2014 textos sobre agricultura familiar

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  • EM 23 DE JUNHO DE 2014 AS 07H37 Ano Internacional da Agricultura Familiar da ONU

    ganha pouca divulgao no Brasil no semestre Com o objetivo de colocar a agricultura familiar no centro das polticas de incentivo a ONU elegeu 2014 como o Ano

    Internacional da Agricultura Familiar Fonte: Assessoria/Paulo Oliveira

    A agricultura familiar foi eleita pela ONU como tema do ano de 2014. Apesar da escolha ter

    recebido, at agora, pouca divulgao no Brasil, a modalidade de produo familiar

    considerada como prioridade da Organizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao

    (FAO), rgo que est frente da campanha dedicada a um setor que alia incluso social no

    campo com preservao do meio ambiente.

    O Ano Internacional da Agricultura Familiar busca, segundo a FAO, valorizar o setor colocando-o

    no centro das polticas agrcolas, ambientais, sociais e nas agendas nacionais dos 193 pases

    membros da ONU. O objetivo principal da campanha criar e promover oportunidades capazes

    de gerar uma mudana no atual e hegemnico paradigma de produo, incentivando um modelo

    de desenvolvimento mais equitativo e equilibrado na produo mundial de alimentos, tendo em

    vista que a agricultura familiar fundamental para erradicao da fome e pobreza, para a

    proviso da segurana alimentar e nutricional, melhoria das condies de subsistncia e a

    preservao dos recursos naturais.

    Segundo dados da FAO, a agricultura familiar e de pequena escala esto firmemente associadas

    segurana alimentar mundial, a preservao dos alimentos tradicionais, contribuindo para uma

    alimentao balanceada. Estas modalidades de produo preservam tambm a

    agrobiodiversidade e o uso sustentvel dos recursos naturais. Do ponto de vista socioeconmico

    elas incentivam as economias locais promovendo a proteo social e o bem-estar das

    comunidades. Em pases como o Brasil a agricultura familiar gera mais empregos que o

    agronegcio.

  • A FAO elege, especialmente, uma srie de fatores fundamentais para o bom desenvolvimento da

    agricultura familiar, tais como: as condies agroecolgicas e caractersticas territoriais;

    ambiente poltico; acesso aos mercados; acesso terra e aos recursos naturais; acesso

    tecnologia e servios de extenso; acesso ao financiamento; condies demogrficas,

    econmicas e socioculturais e disponibilidade de educao especializada.

    A FAO relacionou uma srie de medidas e fatores essenciais para o desenvolvimento satisfatrio

    da agricultura familiar, com destaque para medidas poltica de apoio aos pequenos agricultores,

    acesso s linhas de financiamento, condies agroecolgicas e territoriais, disponibilidade de

    tecnologias e servios de extenso, acesso terra e aos recurso naturais, incentivos fiscais e

    acesso ao mercado, entre outras medidas fundamentais de incentivo ao setor da agricultura

    camponesa, apontado pelo relatrio, Perspectivas da Agricultura e do Desenvolvimento Rural

    nas Amricas 2014: uma viso para a Amrica Latina e Caribe, como uma das principais

    atividades geradoras de novas fontes de trabalho.

    O Ano Internacional da Agricultura Familiar tambm lana um olhar sobre pequenos produtores

    urbanos e periurbanos. Em Cuiab uma iniciativa voltada para este tipo de produo o projeto

    Espao Vitria: gerao de renda e gerenciamento de resduos patrocinado pelo Programa

    Petrobras Socioambiental, programa que apoia a produo agroecolgica de hortalias na

    periferia da cidade. Para Erlon Bispo, um dos coordenadores do projeto Espao Vitria, o Ano

    Internacional da Agricultura Familiar coloca em pauta a necessidade de incentivo agroecologia,

    para ele Esse ser o grande legado da ONU e da FAO em 2014, trazer para as polticas de

    incentivo produo agrcola a necessidade urgente de se apoiar um modelo de agricultura mais

    inclusivo e sustentvel, capaz de gerar empregos, fartura e alimentos livres de agrotxicos. http://www.expressomt.com.br/economia-agronegocio/ano-internacional-da-agricultura-familiar-da-onu-ganha-pouca-

    105739.html

    Amrica Latina | 10/07/2014 23:06

    Agricultura familiar foi subestimada, adverte ONU Na Amrica Latina, a agricultura familiar foi subestimada, afirma presidente de agncia da ONU

    Andre Felipe/Getty Images

    Cidade do Mxico - A agricultura familiar foi subestimada na Amrica Latina, onde as unidades agrcolas de

    pequena escala ocupam quase 35% do total da rea cultivada, afirmou nesta quinta-feira o presidente do

    Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrcola (FIDA), Kanayo Nwanze.

    Nwanze disse em entrevista Agncia Efe que a concluso geral do estudo "Agricultura Familiar na Amrica

    Latina", apresentado hoje na Cidade do Mxico, que o papel desta atividade muito importante no

    desenvolvimento nacional.

    O nigeriano ressaltou que este tipo de agricultura foi subestimada no s na anlise do impacto potencial na

    melhora da segurana alimentar, "mas tambm porque proporciona uma oportunidade para gerar trabalho".

    "Tambm cria riqueza e promove a coeso. E os mais bem-sucedidos agricultores familiares so os que tm

    mais probabilidades de ficar em reas rurais", defendeu.

    De acordo com Nwanze, isso ressalta a necessidade de os governos destinarem investimentos ao

    desenvolvimento rural de forma que "o aumento de produtividade dos pequenos agricultores esteja vinculado

    com investimentos em infraestrutura, ou seja, estradas, eletricidade, escolas, servios sociais, clnicas".

    Nwanze apresentou o estudo durante uma visita de trabalho ao Mxico de 9 a 13 de julho para dialogar com

    autoridades do governo sobre os avanos do pas em matria de desenvolvimento agrcola em zonas rurais.

  • O estudo, elaborado pelo FIDA e o Centro Latino-Americano para o Desenvolvimento Rural, analisa a situao regional da agricultura familiar em seis pases: Brasil, Chile, Colmbia, Equador, Guatemala e Mxico.

    Agricultor: papel da agricultura familiar muito importante no desenvolvimento nacional

    Nos pases em desenvolvimento vivem 5,5 bilhes de pessoas, e trs bilhes nas reas rurais.

    "Desses habitantes rurais, 2,5 bilhes pertencem a famlias envolvidas na agricultura e 1,5 bilho esto em

    famlias de pequena produo agrcola. Na Amrica Latina, as produes agrcolas de pequena escala

    ocupam quase 35% da rea total cultivada", indica.

    O documento afirma que a permanncia e participao desta atividade so fundamentais diante do desafio de

    alimentar as nove bilhes de pessoas que habitaro o planeta em 2050, "no contexto da mudana climtica e

    transio demogrfica, talvez os dois processos estruturais mais transcendentais que afetam o planeta".

    O estudo destacou que a agricultura familiar se caracteriza por ser heterognea, e que os agricultores em

    geral obtm uma parte cada vez maior de sua receita por atividades no agrcolas, inclusive por subsdios e

    apoios do governo.

    " necessrio que as polticas atuais e as que esto por vir dirigidas agricultura familiar ampliem seu

    enfoque alm da propriedade rural e integrem o desenvolvimento rural e a segurana alimentar", sustentou.

    O estudo ainda recomenda que as polticas destinadas a esta atividade deixem "para trs a excessiva

    dependncia do governo, assim como as solues e propostas que tratam os agricultores familiares como

    pobres e dependentes crnicos".

    "Tal enfoque gera clientelismo e perpetua os ciclos viciosos que tornam os produtores mais dependentes da

    polticas em lugar de capacit-los", enfatizou o FIDA, uma agncia das Naes Unidas estabelecida

    formalmente em 1977 e com sede em Roma, na Itlia.

    O FIDA apoia as pessoas em comunidades rurais de pases em desenvolvimento para que aumentem sua

    receita e com isso garantam sua segurana alimentar, e seus recursos financeiros vem principalmente das

    contribuies voluntrias de seus Estados-membros. http://exame.abril.com.br/economia/noticias/agricultura-familiar-foi-subestimada-adverte-onu

  • 25 Junho 2014, 21:58

    Giovanni Lorenzon

    Brasil ajuda no combate fome africana via agricultura familiar-merenda escolar As aes brasileiras na frica, no mbito da cooperao humanitria internacional, passam diretamente pelas frentes de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar. A Embrapa j est presente em mais de 10 pases, dotando tcnicos e lavradores de conhecimento. Depois foi a vez de reforar o desenvolvimento comercial dessas novas iniciativas agrcolas locais, levando o plano de escoamento da produo para as escolas utilizarem na merenda dos estudantes.

    O Programa de Aquisio de Alimentos (PAA), criado em 2003 no Brasil, que visa fortalecer os circuitos

    locais de produo agrcola e a agricultura familiar, j chega a quase cinco mil agricultores e mais de 124

    mil estudantes em cinco pases da frica, segundo o governo brasileiro.

    Mas nada de graa. Naturalmente que a expanso da cooperao Sul Sul apoio entre os pases em

    desenvolvimento e pases pobres pelo lado do Brasil embute interesses geopolticos naquele continente,

    alm de servir de apoio entrada de grandes grupos empresariais.

    Foto: East News

    O PAA frica uma iniciativa conjunta com a Organizao das Naes Unidas para a Alimentao e a

    Agricultura (FAO), do Programa Mundial de Alimentos (PMA) e do Departamento Britnico para o

    Desenvolvimento Internacional. Com um oramento total de US$ 11 milhes, j foi implementado na

    Etipia, em Malawi, Moambique (pas no qual a Embrapa possui sua mais abrangente experincia

    africana), no Senegal e Nger.

    A fase piloto do programa comeou em fevereiro de 2012. Para o tcnico do Ministrio da Agricultura de

    Moambique, Eugnio Com, possvel perceber que os relatos sobre a agricultura familiar esto mesmo

    se concretizando no pas. Tirei boas lies dessa experincia que tive no Brasil e vou lev-las com a

    perspectiva de adaptar o que vi aqui para a realidade de Moambique.

  • Com e Guidione Ezequiel Elias, agricultor familiar moambicano, participaram semana passada, em

    Braslia, de um seminrio internacional em comemorao aos dez anos do PAA. Eles tambm participaram

    de uma visita regio rural de Planaltina (DF) para conhecer as experincias brasileiras de produo e

    distribuio de alimentos. Na ocasio, 11 delegaes estiveram na Cooperativa Agrcola da Regio de

    Planaltina (Cootaquara) e no Assentamento Pequeno Willian, que vendem alimentos para o PAA.

    No caso da ex-colnia portuguesa s margens do ndico, a lista do que produzido pelos agricultores

    locais grande. Comea com o milho, nmero um em produo, passa pelos cereais, como o arroz e o

    trigo, as leguminosas e as oleaginosas, como o girassol, as hortalias, os tubrculos e os feijes. Em sua

    maioria, os produtos se assemelham aos produzidos no Brasil."

    Para a representante da Unidade de Programas do PMA, Sharon de Freitas, o PAA brasileiro foi inspirao

    para outros pases criarem modelos prprios. Os dois [moambicanos] vieram em uma situao de troca

    de experincias. muito interessante estarem aqui com outras pessoas da Amrica Latina. A expectativa

    aprimorar o programa que est comeando l."

    Os projetos de erradicao da pobreza extrema e da fome no Brasil tambm so referncias para pases da

    Amrica Latina e do Caribe. Em 2013, por meio da cooperao internacional entre o governo brasileiro e a

    FAO, iniciou-se um projeto para contribuir com a erradicao da insegurana alimentar na regio.

    Segundo dados do Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS), mais de 800 milhes

    de pessoas sofrem de fome crnica no mundo e uma em cada quatro crianas menores de cinco anos corre

    o risco de morrer em consequncia de doenas associadas m nutrio. Na Amrica Latina e no Caribe,

    so 47 milhes de pessoas nessa situao.

    Para Rodolfo Machaca Yupanqu, produtor campons e secretrio-geral da Confederao Sindical nica

    de Trabalhadores Camponeses da Bolvia, muito importante compartilhar a experincia no Brasil. A

    agricultura familiar havia sido abandonada, historicamente, pelos governos, pelos estados, pela cincia.

    importante retomar e fortalecer essa iniciativa. A agricultura familiar a garantia de alimentao para a

    humanidade e no se compara agroindstria em termos de produo de alimentos."

    Machaca ressalta a atuao da FAO em convocar os pases para debater a soberania alimentar. Para a

    Bolvia um desafio reduzir a extrema pobreza. Passamos as dcadas de 1990, de 2000 e j entramos em

    outra dcada. Ento, devemos nos unir e compartilhar as polticas pblicas e os programas para promover a

    agricultura familiar, disse ele, referindo-se meta estabelecida no Primeiro Objetivo de Desenvolvimento

    do Milnio da ONU: reduzir pela metade, de 1990 at 2015, a proporo da populao que sofre de fome.

    Os fatos relatados e as opinies expressas so da responsabilidade do autor.

    Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_06_25/brasil-ajuda-no-combate-a-fome-africana-via-agricultura-

    familiar-merenda-escolar-2768/

    Merenda Escolar ter 30% dos produtos direto da Agricultura Familiar

    A comercializao dos produtos da Agricultura Familiar historicamente, o calcanhar de aquiles no desenvolvimento da atividade acaba de ganhar um expressivo aliado. Trata-se da Lei N 11.947, sancionada em junho de 2009, determinando que no mnimo 30% da merenda escolar seja comprada diretamente de agricultores familiares, sem licitao. Os recursos so do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao), repassados ao PNAE (Programa Nacional de Alimentao Escolar), que por sua vez abrange todas as escolas pblicas e filantrpicas do pas, da educao infantil ao ensino de

  • jovens e adultos. Antes da Lei N 11.947, o PNAE atingia apenas a educao infantil e o ensino fundamental.

    Com a Medida, cerca de R$ 600 milhes por ano reforaro a Agricultura Familiar em todo o pas. Alm do PAA (Programa de Aquisio de Alimentos da CONAB), para o qual cada pequeno produtor pode vender at R$ 3.500/ano, a merenda escolar torna-se um importante mercado institucional, possibilitando o comrcio de at R$ 9.000 / ano sem a interveno de atravessadores.

    Prioridade para alimentos agroecolgicos

    Os produtos agroecolgicos ganham especial distino na Lei N 11.947. Determina-se que eles sejam priorizados na compra para a merenda escolar, enquanto seus preos podem ser at 30% superiores aos produtos convencionais. Trata-se de uma grandiosa conquista, tanto para as crianas, que tero acesso a alimentos de qualidade, quanto para os agricultores ecologistas, que recebem um considervel estmulo para avanar na prtica.

    Em recente reunio em Joinville, agricultores ecolgicos que participam do Circuito de Comercializao da Rede Ecovida levantaram algumas demandas atuais por produtos da merenda. Um exemplo apontado foi o do municpio da Palhoa que requer, dentro dos 30% destinados agricultura familiar, para 17 escolas, os seguintes produtos e quantidades: laranja (1300 kg), banana (1300 kg), cenoura (150 kg), beterraba (150 kg), couve-flor (150 um), brcolis (150 um) e repolho (150 um) (por quinzena, a partir de set/09 at nov/09). No momento, o desafio imposto tanto aos grupos de agricultores quanto s entidades de assistncia tcnica a organizao da produo, de modo a atender esta e outras tantas demandas que surgiro com a Lei N 11.947.

    Histrico: a importncia das entidades de base na formulao de polticas pblicas

    Toda conquista poltica tem claras origens, no surge apenas pelo desejo de alguns poucos parlamentares, como pode inferir o senso comum.

    Neste contexto, de suma importncia destacar a mobilizao das entidades de base da Agricultura Familiar, sobretudo a Rede Ecovida de Agroecologia. No encontro do Ncleo Litoral Catarinense, realizado no ano passado, as discusses apontavam que as prefeituras de SC davam privilgios a um pequeno grupo de empresas, nas licitaes para fornecimento da merenda.

    Na plenria final do encontro, aprovou-se uma "Moo de Repdio" ao "processo de privatizao e terceirizao" da merenda, enfatizando a excluso dos pequenos produtores no processo de aquisio de alimentos. O documento, que circulou em instncias polticas como a CPOrg (Comisso da Produo Orgnica) e Assemblia Legislativa de SC, foi um dos instrumentos que respaldaram a categoria dos agricultores familiares na edio da Lei N 11.947. http://www.cepagro.org.br/news/25/54/

    Poltica postado em: 23/11/2012 Eduardo S

    A importncia da agricultura familiar na alimentao escolar

    Apesar de ter mais de 50 anos de existncia, o Programa Nacional de Alimentao Escolar (PNAE) s teve

    seu marco legal [Lei 11.947] sancionado em 2009, graas mobilizao da sociedade civil, sobretudo por

    meio do Conselho Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (Consea). A disputa travada no Senado no

  • foi fcil, devido fora de setores privados das indstrias de alimentos, refeies coletivas e da bancada

    ruralista que tentaram, mais uma vez, monopolizar o mercado institucional da alimentao escolar.

    Com a lei algumas conquistas foram atingidas, como o reconhecimento da alimentao como um direito

    humano e a obrigatoriedade de que no mnimo 30% dos recursos sejam destinados compra de alimentos da

    agricultura familiar atravs de chamadas pblicas de compra, com dispensa de licitao. O PNAE garante a

    alimentao escolar dos alunos da educao bsica em escolas pblicas e filantrpicas. Seu objetivo

    atender as necessidades nutricionais dos alunos para contribuir na aprendizagem e rendimento, bem como

    promover hbitos alimentares saudveis

    Segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE), rgo responsvel pelo programa, a

    unio repassa a cada dia letivo aos estados e municpios R$ 0,30 a R$ 1,00 por aluno, de acordo com a etapa

    de ensino. O investimento calculado com base no censo escolar do ano anterior ao atendimento. A

    sociedade acompanha e fiscaliza o programa por meio de conselhos, do tribunal de contas e do ministrio

    pblico, dentre outras instituies. O oramento de 2012 atingiu R$ 3,3 bilhes para beneficiar cerca de 45

    milhes de estudantes, sendo que aproximadamente R$ 900 milhes devem ser direcionados para a compra

    diretamente da agricultura familiar. A liberao do oramento de 2013 est previsto para meados de janeiro,

    com estimativa de cerca de R$ 3,5 bilhes, o que significa R$ 1 bilho para a agricultura familiar.

    O cardpio a ser oferecido s escolas e os procedimentos para aquisio pblica de alimentos tambm foram

    alterados pela lei. A comida deve levar em considerao a produo local, a sazonalidade e conter alimentos

    variados, frescos e que respeitem a cultura e os hbitos alimentares saudveis, como frutas trs vezes por

    semana. S podem comercializar com o PNAE os agricultores que possuem a Declarao de Aptido ao

    Pronaf (DAP). At julho deste ano, cada agricultor poderia comercializar at R$ 9 mil por ano para o programa,

    mas a partir da resoluo n 25, do FNDE, o limite passou para R$ 20 mil. A mudana fruto de um acordo

    com as mulheres do campo durante a Marcha das Margaridas, segundo a Secretaria de Agricultura Familiar

    (SAF). As prefeituras e secretarias estaduais so obrigadas a publicar os editais de compras dos alimentos em

    jornais de circulao local ou na forma de mural em lugar pblico.

    De acordo com o estudo realizado em 2010 pelo FNDE em parceria com o Ministrio do Desenvolvimento

    Agrrio (MDA), no qual foram encaminhados para as secretarias municipais e estaduais de educao 5.565

    formulrios, com resposta de 3,136 (14 estados), as regies sul e sudeste lideram o ranking de compra da

    agricultura familiar. No sul, mais de 50% dos municpios que responderam compram da agricultura familiar,

    enquanto no norte apenas 15%. Os gestores da educao apontam como desafio, por municpio: a falta de

    DAP das organizaes (557), dificuldade de logstica (1.094), falta de informao dos atores envolvidos (701),

    etc. As hortalias, legumes e verduras, seguidas das frutas, lideram as compras, e as gorduras e leos com os

    orgnicos e cereais so os menos comprados. At o fechamento da matria o FNDE no disponibilizou dados

    mais atualizados.

    Crticas e elogios da sociedade

    Segundo a presidente do Conselho Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (Consea), Maria Emlia

    Pacheco, o PNAE extremamente relevante e incorporou no seu novo marco legal elementos importantes,

    como o conceito de alimentao adequada. Segundo ela, o fundamental o fortalecimento da agricultura

    familiar e camponesa para o processo da transio agroecolgica no pas.

    Essa poltica refora o papel da agricultura familiar e reconhece que esses agricultores e agricultoras

    produzem alimento de qualidade, alm do fato que eles tm direito a participar da poltica e vender a produo

    local dispensando o processo licitatrio pelas chamadas pblicas. Por outro lado, essa poltica inovadora traz

  • tambm seus limites e dificuldades. Em muitos locais do Brasil as prefeituras ainda no esto fazendo essas

    chamadas pblicas, e o processo licitatrio acaba prevalecendo. Esse problema bastante complicado,

    pontuou.

    De acordo com o FNDE, o rgo tem acompanhado a publicao das chamadas pblicas atravs do Portal da

    Rede Brasil Rural (RBR), ferramenta implantada pelo Ministrio do Desenvolvimento Agrrio (MDA) para

    divulg-las nos municpios e estados. O Projeto NUTRE, tambm do MDA, tem desenvolvido aes de

    capacitao com os agricultores familiares interessados em vender para o PNAE para aproxim-los dos

    gestores e facilitar o processo de aquisio. H tambm a capacitao nos Centros Colaboradores de

    Alimentao e Nutrio Escolar (CECANES), que tm parceria com 7 universidades. No que diz respeito ao

    monitoramento da gesto, segundo o FNDE, est em processo de implantao o Sistema de Prestao de

    Contas online, que deve aprimorar o acompanhamento das chamadas pblicas.

    O PNAE tem servido de exemplo para outros pases, como So Tom e Prncipe, na frica, onde os produtos

    locais, como o leite de cabra, esto sendo reincorporados ao sistema alimentar de modo a favorecer geraes

    que foram acostumadas a consumir produtos importados. Mas, por outro lado, existem desafios.

    De acordo com Vanessa Schottz, do Frum Brasileiro de Soberania e Segurana Alimentar e Nutricional, a lei

    de alimentao escolar traz uma estratgia de segurana alimentar e nutricional proporcionando a

    oportunidade de aproximar os circuitos de produo e consumo. uma poltica que tem muitas

    potencialidades, tanto para a agricultura familiar quanto para a agroecologia, complementou. O programa

    tambm uma oportunidade para identificar bloqueios na ponta do acesso dos agricultores s polticas pblicas,

    segundo ela.

    A questo da comercializao muito importante, mas no pode andar sozinha. necessrio polticas

    voltadas para o financiamento da produo, e que essa forma de financiamento seja adequada a um modelo

    de produo sustentvel com base na agroecologia. Um modelo de financiamento acessvel para as mulheres,

    os extrativistas, os quilombolas, indgenas, da mesma forma que a assistncia tcnica v tambm em direo

    agroecologia, sugeriu.

    Um dos principais problemas identificados por especialistas do tema, movimentos sociais e agricultores a

    Declarao de Aptido ao Pronaf (DAP), que viabiliza a insero dos agricultores familiares a qualquer poltica

    pblica.

    O entendimento que da forma que est estruturada ela dificulta o acesso s documentaes para entrar no

    programa, sobretudo para mulheres, quilombolas, indgenas, etc. Outra questo como desvincular o acesso

    de polticas de comercializao, como o PAA e o PNAE, do acesso ao crdito. preciso pensar outro

    instrumento que identifique os agricultores familiares, e que os habilite a acessar programas como estes sem

    regras to restritivas, afirma Schottz.

    A DAP obrigatria para acessar linhas de crdito, polticas pblicas de assistncia tcnica, seguro, incentivo

    comercializao, dentre outros mecanismos. fornecida gratuitamente e emitida por rgos credenciados

    pelo MDA, e tem validade de seis anos. A Secretaria de Agricultura Familiar (SAF/MDA) informou, por meio de

    sua assessoria, que est ciente de todas as dificuldades envolvidas no processo de emisso de DAP, e que

    ele vem sendo aperfeioado ao longo de tempo. Esse procedimento teve incio em meados de 2001 e, de

    acordo com o rgo, as alternativas para emisso evoluram do formulrio em papel para emisso via internet.

    A DAP da famlia e no da pessoa. No desenho da base de dados foram considerados todos os aspectos

    tericos e analticos que envolvem a identificao e qualificao de pessoas e unidades familiares. Existem

    normativas, como as Resolues do Conselho Monetrio Nacional e a prpria Lei da Agricultura Familiar Lei

  • 11.326 que estabelecem os parmetros a serem considerados na qualificao dos agricultores familiares. A

    SAF os considerou ao estruturar a base de dados de DAP. E as polticas pblicas dirigidas aos agricultores

    familiares implicam quase sempre em subveno econmicas e, portanto, passvel de responsabilizao dos

    gestores, por parte dos rgos de controle, informou.

    Outra questo apontada por Schottz que h tambm uma tradio longa no Brasil de compra centralizada

    atravs de licitao, o que acaba favorecendo as grandes empresas. Da a importncia da chamada pblica,

    que possibilita a compra da agricultura familiar. Mas ainda h dificuldade de entender essa diferenciao, pois

    a lgica dos editais passa a ter uma seleo que no vai ao encontro do menor preo, como de costume. O

    modelo do PAA, com um preo de referncia tabelado, faz com que os alimentos que chegaro s escolas

    sejam definidos pela questo da segurana alimentar e do desenvolvimento local, por exemplo, pautados pela

    agroecologia. Assim evita disparates como a compra do pescado, que tpico do Rio de Janeiro, importado da

    Argentina para a alimentao escolar carioca. E a licitao d margem monocultura, pois fortalece a lgica

    da produo em grande escala.

    Experincias do PNAE

    Paulo Loureno tem 58 anos e agricultor em Espera Feliz, na zona da mata de Minas Gerais. Trabalha com

    o PNAE h trs anos, foi um dos primeiros camponeses a entregar atravs da Cooperativa da Agricultura

    Familiar Solidria de Espera Feliz (Coopfeliz). Ele planta banana, alface, couve, brcolis, mandioca e faz polpa

    de fruta, dentre outros alimentos. Leva tudo para a cooperativa, que exige alimentos agroecolgicos para de

    sua sede distribuir s escolas. Consegue em torno de R$ 1.000,00 por ms com essa venda. Paulo diz que

    nunca teve problema com os cadastros ou qualquer papelada por conta da cooperativa, mas tem crticas e

    sugestes para o governo.

    Ajuda muito o agricultor, porque de outra maneira no vendia. O problema que a gente s recebe 30 dias

    depois, porque at a Cooperativa no tem dinheiro para pagar. E tem vez que at passa um pouco mais.

    Levamos para a cooperativa, que repassa para as escolas, mas a entrega seria maior se tivesse um carro

    para buscar na roa. Muita gente tem dificuldade com isso. O governo poderia tambm ajudar mais com as

    sementes e o maquinrio, alm de ampliar os projetos para as hortas, observou.

    No Mato Grosso j ocorreram alguns entraves no acesso dos agricultores, pois saram chamadas com

    produtos que no eram produzidos na regio. De acordo com Ftima Aparecida, da ONG Fase, que assessora

    os grupos agroecolgicos na regio, por isso importante um processo pedaggico junto aos agricultores e o

    dilogo com o governo. Ela explica aos camponeses o que uma chamada pblica, e faz contatos com as

    secretarias e a nutricionista para conhecer os cardpios da prefeitura e comear o dilogo das organizaes

    com os gestores pblicos.

    Para que eles entendam que s vezes preciso mudar o cardpio, adequar para que os agricultores digam o

    que esto produzindo naquela poca. s vezes os agricultores no tm os produtos que eles querem.

    Ajudamos a elaborar o projeto, para participar no dia do encontro que define quem vai entregar e os preos.

    Tem muita dificuldade para transportar, mas com o PAA eles comearam uma parceria com a prefeitura.

    Outros at cotizaram para comprar um veculo para levar os produtos do PAA e PNAE, relatou Aparecida.

    O FNDE reconhece que a logstica uma das maiores dificuldades relatadas pelas entidades executoras e

    pelos agricultores familiares na compra e venda de alimentos para o PNAE, por isso esto trabalhando na

    elaborao de uma Ata de Registro de Preos Nacional para facilitar o processo de aquisio de veculos

    frigorficos. O procedimento visa garantir o melhor preo e agilidade no processo de compra. Alm disso, o

    MDA tem trabalhado na instalao de Unidades de Apoio Distribuio de Alimentos da Agricultura Familiar

  • equipamentos para auxiliar o desenvolvimento de atividades de distribuio dos produtos da agricultura familiar

    para o PNAE e para o PAA e tambm apoiar a comercializao direta dos mercados locais e regionais,

    afirmou a assessoria do FNDE.

    Os grupos assessorados por Aparecida no Mato Grosso so formais e comercializam acima de R$ 100 mil por

    ano, sendo que as documentaes so as mesmas do PAA. Mas em municpios menores, onde grupos

    informais acessam, h problemas com a aquisio da DAP, principalmente com a DAP jurdica. No caso, o

    sindicato dos trabalhadores rurais acaba contribuindo como parceiro para o acesso a esses documentos. Em

    relao ao aumento do preo da compra para R$ 20 mil por ano, afirma que os agricultores ficam mais

    animados a participar s que tem municpio onde apenas 5 famlias j atingem os 30% obrigatrios.

    Voc acaba excluindo o agricultor. Se voc pegar o caso de Cuiab e Vrzea Grande, onde est o maior

    nmero de alunos, esses R$ 20 mil pouco. Mas ainda melhor, porque eles tm que pagar o transporte.

    Alguns agricultores entregam direto nas escolas, outros tm uma central de distribuio. As estradas em

    pssimas condies aumentam o custo dos alimentos. A grande reclamao das escolas ir ao local pegar os

    alimentos, porque esto acostumadas com os supermercados que entregam pelo telefonema, concluiu.

    A ampliao do limite representa uma conquista importante para os agricultores familiares e se soma aos

    vrios instrumentos voltados para a melhoria da comercializao dos produtos da agricultura familiar e o

    fortalecimento dos produtores, informou a SAF. Com o aumento, o agricultor pode vender mais do que o

    dobro do que podia vender antes para o PNAE, o que lhe permite investir em melhorias. O PNAE mais um

    mercado criado para fortalecer a agricultura familiar e que o agricultor pode vender tambm para o PAA, o que

    no o impede de aumentar a renda fornecendo ao mercado privado, afirmou.

    Muitas escolas ainda no tm infraestrutura adequada para o preparo de alimentos, e estudos mostram que

    algumas sequer possuem gua. Segundo dados do censo escolar 2007, das quase 200 mil escolas pblicas

    de educao bsica existentes no Brasil, 1.789 no possuem qualquer tipo de abastecimento de gua. No que

    se refere ao saneamento bsico, quase 15 mil delas no possuem infra-estrutura adequada. So questes

    que no podem ser vistas como bloqueios para tornar o programa inoperante. Alguns analistas dizem que so

    necessrias parcerias entre prefeituras, governos estadual e federal para viabilizar melhores condies de

    transporte e logstica de armazenamento desses alimentos. muito importante para incorporar alimentos que

    vm da agroecologia, sem agrotxicos, num pas que tem o triste recorde mundial de maior consumidor de

    venenos agrcolas.

    Mesmo com todas as dificuldades, o PNAE mostra como os agricultores e agricultoras familiares brasileiros

    tm uma grande capacidade de responder aos estmulos de polticas pblicas minimamente adaptadas s

    suas realidades. A evoluo do programa certamente vai encher de orgulho milhares de famlias agricultoras

    que agora tero a oportunidade de fornecer comida boa para estudantes da rede pblica, contribuindo para a

    promoo da segurana alimentar e nutricional por esse Brasil afora. http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-importancia-da-agricultura-familiar-na-alimentacao-escolar/4/26334