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  • UNIVERSIDADE DE BRASLIA

    FACULDADE DE CINCIA DA INFORMAO

    MARCELLA LUDMILA DE OLIVEIRA RODRIGUES

    A CENSURA NA BIBLIOTECA CENTRAL

    DA UNIVERSIDADE DE BRASLIA

    DURANTE O PERODO DO REGIME

    MILITAR

    BRASLIA

    2013

  • MARCELLA LUDMILA DE OLIVEIRA RODRIGUES

    A CENSURA NA BIBLIOTECA CENTRAL

    DA UNIVERSIDADE DE BRASLIA

    DURANTE O PERODO DO REGIME

    MILITAR

    Monografia apresentada Faculdade de Cincia da Informao da Universidade de Braslia, como requisito parcial para obteno do grau de bacharel em Biblioteconomia. Orientador (a): Dra. Dulce Maria Baptista

    Braslia

    2013

  • R6182Rodrigues, Marcella Ludmila de Oliveira. A censura na biblioteca centra da Universidade de

    Braslia durante o regime militar. Marcella Ludmila de Oliveira Rodrigues. Braslia, 2013.

    55 p. 30 cm. Monografia (Graduao em Biblioteconomia) -

    Faculdade de Cincia da Informao, Universidade de Braslia, 2013.

    Orientao: Dulce Maria Baptista 1. Censura. 2. Biblioteca. 3. Biblioteconomia UnB 4.

    Universidade de Braslia I. Ttulo.

    CDU 027:070.17

  • Dedico este trabalho ao meu grande amor, Eduardo Guimares Amorim, pelo amor incondicional, pela fora, compreenso e luz que sempre me transmite.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, pela constante presena em minha vida.

    minha Me, Marta, a quem devo minha fora e coragem para lutar e romper barreiras. Com sua coragem pde me ensinar o caminho a seguir. Agradeo pelo amor e carinho, eu te amo, me.

    Ao meu irmo, Nilton, pelo amor, carinho, sorrisos, alegrias, fora e lies que sempre me transmite. Independente de tudo, meu amor seu, meu irmo.

    A minha irm, Sarah, pelos anos em que pudemos compartilhar juntas sobre o mesmo teto. Por sua alegria, que mesmo distante chega at mim. Serei sempre grata por seu amor.

    Aos meus avs Grizelide e Waldomiro (in memoriam), por terem me dado condies de sobrevivncia e por nunca terem faltado em ajudar.

    Ao meu grande amor, Eduardo Guimares Amorim, que esteve presente em todos os momentos da graduao, me orientando, aconselhando e apoiando.

    Aos meus sogros: Zz e Urivaldo, por sempre me acolherem, pelo carinho e amor.

    Aos meus amigos, que de alguma forma me acompanharam e me somaram at aqui:Sthfane, de perto ou de longe sempre esteve presente; Fernanda e Tatianne, por serem sempre companheiras e amigas, cultivando nossa amizade de forma radiante e deslumbrante, muito amor pra gente; Dbora, pela companhia no pr, durante e ps Universidade, companheira, carinhosa, obrigada pelo amor; StphanieTavares, pelas alegrias compartilhadas; Aos meus amigos que me somaram do SOS IMPRENSA, em especial Johnathan, Luana e Ingridy.

    Aos amigos que fiz durante a graduao, que estiveram presente em todos momentos vividos: Kely Linda, Lvia Lins, Thayany Anjos e Rosane Cossich, Paula Tranninmuito obrigada pela amizade e alegria durante esses longos e lindos anos. Eu quero para a vida toda!

    Em especial ao Davi de Castro, sempre companheiro, de perto ou de longe. Muitas alegrias, lutas e foras compartilhadas. Obrigada pelo apoio em todos os momentos, sem voc seria mais difcil.

    Aos chefes incrveis que tive durante a graduao, em especial a hoje amiga, Rebeca Crivelaro, obrigada pela fora.

    Aos Professores da Graduao, que me marcaram desde o primeiro semestre, Professora Sely Costa que foi decisiva em animar nosso semestre, e Professora Dulce, pela orientao segura e carinhosa e pela confiana depositada em mim. A todos o meu Amor.

  • A gente pode, morar numa casa mais ou menos, numa rua mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e at ter um governo mais ou menos. A gente pode, dormir numa cama mais ou menos, comer um feijo mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e at ser obrigado a acreditar mais ou menos no futuro. A gente pode olhar em volta e sentir que tudo est mais ou menos. Tudo bem! O que a gente no pode mesmo, nunca, de jeito nenhum, amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos, namorar mais ou menos, ter f mais ou menos, e acreditar mais ou menos. Seno a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos.

    Chico Xavier

  • RESUMO Estudo da censura na Biblioteca Central da Universidade de Braslia (UnB) no perodo do regime militar, bem como da presena do profissional da informao em meio ao regime censrio analisado. Caracteriza-se por ser uma pesquisa qualitativa de natureza histrica e descritiva. Como instrumento para coleta de dados foi utilizado um roteiro de entrevista feita junto a representantes dos diferentes segmentos: gestores, funcionrios e usurios. Pde-se perceber como a censura se deu na Biblioteca Central da UnB e os mtodos utilizados pelos bibliotecrios para preservao do acervo. Palavras-chave: Censura. Biblioteca. Biblioteca da Universidade de Braslia.

  • ABSTRACT Study of censorship in the Central Library of the University of Braslia (UnB) in the period of the military regime, as well as the presence of the information professional amid the censorial regime analyzed. It is characterized by being a qualitative research with historical and descriptive nature. As instrument for data collection it was utilized an interview script applied to representatives of different segments: managers, staff and users. It could be perceived how the censorship took place at the Central Library of UnB and the methods used by librarians to preserve the collection. Keywords: Censorship. Library.Library of the University of Braslia.

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Identificao dos Entrevistados

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    BCE Biblioteca Central

    DIP Departamento de Imprensa e Propaganda

    INL Instituto Nacional do Livro

    NOVACAP Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil

    SG-12 Servios Gerais 12

    UnB Universidade de Braslia

  • SUMRIO

    1INTRODUO ........................................................................................................ 13 1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................. 14 2OBJETIVOS ............................................................................................................ 15 2.1OBJETIVO GERAL .............................................................................................. 15 2.1.1 OBJETIVOS ESPECFICOS ....................................................................... 15 3REVISO DE LITERATURA .................................................................................. 16 3.1 TRANSFERNCIA DA CAPITAL .................................................................. 16 3.1.1UMA DAS METAS DE JUSCELINO .................................................................. 18 3.2 CRIAO DA UNIVERSIDADE ..................................................................... 20 3.2.1 ESTRUTURA .............................................................................................. 21 3.3CRIAO DA BIBLIOTECA CENTRAL .............................................................. 22 3.3.1 UM NOVO CONCEITO ............................................................................... 23 3.3.2 SALA DOS PAPIROS ................................................................................. 23 3.3.3 SERVIOS GERAIS 12 .............................................................................. 25 3.3.4 PRDIO DEFINITIVO ................................................................................. 25 3.3.5 GALERIA DE EX-DIRETORES ................................................................... 26 3.4CENSURA ............................................................................................................ 28 3.4.1 BREVE HISTRICO DA CENSURA NO BRASIL....................................... 28 3.4.2 ESTADO NOVO .......................................................................................... 29 3.4.2.1 MECANISMOS DE CONTROLE .......................................................... 30 3.4.3 REGIME MILITAR ....................................................................................... 31 3.4.3.1 ATOS MAIS SEVEROS ....................................................................... 32 3.5COMO A CENSURA SURGIU NA BIBLIOTECA CENTRAL DA UnB ............... 33 3.6PAPEL DO BIBLIOTECRIO NO CONTEXTO DA CENSURA .......................... 34 3.6.1 TIPOS DE CENSURA ................................................................................. 35 3.6.1.1 CENSURA OFICIAL ............................................................................ 35 3.6.1.2 CENSURA OFICIOSA ......................................................................... 35 3.6.1.3 CENSURA FEITA PELO BIBLIOTECRIO ......................................... 36 3.6.1.4 CENSURA DIFUSA ............................................................................. 36 4METODOLOGIA ..................................................................................................... 37 4.1 DESCRIO E ANLISE DOS DADOS ....................................................... 37 5ANLISE DAS ENTREVISTAS .............................................................................. 39 6CONSIDERAES FINAIS .................................................................................... 44 REFERNCIAS ......................................................................................................... 46 APNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA ........................................................... 48 ANEXO A DECRETO-LEI 1077/1970 .................................................................... 50

  • 13

    1 INTRODUO

    Em 2012, a Universidade de Braslia(UnB), juntamente com a Biblioteca

    Central, completou 50 anos de existncia. Ao longo desses anos a Universidade

    pde ser palco de inmeras mudanas, tanto as que se referem ao seu espao

    fsico, que passou por mudanas at chegar sua atual estrutura idealizada, quanto

    as que dizem respeito s condies governamentais que interferiram durante um

    longo perodo de tempo, em seu funcionamento, e, portanto, em seu papel dentro da

    sociedade.

    A Universidade de Braslia criou foras em meio oposio para se instalar

    no planalto central, onde j se encontrava a capital da repblica. Os opositores

    argumentavam que rebeldes e manifestantes se instalariam objetivando badernas

    estudantis de cunho reacionrio. Entretanto a fora de erguer uma Universidade se

    tornou maior com o passar do tempo e o desenvolvimento da capital.

    A concepo de Biblioteca Central da UnB resultava de um conceito trazido

    por um de seus primeiros coordenadores, Edson Nery da Fonseca, de acordo com

    seu pensamento, buscava uma biblioteca interdisciplinar que pudesse englobar as

    mais diversas reas de estudo, pesquisa e ensino.

    A biblioteca conseguiu se erguer em meio a grande oposio em um

    cenrio geogrfico e poltico totalmente desencorajador, e tem, portanto, em seu

    currculo, no s rompimentos e lutas histricas como tambm as marcas de um

    regime ditatorial militar que a engessou entre os anos de 1964 e 1985. Como

    resultado de suas lutas, a Universidade de Braslia possui hoje uma viso pluralista

    e inclusiva, e possui em sua histria relatos que a fazem modelo para todo pas.

    O presente trabalho apresenta elementos que visam uma pesquisa histrica

    a respeito da censura e do processo poltico entre os anos de 1964 a 1985

    englobando assim a Universidade de Braslia que foi muito importante nesse

    perodo. Busca-se um levantamento das obras, proibies e retaliaes que a

    biblioteca sofreu, bem como da atmosfera em que bibliotecrios, usurios e

    professores viveram na era ditatorial no Brasil.

  • 14

    1.1 JUSTIFICATIVA

    Ao longo dos sculos, as bibliotecas foram alvo de inmeros atos de

    censura, seus acervos foram atingidos de forma bastante radical. Por vezes, certos

    livros tornaram-se impedidos de circular nas sociedades em que o autoritarismo

    esteve no poder o que resultou, no surpreendentemente, na proibio de seu uso e

    at mesmo em sua destruio total.

    Durante o regime militar, ocorrido no Brasil de 1954 a 1985, a Biblioteca

    Central da UnB passou por dificuldades. Segundo Vergueiro (1987, p. 21), as

    publicaes de editoras consideradas de esquerda pelo regime militar no eram

    adquiridas, no perodo de ditadura, por diversas bibliotecas municipais.

    Vergueiro (1987, p. 21), observa que [...] mesmo aps o trmino oficial da

    ditadura, presses governamentais tm sido exercidas sobre bibliotecas para que as

    mesmas deixem de adquirir determinadas publicaes..

    Uma sociedade precisa se desenvolver e evoluir, no s com tecnologias,

    mas com a prpria democratizao da informao. Ainda h muito para se rever e

    questionar. Contextos at da prpria liberdade intelectual e de pensamento trazem

    tona, mais uma vez, a misso do bibliotecrio. A valorizao da profisso do

    bibliotecrio deve-se, entre outros fatores, a ser consider-lo como guardi da

    memria documental de um pas.

    Durante o perodo ditatorial, os bibliotecrios tiveram que tomar algumas

    decises sobre o acervo da Biblioteca Central, em funoda necessidade da

    informao de sua democratizao. Foi a censura a materiais especficos que levou

    os bibliotecrios a tomarem posio contra a mesma, baseando-se na convico de

    que a liberdade intelectual dos indivduos bsica para o funcionamento e

    manuteno da democracia (VERGUEIRO, 1987, p. 22).

    Pela sua histria de luta e tradio, a Universidade de Braslia formou

    profissionais conscientes e para isso a biblioteca desempenhou um papel de grande

    importncia.

  • 15

    2 OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Analisar a censura na Biblioteca Central da Universidade de Braslia no

    perodo do regime militar (1964 a 1985).

    2.1.1 OBJETIVOS ESPECFICOS

    i. Identificar as obras e contedos que foram proibidos durante o regime

    militar na Universidade de Braslia.

    ii. Identificar os mtodos e as habilidades que os bibliotecrios usavam

    para manter as obras consideradas subversivas na Biblioteca Central da

    Universidade de Braslia.

    iii. Analisar os malefcios que a censura durante o regime militar, 1964 a

    1985, causou Universidade de Braslia.

  • 16

    3 REVISO DE LITERATURA

    Sabendo-se que o tema da censura aborda diversos ngulos, a reviso de

    literatura apresentada a seguir contempla os seguintes tpicos: Transferncia da

    Capital; Criao da Universidade; Criao da Biblioteca Central; Breve Histrico da

    Censura no Brasil; Como a Censura Chegou na Biblioteca Central da UnB; Papel do

    Bibliotecrio no Contexto da Censura.

    3.1 TRANSFERNCIA DA CAPITAL

    A ideia da construo de uma Nova Capital no serto, no interior do Brasil,

    no recente.

    Ressalte-se que, quando o Brasil ainda era colnia de Portugal, havia

    projetos e ideias sendo j citados. Reconhecidamente, a maior figura da Conjurao

    Patriota Mineira de 1789, Tiradentes o Alferes Jos Joaquim Silva Xavier foi

    igualmente tido como o principal responsvel pelo projeto da interiorizao da capital

    (VASCONCELOS, 1978, p. 37-38).

    Outras figuras emblemticas tambm fizeram histria: Hiplito Jos Costa

    por meio do Correio Braziliense, editado em Londres de 1808 at 1822, tentava

    empolgar a opinio pblica com inmeros artigos sobre a interiorizao e indicando

    um ponto ideal, na zona dos mananciais dos rios Araguaia, Tocantins, So

    Francisco e Paran, logo, o Planalto Central Brasileiro; Jos Bonifcio, o patriarca

    da independncia, em 1823 encaminhou Assembleia Constituinte e Legislativa

    uma memria sobre a necessidade da mudana da Capital e fez diversas

    indicaes, recomendaes e sugestes sobre o assunto, sendo que, uma dessas

    sugestes foi que a capital poderia ser instalada em Paracatu, no planalto mineiro.

    Ele at sugeriu como possveis nomes: Petrpoli ou Braslia, e mesmo no sendo

    ele o autor desse nome, foi reconhecido por ter-lo publicado oficialmente.

    Alguns idealistas e inovadores torciam pela mudana para o interior, dadas

    as qualidades ambientais, as riquezas naturais dessas regies e tambm a questo

    estratgica de segurana: se o centro poltico fosse localizado no interior, o pas

    ficaria protegido contra eventuais ataques de conquistadores. Em 1822, com a

  • 17

    Proclamao da Repblica, essa medida foi materializada na primeira Constituio

    da Repblica, na qual foi consagrada em seu artigo terceiro: Fica pertencente,

    Unio, no Planalto da Repblica, uma zona de 14.400 quilmetros quadrados, que

    ser oportunamente demarcada para estabelecer-se a futura Capital.

    Em 1892 o Presidente da Repblica, Marechal Floriano Vieira Peixoto,

    constituiu a Comisso Exploradora do Planalto Central do Brasil, sob a chefia do

    astrnomo Luiz Cruls, responsvel pelo observatrio Astronmico do Rio de Janeiro

    o qual foi enviado para estudar e demarcar a rea da Nova Capital. Em sete meses

    a Comisso percorreu mais de quatro mil quilmetros do Planalto Central Brasileiro,

    elaborando um levantamento sobre topografia, clima, geologia, fauna, flora, recursos

    minerais e materiais de construo existentes na regio, sendo ela composta de

    engenheiros, mdicos, botnicos, naturalistas, gegrafos, entre outros.

    Assim, Cruls foi designado para presidir a Comisso de Estudos da Nova Capital da Unio, a partir de junho de 1894, depois de ter presidido, de maio de 1892 a maio de 1894, a Comisso Exploradora do Planalto Central do Brasil. (VASCONCELOS, 1978, p. 166).

    No final de 1893 o relatrio da Comisso foi entregue ao Ministro da

    Indstria, Viao e Obras Pblicas e possibilitou a edio do primeiro mapa do Brasil

    indicando a posio da zona demarcada para o futuro Distrito Federal, sendo a rea

    chamada de quadriltero Cruls. Em 1894 a Comisso Exploradora do Planalto

    Central do Brasil entregou o relatrio geral que levou o nome de Misso Cruls.

    Somente em 1952 o Congresso Nacional aprovou a lei que determinava

    estudosexclusivos para a edificao da Nova Capital brasileira no Planalto Central.

    Novas pesquisas foram realizadas pelo Marechal Jos Pessoa que para isso,

    contratou a firma americana Donald Belcher& Associates. Partiu-se de uma rea

    mais de trs vezes maior que a estabelecida pela Misso Cruls. Um retngulo de 52

    mil quilmetros quadrados fora dividido em 18 quadrculos, num precioso estudo de

    uma regio que avanava at Goinia, de um lado, e do outro, Una Minas Gerais;

    os estudos foram concludos em 1955 e neste mesmo ano o presidente Caf Filho

    aprovou a rea, porm a construo ainda no seria materializada. O Brasil deve

    ser louvado por ser a primeira nao da histria a basear a seleo do stio de sua

    capital em fatores econmicos e cientficos; bem como nas condies de clima e

    beleza (Belcher, 1955 apud Andrade, 2006, p. 18).

  • 18

    A seguir, so descritas as metas sntese do ento Presidente Juscelino

    Kubitschek.

    3.1.1 UMA DAS METAS DE JUSCELINO

    Em 4 de Abril de 1955, na cidade de Jata, Gois, Juscelino Kubitscheck, em

    seuprimeiro comcio como candidato presidncia da Repblica, apresentou seu

    Plano de Metas e disse que se eleito, faria cumprir a Constituio. De acordo com

    Vasconcelos (1978, p. 352), nesse comcio, um eleitor chamado Antnio Soares

    Neto perguntou a Juscelino: O senhor mudar a capital do pas para o Planalto

    Central, como est previsto nas Disposies Transitrias da Constituio? Juscelino

    lhe respondeu: Acabo de prometer que cumprirei na ntegra, a Constituio e no

    vejo razo para que esse dispositivo seja ignorado. Se for eleito, construirei a Nova

    Capital e farei a mudana da sede do governo. Uma meta que, de inicio, era sntese

    virou obrigatria.

    Em 31 de Janeiro de 1956 Juscelino Kubitschek de Oliveira assume a

    Presidncia da Repblica, para cumprir um mandato de cinco anos e, em 18 de

    Abril, envia ao Congresso Nacional um projeto de lei referente mudana da capital,

    a Mensagem de Anpolis. Levava este nome porque foi nesta cidade que ele

    assinou o ato administrativo. Juscelino tambm determinou a inaugurao de

    Braslia para 21 de Abril de 1960. A Lei n. 2.874 de 19 de setembro de 1956, alm

    de criar e delimitar oficialmente o territrio do Distrito Federal com 5.783 quilmetros

    quadrados,criou e organizou a Companhia Urbanizadora da Nova Capital

    (NOVACAP), presidida pelo Sr. Israel Pinheiro da Silva, juntamente com a Comisso

    de Planejamento da Construo e Mudana da Capital Federal, que elaborou e

    organizou o Edital do Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil,

    publicado no Dirio Oficial da Unio no dia 30 de setembro de 1956.

    Ao ser lanado o concurso para a Nova Capital do pas, foram entregues

    Comisso Julgadora 26 projetos, na qual, conforme salientado no artigo de Meyer

    (2006) foi apresentado o nome do vencedor: Lcio Costa, que assim definiu

    primeiramente o projeto: Nasceu de um gesto primrio de quem assinala um lugar

    ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ngulo reto, ou seja, o prprio sinal

  • 19

    da cruz. Seu projeto contrariava algumas normas do concurso, mas apesar disso,

    venceu por quase unanimidade (apenas um jurado no votou nele) sofrendo

    diversas acusaes dos concorrentes, porm seu projeto foi considerado o nico

    adequado para uma capital. Desenvolveu o Plano Piloto de Braslia, e passou a ser

    conhecido em todo o mundo como autor de grande parte dos prdios pblicos da

    Nova Capital.

    Lcio Maral Ferreira Ribeiro Lima Costa, arquiteto, urbanista e professor,

    teve uma educao bastante pluralista estudando na Sua e no Reino Unido,

    nomeado para dirigir a Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, com a

    misso de renovar o ensino das artes plsticas e implantar um curso de arquitetura

    moderna. Entre os alunos da renomada escola de arquitetura estudava o aluno

    Oscar Niemeyer.

    O projeto de Lcio Costa estabelecia que, no eixo Monumental seriam

    implantados os edifcios principais, desenhados por Niemeyer; nas asas, o outro

    vetor, ficariam as superquadras, unidades de vizinhana compostas por 11 prdios

    de cinco andares e uma escola primria; no cruzamento entre os dois eixos, foi

    projetada a rodoviria e a torre de televiso. Aps a criao deBraslia,Lcio Costa

    foi convidado a desenvolver projetos na Itlia, Nigria e Marrocos; no Brasil, fez

    estudos para Salvador, So Lus e para a Barra da Tijuca.

    Havia uma grande opinio pblica que abertamente no acreditava no

    esforo e na determinao do presidente Juscelino Kubitscheck, que por conta disso

    sofreu grandes dificuldades da oposio, e parte da imprensa o criticava desde o

    perodo da construo at a inaugurao. As mudanas j estavam sendo feitas e

    dentre elas, uma das mais importantes, a Imprensa Nacional. Segundo publicao

    da Imprensa Nacional (2010, p. 4), a mudana da Imprensa para Braslia era de

    extrema importncia para Kubitscheck, pois, com tantas crticas, a Imprensa,com

    sua capacidade de registro documental contribuiria credibilidade da mudana da

    Capital para Braslia; se os atos oficiais comeassem a ser impressos e publicados

    na Nova Capital, no teria como a Capital continuar no Rio de Janeiro. Era

    fundamental a impresso do Dirio Oficial em Braslia com todos os atos assinados

    no dia da inaugurao. Juscelino decidiu transferir a Imprensa para Braslia antes

    mesmo da inaugurao, no s para imprimir os primeiros atos, mas tambm para

    buscar a interiorizao da mdia, que naquela poca era centralizada no eixo Rio -

  • 20

    So Paulo. Com essa percepo o presidente conseguiu estimular o

    estabelecimento de empresas de comunicao em Braslia.

    3.2 CRIAO DA UNIVERSIDADE

    A Universidade de Braslia, idealizada por seus criadores, Darcy Ribeiro,

    Ansio Teixeira, Oscar Niemeyer, Cyro dos Anjos, e outros intelectuais.Foi erguida

    durante anos de deciso para o pas.

    O Brasil passava por mudanas substanciais em sua estrutura poltica,

    econmica e social. A crise que afetava o pas, de um lado: a grande parte dos

    polticos reacionrios indignava-se com a capital que Juscelino Kubitschek erguia,

    criando todo tipo de dificuldade para que a mudana ocorresse; do outro,

    sonhadores e idealizadores que acreditavam que Braslia era uma das respostas

    para a situao do pas.

    Juscelino, Niemeyer, Lcio Costa trabalharam para a criao de uma Nova

    Capital totalmente moderna, diferente e conceituada. Em 1960 o Presidente cria por

    decreto uma comisso encarregada de criar a Universidade de Braslia (UnB). A

    Comisso liderada por Darcy Ribeiro, antroplogo e escritor, delimitou em um plano

    as estruturas principais da futura Universidade.

    Este plano estabelecia que a UnB dentro dos princpios de racionalidade e de organizao e plena utilizao dos recursos naturais e humanos, seria instituda em oito institutos centrais, cinco faculdades e sete rgos suplementares. (AQUINO; NASCIMENTO, 1988, p. 10)

    Diante da crise universitria que o pas vivia, a UnB deveria se transformar

    no primeiro marco da integrao universitria no Brasil.

    A elite reacionria influente no pas, naquele momento, enxergava com um

    grande rancor a criao da Universidade de Braslia. Entretanto, Juscelino dava todo

    apoio e no media esforos para a concretizao dessa conquista.

    A UnB no uma universidade qualquer. Muito lutamos para cri-la. Havia demasiadamente gentecontra. Israel Pinheiro, engenheiro admirvel, dizia que duas coisas no deveriam existir em Braslia: operrios e estudantes. evidente que Juscelino no se guiava por este critrio, mas ele tambm duvidou da convenincia de se criar aqui uma leve universidade pblica ou uma universidade privada. Ns que lutamos para ver surgir a Universidade de Braslia, tal como foi combatida e afinal consagrada na lei, sempre a

  • 21

    pensamos como a casa da conscincia crtica em que o Brasil se explicaria e encontraria sada para seus descaminhos. (RIBEIRO, 1986, p. 58).

    Criar uma universidade em Braslia tornou-se inevitvel, pois se previa para

    a cidade um grande nvel cultural, arquitetnico e industrial, que no poderia faltar

    nela universidade moderna e conceituada.

    No governo de Joo Goulart, a lei 3998, de 15 de dezembro de 1961,

    autorizou o Poder Executivo a instituir a Fundao Universidade de Braslia.

    A seguir, ser descrito a primeira estrutura organizacional da UnB, citando

    seus primeiros cursos e nveis bem como o espao fsico estabelecido.

    3.2.1 ESTRUTURA

    Inaugurada em 21 de Abril de 1962, a Universidade teve suas primeiras

    instalaes situadas no edifcio do Ministrio da Educao e Cultura, no bloco 1 da

    Esplanada dos Ministrios, onde deu seus primeiros passos.

    Darcy Ribeiro foi nomeado o primeiro reitor da Universidade, tendo como

    vice,Frei Mateus Rocha, que proporcionou o apoio da Igreja Catlica. Os cursos

    iniciais da Universidade foram: Direito, Economia, Administrao e Arquitetura e

    Urbanismo, tendo incio em maro de 1962.

    Segundo o Plano Orientador (1962, p. 21) da Universidade de Braslia, esta

    funcionaria em quatro nveis de cursos:

    Introdutrio (duas sries);

    Bacharelado (trs sries);

    Formao especializada (cinco sries) e

    Ps-Graduao (sete sries) e ainda o nvel de doutorado.

    Quanto ao espao fsico, que permitiria a integrao, a convivncia e troca

    de experincia entre os alunos estariam includas as seguintes instalaes:

    A aula Magna (grande especial auditrio);

    A Biblioteca Central;

  • 22

    A Rdio Universidade de Braslia;

    A Editora Universidade de Braslia;

    A Televiso Universitria de Braslia;

    O Museu;

    As Casas de Cultura;

    O Centro Educacional;

    O Centro Recreativo e Cultural, e

    O Estdio Universitrio.

    A Universidade de Braslia exerceu papel fundamental para a formao da

    capital e principalmente na educao brasileira. Passou por rduos perodos durante

    os anos, mas resistiu, implantando inovaes em sistemas sociais, raciais, de

    tecnologia, extenso, etc.

    Seu principal idealizador, Darcy Ribeiro, presenteou a Nova Capital Federal

    com a melhor Universidade que Braslia poderia receber. Em suas palavras ele diz,

    a UnB a ambio mais alta da inteligncia brasileira, este o nosso sonho maior,

    esta a utopia de quem entre ns tem cabea para pensar este pas e senti-lo com

    o corao. (RIBEIRO, 1986, p.9).

    3.3 CRIAO DA BIBLIOTECA CENTRAL

    A leique autorizava a criao da Universidade de Braslia (UnB),3939/61,

    homologada pelo decreto 500/62, ambos tratados no tpico anterior previam a

    criao da Biblioteca Central (BCE) como rgo complementar.

    No plano diretor de criao da UnB, a BCE teria a competncia de

    coordenar uma unidade principal com obras gerais e de referncia, servios de

    documentao e intercmbio cientfico e cultural, e 16 bibliotecas especializadas,

    sediadas nos Institutos Centrais e nos conjuntos e faculdades afins. O acervo bsico

    destas bibliotecas deveria resultar em 1 milho de obras, representando um dos

    principais investimentos da Fundao e aquele para cuja constituio mais

  • 23

    necessitar apelar para a ajuda de instituies estrangeiras e internacionais.

    (PLANO ORIENTADOR, 1962, p. 27).

    A biblioteca Central da UnB teve sua primeira instalao em 21 de abril

    de 1962, no sexto andar do prdio do Ministrio da Educao e Cultura. Durante a

    fase de planejamento, a Biblioteca teve como Diretora a bibliotecria Doris de

    Queiroz de Carvalho.

    O espao fsico da Biblioteca Central passou por diversas mudanas ao

    longo do tempo. A seguir ser dado um breve panorama de seus espaos fsicos.

    3.3.1 UM NOVO CONCEITO

    Em 1962 chega a Universidade o bibliotecrio Edson Nery da Fonseca,

    convidado por Darcy Ribeiro.

    O panorama nacional das bibliotecas universitrias encontrava-se devastado

    por ter sua composio descentralizada. A implementao de um novo modelo de

    Universidade proposto por Darcy Ribeiro convergia com a noo de biblioteca que

    Edson Nery da Fonseca, segundo diretor da biblioteca, gostaria de implantar. Mas

    tais constataes se opunham ao plano orientador da universidade, que previa uma

    biblioteca central e 16 especializadas.

    Houve grande enfrentamento a favor da descentralizao, inclusive chegou-

    se a criar as bibliotecas especializadas em fsica e matemtica. Edson Nery

    juntamente com Darcy Ribeiro e Ansio Teixeira ganhou mais essa batalha, pois a

    centralizao da biblioteca emergia de uma multidisciplinaridade do perfil da

    universidade, e mais tarde, dos alunos que ali permaneceriam. Ficou comprovada

    assim que essa inovao na biblioteca traria saldos positivos para Universidade.

    3.3.2 SALA DOS PAPIROS

    A chamada Sala dos Papiros, conhecida por este nome, por causa das

    plantas egpcias existentes no ptio que as separavam, foi o segundo prdio

    ocupado pela Biblioteca Central em Julho de 1962.

  • 24

    Nesse momento a BCE contava apenas com um servio de referncia,

    aquisio, catalogao e registro de peridicos.

    De princpio, foi sugerido por Edson Nery um prdio provisrio na

    Universidade para a biblioteca, pois a sobrecarga dos materiais do Ministrio poderia

    prejudicar a estrutura do prdio. O plano urbanstico de Lcio Costa previa a Praa

    Maior da Universidade, que contava com quatro prdios - Aula Magna; Reitoria,

    Museu e Biblioteca.

    Como no cronograma de construes a Praa Maior ficou para a etapa final, decidiu-se o professor Darcy ribeiro por uma biblioteca vizinha do edifcio FE-5 (onde se situa o auditrio dois Candangos), que serviria provisoriamente Universidade e depois, ao Centro Integrado de Ensino Mdio, tambm instalado nas proximidades. (FONSECA, 1973 p. 38).

    Uma das primeiras iniciativas de Edson Nery foi solicitar aos

    coordenadores dos cursos as bibliografias mnimas para que fossem feitas as

    compras dos livros de que os alunos precisassem, para solucionar a aquisio

    destas, que era um grande problema.

    Edson Nery (1973, p. 39), em seu artigo memorvel relembra creio ter

    partido do Dr. Georges Daniel Landau consultor da reitoria de assuntos

    internacionais a ideia de pedir a Fundao Ford um auxlio para a aquisio dos

    livros e assinatura dos peridicos..

    Veio em boa hora o convnio firmado entre a Ford e a Universidade,

    rendendo biblioteca o enriquecimento tanto material quando estrutural, pois,

    graas a convivncia foi possvel equipar a biblioteca, bem como prestar servios

    arquitetnicos necessrios biblioteca.

    Em 1963 so incorporadas ao acervo as colees de alguns professores,

    como por exemplo: Hildebrando Accioly (Direito Internacional); Homero Pires (obras

    jurdicas, literrias e histricas); Fernando Azevedo (educao, sociologia e

    literatura); Ricardo Xavier; Oswaldo de Carvalho (bibliografia e biblioteconomia);

    Pedro de Almeida Moura (estudo clssico alemo).

  • 25

    3.3.3 SERVIOS GERAIS 12

    Em 1964, a Biblioteca Central ocupa o trreo e o subsolo do edifcio

    Servios Gerais 12 (SG-12) por questes principalmente de crescimento do acervo.

    O edifcio do SG-12 era vizinho do da Sala dos Papiros e no podia oferecer

    condies estruturais de boa qualidade, pois grande parte do acervo foi mantido de

    forma improvisada.

    A partir de 1 de fevereiro de 1964 a coordenao da Biblioteca Central

    foi exercida pelo Prof. Abner Vicentini, substitudo pela Prof Fernanda Leite Ribeiro

    em 1967 e, depois, pelo Prof. Elton Eugnio Volpini.

    A biblioteca permaneceu no SG-12 at 1967, onde realizou seus

    primeiros passos, englobando algumas tentativas de permuta de materiais

    bibliogrficos, projetos conhecidos como a Biblioteca Volante, entre outros.

    3.3.4 PRDIO DEFINITIVO

    Em 1967, a UnB e a Diretoria da BCE recebem a visita do Dr. Frazer Poole,

    da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos especialista em arquitetura de

    bibliotecas. Juntos trabalharam no planejamento do espao fsico da BCE que

    estava com as obras avanadasportanto longo perodo de construo da

    Universidade.

    O documento elaborado pelo Dr. Peoole incluiu no item de consideraes arquitetnicas gerais, aspectos como a escolhado terreno, orientao do edifcio, expanso futura, flexibilidade, plano de iluminao, tratamento acstico, dimenses e disposies do mobilirio, entre outros. (AQUINO; NASCIMENTO, 1989 p.19).

    Elton Eugnio Volpinifortaleceu as relaes da Universidade com as livrarias

    e editoras do pas para o aprimoramento do acervo.

    As obras do prdio definitivo, tal como hoje conhecemos foram concludas

    em outubro de 1972, passando este a ser localizado na Praa Maior da UnB, lugar

    projetado por Lcio Costa e Oscar Niemeyer, como citado anteriormente.

  • 26

    O prdio definitivo ocupa uma rea de 16.200 metros quadrados, com

    capacidade para um milho de volumes (estimativa ainda no alcanada) e dois mil

    leitores.

    A mudana to esperada para o prdio definitivo da BCE ocorreu em maro

    de 1973. O professor Volpini organizou os volumes de maneira sistemtica para que

    no sassem de sua ordem de classificao, inclusive em caixas com identificao

    das estantes correspondentes.

    A Biblioteca Central da UnB conseguiu, a duras penas, trazer para a

    comunidade acadmica a eficincia informacional que uma biblioteca centralizada

    podia oferecer.

    A universidade idealizada por Darcy Ribeiro na Nova Capital impulsionou um

    Brasil que ainda estava crescendo intelectualmente. Fez emergir um novo conceito

    da educao. A Universidade de Braslia um grande exemplo dessa conquista.

    [...] tarefa da Universidade criar intencionalmente elites novas. Elites orgulhosas do patrimnio que herdamos do passado - um territrio continental e um povo multitudinrio, unificados em uma nao cheia de vontade de felicidade e de progresso, pronta para florescer corno una nova civilizao. Mas sobretudo elites cheias de indignao frente a realidade sofrida do Brasil. Elites fiis ao nosso povo, prontas a reconhecer que nossa tarefa maior nos elevarmos condio de uma sociedade justa e prspera, de prosperidade generalizada a todos. (RIBEIRO, 1978.).

    3.3.5 GALERIA DE EX-DIRETORES

    Para ilustrar a seqncia de personalidades que estiveram frente da

    Biblioteca Central ao longo do tempo, segue a baixo a galerias de seus diretores:

  • 27

    FONTE: Disponvel em: . Acesso em:

    24 Abr 2013.

  • 28

    3.4 CENSURA

    A cesura hoje uma das responsveis por diversas perdas bibliogrficas no

    mundo. O ato censrio vem percorrendo sculos e geraes e determinando o

    desaparecimento de livros, filmes, peas teatrais, faixas musicais, entre outras.

    Documentos que tenham o cunho duvidoso em tempos de guerras e

    perseguies alarmam os governantes, pois acredita-se que as ideologias que tais

    documentos carregam, acarretam rebelies, revolues e at mesmo a tomada de

    poder de determinada nao.

    Percorrida a histria do livro e da leitura,se tem registros de inmeras

    manifestaes que levaram ao desaparecimento de obras, resultando no s em

    perdas inestimveis de informaes, como tambm de longos anos de

    conhecimento e estudo determinados pela intolerncia da humanidade.

    A censura age em trs nveis, assume trs formas principais, aplicadas a

    tudo que objeto de censura: afirmar que uma coisa no permitida, impedir que

    uma coisa seja obtida e negar que uma coisa exista. Essas trs formas, uma por

    vez, definem as manifestaes da censura tal como exercida (CHARBONNEAU,

    1985).

    A censura obras, de forma geral, uma ideologia firmada por quem est a

    frente de um Estado, nao, colnia, etc, geralmente so lderes religiosos ou de

    regimes autoritrios de governo, que tm por objetivo colocar em vigor os ditames

    estabelecidos para ocasionar a ordem, ou seja, foi estabelecido que o ato censrio

    um esforo por parte de um governo, organizao, grupo ou indivduo de evitar que

    as pessoas leiam, vejam ou ouam o que pode ser considerado como perigoso ao

    governo ou prejudicial moralidade pblica (VERGUEIRO, 1987, p. 22).

    3.4.1 BREVE HISTRICO DA CENSURA NO BRASIL

    O Brasil, desde seu descobrimento passou por momentosrelacionados

    censura. A sociedade esteve de mos atadas quanto a livre circulao de

    informao por diversos anos durante a construo do hoje chamado Estado

    democrtico.

  • 29

    A seguir, para fins desta pesquisa ser acentuado um breve histrico da

    censura nos regimes republicanos, em que o cerceamento de informaes esteve

    mais presente.

    3.4.2 ESTADO NOVO

    O Estado Novo se d entre os anos de 1937-1945, perodo que o Brasil era

    presidido por Getlio Vargas.

    Ao assumir o poder, Getlio encontrou um pas com muita desigualdade,

    cuja populao era majoritariamente analfabeta. O Estado Novo lanava as bases

    para a industrializao do pas, aps um grande perodo de uso de mo de obra

    imigrante.

    Essencialmente, a instabilidade do regime centrava-se na relevncia dada a

    necessidade de se legitimar o Estado Novo por meio do doutrinamento e da

    propaganda poltica. Fazia-se necessrio construir um imaginrio poltico que

    contribusse para o acatamento da nova ordem. Assim, o objeto simblico utilizado

    para a construo desse imaginrio foi a ideia do novo, da ordem e da hierarquia,

    presente tambm no simbolismo sagrado (CARNEIRO, 2002, p. 239).

    Getlio Vargas se inspirou em modelos de atuao de lderes mundiais da

    poca notadamente Salazar, Mussolini e Franco. Da tambm assumiu o papel de

    pai da cultura nacional (LEITO, 2011, p. 141).

    A necessidade de impor controle sobre novos ideais democrticos sempre

    limita e determina as expresses e contedos produzidos por instituies ligadas ao

    governo. Getlio interferiu diretamente na produo de obras no Brasil, e no

    funcionamento de instituies pblicas, entre elas as bibliotecas.

    Dessa forma,

    Vargas deu incio ao uso e abuso de formas violentas de coero e represso para coibir e controlar a difuso de ideais e crticas ao governo, assim como o acesso ao conhecimento e ao poder (LEITO, 2011, p. 142).

  • 30

    3.4.2.1 MECANISMOS DE CONTROLE

    Para fortalecer os ideais e a propaganda de seu governo, Getlio Vargas

    criou duas instituies: o Instituto Nacional do Livro (INL) e o Departamento de

    Imprensa e Propaganda (DIP). Essas instituies utilizavam estratgias para

    determinar os processos relacionados apublicao, distribuio e circulao de

    livros.

    O DIP tinha como atribuio manter sob controle os meios de comunicao

    de massa e a produo artstica e intelectual tais como: rdio, msica, cinema,

    educao, imprensa, ou seja, artes em geral.

    O INL foi institudo para montar um projeto atualizado da bibliografia

    nacional, que no estava sendo executado corretamente pela Biblioteca Nacional.

    Entretanto a prioridade do governo federal se restringia a publicao de livros

    aprovados pela censura, especialmente os didticos (LEITO, 2011, p. 151). O INL

    cumpriu seu dever de propagao de obras bibliogrficas, como forma de contribuir

    e fortalecer os ideais do governo getulista.

    Vale ressaltar que a represso ao conhecimento era tratada como questo e

    pauta de sade pblica, demandando, portanto medidas de saneamento. O Estado

    definia e distribua nas escolas e bibliotecas os livros que deveriam fazer parte do

    cotidiano, sendo que essas medidas implicavam para o reconhecimento e formao

    do indivduo na sociedade.

    Esse segundo momento em que o Brasil se submeteu aos atos censrios ,

    nada alm de um retrocesso social influenciado pelos governantes do mundo neste

    perodo.

    A falta de estranhamento da massa social no mereceu destaque aos olhos

    da mdia. Enquanto Getlio industrializava o Brasil gerando empregos, direitos e

    benefcios para o povo, apenas os grandes intelectuais foram privados de contribuir

    bibliograficamente para o pas, alguns deles foram destitudos de seus cargos como

    o exemplo de Mrio de Andrade.

    Esse foi um dos sinais de que o Brasil, naquele momento, no estava

    amadurecido de forma democrtica, intelectual e social. A sociedade aparentava

    estar friamente politizada.

  • 31

    3.4.3 REGIME MILITAR

    O regime militar foi bastante rgido, no que se refere aos aspectos

    econmicos, polticos, sociais, intelectuais e tambm culturais.Nesse ambiente

    claro, a censura teria que florescer.

    Do dia 1 de abril de 1964 at 15 de maro de 1985 foi instalado no Brasil o

    regime militar, regido por generais de alta patente que pretendiam garantir a ordem

    nacional. Nesse perodo de transio entre os governos, a busca pela segurana

    nacional instalou no Brasil um perodo, acima de tudo, de insegurana.

    Nos primeiros quatro anos de regime pde-se perceber inmeras

    manifestaes por meio das mdias culturais, tais como livros, teatros, faixas

    musicais, shows e livrarias. Nesse primeiro perodo os militares conviviam

    pacificamente com o desgosto da populao.

    A priori, a censura ocorria de forma improvisada, efetuadas por militares mal

    treinados, sem nenhum critrio legal estabelecido.

    Durante os primeiros quatro anos da ditadura militar, portanto, conviviam um governo de direita e de obras que faziam crticas a esse mesmo regime, presentes nas telas de cinema, nos teatros, nos shows e nas livrarias (REIMO, 2011, p. 19).

    Entretanto, sob a capa rgida da censura, a sociedade ia adquirindo

    elementos de reao poltica e social. A censura trouxe uma repercusso cultural

    muito grande e de extrema importncia. Embora, sem aparentar claramente, a

    sociedade floresceu politicamente, sendo capaz de distinguir o certo do duvidoso.

    nesse cenrio que a censura de fato comea a crescer no territrio

    nacional. As invases s livrarias comearam a ser contnuas, o desaparecimento e

    recolhimento de obras comearam a irritar os grandes escritores da poca. Tambm

    era comum de se notar censores nas primeiras fileiras de shows e recitais.

    O Casamento, obra de Nelson Rodrigues, por exemplo, teve proibidasua

    venda e distribuio pelos censores, sendo apreendida. Nelson Rodrigues reagiu ao

    ato em uma entrevista: essa uma medida odiosa e analfabeta, vou espernear com

    todas as minhas foras, porque no estamos no faroeste e ainda h leis no Brasil

    que devem ser respeitadas.. A apreenso de O Casamento foi to importante

  • 32

    queabriuprecedente para que quaisquer obras que no agradassem os militares

    pudessem ser apreendidas.

    3.4.3.1 ATOS MAIS SEVEROS

    Com a edio do Ato Institucional n. 5, no governo do presidente Costa e

    Silva (1968), tornou-se possvel cassar mandatos, suspender garantias individuais,

    alm de se ter criado condies para a censura divulgao da informao,

    manifestao de opinies e s produes culturais e artsticas.

    Segundo Revista Viso, a inconstitucionalidade se refletia da seguinte

    maneira:

    Cassaes em massa, rgido controle dos movimentos operrios e estudantis, instituio da pena de morte e priso perptua para crimes polticos e inaugurao, no pas da prtica de sequestros por parte de guerrilheiros urbanos. As atividades culturais passaram a ser rigorosamente vigiadas e artistas de projeo nacional tiveram de deixar o Brasil. (REVISTA VISO, 1974 apud REIMO, 2011, p. 26).

    O Decreto-lei 1077/70 regulamentava a censura prvia para livros. No

    corpo de seu texto anunciava quais tipos de obras eram permitidas e versava

    tambm sobre as sanes.

    No Brasil, durante a ditadura militar (1964-1985), e destacadamente a partir de 1967, a censura oficial do Estado em relao a filmes, peas teatrais, discos apresentaes de grupos musicais, cartazes e espetculos em geral era exercida pelo Ministrio da Justia por meio do Servio de Censura e Diverses Pblicas (SCDP), setor do Departamento de Censura e Diverses Pblicas (DCDP). A partir de 1970, livros e revistas tambm passaram a ser examinados pelo DCDP (REIMO, 2011, p. 13).

    Em fevereiro de 1970, foi publicada aPortaria 11-B, e em seguida a Instruo

    n. 1-70 que dizia: esto isentas de verificao prvia as publicaes e

    exteriorizao de carter estritamente filosfico, cientfico, tcnico e didtico, bem

    como as que no versem sobre temas referentes ao sexo, moralidade pblica e

    bons costumes.

    As especificaes da portaria acima citadas, no deixam de ter contribudo

    para um certo relaxamento da censura.

  • 33

    3.5 COMO A CENSURA SURGIU NA BIBLIOTECA CENTRAL DA UnB

    No dia 4 de abril de 1964, a Universidade de Braslia sofre sua primeira

    invaso, que ocorreu nove dias aps o golpe de Estado. A Universidade foi

    surpreendida pelas tropas do Exrcito e da Polcia Militar de Minas Gerais.

    A Biblioteca Central e os escritrios dos professores foram interditados

    durante duas semanas. Nesse perodo alguns professores foram destitudos de seus

    cargos, inclusive o Reitor Ansio Teixeira e o Vice-Reitor Almir de Castro.

    Numa atitude primria, combater a Universidade de Braslia era combater as idias dos governos anteriores por meio de Darcy Ribeiro, Juscelino, Joo Goulart, etc. (SALMERON, 1997 p.174).

    O Correio Braziliense, datado em 10 de abril de 1964,noticiou que foram

    encontradas armas, livros subversivos, bandeiras revolucionrias, grande resistncia

    por parte dos estudantes, correspondncias entre comunistas, dentre outros

    documentos. Entretanto, as tropas de Minas Gerais e o Exrcito ficaram surpresos

    por encontrarem tamanha tranquilidade na Universidade. Percebe-se que as notcias

    descritas no se coadunavam com a realidade da Universidade.

    Foram coletados, em todo ocampus, documentos passveis de investigao

    que haviam sido armazenados na Biblioteca Central, a qual permaneceu fechada

    aps a liberao do campus.

    Circularam vrias histrias jocosas a respeito de obras consideradas suspeitas: tbuas de logaritmos teriam sido tomadas como cdigos secretos, livros teriam sido julgados subversivos porque suas capas eram vermelhas. (SALMERON, 1997 p.177).

    Acredita-se que a falta de registros a respeito das apreenses relaciona-se

    com a forte represso poltica que pairava sobre o campus da Universidade de

    Braslia.

  • 34

    3.6 PAPEL DO BIBLIOTECRIO NO CONTEXTO DA CENSURA

    A censura est inteiramente ligada tradicionalmente ao cerceamento da

    informao. O bibliotecrio, por ter sua formao pautada nos pilares da promoo

    cultural e intelectual,tem como funo proporcionar o acesso da informao a todas

    as camadas da sociedade, contribuindo a transformao do meio em que vive.

    Numa perspectiva mais focada na profisso do bibliotecrio tm-se como

    referncias as cinco leis de Ranganathan: os livros so escritos para serem lidos;

    todo leitor tem seu livro; todo livro tem seu leitor; poupe o tempo do leitor e a

    biblioteca um organismo em crescimento. Dentro das leis de Ranganathan pode-

    se perceber o poder que a informao tem. No contexto da censura, a primeira lei se

    mostra como um mecanismo de uso para os bibliotecrios.

    O cerceamento de informaes vai de encontro com o direito adquirido, pela

    Constituio Federal de 1988 (art. 5, IX), de liberdade intelectual, e a biblioteca por

    ser um espao democrtico, proporciona a manifestao de tal liberdade, de

    diferentes formas.

    Os governos ditatoriais tm como prtica limitar o acesso informaes por

    meio de confisco de obras, censura a autores, reportagens de jornais, entre outras

    medidas.

    Sabe-se que publicaes de editoras consideradas de esquerda pelo regime militar no eram adquiridas, no perodo de ditadura. Sabe-se que, mesmo aps o trmino oficial da ditadura, presses governamentais tm sido exercidas sobre bibliotecas para que as mesmas deixem de adquirir determinadas publicaes. (VERGUEIRO, 1987 p. 21).

    A partir do momento em que o governo posicionou-se fortemente

    envolvendo as instituies do Estado e da mquina administrativa, as limitaes das

    informaes eram impostas nas bibliotecas, e por meio de seus agentes

    estabeleciam o que poderia ou no constar nas estantes do acervo.

    Nesse contexto, o trabalho dos bibliotecrios tornava-se bastante dificultado.

  • 35

    3.6.1 TIPOS DE CENSURA

    Para que os bibliotecrios exeram sua profisso sob um regime censrio

    preciso ter bastante cautela com a bibliotecae com o acervo, sendo necessrio

    tomar medidas que busquem a preservao de ambos e um funcionamento normal

    da organizao.

    Em palestra realizada em 1979, na dcima edio do Congresso Brasileiro

    de Biblioteconomia e Documentao, o professor Antnio Agenor Briquet de Lemos

    enumerou quatro tipos de censura presentes no exerccio da profisso, que at os

    dias de hoje continuam atuais. Ressalta-se a seguir.

    No se pretende, entretanto, determinar que apenas os exemplos de

    censura a seguir comprometam a postura do bibliotecrio ou delimitam seus tipos.

    Trata-se de uma exemplificao a partir de um consulta a um profissional

    especialista.

    3.6.1.1 CENSURA OFICIAL

    Os bibliotecrios em meio censura so submetidos lei. Como servidores

    do Estado esto subordinados a leis, secretrias de Estado, rgos e outros rgos

    governamentais.

    Cabe ao profissional da informao, da maneira que lhe convier, usar

    mecanismos contra a censura, como por exemplo, usar os poderes e obrigaes dos

    representantes de classe e conselhos visando o cumprimento da lei, que a priori

    oficial e geral, no podendo de forma alguma ser contrariada.

    3.6.1.2 CENSURA OFICIOSA

    A censura oficiosa tambm foi praticada no regime militar dentro das

    bibliotecas. No h regulamentao, vive somente sombra do que no pode ser

    expresso. Briquet de Lemos, diz em palestra que essa censura oficiosa, nas

  • 36

    pocas de maior obscurantismo e caa s feiticeiras, chegou a produzir seu ndice

    particular de livros proibidos. (Lemos, 1979, p. 1159).

    3.6.1.3 CENSURA FEITA PELO BIBLIOTECRIO

    A censura feita pelo profissional da informao acarretou mais problemas

    pelos achismos dos bibliotecrios, do que pelo prprio regime imposto.

    A subjetividade inerente ao profissional um tanto delicada, pois como

    responsvel pela disseminao da informao, o bibliotecrio tende a se preocupar

    demasiadamente com os contedos que so disponibilizados nas estantes do

    acervo.

    A biblioteca vista como um dos mais significativos smbolos de uma sociedade livre: ela deve ser aberta a todos e a todas as ideias. [...] No somente a ideia contida no livro, mas a ideia de livre acesso a todas as ideias em todos os livros. Assim, toda vez que permitimos que a censura se manifeste, estamos nos desviando do princpio que mais importante do que a ideia individual. (ASHEIM, 1980 p. 218-219).

    3.6.1.4 CENSURA DIFUSA

    A censura difusa aquela que se propaga de forma homognea alcanando

    as bibliotecas, bibliotecrios e usurios. uma censura um pouco mais profunda,

    pois alcana um campo maior de subjetividade. Pode ameaar o acervo por meio de

    restries aquisio.

  • 37

    4 METODOLOGIA

    O presente trabalho consiste numa pesquisa histrica baseada em

    levantamento documental e entrevistas informais sobre a censura na Biblioteca

    Central da Universidade de Braslia no regime militar, que durou de 1964 a 1985.

    Por se tratar de uma biblioteca acadmica de grande importncia criada

    numa poca de idealizao de universidade, o universo desta pesquisa seria

    potencialmente muito amplo. Entretanto, em funo de limitao de ordem prtica,

    entre as quais a questo do calendrio acadmico para apresentao de

    monografia, optou-se por selecionar uma pequena amostra intencional de

    respondentes representativa dos seguintes segmentos: gestores, funcionrios e

    usurios.

    A pesquisa documental baseou-se na reviso de literatura. J as entrevistas

    informais foram realizadas com base em roteiro de entrevista composto de questes

    semi-estruturadas, de modo a permitir ao entrevistado uma liberdade maior em suas

    declaraes.

    O referido roteiro encontra-se em anexo na pesquisa. Na conduo em

    anlise das informaes obtidas, a identidade dos entrevistados foi preservada,

    tendo em vista a busca de objetividade da pesquisa, a espontaneidade das

    respostas e a natureza do assunto abordado.

    Uma das vantagens da entrevista que o entrevistado alm de seguir um

    roteiro para no se perder em meio a tantas informaes ele poder acrescentar

    detalhes, pensamentos e opinies pertinentes. Por outro lado, uma das

    desvantagens que talvez ele, por algum motivo, no exponha nomes e opinies

    que acredite causar algum tipo de dano (OLIVEIRA, 2000).

    4.1 DESCRIO E ANLISE DOS DADOS

    Para apurar a censura na Biblioteca Central da Universidade de Braslia no

    perodo do regime militar foram selecionadas aleatoriamente representantes de trs

    segmentos: gestores, funcionrios e usurios.

  • 38

    De acordo com a metodologia proposta, a partir das entrevistas realizadas

    foi possvel fazer uma anlise dos depoimentos.

    Foi preservada a identidade dos entrevistados. Buscou-se explicitar na

    anlise das entrevistas, de forma coerente a percepo e opinio dos entrevistados.

    Observaram-se as relaes, padres e inferncias dos depoimentos, pois se trata

    aqui, nada alm das lembranas e memrias dos entrevistados, que esto sujeitas,

    ao esquecimento e a novas interpretaes por parte destes mesmos entrevistados.

    Na anlise das entrevistas, os entrevistados sero identificados da seguinte

    maneira:

    Tabela 1 IDENTIFICAO DOS ENTREVISTADOS

    GESTOR G Esteve presente na

    Universidade desde 1965

    FUNCIONRIO 1 F1 Esteve presente na

    Universidade desde 1965

    FUNCIONRIO 2 F2 Esteve presente na

    Universidade desde 1968

    USURIO U Esteve presente na

    Universidade desde 1966

    Fonte 1 Autoria Prpria

    Em nvel de curiosidade, os entrevistados se mostraram bastante

    desenvoltos com as perguntas, intuitivos e espontneos ao falar do assunto.

    Inclusive um deles j tinha um prprio roteiro que seguia. Isso demonstra uma

    receptividade em relao a entrevista.

    Em anexo pesquisa realizada, est o roteiro de entrevistas que serviu de

    orientao.

  • 39

    5 ANLISE DAS ENTREVISTAS

    A primeira questo formulada questionava aos entrevistados a forma como

    se deu a censura no mbito da BCE durante o regime militar. Pois, segundo

    Salmeron observa no item 2.4.4 deste trabalho, apenas circulavam histrias sobre o

    cerceamento de informaes na Biblioteca Central. Entretanto no se podia ter

    certeza quanto a estes fatos.

    O Gestor - G, diz relata em seu depoimento um pouco da situao que pas

    vivia: no caso de 64, como j havia anteriormente no tempo de Vargas a censura,

    tinha at um departamento chamado DIP. Ento era institucionalizada, era uma

    coisa do Estado. No comeou em 64, j havia anteriormente ao governo de 64 e o

    governo aproveitou a censura existente, isso que quero dizer, era algo comum

    dentro daquele contexto histrico. No caso de 64, houve uma mudana de

    percepo para documentos, livros, etc, ligados as reas e comunismo, marxismo,

    de maneira geral. E isso pode ter se refletido na UnB.

    Algumas informaes importantes sobre esse perodo podem ser vistas nos

    itens 2.4.3 e 2.4.3 deste trabalho.

    O Funcionrio 2 F2 relata o cerceamento no mbito da BCE da seguinte

    maneira: a censura se deu explicita e implcita. Ela era explicita porque o governo

    mandava, era uma censura oficial. De incio quando no havia a censura prvia,

    havia a censura de fato depois que se publicavam. E as pessoas sabiam que

    determinados livros seriam objeto de proibio. Era difcil entrar livros naquela

    poca. Era tolice querer comprar esse tipo de livro, e se comprasse estaria

    incorrendo contra uma lei do Estado que voc poderia ser punido. J a censura

    implcita houve e h, ningum vai dizer que no h, mas h.

    Ainda F2 observa: Dentro da biblioteca no houve nada oficial, s teve bom

    senso entre os bibliotecrios. Tudo era censurado.

    Percebe-se de tais depoimentos que a censura esteve presente dentro da

    Biblioteca Central da Universidade de Braslia, como uma decorrncia do que o

    governo j vinha fazendo em outros tipos de instituies.Pode-se partir do

    pressuposto de que a institucionalizao da censura foi melhorada com relao ao

    regime anterior.

  • 40

    A segunda pergunta pedia para o entrevistado numerar de 1 a 6 os

    principais contedos alvo da censura. Os contedos a serem destacados eram:

    filosfico, sociolgico, poltico, literrio, religioso e ertico.

    Observou-se nas entrevistas que os contedos censurados na poca eram,

    de maneira geral,referentes ao cunho poltico de livros que continham ideias

    comunistas e marxistas.

    Um episdio interessante de se relatar neste trabalho acerca das obras da

    biblioteca um relato do Usurio U, que era amigo de muito tempo de Honestino

    Guimares, estudante da UnB desaparecido durante o regime militar. O relato de U

    traz algumas evidncias de obras que eram censuradas.

    A seguir o episdio narrado por U: A biblioteca funcionava no SG-12

    (Servios Gerais). O episdio que eu me lembro e participei que foi muito importante.

    J tarde da noite, coisa de meia noite, e Honestino, grande amigo meu, no morava

    na Oca1, os pais dele moravam na L2, mas vivia na Oca, com a gente. E Honestino

    ento, ele aparece l meia-noite e chama a mim e mais uns trs ou quatro que

    estavam acordados. Ele estava com uma lanterna, e dizia vem comigo, vem comigo

    que vou fazer uma pesquisa. E ento fomos biblioteca, ela tinha um vo em baixo.

    Chegando l ele disse vocs me seguram pela mo que eu vou entrar l dentro. Eu

    pensei: o que esse maluco vai fazer? Eu no tinha a menor idia. Ele desce na

    escurido com a lanterna. Tnhamos que ficar de olho porque os vigilantes na

    Universidade podiam ver, mas de qualquer maneira tnhamos que ter cuidado.

    Depois de uns dez ou quinze minutos, ou um pouco a mais, volta Honestino, e antes

    de subir ele entrega um bocado de livros, segura, segura, segura. E todos os livros

    eram sobre a esquerda, relativos poltica o que o comunismo, movimento da

    unio sovitica, tudo nesse sentido. A Universidade de Braslia tinha esses livros, ao

    invs de estarem abertos para consulta, pois o lgico era ser aberto para consulta

    nas estantes da biblioteca, mas estavam l escondidos. Provavelmente por ordem

    do Reitor, que era o Caio Benjamim Dias, que era um homem extremamente

    conservador.

    Pode-se inferir de tal depoimento que havia censura a algumas obras na

    Biblioteca Central. O Usurio U termina o episdio dizendo:O que Honestino quis

    mostrar com isso, que a reitoria escondia no poro da biblioteca os livros para

    1 Oca era o alojamento dos estudantes que moravam na Universidade de Braslia.

  • 41

    fazer censura, quer dizer, que absurdo esse em que a Universidade fazia censura

    aos livros que os alunos podem ou no podem ler. Esse o absurdo dos absurdos.

    A questo trs questionava a forma que a censura se manifestava no

    acervo da BCE. Essa questo foi vista como o ponto mais alto e crtico das

    entrevistas, pois o tema sobre o acervo da Biblioteca Central vai de encontro com a

    histria do cofre, em os entrevistados se referem a um cofre existente na biblioteca.

    importante ressaltar a sutileza de alguns entrevistados ao falar no assunto.

    Os depoimentos sobre o cofre so de grande valia para este trabalho, pois pouco ou

    nada se conhece a respeito deste assunto.

    De acordo com a pergunta feita, G salienta, No houve restrio na

    aquisio de obras, nem de peridicos, nem de livros. Quem vai parar de estudar

    comunismo e marxismo na rea de economia e poltica? Entretanto F2 relata em

    sua entrevista: A aquisio de materiais continuou normalmente, mas acontece que

    voc no adquiria aquilo que voc no achava que deveria adquirir. Se um professor

    mandasse uma lista pedindo seria uma encrenca. Quem vai assinar em baixo? Voc

    tinha emprego, famlia, ia ser suicdio. A biblioteca nem chegava, no meu

    entendimento a ser solicitada a comprar aquilo. A coisa era muito sria.O confisco

    era tirar e guardar. Eles retiravam os livros dos catlogos, mas no tenho como

    provar.

    O bibliotecrio exerce alguns tipos de censura, como aquelas vistas no item

    2.6.1, desta pesquisa. Nota-se que a censura oficiosa e a feita pelos prprios

    bibliotecrios foram alvo de crticas dentro da Biblioteca Central. Nesse aspecto,

    particularmente pode-se desenvolver infinitas discusses dentro da profisso e das

    instituies.

    O cofre da Biblioteca Central da Universidade de Braslia bastante

    conhecido pelos estudantes de biblioteconomia que j passaram pela Universidade

    e pelos bibliotecrios da Universidade que sempre rememoram as histrias e

    lembranas.

    O cofre teve papel fundamental para, no perodo do regime militar dentro da

    biblioteca, pois era dentro deste que se preservavam algumas obras que no

    podiam circular na biblioteca.

    O Funcionrio 2 F2 comea dizendo: O cofre funcionava para

    preservao. Nele foram colocados livros pelo professor Volpini e funcionava para

    preservao (sic). Se ficassem nas estantes, certamente seriam retirados,

  • 42

    receberamos denncias, ento livros que eram perigosos tambm iam, nem todos,

    alguns livros foram levados para o cofre. Por exemplo, o livro de pensamentos de

    MaoTs-Tung chegou em vrios exemplares que vieram pelo correio, a bibliotecria

    abriu e quando viu era do MaoTs-Tung, tinham vrios broches e tudo foi pro cofre.

    O bibliotecrio fazia esse tipo de censura, mas no era a mesma motivao que o

    Estado, da polcia. O F1 complementa: Os livros que ficavam dentro do cofre eram

    os de Marx, Lenin, autores comunistas em geral. Mas, G depe: No houve

    retirada de livros. Tanto que ns tnhamos no acervo e, ficaram no acervo obras de

    autores marxistas e comunistas. Mas pode ser que tenha existido na cidade afora,

    isso eu j no sei.

    Dos depoimentos em relao ao cofre foram identificadas algumas

    controvrsias em relao prpria finalidade do cofre. De maneira que no

    possvel tirar concluses sobre o fato. Como dito na descrio dos dados, item 4.1, o

    que verdadeiramente est sendo analisado so lembranas e memrias. Esta

    lacuna, infelizmente este trabalho no conseguiu sanar.

    Ainda dentro da terceira questo, outro assunto foi levantado por parte dos

    entrevistados de forma involuntria: o caso do livro vermelho. So tantas as histrias

    que decorreram anos em que as pessoas fizeram referncia a este livro.

    O Funcionrio 1 F1 relata em sua entrevista este episdio: O pessoal do

    DOPS chegou biblioteca, e eu estava na referncia da biblioteca, ainda nem era

    bibliotecrio, mas trabalhava l. Chegaram dois ou trs caras do DOPS e foram nas

    estantes com o cassetete na mo. Chegaram ao balco com vrios livros de capa

    vermelha e disseram esses livros no podem ficar no acervo porque eles tm capa

    vermelha, capa vermelha lembra o comunismo. Eles pediram para que sassem do

    acervo, eles no abriram o livro, nem sabiam de que se tratava. Aps uns dias os

    livros voltaram pra estante. No tinha nada a ver, mas eles faziam o que queriam.

    A quarta questo indagou como os bibliotecrios lidavam com a censura

    impostas a certas publicaes. O F2 relata claramente o que se passava na

    Biblioteca Central na poca: A censura estava sendo feita, eu simplesmente devia

    cumprir a lei. Eu era funcionrio do Estado, eu no podia fazer nada. at muito

    cmodo, do ponto de vista profissional.

    Pode-se perceber que no havia muito que fazer com a censura dentro da

    Biblioteca Central. O pensamento de muitos representado pelo entrevistado F2.

  • 43

    Ainda em continuidade a quarta questo, um ponto importante que foi

    ressaltado por todos os entrevistados so os chamados dedo duro. O entrevistado

    F1 em sua entrevista diz: Todos os dias, quando a Biblioteca Central abria, os

    primeiros a entrarem eram um grupinho: um ia para a sesso dos peridicos, outro

    para o acervo, cada um pra um lado. E eles s saiam pra almoar, voltavam a tarde,

    depois das 18h outros chegavam no lugar deles. J sabamos que eram espies,

    pois no pediam informaes, andavam com um nico livro debaixo do brao,

    ficavam no meio das carteiras onde poderiam verificar o movimento. Qualquer coisa

    de subversivo que eles escutassem ali j reconhecia e deletava depois.A BCE

    tambm tinham dois dedos duros entre os funcionrios. Um era da Marinha, chefe

    dos servios gerais. O outro era do Comando Nacional do Planalto. F2 ainda afirma:

    Na realidade os militares no apareciam na biblioteca fardados, voc supunha que

    era dedos duros.

    Infere-se sobre tais depoimentos que os bibliotecrios viviam sob suspeita a

    todo momento, qualquer obra no acervo vista por espies podia resultar em

    investigaes, entre outros fatores. Est explcita aqui uma das talvez finalidades

    do cofre da biblioteca, ou seja, a de preservar as obras.

    A quinta questo tratou sobre a interao da BCE com a comunidade

    acadmica. Todos os entrevistados responderam que era bastante boa. O

    entrevistado G ressaltou: inclusive era melhor do que hoje em dia.

    As respostas acima fazem parte do conjunto das respostas dos

    entrevistados. Deste conjunto foram extradas as percepes e observaes que

    nos pareceram mais relevantes para o presente estudo.

  • 44

    6 CONSIDERAES FINAIS

    A pesquisa aqui apresentada teve a inteno de trazer luz a censura na

    Biblioteca Central da Universidade de Braslia no perodo do regime militar. Perodo

    em que o Brasil sofreu as conseqnciasherdadasdo regime anterior, na medida em

    que os militares a ele se opunham.

    Com desenvolvimento da pesquisa percebeu-se com clareza a atuao do

    Estado que, com seus mecanismos de cerceamento e coero, limitaram o acesso

    informaes, a leitura e a liberdade de expresso, bem como o trabalho dos

    profissionais da informao no mbito da biblioteca.

    A rotina da biblioteca, de forma geral, no foi afetada administrativamente,

    seu funcionamento permitiu livremente o acesso dos usurios ao espao fsico e as

    obras que permaneceram no acervo.

    Em relao atuao dos bibliotecrios durante o perodo, percebe-se que

    em sua maioria, esses profissionais se mantiverampassivos, realizando os servios

    propostos, pois eram funcionrios do Estado, portanto cumpriam ordens.

    Pode-se perceber que os entrevistados lutaram cada um a sua maneira,

    buscando a preservao da informao que tiveram que se manter silenciosos

    duranteem relao s muitas reflexes que no podiam, de forma alguma,

    expressar, pois poderiam estar sendo vigiados.

    Este trabalho pretendeu apresentar e descrever um momento um tanto

    obscuro dentro da Biblioteca Central da Universidade de Braslia. Histrias como a

    do cofre, a do livro vermelho, entre outras, fazem parte deste momento, ainda pouco

    esclarecido.

    Constatou-se que a dependncia da memria de profissionais bastante

    vlida, porm incompleta como fonte de informaes que permitam uma

    compreenso mais ampla dos fatos. Em que pese, o fato de que a descrio e a

    anlise das informaes levantadas tenham-se pautado fielmente nas entrevistas

    realizadas, o ideal que tais informaes possam ser complementadas com outros

    registros que por ventura existam.

    No momento em que se valoriza o acesso informao, inclusive para o

    conhecimento de nossa histria recente, todas as fontes se tornam vlidas, porm

    uma pesquisa bibliogrfica mais extensa escapa a natureza desta pesquisa.

  • 45

    Dessa forma, espera-se que as entrevistas realizadas possam servir de

    subsdio para futuros estudos.

    Se no plano individual este perodo que a Universidade de Braslia vivenciou,

    merece eventualmente ser esquecido, no plano documental histrico, no h

    dvidas de que merece ser lembrado.

  • 46

    REFERNCIAS

    ANDRADE, Edgleuba de Carvalho Queiroz de. A construo identitria do

    brasiliense. Braslia: Universidade de Braslia, 2006.

    AQUINO, Suely Henrique de; NASCIMENTO, Nmora C. F. Um pouco da histria

    da Biblioteca Central da UnB. Braslia: Universidade de Braslia, 1989.

    ASHEIM, Lester. Bibliotecas e censura. Revista Brasileira de Biblioteconomia e

    Documentao, 73(3/4): 271-272. 1980.

    BRASIL, Constituio. 1822. Constituio da Repblica Federativa do Brasil:

    constituio do Brasil, de 22 de outubro de 1822.

    BRASIL, Constituio. 1988. Constituio da Repblica Federativa do Brasil.

    CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Minorias silenciadas: histria da censura no

    Brasil. So Paulo: Fapesp: Edusp, 2002.

    CHARBONNEAU, J. P. Lgica da Censura. Folha de So Paulo. So Paulo, 4 mar.

    1985. Seo Tendncias/Debates.

    FONSECA, Edson Nery da Fonseca. Biblioteca Central da Universidade de Braslia:

    histria com um pouco de doutrinas e outro tanto de memrias. Revista de

    Biblioteconomia e Documentao. Braslia 1 (1) jan./jun, 1973.

    IMPRENSA Nacional. 50 anos em Braslia. Braslia: Imprensa Nacional, 2010.

    LEITO, Brbara Jlia Menezello. Bibliotecas pblicas, bibliotecrios e censura

    na era Vargas e Regime Militar: uma reflexo. Niteri: Intertexto, 2011.

    LEMOS,Antonio Agenor Briquet. Qual a importncia da censura nas bibliotecas

    brasileiras? In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA E

    DOCUMENTAO, 10. Curitiba, 1979. Anais. Curitiba, Associao Bibliotecria do

    Paran, v. 3, p. 1158-1161.

    MEYER, Regina Maria Prosperi. A construo de Braslia. Disponvel

    em: Acesso em: 5 maio 2013

  • 47

    OLIVEIRA, Claudionor dos Santos. Metodologia cientfica, planejamento e

    tcnicas de pesquisa: uma viso holstica do conhecimento humano. So Paulo:

    LTR, 2000.

    PLANO Orientador da Universidade de Braslia. Braslia: Universidade de Braslia,

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    RANGANATHAN, S. R. As cinco leis da biblioteconomia. Braslia: Briquet de

    Lemos, 2009, p. 336.

    REIMO, Sandra. Represso e resistncia: censura a livros na ditadura militar.

    So Paulo: Edusp, 2011.

    RIBEIRO, Darcy. Universidade necessria. Braslia: Universidade de Braslia,

    1978.

    RIBEIRO, Darcy. Universidade pra qu? Braslia: Universidade de Braslia, 1986.

    SALMERON, Roberto A. A universidade interrompida: Braslia 1964-1965.

    Braslia: Universidade de Braslia, 2007.

    VASCONSCELOS, Adirson. A mudana da capital. Braslia:Editora Independncia,

    1978.

    VERGUEIRO, W de C. S.Censura e seleo de materiais em bibliotecas: o

    despreparo dos bibliotecrios brasileiros. Cincia da Informao. So Paulo, v.16,

    n.1, p. 21-26, jan./jun. 1987

  • 48

    APNDICE A -ROTEIRO DE ENTREVISTA

    ROTEIRO DE ENTREVISTA

    Obrigada por dedicar parte do seu tempo para fazer esta entrevista sobre a

    censura na Biblioteca Central da Universidade de Braslia no perodo do regime

    militar. Sua experincia, memrias e percepes so de extrema importncia para a

    pesquisa.

    Este roteiro serve apenas como base para desenvolvimento da entrevista.

    Sua identidade ser preservada. Os resultados da entrevista sero publicados na

    monografia que ficar disponvel na BCE/UnB no endereo: http://www.bce.unb.br/

    Se tiver qualquer dvida sobre a entrevista, entre em contato no endereo

    eletrnico: [email protected] ou pelo telefone 9954-6683.

    1) Em seu entender, de que forma se deu a censura, no mbito da BCE durante

    o regime militar?

    Explcita ( )

    Implcita ( )

    No houve censura ( )

    2) Se, realmente houve censura BCE, numere de 1 a 6 os principais

    contedos alvo de censura

    ( ) Contedo filosfico

    ( ) Contedo sociolgico

    ( ) Contedo poltico

    ( ) Contedo literrio

    ( ) Contedo religioso

    ( ) Contedo ertico

  • 49

    3) Supondo-se que houve censura aplicada ao acervo da BCE, de que forma se

    manifestava?

    ( ) na restrio a aquisio de materiais

    ( ) no extravio de materiais

    ( ) na reduo do emprstimo

    ( ) no confisco de publicaes

    ( ) na proibio de divulgao de ttulos

    4) De que forma os bibliotecrios lidavam com a censura impostas a certas

    publicaes?

    ( ) retiravam ttulos dos catlogos

    ( ) ignoravam a censura, mantendo a rotina local de consultas e emprstimos

    ( ) mantinham as publicaes censuradas em locais vedados ao pblico

    ( ) restringiam a divulgao de ttulos

    5) Como se caracteriza a interao da BCE com a comunidade acadmica

    durante o regime militar? Justifique.

    Excelente ( )

    Boa ( )

    Regular ( )

    Ruim ( )

    6) Discorra, em breves palavras, sobre obras censuradas, na BCE, durante o

    perodo militar.

  • 50

    ANEXO A DECRETO-LEI 1077/1970

    DECRETO-LEI N 1.077, DE 26 DE JANEIRO DE 1970.

    (Vide Constituio de 1967) Dispe sobre a execuo do artigo 153, 8, parte final, da Constituio da Repblica Federativa do

    Brasil

    O PRESIDENTE DA REPBLICA, usando da atribuio que lhe confere o

    artigo 55, inciso I da Constituio e

    CONSIDERANDO que a Constituio da Repblica, no artigo 153, 8 dispe

    que no sero toleradas as publicaes e exteriorizaes contrrias moral e aos

    costumes;

    CONSIDERANDO que essa norma visa a proteger a instituio da famlia,

    preserva-lhe os valres ticos e assegurar a formao sadia e digna da mocidade;

    CONSIDERANDO, todavia, que algumas revistas fazem publicaes obscenas

    e canais de televiso executam programas contrrios moral e aos bons costumes;

    CONSIDERANDO que se tem generalizado a divulgao de livros que ofendem

    frontalmente moral comum;

    CONSIDERANDO que tais publicaes e exteriorizaes estimulam a licena,

    insinuam o amor livre e ameaam destruir os valores morais da sociedade Brasileira;

    CONSIDERANDO que o emprgodsses meios de comunicao obedece a um

    plano subversivo, que pe em risco a segurana nacional.

    DECRETA:

    Art. 1 No sero toleradas as publicaes e exteriorizaes contrrias moral

    e aos bons costumes quaisquer que sejam os meios de comunicao.

    Art. 2 Caber ao Ministrio da Justia, atravs do Departamento de Polcia

    Federal verificar, quando julgar necessrio, antes da divulgao de livros e

  • 51

    peridicos, a existncia de matria infringente da proibio enunciada no artigo

    anterior.

    Pargrafo nico. O Ministro da Justia fixar, por meio de portaria, o modo e a

    forma da verificao prevista neste artigo.

    Art. 3 Verificada a existncia de matria ofensiva moral e aos bons

    costumes, o Ministro da Justia proibir a divulgao da publicao e determinar a

    busca e a apreenso de todos os seus exemplares.

    Art. 4 As publicaes vindas do estrangeiro e destinadas distribuio ou

    venda no Brasil tambm ficaro sujeitas, quando de sua entrada no pas,

    verificao estabelecida na forma do artigo 2 deste Decreto-lei.

    Art. 5 A distribuio, venda ou exposio de livros e peridicos que no hajam

    sido liberados ou que tenham sido proibidos, aps a verificao prevista neste

    Decreto-lei, sujeita os infratores, independentemente da responsabilidade criminal:

    I - A multa no valor igual ao do preo de venda da publicao com o mnimo de

    NCr$ 10,00 (dez cruzeiros novos);

    II - perda de todos os exemplares da publicao, que sero incinerados a sua

    custa.

    Art. 6 O disposto neste Decreto-Lei no exclui a competncia dos Juzes de

    Direito, para adoo das medidas previstas nos artigos 61 e 62 da Lei nmero 5.250,

    de 9 de fevereiro de 1967.

    Art. 7 A proibio contida no artigo 1 dste Decreto-Lei aplica-se s diverses

    e espetculos pblicos, bem como programao das emissoras de rdio e

    televiso.

    Pargrafo nico. O Conselho Superior de Censura, o Departamento de Polcia

    Federal e os juizados de Menores, no mbito de suas respectivas competncias,

    asseguraro o respeito ao disposto neste artigo.

  • 52

    Art. 8 ste Decreto-Lei entrar em vigor na data de sua publicao, revogadas

    as disposies em contrrio.

    Braslia, 26 de janeiro de 1970; 149 da Independncia e 82 da Repblica.

    EMLIO G. MDICI

    Alfredo Buzaid

    Disponvel em: . Acesso em 1jun 2013