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Volume I

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PresidenteVivian Nicolle Barbosa de Alcântara

1o Vice-PresidenteRicard Pereira Silveira

Vice-PresidentesRoberto Sérgio Oliveira FerreiraVerônica Maria Rocha PerdigãoCarlos Roberto Carvalho FujitaLauro Fiuza Júnior

Diretor AdministrativoRicardo Nóbrega Teixeira

Diretor Administrativo AdjuntoFrancisco de Assis Philomeno Gomes Jr.

Diretor FinanceiroRicardo Pereira Sales

Diretor Financeiro AdjuntoFelipe Soares Gurgel

Diretores JurídicosCid Marconi Gurgel de SouzaRaul Amaral Júnior

Diretor de Relacionamento com AssociadoMarcos Silva Montenegro

Diretor de IntegraçãoCarlos Ernesto Albuquerque de Holanda

Diretor de Relacionamento InstitucionalFrancisco Fernando Rocha Novais

Diretor Especial da Copa 2014Régis Nogueira de Medeiros

Diretor TécnicoFrancisco Francílio Dourado da Silva Filho

Diretor OuvidorDrauzio Barros Leal Neto

DiretoresElias Sousa do CarmoFrancisco Eulálio Santiago CostaHerbert da Costa VelhoJosé Dias de Vasconcelos FilhoLuiz Eugênio Lopes PontesLuiz Francisco Juaçaba EstevesPedro Jorge Joffily BezerraRafael Arcanjo Soares Araújo Neto

DIRETORIA BIÊNIO 2012-2014

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SecretáriaCláudia Lima

Auxiliar AdministrativoHanderson Café

Assessoria JurídicaLaerte Castro Alves

Assessoria de ComunicaçãoSuzete Nocrato

ConsultoresCláudio Ferreira LimaFirmo de Castro

Diretor ExecutivoLeonardo Bayma de Rebouças

Fotógrafo OficialMarcelo Rolim

Ricardo Barcelar PaivaVanessa Valente de Oliveira

Conselheiros EstratégicosRoberto Proença de MacêdoFernando Cirino GurgelJorge Alberto Vieira Studart GomesAlexandre Pereira SilvaFrancisco de Queiroz Maia JúniorFrancisco Assis Machado Neto

Conselheiros Fiscais TitularesCláudio Sidrim TarginoLuis Eduardo Fontenelle BarrosJosé Ricardo Montenegro Cavalcante

Conselheiros Fiscais SuplentesAntonio Marcos Ribeiro do PradoEdilson Teixeira JúniorEduardo Lima de Carvalho Rocha

Conselheiro da PresidênciaCarlos Prado

Diretora Delegada da Zona SulPatrícia Neri Coêlho Machado

Diretor Delegado da Zona NorteRaimundo Inácio Ribeiro Neto

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Coordenação GeralNicolle Barbosa

Coordenação TécnicaCláudio Ferreira LimaFirmo de Castro

Comitê PolíticoCarlos PradoLima MatosNicolle BarbosaCláudio Ferreira LimaFirmo de Castro

Coordenação de EventosYHR Eventos | Yáskara Oliveira

Coordenação de ComunicaçãoAD2M | Ana Maria Xavier

ColaboradoresAntônio Nilson Craveiro Holanda - BrasíliaTânia Bacelar de Araújo - PernambucoArmando Avena - Bahia

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Apoio InstitucionalBanco de Nordeste do Brasil (BNB)Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresa (SEBRAE)Petrobras Transporte S/A (Transpetro)Centro Insdustrial do Ceará (CIC)Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf)Ministério da Integração Nacional do BrasilGoverno Federal do BrasilGoverno do Estado do CearáGoverno do Estado de PernambucoGoverno do Estado do PiauíConfederação Nacional da Indústria (CNI)Confederação Navional dos Jovens Empresários (CONAJE)Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA)Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC)Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (FIEMA) Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEP)Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE)Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN)Federação das Indústrias do Estado de Sergipe (FIES)Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (FAEC)Federação das Associações do Comércio Indústria e Agropecuária do Ceará (FACIC)Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do CearáCâmara de Dirigentes Lojistas de FortalezaFórum Empresarial da BahiaAssociação Industrial do PiauíFecomércio AlagoasFecomércio CearáFecomércio BahiaFecomércio Maranhão Fecomércio Paraíba Fecomércio Pernambuco Fecomércio PiauíFecomércio Rio Grande do NorteFecomércio Sergipe

AgradecimentoGrupo de Comunicação O PovoJornal Diário do NordesteJornal O Estado

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Projeto Gráfico e EditorialE2 Estratégias Empresariais

Coordenação GeralNicolle Barbosa

Coordenação EditorialFrancílio Dourado Filho

Consultoria EditorialCláudio Ferreira Lima

Direção de ArteKeyla Américo

Capa, Design e DiagramaçãoAugusto Oliveira

TranscriçãoImelda Souza

JornalistaVanessa Lourenço

Copyright © 2013 by Centro Industrial do Ceará - CIC

Esta obra é uma publicação do Centro Industrial do Ceará - CIC, produzida pela E2 Estratégias Empre-sariais. Sua distribuição é gratuita. Todas as ilustrações apresentadas são de uso restrito à publicação e fazem parte do arquivo CIC.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Centro Industrial do Ceará - CICRelatório Integra Brasil / Centro Industrial doCeará - CIC . - Fortaleza: E2 Editora, 2013

______ xx p. :Il.ISBN: 978-85-xxx-xxxx-x1. Gestão Empresarial I. Título

CDD: xxx.xxx

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Luciano Coutinho . presidente do BNDES ................................................. 11

Roberto Macêdo . presidente do Sistema FIEC .......................................... 17

Nicolle Barbosa . presidente do CIC ........................................................... 21

Sergio Machado . presidente da TRANSPETRO ........................................ 25

Beto Studart . vice-presidente da FIEC ....................................................... 29

Carlos Prado . vice-presidente da FIEC ...................................................... 31

INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Cláudio Ferreira Lima e Firmo de Castro . Coordenação Técnica ............ 37

WORKSHOP. Fortaleza, Ceará

Aspectos Político-Institucionais do Desenvolvimento do Nordeste ............67

SUMÁRIO

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WORKSHOP. Salvador, Bahia

Nordeste: situação atual e transformações recentes ................................175

WORKSHOP. Recife, Pernambuco

Aspectos Estratégicos do Desenvolvimento do Nordeste .........................329

WORKSHOP. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro

O Nordeste Visto de Fora .............................................................................401

Mesa I . Oportunidades e Desafios para o Nordeste - Visão Empresarial .......427

Mesa II . Oportunidades e Desafios para o Nordeste - Visão Acadêmica .....481

Mesa III. Oportunidades e Desafios para o Nordeste - Visão Governamental .....531

Mesa IV. Oportunidades e Desafios para o Nordeste - Visão Internacional .....589

MESA-REDONDA. Campina Grande, Paraíba

As Desigualdades Intraregionais na Economia

Nordestina: Soluções e Encaminhamentos ................................................647

POSFÁCIO ............................................................................................... 677

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Luciano CoutinhoPRESIDENTE DO BNDES

O crescimento da economia brasileira na última década diferencia-se

positivamente do padrão histórico. Apesar da grave crise internacio-

nal, aprofundada após setembro de 2008, a economia brasileira tem sido ca-

paz de sustentar o crescimento com uma característica benigna peculiar. A

economia cresce e a desigualdade diminui, combinando um mercado interno

dinâmico, inclusão social, melhoria da distribuição de renda, aumentos dos

salários reais e dos empregos formais e redução drástica da pobreza absolu-

ta, contribuindo não só para mitigar desigualdades, mas também fortalecer

a coesão e consolidar a democracia no País. Foram implantadas as bases

para impulsionar um ciclo virtuoso de crescimento, combinando fundamen-

tos macroeconômicos adequados com investimentos em infraestrutura, di-

namização do mercado doméstico e expansão do crédito.

BNDES

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Os bons fundamentos macroeconômicos, com reservas externas eleva-

das, permitiram ao governo brasileiro atuar anticiclicamente, com uma ca-

pacidade de resposta que não tinha nos anos 1980 e 90 e, nem mesmo na pri-

meira metade da década passada, quando as crises internacionais rebatiam

no Brasil de maneira muito profunda. Em dois momentos em que a crise

internacional se agravou - primeiramente no fim de 2008 e, depois, ao longo

de 2012 - o governo tomou iniciativas rápidas e pragmáticas, mobilizando

instrumentos monetários, fiscais, regulatórios e financeiros, e aumentando

o crédito de longo prazo.

Depois de três décadas de crise, a economia brasileira tem um horizonte

razoavelmente previsível de crescimento e estabilidade que permite pensar

o futuro de maneira planejada e vislumbrar oportunidades de investimento

que possam ser articuladas e planejadas de forma indutora das expectati-

vas do sistema empresarial. Sublinho, entre estas oportunidades, aquelas

que serão motores autônomos de crescimento da economia nos próximos

anos. Primeiro, a fronteira de investimentos na indústria de Petróleo e Gás -

P&G, pois o Brasil tem hoje o maior programa de investimento deste setor no

mundo, executado de maneira muito rigorosa com gestão firme, pela Petro-

bras. Segundo, ressalto as oportunidades de investimento em infraestrutu-

ra, especialmente em logística, em função das deficiências acumuladas por

décadas de desinvestimento, o Plano de Investimentos em Logística - PIL,

grande prioridade da presidenta Dilma Rousseff. Em terceiro lugar, mencio-

no a grande carteira de projetos em energias, carteira extremamente firme,

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com muitos projetos importantes em energias renováveis. Destaco, ainda,

os investimentos públicos dos estados, alguns em parceria com o gover-

no federal, no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, e

os investimentos das cadeias competitivas dos nossos agronegócios. Estas

são oportunidades inegavelmente atrativas, mas temos também condições

de dinamizar sistemas industriais inovadores, adensar cadeias produtivas,

olhar o entorno dos projetos estruturantes e combinar o grande processo

de inclusão produtiva, melhoria da renda, com sustentabilidade ambiental e

agregação de valor.

Mesmo nos anos de crescimento mais baixo, a economia brasileira tem

conseguido criar empregos formais, mantendo o mercado interno ativo,

combinando aumentos da ocupação econômica com aumentos da renda

real, que permite a sustentação do dinamismo do mercado e o aumento do

crédito.

O governo da presidenta Dilma de maneira muito acertada enfocou a

base mais pobre da pirâmide social, buscando erradicar a pobreza extrema.

Depois desse feito, ainda teremos que trabalhar muito para melhorar a base

educacional da sociedade e sustentar o círculo virtuoso de inclusão social

em patamares mais elevados de renda. Chamo especial atenção para as 69

milhões de pessoas da base da pirâmide (classes D e E) que estão distribuí-

das principalmente nas regiões Nordeste e Norte.

Esse desenvolvimento recente com melhoria da distribuição de renda se

refletiu em uma evolução econômica qualitativa para as regiões Nordeste,

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Norte e Centro-Oeste, que cresceram mais do que as outras. Foi possível

nos últimos anos melhorar substancialmente o peso relativo destes frente

ao das demais regiões, pois o novo ciclo de desenvolvimento favoreceu a

desconcentração regional. Além disso, ocorreu um processo de redução das

desigualdades sociais dentro das regiões mais pobres. O BNDES tem sido

parceiro das políticas de desconcentração regional, através de varias inicia-

tivas de fomento à produção e aos investimentos de infraestrutura.

Olhando para o futuro, é importante que não deixemos escapar as opor-

tunidades que serão propiciadas pela continuidade das políticas sociais e

pelos investimentos estruturantes. É essencial ter estratégias para maximi-

zar os potenciais, endogeneizar a dinâmica em curso e enraizar o desenvol-

vimento, com novas e criativas formas de apoio que sejam mais inclusivas

e mais adequadas à diversidade sociocultural brasileira, tendo em conta as

características regionais. Uma visão de futuro também deve priorizar a ex-

pansão e especialmente a qualificação dos serviços públicos como saúde,

educação, transportes coletivos e saneamento. Esses serviços se apoiam em

segmentos produtivos muito diversificados, com graus variados de intensi-

dade tecnológica e podem ser estimulados pelas compras governamentais.

Necessário se faz, ainda, o reforço do pacto federativo, com renovação e

articulação da capacidade de planejamento das unidades da federação.

A implementação de novas políticas de desenvolvimento industrial in-

tensivas em conhecimento requer a articulação e o fortalecimento de em-

preendedores, grandes e pequenos, desempenhando distintas funções nos

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sistemas e arranjos produtivos espalhados pelo vasto território brasileiro.

Adensar e revigorar o tecido empresarial, valorizando a formação e qualifi-

cação de trabalhadores, mobilizando e enraizando capacitações produtivas

e inovativas no país coloca-se como oportunidade para sustentar um ciclo

de desenvolvimento inclusivo, regionalmente diversificado e competitivo. O

fortalecimento e a melhor distribuição regional das atividades econômicas,

complementando e potencializando os efeitos positivos das políticas so-

ciais, além de ampliar nossa capacidade de resistência a crises, certamen-

te contribuirá para descortinar novos caminhos para um desenvolvimento

mais justo, apropriado e sustentável.

Desta forma, parabenizo a oportuna iniciativa do Integra Brasil - Fórum

Nordeste no Brasil e no Mundo, organizada pelo Centro Industrial do Ceará

- CIC e pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará - FIEC, que pro-

moveu um importante espaço para se pensar a região. Acredito na força do

Nordeste em aproveitar as oportunidades para buscar um novo paradigma

de desenvolvimento inovador, com inclusão social, sustentabilidade, edu-

cação e qualificação de alto nível, fortalecimento do empreendedorismo e

liderança em sistemas intensivos em conhecimento. Foi com muita satis-

fação que o BNDES apoiou o conjunto das discussões realizadas. Somos

um aliado interessado nessa agenda e é grande a expectativa de ver seus

resultados publicados, impulsionando a retomada das reflexões sobre o fu-

turo do Nordeste.

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Roberto MacêdoPRESIDENTE DO SISTEMA FIEC

É com grande satisfação que nós do SFIEC congratulamo-nos com to-

dos que nas mais diferentes formas contribuíram para a viabilidade do

Integra Brasil - Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo, especialmente com a

equipe do CIC. Vemos a sistematização dessas ideias colhidas e produzidas

em um grande esforço coletivo, ao longo de meses de articulação e trabalho,

que envolveram centenas de pessoas das mais variadas crenças, competên-

cias, conhecimentos e posicionamentos políticos, alinhados por uma visão

de longo prazo sobre um Nordeste desenvolvido em um Brasil de desenvol-

vimento equilibrado.

Maior ainda será a alegria quando pudermos ver a colocação em prática

de tantas coisas relevantes produzidas na dinâmica de encontros, debates

e proposições ocorridos nos diversos estados da região, no Rio de Janei-

FIEC

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ro e em Brasília, movimentando empresários, parlamentares, membros dos

poderes executivos e acadêmicos em busca de soluções para problemas,

estratégias para aproveitamento de oportunidades e alternativas para o de-

senvolvimento integrado.

Minha crença na possibilidade de executarmos o que foi pensado decorre

da percepção de como é forte a vontade de união de forças ativas do Nor-

deste para integrar a região no contexto nacional, numa perspectiva de fe-

deração cooperativa, em prol do desenvolvimento equilibrado do País. Para

que isso aconteça é preciso uma certa dose de humildade, para fazer com

que o individualismo não impeça que cada estado pense no Nordeste como

um todo, ao pensar em seu próprio desenvolvimento.

Os ganhos que poderão resultar das convergências de interesses surgi-

rão nas ações conjuntas e continuadas de agentes da iniciativa privada, do

Estado e da sociedade, a partir de combinações entre cada uma dessas es-

feras. Se a cooperação é possível entre nações soberanas, como no exemplo

da União Europeia, com seus 27 países, 25 línguas oficiais e 500 milhões de

pessoas, é de se esperar que isso seja também possível no caso do Nordes-

te, com os nossos nove estados, uma só língua e 58 milhões de habitantes.

A contribuição do setor produtivo, como motor econômico do país e da

região, já mostrou sua importância durante essa primeira etapa da nossa

mobilização, e muito maior poderá ser nas próximas fases quando o desa-

fio principal será o de fazer acontecer o que foi planejado, a exemplo do

“Projeto Nordeste Competitivo”, da CNI, focado na viabilização de inves-

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timentos na infraestrutura no nível necessário para dar suporte ao nosso

desenvolvimento.

Para que se tenha um Brasil de desenvolvimento equilibrado, indepen-

dentemente de onde se esteja o ângulo de observação precisa captar o País

em todas as suas interações, fazendo os olhares se entrecruzarem nas mais

diversas direções, do regional para o regional, do regional para o nacional

e do nacional para o regional. Tendo como alavanca o crescimento do nos-

so mercado de consumo, fazendo os investimentos necessários e lançando

mão das preciosas estratégias e proposições contidas neste documento,

certamente teremos um Nordeste desenvolvido, interagindo com todas as

regiões do continente Brasil.

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Nicolle BarbosaPRESIDENTE DO CIC COORDENADORA GERAL DO INTEGRA BRASIL

Ao longo dos últimos 95 anos o Centro Industrial do Ceará (CIC) tem sido

protagonista da história econômica, social e política do nosso Estado.

Comprometido com a construção de uma sociedade em constante evo-

lução, elegeu como pressupostos de sua atuação, a defesa intransigente da

democracia, das liberdades humanas e da livre iniciativa. Por conta disto,

adotou como missão institucional, “envolver empresas, sociedade e gover-

no, na promoção coletiva do desenvolvimento sustentável do Ceará”, e por

extensão, de todo o País.

O “Integra Brasil - Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo”, é fruto deste

comprometimento; sua realização é um largo passo rumo ao cumprimento

de nossa missão e à concretização do que traçamos como nossa visão de

futuro.

CIC

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A motivação para a construção deste movimento veio com a constatação

da ausência de consistentes políticas públicas de desenvolvimento regional,

de integração nacional e de redução das desigualdades socioeconômicas

no território brasileiro, o que ampliava sistematicamente o hiato entre as

regiões do país, tornando imperativo uma tomada de atitude por parte da-

queles que, como nós, acreditam valer a pena investir e viver no Brasil.

É fato que, mesmo considerados os avanços obtidos em alguns aspectos

econômicos e sociais experimentados nas últimas décadas, as disparidades

do nível de condições de vida entre as populações do Nordeste e as que ha-

bitam o eixo Sul-Sudeste, continuam a se estender, exigindo o empenho de

todos na construção coletiva de uma agenda de desenvolvimento verdadei-

ramente sustentável para o País.

Há mais de meio século o Estado brasileiro tem esboçado intervenções,

mas quase sempre imprimindo políticas meramente paliativas, descontinua-

das e desconectadas da realidade, da evolução tecnológica e das transfor-

mações sociais em curso. A inconsequência das ações até então tomadas,

salvo raras exceções, chega a comprometer os mais lídimos princípios fe-

derativos nos quais se apoia a organização social e política nacional. Cabe,

portanto, à nação brasileira, reagir de forma estruturada, propondo soluções

embasadas em estudos coerentes, discutidos de forma exaustiva mas obje-

tivamente.

O Integra Brasil se fez agente desta reação. Com ele conseguimos reunir

atores do universo acadêmico, das classes empresariais, da sociedade dita

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organizada e das diferentes instâncias políticas – legislativas e executivas

– dos nove estados nordestinos e de outras regiões, para analisar estudos

e pesquisas científicas, debater ideias e pensamentos, discutir caminhos,

propor soluções e instigar, de forma consistente, a luta pela redução das

desigualdades regionais vigentes no País. Como resultado de médio e longo

prazo, alentava-nos a possibilidade de criar a ambiência necessária à indu-

ção, a partir do Nordeste, de uma integração econômica virtuosa do Bra-

sil, que contemplasse o fortalecimento do nosso mercado interno e criasse

condições favoráveis ao melhor aproveitamento das múltiplas oportunida-

des advindas com a abertura e a ampliação das fronteiras mercadológicas

mundiais.

Este livro-documento que ora apresentamos à sociedade brasileira, tra-

duz o resultado do esforço de todos que espontaneamente aceitaram o de-

safio imposto e com ele se envolveram integralmente por quase dois anos.

De sua leitura, de seu estudo, acreditamos, haverá de nascer argumentos

norteadores de um novo pensamento regional, que, respeitadas as peculia-

ridades e valoradas as potencialidades de cada Estado. Nossa equipe, aliás,

já está trabalhando na formatação de um “Plano de Ação Estratégica” que

visa contribuir para o resgate e consolidação do valor político e econômico

do Nordeste no contexto nacional, e projetar, ainda, a competência de nossa

região no cenário mundial.

Ressaltamos, porém, que este plano a ser entregue pelo CIC, exigirá de

todos, e de cada um de nós, um compromisso coletivo com sua contínua

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atualização. Com ele voltaremos a percorrer os nove Estados do Nordeste,

o Congresso Nacional, as instituições parceiras; procuraremos incutir sua

propostas nas agendas dos candidatos aos governos estaduais e à presidên-

cia da república. Queremos construir uma rede de parlamentares, empresá-

rios, acadêmicos e demais lideranças sociais que se comprometam com a

continuidade e defesa desta ideia que não daqueles que até a iniciaram, mas

de todos nós brasileiros e brasileiras que acreditamos neste país.

Crentes de que somos capazes de escrever uma nova história para o Nor-

deste, uma história que considere os nossos valores democráticos, a nossa

consciência ecológica, a nossa multiplicidade de riquezas e o nosso com-

promisso social, é que construímos e conduzimos o Integra Brasil até aqui.

Cabe agora, aos que conosco seguirão e aos que haverão de vir, alimentar e

manter esta chama acesa, criando as condições essenciais para a conquista

de um real equilíbrio federativo.

Que consigamos chegar lá!

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Novamente o Centro Industrial do Ceará (CIC) fez história. O seminário

Integra Brasil 2013 realizou uma produtiva discussão sobre os rumos

da Região Nordeste.

Para mim, ex-presidente desta casa, participar do painel “Infraestrutura

para o Desenvolvimento do Nordeste: Transporte, Logística e Telecomuni-

cações”, foi a oportunidade de contribuir para discutir as alternativas que

proporcionem novos caminhos para a nossa região. Temos que resolver uma

questão prioritária: o crescimento da nossa renda ainda não trouxe o aumen-

to do nosso peso relativo no PIB nacional. Esse momento é único. Nosso

País cresceu e se desenvolveu como nunca, nos últimos anos. Uma popula-

ção equivalente à da Argentina integrou-se à classe média. Por isso mesmo,

não podemos parar. Temos que continuar crescendo e, ao mesmo tempo, eli-

Sergio MachadoPRESIDENTE DA TRANSPETRO

TRANSPETRO

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minar os gargalos, tornando o Brasil ainda mais desenvolvido e socialmente

justo. O clamor das ruas demonstrou que ainda há muito a fazer.

Com o Nordeste não é diferente. Nunca a nossa região recebeu investi-

mentos federais tão volumosos. Crescemos muito, avançamos. Mas temos,

também, imensos desafios à nossa frente. O maior deles é reter na região os

recursos que vêm através de programas compensatórios, ajudando a melho-

rar a vida de milhões de pessoas.

Os recursos e investimentos vindos de fora não devem apenas “passear”

pelo Nordeste. Devem vir para ficar, para que a nossa região mude sua es-

trutura econômica e se desenvolva com consistência. Se estivermos, por

exemplo, diante de um rio caudaloso, não podemos utilizá-lo só para ter água

garantida e não morrer de sede. Temos que ir além e represar o rio, transfor-

mando-o numa usina que nos assegure energia, desenvolvimento e progresso.

No painel, pudemos constatar que ainda somos muito dependentes das

transferências federais, que, mesmo assim, não resolvem nossas deficiên-

cias: a fatia do Nordeste em recursos para pesquisa e desenvolvimento re-

presenta apenas 5% do bolo nacional, contra os 73% que vão para o Sudeste.

Na educação, o investimento do governo federal no Nordeste é de 11,4%,

enquanto no Centro-Sul é de 60%.

Nosso comércio com os estados de outras regiões do País é deficitário.

Continuamos enviando para fora da região as riquezas que criamos. Somos

28% da população brasileira, mas o PIB da região continua estagnado em

pouco mais de 13 % do PIB nacional.

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A receita para mudar o quadro macroeconômico passa por uma gestão

moderna e racional. Só vamos melhorar, de fato, quando investirmos em nos-

so próprio potencial, estimulando nossos cientistas e pesquisadores, atrain-

do empresas que invistam pesadamente em inovação e tecnologia de ponta

e criando uma forte cadeia produtiva local. Só assim, a riqueza gerada no

Nordeste vai permanecer na região. Melhorar a infraestrutura é importante,

mas o fundamental é desenvolvermos uma economia forte, competitiva.

As palestras deixaram claro ser importante incrementar atividades eco-

nômicas de alta e média intensidade tecnológica, além de fomentar inves-

timentos em educação, tecnologia e capacitação. Mais do que isso: temos

que abandonar não só as nefastas guerras fiscais, mas também rivalidades

pessoais e regionais, condição fundamental para criarmos uma verdadeira

política regional de desenvolvimento.

Portanto, é essencial que sejamos capazes de cumprir, com competên-

cia, a agenda que nos é delegada pela sociedade. Temos que ser visionários,

definir o futuro que queremos e escolher o caminho mais adequado. E o úni-

co caminho capaz de conduzir o Nordeste a um futuro de real crescimento

social e econômico é o investimento maciço em educação e tecnologia.

Parabéns ao CIC, por continuar a ser a vanguarda do pensamento no

Ceará, no Nordeste e no Brasil.

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O Integra Brasil é um movimento que nasceu com o propósito de unir

forças na construção de estratégias econômicas e de negociações

políticas capazes de reduzir as desigualdades regionais e colaborar com o

desenvolvimento do Brasil. Esse processo passa necessariamente pelo for-

talecimento do Nordeste, tão relegado ao longo da história, mas que sem-

pre teve um papel estratégico para o país em toda a sua riqueza natural,

de raízes culturais, de localização geográfica e, mais recentemente, por um

protagonismo econômico inquestionável.

Foi ainda no início do ano de 2012 que tomei conhecimento do movimento.

À época, ainda sem marca definida, mas com uma base já formada por perso-

nalidades de extrema competência e uma ampla folha de serviços prestados

à sociedade, como Cláudio Ferreira Lima, Lima Matos, Carlos Prado e Firmo

Beto StudartVICE-PRESIDENTE DA FIEC

FIEC

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de Castro, e tendo à frente a liderança forte e ao mesmo tempo graciosa de

Nicolle Barbosa, presidente do CIC, a iniciativa surgia com o DNA do suces-

so. Quando me deparei com a empolgação da jovem Nicolle ao me explicar a

união de esforços, talentos e ideias canalizados em prol de um projeto com

propósitos transformadores, prontamente me dispus a contribuir. Como vice-

-presidente da Federação das Indústrias do Ceará e, principalmente, enquan-

to cidadão, empresário, brasileiro, nordestino, cearense, percebi a relevância

do movimento do grupo liderado pelo CIC. E não podia deixar de participar.

Era pouco provável que o Integra Brasil não conseguisse atingir seus ob-

jetivos de mobilizar, aglutinar e agregar bons valores para cerrar trincheiras

nesta cruzada em torno da busca dos melhores caminhos para o desenvol-

vimento do Nordeste e do Brasil. Ao longo da trajetória percorrida desde a

ideia original, o movimento reuniu pessoas, entidades e instituições durante

os diversos encontros, viagens da comitiva e workshops preparatórios, além

de contatos estratégicos e debates de ideias a respeito do equilíbrio federa-

tivo e seus benefícios. Mais do que um documento com todo o compilado do

que foi debatido, o mais significativo resultado do Integra Brasil foi o revigo-

rar da confiança em nossas lideranças e na capacidade de se construir um

Brasil mais igualitário e com potencial para crescer e consolidar seu papel

de potência econômica.

Estamos confiantes que a semente plantada e que germinou com o Inte-

gra Brasil possa nos trazer bons frutos, desejando a todos e a você, Nicolle,

um grande abraço.

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Como brasileiros, é necessário que meditemos sobre o País que deseja-

mos para nossos descendentes. As desigualdades regionais nunca per-

mitirão que haja uma União Federativa estável. As trocas de ideias promovidas

pelo Integra Brasil trouxeram contribuições valiosas de pensadores econômi-

cos e sociais. Comprovou-se o fato de que o PIB per capita da Região Nordeste

esteve sempre, desde 1939, abaixo da metade do PIB per capita nacional.

Registrou-se a atitude de organizações como a União Europeia, um mo-

delo de confederação, onde se eleva o PIB per capita das nações recém-

-admitidas, de forma que se reduza a diferença das mesmas em relação

ao PIB per capita da UE. Na forma de investimentos em infraestrutura, são

aportados recursos em volume suficiente para estimular as atividades que

propiciem essa elevação do PIB per capita.

Carlos PradoVICE-PRESIDENTE DA FIEC

FIEC

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Constatou-se que políticas sociais de renda mínima provocam uma rea-

ção positiva nas regiões beneficiadas, durante algum tempo. Não durante

todo o tempo. Somente os grandes investimentos em educação e infraestru-

tura, aliados à incentivos reais para os investimentos privados, geradores de

empregos, é que podem propiciar uma elevação consistente da renda.

A assunção, pelo governo federal, da responsabilidade pelos incentivos

aos investimentos privados, retirando-os da alçada dos Estados, poderá eli-

minar a chamada “guerra fiscal”, podendo direcioná-los melhor. É inegável

que a simplificação tributária, com o imposto cobrado na ponta de venda, de

forma uniforme, é o único caminho que permitirá a redução da carga tribu-

tária e, mais importante, do emaranhado fiscal que exige um esforço admi-

nistrativo desproporcional, das atividades produtivas nacionais, se compa-

radas com os demais países do globo.

A constatação de que o Nordeste, assim como as demais regiões do Bra-

sil são mercados cativos do Sul/Sudeste, torna a desigualdade atual ainda

mais dolorosa para as regiões mais pobres do país. Com a elevada carga

tributária sobre os produtos, se comparada às dos demais países, o Sudeste

vende “impostos” na forma de produtos. Nas estatísticas oficiais, os impos-

tos sobre produtos aparecem como tendo sido gerados no Sudeste. Ocorre

que foram pagos pelas regiões compradoras dos bens: Nordeste, Norte e

Centro-Oeste.

No aspecto financeiro, outra aberração constatada: as matrizes dos ban-

cos nacionais, em sua quase totalidade, estão localizadas no Sudeste. As-

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sim, os depósitos bancários quando feitos de outras regiões, imediatamente

são transferidos eletronicamente para essas regiões. Esses mesmos bancos

emprestam dinheiro para as regiões depositantes. A diferença entre o que

recebem em depósitos e o que emprestam para as regiões fora do Sudeste,

equivale à algumas vezes o valor acumulado do FNE - Fundo de Investimen-

tos do Nordeste.

Ou seja, na mídia, temos o Nordeste recebendo dinheiro do Sudeste,

como se fora uma “ajuda”. Na prática, é o Nordeste financiando o Sudeste

do Brasil. O Integra Brasil se apresenta como parte da solução para a In-

tegração Nacional. Tem a pretensão legítima de, como movimento do setor

produtivo da sociedade, de forma suprapartidária, apresentar aos poderes

constituídos as conclusões dessa etapa inicial, que contou com a participa-

ção de todos os estados do Nordeste.

Essas conclusões deverão merecer a atenção do Congresso Nacional,

como a expressão da sociedade que demonstra os caminhos que gostaria

fossem seguidos. Uma nação forte e soberana só existirá plenamente, se

reduzidas suas desigualdades.

Essa é a nossa esperança!

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Cláudio Ferreira Limae Firmo de Castro

COORDENAÇÃO TÉCNICA

INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

(...) o problema do desenvolvimento do Nordeste é menos de formulação de

planos tecnicamente aceitáveis, do que de acertado encaminhamento polí-

tico das soluções1. (Celso Furtado)

DESIGUALDADES REGIONAISOrigens

As desigualdades regionais no Brasil são, antes de tudo, produto histó-

rico. As suas raízes têm a ver fundamentalmente com a formação do

mercado interno. Ora:

1 Discurso de posse na SUDENE (1960). In: O Nordeste e a saga da SUDENE: 1958-1964. Rio de Janeiro: Contraponto/Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, 2009, p. 166.

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(...) desde o final do século XIX e até os anos 1950, se não até data poste-

rior, a industrialização capitalista, a generalização do mercado capitalista

no Brasil restringiu-se praticamente a São Paulo, como resultado de sua

dinâmica cafeeira e das transformações que ela engendrou e multiplicou2.

A economia agroexportadora, que inaugurou a formação econômica do

Brasil, foi inicialmente mais importante no Nordeste. De fato, até a primeira

metade do século XVIII, o governo geral, então sediado em Salvador, a Região

era o centro econômico e político-administrativo da Colônia. Na passagem de

ilha a ilha do “arquipélago” regional brasileiro3, no ciclo da mineração no Su-

deste, a capital e os interesses da Metrópole portuguesa deslocaram-se para

o Rio de Janeiro; em seguida, começou o cultivo do café no Vale do Paraíba

fluminense, que, mais adiante, invadiu o Oeste paulista, constituindo-se, no

último quartel do século XIX, na principal atividade econômica do país.

O apogeu do café em São Paulo deu-se com mão de obra assalariada

e, em boa margem, de imigrantes europeus, ao passo que o do açúcar, no

Nordeste, foi com mão de obra escrava; e a pecuária e o algodão, mesmo em

regime de trabalho livre, também não remuneravam em dinheiro. Assim, en-

quanto a Zona da Mata e o Semiárido permaneciam como bolsões de atraso

2 PAULA, João Antônio de. O mercado interno no Brasil: conceito e história. In: ABPHE. História eco-nômica & história de empresas. V.5, n. 1 (2002), p. 35.

3 CASTRO, Antônio Barros de. 7 ensaios sobre a economia brasileira. Vol. II. Rio de Janeiro/São Paulo: Forense, 1971, p. 11-17.

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e pobreza, nascia em São Paulo o mercado interno, de onde se disseminou,

sob o comando desse estado, para o resto do País.

No decorrer de todo esse processo, em que sempre houve pactos entre as

oligarquias das regiões e os governos centrais, as desigualdades regionais

surgiram, cristalizaram-se e institucionalizaram-se. E o Nordeste, que, em

1872, reunia 46,7% do contingente demográfico do País, passou a contar em

2010 com apenas 27,8%

Sem perspectivas de desenvolvimento, no final do século XIX e em todo

o século XX, o Nordeste se tornou, além de mercado cativo e doador de pou-

pança para o Sudeste, “um viveiro de braços e cérebros para a produção

nacional”4, a serviço da ocupação da Amazônia, da industrialização do Su-

deste, da construção de Brasília e do agronegócio do Centro-Oeste.

É bem verdade que, no final do século XIX, as elites do então Norte (como

era denominado o território nacional da Bahia para cima), sentindo a perda

do poder político, reagiram, “inventando” o Nordeste, quando “o discurso da

seca e sua ‘indústria’ passam a ser a ‘atividade’ mais constante e lucrativa

nas províncias e depois nos Estados do Norte, ante a decadência de suas

atividades econômicas principais: a produção de açúcar e algodão5.

4 Mensagem nº 363, de 23.10.1951, que encaminha o projeto de lei de criação do Banco do Nordeste ao Congresso Nacional, publicada no Diário do Congresso Nacional, Rio de Janeiro, n. 208, de 1º11.1951, p. 10.433-5.

5 ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. Recife: FJN, Ed. Massangana; São Paulo: Cortez, 2001, p. 59.

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Enfrentamento

Conforme Paulo Bonavides6:

Houve no Brasil duas frentes conjugadas de combate para erradicar as

desigualdades regionais: uma no campo político-constitucional; outra no

campo econômico e administrativo; ambas até agora desgraçadamente

malogradas.

No campo político-institucional, a Constituição de 1891 restringiu-se às

“obras contra as secas”; um a de 1934 criou o fundo das secas e avançou na

abordagem do problema quando se referiu a um “plano sistemático” e “per-

manente”, mas teve curta duração; a de 1946 recuperou o fundo das secas

de 1934 e criou o fundo para o aproveitamento do rio São Francisco e de seus

afluentes; a de 1988 foi a que mais consagrou dispositivos à questão regio-

nal, inclusive elegendo a redução das desigualdades regionais como um dos

objetivos fundamentais da República. A Carta de 1937, do Estado Novo, não

continha dispositivos sobre a questão regional; a Constituição de 1967, que

extinguiu o Fundo das Secas, e a Emenda nº 1, de 1969, ambas dos governos

militares, também não.

No campo econômico e administrativo, destacaram-se os organismos re-

gionais.

6 BONAVIDES, Paulo. In: BONAVIDES, Paulo; LIMA, Francisco Gérson Marques de; BEDÊ, Fayga Sil-

veira (Coord.). Constituição e democracia: estudos em homenagem ao professor J.J. Canotilho. São Paulo: Malheiros, 2006.

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Ainda no período agroexportador, surgiu, à semelhança do norte-ameri-

cano United States Reclamation Service (1902), hoje Bureau of Reclamation,

o DNOCS7. Era a resposta ao problema das secas, particularmente a de

1887-1889, que deixou atrás de si milhares de nordestinos mortos, levando

outro tanto para morrer na Amazônia.

No período industrial, a região açucareira da Zona da Mata ganhou o Ins-

tituto do Açúcar e do Álcool - IAA (1932), enquanto o outro Nordeste, do Polí-

gono das Secas, foi servido pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco

- CHESF (1945) e pela Comissão do Vale do São Francisco - CVSF (1948)8, que

seguiam o modelo do Tennessee Valley Administration - TVA, nos Estados

Unidos e, conforme determinava a Constituição de 1946, visavam o aprovei-

tamento da região do São Francisco.

O Banco do Nordeste do Brasil S.A. - BNB (1952), criado sob a égide do

Departamento Administrativo do Serviço Público - DASP, que zelava pela

meritocracia e pela racionalidade weberiana, foi o primeiro organismo regio-

nal concebido segundo a visão do planejamento.

Até então havia organismos, porém faltava a política para integrar e guiar

as suas ações. Essa política veio no período JK (1956-1961), por força de uma

conjuntura especial: guerra fria, “ameaça cubana”, ligas camponesas, seca

7 Criado em 1909 como Inspectoria de Obras Contra as Secas - IOCS, passou em 1919 a Inspectoria Federal de Obras Contra as Secas - IFOCS; finalmente, em 1945, tornou-se Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - DNOCS.

8 Em 1967, mudou para Superintendência de Desenvolvimento do Vale do São Francisco - SUVALE; em 2000, para Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – CODEVASF.

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de 1958 e perda pelo governo das eleições na Bahia e Pernambuco. Para

completar, o Nordeste ficara fora das prioridades do Plano de Metas (1956-

1961). E, assim, de última hora, criou-se em 1959 a Superintendência do De-

senvolvimento do Nordeste - SUDENE como órgão vinculado diretamente à

presidência da República, com um conselho deliberativo de governadores e

ministros de Estado e planos diretores aprovados pelo Congresso Nacional.

A estratégia de ação da SUDENE, traçada pelo Grupo de Trabalho para

o Desenvolvimento do Nordeste - GTDN, consistia em: tornar a indústria

o centro dinâmico da economia; reduzir a vulnerabilidade do Semiárido ao

fenômeno da seca; promover a superação das formas tradicionais e arcaicas

de organização social da produção no meio rural tanto no Semiárido quanto

na Zona da Mata. Porém, logo a SUDENE começou a perder poder.

No início, priorizava investimentos em infraestrutura física, educação,

ciência e tecnologia; não demorou, passou a apoiar-se em incentivos fiscais,

fruto da negociação no Congresso Nacional para aprovar o I Plano Diretor;

eles cobririam a deficiência de economias externas. Mas os incentivos fis-

cais, dado que foram estendidos a outras regiões e setores econômicos, es-

vaziaram-se. De todo modo, promoveu-se a industrialização, porém, não se

obteve êxito nem na convivência com a seca no Semiárido nem na moderni-

zação da economia rural, principalmente na Zona da Mata.

Depois disso e, em especial, quando o governo federal, nos anos 1980, em

face da crise fiscal e financeira, deixou de fazer política regional (e dada a

falta de infraestrutura, em boa margem, compensada pelos incentivos fis-

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cais), a indústria nordestina passou a ser movida pelos incentivos do ICMS,

levando os Estados da Região a entrarem em competição entre si por inves-

timentos privados.

Na Constituinte de 1987-1988, a bancada do Nordeste, unida às do Norte e

Centro-Oeste, reforçou os fundos de participação de Estados e Municípios e

instituiu os fundos de financiamento do Norte, Nordeste e Centro-Oeste (art.

159, I, a, b e c). Mais: estabeleceu critério populacional na distribuição dos in-

vestimentos da União (art.165, § 7º e art. 35 das Disposições Transitórias). Não

demorou e o legislador, além de reduzir o Imposto sobre a Renda - IR e o Imposto

sobre Produtos Industrializados - IPI, à base de incidência desses fundos, criou

as contribuições, cuja receita pertence apenas à União. Se em 1984 esses dois

tributos significavam 80% da arrecadação federal, hoje, representam a metade.

Mais recentemente, com o objetivo de “acabar com a guerra fiscal”, houve

a tentativa pela Medida Provisória nº 599, de 27/12/2012, de retirar dos Estados,

em troca de fundo para financiar projetos de investimento (de reduzida dimen-

são frente as deficiências em infraestrutura, qualificação profissional, ciência,

tecnologia e inovação), a autonomia para conceder incentivos fiscais.

Em suma, o fosso entre o Nordeste e as regiões mais prósperas não dimi-

nuiu. Os organismos regionais acabaram desprestigiados pelo governo cen-

tral e presos aos interesses mais imediatos das elites locais, sem cumprir com

inteireza a missão formal que lhes foi dada por lei. Não houve, portanto, ruptu-

ra com o passado, como se pretendia com a estratégia do GTDN. O Nordeste,

como em ”O leopardo” de Lampedusa, mudou tudo para continuar o mesmo.

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O projeto de lei de criação da SUDENE e o seu primeiro Plano Diretor, que

conduziriam ambos à transformação estrutural da Região, sofreram forte

resistência no Congresso Nacional da parte da bancada do Nordeste, con-

trária, em sua maioria, a mudanças, e só foram aprovados graças ao apoio

negociado com as bancadas das outras regiões. Essa resistência achava-se,

em boa medida, entrincheirada no Semiárido e na Zona da Mata, hoje ainda

um dos principais bolsões de atraso e pobreza do País.

Uma lição, portanto, a tirar dessa trajetória histórica é que, desde sem-

pre, como não houve suficiente pressão por mudança por parte das forças

políticas e sociais nordestinas, o governo federal e as lideranças políticas

tradicionais procuraram acomodar (e não resolver) as desigualdades regio-

nais mediante dispositivos constitucionais, arranjos tributários e organis-

mos regionais; nos dias atuais, por meio também de programas sociais.

INTEGRA BRASILConcepção

Em 1981, o Centro Industrial do Ceará – CIC, em parceria com o BNB, a

SUDENE e o Jornal do Brasil, realizaram o seminário “O Nordeste no Brasil:

Avaliação e Perspectivas”, que reuniu lideranças expressivas do Nordeste

nos campos técnico, político-administrativo e religioso9. As conclusões10:

9 Ver o Anexo I, que contém a programação do Seminário.

10 Seminário O Nordeste no Brasil: Avaliação e Perspectiva. Fortaleza: BNB, 1982, p. 9.

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“(...) já se conhecem os aspectos fundamentais para um profundo diagnós-

tico da Região; as alternativas viáveis para o desenvolvimento integral e du-

radouro da Região se encontravam no campo político: o Nordeste tem de

aprender a utilizar o seu peso político”.

O mesmo CIC, mais recentemente, aliou-se à Federação das Indústrias

do Estado do Ceará - FIEC e, por meio de uma equipe básica formada por

dirigentes e consultores11, partiu das constatações de 1981 e resolveu apro-

fundá-las e levá-las às últimas consequências. Às duas entidades cearenses

juntaram-se outras representativas do setor produtivo da região. O projeto

contou ainda com o patrocínio, além do CIC e da FIEC, da Confederação Na-

cional da Indústria – CNI, Federação das Indústrias do Estado de Pernambu-

co - FIEPE, Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo dos Estados

do Ceará e da Bahia - FECOMÉRCIO CE e BA, Serviço Brasileiro de Apoio à

Micro e Pequena Empresa - SEBRAE, Petrobras Transporte S.A. - TRANS-

PETRO, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES,

Banco do Nordeste do Brasil S.A. - BNB e Companhia de Desenvolvimento

dos Vales do São Francisco e do Parnaíba - CODEVASF.

O grupo inicial que concebeu o “Integra Brasil: Fórum Nordeste no Brasil

e no Mundo” levou em conta, de início, a forte diversificação da atividade

11 Composição da equipe básica: Nicolle Barbosa, presidente do CIC e coordenadora do Projeto; Carlos

Prado, vice-presidente da FIEC; Francisco José Lima Matos, diretor da FIEC; Firmo de Castro e Cláudio Ferreira Lima, consultores. A ela agregaram-se, na fase inicial, o economista Nilson Holanda e, na fase dos workshops e do Seminário, os economistas Armando Avena e Tânia Bacelar.

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econômica e a sua dispersão por todo o planeta, que engendrou complexa

cadeia produtiva mundial, azeitada pela revolução dos meios de comunica-

ção. Com isso, a análise da questão regional passou a realçar o aspecto da

integração do Nordeste na rede regional, nacional e global.

Nessa abordagem, enfrentar a questão regional significa buscar a inte-

gração virtuosa (atualmente, em geral, viciosa) da economia nordestina no

Brasil (intra e interregional) e no mundo. Dentro de um quadro mais rico de

possibilidades, é verdade, mas igualmente cheio de ameaças, visto que a

globalização no século XXI passou a exigir uma ascendente integração eco-

nômica. Nesse contexto, o Nordeste não é pensado mais como problema,

mas, isto sim, como oportunidade generosa para o desenvolvimento do País.

De acordo com essa visão, o IB reuniu uma base de dados, informações

e análises sobre a questão regional, sob os ângulos econômico; social, urba-

no e ambiental; educacional, científico-tecnológico e da inovação; cultural;

político-institucional; e de estratégias e financiamento do desenvolvimento

regional. Nesse sentido, foram resgatados e sistematizados dados, informa-

ções e análises apresentados durante congressos, seminários e outras ini-

ciativas12 voltados para a temática regional (ver Anexo II).

Foi consultada igualmente a literatura que trata do desenvolvimento re-

gional (ver Anexo III).

12 O Senado Federal criou a comissão de especialistas para tratar do pacto federativo, que, esta em 30.10.2012, apresentou relatório parcial com nove sugestões, sendo três propostas de emenda à Constituição (PEC), quatro projetos de lei e duas emendas a projetos já em tramitação.

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Para complementar e aprimorar essa base de conhecimento, programaram-se:

• Quatro workshops: Nordeste: situação atual e transformações recen-

tes, em Salvador (BA); O Nordeste visto de fora, no Rio de Janeiro (RJ);

Aspectos político-institucionais do desenvolvimento do Nordeste, em

Fortaleza (CE); e Aspectos estratégicos do desenvolvimento do Nor-

deste, em Recife (PE).

• Uma mesa-redonda: As desigualdades intrarregionais na economia

nordestina: soluções e encaminhamentos, em Campina Grande (PA).

Para a consolidação do processo, estruturou-se um seminário, realiza-

do em Fortaleza, com sete painéis: Reorientação da economia nordestina;

Infraestrutura para o desenvolvimento do Nordeste: recursos hídricos e

energia; Infraestrutura para o desenvolvimento do Nordeste: transportes,

logística e telecomunicações; Transformação social, urbana e ambiental do

Nordeste; Educação, ciência, tecnologia & inovação e cultura para o desen-

volvimento do Nordeste; A questão político-institucional e o desenvolvimen-

to do Nordeste; Uma estratégia para o desenvolvimento do Nordeste.

Nesses eventos, a mesa dos trabalhos tomava conhecimento prévio de

um texto (no caso dos workshops e mesa-redonda) sobre o assunto (ver Ane-

xo IV), bem assim de perguntas (no caso de todos os eventos) a serem res-

pondidas pelos expositores; os demais participantes atuavam como deba-

tedores. Com isso, o foco das exposições e discussões concentrava-se em

soluções e encaminhamentos, tornando os debates mais objetivos.

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Com essa concepção, a equipe básica do IB, buscando o apoio político,

além de críticas e sugestões para o seu aperfeiçoamento, percorreu em 2013

todos os Estados do Nordeste para, na sede das Federações das Indústrias,

apresentar o Projeto ao setor produtivo: dia 15/04, em Natal (RN) e Reci-

fe (PE); dia 16/04, em Maceió (AL) e Salvador (BA); dia 7/05, em Campina

Grande (PB); dia 17/05, em São Luís (MA); dia 23/05, em Aracaju (SE); e dia

11/06, em Teresina (PI)13. O Integra Brasil foi discutido também no II Fórum

dos presidentes de Federação do Comércio da Região Nordeste, dia 8/04,

em Recife, e na reunião do Conselho Deliberativo do SEBRAE, dia 26/04, em

João Pessoa (PB). Esteve ainda nas duas Casas do Congresso Nacional: dia

10/07, em audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Regional e

Turismo - CDR, do Senado Federal; dia 8/08, em reunião com a bancada do

Nordeste na Câmara dos deputados.

E, isso feito, com o respaldo, sobretudo, do setor produtivo regional, cum-

priu-se toda a programação de workshops: Aspectos político-institucionais

do desenvolvimento do Nordeste: dia 4/06, em Fortaleza (CE); Situação atual

e transformações recentes: dia 15/07, em Salvador (BA); Aspectos estraté-

gicos do Desenvolvimento do Nordeste: dia 26/07, em Recife (PE); O Nordes-

te visto de fora: dia 13/08, no Rio de Janeiro (RJ). A mesa-redonda ocorreu

dia 18/07 em Campina Grande (PB), e o seminário, em Fortaleza, dias 27 a 29

de agosto.

13 No caso do Piauí, a apresentação foi feita na Associação das Indústrias do Piauí – AIP.

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Resultados

Os resultados desse processo, reunidos nesta publicação, constituem,

por sua vez, os fundamentos em que se assentará um Plano Estratégico de

Ação, e, a partir dele, se processarão propositivamente as negociações po-

líticas nas principais instâncias da sociedade e do governo, tendo em vista a

redução das desigualdades regionais como forma de consolidar o desenvol-

vimento do País.

Nessa abordagem pioneira da temática regional, as contribuições dos

participantes convergiram, na essência, para a conclusão de que é preciso

mudar o Nordeste para mudar o Brasil, pois este só será desenvolvido quan-

do resolver a questão regional. O que tem havido é um casamento de con-

veniência entre as agendas macroeconômica e social, que entrou em crise.

O Brasil precisa, a exemplo das grandes nações, de um projeto nacional,

cujo motor do crescimento deve ser a expansão do mercado interno e, neste

caso, o Nordeste é uma das principais fronteiras de desenvolvimento. Quan-

to à integração externa, tem de ser buscada aquela que reforça e desenvolve

as articulações internas, sob pena de o País entregar-se à lógica das empre-

sas transnacionais, fragmentar-se cada vez mais e voltar a ser o arquipélago

econômico que caracterizou a sua formação econômica, inviabilizando-se

como projeto nacional14. Até o presente, o esforço de inserção externa tem

14 Análise de Celso Furtado em “A construção interrompida”, citada e comentada em RICUPERO, Ru-bens. Integração externa, sinônimo de desintegração externa? In: ESTUDOS AVANÇADOS 14 (40), 2000, P. 16.

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sido desvinculado da melhor distribuição das atividades econômicas no ter-

ritório nacional.

A hora e vez é de atualizar as ambições, no contexto da crise mundial,

que conduz o País a reforçar o seu mercado interno, e de novas possibilida-

des descortinadas pelo pré-sal. Luciano Coutinho, presidente do BNDES, ao

encerrar o workshop “O Nordeste visto de fora”, traduziu o consenso presen-

te no Integra Brasil:

(...) não há por que o Nordeste não se repensar e se recolocar no cenário

brasileiro como uma grande, generosa oportunidade de desenvolvimen-

to, que combine justiça, equidade, sustentabilidade e inovação. E a região

clama por isso, porque concentra a pobreza e a exclusão, porque tem peso

na população brasileira e tem peso no sistema de representação política.

Que horizontes se abrem para o Brasil e para o Nordeste15?

Na primeira década deste século, graças aos programas sociais16, como

o Bolsa Família, o microcrédito urbano e rural e as políticas de valorização

do salário mínimo (com repercussões na previdência e assistência social),

observou-se no País crescimento com distribuição de renda. O Nordeste,

15 Para a construção deste cenário e para a indicação de propostas, recorreu-se ao conteúdo das exposi-ções dos workshops, da mesa-redonda e do seminário, particularmente à intervenção de Tânia Bacelar no painel 7 do seminário com “Uma estratégia para o desenvolvimento do Nordeste”, e à palestra de encerramento do workshop “O Nordeste visto de fora” pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

16 Em 2009, foi criado o programa Minha Casa, Minha Vida, que tem dado dinamismo ao setor da cons-trução civil.

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pela condição de pobreza e miséria da maioria da sua população, foi a região

mais beneficiada, pois teve aumento de emprego, renda e, por consequên-

cia, consumo. Mas, lógico, que se tratou de uma medida justa, porém insu-

ficiente. Os indicadores econômicos e sociais ainda exibem muito atraso. E

não se pode omitir que parte significativa dessa nova demanda não tem sido

atendida pela economia local, haja vista os “vazamentos”, fruto dos “claros”

em sua estrutura produtiva.

A partir de 2010, a economia, em face da crise mundial deflagrada em

2008, passou a evoluir a taxas mais modestas. O governo federal, então, ado-

tou a estratégia de crescimento puxado pelo investimento, especialmente

em infraestrutura, sem, no entanto, dar relevo à questão regional. E isso le-

vou o Nordeste a uma situação crítica. É que, como não há poupança públi-

ca para bancar tais investimentos, o governo recorreu ao regime de conces-

sões, em que prevalece a taxa interna de retorno. Como poderá o Nordeste,

por esse critério, concorrer com o Sudeste?

O caso das rodovias é exemplar: o mapa de concessões apenas tangência

a Bahia: não penetra no Nordeste. O mesmo ocorrerá com as ferrovias. Que

fazer?

O Nordeste precisa construir unidade política para, a partir de um pla-

nejamento de longo prazo, definir as infraestruturas estratégicas17. É nelas

17 Aqui, é fundamental considerar a integração do Nordeste intra (desconcentrar dentro da própria re-gião, aproveitando vantagens competitivas interiores) e interregional e com o exterior. Como afirmou o presidente da TRANSPETRO, Sergio Machado, expositor no painel do Seminário sobre transportes,

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que reside a competitividade sistêmica, sem a qual a economia da Região

não poderá prosperar. Em seguida, o estudo de viabilidade econômica, para

indicar o que poderá ser concessão ou Parceria Público-Privada - PPP; por

fim, a inclusão deles no mapa de investimentos públicos federais e a luta por

maiores fatias no Orçamento da União para viabilizá-los.

Quais os principais projetos de infraestrutura econômica18 do Nordeste

em andamento? É lógico que há muitos desafios, como:

• Energia: apesar do potencial da eólica, as demandas serão crescentes,

exigindo uma matriz energética mais robusta. É preciso desenvolver a

energia solar e a da biomassa e, havendo descoberta de gás, a térmica.

É imperiosa uma política de energia para a Região, a médio e longo

prazo.

• Recursos hídricos: têm limitado o desenvolvimento do Semiárido, em

que a distribuição de água e bons solos é extremamente desigual; há

grandes reservatórios com pouca utilização econômica; a Integração

do São Francisco, vital para dar segurança hídrica e permitir o uso

mais racional da água, anda a passos lentos. Diante da realidade do

fenômeno da seca, o correto é fazer a gestão eficiente, com integração

de bacias e mais movimentação de água no território por meio de ca-

logística e telecomunicações, “quando se pensa em infraestrutura, deve-se ver o que dá mais com-petitividade ao Nordeste, e não às outras regiões”.

18 As telecomunicações não estão tratadas em maior profundidade aqui porque o especialista convida-do para o seminário não pôde comparecer, porém será objeto do Plano Estratégico.

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nais e adutoras. Na fórmula do engenheiro Hipérides Macedo, exposi-

tor do Painel 2 do Seminário, que tratou de recursos hídricos e energia,

o Nordeste, a fim de se desenvolver, não possuindo homogeneidade na

base física, depende de tornar próximos uns dos outros quatro elemen-

tos fundamentais: água, energia, estrada e produção. E são os canais

e adutoras que vão permitir isso. Outra medida de grande alcance são

os açudes de terceira ordem (que barram o afluente do rio principal),

por represar uma água mais limpa, de padrão melhor, sem poluição, já

que o curso d’água em geral não banha cidades, e isso é muito benéfi-

co do ponto de vista do saneamento.

• Transportes e logística: chave, seja na articulação para dentro, com a

descentralização via pequenas e médias cidades, por meio de investi-

mentos em manufaturas e serviços, seja na articulação para fora, com

a conexão com outras correntes de comércio. É necessária, portanto, a

integração via eixos rodoviários, ferroviários, portuários e aeroviários.

Deve-se dar grande importância aos arcos metropolitanos. A logística

tem de ser vista como um dos principais instrumentos de competiti-

vidade; deve-se nesse tocante realizar efetivo planejamento estraté-

gico (os projetos atuais são fragmentados), incorporando a iniciativa

privada no processo e realizando o acompanhamento dos projetos em

execução. Vale lembrar as grandes mudanças ocorridas, a ponto de se

tornar mais fácil e barato trazer mercadoria do Extremo Oriente para

qualquer porto brasileiro do que movimentá-la entre Portos do país,

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fato que gerou a chamada “guerra dos portos”, que recentemente le-

vou ao acirramento do conflito federativo.

• Armazenagem: reforçar os Centros de Armazenagem das Zonas Me-

tropolitanas (as CEASAS).

• Telecomunicações: é preciso evoluir nessa área já que há fraca interli-

gação das redes de transmissão e comunicação.

E quanto à estrutura econômica? No tocante à agropecuária, como nos pri-

meiros tempos da SUDENE, o Semiárido precisa ser reestruturado; sem isso,

fracassa a própria política regional. Há a necessidade de uma política de convi-

vência com o ambiente, principalmente com a seca, que ainda hoje desorganiza

a produção, a fim de que se tenha uma base produtiva sustentável. Ele deve

ser olhado pela suas potencialidades (a exemplo do sol o ano inteiro, que faz

da irrigação um bom negócio), e não pelas suas vulnerabilidades. Há um sem-

-número de oportunidades, como a irrigação, que podem ser aproveitadas com

sucesso, pelo uso das tecnologias mais avançadas no campo da biotecnologia

e da energia eólica e solar. O projeto de Integração do São Francisco, sobretudo

pela segurança hídrica que trará, permitirá o uso mais racional da água.

Da mesma forma, a Zona da Mata tem de diversificar a produção agrope-

cuária. Já os cerrados do Maranhão, Piauí e Bahia19 entraram num processo

19 Armando Avena, que deu consultoria e foi expositor no Integra Brasil, chama a atenção para o que ele denomina de MAPITOBA, ou seja, Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, onde houve importante incorporação de fronteira agrícola.

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acelerado de crescimento por meio da produção de grãos; também evolui-

ram e estão sintonizados com os principais mercados mundiais.

Abriu-se para o Brasil um grande mercado no exterior, que é o de ali-

mentos, mas o Nordeste só tem perdido posição tanto em grãos quanto na

pecuária. Demais, a Região não pode continuar dependendo da importação

de alimentos; a produção local, além da renda, contribui para a composição

da cesta básica.

E, quanto à indústria, ainda dominada por setores tradicionais, é preciso

adensar as cadeias produtivas para reduzir a dependência e diminuir os “va-

zamentos”. Que ramos apoiar? A tendência desse setor, em sua retomada,

é a reconcentração no Sul-Sudeste, onde já se acha localizada a indústria

de maior valor agregado. Veja-se o caso do petróleo e gás, setores de grande

relevância para o futuro próximo, da siderurgia e do setor automotivo: os

investimentos previstos para o Nordeste estão muito aquém do que os des-

tinados ao Sul-Sudeste.

É preciso articular a base tradicional com as novas cadeias produtivas,

ampliando a competitividade da indústria existente nos mercados interno

e externo. Um segundo ciclo de investimentos no Nordeste vem ocorrendo

graças à decisão política do governo Lula. Compreende as refinarias no Ma-

ranhão, Ceará e Pernambuco, que andam em compasso lento, embora outros

investimentos (indústrias naval, siderúrgica, automotiva e química, além de

usinas térmicas), sintonizados com a posição estratégica do Nordeste na

nova geografia econômica mundial – como os complexos industriais e por-

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tuários de Itaqui (MA), Pecém (CE), Suape (PE) e Camaçari - Aratu (BA),

as ZPEs e o complexo aeroportuário de São Gonçalo do Amarante (RN) –,

tenham progredido. A esse respeito, é importante considerar os eixos da “Ini-

ciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana - IRSA”.

Há oportunidades de investimentos na indústria de base (cimento, vidro,

celulose e papel, gesso) e de bens duráveis de consumo (além do setor au-

tomotivo, linha branca e mobiliário, entre outros). Da mesma forma, nos não

duráveis, como confecções, calçados, alimentos e bebidas, que podem loca-

lizar-se em cidades médias, ajudando a desconcentrar a atividade econômi-

ca no território nordestino.

Há uma indústria nascente de bens de capital para atender as áreas de

energia eólica, petróleo e gás.

Devem ser repensados os processos produtivos da construção, buscan-

do-se o aumento da produtividade.

Nos serviços, o turismo, pelo enorme potencial de que desfruta a Região

e pelo impacto positivo que traz à matriz de insumo-produto de qualquer

economia, é atividade de que se pode tirar melhor proveito. O comércio va-

rejista é outro nicho importante, que tem atraído para o Nordeste as grandes

cadeias de lojas e supermercados.

Mas há potencial também na indústria do conhecimento (pesquisa de

pré-manufaturas); análise da demanda, design, marca; pesquisa de pós-ma-

nufaturas (marketing), tecnologias da informação, com ênfase na neuro-

ciência, química e farmacêutica; na informática, há disseminação da banda

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larga, de tecnologias 4G, produção de softwares e a inovadora internet in-

dustrial ou internet das coisas.

Deve-se ter sempre em perspectiva tornar a agricultura, a indústria e os

serviços intensivos em conhecimento. É importante que a economia brasi-

leira e nordestina participe da revolução da manufatura digital e das cadeias

internacionais de valor. Isso não impede incentivar pequenos empreendi-

mentos que, custando pouco em capital, rendem muito em emprego e renda;

ademais, são eles predominantes em nossa economia.

Nas relações comerciais, deve-se caminhar para uma economia aberta e

competitiva, que procura aumentar, diversificar e melhorar o conteúdo tec-

nológico das exportações. O Nordeste, não bastasse a proximidade com os

grandes mercados mundiais, tem hoje os portos mais modernos do País (Ita-

qui, Suape e Pecém). Afora isso, o alargamento do Canal do Panamá trará

mais oportunidades de negócio.

A política de incentivos fiscais, cambiais e financeiros é absolutamente

necessária para o Nordeste, mas não por muito tempo, pois a competitivida-

de deve basear-se na credibilidade do governo (ambiente de negócios), em

infraestrutura, educação/formação profissionalizante, ciência & tecnologia e

inovação e logística, e deve ser construída para ampliar a vantagem compa-

rativa. Vale destacar que, considerando a produtividade como medida da com-

petitividade, o Nordeste, de 2002 para 2011, apresentou queda substancial.

Faz-se igualmente necessária a adoção de medidas que minimizem o “va-

zamento” da poupança financeira da região para o Sudeste.

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A educação é a área mais crucial para o desenvolvimento regional; o

mais sério gargalo para o crescimento e desenvolvimento do Nordeste,

que explica em elevada margem as desigualdades interregionais de renda.

Como dizia Celso Furtado nos primórdios da SUDENE, “o segredo do de-

senvolvimento é fazer infraestrutura e formar gente”. Melhorou a alfabe-

tização, embora no meio rural deixe ainda muito a desejar. A ampliação e

interiorização dos IFETs e das Escolas Técnicas, bem como dos campi das

Universidades, alargaram a base educacional da região. Apesar de tudo,

há ainda uma distância muito grande do Nordeste em relação ao Sudeste

quanto ao percentual de jovens no ensino técnico e superior. E essa é a

mais séria limitação ao desenvolvimento econômico. É preciso buscar in-

vestimentos maciços na área para atender à crescente demanda de mão

de obra qualificada para a implantação dos projetos industriais futuros e

em andamento. O grande desafio é como preparar alguém de pouca es-

colaridade para o mercado de trabalho, e isso tem de ser feito de forma

articulada, segundo uma estratégia mesorregional, dentro de centros de

treinamento com ensino de qualidade. Nesse terreno, o Sistema “S” (SE-

NAR, SENAI, SESI, SENAC, SESC, SENAT, SESCOOP e SEBRAE) poderá

dar grande contribuição.

A respeito de Ciência & Tecnologia e Inovação, o gap entre o Nordeste e

o Sudeste é ainda maior, haja vista que tem havido incremento muito mo-

desto dos gastos federais na Região. Com as regras em vigor, quer dizer,

com a forma como são feitos os editais, as chances para o pesquisador no

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Nordeste são bem diminutas. De todo modo, pode-se evoluir nas tecnologias

da informação (TIs). Precisa-se de C&T para consolidar pólos dinâmicos de

formação de pessoas no interior da Região (em especial no Semiárido), nos

campi e cidades médias, fortalecendo a pesquisa e a inovação, esta última

crucial para a criação de novos arranjos produtivos. A Embrapa deveria ter

uma presença mais forte no Nordeste, especialmente no semiárido. Tudo

isso em conexão com as atividades produtivas, com o setor produtivo regio-

nal. O Nordeste deve ser líder em tecnologias que aproveitem o sol e poupem

água e energia.

A cultura tem de ser vista como causa, como um dos pilares e não con-

sequência do desenvolvimento. Quanto à economia criativa, por exemplo,

ainda muito pouco conhecida e explorada, as possibilidades do Nordeste,

ante a diversidade cultural e a reconhecida riqueza de imaginários, são bem

amplas.

Quanto ao social, como já citado, o Nordeste foi um dos principais bene-

ficiários dos programas de transferência de renda do governo federal. Mas

há grandes carências em saúde, saneamento, educação (foi tratada pelo

Integra Brasil na perspectiva da qualificação profissional, que, por sua vez,

ressente-se da baixa qualidade do ensino formal), transporte de massa e

segurança pública. Um aspecto também a considerar diz respeito à questão

de gênero, particularmente aos direitos das mulheres. Tudo isso terá trata-

mento mais detalhado na discussão de um Plano de Ação Estratégica (ver

item final “Próximo Passo”).

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Sobre política urbana20, faz-se urgente o planejamento das regiões me-

tropolitanas e das capitais, onde se concentra o dinamismo econômico, com

destaque para projetos de saneamento, mobilidade urbana, educação e qua-

lificação de mão de obra. Ao mesmo tempo, devem-se fortalecer as cidades

médias, com os setores produtivos e de serviços, sobretudo no interior, onde

o Nordeste é mais desigual, dotando-as de infraestruturas indispensáveis,

como serviços básicos, educação, saúde, transportes, logística e telecomu-

nicações. O estudo do IBGE sobre rede de cidades (REGIC) é chave para

a identificação das cidades que funcionariam como âncoras para a melhor

distribuição da população e do desenvolvimento no território regional.

Quanto ao meio ambiente, a grande discussão gira em torno do tripé da

sustentabilidade: como conciliar o economicamente viável com o social-

mente justo e o ambientalmente correto. Há uma discussão não menos im-

portante sobre a ameaça das mudanças climáticas, que, segundo estudos

existentes a respeito, o Nordeste é a região do país que mais seria atingida

por esse fenômeno. A desertificação já é um problema que está a merecer

cuidados especiais. Enquanto isso, o crescimento atual e em perspectiva

da Região significa aumento do consumo de água e de recursos naturais,

implicando, pois, em fortes pressões sobre o meio ambiente, o que requer

atenções quanto à sustentabilidade.

20 O Painel 4 – Transformação social, urbana e ambiental, do seminário, em especial as exposições de Evangelina Oliveira sobre “Regiões de influência das cidades e transformação urbana no Nordeste” e de Maurício Gonçalves e Silva sobre “Divisão urbano-regional”, trouxeram elementos valiosos para a análise da questão.

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Os avanços em todas as dimensões tratadas, que conduzam à transfor-

mação estrutural, e não ao mero crescimento econômico, dependem funda-

mentalmente da própria Região, da capacidade de organização da socieda-

de, das entidades de classe e do vanguardismo da sua força política para

viabilizar um novo arranjo político-institucional que fortaleça os mecanis-

mos cooperativos no interior do pacto federativo, ou melhor, um novo mo-

delo de articulação/coordenação e de organismos regionais, cujas funções

sejam compatibilizadas com as das instituições de vocação nacional.

No campo estratégico e político-institucional, o Nordeste tem expressão

política pelo exercício de seu poder de veto por meio das bancadas esta-

duais no Congresso Nacional, desde que elas substituam a visão individua-

lista pela coletiva. Ademais, as comissões que tratam do desenvolvimento

regional tanto na Câmara dos deputados quanto no Senado Federal devem

comportar-se como fóruns de discussão das políticas de equilíbrio espa-

cial da economia do País, principalmente no exame cuidadoso do impacto

regional das proposições a serem apreciadas. E o Executivo, sem receber

pressão, não priorizará o desenvolvimento equilibrado, que é por ele tratado

quando muito como um item da reforma tributária ou do ICMS.

Mas para isso é essencial voltar a unir as forças políticas e empresariais

da Região numa construção coletiva, que expresse a diversidade do pensar

nordestino, fazendo com que elas convirjam no enfrentamento de velhos e

novos desafios, como a seca e a irrigação no Semiárido, grãos no Cerrado,

diversificação produtiva na Zona da Mata e, enfim, a integração do Nordeste

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no Brasil e no mundo. E, naturalmente, deve-se fortalecer e valorizar um dos

principais traços de união, que é a cultura.

Há uma preocupação levantada pelo deputado Pedro Eugênio (PT-PE)

com relação à atual configuração política, que é absolutamente distinta da

que havia antes. Além da nova classe média, surgem novos atores na indús-

tria, e não se tem ideia do pensamento e da visão regional deles. E, ainda, o

que representam hoje os governadores? Os estados brasileiros e, com eles,

os governadores, sob qualquer perspectiva, perderam espaço e poder; em

razão de disputas entre eles, têm dificuldade de defenderem uma posição

uniforme no Congresso Nacional

No Congresso Nacional, o que há de mais consequente quanto à questão

regional é a Bancada do Nordeste, mas, mesmo assim, preponderam nela os

interesses e os pleitos estaduais. Na opinião de Pedro Eugênio, que coorde-

na atualmente a Bancada, e coincidindo, aliás, com o espírito do Integra Bra-

sil, a discussão do Nordeste tem de ser feita no quadro nacional, buscando

alianças estratégicas de caráter nacional com outras regiões, com outros

atores, dentro e fora do governo, principalmente na sociedade. O grande de-

safio é construir uma proposta que seja, a um só tempo, importante para o

Nordeste e para o Brasil. Só assim, fará sentido discutir reestruturação dos

órgãos, dos mecanismos e, em suma, da ação administrativa do governo

sobre o território regional. As propostas do Ministério da Integração Nacio-

nal, relativamente à II Política Nacional de Desenvolvimento Regional, não

prosperarão se forem apresentadas apenas como mais um projeto de lei; te-

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rão, isto sim, de conquistar o respaldo da sociedade por meio da necessária

articulação política.

Fernando Rezende, no Painel 6 do Seminário, insiste na pauta regional

como parte da pauta nacional, nos exatos termos defendidos pelo Integra

Brasil. Assim, São Paulo precisa entender esse movimento como algo que é

a favor do Brasil e, portanto, a favor de São Paulo; é a ideia de que a questão

nacional, a questão regional, a questão da coesão, a questão da competitivi-

dade passam por um país mais integrado. E aí é que está o grande desafio.

De todo modo, para se construir uma ação regional consistente, é preciso

sensibilizar primeiro a Academia, a imprensa e, enfim, toda a sociedade para

essa questão.

A política regional por excelência, que obedece a um planejamento glo-

bal de longo prazo, deixou de existir; foi substituída pela social: migrou-se

no País da “região-problema” para a “questão-problema”, como esclarece o

cientista político Ricardo Ismael, expositor do workshop “Aspectos político-

-institucionais do desenvolvimento do Nordeste”21.

Não se pode omitir a tentativa do Ministério da Integração Nacional de

dotar o País, em 2007, de uma Política Nacional de Desenvolvimento Re-

gional, que, em 2013, após Conferência Nacional, ganhou nova edição. Mas

defronta-se com o impedimento, da parte da área econômica do governo, ou

21 Existe a Política Nacional de Desenvolvimento Regional – PNDR (este ano de 2013 houve a Conferên-cia Nacional de Desenvolvimento Regional, para atualizá-la; é a II PNDR, sob o comando do Minis-tério da Educação), mas não funciona, dado, entre outras coisas, que é neutralizada pelas políticas macroeconômicas administradas

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melhor, do pacto político nacional, que não contém a questão regional, de se

criar as condições objetivas para a sua implementação. Como fazer com que

as políticas macroeconômicas e setoriais (Brasil Maior, Política Nacional de

Educação), de infraestrutura (PAC) e creditícia (aplicações do BNDES), por

exemplo, tenham viés regional; e com que a própria política regional tenha

o viés de integração intra e interregional? A estratégia do Ministério con-

siste em construir pactos em torno dessas políticas, cujo instrumento de

articulação é a Câmara Nacional de Políticas de Desenvolvimento Regional,

no âmbito da Casa Civil da Presidência da República22. Em contrapartida,

o Ministério do Planejamento, por meio das Agendas de Desenvolvimento

Territorial, vem atuando estado por estado, sem a visão regional.

Mas é preciso manter os instrumentos já conquistados, como os orga-

nismos regionais, porém devidamente adaptados para atender a novos de-

safios, como no caso do Banco do Nordeste, que precisa recuperar o papel

de banco de desenvolvimento, somando esforços com os bancos de vocação

nacional, em particular com o BNDES. E que o crédito do FNE chegue às

regiões mais pobres para os agentes de menor porte.

É imprescindível recuperar o grande centro de estudos do Nordeste, que

é o Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE. Do

22 Há também em funcionamento no governo o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) foi criado pela Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, para “assessorar o presidente da Repú-blica na formulação de políticas e diretrizes específicas, e apreciar propostas de políticas públicas, de reformas estruturais e de desenvolvimento econômico e social que lhe sejam submetidas pelo presidente da República, com vistas na articulação das relações de governo com representantes da sociedade”.

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mesmo modo, o Nordeste precisa de um fórum onde se construa a vontade

política regional, como já foi o Conselho Deliberativo da SUDENE em seus

primórdios; um arranjo político, enfim, que induza a grandes decisões, como

sugere Antônio Rocha Magalhães, expositor do Painel 7 do Seminário; um

modelo análogo ao do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social -

CDES, criado pelo governo Lula, formado por representantes da sociedade

civil como propôs Lúcia Falcón, também expositora do citado Painel.

Próximo Passo

O desenvolvimento do Nordeste é uma oportunidade que o Brasil não

pode perder; nele reside o novo foco de crescimento, em que se expande de

forma mais veloz o mercado interno, muda o perfil de demanda e torna o País

mais dinâmico economicamente e mais justo socialmente.

O próximo passo do Integra Brasil, de conformidade com a sua metodo-

logia de trabalho, consolidará todas as contribuições alinhadas acima num

Plano Estratégico de Ação, que será colocado numa mesa de negociação,

para que se chegue a um projeto de país condizente com o momento histó-

rico de uma nação do porte do Brasil.

Somente uma ação dessa envergadura poderá mudar o Nordeste para,

como consequência inevitável, mudar o Brasil. Não haverá projeto de nação

enquanto um pedaço que representa 28% da população brasileira possua

apenas 37% do PIB per capita do Sudeste. Reside justamente aí a verdadeira

questão regional no Brasil. Demais, como alertou Fernando Rezende, no Pai-

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nel 6 do Seminário, que discutiu a questão político-institucional, se a Ama-

zônia, cada vez mais, com sua biodiversidade, conecta-se com o exterior; o

Centro-Oeste, com a China; o Sul, com o MERCOSUL; e o Nordeste, vai para

onde? Veja-se o perigo da fragmentação da nação; daí, o papel do Nordeste

como fator da integração nacional.

O cenário da campanha eleitoral de 2014, sob a égide de uma sociedade

manifestamente mais exigente, poderá desaguar num quadro político nacio-

nal e regional que favoreça a discussão centrada na solução do problema

regional no País, visto que, desde sempre, a questão em causa é eminente-

mente política. E não há outro caminho senão agir politicamente para a sua

solução.

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WORKSHOP

“ASPECTOS POLÍTICO-INSTITUCIONAIS DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE.”

Fortaleza, Ceará, 04 de junho de 2013

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Moderador

Firmo de CastroEconomista

Expositores

Ricardo IsmaelProfessor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC/RJ

Paulo Lobo SaraivaProfessor titular de Direito Constitucional da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (aposentado), com pós-doutorado em Direito Constitucional pela Universidade de Coimbra - UC

Valmir Pontes FilhoProfessor titular de Direito Administrativo da Universidade Federal do Ceará - UFC

Fernando RezendeProfessor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - EBAPE da Fundação Getúlio Vargas - FGV

Relator

Alcir Rocha NetoProfessor de Direito Constitucional e de Hermenêutica Jurídica da Universidade de Fortaleza - UNIFOR, Doutorando em Filosofia do Direito pela Universidade de Coimbra - UC e pela Universidade de São Paulo - USP

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73RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

WORKSHOP

QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS PELOS EXPOSITORES

Sem representar esfera de poder político formal, de que maneira as re-

giões podem ter expressão política?

Como o Estado, na ordem constitucional vigente, pode delegar ou confe-

rir poder às regiões?

Como as regiões podem ser politicamente fortalecidas pela sociedade

civil ou para além do Estado? Nesse caso, a mobilização social e política do

final da década de 1950 poderá servir de exemplo?

O ordenamento constitucional de 1988, em defesa e promoção do desen-

volvimento regional, tem sido eficaz ou ineficaz? Se ineficaz, especificar os

dispositivos pertinentes.

No tocante à questão regional, que caminho devemos seguir para que a

Constituição escrita seja a Constituição real?

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74 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

Como situar a questão regional sob o ângulo da Federação brasileira?

Que diferenças e semelhanças existem com relação a outros modelos de

federalismo?

A evolução do pacto federativo, com mudanças em perspectiva (unifica-

ção das alíquotas do ICMS, novo critério de distribuição do FPE, critério de

distribuição dos royalties do petróleo, entre outras), facilitará ou dificultará

o encaminhamento e solução das questões de interesse regional?

A destinação dos recursos públicos federais tem levado em consideração

as desigualdades regionais de renda no Brasil?

Além do campo das finanças públicas, que políticas de governo têm favo-

recido ou desfavorecido o combate às desigualdades regionais?

SOLENIDADE DE ABERTURAMesa Honra

Roberto Proença de Macêdo | Presidente da FIEC;

Nicolle Barbosa |Presidente do CIC;

Alexandre Pereira | Presidente do Cons. de Desenvolvimento Econômico;

Walter Cavalcante | Presidente da Câmara de Vereadores de Fortaleza;

Beto Studart | Vice-Presidente da FIEC;

Carlos Prado | Vice-Presidente da FIEC;

Luis Gastão Bittencourt | Presidente da FECOMÉRCIO.

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75RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Palavra do Presidente Presidente da FIEC | Roberto Macêdo

“Bom dia a todos e a todas, é um prazer estar aqui, dia 04 de junho de

2013, num evento inédito nesta casa. O Nordeste começando a ser tratado

de uma forma profunda, de uma forma que nós possamos seguramente en-

contrar caminhos para melhorar a nossa região, sofrida e mal tratada pelo

Brasil de um modo geral.

Eu quero iniciar saudando os nossos amigos que estão na mesa, na pes-

soa da dra. Nicolle Barbosa, presidente do CIC, Coordenadora do evento In-

tegra Brasil, o dr. Alexandre Pereira, companheiro também dessa casa, pre-

sidente da ABIP, um setor muito importante de que fazemos parte também,

qual seja o setor de panificação nacional, além de presidente do Conselho

Estadual do Desenvolvimento Econômico, representando nesse momento

o governador Cid Gomes, o nosso amigo, Vereador Walter Cavalcante, pre-

sidente da Câmara Municipal de Fortaleza; o nosso vice-presidente, braço

direito do CIC e da nossa Federação, Carlos Prado; e grande empresário,

amigo, e também vice-presidente da FIEC, Beto Studart; e, por fim, nosso

co-anfitrião, presidente da FECOMÉRCIO, Luiz Gastão Bittencourt da Silva.

Amigos, senhores visitantes, palestrantes e aqueles que vieram atenden-

do ao convite feito pelo CIC para iniciar esse programa que compreende

quatro Workshops, sendo esse o primeiro.

É muito importante o sucesso da iniciativa e que a gente possa no de-

correr do dia de hoje superar algumas falhas que eventualmente venham a

ocorrer e aprimorar os segundo, terceiro e quarto workshops de modo que,

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76 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

até agosto desse ano teremos passado por vários momentos e discussões

muito valiosas em busca de uma solução definitiva e um plano de longo pra-

zo para a nossa Região. Este não é um projeto do Ceará, não é um projeto da

Federação das Indústrias do Ceará, mas um projeto do Brasil, é um projeto

de Nordeste em busca do fortalecimento da sua sociedade. Juntos vamos

apresentá-lo aos políticos, apresentar aos governos e, se a sociedade esti-

ver unida, se a sociedade tiver consciência das suas dificuldades e soluções

para avançar no desenvolvimento, tenho certeza que nós viraremos o jogo.

Então, nosso propósito aqui não é simplesmente gerar no fim um compên-

dio, gerar uma coletânea de ideias, e sim, nós queremos gerar caminhos,

ideias de caminhos para agirmos a partir do final desses eventos, desse con-

junto de Workshops que terminará num grande Seminário.

Foi feito isso em 1981, pelo próprio CIC, no inicio do seu revigoramento,

aqui no Ceará, e naquela ocasião gerou-se realmente um livro que está aí à

venda em livrarias, mas na verdade faltou vontade política, faltou implemen-

tar um conjunto de ações que viesse a fazer com que aquilo que estava ideali-

zado fosse posto em prática. Faltou ação e o nosso propósito, aqui já sabendo

do resultado daquele trabalho e do que deixou de ser feito é que queresmos

que a experiência de agora dê outro resultado, ou seja, o nosso propósito aqui

é buscar soluções que venham realmente a ser postas em prática e fazer com

que a sociedade do Nordeste se beneficie, em bloco. Não é fácil. Cada Estado

tem suas particularidades, seus interesses e a sociedade, se não estiver real-

mente unida, se não estiver em busca dos interesses que realmente façam a

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77RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

diferença, nós ficaremos, mais uma vez, chorando e dizendo apenas que nós

continuamos sendo o país do futuro. Nós queremos aqui construir o presente

e a gente sabe que tem uma pequena frase que explica como é a nossa vida:

‘O ontem já passou, o amanhã eu não sei nem se estarei vivo, temos que fazer

é agora.’ Bom dia, bom trabalho a todos, muito obrigado.”

Palavra do Presidente Vice-Presidente da FIEC | Carlos Prado

“Bom dia a todos. Eu saúdo a todas as personalidades presentes em

nome do nosso presidente, Roberto Macêdo, para que possamos adiantar

os trabalhos.

Em abril do ano passado, nós começamos essa caminhada após um de-

bate na Federação, onde se discutia novamente o Nordeste, discussão den-

tre outras das quais eu venho participando, de uma forma ou de outra, há

quarenta anos. Aproveito aqui para fazer o que eu sempre faço quando me

apresento: para aqueles que estranham um pouco o meu sotaque, eu me

considero cearense por que há quarenta anos eu escolhi o Ceará e o Nordes-

te pra viver, embora paulista. Desde então, participei de inúmeros seminá-

rios tratando de desenvolvimento do Nordeste. E o que nós vimos até agora?

O que nós vimos é que desde 1939, segundo o IBGE, a renda per capita do

Nordeste não ultrapassa a 50% da renda per capita nacional, apesar de nes-

se meio tempo nós termos tido a criação de vários órgãos, como a SUDENE,

Banco do Nordeste, DNOCS e CODEVASF, isso sem citar outras iniciativas

que foram adotadas para mudar essa situação.

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78 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

E por que não mudou? Assim, temos uma história que mostra que em

setenta anos essa situação persiste. Durante esses quarenta anos que aqui

estou, aprendi também que no Nordeste nós vivemos praticamente de pires

na mão quando se trata de cuidar de assuntos da região com relação ao res-

tante do Brasil. E foi vendo esse quadro, vendo o cenário existente, que se

formou um grupo a partir deste debate de abril do ano passado, por inicia-

tiva da nossa presidente do CIC, Nicolle Barbosa, jovem, valorosa, corajosa,

que resolveu assumir uma proposta feita naquela reunião por Cláudio Ferrei-

ra Lima, o qual, mostrando a todos o livro que tratava do seminário realizado

pelo CIC em 1981, propôs que a gente fizesse um novo seminário. A partir

daí se formou esse grupo, um grupo de trabalho pequeno, coeso, liderado

pelo CIC, com apoio financeiro, desde o primeiro instante, garantido pelo

presidente da FIEC, Roberto Macêdo, que acreditou na ideia, que apostou

nessa ideia e, então, nós começamos a nos reunir com alguns economistas,

ex-funcionários do BNB, e esse é o grande mérito do Banco: é ter formado

cérebros no passado, qualificados para esse tipo de trabalho. Então nós pas-

samos a contar com o Firmo de Castro, aqui presente, Cláudio Ferreira Lima,

Lima Matos e outros que passaram a colaborar diretamente conosco. Ini-

cialmente, começamos com reuniões periódicas, semanalmente, procuran-

do dados, pesquisando, tentando descobrir a melhor forma de encaminhar

uma nova abordagem com relação a questão do Nordeste.

E o que nós aprendemos? Nós aprendemos que o Nordeste tem muitos

valores positivos e isso os senhores vão conhecer ao longo dos trabalhos. Va-

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79RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

lores positivos que merecem ser tratados como uma moeda de troca numa

mesa de negociação. É substituir o pires na mão por uma negociação. Essa

terá que ser a nossa atitude, terá que ser a orientação geral do nosso tra-

balho, compreendendo esses quatro Workshops que serão realizados, numa

primeira etapa, mais uma mesa-redonda prevista para Campina Grande.

Com isto, nós nos preparamos para um grande seminário, quando haverá

convergência de todos os trabalhos executados e de todas as ideias. Nesse

grande seminário é que nós teremos nas mãos os dados e as ideias produzi-

das por especialistas como os de hoje, cabeças ilustres que irão aqui fazer

pronunciamentos, apresentações do melhor nível. Aos mesmos nós pedimos

sempre, desde a primeira correspondência, que mantivessem o foco princi-

pal. Qual é o nosso foco? O nosso foco é o de saber aquilo que nós temos de

potencial, aquilo que nós temos de valor, que nós possamos utilizar numa

mesa de negociação com o restante do Brasil.

E por que uma mesa de negociação? Porque quando vemos alguns dados

sobre as trocas comerciais, por exemplo, do Nordeste com relação ao Brasil,

nós vemos que a única região brasileira que tem superávit comercial nas

trocas comerciais com o restante do Brasil é o Sudeste. E mais: 65%, desse

superávit advêm de negócios com o Nordeste.

Então, o Nordeste é um grande mercado para o Sudeste brasileiro, assim

como várias regiões da Europa são mercados cativos da Alemanha, da In-

glaterra, dos países líderes. É uma situação que tem que ser valorizada. Se

nós somos mercado, se nós temos aqui vários empresários presentes que

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80 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

sabem o que é o valor do mercado, o quanto vale um bom cliente, nós te-

mos que ser tratados como um bom cliente, como um bom mercado. Essa é

uma das moedas de troca. O outro item que nós temos valorizado muito são

as trocas financeiras. Quando nós fazemos um depósito num banco, numa

conta corrente de pessoa física ou de pessoa jurídica em qualquer ponto do

Nordeste, eletronicamente, imediatamente esse dinheiro estará na matriz,

que fica no Sudeste.

Há poucos anos atrás nós tínhamos bancos regionais em todos os Esta-

dos, hoje nós não temos mais, hoje a concentração está no Sudeste. Quando

nós analisamos a diferença entre o volume de dinheiro que é aqui deposi-

tado e aquilo que nós tomamos como empréstimo pra nós ou pra nossas

empresas, vemos que essa diferença entre o que se deposita e o que se toma

emprestado anualmente equivale a cinco vezes o aporte de recursos do FNE.

E o que é o FNE para o restante do Brasil? O FNE, pela mídia, principal-

mente do Sudeste, significa o dinheiro do Centro-Sul que está vindo para o

Nordeste. O real fluxo financeiro nos mostra que a situação é muito diferen-

te daquela que nos é apresentada, daquela que é vendida. Assim como estes,

são vários os exemplos que nós, no decorrer desses trabalhos, começamos a

descobrir e que vão fazer parte das informações, da base de dados que será

utilizada nos nossos trabalhos, como os Workshops e o seminário final.

Reforço aqui a seguinte mensagem aos participantes deste Workshop.

O que nós, como nordestinos, podemos querer? O que nós queremos é uma

nova forma de abordagem político-institucional que dê ao Nordeste condi-

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81RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

ções reais de desenvolvimento. Há exemplos no mundo e a gente tem citado

isso. A União Europeia é formada por países, é uma união que guarda seme-

lhança com a Federação brasileira, só que aqui nós temos Estados, lá eles

têm países. Mas são países ricos e países pobres, assim como nós temos

aqui o nosso Sul rico e o Norte e Nordeste pobres. Lá cada país que entra na

comunidade europeia, imediatamente recebe investimentos, recebe apoio

suficiente para que o seu PIB per capita suba ao nível que se aproxime da

média da União Europeia.

Ainda ontem, em reunião aqui com a bancada parlamentar do Ceará, a

gente mostrava um gráfico em que os países que entraram por ultimo na

União Europeia, em questão de 5 a 10 anos, praticamente dobraram seu PIB

em relação àquele que tinham ao entrar na comunidade. Não se sustenta

uma união federativa em cima de desigualdades. Sustentou-se, no caso do

Brasil, durante 70 anos porque não houve uma reação mais forte. O pacto

federativo brasileiro é um dogma, tem sido tratado como um dogma. Os úl-

timos embates que houve para se tratar de ICMS, unificação das alíquotas

interestaduais, de certo modo começaram a mudar um pouco o enfoque po-

lítico a esse respeito, discutindo-se com um pouco mais de asperezas essas

questões das desigualdades. Então, o que nós precisamos é ter melhores

condições políticoinstitucionais de encaminhar a questão do Nordeste. Es-

peramos até o seminário final ter essa evolução. Nós precisamos sentar à

mesa e começar a discutir o Nordeste como unidade geográfica, como uma

unidade que tem relacionamento com o restante da Federação. Temos que

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82 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

olhar as suas fronteiras, tem que olhar o que seria o Nordeste se ele es-

tivesse tratando com outros países da mesma forma como ele trata suas

relações com o restante do Brasil.

Então, o que nós precisamos realmente é de uma atitude e que esse tra-

balho de hoje seja realmente focado sempre na busca de criar as condições

políticoinstitucionais para que se faça esse encaminhamento. Eu encerraria

minhas palavras lembrando uma música de Geraldo Vandré, “Pra Não Dizer

Que Não Falei de Flores”, que era um símbolo na época da revolução, quando

a censura impedia manifestações de toda ordem, então dizia o Geraldo Van-

dré naquela ocasião: “Vem, vamos embora que esperar não é saber, quem

sabe faz a hora, não espera acontecer.” Então, façamos a hora.”

Palavra da Presidente Presidente do CIC | Nicolle Barbosa

“Bom dia a todos. Quero saudar a mesa, na pessoa do secretario do De-

senvolvimento Econômico, Alexandre Pereira, neste ato representando o

Excelentíssimo sr. governador Cid Ferreira Gomes. Saudar os presentes,

saudar os representantes das instituições empresariais, na pessoa do nosso

presidente Roberto Macêdo, que com firmeza e determinação tem moder-

nizado e dinamizado os processos operacionais da FIEC e cujo apoio tem

sido fundamental para as ações empreendidas pelo CIC e, em especial, para

concretização do Integra Brasil.

Saudar a classe empresarial, na pessoa de nosso conselheiro estratégico

e vice-presidente da FIEC, Beto Studart, que, pelo desprendimento e senso

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83RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

de solidariedade que lhes são peculiares, tornou possível a disseminação

das ideias contidas no projeto do Integra Brasil para que pudéssemos estar

aqui hoje dando inicio ao longo processo de discussão da questão regional

com a realização deste Workshop.

Senhoras e senhores, depois de quatorze meses de trabalho intenso,

quando percorremos todos os Estados do Nordeste para apresentar o Inte-

gra Brasil - Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo, e tendo recebido o apoio

maciço de todo o setor produtivo da região, é chegado o momento de come-

çarmos as atividades técnicas, com a realização desse Workshop – “Aspec-

tos Político-Institucionais do Desenvolvimento do Nordeste” – que será o

primeiro de quatro previstos.

Com esse tema, o Estado do Ceará inaugura uma nova fase do movimen-

to que pretende mudar a cara do Nordeste. Mas, antes de iniciarmos os tra-

balhos, é preciso que tenhamos a dignidade de dizer “obrigada”. Obrigada

a todos aqueles que tornaram possível este momento. Toda essa caminha-

da, até agora exitosa, somente foi possível graças ao apoio que tivemos de

pessoas e instituições que, sensíveis à importância de envidar esforços pela

redefinição do papel do Nordeste no cenário econômico brasileiro, acredita-

ram neste projeto desde o seu início.

Logo nos primeiro passos, quando fomos apresentar o Integra Brasil ao

governador Cid Gomes, percebemos um gestor atento aos detalhes e ciente

da importância de conquistar apoios estratégicos. Ao tomar conhecimento

do escopo do projeto, Cid Gomes pegou o telefone e ligou para os presiden-

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84 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

tes do BNDES e do BNB, para o Ministro da Integração Nacional, dando

ciência do projeto e agendando audiências com cada um deles. Fez, inclusi-

ve, questão de estar conosco nas audiências em Brasília.

Meu caro secretário Alexandre Pereira, quero que transmita ao nosso

governador Cid Gomes o nosso agradecimento, diga a ele que o Ceará e o

Nordeste lhe serão sempre gratos pelo envolvimento direto com as questões

maiores do nosso Estado e da nossa região.

Mas, senhoras e senhores, um empreendimento do porte, da dimensão e

abrangência do Integra Brasil não acontece sem uma estrutura logística que o

impulsione, o que nós tivemos por conta de um empresário que tem demons-

trado ao mundo o valor e a solidariedade típica do povo cearense: Beto Studart.

Ao ver que precisávamos estar em todos os Estados do Nordeste em um tempo

exíguo, numa demonstração de desprendimento e generosidade, nos empres-

tou o seu avião, recentemente adquirido, com toda a tripulação e sem nenhum

custo para o projeto. Ocorria ali o terceiro voo daquela aeronave magnífica e o

primeiro voo do movimento Integra Brasil rumo à uma caminhada exitosa.

E o que é melhor, dado o conforto e dimensão da aeronave, podemos levar

conosco a equipe técnica do Integra Brasil, lideranças empresarias, como

Carlos Prado, Ricard Pereira e Fernando Cirino, jornalistas e o secretário da

Fazenda, Mauro Benevides Filho. Muito obrigada, Beto Studart, a você deve-

mos muito do que fizemos até aqui.

A propósito, com a presença do secretário Mauro Filho em nossa co-

mitiva, tivemos a oportunidade de ampliar as discussões, além do Integra

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85RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Brasil, incluindo nos debates, feitos de uma forma contundente e abaliza-

da, nosso posicionamento contra a reforma do ICMS proposta pelo Gover-

no, mobilizando e sensibilizando os Senadores de cada Estado do Nordeste,

via interveniência dos presidentes das Federações das Indústrias visitadas.

E, acreditem, havia Senadores favoráveis à reforma como ela estava posta,

certamente comprando gato por lebre.

Acredito que as posições somente foram revistas por conta da firme ar-

gumentação do secretário Mauro Filho, a quem aqui também queremos dei-

xar o nosso agradecimento. São posicionamentos como os do governador do

Ceará e do seu Secretariado, que nos fazem acreditar que o Nordeste não

venha a perder a sua capacidade competitiva e, muito pelo contrário, consi-

ga ampliá-la. Outro apoio vital para a consolidação do Integra Brasil, como

movimento que, partindo da classe empresarial conseguiu envolver todos

os demais segmentos representativos da sociedade em torno da constru-

ção coletiva de estratégias, visando a redução das desigualdades regionais

que teimam em persistir no Brasil, foi proporcionado por nossa Casa Mãe,

a Federação das Indústrias do Estado do Ceará, FIEC, que proveu o apor-

te financeiro inicial, e o suporte estrutural necessário ao funcionamento e

acontecimento das ações locais. A FIEC, representada pelo próprio presi-

dente Roberto Macêdo, tem nos acompanhado nos encontros estratégicos

de articulação relacionados com a consolidação e execução do projeto.

Muito obrigada dr. Roberto Macêdo, pelo empenho em viabilizar o Integra

Brasil, que já não é do CIC, nem da FIEC, mas de toda a sociedade cearense

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86 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

e nordestina. Muito obrigada também ao ex-presidente Jorge Parente que

também colaborou nessa articulação junto com as Federações das Indús-

trias do Nordeste.

Muito obrigada, ainda, ao presidente da FECOMÉRCIO/CE, Luís Gastão,

pelo apoio incondicional ao movimento, pela interlocução com a Confedera-

ção Nacional do Comércio, viabilizando com isso o apoio de todas as Federa-

ções do Comércio do Nordeste. Obrigada.

Muito obrigada aos nossos patrocinadores, TRANSPETRO, CNI, BNB,

BNDES, Governo do Estado do Ceará, Federação das Indústrias do Estado

de Pernambuco, FECOMÉRCIO/CE e FECOMÉRCIO/BA e, por fim, um obri-

gado mais que especial a toda a equipe do Integra Brasil, desde seus cria-

dores, Cláudio Ferreira Lima, Firmo de Castro e Lima Matos, ao meu men-

tor e conselheiro Carlos Prado e a todos de demais colaboradores, como a

YHR Eventos e AD2M. Um agradecimento muito especial ainda aos jornais

O Povo e Diário do Nordeste, sem os quais nada disso estaria acontecendo.

Agradeço aos seus empenhos, pois sei que o que verdadeiramente os motiva

é a vontade de ver o Nordeste altivo e independente de políticas paliativas.

Agradecimentos feitos, quero ressaltar o fato de que quando da definição

dos objetivos do Integra Brasil, um saltou imediatamente aos nossos olhos,

como falou aqui o Carlos Prado: queremos ver o PIB per capita do Nordeste

responder por 70% do PIB per capita do Brasil nos próximos 20 anos.

Hoje, nossa região não responde sequer por 50% do PIB per capita na-

cional, posição que se mantém há muito tempo, desde 1939, quando iniciava

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87RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

a Segunda Guerra Mundial. E o desafio a que nos impomos, tem por funda-

mento o fato de não sabermos de nenhum exemplo de território, seja uma re-

gião econômica, um estado ou uma nação, que tenha se desenvolvido tendo

por base a manutenção de desigualdades regionais.

O trabalho realizado pela equipe do Integra Brasil nestes últimos 14 meses

consolidou em todos nós, a ideia de que o Nordeste tem as competências e os

valores essenciais para negociação de seu futuro econômico. Cabe agora a to-

dos nós deixarmos aflorar as nossas múltiplas inteligências para dar vazão, nos

Workshops previstos no Integra Brasil, a ideias verdadeiramente transformado-

ras, capazes de dar ao Nordeste um novo horizonte, um horizonte onde todos os

nordestinos tenham vez e voz no cenário econômico nacional e mundial.

Que consigamos trabalhar intensamente e ao final possamos apresentar

a todos um novo projeto de desenvolvimento regional, revestido da necessá-

ria legitimidade técnica, social e política. Que obtenhamos a sensibilização

do resto do País para a importância da construção de uma nova economia,

verdadeiramente nacional, onde as desigualdades regionais sejam fatos his-

tóricos registradas nos anais do passado. Que Deus nos ilumine e nos aben-

çoe na construção e no êxito deste movimento, que tem em sua essência o

fundamento da palavra divina, a integração. Bom trabalho.”

Palavra do Presidente do CDE | Alexandre Pereira

“Bom dia a todos. Meu caro presidente Roberto Macêdo, é sempre um

prazer revê-lo, parabenizar pelo apoio que o senhor tem dado ao desenvolvi-

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88 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

mento do Estado e especificamente a esse projeto tão importante, que é o

Integra Brasil.

Minha cara presidente Nicolle, a quem eu gosto sempre de repetir que

não me surpreende a forma como tem exercido sua liderança e como tem

atuado no Estado do Ceará e no Nordeste, haja visto que fui um dos grandes

entusiastas da sua assunção à Presidência do CIC;

Nicolle, você realmente marca mais um tento importante, quando consegue

resgatar os tempos áureos do CIC dos anos 80, criando um novo momento de

discussão sobre a questão regional. Meus parabéns, continue, você vai longe.

Meu caro Carlos Prado, esse paulista que tem coração cearense, ao qual

eu quero até sugerir aqui ao presidente da Câmara que, se ainda não foi

dado o titulo de Cidadão Cearense, Cidadão Fortalezense, que isso seja fei-

to, porque eu não conheço pessoa com mais espírito cearense do que este

paulista. Ele é um grande exemplo. Muitas vezes nós cearenses não temos

a preocupação que o Carlos Prado tem com as questões do Estado ou da

Região.

Meu caro presidente Walter Cavalcante, presidente da Câmara, que tem

estado bastante presente nos eventos empresariais, obrigado pelo seu apoio.

Meu caro amigo, vice-presidente dessa casa, Beto Studart, que é uma

referência para todos nós como empresário e também como homem públi-

co, visto que sempre participa e apoia todo evento de interesse do nosso

Estado, independentemente de bandeiras partidárias, independentemente

de onde está vindo, pensando sempre grande no Ceará.

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89RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Meu caro presidente Luis Gastão, da FECOMÉRCIO, também muito me

deixa feliz em ver a Federação do Comércio junto com a Federação das In-

dústrias pensando no Estado do Ceará. Você articulou com as outras Fede-

rações do Comércio para que estivéssemos juntos. Acho que é assim que se

pensa estrategicamente em termos de Estado.

Eu queria aqui justificar a ausência do governador Cid Gomes, o qual, na

realidade, como a Nicolle falou, está entusiasmado com o projeto Integra

Brasil. Infelizmente, hoje o governador, em função de agenda marcada, com

bastante antecedência, tem uma reunião com todos os seus secretários,

reunião durante dois dias. Ele me liberou hoje de manhã para estar aqui o

representando. Em citada reunião ele avaliará todos os projetos do Estado e

já ontem ele não estava muito satisfeito porque apenas 14,5% do orçamento

previsto para o ano tinham sido executados. Como nós já estamos no início

de junho, ele gostaria que, pelo menos, 40% desse orçamento tivesse sido

executado. Ele tem o cuidado de fazer uma avaliação da execução do orça-

mento de cada secretaria e cobra do secretário, projeto por projeto.

Essa é a forma de o governador fazer gestão, o que ele faz muito bem

feito. Mas ele pediu, Nicolle, que eu os avisasse que ele está absolutamente

dentro do projeto, como aquele dia em que estávamos com ele e ele ligou

para o presidente do BNDES, presidente do Banco do Nordeste e para o Mi-

nistro da Integração, apoiando o projeto. Ele entende a sua importância, até

porque avizinha-se no ano de 2014, que é um ano de eleição, e é importante

que o Nordeste seja discutido de forma diferente.

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90 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

Eu queria fazer algumas menções sobre a questão da importância da

união política do Nordeste. Ontem eu estive aqui no café da manhã, está-

vamos aqui com nove deputados federais, um Senador da República, em-

penhados em assumir essa bandeira. Eu vejo o projeto com otimismo pois

a gente conseguiu fazer com que o Integra Brasil reunisse tantas mentes

brilhantes, bastando ver a equipe de organização, sob a presidência dessa

jovem Nicolle, com o apoio do Carlos Prado e a participação de três grandes

nomes da nossa sociedade cearense, que são três ex-secretários de Esta-

do: o Lima Matos, o Cláudio Ferreira Lima e o Firmo de Castro. Firmo de

Castro, inclusive foi deputado Constituinte. Além de secretários de Estado,

eles também foram funcionários de carreira do Banco do Nordeste e sempre

se destacaram como pensadores do Estado do Ceará, desde Virgílio Távora,

passando pelo governo Tasso Jereissati e por outros governos sempre pen-

sando no Ceará.

Então quando se consegue juntar mentes dessa qualidade, pensando es-

trategicamente sobre o Nordeste, não tem como não dar certo. E aí eu apelo

e acho importante a articulação política. Agora mesmo, quase que nós, se

não tivéssemos força política, tínhamos sido sucumbidos por essa equivo-

cada lei do ICMS dos 4%, mais uma vez liderada pelos nossos irmãos do Su-

deste, que fazem o discurso de que o Nordeste atrapalha o desenvolvimento

econômico do País. O Carlos Prado provou que é o contrário e que nós aqui

do Ceará e Estados vizinhos, se não dermos incentivos fiscais, como vamos

atrair as empresas de fora se temos um custo excedente de logística, um

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91RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

custo excedente de frete que é exatamente o valor do incentivo que damos?

É claro que com a infraestrutura que o nosso Estado hoje tem, de porto,

localização geográfica, enfim, nós também temos outros atrativos a ofere-

cer, que não somente o incentivo fiscal, mas não tem ainda como concorrer.

Então as desigualdades regionais precisam ser tratadas de forma desigual.

Não podem ser tratadas as desigualdades regionais de forma igual. E quan-

do estamos unidos, também temos força para assumir posições políticas

importantes.

Eu hoje faço uma crítica, não à pessoa, pelo contrário, pois o presidente

da CNI, Robson Andrade é um grande presidente, mas é um mineiro e a CNI

durante 50 anos foi do Nordeste, do Norte/Nordeste. Será que nós não tínha-

mos no Norte/Nordeste um presidente, um líder, Fernando Cirino por exem-

plo, capaz de chegar à presidência da CNI? Mas o que é que faltou naquele

momento? Faltou articulação política.

Então, quando o Norte e Nordeste estão desunidos, ficamos fracos. Nós

não temos o poder econômico, mas se nós tivermos o poder político, aí sim,

teremos condição de discutir com muito mais firmeza. Eu, na reunião que

tive com o prefeito de Fortaleza e todos os demais prefeitos do Ceará, fiz

uma sugestão para eles: “Olha, é muito difícil que nós pensemos em desen-

volvimento econômico individualmente para 184 municípios. Mas se os se-

nhores tiverem a visão de se unirem em grupo de 3, 4, 5 municípios circunvi-

zinhos, agregados num mesmo projeto, tragam-no para a nossa Secretaria,

pois ele fica muito mais forte”.

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92 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

Assim, eu vou conversar com o governador, acompanhado de 5 prefeitos,

nós vamos conversar com o governador com alguns deputados estaduais e

federais que apoiam aqueles 5 prefeitos. Não se trata de apenas um prefei-

to, apenas uma cidade disputando um incentivo do Estado, disputando uma

empresa com outro município.

Então, quando agimos articulados, nós conseguimos ir muito além e é exa-

tamente, presidente Roberto Macêdo, presidente Nicolle, o que nós estamos

fazendo agora: um movimento dos empresários com apoio das instituições

públicas, com apoio dos governos regionais, pensando forte no Nordeste.

Então eu digo aqui, faço minhas as palavras do Carlos Prado: “Vem va-

mos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera

acontecer.”

Então é isso o que a gente tem que fazer. E é lembrando também o Beto

Guedes: “Um mais um é sempre mais que dois”. Que é exatamente o que

nós estamos fazendo aqui, agora. Parabéns, parabéns a todos, vamos em

frente.”

PRIMEIRA SESSÃOMesa Honra

Firmo de Castro: | Economista, ex-diretor do Banco do Nordeste do Brasil,

deputado federal Constituinte de 87/88, ex-secretário da Indústria e Co-

mércio e da Fazenda do Estado do Ceará, e ex-Superintendente Adjunto

da SUDENE;

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93RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Alcimor Rocha Neto | Advogado, professor de Direito Constitucional da Uni-

for, Mestre e doutorando em Direito da USP e da Universidade de Coimbra;

Ricardo Manuel Ismael de Carvalho | Doutor em Ciência Política pelo Insti-

tuto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, professor e pesquisador

do programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da PUC-RJ, e Diretor

do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento;

Paulo Lobo Saraiva | Pós-doutor em Direito Constitucional pela Universida-

de de Coimbra, doutor e mestre em Direito Constitucional pelo PUC-SP e

ex-Conselheiro Federal da OAB;

Firmo de Castro: “Iniciamos os trabalhos operacionais do Integra Brasil,

através deste Workshop, que introduz, por assim dizer, uma questão nova na

análise e discussões sobre o desenvolvimento da região, qual seja a questão

politico-institucional.

Sempre se tem discutido o desenvolvimento regional sem que se leve a

fundo esse aspecto do problema, que na verdade é crucial e molda o sucesso

ou o insucesso de qualquer política, ou seja, a sua viabilização operacional

a partir de sua correta formulação, até a cooptação das instâncias que exer-

cem o poder, com vistas a sua implementação.

Para tanto, nós, nestas duas sessões de hoje, estamos trazendo figuras expo-

nenciais da academia nacional, professores eméritos que atuam em partes dife-

rentes do País, os quais vão sucessivamente abordar a questão político-institu-

cional do desenvolvimento regional sob ângulos distintos, mas complementares.

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94 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

Inicialmente nós vamos ter o professor Ricardo Ismael, que nos traz toda

uma experiência que está refletida não somente nos seus livros, nos seus

trabalhos, com atuação em eixo diferente do Nordeste, mas que sempre está

voltado para a região. Ele atua como professor da PUC-RJ, do Instituto Celso

Furtado, entre outras instituições, abordando o tema sob o prisma da organi-

zação federativa brasileira.

Em seguida, nós vamos trazer o professor Paulo Lobo Saraiva, que em

função dos seus incontestáveis e superiores títulos de Mestre e dr. e de sua

reconhecida atuação na PUC vem do Rio Grande do Norte enriquecer o nos-

so evento, analisando o tema com base em modelo do federalismo regional.

Já na sessão da tarde, nós avançaremos com análises específicas sobre

os resultados que obtivemos com a Constituição de 1988 no encaminhamen-

to da questão regional, a cargo do professor Valmir Pontes Filho, também

professor emérito da UNIFOR e UFC, constitucionalista de prestígio nacio-

nal. Ele vai nos trazer ensinamentos muito importantes para os resultados

finais dos nossos trabalhos.

Teremos por último, uma figura que volta ao Nordeste, onde já esteve

muitas vezes emprestando o seu conhecimento e a sua sabedoria, como es-

pecialista em economia e de renome nacional, que é o professor Fernando

Resende. Atua também fora do eixo da região Nordeste, trabalhando junto à

PUC, à Fundação Getúlio Vargas, e a órgãos do governo federal, em Brasília.

Tem uma vivência muito rica no trato do papel do Estado, em especial em

finanças públicas e tributação, devendo fazer uma análise mais diretamente

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95RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

dirigida para uma avaliação do desempenho do Poder Executivo Federal o

que diz respeito ao tratamento da questão regional.

Ao lado de tudo isso, nós vamos contar ainda com a colaboração do pro-

fessor, Alcimor Rocha Neto, que funcionará como Relator. Mestre e dou-

tor pela Universidade de Coimbra. Dentro da nossa metodologia ao final de

cada Workshop nós teremos um relatório sintetizando os seus resultados, os

quais vão alimentar as discussões futuras, a serem realizadas num grande

Seminário, previsto para o final de agosto.

E através da sistematização e organização de todos os relatórios produzi-

dos, ao final de tudo, teremos um projeto tecnicamente legitimado pela par-

ticipação do que há de melhor entre os estudiosos brasileiros sobre a ques-

tão nacional e politacamente respaldado através do engajamento efetivo,

como aqui já se mencionou, tanto do setor privado, como do setor público,

interessados diretamente nesta questão.

Portanto, sem mais delongas, eu passo a palavra ao professor Ricardo

Ismael.”

PRIMEIRA PALESTRARicardo Ismael: “Bom dia a todos. Eu quero inicialmente agradecer à comis-

são organizadora, pelo convite para participar deste Workshop, em especial a

dois grandes amigos, um já mais antigo, que é o Cláudio Ferreira Lima, e um

amigo recente que é o Firmo de Castro. Não posso, por outro, deixar de aqui

fazer registro especial, até pela exposição inicial que foi feita, ao Carlos Prado

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96 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

e à Nicolle Barbosa, por essa relevante iniciativa. Acho que o CIC tem proje-

ção nacional por estar sempre procurando estabelecer uma agenda de deba-

tes que não apenas tenha um escopo que envolva as questões de interesse do

Ceará, mas certamente um escopo que vai além disso, ou seja, que pretende

discutir o Brasil. Quero também inicialmente, considerando a maneira como

foram organizadas as mesas, situar vocês como vai ser a minha apresentação.

Eu sou um nordestino, nasci em João Pessoa, na Paraíba. Na verdade, era

pra ter nascido aqui em Fortaleza, pois meu pai foi funcionário do Banco do

Nordeste durante 35 anos. Eu tenho uma irmã minha que nasceu aqui em

Fortaleza, onde moramos por 4 anos e depois fomos para Recife. Lá, cheguei

a trabalhar na CHESF, uma instituição regional importante, em 1992 migrei

para o Rio de Janeiro. Eu diria, então, que a minha visão é uma visão de nor-

destino, mas que incorporou toda a literatura que hoje é produzida no eixo

Rio/São Paulo, principalmente.

Em segundo lugar, sou um cientista político que vai aqui tentar retomar

um trabalho que nos anos 1990, mais precisamente na segunda metade dos

anos 90, terminou resultando numa tese de doutorado. Eu terminei nesse

trabalho, para ser muito especifico, muito rápido, por comparar os governos

Tasso Jereissati, Antonio Carlos Magalhães e Miguel Arrais, acerca do que

eles pensavam sobre o modelo institucional de desenvolvimento no Nordeste.

A tese defendia a ideia de que não havia um consenso, e, por isso mesmo,

apontava para uma dificuldade na redefinição desse modelo institucional de

desenvolvimento do Nordeste.

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97RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

O terceiro aspecto que eu acho importante sublinhar é que o meu traba-

lho, procura certamente estabelecer um diálogo entre economia e a política.

Procura trabalhar muito com a história. Eu sou daqueles que gostam muito

de fazer entrevistas. Agora, a gente está fazendo uma entrevista, compa-

rando, a partir de um questionário estruturado, o que pensam as elites dos

Estados de Pernambuco e do Rio de Janeiro sobre o que é o Nordeste e seus

problemas e soluções. A ideia é depois estender essa mesma pesquisa para

o Ceará e para a Bahia. A pesquisa está até sendo financiada pelo Banco do

Nordeste.

Certamente aqui vai ficar presente a ideia de que eu procuro dialogar

com as gerações, a partir do Rômulo de Almeida, do Celso Furtado e dos que

contribuíram para a elaboração da Constituição de 1988. Eu não apenas te-

nho uma preocupação de dialogar com essas gerações e verificar que ques-

tões por elas foram colocadas, mas aqui modestamente vou tentar também

apresentar novas questões ou rever as questões antigas a partir de enfoques

teóricos, metodológicos, inovadores.

Nas demais palestras deste Workshop os expositores vão trabalhar mais

com Direito Constitucional, e com a Questão Fiscal, situando-se a minha

abordagem mais com as relações de poder entre a União e os Estados e,

especificamente, com a questão do Nordeste na Federação Brasileira. Isto

olhando a questão institucional, envolvendo e interesses do Ceará e do Nor-

deste, mas certamente seguindo um escopo que vai além disso, ou seja, que

pretende discutir o Brasil.

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98 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

Bom, eu vou ser rápido com relação à questão conceitual, para depois

tratar de questões mais subjetivas.

Vale dizer primeiro que o conceito de federalismo trabalha com a ideia

de um modelo político não centralizado, resultado de uma associação entre

unidades políticas com uma mesma base territorial e que a relação de poder

entre a União e os Estados Membros é definida na Constituição Nacional

pelo desenrolar do processo político e pela cultura política predominante.

Os Estados Membros, em particular, possuem atribuições especificas e

receitas próprias, representam o lugar onde os cidadãos podem desempe-

nhar papel ativo em negócios públicos, elegem livremente os seus gover-

nantes e participam de decisões da esfera nacional através de seus repre-

sentantes na Câmara dos deputados e no Senado Federal.

O Federalismo é marcado por ambiguidades, unidades versus diversida-

des, centralização, descentralização, cooperação e competição. Aí vamos

para o que talvez nos interesse mais especificamente: o Federalismo, na ver-

dade, trabalha com a ideia de uma distribuição territorial do poder político

e o processo decisório não é feito apenas no âmbito da União, acontecendo

também nos Estados e nos Municípios. A rigor, como eu disse, diante dessa

ambiguidade, algumas decisões são tomadas de maneira mais centraliza-

das, outras mais descentralizadas.

Há sempre uma preocupação com a Unidade Nacional. Está expresso na

Constituição e está expresso em todo tipo de processo que se desenrola no

âmbito do Congresso Nacional, o objetivo de preservar a Unidade Territorial,

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99RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

a Unidade Política, mas também, preservando a diversidade. Há diversidade,

assim como o Ceará é diferente do Rio, o Rio é diferente do Rio Grande do

Sul, o Rio Grande do Sul é diferente do Acre, e assim por diante. Essa diver-

sidade deve ser preservada.

No meu ponto de vista, no ponto de vista do meu trabalho, é interessante

trabalhar com a ideia de que a Federação vai ter sempre presente mecanis-

mos competitivo e cooperativo. A competição e a cooperação fazem parte

do jogo federativo. Pode ser que Federações que tenham viés mais coope-

rativo e outras mais competitivos. No caso alemão, é mais cooperativo e

no caso norte-americano é mais competitivo, mas todas as federações têm

competição e cooperação.

Antes de tentar enfrentar as questões que foram colocadas pela comis-

são organizadora, julgo por bem falar de sete características do federalismo

brasileiro em perspectiva histórica.

As duas primeiras características vêm da ideia, do pensamento social

brasileiro, de que na verdade o federalismo é um modelo trazido dos Esta-

dos Unidos. Sabe-se que os Estados Unidos implantaram o federalismo a

partir do final do século XVIII, enquanto alguns falam que na idade média

a Alemanha já tinha algum arranjo federativo. Modernamente, os Estados

Unidos tem essa característica de ter inovado do ponto de vista da questão

da organização dos estados.

Existem dois autores que chamam atenção para dificuldades na implan-

tação do federalismo no Brasil e na verdade a gente pode ler que esses dois

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100 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

autores vão apontar que no Brasil existe um federalismo mais centralizado,

caracterizando-se por ser mais centralizado do que o norte-americano.

O primeiro autor é Oliveira Viana. Esses autores - evidentemente vocês

devem conhecer outros que talvez tenham falado a mesma coisa – são ti-

dos como referencias que tocaram em pontos que até hoje estão presentes

dentro do debate federativo nacional. O Oliveira Viana chama atenção para

a ausência da cultura cívica, ou seja, se você olha para a república velha, na

medida em que se descentraliza a questão político-financeira, dando mais

recursos e mais poder e decisão pros Estados, isso terminou fortalecendo

uma oligarquia, terminou num federalismo oligárquico. Para alguns, isso sig-

nificou que na verdade o processo de descentralização na república velha,

não resultou de avanço do ponto de vista da democracia, do bem estar so-

cial. Assim, essa é uma questão que até hoje acompanha o debate federati-

vo nacional.

Será que descentralização dá certo no Brasil? Se não existe uma socie-

dade organizada, se não existe uma mobilização embaixo que estabeleça um

controle sobre todos os governos estaduais e municipais, será que a descen-

tralização dá certo? Essa é uma questão. A outra reflexão importante talvez

seja mais conhecida de vocês que é a do Celso Furtado, segundo o qual a

concentração espacial da economia do País impede a autonomia financeira

de muitos entes federativos, até mesmo de alguns Estados, tornando fun-

damental a ação cooperativa da União. Essa perspectiva está presente no

período a partir da Constituição de 1946, especialmente no governo de Jus-

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101RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

celino Kubitschek. De uma certa forma, essa característica da economia

brasileira, ou seja, de crescer com concentração, inviabiliza o federalismo

porque uma grande quantidade de municípios não consegue gerar recursos

próprios para garantir um nível adequado de suas finanças, o que aconte-

ce até mesmo com Estados. Ou seja, são dependentes de transferências

da União. Transferências que certamente você pode resolver em parte com

ementas constitucionais, que, entretanto, não resolvem o problema porque

se tratam de transferências voluntárias. Então este é um problema que mar-

ca nossa Federação, seja na forma da ideia de Oliveira Viana, quando falta

sociedade embaixo para fiscalizar e controlar os governos, seja na forma da

ideia de que muitos dos governos subnacionais não têm autonomia financei-

ra. Portanto: que federalismo é esse?

A gente comprova a ideia levantada por Celso Furtado da concentração

econômica espacial quando se vê o Sul e Sudeste detendo mais de 70% da

economia nacional. Se você olhar os municípios, 75% do PIB nacional vêm

de 309 municípios, conforme dados de 2010, os últimos da sessão histórica

do IBGE.

Na verdade, uma quantidade muito grande de municípios não tem capa-

cidade de fazer políticas públicas ou de conceder algum tipo de estímulo à

própria economia de mercado dentro dessa visão de que o federalismo tem

um problema sério que é a concentração espacial da economia. Traduzindo:

no Brasil você não escolhe onde você nasce, mas é importante escolher onde

você vai morar. Naqueles municípios economicamente mais fortes, é onde

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102 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

existem as melhores universidades, as melhores oportunidades de emprego,

onde existem as condições mais propícias ao acesso à serviços sociais.

Aqui está uma outra característica do nosso federalismo, esse movimen-

to pendular, ora descentralizamos, ora centralizamos. Isso vocês devem co-

nhecer, através da República Velha, Estado Novo, redemocratização de 45,

golpe de 64, ou seja, tem períodos de descentralização sucedidos por outros

de centralização.

Mas vamos ao que interessa: No período de 82/88 os Estados ganharam for-

ça na federação brasileira. Porque em 82, assistimos um processo atípico com

a reorganização política, marcada por governadores legitimamente eleitos,

diante de um quadro ainda de eleição federal indireta, de Figueiredo indo pra

Tancredo, que não assumiu, assumindo Sarney, que depois do fracasso do pla-

no cruzado perde poder político. Os governadores deram então o tom do ponto

de vista do capítulo tributário na Constituição de 88. Os governadores e os pre-

feitos das capitais. Somente a partir de 95, no governo de Fernando Henrique, é

que você vai ter novamente uma tendência recentralizadora dentro do federa-

lismo brasileiro, com o governo federal retomando as regras do jogo. O próprio

governo Lula vai ampliar a presença do governo federal nas políticas públicas,

ou seja, a gente vai verificar que este tornou-se o grande protagonista.

Eu trabalho muito com essa perspectiva, a de que a experiência brasilei-

ra a partir dos anos 90 foi marcada pela predominância de um Brasil compe-

titivo/ cooperativo, o qual se origina em texto constitucional que se alimenta

no próprio processo político.

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103RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Os Governos Estaduais então, ganham visibilidade pela disputa que tra-

vam entre si, envolvendo a guerra fiscal. Isso é competição horizontal. Op-

ção abraçada com entusiasmo por alguns ou em reação defensiva, por ou-

tros, que esteve presente nas últimas duas décadas.

O governo federal por sua vez, pode dizer que cumpriu com suas trans-

ferências obrigatórias para Estados, Municípios e regiões, reafirmando a

presença de mecanismos de cooperação vertical nesse período. Entretanto,

custou a promover uma discussão nacional a respeito da persistente con-

centração espacial da economia brasileira e nos definiu os instrumentos de

política regional apropriados.

Quer dizer, o governo federal ficou apenas nas transferências constitu-

cionais, que são obrigatórias, e a política regional desapareceu da agenda

do debate público nacional.

No tocante às competências concorrentes e o desafio de uma coordena-

ção federativa eficaz, vou recorrer à professora Celina de Souza, da Univer-

sidade Federal da Bahia: “A Constituição Federal de 88 procurou valorizar

a integração dos três níveis de governo na produção de serviços sociais,

definindo uma série de áreas, onde prevalecem competências concorrentes,

nas quais a União dos Estados e os Municípios, possuem atribuições co-

muns. Entretanto, os Municípios tem encontrado bastante dificuldades na

realidade brasileira, em razão das diferentes capacidades governamentais

relativas aos governos subnacionais e da ausência de mecanismos constitu-

cionais que estimulem a cooperação governamental.”

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104 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

Esse é um grande desafio. Talvez a área em que se estabelece alguma

diferença é o SUS. Todos os meus colegas que estudam essa questão da

cooperação governamental, terminam olhando para o SUS, querendo ver

se a gente consegue criar um ‘SUS’ na área de segurança pública, um na

área de educação e, assim por diante. Mas ainda existem muitos proble-

mas e eu não vou entrar em muitos detalhes mas queria apenas chamar

a atenção que esse é um ponto da agenda de debate, principalmente na

região Sudeste.

Aí entra uma outra característica recente do nosso federalismo: a frag-

mentação municipal. Se vocês olharem para baixo, entre 1984 e 1997, foram

criados 1408 municípios no Brasil, dos quais mais de 77% tinham mais de

10 mil habitantes? Não há racionalidade do ponto de vista de melhoria das

políticas públicas, de melhoria do bem estar social para isso ocorrer. Isso

atende a interesses locais, terminando por acomodar um pouco a oposição,

que vai botar na cabeça do grupo que deve trabalhar pela emancipação. Mas

do ponto de vista de uma maior racionalidade e eficiência na aplicação dos

recursos, de tentar buscar a melhoria do bem estar social, como é que se

justifica 1400 municípios serem criados, dos quais mais de 77% tinham mais

de 10 mil habitantes. É dividir o município existente? É dividir o cunho de

participação? Mas isso aconteceu, e tão querendo que se repita.

Quando da elaboração da Constituição de 1988, Firmo de Castro e outros

aqui presentes, participaram e acompanharam ativamente, as discussões

sobre as transferências constitucionais da União para os Estados, Municí-

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105RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

pios e Regiões, o que de uma certa maneira é também um pouco a razão

dessa nossa discussão.

São o que eu chamo de mecanismos cooperativos do Estado revelando o

Brasil. Em todo federalismo que é cooperativo, existem esses mecanismos:

fundos de participação, fundos de desenvolvimento regional etc. Aqui você

encontra um conflito entre Norte, Nordeste e Centro Oeste, versus Sul e

Sudeste.

Outro tipo de conflito, é o conflito entre a União de um lado, e Estados e

Municípios do outro, pela descentralização dos recursos públicos. De uma

certa maneira, trata-se, nesse caso, de uma briga por mais autonomia finan-

ceira dos entes subnacionacionais.

Vamos tentar agora discutir uma outra questão proposta pela comissão

organizadora: o que fazer para termos uma verdadeira política regional, ou

seja, uma política que vai trabalhar as vocações e potencialidades, que o

Nordeste tem para se tornar mais competitivo. Esse foco continua faltando.

No governo Fernando Henrique, já não existiu planejamento da questão re-

gional e o governo Lula preferiu, porque no fundo o retorno político é muito

maior, apostar no Bolsa Família ou em outras iniciativas semelhantes. Então,

no fundo, a ideia da questão problema continua predominando. A rigor, o

Ministério da Integração Nacional, se transformou num ministério para um

momento de enchente e momento de seca. Ele reage a uma visão estraté-

gica. O Governo tem que estar acrescentando ao debate nacional a ideia de

uma integração nacional equilibrada.

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106 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

O maior problema em relação ao combate às desigualdades regionais é

de fato você verificar que o problema da seca e da estiagem continua afe-

tando duramente a economia rural nordestina. Então, não há como deixar

de reconhecer que avançamos em relação à questão do Bolsa Família e do

aumento da renda das famílias nordestinas, além da expansão do crédito

popular. Portanto, as famílias hoje vão dizer: “eu posso melhorar a condição

da minha moradia, e ter acesso a mais bens duráveis. Sem dúvida nenhuma,

mas ainda há muita fragilidade na economia nordestina, principalmente na

economia do Semiárido. É fundamental que 51% das famílias do Nordeste

que usufruem do Bolsa Família, tenham a oportunidade de ter um emprego

produtivo e renda e poderem, por conseguinte, ganhar autonomia em rela-

ção a qualquer tipo de ajuda assistencialista do governo federal ou estadual.

Esse horizonte está distante ainda. Encerrando aqui, eu diria três coi-

sas para sintetizar o que eu falei: A ideia de grande região tem perdido a

força que tinha há alguns anos atrás, por razões que eu já coloquei. Acho

que tem algumas mudanças que vieram para ficar, como a ideia de região

metropolitana, a ideia de trabalhar com escala subregional. Quando se fala

de Pernambuco, evidentemente que, se eu vou para Ipojuga, para Petrolina,

existem áreas que são muito dinâmicas, ao contrário de outras. Então, não

se pode falar de um Nordeste só, tem que se falar de vários ‘Nordertes’. Para

atuar nas áreas estagnadas: nas áreas mais debilitadas, enfim, você precisa

ter uma escala melhor, assim como se faz na União Europeia. E o que é novi-

dade, é a ideia da região metropolitana, com muita gente morando na área,

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107RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

tornando-se ela politicamente mais forte para pressionar seus governadores

e seus prefeitos.

Falarei um pouco da cultura política e aí eu vou encerrar.

A cultura política é o espaço mais desafiador porque está ligada à ideia

de como mobilizar a sociedade nessa questão, com os empresários, inte-

lectuais e governantes, e não a sociedade ‘grande povão’. A questão de cul-

tura política, passa pela ideia de que as soluções para o desenvolvimento

regional, para a geração de empregos, não passa apenas pela eleição para

presidente da república, mas passa por ter gestores públicos estaduais e

gestores públicos municipais, capazes de enfrentar e vencer o desafio que

se apresenta. Passa, portanto, pela capacidade de melhorar o processo de

escolha e de formação de quadros para os governos subnacionais e que a

população cobre isso, exija isso. A ideia de financiamento, vai estar sempre

muito ligada ao governo federal, que vai financiar bolsa família, educação

básica etc. Mas a questão da gestão depende dos governos subnacionais.

Diria, para finalizar, que a ciência política sempre trabalha com a ideia de

estudar as elites políticas e as instituições políticas. A rigor, apesar de ter

terminado em 2001 a minha tese de doutorado, me parece que continua

esse problema sem solução. Quando a SUDENE foi extinta no governo Fer-

nando Henrique, os governadores do Nordeste, não foram nem pra missa

de sétimo dia. Porque, a rigor, eles não querem a SUDENE. Eles mesmos

querem controlar os recursos e capacitar suas secretarias de planejamen-

to. No fundo, essa é a questão principal. Espero que o Fórum, consiga dar

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108 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

uma contribuição para isso: nós não temos no Nordeste um fórum de ar-

ticulação dos interesses contraditórios e diferentes dos governos dos Es-

tados da Região. Sem isso, como é que a região Nordeste se apresenta no

Congresso Nacional, no BNDES ou em qualquer fórum lá no Sudeste. Fica

muito mais difícil.

Muito obrigado e espero que tenha contribuído para a discussão.

SEGUNDA PALESTRAPaulo Lobo de Saraiva: Eu quero inicialmente dar bom dia às mulheres e aos

homens, nordestinos e nordestinas como eu, e dizer da alegria e da respon-

sabilidade de falar neste Fórum. Eu que sou nordestino, nascido no Cariri da

Paraíba, lá em Serra Branca, poderia ter ficado em São Paulo, quando ter-

minei meu doutorado na PUC e fui convidado pelo professor Michel Temer,

para ser advogado tributarista do grupo Hermínio de Moraes. Mas preferi

voltar, eu sou nordestino e tinha que exercitar meus conhecimentos no Nor-

deste. Eu tenho em Natal, uma mulher que me atura há 54 anos e que me

disse: se você quiser, vá só, eu não vou. Entre ficar em São Paulo, nas bene-

ces sudestinas, eu prefiro ficar em Natal, nas agruras nordestinas. E fiquei.

E estou aqui para gritar. Vou falar daquilo que fiz há 32 anos, ao defender

esta tese de mestrado, prefaciada por Michel Temer: Federalismo Regional.

E aqui eu quero prestar três homenagens: A primeira homenagem eu presto

ao professor Paulo Bonavides, hoje mestre de todos nós. O maior jurista do

Brasil e um dos maiores do mundo.

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109RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

A segunda homenagem é a o meu queridíssimo amigo professor Raimun-

do Bezerra Falcão, para quem eu peço uma salva de palmas, que me ajudou

a levar o mestrado do Ceará para Natal.

A terceira homenagem é para Firmo de Castro.

Para fazer a SUDENE, foi preciso que os bispos do Nordeste, se reunis-

sem em Natal e a exigissem de Juscelino Kubitschek, sob comando de um

cearense, chamado Elder Câmara. Ele disse: presidente, nós temos que ar-

ranjar uma maneira de salvar o Nordeste. Aí surge o projeto de Celso Furta-

do, no final de 59.

Eu vi a SUDENE crescer quando era estudante colegial. Eu vi os deba-

tes com os grandes governadores da época inicial da Sudene, em Campina

Grande e Recife. Vírgilio Távora, do Ceará. Aluísio alves do Rio Grande do

Norte. Pedro Gondim, da Paraíba. Seixas Dória de Sergipe. Antonio Portela,

do Piauí. Arnon de Mello, de Alagoas, pai de Collor. Eles discutiam como se

a Sudene fosse um verdadeiro fórum regional.

Aí vem Fernando Henrique e acaba com a SUDENE.

União: começa com os bens. A união é patrimonialista, nós temos um

federalismo nominal, e um unitarismo real. Na Constituinte de 1988 nós con-

seguimos dividir os recursos financeiros políticos, aí veio o governo FHC e

criou uma legislação paralela.

Competências da União: Legislativa, Concorrente e Suplementar. Esta-

do Federado: Federação é uma descentralização político-administrativa. O

grande problema está aí, é transformar a região numa sede de poder. Já exis-

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110 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

te o poder judiciário na regionalização. Mas na parte política, não. Não vou

entrar na questão tributária. Eu fiz uma tese política. Federalismo foi um ato

apenas de letras. Rui Barbosa colocou o estado federado para os Estados

Unidos. E disse que os Estados iriam organizar os Municípios. Nossa base

política é o município, D. Pedro proclamou a Constituinte, no município do

Rio de Janeiro. Um abraço, muito obrigado!

PERGUNTAS E RESPOSTASEvaldo Bringel | Instituto Frutal: Como mudar o ICMS, se for exigido o con-

senso? O equilíbrio na divisão do Royalties é fruto de uma disputa e não de

consenso? Portanto, as mudanças vem de disputas negociadas?

Ricardo Ismael: O que eu falei de maneira muito apressada, é que quando

você olha o Congresso Nacional, você vai ver duas casas: A Câmara e o Se-

nado. A Câmara é mais democrática que o Senado. A representação dos Es-

tados na Câmara, guarda proporcionalidade com o eleitorado dos Estados. A

regra de 3 senadores por Estado no Senado, é uma regra para haver um equi-

líbrio federativo, mas ela certamente afasta a regra democrática do Senado.

Tem um trecho do livro do Alfred Sthepen que trabalha com essa questão e

diz que, as soluções da Câmara são mais democráticas que as do Senado. O

Senado só devia rever as questões aprovadas pela Câmara se isso pudesse

ferir o princípio federativo. Quando não, deveria ser muito modesto em rever

uma aprovação de uma matéria que foi examinada numa casa que é mais

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111RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

democrática. Na verdade, existem bancadas estaduais e regionais, portan-

to o congresso terá sempre essa clivagem estadual e regional. Existem as

bancadas partidárias, existem os partidos. Em algumas votações, prevalece

uma fidelidade partidária, ou melhor, prevalece uma base, uma coalizão que

está apoiando o governo federal. Portanto, é essa fidelidade partidária que

vai ser cobrada e não vai prevalecer uma discussão mais regional. Indo ago-

ra ao ponto central da pergunta, olhando o Congresso, conclui-se o seguinte:

ali é um modelo consensional, se baseia na formação de consensos, porque

estamos numa Federação. Essa regra tem como principio valorizar o poder

de veto dos pequenos Estados, o poder de negociação deles. Resumindo:

quando as matérias federativas chegam ao Congresso Nacional, é preciso

uma grande negociação, todos vão ter que renunciar alguma coisa; quando

se chega a uma certa proposta, de consenso, isso não significa que essa

proposta não tenha sido objeto de uma grande negociação, que significa

renúncias a pleitos estaduais e regionais que lá chegaram. Portanto, qual-

quer que seja o federalismo fiscal, que a gente possa aperfeiçoar, sempre

ocorrerá que São Paulo terá interesse em barrar a ideia do ICMS no destino,

o Rio de Janeiro irá tentar garantir a maior fatia dos royalties do petróleo,

Minas e Pará, os da mineração, Itaipú, os das bacias hidrográficas, e assim

por diante. No fundo, é uma grande negociação. Portanto, tem que se che-

gar a uma proposta final que represente as propostas originais que foram

submetidas a consenso. Então, na questão do ICMS, provavelmente vão ter

Estados que vão se beneficiar com a unificação da alíquota interestadual,

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112 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

outros vão perder. Essa tem sido uma visão que vem aqui do Nordeste. De

qualquer maneira, essa discussão exigirá uma negociação, não tendo que se

buscar um enfrentamento da maioria. Eu estou dizendo nesse caso, é que

a bancada do Nordeste tem que fazer é exercer o poder de veto para provo-

car uma negociação que leve aos resultados que eles desejam ou próximos.

Enfim, o modelo via consenso exige permanente negociação, que significará

renúncia de muitas propostas individuais estaduais e regionais. De qualquer

maneira, o assunto é muito específico.

Aristófanes Pereira | Representante da FIEPE: O regionalismo, induzido da

periferia para o centro, parece ser um erro ainda acreditado e praticado.

Porque não atuarmos deliberadamente do centro para a periferia, fortale-

cendo o conceito de integração nacional, tendo o Ministério da Integração

como vetor político institucional?

Ricardo Ismael: O enfrentamento das desigualdades regionais ou a bus-

ca de um desenvolvimento nacional mais equilibrado onde se pudesse ter

uma distribuição melhor das habilidades econômicas no território nacio-

nal, essa questão vai ter um elemento mobilizador no Senado ou no Con-

gresso Federal? Eu não acho de forma alguma que não possa ser o Mi-

nistério da Integração Nacional, quero deixar bem claro. Só que ele não

tem ocupado esse papel. Lembro até que quando o governo Lula foi eleito,

o programa regional do governo do Lula de 2002, foi escrito pela dra. Tâ-

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113RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

nia Bacelar, que foi uma secretária do próprio Ministério da Integração à

época, mas depois desistiu. Porque no conjunto dos ministérios ele não é

um ministério importante, a não ser que haja problemas como enchentes,

desmoronamentos, estiagem. O Governo, nesses casos, através do Minis-

tério presta alguma ajuda e exerce papel único. Mas não chega a pensar

estrategicamente o País. Eu acho que o Congresso Nacional deveria voltar

a debater esse tema não há solução possível sem os Estados do Nordeste

buscarem o entendimento e levarem para debate no Congresso. Isso terá

de ser construído de alguma maneira pelo Congresso, não só pelo governo

federal.

TERCEIRA PALESTRAValmir Pontes Filho: Permitam e os senhores, em primeiro lugar agradecer

de maneira penhorada ao professor Firmo Fernandes de Castro pelo honroso

convite que me fez para participar deste evento, que já sei coroado de abso-

luto êxito e brilhantismo. Meus cumprimentos também à senhora presidente

Nicolle Barbosa, que tão bem me recebeu nesta casa. Meus cumprimen-

tos ao professor Fernando Rezende, bem como ao professor Alcimor Rocha

Neto. Meu especial abraço também ao professor Paulo Zarábio e ao profes-

sor Raimundo Bezerra Falcão, os mestres a quem reverencio pela cultura

jurídica pelo coração imenso que ambos têm.

O tema sugerido foi o da Constituição de 88 e a questão regional. Procu-

rarei ser a respeito dele o mais sintético e objetivo possível, sem, todavia,

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114 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

deixar de lançar algumas premissas de ordem teórica que me parecem im-

prescindíveis para, na minha visão, a adequada compreensão do tema.

Todos nós sabemos bem a origem da Constituição que está em vigor, pela

graça de Deus, há vinte e cinco anos. O movimento desencadeado ainda

nos finais de 86 e durante o ano de 87 fundamentalmente, visando a recons-

tituição do estado democrático do Brasil, foi um movimento que eu diria

até heroico sob certos pontos de vista e todos os que àquela época parti-

ciparam dessa batalha tinham, como ainda hoje têm, a plena consciência

de que estavam a batalhar por algo aspirado há longos anos, há mais de

vinte anos. Pensava-se não apenas na reconstituição do voto direto para a

Presidência da República, não se olvidem da circunstância de que o movi-

mento pela Constituinte começou naquele outro, anterior a ele, e foi pelas

diretas já. Mas, também, a luta se concentrava, o movimento todo se voltava

à reconstrução do estado brasileiro como um todo, inclusive sob o aspecto

federativo e republicano, e o primeiro dos artigos da nossa carta superior é

taxativo ao dizer que o Brasil é uma república federativa. República porque,

com também nela consignado, todo poder emana do povo e em seu nome

há de ser exercido. E federação porque isto pressupõe, naturalmente, uma

desconcentração no poder político. Restaurou-se o estado federal brasilei-

ro, antes apenas o nominalmente existente, na medida em que durante o

governo ditatorial todo o poder estava concentrado nas mãos do governo da

união, sem que aos estados e aos municípios prestasse qualquer parcela de

autonomia, mesmo do ponto de vista político-administrativo. As diretrizes

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115RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

eram todas estabelecidas a nível central, onde, afinal, repousavam os re-

cursos tributários ou extra tributários que porventura eram angariados pelo

estado brasileiro e distribuídos a talante ou governante de plantão a depen-

der do grau de aproximação que determinado governador ou prefeito tivesse

com esse governante. Aliás, a rigor, os prefeitos nada mais eram do que se-

cretários municipais, se assim pudéssemos dizer, porque que eram transfor-

mados em autarquias administrativas sem qualquer tipo de independência

político-administrativa.

Na medida em que restaurada a federação brasileira, passou-se a poder

dizer, à luz de uma interpretação sistemática do texto constitucional, que

existem requisitos de manutenção do estado federal. Em primeiro lugar, o

estado federal pressupõe, como aqui já dito algumas vezes, a existência de

autonomia político-administrativa dos estados, dos municípios e do distrito

federal; quer dizer, não apenas os órgãos governativos desses entes fede-

rados são constituídos pela vontade democrática do povo de cada estado,

município ou distrito federal, como o estabelecimento de políticas econô-

mico-administrativas, respeitados os limites constitucionais evidentemen-

te, passaram a ser, em tese, segundo o dever constitucional, a tarefa a ser

desenvolvida no âmbito dessas entidades ou desses entes componentes da

federação. A existência dessa autonomia político-administrativa pressupõe

algo que escapa de regra ao comum dos mortais. Porque desde a época an-

tecedente a 88, tinha-se a impressão, e essa impressão continuou lamenta-

velmente a existir depois, que havia uma hierarquia entre as pessoas políti-

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116 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

cas, alguém estava num patamar superior, os estados abaixo, os municípios

mais abaixo ainda e o Distrito Federal num plano intermédio, porque o Dis-

trito Federal é uma pessoa política com características singulares, ele é ao

mesmo tempo um estado e ao mesmo tempo município, tem competências

estaduais e municipais; alguns autores dizem que é uma pessoa sui generis.

Eu poderia dizer que toda a vida que a gente não sabe definir algo, diga que

é sui generis, você não está dizendo nada, mas parece ser uma pessoa muito

inteligente. Então, é uma pessoa sui generis, isto é, que tem o seu próprio

gênero, mas isso é óbvio. O que há de característico no Distrito Federal é o

fato de ser um estado ou um município ao mesmo tempo.

Esse pressuposto é profundamente equivocado num estado federal como

o nosso, segundo a estrutura constitucional existente. Não há hierarquia ju-

rídica entre as pessoas políticas, o que existem em verdade é uma reparti-

ção constitucional de competências. A Constituição trata de distribuir as

competências entre esses entes federados; e eu diria mais, se é verdade que

ela dá à União competências expressas e numeradas, inclusive para legislar

sobre muitas matérias e também no campo tributário, onde a distribuição é

mais taxativa, mais específica, e o faz de modo a privilegiar a União, mas ela

não deixa em hipótese alguma de conferir competências aos demais entes

federados, especialmente aos municípios. Os municípios outrora eram tipos

como os chamados “entes menores” da federação. Essa é uma linguagem

importada do direito italiano porque lá, com efeito, os municípios não têm a

dignidade constitucional que aqui tem e os autores italianos se referem aos

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117RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

municípios como os “enti minore” pela federazione. Como acham bonito no

Brasil importar termos, repetiram isto aqui. O município não é ente menor

coisa alguma; muito pelo contrário, sob o ângulo da distribuição de com-

petência ele está acima do estado, porque aos estados membros cabem as

competências remanescentes. Em palavras outras, as competências que so-

bram, que remanescem da enumeração feita em favor da União e daquelas

outorgadas aos municípios, sobretudo ao que for do seu peculiar interesse.

Afinal de contas, todos nós vivemos, temos nossos vizinhos, a escola dos

nossos filhos ou as nossas próprias, o nosso trabalho, no município. Tanto o

estado como a União são entes ficcionais, criados juridicamente pelo texto

constitucional, mas base territorial, assento territorial, têm os municípios,

com exceção do Distrito Federal que também é um município com cara de

estado. Agora, tanto é verdade que não há hierarquia, tanto é verdade que

essas pessoas políticas estão postas num mesmo patamar jurídico consti-

tucional, que a intervenção da União nos estados ou dos estados nos muni-

cípios é vista pela Constituição como medida excepcional. A constituição

começa a dizer “não haverá intervenção da União nos estados ou não haverá

intervenção dos estados nos municípios”, a não ser para, o requisito primei-

ro, preservar a integridade federativa. Então, é a exceção que confirma a

regra. A intervenção é uma medida excepcionalíssima, restritiva, é prevista

de forma restritiva pela Constituição e que existe exatamente para manter

a integridade nacional e evitar abusos que, eventualmente, sejam cometi-

dos por qualquer uma dessas pessoas em relação às outras. Ora, se existem

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118 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

tais requisitos de existência da federação brasileira, existem outros mais de

manutenção do estado federal, entre eles a rigidez da Constituição, o que

significa que a Constituição é rígida. Aliás, eu considero até essa expressão

pleonástica, porque a Constituição é rígida ou ela não é norma suprema, não

é norma superior. E ela o é, norma superior,exatamente porque é a única

das regras jurídicas do sistema que provém originariamente de um poder

essencialmente político, o chamado poder Constituinte, que alguns chamam

de poder Constituinte originário; também acho pleonástica a expressão, se é

Constituinte é porque é originário.

Ora, na medida em que esse poder de natureza essencialmente política

faz surgir a Constituição, não existe, no momento da produção da Consti-

tuição, nenhum regramento jurídico antecedente que me freie o agir, tudo

pode um Constituinte do ponto de vista jurídico. Claro que limites existirão,

do ponto de vista político, moral, religioso, ético, enfim, histórico, é claro.

Jamais se imaginaria que o Constituinte de 88, nos quais estava o dr. Firmo,

é uma coisa que se fala até com certa repulsa, na restauração da escravatu-

ra, por exemplo, ou na eliminação do estado laico uma vinculação do estado

a uma determinada igreja ou coisas vitais. Então, óbvio que esses limites

morais, éticos, religiosos, históricos, existem e existirão sempre, toda a so-

ciedade está vinculada a padrões de comportamento que lhe regem o atuar

na vida. Mas, juridicamente falando, inexistia uma regra antecedente, a não

ser de natureza espiritual de cada um, mas juridicamente o Constituinte

tudo podia. Todavia, tudo que se produz depois da Constituição, inclusive

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119RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

as emendas constitucionais, são regras já juridicizadas; isso significa dizer,

são regras contidas, limitadas pela própria constituição. As emendas, é cer-

to, podem modificar a constituição e já o fizeram inúmeras vezes, às vezes

bem, na maioria das vezes não, mas elas podem modificar a Constituição

nos exatos limites que a Constituição permite que assim se faça. Existem

limites que não são apenas de natureza formal, porque a Constituição diz

quem é que pode propor emenda, como se dá a discussão e votação das

emendas, qual a maioria exigida em cada casa do Congresso Nacional; en-

fim, todo o processo de elaboração da emenda está dito na Constituição de

maneira muito clara. Existem, tudo mais que isso, limites de ordem material,

existem assuntos sobre os quais a emenda não pode tratar, e um desses

assuntos é exatamente a federação. Nenhuma emenda constitucional pode

vir a ser aprovada de forma a suprimir, reduzir, prejudicar de algum modo a

autonomia de estados e municípios em favor da União; ou seja, visando a

reconcentração de poder nas mãos do governo central. Sempre que alguma

tentativa desse tipo for feita, diz a Constituição, esta tentativa não pode

sequer ser objeto de deliberação. Mas se o for, e às vezes infelizmente o é,

e a emenda for formalmente elabora e promulgada pelo próprio Congresso,

cabe contra esta emenda, por clara ofensa a uma cláusula pétrea da Cons-

tituição, que existem outras, uma ação direta de inconstitucionalidade. Ora,

se uma emenda pode inconstitucional é porque ela é uma norma infraconsti-

tucional, ela vale doravante, nunca desde sempre. Vou tentar explicar melhor

do ponto de vista teórico, embora a voo de pássaro, essa situação. Pense-

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120 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

mos numa lei, uma lei comum, lei do código civil ou qualquer outra regra de

natureza legal. Se alguém adquire um direito com base em uma lei e esta

lei é revogada, o direito que você adquiriu não se perde, o direito adquirido

permanece, a lei nova não prejudica o direito adquirido, nem o ato jurídico

perfeito nem a coisa julgada. Já se essa lei for declarada inconstitucional,

como pode ser também uma emenda constitucional, não há o que se falar

em direitos adquiridos, porque aquilo que parecia ser lei ou que parecia ser

emenda a rigor nunca foi, não poderia ter produzido efeito algum, portanto

ninguém adquiriu direito com base nela. Essa é a essencial distribuição.

A rigidez da Constituição significa exatamente isto, é uma norma supe-

rior. É pena que o sentimento constitucionalista só se tenha desenvolvido

entre nós, eu diria de uns vinte anos para cá, já depois da Constituição

de 88. Até alguns anos depois da promulgação dela, ainda persistia aquela

ideia de que a Constituição era um conjunto de conselhos poéticos, aos

quais se devia ou não obediência conforme o humor do dia. Não é assim,

absolutamente. A Constituição é constituída de normas jurídicas, de pres-

crições normativas, e algumas delas de ampla generalidade que são as cha-

madas normas principiológicas, os princípios constitucionais; o princípio

da legalidade, o princípio republicano, o princípio da federação, o princí-

pio da igualdade, sobre normas que inspiram inclusive a interpretação das

normas constitucionais, entre eles o princípio federativo, volto a me referir

a ele. Então, tais normas e princípios que hão de ser dotados de eficácia

sempre, só se nega a eficácia a uma regra constitucional quando isso for,

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121RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

na prática, absolutamente impossível, e essa eficácia das regras há de ser

prestigiada sempre pelos operadores do direito, dos intérpretes aplicadores

do direito. E quais são eles? A rigor, todos nós os somos. Quando a gente

está numa avenida, na rua da cidade, e vê um semáforo vermelho, imedia-

tamente pisa no freio, pelo menos as pessoas normais fazem isso. O que

você fez? Interpretou que aquela norma sinalagmática, sinal luminoso, or-

denava que você parasse e você parou. Mas, há exegeses mais complexas

que são feitas pelos técnicos em direito, os advogados, os professores e os

intérpretes aplicadores oficiais que são juízes, os membros do poder judi-

ciário. E essa interpretação, aplicação do direito, ela se opera sob o influxo

da Constituição sempre, sempre e sempre. Eu dou sempre um exemplo que

me parece muito significativo nesse tocante: certa vez um cidadão chegou

num hospital público e era um homem que ganhava dois salários mínimos,

pobre, com três filhos, e ele adoentado pediu para ser examinado pelo mé-

dico do hospital público e, eventualmente, internado. A moça da portaria

disse: “o senhor ganha quanto por mês?”, ele respondeu: “dois e meio salá-

rios mínimos”, no que a moça informou: “ah, lamento, estão aqui as regras,

só podem ser atendidas as pessoas que ganham até dois salários mínimos,

então o senhor não pode ser atendido aqui, vá procurar um hospital parti-

cular”. Logo em seguida, chega um rapaz numa BMW, muito elegante, com

motorista, o motorista abre a porta de trás, ele desce com uma roupa ele-

gantíssima, um sapato de cromo alemão, uma gravata Hermet, enfim, e diz:

“olha, eu quero ser atendido porque eu estou aqui com resfriado”, a moça

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122 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

perguntou: “mas, espere, o senhor ganha quanto por mês?”, Ele respon-

deu:“Um salário mínimo, está aqui a carteira profissional da indústria do

meu pai”. Claro que todas as despesas dele eram custeadas pelo pai, mas,

oficialmente, ele tinha na carteira profissional a anotação de um salário

mínimo por mês como remuneração. Ela disse: “Ah, então o senhor pode

ser atendido”. Ora, será que a intentio legis, a intenção da norma, foi ética?

Óbvio que não, o princípio da igualdade aí está vilipendiado, porque tratar

com isonomia não é tratar cegamente da mesma forma todas as pessoas,

é tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na respectiva

medida de suas igualdades e desigualdades, segundo Antônio Bandeira de

Melo. Então, é óbvio que sobre o influxo da Constituição tanto a primeira

das pessoas no hospital que poderia ser atendida, dada à singularidade do

caso, como o segundo não deveria. Não se trata de interpretar literalmente

a regra, a interpretação literal é a mais burra das interpretações, aliás, um

belíssimo artigo publicado no jornal O Povo, se não me engano, o professor

Hugo de Brito Machado, eminente tributarista brasileiro, disse, jocosamen-

te, a respeito da interpretação literal, que num ambiente do interior do es-

tado, onde faziam festas, havia uma placa, “Deixe a sua peixeira na porta-

ria”. Então, o sujeito entrou lá, várias pessoas na frente deixando a peixeira,

chegou e disse: “E você?”; ele disse: “olha, eu não tenho peixeira”, o sujeito

disse: “então, não pode entrar”. Ele disse: “E o que é que eu faço? Você volta

em casa, pega uma peixeira, deixa aqui para poder entrar”. É claro que essa

interpretação é uma interpretação desatinada.

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123RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Disse eu sobre a rigidez constitucional. A rigidez constitucional, pressu-

ponho, exige que se exerça o controle da constitucionalidade das leis exata-

mente para manter a rigidez da supremacia da lei constitucional. Então, esse

controle entre nós é exercido pelo poder judiciário, como nós sabemos tanto

pelas vias de ação direta, chamadas adins, como por via de defesa, ou ainda

por outros instrumentos como a ação declaratória de constitucionalidade,

o mandado de junção, a ação de descumprimento por efeito fundamental, e

tantos outros instrumentos processuais que não cabe aqui analisar aprofun-

dadamente.

Essa estrutura que nós temos, e lamentavelmente o que se há falado mui-

to em nosso país é sobre várias revisões tributárias, revisão política, reforma

política, e revisão do pacto federativo, mas sempre que se fala em revisão

do pacto federativo é com intuito reconcentrador, notadamente quando as

propostas partem do presidente da República, ou da atual presidente; eu

chamo assim porque eu nunca fui “estudanto”, portanto eu não vou chamá-

-la de Presidenta, não existe isso. Vejam os senhores que a Constituição es-

tabelece logo em seu artigo terceiro o que ela chama de objetivos fundamen-

tais da República Federativa do Brasil, e entre esses objetivos fundamentais

está o de reduzir as desigualdades sociais e regionais, isto está repetido no

artigo setenta da ordem econômica. Ora, se a Constituição se preocupa em

que haja redução das desigualdades regionais é porque ela parte do pres-

suposto que há desigualdades regionais e que as regiões precisam se equi-

parar, então as regiões não são entidades anódinas que a Constituição haja

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124 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

esquecido, em hipótese alguma. Ela reconhece que elas existem e que entre

elas há nítidas e graves diferenças. Como proceder ou que caminho há que

se seguir para se fazer uma eventual revisão do pacto federativo? Primeiro,

por meio de uma revisão constitucional, meus caros isso não pode existir

juridicamente, falar-se em revisão constitucional, como diz o mestre Paulo

Bonavides, é falar-se em golpe, golpe de estado. A única maneira de se al-

terar a Constituição é por emenda constitucional nos limites que a Consti-

tuição impõe, a não ser que queira fazer novo golpe, nova “revolução”, seja

lá o que for, e um poder Constituinte novo a partir daí. Mas, isso provocaria

uma desestabilização político-institucional muito grave e que nós lutamos

tanto para superar ao longo de vinte e cinco anos. Fala-se também em des-

constitucionalizar certas regras, que não deveriam estar na Constituição,

que é muito extensa e muito minuciosa. Ora, eu gostaria muito que a Cons-

tituição fosse sintética, eminentemente principiológica, mas seria possível

se o Brasil fosse um país de história política sólida, como as democracias

ocidentais, algumas o são; mas não, a nossa história política é trágica, ab-

solutamente trágica. A nossa primeira Constituição, que deveria ser produ-

zida por uma assembleia Constituinte convocada pelo imperador, foi por ele

próprio dissolvida e ele pôs uma Constituição ao talante dele, dizendo “eu

quero uma Constituição que seja digna do imperador”, não era do Brasil.

Depois tivemos uma república velha, eleições a bico de pena. Enfim, inúme-

ros exemplos de governos ditatoriais, Getúlio, depois o golpe de abril de 64,

então que tradição democrática nós temos para falarmos em Constituição

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125RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

singela; não, a Constituição tinha mesmo que ser minuciosa. Aliás, como

disse há pouco, num evento lá em Salvador, o quase ministro Luiz Alberto

Barroso, um estimado amigo e grande professor, “a Constituição só não pro-

mete recuperar o amor em três dias”, mas ela promete um monte de coisas.

E é bom que prometa, para que se não for possível agora seja sempre algo da

nossa postulação político histórica. Ora, é possível uma alteração na Cons-

tituição para fazer um novo pacto federativo? Sim, por emenda. Como? Sem

ferir a autonomia de estados e municípios. Exatamente preservando essa

autonomia, mas criando um novo ente federado, uma quarta esfera gover-

nativa que seria, uma quinta, aliás, porque existe União, estados, distrito fe-

deral e municípios, uma quinta esfera que seria o governo regional. Mas, de

onde as regiões ou os governos regionais aluiriam competências da União,

que seria uma instituição que supervisionaria isso tudo, mas quanto mais

desconcentrado o exercício do poder, mais os atendimentos prioritários po-

deriam ser realizados com eficácia. Isso é óbvio, os governos estaduais da

mesma região se uniriam em torno de objetivos comuns.

Aliás, eu não sou expert na área, portanto eu posso estar a dizer uma he-

resia. Fala-se tanto, por conta do nosso Semiárido e notadamente por esse

período terrível de seca, a transposição do Rio São Francisco, e muita gente

condena porque é um rio que estaria à míngua, pergunto eu: se nós tivés-

semos um governo regional do Norte e do Nordeste, e esses dois governos

firmassem um convênio para ajuda recíproca e nós pensássemos na trans-

posição do Rio Tapajós, que tem muito mais água que o São Francisco, por

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126 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

que não? Inclusive com investimentos externos. Esses países têm tanto di-

nheiro, viriam com tecnologia e podiam levar 30, 40% da produção agrícola.

Nós sabemos como é o nosso sertão, está tudo seco, dá uma chuvinha fica

verde. Se Israel produz laranja, por que nós não podemos produzir? E é só

deserto lá. Agora, há uma prevenção enorme em relação, vamos falar com

franqueza, ao Norte e ao Nordeste, é isso que acontece. Eu vou me referir a

um episódio, e já estou falando isso em nível de conclusão, ocorrido comigo,

eu não fui testemunha, fui partícipe. Em 1989, eu participei de um evento em

São Paulo, comemorativo de um ano da Constituição, e eu participava de

uma mesa em que se falaria sobre a ordem econômica na nova Constituição.

Éramos expositores eu, o professor Almino Afonso do Rio Grande do Sul, um

grande jurista, e um deputado cujo nome não declinarei nem sobre tortura.

Eu fui apresentado àquela época apenas como mestre em direito pela PUC

de São Paulo, já foi uma discriminação. E, falou o professor Almino e, em

seguida, esse deputado, que desancou a Constituição, disse que era uma

Constituição tópica, querer imaginar que as regiões sejam equiparadas, isso

é um absurdo, o Norte e o Nordeste são pesos mortos, vivem às custas de

São Paulo. Isto eu ouvi, senhores. Dizem que o que tem de muito bom lá é o

mar, então eu me indago por que o mar não invade o Norte e o Nordeste e en-

costa em Minas Gerais. É esse o pensamento. E naquela época, naquele dia,

é claro que a rigor não penso assim, eu disse que a partir daquele momento

me tornaram um independista e queria que o Norte e Nordeste formassem

um país independente, desligado do resto da federação brasileira. E sim, tal-

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127RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

vez fosse até uma guerra sangrenta. Claro que eu respondi na emoção, não é

isso que penso porque o meu sentimento de brasilidade está acima de tudo,

e não é assim que pensam as pessoas, o povo nas regiões, eu sei que não.

Mas, é preciso que nós acordemos para a premente necessidade da institu-

cionalização do poder regional; ele é visível e é patente, e se nós nos unir-

mos, os estados do Nordeste, do Norte, como também os estados do Sul,

do Sudeste, do Centro-Oeste, cada qual com seus objetivos próprios, todos

terão a ganhar e o concerto de poder estará muito mais equilibrado, muito

mais, digamos, democratizado, o que respeita, inclusive, a repartição das

rendas tributárias e a política tributária que é adotada. O professor Firmo já

me tinha dito de outra vez, mas a agora há pouco novamente, que quando se

pensa em incentivar determinado setor da economia, exatamente um setor

da região Sudeste, em prejuízo de redistribuição das rendas tributárias para

os demais estados, no setor automotivo, por exemplo. Se há um incentivo lá,

a arrecadação cai e quem é que perde? Exatamente os estados que hão de

ter participação na arrecadação federal.

Portanto, eu sou esperançoso de que as regiões possam vir a ser uma

pessoa política, com competências próprias retiradas da União Federal, já

que o poder regional é perfeitamente tangível. Muito obrigado aos senhores.

QUARTA PALESTRAFernando Rezende: Eu queria comentar, de início, duas coisas. Primeiro,

que eu tinha ficado muito bem impressionado com a proposta que me foi

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128 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

enviada pelo dr. Firmo de Castro, a respeito dessa iniciativa que foi tomada

agora aqui pela Federação das Indústrias e do Comércio - FIEC e pelo Cen-

tro Industrial do Ceará - CIC, de provocar um debate que o Brasil deixou

de fazer, olhar à frente, qual é o nosso futuro? Então o Brasil pode muito

mais, o Brasil está há duas décadas rateando com taxa de crescimento que

não consegue passar de 1,5, 2% em média. Nesse meio tempo, analistas in-

ternacionais anunciavam que o Brasil iria se ombrear como outros países

do mundo com os Brics. E cada vez mais nós estamos nos distanciando do

resto do mundo, talvez numa parábola muito própria, o que José Saramago

escreveu da jangada de pedra, onde para ele a península ibérica estava se

deslocando do resto da Europa, até que depois se juntaram na União Eu-

ropeia, agora está de novo ameaçada de alguma fragmentação. E eu fiquei

muito mais animado ainda com esses debates depois que eu ouvi as três

exposições que foram feitas aqui, que chamam atenção para uma serie de

questões, que estão de fato ameaçando esse objetivo. Eu gosto sempre de

prestar muita atenção nos artistas que buscam desenhar esses prospectos

que distribuem os eventos e aqui temos duas peças de um quebra-cabeças

com duas mãos tentando juntar essas peças, e não sei se ainda o sentido da

arte é que elas vão se juntar ou não. E não por acaso, esse projeto chama-se

Integra Brasil - Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo. No mundo por quê?

Porque nós temos uma nova realidade, nós discutimos política regional do

Brasil quando o Brasil era uma economia fechada, criamos instrumentos

e instituições adaptadas a isso, a Constituição também foi feita num mo-

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129RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

mento onde o Brasil era uma economia fechada, dois anos depois do grande

evento que provocou a grande transformação no mundo, que foi a queda do

muro de Berlim, e o avanço das tecnologias tanto no campo da produção

quanto no campo do comércio, e no campo financeiro, que permitiu que o

mundo pudesse comercializar a longa distância e como se a geografia tives-

se deixado de ter importância. Isso não havia antes. Hoje está mais barato

trazer produtos da China do que comprar do Sul do Brasil, está mais barato

trazer produtos da Argentina, às vezes, para vender na Amazônia, então a

situação mudou radicalmente e as nossas instituições permaneceram atre-

ladas a uma visão do passado. O que me preocupa desse debate é como

é que nós vamos evoluir nessa direção. Onde é que nós estamos? O que

aconteceu com o estado brasileiro? Eu nem ia discutir o pacto federativo

porque senão estava na minha encomenda, mas acho que vou acabar tendo

que tocar nesse assunto, já que ele foi tão mencionado aqui na mesa. Mas,

o que me preocupa é exatamente essa, qual o estado que nós temos? E qual

é o estado que nós queremos? E qual é o estado que nós precisamos ter? Se

queremos evoluir na direção de consolidar uma democracia estável, um país

que sustente um nível de desenvolvimento compatível com a ansiedade em

promover a justiça social, a igualdade de oportunidades, a redução da dispa-

ridade regional e por aí afora.

Então, eu vou começar essa minha exposição tentando contar uma, quase

que poderia ser uma historinha, eu vou aproveitar o cenário aqui da região,

quase que poderia ser uma historinha de cordel. A história de um casamen-

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130 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

to, um casamento que não foi planejado, daqueles que ocorrem assim sem

ter sido sequer pensado, um casamento que se formou de uma maneira mui-

to curiosa, para dizer o mínimo. Começamos aqui ouvindo várias exposições

sobre as questões constitucionais, que estão por detrás de boa parte do

debate aqui presente. E o que nós vivenciamos nessas discussões? Eu vou

começar falando do estado; se nós temos que falar a respeito, por enquan-

to, de federação, vamos falar do estado, afinal de contas o estado é uma

entidade que se compõe no nosso regime constitucional que exista cerni-lo

para uma federação. E o que aconteceu com o estado brasileiro nos últimos

vinte anos? Estou fazendo essa leitura que resulta de um trabalho de dois

anos que estamos produzindo na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janei-

ro, onde a preocupação é exatamente o estado brasileiro e seus instrumen-

tos, não só voltados à questão regional, voltados a todos os problemas que

têm a ver com o futuro. E não estou chamando da partição do estado, é que

na minha leitura o estado foi se dividindo. Tem um livro muito interessante

de um escritor italiano chamado Ítalo Calvino, chamado “O Visconde Partido

ao Meio”. O estado brasileiro, num primeiro momento, na minha leitura, ele

se partiu ao meio, e tem a ver um pouco com os desdobramentos de todo o

processo posterior à Constituição de 88. Estávamos lá, eu acompanhando

na qualidade de membro da equipe técnica, estava a crise orçamentária e

tributária da Constituinte com o nosso ex-deputado Firmo de Castro, esse

processo de elaboração da Constituição, como todo mundo sabe, ocorreu

num momento histórico muito particular, num momento recheado de muitas

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131RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

emoções, onde havia uma reação muito grande da parcela majoritária da

sociedade e todo um debate pretérito em que um milagre, chamado milagre

do brasileiro dos anos 70, era um processo de crescimento excludente, que

excluía a grande maioria da população dos benefícios do desenvolvimento,

que restringia esses benefícios a uma parcela privilegiada da sociedade, e

este processo ocorria paralelamente a um outro movimento, que era um mo-

vimento que vinha dos estados e municípios por uma reação ao excesso de

centralização do poder político nas mãos do governo central. Esses foram

movimentos na conjuntura, eles tiveram influência muito grande em todo

o trabalho da Constituinte, um era o movimento liderado pelos chamados

grupos sociais mais organizados se uniram em torno dos sindicatos, da cha-

mada bancada da saúde, da ação coletiva, e toda a sociedade se organiza-

va em torno do movimento educacional, corria em paralelo numa comissão

da Constituinte que tratava da ordem social. Numa outra comissão corria

a discussão do sistema tributário orçamentário financeiro, que era onde se

concentrava toda a pressão dos estados e municípios por maior autonomia

financeira, que na visão deles, corretamente, implicava em recuperar a au-

tonomia necessária para exercer o poder político que foi outorgado a uma

autonomia política, que foi outorgada pós-eleições diretas para os estados

em 1982; só foi mencionado aqui isso, inclusive, pela manhã pelo Ricardo. O

que acontece, naquele momento muito particular, essas pessoas culminam

num papel; do lado do movimento que liderava esse debate de demandas

sociais o tema era precisamos ter um orçamento próprio, precisamos ter

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132 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

contribuições cativas, porque o conhecimento acumulado,algumas pessoas

aqui da minha geração saberão, era aquele sentimento de que dinheiro da

previdência social podia ter financiado a construção de Brasília, a constru-

ção de Itaipu e outras coisas mais, e no momento que a previdência era su-

peravitária isso de fato ocorreu. Então, havia uma demanda muito grande,

para usar uma palavra da moda, por blindar os recursos da seguridade e

os recursos da chamada área fiscal. Então, defendeu-se, isso foi escrito no

texto da Constituição, uma ideia de orçamento da seguridade social, que

deveria ser financiada por estas contribuições nossas sobre o lucro, sobre a

receita, na época não era nem receita, era faturamento. Depois, chegaram à

conclusão de que o sistema financeiro não tem faturamento, então fizeram

uma emenda constitucional para dizer que não era faturamento, era receita.

A ideia da seguridade se instalou no seu nicho próprio.

E no campo tributário, o que aconteceu? Formou-se uma aliança nos es-

tados brasileiros que tinha como princípio básico retirar receita do governo

federal, por via de transferência de competências tributárias, que era ex-

clusiva da União, para os estados e por meio do aumento do percentual das

receitas dos impostos federais, repartida entre estados e municípios via fun-

dos de participação. Então, essa aliança juntou os estados do Sul e Sudeste

e os estados do Norte e Nordeste, um iria se beneficiar mais do aumento da

competência, o outro do aumento das transferências. E ali, deu-se o quê?

Deu-se a transferência e a inclusão, a base, tipo ICM, e os impostos sobre

energia elétrica, combustíveis e telecomunicações, deu-se a autonomia para

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133RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

os estados determinarem as alíquotas do imposto estadual, que anterior-

mente eram da competência do senado federal, as alíquotas internas, não as

interestaduais, que permaneceram na competência do senado. Ocorre que

este movimento, no seu desdobramento, trouxe inúmeras consequências

que, entre elas, estão na raiz do esvaziamento do poder dos estados, mais

dos estados, mas também dos municípios, por enfraquecimento do nosso

regime federativo e com consequências que rebateram também na questão

de São Paulo. Vou tentar explicar isso na sequência dessa minha discussão.

Quais foram os desdobramentos? Logo em seguida à aplicação do novo tex-

to constitucional, veio a aprovação das leis que regulamentavam os novos

direitos anunciados, principalmente a nova lei da previdência que estendeu

o direito beneficiário a toda a sociedade, independentemente de ter ou não

contribuído para a previdência; vejam bem, não estou discutindo o méri-

to da questão, só podemos discutir suas implicações não previstas. Veio a

regulamentação da nova lei da assistência social, do novo sistema único

de saúde, tudo isso no primeiro momento teve um impacto muito forte na

demanda e no orçamento federal. E aí, obviamente, surgia a necessidade de

aumentar os recursos financeiros à disposição do governo federal, que tinha

no primeiro momento perdido substancialmente em função da perda dos im-

postos únicos e do aumento das pressões, os estatísticas mostram isso com

clareza. E a reação imediata era qual? Aumentar as contribuições, porque

se fosse aumentar o imposto de renda e o IPI, que os dois são os impostos

federais, você iria entregar a metade, ou quase a metade, para os estados e

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134 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

municípios. Óbvio, qualquer pessoa sentada na cadeira do secretário da Re-

ceita Federal diria o seguinte: vamos aumentar a receita das contribuições

para financiar a nova despesa da previdência, da saúde e da assistência que

cresceram em função da regulamentação.

Até aí, uma história que não tinha grande problema porque, ainda que as

despesas tivessem crescido, num momento de inflação muito grande, muito

alta, o orçamento se ajustava com mais facilidade, não criava muito proble-

ma com a administração das contas públicas. O problema surgiu com toda a

força e manifestou-se com mais a clareza a partir de 98. Por que 98, dez anos

depois? Porque em 98 o Brasil quebrou e o plano real estava ameaçado de

ser mais um daqueles planos que iriam fracassar. E os políticos, de alguma

maneira, talvez naquela época ainda não, mas depois aprenderam, que a es-

tabilidade monetária é uma coisa que a população dá um imenso valor. Mas

depois das duas derrotas da candidatura Lula à presidência, o PT também

aprendeu que a questão da inflação ainda é uma questão séria. Podemos

discutir se devia ter sido de uma maneira ou de outra, também não estou

querendo entrar no mérito da natureza das decisões, mas o Brasil quebrou,

o fundo monetário veio e salvou o Brasil com trinta a quarenta bilhões de

reais, salvou o Brasil, salvou o plano real. E o plano real, que até aquele mo-

mento estava ancorado na manutenção de um câmbio estreitamente sobre-

valorizado, o governo foi obrigado a fazer forte ajuste fiscal. Nas análises da

época, você tem que substituir a âncora cambial por uma âncora fiscal. E o

forte ajuste fiscal de novo tinha que ser feito de que maneira? Aumentan-

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135RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

do as contribuições. Se fosse aumentar os impostos de novo, teria que au-

mentar duas vezes mais para ficar com a mesma quantidade. Isso, claro, na

mesma reunião. Provavelmente na mesa do Ministério da Fazenda, alguém

falou, não podemos fazer ajuste fiscal com aumento das contribuições por-

que está vinculada à seguridade social. Logo em seguida, alguém levanta,

faz uma emenda constitucional. Era a primeira emenda constitucional que,

como tudo que começa de uma maneira complicada, ganha um nome mais

bonito; Fundo Social de Emergência. O fundo fazia aquilo que depois, com o

tempo, as pessoas vão perdendo a vergonha e virou desvinculação da receita

da União. E então, o que acontece? Quando você, suponha que tivesse que

fazer um ajuste para aumentar em vinte reais o superávit, vinte, vinte mil,

vinte milhões; para aumentar vinte milhões, você teria que aumentar a arre-

cadação em cem para poder tirar vinte e ficar com vinte, mas isso leva um

tempo. No primeiro momento você pode até sentar em cima do dinheiro. Isso

acontece. Então, na minha análise, isso gerou o que eu chamei de um efeito

cremalheira; as pessoas mais jovens nem sabem o que é uma cremalheira.

Cremalheira é uma coisa que, os trens que subiam a montanha antigamente,

como as locomotivas eram menos poderosas, subiam com um engate, uma

espécie de catraca que na medida em que ia subindo, o trem ia se enga-

tando nos trilhos de tal maneira que se perdesse a força ele não voltava. A

cremalheira, no caso fiscal, ela fez esse efeito, porque na medida em que era

necessário fazer o superávit primário, com o aumento das contribuições, ela

engendrava o próprio efeito do momento do gasto.

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136 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

Então, não por acaso, quando você olha o gráfico que compara como

cresceu a receita das contribuições e como cresceu os gastos com seguros,

com tudo aquilo que está abrangido na seguridade social, inclusive o seguro

desemprego, eles cresceram praticamente em paralelo, note que o efeito

maior começou em 98. Aqui se teve um certo descolamento, que era o pe-

ríodo em que estava precisando gerar mais superávit para poder sustentar a

estabilidade monetária. E a partir de então, esses efeitos da cremalheira fo-

ram se dirimindo, foram se esvaindo, e as duas curvas passaram a correr em

paralelo. O que isso nos diz? Duas coisas: a primeira, você fez exatamente

o oposto do que costuma ser a lógica do processo de aumentar a arrecada-

ção; geralmente, o aumento da arrecadação é feito para cobrir o aumento do

gasto, aqui o aumento da arrecadação puxou o aumento do gasto na medida

em que esse espaço fiscal foi sendo criado, o que iam ficando nos cofres do

tesouro foi viabilizando primeiro a ampliação dos gastos previdenciários, a

nova política do salário mínimo, a expansão dos programas de transferên-

cia de renda, com bolsa-escola que começou lá atrás, e veio depois o bol-

sa-família e etc. De novo, não estou discutindo o mérito, estou discutindo

as implicações das decisões que foram tomadas naquele momento. O que

isso significou? Isso aqui promoveu o que eu chamei de um casamento de

conveniência, têm muitos, inclusive dentro da sociedade e das famílias, tem

muitos casamentos de conveniência; hoje em dia talvez tenha muito pouco

em moda, mas deve acontecer. Casamento de conveniência entre a agenda

macroeconômica, que era a agenda de sustentar a estabilidade monetária

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137RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

em cima da manutenção do ajuste fiscal, e a agenda social do governo que

se apoiou exatamente na expansão dos programas de transferência de ren-

da. Eu, não por acaso, e todos os analistas que se debruçam sobre as con-

tas orçamentárias mostram isso com clareza, o gasto que cresceu, que foi

crescendo, foi o gasto dos programas de transferência de renda que asfixiou

o investimento. Mas, não obstante, esse casamento de conveniência trou-

xe enormes dividendos para o governo em termos políticos. Quando eu falo

nessa discussão, “olha, nós temos que mexer nesse negócio”, a seguridade

social foi um grande avanço na Constituição de 88; pode até ter sido, mas a

maneira como foi financiada precisaria ser rediscutida, porque nós criamos

uma armadilha que é a que eu vou mostrar em seguida.

Por que no Brasil nós não assistimos nenhuma movimentação popular

contra o ajuste fiscal nos últimos anos? A oposição ia para as ruas antiga-

mente quando se falava em fazer ajuste fiscal, vinha o FMI, abaixo o FMI, tal

qual na Europa, todo mundo nas ruas discutindo o ajuste fiscal. E por que

ninguém mais fala sobre isso no Brasil? Quem discute isso? Claro, qual é o

governador que se posiciona contra uma presidente que tem 70% de apro-

vação? Enfim, vêm do povo, 70% de aprovação, é popular, não há quem vá se

posicionar contra realmente.

Desculpem, eu tenho que voltar um ponto atrás. Então, esse efeito cre-

malheira surgiu de algo que nós criamos no Brasil, que só existe no Brasil.

Como dizem os meus amigos de Minas Gerais, só existe no Brasil, não é

Jaboticaba, é alguma coisa que precisa, no mínimo, ser estudado com cui-

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138 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

dado. E essa coisa que só existe no Brasil, é essa dualidade de registros tri-

butários. Nós criamos dois registros tributários, amparados em dispositivos

constitucionais distintos, subdividimos inclusive as regras de criação deles,

distintas, que foram criados para atender uma preocupação do momento,

que era justa, que ia tentar garantir recursos para os direitos sociais e mes-

mo assim garantiu para alguns, porque se nós formos ler o artigo sexto da

Constituição Federal, diz lá, são direitos sociais, a previdência, a saúde, a

assistência, o transporte, a alimentação, a habitação, uma série de outros

que ficaram sem qualquer garantia de investimentos financeiros e não por

acaso as tragédias urbanas, os últimos anos estão mostrando isso também,

garantiu-se direitos, alguns direitos do artigo sexto, mas não todos. E isso

levou a essa que eu chamei da partição do estado. Quer dizer, o estado bra-

sileiro dividiu-se do ponto de vista dos recursos que o estado administra em

duas partes, uma parte está cuidando da política macroeconômica e outra

parte está cuidando da agenda social. Se você olhar os dados do orçamen-

to federal que eu posso mostrar aqui rapidamente em seguida, esses dois

itens do orçamento absorvem praticamente 90% do orçamento federal e se

estendeu aos estados e municípios na medida em que fizemos duas coisas:

aumentaram as transferências vinculadas à saúde, à educação e à assis-

tência, e ao mesmo tempo tem as vinculações dos orçamentos estaduais e

municipais à saúde e à assistência. Essa mesma agenda foi incorporada na

agenda federativa num processo de centralização do poder, eu digo isso e

as pessoas me olham assim de malgrado, mas eu acho que a centralização a

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139RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

que nós chegamos hoje é maior do que a que nós tínhamos no governo mili-

tar, em matéria de centralização do poder sobre o uso dos recursos do esta-

do, que, obviamente, também se traduz em centralização de poder político.

Essa é uma questão que eu estou fazendo uma provocação de propósito, é

uma questão que a gente precisa discutir.

Esse casamento, que eu estou chamando de casamento de conveniên-

cia, recebeu depois um forte padrinho, porque em todo casamento tem que

ter padrinho, e constituiu-se tríplice aliança, a tríplice aliança entre as três

agendas, a agenda macroeconômica, a agenda social e a agenda política.

Onde entrou a agenda política nessa história? Entrou pela necessidade

do governo usar a parcela de recursos orçamentários à sua disposição, de

novo não só o governo federal, os governos estaduais e os municípios gran-

des também, para administrar o apoio da base parlamentar à medida que

o governo tem interesse em aprovar, que os estudiosos da ciência política

chamavam presidencialismo de coalizão. O que é isso? Você administra a

liberação de recursos, sejam de emendas parlamentares, sejam de proje-

tos governamentais, que são de interesse dos parlamentares da base aliada

para sustentar o apoio do legislativo em todos os níveis, as medidas que

são de interesse do poder executivo. E criou uma armadilha fiscal do bai-

xo crescimento. O que é armadilha fiscal do baixo crescimento? É que não

dá condições de você gerar recursos para alavancar investimentos que são

fundamentais para você sustentar o crescimento. Então, num determinado

momento tem surto internacional que o preço das commodities dispara, isso

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140 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

dá uma certa folga, dá um certo espaço para aumentar o consumo, mas se o

investimento não cresce em paralelo você vai aumentar esse consumo e ali-

mentar esse consumo com importações e não com produção nacional, que

é o que aconteceu nos últimos anos. O casamento não só mereceu um forte

padrinho político, como também ganhou um forte apoio popular, porque a

população manifestou esse apoio nas pesquisas de opinião, que concretam

a popularidade dos governantes em geral que têm alcançado na sua socie-

dade. E é muito difícil dizer que essa armadilha é facilmente desarmada, não

é, ela está envolvida numa série de aspectos que são complicados.

Você tem um momento da carga tributária de 7%, só federal, 7 pontos,

com pico entre 2007 e 2011, e, então, você tem o seguinte: 2,6 agenda ma-

croeconômica, 2,6 agenda social, dos 7% do PIB, quer dizer, quase toda, e 1,5

é transferência entre estado e município que são exatamente as transferên-

cias feitas pelo SUS e pelos programas assistenciais. Significa o seguinte:

investimento quase nada. E não tem espaço para ser diferente. A sustenta-

ção desse casamento, todo casamento de conveniência custa caro, casar

a filha com um barão do império tem que ter dinheiro. Então, a explicação

desse crescimento, ele absorve hoje praticamente quatro quintos das recei-

tas do governo federal e impôs um grande ônus ao contribuinte, porque sus-

tentou ou levou ao forte crescimento da carga tributária, que onera a ativi-

dade produtiva, e ocupou quase todo o espaço orçamentário. Na sequência,

erodiu a competitividade e teve uma série de outros efeitos colaterais que a

gente poderia explicar. A partição do estado que detonou usa como instru-

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141RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

mento a política regional. Posso mostrar algo sobre isso rapidamente, se for

o caso. Os programas de transferência de renda e aqui o Ricardo acho que

mostrou isso de manhã, não talvez com a ênfase com que eu estou dizendo,

mas ele disse o seguinte, agora a coisa parece que ficou de outra maneira,

não é mais a região problema, é a questão problema, foi a palavra que você

usou. Isso se refletiu exatamente no fato de que o problema regional passou

a ser “resolvido” por meio de programa de transferência de renda, e de novo

a população está satisfeita, então não adianta você bater contra isso sem

ter uma argumentação muito bem construída, agora isso aí se sustenta até

quando? Qual é o prazo de validade de manter a questão da transferência

de venda? Você melhorou a distribuição pessoal da renda, sem dúvida, mas

como mostrou aqui o nosso vice-presidente, você manteve a desigualdade

de distribuição da renda produtiva, o PIB regional não mudou nada em qua-

renta anos. Mas, se você melhorou a renda das pessoas, então aí tem um

dilema interessante para ser explorado, essa contradição em melhorar a ren-

da pessoal e melhorar a renda regional, que é um debate político no mínimo

interessante.

Eu não vou explorar esses dados. Só mostrar a concentração; distribuição

e estabilização. Eu usei isso aqui porque era uma discussão acadêmica, isso

reproduzia os grandes manuais de finanças públicas, o Richard Musgrave,

dividia as funções do estado em três categorias: as funções do estado que

garantiam a estabilização da economia, de melhorar a distribuição de renda

e de intervir na locação de recursos para melhorar a sua eficiência. Então, na

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142 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

verdade, as três funções do estado brasileiro ficaram absorvidas nas duas

primeiras, e a função de intervir na alocação de recursos para garantir a

eficiência econômica, a competitividade, via melhoria na infraestrutura, na

produção de bens públicos, da segurança, da infraestrutura urbana, foi para

o espaço. Não vou me aprofundar nisso aqui para não me alongar.

Era o que eu estava dizendo antes, que isso se estendeu aos estados e

municípios também. Se você olha a composição da despesa federal, ela re-

flete o mesmo grau de concentração.

O que o governo tentou fazer ultimamente para lidar com esse problema

da dificuldade de fazer com que os investimentos avançassem? Foi cons-

truída uma represa, não uma hidrelétrica, não sei nem que nome eu daria a

essa empresa, a essa represa, mas uma represa da qual o governo foi acu-

mulando despesas; como não dava para pagar, antigamente isso tinha um

conceito de restos a pagar, mas os restos a pagar ficaram tão grandes que

deixaram de ser restos, hoje acumulados pelo governo federal são duas ve-

zes maiores do que o total daquela despesa que o governo tem discriciona-

riedade para usar, e se você tirar tudo aquilo que é obrigatório gastar, o resto

a pagar já é duas vezes maior. Trocando isso em miúdos, você tem um caixa

para administrar dois orçamentos e a tendência é essa relação crescer. En-

tão, o que você faz, você tem um único administrador e você cada vez mais

colocando mais coisa na represa. E o que acontece? Você cada vez mais está

liberando pagamentos de investimentos que foram decididos no passado,

alguns do ano passado, alguns de cinco anos atrás, e está deixando de exe-

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143RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

cutar os investimentos que foram decididos nesse ano. Isso levou o texto a

utilizar uma expressão de que o Estado ficou de costas para o futuro, está

cada vez mais tratando de administrar ou de liderar o Estado de costas para

o futuro. Os investimentos executados em recursos de despesas anteriores,

restos a pagar, são maiores do que os do orçamento de cada exercício, e

está diminuindo, essa é a tendência. Numa armadilha fiscal de baixo cres-

cimento os conflitos federativos só podem crescer, porque não têm espaço

para administrar todas as pressões, e ele se reproduz regionalmente porque,

na medida em que o conflito federativo cresce, a tendência, alguém disso

isso aqui de manhã, só não lembro quem, é que os governadores passam a

buscar relações bilaterais com o governo central, para poder ganhar alguma

vantagem imediata. Na medida em que a briga toda cresce, salve-se quem

puder, cada um que tiver mais facilidade de acesso vá buscar a sua cota de

vantagem. Então, o conceito de restos a pagar vai gerando novos conflitos,

porque esse acúmulo de despesas de restos a pagar vai também afetando

as transferências entre estados e municípios, não as constitucionais, por-

que as constitucionais o governo tem que honrar, mas como as constitucio-

nais foram perdendo importância e as transferências que foram ganhando

importância foram as transferências que estão direcionadas para a saúde,

para a assistência, para a educação, elas também vão sendo reprisadas,

algo que me surpreendeu, que eu não sabia, quando eu fui olhar os dados

com mais detalhes, em restos a pagar de despesas de saúde e de despesas

de educação. Eu disse, não pode, como é que pode? Se a Constituição diz

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144 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

que você tem que gastar 25% do orçamento na educação e 13% na saúde,

como é que tem restos a pagar? Então, alguém disse, não, mas o Tribunal de

Contas entendeu que o que cumpre o preceito constitucional é você empe-

nhar a despesa, você empenhou a despesa está ok, isso daí você pode pagar

depois.

Então, é isso, o Estado acumulou dentre as duas deformações uma for-

te miopia, não sabe, não consegue enxergar adiante. É o estado brasileiro:

governo federal, estados, municípios, todos os entes federados estão admi-

nistrando o dia a dia das suas transações e, obviamente, o país não pode

conviver numa situação onde não existe planejamento, não existe visão es-

tratégica, não existe projeto nacional. Qual o projeto nacional? É essa nossa

iniciativa aqui. Qual o projeto nacional para o Brasil que contemple o equilí-

brio regional? Não é nem o projeto para o Nordeste, é o projeto para o Bra-

sil que ponha visão regional dentro do projeto nacional. E se não for assim,

acho que fica difícil se conseguir algum tipo de negociação. Como o governo

tenta esticar e reforçar esse casamento, que, assim como os pessoais, às

vezes custa a se dissolver, leva um tempo para que as pessoas cheguem à

conclusão de que não dá mais para viver junto, e isso vai reforçando a ar-

madilha porque os conflitos vão se estabelecendo dentro de cada uma das

agendas. Para citar apenas um exemplo, dentro da agenda macroeconômica

você incorporou à agenda macroeconômica a preocupação do governo em

ampliar os investimentos. E aí, garantir os investimentos e garantir o superá-

vit primário passa a ser uma opção complicada, e não por acaso nós assis-

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145RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

timos no final desse ano a uma discussão de, digamos assim, magias fiscais

ou magias contábeis para anunciar o superávit primário. Faz uma operação

aqui com o BNDES, com a Caixa Econômica, adianta dividendos estatais,

faz algumas coisas para dizer que o superávit foi cumprido. Não é por acaso,

é que esses conflitos estão complicados. Dentro da própria agenda social o

conflito também se estabelece, porque depende de que tipo de imposto está

crescendo. Se crescer o imposto de renda do IPI, o que acontece quando

há um desenvolvimento que tem um maior apoio da indústria, então cresce

mais o imposto de renda do IPI, o governo tem que gastar 18% na habita-

ção e tem que entregar quase metade aos estados, municípios e aos cofres

regionais, então o que sobra de recursos teoricamente livres é uma parce-

la pequena; 50 mais 20, sobra 30%. Porém, esses 30% vão ter que financiar

parte da saúde que já não cabe dentro da receita da seguridade social por-

que, com o passar do tempo, a saúde foi sendo expulsa da seguridade social

para garantir crescidos outros benefícios. Então está cada vez mais difícil

a administração desses conflitos e isso, de certa maneira, paralisa as deci-

sões, porque qualquer decisão mexe com uma série de interesses que estão

cristalizados, e não resolve o crescimento da economia e não contribui para

escapar dessa armadilha, porque o gasto e todas as regras que existem, já

definidas, acompanham o crescimento da arrecadação. Então, o casamento

já terminou, mas os cônjuges ainda não se separaram.

Essa armadilha envolve discutir uma reforma que ninguém discute. Tem

um texto que está publicado, chamado “a reforma esquecida”. O Brasil dis-

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146 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

cutiu nos últimos anos reforma tributária, reforma previdenciária, reforma

trabalhista, reforma política, ninguém falou em reforma orçamentária, afi-

nal de contas o orçamento público é um instrumento, por excelência, para

administrar o Estado, os governos exerceram as suas responsabilidades, e aí

as pessoas ficam falando que precisa melhorar a eficiência da gestão públi-

ca, mas como falar em eficiência da gestão pública se o orçamento, por ex-

celência, para a gestão pública é o orçamento para a gestão privada, porque

é único, e o que eu costumo dizer é que o administrador público lá na ponta

não consegue seu fluxo de caixa, então não pode pedir que ele seja eficiente.

Ele sabe que tem um crédito orçamentário, mas ele não sabe se vai receber

esse crédito, quanto ele vai receber, quando ele vai receber e se quando ele

receber consegue cumprir com todas as formalidades legais para gastar.

Então, não é à toa que as coisas não andam dentro da administração públi-

ca. Se anuncia investimentos do PAC, tem não sei quantos bilhões e no final

você vai ver a execução, que é um percentual pequeno do que foi anunciado,

em qualquer área, federal, estadual ou municipal. Você não consegue gas-

tar; e não é porque o gestor seja ineficiente, é porque não há as condições

mínimas para gastar. Bom, dito isso, isso era a primeira parte da história.

Essa repercussão dos instrumentos da política regional, eu não preciso

nem me estender, obviamente aqui todos estão cansados de saber, houve

esvaziamento da capacidade de investimento público. Um dos grandes pro-

blemas que reduziam as disparidades regionais é você dar as condições de

infraestrutura adequadas para que as regiões aproveitem o seu potencial

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147RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

de crescimento. E quando eu falo de infraestrutura, eu não estou falando

só em estradas, energia elétrica, telecomunicações, não estou falando em

infraestrutura de ciência e tecnologia, em infraestrutura de conhecimento

em geral, em melhoria da qualificação do nível educacional, de qualificação

profissional, tudo isso é infraestrutura, e se não tem investimento público, a

questão de igualar as oportunidades de desenvolvimento não existem e você

não resolve isso só dando incentivo fiscal, você pode melhorar um determi-

nado momento, mas você não garante a continuidade dessa melhoria.

Eu já falei que eu acho que esse é o grande problema do Brasil de hoje,

houve uma certa associação espúria lá no debate por ocasião do processo

de redemocratização, que planejamento é uma coisa do regime militar. Todo

mundo tem que fazer um planejamento, e uma coisa que me chamou aten-

ção, que eu estou chamando aqui de fragilização da mobilização política, eu

não vejo mais falar em uma ação, como havia no passado, da comissão de

desenvolvimento regional com o Congresso Nacional. Alguém mencionou

aqui na época do debate do Beni Veras, não sei se foi você, Firmo, que fa-

lou isso, o que a comissão de desenvolvimento regional discute hoje com o

Congresso Nacional? Eu gostaria de saber como é que anda a ação dessa

comissão, porque obviamente é o foro político adequado para discutir essas

questões que estão sendo debatidas aqui, porém não tenho visto nenhuma

ação concreta.

E sobre isso aí, o que sobreviveu a essas mudanças todas, essas transfor-

mações todas por que o estado passou? Sobreviveu isso, crescentes limita-

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148 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

ções orçamentárias, a fragilidade dos instrumentos financeiros, posso mos-

trar um dado ainda da redução do encolhimento da base dos fundos regionais

que afetou também a federação para os fundos constitucionais, a excessiva

centralização das normas que regulam a atuação do setor privado, conces-

sões e parcerias; o governo federal está querendo legislar nos detalhes sobre

tudo. Então, o correto seria que essa Constituição, quando estabeleceu lá a

distribuição das competências, competências concorrentes implicaria na re-

gra que cabe ao governo federal definir as normas gerais e cabe aos estados

legislar supletivamente sobre as matérias de seu interesse específico, a com-

petência legislativa residual. Acontece que eu viajo pelo Brasil afora e per-

gunto nas assembleias legislativas dos estados, o que de relevante foi discuti-

do nas assembleias legislativas do estado nos últimos vinte anos? A resposta

é nada. Tem de fato conceder um título de cidadão honrável, coisa desse tipo,

o legislativo municipal tem muito mais poder porque a equipe decide sempre

coisas concretas, mas a equipe estadual nada. A centralização se estende ao

exercício de legislar em detalhe sobre todas as normas. E estava aí uma briga

recente em Pernambuco, da regulação dos portos, em que se discutia que

alguma norma federal ou até onde o estado poderia ter algum regime diferen-

ciado. Isso não é só no caso dos portos, isso se estende a qualquer outra área

relevante quando você quer estimular concessões e parcerias público-priva-

das, você esbarra na excessiva centralização normativa. E isso tudo levou a

que, nesse processo, salve-se quem puder, com predomínio do individualismo,

alguns chamavam de guerra fiscal.

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149RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Na verdade, quando a gente vai falar em guerra fiscal nas regiões inter-

nacionais, as pessoas param e perguntam o que é isso? Porque em todo o

mundo, quando você fala em competição fiscal, a competição fiscal é vista

como algo ilegítimo, não entendem muito bem como é que a gente chama

isso tudo de guerra fiscal; até conseguir explicar demora pelo menos um

dia inteiro, mas o problema da guerra fiscal, eu acho que tem um problema

concreto, se quiser a gente pode discutir, mas o que mais preocupa nessa

questão é o antagonismo que isso gera no ambiente federativo, que inviabi-

liza qualquer possibilidade de você formar um sentido de consciência dos

interesses, dos interesses regionais e dos interesses estaduais, porque se

nós olharmos a federação hoje sobre outra perspectiva, que não é a minha

perspectiva hoje aqui, o que a gente observa, a fragilização dos estados bra-

sileiros. Os estados brasileiros, os governadores, têm poder quase zero de

decisão sobre qualquer coisa relevante; não podem decidir sobre seu orça-

mento porque ele está todo amarrado, não podem decidir nada sobre a ques-

tão das competências tributárias, tá tudo amarrado, o que sobrou? Sobrou

o poder da caneta para autorizar a concessão do benefício do ICMS para

a indústria daqui, para a indústria dacolá. Então, não adianta querer tocar

nesse assunto pontualmente, não vai avançar nunca. Ou nós vamos discutir

a grande reforma ou não vamos avançar. Eu continuo insistindo na tese que

a gente vai ter que fazer a grande reforma, ainda que todo mundo me olhe

meio torto e diga você está querendo defender algo que é inviável no nosso

contexto político, mas há vinte anos que a gente está querendo fazer mudan-

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150 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

ças pontuais, estamos querendo fazer algo que para mim é uma contradição

lógica, estão querendo discutir reforma fatiada, reforma, por definição, não

pode ser fatiada, senão não é reforma, senão é uma fatia, e só se pode fatiar

alguma coisa que existe, pode fatiar um presunto, não se pode fatiar uma

coisa que não existe que é o sistema tributário. E, então, eu teria que fazer

um adendo para discutir a questão federativa.

Isso aqui eu já falei, a questão de um orçamento e dois caixas. Você tem

aqui cento e doze bilhões de recursos, que são chamados de primários dis-

cricionários no jargão aí, que são aquelas despesas que o governo tem algum

grau de institucionalidade para atuar. E você tem de restos a pagar acumula-

dos, o total aqui de cento e quinze, e a dívida está em cento e quarenta, isso

inclui praticamente um pouco mais de restos a pagar acumulados do que

de grau de liberdade dos recursos orçamentários. Você está de fato numa

situação muito pouco confortável.

Isso aqui, IPI e imposto de renda, representava 76%, quase 80% do total

da receita federal em 1998. IPI e imposto de renda representavam em 2010

46%, quase a metade do que representava em 98, essa metade representa os

fundos regionais constitucionais, encolheram a metade igualmente, assim

como os fundos de transferência para estados e municípios.

Agora, tem uma questão, o governo nos últimos anos inclusive aprovou

oficialmente uma política nacional de desenvolvimento regional, é objeto de

uma lei, se não me engano em 2007 foi aprovada essa lei. E não obstante,

ninguém se interessou em discutir e criar condições para que essa política

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151RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

fosse executada, o que no mínimo levanta uma questão interessante para

ser debatida. Ninguém concorda com essa política, a política está errada ou

simplesmente há um desânimo geral com relação a discutir as mudanças

que precisavam ser feitas para que essa política se tornasse viável? E não

pode, nós não podemos continuar discutindo política regional como uma

questão que é subsidiária à discussão da reforma tributária, nós vamos in-

verter a lógica das coisas. Política regional tem que ser discutida como uma

política de interesse nacional, que tem a ver com a conotação do projeto

nacional de desenvolvimento, não pode ser vista como uma questão subsi-

diária de um projeto de reforma tributária. Se é para reformar o ICMS, você

tem que propor uma política regional? Eu acho que deve ser o contrário,

você tem que propor uma política regional para depois ver como você discu-

te a reforma do ICMS, então você está invertendo a lógica das prioridades

nacionais.

Acho que tem algumas lições importantes ainda, que eu concordo com

o que foi dito aqui, de que não dá para você ficar copiando experiências. As

lições da experiência europeia em matéria de políticas regionais, se você es-

quecer as regras aplicadas lá, mas se olhar só o foco dos instrumentos, acho

que tem tudo a ver, tem é que contar com os recursos não reembolsáveis,

não dá para você financiar investimentos de regiões menos desenvolvidas

com crédito, ainda que seja um crédito subsidiado. A União Europeia fez

isso e alguém disse aqui, com muito sucesso, nos estados, então, menos

desenvolvidos da união, receberam um maciço chumbo orçamentário para

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152 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

serem aplicados em investimentos, com recursos não reembolsáveis, se

não inviabiliza. Outra lição importante, elaboração de quadros estratégicos

plurianuais; quer dizer, planos estratégicos com seis anos pelo menos de

horizonte, que é o plano estratégico regional europeu. Está com dificulda-

des agora? Está, mas durante o período que funcionou deu excelentes resul-

tados. Flexibilidade na apuração dos recursos, uma regulamentação global

para todos os fundos. Por que uma regularização global? Porque nós fica-

mos aqui com o que restou de algum instrumento regional, os fundos cons-

titucionais, os novos fundos do Nordeste, alguns incentivos fiscais que ainda

estão em extinção, então cada uma dessas coisas opera separadamente,

não tem articulação nenhuma desses instrumentos. Se você reúne recursos

orçamentários, recursos de crédito, recursos de incentivo, você tem possibi-

lidade de desenvolver estratégias de atuação muito mais eficazes do que a

maneira que as coisas estão sendo conduzidas.

Acho que tem alguma diretriz que a gente pode discutir para recompor os

instrumentos da política regional, a maior parte delas eu já falei, mas a mais

importante para mim, é essa palavra aqui, cooperação. Alguém falou aqui na

parte da manhã, eu acho que foi o Ricardo, você tem sempre uma dicotomia

federativa entre cooperação e competição, assim como centralização e des-

centralização. No caso específico da política regional, eu acho que a gente

precisa dar uma grande força, precisamos da cooperação. Nós temos uma

série de mecanismos de transferências do governo federal para estados e

municípios, que poderiam embutir, como outros países fazem, instrumen-

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tos para induzir a cooperação governamental. Você não pode forçar porque

cada um tem a sua autonomia, mas você pode induzir. O BNDES poderia,

por exemplo, financiar investimentos que interessassem a três ou quatro es-

tados simultaneamente, desde que esses investimentos fossem acordados

entre os estados, e aí você receberia um financiamento para executar esse

investimento. Isso é cada vez mais importante, inclusive nas regiões metro-

politanas, e cada dia mais precisa de cooperação e não consegue distribuir

para ter instrumentos para isso.

Recompor incentivos fiscais do governo federal. Eu não sou contra con-

ter incentivos fiscais dos governos estaduais, mas não é viável você achar

que vai resolver o problema regional apenas com iniciativas isoladas de cada

estado. Nós jogamos fora os incentivos que tínhamos anteriormente, os in-

centivos do imposto de renda, os incentivos do IPI, que eram poderosas ar-

mas para promover a desconcentração regional, e deixamos isso se destruir.

Tem que estar na pauta da discussão. Já falei de promover a cooperação.

Mas, nós temos uma certa inconsistência no que restou desses subsídios,

que é o seguinte: em 88, nós fizemos algumas coisas boas e algumas coisas

não tão boas. Nós incorporamos os antigos impostos únicos ao ICMS; no

primeiro momento teve um bom efeito, mas não precisava fazer isso, porque

nós acabamos com o recurso cativo para investimento na infraestrutura, e

os impostos únicos já eram repartidos, o governo federal ficava com 40% e

os estados e municípios ficavam com 60%. Eles poderiam simplesmente ter

rediscutido a repartição e ter dado autonomia para os estados e municípios

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154 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

aplicarem os recursos em infraestrutura num projeto nacional de melhoria

da infraestrutura econômica. Mas não, ele se incorporou aos estados e mu-

nicípios e, como parte disso, se transformou em aumento de remuneração e

de pichamento da máquina pública, sem ter beneficiado a federação. E man-

tivemos os fundos regionais e depois recriamos um ato da SUDENE e da SU-

DAN sem atentar para o fato de que não temos mais recursos orçamentários

para investimento na infraestrutura. Então, o que está acontecendo agora?

Algo, no mínimo, curioso, você está usando recursos fiscais, de origem fis-

cal, para financiar o investimento privado, e está levando o governo, o in-

vestimento público, a buscar financiamento e crédito no setor privado, uma

coisa, para mim, no mínimo curiosa, embora ninguém discuta essa questão.

Uma nota final sobre a discussão do pacto federativo. Como bem disse aqui

o Valmir, não é possível mexer em mudanças que afetem a federação, mas ela

foi substancialmente afetada, não por emendas e por mudanças constitucio-

nais, ela foi afetada por todas as ocorrências que ocorreram posteriormen-

te, por tudo aquilo que eu tentei mostrar aqui. Na verdade, todo o espírito da

Constituição foi revertido, o espírito de descentralização, de autonomia, foi

revertido por uma série de circunstâncias que, a meu ver, foram produzidas

pela operação deste casamento que deu frutos extremamente desastrosos.

Embora contrariando muita gente, não só alguns que podem ter falado aqui

pela manhã, mas também muitos amigos meus, o que eu venho dizendo é o

seguinte: nós não vamos mudar substancialmente essa situação, se nós não

pusermos na agenda dos debates a reforma constitucional. Por quê? Porque

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155RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

sem a reforma constitucional nós não quebramos aquela dualidade tributaria

que foi imposta lá atrás e ela está na raiz das dificuldades que o estado teve

para administrar a situação que ocorreu a partir de então. É difícil? É, mas nós

estamos há vinte anos tentando fazer remendos e a cada remendo que a gente

faz a coisa piora. Eu acho que está na hora de ter coragem e dizer que sim, a

gente vai ter que enfrentar a discussão reformas. E para não perder o mote,

alguém, de manhã, acho que foi o Carlos Prado, lembrou-se da música do Ge-

raldo Vandré. Nesse debate sobre reforma eu me lembrei de outra música, o

espírito é completamente o oposto, uma música de Fernando Lobo e Antônio

Maria, muito popular no beco das garrafas do Rio de Janeiro nos anos 60, que

chamava-se “Ninguém me Ama”; não vou cantar porque não tenho nenhum

dom para isso, mas uma das estrofes dessa música, era uma música de fossa

como as músicas da época, a cantora, se não me engano, era Nora Ney, muito

popular, essa canção falava assim: “vim pela noite tão longa de fracasso em

fracasso e hoje, a despeito de tudo, só me resta o cansaço”. Então, eu estava

reproduzindo esta estrofe a respeito de que as pessoas parecem estar cansa-

das de falar em reforma; fala em reforma, fala em reforma, nada acontece, o

mundo parece se acomodar, e acho que a acomodação é a única coisa que o

Brasil não merece hoje em dia. Muito obrigado.

Palavra do Relator | Alcimor Neto

Boa tarde a todos. Primeiro dizer do grande prazer que tive de dividir a

mesa com o professor Ricardo Ismael, pela manhã, professor Paulo Saraiva,

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156 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

com o professor Fernando Rezende, com o professor Valmir Pontes e com o

professor Firmo de Castro, de quem recebi o convite muito honrado.

Eu vou, na verdade, aqui fazer um brevíssimo comentário, um comentário

que toca em questões que perpassaram as intervenções dos quatro pro-

fessores. Então, alguns tocaram nesses pontos de maneira mais explícita,

outros de maneira apenas passageira, mas todos, de uma maneira direta ou

indireta, trataram desses pontos que são objeto do meu muito breve, como

disse, e singelo comentário, até porque o meu objetivo e meu papel nesse

workshop é realmente um papel tão somente de, em primeiro lugar, refletir o

que aqui se passou e, na medida do possível e não transbordar dessa minha

função, tecer alguns comentários que possam em sentido determinado in-

terpretar o que aqui se passou.

Pois bem, eu queria iniciar isso tratando do problema da guerra precon-

ceituosamente chamada de guerra fiscal, assunto que, como já disse, foi

tratado de alguma maneira por todos os intervenientes. E reforçar a legi-

timidade das atitudes que são classificadas preconceituosamente como

guerra fiscal. E não só reforçar a legitimidade dessas ações, como dizer que

eventuais projetos de lei ou propostas de emenda à Constituição que even-

tualmente pululam pelo congresso, visando minar esses mecanismos que

são classificados como de guerra fiscal, este projetos de lei ou propostas

de emenda à Constituição são inconstitucionais. E são inconstitucionais por

uma razão simples, e aqui eu retomo um ponto que foi tratado de maneira

lúcida e clara pelo professor Valmir Pontes, são inconstitucionais porque o

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157RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

artigo sessenta, parágrafo quarto da Constituição elege alguns temas que

são, chamemos assim, intocáveis, são as chamadas no nosso vocabulário

técnico-jurídico de cláusulas pétreas; ou seja, aquelas cláusulas que como

pedras, devem perdurar e não devem ser modificadas, e dentre essas cláu-

sulas pétreas está o estado federativo. E este mesmo artigo sessenta blinda

alguns temas, a respeito dos quais eu lhes falei agora, inclusive o estado

federativo, e blinda proibindo que qualquer proposta de emenda à Consti-

tuição tendente, só tendente, a abolir o estado federativo, por exemplo, ou o

federalismo, não pode prosperar. Veja que essa proposta de emenda à Cons-

tituição não precisa ser explícita na sua tentativa de eliminar ou de expur-

gar do sistema o federalismo, não precisa haver tanta explicitação assim na

proposta de emenda à Constituição, basta que de maneira indireta se venha

a minar aspectos fundamentais do federalismo, tais como o necessário equi-

líbrio regional, que é princípio fundamental da Constituição e que entremeia

o texto constitucional desde o seu início até o seu fim. Pois, por isso, por mi-

nar mecanismo que é hábil e que é muitíssimo útil, e que está à disposição

dos governos de estados menos desenvolvidos, minar esses mecanismos de

guerra fiscal é também eliminar ou diminuir as possibilidades que se tem de

combater as desigualdades regionais. Portanto, todo e qualquer projeto de

lei ou proposta de emenda à Constituição que eventualmente tente impedir

que se desenvolvam, que se apliquem estes instrumentos de incentivo fis-

cal, muito utilizados pelos estados nordestinos, são inconstitucionais, isso

sem dúvida.

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158 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

Não pensemos todos que estamos livres de investidas nesse sentido. Há

pouco menos de dois anos tramitou em estado avançadíssimo no Congresso

Nacional projeto de lei nesse sentido, que visava justamente proibir, ou pelo

menos inibir, que estados do Nordeste se utilizassem de instrumentos de

incentivo fiscal nos moldes como se utilizou no passado e ainda se utiliza

contemporaneamente. Só foi barrado o projeto de lei que tinha esse objetivo

porque, embora o Nordeste não tenha o poder econômico, o Nordeste ainda

tem o poder político ou ainda tem boa parcela do poder político, e o tem

porque a Constituição atribui um poder político diferente ao cidadão nor-

destino, e diferente no sentido de que a sua parcela de poder é maior indivi-

dualmente do que a parcela de poder que o sudestino tem. Por que? Porque a

Constituição estabelece números mínimo e máximo de deputados federais,

por exemplo, e a Constituição estabelece um número fixo de senadores por

estado, de maneira tal que nós aqui do Ceará, por exemplo, temos mais sena-

dores per capita do que os paulistas. Cearenses, paraibanos, norte rio-gran-

denses, acreanos, têm proporcionalmente uma representatividade maior do

que os paulistas, cariocas, mineiros, justamente em virtude dessa estipula-

ção em números mínimo e máximo que o Constituinte inseriu acertadamen-

te na Constituição, para conceder um poder político em maior parcela aos

nordestinos e nortinos, para com isso contrabalançar uma diferença muito

grande que existe entre o poder econômico do Sul e o poder econômico do

Norte e Nordeste. De modo que também precisamos estar de olhos abertos,

precisamos estar atentos, porque tramitam, porque lateja no Congresso Na-

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159RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

cional esse sentimento de que existem cidadãos sub-representados, cida-

dãos super-representados, no Brasil, no mesmo território nacional, portanto,

e este sentimento que lateja se transforma em propostas de emenda à Cons-

tituição, que transitam no sentido de estabelecer uma tal proporcionalidade

real entre o número de representantes na câmara dos deputados federais

e o número de habitantes do estado que eventualmente vai enviar os seus

representantes ao Congresso Nacional. De modo que, por exemplo, o Acre

hoje que tem um número mínimo de oito deputados federais passaria a ter

dois ou três só, e São Paulo que tem um número máximo de setenta passaria

a ter cento e tantos, de modo, aqui ao fim ao cabo, se alcançaria uma, na rea-

lidade, igualdade de poder, mas aquela igualdade que ninguém quer, que é a

igualdade que desiguala. Pois, temos que estar atentos para proposta nesse

sentido porque elas existem e tramitam no Congresso Nacional.

Apenas um breve comentário sobre um ponto da palestra do professor

Fernando, que ele, de maneira passageira, mencionou as tensões que nas-

cem desse, na metáfora que ele mesmo utilizou, desse casamento de con-

veniência. Nessa metáfora, na crise do casamento de conveniência, lá na

frente, ele mostra que começa, que nasce um conflito entre os interesses

do congresso e os interesses do executivo na medida em que existem de-

mandas por parte dos congressistas, mais particularmente do que diz res-

peito às emendas parlamentares, e demandas do executivo, e o orçamento

obviamente não consegue contemplar essas demandas, de modo que tende

a preponderar as demandas do executivo. O professor colocou até um con-

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160 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

flito existente entre o orçamento do PAC e as emendas parlamentares. Tanto

isso é verdade, que neste exato momento tramita de maneira acelerada no

Congresso Nacional uma proposta de emenda à Constituição que propõe a

mudança de modelo do orçamento no Brasil, do indicativo, como é o atual,

em que os parlamentares podem propor as suas emendas ao orçamento,

mas o executivo vota por executá-las ou não, e quer se migrar deste modelo

indicativo para o modelo impositivo, em que o parlamento aprova as suas

emendas e estas emendas não têm as suas executabilidades condicionadas

a juízos de oportunidade e conveniência do executivo, mas o executivo, ao

contrário, passa a estar adstrito à execução daquelas emendas e isso bem

reflete esse conflito que o professor Fernando Rezende disse existir entre

congresso e executivo no que diz respeito a este aspecto orçamentário.

Firmo de Castro: Antes de ler as perguntas para o dr. Fernando Rezende, eu

só daria uma informação que não sei se é de domínio de todos, é que está

se firmando uma jurisprudência no Supremo Tribunal Federal no sentido de

preservar, sob o argumento de constitucionalidade, a partilha de tributos

entre os entes federados. Já houve o julgamento de um recurso apresenta-

do por um município de Alagoas, questionando a prática de renúncia fiscal

pelo estado, não sei se ICMS ou IPVA, de um dos impostos partilhado com

o município e que a renúncia fiscal desfalcou essa partilha, reduzindo os

recursos para o município, e o reconhecimento do Supremo foi de que é ab-

solutamente inconstitucional essa investida de um ente federativo que atra-

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161RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

palha, desfalca ou renuncia tributariamente em prejuízo do ente que recebe

a partilha. Exemplo clássico disso está em que, mais recentemente, toda

essa renúncia fiscal que se praticou com base no IPI para a indústria auto-

mobilística, gerando números provavelmente que, segundo alguns, chega a

25-30 bilhões de reais, subtraídos do Fundo de Participação dos estados e

municípios, seria uma questão pacífica a partir da mesma jurisprudência,

criando-se uma mesma jurisprudência semelhante a essa que está sendo

assentada. Eu ouvi isso na semana passada, num congresso de direito tri-

butário que houve, na Bahia, onde todos os grandes constitucionalistas ali

presentes, que a partir de Celso Antônio Bandeira de Melo, confirmaram

essa tendência, essa possibilidade. Vê-se o quanto, na verdade, os nossos

estados mais aquinhoados com o FPE, por exemplo, e aí leia-se os do Norte,

do Nordeste sobretudo, e em segundo plano do Norte, tirando Minas, eles

permanecem muito aquém do que deveriam na análise e discussões dos

seus interesses. Esse é um espaço que existe que vamos torcer para que ele

possa ser bem ocupado.

Dr. Fernando, dra. Nicolle Barbosa, nossa presidente, indaga como fazer

uma grande reforma tributária que produza resultados e que seja aceita por

todos. Qual seria esse caminho? Teríamos alguma receita a seguir?

Fernando Rezende: Se eu soubesse, eu não estava aqui, estava provavel-

mente nas Bahamas desfrutando de uma belíssima aposentadoria. Mas, eu

acho que, não obstante às dificuldades, nós vamos ter que pôr esse debate

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162 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

em pauta. E não podemos discutir a reforma tributária, nós temos que dis-

cutir a reforma fiscal que, entre outras coisas, envolve a reforma do fede-

ralismo fiscal que não discutimos no Brasil há pelo menos cem anos. Em

63, eu quero frisar 63 porque as pessoas acham que a reforma de 65, 67,

foi feita pelos militares. Não foi. Ele encamparam a proposta, que foi elabo-

rada por uma comissão de reforma do Ministério da Fazenda que foi cria-

da, instituída e instalada na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, da

qual participavam ilustres juristas tributaristas. A comissão era presidida

por Rubens Gomes de Sousa, dela participavam Gilberto Ulhoa Canto, meu

amigo de muito tempo, há muito tempo já morreu também, um médico que

se encantou pela questão tributária, talvez inspirado no Tableau Economique

do francês François Quesnay, que era o Gerson Augusto da Silva, que tinha

como consultor econômico o ilustre professor Mário Henrique Simonsen.

Então, pessoas de alto saber, que elaboraram a proposta de um novo regime

de repartição constitucional de rendas na federação brasileira. Recomendo

a todos que tenham interesse no assunto, consultar o relatório dessa comis-

são. E propunha o que? Aquilo que nós começamos a conversar na mesa do

almoço, propunha instituir um sistema tributário nacional. Por que? Porque o

amontoado tributário de então era uma multiplicação de incidências, crian-

do denominações jurídicas diferentes para tributar a mesma base econômi-

ca. Porque as bases tributárias são na verdade as bases geradas pela eco-

nomia, então elas se resumem conceitualmente a três ou quatro, é a renda,

o patrimônio, o consumo, e se você quiser agregar uma quarta, o comércio

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163RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

exterior. Então, o diagnóstico da época mostrava exatamente isso, o Brasil

tem uma multiplicidade de impostos sobre essas quatro bases, que recen-

temente tem dominações jurídicas; o IVC é estadual, o IPI federal, e por aí

afora. Nós voltamos a isso, nós destruímos o regime fiscal que foi consegui-

do em 63, que era bem concebido porque tinha uma plataforma, uma plata-

forma assim como as petrolíferas, tem que ter quatro pilares que seguram a

estrutura. A plataforma era um regime de repartição de competências tribu-

tárias, um regime de repartição de receitas federais, uma política de desen-

volvimento regional assentada nos incentivos federais ao desenvolvimento

do Norte-Nordeste e Centro-Oeste, e uma política de garantia; essa terceira

não estava muito bem definida na época, de algumas ações de governo na

área de políticas prioritárias, basicamente, no caso, era infraestrutura, um

regime de cooperação para investimento na infraestrutura que se assenta-

va nos impostos únicos, sobre energia, telecomunicações e combustíveis.

Ora, o que nós temos que discutir agora é como nós vamos reconstruir

esse sistema. Não quero dizer que a gente vai repor exatamente o que foi

feito naquele momento. Eu fui falar uma vez num congresso na Bahia, há al-

guns anos, evocaram o espírito da reforma de 1965; falar em evocar espírito

na Bahia já é um negócio complicado e as pessoas achavam que eu estava

defendendo recompor o regime militar, eu digo não é nada disso, tenho que

recompor a lógica de um sistema. Nós jogamos fora e rasgamos a lógica de

um sistema. Tributação não pode ser o que nós temos hoje, que muita gente

chama de um manicômio tributário, que ninguém sabe exatamente o que

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164 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

paga, quanto paga, para quem paga e, agora, você passa por mais uma coisa

totalmente inviável de ser aplicada que é passar uma lei dizendo que tem

que colocar o montante da carga tributária na nota fiscal. Alguma empresa

no Brasil pode conseguir fazer isso; vão surgir vários aplicativos certamen-

te hoje na internet que serve para tudo, que vão dizer como é que você faz,

agora que isso vai ser exatamente aquilo que diz a realidade, eu não sei.

Então, para mim o caminho é o seguinte: é possível? Eu acho que é. Como

é que a gente começa a construir isso? Começando a discutir princípios e

conceitos. Quais são os princípios que devem orientar a reconstrução de um

sistema tributário? A eficiência econômica do tributo? A justiça na reparti-

ção da carga tributária? A equiparação das diferenças de desenvolvimento

entre as regiões? São os princípios que podem elevar a construção de uma

proposta que seja aceitável.

Então, nós temos feito exatamente o contrário, nós começamos o debate

apresentando uma proposta; quando você apresenta a proposta, eu já falei

isso outras vezes, a única coisa que as pessoas fazem é fazer conta. Então,

o instrumento do debate é planilha Excel, quem ganha, quem perde, aí vira

uma infindável discussão sem consequências.

Firmo de Castro: Em boa parte respondida, eu, de qualquer forma, encami-

nho a indagação do Cláudio Ferreira Lima. Como falar em reforma tributária,

se não se sabe primeiro qual é o projeto para o país que se quer? E a mania

de se colocar sempre o carro adiante dos bois?

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165RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Fernando Rezende: Eu costumo recorrer ao gato socrático do país das ma-

ravilhas, indo lá pelas tantas, perdida no labirinto, o personagem principal,

indagava ao gato, mas qual é a saída? E o gato filósofo respondia muito ade-

quadamente: bom, depende de para onde quer ir. O nosso programa no Bra-

sil hoje é exatamente esse, eu estou inteiramente de acordo com gato. Quer

dizer, nós não sabemos para onde queremos ir e falamos isso na nossa dis-

cussão, mas qual é o projeto nacional de desenvolvimento no mundo, cada

vez mais acirrado por uma competição que se instala em nível global. Então

o caminho é esse, precisamos primeiro discutir o Brasil, senão nós vamos

eternamente ficar presos no famoso livro do Stefan Zweig, Brasil, O País do

Futuro, ou reproduzindo a letra do hino nacional, “deitado eternamente em

berço esplêndido”.

Firmo de Castro: Do expropriado paulista Carlos Prado para o professor: o

acúmulo de restos a pagar se assemelha a uma bomba pronta para explodir.

Qual o prazo que se pode prever para essa explosão?

Fernando Rezende: Eu estou tentando agora construir um barômetro das pres-

sões, não sei se eu vou conseguir chegar lá, mas é assim, quais são as pres-

sões que estão estabelecidas? Tem uma pressão que se manifesta claramente,

como é que o governo tenta administrar esse conflito? Como é que vai susten-

tar a expansão dos programas de transferência de renda, quer dizer, continuar

atendendo, por exemplo, a demandas por manter a política de salário mínimo,

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166 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

que reajusta os benefícios todos previdenciários, continuar expandindo os pro-

gramas de bolsas? Não tem nada contra, isso é tudo mitório, eu estou sempre

repetindo que não estou discutindo o mérito dessas questões, mas é que tem

uma pressão para continuar expandindo isso, tem uma pressão para acomodar

a necessidade de manter o superávit primário das contas públicas e ao mesmo

tempo expandir os investimentos, que está aquele conflito do interior da agenda

macroeconômica. Tem uma demanda também do funcionalismo por contínuo

aumento da remuneração. Uma demanda dos estados e municípios por recom-

posição das transferências, como foi dito aqui, inclusive tentando entrar com

esse programa na justiça. Tudo isso está chegando num ponto onde está cada

vez mais difícil, não é por acaso que o Congresso Nacional, volta e meia, apre-

senta uma medida para tentar colocar mais pressão em cima do governo, agora

essa proposta de emenda à Constituição para dizer que é o orçamento imposi-

tivo das emendas. Então, isso está evoluindo e o que eu vejo é que o prazo não é

muito longo não. Agora, dizer exatamente o prazo, eu não sei, mas que a gente

precisa construir esse barômetro,precisa.

Firmo de Castro: Pedro Jorge pergunta ainda para o professor: dada a si-

tuação financeiro-contábil atual do governo federal, como o senhor vê esse

movimento Integra Brasil?

Fernando Rezende: Como eu disse no início da minha apresentação aqui, eu

vejo com muito entusiasmo e com algum otimismo. Acho que, pela primeira

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167RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

vez, não vou reproduzir o velho refrão, nós estamos assistindo a um movi-

mento que está querendo discutir um pouco o futuro e é isso que importa. Se

a gente vai conseguir sucesso no ano que vem, 2014, ótimo; mas, se a gente

não conseguir sucesso no ano que vem ou em 2015, é importante continuar

essa mobilização para que essas coisas ganhem densidade nacional, aliás a

proposta, pelo que eu entendi, por isso que o nome chama-se Integra Brasil,

é ver o Brasil e o Nordeste integrados no resto do mundo, esse é o espírito

da coisa e isso deve ser apoiado em todos os sentidos, e estimulado, no que

for necessário.

Firmo de Castro: De Leonardo Bayma temos duas questões: o superávit or-

çamentário gerou um fundo de reservas cambiais no Brasil, bem maior do

que parece necessário. Quais as possibilidades de utilização de parte des-

sas reservas para realização de investimentos, que viabilizem uma política

nacional de desenvolvimento? Ligado a isso, por que ninguém mais fala na

criação de um fundo soberano com o intuito de investir em projetos vitais

para o desenvolvimento nacional, num modelo que tem sido adotado pela

China? Não seria uma boa saída, por exemplo, financiar com esse fundo um

plano de desenvolvimento regional?

Fernando Rezende: Vou começar pelo final. Por certo, quer dizer, só que nós

tentamos emendar a ideia de um fundo soberano, mas isso foi de uma ma-

neira um pouco não compatível com o que se faz no resto do mundo. Fundo

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168 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

soberano, no final das contas, o que é para você? É uma reserva de recursos

para poder manter uma estratégia de crescimento que não seja vulnerável a

todas as repercussões internas de crises internacionais. É por isso que é so-

berano, é você ter capacidade de se manter e manter a sua soberania frente

a um mundo cada vez mais integrado, não é aquilo que dá um espirro lá fora

e o pessoal adoece aqui dentro. O Chile faz isso, para ficar aqui entre nós,

e na China. O Chile tem um fundo de estabilização muito eficiente, que se

apoia na taxação do cobre; o cobre, como qualquer outra commodity, o preço

oscila muito, quando o preço está muito bom você tira esse dinheiro e coloca

num fundo de estabilização. Então, eu acho que o Brasil pode fazer isso sim

e já deveria ter feito. Não fez porque as circunstâncias não o permitiram e a

situação fiscal está muito apertada.

Agora, a questão das reservas é outra questão que preocupa nos dois

sentidos. Quer dizer, não é que as reservas todas tenham sido acumuladas

pelo superávit, as reservas foram acumuladas pela expansão da dívida, in-

clusive. Só que aí tem uma questão contábil, que você expande a dívida bru-

ta, mas não a dívida líquida, porque você expande a dívida bruta emitindo

título da dívida. Para começar, como esse título da dívida é comprado pelo

Banco Central e fica lá acumulando as reservas, então na contabilidade a

dívida líquida não cresce, mas a dívida bruta cresce, e esse é outro dado

que está preocupando os analistas das contas públicas nacionais, é que a

dívida bruta do Brasil está crescendo. Então, o que acontece, esse acúmulo

de reservas não só repercute na expansão do endividamento, como ele tem

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custo fiscal alto, porque você tem que remunerar os títulos que o tesouro

emite à taxa SELIC, e a taxa SELIC obviamente vem caindo um pouco, mas,

ao mesmo tempo, não o suficiente ainda para equalizar. Então, você tem dois

lados do problema; tem um lado que usar esse recurso para a imagem de

um fundo soberano não é viável, você tem que recriar um fundo soberano

mesmo ou, a exemplo do que faz o governo chinês e como faz o governo do

Chile, aqui entre nós. Mas, de novo, qual é o problema?

A China tem um plano estratégico de trinta anos, e nós não temos nem de

um mês, quanto mais de trinta anos.

Firmo de Castro: A última indagação, proveniente do Antônio Serra, do

BNB: uma política nacional de desenvolvimento regional é compatível com

a manutenção dos instrumentos já conquistados pelas regiões, no caso do

Nordeste, FNE, BNB, SUDENE e outros?

Fernando Rezende: Compatível é, mas a gente não pode querer manter os

mesmos instrumentos com as mesmas regras, com as mesmas diretrizes,

que funcionaram num determinado momento do passado, num mundo que é

completamente diferente. O mundo Brasil de 2010 a 2013, não tem nada a ver

com o mundo onde esses instrumentos foram criados, então qual é o proble-

ma principal? Um deles eu mencionei aqui. Nós precisamos urgentemente

de recursos para infraestrutura, como a experiência europeia demonstrou,

não reembolsável. Você não vai financiar toda a modernização da infraestru-

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170 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

tura das regiões que precisam com um recurso de crédito, ainda que subsi-

diado, não o suficiente, mas nós criamos uma situação estranha, porque os

fundos constitucionais do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, foram, na época

da Constituição.

Você tinha antigamente os impostos únicos e tinha recurso orçamen-

tário para financiar infraestrutura. Os impostos únicos garantiam recurso

cativo. Em 88, você fez o que? Você eliminou o recurso cativo para infraes-

trutura quando você extinguiu os impostos únicos e incorporou o imposto

estadual. Ao mesmo tempo, o orçamento público foi sendo engessado e

acabou o recurso. Não é que acabou, quer dizer, quase que acabou, o re-

curso público com orçamento não reembolsável para investimento na in-

fraestrutura. Quando você criou o fundo constitucional, a regulamentação

era para investir no setor privado, não pode financiar governos. Naquele

momento, parecia que estava tudo coerente só que essa coerência foi sen-

do desmontada ao longo do tempo. Então, hoje você tem recurso fiscal de

custo zero para financiar investimento privado, ainda que subsidiado. E o

governo para financiar investimento governamental está tentando obter

empréstimo no setor privado via formação de parcerias com investidores

privados. Não precisa ser uma coisa nem outra, mas tem alguma coisa de

errado nessa concepção que precisava ser discutido. Como é que a gente

combina, porque a lógica da proposta agora seria para mim o seguinte: va-

mos buscar uma estratégia de combinar recursos de várias fontes, recur-

sos não reembolsáveis, recursos de financiamento a crédito subsidiado,

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171RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

recursos de incentivos fiscais, a meu juízo, mais federais do que estaduais,

e mecanismos mais ágeis de concessão e de parcerias com investidores

privados. Você tem que combinar essas coisas, porque uma fonte só não

atende a várias atividades, e ter uma estratégia comum que regulamente

a aplicação desses incentivos, porque hoje você tem tudo fragmentado,

cada um obtém uma lógica, cada um opera sobre uma coisa, e nós fomos

no Brasil fazendo isso, criando regras, criando regras em cima de regras,

e não paramos para rever as regras que temos. Os instrumentos que estão

aí são úteis? São, mas precisam ser recuperados, modernizados e incorpo-

rados numa nova estratégia de política regional. Tem a política regional de

2007, que foi aprovada oficialmente pelo governo, mas não tem condições

de implementar essa política, e nós não recriamos, e aí a minha pergunta

final aqui na minha apresentação: essa política foi aprovada em 2007, su-

postamente ela teve apoio político para isso; por que depois ninguém se

interessou mais por ela? Não tenho resposta, tem só a pergunta que eu

queria deixar aqui para exploração desse grupo.

Eu acho o seguinte, de novo, essa é uma estratégia para lidar com o pro-

blema ou para não lidar com o problema, para contornar o problema, porque

é o seguinte: o orçamento público não tem dinheiro, então passa, aumenta a

dívida bruta e passa o dinheiro para o BNDES, de novo a dívida líquida não

aumenta, o tesouro está com crédito no BNDES; se vai receber depois, a

gente vai ver. Então, você empresta ao BNDES e o BNDES vai emprestar aos

estados e a algumas empresas diretamente.

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172 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

Nada contra em princípio, o que falta para mim é isso, quer dizer, o que

falta é como é que esses instrumentos se complementam. Como cada coisa

é tomada num fórum diferente e por uma instituição diferente, o impacto

disso acaba sendo muito menor do que poderia ser. Se houvesse possibilida-

de de você mobilizar recursos orçamentários do governo federal, dos esta-

dos e dos municípios, ainda que pequenos que fossem, se você os reunisse

eles poderiam ter muito maior impacto. Isso me levanta uma outra questão

que está também preocupando, que é o governo federal está estimulando de

novo os estados a se endividarem, via não só BNDES, mas Caixa Econômica,

Banco do Brasil, e os números que até a Folha de São Paulo publicou numa

matéria outro dia, os números do crescimento do endividamento estadual

hoje já são bastante preocupantes e, de repente, você vai ter que rediscutir

daqui a frente uma nova política de renegociação das dívidas estaduais. O

que é isso tudo? É ausência de estratégia. Você vai tomando decisões pon-

tuais, tomadas de improviso, ao sabor das pressões do momento e isso vai

criando um amontoado de regras que no fim ao cabo não produz resultado

muito aquém do que é esperado.

Firmo de Castro: Só nos resta agradecer a participação do dr. Fernando Re-

zende e a sua excelente contribuição ao Integra Brasil, assim como também

a participação do dr. Alcimor como relator. Eu fico muito honrado em ter tido

essa oportunidade e, ao encerrar essa sessão de debates, eu passo ao ceri-

monial para as providências de encerramento do workshop como um todo.

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173RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Cerimonialista: Nós convidamos para compor a mesa a senhora presidente

do CIC, Nicolle Barbosa, acompanhada do senhor presidente da FIEC, Ro-

berto Proença de Macêdo. Nós convidamos também os palestrantes de hoje,

dr. Ricardo Ismael e dr. Paulo Loco, por gentileza para compartilhar da mesa.

Palavra da Presidente do CIC | Nicolle Barbosa

Quero parabenizar os professores, dr. Ricardo Ismael, dr. Paulo Loco Sa-

raiva, dr. Valmir Pontes Filho, dr. Fernando Rezende, pelas belíssimas apre-

sentações e bastante esclarecedoras. Parabenizo o dr. Firmo de Castro pela

condução dos trabalhos e pela organização desse Workshop. Tenho plena

certeza que o que aqui foi produzido e explanado vai dar um excelente rela-

tório nas mãos desse jovem e brilhante jurista cearense, dr. Alcimor Rocha

Neto, relator desse primeiro workshop do Integra Brasil. Esse relatório ali-

mentará o plano estratégico de ação política do nosso movimento ao final de

agosto. É importante lembrar que ao cumprir a agenda de encontros, é que

de fato começará o nosso trabalho.

O movimento Integra Brasil não terminará no fundo de uma prateleira,

nossos trabalhos ganharão vida e forma no Congresso Nacional. Vamos unir

a bancada federal do Nordeste em torno de um inovador projeto de desen-

volvimento para a nossa região. Como foi dito aqui hoje, além de unir a ban-

cada federal do Nordeste faz-se necessário ter o apoio efetivo de todos os

nove governadores do Nordeste. Nós vamos buscar esse apoio e penso que

vamos além. Sinto que o Integra Brasil vai ganhar as ruas em busca de apoio

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174 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

de toda a sociedade nordestina. Trilhamos um caminho sem volta em busca

de mudar a face da nossa realidade e sabemos claramente que precisamos

ser, além de firmes, muito competentes, tanto nas propostas quanto na mo-

bilização política. Estamos ainda mais convictos que estamos no caminho

certo e animados com tudo que foi posto nesse dia de hoje, que foi muito

produtivo. Muito obrigada pela presença de todos, muito obrigada pela par-

ticipação e permanência nesse fórum, e vamos em frente, é como diz, para-

fraseando o professor Fernando, acreditando que é possível virar o Brasil de

frente para o futuro.

Palavra do Presidente da FIEC | Roberto Proença de Macêdo

Meus amigos, boa noite, estamos encerrando esse primeiro encontro,

esse primeiro workshop, um propósito do fórum Integra Brasil, da maneira

que nos deixa a nós da Federação das Indústrias, a nós cearenses, anima-

dos, energizados. Nós tivemos aqui uma aula de como se energizar, como ti-

rar daqui de dentro energia e vontade de fazer as coisas acontecerem. Mas,

já até o Ciro foi muito claro, dizendo, eu gosto do Ceará porque eu vejo sair

na frente, e o nosso propósito não é sair da frente e dizer, olha nós somos

os bons, não. É que a gente forme realmente um bloco, que a gente forme

realmente uma equipe de trabalho que venha a fazer diferença para a nossa

região, e tivemos aqui informações, por exemplo, nosso dr. Ricardo Ismael

trouxe dados aqui que nos coloca na cabeça certos questionamentos, clara-

mente dizendo, olha pessoal, vamos chegar lá. Mas, o caminho é árduo, o ca-

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175RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

minho é difícil, porque é uma cultura que está se arraigando e nós temos que

mudar para fazer com que voltemos ao tempo de Juscelino, quando criou a

SUDENE. Eu não gosto de levantar nenhum defunto, morreu, morreu, mas

coisas do gênero, daqui que encontre um substituto para a SUDENE com

outros moldes modernos para o dia de hoje.

Enfim, doutor Paulo Saraiva trouxe energia, com emoção, e nós precisa-

mos realmente para vencer esses obstáculos que surgirão, nós teremos que

trabalhar com o coração. Não é só tecnicismo, não é só dados, isso e aquilo

não, nós temos que buscar fazer com que possamos ultrapassar a nós mes-

mos, nos superarmos a cada instante, e fazer com que os outros entendam o

que nós estamos querendo dizer; os outros que digo, o Nordeste, os nordes-

tinos, aqueles que realmente estão precisando fazer essa mudança.

Eu como presidente aqui sou um mero coadjuvante nesse processo, que

está nascendo graças à presidente Nicolle, o Carlos Prado, o Firmo, o dr.

Cláudio, o nosso Lima Matos, que está aí, desde o início até agora, levando a

sério o processo. Enfim, nós temos tudo aquilo que está empenhado nisso, a

nossa federação está engajada, e tenho certeza que o segundo workshop vai

acontecer levando em consideração os dados que nós reunimos aqui, que

ouvimos aqui, os questionamentos colocados, e quando a presidente Nicolle

fez a pergunta ao dr. Fernando Rezende, eu disse: puxa, deu xeque-mate.

Porque se soubesse estaria nas Bahamas, não é dr. Fernando?

Então, encerrando, eu gostaria de agradecer, de todo o coração e com

todo entusiasmo, vamos sair daqui energizados, vamos sair daqui acredi-

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176 WORKSHOP. FORTALEZA, CEARÁ

tando que seremos capazes de começar o processo. Não vamos chegar no

fim não, está aqui a solução que nós não temos nada, não vai surgir nenhu-

ma solução mais, mas nós vamos ser capazes de convencer e mobilizar as

outras forças necessárias para esse processo. Mudança de cultura é uma

coisa lenta e um processo que requer um diuturno trabalho. E é isso que

nós temos como disposição e agora mais ainda, depois que o nosso dr. Paulo

Saraiva chegou aqui e nos deu aquela balançada. E valeu, muito obrigado a

todos. Boa noite.

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WORKSHOP

“NORDESTE: SITUAÇÃO ATUAL E TRANSFORMAÇÕES RECENTES.”

Salvador, Bahia, 15 de julho de 2013

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Moderador (Manhã)

Armando AvenaProfessor da Universidade Federal da Bahia - UFBA

Moderador (Tarde)

Jose Antonio de PinheiroProfessor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia - UFBA

Expositores

James Silva Santos CorreiaSecretário da Indústria, Comércio e Mineração do Estado da Bahia - SICM

Zezéu RibeiroDeputado federal (PT-BA)

Edgard Porto RamosDiretor de Estudos da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia - SEI

Armando AvenaProfessor da Universidade Federal da Bahia - UFBA

Relator

Creomar BatistaMestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia - UFBA, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental pela Escola de Políticas Públicas e Gestão Governamental - EPPG do Estado da Bahia

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181RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

WORKSHOP

QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS PELOS EXPOSITORES

Quais os principais fatores que, em que pesem as várias políticas, os

mecanismos e a atuação dos organismos regionais, explicam a persis-

tência das desigualdades entre o Nordeste e as demais regiões brasileiras?

Qual o panorama atual das relações da economia nordestina com as eco-

nomias brasileira e mundial? Quais as principais transformações ocorridas

nos últimos anos?

Quais os principais resultados positivos apresentados pela economia nor-

destina e que variáveis têm se mostrado potencialmente fortes com vistas

ao seu futuro desenvolvimento?

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182 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

SOLENIDADE DE ABERTURAMesa Honra

James Correia| Secretário da Indústria Comércio e Mineração;

Zezéu Ribeiro|Deputado Federal;

Carlos Fernando Amaral | Presidente da FECOMÉRCIO/BA;

Nicolle Barbosa | Presidente do Centro Industrial do Ceará (CIC);

Rodrigo Paolilo| Presidente da ACONAGE;

João Martins | Presidente da Federação de Agricultura do Estado da Bahia;

Armando Avena | Coordenador Técnico do Integra Brasil na Bahia;

Cláudio Ferreira Lima | Consultor do Integra Brasil;

Firmo de Castro | Consultor do Integra Brasil.

Palavra do Presidente da FECOMÉRCIO/BA | Carlos Fernando Amaral

lnicialmente, bom dia a todos. Estamos aqui participando do Fórum In-

tegra Brasil. Devo a todos informar que desde primeiro instante que fomos

convidados a participar do Integra Brasil aderimos incondicionalmente, por-

que entendo que tudo que interessa ao Nordeste, interessa a Bahia.

Neste sentindo, estamos aqui para radiografar a situação do Nordeste e

tentar indicar perspectivas para o futuro. Não é fácil e não se pode ignorar

isto, pois as desigualdades regionais no Brasil são afrontáveis, elas afron-

tam o bom senso, a tal ponto que a ONU classificou afora a África, quatro

bolsões de pobreza, o leste da China, o norte da Índia, o sul do México, e o

Nordeste do Brasil. Isto é triste demais, as causas são muitas, mais as solu-

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183RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

ções são poucas, eu me lembro que ainda na faculdade ouvia se dizer que os

Estados Unidos tinha um progresso excepcional porque o desenvolvimento

estava irradiado em todo o país; se de um lado tinha New York no leste, a ca-

pital do mundo como dizem no norte, vizinho ao Canadá tinha Chicago, uma

cidade de maior prosperidade, um centro de cultura excelente e um pujante

centro econômico: do outro lado do oeste vamos encontrar São Francisco da

Califórnia e Los Angeles, cidades altamente progressistas e desenvolvidas.

Infelizmente, no Brasil, o que vemos é que enfrentamos por cem anos a au-

sência de um nordestino na Presidência ou no Ministério da Fazenda, entre

Rui Barbosa e Clemente Mariani, há cem anos de distância e ai se concen-

tram no centro Sul os grandes polos de decisão econômica que são o Minis-

tério da Fazenda e o Banco Central. O Banco Central muito mas novo como

todos já sabem, mais jamais houve um presidente baiano e no Ministério da

Fazenda como eu disse sempre estão representantes da Região Centro Sul e

a chave do cofre sempre está na mão deles. Então, enfrentar isso não é fácil,

afora o problema do Semiárido, a seca no Nordeste que realmente nunca foi

enfrentado definitivamente. Há tentativas muito pequenas, temporárias e

que não se prolongam no tempo mantendo o Semiárido de forma realmente

lastimável, sorte que todos esses percauços estão no nosso caminho, pre-

cisamos nos esforçar para apontar um caminho de crescimento para o Nor-

deste e eliminar as desigualdades regionais que chegam a ser um câncer

nesse país. Sorte que estamos aqui reunidos para, em um esforço conjun-

to, tentar fazer alguma coisa neste sentido. Eu quero agradecer a todos a

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184 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

participação aqui, dizer que estou à disposição para algum esclarecimento

necessário. Muito Obrigado.

Palavra da Presidente Presidente do CIC | Nicolle Barbosa

Bom dia a todos. “Mais poderoso é o povo que supera e vence as limi-

tações, enfrenta as terríveis condições da vida, e marcha em frente para o

futuro”. Que as palavras do mais baiano de todos os brasileiros, Jorge Ama-

do, nos inspirem em mais este inicio de caminhada em prol da superação de

um novo desafio que perdura a anos, a transformação do Nordeste em uma

região verdadeiramente rica e repleta de oportunidades para todos os nor-

destinos que aqui nascem ou adotam esta terra como sua, senhoras e se-

nhores, permitam que saude de todas as personalidades políticas que aqui

estão presentes na pessoa do Secretario de Indústria Comércio e Minera-

ção James Correia e do deputado federal Zezéu Ribeiro, que juntos repre-

sentam a experiência e o arrojo da política baiana e muito nos honram com

suas presenças. Saudar os representantes das instituições empresariais na

pessoa do presidente da FECOMÉRCIO da Bahia, senhor Carlos Fernando

Amaral, a quem agradeço a acolhida e que a exemplo do vice-presidente

da FIEB Vitor Ventin e do presidente da FAEB João Martins Junior, desde o

primeiro momento tem prestado seu apoio ao Integra Brasil, numa prova

inconteste do comprometimento dos setores produtivos deste Estado com

a promoção de um Nordeste cada vez mais competitivo; saudar a imprensa

da Bahia, registrando também a presença da imprensa do Ceará aqui repre-

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185RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

sentada pelo Diário do Nordeste; saudar a equipe do Integra Brasil em nome

dos economistas cearenses responsáveis pela metodologia inovadora que

adotamos,Cláudio Ferreira Lima e o deputado Constituinte Firmo de Castro,

saudar o presidente da CONAGE, Rodrigo Paolilo: saudar a arte e a cultu-

ra baiana na pessoa do economista, jornalista e escritor, Armando Avena,

que teve o desprendimento de emprestar a sua experiência acadêmica de

mestre em Planejamento Global e Política Econômica, a sua experiência no

executivo público como Secretário de Planejamento da Bahia e, especial-

mente, a sua e palavra expressa em seu livro “Nordeste: Os caminhos do

desenvolvimento”.

Senhoras e senhora depois de quatorze meses de trabalho intenso, du-

rante os quais percorremos todos os estados do Nordeste para discutir o

Integra Brasil - Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo e tendo recebido em

cada canto por onde passamos o apoio maciço de todo setor produtivo e de

grande parte da classe política da região, chegamos à Bahia pela segunda

vez, agora com a realização deste Workshop que traz para a mesa de deba-

te a temática da contextualização no Cenário Nacional das Transformações

em curso em nossa região. Desde o seu nascedouro o Integra Brasil definiu

como objetivo macro de sua atuação a luta pela redução das desigualdades

regionais, tendo como inspiração a busca pela integração econômica do país

como um todo, e especial, da economia do Nordeste com o mundo. Dentre

as razões desta busca está o entendimento de que o caminho mais seguro

para a conquista de um processo de desenvolvimento que se possa dizer de

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186 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

fato sustentável para o Brasil passa necessariamente pela expansão e pelo

fortalecimento de nosso mercado interno. E nesse mister.

Integra Brasil se propõe a construir uma base política de negociação que,

partindo do setor produtivo do Nordeste, consiga formatar verdadeiras moe-

das de troca, capazes de tornar efetiva uma integração virtuosa de nossa re-

gião no cenário econômico tanto Nacional quanto Internacional. Nas hostes

desse movimento acredita-se que somente dessa integração se conseguirá

alcançar o relativo equilíbrio federativo tão necessário à redução das desi-

gualdades regionais socioeconômicas.

Ademais, com o modelo de atuação pensado, estaremos criando a am-

biência necessária à consolidação de um processo de desenvolvimento que

se possa dizer, de fato, sustentável para a região e o pais. E essa consciência

não veio por acaso, é fruto de um intenso e sistemático processo de estudo,

pesquisa e planejamento que, após uma interação profícua de ideias gera-

das no seio de um grupo de renomados economistas brasileiros, todos com

larga experiência no pensar o desenvolvimento regional, diagnosticaram a

dimensão das potencialidades econômicas que o Nordeste pode ocupar no

contexto nacional e internacional.

Queremos ver, a economia do Nordeste crescendo de forma sistemática,

e alcançando no horizonte dos próximos vinte anos, o patamar de 70% do

PIB per capita nacional.

Hoje a nossa região não responde sequer por 50% do PIB per capita do

Brasil, e olha que isso não é de hoje. Está estagnado neste nível há muito

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187RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

tempo, desde 1939 quando o Brasil passa a contar com dados estatísticos

confiáveis. Esse é o desafio que nos impomos. A história tem nos mostrado

que não há no mundo nenhum exemplo de território, seja uma região geográ-

fica, um estado ou uma nação que tenha conquistado um estágio de desen-

volvimento sequer razoável perpetuando um estado de desigualdades regio-

nais. Enquanto o mundo evolui o Brasil teima em manter suas históricas e

permanentes desigualdades regionais. A nós nos parece que essa situação

é consequência de nunca ter havido um enfrentamento verdadeiramente

coerente da questão, seja por parte da parte política regional dos governos

estaduais e federal, e o que é mais marcante, da parte da sociedade civil.

Tal qual a metáfora da condição humana expressa na obra de Leonardo Boff

“A águia e a galinha”, teimamos em seguir ciscando, aceitando as migalhas

paliativas, presentes em políticas compensatórias emanadas do poder pú-

blico em suas diferentes instancias. De fato não há políticas consistentes e

consequentes de desenvolvimento para o Nordeste.

Claro que não entendemos que devamos preservar as transferências so-

ciais acontecidas nas ultimas décadas, mas da forma em que elas têm sido

concedidas não trazem em seu bojo transformações realmente sustentáveis

e definitivas.

O Nordeste precisa de transferências produtivas, alias salvo vários ca-

sos históricos acho que nunca experimentamos de fato um real pensamento

regional nas políticas públicas no Brasil, mesmo quando voltamos olhares

para os períodos bem recentes, obras estruturantes importantes como a

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188 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Construção da Ferrovia Trans Nordestina e a transposição das águas do Rio

São Francisco, para ficar somente nestes dois exemplos, obras que se con-

cluídas seriam capazes de transformar definitivamente o perfil sócio-eco-

nômico da região Nordeste. Quando concedidas e aprovadas, essas obras

costumam se arrastar por décadas sendo tocadas a passo de cágado em

uma responsabilidade pública infinda e eu diria quase criminosa.

Isso também não é diferente para as regiões Norte e Centro Oeste do

país, quando recentemente fui questionada pelo Armando se esses proble-

mas careciam de uma solução técnica ou de uma decisão política. Respondi

que o mundo e a ciência viam nos mostrando que há uma rica diversidade

de soluções técnicas coerentes para o desenvolvimento de diferentes cultu-

ra econômicas em territórios com características climáticas, geográficas e

morfológicas similares a do nordeste, porém sem a vontade e a hombridade

e o comprimento politico daqueles que foram legalmente eleitos para regis-

trar e executar, em nome do povo, e nada disso acontece. Falta claramente a

vontade politica de querer mudar a região do Nordeste do Brasil.

O solo e o céu do Nordeste guardam uma multiciplicidade infinda de ri-

quezas a serem exploradas, além da garra, da coragem e da criatividade do

nosso povo. São muitas as potencialidades mal aproveitadas, e aqui antes

de findar as minhas palavras, quero destacar uma característica, que a mim

me parece, diferencia o Integra Brasil de muitos outros movimentos que o

antecederam. Acreditamos que é preciso parar de falar do Nordeste com o

olhar focado em problemas. Não somos os coitadinhos, os que sempre estão

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189RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

de braços estendidos, de pires na mão. Há uma cultura equivocada de se

chamar atenção para os problemas do Nordeste ou até mesmo de chamar

atenção para o problema do Nordeste. Essa cultura precisa ser mudada, o

nosso discurso, enquanto nordestinos que somos, precisa mudar, nós somos

uma região rica de oportunidades, somos uma região que tem inúmeras van-

tagens a oferecer. Em qualquer mesa de negociação no Integra Brasil enten-

demos o Nordeste como grande celeiro de soluções sustentáveis, não só para

si mesmo, mas para os problemas socioeconômicos do Brasil como todo.

O crescimento econômico, a sustentação cultural e a alta estima na-

cional passam necessariamente pelo Nordeste. O trabalho até aqui desen-

volvido pela equipe do Integra Brasil tem consolidado em cada um e em

todos nós a certeza de que o Nordeste tem as competências e os atributos

essenciais para conduzir e determinar os rumos da negociação do seu fu-

turo econômico.

Cabe agora a todos nós deixarmos aflorar as múltiplicas inteligências

que temos, para dar vazão ao longo dos eventos ainda previstos. Nesse mo-

vimento de ideias verdadeiramente transformadoras capazes de dar ao Nor-

deste um novo horizonte, onde todos nós nordestinos tenhamos vez e voz

no cenário econômico nacional e mundial. Rogo que consigamos trabalhar

intensamente, para que ao final, possamos apresentar ao Brasil inteiro um

novo projeto de desenvolvimento regional que, revestido da necessária legi-

timidade técnica, consciência social e comprometimento politico promova

a sensibilização do resto do país para a importância da construção de uma

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190 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

nova economia nacional e integrada, onde as desigualdades regionais sejam

apenas fatos históricos registrados nos anais do passado.

Que Deus nos ilumine na construção desse movimento que tem em sua

essência o fundamento da palavra divina, a integração. Obrigado e um bom

trabalho para nos!

PRIMEIRA PALESTRAJames Correia: Bom dia a todos e a todas, eu vou fazer a abertura já dentro

do que eu vou colocar para não perder muito tempo. Dizer que eu não sou

um especialista no Nordeste, sou acadêmico e também empresário, minha

especialidade durante vinte anos foi trabalhando no setor elétrico, acompa-

nhado o consumo de energia elétrica no Nordeste e o que isso representava

em relação ao Brasil, como cada estado se comportava, para ter algum tipo

de visão, alguma coisa tínhamos que estudar. Então, eu agradeço a oportu-

nidade a sra. Nicolle, presidente do Centro Industrial do Ceará, meu querido

amigo, presidente da FECOMÉRCIO, Carlos Fernando Amaral. Deputado Ze-

zéu, o meu amigo, esse sim é um professor de fato sobre todas as questões

do Nordeste, um dos mais ativos parlamentares nesta área.

Meu amigo Avena, meu querido João Martins, meu presidente lá no SE-

BRAE, está sofrendo muito com esse problema todo no interior da Bahia,

mas estamos torcendo para ter uma solução. Cláudio Lima, do Integra Brasil,

consultor, Firmo de Castro, também consultor, e Rodrigo Paolilo, presidente

do CONAGE.

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191RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Como eu falei, não sou um especialista em desenvolvimento do Nordeste,

mas tenho uma visão de que realmente o Nordeste precisa desenvolver uma

política federal de desenvolvimento regional, nós ficaremos ao sabor da boa

vontade do orçamento e das decisões políticas. Quando nós não temos um pre-

sidente nordestino, engajado em fato de desenvolver vários projetos no Nordes-

te, no caso das ferrovias e estaleiros, refinaria, enfim investimento nos portos,

mesmo sendo Porto do Pecém, o porto de Suape recebeu muito investimento

federal; quando nós temos um presidente engajado em fazer as políticas de dis-

tribuição de renda, bolsa família. Bolsa família, se vocês pensarem, ela é im-

portante, injeta muitos recursos na economia, mas um dos mecanismos mais

importantes da política de desenvolvimento regional que o presidente Lula fez

foi o “Luz para Todos”. Eletrificou o Nordeste inteiro; é uma questão básica para

você ter acesso a energia elétrica, você ter iluminação, poder estudar à noite,

poder ter uma qualidade de vida melhor, ter acesso à televisão, informação.

Nós fizemos agora, recentemente, inclusive o presidente Fernando Henri-

que começou, mas foi maciçamente feito no governo de Lula esse trabalho,

que é um trabalho que na década de cinquenta já tinha sido concluído na União

Soviética. Na década de quarenta já tinha sido concluído nos Estados Unidos.

Então, foi um investimento muito grande e financiado por todos os brasileiros.

A política de desenvolvimento inicial do governo Fernando Henrique, era que

cada estado financiaria essa eletrificação rural, mas a mobilização dos esta-

dos foi tão grande, porque a conta de energia de cada estado subiria porque

haveria a necessidade de se repassar para a tarifa isso, que se fez arrecadação

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192 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

uniforme, percentualmente uniforme, por todas as empresas, menos aqueles

estados onde já estavam praticamente eletrificados como o Sul, Sudeste, par-

ticiparam dessa conta, uma conta chamada CDE. Então, são instrumentos, va-

mos dizer assim, de uma política de desenvolvimento regional que não é uma

política completa; se nós formos pensar numa política completa vamos ter que

entrar na discussão da reforma fiscal, na reforma do ICMS.

Só não existe possibilidade, por exemplo, de que o Nordeste continuasse

desenvolvendo, mesmo que não sendo um nível adequado, se nós não tiver-

mos a capacidade de dar incentivos ficais para que as empresas migrem;

algumas que têm o mercado no Sul e Sudeste migrem para o Nordeste e

tenham capacidade de atender seus mercados originais.

Uma montadora de veículos é um exemplo muito claro, o mercado maior

é o mercado fora da base onde ela está instalada.

Então, nós estamos na véspera de uma decisão sobre reforma fiscal, onde

o próprio Integra Brasil tem se mobilizado muito, os secretários de fazenda,

os governadores; eu não acredito em reforma fiscal feita por técnico, eu falo

isso para o nosso secretario da fazenda, é importante que você acompanhe,

mas quem vai fazer essa discussão, essa finalização são os governadores.

Pra mim é uma decisão política de que se nós não tivermos condição de

nessa reforma fiscal, como vocês estão vendo, onde está se mexendo nas alí-

quotas no interestadual pelo Nordeste, ficaria na mesma alíquota e nós te-

ríamos um diferencial de alíquota para poder dar o incentivo, se não tiver um

diferencial de alíquota não tenho como repassar, usufruir desse incentivo.

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193RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Na saída interestadual de quatro pra sete por cento, se eu não conseguir

associado a isso ter os fundos para bancar a atração de novas empresas,

não basta eu resolver esse problema, eu preciso continuar tendo recursos

para que cada estado, dentro da sua política de desenvolvimento, eu digo,

eu não vou priorizar projetos muito grandes porque eu não tenho dinheiro

pra isso, mas eu vou atrair indústria de alimentos, vou atrair indústrias dis-

so, daquilo, enfim vou fomentar o comércio nessas e naquelas condições,

fomentar a agricultura; se o estado não tiver autonomia pra isso, nós vamos

estar em uma situação pior do que estamos hoje. Hoje nós estamos com

essa possibilidade de fazer os incentivos fiscais estaremos sem essa possi-

bilidade e sem um mecanismo, que é o que está, vamos dizer assim, pegan-

do na discussão da reforma.

Tem duas coisas, a meu ver, que dificultam, o Zezéu depois pode, como vou

falar, colocar: uma é a posição de Manaus, Manaus que é o máximo. Manaus

quer continuar sendo o paraíso, quando todos os estados aceitam colocar o

pé no chão ele quer continuar sendo o paraíso. As diferenças de alíquotas

previstas fazem com que nenhum outro empreendimento, refrigerantes, ele-

trônico, ou de motocicleta, consiga sobreviver fora de Manaus; a diferença é

tão grande dos incentivos, que você consegue fazer toda sua logística e ainda

fica com uma diferença imensa pra garantir a competitividade.

Esse é um dos problemas que nós temos. Outro é esses fundos que se-

riam criados para fazer a compensação para cada Estado poder usar e re-

portar seus incentivos.

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194 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Se esses fundos não forem fundos constitucionais, forem fundos sujeitos

a contingenciamento do governo, no momento em que ele tiver com dificul-

dade orçamentária ele vai contingenciar esses recursos; então, essa é outra

dificuldade. Hoje, todo mundo deseja uma capacidade de fazer uma política

de desenvolvimento regional para o Nordeste, mas nós não podemos espe-

rar que façam por nós.

Então, eu acho que uma oportunidade muito boa, sem precedentes, é

esse momento que vivemos a discussão dessa política fiscal, que é uma coi-

sa de grande interesse para o Nordeste e que daria as condições para que os

estados tivessem algum instrumento para fazer sua política de desenvolvi-

mento. Mas, como eu falei, acho que a estrutura do governo federal propor-

cionou algum conjunto de política de desenvolvimento para o país e alguns

estados se aproveitaram melhor do que outros. Na política de eletrificação

rural, como tinha uma estrutura muito boa, e todas as empresas têm uma

estrutura muito boa, a COELCE e todas elas, se apropriaram bem e conse-

guiram fazer o máximo possível. E a política, por exemplo, de desenvolvimen-

to da indústria de fornecedores, vamos dizer assim, do setor de petróleo foi

uma política também muito bem estruturada.

Eu acho que alguns Estados, por características de posicionamento mui-

to forte das universidades, se deram muito bem, eu cito aqui no Nordeste

o exemplo do Rio Grande do Norte, que se deu muito bem nesse processo.

A Bahia vem tentando se estruturar e Pernambuco se deu bem em re-

lação à questão da instalação do estaleiro, com grande dificuldade inicial-

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195RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

mente, mas é assim mesmo, quando você não tem mão de obra preparada

para determinada atividade você tem os percalços de uma política, onde o

governo pretendia, ou pretende, fazer parte dos seus investimentos aqui no

Brasil, mesmo a um preço mais caro, mas desenvolvendo uma indústria que

o Nordeste foi contemplado, como eu falei, o Ceará chegou a participar de

uma licitação de estaleiro, mas não conseguiu ter um estaleiro habilitado e

a Bahia depois teve um estaleiro habilitado.

Eu acho que essa política, eu aproveito aqui, já que o Zezéu está aqui,

para provocar um pouco, para dizer o seguinte, eu acho que o problema que

a Petrobras vive hoje não é um problema provocado por essa mobilização

que houve na indústria do petróleo, para você verticalizar o máximo a oferta

de serviço no Brasil.

Eu particularmente achei um erro, e continuo achando, obrigar a PETRO-

BRÁS, eu vou dizer obrigar a PETROBRÁS porque eu vou agir como se não

fosse vontade da PETROBRÁS, obrigar a PETROBRÁS a ter 30% de partici-

pação em todos os blocos do pré-sal.

Eu acho que dificilmente a empresa terá capacidade financeira. Se ela

tiver capacidade financeira de ter 30% de todos os blocos, o nosso pré-sal é

um pré-salzinho e não um pré-sal como esperamos que seja. Você imagine

uma empresa que é obrigada, mesmo sem ela querer, a participar de algum

bloco que ela já saiba previamente que não é um do melhores, ela é obrigada

a ser operadora e ter 30%.Então, quando você impõe uma obrigação a uma

empresa desse porte, você desestrutura a vida da empresa.

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196 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

A PETROBRÁS hoje, em função de uma série de questões, mas eu acho

que isso também é importante, tem criado dificuldades para grandes empre-

sas fornecedoras, muitas quebraram, faliram e ela está direcionando todo o

seu capital para dar conta dessa demanda que a legislação colocou. Então

ela vai ter que fazer um processo de captação muito grande, está vendendo

uma série de ativos pra fazer caixa para cumprir uma delegação que o con-

gresso, se metendo na atividade empresarial, obrigou a empresa assumir.

Eu fui durante muito tempo consultor do programa estratégico da PE-

TROBRÁS, eu sempre tive uma posição muito crítica em relação a essa de-

cisão e acho que algum dia lá na frente nós vamos voltar atrás, porque é mais

fácil voltar atrás do que impor uma situação à empresa que ela não possa

realmente assumir. Então, o presidente Lula, ele tinha essa visão, ele é o ho-

mem do Nordeste, ele tinha uma visão de fazer políticas que alcançassem o

Nordeste. Uma coisa que talvez vocês não saibam, há três anos o Nordeste

vende mais motos do que o Sudeste e tem metade da população e uma renda

muito menor; ou seja, o transporte, principalmente na zona rural, foi substi-

tuído por um transporte mais ágil; imagine um operário, que é um eletricista,

um encanador, se locomovendo de ônibus pelo interior, agora imagine ele se

locomovendo de moto, ele vai ganhar muito mais dinheiro porque vai ter uma

flexibilidade muito maior. Então, o mercado criou condições para que esse

fenômeno acontecesse, esse fenômeno das motos no Nordeste.

Eu acho que muitas questões ainda estão pendentes no Nordeste e algu-

mas terão que ter uma solução federal, mas lembre, a gente tem que lembrar

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197RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

sempre, é muito difícil se chegar a um consenso com São Paulo para se ter

uma solução nacional.

Eu morei lá dez anos, sou professor da universidade, da USP, da Escola

Politécnica, é muito difícil você ter consenso numa negociação. E qualquer

coisa que não tenha um ideal mínimo de consenso e for para o Congresso

tem uma dificuldade muito grande de acontecer. O governo não vai ousar

colocar reforma do ICMS no Congresso, seria uma coisa explosiva se isso

acontecesse. Então eu acho que cada Estado também tem que procurar

buscar uma política de desenvolvimento regional articulada com os órgãos,

SUDENE, Banco do Nordeste, CHESF que também está passando por muita

dificuldade e passará mais dificuldade ainda em função da redução da tarifa

de energia elétrica, que vai subtrair um volume muito grande da sua receita

e fazer a sua política.

Então, vou falar um pouco, rapidamente, a encomenda do governador

quando nós chegamos à secretaria. O Governo do Estado da Bahia tinha

uma visão de que precisava desenvolver focado nas cadeias produtivas do

Estado, aquelas que tivessem mais capacidade de dar uma resposta; isso foi

feito na agricultura,naquelas cadeias todas foram desenvolvidas lá, mas na

indústria se usou a mesma estratégia e um forte grau de descentralização

da economia para o interior, e essa, de uma forma assim, foi a lição, a meta,

a estruturação principal do trabalho que foi feito.

Primeira coisa que foi feito, tanto com a federação do comércio quan-

to federação das indústrias, e com o apoio da UFBA, nós desenvolvemos

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198 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

uma política industrial para o estado e uma política de comércio e serviço

que não existia, onde essa vontade do governo estivesse bem qualificada ali

nas incisões que fossem desenvolvidas. Fizemos um trabalho a quatro mãos,

primeiro com a UFBA, depois com a Federação do Comércio. E fizemos um

trabalho de identificar quais eram essas cadeias que tinham mais vocação

e foi criado um conselho de desenvolvimento industrial, e depois comercial

também, que abrigava essas cadeias produtivas, onde cada cadeia tinha

uma estrutura para funcionar e cada cadeia tinha um coordenador do setor

produtivo. Não eram estruturas“chapa branca”, eram estruturas inclusive

lideradas pela BRASKEN, lideradas por uma série de empresas, pela COEL-

BA, que faziam toda a discussão, mas que conseguiam ter uma força muito

grande para operacionalizar as questões que foram pensadas ali.

Então, esse foi o principal ponto de partida que foi adotado, junto a isso,

o governador estruturou na secretaria uma área altamente qualificada para

captar investimentos, principalmente no exterior; nós temos uma estrutura

muito bem preparada para isso, e melhora a relação com a classe empre-

sarial baiana, que quando ele assumiu era a pior possível, só à BRASKEM

o governo devia seiscentos e cinquenta milhões de crédito de ICMS, só a

uma empresa, no polo era um bilhão, somando papel, celulose, era mais de

um bilhão e meio de dívidas acumuladas ao longo de dez anos. As empre-

sas compravam matéria prima no estado, pagavam aquele ICMS, quando

exportava ficavam como mico na mão que era o crédito, já que a exportação

é desoneraria.

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199RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Então, isso criou um ambiente de insatisfação muito grande no setor em-

presarial, muitas empresas suspenderam todos os investimentos na Bahia

através dos seus conselhos de administração, porque isso já estava impac-

tando muito, o Avena sabe disso, o balanço das empresas, eu jogava seis-

centos e cinquenta milhões de dívidas, quando a auditoria vinha, qualificava

como dívida de baixíssima possibilidade de recuperar.

Então, foi feito um acordo. Resumindo, dois anos depois, esses seiscen-

tos e cinquenta bilhões de dívidas muito ruins entraram no balanço com um

saldo, o que foi uma mudança muito grande na capacidade inclusive de se

endividar que algumas empresas tinham, e então começamos um processo.

Vou dar um exemplo pra vocês do que aconteceu. Nós estamos comemo-

rando agora trinta e cinco anos do polo petroquímico, era o polo industrial,

agora de Camaçari, durante os trinta primeiros anos, foram investidos no

polo dez bilhões de dólares. Então,nesses seis anos, vamos dizer assim, que

completou-se esses trinta anos, Zezéu, nós já conseguimos captar doze bi-

lhões de dólares de investimento no polo industrial de Camaçari.

Fazer essa discussão com foco nas cadeias produtivas se mostrou uma

coisa muito eficiente e com atração muito forte de investimentos do exte-

rior; nós somos já há quatro anos o principal destino de investimento chinês

no Brasil. Esse é outro aspecto também. A Bahia é o único Estado que tem

um escritório na China, em Pequim, focado na atração de investimentos.

Então, com uma política agressiva de completar as cadeias produtivas, nós

começamos uma mobilização.

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200 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Eu não vou me alongar, nós temos um caderno aqui que eu falava para al-

guns amigos, olha ainda estamos captando noventa e um bilhões de reais,aí

não pode ser, assim vai ser quase igual a São Paulo, noventa e um bilhões.

Eu mandei fazer uma revista que tem a foto de todos os empreendimen-

tos; eu falei brincando, vou colocar a foto de todos os empreendimentos e

realmente conseguimos. E ao longo desse período, tivemos duas grandes

surpresas, que foi fruto também dessa estratégia: a primeira surpresa foi

mineração. Nós tínhamos um número de requerimentos para pesquisas, o

governo federal pede relativamente baixo para as dimensões do estado, co-

meçamos a fazer um programa de mobilização a nível internacional muito

grande e hoje, para resumir, nós temos dezenove mil requerimentos de pes-

quisa, quase 50% a mais do que Minas Gerais, que sempre foi disparado, o

que tinha o maior volume.

O que isso se traduz? Que nós temos trinta bilhões de investimentos em

curso em mineração.

É lógico que alguns dependem da ferrovia Oeste-Leste, mas tem empre-

sas que já investiram cem milhões de dólares para fazer toda a parte de

pesquisa,está começando o licenciamento e aguardando a ferrovia.

A mineração hoje vive um momento muito importante; nós temos uma

equipe em Brasília só acompanhando a discussão do marco regulatório da

mineração junto com os empresários.

E a outra grande surpresa foi a questão do desenvolvimento da indústria

de energia eólica no estado. Nós começamos um processo também basea-

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201RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

do numa parceria dentro dessa câmara setorial de energia com a COELBA,

um estimulo a investimento e hoje, resumindo, nós temos quinze bilhões de

investimentos. É o maior programa do Semiárido baiano, o arrendamento

de área pelas empresas de energia eólica; 70% das áreas são arrendados

e quando ela coloca uma torre lá ela paga mil, dois mil, um salário mínimo,

depende da negociação.

Então, existem famílias que têm vinte torres dentro da sua área, conti-

nuam usando ela depois e que recebem arrendamento.

Isso vai da Chapada Diamantina até Sobradinhos, lógico que isso não é

solução,é apenas uma contribuição de um setor que hoje disponibiliza in-

ternet nas cidades por onde passam, pois precisam de um sistema muito

robusto de informação, já que têm que mandar, online, as informações para

a ANS apurar se o sistema está funcionando ou não. Então, houve um desen-

volvimento muito grande, houve uma atuação muito forte do próprio gover-

nador e hoje nós temos aqui um dos maiores parques do mundo de equipa-

mentos de energia eólica, nós temos uma fábrica de torre, por exemplo, que

inaugurou agora, está com dois anos da sua produção vendida; temos três

empresas de geradores de energia eólica, temos a TECSIS que é uma das

empresas maiores do mundo de pás, enfim, estamos ainda dimensionando,

indo atrás de mais empresas para completar isso aí, que é uma coisa de tec-

nologia de ponta, é importante pra você desenvolver.

De um modo geral, houve uma expansão muito grande e, associado a isso,

por conta de uma demanda muito grande, uma melhoria da infraestrutura.

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202 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Eu tenho uma casa na Praia do Forte, e esse final de semana eu para a

Praia do Forte por uma estrada nova,que durante trinta anos atendeu o polo

petroquímico e era uma estrada extremamente perigosa, que a via Parafuso.

Hoje ela está, o sistema todo, via aeroporto, via Parafuso, está praticamente

pronto, inaugura em agosto e acabou de ser lançado o edital do trecho que

vai da via Parafuso até Jacuípe, o litoral Norte, vai ser uma alternativa de,

vamos dizer assim, vir para o litoral norte, mas uma alternativa para que as

pessoas também possam ter um deslocamento melhor, uma qualidade de

vida melhor.

Então,há uma tentativa de melhorar isso aí. Olhando do ponto de vista

estratégico e do governo federal, a Bahia brigou muito, como os estados

devem brigar para ter uma infraestrutura ferrovia, eu sei que atrasa,é essa a

lógica, o Tribunal de Contas hoje acha que entende mais do que o engenheiro

que projetou uma ponte, ele questiona até a dimensão do pilar, a realidade é

essa. Então, logicamente, você tem uma dificuldade grande no licenciamen-

to ambiental no Tribunal de Contas.

Mas, por exemplo, quando a ferrovia Oeste-Leste estiver pronta, a Bahia

hoje transporta trinta e três milhões de toneladas de carga por ano,em todos

os seus postos, terminal privativo e terminal publico, o dobro mais ou menos

do que Pernambuco transporta.

Quando o porto sul estiver pronto,terminal da BAMIN e o terminal que

está sendo licitado pelo governo, nós vamos transportar mais de cem mi-

lhões de toneladas de carga; vai ser quase seis vezes, por exemplo, o que

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203RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

transporta Pernambuco. Por que isso? A Bahia tem uma diferença em rela-

ção a Pernambuco, Pernambuco tem um excelente porto, mas Pernambuco,

talvez pela dimensão territorial, ela tem uma produção mineral muito limita-

da, tem alguns produtos, gesso, gipsita, que são muito importantes, mas, no

geral, então a Bahia vai ter condições de crescer muito na área mineral, vai

ter condições de crescer muito sua atividade agroindustrial, porque você vai

poder exportar pellets, vai poder exportar grão, o custo vai ser muito mais

baixo do que o custo praticado hoje,temos que fazer realmente.

Então, a visão que eu passo da Bahia é essa, foi uma visão em que o go-

vernador queria ter uma visão de como o estado deveria se desenvolver, pas-

sou algumas diretrizes, tivemos que fazer a política industrial, de comércio e

serviço, montamos uma estrutura fora do governo; hoje eu não tenho dificul-

dade nenhuma de alugar helicóptero, alugar o que eu precisar para atender

um empresário de fora, tem um convênio muito interessante com a FIEB,

por exemplo, e uma série de facilidades para fazer o processo de tomada

de decisão. E o exemplo final, eu considero, não vou falar de universidades

e essas coisas todas que ele conhece muito bem como é que está isso, eu

acho muito importante a questão da formação. Hoje você não precisa sair

dos municípios para vir estudar em Salvado, o PROUNI, que vocês sabem,

quando o presidente Lula era presidente foram a ele para cortar os incen-

tivos que as universidades privadas tinham, cortar, para que isso? Vamos

cortar. Então o presidente, muito sábio, porque cortar? Eles ainda não estão

recebendo isso? Não, mas, não tem sentido, tem universidade que aparece

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204 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

em escândalo com um jatinho, uma universidade que tem incentivo com-

pra um jato, como tinha lá no interior de São Paulo, a Bandeirante, etc. Ele

falou: “Não dá para transformar isso em vaga?” E hoje nós temos o maior

programa de educação do mundo, temos quase um milhão e duzentos mil

estudantes, mais de 70% com bolsa integral nas universidades privadas, to-

dos selecionados por sorteio na internet, sem mínima chance de ter qualquer

ingerência política ou coisa do tipo. Então,em algumas políticas, lógico que

a gente vai ter que perseguir.

Eu estou vendo as vozes das ruas, eu fui com minha filha, minha filha se

formou em direito na USP, eu estava em São Paulo e fui pra rua com ela,

fui para duas passeatas com ela; o pessoal sabia, parava falava com ela

brincando que eu era do PT,os amigos lá daquela escola reacionária me pe-

gavam pra me jogar pra fora, brincando é claro, mas a grande lição que eu

tirei desse processo todo, dessa experiência de governo, agora, o resultado

que eu acho mais importante, que pra mim parecia impossível, é que ano

passado 55% dos empregos gerados no estado, foram gerados no interior.

Nós só faltamos apanhar porque algumas prefeituras, a gente mandava,

sugeria que indústria fosse para o interior, umas aqui da região metropolitana

brigavam; se deixar Camaçari leva tudo porque tem um município muito gran-

de, a área é toda plana, tem toda a infraestrutura necessária, inclusive efluen-

tes,tem energia, mas houve uma descentralização efetiva muito grande.

Nós estamos com um resultado excepcional de geração de emprego no

interior, que eu acho que só tende a crescer.

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205RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Agora, a política de governo de recuperar os aeroportos, Conquista, Fei-

ra que teve licitação, levou ao TC, vai ser o hub da azul, vai ser em Feira

como é em Campinas, lá em São Paulo, então você vai ter voo, hoje você já

tem seis voos para São Paulo em Vitória da Conquista. Então, o empresário,

a população, quer se locomover não mais em estradas boas, duplicadas,

ela quer se locomover de avião para essas instâncias de quinhentos quilô-

metros ou mais.

Então a Bahia e acho que todos os estados do Nordeste nesse sentido

estão se modernizando, melhorando a infraestrutura, melhorando a qualifi-

cação da sua mão de obra, estruturando bem a sua cadeia produtiva, tendo

acesso ao crédito. Eu lembro que eu conversava com o Ferrari, ele me dizia

que a maior dificuldade há cinco anos atrás para você conseguir fazer que o

Maranhão e o Piauí atingissem o limite da cota que eles tinham para finan-

ciamento. Hoje está todo mundo brigando por mais dinheiro, Ceará, Piauí,

Maranhão. Existe uma demanda, tanto que o governo federal proibiu alguns

segmentos tomarem dinheiro no BNB, como, por exemplo, energia eólica.

Os volumes de recurso são tão grandes que tem que ir agora ao BNDES.

Então, são demonstrações que há um avanço, eu acho que é preciso uma

unidade maior, uma discussão maior entre os governadores, mas isso está

acontecendo, eu sei que pelo menos com o Eduardo Campos e lá no Ceará

nós temos o Cid, tem tido conversas permanentes para montar estratégias

que sejam comuns, e eu tenho certeza que com o avançar dessas medidas

que nós estamos tomando tanto nos estados quanto no governo federal, e

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206 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

principalmente se nós conseguirmos aprovar a reforma do ICMS, para mim

esse é o ponto chave, nós vamos conseguir ter uma nova dimensão para

fazer política de desenvolvimento nos estados, política industrial, política

de um modo geral. Nós tivemos a redução da tarifa de energia elétrica e

atendeu um pleito, vamos dizer assim, da sociedade, mas muito mais do se-

tor industrial, que criou algumas dificuldades, como eu falei, com a CHESF,

descapitalizou totalmente a CHESF, ela tem tido dificuldades em fazer suas

obras aqui no Nordeste, mas nós vamos ter que continuar atuando.

Vou dar uns números curiosos aqui pra vocês, de investimentos, lógico

que todos lastreados em financiamento do BNDES ou de outros órgãos. A

EMBASA fechou agora já oito bilhões de investimentos no setor de água e

esgoto, oito bilhões de investimentos no setor de água e esgoto. Quando o

governador assumiu, eu lembro, Abelardo é meu amigo, ainda estava no go-

verno se queixando que não tinha dinheiro para pagar a folha de pagamento.

Mas é bom que a gente pontue como as administrações anteriores eram

boas em alguns aspectos, na relação com os empresários, tanto que devia

ICMS, como deixou a EBAU, cesta do povo e coisas desse tipo, porque de

alguma forma não dá para ter saudade desse tempo, dá para querer mais

coisas, dá para querer avançar mais, mas eu acho que temos que avançar e

vamos avançar no sentido de fazer com que as políticas públicas, as políti-

cas industriais, alcancem esse sentido.

Aqui em Salvador, nós estamos com trezentos e cinquenta milhões de

reais em obras, na prefeitura de Salvador, também diferentemente dos pas-

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207RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

sados, numa prática agora de parceria, acho que a sociedade hoje exige isso

entre o governo do estado e o governo municipal, serão seis milhões o inves-

timento total do metrô. Hoje eu vi, vindo para cá, uma entrevista de Pinheiro

na rádio, ele dizia lembrando que tentou fazer um acordo do metrô em 2010,

mas o prefeito não quis. Se nós tivéssemos conseguido licitar lá atrás, talvez

tivéssemos um resultado, com certeza, maior. Mas, agora a prefeitura tem

um bom diálogo e no total a SEDUR está investindo, soma dos investimen-

tos já realizados que ela por investir, vinte bilhões de reais. Nós estamos

com 100% dos recursos assegurados para investimentos, 100%, incluindo os

compromissos que nós temos com os empresários, do estaleiro, etc., qua-

se todos esses recursos vindo de empréstimos, diversas fontes, e estamos

fechando um ciclo de investimento importante, no qual Salvador não fazia

parte. Trabalhei em conjunto até com o prefeito, consegui atrair uma indús-

tria para Salvador, coisa rara, mas hoje o diálogo é nesse nível, sou amigo do

secretário de educação de Aleluia, tenho um diálogo permanente; eu acho

que esse tipo de postura é que eu acho que vai fazer com que a Bahia avan-

ce, o Nordeste avance e que a gente consiga fazer com que essas políticas

de desenvolvimento cheguem ao destino principal que é a população do Nor-

deste. E, portanto, essa é a uma mensagem que, pela fotografia, pelo que eu

converso com os meus amigos, nós não temos muitos baianos hoje no po-

der, lá em cima, mas tínhamos até recentemente um secretário da indústria

baiano no Rio Grande do Norte. Você vê que fica num nível mais básico, mas

é importante, que é o Benito Gama.

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208 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Então, eu acho que para o que foi colocado como meta, o governador se

dispõe a fazer para a capacidade financeira que ele tinha foi isso que nós

conseguimos lançar.

Agora, fica aí para todos essa imagem de que a política industrial é também

uma política que depende da correlação de forças. Quando o governo mexe no

IPI dos automóveis que, além de encher as ruas cria problemas para os repas-

ses federais, os fundos que vão para a prefeitura, ele está fazendo política, po-

lítica e sem compensação. Hoje vocês estão vendo, Zezéu está acompanhando

isso de perto, nós vamos ter talvez o maior número de políticos prefeitos, e

talvez governadores, que não vão conseguir aprovar suas contas, porque ele

fez um planejamento, e qual a receita que teria e qual gasto que teria, ele con-

tratou pessoal principalmente, e chega num determinado momento a receita

começa a cair e não tem como você demitir, você não consegue demitir os

concursados. Então, você caiu numa verdadeira situação de dificuldade que

hoje é essa discussão toda. É por isso que quando vão à presidente Dilma e ela

diz “não, eu vou passar dinheiro para a saúde e educação”, alguns vaiam por-

que eles querem dinheiro livre para resolver o problema que o próprio governo

federal criou quando mexeu na alíquota de IPI de diversos produtos. Então, é

agradecer a vocês pela paciência e dizer que depois estou à disposição.

SEGUNDAPALESTRAZezéu Ribeiro: Um bom dia a todos os companheiros aqui presentes, sal-

dar a todos em nome da companheira Nicolle, que é presidente do Conse-

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209RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

lho das Indústrias do Ceará, e meu companheiro Carlos Amaral, presiden-

te dessa Casa.

Eu coordenei a bancada do Nordeste como foi dito, e eu dizia sempre

assim, que cada projeto que tramita na câmera federal a gente tinha que

perguntar: e como é que o Nordeste entra ai? Como é que a gente, para cada

questão que aborda, dá uma visão de caráter regional? É fundamental na

compreensão da superação dessas desigualdades históricas que a gente vê,

de ter sempre uma abordagem sobre a questão nordestina.

O Brasil se afirma entre as maiores potências do mundo com essa defa-

sagem nordestina, que tem unificado, que tem sido investidos muitos recur-

sos, mas que a gente não consegue superar essa desigualdade.

Eu estava perguntando ao companheiro Paulo, quanto é que o BNDES

está aplicando? 14%;eu digo, isso ai é conta só de chegar, porque 14% é o

que a gente contribui para o fundo do BNDES.

Nós já damos ao BNDES 14% todo ano, porque o recurso do BNDES é

reforço frente a muitos impostos que nós contribuímos com 14%. Então, é

preciso que a gente dê mais.

O PAC, por exemplo, eu acho que é um aspecto importante, porque no

PAC nos temos 16%, 2% a mais, já é significativo. Depois do Sudeste, a maior

gama de recursos vem para o Nordeste, mas que esses 2% não vão superar

as nossas desigualdades. Se o Nordeste recebeu incremento de 2% sobre a

distribuição da riqueza do Brasil, a gente demora vinte anos para superar

essa desigualdade, isso é estudo feito pelo IPEA.

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210 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Então, hoje que se tomem posições mais efetivas nesse sentido. James

se referiu aqui a Manaus, o que há de incentivo e exoneração de impostos

na zona franca de Manaus, acho que corresponde nossa meta esse ano a

vinte e três bilhões. Quanto é que o Nordeste recebe dos seus fundos hoje?

Brasília, o fundo de Brasília; então, a gente está falando em Manaus; então,

eu falo Brasília: qual é o território e o qual é a população? O fundo de Brasília

está na ordem de doze bilhões de reais. Então, essa questão é que precisa

efetivamente modificar, com políticas que venham abordar a questão das

diferenciações regionais de forma mais efetiva. Então, essa questão funda-

mental do financiamento. Mas, nós temos que ter então políticas de desen-

volvimento regional, enquanto política de estado, não podem ser políticas

de governo, políticas episódicas e localizadas. E estruturá-los para que a

gente possa superar essas mazelas sócio espaciais, históricas, que a gente

vive, instituir um processo de planejamento, com sustentabilidade e ampla

participação social de todos os atores que intervém nesse processo, para

que a gente afirme esse projeto no plano nacional, porque se o Nordeste é

como um todo essa situação ela tem diferenciações intrarregionais, como

a gente tem situações outras no Brasil de defasagem regional importante,

mais significativa acho que, como exemplo, a metade sul do Rio Grande do

Sul, que já teve uma economia extremamente pujante e hoje há uma deca-

dência significativa, que precisa então ter uma política de desenvolvimento

regional, porque senão a gente vai ficar na guerra fiscal. Quer dizer, guerra

fiscal é a guerra do perde x perde, é o jogo do perde x perde. Mas, se não

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211RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

há uma política regional de desenvolvimento regional a sobrevivência se dá

através da guerra fiscal. A gente tem uma posição tão contrária, conceitual-

mente, mas a gente entende que muitas vezes na prática é necessário você

exercer uma política de benefício fiscal, não predatória como em muitos es-

tados a gente faz uma política de importação feita por estados no nosso

Brasil, como não se tem problemas em citar, Santa Catarina, Espírito Santo,

Goiás, que são políticas efetivamente predatórias nesse sentido. Mas, ou-

tras tantas visam efetivamente o enfrentamento dessa questão e atração de

investimentos. O que a gente precisa é que esses investimentos não tenham

um caráter do circo da fórmula um; enquanto existe o incentivo ela está lá,

acabou o incentivo, desmonta e vai embora. E não deixa nada; ou melhor,

deixa desemprego. Enquanto há o incentivo, ela perdura, acabou o incentivo

ela não diversificou, geralmente exógenas à economia regional e que não

se incorporam nessa economia, essas não deixam, só é real um galpão e o

desemprego. Então, é necessário que a gente desenvolva ações importantes

nesse sentido.

No âmbito da bancada federal, nós temos a única bancada regional que

tem vida própria. As demais regiões do país, nenhuma mantém uma estru-

tura de caráter regional. As outras regiões tinham o seu encontro no tempo

em que havia a emenda de caráter regional; acabou isso, então as bancadas

regionais não se reúnem. A bancada do Nordeste, historicamente, e a partir

do processo Constituinte, tem aqui o personagem Cláudio Ferreira Lima, que

foi um baluarte nessa luta, que conquistas alcançamos, significativas, na

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212 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

própria constituição de 88, como o FNE, e ela se mantém atuante com reu-

niões semanais ou quinzenais, discutindo os problemas, fazendo sugestões

e incorporando, de forma super partidária essa intervenção. E agora, a coor-

denação está com o companheiro Pedro Eugênio, que foi dirigente do Banco

do Nordeste, está coordenando a bancada e num contato com a câmara e a

com a presidência do senado nós vamos constituir na volta do recesso, uma

comissão especial para discutir a questão nordestina. Que a gente tem na

Câmara Federal uma comissão permanente, que discute a questão da inte-

gração nacional e da Amazônia, na verdade ela é específica da Amazônia,

não consegue nunca estabelecer outra pauta que não seja a Amazônia nes-

sa convenção, por isso a bancada se reafirmou muito também nesse sentido

e a gente espera que com essa comissão especial a gente faça então.

Eu gostaria, falava com a Nicolle aqui, de que a gente leve o resultado des-

se seminário, desses encontros, para uma discussão na bancada para que a

gente possa incorporar a bancada nesse processo e que a gente transforme

isso também em ações legislativas, e na elaboração de políticas públicas,

Avena. Então, dia oito de agosto, na reunião da bancada vocês já estarão

apresentando esse trabalho lá em Brasília. Nós entendemos, nesse proces-

so, que têm questões que são fundamentais na superação dessa situação do

Nordeste. Uma é questão que não exclusiva, mas que é fundamental, nós te-

mos três biomas no Nordeste muito bem definidos: a mata atlântica, a caa-

tinga e o cerrado. A mata atlântica, historicamente, pela ocupação histórica,

pela coisa toda, é a pujança onde estão as capitais e os grandes centros, as

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213RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

metrópoles, particularmente Salvador, Recife e Fortaleza, as possibilidades

de escoamento da produção, os portos, e tem uma preocupação com o de-

senvolvimento preservando o que resta ainda de mata atlântica que eu acho

significativo, precisa é ter mais efetividade. O cerrado que tem um desen-

volvimento extraordinário hoje com os grãos, principalmente soja, milho e

algodão, agora café, diversificando, café irrigado, essa coisa toda, para qual

a gente desenvolveu um projeto que me parece extremamente interessante,

modéstia à parte, que a gente chamou de corredor central no cerrado. O

cerrado da Bahia contribui com 23% do volume d’água do São Francisco.

Todos os rios, na exceção do Carinhanha, nascem na Bahia, porque o divisor

de águas entre Bahia e Tocantins, e Bahia e Goiás, é a Serra Geral de Goiás,

o antigo espigão mestre que a gente estudou na escola. Então todos eles das

comunidades tradicionais em serviços ambientais, você desenvolver esse

trabalho. Esse trabalho a gente apresentou a diversos dos ministros do meio

ambiente, a CHESF tem uma intenção grande de desenvolver, a ANA agora

assumiu que vai pegar e acho que ele dará a sustentação necessária ao cer-

rado da Bahia, e a gente pode estender isso para o outro lado. Por exemplo,

o governo do Tocantins ficou querendo constituir uma coisa semelhante do

lado de lá, no Tocantins. A gente teve oportunidade por duas vezes de ir ao

Tocantins e apresentar esse projeto. E a gente precisa fazer isso em rela-

ção ao nosso bioma caatinga. O Semiárido é uma extensão significativa do

nosso Nordeste, 56% da área do nosso território é com o bioma caatinga, o

Semiárido é mais extenso do que isso, e a gente precisa ter políticas que não

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214 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

encare a caatinga e o Semiárido como um problema, porque tem problemas

mas tem soluções importante e que a gente precisa desenvolver adequadas

à essa especificidade do Semiárido, a essa especificidade da caatinga, e

que a gente tem potencial e tem exemplos pontuais importantes nesse senti-

do, onde a questão hídrica é fundamental. Se eu me referi que na Bahia 23%

do volume d’água do São Francisco vem do cerrado, a margem direita não

chega a 1% do volume d’água que a gente fornece para o Rio São Francisco,

então que é a região de Semiárido. Mas, você tem os vales férteis e, então,

particularmente o vale do São Francisco, mas tem o vale da Parnaíba, o vale

do Itapecuru no Maranhão, outros vales onde a irrigação floresce, onde a

fruticultura tem um desenvolvimento importante. A gente precisa junto a

isso, Zezéu, o desenvolvimento dessa atividade agrícola, você assegurar a

regularização fundiária para a pequena propriedade em particular, se tem

muitas áreas não firmadas e uma política de regularização fundiária me pa-

rece fundamental nesse sentido, para que você mantenha a população do

campo, porque você cria oportunidades dessa população estar no campo,

sendo oferecidas a ela as condições hoje de cidade, civilizatórias que a cida-

de oferece, e você tem desenvolvimento tecnológico para essas questões e

você desenvolver tecnologia e inovação adequadas nesse sentido.

Nós temos no Nordeste, fruto de um processo vivenciado no Brasil, as

tais “cides”, as contribuições sobre o direito econômico, sobre o direito à

exploração econômica, que destinam um percentual significativo de recur-

sos para o Nordeste e que são recursos não orçamentários, são recursos

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215RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

materiais efetivos, não acabam quando acaba o orçamento, eles perduram,

eles são reais porque são frutos de atividade econômica, e esses recursos

não são utilizados ou são precariamente utilizados. Isso, para você desen-

volver uma retomada do trabalho, você se referiu ao ensino universitário e

se falando da rede particular que eu acho importante, mas não há retomada

efetiva da rede pública, não só do ensino tecnológico, que é uma defasagem

histórica da nação brasileira como um todo, a gente não desenvolveu isso,

os cursos da área tecnológica começam em 1909 e eram dezessete cursos,

um em cada capital do estado na época, e hoje você uma expansão disso

extraordinária; quer dizer, se fez mais nos últimos dez anos do que toda a

história anterior, e isso vai aumentar mais os cursos tecnológicos e os seg-

mentos produtivos da área da indústria, do comércio, da agricultura, tem

contribuído também muito no desenvolvimento dessa área.

A gente tem na Bahia trinta escolas técnicas federais, que é uma só, mas

em três campus, hoje a situação é essa. E a questão universitária; a questão

universitária com um nível de evolução também extremamente significati-

vo. Vocês precisam conhecer a experiência que está sendo implantada na

universidade do extremo sul, do sul e extremo sul da Bahia, cujo pró-reitor

é o ex-reitor da UFBA, Naomar Almeida, onde os colégios universitários vão

estar instalados em quase a totalidade dos municípios, compreendendo a

realidade local para a sua transformação e absorvendo a juventude local

também. Porque você vivia situações extremamente diferenciadas nessa

questão. Se um curso assume uma excelência, a população vem toda de

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216 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

fora. Tem uma turma da medicina da Universidade de Santa Cruz que não

tem um único aluno da Bahia, um único, de uma turma inteira, por quê? Por-

que o curso adquiriu nível de excelência e então o pessoal veio todo de fora

para o curso.

É uma situação extrema essa, mas se você alimenta e você induz à for-

mação da juventude na sua própria cidade você vai criar oportunidades para

que isso se realize; então, é uma experiência riquíssima.

Na Bahia, que só tinha uma universidade federal com um campus em

Cruz das Almas, hoje tem a Universidade do Recôncavo, a Universidade do

Vale do São Francisco, na Bahia estando em Juazeiro, senhor do Bonfim,

Paulo Afonso, a UFBA foi para o oeste e está criando-se a Universidade do

Oeste da Bahia, a Universidade do Extremo Sul, além das quatro universi-

dades estaduais e as escolas técnicas; isso é de uma capacidade de altera-

ção dessa realidade enorme, e está ali a professora Tânia Fischer que tem

se preocupado nisso, particularmente com a questão do ensino profissional

como uma vertente fundamental, e aí o mestrado não acadêmico, mas o

mestrado profissional como eixo de intervenção fundamental e de prepara-

ção e articulação para essas políticas.

Então, se você articula a questão dos fundos setoriais com as instituições

de pesquisa e com as universidades e escolas técnicas, e você cria aí uma

externalidade fundamental para a transformação dessa realidade. As exter-

nalidades mais significativas são infraestrutura e capacitação. Se nós tiver-

mos isso efetivamente eu acho que a gente cria condições importantíssimas

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217RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

de alteração dessa realidade. E o Nordeste foi, efetivamente, contemplado

diferencialmente dessa situação. A Bahia é o penúltimo estado na relação

população x vagas universitárias federais, só ganha para São Paulo, porque

a rede universitária de São Paulo é fundamentalmente uma rede estadual,

então é a única que fica atrás, todos os outros estados têm. Então, apesar de

nós termos tido esse incremento todo, a defasagem ainda é muito grande.

Então, é preciso ter um olhar muito profundo sobre essa questão para que a

gente possa superar e ter formação para alterar profundamente essa reali-

dade, a formação como elemento fundamental para isso.

E ao nível da infraestrutura, que a Nicolle se referiu aqui a duas obras

significativas, a TRANSNORDESTINA e a dita transposição; eu prefiro não

chamar de transposição do São Francisco, eu prefiro conceituar como inte-

gração das bacias porque o volume d’água retirado do São Francisco para

fazer a dita transposição não é observável a olho nu. Você capta água no São

Francisco e você não percebe no volume d’água a alteração do que se está

ali captando. Tem perímetros irrigados, pelo menos dois, que tem captação

maior do que o dito volume da transposição; não estão em operação plena,

mas tem dimensão para isso. Mas, nesse âmbito da infraestrutura, eu tive

oportunidade também, quando fui secretário de planejamento, e tive oportu-

nidade de dirigir o CONSEPLAN, que é o Conselho Nacional de secretários

de Planejamento, e com a ajuda do companheiro Edgar Porto que está aqui

presente também, que é da SEI, nós desenvolvemos um trabalho, recuperan-

do a história de Vasco Neto, da ferrovia interoceânica, nesse trabalho nós

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218 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

conseguimos conquistar o apoio do Ministério do Planejamento, Ministério

das Relações Exteriores, nós introduzimos isso no IIRSA, porque o IIRSA é

a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana, e havia no mapa

da América do Sul um branco enorme, que era o Nordeste brasileiro. E a

gente chamou a atenção disso e dissemos vamos colocar o Nordeste tam-

bém na integração regional. Esse trabalho foi desenvolvido e agora, no início

de junho, aprovado na UNASUL, que é a suplementação, a continuidade do

IIRSA, ali em Montevidéu foi aprovado esse projeto da inserção e da cons-

trução da ferrovia que vai ligar o pacífico ao atlântico, que não é um projeto

para daqui a um ano, dois anos, cinco anos, nem dez anos, é um processo

para quinze a vinte anos, mas se a gente não começar a fazer, não vai fazer

nunca. E como é que a gente integra a FIOL nisso aí, como é que a gente

evita o grande cotovelo com Goiás e Tocantins, que não está lá como alter-

nativa; a gente discutia isso na semana passada com o Ministro dos Trans-

portes, César Borges, que corrobora também as intenções que a gente vem

desenvolvendo nesse sentido, e é preciso que as forças vivas do Nordeste se

incorporem em relação a isso, onde a gente articula a ferrovia com os portos

nesse sentido. E que a gente começou com um único eixo e que no resultado

do trabalho eles desenvolveram um segundo eixo também, que corta mais,

esse corta, o que a gente imaginou, corta pelo cerrado, Goiás, Mato Gros-

so, e eles desenvolveram outro eixo que é pela Amazônia, mais ao norte,

e que chega ao Maranhão. Então, esses dois eixos para o desenvolvimento

do Nordeste e para ligação do atlântico com o pacífico, que pode criar um

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219RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

potencial enorme na medida em que os portos tenham uma administração

também que justifique a carga nesses espaços, que a gente tenha uma ope-

ração desses portos importante.

Acho que, então, esse projeto da caatinga, como do cerrado, que a gente

vem desenvolvendo, eu gostaria de colocar como aspectos que são novos e

que vêm contribuir para os caminhos da superação da desigualdade regio-

nal, que a gente vem desenvolvendo, que a gente está buscando construir

nesses processos que foram um pouco da nossa responsabilidade em rela-

ção a isso. Mas, queria, até pelo adiantado da hora, me referir mais a umas

duas questões que me parecem também importantes nesse sentido. Um é

um dado escandaloso e que vai refletir também nessa questão da realida-

de nordestina que nós vivemos; estudo do UNICEF caracteriza que quinze

mil unidades escolares do Nordeste, quinze mil unidades escolares do Nor-

deste não tem abastecimento regular de água, quinze mil. Com seiscentos,

oitocentos milhões você leva água para todas as escolas. E isso modifica

profundamente a realidade dessas crianças, desses jovens. São fundamen-

talmente escolas municipais, no interior, que quando foram construídas tem

banheiro, mas o banheiro fica fechado; que tem a cozinha e tem a copa para

fazer a merenda, mas que geralmente estão fechadas; que leva você a ter

uma comida industrializada na merenda, com baixo aproveitamento da cul-

tura local, com transporte dessa cultura; que leva a proliferação de doenças

por carência de água em muitos sanitários higiênicos, etc. Então, eu fico

brincando, porque não dá para brincar, mas eu digo assim: “água e banda

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220 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

larga em todas as escolas do Nordeste brasileiro”. E esse tem que ser um

programa também para ser desenvolvido com esse caráter, não é possível

que a gente não possa fazer um programa para que em dois, três anos a

gente levar água para todas as escolas do Nordeste. A gente tem programa

como o Água Para Todos, tem o programa Minha Casa, Minha Vida, progra-

mas de aumento das políticas sociais de Bolsa Família, Brasil Melhor, mas

as escolas não tem água. Eu acho que isso tem que ser tratado com uma

firmeza muito grande nas questões que a gente vem a defender, como uma

questão fundamental na formação da nossa juventude, porque leva, inclusi-

ve, os hábitos de higiene para a própria família.

Eu entendo que essas questões da interiorização das políticas públicas,

esse trabalho, James, a que você se refere, o número de empregos maiores

no interior do que na capital, a locação de indústrias no interior, a gente

tem que ter os cuidados para o enfrentamento disso para que não seja cí-

clico, que venha, se instale, tenha benefícios, quando eles acabem não fique

nada, mas que a gente possa efetivamente desenvolver essas questões. Que

a gente trabalhe na questão do reconhecimento e entender os biomas como

elementos fundamentais para o nosso desenvolvimento. E aí, a questão do

zoneamento econômico ecológico, que é uma defasagem também histórica

no nosso Brasil como um todo, a gente tem se preocupado aqui na Bahia

nesse sentido, desde o seu tempo Avena, mas a gente não conseguiu até

hoje materializar, a gente fez também um esforço grande nesse sentido, a

gente trabalhar para que se potencialize isso. E a questão da formação, eu

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221RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

acho que também é uma questão fundamental para essa abordagem. A gen-

te entendendo isso, quer dizer, que muitas das questões que modificaram

essa realidade advêm de políticas nacionais e que tiveram reflexo maior no

Nordeste porque você tinha um potencial aqui maior para isso. Quer dizer, a

miséria do Nordeste permitiu que o aumento real do salário mínimo tivesse

uma influência maior no Nordeste do que em outras regiões, onde você já

tinha um salário mínimo muito mais incorporado no processo produtivo do

que na região Nordeste. O Bolsa Família, mais da metade do Bolsa Família

está na região Nordeste e isso levou a um incremento de atividade econô-

mica muito grande, os pequenos serviços urbanos e etc. que passaram a

ter mercado para esse tipo de questão. E tem as coisas que as estatísticas

não mostram, mas na maioria das cidades do interior, hoje você visitando

as cidades do interior, as cidades do interior hoje têm vitrine, que antes não

tinham; você chegava na cidade do interior e tinha um balaio lá com as con-

fecções dentro, de noite fechava a porta e o centro ali ficava morto. E hoje

não, a pequena cidade tem a vitrine de vidro com o modelo e a estatística

não mostra isto, mas é um fato concreto e que é uma demonstração efetiva

da elevação do padrão de consumo dessa população.

Eu queria me referir aqui para concluir, eu vou usar aqui para pedir des-

culpas, mas eu não suporto ir para um debate desses participar, falar, levan-

tar e ir embora, eu acho isso de uma indelicadeza enorme. Eu estava em São

Paulo, cheguei em casa para dormir hoje às três e meia da manhã, vim para

cá e vou pegar o avião para voltar a São Paulo porque eu tenho uma consul-

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222 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

ta médica, que se eu não fizesse agora só faria daqui a dois meses e vocês

sabem como é essas questões de horário com os médicos famosos do nosso

país. E eu tinha ido em função disso, ia ser na sexta, mudaram para segunda,

então eu fiquei e não podia deixar de estar aqui.

E quero, por fim, abordar uma questão que também me cabe como res-

ponsabilidade hoje, que é a discussão das metrópoles no Brasil. E isso tem

uma influência grande aqui no Nordeste. Nós temos três das maiores metró-

poles do nosso país, com características extremamente diferenciadas uma

da outra, Salvador, Recife e Fortaleza. Você veja que Salvador é a única das

grandes metrópoles brasileiras que não tem outra cidade no seu contexto

metropolitano que tenha segundo turno nas eleições. Todas as outras têm.

Belém do Pará, Fortaleza, Recife, todas as grandes das nove maiores me-

trópoles, todas elas têm. Pernambuco tem três cidades na sua região me-

tropolitana que tem segundo turno, Jaboatão dos Guararapes, Olinda e uma

terceira, Goiana eu acho, que tem segundo turno. E aqui não, porque nós

temos mais de 80% da população metropolitana. Então, quer dizer, as dife-

renciações são muito grandes nesse sentido. Eu conversava com o Manoel

Castro, antes de começar essa reunião, a gente tem uma região metropo-

litana que tem municípios com padrões de índice de desenvolvimento de

Semiárido. A Ilha de Itaparica e todos os dois municípios da Ilha de Itaparica.

E nós estamos organizando uma estrutura nacional, uma política nacional

de regiões metropolitanas e que vai ter um impacto grande, e que eu es-

tou buscando trabalhar conceitos novos nesse sentido. Primeiro, um que é a

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223RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

vontade de todo mundo ser região metropolitana. Então, Santa Catarina tem

onze regiões metropolitanas e a Paraíba também. São Paulo só tem quatro.

São Paulo tem quatro regiões metropolitanas que formam quase que um

território só, porque é São Paulo, Santos, Baixada Santista, Campinas e ago-

ra São José dos Campos, aí no Vale do Paraíba. Então, há uma continuidade

territorial entre essas quatro regiões metropolitanas. Mas, Roraima tem três

regiões metropolitanas, uma que não chega a cem mil habitantes e conside-

ra região metropolitana. Então, como é que você faz uma política regional

de regiões metropolitanas? Não pode, mas a atribuição é estadual hoje das

regiões metropolitanas. Enfim, então na Bahia foi criada uma região metro-

politana de Feira de Santana, que não é uma região metropolitana, o que não

impede que Feira de Santana seja uma metrópole, como Vitória da Conquista

é uma metrópole, mas não é região metropolitana.

Então, não se constitui um conjunto de municípios que tenha uma identi-

dade, que tenha uma característica que necessite de serviços coletivos no

âmbito do seu território. E como é nós vamos trabalhar isso? Numa rede de

cidades onde você rompa barreiras. Eu acho que a gente conseguiu evoluir

o nível das políticas públicas com a política dos territórios, com base nos

ensinamentos de Nilton Santos, mas numa abordagem que teve todo o traço

original rural, mas que já evoluiu um bocado nesse sentido da compreensão

disso, com a rede de cidades que tende a observar essa pluralidade tam-

bém das cidades do Brasil como um todo, este que é um contingente enor-

me. Por exemplo, a questão da transposição, a dita transposição do Rio São

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224 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Francisco; me bati muito na discussão sobre isso, e me foi assegurado por

diversas vezes que a transposição do São Francisco tem por finalidade o

abastecimento de água para consumo humano das grandes cidades, que

não têm hoje porque os momentos de estiagem, que não era para irrigação,

é para dessedentação animal e para consumo humano. Porque se fosse fei-

ta a transposição para irrigação a gente tem os nossos vales não ocupados

e por um custo muito menor nós estaríamos produzindo alimentos. Então,

não tem justificativa você fazer a transposição para irrigar noutras áreas

nesse sentido; a não ser, uma situação extrema de irrigação de salvação ou

esse tipo de coisa, mas não um mecanismo permanente de irrigação. Então,

aí se justifica porque tem que prevalecer o uso da água para a vida, para o

abastecimento humano. Agora, isso até hoje eu não tenho muita segurança

em relação à esta questão, mas eu acho que é uma questão que a gente tem

que aprofundar também nessa discussão, trazer quais são os limites dessa

situação e para ver como é que é.

A gente tem uma política que é a política dos vales férteis, onde você tem

uma irrigação por um preço compatível com a sua produção e uma irrigação

de uma utilização do Semiárido com um outro tipo de ocupação, que não

gera necessariamente a questão da irrigação; porque a irrigação não é para

o Semiárido, a solução para o Semiárido não é irrigação, a solução de irri-

gação é para os vales férteis, para os vales úmidos, e a gente sabe trabalhar

isso com alternativas outras de utilização do nosso Semiárido. Por exemplo,

mudar o perfil do nosso rebanho, de bovino para caprino, ovinocultura. É

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225RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

uma questão que me parece necessária, que não vai se fazer por decreto,

vai se fazer por conhecimento, com tecnologia, etc.

São as frutas do Semiárido e tem algumas com nível de produção já signi-

ficativo, uma histórica que é o caju e a castanha do caju, e outra que vem se

desenvolvendo numa incidência muito grande que é o umbu, e que há tecno-

logia hoje para umbu, com características importantes para ele. Então, são

assim exemplos de que o trabalho que a EMBRAPA vem fazendo acho que é

extraordinário nesse sentido, isso tem que ser incentivado para que a gente

possa transformar, há de contribuir também na formação dessa realidade.

Eu quero, por fim, dizer que a gente não pode ter uma visão do Nordeste

como coitadinho. Nós somos historicamente prejudicados, nós temos uma

realidade mal compreendida, mas nós temos os elementos e as lideranças

necessárias para fazer essa transformação, para envolver os demais seg-

mentos não presentes, a Nicolle começou também aqui se referindo a Jorge

Amado, mas na composição desse fórum acho que faltaram os trabalha-

dores. Quer dizer, nós temos historicamente um papel importantíssimo da

AFETALHI na construção de uma política para o Nordeste, da SUDENE, do

Celso Furtado, dessa coisa toda, das iniciativas tomadas no sentido de fazer,

naquela época, uma reforma agrária que não deu-se esse nome, mas que

era a ocupação das áreas de fluência das represas, começou-se assim, e pra

gente desenvolver então essa participação é importante.

Hoje temos os trabalhadores, particularmente os trabalhadores rurais, e

a gente não tinha trabalhador urbano com essa incidência que a gente tem

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226 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

hoje, mas que a gente precisa, então a participação da CUT hoje e de outros

organismos de representação dos trabalhadores seria importante, como a

gente teve também historicamente a participação da igreja, da compreensão

desse processo, e que hoje não é mais a igreja como a gente se referia na

década de 50 e de 60, mas hoje são as igrejas que têm uma influência deter-

minante na vida cotidiana das pessoas. Então, eu quero agradecer a oportu-

nidade de ter participado aqui com vocês, pedir desculpas de não poder ficar

no debate porque vou ter que me deslocar para São Paulo, no mais quero con-

tinuar acompanhando esse debate, estarei lá em agosto na região da banca-

da, mas em outros momentos que a gente possa contribuir nesse processo.

Armando Avena: Eu queria agradecer ao deputado Zezéu, foi muito boa a

sua colaboração e antes de você se retirar e já começando a nossa roda-

da de discussão, eu tenho aqui a solicitação do presidente da Federação da

Agricultura do Estado da Bahia que sofreu muito com esse problema da

seca agora e gostaria de fazer alguns comentários sobre suas colocações.

João Martins: Eu quando fui procurado pelo Prado, Prado é o vice-presi-

dente da Federação das Indústrias do Ceará, ele é da CNA, o presidente da

Comissão de Fruticultura, e fruticultor aqui na Bahia, e no dia eu estava com

o presidente da CNA, ele me procurou para eu expor esse projeto, eu disse

a ele que na mesma hora a CNA apoiava esse projeto, mas eu fiz algumas

reflexões para ele; uma, foi que nós tínhamos um Nordeste, em primeiro lu-

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227RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

gar, fazer uma reflexão sobre nosso procedimento, viu deputado, isso é o

que eu acho importante, nós temos que afinar a orquestra no Nordeste, dos

nossos governadores, deputados, senadores. Você disse que a bancada do

Nordeste é a única bancada unida, a única que trabalha e que se organiza,

é a única bancada organizada, já tive oportunidade de ir ao café da manhã

dessa bancada, nós já discutimos até o problema do endividamento, você

até me convidou para que eu fosse lá para a gente resolver o problema do

endividamento, mas o que é que ocorre realmente com os políticos, governa-

dores, senadores e os deputados do Nordeste?

A discussão é em paz enquanto não existe interesse conflitante entre os

estados, na hora em que o interesse é conflitante, ai cada estado procura

ver o que é melhor pra ele e, mais que isso, nós temos, deputado, se não me

engano, a maior bancada, que é a bancada nordestina. O secretário James

disse que o que nos precisávamos era sermos mais agressivos, porque se

nós continuarmos com a mesma sintonia de políticas públicas nacionais

com alocação de recursos, nós levaríamos muitos e muitos anos para con-

seguirmos chegar a um estágio que tem as outras regiões.

Então, eu acho que nossa bancada tinha de ser, por causa disso, mais

agressiva, nossa bancada teria dito muitas vezes utilizar até chantagem,

chantagem no bom exemplo da palavra, para poder fazer com que... é assim

que São Paulo faz, o interesse dele está acima de tudo e de todos, não é só

político não, é até no sistema CNA, eu tenho certeza aqui no sistema FNI, e

assim sucessivamente.

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228 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Mas, secretário, eu ouvi principalmente do secretário que houve uma in-

teriorização dos investimentos aqui no estado, mas nós temos quase três

milhões de pessoas que vivem no Semiárido baiano, nós temos aqui entre o

Semiárido e as cidades que não tem industrialização, têm pouca industria-

lização, quase nenhuma, alguma coisa próxima a cinco milhões de pessoas.

Então, como é que nós podemos pregar a que o Brasil tenha de aceitar que o

desenvolvimento tem de ser igual para todo o Brasil, se nos nossos próprios

estados nós não fazemos o dever de casa, se os próprios governadores não

fazem o dever de casa; eu não estou falando do governador Jaques Wagner.

Eu outro dia fiz um artigo no jornal que até na sexta-feira o governador

chamou a mim, Amaral e mais uns oito, nove empresários, eu disse a ele,-

governador eu não quis dizer que você não fez nada pelo Semiárido, eu quis

dizer que o problema Semiárido era tão grave e tão necessitado que o que

você fez foi pouco para a necessidade que nós queríamos. E vou mais além,

apresentamos ao governador, eu e mais vinte e quatro entidades de classe,

uma proposta de um programa de estado; é como você bem disse, o proble-

ma do Semiárido não tem que ser resolvido num governo, tem que ser um

programa de estado, um programa de médio e longo prazo.

Nesse programa nós enfocamos desde os recursos hídricos até os edu-

cacionais, e todas as necessidades do Nordeste.

Agora, precisa entender que nós estamos em um país heterogêneo, onde

eu digo todo dia que a Bahia é igual o Brasil, até o desenho da Bahia é igual

o do Brasil, onde nós temos, como você disse, um oeste rico com grande

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229RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

probabilidade, nós temos o extremo sul, como você disse, o extremo sul, lá

todas as cidades têm universidades, o extremo sul é rico, no meu modo de

entender, eu como entendo um pouco de agropecuária, a região mais rica

da Bahia não é o oeste da Bahia, é o extremo sul porque tem uma grande

diversidade, está exposta em uma região que não tem problema de seca,

não está em monocultura,nem em duas ou três culturas, tem uma diver-

sidade de cultura, de atividade econômica, turística, então a maior região

da Bahia, a região mais rica da Bahia é o extremo sul. Então, finalizando

eu quero dizer que o norte todo, seja a classe empresarial, seja o trabalha-

dor, também concordo com você, nós fizemos um programa,Viver Bem no

Semiárido, que a primeira pessoa que eu convidei foi a FETAG porque eu

acho que o trabalhador é parte nossa nas soluções agropecuárias, então

produtor, empresário, governo, todo mundo tem que sentar junto pra poder

tirar o Nordeste dessa situação e isso tem que ser, não é só dizer que eu vou

pactuar com você e seu programa de governo ou de sua proposta dentro

da câmara, é nós dialogarmos, precisamos dialogar para poder fazer que

esse país entenda que só vai ter desenvolvimento se o Nordeste sair desse

estado calamitoso que está.

E a Bahia, apesar desse progresso que estou vendo aqui e que acompa-

nho, nós só vamos ser um grande estado quando nós tivermos um estado

igual. Você disse que quis fazer, eu estou vendo aqui, um investimento de

doze bilhões em novos recursos na mineração, vinte e um bilhões até dois

mil e dezesseis.

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230 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

O prejuízo da agropecuária, juntando dois mil e doze com dois mil e treze,

chega perto de dez bilhões de reais. Então, nós estamos também precisan-

do, principalmente a Bahia, porque o Nordeste, a Bahia não é Nordeste, a

Bahia não é só Nordeste, a Bahia tem trinta biomas, tem trinta Semiáridos,

na Bahia nós temos regiões que a probabilidade de não chover é de 80%, che-

ga até a probabilidade de 40, no Ceará a probabilidade de ter seca é superior

a 80%.

A transposição do São Francisco, abril do ano passado eu procurei o se-

cretário da Agricultura para que a gente comentasse a transposição do Rio

São Francisco do eixo sul, o secretário me disse que nós tínhamos uma gran-

de quantidade de rio, nós temos uma grande quantidade do meio da Bahia

pra baixo, do meio da Bahia pra cima nós não temos água.

Essa transposição do eixo sul foi um pedido meu perante o fórum de todos

os presentes, de todas as entidades de classe ao governador Jaques Wagner,

que tinha vindo de Brasília para uma reunião onde estava Ministério da In-

tegração, ANA,estava todo mundo lá; simplesmente me disseram, a Bahia

não fez o dever de casa, mas não foi o governador Jaques Wagner,foram

os governadores, quando deviam ter reivindicado há tanto tempo também a

transposição na época, não reivindicaram.

Eu não estou querendo criticar ninguém e não estou querendo defender

ninguém, eu acho que a hora agora é juntar força para que a gente tire o

Nordeste dessa situação vexatória, calamitosa, que está trazendo tantos

traumas para nós nordestinos e para o Brasil como um todo. Obrigado!

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231RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Zezéu Ribeiro: Eu só queria dizer o seguinte, aqui agora meu comentário em

relação às questões que o João levanta, a gente tem que trabalhar no sentido

de estabelecer cooperação, se a gente vai para uma concorrência interna,

nós não estamos roubados. Nós vimos agora o exemplo do Rio de Janeiro

em relação à questão dos ônibus, do Petróleo; quer dizer, uma política ex-

clusivista que é ruim para o Rio de Janeiro, tanta concentração de riqueza

da forma como se dá é ruim para o próprio Rio de Janeiro. Vide a cidade de

Campos, a miséria que lá persiste e se instala, e cria uma atração e você vê

um nicho de riqueza com a miséria do lado.

O Rio de Janeiro, não é ter praia, é fruto de ter sido capital do império, ca-

pital da república durante tantos anos e concentrar uma população de servi-

dores e particularmente das forças armadas, detém hoje 12% do orçamento

da saúde nacional, 12% do orçamento da saúde vai para o Rio de Janeiro e

tem uma das piores saúdes do Brasil. Então,quer dizer, isso é escandaloso,

não tem pacto federativo de uma coisa dessas, é preciso brigar muito, aí de

vez em quando a gente consegue uma coisinha assim e então é um regozijo

enorme. Para fazer mais duas superintendências da Caixa Econômica Fede-

ral na Bahia foi uma luta danada pelo presidente ser da caixa. Santa Cata-

rina tem cinco, Rio grande do Sul tem seis, a Bahia tinha duas, então essas

coisas das diferenciações são enormes.

João Martins: Veja bem, acabar com essa política fratricida de dizer que

tem agricultura familiar, mini, micro, média e grande. Deputado me permita,

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232 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

o médio agricultor do Paraná não pode ser comparado com o médio agricul-

tor do Semiárido. Eu dei ao governador na sexta-feira para ele fazer um tra-

tamento igual, eu não quero grande não, deputado, eu quero é que o mini e o

micro sejam, da mesma maneira que é a agricultura familiar, que o governo

do estado também dê amparo a esse mini e micro.

Armando Avena: João, eu queria fazer uma proposta aqui rapidinho, que

é o seguinte: tentando buscar uma proposta que une todos os estados do

Nordeste e que onde todas as correntes, e sabendo que as propostas que

saiam desse seminário vão ser encaminhadas, como já foram por iniciativa

da dra. Nicolle. Nós tivemos uma reunião semana passada na Comissão de

Desenvolvimento do Senado Federal e agora, como Nicolle colocou, nós va-

mos levar essas propostas para a Câmara, eu queria passar a palavra para

que coloque a sua ideia de uma proposta de transferência de recursos mais

ampla ao ex-deputado Constituinte Joaci Góes, que colocou na constituição

uma proposta que seria muito interessante para essa questão do Nordeste

e que se ele pudesse falar rapidamente, em cinco minutos ou um pouquinho

mais, sobre essa proposta que está em vigor, mas é letra morta na Consti-

tuição Nacional.

Joaci Góes: Eu saúdo a mesa na pessoa do presidente Amaral, na pessoa

do meu amigo escritor, professor e membro da Academia de Letras, Arman-

do Avena, para dizer que todos os pronunciamentos que aqui ouvi são muito

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233RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

adequados, da dra. Nicolle, do secretário James Correia, através de quem

parabenizo o governo do estado pelo trabalho muito consistente de realizar

obras estruturantes no plano do desenvolvimento industrial da Bahia e, não

poderia deixar de fazê-lo relativamente ao Emanuel Castro e Firmo de Cas-

tro, que não são parentes, mas ambos foram meus colegas na Assembleia

Nacional Constituinte.

Quando eu fui eleito para a Assembleia Nacional Constituinte, eu fiquei

obcecado com a preocupação de levar uma contribuição que fosse marcan-

te e, em busca de informações, eu li naquele instante o livro recentemente

publicado de Rômulo Almeida, Nordeste em Desenvolvimento e Industriali-

zação, e ali ele discorreu mostrando que o empobrecimento do Nordeste e

relativamente às regiões mais desenvolvidas do país, se deu à proporção que

a destinação orçamentária da união para o Nordeste brasileiro se desgarra-

va do significado da composição do contributo da população do Nordeste na

formação da população brasileira, de tal sorte que naquele momento, hoje

caiu pra vinte e oito por cento,conquanto a população do Nordeste brasileiro

representasse cerca de um terço da população brasileira, apenas onze por

cento dos recursos orçamentários eram destinados ao Nordeste.

Eu, então, dominado por esse espírito de disposição fui para uma reunião

da bancada e apresentei a proposta; a proposta encantou a todos que de

imediato solicitaram uma audiência com o presidente da república e lá fo-

mos cerca de cento e vinte parlamentares aproximadamente, ficamos todos

em pé formados em L, e quando eu encaminhei a pedido da bancada nordes-

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234 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

tina essa proposta ao Sarney, pedindo-lhe apoio, ele ao responder disse que

como deputado federal, como senador república, como o governador do Ma-

ranhão e agora como presidente da república, ele reconhecia que esse era o

único e exclusivo caminho que poderia permitir ao Nordeste se libertar das

contingências de votações ocasionais para equacionar a sua problemática.

Mas, então, surgiu o problema do coro; nós tínhamos as populações do

Nordeste, Norte e do Oeste, duzentos e noventa e dois votos, bastariam ape-

nas duzentos e oitenta.

Conversamos com todos, fui ao encontro de Mário Covas a quem eu via já

como um potencial candidato a presidência da república, dizendo a ele que

o desenvolvimento do Nordeste interessava, sobretudo, aos centros mais de-

senvolvidos do país, como que ele concordou, ficou de dar o apoio que deu,

mas pediu em troca que nós déssemos a São Paulo dez deputados a mais, já

que como todos sabem mesmo hoje com setenta deputados o eleitor de São

Paulo é o menos valorizado do Brasil, em comparação com os parlamenta-

res de pequenos estados como Amapá, Roraima, Rondônia, Acre e etc.

Isso foi fixado, fomos ao Bernardo Cabral, chamou imediatamente o José

Dutra, que era coordenador da bancada do Norte, e ele disse:“olha, eu quero

a preservação da zona franca de Manaus porque o pessoal de São Paulo está

querendo torpedear. Negociamos imediatamente e fomos para a votação.

No dia desse dispositivo, eu fiquei muito preocupado porque você nunca

poderia saber a priori, com certeza, se um determinado dispositivo seria vota-

do; era pelo ritmo e pelo sabor da onda dos compromissos dos parlamentares.

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235RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Na hora em que entrou em votação, eu vi que estavam presentes apenas

trezentos e vinte e sete parlamentares, mas a articulação foi tão boa que eu

encaminhei a favor e meu querido amigo José Serra, em quem eu votei para

presidente da República,portanto nada contra ele,encaminhou contra, não

que ele fosse contra o Nordeste, ele achava que o orçamento da união não

poderia ficar prisioneiro de excessivos compromissos, porque isso impediria

a flexibilidade que um presidente precisa ter, o ministro de fazenda, para

bem gerir a economia. Mas, eu me recordo que eu bati forte no Serra no mo-

mento da votação e eu, de maneira muito hiperbólica, disse que se o brilhan-

te deputado José Serra viver cem anos ainda não viverá tempo suficiente

para resgatar esse crime que está cometendo contra o Nordeste brasileiro.

O fato é quando se abre as urnas, tivemos trezentos e dezessete votos dos

trezentos e vinte e sete e o dispositivo, senhores, foi aprovado.

Essa discussão toda que está sendo feita, para mim me deixa sem saber

se eu de fato estou alucinado ou o que é que esta acontecendo, porque logo

no ano seguinte à Constituinte, quando o senador José Richa foi designado

o relator, já que cabia ao senado naquele instante a relatoria do orçamento,

ele me chamou e, então, combinamos o que fazer, que percentual colocar, já

que nós só tínhamos onze por cento e a população do Nordeste era de mais

de trinta por cento.

Nós negociamos também a colocação na constituição, nas medidas tran-

sitórias,um dispositivo, o disposto no artigo cento e sessenta e cinco, voltare-

mos a ele, parágrafo sétimo será cumprido o artigo sessenta e cinto, parágra-

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236 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

fo sétimo, que foi objeto dessa luta colossal, diz que o orçamento da união tem

que respeitar critérios demográficos para reduzir desigualdades interregio-

nais. Então, o artigo 35 das disposições transitórias, porque se entendia que

o nordeste brasileiro não tinha uma carteira de projetos capazes de atender

uma mudança brusca dessas, então nós admitimos o cumprimento gradual e

colocamos assim: o dispositivo disposto no artigo cento e sessenta e cinco,

parágrafo sétimo, será cumprido de forma progressiva no prazo de até dez

anos, portanto em noventa e oito já se extinguiu, distribuindo-se os recursos

entre as regiões macro econômicos em razão proporcional à população, a par-

tir da situação verificada um biênio oitenta e seis, oitenta e sete que dava es-

ses trinta e três por cento. Quando você vai ao artigo cento e sessenta e cinco

da constituição, ele faz uma remissão ao parágrafo quinto, itens um e dois,

dizendo quais são os recursos da união, como das forças armadas, como do

custeio do governo federal em Brasília, que estaria uma margem. Então, colo-

camos doze a treze por cento para o orçamento de noventa; para o orçamento

noventa e um quase que bate em quinze por cento. Eu saí e o assunto não se

falou mais. Quando eu, em noventa e quatro, resolvi com um grupo meu de

contabilistas e etc. fazer um trabalho gigantesco para verificar e constatei

que ficou letra morta. Fiz o contato mais de uma vez com o Tasso Jereissati e

disse: Tasso lidera esse movimento. Como nosso colega Cássio Cunha Lima,

com a Vânia, até com o João Alves eu falei aqui, até com Miguel Arraes; as

pessoas optavam pelo discurso. É impressionante! O Franco Montoro, quando

veio aqui à Bahia me prestigiar pela minha posse da presidência local do estú-

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237RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

dio de Antonino Vilela, que conhecia esse dispositivo, disse: “mas, o que é que

vocês querem mais, o que é que o Nordeste quer mais?”. Há coisa de um mês

e meio, a Associação Comercial da Bahia fez um encontro, convidou os trinta

e noves deputados federais com cartas personalizadas e os três senadores;

só compareceu Antônio Imbassahy, meu amigo querido e fraternal, a quem eu

respeito muitíssimo.

Zezéu Ribeiro, e até quando ele chegava aqui ele dizia:“poxa, você está

batendo forte”.Não, não vou bater com glamour, mas na realidade se consti-

tui um mistério, é um mistério, porque um parlamentar pode entrar com um

veto constitucional ao orçamento.

Ora, se ainda temos, como ainda temos talvez, não na mesma propor-

ção,naquele momento nos tínhamos mais da metade dos brasileiros que

ganhavam abaixo de um salário mínimo, quase metade das sub-habitações

do país, mais da metade dos tuberculosos, dos morféticos, dos chagásicos,

mais da metade dos analfabetos do país no Nordeste brasileiro, uma chaga

social, brutal, enorme, como não fazer cumprir esse dispositivo constitucio-

nal tão claramente escrito. A impressão que nos dá é que as pessoas quando

leem a constituição passam por cima desse artigo, só pode ser isso. Portan-

to, esse movimento Integra Brasil, que eu acho que pode ser o grande fator

de pressão no sentido de que finalmente a união, ao fazer o seu orçamento,

ele cumpra esse dispositivo constitucional.

Complementando, nós fizemos um evento comercial por inspiração dele

e convidamos essa bancada inteira, ninguém apareceu, a não ser Antônio

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238 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Imbassahy, mas em relação à Zezéu, ele justificou a ausência porque ele

estava operado em São Paulo.

Por outro lado, nós também fizemos, como uma forma complementar, um

estudo jurídico dessa questão e o próprio supremo tribunal federal em ma-

téria análoga já decidiu a respeito, chama-se ação de cumprimento de obri-

gação relevante, onde o supremo obrigou ao governo federal a cumprir um

dispositivo constitucional que o governo federal alegava que não tinha re-

cursos, e que o supremo dizia que constituição é pra ser cumprida, não é pra

alegar que não tem recurso, se vire, tem que cumprir a constituição. E nesse

caso da emenda de Joaci, não se trata de querer recurso novo, o que se trata

é que se reparta o recurso conforme a constituição, só isso. Nós temos não

só condições políticas de fazer, mas condições jurídicas de implementar de

forma coercitiva esse dispositivo. Agora, é preciso também que o empresa-

riado nordestino de alguma forma substitua essas nossas bancadas, porque

realmente é uma coisa bastante desanimadora; quer dizer, como é que uma

bancada como a Bahia da Câmara e do Senado ninguém aparece, aparece

um deputado e ninguém dá satisfação, a não ser Zézeu Ribeiro que estava

operado em São Paulo, quer dizer, é realmente um trabalho hercúleo que

nós temos que fazer em substituição aos deputados, mas é realmente ne-

cessário.

Armando Avena: Dando continuidade ao debate, temos três questiona-

mentos.

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239RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Wilson Andrade: Eu vou ser bem breve e acho que nós estamos caminhando

para uma boa solução,com uma boa sugestão aqui desse trabalho de muita

importância que é o Integra, que o Ceará está liderando. Eu fui presidente da

Associação Comercial, de oitenta e dois a oitenta e cinco, e repetimos um con-

to já feito, que chamava ENOR,Encontro do Nordeste, com as mesmas bases

e os mesmos propósitos. E esse encontro, eu tive relendo no fim de semana os

resultados disso e não são diferentes das preocupações e das sugestões que

aqui estão. Eu li também, esse fim de semana, o livro novo de Rômulo Almeida,

editado pela FIEB, pelos seus cem anos que completa no ano que vem, e não

diz nada diferente daquilo que está nos estudos de oitenta e dois. Eu tenho

certeza que o trabalho de Avena e nos seus computadores, estão lá várias

propostas nesse sentido. Mas, vejo que é importante que a gente tome uma

posição um pouco mais radical e um pouco mais objetiva, porque mais proje-

tos, mais análises, eles precisam sim ser feitos quando nós conseguirmos a

definição de investimento no Nordeste; e não vejo, senhores, outro caminho

se não focar exatamente nessa obrigação constitucional que o Joaci levou

ao congresso no passado e que agora foi bem colocado aqui. Vamos primeiro

buscar os recursos, para depois então delimitarmos os projetos.

Se ficarmos mandando mais ideias, copiando projetos ou mesmo atuali-

zando-os, nós não teremos tantos resultados.

Na minha opinião, nós devemos então concentrar um único ponto e traba-

lhar forte sobre ele, cobrando do setor político brasileiro as decisões que são

necessárias, pelo menos de cumprimento da constituição. Muito Obrigado!

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240 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Firmo de Castro: Eu desejaria prestar uma informação acerca desse im-

portante assunto que o nosso amigo Joaci Góes levantou,fundamental so-

bre todos os aspectos. Antes mesmo, eu gostaria de testemunhar aqui o

que ele já falou,da sua brilhante atuação e do seu bem sucedido esforço

em garantir com que a nossa bancada regional do Nordeste obtivesse no

contexto da assembleia a inclusão da constituição desse dispositivo 165,

com a complementação do ato das disposições transitórias, como de vá-

rios outros itens importantes, o artigo quarenta e três, o artigo cento e

oitenta e dois, etc.

Eu queria dizer que o Integra Brasil, dentro da sua composição e even-

tos, de acordo com sua metodologia, ele pretende não ser simplesmente um

movimento ou um fórum que produza um documento técnico, isso é funda-

mental que a gente possa ter um produto de baixo do braço que nos colo-

que em condições de encarar qualquer fórum, qualquer instância, qualquer

organismo na defesa dos interesses regionais. Nesse sentido nós estamos

procurando buscar em todos os fóruns e locais contribuições modernas e

atuais sobre a questão regional.

Não é sem razão que nós estamos aqui, estaremos em Pernambuco na

outra semana, vamos estar no Rio de Janeiro num evento inédito, reunindo

o que seria a visão crítica externa ao Nordeste, não só de empresários como

da academia, como dos organismos internacionais, sobre como se poderia

olhar o Nordeste moderno, um novo contexto nacional como no contexto

mundial, e sim, que a gente produza um documento tecnicamente perfeito,

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241RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

se é possível chegarmos a essa expressão, mas o que seria atualmente o

melhor produto a ser feito a partir de todas as contribuições.

Estamos aqui com Avena e todo o grupo que vai colaborar, estamos em

Pernambuco com a Tânia e com toda a sua equipe, estamos com Nilson Ho-

landa, Jaime Amaral, Ricardo Ismael da PUC, Fernando Rezende, Luciano

Coutinho, todo um grupo que vai nos dar sustentação do ponto de vista aca-

dêmico.

Agora, não paramos aí, é onde eu quero chegar; o projeto, ao lado de

sua concepção técnica, vai ter um desdobramento de ordem político-ope-

racional, propondo emendas constitucionais, projetos de lei complementar,

programas, projetos, etc. Dentro dessa linha, no primeiro Workshop que nós

fizemos em Fortaleza, tivemos a preocupação de examinar a questão regio-

nal sobre o ponto de vista político ou institucional; ou seja, em não sendo o

Nordeste uma área formal que detém poder político, como é que essa região

pode se expressar, levar adiante os seus interesses? Certamente que dentro

da federação brasileira, na medida em que ela conseguir delegação de po-

der político federal e na medida em que possa aglutinar poder político dos

organismos estaduais e municipais, considerando que só a união, estados e

municípios detém poder político formal.

Então, é uma forma de se chegar lá, e nesse Workshop nos trouxemos

grandes constitucionalistas brasileiros, nós tivemos a colaboração de pro-

fessor emérito do campo da organização federativa, tivemos uma exposição

específica que entre outras questões teve a missão de nos responder: o que

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242 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

contém a constituição hoje que não tenha eficácia, o que é que ela contém

no sentido de disciplinar, de resguardar e apoiar a redução da desigualdade.

Isso lei do artigo quinto, que estabelece o princípio, a sessão quarenta e três

que estabelece ações diferenciadas em favor da redução, até o cento e ses-

senta e cinco ao que se referiu o nosso Joaci.

E lá, já foi nessa discussão estabelecido qual é a forma que se tem para

atuar para poder fazer com que esse dispositivo possa eventualmente ter

eficácia, os mecanismos jurídicos e políticos que nós vamos ter que lançar

mão. Então, eu quero dizer ao Joaci, se nesses vinte e cinco anos que nós va-

mos fazer de constituição nova, nós não conseguimos efetivamente aplicar

esse dispositivo como outros, a ideia é que ao final do Integra Brasil a gente

tenha o produto com desdobramentos, que inclusive leve a posições concre-

tas, objetivas, com respaldo jurídico, com conteúdo jurídico e político, para

que esse dispositivo possa vir ser cobrado.

É uma forma de trazer para dentro das nossas soluções do Integra Brasil

essa preocupação dele, que é também nossa, sobretudo aqueles que tiveram

um trabalho imenso, intenso na Constituinte, que produziram na verdade

toda uma ordem jurídica constitucional em favor da questão regional e que

a gente vê infelizmente o mundo real superar um mundo que a constituição

disciplinou.

Armando Avena: Eu vou passar a palavra ao secretario James, mas antes

eu queria dizer uma coisa rapidamente, que é o seguinte: nessa parte da ma-

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243RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

nhã estamos discutindo essa visão mais ampla, à tarde nós iremos colocar

uma visão mais técnica, com as palestras mostrando que o Nordeste tem

crescido, que o Nordeste não é um coitadinho como se falou aqui, nós vamos

mostrar que não é essa visão que a gente quer colocar, mas que apesar de

ter crescido os índices per capita ainda mostram que o Nordeste continua

muito atrasado.

Esse é o centro da visão que o Integra Brasil teve agora; crescemos, mas

não crescemos o suficiente ainda para reduzir as desigualdades regionais.

E é isso que a gente pretende avançar nesse sentido.

Mas, eu vou passar a palavra para o nosso secretário para suas conside-

rações e depois a gente continua o debate.

James Correia: Só para me despedir aqui. Eu tomei conhecimento, Joaci,

dessa possibilidade de ter visto a constituição agora, então você vê que eu

sempre acompanhei, mas não de perto, trabalhei com o meu amigo Imbas-

sahy, mas a visão,não tinha a visão que na Constituinte tinha sido debatido a

questão nesse nível, então eu fico muito satisfeito que isso tenha acontecido.

Fico muito triste porque passado tantos anos, não foi por um seminário

que os deputados não apareceram e o processo deixou de ser implementa-

do, são vinte e cinco anos.

Eu acho que bastaria talvez um deputado, uma associação para estar no

STF, qualquer entidade pode entrar no STF, com algumas características, se

for uma associação, se for AB.

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244 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Ficamos esses anos todos, mas não sei talvez pela dificuldade política

de se fazer, quantos anos levaria isso sendo discutido, também é uma coisa

imprevisível, quando tempo isso seria debatido, mas acho que esse assunto

já poderia ter sido provocado. Eu não acredito que nós vamos resolver isso

através de negociação, não existe negociação com São Paulo. Se não estão

acompanhando de perto a questão da discussão da reforma fiscal, não exis-

te possibilidade de negociar nada, São Paulo quer tudo.

Se nós não tivéssemos a guerra fiscal, nós poderíamos ter no nosso cai-

xa dos governos do nordeste todo mês vinte por cento a mais de receita. Eu

para disputar com Pernambuco e Ceará, eu dou isenção de até noventa e

nove por cento do ICMS a ser pago. É porque as empresas vêm com essa

estratégia da chantagem, nesse tipo de postura, que alguns estados dão

até mais, trabalham com crédito presumido, você tira do orçamento dinheiro

para dar às empresas para elas se instalarem, uma lógica maluca, que o go-

verno da Bahia por uma definição do governador não faz isso.

Então, nós temos várias faces desse problema, nós temos a face de libe-

rar nossa receita acabando com essa guerra fiscal, essa é uma coisa que

está bem encaminhada no congresso, os governadores estão muito empe-

nhados, bem articulados, e São Paulo se assustou com aquela votação da

guerras do porto que atropelou inclusive São Paulo também, São Paulo e

Rio quiseram se aliar com o Espírito Santo por causa dos royalties, e foi uma

votação histórica para mostrar que temas como esse pode, então há algum

tipo de negociação para acabar com a guerra fiscal.

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245RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

O assunto mais recursos para o Nordeste, eu acho que é uma briga per-

manente, tanto que qualquer dispositivo que você mexa, você mexe no FNE

você tem mais recursos para o Nordeste, se você mexe nesse dispositivo

você tem mais recursos para o Nordeste.

Então, eu acho que é montar uma estratégia onde você não abra mão de

fazer tudo aquilo que você pode fazer, já que é uma demanda como essa ne-

cessária, pode levar vários anos, depois vem as leis complementares, depois

vem a regulamentação de como isso vai ser operacionalizado e o governo ou

o congresso depois tem capacidade de postergar isso. Mas, o fato positivo é

o fato de estar sendo discutido, a questão do Nordeste está sendo discutida,

os estados estarem trocando experiências.

Eu sei que a Bahia, o Nordeste, está vivendo esse grande problema que

é a seca, antes, eu me lembro do seu entusiasmo com o ritmo de acessória

técnica, a assessoria técnica que está sendo montada pra trabalhar com

os produtores rurais, principalmente os pequenos, nós estamos sentindo de

certa forma isso, nós temos um termômetro muito grande que é a Cerca

do Povo, ano passado ela faturou quase setecentos milhões, mas esse ano

já deu uma queda; então eu acho que a mobilização para aumentarmos a

receita dos estados é a compensação imediata daquilo que é possível, no

FUNDESE, os fundos constitucionais todos caíram no caso do IPI de São

Paulo. Quando o São Paulo pauta a política industrial, ninguém consultou

a sociedade se deveria mexer ou não no IPI dos veículos, mas é que só be-

neficiou São Paulo, de um modo geral foi o grande beneficiário, ou porque

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246 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

historicamente tinha uma base ativa, sindical, que tem força para mobilizar,

consegue mobilizar a bancada, é uma estrutura muito corporativa, então se

nós conseguirmos liberar nossa receita,aumentar os fundos constitucionais,

nós já estaríamos dando um passo muito grande. Então, hoje nos temos limi-

tações no Banco do Nordeste, como eu falei alguns empreendimentos estão

saindo do banco porque ele não consegue cortar esse número de atividades

que o Nordeste, o Maranhão, como muita atividade de mineração. No Piauí

estão sendo feitas ações emergenciais para seca, paliativos, distribuir mi-

lho, cesta básica, ações que precisam ser realizadas para que você tenha

tempo de que as ações permanentes, as adutoras, etc. em algumas regiões,

terminem atingindo o resultado, mas uma coisa ao longo prazo.

Nós não estamos preparados. Nós temos políticas no Semiárido,só que

elas são insuficientes; por exemplo, uma empresa quer se implantar em Sal-

vador, Camaçari ou Simões Filho, o incentivo fiscal é muito baixo, comparado

com o que é no Semiárido como você acompanhou lá, nós temos um enqua-

dramento no Desenvolve, no Semiárido,que dá o máximo de incentivo que po-

demos dar, mas isso às vezes é insuficiente, não é suficiente para que você

possa levar uma empresa de grande porte para o interior, dificilmente; basta

ver o que aconteceu com a questão do biodiesel, se implantou as empresas

do biodiesel, mas não tem matéria prima, não consegue se produzir matéria

prima pra atender, então é uma realidade que precisa ser muito bem trabalha-

da, precisa de muito investimento, precisa de gente especializada para tratar

dessas questões, infelizmente nós não conseguimos alcançar até agora.

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247RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Eu vou pedir desculpa, mas eu tenho outro congresso, uma reunião da

base, empresa de supermercados, e eles marcaram um almoço, eu vou ter

que me deslocar, mas eu fico lá na secretaria a disposição, lá se tenta tra-

balhar em conjunto com todo mundo, as políticas estão aí em parte desen-

volvidas, agora a atuação é realmente do Nordeste com o governo federal

ainda é muito fraca. O governo federal por pressão do Rio de Janeiro cortou

a participação da energia eólica no leilão de energia eólica.

Nós fizemos uma correspondência muito agressiva, eu fui até repreendi-

do por isso pelo governador, para todos os ministros e para toda a bancada

do PT, alguns parlamentares tiveram intervenção, e não só do PT, Imbassahy

que entende bem dessa área e o ministro suspendeu a decisão, suspendeu

a reunião com a presidente da República sobre esse assunto e suspendeu a

decisão. Eu acho que a gente tem condições de ser mais efetivo, vamos dizer

assim, criticar o que o governo federal faz de errado; nós não estamos aqui

para fazer a política de baixar a cabeça, estamos aqui para interpretar o que

for bom e criticar o que for ruim, então essa é a postura que temos adotado,

na política de mineração a mesma coisa.

Nós chamamos os empresários, fizemos uma discussão, fomos contra a

política do governo federal, fomos para Brasília e nos posicionamos contra,

e agora estamos conseguindo fazer uma negociação de coisas que sejam

menos absurdas do que está sendo feito com a questão da mineração. Mas,

temos muitas oportunidades aqui e vamos continuar trabalhando com vocês

no que for necessário. Muito Obrigado.

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248 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Armando Avena: Queria agradecer ao nosso secretário pela sua presença e

ficar aqui discutido conosco e espero o apoio para levar o Integra Brasil e as

demandas do Nordeste junto ao governo federal, muito obrigado secretário.

Iremos continuar com nosso debate.

Girley Brasileiro: Para quem não me conhece, eu sou Girley Brasileiro, fui da

SUDENE durante trinta anos. Eu estou daqui escutando todos esses discur-

sos, todos esses pronunciamentos e lembrando quantas vezes na minha vida

eu já participei de debates que tratam dessa mesma coisa, há quantos anos

estamos discutindo a remitente disparidade interregional que existe nesse

país, quantas vezes dentro da própria SUDENE nós estivemos às voltas em

batalhar, trabalhar para que nossos projetos, os nossos planos fossem ouvi-

dos em Brasília. Mas, parece que toda essa discussão que a gente tem visto

aqui nesta manhã, ela sempre está em torno da questão política, da vontade

política que está faltando para que a gente possa decolar de fato. Na SUDE-

NE, naturalmente durante esses trinta anos, eu vi muitas mudanças.

O Nordeste cresceu sim e nós vamos discutir, você prometeu, hoje à tarde

essas mudanças, mas o Brasil cresceu também, essa é que é a grande ques-

tão, nós não tivemos capacidade de crescer o suficiente para que pudesse

reduzir essa grande diferença que existe entre nós e as demais regiões.

Então, a minha intervenção é muito pequena, eu quero só lembrar isso e

esperar que a gente possa ver números interessantes na tarde de hoje, mas,

sobretudo, eu quero recomendar à Nicolle, ao meu amigo Firmo que esteve

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249RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

conosco na SUDENE, tantas vezes nós nos encontramos, você aqui na Bah-

ia, que a gente possa na verdade fazer alguma coisa no sentido de que as

nossas reivindicações sejam de fatos escutadas.

Eu ia fazer referência inclusive ao cento e sessenta e cinco da constituição,

que o deputado fez aqui ainda pouco, mas já não preciso mais fazer comentá-

rios a respeito desses nossos direitos adquiridos constitucionalmente falando.

Há realmente neste momento mais espaço politicamente falando, para

que nós possamos fazer prevalecer o nosso discurso. A Nicolle tem um

grande desafio, aliás se eu pudesse classificar esse desafio, dar um qualifi-

cativo a ele, é um colossal desafio.

Por isso que acabamos de ouvir, nós nunca vamos conseguir, foi isso que

o secretário disse. Eu acho o discurso, ele que me desculpe a ausência,mas

eu acho um discurso um pouco cabeça baixa; nós não podemos participar

de um debate desse começando por aí, nós temos que fazer impor, como se

fez impor em mil novecentos e cinquenta e nove que criou-se a SUDENE,

naquela época a situação era muito pior e muito mais critica, muito mais

difícil, mas foi um grande debate político que se fez e que se chegou ao que

se chegou. Se a SUDENE foi chegada por razões que a gente ainda não en-

tende muito claramente, hoje a história é que vai contar no futuro, é possível

que vejamos ao contrário, olha um pouco para trás e veja o que a SUDENE

fez, o que aconteceu nesse Nordeste a partir dali.

Então, vamos ver se num debate desse tipo, quando estamos tentando

reunir todas as forças políticas, eu estou falando de força política agora,

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250 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

respaldado pela técnica, com tantos nomes importantes como o Firmo citou

há pouco, a gente possa construir, formular um documento que possa ter

força, mas não que o documento chegue lá, tem que haver um grande deba-

te, um grande discurso, uma grande movimentação para que possamos ver

alguma coisa no sentido de conseguir fazer com que o Nordeste tenha voz

ativa nisso ai.

O tempo político é outro; não estou dizendo que nós estejamos dispostos

a ir para a rua num movimento como aconteceu recentemente, mas se isso

tiver que acontecer que seja assim, não seja por isso.

Eu hoje não estou mais na SUDENE, naturalmente a SUDENE que existe

lá é um arremedo daquela SUDENE que tivemos no passado.

Já estou aposentado, tenho uma empresa de consultoria e aqui nesse

caso eu represento o Centro das Indústrias do Estado de Pernambuco e o

Sindicado das Indústrias Metalúrgicas de Pernambuco, onde sou diretor

executivo. Estou nessa área especifica, houve algum pronunciamento na

questão da classe empresarial industrial, estou disposto a contribuir, vocês

podem contar conosco, a Nicolle, o Firmo, meus amigos, lá no Recife no te-

mos a Tânia que é muito ligada, a quem eu sou muito ligado, foi minha colega

da SUDENE, minha amiga pessoal, grande amiga minha, então a gente pode

e tenho certeza que nós podemos também.

Osvaldo Magalhães: Inicialmente, eu gostaria de parabenizar o Centro In-

dustrial do Ceará pela iniciativa de estar trazendo essa discussão para o

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251RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

estado da Bahia. Eu estava aqui com o dr. Manuel Castro, estava represen-

tando aqui a FIEB e eu faço parte do conselho de infraestrutura da FIEB, e

gostaria de registrar aqui que foi concluído no final de dois mil e doze um

amplo levantamento coordenado pela Confederação Nacional da Indústria,

denominado Nordeste Competitivo, que identificou oitenta e três projetos

prioritários na área de logística de transportes para o Nordeste, no hori-

zonte ate dois mil e vinte então é importante agregar esse estudo, a FIEB

participou ativamente desse projeto. E também lembrar que a FIEB organiza

todo ano em parceria com o correio da Bahia a Agenda Bahia e, no final do

ano passado, nós trouxemos aqui o economista Sérgio Besserman, que fez

uma palestra muito interessante dentro do tema dele, que era a questão da

água, e o Sérgio que é um dos maiores especialistas nessa área de aqueci-

mento global, ele foi muito enfático ao afirmar que nós devemos esquecer a

questão do Semiárido, na verdade o Nordeste vai ficar árido e a recente seca

que ocorreu neste ano já é um prenúncio do que está por vir.

Na Bahia, nós temos uma população de mais de cinco milhões de habi-

tantes que sobrevive em situação bastante precária, vivendo no Semiárido,

com essa transformação para o árido imagine o que vem por ai, então é im-

portante também levar em conta essa questão das transformações referen-

tes ao aquecimento global.

Voltando ao tema inicial, dentro dos oitenta e três projetos estratégicos

identificados pela CNI aparece claramente a questão da hidrovia do São

Francisco, que nós perdemos, que já não existe praticamente um transporte

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252 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

sendo feito pela hidrovia São Francisco, me parece que apenas uma em-

presa, inclusive uma empresa originária do Ceará, que movimenta quarenta

e três mil toneladas de caroço de algodão; a última carga que foi feita e

lembrando inclusive que nós participamos na época do governo do estado

da Bahia, foi elaborado o plano de fomento do Rio São Francisco que tam-

bém merecia ser resgatado, nós temos inclusive ainda na secretaria Alberto

Valença e poderia se agregar também esse estudo, esse plano do fomento

que realmente prevê a hidrovia como fator desenvolvimento regional muito

importante. Obrigado!

Rodrigo Paolilo: Bom dia a todos, primeiramente me apresentar, sou Ro-

drigo Paolilo, presidente da Confederação Nacional de Jovens Empresários,

queria primeiramente parabenizar a iniciativa em nome das pessoas, da Ni-

colle, do Cláudio do CIC, também do Avena que coordenou os trabalhos na

Bahia, e começar minha intervenção apresentando um pouco nossa insti-

tuição. A CONAJE representa hoje trinta e seis mil jovens empresários em-

preendedores de todo o Brasil, estamos presentes em vinte e dois estados

e buscamos representar e fomentar o empreendedorismo jovem em todo o

Brasil, inicialmente em três áreas: capacitação, relacionamento e represen-

tatividade.

A gente enxerga essa iniciativa como uma iniciativa muito importante

pra gente que representa todos os segmentos, todos os portes de empre-

sas em todo o Brasil e com parceiras, quantidades empresariais, governo

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253RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

público, em todos os estados que estamos presentes. É importante citar

que acreditamos muito no associativismo e no respeito às diferenças das

especificidades das regiões, é uma premissa que a CONAJE atua, e acho

que esse projeto tem essa visão, eu acho que isso é uma coisa que a gente

precisa estimular cada vez mais a presença e a articulação dos entes empre-

sariais principalmente, mas todos aqueles que interagem em âmbito nordes-

tino para que possamos desenvolver a região.

Eu queria citar que a gente falou bastante aqui do ambiente nordestino

hoje, a gente sabe que teve uma evolução muito grande, principalmente na

distribuição de renda, inclusão social do Nordeste, mas que isso ainda não

se transformou em uma questão de protagonismo no nosso país e fora do

nosso país também, então isso precisa de reformas mais profundas, não po-

demos depender apenas do governo para isso, nem dos nossos políticos,

precisamos criar estímulos dentro do ambiente empresarial, do ambiente

associativista para que possamos transformar a realidade.

Gostaria de pautar aqui três temas que são,no nosso ponto de vista trans-

formadores. O primeiro deles é o ambiente regulatório e o apoio ao sistema

produtivo. A gente sabe que o custo do Brasil é muito alto e o custo do Nor-

deste é ainda mais alto, então precisamos reduzir essa questão, precisamos

avançar nesse sentido.

A questão da educação, tanto na educação básica, como na educação

profissional, uma educação empreendedora, cidadã, muito importante, e a

retenção dos talentos nordestinos que muitas vezes saem para buscar e fa-

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254 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

zer sua vida no Sudeste, fora do país; isso a gente precisa trazer, fazer com

que eles voltem pra cá e usem seu cérebro em prol da nossa região, isso é

muito importante, a gente precisa criar estímulos para que a gente desen-

volva, que seja uma potência em educação, porque só isso pode libertar o

Nordeste, secularmente.

E a questão da inovação, criar ambientes de inovação em todas as áreas,

inclusive no campo a CONAJE tem projetos como AGROJOVEM, temos pro-

jetos junto à nossa parceira CNI, no âmbito industrial, também no âmbi-

to comercial, então precisamos estimular inovação em todos os setores e

fazer com que aqui tenha as grandes start-up’s, tenha grandes lideranças

empresariais, que eu acho que isso pode transformar, o empreendedorismo

pode ser um grande fator de transformação no Nordeste, eu acho que esse

tema tem que estar um pouco mais na pauta das discussões, para que pos-

samos fazer uma transformação social e econômica na nossa região. Muito

obrigado!

Paulo Guimarães: Eu queria falar bem rapidamente, para não perder a linha

de raciocínio, como o tema que foi abordado agora de manhã. Eu sou Paulo

Guimarães, eu sou chefe do Departamento do Nordeste do BNDES, só pra

agregar uma informação que vale a pena nessa movimentação do Integra,

colocada pelo deputado Zezéu.

Com relação a financiamento, é necessário se trabalhar regionalmente al-

gumas estratégias que sejam somadas à questão do financiamento de longo

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255RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

prazo, principalmente em relação ao BNDES e ao Banco do Nordeste. Houve

uma evolução muito significativa de todos dois ano passado, registrou-se

em torno de quarenta e dois bilhões de reais dos dois bancos na região, só

para ter uma ideia o BNDES em 2008 era 7.6, oito por cento aproximada-

mente do país, chegamos ano passado a 13.5 por cento do financiamento do

BNDES, veio para a região, como o Zezéu colocou, é um patamar igual ao

PIB, mas houve uma evolução.

Mas, eu queria registrar o componente demanda para financiamento, é

um componente muito significativo,há de se diferenciar a questão de orça-

mento para a região e financiamento. Financiamento é um componente de

crédito, é um componente que tem uma base de demanda muito significa-

tiva, então eu acho que as externalidades que Zezéu colocou, de infraestru-

tura e capacitação podem trazer um patrimônio a mais para a região, para

que a gente consiga realmente alavancar com mais força o financiamento

de longo prazo.

Então, eu queria registrar, do ponto de vista de financiamento, que a pos-

sibilidade de financiamento, quer seja do BNDES ou do BNB, ela é possível,

ela ocorre, ela vem sendo tratada de forma prioritária, o BNDES desde o

princípio está aí em parceria com o Integra Brasil através da Presidência do

Luciano Coutinho, que achou de extrema importância o projeto, aja visto que

um dos eventos ocorrerá na sede do banco, em agosto, no Rio de Janeiro.

É prioritária a questão do desenvolvimento regional dentro do banco.

Hoje, além da questão do componente demanda ser fundamental pra

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256 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

gente agregar mais financiamento para a região, o que percebemos, Ave-

na, é que a diferença hoje de taxa, numa conjuntura em taxas reduzidas,

hoje tem linhas bastante reduzidas, a diferenciação de taxa não é mais

atrativa para se tornar uma diferença de escolha entre Sudeste e Nor-

deste. Quando a gente vê componentes, máquinas e equipamentos sendo

financiados a 3,5, a 4,5% ao ano, esse tipo de movimentação de taxa de

financiamento não é o diferencial que ocorria a dez, quinze anos atrás e

que a gente podia buscar essa briga, buscar taxas, por exemplo, demais

reduzidas, o FNE tem uma taxa, por exemplo, bastante significativa, mas

eu acho que outras situações são decisões mais políticas, decisões mais

fortes, duas foram exemplificadas aqui hoje, a decisão de implemen-

tação de um parque eólico como renova na Bahia fez com que a pauta

de financiamento do BNDES do estado da Bahia modificasse bastante,

aumentasse muito, a decisão da presença de estaleiros fez com que o

financiamento do BNDES tivesse uma movimentação ainda mais signi-

ficativa para a região Nordeste; ou seja, o que eu quero dizer com isso é

que o banco está disponível, está junto com o Integra Brasil, mas, assim,

o BNDES por si só não consegue fazer essa movimentação, é necessário

um movimento desse, integrador, que junte forças, que junte instituições,

para que o banco possa disponibilizar mais recursos através de financia-

mento e através de melhoria dessas infraestruturas, mas é necessário a

demanda e é necessário que movimentos como esse ajudem ao BNDES a

ter uma atuação regional mais forte.

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257RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Armando Avena: Eu agradeço ao Paulo e acho que à tarde a gente pode-

ria até aprofundar um pouco essa colocação. Então, eu dou por encerra-

da a minha participação como moderador, achando que foi uma contri-

buição boa para que a gente possa compreender melhor essa questão do

Nordeste.

TERCEIRA PALESTRAJosé Antônio Pinho: Boa Tarde a todos e a todas, com enorme satisfação

acolhi o convite do professor Armando Avena, meu colega da Universidade

Federal da Bahia, ainda que sediado no campus da Piedade e eu no campus

do Vale da Canela, e então é um enorme prazer estar aqui com todos e discu-

tindo essas questões tão importantes do planejamento, uma questão muito

esquecida nos últimos anos e que merece realmente toda a nossa atenção,

todo nosso cuidado, e que tem que ser alçada uma plataforma de relevo nas

preocupações nacionais. Talvez, acreditamos que muitos dos nossos proble-

mas que estamos vivendo são exatamente pela ausência de planejamento,

pela visão de médio e longo prazo. A minha atividade aqui hoje é de mode-

ração, eu espero que todos se comportem bem, porque um moderador tem

que moderar e acho que teremos uma sessão muito produtiva da qualidade

de nossos expositores.

Começamos, então, por Edgar; então, passo a palavra ao meu prezado,

querido amigo Edgar Porto, de longas décadas de conhecimento, de bata-

lhas também pelo planejamento.

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258 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Edgard Porto: Boa tarde, eu vou, a partir do convite de Avena, acertamos um

pouco para que eu falasse do futuro, que é uma coisa muito complicada e

perigosa, e digamos que ele desenvolvesse mais o tema do desenvolvimento

recente, do movimento atual do Nordeste.

A nossa abordagem sobre o futuro, fazendo uma prospecção das alterna-

tivas de desenvolvimento da inserção da economia nordestina no Brasil e no

mundo ele, é fruto de uma série de trabalhos que nós viemos desenvolvendo

na diretoria de estudos da SEI e também trabalhos de pesquisas de redes de

pesquisadores ligados à academia.

Mas, eu vou tentar desenvolver os trabalhos a partir de uma visão bastan-

te realista dos projetos que estão sendo desenvolvidos e isso eu vou contar

logo, logo. Eu também vou tratar, por pensar no futuro, eu tenho que tratar

de aspectos mais estruturantes do processo de desenvolvimento; eu não

vou tratar de algumas políticas específicas desse processo, mas maquilo

que tem a capacidade de reestruturar o espaço da economia nordestina e

na Bahia em particular, que eu vou falar muito pouco aqui. Vamos tentar

identificar o que está em curso, aquilo que pode apontar para possíveis con-

formações ou reconformações dessa economia e do espaço nordestino.

Eu vou começar aqui, talvez se houver necessidade, como eu trago mui-

tos mapas, posso chegar ali junto para acompanhar com vocês. O que eu

vou gastar uns poucos minutos, muito pouco, para falar de alguma coisa

de cunho, de uma abordagem mais teórica, mais com efeitos práticos im-

portantes para que a gente possa pensar em como é que podemos fazer

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259RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

algumas análises, algumas prospecções, pensar algumas alternativas sobre

o desenvolvimento do Nordeste e quais são os pressupostos que nós preci-

samos utilizar para não cair no futurismo, fugir da análise mais científica.

Depois, eu vou mostrar como é que os investimentos ou quais são os in-

vestimentos que têm capacidade de formular, digamos, um novo processo

de desenvolvimento, esses que estão sendo anunciados.

Eu vou fazer aqui uma leitura da realidade, eu não vou defender uma tese,

não vou dizer que tipo de desenvolvimento a gente acha que seja o mais

adequado, eu estou buscando dados da realidade usando uma abordagem

teórica para fazer prospecção; então, eu não estou falando daquilo que de-

veria ser, que poderia ser, eu estou falando daquilo que está se esboçando

há algumas décadas, não é pouco tempo, porque são elementos estruturais.

Vou levantar duas alternativas radicais, que podem ter meio termo por aí

de inserção dessa economia e falar muito rapidamente sobre os desfrutes,

quem tira e quem poderá tirar proveito disso, quais são os espaços, setores

da economia e, digamos, setores sociais.

Os pressupostos, o que é que eu estou partindo do principio de que eu

preciso de uma base explicativa para o processo de desenvolvimento capi-

talista mundializado, e eu preciso compreender que algumas coisas acon-

teceram nas últimas décadas, isso, no nosso caso, brasileiros, a partir do

início da década de noventa com abertura dos mercados, mas isso já vem

acontecendo no mundo há muito mais tempo, que é um processo de descen-

tralização das unidades de produção, incentivados pela forte presença da

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260 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

informática, dos meios de comunicação, que permitiram que esses fluxos de

capitais pudessem se instalar em diversas regiões do mundo, e que essas di-

versas unidades pudessem ser linkadas, pudessem ser articuladas por essas

redes de comunicação, por essa gestão desses negócios que normalmente

tendem a acontecer nas grandes metrópoles, com as pessoas com a grande

qualidade para compreender esse processo numa escala mundial.

Significa dizer o seguinte: quando você expande, descentraliza esse pro-

jeto de produção, você vai para as diversas regiões do mundo, não todas

as regiões, esse processo também é concentrado em algumas regiões, em

alguns espaços dessa região, esse processo é extremamente competitivo

e ele era tendente à concentração espacial e tendente à concentração em

alguns setores. Isso pode ser visto que é o que tem acontecido na Ásia, com

a intensidade de investimentos na Ásia, o que tem acontecido de fugas de

investimentos em outras regiões do mundo e articulado por um setor finan-

ceiro que é fortíssimo e articulado numa escala mundial e também concen-

trado nas bolsas de Salvador. Salvador já teve bolsa, eu me lembro, a bolsa

de valores de Salvador, o Osvaldo deve lembrar que era no tempo que o pai

dele era prefeito, era ali no comércio, mas hoje em dia as bolsas estão se

reconcentrando, as bolsas da Ásia se articulando, fundindo-se, as da Ocea-

nia também e por aí vai. Este processo é concentrando numa gestão e ele

concentra também em setores esparsos, o que significa dizer que esse pro-

cesso também anda com uma velocidade muito grande e tudo que anda com

grande velocidade marginaliza espaços e pessoas.

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261RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Este processo de concentração. ele faz com que o processo de desen-

volvimento regional seja diferente de antes, antes as unidades de produção

falavam mais, pulsavam mais com o território, agora pulsam menos, tem

menor relação com o espaço do entorno, ele tem menor relação com as pes-

soas, com o emprego, com as repercussões.

É muito comum você fazer estudos de impacto ambiental, estudo de im-

pacto socioeconômico em nível ambiental, prever repercussões importantes,

eu já participei de algumas, e na realidade essas repercussões acontecem

com muito pouca intensidade, o que significa dizer que nós estamos falando

de um processo, de uma escala mundial que é extremamente competitiva,-

com reduções muito fortes de custos e ele passa a ser concentrador.

Então, para as regiões que são mais pobres, para os espaços dessas re-

giões pobres que são mais pobres ainda, eles são tendentes a ficar margina-

lizados no processo. Então, isso é uma tendência, apesar de que existe um

leque de oportunidades para você tentar incluir e, então, nós vamos chegar a

uma conclusão lá na frente que a presença, digamos, da gestão pública pas-

sa a ter uma importância bastante significativa nesse processo, foi o que a

gente ouviu de manhã aqui, digamos, em uma visão mais política.

Mas, quero dizer também que a gente sente de forma muito clara que

esta capacidade de gerir esse processo, do ponto de vista da administração

pública, há algumas décadas a gente vem perdendo de forma sistemática;

ou seja, o que precisamos fazer nós estamos desaprendendo a fazer e o que

se precisa ser feito é muito mais complexo para ser feito hoje do que era

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262 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

antes, hoje precisamos ter informações numa escala mundial para saber li-

dar com questões locais, algumas mundiais nós perdemos absolutamente a

capacidade de pensar, de controlar ou até de ver.

Mas, o que torna difícil fazer hoje, o mais difícil de fazer hoje, nós também

estamos desqualificados para fazer. Bom, é preciso que a gente identifique

que alguns fatores portadores de futuro e suas lógicas específicas dos seus

fluxos, é preciso a gente perceber que hoje tem uma questão que é bási-

ca para esse novo processo de desenvolvimento, são as relações entre as

regiões, os investimentos em infraestrutura passaram a ser fundamentais

para fazer com haja integração entre regiões produtoras. Eu quero dizer

com isso é que quando você descentraliza produção industrial, por exemplo,

para a Ásia e agora outros com outros investimentos, quando você estabe-

lece como parece ser estar sendo estabelecido há algumas décadas, que

o processo de desenvolvimento brasileiro é pautado em commodities, tudo

está levando a crer que todos os investimentos estão indo nessa direção, e

isso acontece numa região nova do Brasil, uma interiorização desse desen-

volvimento para a região do Centro-Oeste brasileiro, que ainda não tenha

investimento nenhum em infraestrutura, esses investimentos passam a ter

um papel fundamental no processo de desenvolvimento, os investimentos

em infraestrutura, porque estes investimentos em infraestrutura, diferente-

mente de outros, eles estão bastante atrelados ao processo produtivo, eles

caminham juntos porque esses fluxos entre regiões vão criando nos seus

fluxos outras áreas de produção, outras agregações de valores, eles estão

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263RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

cada dia mais associados. Então, quando você diz é uma logística de trans-

porte, eu não estou falando somente de trem, de caminhão, de navio ou de

avião, eu estou falando em sistema que estão articulando, são todos esses

fluxos de mercadorias que embutem custo de transportes, que embute a

possibilidade de você trazer novos investimentos em determinadas localiza-

ções, incentivadas por esses novos investimentos em infraestrutura. É um

processo diferentemente dos processos anteriores. Isso é uma coisa que a

gente precisa perceber.

E nós estamos criando no Brasil, evidentemente, os traços já estão anun-

ciados de que esse novo processo de desenvolvimento, eu não estou dizendo

nenhuma novidade, eles estão baseados nessas commodities que estão nes-

sas regiões do interior do Brasil e nós estamos com a produção industrial

com problemas, o que faz uma grande discussão acontecer entre aqueles

que acham o que o comércio também achar, isso de forma muito forte, que

estamos vivendo uma era da industrialização aqui no Brasil. Vou apresentar

alguns dados para vocês. Então, o que eu quero dizer é que a moldagem

desse processo de desenvolvimento, onde alia as políticas nacionais em sua

inserção no mundo capitalista numa escala global.

Ou seja, nós estamos associando uma política regional a uma política

mundial, nós estamos articulados com essa política mundial, estamos pro-

duzindo o que o mundo parece que quer que a gente produza e a gente está

produzindo para ter maior lucratividade, embora temos muitos países e

áreas que são competitivas para isso.

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264 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

A África, por exemplo, também está produzindo commodities e está mui-

to mais perto da Ásia. É preciso que a gente compreenda também que a

associação espacial entre esses setores, entre setores da economia, é im-

portante para você saber como é que as coisas, esses fluxos de capitais e de

pessoas se associam espacialmente, onde é que podem ter convergências

espaciais. E é isso que a gente precisa saber, se o Nordeste está envolvido

nisso, quais são as alternativas para que o Nordeste se envolva nisso. Isso é

uma coisa extremamente importante.

E a última questão, eu não vou comentar porque eu já comentei, eu estou

dizendo que vou trazer os dados que possam explicar isso que eu estou co-

mentando, a partir dos investimentos que estão anunciados, que são pensa-

dos e que estão dentro de uma política nacional de desenvolvimento.

Há alguns fatores que possibilitam a integração regional; ou seja, as re-

giões, ou se integram ou se desintegram, ou se integram mundialmente aos

grandes fluxos, ou elas tendem a ter uma capacidade de se marginalizar do

processo. O que eu quero dizer é que se o Nordeste não conseguir ter essa

capacidade de integração, é provável que as partes que nos marginalizam

dentro do processo de desenvolvimento nacional fiquem mais agudas, que a

gente possa ter maior desigualdades internas e desigualdades com o resto

do Brasil e do mundo, por conta das características do processo, com a ve-

locidade que esses processos estão se desenvolvendo.

A outra questão, a redução hoje dos custos de logísticas de transportes

parece ser um elemento chave para você operar e priorizar os investimentos

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265RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

e isto é uma briga seríssima, como se diz no interior, é uma briga de foice,

para saber quem é que faz esse escoamento dessa produção, quem é que

vai se integrar, quem é que vai se articular com este, vamos dizer assim,

modelo de desenvolvimento que anuncia uma espécie de novo ciclo de de-

senvolvimento econômico no Brasil: espacial. Nós estamos saindo da forte

industrialização no Sudeste para uma economia de commodities no interior

do Brasil, que vai moldar novas redes de cidades, comportamentos diferen-

tes e está fazendo todo mundo ouvir aí o sertanejo já à vontade, daqui a

pouco estaremos todos de cintos, chapéus, etc. e tal. É a música que parece

nos caber nesse momento.

A redução dos custos das unidades de produção também é um outro fa-

tor, que esse não precisa comentar, mas esse daí tem inserido uma forte

presença da mão de obra, mas também de outros elementos ligados à in-

fraestrutura e à infraestrutura urbana e metropolitana.

E outra questão que faz com que reforce algum fator de integração regio-

nal é a qualificação da mão de obra, o que é também algo muito complexo

para nós porque esse mercado é mundial, esse mercado de mão de obra é

mundial; ou seja, você já está importando mão de obra qualificada que você

não tem aqui, você está criando emprego para essa mão de obra qualificada,

não vou nem entrar na discussão dos médicos aqui, mas a gente sabe que

estamos importando do outro lado também cozinheiras da Bolívia, como os

Estados Unidos importaram do México, como os europeus sempre importa-

ram da América do Sul, etc. e tal. Mas, também temos uma população que

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266 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

tem aqui, só na Bahia, 17% de analfabetos. Como você vai encarar isso é um

problema seríssimo.

Diante disso e, digamos assim, no sentido de identificar quais são os in-

vestimentos que me fazem pensar assim, quais são os investimentos que

parecem apontar, dirigir, para esse tipo de raciocínio? São quatro tipos ba-

sicamente que eu vou comentar: um o Zezéu comentou um pouco aqui de

manhã, é o IIRSA, é uma iniciativa de integração física por infraestrutura

na América do Sul, o PAC todo mundo já conhece e algum comportamento

ou perspectiva de setores estruturantes da economia nacional, que a gente

vai apresentar alguns dados. O IIRSA, os investimentos do IIRSA se situam

basicamente 56% do setor de transporte, 44% do setor de energia, na inte-

gração dos países sul-americanos. Onde é que está isso? O Zezéu também

comentou isso, nós tivemos apoio, ele trabalhou muito fortemente nessa crí-

tica ao IIRSA nos eixos do desenvolvimento, vocês podem notar que aquele

branquinho ali, aquela área branca aqui onde tem escrito Brasil, é a única

área da América do Sul junto com a Patagônia que não foi incluída entre os

eixos de integração sul-americana. E os eixos de integração sul-americana

tinham como um dos objetivos a redução das desigualdades dentro do con-

tinente sul-americano, é muito sintomático.

Quando nós identificamos esse mapa da América do Sul, a gente per-

cebe o seguinte: na verdade, o que está moldando, o que está estruturando

essa integração sul-americana são os fluxos econômicos que estão mais ou

menos situados nesse triângulo, são os espaços consolidados da economia

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267RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

nacional, são os espaços, digamos, do ciclo anterior da economia nacional

baseado na industrialização, ainda não é o novo ciclo, onde você concentra

70% da população, você tem a rede de cidades mais importante que as cida-

des industriais, porque elas tendem a ser tensa aos seus arredores, você tem

uma concentração do comércio em alta intensidade, os principais centros

industriais e os sessenta portos que articulam esses fluxos numa escala in-

ternacional. Com os avanços agora e com mudanças em alguns eixos des-

ses, é possível que esse triângulo possa virar uma espécie de um losango,

um quadrilátero, onde esses fluxos possam ser estendidos para essa região

central do Brasil e você pode criar uma nova área de desenvolvimento com

características diferenciadas da nova realidade, da realidade antiga, do per-

fil industrial da economia brasileira, agora um perfil muito mais baseado na

agroindústria, que tem algumas características importantes.

Primeiro o seguinte, você não tem rede de cidades com grande densi-

dade, até porque essa produção é muita intensiva em tecnologia. Ou seja,

você faz uma rede de cidades mais enxuta, e é uma rede de cidades nova,

conduzida pela região do interior. Existem cidades com alguns elementos

de infraestrutura que vão ser articulados com as novas demandas; elas são

cidades desiguais e fragmentadas, mas, em tese, com menor intensidade do

que as grandes metrópoles,é como se fosse mesmo um novo Brasil desse

ponto de vista. Essa é a área de maior produção.

A justificativa para você, para o secretário de Planejamento do Nordeste,

defenderem um projeto de integração do Nordeste dentro dessa nova visão

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268 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

de desenvolvimento brasileiro, ele se baseou muito no fato de que nós temos

uma intensidade de produção, por exemplo, de soja no ano 2000, que é essa

área verde, só que com alguma intensidade maior em alguns desses muni-

cípios, onde você incorpora o oeste da Bahia, o sul do Piauí e do Maranhão,

portanto tem uma região aqui que é muito diferente do que se chama de

Nordeste, é muito diferente do Nordeste tradicional, portanto estamos fa-

lando aqui de um novo Nordeste, de uma nova área dos cerrados do Nordes-

te, com outras características, que se adequam aquelas novas exigências de

cidades e de rede de cidades, e de infraestrutura, etc. Isso foi em 2000, em

2003, olha para onde ela está crescendo, ela está crescendo e aumentando

a produtividade. Em 2006 ainda mais, entrando pelo Pará, subindo mais pelo

Maranhão, está adensando na Bahia, em Goiás e mais ainda no Mato Grosso.

Em 2009 o processo continua e o fato é nesta região você já representa hoje

cerca de 50% da produção de soja no Brasil.

O que é que os secretários, diante desses elementos de infraestrutura

estão reivindicando? Primeiro, houve um consenso acerca dos projetos mais

estratégicos de desenvolvimento para o Nordeste e todos eles foram iden-

tificados como elementos de infraestrutura, como aqueles investimentos

prioritários para desenvolvimento da região. Ou seja, você está dentro do

discurso, está inteirado ao discurso nacional e internacional. Esses investi-

mentos, eles têm basicamente a perspectiva de integrar o Nordeste a essa

região do Centro-Oeste e à região do Norte, e continuar a integrar, e melho-

rar as condições de integração do Nordeste com o Sudeste, que foi a história

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269RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

que a integração com a indústria com fornecedores de insumos; isso não

é uma indústria complementar, é uma indústria do Centro-Sul. Ou seja, a

melhorar essa integração ferroviária, inclusive com a FCA.

Esses projetos são aqueles que são de uma forma assim até curiosa, por-

que se chegou a um consenso entre os secretários de planejamento de que

esses projetos eram os projetos mais significativos e eles também estão

dentro desse cenário de integração regional. Ou seja, você integra interna-

mente as regiões do Nordeste e integra essa região do Nordeste à região do

Centro-Oeste. Ou seja, a Bahia, em particular, com a ferrovia, você deixa de

transportar apenas 4% da produção de soja que é do oeste da Bahia, você

vai disputar a produção de 55% da produção de soja do Centro-Oeste. Para

disputar esses 55% da produção já tem bastante ferrovia no pedaço e já tem

muita gente na busca; teve um aí que anda pendurado com a ferrovia de Eike

Batista, que ninguém sabe o que vai dar, mas é uma das grandes possibili-

dades, e a saída pela região Norte. Então, repare que como esse sentimento

de prioridade e de investimentos também estão apontando no sentido da

infraestrutura, com capacidade criar alguns nós logísticos dentro da região

Nordeste.

Visto pelo ângulo do projeto de integração sul-americana, foi aprovado,

digamos assim, essa aceitação de que o Nordeste deveria ser assumido

dentro dos eixos de desenvolvimento como expansão do eixo de desenvolvi-

mento da região Norte, que é essa região que era o eixo que passa aqui em

cima, ele foi expandido para incorporar o Nordeste. E duas vias estruturais

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270 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

para esta relação foram: a ligação da FIOR com a FICO para articular direta-

mente com a área de produção do Centro-Oeste brasileiro e a TRANSNOR-

DESTINA através da norte-sul. Ou seja, essa é uma reivindicação política

dos secretários de planejamento. No caso da Bahia, isso se manifesta com

intensidade, no sentido norte-sul, com as rodovias BR101 e BR116, com as

duas rodovias, 122 e 407, que são rodovias, são reivindicações políticas com

recompensas, digamos assim, de cunho mais social, que passam pelo cen-

tro da Bahia, pelo Semiárido, a 135 que corta o oeste da Bahia e a 242 que é a

via estrutural leste-oeste, que é hoje por onde a soja sai aqui da Bahia.

Do ponto de vista das ferrovias, a norte-sul e a leste-oeste que são as

rodovias que eu já falei, ou seja, a Bahia se encaixa dentro dessa reivindi-

cação com a mesma lógica dos outros estados do Nordeste, dentro da mes-

ma capacidade de pressão política. Isso foi encaminhado ao Ministério e ao

Congresso Nacional, para o Senado e para a Câmara. E com um investimen-

to forte na área portuária e hidroviária, principalmente na hidrovia do São

Francisco.

O PAC tem investimentos neste transporte de 50%; ou seja, os investi-

mentos pensados no Brasil são investimentos na área de infraestrutura.

São eles que têm, digamos assim, que estão no prego, são eles que estão na

consciência nacional para completar o projeto de desenvolvimento do Bra-

sil, ele que está moldando espacialmente a nova economia brasileira. Você

tem esse problema, ou seja, ele não consegue deslanchar, ele tem uma capa-

cidade de conclusão, de realização baixíssima, 8% é o que estava concluído,

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271RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

ou seja, é uma dificuldade, tudo isso que está sendo pensado tem muitas di-

ficuldades para acontecer, dificuldades de todos os tipos, daí porque é muito

difícil você dizer onde é e quando as coisas efetivamente podem acontecer.

Tendência de industrialização, apenas alguns dados porque essa discus-

são é bastante polêmica, mas alguns dados fornecidos pelo nosso amigo

Luís Filgueiras, que o grupo de pesquisa dele tem feito de forma muito siste-

mática. Se você pegar o valor adicionado, preços baixos, percentual do PIB,

você vai encontrar os serviços crescendo, a agropecuária mais ou menos e a

indústria caindo, entre 70 e 2010 a tendência tem sido essa.

Se a gente pegar o emprego por setor de atividade, nós vamos ver que

a indústria caiu de 36 para 25, aí tem muita terceirização também e essa

questão do emprego pode estar deformada, mas é ligado também essa ter-

ceirização ao setor industrial. E você tem o terciário e a agricultura, você

cresceu do terciário de 62 para 71%, e a agricultura, isso é agroindústria, é

forte nisso, subiu de 1,5 para 3,2%.

Alguma coisa mais grave se anuncia nesses dois próximos slides. É o se-

guinte, o saldo comercial por fator agregado em bilhões tem nos produtos

primários um crescimento bastante significativo, que é o azul. O semifatu-

rado, no rosa, ele cresceu mais dez, agora as manufaturas caem assustado-

ramente a partir de 2005-2006. O que significa dizer que a competitividade

da indústria brasileira, eu não estou dizendo nenhuma novidade, só estou

trazendo alguns números, é de conhecimento de todos, a gente enfrenta

problemas seríssimos com algumas outras regiões.

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272 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Intensidade tecnológica, que isso é também bastante preocupante. Você

tem a indústria de alta tecnologia, no azul ela cai assustadoramente, histo-

ricamente vem caindo em relação às outras indústrias, indústria de média

tecnologia e a baixa tecnologia está crescendo.

Ou seja, nós estamos entrando na competição trabalhando com indústria

de baixa tecnologia e perdendo a briga, que isso traz também problemas

bastante significativos. Isso tudo para mostrar o seguinte, estamos com

commodities e não abrimos mão disso, que o espaço é outro e isso faz parte

de uma articulação, de uma coordenação entre os interesses nacionais e

internacionais, entre as políticas e os governos há algumas décadas e isso

evidentemente que não expressa o espacialmente do ponto de vista do de-

senvolvimento. É uma coisa que a gente vai ver mais um pouquinho adiante.

Alternativas radicais. O Nordeste continua com desenvolvimento marginal;

ou seja, com a variante de que apenas alguns espaços nordestinos se inserem

no novo ciclo de desenvolvimento e outros permanecem no ciclo anterior ou o

Nordeste se insere no novo ciclo de desenvolvimento nacional e internacional;

fui radical com duas variáveis que podem ter meio termo. Mas, vamos conti-

nuar marginais ao processo de desenvolvimento com algumas localidades ou

metrópoles recebendo investimento e crescendo um pouco, alguns centros

médios e pequenos também se desenvolvendo, o que parece acontecer? Além

do desenvolvimento recente, que Avena deve comentar sobre o crescimento

das demandas ou crescimento com o “Bolsa Família” e algumas melhorias

bastante significativas na área de oferta de serviços.

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273RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Quais são as características de uma alternativa dessa de desenvolvimen-

to? Se os investimentos que estão sendo feitos em infraestrutura apontarem

para que as saídas desta produção não aconteçam pelos portos do Norte ou

pelos portos do Sudeste, e pelas vias que vão ligar essas áreas de produção,

evidentemente os portos do Norte estão ganhando grande competitividade

por conta das mudanças da oferta do canal do Panamá, com grandes navios,

e talvez esses portos hoje já estão crescendo em relação às exportações

brasileiras e os portos de São Paulo já estão também concentrando, cada

vez mais, quase 50% da produção de grãos, puxando dos portos do próprio

Sudeste; ou seja, estão ficando mais agudas as concentrações desse ponto

de vista.

O trabalho da CNI, recentemente, o Nordeste Competitivo, ele trabalhou

por regiões e encontrou os eixos de saída para cada região dessas. Muito

sabiamente ele dividiu por região, ele não relacionou uma região com outra,

mas quando você pega o estudo da região Centro-Oeste e Norte, aqui a re-

gião Norte, repare, esse mapa é da CNI, da macro logística, ele já utilizou

uma parte da produção do Centro-Oeste e uma parte do Maranhão, tirou o

Maranhão do Nordeste e chega à conclusão de que a melhor saída para essa

parte do Centro-Oeste e da parte do Norte do Brasil são pelos portos do

Norte, através da norte-sul. Significa dizer que deste ponto de vista, com-

parando com esse trabalho que foi feito para o Nordeste, que só sai pelos

portos, segundo esses trabalhos, o que a viabilidade de saída da produção

da região Nordeste é pelos portos do Nordeste, nós ficamos com uma par-

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274 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

cela ínfima disso. Não caracterizaria, não viabilizaria a relação leste-oeste

com o Centro-Oeste brasileiro. Sendo assim, você continuará fazendo suas

relações comerciais, sua relações fluxos, mesmo as industriais e etc. atra-

vés do Sudeste do Brasil, uma característica. A outra, é provável que essas

indústrias se concentrem mais ainda espacialmente com os investimentos

que são feitos, pelas características que a gente comentou anteriormente.

Os serviços em mão de obra, intensivos em mão de obra em área pública,

ou seja, todos os estudos são feitos do ponto de vista de serviços mostram

o seguinte: os serviços de distribuição nessa nova realidade eles tendem à

descentralizar, como também os serviços na área pública tendem a ficar

cada vez mais fortes na região Nordeste, isso é uma verdade. Mas se o ser-

viço de alto valor agregado, o serviço de intensidade de conhecimento, etc.

esse serviço tende a se reconcentrar. A gente fez um estudo recente sobre a

metrópole baiana e constatou isso claramente, como São Paulo concentra e

tem uma tendência a concentrar esses serviços, o que é um problema sério

para nós. Você tem uma rede concentrada de cidades, a nossa infraestrutu-

ra provavelmente passa a ser uma infraestrutura de abrangência regional,

é provável que a gente tenha repartição territorial importante. É com essa

marginalização, com essa alternativa de marginalização, você vê como o

Centro-Oeste já adotou parte do Maranhão pelo porto, pela facilidade de

saída. Aqui na Bahia você tem uns processos políticos separatistas da re-

gião Oeste e você pode ter outras porções sendo abocanhadas, normalmen-

te são aquelas porções que tem maiores possibilidades de desenvolvimen-

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275RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

to. E você pode ter com esta velocidade e com algumas concentrações de

investimentos na região de Suape ou na própria região de Salvador, ou na

região de Fortaleza, você pode ter essa concentração se elevando, algumas

na região de Juazeiro e Petrolina. A variante dessa aí é você ter uma dessas

áreas de produção com alguns avanços, com melhorias, com intensidade,

etc. e tal. Mas, digamos que seria uma variável dessa alternativa.

A “b”, digamos que é o Nordeste se inserindo no novo processo de de-

senvolvimento. Essa sim seria uma alternativa que o Nordeste gostaria de

ter, se inserindo mais fortemente no processo. Essa, em primeiro lugar, vai

exigir uma forte e competente presença na gestão pública nas três esferas

de governo para assegurar a política de inclusão social. Em primeiro lugar

é preciso, para que isso aconteça, que o governo compreenda que esses

investimentos podem vir a ser políticas de desenvolvimento regional e que

esta capacidade de atuação do governo possa fazer repercutir tais inves-

timentos sobre os pequenos e médios negócios, sabendo a gente que tais

investimentos vão ser concentrados espacialmente e isso vai implicar que

nós pensemos em desenvolvimento regional no entorno de algumas macror-

regiões, algumas áreas de produção que vão ter acessibilidade, que vão ter

investimentos, etc. e tal. Digamos que é difícil pensar no Semiárido com

todos os seus duzentos e sessenta municípios.

Esta integração da infraestrutura logística do Nordeste passaria a ser

um dos investimentos voltados para integrar todas as regiões a outras re-

giões do Brasil e com outras regiões do mundo, evidentemente por aqueles

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276 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

dois eixos que a gente tinha comentado, mas também com azeitamento dos

fluxos, da capacidade de carga e características da ferrovia da FCA, como

está anunciada a concessão. É provável que, a partir disso, você possa criar

no entorno de alguns nós logísticos no Nordeste algumas possibilidades de

atração de investimento, inclusive em alguns setores industriais, mas basi-

camente em setor de serviços de apoio à logística, mas também serviços de

apoio à população, serviços de distribuição. É provável que você crie aden-

samentos nessa passagem, nesse tombo de mercadorias, como, por exem-

plo, você pode fazer na região de Salvador, Feira de Santana, no caso da

Bahia, você pode fazer em Brumado ou em Caetité. Você pode criar ambiên-

cias com investimentos, com uma certa integração, com uma ação públi-

ca competente, para que você possa articular essas possibilidades com as

demandas existentes. Você vai criar novas áreas de dinâmicas de produção

que, provavelmente, vão se situar mais no interior do território, em que pese

também estarem concentrados. Desse ponto de vista, as possibilidades de

você ter um Nordeste com integração interna também são maiores e você

articular territórios mais importantes dentro do Nordeste. E a necessidade,

evidentemente, de uma rede de banda larga e sistemas de informação, sem

os quais ninguém funciona hoje em lugar nenhum. Alguém citou aqui o caso

das redes de comunicação. E alguns desfrutes, que eu vou deixar muito mais

isso para a discussão porque aqui eu já estou esgotado em cinco minutos.

Eu diria o seguinte: é provável que nós estejamos criando, nesta alternati-

va, novas macrorregiões de desenvolvimento dentro do Nordeste, não muito

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277RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

mais do que isso. Algumas regiões chamadas de Semiárido, acho que elas vão

ser difíceis de se inserir pelas suas características de produção, pelas suas

características ambientais e alguém falou aqui das tendências do Semiárido

se tornar árido, por algumas dessas coisas. Mas essas macrorregiões podem

ser criadas em todo o Nordeste, agrupando em torno desses nós logísticos.

Hoje eu já falei dos setores da economia, da indústria, agroindústria e

serviços qualificados. O pessoal de alta e média qualificação, isso vai ser um

problema seríssimo para uma gestão pública porque essas demandas serão

imediatas, relativamente imediatas ou de médio prazo, e não é possível você

fazer essas capacitações para tal, a não ser para pequenos e médios ne-

gócios, então você vai ter que importar mão de obra, muito provavelmente;

essa pelo menos, a de média qualificação. E a pergunta é: como é que neste

mundo, com tais características de competitividade, um acelerado proces-

so de desenvolvimento, com demandas cada vez mais qualificadas, o que

será feito das pessoas com capacitações inadequadas para o futuro? Que a

gente tem bastante na Bahia, que a gente tem bastante no Semiárido. Será

que nós vamos continuar com as políticas de “Bolsa Família”? O que é que a

gente vai poder fazer com essa grande parcela da população que, digamos,

já está marginalizada e que este processo tende aceleradamente colocar em

situações mais marginais ainda? Muito obrigado.

José Antônio Pinho: Muito obrigado ao professor Edgar Porto pela sua bri-

lhante e preocupante exposição. Certamente, colocou em todos nós um ví-

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278 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

rus de um sinal vermelho, se tem alguma coisa depois do vermelho, talvez

um vermelho intenso. Passamos, então, ao professor Armando Avena, à sua

exposição.

Armando Avena: Boa tarde a todos. Eu queria inicialmente dizer da satis-

fação de estar aqui discutindo as questões do Nordeste e queria fazer uma

referência especial a essa casa, que está nos recebendo aqui com tanta

disponibilidade das suas instalações. Queria registrar também o papel fun-

damental que a dra. Nicolle Barbosa tem tido em resgatar essa discussão

sobre o Nordeste; eu acho que Nicolle no Centro Industrial do Ceará trouxe

à baila um assunto que estava um pouco esquecido e que eu considero da

maior importância a gente estar retomando agora, especialmente porque o

ano que vem é um ano de eleição e é muito importante que o Nordeste tenha

sua posição bem definida nesse ano de 2014.

Na verdade, o que eu vou fazer aqui hoje, essa palestra, eu vou, na verda-

de, falar mais sobre o presente do que sobre o futuro. Edgar colocou algu-

mas coisas importantíssimas que eu acho que a gente tem que estar muito

atento, que é sobre o futuro mais de longo prazo do Nordeste, mas o que eu

quero discutir um pouco é uma questão, vamos dizer assim, mais prática.

No fundo, eu quero responder uma pergunta: por que, embora crescendo,

o Nordeste ainda continua tão atrasado em relação ao restante do país. No

fundo essa é minha intenção, é responder a essa pergunta, por que depois

de décadas, mais que décadas, depois de quase meio século de políticas pú-

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279RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

blicas, depois de SUDENE, depois de DNOCS, solução hidráulica, solução

econômica, a gente continua ainda muito atrasado em relação ao restante

do país. Essa é minha intenção e eu vou me arriscar aqui, a entre outros fa-

tores, listar alguns dos fatores que eu considero responsáveis pelo Nordeste

não ter elevado mais a sua situação.

Eu começaria dizendo que o Nordeste atual, se eu pudesse caracterizar em

poucas palavras o que está acontecendo com o Nordeste, eu diria crescimen-

to e inclusão, mas com a manutenção das desigualdades regionais. Eu quero

dizer com isso que o crescimento do Nordeste é inegável e quero dizer tam-

bém que os programas de transferência de renda e especialmente o aumento

do salário mínimo procederam alguma inclusão social, mas o que ocorre é

que essa inclusão e esse crescimento não foram capazes de resolver as ques-

tões fundamentais da desigualdade regional. Nós temos, como podemos ver

ali, o crescimento do PIB, temos a industrialização, temos a modernização da

agropecuária, a redução da pobreza e o consumo em expansão. São caracte-

rísticas claras de que o Nordeste vem crescendo e vem incluindo socialmente

a sua população, mas temos ao mesmo tempo o paradoxo que o PIB per ca-

pita continua abaixo da média nacional, temos um baixo rendimento domici-

liar médio, uma baixa escolaridade e uma industrialização e modernização da

agropecuária limitada. Ou seja, embora crescendo nós continuamos a mesma

coisa. Como dizia Lampedusa num brilhante romance que ele tem, “vamos

mudar para que tudo continue no mesmo”.Isso que aconteceu no Nordeste,

mudamos, mas tudo continuou no mesmo. Vamos ver como?

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280 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Vamos ver os avanços da última década em primeiro lugar. Os avanços

da última década mostram uma coisa que é bem interessante, a evolução

do PIB vem sendo maior no Nordeste. O Nordeste, com exceção de alguns

anos, ele vem crescendo mais nessa linha vermelha, o Nordeste vem cres-

cendo mais do que o Brasil; ou seja, o Nordeste vem mostrando dinamismo

econômico, ele tem dinamismo econômico e ele cresce um pouco mais do

que o Brasil em alguns casos. Mas, você vê logo mais adiante que algumas

regiões crescem muito mais do que o Nordeste, o que faz com que se mante-

nha mais ou menos estável a condição nordestina. Na verdade, o dinamismo

econômico regional se dá por quê? Primeiro pela expansão industrial, com

a consolidação de parques industriais de porte nas principais capitais da

região.

É preciso que a gente leve em conta que o Nordeste não é mais o Nordes-

te de pires na mão, nem é o Nordeste que precisa se industrializar, não, nós

já nos industrializamos, nós já temos mais de 30% da produção petroquímica

nacional, nós já temos 10% da produção de automóveis e vai subir para 15%

ou mais com a entrada da FIAT em Pernambuco, nós já temos uma produção

de celulose que é a maior do país, nós já temos uma produção de petróleo

e derivados que já é uma das principais do Brasil e vai se tornar mais ainda

com a entrada e operação da refinaria Abreu e Lima, que o Nordeste está

industrializado, o que precisa, talvez, é aprofundar a matriz de industrializa-

ção, é preencher as lacunas da matriz de industrialização, mas que já existe

indústria, e indústria competitiva, eu não tenho qualquer dúvida.

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281RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Eu queria dizer a vocês que eu já tive oportunidade de participar de se-

minários, em que ouvi coisas assim: “um polo petroquímico de trinta anos

de existência já está completamente desatualizado, não poderá competir”;

isto é uma falácia, porque as empresas que estão hoje trabalhando no polo

estão modernizando, estão investindo cada vez mais para tirar os gargalos,

para modernizar os processos de produção. Agora mesmo a BRASKEM, que

é a maior empresa petroquímica da Bahia, uma das maiores do Brasil, está

investindo duzentos e quarenta milhões, vai parar a planta agora, para quê?

Para continuar competitiva. E agora, a Bahia está recebendo um complexo

acrílico de 1,2 bilhão de dólares, que é o maior investimento da BASF fora da

Europa e que vai abrir uma nova rota petroquímica para o estado da Bahia.

Ou seja, eu não vejo nenhuma perspectiva de estagnação do polo industrial

de Camaçari; pelo contrário, o polo industrial de Camaçari, assim como Re-

cife nem se fala, Pernambuco nem se fala, Pernambuco está nesse momen-

to com um nível de investimentos industriais surpreendente, com Suape,

com a refinaria Abreu e Lima, enfim, com tudo que vocês já conhecem.

Então, não há dúvida, a expansão industrial do Nordeste não há dúvida.

Não há dúvida que a modernização da agropecuária, com a incorporação da

fronteira agrícola e a agricultura irrigada, é expressiva. Hoje quem trabalha

com agricultura já deve estar cansado de ouvir essa sigla MAPITOBA; eu

nem gosto dessa sigla, MAPITOBA, é feia a beça essa sigla MAPITOBA,

mas sabe o que é, não é? Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. O MAPITOBA

é onde está o nível de maior crescimento da produção de grãos e que pega

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282 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

o Piauí, o Maranhão, a Bahia, o Tocantins, e que está crescendo de maneira

significativa. A Bahia já é o maior produtor de algodão, o crescimento da

soja do Piauí e do Maranhão é impressionante, ou seja, a agricultura está

crescendo no Nordeste.

A ampliação do comércio e dos serviços também é significativa através

dos programas de transferência de renda e elevação do salário mínimo, a

elevação do salário mínimo é fundamental para esses programas, assim

como, não está escrito ai, os programas de previdência social. E, também,

o programa “Minha Casa, Minha Vida” que deu algum dinamismo ao setor

da construção civil. Ou seja, há crescimento econômico no Nordeste, não

há qualquer dúvida, há crescimento econômico em várias regiões. A prova

disso está ali, o Nordeste, distribuição do valor de transformação industrial,

entre 1970 e 2010.

O Nordeste tinha 5,7 e subiu para 9,3. Crescemos, foi bom, mas o proble-

ma é que os outros cresceram mais, é que os outros estados, é aquilo que a

gente vem dizendo, o Sudeste cai e cresce a participação do Nordeste na in-

dústria nacional, mas em percentual menor do que as demais regiões. O Sul

saiu de 12 para 21, deu salto no valor de transformação industrial. Então, se

mantém o processo de desigualdade na região Nordeste. Se a gente pegar

o emprego industrial, que não é muito diferente, também cresce o emprego

industrial da Bahia, e cresce também nas demais regiões. Mas se vê clara-

mente tanto no anterior quanto nesse uma redução da participação do Su-

deste. O Sudeste está perdendo posição relativa, só que o Nordeste que era

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283RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

a região que podia mais abocanhar essa diferença não está crescendo na

rapidez que deveria crescer. É nossa conclusão já imediata, estamos cres-

cendo, temos potencialidade, somos competitivos, mas estamos crescendo

menos do que deveríamos crescer para manter apenas a situação como nós

queremos. A nossa presidente do CIC, Nicolle, tem dito que a meta seria a

gente chegar a 70% do PIB per capita ; pois bem, do jeito que está, a gente

não só não vai chegar como é possível de ficar até menor. Então, é preciso

mudar essa situação.

Tudo isso acontece porque o Nordeste não é um Nordeste, são vários

Nordestes. A nossa Tânia Bacelar, minha amiga de muitos anos, escreveu

um texto fantástico, chamado “Nordeste, Nordestes”, mostrando que o Nor-

deste não pode ser apenas visto como um, é uma região muito complexa e

dentro dessa região você tem que a modernização da agropecuária é níti-

da, mas é especialmente no âmbito da fruticultura e da produção de grãos,

e que esses segmentos estão em territórios ou biomas espacialmente lo-

calizados, já que o Semiárido regional permanece atrasado e se caracte-

riza por baixa produtividade e pelo fenômeno da seca que periodicamente

desorganiza a produção regional. Vejam senhores, eu vou voltar a falar em

seca porque eu acho que nós deixamos de falar de seca, seca parece que

se tornou uma coisa “ah, temos que viver com ela” e ninguém fala muito

desse problema, só que esse problema é básico para explicar porque que o

Nordeste continua ainda atrasado, e por que não se toma uma solução em

relação a isso? Passados mais de sessenta anos desde as primeiras inter-

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284 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

venções. Uma prova do que eu estou dizendo são esses indicadores do setor

agropecuário, são simplesmente impressionantes, porque ao mesmo tempo

que o setor agropecuário cresce nas áreas que eu chamo “as ilhas de moder-

nidade”, o valor de produção da agropecuária em 70 era 18,3, caiu para 14,7.

Nós estamos posição na agropecuária, nós estamos perdendo posição até

na produção de grãos e estamos perdendo posição para efetivo bovino. Sabe

por que nós estamos perdendo posições? Porque de tempos em tempos, en-

tre outros fatores, vêm os fenômenos que desestruturam fortemente toda a

economia regional, um fenômeno que desestrutura o comércio, a indústria,

numa área onde vivem vinte milhões de pessoas. Eu não sei se já nos demos

conta que no Semiárido nordestino vivem vinte milhões de pessoas e que

ele continua atrasado como sempre continuou. Ou seja, a modernização do

Nordeste passa ao largo do Semiárido, ou quase; claro que tem algumas

ilhas importantes.

Não há dúvida que as transferências diretas de renda e o aumento do

salário mínimo impulsionam a economia do Nordeste. Eu já tive oportunida-

de de fazer um artigo no jornal “A Tarde”, mostrando que o Bolsa Família é

muito bom para o Nordeste porque aquilo que era a nossa grande desvan-

tagem tornou-se vantagem. Qual era a nossa desvantagem? Ter pobres. O

Bolsa Família, o que ele faz? Ele dá dinheiro a quem é pobre, logo o Nordeste

é quem mais recebe dinheiro do Bolsa Família. Até aí nada de ruim, todo

país do mundo já fez alguma vez Bolsa Família, inclusive o mais liberal dos

liberais propõe programas de distribuição de renda, o grande liberal cha-

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285RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

mado Frederico Hayek, para quem se dar ao trabalho de ler, o maior dos

liberais, ele propõe um programa de renda mínima para as pessoas que não

são capazes de se inserir no mercado, para o que, naturalmente no caso, ele

propõe programas temporários. O Bolsa Família ajuda o Nordeste, eu não

tenho qualquer dúvida disso, 52% dos recursos do Bolsa Família em 2008 veio

para a região Nordeste. Vamos para 2010, que eu consegui o dado; 51% dos

recursos do Bolsa Família vieram para o Nordeste, são seis e meio bilhões

de reais; isso não é importante? Claro que é importante e eu não posso des-

cartar isso, só que isso não muda a realidade regional. E vocês ouviram pela

manhã que o dr. João Martins, presidente da Federação da Agricultura do

Estado da Bahia, dizer que os prejuízos da seca chegaram a quanto? Dez

bilhões. Ou seja, o Bolsa Família transfere seis e meio e você desestrutura a

economia regional um ano, desestrutura perdendo dez bi e eu vou mostrar

a vocês que é muito mais do que isso. Então o Bolsa Família é bom, nada

contra, mas ele não é transformador, ele não é o salto, ele simplesmente

mantém a situação e o pior: ele vaza para o Sudeste. O Bolsa Família vaza

para o Sudeste. Como que ele vaza para o Sudeste? É muito simples, para

que as famílias usam Bolsa Família? Para comprar bens, e os bens e ser-

viços ainda vem a maior parte do Sudeste na troca de mercadorias, os te-

levisores, o LCD, os telefones celulares, ainda vêm do Sudeste. Então, boa

parte dos recursos vaza no processo de troca de mercadoria de comércio

por vias internas, que, aliás, era uma estatística que nós tínhamos que era

fundamental e que desapareceu, não temos mais, eu soube que estão ten-

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286 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

tando reconstruir, o que é fundamental, Cláudio, para a gente entender de

novo o Nordeste, é a reconstrução dessas estatísticas de comércio por vias

internas. Então, o Bolsa Família vaza para o Sudeste e, agora, é verdade que

estimula o investimento local, especialmente na produção de alimento no

setor terciário e como disse Zezéu, aqui pela manhã, não há dúvida que te-

mos vitrines, já temos vitrines no interior, mas as vitrines na maioria das

vezes mostram e expõem produtos vindos de fora ainda. Ou seja, o Bolsa

Família é bom, não me tirem ele do Nordeste, mas não é transformador, não

resolve a situação. E tanto não resolve que esse gráfico mostra como é que

está a situação hoje, que essa lista aqui é o PIB nacional um, as regiões do

Nordeste está cá embaixo; 60% do PIB per capita , nós estamos com 60% do

PIB per capita , é menos de 60%. Na verdade, continuamos a mesma coisa

que a trinta anos atrás. E eu vou dizer uma coisa, nesse ritmo a gente só vai

chegar a 70% do PIB nacional em 2074, então temos que mudar esse ritmo

se a gente quer realmente mudar a região Nordeste. Em resumo de tudo que

eu disse até aqui, houve crescimento na economia, mas apesar disso a par-

ticipação do PIB permanece baixa em relação à sua população e o PIB per

capita permanece inferior à média nacional, bem inferior, inferior abaixo de

50% da média nacional.

Eu me atrevi a tentar entender o que acontece, porque isso continua

acontecendo e, entre outras coisas, eu descobri que são dez fatores, mas

antes eu vou mostrar aqui claramente. Veja a diferença do PIB, 2002 a 2010,

o PIB era 13 passou para 13,5, o do Nordeste. O do Sudeste caiu um pouqui-

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287RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

nho, o do Centro-Oeste cresce um pouquinho, tudo permanece como dantes

no quartel de Abrantes, como se dizia antigamente. Não houve mudanças

fundamentais na estrutura de produção do Brasil, embora o Nordeste tenha

crescido, embora haja industrialização, embora haja melhoria das condições

gerais. Por que isso acontece?

Frente a esse quadro surge a pergunta, essa é uma pergunta básica do

Integra Brasil: quais os principais fatores em que pesa as várias políticas, os

mecanismos de atuação dos organismos regionais, explicam a persistência

da desigualdade entre o Nordeste e as demais regiões brasileiras? Essa é

uma pergunta que nós devíamos nos fazer, por que ainda continuamos as-

sim tão atrasados e estamos crescendo? E eu tentei avaliar isso e chegamos

a conclusão que, além dos condicionantes históricos, dez fatores recentes

ajudam a explicar porque não houve maior redução da desigualdade, dez

fatores, entre outros e entre os condicionantes históricos. Que fatores são

esses?

Manutenção do hiato educacional, manutenção do hiato da renda fami-

liar, processo de desregionalização das políticas públicas com a inexistên-

cia de política nacional de desenvolvimento regional que gera guerra fiscal,

o esvaziamento da representação política do Nordeste com aquilo que eu

chamo de “paradoxo da guerra fiscal”, a ocorrência de secas recorrentes

que desorganizam a produção regional, o processo crescente de reconcen-

tração dos recursos públicos na união, e mais a concentração dos finan-

ciamentos do BNDES no Sul e Sudeste do país, a concentração da malha

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288 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

urbana no Sul e Sudeste, o foco dos investimentos em infraestrutura que

mantém a lógica de concentração e a concentração dos investimentos em

infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento.

Eu vou voltar aqui só um pouquinho para falar o paradoxo da guerra fis-

cal, que o nosso deputado Zezéu disse pela manhã também. É um paradoxo

porque a guerra fiscal não é boa para ninguém, mas a não existência da

guerra fiscal seria muito pior para os estados do Nordeste, porque desde o

governo Itamar Franco que não existe mais política nacional de desenvolvi-

mento regional do país, e se não existe política nacional de desenvolvimento

regional, ainda bem que existe a guerra fiscal. Ou seja, quando você não tem

um órgão que organize isso é muito melhor que tenha alguém que equalize

essas questões. Eu me recordo bem que na época que discutimos, eu estava

presente como secretário de planejamento, na época discutimos a venda da

FORD, um dos executivos da FORD sentou à mesa e disse muito claramente:

“eu gasto quinhentos dólares a mais para construir um carro no Nordeste,

equalize isso que eu venho para cá”. Simples assim; reduza esses quinhen-

tos dólares que eu venho para cá, eu não tenho nenhum problema de locali-

zação. E nós tivemos que reduzir os quinhentos dólares por carro para trazer

a FORD para a Bahia. Mas, vocês acham que eu acho boa a guerra fiscal?

Não, não acho. Eu acho que ela prejudica o país, mas é preciso que tenha

outra política que faça essa equalização porque senão a FORD vai para São

Paulo de novo, a FIAT também; se não fizer a equalização, nós vamos con-

tinuar mais para trás ainda, por isso que eu digo que a guerra fiscal é um

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289RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

paradoxo. Naturalmente, eu não estou falando dessa guerra fiscal portuária

que foi referida de manhã, que é uma guerra, essa não é uma guerra, essa é

uma guerra de guerrilha, porque o que se faz ali não é com bens nacionais,

são com bens importados, você reduz o imposto para que ao invés de entrar

pela Bahia entre por Santa Catarina. Essa guerra não é guerra fiscal, é guer-

ra portuária e essa guerra felizmente agora acabou.

Bom, vamos tentar analisar cada um desses pontos? Aqui mostra clara-

mente o hiato educacional do Nordeste, ali está o Brasil, embaixo da média

brasileira todos os estados nordestinos. Ou seja, anos de estudo, todos os

estados do Nordeste têm menos anos de estudo do que a média nacional.

Então, não há como competir sem mexer nisso. Eu tive a oportunidade de

fazer junto com Nicolle e Cláudio uma discussão na Comissão de Desenvol-

vimento Regional do Senado e foi consensual, a Senadora Lídice da Mata

colocou a educação como base, o Senador Inácio Arruda colocou a educa-

ção como base, se não mexer no processo educacional do Nordeste não vai

conseguir reduzir as desigualdades. Então, esse é um ponto fundamental, eu

não vou nem me estender muito.

O outro é o rendimento domiciliar per capita. Nosso rendimento domici-

liar per capita é menor do que a média brasileira, e quanto menos a renda

domiciliar per capita é menor, menos o nível de poupança, menos o nível de

investimento. Quem estudou o velho Keynes sabe a história, quanto maior a

renda, maior a poupança, quanto maior a poupança, maior o investimento.

O rendimento domiciliar médio é maior nas demais regiões, a capacidade de

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290 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

compra é maior e por isso essa questão é impedimento no desenvolvimento

maior do Nordeste. Eu quero frisar aqui uma coisa importante, a nova polí-

tica econômica, essa política de transferência de renda foi boa para o Nor-

deste porque aumentou o consumo e consumo gera desenvolvimento tam-

bém. Mas sozinha ela não resolve porque ela não muda o parâmetro básico

de estrutura dos extratos de renda, ela não gera na verdade um processo de

transformação.

Esse quadro é muito nítido da pobreza do Brasil. O que está em azul rece-

be até 50% do rendimento domiciliar nacional. Ou seja, aí é onde está a pobre-

za do Brasil, está em azul a pobreza do Brasil. O Nordeste não mudou isso,

não mudou com Bolsa Família, não mudou com salário mínimo e nem mudou

com a previdência social. Eu queria dizer que algumas cidades da Bahia, se

não tiver previdência social ou Bolsa Família a situação é gravíssima porque

não tem atividade econômica e nós vamos ver agora porque, que é o terceiro

item que eu queria colocar. O dinamismo econômico regional é localizado e

os programas de transferência de renda, bem como o aumento do salário mí-

nimo, não são capazes de transformar a base produtiva, especialmente por

conta da seca e do quadro fundiário. O dinamismo econômico no Nordeste

se localiza nas chamadas ilhas ou regiões de modernidade, concentradas

nas capitais e regiões metropolitanas e em áreas localizadas de expansão

agrícola industrial. Exemplo: dos quatrocentos e dezessete municípios da

Bahia, mais da metade tem como fonte de renda básica as transferências do

Bolsa Família e da previdência social. Não é bem o salário mínimo, sabem

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291RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

por quê? Em época como agora, mesmo um cidadão que tinha algum salário

ele migra, então quem sustenta mais de metade dos municípios da Bahia são

o Bolsa Família e a previdência social, porque não há atividade no Semiárido,

não há atividade econômica, ainda mais em tempo de seca. E agora que eu

quero mostrar como a seca tem uma influência grave no Nordeste.

As secas se sucedem periodicamente, desorganizam a produção regio-

nal, esterilizam capital, reduzem a capacidade de investimento, aumenta o

nível de endividamento e são responsáveis pela manutenção dos baixos índi-

ces de produtividade agrícola. A solução hidráulica que dizia “vamos cons-

truir açudes no Nordeste” não resolveu, mas a solução do GTBN também

não resolveu e não há um programa de convivência com a seca como há em

vários países do mundo. Mais ainda, todas as ações pareciam importantes,

mas são pontuais e, além disso, demoram uma vida; a transposição do Rio

São Francisco vai levar ainda, não me arrisco nem fazer uma previsão, mais

três ou quatro anos para ser concluído, ou mais. Então, não andam e as pes-

soas esqueceram a seca.

Sabe qual é o impacto da seca? Esse quadro, não está dando para ver

bem aí, mas ele mostra o que aconteceu na Bahia em 2012, ele mostra o

quanto se perdeu na produção de grãos. Na produção de bovinos, foram

mortas seiscentos e quarenta mil, hoje o dr. Batista disse que já chegou

a um milhão de cabeças, se perdeu um milhão de cabeças em um ano, ou

por venda ou por morte, o cidadão vende antes que ela morra. Meus amigos,

se isso estivesse acontecendo em São Paulo já estava o Brasil inteiro mo-

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292 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

bilizado para salvar as cabeças de gado de São Paulo. Mas, engraçado, no

Nordeste vai passando.

No Semiárido baiano cabe dois Cearás e meio. Ou seja, o que nos une,

sabe o que nos une à região Nordeste? É o Semiárido, e o Semiárido precisa

de uma ação regional vinda do governo federal, não pode ser uma política

de cada estado, tem que ser uma política regionalizada, federal e com muito

recurso, não pode ser, vir aqui sem nenhuma demérito, quanto mais recurso

melhor, mas não pode de repente criar o plano de safra do Semiárido e resol-

ver, porque não vai resolver, tem que ser um programa de longo prazo, uma

política regional, por isso tem que ser uma ação efetiva do governo federal.

Mas, também, existe uma outra coisa.

Intervenção: Permita-me atropelar a sua bela exposição. A propósito da

seca, como foi destacado aí tem havido intervenções pontuais, nós preci-

samos é de soluções definitivas. Eu vi pessoalmente, e já é um terreno que

pareceu muito pior, um Semiárido calcinar, uma coisa horrível, mas eles in-

vestiram de vez e lá o crescimento se faz também na agricultura, eu vi os

núcleos que eles têm produzindo rosas e mandando para Amsterdã, que é a

capital das flores, produzindo maça em outro núcleo e mandando para a Big

Apple. Então, veja bem, porque deram uma solução definitiva.

E essas soluções pontuais não vão resolver, quando a seca se agrava,

como naquele seu destaque, nos anos mais áridos eles tentam um progra-

ma, vamos dizer, melhorado e volta tudo ao que era porque as soluções têm

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293RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

sido pontuais e não definitivas, e nós precisamos erradicar a seca de outra

forma, criando programas permanentes e duradouros. Me perdoe a inter-

venção.

Armando Avena: Mas é exatamente isso, não sei se, o Edgar me corrija aqui,

mas o PIB da Bahia agropecuário caiu ano passado parece que 9%, em um

ano caiu 9%, isso é dramático. Imagine se fosse isso nos laranjais de São

Paulo, na cana de açúcar de São Paulo, então é preciso olhar a seca com

outros olhos, a seca precisa voltar a ser prioridade nacional.

Mas não é só a seca, eu tenho registrado um processo crescente de re-

concentração dos recursos públicos da união, a constituição de oitenta e

oito ela descentralizou a receita, mas desde então, e não é um governo, são

vários, vem concentrando de novo os recursos. Esse próximo quadro é au-

toexplicativo, receitas compartilhas x não compartilhadas.

As receitas em 1988 eram 76% compartilhadas com os estados, ou seja,

IPI, imposto de renda, essas coisas eram compartilhadas com os estados,

vinham através do Fundo de Participação dos estados, vinham através do

Fundo de Participação dos municípios. A linha azul despenca, tem uma pe-

quena melhora e volta a despencar, cai de 76% para 33%, enquanto que as

receitas não compartilhadas, ou seja, contribuições, confins, essas contri-

buições todas, elas terminam, o governo federal dá um by-pass e cria con-

tribuições que terminam crescendo de 24% para 67%, então há nitidamente

uma concentração.

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294 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Aqui está muito claro, os gastos públicos, embora regionalizados, não

mantêm a mesma proporção. Aqui em 2010, vocês vêem naturalmente que o

estado que mais recursos em educação ainda é o Sudeste, a concentração é

óbvia dos recursos orçamentários.

Aqui que entra a colocação do ex-deputado Constituinte, Joaci Góes, com

relação ao Artigo 165, parágrafo 7º da Constituição. Eu acho que esse artigo

precisa ser posto em discussão no Congresso Nacional, é o que nós discuti-

mos de manhã, não vou me estender, mas é o que regionaliza os orçamentos,

está em vigor na constituição. Se ele estivesse em vigor, nós receberíamos

28% do total de recursos do orçamento da união. Tudo bem, alguém vai me

dizer claramente aqui, e eu vou concordar, é impossível fazer isso de uma

hora para outra, eu sei que é impossível, mas esse artigo pode ser um bom

começo de uma barganha para a gente atrair mais recursos para as obras,

porque se está na constituição alguma coisa precisa ser feita. Então, esse é

um outro ponto, a concentração dos recursos.

Bom, aqui além da lógica da concentração, tem uma outra coisa, o nosso

representante do BNDES disse de manhã uma coisa verdadeira, que melho-

rou um pouco a posição do Nordeste e é verdade, e melhorou. Hoje o nordes-

te tem 13,5%, esse é o ultimo dado que eu tenho disponível, pode estar até

errado, mas não mudou ainda a lógica do Brasil e do BNDES. Eu fui durante

quatro anos secretário de planejamento, eu ia no BNDES e nos outros órgãos

e apresentava um projeto, e a primeira pergunta sabe qual era? Era assim:

“Tudo bem, bom projeto, interessante, mas me diga, essa ferrovia, qual é a

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295RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

carga que ela vai transportar?”. Eu digo, bom, agora não tem carga, “ah, se

não tem carga não tem viabilidade econômica e financeira”. Acabou o pro-

jeto, não tem carga, não tem viabilidade. Ora, não tem viabilidade e não tem

carga porque não tem ferrovia, na hora que você toma a atitude de construir

uma ferrovia para criar o mercado, para inverter o rumo do escoamento da

produção, se você não faz isso para alguns projetos, claro que não para to-

dos, mas você tem fazer isso para alguns projetos para assim fazer política

regional, política regional é quebrar a lógica do mercado. É dizer, o mercado

diz que só tem carga aqui, então nós vamos criar uma ferrovia para estimu-

lar a vinda dessa carga por essa região; claro que não é qualquer lugar, mas

você precisa quebrar a lógica, quem é que quebra a lógica do mercado?

É a política de desenvolvimento regional. Então, eu reconheço que o BN-

DES avançou muito, mas ainda joga todo ano 50% dos recursos de financia-

mento e, no sudeste por mais que a gente tenha melhorado, eu quero frisar

aqui a Bahia mesmo se beneficiou muito com o estaleiro, se beneficiou mui-

to com a energia eólica, mas a lógica ainda concentra no sistema.

E aqui, eu estou já chegando ao fim, mas a concentração regional do in-

vestimento em ciência e tecnologia. Aí não há qualquer dúvida, não vou nem

me estender muito, porque se há um futuro para essa região é se ela conse-

guir investir em ciência e tecnologia, e a inversão em ciência e tecnologia,

eu não vou nem colocar aqui o número de doutores, o número para a gente

vai sair perdendo tão forte nisso, que esse é um dos motivos pelo qual o

Nordeste não avançou mais, é porque os investimentos, nós somos aquela

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296 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

listinha vermelha ali, não tem nada de investimento em ciência e tecnologia

na região, não tem nada de investimento em relação ao montante. Porque se

nós não quebrarmos essa lógica, eu insisto em dizer isso, se o governo fede-

ral não tiver uma política de desenvolvimento regional para quebrar a lógica

do mercado, nós seremos eternamente atrasados em relação ao Sudeste do

país.

Aqui eu quero dizer uma coisa, uma pergunta que eu sempre faço que é

a seguinte: a região Nordeste tem poucos aglomerados urbanos de porte, a

atividade econômica se realiza cada vez mais nas cidades. Eu vou fazer uma

pergunta: quantas cidades com mais de quinhentos mil habitantes tem em

Minas Gerais? Pelo menos dez; Juiz de Fora, Teófilo Otoni, governador Vala-

dares. São Paulo, quantas cidades tem com mais de quinhentos mil habitan-

tes? Não tem graça. Quantas cidades a Bahia tem com mais de quinhentos

mil habitantes? Uma e fica a cem quilômetros de Salvador. É preciso forta-

lecer a rede urbana, e aí eu tenho que dar um crédito, que não há forma me-

lhor de fazer isso do que colocando universidades,como que tem sido feito

agora, Universidade do Sul, no Recôncavo, isso é muito bom, isso concentra

a malha urbana.

Mas enquanto não se concentrar a malha urbana, enquanto não se fizer

cidades médias, que é onde ocorrem as negociações. Eu vou dizer aqui uma

coisa a vocês, vocês não briguem comigo não, mas quando eu era criança,

quando eu era estudante, a coisa que mais me diziam era assim: “é preciso

fixar o homem no campo”. Fixar o homem no campo é uma injustiça social

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297RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

e quem quer fixar o homem no campo geralmente mora na cidade, e ele não

quer que o homem venha para cá, deixa o homem lá no campo. E não há

país no mundo que tenha fixado o homem no campo, no campo literalmente,

onde é que fixa o homem? Nas cidades do interior. Não é fixar o homem no

campo, porque você levar infraestrutura ao campo é caríssimo, o homem

trabalha no campo, mas vem para a cidade onde ele tem televisão, onde ele

faz negócio. Então é preciso aumentar mais malha urbana, é preciso fazer da

cidade o grande local onde se faz negócio. Feira de Santana é, por exemplo,

um exemplo de cidade que é um centro notável de desenvolvimento, hoje é

uma das cidades que mais cresce. Vitória da Conquista é outra, Vitória da

Conquista é hoje uma das cidades que mais cresce na Bahia, tomara que

ela cresça, eu não quero megalópoles não, mas cidades com infraestrutura

urbana capaz de gerar negócios, de gerar estudo, de gerar educação, essa é

a ideia. Na Bahia só existe uma cidade.

Olha onde está a concentração das cidades, está no eixo sul-sudeste do

país, a gente tem pouquinho lá em cima.

Então, é fundamental estabelecer um programa de adensamento das ci-

dades médias, eu digo isso há quinze anos, com ofertas de serviços básicos,

educação, saúde; tem melhorado, porque essas políticas de fazer universi-

dades, isso tudo, não há qualquer dúvida que melhore.

A concentração da infraestrutura no Sul e Sudeste do país, a distribuição

regionalmente desequilibrada é óbvia, a infraestrutura logística é voltada

para a conexão das demais regiões brasileiras ao Sudeste e o metal externo

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298 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

via litoral Atlântico, porque a ótica do mercado é que faz isso. É no Sudeste

que está o maior mercado, se eu quero reduzir a desigualdade regional eu

tenho que inverter essa lógica. A malha rodoviária está toda concentrada na

região Sudeste, o Nordeste tem muito menos. A malha ferroviária, a mesma

coisa, está concentrada no Sudeste. Frente a esse quadro, é preciso colocar

um viés regional na política de dotação de infraestrutura. E eu aqui queria

dizer que nós não estamos querendo uma política regional não, nós estamos

querendo que na política nacional haja um viés regional, é diferente. Na po-

lítica nós vamos construir ferrovias? Então nessa ferrovia vamos colocar um

viés regional, porque é isso que muda o contexto.

Eu tenho que dar, a bem da verdade, dizer que o PAC tenta minimizar a

lógica da concentração. Eu preciso dizer isso porque se vocês forem analisar

o PAC há muitos projetos regionais voltados para o Nordeste, é uma tentativa

de você pelo menos diminuir um pouco. O Nordeste tem 29,2% dos recursos;

há uma tentativa, mas só que é uma tentativa engraçada porque os projetos

que estão no Nordeste não andam ou andam vagarosamente, e eu posso falar

da FIOL, da TRANSNORDESTINA, da Transposição e dezenas de outros. Na

reunião que nós tivemos no Senado, o líder do governo no Senado, o Senador

Pimentel, reconheceu, nós estávamos presentes, que realmente algo precisa

ser feito porque as obras do PAC no Nordeste andam muito mais devagar do

que a do Sudeste do país. Então, até o governo já reconhece isso. E essas

obras são fundamentais? Como a gente vai ver no gráfico aqui. Eu nem vou

discutir, Edgar foi muito mais longe, Edgar já está pensando a vinte anos lá na

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299RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

frente, eu estou pensando agora. Ora, aquelas duas ferrovias que estão ali e

que ligam, uma é a FIOL que está em Figueirópoles, não devia nem estar ali

em Figueirópoles, mas que vai até o porto de Ilhéus e outra que vai até Pecém

e Suape, se essas ferrovias não ficarem prontas a tempo de se incluírem na

estrutura de escoamento da produção nacional, nós vamos ter um Nordeste

oriental, completamente isolado do restante do país no sentido econômico.

Aquelas duas ferrovias são fundamentais para você dar uma saída para a

produção, especialmente a produção do Mato Grosso e de Goiás, que então

teriam os portos tanto do Maranhão quanto Pecém, Suape e Ilhéus; eu não sei

se isso resolve, mas pelo menos você abre uma perspectiva de escoamento

da produção via Nordeste, sem isolar o Nordeste oriental. Então, isso é apenas

um exemplo, porque para a ferrovia é a mesma coisa, eu não vou nem falar da

hidrovia do São Francisco, que eu passei anos lutando por essa hidrovia, e por

aí vai. Mas é a importância da infraestrutura nesse contexto.

E agora, eu termino dizendo qual é a conclusão. É preciso uma nova forma

de pensar o Nordeste, que leve em conta, entre outros, os seguintes fatores:

política nacional com viés regional, antes de eu ter uma política regional de

desenvolvimento eu quero que na política de ferrovia o Nordeste seja priori-

tário. Antes de eu ter uma política de estradas, eu quero que na política de

estradas o Nordeste seja prioritário.

A política setorial de infraestrutura e creditícia tem que ter um viés regio-

nal. A regionalização dos orçamentos da união, a implantação de uma estra-

tégia de longo prazo de convivência com a seca, estancar a reconcentração

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300 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

dos recursos da união e implantar uma política regional com viés de integra-

ção nacional e regional, essa é a essência do Integra Brasil, é a essência de

integrar regional e nacionalmente o país.

Isso só será possível como? Através da ação política, não adianta que téc-

nico não resolver isso, isso aí nós já conversamos bem, é como a gente es-

tava discutindo com a própria Nicolle, o Integra Brasil tem que ser um fórum

político, não adiante agente técnico estar aqui, tem que ter uma ação políti-

ca, porque é a ação política que vai resolver o restabelecimento da identida-

de regional. Eu sou do tempo que a reunião da SUDENE, de governador, dava

em jornal nacional. Hoje ninguém nem mais fala de reunião da SUDENE,

muito menos de governadores, ouve um esvaziamento completo das insti-

tuições regionais, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional é funda-

mental, e é preciso a regionalização dos orçamentos. Ou seja, eu termino

dizendo que o Nordeste cresceu, o Nordeste tem potencial de crescimento,

concordo com a maior parte das coisas que Edgar colocou aqui, mas acho,

e por isso considero o Integra Brasil um movimento fundamental, que sem

uma ação política, que sem desenvolvimento concreto, esse tipo de influên-

cia junto ao governo federal vai ser muito difícil mexer nessa desigualdade

regional. E se continuar como está, o maior provável é que a gente continue

com o mesmo desequilíbrio que caracteriza o Brasil hoje. Muito Obrigado.

José Antônio Pinho: Obrigado professor Avena por sua exposição, também

um choque de realidade, mas outro choque de realidade que falou com o

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301RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

racional da mente, falou com o coração e falou com as vísceras também,

e acho que as ruas estão falando com as vísceras. Nós estávamos falando

com o Edgar antes, a gente tem que ouvir e decodificar o que as ruas estão

dizendo e a gente também começar a falar um pouco com as vísceras aos

setores políticos competentes, mandar as mensagens.

Paulo Guimarães: Professor Avena, eu queria fazer uma ponderação rápida

para ele ouvir e a gente continua depois no Integra, coisa de dois minutos.

Primeiro dizer que é fantástica a apresentação e dizer que o que eu vou

comentar aqui, eu fico em Recife, eu comento sempre em Recife, em Salva-

dor, quando eu vou ao Rio eu faço exatamente as suas colocações, acho que

a gente não pode baixar a guarda. É evidente que o incremento foi importan-

te, cheguei no BNDES, em Recife, na regional em 2007, o desembolso era em

torno de 8,5%, crescemos 5 para 13,5 num ambiente onde o banco saiu de

oitenta bilhões, noventa bilhões em 2007, para cento e sessenta bilhões em

2012, então num ambiente de crescimento muito forte ganhamos 5%; isso foi

uma vitória importante. Evidente que teria que ser mais para mudar a lógica

como o professor colocou. Agora, eu queria assim deixar claro que eu acho

que a gente deveria trabalhar forte, que outras externalidades a meu ver,

na minha opinião hoje, elas são bem mais prioritárias, eu acho que ela não

deve sair dali. Eu até comentei com o Girley aqui, ainda bem que ela está no

sétimo ponto. Ela não deve sair dali, eu acho que tem que se fixar. Mas ou-

tras externalidades, a gente percebe, a gente está numa casa, por exemplo,

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302 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

que poderia ser feita essa pergunta ao Integra Brasil antes, a pergunta é a

seguinte: qual é o peso do financiamento na decisão locacional hoje de um

investimento? Eu acho que ele reduziu-se bastante. Eu acho que no caso da

região Nordeste outras variáveis hoje trazem um peso ainda maior do que

simplesmente a existência do financiamento. Eu entendo perfeitamente a

lógica bancária que tem dentro do BNDES, de normas até do Banco Cen-

tral, da viabilidade de trabalhar com normas de viabilidade de uma ferrovia

ou não, eu concordo plenamente, temos uma situação hoje, por exemplo, de

PPP’s e de lógicas colocadas no sistema rodoviário, o Nordeste é um vazio

nas previsões, a Bahia ainda tem, mas é um vazio nas previsões de parcerias

público-privadas ou concessões. Eu acho que nesse caso o estado tem que

resolver quando ela não tiver viabilidade, eu concordo plenamente. Agora,

eu queria enfatizar para esse conjunto de propostas do Integra Brasil esse

sentido, quer dizer, a decisão, por exemplo, advinda do Renova, um grande

parque eólico para a Bahia, decisão dos estaleiros, petroquímica, refinaria

Abreu e Lima, nenhuma delas foi baseada na existência ou não de finan-

ciamento, foram outras condições, outras situações que forneceram esses

grandes, esses âncoras que vieram para o Nordeste e mexeram nessa par-

ticipação, no desembolso de cento e sessenta bilhões de reais, b de bola,

mexer de 8,5 para 13,5, só a presença de âncoras e de grandes projetos. E a

decisão desses grandes projetos, da vinda deles, tem uma participação, não

vou deixar de defender a parte do BNDES, tem sim quando analisa, quando

tenta montar, equacionar o frame de prazos suportáveis. Mas é uma parte da

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303RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

decisão que eu não diria que é a fundamental na escolha locacional, então a

gente teria que trabalhar, não deixar de forma alguma baixar a guarda, é me-

lhor que a gente deixe o financiamento como uma coisa prioritária, mas eu

acho que tem algumas outras externalidades que a gente tinha que ressaltar

no estudo. Era só isso. Peço desculpa por ter feito agora, que eu tenho que

pegar o voo realmente, mas eu não queria deixar de falar.

Armando Avena: Eu concordo plenamente com você, tenho que registrar

uma das equipes técnicas mais competentes com que eu já trabalhei é a

equipe do BNDES, mas o que eu digo é o seguinte, concordo plenamente

com o que você colocou, tem melhorado muito, tem aumentado muito, mas

é que na verdade um dia alguém me disse assim: “Por que não colocar uma

cota? Não tem a cotas dos negros da universidade, coloca uma cota do Nor-

deste”. Eu não vou levar isso às últimas consequências, eu não quero uma

cota do Nordeste que eu não sei se essa política resolve, mas o que eu digo é

o seguinte, é preciso dizer que o montante de recursos, independente da via-

bilidade econômica, claro que não é para qualquer projeto, mas para ter vi-

são regional, entendeu? Mas eu concordo plenamente com o que você falou.

José Antônio Pinho: Então, vamos iniciar agora a segunda e derradeira,

acredito, fase desse trabalho desta tarde, tivemos duas palestras de nível

excelente, trazendo um conteúdo muito aprofundado, um registro muito fiel

da realidade, levantando questões que merecem toda a nossa atenção, nos-

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304 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

sas interrogações e o que fazer daqui pra frente no sentido de mobilizar for-

ças para que possamos ter resultados, possamos ter produtos nesse tipo de

mobilização que está ocorrendo aqui.

Eu vou passar a palavra para as pessoas que estão inscritas, já temos vá-

rias manifestações, então eu gostaria de fazer alguns comentários, brevíssi-

mos, aliás. Quando o professor coloca a sua proposta ou inquietações para o

futuro, eu me lembro daquela frase, que a essa altura eu já não lembro quem

foi que disse, que no Brasil até o passado é incerto. Então, se a gente, nesse

país, que lida com o presente e o futuro, tentando compreender, se até o

passado é incerto, realmente é uma tarefa hercúlea a gente tentar ter algum

grau de confiança e de certeza no Brasil e o que esperar.

A segunda questão também voltada tanto para falar de Edgar quanto do

professor Avena, é sobre o Semiárido, essa região esquecida, esse novo Norte,

digamos assim. Esse Norte não tem Semiárido, é como se dissesse assim eu

pego o filet mignon do Nordeste, é o além São Francisco que é cerrado, e deixo o

Semiárido para vocês, deixo o Semiárido no Nordeste original. E um dado muito

interessante que eu também, como um programa de televisão que eu vi muito

rapidamente e não consegui registrar, mas acho que era uma antropóloga que

estava falando e ela dizia que o Semiárido do Brasil é a região de Semiárido do

mundo mais populosa, o que também acho que nos faz refletir. Talvez quando a

gente vê regiões do mundo que convivem com situações muito mais drásticas e

graves encontraram saída, realmente parece que é uma decisão política de não

enfrentar esse problema, mas eu acho que talvez a transposição ou a não trans-

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305RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

posição recente acho que é uma demonstração que mesmo quando parece que,

por sorte é um companheiro, uma dissertação sobre transposição em São Paulo

na GV e podia aproximar mais essa questão. E também dizer o seguinte, essa

obra que foi feita aqui não foi ocupada e que a gente vê algumas fotos dantes-

cas, de ver aquelas estruturas todas já estouradas, se não usar, se não colocar

para funcionar, não colocar água para passar, vai ter que fazer a obra de novo,

perdeu, jogou dinheiro fora. Então, parece que é um país ao mesmo tempo po-

bre, somos um país pobre, não adianta, numa região pobre, jogando dinheiro

fora, então não é só o passado que é incerto.

Uma outra colocação, uma vez numa dessas tantas viagens que a gente

faz por aí, eu sentei ao lado de um indiano, digo sentei porque ele já estava

sentado, eu cheguei depois, sentei ao lado de um indiano que falava portu-

guês, casado com uma brasileira, ele tinha uma MBA nos Estados Unidos,

não sei se ele era formado em engenharia, mas tinha uma MBA em logística

nos Estados Unidos, e mora no Brasil, metade no Brasil, metade nos Estados

Unidos, ele faz essa ponte aérea. E ele ficava pasmo como o Brasil, sendo

um país continental, não explorava a navegação, navegação costeira, para

não falar nem dos rios, a navegação costeira, um país que poderia transpor-

tar cargas, não é nem por trem é por capotagem, transporte marítimo mes-

mo, e que abdica desse diferencial, ignora, faz de conta de que não existe.

Então, são só essas breves considerações porque as duas falas aqui insti-

gam muitas outras ideias e passo, então, para quem já tiver inscrito aqui, se

manifeste, professor Adari, professor Tânia, professor Murilo.

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306 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

Adari Oliveira: Eu vou pedir a paciência de vocês, nós estávamos numa re-

união aqui falando sobre o Nordeste. Também antes de fazer as duas per-

guntas, eu gostaria de fazer breves comentários só sobre um aspecto aqui,

entre várias coisas. Nós que estamos todos aqui na Bahia gostaríamos de

dar parabéns ao Centro Industrial do Ceará pela iniciativa, pelo trabalho que

está desenvolvendo, é a segunda vez que eles estão vindo aqui a Bahia, es-

tiveram no fórum empresarial outro dia, quando nós conversamos bastante

sobre isso, mas eu gostaria de recomendar no trabalho que fosse feito um

capítulo para falar das coisas que estão fazendo de errado aqui na Bahia,

no Semiárido, e que está nos criando problemas. É difícil a gente conseguir

realizar o investimento e quando começa a fazer fazem tudo errado e para

voltar atrás dá um trabalho danado. Então, por exemplo, a gente começa a

construir um parque eólico, o parque fica pronto e a linha de transmissão

não está pronta; puxa vida, porque que fizeram isso aqui?

Fizeram em 2008 um leilão, a AMP fez um leilão para novas áreas de pe-

tróleo e foi concluído o leilão para uns poços na bacia Tucano Sul, todo den-

tro do Semiárido, então na parte da tarde houve uma questão jurídica que

levou a cancelar o leilão em relação ao pré-sal, mas o leilão da bacia Tucano

Sul tinha sido concluído, não tinha nada a ver com o pré-sal, o pré-sal está lá

no sul, o leilão está aqui, não deixaram as empresas assinarem contrato com

a AMP e nós passamos cinco anos esperando para fazer novo leilão, e agora

que começa a ser explorado. Nós perdemos cinco anos, os poços já deveriam

estar produzindo petróleo no Tucano Sul, numa região pobre do Semiárido.

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307RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Por que fizeram isso com o Semiárido, com o Nordeste, sem necessidade?

Da mesma forma, criaram dificuldades enormes com os bugres; tem uma in-

dústria de bugres lá em Fortaleza, dezessete fábricas, criaram um problema

fiscal para inviabilizar o negócio. Por que isso? Sem necessidade nenhuma.

Não para por aí não, agora foi dada a notícia de manhã que o Banco do

Nordeste não vai mais financiar as eólicas porque está faltando dinheiro.

Por que não consegue dinheiro de outras fontes, se está faltando recurso

do fundo constitucional? Até o BNDES, que hoje está com o orçamento de

cento e cinquenta bilhões, poderei adiantar os recursos, não estaria fazendo

isso pela primeira vez. Quando os recursos da SUDENE atrasavam, o BN-

DES criou um programa que era chamado POC FINOR, adiantava o recurso

para a empresa e quando o dinheiro da SUDENE chegava ressarcia o BN-

DES. Quer dizer, tem formas de fazer. Nós temos uma dificuldade enorme de

atrair investimentos, naturalmente os investimentos empresariais tendem a

escolher o Sudeste pelas condições mais favoráveis, no entanto, quando a

gente consegue um ficam criando esse embaraço. A lista é enorme, eu po-

deria colocar várias questões. Não atrapalhe, se você não quer ajudar pelo

menos não fique contra. Então, tem uma série de coisas nesse sentido.

Carlos Amaral: Adari, eu queria dar um exemplo aqui porque pela manhã o

James me lembrou aqui. O meu neto mais velho comandava uma equipe da

GE, que fez a ligação eólica entre Caetité e Guanambi, o governo do estado

foi, inaugurou e a CHESF até hoje não interligou. Esse caso é concreto e ele

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308 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

repetiu isso aqui. Quer dizer, a CHESF não interligou, está lá perdido prati-

camente. E está pagando energia, pagando por dia.

Adari Oliveira: Algumas observações que eu faço, são duas observações

pequenas que os dois mestres aí deram aulas excelentes. Primeiro o Edgar,

a discussão dele foi excelente, eu achei que ele se dedicou, fez um estudo

muito primoroso. Eu só pediria para acrescentar algumas coisas, eu conver-

sei com ele no intervalo, que iriam enriquecer o trabalho dele, é em relação

à exploração mineral.

Aqui na Bahia, principalmente, nós temos atualmente exploração de

quarenta metais diferentes, isso está espalhado pelo Semiárido todo, pelo

interior do estado todo, como a nossa maior parte é Semiárido. Então, essa

situação de metal no mundo mudou, a Vale do Rio Doce, antes da privati-

zação, vendia o minério de ferro a dezesseis dólares por tonelada, chegou

a ser de sessenta, hoje está acima de cem, mas mudou completamente.

Então, o minério de ferro para ser explorado aqui no Brasil tem que ter um

teor de ferro de 40%, acima de 40%, hoje com 20% já se explora o minério.

Então, houve uma mudança, isso viabilizou muitos negócios aqui na Bah-

ia e norte de Minas Gerais também. Durante a implantação da Caraíba

Metais, o preço do cobre era mil e quinhentos dólares por tonelada, hoje

são oito mil dólares por tonelada, mudou completamente. Então, existe a

possibilidade de outros metais serem explorados, sem falar no petróleo

que começa a ser viabilizado. A PETROBRÁS sempre teve sede no Rio de

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309RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Janeiro; os baianos protestaram, por que a sede da PETROBRÁS não é na

Bahia, a Bahia era o único produtor de petróleo naquela época. O Institu-

to do Mate tinha sede em Curitiba, O Instituto do Açúcar e do Álcool em

Pernambuco, o Instituto do Café em São Paulo, o DNOCS em Fortaleza,

por que a sede da PETROBRÁS não pode vir para cá? Jânio prometeu na

campanha trazer a sede da PETROBRÁS para cá de volta, mas terminou

renunciando. A Bahia teve um “cala a boca”, pegaram o ex-governador da

Bahia, que é cearense, e colocaram como presidente da PETROBRÁS; re-

solveu o problema, ninguém mais reclamou, são coisas dessa época. Mas,

o fato é que o dinheiro que a PETROBRÁS ganhou aqui foi gastar no Rio

de Janeiro e deram preferência na exploração e nas pesquisas ao Rio de

Janeiro, abandonaram aqui o Nordeste.

Então, eu acho que agora as coisas estão se voltando para cá, há uma

possibilidade grande de se ter uma ampliação em todo o Nordeste da pesqui-

sa e exploração do petróleo, eu estou muito ansioso para saber o resultado

de um poço de petróleo que vai ser furado em Luís Eduardo Magalhães a

partir desse mês, concluindo as análises sísmicas que a ANP fez e também

eu acho que o fato num outro leilão a PETROBRÁS não estar operando um

dos poços que foram arrematados aqui no Nordeste, outras empresas petro-

leiras é que vieram para cá, são empresas novas, isso muda a figura, porque

antes só a PETROBRÁS fazia, agora não, outras empresas estão interessa-

das e abrem perspectivas de que isso se desenvolva mais no Nordeste. En-

tão, fica aí o registro que acho que essas duas coisas deveriam ser acompa-

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310 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

nhadas e observadas melhor, em relação à exploração mineral e em relação

ao petróleo.

Outra coisa importante também, que eu acho que vai ter significado, é

em relação à infraestrutura portuária, porque com essa nova lei dos portos

é possível que um terminal privativo possa movimentar cargas de terceiros.

Então, um exemplo que eu comentei com o Edgar no intervalo, eu vou dar

exemplo só de um terminal que eu acho que vai vir e vai vir com muita força,

a Dow Química tem um terminal portuário dentro da Bahia de Aratu, um lu-

gar maravilhoso, só ocupa menos da metade da área que eles escolheram. É

negócio da Dow Química no mundo a logística, eles são donos, por exemplo,

da Ponta da Matanga que é um lugar excepcional dentro da Bahia de Aratu,

e eles já estão concluindo agora um estudo de viabilidade técnica econômica

para construírem um grande terminal privado e já tem um levantamento dos

prováveis clientes hoje. A exemplo da Dow, virão outros terminais portuários

e vai mudar o perfil aqui dessa nossa parte de infraestrutura. O Dias Branco

que está funcionando há pouco tempo e não movimenta containers, já está

praticamente igual ao porto de Salvador, num lugar apertado, num lugar que

é árido. Então, em todo o Nordeste há uma possibilidade disso despertar e

ter grande importância.

Agora, em relação ao Avena, eu gostaria que o que ele falou sobre a pe-

troquímica fosse verdade, porque existem umas ameaças aí. Nós sabemos

da dificuldade de alguns segmentos dentro da petroquímica, por exemplo,

os aromáticos, todas as fábricas de aromáticos já fecharam, a Prolectano,

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311RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

A Dimetil Tereftalato, todas elas já fecharam, não tiveram condição de con-

correr, não só por serem pequenas mas também não tinham escala, mas

também a tecnologia ficou um pouco para trás, apesar de uma delas, a Eu-

senass, a Dow Química comprou, trouxe tecnologia nova, e mesmo assim

ela não sobreviveu.

Agora, a questão principal é a seguinte, com essas mudanças que estão

ocorrendo nos Estados Unidos, da exploração do xei degás e xei do óleo, eu

fico hesitando em traduzir o xei de gás e xei de óleo com gás de xisto e óleo

de xisto, porque o xisto é uma rocha metamórfica e o xei parece que é mais

folheiro do que o xisto, então a gente se prende ao xisto, mas na verdade

deveria ser era um folheiro. O que está acontecendo é que o gás lá está cus-

tando um dólar e cinquenta a três dólares por milhão de BTU, aqui na Bahia

custa dezessete, então é uma diferença muito grande. Quando o gás foi des-

coberto aqui em Aratu, atraiu uma fábrica de cimento da Loonstar Corpo-

ration, lá do Texas, na década de cinquenta, se fez um projeto de amônia e

ureia, da parte dos sindicatos da PETROBRÁS, isso ela começou a montar

em 62, em 64 os militares fecharam a montagem, reabriu em 68, em 72 é que

ela foi inaugurada, dez anos depois, que é a FACEN hoje. Depois a USIBA,

também utilizando gás como redutor siderúrgico, depois a METANOR que

foi construída para produzir metanol a partir do gás, então não é só o que

acontece em tantos, como disse o Zezéu de manhã, um lugar rico e todo

mundo pobre, não, ele gera outras possibilidades em matéria prima para

muita coisa. Nos Estados Unidos, o fato do gás estar barato e ser matéria

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312 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

prima para a indústria petroquímica faz com que o eteno, por exemplo, seja

vendido a seiscentos dólares por tonelada lá. Ora, aqui nós usamos como

matéria prima não o gás, mas a nafta.

A nossa nafta aqui está custando novecentos dólares por tonelada; como

é que a gente vai usar uma matéria prima de novecentos para produzir um

eteno e concorrer com o que está sendo vendo por seiscentos? Isso aí é que

está batendo, essa conta não fecha e isso vai trazer dificuldades, e eu se

tivesse ações da BRASKEM já estaria vendendo porque pode não ser agora,

mas mais adiante vai acontecer, eu não tenho a menor dúvida que essas coi-

sas começam a acontecer. Há uma possibilidade de abrir produção aqui na

Bahia do gás do folheiro e do óleo do folheiro, que iria melhorar um pouco a

situação aqui na região, mas o esforço que as empresas fazem em melhorar

os processos é muito grande, isso tem acontecido. Quando eu trabalhei na

CPC, uma batelada de plástico a gente fazia em doze horas, hoje o pessoal

está fazendo em duas horas e meia, três horas, então houve uma melhora,

tendo havido incorporação de nova tecnologia. Então, isso de qualquer ma-

neira representa o que está acontecendo nos Estados Unidos, representa

uma ameaça muito forte à nossa petroquímica brasileira, não é só da Bahia.

Desculpe se eu alonguei demais, mas eu acho que eu não poderia ter

oportunidade melhor para comentar.

Armando Avena: Eu só queria falar uma coisinha, Adari, que eu concordo

plenamente com você e no último seminário que nós participamos na FIEB,

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313RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

eu tive oportunidade de conversar com o presidente da BASF e com outros

e um dos pontos que está preocupando a indústria petroquímica mundial

é essa produção americana. E realmente, se isso se concretizar, porque

também há muitos questionamentos sobre o impacto ambiental que essa

extração teria, então há muitos questionamentos, mas realmente isso de-

sestruturaria toda a indústria petroquímica brasileira. No Rio Grande de Sul

também, não só na Bahia, mas no Brasil inteiro.

Agora, é uma coisa interessante, como eu conversei com o presidente da

BASF, que ele além de estar investindo 1,2 bilhão, trouxe agora um equipa-

mento, que é um super equipamento, precisou parar as rodovias do estado

para colocar, ele já declarou que vai ampliar, ela entra em produção no se-

gundo semestre de 2014, e ele vai ampliar, a produção já está com planos

previstos para ampliação. Quer dizer, pelo menos o propeno da BRASKEM

ela já tem para quem vender, que é para a BASF. Eles exportaram. Mas você

tem toda razão com relação ao gás dos Estados Unidos.

Wilson Andrade: Eu já tive oportunidade de colocar rapidamente pela ma-

nhã a minha visão sobre esse probleminha, que os professores colocaram,

mostra, sem dúvida, o acerto daquilo que eu estava imaginando. Nós vimos

que toda essa área nova, por exemplo, Mapito, Maputo, com os quatro esta-

dos que você coloca realmente o nome feio, e isso tudo nasceu sem plane-

jamento, isso tudo nasceu pela garra, pelo esforço, pela oportunidade dos

empreendedores, assim como foi o caso do oeste da Bahia, sem estradas,

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314 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

sem logística, sem condição, surgiu uma semente nova para se plantar no

cerrado e os caras fizeram com muita competência. E agora ficamos nós

como cachorro correndo atrás do rabo, procurando fazer a logística. Isso

tem acontecido em quanto tempo? Eu participei das discussões do Nordes-

te Competitivo, que não é Nordeste, é Brasil Competitivo, é um projeto que

procura integrar o Brasil como um todo, assim como nós aqui estamos tra-

balhando nesse sentido, mas visando mais o Nordeste, e eu vi que a mesma

coisa acontece e é triste ver que, apesar de Rômulo Almeida e de outros

grandes pensadores preocupados com o Nordeste, o que nós estamos vendo

é exatamente a falta de planejamento completo.

Nós temos agora a discussão da FIOL, mil e quatrocentos, mil e quinhen-

tos quilômetros de ferrovia, olha que oportunidade de logística, isso dá pra

montar oito, dez polos de desenvolvimento ao longo dessa ferrovia. E essa

ferrovia, eu tenho certeza, pode demorar dez anos como o Zezéu disse, ou

quinze, mas vai sair no Pacífico, vai ser um caminho natural das coisas. É

muito mais barato sair por aqui do que duplicar o canal do Panamá ou fazer

um canal novo, e rodar por lá. Então, eu acho que não há de fato nenhum

planejamento, é triste porque todos nós precisamos de planejamento, e eu

fico feliz até mesmo quando a Bahia tem projetos que estão se tornando rea-

lidade, com toda a dificuldade. O IBAMA vetou outra vez, saiu no jornal de

hoje, o IBAMA voltou atrás na licença, ou não conseguiu a licença adicional

para o porto Sul, parou tudo de novo, está tudo parado outra vez. Um diz que

é culpa do outro, é ingerência do outro, ou seja, as coisas caminham assim,

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315RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

mas ainda assim é bom ver projetos. Eu acho bom ver o projeto, não da pon-

te, mas do desenvolvimento do sul da Bahia, a integração do sul com o norte,

essas coisas são interessantes de se ver e discutir, mas falta muito isso.

Mas, eu queria só concluir dizendo o seguinte: tudo isso nós podemos fa-

zer, a ideia, a estratégia, a metodologia, dr. Castro, que está colocada aí para

um projeto com o Integra Brasil, sem dúvida nenhuma é muito importante.

Mas, nós deveríamos pensar numa solução anterior e essa solução anterior,

essa mobilização política, se tiver um projeto ótimo, mas se não tiver projeto

nesse momento não faz falta, porque o que está fazendo falta, eu acho que

todos disseram mais ou menos isso aqui, é decisão política, que vem de D.

Pedro, que vem do governo da Bahia, com os estados; os estados não têm

um tostão para investir em coisa nenhuma, mal estão pagando conta, quem

tem o dinheiro para investir pela concentração, como o professor Avena

mostrou, é a união, e se não tiver pressão, farinha pouca meu pirão primeiro,

quer dizer, se você não chora, se não tem pressão, não vai haver esforço.

Não adianta projeto bonito, não adianta bem encaminhado, bem formulado,

se nós não tivermos sem dúvida nenhuma esse movimento na força que as

ruas gritaram agora, para poder colocar a importância do Nordeste no seu

lugar, para que os recursos venham na proporção da população ou da sua

oportunidade de investimento. É o que eu tinha a colocar, obrigado.

Tânia Fischer: Quero cumprimentar publicamente pela iniciativa, pelo Inte-

gra, até o título eu acho muito adequado, porque começo dizendo o seguinte:

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316 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

a desconexão de política de território se encontra em todas as esferas, em

todas as escalas. Os ministérios não dialogam, secretarias dentro dos mi-

nistérios que trabalham com território não dialogam e tem projetos às vezes

opostos. Não há diálogo entre as escalas de poder, pelo menos uma escala

funcional e adequada, e em níveis mais horizontalizados dos governos esta-

duais ou governos locais este problema se repete. E aí eu acho que temos

uma dificuldade de gestão muito grande do território, na medida em você não

tem consensos mínimos sobre o que trabalhar. Isso ocorre também no judi-

ciário e eu fiquei muito impressionada nos últimos contatos de ver o quanto

realmente, pela avalanche de problemas e pela avalanche de decisões, como

os próprios parlamentares muitas vezes há aquele consenso incidental entre

direita e esquerda, com posições opostas, mas que se conjugam e fazem o

mal pensando em fazer o bem, e de repente você tem um resultado absurdo

numa dessas comissões, por quê? Porque não houve sequer tempo e sequer

um mínimo de conhecimento do que está sendo julgado, isso admitido por

parlamentares da maior lisura e respeitabilidade, isso ocorre. O judiciário é

o mesmo problema, temos alunos que alegam a mesma coisa, a universidade

não fica distante disso, também temos os nossos vaticanos, então, em um

país dessa dimensão você tem realmente uma dificuldade de conexão e de

convergência. Quando ocorre uma ação você tem as dispersões todas que

só a gestão convergente e integrada corrige e que não faz parte de gestão

da nossa cultura política, historicamente falando, e com muito mais frag-

mentação hoje.

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317RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

E aí eu toco num ponto que é muito importante, eu acho que apareceu

aqui em alguns momentos, que é o nosso foco: educação e educação pro-

fissional. Eu acho que, vamos dizer assim, o preconceito e o prejuízo com a

educação profissional deixou com que ela ficasse alguma coisa sempre fora,

que é feita no Liceu de Artes e Ofício, na escola técnica e hoje no PRONA-

TEC, ela não, ela está presente na nossa estrutura de educação. Da educa-

ção de base à pós-graduação. Eu coordeno um programa que foi fomentado

pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, que é gestores sociais por desenvol-

vimento de território, aí tem recursos do FINEP, CPQ, CAPS e NCT, centros

de referências de gestão, como foi o porto digital de Recife, esse criou um

centro de gestão de território, e temos uma área de graduação superior tec-

nológica, extensão, especialização e um mestrado profissional. O que é que

nós estamos agora vendo? Esse programa que iniciou em 2002 e foi aprovado

com dez outros centros num conjunto de duzentos projetos, se ele lá teve

um ministro que disse assim “vamos aprovar esse projeto, gestão social e

ambiental hoje” em 1999, ele começou efetivamente em 2002, não quer di-

zer nada, mas daqui a dez anos vai querer dizer muito. Então a questão é o

seguinte, o que é que em 2022, 2020, vai ter significado? Para a gente poder

investir na educação orientada para isso hoje, senão quando chegar lá em

2022, o nosso programa bem sucedido hoje não será bem sucedido daqui a

dez anos se ele não se reformatar agora, no presente. Porque se o passado

é incerto e o futuro estar a definir, o presente é o que a gente tem para tra-

balhar.

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318 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

E, então, eu queria trazer, o Armando sugeriu isso, um desafio que re-

cebemos agora, dois; um da Presidência da República: faça alguma coisa

aí para a juventude que está nas ruas. Mas, antes de fazer isso e vamos

responder para a juventude que está nas ruas, a gente está atendendo uma

demanda de dois meses atrás, quando a Caixa convoca doze instituições,

três universidades apenas, ong’s e institutos, para fazer alguma coisa nos

projetos Minha Casa, Minha Vida. Esse alguma coisa é um projeto de de-

senvolvimento integrado sustentável, porque são pequenas cidades dentro

do urbano que em lugar se requalificar os bairros pobres e que têm o ciclo

matéria econômica, toda uma economia local, onde tem redes sociais, onde

tem igrejas, onde tem escolas, onde já tem posto de saúde, joga-se para as

periferias da cidade novos empreendimentos onde não tem nada disso. En-

tão, a engenharia civil que é ruim, a engenharia social é pior. E, então, a Caixa

pediu, digo primeiro vamos olhar. Então, dois minutos para relatar, porque

assim como eu passei uma noite sem dormir e aceitei o desafio de educação

de base, desta base, porque tinha se identificado daí do Minha Casa, Mi-

nha Vida que vão surgir as revoltas, na verdade apareceram nas praças, nas

ruas, tomaram conta do Brasil, mas tinham identificado que seria lá.

O que esses meninos, entre quinze e vinte e cinco anos, que nos rece-

beram às três horas da tarde sentados em mesa de plástico, no Ciro Porto,

Jardim das Bromélias, com este nome, hein? Eles perguntaram: a senhora

sabe o que é Bromélia? Eu fui ao Google para saber, eu moro no Jardim das

Bromélias. Depois, eles estavam bebendo cerveja para afrontar mesmo. En-

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319RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

tão, é seguinte, estamos longe da escola, o ônibus é intermunicipal, não tem

posto de saúde, os pobres foram colocados aqui no campo de concentração

para morrer porque não entra SAMU e taxi à noite para pegar uma pessoa, e

nós estamos aqui perdendo a vida, e a gente sabe disso, e a gente quer mais

do que uma casa, e a gente quer mais do que uma bolsa, a gente quer um

projeto. Em que a senhora traz, são aquelas caravanas macabras que vem

estudar a gente e depois não dá nem satisfação? Eu digo não, a gente quer

fazer um projeto de educação.

Ah é? Inclusão digital, senão não consigo nem um emprego de caixa de

supermercado, mas não é essa que eu tenho na lan house, porque essa eu já

tenho, a gente quer mais e melhor, eu quero aprender, aí listaram um mundo

de coisas, construção civil, mas com software para colocar azulejo que eu

já descobri que tem, não é simples sentar tijolo igual ao meu avô, as meninas

querem estética afro; tem que fazer uma coisa diferente, ela quer um dife-

rencial competitivo. E eles se rotularam como “nós somos uma juventude

perdida”, ou seja, usaram a expressão geração perdida; e estamos em lugar

nenhum, a categoria não lugar de geografia eles intuitivamente, inteligente-

mente, colocam.

Então, a gente saiu de lá com esta missão. E aí já entrou a FIOCRUZ, o

professor Manoel Barral assume, queremos entrar com um módulo de saú-

de, amanhã temos uma reunião com o grupo da FIEB que vai discutir um

pouco também como é que a gente pode se articular e nós temos então um

desafio muito grande, que é o seguinte: gente a educação de base, ela pode

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320 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

estar e ela vai para os onze estados, porque a gente vai fazer assim, você

tem aqui uma série de conteúdos que são dados de forma articulada, mas

formando um itinerário, por meio digital e com eles presencial, eles vão ser

atores desse aprendizado, isso vai se repetido nos outros onze estados e

depois você tem uma escola com representações de todo o Brasil, os pro-

blemas de desenvolvimento locais de todo país. E ainda dentro de um delírio

assim, já que a tecnologia nos permite, Cazuza não está fazendo show, o

quê que com a holografia não pode chamar com os direitos pagos, as famí-

lias, descendentes, tudo correto? Milton Santos para dar aula, Celso Fur-

tado, Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira que tem documentário, e a gente pode

inseri-los aí e eles dialogarem conosco, com as pessoas do presente, com os

jovens, porque isso é possível fazer. Então, eu acho que é um desafio muito

grande, e aí entra a educação profissional hoje desses jovens da rua, aí já

vem a presidência, bom, já vamos incluir e coloca-se isso como software

livre para uso nas escolas, nas universidades.

Vai ser um investimento? Vai. A Caixa vai já bancar, até recursos já exis-

tem, o que a gente precisa agora é de aula, porque assim como a gente falou

com eles, nós temos também que falar com os segmentos da sociedade,

por isso que eu estou aqui, que podem pensar o seguinte: quais são as em-

pregabilidades possíveis, porque esse Ciro Porto tem que ser uma escola

de aplicação que dê certo, nós precisamos de experiências bem-sucedidas,

então isso tem que ter integração produtiva deles. Eles têm que depois faze-

rem os cursos do PRONATEC, o que for, mas isso tem que estar muito bem

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321RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

encadeado. Eles querem ser cidadãos, eles querem aprender gestão ambien-

tal, gestão patrimonial, gestão turística, eles não têm. Mais que isso, eles

querem se integrar na cidade. A cidade de Salvador não conhece a gente,

não gosta da gente, nós estamos longe de tudo e a gente quer fazer parte

da cidade.

Então, acho que isso é só esse relato e dizer o seguinte: eu vim por isso,

para colocar a questão e acho que a gente pode dialogar em vários momen-

tos e de repente transformar isso num bem público. Obrigado.

Murilo Philligret Baptista: Boa tarde. Aproveitando esse espaço um tanto

quanto acadêmico e um tanto quanto técnico e acadêmico, tenho algumas

observações, eu acho que mais ou menos quatro. A primeira é a seguinte, eu

acho que é a gente olhar um pouco a experiência ao longo do tempo, porque

nós vivenciamos tudo isso.

Nós somos uma geração que contribuiu, eu acho que fomos vítimas e

algozes ao mesmo tempo, contribuímos para construir isso, essa talvez

clara insatisfação, então a pergunta é onde nós erramos, qual foi a lei-

tura que, ou como, a academia não foi bem feita, ou como técnicos nos

equivocamos. Então, da primeira, eu vi aqui no documento do Integra, isso

parte, isso vem dos anos 80, então de 80 para 2013 coisa mudou. Então, eu

acho nessa “muita coisa mudou” que o professor Edgar chamou atenção,

da globalização, dos fluxos de mercadoria e de pessoas, e uma articula-

ção financeira cada vez mais forte, então o que acontece? Eu acho que o

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322 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

estado brasileiro mudou muito, houve um processo bastante intenso de

concentração e centralização do capital a nível mundial, então é lógico

que o Nordeste teve que acompanhar e nos aprofundou aquilo que foi de-

nominado, por Guerra e por Teixeira, de uma economia exógena, nós somos

uma economia exógena. Diferentemente do Sudeste, nossa relação em-

presarial com os, de repente, proprietários, então são gerente e diretores

de empresas externas, planetárias, que aqui se localizam. Nós somos uma

região que tem esse perfil e com um grande drama que é a questão do

Semiárido. Me desculpem usar a expressão “drama”, porque na realidade

as pessoas vivenciam muito mal, não tem a sua materialidade garantida,

então o alcance de um programa como o Água Para Todos, o Luz Para To-

dos, ainda, infelizmente, ou as condições da escolas que o deputado Zezéu

chamou a atenção. Então, um programa, o Água na Escola, como tem outro

programa, Água Doce, porque as águas precisam passar ainda por um pro-

cesso de dessalinização.

Então, o primeiro ponto é esse, o mundo mudou, o capital se reconcentrou

e nesse período o estado brasileiro se enfraqueceu. A correta capacidade, o

Wilson Andrade chama atenção nisso, a capacidade de planejamento de in-

tervenção do setor público brasileiro caiu muito. E mais, na hora em que eu

vejo o professor Edgar Porto chamar, nos mostrar o mapa do Brasil, penso

assim: puxa, a capacidade nossa, nossa que eu digo é setor público, porque

eu estou apenas recém-aposentado, então, às vezes eu me acho ainda no

setor público. Então, o que acontece, enfraqueceu.

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323RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Eu vi todo o esforço da secretaria de planejamento no que o Edgar e o

Avena chamaram “Arco Norte”, a hidrovia e depois a ferrovia, o porto de

Juazeiro para linkar aqui com Salvador, mas o que acontece é o seguinte,

você privatizou a ferrovia Santo Atlântica, então, além de todos os proble-

mas que nós temos de gestão, de planejamento e de operação, nós temos

uma outra questão, uma boa parte dos setores estratégicos não decorrem

apenas de discussões políticas institucionais, não sei se estou sendo claro,

a bancada nordestina pode se articular, pode chegar fortemente ao ministé-

rio, porém de repente o ministério não tem condições de ação porque existe

um contrato prévio e as regras têm que ser cumpridas. Então, nós temos aí

a Santo Atlântica que a ligação interna é bastante complicada, de Brumado

para cá e daqui para Juazeiro, o que inviabiliza outras coisas.

O outro ponto que eu gostaria de chamar atenção é o seguinte, ao lon-

go de todo esse processo nós sofremos um aprofundamento da questão da

primarização; isso o Avena chamou atenção, Edgar chamou atenção, então

o nosso conteúdo, então nós vivemos hoje uma economia de commodities.

Então, surfamos uma onda e, por enquanto, temos um prazo a princípio fa-

vorável do preço das commodities, porém existe uma grande concorrência.

E o outro ponto que eu gostaria de chamar atenção é o seguinte, será

que esse deve ser o nosso foco? Será que não seria possível pensar em ou-

tro referencial? Eu me lembro um pouco, o professor Celso Furtado dizia o

desenvolvimento é um mito. Será que esse é o caminho? Por quê? Porque

Edgar chamou atenção para uma coisa muito forte, ele disse assim: “Será

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324 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

que nós teremos grandes guetos?”. Você falou de algumas regiões que serão

articuladas, então tem nossas áreas de prosperidade como Avena denomina,

porém nós temos esses grandes guetos que você falou por causa da capa-

citação inadequada, que a professor Tânia Fischer acabou de se pronunciar.

Corretos programas públicos nos colocam num eixo sem aeroporto vinte e

oito mil pessoas, sem nenhuma infraestrutura, vinte e oito mil pessoas é a

Ilha, é Vera Cruz mais Itaparica, é o município de Cruz das Almas aqui, ao

longo de uma rodovia. O que me impressionou professora Tânia, na hora em

que nós visitamos isso, é o tamanho do estacionamento. Por quê? Porque a

construtora sabe que aquela população que está ali não ficará ali, porque

não tem condições de ficar ali mesmo. Então por contrato de gaveta ou al-

gum subterfúgio, aqueles apartamentos, aquelas unidades serão comercia-

lizadas, por isso um grande estacionamento.

Então, não resolve; não resolve e eu acho interessante essa pressão das

ruas. Então, será que essa capacitação é inadequada? Inadequada para quê,

cara pálida? Então, a minha preocupação, não sei se estou sendo claro, será

que esse é o referencial? Por quê? Será que mais recursos resolvem o nosso

problema? Ou o problema está numa gestão, numa capacidade de adminis-

tração da questão do próprio estado? Na hora que nós olhamos os indicado-

res sociais, nós não alcançamos a média da sociedade brasileira de dez anos

atrás. Então, eu não sei, eu gostaria de jogar isso bastante para questionar.

Será que mais recursos atenderiam? Será que cumprir a constituição, que

deve ser respeitada em todos os aspectos, será que cumprir o Artigo 165

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325RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

nos resolve, nesse panorama, panorama de projetos inconclusos, projetos

improvisados? O Minha Casa, Minha Vida, a localização dele é improvisada.

E essa incapacidade de questionar?

Então, foi relatada aqui mais uma audiência pública, mais uma licença

não é concedida, e aí o porto Sul não sai, se não sai o porto Sul não sai a

FIOL, você tem uma área delicada no meio do trajeto, isso impede, conclu-

são: então temos também que refletir, minha sugestão, é sobre a capacida-

de de gestão, por causa dos projetos improvisados, por causa dos projetos

inconclusos. E não esquecer dessa: será que é válido a gente manter esse

referencial? Se ao longo de quarenta anos nossa participação no PIB é 4%,

perdão, eu estou falando da Bahia, no comércio exterior é 4%, o Nordeste se

manteve como se colocou nos gráficos, então é uma corrida para o nada? E

pior, falamos em nome de uma população. Portanto, minha sugestão é que o

Integra articule as associações, a ASA, movimentos populares, sindicatos,

porque estamos falando em nome deles, porque a população sofre com isso.

Então há um constrangimento. Nós temos hoje na Bahia cidades que per-

dem população, então há uma estagnação. E o limite já deixou claro, eu acho

que a opinião pública já está clara, essa política de inclusão via mercado já

chegou ao teto. O PIB, a evolução dele demonstra isso. Então, não me adian-

ta, eu acho, concordo com o Avena, não podemos tocar num avanço que foi

feito, a melhoria do salário mínimo, a manutenção do poder de compra do

salário mínimo, a questão dos programas de proteção social, etc. Mas isso

só não basta. Então, o nosso compromisso é dar um passo a frente e esse

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326 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

passo a frente significa incorporar os representantes de quem realmente

está na base, foi o comentário aqui pela manhã, as igrejas, as entidades de

movimentos sociais, e questionar a capacidade de gestão do estado brasi-

leiro. Então, me desculpem, eram elementos que eu queria colocar para os

senhores. Obrigado.

José Murilo Philligret Baptista: Eu não tenho muito o que falar, eu concordo

basicamente com todas as intervenções, eu queria só registrar uma coisa

que tanto está na fala de Murilo, como na fala de Adari, como na fala de

Wilson Andrade que colocou mais claramente, que nós estamos passando

por um período surpreendente de completa falta de planejamento no Brasil.

O dr. Rômulo Almeida, o dr. Milton Santos, o dr. Celso Furtado, devem estar

se virando nos túmulos, porque o que se faz no Brasil hoje não tem o me-

nor planejamento de longo prazo. Vou dar dois exemplos que são gritantes,

eu acho que talvez esse seja um dos objetivos, da gente voltar a pensar o

Brasil no longo prazo. Eu quero dar dois exemplos que têm me assustado:

um, está acontecendo agora na Bahia, que é o seguinte: o governo federal

felizmente vai fazer novas concessões de ferrovia e vai desativar, os trechos,

alguns que ele considera antieconômico, outros que são pouco econômicos,

resultado: saindo o diário oficial de quinta-feira passada, há simplesmente

a desativação dos trechos que existem da ferrovia Santo Atlântica, simples-

mente desativou, mas não perguntou se ainda tem carga rodando, não disse

se essa carga vai parar de rodar, desativou trechos de Juazeiro até Alagoi-

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327RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

nhas e uma série de outros para ser devolvido para criar uma nova ferrovia

que nem projeto tem. Se lançou um programa de concessão de ferrovia, uma

inclusive de Salvador a Recife, que nem projeto tem ainda, e vai desativar

as que estavam, mesmo que precariamente, rodando. Esse é um exemplo de

falta de planejamento no âmbito da infraestrutura.

Eu tenho que dizer um outro exemplo de falta de planejamento no âmbito

financeiro que está me assustando. Eu não sei se os senhores têm percebido

que os estados brasileiros estão fazendo com a complacência do Ministério

da Fazenda, que é o seguinte: a taxa SELIC é a taxa que reajusta a dívida dos

estados brasileiros e ela é altíssima, e agora está subindo cada vez mais.

Os estados descobriram, e com a permissão do Ministério da Fazenda, que

podem trocar essa dívida em SELIC por dívida em dólar e começaram a to-

mar empréstimos no exterior. O estado da Bahia acabou de aprovar na As-

sembleia Legislativa um empréstimo de dois bilhões de dólares no Bank of

American. Para que? Eu digo, deve ser para construir alguma coisa, quando

eu fui olhar é para pagar dívida, ele está tomando empréstimo em dólar de

uma instituição privada para pagar dívida pública. Mas não é só a Bahia

não, o Rio de Janeiro está fazendo a mesma coisa, o Rio Grande do Sul está

fazendo a mesma coisa, resultado: tudo bem; claro que a dívida em dólar,

claro que o juro em dólar é muito mais barato do que o juro da taxa SELIC.

Só que tem um problema, se acontecer um novo 2008, que quebrou a Suzano

e que quebrou dezenas de empresas, quando você tem a dívida em dólar ela

fica vinculada à cotação, quando a cotação do dólar estourar vai quebrar os

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328 WORKSHOP. SALVADOR, BAHIA

estados brasileiros, vai quebrar porque dívida em dólar quebra. Então, isso é

uma completa falta de planejamento, em vez de discutir a SELIC se permite

tomar empréstimos em dólares em bancos privados para pagar uma dívida

que é com a união, e ninguém diz nada, e ninguém fala nada.

Então, eu acho que o Brasil está num momento, a gente vê pelas coisas,

todas feitas assim, de repente surge uma ideia e vamos fazer, mas falta pla-

nejamento. Falta planejamento para o Nordeste, falta planejamento a lon-

go prazo, como disse Wilson, como disse Adari também. Agora mesmo, no

caso da petroquímica, deveria estar se pensando a longo prazo, eu também

estou preocupado com a questão do gás, devíamos estar pensando a longo

prazo, ter um planejamento industrial, nada disso se discute mais hoje, é o

planejamento do empurrar com a barriga, vamos tocando. Então, eu acho

que até nisso o Integra Brasil tem uma importância, é mostrar que a gente

precisa planejar este país, precisa planejar o futuro, você só sabe o que quer

do futuro se marcar o caminho a partir de agora. Então, era basicamente

isso, concordar com todas as colocações.

Murilo Philligret Baptista: Bom, eu acho que há uma convergência muito

forte nesse sentido e eu estava pensando que, digamos assim, o que é que

pode ter causado tudo isso? Primeiro eu diria o seguinte, que os problemas

e as soluções todas nascem no planejamento, se nós considerarmos que

esteja dentro de um processo de gestão, é na etapa do planejamento que

as coisas são pensadas, são refletidas e depois você tem que ir para a exe-

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329RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

cução, etc. e tal, essas coisas de avaliação, todos os níveis que passam por

esse processo de gestão.

Após considerações finais do Economista Armando, da doutora Nicolle

Barbosa e dos organizadores do Integra Brasil foi dado por encerrado o se-

minário.

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WORKSHOP

“ASPECTOS ESTRATÉGICOS DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE.”

Recife, Pernambuco, 26 de julho de 2013

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Moderadora (manhã) e Relatora

Tânia Bacelar de AraújoProfessora Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, com doutorado em Economia Pública, Planejamento e Organização do Espaço pela Universidade de Paris I

Moderadora (tarde)

Firmo de CastroConsultor do Integra Brasil

Palestra Magna

Eduardo CamposGovernador do Estado de Pernambuco

Expositores

Luciano CoutinhoPresidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES

Jorge Côrte RealDeputado federal e presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco - FIEPE

Olímpio de Arroxelas GalvãoDoutor em Economia e professor da Faculdade de Boa Viagem - FBV

Tânia Bacelar de AraújoProfessora Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, com doutorado em Economia Pública, Planejamento e Organização do Espaço pela Universidade de Paris I

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335RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

WORKSHOP

QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS PELOS EXPOSITORES

Quais as perspectivas do Nordeste dadas as condições atuais quanto à

economia brasileira e mundial? Qual a estratégia capaz de efetivar as

potencialidades do Nordeste?

Estratégia Interna: a partir das relações interregionais da economia bra-

sileira, definir a estratégia que integre a economia do Nordeste na dinâmica

econômica brasileira, de forma a potencializar o desenvolvimento regional

e nacional.

Estratégia Externa: a partir das relações da economia brasileira com a

economia mundial, definir a estratégia que potencialize o desenvolvimento

regional e nacional.

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336 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

SOLENIDADE DE ABERTURACerimonialista: Senhoras e senhores, o Integra Brasil fórum Nordeste no

Brasil e no Mundo é um movimento liderado pelo setor produtivo do Nordes-

te que reúne agentes privados e públicos, para elaboração de estratégias

econômicas e políticas capazes de reduzir efetivamente as desigualdades

entre as regiões do Brasil.

O workshop de hoje, com o tema “Aspectos estratégicos do desenvolvi-

mento do Nordeste”, tem como objetivo formar umas consciente base para

subsidiar tecnicamente as propostas para o seminário Integra Brasil que

acontecerá em Fortaleza, dias 27, 28 e 29 de agosto próximo. Em nome do

Centro Industrial do Ceará - CIC, entidade que assume a coordenação técni-

ca do Integra Brasil, agradecemos a presença de todos e desejamos efetiva

produtividade, durante este dia de trabalho.

Senhoras e senhores, para abrir esta solenidade, passamos a compor a

mesa de abertura, convidando o excelentíssimo sr. governador do Estado de

Pernambuco, Eduardo Campos, que vem acompanhado do sr. presidente da

Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, deputado federal Jorge

Côrte Real, nosso distinto anfitrião, e da Sra. presidente do Centro Industrial

do Ceará - CIC, Nicolle Barbosa, líder do movimento Integra Brasil. Convida-

mos, também, o presidente do BNDES, sr. Luciano Coutinho; convidamos,

representando o governo do Estado do Ceará, o sr. secretário do Desenvol-

vimento Econômico, Alexandre Pereira; convidamos também, a sra. coorde-

nadora técnica do Integra Brasil em Pernambuco, a professora Tânia Bacelar.

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337RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Composta a mesa de abertura, convidamos para seu pronunciamento, o

presidente da FIEP, o sr. deputado federal Jorge Côrte Real.

Jorge Côrte Real: Bom dia a todos e a todas, gostaria de cumprimentar o

excelentíssimo sr. governador do Estado de Pernambuco, Eduardo Campos;

cumprimentar a companheira amiga Nicolle Barbosa, presidente do Centro

Industrial do Ceará - CIC e líder do nosso movimento Integra Brasil. Cum-

primentar o companheiro Luciano Coutinho, presidente do BNDES, cumpri-

mentar a professora Tânia Bacelar, coordenadora técnica do Integra Brasil,

cumprimentar o companheiro amigo Alexandre Pereira, secretário de De-

senvolvimento Econômico do Estado do Ceará, cumprimentar os srs. presi-

dentes e dirigentes de entidades de classes, aqui presentes, cumprimentar

os colaboradores do sistema FIEPE, cumprimentar o primeiro vice-presiden-

te da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, Ricardo Essinger;

cumprimentando o Ricardo eu cumprimento as demais autoridades aqui

presentes. Minhas senhoras e meus senhores.

É com satisfação que nós sediamos esse Workshop do Integra Brasil, no

dia de hoje, dando efetivamente prosseguimento a uma logística, a um pro-

jeto de elaboração de um documento, que, no fim, vai, com certeza, apontar

caminhos para o crescimento, o desenvolvimento sustentado do nosso país,

e especialmente, para nossa região, o Nordeste brasileiro.

Eu acho que a maneira de que, de como está sendo montado esse projeto,

eu tenho certeza que nós vamos, Nicolle, apresentar ao Brasil um projeto

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338 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

factível, um projeto dentro da realidade brasileira, dentro da realidade das

necessidades face às desigualdades regionais, e o mais importante, acom-

panhado, evidentemente, das sugestões, das soluções e de como podemos,

juntos, partir para essa, ou essas soluções definitivas.

Evidentemente que tudo passa por uma consciência, por um programa

nacional de desenvolvimento regional. O País tem que ter consciência, tem

que ter um projeto nacional de desenvolvimento regional. E isso, com cer-

teza, vai aparecer, mais uma vez, no resultado desses eventos. E evidente-

mente, de uma maneira moderna, de uma maneira nova, de uma maneira em

sintonia com a nossa realidade, em sintonia com a necessidade hoje do de-

senvolvimento não só como no passado, que seria um desenvolvimento re-

gional, mas um desenvolvimento setorial, um desenvolvimento galgado nas

cadeias produtivas, um desenvolvimento galgado numa infraestrutura, que

dê, evidentemente, suporte a que nós possamos sediar estruturas produti-

vas capazes de mudar o status quo da nossa região e fazer com que esse fos-

so existente, vários índices, no caso do Nordeste, para outras regiões mais

desenvolvidas do País, que isso diminua, de uma vez por todas. Cabe-nos

buscar essas soluções, cabe-nos definir, que é também algo importante, e

isso a gente fica muito à vontade de falar, aqui no estado de Pernambuco,

porque é algo que é próprio, é a maneira de dirigir e de governar do governa-

dor Eduardo Campos, é algo que a gente faz aqui, com indicadores, com me-

tas, com acompanhamento, então nós temos, também, que definir quais são

os parâmetros para acompanharmos, para a própria sociedade e para nós

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339RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

nordestinos acompanharmos como está, pari e passu, o desenvolvimento, e

pari e passu como está acontecendo esta questão desse fosso, dessa desi-

gualdade regional em termos de Nordeste para outras regiões. Porque o que

se tem, na realidade, o que houve não podemos negar, o Nordeste foi, real-

mente, e está sendo alvo de, efetivamente, muito investimento. Bem mais do

que outras regiões do nosso país. Mas a desigualdade, a disparidade, é tão

grande que o fosso ainda aumenta.

Então nós temos que rever, e rever urgentemente, e nesse projeto vai pon-

tuar a questão das infraestruturas portuárias, rodoviárias, ferroviárias, edu-

cacional, energética, política energética. Governador, é fundamental. Nós te-

mos que ter uma política energética nacional. O que está se desenvolvendo

aí está parecendo que, para o ano, nós vamos ser penalizados. Então, temos

que tomar já as providências. Nós temos que incluir o Nordeste, por exemplo,

nas questões das concessões, o sistema que está proposto, as concessões

ficam ali na Bahia. O governo nacional, o governo federal tem que assumir

uma parte, o patamar nessas concessões, para que nós consigamos viabili-

zar algumas concessões, principalmente em rodovias e ferrovias, na nossa

região. E também, que é importante, a integração entre o Nordeste do Brasil

e MERCOSUL. Isso, e aí nós tivemos oportunidade de mostrar ao governador,

juntamente com a CNI, o projeto Nordeste Competitivo, onde nós temos, e su-

gerimos, e quantificamos e qualificamos, alguns investimentos, onde a gente

consegue unificar a nossa malha rodoviária, ferroviária e portuária, no sentido

de que nós possamos ter também uma ligação direta Nordeste-Mercosul.

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340 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

Então, é com essa esperança, é com essa mais do que esperança, é com

essa certeza, que desse evento, ou desses eventos, nós vamos sair com,

efetivamente, com um projeto, com uma sugestão, com uma sugestão a ser

defendida, e difundida, em termos de Executivo, em termos de Legislativo,

para que possamos, juntos, lutarmos por um desenvolvimento sustentado

do nosso país, do nosso Brasil. E isso só se dará, efetivamente, quando nós

tivermos uma igualdade regional, e por aí uma igualdade social, como um

todo, nessa federação. Muito Obrigado.

Cerimonialista: senhoras e senhores, convidamos para fazer uso da palavra

a senhora presidente do Centro Industrial do Ceará - CIC, Nicolle Barbosa.

Nicolle Barbosa: Bom dia a todos, quero saudar a mesa, saudar o excelen-

tíssimo senhor governador do Estado do Pernambuco, Eduardo Campos,

saudar o presidente desta Casa, Jorge Côrte Real, e agradecer, desde já, a

acolhida, e a nossa estada aqui nesta Casa, o presidente do BNDES, Luciano

Coutinho, a professora Tânia Bacelar, Alexandre Pereira, secretário de De-

senvolvimento Econômico do estado do Ceará. Senhoras e senhores, quero

saudar também a imprensa do Nordeste, presente também neste auditório.

Senhoras e senhores, há pouco mais de um ano, entendendo a importância

de recolocar o setor produtivo no papel de protagonista do processo de de-

senvolvimento do Estado, o Centro Industrial do Ceará assumiu o compro-

misso de atuar, coletivamente, como agente político daqueles que faziam

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341RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

mover a economia do nosso Estado. Nos inspirava ao novo desafio a lide-

rança das duas últimas décadas do século XX, quando um grupo de jovens

empresários cearenses, reunidos sob a chancela do CIC, chamou para si a

responsabilidade de reescrever a história política e econômica do Ceará. Em

um movimento mudancista, cujos resultados acredito que todos os senhores

tenham amplo conhecimento. O que somos hoje, as estruturas econômicas

e sociais de que dispomos, a posição estratégica que ora ocupamos no ce-

nário econômico nacional e regional, em grande parte, devemos àquela ini-

ciativa. Mas aquele movimento não ocorreu por acaso. Uma década antes,

em 1981, já preocupado com os rumos econômicos da região, o CIC promove

o seminário O Nordeste no Brasil - Avaliação e Perspectivas. Após, todas

as discussões provocadas, envolvendo políticos, empresários, técnicos, re-

ligiosos, enfim, um amplo espectro social, chegou-se à conclusão de que

as possíveis alternativas para o desenvolvimento integral e duradouro do

Nordeste passavam, necessariamente, pelo ambiente político. Portanto, se

quiséssemos transformar aquela realidade, precisávamos nos envolver po-

liticamente, e assim fizemos. Porém, passadas três décadas, mesmo diante

das mudanças estruturais ocorridas na economia do Nordeste, continua, ela

continua ocupando posição inexpressiva no contexto nacional, e isto já per-

dura há muitos anos.

Desde 1939, ano em que passamos a ter informações estatísticas mais

confiáveis, os registros documentam um PIB per capita da região que não

responde sequer por 50% do PIB per capita brasileiro. Hoje, conscientes des-

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342 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

ta realidade e revendo os objetivos estatutários de nossa instituição, que

nos incita a estimular com prioridade absoluta a defesa da democracia, das

liberdades humanas e da livre empresa, fomentando e coordenando ativida-

des que contribuem para esta finalidade, nos questionamos: como estimu-

lar a experiência democrática de livre empresa, num ambiente econômico

onde a competitividade de empreendedores está assentada em bases legais

totalmente truncadas, em políticas públicas desconectadas da realidade vi-

venciada?

Questão posta, de pronto, percebemos o quanto era preciso trabalhar

para encontrar soluções coerentes, que ampliassem os horizontes socioe-

conômicos de nossa região. Após um intenso e denso trabalho de planeja-

mento, observamos que o caminho estava claramente indicado em nossa

missão institucional, que nos compromete a envolver empresas, sociedade

e governo na promoção coletiva do desenvolvimento sustentável. Traçamos,

então, uma visão estratégica, que olhasse para além dos limites geográficos

do Estado e abrangesse todo o Nordeste.

Assim nascia o sentimento indutor de todo um movimento. Agora mais

amplo, mais diverso que aquele iniciado trinta anos atrás. Um movimento

capaz de envolver, a um só tempo, o setor produtivo, o pensamento acadêmi-

co e as instituições políticas – parlamentares e executivas, não só do Ceará,

mas todos os estados do Nordeste.

O objetivo era claro: trabalhar a busca coletiva por uma unidade de pen-

samento estratégico, que, respeitadas as peculiaridades locais, formatasse e

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343RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

consolidasse o valor da região, no contexto econômico nacional, projetando,

ainda, a sua potencialidade no cenário econômico mundial. Ali nascia o Integra

Brasil - Fórum Nordeste no Brasil e no mundo. E ao longo dos últimos quatorze

meses, entendendo, tal qual João Cabral de Melo Neto. Somos muitos Seve-

rinos, / iguais em tudo e na sina: / saímos Nordeste afora / a abrandar nossas

pedras / a despertar nossa terra, / querendo dela arrancar / algum roçado da

cinza. Literalmente, percorremos todos os estados nordestinos, tendo em cada

cidade por onde passamos, em cada encontro que promovemos, recebido o

apoio maciço do setor produtivo e da classe política local, estadual e regional.

Numa breve retrospectiva da caminhada até aqui feita, lembramos os

momentos iniciais, ainda em Fortaleza, quando ousadamente, nos propu-

semos a aceitar a provocação feita pela economista Cláudio Ferreira Lima,

e decidimos lutar pela redução das desigualdades regionais. Entendíamos

ser aquele o argumento essencial para a conquista da integração econô-

mica do país como um todo, a partir do reconhecimento do nordeste como

protagonista de peso do cenário econômico nacional e mundial. Para nós

era imprescindível que a iniciativa partisse do setor produtivo do Nordes-

te, como efetivamente acabou partindo. Acreditávamos que o nosso olhar

estratégico, a nossa experiência de governânça, contribuiria para a efetiva

integração da Região, resgatando e fortalecendo os tácitos laços políticos

que há tempos nos uniam, e assim caminhamos.

No primeiro workshop em Fortaleza, discutimos os aspectos políticos

institucionais do desenvolvimento do Nordeste. Naquele encontro, dentre

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344 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

os inúmeros temas postos à mesa, lembramos a Superintendência de De-

senvolvimento do Nordeste, que, de forma inovadora, soube fazer emergir

uma política pública que pensa a nossa região como um todo. Com a SU-

DENE, aprendemos a nos apoiar, uns nos outros, criando uma harmonia de

interesses que trouxe uma industrialização sustentada em um sistema de

incentivos fiscais e financeiros, que propiciou novas bases de articulação

da Região.

À época, ocorreu uma integração produtiva, que ocasionou a comple-

mentaridade entre a nova estrutura industrial da Região e a economia do

resto do País. Porém, com o esvaziamento da SUDENE, perdeu-se um im-

portante fórum de articulação política entre os governantes e técnicos, na

defesa dos interesses dos estados da Região.

Entre um evento e outro, participamos de uma audiência pública no Se-

nado Federal, quando discutimos alternativas para o desenvolvimento do

Nordeste, tendo por base os objetivos pregados pelo Integra Brasil.

Na ocasião, conquistamos, dos parlamentares integrantes da Comissão

de Desenvolvimento Regional, o comprometimento com os preceitos ema-

nados do nosso movimento. O compromisso dos senadores presentes, de

acompanhar e colaborar com todas as ações planejadas. Seguimos com nos-

sa saga severina, aportando em Salvador, onde tratamos da situação atual

e das transformações recentes ocorridas no Nordeste. Naquele momento,

questionamos o fato de que o dinamismo econômico recente da Região, que

contemplam expansão produtiva consolidada nos parques industriais, nas

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345RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

principais capitais, além da ampliação do comércio e dos serviços, tendo por

base os programas de transferência de renda, que, apesar de contribuírem

para o crescimento da economia nordestina, não conseguiram tirar o nosso

PIB da frágil posição relativa, em termos nacionais.

Pouco depois, em mesa-redonda, acontecida na cidade de Campina Gran-

de, na Paraíba, tratamos de inúmeras questões intrarregionais. Ali, firma-

mos a convicção de que somente com ações integradas dos nove estados

da região, e com a união de todos, conseguiremos reorientar a economia do

Nordeste. Em Campina Grande, percebemos a importância de eleger uma

agenda política comum para os estados e nela mantermos o nosso foco,

evitando a dispersão de energia e promovendo a convergência de ações. É

fundamental, governador Eduardo Campos, que tenhamos uma unidade de

discurso regional, que, respeitadas as peculiaridades estaduais, indica que

uma conduta política sintonizada, uniforme, de todos os governadores e par-

lamentares da Região, de modo a nos tornar cada vez mais fortes no contex-

to federativo e, para além disto, que consigamos promover a inserção na-

cional e internacional do Nordeste de uma forma competitiva e sustentável.

E hoje, senhoras e senhores, quando chegamos a Recife, relembramos

mais um pouco do Severino diplomata, que, ao chegar à Zona da Mata, re-

memora: “Bem me diziam que a terra / se faz mais branda e macia / quanto

mais do litoral / a viagem se aproxima. / Agora afinal cheguei, / nesta terra

que diziam. / Como ela é uma terra doce, / para os pés e para a vista. / Os

rios que correm aqui tem a água vitalícia.” Que esta água abundante nos

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346 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

inspire nos debates de hoje sobre aspectos estratégicos do desenvolvimento

do Nordeste. Daqui, sairemos ainda para o encontro com a bancada federal

do Nordeste em Brasília, dia 08 de agosto, onde discutiremos caminhos para

este novo Nordeste, digo melhor, este novo Brasil. Depois, seguiremos para

o Rio de Janeiro, onde seremos recebidos pelo BNDES, no último workshop,

que mostrará como o Nordeste é visto de fora. No final de agosto, dias 27 a

29, estaremos em Fortaleza, realizando o grande seminário que nos oferece-

rá elementos para a elaboração do plano estratégico de ação política. E será

aí, senhoras e senhores, que começará, de fato, o movimento Integra Brasil.

Com ações concretas, como proposições junto ao governo federal e ao

Congresso Nacional, e o acompanhamento dos projetos estratégicos para o

Nordeste, a exemplo da integração do São Francisco e da TRANSNORDES-

TINA, que se arrastam a passos de cágado. E, para provocar as discussões

de hoje, queremos, desde já, lançar duas questões: quais as perspectivas do

Nordeste, diante das condições atuais no tocante à economia brasileira e

mundial? E mais: qual a melhor estratégia, capaz de possibilitar a efetivação

das inúmeras potencialidades que temos?

Para nortear e inspirar nossa busca por respostas coerentes, ouviremos de

perto o governador do Estado de Pernambuco, Eduardo Campos, essa lideran-

ça política cuja influêwncia já ultrapassa em muito os limites deste Estado, e a

quem, desde logo, deixamos nosso agradecimento pelo apoio irrestrito ao In-

tegra Brasil. Agradecimento, aliás, que estendemos ao presidente do BNDES,

Luciano Coutinho, cuja instituição tem sido patrocinadora e parceira dileta do

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347RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

nosso movimento, por entender a importância de melhorar a competitividade

da economia nacional e regional. Aproveito, ainda, o momento de agradeci-

mentos, para realçar aqui o rico e competente trabalho desenvolvido pela pro-

fessora Tânia Bacelar de Araújo, sem o qual, provavelmente, o Integra Brasil

não teria chegado até aqui, juntamente com o professor Armando Avena, de

Salvador, e os economistas cearenses Firmo de Castro e Cláudio Ferreira Lima.

Foram os grandes pilares, todos vocês, sobre o qual se firmou esse movimen-

to. Agradecer, ainda, ao presidente desta Casa da Indústria, Jorge Côrte Real,

que desde o início acreditou no Integra Brasil e apoiou, juntamente com toda

sua diretoria e assessoria este momento tão importante ao nosso movimento.

Espero que, ao final do dia, talvez exaustos, mas ricos de ideias transforma-

doras, saiamos daqui a caminhar por nossos diversos mundos lá fora, com o

compromisso de disseminar os conhecimentos que teremos oportunidade de

partilhar neste encontro. Esperamos, ainda, que repletos de certeza de que não

estamos sós, cada vez mais juntos, como iguais Severinos, que, desta feita,

terão melhor sorte, porque sairemos fortalecidos pela integração aqui promo-

vida. E sigamos unidos em busca da concretização de um novo pacto federa-

tivo, que, pautado no equilíbrio interregional, induza nossos governos e nossa

sociedade à conquista da redução das desigualdades socioeconômicas, que

teimam em tentar nos separar. Tenho repetido, em todos os lugares por onde o

Integra Brasil tem passado, que o crescimento econômico do País, a susten-

tação da nossa identidade cultural e a recuperação da autoestima nacional

passam, necessariamente, pelo Nordeste. Cabe, portanto, a cada um e a to-

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348 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

dos nós, explorar as múltiplas inteligências que carregamos, para fazer emer-

gir, a cada encontro, as ideias necessárias à consolidação do Nordeste como

fonte de soluções sustentáveis para os problemas maiores do Brasil. E com o

Integra Brasil, não tenham dúvida, iremos construir, a partir do Nordeste, um

novo paradigma econômico para o país, um paradigma pautado na integração

de valores, de culturas, de conhecimentos, de competências e de riquezas,

que, inspirados pelo princípio cristão da partilha, consigamos, ao longo do dia

de hoje, integrar nossos ideais e compromissos para com o desenvolvimento

social, ecológico e econômico de nossos estados, de nossa região e do País.

Quero encerrar minhas palavras com alguns dos versos final da obra de João

Cabral: “E não há melhor resposta / que o espetáculo da vida: / vê-la desfiar

seu fio, / que também se chama vida, / mesmo quando é assim pequena, /

uma vida Severina.” Meus amigos, o Brasil pode muito mais. Obrigada e bom

trabalho para todos.

Cerimonialista: senhoras e senhores, convidamos para fazer uso da palavra

o sr. Luciano Coutinho, presidente do BNDES.

Luciano Coutinho: Vou falar daqui mesmo, muito rapidamente, porque de-

pois eu participarei dos painéis e eu queria dizer da nossa grande alegria e

satisfação de participar desta etapa dos debates do Integra Brasil, não é?

Quero saudar aqui a todos os presentes, o nosso anfitrião, o presidente da

FIEPE, Jorge Côrte Real, o nosso querido governador, Eduardo Campos, a

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349RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Nicolle, a nossa guru aqui, a professora Tânia, e o secretário Alexandre Pe-

reira; dizer que estaremos trabalhando intensamente, dando suporte à sis-

tematização das propostas para a organização de um segundo grande ciclo

de investimentos e desenvolvimento para o Nordeste. Nós assistimos, nos

últimos dez anos, a um ciclo muito poderoso de investimentos e precisamos

preparar o futuro e, creio, esta discussão é muito oportuna e certamente

será muito profícua e produzirá resultados.

Lembro-me do telefonema que o governador Cid Gomes me fez, alguns

meses atrás, estava com o deputado Firmo de Castro (aliás, quero dizer aqui

da presença do deputado, ele que foi um dos mentores desse movimento), e

que eu prontamente acolhi com grande entusiasmo. Eu quero dizer que ele

se mantém e que nós estaremos trabalhando. Muito obrigado.

Cerimonialista: Ouviremos agora o sr. secretário Alexandre Pereira, aqui re-

presentando o governador do Estado do Ceará, Cid Gomes.

Alexandre Pereira: Bom dia a todos, quero saudar o governador Eduardo

Campos e já parabenizá-lo pela colocação como melhor governador do Bra-

sil. Parabéns governador Eduardo Campos, o senhor vai longe, se Deus qui-

ser, com o apoio nosso e do Nordeste. Professora Tânia Bacelar, a presiden-

te do CIC, querida Nicolle; meu amigo, presidente da Federação, Jorge Côrte

Real, presidente do BNDES, Luciano Coutinho; eu apenas quero dizer da sa-

tisfação como cearense, secretário do Desenvolvimento Econômico do Cea-

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350 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

rá, em trazer aqui o abraço do governador Cid Gomes, governador Eduardo

Campos, e dizer do interesse nosso que esse projeto siga em frente e que a

importância de, estararmos juntos, nós, os nordestinos, unidos nos projetos,

importantes para a nossa região. Eu não tenho nenhuma dúvida de que esse

projeto Integra Brasil, será um marco, nos próximos anos, e, principalmente,

para pautar a agenda política de 2014.

Os próximos candidatos a presidente da República, e os próprios candi-

datos ao governo, terão que respeitar e que ajudar, inclusive, no que ficar de-

cidido na pauta do Integra Brasil. Então, esse documento tem uma importân-

cia realmente grandiosa. Deixo aqui, governador Eduardo Campos, minha

querida Nicolle, coordenadora e idealizadora desse projeto, um abraço do

Estado do Ceará e do governador Cid Gomes e o de que depender do nosso

Estado nós estaremos aqui, de mãos dadas com o Estado de Pernambuco,

para que tenha o devido sucesso. Muito obrigado, bom dia e bom trabalho.

Cerimonialista: Finalizando essa solenidade, nós convidamos o excelentíssi-

mo senhor governador do Estado de Pernambuco, Eduardo Campos, que fará

a sua saudação inicial e, na sequência, apresentará o tema da palestra magna

desta manhã: O Nordeste e Pernambuco no Brasil das próximas décadas.

PALESTRA MAGNAEduardo Campos: Meus cumprimentos ao deputado fderal e presidente de

FIEPE, Jorge Côrte Real, em nome de quem cumprimento a toda a direção

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351RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

da Federação das Indústrias de Pernambuco, meus cumprimentos à Nicolle

Barbosa, presidente do CIC, a quem cumprimento, pela iniciativa, em nome

de quem cumprimento todos os empreendedores do Ceará, quero cumpri-

mentar o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.. Quero cumprimentar a

professora Tânia Bacelar, que faz a coordenação técnica do Integra Brasil

em Pernambuco. O secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado do

Ceará, Alexandre Pereira, um nome que, neste ato, representa o governador

Cid Gomes, meus cumprimentos, nossas boas vindas. Senhores empresários,

empresárias, aqui presentes, dirigentes, senhoras e senhores da imprensa.

Vou encurtar aqui a nossa intervenção para que a gente tenha a opor-

tunidade de ouvir os dois professores, Luciano Coutinho e depois a Tânia

Bacelar. Mas dizer, primeiro, um registro, à iniciativa do CIC, de puxar essa

discussão com o apoio pronto da nossa Federação das Indústrias, da CNI,

do BDNES, mas essa iniciativa do CIC é algo que faz jus à história daque-

la entidade, à capacidade da gente cearense, de poder pautar esse debate

tão necessário, numa hora tão oportuna de fazermos esse debate. E acho

que é muito importante que a gente possa convergir para esse ambiente

do Integra Nordeste uma série de iniciativas que os Estados estão fazendo,

que outras entidades empresariais estão fazendo, o esforço que o governo

federal fez recentemente, puxando a Conferência Nacional de Desenvolvi-

mento Regional, para que esse acúmulo todo, essa energia toda, possa nos

ajudar a compreender uma estratégia de desenvolvimento para o Nordeste,

ou seja, que isso seja efetivamente uma produção coletiva que expresse a

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352 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

diversidade do pensar, a diversidade do olhar sobre a realidade nordestina,

ou seja, nós não estamos aqui sentados numa mesa, na postura que não

serve nesse momento de donos da verdade ou de um caminho, nós estamos

abertos a aprender, a fazer um debate franco, verdadeiro, objetivo, que faça

a leitura correta do processo histórico que nos trouxe até aqui, e que possa

nos remeter, de forma segura, a um caminhar que enfrente os velhos e os

novos problemas que estão colocados na ordem do dia. Feito esse registro,

quero só compartilhar que, nesse momento, tanto aqui a Federação das In-

dústrias, junto com o apoio da CNI, tem feito um esforço (e, recentemente,

me foi apresentado), de construir uma pauta de enfrentar velhos e novos

problemas, como também sabe e vai participar (a Federação e outras entida-

des empresariais, de trabalhadores, universidades, pesquisadores), de um

esforço que o Estado de Pernambuco quer fazer, e deseja participação do

Integra, para que nos ajude na consolidação desse trabalho até março, que é

o Pernambuco 2035. Trata-se de um documento de referência, de uma visão

estratégica dos próximos vinte anos do nosso Estado, e é muito importante

que, todos os que estão envolvidos, de alguma forma, possam nos ajudar,

como também nos colocamos à disposição de participar de outros fóruns,

de outras iniciativas.

Dito isso, vale uma saudação a esse momento, como um coroamento de

uma nova fase de encarar o problema regional. Houve um tempo, não mui-

to longe, em que nós, submetidos a um momento econômico de baixíssimo

crescimento, de pouca esperança sobre o futuro do Brasil, imaginávamos

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353RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

que cada Estado nordestino, isoladamente, podia dar conta da solução dos

seus problemas. A história nos mostrou, o caminho nos mostrou, que o me-

lhor era fazermos o que estamos fazendo hoje, mais maduros, aprendendo

com a história, com essa caminhada, buscando efetivamente uma saída

dentro de uma visão que, primeiro, entende que a questão nordestina é so-

bretudo uma questão nacional, ou seja, a questão nacional está colocada na

mesa, não existe um problema no Nordeste nem uma solução no Nordeste,

existe um desafio brasileiro, onde o Nordeste tem que ser encarado numa

questão estratégica na construção de um país mais equilibrado e mais justo.

Daí, adentro efetivamente num único gráfico (tenho varias transparências

que eu tinha preparado para aqui, mas vi que não era o caso, vou escolher,

das quase quarenta lâminas, uma só), que é esse que eu mostrei à Tânia, a

relação do PIB per capita do Nordeste do Brasil, como um indicador só, e nós

sabemos que um indicador só não sintetiza tudo, mas, esse talvez, possa

expressar coisas que têm a ver com nossa caminhada histórica. Veja, o que

é que aconteceu de cinquenta à sessenta e o que é que estava acontecendo

nesse momento no Brasil: o Brasil tinha esperança no futuro, projeto nacio-

nal, mobilização da sociedade, democracia sendo reconstruída, e aconteceu

o que aconteceu. Depois, o Brasil perdeu a democracia, num determinado

momento perdeu o alinhamento, quando pensou o crescimento econômico

de novo, nós vimos acontecer, na ausência de forcas democráticas, de um

ambiente democrático que pudesse reivindicar, colocar, apontar desigual-

dades, injustiças, nós vimos um encolhimento duro, da expressão da renda

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354 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

média do Nordeste em relação ao Brasil. E, na sequência, a gente começa a

ver uma rampa que demora praticamente quarenta anos para a gente andar

10% ali de expressão, essa é que é a questão. Se a gente sair daí e for para

uma segunda lâmina, eu prometo que não vou às quarenta, não é, mas se for

para a lâmina que mostra a participação do PIB do Nordeste no PIB brasilei-

ro, a gente vai ver que todo o esforço recente, importante, de atenção para

com o Nordeste, nos gerou uma participação. Somos quase 28% da popula-

ção e somos 13,5% do PIB brasileiro, e fomos há dez anos atrás 13%, ou seja,

nós crescemos depois da vírgula. Dito isso, a gente talvez, como diziam os

mais jovens, talvez caia a ficha do tamanho do desafio que a gente tem pela

frente, não é? Esse desafio deve gerar, em cada um de nós, uma preocu-

pação em garantir os avanços construídos, ou seja uma forte preocupação

nacional com os avanços que todas as forças vivas desse país contribuíram,

para construir a democracia, estabilidade econômica, uma visão de inclusão

social em vários ciclos políticos, que tivemos nesses últimos anos, nesses

últimos trinta anos, nós temos que ter essa visão de preservar, e uma visão

de olhar de forma estratégica para o futuro, nós reconhecemos, no tempo

mais recente, uma série de iniciativas que foram muito importantes para

essa expressão do Nordeste, ou seja, crescer o valor de compra do salário

mínimo, criar uma rede de proteção social, expandir o crédito, tomar a de-

cisão gerencial da construção de algumas obras, umas mais rapidamente

construídas, outras com uns problemas que nós conhecemos, que muitas

vezes são das marcas de muito tempo sem fazer as coisas, quando começa a

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355RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

se fazer tem dificuldade de fazer, tem inconsistências legais, tem uma série

de questões.

Mas tudo isso foi muito importante para o crescimento do Nordeste, e

a gente sabe que este efeito, ele agora será muito mais limitado, porque

nós não teremos a expressão do mercado de trabalho como houve, porque

chegamos próximo, em algumas regiões metropolitanas mais dinâmicas do

Nordeste, próximo do chamado pleno emprego técnico, nós sabemos que o

crédito já não tem, ao consumo, já não tem muito o que expandir, a rede de

proteção social, ela teve o efeito sobre a economia que queríamos ter, e nós

temos o desafio nacional de crescer de maneira mais expressiva, a partir de

outras variáveis também, sobretudo do investimento.

Quando a gente olha isso, a gente percebe que há um trabalho do Banco

do Nordeste, que deixa claro que para o Nordeste, em dezesseis anos, fazer

aquela rampa que eu mostrei primeiro, levar a gente a ter uma renda média,

em 16 anos, a gente precisa crescer 3 pontos percentuais acima do Brasil, 16

anos seguidos, e consecutivos. E tem que crescer o Nordeste como um todo,

e o Nordeste desigual, porque, muitas vezes nós, nordestinos, temos que

parar um pouquinho para olhar para dentro das nossas desigualdades, não

é? Porque, por dentro nós somos mais desiguais do que o Brasil é desigual.

Você pega em 100 quilômetros da região metropolitana, 100 quilômetros do

marco zero do Recife estão quase 80% do nosso PIB. Então, como é que você

equilibra por dentro também, nesse cenário? Há, sem sombra de dúvida,

uma grande, eu vejo, uma grande oportunidade política, nesse momento em

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356 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

que o Brasil, nas ruas, nas redes, coloca suas inquietações, como propria-

mente a cada década o Brasil tem colocado, ou seja, o Brasil viveu nas ruas

polarizadas, viveu em 74 um movimento, 68 a 74, um movimento político pela

redemocratização, de expressão nas urnas de 74; viveu a belíssima campa-

nha em 84 das Diretas Já, nós vivemos quase 10 anos depois um processo

completamente cidadão, que foi o povo nas ruas, desejando retirar, na for-

ma da lei, o primeiro presidente eleito do Brasil; nós vivemos uma mobiliza-

ção para a estabilização econômica do Brasil em 94, quando a força de uma

moeda juntou forças políticas que conduziram o Brasil para um processo

econômico que nós reconhecemos que teve legados muito importantes para

que o ciclo seguinte, comandado pelo presidente Lula, pudesse incluir mi-

lhões de brasileiros na cidadania básica; essa expressão de hoje tem que ser

entendida como uma energia que precisa embalar esses sonhos, que fazem

o Integra Nordeste reunir pessoas, sonhos, utopias, e que tudo isso acen-

da a esperança da nossa gente no futuro do Brasil, e que possa fazer com

que a gente tenha uma carta-guia, que fale de vários temas. Primeiro, que

fale também das nossas desigualdades, que tenha um olhar estratégico, na-

cional, objetivo, para o Semiárido nordestino. Nós não seremos uma região

justa se a gente não encarar, de forma permanente, o grande desafio de

conviver numa região desértica com tanta gente.

Acabamos de ter uma tremenda de uma estiagem, que tem marcas no

mundo da produção, que precisa ser compreendida. E a biotecnologia está

aí, disponível nas prateleiras dos nossos laboratórios, e a genética de ponta

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357RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

está aí, presente em várias realidades. As técnicas de acumulação de água,

as técnicas de geração de energia renovável, quer dizer, os editais, se a gen-

te pôde ver embalar a energia eólica como uma realidade hoje, o mundo está

embalando a energia solar. A China quando entrou nessa de cabeça, a Eu-

ropa entrou na microgeração de energia solar, tendo o frio que tem lá, e nós

não podemos ficar vendo o Sertão fazer concorrer a água para outros usos,

com geração de energia, sem usar o potencial de energia solar que tem aí,

ou seja, uma visão de 30, 40 anos, para o Semiárido.

Com logística, tão importante a transposição, como a hidrovia do São

Francisco, como alguns eixos rodoviários, planejados, mas ainda não efe-

tivados, que ligam os nossos Estados. Se a gente for ver a nossa fronteira

com o Ceará, a nossa fronteira com a Paraíba, com o Piauí, com a Paraíba,

com Alagoas, existem várias ligações que são devidas ao fluxo de pessoas,

de estudantes, de comércio, de interações econômicas, não é? Nós fizemos

nas nossas PE’s, mas o Brasil precisa fazer isso como uma política de inte-

gração. A própria malha aeroviária, o maior vazio aeroviário no Nordeste, ou

seja, você ir de uma capital para outra no Nordeste, muitas vezes você pode

demorar mais tempo do que ir para o estrangeiro. Outro dia uma pessoa me

falava, que para sair de Aracaju para chegar em Natal, o que que ele tinha

que fazer: ir à Salvador, depois pousava aqui, também, ia para não sei onde...

Ou seja, é um negócio que tem produção, nós no Fórum dos governadores

do Nordeste, produzimos, inclusive, um pensar sobre isso. Nós temos um

esforço a ser consolidado, não só nos nossos portos, aeroportos e ferrovias.

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358 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

Tem estudos da própria CNI, da Federação das Indústrias, sobre essa ques-

tão, mas tem um olhar sobre a questão da ciência e tecnologia e da formação

de pessoas. Nós precisamos garantir e consolidar o que o Sul do Brasil já

conseguiu, que São Paulo conseguiu fazer na década de 70.

O professor Luciano Coutinho participou disso, ajudou a fazer da UNI-

CAMP o que ela é, para aquela região, em termos de desenvolvimento. Nós

precisamos consolidar polos dinâmicos de formação de pessoas, e de refle-

xão, de produção, de pesquisa, e de pesquisa aplicada no interior do Brasil

nordestino. Isso é uma coisa fundamental: consolidar os campi de univer-

sidades que tenham a ver, efetivamente, com esse desafio. É fundamental

que as políticas públicas nacionais, tenham, efetivamente, recorte regional.

Algumas delas, pela organização dos setores, nós conseguimos consolidar.

Outras não conseguimos consolidar, ou seja, fica a depender do grau de

organização daquele determinado segmento, você pega, temos alguma coi-

sa do ponto de vista tributário, não que nós gostaríamos de ter; temos algu-

ma coisa do ponto de vista de ciência e tecnologia, mas nem sempre temos

os resultados que gostaríamos que tivesse.

Então, esse eixo, eu acho que é um eixo muito importante, não só de for-

mação, mas de pesquisa e desenvolvimento e inovação para nossas cadeias

produtivas mais efetivas. Nós temos clareza, também, para encaminhar

aqui, para o fechamento, de que é fundamental um olhar do País sobre al-

guns setores que vão ser muito importantes para o crescimento e a retoma-

da do crescimento do Brasil.

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359RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Eu falo assim, por exemplo: O pré-sal e a cadeia de petróleo, gás e offsho-

re, ia dependente do que ocorre conjunturalmente, neste instante, essa será

uma área de grande expressão, para o Brasil, nos próximos 10, 20 anos. Se

formos observar, elas podem gerar um processo de concentração muito for-

te, pela expressão, pelos números, onde encontramos as reservas, onde já

tem uma base industrial instalada, uma competência estabelecida. Falo isso

porque essa leitura nos fez fazer uma série de esforços que não são fáceis.

Tivemos a ajuda desta Casa, ajuda do governo federal, das nossas universi-

dades, para, além do petróleo, trazer laboratórios, cursos, desenvolvimento,

a refinaria, a petroquímica, a indústria naval, uma série de indústrias que

dialogam com esse cluster, mas é fundamental a gente ter um olhar, ou seja,

sabia se o consumo nos favoreceu ontem, os investimentos públicos, por

concessão, se param na Bahia, precisamos deles como recursos públicos,

ou parcerias público-privadas, não podemos dizer assim: onde dá para ter

concessão, onde tem renda média diferente disso aí. Está certo, ou não? Só

fica de pé, por concessão, no lugar que dá para pagar. Se no lugar que não

dá para pagar temos problema, então temos que encontrar outro tipo de re-

médio. O remédio é colocar o dinheiro publico ou o misto, dinheiro público

e privado, numa parceria público-privada que bote, exatamente, a cobrança

da tarifa numa proporção que deixe o negócio de pé, e o cidadão podendo

usar aquele serviço, a cidadania podendo usar.

Essa é uma questão importante de ser destacada, ou seja, quais os seto-

res e as principais cadeias produtivas que o Nordeste precisa, efetivamente,

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360 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

defender com o intuito de inovação, com crédito, com incentivo fiscal, com

política pública, como qualquer nação do mundo faz. Para nós, é importante

o que restou da indústria têxtil? É. Como é que a gente vai fazê-la aumentar?

E o nosso pólo metal-mecânico, o que que a gente vai fazer? E a indústria

calçadista, o que é que a gente vai fazer? Não é? Com tudo que a gente que

preservar, que a gente construiu, como é que a gente pode dinamizar isso,

como uma política articulada? O setor do agronegócio nordestino, como é que

a gente vai fazer com a água irrigada, com a produção de etanol, de açúcar, ou

a gente não vai fazer absolutamente nada? Vai olhar só o novo, e vai esquecer

do que já existe? Nós não podemos ficar? Temos que olhar nas duas direções,

e acho que é fundamental um olhar, por fim, e aí, encerro, no pacto federativo.

O pacto federativo é estratégico para a construção da cidadania no Nor-

deste. Nós estamos aqui querendo fazer desenvolvimento, para responder

ao que a rua nos pede, e o que que a rua nos pede? Cidadania, serviços

públicos que funcionem, inclusão. E nós não vamos fazer isso se o pacto

federativo não funcionar, não tiver capacidade de dar respostas. Não é só

com recursos, é com práticas políticas mais novas, é com gestão mais ade-

quada, é com transparência, é com participação da sociedade, é com gestão

eficiente. É tudo isso, mas também tem mais de recursos, sim, mais de re-

cursos. Mais de capacidade de escolha do poder legal, legitimamente eleito,

porque, muitas vezes você vai querendo fazer um determinado pedido no

cardápio, o cidadão diz: “oh, não tem cardápio não, hoje só tem isso aqui.

Você vai comer isso aqui.”

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361RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

É como Ariano Suassuna conta, de forma muito engraçada, que ele per-

gunta nas palestras dele: “quem disse que cachorro gosta de osso?”. Aí o

pessoal ri, ele diz: “ah, você acha que cachorro só gosta de osso, porque só

dão osso ao cachorro; dê o filé, para ver se ele não come!”. Quer dizer, eu

acho que gente precisa também ter, além de um pacto federativo mais equi-

librado, que responda ao que está sendo reivindicado, a gente precisa ter

mais recursos, para que o investimento, que será a mola propulsora do ciclo

que queremos ver inaugurado (e queremos ajudar que ele se inaugure), para

que ele não venham só do lado privado. Ele vem do lado privado e vai vir na

nossa realidade, já foi dito há pouco, também pela alavanca do investimento

público, que vai chamar o investimento privado. Então, isso é central.

E, por fim, acho que nós precisamos ajudar a impressão sobre o futuro do

Brasil melhorar. Nós, mais do que o Brasil, precisamos disto. Porque é muito

mais difícil trazer um investidor, para um território ainda não tão conhecido,

animar um grande fundo de investimento a participar de um empreendimen-

to em qualquer Estado do Nordeste brasileiro, é mais complexo, mesmo com

as melhores contas, do que levar para uma área mais conhecida do Brasil. É

claro isso, quem já negociou esse tipo de investimento, aqui tem muitos que

já fizeram isso, sabem muito bem. Ou seja, então quanto mais melhorar para

o Brasil, melhora para nós. Quanto mais fica difícil para o Brasil, fica mais

difícil para nós. A proporção das dificuldade para nós é sempre numa escala

muito diferente. E os efeitos são muito mais perversos, exatamente por essa

realidade que nós começamos apresentando.

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362 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

Por isso, eu quero saudar essa iniciativa, efetivamente. Ver que nela tem

uma energia positiva muito grande, há uma gana, no sentido de juntar as

forças, de procurar os ambientes. Não estamos aqui fazendo cabo-de-aço,

nem com postura de donos da verdade. Reconhecemos os avanços, como

dizem, e queremos ir adiante, queremos mais, é importante desejar mais, o

Brasil deseja mais, Acho que esse debate está à altura da tradição daqueles

que puxaram o debate, que o estão alimentando.

E o nosso desejo é só contribuir, que nós possamos ter, aí sim, uma visão

não fragmentada, pontual, não é? Eu me sinto no dever, aqui também como

político, já que em algum momento se falou que, documentos como esse (o

Alexandre colocou), vão pautar o debate de 14, dizer que é muito importante

que o debate sobre o futuro do Brasil seja feito não pela expressão de nomes

ou de torcidas, mas pela expressão de um pensamento estratégico, que nos

guie a uma mudança de patamar. Foi exatamente isso que não aconteceu

nas eleições de 2010, onde o debate foi um dos mais pobres debates políticos

que já tivemos notícia, numa nação do tamanho do Brasil. E muito do que

temos hoje foi a ausência desse debate político, no padrão que os senhores

estão puxando hoje. Por isso, parabéns, contem conosco.

PRIMEIRA EXPOSIÇÃOLuciano Coutinho: Bom, certamente que esse esforço de desenvolvimento

inclusivo da região Nordeste obviamente requer investimentos em educa-

ção, em melhoria da educação, em melhoria dos sistemas públicos, numa

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363RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

tentativa de qualificar e de preparar pessoas para o trabalho, adaptar, in-

clusive, para preparar para o trabalho pessoas que não têm escolaridade.

Então, é um desafio e que não deve ser encarado, embora desafiador, como

impossível, é preciso pensar nisso.

Feitas essas considerações, eu quero retomar aqui a ideia de é preciso

preparar um segundo grande ciclo de desenvolvimento para a Região. Nós

tivemos um grande ciclo de desenvolvimento até aqui, o Nordeste cresceu

um pouco acima da média nacional, grandes projetos e grandes iniciativas

foram deslocadas para a Região por decisão política; foram decisões polí-

ticas do presidente Lula, e eu posso citar a refinaria de Pernambuco, mais

outras refinarias da PETROBRÁS no Ceará e no Maranhão, o reforço aos

portos de Suape e de Pecém, o aeroporto de São Gonçalo do Amarante, que

virou realidade, o aeroporto, indústria grande, no Rio Grande do Norte. O

polo naval, os estaleiros, o polo de offshore em Suape, o deslocamento do

estaleiro Atlântico-Sul, os polos de celulose, a TRANSNORDESTINA, que,

infelizmente teremos que trabalhar para retomá-la, acelerá-la, mas, enfim,

novas usinas térmicas, todos esses projetos são projetos que estão em pro-

cesso de amadurecimento, são processos importantes, mas esses projetos,

boa parte deles está em fase final de conclusão, alguns estão em início; eu

me esqueci de falar de petroquímica, de siderurgia, a Companhia Siderúrgi-

ca de Pecém, enfim, existem projetos grandes, ou numa etapa inicial, mas

são processos que estão dados. Esse ciclo ainda tem uma sobrevida na me-

dida em que esses processos estão em amadurecimento, mas é preciso pen-

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364 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

sar, pensar a longo prazo, que significa imaginar qual o ciclo de projetos e de

oportunidades que precisam ser criados para assegurar que essa trajetória

mais rápida de crescimento da Região seja sustentada.

Vem-me aqui, desde logo, um grande esforço de melhoria na infraestrutu-

ra logística da Região. É óbvio que não teríamos conseguido capturar vários

desses empreendimentos se os estados da Região não tivessem duramente

preparado bases de logística. O exemplo de Suape (o estado de Pernam-

buco durante décadas apostou nisso), preparou as condições e, se não ti-

vesse essa base mínima, não teria sido possível que essas decisões polí-

ticas pudessem ter deslocado, mas, uma vez feito, a lição fica: criar bases

logísticas para atrair projetos é fundamental. E eu digo, criar bases logísti-

cas, inclusive no interior, para poder atrair projetos, significa que é preciso

pensar e realmente continuar pensando a questão portuária. Aqui há novas

oportunidades de pensar a questão portuária, aqui trazendo o setor privado.

Creio que as rodovias, as ferrovias precisam ser pensadas e aqui talvez de-

vamos pensar em PPP’s e não em concessões. E é preciso pensar, talvez, a

médio prazo, em ter um fundo garantidor de PPP’s reformulado em escala

nacional para viabilizar, garantir as contraprestações. Esse é outro desafio,

nós temos refletido a respeito disso, eu acho que essa é outra ferramenta

indispensável para poder viabilizar PPP’s para essas novas estruturas em

ferrovias. Imaginando que a TRANSNORDESTINA possa estar pronta, ela

vai permitir ramais, ela vai permitir extensões. As rodovias precisam criar

densidade, o governador fez referência absolutamente correta, e faz parte

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365RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

do plano de aviação regional do governo federal, uma malha de aeroportos

regionais e, no caso do Nordeste e do Norte não foi utilizado o critério de

demanda econômica, que foi utilizado para o resto do país. Mas tinha de re-

levância em termos de centros populacionais para o planejamento da estru-

tura aeroportuária, que será bancada pela outorga dos grandes aeroportos

e os recursos do Fundo da Aviação. Daí, digamos assim, o fato de que nós

tínhamos, até o nosso diretor, até então ministro, agora de novo de volta ao

Banco, nós trabalhamos muito proximamente no suporte técnico, e essas

escolhas, que foram escolhas feitas com critério deliberadamente de criar

uma malha regional.

Temos que pensar também em outras estruturas importantes de logísti-

ca. Eu me refiro, por exemplo, é preciso pensar os grandes centros de abas-

tecimento para as áreas metropolitanas, os chamados CEASAS,os centros

de distribuição e armazenamento na distribuição de bens, é preciso incluir

nas questões da logística os entornos metropolitanos, é preciso que os arcos

metropolitanos sejam integrados a esse processo, e é preciso incluir a ques-

tão do transporte coletivo de massa dentro do cardápio de logística, com

perspectiva de longo prazo.

O tema da energia é outro tema crítico para o Nordeste, na medida em

que o Nordeste tem um potencial hídrico restrito, já praticamente exaurido,

e é preciso pensar nas alternativas de energia.

A energia eólica já se transformou numa grande alternativa, e é preciso

reforçar, ela tem um papel importante de ser contracíclica em relação ao

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366 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

ciclo hídrico, ela é importante. Mas é relevante pensar na energia solar,

embora ela ainda não seja competitiva, poderá vir a ser, ela é competitiva

para certos usos específicos, é preciso apostar nela. É preciso repensar

a biomassa como fonte de energia, e é preciso colocar a questão das tér-

micas, de usinas térmicas; se conseguirmos achar gás, ótimo, senão nós

vamos ter que pensar em usinas térmicas como elemento estabilizador,

porque é necessário para o sistema nacional. E como o Nordeste às vezes

está na ponta do sistema, ele vai precisar complementar para dar seguran-

ça energética ao sistema. É claro que as usinas térmicas são uma grande

rede de segurança, mas, quando acionadas, elas elevam o custo médio dos

sistemas. Então, esse é um desafio, mas é preciso pensar a energia para a

Região em longo prazo.

Creio que o Nordeste tem oportunidades que podem ser desenvolvidas so-

lidamente em várias indústrias de base. Refiro-me a cadeia de petróleo e gás,

de offshore, uma vez que temos já um impulso inicial em algumas áreas e há

uma tradição de mecânica no Nordeste, indústria mecânica, mas eu chamo

atenção para o potencial, os grandes potenciais não explorados em engenha-

ria, em tecnologia de informação e automação aplicada aos grandes siste-

mas. É aí que está um valor agregado muito alto, e que nem todo mundo está

apostando, e é capaz de gerar oportunidades e criação de valor. Creio que

também a indústria, uma vez que o Nordeste disporá de um sistema de refino

de grande escala, sendo que é dado que o Nordeste é deficitário em Diesel, e

as refinarias são indispensáveis para tornar a Região autossuficiente.

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367RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Essas novas refinarias produzem subprodutos e gases especialmente im-

portantes para uma cadeia de química e petroquímica. É necessário encai-

xar no planejamento do refino o downstream de quem é que está tocando.

Vejo oportunidades também na medida em que a economia da Região ganha

densidade para a siderurgia, inclusive para siderurgia baseada em sucata,

além do projeto da siderúrgica do Pecém, que é um projeto importante, já

localizado na Região e que com uma boa estrutura de portos pode suprir

planos para a região também, embora o projeto Pecém tenha um grande

componente exportador. Ele é escalonável pelo site e pelo tamanho, poderá

ser escalonável para o mercado interno. Várias outras indústrias de base

têm oportunidades concretas na Região; me refiro ao cimento, vidro, cerâ-

mica, que são componentes importantes para o complexo de construção,

são indústrias de base, a celulose e papel são ainda oportunidades, sem es-

quecer de mencionar outros minerais não-metálicos. Tenho o exemplo aqui

do polo de gipsita.

Menciono também o seguinte, o Nordeste tem uma indústria de bens de

capital nova, nascendo, uma indústria de bens de capital dedicada à ener-

gia, uma indústria de bens de capital tanto para hidrogeradores quanto para

o sistema eólico, quanto para automotiva. Nós podemos e deveríamos pen-

sar também para indústria de bens de capital para construção e para atrair

alguma de coisa de BK de construção e, eventualmente, também, de agrí-

cola. Então, eu vejo que a indústria toda de bens de capital é um setor que

está em processo, sem falar no óleo e gás, num processo que tornou factível

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368 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

a atração de empreendimentos. Sem dúvida nenhuma, na indústria de bens

de consumo, é possível pensar em toda a cadeia produtiva da indústria au-

tomotiva e reforçá-la, ela precisa ser reforçada e ela poderá contribuir de

forma relevante para alguma descentralização, olhado o sistema de peças

e autopeças. Eu chamo atenção também porque o Nordeste já teve alguma

indústria de linha branca e talvez devêssemos retomar a reflexão a respeito.

Mobiliário é outro setor importante, e nos não-duráveis não há porque

não retomar com novos paradigmas a reflexão sobre confecções, calçados,

alimentos industrializados, laticínios, toda uma indústria de base impor-

tantíssima hoje para a cesta básica; o que incluem hoje na cesta básica

não é mais in natura, tem um pedaço in natura, mas tem um grande peda-

ço que são alimentos industrializados e que, muitas vezes, são importados

com custos mais altos, e que deveríamos ter bases locais de produção muito

mais amplas, na medida em que o processo de inclusão social se amplia.

Eu me esqueci de mencionar a indústria de bebidas, por exemplo, refrige-

rantes e bebidas. No Nordeste, essas indústrias de bens de consumo são

tipicamente indústrias multiplantas, elas vão para onde o mercado está e o

potencial do crescimento do mercado permite atrair. Essas indústrias são

indústrias que podem, com uma boa estrutura logística, ser descentraliza-

das; e nós deveríamos ter um plano de descentralização de polos manufatu-

reiros em cima de um sistema de cidades médias, olhando o Nordeste vinte,

trinta anos à frente como o nosso governador aqui mencionou para o caso de

Pernambuco em 2035. Menciono, ainda, o complexo da construção, advogo

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369RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

que o complexo de construção deveria ser importante, ganhos de eficiência

que podem e devem ser obtidos e que no processo de construção, à medida

que, inclusive os custos de trabalho irão subir, o que é saudável que acon-

teça, é preciso pensar em grande produtividade e repensar os processos da

indústria de construção.

Finalmente, a agricultura e a pecuária, sobre a qual eu já falei, mas ela é

muito relevante para a sustentação da renda e especialmente para a sus-

tentação da cesta básica. Um pressuposto importante para a manutenção

do poder de compra da Região é ter oferta de alimentos, o Nordeste não

pode depender da importação de alimentos, principalmente de alimentos de

maior perecibilidade, é preciso pensar, repensar, é um ponto de fragilidade

da Região, ponto de fragilidade apontado pelo relatório do nosso Celso Fur-

tado, que eu até encontrei num caixote que eu tinha quando menino, numa

palestra consegui comprar na SUDENE, já estava muito velhinho, consegui

republicar e mandei para a dra. Tânia.

Os serviços. Vejo um imenso potencial para os serviços no Nordeste. Vejo

um potencial enorme nos serviços relacionados à indústria do conhecimen-

to. A indústria hoje é, crescentemente, ela é pouco intensiva em emprego

direto e intensiva em emprego e serviços, serviços pré e pró-manufatura,

serviços que vão de desenho de produto, desde pesquisa do que o consumi-

dor quer, como quer, como desenha, desenho de processos, como fazer os

processos mais eficientes, qual é design, etc. E os serviços pós-manufatura

relacionados a marketing, relacionados à distribuição, relacionados a várias

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370 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

outras coisas, publicidade etc. As cadeias de serviços são hoje sincroniza-

damente articuladas por redes de tecnologia de informação, que precisam

ser pensadas. Software, serviços e integração de cadeias constituem hoje

um grande filão de criação de empregos altamente qualificados, para o qual

o Nordeste já tem bases empresariais emergentes, ainda, porém promisso-

ras, à mercê das iniciativas de polos de software em vários dos estados, e da

capacidade das nossas universidades. Vejo, porém, que esta visão, e eu vou

falar disso um pouco mais adiante, requer uma visão de futuro porque as

tecnologias de informação estão passando por um ciclo de mudança acele-

rado, e os paradigmas estão mudando, e abrirão novas oportunidades, mas

elas não necessariamente serão aproveitadas se nós não nos prepararmos.

Vejo também na biotecnologia, na farmacêutica e na saúde, no complexo

saúde, grandes oportunidades tanto para a produção quanto para os servi-

ços, e aqui a produção e os serviços estão intimamente ligados.

O Nordeste tem algumas bases de capacitação em química, em farma-

cêutica, em biotecnologia e no complexo saúde, que precisam ser maximiza-

das. Nós precisamos disputar na descentralização de oportunidades, trazer

para a Região centros de excelência e manufatura e serviços do complexo

de saúde, complexo de indústrias ligados à saúde, serviços ligados à saúde

e a biotecnologias.

Queria falar também das engenharias. As engenharias são outros conjun-

tos de serviços que recobrem toda a indústria, portanto, muito importantes.

Quero falar dos serviços convencionais que o Nordeste pode e deve reto-

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371RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

mar. Por que não pensar, embora não pareça, por que não pensar que alguns

dos serviços financeiros que foram esvaziados não possam ser retomados,

como alguns polos de serviços financeiros. É preciso retomar a questão de

serviços de distribuição de bens logísticos. O varejo é outra área importante.

O varejo mostrou um desempenho muito forte nos últimos tempos, graças

à melhoria de redistribuição de renda, mas é preciso repensar um novo va-

rejo, até porque se nós planejarmos uma descentralização com um sistema

de cidades médias, nós vamos precisar reforçar o varejo e vamos repensar

a distribuição do atacado para o varejo com essa perspectiva. Enfim, vejo

também nos serviços convencionais públicos de saúde e educação. Há uma

tendência ao envelhecimento nas sociedades, com redução. Não sei como é

que está a taxa de fecundidade do Brasil, despencou de uma maneira mui-

to forte;a do Nordeste, também, não sei de maneira homogênea, mas isso

coloca para o futuro um desafio para os serviços relativos à terceira idade.

Finalmente, o turismo; não vou falar mais do turismo porque não quero gas-

tar mais tempo, mas é uma óbvia vocação importante.

Quero fazer duas últimas reflexões aqui. Primeiro, uma sobre a neces-

sidade de sintonia com a visão do processo acelerado de transformação

tecnológica que continua em curso. Há uma crise econômica global sim,

há uma crise fiscal, há um mundo em desemprego etc., mas não nos enga-

nemos que as estratégias de todos os países desenvolvidos de acelerar as

estratégias de ciência e tecnologia e inovação se aprofundaram.

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372 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

Os Estados Unidos estão empenhados em relocalizar de volta no seu sis-

tema as bases do complexo de tecnologia de informação e comunicações,

estão refazendo, estão dando meia volta para trazer para os Estados Unidos.

Estão reconstruindo de maneira deliberada as bases de competitividade do

sistema americano, usando custo de energia muito barato, o gás, usando os

incentivos. Há uma política industrial não explícita, mas muito eficaz, que

o companheiro Obama vem praticando. A Europa acordou agora, também

quer fazer, o Japão, enfim.

A China tem objetivos tecnológicos de política extremamente ambiciosos

em várias áreas, há corrida de aceleração tecnológica. No que nós temos

que ter atenção? Nos próximos dez anos, nós vamos assistir a um aprofun-

damento da disseminação da banda larga mais acessível e, aliás, essa é uma

infraestrutura essencial sobre a qual eu me penitencio não ter falado, a in-

fraestrutura de telecomunicações é absolutamente central e nós temos que

pensar no sistema de cidades. Ela talvez é a mais importante das infraestru-

turas para o futuro, sem ela não tem desenvolvimento, ouso dizer, infraes-

trutura de telecomunicações, infraestrutura de banda larga.

A massificação de tablets, de aparelhos de computação, smartphones

muito mais habilitados, a tecnologia 4G vai chegar aqui, mas eu estou pen-

sando em dez anos. Ela vai amplificar ainda mais a articulação do espaço,

da economia, da informação e da articulação da sociedade através de redes.

Mas existem outros elementos paralelos, existe, por exemplo, a formação

de grandes bases de dados abertas, o avanço da chamada computação em

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373RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

nuvem com grandes bases de dados, que desonera a pequena empresa de

ter que ter servidores, ela tem apenas equipamentos, ela pode ter sistemas

de gestão que são computados em nuvem e voltam, então há um processo

ampliado de digitalização. A base de pequenas empresas na sociedade vai

precisar operar com métodos totalmente digitalizados de contabilização, de

tributação, enfim, de gestão, e é preciso preparar a estrutura para isso.

O Nordeste tem capacidade de gerar soluções, mas é preciso aplicar lá

essas soluções. E aqui há uma promessa, porém mais audaciosa, que se

pensa que é chamada “internet industrial”, chamada internet das coisas. O

que é a internet industrial? É a possibilidade de distribuir, dentro de grandes

complexos industriais, ou mesmo de um sistema urbano, de um conjunto de

sensores articulados a processadores que permite fazer funcionar sistema

de grande escala, integrado com grandes computadores de processos. Por

exemplo, o exemplo mais óbvio disso que já se está vendo é um tal de Smart

Grid de eletricidade, isso pressupõe que você tenha sensores instalados em

cada medidor, com um sistema de wireless que transmite de tal maneira que

um computador central de processo pode saber onde a carga está, onde ela

não está, e ele pode redistribuir a carga e otimizar a carga de energia para

onde existe a demanda, gerando uma enorme eficiência no sistema. Esse é

o Smart Grid, mas este mesmo conceito é aplicável a um sistema de trans-

porte, ele é aplicável a um sistema de distribuição de água, ele é aplicável a

sistemas urbanos, ele é aplicável a sistemas industriais, essa automação em

grande escala. Isso vai gerar oportunidades de desenvolvimento de aplica-

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374 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

tivos, isto porque não aplicável em serviços públicos, ao sistema de educa-

ção, aqui haverá outras oportunidades.

Outro campo onde o avanço da ciência e inovação será muito importante

será nas tecnologias de biotecnologias, talvez o próximo grande avanço vai

estar nas neurociências, a última grande fronteira de nano conhecimento na

medicina é o funcionamento do cérebro, a grande concentração de esforços

nas neurociências e, talvez, uma futura combinação das neurociências com

biotecnologia literalmente sofisticada, com engenharia genética. Na verda-

de, hoje a grande janela de oportunidade para a farmacêutica do futuro é

através da rota biotecnológica. E nós precisamos criar uma nova farmacêu-

tica de rotas biotecnológicas. O Nordeste, para não ficar fora dessa janela

de oportunidades, precisa se preparar, é preciso ter uma visão do futuro,

estar sintonizado a uma visão de futuro para isso.

Finalmente, a última reflexão diz respeito à questão da competitividade.

O Nordeste sempre teve uma competitividade baseada numa combinação

de incentivos fiscais com trabalho barato, uma competitividade, em larga

medida, pelo lado do trabalho barato espúrio, alguns polos foram montados,

inclusive de confecções, baseados no trabalho barato; isso é tradicional em

várias regiões do mundo, polos maquiladores e tal. Este é um paradigma do

passado. Com a queda do crescimento de população e supondo a sustenta-

ção do crescimento, a pressão de salários que aconteceu no Brasil inteiro

e aconteceu no Nordeste também, especialmente nos segmentos qualifica-

dos, vai continuar, e ela requer mais produtividade, muito mais qualificação

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375RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

do trabalho, um grande esforço de qualificação do trabalhador. Isso impõe

aqui o sistema CNI, nós estamos empenhados em dobrar o tamanho do

sistema SENAI e, junto com o CNI, criar os novos laboratórios, os grandes

centros de inovação junto com o sistema, nós temos que trabalhar em con-

junto. O trabalho não será mais uma alavanca para o desenvolvimento. O

trabalho barato, o fator predatório, ainda é preciso pensar em outras mais. A

energia não é também, infelizmente, um fator favorável para o Nordeste na

medida em que o Nordeste não tem recursos, e as energias alternativas são

energias de custo marginal mais alto. Então, o Nordeste que se beneficie da

média nacional do sistema de energia, mas é preciso atenção por isso para

que ela não se torne onerosa para o desenvolvimento da Região. A logística,

sim, pode ser um diferencial favorável se nós soubermos construí-la. En-

tão, outro fator sistêmico de competitividade que nós precisamos construir.

A tributação e o financiamento, considerando, além disso, que o Nordeste

tem diferenças de inferioridade estrutural em relação ao sistema de ciên-

cia e tecnologia e em relação ao treinamento e capacitação da escolarida-

de da força de trabalho e recursos humanos, ele tem um handicap nisso;

é indispensável que a Região mantenha durante muitas décadas ainda um

diferencial, inclusive diferenciais de incentivos tributários; é preciso manter

os diferenciais de incentivos tributários, é preciso manter um diferencial de

incentivo no financiamento para a Região. Sem isso, o que eu quero dizer é o

seguinte, infelizmente nem todos os fatores sistêmicos de competitividade

são espontaneamente favoráveis à Região; estes precisarão continuar sendo

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376 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

construídos por decisão política e por um esforço de alta capacitação, daí

a importância da atenção na questão dos recursos humanos, a atenção na

questão da ciência e tecnologia e a questão da construção de vantagens

novas em função da logística.

Quero fazer um último ponto dentro disto para concluir. É que me preo-

cupa muito como fortalecer a base empresarial da Região. É preciso criar

uma geração empresarial nova. Ela está despontando, a gente vê em várias

iniciativas, especialmente nas indústrias intensivas em inovação. Nós ve-

mos nos polos de software, nós vemos em algumas iniciativas de empresas,

de pequenas e médias empresas. Temos que reforçar o sistema de apoio ao

empreendedorismo na Região. Nós temos buscado multiplicar, não quero fa-

lar do Banco porque nós temos buscado orientar a atuação do Banco nesse

sentido, mas este é um fator importante, e eu quero terminar dizendo que o

empreendedorismo e a produtividade da Região precisarão pensar-se como

uma região paradigmática em termos de eficiência de processos produtivos;

ela não pode repousar em achar que o trabalho barato, o salário baixo é van-

tagem; é preciso ter mais produtividade, é preciso buscar estratégias de alta

eficiência e alta produtividade e de um empreendedorismo novo que precisa

surgir para a sustentação do desenvolvimento. Eu peço desculpas, já falei,

já encerrei, peço desculpas porque muitas dessas sugestões são muito mais

desafiadoras e elas requerem uma reflexão muito mais profunda e, na ver-

dade, um desdobramento. Eu quero dizer mais uma vez da minha motivação

e do meu entusiasmo por essa agenda, e quero também reiterar a minha

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377RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

convicção, a minha fé de que o Nordeste tem todas as condições de repen-

sar, de olhar para o futuro e se construir, e articular uma estratégia. Essas

características comuns de fato demandam um discurso e uma compreen-

são particular da Região, a Região sempre teve essa compreensão e sempre

lutou de uma forma articulada por um projeto de desenvolvimento. E é mais

do que nunca necessário para o futuro. Muito obrigado.

RODADA DE INTERVENÇÃO DOS CONVIDADOSNa rodada de intervenções, Geraldo Vilalva indagou sobre as razões para

os atrasos dos empreendimentos e investimentos citados. Mencionou, espe-

cificamente, o complexo de Suape (“por que Suape não sai do papel”, disse),

e fez críticas à Sudene, dando a entender que só cuidava de administrar in-

centivos fiscais.

Antes de passar a palavra ao próximo inscrito, a moderadora Tânia Bacelar

esclareceu que em sua concepção inicial, a “Sudene não era só de incenti-

vos”, tanto que sequer partiu de seus idealizadores a criação desse meca-

nismo de apoio ao desenvolvimento e concluiu com ênfase: “a agenda da

Sudene original é a mesma de hoje”.

O governador Eduardo Campos focou na posição em que a indústria bra-

sileira se encontra mundialmente e questionou os setores industriais que

estarão presentes no interior do Nordeste. Lembrou a importância de se co-

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378 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

nhecer os problemas do Nordeste e citou Lula, que conhecia a Região a seu

modo e por isso, tomou decisões políticas relevantes para o crescimento da

Região e completou o raciocínio, afirmando: “o que precisamos hoje é ter

uma estratégia e uma política consistentes.”

Jorge Côrte Real, por sua vez, lamentou a falta de debates sobre o conví-

vio e o manuseio da questão hídrica na área de desenvolvimento regional.

O presidente da Federação da Agricultura do estado da Paraíba (FAEPA),

Mário Borba, e a jornalista Ângela Belfort falaram sobre a implementação

ineficiente de tecnologias no semiárido nordestino. Mário Borba ressaltou o

fato de as políticas e os recursos não chegarem aos pequenos agricultores.

Ângela, por sua vez, indagou sobre um meio de fazer as tecnologias atin-

girem o semiárido e mencionou a sua fraca aplicação em virtude da falta

de investimentos em educação. Finalizando os questionamentos, Leonardo

Paes perguntou sobre a ausência de incentivos em startups.

Cerimonialista: Para retomar os trabalhos, vamos convidar o nosso anfitrião

presidente deputado Côrte Real, dra. Tânia Bacelar e dr. Olímpio que serão

os três expositores desta sessão.

SEGUNDA EXPOSIÇÃOJorge Côrte Real: Boa tarde a todos, com satisfação que atendemos aqui

a solicitação dos organizadores e vamos falar rapidamente sobre a questão

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379RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

da competitividade da economia regional, economia nacional, efetivamente

dando uma ênfase especial à questão da indústria, que é a parte que mais

temos experiência e conhecimento maior.

Vamos dar também uma visão muito prática, muito pragmática. Temos

alguma coisa elaborada mas, como eu sempre faço, a gente prefere dar um

sentimento da nossa experiência e das nossas expectativas em termos do

nosso evento, fundamentalmente, visto que nós presenciamos aqui na pri-

meira parte dos trabalhos do dia de hoje.

Evidentemente, que só o nome melhoria e o nome competitividade eu

já acho que é uma novidade, o conceito moderno gera vantagens compa-

rativas, não levavam hoje à competitividade. Vantagens comparativas que

poderia ser, por exemplo, você ter um grande número de colaboradores,

trabalhadores à disposição, mas que não tivessem capacitação, não ti-

nham competitividade, então vantagem comparativa até tinha, porque, em

determinados locais, podia ter mais trabalhadores à disposição que em

outros locais, mas se não tivesse o preparo, capacitação ele não teria a

competitividade.

Então os conceitos foram e vão mudando. A vantagem comparativa não é

só tão somente, por exemplo, às vezes, a posição geográfica. Você tem hoje

outros conceitos modernos em termos de infraestrutura que funcionam tão

determinantes na questão da competitividade e em um país como o nosso.

A competitividade é fundamental, porque competividade é um termo quase

que genérico. Você dizer que determinado país é competitivo ou não, você,

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380 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

às vezes, tem áreas, estados, regiões que são competitivas, mas no geral o

país não é.

Por exemplo, se você for ver os números, você diz, talvez, que o Brasil não

seja competitivo. No entanto a região Centro-Sul, São Paulo é competitivo

bem mais competitivo do que uma média do Brasil e muito mais do que o

caso do nosso Nordeste. Então, é partir daí que teremos que ver e estudar as

especificidades regionais, porque, aí sim, nós poderemos ver as diferenças,

analisar o que está acontecendo, entender um pouco quais são essas dife-

renças, essas divergências, e o que é que pode se fazer para tentar igualar

ou aproximar, em termos de competitividade, essas regiões brasileiras.

Eu gostaria, puxando a questão da indústria, nós vamos ver alguns indica-

dores, por exemplo, a questão de indicadores de competitividade. Vamos ver

o primeiro gráfico, que são os índices de produtividade do trabalho na indús-

tria, de 2002 a 2011. Veja que efetivamente, o Nordeste, mesmo no período

de 2007, 2008 a 2011, um período onde o Nordeste sempre cresceu mais, a

produtividade do Nordeste caiu, nós empregamos bem, empregamos maci-

çamente, nos empregamos ou conseguimos ter uma mão de obra de não tão

boa qualidade evidente, que essa produtividade ela não só significa a mão de

obra de baixa qualidade, outros fatores também contribuem para que essa

produtividade caia. Você tem, às vezes, por exemplo, um aumento substan-

cial na parte salarial, na diminuição na jornada de trabalho.

Então, temos aí uma série, um arcabouço, tudo feito de benefícios. Também

que diminuíram a nossa produtividade na indústria nacional e que rebateram

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381RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

muito em deficiências especiais, estruturais na indústria nordestina. Veja que

quem leva maior vantagem no período de crescimento é o Centro-Oeste, que

conseguiu crescer e também aumentar a sua produtividade. E eu gostaria

neste gráfico de fazer também um comparativo da trajetória da produtividade

no trabalho, na indústria no Nordeste, em relação ao Brasil, veja que também,

na parte em que o Nordeste crescia ou praticamente não crescia pouco, de

2002 até 2204, 2005, então, ela se mantém mais ou menos constante.

De 2005 é onde começa aumentar, onde começa a crescer o ciclo de de-

sempenho econômico. A produtividade do trabalho aumentou logo em se-

guida; quando vem um ciclo mais rigoroso, ela cai. O Nordeste comparado

com o Brasil cai substancialmente em termos de produtividade. E ainda em

relação das outras regiões, em relação ao país. Veja que eles praticamente

se mantêm constantes, diferentemente do Nordeste, que caiu drasticamen-

te e, mais uma vez, o Centro-Oeste ganha produtividade, o Sul e o Sudeste

se mantêm relativamente constantes, mas, na realidade, o Centro-Oeste

aproveitou melhor o crescimento do desenvolvimento e teve um ganho de

produtividade, inclusive em relação às outras regiões brasileiras.

Não poderíamos deixar de comentar, quando se fala em tendência na eco-

nomia nacional, e ver colocar no contexto a tendência da economia nacional

em termos comparados das economias regionais. Então, as tendências da

economia nacional, veja o que pode acontecer, porque nós estamos preocu-

pados, querendo ver e diminuir essas divergências regionais e, preocupados

com a competitividade da economia regional.

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382 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

O nosso mercado interno começa a mudar; nós temos, por exemplo, a

alteração do perfil socioeconômico, onde a classe C, que é 55% da popula-

ção e continua sustentando um amplo mercado interno independe da crise

mundial que aí se apresenta, e as perspectiva são que ela continue, mas o

mercado interno pode garantir e deve garantir um crescimento da nossa

economia. E só entre 2003 e 2014, 52 milhões de pessoas entraram na classe

C e outros 15 milhões entrarão nas classes A e B.

Atualmente, o Brasil detém 7º maior mercado consumidor do mundo. Veja

que isso tem um lado bom e tem um lado ruim. Tem o lado que tem um mer-

cado à disposição para que possamos ter essa saída, mas tem também que

esse mercado é cobiçado por todas as empresas, por todos os países. Quer

dizer, nós vamos ter uma concorrência acirrada, e a questão do mercado

da competitividade das nossas empresas irá ser fundamental para que nós

tenhamos esse nosso mercado e esse, evidentemente, como todos sabem,

os fatores que levaram essa, transformação foi a questão do aumento do

emprego, fartura nos emprestimos, a taxa de juros que até então estava re-

lativamente confortável, além dos programas de redistribuição de renda.

Como foi também aqui dit, já na parte da manhã, a questão das vanta-

gens demográficas nossas, nós temos aí a redução da população na faixa

de 0 a 14 anos e um aumento da população na idade ativa de 15 a 64 anos.

Cerca de 70% da população, até 2022, será de 15 a 64 anos, isso vai ser muito

bom porque, com certeza, irá melhorar a questão da poupança, o financia-

mento dos investimentos e proporcionar condições de ter investimento de

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383RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

treinamento e capacitação de uma mão de obra mais qualificada, uma mão

de obra mais competente.

Outro desafio é como colocar a indústria nesse contexto, temos que tam-

bém aproveitar essa oportunidade e, através desse mercado, ganhar, por

exemplo, escala no mercado interno, ganharmos experiência, qualidade e

partimos para buscar, através dessa melhoria de condições, o próprio mer-

cado externo, diferentemente de empresas coreanas, que não têm o mer-

cado interno e partem diretamente para o mercado externo. Seria talvez ou

pode ser uma vantagem competitiva das empresas brasileiras. Mas, eviden-

temente, que isso tudo depende da questão da competitividade. Temos que

investir muito em melhoria da qualidade, competitividade para que possa-

mos ganhar o mercado interno, e isso é um desafio, não só de empresas

nordestinas, também por maior razão ainda tem que investir nessa melhoria

de qualidade e melhorar a competitividade.

E os fatores de competitividade, também os principais: a questão da edu-

cação, veja que é o primeiro problema nacional; o Brasil é o 276º em qualida-

de de educação. A participação do brasileiro no ensino técnico é 11,1%, no

IDEB 4,54%. No Sudeste, 5,1%, média de anos de estudos na idade de 18 a 24

anos 9,6%; para se ter uma ideia do Sul e Sudeste 10 anos. Veja a diferença

no Nordeste: participação do brasileiro no ensino técnico 4,1%, diferente do

Brasil, que é 11,1% a média, o IDEB 3,9%, idade; anos de estudo entre 18 e

24 anos 8,8; é aí que começamos a entender por que o Nordeste, no tempo

de crescimento, cai tanto em termos de produtividade em relação a outras

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384 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

regiões do Brasil. Uma das razões que consideramos e, temos que atacar de

imediato, é a questão da educação. É a questão do ensino fundamental, é a

questão do ensino médio para, daí, passar a ter capacitação profissional. E,

das ações, o que é que se tem tentado fazer para melhorar essas condições?

Temos ações de cunho também politico, por exemplo, o Congresso Nacio-

nal aprovou a lei 2511 - 2011, que é o PRONATEC, eu acho na capacitação

profissional ele dá um novo alento, um novo limite, muda os paradigmas da

capacitação profissional no sentido de que ele democratiza, interioriza e

amplia muito a questão da capacitação profissional para todo o brasileiro.

E ampliou mais no ano passado, onde ele amplia o PRONATEC, que só

poderia ser utilizado por entidades públicas. Agora, permite também que

entidades privadas usem recursos ou se beneficiem de projetos. Programas

através do PRONATEC, quer dizer, temos aí um limite bem maior na parte

de capacitação.

Temos também fatores que influem na competitividade. É a questão da

infraestrutura, e eu considero esse problema nacional; por exemplo, infraes-

trutura em termos de investimentos na melhoria da educação também, a re-

lação investimento PIB é de 2%, que, no Brasil, tem, em termos de infraestru-

tura, metade do que é investido na Índia. Evidentemente, que infraestrutura

é fundamental para melhorar a competitividade, e aí, não é um dado oficial,

mas em conversas, observações que eu tenho tido: em comparações com

outros países de economia e crescimento semelhante ao nosso, eu acho que

fosse razoável aplicar cerca de 6% do PIB em infraestrutura durante vinte

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385RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

anos para termos uma infraestrutura razoável e estivar prontos nesse perío-

do para ter todas as regiões dotadas de uma infraestrutura capaz de dar a

competitividade linear em todas as regiões que o nosso país tanto precisa.

Os marcos regulatórios evidentemente fundamentais, as agências regu-

ladoras seriam consequências, além do mais porque para entrada do capital

privado que é tão necessário, só vem com a segurança dos marcos regulató-

rios; são muito difíceis na entrada do capital privado.

E hoje, infelizmente, ocupamos a 207º posição, segundo o relatório da ati-

vidade global, num patamar abaixo da média dos países do mesmo estágio

nosso de desenvolvimento, veja, em termos de infraestrutura, já alguns fato-

res de competitividade aí já vai a malha rodoviária do Nordeste. Eu fiz uma

mudança, desconsiderem esse mapa, porque, na parte de estradas não pavi-

mentadas, foram incluídas as estradas municipais, e estariam inclusas tam-

bém as vicinais, mas, na realidade, este quadro é o seguinte:32.2000km são

de estradas municipais não pavimentadas, na realidade não pavimentadas

35%, pavimentadas 46% e planejadas 19%, nós ainda temos um índice muito

alto de estradas não pavimentadas no Nordeste, e o índice também de es-

tradas pavimentadas é muito baixo, sem contar as que estão deterioradas,

precisando urgentemente de recuperação E um dado também, já fruto do

projeto Nordeste Competitivo; é um projeto capitaneado pela CNI, projeto

também feito pelas federações de indústrias do Nordeste, onde nós apon-

tamos quais são os investimentos necessários para dotar a região de uma

infraestrutura viária capaz de dar sustentação e dar competitividade à Re-

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386 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

gião, no sentido de que nós tenhamos uma capacidade de desenvolvimento

igual às outras regiões do país. Então, aí está quanto nós teríamos gastado,

em termos de projetos, para complementar todos os modais: um total de 75

bilhões de reais. Evidentemente, que sabemos que é praticamente impos-

sível, a médio, curto prazo. Mas,priorizaram-se algumas obras, ações, e o

que se chega com 25 a 28 bilhões, já conseguiríamos dar uma condição de

competitividade diferentemente ao Nordeste como um todo.

Também, como base de sustentação ao governo, já nessa parte de inves-

timento, principalmente em infraestrutura viária, nós temos já com força

para dar agilidade aos processos licitatórios, aprovado o PLC 32, que visa

dar maior segurança e agilidade aos processos licitatórios; são novos mode-

los de licitações para majoração nos limites de licitação, valorização princi-

palmente na modalidade de pregão, que faz com que a gente consiga melho-

rar a questão e agilizar esses processos licitatórios.

Mas não poderíamos falar em competitividade sem falar na questão da

inovação, também falado pelo dr. Luciano Coutinho, que é um diferencial no

futuro próximo e que irá fazer a diferença entre as sociedades. A que inova

irá ter condições de ocupar lugar de destaque em termos econômicos, não

só na produção de novos produtos, mas na concepção de novos projetos,

melhorando a produção, produtividade e competitividade.

Estamos aqui também em sintonia com a PROTECNI, a Federação das

Indústrias do Estado de Pernambuco, que tem o seu comitê de inovação. Já

estamos aqui nos reunindo, o Ceará tem estado bastante avançado no comi-

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387RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

tê de inovação, e vamos ter instalado, aqui, um instituto SENAI de inovação,

já direcionado à parte de TI, uma vocação do nosso estado e, a partir deste

instituto, atender basicamente o Brasil como um todo.

Irá ser um suporte bom, fizemos questão de trazer para Pernambuco, que

já tem na professora Tânia uma base de tecnologia da inovação forte. Vamos

agregar ao porto digital e, tenho certeza que será um diferencial, não só

para Pernambuco, mas para o Nordeste como um todo.

Então, na questão da inovação, nós temos um problema, que são os incen-

tivos fiscais, que representam metade, às vezes, do que é disponível em ou-

tros países, como a Espanha. Um terço do Japão, Reino Unido e um quarto

está sendo agora investido na França; o gasto privado que, também é baixo,

essa questão da inovação fica muito lincado no governo ou nas universida-

des e, ainda, é insuficiente e representa efetivamente muito pouco do que é

investido nas economias avançadas, e os gastos públicos também no Brasil

ainda são 0,6% do nosso PIB, que é muito pouco em relação ao que se pra-

tica no mundo. Temos que, efetivamente, mais do que essas ações, fazer

com que a questão da inovação seja um movimento mais difundido, seja um

movimento capitaneado pela iniciativa privada e que seja incorporado pelo

poder público e, fundamentalmente, pelas universidades. Aí, sim, nós vamos

fazer e completar esse ciclo e partir para uma nova etapa dentro do que se

pode fazer em novos patamares de competitividade.

O relatório global da competitividade 2012-2013 nos coloca na 113º posi-

ção no que se refere à disponibilidade de cientista e engenheiro. Precisa-

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388 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

mos rever a questão da nossa formação básica e um dos fatores que mede,

eu quis trazer os indicadores das indústrias para medir a questão da nossa

inovação nesse quadro, nos fazer aí um quadro das empresas que inovam.

Então nós temos as empresas que inovam em produtos e as empresas que

inovam em processo. No Brasil, as empresas que investem em inovação de

produto, somente 16,7% dessas novidades para o mercado só têm 3,2%, no

Nordeste já são 15,2% dessa 16,7% metade do volume colocado pelas em-

presas que colocam no Brasil com um todo. Fiz um comparativo. No estado

de Pernambuco até melhora: 20,5% das empresas que inovam 20,5% das em-

presas que inovam em alguma coisa, e da empresa que inova somente 0,8%

coloca produtos novos no mercado. Mesmo assim, em número de empresas,

nós estamos abaixo da Bahia e do Ceará e, também, em número de produ-

tos,abaixo também da Bahia e do Ceará. A mesma coisa para o processo

ainda é muito baixo, tanto o número de empresas que inovam, como o núme-

ro de produtos novos que se colocam no mercado. Faz essa inovação o que

nós podemos fazer para ter um desempenho melhor de todas as empresas.

Em termos de financiamento, que é importante,esses financiamentos

nós temos aí algumas ações do Congresso Nacional, algumas leis que possi-

bilitam o financiamento, da inovação. Você tem, através do INEP, é a possibi-

lidade hoje de financiamento, um único problema é chegar com esse finan-

ciamento às pequenas, médias, microempresas. O acesso de financiamento

à inovação das pequenas, médias e microempresas é difícil, complicado,

burocratizado e nós até trabalhamos mais com cadeias produtivas, anco-

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389RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

rando nas grandes empresas e tentando através delas manter esse nosso

movimento. Fazer com que as médias e pequenas empresas também ado-

tem procedimentos ou processos inovadores.

Os incentivos, como eu disse, são pouco utilizados, poucas empresas se

utilizam dos incentivos fiscais por desconhecimento ou por outros obstá-

culos. Os incentivos são concedidos às empresas que pagam imposto no

básico do número real, quer dizer a minoria das empresas nordestinas. A

grande maioria é que paga o real, a grande maioria é composta por peque-

nas, médias e microempresas, quer dizer, fica fora completamento desse

movimento, e essa lei, ela inova, nós temos que fazer ou pensar em um mo-

vimento onde esses financiamentos cheguem, sejam desburocratizados e

sejam mais fácil para as pequenas, médias e micro-empresas.

Ontem, nós tivemos a visita do presidente da FINEP, e ele ficou, inclusi-

ve, de fazer um evento aqui na nossa Federação, um evento destinado às

pequenas, médias e microempresas, inclusive capacitar pessoas ligadas

principalmente ao IEL e à Federação para que possamos multiplicar e fazer

com que essas informações cheguem aos pequenos, médios e microempre-

sários. Para vermos se podemos levar a eles esse tipo de informação para

motivar esse financiamento na parte da inovação nessas empresas, e tam-

bém, como fator de competitividade, a própria legislação do trabalho, a le-

gislação do trabalho, ela é burocratizada, difícil, não induz à contratação.

Ela pune principalmente os pequenos, médios e microempresários. É uma

legislação que está precisando ser reformulada, a CLT já está aí há 70 anos

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390 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

e nós precisamos refazê-la. Uma grande empresa, não tenho nada contra

uma grande empresa mais intensiva de capital, ela não pode ter o mesmo

processo de contratação de uma microempresa. Quer dizer, você tem que

ter processo de custo de contratação diferenciado, isso tudo, essa formali-

zação, com certeza, vai melhorar a questão da competitividade, porque irá

influir na capacitação do pessoal.

A questão também do PL 4330 é importante; regulamenta a terceiriza-

ção. Irá ser um novo paradigma na questão da competitividade, irá melhorar

muito a qualidade, em termos que irá incentivar o empreendedorismo e o

sindicato trabalhista, irá terminar com essa injustiça de ter o mesmo critério

de contratação das grandes para as pequenas empresas.

E, para terminar agora, os fatores que também influem na competitivida-

de, e aí já entram como uns diferenciais que a gente poderia colocar como

diferencial de competitividade para nossa região, para o Nordeste, a ques-

tão da tributação. Eu acho que para fomentar investimentos no nordeste nós

deveríamos ter uma tributação diferenciada para a região. A carga tributaria

é muito elevada, poderíamos ter um diferencial nas importações feitas pelo

Nordeste. Seria outro tipo de diferencial, e outras ações que pudessem ser

adotadas de imediato dentro de uma visão moderna para privilegiar princi-

palmente os investimentos na Região e investimentos em cadeias produ-

tivas que não existissem ainda aqui no Nordeste, esse, sim, seria o grande

diferencial. Algumas cadeias que já existem a partir dela na visão setorial

nós poderíamos e deveríamos adensá-las. Nós temos, como eu falei na úl-

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391RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

tima palestra, regiões que precisam ser exploradas, que precisam ter um

dinamismo econômico, por exemplo, a questão do Semiárido nordestino. É

preciso consultar pessoas que entendam do Semiárido, é preciso estudar

uma vocação para esse Semiárido, porque não podemos mais conviver com

esse vazio estrutural do próprio Nordeste como um todo, nós temos que de

uma vez por todas, ver essas novas fronteiras que se abrem no próprio Ser-

tão nordestino.

No Sertão de São Francisco Pernambucano, nós temos,através de obras

como os canais do Sertão, nos liberaram cerca de 100 mil há de terras boas.

Podemos deslocar até a cana de açúcar toda para lá e liberar a Zona da

Mata, mudando o paradigma do estado de Pernambuco em termos de produ-

ção. Quer dizer, temos ai soluções, projetos, o que precisa são eventos como

esse para mostrar na realidade que o Nordeste não é problema, o Nordeste

é solução. Que, com algum investimentos, nos movemos e temos dinamismo

econômico capaz de sustentar esses investimentos capazes de mutar efe-

tivamente o perfil socioeconômico dessa região que tem potencialidades

naturais e riquezas. Como eu digo, o que falta na realidade é infraestrutu-

ra. Somos carentes, mas, na realidade, é que nossa grande carência é de

oportunidade. Então, por hora, é só alguma coisa que eu deixei a esclarecer.

Estarei à disposição depois para parte dos debates. Muito Obrigado!

Firmo de Castro: Agradecemos ao presidente deputado federal Côrte Real

pela sua esclarecedora exposição sobre a competitividade regional ressal-

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392 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

tando que, a exemplo do que assistimos na sessão da manhã, a sua pales-

tra teve um cunho muito objetivo, fazendo com que dentro dos objetivos do

Integra Brasil nós possamos perfeitamente aproveitá-la com indicações de

medidas e projetos de caráter operacional, que, certamente, irão compor o

produto final, o que estamos chamando o plano de ação estratégico.

Agradecemos mais uma vez a colaboração e, dentro da metodologia do

workshop, nós iremos prosseguir com as sessões previstas para essa tar-

de, passando a palavra ao dr. Olímpio Galvão. Doutor em economia, profes-

sor de universidade, e é reconhecido atuante histórico no campo do estudo

da economia e, em especial, do desenvolvimento do Nordeste. É, portanto,

uma feliz oportunidade que nós podemos trazer o dr. Olímpio para dar a

sua contribuição ao Integra Brasil. Ao dr. Olímpio, que falará em seguida

sobre relações externas da economia do Nordeste, tendências recentes e

perspectivas.

Eu pediria ao dr. Olímpio que nos desse um pouco de tempo porque, em

face de compromisso de agenda desta tarde, do nosso presidente, nós abri-

ríamos, excepcionalmente, um espaço para que eventuais indagações que a

audiência tenha acerca da sua palestra elas já poderiam ser encaminhadas

de agora. Outra alternativa seria, então, se ninguém quiser se manifestar de

imediato, ao final poderá fazer encaminhar à mesa, que nós submeteremos,

depois, ao presidente. Bem, sendo assim, só temos, mais uma vez, de agra-

decer. Vamos, portanto, continuar com a nossa sessão, passando a palavra

ao professor Olímpio Galvão.

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393RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

TERCEIRA EXPOSIÇÃOOlímpio Galvão: Boa tarde a todas e a todos os presentes, eu quero agra-

decer ao convite que eu recebi da dra. Tânia Bacelar e do Centro Industrial

do Ceará, que muito me honraram esses dois convites, de participar des-

se evento. Bom, a minha apresentação “Relações externas da economia do

Nordeste: tendências recentes e perspectivas”, ela irá apresentar uma forte

sintonia com o que foi apresentado hoje pela manhã; irei dar ênfase, como

não poderia deixar de ser, às questões sobre competitividade, eficiência,

gestão, inovação, tudo isso são partes essenciais do contexto do dia-a-dia

das relações do comércio exterior, do mundo, do Brasil, do Nordeste, de Per-

nambuco.

Vejam que foi muito bem colocada pela manhã como a questão da com-

petitividade, do conhecimento é fundamental para o futuro próximo. Temos

um rótulo já bastante antigo de que nossa sociedade do futuro será a so-

ciedade do conhecimento, uma sociedade baseada no conhecimento. Uma

questão que quero trazer aqui hoje é da mesma linha de sintonia, na verda-

de, a economia do futuro será baseada cada vez mais no conhecimento, as

outras partes da sociedade serão também baseadas no conhecimento e o

comércio internacional, as relações entre nós serão cada vez mais basea-

das no conhecimento, na inovação, na melhoria de gestão, na eficiência, na

competitividade.

Dito essas palavras iniciais, eu quero começar com uma preocupação. A

minha preocupação inicial é com a globalização do século XXI, vejam que

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394 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

há uma literatura, até o início deste ano, ela ainda estava se desenvolvendo,

ainda estava ativa, sugerindo que o mundo estava sofrendo forte processo

de globalização e parecia que estava decretado o fim da globalização, como

também se dizia que, os blocos americanos estão mais fortes do que esta-

vam há oito anos atrás. Também se falava no declínio da economia america-

na, que está em franco processo de recuperação, portanto, algumas coisas

que eram acreditadas há dois, três anos atrás, quatro, cinco anos atrás, in-

clusive o crescimento sustentado no tempo infindável da China, começa a

ter problemas seríssimos, e crescimento sustentado, que são duas coisas

bem diferentes.

A minha preocupação com a globalização do século XXI é que essa glo-

balização, não é somente crescente, mas como ela tem manifestado alguns

traços recentes e que são muito importantes, e a minha preocupação daria

exatamente esses traços mais recentes da globalização, dessa segunda dé-

cada do século XXI. Uma globalização crescente e integração econômica, e

alguns economistas, uma literatura recente apenas no início deste ano, pri-

meira vez que eu vejo na literatura o fenômeno de hiperglobalização, o que

é hiperglobalização? É uma globalização com mais integração econômica

entre os países; no presente momento, existem 354 acordos regionais em

operação no mundo, que regulam o comércio de grupo de países bilaterais,

entre dois países!

Somente em 2012, para não dizer que isso é um fenômeno antigo, somen-

te em 2012 no ano passado, foram firmados 37 novos acordos regionais, sen-

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395RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

do dez apenas nas Américas. Está em negociação, o que eu quero chamar

a atenção, e depois confrontar como é que o Brasil se situa dentro desse

contexto de integração mundial, dessa nova era de globalização, dessa era

da hiperglobalização, e aí as novidades não são tão boas. Veja que está em

negociação a formação de dois mega-acordos regionais, a parceria trans-

pacífico, que é área de comércio dos países que são banhados pelo Oceano

Pacifico: países asiáticos, populosos, exportadores e altamente competi-

tivos, também alguns muito pobres, mas todos eles são muitos envolvidos

no comércio internacional, mesmo pobres e com outros países do Ocidente

banhados pelo Pacifico. Aí nós temos os Estados Unidos e o Canadá; o Mé-

xico está muito engajado nesse processo. Na América do Sul, nós temos

a Colômbia, o Equador e o Chile, alguns países da América Central; como

a Costa Rica, que está também envolvida nesse processo de formação de

mega-acordos regionais.

Outro grande acordo megarregional é a parceria transatlântico, é a área

livre de comércio; por enquanto, os Estados Unidos e a Europa. Vejam que

do primeiro mega-acordo estaremos de fora por razões geográficas, no se-

gundo, talvez por razões de um velho viés politico, já que nós estaríamos

dentro dessa possibilidade de entrarmos nessa segunda grande mega-área

de negociação de comércio. Vejam, o Brasil tende a ficar fora, o Brasil tem

resistido duramente a firmar acordos de comércio, talvez uma rejeição de

caráter ideológico a uma palavra que é um pouco maldita entre as tendên-

cias liberais, que é área de livre comércio. Parece palavrão, mas, ao mesmo

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396 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

tempo em que o mundo inteiro está caminhando para acordos e cooperação

internacional, que produz sérios resultados preocupantes, irei colocar mais

adiante como é e por que as economias abertas, a distinção entre econo-

mias abertas e fechadas.

Enquanto os países desenvolvidos, fazem parte, México, Turquia e todos

os países desenvolvidos do mundo, o coeficiente de abertura classificamen-

te é X sobre PIB. Então o coeficiente de abertura é medido por X sobre L, que

é 35%; na Alemanha tem mais de 35% de sua produção de estado ao exte-

rior; país como Coreia, China passaram dos 40%; o Canadá, grandes partes

dos países com raríssimas exceções têm coeficiente de abertura superior

ao Brasil; vejamos que o Brasil vem preocupando, que em 2008 nós partimos

de 0,8 isso é uma tabela, desconsiderem os dois zeros, o último digito é o

percentual 8%, temos em 2004 uma subida inesperada, 14%, veja então a

tendência decrescente da nossa abertura comercial caindo para o número

inicial dos anos anteriores, 9% da nossa participação do nosso PIB que é

destinada à exportação. Vejam o caso do Nordeste: o nosso coeficiente de

abertura é muito pequeno, eu já disse isso algumas vezes, digo isso em sala

de aula que, talvez, o nosso coeficiente de abertura da economia do Nor-

deste seja menor de dois ou três países do mundo, talvez Coreia do Norte e

Cuba.

Nós temos o coeficiente de abertura de 8%, caindo para 7%, ficando em

6% em 2010, veja que, quando tomamos estados da região, é impressionan-

te tirando o Maranhão e a Bahia, que têm coeficiente de abertura de 10%,

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397RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

vejam o Piauí de 1%, Ceará de 3%, Rio Grande do Norte, 2%, Paraíba, 1%,

Pernambuco, 2%; vejam que o Nordeste está muito atrás do resto do país.

Eu construí a tabela com alguns dados de outros estados, você tem a

Bahia, que tem um PIB grande e que exporta muito, porque está exportando

automóveis, muita celulose, é um estado que tem uma vocação exportadora

há bastante tempo, mesmo assim, 10% acima do Brasil, mas vejam que tive

uma grande surpresa com o coeficiente de São Paulo, o conferencista que

me antecedeu diz que São Paulo, diferentemente do Nordeste, é uma região

muito eficiente, claro, comparado ao Brasil, São Paulo é um estado rico,

muito eficiente, vejam que o coeficiente de abertura do estado mais rico da

América Latina, da área que mais concentra recursos de toda América Lati-

na, área mais industrializada que dedica apenas 7% de produção ao exterior

é uma economia extremamente fechada. Bom, por enquanto, é só. Muito

obrigado!

QUARTA EXPOSIÇÃOTânia Bacelar: Quando o Brasil modificou o seu padrão de crescimento, o

Nordeste absorveu bem tais mudanças. Houve elevação da renda das famí-

lias, aumento da demanda por bens de setores modernos, ascensão da pro-

dutividade e maiores investimentos. Como reflexo da crise mundial, o cres-

cimento desacelera após 2010 e o governo tenta manter o consumo familiar,

reduzir o custo Brasil com política de desonerações e outros instrumentos.

Além disso, o Banco Central reduziu a taxa SELIC e, mesmo com patrocínio

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398 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

para aceleração de investimentos, o País teve dificuldade de aumentar os

investimentos públicos pela difícil manutenção da máquina pública. Dessa

forma, surgiu a opção de ampliar as concessões de infraestrutura e a pales-

trante pergunta:

Com a prioridade nos investimentos, o Nordeste acompanhará?

O Mapa de Concessões das Rodovias de 2012 só chegou até a parte infe-

rior da Bahia. Quanto às ferrovias, grande parte do Nordeste também não

foi incluída. Assim, as questões fundamentais do Projeto Integra Brasil são:

Que investimentos são estratégicos?

Quais são as oportunidades para concessões?

Qual é o mapa de investimentos federais em estruturas econômicas?

No âmbito do mercado doméstico, a demanda interna teve maior cresci-

mento que o PIB da indústria. Que fator compensou este hiato? As importa-

ções. O Brasil industrial das próximas décadas não dá a ênfase necessária

à região nordestina. Se não houver ações das entidades do Nordeste, não ha-

verá de nenhum outro lugar. Como exemplo, pode-se mencionar a participa-

ção da Região na produção nacional de etanol: ela caiu de 12,2%, 2001 para

6,5%, em 2010. A taxa de crescimento média anual foi 3,0%, bem inferior à

média nacional de 10,5%. Também se constata uma deficiência na produção

de alimentos, inclusive soja. Com a demanda maior que a oferta, os efeitos

recaem sobre os preços.

O Nordeste apresenta potencialidades que devem ser exploradas. Gran-

des fontes de energia renovável podem ser exploradas no “Nordeste rural”,

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399RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

que, no contexto social, ostenta crescimento da renda domiciliar acima da

média nacional entre 2000 e 2010, embora seu valor continue baixo. As taxas

de analfabetismo também caíram, mas os valores permanecem altos. Na

área de C&T, os investimentos são enormes, porém, se concentram no Sul

e Sudeste, sendo mais um exemplo de recurso estratégico voltado para a

parte mais desenvolvida do Brasil.

Nas próximas décadas, o Brasil apresentará uma segunda onda de me-

lhorias sociais através de investimento em serviços públicos. Resta saber

se o a região nordestina se encontrará nesse contexto. Os maiores desafios

são descritos quando se refere ao perfil produtivo, ao desmonte do tripé do

semiárido e à montagem de uma nova base produtiva, à reestruturação da

Zona da Mata, ao dinamismo das cidades médias, através de PPP para co-

mércio e serviços, ao apoio às micro e pequenas empresas e ao avanço da

economia criativa.

Para finalizar, Tânia Bacelar ressalta a existência de desigualdades intrar-

regionais. Estas levam à essencialidade de haver uma agenda que contemple

o Nordeste como um todo, estado por estado, atingindo do litoral ao interior.

RODADA DE INTERVENÇÃO DOS CONVIDADOSLeonardo de Bayma, do Centro Industrial do Ceará, indaga acerca do lei-

lão de energia.

Girley Brasileiro faz uma série de considerações em torno dos problemas

de infraestrutura ligados à mobilidade, tendo o Complexo de SUAPE como

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400 WORKSHOP. RECIFE, PERNAMBUCO

exemplo de gargalo iminente. Fala sobre questões pontuais da defasagem

entre a produção de energia eólica e o atraso na construção de redes de

transmissão de energia. A respeito de P & D lembra a necessidade de se

estabelecer uma ponte entre a academia e a empresa. E aborda ainda a in-

tegração das indústrias existentes como o novo parque em instalação no

Nordeste.

O moderador, Firmo de Castro, com base em referências à Constituição

Federal de 1988, faz ligeira explanação acerca da institucionalização da ad-

ministração pública regional não vinculada à União, mas ajustada à concep-

ção federativa. Cita dois momentos importantes no que diz respeito ao trato

da questão regional no Brasil: o primeiro ocorreu nos meados do século XX,

no bojo da mobilização de que resultou a criação da SUDENE e um conjunto

de intervenções concretas do Estado na economia, na gestão pública, com

ampla repercussão na sociedade nordestina. O segundo momento surgiu

com os debates e articulações nas esferas técnica e política durante o pro-

cesso de elaboração constituinte, coroado com a promulgação da Constitui-

ção Federal de 1988.

SESSÃO DE ENCERRAMENTODe acordo com a programação estabelecida, a presidente do CIC e repre-

sentante do Projeto Integra Brasil, empresária Nicolle Barbosa, reforçou os

agradecimentos feitos na abertura dos trabalhos, destacando a contribui-

ção de todos e citando nominalmente instituições, autoridades, professores

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401RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

e técnicos que, mais de perto, colaboraram para o sucesso do Workshop. Ela

comunica os próximos passos, relaçando a visita a grandes investimentos

públicos em curso no Nordeste, como as obras de integração das bacias

hidrográficas ao Rio São Francisco e a realização no final de agosto do Se-

minário em Fortaleza.

O encerramento formal coube ao empresário Ricardo Essinger, 1º vice-

-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, FIEPE,

uma das instituições que prestou ativa e indispensável colaboração à reali-

zação do evento Integra Brasil em Pernambuco.

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WORKSHOP

“O NORDESTE VISTO DE FORA.”

Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 19 de agosto de 2013

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Solenidade de Abertura: Oportunidades e Desafios para o Desenvolvimento do Nordeste

Wagner Bittencourt de OliveiraVice-presidente do BNDES

Nicolle Barbosa de AlcântaraPresidente do Centro Industrial do Ceará - CIC

Roberto Proença de MacêdoPresidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará - FIEC

Carlos PradoVice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará - FIEC

Sessão de Encerramento: O Futuro da Região Nordeste

Luciano Coutinhopresidente do BNDES;

Coordenação Geral

Helena Maria Martins Lastres e Walsey MagalhãesAssessores da Presidência do BNDES, secretaria de Arranjos Produtivos e Inovativos e Desenvolvimento Local e Regional - SAR/GP

Relatoria Geral

SAR e DENOR/GP

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407RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

WORKSHOP

QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS PELOS EXPOSITORES

Como o Nordeste, no papel reservado ao Brasil, poderá ter melhor apro-

veitado o seu potencial econômico, inclusive sua localização estraté-

gica em relação aos grandes mercados mundiais?

Como o Nordeste poderá contribuir num processo de integração produ-

tiva nacional para a expansão e o fortalecimento da economia brasileira?

SOLENIDADE DE ABERTURACerimonial: “Senhoras e senhores, o Integra Brasil - Fórum “O Nordeste no

Brasil e no Mundo” é um movimento liderado pelo setor produtivo do Nor-

deste, que reúne agentes privados e públicos para elaboração de estraté-

gias econômicas e políticas, capazes de reduzir as desigualdades entre as

regiões do Brasil.

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408 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

O workshop de hoje com o tema “O Nordeste Visto de Fora” tem como

objetivo formar uma base para subsidiar tecnicamente as propostas para o

Seminário Integra Brasil, que acontecerá em Fortaleza nos dias 27, 28 e 29

de agosto. Convidamos para compor a mesa da sessão de abertura, com o

tema “Oportunidades e Desafios para o Desenvolvimento do Nordeste”, o

vice-presidente do BNDES, senhor Wagner Bittencourt de Oliveira; A presi-

dente do Centro Industrial do Ceará - CIC, senhora Nicolle Barbosa, líder do

movimento Integra Brasil;

E o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará, senhor

Roberto Proença de Macêdo. Registramos a presença da Coordenação Téc-

nica do Integra Brasil, composta pelos economistas Firmo de Castro e Cláu-

dio Ferreira Lima, e pelo jornalista Armando Avena.

Com a palavra, o senhor Wagner Bittencourt.”

Wagner Bittencourt: “Bom dia. Eu já queria agradecer o convite da Hele-

na para participar aqui dessa organização importante do pessoal do Ceará.

Eu queria cumprimentar o Roberto, dar meus parabéns pelo trabalho que

é feito no CIC, tanto um trabalho de desenvolvimento da região como tam-

bém um trabalho de integração do Nordeste. Eu acho que esse título hoje

do nosso trabalho aqui, que é “O Futuro do Nordeste Visto de Fora”, essa

sempre foi uma questão que trouxe muita preocupação ao Nordeste, por-

que o Nordeste tem as suas peculiaridades, o Nordeste não tem problemas,

ele tem características. Até porque nós temos vários nordestes. Você tem a

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409RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Zona da Mata, você tem o Semiárido, você tem, enfim, uma série de regiões

com características diferentes. Temos regiões que têm muita água, temos

regiões que não têm água. Agora, precisamos ter um projeto de integração

e de desenvolvimento articulado.

E eu queria dizer até que, para mim, esse seminário, esse título aqui “vis-

to de fora”, para mim não é tanto porque eu morei cinco anos no Ceará, no

Nordeste, estive em Recife, e tive oportunidade de conhecer um pouquinho

mais a realidade da região, conhecer as pessoas que investem e que lutam

para desenvolver os estados da região, e vejo que existe e sempre existiu um

trabalho muito grande, desde a época de Celso Furtado, que, digamos assim,

organizou um pouquinho a ação pública naquela região. Acho que o Nordeste

se desenvolveu muito, inclusive por vários anos teve um crescimento maior

que o país teve, em função de um trabalho intenso, muito grande, de uma

articulação importante empresarial e política. Infelizmente, eu acho que ao

longo dos tempos de alguma forma essa articulação perdeu um pouquinho de

liga e a gente viu algumas instituições, como a SUDENE, terem dificuldade

no seu desenvolvimento político, seu enfraquecimento político e financeiro.

O Banco do Nordeste foi uma criação fundamental para que a gente tivesse

um trabalho também que apoiasse o desenvolvimento da SUDENE, porque

a SUDENE era uma instituição, uma autarquia, e o Banco do Nordeste é um

banco, como o próprio nome diz, e permite que você desenvolva uma série de

ações e de financiamentos às empresas, particularmente às empresas priva-

das na região. Mas, não só às privadas, porque também vários projetos foram

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410 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

financiados pela SUDENE e pelo próprio Banco do Nordeste, como projetos

de infraestrutura e geração de energia, enfim.

Então, eu acho que essa discussão é muito importante ser continuada.

Eu vejo que é fundamental que essas raízes, que essa preocupação de de-

senvolver uma articulação, porque eu acho que a gente só vai avançar em

um projeto de aceleração do crescimento do Nordeste, porque o Nordeste

já se desenvolveu muito, através de investimentos, e investimentos, alguns

deles são de um vulto muito grande. Vemos hoje a TRANSNORDESTINA,

que começou com um certo descrédito, ninguém achava que fosse possível

se desenvolver uma ferrovia moderna na região. A gente está vendo que,

mesmo com as dificuldades todas encontradas, porque fazer um projeto

desse, estruturante, não é uma coisa simples, se fosse uma coisa simples

já estava pronta desde a época do Império, mas não foi isso que aconteceu.

Mas nós temos que brigar para fazer as coisas acontecerem. E hoje esta-

mos mais perto do fim do que estávamos antes. Agora existe um projeto em

andamento, as desapropriações sendo feitas, um trecho já está concluído,

ligando Pernambuco ao Ceará, os investimentos para o novo trecho que está

sendo continuado em Pernambuco e que vai ligar o Porto de Suape já está

sendo concluído, e vai chegar até o interior do Piauí, uma região promissora

de grãos. Então, eu acho que coisas que a gente talvez não acreditasse no

passado, que eram possíveis, elas aconteceram, estão acontecendo, fruto

de uma coragem de empreendimento, de um esforço muito grande conjunto

que precisa ser apoiado por todos.

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411RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Temos o exemplo do Porto de Suape, que é uma instituição, agora um

porto de grande porte no Nordeste, importantíssimo para o desenvolvimen-

to econômico da região. E, igualmente, com infraestrutura de energia, fer-

rovias, portos, porque o Nordeste tem portos, e ele tem uma coisa que é o

fato de que todos os portos do Nordeste são ligados a ferrovias, e eu acho

que essa é uma outra questão que é fundamental para o desenvolvimento

da região. E, agora, com a interiorização da ferrovia TRANSNORDESTINA,

você ligará mais ainda o interior aos portos que se desenvolvem no Nordes-

te, gerando possibilidade de desenvolvimento econômico. Então, com essa

base de desenvolvimento, com esses investimentos em infraestrutura que

precisamos, reforço, continuar a investir, se criarão condições de viabilidade

melhor ainda do desenvolvimento da região.

Por outro lado, precisamos levar mais investimento para o Nordeste,por-

que as nossas empresas no país (e aqui no BNDES a gente financia muitas

empresas no Nordeste), nós vemos que tem oportunidades em todos os se-

tores, tanto da indústria de base como indústria têxtil, indústria de confec-

ções que era uma indústria que era muito forte na região, mas ao longo dos

tempos, assim como em outras regiões do país, sofreu muito a concorrência

externa, e aí é uma outra questão da necessidade da união entre o setor

público e o setor privado na região, para que a gente possa ter condições de

desenvolver de uma forma mais estruturada e agregada.

E é isso, eu acho que esse crescimento que nós temos que fazer, como

atrair os investidores do Sudeste ou do exterior para o Nordeste; é funda-

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412 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

mental que haja um trabalho conjunto. Eu acho que os órgãos da região,

como a SUDENE e o Banco do Nordeste, eles precisam cada vez mais tra-

balhar em conjunto, trabalhar de uma forma uniforme, tendo uma política

de desenvolvimento para a região, para que eles possam fomentar a partici-

pação de outros órgãos do país. Por exemplo, o BNDES é um órgão que tem

todo interesse e faz todo um esforço para investir mais na região Nordeste.

Eu me lembro, eu falo isso porque eu estive lá na SUDENE muito tempo, fui

também presidente da Companhia Ferroviária do Nordeste, então eu conhe-

ço uma certa dificuldade que a gente tem de desenvolver esse trabalho em

conjunto, não porque as pessoas não queiram é porque até por os objetivos,

as estratégias é que precisam ser acertadas para que a gente tenha uma

agenda comum.

Existem bons projetos na região Nordeste, existem boas oportunidades

de desenvolvimento na região Nordeste, mas, para tanto, precisamos fazer

um trabalho e ter uma estratégia conjunta. Isso a gente procurou imprimir

quando eu estava lá, um trabalho conjunto com o banco, mas nada impe-

de que a gente continue a fazer isso. Acho que esses seminários que nós

fazemos, esses eventos que nós fazemos discutindo o desenvolvimento da

região, em conjunto com os entes de desenvolvimento público do governo

federal, no caso o BNDES, eles propiciam uma oportunidade de nós desen-

volvermos uma agenda. Porque se a gente tiver uma agenda, se a gente de-

finir o que são as prioridades, trabalho em conjunto setor público e setor

privado, tendo o Banco do Nordeste na região, tendo o BNDES, que tem todo

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413RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

o interesse de apoiar, nós teremos mais condições de agilizar esse cresci-

mento, esse desenvolvimento.

Agora, precisamos ter um apoio político também para as instituições da

região. Então, é importante que o lado político da região Nordeste esteja

unido em torno desse trabalho, porque eu acho que o que, de certa forma,

diminuiu muito a capacidade de atuação da região foi um certo distancia-

mento político e uma certa divisão entre os estados da região. Eu me lembro

de que o conselho da SUDENE era uma coisa importantíssima, que gerava

oportunidades de discussão, oportunidades de definição de políticas e de

prioridade, e isso, ao longo do tempo, essa coisa foi se perdendo, não sei. O

problema do dia a dia é mortal, ele é terrível, todo mundo precisa resolver

o dia de hoje senão não chega no dia de amanhã. Mas, nós temos que pen-

sar, de uma forma estruturada, o futuro. E essa coisa só funciona se ela for

articulada, for bem centrada, unindo todos os entes, públicos e privados, e

tendo uma estratégia de crescimento. E eu não tenho dúvida que o Nordeste

vai se acelerar muito, acelerar muito seu crescimento, seu desenvolvimento,

por esses investimentos de infraestrutura, pelos investimentos industriais

que virão, e nós vamos ver, hoje aqui nesse debate, e que poderá levar a

uma série de decisões série de sugestões, que eu espero que, no final desse

evento, no final do mês lá no Ceará, que ele possa definir uma série de ações

conjuntas para que a gente possa avançar e desenvolver mais a região.

Nós estamos aqui no BNDES, como eu disse, prontos para trabalhar,

prontos para dar a nossa parte com grande dedicação, porque nós sabemos

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414 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

o quanto é importante para o país crescer, mas ele só será um grande país

se todos os entes públicos, de todas as regiões, se desenvolverem de uma

forma integrada. Então, boa sorte, eu desejo um bom trabalho para vocês

nesse dia e tenho certeza que essa agenda, que eu espero, aconteça para

que nós possamos ajudar, ela virá desse encontro. Um abraço a todos, um

bom dia, um bom trabalho.”

Roberto Macêdo: “Bom dia a todos. Quero, antes de tudo, agradecer ao BN-

DES, que, desde o primeiro momento que tomou conhecimento desse pro-

grama (nosso governador Cid Gomes telefonou para o presidente Luciano

Coutinho, e ele disse: “estou dentro, apoio”. E hoje, no penúltimo evento dos

workshops que foram promovidos, eu quero agradecer a presença, então,

aqui representando todo o BNDES, do dr. Wagner Bittencourt de Oliveira,

que, como disse, é meio nordestino pelo tempo que já viveu e trabalhou lá; à

Nicolle, nossa presidente do Centro Industrial do Ceará, porque todas as fe-

derações do Brasil têm a federação e o seu centro industrial, no Brasil todo,

e geralmente o presidente da Federação é o próprio presidente do Centro

Industrial. E, no Ceará, nós fizemos um pouco diferente para dar uma certa

liberdade e uma certa diferença para o setor empresarial propriamente dito

e o setor político. Então, o CIC é o que nós costumamos dizer, é o braço po-

lítico da nossa federação; e tem funcionado bem porque demonstra assim

uma certa independência e, quando nós temos na frente do nosso CIC uma

pessoa com a energia, com a capacidade, com o dinamismo da nossa bela

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415RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Nicolle, você vê que as coisas acontecem e estão acontecendo. E realmente,

essa ideia nasceu lá dentro há mais de um ano atrás, foi construída, imagi-

nada; daqui a pouco ela vai dar um pouco mais de detalhes.

Mas, resumindo, o que está se fazendo aqui é aquilo que nosso dr. Wag-

ner acabou de mencionar também: o Nordeste está meio fragmentado nas

suas forças, tanto empresarial como políticas. Eu acho que nós precisa-

mos realmente é nos unir, então eu queria já dizer de cara que o Ceará está

simplesmente sendo o protagonista do início desse processo, mas esse é

um movimento do Nordeste, de todos os estados, de todos os governado-

res, de todas as federações, não só da indústria, do comércio, da agricultu-

ra, enfim, toda a sociedade, todas as associações de classe, em conjunto e

juntas, trabalhando junto, pensando junto, e dando hoje um grande passo,

onde nós vamos ter pelo próprio título que foi dado “O Futuro do Nordeste

Visto de Fora”; ou seja, como é que o Sudeste nos ver. E sabemos que tem

alguma coisa que não é boa em termos de visão, nós sabemos que é uma

coisa de uma certa distorção, de que o Nordeste não está sempre com o

pires na mão, está sempre buscando e levando dinheiro daqui para lá, e

nós provamos o contrário. Temos como mostrar isso aqui, e acho que o

que está faltando realmente é uma política regional para o país, e com

uma visão de longo prazo. Nós não temos um projeto para o Brasil, que a

gente possa dizer daqui a trinta anos estaremos saindo daqui pra lá, nós

seremos sempre e somos, temos sido o país do futuro, e eu acho que nós

precisamos ser no presente uma visão concreta de que cada passo que nós

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416 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

devemos dar pra frente. Falta educação, falta, enfim, tem muita coisa que

nós precisamos realmente fazer.

E, por favor, aqueles que vão estar aqui hoje apresentando, tanto do setor

empresarial, como acadêmico, como político, estamos colocando dados, in-

formações, e nessa visão daqui pra lá, que nos dê subsídios para preparar-

mos um documento, não para ficar numa publicação, e sim uma agenda que

seja prática e exequível para aquilo que nós precisamos ter em termos de

orientação para a região. E depois que o Nordeste tiver chegado neste ponto,

tivermos esse documento, servirá também para todas as regiões, porque o

Brasil são vários Brasis, e eu acho que daí nós podemos estar contribuindo

também para que outras áreas possam. Nós sabemos que já existe um pro-

grama chamado “Pró-Amazonas”, que em bloco os estados se reúnem e já

tentam desenhar o seu futuro. E aqui também é mais uma colaboração que

nós podemos dar.

Agradeço de cara toda a presença que está aqui, de todas as pessoas

que se deslocaram, que vieram de longe, e estão aqui para contribuir neste

programa. Este programa é do Nordeste e é do Brasil, não é só do Ceará.

Muito obrigado.”

Nicolle Barbosa: “Bom dia a todos. Quero cumprimentar o vice-presidente

do BNDES, Wagner Bittencourt de Oliveira, agradecer a hospitalidade desta

casa que nos acolhe e de todos que contribuíram para a realização desse

Workshop. Cumprimento o presidente da Federação das Indústrias do Esta-

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417RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

do do Ceará, Roberto Macêdo e, na pessoa dele, a todos os demais dirigen-

tes de classe aqui presentes. Quero saudar a todos os palestrantes, coor-

denadores, relatores e moderadores, na pessoa da senhora Luiza Trajano,

agradecendo pelas suas participações. Quero, enfim, agradecer a todos os

demais presentes neste auditório e a imprensa, que faz a cobertura deste

evento, registrando a presença de toda a imprensa do Nordeste.

Quero fazer uma correção e incluir o nome do economista Lima Matos no

quadro técnico do Integra Brasil.

Quero registrar e agradecer a presença de um ícone que canta e encanta

o Ceará, o grande cantor Raimundo Fagner.

Senhoras e senhores: “O desenvolvimento econômico, no mundo todo, ten-

de a criar desigualdades. É uma lei universal inerente ao processo de cresci-

mento: a lei da concentração. E dentro de um país de dimensões continentais,

como o Brasil, de desenvolvimento espontâneo, entregue ao acaso, os impe-

rativos desta lei tendem a criar problemas capazes de acarretar tropeços à

própria formação da nacionalidade”. Estas palavras, expressas aqui mesmo

no Rio de Janeiro, ainda em 1959, quando o primeiro ministro do Brasil, que o

Brasil teve, Celso Furtado, lançava a operação Nordeste, parecem mais atuais

que nunca. Aquele movimento, tal qual, que ora lhes apresentamos, tinha por

propósito maior a renovação dos conhecimentos e das práticas políticas ne-

cessárias à promoção da integração socioeconômica nacional.

À época, entendendo que as crescentes disparidades regionais viriam a

se constituir no mais grave problema do país, durante a segunda metade do

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418 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

século XX, afetando pelo menos duas gerações futuras,o mestre do desen-

volvimento brasileiro vaticinava que a situação não seria resolvida apenas

por um governo ou por um seleto grupo de homens e mulheres que se arvo-

rassem, ungidos do poder de fazê-lo.

Havia, como ainda há, um lastro cultural, comum nas raízes históricas,

que nortearam o processo de integração política de nossas desarticuladas

regiões. Porém, estes valores não vinham sendo considerados durante o pro-

cesso de integração econômica. Entre a mudança de cenários que levaria

ao encontro dos universos vivenciados nos finais do século XIX e início do

século XX, pelo açúcar do Nordeste e o café do Sudeste, e que desenhava

uma possível integração econômica nacional, emergiram enormes hiatos a

separar estados ricos e pobres.

Os primeiros, situados mais embaixo, experimentavam o aconchego do

frio, enquanto os demais, mais lá de cima, seguiam aquecidos pelo escal-

dante sol equatorial. E, à medida que a industrialização do Sul e do Sudeste

avançava pra estágios mais evoluídos, e corria em ritmo intenso, o Nordeste

caminhava aceitando a sua sina. As desigualdades regionais se ampliavam.

A persistir o modelo, o país caminharia para profundos desequilíbrios ca-

pazes de redundar em conflitos de natureza econômica, social e política,

retardando, assim, o seu desenvolvimento.

Uma prova da disparidade era exposta quando se observava que, en-

quanto a participação do Nordeste no produto da economia brasileira,

pouco antes da guerra, em 1939, era cerca de 30%, à época do movimento

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419RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

desencadeado por Celso Furtado estava em torno de 11%. E de lá para cá,

pasmem, senhoras e senhores, praticamente não sofreu alteração signifi-

cativa. O PIB per capita do Nordeste continua abaixo dos 50% do PIB per

capita nacional. E isto corrobora com o pensamento em voga no passado,

quando do lançamento da Operação Nordeste, que imaginava ter a defa-

sagem econômica alcançado um estágio em que a reversibilidade do qua-

dro parecia impossível. Preocupados, parafraseamos o mestre: quando a

desigualdade econômica alcança certo ponto, se institucionaliza. E quan-

do isto acontece, quando um fenômeno econômico desta ordem obtém

sanção institucional, não há reversão espontânea possível. É preciso uma

ação eminentemente social, coletiva, diversa e múltipla. Uma ação que re-

condicione todo um processo histórico, modifique e crie novos elementos

estratégicos, e altere tendências. Isto exige estudo, questionamentos, de-

bates, partilha de ideias, comunhão de pensamentos e de sentimentos, e é

por isso que estamos aqui hoje.

Tal qual ontem, vimos ao Rio de Janeiro para partilhar com todos vocês

nossos anseios e preocupações para com o processo de desenvolvimento

em curso no país, mas também para partilhar nossos saberes, comungar

nossos viveres, nossos olhares e sentimentos, de que um outro Brasil é pos-

sível. Tal qual Celso Furtado fez no passado, entendemos ser função precí-

pua do estado brasileiro desenvolver as enormes e múltiplas potencialida-

des deste país que, apesar de já ter nascido global, ter sido colonizado ao

modo europeu, apenas começa a se abrir para o mundo.

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420 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

No Integra Brasil - Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo, temos um pro-

pósito claro: trabalhar para ver a economia do Nordeste crescendo de forma

sistemática, contínua, e de modo a alcançar, no horizonte dos próximos vinte

anos, o patamar de 70% do PIB per capita do país. E para tanto, é preciso

que conheçamos o que os outros pensam de nós; como nos vêem, como

nos entendem e como nos creditam. Se hoje nos expomos é para que, como

bem lembra o economista Cláudio Ferreira Lima, um dos mentores do Inte-

gra Brasil: “o Brasil com “z”, possa nos conhecer, interagir conosco e abrir

caminhos para que o Brasil com “s” possa ser aceito e se integrar, eliminan-

do a desinformação e extirpando de nosso imaginário os estereótipos que

teimam em nos diferenciar e nos distanciar.

Com o Integra Brasil, buscamos a construção de um novo discurso po-

lítico, um discurso nordestino uníssono que ressalte as nossas potenciali-

dades, valorize as nossas riquezas, fortaleça os nossos diferenciais mais

competitivos, seja no contexto interno ou mundial. Com o Integra Brasil, nos

unimos à Durval Muniz em sua obra, A Invenção do Nordeste e Outras Ar-

tes: “Quando somos provocados a fugir do discurso da súplica ou da denún-

cia da miséria, a usar novas vozes e novos olhares que amplifiquem a região,

que exponham as suas segmentações, que excitem as cumplicidades sociais

dos vencedores, abrindo espaço para as novas espacialidades de poder e de

saber. E para encetar uma luta dessa magnitude, que não terá êxito sem a

participação entusiástica de toda uma geração, necessitamos dispor, num

plano político, de adequados instrumentos de ação que tenham a necessá-

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421RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

ria legitimidade política, capaz de lhes creditar junto às diferentes classes

sociais. E nesse mister, urge reivindicar uma adaptação do quadro federa-

tivo à nova realidade que se descortina no contexto nacional e mundial, de

modo a preservar as identidades regionais, dando, porém, a cada região o

seu peso específico nas decisões que afetam as condições de vida do povo

brasileiro. Se, ontem, após um amplo e criterioso diagnóstico da realidade

experimentada nas diferentes regiões do país, Celso Furtado fez nascer a

SUDENE com o propósito de ter um instrumental administrativo capaz de

dar ao governo estabelecido a necessária capacidade de formular políticas

de desenvolvimento para o Nordeste, políticas estas coerentes com suas

potencialidades.“Hoje, tal qual ontem, para repensar o papel do Nordeste, é

preciso repensar o Brasil”.

O Integra Brasil se propõe a empreender uma verdadeira batalha contra o

atraso acumulado e construir um sistema de forças políticas e econômicas

mais avançadas, tendo o planejamento como uma técnica social que orde-

ne a ação estatal dentro de parâmetros que alarguem as possibilidades das

diferentes regiões do país, tendo o Nordeste como referencial de soluções.

Neste início de século XXI, ao rever as disparidades regionais, precisa-

mos ressaltar a importância de se voltar a realizar diagnósticos abrangen-

tes dos problemas específicos de cada região, ampliando o conhecimento

global de suas estruturas físicas, sociais e econômicas. Não podemos es-

quecer que o desenvolvimento é sempre tributário de uma atividade cria-

dora. Neste sentido, nada melhor que uma confluência de ideias, algo que

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422 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

buscamos junto a todos vocês. Mas, senhoras e senhores, não podemos

esquecer que neste pouco mais de meio século, o Nordeste se moderni-

zou, ganhou corpo, porém, apesar dos avanços, a desigualdade social e

econômica permanecem. A mudança do quadro exige envolvimento e com-

prometimento de bem mais que nordestinos, de brasileiros. Afinal, desen-

volvimento não é apenas um processo de acumulação e de aumento de

produtividade macroeconômica, mas, principalmente, uma via de acesso

das formas sociais mais aptas para estimular a criatividade humana e para

responder às aspirações de toda uma coletividade, e isto nos inclui a todos,

do Oiapoque ao Chuí, indiscriminadamente. E nesse contexto, um olhar

para o passado nos releva que hoje, tal qual ontem, é mais que hora de unir

forças e pensar um novo futuro.

Para encerrar, relembro a obra “Cultura e Desenvolvimento em Época de

Crise”, onde o mesmo Celso Furtado, no meio do caminho, entre o ontem e

o hoje, em 1984, nos diz: “Na medida em que o Nordeste se constitua uma

vontade política e que amadureça a consciência de que nossos problemas

somente terão solução a partir da própria região, deixaremos de ser vistos

com complacência, como dependentes incômodos ou como reserva de caça

para aventureiros políticos. Então, recuperaremos o papel que já nos coube

na condução dos destinos nacionais. E não será por falta de fé no futuro

deste país que nós, nordestinos, deixaremos de cumprir a nossa missão na

obra histórica de reconstrução que temos pela frente”. Que as palavras do

mestre nos inspirem. Bom dia a todos.

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423RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Quero pedir licença para quebrar o protocolo e chamar a esta tribuna o

maior incentivador deste movimento, que empresta a sua experiência e sa-

bedoria ao nosso mandato no CIC, o meu conselheiro e vice-presidente da

Federação das Indústrias do Estado do Ceará, Carlos Prado, com a palavra.”

Carlos Prado: “Bom dia a todos. Isso aqui não é a minha apresentação. Os

senhores todos têm aí um folheto que foi colocado nas respectivas cadeiras

e, na última página, tem a relação dos patrocinadores e apoiadores. Como

o tempo é exíguo nós não vamos ler o nome de cada um, mas, por favor, to-

mem conhecimento porque eles têm todo o mérito por esse movimento estar

andando até agora.

Na manhã de hoje, nós vamos ter três palestras iniciais, uma da senhora

Luiza Trajano, que eu tenho muito prazer em conhecê-la, Luiz Alberto Bar-

celos e o representante do Boticário, diretor do Boticário, Giuseppe Musella.

Esses palestrantes têm uma grande característica, todos eles estão inves-

tindo no Nordeste. A senhora Luiza Trajano, com o Magazine Luiza, adquiriu

uma cadeia lá com 140 lojas, é um investimento muito importante e ela hoje

é uma das líderes do nosso comércio. O Giuseppe Musella representa aqui

o Boticário, que está fazendo um grande investimento na Bahia com uma

nova fábrica e com um grande centro de distribuição. O Luiz Alberto Barce-

los, com a Agrícola Famosa, vem há vários anos investindo na produção de

frutas na região; é o maior produtor de melão do Brasil e o maior exportador

de frutas do Brasil, e meu maior competidor. Eu digo meu maior competidor,

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424 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

mas amigo, porque eu também produzo melão. Quando vocês virem no me-

lão escrito “eu sou saboroso”, envolto numa redinha, “estou maduro”, por

favor comprem para me ajudar, viu?

Mas, por que um nordestino com sotaque do interior de São Paulo é cha-

mado aqui, quebrando o protocolo, para falar para os senhores? É realmente

alguma coisa diferente. Sou nascido em Marília, São Paulo e, em 1965, fui

aprovado num concurso para agente fiscal do imposto de renda. E quando

me deram para escolher Fortaleza, Belém ou Manaus, quando eu vi no mapa

que não havia rodovias asfaltadas, não havia ainda o DDD e etc., eu real-

mente desisti. Oito anos depois, em 1973, o Ceará começou um programa de

plantio de caju, e, no meio do caju, plantando amendoim, e quando foram co-

lher não tinham as máquinas, e eu tinhas as máquinas porque na ocasião eu

importava essas máquinas, adaptava e fazia com que elas, aliás, com isso

daí, nós introduzimos a mecanização da colheita do amendoim no Brasil.

Então, nós fomos encontrados e fui lá, emergencialmente, para atender um

problema. O governador soube, na ocasião, que nós tínhamos um projeto de

colocar uma fábrica daquelas máquinas em presidente Prudente, no interior

de São Paulo. Então, rapidamente, nos fez uma oferta: “O que você gostaria

de ter para colocar essa fábrica aqui, ao invés de São Paulo?”. Eu listei ali as

condições, porque a gente estava recém-apresentando o projeto, tinha tudo

na cabeça, e ele prontamente atendeu tudo em uma semana. E eu cheguei

ao Ceará pela primeira vez no dia 1º de julho de 73, treze de agosto agora

essa empresa completou quarenta anos. Quarenta anos atravessados com

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425RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

toda a dificuldade do mundo, muitos anos de progresso, uma concordata

pelo meio, o BNDES participando acionariamente da empresa, BNDES PAR,

mas quando o governo tomar uma atitude e dizer: “Os preços dos produtos

agropecuários estão congelados”, aí ele quebrou os meus clientes todos,

porque ficou todo mundo sem comprar. Então, empreender é uma atividade

de altíssimo risco. Empreender no Brasil muito mais. Empreender no Nor-

deste, imaginem. Realmente é um desafio e tanto, e é um desafio para pou-

cos, até agora.

Mas, o que tem me deixado indignado nesses quarenta anos de Nordeste?

É ter participado de vários seminários, de várias reuniões como essa, e chegar

ao final e ver que tudo termina num relatório, todo mundo se esquece e nada

acontece. Neste caderno que vocês têm na mão e que a nossa presidente Ni-

colle comentou, nós temos aí, na página oito, este gráfico; este gráfico mostra

bem que desde 1939 o Nordeste não consegue alcançar 50% do PIB per capita

nacional. Desde 1939! Nós já tivemos Banco do Nordeste, SUDENE, Departa-

mento Nacional de Obras Contra as Secas, CODEVASP, várias instituições,

todas com uma característica quando foram instaladas: desenvolver o Nor-

deste. E o que acontece que o Nordeste mantém essa desigualdade? O povo

está nas ruas, e o povo está nas ruas porque começa a perceber que alguma

coisa tem que mudar nesse país. O povo está nas ruas, e é o momento de a

gente começar a fazer também as nossas reflexões: por que isso não muda?

O que acontece que nós não saímos do lugar? E aí, nesse movimento todo, se

discute a união federativa. Como nós podemos manter um país como o nos-

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426 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

so, unido, com tanta desigualdade? Isso a história econômica internacional

mostra que isso não acontece durante setenta anos no restante do mundo; al-

guma coisa tem que mudar. E nós começamos a nos perguntar, a partir dessa

iniciativa, o que o Nordeste tem de valor? O que ele tem de potencial? O que

ele tem para ser negociado? Aí o nosso presidente falou do pires na mão, para

que o Nordeste deixe de ter o pires na mão e passe a negociar com o restante

do Brasil. Isto é o mais importante, é colocar na mesa as nossas condições de

negociação para que o Sudeste, sentado à mesa com o Nordeste, veja onde é

possível ceder e onde é possível ter alguma coisa como resultado.

Uma das características do Nordeste, que vocês vão ver nesse caderno, é

o fato de que o Nordeste hoje representa, ele responde por 65% do superávit

comercial do Sudeste. Então, o Sudeste é a única região que tem superávit

em relação a todas as outras regiões do país. Ora, se ele responde por 65%

desse mercado, desse superávit, é sinal que o Nordeste é um mercado valio-

so e como mercado valioso aqui nós temos vários empresários que sabem

quanto vale um mercado, quanto vale um cliente. Então, o que o Sudeste

quer, gostaria de colocar na mesa de negociação, para que se pudesse man-

ter esse mercado? Um mercado que compra um automóvel carregado de

impostos, mas que poderia comprar de outro país a um preço bem menor.

Ninguém pensa em separatismo, mas tem certas coisas que têm que ser

colocadas na mesa para que a gente possa avançar numa negociação.

Hoje, o Sudeste manda, por exemplo, em termos de FNE, que é uma linha

de crédito, manda um determinado valor, o Brasil manda um determinado

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427RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

valor como linha de crédito para o Nordeste. Mas, o Nordeste, naturalmente,

cada um de nós, empresa, pessoa física, ao fazer um depósito num ban-

co, imediatamente, por via eletrônica, esse valor é transferido aqui para as

matrizes, e as matrizes onde estão? Quando essas matrizes fazem emprés-

timos para lá, isso há uma diferença entre o que se deposita e o que se

empresta. Essa diferença, segundo levantamento de um dos economistas

do Banco do Nordeste, é uma diferença que chega, às vezes, a quatro vezes

e meia o saldo do FNE. Então, é um negócio incrível, é como se o Nordeste

estivesse financiando o Sudeste. Então, são valores que tem que ser traba-

lhados, tem que ser avaliados e tem que ser colocados na mesa. O que nós

temos que fazer para administrar isso? Porque essa última crise do ICMS

mostrou uma briga entre as regiões, e quem frequentou algumas das mesas

de negociação viu a que ponto nós chegamos, nem pareciam brasileiros sen-

tados juntos tentando negociar. Isso não pode acontecer mais. Temos que se

sentar à mesa, descobrir os nossos valores, o nosso potencial e fazer com

que as coisas aconteçam.

O Nordeste tem regiões onde não há solução, tem áreas semiáridas ali

que não têm uma perspectiva imediata, a não ser energia solar, a não ser

mineração, alguma coisa assim que venha a surgir. Mas, esta geração que

está lá não tem futuro, pelo menos nessas regiões mais miseráveis, sem uma

perspectiva mais imediata. Qual é a solução? A solução é isso que está se

fazendo e que tem que aprimorar, educar, educar a nova geração para que

ela encontre futuro. Hoje já há uma migração tão grande, que uma cidade

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428 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

como Fortaleza responde por 29% da população do estado do Ceará. Tem

ainda soluções no Nordeste? Tem soluções para ele? Existe, mas é preciso

que juntos a gente encontre essa solução. É preciso que juntos nós procure-

mos como fazer com que o Brasil continue unido. E um país só vai se manter

unido se ele eliminar essas desigualdades, não tem outra solução.

Daí, que a presença de todos os senhores, essa participação é muito im-

portante porque se nós, ao final deste movimento, conseguirmos fazer com

que alguns brasileiros, alguns brasileiros formadores de opinião comecem

a idealizar, comecem a pensar, que é possível mudar alguma coisa, nós te-

remos justificado todo esse nosso esforço e todo esse nosso trabalho. Um

bom trabalho a todos, muito obrigado.”

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Mesa I: Oportunidades e Desafios para o Nordeste - Visão Empresarial

Moderador

Ana Cristina Rodrigues da CostaChefe do Departamento de Comércio e Serviços da Área Industrial do BNDES

Coordenação

Helena LastresChefe da Secretaria de Arranjos Produtivos e Desenvolvimento Local e Regional do BNDES

Palestrantes

Luiza Helena TrajanoPresidente do Conselho Magazine Luiza

Luiz Roberto Maldonado BarcelosPresidente Agrícola Famosa

Giuseppe MusellaDiretor Grupo Boticário

Relator

Paulo GuimarãesChefe do Departamento Nordeste do BNDES

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431RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

MESA I

OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA O NORDESTE - VISÃO EMPRESARIAL

SOLENIDADE DE ABERTURAMesa Honra

Walsey Magalhães | Sec. de Arranjos Prod. e Des. Local e Reg. do BNDES;

Paulo Guimarães | Chefe do Departamento Nordeste do Brasil;

Ana Cristina Rodrigues da Costa | Chefe do Departamento de Comércio e

Serviços da Área Industrial do BNDES;

Luiza Helena Trajano | Presidente do Conselho da Empresa Magazine Luiza;

Roberto Maldonado Barcelos | Presidente da Empresa Agrícola Famosa;

Giuseppe Musella | Diretor do Grupo O Boticário.

Palavra do Sec. de Arranjos Prod. e Des. Local e Reg. do BNDES | Walsey

Magalhães

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432 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

“Antes de iniciar essa mesa, eu queria fazer alguns agradecimentos. O

primeiro agradecimento é ao próprio Integra Brasil, que escolheu o BNDES

como local e nos deu essa oportunidade de conhecer esse movimento novo,

essa mudança que está se processando ali no Nordeste. A gente tem noção

de que o Nordeste, a partir dos investimentos que foram feitos na última dé-

cada, está com cara nova, está com uma expressão nova que merece aten-

ção de todos os brasileiros e de todo o povo, até, do exterior.

Parabenizar pela ideia de montar esse quarto workshop dentro desse mo-

vimento Integra Brasil. Esse quarto workshop que se engaja dentro dos ou-

tros três que já houve e dá oportunidade de mostrar que existem pessoas de

fora do Nordeste fazendo um grande esforço de ajudar a transformar aquela

parte do Brasil, que, sem dúvida nenhuma, vai ser o carro-chefe da nossa

economia daqui pra frente. Fazer um agradecimento especial aqui ao Firmo,

que tanto esforço fez de trazer essa ideia e esse empreendimento para cá.

E à Helena, que ajudou e por muito tempo se dedicou para que montasse

esse evento. E ao Departasmento de Divulgação - DEDIV que está aqui com

o pessoal, dando toda a infraestrutura para nós.

Esse nosso workshop está dividido em quatro mesas. Essa primeira mesa,

dos empresários que, como Carlos Prado já nos antecipou, são empresários

que estão investindo fortemente no Nordeste e ajudando a construir esse

novo Nordeste. São empresários que não estavam lá, estavam de fora, mas

viram o Nordeste com essa pujança e perceberam que é lá o foco do novo

progresso do país.

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433RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

São empresários de ponta, dra. Luiza Trajano está com um empreendi-

mento novo no Nordeste, a partir duma cadeia de lojas que comprou lá com

cento e quarenta lojas, isso é um empreendimento que merece todo o nosso

aplauso. Luiz Roberto Maldonado, que era um advogado no interior de São

Paulo, resolve se mudar para Mossoró e plantar frutas, e hoje se torna o

maior exportador de frutas frescas do Brasil. E Giuseppe Musella, que arre-

gaçou as mangas e foi montar lá na Bahia um empreendimento que, ele vai

mostrar aqui, é paradigma para o mundo.

Uma segunda mesa que nós vamos ter, em seguida, seria uma visão aca-

dêmica do Nordeste. Então, estaremos trazendo aqui pessoas que estudam

no Nordeste, mas não são necessariamente nordestinos. Moram fora do

Nordeste, mas têm o Nordeste como paradigma em seus estudos.

Na parte da tarde, nós vamos ter mais uma mesa com uma visão gover-

namental e, então, nós estaremos trazendo o Ministério da Integração, a

TRANSPETRO e o Ministério do Planejamento.

E, por fim, no final da tarde, nós teremos uma quarta mesa com uma visão

internacional, em que nós estamos trazendo aqui o professor Ignacy Sachs,

que dispensa comentários, e um representante do Banco Mundial.

Enfim, depois desse agradecimento eu queria apresentar o Paulo Guima-

rães, que é nosso Chefe do Departamento Regional do Nordeste, e indicar

que o BNDES tem feito grandes progressos, a percepção do BNDES em re-

lação ao Nordeste tem mudado, graças a esse esforço desse departamento

que lá está mostrando pra gente a pujança daquela região.

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434 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

E, Ana Costa, ou Ana Cristina Rodrigues da Costa, que é Chefe do De-

partamento de Operações de Financiamento e Investimento de Comércio e

Serviços, e dado à grande pujança do setor de varejo no Nordeste, é ela que

nos orientou como é que deveríamos montar esse painel.

Eu queria começar invertendo um pouquinho a ordem, ao invés de come-

çar com a dra. Luiza Helena, inverter a ordem, começar com Giuseppe Mu-

sella, podemos? Então, o primeiro apresentador vai ser Giuseppe Musella, do

grupo O Boticário, o segundo Luiz Roberto Maldonado, da Agrícola Famosa,

e o terceiro, dra. Luiza Helena. Dr. Giuseppe, é sua a palavra.”

Giuseppe Musella: “Bom dia a todos. Agradecendo ao movimento Integra

Brasil e à diretoria do BNDES em nome do nosso fundador, senhor Miguel

Krigsner e do nosso presidente Artur Grynbaum, que estão em viagem, en-

tão pedimos desculpas por não estarem aqui. Eu vou estar apresentando um

pouco o que é o grupo Boticário, esse novo grupo, não é mais O Boticário,

bem rapidamente, depois passar também rapidamente pelos investimentos

que a gente está fazendo hoje no estado da Bahia. Na realidade, o Boticário

investe na Bahia desde o seu início, através de toda a cadeia de lojas, atra-

vés dos seus franqueados, a gente está presente no Nordeste há, pelo me-

nos, trinta e cinco anos, como vocês verão, com já mais de mil lojas. E, desde

praticamente 2011, quando a gente fez um estudo da nossa distribuição de

infraestrutura para atender os desafios do crescimento, a gente, fazendo os

nossos cálculos, os nosso estudos, a gente trabalhou e viu que, sem dúvida,

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435RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

investir com infraestrutura fabril é a distribuição no Nordeste que seria in-

dispensável para sustentar o nosso crescimento.

Então, eu vou passar bem rapidamente. O grupo Boticário, para quem não

sabe, hoje é o terceiro player brasileiro da indústria de cosméticos e o décimo

sexto player mundial; já este ano a gente deve, sem dúvida, galgar pelo menos

mais uma posição, ou duas posições, a nível mundial. Somos referência na

criação, na produção e na distribuição de produtos cosméticos, somos refe-

rência em franchising, somos a maior franqueadora de cosméticos do mundo e

somos a maior franqueadora do Brasil, um dos poucos países onde existe uma

franqueadora maior, que é o McDonald’s, por exemplo; não somos maiores, no

Brasil, do que o McDonald’s. Também somos, sem dúvida, reconhecidos pela

nossa relação com os nossos consumidores, pelo nosso empreendedorismo e,

sem dúvida, pela nossa sustentabilidade. Geramos, hoje, mais de seis mil em-

pregos diretos e mais de vinte e dois mil empregos indiretos, que, na realidade,

são indiretos entre aspas, porque são todas as pessoas das nossas lojas que

hoje dependem praticamente cem por cento do nosso investimento, do nosso

trabalho. Controlamos quatro unidades de negócio, vou explicar um pouqui-

nho lá na frente do que estamos falando, e mantemos já há mais de vinte e

cinco anos a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, com duas

reservas naturais, com um projeto de pagamento por serviços ecossistêmi-

cos para preservação da mata em áreas protegidas, estações natureza para a

educação sobre os biomas brasileiros e apoiamos projetos de terceiros, já com

várias dezenas de milhões de dólares na sua história.

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436 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

As quatro unidades com que a gente hoje, praticamente, trabalha, ob-

viamente, das quatro, a maior é o Boticário, que foi a unidade da nossa fun-

dação. Hoje, nós estamos falando de mais de três mil e seiscentas lojas,

novecentos franqueados e, no exterior, estamos presente em oito países

com mais de setenta lojas e mais de trezentos pontos de venda. Porém, nos

últimos dois anos, tem sido muito grande o investimento, inclusive com par-

ceria do BNDES, muito grande o investimento em novas unidades, não há

forma de fazer a produção e comercialização de cosméticos. Falamos da

Eudora, que nasce como uma empresa de venda direta, porém também com

comércio eletrônico e com lojas – conceito em todos os grandes centros.

Estamos falando de “Quem disse, Berenice?”, uma marca voltada pratica-

mente cem por cento à produção e comercialização de maquiagem, que está

sendo um enorme sucesso, já nascida em setembro do ano passado, já esta-

mos falando em cinquenta lojas e, na realidade, até o final do ano com mais

de setenta lojas em todo o Brasil, já hoje presente também no Nordeste. E

a “The Beauty Box”, que é uma loja multimarca que hoje já tem nove lojas

e que estamos, obviamente, em vias de expansão. Então, o Grupo Boticário

é muito mais que simplesmente, possivelmente, a marca que todos vocês

conhecem, que é O Boticário.

Não tem como não falar da sustentabilidade que, na realidade, está pre-

sente desde seu início. O Boticário nasce já com sustentabilidade no seu

DNA. Não foi uma opção, não foi uma escolha, foi algo que estava intrínseco

nos valores do nosso fundador. E nós trabalhamos, damos um grande foco,

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437RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

na realidade, em levar sustentabilidade através de toda a cadeia de valor.

Trabalhamos muito forte com os nossos fornecedores, o nosso programa

de desenvolvimento de fornecedores, em particular no quesito sustentabi-

lidade, ele é reconhecido mundialmente por todos os nossos fornecedores,

é um dos melhores que vocês possam encontrar no mundo, mas também, e,

sobretudo, damos um grande foco em tudo que tem a ver com redução de im-

pacto ambiental de nossas embalagens e nossas matérias-primas, e levar,

por exemplo, através de todas as nossas cadeias, ações de sustentabilidade

de forma objetiva e também subjetiva e, por último, trabalhando constan-

temente coeficientes. Nós temos índices, por exemplo, de reciclagem supe-

riores a noventa e seis por cento, índices de redução de consumo de água

superiores a trinta e cinco por cento, etc. e etc. Para a gente foi, inclusive, e

é um dos elementos relevantes na construção dos nossos empreendimentos

no Norte e Nordeste.

Só para dar uma ideia do nosso quadro de colaboradores, nosso quadro de

colaboradores cresceu cinquenta por cento nos últimos quatro anos. Só nos

últimos três anos, nós dobramos o número de colaboradores. E o que é inte-

ressante ver aqui é que até o final deste ano, praticamente, mais de dez por

cento dos nossos colaboradores já serão nosso pessoal, da nossa fábrica e

do nosso centro de distribuição, estabelecidos na Bahia. Um rápido perfil do

nosso pessoal, nós estamos falando nove por cento de executivos ou de car-

gos de gestão na empresa, falamos aproximadamente vinte e um por cento

de pessoal de apoio, entre executivos, pessoal de gestão e administrativos,

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438 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

o resto ou é pessoal da operação, ou técnico. É um perfil de elevado grau de

educação. O grupo investe fortemente na educação dos seus funcionários.

Aqui eu não estou incluindo o pessoal das lojas, porque estamos falando de

outras duas mil pessoas, aqui é só o pessoal que trabalha diretamente, seja

nas unidades de negócio ou nas unidades de apoio.

E, por último, um rápido overview da nossa infraestrutura. Nós temos nos-

sa sede, nossa fábrica histórica em São José dos Pinhais, no Paraná, onde,

inclusive, através do apoio do BNDES, estamos investindo, entre 2012 e 2013,

cento e vinte e dois milhões de reais na construção de uma nova fábrica de

maquiagem, na ampliação do nosso depósito de materiais e na construção

de um dos centros de pesquisa e desenvolvimento mais modernos do mun-

do. Hoje nós recebemos no nosso centro visitas de todos os nossos fornece-

dores internacionais, nós temos visitado alguns centros da nossa concorrên-

cia e vocês, sem dúvida nenhuma, saibam que o Grupo Boticário tem hoje

no Brasil um dos centros de pesquisa e desenvolvimento para a indústria

cosmética mais modernos e avançados do mundo.Investimos, no passado,

desde 2009, em um grande centro de distribuição e Registro (SP), fica, basi-

camente, na metade da via entre São Paulo e Curitiba, com equipamentos de

ponta. Quando nós inauguramos o nosso centro de distribuição, nosso equi-

pamento de preparação de pedidos era o mais moderno do mundo também

e vocês verão que eu falo muito “mais moderno do mundo”, nós estamos

estabelecendo para a nossa fábrica em Camaçari e no nosso centro de dis-

tribuição em São Gonçalo dos Campos, vamos inaugurar, praticamente, uma

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439RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

das fábricas de cosméticos e um centro de distribuição, sem dúvida, topo de

linha no mundo. Todos vocês estarão convidados quando a gente inaugurar,

final desse ano, início do ano que vem, mas estamos adquirindo e montando

equipamentos de primeiríssima linha, quando falamos de tecnologia.

Dois escritórios em São Paulo, um escritório, obviamente, em Curitiba, e

até o final de 2013, eu diria já inicio de 2014, quem é aqui do Nordeste sabe,

particularmente da Bahia, quantas chuvas tem atrapalhado nos últimos me-

ses a construção, a gente está lamentavelmente com pequeno atraso nas

obras devido às fortes chuvas dos últimos três meses, em particular na re-

gião de Camaçari e São Gonçalo dos Campos, então a gente espera inaugu-

rar final de 2013, início de 2014, um centro de distribuição em São Gonçalo,

onde estamos investindo, num primeiro momento, cento e cinquenta e cinco

milhões de reais, e uma fábrica em Camaçari com investimento aproximado

de trezentos e oitenta milhões de reais.

Quais são os critérios que a gente tem para escolhas de localidades para

fazer esses investimentos? A gente tem basicamente quatro filtros. A pri-

meira coisa é nos aproximarmos no mercado de consumo dos nossos clien-

tes, quanto mais perto, quanto melhor o universo de serviços, a gente sem

dúvida se sente mais satisfeito. O segundo é ter disponibilidade de infraes-

trutura. Sem dúvida nenhuma é levar infraestrutura para estabelecer, levar

estrutura básica para estabelecer os nossos empreendimentos seria one-

roso demais. Terceiro, obviamente, uma avaliação de impacto fiscal tributá-

rio, apoio oferecido pelo poder público para esses investimentos. E o quarto

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440 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

filtro é o impacto social e ambiental que a gente possa ter. Só para vocês

terem uma ideia, hoje, quando nós vamos para Registro a gente respira o

quanto a gente, com o nosso investimento do nosso centro de distribuição

fez por essa cidade. O Vale do Ribeira era uma área extremamente deprimi-

da e, através do nosso investimento, essa região de registro realmente deu

uma grandíssima evoluída.

E aí, então, entramos, bem rapidamente, no nosso investimento da Bah-

ia, por que a gente escolheu a Bahia. Aplicando os nossos critérios, basi-

camente nós vimos que a Bahia era, no equilíbrio operacional, o melhor

estado do ponto de vista de distância aos nossos grandes polos de consu-

mo do Norte e Nordeste, e também do mercado abastecedor, de todos os

nossos fornecedores. Próximo de grandes rodovias, a BR101, 116, e com

conexão suficiente, nós somos altamente informatizados, temos conexão

com todas as nossas lojas via satélite, conexão com a nossa sede, então

precisamos, sem dúvida, de elevada conectividade. Depois, fomos procu-

rar terrenos, serviços básicos de mão de obra e, por último, avaliamos,

obviamente, as condições tributárias que fossem competitivas. O conjunto

nos deu a Bahia. E depois, quando fomos fazer a micro escolha, consegui-

mos que Camaçari e São Gonçalo dos Campos, perto de Feira de Santana,

seriam os municípios mais adequados usando esses critérios. Fizemos um

check, sem dúvida nenhuma, de realidade com o mercado e vimos que to-

das as grandes empresas hoje estão presentes nessa região, então fomos

em frente com o nosso investimento.

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441RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Só alguns dados a mais. Trinta e sete por cento do mercado cosmético

hoje está no Norte e Nordeste, porém, quando falamos de perfumaria, esta-

mos falando que a metade do mercado de perfumaria, possivelmente vocês

não saibam, mas o Brasil é hoje o maior mercado de perfumaria do mundo;

não hoje, já pelo menos há 3 anos. É o maior mercado de desodorantes do

mundo. Nós hoje somos o terceiro mercado de cosméticos do mundo e, o ano

que vem, possivelmente, quem sabe, esse ano, se o dólar segurar um pou-

quinho, nós vamos ser o segundo mercado de cosméticos do mundo, vamos

superar o Japão, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, com aproximada-

mente cinquenta bilhões de dólares de mercado.

E aí estamos falando, então, que metade do mercado de perfumaria do

maior mercado de perfumaria do mundo está no Norte e Nordeste. Por isso,

a nossa escolha. Além disso, já hoje, 30% das lojas do Boticário estão no

Norte e Nordeste, quer dizer, mil e oitocentas lojas, e dessas, aproximada-

mente, duzentas e quarenta lojas só na Bahia. Então, por isso, a gente deci-

diu se aproximar da Bahia.

Bem rapidamente, esse é o diagrama da nossa fábrica, estamos falando

basicamente, então, de trezentos e oitenta milhões, com mais de trezentos

empregos diretos no primeiro ano, uma área construída de sessenta e cin-

co mil metros quadrados, onde estaremos, numa primeira fase de investi-

mentos, produzindo cento e cinquenta milhões de itens por ano. Nós, hoje,

comercializamos aproximadamente trezentos e sessenta milhões de itens,

cento e cinquenta milhões de itens, a partir do ano que vem, serão produzi-

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442 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

dos na nossa fábrica de Camaçari. Além disso, uma capacidade de armaze-

nagem de oitenta e três mil pallets; é gigante. Só para vocês terem uma ideia,

aí pode se ver possivelmente com o tamanho das pessoas o quanto a nossa

fábrica vai ser. Nós estamos lá na via Parafuso, lá perto da Bridgestone,

realmente é uma fábrica de cosméticos de nível mundial.

O centro de distribuição, estamos falando em cento e cinquenta e cinco

milhões de investimentos, com cento e vinte empregos diretos, altamente

automatizado, tanto a armazenagem como a preparação de pedidos. Para

vocês terem uma ideia, qualquer loja nossa pode pedir até uma peça se

quiser, o importante é que o pedido mínimo seja de seiscentos reais. Mas,

se a loja pedir três peças todas as semanas nós vamos embarcar, prepara-

mos o pedido e embarcamos. Então, nós atendemos todas as nossas lojas,

todos os nossos representantes de vendas da Eudora, uma vez por semana

com pedidos mínimos, no caso das lojas, de seiscentos reais. Então, tudo

isso é separado manualmente, você pode pedir um batom, um perfume,

um creme, a gente separa e entrega; falei manualmente, mas na verdade é

semiautomático, estamos com equipamentos de ponta semiautomáticos.

O centro de distribuição, estamos num terreno a trezentos mil metros, com

vinte e cinco mil metros de área construída, porque, na realidade, é um

centro de distribuição vertical; estamos falando em quarenta metros de

altura a área de armazenagem, então, realmente é um pequeno monstro,

com capacidade de expedição de mil e duzentas caixas por dia, basica-

mente quarenta e três mil peças/hora, isso é o que hoje nós expedimos no

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443RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

centro de distribuição de Registro, porque estamos duplicando a capaci-

dade de expedição quando falamos de itens fracionados; setenta mil itens

por hora, quando falamos de todo a capacidade de expedição. Estamos

trabalhando com equipamentos importados da Alemanha e da Áustria, o

que há de melhor de tecnologia, ou seja, de pickin, como de armazenagem.

O Centro de Distribuição, obviamente, é bem mais simples e a área, que

não dá para ver porque ela, pelo tipo de construção, é o que chamamos

“autoportante”, que é a área de armazenagem, que é a que tem quarenta

metros de altura, porque, antes, nós vamos subir com todas as estruturas

e, depois, obviamente, cobrir; então, estamos apenas começando a subir

com as estruturas.

Na Bahia, estamos falando, então, para início de 2014, ter aproximada-

mente trezentos e noventa pessoas, eu falei no primeiro ano de operação,

esperamos chegar a quatrocentos e trinta pessoas até o final do ano, dos

quais trezentos e noventa em Camaçari e cento e quarenta em; a não, des-

culpa, isso já está atualizado, é quatrocentos e trinta pessoas até final de

2014 e começaremos com quatrocentas pessoas em 2013. Vale a pena ressal-

tar que sessenta por cento dos nossos colaboradores são mulheres, a gente

vai privilegiar a mão de obra feminina pela sua identificação com a nossa

marca, com os nossos produtos, através de um investimento massivo em

educação. Um dos pontos que a gente encontrou, que já está em Camaçari e

São Gonçalo, é que se bem haja uma grande oferta de mão de obra feminina,

hoje ela tem um grau de preparação muito baixo. Então, o investimento em

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444 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

educação, inclusive educação básica, nivelamento de português, de mate-

mática e etc., vai se muito pesado.

E quando já falamos da comunidade, eu acho que aqui é um ponto muito

importante. No grupo, a gente, por exemplo, atende, quando falamos em de-

senvolvimento, não só as nossas necessidades, mas as necessidades do mer-

cado de trabalho. Então, quando oferecemos cursos, não oferecemos cursos

só para as pessoas selecionadas para o grupo, a gente faz uma pré-seleção

da comunidade, oferece o curso, dá os cursos de preparação e depois faz a

seleção. Isso significa que a gente está preparando o pessoal para o mercado

de trabalho em geral, não só para a gente. Obviamente, os melhores vamos

selecionar para atuar nas nossas fábricas e no nosso centro de distribuição.

Então, a gente, na realidade, gera empregabilidade, a gente gera renda

em geral, não só para através do nosso investimento.

E como um exemplo disso, apesar de que ainda a gente está aproximada-

mente há seis meses, ou mais, de inaugurar nossa fábrica e nosso CD, nós

já começamos esses cursos, nós já oferecíamos em São Gonçalo dos Cam-

pos cursos de auxiliar de operações logísticas, estamos com quatro turmas

de quarenta alunos cada, e em Camaçari curso de auxiliar de registro de

produção, com seis turmas de quarenta alunos cada. Então, esses cursos já

aconteceram, ou estão acontecendo, apesar de a gente ainda estar com as

obras em andamento, então não tem muito mistério, porque aí são gratuitos

obviamente, com apoio das prefeituras, do BNDES, do SESI e do SENAI,

mas a gente dá esses cursos gratuitos.

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445RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Então, gente, assim, resumindo um pouquinho, o que a gente está fazendo,

nós estamos realmente arregaçando as mangas, trabalhando forte para entrar

na Bahia com um dos polos de produção e distribuição de cosméticos maiores

do mundo, mais modernos do mundo, porém, com orgulho de ser um investi-

mento cem por cento brasileiro. Estamos levando fornecedores para lá tam-

bém, estamos, sem dúvida, dando oportunidade para ampliar negócios no en-

torno dos nossos investimentos, um ponto relevantíssimo que é o aumento da

inserção da mulher do Nordeste no mercado de trabalho, e, por último, apoia-

mos, sem dúvida nenhuma, o desenvolvimento socioeconômico da região.

Então, estamos muito orgulhosos, estamos extremamente agradecidos

ao BNDES pelo apoio que vem dando a essa nossa aventura, onde, boa par-

te, eu diria aproximadamente uns sessenta por cento do investimento, está

sendo hoje apoiado, financiado pelo BNDES. Então, isso é um pouco do que

a gente está fazendo. Muito obrigado pela atenção.”

Walsey Magalhães: “Eu queria lembrar que as perguntas vão ser feitas por

escrito. Pela preocupação que a gente está tendo com o tempo, seria bom a

gente já ir recebendo as perguntas que houverem para que no final a gente

não perca tempo em fazer uma sessão só de chamada de perguntas. Eu que-

ria trazer agora o Maldonado.”

Roberto Maldonado: “Bom dia, senhores. Agradecer o convite ao Carlos

Prado, meu companheiro de trincheira aí no setor, que a gente sempre tem

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446 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

lutado pelos problemas que a gente vem passando no nosso setor, à Nicolle,

ao Roberto Macêdo pelo convite, agradecer ao BNDES por nos receber aqui

nessa casa muito importante.

Quero agradecer também ao meu amigo Raimundo Fagner, que ontem eu

estive jantando com ele e falei desse seminário, desse tema e ele na hora se

interessou, não hesitou em se expor e vir aqui ver, e eu até sugeri que depois

iria inseri-lo neste contexto, porque a gente fala, fala e ninguém nos ouve,

mas quando o Fagner se manifesta o mundo para, para ouvi-lo, então ele

pode ser nosso aliado. E ele tem um trabalho bonito em Orós, na fundação

dele, que está inserindo vários jovens no meio da cultura, do esporte, então

eu acho que é uma pessoa que pode ajudar nesse nosso intento.

Quero agradecer também o presidente Carlos Matos, que foi secretário

da Agricultura durante muitos anos no Ceará, que também é um precursor

da nossa atividade. Sou de São Paulo, fui advogado, a primeira vez que estive

no Nordeste foi como advogado para solucionar um problema de um cliente

que trabalhava com fruta. Eu vim e acabei me apaixonando pela região, pelo

setor, abri a minha empresa junto com um sócio em 95, que é a Agrícola Fa-

mosa, que aqui eu vou contar um pouquinho do histórico.

Então, nós temos a missão de criar emprego nessa região pobre, nós es-

tamos numa das localidades pobres, de uma região pobre, de um país pobre

e de um subcontinente pobre também. Então, nós estamos realmente num

sertão, em um Semiárido, tentando trazer um pouco de desenvolvimento e

gerar riqueza e distribuir renda.

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447RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Então, no futuro, a empresa quer se consolidar dentro do setor de agro-

negócio, principalmente na produção e distribuição de frutas frescas. So-

mos hoje o maior exportador de frutas do Brasil, a maior operação de melão

que se tem no mundo hoje. A ideia é fazer disso replicar em outros tipos de

frutas, como mamão, manga, banana e assim por diante. Hoje, nós esta-

mos com vinte e quatro mil hectares nos estados do Rio Grande do Norte,

Ceará e Pernambuco; temos hoje em torno de sete mil empregos perma-

nentes, diretos, estamos hoje passando por um processo de melhorar nossa

governança corporativa, estamos já com três anos que nossos balanços são

auditados pela KPMG, o que foi um trabalho muito difícil, porque a empresa

vinha crescendo ao longo dos anos em torno de 30-35%, e nós tivemos que

colocar a casa em ordem na parte administrativa, financeira, então isso foi

um trabalho grande, mas que hoje a gente tem conseguido algum sucesso.

De cinco anos pra cá, nós admitidos mais três sócios agrônomos, que rece-

beram 20% da empresa, que trabalham mais na parte operacional. Os fun-

dadores foram eu e meu sócio Carlo Porro, que também veio de São Paulo.

Aqui é um pouco da região onde nós atuamos, temos aí em torno de quin-

ze unidades de produção, justamente na fronteira do Rio Grande do Norte

com o Ceará, local estrategicamente posicionado para exportação, porque

nós temos os portos de Natal, Suape, Pecém e Fortaleza, onde a gente escoa

em torno de trezentos containers por semana durante a safra e mais em tor-

no de uns cento e vinte containers vão para o mercado interno, então nós te-

mos serviços de navios semanais, em torno de três, quatro navios semanais,

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448 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

dia sim, dia não, praticamente saindo um navio, destinado principalmente

para a Europa e, recentemente, para o Oriente Médio e a Ásia. Então, esta-

mos expandindo cada vez mais a nossa produção e, ultimamente, estamos

aqui também no estado de Pernambuco.

Tivemos uma experiência no Senegal, onde a gente tentou produzir por

dois anos, mas, no fim, por uma questão de logística, dificuldades, a gen-

te acabou concentrando mais no Nordeste brasileiro, mas já tivemos uma

experiência semelhante a essa na África, porque as condições que nós te-

mos aqui hoje, somente países africanos teriam condição de ter uma com-

petitividade com a gente. Lembrando que a seca é nossa aliada, a seca

é um efeito climático constante, permanente, quer dizer, não é novidade

para ninguém, é difícil a gente aceitar que cada ano que ela vem um pouco

pior, e ainda tem o problema de fome e sede na região, porque não é fura-

cão, não é um tsunami que pode vir ocasionalmente, ela está aí, presente, e

nós temos que desenvolver mecanismos e ferramentas para conviver com

esses efeitos negativos da seca e, em nossa opinião, não existe outra for-

ma mais eficiente, eficaz, de você combater os efeitos da seca do que a

agricultura irrigada.

A agricultura irrigada é altamente tecnificada, porque você precisa de

elementos de flat ligação e você precisa equipamentos para fazer desenvol-

ver, então você tem que desenvolver um produto de alto valor agregado, daí

a gente não pode produzir commodities com agricultura irrigada porque ela

não paga o investimento.

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449RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Aqui está um pouco da evolução dos salários ao longo dos anos, refe-

rência em dólar, porque ele subiu muito mais em relação ao dólar, porque

efetivamente o dólar perdeu, apesar de ter recuperado um pouco agora, mas

perdeu o valor com relação ao real. Então, o salário da categoria, que é esse

vermelho, essas dados aí estão até o ano passado. Esse ano, nós estamos

em torno de oitocentos reais o salário médio. Só para dar um com número,

esses aqui são os valores mensais que a gente fez, este número é de 2011, já

em 2013 a expectativa é de distribuir em torno de cinquenta milhões de reais

em salários, apenas em salários, nessa região toda. Isso realmente acaba

trazendo impacto social muito grande, econômico e social, porque hoje, ao

longo desses anos, a gente nota que todos hoje já têm um celular, têm uma

bicicleta, muitos já têm se próprio carro, melhoraram sua condição de vida.

A Honda abriu um grupo especial para a Famosa para vender cotas de con-

sórcio; em sessenta dias, venderam duas mil e quinhentas cotas, algo assim,

o diretor da Honda veio de Manaus para fazer a entrega. Então, isso tem nos

dado uma satisfação muito grande saber que a gente tem contribuído para

melhora da qualidade de vida, de dignidade; as pessoas deixarem de receber

o salário bolsa-família e estarem trabalhando, gerando sua própria riqueza.

Aqui, um pouco do crescimento que nós tivemos nos últimos anos, de

empregos; há dez anos atrás, era em torno de setecentos e noventa, hoje já

estamos próximos de sete mil empregos, e dentro do nosso plano de cresci-

mento a gente espera chegar, nos próximos dez anos, até em torno de mais

de vinte mil empregos. E, aqui, um dado interessante também, que se vocês

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450 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

me perguntassem, há dez anos atrás, se era possível chegar onde nós che-

gamos, eu não teria a menor dúvida de dizer que era impossível, nós não

tínhamos terra, mercado, dinheiro, condição, e chegamos a esse número e,

hoje, se me perguntarem onde é que a gente pode estar nos próximos dez

anos, eu não sei te dizer qual é que poderemos estar porque o potencial é

muito grande. Nós temos hoje, cada vez mais, pessoas comendo alimenta-

ção saudável, que é o caso das frutas e dos legumes, temos terras, temos

mão de obra, eu acho que temos condições de chegar nesse número com

tranquilidade.

Outros aspectos. A gente fornece três refeições diárias para quase todos

os funcionários, então, aqui, uma das unidades onde nós temos uma cozinha

industrial própria para atender isso, porque nós estamos longe das cidades,

porque é importante lembrar que esses empregos são gerados longe dos

centros urbanos e também nas regiões semiáridas, onde os seres humanos

não têm oportunidade de desenvolver outra atividade. Aqui, um pouquinho

do que nós gastamos, anualmente, com alimentação, então oitenta tonela-

das de arroz, cinquenta e duas de carne bovina, noventa toneladas de frango;

tudo isso gira mais ou menos em torno de um milhão e cem mil euros, o que

a gente gasta só com alimentação para esses funcionários, sem nenhum

desconto em folha, em nada, o que mostra, de cara, um grande benefício,

porque essa aqui é só a parte de alimentação, fora a parte do salário.

Sobre o consumo de energia na fazenda, nós estamos instalando agora

aerogeradores, um projeto junto com Furnas, serão aerogeradores na fazen-

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451RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

da para gerar energia própria e também para vender dentro dos leilões da

ANEEL.

Nossa localização. Nós estamos muito próximos do mar, em torno de oito,

dez quilômetros de distância do mar, lá no cantinho já é a borda do oceano,

na divisa dos dois estados.

Em 2012, nós faturamos o total de duzentos e sessenta milhões e, em

2013, com esse aumento do dólar, vai ajudar um pouquinho mais, e deve che-

gar a trezentos e cinquenta milhões. Então, de 2009 a 2013, a gente saiu de

cem milhões para praticamente trezentos e cinquenta milhões. Esses nú-

meros já estão auditados pela KPMG, e esse crescimento veio para trás, em

2008 era setenta milhões, 2007 era cinquenta, então a gente vem crescendo

aí quase que 50% ao ano.

Em termo de market share, nossa participação, de melão amarelo, que

todo mundo conhece, a gente está quase à metade da produção do melão

amarelo que é produzido pela Famosa. Essa é uma variedade que se exporta

muito, então a gente tem um market share um pouco maior, chega a 70%, que

é uma variedade israelense chamada Gália. O Cantaloupe é uma variedade

que é alaranjada por dentro, muito consumida também nos Estados Unidos,

um market share aí também de em torno de 60-70%. E a melancia, a melan-

cia personal, a melancia pequena, que hoje tem crescido também muito o

mercado, hoje cada vez mais também vendendo aqui no Brasil, market share

em torno de 50, às vezes chega até a 80%. E o Pele de Sapo, que é um melão

verde rajado, que, na minha opinião, é o melhor melão que tem, muito consu-

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452 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

mido na Espanha, a gente também está em torno de 50%, às vezes chega até

um pouco mais, 60-70%.

Nós temos uma área de pesquisa e desenvolvimento, temos que investir

muito em genética para processo de melhoramento, frutas com mais quali-

dade, mais açúcar, mais brics que é aquilo que dá mais prazer ao consumi-

dor, então a gente tem essas empresas que a gente tem parceria, que planta

mais de seiscentas variedades por ano para no final escolher uma ou duas,

para dar o seguimento comercial. Então, isso é um trabalho de desenvolvi-

mento genético importante para o setor.

Aqui está um pouco do crescimento em containers que a gente fez, vem

experimentando ao longo dos últimos anos. Nós praticamente começamos

a exportar, porque nós tivemos um período, de 1995 a 2000, onde o dólar es-

tava muito baixo, a gente ficou só no mercado interno, mas, a partir de 2000,

nós retomamos a exportação e, em 2000, a gente ainda tinha os modestos

duzentos containers na safra inteira e, hoje, nós fazemos trezentos só em

uma semana. Então, nós saímos de duzentos para praticamente sete mil,

oito mil containers; hoje nós estamos fazendo dez mil containers, contando

o mercado interno. E aqui está o crescimento que a gente planeja, inserindo

outras frutas mais, que seria a banana e o mamão.

A gente planta, anualmente, um pouco mais do os seis mil hectares. O

mamão e a banana já com quinhentos hectares cada um. O melão, a gente

já está com quase sete mil hectares, então já estamos hoje produzindo em

torno de oito mil hectares de gotejamento. Cada hectare possui cinco mil

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453RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

metros de mangueira de tubo de gotejadores. Então, se você fizer oito mil

hectares vezes cinco mil metros você teria, se colocado em linha reta, uma

distância de quarenta milhões de metros ou quarenta mil quilômetros, daria

para dar a volta no mundo, da linha do equador, se a gente pudesse alinhar

os tubos gotejadores que a gente planta lá anualmente. Então, é uma horta

gigante; na verdade, o que impressiona as pessoas do setor é que, normal-

mente, quem tem esse tipo de atividade são atividades menores, de cinco,

dez, vinte hectares. Quando você fala em cem hectares, já é muita coisa,

então, quando você fala de oito mil hectares de gotejamento é realmente

uma operação gigantesca.

Então, perifericamente a isso, nós estamos a desenvolver outros proje-

tos, que é a parte do composto, por exemplo, porque nós estamos em lugar

altamente arenoso, nós precisamos de carros 4x4 para poder andar, porque

é como se fosse areia de praia, então não tem nenhuma matéria orgânica, é

uma hidroponia, então, a gente usa o composto para enriquecer um pouco

mais o solo em sustentabilidade, quer dizer, melhorar o solo pra gente poder

explorar. Os restos do melão a gente hoje utiliza para o gado; estamos com

mais de três mil, três mil e quinhentas cabeças de gado só comendo os res-

tos de melão de cultura, tirando pelo menos dois mil e quinhentos litros de

leite por dia, e mais o gado de corte. Começamos a desenvolver algo na parte

de vegetais, como tomate-cereja e milho verde, e os aspargos que já estamos

com cem hectares e, só em Fortaleza, a gente vende quinhentos quilos de as-

pargos por semana, só na cidade de Fortaleza. O Peru é um grande produtor

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454 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

e a gente em condições de desenvolver o aspargo para abastecer a Europa,

via container, porque o Peru faz isso via aérea, então nós temos condição de

competitividade muito boa. E as tilápias, que hoje a gente está vendendo em

torno de seis mil quilos por semana, aproveitando a água que sai dos poços

e, antes de chegar no melão, passa pelos tanques, então a gente cria tilápia

também nessas condições e tem sido um negócio bastante interessante.

Um pouco de outros experimentos que a gente tem feito na região, mas

ainda não estão nos volumes comerciais como os outros. Então, um pouqui-

nho da tilápia que a gente acredita muito, é uma das atividades que a gente

deve desenvolver pela condição climática, o calor o ano inteiro faz com ela

se desenvolva, praticamente, doze meses por ano, não tem o problema da

água esfriar. A banana, que a gente está também desenvolvendo na região,

com uma condução totalmente diferente do que se faz normalmente nos

países centro-americanos, Colômbia, Equador, lá em Costa Rica, onde em

uma incidência de chuva muito grande, eles têm problemas de pragas, de

fungos, que a gente não tem, então a gente faz tudo protegido com plástico

embaixo, com gotejamento. Estamos com essa tecnologia que a gente adap-

tou do melão, conseguindo uma boa produtividade, também. É uma utiliza-

ção mais eficiente da água através da irrigação por gotejamento.

Para a gente poder exportar nós temos que ser certificados. São organis-

mos internacionais que atestam que nós estamos seguindo as normas de

qualidade, e isso está baseado na responsabilidade social, no meio ambiente

e na segurança alimentar. Então, nós precisamos aprovar isso para poder

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455RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

começar a exportar, para começar a se falar em preço e volume. Então, isso

foi uma experiência muito boa porque, na parte social, a gente começou

fazendo, até por obrigação comercial com eles, e notamos que quanto mais

você investe no seu funcionário, quanto mais você faz pelo social, mais re-

torno você tem, porque passa a haver um compromisso muito maior entre

funcionários e empresa. Então, se a gente chega hoje com sete mil pessoas,

para você ter toda essa equipe engajado e para chegar uma fruta na quali-

dade excelente no final da ponta, eles precisam estar muito afinados com os

processos de produção; isso só se faz com treinamento e com motivação,

então todo mundo tem um esquema de bônus, de gratificação, que permite

que a empresa cresça, mas que os funcionários também cresçam junto. En-

tão, essas são as certificações dos supermercados ingleses, e a gente tem

cada vez mais exigências. No Brasil, isso ainda não tem, é uma coisa que a

gente tem reclamado muito, que o Brasil hoje, você liga no supermercado

ele só quer saber de preço, não quer saber, dos cuidados que tem atrás disso.

Tem algumas normativas que estão em discussão no Ministério da Agricul-

tura para que no Brasil comece a ter mais rigor nessa parte de controles

também de resíduos de agrotóxicos.

Outra grande vantagem que nós temos é estarmos próximos dos centros

consumidores. Em oito dias, o navio chega à Espanha; às vezes o navio che-

gou e a documentação não chegou por conta da burocracia, então o navio

está primeiro do que os documentos. Mas, isso faz com que a fruta chegue

com um estado de maturação bom e que dê condição de fazer uma boa

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456 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

comercialização. Isso acontece também em Notre Dame, na Inglaterra, em

outros países e, também, nos Estados Unidos, então é uma situação geo-

gráfica privilegiada pelo fato de ter esse Semiárido perto desses centros

consumidores.

A gente tem investido cada vez mais no mercado interno, o mercado in-

terno era 5% há uns quatro, cinco anos atrás, hoje já representa 40% do nos-

so volume, e eu acho que deve chegar a 50% ao longo dos próximos anos.

O Brasil tem aumentado o poder aquisitivo, a Europa também; com essa

recessão que acabou diminuindo um pouco o consumo, a gente tem o ba-

lanceamento entre esses dois mercados para conseguir competitividade em

termos de preço.

Isso aqui é um pouco da visão geral que a gente quer desenvolver no mer-

cado local. Um número que é bastante interessante é que o Brasil expor-

ta em torno de seiscentos milhões de reais de fruta fresca, o Brasil inteiro

do agronegócio exporta em torno de cem bilhões de reais; ou seja, a fruta

fresca representa 0,6-0,7% das exportações brasileiras e é o terceiro maior

produtor de frutas do Brasil, depois da Índia e da China, ou seja, o Brasil pra-

ticamente não exporta nada, não tem nenhum, nada de fruta. Então existe

um potencial muito grande para desenvolver ainda em cima disso. E com o

mercado interno cada vez mais crescendo há uma boa condição de venda.

Então, um pouquinho da parte social e ambiental que a gente tem. Nós

participamos também nas comunidades através de creches, hospitais, a

gente tem convênios com as cidades onde nós estamos desenvolvendo, es-

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457RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

sas localidades sempre participando, sempre juntos, a gente tem curso de

alfabetização dentro da fazenda; português, matemática básica, para as

pessoas que são analfabetas, que querem se desenvolver , a gente oferece

curso durante a noite; e temos também médicos e dentistas, praticamente,

o ano inteiro; o médico o ano inteiro, dentistas a gente faz programas de

assistência aos funcionários e à família, muita gente que nunca tinha ido ao

dentista tem oportunidade de fazer tratamento. A parte ambiental a gente

cuida sempre, hoje o IBAMA usa a nossa reserva como local, quando eles

prendem animal silvestre eles usam para soltar lá. A parte de reciclagem,

os restos dos animais, das produções, a gente acaba tendo um programa de

reciclagem muito interessante também. Isso tudo está inserido dentro da

certificação.

Daí, às vezes, as pessoas perguntam qual o segredo por que a Famosa

chegou onde chegou, porque muitas empresas passaram pelo que nós pas-

samos e ficaram pelo caminho. Ao longo desses vinte anos grandes empre-

sas fecharam as suas portas, inclusive, ultimamente, duas multinacionais

que estão listadas na bolsa de Nova Iorque, na bolsa de Dublin, na Irlanda,

fecharam as portas. Então, a gente costuma sempre dizer o seguinte: é um

organograma meio estranho, mas, na verdade, não existe alguma coisa de

cima para baixo, é todo mundo no mesmo nível. O melão, em sessenta dias,

ele vira, o tamanho de um botão de uma camisa vira uma fruta, em sessenta

dias, então ele é muito rápido. Então, é muito comum estar em reunião em

nossa sala, alguém bate na porta, um agrônomo, ou alguém, interrompe a

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458 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

reunião e vamos conversar porque o melão não aguenta esperar um ou dois

dias, é terrível, então a gente tem que estar sempre atento, então, a essas

informações; o fluxo de informação, de tomada de decisão, ele precisa ser

muito rápido, se você demorar muito não adianta mais tomar decisão, há uns

dois dias o melão, praticamente, é a vida inteira dele.

Então, o segredo da Famosa está nos funcionários porque, na verdade,

são operações manuais e, como eu disse, eles é que acabam sendo respon-

sáveis pelo resultado da empresa. Então, a gente os treina e, então, pergun-

ta: quem é que paga o seu salário? Quem paga o meu salário é meu patrão.

Não, não é o seu patrão, seu patrão não tem, quem paga seu salário é o

melão. Então, mostrar que o salário dele, a renda que ele ganha, é gerado

por ele mesmo. Então, a partir do momento que a gente consegue colocar

isso na cabeça desses trabalhadores, o resultado da qualidade é fenomenal;

então, a gente procura realmente valorizar esse grande patrimônio que tem,

que são os funcionários.

Para o futuro, a gente quer ter vilas agrícolas na fazenda, porque hoje

nós temos uns transportes que leva tempo, custa e põe em risco a vida de-

les, então a gente quer ter uma vila agrícola nas fazendas para evitar essa

movimentação de gente e, dentro dessas vilas, poder desenvolver a parte de

saúde, de educação e diminuir essa pressão urbana que nós temos hoje, de

todo mundo estar acumulado nas grandes cidades.

Então, eu queria assim, também, brevemente, que eu sei que o tempo está

exíguo, dizer que nós acreditamos que a única, uma das poucas formas de dis-

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459RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

tribuir renda e de trazer um equilíbrio social maior para o nosso Brasil, é dimi-

nuir a fome e a miséria que nós temos na região do Nordeste. E, para isso, a

agricultura irrigada é fundamental. Então, nós precisamos de investimentos de

infraestrutura para que nós tenhamos água disponível nesse sertão brasileiro e,

para isso, é necessário realmente a conclusão das obras de transposição do rio

São Francisco e outras transposições de bacias também, que é o caso da bacia

do rio Poti, lá do rio Tocantins, que possa nos trazer água para o Nordeste, por-

que o Nordeste tem, como eu disse, condição climática boa, o sol durante tre-

zentos dias do ano, nós temos mão de obra abundante, e uma mão de obra que

trabalha, nós podemos testemunhar, muitas vezes a pessoa fala que o pessoal

lá não trabalha, não é verdade, o pessoal trabalha, o pessoal tem dignidade, o

pessoal tem responsabilidade e nós estamos próximos de regiões que nos pos-

sibilita a exportação e explorar cada vez mais o mercado externo.

Então, a gente está sempre levando essa mensagem para os nossos go-

vernantes, para quem dirige esse país, no sentido de que nós temos que

desenvolver essa região, e a forma de desenvolver isso é passar pela agri-

cultura irrigada. Obrigado.”

Walsey Magalhães: “Eu queria reforçar o seguinte, a nossa colega ali está

com os papeizinhos nas mãos e as canetas, quem quiser fazer as perguntas

é só pedir.

Fagner, enquanto o Ricardo coloca ali apresentação, você não quer dar

uma palhinha para nós sobre a sua ação social, dois minutinhos, três minu-

tinhos?”

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460 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

Raimundo Fagner: “Bom dia a todos os presentes aqui, obrigado Roberto

por ter me convidado. Estou meio de ressaca, obviamente, que é segunda-

-feira, vindo de show e tudo, mas é um prazer reencontrar amigos como o

Roberto Macêdo e como tantos outrosque eu vi aqui, nossos ex-secretários,

secretárias, lá do Ceará, o Firmo, está ali meu querido Firmo. Dizer que nós

temos uma fundação no Ceará há doze anos, começamos na minha cidade

de Orós, depois ampliamos para Fortaleza, trabalhamos com quatrocentas

crianças, temos o apoio, desde o início, do nosso pessoal do Café Santa Cla-

ra, que hoje é mais conhecido como Café Três Corações, sempre foi nosso

parceiro, o Pedro Paulo e o Vicente, sempre foram parceiros porque eu os

conheço desde o começo da fábrica deles em São Miguel, no Rio Grande do

Norte, quando a fábrica tinha duzentos empregados.

Então, na época do governo do Tasso nós fizemos um esforço para le-

vá-los para o Ceará, eu fiz muita propaganda também, muita gente pen-

sa que o café era meu, como os hotéis lá da praia da fontes que pensam

que eu sou sócio e que não é nada disso, é tudo amizade. Então, eu tenho

muitos outros colaboradores que, ao longo desses anos, vêm dando força,

é um trabalho muito bonito, é um trabalho de muita doação, a fundação

não é fácil, tem um envolvimento humano muito forte e somos muito bem

sucedidos. Nós já ganhamos duas vezes o prêmio Itaú-Unicef, já ganha-

mos o da Unesco, já ganhamos o Criança Esperança, nossos projetos são

os mais valorizados a nível de reconhecimento, de qualidade, trabalhando

com arte, então, para mim é uma coisa incrível. A gente só trabalha ao lado

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461RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

do artista, do ego, do aplauso, e esse foi o grande gol que eu fiz na minha

vida, a grande música que eu fiz, o grande trabalho que eu fiz na minha

vida, que eu pude fazer e que eu venho fazendo ao longo desses anos, é

esse trabalho com a fundação.

Quem trabalha com isso sabe como é lindo, como a gente tem uma res-

posta, principalmente no nosso país, principalmente no Nordeste, uma res-

posta de pessoas que realmente não tinham nenhuma solução, no interior,

lá no Orós. Nós trabalhamos em Fortaleza, no bairro Itamaraty também, que

é um bairro muito pobre, então quando a gente passa vê essa realização.

Então, sou muito feliz com isso, nós temos muitos bons parceiros, aproveito

aqui para agradecer esses parceiros e dizer que é genial você trabalhar para

as crianças, adolescentes, e ver o resultado disso aí. A minha vida ganhou

uma outra dimensão e a vida de todos aqueles que compõem a fundação,

todo mundo é muito motivado por realizar um trabalho espetacular.

Então, quem puder entra no site frfagner.com.br e vai ver que beleza a

gente vem realizando há doze anos com esse povo, com essas crianças e

com essas famílias lá do Ceará. Muito obrigado.”

Luiza Trajano: “Primeiro, é um prazer estar aqui, eu sou uma brasileira apai-

xonada por esse Brasil e não podia deixar de ser pelo Nordeste, e estar junto

com o BNDES que não dá muita bola para o varejo de jeito nenhum, é muito

voltado para a indústria, e por isso eu quero começar falando um pouquinho

desse potencial do Brasil.

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462 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

Na nossa empresa, há mais de vinte anos, toda segunda-feira, em qual-

quer local, a gente canta o hino nacional. Eu acho que quem não gosta do

Brasil deve ir embora daqui, porque é aqui que vão viver nossos filhos, nos-

sos netos, e a gente tem um péssimo defeito de falar “nem parece que é no

Brasil”. Então, quando eu vejo um trabalho do Boticário, que eu já conheço

muito de perto, eu fico assim emocionada e hoje eu fiquei muito com o Luiz

e com o Macedo sobre esse trabalho maravilhoso que você está fazendo,

eu já tinha estado com ele, mas não conhecia. E, então, eu dou palestra por

esse Brasil todo, porque eu só não tenho como missão a pequena e a mi-

croempresa, e sempre eu estou com o SEBRAE para poder contribuir, e fico

impressionada com o que eu vejo.

Então, em 2002, o Brasil tinha dez milhões de desempregados, hoje nós

temos menos de cinco milhões de desempregados, em 2002 a renda per capi-

ta do Brasil era duzentos e cinquenta reais por pessoa, hoje é seiscentos e

cinquenta reais. No Brasil, a gente tem 53% só de pessoas que tem máquina

de lavar automática e o Nordeste isso cai para 25%, então agora mesmo

a gente vai falar porque estamos no Nordeste. Então, no Nordeste, só 25%

dos lares tem máquina de lavar automática. No Brasil, enquanto nos Esta-

dos Unidos eles estão trocando a sétima televisão tela plana, nós temos só

10% de população que tem televisão de tela plana, só 2% da população tem

ar-condicionado, que por sinal hoje aqui está muito frio; então, assim, só 2%

do Brasil tem ar-condicionado e aí a gente vai levando, máquina de lavar, em

alimentação, que foi um dos que mais cresceram até hoje.

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463RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

E queria falar um pouquinho do varejo brasileiro. E do que vocês estão

fazendo do Integra e o que eu escutei aqui desde o começo do dr. Roberto,

do Carlos, e que eu escutei do próprio BNDES, é o que a união não faz. Vocês

imaginam gente, o varejo brasileiro, não sabia, ele é o segundo maior empre-

gador do Brasil. Ele só perde para o governo. Aliás, eu quero falar isso bem

claro para o BNDES, ouviram BNDES? Quem mais gera emprego no Brasil,

depois do governo, é o varejo brasileiro, porque cada loja que a gente abre,

nós temos em cada franquia do Boticário não tem jeito deles aproveitarem,

ele tem que abrir novos funcionários. Então, o que aconteceu conosco? Nós

não sabíamos de nada disso. E todo janeiro, eu e meus concorrentes, e mais

alguns, a gente ia para uma feira em Nova York, a única feira do varejo que

existe, é a RNF. E chegando lá, a gente ficava impressionado de ver a força

do varejo. O varejo lá representa 16% do PIB e aqui no Brasil acho que está

em torno de 8-9%, então precisamos de um crescimento.

E, então, que eu acho muito legal, Nicolle, o que você falou, o que a união

das forças podem fazer. Vocês imaginam que, no mesmo quarteirão, eu te-

nho seis concorrentes que vendem os mesmos produtos, nas mesmas condi-

ções, e ainda financiados quase pelos mesmos bancos que são sócios deles.

Então, resultado, a gente não tinha uma representação forte, então nós não

tínhamos um secretário no Ministério do Comércio e Indústria, nós não tí-

nhamos uma pessoa forte no Banco do Brasil, não tínhamos uma forte na

Caixa Econômica e não tínhamos um diálogo com o governo, como a gente

ainda não tem no BNDES, mas vamos chegar lá. Então, assim, o que acon-

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tecia? Quando nós descobrimos isso tudo, a única forma que a gente teve,

Nicolle, foi nos unir. E, então, a gente criou o Instituto do Desenvolvimento

do Varejo. Minha gente, nós não discutimos o nosso quintal, e aí é o que

vocês estavam falando muito, porque, agora mesmo nós vamos mostrar e

vocês sabem disso, que cada estado do Nordeste é um país, inclusive a mú-

sica, a cultura e até a linguagem é um pouco diferente. Então, a gente não

discute o nosso quintal. Nós levamos dois anos para aprender a trabalhar em

conjunto, inclusive o Boticário faz parte do movimento. A gente reuniu todos

os quarenta presidentes de empresas e começamos a começar a aprender a

nos unir, apesar de no mesmo quarteirão a gente começar a competir.

Depois de sete anos juntos, a nossa força do varejo hoje é tão grande que

nós temos quarenta associados, que representam dez mil pontos de lojas,

mais de quinhentos mil funcionários, os nossos associados. Só que a gente

não pensa só no grande, a gente reuniu para poder conversar os quarenta,

mas a gente pensa no pequeno, na informalidade, porque se a gente não

pensar no varejo como um todo não tem jeito. Hoje nós temos secretário

no Ministério da Fazenda, nós temos secretário no Ministério da Indústria,

nós temos superintendente na Caixa Econômica; a presidente me chamou

a uns dois anos, e aí Luiza, eu falei: O Banco do Brasil é ótimo, mas a Caixa

Econômica só dá para imóvel, como? Daí a pouquinho a gente está no varejo,

tem um secretário do comércio e indústria também na Caixa Econômica. E é

um órgão que a gente combina tanto, apesar de que no mesmo quarteirão a

gente quase se mata; então, assim, no dia a dia, imagina no mesmo quartei-

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rão, você ter que enfrentar os mesmos produtos, nos mesmos preços e nas

mesmas condições. E aí a gente vai descobrindo a força quando você se une.

Então, eu fico muito feliz, parabéns a vocês, com toda a brincadeira, mas

a verdade do BNDES sobre o varejo, a vocês, do Brasil, que estão fazendo,

porque só através dessa união nós vamos fazer o Brasil. Gente, o Brasil pre-

cisa construir vinte e três milhões de casas no Minha Casa, Minha Vida, para

a gente poder atingir um nível social de igualdade nesse país. São vinte e três

milhões para a gente ter uma equivalente social aos países desenvolvidos.

E aí vem uma coisa que a gente fala assim: “Bom, só investe no consu-

mo”; agora o governo não quer saber de consumo mais, só de infraestrutura.

Por que o país não tem que desenvolver os dois? A infraestrutura tem que

caminhar, nós não temos que continuar com a logística do jeito que está,

mas não pode parar o consumo quando só 53% das pessoas não tem má-

quina de lavar. Esses dias eu participei de um evento, 43% do PIB, estavam

todos os presidentes e um professor muito legal aqui da faculdade, sei que

tem alguns aqui, a gente tem que desenvolver infraestrutura; eu levantei e

falei: “ninguém está contra, sem infraestrutura o país não vai crescer”, e

tem programas, o problema é que não sai do papel, essa é a verdade. Porque

o dinheiro está aí, os investimentos estão aí e precisa fazer acontecer, como

ele fez acontecer no Nordeste árido, criou uma mão da onde não tinha, e tem

que ter velocidade para fazer acontecer.

Então, na realidade, tem que caminhar as duas coisas, porque um país,

eu cheguei da França agora, de um evento que a gente tem um sócio, segu-

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466 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

radora, é uma coisa, todo mundo quer o Brasil, porque o Brasil tem consumo

interno. Imagina vinte e três milhões de casas sendo construídas, o que não

vai vender de geladeira, de televisão, de fogão, de cama, de colchão e de tudo

o mais. E é isso que gera o emprego e que gera a gente estar aqui.

Agora, eu vou falar um pouquinho do Magazine Luiza. Aqui tem três do

interior de São Paulo, três do interior de São Paulo. Nós nascemos em Fran-

ca, há cinquenta e poucos anos atrás, hoje nós temos setecentos e quarenta

e seis lojas em dezesseis estados, oito mil centros de distribuição, vinte e

quatro mil funcionários diretos e mais uns dezesseis mil indiretos, e trinta

milhões de clientes.

É muito difícil a gente explicar até o nome do magazine, porque minha

tia trabalhava de vendedora numa loja e ela fez um concurso público. Como

assim? Na rádio, isso há cinquenta anos, e o povo escolheu o magazine.

Quando a gente entrou na bolsa, gente, explicar magazine para o exterior

é muito difícil, quer dizer “revista”. Mas, não tinha jeito porque tem gente

que a marca é tão forte, foi feito de pesquisa, fala para o magazine, outros

falam, vai para Luiza, então teve que ficar Magazine Luiza mesmo, explicar

que é uma rede que vende eletrodomésticos, móveis, brinquedos, presentes,

e que a gente, em 91, criou um sistema de loja, quando ninguém falava em

internet, que é o Magazine Luiza Eletrônico, que hoje é o Magazine Luiza que

não tem produto exposto, mas a gente tem um centro de promoção que hoje

é case em Harvard já há uns cinco anos, e a gente abriu agora em Heliópolis,

que é uma comunidade de favela, uma comunidade de cem mil habitantes

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que eu frequento muito, é uma coisa espetacular, e não tenha medo de ir,

porque, em São Paulo, quem mora em São Paulo, tanto Paraisópolis como

Heliópolis, e num dia a gente vendeu de faturamento, este mês, três vezes do

que vende numa loja normal, que eu acho que é o futuro.

Então, a gente nasceu na cidade de Franca, hoje nós temos essas lojas

que a gente falou e nós crescemos por duas formas: por aquisição e orgâni-

co. A gente já fez treze aquisições, a última foi a Lojas Maia no Nordeste e as

Lojas do Baú no estado de São Paulo. O que acontece quando uma empresa

faz uma aquisição? O nosso processo contábil judia muito da gente, então

em dois, três anos, você cai totalmente a rentabilidade porque você tem que

investir, além de cair totalmente a nossa rentabilidade. Só que, depois de

dois anos, é o que está acontecendo no Nordeste, a coisa melhora muito.

Mas, a aquisição, ela dá um saldo, então o Magazine Luiza saiu de noventa e

seis lojas para setecentos e vinte e oito, em 2005 nós faturávamos quinhen-

tos milhões de reais e faturamos, em 2012, nove bilhões. Esse ano eu não

posso falar, porque até a hora que sentar na bolsa você não pode falar nada,

você tem ficar quietinho, então fica alguém atrás da gente. Mas, a gente

faturou o ano passado nove bilhões, a gente tem crescido uma base de 28%

ao ano.

Por que o Nordeste? Por causa de cento e cinquenta bilhões de reais vão

ser; vou dar só alguns números para vocês, do Nordeste agora. Três em cada

dez pessoas dessa nova classe média pertence ao Nordeste. O poder de

compra estimado do Nordeste para o próximo ano é quatrocentos e cinquen-

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468 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

ta bilhões de reais, então, assim, quatrocentos e cinquenta bilhões. Então,

como eu falei, só um terço das casas no Nordeste tem micro-ondas, só 27%

tem máquina de lavar e 13% do PIB do Nordeste, representa só 13% e tem

28% da população do Nordeste. Então, olha o que a gente tem que crescer;

quer dizer, 13% do PIB, com 28% da população. E é muito interessante o con-

sumo sofisticado que tem lá. Eles querem notebook, querem smartphone e

televisão de tela plana. Então, eles estão pulando de uma televisão de tubo

de vinte e nove polegadas, que é o que a gente conhece que antigamente

tinha, coisa que ninguém espera, é a gente pulando para uma televisão de

tela plana.

A gente já comprou rede no sul, antes de chegar em São Paulo, capital,

nós já estávamos em Minas, Paraná, a gente chegou com cinquenta lojas no

mesmo dia em São Paulo, capital, porque lá você tem que ter força para che-

gar. Nós compramos uma rede no Rio Grande do Sul, foi muito difícil para a

gente, porque no Rio Grande do Sul era uma coisa muito mais barrista, mui-

to mais difícil, só falta eu tomar chimarrão porque o resto eu conheci tudo

do Rio Grande do Sul. E agora, quando foi em 2010, a gente comprou as Lojas

Maia. As Lojas Maia, no Nordeste, a gente está em todo o Nordeste, em todas

as grandes cidades, em todas as capitais. Então, assim, é muito interessante

porque você acaba conhecendo a cultura dessas cidades todas. Então, nós

compramos as Lojas Maia da família Maia, cuja sede era na Paraíba. E eu

lutei muito e eu conversei até com o governador de Pernambuco, para que

eu pudesse deixar a sede em Paraíba porque eu fico impressionada com o

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469RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

trabalho que tem que ser feito na Paraíba ainda, porque Pernambuco desen-

volveu tanto que a Paraíba continuou um quintal, continuou um quintal de

Pernambuco. E eu vejo tanto potencial, eu fui falar até com o governador, eu

falei eu não vou tirar o centro de distribuição de lá, eu vou deixar lá mesmo

e você vai querer ser presidente do Brasil, então você tem que ajudar todo o

Nordeste. Então, você tem pensar no Nordeste como um todo.

Então, nós compramos cento e quarenta lojas, hoje nós temos cento e cin-

quenta e seis lojas, essa foi a aquisição da família em cinquenta anos, e o que

mais a gente aprende em aquisição são três coisas fundamentais: primeiro é

saber que a gente não conhece o Brasil e a gente não conhece a região que a

gente está. Então, exige da gente muita humildade porque quem compra sem-

pre acha que está superior a quem está vendendo. Então, durante um ano, nos-

sa equipe, porque vai uma equipe para lá, é proibido falar qualquer coisa ruim

da rede que a gente comprou, é proibido. Ninguém tem cinquenta anos, uma

família que chega em cinquenta anos para vender alguma coisa que você não

tenha alguma coisa a aprender. E a gente sempre compra rede grande com

cinquenta anos; foi assim com a família Arno no sul. Então, a primeira coisa

nossa é ter muita humildade, até agora, depois de três anos, a gente ainda não

conhece o Nordeste, a gente tem muito o que aprender com vocês que estão lá

para entender o que é o Nordeste. O Sul, agora, depois de uns oito anos, é que

eu posso dizer que a gente começou a entender melhor o sul.

Então, a gente comprou, nós estamos em todos esses estados do Nordes-

te que vocês está vendo, nove estados, a gente comprou com cento e trinta

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470 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

e seis lojas, hoje a gente tem cento e cinquenta e seis, dois mil, setecentos

e setenta funcionários em três anos, viu BNDES, mudamos para mil quatro-

centos e três, a gente tinha um CD, a gente tem dois grandes e quatro pros-

dócimos, acabei de assinar também em Salvador, na Bahia, mais um muito

grande, acabamos de construir um em João Pessoa agora, também muito

grande, e tem três: Maceió, Recife e Fortaleza.

A gente viveu essas fases de integração, transição, virada da marca, co-

nhecimento e comunicação. O Magazine Luiza é muito forte com as pessoas.

Hoje a gente recebe um prêmio em São Paulo, é o décimo sexto prêmio,

décimo sexto ano seguido, colocando duas mil pessoas para dentro e nós

estamos entre as dez melhores empresas para se trabalhar no Brasil. Não

é fácil isso, porque você imagina que, diferente de uma indústria ou de uma

agrícola, nós temos funcionários em mais de setecentas cidades diferentes,

e eles passam mais de mil perguntas para esses funcionários, mais de mil

pessoas são perguntadas sobre comunicação, transparência e tudo o mais.

Quando a gente chegou ao Nordeste, eu fiquei muito assustada porque

lá o pessoal não tinha o mínimo de benefícios possíveis no varejo, eu estou

falando no varejo, porque eu estou vendo nas outras áreas; não tinha ticket

restaurante, não tinha nada. E o Magazine Luiza é forte no relacionamento

com os funcionários, com as pessoas, nas nossas mesas todas está escrito

“faça aos outros o que gostaria que fizessem a você”, e a única coisa, depois

de um senhor que há três anos entrou na companhia, que ficou comigo, é o

serviço de atendimento ao cliente e o serviço de atendimento ao pessoal.

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471RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Então, se vocês entrarem no nosso site, palavra da presidente, se você não

for bem entendido, liga para o SAC; se você não for, está aqui meu e-mail.

Porque quando a gente recebe um cargo, por menor que ele seja, as pessoas

só falam para a gente o que a gente quer ouvir, então a gente tem que estar

muito atento ao ar.

Então, quando a gente chegou ao Nordeste, nós tínhamos muito benefí-

cios. Então, o Magazine Luiza tem ticket, que é uma obrigação como um con-

vênio-saúde muito especial, inclusive para pai e mãe, sogro e sogra, que o

funcionário com um custo muito baixo compra direto. Nossa cabeça é muito

de solução, como é que a gente pode ajudar a educação no Brasil? Porque

não adianta a gente apontar dedo, o governo não está bom, isso não está

fazendo, você tem que estar junto. Então, há mais de quinze anos o Maga-

zine Luiza dá bolsa de estudos para todo mundo que queira estudar, de 30 a

70%; lá tudo é amarrado à produtividade, a pessoa tem que produzir para o

Magazine e tem que dar nota boa. E não é só nenhuma matéria vinculada à

administração, é qualquer matéria.

E aí, nós temos uma porção de coisas mais para poder oferecer. Como é

que nós vamos fazer? A maioria das empresas que chega ao Nordeste, fala:

“bom, se aqui não tem”, e só ticket, na época, representava mais de um mi-

lhão de reais e a gente vai ficar dois anos sem ter lucro; a gente fez um pacto

com a equipe. Nós pegamos em agosto, setembro e outubro já estavam com

os básicos que era um bom convênio, em janeiro eles já tiveram bolsa de es-

tudo. A mulher que trabalha no Magazine Luiza, que tem filho até dez anos,

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472 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

e eu brinco lá, se tiver quatro é só um, ela recebe um cheque-mãe. O que é

isso? Toda mulher que trabalha no Magazine Luiza tem um cheque para aju-

dar o filho, porque não tem escola suficiente para ela deixar os filhos, e ela

recebe um cheque-mãe de acordo com o estado para que ela possa pagar a

mãe, a vizinha, um escola para recebê-lo, não importa o nível. A gente levou

para o Nordeste isso daí, pode perguntar lá. Então, em janeiro, nós fizemos

um pacto com a equipe, que se ajudasse a mudar o faturamento a gente já

dava todos os benefícios. Então, Fagner, quando eu vejo o seu trabalho eu

fico encantada e aí é uma coisa muito bonita. A gente tentou fazer o “De

Volta Para a Sua Terra”; Fagner, o que tem de gente que veio para São Paulo

trabalhar e hoje quer voltar para mainha e painho, porque estão lá presentes,

só que a gente agora que conseguiu, depois de dois anos, porque nós tínha-

mos dois CGC’s e você não pode transferir sem mandar embora, é toda a lei

burocrática, então agora a gente conseguiu colocar o projeto “De volta para

a minha terra”, porque nós terminamos toda a integração.

E aí também a comunicação, o respeito que eu estava dizendo que é tão

importante, o conhecimento, depois o respeito, e depois a contribuição que a

empresa vai dar. Nós participamos de um evento de capitalismo social, não

é Macedo, há uns três meses atrás, e a gente tem consciência que a empre-

sa só vai bem quando ela tem um compromisso com o social. Cada dia mais

a empresa não é nem mais por missão, ela vai ter obrigação de ter um com-

promisso social. Então, mediante isso, a gente entrou com todos esses bene-

fícios. Então, a primeira coisa que eu disse, é o conhecimento e respeito. A

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473RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

primeira fusão que nós fizemos com a marca, a gente misturou o Magazine

Luiza com Lojas Maia, aí o Faustão que era o nosso garoto propaganda na

época, dizia, o Magazine Luiza se juntou com Lojas Maia. Durante dois anos,

as nossas fachadas foram assinadas Lojas Maia e Magazine Luiza. Você não

pode jogar cinquenta anos de uma vida fora em dois, três meses. Daí a gente

começou, o ano passado, fazer a virada da marca, agora Magazine Luiza, aí

o que se faz, uma grande reforma, melhora o mix de produtos, a gente foi

pondo pílulas nesses dois anos senão não teria crescido tanto.

E, para terminar, eu trouxe um negocinho superinteressante, que é um fil-

me, e o Wagner sabe disso, a gente tem uma letra da virada, só que em cada

estado você tem que adaptar um ritmo porque são totalmente diferentes; eu

não posso cantar forró na Bahia, lá tem que ser axé. Então, assim, eu trou-

xe só dois para vocês verem o respeito que a gente tem também ao estado

mesmo que está no Nordeste. Então, assim, para dizer ao BNDES, a gente

acredita muito, o nosso foco de investimento no Nordeste é muito forte, até

porque esses dados que eu estou mostrando para vocês.

E antes de fazer a musiquinha, eu quero falar um pouquinho para vocês

o que vai afetar muito, que é a “Minha Casa Melhor”, esse programa que

está aí. Quando eu percebi esse programa do governo, como eu não meto o

pau, eu vou lá ajudar, o IDV e eu, pessoalmente, me envolvi há um ano nesse

projeto. Então eu quero explicar um dado muito interessante para vocês. O

que move a economia do varejo ou de tudo? É o crédito. Concordam comigo

ou não? Sem o crédito um país de pessoas de nível que ganham pouco quem

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474 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

manda é o que cabe no seu bolso. A cada cem pessoas que entram na loja

hoje, novos clientes, só nove são aprovados o seu crédito no Nordeste. Aqui

no estado de São Paulo é dezoito, aqui no nosso estado. Vocês entenderam

o que eu estou falando? A cada cem novos clientes, que não são clientes

nossos ou de qualquer um dos meus concorrentes, que entram, só nove são

aprovados de acordo com o Crediscore. Desses cem, sessenta não tem ne-

nhum problema de SPC nem de Serasa, mas não passa no score. Estou me

fazendo entender, gente? Não passa no score dos bancos, que a maioria são

sócios nossos; não estou falando nenhum mal de banco, eu estou explican-

do, porque eu também sou sócia de um, sócia na financeira. Então, o que

acontece? Existe uma faixa de clientes que não estava tendo acesso a cré-

dito, que aí não vai comprar perfumaria, porque não tem acesso a crédito.

O que fez o “Minha Casa Melhor”? Todas as pessoas, e a gente que fez

esse programa, gente, eu não gosto que fale mal desse programa, porque

foi um programa feito a dez mãos, uma coisa muito bem feita. O que o go-

verno está colocando? Dois bilhões de reais nesse programa, a pessoa que

comprou “Minha Casa, Minha Vida” já comprou, ou está comprando, ela tem

direto a cinco mil reais de um crédito, tipo de um _______, que ela vai co-

meçar a pagarno quarto trimestre que tem, que dá uma média, se ela fizer

tudo de cento e vinte, cento e trinta reais por mês, ela tem direito a comprar

máquina de lavar, que o governo marcou um preço para que ninguém ex-

plorasse, e uma característica da máquina, então que tem que ser máquina

de lavar automática, até oito quilos, é um programa muito bem feito; cama

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475RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

com colchão, cama de casal, fogão, geladeira, televisão que tem que ter uma

específica, até tantas polegadas, e não é até tanto, se eu quiser vender de

cinquenta até aquele preço, só que ela tem que ter o mínimo de especifica-

ção para não haver exploração; fogão de cinco bocas.

Então ela recebe cinco mil, ela pode comprar de treze mil lojas, pequena,

média, grande, desde que a loja seja credenciada e assine um termo de éti-

ca. Ela pode comprar só uma peça, ela tem um ano para gastar os cinco mil

reais. Então, na realidade, esse programa “Minha Casa Melhor” está ajudan-

do, principalmente, o Nordeste agora. Porque ele vai dar crédito para quem

não tem crédito e não tem problema de SPC, e tinha direito á crédito, ele

tinha direito a ter o seu primeiro crédito. Então, esse “Minha Casa Melhor”

vai ajudar muitíssimo o desenvolvimento do varejo e, automaticamente, das

outras coisas lá. Então, eu vou passar só duas, como é que a gente faz essa

integração. Muito obrigada, obrigada a vocês e, olha, gostei muito da apre-

sentação de vocês e a gente está aí, ao BNDES muito obrigado, cuide bem

do varejo.”

Walsey Magalhães: “Muito bom. Para a gente encerrar, eu queria ouvir a

Ana Costa, que vai fazer um breve resumo.”

Ana Costa: “Bom, até depois dessa citação toda, pela Luiza, como chefe

de departamento de bens de consumo, comércio e serviços, na verdade é o

departamento responsável pela carteira direita, de operações diretas com o

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476 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

BNDES em comércio e serviços, a gente tem estudado bastante o varejo e

defendido com garra, Luiza, não se preocupe, nós entendemos bem e temos

buscado essa atuação; atuação ela já tem crescido naturalmente pelo próprio,

pelos últimos anos do país, pelo próprio crescimento do consumo como a gen-

te tem visto, e isso tem impactado fortemente, felizmente, a nossa carteira.

Falando, agora, das nossas três mesas aqui, o que eu queria ressaltar e

que eu achei bastante relevante em relação ao Nordeste e a ida das empre-

sas cada vez mais para o Nordeste, é que tem algo que é, primeiro você tem

lá um mercado consumidor que passou a ser descoberto, começou a você

ter o crescimento do salário mínimo, tem a previdência, teve o bolsa-família,

e isso tudo nos trouxe essa visão que eu lembro sempre muito do geógrafo

Milton Santos, quando ele falava do circuito inferior da economia e que isso

seria, ele chamava isso de “vulcão das massas”, eles é que trariam a dife-

rença e a solução de diminuição da desigualdade, e sempre me lembra muito

quando a gente fala do Nordeste essa citação.

E outra coisa que me traz Milton Santos, numa discussão até nesse mes-

mo local sobre o varejo, que nós tivemos, alguém citou e lembrou que ele

sempre dizia que a circulação vem antes da produção. E quando eu peguei

aqui os desembolsos do BNDES, como um todo, não só do meu departa-

mento, para o Nordeste e comparei 2001 contra 2011, para vocês terem uma

ideia, em 2001 o BNDES tinha entrado em novecentos e quarenta e sete mu-

nicípios do Nordeste, em 2012 mil quinhentos e sessenta e dois; ou seja, a

gente passou de 53% dos municípios para 87. Em termos de desembolso,

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477RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

nós desembolsamos em 2011 três bilhões e trezentos, em 2012 vinte e um

bilhões, e desses vinte e um bilhões, quinze milhões e novecentos foi para

comércios e serviços. Então, é muito forte esse crescimento e a gente vê

esse espalhamento do recurso, que para a gente foi uma grata e feliz infor-

mação, onde a gente vê que há essa pujança via consumo, está levando sim

a um ciclo positivo e a um interesse cada vez maior. Claro que a gente tem

que falar sempre em infraestrutura e em logística, mas é interessante ver

e aí, pegando o caso do Boticário que eu conheço bem, que está na nossa

carteira, é interessante você ver a junção do varejo; eu acho que a gente tra-

balha cada vez mais, acho que não há uma dicotomia; ou seja, o varejo e a

indústria andam e têm que andar juntos, porque o varejo, qual o maior valor

do varejo? A percepção que ele tem do cliente, qual o valor que o cliente dá

para os produtos, e quem tem essa informação, acho que a Luiza falou aqui

muito bem, está no varejo, e é ele quem sabe, quem tem cada vez mais isso

no mundo, é a tendência, está puxando cada vez mais a indústria e como a

indústria produz, e isso que eu acho que é importante nesse processo, da

gente olhar esse crescimento do comércio e serviço como uma chance da

gente entender cada vez mais essa região, esse consumidor e levar exata-

mente as necessidades, como a Luiza bem detalhou aqui, ou seja, é uma

visão, de fato, de como você tem que olhar e o que é necessário você estar

levando, e criar esses interesses.

Então, você vê lá no meu departamento, que a gente vê o crescimento

principalmente das lojas, de grandes marcas inclusive, não estou falando

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478 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

só das regionais, shopping center, tem explodido o crescimento de shopping

center nessa região e, principalmente, eu acho que o primeiro passo, antes

da indústria, os centros de distribuição, como a gente viu aqui o Boticário, a

Luiza apresentou os dela. Os centros de distribuição, eles são também uma

visão de que eu não estou só construindo, pouco se falou de incentivo fiscal

aqui, eu achei legal, e quando aparecia, aparecia lá na quinta, na quarta co-

locação. Ou seja, está indo para lá e colocando seus centros de distribuição,

por quê? Porque há o interesse naquele mercado consumidor local. Eu acho

que isso é uma boa e grande sinalização do interesse dessas empresas. E aí,

agora, você vê, o próprio Boticário já está colocando a sua indústria, você vê

esses outros movimentos por parte das indústrias também já indo para lá, a

gente também tem bebida na carteira de bebidas, engarrafadoras, ou seja,

todo um crescimento também para lá.

E aí também você vem pegando tudo o que apresentou aqui a Agrícola

Famosa, na parte de sucos principalmente, que também foi bastante interes-

sante a meu ver, porque olhando a indústria de bebidas, uma das coisas que

mais vem acontecendo, como tendência de consumo, é a mudança para a

chamada “saudabilidade”, a questão dos sucos é muito relevante e a grande

dificuldade, que muitos deles vem nos falando, é onde você ter exatamente

essa organização da fruticultura cada vez mais forte, cada vez mais organi-

zada, para que a gente consiga desenvolver com frutas locais, e a gente vê o

desenvolvimento, foi bem mostrado aqui pela Agrícola Famosa, o desenvol-

vimento que isso proporciona, o número de pessoas que são atingidas numa

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479RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

região que a gente sabe das grandes dificuldades para conseguir levar o de-

senvolvimento. E o que mais me chama atenção, foi a questão da preocupa-

ção com a governança corporativa da empresa, a questão da transparência

é fundamental, gestão, uma gestão bem organizada como ele bem mostrou

aqui, e eu acho que dois pontos aqui, que ai eu trago tanto do Boticário, quan-

to da Agrícola Famosa, que ambos levaram e que está lá no Nordeste, que é

a questão de tecnologia; ou seja, sempre máquinas e equipamentos de ponta,

eu acho que isso também é uma sinalização relevante, e P&D, e pesquisa e

desenvolvimento, desenvolvimento cada vez maior. Lá na área industrial, é de

outro departamento, a gente tem, por exemplo, uma grande operação da No-

vartis, ou seja, a gente está falando de biotecnologia também lá no Nordeste,

então eu acho que também são sinalizações das possibilidades que a gente

tem de buscar e manter esse ciclo positivo que vem se colocando.

Outro ponto relevante, a questão trabalhista; ou seja, todos os três aqui

falaram em melhorias de padrões de tratamento dos seus funcionários, me-

lhoria de qualificação e, portanto, melhoria salarial também por consequên-

cia. Mesmo com a mecanização você traz essas possibilidades, eu acho isso

um ponto também muito relevante e mais, esse olhar de responsabilidade

social tanto para os seus funcionários quanto para fora, ou seja, visando

também uma melhoria da comunidade do entorno, e isso também nós temos

nas três falas aqui, nesses três olhares, que eu acho que começam a servir,

por serem líderes, como aquela base, aquela luz, você olha qual é o mínimo

que a gente começa a ter para qualificar essa ida para o Nordeste.

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480 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

Eu acho que a grande questão que a gente tem que trazer aqui para fe-

char é isso, estamos num momento positivo para a região, a região tem mos-

trado todas as suas possibilidades, e essa visão externa, essas empresas

que estão indo para lá, com essas questões as quais devem ser levantadas:

tecnologia, pesquisa e desenvolvimento, responsabilidade social para den-

tro e para fora da empresa e a quantidade de empregos gerados. E sem dico-

tomia entre circulação e produção; elas se falam, elas interagem e uma pode

trazer mais valor para outra. Obrigada.”

Paulo Guimarães: ”Acho que eu usar até menos, depois do que a Ana co-

locou, acho que os pontos foram ressaltados, mas só para ressaltar a visão

semelhante. Quando eu olho a transparência que vejo o incentivo fiscal na

quinta, sexta posição, eu acho que alguma coisa de novo está aparecendo e

esse destaque vem do porque o Nordeste é explicado através de aproxima-

ção com o cliente, infraestrutura disponível, educação, trabalhar a susten-

tabilidade, enfim, condições ou receitas que a gente já conhece há um bom

tempo.

E eu fecharia reforçando o que já falei nos três encontros, tanto em For-

taleza, Salvador, estivemos em Campina Grande também, e em Recife. Esse

salto do BNDES que a Ana colocou, de três bi para vinte e um bilhões, mul-

tiplicando por sete o financiamento do banco na região, somando-se aí um

salto também do Banco do Nordeste aqui presente, também na mesma casa

de vinte bilhões o ano passado, não foi feito, digamos assim, exclusivamen-

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481RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

te por uma ação dos dois bancos; ou seja, a participação do BNDES nesse

movimento existe, ela aparece não por uma política, digamos assim, única

ou isolada do BNDES, são outras condições colocadas que nos permitem

chegar com esse financiamento. Seria muito fácil chegar aqui nesse semi-

nário, dizer que o BNDES saltou de três para vinte e um porque tem um fo-

mento muito bom, pujança, não; são outras decisões que tornaram oportuno

a região receber soma dos dois bancos nos últimos anos, mais de quarenta

bilhões de reais.

Muita coisa há de se resolver, mas as apresentações aqui trouxeram, di-

gamos assim, caminhos, caminhos inclusive no Semiárido que é um grande

desafio colocado por todos na região, mas, quando a gente observa a apre-

sentação da Agrícola, percebe caminhos claros. Então, eu queria reforçar,

por parte do BNDES, essa condição de financiamento, acho que o BNB tem

o mesmo pensamento, o financiamento hoje é uma ferramenta fundamental,

uma ferramenta hoje que tem um custo bastante mais saudável, mas ele só

se dá por outros movimentos e outras decisões, que levam aos investimen-

tos no Nordeste. É só isso.”

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Mesa II: Oportunidades e Desafios para o Nordeste - Visão Acadêmica

Moderador

Nelson Siffert FilhoSuperintendente de Infraestrutura do BNDES

Coordenação

Rosa FurtadoPresidente do Conselho do Centro Celso Furtado

Palestrantes:

Vanessa PetrelliProfessora UFU

Aristides MonteiroPesquisador IPEA

Ricardo IsmaelProfessor PUCRJ

Relatora

Valdênia ApolinárioProfessora UFRN

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485RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

MESA II

OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA O NORDESTE - VISÃO ACADÊMICA

Palavra do Sec. de Arranjos Prod. e Des. Local e Reg. do BNDES | Walsey

Magalhães

“A gente está acumulando aqui meia hora de atraso. Como é um se-

minário grande, a gente vai até o final do dia, os atrasos que começam

agora vão se acumular e corremos o perigo de passar a noite aqui. Então,

a gente está pedindo desculpas aos que estavam se preparando para o

debate. Nós vamos propor a resposta, nós vamos entregar as perguntas

aos palestrantes e vamos propor as respostas por e-mail, ok? E a gente

vai imediatamente, então, encerrar essa mesa e começar a mesa seguinte,

que é a visão acadêmica.

Para isso, eu convido a dra. Rosa Furtado para vir assumir a coordenação,

convido também a dra. Vanessa Petrelli, dr. Aristides Monteiro, dr. Ricardo

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486 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

Ismael e a relatora Valdênia Apolinário, e o moderador Antônio Carlos Tovar.

Queria avisar também o seguinte: tem um cafezinho servido aqui do lado, se

as pessoas, a gente não quer fazer um intervalo, mas toma um café rápido e

voltam. Dra. Rosa, pode começar.”

Rosa Furtado: “Boa tarde, nós estamos acumulando um atraso meio com-

plicado, já são doze e vinte e três, já estamos com quarenta e tantos minu-

tos de atraso, mas vamos tentar fazer rápido porque daqui a pouco vai tudo

mundo ficar com fome.

Nós temos essa mesa, portanto, sobre oportunidades e desafios para o

Nordeste, visão acadêmica, essa mesa acho que tem tudo a ver não só com

os presentes, mas comigo; eu sou viúva do Celso Furtado, para quem não

percebeu e não sabe, e que Celso esse que me deu muito prazer de ouvir

citações a ele, sobretudo pela Nicolle, muito atiladas as citações que ela fez,

e eu acho que Celso resume um pouco essa mesa.

Ele realmente achou que havia vários desafios para o Nordeste, ele os en-

frentou, eu acho que o maior momento da vida dele, como homem público,

homem de ação e homem de pensamento, eu acho que foi exatamente o Nor-

deste, a grande realização da vida dele eu diria que foi a volta dele para o

Nordeste aos trinta e poucos anos, foi a idealização da SUDENE e a presença

dele à frente da SUDENE até o golpe militar de 64, que interrompeu o projeto.

E, evidentemente, ele chegou no Nordeste com a visão acadêmica que ele já

tinha acumulado tanto, enfim, como economista, já com mestrado, doutora-

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487RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

do e tal, e com os dez anos da CEPAL, onde ele já tinha trabalhado. Então eu

acho que essa mesa é uma mesa que vem bem a propósito, também vem a

propósito do Centro Celso Furtado, do qual, hoje em dia, eu presido o conselho

deliberativo, então eu acho que essa mesa tem tudo a ver. As pessoas da mesa

são amigos já, a Vanessa, Aristides Monteiro e Ricardo Ismael, que é diretor

do Centro Celso Furtado, Valdênia que está aqui à minha esquerda, que é de

Campina Grande, uma paraibana, hoje em dia está na federal do Rio Grande

do Norte, e o Tovar, que eu não conhecia, estou conhecendo agora.

Eu vou dar a palavra, primeiro, à Vanessa. Vanessa Petrelli Correia, como

vocês sabem, ela tem doutorado pela UNICAMP, pós-doutorado pela Univer-

sidade de Brasília e, depois de ter sido presidente do IPEA até relativamente

recente, a um ano atrás mais ou menos, ela voltou para Uberlândia, onde é

secretária de Agropecuária e Abastecimento do município de Uberlândia.

Ela é professora associada da Universidade Federal de Uberlândia e é tam-

bém Consultora do MEC, onde foi presidente de várias comissões de autori-

zação e reconhecimento de cursos de graduação em economia.

Eu não vou me estender mais, dou a palavra à Vanessa, sabendo que como

a gente está bem atrasado, Vanessa, vamos calcular mais ou menos em vinte

minutos cada um dos três professores que vão falar e depois a gente dá um

pouquinho de tempo para a relatoria.”

Vanessa Petrelli: “Em primeiro lugar, eu trabalho bastante com a parte de

distribuição de crédito, até estou como secretária de Agropecuária justa-

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488 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

mente pelo trabalho que eu tenho de estudar, o PRONAF, e a importância

da implantação do direcionamento de recursos para os agricultores mais

pobres. Então, também, dentro dessa discussão, nos caminhos do Nordeste,

sem dúvida uma das discussões importantíssimas é a questão da distribui-

ção de crédito e tentando verificar um pouco também do papel dos direcio-

namentos dos créditos através de bancos públicos, especialmente no caso

aqui que eu vou abordar, o Banco do Nordeste, o papel do direcionamento

dos recursos dos fundos constitucionais, que são fundos pensados para

ter uma atuação importante na questão do desenvolvimento de regiões ti-

das como mais carentes. Então, nós temos os fundos constitucionais do

Nordeste, do Norte e do Centro Oeste. Então, eu quero trabalhar um pouco

com isso.

Então, primeiro, quando a gente pensa em desenvolvimento regional

stricto sensu, a partir de políticas públicas, a gente pode saber que os re-

cursos vêm através de programas de PPA, com isso envolvem recursos or-

çamentários e fundos de desenvolvimento, que é o que eu vou tratar aqui.

Então, na verdade, as políticas de desenvolvimento regional dentro do go-

verno são vistas, primeiro, ou stricto sensu, através de recurso orçamentário

ou através de fundos de desenvolvimento, ou políticas regionais articuladas

às políticas públicas em geral, com objetivos regionais, de ministérios como

planejamento, meio ambiente, desenvolvimento agrário, cidades, ministérios

como transporte, minas e energia, comunicações, e políticas de desenvolvi-

mento setorial de regulação econômica, como os ministérios da agricultura,

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489RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

pesca, abastecimento, turismo e etc. E, além de tudo, principalmente hoje,

os ministérios diretamente responsáveis pelas políticas com forte impacto

social, como o desenvolvimento social, educação, cultura.

Então, como a gente sabe, nos últimos anos, especialmente de 2004 e ba-

sicamente até, principalmente, até 2010, o país verificou taxas de crescimen-

to média de, mais ou menos, 4,5% ao ano, muito maiores do que as taxas ve-

rificadas anteriormente. Nos últimos dois anos, as taxas estão mais baixas,

mas tomadas em termos a partir de 2004, nós temos taxas de crescimento

bastante expressivas, fatores ligados tanto às políticas de transferências de

assistência e previdência, das quais está aqui a parte tanto de bolsa-família

como a parte de continuidade das políticas vinculadas à constituição de 88

e a bancos das políticas sociais. Então, um dos elementos importantes do

crescimento são as transferências de políticas de assistência e previdên-

cia, articulados com investimento público. São dois elementos de ação do

estado importantes, que se somam aos períodos de boom de crescimen-

to, de forte crescimento do mercado internacional e, principalmente, pelo

o aumento dos preços de commodities que geravam taxas de crescimento

exportadoras expressivas, basicamente até 2010.

Uma das questões importantes, então, que eu quero chamar atenção e

teve toda articulação com a mesa anterior, é que o papel do crescimento do

mercado interno nessas taxas de crescimento é fundamental. Hoje, o mer-

cado interno tem um papel, um peso na explicação das taxas de crescimento

muito maiores do que no passado e o peso do mercado interno na explicação

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490 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

das taxas de crescimento é maior do que o do próprio setor exportador. Esse

é um fato novo e expressa uma mudança no perfil de demanda, que é um

elemento importante. Claro que as políticas de crédito foram importantes

junto com a política de aumento do salário mínimo e junto com as políticas

sociais. Então, a política social, aumento do salário mínimo e política de cré-

dito foram importantes para a mudança do perfil da demanda.

Mas, aqui, o que eu quero tratar, isso aqui é onde está o tema do desen-

volvimento regional dentro do PPA; não vou tratar disso aqui que agora não

dá tempo. Mas, uma das coisas importantes é que houve um crescimento

do crédito como porcentagem do PIB. E nós estamos tratando tanto aqui do

crédito ao consumo, quanto do crédito livre, como também do crédito dire-

cionado, não é só o crédito ao consumo que cresce, é o crédito em geral. E

nós temos aqui também um crescimento importante no crédito direcionado

para o aumento, para ações de desenvolvimento como é o crédito relaciona-

do aos fundos constitucionais. É um dos elementos importantes para esses

impactos, é o papel desses fundos no desenvolvimento regional. Então, o

Banco do Nordeste é um ator importante dentro dos bancos públicos e tem

uma ação fundamental no crédito do Nordeste.

Agora, uma das importantes discussões quando a gente trabalha com a

questão do crédito, é que geralmente ele é extremamente concentrado em

regiões mais dinâmicas, em produtores mais dinâmicos ou quando é crédito

à produção. Então, há uma concentração regional e por tipo de demandante.

Essa é a lógica do sistema bancário. Então, romper com isso não é fácil den-

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491RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

tro do sistema bancário, especialmente na medida que também nós temos

leis que exigem condições de solvência e etc., como as regras de Basileia.

Então, o papel, uma das coisas importantes que, mesmo no período da dé-

cada de 80 e basicamente na década de 90, que houve uma queda relativa

da participação do estado no Brasil, no entanto, uma das características

brasileiras é que não houve o desarme dos bancos públicos brasileiros, e

esse é um elemento fundamental para o crescimento e desenvolvimento do

país, desenvolvimento entendido não apenas como crescimento, como dis-

tribuição de renda. Agora, há a problemática da concentração do crédito, ela

permanece.

Então, uma das perguntas que a gente se faz é a seguinte: será que os

fundos constitucionais estão tendo um papel importante para o desenvol-

vimento? E mais do que isso, estão tendo a capacidade de desconcentrar,

chegar a regiões mais pobres para agentes de menor porte? Essa é uma das

grandes discussões importantes; quer dizer, não basta também a gente con-

centrar demais o crescimento só nas grandes metrópoles, sendo que a gente

tem uma população que também está espalhada pelo território nacional e,

ademais, nós temos que criar condições de crescimento fora dos grandes

centros de distribuição e dos centros de concentração de serviços. Porque a

lógica do crédito bancário é concentrar nos grandes centros de centraliza-

ção de população e de distribuição de serviços. Será, então, que um crédito

do tipo dos fundos constitucionais, além de se dirigirem para espaços mais

carentes relativamente, eles têm a capacidade de fazer desconcentração?

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492 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

Essa é uma das perguntas que a gente trabalhava, porque isso é importante

para a gente pensar o desenvolvimento do país.

Então, primeiro, se a gente pega a classificação do IDH; primeiro me des-

culpem essa classificação do IDH, ainda é o IDH de 2000, porque esse estu-

do nós acabamos de fazer e o novo IDH acabou de sair. Então, a gente até vai

refazer o estudo com o novo IDH, mas, como nós construímos, acabamos

acho que há dois meses atrás, antes de sair o resultado, então nós estamos

ainda com o IDH de 2000. Mas, de qualquer forma, pela distribuição, se a

gente pega o IDH, a classificação que nós fizemos aqui não é classifica-

ção clássica do IDH, é a gente pegando todos os municípios brasileiros, ran-

queando o IDH do menor para o maior, dividindo os municípios em quartis,

daí o primeiro quartil é o IDH muito baixo, o segundo IDH baixo, o terceiro

IDH médio e o quarto IDH alto. Lógico que a gente está careca de saber que

os IDH’s mais altos se concentram na região Sudeste e Sul, e agora subindo

para a região Centro-Oeste, e os IDH’s mais baixos claramente ficam aqui

na região Nordeste, coisa que todos nós sabemos. Mas, o que eu quero mos-

trar é o seguinte, a política de bolsa-família, ela é uma política, por exemplo,

altamente focalizada porque ela justamente chega onde? Nos espaços de

maior pobreza, é onde está concentrada, aqui é bolsa-família alto, é onde

está concentrada a maior distribuição de bolsa-família. Então, ela tem um

potencial grande de focalização; ou seja, é possível chegar aqui.

Uma das coisas interessantes nesse estudo que a gente fez, quando a

gente estudou o bolsa-família, nos colocavam, por exemplo, que a Caixa Eco-

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493RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

nômica ajuda a distribuição, faz a distribuição dos recursos, então nos rin-

cões mais longínquos chega o recurso, ou seja, é possível chegar. Claro que

a lógica não é a lógica bancária, mas, quer dizer, infraestrutura de chegada

em diferentes municípios nós temos. Então, o bolsa-família você vê como

há a focalização. No caso, se a gente pega os créditos do sistema bancário

sobre o PIB, quer dizer, não é crédito em absoluto, é crédito sobre PIB, então

você vai ver o crédito total do sistema bancário, aqui não está entrando o

BNDES, é só crédito vinculado a bancos que tem carteira comercial; então,

você vê que aí a maior concentração é na região Sudeste e Sul, pegando a

região Centro-Oeste, enquanto que a menor concentração de crédito PIB

fica nas regiões de maior pobreza. Ou seja, o sistema bancário não tem po-

tencial desconcentrador, e aqui nós estamos pegando bancos públicos tam-

bém. É a totalidade do sistema bancário brasileiro. Então, a lógica bancária

é a lógica inversa da carência do desenvolvimento. Daí a importância de fun-

dos específicos e com perfis específicos, não vinculados à lógica bancária

tradicional. Então, se a gente pegasse aquela classificação do Nordeste, do

IDH no Nordeste, nós pegaríamos que o Nordeste aqui tá todo numa região

de maior pobreza, enquanto que o bolsa-família está indo para a região, e

aqui é pegando só o Nordeste, a parte de sistema bancário é fazendo recorte

daqueles dados, o recorte só para o Nordeste.

Créditos totais da Caixa Econômica sobre PIB. Da Caixa Econômica, en-

tão, é muito mais concentrada. Os créditos da caixa econômica, mesmo con-

siderando agora o “Minha Casa, Minha Vida”, é fortíssima a concentração

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494 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

nas regiões; é crédito PIB, não é crédito total, já é avalizado pelo PIB. Então,

a concentração é fortíssima nos grandes centros; mas, veja, é fortíssima

nos grandes centros; ah bom, então nos outros lugares não tem população,

então, é que precisa também de casa. Então, esse é um debate que eu con-

sidero importante.

Aqui a região Sul, estou indo rápido senão não dá para chegar onde eu

quero.

Então, uma das coisas importantes é que nos últimos tempos nós temos

tido um importante crescimento, de 2004 a 2010, tanto dos recursos, estamos

vendo aqui, de bancos públicos do BNDES, como também dos fundos cons-

titucionais. Houve e no caso do FNE é o que nós queremos estudar aqui para

a gente ver o que vamos fazer com isso aqui. Então, aqui se a gente pega o

sistema BNB, que é a parte de recursos que foram dados, que foram cedidos

para a gente de recursos do BNB, de financiamentos do BNB; se a gente pega

as operações de curto prazo, nós vemos que houve um grande crescimento do

crédito do BNB a partir de 2004, mas, especialmente, depois do início da crise

de subprime. Mas a gente vê que, no caso do crédito de curto prazo, o grande

crescimento foi na área de grande porte. Isso, crédito de curto prazo.

Aqui, nas operações de longo prazo, o que são as operações de longo pra-

zo? Nós estamos pegando o sistema BNB, que não é apenas o balancete do

BNB, é o balancete do BNB junto com a parte de fundos constitucionais. En-

tão, a grande parte das operações de longo prazo, que também dão um salto

aqui em 2008, são os recursos que vêm dos fundos constitucionais. Isso aqui

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495RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

são fundos constitucionais, que vão chegar a doze bilhões. Também, interes-

sante notar que o salto que se dá em 2007, também é nas operações de maior

porte. Ainda assim, você vê que, no caso do crédito de longo prazo, há um

crescimento importante também dos mini e há um importante crescimento

também dos médios operadores. No entanto, o salto importante é que se dá

na área de grande porte. De qualquer forma, é interessante a gente notar

que, a partir de 2003, você tem uma trajetória crescente dos recursos dos

fundos constitucionais que está indo junto com a trajetória de crescimento

a partir de 2004, porque o Brasil passa a ter taxas de crescimento maiores, a

partir de 2004 especialmente.

Então, pegando os dados dos fundos constitucionais, o principal fundo

é o fundo do Nordeste, e a gente pega aí; aqui são os dados da própria Se-

cretaria de Fundos Regionais do Ministério de Integração. Então, pegando

todos os fundos, os que crescem claramente mais é o FNE, e aqui aquele

salto que eu falei para vocês, a partir de 2007, e a gente viu que foi puxado

principalmente pelos grandes. Se a gente pega em valores contratados, os

valores contratados, nós temos aqui, e aqui em bilhões. O lado de cá são os

valores contratados e esse aqui é o número de operações, que é o azul. En-

tão, temos um grande crescimento de número de operações a partir de 2003,

aqui há uma queda no número de operações e um crescimento. Por que é

uma queda? Porque nós vamos ver que vai entrar mais área de grande porte.

Aqui, os dados de PIB da região, das coisas importantes que a região

Nordeste, o PIB da região Nordeste entre 2003 e 2008 cresce mais do que

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496 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

a média do Brasil, no entanto, em termos de participação percentual do

PIB no Brasil, isso aqui já foi mostrado inclusive aqui no começo, não há

modificação. Então, a grande questão de como sair dessa situação é ações

efetivas de uma das questões, sem dúvida, é a questão de crédito. En-

tão, se a gente pega a FNE, número de operações por porte, vocês vão ver

que grande número, tem tantos contratos, a maioria dos contratos é dos

mini e micros. São poucos contratos relativamente porque o porte é muito

maior nos médios e grandes. Agora, se a gente vai ver participação relativa

por beneficiários, vocês vão verificar uma mudança de dinâmica. Entre 99

e 2002, a maioria dos beneficiários era mini e micro. Quanto ao boom de

crescimento, a maioria dos beneficiários, ainda mini e micro são impor-

tantes, mas vocês vão ver que vai aumentando a participação do grande

porte, mas ainda mini e micro até aqui é importante. Olha a mudança da

dinâmica aqui, a partir de 2007; ou seja, a gente tem um boom de cresci-

mento da liberação dos fundos constitucionais em 2008, mas foi mais para

operadores de maior porte. Isso não aconteceu só aqui, com o Banco do

Brasil também. Aquele grande crescimento que a gente viu em 2008, você

cresce rapidamente e vai para os agentes que têm melhores condições de

pagamento e etc.. Então, a lógica do crescimento rápido aqui, depois de

2008, foi para os portes maiores. Então, é importante a gente analisar essa

especificidade. Outra coisa importante, a maior parte, também a partir de

2008, a distribuição de recursos para o crédito não rural, dentro do FNE,

ultrapassa a distribuição de recursos para a área rural. Então, a mudança

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497RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

de dinâmica também que, na verdade, acontece desde o crescimento aqui,

a partir de 2003.

Uma das coisas que eu acho importante a gente destacar também, esses

dados aqui que são de uma tese de doutorado que eu oriento; eu acho que

quando a gente analisa crédito, a gente tem que analisar os subnúmeros,

não ver só os grandes números, para a gente analisar as especificidades.

E é importante a gente estudar muito legislação. Então, essa coisa de mini,

micro e pequeno, vocês viram que os grandes cresceram muito, mas, além

disso, o conceito do que é mini e micro mudou, porque a legislação dos fun-

dos constitucionais diz que você tem que privilegiar os mini e micro produ-

tores. No entanto, o que é mini e micro? O que eu defino como sendo mini

e micro? Qual é o limite da renda anual para ser considerado mini e micro?

Esses limites mudaram ao longo do tempo e, hoje, eles são muito mais am-

plos do que eram antes. Então, o que era mini e micro em 2003, 2004, 2005,

não é mini e micro hoje. Então, só para vocês terem ideia, até 2011, mini era

até cento e cinquenta mil, a renda bruta anual, e pequeno era até trezentos

mil. Hoje mini e micro é até trezentos e sessenta mil e pequeno vai até três

milhões e seiscentos. Então, mesmo aqueles dados não dá para comparar. O

que é o pequeno hoje era o que era o grande ontem. Então, vejam bem, a gen-

te está pegando, efetivamente, um porte maior com os fundos constitucio-

nais. Então, esse é um elemento que eu gostaria de destacar, eu acho que é

uma questão importante da gente analisar. Não é de só menos importância,

é uma questão importante. Outra questão importante é a que a gente vai,

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498 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

esse, pra mim, é um dado preocupante, a questão de ter aumentado muito a

participação do grande. Agora, um dado alentador é o fato de que os fundos

constitucionais, o fundo do Nordeste, consegue chegar aos municípios mais

pobres, nas áreas mais pobres. Esse é um fato claramente diferenciador.

Então, a gente fez um estudo que relacionou o nível de IDH, a gente daí

pegou o IDH do Nordeste, fizemos um estudo só para o Nordeste. Fizemos

uma nova classificação dos IDH’s do Nordeste, pusemos todos os IDH’s do

Nordeste, do menor para o maior, e classificamos o Nordeste em quartis e aí

o mais alto quartil de IDH recebeu o nome de IDH “alto”, o intermediário “mé-

dio”, depois baixo e muito baixo. Porque, se a gente pegasse a classificação do

Brasil todo, o Nordeste todo apareceria como baixo e eu não conseguiria ver

a diferença. Desse jeito eu consigo ver as regiões mais pobrezinhas mesmo,

porque a gente fez uma classificação dentro do Nordeste. E classificamos

também os créditos como créditos sobre população, dividimos por município

também, classificamos todos os municípios do Nordeste, dividimos em quartil

e, também, crédito alto, médio, baixo e muito baixo. E fizemos a relação dos

dois por períodos, que é uma técnica chamada de análise de correspondên-

cias. Então, o que nós pegamos em três períodos: 99 e 2002, dos fundos cons-

titucionais. A gente vê que os municípios que têm IDH alto se aproximaram do

crédito muito baixo e os municípios que têm IDH muito baixo se aproximaram

do crédito alto, crédito PIB; ou seja, é uma distribuição altamente desconcen-

trador. Eu tinha feito esse estudo para, por exemplo, com os dados do Banco

do Nordeste de crédito de curto prazo é o contrário, é a forma tradicional de

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499RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

liberação de recursos. Então, os municípios de IDH alto recebem relação cré-

dito PIB alta, municípios com IDH muito baixo recebem relação crédito PIB

muito baixa. Ou seja, a lógica de curto prazo é concentradora. Agora, a lógi-

ca do crédito longo prazo, que é fundo constitucional, não é. A mesma coisa,

entre 2003 e 2006 e, agora, entre 2007 e 2010, ainda continuam assim, mas um

pouco pior. Vocês vêem indicador muito baixo perto do IDH alto e o IDH muito

baixo já está um pouco longe do indicador alto. Então, o último período já deu

uma piorada. Aquela coisa do último período ter ido muito para o grande e o

grande estar concentrado em um espaço de maior dinamismo. Então, aqui a

gente vê que há uma piora relativa, não total, não está igual ao crédito curto

prazo, mas há uma piora relativa.

Eu acho que uma das coisas importantes da gente perceber, aqui só para

vocês verem os mapas, eu já vou encerrar; nós pegamos aqui, então é a nova

classificação do IDH só para o Nordeste, aí o crédito PIB, essa parte aqui

é o alto; vocês vêem o Maranhão, não tinha quase nada de alto aqui, houve

uma modificação no segundo período, que é entre 2003 e 2006, então vocês

vejam que zonas de maior pobreza, que não recebiam crédito alto, agora

estão passando a receber, zona de maior pobreza é a zona amarelinha e azul,

estão recebendo crédito alto. Então, há uma mudança relativa, inclusive, de

distribuição regional mais interessante. Agora, só para encerrar, isso é im-

portante por quê? Porque o crédito tem um papel desconcentrador, pode

ter um papel desconcentrador importante como a gente verificou nos dois

períodos anteriores.

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500 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

É importante a questão do banco público e o direcionamento do crédito

público, principalmente se a gente quer fazer a discussão de desenvolvi-

mento em áreas de maior pobreza. E é possível fazer e a questão dos fundos

constitucionais mostra que é possível fazer e, aliás, fazendo nos municípios

mais pobres, levando crédito para os municípios mais pobres, para os agen-

tes mais pobres, a médio prazo você puxa inclusive o crédito de curto prazo.

Então, é um potencial e é super importante. Porque se a gente pega a receita

própria de cada município, que são as receitas que o município recebe per

capita , a receita própria per capita , considerando só os gastos do município,

elas são muito baixas no Brasil inteiro. Isso aqui é receita própria per capita ,

vocês vêem que são muito baixas no Brasil inteiro, com algumas localidades

de receita própria per capita um pouquinho maior e concentrada aqui na

região Sudeste e Sul.

Se a gente junta, então, todos os municípios brasileiros, geralmente tem

uma receita própria per capita baixa, a não ser Brasília e alguma coisa aqui,

Rio e São Paulo, mas, em geral, as receitas próprias per capita s são baixas.

Se a gente coloca as transferências distributivas, principalmente as vincu-

ladas à saúde e educação, quer dizer, as transferências do governo federal

para os estados e municípios, elas já definem uma distribuição mais inte-

ressante e vocês vêem como elas têm um potencial, também, de levar parte

dessas receitas para as regiões de maior pobreza. Então, na verdade, nós

temos que integrar essa política com uma política de crédito. Se a gente

pegar royalties é pior.

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501RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

O recado principal é de que a receita própria dos municípios é muito bai-

xa e concentrada em poucos municípios, as transferências distributivas,

notadamente o Fundo de Participação de Município, FUNDEB, cumpre um

papel importante na ampliação do volume de recursos e na equalização fis-

cal, as transferências de caráter devolutivo, que eu não comentei, ICMS e

royalties são fontes de desequilíbrios, mas, uma das coisas importantes,

que é importante um aumento das aplicações dos fundos constitucionais,

ainda que a gente tenha que ter atenção no perfil de distribuição, porque ele

tem um papel importante desconcentrador. Então, é fundamental juntarmos

isso aqui com um papel redistributivo dos investimentos, que eu infelizmen-

te não tive tempo de comentar, que ainda tem uma forte concentração dos

investimentos públicos nas regiões mais dinâmicas, mesmo considerando o

crescimento dos investimentos públicos. Ou seja, nós temos que fazer cré-

dito com investimento público convergirem e a possibilidade de convergir,

inclusive, para regiões menos dinâmicas, obviamente com novos planos de

negócios e novas oportunidades. Era esse o meu recado. Obrigada.”

Rosa Furtado: “Muito obrigada, Vanessa. Passo a palavra imediatamente ao

professor Aristides Monteiro Neto, outro economista na mesa. O Aristides

foi graduado pela Federal de Pernambuco e é mestre também em econo-

mia pela Universidade de Pernambuco e o doutorado fez na Unicamp. Ele é

técnico de planejamento e pesquisa do IPEA, onde atualmente trabalha na

diretoria de estudos e políticas das instituições do estado e democracia. E

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502 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

Aristides foi também secretário de ciência e tecnologia e meio ambiente do

estado de Pernambuco.

Aristides, vinte minutos, mais cinco de tolerância, mais de tolerância da

tolerância, vamos lá.”

Aristides Monteiro: “Eu agradeço o convite para participar desse impor-

tante evento, o Integra Brasil, que ainda se estenderá também, na próxima

semana, em caráter conclusivo e para o qual também eu devo estar lá. Agra-

deço à Helena e a equipe do BNDES também pelo convite pessoal para vir

aqui, a todos que se encontram na mesa, e é sempre um prazer, uma satisfa-

ção estar aqui nessa discussão sobre o Nordeste, que é sempre um desafio

para todos nós, então a gente está sempre aprendendo.

Então, quando a Helena me liga e diz: “Aristides, a gente queria falar so-

bre o futuro do Nordeste, essa é uma pergunta”, e aí eu digo, nossa, o futuro

do Nordeste. No Nordeste, a gente diz assim: “o futuro a Deus pertence”;

então, como começar essa discussão?

Então, de que nós falamos mesmo? O futuro do Nordeste. E aí eu quero

mostrar alguns exercícios que eu fiz para gente pensar e, depois, eu quero

enveredar um pouco por uma discussão, que é a que eu tenho trabalhado

mais proximamente no IPEA, que é a questão do federalismo e, em parti-

cular, de governos estaduais. Então, muito menos do que tratar de setores

ou de instrumentos de política, eu vou eventualmente passar por eles para

que a gente possa fazer alguma reflexão ao final. Para o empresariado dire-

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503RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

tamente eu vou ter poucas respostas, mas eu acredito que a gente precisa

fazer uma reflexão sobre alguns elementos que eu quero trazer.

Então, primeiro eu queria que a gente registrasse esse quadro, a evolução

do PIB total e per capita do Nordeste desde 1960, com o marco que Furtado

nos traz no governo JK, criação da SUDENE e o início, então, verdadeira-

mente, de uma política regional bem definida. Então, um balanço possível e

geral, o Nordeste cresce a taxas, depois de cinquenta anos, iguais as do Bra-

sil. No meio disso, há períodos em que cresce mais, há vários subperíodos

em que o Nordeste cresce a taxas maiores, outros a taxas menores. No pe-

ríodo mais recente, de 2000 a 2010, cresceu mais. O PIB total, o PIB per capita

, esse impacta, vamos chamar assim, no percurso também de longo prazo.

Na verdade, a taxa de crescimento da população no Nordeste tem sido um

pouco menor que para o Brasil, então, aí a gente vai limpando o terreno. Daí,

é esperado que o PIB per capita no Nordeste cresça a algumas taxas um

pouco maiores, mas veja que não tanto.

O diferencial de PIB por habitante não é tão elevado. E aí eu fiquei pen-

sando, se a gente fizesse algum exercício, imaginar um esforço possível. A

gente quer crescer, a gente construiu políticas de desenvolvimento regional,

temos instrumentos, agora mesmo o Ministério da Integração está se reequi-

pando, trazendo à tona determinadas instituições, e eu não vejo a discussão

para onde mesmo nós vamos, qual a medida do esforço que nós deveríamos

fazer. Vamos mobilizando recursos, que é algo importante, o cenário da últi-

ma década foi muito positivo, mas ainda nós sempre nos defrontamos com

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504 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

as situações médias frágeis; nós corremos, corremos e ficamos no mesmo

lugar. Depois de cinquenta anos, a renda per capita do Nordeste já foi afir-

mada que é a mesma, relativamente; quer dizer, o Nordeste é outro, o Brasil

é outro, todos crescemos, nos desenvolvemos, mas as situações relativas

são as mesmas.

Aristides Monteiro: O quê que é isso? Isso a ver, obviamente, com um ce-

nário daquele crescimento que eu já mostrei, quer dizer, Brasil e Nordeste

crescem a taxas iguais, praticamente iguais, e isso significa dizer que nós

crescemos num momento de integração do mercado nacional. A integração

do mercado nacional impõe estímulos para o desenvolvimento da região e

foi o que aconteceu; o Nordeste, quando Furtado faz o diagnóstico, era uma

região que crescia pouco, estava atrasada, suas estruturas estavam ficando

para trás, o resto do Brasil montando estruturas industriais e o Nordeste

para trás. Nós conseguimos, enfim, subir no vagão, em um trem correndo

nós subimos no vagão e estamos correndo agora à mesma taxa que o vagão.

Mas, continuamos lá atrás no vagão, no trem, é esse o lugar. Então, o proces-

so de integração do mercado nacional impôs também, se ele traz estímulos,

ele impôs limites à dinâmica. Isso ainda está muito forte no Brasil hoje e, a

despeito de todos os investimentos e do crescimento recente, parece que

isso continua a se colocar.

Então, é preciso que a gente, de partida, possa fazer essa análise para

a gente imaginar exatamente como romper isso. Se nós precisamos saltar

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505RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

dos 50% do PIB per capita , os 13% do PIB total do Brasil, qual é a dimensão

desse esforço? Porque, do jeito que nós estamos fazendo, pode até estar

certo, mas não é suficiente. É necessário, mas não é suficiente. Então, eu

fiquei imaginando, o PIB total do Brasil e do Nordeste em 2010, em valores

de 2008, valores reais, o PIB per capita no Brasil em 2010 dezesseis mil, o do

Nordeste oito mil. O Brasil cresce, neste período de 2003 para cá, que é um

período bastante positivo, talvez o mais positivo dos últimos trinta anos, e

aí eu retive isso aqui; eu disse, olha essa era uma taxa boa, onde o Nordeste

teve taxas de crescimento do PIB per capita bem acima do Brasil. Então, o

diferencial de taxa é de 0,8%, no período mais benigno, mais favorável da his-

tória recente nós crescemos de forma importante, o Nordeste cresceu, com

uma taxa de 0,8%, menos de 1% ao ano, isso é uma taxa anual, isso acumula,

mas de 0,8 acima do Brasil. Então, é assim que nós andamos no período mais

importante das três décadas possivelmente.

Aí, eu pensei num cenário, e se nós desejássemos, alguém aqui falou,

a presidenta do CIC, acho que foi ela que falou que deveríamos chegar aos

70%; e aí eu fiz um exercício, se nós quiséssemos chegar a 75%? Então, eu

mantive a taxa de crescimento que o Brasil teve nos anos recentes, que é

uma taxa otimista que já não se verifica mais, de 3,27 ao ano, o que daria

para o Brasil, em 2030, um PIB per capita de trinta e dois mil reais, e 75%

disso seriam vinte e quatro mil. O Nordeste chegaria a vinte e quatro mil per

capita. Tendo esse horizonte, a taxa necessária de crescimento seria de 5,5%

de PIB per capita. Quer dizer, para o Nordeste, se o Brasil crescer a essa taxa

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506 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

suposta, benigna, o Nordeste teria que crescer a 5,5. Nós precisaríamos, o

Nordeste precisaria crescer a uma taxa de 2,3% acima. Veja que, no período,

agora, de 2003 a 2008, o período mais benigno das últimas três décadas, nós

crescemos 0,8 acima. Nós precisaríamos multiplicar aquele 0,8 por três. En-

tão, é esse o esforço. Poderíamos ter algo no horizonte. A situação se com-

plica se nós desejássemos chegar a 90% do PIB nacional, poderíamos imagi-

nar. Aqui é mais ainda, então nós precisaríamos de um esforço adicional de

três pontos percentuais no PIB per capita.

Então, isso dá um pouco a medida de queremos chegar mesmo onde e

como fazê-lo. Isso aqui deveria, com matrizes de insumo-produto, com coe-

ficientes técnicos, etc., a gente poderia calcular qual a seria a taxa de inves-

timento necessária para manter isso. Isso eu não tenho e não é minha tarefa

aqui, era apenas de problematizar. A gente quer o BNB, quer o BNDES e tudo

o mais, mas a gente quer para que mesmo? Com essas instituições a gente

chega onde? Eu acho que essa poderia ser uma reflexão. Então, não deixo

respostas, eu vou deixar algumas perguntas aqui. Para atingir as metas de

qualquer dos cenários vamos ter que realizar um esforço muito persistente

no tempo e muito elevado em duas décadas, em três décadas, o que quer

que nós definamos que vai ser o horizonte. Então, terá que ser muito elevado,

terá que ser muito maior do que a gente já faz.

Em geral, a teoria econômica, os estudos, eles têm um conjunto de itens,

os ingredientes do crescimento, capital humano, capital físico, instituições,

tecnologia; eu não vou tratar disso ou dizer qual é o mais importante, isso

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507RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

é um debate e todos eles são importantes. Mas, o que eu quero ressaltar é

que na maior parte desses indicadores, de capital humano, de capital físico,

de instituições, de tecnologia, o Nordeste está atrás, nós vamos avançando,

mas estamos atrás, ainda estamos atrás. A foto ainda é ruim, mas o filme

não é; quer dizer, a dinâmica é de melhoras, eu não estou dizendo que não

há melhoras, dizendo que o país não anda, não é isso. Mas, nós continua-

mos atrás.

Como crescer? Aí precisamos da discussão se há consenso sobre o futu-

ro para a região. Existe um pacto federativo que, quando Furtado coloca a

discussão ali nos anos cinquenta, havia sim um pacto federativo regional, a

SUDENE era expressão disso, de governadores que iriam conversar com o

governo central. Então, ali havia um pacto. Hoje nós temos as mesmas ins-

tituições, mas não temos o pacto, elas estão soltas, elas estão meio que no

ar. Essa é uma discussão que a gente precisa juntar, não basta ter as insti-

tuições. Qual é o impedimento que a gente tem para canalizar esforços, etc..

E aqui é uma discussão que eu estou querendo fazer e que não é a mesma

coisa do que foi comentado, da preocupação da empresária, da presidente

do Magazine Luiza: Ah não, nós deveríamos terminar com o social. Não é.

Embora, eu acredito que a gente possa fazer um percurso de transição de

um pacto, que eu estou chamando de “o pacto do bem-estar social”, para

um outro, eu vou dizer porque, mas eles não antagônicos, não é a saída de

um para outro, é um percurso que se alimenta. Aí, eu diria que nós temos

que enfrentar alguns cenários. Então, não está aqui, mas os dados estão

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508 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

comigo. O que eu queria colocar para vocês, vai ser uma pena, porque ver é

interessante.

Quais são os meios para a gente mobilizar o crescimento? No Brasil, a

gente tem, em particular, no caso da política regional, uma mobilização de

recursos públicos. A tradição no Brasil é de que os recursos públicos é que

vão adiante, eles sinalizam, eles estimulam o empreendimento privado, eles

dão forma a isso. Então, no Nordeste em particular, é isso, a política regio-

nal não apenas é de compensação, mas ela dá direção ao sentido do inves-

timento privado, as fontes em geral, por exemplo, do crédito, elas são as

fontes fundamentais que o empresariado conta. O setor privado não realiza

essa função clássica do capitalismo de dar e prover recursos para o setor

privado. Então, nós continuamos com isso e aí, eu vou falar para vocês, ima-

ginemos o seguinte: o BNDES, neste período de 2000 e 2012, ele mobilizou re-

cursos na ordem de um trilhão de reais, em 2000 e 2012, somados ano a ano,

no Brasil; um trilhão, um trilhão e cem milhões, algo assim. Desse conjunto,

cento e dezesseis bilhões foram para o Nordeste, 11%. Eu já tinha feito um

comentário sobre isso, tinha mostrado uns dados na outra discussão aqui,

em março, logo depois do carnaval, e os números são isso. E eu repito, eu

disse: eu não acredito que é discriminação negativa do BNDES, não acredi-

to nisso, o BNDES discriminava o Nordeste, só aplica 11% do conjunto. Pri-

meiro, porque de 2007, 2008 para cá, 2009, essa curva mudou um pouco. Esse

número, 11%, é uma média de 2000 a 2010, quando lá sim estava mais fraco.

Mas, de todo modo, o que eu quero apontar é o seguinte, o sistema empresa-

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509RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

rial no Nordeste não tem escala suficiente para modificar a sua participação

relativa nos recursos tomados no BNDES. Você tem uma grande planta aqui

na região Sul que pega logo um bilhão, cinco bilhões, e fica lá a empresa tal

pegando cinco milhões, cento e cinquenta, o somatório disso que é relevan-

te, eu não estou dizendo que não é, mas a escala dos investimentos é outra.

Então, não é culpa do BNDES. Agora, a política regional tem que fazer modi-

ficar essa escala. Então, é disso que se trata.

A professora Vanessa estava mostrando como ações do FNE, do Banco

do Nordeste, por exemplo, ela já tem um caráter de apoiar regiões e em-

presas pequenas que, aparentemente, é bom e em geral é para a questão

regional. Agora, nós, eu queria lembrar, paramos de pensar; quando a gente

pensava desenvolvimento, que a gente abandonou estudar desenvolvimen-

to, é que desenvolvimento era uma ruptura nas estruturas, era uma modifi-

cação estrutural. E aí a gente fica, pega os recursos e tem que aplicar nos

pequenos, e tem que aplicar sim, mas temos que aplicar simultaneamente a

algumas estruturas muito grandes para mexer o Nordeste. É como um sho-

pping center que precisa de âncoras, ele sempre abre com algumas âncoras

que vão balizar os menores. Então, nós tivemos três casos paradigmáticos

de empresas inovadoras, de gestão, hoje de manhã aqui. Os investimentos

recentes delas talvez não somem um bilhão de reais, a gente viu isso. Elas

são importantes? Muitíssimo importantes, agora a gente precisa, de algum

modo, colocar algum nível de investimento que mexa no PIB do Nordeste.

Algumas plantas industriais, de setores que eu não sei quais são, a gente

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510 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

precisa estudar as cadeias produtivas e tudo o mais, mas é esse o esforço.

Caso contrário, a gente vai ficar naqueles 13% do PIB. Então, a gente tem

que fazer um trabalho combinado entre apoiar pequenos em regiões mais

necessitadas e modificar a estrutura, as grandes estruturas. Não é fácil fa-

zer isso. A própria integração do mercado nacional, ela também pode ser

impeditiva disso.

E aí eu queria falar sobre, então, rapidamente, algo que eu acho importan-

te, a gente tem dado pouca atenção nos anos do momento recente, os gover-

nos estaduais nisso tudo. Os governos estaduais nessa história toda, vocês

vão acreditar em mim, eu trouxe os dados, infelizmente eu acho que coloquei

a versão errada aí. Investimento público estadual, dos governos estaduais,

como proporção do PIB, entre 2000 e 2005, a primeira parte da década passa-

da, foi de cerca de 1,6% do PIB do Nordeste. O somatório dos investimentos

públicos dos governos estaduais, dos nove estados do Nordeste, foi equiva-

lente numa média atual de 1,6% do PIB. Na metade da década seguinte, quer

dizer, 2006 a 2011, que é um período de crescimento do Brasil, de ampliação

de fontes de crédito e etc., o investimento público estadual quase ficou em

1,5, era 1,6, ficou em 1,5, eu estou falando de médias. Para o Brasil como um

todo, esses números são mais fracos, de 2000 a 2005 o conjunto dos estados

brasileiros, dos governos estaduais, tiveram como investimento 0,8 do PIB

nacional. De 2006 a 2011 subiu um pouco para 0,9. E em termos de recursos,

isso dá quanto? No caso do Nordeste, de 2000 a 2005, algo como se 3,3 bi-

lhões pudessem ser repartidos entre nove estados a cada ano; então, vocês

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511RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

façam a conta, dá um pouquinho aqui para cada. E o que eu quero retratar,

é com isso que os estados contam para fazer uma série de tarefas funda-

mentais. E no período mais, de 2006 a 2011, a média é de 6,6 bilhões. Então,

os estados no Nordeste contam com uma média de 6,6 bilhões, no total, de

investimento estadual para montagem de infraestruturas para atrair em-

presas, por exemplo, para fazer escolas, escolas técnicas e várias outras

coisas. É como se tivéssemos setecentos milhões para cada estado, algo

assim a cada ano. É muito pouco. Os recursos do FNE não contam para isso,

são operações para empresas. Os recursos do BNDES também não é para

isso. Então, nós temos uma estrutura de crédito importante, que está sendo

contida porque governos estaduais não podem montar infraestruturas para

atrair capital privado. Esse é um nó que a gente precisa resolver.

O federalismo brasileiro fez uma coisa muito interessante nos últimos

anos, principalmente nos anos 90, que foi chamar os governadores e dizer:

“olha, não dá para gerir contas estaduais do jeito que vocês sempre fizeram,

vamos ser sérios agora”. Então, aquela lei de responsabilidade fiscal é um

ativo da sociedade brasileira que precisa ser mantido. Agora, ele precisa ser

mantido em novas condições, então a gente precisa garantir que a gestão da

coisa pública continue séria, mas é preciso que a gente faça um novo pac-

to que permita que os governos estaduais tenham, eles próprios, também,

alguma capacidade de investimento. O endividamento público, o endivida-

mento dos governos estaduais junto ao governo federal ainda continua sen-

do um gargalo grande. A principal fonte de arrecadamento dos governos es-

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512 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

taduais, mesmo no período mais recente, quer dizer, de 2008, 2009, quando a

economia brasileira cresce, essa é uma fonte que não cresce. Quando você

olha ao ICMS como conjunto da arrecadação total nos estados, ele fica em

7% do PIB e não varia ao longo dos anos 2000; 7,1, 7,15, 7,20, é assim. O que

significa dizer que o crescimento da economia não está se transformando

em ampliação das receitas próprias nos estados, tem algo que desconectou-

-se aí. Entre outras coisas, pode ser incentivos fiscais. E a gente vai precisar

revisar várias coisas.

Então, é disso que eu gostaria de finalmente concluir. Nós temos in-

fraestrutura deficiente que impede maior captação de recursos, o crédito

ao investimento público se destina mais ao barateamento do capital pri-

vado e menos à construção de potenciais competitivos dinâmicos. Então,

o que quer que uma política regional venha a ser, ela também não pode ser

mais aquela concebida nos anos 60, 70 e 80, ela tem que ser outra. Inclusive,

porque temos fontes de capital externas que, eventualmente, podem entrar

nessa coisa. O mundo mudou, então o capital externo, essas empresas po-

dem diretamente, num arranjo aí, captar e os recursos públicos poderiam ir

para outras coisas, para criar infraestruturas. Então, é o momento de pen-

sar. Continuar apostando aqui está se tornando contraproducente e, mais, o

pacto federativo brasileiro não gosta mais dessa equação. Quer dizer, polí-

tica regional, os instrumentos clássicos da política regional se deterioraram

porque se de um lado foram baseados no crédito ao investimento privado, o

retorno sobre as condições sociais no Nordeste foram muito baixas, porque

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513RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

agora a política social é que está fazendo esse trabalho, então tem uma cri-

se de credibilidade da política regional, que é preciso ser resgatada, mas de

outro modo, não é só com mais dos mesmos instrumentos, tem que ser com

outros instrumentos.

Bom, eu paro aqui e quero novamente dizer que temos muitos instrumen-

tos a serem mobilizados para a questão regional, os números dos bancos, por

exemplo, estão na sua melhor fase nos últimos vinte anos, quer dizer, há crédito

aí, falta a gente acionar alguns outros. Eu diria que tem um elemento chave do

federalismo brasileiro, governos estaduais, eles, depois de serem bastante re-

primidos por práticas oligárquicas e etc., eles estão enquadrados, já fazem boa

gestão, mas a contribuição possível foi contida. É preciso olhar melhor, olhar

com atenção esse novo federalismo, a construção de um novo federalismo,

que a gente possa acionar os governos estaduais, porque é lá que as infraes-

truturas, quando o BNDES precisa colocar, financiar investimentos privados,

os empreendedores estão sempre procurando infraestruturas. No caso de Per-

nambuco, em particular, a gente sabe, a FIAT está demandando uma infraes-

trutura enorme de transportes e de um arco metropolitano para a produção

chegar à Suape; o governo do estado não pode, isso é um caso, mas se repete

nos outros, em Alagoas, na Paraíba, os governos estaduais estão estrangula-

dos. É preciso olhar agora com mais cuidado para isso. Muito obrigado.”

Rosa Furtado: “Obrigada Aristides, passo a palavra ao professor Ricardo

Ismael, que é cientista político, fez mestrado e doutorado no IUPERJ, no

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514 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

Rio de Janeiro, Ricardo é professor assistente na PUC, também no Rio, do

Departamento de Ciências Sociais e também com funções na graduação,

programas de pós-graduação, fazer o nosso pequeno comercial, Ricardo é

diretor do Centro Celso Furtado e é também editor da publicação do Cen-

tro Cadernos do Desenvolvimento, que já está preparando o seu décimo se-

gundo número. Ricardo, você com a palavra, vinte e cinco minutos mais ou

menos para depois a gente passar a palavra para a Valdênia, e depois todo

mundo liberado para ir almoçar. Obrigada.”

Ricardo Ismael: “Boa tarde. Espero despertar a atenção de vocês, já está

todo mundo um pouco cansado, várias intervenções, ótimas intervenções

e, certamente, já se aproxima a hora do almoço. Mas, eu queria inicialmente

fazer um registro aqui a esse movimento Integra Brasil, à Nicolle pelo CIC,

ao Firmo de Castro, ao Cláudio Ferreira Lima. Eu participei já da etapa inicial

em Fortaleza e, também, quero fazer aqui o registro à Helena Lastres que,

certamente, aqui no BNDES tem já trazido, não apenas agora acolheu essa

reunião do Integra Brasil, mas anteriormente eu também tive a oportunidade

de ser convidado, abriu um debate sobre o Nordeste. Enfim, seja o movimen-

to Integra Brasil e o CIC, seja o BNDES, o Nordeste está chamando atenção,

despertando atenção de vocês.

Lamentavelmente, isso não acontece na vida acadêmica aqui do Sudes-

te. Eu terminei, não vou repetir a palestra que eu fiz em Fortaleza, vou tentar

ir por um outro caminho, tentar me colocar aqui no lugar de um professor

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515RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

da PUC do Rio, que está há vinte e um anos aqui residente no Rio de Janeiro

e que frequenta a Associação Brasileira de Ciência Política, a Associação

Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, a Anpocs, ou

seja, que circula bastante, principalmente num eixo Rio-São Paulo e Minas

e, atualmente, está fazendo pós-doutorado na USP.

Portanto, eu queria primeiro chamar atenção de que na agenda acadêmi-

ca daqui da região Sudeste, o Nordeste não é um problema nacional. A seca

não é um problema nacional. As desigualdades regionais não são um proble-

ma nacional. A falta de solidariedade nacional em relação ao Nordeste não

é um problema. Essa é a primeira questão, central; quer dizer, se me pedem

para me colocar aqui um chapéu de um pesquisador professor localizado na

região Sudeste, eu devo dizer, inicialmente, portanto, que falta na agenda

acadêmica da região Sudeste uma maior atenção à essa questão Nordeste.

Ou seja, de uma certa forma, isso está um pouco de lado.

Eu cheguei aqui em 92 e, na época, me passaram uma tese de doutora-

do, uma excelente tese de doutorado do antigo IUPERJ, que se chamava “O

mito da necessidade – discurso e prática do regionalismo nordestino”, que

era uma tese que tentava, inclusive fazendo entrevistas com deputados do

Nordeste, mostrar que o Nordeste sempre se colocava nessa condição do

“Nordeste pidão”, quer dizer, com o discurso sempre das elites políticas re-

gionais, elites políticas essas ditas como predatórias, que tentavam sempre

estabelecer o discurso, em relação ao governo federal, para capturar recur-

sos, mas para que se apropriasse a si própria e se reproduzir. Ao chegar

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516 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

aqui no Rio e me deparar com uma tese de doutorado, trezentas e tantas

páginas que reafirmava esse regionalismo oligárquico, esse regionalismo

predatório, eu terminei escrevendo um trabalho, que foi defendido em 2001

e publicado em 2005, pela Editora Massangana lá de Recife, da Fundação

Joaquim Nabuco, que tentava mostrar que esse regionalismo oligárquico

existia, mas que existia também o que eu chamava de um regionalismo in-

sulado, que é o regionalismo praticado pelas instituições, principalmente se

tomarmos como referência a SUDENE, ali do Celso Furtado, e outras ins-

tituições como o Banco do Nordeste e CHESF. Existia, sim, uma dimensão

republicana, uma dimensão racional da intervenção do estado no Nordeste;

quer dizer, não eram só as oligarquias que estavam presentes no Nordeste,

existia um contraponto. Isso certamente é conhecido por quem ainda hoje

trabalha pós-graduação do Nordeste, quem trabalha nas instituições regio-

nais. E dizendo aqui também, um breve parêntese, eu trabalhei oito anos na

CHESF, portanto conhecia bem as instituições regionais, não ia comprar o

discurso de que toda instituição regional sediada no Nordeste, necessaria-

mente praticava esse regionalismo oligárquico.

Ao longo desse tempo, e sendo rápido para chegar ao que nos interes-

sa, eu vou, como eu disse, transitando dentro da área de ciências sociais e

percebo o seguinte: com relação a esse tema, Nordeste, questão regional,

escolas regionais, quem realmente ainda se dedica a refletir sobre ele é a

ciência política. Isso não tem grande espaço na antropologia, tampouco na

sociologia, aliás é bom que se diga aqui, casos recentes, de três, quatro anos

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517RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

atrás, a sociologia deletou o debate sobre desenvolvimento, isso eu estou

falando a nível da sociedade brasileira de sociologia; quer dizer, não tem

grande espaço esse debate, para não dizer nenhum. Na verdade, você vai

encontrar alguma coisa para um debate sobre desenvolvimento e alguma

coisa para essa dimensão institucional relativa à intervenção do estado no

Nordeste na ciência política. Mas, como eu falei, ainda muito tímido.

A semana passada eu estava na USP, em São Paulo, dentro de um grupo

de pesquisa da professora Marta Arretche, que é a minha orientadora que

trabalha com federalismo, e quatro orientandos dela, lá do doutorado, pós-

-doutorado, estavam apresentando um trabalho. Um dos rapazes apresentou

um trabalho muito interessante, inclusive apresentando fora do Brasil, que

era tentar trabalhar com essa ideia de que o Brasil, num período recente,

conseguiu ter crescimento econômico e redução da desigualdade; esse era

o paper dele. E ele falou, falou, um paper bem escrito, foi apresentado lá fora,

e aí eu cheguei para ele no final e fiz o seguinte comentário: de fato, se você

pegar, houve uma redução da desigualdade de renda, o Brasil hoje já em 2010,

segundo o GINI, segundo o IBGE, está com um GINI de 0,50. É claro que, no

caso, quando você desagrega por estado, o Piauí é 0,55, Brasília 0,58, portanto

é bom ter cuidado com essa questão, houve uma queda da desigualdade de

renda, mas a desigualdade era muito alta. Mas, isso, certamente, eu disse: não

é problema do teu paper, eu acho que foi o problema do teu paper é porque

você ignora as desigualdades regionais, você escreve trinta, quarenta páginas

e não toca nas desigualdades regionais. Porque quando você pega o dado de

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518 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

2010, você percebe que ainda está lá presente um dado que eu venho acompa-

nhando há muito tempo, é de que no Brasil trezentos e nove municípios geram

75% do PIB nacional. Portanto, a gente, apesar de tudo que aconteceu na dé-

cada passada, de positivo, a gente ainda tem uma concentração de passo aí

da economia brutal. Trezentos e nove municípios geram 75% do PIB nacional.

Pela racionalidade econômica, eu tenho que morar nesse município, eu não

escolho o lugar onde eu nasci, mas eu posso escolher o lugar onde eu vou vi-

ver, tem que ser nesse daí. É Recife, é Rio de Janeiro, é Petrolina, é Caruaru, é

Macaé, enfim, tem que ser um desses trezentos e nove. E aí eu perguntei a ele,

e ele chegou e me respondeu: professor, o senhor tem razão. Na cozinha, na

hora da preparação do paper, a gente debateu essa questão de desigualdades

regionais e percebeu, de fato, que elas não melhoraram quase nada no Brasil,

na década passada. Mas, resolvemos deixar de fora do paper, não fazer esse

registro, nem uma menção, nem uma linha.

Eu diria que isso é um resumo, ou seja, vários autores na minha área sa-

bem já e, inclusive, fazem registro, professora Marta Arretche, professora

Selene Souza, professor Fernando Abrucio, fazem referência de que o Brasil

entrou no século XXI, já estamos na segunda década e ainda tem uma desi-

gualdade regional muito grande, muito elevada, e que isso é um problema.

Só que, como eu disse, o trabalho deles não tem como eixo central essa

discussão, isso é lateral, isso aparece de forma lateral.

Então, para resumir, eu diria que existe a sensibilidade em relação à essa

questão, existe até preocupação de alguns autores, a Selene de Souza que é

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519RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

uma grande professora da Universidade Federal da Bahia, mas, certamente,

vive com um pé aqui na região Sudeste, é muito sensível a colocar isso como

um dos principais problemas brasileiros, é de que ele não conseguiu resolver

essa questão das desigualdades regionais.

A questão que me cabe tentar, no tempo que eu tenho, de falar um pouco,

é por que então esse ponto sai da agenda, por que esse ponto não está pre-

sente na agenda? Falando da região Sudeste. No Nordeste, quando eu pego o

avião vou para Recife, vou para Fortaleza, ele está o tempo todo lá presente,

mas eu estou falando aqui do Rio, estamos falando de São Paulo, estamos

falando de Brasília. Aí tem algumas hipóteses, que eu vou tentar aqui rapi-

damente chamar atenção. Por que é que, como eu falei logo no início, esse

tema das desigualdades regionais ou o Nordeste como um problema, sai da

agenda ou fica um pouco de lado. Em primeiro lugar, isso está na minha tese

de doutorado, há uma questão também, que eu passo para a plateia, que

está lá na tese muito mais desenvolvido, o Nordeste, existe Nordeste? Ou

seja, se você pega o Maranhão, ele é muito diferente da Bahia. Os interesses

econômicos, a geografia, fazem com que esses estados não cooperem. A

cooperação entre esses estados não é espontânea, não é natural, ela é cons-

truída; aliás, um belo depoimento do Celso afirmando isso. Quer dizer, na

verdade, a SUDENE tinha um papel de tentar estabelecer essa articulação.

O Maranhão não tem Semiárido. A Bahia, muitas vezes a economia baiana

é muito mais integrada à região Sudeste do que ao Nordeste, e por aí vai.

Então, quando eu tive fazendo essa pesquisa, eu perguntei lá no Nordeste

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520 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

a três elites políticas qual era o modelo de desenvolvimento regional. Arrais

era a SUDENE, que estava muito, na época, ainda lutando pela revitalização

da SUDENE. Para o pessoal do Ceará, era o Banco do Nordeste. Quando

eu perguntei para o senador Waldeck Ornelas, que era certamente um dos

principais responsáveis pelo, no grupo do Antônio Carlos, por essa reflexão,

ele disse: nem a SUDENE, nem o Banco do Nordeste, a gente quer o BNDES.

Hoje, eu estava conversando aqui com o presidente do Instituto Miguel

Calmon e ele estava me dizendo isso, o Banco do Nordeste não tem esca-

la para amparar esse desenvolvimento agora dentro do Nordeste. A escala

quem tem é o BNDES. Isso foi 95, 97.

Os baianos tinham razão. Mas isso mostrava que, portanto, as três prin-

cipais elites políticas do Nordeste não se entendiam, elas nem conversa-

vam nem se entendiam sobre qual deveria ser o modelo de desenvolvimen-

to regional. Isso também faz com que, como Bahia, Pernambuco e Ceará

não têm uma proposta comum para conversar com o Congresso Nacio-

nal, com o governo federal, isso também favorece um pouco a saída desse

tema da agenda pública nacional. Eu não vou nem entrar aqui na questão

da guerra fiscal.

Outra questão também é a questão da fragmentação municipal. Na ver-

dade, o Brasil criou, entre 84 e 97, mil e quatrocentos municípios e agora

quer criar mais trezentos. Para essas elites políticas locais, que querem pe-

gar um município pobre e criar mais outro, em vez de melhorar a eficiência,

a gestão, devia tentar, enfim, ir para outra etapa para, inclusive, contribuir

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521RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

para a redução dos que estão amparados pelo bolsa-família, isso não é dis-

cutido pela elite política em várias localidades. Quer dizer, o que eu quero

dizer é o seguinte, a fragmentação municipal atua também como um vetor

de que, na verdade, a solução do problema passa por dividir o município,

passa por dar mais atenção ao distrito. Eu não vou me prolongar mais, esse

é um ponto que merecia mais tempo, mas eu acho que é importante fazer

esse registro. Quer dizer, fragmentar, colocar toda a energia nisso, evita que

você discuta as questões de por que a política social não funciona, por que

a economia não funciona.

Mas, vamos para outro ponto que eu acho que é fundamental e esse pon-

to eu acho que merece ser sublinhado. O então ministro do planejamento do

governo Fernando Henrique esteve na SUDENE, está lá registrado na ata da

reunião da SUDENE, e disse que era preciso mudar um pouco este debate

da produção de políticas públicas no Brasil. Sair de região problema para

questão problema; isso está escrito. A rigor, a partir do governo Fernando

Henrique em diante, isso passou a ser o foco central das políticas públicas

no Brasil. Eu não vou tratar mais de região problema, do Nordeste proble-

ma, vou tratar das questões problemas: pobreza, saúde, educação. E aí você

tem o esvaziamento da política regional; ou seja, não há uma política para

tornar o Nordeste mais competitivo, porque, se assim fosse, aí você tem que

trabalhar na infraestrutura, trabalhar a inovação tecnológica, trabalhar em

escola técnica, trabalhar na qualificação da mão de obra. Para essa visão, o

Nordeste está muito bem.

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522 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

O Nordeste se beneficiou com o programa bolsa-família, se beneficiou

com a aposentadoria rural, se beneficia com o aumento do salário mínimo,

portanto teve aumento de renda e de consumo.

O Nordeste está bem. Certamente, o programa bolsa-família, eu sou um

defensor do programa bolsa-família, mas eu estou dizendo, ele é criado, ele

tem como objetivo fazer com que aquelas famílias deixem seus filhos na

escola e você possa tentar quebrar esse ciclo maldito da pobreza, que teve

uma reprodução inter direcional de uma escolaridade baixa. Mas, a questão

de gerar emprego, o Brasil tem hoje treze milhões, abril de 2013, treze mi-

lhões e setecentas mil famílias com algum benefício no programa bolsa-fa-

mília, 50% delas mora no Nordeste.

O programa bolsa-família junto com o programa de aposentadoria rural,

portanto, um deles, a aposentadoria rural, dá renda para os idosos e o pro-

grama bolsa-família dá renda para a mulher, ajudou e muito a dinamizar a

economia de várias localidades e, certamente, setor de serviços e comércio.

Mas, a questão é: isso é suficiente para que a gente consiga criar emprego

de qualidade? Não. Isso é suficiente para que a gente possa conseguir ter

uma participação maior no PIB nacional? Não. Isso tem que ser dito, porque

senão passa a ser um fim de si mesmo o programa bolsa-família. E aí, eu

compartilho de uma, a palavra é essa, de uma certa indignação do Chico

Oliveira, o velho Chico Oliveira, não foi para isso que a SUDENE foi criada. A

SUDENE não foi criada para isso, a SUDENE foi criada para gerar emprego,

para que o processo de autonomia social se passe pela carteira de trabalho,

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523RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

se passe pela capacidade de ter uma renda e não dependa de uma renda

do estado ou do governante que está lá de plantão. Esse não é o projeto. O

projeto é esse, não vamos apagar agora a história, o projeto era esse. O bol-

sa-família é o meio, mas não pode ser o fim de si mesmo.

E, finalmente, um outro aspecto também, vocês sabem, isso, portanto,

era inevitável, o Aspásio Camargo que levantou esse ponto e eu achei in-

teressante. O Brasil passou a fazer um esforço enorme para se integrar à

economia internacional, ao comércio internacional.

Esforço muito maior para tentar integrar as economias estaduais ou re-

gionais. Isso faz parte de um processo histórico. Em certo momento, a glo-

balização aconteceu, o Brasil fez a abertura comercial, era preciso que o

Brasil se tornasse competitivo para ocupar espaço no comércio internacio-

nal. Mas, esse esforço, esse enorme esforço que o Brasil tem feito e conti-

nua fazendo, potencializa a ação do Ministério de Relações Exteriores e en-

fraquece, ou pelo menos diminui, comparativamente o papel do Ministério

da Integração Nacional. Nada contra o Ministério da Integração Nacional,

mas ele tem pouca bala na agulha e tem pouco poder dentro do processo

histórico nacional. Quer dizer, a rigor, a agenda muda e, portanto, era como

se dissesse: não, vamos primeiro se integrar ao comércio internacional e de-

pois a gente vai ver como é que resolve o problema da integração nacional.

Esse momento ainda não chegou. Isso não está na pauta.

O que eu queria, para tentar concluir, é dizer o seguinte: acho que, e aí

eu vou retomar o relatório de Beni Veras, que fez um belíssimo relatório na

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524 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

comissão mista do Congresso Nacional em 1992, o Nordeste precisa de um

IPEA regional. Eu não sei se o IPEA dá conta dessa tarefa, o meu amigo

Aristides está presente, mas o Nordeste precisa de um IPEA regional. Era

fundamental que se tivesse; evidentemente que você tem hoje o programa

de pós-graduação no Nordeste, você tem as secretarias de planejamento

de alguns estados que são muito dinâmicas, mas era interessante sim que

tivesse um IPEA regional. Porque quem tem que pensar o Nordeste é o pró-

prio Nordeste.

O diagnóstico sobre o que é necessário para o Nordeste não vai vir da

região Sudeste, não vai vir dos programas de pós-graduação da região Su-

deste. Porque eles estão pensando em si próprios, o que é natural. Eviden-

temente, fazendo aqui a ressalva, Minas Gerais, como Minas Gerais está a

metade no Sudeste e metade no Nordeste, muitas vezes você encontra lá

centros de estudo, como o Cedeplar e outros, que são e evidentemente que

pensam no desenvolvimento regional. Mas, eu estou dizendo, como vocação

própria, Rio e São Paulo pensam Rio e São Paulo. Portanto, é importante a

questão de um IPEA regional, isso era proposta do Beni Veras.

É importante aqui, eu não vou falar porque os que me antecederam já

falaram, a questão do financiamento do desenvolvimento do Nordeste. Por-

tanto, Banco do Nordeste, BNDES, Banco do Brasil, é importante é ter essa

questão equalizada. E é preciso ter um fórum de articulação política. Isso,

certamente, o Firmo de Castro, a gente vem conversando um pouco sobre

isso; quer dizer, o BNB é um banco, a SUDENE esvaziada não consegue

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525RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

atrair mais, então era preciso ter aí alguma coisa que houvesse um fórum

onde esses governadores pudessem conversar e, eu não sou muito otimista,

que pudessem pelo menos decidir dois ou três pontos, para tentar incluir

na pauta nacional, para tentar incluir num debate no congresso ou junto ao

governo federal. Mas, eu acho e aí eu encerro, essa articulação não pode ser

de cima para baixo; ou seja, o governo federal impõe que os governadores

participem, ela não pode ser uma coisa na base do, vamos dizer assim, eu

vou para marcar para bater uma foto, não.

A pergunta é: os governos estaduais do Nordeste querem participar dis-

to? Acham que é interessante para o seu projeto de desenvolvimento nos

próximos dez, vinte anos? Ter algum tipo de articulação regional que possa,

como eu disse, influenciar a agenda nacional. Porque se isso não for possí-

vel, ou seja, se essa questão não é um questão importante para esses go-

vernadores, isso não vai sair. Achar que vai sair, não vai. Agora, eu acho que

a questão, novamente, desse tripé, financiamento, um centro de estudos,

falei do nome IPEA regional, e de um fórum de articulação política, essa era

a essência da proposta do Beni Veras. E com ele aqui eu rendo essa home-

nagem a esse grande senador da república, que certamente teve influência

do Celso Furtado e de todos aqueles que sabem que é importante pensar

o Nordeste, porque a questão do Nordeste, pelas características que ele

apresenta, quer dizer, essa região, e a gente está vendo agora essa questão

da seca, de uma certa maneira, esse é um país que não se modernizou; ou

melhor, se modernizou dentro de um processo de dualidade muito grande.

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526 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

A diferença entre o moderno e o atraso do Nordeste é muito grande ainda.

De forma, que tornar esse ponto um ponto importante da agenda brasileira,

que a gente não discute isso de forma episódica, mas que isso possa ter uma

continuidade, seja a nível de estudos, seja a nível de articulação política e

seja a nível de financiamento, é fundamental. Muito obrigado.”

Rosa Furtado: “Muito obrigada, Ricardo. Eu passo a palavra para fazer a

relatoria.

Valdênia Apolinário: “Bom dia a todos e todas. Difícil tarefa porque as expo-

sições foram maravilhosas, riquíssimas, mas não posso deixar de começar

minha fala rápida, um minuto foi a fala do Paulo, eu não sei se conseguirei,

mas como a gente tem quinze dias para fazer o relatório, eu estou me ape-

gando a essa possibilidade. Então, falas riquíssimas, eu gostaria de agra-

decer pela oportunidade e parabenizar pela iniciativa dos empresários do

Ceará em tomar o seu próprio rumo, como iniciar essa discussão e vir até

essa casa. Eu penso que é local certo e hora mais que certa.

Muitas questões eu gostaria de colocar, mas, obviamente, não é possível.

Primeiro, acho que um ponto inicial da fala da professora Vanessa Petrelli

nos faz lembrar ainda da discussão do desenvolvimento regional dos anos

60, que é absolutamente indispensável o protagonismo do estado, eu acho

que é o grande chamamento. Por que estou dizendo isso? Porque nos anos

80, ainda anos 90, tudo isso foi refletido, foi pensado o contrário, que o es-

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527RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

tado não deveria ter mais essa participação tão incisiva na perspectiva de

redução de desigualdades, em conduzir o desenvolvimento, não ter uma par-

ticipação ativa. E como estamos em fase de bastante crítica a situação do

Brasil nesse momento, pode ser que haja um retorno desse afastamento, de

que o estado que deve, obviamente, não sozinho, seguramente com a parti-

cipação da iniciativa privada, mas nunca sem o estado.

O que significa dizer que a união, os estados nacionais, os governos es-

taduais, eles devem estar empoderados nas suas funções, nas suas condi-

ções, de pensar o desenvolvimento do seu estado e da sua região. Então, eu

penso que a fala da professora Vanessa Petrelli, iniciei exatamente com essa

discussão. Mas, se se quer discutir o protagonismo do estado na condução

do desenvolvimento ou estimulador, orientador, do desenvolvimento, inclu-

sive, privado, é preciso refletir sobre os instrumentos. E a professora traz

exatamente isso para a gente; que instrumentos estão sendo usados e real-

mente os instrumentos estão gerando menor desigualdade, estão reduzindo

as desigualdades? Se isso vale para o financiamento, certamente vai valer

também para os conceitos que estão por trás das opções escolhidas para

o financiamento. Então, é preciso também refletir sobre isso, se os instru-

mentos não estão reforçando os mais fortes, algumas atividades, as regiões

metropolitanas, e é preciso também pensar para além do PIB, para além dos

que conformam ou se projetam na formação do PIB. Pensar, também, nos

que não são exportadores, nos que não estão conseguindo passar nos rigo-

res do sistema financeiro e combinar, com isso, também, me parece essa

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528 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

a ocasião, de um estímulo ao financiamento, estímulo através de diversas

formas, mas na promoção desses territórios também, para que o desenvol-

vimento apareça incluindo aspectos do desenvolvimento das oportunidades

empresarias, mas também aspectos do território como escolas, hospitais,

saúde. Que a presença do estado nessa condução possa protagonizar esses

territórios, e não apenas não exclusivamente alguns portes de empresas,

alguns tipos de setores.

No meu estado, por exemplo, o Rio Grande do Norte, estado que eu vivo

e trabalho, não sou de lá, sou paraibana com muito orgulho, mas temos pro-

blemas seríssimos; vou mencionar um setor: a produção de melão, já citada

e adorei as apresentações anteriores, mas por falta da presença muitas ve-

zes do estado no entorno das atividades, algumas fazendas sofrem para po-

der escoar sua produção até o asfalto mais próximo, porque esse percurso

e muitos outros não há escolas próximas, enfim, é preciso, então, qualificar

melhor essa presença do estado sob pena de gerarmos mais desigualdades.

Da fala subsequente, do Aristides, eu destacaria a preocupação, muito

oportuna, de que oNordeste cresce, de que os indicadores melhoraram, ob-

viamente a taxas ainda inferiores do que a média nacional, isso vale para

educação, saneamento, taxa de mortalidade infantil, etc., mas continuamos

no último vagão. E aí eu acho que as falas se complementam. Otimizar os

instrumentos; os instrumentos podem estar gerando desigualdades, se vale

para o crédito, como falou a professora, vale para o acesso à tecnologia,

para cooperação dessas empresas com as uf’s, que ainda se faz bastan-

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529RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

te embrionária muitas vezes, no Nordeste; por exemplo, se a PETROBRÁS

consegue chegar nas universidades, muitos empresários não conseguem

chegar nas universidades, acessar às universidades.

Se a Agrícola Famosa consegue fazer P&D, muitas outras empresas não

conseguem fazer, e aí há a necessidade da presença da EMBRAPA, da EMA-

TER fortalecida. Nós temos escritórios da EMATER sem energia elétrica,

então não parece ser essa estrutura de apoio que Aristides menciona, que

há vários organismos e ele coloca o problema na coordenação, ela também

precisa ser empoderada, ela precisa ser fortalecida sob pena da atuação

desses instrumentos de transferência e tecnologia, apoio ao pequeno pro-

dutor, apoio ao médio produtor, não poder ser concretizada.

O professor Ricardo Ismael, me apressando aqui já oprimida pelo tempo,

mas eu terei quinze dias para elaborar o relatório, chama atenção para algo

que julgo também fundamental dentre todas as outras questões já faladas:

a forma elitista com que a academia vê a discussão do desenvolvimento,

sobretudo o desenvolvimento regional. E eu diria, professor, para o nosso

descontentamento, isso não é só uma percepção do Sudeste em relação ao

Nordeste. Muitas vezes a gente visualiza isso dentro das próprias universi-

dades do Nordeste; um certo incômodo, talvez o incômodo também de algu-

mas classes no Brasil que, quando chega num avião, também se incomodam

com a presença daqueles que conseguiram ascender hoje e andar de avião,

comprar uma moto, um carro, aquele mesmo descaso. Isso acontece ainda

infelizmente, mesmo nas universidades do Nordeste.

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530 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

Então, eu penso que isso também pode ser revertido, não apenas tra-

balhando a autovalorização do Nordeste, que em alguns casos é bastante

elevada, sobretudo dos pernambucanos, aqui representados pelo professor

Paulo, tudo começa em Pernambuco, o mundo começou lá, mas, enfim, mas

Campina Grande tem o maior São João do mundo e não é Caruaru.

Eu penso que, além de trabalhar essa autoestima das nossas universida-

des e fazê-las, conduzi-las a pensar o desenvolvimento do Nordeste. Eu acho

que o sistema de pontuação e de estímulo à reflexão sobre o Nordeste, no

caso das universidades, ainda é insuficiente.

Então, eu penso que um IPEA, não somente regional, mas um IPEA es-

tadual para pensar esse desenvolvimento, porque as secretarias de estado,

quem pensa, quem constrói informações sobre o estado, dentro das secre-

tarias, por uma série de fatores essas secretarias foram sucateadas, o pes-

soal de carreira também, em alguns momentos, desvalorizados, saíram, na

alternância de governos não houve continuidade de políticas, então, por isso,

a necessidade de instrumentos mais permanentes, e aí um IPEA estadual

ou regional, como for possível, mas penso ser fundamental, além de bolsas,

sistemas de pontuação. O sistema de pontuação dentro das universidades

ele pune, por exemplo, pune todos os professores que estão presentes nessa

sala nesse momento. Nós, praticamente, não somos pontuados pelas inú-

meras presenças que fazemos nas pesquisas do BNDES, essa publicação

de livro que o professor carrega em mãos também não tem pontuação quase

que nenhuma, enfim, assim fica difícil pensarmos. Então, as pós-graduações

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531RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

muitas vezes não são estimuladas a fazê-lo, enfim. Então, eu penso que a

criação e permanência desses grupos de pesquisa, estímulos com bolsas,

etc., daria mais maturidades reflexiva, inclusive, mais propositiva, porque é

um dos problemas das academias é não propor isso, enfim, tomar esses ato-

res, organismos de financiamento, de educação, de treinamento, etc., serem

sujeitos, efetivamente, das respostas que precisam ser dadas ao Nordeste.

Anordeste; eu não vou responder isso, mas penso que algumas persistên-

cias ainda são muito comuns no Nordeste, como defasagem de C&T, inova-

ção, infraestrutura, baixo investimento privado, baixa cooperação, então eu

acho que isso são persistências, não quero entrar na discussão se é Nordes-

te ou não, e essas persistências são oportunidades. E, certamente, se todos

esses problemas forem junto, obviamente, com a questão social, eu penso

que é possível conciliar tanto o pacto social, quanto o pacto infraestrutu-

ral, quanto a resolução dessas persistências. E, certamente, se todas essas

questões forem resolvidas nós teremos um Brasil melhor, um Brasil e um

Nordeste ainda maior e melhor para todos nós. E essa é uma construção co-

letiva, eu penso que esse é o fundamento desse seminário. Muito obrigada.”

Ana Furtado: “Muito obrigada, Valdênia. Acho que o IPEA deve ser em Cam-

pina Grande. Ela foi, um IPEA regional, estadual, ela só faltou dizer munici-

pal, Campina Grande.

Antônio Carlos Tovar é chefe do Departamento de Energias Alternativas

da área de infraestrutura aqui do banco.

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532 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

Antônio Carlos Tovar: “Eu queria, basicamente, mais uma reflexão rápida, eu

acho que a discussão foi bastante rica e eu, como engenheiro, os assuntos

aqui são mais relacionados a economia e às ciências sociais, eu acho que a im-

portância de colocar nessa reflexão, quer dizer, o investimento em infraestru-

tura. Porque nós estamos passando por um ciclo, quer dizer, em um Nordeste

que vivenciou esse crescimento vertiginoso em investimentos produtivos, ba-

sicamente, hoje, quase que um terço de todo o investimento no país é infor-

mação bruta de capital fixo, tem um enfoque bastante grande em siderurgia,

papel celulose, novos estaleiros, Suape, então tem um ciclo de investimento

produtivo no Nordeste e nós não podemos nos esquecer da importância da

infraestrutura para que o Nordeste ganhe produtividade crescente e compe-

titividade. E o investimento em infraestrutura, o investimento em logística,

é vital para que esse produto dessas novas plantas industriais cheguem ao

porto, cheguem ao mercado externo, de uma forma mais competitiva, redu-

zindo esse custo logístico que hoje é um dos grandes entraves também para

reduzir a competitividade do país e, obviamente, quer dizer, atrair o capital pri-

vado para realização desses investimentos no Nordeste. Então, a importância

desses investimentos estruturantes em logísticas, basicamente, transporte

ferroviário e os terminais portuários, que é justamente o multimodal, é funda-

mental que esses investimentos sejam priorizados, principalmente, na região

Nordeste, que é uma região mais carente desses investimentos em infraes-

trutura. Essa é a principal reflexão que eu gostaria de trazer para os senhores

e agradecer a presença de todos. Muito obrigado.”

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Mesa III: Oportunidades e Desafios para o Nordeste - Visão Governamental

Moderador

Cláudio LealSuperintendente de Planejamento do BNDES

Coordenação

Marcelo FernandesChefe do Departamento de Gestão Pública do BNDES

Palestrantes

Sérgio de CastroSecretário Nacional de Políticas Regionais do Ministério da Integração Nacional - MI

Sergio MachadoPresidente da TRANSPETRO

Leandro Freitas CoutoDiretor substituto da Secretaria Nacional de Planejamento e Investimento Estratégicos do Ministério do Planejamento

Relator

Paulo CavalcantiProfessor UFPB

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535RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

MESA III

OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA O NORDESTE - VISÃO GOVERNAMENTAL

Palavra do Chefe do Departamento de Gestão Pública do BNDES | Mar-

celo Fernandes

“Boa tarde a todos, vamos dar início aqui ao terceiro módulo no nosso

workshop, “O Futuro do Nordeste Visto de Fora”.

Após as duas primeiras apresentações, “a visão empresarial” e “a visão

acadêmica”, nós daremos início à apresentação do ponto do de vista da vi-

são governamental. Meu nome é Marcelo Fernandes, eu trabalho na Área de

Infraestrutura Social do BNDES; sou responsável por dois estados do Nor-

deste, – os da fronteira: lá em cima e aqui embaixo –, o Maranhão e a Bahia.

Então, eu conheço bem ali, vivendo como financiador dos desafios de vocês

, de apoiar os grandes projetos que o BNDES tem apoiado nos estados, o

ponto de vista governamental, os investimentos dos estados, as dificulda-

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536 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

des, os desafios, a máquina, como é que a gente consegue o licenciamento

ambiental, como é que a gente consegue viabilizar a regularidade fundiária

dos estados; então, a gente conhece bem ali na prática esses desafios, e eu

acho importante essa discussão aqui, pra gente poder ver de que forma a

gente consegue tornar mais viáveis esses projetos que nós temos apoiado.

Eu vou convidar aqui os palestrantes desse módulo para compor a mesa.

O senhor Sérgio de Castro, secretário Nacional de Políticas Regionais do

Ministério da Integração Nacional; o senhor Sergio Machado, presidente da

TRANSPETRO; e o senhor Leandro Freitas Couto, Diretor-Substituto da Se-

cretaria Nacional de Planejamento e Investimento Estratégicos do Ministé-

rio do Planejamento.

A gente vai começar com a apresentação do senhor Sérgio de Castro. Eu

gostaria de fazer uma apresentação aqui do Sérgio. Ele possui graduação

em Economia pela Universidade Católica de Goiás e doutorado em Ciências

Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente, é pro-

fessor titular da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, professor convi-

dado da Universidade de Paris Panthéon-Sorbonne-Erasmus Mundus Mas-

ter “Sustainable Territorial Development”, e secretário de Desenvolvimento

Regional do Ministério da Integração Nacional.

Tem experiência na área de economia, com ênfase em economia regional

e urbana, atuando, principalmente, nos seguintes temas: desenvolvimento

regional, Arranjo Produtivo Local - APL, desenvolvimento local e economia

da cultura.

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537RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Então, eu vou passar a palavra para o Sergio. Sergio você tem vinte minu-

tos para fazer a sua apresentação.”

Sérgio de Castro: “Obrigado. Muito boa tarde a todos. Gostaria, inicialmen-

te, de agradecer o convite para participar desse evento tão importante, para

pensar a região Nordeste do país.

Eu queria começar rapidamente falando do esforço que nós estamos

fazendo nesse momento, no Ministério da Integração, de pensar uma nova

Política Nacional de Desenvolvimento Regional e, já no bojo dessa questão,

inserir especificamente a problemática das oportunidades e dos desafios

para a região Nordeste.

Na verdade, eu acho que o Brasil vem num esforço nos últimos anos de

redefinir o seu projeto nacional, de construir um novo projeto nacional de

desenvolvimento. Eu acho que talvez o componente mais importante de

mudança nesse novo projeto, nos últimos anos, tenha sido esse primeiro

elemento aqui desse tripé, que é a questão da equidade social. Quer dizer,

depois de toda uma história de desenvolvimento, de dinamismo econômi-

co entre os anos 40 e 70, com importante dinamismo, mas acompanhado

sempre de ampliação das desigualdades sociais no Brasil. Isso foi um tra-

ço de todo o desenvolvimento brasileiro, desenvolvimento com ampliação

das desigualdades, sejam territoriais, sejam sociais. Depois dos anos 80,

da crise, dos anos 1990, nós retomamos agora, pela primeira vez nos anos

2000, nosso crescimento, movimento de crescimento, mas, pela primeira

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538 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

vez na nossa história, esse crescimento vem se dando com desconcen-

tração social, com redução das desigualdades sociais, na contramão do

mundo, porque a tendência internacional hoje é exatamente o contrário; a

tendência internacional é de aumentar as desigualdades num processo de

globalização.

Essa mudança no nosso processo recente de desenvolvimento não apa-

rece por acaso; ela aparece porque o Brasil vem fazendo um grande esfor-

ço para enfrentar essa dívida histórica, que são as imensas desigualdades

sociais no Brasil, e conseguiu, nesses últimos anos, eu diria que uma refe-

rência da Constituição de 1988 para cá. E construindo um certo consenso fe-

derativo, e tomando um conjunto de medidas muito importantes que têm se

revertido numa rápida mudança do perfil das desigualdades sociais no Bra-

sil. Se conseguiufazer isso nos últimos anos, – nós saímos de um percentual

de pobreza extrema no Brasil de um quarto da nossa população, 25% em 95

para menos de 6% agora –, tendendo para níveis residuais nos próximos dois

ou três anos, de pobreza extrema. O que tornou isso possível? O que tornou

isso possível foi um conjunto de medidas que entraram na Constituição de

1988, políticas sociais feitas pelos governos estaduais, a trazer esse elemen-

to para o centro da agenda política no Brasil. Hoje é o slogan do governo

federal: “Brasil rico é Brasil sem pobreza”. Isso se traduziu no aumento dos

pesos dos gastos sociais no PIB, aumento real do salário mínimo, um con-

junto de ações políticas ao colocar essa questão no centro da agenda, que

nos levou e está nos levando a um outro patamar.

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539RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Quer dizer, hoje nós estamos num momento em que se começa a perce-

ber que esse processo, que teve um impacto econômico importante, gerou

um dinamismo no conjunto do país, um dinamismo regional importante nos

últimos anos e sustentou, de certa forma, um crescimento baseado no mer-

cado interno. Ele é insuficiente; só esse tripé não sustenta esse novo proje-

to. E veio por aí, começa a vir para o centro da agenda política do Brasil a

questão da competitividade, a questão de avançar nos investimentos, avan-

çar em relação aos gargalos estruturais que comprometem a competitivida-

de brasileira, ampliar o investimento no sentido de trazer a competitividade

para o centro dessa agenda, ao lado da questão da equidade social.

Tem um terceiro elemento que precisa vir junto nesse processo, nesse se-

gundo momento, para construir, de fato, um projeto nacional sustentável inclu-

sivo que se quer para o Brasil, que é o elemento do equilíbrio regional, da redu-

ção das desigualdades regionais como uma condição inclusive para sustentar

os outros dois tripés, os outros dois elementos, a própria equidade social. Por-

que, na medida em que boa parte desse avanço social que nós conseguimos

nos últimos anos foi baseado em transferência de renda, ele só se sustenta

ao longo do tempo, na medida em que você cria economia real capaz de ab-

sorver, com empregos de qualidade, as populações que estão melhorando o

seu patamar de vida, para que isso tenha sustentabilidade; e essas populações

estão principalmente nas regiões menos desenvolvidas do país, o que se supõe,

portanto, desconcentrar regionalmente a estrutura produtiva e ampliar a capa-

cidade de renda e de emprego de qualidade nas regiões menos desenvolvidas.

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540 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

A própria questão da competitividade, também. Pensar competitivida-

de nesse momento, implica em o Brasil ter capacidade de explorar o nos-

so potencial que está espalhado por todo o país. Quer dizer, as regiões que

apresentam maior dinamismo nesse momento são exatamente as regiões

menos desenvolvidas, com enorme potencial que precisam ser aproveitados

do ponto de vista da lógica de competitividade, para que nós possamos, en-

tão, avançar nesse critério. Então, essa é uma visão inicial importante. Nós

estamos pensando que uma Política Nacional de Desenvolvimento Regional

é necessariamente parte de um Projeto Nacional Integrado.

Outra questão importante que nós estamos trabalhando nesse momento,

com relação a essa nova política, é que o Brasil vem de um esforço de po-

líticas de desenvolvimento regional, desde o final dos anos 30, construindo

uma série de instrumentos, e que se concentram em alguns instrumentos

clássicos de desenvolvimento regional; eu coloquei aqui especialmente o

financiamento, que é o instrumento mais importante, de maior peso, que

se conseguiu construir nesses últimos anos, que são os fundos de desen-

volvimento do Norte, Nordeste e do Centro-Oeste, tanto os fundos consti-

tucionais quanto os FD’s, os fundos de desenvolvimento, além de incentivos

fiscais para o Norte e para o Nordeste.

O que eu quero chamar atenção aqui? Eu quero chamar atenção aqui

com esse quadro que hoje você tem um volume de recurso muito expressivo

nessa área, que vem sendo aplicado no sentido de reduzir as desigualdades.

Então, se nós olhamos, em cima, o quadro do FNE, de rosa aí, nós estamos

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541RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

com 12,1 bilhões de reais, hoje, em 2013, no FNE e devemos chegar a 17 bi-

lhões de rais até 2020. Com o FDNE, que é um novo fundo, que já existia, mas

era um fundo meramente contábil e que não conseguia, na verdade, ser apli-

cado; ele recentemente foi financeirizado, ele foi transformado num fundo

que se auto-alimenta e que passou a não ter mais problema de desembolso

que tinha anteriormente; soma-se ao FNE, dando um diferencial importante

que nós vamos lá para 26 bilhões, somando os dois fundos, até 2020. É um

recurso expressivo sem dúvida, sem dúvida alguma.

Agora, vamos olhar o de baixo. Isso aqui é o BNDES, que nós sabemos

que desembolsa muito pouco no Nordeste brasileiro, muito percentualmen-

te, em torno de 13%, que é mais ou menos a participação do Nordeste no

PIB, muito abaixo dos 28% da sua participação na população. Mas, mesmo

esse baixo investimento só do BNDES, se vocês podem observar ao longo

do tempo, ele é expressivamente maior do que o do FNE. Se eu coloco junto

o PAC, e coloco só o PAC 2007/2010, os desembolsos no Nordeste do PAC

2007/2010, eu estou falando de 114 bilhões de reais. O que é a moral da his-

tória aqui? Como é que isso se reflete em pensar uma nova política? Ora,

os instrumentos clássicos de política regional são muito importantes e nós

estamos pensando, trabalhando nesse momento no sentido de aprimorar es-

tes instrumentos, tornar estes fundos mais seletivos, para que eles mesmos

não contribuam para concentração intrarregional; articular melhor esses

recursos com os recursos do BNDES, para que se haja uma ação integrada

de financiamento nas regiões; está se trabalhando um novo Fundo Nacional

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542 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

de Desenvolvimento Regional, que nós esperamos que deva ter inicialmente

em torno de 8 bilhões de reais, esse não retornável, fundamentalmente para

bancar projetos, programas complementares de infraestrutura no entorno

de grandes projetos. Quer dizer, tem uma série de grandes projetos, tem

uma série de ações que estão sendo pensadas no sentido de aprimorar es-

ses instrumentos clássicos, mas a principal mudança que se trabalha nessa

nova política é dizer que isso é muito pouco, isso é absolutamente incapaz

de enfrentar a gravidade do problema regional brasileiro, que eu vou falar

dele um pouquinho mais para a frente, que nós só vamos conseguir dar um

salto de qualidade quando, na verdade, nós pegarmos os grandes instrumen-

tos de política pública, que o PAC é sem dúvida um deles, o Brasil Maior, a

estratégia nacional de ciência e tecnologia, a política nacional de educação;

ou seja, os grandes investimentos federais articulados no território a partir

de uma visão estratégica de desenvolvimento integrado. É esse o salto de

qualidade que se quer dar na política;essa, muito mais do que o aprimora-

mento dos instrumentos, que são muito limitados diante da capacidade da

ação do estado, de maneira articulada, no âmbito do território.

Se a gente olha, voltando aqui um pouco especificamente para o caso do

Nordeste, só passando aqui bem rapidamente, quando nós falamos da ques-

tão brasileira, que é muito séria e nós temos desigualdades muito importan-

tes, o caso do Nordeste, sem dúvida alguma, é um caso muito particular e

muito grave no quadro da problemática regional brasileira. Por quê? Porque

é uma região que, além de ter um déficit de desenvolvimento, quer dizer, de

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543RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

ter aí só 13,5% do PIB nacional, é muito povoada; nós temos aí 28%, 27,8%,

28%, praticamente, da população brasileira. É muito diferente do Norte, que

também em um problema sério de desenvolvimento, dado, sobretudo, pe-

las distâncias, mas a densidade populacional é muito baixa. E o mesmo do

Centro-Oeste, que vem convergindo já para os indicadores médios de desen-

volvimento do país também com uma densidade populacional ainda muito

baixa. Portanto, os problemas decorrentes dos limites de desenvolvimento

dessas regiões não se colocam de forma tão dramática, assim como nos

vários outros pequenos espaços no território brasileiro, que também enfren-

tam problemas regionais, que não se limitam só ao Nordeste brasileiro. Mas,

o Nordeste tem uma situação particularmente grave e que fica muito evi-

dente também, juntamente com o Norte.

Quando olhamos o dendimento domiciliar per capita das microrregiões

brasileiras, veremos espaços onde esta renda é menos da metade da do país.

Portanto, são índices de desigualdade absolutamente gritantes que preci-

sam ser enfrentados.

Nesse problema do Nordeste, vocês já falaram sobre isso aqui, temos o

elemento da persistência, da dificuldade de saída. Isso aí é a participação

histórica do Nordeste no PIB brasileiro, e nós vamos ver que, em 1954, o PIB

do Nordeste já era 13% do PIB brasileiro; andou passeando um pouquinho

em torno dessa média, mas até hoje, quer dizer, mais de 50 anos depois, essa

região não conseguiu sair estruturalmente desse patamar. Ele circulou em

torno desse patamar. Agora, nessa última década, em que nós temos um

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544 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

dinamismo importante ocorrendo naquela região, com esse dinamismo, está

dado aí pela, a região vem crescendo sistematicamente, desde o início da

década, um pouco acima da média nacional no que se refere ao PIB, e isso

está se traduzindo numa certa desconcentração, do ponto de vista da renda

regional, não só no Nordeste, o Nordeste. O Norte, o Centro-Oeste crescem

sistematicamente acima da média nacional, então vocês podem ver que, do

ponto de vista do PIB, o Nordeste passa de 2,4, para 13,5, e do PIB industrial,

de 11 para 12%, no período.

Outra coisa interessante da gente observar. Há toda uma ideia de que

esse movimento de desconcentração recente estaria sendo acompanhado

por um aumento da concentração intrarregional. Quando a gente olha os

dados, efetivamente isso não vem ocorrendo; os vários estados estão, no

geral, mantendo a sua posição nesse período. Eu dividi aí o Nordeste em

dois grandes Nordestes, que são Bahia, Pernambuco e Ceará, os maiores

estados, com maior estrutura econômica, e os demais, e você vê que a parti-

cipação relativa desses dois blocos, apesar do dinamismo importante desse

trio, – Bahia, Pernambuco e Ceará –, ela tem no geral se mantido, tanto do

ponto de vista do PIB geral quanto do PIB industrial. O PIB per capita você

vê um pequeno movimento de convergência intrarregional entre os diversos

estados. Quando a gente olha o valor da transformação industrial e pega

num período um pouquinho mais longo, vindo lá de 96, a gente nota uma pe-

quena concentração. De 96 para 2011, você tem uma pequena concentração,

mas que está num movimento de reversão, aqui mais recente.

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545RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Outra coisa, e essa aqui eu acho que é uma boa notícia, um elemento

importante para a gente perceber, é que do ponto de vista da estrutura pro-

dutiva, quando a gente olha os segmentos no valor da transformação indus-

trial no Nordeste, a gente vê que o segmento de alta e média, e média alta

tecnologia no Nordeste, que tinha uma participação muito pequena na sua

estrutura produtiva, continua sendo muito baixa, 13,9%, mas ela cresce de

maneira expressiva, e cresce de maneira expressiva nos dois blocos; naquele

primeiro bloco, com segmentos que crescem, passam a ter uma expressão

maior, e muda um pouco esse quadro, especialmente a indústria automobi-

lística e mesmo a indústria de bens de capital, com máquina e equipamen-

tos, aparelhos elétricos, com aumento importante no VTI da região nesse pe-

ríodo. E, quando você olha as taxas de crescimento anual desses segmentos,

chama atenção também que esse segundo bloco, que é o bloco, digamos,

com menor estrutura produtiva, o ritmo de crescimento desse segmento é

maior do que o do bloco anterior.

Agora, com todo esse movimento que vem ocorrendo, – as razões disso eu

não tenho tempo para discutir aqui –, vocês já devem ter debatido na reunião

anterior, elas precisam ser confrontadas com esse gráfico que mostra que

essa pequena desconcentração é absolutamente tímida e incapaz de dar

resposta aos problemas região e da desconcentração no Brasil. Isso aqui é

uma projeção a partir da história, do final dos últimos anos; quer dizer, com

esse movimento de convergência que nós vemos nos últimos anos, mantida

essa tendência, o Nordeste só chegaria a 75% do PIB per capita nacional,

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546 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

que é um número considerado decente do ponto de vista internacional, em

2074. Quer dizer, o Brasil não pode esperar tanto, o Brasil não pode esperar

tanto. As políticas hoje são insuficientes, é preciso de outra política, é preci-

so dar um salto nessa ação.

Quais são as oportunidades que estão colocadas aí, que facilitam ou que

criam condições para esse salto, que é preciso chamar atenção? Uma de-

las é esse próprio movimento de mobilidade social que, apesar de todas as

discussões que estão em voga hoje em função da redução do ritmo de cres-

cimento nos últimos anos, nós temos que entendê-la como estrutural; quer

dizer, ela continua acontecendo. Nós temos aqui, como eu disse, o PIB per

capita e a renda domiciliar per capita no Nordeste menos de 50% da renda

nacional; estamos com uma meta de levar isso para 75% em dez anos, isso

significa que a renda continua crescendo, o mercado interno vai continuar

sendo um elemento importante, um vetor de expansão do consumo, de in-

vestimento em segmentos de bens e salários, que precisam ser pensados

em como ficar na região; quer dizer, como estruturar, evitar o vazamento

disso e desenvolver esse segmento na região é um elemento, sem dúvida,

estratégico.

Uma outra oportunidade importante, estratégica, está associada, sem

dúvida alguma, a questão dos investimentos aqui em infraestrutura. Os in-

vestimentos em infraestrutura que nós sabemos já estão sendo importantes,

mas que deverão dar um salto nesse momento. Há todo um esforço em torno

de desregulamentação, de melhorar as concessões, no sentido de que os in-

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547RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

vestimentos em infraestrutura possam dar um salto de qualidade nesse mo-

mento. Os investimentos em infraestrutura representam uma oportunidade

que precisa ser pensada e trabalhada, não só pelo efeito multiplicador dos

investimentos em si, pelo caráter estruturante de vários desses investimen-

tos que estão aumentando a competitividade sistêmica da região, a TRANS-

NORDESTINA, a transposição, etc., mas é preciso aproveitar esse grande

instrumento do crescimento do investimento em infraestrutura, para fazer

política de compras públicas e privadas num sentido de adensar as cadeias

produtivas na região, as oportunidades ali são enormes.

Eu dou sempre o exemplo do Cid Gomes; agora, recentemente, nas de-

mandas em termos de mobilidade urbanas em que, diante da necessida-

de de colocar o VLT em três cidades do Nordeste, articulou a ida de uma

empresa de VLT para o Ceará. Em torno dessas demandas nossas, com

uma política coordenada, nós temos a possibilidade de dar importantes

saltos. Um outro exemplo muito claro, o “Minha Casa, Minha Vida” acabou

de aprovar que não se constrói mais nenhuma casa no “Minha Casa, Mi-

nha Vida” sem placa solar; é uma exigência da legislação no que se refere

ao “Minha Casa, Minha Vida”. O que isso representa de demanda de pla-

cas solares associada a essa compra? Uma política dizendo: “olha, isso

aqui...”, com a exigência de que para fornecer você tem que ter empresas

na região, empresas com investimento, com x de investimento, em P&D,

combinado regionalmente, quer dizer, você tem um bloco financeiro com

financiamento, etc.; você tem aí, em torno dessa temática, a construção

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548 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

sustentável; essa demanda de infraestrutura representa potencial, desde

que sejam os instrumentos recentes que foram colocados no próprio âm-

bito do Brasil Maior como, por exemplo, a margem de preferência, que foi

regulamentada para o capital nacional, uma série de instrumentos, incen-

tivos, recursos e articulação que podem se fazer nesse sentido. Quer dizer,

a política já começa, o Ministério, junto com o MDIC e com as federações

de indústrias dos estados, está começando uma rodada nos estados para

discussão, tanto das compras públicas como privadas, de como estrutu-

rar estratégias em torno dessas oportunidades. A questão das energias

renováveis, no caso do Nordeste, eu falei aqui da energia solar, nós temos

também a energia eólica. Mas, não é simplesmente dizer: “não, eu quero

ampliar a capacidade de produzir energia eólica”. Não é isso, é preciso

se pensar em apostas estratégicas para essas regiões, do ponto de vista

produtivo e tecnológico.

Eu participei recentemente de um encontro em Portugal, que era uma

retomada do mar lá; Portugal buscando soluções para a sua crise e, numa

grande articulação nacional, encontro presidido pelo presidente da Repúbli-

ca, os representantes de toda a União Europeia, Portugal disse logo: “Nós

vamos nos tornar líderes mundiais em tecnologia e produção de equipa-

mento offshore para energia eólica e de ondas”. São apostas estratégicas,

apostas estratégicas capazes de mobilizar o país. E nós temos que ter essas

apostas regionalmente. No caso do Norte e do Nordeste, energia renovável é

certamente uma delas. Acredito que são oportunidades.

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549RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

E os desafios que nós temos? Ora, nós sabemos que para fazer tudo isso

nós enfrentamos graves problemas no campo da educação, da capacitação

profissional, da infraestrutura, da ciência e tecnologia, do desenvolvimento,

da limitação da estrutura produtiva, da oferta em geral de serviços básicos,

a questão da sustentabilidade. Então, a estratégia dessa nova política é, na

verdade, se tentar construir em torno dessas grandes temáticas o que nós

estamos chamando de “pacto de metas”. Setor produtivo, estados, governo

federal, governos estaduais, construir um pacto de metas, de articulação

dessas políticas em torno dessas temáticas num período de dez anos, com

metas concretas e com algumas ações muito concretas.

Não são dezenas de metas, são algumas questões chaves capazes de ar-

ticular, e o instrumento para articular isso é, no âmbito do governo federal

é a Câmara Nacional de Políticas de Desenvolvimento Regional, que é uma

câmara criada no âmbito da Casa Civil, com as secretarias de dezoito minis-

térios estratégicos, para pensar em conjunto esse conjunto em estratégias

que já estão sendo, começam a ser trabalhadas, em torno de uma meta es-

tratégica global: Nós não teremos nenhuma microrregião brasileira, em dez

anos, abaixo dos 75% da média nacional em termos de rendimento domiciliar

per capita.

Os grandes desafios: a questão da educação no Nordeste. Esses números

mostram não só a gravidade do quadro de desigualdade, mas a necessidade

imperiosa de se dar um salto de qualidade. Aqui tem um pacto, junto com

o MEC, em torno desses indicadores que estão aí, no sentido que quais são

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550 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

as medidas que podem ser tomadas no sentido de reverter, ao longo de dez

anos, esses indicadores, qual é o recurso que precisa ser colocado para que

isso se faça, qual é o papel dos governos estaduais; quer dizer, como é que

você pode trabalhar isso estrategicamente, não só a questão da educação,

mas especialmente a questão da capacitação profissional.

E aí entra uma questão importante. Eu coloquei do lado esse quadrinho

aqui em cima, que mostra o seguinte: quando a gente pega os gastos fede-

rais em educação em 2010 e nós vamos ver a distribuição disso por regiões

no Brasil, o governo federal gastou com educação na região Nordeste 11,4%

em 2010, menos do que a participação da região no PIB e menos do que

participação da região na população, e gastou 60% no Sudeste; muito acima

da participação no PIB, muito acima da participação no... Por quê? É o ensi-

no superior que explica isso aí, o gasto das universidades, etc., essa brutal

distorção. Mas, não é só na educação. Nós fomos fundo e pegamos; tem um

estudo do IPEA que mostra o conjunto das transferências do governo fe-

deral. Então, você pega as transferências obrigatórias, está essa discussão

toda do Fundo de Participação, etc. Ele tem que ser enfrentado, essa dis-

cussão tem que ser enfrentada do ponto de vista da desconcentração e não

reconcentração, porque alguns estados estão colocando nessa discussão do

FPE exatamente o contrário, a necessidade de reconcentrar. Então, quando

eu pego aqui, por exemplo, a capacidade de arrecadação do Nordeste, de

impostos próprios, ela é a metade da média brasileira e um terço da de São

Paulo, por exemplo, para pegar uma comparação. Quando eu coloco todas

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551RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

as transferências obrigatórias, os fundos, etc., o resultado, quando eu olho

o que sobra per capita de investimento público, inclusive o recurso aqui não

é só federal, é estadual e municipal; quer dizer, o que sobra para o poder

público atender cada cidadão é dois terços da média brasileira. Quer dizer,

é uma região que precisa não só se desenvolver acima da média, como en-

frentar um passivo, ela não tem como fazer isso sem uma reversão concre-

ta no conjunto dos gastos, inclusive no âmbito das transferências. Quando

você vai para as transferências voluntárias a mesma coisa, não vou repetir

número, mas é a mesma coisa que se observa. Não é só com educação, as

transferências do governo federal têm o mesmo viés.

O outro desafio enorme é a questão da ciência e tecnologia, e inovação.

Quer dizer, é um outro campo, estão aí os números também dos investimen-

tos privados que estão se concentrando, se concentraram nesses últimos

dez anos mais ainda no Sudeste, e o que está se propondo? Um pacto em

torno da ciência, tecnologia e inovação, com alguns elementos; horizontais,

a questão da fixação de recursos humanos, a infraestrutura, incentivos a

P&D para as empresas, a aprovação e regulamentação de lei de inovação

em todos os estados como meta, e uma ação vertical em torno de escolhas

estratégicas, as apostas de que eu falei. Nós vamos fazer um seminário em

meados de março agora, envolvendo MDIC, Ministério da Ciência e Tecnolo-

gia, Federação de Indústrias, uma série de atores do governo federal e fora

dele, para pensar, exercitar esse esforço de apostas estratégicas. A ideia

aqui para o Nordeste nós trabalhamos em torno de energia eólica e solar

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552 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

pelo prazo de dez anos; no Norte, em bioindústria, nesse primeiro momento,

como aposta que significa você construir em torno disso um esforço envol-

vendo o MEC, com destino dos IF’s, organização da pós-graduação, os recur-

sos para pesquisa, as compras públicas, enfim um esforço de dar um salto

de qualidade nesses segmentos.

A questão da infraestrutura é o outro grande desafio. E aqui tem um risco

importante que nós vivemos hoje. Qual é o risco? Ora, o que ficou claro é

que nós precisamos, o Brasil hoje está, o investimento em infraestrutura em

relação ao PIB é hoje cerca da metade do que a maior parte dos países di-

nâmicos estão praticando. Nós temos que dobrar o investimento de infraes-

trutura em relação ao PIB. A estratégia do governo está sendo corretamente

buscar concessões, o investimento privado como forma de viabilizar esses

investimentos.

O que acontece é: por que o primeiro pacote de concessões que saiu não

apareceu praticamente nenhuma obra do Nordeste? Foi porque alguém se

esqueceu de colocar na lista? Não se preocupam com o Nordeste? Não, por

uma razão muito simples, a concessão implica em interesse econômico, as

áreas mais atrativas para concessão não estão aqui, as áreas mais atrativas

estão lá.

Então, essa estratégia embute um risco, que é o seguinte: ou você perce-

be isso e coloca parte dos recursos, que são públicos, do PAC para alavan-

car essa ação, no sentido de viabilizar os negócios com concessão, ou essa

estratégia vai significar um aumento de investimento em infraestrutura com

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553RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

aumento de concentração e não com redução de concentração pessoal para

a região. Agora, não basta só aumentar o investimento em infraestrutura, é

preciso aumentar esse investimento em infraestrutura com uma estratégia,

quais são os investimentos estruturantes, combinados regionalmente e não

definidos estadualmente como, hoje, por exemplo, é a maior parte das obras

do PAC, a partir de negociação governadora, governador. Quais são as obras

estratégicas tendo em vista a necessidade da integração e do desenvolvi-

mento regional, para atender aquelas cadeias que estão sendo colocadas

como prioritárias em outro elemento.

Vai haver também um seminário, a semana que vem, com a Empresa de

Planejamento e Logística - EPL, o ministério, um conjunto de atores, para

pensar também o pacto em torno da questão da logística e envolve também

a questão da banda larga.

O meu tempo já passou, só para concluir, a questão da rede de cidades.

Essa é uma discussão que está praticamente fora da agenda do país. O IBGE

tem feito um esforço enorme, o MPOG articulou um grande estudo sobre a

rede de cidades brasileiras e a sua capacidade de polarização; mais recen-

temente, houve um salto de qualidade no estudo encomendado pelo CGEE,

que articulou os estudos do MPOG com as análises do IBGE, propondo um

conjunto de apostas estratégicas de cidades que possam representar novas

centralidades, cidades de porte média capazes de, pela sua estruturação

de serviços, sejam produtivos, sejam serviços de atendimento à população,

elas possam funcionar como âncora não só da melhor distribuição popula-

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554 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

cional, mas também com a distribuição do desenvolvimento. Então, em torno

desse ponto também há um grande pacto em curso para se tentar avançar

nessas soluções. Então, era isso, me desculpem se eu passei meu tempo

aqui. Muito obrigado.”

Marcelo Fernandes: “Obrigado, Sergio. Antes de passar a palavra para o

Leandro, eu vou convidar o nosso Superintendente da Área de Planejamen-

to, o Cláudio Leal, para vir compor a mesa aqui, e o professor Paulo Caval-

cante, que é professor da Universidade Federal da Paraíba.

Vamos ouvir a apresentação do dr. Leandro Freitas Couto, que é Diretor

Substituto da Secretaria Nacional de Planejamento e Investimento Estraté-

gico do MPOG.”

Leandro Freitas Couto: “Boa tarde a todos, gente. Primeiro agradecer o

convite do BNDES para estar aqui hoje, em nome da secretária Esther Be-

merguy. Eu estou na Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégi-

cos há mais ou menos 11 anos; um grande desafio estar aqui hoje, primeiro,

para falar depois do Sérgio que, enfim, a gente tem acompanhado o trabalho

dele da Secretaria de Planejamento e Investimento Estratégico, na SDR, do

Ministério da Integração, e a gente sabe o desafio que ele tem enfrentado

em colocar a nova Política Nacional de Desenvolvimento Regional de pé.

E também é um grande desafio falar nessas bases, porque a gente tem a

clara noção de que a gente precisa ainda avançar muito no que diz respeito

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555RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

à inserção da dimensão territorial no planejamento e no nosso principal pro-

duto, que é o plano plurianual.

Quando eu estava vindo, pensando no que falaria aqui hoje, me lembrei

de quando a gente foi estruturar esse estudo que o senhor citou, estudo de

dimensão territorial para o planejamento, nós viemos aqui no BNDES, nós

já tínhamos tido duas experiências de estudos territoriais no SPI, ou SPA no

início, não lembro como é que era, que foram os estudos dos Eixos. Os estudos

dos eixos, depois, teve o segundo estudo, de atualização dos Eixos, e quando

pensamos em fazer, então, esse terceiro estudo, já uma nova filosofia política

por trás dos princípios orientadores, diretrizes que norteariam aquele estudo,

nós viemos aqui ao banco e a ideia do estudo era tratar uma estratégia de de-

senvolvimento territorial para o Brasil, que se concretizava numa carteira de

investimentos; numa carteira de investimentos, que dava concretude àque-

las estratégias que a gente gostaria de pôr em marcha no território. E, então,

quando a gente estava discutindo aqui na época, acho que com o diretor de

planejamento do banco, enfim, era o vice-presidente de planejamento, não sei.

“Então, outra carteira de investimento, a gente tem aqui no banco uma série,

uma fila enorme; quer dizer, mais uma carteira de investimentos?” E, como eu

costumo dizer, fomos surpreendidos no meio disso, no meio desse processo, o

estudo de fato só começou em 2005 ou 2006, e em 2007 veio o PAC, e aí já vinha

uma carteira de investimentos, e a gente ainda estava com o estudo.

E, agora, nessa retomada do planejamento territorial, enfim, nessa nova

fase, o que a gente tem dito nas secretaria é que, mais do que criar, enfim, e

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556 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

estabelecer uma nova agenda de investimento, é preciso compreender quais

são as estratégias que a gente está ensejando, quais são as dinâmicas ter-

ritoriais que a gente está ensejando com carteira de investimento, que a

gente já planejou e que a gente está em marcha, agindo sobre o território.

Esse é o nosso grande desafio no momento, como a gente está tentando

inserir a dimensão territorial no planejamento, mais uma vez. E o grande

desafio é não fazer isso sozinho, é fazer isso junto com os estados e jun-

to com os municípios. A gente tem dito também uma outra coisa, que eu

acho que é importante, que a gente se deu conta de que fazer planejamento

no Sistema de Planejamento e Orçamento Federal não nos basta. A gente

precisava transformar o Sistema de Planejamento e Orçamento Federal no

Sistema Nacional de Planejamento, e que a gente consiga envolver estados,

municípios, outros agentes dentro de uma mesma lógica, pelo menos para

conversar em termos de, não necessariamente, mas também importante,

de uma mesma linguagem, mas conversar em termos do conteúdo que o

planejamento público consegue produzir e as dinâmicas que ele enseja no

território. Fazer isso com o setor público já é difícil, fazer isso considerando,

também, que é outro desafio, os investimentos privados, as dinâmicas, es-

tratégias do setor privado, é outro desafio maior.

Então, é isso que a gente está tentando fazer com o que a gente está

chamando de “Agendas de Desenvolvimento Territorial”. Baseado no nosso

principal mandato, que é em torno do Plano Plurianual, buscar o alinhamento

com os que os governos estaduais estão propondo para os seus territórios,

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557RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

analisar junto com os governos estaduais quais são as estratégias, quais

são as dinâmicas da iniciativa privada, portando quais são as demandas e

impactos que gera a atividade privada no território, além de considerar os

planos, vários planos que a gente já tem construído com participação social,

com participação de entes públicos dos vários entes federativos, que são

os planos territoriais; quer sejam planos dos territórios da cidadania, sejam

planos dos territórios rurais, as próprias mesorregiões lá do SDE, e os recor-

tes territoriais que os estados, eles próprios têm. E também tem seus me-

canismos de participação, muitas vezes levantamento de demanda desses

territórios, com participação social.

Como é que a gente associa tudo isso dentro de um processo de planeja-

mento é o grande desafio. A gente está tentando fazer isso, construir isso a

partir do que a gente tem chamado de “Agendas de Desenvolvimento Terri-

torial”, que nada mais é do que a busca de um alinhamento entre os PPA’s

do governo federal, dos governos estaduais e, num segundo estágio, tam-

bém dos governos municipais. Isso começa, se passa, por uma explicitação

das estratégias de desenvolvimento ou da dimensão estratégica dos PPA’s,

seja do governo estadual, seja do governo federal. Então, qual é a estratégia

que o governo federal tem para determinado território? Qual é a estraté-

gia que o governo estadual, qualquer que seja, tem para aquele território? E

quais são os investimentos estruturantes que essa estratégia significa para

aquele território? A partir daí, o que estamos fazendo, o que planejamos e o

que estamos fazendo, quais são os nossos interesses comuns, que a gente

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558 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

pode compartilhar? Disso que está planejado, disso que estamos fazendo,

isso está realmente acontecendo? Ou seja, mapear num primeiro momento,

quais são as estratégias e quais são os interesses comuns do que já foi pla-

nejado e avaliar o que uma cooperação federativa em torno do planejamento

pode significar em termos de acréscimo a nível de execução do que está sen-

do proposto. É identificar as oportunidades de convergência e agir em torno

de uma agenda concreta, restrita, aquelas que a gente pode contribuir para

aumentar o nível de execução no curto prazo e identificar, isso é importante

também, as lacunas desse planejamento, que já está feito, que muitas das

obras dos investimentos já estão divulgadas, já estão publicizadas; dos pla-

nejamentos que já estão em curso, identificar junto com os estados, quais

são as lacunas que a gente percebe, tendo em vista esse relacionamento

que a gente faz em conjunto.

Uma outra característica desse processo é o seguinte, a gente não está

impondo, não está indo com uma visão pre-concebida de algum recorte ter-

ritorial específico,isso a gente constrói junto ao estado. Então, qual é o terri-

tório? A gente vai com uma visão estadual, e junto com o estado decidimos

se vamos fazer para um território específico, seja de região de planejamento

do estado, seja de um território da cidadania, sejam faixa de fronteira como

já fizemos um exercício lá também exploratório com a equipe do Sergio no

Ministério da Integração; ou seja, ele pode ser aplicável a vários recortes ter-

ritoriais, e a gente dialoga, como eu disse, com os planos de desenvolvimen-

to local. À base disso tudo, tem uma ferramenta que nos ajuda, a gente está

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559RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

no ar já com uma infraestrutura nacional de dados espaciais, onde a gente

plota todos os investimentos do governo federal com uma base de dados,

grande base de dados, do IBGE, de indicadores socioeconômicos já dispo-

nibilizados e é possível também abraçar nessa iniciativa os investimentos

dos estados. Então, fica muito fácil a gente ver juntos onde estão indo os

investimentos do governo federal, onde é que estão indo os dos governos dos

estados, a base de indicadores por trás; isso nos facilita essa articulação

com os estados, que são essa infraestrutura nacional de dados espaciais

aqui embaixo. Então, esse é o processo das agendas.

Sim, e muito mais do que um produto específico para mostrar para vocês,

eu tenho mais é o processo para apresentar. Eu vou apresentar aqui uma

aplicação disso para o estado do Ceará que, em determinado momento, eu

entendi que esse era o foco, mas fica muito mais como exemplo do que como

um produto concreto que eu tenha a apresentar para vocês.

Então, a gente começa com o mapeamento das estratégias federais, es-

taduais e identificação das iniciativas estruturantes junto com os estados,

num primeiro momento, aproveitando a oportunidade que esse era o primei-

ro plano de gestão dos municípios, nós informamos esse mapeamento es-

tratégico, então, e as iniciativas estruturantes, os investimentos estruturan-

tes, para os governos municipais que estavam eles, então, construindo os

seus PPA’s, que vão ter um horizonte temporal de 2014 a 2017. Então, a partir

do momento que esses planos plurianuais municipais são aprovados e pas-

sam viger, também vão entrar no processo das agendas de desenvolvimento

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560 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

territorial. A gente mapeia os investimentos estratégicos e as estratégias

do governo federal e estadual, depois faz uma análise com as interações de

investimentos privados e planos de desenvolvimento local, analisa as pos-

sibilidades de cooperação federativa, identifica os desafios e gargalos para

novos ciclos de investimento, novos ciclos de planejamento, e vê como o es-

tado pactua com o estado, como é que a gente vai fazer um monitoramento

conjunto disso. Essa é a ideia geral.

Como é que isso está se dando na prática? A gente começa, então, pela

explicitação de qual é a estratégia do governo federal em geral e depois ten-

ta descer para o território. E esse é um grande desafio, porque também a

estratégia de desenvolvimento, a dimensão estratégica no plano plurianual

também não está territorializada. Como é que a gente buscou essa territoria-

lização, pelo menos ao nível que nos fosse útil para esse exercício? A gente

fez agora uma releitura da dimensão estratégica do PPA. Nesse processo de

avalição do primeiro ano do PPA, foi enviado para o Congresso em 31 de maio

o relatório de avaliação do PPA e nele continha um volume sobre a avaliação

da dimensão estratégica do PPA. Então, esse é o modo como nós estamos len-

do hoje a estratégia do governo federal, da forma como ela foi explicitada no

nosso plano plurianual, a partir de quatro dimensões: dimensão social, dimen-

são econômica, dimensão transversal que eu diria que é de sustentabilidade

ambiental e desenvolvimento regional, e uma dimensão institucional.

Do ponto de vista social, a gente está falando que a estratégia é de uni-

versalização e institucionalização de direitos, conforme previsto na Consti-

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561RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

tuição Federal de 1988. Então, aqui se trata de inclusão social, especialmente

de um fundo de melhoria na distribuição de renda. A lógica geral é universa-

lização e institucionalização dos direitos.

A dimensão econômica tem duas pernas: uma primeira que trata de

manutenção de taxa de crescimento com estabilidade fiscal e estabilida-

de monetária, e a segunda, eu acho que dialoga mais com o que foi falado

aqui; a segunda diz respeito à governabilidade, à governança de três frentes

de expansão que estariam em funcionamento na economia brasileira hoje,

que seriam os investimentos baseados em recursos naturais, aí entram os

investimentos, toda a cadeia de exploração do petróleo, do pré-sal, as com-

modities, os minérios, grãos; uma segunda frente de expansão que seriam

os investimentos baseados nessa expansão do mercado interno, como foi

falado hoje de manhã, então, para o Nordeste tem um rebatimento bastante

particular, a gente viu O Boticário e o Magazine Luiza apresentando aqui os

investimentos feitos, mas se trata de fato de uma evolução da estratégia que

já estava no PPA, desde o PPA de 2007, que é a coisa do consumo de massa,

investimentos gerando ganhos de produtividade e sendo transferidos para

a classe trabalhadora, isso gerando novos aumentos de consumo que gera-

riam novas demandas de investimento, e o ciclo virtuoso daí advindo. Então,

significava dar governança a essas três frentes de expansão, incluindo uma

potencialização delas com geração de conhecimento, tanto investimento

em ciência, tecnologia e inovação, que gostaríamos que fosse uma quarta

frente de expansão, mas reconhecemos que os investimentos aqui ainda não

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562 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

sustentam isso como uma quarta frente de expansão, e o fortalecimento de

encadeamentos produtivos em território nacional.

A dimensão institucional que diz respeito tem dois temas específicos,

que é o contínuo aperfeiçoamento da inserção internacional do país e for-

talecimento do estado, e a sustentabilidade ambiental e desenvolvimento

regional como eixo transversal, como dimensão transversal às outras. Isso

no PPA, 2012-15 está expresso em onze macrosdesafios que a gente releu

em seis grandes eixos, e quais são os destaques de cada eixo. Então, é um

eixo de macroeconomia para o desenvolvimento, que diz aqui as condições

macroeconômicas, e as três frentes de expansão: sistema de proteção so-

cial com aquela lógica de universalização e institucionalização dos direitos,

infraestrutura, produção com inovação e sustentabilidade, inserção interna-

cional, estado, federalismo, planejamento e gestão. Pois bem, cada eixo des-

ses a gente identifica alguns destaques dentro do PPA. Alguns destaques de

políticas públicas que estão em operação e são destacadas também como

prioridades na agenda de governo. E essas agendas, essas políticas públicas

têm, sim, um rebatimento territorial. Apesar da lógica geral, a gente não

conseguir ter uma visão muito clara territorial, até porque ela não foi assim

construída, quando a gente busca os destaques setoriais de cada um desses

eixos, eles trazem por trás de si um rebatimento territorial, e é nisso que a

gente foi buscar para construir, então, qual é a estratégia, para reconhecer,

que é o primeiro passo, qual é a estratégia para cada um dos estados, para

cada um dos territórios, a partir dos rebatimentos das políticas. E isso se

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563RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

dá em vários níveis, algumas têm questões bastante explícitas, outras mais

explícitas, umas mais implícitas, outras mais explícitas. Quer dizer, lógicas

territoriais por trás de cada uma dessas políticas que a gente observava. E

isso a gente faz então para cada eixo e vê qual a estratégia que se revela a

partir dessas políticas e desses investimentos.

Temos alguns temas, como educação, em o que a lógica era atendimento

do déficit , que ajudou então a fazer a seleção do programa de creches e qua-

dras do PAC; a questão do ensino técnico superior, que era mais a questão

da interiorização dos investimentos e atendimento em uma lógica explícita

territorial, o atendimento dos Territórios da Cidadania como territórios prio-

ritários, então cada território da cidadania precisa e seria beneficiado com,

pelo menos, uma unidade de ensino técnico, e assim vai. Então, os municí-

pios selecionados, já no caso do crack, isso já é para o Ceará.

Então, eu trago aqui os investimentos que estão plantados no IND de

UBS; então, se a lógica era universalização, eu tenho que responder com

uma quantidade de investimentos e unidades básicas de saúde, aqui já são

UPA’s, praças do esporte e cultura; e aqui já é a outra lógica, essas cores

são os grupos do PAC, creches, também quantidade de investimentos de

creche a partir, por trás está o déficit ; “Minha Casa, Minha Vida”, crack, os

municípios do crack. Aqui é a rede de influência das cidades e os investi-

mentos em ensino técnico e ensino superior, onde tem a casinha aqui é uma

unidade de ensino técnico e ensino superior. Evejamque a maioria dos polos

está também os Territórios da Cidadania, que são as manchas por trás, con-

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564 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

templados. Os municípios para programa de respostas a desastres naturais,

prevenção de riscos. Saneamento; vejam a quantidade de investimentos em

saneamento, isso aqui é carteira PAC.

Eu trouxe os dados do sétimo balanço do PAC para mostrar como é que

isso está se referindo, como é que isso está hoje. Aqui, do ponto de vista

da logística, então, para cada um daqueles eixos eu vou mostrando qual é

a lógica que está ensejando os investimentos selecionados. Então, aqui na

logística se destacam os investimentos no Porto de Pecém, a TRANSNOR-

DESTINA, e a ligação com o porto e fortalecimento da interligação rodo-

viária do porto por meio das BR’s 116 e 222, gestão de riscos e aeroportos

regionais em nove municípios, com a lógica de fortalecimento do turismo

e a sensibilidade no estado do Ceará. E aqui, os investimentos, então, de

logística: o porto, a ferrovia, a integração de bacias, as rodovias que estão

no PAC. Energia eólica, também houve grandes investimentos em energia

eólica aqui no estado do Ceará, o Sergio falava um pouco disso, e o próprio,

de manhã, destacava o pessoal da Famosa, e aqui eles próprios estavam

com uma planta de eólica no seu investimento, e aqui os investimentos

todos em energia eólica. Aqui são os aeroportos regionais, que estão nes-

se programa de ampliação dos aeroportos regionais; no estado do Ceará,

nove, incluindo Sobral.

Produção aqui; produção aqui a gente tem de fato uma questão, que é a

seguinte: a política industrial não está de fato ainda territorializada, então

a gente tem muito ainda a avançar do ponto de vista de captar a lógica dos

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565RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

investimentos industriais. Porque a gente diz que para esse exercício a gen-

te captou o seguinte: se a gente está falando em indústria automobilística,

incentivos à indústria automobilística, por exemplo, a gente sabe onde é

que a indústria hoje está instalada, então investimentos e incentivos a essa

indústria a gente sabe que teria rebatimentos mais imediatos onde ela já

está implantada. Então, essa lógica a gente tentou captar, mas ela ainda é

mais frágil.

O que a gente traz aqui são investimentos e desembolso do BNDES de

8 a 12 bilhões de reais, por município. E aí, no caso do Ceará, eu não sei se

esse número bate com a base de vocês, mas o que a gente tem aqui de 8 a

12 bilhões de reais, são esses 13 bilhões de rais. Hoje, de manhã, foi falado

um número de 23 bilhões de reais, mas em 2011, 2012, salvo engano para

o Nordeste todo. Então, aqui só para o Ceará de 8 a 12, 13 bilhões de reais,

eletricidade e gás 4 bilhões de reais, transporte terrestre 1 bi, que pode estar

inclusive esses investimentos que o Sergio destacava do VLT, Sergio, não sei

se já saiu o desembolso disso, que são os grandes destaques.

Então, quando a gente senta com o estado, o que a gente apresenta? Ora,

isso aqui nos parece ser a base da estratégia do governo federal para o es-

tado do Ceará: fortalecimento do Porto de Pecém e acessos, adensamento

da rede de cidades de Fortaleza e também dos polos regionais com os aero-

portos e os investimentos em ensino técnico e superior, aproveitamento do

potencial de geração de energia eólica, tudo isso com base nos investimen-

tos que eu mostrei para vocês antes, que estavam divididos por aqueles ei-

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566 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

xos. Universalização das políticas sociais buscando a redução de déficit de

políticas universais em territórios de maior desigualdade; entram todas as

lógicas: saneamento, habitação, saúde, educação, redução das desigualda-

des rural e urbana, e fortalecimento da agricultura e da agricultura irrigada,

que tem no Ceará, salvo engano, um plano de safra e pesca, da questão da

pesca aqui no Ceará como um dos destaques setoriais.

Aí como é que o estado vem e nos responde? O que eu achei interessante

disso tudo é o seguinte, para esse exercício a gente visitou vinte estados,

hoje nós temos vinte e um estados que aderiram a esse processo e estão

com a gente na construção do que a gente está chamando de “Sistema Na-

cional de Planejamento”, via essa primeira iniciativa das Agendas do Desen-

volvimento Territorial. Dos estados que eu vi, eu não vi todos, o Ceará tem um

PPA muito bom. Um PPA regionalizado, um PPA que diz quais são as metas,

os investimentos prioritários para cada uma das regiões que eles fizeram, e

isso facilita muito o diálogo. Então, aqui é um pouco as regiões para fins de

planejamento que o estado do Ceará nos apresentou, então a gente chega lá

com essa proposta, com essas provocações, e isso foi a resposta do governo

do Ceará. Então, eu tenho, além de um PPA regionalizado, eu tenho compro-

missos regionais que, no caso dessa região aqui de Sobra e Ibiapaba, se tra-

ta de integração da malha viária da região e garantia de atenção à saúde de

média complexidade, com ações setoriais prioritariamente voltadas com um

basta às drogas e acidentes de trânsito. Então, essa era a agenda para essa

região específica. E mais, ele me diz quais são os investimentos prioritários

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567RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

que eu tenho em cada região. Isso, se eu coloco no IND, a gente tem uma

possibilidade, vejam aqui, a coisa da infraestrutura de telecomunicações,

os investimentos prioritários do estado, infraestrutura e logística, estradas.

Então, é tudo em cima do que está planejado e do que está, de fato, já anun-

ciado como intenção de investimento do governo federal.

Aqui eu trouxe alguns dados do PAC, já então, pra gente, no processo

de aproximação sucessiva com o estado, senta e apresenta, veja; se ele diz

que saúde de média complexidade é uma prioridade para aquela região, eu

digo, veja, a gente tem todo esse investimento de UPA no PAC, tudo em ação

preparatória, só tem dois de treze no total que estão em obras, esse aqui em

Barbalha e esse aqui em Caucaia. Tianguá, que é na região que ele mostrava

como prioritária, eu digo, olha, aqui não saiu do papel ainda, está em ação

preparatória.

Nas UBS’s a gente tem duzentos e setenta e cinco em ação preparatória,

nove apenas concluídas, cento e setenta e nove em obras.

Eu separei aqui, já é um gráfico direto da IND que eu tirei, os investi-

mentos, se eu clicar em cima, clico aqui em informação e vou em cima de

cada investimento desse, eu sei em qual estágio que ele está, qual o valor

previsto. Então, aqui está UPA, a região é aquela que eu separei, só a título

de exemplo, eu não cheguei a esse acordo com o estado, mas a ideia é essa.

Então, disso tudo qual é a região ou qual é a agenda que a gente vai se debru-

çar sobre ela em conjunto e que vamos chamar os municípios depois para se

aliar a esse processo.

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568 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

Então, é isso gente, esse é o processo que a gente está fazendo com os

estados e a ideia caminhar na construção de um sistema nacional de plane-

jamento. Que a gente faça um alinhamento dos PPA’s, com a centralidade

da garantia universal de direito dos acessos da Constituição de 88, que a

gente consiga fazer em conjunto uma reflexão sobre os investimentos pri-

vados e considerar os planos de desenvolvimento construídos no território.

Eu acho que o recado é esse; ou seja, é um processo de articulação junto

com estados e municípios. Agora, a gente também está em conversações

bastante adiantadas com a frente nacional de prefeitos, que é a vice-pre-

sidência de consórcios que, enfim, para a gente chegar com cada um dos

municípios seria muito difícil, então a estratégia adotada que parece que

vai se concretizar é a gente chegar também como os consórcios intermuni-

cipais, multifinalitários, porque também os unifinalitários são os consórcios

de saúde, de saneamento, são muitos, são mais de seiscentos e cinquenta

consórcios no Brasil como um todo; mas aqueles multifinalitários a gente

pode eleger regiões metropolitanas ou, então, enfim, regiões específicas

prioritárias da agenda e trabalhar também com os municípios consorciados

daquela região, ou num recorte estadual, ou num recorte do território da

cidadania, ou de um programa do governo federal. As Agendas de Desenvol-

vimento Territorial nos dão flexibilidade e são dinâmicas ao ponto de abraçar

essas possibilidades.

Nós estamos avançando com esse processo, nós já fomos aos vinte es-

tados, agora nós estamos num momento de retornar e fechar a agenda com

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569RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

cada um, inclusive acordar como que vai ser o monitoramento disso. Nossa

ideia é focar em algumas poucas ações que a gente possa, de fato, contri-

buir para ampliar a execução num curto prazo e identificar desafios e la-

cunas que a gente possa inserir nos próximos planos plurianuais. Assim, a

gente acredita que vai ter um processo de médio, longo prazo, num plano

plurianual de fato mais territorializado, mais regionalizado e, então, a gente

possa vir aqui falar, inclusive, com mais propriedade, uma lógica construída

desde o seu início com um plano plurianual mais regionalizado. Mas, é isso, é

processo, é uma articulação, a gente já iniciou, estamos bastante confiantes

de que isso possa dar um resultado em médio prazo, estrutural, para o pla-

nejamento do país, mas estamos apenas no início. É isso. Obrigado.”

Claúdio Leal: “Obrigado, Leandro. Vamos para a última apresentação da

mesa. Dr. Sergio Machado, presidente da TRANSPETRO.”

Sergio Machado: “Meu caro moderador, Marcelo Correia Barbosa, Chefe da

Área de Infraestrutura Social do BNDES, que tem um papel muito importan-

te pra gente construir a equidade social no Brasil. E Nicolle Barbosa, presi-

dente do Centro Industrial; eu lembro, Nicolle, que em 78, eu não gosto nem

de dizer quanto tempo faz, a gente tinha no CIC esse debate, esses fóruns, e

os números estão muito parecidos. Naquela época, a gente falava que nós tí-

nhamos 30% da população e 11% do PIB. Hoje, nós temos 28% da população

e 13% do PIB. Eu me lembro que a gente falava muito naquela época que um

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570 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

brasileiro era igual a dois nordestinos em renda. Está muito pouco diferente

do que é hoje, então variou muito pouco nesse período todo que a gente pas-

sou. Mas eu acho que é um momento muito importante de um fórum, de uma

discussão como essa, aquele momento em que a gente pode refletir, pode

pensar, porque eu acho que é hora de a gente criar um novo paradigma, com

novos valores, para que o Nordeste efetivamente possa cumprir o seu papel.

O Sérgio falou, com muita propriedade, que nós queremos um país com

equidade social e equidade regional, senão nós não temos um país. O exem-

plo da Europa está aí: porque o Mercado Comum Europeu está sendo destruí-

do? Está sendo destruído porque tem países com produtividade diferente, e

é impossível você viver sob o mesmo sistema econômico com produtividade

diferente, porque aí não se gera o equilíbrio. E é essa a grande luta e a gran-

de busca que nós temos no Brasil.

Gostaria de saudar o presidente da Federação, o nosso companheiro Ro-

berto Macêdo; o Sergio, que fez uma excelente exposição; o Leandro, que

foi o outro palestrante que nos brindou também com excelente exposição; o

Paulo Cavalcante, o Cláudio Leal. Dizer para vocês que eu tinha preparado

uma exposição, mas, depois de tudo que eu ouvi aqui, resolvi deixar a expo-

sição de lado. Vou falar um pouco com o meu coração, vou falar um pouco

com a minha recordação e com minha lembrança de nordestino, e de gran-

des sonhos que a gente sempre teve. A diferença de lá para cá é que hoje

nós vivemos um país forte. Estamos no século de sorte do Brasil. Nosso país

dispõe de todos os recursos de que o mundo precisa; nós temos energia de

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571RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

todos os tipos; com a descoberta do pré-sal, que tem uma área do tamanho

do estado do Ceará - são cento e quarenta e sete mil quilômetros quadra-

dos - nós temos o petróleo que nós não tínhamos antes. Nós temos energia

eólica, nós temos hidrelétrica, enfim, nós temos todos os tipos de energia.

Nós temos 14% da água doce do mundo. Essa é uma riqueza tão importante

quanto o petróleo, nesse século. Nós temos 334 milhões de hectares de ter-

ras agricultáveis, um terço não utilizada, 90 milhões utilizadas com pasta-

gens. Então o Brasil tem todas as condições para avançar, e avançar muito.

E nós temos uma vantagem sobre todos os outros países, que é a vantagem

de termos um selo de qualidade de bastante importância, que chamamos

“democracia”.

Quando a gente vê o mundo de hoje, a gente vê que quem está crescendo;

são os países emergentes, sobretudo os brics, que ultrapassaram o PIB dos

Estados Unidos, ultrapassaram o PIB da Europa, que antes, só os Estados

Unidos representavam quase 50% do PIB do mundo. E o dinamismo da nova

economia está exatamente nesses novos países. Aí estarão os novos con-

sumidores e aí estarão as novas oportunidades. Não é à toa que os maiores

países em população do mundo, Índia e China, encontram-se num processo

de urbanização acelerada. A China já ultrapassou os 50%, a Índia está em

30%, e aí estarão os grandes consumidores. E é isso que a gente vê no mun-

do hoje, são os velhos ricos com a dor da perda e os novos ricos com a dor

do parto. E entre esses novos ricos, para a nossa sorte, nós vemos o Brasil

tendo uma grande oportunidade.

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572 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

Agora, nós temos que abandonar uma visão de um país que é uma ca-

racterística latina: nós não gostamos de coisas abstratas, nós gostamos de

coisas concretas. Então, nós somos mais críticos do que visionários, nós

olhamos muito mais o passado do que o futuro, nós somos mais arqueólogos

do que construtores. E essa é uma grande dificuldade que nós temos no

nosso país de hoje. Uma tumba de um faraó de mil anos? Se a gente abrir

daqui a mil anos, vai estar igual. Agora, daqui a cinco anos o mundo estará

diferente. Aí estão as coisas acontecendo, e nós temos que sair daquela fase

do “não pode” e entrar na do “como pode”.Temos que ter ousadia de quem

quer ser grande, de quem quer crescer, de quem quer construir o futuro. E

o Brasil tem todas as condições para isso. Nós temos riquezas, nós temos

reservas, nós temos taxas de juros caindo, nós temos um mercado consumi-

dor bastante forte, nós temos uma classe média forte, nós fomos capazes

de fazer grandes transformações. E mesmo os movimentos recentes de rua

representam um desejo de participação da população brasileira em um novo

momento. Uma demonstração de quem se cansou do velho modelo, uma

demonstração que se quer caminhar em outra direção.

Eu deixei o Senado há onze anos atrás e deixei a reforma política apro-

vada no Senado. Aprovei financiamento público em campanha, aprovei voto

distrital, aprovei fidelidade partidária, aprovei cláusula de desempenho, en-

tão tudo foi aprovado há onze anos, por quê? Porque eu sentia que naquele

momento já existia uma separação entre o eleitor e o eleito. Entre quem se

achava dono do mandato e aquele que queria uma representação. A gente

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573RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

precisaria ter partidos fortes para poder fazer a transformação. E o que a

rua nos disse é que de um lado nós avançamos muito, mas do outro lado,

na área pública, não está havendo a resposta que a sociedade espera. Nós

estamos saindo, como foi falado aqui, acho que foi pelo Sérgio, nós estamos

saindo de uma eleição municipal. Nessa eleição não se discutiu nada de ur-

banismo, de qual cidade se queria, que modelos se queria, que mobilidade

social se queria. Temos que refletir sobre isso e partir para um novo modelo.

E o novo modelo parte de debates como esse, desse fórum que vocês

estão realizando, de se criar uma nova oportunidade, de se discutir, para de-

finir exatamente o que nós queremos e qual é o desejo da população. Porque

uma democracia se baseia numa agenda feita não por políticos, mas pela

sociedade.

Cada político, qualquer que seja a sua classe, qualquer que seja a sua

visão, dentro da agenda definida pela sociedade, vai ter uma visão de como

resolver o problema. Mas, os problemas são definidos pela sociedade. Daí,

você ter a continuidade entre governos diferentes, porque a agenda é defini-

da pela sociedade.

Na hora que a agenda é definida pelo governo, muda o governo, muda a

agenda e aí não tem continuidade, e as coisas não acontecem. E é isto que

nós estamos precisando fazer no nosso país, daí a necessidade de fortaleci-

mento dos partidos, daí a necessidade de os partidos terem programa, pro-

posta, discussão, debate, para que a gente possa chegar ao nosso grande

desejo.

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574 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

E o nosso Nordeste tem uma característica bastante marcante: nós sem-

pre tivemos um poder político muito grande. O Nordeste sempre decidiu as

últimas eleições no Brasil. Para se ter um exemplo, na última eleição, da pre-

sidenta Dilma, ela ganhou por cerca de doze milhões de votos, dez milhões e

tanto foram no Nordeste; então a diferença: o Nordeste deu 89% da vitória da

presidente Dilma, 89% foi dada no Nordeste. E nós temos que transformar esse

nosso poder político, essa força política, essa unidade política, numa vontade

que sirva para transformar o Nordeste. E a grande transformação do Nordes-

te tem que se dar pela saída dos setores tradicionais, em busca dos setores

dinâmicos. O Brasil hoje tem três grandes locomotivas: energia, agrobusiness

e minerais; em nenhuma das três o Nordeste é forte. No passado, ser indus-

trial era sinônimo de ser rico. Quem era da área de serviços ou do agronegócio

não era considerado rico.Isso mudou, o mundo mudou. Na área industrial, 40%

do investimento é em óleo e gás, e o Nordeste só tem uma participação peque-

na, que vai ser aumentada pelas refinarias que lá se vai construir, e não pela

produção. O outro setor importante da nossa economia é o setor de serviços

e agricultura, que representa 40% do investimento. Nós também, no Nordeste,

uma participação muito pequena. E infraestrutura, nem se fala.

Então, o que a gente tem que aproveitar são as vantagens comparativas

que nós temos. Nós temos hoje uma estrutura portuária, talvez a melhor

do Brasil, representada pelos portos de Itaqui, Suape e Pecém. Agora, nós

temos que questionar alguns dados importantes, citados pelo Sérgio. Quan-

to é que está se gastando em ciência e tecnologia no Brasil? Quanto é que

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575RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

está se gastando no Nordeste? Quanto é que está se gastando em educação

no Brasil? Quanto é que está se gastando no Nordeste? Isso provoca um

enorme fosso, uma enorme diferença. Porque tem um outro aspecto; eu até

tentei atualizar esse número, mas não deu tempo porque eu viajei.

Quando eu fui candidato a governador, acho que há onze anos atrás, eu

fiz um estudo sobre a economia do Ceará. A gente recebia, naquela época,

R$ 16bilhões de transferência do governo federal, mas nós tínhamos um dé-

ficit com o Brasil de R$ 14 bilhões. Então, o dinheiro passeava pelo Ceará,

mas não ficava.

A gente teria que pensar num índice de regionalização, para que parte

desses investimentos ficasse aqui; porque não adianta você construir uma

fábrica, como foram feitas diversas, e a fábrica só fornecer emprego de chão

de fábrica. Todo o resto vem de fora, não se cria infraestrutura, não se cria

nada. E uma coisa que a gente tem que mudar é a política de incentivo do

Brasil. Essa política foi toda baseada em dar incentivo a investimentos no-

vos e não a setores da economia.

Resultado: o investimento novo mata o velho. E o velho era o regional, era

feito por pessoas que tinham investimento na região. Então, na hora que

coloco uma fábrica de cerveja e tenho incentivo, e a fábrica de cerveja velha

não existe mais, o que acontece? A fábrica de cerveja muda de lugar e você

perde a competitividade.

Então, hoje no Nordeste nós fragilizamos muito o capitalismo local, so-

bretudo em termos de empresa. Hoje, ao contrário do que ocorria na minha

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576 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

geração, onde você tinha muitos empresários e pouco capitalistas, hoje você

tem muito capitalista no Nordeste sem empresa. E isso tem que modificar,

para que a gente possa avançar em busca de uma direção diferente, dando

ao Nordeste aquilo que o Nordeste precisa.

Então, a gente tem que pensar junto e definir o que precisa. No passado,

o Nordeste já teve união política.

Hoje o Nordeste é completamente dividido. Hoje cada estado pensa em

si e, mesmo dentro do estado, a gente não consegue uma unidade. Então, a

gente precisaria, dentro desse planejamento, pensar o que seria importante

para que o Nordeste pudesse recuperar a sua posição, pudesse sair desses

13% do PIB, com 28% da população do país, para um número mais expressi-

vo, que representasse um crescimento também mais expressivo. E isso teria

que ser uma decisão regional. Por que não fazer um acordo, uma aliança, por

que não sentarem na mesa, Ceará, Bahia, Pernambuco e os demais estados,

e pensar o que seria bom para cada estado? Um apoiar o outro de forma que

a gente pudesse se transformar. Porque, para uma região como o Nordeste,

como o Norte, como o Centro-Oeste, o governo federal tem que ter o papel

de indutor, mas tem que ser indutor de investimento específico, não pode ser

indutor do bazar onde tudo cabe.

O incentivo tem que ser dirigido para áreas específicas e que venham

a representar um crescimento econômico, social, de emprego, por meio do

qual a gente possa buscar a equidade regional e social. Porque a gente tem

dificuldade, o interior do nosso Nordeste sofre um esvaziamento muito gran-

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577RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

de, com a agricultura moderna, agricultura de investimento e com o bicudo,

que acabou com o algodão. Hoje, você vive muito da política de transferên-

cia, política de bolsa-renda, bolsa-família, que é a grande renda. Agora, o

que acontece? Você vai ao comércio, vai à feira, o bolsa-renda, é distribuído,

você tem um movimento, quinze dias depois acabou o comércio, e você vai

ver os caminhões com placa da onde? De outros estados.

Então, precisamos dar prioridade a essas questões, essas discussões

maiores sobre a retenção, como trazer investimentos tecnológicos,investir

em tecnologia, investir em educação, se preparar para que haja uma igual-

dade de competição, sobretudo nesse Brasil de hoje, que, para o nosso or-

gulho, é um país que tem reservas, que vive no pleno emprego. Estamos

com desemprego de 6% o que é uma coisa fantástica para o país. Mas, na

hora que você está com o desemprego como está no Brasil, os salários se

igualam; e aí quem tem maior produtividade, quem tem mais investimento

em tecnologia, quem tem maiores conhecimentos, tem muito maior poder

de competição.

Então, é a esse novo Nordeste que nós temos que pensar e que nós te-

mos que criar. Porque em casa que falta pão, todos falam e ninguém tem

razão. E a gente tem experiências bem-sucedidas. A gente pode indicar po-

los que representam localizações bem-sucedidas no Nordeste. Vou citar um

caso, quer dizer, a minha experiência com a indústria naval. Essa era uma

indústria que havia sido a segunda maior do mundo, na década de 70. O Bra-

sil tinha desaparecido dos radares do mundo. Foi uma decisão de governo,

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578 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

uma decisão do presidente Lula, de que o petróleo não seria uma maldição,

de que todas as necessidades se transformariam em oportunidades para o

povo brasileiro. Seria mais uma oportunidade para o povo brasileiro poder

mudar a sua vida, mudar a sua realidade. O que não deveríamos era repetir

a experiência anterior, de fabricar navios a qualquer custo. Eu não queria

fabricar navios, eu queria construir uma nova indústria naval. Uma indús-

tria naval que fosse competitiva, uma indústria naval que, após a curva de

aprendizado, fosse competitiva a nível mundial, em igualdade de condições

com outros players do setor.

Eu vivi no Brasil quatro momentos. Uma primeira etapa que não tinha

demanda. Uma segunda etapa que não tinha crédito; quer dizer, se você en-

trasse num banco você quebrava; a terceira etapa era a que não tinha nem

tecnologia nem engenharia. Isso está ultrapassado.

O problema do Brasil hoje é de gestão, o problema do Brasil é de com-

petitividade. E a gestão não está no chão da fábrica, não é chão da fábrica

que cria problemas, como disseram lá atrás sobre os meus navios, que um

cortador de cana não podia ser um soldador.

Isso não é verdade, é preconceito. Qualquer bom maestro transforma um

tocador em músico, e qualquer mau maestro transforma um músico em um

tocador. Então, o que faltava era oportunidade. E essa oportunidade foi dada,

e aí está a indústria naval evoluindo.

Agora, o Brasil é o único país onde o segundo lugar é beijo de irmã, ninguém

dá nenhum valor. A gente só quer ser o primeiro, ninguém tem paciência.

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579RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Só quem acredita em história de carochinha ou de fada madrinha é que

acha que você vá fazer alguma coisa nova e acertar de primeira. Não é verda-

de. O maior fabricante de navios do mundo, que é a Hyundai, não teve aceitas

as duas primeiras encomendas de dois petroleiros suezmax, o cliente não

aceitou porque a qualidade não prestou; imagina se isso tivesse acontecido

no Brasil. Não aconteceu. Nós tivemos, no primeiro navio, mais retrabalho,

trinta e poucos por cento; no segundo navio, esse retrabalho caiu para 16%;

no terceiro, caiu para 8%, e, no quarto, para 3%. O brasileiro aprende, o que

o brasileiro precisa é de uma oportunidade.

Anova indústria naval brasileira hoje é uma realidade. Nós somos hoje a

quarta maior carteira de navios do mundo, e a terceira em petroleiros. Ultra-

passamos o Japão. O Japão está aí, vindo juntar-se a nós, porque nós temos

tudo de que a indústria naval precisa para isso: nós temos demanda, nós

temos financiamento e nós temos infraestrutura. Mas, isso é pré-condição,

não é condição suficiente para ter um navio. Para ter um navio, você tem

que ter o outro lado, que é a gestão, que é o planejamento, que é o projeto

acabado, que é o acabamento avançado, que é o controle de qualidade, que

é o treinamento, e é isso que faz a diferença, e é isso que faz com que nós

sejamos competitivos. Esse é o maior desafio que nós temos no Brasil. Este

é o maior desafio que nós temos no Nordeste.

E para vencer esse desafio, duas coisas são fundamentais: educação e

tecnologia. E esse é o investimento que nós precisamos fazer, é essa procura

que nós vamos fazer, é esse tipo de indústria que nós temos que definir. Te-

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580 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

mos que definir como é que nós vamos regionalizar o processo de industria-

lização no Brasil, o que vai ficar onde, o que vai ficar em quê, o que tem mais

vantagem competitiva, o que não tem, o que vai para o exterior, e aí, sim, nós

vamos ter um país com equidade econômica e social. Esse é o desafio, essa

é a história. E para fazer isso, nós temos o poder político, porque nós temos

o voto para eleger. O que nós precisamos é exercer esse poder político. E nós

não estamos exercendo, porque nos dividimos. Cada estado se achou mais

sabido do que o outro e o Nordeste perdeu o foro de debate. A SUDENE foi

um foro de debate no passado. O Nordeste não tem um local onde se encon-

trar, onde discutir os seus problemas, nem em termos regionais, e, muitas

vezes, nem em termo estaduais. Mesmo em termos estaduais, muitas vezes

você tem dificuldades de discutir os seus interesses comuns.

Daí, eu saudar com muita alegria esse evento, essa reunião aqui no BN-

DES, que é o nosso grande parceiro no financiamento, que tem um “s” de

social, que tem esse sentimento. Agora, ninguém põe tapete vermelho para

ninguém. Se nós, nordestinos, não soubermos o que queremos,se formos

esperar pelos outros, nada vai acontecer. Então, daí a gente ter que sair des-

se seminário com posições claras do que a gente quer, levar essas posições

para discussão na próxima eleição presidencial, dizer que o Nordeste quer

que esses pontos sejam vistos.

Porque nós não aceitamos mais ficar com 13% do PIB,tendo 28% da po-

pulação. Nós não aceitamos mais assistir a banda passar. E é possível, tem

o exemplo do estaleiro, tem o exemplo do que está acontecendo em alguns

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581RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

estados. Nós temos competência. O que nós temos é que nos direcionar,

juntar nossas forças, brigar, procurar o nosso melhor espaço. E é muito bom

isto acontecer num momento em que o Brasil é um player mundial, está fa-

zendo parte da geopolítica mundial, tem dinheiro, apesar de muitas críticas

dos descrentes de sempre, acho que no Brasil está acontecendo muita coisa

boa. E nós temos melhores condições do que a maioria dos países. Então,

não vamos perder essa oportunidade.

A nossa geração está tendo oportunidade de escrever a história, e não ape-

nas de ouvir ou ler a história. Não podemos perder essa oportunidade. Como

foi demonstrado aqui, nós temos ferramentas de planejamento interessantes,

podemos ser eficientes na aplicação dos recursos, podemos não ter desperdí-

cio, No Brasil ainda temos muito mais desperdício do que falta de recursos. E

melhorar a eficiência é o objetivo da gestão pública. Esse é o grande esforço

da presidenta Dilma. Esse foi o grande esforço do presidente Lula: organizar,

fazer. Está aí o PAC. Agora, ninguém vai dizer o que é importante, nós temos

que nos juntar e mostrar o que nós queremos, e falar alto e em bom tom. Foi

esse o CIC do qual eu fiz parte, e eu tenho certeza que esse é o mesmo CIC de

hoje. É o que reunia candidato a governador, que fazia debate, que mostrava,

que oferecia solução. A gente acabou indo para o governo, por uma dessas cir-

cunstâncias, mas não era o nosso objetivo e, agora, é um novo momento, de um

novo Brasil, de uma nova era na qual temos que fazer esse desenvolvimento.

Nós temos um desafio muito grande no interior do Nordeste. A gente

tem que acabar com aquela visão do DNOCS de combater a seca; ninguém

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582 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

combate a seca, a gente convive com a seca, e para isso nós temos que

ter a tecnologia de convivência, de melhoria de renda; claro que a política

compensatória é importante, como um grande instrumento. Foi, talvez, um

dos programas de maior retorno econômico e social, pelo seu valor, mas

nós temos que avançar para também sermos produtivos e encontrarmos o

nosso caminho. E numa região pobre o caminho é a tecnologia, o caminho é

a educação, o caminho é a indústria de ponta.

Nada menos que 70% do investimento previsto para os próximos quatro

anos no Nordeste serão na indústria. Mas, se você achar que quase tudo

que você vai gastar no Nordeste nos próximos quatro anos será na indús-

tria, algo está errado. Algo está fora de sintonia porque a gente sabe que

a indústria hoje, para ser competitiva, é poupadora de mão de obra, ela

tem que ser de tecnologia extremamente avançada ou não vale a pena. Não

adianta você fazer uma indústria que vá viver à custa de incentivo; o incen-

tivo não pode ser prótese, tem que ser muleta. Ele tem que ser retirado de-

pois de um certo tempo. Então, eu tenho certeza que o Nordeste não vai se

viabilizar, não vai ter uma equidade social na base da indústria, nós temos

que buscar outros caminhos. Nós temos que alimentar a nossa academia,

colocar dinheiro em centros de treinamento. E esse é o nosso grande desa-

fio. E essa é a grande oportunidade desse seminário para que a gente possa

repensar o nosso futuro.

Nós estamos naquela encruzilhada: ou mudamos de rumo ou de ramo.

Como nós não queremos mudar de ramo, é hora de mudarmos de rumo, é

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583RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

hora de assumirmos uma postura politicamente agressiva, é hora de deixar-

mos de lado as vaidades, é hora de voltarmos a nos juntar, porque eu acho

que, juntando todos os nordestinos, não há possibilidade, num primeiro e

num segundo tempo, de haver qualquer divergência; divergência pode haver

a partir de um terceiro, quarto ou quinto tempo. E é hora de a gente juntar a

nossa força eleitoral, para que a gente possa ter esperança e possa acredi-

tar. O governo federal tem feito a parte dele.

O governo federal tem feito o esforço dele, mas ele sozinho não vai re-

solver, se nós não tivermos a participação bastante maciça das nossas li-

deranças. E não podemos ficar omissos, porque hoje estamos vivendo em

um país do “não pode”. Nós não podemos aceitar, desenvolvimento é ato

de ousadia. Mao TseTung já dizia: “Se você estiver fazendo alguma coisa e

não tiver resistência, mude,porque você não está fazendo nada”. E eu acho

que nós, do Nordeste, estamos vivendo esse período sem resistências, sinal

que estamos fazendo muito pouco. Nós precisamos de uma resistência bem

maior para mostrarmos que estamos no caminho certo. E é dentro dessa

perspectiva que eu vejo esse seminário, dentro dessa perspectiva que eu

vejo minha própria experiência.

Eu vivi um momento, acho que há uns dez anos, vivo uma experiência

muito rica na TRANSPETRO. Peguei uma empresa que faturava R$ 1,9 bi-

lhão, hoje fatura R$ 8 bilhões; investia R$ 35 milhões, e, no ano passado,

investiu R$ 1,6 bilhão. Os nossos navios estavam na curva da morte, e a

indústria naval brasileira renasceu, e renasceu forte, está no rumo certo.

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584 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

Hoje, nós temos sondas, plataformas, o Brasil passou a ser um player, pos-

sui a quarta maior carteira de encomendas de navios em geral,e a terceira

carteira mundial de petroleiros. Isso foi fruto de uma decisão, de uma ne-

cessidade, de uma vontade. E é essa decisão que nós, nordestinos,temos

que tomar para colocar o Nordeste no seu lugar. Porque, hoje, inclusive, nós

temos um certo capital no Nordeste que nós não tínhamos no passado. En-

tão, vamos em frente, sigamos em frente com esse seu projeto e que ele se

conclua com algo que todos nós, nordestinos, possamos estar em torno dele.

Toda a classe política precisa estar unida,, esquecendo diferenças menores,

coisas adjetivas, e pensar no substantivo, que é mudar o perfil da nossa re-

gião, criar um novo paradigma e olhar o futuro com esperança, como a gente

pode olhar para o futuro do Brasil. O Brasil foi, o Nordeste tem que ir junto.

Muito obrigado a todos.”

Cláudio Leal: “Obrigado, dr. Sergio. Eu quero agradecer a exposição dos três

palestrantes da mesa. Eu vou pedir ao professor Paulo Cavalcante, profes-

sor da Universidade Federal da Paraíba, relator dessa mesa, que faça o apa-

nhado de tudo que foi dito, as suas considerações”.

Paulo Cavalcante: “Boa tarde a todos. Inicialmente, agradecer imensamen-

te o privilégio de estar aqui nessa mesa, nesse evento, pode ser que eu este-

ja puxando a brasa para a minha sardinha, mas eu acho que essa mesa, creio

que seja a mais importante, na minha visão, no evento, porque discute um

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585RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

instrumento fundamental para qualquer coisa que a gente discutiu ou venha

a discutir, que é a questão do planejamento e de projeto de nação. Então,

muito rapidamente, obviamente não dá para discutir tudo, e terá um rela-

tório a ser feito. Eu queria chamar atenção apenas para algumas questões

chaves e depois pontuar um ou dois tópicos de cada uma das falas.

Primeiro, é que nós já deveríamos ter superado esse foco em crescimento

econômico. Muito se falou aqui em crescimento econômico, mas também se

falou no elemento fundamental, que não é o crescimento, que é a transfor-

mação estrutural. A história mundial já mostrou, a história do Brasil já mos-

trou e a história do Nordeste já mostrou, que crescer é insuficiente, crescer

não resolve o problema. É preciso crescer para ajudar a resolver o problema,

mas crescimento não resolve o problema. Então, não adianta dizer que o

Nordeste precisa crescer mais do que o Brasil. O Brasil cresceu mais do que

muitas das nações durante o século XX, do que a maior parte das nações, e

a gente está aqui discutindo os problemas do Brasil do século XX. Então, não

é crescimento o foco, é transformação estrutural.

A gente precisa transformar as estruturas do país. E, nesse sentido, a

fala do Sergio eu acho que foi perfeita, na direção correta, já conheço o Sér-

gio de longa data, sei a visão que ele tem da necessidade de transformar a

realidade nordestina e do desafio; ele chamou atenção para o tamanho do

desafio correto. Não é comparar a renda per capita do Nordeste com a renda

per capita brasileira, nós somos 50% da renda per capita brasileira, consi-

derando no cálculo da renda brasileira o Nordeste. O desafio é muito maior,

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586 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

nós somos um terço da renda per capita de São Paulo; esse é o tamanho do

desafio a ser cumprido. Não que a gente, ah... Quero ter a mesma renda de

São Paulo, não é isso, mas o tamanho do desafio precisa ser adequadamente

colocado.

Então, o que precisa ser feito é de grande envergadura e não vai ser fei-

to sem planejamento, não vai ser feito sem planejamento público, em larga

escala, o que foi destruído nos últimos trinta anos nesse país. E aí quando

eu vejo o Leandro falando do esforço do governo federal e de governos esta-

duais e municipais, e tentar reconstruir a atividade de planejamento público,

chega a dar uma dor no coração. Eu fui pró-reitor de planejamento da minha

universidade e eu sei no meu microcosmo, tinha lá quatro mil servidores,

dois mil e quinhentos professores, e como tentar planejar um desenvolvi-

mento naquela instituição em cinco anos. E, então, eu puxo a lembrança de

um grande pensador, de desenvolvimento, o Hirschman, onde ele fazendo

avaliação de projetos de grande envergadura ou pequenos, ele dizia: “Em

países subdesenvolvidos, você tem mais eficiência em grandes projetos do

que no pequeno”. Porque você dá dinheiro para construir uma estrada, a

estrada pode muito bem ser mal feita, pode ter um grande roubo nas verbas

e, em seis meses, o buraco voltar, mas é estrada. Agora, ninguém faz isso

com hidrelétrica, ninguém faz uma hidrelétrica mal feita, ninguém faz uma

usina nuclear mal feita, em qualquer país do mundo, porque, se der errado,

a repercussão é monstruosa. Então, a gente tem que se focar nisso, nessa

capacidade de fazer grandes projetos.

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587RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

E aí eu puxo o meu exemplo na universidade, a Universidade Federal da

Paraíba, no projeto REUNI, do governo federal ela foi o segundo maior pro-

jeto do país em termos de investimento para transformar a universidade. A

gente, em cinco anos, como JK, dobramos o tamanho da universidade; ou

mais do que dobramos, a gente tinha dezoito mil alunos, hoje tem 43 mil alu-

nos. Nós somos o terceiro orçamento do estado da Paraíba.

Então, se a gente conseguiu fazer isso numa universidade, ou seja, se

propor um projeto dessa envergadura num estado pequeno, com uma defi-

ciência na qualificação de mão de obra e de todos os outros recursos, por

que que esse país não pode? Então, quando a gente vê a trajetória, alguém

apostou em setenta e cinco anos, pra gente alcançar um certo patamar da

renda per capita nacional, a gente tem que colocar o seguinte desafio: o Bra-

sil é um anão político-econômico no mundo, uma aberração o nosso país. A

história mundial dos últimos cinco séculos é uma meia dúzia de países que

dirigem o mundo, que são líderes, uma outra meia dúzia que vive ali, na beira

da porta, tentando entrar. O Brasil é essa meia dúzia que fica o tempo todo

ali, eternamente ameaçando entrar, nessa posição. Se a gente quiser entrar,

se a gente quiser ser um ator político e econômico, o Brasil não pode per-

der mais que uma década. Eu acho que o tamanho do desafio nosso é, em

uma década resolver as diferenças estruturais. Mas, resolver as diferenças

estruturais não significa que, em uma década, a gente vai ter 75% da renda

per capita do país. Por quê? Dou de novo o exemplo da Paraíba, a Paraíba du-

rante a última década, cresceu mais do que Pernambuco. Todo mundo fala

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588 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

de Pernambuco, mas a Paraíba cresceu mais do que Pernambuco na última

década. E por que todo mundo fala de Pernambuco? Porque o crescimento

de Pernambuco é qualitativamente diferente do crescimento da Paraíba.

A Paraíba cresceu muito, e o Sérgio mostrou como os estados da perife-

ria do Nordeste cresceram até mais do que os centrais, Pernambuco, Ceará

e Bahia, mas por quê? Se o bolsa-família é considerado no país uma das

alavancas do crescimento, e ele impactou mais o Nordeste, porque é onde

tem mais pobre, dentro do Nordeste, ele impactou mais em quem era mais

pobre. Então, a periferia do Nordeste se beneficiou mais de salário mínimo,

se beneficiou mais de seguridade social, se beneficiou mais de bolsa família.

A gente cresceu; cresceu fazendo o quê? Comprando motocicleta, com-

prando carro, comprando tv de tela plana, que não é produzido lá. Então,

houve um grande crescimento econômico, todo mundo está se sentindo

melhor, João Pessoa é uma cidade que tinha cinquenta mil motocicletas,

agora tem quinhentas mil motocicletas numa cidade de setecentos mil ha-

bitantes, praticamente uma motocicleta por habitante. O maior hospital do

estado, 90% das atividades dele é tratar motociclistas acidentados. E aí o

sujeito ganha crédito para comprar uma moto e depois a gente recebe um

fluxo de renda federal, porque ele vai se aposentar por invalidez, porque ele

ficou tetraplégico e a gente vai receber uma renda de aposentadoria por

invalidez para o estado. Ou seja, não é crescimento econômico, não é fazer

o Nordeste crescer mais do que o país, é mudar as estruturas. Mudando as

estruturas, com o exemplo de Pernambuco, que está mudando o seu perfil

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589RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

produtivo, depois, não naturalmente, mas o potencial em seguida se amplia

e aí é muito mais fácil.

Se você, hoje, o que eu estou dizendo hoje, no intervalo de uma década,

você muda radicalmente a estrutura, a infraestrutura, a de ciência e tecno-

logia também, a estrutura do padrão financeiro que vai financiar essa trans-

formação, depois dessa primeira década o país está pronto para ser um ator

global, porque ele não vai ser um ator global enquanto tiver uma região do

tamanho do Nordeste na situação do Nordeste.

Então, eu acho que os três expositores mostraram essa problemática. O

Sérgio mostrou a importância de investimentos estruturadores, investimen-

tos em alta tecnologia no Nordeste, mas também ele revelou os dados que

dizem que crescimento não é a questão, é a transformação estrutural. O

Leandro mostrou todo o esforço do governo federal, mas a gente percebe

que o que há no Brasil, ainda, infelizmente, é um planejamento ex-post, eu

coleto as informações sobre quais são os projetos que o setor privado está

fazendo e depois eu tento ligar as pontas: “olhe, esse negócio aqui é muito

parecido com esse aqui, dá pra gente fazer uma pontezinha”. Mas a gente

não tem uma visão de futuro, onde é que a gente quer chegar, não se sabe

onde se quer chegar com o Nordeste. A coisa mais comum é dizer que a ren-

da per capita fala numa trajetória de convergência, mas o que significa essa

renda per capita não está dito.

Então, eu acho que essa mesa de planejamento é crucial, os resultados

desse evento, que parabenizo os formuladores, têm que estar fortemente

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590 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

calcados nessa ideia de planejamento público e de um projeto de nação,

onde o Nordeste é motor desse projeto de nação. Não porque nordestino é

melhor do que alguém, porque a cultura no Nordeste é muito bonita ou algo

do tipo, apenas por uma questão de justiça social, mas é claro que também

isso, mas porque não vai ter projeto de nação global com um pedaço desse

tamanho do país do jeito que é. Então, eu agradeço a oportunidade porque

acho importante chamar atenção para esses aspectos. Obrigado.”

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Mesa IV: Oportunidades e Desafios para o Nordeste - Visão Internacional

Moderador

Sérgio GusmãoChefe de Gabinete da Presidência do BNDES

Coordenação

José Viegas FilhoEmbaixador

Palestrantes

Ignacy SachsProfessor Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

Bóris UtriaCoordenador do Banco Mundial para o Brasil

Relator

Lúcia FalcónProfessora UFSE

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593RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

MESA IV

OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA O NORDESTE - VISÃO INTERNACIONAL

Palavra do Embaixador | José Viegas

“Boa tarde a todos, eu sou José Viegas, tenho a honra de coordenar esta

mesa que, falando sempre dos desafios e oportunidades no Nordeste, agora

o tema será apreciado do ponto de vista das relações internacionais.

Eu tenho ao meu lado, o professor Ignacy Sachs, da Escola de Altos Es-

tudos de Paris, ao contrário do que diz o ícone, ele não é um funcionário das

nações unidas, se trata de um professor universitário com uma bela pas-

sagem também pelas universidades brasileiras, como a Cândido Mendes,

e com o título de dr. concedido pela Delhi School of Economics. O profes-

sor Sachs, como os senhores sabem bem, ele tem um título que todos nós

gostaríamos de ter, título não, fama, como “eco-socioeconomista”, esta é o

humanismo do século XXI, esses são os temas mais importantes, além da

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594 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

política, naturalmente, e das guerras que o mundo tem que resolver nessas

próximas décadas.

Também tenho ao meu lado esquerdo, o professor Bóris Utria, que é o

coordenador do Banco Mundial para o Brasil, residente no Brasil. Também

um homem de larga trajetória, sobretudo na África, onde ele acumulou gran-

de experiência em diversos países africanos e, hoje, passando pela parte

universitária, tem mestrado em economia agrícola e planejamento regional

pela Universidade de Guelph, no Canadá, e uma menção honrosa de MBA

em economia pela Universidade Católica do Rio de Janeiro. O professor

Utria, então, tem uma condição muito apropriada para falar desses desa-

fios, uma vez que ele conhece bem o Brasil e conhece melhor ainda o Banco

Mundial. Eu vou pedir ao professor BórisUtria que seja o primeiro a nos dar

o prazer de escutar sua voz.”

Bóris Utria: “Boa tarde e muito obrigado ao presidente de mesa. Só uma

pequena declaração também, eu gostaria de ser, mas não sou professor. Eu

sou um professor frustrado, mas, ainda, quando eu me aposentar do Banco

Mundial eu vou, se tiver sorte, eu acabar sendo professor.

Eu vou fazer uma apresentação o mais rápido possível para vocês e a

ideia é apresentar algumas cifras, do ponto de vista do Banco Mundial, quer

dizer, as estatísticas que a gente trabalha no Banco Mundial e que, portanto,

da influência da visão como é que nós vemos o Nordeste. Depois, vou fazer

um quadro resumo de quais são os desafios principais e as oportunidades

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595RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

principais que nós vemos que, na linguagem do Banco Mundial, um desafio

para nós é uma oportunidade. O Banco Mundial faz seu trabalho, focaliza

seu esforço justamente nisso, identificando os desafios e vendo como é que

o Banco Mundial pode contribuir, primeiramente através do conhecimento

global, através de estabelecimento de parcerias de conhecimento e depois

acompanhando isso com programas de investimento, seja para estimular

o investimento público, seja para criar ambientes e estimular investimento

privado, ou então consórcio dos dois. E nos casos onde não tem nem um nem

outro, então a gente dá financiamento para programas, sobretudo, de incen-

tivos de interesse social e ambiental. E depois, vou citar alguns exemplos de

algumas das coisas que a gente tem feito no Nordeste recentemente, para

vocês terem uma pequena ideia, mais clara, talvez, do que a gente trabalha.

Eu assumo que vocês conhecem o Nordeste muito melhor do que eu, então

eu não vou pretender dar uma aula sobre o Nordeste, mas condiz apresentar

algumas das percepções e lições que nós temos, e os fundamentos que a

gente trabalha.

Então, a primeira é a seguinte: aqui, embora tenham muitas estatísticas

em anos mais recentes, sem dúvida, a área do Nordeste é a área de maior

crescimento no Brasil e, quando você pega um período um pouquinho mais

comprido, definitivamente o Nordeste está crescendo, nos últimos dez anos,

acima da média nacional e, particularmente, acima do Sul e do Sudoeste,

mas ainda um pouquinho mais atrás do que o Norte e o Centro-Oeste. Em

dados mais recentes, o Nordeste está na frente. Agora, a importância disso

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596 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

aqui, mais do que a comparação com o Norte e o Centro-Oeste, é a com-

paração com o Sul e Sudeste e, sobretudo, em relação a ver a forma desse

crescimento e a expressão que, na verdade, o Nordeste constitui a terceira

faixa de representatividade e de importância econômica no país, em termos

de participação no PIB nacional.

Vocês veem aqui na faixa roxa do meio, que é o Nordeste, na qual vocês

têm uma evolução gradual, que tem passado de 95 até 2010 de 12 a 13,5

e a tendência é continuar crescendo. Então, o fato mais claro é esse que

o Nordeste é uma área em expansão, é uma área em crescimento, e isso

implica em uma série de oportunidades e uma série de problemas também,

em termos da economia e dos recursos. Esse quadro, rapidamente, mostra

que há diferença entre as diferentes áreas de crescimento e o fato mais

importante, talvez, relevante, eu vou ressaltar aqui, é o fato que a agricul-

tura do Nordeste, em relação ao produto nacional bruto do país como um

todo, ela tem decrescido; quer dizer, o peso da agricultura, a relevância da

agricultura em termos do PIB nacional tem decaído, ao passo que a parte

industrial dos serviços tem crescido ao longo do período. Então, tem uma

super convergência, esses dados são sempre tomados com um pouquinho

de cuidado, na medida que, isso não quer dizer que a agricultura hoje seja

menor no Nordeste, necessariamente. O que quer dizer simplesmente que

em relação à participação do setor agrícola do Nordeste no resto do país

tem uma preponderância menor, não quer dizer que em termos reais, não

quer dizer que em termos nominais ou termos de continuação da ativida-

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597RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

de agrícola do Nordeste tenha decaído e que outros setores cresceram a

mais.

Esse gráfico eu acho super interessante, porque ele mostra que essas

taxas de crescimento e essa atividade econômica não têm sido assim como

um bloco fixo. Todo o Nordeste mostra um crescimento, não sei se alguém

tem o ponteiro, não sei se dá para ver a diferença de cor, tem umas faixas

aqui bem tênues, tanto a azul como a vermelha, a vermelha são os estados

do Nordeste, isso mostra primeiro que em termos de percentual de cresci-

mento tem uma dispersão que se tem em estados como o Maranhão, que

está bem acima da faixa de crescimento, estados como o Rio Grande do

Norte, que está na faixa mais modesta. Então, ao longo de tudo, tem todas

as faixas de crescimento, não é só um bloco monolítico que se comporta

homogêneo, sinal que tem uma certa heterogeneidade. Mas, o importante

nisso aqui é ressaltar que em todos os casos tem um diferencial do cresci-

mento muito importante nos últimos dez anos. Você compara 95 com 2003,

ou então 2003 com 2010. Se você compara com as faixas azuis, talvez a taxa

de crescimento, o diferencial dessa taxa de crescimento, é muito mais mar-

cado no estado do Nordeste, voltando àquela questão que o Nordeste está

crescendo, tem toda tendência a continuar crescendo e isso gera uma série

de oportunidades e também gera uma série de desafios mais na frente.

Esse gráfico também é interessante. Debater esse gráfico vai levar uma

meia hora, mas só para mostrar que tem uma relação importante com re-

lação ao crescimento do PIB e a redução da taxa da pobreza. Esse aqui é

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598 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

um valor negativo, quer dizer, maior taxa de redução, mas não é redução de

pobreza, é taxa de redução de pobreza. Então, você tem certos estados que

tem uma correlação aqui bem clara, Maranhão, caso outra vez isolado, mas

nas estatísticas se pode ver uma curva aqui que vai, a medida que aumenta o

aquecimento da economia, você tem uma taxa maior de redução da pobreza.

Esse gráfico aqui também para mim é um dos gráficos mais claros e que

eu gosto mais, porque eu acho que ele conta uma história e mostra uma ten-

dência muito clara, que é inquestionável. Se na economia você vê aqueles

gráficos overs, às vezes parecendo sensor, esse aqui é uma coisa mais clara.

Você tem a taxa de pobreza, uma redução ao longo desse período todo de

91 a 2010, com pontos de inflexão aqui em 2000 e uma queda constante. Isso

aqui não dá para discutir num gráfico claro, qual é a tendência global e a do

Nordeste.E, para não falar de números secos e sem contexto, e tentando

ligar aos painéis anteriores, que eu não tive a chance de participar, mas fui

grifado, você vê que essa redução da pobreza tem uma série de implicações

em termos de aumento do consumo, aumento da participação e aumento de

necessidades, ligando até recentemente os protestos que vocês viram, pes-

soal que tem cobrado a economia, tem mais expectativas, exige mais e, por-

tanto, do ponto de vista de planejamento e investimento requer uma atenção

à resposta do ponto de vista do setor privado, requer uma revisão de onde

vai esse processo econômico, para onde vai esse processo político, como

também requer toda uma visão ambiental de a um maior grau de consumo,

se a gente concorda que a maior redução da pobreza, você tem um aumento

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599RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

de consumo. Então, tem um impacto sobre o consumo de água, consumo de

recursos naturais, crescimento de consumo de alimentos, etc., etc.. Então,

tudo está encadeado um ao outro e precisa ser trabalhado no seu conjunto,

porque só crescimento, talvez, esconde uma variável, a disponibilidade de

água e aumento da produção de água, aumento de produção de energia,

para atender esse consumo excedente. Mas, o fato é que vocês têm uma

história social, uma história econômica e uma história política, que tem um

panorama bem claro e que não tem como se enganar. E não tem uma curva

que de repente sobe aleatoriamente ou que no meio dê uma descida, é uma

tendência muito clara.

E em termos do índice de desenvolvimento humano, a mesma coisa, com

variações nos diferentes estados, não é necessário entrar em detalhes de

que estado é, mas quando você acompanha o movimento de 91 até 2010, tem

uma tendência que não é só uma tendência de crescimento de aumento do

índice de desenvolvimento humano, também, talvez não tão elevada como

a gente quisesse, talvez não tão elevada como a percepção da redução das

vinte e duas milhões de pessoas do bolsa-família e dos programas de repo-

sição, mas uma tendência clara que é convergente com aquele gráfico an-

terior que nós vimos, de redução da pobreza. E o importante disso, que uma

coisa é você calcular a redução da pobreza em termos de ingresso, a outra

é você analisar a redução da pobreza em termos de índice de desenvolvi-

mento humano, que já tem uma textura, já tem outras variáveis, que entram

nisso em termos de condição desse momento, acesso à educação, acesso à

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600 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

saúde, são variáveis já mais complexas e mais completas do que um simples

indicador de pobreza linear.

Esse é outro gráfico muito interessante, que mostra uma pequena dife-

rença entre o índice de educação, em termos de desenvolvimento humano e

em termos da componente educação, longevidade e renda da família. Aqui

vocês vêem que o que tem atrelado em baixo é educação. Isso é uma mostra

da ação, mas também já em termos de planejamento e em termos do setor

privado, o que diz pra gente isso? Diz que a coisa está muito bem, os níveis

estão subindo, a gente está na direção correta, mas, talvez, tem certos ele-

mentos dessa composição, do que seria um pacote de apoio ao desenvolvi-

mento, que estão atrás dessa curva. E a implicação disso é improdutividade

da mão de obra, a implicação disso é custo de produção, a implicação disso é

tudo que vocês no setor privado entende muito bem, problemas de contratar

pessoas qualificadas para ter um nível de produtividade, uma renda e tudo

mais, maior. Então, aqui tem uma estopa, aqui tem uma história que por três

simples linhas eu já começo a construir certos elementos, olhando para o

presente e para o futuro, com relação ao que está faltando. Agora, normal-

mente, aqui tem uma inflexão interessante, e isso se correlaciona também

com o Bolsa-Educação, vocês veem uma inflexão na curva em que essa di-

ferença brutal, para dizer assim, marcante em termos de diferença em nível

de educação com outros, quando se começa a ter uma congruência. Seria

interessante projetar isso mais dez anos e ver como ela se comporta em ter-

mos realmente de atrelamento mais próximo.

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601RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Então, vamos fazer um pequeno resumo do que a gente vê dentro do, ana-

lisando o Banco Mundial, quais são os principais desafios que o Nordeste

tem para continuar esse desenvolvimento. Eu faço questão de repetir que,

quando a gente identifica um desafio, o que a gente está identificando não

é uma barreira, não é uma impossibilidade, a gente está identificando uma

oportunidade de investimento, de melhoramento, de melhoramento de polí-

ticas e tudo mais, para atacar este problema. E a primeira, evidentemente, á

questão da população.

O peso que, basicamente, o Nordeste tem hoje, 28% da população, e, no

entanto, ele só tem 13% do PIB. Isso para já, quer dizer, não é um fato novo,

a gente sabe disso há muitos anos atrás, quando eu morava no Brasil há

trinta anos atrás, como estudante aqui, isso já era, com a diferença que era

pior ainda; quer dizer, a gente tem tido uma convergência muito importante,

mas, ainda, o Nordeste está atrelado, atrasado, ainda o Nordeste está atrás

em termos dessa coerência, em termos de população, participação no PIB,

que tem uma implicação muito importante do ponto de vista de recursos es-

taduais e municipais para investimento, capacidade de investimento geral e

etc., e tudo isso implica em termos da saúde, educação, etc..

E segunda questão é da extensa população rural em situação de pobreza

que existe no Nordeste. Então, além de ter esse atraso com relação ao resto

do país, ainda tem um atraso maior ainda, como a gente diz em inglês, “are

insult to injury”, está aumentando o insulto à ferida e, sobretudo, fazendo a

junção com a parte ecológica de recursos naturais, por exemplo, você tem,

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602 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

por causa dessa pobreza de recursos naturais e meio ambiente, falta água

e tal, falta infraestrutura, você tem uma população economicamente mais

atrasada e isso constitui um passivo social histórico que, embora tenha todo

um trabalho de recuperação, ainda constitui um peso no lastro. Ao mesmo

tempo, reconstitui uma oportunidade e uma necessidade, hoje em dia, cada

dia mais importante, até politicamente. Depois, tem a questão ambiental;

esse ano, nos últimos dezoito meses, então, o Ceará tem a pior seca dos úl-

timos cinquenta anos, e não somente o Ceará, mas o complexo do Nordeste.

E se você pega todos os estudos internacionais sobre a questão do câmbio

climático, eu acho que a gente hoje em dia fala mais sobre maleabilidade

de câmbio climático do que o câmbio climático fatalítico final, que a gen-

te falava há uns cinco anos atrás. Num curto prazo, para o Nordeste, não

faz diferença nenhuma. Se você vai ainda se aferrar à questão do câmbio

climático no final e definitivo ou, então, mesmo avaliação climática muito

maior, o impacto é o mesmo. Ciclos climáticos mais pronunciados, secas

mais pronunciadas, depois períodos de chuvas mais pronunciadas, destruin-

do aquele solo todo seco. Então, para efeitos do planejamento, desse pes-

soal que está aqui na sala, talvez eu seja um dos mais velhos da sala, mas é

o jeito. Quer dizer, uma coisa é pensar em câmbio climático num horizonte

de tempo muito maior, mas, mesmo se a gente deixa essa questão de lado,

o aumento da variedade climática hoje tem um impacto muito série e com

potencial muito grave, e um aumento de meio grau de temperatura por mé-

dia pode ter um impacto de perda substantiva de produtividade agrícola não

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603RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

somente no Nordeste, mas em toda essa faixa climática tropical, incluindo,

Sarrel, na África, aquilo tudo.

Então, são coisas de importância que, embora a discussão científica te-

nha acalmado um pouco em relação ao câmbio climático, tem ainda implica-

ções diretas e a gente está vivendo eles em ciclos muito mais acentuados.

Por que eu faço tanto em fincar pé nisso? Porque, obviamente, isso implica

em um problema que a gente não controla, é o clima, isso implica, então,

que tem que ter uma política de águas, tem que ter uma política de solos,

tem que ter investimentos nessas áreas, não somente em termos de inves-

timento concreto em infraestrutura, mas tem que todo um investimento em

educação, em políticas públicas, para a gente entender o problema e conse-

guir incorporar. Isso tem que cair em termos dos programas universitários;

eu me lembro de quando estudei economia na PUC, faz trinta e cinco anos

atrás, ninguém me falou de clima, ninguém me falou de meio ambiente.

Quando você chega a ser economista, a fazer planejamento, você nem

sequer na faculdade é treinado para entender que a economia opera no meio

ambiente. Então, por questões do tipo é que hoje estamos muito mais adian-

tados, mas, mesmo assim, a pergunta fica: será que, sobretudo, no Nordeste,

a pessoa tem essa noção entre educação, investimento, políticas públicas,

realmente convergentes, entendendo essa dinâmica?

Depois, tem a questão da migração. E a migração, eu me lembro quando

morava aqui, quer dizer, até nos jornais, na televisão, nos programas, você

via as colunas de pessoas que ficavam caminhando pelo sertão, aquela

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604 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

coisa toda que tinha até meio romântica, triste e calamitosa como era,

mas ainda era apresentado naquela época com telenovelas e coisas, e o

resultado disso, trinta anos mais tarde, é que você tem ainda hoje grandes

centros urbanos em condições semelhantes. A Bahia que eu conheci há

trinta anos atrás, Salvador, que eu conheci, aquela cidade linda, tranquila,

hoje tem quilômetros e quilômetros de favelas. Embora a favela de hoje já

não é de cartão e papelão, é de concreto, mas é a realidade social, a rea-

lidade é o crime urbano, a realidade de explorar serviços, a realidade de

redes de saneamento, e isso tem criado um crescimento desorganizado e

desmensurado urbano, essa é a recepção do pessoal quando a cidade não

tinha ainda capacidade econômica logística para atender. Esse fenômeno

acalmou um pouco nos últimos dez anos, mas, com essa variação climáti-

ca, pode acelerar novamente com grandes impactos econômicos, sociais

e políticos.

Carência da infraestrutura; quer dizer, acho que todo mundo conhece

bem a história, que você tem dois níveis de carência da infraestrutura, tem

a carência da infraestrutura em termos urbanos internos, você tem a carên-

cia de infraestrutura para fazer toda a interligação em termos do país. Tem

lugares, por exemplo, na Bahia, você tem andar duzentos quilômetros país

adentro para poder chegar numa estrada para sair num porto. Tem um dado

super interessante, o segmento de transporte para exportação no Brasil, o

custo para todos os países da OECD é aproximadamente de 7 a 8% esse

componente de transporte. Para o Brasil é entre 17 e 18%.

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605RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Então, para já ter um custo caro de produção, você fala de produção

Nordeste, com baixa produtividade agrícola, esse tipo de coisa e, ainda por

cima, você coloca em cima disso 17% de custo, só nessa parte de transporte

e de comércio, como é que você pode ser competitivo?

Então, repetindo, tem a componente infraestrutura urbana, que a gente

tem ouvido muito nos protestos e tal, e todo o pessoal que fica engarrafado

em Salvador, Recife, Rio de Janeiro, Brasília, a gente não tem esse proble-

ma, aliás, não muito. Mas São Paulo, mas, além dessa variável urbana, do dia

a dia cotidiano urbano, tem essa grande questão que pra mim é muito mais

importante, talvez, porque só fala de questão com potencial de crescimento

econômico global do país como um todo. Essa parte, a falta de suficiente

infraestrutura e de mobilidade econômica, em termos de exportação de fluí-

dos de produtos, dentro da economia brasileira.

Depois tem a questão da educação. Eu já fiz algumas resenhas nos qua-

dros anteriores, os quais e talvez um dos pontos mais importantes, é o es-

trangulamento da economia brasileira. Que é a capacidade amadora da pro-

dutividade, do conhecimento e educação. Sem educação, chega um ponto

que você não consegue aumentar a produtividade, você não consegue, em

termos pessoais, aumentar a renda, você não consegue, então, ter algo bem

remunerado, mas, em termos econômicos você não consegue alavancar a

capacidade de produção sem essa variável de educação. Então, isso é um

desafio que é muito importante, está todo dia na política a discussão das

aplicações dos royalties do pré-sal, mas isso não pode ficar só na discussão

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606 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

política, isso tem que ser para o Brasil uma realidade inquestionável e você

ter essa repercussão disso em qualquer área de trabalho, mais uma vez para

fazer a junção com a questão do dia a dia e da discussão vigente hoje, a

questão dos médicos.

No Brasil tem menos médicos per capita do que tem no Paraguai, do

que tem na Bolívia. Eu sou colombiano, tenho a metade dos médicos que eu

tenho no meu país, na Colômbia. E até vocês conseguirem ter o menos nível

de médicos por habitante que tem o Paraguai, a Bolívia, a Colômbia, isso

levará vinte anos. Por que vinte anos? Porque vocês têm primeiro que cons-

truir a faculdade. Só a parte orçamentária, fazer orçamento, licitações, es-

tudo ambiental, para construir os prédios vai levar cinco anos, até ter prédio

construído. Depois tem que atrair provisões, arrumar a casa e ter programa

educativo de qualidade. Depois, tem que ter pelo menos dez anos de trei-

namento para ter a primeira turma de médicos para serem formados, para

atender essa necessidade. Isso é para qualquer outra profissão, engenharia,

arquitetura, economia, todas as profissões que faltam têm uma falta muito

importante, tem um atrelamento inevitável. Isso requer um grande ataque

de investimentos em todo o país, em todos os níveis. E, talvez, uma coisa

que a gente fala muito pouco, é que não é só uma questão de capacitação

universitária, é uma questão de capacitação em todos os níveis da cadeia

produtiva e, talvez, o Brasil precise de uma expansão muito grande em ter-

mos das características técnicas, seja um programa, um programa nos Es-

tados Unidos. A quantidade de pessoal que tem carreiras bem remuneradas

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607RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

em termos técnicos, mecânicos, eletricistas, pessoal que faz as coisas, que

constrói as coisas, não necessariamente o intelectual que fica no centro de

tecnologia, a PETROBRÁS, mas o pessoal que está fazendo a economia dia

a dia, isso tem uma grande falta no Brasil em termos de capacidade de quali-

dade e de números. Então, não é somente uma questão de alto conhecimen-

to universitário de médicos, engenheiros, mas é toda a gama de profissões

que você precisa para fazer essa ligação econômica dentro da economia e

dos sistemas.

E têm problemas que, para nós, nós vemos como extremamente impor-

tante, eu me declaro convicto confesso, eu sou o ponto focal, além de ser o

coordenador de operações do Banco Mundial, eu sou o ponto focal para gê-

nero, desenvolvimento do gênero, e nós do Banco Mundial não conseguimos

entender um processo de desenvolvimento, uma política de desenvolvimento

que não inclua um tratamento direto, frontal e robusto com relação ao tema

desenvolvimento da mulher. E, entre mais, por mais tradicional que seja a so-

ciedade, sobretudo no Nordeste, ou então se você quer sair do Brasil vai para a

África Central, América, Ásia, e, entre mais, pobre o país mais pobre a região,

você vai ter uma relação direta da marginalização da mulher nessa sociedade.

E, pelo contrário, mais acesso, mais participação, mais oportunidades econô-

micas, políticas, que a mulher tenha, você tem uma sociedade mais evoluídas,

com mais crescimento econômico. Por cada dólar que você investir numa mu-

lher, você está tendo um impacto direto em termos de nutrição para a família,

em termos de criança que fica mais tempo na escola, em termos de velhos,

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608 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

pais e avós, então, que são melhor cuidados. Então, tem uma lógica matemáti-

ca, tem uma lógica econômica, não é só uma questão, porque é a coisa correta

a ser feita. Então, não é uma questão só de direitos humanos e de exiguidade,

por uma questão de ética, não. Nos países em desenvolvimento, mesmo num

país de ingresso médio como o Brasil, tem uma questão de interesse econô-

mico, de estabilidade econômica e até, hoje em dia, de estabilidade política e

da própria democracia, você ter 52% da população que não tem os mesmos

benefícios, que não tem o mesmo acesso, não tem as mesmas oportunidades

econômicas para apoiar o crescimento do país.

Então, repito, esse é um tema que para nós, do Banco Mundial, é funda-

mental e eu acho que, no caso do Nordeste, é um tema que deve ser tomado

muito urgente. Eu tenho o grande prazer de compartilhar com vocês que,

semana passada, nós começamos a preparação de um projeto que o go-

vernador Wagner pediu, de duzentos milhões de dólares, para trabalhar em

gênero e raça na Bahia, que é o primeiro que a gente faz no Brasil. Então,

não sou o único que estou dizendo isso, até mesmo em termos de governos

da região tem tomado essa agenda e estão pensando em fazer investimen-

tos para além do que se faz hoje, você faz o projeto de educação a mulher é

beneficiada, as estudantes mulheres; se você faz em saúde, tem toda uma

repercussão. Mas, tem um tratamento que eu acho necessário e adicional, e

diferenciado, e a gente vai começar a trabalhar nisso.

Esse gráfico, eu tenho que explicar essa última barra, que esse ano fis-

cal não é só o que estamos agora, isso aqui é só o que vai até a metade do

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609RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

ano, e a gente vai chegar ao fim do ano fiscal com outros três bilhões, como

mínimo para esse ano. Mas, o importante disso aqui é só mostrar que essa

área aqui, que é o Nordeste, se vocês vão desde o ano fiscal que é 2008, até

o 14, vocês podem ver a diferença que o Nordeste passou a ter no nosso pro-

grama. O Banco Mundial tem um programa de cooperação em que a gente

escreve a cada quatro, cinco anos, um documento que chama “estratégia de

parceria nacional” e, nesse documento, se prepara, se discute com todos os

estados importantes da federação, com o governo federal, e a gente estabe-

leceu um programa para que pelo menos a metade de nossos investimentos,

para esse período de 2012 a 2015, tinha que ser focalizado no Nordeste. Isso

que vocês veem aqui, esse crescimento aqui já é a resposta dessa ênfase

maior que o Banco Mundial está dando no Nordeste e por todas as questões

que eu já mencionei. Quer dizer, reconhecendo queé uma área na qual você

tem ainda essa passivo social, esse passivo histórico e tem que ser trabalha-

do, então a gente tem esse compromisso.

Isso aqui é para mostrar, em termos de nossa carteira, eu deveria ter tra-

zido mais um gráfico para mostrar como que era há cinco, dez anos atrás,

mas, de qualquer jeito dá para ver aqui a diferenciação das diferentes áreas;

azul é governo federal, estados e municípios é esse aqui e outras regiões

aqui, em todos os estados. Na área do Nordeste, eu só mostro aqui a repar-

tição por setores, sendo que o maior é essa área aqui de política econômica,

é o que a gente faz através de todo tipo de projeto de apoio à gestão pública,

seja através de créditos de âmbito de política, ou, então, projetos específi-

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610 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

cos em cada área de trabalho na parte da gestão pública, aquisições, gestão

de impostos. A segunda faixa é essa faixa aqui de agricultura e saneamento

rural, óbvio, com o contexto que nós acabamos de ver, que não é em termos

de nossa área de concentração, e a terceira é essa área aqui de proteção

social, que inclui todos os programas de bolsa-família, Minha Casa Minha

Vida, todas aquelas áreas de produção social.

Nós, além de termos projetos de investimentos, nós temos uma série de

produtos que são em termos de assistência técnica, inclusive assistência

técnica remunerada, e esse aqui é um pequeno exemplo de uma série de ati-

vidades na área do Nordeste, que nós temos nesse momento em andamento,

todos eles com a CODEVASP, que a CODEVASP contratou o Banco Mundial

para dar assistência técnica nessas áreas, que incluem a concessão para

irrigação do Nilo Coelho, a irrigação do baixo Irecê e a irrigação Pontal e

essa do Salitre, a transposição do Rio São Francisco e, também, o corredor

multimodal de transporte do São Francisco. Hoje em dia, nós temos pratica-

mente quinze milhões de dólares de contratos nesse tipo de instrumento, de

contratações do banco como se o banco fosse uma empresa consultora, e a

maioria deles é com o Nordeste do Brasil.

Basicamente, nós temos toda uma série de, eu não vou entrar no deta-

lhe, um por um, mas nós temos toda uma série de programas, como vocês

viram naquele gráfico anterior, cobrindo a multiplicidade de setores, sendo,

os prioritários, política econômica, agricultura e saneamento rural, e a parte

de produção, mas nós trabalhamos em todas as áreas. E cada projeto desse

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611RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

tem estruturação em termos de impacto econômico, gestão de recursos,

seja a nível macro, a nível setorial, tem elementos de capacidade de institu-

cional, tem elementos de investimentos específicos e elementos de produ-

ção social.

Em termos de projetos, nós temos em carteira sessenta e seis projetos

hoje, dos quais trinta são só no Nordeste, do que está aberto hoje em cartei-

ra. Eu convido vocês para ter mais informações específicas, para dar uma

checada no website do Banco Mundial, isso são imagens tiradas do nos-

so website, tem uma resenha e uma página para cada projeto, vocês pode

avançar, adentrar e pegar mais informação, então, e nós sempre estamos

disponíveis para dar maiores informações, não somente do ponto de vista

de curiosidades, mas em termos do setor privado que tem interesse em ver

o que o Banco Mundial está financiando, que projetos está fazendo, que op-

ções, que oportunidades tem para investimento público e privado, em ter-

mos de PPP’s, então, áreas que o banco está financiando que vão abrir ca-

pacidade de investimento e produção privada. Isso vai ser âmbito do projeto

de educação em Pernambuco, eu não vou cansar vocês com os detalhes,

mas a informação está aí. Nós temos projetos de águas, esse aqui é o an-

coradouro de águas do Ceará e, mais uma vez, fazendo a junção de gestão

ambiental, recursos naturais, gestão da água, sustentação urbana, trazendo

água para o perímetro urbano. Nós temos projetos também de água em di-

ferentes áreas, essa aqui no Rio Grande do Norte, trabalhando não somente

nos grandes projetos, como o do Ceará, em termos do cinturão das águas,

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612 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

mas em termos de atenção através de investimentos em acesso à água à

comunidades, como na parte de sanidade. A mesma coisa, em projetos de

agricultura, combate à seca e utilização de tecnologias, apoio ao crédito ru-

ral com sistemas de extensão e para efeito do pessoal do setor privado, quer

dizer, é importante sempre fazer ênfases que eu acredito que seja a mesma

coisa com o BNDES, porque quando a gente fala de projetos com o Banco

Mundial, esse não é um projeto do Banco Mundial, aí o pessoal vai põe a

placa “através do Banco Mundial”; isso é projeto do estado, o que o Banco

Mundial faz é financiar, porque a gente é um parceiro que ajudou a desenhar

o projeto, que fez questionamentos, que ajudou com a experiência global a

melhorar o desenhar do projeto, mas, de fato, são projetos de investimentos

do estado ou, então, da municipalidade ou do governo federal. Isso é uma

coisa de brasileiros.

Recuperação da lagoa norte em Teresina, outro projeto também fazendo

a parte de gestão urbana, meio ambiente e cidadania. Projetos de meio am-

biente para Salvador. Esse projeto de Salvador teve dias melhores, na verda-

de um projeto de recuperação de favelas e dentro desse complexo de fave-

las tem, no meio, um parque tradicional que foi feito parte da recuperação

ambiental, que é o pulmão de Salvador, no parque São Bartolomeu. Então,

a gente junta não somente uma intervenção de infraestrutura urbana, com

toda a parte de serviços sociais, educação, esportes, então, mas também

integra a parte de meio ambiente. São Luís, mais uma vez, projetos de águas

urbanos e com toda a parte de saneamento e apoio às comunidades. Nós fi-

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613RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

nanciamos através do IFC, que é o braço do setor privado do Banco Mundial,

e para o pessoal que eu estou vendo que não conhece eu convido a procurar

por isso, International Finance Corporation. O Banco Mundial faz emprésti-

mos a entes do governo, seja municipalidade, estados ou a federação, e o IFC

trabalha com o setor privado, sempre tendo um colt de projeto investido em

interesse social, mas são investimentos feitos diretamente com companhias

e com empreendimentos privados, em diferentes áreas.

Esse aqui é um projeto, um exemplo de uma PPP de saúde, que é o hos-

pital do subúrbio em Salvador, quer dizer, projeto que ganhou vários prê-

mios internacionais como sendo um projeto assim de standart mundial de

aplicação de PPP’s para o setor de saúde. Também eu convido o pessoa que

não conhece o projeto a dar uma estudada nele, porque é muito bom, é um

hospital do subúrbio da Bahia.

Tem também projetos em termos de gestão pública, e eficiência de ges-

tão pública é questão de melhoramento da folha de pagamento, do elemento

gestão pública, de aquisições, de contratações, toda a parte de gestão do

aparelho do estado para tentar aumentar a efetividade e a eficiência do es-

tado e, portanto, controlar recursos. Esses, automaticamente, são recursos

que são liberados para fazer investimentos nos setores de educação, saúde

e tal. Um bom exemplo disso são os questionamentos que têm hoje em dia

sobre o setor saúde e os hospitais, que vocês todos sabem melhor do que eu,

que no sistema SUS o problema não é falta de dinheiro; dinheiro tem, mas

você chega lá e não tem seringa, não tem toalha, não tem aplicativo. Então,

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614 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

tendo dinheiro, por que não tem? Você vai para outros países no mundo e não

tem porque não tem dinheiro. Aí é uma questão de gestão, como você está

coordenando o planejamento de compras, quem é que está comprando, por

que valores, quando é que chega, toda essa parte de gestão que você perde

muito recurso público por falta de eficiência, por falta de coordenação, e

olha que eu não mencionei a palavra que começa com “c”, eu não estou

falando disso, estou falando simplesmente da gestão eficiente do processo

de gestão pública.

Obrigado e se depois tiver alguma pergunta eu terei muito prazer em res-

ponder. Isso era simplesmente para dar uma lição, o mais rápido possível,

de como o Banco Mundial do Nordeste para nós, hoje em dia, é a área mais

importante em termos de investimentos, de apoio, do Banco Mundial para

o Brasil, nós vemos como uma área de extremo potencial e crescimento, na

sua própria necessidade de ter que crescer e melhorar, isso dá um espaço de

oportunidade, e nós contamos com que todos os centros políticos como este

está vivendo sejam um ponto positivo, que se ao invés de assustar o setor

privado, que incentive ao setor privado a participar, tem muitas oportunida-

des e você não consegue crescer de forma isolada.

Não é uma companhia do setor privado que vai crescer, é um conjunto de

companhias com todo um aparelho, com todo um marco de políticas públi-

cas, com participação e transparência da sociedade, e isso você consegue

fazer e eu acho que, como nota muito pessoal, eu não conheço um país no

mundo, eu tendo tido a chance e a oportunidade de morar aqui no Brasil,

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615RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

estudar no Brasil como jovem há trinta e poucos anos atrás, e depois passar

trinta anos pelo mundo inteiro viajando e trabalhando em circuito interna-

cional, eu não conheço um país que tenha tido o avanço com a solidez que o

Brasil tem feito nesses trinta anos, e que tem a oportunidade pela frente que

tem o Brasil, que, ainda por cima, tem o tamanho econômico que permite

fazer muita coisa, muita experimentação.

E eu soube junto, se o pessoal consegue ter essa agenda positiva na fren-

te, eu não consigo imaginar um Brasil que não continua a crescer e que não

continua a ser uma referência internacional, não somente em termos do que

a EMBRAPA fez ou do que o bolsa-família faz, ou questões pontuais no que

em termos da própria gestão da política da economia, e o primeiro grande

desafio que eu vejo é o Nordeste. É exatamente isso. Muito obrigado.”

José Viegas: “Agradecemos todos ao professor Boris Utria, essa palestra

tão elucidativa que, ao mesmo tempo, mostra a quantidade e a diversidade

dos problemas que o Nordeste e o Brasil enfrentam. Mostra também que um

organismo internacional do Banco Mundial não é absolutamente insensível

à correção deles.

Eu peço desculpas por não ter feito antes, digo que estão também co-

nosco, como coordenadora, a dra. Lúcia Falcón, professora da Universidade

Federal de Sergipe, e o chefe de gabinete do presidente do banco, que é o

doutor Sérgio Gusmão, e que, naturalmente, farão, depois, os comentários

apropriados.

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616 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

Passo a palavra, então, ao professor Ignacy Sachs, com grande prazer.”

Ignacy Sachs: “Obrigado pela belíssima oportunidade de estar aqui nesse

debate.

Eu vou começar por fazer uma pergunta: onde estamos com as reformas

agrárias no Nordeste? Qual é o potencial, aliás, não é tanto qual é o poten-

cial, mas qual é a urgência e como isso está incluído nos planos. Ou seja, é

uma região, todos sabemos, onde o acesso à terra é muito desigual e nesse

debate sobre as reformas e etc., eu pessoalmente acho que não podemos

deixar de lado a questão da estrutura fundiária. Então, essa é uma pergunta,

onde estamos com o problema da estrutura fundiária.

O segundo problema que eu gostaria de levantar é até que ponto temos

hoje em mão instrumentos para ir planejando o desenvolvimento do Nordes-

te, orientado como objetivo principal para a redução das desigualdades que

hoje existem no país; ou seja, temos ou não condições de fazer com que um

GAP entre o Nordeste e o Sul do país se reduza e como isso está incluído nas

políticas a longo prazo. Me limito a essas duas perguntas.”

Boris Utria: “Eu acho que eu posso dar apenas uma opinião, e a minha opinião

é a seguinte: efetivamente, em termos dos planos de reforma agrícola, eu acho

que ainda não está avançado como poderia. Inevitavelmente, eu lembro que

quando eu estudava aqui no Brasil, há trinta e cinco anos atrás, já se falava

disso. Aliás, tinha a SUDENE, tinha uma série de instrumentos cuja vocação

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617RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

principal era fazer todo esse questionamento, e qual era as articulações políti-

cas e fazer toda a instrumentação delas. Eu acho que ainda falta muito caminho

a andar. E não sei se nos últimos dez anos, a discussão não tem virado mais a

seara de gestão de recursos, do que a discussão clássica de reforma agrícola.

E, na área do Nordeste, começando pelos projetos da água e coisas do tipo,

toda a gestão do São Francisco, são coisas que tem pego a agenda mais prio-

ritária. E isso é uma questão, talvez, a debater, mas com relação se tem os ins-

trumentos disponíveis e prontos para fazer o planejamento, eu acho que tem.

Eu acho que há disponibilidade de informação. Eu lembro que o primeiro tra-

balho que eu fiz no Brasil, em 1978, na Promon Engenharia como estagiário,

justamente realizar o senso de 1973; já naquela altura, o Brasil, no Nordeste,

tinha um dos sensos mais completos de qualquer país em desenvolvimento,

naquela altura. Eu lembro de tinha três milhões de cartões de pontuação, que

eu tive que ler um por um e registrar. Hoje em dia, a disponibilidade de infor-

mação e a disponibilidade de recursos é muito maior, e acho que o conheci-

mento da própria estrutura da economia brasileira é muito melhor, não faltam

centros de pesquisa, não faltam centros de referência, desde o IPEA até as

faculdades. As faculdades do Nordeste têm centros muito bons nessa área e

o próprio planejamento estratégico, que faz incorporações, começando pelo

BNDES, e muitos outros centros de pesquisa, não somente os internacionais,

o Banco Mundial, o Banco Interamericano e outros.

Então, tem o instrumental; talvez a pergunta é devolver a pergunta para

o senhor, e é será que tem já a comissão política de fazer, que eu acho que

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618 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

é o mais importante isso. Fica difícil planejar se você não tem os elementos

de planejamento, os dados, informação, e difícil planejar se você não tem os

conhecimentos de estruturação de problemas, como é que funciona os sis-

tema agrícola, como é que interage a agricultura com a parte urbana, como

é que você faz essa junção de recursos naturais e gestão sustentável. Hoje

temos tudo, tanto teoricamente, como praticamente. A questão é por que

ainda não se fez uma abordagem mais acelerada, talvez, é a pergunta. E eu

faço como pergunta, não faço como declaração. Faço como pergunta, seja

para o senhor, como para o pessoal na plateia, de tentar achar por que não

se fez? Porque tem todo o material.”

Ignacy Sachs: “Se permite um comentário, sem entrar no debate, por que

não se fez? Eu acho que há uma certa urgência para recolocar na agenda

a questão da propriedade fundiária, porque ela desapareceu pouco a pouco

no debate e não estamos mais colocando esse problema, mas, obviamente,

há diferenças enormes entre o latifúndio e o minifúndio, que não desapare-

ceram. E, a meu ver, não podemos nos omitir de recolocar essa questão na

pauta dos problemas que poderemos enfrentar nos próximos dez, vinte anos.

Não sei se concorda.”

Boris Utria: “Eu concordo, mas, ao mesmo tempo e talvez, depois de traba-

lhar trinta anos no mundo inteiro, eu acho que a questão fundiária é funda-

mental porque sugere uma operação de capital e uma capacidade de co-la-

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619RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

teralizar esse bem para efeito de outros benefícios. Mas, na economia de

hoje, você tem uma situação na qual você pode até gerar essa titulação, mas

se você não tem essa conexão com os mercados, se você não tem o acesso

à informação, se você não tem a infraestrutura básica para você conseguir

atrelar essas melhoras de produção aos mercados, essa questão da fundiá-

ria, acho que talvez esteja um pouco da autoridade prática.

É essencial, do ponto de vista econômico, político, mas na ausência de

toda uma infraestrutura, sobretudo de conectividade com os mercados e,

além disso, com acesso à capacitação, então, penso em termo, sem a ca-

pacitação você não consegue nem produzir, não tem acesso aos insumos, e

depois que tem produção, acesso a escoamento. Então, acho que tem uma

sequência.

E uma coisa que a gente tem aprendido, não só do Brasil, mas olhando

essa questão internacional, a gente fez muita coisa no mundo em termos

de, tem que fazer infraestrutura, está todo mundo correndo para fazer es-

tradas, depois, dez anos mais tarde, não, tem que colocar a água, então

tem que colocar educação, tem uma questão de como é que você identifica

o nível certo, você pensa nessas coisas como overlays. Quando você faz a

sequência correta, quando você traz o investimento de base, capacitação

do produto rural que pode ou não pode vir como questão da gerência da

terra, mais capacitação, para ele ter uma capacidade de produção, não

somente a terra, mas a capacidade, quando você atrela isso ao mercado,

quando você traz a estrada, você traz a estrada de oitenta, o que você con-

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620 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

segue é outra coisa, você consegue caminhão indo para o mato para cortar

mais árvores. Então, tem toda uma questão que é mais importante, essa

sequência dos investimentos de infraestrutura e de câmbios estruturais,

do que uma coisa pontual.

Agora, eu concordo plenamente que a questão que está ali não somente

de espaços rurais, mas hoje em dia, no Brasil, espaços periurbanos e urba-

nos. Você pega todas aquelas áreas de, vou pegar o caso de Salvador, qui-

lômetros quadrados inteiros de comunidades, imagina isso? Isso não tem

titulação. E esse pessoal urbano, talvez o pessoal que mais teria capacidade

de aproveitar essa titulação, essa capacidade fundiária, para ter como cola-

teral já numa economia de mercado, para poder utilizar isso como elemento

para alavancar empréstimos. Então, é uma discussão mais complexa do que

uma resposta simples, mas interessantemente, sim.”

Ignacy Sachs: “É uma excelente resposta, porque vai nos levar a uma questão

fundamental, que não podemos continuar a discutir políticas setoriais isola-

das uma da outra, temos que reabrir o debate sobre uma estratégia de desen-

volvimento que contempla todos os aspectos e, portanto, isso significa talvez

que temos repensar seriamente qual é o papel do planejamento no futuro.”

Boris Utria: “Eu acho que a parte mais importante, a segunda coisa mais im-

portante desse comentário do dr., é a parte do setor privado. Hoje nós temos

que reconhecer que o setor público, seja nacional, seja internacional, não

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621RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

tem os recursos necessários para fazer todos os investimentos que tem que

ser feitos para o desenvolvimento. Então, a questão é como é que a função

pública, como é que a política pública pode orientar de forma construtiva e

positiva, para que o setor privado preencha esses espaços com investimen-

tos, que sejam ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e economi-

camente viáveis. Porque não se trata de dizer: o setor privado tem que dar

educação agora; de repente, isso não é economicamente viável. Mas, então,

a função pública, do investimento público, a função da política pública é aju-

dar a criar esses marcos, esse ambiente que permita o setor privado investir,

permita o setor privado gerar um lucro que precisa, mas, ao mesmo tempo,

fazendo isso de uma forma que seja coerente, consistente com o meio am-

biente, daí a sustentabilidade ambiental, e com equidade social.”

José Viegas: “Muito obrigado por essa antecipação do debate, que é realmen-

te muito interessante. Eu me permito fazer duas pequenas reflexões, na ver-

dade, perguntas. Eu pretendo passar a palavra também à professora Lúcia

Falcón; não sei se a professora gostaria de falar agora. Eu acho que sim, eu

acho melhor que a senhora fale agora para depois eu fazer as perguntas, e o

dr. Gusmão também. E aí eu faria as perguntas que tenho na minha cabeça.

Está bem, professora? professora Lúcia Falcón, da Universidade de Sergipe.”

Lúcia Falcón: “Boa tarde a todos. Não era meu papel falar agora, eu me

imaginei um pouco como relatora das outras mesas, mas, já que a oportuni-

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622 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

dade se colocou, não vou deixar escapar e aproveito também para agrade-

cer o convite, tanto da Federação das Indústrias do Ceará, quanto daqui do

BNDES, na pessoa da Nicolle, da professora Helena, e cumprimento aqui a

mesa nas pessoas do nosso querido professor Ignacy, do embaixador Viegas

e do representante do Banco Mundial, Boris Utria. Ao pessoal do BNDES, na

pessoa do Sergio, nosso abraço também.

Eu estava me preparando, como eu disse, para fazer o papel de relatora e

não provocar muito, me ater às ideias. Mas, na verdade, o dia de hoje, inteiro,

foi uma grande provocação para todos nós que militamos há muitos anos

nessa área de planejamento, na área de pensar o futuro dos nossos estados

da nossa região Nordeste, então eu estou um pouco que alimentada por tudo

que eu ouvi durante o dia e, como o professor Ignacy conduziu, socratica-

mente, perguntando ao dr. Boris qual seria o seu posicionamento, eu real-

mente vou aceitar a oportunidade e eu queria, não fazer agora, pelos menos,

embaixador, o papel de relatora, mas entrar um pouco na briga, colocar um

pouquinho de lenha na fogueira.

Eu estava observando que todas as mesas hoje, não sei se vocês vão con-

cordar comigo, todas as mesas hoje, todas as pessoas que se pronunciaram

aqui, elas iam muito na análise econômica, nos procedimentos, tanto os em-

presários com sua visão muito apropriada de mercado de competição, de

oportunidade de negócios, depois o pessoal da academia maravilhosamente

intervindo com números e séries históricas e analisando essas relações, de-

pois o setor público se pronunciou, e todos, embaixador, pararam num único

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623RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

ponto: é que a gente sabe o que precisa fazer, a gente tem, como disse o

Banco Mundial, todas as ferramentas com vista de informação, computador

para rodar matriz de insumo-produto hoje, que a contabilidade nacional no

Brasil hoje segue a regra da ONU, é girar da matriz do insumo-produto que,

antigamente, não é Aristides, era de cinco em cinco anos, de dez em dez

anos, hoje a gente pode rodar, fazer próteses anuais, extrair vetores, saber

qual é a high-way, qual é o caminho de acelerar, a gente sabe toda essa par-

te. E por que não faz?

Então, a ansiedade que me vem após um dia inteiro nesse debate, vendo

tantas pessoas, tantas instituições qualificadas, é porque a gente caminha,

tem a ferramenta e, ao fim de cada mesa de debate aqui hoje, a gente falava

uma palavrinha mágica, faltou cooperação. Os empresários falaram isso, a

academia falou isso e o governo falou isso. Chegamos a um ponto que ou o

Nordeste se articula, também pode ser uma palavra cooperar, articular, quer

dizer, sentar numa mesa, pactuar as coisas, ter visão estratégica. Quer dizer,

não é falta de ferramental técnico nem de conhecimento da burocracia pú-

blica, nem é falta de conhecimento por parte do empresariado, todo mundo

no Brasil já sabe as regras do jogo. O que me vem à cabeça é o trabalho de

um economista americano, que recebeu o Nobel em 96 se não me engano,

Douglas North, e ele recebe o Nobel porque falou uma coisa, Nobel de eco-

nomia, e ele recebe porque ele falou, professora Helena, de instituições. Ele

foi o primeiro cara que arrumou essa ideia de que desenvolvimento não é

um problema de mesa de economia pura, é um problema, como o professor

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624 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

Ignacy disse, muito mais complexo, integrado, e que exige, principalmente,

enfrentamento dos nossos fantasmas sociais ou sociológicas, nem sei o que

eu uso aqui. A gente costuma falar dos esqueletos nos armários, que pulam,

de vez em quando, para assombrar a perspectiva da sociedade brasileira,

nosso futuro, o que a gente pensa. Então, pula um fantasma, há o fantasma

da pobreza, o fantasma da reforma agrária, o fantasma do crédito, pula fan-

tasma de todo jeito, mas a gente se recusa, sistematicamente, a encarar o

maior fantasma de todos: a máscara social que está no rosto de cada um de

nós; nós governo, nós academia, nós empresário, nós brasileiros, ou tiramos

a máscara, começamos a enfrentar nosso fantasma social ou não vamos

sair, não tem solução para o Nordeste sem tirar essa máscara. Sabe qual é

a máscara? A gente não muda porque a gente não quer. A gente não muda

porque a gente não quis até hoje, pelo menos, se me permite o teatro.

Então, eu estou colocando, Nicolle, uma fé imensa no trabalho que vo-

cês estão fazendo, eu estou absolutamente feliz de ser parte, de estar aqui

nesse tijolinho desse momento, porque eu acho que são atitudes como essa

que vocês estão adotando e o BNDES participando, e todas as outras insti-

tuições, que por aí tem alguma luz no fim do túnel, mas, enquanto a gente se

recusar sentar na mesa e tirar a máscara das instituições brasileiras, abso-

lutamente complicadas, comprometidas, não adianta o estado, não adianta

Banco Mundial, não adianta a academia escrever quinhentas teses, sabe por

que? Porque a gente não muda nossa atitude, a gente não muda o nosso

comportamento.

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625RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Tem um outro camarada que eu gostaria de citar aqui, que eu acho que

todo mundo precisa começar a pensar nisso, eu falei em outro momento

aqui com o Banco sobre ele, é o Martin Nowak. Ele é um cara que é biólogo

matemático, só que ele pega uma série de experimentos de economistas

em teorias dos jogos e vai ver comportamento, onde tem desenvolvimento

é onde tem cooperação, e o ser humano só se desenvolveu a chegar nesse

ponto de processo civilizatório porque conseguimos ter gênios competiti-

vos e gênios colaborativos, fizemos modelos matemáticos simulando com-

portamento. A gente precisa competir e precisa colaborar, senão a gente

não é essa humanidade que está aqui, não evolui. Mas, ao mesmo tempo,

se somente a competição prevalece, se não há cooperação em um nível,

as sociedades tendem ao fracasso, elas, no mínimo, vão ficar sempre atrás

de outros grupos humanos porque a seleção natural não vai atuar somente,

como se pensava, na reprodução do indivíduo, ela atua na reprodução dos

coletivos humanos.

Então, é um trabalho fantástico, desafiador, e que mais uma vez eu volto

a falar, obriga a gente a tirar a máscara. O problema brasileiro está nas rela-

ções sociais, o problema não está, não falta água, não falta matéria prima,

não falta energia. A gente hoje, com as cabeças que tem no Brasil pensando

em EMBRAPAs da vida, IPEAS da vida e quantas outras instituições, até

privadas também pensando, a gente tem condição de resolver muita coisa.

Hoje de manhã, os empresários estavam aqui mostrando centros de pesqui-

sa, do Boticário, da agroindústria aqui da Agrícola Famosa, a criatividade

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626 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

do Magazine Luiza. Então, o problema não é que a gente sabe menos, ou é

menos ou pensa menos do que os países desenvolvidos, o problema é que a

gente não coopera, a gente não sabe a hora de competir e a hora de coope-

rar. E o político é parte disso. Nós, da academia, Paulo, somos parte disso

também. Então, vamos começar a enfrentar o maior fantasma, o maior es-

queleto que tem que pular do armário aqui no meio dessa sala, porque se a

gente não enfrentar ele nós não resolvemos mais nada. Nós vamos ficar com

medidas até paliativas, progressivas.

E aí, a minha provocação para encerrar. Embaixador, juro, eu entendi, de-

pois desse dia inteiro de conversa, que não vai faltar dinheiro nem do BN-

DES, nem do Banco Mundial, nem do governo federal, não vai faltar inves-

timento do empresário, não vai faltar nada, dinheiro não é problema mais.

Então, o Nordeste vai crescer; para o bem ou para o mal, o Nordeste vai

crescer, como aqui de alguma maneira já se mostrou. O problema é como ele

vai crescer. Nós vamos deixar continuar como está, nessa trilha, nessa bati-

da? Ou nós vamos fazer, como Paulo disse, as mudanças estruturais, vamos

virar essa mesa, vamos mudar o jogo e vamos dar dignidade a maior parcela

possível da nossa população, oportunidades iguais para que os jovens que

estão no interior do Nordeste frequentem universidade e sejam futuros ino-

vadores, pesquisadores? Vamos começar a pagar o trabalho de pesquisa do

pessoal que está fazendo mestrado e doutorado, que amanhã vai ser um

pesquisador público ou privado, com o salário de um profissional. Enquanto

eu pagar dois mil por mês para um pesquisador de mestrado e doutorado,

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627RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

quem é que vai fazer mestrado e doutorado? Os doidos como nós, que larga

família, larga tudo, para poder virar pesquisador, abre mão de não casar, de

não ter filhos, porque o salário não dá; ou então, aos incompetentes que não

chegam porque, graças a Deus, na academia tem barreiras de mérito na

entrada. Mas, aí reduz, viram elite. Vocês percebem como é a regra do jogo?

Então, enquanto a gente tiver sem tratar o pesquisador brasileiro inovador

como um verdadeiro “galinha dos ovos de ouro”, porque é dele que vai sair

a contribuição para a indústria, para todo mundo, a gente não está fazendo

ciência e tecnologia a sério, não dá. Enquanto o político não sentar na mesa

num fórum de governadores, como nós tantas vezes tivemos a chance de

assistir, e deixar de lado as diferenças político-partidárias e pensar qual é a

visão de futuro para o Nordeste que a gente quer aqui. Ah, mas eu só tenho

um mandato de quatro anos; mas, então, durante quatro anos cara-pálida

larga de mão a briga e quatro anos você tem para mostrar serviço para a

sua região. Exercer liderança regional é tão bom, é tão bonito, e depois vira

presidente, não tem problema não, é da vida, mostra serviço que vira.

Então, a gente tem que parar de quebrar a cabeça com a economia, mais

uma vez eu digo isso aqui no BNDES, aliás todas as chances que eu tenho

dado, no fim eu dou o meu chilique que é isso, para de pensar tanto em eco-

nomia e vamos cuidar da sociologia, a gente está precisando colocar ciência

política na mesa, as relações estado-sociedade que é o mal do Brasil, o cân-

cer que está comendo a gente não é dinheiro, não, o câncer que está comen-

do a gente é relação estado-sociedade, é a relação entre nós. Provocou, foi.”

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628 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

José Viegas: “Agradeço muito a professora Lúcia Falcón pelas suas insti-

gantes observações e eu quero seguir nesse ritmo, nesse rumo. Antes de

passar a palavra, antes de oferecer a palavra ao professor Gusmão, eu gos-

taria de focar um pouquinho nas coisas que foram ditas aqui, e pelas se-

nhoras. Nós estamos vendo, recolhendo das três intervenções que já foram

feitas, nós estamos vendo que a questão do Nordeste pode se decompor em

uma série de problemas tópicos, ou de temas tópicos, mas todos eles são

integrados.

O subdesenvolvimento é um complexo de problemas, cuja solução requer

articulação, como dizia a professora Lúcia, coordenação, requer, por exem-

plo, ação conjugada do governo e iniciativa privada, governo e sociedade.

Todas essas coisas estão, digamos, tomando forma.

O Brasil é um país que está em transformação acelerada, o Brasil é um

país, e os nossos operadores internacionais nos alertam para isso, é um país

que tem todas as condições de encontrar o seu destino. Mas, talvez, na mi-

nha opinião e recolhendo as coisas que escutei, o que o Brasil necessita, em

particular, é de uma capacidade de coordenação de agrupar ideias envol-

vendo, provavelmente, o governo e a iniciativa privada, governo-sociedade,

governo-univesidades, geração de pensamento, de uma forma articulada, de

uma forma organizada. Isso é muito fácil de falar e talvez muito difícil de

fazer, e eu gostaria de convidar, então, nós que estamos aqui presentes e,

muito particularmente o dr. Gusmão, que é chefe do gabinete do presidente

que chegará dentro de doze minutos a esta sala, para uma reflexão.

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629RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

A meu ver, o governo Brasileiro, não este governo, os governos brasilei-

ros têm uma notória dificuldade de fazer planejamento plurianual e de fazer

coordenação interministerial. É muito difícil, não se consegue. Seria um pro-

blema, por exemplo, de transporte urbano, um problema que não se resolve

porque não há um ministério que seja capaz de resolver esse problema, é

preciso reunir uma série de ministérios, uma série de organizações, inclusi-

ve privadas, para que nós tenhamos uma solução, para que nós tenhamos

um debate que nos leve a uma solução. Então eu gostaria de escutar o pro-

fessor Gusmão e de convidá-lo a fazer uma, dizer sua percepção a respeito

do papel do BNDES neste contexto e do BNDES como estrutura, que não é,

digamos, que não faz parte da estrutura ministerial do governo, talvez isso

dê ao BNDES uma, como diria, não sei se é a palavra correta, liberdade, mas

uma flexibilidade maior de planejamento e a própria natureza do banco o

leva a ter, a desenvolver, um pensamento de longo prazo que falta em muitas

outras áreas. Então, qual o papel do BNDES nesta equação de integrar os

esforços públicos, privados e acadêmicos.”

Sérgio Gusmão: “Antes de mais nada, eu gostaria de agradecer a oportu-

nidade de estar aqui hoje, é uma honra representar o banco nesse painel,

formado por pessoas a quem eu admiro muito; professor Ignacy, eu tive a

oportunidade de conhecer e participar dos colóquios organizados em Paris,

há doze anos atrás, quando estava realizando mestrado em ciência política

no Instituto de Estudos Políticos de Paris, e é uma honra. Até, na oportu-

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630 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

nidade, o colóquio, o primeiro do qual participei foi com o nosso, o atual

senador Cristóvão Buarque, que discutiu muito a questão nordestina. É uma

honra também escutar sobre a atuação do Banco Mundial na região, achei

interessantíssimo os dados colocados pelo Boris aqui, até em relação a uma

discussão proposta pela professora, a gente viu alguns estados que passa-

ram na frente um dos outros e, sem querer entrar em nenhum tipo de disputa

intrarregional, mas, certamente, alguns deles fizeram escolhas que outros

não fizeram e por essa razão conseguiram claramente passar à frente, ace-

lerar essa curva do desenvolvimento. Inclusive, talvez, estados que histori-

camente não tinham essa proeminência em termos de figuras políticas his-

tóricas ou até de recursos naturais, enfim. Eu achei muito interessante essa

colocação.

Eu, sendo, eu acho, um produto de imigração e de migrações, haja vista

que tenho três, um avô europeu e três avós nordestinos de origem, então me

sinto numa situação interessante, porque tiveram que deixar suas regiões

para ir para São Paulo. Agora, no âmbito do banco, e eu acho que o Paulo

Guimarães que está aqui e chefia o nosso escritório no Recife, cobre a re-

gião com quem a gente tem tido muito relacionamento, até porque o importe

do escritório regional se faz com o gabinete que ocupou a chefia, algumas

outras novidades me tem chamado atenção. Uma delas é o seguinte, e aí

falando de setor privado, a conexão de setor privado e setor público: é que

no último ano, um pouco desapercebidamente, abriram escritórios no Nor-

deste, o senhor Credit Suisse, que é um banco de investimento presente

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631RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

no mundo inteiro, abriu um escritório para olhar oportunidades de investi-

mentos no Nordeste, vejam só, eles não gostam de perder dinheiro. Abriu

escritório em Salvador, o senhor Mackensen, que também é talvez uma das

maiores consultorias na área de governo, certamente, mas, sobretudo na

área privada que também está desenvolvendo um trabalho fantástico.

Aqui no banco, o banco, ainda respondendo à pergunta do papel do banco;

o papel do banco é multifacetado e ele foi, inclusive, mudando para quem

acompanhou, tem vários aqui, eu mais, como sou mais jovem, eu leio a res-

peito, eu acompanho no sentido de ler a respeito do papel do banco nos últi-

mos sessenta anos, mas ele foi mudando conforme os desafios, no começo

a industrialização e, no período dos anos 90, inclusive, o banco foi um grande

advisor estruturador de privatização, resgatou seu papel de grande motor do

desenvolvimento brasileiro a partir do governo Lula e agora com o governo

Dilma, mas um papel multifacetado. Então, o banco faz coisas no Nordes-

te do tipo vinte mil cisternas para combater a seca, e aí é uma questão de

longo prazo, o financiamento da ferrovia TRANSNORDESTINA, participação

acionária em empresas da região; eu escutei aqui a respeito da Agrícola Fa-

mosa, que eu tive a oportunidade de conhecer no passado, não como banco,

mas quando estive no setor privado, inclusive, fazendo investimentos inter-

nacionais, uma empresa brasileira baseada no Nordeste, que é uma grande

exportadora mundial de frutas, atingindo os melhores padrões de qualidade,

inserida no mercado mundial com hub na Holanda, enfim. Esse também é o

Nordeste; quer dizer, o Nordeste é o Nordeste que enfrenta ainda a questão

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632 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

fundiária, a questão, eu diria, de séculos, mas é um Nordeste também que

tem um professor Nicolelis, que vai ao Rio Grande do norte e resolve que lá

é o lugar que ele quer fazer o centro de pesquisa dele no Brasil, quer dizer, é

uma região que mais cresce no Brasil, que tem uma energia um pouco amar-

rada, mas se desamarrando, e eu acho que o Sudeste hoje, aí falando um pou-

co na primeira pessoa, mas até o banco sendo localizado no Sudeste, olha e

se surpreende com o mercado consumidor que se criou na região.

Aí entra a discussão do papel do planejamento. Quer dizer, então, qual é

o rumo a tomar? E quais são os entraves? Os entraves são de inúmeras or-

dens, uma coisa que o Boris acabou não citando, mas, quando eu penso no

Banco Mundial, é a questão do in-business e, sendo colombiano, eu estive

na Colômbia algumas vezes, é um país que está muito a frente do Brasil no

que se refere à burocracia para se abrir e fechar um negócio ou, enfim, toda

a energia que aqui a criação de valor enfrenta. Eu acho que tem uma noção

que é importante a gente pensar, que é a noção de criar valor; aquilo não é

um espaço estático esperando uma intervenção estatal, quer dizer, existe

um papel do estado e existe um papel do estado em propiciar as condições

para os empreendedores se mexerem e criarem valores, serem eles as pes-

soas, os atores principais de sua história. E é uma história de cultura, é uma

história de política, mas é uma história também de criações de valores e, por

essa razão, de economia e desenvolvimento.

Então, eu acho que o papel do banco é apoiar essas histórias, todas; as

histórias das pessoas, das pequenas empresas, médias empresas, dos esta-

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633RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

dos, o banco está presente nesse apoio, e libertar essas amarras que estão

presentes há quanto tempo. Mas, tem a pergunta, eu acho que essa pergun-

ta é: qual é o rumo, quem somos, vamos tirar essa máscara? Eu acho que

são perguntas que estão aí. São perguntas que têm um cunho político, mas

com desdobramentos econômicos.”

Vanessa Petrelli: “Só antes de acabar, eu não me contenho aqui, pela pro-

vocação do professor Ignacy Sachs quanto à questão da centralidade e da

importância da reforma agrária para o Nordeste.

Então, a gente já viu aqui com os dados a questão da pobreza rural e, sem

dúvida, a questão da reforma agrária é um ponto importante que não está

dentro da centralidade que deveria estar hoje em dia. Eu acho que esse é

um tema importantíssimo, que não apareceu aqui durante o dia, eu mesma

apresentei uma discussão, não tratei dessa discussão, mas eu queria trazer

uma experiência que eu acho interessante. Hoje eu estou como secretária

de Agropecuária no município de Uberlândia, que é no triângulo mineiro, um

município rico com pobreza rural. Nós temos lá dezoito assentamentos de

reforma agrária eu, justamente, fui chamada para fazer a articulação dos

assentamentos com as políticas públicas. Então, eu acho que nós temos ins-

titucionalidade importante, podemos fazer reforma agrária e podemos fazer

a articulação das pessoas questão dentro dos assentamentos com as polí-

ticas sociais que nós temos. Nós temos sim políticas sociais. Por exemplo,

há uma dificuldade muito grande de articulação, o governo brasileiro tem

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634 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

vários tipos de ações no sentido de compras governamentais; cito duas im-

portantes: o programa de aquisição de alimentos e o programa de merenda

escolar, que tem comprado da agricultura familiar. Os municípios hoje não

estão comprando os limites que poderiam comprar da agricultura familiar e

de assentamentos de reforma agrária. Há necessidade da articulação das

políticas sociais que o governo tem e que tem recursos no governo que não

estão sendo utilizados, porque não tem uma articulação com os municípios,

com implementação desses governos, e articulação disso com os assenta-

mentos de reforma agrária ou, também, inclusive, com os produtores tradi-

cionais pobres.

Então, tem que ter uma articulação entre políticas sociais que já exis-

tem, de compras governamentais, porque essas políticas de compras go-

vernamentais tiram os assentamentos de reforma agrária da pobreza, tem

recursos para isso. Não estão sendo implementados por uma falta de arti-

culação com os municípios. Então, a articulação disso com o PRONAF, com

o programa nacional de agricultura familiar, com os recursos de ATELE e

ATESC assistência técnica, que tem recurso também dentro do Ministério

do Desenvolvimento Agrário e o Ministério do Desenvolvimento Social. Ou

seja, nós temos várias políticas que não estão sendo usadas e, às vezes,

sobram recursos por falta de articulação municipal. Então, os níveis federal,

estadual e municipal, precisam se conversar mais e há possibilidade da já

termos políticas não só para implementar mais reforma agrária, como temos

um instrumento de articular as pessoas para saírem da pobreza, já tem es-

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635RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

ses instrumentos e nós não estamos usando. Acho que isso é uma discussão

importante e que precisava avançar.”

José Viegas: “Obrigado pelas suas observações. Pergunto se alguém pode-

ria fazer uma pergunta, aqui à minha direita.”

Pessoa da plateia 1: “Eu queria aqui, na linha socrática de perguntas, que

tipo de reforma agrária o professor Ignacy Sachs está se referindo, porque

no país nos tivemos uma expansão de reforma agrária só de fracionamento

de terra, para inglês ver, distribuindo pobreza. A reforma agrária não funcio-

nou. A assistência técnica não tem recurso público. E a grande oportunida-

de que nós temos não é só na agricultura, nós temos uma grande oportuni-

dade de industrializar as áreas rurais também, gerar renda a partir de outras

atividades econômicas. A agricultura não é capaz para, na agricultura tra-

dicional, de sustentar uma família de forma digna. A agricultura que está

surgindo no país, que está dando certo, é altamente tecnificada. O colono

de reforma agrária não sabe plantar soja, não sabe plantar milho, não sabe

plantar nada, absolutamente nada. É uma produtividade da África e isso não

dá certo no Brasil.”

Pessoa da plateia 2: “Só uma interferência despretensiosa, mas que, talvez,

nos ajude a encontrar um caminho na linha que a professora Lúcia colocou

e que é, aparentemente, o caminho que todos os outros eventos e as discus-

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636 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

sões que nós temos feito no Integra Brasil parecem nos levar. Não há dúvida,

eu particularmente sou dessa opinião, de que temos todas as condições de

fazer uma formulação técnica de grande qualidade. Não só porque estamos

pensando, estamos colecionando tudo que há de mais recente e de melhor

na produção para análise da questão regional, porque estamos com aliados

da melhor especialização, tipo dra. Tânia Bacelar, dr. Armando Avena, dr.

Nilson Holanda, enfim, todos aqueles que ao longo de toda essa trajetória

tem estado ao lado da questão regional e tem se debruçado sobre ela, pro-

duziram e estão produzindo as análises que, com certeza, vão nos permitir

chegar ao grande momento de sistematização e síntese, e ter um novo pro-

jeto regional, se assim se poderá chamar, que não vai deixar a dever a nada,

nem ao GTDN, até por conta do uso do próprio GTDN.

A questão que me assusta ainda é: ao lado desse projeto, tecnicamente

formulado, legitimamente elaborado, como garantir, que modelo usar para

garantir a sua viabilidade política institucional. Aí é uma questão de parece

muito transparente. Em a região não uma instância de poder político na fe-

deração brasileira, ela só vai conseguir se expressar politicamente, reivindi-

car, no momento em que ela reunir pode político, que seja delegado ou pelo

poder central ou que seja através da aglutinação dos entes subnacionais

que compõem a região. Sem isso, na verdade, nós vamos cair na vala comum

dos encaminhamentos administrativos como tem sido até hoje, ultimamen-

te. Hoje, a região já não tem emprestado o poder político federal, que o go-

verno, na época que criou a SUDENE, emprestou. Descentralizou o poder e

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637RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

ele se manifestou enquanto esfera de poder. A SUDENE é um exemplo claro.

Já não aglutina em torno de si a região o poder político dos estados que,

àquela época, se associaram, lutaram e reivindicaram em defesa da questão

regional. Já hoje eles não se aglutinam, ao contrário, se divorciaram, esta-

beleceram parceria direta com o poder central, rompendo o que seria um

vínculo regional.

Então, eu acho que a grande questão que nós vamos ter que buscar, e de

forma inovadora, e aí passamos, sobretudo, a meu ver, pelo pacto federati-

vo, é descobrir uma maneira de dar expressão política à região. Na história,

nós temos os exemplos, como foi o caso da SUDENE que, em seu conselho,

reuniu governo federal e governos estaduais, entretanto, foi o modelo que

pousou na competência do poder federal, que depois decidiu por outro ca-

minho e desautorizou toda essa instância. Então, cabe agora indagar, qual

é a instância que pode se sobrepor a uma decisão contrária dessa ordem?

A meu ver só se nós conseguíssemos, numa solução intermediária, que não

seria a do federalismo regional evidentemente, porque politicamente muito

distante, mas uma questão intermediária, uma solução intermediária, que

poderia ser dentro do pacto federativo, e por ausentes nacionais e subna-

cionais, a esfera regional, com competências claras, em termos, sobretudo,

de planejamento estratégico, com vinculação direta com o poder legislativo,

e garantir essa instância que talvez venha dar a resposta, que a professo-

ra reclama, no sentido de estabelecer as novas relações sociais, eu diria, o

novo modelo político institucional que, a nível de federação, se sobreponha

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638 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

aos interesses específicos da união, dos estados e municípios, quando não

convergirem para o âmbito regional. É essa a observação que eu gostaria de

fazer.”

José Viegas: “Muito obrigado pela sua observação. Nós temos que encerrar

agora a nossa mesa, porque o professor Luciano Coutinho já está aguardan-

do a oportunidade para nos falar. Eu quero agradecer os expositores que

estão ao meu lado, professor Ignacy Sachs, o dr. Boris Utria e, também, a

professora Lúcia Falcón e o sr. Gusmão, chefe de gabinete. Aprendi muito

aqui e saio com essa sensação de que nós temos uma ideia progressivamen-

te clara da dificuldade do nosso trabalho. Muito obrigado.”

SESSÃO DE ENCERRAMENTO:Luciano Coutinho: “Queria saudar a todos os participantes, organizados do

“Nordeste Visto de Fora”, dentro do seminário Integra Brasil, na pessoa da

dra. Nicolle, que é a, digamos assim, a nossa originadora junto com o depu-

tado Firmo dessa importantíssima iniciativa, de retomar a reflexão sobre o

Nordeste.

Eu queria também, agradecer a presença de todos os convidados aqui,

especialmente o professor Ignacy Sachs, eu queria também sublinhar a pre-

sença do embaixador José Viegas, do representante do Banco Mundial, Boris

Utria, do nosso presidente da federação, Roberto Macêdo, também todos os

outros. Cadê a professora Lúcia? Não está aqui, está lá no fundo; a profes-

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639RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

sora Lúcia, enfim, a Vanessa, a Valdênia, que estão aqui, o Aristides, enfim,

todos os pesquisadores aqui presentes.

É uma grande satisfação encerrar mais esse evento, dessa jornada que

terá mais um importante fecho em Fortaleza. Eu espero que o conjunto de

contribuições, de fato, impulsione essa reflexão a respeito do Nordeste.

Eu estava retomando alguns dos dados importantes a respeito do Nor-

deste, durante o ciclo passado, até 2002, se tomarmos o Nordeste durante

o período de crise, os vinte e tantos anos de crise da economia brasileira,

nos anos 80 e 90, o Nordeste, com muita dificuldade, cresceu igual à média

e muitos anos abaixo da média brasileira, a informalidade cresceu, o Nor-

deste não avançou em distribuição de renda e a posição relativa do Nor-

deste na economia teve pouco avanço, durante um longo período. De 2000

a 2010, mais particularmente entre 2004 e 2010, houve uma ruptura positi-

va, um avanço importante. O emprego formal cresceu a 5%, a população

economicamente ativa a 1,7 nesse período, uma aceleração do crescimento.

O Nordeste conseguiu manter um diferencial entre as taxas de crescimen-

to, crescendo mais que o Brasil. Um diferencial que variou um pouco meio

ponto acima da taxa de crescimento do Brasil. O número, a formalização

do trabalho, a escolarização, a distribuição de renda, a bancariazação, tudo

isso aumentou. Mas, se nós olharmos, por exemplo: no Nordeste, no início da

década, a informalidade na força trabalho era de 68%. Em 2010, ela cai para

59%, ainda é muito mais alto do que a média brasileira ou do que a média do

Sudeste, mas houve uma queda substancial de dois terços para um pouco

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640 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

menos de 70% de informalidade. Se nós olharmos também a escolaridade,

houve melhora. Não obstante, as comparações absolutas ainda são hoje

comparações em que o Nordeste é inferiorizado, continua inferiorizado

em termos absolutos. A renda média, as percentagens de informalidade,

mesmo as percentagens de crianças ou adolescentes na força de trabalho,

os percentuais de pessoas ganhando até um salário mínimo. Enquanto no

Brasil até um salário mínimo é 30%, no Nordeste é 51%, isso data de 2010.

Então, a gente compara, o Nordeste ainda retém a maior parte da pobreza

no país, os níveis absolutos de pobreza, os bolsões de pobreza absoluta,

especialmente as do Semiárido.

Não obstante, este forte processo de transformação recente, que é um

processo benigno de mudança mais acelerada, que dependeu de decisões

políticas relevantes, pôr em marcha investimentos de grande escala no Nor-

deste, e tem alguns grande polos industriais e alguns grandes complexos

portuários, o deslocamento de grandes refinarias, grandes unidades, uni-

dades siderúrgicas, unidades petroquímicas, unidade de celulose, papel,

algumas decisões de grande medida induzidas por políticas que ajudaram

nesse ciclo. E se somou a isso um conjunto de decisões também políticas,

por exemplo, do projeto da TRANSNORDESTINA ou o projeto da transposi-

ção. Originou um ciclo; esse ciclo ainda está em curso, na medida em que vá-

rios desses projetos ainda, alguns já amadureceram, estão concluindo, mas

a maior parte desses projetos ainda está em curso e em amadurecimento. O

que significa que ainda há uma sobrevida nesse processo.

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641RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Mas, se nós olharmos com uma visão de longo prazo, nós vamos con-

cluir, primeiro: que este ciclo, embora seja um ciclo favorável à região, ele,

primeiro, pode se esgotar; segundo, ele não é suficiente para dar conta de

um projeto de longo prazo e a continuidade de um processo de transforma-

ção da região numa região que se aproxime, pelo menos, das médias bra-

sileiras. E isso significa a necessidade que o Nordeste retome, enquanto

formulação, um projeto de desenvolvimento de longo prazo, que valorize e

crie novas, e multiplique, oportunidades competitivas de desenvolvimento

para a região.

A região tem uma série de vantagens, mas tem também algumas desvan-

tagens, olhando marco, grandes marcos ou fatores. A região tem um desafio

de energia, por exemplo, os mananciais hídricos de grande escala para ele-

tricidade estão perto do esgotamento.

O Nordeste tem um potencial de energia eólica, que é importante porque

ele acontece no período seco ou então ele ajuda, mas, também, isso é parte

de um processo, talvez, não suficiente. Então, há um desafio de pensar uma

política de energia para a região, a médio e longo prazo. Há o desafio de re-

visitar e olhar a logística da região, pensando não só na sua articulação para

fora, que necessita de alguns reforços e de uma melhor conexão com várias

outras correntes de comércio possíveis para a região, que revitalize essas

oportunidades de exportação a partir da região, mas é indispensável olhar

a interconexão desse sistema logístico para dentro. E aqui há um desafio

muito relevante, que é o de olhar para dentro.

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642 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

A região é tão desigual quanto o Brasil e quiçá a desigualdade interna e

a heterogeneidade estrutural interna seja mais aguçada do que a heteroge-

neidade, olhando o Brasil como um todo. Então, é preciso olhar para dentro

do Nordeste e pensar numa integração de estruturas, de serviços públicos,

de forma a reforçar o sistema de cidades. Reforçar o sistema de cidades

médias e cidades pequenas e médias. É preciso retomar a reflexão a respei-

to dos potenciais da agricultura, tendo em vista a possível perenização de

algumas bacias. É preciso rever o perfil dos investimentos em manufatura

e serviços, e em construção, olhando para atividades que sejam descentra-

lizáveis, sendo altamente desejável a interiorização de polos de desenvolvi-

mento, inclusive envolvendo a manufatura. É preciso pensar explicitamente

numa política de desconcentração dentro da região e induzir essa política.

Isso requer não apenas projetos, mas requer investimentos, porque a capa-

cidade descentralizável do desenvolvimento dentro da região vai requerer a

criação de vantagens competitivas logísticas interiorizadas. Isso significa

não só que a malha viária federal, feviária e ferroviária, mas também a ma-

lha alimentadora vicinal e de pequenas estradas dos estados precisa estar

planejada de maneira consistente, e isso impõe um grande desafio.

Nós temos visto experiências extremamente alvissareiras, em que em-

preendimentos, em comunidades de muita baixa renda, podem vicejar de

forma extremamente interessante se um pouco de capital for alocado a es-

ses pequenos empreendimentos. São empreendimentos que muitas comu-

nidades, de baixa renda, que vivem de atividades primárias, ou da venda in

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643RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

natura de produtos agrícolas, possibilidade de fazer uma pequena industria-

lização ou processamento de produtos, organização de cadeias, organiza-

ção de pequenas cooperativas, pode ter um efeito extraordinário de melho-

ria da renda local. Tudo isso requer uma coordenação de políticas, requer o

governo federal, requer a iniciativa dos governos estaduais que são o ator

chave no processo. Mas, requer que os governos estaduais estejam apoia-

dos na sua capacidade de investimento para empreender esse desenvolvi-

mento mais equilibrado. Esse desenvolvimento mais equilibrado tem, além

disso, o condão de poder ser ambientalmente muito mais sustentável do que

o modelo prevalecente de super concentração em áreas metropolitanas de

capitais, que geram inchaço, concentração de periferia extremamente po-

bre, requer investimento e terminam produzindo um ciclo de realimentação

muito complicado.

Ou seja, é chegado o momento de pensar projetos com uma visão de lon-

go prazo para o desenvolvimento da região. Ninguém formulará esse projeto

senão que o próprio Nordeste. Eu sou cético de que a formulação e a pro-

posição de um projeto com essa envergadura, com uma visão que possa vir

de fora para dentro, eu creio como o tema aqui, a visão de fora para dentro.

Eu queria dizer assim, a formulação de um projeto, a coesão política neces-

sária para impulsionar um projeto dessa natureza, requer que as lideranças

regionais estejam em sintonia, engajamento, e que a sua formulação seja

compartilhada e seja originada intelectualmente a partir da própria região.

A partir deste curso, é que o peso político da região poderá fazer se sen-

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644 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

tir para deslocar e colocar a política de desenvolvimento da região no eixo

da política nacional de desenvolvimento. Da mesma forma, a originação de

projetos, a concepção, muito embora a decisão política tenha sido funda-

mental nos últimos anos, em particular ênfase a decisões tomadas pelo pre-

sidente Lula e continuadas depois pela presidenta Dilma, foram essenciais

para a ruptura desse processo, a mudança desse processo, é necessário

que uma nova geração de projetos, de originação de novos projetos, possa

ser impulsionada a partir dessa iniciativa da própria região em parceria, e é

certamente indispensável atrair investimentos para a região, é certamente

indispensável porque o potencial de crescimento do consumo na região, o

crescimento do mercado na região, que é um ativo importante, que pode ser

acelerado se as políticas de desenvolvimento forem inclusivas do ponto de

vista social, permite reforçar e desdobrar novas oportunidades para investi-

mento na região.

Eu vejo o desenvolvimento do Nordeste como uma grande oportunida-

de, que não pode ser perdida, e precisa ser, de fato, essa reflexão é muito

oportuna, porque sem que ela seja levada às suas consequências no sentido

consistente, não virá, e esse ciclo que foi até aqui razoavelmente virtuoso

pode se esvair. Então, essa é a mensagem. Nós temos tido, enquanto banco,

uma grande atenção para cumprir o nosso compromisso de manter e, se

possível, ultrapassar o percentual de desembolsos na região. Temos conse-

guido mais recentemente, graças a alguns programas importantes do gover-

no federal, de empréstimos aos estados, poder impulsionar a capacidade de

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645RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

investimento nos estados, eu me refiro ao PF1, PF2 e, agora, ao PROINVEST

e o programa BNDES Estados, e que descortina onde, na verdade, nesses

programas, o peso do Nordeste é muito maior, o peso do Nordeste está en-

tre 1/3 e 40% ou 50% nesses empréstimos aos estados e que nós temos um

compromisso de buscar o aperfeiçoamento, a interação, com o poder local,

com os governos estaduais, motivando-os ou interagindo para empreender

esses projetos.

Entendemos que o investimento e o planejamento das áreas metropoli-

tanas e das capitais, precisa entrar na que está, na ordem do dia, e pre-

cisa ganhar aceleração, especialmente investimentos em mobilidade urba-

na, investimento em sistema de saneamento nas áreas metropolitanas, é

preciso sonhar com a universalização do sistema de saneamento nas áreas

metropolitanas, há um grande esforço. A política de educação é outra polí-

tica essencial, dados os diferenciais que ainda inferiorizam o Nordeste em

termos de escolaridade da população e da força de trabalho, a política de

treinamento, etc.

Eu queria agregar que, como o mundo está em forte processo de trans-

formação tecnológica, nós não podemos ficar restritos ao velho paradigma

da indústria do século XX, que foi muito importante, eu tenho que pensar

nas indústrias emergentes, onde os setores intensivos em conhecimento

tem um peso crescente. O nordeste já tem polos extremamente criativos

na indústria de software e serviços de software associados. Não há porque

não sonhar mais alto nesse setor, não há porque não pensar nos setores

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646 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

intensivos no do complexo saúde, no setor de intensivos em conhecimento

do complexo saúde. Não há porque não pensar no Nordeste em liderança na

aplicação de tecnologia de informação em grande escala, na otimização de

sistemas. Então, o processo de transformação precisa ser compreendido, e

com a vantagem de ser um valor agregado muito alto, essas coisas devem

ser pensadas e aproveitadas. O Nordeste precisa, nessa reflexão, atualizar

as suas ambições e pensar-se como uma região onde certas vantagens com-

petitivas devam ser desenvolvidas em torno à inovação.

Há um ponto essencial, um ponto importante, a inovação é hoje, está

profundamente associada à sustentabilidade. Se há uma região no país que

precisa de eficiência no uso de energia, essa é o Nordeste, mais do que ou-

tras. O Nordeste deveria ser um líder em tecnologias que poupam recursos

hídricos, óbvio, e poupam energia. E essas tecnologias são tecnologias que

dependem, ou de inovações no sistema, essas tecnologias estão presentes

no mundo agropecuário, no mundo da pequena produção, estão presentes

nas infraestruturas, estão presentes no sistema de distribuição de energia,

estão presentes na organização dos sistemas de transportes; quer dizer, a

capacidade de priorizar a inovação com sustentabilidade e inclusão social,

a combinação dessas formas de inovação, mais veementemente óbvia para

o Nordeste e, portanto, pensar o desenvolvimento da região deveria incluir

esse grande desafio de mudança de paradigma, porque o desenvolvimen-

to precisa mudar de paradigma. Estávamos discutindo aqui, assim, o para-

digma do desenvolvimento baseado no modelo de desperdício de energia,

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647RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

desperdício de combustível intensivo em transporte individual, intensivo em

grande agricultura consumidora de água em grande escala, consumidora

de várias coisas em grande escala, todos esses paradigmas estão datados,

eles são paradigmas incompatíveis com o médio prazo, com sustentabilida-

de. Eles ainda estão enraizados no Nordeste, é preciso que o Nordeste se

repense como uma região que pode ser inovadora num paradigma de desen-

volvimento novo, que precisa ser criado.

Eu peço desculpas por não ter participado do debate e por dizer essas

palavras aqui sem ter, eventualmente, cópia. Peço, assim, humildemente

desculpa porque certamente esses temas foram discutidos e não precisa

nem necessariamente ser lembrados, mas como eu fui chamado para fazer

o encerramento e o entusiasmo pelo desenvolvimento da região sempre me

mobiliza, eu queria concluir dizendo que não há porque o Nordeste não se

repensar e se recolocar, e se impulsionar no cenário brasileiro como uma

grande oportunidade, generosa, de desenvolvimento que combina justiça,

equidade, sustentabilidade e inovação. E clama por isso, porque pelo seu

peso na população brasileira, pelo seu peso no sistema de representação

política, ele como ator deve e ninguém fará isso por ele, isso não significa

que a cobrança de que a política nacional deva priorizar a região, mas esse

é um processo dialético, é preciso que haja uma proposição forte para que

ela possa ser de fato, que gere um contraponto.

Então, eu parabenizo a iniciativa. Quando a iniciativa do Integra nos foi

colocada, nós apoiamos desde o primeiro momento, Nicolle, então, temos

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648 WORKSHOP. RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO

aqui um aliado interessado nessa agenda. E Parabéns, a Helena me disse

aqui em cinco minutos que foi muito boa a sessão de hoje, foi muito rica, eu

irei lê-la com muita atenção, os resumos aqui que me serão apresentados.

Muito obrigado.”

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MESA-REDONDA

“AS DESINGUALDADES INTRARREGIONAIS NA ECONOMIA NORDESTINA: SOLUÇÕES E ENCAMINHAMENTOS.”

Campina Grande, Paraíba, 18 de julho de 2013

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Moderador

Francisco de Assis Benevides GadelhaPresidente da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba - FIEP

Expositores:

Arlindo AlmeidaAssessor da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba - FIEP

Mário Antônio Pereira BorbaPresidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba - FAEPA

Expositor/Relator

Gustavo NogueiraSecretário de Planejamento e Gestão do Estado da Paraíba

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653RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

MESA-REDONDA

QUESTÃO A SER RESPONDIDA PELO EXPOSITOR

Quais os principais obstáculos à integração entre os estados do Nor-

deste e como poderão ser vencidos em benefício do desenvolvimento

da região e de cada um dos seus estados?

SOLENIDADE DE ABERTURAFrancisco de Assis Benevides Gadelha: “Estamos realizando essa reunião

aqui na FIEP para tratar das desigualdades intrarregionais dentro da Região

Nordeste, que existem e são fortes, mas não quer dizer que com isso esteja-

mos assumindo uma posição no sentido de mitigar os recursos que vêm para

os Estados como Pernambuco, Bahia e o Ceará, de forma alguma; queremos

que esses Estados recebam ainda mais. Para diminuir essas desigualdades,

os Estados mais pobres precisam receber recursos de forma adequada; é

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654 MESA-REDONDA. CAMPINA GRANDE, PARAÍBA

isso que estamos buscando, porque foi assim que Juscelino Kubistchek fez

quando criou a SUDENE, ele quis exatamente fazer um deslocamento das

populações numa marcha para o Oeste, e aí criou Brasília, e fez com muita

força porque transportar um governo e uma capital, do Rio de Janeiro, com

todos os seus encantos, para um lugar que não tinha nada foi realmente uma

obra de um grande estadista, e isso fez com que o Brasil pudesse crescer

hoje”.

O presidente da FIEP defendeu a criação de uma Região de Captação de

Recursos Integrada para diminuir as desigualdades econômicas na Região

Nordeste e lembrou da importância do movimento Integra Brasil neste senti-

do. “O que nós queremos exatamente é que haja uma melhoria em todos os

Estados da Região Nordeste. Porque nos, últimos cinquenta anos, nós não

conseguimos mudar de posição, não conseguimos conseguir atingir 50% do

PIB dos outros Estados do Brasil, ou seja, os outros Estados, como Rio de

Janeiro e São Paulo, possuem um PIB médio de 19 mil reais, e nós continua-

mos com um PIB médio de 8 mil reais, ou seja não representa sequer 40% do

PIB desses outros Estados, então queremos modificar esse quadro, e fazer

com que o Nordeste deixe de ser o problema e se torne a solução, como a

Califórnia foi nos Estados Unidos”.

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655RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Nicolle Barbosa:

Se a seca é realidade

Mude logo o pensamento

Irrigue esse solo fértil

Pra produzir alimento

Não deixe um povo feliz

Que construiu o país

Sofrer neste desatino

Pois mesmo com a estiagem

Não tem mais linda paisagem

Que a do solo nordestino.

Senhoras e senhores, os versos do poema “a seca e a má vontade po-

lítica”, do pernambucano de Serra Talhada, Henrique Brandão, parecem

sintetizar bem o sentimento que nos invade, após percorrer todos os esta-

dos nordestinos em busca de construir uma articulação social, política e

econômica, que nos possibilite a superação desse desafio que perdura há

anos: a confirmação de nossa região em um território verdadeiramente rico

e repleto de oportunidades para todos que nele nascem e para aqueles que o

adotam como seu espaço de vida. E é exatamente por isto que estamos em

Campina Grande, a Rainha da Borborema, terra da inovação.

Mas, antes de iniciarmos, de fato, as discussões programadas para nossa

Mesa-Redonda de hoje, que tratará das Desigualdades Intrarregionais, permi-

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656 MESA-REDONDA. CAMPINA GRANDE, PARAÍBA

tam-me que saúde a todos os presentes, políticos, empresários, acadêmicos,

pensadores e demais representantes da sociedade que atenderam ao chama-

mento do Integra Brasil, nas pessoas de Francisco de Assis Benevides Ga-

delha, presidente da Federação das Indústrias da Paraíba e nosso anfitrião;

Rômulo Gouveia, vice-governador do Estado da Paraíba; Gustavo Nogueira,

secretário de Planejamento do Estado da Paraíba; Mário Antônio Pereira Bor-

ba, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Paraíba.

Senhoras e senhores, depois de quatorze meses de trabalho intenso,

durante os quais percorremos todos os estados nordestinos para discutir

o “Integra Brasil - Fórum Nordeste no Brasil e no Mundo”, e tendo recebido,

em cada cidade por onde passamos, o apoio maciço do setor produtivo e

de grande parte da comunidade acadêmica e da classe política da Região,

chegamos agora a Campina Grande, para, em mesa-redonda, discutir as de-

sigualdades intrarregionais.

Desde o seu nascedouro, o Integra Brasil definiu, como objetivo macro

de sua atuação, a luta pela redução dessas desigualdades, tendo, como mo-

tivação maior, a luta pela integração econômica do país como um todo, e,

como argumento inicial, a busca pela integração da economia do Nordeste

no cenário econômico nacional e mundial.

Nos anima a busca, a disseminação do entendimento de que o caminho

mais seguro para a conquista de um processo de desenvolvimento que se

possa dizer, de fato, sustentável para o Brasil, passa, necessariamente, pela

expansão e pelo fortalecimento do nosso mercado interno.

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657RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

E, nesse mister, o Integra Brasil se propõe a, partindo do setor produtivo

do Nordeste, lutar por uma efetiva integração de todos os estados da Re-

gião, fortalecendo os laços políticos que nos unem, para que, quem sabe,

num horizonte próximo, possamos ter uma forte base política de negociação

capaz de formatar as “moedas de troca” necessárias à nossa afirmação no

cenário econômico nacional e internacional.

Nas hostes desse grande movimento que apenas se inicia, acreditamos que,

somente com essa integração, conseguiremos dar o passo seguinte, a cons-

trução de um novo pacto federativo, que contemple a conquista do equilíbrio

interregional tão necessário à redução das desigualdades socioeconômicas.

Com o modelo de atuação pensado, e que está sendo posto em prática

pelo Integra Brasil, estamos trabalhando de forma consistente pela criação

da ambiência necessária à consolidação de um processo de desenvolvimen-

to que se possa dizer, de fato, sustentável para o Nordeste e para o país

como um todo.

Após intenso e sistemático processo de estudo, pesquisa e planejamen-

to, vêm à tona lembranças que remontam aos tempos da SUDENE e dos

encontros do seu Conselho Deliberativo, quando emergia um pensamento

político de cunho verdadeiramente regional, o Integra Brasil começa a tomar

uma consciência cada vez mais crítica da real dimensão das potencialida-

des econômicas do Nordeste.

Ao envolver um grupo de renomados economistas brasileiros, todos com

larga experiência no pensar o desenvolvimento regional, já podemos assu-

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658 MESA-REDONDA. CAMPINA GRANDE, PARAÍBA

mir alguns objetivos claros. Queremos ver a economia do Nordeste crescen-

do de forma sistemática e contínua; almejamos alcançar, em um horizonte

de no máximo 20 anos, o patamar de 70% do PIB per capita do País.

Um olhar para a realidade atual nos mostra que a nossa região não res-

ponde sequer por 50% do PIB per capita brasileiro. E olha que isso não é de

hoje, o índice está estagnado nesse nível há muito tempo, desde 1939, quan-

do iniciava a segunda guerra mundial.

Esse, senhoras e senhores, é o primeiro desafio que nos impomos.

Ademais, fortalece as razões de estarmos aqui hoje, envoltos numa me-

sa-redonda para discutir as razões das desigualdades dentro do próprio Nor-

deste.

Não há no mundo nenhum exemplo de território, seja uma região geo-

gráfica, um estado ou uma nação, que tenha conquistado um estágio de de-

senvolvimento sequer razoável, perpetuando um estado de desigualdades

regionais.

Não podemos nos aquietar percebendo que, enquanto o mundo evolui, o Bra-

sil teima em manter suas históricas e permanentes desigualdades regionais.

Ao que nos parece, e a cada dia isso se mostra mais claro, essa situação

é consequência de nunca ter havido um enfrentamento verdadeiramente

coerente da questão, seja por parte da classe política regional, dos governos

estaduais e federal ou, o que é mais marcante, da parte da sociedade civil.

Tal qual a metáfora da condição humana expressa na obra de Leonar-

do Boff, “A águia e a galinha”, nós, nordestinos, temos teimado em seguir

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659RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

ciscando, aceitando as migalhas paliativas presentes em parcas políticas

compensatórias, emanadas de um poder público, cada vez mais distanciado

da sociedade.

Há tempos não nos defrontamos com políticas públicas consistentes e

consequentes voltadas para um desenvolvimento verdadeiramente susten-

tável para o Nordeste.

Não queremos com estas considerações afirmar que devamos desprezar

as transferências sociais acontecidas nas últimas décadas; mas também

não podemos aceitá-las da forma como foram concebidas, sem trazer em

seu bojo a possibilidade de transformações duradouras, sustentáveis e de-

finitivas.

Para além destas transferências, reforça nosso sentimento o fato de que,

salvo em raros e históricos casos, nunca vivenciamos um pensamento regio-

nal concreto no universo das políticas públicas no Brasil.

E, quando voltamos o olhar para períodos bem recentes, e vemos obras

estruturantes importantes – como a construção da ferrovia TRANSNOR-

DESTINA e a transposição das águas do São Francisco – para ficar somente

nestes dois exemplos –,iniciativas que, se concluídas a contento, seriam ca-

pazes de transformar definitivamente o perfil socioeconômico do Nordeste,

teimam em se arrastar por décadas, sendo tocadas a passos de cágado,

numa irresponsabilidade pública infinda, quase criminosa.

Senhoras e senhores, todos nós temos consciência da infinidade de so-

luções técnicas coerentes e consequentes para o desenvolvimento de dife-

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660 MESA-REDONDA. CAMPINA GRANDE, PARAÍBA

rentes culturas econômicas em territórios com características climáticas,

geográficas e morfológicas similares às do Nordeste. Porém, cada vez fica

mais evidente, a falta de vontade, de hombridade e de comprometimento

político de grande parte daqueles que foram legalmente eleitos para legislar

e executar, em nome do povo, a viabilização destas soluções.

Está cada vez mais claro, e não é por acaso, que a sociedade se apressa

em sair da condição de “ver a banda passar” e começa a “botar o bloco na

rua”, mostrando aos seus representantes que é preciso vergonha na cara e

vontade política para mudar a realidade ora vivenciada seja no Nordeste ou

em qualquer outro lugar do Brasil.

Mas, mantendo o foco inicial, não podemos esquecer que o solo e o céu

do Nordeste guardam uma multiplicidade infinda de riquezas a serem explo-

radas, e seu povo, quando é preciso, sabe mostrar sua garra, sua coragem e

sua criatividade para mudar os rumos.

É mais que hora de todos nós, sociedade civil, classe empresarial, acade-

mia, assumirmos o papel político de protagonistas da transformação de nos-

sas competências, de nossas potencialidades, em realidades duradouras.

E isso é muita responsabilidade para ser delegada apenas à classe polí-

tica. Todos temos que nos envolver, especialmente mostrando caminhos e

cobrando ação daqueles aos quais delegamos nossa representação.

E aqui, antes de findar minhas palavras, quero destacar uma característi-

ca que, a mim me parece, diferencia o Integra Brasil de muitos outros movi-

mentos que o antecederam.

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661RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Acreditamos que é preciso parar de falar do Nordeste como problema.

Não somos os coitadinhos, os que sempre estão de braço estendido, de pires

na mão. Há uma cultura em voga de se chamar atenção para “os problemas

do Nordeste”; ou até mesmo chamar atenção para o “problema Nordeste”.

Essa cultura precisa ser mudada. O nosso discurso enquanto nordestinos

que somos, precisa mudar definitivamente. Nós somos uma região rica de

oportunidades. Somos uma região que tem inúmeras e sólidas vantagens

a oferecer em qualquer mesa de negociação com o resto do Brasil ou com

qualquer outra nação do mundo.

No Integra Brasil, entendemos o Nordeste como o grande celeiro de solu-

ções sustentáveis, não só para si mesmo, mas para os problemas socioeco-

nômicos do Brasil como um todo.

Não temos dúvida de que o crescimento econômico, a sustentação da

nossa identidade cultural e a recuperação da autoestima nacional passam,

necessariamente, pelo Nordeste. O trabalho até aqui desenvolvido pela

equipe do Integra Brasil tem consolidado em cada um, e em todos nós, a cer-

teza de que o Nordeste tem as competências e os atributos essenciais para

conduzir e determinar os rumos da negociação do seu futuro econômico.

Cabe agora, a todos nós, deixarmos aflorar as múltiplas inteligências que

temos, para dar vazão, ao longo deste e dos demais eventos ainda previstos

nesse movimento, a ideias verdadeiramente transformadoras, capazes de

dar ao Nordeste um novo horizonte, um horizonte onde todos nós, Nordesti-

nos, tenhamos vez e voz no cenário econômico mundial.

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662 MESA-REDONDA. CAMPINA GRANDE, PARAÍBA

Rogo que consigamos trabalhar intensamente, para que, ao final do dia

de hoje e dos próximos encontros, possamos apresentar ao Brasil inteiro um

Novo Projeto de Desenvolvimento Regional, que, revestido da necessária le-

gitimidade técnica, consciência social e comprometimento político,promova

a sensibilização do resto do país para a importância da construção de uma

nova economia, uma economia verdadeiramente nacional e integrada, onde

as desigualdades regionais sejam apenas fatos históricos a serem registra-

dos nos anais do passado.

Que Deus nos ilumine na construção desse movimento que tem em sua

essência o fundamento da palavra divina, a integração.

Obrigada e bom trabalho para todos nós!

Rômulo Gouveia: Rômulo defendeu a redução das desigualdades regionais

com novas intervenções econômicas e negociações políticas, por meio da

mobilização do setor produtivo, instituições públicas e privadas. Ele enfa-

tizou que o governo do Estado já adota uma política de desenvolvimento

regional interno com o Pacto pelo Desenvolvimento Social, que, em dois

anos, está destinando cerca de R$ 150 milhões para os municípios, princi-

palmente nas áreas de educação e saúde, além dos outros investimentos

em rodovias, adutoras, esgotamento e saneamento básico e incentivo à

economia local.

“O Governo da Paraíba apoia esta iniciativa até porque defendemos um

novo pacto federativo. Estamos também reafirmando a defesa da inclusão

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663RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

da Paraíba na Ferrovia TRANSNORDESTINA, como forma de contribuir

para a redução da desigualdade intrarregional”, explicou o vice-governador.

Arlindo Almeida: A Paraíba que já ocupou o 4º lugar no PIB da Região Nor-

deste, hoje ocupa a 6ª posição, e os indicadores sociais também deixam o

Estado numa situação desconfortável; se adotarmos o Índice de Desenvolvi-

mento, da FIRJAN, que é realizado anualmente, a gente percebe que a Paraí-

ba tem muitos projetos que precisam ser desenvolvidos para reverter esse

quadro. Precisamos investir mais em novas tecnologias para reverter essa

situação, em setores mais dinâmicos da Paraíba, como Calçados, Têxtil e

Confecções, ao mesmo tempo em que precisamos inserir as universidades

com todo o seu conhecimento no setor produtivo”, disse Arlindo.

Para Arlindo, em trabalho sob o título “Desigualdades Regionais”, prepa-

rado como subsídio para as discussões na Mesa-Redonda, “O desafio a que

será submetida a Paraíba nas próximas décadas exige de sociedade, gover-

no e setor produtivo ações coordenadas, de coerência entre propósitos e

resultados, com vistas a alcançar níveis de desenvolvimento acelerado, que

conduzam à superação de desigualdades históricas, construindo um Estado

em que as diferenças entre pessoas e regiões sejam minimizadas e o seu po-

tencial humano possa exercitar sua competência com resultados eficazes.

A economia mundial atravessa, hoje, um quadro agudo de incertezas,

principalmente entre os países mais ricos, com quedas nas atividades eco-

nômicas e níveis de desemprego elevados, como na União Europeia, que,

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664 MESA-REDONDA. CAMPINA GRANDE, PARAÍBA

em fevereiro de 2013, atingiram nível médio de 12%, destacando Espanha e

Grécia com 26%, e França, Portugal, Irlanda e Itália na faixa de dois dígitos.

Pela forte e crescente integração econômica global, isso naturalmente

reflete em nosso país, cujo Produto Interno Bruto vem tendo fraco desem-

penho em anos mais recentes, embora com aumento no nível de empregos.

Ao Brasil se impõe no curto prazo um grande esforço de adaptação à nova

realidade mundial e reversão do baixo índice de crescimento do produto,

evitando desperdiçar precioso tempo na construção de uma das economias

que vêm se desenhando como o 5º maior PIB do mundo em curto tempo. Nas

próximas décadas, o grande desafio para o Brasil não será apenas crescer,

mas crescer com qualidade pela integração econômica e diminuição das

assimetrias interregionais. No âmbito interno, todo o esforço das unidades

federativas, resguardando-se de ser condenadas ao atraso e à exclusão,

deve ser no sentido de aproveitar as oportunidades que certamente virão e

acompanhar esse ritmo de desenvolvimento.

A dimensão dos desequilíbrios espaciais de desenvolvimento econômi-

co e social pode ser observada em diferentes escalas urbanas e regionais.

Isoladamente, nunca superaremos as diferenças em relação ao conjunto

do País. Na construção de um novo modelo de tratamento da problemática

regional, é fundamental que os nove estados do Nordeste adotem estraté-

gias comuns de articulação, de agregação, de complementaridade, visando

à efetiva integração econômica, ao aumento da competitividade do bloco e

à melhoria das condições de vida da população.

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665RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

Em conclusão, Arlindo destaca que “Diagnósticos sobre a problemática

nordestina já foram construídos em demasia. Propostas complicadas, de di-

fícil assimilação e geradoras de debates que a nada conduzem devem ser

descartadas. Talvez, trilhando caminhos mais simples, a partir da institui-

ção, em respeito à Constituição Federal, do pacto federativo de que tanto

se fala, mas nunca existiu, possa se construir uma nova realidade no longo

prazo. Afinal, não seria ocioso pedir compromisso e ação aos responsáveis

pelos destinos da região – sociedade, governo e empresários – todos agindo

em comum pela mesma causa.

É bom lembrar o que diz a Carta Magna de 1988 em uma de suas cláusulas

pétreas:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do

Brasil:

II garantir o desenvolvimento nacional;

III erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades so-

ciais e regionais;

Finalmente, por tudo que se conhece sobre o conjunto dos fatos sobre o

Nordeste, pelas evidências inquestionáveis, pelo compromisso com o futuro

do homem, não seria ousadia despropositada:

1. Cumprir o mandamento constitucional;

2. Adotar política de integração dos projetos de interesse comum a dois

ou mais Estados;

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666 MESA-REDONDA. CAMPINA GRANDE, PARAÍBA

3. Instituir como regra para investimentos do orçamento federal a alo-

cação nos Estados da região na razão inversa do seu Produto Interno

Bruto per capita.

É o que se submete à discussão”. E termina citando Celso Furtado:

“O desenvolvimento, na realidade, diz respeito às metas da vida. Desenvol-

ver para criar um mundo melhor, que responda às aspirações do homem

e amplie os horizontes de expectativas. Só há desenvolvimento quando o

homem se desenvolve.”

Mário Antônio Pereira Borba: “Nós não podemos desenvolver, não po-

demos pensar em desenvolvimento, crescimento, se nós não educarmos o

nosso povo. O Nordeste tem uma média, segundo o IBGE, de 18% a 23% de

analfabetos. Isso é inacreditável. Em pleno século XXI, a gente ter um índice

desses de analfabetismo deste. Estão aí empresas ocupando o Nordeste, se

implantando no Nordeste, precisando de pessoas capacitadas, e nós não

temos. Então, esse é o cúmulo. Considero um dos maiores agravos, além da

infraestrutura e da logística, e a educação no Nordeste. A educação primá-

ria, aquela que vem da massa. É um negócio incrível.

Vou citar um fato aqui o que, quando eu falo em educação, me lembro dis-

so, a educação de jovem e adulto na área rural era boa e era no lampião na-

quela época, e eu me lembro que saltou um cidadão, preto, cabelo grisalho,

sessenta e cinco anos, virou-se e disse: “doutor, agora com aquele método

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667RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

do Paulo Freire que você escreve aquilo que você está vivendo e convivendo,

agora que eu aprendi a fazer meu nome.”

Cego é aquele que vive no Nordeste e não vê as grandes periferias do

Nordeste. Tem o Instituto Federal de Ensino, Escola e Superior, mas o ne-

gro está lá na mata. Tem que alfabetizar o nosso povo, tem que capacitar o

nosso povo. As oportunidades estão surgindo e nós que estamos aqui, esta-

mos perdendo essas oportunidades. Tem que se acordar, para isso, acordar

e acordar logo, esse é o grande trabalho.

A outra questão do Nordeste, também se fala, se comenta, e eu não vejo

uma solução até hoje: desertificação. É uma verdade, os processos de de-

sertificação estão acontecendo, e qual é a providência que tem sido toma-

da? Muita conversa, muita coisa e, na realidade, não existe, não conheço

nada que esteja trabalhando com desertificação.

Tem meia dúzia de obra recebendo dinheiro do governo, dizendo que

está fazendo isso, está fazendo aquilo, mas estão fazendo só para eles, não

deixam nenhuma outra entidade chegar perto, federação das entidades pri-

vadas não tem o direito de chegar perto desse povo. Até nos eventos não

somos convidados para nada, e quando chega, “não, aqui é só o nosso públi-

co”. Já vi isso aqui.

A outra coisa também no Nordeste é a questão, vou falar em um caso

aqui que, graças a Deus, não resolvido na sua totalidade, mas uma parte,

que é o endividamento do Nordeste. Nos anos 1990, tivemos seis anos sem

água. Campina Grande ficou com 17% da sua capacidade no Boqueirão;

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668 MESA-REDONDA. CAMPINA GRANDE, PARAÍBA

mais quinze dias; o Boqueirão entrava num colapso em 1999. Se não fosse a

chuva do dia 10 de janeiro de 2000, em todo o Nordeste, choveu quase cento

e tantos milímetros, salvando o Nordeste todo naquela época. E isso, nesse

ano 90, além do Nordeste, por ser uma região semiárida, para ter um trata-

mento diferenciado, para ter um crédito rural diferenciado, o Nordeste pa-

gava juro, correção monetária,TJLP de 1989 a dezembro de 2000. Então, com

isso, quem comprou um ficou devendo dez, quem comprou dez ficou deven-

do cem, quem comprou cem ficou devendo mais de um milhão de reais. Eu

tenho amigos de 1996, que fizeram financiamento com o Banco do Nordeste

para galpão integrado, com alvará, que hoje devem um milhão e duzentos

poucos mil. Nos anos 2000, o governo abriu uma renegociação de crédito, ,

os produtores fizeram, até duzentos mil o sujeito levou. E, quando é agora,

depois de dezessete anos de tributos, em 1994 saiu a primeira Medida Provi-

sória para resolver o problema. E durou até agora. E agora o governo abriu o

crédito até cem mil, com rebate dos juros até cem mil, e aqueles que fizeram

lá atrás de duzentos? Depois de treze anos você, ao invés de aumentar faixa

de negociação, você diminui. Mas, graças a Deus, resolvemos até cem mil,

eu acho que vai, mais de 90% dos produtores vão ser contemplados com isso.

Eu vejo a Paraíba, por exemplo, como um grande potencial. A Paraíba

tem cinco regiões distintas. No litoral, eu vi ali um trabalho de mudança de

comportamento das pessoas. Então, quando você chegar no Cariri da Paraí-

ba, no Cariri Oriental da Paraíba, para mobilizar as pessoas é a coisa mais

fácil do mundo, por conta de uma mudança de comportamento que houve na

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669RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

época. Um município que tem cinquenta associações, cinquenta e seis, qua-

renta, quando você quer juntar associação dos municípios do Cariri, basta

dar um grito que chegam 90% dos prefeitos. Se você chegar no Sertão, no

Vale do Piancó, você não junta doze prefeitos; só se for o governador, e se

for levar dinheiro. Se não for isso, para tratar de assunto da região, você não

junta. Então, são regiões distintas, um sertão rico, promissor, principalmen-

te com a chegada dessa transposição, tanto desse Canal Leste, como do Ca-

nal Norte. Então, você coloque a Paraíba, que tem um potencial genético na

de pecuária. A Paraíba, tem setenta anos a empresa de pesquisa do Gir, em

Umbuzeiro. O Brasil inteiro estava prestigiando os setenta anos da estação

de Umbuzeiro, que saiu daqui para Minas Gerais, e hoje o Gir leiteiro está na

situação que está. Tem pessoas da França querendo levar animais daqui da

Paraíba, levando embriões da Paraíba, porque o animal não pode ser levado,

nesse momento, agora. Então, eu sinto que começam a tomar conta, até do

ovino e do caprino, que se espalhou nessa Paraíba toda. Então, precisamos

realmente de políticas públicas voltadas para esse setor. Não quero, não

acho que é um momento de crítica, é de construir o que é bom e não criticar

o que está acontecendo, mais por questão, às vezes, vamos dizer assim, de

determinados secretários que não cumprem a sua verdadeira função e que

às vezes a gente se prejudica por isso.

E temos aí uma EMBRAPA, também, quando a gente fala em crescimento

e desenvolvimento, a gente não pode esquecer pesquisa. Eu me lembro que,

nos anos 70, o Brasil importava feijão, importava tudo que era alimento, a

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670 MESA-REDONDA. CAMPINA GRANDE, PARAÍBA

maior parte dos nossos alimentos era importada, e com a ida do pesquisador

e agrônomo, Paulo Melo, para a EMBRAPA, então, transformou a EMBRAPA

e o Brasil hoje dá um exemplo de crescimento impressionante, com aumento

de produtividade impressionante, e temos aqui na Paraíba também EMBRA-

PA, que também é referência nacional nessa questão do algodão, mas tam-

bém em outras atividades agropecuárias.

O nosso potencial é grande, as oportunidades são grandes, precisamos

correr atrás. Eu me lembro muito bem, tem um relatório aqui do Integra Bra-

sil, onde fala que, no começo, quando pensaram, há 30 anos atrás, que seria

a classe política a solução. E eu digo sempre, precisamos da classe política.

Eu me lembro que o deputado Adauto Pereira, de quando eu fui prefeito, de

83 a 88, votei duas vezes nele, e ele dizia que política era um mal necessário.

Na realidade é; precisamos dela, tudo é decidido por ela e tudo é feito atra-

vés dela. Mas, nós temos que cobrar mais dos nossos governantes, temos

que cobrar mais dos nossos parlamentares, estão muito soltos e, às vezes, a

gente reclama muito e cobra muito pouco deles. Precisamos de bons proje-

tos. Eu vejo às vezes pessoas falarem: “não, deputado é ruim, fulano é ruim”.

Você já entregou algum projeto a ele? Eu me lembro que uma vez passou

um secretário de Agricultura na Paraíba, e disse: “Vá lá no Ministério da

Agricultura, faz dois anos que eu não faço conta, quero saber o que está

acontecendo”.

Então, quando eu cheguei lá fazia dois anos que eles não prestavam con-

ta e não recebiam nenhum convênio pelo Ministério da Agricultura. Voltei,

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671RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

falei com ele, e ele disse: “E agora?”. Agora é fazer um projeto depressa para

poder você receber dinheiro. Então, são essas coisas que a gente tem que

chegar mais perto, temos que cobrar mais.

Eu conversava durante o almoço com o Buega, eu disse: “Buega, deixei

de falar e criticar político, agora vou cobrar deles”. E resolvemos trazer par-

lamentares novos. Então, com eles, todo mês levando para uma Federação,

já colocaram, cada um deles, quinhentos mil reais em dinheiro à disposição

do setor, e vamos continuar trabalhando com essas pessoas. Então, as opor-

tunidades existem, o Nordeste é viável, o Nordeste é bom, tem clima, tem

solo, e agora com a chegada da água e as logísticas que estão sendo pre-

paradas para o Nordeste, com certeza o que vem de gente do Centro-Oeste

para o Ceará, tem exemplo de produtor hoje que é o terceiro ou é o quarto

produtor que vem para o Brasil, com pasto rotativo.

As pessoas estão todas correndo para o Ceará, porque o Ceará hoje já

tem, não estou lembrado agora, mas o Sabóia me falou,não sei quantos mil

hectares de terra de irrigação. Então, o Ceará está na nossa frente. A Paraí-

ba tem chance, tem oportunidade, precisamos de mais políticas públicas,

temos pessoas competentes e, com certeza, iremos ter futuro melhor. Muito

obrigado!

Francisco de Assis Benevides Gadelha: Nós estamos chegando ao final da

nossa reunião, quer dizer, ao semifinal, porque nós vamos ouvir a palavra do

nosso relator, o secretário de Planejamento da Paraíba, Gustavo Nogueira,

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672 MESA-REDONDA. CAMPINA GRANDE, PARAÍBA

e, posteriormente, a palavra será facultada para que a gente possa fazer

uma complementação, um alinhamento com o nosso relator.

Mário Antônio Pereira Borba: Só complementando, diante dessa dificulda-

de da seca e tudo o mais, criou-se um programa para se conviver dentro do

Semiárido, o “Sertão Empreendedor: um Novo Tempo para o semiárido”. O

que significa esse programa? Resumindo, é tecnologia e mudança de com-

portamento. É um programa que tem começo, que não tem fim e vai traba-

lhar a Paraíba, que tem um projeto-piloto em seis municípios, é uma gran-

de parceria da Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba e o Serviço

Nacional de Aprendizagem Rural da Paraíba (Sistema FAEPA/SENAR-PB)

com o SEBRAE; o SEBRAE é o grande parceiro desse projeto. São vinte

produtores selecionados no município, um técnico agrícola, e esse técnico

agrícola vai passar um, dois, três, quatro anos trabalhando com esse grupo

de produtores, até que estejam aptos a continuar sua vida agrícola sozinho.

Então, eu acho que esse vai ser um grande passo, uma grande mudança,

para a permanência do homem na agricultura, com mudança de compor-

tamento e com tecnologia, porque elas existem, não vamos inventar nada.

Muito obrigado.”

Gustavo Nogueira: “Boa tarde a todos. Quero cumprimentar o presiden-

te Buega, a presidente Nicolle, e todos os participantes dessa mesa, os

convidados nas cadeiras laterais, e dizer da alegria de estar aqui, nessa

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673RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

casa, participando desse evento, que eu acho também muito importante,

e dizer também do desafio que me foi posto, convidado pela Federação,

através do Arlindo, que ligou para mim e me passou uma tarefa de relatar

as exposições. Eu disse: “isso é muito bom, você vai me deixar sentado

numa cadeira durante o dia todo, não posso nem ir ao banheiro”. Ele disse:

“Não, mas você faz, faz tudo bem”. Então, espero ter pinçado da fala de

cada um de vocês aquilo que me chamou mais atenção; obviamente, não

necessariamente é o que vocês queriam que tivesse sido destacado, afinal

de contas cada um tem uma percepção, uma forma de colher essa infor-

mação, mas espero fazer isso e, ao final, Nicolle, não sei se fica disponível

para a gente escrever alguma coisa ou deixa da forma como está. Mas, o

trabalho foi esse.

Devo também dizer, que adotei a metodologia de colher essas informa-

ções nos eixos, nos painéis, que teremos e que vocês estão estruturando lá

em Fortaleza. Eu disse, como é que eu vou colher essas informações, como

que eu vou pinçar num quadro de matriz? E ousei pegar os sete painéis, se

não me falha a memória, sete ou oito painéis que teremos; lá em Fortaleza.

A ideia foi essa que eu fiz. Então, como se desse uma coerência à metodo-

logia de trabalho que vocês estão fazendo. O propósito foi esse. Mas, antes

de chegar lá, eu até combinei com o Arlindo poderia fazer uma fala pequena

sobre o Nordeste, na condição de presidente do Conselho e secretários de

Planejamento, sobretudo num trabalho que nós fizemos há cerca de um ano

atrás, em três ou quatro oficinas que realizamos nos estados e finalizamos

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em Salvador. Arlindo, ele disse, “não, tudo bem, pode fazer”. Então, a ideia é

passar muito rapidamente”.

Arlindo, de forma muito brilhante e competente, já percorreu esses nú-

meros do Nordeste, eu não vou me prender muito porque a ideia é só tentar

dar uma introdução, mas são números que a gente já sabe que vocês têm

conhecimento: nove estados, cinquenta e três milhões de habitantes, 27%

da população, PIB de 507 milhões, 13,5% da participação do PIB do Brasil,

mas o Nordeste representa baixa densidade, isso é uma realidade muito for-

te, nas malhas ferroviárias, rodoviárias, portuárias, bem como insuficiência

das rotas aéreas e fragilidades relacionadas às redes de telecomunicações e

energia. Isso é uma primeira visão que a gente encontra, impactante, visível,

muito visível, para todos nós que estamos pensando o Nordeste.

Há algumas informações destacadas por região. Nessas aqui também

não vou insistir, porque a gente, de início, já viu isso com muita proprie-

dade, mas vamos ver aqui o PIB por região. O melhor situado é a Bahia.

O IDH também em todos os estados não é muito distante uns dos outros.

A expectativa de vida também da população está aqui, e eu não vou me

alongar nisso aqui, porque alguém já fez esse percurso com muita proprie-

dade, na exposição que você fez já abordou o PIB e PIB per capita dessas

cidades, e o IDH também. E, se nós observarmos também, estamos bem

próximos a vocês, aqui, as duas na vigésima sétima posição, de 19 a 21 está

todo mundo aqui por perto também. Para quem duvida que quem está em

melhor situação é a Bahia, também não há desculpa, é a Bahia que está

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com 72,3, e na pior situação nós encontramos quem? Alagoas com 67,2,

nos dados recentes.

Eu também identifiquei um concentração de riqueza muito forte, como foi

visto. Se observarmos, só a Bahia, Pernambuco e Ceará, a concentração de

65% das riquezas do Nordeste está exatamente nesses três estados, com uma

conjunção de forças políticas e também por competência desses estados. Nós

também não podemos dizer que eles não foram capazes o suficiente para ala-

vancar recursos para os seus estados e, obviamente, associados, articulados

nacionalmente com a agenda política, isso é indiscutível. Pernambuco dá um

salto muito forte na década, com a participação do presidente Lula, que é per-

nambucano; a Bahia teve um salto muito grande, consolidado com a atuação

muito firme de ACM; o governo do Ceará está com uma participação muito

forte, muito séria, muito capaz, inclusive, tecnicamente correta, no início do

governo Tasso, depois Cid, num ciclo de desenvolvimento público e privado,

deu um exemplo de crescimento o Ceará, porque teve isso, esse esforço muito

forte, mas também numa conjunção política muito forte, também o governo

Fernando Henrique, o governo Tasso, isso traz algumas confluências que aju-

daram bastante esses estados, além da expertise interna de cada um deles,

que não foi diminuindo, muito pelo contrário, são absolutamente capazes e

foram muito felizes de também associarem essa capacidade interna com as

forças políticas que olhavam, observavam esses estados de forma destacada.

E, aí, as distâncias, os vazios, as lacunas nas desigualdades intrarregio-

nais do Nordeste foram acentuadas, perigosamente acentuadas, e temos

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que quebrar isso. E, então, eu me encosto à fala do presidente Buega em

dizer que não quer que os estados da Bahia, Pernambuco e Ceará deixem

de crescer. Muito pelo contrário, cresçam, nós queremos é que os nossos

outros estados também tenham essa capacidade, essa articulação nacional,

também de crescer nessa perspectiva de observar o Nordeste como solução

e não como problema.

E aí, eu também fiz outro recorte para os que queiram observar o estu-

do feito pelo The Economist, produzido em 2012 (o segundo ciclo do estudo,

porque já fez um em 2011), o The Economist estudou vinte e três atributos

em oito categorias: ambiente político, ambiente econômico, regime tributá-

rio, políticas direcionadas ao investimento estrangeiro, recursos humanos,

infraestrutura, inovação e sustentabilidade. E foi no início desse ano que

The Economist publicou a segunda rodada desse estudo de todos os entes

federados. Eu recortei aqui só o Nordeste, mas esse estudo é muito interes-

sante. Você simula, você faz cruzamento; eu recortei apenas do Nordeste,

mas a gente vê as desigualdades observadas nessa perspectiva que é o ín-

dice de competitividade estudado por The Economist. E aí a gente vai ver

o exemplo do ambiente político, eles têm uma escala de 0 a 100, por cores,

esse cinza claro 25 pontos, o azul escuro 25 para 50, 50 a 75, e 75 para 100.

Nessas categorias, ambiente político, ambiente econômico, regime tributá-

rio e direcionamento aos investimentos externos, nós vamos ver algumas

desigualdades aqui. Em pior situação, o estado de Alagoas e, no ambiente

econômico, já existe uma uniformidade numa categoria abaixo da mediana,

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677RELATÓRIO INTEGRA BRASIL - FÓRUM NORDESTE NO BRASIL E NO MUNDO

da média de 25-50; no regime tributário, a gente já vê cores absolutamente

distintas. Eu fiquei surpreso com Pernambuco, aqui, sendo pontuado de for-

ma bem abaixo, o cinzazinho está de 0 a 25% no regime tributário, não sei

por quê, merece até que o pessoal de Pernambuco observe esse estudo,

porque, nas políticas direcionadas ao investimento estrangeiro, nós também

notamos aqui uma uniformidade, mas circulando entre 75 e 25% os estados

do Nordeste. E olha que nós temos uma realidade muito próxima, nós somos

muito parecidos, mas, mesmo assim, nós estamos bastante distantes. E é

nossa essa afirmação inicial, não só minha, mas de todos aqueles que enxer-

gamos o Nordeste como uma região ainda bastante desigual, com algumas

concentrações, alguns desníveis de excelência, excelência em termos, mas

distantes de outras áreas.

Recursos humanos, aqui, isso é uma surpresa não favorável para a Paraí-

ba, eu me privo de mensurar. Não sei por que a Paraíba aparece aqui, nós te-

mos belíssimas universidades, belíssimos centros de formação profissional

e capacitação, mas esse estudo, se vocês observarem, vocês vão ver que lá

tem as categorias e os critérios, e como que foi observado, e me parece um

material bastante sério.

A infraestrutura, destacadamente aparece Bahia, entre a Paraíba e o Rio

Grande do Norte, e é verdade,a Paraíba que cresce nas estruturas das es-

tradas, nós somos um dos estados mais bem supridos do ponto de vista da

infraestrutura rodoviária e, com isso, apareceu com muita força a Paraíba

aqui. Na inovação, também, uma uniformidade, está variando sempre entre

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75 a 25, em alguns casos de 0 a25, num recorte nordestino. E aqui na susten-

tabilidade, aparece Pernambuco de forma destacada dos demais estados.

Esse é mais para mostrar um recorte que apresenta algumas desigualda-

des na perspectiva das oito categorias, dos oito atributos que foram obser-

vados por The Economist.

Eu construí isso, êsse gráfico e fiz o seguinte: somei as médias da Bahia,

do Ceará e de Pernambuco, esse foi um exercício que eu fiz em cima dos re-

sultados dessa pesquisa. Somei as médias do Maranhão, Piauí, Rio Grande

do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe e a média do nordestino, e a gente vai

ver que os estados da Bahia, Ceará e Pernambuco, os mapas anteriores se

ressaltavam isso, estão bem mais posicionados.

Francisco de Assis Benevides Gadelha: Após rápidas palavras de Nicolle

Barbosa, que agradece a acolhida da FIEP e, para melhor fundamentar o In-

tegra Brasil a participação, o presidente Francisco Gadelha dá por encerrada

a mesa-redonda.

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POSFÁCIO

Aqui finda a primeira parte do relatório do “Integra Brasil – Fórum Nor-

deste no Brasil e no Mundo”.

Este volume contemplou os resultados dos debates promovidos durante os

quatro workshops e a mesa redonda, eventos realizados, respectivamente, nas

capitais Fortaleza (CE), Salvador (BA), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e Campi-

na Grande, na Paraíba. Os temas abordados – Aspectos Político-Institucionais

do Desenvolvimento do Nordeste; Nordeste: Situação atual e transformações

recentes; Aspectos Estratégicos do Desenvolvimento do Nordeste; O Nordes-

te visto de fora; e As desigualdades intrarregionais na economia nordestina:

soluções e encaminhamentos – e as discussões empreendidas, possibilitaram

a concretização do segundo momento do movimento, o grande seminário que

aconteceria entre os dias 27 e 29 de agosto de 2013, em Fortaleza (CE).

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Na ocasião do seminário, os debates foram ainda mais acalorados. Os

seis painéis realizados - Reorientação da Economia Nordestina; Infraestru-

tura para o Desenvolvimento do Nordeste: Recursos Hídricos e Energia; In-

fraestrutura para o Desenvolvimento do Nordeste: Transporte, Logística e

Telecomunicações; Transformações Social, Urbana e Ambiental do Nordes-

te; Educação, Ciência, Tecnologia & Inovação e Cultura para o Desenvolvi-

mento do Nordeste; e A Questão Político-Institucional e o Desenvolvimento

do Nordeste – permitiram à equipe técnica do Integra Brasil, a construção

de um escopo de conhecimentos essenciais à formulação do “Plano de Ação

Estratégica” que deverá nortear as ações previstas para a segunda fase do

movimento.

O Volume II condensa as informações resultantes do seminário. Sua leitu-

ra, portanto, é essencial.

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Diagramada e Editada pela E2 Estratégias Empresariais no calor nordestino do Ceará.Composta pela família tipográfica GrotesqueMT.

Impresso em papel offset 75g (miolo) e cartão supremo (capa) na Gráfica e Editora Tiprogresso.Fortaleza, Ceará, Brasil, Dezembro de 2013.

Esta obra é resultado da compilação dos debates empreendidos durante os eventos realizados pelo Integra Brasil. A linguagem adotada procurou preservar ao máximo as transcrissões feitas,

cujos originais estão em poder da coordenação técnica do movimento.

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