio FernandesLucimeire Alves Moura

Edson Silva SoaresTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

No decorrer da histoacuteria a educaccedilatildeo de crianccedilas com al-tas habilidades1 ou superdotaccedilatildeo sempre foi motivo de discus-satildeo em culturas de diferentes povos A literatura especializada faz breve referecircncia ao interesse por crianccedilas com capacida-des notaacuteveis em periacuteodos histoacutericos remotos aludindo inclu-sive agrave necessidade de segregaacute-las para conferir-lhes assistecircn-cia educacional apropriada Na concepccedilatildeo de Alencar (1986) Confuacutecio foi um dos primeiros filoacutesofos a interceder pela identificaccedilatildeo e atendimento dessas crianccedilas que costumavam ser encaminhadas agrave Corte para aprimorar suas capacidades literaacuterias No tratado A Repuacuteblica Platatildeo advogou o reconhe-cimento das crianccedilas de ouro que deveriam ser educadas nos campos da Filosofia e da Metafiacutesica bem como preparadas para postos de lideranccedila na sociedade o filoacutesofo se contrapocircs portanto agraves concepccedilotildees vigentes que pregavam uma lideran-ccedila de caraacuteter hereditaacuterio circunscrita agrave elite aristocraacutetica De

1 A expressatildeo altas habilidades surge como uma denominaccedilatildeo recente na literatura especializada a fim de reduzir preconceitos associados historicamente ao vocaacutebulo superdotado As ideias usuais decorrentes do termo superdotado favorecem muitos equiacutevocos como a noccedilatildeo de um ser humano perfeito com habilidades elevadas em todas as aacutereas do saber e do fazer e de que seria sobretudo predes-tinado ao sucesso acadecircmico e profissional em consequecircncia de sua inteligecircncia Assim sendo adotaremos a expressatildeo ldquoaltas habilidadesrdquo neste estudo que indica genericamente a presenccedila de uma ou mais habilidades elevadas ou acima da meacutedia populacional e descreve de modo fidedigno esse alunado (VIRGOLIM 2007)

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modo anaacutelogo no seacuteculo XVI Suleiman o Magniacutefico enviou emissaacuterios a todo o impeacuterio turco para identificar as crian-ccedilas mais inteligentes e as mais fortes presentes em quaisquer classes sociais a fim de instruiacute-las como artistas saacutebios ou chefes de guerra numa escola fundada para esse propoacutesito em Constantinopla (ALENCAR E S 1986 ANASTASI URBI-NA 2000 NOVAES 1979)

Embora jaacute se tenha avanccedilado consideravelmente no sentido de uma melhor compreensatildeo das caracteriacutesticas e ne-cessidades educacionais dessas pessoas observa-se na atua-lidade pouco investimento nesse potencial humano No Bra-sil sua identificaccedilatildeo ainda eacute escassa mesmo com a existecircncia de diretrizes oficiais do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) nesse sentido (BRASIL 2005 2007 2010)

As pessoas com altas habilidades tambeacutem compotildeem o alunado da Educaccedilatildeo Especial demonstrando capacidades elevadas em uma ou mais aacutereas do saber ou do fazer De acor-do com o pensamento de Mettrau (2000) representam um patrimocircnio social da humanidade que precisa ser reconheci-do e valorizado pela natureza das suas capacidades no acircmbito educacional e social Como agente responsaacutevel pelo desenvol-vimento desse potencial estaacute a escola aqui representada pela figura do professor que como facilitador desse processo deve acreditar na capacidade de todos os seus alunos e incentivaacute--los a desenvolver trabalhos significativos e relevantes tanto para a sua realizaccedilatildeo pessoal quanto para que ofereccedilam uma contribuiccedilatildeo social estimulando-os na produccedilatildeo do novo e do diferente

Assim o ambiente escolar deve se consolidar como um espaccedilo para a identificaccedilatildeo e progresso das diversas habilida-des humanas Cumpre considerar a multiplicidade de situa-ccedilotildees em que a inteligecircncia se manifesta segundo as necessi-

dades baacutesicas do estudante para seu aperfeiccediloamento como ser humano integral Nessa perspectiva podemos assinalar que tambeacutem a pessoa com deficiecircncia pode ser definida em funccedilatildeo de suas capacidades contribuindo de forma relevan-te para a evoluccedilatildeo do saber Beethoven por exemplo compocircs sua famosa Nona Sinfonia quando estava completamente sur-do (ALENCAR VIANA 2002 BRASIL 1999a 1999b)

Diante do exposto este trabalho objetiva de modo ge-ral identificar alunos surdos com altas habilidades no Ensino Fundamental atraveacutes de uma avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutes-tica realizada com o auxiacutelio do professor Constitui dessa maneira um meacutetodo de avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica de altas habilidades em pessoas com surdez Visto que o profes-sor eacute o profissional que participa mais sistematicamente do cotidiano dos seus alunos apresenta melhores condiccedilotildees de reconhecer suas caracteriacutesticas pessoais e seus desempenhos comparando-os com o esperado para a capacidade de reali-zaccedilatildeo de sua faixa etaacuteria Assim sendo pode colaborar ativa-mente na identificaccedilatildeo desse alunado (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Cumpre mencionar que a estrateacutegia de observaccedilatildeo dirigida para identificar altas habilidades com o auxiacutelio do professor apresenta eficaacutecia estimada em 91 e constitui um procedimento mais adequado ao estaacutegio inicial da identifica-ccedilatildeo com a seleccedilatildeo de um primeiro grupo de alunos em que se encontram os que demonstram altas habilidades Faz-se necessaacuteria uma avaliaccedilatildeo posterior agrave observaccedilatildeo do profes-sor para identificar de modo mais preciso os aprendizes com altas habilidades (GUENTHER 2000 VIANA 2005)

A importacircncia deste estudo se justifica como uma al-ternativa ao reconhecimento tradicional de altas habilidades cujos testes psicomeacutetricos com resultados em Quociente de

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Inteligecircncia (QI)2 aleacutem de onerosos satildeo de uso exclusivo do psicoacutelogo e apresentam conteuacutedo restrito abordando apenas as convencionais aacutereas acadecircmicas da loacutegico-matemaacutetica e linguagem verbal A investigaccedilatildeo eacute relevante da mesma for-ma pelo fato de ampliar o instrumental de avaliaccedilatildeo diagnoacutes-tica de altas habilidades para o alunado com algum tipo de deficiecircncia no caso a surdez A pessoa com deficiecircncia passa a ser vista assim sob a perspectiva de suas capacidades a partir de uma visatildeo multidimensional das potencialidades do indiviacuteduo ao inveacutes de ser definida apenas em funccedilatildeo do deacutefi-cit que porventura apresente como ocorre tradicionalmente

Para Aleacutem da Sala de Aula Altas Habilidades em Muacuteltiplas Dimensotildees

A concepccedilatildeo de altas habilidades tem sido acompanha-da de amplas discussotildees em muitos paiacuteses envolvendo opini-otildees e teorias divergentes O proacuteprio conceito de modo geral tem evoluiacutedo de uma concepccedilatildeo unidimensional centrada em habilidades acadecircmicas para uma compreensatildeo multidimen-sional voltada para a totalidade do indiviacuteduo e para as rela-ccedilotildees que estabelece com o ambiente fiacutesico e social As pessoas com altas habilidades correspondem a uma proporccedilatildeo de 3 a 5 da populaccedilatildeo mundial presente em homens e mulheres de todas as classes sociais Demonstram uma ou mais capa-cidades elevadas acima da meacutedia populacional (ALENCAR E S 2000 BRASIL 1995 1999a 2005 GUENTHER 2000 NOVAES 1979 SABATELLA 2008 VIANA 2003 2004 WINNER 1998)

2 O QI eacute atualmente criticado por se ater a aspectos verbais e loacutegico-matemaacuteticos e por vincular a inteligecircncia agrave hereditariedade advogando uma concepccedilatildeo inatista das capacidades Nos dias atuais o QI eacute considerado como um modo de predizer o desempenho acadecircmico mas natildeo a inteligecircncia de forma geral (ANASTASI URBINA 2000)

O termo superdotado tem sido recentemente questio-nado e rejeitado por especialistas da aacuterea pelo fato do prefixo ldquosuperrdquo sugerir a ideia de um desempenho extraordinaacuterio in-clusive sobre-humano Conveacutem assinalar igualmente a con-cepccedilatildeo inatista de inteligecircncia vinculada aos primoacuterdios da Psicometria e aos testes de QI de origem bioloacutegica ou geneacute-tica a inteligecircncia seria um dom jaacute presente no nascimento estaacutevel e que se desenvolveria independentemente das con-diccedilotildees ambientais o que de fato natildeo corresponde agrave realida-de Toda capacidade mesmo que seja comprovada uma base geneacutetica ou cerebral necessita de estimulaccedilatildeo ambiental para se desenvolver Em caso contraacuterio natildeo se desenvolve ficando estagnada (ALENCAR E S 2001)

A representaccedilatildeo de Renzulli (2004) psicoacutelogo da Uni-versidade de Connecticut eacute usualmente referida na atualida-de por transpor a identificaccedilatildeo restrita a aptidotildees cognitivas e conferir ecircnfase a variaacuteveis criativas e motivacionais Em seu Modelo dos trecircs aneacuteis pressupotildee que as altas habilidades re-sultam da interaccedilatildeo de trecircs caracteriacutesticas i) aptidatildeo acima da meacutedia ii) criatividade elevada e iii) envolvimento com a tare-fa A aptidatildeo acima da meacutedia deve permanecer relativamente estaacutevel e natildeo necessita ser excepcional a criatividade elevada se remete agrave flexibilidade e agrave originalidade do pensamento e o envolvimento com a tarefa remete a caracteriacutesticas de perso-nalidade como persistecircncia dedicaccedilatildeo esforccedilo e autoconfian-ccedila Cumpre mencionar que as altas habilidades residem exa-tamente no ponto de interseccedilatildeo desses trecircs elementos Duas caracteriacutesticas contudo costumam indicar pessoas talentosas

A proposta de Renzulli (2004) possui o meacuterito de reco-nhecer de maneira simples e praacutetica um largo contingente de sujeitos cujas capacidades referem expressotildees da inteligecircncia em qualquer aacuterea do saber ou do fazer Desse modo pessoas

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com altas habilidades em aacutereas tatildeo diversificadas como aca-decircmicas musicais e motoras podem ser rapidamente iden-tificadas por intermeacutedio da presenccedila de atributos criativos e motivacionais associados a um desempenho situado acima da meacutedia da populaccedilatildeo comparaacutevel

Na deacutecada de 1980 Howard Gardner da Universidade de Harvard apresentou uma nova concepccedilatildeo de inteligecircncia que repercutiu sobre o conceito de altas habilidades em con-traposiccedilatildeo agrave visatildeo unitaacuteria dos testes de QI3 Assim estabe-leceu o reconhecimento de que as habilidades humanas po-deriam se apresentar em muitas aacutereas e de que a inteligecircncia natildeo poderia ser medida somente atraveacutes de respostas sobre conteuacutedos escolares em testes convencionais Diante disso Gardner (1994 1995 2001) delimitou ateacute o momento oito tipos de inteligecircncia presentes no ser humano como capa-cidades universais I) linguiacutestica II) loacutegico-matemaacutetica III) espacial IV) corporal-cinesteacutesica V) musical VI) interpesso-al VII) intrapessoal e VIII) naturalista (CAMPBELL 2000 GARDNER 1994 1995 2001)

Com base nessa perspectiva amplia-se a noccedilatildeo de inte-ligecircncia que pode ser estendida para pessoas que apresentem limitaccedilotildees sensoriais e inclusive mentais Desse modo as inteligecircncias seriam potenciais que mesmo com base geneacute-tica ou cerebral podem ou natildeo ser ativados de acordo com os valores da cultura especiacutefica das oportunidades disponiacuteveis e das decisotildees pessoais tomadas por indiviacuteduos famiacutelias pro-fessores dentre outras pessoas proacuteximas (GARDNER 1994 1995 2001)

3 A Teoria das Inteligecircncias Muacuteltiplas (IM) foi elaborada como uma reaccedilatildeo agrave Psicometria e aos testes de QI Gardner (1994 1995 2001) trabalhou com sujeitos detentores de perfis cognitivos diferenciados como pacientes com lesatildeo cerebral e pessoas com altas habilidades

Eacute relativamente comum confundir a pessoa que apre-senta altas habilidades com o gecircnio o que interpotildee mais um obstaacuteculo agrave identificaccedilatildeo desse alunado Em relaccedilatildeo agrave pessoa com altas habilidades o gecircnio estaria em um patamar supe-rior O gecircnio com efeito eacute um indiviacuteduo que realmente apre-senta um desempenho iacutempar e extraordinaacuterio A incidecircncia estatiacutestica da genialidade eacute extremamente reduzida estima-da numa proporccedilatildeo de apenas uma pessoa para cada milhatildeo dificultando assim pesquisas com amostras amplas e anaacutelise quantitativa De modo geral procede-se a um estudo biograacute-fico de personalidades eminentes A obra do gecircnio eacute capaz de transcender limitaccedilotildees temporais e espaciais e permanecer atual sendo por conseguinte de natureza universal Einstein Freud Leonardo da Vinci e Santos Dumont satildeo exemplos de pessoas que demonstraram genialidade alterando de forma bastante original um determinado campo do saber (ALEN-CAR E S 2001 BRASIL 1999a 1999b 2007)

Conveacutem esclarecer as caracteriacutesticas do sujeito talento-so que se situaria por outro lado em um niacutevel abaixo da pes-soa com altas habilidades O talentoso se destaca da multidatildeo por meio de um desempenho significativo em algum setor das atividades humanas O termo descreve de modo geral uma habilidade especiacutefica como musical ou artiacutestica efetuada de maneira especialmente elaborada superior agrave capacidade de realizaccedilatildeo da maioria Instrumentos de medida natildeo satildeo ne-cessaacuterios para a identificaccedilatildeo de talentos visto que mesmo o cidadatildeo comum pode reconhececirc-lo atingido por um estado de admiraccedilatildeo e enlevo O talento eacute encontrado em cerca de 25 da populaccedilatildeo Altas habilidades genialidade e talento se distribuem portanto igualmente na populaccedilatildeo mundial manifestando-se em homens e mulheres em todo o mundo independentemente de credo ou classe social bem como em

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pessoas com algum tipo de deficiecircncia inclusive em casos de deficiecircncia intelectual4

O conceito contemporacircneo de altas habilidades eacute de natureza multidimensional posto remeter agrave compreensatildeo do sujeito em sua totalidade nas diversas relaccedilotildees que estabele-ce com o ambiente fiacutesico e social Importa referir a interde-pendecircncia de fatores geneacuteticos e ambientais na determinaccedilatildeo de altas habilidades A participaccedilatildeo geneacutetica das capacidades eacute observada na distribuiccedilatildeo igualitaacuteria das altas habilidades em toda a populaccedilatildeo mundial sem distinccedilotildees de gecircnero ou origem social A incidecircncia eacute tambeacutem constatada em pessoas com deficiecircncia Contudo a estimulaccedilatildeo ambiental fiacutesica e social eacute necessaacuteria para o desenvolvimento dessas capacida-des (ALENCAR M L 2003 BRASIL 1999a)

A evoluccedilatildeo histoacuterica do conceito de inteligecircncia apre-sentou por conseguinte repercussotildees diretas para a compre-ensatildeo das caracteriacutesticas e necessidades das pessoas com altas habilidades Acarretou da mesma maneira a evoluccedilatildeo simul-tacircnea dos procedimentos de identificaccedilatildeo desses sujeitos ini-cialmente restritos a instrumentos de medida intelectual com resultados organizados em QI Os processos atuais de reco-nhecimento de altas habilidades satildeo diversificados e incluem a percepccedilatildeo de pais e educadores Visto que o professor eacute o profissional que participa mais sistematicamente do cotidia-no dos seus alunos apresenta condiccedilotildees mais favoraacuteveis de reconhecer suas caracteriacutesticas pessoais e seus desempenhos comparando-os com o niacutevel esperado da capacidade de reali-

4 Pessoas com siacutendrome savant usualmente apresentam deficiecircncia intelectual autismo ou ambos A siacutendrome eacute seis vezes maior em homens do que em mulheres Costumam apresentar habilidades nos seguintes domiacutenios artes visuais (desenho realista) muacutesica e caacutelculo mental Alguns satildeo capazes de efetuar caacutelculos de calendaacuterio prevendo por exemplo o dia da semana em que determinada data cairaacute daqui a vaacuterios anos (WINNER 1998)

zaccedilatildeo de uma determinada faixa etaacuteria (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Capacidades Silentes O filoacutesofo grego Aristoacuteteles que viveu cerca de 366 a

C valorizava a inteligecircncia humana como uacutenica forma de al-canccedilar a verdade e acreditava que o pensamento era desenvol-vido por meio da linguagem e da fala Com base nesse posicio-namento afirmava que como o surdo natildeo pensa natildeo poderia ser considerado humano (GOLDFELD 1997)

Desde eacutepocas remotas discute-se sobre a inteligecircncia humana No caso especiacutefico da pessoa com surdez o fato de natildeo ouvir natildeo impossibilita que seu potencial seja identificado e reconhecido Confirmando esse pensamento Dupret (1998) afirma explicitamente que o fato de o surdo apresentar um deacute-ficit sensorial natildeo possuir percepccedilatildeo auditiva ou apresentaacute-la minimamente natildeo eacute suficiente para lhe conferir o pesado es-tigma do diagnoacutestico de incapaz

Sobre essa singularidade

A condiccedilatildeo moral a qual estabelece que somos todos iguais perante a lei natildeo deve prevalecer sobre a questatildeo eacutetica de que somos diferentes frente a noacutes mesmos Eacute esta diferenccedila que marca nossa individualidade e singu-laridade ao mesmo tempo em que se coloca como algo generalizaacutevel a todos Eacute ela que me permite entender o surdo como diferente do ouvinte pelo fato de natildeo poder escutar mas natildeo porque suas capacidades estatildeo previamente limitadas (DUPRET 1998 p 13)

Porque a pessoa com surdez natildeo tem acesso agrave liacutengua fa-lada natildeo significa que natildeo tenha outra ferramenta que possi-bilite uma forma efetiva de comunicaccedilatildeo Pontuamos assim que a dificuldade de expressatildeo da pessoa surda estaacute vinculada

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA202 d d 203

agrave acessibilidade da informaccedilatildeo e natildeo a um deacuteficit intelectu-al pois a nossa diferenccedila estaacute marcada pela individualidade e singularidade que eacute comum a todos os indiviacuteduos Isso faz com que a pessoa com surdez seja diferente do ouvinte pelo fato de apresentar um deacuteficit sensorial e natildeo porque seu po-tencial cognitivo seja por causa disso limitado

Na compreensatildeo de Skliar (2004 p 71)

Quando nos referimos ao potencial cognitivo do sur-do nos remetemos imediatamente agrave qualidade das inter-relaccedilotildees que este manteacutem com as pessoas que o rodeiam Por esta razatildeo acreditamos que as crianccedilas surdas embora sendo filhas de ouvintes devem ter acesso o mais cedo possiacutevel agrave liacutengua de sinais e conse-quentemente agrave comunidade surda

Eacute oportuno afirmar que com o domiacutenio da liacutengua de sinais o indiviacuteduo com surdez adquire novos conhecimentos e consequentemente seraacute capaz de atos criativos Eacute entatildeo con-tradita a proposta oralista5 que provoca no educador baixas expectativas pedagoacutegicas no que se refere ao processo de co-nhecimento de crianccedilas surdas justificando seu fracasso es-colar em funccedilatildeo do deacuteficit Desse modo confere agrave surdez a responsabilidade pelas dificuldades em seu desenvolvimento cognitivo e em sua educaccedilatildeo

A tradicional explicaccedilatildeo de atrasos cognitivos da pessoa com surdez se sustenta na relaccedilatildeo entre pensamento e lingua-gem desconsiderando-se fatores como os tipos de experiecircncias por ela vivenciados a qualidade das suas interaccedilotildees sociais a

5 O Oralismo ou filosofia oralista visa agrave integraccedilatildeo da crianccedila surda na comunidade de ouvintes dando-lhe condiccedilotildees de desenvolver a liacutengua oral (no caso do Brasil a liacutengua portuguesa) O Oralismo concebe a surdez como uma deficiecircncia que deve ser minimizada atraveacutes da estimulaccedilatildeo auditiva Essa estimulaccedilatildeo possibilitaria a aprendizagem da liacutengua portuguesa e levaria a crianccedila surda a integrar-se na comunidade ouvinte e a desenvolver sua personalidade como a de um ouvinte (LORENZINI 2004)

existecircncia da liacutengua de sinais na famiacutelia ou na comunidade ou-vinte da qual faz parte dentre outros fatores (SKLIAR 2004)

Dessa forma um instrumento de avaliaccedilatildeo educacio-nal diagnoacutestica baseado numa concepccedilatildeo multidimensional de inteligecircncia poderaacute contribuir de modo efetivo para o crescimento e autonomia de alunos com surdez muitas vezes ainda considerados pessoas com reduzida possibilidade de crescimento intelectual

Avaliaccedilatildeo Educacional Diagnoacutestica em Busca de Novas Trilhas

Como preacute-requisito das accedilotildees educacionais a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica de altas habilidades evita o desperdiacutecio do poten-cial humano imprescindiacutevel para os tempos atuais caracte-rizados por uma renovaccedilatildeo contiacutenua do conhecimento Para que o alunado surdo com altas habilidades seja corretamente identificado a escola desempenha um papel fundamental nes-se processo demonstrado pela importacircncia dos professores na observaccedilatildeo de indiacutecios de altas habilidades Cumpre men-cionar que ainda persistem dificuldades centrais na aborda-gem do diagnoacutestico de altas habilidades para pessoas surdas no que se refere agrave significativa escassez de instrumentos uti-lizados para essa identificaccedilatildeo (GUENTHER 2000 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Para a identificaccedilatildeo desses indiviacuteduos devem ser consi-derados os diversos traccedilos que determinam as altas habilidades em diferentes niacuteveis e intensidades Para o aluno com surdez a identificaccedilatildeo de altas habilidades valoriza suas capacidades e seu papel ativo como cidadatildeo para o progresso do saber

Diante da dificuldade da avaliaccedilatildeo diagnoacutestica de alu-nos com deficiecircncia que apresentam altas habilidades foi elaborada uma lista de indicadores para alunos com surdez

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA204 d d 205

por ocasiatildeo desse estudo Embora a literatura especializada mencione a presenccedila de altas habilidades e talentos em pes-soas com deficiecircncia os exemplos costumam se limitar agraves pessoas com siacutendrome savant Os estudos de identificaccedilatildeo e atendimento a pessoas com deficiecircncia que tambeacutem apresen-tam altas habilidades e talentos satildeo ainda pioneiros tanto em acircmbito nacional como internacional (NEGRINI 2004 UFC 2006 WINNER 1998)

Assim pretendemos oferecer aos professores que atu-am na aacuterea da surdez um instrumento simples e uacutetil aces-siacutevel para os profissionais da Educaccedilatildeo que pode constituir efetivamente um norte na identificaccedilatildeo desses alunos

Percurso Metodoloacutegico

Foi realizada uma pesquisa qualiquantitativa na forma de um estudo de caso no segundo semestre de 20056 numa Escola Especial para surdos na cidade de Fortaleza-Cearaacute Na ocasiatildeo foram observados 411 alunos surdos do 1ordm ao 8ordm ano do Ensino Fundamental

Foi elaborada uma lista de indicadores de altas habili-dades para o aluno surdo A lista inicial foi analisada por sete especialistas da aacuterea da surdez que propuseram algumas mo-dificaccedilotildees e foi entatildeo submetida agrave preacute-testagem A escala final foi aplicada pelo professor com o apoio de um dos pesquisa-dores e a presenccedila de um inteacuterprete visto que a metodolo-gia de ensino da escola citada se voltava para o bilinguismo7

6 Sugere-se que a aplicaccedilatildeo de instrumentos de observaccedilatildeo em sala de aula para a identificaccedilatildeo de altas habilidades ocorra no segundo semestre letivo quando o professor jaacute demonstra um maior conhecimento das caracteriacutesticas cognitivas e afetivas dos seus alunos (VIANA 2005) 7 O biliacutenguismo advoga que a pessoa com surdez deve dominar como liacutengua materna a liacutengua de sinais que seria a sua liacutengua natural e como segunda liacutengua

Para realizar a observaccedilatildeo os professores participaram de um curso de formaccedilatildeo continuada sobre a temaacutetica com 60 ho-ras-aula pois a aplicaccedilatildeo de instrumentos de observaccedilatildeo ou listas de indicadores para a identificaccedilatildeo de altas habilidades requer domiacutenio conceitual da temaacutetica

O instrumento eacute composto de 36 itens conforme se pode observar no Quadro 1 com habilidades que podem ser encontradas em alunos com surdez que deveratildeo ser identifi-cadas pelo professor em sala de aula As sentenccedilas referem capacidades diversificadas baseadas numa concepccedilatildeo mul-tidimensional de inteligecircncia Foi adotada uma distribuiccedilatildeo aleatoacuteria dos itens para evitar rotinas de respostas As asserti-vas foram redigidas de modo claro e conciso com vocabulaacuterio acessiacutevel a fim de tornar o instrumento de uso praacutetico cuja aplicaccedilatildeo utilize um curto periacuteodo de tempo com o objetivo de natildeo prejudicar as atividades do professor em sala de aula Com a lista em matildeos o professor eacute solicitado a marcar alu-nos que apresentem determinada habilidade presente na lista com a letra X

Quadro 1 ndash Itens da Lista de Observaccedilatildeo Aplicada

1 Tem boa expressatildeo facial quando utiliza a Libras2 Mostra-se criacutetico questionando as mateacuterias ensinadas3 Eacute liacuteder em sala de aula4 Faz perguntas ou daacute respostas raras ou incomuns5 Apresenta senso de humor eacute o engraccediladinho da turma6 Eacute amadurecido fala e se comporta como se tivesse mais idade7 Termina as tarefas rapidamente e fica disperso em sala de aula8 Apresenta facilidade para o desenho ou trabalhos manuais9 Tem boa expressatildeo corporal quando utiliza a Libras10 Apresenta facilidade em escrever redaccedilotildees ou poesias11 Eacute concentrado e perfeccionista com as atividades escolares

a liacutengua oficial do seu paiacutes Isso natildeo significa que a pessoa com surdez deva ficar isolada numa comunidade soacute para surdos configurando guetos e utilizando apenas a liacutengua de sinais (BRASIL 2010 DUPRET 1998 PEREIRA 2004)

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA206 d d 207

12 Consegue expressar bem suas opiniotildees com a Libras13 Eacute independente faz as atividades sem ajuda14 Questiona regras que satildeo impostas sem uma justificativa15 Demonstra interesse contiacutenuo em aprender16 Escreve frases em Portuguecircs usando pronomes preposiccedilotildees e ver-

bos nos tempos presente passado e futuro17 Relaciona conhecimentos de diferentes mateacuterias escolares18 Faz muitas perguntas ao professor19 Prefere amizade com pessoas mais velhas20 Desenha com detalhes e criatividade21 Demonstra aptidatildeo para as artes22 Cria diaacutelogos em Libras23 Eacute indisciplinado em sala de aula24 Demonstra senso de justiccedila25 Apresenta facilidade em memorizar informaccedilotildees como datas histoacute-

ricas e capitais de estados e paiacuteses26 Conhece muitos sinais da Libras e sabe empregaacute-los para se comunicar27 Responde raacutepida e corretamente agraves perguntas do professor28 Gosta de fazer as coisas do seu proacuteprio jeito29 Resolve os exerciacutecios de uma forma diferente da que o professor en-

sinou mas correta30 Mostra-se entediado em sala de aula31 Apresenta formas originais de solucionar problemas32 Tem agilidade de movimento (corrida velocidade e forccedila)33 Gosta de ler textos livros jornais eou revistas34 Aprende com facilidade o que foi ensinado35 Demonstra aptidatildeo para esportes

A heterogeneidade conceitual do instrumento pode ser observada no Quadro 2 que apresenta os itens pertencentes agraves categorias dimensionadas I) Linguagem II) Criatividade III) Aprendizagem IV) Motivaccedilatildeo V) Aspectos afetivos e in-terpessoais e VI) Motricidade

Quadro 2 ndash Categorias Avaliadas na Escala e Itens Correspondentes

CATEGORIA QUESTOtildeESLinguagem Q10 + Q12 + Q16 + Q23 +Q27 + Q34 Criatividade Q4 + Q20 + Q21 + Q29 + Q30 + Q32

Aprendizagem Q2 + Q17 + Q18 + Q26 + Q28 +Q35 Motivaccedilatildeo Q7 + Q11 + Q13 +Q15 + Q24 + Q31

Aspectos afetivos e interpessoais Q3 + Q5 +Q6 + Q14 + Q19 + Q25

Motricidade Q1 + Q8 + Q9 + Q22 + Q33 + Q36

Conforme indica a anaacutelise meacutetrica a lista de indicado-res construiacuteda se apresenta como instrumento potencialmen-te apto a identificar alunos surdos com altas habilidades do Ensino Fundamental A anaacutelise de variacircncia realizada indi-cou coeficiente de precisatildeo (α de Cronbach) com valor igual a 090 Aleacutem disso nenhum item ao ser excluiacutedo do caacutelcu-lo desse coeficiente gerou modificaccedilotildees substanciais em seu valor O erro-padratildeo da medida foi igual a 008 equivalente a 022 da amplitude da escala [0-36] A escala apresentou meacutedia 1890 e desvio-padratildeo 88 A teacutecnica t2 de Hotelling mostrou-se estatisticamente significativa (F = 70 para p = 0001) demonstrando diferenccedila entre as meacutedias de cada item e natildeo indicando a presenccedila de efeito de halo O que significa que natildeo ocorreu a tendecircncia dos indiviacuteduos responderem a um mesmo item em cada pergunta

O grupo inicial de alunos surdos identificados pelos professores atraveacutes da lista foi submetido a entrevistas se-midirigidas realizadas com o auxiacutelio de um inteacuterprete Tam-beacutem foram entrevistados os professores que indicaram esses educandos bem como seus familiares Esse procedimento foi realizado para selecionar com maior precisatildeo os alunos com altas habilidades pois o grupo inicial identificados atraveacutes da observaccedilatildeo dirigida realizada pelos docentes costuma apre-sentar outras indicaccedilotildees como a presenccedila de educandos ta-lentosos (GUENTHER 2000 VIANA 2005)

Resultados

Do total de 411 alunos surdos observados pelos profes-sores em sala de aula foram indicados 30 sujeitos Foram entatildeo entrevistados os 30 estudantes indicados 30 familiares desses estudantes (ou responsaacuteveis) e os 12 professores que os

(Continuaccedilatildeo)

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA208 d d 209

indicaram Do grupo inicial de alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas semidirigidas 20 aprendizes foram sinalizados com altas habilidades correspondendo a uma proporccedilatildeo de 5 do total de sujeitos inicialmente observados O nuacutemero de alunos identificados com altas habilidades estaacute de acordo com a proporccedilatildeo de 3 a 5 estimada na literatura especializada (ALENCAR E S 2000 BRASIL 1995 1999a 2005 GUEN-THER 2000 NOVAES 1979 SABATELLA 2008 VIANA 2003 2004 WINNER 1998)

Conclusotildees

Para a concretizaccedilatildeo desse estudo tomou-se como pon-to de partida a necessidade de reconhecimento da presenccedila de altas habilidades do aluno surdo desviando-se portanto da tradicional ecircnfase conferida agrave sua deficiecircncia Aleacutem de obs-taacuteculos atitudinais associados ao preconceito o instrumental para a identificaccedilatildeo desse alunado eacute por demasiado escasso dificultando assim a identificaccedilatildeo de alunos surdos com altas habilidades (DRUPET 1998 SKLIAR 2004)

Uma avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica adequada deve esclarecer os aspectos individuais mas natildeo pode negligenciar os sociais Conveacutem assinalar que mesmo diante de limita-ccedilotildees particulares inclusive de natureza geneacutetica ou bioloacutegi-ca como no caso da pessoa com deficiecircncia um melhor de-senvolvimento pode ser obtido como resultado de condiccedilotildees favoraacuteveis e estimulaccedilotildees adequadas do meio fiacutesico e social (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

A identificaccedilatildeo de alunos surdos com altas habilidades pretende desmistificar a ideia ainda vigente na sociedade de que a surdez traz consigo algum tipo de deacuteficit intelectual

Suas capacidades estatildeo presentes mas ainda abrigadas em silecircncio Para aleacutem do preconceito a insuficiecircncia na forma-ccedilatildeo baacutesica do professor para lidar com esse alunado constitui outro fator que contribui para que as capacidades do aluno surdo permaneccedilam silentes despercebidas pela escola e pela sociedade

Referecircncias Bibliograacuteficas

ALENCAR E S Criatividade e educaccedilatildeo de superdotados Petroacutepolis Vozes 2001______ Psicologia introduccedilatildeo aos princiacutepios baacutesicos do comportamento Petropoacutelis Vozes 2000______ Psicologia e educaccedilatildeo do superdotado Satildeo Paulo E P U 1986 ALENCAR M L Alunos com necessidades educacionais es-peciais anaacutelise conceitual e implicaccedilotildees pedagoacutegicas In MAGALHAtildeES R C B P Reflexotildees sobre a diferenccedila uma introduccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Especial Fortaleza Demoacutecrito Rocha 2003 p 85-91ALENCAR M L VIANA T V O papel do professor na edu-caccedilatildeo de crianccedilas sobredotadas Sobredotaccedilatildeo Braga v 3 n 2 p 165-176 2002ANASTASI A URBINA S Testagem psicoloacutegica Porto Ale-gre Artmed 2000BRASIL A Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da inclusatildeo es-colar altas habilidadessuperdotaccedilatildeo Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Especial 2010______ A construccedilatildeo de praacuteticas educacionais para alunos com altas habilidadessuperdotados orientaccedilatildeo a professo-res v 1 Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Edu-caccedilatildeo Especial 2007

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA210 d d 211

______ Saberes e praacuteticas da inclusatildeo desenvolvendo competecircncias para o atendimento agraves necessidades educacio-nais de alunos com altas habilidadessuperdotaccedilatildeo Brasiacutelia MECSEESP 2005______ Programa de capacitaccedilatildeo de recursos humanos do Ensino Fundamental superdotaccedilatildeo e talento v 1 Brasiacute-lia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Especial 1999a ______ Programa de capacitaccedilatildeo de recursos humanos do Ensino Fundamental superdotaccedilatildeo e talento v 2 Brasiacutelia Mi-nisteacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Especial 1999b______ Diretrizes gerais para o atendimento educacional aos alunos portadores de altas habilidades superdotaccedilatildeo e talentos Brasiacutelia MECSEESP 1995 CAMPBELL L Ensino e aprendizagem por meio das Inte-ligecircncias Muacuteltiplas Porto Alegre Artes Meacutedicas Sul 2000DUPRET L A experiecircncia de aprender com surdos Espaccedilo informativo teacutecnico-cientiacutefico do INES Rio de Janeiro n 10 juldez 1998 GARDNER H Inteligecircncia um conceito reformulado Rio de Janeiro Objetiva 2001______ Inteligecircncias muacuteltiplas a teoria na praacutetica Porto Alegre Artes Meacutedicas 1995 ______ Estruturas da mente a teoria das inteligecircncias muacuteltiplas Porto Alegre Artes Meacutedicas 1994GUENTHER Z C Identificaccedilatildeo de talentos recurso a teacutecni-cas de observaccedilatildeo directa Sobredotaccedilatildeo Braga v 1 n 1 e 2 p 7-36 2000GOLDFELD M A crianccedila surda linguagem e cogniccedilatildeo numa perspectiva soacutecio-interacionista Satildeo Paulo Plexus 1997LORENZINI N M P Aquisiccedilatildeo de um conceito cientiacutefico por alunos surdos de classes regulares do Ensino Fundamental

2004 155fl Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universi-dade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004 METTRAU M B Inteligecircncia patrimocircnio social Rio de Ja-neiro Dunya Ed 2000NEGRINI T A escola de surdo e os alunos com altas habi-lidadessuperdotaccedilatildeo uma problematizaccedilatildeo decorrente do processo de identificaccedilatildeo das pessoas surdas 2009 151f Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria-RS 2009 NOVAES M H Desenvolvimento psicoloacutegico do superdota-do Satildeo Paulo Atlas 1979PEREIRA C E K Estrangeiros em sua proacutepria cultura Espa-ccedilo informativo teacutecnico-cientiacutefico do INES Rio de Janeiro n 22 juldez 2004RENZULLI J S O que eacute esta coisa chamada superdotaccedilatildeo e como a desenvolvemos Uma retrospectiva de vinte e cin-co anos Educaccedilatildeo Porto Alegre n 1 p 75-121 janabr 2004 Disponiacutevel em ltwwwcaiobapucrsbrgt Acesso em 24022012 SABATELLA M L P Talento e superdotaccedilatildeo problema ou soluccedilatildeo Curitiba Ibpex 2008SKLIAR C (Org) Educaccedilatildeo e exclusatildeo abordagens soacutecio--antropoloacutegicas em Educaccedilatildeo Especial Porto Alegre Media-ccedilatildeo 2004 UFC Educar Igual a Motivar o Conhecimento Criativo (E=MC2) Projeto de Extensatildeo Coordenadora VIANA T V Fortaleza UFC 2006 5 p VIANA T V Avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica uma proposta para identificar altas habilidades 2005 324f Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2005 ______ Avaliando alunos com altas habilidades resulta-dos preliminares In ANDRIOLA W B MCDONALD B C

d 213TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA212 d

(Org) Avaliaccedilatildeo educacional navegar eacute preciso Fortaleza Editora UFC 2004 p 113-134 ______ Caminhos da excelecircncia da escola puacuteblica de For-taleza O conceito de altas habilidades dos professores 2003 147f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universidade Fe-deral do Cearaacute (UFC) Fortaleza 2003 VIRGOLIM A M R Talento criativo expressatildeo em muacuteltiplos contextos Brasiacutelia Editora Universidade de Brasiacutelia 2007 WINNER E Crianccedilas superdotadas mitos e realidades Por-to Alegre Artes Meacutedicas 1998

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute

Zilsa Maria Pinto SantiagoPliacutenio Renan Gonccedilalves da Silveira

Introduccedilatildeo

A discussatildeo sobre o conceito de cidadania eacute complexa e sugere inuacutemeras vertentes A praacutetica da cidadania partindo da escola ou da comunidade escolar com o apoio dos movimen-tos sociais de inclusatildeo principalmente no que diz respeito aos direitos da pessoa com deficiecircncia e da praacutetica de um ensino na diversidade eacute uma abordagem necessaacuteria nesta discussatildeo Iniciamos com o conceito de inclusatildeo social que segundo Sas-saki (1997 p 41) eacute

[] o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir em seus sistemas sociais gerais pessoas com necessidades especiais e simultaneamente estas se preparam para assumir seus papeacuteis na sociedade A inclusatildeo social constitui entatildeo um processo bilateral no qual as pessoas ainda excluiacutedas e a sociedade bus-cam em parceria equacionar problemas decidir sobre soluccedilotildees e efetivar a equiparaccedilatildeo de oportunidades para todos

A escola na condiccedilatildeo de espaccedilo social deve portanto apresentar condiccedilotildees de acessibilidade a todos inclusive a pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida aleacutem de pro-ver uma Educaccedilatildeo de qualidade a todas as crianccedilas modificar atitudes discriminatoacuterias criando comunidades acolhedoras (SANTIAGO 2005) Existe assim um caminho a ser percor-rido qual seja a organizaccedilatildeo da sociedade e as administraccedilotildees escolares inseridas em um novo contexto apoiadas pelo Siste-

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO bull PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA214 d d 215

ma Educacional e Ministeacuterio Puacuteblico capaz de transformar a situaccedilatildeo de exclusatildeo e gerir uma cultura inclusiva

E quando chegamos ao patamar do Ensino Superior o que acontece Que condiccedilotildees existem para receber pessoas com deficiecircncia na universidade

A problemaacutetica da acessibilidade de pessoas com defi-ciecircn cia no Ensino Superior jaacute eacute tema de muitas discussotildees e estudos Na Universidade Federal do Cearaacute (UFC) este assunto vem sendo discutido numa visatildeo ampla mas de certa forma em termos de accedilotildees nos uacuteltimos dez anos trabalhadas pontual-mente pelas diversas unidades administrativas e de ensino na perspectiva da informaccedilatildeo do conhecimento das atitudes e do espaccedilo fiacutesico

Neste artigo abordaremos alguns aspectos da poliacutetica de acessibilidade e das accedilotildees que estatildeo sendo realizadas no acircmbito da Universidade por meio da Secretaria de Acessi-bilidade UFC Inclui tendo como base a realizaccedilatildeo de traba-lhos de pesquisa ensino e extensatildeo perpassando por todas as aacutereas e setores De forma mais especiacutefica trataremos da aacuterea relativa agrave acessibilidade fiacutesica em que as atividades estatildeo relativamente iniciando num processo de construccedilatildeo de uma cultura de inclusatildeo a fim de incorporar paracircmetros de acessi-bilidade na realizaccedilatildeo de projetos e reformas

Acessibilidade como Fator de Inclusatildeo

Accedilotildees realizadas pelo poder puacuteblico em relaccedilatildeo ao aten-dimento agraves pessoas com deficiecircncia fiacutesica visual auditiva e intelectual no Brasil ateacute os anos 1960 abstraiacuteam o conteuacute-do educacional da questatildeo e contemplavam basicamente a problemaacutetica social e da sauacutede culminando com accedilotildees as-sistencialistas ou de reabilitaccedilatildeo As primeiras iniciativas de

atendimento agraves pessoas com deficiecircncia no Cearaacute partiram de atitudes isoladas ou de pequenos grupos e organizaccedilotildees de pessoas que natildeo contavam com o apoio do poder puacuteblico Conforme Leitatildeo (1997)

[] A criaccedilatildeo destas entidades especializadas no aten-dimento aos portadores de deficiecircncia visual mental auditiva e fiacutesica no Cearaacute foi possiacutevel [] na medida em que se aliou aos desejos de indiviacuteduos ou grupo de indiviacuteduos o conhecimento especializado a assimilaccedilatildeo de saberes especiacuteficos que passam a esclarecer alguns mitos construiacutedos em torno dos intitulados deficientes e fornecem as bases para uma accedilatildeo terapecircutica ou educacional embora que ainda de caraacuteter assistencial segregativo e pouco eficiente No entanto essas enti-dades surgidas nesse periacuteodo histoacuterico representaram significativos avanccedilos oferecendo agravequeles indiviacuteduos melhores condiccedilotildees de vida e a possibilidade de uma desejaacutevel integraccedilatildeo social

A questatildeo educacional das pessoas com deficiecircncia natildeo veio acompanhada de imediato de estudos de adequaccedilatildeo e adaptaccedilotildees do ambiente fiacutesico Para a inclusatildeo nem sempre satildeo necessaacuterios recursos educacionais especializados mas o espaccedilo adequado eacute fator de inclusatildeo Neste caso compreen-demos que a crianccedila pode estar na escola regular desde o iniacute-cio de sua escolarizaccedilatildeo (MAZZOTTA apud GODOY 2002)

Reforccedilando esta ideia Glat (1995) considera que o gru-po de pessoas com deficiecircncia fiacutesica natildeo se constitui tradicio-nalmente como clientela da Educaccedilatildeo Especial A inclusatildeo eacute facilitada pela acessibilidade fiacutesica nos espaccedilos escolares natildeo sendo necessaacuterio nenhum outro tipo de assistecircncia especial ao aluno que tenha dificuldade de locomoccedilatildeo (usuaacuterio de ca-deira de rodas muletas andador ou pessoa com perna mais curta ou outro tipo de deficiecircncia fiacutesica)

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO bull PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA216 d d 217

Neste sentido temos dois problemas imbricados tanto a dificuldade e iniciativa tardia do poder puacuteblico no trato das condiccedilotildees de Educaccedilatildeo de pessoas com deficiecircncia quanto agrave falta de acessibilidade ao meio ambiente fiacutesico construiacutedo O que resulta numa situaccedilatildeo em que ateacute bem pouco tempo atraacutes dificilmente encontrariacuteamos uma pessoa com defici-ecircncia visual com surdez ou ateacute mesmo em cadeira de rodas transitando nas salas de aula de uma universidade

A acessibilidade nos espaccedilos da universidade e de um modo geral nos espaccedilos puacuteblicos de Fortaleza vem sendo discutida nesta uacuteltima deacutecada em foacuteruns seminaacuterios au-diecircncias na Cacircmara Municipal na Assembleacuteia Legislativa dentre outros eventos tendo os movimentos e associaccedilotildees de pessoas com deficiecircncia com o apoio do Ministeacuterio Puacuteblico como impulsionadores destes eventos

O governo do estado com a participaccedilatildeo da UFC deu um passo importante com a elaboraccedilatildeo do Guia de Acessibili-dade espaccedilo puacuteblico e edificaccedilotildees publicado em 2009 e sua divulgaccedilatildeo junto aos prefeitos municipais entidades associa-ccedilotildees e a sociedade em geral

Accedilotildees Referentes agrave Acessibilidade Fiacutesica nos Campi da UFC

Ao se abordarem questotildees concernentes agrave inclusatildeo ou acessibilidade de pessoas com deficiecircncia eacute senso comum a referecircncia imediata aos aspectos relativos agraves barreiras arqui-tetocircnicas talvez por serem as mais visiacuteveis Eacute importante en-tretanto destacar o fato de que as barreiras enfrentadas por essas pessoas satildeo muacuteltiplas a comeccedilar pelas atitudes inade-quadas manifestas pelas pessoas em geral em funccedilatildeo de um desconhecimento sobre as reais necessidades da pessoa com deficiecircncia

A acessibilidade fiacutesica eacute hoje uma necessidade baacutesica para que todas as pessoas independentemente de suas habi-lidades possam desenvolver atividades da vida cotidiana com autonomia e mobilidade bem como usufruir dos espaccedilos com seguranccedila e comodidade O aspecto importante da acessibili-dade fiacutesica eacute ser um facilitador da inclusatildeo das pessoas com deficiecircncia

Em dados da UFC (2010) a universidade conta com a aacuterea fiacutesica em Fortaleza de 287258148 msup2 e aacuterea constru-iacuteda de 29131311 msup2 distribuiacuteda em trecircs aacutereas Pici Benfica e Porangabussu e mais algumas unidades dispersas sem di-mensionar os novos campi do interior Aleacutem disso conta nos trecircs terrenos com aacuterea urbanizada de 21841000 msup2 Tem portanto o grande desafio de dar continuidade agrave universali-zaccedilatildeo da acessibilidade adequando os edifiacutecios existentes e implementando nas novas edificaccedilotildees o conceito do Dese-nho Universal (que propotildee um espaccedilo constituiacutedo do maior nuacutemero de dimensotildees acessos tamanhos possibilitando seu uso pelo maior nuacutemero de pessoas) obedecendo agrave legislaccedilatildeo vigente dirimindo possiacuteveis barreiras arquitetocircnicas e pro-porcionando a todos os usuaacuterios sejam alunos servidores ou visitantes o acesso e a livre circulaccedilatildeo

A UFC tem realizado um esforccedilo de adequar sua grande aacuterea fiacutesica contudo as accedilotildees natildeo alcanccedilavam a plenitude de-vido agraves questotildees de recursos caracterizando-se assim como emergenciais ou contingenciais A antiga Superintendecircncia de Obras e Planejamento (PLANOP) atual Coordenadoria de Projetos e Obras (COP) elaborou em 2002 o projeto Acesso UFC sob a coordenaccedilatildeo da arquiteta Magda Campelo e dire-ccedilatildeo geral do professor Ademar Gondim com a intenccedilatildeo de incluir nas atividades dessa Superintendecircncia estudos de acessibilidade para os edifiacutecios da UFC Contou com o envol-

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vimento de alunos e servidores com deficiecircncia e bolsistas in-dicados pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Esse projeto tinha como objetivos principais a execu-ccedilatildeo do levantamento do nuacutemero de pessoas com deficiecircncia na UFC seus respectivos locais e condiccedilotildees de trabalho bem como a elaboraccedilatildeo de estudos para atendimento prioritaacuterio a este puacuteblico-alvo

No segundo momento foi realizado um levantamen-to da necessidade de intervenccedilatildeo em toda a aacuterea construiacuteda da UFC restringindo-se poreacutem agrave adequaccedilatildeo de banheiros construccedilatildeo de rampas e instalaccedilatildeo de plataformas a fim de mensurar os custos necessaacuterios para eliminaccedilatildeo de barreiras arquitetocircnicas na instituiccedilatildeo

No periacuteodo entre 2002 e 2003 foram executados e or-ccedilados pela PLANOP vinte e quatro projetos de acessibilida-de com ecircnfase tambeacutem na instalaccedilatildeo de rampas e adequa-ccedilatildeo de banheiros em preacutedios Do total 62 das intervenccedilotildees deram-se no Benfica aacuterea com maior nuacutemero de pessoas com deficiecircncia 34 no Pici e 4 no Porangabussu

Alguns destes projetos natildeo foram efetivados por indis-ponibilidade orccedilamentaacuteria na eacutepoca poreacutem com recursos do Projeto UFC Inclui em 2006 e 2007 sob a coordenaccedilatildeo da professora doutora Ana Karina Lira foram realizadas vaacuterias accedilotildees dentre elas o Ciclo de Debates Exposiccedilotildees e execuccedilatildeo de nove dos projetos disponibilizados pela Superintendente da PLANOP Aleacutem disso por iniciativa de diretores dos cen-tros e faculdades vaacuterias outras adaptaccedilotildees foram executadas como as passarelas de ligaccedilatildeo de preacutedios rampas de acesso aos edifiacutecios bem como intervenccedilotildees em banheiros

Registramos ainda um processo movido pelo Nuacutecleo de Tutela Coletiva da Procuradoria da Repuacuteblica no Estado do Cearaacute em 2005 que exigiu da UFC adoccedilatildeo de medidas

de condiccedilotildees miacutenimas e baacutesicas para o acesso e permanecircncia de estudantes com deficiecircncia em suas dependecircncias Desde entatildeo intervenccedilotildees foram feitas em todos os centros e facul-dades mas em face da dimensatildeo da UFC e da limitaccedilatildeo orccedila-mentaacuteria muitas das demandas ainda natildeo foram totalmente atendidas conforme imperativo legal vigente Contudo algu-mas plataformas verticais para conduccedilatildeo de pessoas com de-ficiecircncia ou mobilidade reduzida e rampas foram implantadas em algumas das edificaccedilotildees existentes como eacute o caso da Fa-culdade de Direito dentre outras (Fotos 01 e 02)

Foto 1 ndash Faculdade de DireitoUFC ndash Plataforma vertical no curso de DireitoFoto 2 ndash Faculdade de DireitoUFC ndash Rampa para o bloco antigo do curso de Direito

Com a criaccedilatildeo da Secretaria de Acessibilidade UFC In-clui em 2010 os trabalhos de acompanhamento de adequa-ccedilatildeo dos espaccedilos construiacutedos foram retomados de forma mais ampla e sistematizada

Como instrumento de verificaccedilatildeo das condiccedilotildees de acessibilidade na universidade iniciaram utilizando o levan-tamento de necessidades no acervo da COP dados resultan-tes da realizaccedilatildeo de vistoria da Comissatildeo de Acessibilidade do

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Sistema de Bibliotecas da UFC como tambeacutem indicadores le-vantados por membros da Comissatildeo Especial de Educaccedilatildeo In-clusiva (CEIn) em 2009 juntamente com alunos bolsistas dos cursos de Arquitetura e Urbanismo Enfermagem Pedagogia e de um aluno do curso de bacharelado em Quiacutemica ndash usuaacuterio de cadeira de rodas

A CEIn foi criada pelo Magniacutefico Reitor Jesualdo Pe-reira Farias em 2009 com o objetivo de fazer uma propos-ta de estruturaccedilatildeo administrativa cuidando da elaboraccedilatildeo conduccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas de Educaccedilatildeo Inclusiva na universidade

Os bolsistas da comissatildeo na aacuterea de Arquitetura e Ur-banismo eram inicialmente responsaacuteveis por realizar visitas teacutecnicas agraves edificaccedilotildees da universidade que foram mapeadas atraveacutes do Plano Diretor da UFC a fim de se obter uma di-mensatildeo geral sobre os problemas de acessibilidade da uni-versidade Posteriormente nesta agregaram-se os teacutecnicos a serviccedilo da COP

Estes trabalhos satildeo compostos de observaccedilotildees in loco mediccedilotildees e anotaccedilotildees sobre a estrutura fiacutesica registros foto-graacuteficos Posteriormente os dados satildeo organizados eacute feita uma anaacutelise resultando em Relatoacuterios Teacutecnicos das edifica-ccedilotildees visitadas com apontamentos referentes agrave necessidade de intervenccedilotildees para o cumprimento da legislaccedilatildeo existente

Para tanto foi elaborado um check list envolvendo as principais questotildees da acessibilidade de forma a simplificar tanto o processo de recolhimento de dados in loco quanto a proacutepria leitura do laudo Natildeo soacute os ambientes e acessos inter-nos agrave edificaccedilatildeo foram analisados mas tambeacutem as aacutereas livres comuns (paacutetios jardins caminhos) O diagnoacutestico tinha uma preocupaccedilatildeo urbaniacutestica analisando o entorno da edificaccedilatildeo as faixas de travessia os rebaixos as paradas de ocircnibus e se

a chegada da pessoa com deficiecircncia ao edifiacutecio estaria sendo executada de forma livre e segura

A metodologia de diagnosticar atraveacutes de um check list padratildeo pode ser observada no recorte do relatoacuterio abaixo

Foto 3 ndash Relatoacuterio de Condiccedilotildees de Acessibilidade Fiacutesica da FEAAC

Depois de uma anaacutelise geral dos problemas de acessi-bilidade nas edificaccedilotildees existentes na universidade os bol-sistas de Arquitetura e Urbanismo foram direcionados para trabalhar em parceria com a COP Este trabalho consistiu em realizar uma anaacutelise minuciosa das questotildees de acessibilidade nos novos projetos Infelizmente nos processos de licitaccedilatildeo

yRebaixosrampas Apresenta alguns rebai-xos inadequados nas travessias internas Nas entradas dos Centros Acadecircmicos e em alguns pontos do passeio natildeo haacute rampas A rampa encontrada na entrada do edifiacutecio estaacute com inclinaccedilatildeo adequada poreacutem o cor-rimatildeo estaacute em desacordo com a NBR9050

yBarreiras arquitetocircnicas desniacuteveis Alguns desniacuteveis foram encontrados sem rebaixo e com grelha na direccedilatildeo errada impossibili-tando a passagem da pessoa em cadeira de rodas As barreiras arquitetocircnicas natildeo pos-suem piso alerta

ySinalizaccedilatildeo Natildeo haacute sinalizaccedilatildeo direcional nem alertas para a pessoa com deficiecircncia visual

yAparelhos telefocircnicos puacuteblicos Os apare-lhos puacuteblicos encontrados estatildeo todos com alturas acima de 120 m alcance maacuteximo da pessoa em cadeira de rodas

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natildeo haacute uma cobranccedila rigorosa com base na legislaccedilatildeo vigente no que diz respeito a estas questotildees o que resulta em projetos que cumprem apenas parcialmente as determinaccedilotildees da nor-ma e em outros que ignoram os efeitos desta

O trabalho de anaacutelise projetual consiste na leitura pran-cha a prancha do projeto utilizando a mesma metodologia do check list Os dados desta anaacutelise resultam tambeacutem em um Relatoacuterio Teacutecnico de Acessibilidade conforme recorte abaixo

y Prancga 94 ndash Detalhe de banheiroDeve-se colocar as barras de apoio vertical em pelo menos um dos mic-toacuterios (com espaccedilo livre de 60 cm de largura) Rebaixar pelo menos uma extensatildeo de 90 cm da bancada para altura de 80 cm respeitando a altura de 73 cm para entrada da cadeira

Exemplo de mictoacuterios ndash Fonte NBR9050

y Prancha 95 ndash No WC Feminino deve-se rebaixar pelo menos uma extensatildeo de 90 cm da bancada para altura de 80 cm respeitando a altura de 73 cm para entrada da cadeira

y Prancha 102 ndash Detalhamento de Portas ndash Na porta P3 (acesiacutevel) o siacutembolo natildeo segue as corretas proporccedilotildees da NBR9050 que deve ser universal

Foto 4 ndash Relatoacuterio de Acessibilidade ICA

Passaram por esta anaacutelise grandes novas edificaccedilotildees da UFC como o Instituto de Cultura e Arte (ICA) o Instituto Pa-leontoloacutegico e Geoloacutegico e a 4ordf Etapa do Campus Juazeiro do Norte

Ratifica-se a necessidade da manutenccedilatildeo deste trabalho de anaacutelise projetual das novas edificaccedilotildees Analisar o edifiacutecio ainda na fase de projeto propicia a condiccedilatildeo de tempo haacutebil para correccedilotildees antes da execuccedilatildeo da obra A projetaccedilatildeo acessiacute-vel eacute mais simples proporcionando a condiccedilatildeo de concepccedilotildees esteacuteticas sem prejuiacutezo das visuais plaacutesticas do edifiacutecio Eacute ainda mais econocircmica evitando gastos futuros com reformas mui-tas vezes que natildeo conseguem chegar a um resultado satisfa-toacuterio sendo meras adaptaccedilotildees de uma realidade estabelecida

Com o crescimento dos investimentos em novas edifica-ccedilotildees e obras devido ao Programa de Reestruturaccedilatildeo e Expan-satildeo das Universidades Federais (REUNI) nos campi da UFC surgiu a necessidade da COP realizar um novo levantamento das condiccedilotildees de acessibilidade verificando as necessidades de adaptaccedilatildeo das antigas edificaccedilotildees bem como a sinalizaccedilatildeo das pendecircncias restantes nas novas edificaccedilotildees

A realizaccedilatildeo deste trabalho foi fundamentada no Decre-to nordm 52962004 que trata da prioridade de atendimento agraves pessoas com deficiecircncia que estabelece normas gerais e criteacuterios baacutesicos para a promoccedilatildeo da acessibilidade em rela-ccedilatildeo agraves edificaccedilotildees espaccedilo mobiliaacuterio e equipamento urbano incluindo elevadores plataformas de elevaccedilatildeo motorizadas e requisitos para seguranccedila dimensotildees e operaccedilatildeo funcional Deve-se salientar sua importacircncia tambeacutem por estabelecer ainda os criteacuterios para instruir os processos de autorizaccedilatildeo e de reconhecimento de cursos bem como o credenciamento de instituiccedilotildees considerando a acessibilidade aos edifiacutecios de uso puacuteblico ao espaccedilo e utilizaccedilatildeo de mobiliaacuterio

Vista frontal Vista frontalVista lateral

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Temos alguns exemplos desta nova fase de implantaccedilatildeo de requisitos de acessibilidade nos projetos de edificaccedilotildees e espaccedilos livres na UFC (Fotos 05 e 06)

Foto 5 ndash Auditoacuterio Valnir Chagas ndash FacedUFC Rampa com incli-naccedilatildeo adequada e corrimatildeo proacuteximo ao exigido pela NBR-9050Foto 6 ndash Entrada do curso de PsicologiaUFC Rebaixos de rampas de acesso adequados e vaga reservada

Conclusatildeo

A obrigatoriedade ao cumprimento do Decreto nordm 52962004 e a conscientizaccedilatildeo da necessidade de se projetar para todos impotildeem aos oacutergatildeos puacuteblicos dentre eles a univer-sidade a execuccedilatildeo de projetos em observacircncia agrave NBR 9050 Uma dificuldade percebida se refere agrave dimensatildeo da equipe que trabalha nos projetos e obras da instituiccedilatildeo o que dificulta o andamento de accedilotildees de um modo geral bem como de obras de pequeno porte que poderiam ser realizadas pelos proacuteprios diretores de centros e faculdades Ao que parece desde o ano de 2011 este trabalho vem sendo acelerado com a terceiriza-ccedilatildeo de parte destes projetos

O atendimento agraves normas de acessibilidade passou a ser adotado quando da elaboraccedilatildeo de projetos para novas edificaccedilotildees Mesmo sendo a nova concepccedilatildeo inserida nos pre-

ceitos da acessibilidade fiacutesica algumas accedilotildees como eacute o caso da locaccedilatildeo de equipamentos como as plataformas verticais retardam a finalizaccedilatildeo completa da obra por constituiacuterem um procedimento obrigatoacuterio de licitaccedilatildeo para compra de equi-pamentos explicando o fato de encontrarmos nos preacutedios novos apenas as estruturas que abrigam estes equipamentos Isso resulta no atraso da instalaccedilatildeo das mesmas em relaccedilatildeo agrave obra como um todo

Estes satildeo instrumentos contundentes relativos ao fato de que mesmo tendo sido realizadas muitas accedilotildees ainda haacute de se fazer para que a universidade atinja um niacutevel plenamen-te satisfatoacuterio de acessibilidade em sua estrutura fiacutesica

Em decorrecircncia de novos eventos como a promulgaccedilatildeo da Lei nordm 12587 de 3 de janeiro de 2012 ndash que institui as dire-trizes da Poliacutetica Nacional de Mobilidade Urbana bem como o Decreto Legislativo nordm 186 2008 no qual em seu Art 1ordm ndash Fica aprovado nos termos do sect 3ordm do Art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal o texto da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia e de seu Protocolo Facultativo assinados em Nova Iorque em 2007 igualmente o Decreto nordm 6949 de 2009 que determina em seu Art 1ordm ndash A Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia e seu Protocolo Faculta-tivo ndash seratildeo executados e cumpridos tatildeo inteiramente como neles se contecircm as accedilotildees para inserccedilatildeo de requisitos para a acessibilidade sendo assim cada vez mais incorporados ao co-tidiano das realizaccedilotildees das obras na universidade

Neste sentido podemos afirmar que a execuccedilatildeo de pro-jetos de edificaccedilotildees nos vaacuterios campi da UFC bem como as reformas e adaptaccedilotildees de antigas edificaccedilotildees estatildeo sendo re-alizadas cada vez mais assumindo o compromisso com os pa-radigmas da inclusatildeo observando criteacuterios e determinaccedilotildees legais amparadas pelos princiacutepios da acessibilidade universal

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Referecircncias Normativas e Leis

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 9050 ndash Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiecircncias a edificaccedilotildees espaccedilo mobiliaacuterio e equipamento urbano Rio de Janeiro ABNT 2004BRASIL Lei n 12587 de 3 de Janeiro de 2012 ndash que institui as diretrizes da Poliacutetica Nacional de Mobilidade Urbana______ Decreto nordm 6949 de 25 de agosto de 2009 Pro-mulga a Convenccedilatildeo Internacional sobre os Direitos das Pesso-as com Deficiecircncia e seu Protocolo Facultativo assinados em Nova York em 30 de marccedilo de 2007______ Decreto Ndeg 5626 de 22 de dezembro de 2005 re-gulamenta a Lei Nordm 10436 de 24 de abril de 2002 que dispotildee sobre a Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras e o art 18 da Lei Nordm 10098 de 19 de dezembro de 2000______ Decreto Nordm 5296 de 2 de dezembro de 2004 que regulamenta as Leis nordms 10048 de 8 de novembro de 2000 que daacute prioridade de atendimento agraves pessoas que especifica e 10098 de 19 de dezembro de 2000 que estabelece normas gerais e criteacuterios baacutesicos para a promoccedilatildeo da acessibilidade das pessoas com deficiecircncia ou com mobilidade reduzida e daacute outras providecircnciasCEARAacute Guia de acessibilidade espaccedilo puacuteblico e edificaccedilotildees 1 ed Elaboraccedilatildeo Nadja GS Dutra Montenegro Zilsa Maria Pinto Santiago e Valdemice Costa de Sousa Fortaleza SEIN-FRA-CE 2009

Referecircncias Bibliograacuteficas

GLAT Rosana A Integraccedilatildeo social dos portadores de defici-ecircncias uma reflexatildeo Rio de Janeiro Sete Letras 1995

GODOY H P Inclusatildeo de alunos portadores de deficiecircncia no ensino regular paulista recomendaccedilotildees internacionais e normas oficiais Satildeo Paulo Editora Mackenzie 2002LEITAtildeO V M et al Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC Pro-postas Fortaleza UFC 2010______ Para aleacutem da diferenccedila e do tempo Ensaio soacutecio--histoacuterico da Educaccedilatildeo dos portadores de necessidades es-peciais no Cearaacute Uma trajetoacuteria de luta da segregaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira ndash UFC) Fortaleza 1997MAZZOTTA Marcos J S Educaccedilatildeo Especial no Brasil histoacute-ria e poliacuteticas puacuteblicas Satildeo Paulo Cortez 1996SANTIAGO Z M P Acessibilidade fiacutesica no ambiente cons-truiacutedo o caso das escolas municipais de ensino fundamental de Fortaleza ndash CE (1990 ndash 2003) Dissertaccedilatildeo (Mestrado ndash FAUUSP) Satildeo Paulo 2005SASSAKI R K Inclusatildeo construindo uma sociedade para to-dos 5 ed Rio de Janeiro VWA 1997

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SEacuteRIE DIAacuteLOGOS INTEMPESTIVOS

1 Ditos (mau)ditos Joseacute Gerardo Vasconcelos Antonio Germano Magalhatildees Junior e Joseacute Mendes Fonteles (Orgs) 2001 208p 2001 ISBN 85-86627-13-5

2 Memoacuterias no plural Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Magalhatildees Junior (Orgs) 140p 2001 ISBN 85-86627-21-6

3 Trajetoacuterias da juventude Maria Nobre Damasceno Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 112p 2001 ISBN 85-86627-22-4

4 Trabalho e educaccedilatildeo face agrave crise global do capitalismo Eneacuteas Arrais Neto Manuel Joseacute Pina Fernandes e Sandra Cordeiro Felismino (Orgs) 2002 218p ISBN 85-86627-23-2

5 Um dispositivo chamado Foucault Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Magalhatildees Junior (Orgs) 120p 2002 ISBN 85-86627-24-0

6 Registros de pesquisa na educaccedilatildeo Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2002 216p ISBN 85-86627-25-9

7 Linguagens da histoacuteria Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Maga-lhatildees Junior (Orgs) 2003 154p ISBN 85-7564084-4

8 Esboccedilos em avaliaccedilatildeo educacional Brendan Coleman Mc Donald (Org) 2003 168p ISBN 85-7282-131-7

9 Informaacutetica na escola um olhar multidisciplinar Edla Maria Faust Ramos Marta Costa Rosatelli e Raul Sidnei Wazlawick (Orgs) 2003 135p ISBN 85-7282-130-9

10 Filosofia educaccedilatildeo e realidade Joseacute Gerardo Vasconcelos (Org) 2003 300p ISBN 85-7282-132-5

11 Avaliaccedilatildeo Fiat Lux em Educaccedilatildeo Wagner Bandeira Andriola e Brendan Coleman Mc Donald (Orgs) 2003 212p ISBN 85-7282-136-8

12 Biografias instituiccedilotildees ideias experiecircncias e poliacuteticas educacionais Maria Juraci Maia Cavalcante e Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Orgs) 2003 467p ISBN 85-7282-137-6

13 Movimentos sociais educaccedilatildeo popular e escola a favor da diversidade Kelma Socorro Lopes de Matos (Org) 2003 312p ISBN 85-7282-138-4

14 Trabalho sociabilidade e educaccedilatildeo uma criacutetica agrave ordem do capital Ana Maria Dorta de Menezes e Faacutebio Fonseca Figueiredo (Orgs) 2003 396p ISBN 85-7282-139-2

15 Mundo do trabalho debates contemporacircneos Eneacuteas Arrais Neto Elenice Gomes de Oliveira e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2004 154p ISBN 85-7282-142-2

16 Formaccedilatildeo humana liberdade e historicidade Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2004 250p ISBN 85-7282-143-0

17 Diversidade cultural e desigualdade dinacircmicas identitaacuterias em jogo Maria de Faacutetima Vasconcelos e Rosa Barros Ribeiro (Orgs) 2004 324p ISBN 85-7282-144-9

18 Corporeidade ensaios que envolvem o corpo Antonio Germano Magalhatildees Junior e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2004 114p ISBN85-7282-146-5

19 Linguagem e educaccedilatildeo da crianccedila Silvia Helena Vieira Cruz e Mocircnica Petra-landa Holanda (Orgs) 2004 369p ISBN85-7282-149-X

20 Educaccedilatildeo ambiental em tempos de semear Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Levi Furtado Sampaio (Orgs) 2004 203p ISBN 85-7282-150-3

21 Saberes populares e praacuteticas educativas Joseacute Arimatea Barros Bezerra Catarina Farias de Oliveira e Rosa Maria Barros Ribeiro (Orgs) 2004 186p ISBN 85-7282-162-7

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22 Culturas curriacuteculos e identidades Luiz Botelho de Albuquerque (Org) 231p ISBN 85-7282-165-1

23 Polifonias vozes olhares e registros na filosofia da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Andreacutea Pinheiro e Eacuterica Atem (Orgs) 274p ISBN 857282166-X

24 Coisas de cidade Joseacute Gerardo Vasconcelos e Shara Jane Holanda Costa Adad ISBN 85-7282-172-4

25 O caminho se faz ao caminhar Maria Nobre Damasceno e Celecina de Maria Vera Sales (Orgs) 2005 230p ISBN 85-7282-179-1

26 Artesania do saber tecendo os fios da educaccedilatildeo popular Maria Nobre Damasceno (Org) 2005 169p ISBN 85-7282-181-3

27 Histoacuteria da educaccedilatildeo instituiccedilotildees protagonistas e praacuteticas Maria Juraci Maia Cavalcante e Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Orgs) 458p ISBN 85-7282-182-1

28 Linguagens literatura e escola Sylvie Delacours-Lins e Siacutelvia Helena Vieira Cruz (Orgs) 2005 221p ISBN 85-7282-184-8

29 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade em Paulo Freire Maria Erciacutelia Braga de Olinda e Joatildeo Batista de A Figueiredo (Orgs) 2006 ISBN 85-7282-186-4

30 Curriacuteculos contemporacircneos formaccedilatildeo diversidade e identidades em transiccedilatildeo Luiz Botelho Albuquerque (Org) 2006 ISBN 85-7282-188-0

31 Cultura de paz educaccedilatildeo ambiental e movimentos sociais Kelma Socorro Lopes de Matos (Org) 2006 ISBN 85-7282-189-9

32 Movimentos sociais educaccedilatildeo popular e escola a favor da diversidade II Sylvio de Sousa Gadelha e Socircnia Pereira Barreto (Orgs) 2006 172p ISBN 85-7282-192-9

33 Entretantos diversidade na pesquisa educacional Joseacute Gerardo Vasconcelos Emanoel Luiacutes Roque Soares e Isabel Magda Said Pierre Carneiro (Orgs) ISBN 85-7282-194-5

34 Juventudes cultura de paz e violecircncias na escola Maria do Carmo Alves do Bomfim e Kelma Socorro Lopes de Matos (Orgs) 2006 276p ISBN 85-7282-204-6

35 Diversidade sexual perspectivas educacionais Luiacutes Palhano Loiola 183p ISBN 85-7282-214-3

36 Estaacutegio nos cursos tecnoloacutegicos conhecendo a profissatildeo e o profissional Gregoacuterio Maranguape da Cunha Patriacutecia Helena Carvalho Holanda Cristiano Lins de Vasconcelos (Orgs) 93p ISBN 85-7282-215-1

37 Jovens e crianccedilas outras imagens Kelma Socorro Lopes de Matos Shara Jane Ho-landa Costa Adad e Maria Dalva Macedo Ferreira (Orgs) 221p ISBN 85-7282-219-4

38 Histoacuteria da educaccedilatildeo no Nordeste brasileiro Joseacute Gerardo Vasconcelos e Jorge Carvalho do Nascimento (Orgs) 2006 193p ISBN 85-7282-220-8

39 Pensando com arte Joseacute Gerardo Vasconcelos e Joseacute Albio Moreira de Sales (Orgs) 2006 212p ISBN 85-7282-221-6

40 Educaccedilatildeo poliacutetica e modernidade Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Paulino de Sousa (Orgs) 2006 209p ISBN 978-85-7282-231-2

41 Interfaces metodoloacutegicas na histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconce-los Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Zuleide Fernandes de Queiroz e Joseacute Edvar Costa de Arauacutejo (Orgs) 2007 286p ISBN 978-85-7282-232-9

42 Praacuteticas e aprendizagens docentes Erciacutelia Maria Braga de Olinda e Dorgival Gonccedilalves Fernandes (Orgs) 2007 196p ISBN 97885-7282246-6

43 Educaccedilatildeo ambiental dialoacutegica as contribuiccedilotildees de Paulo Freire e as repre-sentaccedilotildees sociais da aacutegua em cultura sertaneja nordestina Joatildeo B A Figueiredo 2007 385p ISBN 978-85-7282-245-9

44 Espaccedilo urbano e afrodescendecircncia estudos da espacialidade negra urbana para o debate das poliacuteticas puacuteblicas Henrique Cunha Juacutenior e Maria Estela Rocha Ramos (Orgs) 2007 209 ISBN 978-85-7282-259-6

45 Outras histoacuterias do Piauiacute Roberto Kennedy Gomes Franco e Joseacute Gerardo Vasconcelos 2007 197p ISBN 978-85-7282-263-3

46 Estaacutegio supervisionado questotildees da praacutetica profissional Gregoacuterio Maranguape da Cunha Patriacutecia Helena Carvalho Holanda e Cristiano Lins de Vasconcelos (Orgs) 2007 163p ISBN 978-85-7282-265-7

47 Alienaccedilatildeo trabalho e emancipaccedilatildeo humana em Marx Jorge Luiacutes de Oli-veira 2007 291p ISBN 978-85-7282-264-0

48 Modo de brincar lembrar e dizer discursividade e subjetivaccedilatildeo Maria de Faacutetima Vasconcelos da Costa Veriana de Faacutetima Rodrigues Colaccedilo e Nelson Barros da Costa (Orgs) 2007 347p ISBN 97885-7282-267-1

49 De novo ensino meacutedio aos problemas de sempre entre marasmos apro-priaccedilotildees e resistecircncias escolares Jean Mac Cole Tavares Santos 2007 270p ISBN 97885-7282-278-7

50 Nietzscheanismos Joseacute Gerardo Vasconcelos Cellina Muniz e Roberto Kennedy Gomes Franco (Orgs) 2008 150p ISBN 97885-7282-277-0

51 Artes do existir trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda e Francisco Silva Cavalcante Juacutenior (Orgs) 2008 353p ISBN 978-85-7282-269-5

52 Em cada sala um altar em cada quintal uma oficina o tradicional e o novo na histoacuteria da educaccedilatildeo tecnoloacutegica no Cariri cearense Zuleide Fernandes de Queiroz (Org) 2008 403p ISBN 978-85-7282-280-0

53 Instituiccedilotildees campanhas e lutas histoacuteria da educaccedilatildeo especial no Cearaacute Vanda Magalhatildees Leitatildeo 2008 169p ISBN 978-85-7282-281-7

54 A pedagogia feminina das casas de caridade do padre Ibiapina Maria das Graccedilas de Loiola Madeira 2008 391p ISBN 978-85-7282-282-4

55 Histoacuteria da educaccedilatildeo mdash vitrais da memoacuteria lugares imagens e praacuteticas culturais Maria Juraci Maia Cavalcante Zuleide Fernandes de Queiroz Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Joseacute Edvar Costa de Araujo (Orgs) 2008 560p ISBN 978-85-7282-284-8

56 Histoacuteria educacional de Portugal discurso cronologia e comparaccedilatildeo Maria Juraci Maia Cavalcante 2008 342p ISBN 978-85-7282-283-1

57 Juventudes e formaccedilatildeo de professores o ProJovem em Fortaleza Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Paulo Roberto de Sousa Silva (Orgs) 2008 198p ISBN 978-85-7282-295-4

58 Histoacuteria da educaccedilatildeo arquivos documentos historiografia narrativas orais e outros rastros Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Org) 2008 276p ISBN 978-85-7282-285-5

59 Educaccedilatildeo utopia e emancipaccedilatildeo Casemiro de Medeiros Campos 2008 104p ISBN 978-85-7282-305-0

60 Entre liacutenguas movimentos e mistura de saberes Shara Jane Holanda Costa Adad Ana Cristina Meneses de Sousa Brandim e Maria do Socorro Rangel (Orgs) 2008 202p ISBN 978-85-7282-306-7

61 Reinventar o presente pois o amanhatilde se faz com a transformaccedilatildeo do hoje Reinaldo Matias Fleuri 2008 76p ISBN 978-85-7282-307-4

62 Cultura de paz do Conhecimento agrave Sabedoria Kelma Socorro Lopes de Matos Verocircnica Salgueiro do Nascimento e Raimundo Nonato Juacutenior (Orgs) 2008 260p ISBN 978-85-7282-311-1

63 Educaccedilatildeo e afrodescendecircncia no Brasil Ana Beatriz Sousa Gomes e Henrique Cunha Juacutenior (Orgs) 2008 291p ISBN 978-85-7282-310-4

64 Reflexotildees sobre a fenomenologia do espiacuterito de Hegel Eduardo Ferreira Chagas Marcos Faacutebio Alexandre Nicolau e Renato Almeida de Oliveira (Orgs) 2008 285p ISBN 978-85-7282-313-5

232 d d 233

65 Gestatildeo escolar saber fazer Casemiro de Medeiros Campos e Milena Marcintha Alves Braz (Orgs) 2009 166p ISBN 978-85-7282-316-6

66 Psicologia da educaccedilatildeo teorias do desenvolvimento e da aprendizagem em discussatildeo Maria Vilani Cosme de Carvalho e Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Orgs) 2008 241p ISBN 978-85-7282-322-7

67 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2008 210p ISBN 978-85-7282-323-4

68 Projovem experiecircncias com formaccedilatildeo de professores em Fortaleza Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2008 214p ISBN 978-85-7282-324-1

69 A filosofia moderna Antonio Paulino de Sousa e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2008 212p ISBN 978-85-7282-314-2

70 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade em Paulo Freire II reflexotildees e possi-bilidades em movimento Joatildeo B A Figueiredo e Maria Eleni Henrique da Silva (Orgs) 2009 189p ISBN 978-85-7282-312-8

71 Letramentos na Web Gecircneros Interaccedilatildeo e Ensino Juacutelio Ceacutesar Arauacutejo e Messias Dieb (Orgs) 2009 286p ISBN 978-85-7282-328-9

72 Marabaixo danccedila afrodescendente Significando a Identidade Eacutetnica do Negro Amapaense Piedade Lino Videira 2009 274p ISBN 978-85-7282-325-8

73 Escolas e culturas poliacuteticas tempos e territoacuterios de accedilotildees educacionais Maria Juraci Maia Cavalcante Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Edvar Costa de Araujo e Zuleide Fernandes de Queiroz (Orgs) 2009 445p ISBN 978-85-7282-333-3

74 Educaccedilatildeo saberes e praacuteticas no Oeste Potiguar Jean Mac Cole Tavares Santos e Zacarias Marinho (Orgs) 2009 225p ISBN 978-85-7282-342-5

75 Labirintos de clio praacuteticas de pesquisa em Histoacuteria Joseacute Gerardo Vasconcelos Samara Mendes Arauacutejo Silva e Raimundo Nonato Lima dos Santos (Orgs) 2009 171p ISNB 978-85-7282-354-8

76 Fanzines autoria subjetividade e invenccedilatildeo de si Cellina Rodrigues Muniz (Org) 2009 139p ISBN 978-85-7282-366-1

77 Besouro cordatildeo de ouro o capoeira justiceiro Joseacute Gerardo Vasconcelos 2009 109p ISBN 978-85-7282-362-3

78 Da teoria agrave praacutetica a escola dos sonhos eacute possiacutevel Adelar Hengemuhle Deacutebora Luacutecia Lima Leite Mendes Casemiro de Medeiros Campos (Orgs) 2010 167p ISBN 978-85-7282-363-0

79 Eacutetica e cidadania educaccedilatildeo para a formaccedilatildeo de pessoas eacuteticas Maacuterie dos Santos Ferreira e Raphaela Cacircndido (Orgs) 2010 115p ISBN 978-85-7282-373-9

80 Qualidade de vida na infacircncia visatildeo de alunos da rede puacuteblica e privada de ensino Lia Machado Fiuza Fialho e Maria Teresa Moreno Valdeacutes 2009 113p ISBN 978-85-7282-369-2

81 Federalismo cultural e sistema nacional de cultura contribuiccedilatildeo ao debate Francisco Humberto Cunha Filho 2010 155p ISBN 978-85-7282-378-4

82 Experiecircncias e diaacutelogos em educaccedilatildeo do campo Kelma Socorro Alves Lopes de Matos Carmen Rejane Flores Wizniewsky Ane Carine Meurer e Cesar De David (Orgs) 2010 129p ISBN 978-85-7282-377-7

83 Tempo espaccedilo e memoacuteria da educaccedilatildeo pressupostos teoacutericos metodoloacutegi-cos e seus objetos de estudo Joseacute Gerardo Vasconcelos Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Edvar Costa de Arauacutejo Joseacute Rogeacuterio Santana Zuleide Fernandes de Queiroz e Ivna de Holanda Pereira (Orgs) 2010 718p ISBN 978-85-7282-385-282

84 Os Diferentes olhares do cotidiano profissional Cassandra Maria Bastos Franco Joseacute Gerardo Vasconcelos e Patriacutecia Maria Bastos Franco 2010 275p ISBN 978-85-7282-381-4

85 Fontes meacutetodos e registros para a histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2010 221p ISBN 978-85-7282-383-8

86 Temas educacionais uma coletacircnea de artigos Luiacutes Taacutevora Furtado Ribeiro e Marco Aureacutelio de Patriacutecio Ribeiro 2010 261p ISBN 978-85-7282-389-0

87 Educaccedilatildeo e diversidade cultural Maria do Carmo Alves do Bomfim Kelma Socorro Alves Lopes de Matos Ana Beatriz Sousa Gomes e Ana Ceacutelia de Sousa Santos 2009 463p ISBN 978-85-7282-376-0

88 Histoacuteria da educaccedilatildeo nas trilhas da pesquisa Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2010 239p ISBN 978-85-7282-384-5

89 Artes do fazer trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2010 335p ISBN 978-85-7282-398-2

90 Laacutepis agulhas e amores histoacuteria de mulheres na contemporaneidade Joseacute Gerardo Vasconcelos Samara Mendes Arauacutejo Silva Cassandra Maria Bastos Franco e Joseacute Rogeacuterio Santana (Orgs) 2010 327p ISBN 978-85-7282-395-1

91 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Raimundo Nonato Junior (Orgs) 2010 337p ISBN 978-85-7282-403-3

92 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade II Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2010 241p ISBN 978-85-7282-407-1

93 Eacutetica e as reverberaccedilotildees do fazer Kleber Jean Matos Lopes Emiacutelio Nolasco de Carvalho e Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Orgs) 2011 205p ISBN 978-85-7282-424-8

94 Contrapontos democracia repuacuteblica e constituiccedilatildeo no Brasil Filomeno Moraes 2010 205p ISBN 978-85-7282-421-7

95 Paulo Freire teorias e praacuteticas em educaccedilatildeo popular mdash escola puacuteblica inclusatildeo humanizaccedilatildeo (Org) 2011 241p ISBN 978-85-7282-419-4

96 Formaccedilatildeo de professores e pesquisas em educaccedilatildeo teorias metodologias praacuteticas e experiecircncias docentes Francisco Ari de Andrade e Jean Mac Cole Tavares Santos (Orgs) 2011 307p ISBN 978-85-7282-427-9

97 Experiecircncias de avaliaccedilatildeo curricular possibilidades teoacuterico-praacuteticas Mei-recele Caliope Leitinho e Patriacutecia Helena Carvalho Holanda (Orgs) 2011 208p ISBN 978-85-7282-437-8

98 Elogio do cotidiano educaccedilatildeo ambiental e a pedagogia silenciosa da caatinga no sertatildeo piauiense Saacutedia Gonccedilalves de Castro (Orgs) 2011 243p ISBN 978-85-7282-438-6

99 Recortes das sexualidades Adriano Henrique Caetano Costa Alexandre Martins Joca e Francisco Pedrosa Ramos Xavier Filho (Orgs) 2011 214p ISBN 978-85-7282-444-6

100 O Pensamento pedagoacutegico hoje Joseacute Gerardo Vasconcelos e Joseacute Rogeacuterio Santana (Orgs) 2011 187p ISBN 978-85-7282-428-6

101 Inovaccedilotildees cibercultura e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vasconcelos Vania Marilande Ceccatto Francisco Herbert Lima Vasconcelos e Juacutelio Wilson Ribeiro (Orgs) 2011 301p ISBN 978-85-7282-429-3

102 Tribuna de vozes Joseacute Gerardo Vasconcelos Renata Rovaris Diorio e Flaacutevio Joseacute Moreira Gonccedilalves (Orgs) 2011 530p ISBN 978-85-7282-446-0

103 Bioinformaacutetica ciecircncias biomeacutedicas e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho Francisco Fleury Uchoa Santos Juacutenior Vacircnia Marilande Ceccatto (Orgs) 2011 277p ISBN 978-85-7282-450-7

104 Dialogando sobre metodologia cientiacutefica Helena Marinho Joseacute Rogeacuterio Santana e (Orgs) 2011 165p ISBN 978-85-7282-463-7

234 d d 235

105 Cultura educaccedilatildeo espaccedilo e tempo Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Keila Andrade Haiashida Lia Machado Fiuza Fialho Rui Martinho Rodrigues e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2011 743p ISBN 978-85-7282-453-8

106 Artefatos da cultura negra no Cearaacute Henrique Cunha Juacutenior Joselina da Silva e Cicera Nunes (Orgs) 2011 283p ISBN 978-85-7282-464-4

107 Espaccedilos e tempos de aprendizagens geografia e educaccedilatildeo na cultura Stanley Braz de Oliveira Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Gerardo Vasconcelos e Maacutercio Igleacutesias Arauacutejo Silva (Orgs) 2011 157p ISBN 978-85-7282-483-5

108 Muitas histoacuterias muitos olhares relatos de pesquisas na histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vasconcelos Gablielle Bessa Pereira Maia e Lia Machado Fiuza Fialho (Orgs) 2011 339p ISBN 978-85-7282-466-8

109 Imagem memoacuteria e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vas-concelos Lia Machado Fiuza Fialho Cibelle Amorim Martins e Favianni da Silva (Orgs) 2011 322p ISBN 978-85-7282-480-4

110 Corpos de rua cartografia dos saberes Juvenis e o Sociopoetizar dos Desejos dos Educadores Shara Jane Holanda Costa Adad 2011 391p ISBN 978-85-7282-447-7

111 Baratildeo e o prisioneiro biografia e histoacuteria de vida em debate Charliton Joseacute dos Santos Machado Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Joseacute Gerardo Vasconcelos 2011 76p ISBN 978-85-7282-475-0

112 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade II Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2011 363p ISBN 978-85-7282-481-1

113 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade III Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2011 331p ISBN 978-85-7282-484-2

114 Diaacutelogos em educaccedilatildeo ambiental Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Joseacute Levi Furtado Sampaio (Org) 2012 350p ISBN 978-85-7282-488-0

115 Artes do sentir trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2011 406p ISBN 978-85-7282-490-3

116 Milagre martiacuterio protagonismo da tradiccedilatildeo religiosa popular de Juazeiro padre Ciacutecero beata Maria de Arauacutejo romeirosas e romarias Luis Eduardo Torres Bedoya (Org) 2011 189p ISBN 978-85-7282-462-091

117 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade III encantos que se encontram nos diaacutelogos que acompanham Freire Joatildeo Batista de Oliveira Figueiredo e Maria Eleni Henrique da Silva (Orgs) 2012 212p ISBN 978-85-7282-454-5

118 As contribuiccedilotildees de Paramahansa Yogananda agrave educaccedilatildeo ambiental Arnoacutebio Albuquerque 2011 233p ISBN 978-85-7282-456-9

119 Educaccedilatildeo brasileira em muacuteltiplos olhares Francisco Ari de Andrade Anto-nia Rozimar Machado e Rocha Janote Pires Marques e Helena de Lima Marinho Rodrigues Arauacutejo 2012 326p ISBN 978-85-7282-499-6

120 Educaccedilatildeo musical campos de pesquisa formaccedilatildeo e experiecircncias Luiz Botelho Albuquerque e Pedro Rogeacuterio (Orgs) 2012 296p ISBN 978-7282-505-4

121 A questatildeo da praacutetica e da teoria na formaccedilatildeo do professor Ada Augus-ta Celestino Bezerra Marilene Batista da Cruz Nascimento e Edineide Santana (Orgs) 2012 218p ISBN 978-7282-503-0

122 Histoacuteria da educaccedilatildeo real e virtual em debate Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho (Orgs) 2012 524p ISBN 978-85-7282-509-2

123 Educaccedilatildeo perspectivas e reflexotildees contemporacircneas Alice Nayara dos Santos Ana Paula Vasconcelos de Oliveira Tahim e Gabrielle Silva Marinho (Orgs) 2012 191p ISBN 978-85-7282-491-0

124 Uacutelceras por pressatildeo uma Abordagem Multidisciplinar Miriam Viviane Baron Joseacute Rogeacuterio Santana Cristine Brandenburg Lia Machado Fiuza Fialho e Marcelo Carneiro (Orgs) 2012 315p ISBN 978-85-7282-489-7

125 Somos todos seres muito especiais uma anaacutelise psico-pedagoacutegica da poliacutetica de educaccedilatildeo inclusiva Ada Augusta Celestino Bezerra e Maria Auxiliadora Aragatildeo de Souza 2012 183p ISBN 978-85-7282-517-7

126 Memoacuterias de Baobaacute Sandra Haydeacutee Petit e Geranilde Costa e Silva (Orgs) 2012 281p ISBN 978-85-7282-501-6

127 Caldeiratildeo saberes e praacuteticas educativas Ceacutelia Camelo de Sousa e Lecircda Vascon-celos Carvalho 2012 135p ISBN 978-85-7282-521-4

128 As Redes sociais e seu impacto na cultura e na educaccedilatildeo do seacuteculo XXI Ronaldo Nunes Linhares Simone Lucena e Andrea Versuti (Orgs) 2012 369p ISBN 978-85-7282-522-1

129 Corpografia multiplicidades em fusatildeo Shara Jane Holanda Costa Adad e Fran-cisco de Oliveira Barros Juacutenior (Orgs) 2012 417p ISBN 978-85-7282-527-6

130 Infacircncia e instituiccedilotildees educativas em Sergipe Miguel Andreacute Berger (Org) 2012 203p ISBN 978-85-7282-519-1

131 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade III Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2012 441p ISBN 978-85-7282-530-6

132 Imprensa impressos e praacuteticas educativas estudos em histoacuteria da edu-caccedilatildeo Miguel Andreacute Berger e Ester Fraga Vilas-Bocircas Carvalho do Nascimento (Orgs) 2012 333p ISBN 978-85-7282-531-3

133 Proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro por meio do tombamento estudo criacutetico e comparado das legislaccedilotildees estaduais mdash Organizadas por Regiotildees Francisco Humberto Cunha Filho (Org) 2012 183p ISBN 978-85-7282-535-1

134 Afro arte memoacuterias e maacutescaras Henrique Cunha Junior e Maria Ceciacutelia Felix Calaccedila (Orgs) 2012 91p ISBN 978-85-7282-439-2

135 Educaccedilatildeo musical em todos os sentidos Luiz Botelho Albuquerque e Pedro Rogeacuterio (Orgs) 2013 300p ISBN 978-85-7282-559-7

136 Africanidades Caucaienses saberes conceitos e sentimentos Sandra Haydeacutee Petit e Geranilde Costa e Silva (Orgs) 2012 206p ISBN 978-85-7282-590-0

137 Batuques folias e ladainhas [manuscrito] a cultura do quilombo do Cria-uacute em Macapaacute e sua educaccedilatildeo Videira Piedade Lino 2012 399p ISBN 978-85-7282-536-8

138 Conselho escolar processos mobilizaccedilatildeo formaccedilatildeo e tecnologia Francisco Herbert Lima Vasconcelos Swamy de Paula Lima Soares Cibelle Amorim Martins Cefisa Maria Sabino Aguiar (Orgs) 2013 370p ISBN 978-85-7282-563-4

139 Sindicalismo sem Marx a CUT como espelho Jorge Luiacutes de Oliveira 2013 570p ISBN 978-85-7282-572-6

140 Catharina Moura e o Feminismo na Parahyba do Norte processos mobilizaccedilatildeo formaccedilatildeo e tecnologia Charliton Joseacute dos Santos Machado Maria Luacutecia da Silva Nunes e Maacutercia Cristiane Ferreira Mendes (Autores) 2013 131p ISBN 978-85-7282-574-0

141 Sequecircncia Fedathi uma proposta pedagoacutegica para o ensino de matemaacute-tica e ciecircncias Francisco Edisom Eugenio de Sousa Francisco Herbert Lima Vasconcelos Hermiacutenio Borges Neto et al (organizadores) 2013 184p ISBN

978-85-7282-573-3142 Transdisciplinaridade na educaccedilatildeo de jovens e adultos colcha de retalhos

ndash conhecimento emancipaccedilatildeo e autoria Ada Augusta Celestino Bezerra e Paula Tauana Santos 2013 109p ISBN 978-85-7282-476-7

236 d d 237

143 Pedagogia organizacional gestatildeo avaliaccedilatildeo amp praacuteticas educacionais Marcos Antonio Martins Lima e Gabrielle Silva Marinho (organizadores) 2013 221p ISBN 978-85-7282-496-5

144 Educaccedilatildeo e formaccedilatildeo de professores questotildees contemporacircneas Ada Augusta Celestino Bezerra e Marilene Batista da Cruz Nascimento (organizadoras) 2013 368p ISBN 978-85-7282-576-4

145 Configuraccedilatildeo do trabalho docente a instruccedilatildeo primaacuteria em Sergipe no seacuteculo XIX (1826-1889) Simone Silveira Amorim 2013 331p ISBN 978-85-7282-575-7

146 Dez anos da Lei No 1063903 memoacuterias e perspectivas Regina de Fatima de Jesus Mairce da Silva Arauacutejo e Henrique Cunha Juacutenior (Orgs) 2013 366p ISBN 978-85-7282-577-1

147 A Histoacuteria Autores e Atores compreensatildeo do mundo educaccedilatildeo e cidadania Rui Martinho Rodrigues 2013 306p ISBN 978-85-7282-583-2

148 Os intelectuais Rui Martinho Rodrigues 2013 164p ISBN 978-85-7282-581-8149 Dinameacuterico Soares do Nascimento uma histoacuteria de poesia paixatildeo e dor

Charliton Joseacute dos Santos Machado Eliel Ferreira Soares e Fabiana Sena (Autores) 2013 76p ISBN 978-85-7282-580-1

150 Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo no Cearaacute Joseacute Gerardo Vasconcelos Lia Machado Fiuza Fialho Joseacute Rogeacuterio Santana Lourdes Rafaella Santos Florecircncio Rui Martinho Rodrigues Dijane Maria Rocha Viacutector e Stanley Braz de Oliveira (Orgs) 2013 218p ISBN 978-85-7282-591-7

151 Pesquisas Biograacuteficas na Educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho Dijane Maria Rocha Victor Antonio Roberto Xavier e Roberta Luacutecia Santos de Oliveira (Orgs) 2013 299p ISBN 978-85-7282-578-8

152 Vejo um museu de grandes novidades o tempo natildeo para Sociopoe-tizando o museu e musealizando a vida Elane Carneiro de Albuquerque 2013 233p ISBN 978-85-7282-587-0

153 A construccedilatildeo da tradiccedilatildeo no Jongo da Serrinha uma etnografia visual do seu processo de espetacularizaccedilatildeo Pedro Somonard 2013 225p ISBN 978-85-7282-588-7

154 Medida socioeducativa de internaccedilatildeo educa Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Organizadora) 2013 370p ISBN 978-85-7282-592-4

155 Palavras e admiraccedilotildees Fernando Luiz Ximenes Rocha 2013 208 ISBN 978-85-7282-593-1

156 Educaccedilatildeo Ambiental e sustentabilidade IV Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Organizadora) 2013 564p ISBN 978-85-7282-596-2

157 Educaccedilatildeo Brasileira rumos e prumos Francisco Ari de Andrade Dijane Maria Rocha Viacutector e Regina Claacuteudia Oliveira da Silva (Orgs) 2013 462pISBN 978-85-7282-594-8

158 Curriacuteculo diaacutelogos possiacuteveis Alice Nayara dos Santos e Pedro Rogeacuterio (organizadoras) 2013 418p ISBN 978-85-7282-585-6

159 Pesquisas educacionais biograacuteficas Lia Machado Fiuza Fialho Gildecircnia Moura de Arauacutejo Almeida e Edilson Silva Castro (Orgs) 2013 166p ISBN 978-85-7282-600-6

160 Hieroacutepolis o sagrado o profano e o urbano Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joumlrn Seemann Josier Ferreira da Silva Christian Dennys

Monteiro de Oliveira e Stanley Braz de Oliveira (Organizadores) 2013 486p ISBN 978-85-7282-603-7

161 Praacuteticas educativas exclusatildeo e resistecircncia Joseacute Gerardo Vasconcelos Lia Machado Fiuza Fialho e Lourdes Rafaella Santos Florecircncio (Organizadores) 2013 166p ISBN 978-85-7282-601-3

162 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade IV Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Organizadora) 2014 520p ISBN 978-85-7282-602-0

163 No ar um poeta Henrique Beltratildeo 2014 361p ISBN 978-85-7282-615-0164 Caacute e Acolaacute experiecircncias e debates Multiculturais Gledson Ribeiro de Olivei-

ra Jeannette Filomeno Pouchain Ramos e Bruno Okoudowa (Organizadores) 2014 339p ISBN 978-85-7282-607-5

165 Ensaios em memoacuterias e oralidades Lia Machado Fiuza Fialho Charliton Joseacute dos Santos Machado Gildecircnia Moura de Arauacutejo Almeida e Joseacute Rogeacuterio Santana (Organizadores) 2014 183p ISBN 978-85-7282-610-5

166 Pelos fios da memoacuteria Lia Machado Fiuza Fialho Charliton Joseacute dos Santos Machado Josier Ferreira da Silva e Joseacute Rogeacuterio Santana (Organizadores) 2013 154p ISBN 978-85-7282-609-9

167 Acessibilidade na UFC tessituras possiacuteveis Vanda Magalhatildees Leitatildeo e Tania Vicente Viana (Organizadoras) 2014 237p ISBN 978-85-7282- 611-2

Page 5: UFC · 2019. 6. 4. · Presidente da República Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Aloizio Mercadante Universidade Federal do Ceará Reitor Prof. Jesualdo Pereira Farias Vice-Reitor

SUMAacuteRIOdo Estado do Cearaacute Integrante da Equipe de Educaccedilatildeo Especial da Se-cretaria de Educaccedilatildeo do Municiacutepio de Fortaleza Doutoranda em Educa-ccedilatildeo pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail teresaliduinagmailcom

Vanda Magalhatildees Leitatildeo ndash Professora Associada I do Departamento de Estudos Especializados da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) Diretora da Secretaria de Acessibili-dade UFC Inclui Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela FacedUFCE-mail vandaufcbr

Valeacuteria Gomes Pereira ndash Graduada em Biblioteconomia pela Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail 2005valeriabolcombr

Zilsa Maria Pinto Santiago ndash Professora Adjunta do Curso de Ar-quitetura e Urbanismo do Centro de Tecnologia da Universidade Fede-ral do Cearaacute (UFC) Mestre em Arquitetura e Urbanismo pelo Mestra-do Interinstitucional com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) Doutora em Educaccedilatildeo Brasileira pela Faculdade de Educaccedilatildeo ndash FacedUFC Professora de Educaccedilatildeo e Mobi-lidade no curso de Especializaccedilatildeo em Gestatildeo de Tracircnsito e Transportes Urbanos do Departamento de Engenharia de TransportesUFC Mem-bro do Grupo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC IncluiE-mail zilsaarquiteturaufcbr

PREFAacuteCIORita de Caacutessia Barbosa Paiva Magalhatildees 11

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVanda Magalhatildees Leitatildeo 19

ACESSO Agrave INFORMACcedilAtildeO POR DEFICIENTES VISUAIS EM BIBLIOTECAS CEARENSESValeacuteria Gomes PereiraHamilton Rodrigues Tabosa 39

BIBLIOTECA INCLUSIVA CONSTRUINDO PONTES ENTRE O VISIacuteVEL E O INVISIacuteVELClemilda dos Santos SousaJeriane da Silva Rabelo 59

O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIABeatriz Furtado Alencar LimaCarla Poennia Gadelha Soares 75

SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLEMaria Clarissa Maciel RodriguesInecircs Cristina de Melo Mamede 95

ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeOMaria Izalete Inaacutecio Vieira 123

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteMarta Cavalcante BenevidesTania Vicente Viana 147

d 11

PREFAacuteCIO

Tudo passa e tudo fica poreacutem o nosso eacute passar passar fazendo caminhos

(Antonio Machado )

No Brasil ateacute a deacutecada de 1980 poucas pessoas com deficiecircncia1 ingressavam no Ensino Superior fato que pode estar diretamente relacionado ao acesso restrito dessa popu-laccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Baacutesica aos serviccedilos especializados e indica o longo periacuteodo de sua exclusatildeo dos direitos sociais baacutesicos em nosso paiacutes Gradativamente com o advento da Educaccedilatildeo Especial em uma perspectiva inclusiva tal populaccedilatildeo enfren-tando condiccedilotildees ainda adversas finaliza o Ensino Meacutedio e al-meja o ingresso no Ensino Superior

A despeito de todas as ponderaccedilotildees passiacuteveis de serem realizadas sobre sua funccedilatildeo social no contexto da atual crise do capitalismo com suas modalidades precaacuterias de participa-ccedilatildeo e de acesso ao conjunto dos bens e serviccedilos socialmente produzidos a Educaccedilatildeo Especial na perspectiva inclusiva des-ponta como um princiacutepio eacutetico em busca da garantia do direi-to agrave Educaccedilatildeo peremptoriamente negado a muitas geraccedilotildees de estudantes com deficiecircncia

No caso brasileiro a Educaccedilatildeo Especial com feiccedilotildees es-tatais surgiu apenas no apogeu do ldquomilagre brasileirordquo propa-lado pelos governos militares De certa forma seu ldquosucessordquo naufraga com estes governos para ressurgir com extraordi-

1 Embora a Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva Inclusiva reco-nheccedila que seu puacuteblico eacute composto por pessoas com deficiecircncia transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo neste prefaacutecio usaremos predominantemente a expressatildeo pessoas com deficiecircncia

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteFrancisca Samara Teixeira CarvalhoTania Vicente Viana 169

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ Tereza Liduina Grigoacuterio FernandesLucimeire Alves MouraEdson Silva SoaresTania Vicente Viana 193

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute Zilsa Maria Pinto SantiagoPliacutenio Renan Gonccedilalves da Silveira 213

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naacuteria forccedila no acircmbito do debate da ldquoEducaccedilatildeo para todosrdquo na deacutecada de 1990 Esse debate aponta para a perspectiva de democratizaccedilatildeo dos sistemas escolares em todos os seus niacute-veis e modalidades Todavia quando o assunto eacute Educaccedilatildeo Inclusiva o foco hegemocircnico das investigaccedilotildees cientiacuteficas e publicaccedilotildees eacute a inclusatildeo na Educaccedilatildeo Baacutesica Ora atualmente a Educaccedilatildeo Inclusiva no Ensino Superior representa um dos desafios prementes para a real democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior e consequentemente para a denominada docecircncia universitaacuteria dimensatildeo que natildeo tem recebido o tratamento necessaacuterio

Na contracorrente da tradicional seletividade e elitismo que caracterizam a Educaccedilatildeo Superior no Brasil a universi-dade constitui um rico espaccedilo social onde as ldquodiferenccedilasrdquo co-meccedilam a estar presentes Nesse sentido a instituiccedilatildeo univer-sitaacuteria necessita envidar esforccedilos e planejar accedilotildees educativas com vistas agrave garantia de condiccedilotildees de acesso de participaccedilatildeo de aprendizagem isto eacute assegurar o sucesso escolar da popu-laccedilatildeo-alvo da Educaccedilatildeo Inclusiva

Essa garantia pode dinamizar accedilotildees formativas po-tencializadoras tanto da aprendizagem desses estudantes quanto de atividades pedagoacutegicas necessaacuterias para a quebra de barreiras arquitetocircnicas atitudinais e pedagoacutegicas tatildeo co-muns nos processos de Educaccedilatildeo de pessoas consideradas de-ficientes A superaccedilatildeo dessas barreiras especialmente aque-las de cunho pedagoacutegico exige das universidades estrateacutegias capazes de fomentar programas de formaccedilatildeo para docentes universitaacuterios bem como formas de questionar praacuteticas cris-talizadas e pautadas na desinformaccedilatildeo no preconceito e na estigmatizaccedilatildeo

Este livro ndash fruto de trabalho desenvolvido na Univer-sidade Federal do Cearaacute (UFC) ndash apresenta um robusto pano-

rama de investigaccedilotildees reflexotildees e praacuteticas desenvolvidas na referida universidade na busca por uma Educaccedilatildeo Superior democraacutetica e acessiacutevel

O capiacutetulo ldquoCaminhos para a acessibilidade na UFCrdquo de autoria da doutora Vanda Magalhatildees Leitatildeo docente da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFC abre o livro e traccedila um panorama das demandas por acessibilidade na referida universidade aleacutem de descrever o nascedouro da ldquoSecretaria de Acessibilidade da UFCrdquo Discute a experiecircncia vivenciada pautada sobremodo na afirmaccedilatildeo das diferenccedilas e na cons-truccedilatildeo de perspectiva chamada ldquocaminho de matildeo duplardquo na qual sujeitos com e sem deficiecircncia encontram-se implicados no desafio de construir uma universidade de fato inclusiva

No segundo capiacutetulo denominado ldquoAcesso agrave informa-ccedilatildeo por deficientes visuais em bibliotecas cearensesrdquo Valeacuteria Gomes Pereira e Hamilton Rodrigues Tabosa respectivamen-te aluna e docente do curso de Biblioteconomia da UFC dis-cutem a situaccedilatildeo das bibliotecas cearenses quanto agrave acessibi-lidade atraveacutes de tecnologias assistivas eletrocircnicas O estudo ressalta a importacircncia da biblioteca e do acesso agrave informaccedilatildeo como agentes transformadores Mostra tambeacutem o papel do bibliotecaacuterio como suporte para estudantes com deficiecircncia visual no acesso agrave informaccedilatildeo

O capiacutetulo terceiro do livro denominado ldquoBiblioteca Inclusiva construindo pontes entre o visiacutevel e o invisiacutevelrdquo escrito em parceria por Clemilda dos Santos Sousa (Biblio-tecaacuteria do Sistema de Bibliotecas da UFC) e por Jeriane da Silva Rabelo (graduanda em Pedagogia da mesma instituiccedilatildeo) volta a discutir questotildees relativas agraves bibliotecas no contexto dos processos de Educaccedilatildeo Inclusiva no Ensino Superior De-fende a importacircncia da acessibilidade ao espaccedilo da biblioteca aleacutem de mostrar a organizaccedilatildeo do Sistema de Biblioteca da

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UFC no que concerne ao contato com o material bibliograacutefico por parte de pessoas com deficiecircncia visual Evidencia que a digitalizaccedilatildeo de material bibliograacutefico natildeo constitui atividade--fim mas um meio para mediar o contato dessas pessoas com o conhecimento cientiacutefico

No segmento o quarto capiacutetulo intitulado ldquoO serviccedilo de ledores na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui um re-lato de experiecircnciardquo escrito por Beatriz Furtado Alencar Lima (Professora do curso de Letras da UFC) e Carla Poennia Ga-delha Soares (Superintendente Escolar da Coordenadoria Re-gional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo do Estado do Cearaacute) relata a experiecircncia vivenciada no projeto ldquoAtendimento Edu-cacional Especializado para alunos com deficiecircncia visual de universidades puacuteblicas do municiacutepio de Fortalezardquo Explicita a relevacircncia da organizaccedilatildeo de alternativas de atendimento agraves necessidades especiacuteficas de estudantes com deficiecircncia no acircmbito do Ensino Superior com vistas a colaborar para a que-bra de barreiras e promover a participaccedilatildeo e aprendizagem dos mesmos

O quinto capiacutetulo denominado ldquoSeis pontos para a alfa-betizaccedilatildeo especificidades na aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas cegas por meio do Sistema Braillerdquo escrito em parceria pela aluna do curso de Pedagogia da UFC Maria Clarissa Maciel Rodrigues e pela professora Inecircs Cristina de Melo Mamede docente da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) da UFC mostra resultados de uma investigaccedilatildeo cientiacutefica um estudo de caso cujo objetivo foi investigar as especificidades do processo de aquisiccedilatildeo da escrita pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille Aleacutem de revelar tais peculiaridades estabelece interlocuccedilatildeo com a perspectiva de construccedilatildeo da liacutengua escrita proposta pela psicogecircnese piagetiana com fulcro nos estudos de Emiacutelia Ferreiro

O sexto capiacutetulo designado ldquoAbrindo uma janela para a comunicaccedilatildeordquo de autoria de Maria Izalete Inaacutecio Vieira dis-cute a importacircncia da liacutengua de sinais no processo de educa-ccedilatildeo de pessoas surdas e descreve a expansatildeo da acessibilidade para surdos por intermeacutedio de um projeto piloto de legenda-gem em Libras do programa televisivo com periodicidade se-manal UFCTV Essa experiecircncia demonstra a incontornaacutevel necessidade de accedilotildees capazes de revelar para a comunidade em geral que a garantia do direito agrave informaccedilatildeo a toda a po-pulaccedilatildeo inclusive os surdos depende da construccedilatildeo de uma universidade inclusiva e acessiacutevel para todos

No seacutetimo capiacutetulo a doutoranda em Educaccedilatildeo pela UFC Marta Cavalcante Benevides e Tania Vicente Viana do-cente da citada instituiccedilatildeo discutem a ldquoAvaliaccedilatildeo da apren-dizagem de alunos com deficiecircncia estudo de caso em uma instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza--Cearaacuterdquo Destacam aspectos relativos agrave avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem desses alunos ponderando sobre a adequaccedilatildeo da ava-liaccedilatildeo formativa realizada com atividades contextualizadas Evidenciam que a praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem des-tinada aos alunos com deficiecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo de uma IES puacuteblica ainda carece de condiccedilotildees de acessibilidade

O capiacutetulo oito denominado ldquoAvaliaccedilatildeo da aprendiza-gem de alunos com deficiecircncia em Cursos das Ciecircncias Exa-tas estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica Federal de Fortaleza-Cearaacuterdquo escrito por Fran-cisca Samara Teixeira Carvalho (Mestre em Educaccedilatildeo pela UFC) e Tania Vicente Viana (docente da referida instituiccedilatildeo) discute o processo de avaliaccedilatildeo de aprendizagem no contexto inclusivo tecendo criacuteticas aos modelos tradicionais pautado em exames e defende a perspectiva da avaliaccedilatildeo como media-

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dora dos processos de ensino-aprendizagem Mostra ainda que no acircmbito dos Cursos de Ciecircncias Exatas investigados embora se reconheccedila a necessidade de adequaccedilotildees no proces-so avaliativo de pessoas com deficiecircncia existe a necessidade de implantar uma cultura avaliativa que supere a perspectiva tradicional

O nono capiacutetulo intitulado ldquoCapacidades silentes iden-tificaccedilatildeo educacional de altas habilidades em alunos com sur-dezrdquo retoma a temaacutetica do artigo anterior e foi elaborado por Tereza Liduina Grigoacuterio Fernandes e Lucimeire Alves Moura ambas do Centro de Referecircncia em Educaccedilatildeo Especial do Es-tado do Cearaacute em parceria com Edson Silva Soares (docen-te da UFC) e Tania Vicente Viana (docente da UFC) Revela originalidade em duas vertentes Por um lado trata-se do re-sultado de uma investigaccedilatildeo elaborada de modo interinstitu-cional por outro lado trata-se de um trabalho original para a pesquisa em Educaccedilatildeo Especial por pesquisar nas interfaces entre surdez e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo

Finalizando o livro o artigo ldquoPercursos e perspectivas da acessibilidade fiacutesica na Universidade Federal do Cearaacuterdquo de autoria de Zilsa Maria Pinto Santiago (docente do curso de Arquitetura da UFC) e Pliacutenio Renan Gonccedilalves da Silvei-ra (monitor do Projeto UFC Inclui) descreve accedilotildees desen-volvidas por esta universidade na melhoria da qualidade do acesso fiacutesico aos campi bem como enfatiza questotildees teacutecnicas relativas aos desafios pertinentes agrave acessibilidade nos espaccedilos da citada universidade

O conjunto de artigos enfeixados na presente obra aborda um leque variado de temas pertinentes para o cam-po da Educaccedilatildeo Inclusiva e instigam nossa capacidade criacuteti-ca e investigativa Revelam caminhos conquistas e desafios peculiares agrave constituiccedilatildeo de uma universidade puacuteblica atenta

as demandas de seu alunado Fica expliacutecito o engajamento dos(as) autores(as) na conquista diaacuteria por espaccedilos acessiacuteveis e por uma Educaccedilatildeo Superior Inclusiva Sua leitura revela-se pois essencial para todos os que lutam por uma universidade puacuteblica de qualidade

Rita de Caacutessia Barbosa Paiva Magalhatildees Docente do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Educaccedilatildeo Centro de Educaccedilatildeo Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFC

Vanda Magalhatildees Leitatildeo

Introduccedilatildeo

A inclusatildeo social de pessoas com deficiecircncia no Bra-sil eacute um tema em efervescecircncia e resulta da dialeticidade de muacuteltiplos fatores Em meio ao processo soacutecio-histoacuterico destacam-se as contribuiccedilotildees teoacutericas das Ciecircncias Sociais e Humanas que se entrelaccedilam dando suporte e forccedila poliacuteti-ca aos movimentos sociais organizados por essas pessoas em defesa dos seus direitos Esses segmentos sociais desafiam o poder puacuteblico se fortalecem e se tornam visiacuteveis falando de si e de suas necessidades sob a maacutexima Nada Sobre Noacutes Sem Noacutes1

No Brasil a mobilizaccedilatildeo da sociedade civil em busca dos direitos humanos de pessoas com deficiecircncia se eviden-cia a partir dos meados do seacuteculo XX quando haacute registro de criaccedilatildeo das primeiras instituiccedilotildees especializadas para o aten-dimento dessas pessoas o Instituto Pestalozzi e a Associaccedilatildeo de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE) satildeo exemplos Aleacutem disso as Campanhas Nacionais2 ocorridas entre 1957 e 1960 em defesa da educaccedilatildeo de cegos surdos e deficientes mentais3 sob a lideranccedila do Instituto Benjamim Constant Instituto Na-cional de Educaccedilatildeo de Surdos Sociedade Pestalozzi do Bra-

1 Lema internacional indicativo de que as organizaccedilotildees de pessoas com deficiecircncia devem ser consultadas sempre que estiverem sendo desenvolvidos programas padrotildees e normas para a acessibilidade2 Refiro-me agrave Campanha de Educaccedilatildeo de Surdos no Brasil (CESB 1957) Campa-nha Nacional de Educaccedilatildeo de Cegos (CNEC 1960) e a Campanha de Educaccedilatildeo de Deficientes Mentais (CADEME 1960) 3 Terminologia utilizada naquele momento histoacuterico

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO20 d d 21

sil e APAE datildeo respaldo agrave organizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial como uma modalidade de ensino voltada a pessoas com defi-ciecircncia e transversal a todas as etapas e niacuteveis de ensino ndash da Educaccedilatildeo Baacutesica ao Ensino Superior Nesse contexto os mo-vimentos pela aceitaccedilatildeo dessas pessoas tambeacutem se evidencia com vista a integraacute-las agrave sociedade Eacute possiacutevel observar que tal movimentaccedilatildeo eacute acompanhada de mudanccedilas terminoloacutegi-cas para designar todos aqueles que se diferenciam por seus modos singulares de apreender o mundo agrave sua volta e com ele se relacionar Satildeo diferenccedilas que resultam de alguma condi-ccedilatildeo de deficiecircncia sensorial intelectual mental ou fiacutesica que apresentem

No Cearaacute os outrora intitulados desvalidos nos primei-ros cinquenta anos do seacuteculo XX passaram a ser denomina-dos de excepcionais numa tentativa de amenizar o significado da deficiecircncia pautado pelo paradigma meacutedico-organicista--funcional Na sequecircncia histoacuterica foram adotadas

[] expressotildees como deficientes portadores de deficiecircn-cia portadores de necessidades especiais Apesar disso satildeo frequentes as manifestaccedilotildees constrangedoras de pessoas que natildeo sabem como se referir ou se aproximar adequadamente daqueles que compotildeem os grupos de pessoas que apresentam diferenccedilas resultantes de suas singulares condiccedilotildees (LEITAtildeO 2010)

Tais denominaccedilotildees reveladas pela historiografia ao longo das uacuteltimas seis deacutecadas baseadas em normas e valores sociais situam esse contingente social em um lugar marginal com intensa valoraccedilatildeo negativa Eacute como se o tempo fosse de-lineando essa categoria de pessoas no esforccedilo de amenizar a carga negativa por meio dos termos e expressotildees substituiacutedos mas que na verdade parecem manter em sua essecircncia o es-tigma da deficiecircncia (LEITAtildeO 2008)

O Ano Internacional das Pessoas com Deficiecircncia insti-tuiacutedo em 1981 marca no Brasil a emergecircncia de movimentos sociais organizados por pessoas com deficiecircncia que estimula reflexotildees num convite ao abandono do conceito de deficiecircncia sob o acircngulo da falta da perda ou diminuiccedilatildeo funcional para uma compreensatildeo social e afirmativa Sem negar a condiccedilatildeo bioloacutegico-funcional que resulta em suas singulares condiccedilotildees sensorial intelectual fiacutesica ou linguiacutestica passam a adotar expressotildees afirmativas como pessoas com deficiecircncia ou tatildeo somente cegas surdas cadeirantes e outras denominaccedilotildees atualmente usuais Sob esse paradigma a afirmaccedilatildeo das con-diccedilotildees de deficiecircncia daacute suporte agrave passagem para as condiccedilotildees de possibilidades

Atualmente com o respaldo das Ciecircncias Humanas e Sociais o conceito de deficiecircncia eacute posto em xeque pelos grupos organizados em associaccedilotildees de pessoas com deficiecircn-cia ao se apropriarem dos estudos socioantropoloacutegicos que datildeo realce agrave diferenccedila como ldquorecortes de um mesmo tecidordquo (OMOTE 1994)

Ao situar as ambiguidades sobre a compreensatildeo que se tem da deficiecircncia o referido autor afirma que

[] a deficiecircncia natildeo eacute algo que emerge com o nasci-mento de algueacutem ou com a enfermidade que algueacutem contrai mas eacute produzida e mantida por um grupo social na medida em que interpreta e trata como desvantagens certas diferenccedilas [] A deficiecircncia e a natildeo-deficiecircncia fazem parte do mesmo quadro fazem parte do mesmo tecido padratildeo (OMOTE 1994 p 69)

A compreensatildeo de que as deficiecircncias satildeo construccedilotildees sociais trazidas por tais estudos e elaboraccedilotildees tecircm reflexo nas palavras da ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidecircncia da Repuacuteblica Maria do Rosaacuterio ao prefaciar o

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texto que resultou da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pesso-as com Deficiecircncia4 Diz a ministra

estamos conscientes por exemplo de que hoje natildeo eacute o limite individual que determina a deficiecircncia mas sim as barreiras existentes nos espaccedilos no meio fiacutesico no transporte na informaccedilatildeo na comunicaccedilatildeo e nos serviccedilos (BRASIL 2011)

Nesta perspectiva as pessoas com deficiecircncia satildeo aque-las que se diferenciam por suas singularidades determinadas pela condiccedilatildeo de deficiecircncia que apresentam seja de nature-za fiacutesica sensorial eou intelectual As transformaccedilotildees que outrora eram centradas nas pessoas voltam-se ao ambiente fiacutesico e social para garantir o acesso para tudo a todos5 Eacute com tal compreensatildeo que esse contingente social minoritaacute-rio promove o reconhecimento de que a deficiecircncia eacute um con-ceito em transformaccedilatildeo e que resulta de sua interaccedilatildeo com o meio social Certamente esse entendimento fundamenta-se nas vivecircncias de confronto e enfrentamento com as barreiras a ele impostas Satildeo barreiras que se expressam das mais va-riadas formas tais como as de ordem fiacutesica linguiacutestica comu-nicacional e informacional tecnoloacutegica dentre outras e que certamente tecircm como pano de fundo as atitudes inadequadas que influenciam uma organizaccedilatildeo social muitas vezes hostil e que bloqueia a inserccedilatildeo plena dessas pessoas em igualdade de oportunidades com as demais

No contexto atual as condiccedilotildees de deficiecircncia parecem ser as mesmas transformando-se os modos de se apresenta-rem e de serem compreendidas Percebe-se facilmente que a convivecircncia diaacuteria com pessoas com deficiecircncia traz mudan-

4 Convenccedilatildeo da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) ocorrida em 2007 na cidade de Nova Iorque (EUA) O Brasil aprovou o texto da citada Convenccedilatildeo por meio do Decreto Legislativo nordm 186 de 9 de julho de 2008 5 Preceito adotado pela Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

ccedilas de atitudes grupais e individuais ateacute mesmo porque essas pessoas ao revelarem suas possibilidades e autonomia des-fazem muitos mitos construiacutedos socialmente em torno delas Eacute portanto razoaacutevel pensar que algumas atitudes preconcei-tuosas voltadas aos ldquoditos deficientesrdquo resultam tambeacutem do desconhecimento acerca das singularidades que caracterizam as muacuteltiplas condiccedilotildees de deficiecircncia

Assistem-se tambeacutem na atualidade aos debates e em-bates relativos agraves poliacuteticas de inclusatildeo educacional nas redes de educaccedilatildeo que abrangem todos os niacuteveis e modalidades de ensino Tais debates trazem em seu conjunto entrelaccedilamen-tos conceituais que para este texto destaco a inter-relaccedilatildeo de inclusatildeo e acessibilidade No senso comum acessibilidade parece evidenciar os aspectos referentes ao uso dos espaccedilos fiacutesicos Entretanto a acessibilidade numa acepccedilatildeo mais am-pla eacute condiccedilatildeo de possibilidade para a transposiccedilatildeo de barrei-ras que entravam a efetiva participaccedilatildeo com autonomia de pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida nos vaacuterios acircmbitos da vida social

A acessibilidade eacute portanto condiccedilatildeo fundamental e imprescindiacutevel a todo e qualquer processo de inclusatildeo social e se apresenta em muacuteltiplas dimensotildees incluindo aquelas de natureza atitudinal fiacutesica tecnoloacutegica informacional comunicacional linguiacutestica e pedagoacutegica dentre outras E mais eacute uma questatildeo de direito conquistado gradualmente ao longo da histoacuteria social e implica no respeito agraves diferenccedilas e na identificaccedilatildeo e eliminaccedilatildeo dos diversos tipos de barreiras E ainda acessibilidade eacute para todos sobretudo segundo o Decreto nordm 5296 de 2 de dezembro de 2004 para as pes-soas que possuem limitaccedilatildeo para o desempenho de ativida-des enquadrando-se nessa categoria aquelas com deficiecircncia fiacutesica deficiecircncia intelectual deficiecircncia visual (cegueira ou

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO24 d d 25

baixa visatildeo) deficiecircncia auditiva (surdez ou audiccedilatildeo reduzi-da) deficiecircncias muacuteltiplas e as que apresentam mobilidade reduzida

Demandas por Acessibilidade na Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

A amplitude da legislaccedilatildeo brasileira6 atual no tocante agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas a pessoas com deficiecircncia fez surgir muitos programas por parte do governo federal Em se tratan-do da inclusatildeo escolar no acircmbito do Ensino Superior destaca--se o Programa Incluir do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MECSESu) criado em 2005 que convoca as Instituiccedilotildees Federais de Ensino Superior (IFES) para o compromisso com a inclu-satildeo educacional de pessoas que apresentem alguma condiccedilatildeo de deficiecircncia oferecendo suporte para a criaccedilatildeo de nuacutecleos de inclusatildeo Este foi o marco institucional que impulsionou as IFES a avaliarem as suas condiccedilotildees de acessibilidade

Na UFC embora muitas accedilotildees jaacute se fizessem presen-tes ou em desenvolvimento destaca-se o Projeto UFC Inclui contemplado em trecircs chamadas puacuteblicas7 do MECSESu que tinha como objetivo central a estruturaccedilatildeo de um setor que garantisse as accedilotildees de inclusatildeo de alunos no ensino su-perior Dentre as muitas accedilotildees destacaram-se a realizaccedilatildeo de Ciclos de Debates oferta de cursos de Leitura e Escrita no Sistema Braille de Liacutengua Brasileira de Sinais e de Tecno-

6 Refiro-me aos Decretos que tratam especificamente do tema em foco Satildeo eles os principais Decreto nordm 52962004 (Regulamenta as Leis de nordm 100482000 e nordm 100982000) e Decreto nordm 56262005 (Regulamenta a Lei nordm 103462002)7 Na primeira chamada em 2005 a UFC eacute contemplada com Projeto UFC Inclui sob a coordenaccedilatildeo da professora Ana Karina Morais de Lira e coparticipaccedilatildeo das professoras Zilsa Maria Pinto Santiago e Vanda Magalhatildees Leitatildeo Mais duas versotildees desse Projeto foram submetidas agrave concorrecircncia puacuteblica e aprovadas em 2007 e em 2009 dessa feita sob a coordenaccedilatildeo da professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo e copar-ticipaccedilatildeo das professoras Ana Karina Morais de Lira e Zilsa Maria Pinto Santiago

logias Assistivas adaptaccedilotildees de espaccedilos fiacutesicos para a aces-sibilidade implantaccedilatildeo do Centro Digital para Alunos com Deficiecircncia e aquisiccedilatildeo de equipamentos de tecnologias da informaccedilatildeo

Nesse contexto o Magniacutefico Reitor da UFC professor Jesualdo Pereira Farias criou em novembro de 2009 a Co-missatildeo Especial de Educaccedilatildeo Inclusiva (CEIn) responsaacutevel por realizar estudos das condiccedilotildees de acessibilidade com o fim de propor poliacuteticas voltadas para a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia na UFC A equipe composta de professores das vaacuterias aacutereas do conhecimento e de representaccedilatildeo do segmento de servidor teacutecnico-administrativo e de aluno com deficiecircncia realizou um intenso trabalho durante seis meses Nesse periacuteodo foram compartilhadas expectativas e proposi-ccedilotildees discutidos aspectos conceituais realizados levantamen-tos e estudos das condiccedilotildees de acessibilidade

Os levantamentos realizados pela CEIn permitiram a coleta de dados e informaccedilotildees parciais acerca das condiccedilotildees de acessibilidade na UFC abordando os aspectos que dizem respeito agraves atitudes condiccedilotildees fiacutesicas tecnoloacutegicas acesso ao conhecimento e a informaccedilotildees formaccedilatildeo de discentes docen-tes e servidores teacutecnico-administrativos para a acessibilidade e desenvolvimento de pesquisas e estudos realizados nos cur-sos de graduaccedilatildeo e de poacutes-graduaccedilatildeo A esses levantamentos realizados por amostragem foram acrescentados os resulta-dos de estudos anteriores8 acerca das condiccedilotildees pedagoacutegicas oferecidas aos estudantes e depoimentos de servidores

8 Esses estudos se referem agrave pesquisa intitulada ldquoQuem satildeo e como estatildeo os estu-dantes com Deficiecircncia na UFCrdquo realizada em 2006 coordenada pela professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo como parte da programaccedilatildeo do Projeto UFC Inclui (20052006) e a depoimentos de alunos e de servidores teacutecnico-administrativos que foram colhidos em reuniatildeo ampliada promovida pela Comissatildeo Especial de Educaccedilatildeo Inclusiva (CEIn) em 9 de abril de 2010

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO26 d d 27

Tais estudos levantamentos e escutas revelaram que as accedilotildees inclusivas voltadas a estudantes na UFC eram realiza-das de forma pouco sistemaacutetica contingente e emergencial ocorrendo quase que exclusivamente sob a demanda daquelas pessoas com deficiecircncia que nela ingressavam e que por ve-zes as condiccedilotildees em que se encontram os servidores ainda se apresentam inadequadas agrave medida que enfrentam barreiras de natureza fiacutesica atitudinal e linguiacutestica

No tocante agrave acessibilidade arquitetocircnica os estudos evidenciaram que em sua maioria os preacutedios da UFC se apresentam fora dos padrotildees estabelecidos pela legislaccedilatildeo vi-gente Mesmo nas edificaccedilotildees mais recentes ainda eacute possiacutevel se observar inadequaccedilotildees quanto aos padrotildees de acessibilida-de Nessa avaliaccedilatildeo eacute importante considerar que muitos dos equipamentos da UFC foram construiacutedos haacute mais de 50 anos quando os direitos das pessoas com deficiecircncia natildeo eram pau-tados nos debates e discursos da eacutepoca tampouco nos proje-tos Apesar dos esforccedilos realizados pela UFC para adequar sua grande aacuterea fiacutesica as accedilotildees ainda mantecircm caraacuteter emergen-cial e contingencial

Mediante anaacutelise dos projetos pedagoacutegicos dos cursos de graduaccedilatildeo da UFC pocircde-se observar a quase inexistecircncia de componentes curriculares que contemplem conteuacutedos re-lativos agrave temaacutetica da inclusatildeo acessibilidade ou condiccedilotildees de deficiecircncia Destacam-se como exceccedilotildees a disciplina de Liacuten-gua Brasileira de Sinais (Libras) que a partir do Decreto ndeg 5626 de dezembro de 2005 passa a ser ofertada obrigato-riamente para os cursos de graduaccedilatildeo na modalidade licen-ciatura e optativas para a modalidade bacharelado Psicologia Aplicada aos Portadores de Necessidades Especiais de oferta obrigatoacuteria para o bacharelado em Psicologia Desenho Uni-versal como opccedilatildeo para o curso de Arquitetura e Urbanismo

Educaccedilatildeo Especial9 Educaccedilatildeo Inclusiva e Fundamentos da Educaccedilatildeo de Surdos de oferta opcional para os cursos de Pe-dagogia e Introduccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Especial e Educaccedilatildeo Fiacutesi-ca para Portadores de Necessidades Especiais disciplinas de oferta opcional para o curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica nas modali-dades bacharelado e licenciatura

Estudos muito recentes10 desenvolvidos no Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo da Faculdade de Educaccedilatildeo (Fa-ced) da UFC no acircmbito dos cursos de mestrado e doutorado mostram que a significativa maioria dos docentes desconhece as singularidades dos processos de aprendizagem de seus alu-nos com deficiecircncia revelando a complexidade que eacute adaptar recursos e estrateacutegias de ensino e de avaliaccedilatildeo da aprendiza-gem assim como ao que se refere agraves adaptaccedilotildees curricula-res Esses estudos demonstram as dificuldades que em geral tecircm os professores em lidar com os processos de avaliaccedilatildeo da aprendizagem de seus alunos e principalmente com aqueles que tecircm alguma necessidade especiacutefica resultante das condi-ccedilotildees de deficiecircncia sensoriais ou fiacutesicas que apresentam

No acircmbito do Sistema de Bibliotecas importante ins-trumento de acesso ao conhecimento e um dos pilares da for-maccedilatildeo profissional e da atividade acadecircmica a CEIn registrou a Comissatildeo de Acessibilidade que se propotildee agrave definiccedilatildeo de accedilotildees em busca da construccedilatildeo de bibliotecas acessiacuteveis Cons-

9 Essa disciplina passa a ter caraacuteter obrigatoacuterio a partir do ajuste curricular dos cursos de Pedagogia (diurno e noturno)10 Refiro-me aos estudos de mestrado e doutorado intitulados Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem de Alunos com Deficiecircncia estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza-Ce (2011) Direito agrave diferenccedila a inclusatildeo de alunos com deficiecircncia visual na UFC (2011) e Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem de Alunos com Deficiecircncia em Cursos das Ciecircncias Exatas estudo de caso em uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior da Rede Puacuteblica de Fortaleza-Cearaacute realizados por Marta Cavalcante Benevides Ana Cristina Silva Soares e Francisca Samara Teixeira Carvalho respectivamente

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO28 d d 29

tituiacuteda por bibliotecaacuterios a referida comissatildeo desenvolve ati-vidades tais como levantamento acerca de bibliotecas que oferecem serviccedilos ou produtos em atenccedilatildeo agraves pessoas com deficiecircncia anaacutelise da potencialidade de serviccedilos em curso no Sistema de Bibliotecas que podem ajudar na promoccedilatildeo da acessibilidade como Biblioteca Digital de Teses e Disser-taccedilotildees Livros Eletrocircnicos Portal da Coordenaccedilatildeo de Aperfei-ccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) diagnoacutestico das condiccedilotildees de acessibilidade fiacutesica tecnoloacutegica e de recur-sos humanos do Sistema de Bibliotecas dentre outras

Muito embora a UFC jaacute venha desenvolvendo algumas accedilotildees que satildeo favoraacuteveis agrave condiccedilatildeo de acessibilidade as re-velaccedilotildees resultantes dos referidos estudos e levantamentos apontavam para a urgecircncia de proposiccedilotildees e efetivaccedilatildeo de accedilotildees que garantam a adequaccedilatildeo de praacuteticas e recursos peda-goacutegicos que atendam agraves necessidades especiacuteficas dos estudan-tes promovam a formaccedilatildeo docente e do segmento teacutecnico--administrativo e de serviccedilos para a acessibilidade estimulem a realizaccedilatildeo de pesquisas para o desenvolvimento de tecnolo-gias assistivas permita que com autonomia todos tenham o acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo e ainda a adequaccedilatildeo dos ambientes e condiccedilotildees de trabalho

Secretaria de Acessibilidade Quem Somos

Os estudos e levantamentos ora referidos acerca das condiccedilotildees da acessibilidade realizados pela CEIn alicerccedilaram a elaboraccedilatildeo do documento Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC no qual satildeo propostas poliacuteticas e estrateacutegias de accedilatildeo que permitam o acesso e a inclusatildeo de alunos docentes e servido-res teacutecnico-administrativos com deficiecircncia considerando-se as muacuteltiplas dimensotildees da acessibilidade

A apresentaccedilatildeo do referido documento que tinha como proposta primordial a criaccedilatildeo de uma instacircncia administra-tiva capaz de cuidar em definitivo da elaboraccedilatildeo e conduccedilatildeo de poliacuteticas de acessibilidade na Universidade resultou na criaccedilatildeo da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui por meio da Resoluccedilatildeo nordm 26 de agosto de 2010 do Conselho Univer-sitaacuterio (CONSUNI) Essa decisatildeo deu enorme relevacircncia para a UFC pois pela primeira vez na histoacuteria desta universida-de uma accedilatildeo voltada agrave acessibilidade eacute institucionalizada por seu executivo maior aleacutem da demonstraccedilatildeo e disposiccedilatildeo da Administraccedilatildeo Superior para fazer acontecer a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia na UFC Com objetivos de elaborar executar e gerenciar accedilotildees oferecer suporte agraves unidades aca-decircmicas e administrativas para a efetivaccedilatildeo da acessibilida-de e estimular o desenvolvimento de uma cultura inclusiva na UFC a Secretaria tem como puacuteblico-alvo todas as pessoas sobretudo as pessoas com deficiecircncia integrantes da comu-nidade interna acrescida das pessoas que usufruem de servi-ccedilos por ela oferecidos por meio de accedilotildees de extensatildeo A tiacutetulo de exemplificaccedilatildeo de tais accedilotildees destacam-se aquelas desen-volvidas pelos setores de sauacutede da UFC (serviccedilos meacutedico e odontoloacutegico)

Implantada em outubro de 2010 a Secretaria de Aces-sibilidade UFC Inclui inicialmente constituiacuteda pela direccedilatildeo e pelo setor de apoio administrativo conta com um Grupo de Trabalho composto por nove membros representantes de professores das mais variadas aacutereas de conhecimento servi-dores e estudantes com deficiecircncia Esse grupo de assessoria permanente vem garantindo as realizaccedilotildees da Secretaria por meio da coordenaccedilatildeo de programa de extensatildeo e de projeto de monitoria de graduaccedilatildeo da oferta de serviccedilos das articu-laccedilotildees intersetoriais das mediaccedilotildees entre estudantes e coor-

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO30 d d 31

denadores eou professores dentre outras Parte desse grupo orienta a equipe de estudantes bolsistas de graduaccedilatildeo inte-grantes de projetos de bolsas11 de Iniciaccedilatildeo Acadecircmica Moni-toria de Projetos e de Extensatildeo aleacutem de voluntaacuterios Mais re-centemente com a atualizaccedilatildeo do Regimento Interno da UFC foram acrescidos agrave estrutura da Secretaria mais quatro seto-res assessoria a projetos arquitetocircnicos acompanhamento a alunos tecnologia assistiva e formaccedilatildeo para acessibilidade A equipe a partir de maio do corrente ano foi ampliada e estaacute composta por dez servidores sendo dois assistentes de admi-nistraccedilatildeo quatro tradutores e inteacuterpretes dois teacutecnicos em informaacutetica um teacutecnico em multimiacutedia e um teacutecnico em as-suntos educacionais12

No que diz respeito ao ingresso do segmento de estu-dantes com deficiecircncia nos cursos de graduaccedilatildeo na UFC foi realizado um estudo13 acerca do ingresso dessas pessoas no periacuteodo de 2005 a 2009 por meio do concurso vestibular14 A partir das informaccedilotildees oferecidas pela Comissatildeo de Con-curso Vestibular (CCV) quanto agraves inscriccedilotildees e resultados foram construiacutedas tabelas com dados quantitativos referen-tes agrave categorizaccedilatildeo dos alunos pela condiccedilatildeo de deficiecircncia agrave identificaccedilatildeo dos cursos por eles escolhidos e resultados finais dos concursos realizados Desses registros foi possiacutevel

11 No total a equipe de bolsistas eacute composta por dezoito estudantes de graduaccedilatildeo sendo quatro bolsistas da Proacute-Reitoria de Graduaccedilatildeo seis da Proacute-Reitoria de Exten-satildeo e oito bolsistas de Iniciaccedilatildeo Acadecircmica da Proacute-Reitoria de Assuntos Estudantis 12 Esse quadro de servidores teacutecnico-administrativos eacute parte das metas do Programa Viver Sem Limites do governo federal (Decreto nordm 76122011) encontrando--se em processo o concurso para seleccedilatildeo de mais seis profissionais tradutores e inteacuterpretes de Libras13 Estudo realizado e apresentado nos Encontros Universitaacuterios em 2009 por Antocircnia Kaacutetia Soares Maciel bolsista de graduaccedilatildeo do Projeto UFC Inclui UFC sob a orientaccedilatildeo da professora Vanda Magalhatildees Leitatildeo14 A partir de 2010 a UFC passa a adotar o Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM) como criteacuterio de ingresso de alunos em seus cursos de graduaccedilatildeo

perceber o crescimento da demanda de alunos com defici-ecircncia para os cursos de graduaccedilatildeo muito embora isto natildeo corresponda ao efetivo ingresso Em 2005 dos 31 candida-tos inscritos no concurso vestibular 4 foram aprovados no ano de 2006 registram-se 48 inscriccedilotildees e 3 aprovaccedilotildees em 2007 dos 50 inscritos 5 foram aprovados no concurso ves-tibular de 2008 inscreveram-se 48 candidatos com defici-ecircncia e 2 foram aprovados em 2009 uacuteltimo periacuteodo em que o ingresso na UFC foi mediante o concurso vestibular ins-creveram-se 73 candidatos com deficiecircncia destes 24 foram aprovados para a segunda fase e 4 ingressaram nos cursos de graduaccedilatildeo pretendidos Dentre eles 3 apresentavam defi-ciecircncia visual e 1 deficiecircncia fiacutesica Pode-se observar ainda que em sua maioria a demanda se concentrava em cursos da aacuterea de Ciecircncias Humanas como Pedagogia Letras Ciecircn-cias Sociais e Psicologia aleacutem de algum interesse por Ciecircn-cias Econocircmicas Aleacutem destes cursos haacute registro de ingresso de um aluno no curso de bacharelado em Quiacutemica e um no curso de Farmaacutecia

Quanto ao contingente15 de alunos atualmente matricu-lados nos cursos da UFC no censo realizado em fevereiro de 2011 e atualizado em julho de 201216 haacute registro de 45 ma-triacuteculas de alunos com deficiecircncia nos cursos de Pedagogia Psicologia Ciecircncias Sociais Ciecircncias Contaacutebeis Ciecircncias da Computaccedilatildeo Engenharia de Teleinformaacutetica Engenharia de

15 Quanto ao quantitativo de servidores (teacutecnicos e docentes) natildeo se tem um dado confiaacutevel Ao certo haacute registro de um professor cego trecircs professores surdos uma professora com deficiecircncia fiacutesica Dentre os servidores teacutecnicos tem-se registro de um surdo O cadastramento de servidores teacutecnicos e docentes estaacute em anda-mento sob a coordenaccedilatildeo da Proacute-Reitoria de Gestatildeo de Pessoas em parceria com a Secretaria de Acessibilidade 16 O referido censo foi realizado por autodeclaraccedilatildeo do aluno no ato da matriacutecula e atualizado em julho de 2012 mediante informaccedilotildees obtidas diretamente nas coordenaccedilotildees de cursos

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO32 d d 33

Alimentaccedilatildeo Letras Administraccedilatildeo Agronomia e Biblioteco-nomia da UFC sendo uma delas no curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia (Mestrado) Dentre alunos ingressos nos cursos de graduaccedilatildeo nove tecircm cegueira ou baixa visatildeo dezesseis satildeo surdos ou com audiccedilatildeo reduzida dezessete apresentam defi-ciecircncias fiacutesicas diversas um apresenta transtorno global do desenvolvimento e dois apresentam muacuteltipla deficiecircncia Es-tes dados17 se alteram com o ingresso de 12 estudantes surdos no curso de Letras Libras licenciatura presencial implantado no segundo semestre de 2013 como mais uma accedilatildeo afirmati-va da UFC e atendendo a metas do Plano Viver Sem Limites haacute pouco referido

A partir dos dados ora expostos e tendo-se como re-ferecircncia o universo de cerca de 2500 matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo presencial da UFC 45 alunos com deficiecircncia representam 184 do total de alunos matriculados Isto eacute um convite agrave reflexatildeo em busca de identificar fatores que de-finem tal panorama Certamente que satildeo muacuteltiplos esses fa-tores entretanto eacute razoaacutevel pensar que dentre eles podem ser considerados pelo menos dois Em primeiro lugar arris-co o destaque na qualidade das experiecircncias de escolarizaccedilatildeo ofertada a esse contingente da populaccedilatildeo ao longo dos anos da educaccedilatildeo baacutesica A historiografia revela que o atendimen-to educacional ofertado agraves crianccedilas e jovens com deficiecircncia durante muito tempo teve um forte caraacuteter assistencialista com foco na reabilitaccedilatildeo Isto pode levar agrave suposiccedilatildeo de que os projetos e programas da escolarizaccedilatildeo propriamente ditos foram negligenciados

17 O uacuteltimo relatoacuterio com o quantitativo de alunos com deficiecircncia autodeclarados fornecido pela Proacute-Reitoria de Graduaccedilatildeo em 2013 revela que satildeo 218 alunos Estes dados estatildeo sendo conferidos pela equipe da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

Em segundo lugar eacute possiacutevel uma reflexatildeo acerca das condiccedilotildees oferecidas pelos mecanismos atuais utilizados para o ingresso de alunos no ensino superior Apesar da dita ga-rantia de recursos pedagoacutegicos que atendam agraves necessidades singulares resultantes principalmente das deficiecircncias sen-soriais tais instrumentos ainda parecem natildeo satisfazer ple-namente as necessidades demandadas Quanto agrave condiccedilatildeo de surdez por exemplo ainda haacute dificuldades por parte das instacircncias organizadoras de concurso em reconhecer que a Libras eacute a primeira liacutengua dessas pessoas e que a avaliaccedilatildeo da sua produccedilatildeo textual em Liacutengua Portuguesa deve levar em consideraccedilatildeo que essa eacute a sua segunda liacutengua

Nossos Avanccedilos

A partir de marccedilo de 2011 jaacute devidamente instalada a Secretaria passou a desenvolver accedilotildees abrangendo as vaacuterias dimensotildees da acessibilidade e tomando como ponto de par-tida o estabelecido no documento Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC propostas agregando alguns projetos de inclusatildeo de-senvolvidos por professores da UFC membros do Grupo de Trabalho da Secretaria Assim iniciaram-se diaacutelogos com as unidades acadecircmicas e administrativas na perspectiva de di-vulgar e discutir a poliacutetica de acessibilidade da UFC mas tam-beacutem no intuito de numa abordagem interdisciplinar e inter-setorial motivar a interlocuccedilatildeo entre suas diversas unidades em busca do desenvolvimento da cultura de inclusatildeo Nesse sentido a Secretaria em busca de novos paradigmas que deem suporte agrave construccedilatildeo de uma cultura da inclusatildeo na UFC vem promovendo accedilotildees diversas para atender prioritariamente agraves demandas mais urgentes consolidar projetos iniciados e pro-por a efetivaccedilatildeo da Poliacutetica de Acessibilidade na UFC

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO34 d d 35

No tocante agrave acessibilidade fiacutesico-arquitetocircnica18 ob-serva-se a realizaccedilatildeo de adaptaccedilotildees de setores ou unidades acadecircmicas prioritariamente onde haacute alunos ou servidores com deficiecircncia Nesse acircmbito vale destacar o interesse dos gestores de unidades acadecircmicas quanto ao atendimento aos itens de acessibilidade nos projetos e obras em desenvolvi-mento sob sua responsabilidade ao convocarem a Secretaria para a realizaccedilatildeo de visitas teacutecnicas com vistas agrave garantia de itens de acessibilidade em seus espaccedilos fiacutesicos

No tocante agrave acessibilidade na WEB a Secretaria de Acessibilidade em articulaccedilatildeo com a Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo promoveu encontros e reuniotildees que culmina-ram com a realizaccedilatildeo do Treinamento em Acessibilidade na WEB19 em parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) Isto resultou na adoccedilatildeo de procedimentos tecno-loacutegicos que transformou o Portal da UFC20 acessiacutevel a todos Tornar os demais portais da UFC acessiacuteveis eacute um projeto que estaacute em andamento

Ainda sobre o acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo o Sistema de Bibliotecas da UFC com o apoio da Secretaria vem aprimorando suas estrateacutegias para tornar suas atuais unidades em ldquoBibliotecas Acessiacuteveisrdquo atendendo ao aluno

18 Accedilatildeo realizada pela Coordenadoria de Obras e Projetos com assessoria da pro-fessora Zilsa Maria Pinto Santiago professora do curso de Arquitetura e Urbanismo e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Esta accedilatildeo resultou num denso projeto de tornar acessiacuteveis todos os ambientes da UFC em Fortaleza ateacute o ano de 2016 19 Referido treinamento realizado na Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo (STI) foi conduzido pela professora Andrea Polleto Sonza e equipe do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e sob a coordenaccedilatildeo local do professor Joseacute Marques Soares professor do curso de Teleinformaacutetica e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC20 Accedilatildeo realizada pela equipe da Diretoria de Portais Universitaacuterios da Secretaria de Tecnologia da Informaccedilatildeo sob a direccedilatildeo da teacutecnica Emilia Maria Holanda Crispim Dioacutegenes

com deficiecircncia no campus onde estaacute situado o seu curso Aleacutem disso por meio da consolidaccedilatildeo do serviccedilo de digitali-zaccedilatildeo de textos21 com audiodescriccedilatildeo de imagens para alunos cegos ou com baixa visatildeo aos poucos se amplia o ldquoAcervo Acessiacutevelrdquo visando disponibilizar literatura cientiacutefica aos usuaacuterios com deficiecircncia visual Para os usuaacuterios com surdez a proposta eacute tornar disponiacuteveis de imediato informaccedilotildees em Libras acerca dos serviccedilos que a biblioteca oferece Destaca--se ainda no tocante agrave dimensatildeo da acessibilidade agrave comu-nicaccedilatildeo e agrave informaccedilatildeo a inserccedilatildeo de ldquojanelas de Librasrdquo nos programas produzidos pela equipe da UFCTV que eacute uma accedilatildeo em andamento

Quanto agrave acessibilidade linguiacutestica foram oferecidos cursos de Libras agrave comunidade universitaacuteria numa parceria com o curso de Letras-Libras graduaccedilatildeo a distacircncia22 to-talizando 49 turmas visando agrave difusatildeo dessa liacutengua e agrave co-municaccedilatildeo entre surdos e ouvintes A oferta de profissionais tradutores e inteacuterpretes23 de Libras que garante a acessibili-dade na comunicaccedilatildeo e na interaccedilatildeo entre surdos e ouvintes rompendo a barreira linguiacutestica tambeacutem eacute outra realidade na UFC

21 Serviccedilo coordenado pela bibliotecaacuteria Clemilda dos Santos Sousa da Biblioteca de Ciecircncias Humanas da UFC e membro integrante da Comissatildeo de Trabalho da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui22 Curso semipresencial de formaccedilatildeo de professores para o ensino da Libras e de tradutores e inteacuterpretes de Libras oferecido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em convecircnio com 15 Instituiccedilotildees de Ensino Superior dentre as quais a UFC foi uma delas Em 2010 no polo da UFC foram licenciados 47 professores para o ensino de Libras dentre os quais 44 satildeo surdos Em novembro do ano de 2012 licenciaram-se mais 22 professores dentre eles 20 surdos e 24 se graduaram em Traduccedilatildeo e Interpretaccedilatildeo (Libras-Portuguecircs-Libras) 23 Nos anos de 2010 e 2011 a UFC contratou uma tradutora e inteacuterprete de Libras Em 2012 ingressou por concurso puacuteblico a primeira tradutora e inteacuterprete de Libras na UFC Em 2013 mais trecircs profissionais concursados assumiram esse cargo A previsatildeo eacute a de que ateacute iniacutecio de 2014 a equipe de tradutores e inteacuterpretes de Libras na UFC seja constituiacuteda por dez profissionais concursados

CAMINHOS PARA A ACESSIBILIDADE NA UFCVANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO36 d d 37

A formaccedilatildeo para a acessibilidade tambeacutem eacute outra accedilatildeo importante em desenvolvimento pela Secretaria Nesse acircm-bito registram-se a oferta de cursos de Sistema de Leitura e Escrita Braille de Libras24 e de Tecnologias Assistivas Nes-sa perspectiva a Secretaria participa efetivamente dos gran-des eventos promovidos pela UFC tais como os Seminaacuterios de Ambientaccedilatildeo Encontros Universitaacuterios e Feiras das Pro-fissotildees aleacutem dos Seminaacuterios de Gestatildeo Muito relevante eacute a criaccedilatildeo em dezembro de 2012 do curso de Licenciatura em Letras Libras que tem como objetivo a formaccedilatildeo de professo-res para o ensino de Libras como primeira e segunda liacutengua Essa eacute uma oferta com iniacutecio em 20132 e que teraacute importante repercussatildeo para a rede de educaccedilatildeo baacutesica e superior

Balanccedilo Parcial Algumas Consideraccedilotildees

Os ecos das accedilotildees desenvolvidas pela Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui tecircm sido muitos e importantes Grande parte das demandas que chegam agrave Secretaria eacute acolhi-da Alunos professores e servidores teacutecnico-administrativos sistematicamente fazem suas solicitaccedilotildees com a expectativa de que seratildeo atendidos muito embora se reconheccedila as fragili-dades do processo de implantaccedilatildeo da poliacutetica de acessibilida-de tendo em vista o fato de que as demandas por acessibilida-de na UFC satildeo muacuteltiplas e muitas

Destacam-se ainda os frutos do conviacutevio com as pes-soas com deficiecircncia que eacute de fundamental importacircncia para que se possa dimensionar as especificidades necessidades limites e possibilidades dessas pessoas As interaccedilotildees com

24 No periacuteodo de 2008 a 2011 foram ofertadas a alunos e servidores da UFC 49 turmas de ensino de Libras em parceria com o curso de licenciatura em Letras-Libras graduaccedilatildeo a distacircncia

elas propiciam aprendizados que os livros natildeo oferecem e mobilizam nas pessoas mudanccedilas em suas atitudes Suas presenccedilas participando efetivamente dos diversos progra-mas e projetos da UFC e da Secretaria de Acessibilidade as-sim como de eventos acadecircmicos eacute essencial para a criaccedilatildeo de uma cultura inclusiva Estabelecer essa parceria com elas tem promovido aprendizados de enorme significaccedilatildeo Eacute des-se modo que passam a exercer a funccedilatildeo de ldquofacilitadoras da inclusatildeordquo colaborando com a estruturaccedilatildeo de um ambiente fiacutesico e socialmente acessiacutevel aleacutem de suscitarem o desman-telamento dos mitos em torno das condiccedilotildees de deficiecircncia que apresentam

As experiecircncias vividas ao longo desse curto periacuteodo de trecircs anos permitiram agrave equipe da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui realccedilar alguns aspectos dentre os quais se des-tacam as accedilotildees de acessibilidade satildeo possiacuteveis desde que se tenha vontade e decisatildeo poliacutetica a afirmaccedilatildeo das diferenccedilas para transformar as barreiras em caminhos acessiacuteveis a con-cepccedilatildeo de que a inclusatildeo social e educacional tem a ver com todos noacutes a compreensatildeo de que o processo de inclusatildeo eacute ldquoca-minho de matildeo duplardquo no qual os segmentos com e sem defi-ciecircncia devem estar organicamente implicados e finalmente reconhecer e aceitar os limites como possibilidade de trans-pocirc-los assimilando a perspectiva conceitual que Vygotsky (1985) oferece acerca do fenocircmeno da compensaccedilatildeo

Ainda se tem muitas liccedilotildees a serem incorporadas Eacute preci-so avaliar valores e estar disponiacutevel agraves oportunidades de apren-der uns com os outros Afinal somos todos seres em formaccedilatildeo portanto passiacuteveis de transformaccedilotildees favoraacuteveis a convivecircncias respeitosas frente agraves diferenccedilas e singularidades humanas

d 39VANDA MAGALHAtildeES LEITAtildeO38 d

Referecircncias Bibliograacuteficas

BRASIL Convenccedilatildeo sobre os direitos da pessoa com defici-ecircncia (2007) Protocolo facultativo agrave Convenccedilatildeo sobre os di-reitos da pessoa com deficiecircncia Decreto legislativo nordm 186 de 9 de julho de 2008 Decreto nordm 6949 de 25 de agosto de 2009 Brasiacutelia Secretaria dos Direitos Humanos 2011 LEITAtildeO V M (Coord) Poliacutetica de acessibilidade na UFC propostas Texto impresso apresentado agrave Administraccedilatildeo Su-perior da UFC em agosto de 2010______ Instituiccedilotildees campanhas e lutas histoacuteria da educa-ccedilatildeo especial no Cearaacute Fortaleza Ediccedilotildees UFC 2008OMOTE S Deficiecircncia e natildeo-deficiecircncia recortes do mesmo tecido Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Especial Piracicaba-SP v 1 n 2 p 65-73 1994VYGOTSKY L S El defecto y la compensacioacuten In Obras Completas Fundamentos de defectologia Habana Editorial Pueblo y Educacioacuten 1985

ACESSO Agrave INFORMACcedilAtildeO POR DEFICIENTES VISUAIS EM BIBLIOTECAS CEARENSES1

Valeacuteria Gomes PereiraHamilton Rodrigues Tabosa

Introduccedilatildeo

Este trabalho vem ressaltar a importacircncia do acesso agrave informaccedilatildeo e da biblioteca como agentes transformadores mostrando o papel do bibliotecaacuterio como suporte para os de-ficientes visuais no acesso agrave informaccedilatildeo Segundo Carvalho e Kanishi (2000) o avanccedilo das Novas Tecnologias de Infor-maccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo (NTIC) contribui para a inclusatildeo ao conhecimento por parte desses profissionais Eacute reforccedilada assim a importacircncia do bibliotecaacuterio como um dos profissio-nais da sociedade da informaccedilatildeo que tem como uma de suas principais caracteriacutesticas o uso das tecnologias por saberem da importacircncia delas na disseminaccedilatildeo do conhecimento

Traccedilamos entatildeo como objetivo geral deste trabalho verificar se os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute conhecem utilizam e dominam algumas das tecnologias assistivas ele-trocircnicas que facilitam o atendimento e o acesso de usuaacuterios com deficiecircncia visual agrave informaccedilatildeo se estatildeo capacitados para atuarem com esses usuaacuterios

Podemos classificar esta pesquisa como exploratoacuteria e descritiva Para a realizaccedilatildeo da anaacutelise dos dados coletados optamos por uma abordagem quanti-qualitativa O meacutetodo escolhido foi o funcionalista que segundo Lakatos e Marconi (1991) estuda a sociedade a partir do ponto de vista da fun-

1 Este artigo eacute uma siacutentese da monografia de conclusatildeo de curso de graduaccedilatildeo da primeira autora

ACESSO Agrave INFORMACcedilAtildeO POR DEFICIENTES VISUAIS EM BIBLIOTECAS CEARENSESVALEacuteRIA GOMES PEREIRA bull HAMILTON RODRIGUES TABOSA40 d d 41

ccedilatildeo de suas unidades isto eacute como um sistema organizado de atividades

Optou-se por fazer a pesquisa com bibliotecaacuterios que estivessem exercendo a profissatildeo e cadastrados no Conselho Regional de Biblioteconomia para que o Conselho enviasse os questionaacuterios por e-mail Dessa forma pretendiacuteamos atingir um nuacutemero razoaacutevel de respostas aos questionaacuterios

O Acesso agrave Informaccedilatildeo

Cada vez mais percebe-se como o acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento eacute instrumento de mudanccedila social Os cida-datildeos cientes de seus deveres e direitos satildeo capazes de operar revoluccedilotildees em suas vidas e ao seu redor

Dessa forma cabe ao governo promover a socializaccedilatildeo do conhecimento proporcionando a todos sem distinccedilatildeo in-clusive agraves pessoas com deficiecircncia o acesso agrave informaccedilatildeo Em relaccedilatildeo ao Estado este tem promovido campanhas de aces-sibilidade na busca de eliminar a exclusatildeo entretanto essa mobilizaccedilatildeo natildeo estaacute alcanccedilando suas metas em totalidade no tocante agrave facilitaccedilatildeo aos deficientes do acesso ao conhe-cimento Paula (2009) frisa que a sociedade da informaccedilatildeo sugere a universalizaccedilatildeo do conhecimento produzido natildeo se admitindo que parcelas da comunidade sejam excluiacutedas simplesmente por apresentarem algum tipo de deficiecircncia Enfatiza-se assim a importacircncia da disponibilizaccedilatildeo do co-nhecimento em todos os suportes para toda a diversidade de indiviacuteduos Entatildeo a quem caberaacute esse papel de disseminar a informaccedilatildeo importando-se com a acessibilidade com o apri-moramento do uso das novas tecnologias

Independentemente de que nomes deram agraves unidades de informaccedilatildeo ndash como arquivos museus universidades es-

colas etc ndash eacute importante sabermos que elas satildeo transmissoras do conhecimento As bibliotecas trazem consigo a memoacuteria humana registrada sendo de sua responsabilidade propor-cionar o acesso agraves informaccedilotildees codificadas registradas gra-vadas nesses documentos contribuindo para a formaccedilatildeo de uma sociedade mais humana e dignificadora (CARVALHO KANISHI 2000)

Cabe entatildeo agraves bibliotecas disseminar o conhecimento preocupando-se em suprir as necessidades informacionais de qualquer um que a busque sem se deparar com barreiras de acesso Assis Barreto e Parandella (2008) afirmam que aleacutem das bibliotecas serem guardiatildes da memoacuteria a disseminaccedilatildeo de informaccedilatildeo atraveacutes da dinamizaccedilatildeo de seus acervos gera um processo inclusivo pelo acesso uso e democratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo cientiacutefica e cultural aleacutem das informaccedilotildees uacuteteis e necessaacuterias agrave atuaccedilatildeo do cidadatildeo no seu dia a dia Reforccedila as-sim a importacircncia da biblioteca na sociedade da informaccedilatildeo e na vida do cidadatildeo

As tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo devem ser utilizadas pelas bibliotecas para a democratizaccedilatildeo dos pro-cessos sociais buscando formar os cidadatildeos para que possam exercer uma cidadania ativa e consciente e incluir socialmente atraveacutes do saber para que esses indiviacuteduos possam suscitar a transparecircncia de poliacuteticas e accedilotildees do governo formando-os para qualquer circunstacircncia havendo assim uma inclusatildeo social (TAKAHASHI 2000 apud PAULA 2009)

A informaccedilatildeo eacute uma necessidade fundamental do ser humano e para suprirmos essa necessidade eacute preciso que o bibliotecaacuterio esteja atualizado diante do uso das NTIC para assim favorecer o acesso agrave informaccedilatildeo aos usuaacuterios Segundo Carvalho e Kanishi (2000) os bibliotecaacuterios satildeo os profissio-nais que devem manter-se como elementos facilitadores do

ACESSO Agrave INFORMACcedilAtildeO POR DEFICIENTES VISUAIS EM BIBLIOTECAS CEARENSESVALEacuteRIA GOMES PEREIRA bull HAMILTON RODRIGUES TABOSA42 d d 43

acesso agrave informaccedilatildeo aos usuaacuterios de suas instituiccedilotildees permi-tindo a inclusatildeo social de qualquer indiviacuteduo

Cabe aos bibliotecaacuterios se manterem atualizados no uso dessas tecnologias contribuindo assim para a inclusatildeo social e construccedilatildeo da sociedade a partir do acesso ao conhecimento

Tecnologias Assistivas Eletrocircnicas de Acesso agrave Informaccedilatildeo

Segundo Bersch (2008) a tecnologia assistiva eacute enten-dida como um auxiacutelio que promoveraacute a ampliaccedilatildeo de uma habilidade funcional deficitaacuteria ou possibilitaraacute a realizaccedilatildeo da funccedilatildeo desejada e que se encontra impedida por circuns-tacircncia de deficiecircncia ou pelo envelhecimento Em poucas palavras eacute qualquer instrumento que facilite a pessoa com deficiecircncia a fazer uma atividade desde um ruacutestico apetre-cho de madeira acoplado a um talher que permite a pessoa com deficiecircncia de habilidade motora comer a uma tecnolo-gia de ponta que permita a um usuaacuterio com deficiecircncia visual navegar pela internet

A Comissatildeo Executiva do Comitecirc de Ajudas Teacutecnicas (CAT) acredita que a tecnologia assistiva eacute uma aacuterea de co-nhecimento interdisciplinar que engloba produtos recursos metodologias estrateacutegias praacuteticas e serviccedilos que objetivam promover a funcionalidade relacionada agrave atividade e partici-paccedilatildeo de pessoas com deficiecircncia com incapacidades ou mo-bilidade reduzida visando a sua autonomia independecircncia qualidade de vida e inclusatildeo social (COMITEcirc DE AJUDAS TEacuteCNICAS apud BERSCH 2008)

Existem diversos tipos de tecnologia assistiva como mencionam Pupo Melo e Ferreacutes (2006) no controle do am-biente no trabalho e lazer na locomoccedilatildeo e em diversas ativi-dades do cotidiano como o estudo e o acesso agrave comunicaccedilatildeo

e informaccedilatildeo Usaremos principalmente os estudos de Bersch (2008) que eacute ilustrativa e concisa em sua abordagem sobre as tecnologias assistivas eletrocircnicas utilizadas pelas pessoas com deficiecircncia e os estudos de Fonseca e Pinto (2010) que tecircm uma linguagem clara e objetiva ao falar dessas tecnolo-gias aplicadas em uma biblioteca

Dentre as principais tecnologias de acesso agrave informaccedilatildeo para deficientes visuais podemos citar

y Ampliadores de tela satildeo aplicativos que aumentam o tamanho das letras na tela do computador e dessa forma facilitam o uso das pessoas com baixa visatildeo fazendo com que os textos e imagens sejam melhor visualizados por quem tem essa deficiecircncia Exemplos de ampliadores de tela Magic Zoom Text e o lente-Pro

y Leitores de tela satildeo aplicativos que leem as informaccedilotildees que estatildeo na tela do computador por isso satildeo tambeacutem chamados de sintetizadores de voz Eles reproduzem a voz do ser humano Com o desenvolvimento da tecnologia eles tecircm se tornado mais perfeitos em sua decodificaccedilatildeo sonora Exemplos de leitores de tela Vihortual Visiona Monitivox e Jaws e o Dosvox sendo este uacuteltimo um dos mais difundido no Brasil pois aleacutem da leitura de tela oferece inuacutemeros recursos como editores de texto jogos formatador para Braille e programas para acesso agrave internet como correio eletrocircnico navegador etc

y Linhas Braille dispositivos de saiacuteda composto por fileiras de ceacutedulas Braille por intermeacutedio de um sistema eletro-mecacircnico no qual conjuntos de pontos satildeo levantados e abaixados conseguindo-se assim uma linha de texto em Braille Eacute utilizado como alternativa ao leitor Braille sendo principalmente usado por pessoas surdas-cegas que podem

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superar a ausecircncia ou dificuldade de audiccedilatildeo e visatildeo atraveacutes do tato Infelizmente eacute pouco usado no Brasil devido ao seu altiacutessimo valor

y Impressoras Braille imprimem no papel as informaccedilotildees contidas no texto para o sistema Braille Existem dois tipos a natildeo-interponto as que imprimem apenas de um lado do papel e as com interpontos que imprimem dos dois lados do papel

Metodologia

Partimos de uma pesquisa bibliograacutefica para nos apro-fundarmos nos conceitos nas terminologias da aacuterea e para de-terminarmos as categorias de anaacutelise para a pesquisa Quan-to ao tipo de pesquisa podemos classificar este estudo como exploratoacuterio e descritivo Gil (1991) menciona que a pesquisa exploratoacuteria eacute realizada com o objetivo de fornecer uma vi-satildeo geral do tipo aproximativo do objeto de estudo Assinala ainda que as pesquisas descritivas tecircm por objetivo a descri-ccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo

Para a realizaccedilatildeo da anaacutelise dos dados coletados opta-mos por uma abordagem qualitativa devido agrave possibilidade que esse meacutetodo permite de analisar atitudes como pensa-mentos accedilotildees opiniotildees e informaccedilotildees livres do pesquisado Segundo Maanen (1979 apud NEVES 1996) a pesquisa qua-litativa refere-se

[] ao conjunto de diferentes teacutecnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados Tem por objetivo traduzir e expressar os sentidos dos fenocircmenos do mun-do social trata-se de reduzir a distacircncia entre indicador e indicado entre teoria e dados entre contexto e accedilatildeo

O meacutetodo escolhido foi o funcionalista que segundo Lakatos e Marconi (1991) estuda a sociedade a partir do pon-to de vista da funccedilatildeo de suas unidades isto eacute como um siste-ma organizado de atividades

A pesquisa empiacuterica foi realizada com os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute Optou-se por fazer a pesquisa com biblio-tecaacuterios devidamente cadastrados no Conselho Regional de Biblioteconomia (CRB) e que estivessem exercendo a profis-satildeo Dessa forma buscamos atingir uma grande populaccedilatildeo a ser pesquisada e fornecer dados mais significativos para a pesquisa

O instrumento de coleta de dados utilizado foi o ques-tionaacuterio por oferecer alguns benefiacutecios atingir uma grande populaccedilatildeo poder ser enviado por e-mail e natildeo necessitar da presenccedila do pesquisador ao ser preenchido Lakatos e Marco-ni (1991) descrevem que o questionaacuterio eacute um conjunto orde-nado de perguntas que devem ser respondidas sem a presenccedila do pesquisador Vai portanto ao encontro da nossa necessi-dade pois o nosso universo de pesquisa eacute muito vasto e natildeo seria possiacutevel a presenccedila do pesquisador em todas as cidades do Cearaacute O questionaacuterio foi enviado por e-mail a todos os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute cadastrados no CRB tendo sido respondidos um total de 40 questionaacuterios

Essa estrateacutegia na coleta de dados nos permitiu atingir instituiccedilotildees de portes variados com diferentes tipos de uni-dades de informaccedilatildeo puacuteblicas e privadas bibliotecas especia-lizadas comunitaacuterias ou puacuteblicas universitaacuterias escolares arquivos centros de documentaccedilatildeo e tambeacutem outros tipos de empresas onde haacute atuaccedilatildeo de bibliotecaacuterios Dos 40 questio-naacuterios que retornaram respondidos 5 eram de instituiccedilotildees de economia mista 10 de instituiccedilotildees privadas e 25 de institui-ccedilotildees puacuteblicas

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A Situaccedilatildeo das Bibliotecas Cearenses Quanto agrave Acessibilidade Atraveacutes de Tecnologias Assistivas Eletrocircnicas

Averiguamos se os bibliotecaacuterios cearenses conhecem o conceito de tecnologia assistiva e se conseguem mencionar exemplos dessas tecnologias assitivas para pessoas com defi-ciecircncia Apenas 4 dos respondentes natildeo possuem nenhum entendimento sobre o que eacute uma tecnologia assistiva Quere-mos esclarecer que natildeo houve relaccedilatildeo quanto agrave natureza eco-nocircmica da instituiccedilatildeo na qual atuam se eacute mista puacuteblica ou privada Dos respondentes 91 informaram que sabem o que eacute uma tecnologia assitiva

Surprendeu-nos o conhecimento que a maioria dos su-jeitos apresentou da definiccedilatildeo do termo Alguns citaram que antes de responder procuraram um conhecimento maior sobre o assunto mas ficou claro que essa porcentagem que respondeu tinha uma ideia um conhecimento preacutevio mesmo que vago sobre o que eacute tecnologia assistiva Ainda houve quem fizesse uma descriccedilatildeo das tecnologias assistivas e mencionasse a im-portacircncia que elas exercem na vida das pessoas com deficiecircn-cia demonstrando assim que conheciam de fato a definiccedilatildeo

Os sujeitos que responderam com maior propriedade a essa pergunta eram de instiuiccedilotildees puacuteblicas podendo haver uma relaccedilatildeo com as poliacuteticas de inclusatildeo e acessibilidade das pessoas com deficiecircncia agrave informaccedilatildeo Um exemplo seria o ci-clo de debates desenvolvidos pela Secretaria de Acessiblidade da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) convidando sensi-bilizando e desenvolvendo atividades de promoccedilatildeo do acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com deficiecircncia tendo como ne-cessaacuteria uma biblioteca acessiacutevel para esses usuaacuterios

Perguntamos quais os tipos de tecnologias assistivas eletrocircnicas que conheciam A comparaccedilatildeo entre o conheci-

mento que os respondentes demonstraram ter sobre o que satildeo tecnologias assistivas natildeo foi condizente com as respostas a essa pergunta pois alguns confundiram tecnologias assistivas com as NTIC dando como exemplos monitores de Reconhe-cimento Oacutetico de Caracteres (OCR) e teclado virtual que natildeo satildeo tecnologias assistivas aleacutem de terem citado a Liacutengua Bra-sileira de Sinais (Libras) que eacute a primeira lingua dos surdos e o Braille que eacute um sistema de leitura e escrita atraacuteves do tato Libras e Braille satildeo considerados tecnologias assistivas mas natildeo eletrocircnicas como mencionado por dois dos nossos respondentes

Outros mencionaram duas interfaces a microFecircnix que eacute uma ferramenta voltada para pessoas com dificuldades motoras e o Dosvox que eacute uma ferramenta voltada para os deficientes visuais terem acesso agrave informaccedilatildeo atraveacutes do com-putador permitindo que seu usuaacuterio utilize as ferramentas normais de um computador e navegue pela web

O Dosvox foi a uacutenica interface mencionada para defi-cientes visuais sua fama se espalhou para aleacutem dos muros acadecircmicos como uma ferramenta de acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com deficiecircncia Estaacute disponiacutevel para downlo-ad gratuito na web e suas configuraccedilotildees satildeo compatiacuteveis com qualquer sistema operacional bastando apenas escolher a versatildeo que melhor conveacutem agrave realidade do usuaacuterio ou da insti-tuiccedilatildeo que o busca

Investigamos se as instituiccedilotildees onde os bibliotecaacuterios trabalham possuem alguma tecnologia assistiva eletrocircnica quais os tipos que possuem e se natildeo possuem e quais as razotildees disso Verificamos que as instituiccedilotildees privadas natildeo possuem tecnologias assistivas eletrocircnicas e se justificavam por natildeo pos-suiacuterem porque natildeo tinham puacuteblico-alvo que demandasse es-sas tecnologias Como afirma o deacutecimo segundo respondente

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A faculdade ainda natildeo vecirc ldquonecessidaderdquo de adequar tantos recursos de tecnologia assistiva jaacute que natildeo temos alunos com deficiecircncia visual Para cadeirantes temos os elevadores e os espaccedilos foram pensados levando em consideraccedilatildeo a movimentaccedilatildeo desse cadeirante no espaccedilo da faculdade mas na minha visatildeo isso natildeo eacute tecnologia assistiva eletrocircnica Para os surdos temos apenas os inteacuterpretes de Libras o que tambeacutem natildeo considero uma tecnologia assistiva eletrocircnica

Ficou niacutetido que as instituiccedilotildees privadas preocupam-se em adequar suas instalaccedilotildees para o acesso arquitetocircnico nas bibliotecas como rampas corrimatildeos computadores com me-sas adaptadas para cadeirantes As instituiccedilotildees privadas consi-deram que natildeo eacute necessaacuterio investir em tecnologias assistivas eletrocircnicas pois natildeo haacute um puacuteblico-alvo natildeo haacute demanda

Quanto agraves empresas de economia mista apenas uma disponibiliza uma tecnologia assistiva eletrocircnica que eacute uma in-terface para deficientes visuais O vigeacutesimo oitavo respondente mencionou que havia apenas a preocupaccedilatildeo com as barreiras arquitetocircnicas ldquoBototildees de elevadores e corrimatildeo de escadas com sinalizaccedilatildeo em Braillerdquo Na instituiccedilatildeo do deacutecimo e do tri-geacutesimo terceiro sujeitos a justificativa para natildeo possuiacuterem eacute a mesma das instituiccedilotildees privadas a falta de puacuteblico-alvo

A resposta que nos chamou atenccedilatildeo das instituiccedilotildees de economia mista foi referente ao vigeacutesimo primeiro responden-te ldquoNatildeo temos nenhum usuaacuterio que necessite dessa ferramen-ta pois nossa biblioteca eacute especializada em Medicina e atende somente ao puacuteblico do hospital onde ela estaacute instaladardquo

Essa resposta nos intrigou Visto que eacute uma instituiccedilatildeo de economia mista haacute incentivos financeiros do governo des-sa forma o acesso deve ser pensado para todo tipo de usuaacute-rio O motivo de ser especializado natildeo torna esse acervo dife-rente dos demais pois existem em potencial usuaacuterios com

deficiecircncia para essa unidade de informaccedilatildeo Jaacute existem em algumas instituiccedilotildees de Ensino Superior alunos que possuem deficiecircncia visual cursando Medicina e que ao procurar por informaccedilotildees especializadas se deparam com esse tipo de ati-tude e entrave da instituiccedilatildeo e dos profissionais que as geren-ciam Um exemplo bem-sucedido desse tipo de relaccedilatildeo eacute o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que possui um aluno com 80 da visatildeo comprometida2

Das vinte instituiccedilotildees puacuteblicas consultadas apenas trecircs informaram que em suas unidades de informaccedilatildeo natildeo pos-suem nenhuma tecnologia assistiva eletrocircnica mas nas de-mais existem tecnologias assistivas e elas estatildeo desenvolven-do atividades de acesso ao conhecimento para as pessoas com deficiecircncia Essas tecnologias existentes foram mencionadas no iniacutecio deste artigo e discutiremos mais adiante as ativida-des de acesso

As unidades puacuteblicas mencionaram que suas maiores dificuldades satildeo a falta de investimento na aquisiccedilatildeo de tec-nologias assistivas eletrocircnicas e a dificuldade com os demais setores que natildeo compreendem a importacircncia de tornaacute-las acessiacuteveis de acordo com os padrotildees de acessibilidade Como mencionado pelo terceiro respondente

Temos trabalhado apenas com digitalizaccedilatildeo das biblio-grafias dos alunos com deficiecircncia visual A dificuldade de inclusatildeo de outros mecanismos se daacute pela neces-sidade de outros setores entenderem a importacircncia e a necessidade da criaccedilatildeo desses mecanismos Por exemplo Natildeo existe acessibilidade no nosso sistema e no nosso site Apesar de jaacute termos constatado que a soluccedilatildeo perpassa por outros setores

2 A UFMG possui dentre seus estudantes de Medicina um aluno que apresenta 80 da visatildeo comprometida Para dirimir as dificuldades desse aluno no acesso agrave informaccedilatildeo a instituiccedilatildeo adquiriu equipamentos para auxiliar nas atividades do estudante (UFMG 2009)

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Independentemente das dificuldades mencionadas as instituiccedilotildees puacuteblicas estatildeo promovendo serviccedilos de informa-ccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncia visual como digitalizaccedilatildeo do acervo aquisiccedilatildeo de obras em Braille linhas Braille acesso agrave interface especializada aacuteudio-livro etc

Podemos perceber nas instituiccedilotildees puacuteblicas um gran-de avanccedilo em busca de serem unidades informacionais aces-siacuteveis para todos apesar das dificuldades financeiras da lentidatildeo das licitaccedilotildeespregotildees da falta de matildeo de obra espe-cializada e da falta de conscientizaccedilatildeo dos demais setores que compotildeem a estrutura funcional Essas unidades tecircm buscado desempenhar seu real papel que eacute o de disponibilizar a in-formaccedilatildeo a quem a busque tornando-se bibliotecas acessiacuteveis em seus ambientes estruturais com rampas e elevadores e principalmente disponibilizando a informaccedilatildeo nos diversos suportes que o avanccedilo tecnoloacutegico possibilita A montagem de uma biblioteca inclusiva natildeo eacute necessariamente dispendiosa Devem-se buscar soluccedilotildees como os softwares livres para usu-aacuterios com deficiecircncia

Fizemos uma anaacutelise sobre o conhecimento que os biblio-tecaacuterios possuem das tecnologias assistivas eletrocircnicas para os deficientes visuais e como eles se comportariam diante de uma situaccedilatildeo hipoteacutetica de atendimento imediato para esses usuaacute-rios em suas unidades de informaccedilatildeo salientando que a infor-maccedilatildeo buscada soacute existiria na instituiccedilatildeo do sujeito pesquisado

Como pudemos perceber em paraacutegrafos anteriores os bibliotecaacuterios disseram conhecer algumas das tecnologias as-sistivas eletrocircnicas existentes Um dos bibliotecaacuterios respon-deu ldquoSim conheccedilo a Base de Dados Sophia a Gnuteca entre outrasrdquo Ficou claro que esse respondente natildeo consegue dis-tinguir a diferenccedila entre uma base de dados e uma tecnologia assistiva eletrocircnica Os sujeitos consultados ao responderem

agrave pergunta sobre se conheciam algum tipo de tecnologia as-sistiva eletrocircnica especiacutefica para deficientes visuais ficaram divididos em grupos nas seguintes proporccedilotildees 9 dos sujei-tos natildeo responderam pois natildeo sabiam nem conceituar o que era uma tecnologia assistiva 40 natildeo mencionaram nenhu-ma tecnologia para os deficientes visuais e 51 enumeraram o que pensavam ser tecnologias especiacuteficas para deficientes visuais pois houve alguns equiacutevocos por parte desse grupo

Dos dezoito respondentes que deram exemplos de tec-nologias assitivas apenas dois dominam o uso de alguma tecnologia assistiva voltada para as pessoas com deficiecircncia visual Isso provavelmente ocorre pela pequena procura des-se tipo de usuaacuterio agraves instituiccedilotildees pois caso o bibliotecaacuterio se deparasse com semelhante situaccedilatildeo constantemente prova-velmente buscaria se adequar agraves necessidades de demanda de seus usuaacuterios

A tecnologia que os respondentes mais citaram foi a interface Dosvox considerada por noacutes com niacutevel de usabili-dade intermediaacuterio avanccedilado O Dosvox eacute considerado uma ferramenta completa para o uso pelo deficiente visual pois aleacutem do usuaacuterio utilizar as ferramentas corriqueiras de um computador tais como digitar um texto fazer uma planilha a interface tambeacutem permite que a pessoa com deficiecircncia na-vegue pela Web

O vigeacutesimo nono respondente mencionou ldquoSei da exis-tecircncia do Dosvox mas natildeo de forma aprofundada e tambeacutem natildeo o temos ainda no nosso setor que eacute um Nuacutecleo de Docu-mentaccedilatildeordquo Eacute interessante que qualquer unidade de informa-ccedilatildeo independentemente do nome que utilize possua uma tec-nologia assistiva que possa atender aos seus futuros usuaacuterios

Outra sugestatildeo aleacutem do Dosvox seria o uso do MecDaisy um leitor de texto O MecDaisy eacute um software gratuito que

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transforma qualquer texto para o formato daisy permitindo as-sim a leitura pelo software Seu niacutevel de manuseio eacute faacutecil e se adequa agraves instituiccedilotildees que querem apenas disponibilizar suas obras para o acesso das informaccedilotildees que estatildeo em sua guarda

Fizemos um questionamento para os nossos sujeitos como eles agiriam para atender agraves necessidades de informa-ccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncia visual sabendo que a in-formaccedilatildeo de que essa pessoa precisa soacute existe na instituiccedilatildeo onde o sujeito consultado trabalha Diante de tal pergunta nossos respondentes informaram que natildeo tinham conheci-mento que consultariam locais de atendimento especializado e encaminhariam o deficiente para tal instituiccedilatildeo capacitada para atendecirc-lo

O terceiro sujeito consultado nos disse ldquoCom certeza me esforccedilaria ao maacuteximo para conseguir Mas acredito que a dificuldade eacute de conseguir a informaccedilatildeo em formato que pos-sa ser lidordquo E ele estaacute certo Conseguir a informaccedilatildeo no for-mato correto eacute um trabalho aacuterduo desde que o bibliotecaacuterio nunca tenha ouvido falar de nenhum dos softwares jaacute men-cionados para pessoas com deficiecircncia visual Eacute necessaacuterio entatildeo adequar-se a essa realidade hoje Urge a conscientiza-ccedilatildeo da importacircncia desses softwares que podem ser gratuitos cabendo ao gestor da unidade de informaccedilatildeo aleacutem de possuir o conhecimento de que a tecnologia existe saber persuadir seus superiores da importacircncia de estar preparado para essa realidade em sua instituiccedilatildeo

Informou o trigeacutesimo quinto respondente que ldquoSe as informaccedilotildees estivessem apenas em formato impresso eu di-gitaria os textos para que a mesma pudesse fazer a leitura do material com os programas leitores de tela que satildeo softwares livresrdquo Relembrando alguns paraacutegrafos acima tanto o Dos-vox como o MecDaisy atenderiam a essa demanda

A reaccedilatildeo do deacutecimo sujeito foi a seguinte ldquoBem como na instituiccedilatildeo natildeo existe material em Braille talvez indicas-se algum material em aacuteudio (CDDVD) e tambeacutem um local especiacutefico que atendesse sua deficiecircncia no caso a Biblioteca Puacuteblica Menezes Pimentelrdquo Lembrando que a informaccedilatildeo es-taria apenas na unidade de informaccedilatildeo do nosso respondente ao pedir que fosse encaminhado agrave Biblioteca Municipal Me-nezes Pimentel o usuaacuterio natildeo conseguiria suprir a sua neces-sidade de informaccedilatildeo e retornaria agrave instituiccedilatildeo Caso o seu material em aacuteudio-livro natildeo suprisse a necessidade teria que haver um leitor ou dependendo da complexidade da informa-ccedilatildeo a instalaccedilatildeo de uma tecnologia assistiva

Constatamos que eacute necessaacuteria a adequaccedilatildeo das unidades de informaccedilatildeo independentemente de sua natureza econocircmi-ca para o recebimento desses usuaacuterios pois a informaccedilatildeo eacute agente transformador de uma sociedade e direito de todos A formaccedilatildeo dos bibliotecaacuterio deve apontar para a qualificaccedilatildeo de um bom atendimento aos usuaacuterios com deficiecircncia visual Dos sujeitos consultados 81 natildeo se consideram capacitados para atender usuaacuterios com algum tipo de deficiecircncia Para que seja possiacutevel oferecer um atendimento com eficaacutecia e qualida-de para as pessoas com deficiecircncia visual eacute necessaacuteria a soma de dois fatores a qualificaccedilatildeo para o atendimento e os recur-sos tecnoloacutegicos disponiacuteveis especiacuteficos para esses usuaacuterios

O deacutecimo segundo respondente declarou ldquoAinda haacute muito a ser melhorado muitos treinamentos a fazer Daria o meu melhor com certeza mas eacute bem difiacutecil atender a esses usuaacuterios a contento e com tudo o que eacute necessaacuteriordquo

Consideramos que o importante eacute que os profissionais estejam cientes de seu papel como agentes intermediadores da informaccedilatildeo e que para alcanccedilar esse objetivo eacute necessaacuterio qualificar-se aleacutem das habilidades que o projeto pedagoacutegico

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da formaccedilatildeo inicial em Biblioteconomia prevecirc Um exemplo dessa atitude seria o do deacutecimo quarto respondente

Acredito que embora eu mesma tenha buscado conhe-cer essas tecnologias isto partiu de um anseio pessoal natildeo de uma proposta que estava incluiacuteda nas atividades curriculares do curso Para a formaccedilatildeo do bibliotecaacuterio de hoje eacute funda-mental conhecer as tecnologias baacutesicas ou ao menos discutir essa questatildeo da inclusatildeo da acessibilidade

Pensamos que o bibliotecaacuterio natildeo eacute obrigado a domi-nar nenhuma tecnologia assistiva para os deficientes visuais visto que na maioria das instituiccedilotildees como mencionado an-teriormente esse perfil de usuaacuterio natildeo existe mas concluiacutemos que o profissional deve ter um conhecimento baacutesico sobre o assunto

Todos os sujeitos consultados consideram esse tema de extrema relevacircncia e acreditam ser importante que os estu-dantes de Biblioteconomia recebam formaccedilatildeo acadecircmica no sentido de serem capacitados ao atendimento de usuaacuterios com deficiecircncia pois em sua vida acadecircmica houve aborda-gem da acessibilidade arquitetocircnica poreacutem nenhuma disci-plina que abordasse acessibilidade agrave informaccedilatildeo atraveacutes de tecnologias assistivas eletrocircnicas

Trata-se de um nicho mercadoloacutegico pouco explorado pois as maiorias das instituiccedilotildees adquirem livros CDs e sof-twares mas natildeo a matildeo de obra qualificada Por isso devemos preparar futuros gestores com habilidade teacutecnica e visatildeo criacute-tica sobre acessibilidade e inclusatildeo aleacutem de ampliar os espa-ccedilos de debates na universidade qualificando o estudante para atender a todas as demandas de usuaacuterio e de um mercado es-peciacutefico que necessita de matildeo de obra qualificada

Conclusatildeo

Pudemos perceber como defendem Carvalho e Kanishi (2000) a real importacircncia da atuaccedilatildeo do bibliotecaacuterio como gestor de informaccedilatildeo na atual sociedade do conhecimento para a promoccedilatildeo do acesso irrestrito agrave informaccedilatildeo a todos os tipos de usuaacuterios considerando suas preferecircncias demandas e necessidades de atendimento especiacuteficas assim como suas limitaccedilotildees sejam fiacutesicas cognitivas dentre outras

Nas bibliotecas do estado do Cearaacute agraves quais tivemos acesso verificamos a necessidade de aparelhamento e mesmo do domiacutenio das teacutecnicas de uso por parte dos bibliotecaacuterios das tecnologias assistivas eletrocircnicas para acesso agrave informaccedilatildeo para pessoas com baixa visatildeo ou cegas descritas por Fonseca e Pinto (2010) e Pupo Melo e Ferreacutes (2006) Identificamos que os bibliotecaacuterios do estado do Cearaacute investigados sabem o que satildeo tecnologias assistivas eletrocircnicas e que as instituiccedilotildees que possuem uma quantidade expressiva dessas tecnologias satildeo as de natureza puacuteblica Poreacutem satildeo pouquiacutessimos os bibliotecaacute-rios que dominam e utilizam algumas dessas ferramentas ten-do mencionado que o puacuteblico-alvo eacute muito pequeno para que tenham sentido necessidade de qualificaccedilatildeo nessa aacuterea

Haacute um grande caminho a ser percorrido na conscienti-zaccedilatildeo das instituiccedilotildees em estarem preparadas para todo tipo de situaccedilatildeo e puacuteblico As instituiccedilotildees privadas necessitam de um maior desenvolvimento de suas atividades quanto ao fo-mento de acesso agrave informaccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncia em seus diversos niacuteveis

Os resultados reforccedilam a importacircncia de os bibliotecaacute-rios se qualificarem para o atendimento dos usuaacuterios com de-ficiecircncia visual com conhecimento baacutesico de como agir para suprir suas necessidades informacionais

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Os bibliotecaacuterios cearenses de modo geral natildeo se sen-tem qualificados para atuar com essas necessidades conside-rando que tal lacuna em sua formaccedilatildeo profissional nasce na vida universitaacuteria que natildeo os capacita a atuar com os diferen-tes tipos de usuaacuterio Contudo um questionamento precisa ser feito seraacute que a universidade eacute a uacutenica causa dos bibliotecaacute-rios natildeo estarem qualificados para poderem gerir tecnologias eletrocircnicas de acesso agrave informaccedilatildeo

Entendemos que este estudo trouxe contribuiccedilotildees para futuros pesquisadores que busquem fazer uma relaccedilatildeo do desenvolvimento do bibliotecaacuterio na realidade das insti-tuiccedilotildees na qual atuam e nas mudanccedilas sobre acessibilidade e inclusatildeo Tambeacutem acreditamos que sirva como orientaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas de acesso agrave informaccedilatildeo e inclusatildeo das pessoas com deficiecircncia nas unidades de informaccedilatildeo e para os bibliotecaacuterios mapearem seus pontos a desenvolver a fim de se tornarem qualificados para o atendimento a tais pessoas

Nossas sugestotildees para o curso de Biblioteconomia satildeo a criaccedilatildeo de algumas disciplinas com essa temaacutetica voltada para a inclusatildeo social e do uso das tecnologias de acesso agrave in-formaccedilatildeo pelas pessoas com deficiecircncia a criaccedilatildeo pelo De-partamento de Ciecircncia da Informaccedilatildeo de uma especializaccedilatildeo sobre o tema

Finalmente acreditamos que os bibliotecaacuterios devem procurar uma qualificaccedilatildeo profissional para desempenharem seu papel de gestores de informaccedilatildeo Sendo imprescindiacutevel para a efetiva implementaccedilatildeo de poliacuteticas de desenvolvimento inclusivas pelo bibliotecaacuterio para poderem assim disponibili-zar a informaccedilatildeo a qualquer usuaacuterio que a busque tornando--se um profissional diferenciado no mercado em um campo de atuaccedilatildeo que cresce a cada dia

Referecircncias Bibliograacuteficas

ASSIS S BARRETO A M PARANDELLA M D Bibliote-cas puacuteblicas e telecentros ambientes democraacuteticos e alterna-tivos para a inclusatildeo social Ciecircncia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia v 37 n 1 p 27-36 janabr 2008BERSCH R Introduccedilatildeo agrave tecnologia assistiva Porto Alegre CEDI 2008 Disponiacutevel em lthttpwwwassistivacombrIntroducao20TA20Rita20Berschpdfgt Acesso em 3 dez 2011CARVALHO I C L KANISHI A L A sociedade do conheci-mento e o acesso agrave informaccedilatildeo para que e para quem Ciecircn-cia da Informaccedilatildeo Brasiacutelia n 3 p 33-39 setdez 2000UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Faculdade de Medicina Aluno com visatildeo subnormal daacute exemplo na fa-culdade Belo Horizonte jul 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwmedicinaufmgbrnoticiasp=7063gt Acesso em 10 dez 2011FONSECA J C PINTO T L Tecnologias assistivas para biblioteca inclusiva uma forma de oferecer informaccedilotildees a todos Paraiacuteba [sn] 2010 Disponiacutevel em lthttpdciccsaufpbbrenebdindexphpenebdarticle view78gt Acesso em 1 jun 2011GIL A C Meacutetodos e teacutecnicas de pesquisa social 3 ed Satildeo Paulo Atlas 1991LAKATOS E M MARCONI M de A Fundamentos de me-todologia cientiacutefica 3 ed Satildeo Paulo Atlas 1991NEVES Joseacute Luis Pesquisa qualitativa caracteriacutesticas usos e possibilidades Cadernos de Pesquisa em Administraccedilatildeo Satildeo Paulo v 1 n 3 p 1-6 1996PAULA S N de Acessibilidade agrave informaccedilatildeo em bibliote-cas universitaacuterias e a formaccedilatildeo do bibliotecaacuterio Campinas PUC 2009

d 59VALEacuteRIA GOMES PEREIRA bull HAMILTON RODRIGUES TABOSA58 d

PUPO D T MELO A M FERREacuteS S P (Orgs) Acessi-bilidade discurso e praacutetica no cotidiano das bibliotecas Campinas UNICAMP 2006 Disponiacutevel em lthttplabbcunicampbr8080labproducaolivro_acessibilidade_bi-bliotecaspdfpage=65gt Acesso em 13 abr 2012

BIBLIOTECA INCLUSIVA CONSTRUINDO PONTES ENTRE O VISIacuteVEL E O INVISIacuteVEL

Clemilda dos Santos SousaJeriane da Silva Rabelo

Introduccedilatildeo

Cursar uma universidade eacute projeto de vida de muitas pessoas Ter uma profissatildeo e estruturar a vida econocircmica eacute um sonho comum entretanto para pessoas com deficiecircncia natildeo eacute uma tarefa das mais faacuteceis Muitas dificuldades se mani-festam oriundas das barreiras arquitetocircnicas atitudinais de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo Segundo Pupo e Vicentini (2002 p 3) ldquomuitos alunos com deficiecircncia iniciam uma atividade de pesquisa na universidade e satildeo lsquobarradosrsquo pela inexistecircncia de uma infraestrutura adequadardquo Isso porque as universida-des e faculdades ainda natildeo atendem agraves condiccedilotildees de acessibi-lidade para pessoas com deficiecircncia No que se refere agraves pes-soas com deficiecircncia visual o acesso ao acervo das bibliotecas eacute um grande problema porque grande parte desse acervo estaacute impresso em tinta inviabilizando o seu acesso

Visando resolver essas questotildees o Sistema de Bibliote-cas da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) criou em 2009 a Comissatildeo de Acessibilidade1 que tem como objetivo principal diagnosticar as condiccedilotildees de acessibilidade nas bibliotecas da instituiccedilatildeo e propor accedilotildees que visassem estimular a criaccedilatildeo de uma poliacutetica inclusiva que fosse diluiacuteda nos serviccedilos e produ-

1 A Comissatildeo de Acessibilidade fez parte das Comissotildees Especializadas de Estudo (CEE) criadas pela Biblioteca Universitaacuteria da UFC com o objetivo de descentralizar as decisotildees administrativas contribuindo para diagnosticar as necessidades de mudanccedilas e soluccedilatildeo de problemas teacutecnicos e estruturais do Sistema de Bibliotecas da UFC

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tos oferecidos pelo Sistema de Bibliotecas da UFC nos diver-sos campi da universidade Nos primeiros estudos realizados por essa comissatildeo foram apontados diversos aspectos dentre eles a dificuldade que tecircm os alunos com deficiecircncia visual para realizarem suas leituras visto que na ocasiatildeo natildeo havia acervo em Braille2 nas bibliotecas da UFC nem serviccedilos de in-formaccedilatildeo que fizessem a conversatildeo de documentos impressos em tinta para os formatos acessiacuteveis Diante dessa realidade foi proposto pela comissatildeo de acessibilidade do Sistema de Biblioteca o projeto de Desenvolvimento de Acervo Acessiacute-vel tendo como puacuteblico-alvo pessoas com deficiecircncia visual accedilatildeo essa em curso atualmente

Em meados do ano de 2010 foi criada pela UFC a Se-cretaria de Acessibilidade UFC Inclui formada por uma equi-pe de trabalho da qual um membro da Comissatildeo de Acessibi-lidade da Biblioteca Universitaacuteria faz parte representando o Sistema de Bibliotecas Dentre as atribuiccedilotildees da Secretaria haacute uma que apresenta relaccedilatildeo direta com a biblioteca a que se refere agrave dimensatildeo pedagoacutegica e ao acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo (UFC 2012)

A biblioteca eacute um espaccedilo que proporciona a difusatildeo de informaccedilatildeo e permite a produccedilatildeo do conhecimento e sua dis-seminaccedilatildeo Para os estudantes eacute fonte primordial de pesquisa e apoio agraves accedilotildees pedagoacutegicas No caso das pessoas com defici-ecircncia visual se a biblioteca universitaacuteria oferecesse um acer-vo acessiacutevel facilitaria o processo de aprendizagem e inclusatildeo dos referidos discentes na vida acadecircmica proporcionando aos seus professores uma diversidade maior de material bi-bliograacutefico nas atividades cotidianas em sala de aula Aleacutem

2 Inventado pelo francecircs Louis Braille no ano de 1827 em Paris consiste num sistema de escrita com pontos em relevo que permite agraves pessoas privadas da visatildeo a leitura atraveacutes do tato (HOUAISS 2009)

disso a acessibilidade ao acervo das bibliotecas da UFC po-deraacute gerar ao aluno com deficiecircncia visual e ao seu professor uma ponte de interaccedilatildeo possibilidades de muacuteltiplas leituras e produccedilatildeo intelectual

Entretanto do que se trata um acervo acessiacutevel Se-gundo a Norma Brasileira (NBR) 9050 da Associaccedilatildeo Brasi-leira de Normas Teacutecnicas (ABNT 2004) no toacutepico referente agrave biblioteca e centros de leitura quando se refere ao acervo afirma ldquoRecomenda-se que as bibliotecas possuam publica-ccedilotildees em Braille ou outros recursos audiovisuaisrdquo Isto eacute as bibliotecas devem oferecer aos seus usuaacuterios com deficiecircncia visual material bibliograacutefico publicaccedilotildees em formato acessiacute-vel agraves condiccedilotildees de leitura desse puacuteblico

Nesse estudo entendemos por acervo acessiacutevel o con-junto de publicaccedilotildees ndash livros perioacutedicos monografias disser-taccedilotildees teses dentre outros materiais informacionais ndash que satildeo disponibilizados agrave comunidade acadecircmica para suas leituras com um diferencial essas publicaccedilotildees devem ser em Braille (importante para leitura e escrita de pessoas cegas principal-mente nos estudos de liacutenguas) ou em arquivos digitais em for-mato compatiacutevel para o uso de leitores de tela tais como pdf editaacutevel txt ou doc tendo tambeacutem a opccedilatildeo por aacuteudio-livros

Esse tipo de especificaccedilatildeo de formato eacute indispensaacutevel agrave acessibilidade dos usuaacuterios com deficiecircncia visual conjuga-da a serviccedilos de referecircncia pensados para esse segmento de usuaacuterios Com isso eacute possiacutevel proporcionar a equiparaccedilatildeo de oportunidades nas atividades acadecircmicas no que se refere ao acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento

Na experiecircncia do Sistema de Biblioteca da UFC o pro-jeto de Desenvolvimento de Acervo Acessiacutevel eacute uma resposta agrave demanda por acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento das pessoas com deficiecircncia visual na universidade No referido

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projeto haacute dentre outros o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de mate-rial bibliograacutefico que eacute realizado em parceria com a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Esse serviccedilo eacute a principal de-manda no momento por parte dos usuaacuterios com deficiecircncia visual (discentes servidores da universidade) do Sistema de Bibliotecas da UFC O objetivo do projeto supracitado eacute criar uma coleccedilatildeo com material em formato acessiacutevel de natureza cientiacutefica exclusivo para esses usuaacuterios A metodologia utili-zada como tambeacutem a estrutura eacute o que constitui o assunto que abordaremos a seguir

Serviccedilo de Digitalizaccedilatildeo de Materiais Bibliograacuteficos Acesso agrave Informaccedilatildeo e ao Conhecimento

Certa vez a equipe de digitalizadores da Secretaria de Acessibilidade da UFC recebeu um livro para digitalizaccedilatildeo em liacutengua italiana Tratava-se de uma gramaacutetica repleta de exerciacutecios em que um deles solicitava ldquoObserve as figuras e descreva os animaisrdquo O leitor seria capaz de responder essa pergunta A que animais o exerciacutecio se referia se fosse soacute essa a informaccedilatildeo visiacutevel Na verdade a gramaacutetica trazia as figuras dos animais desenhos para que o aluno ao vecirc-los escreves-se os nomes em liacutengua italiana Para uma pessoa vidente natildeo seria nenhum problema mas para uma pessoa cega como saber de quais figuras tratava o exerciacutecio

Para uma pessoa cega soacute seria ldquovisiacutevelrdquo essa informa-ccedilatildeo se a mesma fosse audiodescrita isto eacute ao digitalizar o texto do exerciacutecio as figuras seriam descritas Dessa forma o invisiacutevel se tornaria visiacutevel e a pessoa com deficiecircncia visual teria condiccedilatildeo de responder o exerciacutecio A outra forma seria imprimir o exerciacutecio em Braille caso a pessoa soubesse ler em Braille

Mas do que se trata a audiodescriccedilatildeo Para Vieira e Lima (2010 p 3)

A aacuteudio-descriccedilatildeo eacute uma teacutecnica de representaccedilatildeo dos elementos-chave presentes numa dada imagem que ao dialogar com os elementos de um texto verbal pode ser descrita tambeacutem de forma verbal para formar uma unidade completa de significaccedilatildeo A aacuteudio-descriccedilatildeo pode ser de uma imagem estaacutetica como uma pintura no museu de uma escultura em trecircs dimensotildees da gravura bidimensional presente nos livros didaacuteticos ou de ima-gens dinacircmicas que nada mais satildeo do que um conjunto de imagens estaacuteticas que juntas criam a ilusatildeo de mo-vimento como o que se processa nos filmes de cinema televisatildeo peccedilas de teatro ou viacutedeos de computador

A audiodescriccedilatildeo eacute importante no processo de digita-lizaccedilatildeo porque oferece acesso para pessoas com deficiecircncia visual agraves informaccedilotildees tipograacuteficas contidas no texto como ilustraccedilotildees siacutembolos negritos e outras Satildeo fundamentais para a compreensatildeo de conteuacutedos e por isso devem ser men-cionadas visto que natildeo podem ser lidas pelos programas lei-tores de tela

Visando a essa compreensatildeo eacute que a audiodescriccedilatildeo foi inserida no serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de materiais bibliograacutefi-cos como fator agregador no processo de transformaccedilatildeo de informaccedilotildees visuais em audiacuteveis Objetivando em um futuro proacuteximo a formaccedilatildeo de um acervo acessiacutevel para as pessoas com deficiecircncia visual o referido serviccedilo eacute o que discutiremos a seguir Conta com uma equipe coordenada por uma biblio-tecaacuteria do Sistema de Bibliotecas da UFC e oito digitalizado-res (bolsistas de projetos de graduaccedilatildeo e iniciaccedilatildeo acadecircmica da UFC) com suporte teacutecnico da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui

A metodologia de trabalho segue os seguintes passos

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1) Entrevista de referecircncia feita por bibliotecaacuterio em que o usuaacuterio eacute identificado e manifesta suas necessidades informacionais isto eacute apresenta sua bibliografia e demais materiais necessaacuterios agrave realizaccedilatildeo de trabalhos eou agrave ela-boraccedilatildeo de monografias Outro aspecto importante se refere agrave condiccedilatildeo de deficiecircncia apresentada pelo solicitante haacute que se levar em consideraccedilatildeo o fato de o indiviacuteduo ter nas-cido cego e ou adquirido essa condiccedilatildeo depois de adulto Eacute tambeacutem importante observar se a pessoa tem deficiecircncia visual total ou apresenta baixa visatildeo3 Todos esses aspectos iratildeo definir o atendimento necessaacuterio

2) Cadastramento do discente e assinatura de termo de com-promisso pelo mesmo objetivando informaacute-lo de que o material digitalizado eacute de seu uso exclusivo conforme a Lei nordm 9610 de 1998 dos direitos autorais (BRASIL 1998)

3) Anaacutelise das demandas informacionais dos discentes pesqui-sa nas bases de dados em sites que disponibilizam e-book para saber se as obras solicitadas jaacute estatildeo disponiacuteveis o que evita a perda de tempo em digitalizar novamente os textos

4) Identificaccedilatildeo das obras a serem digitalizadas no acervo da biblioteca Caso sejam do acervo analisar as condiccedilotildees de conservaccedilatildeo tais como paacuteginas riscadas ausecircncia de folhas dentre outras que atrapalham o processo de digitalizaccedilatildeo

5) Digitalizaccedilatildeo do material descriccedilatildeo de figuras graacuteficos e tabelas correccedilatildeo gramatical do texto e formataccedilatildeo do docu-mento final eliminaccedilatildeo de espaccedilos elaboraccedilatildeo de referecircncia bibliograacutefica

6) Envio do material ao solicitante

3 Segundo o Decreto nordm 5296 a baixa visatildeo eacute compreendida como acuidade visual entre 03 e 005 no melhor olho com a melhor correccedilatildeo oacuteptica os casos nos quais a somatoacuteria da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60ordm ou a ocorrecircncia simultacircnea de quaisquer das condiccedilotildees anteriores (BRASIL 2004)

7) Catalogaccedilatildeo e indexaccedilatildeo do material digitalizado no Sistema de Bibliotecas da UFC atraveacutes do Cataacutelogo online da Biblio-teca Universitaacuteria Esse material digitalizado soacute poderaacute ser acessado pelo usuaacuterio com deficiecircncia visual cadastrado atraveacutes de senha e login Essa accedilatildeo estaacute gerando um acervo online de materiais digitalizados de natureza cientiacutefica

Figura 1 ndash Paacutegina do cataacutelogo online da Biblioteca Universitaacuteria da UFC onde se acessam as obras digitalizadas

Figura 2 ndash Paacutegina do cataacutelogo online da Biblioteca Universitaacuteria da UFC com login e senha para acesso agraves obras digitalizadas

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Para ajudar no processo de digitalizaccedilatildeo a equipe res-ponsaacutevel utiliza o programa ABBY FineReader que possibili-ta fazer a digitalizaccedilatildeo dos materiais bibliograacuteficos em diver-sos formatos pdf doc txt aleacutem de eliminar figuras erros de digitalizaccedilatildeo oriundos de manchas riscos e incorreccedilotildees das paacuteginas dos livros

Figura 3 ndash Tela inicial do programa ABBY FineReader

Atraveacutes dessa nova ferramenta no periacuteodo de marccedilo a maio de 2012 foram digitalizados 34 tiacutetulos aproximada-mente 1064 paacuteginas Os primeiros resultados apontam que os alunos com deficiecircncia visual da UFC estatildeo tendo acesso aos materiais digitalizados em tempo haacutebil para acompanhar os estudos em sala de aula Estima-se a ampliaccedilatildeo do aten-dimento realizado atualmente facilitando assim o acesso das pessoas com deficiecircncia visual a materiais bibliograacuteficos di-gitalizados viabilizando o seu acesso agrave informaccedilatildeo e ao co-nhecimento A seguir discutiremos quem satildeo os usuaacuterios do serviccedilo de digitalizaccedilatildeo

Quem satildeo os usuaacuterios com deficiecircncia visual do Sistema de Bibliotecas da UFC

Para aperfeiccediloar o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo e conhecer melhor quem satildeo os usuaacuterios com deficiecircncia do Sistema de Bibliotecas da UFC como tambeacutem seu niacutevel de satisfaccedilatildeo com o serviccedilo foi elaborado um estudo atraveacutes de um questionaacute-rio semiestruturado com uma amostra composta inicialmen-te por seis alunos com deficiecircncia visual da UFC atendidos pelo serviccedilo de digitalizaccedilatildeo dos quais somente quatro se submeteram ao questionaacuterio no segundo semestre de 2011 Na tabela 1 encontramos a caracterizaccedilatildeo da amostra dos alu-nos consultados

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia visual

ALUNO GEcircNERO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A1 Masculino 24 Computaccedilatildeo Baixa visatildeo

A2 Feminino 24Mestrado em Psicologia

Visual total

A3 Masculino 22 Biblioteconomia Baixa visatildeo

A4 Feminino 23 Letras ndash Italiano Baixa visatildeo

Temos como sujeito A1 um discente do curso de Com-putaccedilatildeo com 24 anos com baixa visatildeo do sexo masculino como A2 um estudante de 24 anos cursando mestrado em Psicologia com deficiecircncia visual total do sexo feminino A3 eacute aluno do curso de Biblioteconomia possui 22 anos apre-senta baixa visatildeo e eacute do sexo masculino Por fim A4 estuda no curso de Letras-Italiano possui 23 anos apresenta baixa visatildeo e eacute do sexo feminino

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Anaacutelise dos Dados

Todos os alunos atendidos por esse serviccedilo se mostra-ram satisfeitos com essa iniciativa relatando principalmente as diferenccedilas do periacuteodo anterior a essa accedilatildeo em comparaccedilatildeo com o momento atual Essa constataccedilatildeo eacute importante para perceber se o serviccedilo com a oferta de material digital atende as expectativas dos discentes

Segundo Torres Mazzoni e Alves (2001) o espaccedilo digi-tal apresenta muitas possibilidades Criado pelas Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) oferece para o atendi-mento distintas formas de interaccedilatildeo das pessoas com a infor-maccedilatildeo respeitando as suas preferecircncias e limitaccedilotildees sejam relacionadas aos equipamentos utilizados sejam agraves limita-ccedilotildees orgacircnicas Nessa perspectiva o estudo buscou avaliar a satisfaccedilatildeo dos alunos com o do serviccedilo de digitalizaccedilatildeo visto que este busca oferecer acesso agrave informaccedilatildeo

Dos alunos consultados todos apontaram a preferecircncia por material digitalizado ao inveacutes do Sistema Braille justifi-cada pela facilidade de manuseio praticidade e tempo bem como por natildeo correr o risco de rasgar Para A1 eacute essencial a existecircncia de um serviccedilo de digitalizaccedilatildeo na universidade

Acho essencial ter um serviccedilo desses na Universidade para pessoas com alguma limitaccedilatildeo visual A digitaliza-ccedilatildeo permite uma abrangecircncia de formas de utilizaccedilatildeo desse material No meu caso com o alto contraste ou no aumento de fonte da forma com que quiser entre outras que possam haver A qualidade desse material eacute muito boa e ajuda bastante nos estudos Acho que devia ter-se um maior foco nesse trabalho para que as digita-lizaccedilotildees fossem mais raacutepidas pois muitos materiais satildeo precisos e muitos alunos o necessitam Acho que natildeo eacute lento pois jaacute solicitei uma digitalizaccedilatildeo de mais de 100 paacuteginas e em pouco mais de uma semana jaacute estavam

prontos (e jaacute deixo aqui meu agradecimento agrave Secretaria de Acessibilidade e a todos os que dela fazem parte)

O estudante A2 relatou que tem preferecircncia por mate-rial digitalizado porque quando estaacute no computador o tex-to eacute mais faacutecil de ser manuseado Apontou que a escrita em Braille com reglete4 eacute muito trabalhosa e lenta aleacutem de natildeo constituir uma linguagem acessiacutevel agrave avaliaccedilatildeo dos professo-res Assim os trabalhos devem ser entregues digitalizados Se os textos estatildeo em linguagem virtual facilitam a produccedilatildeo textual e inclusive o registro de citaccedilotildees pois natildeo precisa-mos digitar o que ouvimos (aacuteudio) ou o que lemos no papel (Braille)

O discente A3 apresentou igualmente preferecircncia pelo material digitalizado apesar de utilizar textos eletrocircnicos como o mp4 Conforme seu relato

Em vaacuterios momentos tenho que fazer leitura de textos que natildeo satildeo disponibilizados em miacutedia digital O acuacute-mulo deste material daacute volume e quase sempre estaacute em um tamanho que dificulta muito a leitura por causa da minha baixa visatildeo O serviccedilo de digitalizaccedilatildeo facilita este processo uma vez que me daacute a oportunidade de fazer a leitura deste material em casa ou no trabalho utilizando os recursos de ampliaccedilatildeo do computador e facilitando o seu transporte

O aluno A4 argumentou a importacircncia do acesso ao material utilizado em sala de aula porque satildeo avaliados e co-brados da mesma maneira que os alunos sem deficiecircncia Re-latou a preferecircncia de textos digitalizados porque podem ser

4 ldquoReglete eacute uma placa de metal dobraacutevel que eacute encaixada a uma taacutebua de madeira de aproximadamente 30x20 cm onde eacute preso o papel Ela conteacutem quatro linhas com 27 pequenos retacircngulos vazados cada Esses retacircngulos satildeo chamados de celas e neles estatildeo os seis pontos do sistema Braille que satildeo impressos no papel sulfite 40 com um objeto chamado punccedilatildeordquo (MARUCH STEINLE 2009 p 9)

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levados para onde queira podem ser lidos quantas vezes for necessaacuterio natildeo se apagam com o tempo e natildeo satildeo pesados

Os discentes ressaltaram a importacircncia dos materiais digitalizados para o acesso igualitaacuterio agrave universidade Atraveacutes desses materiais a promoccedilatildeo da inclusatildeo eacute mais efetiva re-duzindo as barreiras existentes entre o estudante com defici-ecircncia visual e o conhecimento cientiacutefico visto que contribuem no processo de sua formaccedilatildeo acadecircmica

A acessibilidade agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento por-tanto representa para os indiviacuteduos com deficiecircncia visual uma etapa importante rumo agrave independecircncia permitindo que participem das atividades cotidianas como agentes ativos na construccedilatildeo de seu conhecimento Desse modo nos ambientes universitaacuterios associados agrave produccedilatildeo e disseminaccedilatildeo do co-nhecimento eacute necessaacuterio que esse direito seja cumprido em toda sua plenitude

Ateacute pouco tempo atraacutes alunos da UFC com deficiecircncia visual enfrentavam inuacutemeras dificuldades no seu cotidiano acadecircmico para ter acesso a materiais digitalizados De acor-do com os depoimentos dos estudantes com o advento da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui e o serviccedilo de digita-lizaccedilatildeo do Sistema de Bibliotecas da UFC no iniacutecio de 2011 a digitalizaccedilatildeo de textos solicitados pelos professores em sala de aula constituiu uma conquista pois tem facilitado bastante a compreensatildeo dos conteuacutedos ministrados pelos docentes

Consideraccedilotildees Finais

No livro Acessibilidade em bibliotecas Baptista (2009) ao comentar sobre inclusatildeo ressalta que as diferenccedilas fazem parte da vida que nenhuma pessoa eacute igual a outra e que cada indiviacuteduo demonstra qualidades defeitos potencialidades

surpresas que satildeo infindaacuteveis e imprevisiacuteveis A diferenccedila se apresenta portanto como fator enriquecedor parte da dinacirc-mica da vida humana e natildeo deveria ser um fator de exclusatildeo nos espaccedilos sociais Nesse sentido as bibliotecas como espa-ccedilos culturais sociais natildeo poderiam deixar de ser inclusivas As mesmas satildeo espaccedilos de epifania do saber onde os rios de diversos saberes se encontram formando um oceano de conhe-cimento em constante movimento de evaporaccedilatildeo e fortes ondas de transformaccedilatildeo codificaccedilatildeo e recodificaccedilatildeo

Nesse processo os movimentos das aacuteguas desse oceano satildeo muacuteltiplos Haacute diversas formas de navegar diversas for-mas de vida a inclusatildeo eacute a compreensatildeo do muacuteltiplo como fator produtor de possibilidades Nesse contexto compreen-de-se a acessibilidade em bibliotecas como o entendimento e o movimento de expansatildeo do seu potencial educador No caso de pessoas com deficiecircncia visual estas trazem agrave biblioteca uma nova leitura sobre produccedilatildeo e aquisiccedilatildeo do conhecimen-to novas formas de perceber o mundo e representaacute-lo

Onde se encontram portanto nos bibliotecaacuterios a ou-sadia e a humildade de navegar o oceano que a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia pode oferecer agrave sociedade trazendo novos horizontes para aleacutem das ilhas costumeiras

Eacute nessa perspectiva que o trabalho do Sistema de Bi-bliotecas da UFC e da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui se apresenta como um olhar dinacircmico sobre as novas ilhas Criar um acervo acessiacutevel para pessoas com deficiecircncia visual eacute um movimento de navegar em aacuteguas desconhecidas extre-mamente atraentes cheias de descobertas gratificantes e re-veladoras do poder de superaccedilatildeo do ser humano

Eacute nesse navegar que se constitui o objetivo da Secreta-ria de Acessibilidade UFC Inclui em promover uma poliacutetica de acesso ao conhecimento e agrave informaccedilatildeo para pessoas com

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deficiecircncia nesse caso especiacutefico as que tecircm cegueira Deve--se institucionalizar essa accedilatildeo na vida da universidade tendo o Sistema de Biblioteca como foco visto que eacute o equipamento cultural institucional na universidade com a missatildeo de orga-nizar preservar e disseminar a informaccedilatildeo e a produccedilatildeo do conhecimento

Criar um acervo acessiacutevel de natureza cientiacutefica para as pessoas com deficiecircncia visual como jaacute dito eacute um desafio visto as dificuldades oriundas do pouco conhecimento sobre o tema na aacuterea de Biblioteconomia Poucos bibliotecaacuterios co-nhecem o tema de forma que os capacite a interferir e crias soluccedilotildees que venham atender os usuaacuterios com deficiecircncia visual

Portanto o serviccedilo de digitalizaccedilatildeo de material biblio-graacutefico natildeo eacute uma atividade-fim mas um meio com vistas a contribuir para o desenvolvimento de um acervo que con-temple as necessidades de informaccedilatildeo das pessoas com defi-ciecircncia visual possibilitando a criaccedilatildeo de pontes entre elas e o conhecimento mediando-se essa relaccedilatildeo intercedendo no navegar entre uma ilha e outra entre os mares os continen-tes Avanccedilando mar adentro descobrindo ignorados horizon-tes escondidos pela ilusoacuteria ideia de ver apenas com os olhos equivocando-se que ver enxergar estaacute para aleacutem do visiacutevel passa pelo cheiro pelo toque pelo sentir pelo perceber-se humano capaz de superaccedilatildeo de recriar o mundo as ideias e a si mesmo o que diraacute as instituiccedilotildees e suas poliacuteticas

Referecircncias Bibliograacuteficas

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS ABNT acessibilidade a edificaccedilotildees mobiliaacuterio espaccedilos e equipamentos urbanos Rio de Janeiro ABNT 2004

BAPTISTA M I S D Convivendo com as diferenccedilas In PUPO D T MELO A M FERREacuteS S P Acessibilidade discurso e praacutetica no cotidiano das bibliotecas Satildeo Paulo Unicamp 2006 p 13-16 BRASIL Decreto nordm 5296 de 2 de dezembro de 2004 Regu-lamenta as leis nordm 10048 de 8 de novembro de 2000 que daacute prioridade de atendimento agraves pessoas que especifica e 10098 de 19 de dezembro de 2000 que estabelece normas gerais e criteacuterios baacutesicos para a promoccedilatildeo da acessibilidade das pessoas com deficiecircncia ou com mobilidade reduzida e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em lthttpwwwpla-naltogovbrccivil_ato2004-20062004decretod5296htmgt Acesso em 14 maio 2010______ Lei no 9610 de 19 de fevereiro de 1998 Altera atu-aliza e consolida a legislaccedilatildeo sobre os direitos autorais e daacute outras providecircncias Disponiacutevel em lthttpwwwplanalto govbrccivil_03leisL9610htmgt Acesso em 02 out 2012 HOUAISS A Dicionaacuterio eletrocircnico da liacutengua portuguesa 20093 Rio de Janeiro Editora Objetiva 2009 1 CD-ROMTORRES E F MAZZONI A A ALVES J B da M A acessi-bilidade agrave informaccedilatildeo no espaccedilo digital Ciecircncia da Informa-ccedilatildeo v 31 n 3 p 83-91 setdez 2002MARUCH M A S STEINLE M C B O aluno cego e seu processo de alfabetizaccedilatildeo e letramento Disponiacutevel em lthttpwwwdiaadiaeducacaoprgovbrportalspdearqui-vos2348-8pdfPHPSESSID=2010011108145452gt Acesso em 19 dez 2012PUPO D T VICENTINI R A B A integraccedilatildeo do usuaacuterio portador de deficiecircncia agraves atividades de ensino e pesquisa o papel das bibliotecas virtuais 2002 Disponiacutevel em ltfilec|netscapeanaistrabalhocomunaintegrahtmgt Acesso em 09 set 2009

d 75CLEMILDA DOS SANTOS SOUSA bull JERIANE DA SILVA RABELO74 d

UFC Conceito de acessibilidade Disponiacutevel em ltlink httpwwwufcbracessibilidadeconceito-de-acessibilidadegt Acesso em 29 out 2012VIEIRA P A de M LIMA F J de A teoria na praacutetica aacuteu-dio-descriccedilatildeo uma inovaccedilatildeo no material didaacutetico Revista Brasileira de Traduccedilatildeo Visual v 2 p 3 2010

O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIA

Beatriz Furtado Alencar LimaCarla Poennia Gadelha Soares

Refletindo sobre a Accedilatildeo e a Extensatildeo do Projeto

Neste artigo relatamos as experiecircncias vivenciadas du-rante a execuccedilatildeo do Projeto de Extensatildeo realizado pela Uni-versidade Federal do Cearaacute (UFC) por meio da Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui O projeto intitulado Atendimento Educacional Especializado para alunos com deficiecircncia visu-al de universidades puacuteblicas do municiacutepio de Fortaleza reali-zou-se no periacuteodo de 3 de maio a 23 de novembro de 2011 sob a coordenaccedilatildeo da professora Beatriz Furtado Alencar Lima e apresentou como objetivo em linhas gerais oferecer Aten-dimento Educacional Especializado (AEE) para alunos com deficiecircncia visual matriculados em universidades puacuteblicas de Fortaleza ndash UFC e Universidade Estadual do Cearaacute (UECE) ndash por meio do serviccedilo de leitura de textos

A Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui com o intui-to de possibilitar o acesso agrave leitura de materiais em tinta ao puacuteblico mencionado estaacute desenvolvendo um soacutelido trabalho de digitalizaccedilatildeo de textos sob a coordenaccedilatildeo da bibliotecaacuteria Clemilda dos Santos Sousa Assim o intuito de nosso projeto foi oferecer mais um serviccedilo que pudesse ajudar no acesso aos textos com os quais os alunos devem travar contato em suas atividades acadecircmicas

Nesse sentido eacute importante reforccedilar que a ideia que nos orientou ao propormos esse projeto foi a de ampliar o leque de possibilidades dos estudantes em suas praacuteticas de letra-

O SERVICcedilO DE LEDORES NA SECRETARIA DE ACESSIBILIDADE UFC INCLUI UM RELATO DE EXPERIEcircNCIABEATRIZ FURTADO ALENCAR LIMA bull CARLA POENNIA GADELHA SOARES76 d d 77

mento acadecircmico Compreendemos letramento como uma praacutetica social intermediada por textos escritos (BARTON HAMILTON 1998) e foi com base nessa concepccedilatildeo sobre le-tramento que desenvolvemos nosso projeto

Eacute importante dizer no entanto que natildeo consideramos em nenhuma hipoacutetese a atividade de ler para pessoas com deficiecircncia visual a melhor ou mais acertada Trata-se de mais um recurso dentre tantos outros existentes ndash tais como leitores de tela sistema de leitura e de escrita Braille1 etc ndash para que esse estudante tenha o seu direito assegurado de acesso agrave informaccedilatildeo Quando entramos nesta seara do acesso ao consumo e agrave produccedilatildeo de informaccedilatildeo eacute importante refle-tir sobre a multiplicidade de recursos existentes atualmen-te no campo das Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs)

Torres Mazzoni e Mello (2007) no trabalho intitulado Nem toda pessoa cega lecirc em Braille nem toda pessoa sur-da se comunica em liacutengua de sinais alertam-nos para o fato de que no contexto em que atualmente vivenciamos de con-tato intenso com muacuteltiplas semioses jaacute natildeo haacute espaccedilo para pensarmos em uma uacutenica forma de entrar em contato com as praacuteticas sociais de leitura e escrita quando se fala em acesso e produccedilatildeo de informaccedilatildeo Segundo as autoras sabe-se que atualmente as TICs com o uso de ajudas teacutecnicas adequadas

1 Trata-se de um sistema de leitura e escrita destinado a pessoas cegas por meio do tato Sua escrita eacute baseada na combinaccedilatildeo de seis pontos dispostos em duas colunas de trecircs pontos que permite a formaccedilatildeo de 63 caracteres diferentes que representam as letras nuacutemeros foneacutetica etc Foi criado por Louis Braille nascido na Franccedila no ano de 1809 Ficou cego em 1812 em um acidente na oficina do pai Louis Braille em 1825 apresentou a primeira versatildeo do sistema de leitura e escrita em relevo taacutetil para pessoas cegas Utilizou como referecircncia o sistema de Barbier ndash sistema utilizado para a comunicaccedilatildeo noturna entre os soldados do exeacutercito francecircs Em 1837 apresentou o que viria a ser a versatildeo final do sistema Braille Desde entatildeo eacute um dos sistemas utilizados pelas pessoas com deficiecircncia para o contato com a leitura e a escrita (SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS 2011)

permitem a comunicaccedilatildeo direta e instantacircnea entre pessoas com deficiecircncias sensoriais distintas

Essas tecnologias permitem que por exemplo possa realizar-se a comunicaccedilatildeo entre uma pessoa surda e uma pes-soa cega sem que elas optem em utilizar o Braille ou a Liacutengua Brasileira de Sinais2 (Libras) Essa realidade de comunicaccedilatildeo leva-nos a dizer que nos dias de hoje o maior obstaacuteculo en-frentado pelas pessoas com deficiecircncia diz respeito ao acesso a essa informaccedilatildeo caracterizando-se esta como uma riqueza inestimaacutevel que se relaciona a aacutereas como a Educaccedilatildeo o tra-balho e o lazer Dada a relevacircncia desse acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo em nossa sociedade sempre que falamos sobre barreiras agrave acessibilidade de cidadatildeos eacute fundamental destacar aquelas que impedem o acesso pleno e irrestrito a essas duas instacircncias Acreditamos pois que a quebra dessas barreiras poderaacute advir de forma mais justa e de fato acessiacutevel a partir do momento em que cidadatildeos com ou sem deficiecircn-cia tenham o direito de escolher de maneira plena e irrestrita a forma pela qual desejam entrar em contato com o consumo e a produccedilatildeo da informaccedilatildeo Para que isso ocorra faz-se ne-cessaacuterio ouvir conversar e refletir com as pessoas com defici-ecircncia e natildeo somente sobre as pessoas que se ressentem das barreiras a esse acesso

Sendo assim nosso projeto eacute delineado pelo pensamen-to de que para realizarmos um trabalho satisfatoacuterio junto aos alunos com deficiecircncia faz-se necessaacuterio sobretudo ouvir o que eles tecircm a nos dizer sugerir criticar Por essa razatildeo an-tes ou depois de realizarmos um trabalho de leitura de um

2 A liacutengua de sinais natildeo eacute universal e cada paiacutes possui a sua Como toda liacutengua possui uma estrutura gramatical e aspectos linguiacutesticos fonoloacutegico morfoloacutegico sintaacutetico e semacircntico No Brasil a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) eacute reconhecida pela lei nordm 104362002 como o sistema linguiacutestico visual-motor da comunidade surda brasileira (BRASIL 2005)

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texto ao universitaacuterio cego propomos informalmente ao aluno que ele nos aponte possibilidades de melhoria Dessa forma fazemos sempre que possiacutevel os ajustes necessaacuterios em prol de uma praacutetica de leitura melhor e mais eficaz Para que se compreenda melhor o funcionamento do nosso projeto de extensatildeo descrevemos na seccedilatildeo trecircs as principais accedilotildees desenvolvidas

Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

A realizaccedilatildeo deste projeto levou-nos agrave reflexatildeo sobre o aspecto de que o acesso agrave leitura e agrave escrita porpara pessoas com deficiecircncia visual natildeo se restringe a um uacutenico recurso Pelo contraacuterio muacuteltiplos satildeo os letramentos considerando que muacuteltiplas satildeo nossas praacuteticas sociais de contato com a lei-tura e a escrita Uma vez que vemos como indissociaacuteveis os letramentos e as praacuteticas sociais pensar o acesso agrave comunica-ccedilatildeo por meio de somente um recurso ndash quer sejam leitores de tela serviccedilo de ledores sistema Braille ndash eacute uma praacutetica redu-cionista e perigosa que leva agrave exclusatildeo de vaacuterios cidadatildeos de uma praacutetica social fundamental em nosso cenaacuterio contempo-racircneo que diz respeito ao acesso agrave informaccedilatildeo de forma irres-trita e acessiacutevel com todas as consequecircncias que as palavras irrestrita e acessiacutevel possam remeter

Eacute neste sentido que a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui ndash e no acircmbito da secretaria inserimos nosso projeto ndash tem direcionado suas accedilotildees com o intuito de promover dentro dos limites que lhe satildeo colocados a acessibilidade agrave informaccedilatildeo sob muacuteltiplas formas e perspectivas A rota precisa deste cami-nho para uma plena e irrestrita acessibilidade Natildeo a temos Satildeo somente dois anos de caminhada diante de tantas deacutecadas em que imperaram e ainda imperam uma concepccedilatildeo visiocecircn-

trica cartesiana e positivista de ensino de aprendizagem e de acesso agrave informaccedilatildeo ldquoCaminante no hay camino Se hace camino al andar Golpe a golpe verso a versordquo 3 Nos pa-raacutegrafos que se seguem faremos uma exposiccedilatildeo sobre as bases teoacutericas que fundamentaram esses nossos primeiros passos

Comecemos esclarecendo o conceito de letramento com o qual trabalhamos uma vez que este foi um dos conceitos que guiou nossa trilha durante a realizaccedilatildeo do projeto Tra-balhamos com o conceito de letramento desenvolvido pelos Novos Estudos do Letramento o qual entende o letramento como uma praacutetica social que envolve atividades de leitura e de escrita inseridas em estruturas sociais (BARTON HA-MILTON 1998) Satildeo praacuteticas que se localizam em um tempo e em um momento especiacuteficos ou seja as praacuteticas de letra-mento acontecem em contextos histoacutericos sociais e poliacuteticos situados Em resumo o letramento significa conforme a pers-pectiva que adotamos algo que as pessoas fazem natildeo se tra-ta de algo que reside somente na cogniccedilatildeo dos indiviacuteduos O letramento estaacute aleacutem de habilidades para aprender a ler e a escrever estaacute aleacutem dos textos que se limitam ao suporte do papel eacute uma atividade social por excelecircncia e portanto iraacute ocorrer na interaccedilatildeo entre as pessoas

Para ilustrar o que dizemos utilizamo-nos da voz de um dos participantes de uma pesquisa em andamento sobre letra-mentos para pessoas com deficiecircncia visual que estaacute sendo desenvolvida pela professora Beatriz Furtado Alencar Lima como aluna do doutorado em Linguiacutestica do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da UFC4

3 Passagem do poema Caminante no hay camino (MACHADO 2004)4 A pesquisa teve iniacutecio em maio de 2010 e trabalha com dez participantes cinco homens e cinco mulheres situados na faixa etaacuteria entre 23 e 50 anos Os participantes que integram a pesquisas satildeo pessoas com deficiecircncia visual quatro deles com niacutevel superior completo e seis se encontram com os cursos de niacutevel

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Ao finalizar a entrevista ndash de natureza semiestruturada ndash foi perguntado ao participante5 se ele gostaria de comentar algo mais aleacutem do que jaacute havia dito O que obtivemos foi en-tatildeo o seguinte depoimento6

Beatriz e pra gente terminar vocecirc gostaria de comentar algo mais Ricardo Natildeo acho que basicamente isso mesmo acho que tem Beatriz Sobre o que a gente conversou ou algo que vocecirc gostaria de comentar que independente das perguntasRicardo Natildeo eu acho que era basicamente isso mesmo Tipo as coisas tatildeo caminhando jaacute caminharam muitas coisas mas eu acho que tinha que ser feito conversar mais com os cegos ou se aproximar um pouco mais Enfim jaacute melhorou muita coisa mas muita coisa ainda taacute pra melhorar aindaBeatriz O que seriam essas coisas ainda pra melhorarRicardo Eu acho que da maneira que taacute acontecendo taacute acontecendo ateacute duma maneira legal Soacute que eu acho que tinha que melhorar era ouvir mais os cegos ouvir mais o deficiente e natildeo lsquoAh Eu estudei Eu sou formado Eu sou doutorrsquo Eu sou natildeo sei o quecirc Eu sei o que eu tocirc fazendo Tinha que ouvir mais Entatildeo muitas vezes a gente pega a pessoa lsquoAh Eu sou sei laacute eu sou irmatildeo dum cegorsquo lsquoeu sou casado com um cegorsquo lsquoeu sou assim assadorsquo lsquoeu estudeirsquo lsquoeu fiz pesquisarsquo lsquoeu fui pra forarsquo

superior em andamento A pesquisa acontece em diferentes locais de trabalho e de estudo dos participantes e tem como um de seus objetivos descrever compreender e explicar os letramentos presentes nas praacuteticas sociais dessas pessoas com deficiecircncia visual5 Para preservar a identidade dos participantes que aceitaram contribuir com nossa entrevista usamos nomes meramente fictiacutecios 6 Entrevista gravada em 10 de novembro de 2011 Essa entrevista faz parte do projeto de doutoramento de Beatriz Furtado Alencar Lima sobre os muacuteltiplos letramentos para pessoas com deficiecircncia visual A pesquisa estaacute vinculada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Linguiacutestica da UFC O projeto encontra-se devidamente aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa da UFC ofiacutecio nuacutemero 18511 protocolo COMEPE nuacutemero 13411

lsquoeu fui pros Estados Unidosrsquo lsquoestudei laacute e eacute assimrsquo E natildeo a verdade natildeo eacute assim Acho que quem sabe onde o sapato aperta eacute o deficiente Natildeo adianta vocecirc ter es-tudado vocecirc ter feito um bocado de coisas se vocecirc natildeo eacute o puacuteblico-alvo daquilo Claro que vocecirc ter estudado vocecirc vai ter uma bagagenzinha bem legal mas isso natildeo quer dizer que aquilo dali eacute tudoBeatriz E o que vocecirc diria pra esse pessoal que estuda e que acha que entendeRicardo Descesse um pouquinho do salto Soacute issoBeatriz CertoRicardo Escutasse mais descesse um pouquinho do sal-to e enfim escutasse mesmo Tipo seria isso escutasse um pouquinho porque o cego ele pode natildeo ter a baga-gem teacutecnica mas ele tem a bagagem praacutetica da coisa

Haacute outro depoimento que dialoga com o que Ricardo nos fala No depoimento abaixo estamos conversando sobre as tecnologias ndash de forma mais especiacutefica sobre a presenccedila dos computadores ndash na vida das pessoas com deficiecircncia visual Por meio de um exemplo simples que envolve o letramento (poder utilizar um micro-ondas) a participante levanta um ponto complexo sobre a falta de acessibilidade que adveacutem de nosso visiocentrismo7

Beatriz Humrum humrum Pegando aiacute uma apro-veitando isso aiacute que vocecirc acabou de comentar tem um pouco a ver com uma outra pergunta que eu gostaria de te fazer eacute como eacute que vocecirc sente e percebe as tecnologias da comunicaccedilatildeo na tua vida

7 Sobre este visiocentrismo Joana Belarmino de Sousa (2004) em sua tese Aspectos comunicativos da percepccedilatildeo taacutetil a escrita em relevo como mecanismo semioacutetico da cultura nos fala da existecircncia de uma mundividecircncia taacutetil ndash em contraposiccedilatildeo agrave nossa sociedade visiocecircntrica ndash como uma forma distinta de vivenciar o mundo Ou seja o tato eacute uma das formas pelas quais as pessoas com deficiecircncia visual experienciam o mundo e dentro dessas experiecircncias encontramos a leitura e a escrita por meio do sistema Braille

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Leda Ah eu assim eu costumo valorizar tudo que vem facilitar neacute Eu acho que tudo que vem me proporcionar uma independecircncia neacute Eu eu acho que natildeo tem por que natildeo tem como vocecirc recusar eu acho que vocecirc tem que aproveitar neacute Um celular um computador um programa aqui e ali mesmo que vocecirc coloque no seu computador pirata mesmo que vocecirc busque de uma forma ou de outra um meio pra utilizar qualquer coisa que venha te ajudar que venha te tornar mais indepen-dente mais autocircnomo eu acho que eacute valido Por exem-plo vocecirc quer ver uma coisa lsquoolha eu quero comprar um micro-ondas pra mim haacute tempo que eu quero comprar um micro-ondas pra mimrsquo Atualmente natildeo tem mais nenhum micro-ondas pra pessoa cega utilizar todos os micro-ondas olhe como as coisas natildeo satildeo para todos todos os micro-ondas atuais satildeo digitais Nenhum fala nenhum tem uma adaptaccedilatildeo pra pessoa cega utilizar aiacute as pessoas dizem assim lsquoah mas tem aquele micro--ondas x de mil novecentos e me esqueci que esse daiacute serve pra vocecircrsquo Ou seja nem escolher a marca do meu micro-ondas nem escolher o tamanho do meu micro--ondas nem escolher o tipo do meu micro-ondas que eu quero ter eu posso Entatildeo eu tenho que comprar aquele do seacuteculo XIX porque soacute aquele do seacuteculo XIX pra caacute foi que foi feito eacute o que permite que eu possa utilizar entatildeo assim eu acho que nessa questatildeo a gente ainda precisa evoluir neacute Apesar de que jaacute que soacute tem essa daiacute esse daiacute esquenta a comida do mesmo jeito dos atuais eu natildeo tenho escolha Se eu quero comprar um de 30 litros mas soacute tem um de 19 litros eu fico com esse mesmo eacute melhor do que eu natildeo esquentar nunca minha comida Agora natildeo eacute correto natildeo eacute justo natildeo taacute certo natildeo tem acessibilidade O mundo natildeo eacute para todos

Essa passagem da entrevista com Leda reitera a impor-tacircncia de entendermos que quando falamos sobre o acesso agrave leitura e agrave escrita para pessoas com deficiecircncia visual natildeo podemos pensar em uma uacutenica forma de acesso a textos es-critos mas em muacuteltiplas maneiras de vivenciar essa leitura e

essa escrita e em uma multiplicidade de suportes e de meios que proporcionam esse acesso

Daiacute dizermos que estamos trabalhando numa perspec-tiva de muacuteltiplos letramentos e de multiletramentos O termo muacuteltiplos letramentos foi desenvolvido por Street (1984) com o objetivo de opocirc-lo a uma concepccedilatildeo de letramento autocircno-mo a qual reifica a ideia de letramento reduzindo-o a uma noccedilatildeo simplista e redutora Essa concepccedilatildeo autocircnoma vecirc o letramento como uma habilidade a ser adquirida sem consi-derar as praacuteticas sociais e culturais em que os seres humanos estatildeo imersos A atividade de interagir com textos reduz-se a uma interaccedilatildeo com textos escritos que devem ser devidamen-te decodificados e internalizados O letramento autocircnomo assume atualmente um papel dominante em muitos meios educacionais do Brasil e do mundo em ciacuterculos governamen-tais em agecircncias internacionais como a UNESCO e tambeacutem estaacute na base dos discursos dos mais variados segmentos da sociedade ndash escolas universidades academias de letras miacute-dia dentre outros ndash sobre o que entendem por letramento A ideia pois dos muacuteltiplos letramentos vem opor e desafiar o que difunde o letramento autocircnomo (STREET 2010)

No que diz respeito aos multiletramentos esse termo faz referecircncia natildeo a muacuteltiplos letramentos associados a di-ferentes contextos sociais mas a formas diversas muacuteltiplas de letramento que se associam a diferentes canais ou mo-dos como letramento visual letramento do computador etc (STREET 2010)

Eacute pois tendo como referecircncia a noccedilatildeo de letramento acima exposta que reiteramos ser perigoso e redutor afir-marmos e agirmos em prol do acesso agrave leitura para as pes-soas com deficiecircncia visual tendo como paracircmetro um uacutenico meio Braille ou leitores de tela por exemplo Isso significaria

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apagar e negar as muacuteltiplas maneiras pelas quais elas podem vivenciar a leitura em suas mais diversas praacuteticas sociais Eacute importante sempre ter em vista que satildeo muacuteltiplos os letra-mentos que respondem agraves demandas peculiares das pessoas com eficiecircncia visual a partir de suas diferentes praacuteticas so-ciais e culturais e muacuteltiplas satildeo as formas com que essas pes-soas vivenciam interagem e reagem a esses letramentos de acordo com os diferentes canais ou meios que utilizam Faz-se necessaacuterio entender como esses muacuteltiplos e multiletramentos respondem agraves necessidades especiacuteficas das pessoas com de-ficiecircncia visual para que se possa realizar de fato um acesso pleno e irrestrito da leitura agravequeles que se encontram fora do campo de visatildeo de um mundo pautado no visiocentrismo

Descrevendo as Accedilotildees do Projeto

Partindo do princiacutepio de que a universidade estaacute forma-da por um puacuteblico heterogecircneo de estudantes encontrando--se nessa heterogeneidade inseridas as mais diversas formas de contato com a leitura e a escrita entendemos ser importan-te considerar essas idiossincrasias promovendo uma forma a mais de acesso aos textos em tinta com os quais os alunos com deficiecircncia visual teriam que travar contato ao longo de seu curso de graduaccedilatildeo Daiacute a criaccedilatildeo de um projeto que prestasse AEE aos estudantes com deficiecircncia visual com o objetivo de auxiliaacute-los nas atividades discentes de que prescindiam nos cursos em que estavam matriculados

Durante a execuccedilatildeo do projeto atendemos a quatro alu-nos cujos dados estatildeo detalhados na tabela abaixo

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos atendidos

CARACTERIZACcedilAtildeO DOS ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA

IDADE CURSO DEFICIEcircNCIA

28 Ciecircncias Sociais Fiacutesica ndash Torcicolo Espasmoacutedico

45 Pedagogia Visual ndash Baixa Visatildeo

22 Letras Espanhol-Literatura Visual Total ndash Retinoblastoma

23 Psicologia Baixa Visatildeo ndash Visatildeo Unilateral

A accedilatildeo do projeto se inseriu conforme jaacute mencionamos anteriormente como mais uma das iniciativas que estatildeo sen-do desenvolvidas na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui no sentido de disponibilizar material bibliograacutefico para as pessoas com deficiecircncia visual Nesse sentido trabalhos vecircm sendo empreendidos como a digitalizaccedilatildeo de materiais que precisam ser usados pelos alunos com deficiecircncia visual No entanto dado que este serviccedilo demanda certo tempo o aten-dimento prestado pelas ledoras veio auxiliar e complementar o trabalho de digitalizaccedilatildeo8 de livros e textos com o intuito de atender aos alunos nas leituras de seus textos em tempo haacutebil

De forma mais especiacutefica centramo-nos nos seguintes aspectos promover o acesso de textos por meio do trabalho de ledoras realizado por duas bolsistas pertencentes agrave Se-

8 O trabalho de digitalizaccedilatildeo consiste no processo de digitalizar textos em tinta para que possam ser utilizados pelas pessoas com deficiecircncia visual por meio do suporte do computador com o uso de leitores de tela ou do programa DOSVOX Tanto o programa DOSVOX quanto os leitores de tela leem o que se encontra na tela do computador para as pessoas que os utilizam Essa leitura ocorre atraveacutes de uma voz sinteacutetica que decodifica as palavras que se encontram na tela Ou seja jaacute que as pessoas com deficiecircncia visual natildeo podem ter acesso aos textos em tinta por meio da visatildeo entram em contato com as informaccedilotildees escritas por meio da audiccedilatildeo

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cretaria de Acessibilidade UFC Inclui coletar e gerar dados para a elaboraccedilatildeo de uma estatiacutestica sobre a quantidade de alunos atendidos e a metodologia que eacute utilizada nesses aten-dimentos coletar e gerar dados para a elaboraccedilatildeo de novas metodologias no tocante agrave leitura para cegos com o intuito de aprimorar essa teacutecnica e com isso contribuir com mais uma ferramenta de acesso ao conhecimento para os estudan-tes com deficiecircncia visual

Dessa maneira as duas bolsistas envolvidas neste pro-jeto atuaram da seguinte forma realizaccedilatildeo do trabalho de lei-tura de textos para os estudantes que buscavam o atendimen-to na secretaria construccedilatildeo de formas alternativas de acesso ao conhecimento presente nos textos (leitura pausada leitura contiacutenua leitura para fichamento) acompanhamento e ano-taccedilatildeo das estrateacutegias que eram utilizadas e construiacutedas nesse atendimento com o intuito de gerar dados para a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui Essas formas de atuar podiam acontecer de maneira conjunta ou em separado dependendo das necessidades e estilos de aprendizagem dos alunos Cada atendimento teve a duraccedilatildeo aproximada de uma hora e meia nos turnos da manhatilde e da tarde dependendo de cada caso e foram realizados em uma sala situada na Secretaria de Aces-sibilidade UFC Inclui

Aleacutem disso as bolsistas do projeto participaram se-manalmente de atividades de estudo planejamento e acom-panhamento sob supervisatildeo da coordenaccedilatildeo do projeto A pauta desses encontros estava centrada na discussatildeo sobre a forma como as ledoras realizavam os atendimentos a fim de aperfeiccediloar as teacutecnicas utilizadas Tanto nos atendimentos ao puacuteblico- -alvo do projeto quanto nos encontros junto agrave coor-denaccedilatildeo a intenccedilatildeo foi a de oferecer oportunidades para que as bolsistas se deparassem com situaccedilotildees-problema para as

quais deveriam buscar formas criativas de intervir pedagogi-camente no AEE Isso exigiu delas a capacidade de ir ao en-contro de soluccedilotildees que atendessem a cada aluno

Compartilhando Nossas Experiecircncias

Relatar experiecircncias implica compartilhar com o outro por meio da narrativa emoccedilotildees medos desejos e dificuldades vivenciadas durante algum momento especiacutefico ndash em nosso caso durante todos os instantes que circundaram a praacutetica da leitura para os universitaacuterios com deficiecircncia visual que busca-ram em nossa voz uma alternativa para dar vida aos textos

A esse respeito cabe mencionar que diferentemente do que previacuteamos durante a elaboraccedilatildeo do projeto nosso puacuteblico natildeo se restringiu apenas aos alunos com deficiecircncia visual ou de baixa visatildeo uma vez que um aluno acometido por torcicolo espasmoacutedico ndash o que provocava movimentos involuntaacuterios re-petidos do pescoccedilo ndash tambeacutem buscou nas ledoras uma forma de acessar o conteuacutedo de um texto impresso Isto porque os movimentos involuntaacuterios da parte superior do corpo tornava o fixar dos olhos nas paacuteginas de papel ou na tela do computa-dor uma tarefa dolorosa lenta e por vezes frustrante Dessa forma procedemos com a seguinte correccedilatildeo nossas ledoras emprestaram a voz natildeo soacute aos alunos impossibilitados de ver mas tambeacutem aos que encontravam outras dificuldades decor-rentes de condiccedilotildees fiacutesicas ndash que natildeo a deficiecircncia visual ndash no momento de praticar a leitura

Aclarados esses pontos dividimos nosso relato em trecircs breves momentos inicialmente discorreremos sobre nossas expectativas antes de iniciar as atividades de ledoras em se-guida na parte mais longa do relato compartilhamos nossa vivecircncia durante a execuccedilatildeo do projeto e por fim com base

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em nossa experiecircncia deixamos algumas breves sugestotildees para o aprimoramento de projetos futuros

Antes do nosso projeto atender o primeiro aluno nos-sas expectativas sempre otimistas apontavam para uma re-laccedilatildeo perfeita entre ledor-texto-leitor9 Isto eacute imaginaacutevamos que a nossa voz sempre fosse ter a capacidade de despertar o interesse no leitor acerca do conteuacutedo que liacuteamos Erronea-mente atribuiacuteamos a noacutes ledoras a responsabilidade de tor-nar o texto uma fonte de prazer aos ouvidos do leitor

Mais tarde durante a execuccedilatildeo do projeto e apoacutes apre-ciaccedilatildeo de textos da literatura especializada fomos nos cons-cientizando de nossas responsabilidades e limitaccedilotildees Apren-demos que nem sempre o leitor se envolveraacute com as histoacuterias lidas o que natildeo significa que a nossa leitura natildeo tenha cum-prido o seu papel Afinal eacute comum que todos noacutes videntes ou natildeo enfademo-nos ou ajamos de forma indiferente frente a um texto em algum momento algumas vezes em virtude da linguagem utilizada pelo autor noutras pela forma densa como o escritor conduz suas ideias ou simplesmente pela nos-sa falta de interesse no tema

No entanto natildeo podemos deixar de mencionar a sa-tisfaccedilatildeo que sentiacuteamos quando percebiacuteamos nas atitudes do leitor o contentamento de quem estava completamente en-volvido com nossa leitura Era muito gratificante notar que o nosso tom de voz entonaccedilatildeo pausas e respiraccedilatildeo aliados a um texto de interesse do universitaacuterio conseguiam provocar nele emoccedilotildees e reflexotildees diversas

Certa vez ao teacutermino da leitura de um texto10 relati-vamente denso em funccedilatildeo de uma longa discussatildeo teoacuterica

9 Denominamos ledor agravequele que lecirc para as pessoas com deficiecircncia visual e leitor cego os que escutam as leituras feitas em voz alta10 Referecircncia completa do texto LYONS J Linguagem e Linguiacutestica Rio de Janeiro Guanabara Koogan SA 1981

a aluna leitora para a qual estaacutevamos lendo soltou repenti-namente uma gargalhada e em seguida disse-nos algo que se aproximou com ldquoeacute engraccedilado a forma alegre como vocecirc lecirc um texto difiacutecil E o mais engraccedilado eacute que ele acaba se tor-nando faacutecilrdquo Naquele dia percebemos que noacutes ledores natildeo podemos esquecer jamais que uma leitura realizada de forma mecacircnica e fria despertaraacute sentimentos bem diferentes do que aqueles aflorados quando realizamos uma leitura com entu-siasmo e alegria Os sentimentos satildeo contagiosos

Schinca (1994 p 2) no artigo intitulado ldquoConfissotildees de algueacutem que lecirc para cegosrdquo traduz muito sabiamente as nossas anguacutestias na empreitada de sermos ledores

A quais expectativas dos usuaacuterios temos correspondi-do Que demandas natildeo foram satisfeitas Somos aceitos bem tolerados Ou apenas nos suportam Emocionam-se ou ficam frios com a nossa leitura Somos claros Ou natildeo propiciamos nenhum entendimento uacutetil do texto Consideram-nos intru-sos nesta intermediaccedilatildeo entre o usuaacuterio e o autor

Esses questionamentos sem duacutevida satildeo ainda mais angustiantes quando o ledor natildeo tem um feedback por parte do leitor acerca de seu trabalho No nosso caso em virtude da intimidade que alcanccedilamos com os alunos com deficiecircncia que nos procuravam no espaccedilo da Secretaria de Acessibilida-de UFC Inclui pudemos conhecer melhor nossas fragilidades e pontos fortes no exerciacutecio da funccedilatildeo de ledoras Quase sem-pre ao teacutermino de uma leitura era comum uma conversa sem cerimocircnias entre as ledoras e os alunos com deficiecircncia sobre os pontos que mereciam ser melhorados em nosso trabalho

Em relaccedilatildeo a isso destacamos aqui um aspecto que merece atenccedilatildeo em nossa praacutetica como ledoras a apropria-ccedilatildeo das teorias que versam sobre a descriccedilatildeo de imagens para cegos (GUEDES 2010 LIacuteVIA FILHO 2010 PAYA 2007)

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Descrever imagens fotos mapas muito mais do que sensi-bilidade requer conhecimento teacutecnico e teoacuterico acerca do assunto Para ilustrar nossa dificuldade sugerimos que vocecirc caro leitor pense em como descreveria a imagem que segue para uma pessoa cega

Figura 1 ndash Indicaccedilatildeo de voo das abelhasFonte LYONS J Linguagem e Linguiacutestica Rio de Janeiro Guanabara Koogan SA 1981

Conseguiu Para noacutes essa descriccedilatildeo tambeacutem natildeo foi

tarefa simples Outra dificuldade que notamos em nosso tra-balho diz respeito agrave leitura de textos em Liacutengua Estrangeira (LE) Apesar de as ledoras serem proficientes em liacutengua in-glesa e espanhola deparaacutevamo-nos muitas vezes com textos escritos em liacutenguas diferentes daquelas

Conclusatildeo

Desse modo acreditamos que ser um bom ledor vai muito aleacutem de simplesmente saber ler A nosso ver os ledores necessitam receber capacitaccedilatildeo adequada que lhe garanta a apropriaccedilatildeo de teacutecnicas especiacuteficas contar com lugares apro-priados para a praacutetica de leitura em voz alta e ser consciente de que desenvolver um trabalho junto a esses alunos implica

estar atento agraves suas necessidades no momento da leitura ou seja eacute o aluno quem sugere o tipo de metodologia que noacutes le-dores empregamos no momento do atendimento Por exem-plo se o aluno com deficiecircncia precisa ler um texto para fa-zer um fichamento acadecircmico certamente ele solicitaraacute uma leitura mais lenta e uma releitura dos pontos que ele definiu como relevantes por outro lado se ele necessita ler uma crocirc-nica a leitura deveraacute ser realizada de uma uacutenica vez

Como jaacute mencionamos a questatildeo do espaccedilo fiacutesico em que o atendimento ocorre tambeacutem influencia na qualidade da compreensatildeo por parte do aluno Para entender isso bas-ta pensarmos em nossa experiecircncia individual como leitores algumas pessoas preferem ler sentadas em uma cadeira ou-tras deitadas num sofaacute alguns optam por lugares silenciosos ao passo que outros gostam mesmo eacute de no momento da lei-tura ouvir vaacuterias outras vozes (televisatildeo muacutesica etc) Certa vez um aluno interrompeu a leitura de uma das ledoras e de forma tiacutemida sugeriu que saiacutessemos da sala e focircssemos para debaixo de uma aacutervore Indaguei-me por que natildeo ir Ser le-dor eacute entregar-se completamente agrave tarefa de tornar possiacutevel o acesso ao rico mundo das letras agraves pessoas com deficiecircncia visual Ser ledor eacute principalmente saber aventurar-se nas no-vas experiecircncias sem medos e preconceitos

Concluiacutemos apresentando algumas sugestotildees para tra-balhos futuros a partir do que pudemos constatar e analisar durante a vigecircncia de nossa accedilatildeo A execuccedilatildeo do projeto le-vou-nos ao mapeamento de alguns pontos que merecem ser pensados para a realizaccedilatildeo de ediccedilotildees futuras Sobre estes pontos destacamos a realizaccedilatildeo de um levantamento da de-manda pela leitura de textos em LE (inglecircs espanhol francecircs italiano e alematildeo) para que em versotildees posteriores do pro-jeto sejam requisitados ledores proficientes nas liacutenguas su-

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pracitadas caso haja demanda de leitura levantamento e dis-ponibilizaccedilatildeo de materiais em Braille em LE tendo em vista principalmente estudantes com deficiecircncia visual dos cursos de Letras com habilitaccedilatildeo em LE levantamento pesquisa e aquisiccedilatildeo de leitores de tela com versatildeo em LE

Talvez o ponto a ser explorado natildeo resida em uma opo-siccedilatildeo ou uma hierarquia de valores entre diferentes formas de acesso ao conhecimento quer seja ele o Braille o computador ou os ledores mas em uma reflexatildeo sobre determinada forma diferente de ser estar ou perceber o mundo forma que se en-contra cansada desgastada e questiona sobre uma sociedade que definitivamente natildeo tem pensado no acesso ao conheci-mento e portanto agrave leitura e agrave escrita (aqui leitura e escrita pensadas em seus multiletramentos e muacuteltiplos letramentos) para todos

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SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLE

Maria Clarissa Maciel RodriguesInecircs Cristina de Melo Mamede

Introduccedilatildeo

Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky trouxeram grandes contribuiccedilotildees para professores alfabetizadores quando des-vendaram a ideia de que a alfabetizaccedilatildeo natildeo eacute o resultado de algo mecacircnico e repetitivo Ao longo de uma caminhada ateacute a elaboraccedilatildeo de como o sistema de escrita deve ser organizado o sujeito que se depara com tantos materiais escritos ao seu redor formula hipoacuteteses sobre como esse sistema se consti-tui para que possa ser interpretado De acordo com Ferreiro (2000) a alfabetizaccedilatildeo natildeo pode ser vista como algo mecacircni-co pois a crianccedila ao longo desse fenocircmeno se impotildee proble-mas interpreta e reinterpreta o sistema de escrita

No Brasil muitos autores se dedicaram a colher dados a respeito do tema a fim de dar continuidade a tais inves-tigaccedilotildees As pesquisas entretanto satildeo praticamente escas-sas quando se trata da investigaccedilatildeo das hipoacuteteses de leitura e escrita levantadas pelas crianccedilas que apresentam alguma deficiecircncia mais especificamente as crianccedilas cegas Eacute visu-alizando tal situaccedilatildeo que nossa pesquisa se faz relevante e eacute inovadora pois traz contribuiccedilotildees ainda que modestas do ponto de vista de sua abrangecircncia metodoloacutegica1 a respeito

1 Ressaltamos ao leitor a importacircncia de buscar investigaccedilotildees mais aprofundadas a respeito da aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille com acesso inclusive ao alfabeto Braille aqui natildeo apresentado dados os limites de espaccedilo Recomendamos o programa Braille Faacutecil Disponiacutevel em lthttpintervoxnceufrjbrbrfacilgt

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da temaacutetica no campo da aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille2

Este experimento acadecircmico tem como objetivo geral investigar as especificidades no processo de aquisiccedilatildeo da es-crita pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille Pretendemos al-canccedilar este propoacutesito por meio da anaacutelise dos dados obtidos em nossa busca tendo por sujeitos crianccedilas cegas usuaacuterias do Sistema Braille tomando como base teoacuterica os dados obtidos na investigaccedilatildeo realizada por Emiacutelia Ferreiro e Ana Tebe-rosky Procuramos assim identificar o modo como as crianccedilas cegas manifestam suas hipoacuteteses a respeito da escrita e se es-tas apresentam ou natildeo especificidades em relaccedilatildeo agraves hipoacutete-ses jaacute conhecidas

Com efeito este ensaio traz a seguinte questatildeo norte-adora quais as especificidades apresentadas pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille durante a aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita Com suporte nesta indagaccedilatildeo pretendemos tambeacutem ao longo desta pesquisa relacionar as hipoacuteteses psicogeneacuteti-cas da aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita apresentadas pelas crianccedilas cegas com as hipoacuteteses trazidas pelas crianccedilas que enxergam

Aprender a ler e a escrever eacute um fenocircmeno socialmente facilitado pelo uso da escrita pelo contato com os diferentes portadores sociais de texto (SOARES 1998) presentes nos mais diversos ambientes e que trazem os mais variados tipos de informaccedilotildees O contato com esses portadores eacute fundamen-tal para que a crianccedila formule suas hipoacuteteses sobre o que eacute a escrita e acerca da funccedilatildeo social de cada um dos diferen-tes gecircneros textuais Mesmo natildeo sabendo ler e escrever uma crianccedila que enxerga tem enormes benefiacutecios ao manusear um livro ela aprende a direccedilatildeo do sentido da leitura e da escrita

2 Sistema de leitura e escrita taacutetil desenvolvido por Louis Braille para ser utilizado por pessoas cegas ou com deficiecircncia visual grave (baixa visatildeo acentuada)

se um adulto fizer a leitura apontando com o dedo por exem-plo Almeida (1992) destaca a ideia de que para uma crianccedila cega ou com deficiecircncia visual grave que necessita do Sistema Braille para se alfabetizar o contato com portadores sociais de texto se torna mais difiacutecil pois na maioria dos casos o Sistema Braille natildeo faz parte do meio social onde a crianccedila cega estaacute inserida

Como jaacute mencionado as pesquisas sobre a aquisiccedilatildeo da escrita por meio do Sistema Braille satildeo bastante escassas principalmente no que se refere agraves hipoacuteteses psicogeneacuteticas da aquisiccedilatildeo da escrita Em busca de levantar dados sobre o tema fizemos pesquisas na Biblioteca do Centro de Humani-dades da Universidade Federal do Cearaacute (UFC) na internet no acervo da instituiccedilatildeo onde aconteceu a pesquisa que aten-de crianccedilas cegas bem como em contatos via e-mail com o Instituto Benjamin Constant do Rio de Janeiro

Na metodologia deste trabalho apresentamos ao leitor os procedimentos adotados para a coleta de dados bem como mencionamos caracteriacutesticas dos sujeitos que participaram da pesquisa Introduzimos consideraccedilotildees a respeito da defi-ciecircncia visual e da aprendizagem das pessoas que possuem essa limitaccedilatildeo e anaacutelise dos dados oferecidos pelas crianccedilas agrave luz da psicogecircnese da liacutengua escrita na seccedilatildeo resultados e discussatildeo Para concluir o artigo tecemos algumas conside-raccedilotildees sobre as produccedilotildees escritas realizadas pelos sujeitos da pesquisa que se encontram em decurso de aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita

Metodologia

Considerando o objetivo deste trabalho de investigar as especificidades da aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas cegas

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por meio do Sistema Braille a metodologia empregada na pesquisa foi o estudo de caso com vistas agrave obtenccedilatildeo de da-dos mais precisos devido ao contato direto do pesquisador com os sujeitos da investigaccedilatildeo consoante ao entendimento de Araujo et al (2008) De acordo com Yin citado por Arauacutejo et al (2008 p 4) esta estrateacutegia eacute adequada ldquo[] quando o investigador procura respostas para o lsquocomorsquo e o lsquoporquecircrsquo quando o investigador procura encontrar interacccedilotildees entre factores relevantes proacuteprios dessa entidade quando o objecti-vo eacute descrever ou analisar o fenoacutemenordquo

A investigaccedilatildeo aconteceu em uma instituiccedilatildeo filantroacute-pica3 fundada na deacutecada de 1940 situada no municiacutepio de Fortaleza-Cearaacute Algumas das modalidades de ensino por ela ofertadas satildeo Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental I e II Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Desenvolvemos a pesquisa nas turmas de Infantil IV Infantil V e 1ordm ano Neste estudo de caso selecionamos nove sujeitos dos quais seis satildeo crianccedilas com idades entre seis e dez anos e trecircs satildeo suas professoras de sala de aula As crianccedilas4 satildeo Edwiges Ariel Tatiana Alex Joatildeo e Diel Todas as crianccedilas possuem patologias congecircnitas Suas professoras satildeo Roberta (1ordm ano) Angeacutelica (Infantil V) e Julieta (Infantil IV) Nenhuma das trecircs professoras da Insti-tuiccedilatildeo apresentou dados relevantes sobre as hipoacuteteses de lei-tura e escrita da crianccedila cega e ateacute mencionaram desconhecer o estudo de Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky5

3 Por questotildees eacuteticas natildeo citaremos o nome da instituiccedilatildeo onde se realizou a pesquisa ao longo deste trabalho nos referiremos ao local como Instituiccedilatildeo4 A fim de preservar a identidade das crianccedilas e das professoras utilizaremos nomes fictiacutecios para nos referirmos aos sujeitos da pesquisa Para efeitos de anaacutelise de dados o nome fictiacutecio das crianccedilas apresenta correspondecircncia com o nuacutemero de siacutelabas de seu nome a fim de facilitar a compreensatildeo da escrita do nome proacuteprio de cada um5 Sentimos a necessidade de buscar novos sujeitos que pudessem contribuir com tais informaccedilotildees para a pesquisa O sujeito encontrado foi a professora Jordana

A fim de facilitar a compreensatildeo do leitor no que se re-fere agrave identificaccedilatildeo dos sujeitos ao longo deste ensaio apre-sentamos um quadro-resumo com os principais dados de cada crianccedila

Quadro 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos Alunos com Deficiecircncia Visual

SUJEITO IDADE ESCOLARIDADE CONDICcedilAtildeO VISUAL

Edwiges 6 anos Infantil IV Cegueira bilateral total

Ariel 7 anos Infantil IV

Olho direito enucleado e vi-satildeo subnormal perifeacuterica no olho esquerdo com encami-nhamento meacutedico para o Sistema Braille

Tatiane 7 anos Infantil VVisatildeo subnormal com enca-minhamento meacutedico para o Sistema Braille

Alex 8 anos Infantil V Cegueira bilateral total

Joatildeo 9 anos 1ordm ano Cegueira bilateral total

Diel 10 anos 1ordm ano Cegueira bilateral total

As palavras e a frase selecionadas para o teste perten-cem ao campo semacircntico corpo humano Satildeo elas perna bar-riga sobrancelha e peacute A frase foi O menino machucou a per-na As crianccedilas tambeacutem tiveram que criar um desfecho para a seguinte histoacuteria Joatildeo e seu amigo Joseacute saiacuteram para passear quando de repente eles acharam uma caixa muito pesada Eles decidiram entatildeo

mestra em Ciecircncias da Educaccedilatildeo que trabalha em duas instituiccedilotildees estaduais especializadas no atendimento a deficientes visuais no municiacutepio de Fortaleza Jordana contribuiu ao responder agraves mesmas perguntas dirigidas agraves demais professoras mas tambeacutem afirmou natildeo ter muitos conhecimentos a respeito da Psicogecircnese da Liacutengua Escrita

SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLEMARIA CLARISSA MACIEL RODRIGUES bull INEcircS CRISTINA DE MELO MAMEDE100 d d 101

Resultados e Discussatildeo

A deficiecircncia visual eacute do tipo sensorial e abrange desde a cegueira total em que natildeo haacute percepccedilatildeo da luz ateacute a bai-xa visatildeo (visatildeo subnormal) Cegueira pode ser a perda total da visatildeo e as pessoas acometidas dessa deficiecircncia precisam se utilizar dos sentidos remanescentes para aprender sobre o mundo que as cerca A baixa visatildeo eacute a incapacidade de enxer-gar com clareza mas trata-se de uma pessoa que ainda possui resiacuteduos visuais Contudo mesmo com o auxiacutelio de oacuteculos ou lupas a visatildeo se mostra baccedila diminuiacuteda ou prejudicada de algum modo O documento esclarece que algumas patologias ndash como miopia estrabismo astigmatismo e hipermetropia por exemplo- natildeo constituem deficiecircncia visual mas quan-do diagnosticadas devem ser tratadas o mais raacutepido possiacute-vel para natildeo prejudicar o desenvolvimento e a aprendizagem (BRASIL 2000)

Braille O Que Satildeo Esses Pontos As Primeiras Experiecircncias da Crianccedila Cega com a Leitura e a Escrita em Relevo

Almeida (1992) nos chama a atenccedilatildeo para um fato que aqui neste trabalho podemos apontar como uma especifici-dade da crianccedila cega A autora exprime que de acordo com Emiacutelia Ferreiro eacute comum ver crianccedilas ainda bem pequenas imitarem os adultos ao manusearem livros jornais revistas e tantos outros materiais escritos Mesmo as crianccedilas oriundas de classes sociais mais desfavorecidas satildeo detentoras de algum conhecimento sobre a leitura e a escrita pois o elemento es-crito eacute objeto presente por toda parte Ao fingir que lecirc aquelas linhas cheias de rabiscos claramente diferentes do desenho a crianccedila que enxerga aos poucos se apropria do que eacute a es-

crita Quando chegam agrave escola essas crianccedilas veratildeo a escrita como objeto jaacute conhecido de sorte que o desafio entatildeo seraacute de compreender como o sistema estaacute organizado para permi-tir o registro de ideias Almeida (1992) ressalta que quando se trata de crianccedilas cegas as descobertas a respeito da escrita se tornam impraticaacuteveis pois o Sistema Braille natildeo faz parte do cotidiano logo essas crianccedilas demoram muito tempo para entrar no mundo das letras O contato com o Sistema Brail-le soacute acontece quando a crianccedila inicia o periacuteodo escolar pois dificilmente seus instrumentos estaratildeo presentes no acircmbito familiar Para a autora essa demora pode causar prejuiacutezos e atrasos no processo de alfabetizaccedilatildeo

Segundo o portal eletrocircnico da Sociedade de Assistecircn-cia aos Cegos (SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS 2011) o Sistema Braille eacute formado a partir de um conjunto de seis pontos em relevo organizados em duas colunas de trecircs pontos Este conjunto de pontos recebe o nome de cela As di-ferentes disposiccedilotildees e combinaccedilotildees dos pontos na cela geram 63 siacutembolos que satildeo aplicados agrave escrita agrave muacutesica e agraves ciecircncias A escrita Braille pode ser produzida agrave matildeo utilizando-se o conjunto reglete e punccedilatildeo6 instrumentos utilizados em nossa investigaccedilatildeo ou a maacutequina proacutepria para esta escrita

6 A reglete pode ter formas diferentes mas consiste essencialmente em uma reacutegua que geralmente estaacute acoplada a uma prancheta Em alguns modelos a reacutegua eacute dupla face com dobradiccedilas no lado esquerdo e a parte de cima da reacutegua eacute vazada com retacircngulos no formato da cela Braille Na parte de baixo encontramos as celas Braille em baixo relevo Em outros modelos a reacutegua possui apenas uma face a vazada a parte do baixo (relevo) encontra-se na proacutepria prancheta Para produzir a escrita a pessoa prende uma folha de papel 40kg entre as duas faces da reacutegua ou entre a reacutegua e a prancheta dependendo do modelo da reglete O punccedilatildeo eacute usado para pressionar o papel e formar o relevo Utilizando esse conjunto eacute necessaacuterio escrever da direita para a esquerda invertendo a ordem da numeraccedilatildeo dos pontos Assim quando a folha for virada as letras estaratildeo na ordem correta e a leitura seraacute feita de maneira convencional ndash da esquerda para a direita

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Figura 1 ndash A cela Braille agrave Esquerda no Sentido da Leitura e agrave Di-reita no Sentido da Escrita

Almeida (2002) tambeacutem chama a atenccedilatildeo para o fato de que os instrumentos de escrita agrave tinta fazem parte do co-tidiano das crianccedilas que veem pois ao manusear laacutepis ca-netas giz de cera para fazer desenhos ou fingir que escreve eacute possiacutevel atingir certo desenvolvimento da motricidade fina

A crianccedila cega natildeo passa com tal naturalidade por essas experiecircncias enriquecedoras Falta-lhe a condiccedilatildeo de imitar acaba por essa razatildeo natildeo tendo reais oportu-nidades de aprendizagem O ato da escrita tatildeo simples e prazeroso para uma crianccedila vidente transforma--se numa lacuna para ela nos primeiros anos de vida ( ALMEIDA 2002 p 15-16)

Da mesma forma entatildeo o contato com a escrita duran-te a aprendizagem do Sistema Braille eacute necessaacuterio para que a crianccedila possa ampliar seus conhecimentos refinar percep-ccedilotildees e inclusive ajustar condutas motoras e exercitar as arti-culaccedilotildees De iniacutecio eacute interessante que os exerciacutecios de leitura e escrita sejam conduzidos de maneira livre para que com o tempo se possa elaborar a ideia de que aquele conjunto de pontos representa as letras do alfabeto No caminho que iraacute percorrer ateacute se apropriar do sistema de escrita eacute fundamen-tal que o professor ajude a crianccedila a descobrir a organizaccedilatildeo

da paacutegina escrita de cima para baixo e da esquerda para a di-reita linhas contiacutenuas interrompidas etc aleacutem da aplicaccedilatildeo de determinados meacutetodos para a formulaccedilatildeo de tais concei-tos Deixar as crianccedilas manusearem livros eacute essencial o luacutedi-co nesse processo tambeacutem eacute fundamental pois brincadeiras que estimulem a discriminaccedilatildeo classificaccedilatildeo e ordenaccedilatildeo de diferentes objetos trazem mais seguranccedila para a crianccedila na hora de diferenciar os pontos no papel (ALMEIDA 2002)

Em nossa pesquisa conversamos com as docentes da Instituiccedilatildeo e tambeacutem com a professora Jordana a respeito dos conhecimentos que as crianccedilas cegas tecircm sobre a leitura e a escrita Braille bem como dos instrumentos necessaacuterios para produzi-la

As consideraccedilotildees feitas pela professora Julieta que le-ciona no Infantil IV a respeito dos conhecimentos das crian-ccedilas cegas acerca do Sistema Braille e dos materiais que se uti-lizam para produzir a escrita antes de iniciarem a fase escolar satildeo as seguintes

Nenhuma das crianccedilas que eu tenho recebido e creio que as minhas colegas tambeacutem nenhuma sabe que vatildeo se utilizar desses instrumentos Por exemplo quando pegam no punccedilatildeo pela primeira vez perguntam logo lsquoTia mas o que eacute isso Para que serversquo Eles natildeo tecircm conhecimento da existecircncia desse material nem eles nem a famiacutelia Muitos pais ateacute sabem que o filho vai se utilizar do Braille mas natildeo tecircm noccedilatildeo do que eacute o Braille

Indagamos tambeacutem acerca do conhecimento que as crianccedilas tecircm sobre a existecircncia da escrita ldquoNatildeo Jaacute aconte-ceu por exemplo da crianccedila passar as matildeos num livrinho em Braille e perguntar lsquoTia o que eacute isso aquirsquo Temos que explicar que ali estaacute escrita uma histoacuteria que fala sobre alguma coisa Geralmente eles ficam admirados porque natildeo sabem o que eacuterdquo

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As consideraccedilotildees sobre o tema feitas pela professora Roberta que leciona no primeiro ano satildeo as seguintes

Quando as crianccedilas cegas chegam agrave escola natildeo tecircm noccedilatildeo de que existe esse material (reglete e punccedilatildeo) ateacute porque elas natildeo tecircm acesso a esse material em casa Muitas vezes querem usar papel e caneta fa-zem muitos rabiscos com a intenccedilatildeo de desenhar [] Quando acontece o primeiro contato da crianccedila com o Braille elas natildeo sabem o que eacute Nesse momento entra o professor para explicar que ali estaacute escrita alguma coisa que pode ser uma histoacuteria [] No primeiro mo-mento elas vatildeo explorar naturalmente o material vatildeo descobrir que abre e fecha que tem furinhos mas natildeo sabem utilizar Dependendo da crianccedila elas podem passar por toda a Educaccedilatildeo Infantil e chegar ao 1ordm ano ainda com dificuldades de colocar a folha outros jaacute conseguem se adaptar melhor a esse processo varia muito de crianccedila para crianccedila [] Mesmo que ainda natildeo saiba ler eacute necessaacuterio que tudo que escreva (na reglete) vire a folha para ler e assim construir noccedilotildees de leitura e escrita

Consideraccedilotildees da professora Angeacutelica sobre o tema

A crianccedila cega quando ela entra na escola ela natildeo tem nenhum conhecimento relacionado agrave reglete ao punccedilatildeo a livros em Braille Agora se ela tiver um parente que se utiliza desse material ele pode mostrar a ela todo esse material Geralmente quando eles conhecem esse material ficam muito surpresos [] para aprender a utilizar eacute necessaacuterio toda uma orientaccedilatildeo da professora e eacute necessaacuterio que esse contato com o material seja diaacuterio para que aos poucos vaacute dominando o uso da reglete e do punccedilatildeo mas esse processo geralmente eacute lento [] As maiores dificuldades satildeo de colocar a folha identificar a posiccedilatildeo dos pontos de retirar a folha e compreender que pra ler eacute preciso virar o papel e identificar os pontos com o tato

A professora Jordana fez algumas consideraccedilotildees a res-peito ldquoAs crianccedilas cegas possuem as mesmas hipoacuteteses que as crianccedilas videntes podem por exemplo pensar que uma palavra eacute maior dependendo das informaccedilotildees que tem sobre o objetordquo

Alfabetizaccedilatildeo em Braille Hipoacuteteses em Seis Pontos

A teoria da psicogecircnese da liacutengua escrita revela as etapas que as pessoas (crianccedilas ou adultos) atravessam ao se apro-priarem da leitura e da escrita Do ponto de vista da elaboraccedilatildeo da escrita a pessoa que estaacute se alfabetizando segue uma evolu-ccedilatildeo de suas hipoacuteteses linguiacutesticas que podem ser descritas em trecircs grandes periacuteodos I) distinccedilatildeo entre o modo de represen-taccedilatildeo icocircnico e natildeo icocircnico II) estabelecimento de formas de diferenciaccedilatildeo e III) fonetizaccedilatildeo da escrita (FERREIRO 2000)

Na perspectiva de Ferreiro e Teberosky (1999) a crian-ccedila desde o iniacutecio procura reproduzir traccedilos tiacutepicos da escri-ta que identifica como sua forma baacutesica podendo ser linhas curvas ligadas entre si quando o indiviacuteduo toma como padratildeo a escrita cursiva ou grafismos curvos separados entre si quan-do toma a escrita em imprensa como base Quando se trata da interpretaccedilatildeo da escrita as autoras expressam que as escritas se assemelham muito umas com as outras mas que isso natildeo impede que as crianccedilas as considerem diferentes ldquo[] a inten-ccedilatildeo subjetiva do escritor conta mais que as diferenccedilas objetivas no resultadordquo (FERREIRO 2000 p 193) ou seja as escritas apesar de semelhantes podem ser consideradas diferentes pois ao escrever se tem a intenccedilatildeo de grafar palavras diferen-tes As autoras tambeacutem esclarecem que ldquoAs crianccedilas deste niacute-vel pareceriam trabalhar sobre a hipoacutetese de que faz falta cer-to nuacutemero de caracteres ndash mas sempre o mesmo ndash quando se

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trata de escrever algordquo (FERREIRO 2000 p 202) Assinalam ainda que a leitura do que foi escrito eacute sempre global ou seja cada letra vale pelo todo e natildeo pelas partes da palavra

Neste trabalho relacionaremos cada niacutevel da Psicogecirc-nese da Liacutengua Escrita com os dados coletados no estudo de caso agrave medida que apresentarmos exemplos da escrita das crianccedilas cegas

Observamos a escrita de Edwiges (seis anos) na qual podemos identificar caracteriacutesticas deste niacutevel

Figura 2 ndash A palavra perna escrita por Edwiges utilizando os pontos 1 e 2 em 26 celas numa das linhas da reglete

Quando solicitamos que Edwiges escrevesse a palavra perna ela disse que iria usar a letra b e que a palavra possui duas letras Ela inicia a escrita pelo lado esquerdo da reacutegua e logo ultrapassa a quantidade que estabeleceu anteriormente Ao ser interrogada se jaacute havia colocado duas letras com um ar de surpresa ela imediatamente responde ldquoeu jaacute estou botan-dordquo e continua a grafar dois pontos por cela Na escrita da pa-lavra perna e na das demais a menina nomeou os pontos de le-tras Essa caracteriacutestica tambeacutem foi observada na produccedilatildeo de outro sujeito da pesquisa como comentaremos mais agrave frente

Interrogamos sobre ateacute que cela ela escreveria a palavra perna a fim de identificar quantas letras ela utilizaria para escrever a palavra Ela apontou entatildeo a margem direita da reglete explicando que se natildeo escrever duas letras ldquo[] vai ficar faltando um pedaccedilo da pernardquo Ao finalizar a escrita da palavra ela leu ldquoaqui estaacute a coxa (deslizando o dedo da 1ordf agrave 8ordf letra b) esse pedacinho aqui eacute o joelho (9ordf letra b) e depois

tem o resto da perna (da 11ordf agrave 24ordf letra b) e no final o peacute (25ordf e 26ordf letras b)rdquo Segundo Ferreiro (1999 p 194) trata-se nes-te momento do percurso de uma ldquo[] tendecircncia da crianccedila de refletir na escrita algumas das caracteriacutesticas do objetordquo ou como jaacute defendia Luacutecia Lins Browne Rego apud Carraher (1998 p 34) sobre realismo nominal Nesse sentido

Piaget (1967) demonstrou que num determinado estaacutegio do seu desenvolvimento cognitivo a crianccedila natildeo conse-gue conceber a palavra e o objeto a que esta se refere como duas realidades distintas Ele denominou este fenocircmeno de realismo nominal [] Um grupo de crian-ccedilas demonstrou o que consideramos um niacutevel primitivo do realismo nominal Estas crianccedilas ao compararem pares de palavras quanto ao tamanho e agrave semelhanccedila mostravam-se incapazes de focalizar a palavra enquanto sequecircncia de sons independentemente do seu signifi-cado Para estas crianccedilas a palavra devia possuir as mesmas caracteriacutesticas dos objetos que representavam

Figura 3 ndash Sentenccedila empregada para grafar as palavras barriga e matildeo a frase e o texto

A sentenccedila apresentada acima foi empregada para gra-far as palavras barriga e matildeo a frase e o texto Estes exem-plos nos indicam que para produzir a escrita a menina ainda natildeo julga necessaacuterio empregar criteacuterios de diferenciaccedilatildeo dos caracteres dentro de uma palavra e tambeacutem de uma palavra para outra Durante a leitura das palavras Edwiges sempre indica os componentes de tal parte do corpo como por exem-plo os dedos da matildeo e o umbigo na barriga refletindo nova-mente na escrita caracteriacutesticas do objeto Durante a anaacutelise da produccedilatildeo surgiu a duacutevida se o que estava expresso ali era

SEIS PONTOS PARA A ALFABETIZACcedilAtildeO ESPECIFICIDADES NA AQUISICcedilAtildeO DA ESCRITA DE CRIANCcedilAS CEGAS POR MEIO DO SISTEMA BRAILLEMARIA CLARISSA MACIEL RODRIGUES bull INEcircS CRISTINA DE MELO MAMEDE108 d d 109

desenho ou escrita Jaacute que durante a leitura a garota indicou tantos detalhes das partes do corpo decidimos entatildeo refazer o teste com ela desta vez utilizando o campo semacircntico ani-mais Ao final do novo teste solicitamos a Edwiges que fizesse um desenho e perguntamos ldquoVocecirc vai precisar da reglete para fazer o desenhordquo E ela respondeu com ar de admiraccedilatildeo ldquoAh Natildeo Natildeo que reglete eu num vou usar pra desenhar porque reglete natildeo serve pra desenhar serve pra furarrdquo Obtivemos a certeza de que a menina natildeo se encontrava no domiacutenio do icocirc-nico ou seja jaacute sabia que a escrita era diferente do desenho pois aceitou papel e giz de cera para fazer um desenho

Na escrita da palavra boi tudo indica que existe uma es-pecificidade no raciociacutenio empregado para grafar o vocaacutebulo Observemos agora um recorte do diaacutelogo entre noacutes e Edwiges

Pesquisadora Escreva a palavra boiEdwiges Boi comeccedila com b entatildeo eu vou escrever 1 e (pausa) Deixa eu pensar primeiro (dezesseis segundos depois analisados na gravaccedilatildeo ela completa o raciociacute-nio) Eu vou escrever 1 3 e 4Pesquisadora De quantas letras vocecirc vai precisarEdwiges Trecircs (novamente natildeo fez diferenccedila entre pontos e letras)Pesquisadora E quantas celasEdwiges Deixa eu ver (pausa de 20 segundos para pensar) Eu vou colocar mais esse ponto aqui tambeacutem (acrescenta o ponto 6 aos pontos 1 3 e 4 que acabou de grafar na primeira cela pensa novamente e grafa os pontos 1 3 e 6 em mais uma cela Ela para de escrever) Natildeo eu vou escrever soacute duas igual ao gato que eacute pra terminar logoPesquisadora Jaacute estaacute escrita a palavra boiEdwiges JaacutePesquisadora O nome do boi eacute grande ou eacute pequeno

Edwiges GrandePesquisadora Vocecirc sabe o que eacute um boiEdwiges Ah Eu sei que jaacute vi uma vaca aqui na escola de brinquedo (estaacutetua em tamanho natural) Eu vi uma vaca bem grandona aiacute parecia um touro

Figura 4 ndash Palavra boi escrita com duas celas da reglete

Edwiges sinaliza que boi co-meccedila com b o que poderia dar ideia de um iniacutecio da relaccedilatildeo grafema--fonema (fala e escrita) poreacutem natildeo grafa na palavra a letra mencionada e que ela jaacute conhece Isso natildeo nos daacute a certeza se o fato de ela ter dito b foi apenas um acaso e natildeo o iniacutecio da fonetizaccedilatildeo da escrita ou se ela estava comeccedilando a fonetizar mas natildeo transformou a ideia em accedilatildeo ou seja natildeo representou na grafia o que falou Quando in-terrogamos Edwiges sobre a quantidade de letras da palavra boi a pausa que a menina deu para pensar e a decisatildeo de natildeo mais grafar com dois pontos padratildeo adotado para produzir as outras palavras parece indicar que para escrever boi o nuacute-mero de pontos considerado suficiente eacute de trecircs por cela O conflito parece ser ainda maior quando perguntamos quantas celas satildeo necessaacuterias para escrever a palavra Apoacutes pensar ela decidiu acrescentar mais um ponto aos que jaacute tinha grafado e grafa mais trecircs na cela seguinte Mesmo tendo dito que escre-veu soacute duas celas no nome do boi para terminar logo quando ela compara o nome do boi com o do gato que jaacute havia confir-mado antes ser um nome pequeno porque o gato eacute pequeno tudo indica que ela comparou apenas o nuacutemero de celas pois parece ter a convicccedilatildeo de que o nome do boi eacute maior do que

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o nome do gato por ter uma quantidade maior de pontos e porque o animal eacute maior

Articulando esse dado fornecido por Edwiges com os achados das pesquisas psicogeneacuteticas (FERREIRO TEBE-ROSKY 1999 PIAGET apud REGO 1988) que constataram que as crianccedilas que enxergam manifestam o realismo nomi-nal se utilizando de um grande nuacutemero de letras para escre-ver quando o objeto que pretendem representar eacute maior tudo parece nos indicar que a crianccedila cega manifesta o realismo nominal se utilizando tanto de um grande nuacutemero de celas (letras) quanto de pontos Esta pode ser uma interessante es-pecificidade da aprendizagem da escrita Braille por crianccedilas cegas

Ariel (sete anos) aparenta estar comeccedilando a fazer di-ferenciaccedilatildeo entre os caracteres empregados para grafar uma palavra pois em algumas ocasiotildees fez esforccedilo para diferen-ccedilar os caracteres empregados para grafar cada letra e assim produzir caracteres diferentes em uma mesma palavra Natildeo repetiu sequecircncias jaacute empregadas em outras palavras garan-tindo assim escritas diferentes para palavras diferentes ca-racteriacutesticas deste momento

Conforme comentado durante a anaacutelise das produccedilotildees de Edwiges que nomeia os pontos de letras observamos que Ariel apresentou o mesmo pensamento Tudo indica que as crianccedilas cegas no iniacutecio do processo de aquisiccedilatildeo da escrita natildeo apresentam consolidados conceitos de diferenciaccedilatildeo en-tre pontos e letras pois costumam com frequecircncia apontar e nomear os pontos como sendo letras Cabe nesse momento fazer a seguinte indagaccedilatildeo em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combi-naccedilatildeo de pontos

Observemos entatildeo algumas partes do diaacutelogo entre noacutes e Ariel

Pesquisadora De quantas letras vocecirc vai precisar para escrever a palavra pernaEle pensa por alguns segundosAriel Eu acho que soacute duas estaacute de bom tamanho[] Pesquisadora Vocecirc disse que soacute vai precisar de duas letras De quantas celas vocecirc vai precisarAriel Um montePesquisadora Por quecircAriel Pra terminar logo Eacute que essas celas satildeo pra fazer todas as letras Entendeu Se tivesse soacute uma a pessoa ia acabar logo[] Ariel Que letra comeccedila a palavra pernaPesquisadora Qual eacute a letra que vocecirc acha que co-meccedila perna(Para um instante para pensar)Ariel Eu acho que comeccedila com c de casa (letra que ele jaacute estaacute grafando algum tempo depois a pesquisadora interroga novamente)Pesquisadora Mas por que vocecirc estaacute usando dois pontinhosAriel Eacute que se eu usar todos esses pontinhos que tem aqui na reglete nesses furos aqui aiacute eu num vou saber qual eacute o ponto que eu fureiPesquisadora quer dizer que vocecirc natildeo pode furar todosAriel Eacute Soacute os que a tia [professora do menino] manda

Ao terminar a escrita da palavra perna o menino desli-zou o dedo sobre todos os pontos e fez uma leitura global An-tes de comeccedilar a escrever cada palavra foi indagado sobre a

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quantidade de letras necessaacuterias Como em todos os momen-tos ele nomeou os pontos como letras Optamos por pergun-tar de quantas celas ele precisaria Em todos os casos Ariel comeccedilou a escrever pela extremidade direita e apontou que escreveria ateacute a extremidade esquerda da reacutegua Analisando o comentaacuterio do menino de que para escrever a palavra perna duas letras (pontos) ldquoestatildeo de bom tamanhordquo tudo indica que tal comentaacuterio vem reforccedilar nossa suposiccedilatildeo de que a crianccedila cega manifesta o realismo nominal tanto por meio de deter-minada quantidade de celas quanto de pontos

Quando ele afirmou que todas as celas da reglete de-vem ser utilizadas para que a pessoa natildeo acabe logo isso parece indicar que leva em consideraccedilatildeo para produzir a es-crita a utilizaccedilatildeo de todas as celas da reglete Relacionando este comentaacuterio do menino com a caracteriacutestica que apre-sentaram as escritas de seu nome e da palavra perna bem como praticamente todos os escritos de Edwiges tanto ele quanto ela escreveram de uma extremidade a outra de uma das linhas da reacutegua Essa repeticcedilatildeo pode ser uma especifici-dade decorrente do material utilizado para produzir a escrita em Braille a reglete pois permite ou pode mesmo de algu-ma maneira induzir a crianccedila ao uso das 27 celas mas de-vemos considerar tambeacutem que tal resposta pode decorrer da praacutetica pedagoacutegica pois o menino jaacute havia comentado antes que na sala de aula tem que escrever utilizando toda uma linha da reglete

A fonetizaccedilatildeo da escrita eacute o iniacutecio da compreensatildeo de que a escrita estaacute relacionada aos sons da fala A primeira fase desse periacuteodo eacute a hipoacutetese silaacutebica em que a crianccedila relaciona uma letra para cada siacutelaba Tatiane (sete anos) eacute o sujeito da pesquisa que na nossa maneira de interpretar os dados se encontra nesse niacutevel No momento em que foi solicitada a es-

crever a palavra perna observamos que ela grafou duas letras agrave medida que silaba a palavra ldquoper(e)ndashna(g)rdquo a vogal e possui valor sonoro convencional jaacute a letra g apesar de natildeo ter va-lor sonoro convencional demonstra que a menina estabelece correspondecircncia entre a emissatildeo oral e a pauta escrita Isso tambeacutem estaacute bem claro quando na leitura silaacutebica da palavra ela indica com o dedo uma letra para cada siacutelaba ndash ldquopernardquo Diferentemente dos casos anteriores ela jaacute natildeo nomeia mais os pontos de letras

Figura 5 ndash Escrita silaacutebica da palavra perna

Figura 6 ndash Escrita silaacutebica da palavra dedos um ponto para cada siacutelaba

Apoacutes escrever a palavra matildeo Tatiane pede para escre-ver a palavra dedos Enquanto grafa a menina vai silabando para a primeira letra b que aparece na figura acima ldquode (pon-to 1) ndash dos (ponto 2) agora vou escrever os dedos da outra matildeordquo para a segunda letra b que aparece na figura ldquode (pon-to 1) ndash dos (ponto 2)rdquo Na nossa maneira de interpretar tal produccedilatildeo a menina ainda necessita escrever a palavra dedos

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usando menos celas do que na palavra matildeo mas como jaacute gra-fou duas celas para o monossiacutelabo a soluccedilatildeo encontrada para representar o dissiacutelabo dedos eacute grafaacute-lo com apenas uma cela poreacutem dando a cada um dos pontos o valor correspondente de uma siacutelaba o que pode tambeacutem ser uma especificidade da aprendizagem do Braille A escrita da palavra dedos foi seg-mentada siacutelaba por siacutelaba mas a leitura foi global

Cabe aqui retomar o ponto suscitado quando analisa-mos as produccedilotildees de Edwiges e Ariel Em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combinaccedilatildeo de pontos Refletindo sobre os dados fornecidos por Tatiane tudo indica que eacute no niacutevel silaacutebico da escrita que a crianccedila cega comeccedila a mostrar uma compre-ensatildeo mais complexa de que as letras satildeo formadas por um conjunto de pontos mas este conceito parece ainda natildeo se en-contrar plenamente consolidado Observemos que o compor-tamento de grafar na mesma cela um ponto para cada siacutelaba pode indicar que enquanto na hipoacutetese anterior os pontos eram nomeados de letras neste momento do percurso eles tambeacutem podem ser considerados como siacutelabas

De acordo com Ferreiro e Teberosky (1999) quando a crianccedila opera na hipoacutetese silaacutebica duas caracteriacutesticas da es-crita anterior podem desaparecer momentaneamente a exi-gecircncia de uma quantidade miacutenima de caracteres e de varia-ccedilatildeo desses Pois nessa hipoacutetese a principal preocupaccedilatildeo da crianccedila eacute com o recorte silaacutebico da palavra e ela natildeo consegue atender simultaneamente essas exigecircncias mas quando a hi-poacutetese silaacutebica se encontra consolidada a exigecircncia de varie-dade reaparece pois muitos recortes silaacutebicos implicam letras repetidas e as crianccedilas jaacute tecircm consciecircncia de que com letras repetidas natildeo se pode ler

A hipoacutetese silaacutebico-alfabeacutetica comeccedila com a descoberta de que a siacutelaba pode ser representada com mais de uma letra Surge aqui o iniacutecio da representaccedilatildeo dos fonemas O sujeito da pesquisa situado neste niacutevel eacute Alex (oito anos) O menino natildeo sente dificuldades para escrever palavras compostas de siacutelabas canocircnicas que obedecem agrave seguinte ordem conso-ante vogal consoante vogal Quando as siacutelabas natildeo satildeo ca-nocircnicas ele se recusa a escrevecirc-las fato que Emiacutelia Ferreiro classifica em sua pesquisa ldquo[] de bloqueio por consciecircncia aguda das dificuldades impossiacuteveis de transporrdquo (FERREIRO TEBEROSKY 1999 p 218) Vejam um trecho do diaacutelogo en-tre a pesquisadora e o sujeito

Pesquisadora Escreva sobrancelha (soletrando ele comeccedila)Alex Su(cu) ndash bran(ele para) Que letra eacute o branPesquisadora Como vocecirc acha que eacuteAlex Eu natildeo sei Soacute posso escrever se a tia [pesquisa-dora] disser como eacuteComo neste caso ele natildeo conhece as letras que deve empregar e se referiu ao som bran como apenas uma le-tra nada dissemos com relaccedilatildeo agrave combinaccedilatildeo de pontos das letras Ele hesita em escrever bran e natildeo quer mais escrever a palavra Com insistecircncia da pesquisadora ele continua a escrever mas pula a siacutelaba na qual estaacute com dificuldades Alex Su(cu) ndash (pulou) ndash ce(c) ndash lha (ele para nova-mente) Que letra eacute o lhaPesquisadora Como vocecirc acha que eacuteAlex Eu vou colocar qualquer letra Ele grafa os pontos 3 e 6Pesquisadora Estaacute escrita a palavra sobrancelhaAlex Natildeo que a tia num quis me dizer os pontos das letras

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Figura 7 ndash Escrita silaacutebico-alfabeacutetica da palavra sobrancelha

Na escrita da palavra sobrancelha Alex apresenta tan-to elementos da escrita silaacutebica quanto da alfabeacutetica As duas primeiras letras compotildeem a siacutelaba so o que nos permite iden-tificar a hipoacutetese alfabeacutetica enquanto a letra c que correspon-de agrave terceira siacutelaba da palavra encontra-se na hipoacutetese silaacute-bica ou apenas revela a coincidecircncia do nome da letra com a siacutelaba ce Notemos que ele analisa o som das siacutelabas bran e lha como letras e o fato de ter grafado apenas uma cela para a uacutel-tima siacutelaba parece confirmar nossa suspeita de que ele opera na hipoacutetese silaacutebico-alfabeacutetica7

Apesar de Alex durante a escrita das palavras perna e barriga tecer comentaacuterios de que natildeo conhece a combinaccedilatildeo de pontos das letras p e r pensamos que ele apresenta concei-tos mais elaborados sobre a diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras

A elaboraccedilatildeo do niacutevel alfabeacutetico se completa quando a crianccedila compreende que a escrita se caracteriza por unidades sonoras menores do que a siacutelaba No iniacutecio dessa fase o desa-fio eacute a ortografia haja vista que a escrita se apresentaraacute pro-fundamente marcada pela oralidade

7 Dados os limites de espaccedilo para a elaboraccedilatildeo deste artigo natildeo faremos consideraccedilotildees aqui a respeito das produccedilotildees textuais das crianccedilas tambeacutem solicitadas por ocasiatildeo de nossa investigaccedilatildeo

A escrita alfabeacutetica constitui o final desta evoluccedilatildeo Ao chegar a este niacutevel a crianccedila jaacute franqueou a lsquobarreira do coacutedigorsquo compreendeu que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a siacutelaba e realiza sistematicamente uma anaacutelise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever Isto natildeo quer dizer que todas as dificuldades tenham sido superadas a partir desse momento a crianccedila se defrontaraacute com as dificuldades proacuteprias da ortografia mas natildeo teraacute problemas de escrita no sentido estrito (FERREIRO TEBEROSKY 1999 p 219)

Joatildeo (nove anos) e Diel (dez anos) satildeo os sujeitos da pesquisa que se encontram nesse niacutevel da escrita Na escrita das palavras os meninos natildeo sentiram dificuldades em men-cionar quantas e quais letras iriam empregar Veja as frases produzidas pelas crianccedilas Na frase de Joatildeo durante a leitura ele sinaliza que se esqueceu de escrever o i na palavra menino e o u na palavra machucou Na frase de Diel a junccedilatildeo da letra a com a palavra perna foi sinalizada durante a leitura

Figura 8 ndash Frase de Joatildeo o menino machucou a perna

Figura 9 ndash Frase de Diel o menino machucou a perna

Propomos agora uma resposta ao questionamento que levantamos para uma das possiacuteveis especificidades da escrita de nossos sujeitos usuaacuterios do Sistema Braille em que mo-mento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega com-preende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute

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formada por uma combinaccedilatildeo de pontos As evidecircncias nos conduzem a pensar que ao longo desse processo as crian-ccedilas cegas vatildeo refinando seus conceitos de diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras mas esse conceito soacute estaacute constituiacutedo quando se atinge a hipoacutetese alfabeacutetica

Consideraccedilotildees Finais

As pesquisas de Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky (1999) apontam que todo indiviacuteduo em decurso de aquisiccedilatildeo da liacuten-gua escrita se impotildee hipoacuteteses sobre a organizaccedilatildeo deste sis-tema Essas hipoacuteteses satildeo favorecidas pelo contato que estes sujeitos tecircm com a escrita que estaacute presente por toda parte mas como ressalta Almeida (1992) uma crianccedila cega natildeo tem as mesmas oportunidades de contato com materiais escritos como ocorre com a crianccedila que enxerga Se considerarmos que as fontes de pesquisa a respeito da aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita por meio do Sistema Braille ainda satildeo escassas podemos res-saltar a importacircncia de pesquisas mais aprofundadas sobre o tema bem como destacamos a relevacircncia desta investigaccedilatildeo

Retomamos agora a questatildeo que norteou esta pesqui-sa a fim de tecer uma resposta consoante aos seus achados Quais as especificidades apresentadas pela crianccedila usuaacuteria do Sistema Braille durante a aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita Mediante a anaacutelise das produccedilotildees escritas dos sujeitos par-ticipantes da pesquisa eacute possiacutevel supor que assim como as crianccedilas que veem as crianccedilas cegas no percurso de aquisi-ccedilatildeo da liacutengua escrita tambeacutem seguem a evoluccedilatildeo das hipoacutete-ses linguiacutesticas descritas por Emiacutelia Ferreiro e Ana Teberosky Entretanto no decorrer da pesquisa realizada com sujeitos que tecircm problemas visuais tudo parece indicar que eles apre-sentam algumas especificidades

Podemos destacar o fato de que ao longo da pesquisa principalmente por meio das falas das professoras notamos que para a crianccedila cega o processo de aprender a manusear os instrumentos necessaacuterios agrave escrita Braille para poder re-presentar a escrita eacute bem mais aacuterduo do que para a crianccedila de boa visatildeo Almeida (1992) ressalta que as crianccedilas que veem aprendem a manusear laacutepis e cadernos de maneira ldquonaturalrdquo mas o Sistema Braille natildeo eacute algo presente em nossa sociedade logo os instrumentos necessaacuterios agrave sua escrita tambeacutem natildeo

Na hipoacutetese preacute-silaacutebica assim como a crianccedila que en-xerga a crianccedila cega tambeacutem imagina que a escrita pode repre-sentar caracteriacutesticas do objeto Temos razatildeo para compreen-der que para os que natildeo enxergam eacute possiacutevel representar natildeo apenas com muitas letras (utilizaccedilatildeo de muitas celas) se o ob-jeto eacute grande mas tambeacutem com muitos pontos como foi o caso de Edwiges ao escrever a palavra boi ou ainda podemos supor que uma determinada quantidade de pontos por cela eacute suficien-te para representar algo como eacute o caso de Ariel que ao repre-sentar a palavra perna mencionou que ldquoduas letras (pontos) estaacute de bom tamanhordquo Nessa hipoacutetese a crianccedila cega parece ainda natildeo ter definido um conceito de diferenciaccedilatildeo entre o que satildeo letras e o que satildeo pontos Assim como tambeacutem no iniacutecio da aprendizagem a crianccedila que enxerga natildeo diferencia letras de outros sinais graacuteficos como por exemplo os nuacutemeros Essa constataccedilatildeo nos levou a outra pergunta em que momento do processo de aquisiccedilatildeo da escrita a crianccedila cega compreende que os pontos natildeo satildeo letras mas que cada letra eacute formada por uma combinaccedilatildeo de pontos Para essa indagaccedilatildeo procuramos ao longo deste trabalho preparar uma resposta com suporte nos dados recolhidos que nos levaram a crer que tal definiccedilatildeo apesar de mais elaborada nas hipoacuteteses silaacutebica e silaacutebico-alfa-beacutetica parece estar consolidada apenas na hipoacutetese alfabeacutetica

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pois tanto para Tatiane quanto para Alex eles podem assumir a funccedilatildeo de siacutelabas palavras ou ateacute mesmo sentenccedilas curtas Cremos com base na pesquisa como um todo que em decor-recircncia da interaccedilatildeo das crianccedilas com o formato da cela Braille durante as hipoacuteteses silaacutebica e silaacutebico-alfabeacutetica elas podem grafar um ponto na cela agrave medida que pronunciam uma siacutelaba o ponto pode representar uma siacutelaba ou mesmo uma palavra

Nossas primeiras hipoacuteteses sobre a aprendizagem da escrita Braille se referem tanto ao material empregado para produzir esta escrita a reglete quanto ao formato da cela Braille No que se refere agrave reglete notamos que os sujeitos que vivenciam hipoacuteteses mais elementares exibem a tendecircn-cia de utilizar toda uma linha do instrumento para produzir a escrita o que pode ser permitido ou induzido pelo material mas natildeo devemos descartar a ideia de que isso tambeacutem pode decorrer da influecircncia da praacutetica pedagoacutegica

Diante do exposto este ensaio se faz relevante pois apesar do pequeno grupo de sujeitos que participaram da in-vestigaccedilatildeo foi possiacutevel perceber algumas possiacuteveis especifici-dades no processo de aquisiccedilatildeo da escrita de crianccedilas usuaacuterias do Sistema Braille Percebemos que essas particularidades da crianccedila cega decorrem do contato tardio com a escrita Braille dos instrumentos necessaacuterios agrave sua produccedilatildeo e de pensamen-tos proacuteprios da crianccedila cega

Destacamos tambeacutem nossas contribuiccedilotildees acerca do que pensam as crianccedilas cegas a respeito da organizaccedilatildeo do sistema de escrita para que futuras pesquisas mais aprofun-dadas e com um grupo maior de sujeitos possam confrontar os primeiros achados deste ensaio como por exemplo o con-ceito de diferenciaccedilatildeo entre pontos e letras que diante das evidecircncias parece estar em elaboraccedilatildeo ao longo do processo de aquisiccedilatildeo da liacutengua escrita

Por fim intermediada pela anaacutelise dos escritos dos su-jeitos enfeixamos aquilo que parece indicar serem especifici-dades das hipoacuteteses de que as crianccedilas cegas se colocam em cada um dos niacuteveis descritos na teoria psicogeneacutetica da aqui-siccedilatildeo da leitura e da escrita bem como sobre as funccedilotildees que os seis pontos podem assumir ao longo desta caminhada

Referecircncias Bibliograacuteficas

ALMEIDA M da G de S Fundamentos da alfabetizaccedilatildeo uma construccedilatildeo sobre quatro pilares Benjamin Constant Rio de Janeiro ano VIII n 22 p 13-21 2002______ Alfabetizaccedilatildeo da crianccedila cega dentro da visatildeo cons-trutivista a busca de um novo caminho 1992 99f Monogra-fia (Especializaccedilatildeo em Alfabetizaccedilatildeo em Deficientes Visuais) ndash Universidade do Rio de Janeiro 1992ARAUJO C PINTO E M F LOPES J et al Estudo de caso Disponiacutevel em lthttpgrupo4tecomsapoptestudo_casopdfgt Acesso em 4 out 2011BRASIL Deficiecircncia visual GIL M (Org) Brasiacutelia Minis-teacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo a Distacircncia 2000 CARRAHER T N Aprender pensando Petroacutepolis Vozes 1988FERREIRO E TEBEROSKY A Psicogecircnese da liacutengua escri-ta Porto Alegre Artmed 1999FERREIRO E Reflexotildees sobre alfabetizaccedilatildeo Satildeo Paulo Cor-tez 2000SOARES M Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Ho-rizonte Autecircntica 1998 SOCIEDADE DE ASSISTEcircNCIA AOS CEGOS O Sistema Braille Disponiacutevel em lthttpwwwsacorgbrAPR_BR2htmgt Acesso em 1 nov 2011

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ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeO

Maria Izalete Inaacutecio Vieira

Introduccedilatildeo

A liacutengua natural dos surdos eacute a liacutengua de sinais no caso dos surdos brasileiros a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) Em uma perspectiva de inclusatildeo social e educacional essa liacutengua deve ser ofertada como principal meio de acessibili-dade seja no acircmbito educacional no da sauacutede seguranccedila eou lazer Considerando que a visatildeo eacute o canal perceptual mais importante para a pessoa surda a liacutengua de sinais por se apresentar na modalidade viso-espacial (QUADROS 2004) atende a essa especificidade satisfazendo a sua condiccedilatildeo lin-guiacutestica Por isso o seu uso nos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo se constitui em um meio eficaz de promoccedilatildeo da inclusatildeo social

No Brasil em 2002 a Libras foi oficializada como liacuten-gua das comunidades surdas brasileiras atraveacutes da lei nordm 0436 (BRASIL 2002) e foi regulamentada pelo Decreto nordm 562605 (BRASIL 2005) Esse dispotildee sobre seu uso e difu-satildeo nas instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas na formaccedilatildeo de pro-fessores e inteacuterpretes de Libras Mas natildeo faz menccedilatildeo ao lazer cultura e informaccedilatildeo sendo esses aspectos contemplados na lei nordm 10098 de 2000 Apesar disso informaccedilotildees eventos culturais e entretenimentos veiculados nos meios de comuni-caccedilatildeo audiovisual em sua totalidade natildeo alcanccedilam os surdos Asseveram os artigos 17 e 19 do capiacutetulo VII da lei nordm 10098 que deve ser ofertada nos programas de imagens e outros a ldquolinguagem de sinaisrdquo eou legenda (BRASIL 2002)

No decreto nordm 529604 em seu capitulo VI haacute deter-minaccedilotildees quanto agrave acessibilidade para surdos nas emissoras

ABRINDO UMA JANELA PARA A COMUNICACcedilAtildeOMARIA IZALETE INAacuteCIO VIEIRA124 d d 125

de TV incluindo prazos para que possam se adequar a essa legislaccedilatildeo Isso representou um avanccedilo significativo para a comunidade surda no que se refere ao direito agrave informaccedilatildeo cultura e entretenimento Contudo haacute ainda algumas consi-deraccedilotildees a serem feitas

A legendagem atualmente eacute a forma de acessibilidade para surdos mais usada pelas emissoras de TV e produtoras de filmes para o cinema Poreacutem empiricamente podemos afirmar que estaacute limitada a uns poucos programas de canais abertos A maioria parece ainda natildeo ter incorporado a cultura de acessibilidade pois natildeo legenda nem insere a janela de Li-bras em suas produccedilotildees Assim a comunidade surda brasilei-ra continua excluiacuteda de algumas atividades de entretenimento e informaccedilotildees que para noacutes ouvintes satildeo corriqueiras Outro ponto a ser considerado eacute a liacutengua em que o acesso eacute ofertado Os surdos como mencionado haacute pouco satildeo falantes da Li-bras uma liacutengua viso-espacial que difere da liacutengua portugue-sa em modalidade e gramaacutetica (QUADROS 2004) Segundo Harrison e Nakasato (apud LODI LACERDA 2009) quando as particularidades linguiacutesticas dos surdos satildeo desconsidera-das natildeo haacute o compartilhamento de um mesmo horizonte so-cioloacutegico por surdos e ouvintes no que se refere agrave realidade vivenciada por ambos mesmo nas situaccedilotildees cotidianas

Vivendo em uma sociedade constituiacuteda por maioria ou-vinte os surdos precisam aprender o Portuguecircs para estabe-lecer relaccedilotildees com quem convivem em ambientes familiares no trabalho dentre outros Esse fato leva os surdos a viverem em uma situaccedilatildeo biliacutengue e de interculturalismo como afir-ma Strobel (2008) isto eacute satildeo participantes da cultura surda e da ouvinte e por isso utilizam a Libras e o Portuguecircs (em sua modalidade escrita eou oral) Eacute importante explicitar que a apropriaccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa na modalidade escri-

ta pelo surdo natildeo eacute uma tarefa faacutecil visto que esses natildeo satildeo usuaacuterios dessa liacutengua (LODI LACERDA 2009) A realidade educacional da maioria e a proacutepria modalidade Liacutengua Portu-guesa que se fundamenta em unidades sonoras natildeo contri-bui para essa aquisiccedilatildeo

Satildeo poucos os surdos de nascenccedila que receberam uma educaccedilatildeo que lhes proporcionou a aquisiccedilatildeo da leitura e escri-ta em Portuguecircs Mas mesmo esses que adquiriram a leitura em Portuguecircs natildeo satildeo proficientes nessa liacutengua Geralmen-te tecircm dificuldades com a sua semacircntica pragmaacutetica e com a identificaccedilatildeo de gecircneros como metaacuteforas ironias humor e outros como afirma Sousa (2008) Assim pelo fato de ser inteacuterprete de LibrasPortuguecircs haacute pouco mais de 20 anos e ter realizado trabalhos de interpretaccedilatildeo e traduccedilatildeo de pro-gramas ao vivo na TV e em filmes nacionais gravados essas experiecircncias profissionais me fizeram perceber que os surdos datildeo especial atenccedilatildeo a essas produccedilotildees quando o acesso lhes eacute ofertado em sua proacutepria liacutengua por meio da janela de Libras

TradutorInteacuterprete da Libras Qual a Parte Que lhe Cabe

Na obra intitulada O Tradutor e Inteacuterprete de Liacutengua de Sinais e Liacutengua Portuguesa para familiarizar o leitor com os termos pertencentes agrave temaacutetica abordada Quadros (2004) decide iniciaacute-la com um pequeno dicionaacuterio apresentando as terminologias e suas respectivas significaccedilotildees usadas por profissionais que atuam na aacuterea da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo e outros que de alguma forma tecircm envolvimento com as liacuten-guas de sinais

Segundo definiccedilatildeo da referida autora o inteacuterprete de liacutengua de sinais eacute aquele que interpreta de uma liacutengua de si-nais (liacutengua de partida) para outra liacutengua (liacutengua de chegada)

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sejam essas orais ou sinalizadas Para aclarar e delimitar os campos de atuaccedilatildeo Quadros (2004) diferencia o tradutor do inteacuterprete afirmando que o tradutor eacute a pessoa que traduz de uma liacutengua para outra assim como faz o inteacuterprete poreacutem o processo de traduccedilatildeo implica pelo menos que uma das liacuten-guas esteja na modalidade escrita A mesma autora faz a inte-graccedilatildeo dos dois termos (inteacuterprete e tradutor) afirmando que o tradutor-inteacuterprete de liacutengua de sinais eacute aquele que traduz e interpreta a liacutengua de sinais para a liacutengua oral nas modalida-des escrita eou oralsinalizada

Para Lacerda (2009) traduzir estaacute relacionado agrave ativi-dade de versar de uma liacutengua para outra trabalhando com tex-tos escritos e o interpretar se relaciona ao trabalho de versar de uma liacutengua para outra nas relaccedilotildees interpessoais simulta-neamente Diferencia ainda uma atividade da outra ressaltan-do que para se efetuar uma traduccedilatildeo o tradutor pode ler a obra refletir sobre as escolhas lexicais semacircnticas e consultar outras fontes para alcanccedilar os sentidos mais adequados ao seu trabalho Diferentemente o inteacuterprete atua com a simultanei-dade sem tempo para reflexotildees tomando decisotildees raacutepidas sobre como versar de um sentido para o outro e sem poder consultar outras fontes Por questotildees relacionadas ao tempo enquanto o tradutor pode revisar o seu texto de chegada com tranquilidade pois tem agrave sua disposiccedilatildeo o texto de partida o inteacuterprete natildeo tem como rever sua produccedilatildeo

Sobre o tempo de trabalho do tradutor e do inteacuterprete Pagura (2003 p 227) afirma

Enquanto nas organizaccedilotildees internacionais espera-se que os tradutores de tempo integral traduzam cerca de 50 linhas a cada duas horas um discurso cujo texto transcrito tenha as mesmas 50 linhas seraacute interpretado em oito minutos

A referida autora esclarece que o termo ldquotradutorin-teacuterpreterdquo eacute encontrado em documentos da deacutecada de 1970 no Brasil e que por isso ainda eacute utilizado por muitos mas que eacute importante diferenciar um do outro

Como mencionado anteriormente Santos (2006) afir-ma que as traduccedilotildees e interpretaccedilotildees em liacutengua de sinais no Brasil surgiram na deacutecada de 1980 Eram feitas por familia-res de surdos eou religiosos que natildeo tinham formaccedilatildeo pro-fissional para o exerciacutecio dessa funccedilatildeo A maioria desses in-teacuterpretes tinha apenas conhecimento empiacuterico da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo mas natildeo tinha nenhuma formaccedilatildeo ou embasa-mento teoacuterico para o exerciacutecio dessa funccedilatildeo Esse aspecto tem refletido em seu status profissional A falta de profissionali-zaccedilatildeo por meio de cursos de niacutevel superior tem colocado os tradutoresinteacuterpretes de Libras em situaccedilatildeo de inferioridade em relaccedilatildeo aos tradutoresinteacuterpretes de liacutenguas orais Esse fato eacute percebido pela falta de compreensatildeo da sociedade do seu trabalho e pela diferenccedila nos valores estabelecidos para remuneraccedilatildeo de serviccedilos de um e de outro

Durante muito tempo a accedilatildeo do tradutorinteacuterprete de Libras foi vista pela sociedade sob um aspecto assistencialis-ta jaacute que era realizada por pessoas que geralmente tinham viacutenculo de parentesco com as pessoas surdas e faziam tradu-ccedilotildeesinterpretaccedilotildees sem remuneraccedilatildeo Ainda segundo Santos (2006) as primeiras traduccedilotildeesinterpretaccedilotildees foram realiza-das nos ambientes empiacutericos desses atores ou seja no acircmbito religioso e familiar

Voltando um pouco mais no tempo encontraremos os inteacuterpretes de liacutenguas orais desempenhando a funccedilatildeo de apa-ziguadores culturais Seus serviccedilos eram requisitados geral-mente para estabelecimento de negociaccedilatildeo de paz entre paiacute-ses que estavam em guerra como afirma Pagura (2003) Seu

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trabalho natildeo era focado somente nas questotildees linguiacutesticas mas tambeacutem na cultura dos paiacuteses que estavam envolvidos no processo de apaziguamento Assim podemos inferir que o ato tradutoacuterio eou interpretativo natildeo eacute apenas linguiacutestico mas tambeacutem cultural

Sobre isso Segala (2010 p 30) em um contexto em que as liacutenguas de contato dizem respeito agraves comunidades sur-das e ouvintes afirma

Ser tradutor natildeo eacute ser aquele que sabe duas liacutenguas e que simplesmente transpotildee uma liacutengua para outra Natildeo eacute soacute estrutura linguiacutestica precisa conhecer e saber a cultura a linguiacutestica e outras sutilezas das liacutenguas fonte e alvo aleacutem de ter experiecircncia na vida social []

No Brasil a liacutengua de sinais foi reconhecida como a liacutengua natural das comunidades surdas em 2002 quando o entatildeo presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei nordm 10436 (BRASIL 2002) que oficializou a Libras como liacutengua das comunidades surdas do Brasil jaacute em 2005 o presi-dente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva sancionou o decreto nordm 5626 (BRASIL 2005) que a regulamenta

O reconhecimento tardio da liacutengua de sinais afeta o re-conhecimento do ato tradutoacuteriointerpretativo que envolve essa liacutengua Empiricamente eacute possiacutevel afirmar que o processo de traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo natildeo tem o reconhecimento da so-ciedade ouvinte nem a compreensatildeo dos surdos no Brasil No caso dos surdos eacute possiacutevel que isso aconteccedila pelo fato de que esses ainda natildeo tenham informaccedilotildees suficientes para levaacute-los a compreender a complexidade desse ato

Segundo Gesser (2011) a traduccedilatildeo compreende as se-guintes modalidades a consecutiva a simultacircnea ndash mais usa-da pelos inteacuterpretes de liacutenguas de sinais ndash e a sussurrada A autora esclarece que esta se trata da mesma modalidade da

traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo simultacircnea mas eacute realizada em situ-accedilatildeo geralmente de reuniotildees em pequenos grupos em que o inteacuterprete se senta proacuteximo de alguns ouvintes e traduz o texto de partida cochichando

De acordo com Lacerda (2009 p 15) traduccedilatildeointer-pretaccedilatildeo simultacircnea eacute a mais usada atualmente em grandes eventos e ldquo[] a traduccedilatildeo simultacircnea natildeo ocorre ao mesmo tempo da fala originalrdquo Isso porque o inteacuterprete leva um tem-po para processar a informaccedilatildeo recebida e organizaacute-la na liacuten-gua alvo Por sua vez Pagura (2003) explicita que a traduccedilatildeo consecutiva eacute aquela em que o inteacuterprete ouve um trecho sig-nificativo ou todo o discurso toma nota e em seguida assu-me a palavra e passa a informaccedilatildeo na liacutengua alvo

Ainda segundo Pagura (apud LACERDA 2009) a traduccedilatildeo consecutiva auxilia o inteacuterprete a desenvolver a ca-pacidade de analisar e compreender o discurso de partida permitindo o surgimento de teacutecnicas que o preparam para a traduccedilatildeo simultacircnea A traduccedilatildeo simultacircnea como foi dito haacute pouco parece ser a modalidade eleita pela maioria dos inteacuter-pretes de Libras e preferida pelos surdos Segundo o professor Marcos Vaining durante a videoconferecircncia de 10 de abril de 2011 na disciplina de Aquisiccedilatildeo da Linguagem do curso de Bacharelado em Letras-Libras1 a escolha por essa modalidade se daacute pela falta de conhecimento tanto por parte de inteacuterpretes quanto pelos surdos sobre o processo tradutoacuterio Segundo ele essa modalidade eacute a que mais oferece possibilidade de cometer erros Isso por causa do pouco tempo existente para anaacutelise compreensatildeo processamento e remarcaccedilatildeo de paracircmetro na

1 O curso de Licenciatura e Bacharelado em Letras-Libras foi desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e oferecido em 2006 em conjunto a oito instituiccedilotildees federais de niacutevel superior por meio da Secretaria de Educaccedilatildeo a Distacircncia e da Secretaria de Educaccedilatildeo Especial (QUADROS 2008)

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liacutengua alvo Vaining acrescenta ainda que todo esse processo demanda grande esforccedilo por parte do inteacuterprete

Ainda sobre o ato tradutoacuteriointerpretativo Jakobson (1995) o classifica em trecircs tipos intralingual interlingual e semioacutetica A traduccedilatildeo intralingual ou reformulaccedilatildeo segundo o autor eacute a traduccedilatildeo de um signo2 por outro da mesma liacuten-gua Isso pode ser feito por meio da sinoniacutemia ou paraacutefrase Quanto agrave interpretaccedilatildeo interlingual refere-se agrave interpretaccedilatildeo de um dado signo por outro equivalente em uma outra liacutengua Jaacute a traduccedilatildeo ldquo[] intersemioacutetica ou transmutaccedilatildeo consiste na interpretaccedilatildeo de signos verbais por meio de um sistema de signos natildeo verbaisrdquo (JAKOBSON 1995 p 64)

O inteacuterprete de liacutengua de sinais recorre a essas catego-rias com certa frequecircncia Natildeo eacute raro nos depararmos com situaccedilotildees de traduccedilatildeo em que uma das pessoas envolvidas no processo natildeo compreende conceitos em sua proacutepria liacutengua Isso nos impele a reorganizar a traduccedilatildeo tendo que explicar de forma diferente o mesmo assunto parafraseando ou utili-zando o recurso da expansatildeo (uma combinaccedilatildeo equivalente de unidades de coacutedigos) Podemos categorizar esse tipo de tradu-ccedilatildeointerpretaccedilatildeo como intralingual (JAKOBSON 1995)

A modalidade em que a liacutengua de sinais se apresenta ndash espaccedilo visual ndash exige leitura e traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo das ex-pressotildees natildeo manuais e a compreensatildeo de imagens construiacutedas com as matildeos pelo sinalizante (classificadores) como explica Segala (2010) A essa leitura efetuada durante a traduccedilatildeoin-terpretaccedilatildeo chamamos de semioacutetica Embora nos utilizemos de todas as modalidades aqui apresentadas a mais recorrente

2 Os signos satildeo entidades em que sons ou sequecircncias de sons ndash ou as suas correspon-decircncias graacuteficas ndash estatildeo relacionados com significados ou conteuacutedos Os signos satildeo portanto instrumentos de comunicaccedilatildeo e representaccedilatildeo agrave medida que configuram linguisticamente a realidade e distinguem os objetos entre si (VYGOTSKY 2000)

em nosso trabalho eacute a traduccedilatildeo interlingual pois geralmente nossas traduccedilotildees envolvem a Liacutengua Portuguesa e a Libras

O ato de traduzirinterpretar natildeo eacute faacutecil especialmente para o inteacuterprete de liacutengua de sinais que estabelece transiccedilatildeo com liacutenguas muito distantes no que diz respeito agrave forma e ao modo Sobre isso Segala (2010) afirma que o inteacuterprete natildeo apenas versa de uma liacutengua para outra mas tambeacutem consi-dera ao executar uma interpretaccedilatildeo eou traduccedilatildeo a cultura dos povos imbricados nesse processo

Mesmo que muitas vezes esse trabalho seja exaustivo para o inteacuterprete ele eacute extremamente necessaacuterio agrave comuni-dade surda pois quebra as barreiras comunicativas e retira o surdo do isolamento linguiacutestico como afirmam Massutti e Sil-va (2011) Isso torna a interpretaccedilatildeo da Libras para a Liacutengua Portuguesa e vice-versa aleacutem de necessaacuteria compensadora para quem a faz e a recebe

O tradutorinteacuterprete vem atuando em aacutereas antes natildeo alcanccediladas Certamente por causa de poliacuteticas afirmativas e de acessibilidade especiacuteficas para pessoas surdas No Cearaacute aleacutem da aacuterea da Educaccedilatildeo o inteacuterprete de Libras tem desem-penhado a funccedilatildeo em palestras que abrangem os mais varia-dos temas Atuando igualmente em janelas de Libras de pro-gramas poliacuteticos televisionados (LEMOS 2012)

UFCTV Implicaccedilotildees Trazidas pela Inserccedilatildeo da Janela de Libras

Assim preocupados com a expansatildeo da acessibilidade de pessoas surdas na aacuterea acadecircmica foi que se pensou em tornar o programa jornaliacutestico televisionado da Universidade Federal do Cearaacute (UFCTV) acessiacutevel para surdos segundo in-formou a coordenadora da Secretaria de Acessibilidade pro-fessora doutora Vanda Magalhatildees que propocircs a inserccedilatildeo da

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janela de Libras no referido programa Para tanto foi necessaacute-rio contatar a equipe de comunicaccedilatildeo responsaacutevel pela execu-ccedilatildeo do mesmo

Essa concordou em implementar um projeto-piloto para analisar a viabilidade desse instrumento no programa Nesse periacuteodo por me encontrar na condiccedilatildeo de prestadora de serviccedilo na funccedilatildeo de inteacuterprete pela UFC e estar lotada na Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui aceitei participar do projeto fazendo as traduccedilotildeesinterpretaccedilotildees do referido pro-grama Os profissionais que trabalharam diretamente nessa empreitada foram aleacutem da interprete de Libras uma produ-tora um cinegrafista e um editor de imagens O projeto teve duraccedilatildeo de seis meses

O UFCTV eacute um programa que vai ao ar semanalmente aos domingos sendo reprisado agraves terccedilas-feiras pela TV Cul-tura no canal 5 com alcance em todo o estado do Cearaacute3

Segundo informa o site o programa

Mostra a produccedilatildeo da Universidade informando onde e como ela estaacute presente no cotidiano das pessoas contribuindo para melhorar as condiccedilotildees de vida da populaccedilatildeo cearense UFCTV tambeacutem traz um resumo dos principais acontecimentos na Universidade e uma agenda cultural voltada para atividades gratuitas ou a preccedilos populares (UFC 2012)

O referido programa eacute elaborado e gravado em estuacute-dio situado no Bloco de Comunicaccedilatildeo da UFC no campus do Benfica As atividades da equipe que trabalha no desen-volvimento do programa ocupam o estuacutedio durante o expe-diente de trabalho normal da UFC de 8h agraves 12h e de 14h agraves

3 O programa tambeacutem eacute veiculado na internet Encontra-se disponiacutevel no seguinte endereccedilo eletrocircnico lthttpwwwufcbrcomunicacao-e-marketing956-conheca-o-programa-ufctvgt

17h Por essa razatildeo a gravaccedilatildeo da sua traduccedilatildeo em Libras era realizada no intervalo do almoccedilo entre 12h e 14h sempre agraves segundas-feiras A duraccedilatildeo do programa eacute de 30 minutos enquanto a gravaccedilatildeo de sua traduccedilatildeo tinha duraccedilatildeo de duas horas O profissional encarregado de editar a janela de Libras natildeo conhecia a liacutengua por isso minha presenccedila como inteacuter-prete durante a ediccedilatildeo fazia-se necessaacuteria Ao lado do editor ajudava a sincronizar o texto produzido em Libras ao texto correspondente na Liacutengua Portuguesa Assim suas horas de trabalho se prolongavam ateacute agraves 18h

Conforme mencionado anteriormente o programa traz informaccedilotildees sobre as vaacuterias atividades da universidade abrangendo assim assuntos das mais diversas aacutereas do conhe-cimento Segundo Aubert (apud VASCONCELOS BARTHO-LAMEI JUNIOR p 15) a competecircncia referencial ou seja a ldquo[] capacidade de buscar conhecer e se familiarizar com os referentes dos diversos universos em que uma atividade de traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo pode ocorrer []rdquo eacute muito impor-tante para que a traduccedilatildeo se decirc a contento Podemos entatildeo concluir que conhecer o assunto de que se trata a traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo colabora para a otimizaccedilatildeo do resultado do tra-balho tradutoacuterio

Nessa perspectiva buscava essa competecircncia por meio da leitura dos espelhos que eacute o cronograma de como o tele-jornal iraacute se desenrolar Nele eacute previsto a entrada de mateacute-rias notas blocos chamadas e encerramento do telejornal Os espelhos eram enviados para mim por e-mail com ante-cedecircncia mas natildeo traziam detalhes das mateacuterias abordadas no programa Por exemplo o conteuacutedo das sonoras que eacute o segmento do programa em que o repoacuterter aparece junto ao entrevistado natildeo era explicitado Isso me impelia a fazer uma pesquisa preacutevia na internet sobre o tema que seria aborda-

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do Havia tambeacutem um espaccedilo de tempo antes de iniciar as gravaccedilotildees em que podia assistir ao programa completo Eacute im-portante salientar que a competecircncia referencial tem relaccedilatildeo direta com a qualidade da traduccedilatildeo e que alguns dos temas abordados eram de completo desconhecimento da inteacuterprete

Por isso o fato de assistir ao programa antes de iniciar sua traduccedilatildeo poderia colaborar para que por meio da visuali-zaccedilatildeo de imagens mesmo natildeo dominando o assunto pudesse descrever os elementos a ele pertencentes Segundo Pizzo et al (2010 p 15) a liacutengua de sinais traz recursos que permitem transmitir informaccedilotildees de forma clara ldquo[] descrevendo a forma e tamanho ou descrever a maneira como esse referente se comporta na accedilatildeo verbalrdquo Esse recurso eacute chamado de Clas-sificador (CL) Por isso a visualizaccedilatildeo das imagens contidas no programa por mim na condiccedilatildeo de tradutorainteacuterprete era de fundamental importacircncia para a construccedilatildeo desses re-ferentes no texto em Libras Os classificadores aleacutem de des-crever o objeto permitem que o texto se torne sucinto sem que haja perdas de informaccedilatildeo

Como afirma Lacerda (2009) o inteacuterprete trabalha na urgecircncia e natildeo tem tempo para refazer sua interpretaccedilatildeo Na traduccedilatildeo haacute tempo para analisar pesquisar e refazer se ne-cessaacuterio Como foi dito anteriormente eu recebia da produ-ccedilatildeo do programa instrumentos para pesquisa e durante as gravaccedilotildees de sua interpretaccedilatildeo havia tempo para refazecirc-la caso achasse necessaacuterio Por essa razatildeo podemos concluir que esse trabalho se caracterizou como sendo uma traduccedilatildeo

Outro ponto importante a salientar eacute o tempo televisi-vo O programa produzido pela equipe da UFCTV como dito anteriormente tem 30 minutos de duraccedilatildeo jaacute com os comer-cias adicionados Eacute dividido em ldquocabeccedilasrdquo que eacute segmento do programa em que a apresentadora aparece sozinha anuncian-

do as manchetes do dia ldquooffsrdquo segmento do programa em que o repoacuterter relata as notiacutecias sem aparecer na cena e sonoras As janelas correspondentes a esses segmentos precisavam es-tar sincronizadas com o tempo de cada um deles

Segundo Ronai (1987) tudo que eacute dito em uma determi-nada liacutengua pode ser dito em outra mas para isso eacute preciso buscar equivalecircncias e quando por alguma razatildeo natildeo eacute pos-siacutevel encontraacute-las a traduccedilatildeo pode ser feita de forma explica-tiva Poreacutem em se tratando de explicaccedilotildees de termos usados na liacutengua fonte (liacutengua a ser traduzida) para a alvo (liacutengua traduzida) eacute possiacutevel que o texto traduzido se prolongue mais que o texto original Isso eacute bastante comum acontecer em tra-duccedilotildees envolvendo a Libras e o Portuguecircs dadas as modali-dades em que se encontram espaccedilo-viso-manual e oral au-ditiva respectivamente (QUADROS KARNOPP 2004) Esse fato ocorria com frequecircncia desafiando-me a buscar recursos inerentes agrave atividade tradutoacuteria e os que a proacutepria liacutengua de sinais oferece para possibilitar a sincronia entre os textos

Os recursos linguiacutesticos por mim utilizados durante as atividade tradutoacuterias foram os empreacutestimos linguiacutesticos que segundo Barbosa (2004) trata-se de uma escolha pessoal do tradutor por tomar um empreacutestimo da liacutengua fonte e usa--lo na liacutengua alvo No caso da traduccedilatildeo da Liacutengua Portuguesa para a Libras esse empreacutestimo eacute feito por meio da soletraccedilatildeo da palavra utilizando-se do alfabeto manual (SOUZA 2010) Esse recurso tem sido utilizado quando natildeo haacute um vocaacutebulo na liacutengua alvo equivalente ao da liacutengua fonte Assuntos relaciona-dos agrave Fiacutesica Quiacutemica Engenharia e especialmente agrave Medicina foram os que mais exigiram o uso desse recurso Ex Palavra em Portuguecircs leishmaniose No empreacutestimo para a Libras a mesma palavra eacute feita sem alteraccedilatildeo na estrutura fonoloacutegica por meio do alfabeto manual conforme ilustra a Figura 1

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Figura 1 ndash Alfabeto manualFonte httpwwwlibrasorgbr

Assim o puacuteblico-alvo recebe a palavra em uma liacutengua que natildeo eacute a sua o que pode gerar problemas de compreen-satildeo Para traduzir essa palavra com clareza seria necessaacuterio entatildeo a utilizaccedilatildeo de outra estrateacutegia chamada de explicita-ccedilatildeo Segundo Lemos (2012) o uso dessa estrateacutegia consiste na adiccedilatildeo de informaccedilotildees por parte do tradutorinteacuterprete para aclarar a mensagem na liacutengua alvo Poreacutem por haver adiccedilatildeo de vocaacutebulo o tempo empregado nesse tipo de estra-teacutegia ultrapassa o tempo do texto fonte o que pode constituir um problema na sincronia dos textos e interferir no tempo da realizaccedilatildeo do programa Por isso optei por natildeo usaacute-la

Outro recurso utilizado na traduccedilatildeo foi o Role Shift que segundo Pizzo et al (2010) consiste na mudanccedila da posi-ccedilatildeo do corpo ou da direccedilatildeo do olhar para marcar a fala de mais

de um personagem Esses personagens (referentes) podem tambeacutem ser marcados por meio de estabelecimento de pon-tos no espaccedilo Isso permite economia de tempo pois uma vez que os pontos estatildeo estabelecidos e nominados natildeo haacute mais necessidade de citaacute-los por nome basta apontar olhar ou di-recionar o corpo para a localizaccedilatildeo em que esses pontos foram estabelecidos Essa apontaccedilatildeo na liacutengua de sinais eacute uma for-ma pronominal e pode ser usada como referecircncia anafoacuterica4

O uso de classificadores (CL) tambeacutem foi outro recur-so utilizado como foi dito anteriormente Esses podem des-crever de forma clara objetos pessoas e animais de forma detalhada e raacutepida Quando o uso desses recursos natildeo era su-ficiente para sincronizar os textos fonte e alvo o editor no momento da ediccedilatildeo e com a minha ajuda retirava dos sinais movimentos que natildeo integravam a sua formaccedilatildeo Esses eram os movimentos de passagem de um sinal para o outro como um levantar ou baixar de matildeos Os cortes eram de mileacutesimos de segundos mas que somados apresentavam uma quanti-dade significativa de tempo para um programa televisivo

O uso de todas essas estrateacutegias natildeo era de conheci-mento da equipe responsaacutevel pelo programa da UFCTV com exceccedilatildeo dos cortes para reduccedilatildeo do tempo da traduccedilatildeo na ja-nela de Libras Assim o desafio da traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo se tornou uma busca individual de minha parte Segundo Souza (2010) para realizar uma traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo envolvendo recursos midiaacuteticos eacute necessaacuterio uma equipe semelhante agrave que foi citada anteriormente Poreacutem o autor acrescenta que a essa equipe devem ser adicionados outros profissionais da traduccedilatildeo surdos e ouvintes para dar suporte agrave inteacuterprete e

4 Anafoacuterico genericamente pode ser definido como uma palavra ou expressatildeo que serve para retomar um termo jaacute expresso no texto ou tambeacutem para antecipar termos que viratildeo depois

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analisar juntamente com ela a qualidade da traduccedilatildeo objeti-vando sua otimizaccedilatildeo

Todo esse trabalho relacionado agrave traduccedilatildeointerpre-taccedilatildeo requer um relativo empenho da equipe envolvida Tambeacutem eacute necessaacuterio a essa equipe disponibilidade para alteraccedilotildees fiacutesicas na aparecircncia do programa ocasionada pela inserccedilatildeo da janela de Libras

Janela de Libras na Tela da TV

A janela de Libras eacute um instrumento de acessibilida-de para surdos descrito na Portaria nordm 310 de 27-06-2006 como sendo ldquo[] espaccedilo delimitado no viacutedeo onde as infor-maccedilotildees satildeo interpretadas na Liacutengua Brasileira de Sinais (LI-BRAS)rdquo (BRASIL 2006)

A maioria dos programas de TV que se utiliza da janela de Libras apresenta irregularidades no seu formato tamanho e contraste Isto ocorre pela inobservacircncia das normas estabe-lecidas pela ABNTNBR15290 (ABNT 2005)

A janela de Libras deve conter as seguintes caracteriacutesti-cas (BRASIL 2009)

y A altura da janela deve ser no miacutenimo metade da altura da tela do televisor (NBR 15290) y A largura da janela deve ocupar no miacutenimo a quarta parte da largura da tela do televisor (NBR 15290) y O recorte deve estar localizado de modo a natildeo ser encoberto pela tarja preta da legenda oculta (NBR 15290) y No recorte natildeo devem ser incluiacutedas ou sobrepostas quais-quer outras imagens (NBR 15290)

Como sugestatildeo o documento (BRASIL 2009) acres-centa que a janela de Libras natildeo deve encobrir a marca drsquoagua

da emissora nem a tarja preta da legenda Assim a janela deve ser posicionada na tela da TV de acordo com a sua localiza-ccedilatildeo podendo ficar agrave esquerda agrave direita ou ao centro da tela Quanto ao enquadramento do tradutorinteacuterprete deve ser feito de maneira que os braccedilos e cotovelos natildeo sejam corta-dos O enquadramento deve abarcar toda a sua movimenta-ccedilatildeo e vai do alto da cabeccedila ateacute a altura da cintura O referido documento explicita que o plano meacutedio eacute o ideal para o en-quadramento do tradutorinteacuterprete

Assim a UFCTV buscou respeitar as normas estabele-cidas pela ABNT optando por colocar a janela de Libras na parte inferior direita da tela Para que isso fosse possiacutevel foi necessaacuterio o deslocamento da apresentadora um pouco mais para o centro da tela para deixar livre o espaccedilo destinado agrave janela De modo semelhante os repoacuterteres ao gravarem as sonoras foram orientados a se posicionar de maneira que na tela da TV ficassem agrave esquerda do viacutedeo para que agrave direita sobrasse espaccedilo suficiente para posicionar a janela

Como explicitado haacute pouco a Figura 2 mostra uma ca-beccedila em que a apresentadora do Programa da UFCTV se en-contra posicionada no centro da tela deixando um espaccedilo agrave direita suficiente para a inserccedilatildeo da janela

Figura 2 ndash Ca-beccedila do Programa

UFCTV

Fonte httpwwwufcbr

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Em relaccedilatildeo ao tradutorinteacuterprete a ABNTNBR 15290 (ABNT 2005) determina que quando na janela de Li-bras deve usar blusas de cor distanciada da tonalidade de sua pele Complementando as determinaccedilotildees citadas haacute ainda as seguintes sugestotildees

y Natildeo usar amarelo vermelho laranja e preto (principalmen-te) no plano de fundo do inteacuterprete

y A iluminaccedilatildeo adequada deve evitar sombras nos olhos eou seu ofuscamento e

y A cor adequada e sugerida por todos os surdos para o cenaacuterio foi o azul-claro sem detalhes (BRASIL 2009)

Assim como tradutorinteacuterprete da janela de Libras da UFCTV adotei o seguinte padratildeo esteacutetico cabelos pre-sos blusa preta de mangas cur-tas para contras-tar com o fundo azul ausecircncia de adereccedilos como reloacutegios colares e outros conforme ilustra a Figura 3

Figura 3 ndash Padratildeo esteacutetico para inteacuter-pretes que atuam em janelas de LibrasFonte httpwwwi n c l u s i v e o r g b r wp-contentuploa-ds201007Carti-lha_libraspdf

Consideraccedilotildees Finais Embora tenha havido zelo para com as exigecircncias esta-

belecidas pela ABNT (2005) por parte da equipe envolvida no projeto de implementaccedilatildeo da janela de Libras no programa produzido pela equipe da UFCTV houve alguns problemas de ordem teacutecnica O equipamento tecnoloacutegico usado nas ediccedilotildees apresentava problemas e por vezes parava de funcionar im-pedindo a finalizaccedilatildeo da ediccedilatildeo Foi constatada tambeacutem a ne-cessidade de acreacutescimo de pessoal agrave equipe Os profissionais envolvidos usavam seu horaacuterio de almoccedilo para gravar a tra-duccedilatildeo da janela de Libras pois esse era o uacutenico horaacuterio dispo-niacutevel para uso do estuacutedio Assim podemos concluir que seria necessaacuteria uma equipe especiacutefica com horaacuterios previamente definidos para esse fim

Quanto agrave traduccedilatildeointerpretaccedilatildeo a presenccedila de outro inteacuterprete poderia contribuir com a otimizaccedilatildeo do resultado final da traduccedilatildeo Seria tambeacutem uma contribuiccedilatildeo para com a inteacuterprete efetiva no sentido de que caso houvesse a ne-cessidade de se ausentar nos dias destinados agrave gravaccedilatildeo ha-veria outra pessoa que poderia substituiacute-la Em decorrecircncia dessas dificuldades o projeto foi interrompido para anaacutelise e busca de soluccedilotildees junto a outras instacircncias da UFC para sua viabilizaccedilatildeo

Em conjunto com a Secretaria de Acessibilidade UFC Inclui a equipe anteriormente mencionada se prepara para viabilizar e retomar o projeto propiciando a inserccedilatildeo de for-ma permanente e qualitativa da janela de Libras nos progra-mas produzidos pela equipe da UFCTV e assim contribuir para a acessibilidade agrave informaccedilatildeo das pessoas surdas

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Referecircncias Bibliograacuteficas

ABNT Norma Brasileira ABNT NBR-15290 Acessibilidade em comunicaccedilatildeo na televisatildeo Accessibility in tv captions 31 out 2005 Vaacutelida a partir de 30 nov 2005 Disponiacutevel em lthttpportalmjgovbrcordearquivosABNTNBR15290pdfgt Acesso em 13 out 2012BARBOSA H G Procedimentos teacutecnicos da traduccedilatildeo uma nova proposta Campinas Pontes 2004BRASIL A classificaccedilatildeo indicativa na liacutengua brasileira Bra-siacutelia DF 2009 Ministeacuterio da Justiccedila Secretaria Nacional de Justiccedila Departamento de Justiccedila Classificaccedilatildeo Tiacutetulos e Qualificaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwinclusiveorgbrwp-contentuploads201007Cartilha_libraspdfgt Acesso em 13 out 2012______ Legislaccedilatildeo Federal Portaria nordm 310 de 27-06-2006 Diaacuterio Oficial [da Repuacuteblica Federativa do Brasil] Ministeacute-rio das Comunicaccedilotildees Disponiacutevel em lthttpwwwufcbrportalindexphpoption=com_contentamptask=viewampid=13686ampItemid=86gt Acesso em 30 set 2012______ Decreto nordm 5626 de 22 de dezembro de 2005 Regulamenta a Lei nordm 10436 que dispotildee sobre a Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras Diaacuterio Oficial [da Repuacuteblica Federativa do Brasil] Poder Executivo Ministeacuterio da Educa-ccedilatildeo Brasiacutelia DF 23 dez 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_ato2004-20062005decretod5626htmgt Acesso em 12 dez 2011______ Lei nordm 10436 de 24 de abril de 2002 Dispotildee so-bre a Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras e daacute outras pro-videcircncias Diaacuterio Oficial [da Repuacuteblica Federativa do Bra-sil] Poder Executivo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Brasiacutelia DF

25 abr 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03Leis2002L10436htmgt Acesso em 12 dez 2011GESSER A Traduccedilatildeo e Interpretaccedilatildeo da Libras II Apostila do Curso de Educaccedilatildeo a Distacircncia de Bacharelado em Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina 2011 JAKOBSON R Linguiacutestica e comunicaccedilatildeo Satildeo Paulo Cul-trix 1995LACERDA C B F Inteacuterprete de Libras em atuaccedilatildeo na Edu-caccedilatildeo Infantil e no Ensino Fundamental Porto Alegre Me-diaccedilatildeoFAPESP 2009LEMOS A M As estrateacutegias de interpretaccedilatildeo de unidades fraseoloacutegicas do Portuguecircs para a Libras em discursos poliacute-ticos Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 150f Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2012 LODI A C B LACERDA C B F de (Orgs) Uma escola duas liacutenguas letramento em liacutengua portuguesa e liacutengua de sinais nas etapas iniciais de escolarizaccedilatildeo Porto Alegre Me-diaccedilatildeo 2009MASSUTTI M L e SILVA S G de L da Traduccedilatildeo e in-terpretaccedilatildeo de Libras I Apostila do curso de Bacharelado em Letras na modalidade a Distacircncia Universidade Fede-ral de Santa Catarina Centro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE)Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2011PAGURA R J A interpretaccedilatildeo de conferecircncias interfaces com a traduccedilatildeo escrita e implicaccedilotildees para a formaccedilatildeo de in-teacuterpretes e tradutores DELTA ndash Revista de Documentaccedilatildeo de Estudos em Linguiacutestica Teoacuterica e Aplicada Satildeo Paulo v 19 p 209-236 2003PIZZO A L CAMPELLO A R e S REZENDE P L F QUA-DROS R M de Q Liacutengua Brasileira de Sinais III Apostila do curso de Bacharelado em Letras Libras na modalidade

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a Distacircncia Universidade Federal de Santa Catarina Cen-tro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE) Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2010QUADROS R M de (Org) Estudos surdos III Petroacutepolis RJ Arara Azul 2008______ O tradutor e inteacuterprete de liacutengua brasileira de si-nais e liacutengua portuguesa Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Programa Nacional de Apoio agrave Educaccedilatildeo de Surdos MEC SEESP 2004 QUADROS R M de KARNOPP L B Liacutengua Brasileira de Sinais estudos linguiacutesticos Porto Alegre Artmed 2004 RONAI P Escolas de tradutores Rio de Janeiro Ed Nova Fronteira 1987SANTOS S A Inteacuterpretes de liacutengua de sinais um estudo sobre as identidades Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 198f Universidade Federal de Santa Catarina Flo-rianoacutepolis 2006SEGALA R R Traduccedilatildeo intermodal e intersemioacuteticainter-lingual Portuguecircs brasileiro escrito para Liacutengua Brasileira de Sinais Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 74f Universidade Federal de Santa Catarina Trindade Florianoacute-polis 2010 SOUSA A N de A escrita de surdos uma exploraccedilatildeo de textos em portuguecircs e inglecircs Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Lin-guiacutestica Aplicada) 237 f Universidade Estadual do Cearaacute Fortaleza 2008SOUZA X de Performances de traduccedilatildeo para a liacutengua bra-sileira de sinais observadas no curso de Letras-Libras Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) 174f Universi-dade Federal de Santa Catariana Florianoacutepolis 2010STROBEL K As imagens do outro sobre a cultura surda Florianoacutepolis Editora da UFSC 2008

UFC Conheccedila o programa UFCTV Disponiacutevel em lthttpwwwufcbrcomunicacao-e-marketing956-conheca-o-pro-grama-ufctvgt Acesso em 6 dez 2012VASCONCELOS M L BARTHOLAMEI JUNIOR L A B Estudos da traduccedilatildeo I Apostila do curso de Bacharelado em Letras Libras na modalidade a Distacircncia Universidade Fe-deral de Santa Catarina Centro de Comunicaccedilatildeo e Expressatildeo (CCE) Centro de Educaccedilatildeo (CED) 2009VYGOTSKY L S Internalizaccedilatildeo das funccedilotildees psicoloacutegicas su-periores In VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente o desenvolvimento dos processos psicoloacutegicos superiores Satildeo Paulo Martins Fontes 2000 p 69-76

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AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA

FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacute

Marta Cavalcante BenevidesTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (LDB nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996) prevecirc para o alu-nado da Educaccedilatildeo Especial uma praacutetica avaliativa na pers-pectiva formativa de acompanhamento permanente junto ao estudante Deve considerar portanto os aspectos individuais da aprendizagem realizando um diagnoacutestico do que foi apren-dido e favorecendo a aproximaccedilatildeo do professor junto ao agir e pensar do aluno e deste com o objeto de conhecimento A lei recomenda igualmente a realizaccedilatildeo de ajustes sempre que necessaacuterio com o emprego de recursos adequados agraves necessi-dades de cada aprendiz Contudo haacute indiacutecios de que as praacuteti-cas educacionais ainda se centram em atividades que enfati-zam a exposiccedilatildeo de conteuacutedos pelo professor e a passividade do aluno que deve reproduzir a informaccedilatildeo memorizada nos momentos de avaliaccedilatildeo Se essa praacutetica prejudica o desenvol-vimento dos alunos de forma geral provoca consequecircncias mais graves nos alunos que apresentam algum tipo de defici-ecircncia visto que apresentam modos singulares de aprendiza-gem de acordo com as especificidades do seu perfil (BEYER 2005 BRASIL 2001 HADJI 2001 HOFFMANN 2005)

No Ensino Superior a realizaccedilatildeo de uma praacutetica avalia-tiva inclusiva torna-se de modo anaacutelogo um desafio pois de acordo com Demo (2008) a avaliaccedilatildeo na Instituiccedilatildeo de Ensi-

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacuteMARTA CAVALCANTE BENEVIDES bull TANIA VICENTE VIANA148 d d 149

no Superior (IES) aleacutem de ponderar as diferenccedilas individuais de aprendizagem deve incluir outros aspectos uma vez que a IES tem como papel fundamental formar o aluno para o exer-ciacutecio da cidadania reconstruir continuamente o saber e for-mar pessoas autocircnomas capazes de pensar intervir e influen-ciar o seu ambiente para aleacutem dos limites da universidade

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada ao aluno com deficiecircncia constitui um elemento pedagoacutegico que pode auxi-liar ou dificultar a inclusatildeo do aluno na instituiccedilatildeo de ensino Uma avaliaccedilatildeo realizada de modo intuitivo eou superficial se mostra nociva podendo rebaixar as expectativas do professor em relaccedilatildeo a esse grupo especiacutefico A avaliaccedilatildeo inclusiva deve ser prospectiva e diagnosticar as condiccedilotildees cognitivas emer-gentes natildeo devendo limitar-se agrave verificaccedilatildeo das capacidades adquiridas (BEYER 2005 BRASIL 2001 HADJI 2001 HO-FFMANN 2005)

A Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem do Aluno com Deficiecircncia e os Desafios de sua Inclusatildeo no Ensino Superior

O aluno com deficiecircncia por apresentar condiccedilotildees di-ferenciadas necessita de praacuteticas de ensino e de avaliaccedilatildeo da aprendizagem capazes de atender suas demandas educacio-nais e promover o desenvolvimento das suas capacidades A escola e a universidade inseridas nesse contexto deveratildeo ade-quar a sua praacutetica educativa e avaliativa agrave legislaccedilatildeo vigente visando garantir oportunidades equiparadas de atendimento Para esse alunado existem propostas de avaliaccedilatildeo da apren-dizagem fundamentadas nas ideias de Vygotsky (1896-1934) e no conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)1

1 A ZDP eacute definida como ldquoA distacircncia entre o niacutevel de desenvolvimento real que se costuma determinar atraveacutes da soluccedilatildeo independente de problemas e o niacutevel

Utilizando o conceito de ZDP Guthke apud Beyer (2005) propotildee que natildeo basta que a avaliaccedilatildeo verifique as atu-ais condiccedilotildees do desempenho escolar mas eacute essencial estimu-lar a condiccedilatildeo intelectual do indiviacuteduo frente agraves situaccedilotildees de mediaccedilatildeo em que conceitos e informaccedilotildees venham a provo-car a consolidaccedilatildeo de niacuteveis reais de desenvolvimento Nes-se sentido a verificaccedilatildeo do que foi alcanccedilado pelo aprendiz (rendimento) natildeo eacute suficiente para uma avaliaccedilatildeo adequada tornando imprescindiacutevel a investigaccedilatildeo das condiccedilotildees cogni-tivas emergentes

Para avaliar a aprendizagem dos alunos da Educa-ccedilatildeo Especial durante o ano letivo o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) recomenda a avaliaccedilatildeo formativa ou seja a avaliaccedilatildeo processual com o uso de instrumentos variados e com uma aproximaccedilatildeo da relaccedilatildeo professor-aluno deve acontecer de forma individualizada realizando modificaccedilotildees sempre que necessaacuterio com o emprego de recursos adequados agraves neces-sidades de cada aprendiz A avaliaccedilatildeo tambeacutem deve ser diag-noacutestica ou seja ter por objetivo realizar um diagnoacutestico da si-tuaccedilatildeo da aprendizagem do educando que sirva de base para uma tomada de decisatildeo por parte do avaliador em prol do desenvolvimento e da aprendizagem do aluno Eacute importante tambeacutem avaliar as caracteriacutesticas funcionais do aluno a fim de avaliar as habilidades baacutesicas que ele possui e que lhe per-mitem enfrentar de forma mais ou menos eficaz a demanda educacional (BRASIL 2005 FERNANDES VIANA 2009)

As avaliaccedilotildees da aprendizagem devem sempre conside-rar a situaccedilatildeo vivenciada pelo aluno com deficiecircncia para que o professor possa propor atividades avaliativas contextua-

de desenvolvimento potencial determinado atraveacutes da soluccedilatildeo de problemas sob a orientaccedilatildeo de um adulto ou em colaboraccedilatildeo com companheiros mais capazesrdquo (VYGOTSKY 1994 p 112)

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lizadas As comparaccedilotildees entre os alunos devem ser evitadas mesmo que possuam deficiecircncia similar o aluno deve ser comparado consigo mesmo com a evoluccedilatildeo de suas produ-ccedilotildees e atitudes ao longo do desenvolvimento As adequaccedilotildees nas avaliaccedilotildees realizadas pelo professor devem sempre con-siderar o curriacuteculo comum Outro aspecto a se ponderar eacute a importacircncia dos conteuacutedos presentes na avaliaccedilatildeo visto que a supressatildeo de determinados conteuacutedos podem comprometer uma avaliaccedilatildeo efetiva da aprendizagem O planejamento de uma avaliaccedilatildeo com conteuacutedo diferenciado caracteriza por-tanto uma exclusatildeo que discrimina o aluno por sua deficiecircn-cia Dessa forma satildeo necessaacuterios cuidados especiais na elimi-naccedilatildeo de conteuacutedos (FERNANDES 2010)

Ainda segundo as orientaccedilotildees do MEC satildeo recomen-dadas adequaccedilotildees nos instrumentos avaliativos conforme o tipo de deficiecircncia i) para alunos com deficiecircncia fiacutesica deve ser considerada a utilizaccedilatildeo de Tecnologia Assistiva (TA)2 au-toavaliaccedilatildeo uso de avaliaccedilatildeo digital ii) para a o aluno com deficiecircn cia visual os procedimentos e instrumentos de avalia-ccedilatildeo da aprendizagem que satildeo baseados em referecircncias visu-ais devem ser alterados ou adaptados atraveacutes da transcriccedilatildeo para o sistema Braille3 eou representaccedilotildees em relevo Ou-tras sugestotildees satildeo a avaliaccedilatildeo oral o uso do computador ou da maacutequina de escrever Braille e um tempo ampliado para a realizaccedilatildeo das atividades (iii) a avaliaccedilatildeo da aprendizagem

2 ldquo[] arsenal de recursos e serviccedilos que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiecircncia e consequentemente promover vida independente e inclusatildeordquo (BRASIL 2007d p 31)3 O sistema Braille eacute um coacutedigo ou meio de leitura e escrita para pessoas cegas e foi criado por Louis Braille em 1825 Constitui-se de uma combinaccedilatildeo de 63 pontos que representam as letras do alfabeto os nuacutemeros e outros siacutembolos graacuteficos A combinaccedilatildeo dos pontos eacute obtida pela disposiccedilatildeo de seis pontos baacutesicos organizados em duas colunas verticais dispostas em trecircs pontos do lado esquerdo e trecircs pontos do lado direito (BRASIL 2007c)

da pessoa surda deve considerar a existecircncia do uso de duas liacutenguas por parte do aluno jaacute que a liacutengua de sinais liacutengua de origem do surdo se reflete em suas produccedilotildees escritas em Portuguecircs Portanto o docente ao se deparar com um texto escrito por um aluno surdo deve manter uma atitude diferen-ciada e encarar os supostos erros cometidos na escrita como decorrentes do aprendizado de uma segunda liacutengua (Liacutengua Portuguesa) e da interferecircncia de sua primeira liacutengua (a liacuten-gua de sinais) sobre ela Em todo tipo de avaliaccedilatildeo eacute necessaacute-rio que o ritmo e o estilo individual de aprendizagem do aluno sejam respeitados (BRASIL 2007b FERNANDES 2010)

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada para o alunado com deficiecircncia deve considerar as condiccedilotildees de acessibilida-de4 prevista nos documentos legais brasileiros como a Cons-tituiccedilatildeo Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-caccedilatildeo Nacional (LDB nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996) (BRASIL 2001 2007a)

A praacutetica avaliativa destinada ao aluno com deficiecircncia torna-se um desafio para todos os niacuteveis de ensino inclusive o Ensino Superior que aleacutem de atender as caracteriacutesticas es-peciacuteficas desse alunado deve tambeacutem inserir na avaliaccedilatildeo as-pectos como flexibilidade e autonomia De acordo com Demo (2008) a universidade deve estar comprometida com a re-construccedilatildeo contiacutenua do conhecimento e com a formaccedilatildeo para a cidadania

4 SASSAKI (2005) aponta para a existecircncia de seis dimensotildees da acessibilidade i) arquitetocircnica que diz respeito agrave ausecircncia de barreiras fiacutesicas ii) comunicacional que se refere agrave ausecircncia de barreiras na comunicaccedilatildeo interpessoal escrita e virtual iii) atitudinal concernente a praacuteticas que resultem em superaccedilatildeo de preconceito discriminaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo iv) metodoloacutegica relativa agrave ausecircncia de barreiras nos meacutetodos e teacutecnicas de estudo v) instrumental que se refere agrave ausecircncia de barreiras nos instrumentos e utensiacutelios de estudo nas atividades da vida diaacuteria de lazer esporte e recreaccedilatildeo vi) programaacutetica que consiste na ausecircncia de barreiras invisiacuteveis embutidas em poliacuteticas puacuteblicas em regulamentos e normas

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Assim o aluno que ingressa na universidade deve ter a oportunidade de aprender a aprender reconstruir permanen-temente o conhecimento e saber pensar para melhor inter-vir O conhecimento nessa perspectiva aleacutem de disruptivo eacute tambeacutem poliacutetico porque o sujeito que aprende eacute capaz de histoacuteria proacutepria e caminha para a autonomia de modo que natildeo seja soacute influenciado mas influencie o seu meio natildeo seja submisso mas possa confrontar ideias teorias opiniotildees e re-alidades (DEMO 2008)

Metodologia

O objetivo geral deste estudo foi investigar a praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem destinada aos alunos com defici-ecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do Centro de Humanidades (CH) e da Faculdade de Educaccedilatildeo (Faced) de uma IES da rede puacuteblica federal de Fortaleza-Cea-raacute Especificamente intencionou-se i) conhecer as dificulda-des vivenciadas por alunos professores e coordenadores da IES na avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia ii) identificar as condiccedilotildees de acessibilidade referentes agraves praacute-ticas avaliativas iii) reunir contribuiccedilotildees de alunos profes-sores e coordenadores da IES para uma praacutetica inclusiva de avaliaccedilatildeo de aprendizagem

Assim foi realizada uma pesquisa de natureza qualitati-va na forma de um estudo de caso com amostras compostas por i) nove alunos com deficiecircncia matriculados nos cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do CH e da Faced da IES ii) dezenove professores indicados pelos alunos com deficiecircn-cia que haviam ministrado disciplinas para esses alunos no semestre 20102 e iii) sete coordenadores dos cursos em que esses alunos se encontravam matriculados A amostra perfez um total de trinta e cinco sujeitos

Na tabela 1 encontramos a caracterizaccedilatildeo da amostra dos alunos investigados Os estudantes consultados seratildeo ale-atoriamente chamados de A1 A2 A9

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia

MASCULINO

ALUNO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A1 24 Letras-Portuguecircs Auditiva

A2 28 Ciecircncias Sociais Fiacutesica ndash Torcicolo Espas-moacutedico

A3 23 Biblioteconomia Muacuteltipla ndash Fiacutesica e Baixa Visatildeo

A4 45 Pedagogia Visual ndash Baixa Visatildeo FEMININO

ALUNO IDADE (ANOS) CURSO DEFICIEcircNCIA

A5 22 Letras Espanhol--Literatura

Visual Total ndash Retinoblas-toma

A6 20 Letras-Portuguecircs Fiacutesica ndash Paralisia Cerebral

A7 24 Ciecircncias Sociais Auditiva Moderada ndash Gra-ve

A8 23 Psicologia Baixa Visatildeo ndash Visatildeo Uni-lateral

A9 32 Mestrado em Edu-caccedilatildeo Auditiva

Os coordenadores pesquisados seratildeo aleatoriamente chamados de C1 C2 C7 e os professores que participaram da pesquisa seratildeo chamados aleatoriamente de P1 P2 P19 Vale ressaltar que o nome da instituiccedilatildeo quando presente no relato dos entrevistados foi substituiacutedo pela palavra UNI-VERSIDADE (em letras maiuacutesculas) Os dados obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas junto aos alunos e coor-denadores de curso e atraveacutes de questionaacuterios junto aos pro-fessores no segundo semestre de 2010 foram submetidos agrave anaacutelise de conteuacutedo

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Anaacutelise dos Dados

Formaccedilatildeo docente

A equipe docente pesquisada mostrou-se com qualifica-ccedilatildeo elevada conforme se pode constatar no Graacutefico 1 A forma-ccedilatildeo docente eacute vista como um fator de grande importacircncia para a adequaccedilatildeo dos processos de ensino e avaliaccedilatildeo tornando-se imprescindiacutevel para auxiliar no processo de aprendizado do aluno (BEYER 2005 HOFFMANN 2005 PASCUAL 2006)

GRAacuteFICO 1 ndash Formaccedilatildeo Docente

No entanto para os coordenadores a formaccedilatildeo do do-cente em graus elevados muitas vezes natildeo prepara o profes-sor para a experiecircncia em sala de aula visto que nos cursos de origem natildeo satildeo trabalhadas questotildees pedagoacutegicas nem de teorias do conhecimento e da aprendizagem tampouco de as-suntos referentes ao tema da Educaccedilatildeo Inclusiva

Segundo relato dos coordenadores

A maioria das pessoas que daacute aula na universidade elas nunca se prepararam na vida dela para ser professor Vocecirc imagine uma pessoa que estudou que fez douto-rado ela faz um concurso [] O que ela aprendeu em sala de aula foi com os professores em sala de aula mas ela nunca discutiu a metodologia [] Vocecirc imagina aiacute o

cara que fez Fiacutesica se formou em Fiacutesica o tempo dele foi fazendo caacutelculo e ele aprendeu a dar aula as aulas que ele via foi dos professores dele mas nunca ele discutiu nada Entatildeo ele faz um concurso porque ele tem doutorado domina um conjunto de questotildees que taacute laacute no programa passa e quando ele entra vai laacute no [setor de] Recursos Humanos natildeo tem ningueacutem pra dizer que vaacute fazer um cursinho sobre Pedagogia sobre aprendizado essa coisa toda E eacute assim em quase todo canto Com exceccedilatildeo da Pedagogia que eacute um curso que forma pedagogo Nosso curso aqui eacute muito focado no bacharelado licenciatura aqui eacute uma coisa quase que marginal (C7)Agraves vezes os professores efetivamente tecircm dificuldade de lidar com esse tipo de aluno neacute Noacutes eu tambeacutem tenho dificuldade porque tambeacutem natildeo sou formado para isso neacute Eu natildeo tenho uma capacitaccedilatildeo pra isso mas natildeo necessariamente pra avaliaccedilatildeo agraves vezes ateacute para a proacutepria convivecircncia a gestatildeo da sala de aula com o aluno quando distoa do padratildeo meacutedio do aluno a gente natildeo sabe como fazer No instante em que nos tornamos professores da UNIVERSIDADE eu desco-nheccedilo qualquer formaccedilatildeo que tenha sido proposta pra gente E bom assim enquanto socioacutelogo de formaccedilatildeo eu tambeacutem natildeo tive essa formaccedilatildeo aqui na UNIVER-SIDADE no doutorado na graduaccedilatildeo ou no mestrado tampouco (C4)

Do mesmo modo foi verificado na pesquisa que a ca-pacitaccedilatildeo especiacutefica voltada para o atendimento agraves necessi-dades educacionais da pessoa com deficiecircncia embora consi-derada necessaacuteria pelos coordenadores tem acontecido como uma procura individual e particular de cada professor natildeo existindo ou existindo de forma precaacuteria nos programas que destinam formaccedilatildeo continuada aos seus docentes dentro da universidade

A situaccedilatildeo encontrada na universidade pesquisada estaacute em consonacircncia com o que afirma Hoffmann (2005) sobre a

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realidade encontrada nas universidades brasileiras em que haacute docentes que embora com competecircncia em sua aacuterea de origem possuem formaccedilatildeo pedagoacutegica precaacuteria desconhe-cendo teorias do conhecimento e do curriacuteculo que deveriam fundamentar sua atividade avaliativa

Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia

No que se refere agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem do aluno com deficiecircncia verificou-se que os coordenadores natildeo tecircm informaccedilotildees sobre como acontece a avaliaccedilatildeo da aprendiza-gem voltada para esse alunado dentro da universidade e re-latam a existecircncia de uma avaliaccedilatildeo homogecircnea como uma praacutetica comum na IES que desconsidera as particularidades do aluno A avaliaccedilatildeo que considera a construccedilatildeo individual da aprendizagem reflete uma visatildeo tradicional de avaliaccedilatildeo (HOFFMANN 2005 PERRENOUD 1999)

De acordo com o relato do coordenador

[] imagino que haacute todo um processo complexo inclu-sive muito rico de adequaccedilatildeo disso da proacutepria pessoa a um sistema de Educaccedilatildeo que natildeo tem a tradiccedilatildeo de lidar com as dificuldades das pessoas Todo um sistema ele eacute montado com um pressuposto falso e perigoso que eacute o pressuposto da homogeneidade se trata todos os alunos como se fossem iguais como se partissem do mesmo ponto e como tivessem que chegar ao mesmo ponto Quer dizer natildeo haacute consideraccedilatildeo da personalidade natildeo eacute nem no sentido psicoloacutegico eacute no sentido mais amplo de que cada pessoa eacute uma pessoa com interesse com a proacutepria histoacuteria com dificuldades e com potenciais entatildeo o sistema eacute todo montado para um aluno amorfo padratildeo estereotipado Qualquer pessoa que rompa com essa padronizaccedilatildeo teraacute dificuldades em geral dificul-dades para os docentes tambeacutem (C5)

Para a maioria dos professores a avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem do aluno com deficiecircncia deve apresentar as seguintes caracteriacutesticas I) ser igual para todos alunos com e sem defi-ciecircncia (63) II) abordar o mesmo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade (84) III) apresentar adapta-ccedilotildees conforme o tipo de deficiecircncia (84) IV) dispor de um tempo maior para o aluno com deficiecircncia (68) e V) deve acontecer em sala de aula (84)

De acordo com as informaccedilotildees coletadas os professores entendem a avaliaccedilatildeo do aluno com deficiecircncia em consonacircn-cia com o que eacute proposto pela literatura especializada que as-severa que o planejamento de uma avaliaccedilatildeo para o aluno com deficiecircncia deve considerar o curriacuteculo comum Um conteuacutedo diferenciado ou a supressatildeo arbitraacuteria de conteuacutedos com o ob-jetivo de tornar a avaliaccedilatildeo mais faacutecil caracterizariam uma ex-clusatildeo discriminando-se o aluno por sua deficiecircncia A maio-ria dos professores respondeu tambeacutem que o aluno precisa de maior tempo para a realizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo outra estra-teacutegia adaptativa apontada pela literatura em que o professor deve considerar que o aluno com deficiecircncia pode alcanccedilar os mesmos objetivos do grupo poreacutem com um periacuteodo maior de tempo (FERNANDES 2010)

Foi constatada nos depoimentos dos alunos a exis-tecircncia de algumas adaptaccedilotildees na avaliaccedilatildeo da aprendizagem tais como substituiccedilatildeo do seminaacuterio por instrumentos escri-tos para o aluno com deficiecircncia auditiva que natildeo conhecia a Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) (A1) o uso do computa-dor como recurso para auxiliar nas provas escritas ou provas orais para o estudante cego (A3 A4 A5 A8) provas orais para o aluno com torcicolo espasmoacutedico (A2) e o tempo es-tendido para entrega dos trabalhos (A2 A9) A boa relaccedilatildeo entre professor e aluno apareceu como elemento fundamental

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para adaptar os instrumentos avaliativos agraves necessidades dos educandos visto que nem sempre o professor sabe como pro-ceder (A2 A3 A4 A5 A8)

As adequaccedilotildees encontradas na universidade estatildeo de acordo com o que estabelece a literatura especializada devem contar com o uso de recursos adequados agraves necessidades de cada aprendiz como o uso de material em Braille para o aluno cego a presenccedila do inteacuterprete de Libras para o aluno surdo o uso de provas orais quando necessaacuterio e a extensatildeo de tem-po para entrega de trabalhos dentre outros (BRASIL 2005 FERNANDES 2010)

Por outro lado os alunos relataram uma seacuterie de dificul-dades enfrentadas em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem O desconhecimento por parte do professor da existecircncia do aluno com deficiecircncia em sua sala de aula antes do iniacutecio do periacuteodo letivo impede um planejamento que considere as es-pecificidades do aluno Os estudantes relataram que os pro-fessores na maioria das vezes desconhecem o fato de que le-cionaratildeo para alunos com deficiecircncia e quando os encontram em sala de aula sequer o procuram para investigar sobre a melhor forma de realizar a avaliaccedilatildeo Houve ainda relatos de situaccedilotildees em que o aluno com deficiecircncia foi dispensado da avaliaccedilatildeo e momentos em que participou das avaliaccedilotildees em condiccedilotildees desfavoraacuteveis frente agraves condiccedilotildees apresentadas aos demais alunos por falta de recursos que pudessem auxiliaacute--lo Essas atitudes natildeo estatildeo em consonacircncia com a literatura especializada que afirma ser necessaacuteria a identificaccedilatildeo das caracteriacutesticas cognitivas do aluno com deficiecircncia para uma praacutetica pedagoacutegica adequada As adaptaccedilotildees devem conside-rar o curriacuteculo natildeo podendo o aluno ser dispensado da avalia-ccedilatildeo (BEYER 2005 FERNANDES 2010)

Segundo relato de um dos alunos

[] professor nesse semestre pediu uma siacutentese de um texto que eu natildeo tinha como ler porque natildeo foi possiacutevel digitalizar Eu tentei digitalizar mas a digitalizaccedilatildeo natildeo saiu boa o texto natildeo existia na internet eacute de uma obra claacutessica e eu natildeo consegui fazer a siacutentese porque eu natildeo tive como ler o texto E aiacute eu tentei de todas as ma-neiras que eu pude Eu realmente fiz muito esforccedilo pra digitalizar esse texto mas natildeo foi possiacutevel e aiacute eu falei com o professor e ele disse entatildeo vocecirc se compromete a ler a tentar de alguma maneira ler esse texto ateacute vocecirc se formar porque eacute um claacutessico e eu dispenso vocecirc de fazer essa parte (A8)

Os relatos demonstraram que as accedilotildees pedagoacutegicas de ensino e avaliaccedilatildeo para o aluno com deficiecircncia ainda se en-contram inadequadas A falta de conhecimento do professor sobre as praacuteticas pedagoacutegicas apropriadas e sobre os recursos que possam auxiliar o aluno a desenvolver seu aprendizado de forma mais adequada satildeo fatores que prejudicam o aluno den-tro da instituiccedilatildeo Mesmo fazendo parte de uma instituiccedilatildeo de ensino regular o que se percebe eacute que muitas vezes o aluno procura recursos e alternativas que possam ajudaacute-lo a superar as necessidades que apresenta nem sempre contando com o auxiacutelio ou a compreensatildeo dos demais agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem As adaptaccedilotildees realizadas revelaram-se como alternativas emergenciais devido agrave ausecircn-cia de recursos apropriados na universidade ou agrave falta de co-nhecimentos do professor sobre a melhor maneira de proceder

Inclusatildeo acessibilidade

A universidade apresentou a existecircncia de alguns re-cursos para a acessibilidade Os recursos conhecidos pelos

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coordenadores satildeo i) transposiccedilatildeo para o Braille serviccedilo re-alizado pela biblioteca ii) acesso agrave inteacuterprete de Libras iii) alguns computadores com programas para o deficiente visu-al iv) a existecircncia de uma secretaria especiacutefica para trabalhar questotildees da inclusatildeo na universidade Por outro lado foi ve-rificada a ausecircncia de recursos essenciais para a garantia da acessibilidade dos alunos com deficiecircncia como laboratoacuterios de informaacutetica sem softwares adequados para o aluno com deficiecircncia visual

Dos professores entrevistados 58 desconheciam os recursos oferecidos pela universidade para o atendimento ao aluno com deficiecircncia E os que revelaram conhecer relata-ram a existecircncia de suporte de Psicologia da UNIVERSIDA-DE (P1) presenccedila de softwares para o aluno cego (P4) Proje-to UNIVERSIDADE Inclui [projeto anterior agrave inauguraccedilatildeo da secretaria com objetivo de promover a inclusatildeo na universi-dade estudada] (P14 P19) Secretaria de Acessibilidade (P1) adaptaccedilatildeo do material didaacutetico para o aluno com deficiecircncia visual como o Braille e a transposiccedilatildeo para a versatildeo eletrocircni-ca realizada pela biblioteca (P5 P12 P15 P19) Um dos pro-fessores natildeo especificou qual recurso conhece e relatou natildeo precisar utilizar nenhum recurso

Relaccedilotildees interpessoais

As relaccedilotildees interpessoais aparecem como fator de grande importacircncia para a motivaccedilatildeo e o aprendizado do aluno po-dendo favorecer ou dificultar o processo de aprendizado A boa qualidade da relaccedilatildeo entre o aluno com deficiecircncia e o professor contribui de forma positiva para o aprendizado e a motivaccedilatildeo do aluno no ambiente acadecircmico A ausecircncia de conhecimen-tos teacutecnicos por parte do professor sobre o ensino e avaliaccedilatildeo

apropriados para o aluno com deficiecircncia pode ser mais facil-mente contornada se houver uma boa relaccedilatildeo com o professor

[] eu sempre me relacionei muito bem com os profes-sores daqui e nunca teve assim nenhuma rejeiccedilatildeo quanto ao meu meacutetodo de avaliaccedilatildeo E quando o professor natildeo sabe muito bem o que fazer entatildeo a gente senta conversa sobre de que maneira eu posso ser avaliado e tal [] (A3)

Na relaccedilatildeo entre docente e discente foram relatadas situaccedilotildees tanto de intransigecircncia quanto de aceitaccedilatildeo O comprometimento e a disposiccedilatildeo de todos os sujeitos partici-pantes do processo de ensino-aprendizagem eacute de grande im-portacircncia para a plena efetivaccedilatildeo de uma Educaccedilatildeo Inclusiva (BEYER 2005)

No caso do professor receptivo

Pra mim o caso mais interessante foi o dessa aluna com deficiecircncia auditiva que eu notava que ela natildeo conseguia se expressar oralmente logo nos primeiros dias de aula E aiacute eu fui conversar com ela e ela me explicou que tinha um problema de deficiecircncia auditiva e a partir desse dia ela me explicou que sabia fazer leitura labial e a partir desse dia eu passei a dar aula olhando pra ela tentava mesmo que eu mudasse de posiccedilatildeo como eu dou aula em peacute andando eu tava sempre o tempo todo a olhar pra ela Eu me lembro que ela assistiu alguns seminaacuterios e eu chamei os alunos que iam apresentar seminaacuterios pedi permissatildeo a ela antes e ela autorizou que fosse dito que ela tinha deficiecircncia auditiva que os alunos falassem olhando pra ela (C4)

No caso do professor intransigente

Eu reprovei por um trabalho um grande trabalho dele que eu levei eu tinha frac34 do trabalho feito ele nem aceitou natildeo quis nem ver Entatildeo pra mim isso eacute muita intransigecircncia eacute sofriacutevel ter esse relacionamento com

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os coordenadores com os professores que natildeo podem me dar uma abertura ou me escutar Isso que eacute o pior que eu acho natildeo ser escutado (A2)

A falta de uma formaccedilatildeo adequada para lidar com alu-nos com deficiecircncia em sala de aula apresentou-se como ele-mento comum agrave variaccedilatildeo de atitudes apresentada pelo docen-te A conduta profissional desse modo depende dos valores pessoais do docente e natildeo estaacute pautada em conhecimentos es-pecializados sobre o assunto Na situaccedilatildeo encontrada na uni-versidade percebemos a existecircncia de uma realidade em que as reaccedilotildees do grupo podem facilitar pela empatia ou preju-dicar pelo preconceito ou incompreensatildeo o desenvolvimento global do indiviacuteduo Os professores como participantes do grupo social estatildeo imbuiacutedos desses valores que afetaratildeo suas praacuteticas de ensino e avaliaccedilatildeo A expectativa que o professor elabora sobre a aprendizagem do aluno pode interferir de modo significativo no processo de ensino-aprendizagem de modo que o comportamento do aluno seja modelado pela ex-pectativa do professor e este por sua vez responde de acordo com o que ele supotildee ser possiacutevel ao seu aluno (BEYER 2005 ROSENTHAL JACOBSON 1968)

Os depoimentos dos alunos revelam haver dentro da universidade atitudes de aceitaccedilatildeo e solidariedade mas tam-beacutem atitudes de estranhamento em relaccedilatildeo agrave pessoa com deficiecircncia As primeiras demonstram auxiliar o aluno no processo de Inclusatildeo favorecendo o aprendizado e ajudando a preencher lacunas deixadas pelos serviccedilos ainda natildeo ade-quados agraves necessidades do alunado No entanto as demais atitudes ainda revelam a existecircncia de um desconhecimento tambeacutem por parte do aluno das formas de lidar com a pessoa com deficiecircncia e das necessidades apresentadas por esse alu-nado Essa atitude indica um reflexo de uma sociedade ainda

natildeo preparada para o modelo de Inclusatildeo em que as insti-tuiccedilotildees os serviccedilos e os procedimentos ainda satildeo pensados e montados para um puacuteblico homogecircneo padratildeo sem deman-das especiacuteficas

Dificuldades enfrentadas

Os coordenadores de curso revelaram natildeo ter acesso agraves dificuldades do aluno com deficiecircncia em relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem o que dificulta inclusive o reconhecimento das demandas discentes e a solicitaccedilatildeo agraves instacircncias superio-res de recursos que atendam a essas necessidades A coorde-naccedilatildeo aparece como um oacutergatildeo burocraacutetico onde natildeo haacute dis-cussotildees rotineiras sobre a aprendizagem do aluno A ausecircncia de recursos humanos capacitados para lidar com o aluno com deficiecircncia a ausecircncia ou insuficiecircncia de recursos didaacuteticos e de recursos que possibilitem a acessibilidade instrumental a falta de acessibilidade arquitetocircnica e a natildeo identificaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia foram indicadas pelos coordenadores como dificuldades enfrentadas para a efetivaccedilatildeo de uma ava-liaccedilatildeo inclusiva

De acordo com as respostas apresentadas pelos pro-fessores as dificuldades enfrentadas pelos docentes satildeo i) a ausecircncia de formaccedilatildeo adequada (P2 P4 P7 P10 P15 P16 P17 P19) ii) a falta de adequaccedilatildeo dos espaccedilos fiacutesicos (P1 P14 P17) iii) a ausecircncia ou insuficiecircncia de recursos (P6 P13 P14 P17 P18) iv) o fato de que os professores natildeo conhecem os recursos nem a forma de acessaacute-los (P10 P18) Cinco profes-sores relataram natildeo apresentar dificuldades e um professor natildeo respondeu

Os alunos apresentaram como dificuldades i) o fato de que o professor natildeo tem o conhecimento preacutevio de que iraacute le-

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cionar para o aluno com deficiecircncia e como consequecircncia natildeo conhece as caracteriacutesticas de aprendizagem do aluno (A2 A7 A8) ii) a falta de comunicaccedilatildeo entre professores e alunos bem como a intransigecircncia do professor (A2) iii) a falta de acessibilidade arquitetocircnica (A3) iv) a falta de recursos para a acessibilidade instrumental (A3 A5 A8) v) a dificuldade de redigir textos e a demora do processo em conseguir o inteacuter-prete de Libras foi apresentada pela aluna com surdez

Vale ressaltar que a falta de acessibilidade arquitetocirc-nica e instrumental aparece no discurso de coordenadores e alunos como impeditivo para a entrada do aluno na universi-dade No relato de um dos alunos

[] Eu falo minhas porque minhas soacute tem eu aqui Mas a partir do momento que as necessidades forem aceitas o que vai ter de deficiente entrando na univer-sidade vocecirc natildeo queira nem saber Porque o pessoal fala assim natildeo natildeo vou entrar na universidade natildeo porque natildeo tem nenhuma acessibilidade laacute [] Eu fre-quentei o Instituto dos Cegos um ano e meio Tinham pessoas laacute que falaram isso eu natildeo vou me dar o tra-balho de passar na universidade pra chegar laacute e ter que ficar lutando pelos meus direitos os meus direitos jaacute satildeo os meus direitos as pessoas tecircm que saber que eles existem Claro que vocecirc vecirc agraves vezes as pessoas dando essa desculpa de natildeo tentar a universidade Mas ou-tras pessoas que eu via que tinham potencial diziam o que me mata eacute essa ideia de chegar na universidade e ela natildeo estar preparada pra me receber (A3)

As dificuldades enfrentadas pelos alunos e a forma como satildeo administradas pelos oacutergatildeos superiores podem in-terferir negativamente para a entrada e permanecircncia do aluno no Ensino Superior A demora na resoluccedilatildeo dos problemas existentes acaba por desestimular o aluno e interferir em seu desempenho na universidade A longa espera para a resoluccedilatildeo

dos problemas traz um sentimento de solidatildeo para o aluno e muitas vezes ele acaba por resignar-se e aceitar a realidade imposta adequando-se ao que estaacute posto

Sugestotildees

Os trecircs grupos de sujeitos pesquisados apresentaram como sugestotildees i) o investimento em um setor que possa dar suporte para profissionais da Educaccedilatildeo e para o aluno (C1 C2 C3 C7 P1 P7 P18 A2 A7) ii) a importacircncia de identificar o aluno para que haja um conhecimento preacutevio do professor sobre o aluno com deficiecircncia suas caracteriacutesticas de aprendi-zado e suas limitaccedilotildees (C1 P4 P5 A2 A5 A8) iii) a aquisiccedilatildeo de equipamentos e recursos para auxiliar professores e alunos no processo de ensino-aprendizagem e a adequaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico apareceu nas sugestotildees dos professores de um coorde-nador e um aluno (C1 P6 P8 P10 P13 P14 P18 P19 A3) A capacitaccedilatildeo docente a realizaccedilatildeo de seminaacuterios de discussotildees sobre temas pedagoacutegicos e o atendimento ao aluno com de-ficiecircncia apareceu como sugestatildeo dada por coordenadores e professores (C2 C6 C5 C7 P1 P2 P3 P6 P15 P19) As mu-danccedilas nas atitudes e metodologias dos professores e adequa-ccedilatildeo de avaliaccedilotildees agraves especificidades das necessidades de cada aluno apareceram no discurso de professores e alunos (P8 P9 P11 P12 A1 A2 A3 A4 A9) A valorizaccedilatildeo da unidade da coordenaccedilatildeo foi sugerida apenas por um coordenador (C7)

Conclusatildeo

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem eacute um elemento pedagoacutegico que pode auxiliar ou dificultar a inclusatildeo do aluno na instituiccedilatildeo de ensino Para que esta seja inclusiva faz-se necessaacuterio consi-

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derar uma seacuterie de fatores como o conhecimento das necessi-dades educacionais apresentadas pela pessoa com deficiecircncia a adequaccedilatildeo dos instrumentos avaliativos conforme as especi-ficidades do perfil do aluno o uso de uma avaliaccedilatildeo formativa e diagnoacutestica que possibilitem o avanccedilo do conhecimento dis-cente A avaliaccedilatildeo deve ser ainda prospectiva natildeo devendo portanto se limitar agrave verificaccedilatildeo das capacidades adquiridas (BEYER 2005 BRASIL 2005 LUCKESI 2001 2005)

A pesquisa revelou que as condiccedilotildees de acessibilida-de no que diz respeito agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem ainda se encontram insuficientes Embora a maioria dos professores apresente concepccedilotildees sobre a avaliaccedilatildeo desse alunado que es-tejam de acordo com o que propotildee a literatura especializada as praacuteticas ainda natildeo atendem de modo satisfatoacuterio as de-mandas apresentadas pelo aluno que apresente algum tipo de deficiecircncia As dificuldades se referem a uma formaccedilatildeo docen-te inadequada agrave falta de adequaccedilatildeo fiacutesica e agrave ausecircncia de uma maior discussatildeo sobre o tema da Educaccedilatildeo Inclusiva que atin-ja a todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem As sugestotildees apontam para a importacircncia de investimento em recursos materiais e humanos

Diante do exposto a inclusatildeo educacional do aluno com deficiecircncia se torna um desafio visto que as praacuteticas ava-liativas atuais ainda acabam por excluir aqueles alunos que possuem maneiras diferenciadas de aprender e de vivenciar o mundo A realidade observada ainda natildeo reflete a existecircncia de uma verdadeira inclusatildeo do aluno com deficiecircncia na IES investigada Ainda estamos vivenciando praacuteticas que apenas integram o aluno na universidade sem contudo oferecer condiccedilotildees para o seu desenvolvimento pleno A verdadeira inclusatildeo aparece ainda como um grande desafio mas espera-mos que muito em breve ela seja alcanccedilada de modo a pos-

sibilitar a efetivaccedilatildeo do que estaacute previsto por lei e eacute buscado por tantos brasileiros vivenciar de forma plena a cidadania atraveacutes dos direitos jaacute legalmente conquistados

Referecircncias Bibliograacuteficas

BEYER H O Inclusatildeo e avaliaccedilatildeo na escola de alunos com necessidades educacionais especiais Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2005BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988 com as alteraccedilotildees adotadas pelas Emendas Constitucionais n 192 a 532006 e pelas Emendas Constitucionais de Revisatildeo n 1 a 694 Brasiacutelia Senado Federal Subsecretaria de Edi-ccedilotildees Teacutecnicas 2007a______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o Atendimento Educacional Especializado deficiecircncia vi-sual Brasiacutelia-DF MECSEEDSEESP 2007b______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o atendimento educacional especializado deficiecircncia vi-sual Brasiacutelia-DF MECSEESP 2007c______ Formaccedilatildeo continuada agrave distacircncia de professores para o Atendimento Educacional Especializado deficiecircncia fiacutesica Brasiacutelia-DF MECSEEDSEESP 2007d______ Avaliaccedilatildeo para identificaccedilatildeo das necessidades edu-cacionais especiais saberes e praacuteticas da inclusatildeo Brasiacutelia-DF MECSEESP 2005 ______ Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional nordm 9394 de 20 de outubro de 1996 Brasiacutelia-DF MECSEESP 2001DEMO P Universidade aprendizagem e avaliaccedilatildeo hori-zontes reconstrutivos Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2008

d 169MARTA CAVALCANTE BENEVIDES bull TANIA VICENTE VIANA168 d

FERNANDES T L G Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo documental das diretrizes oficiais 2010 152 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2010FERNANDES T L G VIANA T V Alunos com necessidades educacionais especiais (NEEs) avaliar para o desenvolvimen-to pleno de suas capacidades Estudos em Avaliaccedilatildeo Educa-cional Satildeo Paulo v 20 n 43 p 201-213 maioago 2009HADJI C Avaliaccedilatildeo desmistificada Porto Alegre Artmed 2001 HOFFMANN J Pontos e contrapontos do pensar ao agir em avaliaccedilatildeo Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2005 LUCKESI C C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem na escola reelabo-rando conceitos e recriando a praacutetica Salvador Malabares 2005______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem escolar Satildeo Paulo Cortez 2001PASCUAL J G Educaccedilatildeo Superior reflexotildees acerca da ava-liaccedilatildeo In PASCUAL J G DIAS A M I (Org) Fragmen-tos Filosofia Sociologia Psicologia o que isso interessa agrave educaccedilatildeo Fortaleza Brasil Tropical 2006 p 175-192PERRENOUD P Avaliaccedilatildeo da excelecircncia agrave regulaccedilatildeo das aprendizagens ndash entre duas loacutegicas Porto Alegre Artmed 1999ROSENTHAL R JACOBSON L Pygmalion in the class-room teacher expectation and pupilrsquos intellectual develop-ment New York Holt Rhinehat amp Winston 1968SASSAKI R K Inclusatildeo o paradigma do seacuteculo 21 Inclu-satildeo Revista da Educaccedilatildeo Especial Brasiacutelia ano I n1 p 19-23 out 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscribdcomdoc35852350Sassaki-R-K-Inclusao-o-paradigma-do--sec-21gt Acesso em 12 fev 2011VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente o desenvolvi-mento dos processos psicoloacutegicos superiores Satildeo Paulo Mar-tins Fontes 1994

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO

DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE FORTALEZA-CEARAacute

Francisca Samara Teixeira CarvalhoTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

As praacuteticas avaliativas traduzem o ecircxito ou o fracas-so do aluno em sua aprendizagem atribuindo valores que marcaratildeo significativamente toda a sua trajetoacuteria escolar e mesmo a sua vida pessoal Quando realizadas de forma con-vencional segundo a definiccedilatildeo do exame impedem a mudan-ccedila de uma tradicional e persistente praacutetica pedagoacutegica fun-damentada na memorizaccedilatildeo e na reproduccedilatildeo de conteuacutedo como tambeacutem na relaccedilatildeo distanciada entre professor e aluno regulada por uma autoridade imposta pelo medo O exame se diferencia sobretudo por sua natureza classificatoacuteria e so-mativa direcionada para os resultados finais em detrimento de uma visatildeo processual da aprendizagem (LUCKESI 2001 2005 2011 PERRENOUD 1999)

Com isso a avaliaccedilatildeo formativa se revelou um modelo mais adequado para avaliar os alunos na atualidade por natildeo ser de caraacuteter classificatoacuterio nem pontual Dessa maneira natildeo eacute excludente demonstrando sua importacircncia no processo avaliativo com elementos capazes de responder e respeitar as necessidades limitaccedilotildees e possibilidades de cada aluno acer-ca da sua aprendizagem Tem-se percebido a importacircncia dos modelos que propotildeem uma avaliaccedilatildeo formativa de aspecto contiacutenuo considerando a construccedilatildeo individual e coletiva do

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FORTALEZA-CEARAacuteFRANCISCA SAMARA TEIXEIRA CARVALHO bull TANIA VICENTE VIANA170 d d 171

educando oferecendo-lhe apoio pedagoacutegico adequado agraves suas particularidades especialmente em termos de aprendizagem desafiando-o a ir adiante a avanccedilar em suas possibilidades nas atividades escolares auxiliando assim em sua formaccedilatildeo como sujeito

Diante dessa realidade tambeacutem vivenciada por alunos com deficiecircncia nos meios educacionais o exame demonstra um caraacuteter comparativo excludente e discriminatoacuterio em que a praacutetica avaliativa tradicional se limita agrave classificaccedilatildeo e agrave iden-tificaccedilatildeo das dificuldades e fragilidades desses alunos Por cau-sa disso esses aprendizes enfrentam mais uma dificuldade em suas vidas a de encontrar um ambiente educacional propiacutecio ao desenvolvimento de suas capacidades visto que apresen-tam modos singulares de aprender de acordo com as especifi-cidades de seu perfil (BEYER 2010 VYGOTSKY 2000)

A realidade avaliativa encontrada no Ensino Superior acaba por prejudicar de uma forma geral o desenvolvimen-to dos alunos principalmente aqueles com algum tipo de de-ficiecircncia visto que objetiva de modo geral uma verificaccedilatildeo estaacutetica do seu ldquosucessordquo ou ldquofracassordquo escolar com base no desempenho acadecircmico expresso pelo valor numeacuterico de uma nota Nesse contexto o aluno com deficiecircncia eacute frequente-mente excluiacutedo das atividades cotidianas estigmatizado e impedido da convivecircncia social agrave qual possui direito A uni-versidade tem que estar atenta ao conhecimento e agrave aprendi-zagem dos alunos com deficiecircncia no intuito de favorecer no-vas perspectivas para a melhor formaccedilatildeo desse alunado Aleacutem disso eacute necessaacuterio contribuir para a sua devida inclusatildeo no Ensino Superior pois a universidade deve formar natildeo soacute para o mercado de trabalho mas sobretudo para uma consciecircncia criacutetica e o exerciacutecio da cidadania (DEMO 2005)

A Avaliaccedilatildeo da Aprendizagem como Mediadora da Inclusatildeo no Ensino Superior

A Pedagogia do Exame se fundamenta na Pedagogia Tradicional A praacutetica do exame ainda se encontra presente nos nossos meios educacionais priorizando notas em detri-mento da real aprendizagem do aluno Prejudica portan-to o desenvolvimento dos alunos de forma geral e provoca consequecircncias mais graves nos estudantes que apresentam algum tipo de deficiecircncia Essa realidade natildeo permite ao aluno com deficiecircncia encontrar no ambiente de ensino um local para o desenvolvimento das suas potencialidades Apesar de solicitarem intervenccedilotildees pedagoacutegicas diferencia-das capazes de atender suas necessidades e de promover o desenvolvimento das suas capacidades o aluno com defi-ciecircncia se depara com uma realidade de ensino e avaliaccedilatildeo que se limita agrave classificaccedilatildeo normativa1 e agrave identificaccedilatildeo das suas limitaccedilotildees e dificuldades (BENEVIDES 2011 BEYER 2010 LUCKESI 2011)

Beyer (2010) aponta a existecircncia de cinco paradigmas na Educaccedilatildeo Especial que refletem diretamente no mode-lo de avaliaccedilatildeo adotado Cumpre mencionar que a sucessatildeo desses paradigmas natildeo eacute linear pois mesmo o mais antigo baseado na concepccedilatildeo meacutedica da deficiecircncia ainda persiste em permanecer Na reflexatildeo do autor os paradigmas identi-ficados satildeo I) cliacutenico-meacutedico II) sistecircmico III) socioloacutegico IV) criacutetico-materialista e V) inclusivo Esses pontos de vista foram construiacutedos historicamente pela sociedade e a forma de avaliar as pessoas com deficiecircncia estaacute atrelada a eles

1 Uma avaliaccedilatildeo de referecircncia normativa compara os alunos em relaccedilatildeo a uma norma ou padratildeo hierarquizando-os e assim reproduz as desigualdades sociais (PERRENOUD 1999)

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FORTALEZA-CEARAacuteFRANCISCA SAMARA TEIXEIRA CARVALHO bull TANIA VICENTE VIANA172 d d 173

O paradigma cliacutenico-meacutedico enfoca a pessoa com defi-ciecircncia de maneira extremamente individualizada A praacutetica da avaliaccedilatildeo ocorre atraveacutes de aspectos cliacutenicos da deficiecircncia A partir da histoacuteria cliacutenica do sujeito eacute indicada uma escola espe-cial onde o indiviacuteduo obteraacute atendimento terapecircutico em vez de accedilatildeo pedagoacutegica especializada No paradigma sistecircmico a deficiecircncia eacute avaliada por meio de demandas impostas pelo sis-tema escolar no que diz respeito ao curriacuteculo o paracircmetro nor-mativo que eacute estabelecido identifica os que natildeo se adaptam Os procedimentos avaliativos satildeo seletivos e encaminham o aluno avaliado para a escola regular ou para a especial

No paradigma socioloacutegico a deficiecircncia eacute definida atraveacutes da atribuiccedilatildeo social em que as reaccedilotildees do grupo po-dem prejudicar (pela incompreensatildeo ou preconceito) ou faci-litar (pela compreensatildeo ou empatia) o desenvolvimento glo-bal do indiviacuteduo O paradigma criacutetico-materialista entende a deficiecircncia como uma limitaccedilatildeo ou ateacute uma incapacidade para a vida produtiva por se fundamentar numa sociedade de classes a avaliaccedilatildeo torna-se um modo efetivo de excluir a pessoa com deficiecircncia natildeo apenas do meio educacional mas sobretudo do mercado de trabalho (BEYER 2010)

O paradigma inclusivo eacute muito discutido atualmente pois visa amenizar e mesmo superar a segregaccedilatildeo e o precon-ceito estabelecidos historicamente possibilitando uma maior interaccedilatildeo social entre as pessoas com deficiecircncia A avaliaccedilatildeo da aprendizagem pode contribuir no sentido de incentivar essa interaccedilatildeo progredindo da visatildeo cliacutenico-meacutedica para a concepccedilatildeo inclusiva considerando natildeo somente os limites demarcados pela deficiecircncia mas principalmente as poten-cialidades do indiviacuteduo

As avaliaccedilotildees da aprendizagem devem sempre conside-rar a situaccedilatildeo vivenciada pelo aluno com deficiecircncia para que

o professor possa propor atividades avaliativas adequadas e contextualizadas Cabe ao docente o papel de considerar a avaliaccedilatildeo tendo como base o curriacuteculo regular respeitando o caraacuteter processual da aprendizagem de modo a permitir alteraccedilotildees nas tomadas de decisatildeo As comparaccedilotildees entre os alunos devem ser evitadas mesmo que possuam deficiecircncia similar pois cada pessoa eacute uacutenica O estudante deve ser com-parado consigo mesmo com a evoluccedilatildeo de suas produccedilotildees e atitudes ao longo do seu desenvolvimento (BEYER 2010 FERNANDES 2010)

No que diz respeito agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alu-nos com deficiecircncia recomenda-se oficialmente I) mediaccedilotildees complementares oferecidas em salas de recursos ou similares para alunos com deficiecircncia em turmas comuns II) a presenccedila em sala de aula de inteacuterpretes da Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) para surdos III) o uso de proacuteteses auditivas sempre que necessaacuterias ou de lupas para alunos com visatildeo subnormal IV) o ensino da Libras para alunos surdos e para surdos-cegos das liacutenguas de sinais digitais tadoma2 e outras teacutecnicas V) o uso de computadores se houver e a acessibilidade a estes para todos os alunos VI) a participaccedilatildeo (frequecircncia e condiccedilotildees de apoio) de profissionais da Educaccedilatildeo Especial como especia-listas em meacutetodos e recursos especiacuteficos para ajudar a alunos professores e familiares VII) diversidade de materiais VIII) utilizaccedilatildeo pelo professor de variados recursos pedagoacutegicos IX) planos elaborados flexiacuteveis para atender agrave diversidade do alunado X) respeito aos ritmos diferenciados de aprendi-

2 ldquoOs surdos-cegos possuem diversas formas para se comunicar com as outras pessoas A LIBRAS Liacutengua Brasileira de Sinais desenvolvida para a educaccedilatildeo dos portadores de deficiecircncia auditiva pode ser adaptada aos surdos-cegos utilizando-se o tato Colocando a matildeo sobre a boca e o pescoccedilo de um inteacuterprete o portador de surdo-cegueira pode sentir a vibraccedilatildeo de sua voz e entender o que estaacute sendo dito esse meacutetodo de comunicaccedilatildeo eacute chamado de tadomardquo (USP 2012)

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zagem dos alunos XI) ajuda individualizada a determinados aprendizes conforme suas necessidades pedagoacutegicas XII) utilizaccedilatildeo de linguagens e coacutedigos aplicaacuteveis para estudantes que apresentem dificuldades de comunicaccedilatildeo e sinalizaccedilatildeo di-ferenciadas dos demais alunos XIII) avaliaccedilatildeo por meio de vaacute-rias tarefas em diferentes contextos XIV) avaliaccedilatildeo da praacutetica docente pelos educandos XV) a participaccedilatildeo dos alunos em processos autoavaliativos (BRASIL 2006)

A universidade precisa acolher e cumprir o objetivo de educar os alunos com deficiecircncia adaptando-se agraves suas pe-culiaridades no campo da aprendizagem Deve-se lutar por-tanto para a conquista de uma nova cultura avaliativa mais democraacutetica para com a diversidade cultural e com as neces-sidades individuais presentes nas instituiccedilotildees de ensino apta a estimular as possibilidades do aluno em seu processo de apropriaccedilatildeo dos conhecimentos A avaliaccedilatildeo realizada nesses moldes torna-se inclusiva (FERNANDES VIANA 2009)

Metodologia O objetivo geral deste estudo consistiu em investigar a

praacutetica de avaliaccedilatildeo da aprendizagem realizada junto aos alu-nos com deficiecircncia matriculados em cursos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo do Centro de Tecnologia de uma Instituiccedilatildeo Federal de Ensino Superior (IFES) da rede puacuteblica federal de ensino na cidade de Fortaleza-Cearaacute Especificamente ob-jetivou I) conhecer as dificuldades vivenciadas por alunos professores e coordenadores da IFES na avaliaccedilatildeo da aprendi-zagem de alunos com deficiecircncia II) identificar as condiccedilotildees de acessibilidade referentes agraves praacuteticas avaliativas III) reunir contribuiccedilotildees de alunos professores e coordenadores da IFES para uma praacutetica inclusiva de avaliaccedilatildeo de aprendizagem

Para esse propoacutesito foi efetuada uma investigaccedilatildeo de natureza qualitativa na forma de um estudo de caso Os ins-trumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevis-ta semiestruturada e o questionaacuterio misto Foi realizada uma anaacutelise de conteuacutedo dos dados coletados As amostras foram constituiacutedas por sete alunos com deficiecircncia sete professores indicados pelos proacuteprios alunos e quatro coordenadores per-fazendo um total de 18 sujeitos investigados

Na Tabela 1 eacute caracterizada a amostra dos alunos inves-tigados Foram encontrados trecircs tipos de deficiecircncia auditi-va visual e motora

TABELA 1 ndash Distribuiccedilatildeo dos Tipos de Deficiecircncias dos Alunos

Frequecircncia Percentual PercentualAcumulado

Vaacutelido Auditiva 1 143 143

Visual 2 286 857

Motora 4 571 1000

Total 7 1000Fonte Pesquisa aplicada

Os cursos atendidos na pesquisa foram graduaccedilatildeo em Computaccedilatildeo Engenharia Mecacircnica Teleinformaacutetica e curso de mestrado em Quiacutemica A escolha dos alunos de Ciecircncias Exatas tornou viaacutevel a pesquisa visto que a IFES apresentava registros que possibilitaram a sua identificaccedilatildeo e o respectivo contato

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Anaacutelise dos Dados

Perfil de formaccedilatildeo dos entrevistados docentes e coordenadores

Sobre o niacutevel de instruccedilatildeo dos sete docentes consulta-dos seis apresentam doutorado e um possui poacutes-doutorado Todos os professores e coordenadores investigados apresen-tam portanto niacutevel de qualificaccedilatildeo profissional bastante ele-vado A realidade encontrada na instituiccedilatildeo pesquisada estaacute em consonacircncia com o que afirma Hoffmann (2005) sobre a realidade das IFES brasileiras em que se observa a existecircn-cia de educadores com bastante competecircncia em sua aacuterea de ensino A autora assinala contudo que esse elevado niacutevel de formaccedilatildeo natildeo eacute necessariamente acompanhado de uma base pedagoacutegica apropriada que favoreceria uma melhor atuaccedilatildeo docente no processo de ensino-aprendizagem especialmente no que se refere agrave avaliaccedilatildeo

Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia

De acordo com os dados obtidos no questionaacuterio para a maioria dos professores a avaliaccedilatildeo da aprendizagem do alu-no com deficiecircncia deve apresentar as seguintes caracteriacutesti-cas I) ser igual para todos alunos com e sem deficiecircncia II) abordar o mesmo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade III) apresentar adaptaccedilotildees conforme a deficiecircn-cia IV) natildeo dispor de um tempo maior para o aluno com defi-ciecircncia e V) acontecer em sala de aula

Sobre a avaliaccedilatildeo da aprendizagem da pessoa com defici-ecircncia observou-se que a maioria dos professores (seis) advoga uma avaliaccedilatildeo igual para todos os alunos com ou sem defici-ecircncia A mesma quantidade de docentes se apresenta favoraacutevel

em relaccedilatildeo agrave abordagem do mesmo conteuacutedo com o mesmo niacute-vel de dificuldade para todos os alunos No que concerne agrave ava-liaccedilatildeo com adaptaccedilotildees conforme a deficiecircncia cinco professo-res se mostraram favoraacuteveis Em relaccedilatildeo agrave necessidade de um maior tempo para a realizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo a maioria (cinco) mostrou-se desfavoraacutevel Por fim a maior parte acredita que o aluno com deficiecircncia deve ser avaliado em sala de aula (seis)

A maior parte dos professores pelos dados expostos entende a avaliaccedilatildeo do aluno com deficiecircncia em consonacircncia com o que eacute proposto pela literatura especializada em que de-vem ser realizadas adequaccedilotildees nos instrumentos avaliativos conforme a deficiecircncia apresentada pelo aluno com o mes-mo conteuacutedo para todos com o mesmo niacutevel de dificuldade em sala de aula junto aos demais alunos Todavia no que se refere agrave concessatildeo de um maior periacuteodo de tempo para a re-alizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo a maioria dos professores acha natildeo ser necessaacuteria provavelmente por falta de conhecimento sobre como lidar com o aluno com deficiecircncia em suas praacuteticas de ensino e avaliaccedilatildeo O direito a mais tempo para a avaliaccedilatildeo da aprendizagem eacute assegurado por lei (BEYER 2010 BRASIL 2006 FERNANDES 2010 FERNANDES VIANA 2009)

Sobre as demandas apresentadas pelo aluno com de-ficiecircncia em cursos de Ciecircncias Exatas os coordenadores declararam

Ateacute agora natildeo pelo menos ateacute o tempo que estou aqui natildeo posso dizer se antes isso acontecia Teve um caso de uns pais que vieram reclamar da parte da acessi-bilidade aqui no departamento (C1)Isso aiacute a maioria das vezes o aluno resolve com o pro-fessor A nossa demanda e o nosso alunado que entra com algum tipo de deficiecircncia eacute pouco e agraves vezes natildeo temos conhecimento (C2)

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Bom noacutes aqui temos poucos nesse periacuteodo que estou aqui nunca recebi nenhuma solicitaccedilatildeo especial Tive um aluno no comeccedilo do curso que tem deficiecircncia fiacutesica dificuldade de locomoccedilatildeo ele se vira ele anda normal-mente tem muletas e tudo Mas ele nunca chegou pra noacutes para questionar fazer algum tipo de solicitaccedilatildeo pra isso natildeo Natildeo sei se ele tem algum tipo de retraccedilatildeo pra fazer isso Tambeacutem aqui estaacute tudo em obra Mas ateacute hoje natildeo teve nenhum solicitaccedilatildeo em especial natildeo (C3)Natildeo Ateacute agora que eu saiba nenhum veio natildeo (C4)

Constata-se por conseguinte um desconhecimento por parte dos coordenadores das necessidades educacionais desse alunado Percebe-se igualmente a concepccedilatildeo de que esse aluno eacute de responsabilidade do professor e natildeo do co-ordenador A porcentagem reduzida quando comparada ao restante da populaccedilatildeo do curso aparece como justificativa para a falta de mais accedilotildees da coordenaccedilatildeo As relaccedilotildees entre coordenador e aluno constituem um fator importante para a motivaccedilatildeo discente bem como para a busca de novos elemen-tos para a inclusatildeo dos alunos com deficiecircncia Aleacutem disso na ausecircncia de um bom relacionamento a sua inclusatildeo educacio-nal eacute prejudicada (BENEVIDES 2011)

No que diz respeito a uma avaliaccedilatildeo diferenciada os es-tudantes esclarecem

Natildeo Eles natildeo percebem isso os professores natildeo dife-renciam natildeo se importam Mas acho que teve uma vez uma de laboratoacuterio que a gente tem umas disci-plinas praacuteticas era uma prova que teria um tempo por conta da substacircncia que demorava e eu precisava de um tempo a mais Geralmente em laboratoacuterio eu demoro mais aiacute ela considerou permitiu que eu pas-sasse um tempo a mais Mas foi soacute essa vez mesmo (A1)Eacute exatamente como eu citei natildeo Eu acho que no geral satildeo as mesmas condiccedilotildees de tempo as mesmas con-

diccedilotildees de textos Enfim as mesmas condiccedilotildees que satildeo impostas pras pessoas consideradas lsquonormaisrsquo eram impostas pra mim tambeacutem as mesmas condiccedilotildees (A2)Natildeo Normal mesmo Mesmo horaacuterio mesmo tempo mudou nada natildeo (A3)

Natildeo De jeito nenhum nunca Natildeo perguntam nada os professores nem percebem (A4)

Natildeo Nunca ouvi falar nisso aqui na universidade Nem tempo e nem espaccedilo tudo igual para um aluno lsquonormalrsquo (A5)

A prova eacute a mesma Com relaccedilatildeo agrave acessibilidade eacute que eacute difiacutecil mesmo porque tem professor que natildeo atende ao pedido muda de sala pra uma mais confortaacutevel pros outros alunos E como eu natildeo posso subir entatildeo tenho que ficar soacute em uma sala aqui em baixo sem poder ter nenhum duacutevida (A6)

Alguns professores chegaram a imprimir provas com letras maiores pra mim a maioria natildeo quer ter esse trabalho Quando natildeo fazem eu me esforccedilo pra fazer a prova forccedilo mais a vista eacute cansativo mas eu jaacute acostumei sei fazer assim mesmo Mas se fosse maior seria melhor menos cansativo Agora com relaccedilatildeo a tempo natildeo eles natildeo datildeo (A7)

Os discursos dos estudantes revelam que qualquer di-ferenciaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo de modo a atender agraves necessidades educacionais do aluno com deficiecircncia depende sobretudo da boa vontade do professor Os educadores ignoram por-tanto a legislaccedilatildeo nacional para esse alunado que assegu-ra a adaptaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo bem como a concessatildeo de um maior periacuteodo de tempo para sua realizaccedilatildeo (BRASIL 2006 FERNANDES 2010)

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Dificuldades vivenciadas nas praacuteticas avaliativas para o aluno com deficiecircncia

Sobre a dificuldade que o professor encontra para ava-

liar o aluno com deficiecircncia no Ensino Superior a maioria (cinco) declarou natildeo encontrar dificuldades justificando que esse estudante eacute tratado como os demais alunos da turma Apenas dois professores consultados identificaram a necessi-dade de modificar a didaacutetica das aulas ou a forma de avaliaccedilatildeo em virtude da deficiecircncia apresentada pelo aluno

Os coordenadores dos cursos tambeacutem se posicionaram acerca das dificuldades encontradas em relaccedilatildeo ao aluno com deficiecircncia no Ensino Superior

[] fica estranho vocecirc conversar com o aluno sendo que vocecirc natildeo tem soluccedilatildeo para o problema dele O que a gente busca eacute uma compreensatildeo mas isso natildeo eacute soluccedilatildeo Os alunos quando tecircm deficiecircncia o profes-sor desce e vai falar com eles no teacuterreo Mas isso natildeo eacute soluccedilatildeo eacute um paliativo e corre o risco de criar um comodismo de achar que estaacute resolvendo o problema e natildeo precisa (C1)

Bom a gente tem que ver Vai depender da deficiecircncia do aluno Se for deficiecircncia visual eacute ateacute complicado o curso pra quem tem esse problema Tem curso que o aluno com deficiecircncia visual consegue ter um desem-penho mas na Quiacutemica que tem muita coisa praacutetica de laboratoacuterio isso aiacute eacute uma coisa criacutetica que a coor-denaccedilatildeo pode orientar o aluno na sua escolha do curso vendo suas habilidades o que se sabe fazer (C2)

[] Natildeo estamos encontrando dificuldades porque natildeo estamos nos colocando a esse problema particularmen-te entendeu Natildeo estamos procurando dificuldades porque ainda natildeo estamos buscando o problema Talvez por ter uma necessidade pequena enfim (C3)

Natildeo Natildeo tem dificuldade natildeo tem necessidade natildeo houve necessidade (C4)

A indiferenccedila da coordenaccedilatildeo a escassez de acessibi-lidade fiacutesica e principalmente a falta de uma formaccedilatildeo ade-quada para lidar com alunos com deficiecircncia apresentou-se como elemento comum de atitudes apresentadas pelos coor-denadores Na situaccedilatildeo encontrada na instituiccedilatildeo investigada percebemos a predominacircncia do paradigma socioloacutegico da deficiecircncia em que as reaccedilotildees do grupo podem facilitar pela empatia ou prejudicar pelo preconceito ou incompreensatildeo o desenvolvimento global do indiviacuteduo E a atitude empaacutetica e compreensiva constitui uma exceccedilatildeo restrita a uma mino-ria de professores que trabalha diretamente com esses alunos (BEYER 2005)

Os alunos por sua vez relatam as suas proacuteprias dificul-dades no processo avaliativo

As dificuldades das mateacuterias do retorno das avalia-ccedilotildees que precisava melhorar com certa urgecircncia do preconceito dos professores e falta de atenccedilatildeo dos coordenadores tambeacutem com relaccedilatildeo aos acessos para as salas de aulas laboratoacuterios (A1)

Eacute uma coisa que eu volto a bater na mesma tecla dizer a mesma coisa Eacute que alguns passos das questotildees quan-do eu simplesmente natildeo sabia fazer porque natildeo tinha conseguido acompanhar em sala natildeo tinha conseguido enxergar na hora que o professor explicou Haacute uma espeacutecie de esquecimento uma amneacutesia nos professores que eles quando eu peccedilo comeccedilam a escrever bem mas logo depois voltam a escrever pequeno novamente E eu de tanto falar e muitas vezes com o mesmo profes-sor eu me sinto sinceramente me sinto constrangido e agraves vezes eu natildeo falo mais Eu me sinto constrangido e agraves vezes meus pais falam pra mim que eu natildeo posso fazer isso Mas eu ouvi desaforos algumas coisas ruins

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palavras ruins e isso faz com que eu me sinta constran-gido em pedir de novo Alguns tecircm atenccedilatildeo fazem o possiacutevel mas justificam por causa da infraestrutura da sala Conteuacutedo extenso quando eu ia copiar jaacute ti-nha sido apagado infelizmente A coordenaccedilatildeo ajuda pouco ateacute a sala da coordenaccedilatildeo eacute no andar superior os professores natildeo escutam e natildeo tem acessibilidade nenhuma aqui nada Estamos esquecidos (A2)

O que complica eacute a falta de retorno correccedilotildees notas baixas excesso de conteuacutedo o acesso aqui eacute horriacutevel e se chegar atrasado por isso pelo acesso lsquojaacute erarsquo Eles aqui natildeo entendem de dificuldades Eu jaacute estou acostumando (A3)

Tempo geralmente o tempo mesmo que coloque uma questatildeo mas agraves vezes essa questatildeo pode levar seis horas pra fazer Eles podem estabelecer um prazo de 1620h as 1820h pronto nem mais nem menos Os professores natildeo se interessam pras dificuldades nem conhecem a gente Isso dificulta (A4)

Esse caso de fazer prova em local diferente de ter que subir escadas e eu natildeo podendo natildeo tenho como subir natildeo existem rampas pro andar de cima O professor querer mudar de sala pra fazer a prova e eu ficar longe da turma Tudo isso pra ser mais confortaacutevel pra eles uma sala melhor e eu aqui embaixo sozinho sem ter com quem tirar duacutevidas e muitas vezes ficar com o celular pra falar com algum colega pra ele passar ao professor pra eu tirar duacutevidas e natildeo me prejudicar Acontece de eu cair e precisar de ajuda dos colegas tambeacutem pra sentar e levantar A estrutura aqui eacute ruim mesmo (A6)

O depoimento dos alunos remete sobretudo a uma criacute-tica do exame Haacute referecircncias a uma relaccedilatildeo de poder em que os meacutetodos de ensino e de avaliaccedilatildeo natildeo podem ser mudados com a falta de adaptaccedilotildees dos instrumentos de avaliaccedilatildeo para as necessidades educacionais especiacuteficas de cada deficiecircncia direito garantido por lei (BENEVIDES 2011 BEYER 2010

FERNANDES 2010 FERNANDES VIANA 2009 LUCKESI 2001 2005 2011)

Os dados oferecidos pelos alunos consultados revelam a inexistecircncia de discussotildees dos aspectos positivos e negati-vos na devoluccedilatildeo dos instrumentos pois os professores de modo geral natildeo devolvem a avaliaccedilatildeo tampouco a comen-tam configurando uma praacutetica avaliativa em que se enfatiza a obtenccedilatildeo de notas natildeo dando oportunidade agrave construccedilatildeo de novos conhecimentos O momento de devoluccedilatildeo dos instru-mentos constitui um momento de aprendizado para o aluno permitindo ao professor observar e investigar como o alu-no se posiciona diante do processo de ensino-aprendizagem (HOFFMANN 2005 LUCKESI 2001 2005 2011)

Essa perspectiva se distancia da avaliaccedilatildeo em sua con-cepccedilatildeo formativa visto que o instrumento avaliativo natildeo eacute usado pelos professores como recurso de informaccedilatildeo nem pode servir como um recurso para reformulaccedilotildees dos meacuteto-dos de ensino e avaliaccedilatildeo Cumpre mencionar igualmente que no Ensino Superior a avaliaccedilatildeo deve ter o compromisso com a reconstruccedilatildeo do conhecimento e a formaccedilatildeo para cida-dania (DEMO 2004 HADJI 2001 LUCKESI 2005 2011)

Contribuiccedilotildees para uma praacutetica avaliativa inclusiva

Sobre as sugestotildees para melhoria da praacutetica avaliativa cinco professores identificaram a necessidade de uma forma-ccedilatildeo sobre a temaacutetica e dois sugeriram a realizaccedilatildeo de seminaacute-rios isolados ou no curso que a instituiccedilatildeo de Ensino Superior pesquisada oferece por ocasiatildeo do ingresso do professor na instituiccedilatildeo

Os docentes indicaram a importacircncia de uma forma-ccedilatildeo baacutesica eou continuada dos profissionais envolvidos para

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a concretizaccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo adequada a esse alunado Identificar os alunos suas necessidades e suas singularidades satildeo tambeacutem aspectos importantes assim como a promoccedilatildeo de espaccedilos para o debate sobre avaliaccedilatildeo e inclusatildeo revelando que a falta de preparo se mostra o principal obstaacuteculo para a concretizaccedilatildeo de uma avaliaccedilatildeo inclusiva (BENEVIDES 2011)

Os coordenadores tambeacutem expressaram suas sugestotildees para esse alunado

Os preacutedios novos sem acesso com os mesmos proble-mas sem estrutura A universidade natildeo tem priorida-des soacute obstaacuteculos para trabalhar com as deficiecircncias O uacutenico auditoacuterio eacute no andar de cima E tem alunos de extensatildeo [que participam de projetos de extensatildeo da universidade] que tecircm deficiecircncia que natildeo conseguem subir pra ter orientaccedilatildeo com o professor e natildeo tecircm essa orientaccedilatildeo pois o professor natildeo desce e o aluno com problemas motores natildeo sobe Deve-se mudar isso (C1)

Deve melhorar a acessibilidade Natildeo sei nem como eacute que faz isso soacute estou pensando alto aqui Seria bom atualizar o sistema pra buscar na coordenaccedilatildeo alunos com deficiecircncia pois acabei de ver que eu natildeo tenho acesso nenhum Tambeacutem ajudar o aluno com defici-ecircncia a ser encaminhado para um curso especiacutefico jaacute que por exemplo como um aluno cego iraacute estudar Quiacutemica Laboratoacuterio Impossiacutevel (C2)

Eu natildeo sei a gente tem primeiro que conhecer a primeira sugestatildeo eacute essa Tem que pegar o pessoal do primeiro ano o pessoal que entra e fazer esse mapeamento um mapeamento retroativo pra pegar o pessoal que jaacute estaacute na universidade os alunos que jaacute fazem parte do corpo discente e mapear Se jaacute existe esse mapeamento eu natildeo conheccedilo talvez a univer-sidade deva conhecer e tem que repassar fazer com que a informaccedilatildeo chegue ateacute noacutes Porque se haacute essa informaccedilatildeo e a gente natildeo sabe que existe tem uma falta de comunicaccedilatildeo que deve ser superada Entatildeo

deve-se conhecer e se jaacute conhece fazer todo mundo conhecer e mapear a quem interessar as coordenaccedilotildees os departamentos Eu acho que esse eacute o ponto (C3)

Eu acho que deveria ter um levantamento jaacute na entrada do SISU [Sistema de Seleccedilatildeo Unificada] e ali ele ser cadastrado pra universidade e ele ter um encaminha-mento para um curso bem especiacutefico A partir disso o curso ser informado ser preparado pra isso ser dis-cutido o que seraacute necessaacuterio ser feito por aquele aluno e uma vez isso determinado a gente tentar resolver Eu penso que funcionaria legal assim (C4)

Os coordenadores relataram que deveria haver mais in-vestimentos estruturais com relaccedilatildeo agrave acessibilidade por par-te da instituiccedilatildeo com a adequaccedilatildeo dos espaccedilos fiacutesicos Assi-nalaram da mesma forma a necessidade de identificaccedilatildeo dos alunos com deficiecircncia visto que a ausecircncia de informaccedilotildees sobre onde estatildeo e o que curso fazem esses alunos na impossi-bilita o atendimento educacional adequado

Os alunos com deficiecircncia tambeacutem expuseram suas sugestotildees

Acho que as primeiras vezes que me senti discriminado foi aqui Que os professores natildeo faccedilam preacute-julgamen-tos como trabalhar em laboratoacuterios Muitos falaram que eu natildeo podia mas passei em seleccedilatildeo e natildeo fiquei por conta da minha deficiecircncia fiacutesica Isso me faz questionar sobre minhas capacidades e se realmente eu continuaria a fazer Quiacutemica se faria Quiacutemica Tem que acabar com os preconceitos com as pessoas diferentes como um professor meu que disse na aula dele na minha presenccedila que as pessoas poderiam olhar com quem iriam se relacionar se a pessoas tecircm algum aleijado hemofiacutelico ou homossexual na famiacutelia pra natildeo se relacionarem pra que natildeo nasccedila mais gente assim [] Tambeacutem com relaccedilatildeo agrave acessibilidade pois a aacuterea que escolhi no mestrado o laboratoacuterio natildeo tem

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acesso com relaccedilatildeo agrave estrutura Eu faccedilo o trabalho soacute de escrever em casa outros alunos que fizessem a parte experimental porque o laboratoacuterio daqui pra chegar laacute eacute um caminho de terra de pedra Ultimamente teve umas mudanccedilas mas estaacute no segundo andar que eacute mesmo que nada Aiacute acabo desenvolvendo um trabalho soacute escrevendo mesmo mas eacute difiacutecil porque eacute diferente vocecirc acompanhar um trabalho assim soacute de boca e vocecirc estar no laboratoacuterio realmente vendo o que estaacute acontecendo Sinto falta Ateacute penso que chato Seraacute que natildeo devia ter escolhido outra aacuterea Mas eu gosto bastante e queria estar em laboratoacuterio Enfim foram situaccedilotildees muito chatas que natildeo deveriam acontecer na universidade pois os professores e coordenadores estatildeo utilizando um espaccedilo que era pra educar e natildeo para deseducar Natildeo era pra ensinar preconceitos para as pessoas discriminaccedilatildeo e o que eu acho pior eacute usar o espaccedilo da sala de aula pra isso um cargo puacuteblico pra isso Eacute um absurdo (A1)

Primeiramente um dos principais passos deveria ser o professor ele conhecer a sua turma Natildeo saber de tudo antes mas que tivesse certo bom senso quando o aluno tem deficiecircncia Ele natildeo julgar essa deficiecircncia mesmo que seja baixa visatildeo ou pouca deficiecircncia mo-tora O professor natildeo deve arredondar pra menos o problema sem tomar cuidado Tomar cuidado em natildeo generalizar Mas eacute o que eu vejo na universidade eacute natildeo prestarem a atenccedilatildeo nas necessidades dos seus alunos [] No mais eacute isso atentar para as reais necessidades das pessoas (A2)

Tirar esses batentes das salas Os professores me deixam ficar em qualquer lugar da sala fico onde daacute muitas vezes perto da porta e acaba atrapalhando a entrada e agraves vezes natildeo escuto direito Pra mim (sic) entrar e sair da sala preciso que abram a porta Jaacute me falavam dessas dificuldades antes de eu entrar aqui mas com a ajuda dos amigos neacute Que me levam pros cantos Aiacute como tem batentes nas salas eles levantam

os amigos ajudam muito nisso no deslocamento Mas vivo de precisar da ajuda dos amigos pois estar aqui na universidade eacute muito difiacutecil A universidade deveria nos ajudar e natildeo excluir (A3)

A avaliaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave minha deficiecircncia seria falar alto e explicado pra eu escutar na explicaccedilatildeo ser mais devagar e clara Porque se o professor fala baixo eu fico com receio de perguntar de novo Per-guntar e o pessoal zoar Tem um professor ou soacute 1 que eacute preocupado com a aprendizagem do aluno o resto eacute indiferente Agraves vezes estamos presente em sala e levamos falta Acho que o professor dever escolher ser professor natildeo pra se vingar do que fizeram ou do que ele passou porque ele tem que escolher pra repassar o conhecimento O conhecimento natildeo deve ser restrito ele deve ser partilhado Partilhar e natildeo restringir e natildeo exigir o que ele restringiu (A4)

Fazer provas trabalhos junto com a turma sem que eu fique soacute Antes de o professor marcar locais de aulas de provas eles conversarem com a gente pra saber se estaacute tudo bem se a gente pode fazer ou entatildeo ele fornecer locais possiacuteveis pra gente ter acesso e natildeo soacute local que decirc pra toda a turma mas tambeacutem pra gente ir Outra questatildeo eacute de acessar os andares superiores um elevador seria essencial pra isso pois a cada ano estaacute se passando e as pessoas com deficiecircncia estatildeo ingressando na universidade com frequecircncia Entatildeo jaacute estaacute mais que na hora de se fazer isso Sou bolsista de extensatildeo mas tenho dificuldades de me encontrar com o orientador pois a sala do orientador fica no andar de cima no qual natildeo tenho acesso e o orientador natildeo desce e natildeo facilita o meu trabalho como bolsista Injusto neacute (A6)

Quanto agraves avaliaccedilotildees a questatildeo de aumentar a letra o tempo O resto eu estou acostumado Aqui falta tudo natildeo tem acesso a nada tudo eacute bem difiacutecil as pessoas natildeo querem conhecer problemas Eles deveriam ter

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE

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mais atenccedilatildeo e menos descaso com o aluno com rela-ccedilatildeo a acesso avaliaccedilotildees Conhecer que na sala nem todo mundo eacute igual e sermos respeitados por isso (A7)

Os alunos entrevistados sugeriram a necessidade de sua proacutepria identificaccedilatildeo e de seu acompanhamento na ins-tituiccedilatildeo ndash visto que a ausecircncia de informaccedilotildees sobre onde es-tatildeo e o que fazem dificulta a sua inclusatildeo educacional Que o professor possa com essas informaccedilotildees planejar-se sabendo das necessidades especiacuteficas do aluno ou pelo menos que procure conversar com os alunos As dificuldades de acessi-bilidade fiacutesica tambeacutem aparecem no discurso dos estudantes geralmente natildeo tecircm acesso a todas as dependecircncias dos preacute-dios da universidade A indiferenccedila e o preconceito de alguns professores causam grandes impactos na aprendizagem do aluno desmotivando-os levando-os a questionarem a esco-lha do curso e ameaccedilando a sua permanecircncia na universida-de Em relaccedilatildeo ao preconceito foi expresso que o professor na condiccedilatildeo de educador natildeo deveria possuir preconceito e sequer repassaacute-los em sala de aula mesmo que de forma natildeo intencional No paradigma socioloacutegico Beyer (2010) escla-rece o quanto o preconceito eacute prejudicial agrave inclusatildeo social e educacional dos alunos com deficiecircncia de maneira geral e na avaliaccedilatildeo de sua aprendizagem especificamente

Conclusatildeo

Uma avaliaccedilatildeo da aprendizagem inclusiva para o aluno com deficiecircncia tem se mostrado historicamente um desafio Mesmo nos dias atuais os atos avaliativos satildeo fortemente in-fluenciados pelas antigas praacuteticas examinativas que apresen-tam dificuldade expressiva em se desvencilharem de elemen-tos como a medida a comparaccedilatildeo e a verificaccedilatildeo estaacutetica do

desempenho dos aprendizes classificados em uma nota Essa forma de avaliar eacute prejudicial para todos os alunos mas em especial para o alunado com deficiecircncia excluiacutedo por causa da singularidade de suas necessidades educacionais (BEYER 2004 LIMA 2008 LUCKESI 2011 HOFFMANN 2005)

No discurso dos alunos as dificuldades identificadas no que se refere agrave avaliaccedilatildeo da aprendizagem refletiu a fal-ta de preparo dos docentes e coordenadores dos cursos para lidar com suas necessidades educacionais As dificuldades se aplicam a todos os estudantes que ainda satildeo avaliados nos moldes excludentes do exame mas o prejuiacutezo eacute ainda maior para o educando que apresenta algum tipo de deficiecircncia O resultado das avaliaccedilotildees natildeo eacute discutido com desperdiacutecio de um momento importante do processo de ensino-aprendi-zagem Aleacutem disso os alunos natildeo recebem os instrumentos ndash geralmente provas ndash o que fomenta a ideia de que natildeo haacute modificaccedilotildees ou inovaccedilotildees no instrumental de avaliaccedilatildeo com a possibilidade do mesmo instrumento ser utilizado repetida-mente nos semestres letivos seguintes

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem da forma que vem acon-tecendo na IFES pesquisada natildeo oferece as condiccedilotildees ne-cessaacuterias para o desenvolvimento do aluno com deficiecircncia As praacuteticas docentes encontradas na instituiccedilatildeo acabam por reproduzir a exclusatildeo presente na sociedade natildeo possibilitan-do a esse aluno uma participaccedilatildeo ativa e democraacutetica em sua vida acadecircmica Direitos garantidos por lei como adaptaccedilotildees na avaliaccedilatildeo e concessatildeo a um maior periacuteodo de tempo natildeo satildeo respeitados Diante de uma formaccedilatildeo docente precaacuteria para lidar com esses aprendizes uma melhor avaliaccedilatildeo se re-aliza atualmente sobretudo devido agrave boa vontade de alguns professores diante das peculiaridades de cada aluno (BEYER 2010 BRASIL 2006)

AVALIACcedilAtildeO DA APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICIEcircNCIA EM CURSOS DAS CIEcircNCIAS EXATAS ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUICcedilAtildeO DE ENSINO SUPERIOR DA REDE PUacuteBLICA FEDERAL DE

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Referecircncias Bibliograacuteficas

DEMO P Universidade aprendizagem avaliaccedilatildeo horizon-tes reconstrutivos Porto Alegre Mediaccedilatildeo 2005BENEVIDES M C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo de caso em uma instituiccedilatildeo de ensino superior da rede puacuteblica de Fortaleza-Cearaacute 2011 179f Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza-CE 2011BEYER H O Inclusatildeo e avaliaccedilatildeo na escola de alunos com necessidades especiais Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2010BRASIL Formaccedilatildeo continuada a distacircncia de professores para o atendimento educacional especializado deficiecircncia fiacutesica In SCHIRMER C R BROWNING N BERSCH R DE C R MACHADO R (Coords) Satildeo Paulo MECSEESP 2006FERNANDES T L G Avaliaccedilatildeo da aprendizagem de alunos com deficiecircncia estudo documental das diretrizes oficiais 2010 152 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira) ndash Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2010 FERNANDES T L G VIANA T V Alunos com Necessida-des Educacionais Especiais (NEEs) avaliar para o desenvol-vimento pleno de suas capacidades Estudos em Avaliaccedilatildeo Educacional Satildeo Paulo v 20 n 43 p 201-213 maioago 2009HADJI C Avaliaccedilatildeo desmistificada Porto Alegre Artmed 2001HOFFMANN J Pontos e contrapontos do pensar ao agir em avaliaccedilatildeo Porto Alegre Editora Mediaccedilatildeo 2005LUCKESI C C Avaliaccedilatildeo da aprendizagem componente do ato pedagoacutegico Satildeo Paulo Cortez 2011______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem na escola reelaboran-do conceitos e recriando a praacutetica Salvador Malabares 2005

______ Avaliaccedilatildeo da aprendizagem escolar Satildeo Paulo Cortez 2001PERRENOUD P Avaliaccedilatildeo da excelecircncia agrave regulaccedilatildeo das aprendizagens ndash entre duas loacutegicas Porto Alegre Artmed 1999VIANNA H M Avaliaccedilatildeo educacional teoria planejamen-to modelos Satildeo Paulo IBRASA 2000VYGOTSKY L S A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 2000

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CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ

Tereza Liduina Grigoacuterio FernandesLucimeire Alves Moura

Edson Silva SoaresTania Vicente Viana

Introduccedilatildeo

No decorrer da histoacuteria a educaccedilatildeo de crianccedilas com al-tas habilidades1 ou superdotaccedilatildeo sempre foi motivo de discus-satildeo em culturas de diferentes povos A literatura especializada faz breve referecircncia ao interesse por crianccedilas com capacida-des notaacuteveis em periacuteodos histoacutericos remotos aludindo inclu-sive agrave necessidade de segregaacute-las para conferir-lhes assistecircn-cia educacional apropriada Na concepccedilatildeo de Alencar (1986) Confuacutecio foi um dos primeiros filoacutesofos a interceder pela identificaccedilatildeo e atendimento dessas crianccedilas que costumavam ser encaminhadas agrave Corte para aprimorar suas capacidades literaacuterias No tratado A Repuacuteblica Platatildeo advogou o reconhe-cimento das crianccedilas de ouro que deveriam ser educadas nos campos da Filosofia e da Metafiacutesica bem como preparadas para postos de lideranccedila na sociedade o filoacutesofo se contrapocircs portanto agraves concepccedilotildees vigentes que pregavam uma lideran-ccedila de caraacuteter hereditaacuterio circunscrita agrave elite aristocraacutetica De

1 A expressatildeo altas habilidades surge como uma denominaccedilatildeo recente na literatura especializada a fim de reduzir preconceitos associados historicamente ao vocaacutebulo superdotado As ideias usuais decorrentes do termo superdotado favorecem muitos equiacutevocos como a noccedilatildeo de um ser humano perfeito com habilidades elevadas em todas as aacutereas do saber e do fazer e de que seria sobretudo predes-tinado ao sucesso acadecircmico e profissional em consequecircncia de sua inteligecircncia Assim sendo adotaremos a expressatildeo ldquoaltas habilidadesrdquo neste estudo que indica genericamente a presenccedila de uma ou mais habilidades elevadas ou acima da meacutedia populacional e descreve de modo fidedigno esse alunado (VIRGOLIM 2007)

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modo anaacutelogo no seacuteculo XVI Suleiman o Magniacutefico enviou emissaacuterios a todo o impeacuterio turco para identificar as crian-ccedilas mais inteligentes e as mais fortes presentes em quaisquer classes sociais a fim de instruiacute-las como artistas saacutebios ou chefes de guerra numa escola fundada para esse propoacutesito em Constantinopla (ALENCAR E S 1986 ANASTASI URBI-NA 2000 NOVAES 1979)

Embora jaacute se tenha avanccedilado consideravelmente no sentido de uma melhor compreensatildeo das caracteriacutesticas e ne-cessidades educacionais dessas pessoas observa-se na atua-lidade pouco investimento nesse potencial humano No Bra-sil sua identificaccedilatildeo ainda eacute escassa mesmo com a existecircncia de diretrizes oficiais do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) nesse sentido (BRASIL 2005 2007 2010)

As pessoas com altas habilidades tambeacutem compotildeem o alunado da Educaccedilatildeo Especial demonstrando capacidades elevadas em uma ou mais aacutereas do saber ou do fazer De acor-do com o pensamento de Mettrau (2000) representam um patrimocircnio social da humanidade que precisa ser reconheci-do e valorizado pela natureza das suas capacidades no acircmbito educacional e social Como agente responsaacutevel pelo desenvol-vimento desse potencial estaacute a escola aqui representada pela figura do professor que como facilitador desse processo deve acreditar na capacidade de todos os seus alunos e incentivaacute--los a desenvolver trabalhos significativos e relevantes tanto para a sua realizaccedilatildeo pessoal quanto para que ofereccedilam uma contribuiccedilatildeo social estimulando-os na produccedilatildeo do novo e do diferente

Assim o ambiente escolar deve se consolidar como um espaccedilo para a identificaccedilatildeo e progresso das diversas habilida-des humanas Cumpre considerar a multiplicidade de situa-ccedilotildees em que a inteligecircncia se manifesta segundo as necessi-

dades baacutesicas do estudante para seu aperfeiccediloamento como ser humano integral Nessa perspectiva podemos assinalar que tambeacutem a pessoa com deficiecircncia pode ser definida em funccedilatildeo de suas capacidades contribuindo de forma relevan-te para a evoluccedilatildeo do saber Beethoven por exemplo compocircs sua famosa Nona Sinfonia quando estava completamente sur-do (ALENCAR VIANA 2002 BRASIL 1999a 1999b)

Diante do exposto este trabalho objetiva de modo ge-ral identificar alunos surdos com altas habilidades no Ensino Fundamental atraveacutes de uma avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutes-tica realizada com o auxiacutelio do professor Constitui dessa maneira um meacutetodo de avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica de altas habilidades em pessoas com surdez Visto que o profes-sor eacute o profissional que participa mais sistematicamente do cotidiano dos seus alunos apresenta melhores condiccedilotildees de reconhecer suas caracteriacutesticas pessoais e seus desempenhos comparando-os com o esperado para a capacidade de reali-zaccedilatildeo de sua faixa etaacuteria Assim sendo pode colaborar ativa-mente na identificaccedilatildeo desse alunado (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Cumpre mencionar que a estrateacutegia de observaccedilatildeo dirigida para identificar altas habilidades com o auxiacutelio do professor apresenta eficaacutecia estimada em 91 e constitui um procedimento mais adequado ao estaacutegio inicial da identifica-ccedilatildeo com a seleccedilatildeo de um primeiro grupo de alunos em que se encontram os que demonstram altas habilidades Faz-se necessaacuteria uma avaliaccedilatildeo posterior agrave observaccedilatildeo do profes-sor para identificar de modo mais preciso os aprendizes com altas habilidades (GUENTHER 2000 VIANA 2005)

A importacircncia deste estudo se justifica como uma al-ternativa ao reconhecimento tradicional de altas habilidades cujos testes psicomeacutetricos com resultados em Quociente de

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Inteligecircncia (QI)2 aleacutem de onerosos satildeo de uso exclusivo do psicoacutelogo e apresentam conteuacutedo restrito abordando apenas as convencionais aacutereas acadecircmicas da loacutegico-matemaacutetica e linguagem verbal A investigaccedilatildeo eacute relevante da mesma for-ma pelo fato de ampliar o instrumental de avaliaccedilatildeo diagnoacutes-tica de altas habilidades para o alunado com algum tipo de deficiecircncia no caso a surdez A pessoa com deficiecircncia passa a ser vista assim sob a perspectiva de suas capacidades a partir de uma visatildeo multidimensional das potencialidades do indiviacuteduo ao inveacutes de ser definida apenas em funccedilatildeo do deacutefi-cit que porventura apresente como ocorre tradicionalmente

Para Aleacutem da Sala de Aula Altas Habilidades em Muacuteltiplas Dimensotildees

A concepccedilatildeo de altas habilidades tem sido acompanha-da de amplas discussotildees em muitos paiacuteses envolvendo opini-otildees e teorias divergentes O proacuteprio conceito de modo geral tem evoluiacutedo de uma concepccedilatildeo unidimensional centrada em habilidades acadecircmicas para uma compreensatildeo multidimen-sional voltada para a totalidade do indiviacuteduo e para as rela-ccedilotildees que estabelece com o ambiente fiacutesico e social As pessoas com altas habilidades correspondem a uma proporccedilatildeo de 3 a 5 da populaccedilatildeo mundial presente em homens e mulheres de todas as classes sociais Demonstram uma ou mais capa-cidades elevadas acima da meacutedia populacional (ALENCAR E S 2000 BRASIL 1995 1999a 2005 GUENTHER 2000 NOVAES 1979 SABATELLA 2008 VIANA 2003 2004 WINNER 1998)

2 O QI eacute atualmente criticado por se ater a aspectos verbais e loacutegico-matemaacuteticos e por vincular a inteligecircncia agrave hereditariedade advogando uma concepccedilatildeo inatista das capacidades Nos dias atuais o QI eacute considerado como um modo de predizer o desempenho acadecircmico mas natildeo a inteligecircncia de forma geral (ANASTASI URBINA 2000)

O termo superdotado tem sido recentemente questio-nado e rejeitado por especialistas da aacuterea pelo fato do prefixo ldquosuperrdquo sugerir a ideia de um desempenho extraordinaacuterio in-clusive sobre-humano Conveacutem assinalar igualmente a con-cepccedilatildeo inatista de inteligecircncia vinculada aos primoacuterdios da Psicometria e aos testes de QI de origem bioloacutegica ou geneacute-tica a inteligecircncia seria um dom jaacute presente no nascimento estaacutevel e que se desenvolveria independentemente das con-diccedilotildees ambientais o que de fato natildeo corresponde agrave realida-de Toda capacidade mesmo que seja comprovada uma base geneacutetica ou cerebral necessita de estimulaccedilatildeo ambiental para se desenvolver Em caso contraacuterio natildeo se desenvolve ficando estagnada (ALENCAR E S 2001)

A representaccedilatildeo de Renzulli (2004) psicoacutelogo da Uni-versidade de Connecticut eacute usualmente referida na atualida-de por transpor a identificaccedilatildeo restrita a aptidotildees cognitivas e conferir ecircnfase a variaacuteveis criativas e motivacionais Em seu Modelo dos trecircs aneacuteis pressupotildee que as altas habilidades re-sultam da interaccedilatildeo de trecircs caracteriacutesticas i) aptidatildeo acima da meacutedia ii) criatividade elevada e iii) envolvimento com a tare-fa A aptidatildeo acima da meacutedia deve permanecer relativamente estaacutevel e natildeo necessita ser excepcional a criatividade elevada se remete agrave flexibilidade e agrave originalidade do pensamento e o envolvimento com a tarefa remete a caracteriacutesticas de perso-nalidade como persistecircncia dedicaccedilatildeo esforccedilo e autoconfian-ccedila Cumpre mencionar que as altas habilidades residem exa-tamente no ponto de interseccedilatildeo desses trecircs elementos Duas caracteriacutesticas contudo costumam indicar pessoas talentosas

A proposta de Renzulli (2004) possui o meacuterito de reco-nhecer de maneira simples e praacutetica um largo contingente de sujeitos cujas capacidades referem expressotildees da inteligecircncia em qualquer aacuterea do saber ou do fazer Desse modo pessoas

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA198 d d 199

com altas habilidades em aacutereas tatildeo diversificadas como aca-decircmicas musicais e motoras podem ser rapidamente iden-tificadas por intermeacutedio da presenccedila de atributos criativos e motivacionais associados a um desempenho situado acima da meacutedia da populaccedilatildeo comparaacutevel

Na deacutecada de 1980 Howard Gardner da Universidade de Harvard apresentou uma nova concepccedilatildeo de inteligecircncia que repercutiu sobre o conceito de altas habilidades em con-traposiccedilatildeo agrave visatildeo unitaacuteria dos testes de QI3 Assim estabe-leceu o reconhecimento de que as habilidades humanas po-deriam se apresentar em muitas aacutereas e de que a inteligecircncia natildeo poderia ser medida somente atraveacutes de respostas sobre conteuacutedos escolares em testes convencionais Diante disso Gardner (1994 1995 2001) delimitou ateacute o momento oito tipos de inteligecircncia presentes no ser humano como capa-cidades universais I) linguiacutestica II) loacutegico-matemaacutetica III) espacial IV) corporal-cinesteacutesica V) musical VI) interpesso-al VII) intrapessoal e VIII) naturalista (CAMPBELL 2000 GARDNER 1994 1995 2001)

Com base nessa perspectiva amplia-se a noccedilatildeo de inte-ligecircncia que pode ser estendida para pessoas que apresentem limitaccedilotildees sensoriais e inclusive mentais Desse modo as inteligecircncias seriam potenciais que mesmo com base geneacute-tica ou cerebral podem ou natildeo ser ativados de acordo com os valores da cultura especiacutefica das oportunidades disponiacuteveis e das decisotildees pessoais tomadas por indiviacuteduos famiacutelias pro-fessores dentre outras pessoas proacuteximas (GARDNER 1994 1995 2001)

3 A Teoria das Inteligecircncias Muacuteltiplas (IM) foi elaborada como uma reaccedilatildeo agrave Psicometria e aos testes de QI Gardner (1994 1995 2001) trabalhou com sujeitos detentores de perfis cognitivos diferenciados como pacientes com lesatildeo cerebral e pessoas com altas habilidades

Eacute relativamente comum confundir a pessoa que apre-senta altas habilidades com o gecircnio o que interpotildee mais um obstaacuteculo agrave identificaccedilatildeo desse alunado Em relaccedilatildeo agrave pessoa com altas habilidades o gecircnio estaria em um patamar supe-rior O gecircnio com efeito eacute um indiviacuteduo que realmente apre-senta um desempenho iacutempar e extraordinaacuterio A incidecircncia estatiacutestica da genialidade eacute extremamente reduzida estima-da numa proporccedilatildeo de apenas uma pessoa para cada milhatildeo dificultando assim pesquisas com amostras amplas e anaacutelise quantitativa De modo geral procede-se a um estudo biograacute-fico de personalidades eminentes A obra do gecircnio eacute capaz de transcender limitaccedilotildees temporais e espaciais e permanecer atual sendo por conseguinte de natureza universal Einstein Freud Leonardo da Vinci e Santos Dumont satildeo exemplos de pessoas que demonstraram genialidade alterando de forma bastante original um determinado campo do saber (ALEN-CAR E S 2001 BRASIL 1999a 1999b 2007)

Conveacutem esclarecer as caracteriacutesticas do sujeito talento-so que se situaria por outro lado em um niacutevel abaixo da pes-soa com altas habilidades O talentoso se destaca da multidatildeo por meio de um desempenho significativo em algum setor das atividades humanas O termo descreve de modo geral uma habilidade especiacutefica como musical ou artiacutestica efetuada de maneira especialmente elaborada superior agrave capacidade de realizaccedilatildeo da maioria Instrumentos de medida natildeo satildeo ne-cessaacuterios para a identificaccedilatildeo de talentos visto que mesmo o cidadatildeo comum pode reconhececirc-lo atingido por um estado de admiraccedilatildeo e enlevo O talento eacute encontrado em cerca de 25 da populaccedilatildeo Altas habilidades genialidade e talento se distribuem portanto igualmente na populaccedilatildeo mundial manifestando-se em homens e mulheres em todo o mundo independentemente de credo ou classe social bem como em

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pessoas com algum tipo de deficiecircncia inclusive em casos de deficiecircncia intelectual4

O conceito contemporacircneo de altas habilidades eacute de natureza multidimensional posto remeter agrave compreensatildeo do sujeito em sua totalidade nas diversas relaccedilotildees que estabele-ce com o ambiente fiacutesico e social Importa referir a interde-pendecircncia de fatores geneacuteticos e ambientais na determinaccedilatildeo de altas habilidades A participaccedilatildeo geneacutetica das capacidades eacute observada na distribuiccedilatildeo igualitaacuteria das altas habilidades em toda a populaccedilatildeo mundial sem distinccedilotildees de gecircnero ou origem social A incidecircncia eacute tambeacutem constatada em pessoas com deficiecircncia Contudo a estimulaccedilatildeo ambiental fiacutesica e social eacute necessaacuteria para o desenvolvimento dessas capacida-des (ALENCAR M L 2003 BRASIL 1999a)

A evoluccedilatildeo histoacuterica do conceito de inteligecircncia apre-sentou por conseguinte repercussotildees diretas para a compre-ensatildeo das caracteriacutesticas e necessidades das pessoas com altas habilidades Acarretou da mesma maneira a evoluccedilatildeo simul-tacircnea dos procedimentos de identificaccedilatildeo desses sujeitos ini-cialmente restritos a instrumentos de medida intelectual com resultados organizados em QI Os processos atuais de reco-nhecimento de altas habilidades satildeo diversificados e incluem a percepccedilatildeo de pais e educadores Visto que o professor eacute o profissional que participa mais sistematicamente do cotidia-no dos seus alunos apresenta condiccedilotildees mais favoraacuteveis de reconhecer suas caracteriacutesticas pessoais e seus desempenhos comparando-os com o niacutevel esperado da capacidade de reali-

4 Pessoas com siacutendrome savant usualmente apresentam deficiecircncia intelectual autismo ou ambos A siacutendrome eacute seis vezes maior em homens do que em mulheres Costumam apresentar habilidades nos seguintes domiacutenios artes visuais (desenho realista) muacutesica e caacutelculo mental Alguns satildeo capazes de efetuar caacutelculos de calendaacuterio prevendo por exemplo o dia da semana em que determinada data cairaacute daqui a vaacuterios anos (WINNER 1998)

zaccedilatildeo de uma determinada faixa etaacuteria (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Capacidades Silentes O filoacutesofo grego Aristoacuteteles que viveu cerca de 366 a

C valorizava a inteligecircncia humana como uacutenica forma de al-canccedilar a verdade e acreditava que o pensamento era desenvol-vido por meio da linguagem e da fala Com base nesse posicio-namento afirmava que como o surdo natildeo pensa natildeo poderia ser considerado humano (GOLDFELD 1997)

Desde eacutepocas remotas discute-se sobre a inteligecircncia humana No caso especiacutefico da pessoa com surdez o fato de natildeo ouvir natildeo impossibilita que seu potencial seja identificado e reconhecido Confirmando esse pensamento Dupret (1998) afirma explicitamente que o fato de o surdo apresentar um deacute-ficit sensorial natildeo possuir percepccedilatildeo auditiva ou apresentaacute-la minimamente natildeo eacute suficiente para lhe conferir o pesado es-tigma do diagnoacutestico de incapaz

Sobre essa singularidade

A condiccedilatildeo moral a qual estabelece que somos todos iguais perante a lei natildeo deve prevalecer sobre a questatildeo eacutetica de que somos diferentes frente a noacutes mesmos Eacute esta diferenccedila que marca nossa individualidade e singu-laridade ao mesmo tempo em que se coloca como algo generalizaacutevel a todos Eacute ela que me permite entender o surdo como diferente do ouvinte pelo fato de natildeo poder escutar mas natildeo porque suas capacidades estatildeo previamente limitadas (DUPRET 1998 p 13)

Porque a pessoa com surdez natildeo tem acesso agrave liacutengua fa-lada natildeo significa que natildeo tenha outra ferramenta que possi-bilite uma forma efetiva de comunicaccedilatildeo Pontuamos assim que a dificuldade de expressatildeo da pessoa surda estaacute vinculada

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA202 d d 203

agrave acessibilidade da informaccedilatildeo e natildeo a um deacuteficit intelectu-al pois a nossa diferenccedila estaacute marcada pela individualidade e singularidade que eacute comum a todos os indiviacuteduos Isso faz com que a pessoa com surdez seja diferente do ouvinte pelo fato de apresentar um deacuteficit sensorial e natildeo porque seu po-tencial cognitivo seja por causa disso limitado

Na compreensatildeo de Skliar (2004 p 71)

Quando nos referimos ao potencial cognitivo do sur-do nos remetemos imediatamente agrave qualidade das inter-relaccedilotildees que este manteacutem com as pessoas que o rodeiam Por esta razatildeo acreditamos que as crianccedilas surdas embora sendo filhas de ouvintes devem ter acesso o mais cedo possiacutevel agrave liacutengua de sinais e conse-quentemente agrave comunidade surda

Eacute oportuno afirmar que com o domiacutenio da liacutengua de sinais o indiviacuteduo com surdez adquire novos conhecimentos e consequentemente seraacute capaz de atos criativos Eacute entatildeo con-tradita a proposta oralista5 que provoca no educador baixas expectativas pedagoacutegicas no que se refere ao processo de co-nhecimento de crianccedilas surdas justificando seu fracasso es-colar em funccedilatildeo do deacuteficit Desse modo confere agrave surdez a responsabilidade pelas dificuldades em seu desenvolvimento cognitivo e em sua educaccedilatildeo

A tradicional explicaccedilatildeo de atrasos cognitivos da pessoa com surdez se sustenta na relaccedilatildeo entre pensamento e lingua-gem desconsiderando-se fatores como os tipos de experiecircncias por ela vivenciados a qualidade das suas interaccedilotildees sociais a

5 O Oralismo ou filosofia oralista visa agrave integraccedilatildeo da crianccedila surda na comunidade de ouvintes dando-lhe condiccedilotildees de desenvolver a liacutengua oral (no caso do Brasil a liacutengua portuguesa) O Oralismo concebe a surdez como uma deficiecircncia que deve ser minimizada atraveacutes da estimulaccedilatildeo auditiva Essa estimulaccedilatildeo possibilitaria a aprendizagem da liacutengua portuguesa e levaria a crianccedila surda a integrar-se na comunidade ouvinte e a desenvolver sua personalidade como a de um ouvinte (LORENZINI 2004)

existecircncia da liacutengua de sinais na famiacutelia ou na comunidade ou-vinte da qual faz parte dentre outros fatores (SKLIAR 2004)

Dessa forma um instrumento de avaliaccedilatildeo educacio-nal diagnoacutestica baseado numa concepccedilatildeo multidimensional de inteligecircncia poderaacute contribuir de modo efetivo para o crescimento e autonomia de alunos com surdez muitas vezes ainda considerados pessoas com reduzida possibilidade de crescimento intelectual

Avaliaccedilatildeo Educacional Diagnoacutestica em Busca de Novas Trilhas

Como preacute-requisito das accedilotildees educacionais a avaliaccedilatildeo diagnoacutestica de altas habilidades evita o desperdiacutecio do poten-cial humano imprescindiacutevel para os tempos atuais caracte-rizados por uma renovaccedilatildeo contiacutenua do conhecimento Para que o alunado surdo com altas habilidades seja corretamente identificado a escola desempenha um papel fundamental nes-se processo demonstrado pela importacircncia dos professores na observaccedilatildeo de indiacutecios de altas habilidades Cumpre men-cionar que ainda persistem dificuldades centrais na aborda-gem do diagnoacutestico de altas habilidades para pessoas surdas no que se refere agrave significativa escassez de instrumentos uti-lizados para essa identificaccedilatildeo (GUENTHER 2000 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

Para a identificaccedilatildeo desses indiviacuteduos devem ser consi-derados os diversos traccedilos que determinam as altas habilidades em diferentes niacuteveis e intensidades Para o aluno com surdez a identificaccedilatildeo de altas habilidades valoriza suas capacidades e seu papel ativo como cidadatildeo para o progresso do saber

Diante da dificuldade da avaliaccedilatildeo diagnoacutestica de alu-nos com deficiecircncia que apresentam altas habilidades foi elaborada uma lista de indicadores para alunos com surdez

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA204 d d 205

por ocasiatildeo desse estudo Embora a literatura especializada mencione a presenccedila de altas habilidades e talentos em pes-soas com deficiecircncia os exemplos costumam se limitar agraves pessoas com siacutendrome savant Os estudos de identificaccedilatildeo e atendimento a pessoas com deficiecircncia que tambeacutem apresen-tam altas habilidades e talentos satildeo ainda pioneiros tanto em acircmbito nacional como internacional (NEGRINI 2004 UFC 2006 WINNER 1998)

Assim pretendemos oferecer aos professores que atu-am na aacuterea da surdez um instrumento simples e uacutetil aces-siacutevel para os profissionais da Educaccedilatildeo que pode constituir efetivamente um norte na identificaccedilatildeo desses alunos

Percurso Metodoloacutegico

Foi realizada uma pesquisa qualiquantitativa na forma de um estudo de caso no segundo semestre de 20056 numa Escola Especial para surdos na cidade de Fortaleza-Cearaacute Na ocasiatildeo foram observados 411 alunos surdos do 1ordm ao 8ordm ano do Ensino Fundamental

Foi elaborada uma lista de indicadores de altas habili-dades para o aluno surdo A lista inicial foi analisada por sete especialistas da aacuterea da surdez que propuseram algumas mo-dificaccedilotildees e foi entatildeo submetida agrave preacute-testagem A escala final foi aplicada pelo professor com o apoio de um dos pesquisa-dores e a presenccedila de um inteacuterprete visto que a metodolo-gia de ensino da escola citada se voltava para o bilinguismo7

6 Sugere-se que a aplicaccedilatildeo de instrumentos de observaccedilatildeo em sala de aula para a identificaccedilatildeo de altas habilidades ocorra no segundo semestre letivo quando o professor jaacute demonstra um maior conhecimento das caracteriacutesticas cognitivas e afetivas dos seus alunos (VIANA 2005) 7 O biliacutenguismo advoga que a pessoa com surdez deve dominar como liacutengua materna a liacutengua de sinais que seria a sua liacutengua natural e como segunda liacutengua

Para realizar a observaccedilatildeo os professores participaram de um curso de formaccedilatildeo continuada sobre a temaacutetica com 60 ho-ras-aula pois a aplicaccedilatildeo de instrumentos de observaccedilatildeo ou listas de indicadores para a identificaccedilatildeo de altas habilidades requer domiacutenio conceitual da temaacutetica

O instrumento eacute composto de 36 itens conforme se pode observar no Quadro 1 com habilidades que podem ser encontradas em alunos com surdez que deveratildeo ser identifi-cadas pelo professor em sala de aula As sentenccedilas referem capacidades diversificadas baseadas numa concepccedilatildeo mul-tidimensional de inteligecircncia Foi adotada uma distribuiccedilatildeo aleatoacuteria dos itens para evitar rotinas de respostas As asserti-vas foram redigidas de modo claro e conciso com vocabulaacuterio acessiacutevel a fim de tornar o instrumento de uso praacutetico cuja aplicaccedilatildeo utilize um curto periacuteodo de tempo com o objetivo de natildeo prejudicar as atividades do professor em sala de aula Com a lista em matildeos o professor eacute solicitado a marcar alu-nos que apresentem determinada habilidade presente na lista com a letra X

Quadro 1 ndash Itens da Lista de Observaccedilatildeo Aplicada

1 Tem boa expressatildeo facial quando utiliza a Libras2 Mostra-se criacutetico questionando as mateacuterias ensinadas3 Eacute liacuteder em sala de aula4 Faz perguntas ou daacute respostas raras ou incomuns5 Apresenta senso de humor eacute o engraccediladinho da turma6 Eacute amadurecido fala e se comporta como se tivesse mais idade7 Termina as tarefas rapidamente e fica disperso em sala de aula8 Apresenta facilidade para o desenho ou trabalhos manuais9 Tem boa expressatildeo corporal quando utiliza a Libras10 Apresenta facilidade em escrever redaccedilotildees ou poesias11 Eacute concentrado e perfeccionista com as atividades escolares

a liacutengua oficial do seu paiacutes Isso natildeo significa que a pessoa com surdez deva ficar isolada numa comunidade soacute para surdos configurando guetos e utilizando apenas a liacutengua de sinais (BRASIL 2010 DUPRET 1998 PEREIRA 2004)

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA206 d d 207

12 Consegue expressar bem suas opiniotildees com a Libras13 Eacute independente faz as atividades sem ajuda14 Questiona regras que satildeo impostas sem uma justificativa15 Demonstra interesse contiacutenuo em aprender16 Escreve frases em Portuguecircs usando pronomes preposiccedilotildees e ver-

bos nos tempos presente passado e futuro17 Relaciona conhecimentos de diferentes mateacuterias escolares18 Faz muitas perguntas ao professor19 Prefere amizade com pessoas mais velhas20 Desenha com detalhes e criatividade21 Demonstra aptidatildeo para as artes22 Cria diaacutelogos em Libras23 Eacute indisciplinado em sala de aula24 Demonstra senso de justiccedila25 Apresenta facilidade em memorizar informaccedilotildees como datas histoacute-

ricas e capitais de estados e paiacuteses26 Conhece muitos sinais da Libras e sabe empregaacute-los para se comunicar27 Responde raacutepida e corretamente agraves perguntas do professor28 Gosta de fazer as coisas do seu proacuteprio jeito29 Resolve os exerciacutecios de uma forma diferente da que o professor en-

sinou mas correta30 Mostra-se entediado em sala de aula31 Apresenta formas originais de solucionar problemas32 Tem agilidade de movimento (corrida velocidade e forccedila)33 Gosta de ler textos livros jornais eou revistas34 Aprende com facilidade o que foi ensinado35 Demonstra aptidatildeo para esportes

A heterogeneidade conceitual do instrumento pode ser observada no Quadro 2 que apresenta os itens pertencentes agraves categorias dimensionadas I) Linguagem II) Criatividade III) Aprendizagem IV) Motivaccedilatildeo V) Aspectos afetivos e in-terpessoais e VI) Motricidade

Quadro 2 ndash Categorias Avaliadas na Escala e Itens Correspondentes

CATEGORIA QUESTOtildeESLinguagem Q10 + Q12 + Q16 + Q23 +Q27 + Q34 Criatividade Q4 + Q20 + Q21 + Q29 + Q30 + Q32

Aprendizagem Q2 + Q17 + Q18 + Q26 + Q28 +Q35 Motivaccedilatildeo Q7 + Q11 + Q13 +Q15 + Q24 + Q31

Aspectos afetivos e interpessoais Q3 + Q5 +Q6 + Q14 + Q19 + Q25

Motricidade Q1 + Q8 + Q9 + Q22 + Q33 + Q36

Conforme indica a anaacutelise meacutetrica a lista de indicado-res construiacuteda se apresenta como instrumento potencialmen-te apto a identificar alunos surdos com altas habilidades do Ensino Fundamental A anaacutelise de variacircncia realizada indi-cou coeficiente de precisatildeo (α de Cronbach) com valor igual a 090 Aleacutem disso nenhum item ao ser excluiacutedo do caacutelcu-lo desse coeficiente gerou modificaccedilotildees substanciais em seu valor O erro-padratildeo da medida foi igual a 008 equivalente a 022 da amplitude da escala [0-36] A escala apresentou meacutedia 1890 e desvio-padratildeo 88 A teacutecnica t2 de Hotelling mostrou-se estatisticamente significativa (F = 70 para p = 0001) demonstrando diferenccedila entre as meacutedias de cada item e natildeo indicando a presenccedila de efeito de halo O que significa que natildeo ocorreu a tendecircncia dos indiviacuteduos responderem a um mesmo item em cada pergunta

O grupo inicial de alunos surdos identificados pelos professores atraveacutes da lista foi submetido a entrevistas se-midirigidas realizadas com o auxiacutelio de um inteacuterprete Tam-beacutem foram entrevistados os professores que indicaram esses educandos bem como seus familiares Esse procedimento foi realizado para selecionar com maior precisatildeo os alunos com altas habilidades pois o grupo inicial identificados atraveacutes da observaccedilatildeo dirigida realizada pelos docentes costuma apre-sentar outras indicaccedilotildees como a presenccedila de educandos ta-lentosos (GUENTHER 2000 VIANA 2005)

Resultados

Do total de 411 alunos surdos observados pelos profes-sores em sala de aula foram indicados 30 sujeitos Foram entatildeo entrevistados os 30 estudantes indicados 30 familiares desses estudantes (ou responsaacuteveis) e os 12 professores que os

(Continuaccedilatildeo)

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA208 d d 209

indicaram Do grupo inicial de alunos apoacutes a realizaccedilatildeo das entrevistas semidirigidas 20 aprendizes foram sinalizados com altas habilidades correspondendo a uma proporccedilatildeo de 5 do total de sujeitos inicialmente observados O nuacutemero de alunos identificados com altas habilidades estaacute de acordo com a proporccedilatildeo de 3 a 5 estimada na literatura especializada (ALENCAR E S 2000 BRASIL 1995 1999a 2005 GUEN-THER 2000 NOVAES 1979 SABATELLA 2008 VIANA 2003 2004 WINNER 1998)

Conclusotildees

Para a concretizaccedilatildeo desse estudo tomou-se como pon-to de partida a necessidade de reconhecimento da presenccedila de altas habilidades do aluno surdo desviando-se portanto da tradicional ecircnfase conferida agrave sua deficiecircncia Aleacutem de obs-taacuteculos atitudinais associados ao preconceito o instrumental para a identificaccedilatildeo desse alunado eacute por demasiado escasso dificultando assim a identificaccedilatildeo de alunos surdos com altas habilidades (DRUPET 1998 SKLIAR 2004)

Uma avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica adequada deve esclarecer os aspectos individuais mas natildeo pode negligenciar os sociais Conveacutem assinalar que mesmo diante de limita-ccedilotildees particulares inclusive de natureza geneacutetica ou bioloacutegi-ca como no caso da pessoa com deficiecircncia um melhor de-senvolvimento pode ser obtido como resultado de condiccedilotildees favoraacuteveis e estimulaccedilotildees adequadas do meio fiacutesico e social (GUENTHER 2000 SABATELLA 2008 VIANA 2005 VIRGOLIM 2007)

A identificaccedilatildeo de alunos surdos com altas habilidades pretende desmistificar a ideia ainda vigente na sociedade de que a surdez traz consigo algum tipo de deacuteficit intelectual

Suas capacidades estatildeo presentes mas ainda abrigadas em silecircncio Para aleacutem do preconceito a insuficiecircncia na forma-ccedilatildeo baacutesica do professor para lidar com esse alunado constitui outro fator que contribui para que as capacidades do aluno surdo permaneccedilam silentes despercebidas pela escola e pela sociedade

Referecircncias Bibliograacuteficas

ALENCAR E S Criatividade e educaccedilatildeo de superdotados Petroacutepolis Vozes 2001______ Psicologia introduccedilatildeo aos princiacutepios baacutesicos do comportamento Petropoacutelis Vozes 2000______ Psicologia e educaccedilatildeo do superdotado Satildeo Paulo E P U 1986 ALENCAR M L Alunos com necessidades educacionais es-peciais anaacutelise conceitual e implicaccedilotildees pedagoacutegicas In MAGALHAtildeES R C B P Reflexotildees sobre a diferenccedila uma introduccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Especial Fortaleza Demoacutecrito Rocha 2003 p 85-91ALENCAR M L VIANA T V O papel do professor na edu-caccedilatildeo de crianccedilas sobredotadas Sobredotaccedilatildeo Braga v 3 n 2 p 165-176 2002ANASTASI A URBINA S Testagem psicoloacutegica Porto Ale-gre Artmed 2000BRASIL A Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da inclusatildeo es-colar altas habilidadessuperdotaccedilatildeo Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Especial 2010______ A construccedilatildeo de praacuteticas educacionais para alunos com altas habilidadessuperdotados orientaccedilatildeo a professo-res v 1 Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Edu-caccedilatildeo Especial 2007

CAPACIDADES SILENTES IDENTIFICACcedilAtildeO EDUCACIONAL DE ALTAS HABILIDADES EM ALUNOS COM SURDEZ TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA210 d d 211

______ Saberes e praacuteticas da inclusatildeo desenvolvendo competecircncias para o atendimento agraves necessidades educacio-nais de alunos com altas habilidadessuperdotaccedilatildeo Brasiacutelia MECSEESP 2005______ Programa de capacitaccedilatildeo de recursos humanos do Ensino Fundamental superdotaccedilatildeo e talento v 1 Brasiacute-lia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Especial 1999a ______ Programa de capacitaccedilatildeo de recursos humanos do Ensino Fundamental superdotaccedilatildeo e talento v 2 Brasiacutelia Mi-nisteacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Especial 1999b______ Diretrizes gerais para o atendimento educacional aos alunos portadores de altas habilidades superdotaccedilatildeo e talentos Brasiacutelia MECSEESP 1995 CAMPBELL L Ensino e aprendizagem por meio das Inte-ligecircncias Muacuteltiplas Porto Alegre Artes Meacutedicas Sul 2000DUPRET L A experiecircncia de aprender com surdos Espaccedilo informativo teacutecnico-cientiacutefico do INES Rio de Janeiro n 10 juldez 1998 GARDNER H Inteligecircncia um conceito reformulado Rio de Janeiro Objetiva 2001______ Inteligecircncias muacuteltiplas a teoria na praacutetica Porto Alegre Artes Meacutedicas 1995 ______ Estruturas da mente a teoria das inteligecircncias muacuteltiplas Porto Alegre Artes Meacutedicas 1994GUENTHER Z C Identificaccedilatildeo de talentos recurso a teacutecni-cas de observaccedilatildeo directa Sobredotaccedilatildeo Braga v 1 n 1 e 2 p 7-36 2000GOLDFELD M A crianccedila surda linguagem e cogniccedilatildeo numa perspectiva soacutecio-interacionista Satildeo Paulo Plexus 1997LORENZINI N M P Aquisiccedilatildeo de um conceito cientiacutefico por alunos surdos de classes regulares do Ensino Fundamental

2004 155fl Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universi-dade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis 2004 METTRAU M B Inteligecircncia patrimocircnio social Rio de Ja-neiro Dunya Ed 2000NEGRINI T A escola de surdo e os alunos com altas habi-lidadessuperdotaccedilatildeo uma problematizaccedilatildeo decorrente do processo de identificaccedilatildeo das pessoas surdas 2009 151f Dis-sertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria-RS 2009 NOVAES M H Desenvolvimento psicoloacutegico do superdota-do Satildeo Paulo Atlas 1979PEREIRA C E K Estrangeiros em sua proacutepria cultura Espa-ccedilo informativo teacutecnico-cientiacutefico do INES Rio de Janeiro n 22 juldez 2004RENZULLI J S O que eacute esta coisa chamada superdotaccedilatildeo e como a desenvolvemos Uma retrospectiva de vinte e cin-co anos Educaccedilatildeo Porto Alegre n 1 p 75-121 janabr 2004 Disponiacutevel em ltwwwcaiobapucrsbrgt Acesso em 24022012 SABATELLA M L P Talento e superdotaccedilatildeo problema ou soluccedilatildeo Curitiba Ibpex 2008SKLIAR C (Org) Educaccedilatildeo e exclusatildeo abordagens soacutecio--antropoloacutegicas em Educaccedilatildeo Especial Porto Alegre Media-ccedilatildeo 2004 UFC Educar Igual a Motivar o Conhecimento Criativo (E=MC2) Projeto de Extensatildeo Coordenadora VIANA T V Fortaleza UFC 2006 5 p VIANA T V Avaliaccedilatildeo educacional diagnoacutestica uma proposta para identificar altas habilidades 2005 324f Tese (Doutorado em Educaccedilatildeo) Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2005 ______ Avaliando alunos com altas habilidades resulta-dos preliminares In ANDRIOLA W B MCDONALD B C

d 213TEREZA LIDUINA GRIGOacuteRIO FERNANDES bull LUCIMEIRE ALVES MOURA bull EDSON SILVA SOARES bull TANIA VICENTE VIANA212 d

(Org) Avaliaccedilatildeo educacional navegar eacute preciso Fortaleza Editora UFC 2004 p 113-134 ______ Caminhos da excelecircncia da escola puacuteblica de For-taleza O conceito de altas habilidades dos professores 2003 147f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) Universidade Fe-deral do Cearaacute (UFC) Fortaleza 2003 VIRGOLIM A M R Talento criativo expressatildeo em muacuteltiplos contextos Brasiacutelia Editora Universidade de Brasiacutelia 2007 WINNER E Crianccedilas superdotadas mitos e realidades Por-to Alegre Artes Meacutedicas 1998

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute

Zilsa Maria Pinto SantiagoPliacutenio Renan Gonccedilalves da Silveira

Introduccedilatildeo

A discussatildeo sobre o conceito de cidadania eacute complexa e sugere inuacutemeras vertentes A praacutetica da cidadania partindo da escola ou da comunidade escolar com o apoio dos movimen-tos sociais de inclusatildeo principalmente no que diz respeito aos direitos da pessoa com deficiecircncia e da praacutetica de um ensino na diversidade eacute uma abordagem necessaacuteria nesta discussatildeo Iniciamos com o conceito de inclusatildeo social que segundo Sas-saki (1997 p 41) eacute

[] o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir em seus sistemas sociais gerais pessoas com necessidades especiais e simultaneamente estas se preparam para assumir seus papeacuteis na sociedade A inclusatildeo social constitui entatildeo um processo bilateral no qual as pessoas ainda excluiacutedas e a sociedade bus-cam em parceria equacionar problemas decidir sobre soluccedilotildees e efetivar a equiparaccedilatildeo de oportunidades para todos

A escola na condiccedilatildeo de espaccedilo social deve portanto apresentar condiccedilotildees de acessibilidade a todos inclusive a pessoas com deficiecircncia ou mobilidade reduzida aleacutem de pro-ver uma Educaccedilatildeo de qualidade a todas as crianccedilas modificar atitudes discriminatoacuterias criando comunidades acolhedoras (SANTIAGO 2005) Existe assim um caminho a ser percor-rido qual seja a organizaccedilatildeo da sociedade e as administraccedilotildees escolares inseridas em um novo contexto apoiadas pelo Siste-

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO bull PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA214 d d 215

ma Educacional e Ministeacuterio Puacuteblico capaz de transformar a situaccedilatildeo de exclusatildeo e gerir uma cultura inclusiva

E quando chegamos ao patamar do Ensino Superior o que acontece Que condiccedilotildees existem para receber pessoas com deficiecircncia na universidade

A problemaacutetica da acessibilidade de pessoas com defi-ciecircn cia no Ensino Superior jaacute eacute tema de muitas discussotildees e estudos Na Universidade Federal do Cearaacute (UFC) este assunto vem sendo discutido numa visatildeo ampla mas de certa forma em termos de accedilotildees nos uacuteltimos dez anos trabalhadas pontual-mente pelas diversas unidades administrativas e de ensino na perspectiva da informaccedilatildeo do conhecimento das atitudes e do espaccedilo fiacutesico

Neste artigo abordaremos alguns aspectos da poliacutetica de acessibilidade e das accedilotildees que estatildeo sendo realizadas no acircmbito da Universidade por meio da Secretaria de Acessi-bilidade UFC Inclui tendo como base a realizaccedilatildeo de traba-lhos de pesquisa ensino e extensatildeo perpassando por todas as aacutereas e setores De forma mais especiacutefica trataremos da aacuterea relativa agrave acessibilidade fiacutesica em que as atividades estatildeo relativamente iniciando num processo de construccedilatildeo de uma cultura de inclusatildeo a fim de incorporar paracircmetros de acessi-bilidade na realizaccedilatildeo de projetos e reformas

Acessibilidade como Fator de Inclusatildeo

Accedilotildees realizadas pelo poder puacuteblico em relaccedilatildeo ao aten-dimento agraves pessoas com deficiecircncia fiacutesica visual auditiva e intelectual no Brasil ateacute os anos 1960 abstraiacuteam o conteuacute-do educacional da questatildeo e contemplavam basicamente a problemaacutetica social e da sauacutede culminando com accedilotildees as-sistencialistas ou de reabilitaccedilatildeo As primeiras iniciativas de

atendimento agraves pessoas com deficiecircncia no Cearaacute partiram de atitudes isoladas ou de pequenos grupos e organizaccedilotildees de pessoas que natildeo contavam com o apoio do poder puacuteblico Conforme Leitatildeo (1997)

[] A criaccedilatildeo destas entidades especializadas no aten-dimento aos portadores de deficiecircncia visual mental auditiva e fiacutesica no Cearaacute foi possiacutevel [] na medida em que se aliou aos desejos de indiviacuteduos ou grupo de indiviacuteduos o conhecimento especializado a assimilaccedilatildeo de saberes especiacuteficos que passam a esclarecer alguns mitos construiacutedos em torno dos intitulados deficientes e fornecem as bases para uma accedilatildeo terapecircutica ou educacional embora que ainda de caraacuteter assistencial segregativo e pouco eficiente No entanto essas enti-dades surgidas nesse periacuteodo histoacuterico representaram significativos avanccedilos oferecendo agravequeles indiviacuteduos melhores condiccedilotildees de vida e a possibilidade de uma desejaacutevel integraccedilatildeo social

A questatildeo educacional das pessoas com deficiecircncia natildeo veio acompanhada de imediato de estudos de adequaccedilatildeo e adaptaccedilotildees do ambiente fiacutesico Para a inclusatildeo nem sempre satildeo necessaacuterios recursos educacionais especializados mas o espaccedilo adequado eacute fator de inclusatildeo Neste caso compreen-demos que a crianccedila pode estar na escola regular desde o iniacute-cio de sua escolarizaccedilatildeo (MAZZOTTA apud GODOY 2002)

Reforccedilando esta ideia Glat (1995) considera que o gru-po de pessoas com deficiecircncia fiacutesica natildeo se constitui tradicio-nalmente como clientela da Educaccedilatildeo Especial A inclusatildeo eacute facilitada pela acessibilidade fiacutesica nos espaccedilos escolares natildeo sendo necessaacuterio nenhum outro tipo de assistecircncia especial ao aluno que tenha dificuldade de locomoccedilatildeo (usuaacuterio de ca-deira de rodas muletas andador ou pessoa com perna mais curta ou outro tipo de deficiecircncia fiacutesica)

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO bull PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA216 d d 217

Neste sentido temos dois problemas imbricados tanto a dificuldade e iniciativa tardia do poder puacuteblico no trato das condiccedilotildees de Educaccedilatildeo de pessoas com deficiecircncia quanto agrave falta de acessibilidade ao meio ambiente fiacutesico construiacutedo O que resulta numa situaccedilatildeo em que ateacute bem pouco tempo atraacutes dificilmente encontrariacuteamos uma pessoa com defici-ecircncia visual com surdez ou ateacute mesmo em cadeira de rodas transitando nas salas de aula de uma universidade

A acessibilidade nos espaccedilos da universidade e de um modo geral nos espaccedilos puacuteblicos de Fortaleza vem sendo discutida nesta uacuteltima deacutecada em foacuteruns seminaacuterios au-diecircncias na Cacircmara Municipal na Assembleacuteia Legislativa dentre outros eventos tendo os movimentos e associaccedilotildees de pessoas com deficiecircncia com o apoio do Ministeacuterio Puacuteblico como impulsionadores destes eventos

O governo do estado com a participaccedilatildeo da UFC deu um passo importante com a elaboraccedilatildeo do Guia de Acessibili-dade espaccedilo puacuteblico e edificaccedilotildees publicado em 2009 e sua divulgaccedilatildeo junto aos prefeitos municipais entidades associa-ccedilotildees e a sociedade em geral

Accedilotildees Referentes agrave Acessibilidade Fiacutesica nos Campi da UFC

Ao se abordarem questotildees concernentes agrave inclusatildeo ou acessibilidade de pessoas com deficiecircncia eacute senso comum a referecircncia imediata aos aspectos relativos agraves barreiras arqui-tetocircnicas talvez por serem as mais visiacuteveis Eacute importante en-tretanto destacar o fato de que as barreiras enfrentadas por essas pessoas satildeo muacuteltiplas a comeccedilar pelas atitudes inade-quadas manifestas pelas pessoas em geral em funccedilatildeo de um desconhecimento sobre as reais necessidades da pessoa com deficiecircncia

A acessibilidade fiacutesica eacute hoje uma necessidade baacutesica para que todas as pessoas independentemente de suas habi-lidades possam desenvolver atividades da vida cotidiana com autonomia e mobilidade bem como usufruir dos espaccedilos com seguranccedila e comodidade O aspecto importante da acessibili-dade fiacutesica eacute ser um facilitador da inclusatildeo das pessoas com deficiecircncia

Em dados da UFC (2010) a universidade conta com a aacuterea fiacutesica em Fortaleza de 287258148 msup2 e aacuterea constru-iacuteda de 29131311 msup2 distribuiacuteda em trecircs aacutereas Pici Benfica e Porangabussu e mais algumas unidades dispersas sem di-mensionar os novos campi do interior Aleacutem disso conta nos trecircs terrenos com aacuterea urbanizada de 21841000 msup2 Tem portanto o grande desafio de dar continuidade agrave universali-zaccedilatildeo da acessibilidade adequando os edifiacutecios existentes e implementando nas novas edificaccedilotildees o conceito do Dese-nho Universal (que propotildee um espaccedilo constituiacutedo do maior nuacutemero de dimensotildees acessos tamanhos possibilitando seu uso pelo maior nuacutemero de pessoas) obedecendo agrave legislaccedilatildeo vigente dirimindo possiacuteveis barreiras arquitetocircnicas e pro-porcionando a todos os usuaacuterios sejam alunos servidores ou visitantes o acesso e a livre circulaccedilatildeo

A UFC tem realizado um esforccedilo de adequar sua grande aacuterea fiacutesica contudo as accedilotildees natildeo alcanccedilavam a plenitude de-vido agraves questotildees de recursos caracterizando-se assim como emergenciais ou contingenciais A antiga Superintendecircncia de Obras e Planejamento (PLANOP) atual Coordenadoria de Projetos e Obras (COP) elaborou em 2002 o projeto Acesso UFC sob a coordenaccedilatildeo da arquiteta Magda Campelo e dire-ccedilatildeo geral do professor Ademar Gondim com a intenccedilatildeo de incluir nas atividades dessa Superintendecircncia estudos de acessibilidade para os edifiacutecios da UFC Contou com o envol-

PERCURSOS E PERSPECTIVAS DA ACESSIBILIDADE FIacuteSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARAacute ZILSA MARIA PINTO SANTIAGO bull PLIacuteNIO RENAN GONCcedilALVES DA SILVEIRA218 d d 219

vimento de alunos e servidores com deficiecircncia e bolsistas in-dicados pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Esse projeto tinha como objetivos principais a execu-ccedilatildeo do levantamento do nuacutemero de pessoas com deficiecircncia na UFC seus respectivos locais e condiccedilotildees de trabalho bem como a elaboraccedilatildeo de estudos para atendimento prioritaacuterio a este puacuteblico-alvo

No segundo momento foi realizado um levantamen-to da necessidade de intervenccedilatildeo em toda a aacuterea construiacuteda da UFC restringindo-se poreacutem agrave adequaccedilatildeo de banheiros construccedilatildeo de rampas e instalaccedilatildeo de plataformas a fim de mensurar os custos necessaacuterios para eliminaccedilatildeo de barreiras arquitetocircnicas na instituiccedilatildeo

No periacuteodo entre 2002 e 2003 foram executados e or-ccedilados pela PLANOP vinte e quatro projetos de acessibilida-de com ecircnfase tambeacutem na instalaccedilatildeo de rampas e adequa-ccedilatildeo de banheiros em preacutedios Do total 62 das intervenccedilotildees deram-se no Benfica aacuterea com maior nuacutemero de pessoas com deficiecircncia 34 no Pici e 4 no Porangabussu

Alguns destes projetos natildeo foram efetivados por indis-ponibilidade orccedilamentaacuteria na eacutepoca poreacutem com recursos do Projeto UFC Inclui em 2006 e 2007 sob a coordenaccedilatildeo da professora doutora Ana Karina Lira foram realizadas vaacuterias accedilotildees dentre elas o Ciclo de Debates Exposiccedilotildees e execuccedilatildeo de nove dos projetos disponibilizados pela Superintendente da PLANOP Aleacutem disso por iniciativa de diretores dos cen-tros e faculdades vaacuterias outras adaptaccedilotildees foram executadas como as passarelas de ligaccedilatildeo de preacutedios rampas de acesso aos edifiacutecios bem como intervenccedilotildees em banheiros

Registramos ainda um processo movido pelo Nuacutecleo de Tutela Coletiva da Procuradoria da Repuacuteblica no Estado do Cearaacute em 2005 que exigiu da UFC adoccedilatildeo de medidas

de condiccedilotildees miacutenimas e baacutesicas para o acesso e permanecircncia de estudantes com deficiecircncia em suas dependecircncias Desde entatildeo intervenccedilotildees foram feitas em todos os centros e facul-dades mas em face da dimensatildeo da UFC e da limitaccedilatildeo orccedila-mentaacuteria muitas das demandas ainda natildeo foram totalmente atendidas conforme imperativo legal vigente Contudo algu-mas plataformas verticais para conduccedilatildeo de pessoas com de-ficiecircncia ou mobilidade reduzida e rampas foram implantadas em algumas das edificaccedilotildees existentes como eacute o caso da Fa-culdade de Direito dentre outras (Fotos 01 e 02)

Foto 1 ndash Faculdade de DireitoUFC ndash Plataforma vertical no curso de DireitoFoto 2 ndash Faculdade de DireitoUFC ndash Rampa para o bloco antigo do curso de Direito

Com a criaccedilatildeo da Secretaria de Acessibilidade UFC In-clui em 2010 os trabalhos de acompanhamento de adequa-ccedilatildeo dos espaccedilos construiacutedos foram retomados de forma mais ampla e sistematizada

Como instrumento de verificaccedilatildeo das condiccedilotildees de acessibilidade na universidade iniciaram utilizando o levan-tamento de necessidades no acervo da COP dados resultan-tes da realizaccedilatildeo de vistoria da Comissatildeo de Acessibilidade do

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Sistema de Bibliotecas da UFC como tambeacutem indicadores le-vantados por membros da Comissatildeo Especial de Educaccedilatildeo In-clusiva (CEIn) em 2009 juntamente com alunos bolsistas dos cursos de Arquitetura e Urbanismo Enfermagem Pedagogia e de um aluno do curso de bacharelado em Quiacutemica ndash usuaacuterio de cadeira de rodas

A CEIn foi criada pelo Magniacutefico Reitor Jesualdo Pe-reira Farias em 2009 com o objetivo de fazer uma propos-ta de estruturaccedilatildeo administrativa cuidando da elaboraccedilatildeo conduccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas de Educaccedilatildeo Inclusiva na universidade

Os bolsistas da comissatildeo na aacuterea de Arquitetura e Ur-banismo eram inicialmente responsaacuteveis por realizar visitas teacutecnicas agraves edificaccedilotildees da universidade que foram mapeadas atraveacutes do Plano Diretor da UFC a fim de se obter uma di-mensatildeo geral sobre os problemas de acessibilidade da uni-versidade Posteriormente nesta agregaram-se os teacutecnicos a serviccedilo da COP

Estes trabalhos satildeo compostos de observaccedilotildees in loco mediccedilotildees e anotaccedilotildees sobre a estrutura fiacutesica registros foto-graacuteficos Posteriormente os dados satildeo organizados eacute feita uma anaacutelise resultando em Relatoacuterios Teacutecnicos das edifica-ccedilotildees visitadas com apontamentos referentes agrave necessidade de intervenccedilotildees para o cumprimento da legislaccedilatildeo existente

Para tanto foi elaborado um check list envolvendo as principais questotildees da acessibilidade de forma a simplificar tanto o processo de recolhimento de dados in loco quanto a proacutepria leitura do laudo Natildeo soacute os ambientes e acessos inter-nos agrave edificaccedilatildeo foram analisados mas tambeacutem as aacutereas livres comuns (paacutetios jardins caminhos) O diagnoacutestico tinha uma preocupaccedilatildeo urbaniacutestica analisando o entorno da edificaccedilatildeo as faixas de travessia os rebaixos as paradas de ocircnibus e se

a chegada da pessoa com deficiecircncia ao edifiacutecio estaria sendo executada de forma livre e segura

A metodologia de diagnosticar atraveacutes de um check list padratildeo pode ser observada no recorte do relatoacuterio abaixo

Foto 3 ndash Relatoacuterio de Condiccedilotildees de Acessibilidade Fiacutesica da FEAAC

Depois de uma anaacutelise geral dos problemas de acessi-bilidade nas edificaccedilotildees existentes na universidade os bol-sistas de Arquitetura e Urbanismo foram direcionados para trabalhar em parceria com a COP Este trabalho consistiu em realizar uma anaacutelise minuciosa das questotildees de acessibilidade nos novos projetos Infelizmente nos processos de licitaccedilatildeo

yRebaixosrampas Apresenta alguns rebai-xos inadequados nas travessias internas Nas entradas dos Centros Acadecircmicos e em alguns pontos do passeio natildeo haacute rampas A rampa encontrada na entrada do edifiacutecio estaacute com inclinaccedilatildeo adequada poreacutem o cor-rimatildeo estaacute em desacordo com a NBR9050

yBarreiras arquitetocircnicas desniacuteveis Alguns desniacuteveis foram encontrados sem rebaixo e com grelha na direccedilatildeo errada impossibili-tando a passagem da pessoa em cadeira de rodas As barreiras arquitetocircnicas natildeo pos-suem piso alerta

ySinalizaccedilatildeo Natildeo haacute sinalizaccedilatildeo direcional nem alertas para a pessoa com deficiecircncia visual

yAparelhos telefocircnicos puacuteblicos Os apare-lhos puacuteblicos encontrados estatildeo todos com alturas acima de 120 m alcance maacuteximo da pessoa em cadeira de rodas

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natildeo haacute uma cobranccedila rigorosa com base na legislaccedilatildeo vigente no que diz respeito a estas questotildees o que resulta em projetos que cumprem apenas parcialmente as determinaccedilotildees da nor-ma e em outros que ignoram os efeitos desta

O trabalho de anaacutelise projetual consiste na leitura pran-cha a prancha do projeto utilizando a mesma metodologia do check list Os dados desta anaacutelise resultam tambeacutem em um Relatoacuterio Teacutecnico de Acessibilidade conforme recorte abaixo

y Prancga 94 ndash Detalhe de banheiroDeve-se colocar as barras de apoio vertical em pelo menos um dos mic-toacuterios (com espaccedilo livre de 60 cm de largura) Rebaixar pelo menos uma extensatildeo de 90 cm da bancada para altura de 80 cm respeitando a altura de 73 cm para entrada da cadeira

Exemplo de mictoacuterios ndash Fonte NBR9050

y Prancha 95 ndash No WC Feminino deve-se rebaixar pelo menos uma extensatildeo de 90 cm da bancada para altura de 80 cm respeitando a altura de 73 cm para entrada da cadeira

y Prancha 102 ndash Detalhamento de Portas ndash Na porta P3 (acesiacutevel) o siacutembolo natildeo segue as corretas proporccedilotildees da NBR9050 que deve ser universal

Foto 4 ndash Relatoacuterio de Acessibilidade ICA

Passaram por esta anaacutelise grandes novas edificaccedilotildees da UFC como o Instituto de Cultura e Arte (ICA) o Instituto Pa-leontoloacutegico e Geoloacutegico e a 4ordf Etapa do Campus Juazeiro do Norte

Ratifica-se a necessidade da manutenccedilatildeo deste trabalho de anaacutelise projetual das novas edificaccedilotildees Analisar o edifiacutecio ainda na fase de projeto propicia a condiccedilatildeo de tempo haacutebil para correccedilotildees antes da execuccedilatildeo da obra A projetaccedilatildeo acessiacute-vel eacute mais simples proporcionando a condiccedilatildeo de concepccedilotildees esteacuteticas sem prejuiacutezo das visuais plaacutesticas do edifiacutecio Eacute ainda mais econocircmica evitando gastos futuros com reformas mui-tas vezes que natildeo conseguem chegar a um resultado satisfa-toacuterio sendo meras adaptaccedilotildees de uma realidade estabelecida

Com o crescimento dos investimentos em novas edifica-ccedilotildees e obras devido ao Programa de Reestruturaccedilatildeo e Expan-satildeo das Universidades Federais (REUNI) nos campi da UFC surgiu a necessidade da COP realizar um novo levantamento das condiccedilotildees de acessibilidade verificando as necessidades de adaptaccedilatildeo das antigas edificaccedilotildees bem como a sinalizaccedilatildeo das pendecircncias restantes nas novas edificaccedilotildees

A realizaccedilatildeo deste trabalho foi fundamentada no Decre-to nordm 52962004 que trata da prioridade de atendimento agraves pessoas com deficiecircncia que estabelece normas gerais e criteacuterios baacutesicos para a promoccedilatildeo da acessibilidade em rela-ccedilatildeo agraves edificaccedilotildees espaccedilo mobiliaacuterio e equipamento urbano incluindo elevadores plataformas de elevaccedilatildeo motorizadas e requisitos para seguranccedila dimensotildees e operaccedilatildeo funcional Deve-se salientar sua importacircncia tambeacutem por estabelecer ainda os criteacuterios para instruir os processos de autorizaccedilatildeo e de reconhecimento de cursos bem como o credenciamento de instituiccedilotildees considerando a acessibilidade aos edifiacutecios de uso puacuteblico ao espaccedilo e utilizaccedilatildeo de mobiliaacuterio

Vista frontal Vista frontalVista lateral

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Temos alguns exemplos desta nova fase de implantaccedilatildeo de requisitos de acessibilidade nos projetos de edificaccedilotildees e espaccedilos livres na UFC (Fotos 05 e 06)

Foto 5 ndash Auditoacuterio Valnir Chagas ndash FacedUFC Rampa com incli-naccedilatildeo adequada e corrimatildeo proacuteximo ao exigido pela NBR-9050Foto 6 ndash Entrada do curso de PsicologiaUFC Rebaixos de rampas de acesso adequados e vaga reservada

Conclusatildeo

A obrigatoriedade ao cumprimento do Decreto nordm 52962004 e a conscientizaccedilatildeo da necessidade de se projetar para todos impotildeem aos oacutergatildeos puacuteblicos dentre eles a univer-sidade a execuccedilatildeo de projetos em observacircncia agrave NBR 9050 Uma dificuldade percebida se refere agrave dimensatildeo da equipe que trabalha nos projetos e obras da instituiccedilatildeo o que dificulta o andamento de accedilotildees de um modo geral bem como de obras de pequeno porte que poderiam ser realizadas pelos proacuteprios diretores de centros e faculdades Ao que parece desde o ano de 2011 este trabalho vem sendo acelerado com a terceiriza-ccedilatildeo de parte destes projetos

O atendimento agraves normas de acessibilidade passou a ser adotado quando da elaboraccedilatildeo de projetos para novas edificaccedilotildees Mesmo sendo a nova concepccedilatildeo inserida nos pre-

ceitos da acessibilidade fiacutesica algumas accedilotildees como eacute o caso da locaccedilatildeo de equipamentos como as plataformas verticais retardam a finalizaccedilatildeo completa da obra por constituiacuterem um procedimento obrigatoacuterio de licitaccedilatildeo para compra de equi-pamentos explicando o fato de encontrarmos nos preacutedios novos apenas as estruturas que abrigam estes equipamentos Isso resulta no atraso da instalaccedilatildeo das mesmas em relaccedilatildeo agrave obra como um todo

Estes satildeo instrumentos contundentes relativos ao fato de que mesmo tendo sido realizadas muitas accedilotildees ainda haacute de se fazer para que a universidade atinja um niacutevel plenamen-te satisfatoacuterio de acessibilidade em sua estrutura fiacutesica

Em decorrecircncia de novos eventos como a promulgaccedilatildeo da Lei nordm 12587 de 3 de janeiro de 2012 ndash que institui as dire-trizes da Poliacutetica Nacional de Mobilidade Urbana bem como o Decreto Legislativo nordm 186 2008 no qual em seu Art 1ordm ndash Fica aprovado nos termos do sect 3ordm do Art 5ordm da Constituiccedilatildeo Federal o texto da Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia e de seu Protocolo Facultativo assinados em Nova Iorque em 2007 igualmente o Decreto nordm 6949 de 2009 que determina em seu Art 1ordm ndash A Convenccedilatildeo sobre os Direitos das Pessoas com Deficiecircncia e seu Protocolo Faculta-tivo ndash seratildeo executados e cumpridos tatildeo inteiramente como neles se contecircm as accedilotildees para inserccedilatildeo de requisitos para a acessibilidade sendo assim cada vez mais incorporados ao co-tidiano das realizaccedilotildees das obras na universidade

Neste sentido podemos afirmar que a execuccedilatildeo de pro-jetos de edificaccedilotildees nos vaacuterios campi da UFC bem como as reformas e adaptaccedilotildees de antigas edificaccedilotildees estatildeo sendo re-alizadas cada vez mais assumindo o compromisso com os pa-radigmas da inclusatildeo observando criteacuterios e determinaccedilotildees legais amparadas pelos princiacutepios da acessibilidade universal

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Referecircncias Normativas e Leis

ASSOCIACcedilAtildeO BRASILEIRA DE NORMAS TEacuteCNICAS NBR 9050 ndash Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiecircncias a edificaccedilotildees espaccedilo mobiliaacuterio e equipamento urbano Rio de Janeiro ABNT 2004BRASIL Lei n 12587 de 3 de Janeiro de 2012 ndash que institui as diretrizes da Poliacutetica Nacional de Mobilidade Urbana______ Decreto nordm 6949 de 25 de agosto de 2009 Pro-mulga a Convenccedilatildeo Internacional sobre os Direitos das Pesso-as com Deficiecircncia e seu Protocolo Facultativo assinados em Nova York em 30 de marccedilo de 2007______ Decreto Ndeg 5626 de 22 de dezembro de 2005 re-gulamenta a Lei Nordm 10436 de 24 de abril de 2002 que dispotildee sobre a Liacutengua Brasileira de Sinais ndash Libras e o art 18 da Lei Nordm 10098 de 19 de dezembro de 2000______ Decreto Nordm 5296 de 2 de dezembro de 2004 que regulamenta as Leis nordms 10048 de 8 de novembro de 2000 que daacute prioridade de atendimento agraves pessoas que especifica e 10098 de 19 de dezembro de 2000 que estabelece normas gerais e criteacuterios baacutesicos para a promoccedilatildeo da acessibilidade das pessoas com deficiecircncia ou com mobilidade reduzida e daacute outras providecircnciasCEARAacute Guia de acessibilidade espaccedilo puacuteblico e edificaccedilotildees 1 ed Elaboraccedilatildeo Nadja GS Dutra Montenegro Zilsa Maria Pinto Santiago e Valdemice Costa de Sousa Fortaleza SEIN-FRA-CE 2009

Referecircncias Bibliograacuteficas

GLAT Rosana A Integraccedilatildeo social dos portadores de defici-ecircncias uma reflexatildeo Rio de Janeiro Sete Letras 1995

GODOY H P Inclusatildeo de alunos portadores de deficiecircncia no ensino regular paulista recomendaccedilotildees internacionais e normas oficiais Satildeo Paulo Editora Mackenzie 2002LEITAtildeO V M et al Poliacuteticas de Acessibilidade da UFC Pro-postas Fortaleza UFC 2010______ Para aleacutem da diferenccedila e do tempo Ensaio soacutecio--histoacuterico da Educaccedilatildeo dos portadores de necessidades es-peciais no Cearaacute Uma trajetoacuteria de luta da segregaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo Brasileira ndash UFC) Fortaleza 1997MAZZOTTA Marcos J S Educaccedilatildeo Especial no Brasil histoacute-ria e poliacuteticas puacuteblicas Satildeo Paulo Cortez 1996SANTIAGO Z M P Acessibilidade fiacutesica no ambiente cons-truiacutedo o caso das escolas municipais de ensino fundamental de Fortaleza ndash CE (1990 ndash 2003) Dissertaccedilatildeo (Mestrado ndash FAUUSP) Satildeo Paulo 2005SASSAKI R K Inclusatildeo construindo uma sociedade para to-dos 5 ed Rio de Janeiro VWA 1997

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SEacuteRIE DIAacuteLOGOS INTEMPESTIVOS

1 Ditos (mau)ditos Joseacute Gerardo Vasconcelos Antonio Germano Magalhatildees Junior e Joseacute Mendes Fonteles (Orgs) 2001 208p 2001 ISBN 85-86627-13-5

2 Memoacuterias no plural Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Magalhatildees Junior (Orgs) 140p 2001 ISBN 85-86627-21-6

3 Trajetoacuterias da juventude Maria Nobre Damasceno Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 112p 2001 ISBN 85-86627-22-4

4 Trabalho e educaccedilatildeo face agrave crise global do capitalismo Eneacuteas Arrais Neto Manuel Joseacute Pina Fernandes e Sandra Cordeiro Felismino (Orgs) 2002 218p ISBN 85-86627-23-2

5 Um dispositivo chamado Foucault Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Magalhatildees Junior (Orgs) 120p 2002 ISBN 85-86627-24-0

6 Registros de pesquisa na educaccedilatildeo Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2002 216p ISBN 85-86627-25-9

7 Linguagens da histoacuteria Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Germano Maga-lhatildees Junior (Orgs) 2003 154p ISBN 85-7564084-4

8 Esboccedilos em avaliaccedilatildeo educacional Brendan Coleman Mc Donald (Org) 2003 168p ISBN 85-7282-131-7

9 Informaacutetica na escola um olhar multidisciplinar Edla Maria Faust Ramos Marta Costa Rosatelli e Raul Sidnei Wazlawick (Orgs) 2003 135p ISBN 85-7282-130-9

10 Filosofia educaccedilatildeo e realidade Joseacute Gerardo Vasconcelos (Org) 2003 300p ISBN 85-7282-132-5

11 Avaliaccedilatildeo Fiat Lux em Educaccedilatildeo Wagner Bandeira Andriola e Brendan Coleman Mc Donald (Orgs) 2003 212p ISBN 85-7282-136-8

12 Biografias instituiccedilotildees ideias experiecircncias e poliacuteticas educacionais Maria Juraci Maia Cavalcante e Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Orgs) 2003 467p ISBN 85-7282-137-6

13 Movimentos sociais educaccedilatildeo popular e escola a favor da diversidade Kelma Socorro Lopes de Matos (Org) 2003 312p ISBN 85-7282-138-4

14 Trabalho sociabilidade e educaccedilatildeo uma criacutetica agrave ordem do capital Ana Maria Dorta de Menezes e Faacutebio Fonseca Figueiredo (Orgs) 2003 396p ISBN 85-7282-139-2

15 Mundo do trabalho debates contemporacircneos Eneacuteas Arrais Neto Elenice Gomes de Oliveira e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2004 154p ISBN 85-7282-142-2

16 Formaccedilatildeo humana liberdade e historicidade Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2004 250p ISBN 85-7282-143-0

17 Diversidade cultural e desigualdade dinacircmicas identitaacuterias em jogo Maria de Faacutetima Vasconcelos e Rosa Barros Ribeiro (Orgs) 2004 324p ISBN 85-7282-144-9

18 Corporeidade ensaios que envolvem o corpo Antonio Germano Magalhatildees Junior e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2004 114p ISBN85-7282-146-5

19 Linguagem e educaccedilatildeo da crianccedila Silvia Helena Vieira Cruz e Mocircnica Petra-landa Holanda (Orgs) 2004 369p ISBN85-7282-149-X

20 Educaccedilatildeo ambiental em tempos de semear Kelma Socorro Lopes de Matos e Joseacute Levi Furtado Sampaio (Orgs) 2004 203p ISBN 85-7282-150-3

21 Saberes populares e praacuteticas educativas Joseacute Arimatea Barros Bezerra Catarina Farias de Oliveira e Rosa Maria Barros Ribeiro (Orgs) 2004 186p ISBN 85-7282-162-7

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22 Culturas curriacuteculos e identidades Luiz Botelho de Albuquerque (Org) 231p ISBN 85-7282-165-1

23 Polifonias vozes olhares e registros na filosofia da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Andreacutea Pinheiro e Eacuterica Atem (Orgs) 274p ISBN 857282166-X

24 Coisas de cidade Joseacute Gerardo Vasconcelos e Shara Jane Holanda Costa Adad ISBN 85-7282-172-4

25 O caminho se faz ao caminhar Maria Nobre Damasceno e Celecina de Maria Vera Sales (Orgs) 2005 230p ISBN 85-7282-179-1

26 Artesania do saber tecendo os fios da educaccedilatildeo popular Maria Nobre Damasceno (Org) 2005 169p ISBN 85-7282-181-3

27 Histoacuteria da educaccedilatildeo instituiccedilotildees protagonistas e praacuteticas Maria Juraci Maia Cavalcante e Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Orgs) 458p ISBN 85-7282-182-1

28 Linguagens literatura e escola Sylvie Delacours-Lins e Siacutelvia Helena Vieira Cruz (Orgs) 2005 221p ISBN 85-7282-184-8

29 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade em Paulo Freire Maria Erciacutelia Braga de Olinda e Joatildeo Batista de A Figueiredo (Orgs) 2006 ISBN 85-7282-186-4

30 Curriacuteculos contemporacircneos formaccedilatildeo diversidade e identidades em transiccedilatildeo Luiz Botelho Albuquerque (Org) 2006 ISBN 85-7282-188-0

31 Cultura de paz educaccedilatildeo ambiental e movimentos sociais Kelma Socorro Lopes de Matos (Org) 2006 ISBN 85-7282-189-9

32 Movimentos sociais educaccedilatildeo popular e escola a favor da diversidade II Sylvio de Sousa Gadelha e Socircnia Pereira Barreto (Orgs) 2006 172p ISBN 85-7282-192-9

33 Entretantos diversidade na pesquisa educacional Joseacute Gerardo Vasconcelos Emanoel Luiacutes Roque Soares e Isabel Magda Said Pierre Carneiro (Orgs) ISBN 85-7282-194-5

34 Juventudes cultura de paz e violecircncias na escola Maria do Carmo Alves do Bomfim e Kelma Socorro Lopes de Matos (Orgs) 2006 276p ISBN 85-7282-204-6

35 Diversidade sexual perspectivas educacionais Luiacutes Palhano Loiola 183p ISBN 85-7282-214-3

36 Estaacutegio nos cursos tecnoloacutegicos conhecendo a profissatildeo e o profissional Gregoacuterio Maranguape da Cunha Patriacutecia Helena Carvalho Holanda Cristiano Lins de Vasconcelos (Orgs) 93p ISBN 85-7282-215-1

37 Jovens e crianccedilas outras imagens Kelma Socorro Lopes de Matos Shara Jane Ho-landa Costa Adad e Maria Dalva Macedo Ferreira (Orgs) 221p ISBN 85-7282-219-4

38 Histoacuteria da educaccedilatildeo no Nordeste brasileiro Joseacute Gerardo Vasconcelos e Jorge Carvalho do Nascimento (Orgs) 2006 193p ISBN 85-7282-220-8

39 Pensando com arte Joseacute Gerardo Vasconcelos e Joseacute Albio Moreira de Sales (Orgs) 2006 212p ISBN 85-7282-221-6

40 Educaccedilatildeo poliacutetica e modernidade Joseacute Gerardo Vasconcelos e Antonio Paulino de Sousa (Orgs) 2006 209p ISBN 978-85-7282-231-2

41 Interfaces metodoloacutegicas na histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconce-los Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Zuleide Fernandes de Queiroz e Joseacute Edvar Costa de Arauacutejo (Orgs) 2007 286p ISBN 978-85-7282-232-9

42 Praacuteticas e aprendizagens docentes Erciacutelia Maria Braga de Olinda e Dorgival Gonccedilalves Fernandes (Orgs) 2007 196p ISBN 97885-7282246-6

43 Educaccedilatildeo ambiental dialoacutegica as contribuiccedilotildees de Paulo Freire e as repre-sentaccedilotildees sociais da aacutegua em cultura sertaneja nordestina Joatildeo B A Figueiredo 2007 385p ISBN 978-85-7282-245-9

44 Espaccedilo urbano e afrodescendecircncia estudos da espacialidade negra urbana para o debate das poliacuteticas puacuteblicas Henrique Cunha Juacutenior e Maria Estela Rocha Ramos (Orgs) 2007 209 ISBN 978-85-7282-259-6

45 Outras histoacuterias do Piauiacute Roberto Kennedy Gomes Franco e Joseacute Gerardo Vasconcelos 2007 197p ISBN 978-85-7282-263-3

46 Estaacutegio supervisionado questotildees da praacutetica profissional Gregoacuterio Maranguape da Cunha Patriacutecia Helena Carvalho Holanda e Cristiano Lins de Vasconcelos (Orgs) 2007 163p ISBN 978-85-7282-265-7

47 Alienaccedilatildeo trabalho e emancipaccedilatildeo humana em Marx Jorge Luiacutes de Oli-veira 2007 291p ISBN 978-85-7282-264-0

48 Modo de brincar lembrar e dizer discursividade e subjetivaccedilatildeo Maria de Faacutetima Vasconcelos da Costa Veriana de Faacutetima Rodrigues Colaccedilo e Nelson Barros da Costa (Orgs) 2007 347p ISBN 97885-7282-267-1

49 De novo ensino meacutedio aos problemas de sempre entre marasmos apro-priaccedilotildees e resistecircncias escolares Jean Mac Cole Tavares Santos 2007 270p ISBN 97885-7282-278-7

50 Nietzscheanismos Joseacute Gerardo Vasconcelos Cellina Muniz e Roberto Kennedy Gomes Franco (Orgs) 2008 150p ISBN 97885-7282-277-0

51 Artes do existir trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda e Francisco Silva Cavalcante Juacutenior (Orgs) 2008 353p ISBN 978-85-7282-269-5

52 Em cada sala um altar em cada quintal uma oficina o tradicional e o novo na histoacuteria da educaccedilatildeo tecnoloacutegica no Cariri cearense Zuleide Fernandes de Queiroz (Org) 2008 403p ISBN 978-85-7282-280-0

53 Instituiccedilotildees campanhas e lutas histoacuteria da educaccedilatildeo especial no Cearaacute Vanda Magalhatildees Leitatildeo 2008 169p ISBN 978-85-7282-281-7

54 A pedagogia feminina das casas de caridade do padre Ibiapina Maria das Graccedilas de Loiola Madeira 2008 391p ISBN 978-85-7282-282-4

55 Histoacuteria da educaccedilatildeo mdash vitrais da memoacuteria lugares imagens e praacuteticas culturais Maria Juraci Maia Cavalcante Zuleide Fernandes de Queiroz Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Joseacute Edvar Costa de Araujo (Orgs) 2008 560p ISBN 978-85-7282-284-8

56 Histoacuteria educacional de Portugal discurso cronologia e comparaccedilatildeo Maria Juraci Maia Cavalcante 2008 342p ISBN 978-85-7282-283-1

57 Juventudes e formaccedilatildeo de professores o ProJovem em Fortaleza Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Paulo Roberto de Sousa Silva (Orgs) 2008 198p ISBN 978-85-7282-295-4

58 Histoacuteria da educaccedilatildeo arquivos documentos historiografia narrativas orais e outros rastros Joseacute Arimatea Barros Bezerra (Org) 2008 276p ISBN 978-85-7282-285-5

59 Educaccedilatildeo utopia e emancipaccedilatildeo Casemiro de Medeiros Campos 2008 104p ISBN 978-85-7282-305-0

60 Entre liacutenguas movimentos e mistura de saberes Shara Jane Holanda Costa Adad Ana Cristina Meneses de Sousa Brandim e Maria do Socorro Rangel (Orgs) 2008 202p ISBN 978-85-7282-306-7

61 Reinventar o presente pois o amanhatilde se faz com a transformaccedilatildeo do hoje Reinaldo Matias Fleuri 2008 76p ISBN 978-85-7282-307-4

62 Cultura de paz do Conhecimento agrave Sabedoria Kelma Socorro Lopes de Matos Verocircnica Salgueiro do Nascimento e Raimundo Nonato Juacutenior (Orgs) 2008 260p ISBN 978-85-7282-311-1

63 Educaccedilatildeo e afrodescendecircncia no Brasil Ana Beatriz Sousa Gomes e Henrique Cunha Juacutenior (Orgs) 2008 291p ISBN 978-85-7282-310-4

64 Reflexotildees sobre a fenomenologia do espiacuterito de Hegel Eduardo Ferreira Chagas Marcos Faacutebio Alexandre Nicolau e Renato Almeida de Oliveira (Orgs) 2008 285p ISBN 978-85-7282-313-5

232 d d 233

65 Gestatildeo escolar saber fazer Casemiro de Medeiros Campos e Milena Marcintha Alves Braz (Orgs) 2009 166p ISBN 978-85-7282-316-6

66 Psicologia da educaccedilatildeo teorias do desenvolvimento e da aprendizagem em discussatildeo Maria Vilani Cosme de Carvalho e Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Orgs) 2008 241p ISBN 978-85-7282-322-7

67 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2008 210p ISBN 978-85-7282-323-4

68 Projovem experiecircncias com formaccedilatildeo de professores em Fortaleza Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2008 214p ISBN 978-85-7282-324-1

69 A filosofia moderna Antonio Paulino de Sousa e Joseacute Gerardo Vasconcelos (Orgs) 2008 212p ISBN 978-85-7282-314-2

70 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade em Paulo Freire II reflexotildees e possi-bilidades em movimento Joatildeo B A Figueiredo e Maria Eleni Henrique da Silva (Orgs) 2009 189p ISBN 978-85-7282-312-8

71 Letramentos na Web Gecircneros Interaccedilatildeo e Ensino Juacutelio Ceacutesar Arauacutejo e Messias Dieb (Orgs) 2009 286p ISBN 978-85-7282-328-9

72 Marabaixo danccedila afrodescendente Significando a Identidade Eacutetnica do Negro Amapaense Piedade Lino Videira 2009 274p ISBN 978-85-7282-325-8

73 Escolas e culturas poliacuteticas tempos e territoacuterios de accedilotildees educacionais Maria Juraci Maia Cavalcante Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Edvar Costa de Araujo e Zuleide Fernandes de Queiroz (Orgs) 2009 445p ISBN 978-85-7282-333-3

74 Educaccedilatildeo saberes e praacuteticas no Oeste Potiguar Jean Mac Cole Tavares Santos e Zacarias Marinho (Orgs) 2009 225p ISBN 978-85-7282-342-5

75 Labirintos de clio praacuteticas de pesquisa em Histoacuteria Joseacute Gerardo Vasconcelos Samara Mendes Arauacutejo Silva e Raimundo Nonato Lima dos Santos (Orgs) 2009 171p ISNB 978-85-7282-354-8

76 Fanzines autoria subjetividade e invenccedilatildeo de si Cellina Rodrigues Muniz (Org) 2009 139p ISBN 978-85-7282-366-1

77 Besouro cordatildeo de ouro o capoeira justiceiro Joseacute Gerardo Vasconcelos 2009 109p ISBN 978-85-7282-362-3

78 Da teoria agrave praacutetica a escola dos sonhos eacute possiacutevel Adelar Hengemuhle Deacutebora Luacutecia Lima Leite Mendes Casemiro de Medeiros Campos (Orgs) 2010 167p ISBN 978-85-7282-363-0

79 Eacutetica e cidadania educaccedilatildeo para a formaccedilatildeo de pessoas eacuteticas Maacuterie dos Santos Ferreira e Raphaela Cacircndido (Orgs) 2010 115p ISBN 978-85-7282-373-9

80 Qualidade de vida na infacircncia visatildeo de alunos da rede puacuteblica e privada de ensino Lia Machado Fiuza Fialho e Maria Teresa Moreno Valdeacutes 2009 113p ISBN 978-85-7282-369-2

81 Federalismo cultural e sistema nacional de cultura contribuiccedilatildeo ao debate Francisco Humberto Cunha Filho 2010 155p ISBN 978-85-7282-378-4

82 Experiecircncias e diaacutelogos em educaccedilatildeo do campo Kelma Socorro Alves Lopes de Matos Carmen Rejane Flores Wizniewsky Ane Carine Meurer e Cesar De David (Orgs) 2010 129p ISBN 978-85-7282-377-7

83 Tempo espaccedilo e memoacuteria da educaccedilatildeo pressupostos teoacutericos metodoloacutegi-cos e seus objetos de estudo Joseacute Gerardo Vasconcelos Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Edvar Costa de Arauacutejo Joseacute Rogeacuterio Santana Zuleide Fernandes de Queiroz e Ivna de Holanda Pereira (Orgs) 2010 718p ISBN 978-85-7282-385-282

84 Os Diferentes olhares do cotidiano profissional Cassandra Maria Bastos Franco Joseacute Gerardo Vasconcelos e Patriacutecia Maria Bastos Franco 2010 275p ISBN 978-85-7282-381-4

85 Fontes meacutetodos e registros para a histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2010 221p ISBN 978-85-7282-383-8

86 Temas educacionais uma coletacircnea de artigos Luiacutes Taacutevora Furtado Ribeiro e Marco Aureacutelio de Patriacutecio Ribeiro 2010 261p ISBN 978-85-7282-389-0

87 Educaccedilatildeo e diversidade cultural Maria do Carmo Alves do Bomfim Kelma Socorro Alves Lopes de Matos Ana Beatriz Sousa Gomes e Ana Ceacutelia de Sousa Santos 2009 463p ISBN 978-85-7282-376-0

88 Histoacuteria da educaccedilatildeo nas trilhas da pesquisa Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2010 239p ISBN 978-85-7282-384-5

89 Artes do fazer trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2010 335p ISBN 978-85-7282-398-2

90 Laacutepis agulhas e amores histoacuteria de mulheres na contemporaneidade Joseacute Gerardo Vasconcelos Samara Mendes Arauacutejo Silva Cassandra Maria Bastos Franco e Joseacute Rogeacuterio Santana (Orgs) 2010 327p ISBN 978-85-7282-395-1

91 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Raimundo Nonato Junior (Orgs) 2010 337p ISBN 978-85-7282-403-3

92 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade II Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2010 241p ISBN 978-85-7282-407-1

93 Eacutetica e as reverberaccedilotildees do fazer Kleber Jean Matos Lopes Emiacutelio Nolasco de Carvalho e Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Orgs) 2011 205p ISBN 978-85-7282-424-8

94 Contrapontos democracia repuacuteblica e constituiccedilatildeo no Brasil Filomeno Moraes 2010 205p ISBN 978-85-7282-421-7

95 Paulo Freire teorias e praacuteticas em educaccedilatildeo popular mdash escola puacuteblica inclusatildeo humanizaccedilatildeo (Org) 2011 241p ISBN 978-85-7282-419-4

96 Formaccedilatildeo de professores e pesquisas em educaccedilatildeo teorias metodologias praacuteticas e experiecircncias docentes Francisco Ari de Andrade e Jean Mac Cole Tavares Santos (Orgs) 2011 307p ISBN 978-85-7282-427-9

97 Experiecircncias de avaliaccedilatildeo curricular possibilidades teoacuterico-praacuteticas Mei-recele Caliope Leitinho e Patriacutecia Helena Carvalho Holanda (Orgs) 2011 208p ISBN 978-85-7282-437-8

98 Elogio do cotidiano educaccedilatildeo ambiental e a pedagogia silenciosa da caatinga no sertatildeo piauiense Saacutedia Gonccedilalves de Castro (Orgs) 2011 243p ISBN 978-85-7282-438-6

99 Recortes das sexualidades Adriano Henrique Caetano Costa Alexandre Martins Joca e Francisco Pedrosa Ramos Xavier Filho (Orgs) 2011 214p ISBN 978-85-7282-444-6

100 O Pensamento pedagoacutegico hoje Joseacute Gerardo Vasconcelos e Joseacute Rogeacuterio Santana (Orgs) 2011 187p ISBN 978-85-7282-428-6

101 Inovaccedilotildees cibercultura e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vasconcelos Vania Marilande Ceccatto Francisco Herbert Lima Vasconcelos e Juacutelio Wilson Ribeiro (Orgs) 2011 301p ISBN 978-85-7282-429-3

102 Tribuna de vozes Joseacute Gerardo Vasconcelos Renata Rovaris Diorio e Flaacutevio Joseacute Moreira Gonccedilalves (Orgs) 2011 530p ISBN 978-85-7282-446-0

103 Bioinformaacutetica ciecircncias biomeacutedicas e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho Francisco Fleury Uchoa Santos Juacutenior Vacircnia Marilande Ceccatto (Orgs) 2011 277p ISBN 978-85-7282-450-7

104 Dialogando sobre metodologia cientiacutefica Helena Marinho Joseacute Rogeacuterio Santana e (Orgs) 2011 165p ISBN 978-85-7282-463-7

234 d d 235

105 Cultura educaccedilatildeo espaccedilo e tempo Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Keila Andrade Haiashida Lia Machado Fiuza Fialho Rui Martinho Rodrigues e Francisco Ari de Andrade (Orgs) 2011 743p ISBN 978-85-7282-453-8

106 Artefatos da cultura negra no Cearaacute Henrique Cunha Juacutenior Joselina da Silva e Cicera Nunes (Orgs) 2011 283p ISBN 978-85-7282-464-4

107 Espaccedilos e tempos de aprendizagens geografia e educaccedilatildeo na cultura Stanley Braz de Oliveira Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joseacute Gerardo Vasconcelos e Maacutercio Igleacutesias Arauacutejo Silva (Orgs) 2011 157p ISBN 978-85-7282-483-5

108 Muitas histoacuterias muitos olhares relatos de pesquisas na histoacuteria da educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vasconcelos Gablielle Bessa Pereira Maia e Lia Machado Fiuza Fialho (Orgs) 2011 339p ISBN 978-85-7282-466-8

109 Imagem memoacuteria e educaccedilatildeo Joseacute Rogeacuterio Santana Joseacute Gerardo Vas-concelos Lia Machado Fiuza Fialho Cibelle Amorim Martins e Favianni da Silva (Orgs) 2011 322p ISBN 978-85-7282-480-4

110 Corpos de rua cartografia dos saberes Juvenis e o Sociopoetizar dos Desejos dos Educadores Shara Jane Holanda Costa Adad 2011 391p ISBN 978-85-7282-447-7

111 Baratildeo e o prisioneiro biografia e histoacuteria de vida em debate Charliton Joseacute dos Santos Machado Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior e Joseacute Gerardo Vasconcelos 2011 76p ISBN 978-85-7282-475-0

112 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade II Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2011 363p ISBN 978-85-7282-481-1

113 Educaccedilatildeo ambiental e sustentabilidade III Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2011 331p ISBN 978-85-7282-484-2

114 Diaacutelogos em educaccedilatildeo ambiental Kelma Socorro Alves Lopes de Matos e Joseacute Levi Furtado Sampaio (Org) 2012 350p ISBN 978-85-7282-488-0

115 Artes do sentir trajetoacuterias de vida e formaccedilatildeo Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Org) 2011 406p ISBN 978-85-7282-490-3

116 Milagre martiacuterio protagonismo da tradiccedilatildeo religiosa popular de Juazeiro padre Ciacutecero beata Maria de Arauacutejo romeirosas e romarias Luis Eduardo Torres Bedoya (Org) 2011 189p ISBN 978-85-7282-462-091

117 Formaccedilatildeo humana e dialogicidade III encantos que se encontram nos diaacutelogos que acompanham Freire Joatildeo Batista de Oliveira Figueiredo e Maria Eleni Henrique da Silva (Orgs) 2012 212p ISBN 978-85-7282-454-5

118 As contribuiccedilotildees de Paramahansa Yogananda agrave educaccedilatildeo ambiental Arnoacutebio Albuquerque 2011 233p ISBN 978-85-7282-456-9

119 Educaccedilatildeo brasileira em muacuteltiplos olhares Francisco Ari de Andrade Anto-nia Rozimar Machado e Rocha Janote Pires Marques e Helena de Lima Marinho Rodrigues Arauacutejo 2012 326p ISBN 978-85-7282-499-6

120 Educaccedilatildeo musical campos de pesquisa formaccedilatildeo e experiecircncias Luiz Botelho Albuquerque e Pedro Rogeacuterio (Orgs) 2012 296p ISBN 978-7282-505-4

121 A questatildeo da praacutetica e da teoria na formaccedilatildeo do professor Ada Augus-ta Celestino Bezerra Marilene Batista da Cruz Nascimento e Edineide Santana (Orgs) 2012 218p ISBN 978-7282-503-0

122 Histoacuteria da educaccedilatildeo real e virtual em debate Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho (Orgs) 2012 524p ISBN 978-85-7282-509-2

123 Educaccedilatildeo perspectivas e reflexotildees contemporacircneas Alice Nayara dos Santos Ana Paula Vasconcelos de Oliveira Tahim e Gabrielle Silva Marinho (Orgs) 2012 191p ISBN 978-85-7282-491-0

124 Uacutelceras por pressatildeo uma Abordagem Multidisciplinar Miriam Viviane Baron Joseacute Rogeacuterio Santana Cristine Brandenburg Lia Machado Fiuza Fialho e Marcelo Carneiro (Orgs) 2012 315p ISBN 978-85-7282-489-7

125 Somos todos seres muito especiais uma anaacutelise psico-pedagoacutegica da poliacutetica de educaccedilatildeo inclusiva Ada Augusta Celestino Bezerra e Maria Auxiliadora Aragatildeo de Souza 2012 183p ISBN 978-85-7282-517-7

126 Memoacuterias de Baobaacute Sandra Haydeacutee Petit e Geranilde Costa e Silva (Orgs) 2012 281p ISBN 978-85-7282-501-6

127 Caldeiratildeo saberes e praacuteticas educativas Ceacutelia Camelo de Sousa e Lecircda Vascon-celos Carvalho 2012 135p ISBN 978-85-7282-521-4

128 As Redes sociais e seu impacto na cultura e na educaccedilatildeo do seacuteculo XXI Ronaldo Nunes Linhares Simone Lucena e Andrea Versuti (Orgs) 2012 369p ISBN 978-85-7282-522-1

129 Corpografia multiplicidades em fusatildeo Shara Jane Holanda Costa Adad e Fran-cisco de Oliveira Barros Juacutenior (Orgs) 2012 417p ISBN 978-85-7282-527-6

130 Infacircncia e instituiccedilotildees educativas em Sergipe Miguel Andreacute Berger (Org) 2012 203p ISBN 978-85-7282-519-1

131 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade III Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Org) 2012 441p ISBN 978-85-7282-530-6

132 Imprensa impressos e praacuteticas educativas estudos em histoacuteria da edu-caccedilatildeo Miguel Andreacute Berger e Ester Fraga Vilas-Bocircas Carvalho do Nascimento (Orgs) 2012 333p ISBN 978-85-7282-531-3

133 Proteccedilatildeo do patrimocircnio cultural brasileiro por meio do tombamento estudo criacutetico e comparado das legislaccedilotildees estaduais mdash Organizadas por Regiotildees Francisco Humberto Cunha Filho (Org) 2012 183p ISBN 978-85-7282-535-1

134 Afro arte memoacuterias e maacutescaras Henrique Cunha Junior e Maria Ceciacutelia Felix Calaccedila (Orgs) 2012 91p ISBN 978-85-7282-439-2

135 Educaccedilatildeo musical em todos os sentidos Luiz Botelho Albuquerque e Pedro Rogeacuterio (Orgs) 2013 300p ISBN 978-85-7282-559-7

136 Africanidades Caucaienses saberes conceitos e sentimentos Sandra Haydeacutee Petit e Geranilde Costa e Silva (Orgs) 2012 206p ISBN 978-85-7282-590-0

137 Batuques folias e ladainhas [manuscrito] a cultura do quilombo do Cria-uacute em Macapaacute e sua educaccedilatildeo Videira Piedade Lino 2012 399p ISBN 978-85-7282-536-8

138 Conselho escolar processos mobilizaccedilatildeo formaccedilatildeo e tecnologia Francisco Herbert Lima Vasconcelos Swamy de Paula Lima Soares Cibelle Amorim Martins Cefisa Maria Sabino Aguiar (Orgs) 2013 370p ISBN 978-85-7282-563-4

139 Sindicalismo sem Marx a CUT como espelho Jorge Luiacutes de Oliveira 2013 570p ISBN 978-85-7282-572-6

140 Catharina Moura e o Feminismo na Parahyba do Norte processos mobilizaccedilatildeo formaccedilatildeo e tecnologia Charliton Joseacute dos Santos Machado Maria Luacutecia da Silva Nunes e Maacutercia Cristiane Ferreira Mendes (Autores) 2013 131p ISBN 978-85-7282-574-0

141 Sequecircncia Fedathi uma proposta pedagoacutegica para o ensino de matemaacute-tica e ciecircncias Francisco Edisom Eugenio de Sousa Francisco Herbert Lima Vasconcelos Hermiacutenio Borges Neto et al (organizadores) 2013 184p ISBN

978-85-7282-573-3142 Transdisciplinaridade na educaccedilatildeo de jovens e adultos colcha de retalhos

ndash conhecimento emancipaccedilatildeo e autoria Ada Augusta Celestino Bezerra e Paula Tauana Santos 2013 109p ISBN 978-85-7282-476-7

236 d d 237

143 Pedagogia organizacional gestatildeo avaliaccedilatildeo amp praacuteticas educacionais Marcos Antonio Martins Lima e Gabrielle Silva Marinho (organizadores) 2013 221p ISBN 978-85-7282-496-5

144 Educaccedilatildeo e formaccedilatildeo de professores questotildees contemporacircneas Ada Augusta Celestino Bezerra e Marilene Batista da Cruz Nascimento (organizadoras) 2013 368p ISBN 978-85-7282-576-4

145 Configuraccedilatildeo do trabalho docente a instruccedilatildeo primaacuteria em Sergipe no seacuteculo XIX (1826-1889) Simone Silveira Amorim 2013 331p ISBN 978-85-7282-575-7

146 Dez anos da Lei No 1063903 memoacuterias e perspectivas Regina de Fatima de Jesus Mairce da Silva Arauacutejo e Henrique Cunha Juacutenior (Orgs) 2013 366p ISBN 978-85-7282-577-1

147 A Histoacuteria Autores e Atores compreensatildeo do mundo educaccedilatildeo e cidadania Rui Martinho Rodrigues 2013 306p ISBN 978-85-7282-583-2

148 Os intelectuais Rui Martinho Rodrigues 2013 164p ISBN 978-85-7282-581-8149 Dinameacuterico Soares do Nascimento uma histoacuteria de poesia paixatildeo e dor

Charliton Joseacute dos Santos Machado Eliel Ferreira Soares e Fabiana Sena (Autores) 2013 76p ISBN 978-85-7282-580-1

150 Histoacuteria e Memoacuteria da Educaccedilatildeo no Cearaacute Joseacute Gerardo Vasconcelos Lia Machado Fiuza Fialho Joseacute Rogeacuterio Santana Lourdes Rafaella Santos Florecircncio Rui Martinho Rodrigues Dijane Maria Rocha Viacutector e Stanley Braz de Oliveira (Orgs) 2013 218p ISBN 978-85-7282-591-7

151 Pesquisas Biograacuteficas na Educaccedilatildeo Joseacute Gerardo Vasconcelos Joseacute Rogeacuterio Santana Lia Machado Fiuza Fialho Dijane Maria Rocha Victor Antonio Roberto Xavier e Roberta Luacutecia Santos de Oliveira (Orgs) 2013 299p ISBN 978-85-7282-578-8

152 Vejo um museu de grandes novidades o tempo natildeo para Sociopoe-tizando o museu e musealizando a vida Elane Carneiro de Albuquerque 2013 233p ISBN 978-85-7282-587-0

153 A construccedilatildeo da tradiccedilatildeo no Jongo da Serrinha uma etnografia visual do seu processo de espetacularizaccedilatildeo Pedro Somonard 2013 225p ISBN 978-85-7282-588-7

154 Medida socioeducativa de internaccedilatildeo educa Erciacutelia Maria Braga de Olinda (Organizadora) 2013 370p ISBN 978-85-7282-592-4

155 Palavras e admiraccedilotildees Fernando Luiz Ximenes Rocha 2013 208 ISBN 978-85-7282-593-1

156 Educaccedilatildeo Ambiental e sustentabilidade IV Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Organizadora) 2013 564p ISBN 978-85-7282-596-2

157 Educaccedilatildeo Brasileira rumos e prumos Francisco Ari de Andrade Dijane Maria Rocha Viacutector e Regina Claacuteudia Oliveira da Silva (Orgs) 2013 462pISBN 978-85-7282-594-8

158 Curriacuteculo diaacutelogos possiacuteveis Alice Nayara dos Santos e Pedro Rogeacuterio (organizadoras) 2013 418p ISBN 978-85-7282-585-6

159 Pesquisas educacionais biograacuteficas Lia Machado Fiuza Fialho Gildecircnia Moura de Arauacutejo Almeida e Edilson Silva Castro (Orgs) 2013 166p ISBN 978-85-7282-600-6

160 Hieroacutepolis o sagrado o profano e o urbano Raimundo Elmo de Paula Vasconcelos Juacutenior Joumlrn Seemann Josier Ferreira da Silva Christian Dennys

Monteiro de Oliveira e Stanley Braz de Oliveira (Organizadores) 2013 486p ISBN 978-85-7282-603-7

161 Praacuteticas educativas exclusatildeo e resistecircncia Joseacute Gerardo Vasconcelos Lia Machado Fiuza Fialho e Lourdes Rafaella Santos Florecircncio (Organizadores) 2013 166p ISBN 978-85-7282-601-3

162 Cultura de paz eacutetica e espiritualidade IV Kelma Socorro Alves Lopes de Matos (Organizadora) 2014 520p ISBN 978-85-7282-602-0

163 No ar um poeta Henrique Beltratildeo 2014 361p ISBN 978-85-7282-615-0164 Caacute e Acolaacute experiecircncias e debates Multiculturais Gledson Ribeiro de Olivei-

ra Jeannette Filomeno Pouchain Ramos e Bruno Okoudowa (Organizadores) 2014 339p ISBN 978-85-7282-607-5

165 Ensaios em memoacuterias e oralidades Lia Machado Fiuza Fialho Charliton Joseacute dos Santos Machado Gildecircnia Moura de Arauacutejo Almeida e Joseacute Rogeacuterio Santana (Organizadores) 2014 183p ISBN 978-85-7282-610-5

166 Pelos fios da memoacuteria Lia Machado Fiuza Fialho Charliton Joseacute dos Santos Machado Josier Ferreira da Silva e Joseacute Rogeacuterio Santana (Organizadores) 2013 154p ISBN 978-85-7282-609-9

167 Acessibilidade na UFC tessituras possiacuteveis Vanda Magalhatildees Leitatildeo e Tania Vicente Viana (Organizadoras) 2014 237p ISBN 978-85-7282- 611-2

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