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2015 // Catálogo Tropicando // PTTRANSCRIPT
O que apresentamos é apenas mais uma visão de um
movimento de resgate da essência, do amor próprio
e da fé do povo brasileiro.
Não existe a verdade se você não a vive;
Não existe a crueldade se você não a sente;
Não existe o amor sem o sublime;
Não existe a fé sem a perseverança;
Não existe o design sem existirem as diferenças.
TROPICANDO
necessário reinventar formas que
capturassem essa nova realidade”.
Para os tropicalistas, a cultura
consistia em mecânicas de apreensão,
interpretação e reformulação da
circulação da informação, e isso foi
potencializado por eles através do
carnaval, da música nordestina e
da arte de rua, atingindo a grande
massa brasileira.
Oswald de Andrade, em seu
Manifesto Antropófago (1928),
dizia: “Só a antropofagia nos une”,
o que fez com que os tropicalistas
percebessem o Brasil como um país
miscigenado, com índios, africanos e
europeus, e que precisava de uma
libertação moral em prol do diferente.
As informações precisavam tocar
todos os tipos de pessoas.
A Tropicália foi um movimento de
reflexão cultural, que teve início
em 1967, como uma alternativa
criativa de manifestação político-
social. Os tropicalistas acreditavam
que as novas políticas existentes
no Brasil (após 64) só serviam
a uma cultura elitista. Segundo
Martinez Correa, “para expressar
uma nova e complexa realidade, foi
As criações e movimentações
artísticas que aconteceram durante
a Tropicália provocavam o público,
apontando as disparidades, os
descompassos e a multiplicidade
de materiais. As imagens se
desdobravam, contrariando umas às
outras e potencializando tensões.
Influenciado pela Pop Art americana e
pelo Realismo Francês, o Tropicalismo
usou e abusou dos elementos
brasileiros para destacar a questão
nacional: psicodelismo em verde e
amarelo, linguagem publicitária e meios
de comunicação em massa.
“POR QUE NÃO? Por que não ver a
identidade nacional do Brasil como um
processo aberto, em desenvolvimento
permanente?”
Barreiras e limites eram quebrados
em cada palavra, cada objeto.
Tudo era pensado em como fazer
uma vida melhor, mostrando às
pessoas que não havia o definitivo.
Existiam questionamentos saudáveis,
tais como: “Por que limitar as
possíveis experiências, realizando
a arte através de uma forma pré-
concebida?”.
Martinez: “só existe crítica quando se
tem História em progresso”.
Em sequência, Oiticica, movido pelo
Manifesto Antropófago de Oswald de
Andrade, acrescentou: “Antropofagia
seria a defesa que temos contra a
dominação externa.”
Acreditando que a filosofia tropicalista
foi algo que jamais acabará,
celebramos agora os 50 anos do
seu inicio, criando uma coleção
inspirada nesta que é uma das
principais manifestações artísticas do
Brasil. Assim, fizemos uma imersão
nesse movimento político-cultural,
buscando traduzir seus conceitos em
objetos que registram a filosofia da
época e acompanham os movimentos
experimentais do design e os
parâmetros da Mameluca.
“Não pregamos pensamentos
abstratos, mas comunicamos
pensamentos vivos”, afirmavam os
tropicalistas.
A Tropicália usou de uma inovação
estética como fórmula revolucionária,
assim como a Mameluca experimenta
as novas formas de pensamento
dos objetos. A Tropicália conjuga
experimentalismo e crítica; a
Mameluca utiliza a crítica como
laboratório experimental.
Inspirados nesse período da História,
apresentamos móveis musicais,
objetos que vibram, distorcem e
se aglutinam; idéias que acendem a
curiosidade sobre questionamentos,
como Por Quê?, Onde?, Como?
A introdução da guitarra elétrica na
música brasileira nos fez pensar,
por exemplo, no efeito visual que
as distorções sonoras produziriam
na mente das pessoas. Assim,
retratamos visualmente o efeito
causado pela multiplicação dos cabos
de guitarras sobrepostos uns aos
outros durante o movimento. Por
se tratar de uma inspiração sonora,
montamos o objeto solto no espaço e
demos o nome de Vertigem.
Em 1967, durante o 3º Festival da
Canção, Caetano Veloso apresentou a
música “Alegria, Alegria”, que viria se
tornar um dos ícones do Movimento
Tropicalista. Em tom contido, com
sua camisa de gola rolê laranja e
seus olhos brilhantes, ele traduziu
todo o sentimento ofuscado pelos
transtornos políticos da época. Esse
é o momento retratado na peça
Iluminado.
Já o Manifesto Antropófago, documento
fundamental para o movimento tropicalista, está
retratado no bar Antropófago. Seus onze mil
espinhos criam uma espécie de antropofagia do
objeto, onde perdemos a percepção das formas,
através da fagocitose entre o bar e os objetos
que estão dentro dele. Sua forma é inspirada na
mistura da bandeira brasileira com as nuvens de
pensamento usadas na linguagem de histórias em
quadrinhos e fotonovelas típicos dos anos 70.
Durante o final da década de 60,
auge da repressão política no país,
uns eram acolhidos, enquanto outros
buscavam sobreviver com seus
próprios pensamentos. Os Mutantes
foram alguns dos poucos que
sobreviveram à crueldade da época,
mantendo suas crenças vivas. Eles
aqueciam a alma sempre que seus
pensamentos palpitavam emoções.
Quisemos retratar o cérebro do grupo
com uma mesa chamada Portento que
altera de humor de acordo com sua
percepção sonora, exatamente como
os mutantes refletiam seu estado de
espírito através de suas músicas.
Revolucionando o conceito de objeto
nas artes plásticas, Hélio Oiticica
criou os Bólides, caixas para guardar
suas memórias, manifestações e
desejos velados. Unindo-os aos
seus penetráveis, criamos o objeto
Transestruturas, peça com escala
cromática translúcida, que altera
sua percepção visual, gerando
inúmeras utilidades e possibilidades de
composições.
Os Parangolés, de Hélio Oiticica,
serviram como fonte de inspiração
para a criação de uma poltrona
de balanço Supra. Panos, sarjas,
plásticos, entre outros materiais
sobrepostos, ganhavam sentido de
acordo com a experiência de quem os
vestia. Seu giro era mágico, explodia
as expressões guardadas dentro de
cada um. Era o momento em que as
pessoas entravam em contato consigo
mesmas. Nosso balanço retrata
a riqueza dessa criação, fazendo
um contraponto à obra de Oiticica.
Utilizando materiais nobres, cada peça
sobreposta tem uma função, com o
objetivo de provocar uma experiência
prazerosa de reflexão.
A favela foi um local de grande
inspiração para os Tropicalistas. Era
onde se buscava a raiz do povo, seus
sonhos e necessidades. No morro
da Mangueira, Hélio Oiticica explorou
a arquitetura das favelas. A partir
daí, em 1967, apresentou a obra
Tropicália no Museu de Arte Moderna
do Rio de Janeiro – MAM, durante a
exposição Nova Objetividade.
“O ato de entrar no trabalho se
produz a sensação que se está
pisando no chão novamente.” – Hélio
Oiticica
Buscando a alma da brasilidade
apresentada nessa frase, criamos
uma peça onde a desorganização
visual paira. Na peça Cafofo,
encontra-se a essência das nossas
riquezas naturais. Quatro bólides,
espalhados aleatoriamente, trazem,
cada um, uma matéria prima originária
do solo brasileiro. Árvore, borracha,
metais e pedras preciosas são
encontradas em pó, proporcionando
uma experiência de percepção visual e
sensorial ao mesmo tempo.
Como o intuito de celebrar a
miscigenação brasileira, buscamos
as raízes do nosso povo, desde a
colonização. A realidade da nossa
história racial foi uma surpresa
para nós. Hoje, por exemplo, temos
apenas o percentual de 10% de
sangue indígena brasileiro, para 30%
de africano e 60% de europeu, em
média. Com esses dados em mente,
criamos a luminária Ninho que repete
essa mesma proporção presente
no DNA do brasileiro, combinando
madeiras de cada continente.