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Programa Escolar 2012/2013 Tempo de Aprender

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Programa Escolar 2012/2013

Tempo de Aprender

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PROGRAMA ESCOLAR 2012/2013

Caro(a) Educador(a),

Na música Oração ao Tempo Caetano Veloso diz: “És um senhor tão bonito”. É... O tempo é inspirador para todos e também motivo de muitas angústias. E são tantos os tempos, por onde começar? Tem o tempo que passa rápido demais, quando

estamos de férias. O tempo que demora muito a passar, quando nosso dinheiro acaba e o mês ainda não. Tem o tempo de espera, durante os nove meses de uma gravidez. Tem o tempo de crescer, quando somos impedidos de fazer algo por falta de idade. Tem o tempo dos medos, quando criança e o tempo que marca nosso amadurecimento. São tantos os tempos! E assim, vai longe a história.Como não dá para falar de todos os tempos, vamos nos centrar no TEMPO DE APRENDER. Este é o tema que a Faber-Castell escolheu para o Programa Escolar 2012 / 2013, investimento que a empresa faz porque acredita que a educação é chave no desenvolvimento da sociedade do conhecimento. O tema foi escolhido porque para desenvolver a criatividade e chegar à inovação – dois princípios estruturantes da empresa – é preciso tempo. Para se ter novas ideias,

imaginar algo diferente, é preciso tempo. Sem tempo para criar, a criança não se expressa na dimensão de seu potencial e passa apenas a copiar

algo que será rapidamente descartado. Se não tem tempo, não existe experiência. Apenas vivências que serão rapidamente

esquecidas. Por isso, podemos afi rmar que aprender exige tempo.

A defesa por outro tempo na escola, para a Faber-Castell, é também a defesa da sustentabilidade, tema valioso para a empresa. É defender o tempo verdadeiro para crescer, se transformar, amadurecer.

Assim é para fazer um simples lápis ou para produzir e cuidar de uma fl oresta. E disso, a

Faber-Castell entende bem, pois são mais de duzentos e cinquenta anos defendendo o meio ambiente.

Portanto, se você não tem tempo para ler este material, especialmente preparado para os educadores de todos os

segmentos, porque se encontra numa pressão pela velocidade, não imagina o que vai perder! Sugerimos que arrume um tempo para viajar na

possibilidade de pensar sobre como podemos enfrentá-lo para que a escola fi que mais interessante, os alunos aprendam melhor e, o mais importante, para

que deixemos de ser escravizados pelo tempo.Tente fazer seu tempo! E desfrute deste material com o mesmo cuidado com que o preparamos para você. Assim, você vai descobrir que melhor que tomar remédio para relaxar ou para manter a atenção, é ter uma caixa de lápis de cor sempre por perto para usá-la e entrar em outro tempo. Não queremos indicar mais atividades para fazer com seus alunos. Sabemos que não sobra tempo! Ao contrário, o Programa Escolar da Faber-Castell foi idealizado como uma possibilidade para diversifi car seu cotidiano escolar e ajudar a descobrir que o tempo da escola pode ser vivido de uma outra forma.Convidamos você a buscar um tempo que é importante para que todos da escola possam aprender. Um tempo refl exivo. Um tempo da experiência. Um tempo de aprender.

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Sumário

Para finalizar

Para seguir aprendendo

Tempo de AprenderApresentação. A vida não parece uma gincana?

As orientações da UNESCOOs 4 Pilares e as propostas temáticas

Aprender a ConhecerLeitura (Slow Reading)

Aprender a FazerConsumo

Aprender a ConviverSustentabilidade

Aprender a SerEmpatia (o que temos a aprender com os animais)

Um outro tempo... tempo de desacelerar

Seria a pressa a inimiga da perfeição?

Devagar – como um caminho

Tempo de aprender

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Tempo deAprender

ApresentaçãoA vida não parece uma gincana?

Não tem escapatória: nós nascemos e envelhecemos em um determinado

tempo. Assim é para todos. Mas a experiência da passagem do tempo é organizada de formas diferentes. Com

certeza não é da mesma forma no Butão ou em São Paulo. Isso nos faz questionar: o que é o tempo? Para sermos bem honestos, nem os cientistas

ou fi lósofos sabem ao certo o que é o tempo ou porque ele existe. O máximo que podem dizer é que o tempo é uma dimensão extrassemelhante, porém não idêntica,

à do espaço. Como não somos cientistas nem fi lósofos não vamos aqui discorrer sobre o tempo. Mas conversar sobre o tempo em que vivemos e o que conseguimos fazer com ele,

lembrando que o tempo é uma construção histórica. Na sociedade contemporânea da qual fazemos parte, somos treinados desde a infância a viver

com pressa. E por mais que tentemos, nunca conseguimos estar em dia com tudo que nos é oferecido ou cumprir todas as tarefas às quais nos propomos. Por isso, estamos sempre em alerta, sempre correndo atrás e sempre devendo. Assim, vamos aprendendo que a arte de viver é esticar cada vez mais o tempo além do limite para caber cada vez mais coisas a serem feitas. É também a busca de sensações excitantes para o nosso dia a dia, que vêm e vão com muita rapidez.

Nada fi ca. E continuamos com pressa porque não podemos perder as oportunidades. Não podemos perder tempo. Até mesmo quando saímos de férias, temos que fazer mil coisas. Muitas fotos para documentar cada minuto e ainda mostrar para as pessoas do que somos capazes de curtir. A cada fi m de ano é como se fosse o fi m do mundo. E corremos tanto para quê?

Vivemos um tempo orientado para o consumo. É o jogo do mercado. Consumimos tudo. É o tempo do conecta e desconecta. O sociólogo polonês Zigmunt Bauman, que escreveu, entre outras obras, Modernidade Líquida, assinala: “Estar sozinho – liberdade para gastar o tempo com nossos

próprios pensamentos – é identifi cado hoje como solidão, com a sensação de não pertencer”.No entanto, os avanços tecnológicos têm facilitado e melhorado a realização de uma multiplicidade de processos do mundo. Conectados pela internet, nos tornamos

pessoas acessíveis para receber e dar informações a qualquer momento. Aumentou a circulação de informações. Nós nos tornamos mais bem

informados. Somos capazes de pagar contas, ser atendidos pelo supermercado e todo tipo de serviço sem sair de casa. Tudo

fi cou mais prático, rápido. Com isso, a noção de tempo também foi se alterando.

Segundo o jornal The New York Times, no mundo hoje há 1,57 bilhão de pessoas que usam a internet e 3,3 bilhões com celulares. São disparados todos os meses uma média de 2,4 trilhões de mensagens de texto. A informação circula de forma rápida, precisa e desprovida de questionamentos. Mas o frenesi de informações gera angústia, insatisfação e ansiedade. É tanto conteúdo que acaba não fi cando nada! É preciso fazer a transição do que os cientistas chamam de “sociedade da informação” para a “sociedade do conhecimento”. Para isso é recomendável consumir pouca informação e parar para pensar. Só assim somos capazes de desenvolver nossa capacidade de gerar conhecimentos.É hora de questionarmos então onde foi parar o tempo vazio? O tempo de não fazer nada?

O tempo de fi carmos a sós com as nossas ideias? Onde foi parar o tempo livre? O tempo de refl exão? É sobre o tempo qualitativo que vamos conversar neste material que a Faber-Castell oferece

para os educadores. Vamos falar do tempo que precisamos para aprender. Para isso, vamos refl etir sobre o que estamos fazendo com o tempo necessário para que os alunos aprendam de verdade. Não como consumidores daquilo que julgamos importante para eles, mas como protagonistas de suas descobertas e experiências. Só assim serão capazes de dotarem de sentido as informações escolares. Só assim a escola fará sentido em suas vidas. Signifi ca discutir a necessidade de devolver o ritmo adequado para a aprendizagem, para garantir que a educação realmente responda às necessidades que a sociedade necessita para continuar se desenvolvendo.

VOCÊ sabia?Na estrutura temporal da civilização moderna,

geralmente se emprega uma só palavra para signifi car o “tempo”. Os gregos antigos tinham duas palavras para o tempo: khronos e kairos. Enquanto a primeira refere-se ao tempo cronológico, ou sequencial, o tempo que se mede, essa última representa um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece, a experiência do momento oportuno. A palavra kairos é usada também em teologia para descrever a forma qualitativa do tempo, o “tempo de Deus”, enquanto khronos é de natureza quantitativa, o “tempo dos homens”. (Wikipedia)

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Um outro tempo... O tempo de desacelerar

Seria a pressa inimiga da perfeição?

A vida não parece uma gincana?Corremos sem saber o por quê e mesmo assim não conseguimos desacelerar. Já está na nossa rotina um ritmo cada vez mais acelerado como se não houvesse possibilidade de fazer diferente. Será? Parece que temos obsessão pela velocidade porque estamos fazendo cada vez mais coisas em tempo cada vez menor. Assim passa o tempo sem percebermos. De repente estamos no fi m do ano e não vimos o tempo passar. Estamos satisfeitos com o ritmo que da vida atual? E as crianças? O que estamos ensinando para elas com o nosso ritmo de vida?As crianças talvez sejam as maiores vítimas dessa aceleração excessiva. Desde

muito cedo são altamente estimuladas. Começa no carrinho de bebê, seus primeiros brinquedos apresentam muitos estímulos e cores excessivas que contribuem para uma poluição visual. O mesmo acontece nos espaços considerados infantis que têm como decoração um excesso de incitamentos visuais e sonoros. Tudo para incentivar sua atenção. Hoje muitas crianças possuem agendas tão cheias de compromissos como as de executivos. Estão levando a vida como adultos. Estão crescendo numa velocidade incrível. Depois, elas crescem e a escola chama os pais e avisa que eles têm fi lhos hiperativos ou com algum défi cit e ninguém se lembra de que a criança foi preparada para isso. Muito estímulo acelera mesmo. Depois, tomam remédios para ter atenção. Remédios que vão gerar problemas neurológicos defi nitivos. E pensar que tudo isso poderia ser resolvido tão facilmente. Apenas dando tempo para as crianças crescerem, brincando e com muita criatividade. As crianças estão fi cando sem tempo para desfrutar na infância daquilo que é

característico desta fase da vida, que é brincar ou mesmo fi car sem fazer nada. Elas precisam brincar e o tempo para isso precisa ser preservado. É no brincar que elas se conhecem e descobrem o mundo. O brincar é imprescindível para o desenvolvimento cerebral. Ele ensina habilidades sociais e fomenta a criatividade. Mas o tempo de brincadeira está também cada vez mais reduzido. Com isso, as crianças estão adoecendo como adultos. Sofrem de ansiedade, insônia, problemas gástricos, depressão e distúrbios de alimentação. Em muitos países industrializados, o índice de suicídios de adolescentes vem crescendo. E na escola não é diferente. É também uma correria sem fi m. Brincar só no

recreio! Currículos extensos, com conteúdos excessivos. No Brasil, de tempos em tempos inventam novas disciplinas obrigatórias para serem ensinadas e a lista de conteúdos só cresce. A escola em pleno século XXI ainda está organizada com as mesmas inovações do século XVI. O tempo na escola está cristalizado em calendários, classes, séries, bimestres, semestres, rituais de avaliação, reprovação e repetência. Essa lógica temporal vem sendo reduzida a tempos cada vez mais curtos frente ao excesso de conteúdos. O valor está nos “ritmos

VOCÊ sabia?

médios” de aprendizagem, independentemente da diversidade dos alunos e da pluralidade dos processos de aprendizagem. No dia-a-dia os professores estão exaustos e os alunos também. Os professores reclamam que os alunos estão desmotivados, e os alunos que os professores estão sem paciência. São tantos compromissos que precisam ser cumpridos que nem dá para entender de verdade o que está sendo ensinado ou o que os alunos estão aprendendo. Assim fi ca difícil ser feliz na escola! E sem alegria não temos curiosidade, e sem isso não

somos criativos. Sem criatividade não teremos condições de inventar uma vida melhor. É como se a vida fosse uma parlenda, podemos afi rmar que, se não mudarmos nosso ritmo, o que vai acontecer é que: “a gente é fraco, cai no buraco. O buraco é fundo, acabou-se o mundo!”

O primeiro relógio de sol teria surgido na Mesopotâmia, por volta de 700 a.C.. Os gregos adotaram o relógio do sol e o chamaram de quadrante solar ou gnômon. Depois o homem inventou a ampulheta (relógio de areia) e a clepsidra (relógio de água). Até hoje o relógio do sol é utilizado, apesar de não indicar a hora quando o sol está encoberto. (Wikipedia)

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Devagar - como um caminhoToda vez que falamos em defesa do devagar, muitas pessoas se assustam achando que é

impossível desacelerar numa sociedade acelerada. Se fi zermos tal opção seria como fi car fora do movimento da vida contemporânea. Seria como estar inadequado ou despreparado para viver no mundo atual. Mas não é bem assim. Vamos aprender com quem está fazendo diferente. O historiador escocês Carl Honoré, que escreveu o livro Devagar, como uma declaração de guerra à velocidade, especializou-se na divulgação da fi losofi a do Slow Movement pelo mundo. É ele quem afi rma: “o problema é que nosso amor à velocidade, nossa obsessão em estar sempre fazendo cada vez mais em tempo cada vez menor foi longe demais; transformou-se num vício, numa espécie de idolatria.”Depressa ou devagar nos remete a uma forma de ser, uma fi losofi a de vida. O movimento

slow, conhecido no Brasil e traduzido como “devagar”, não signifi ca fazer tudo em passo de tartaruga. Signifi ca fazer tudo com a velocidade certa. É o que os músicos chamam de tempo giusto – o andamento certo. E um dos precursores foi o italiano Carlo Petrini, que fundou em Brá, uma pequena cidade de Piemonte, o movimento conhecido como Slow Food (comer devagar) para se contrapor ao Fast Food. Signifi ca comer aquilo que cultivamos, cozinhamos e consumimos em ritmo de tranquilidade. Para o movimento, a desaceleração no preparo e na fruição da comida aumenta o prazer da vida. É um modelo de vida para combater o ritmo de vida rápida. Signifi ca controlar os ritmos de nossa vida. Somos nós que devemos controlar o ritmo de nossas vidas e não fi carmos escravos de ritmos impostos. Isso é uma revolução no tempo que vivemos e no nosso estilo de vida.O Slow Food foi evoluindo e hoje deu origem a diversos grupos como as Cidades do Bem

Viver, que abrangem mais de sessenta cidades italianas e de outros países que estão tentando transformar-se em lugares tranquilos. Defendem a criação de um ambiente em que as pessoas possam resistir às pressões para acelerar, como, por exemplo, mais áreas verdes, diminuição de barulhos, estímulo ao espírito de hospitalidade e solidariedade local, só para citar alguns itens do manifesto que enumera 55 compromissos do Città Slow. Existem hoje vários movimentos que defendem a desaceleração em vários campos e um deles é o da educação. Hoje na Europa há um grande movimento da chamada “educação lenta”, cuja desaceleração pode ser entendida, equivocadamente, como algo retrógrado frente à sociedade acelerada e contemporânea. Mas é o contrário disso. É a defesa pelo tempo necessário para aprender. Mas atenção: isso não é mais uma moda ou alguma nova panaceia. É apenas o reconhecimento de que é no tempo correto que está a essência do ato de aprender e de criar. Se trabalharmos nesta perspectiva, vamos parar de nos lembrar com nostalgia do passado, pois isso não nos ajuda a avançar.

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Tempo de aprender

A Educação no Brasil ainda apresenta resultados abaixo do que se espera. As mudanças avançam aquém da necessidade. Mas não apenas aqui. De um modo geral, as reformas educativas implantadas em diversos países que têm como marco a aceleração, a pressão sobre o tempo e sua organização na escola, ou seja, burocratizaram e tecnifi caram o tempo escolar, teve resultados sofríveis, com raras exceções. Este caminho tem acarretado a competitividade negativa, tornando a escola um espaço desumanizado, com ocorrências de bullying; estresse do professor; agressividade entre alunos; défi cit de atenção, entre outros. Essa aceleração gera ainda a desigualdade entre os alunos, distanciando aqueles que têm ritmos de aprendizagem diferentes. Nesse cenário, a cada dia, os estudiosos defendem que é muito melhor fazer menos coisas e

ter tempo sufi ciente para aproveitá-las melhor. É a defesa de que o menos vale mais. E isso se refere a todas as atividades escolares. É importante garantir na escola, e em casa também, o tempo ocioso, pois só ele permite a reorganização da mente de forma criativa. É essencial para o pensamento refl exivo.No mundo, existem várias experiências de escolas que estão refreando a obsessão por

avaliações, reduzindo a carga de trabalho e descobrindo que o aluno aprende melhor quando tem mais tempo para relaxar, refl etir e encarregar-se da sua própria aprendizagem. Hoje, todos os países estão estudando o modelo educacional da Finlândia que está entre os melhores do mundo nas avaliações internacionais. Pois lá as crianças iniciam a escola aos 7 anos, fazem menos provas e têm menos lições para casa do que alunos de outros países. O modelo de ensino Reggio Emilia, que se iniciou na Itália, também é um exemplo brilhante de como desencadear a curiosidade e a capacidade de aprender das crianças respeitando seus ritmos. Então podemos dizer que o Movimento Slow (Devagar) na escola signifi ca permitir que cada

criança aprenda em seu próprio ritmo. Como? Cabe a cada professor ter conquistado sua autonomia para se autorizar a fazer diferente. Signifi ca se apropriar de seu tempo e decidir o que é relevante ensinar. Deixar de ser um burocrata do ensino e se tornar um mestre. Ser aquele que investe seu tempo não mais em fazer atividades desprovidas de sentido, mas com calma, propor ações que possibilitem conhecer cada aluno e assim poder planejar atividades que ofereçam a cada criança o tempo de que ela necessita. É preciso que as escolas estimulem as crianças a darem o melhor de si, entendendo cada uma

como indivíduo, com um conjunto de qualidades e defi ciências que precisam ser conhecidas e transformadas. Só assim seremos capazes de dar às crianças o tempo que necessitam para serem o que são e não o que queremos que sejam.A escola precisa trabalhar com determinação a ideia de que os alunos não são meros produtos

ou resultados do que está planejado. A criança não é um projeto. É uma jornada e precisamos cuidá-las para oferecer condições para que elas possam se desenvolver sem imposições.Então, agora já podemos entender que não temos condições de ensinar tudo nem aprender

tudo. Precisamos priorizar. Concentrarmo-nos na aprendizagem e no ritmo adequado para que

os alunos tenham oportunidade de explorar o mundo em seu próprio ritmo e entender que o ensino não é uma corrida com linha de chegada em que somente os vitoriosos levam tudo, e nem que a educação é medida apenas por gráfi cos e provas.Precisamos aprender a fazer diferente. Ensinar com sentido é dar tempo para os alunos.

Precisamos desacelerar para que a escola se transforme em um lugar de vida e alegria para além dos conteúdos acadêmicos. Ela é lugar para aprender, ser feliz e para que os alunos descansem e refl itam sobre o que estão aprendendo. Para isso, basta assumir o compromisso de mudar naquilo que for possível. E se tentarmos, veremos que é possível mudar mais do que somos capazes de imaginar. Não para uma escola e sociedade quaisquer e sim para uma sociedade mais justa, não violenta, solidária e feliz. Lembre-se que na educação, hoje, o menos vale mais.

A vida não parece uma gincana?

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Aprender a conhecer: adquirir os instrumentos para a compreensão;

Aprender a ser: começa pelo conhecimento de si mesmo para se abrir, em seguida, à relação com o outro.

Aprender a conviver: a fi m de participar e cooperar com os outros;

Aprender a fazer: para poder agir sobre o meio envolvente;

Como estamos falando do tempo de aprender, precisamos resgatar um período da história que pode nos ajudar a melhor entender por que é preciso mudar nossa forma de agir e de ser diante da aceleração do tempo. É importante saber que tal preocupação já existia na UNESCO quando o século XX estava terminando. A chegada de um novo século representava a possibilidade de apontar aquilo que seria mais relevante para o planeta.Então, em 1993, o Diretor Geral da Conferência Geral da UNESCO, Frederico Mayor, solicitou

a Jaques Delors que assumisse a presidência da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, que reuniu outros 14 estudiosos de todas as regiões do mundo, trazendo uma grande diversidade cultural para pensar sobre o novo século, e traçar um quadro prospectivo. Os trabalhos dessa Comissão resultaram em um documento que se chamou “Educação -

um tesouro a descobrir”, concluído em 1996. Nele havia um balanço do que foi o século XX, um século marcado por muitas guerras, violência e grande progresso econômico e científi co. Foi um século que mesmo tendo passado pelas guerras mais violentas como foram as duas Guerras Mundiais, a experiência não serviu para pôr fi m a novos confl itos pelo planeta. Esse cenário serviu para alertar sobre nossa incapacidade de conviver na chamada aldeia global. Assim, a UNESCO indicou tensões que a humanidade precisa enfrentar e superar para

podermos aprender a viver com melhores condições de diversas ordens. E para isso o caminho é a educação. Seria necessário superar a:• Tensão entre o global e o local, para nos tornarmos cidadãos do mundo sem perder

nossas raízes.• Tensão entre o universal e o singular, para aprendermos a respeitar o caráter único

de cada pessoa.• Tensão entre a tradição e a modernidade, que signifi ca também adaptar-se sem negar

a si mesmo.• Tensão entre o longo e o curto prazo em um tempo em que ocorre a supremacia do

efêmero e do instantâneo, exigindo estratégias respaldadas pela paciência e consenso para empreender reformas.• Tensão entre a indispensável competição e o respeito à igualdade de oportunidades,

para não abrir mão da possibilidade de fornecer a cada ser humano os meios para realizar todas as suas potencialidades.• Tensão entre o extraordinário desenvolvimento dos conhecimentos e as capacidades

de assimilação do homem, tornando emergencial a necessidade de fazer escolhas para preservar o essencial.• A tensão entre o espiritual e o material, para não perdermos nossa capacidade

de elevação do pensamento e do espírito até o universal.

É assim que surge o conceito de educação ao longo da vida, que aparece no trabalho da Comissão como a chave de acesso para o século XXI. Ela está baseada em 4 Pilares Básicos que não se referem a uma determinada fase da vida ou um único lugar, e tem servido para defi nir políticas públicas e também para fundamentar currículos escolares em muitos países, desde que o Relatório Jacques Delors foi concluído. É essa concepção de educação entendida como necessária para que todos possam descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo – “revelar o tesouro escondido em cada um de nós”. São eles:

Essa foi a forma que a UNESCO encontrou para dar respostas ao signifi cado do aprender ao longo de toda vida. Os 4 Pilares indicativos da UNESCO foram adotados pela Faber-Castell como eixos para o desenvolvimento de atividades do Programa Escolar, e também para categorizar seus produtos. Sendo assim, para cada um dos Pilares vamos apresentar uma proposta temática com sugestão de atividades que servem para inspirar o trabalho pedagógico junto aos alunos, sejam eles de qualquer nível de escolaridade. Esperamos que o desdobramento dos temas, assim como as adequações de faixa etária, sejam feitos por cada um que deseje viver uma experiência diferenciada de aprendizagem. Não estamos oferecendo fórmulas salvadoras para o currículo escolar e nem simplifi cando

o exercício da docência. Ao contrário. É justamente por reconhecermos a complexidade que envolve o ato de ensinar que apresentamos a seguir algumas possibilidades para ampliar a experiência de sua ação pedagógica, sempre investindo na sua autonomia educativa e intencionalidade didática. A Faber-Castell acredita que cada professor pode fazer a sua revolução educativa que implica

no compromisso com a criatividade, com a ética e com o cuidado com o meio ambiente. Refl etindo sobre o tempo de aprender será possível adotar o ritmo adequado para a aprendizagem, convertendo a sala de aula em um espaço de comunicação, de criação e de relação, onde o conhecimento se constrói individualmente e socialmente.

As orientações da UNESCO

A vida não parece uma gincana?A vida não parece uma gincana?

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Vivemos em um mundo de muita informação e, considerando as rápidas mudanças, é fundamental transformarmo-nos em indivíduos aptos para saber selecionar assuntos frente às inúmeras possibilidades. É preciso aprender a conhecer, ou seja, aprender a aprender, para benefi ciar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo da vida.Este tipo de aprendizagem visa a aquisição de conhecimento, mas também, como meio,

pretende que cada um aprenda a compreender o mundo que o rodeia. É o caminho para despertar a curiosidade intelectual, não apenas para o estudo, mas também para apreciar e aprender a desfrutar do conhecimento.

SlowPara se ter prazer pelo conhecimento é necessário tempo para transformar o vivido em

experiência verdadeira. E já que estamos falando do Movimento Slow e suas múltiplas variedades como uma reação ao mundo atribulado em que vivemos, para desenvolvermos o Pilar Aprender a conhecer vamos abordar o que é chamado Slow Reading que signifi ca ler em ritmo refl exivo. Não apenas ler lentamente, mas sim exercer o direito de desacelerar quando se quiser.Pode parecer loucura falar de leitura lenta com tanta coisa para se ler, principalmente

considerando a quantidade absurda do que é publicado diariamente pelo mundo. Mas é justamente por isso. E não estamos aqui tratando de algo para quem tem qualquer tipo de defi ciência, mas de algo que serve a todos. Em tempos da valorização da leitura dinâmica, em que pouco fi ca registrado, precisamos reaprender a ler mais lentamente para que possamos readquirir ou mesmo aprender a estabelecer uma relação mais profunda com aquilo que lemos, pois é o ritmo mais lento que aumenta a compreensão, como assinalam os estudos da neurociência.Ler de forma lenta promove maior prazer quando se lê literatura e representa um auxílio

para a compreensão mais signifi cativa, quando se lê um texto científi co. Sua defi nição pode ser ampliada para qualquer tipo de leitura que envolva as capacidades subjetivas do leitor. É também o ritmo mais lento, desacelerado, que favorece a criatividade e a imersão. Para sairmos da superfi cialidade, precisamos de tempo.E você, o que pensa disso? Será que com tantas informações vamos precisar ler cada vez

mais rápido ou, justamente pelo excesso de velocidade, seremos capazes de incorporar a lentidão para poder tirar o máximo de proveito da leitura? O futuro não sabemos, mas devemos estar abertos para pensar que não precisamos ser apenas consumidores de ritmo acelerado, mas podemos ser protagonistas daquilo em que acreditamos.

Slow ReadingPortanto, Slow Reading pode ser identifi cado como leitura acurada, leitura lenta ou profunda.

O nome não importa. Qualquer variante serve desde que aumente a compreensão e o prazer da leitura. E não podemos esquecer que a palavra “ler” vem do latim legere que quer dizer “escolher”.

Agora, refl etindo sobre a proposta do Slow Reading, será que faz sentido para os alunos as maratonas ou gincanas de leitura promovidas pela escola, em que se premiam os alunos que conseguem ler a maior quantidade de livros durante um determinado período? Ora, de que adianta a quantidade de livros, se esta serviu apenas para surfar na leitura? Mais importante que surfar, precisamos aprender a desfrutar da leitura. Quantidade não representa nada se o leitor não se sentiu implicado com aquilo que leu. Valorizando a quantidade de livros lidos tem-se a ilusão de que se combate o défi cit de leitura. Mas o problema é mais profundo. Tornar-se leitor é mais que apenas saber ler palavras. Nossos alunos precisam saber ler o mundo. As atividades de Slow Reading podem ensinar habilidades de leitura e de escrita, além de,

estimular o prazer de ler. Porém, não pode garantir que os alunos gostem de ler. Possibilitam o desenvolvimento de habilidades para compreenderem melhor um texto.

Preparando o terrenoPara viver de fato o Slow Reading algumas indicações são necessárias:• Defender o direito de ler pela vontade de ler;• Refutar um livro que não se gosta de ler e escolher outro em seu lugar;• Reler um livro sempre que sentir vontade;• Exercer sua escolha com relação a como você quer ler;• Buscar livros que o desafi em de um modo inesperado;• Saborear um livro por inteiro: aprecie as ilustrações; leia em voz alta alguns trechos;

volte atrás e releia os trechos que mais gostou.Também é preciso criar um clima adequado para a experiência de leitura, que pode

ser assim:1) Proponha para seus alunos que desliguem o computador por algumas horas, em casa

e na escola, para passarem algumas horas lendo um bom livro.2) Prepare o ambiente. Lembre-se que consumidores de fast food não se preparam para

comer e qualquer lugar serve. Mas a preparação para a leitura lenta é valiosa. Escolha um ambiente adequado ao conteúdo e não precisa ser só a sala de aula. 3) Antes de começar a leitura, peça para seus alunos pensarem por quê estão lendo o

livro escolhido. O que esperam dele?4) Peça para que eles observem a encadernação, o papel, o tipo de letra, a ilustração,

o título, o autor, o gênero textual. Isso infl uenciou na escolha?Para mudar o ritmo, são muitas as possibilidades de criar atividades. Aqui vão algumas para

inspirar e para poder sentir que surfar é diferente de desfrutar um texto. Mas lembre-se que a adequação para a faixa etária, assim como os possíveis desdobramentos, serão criados por você que conhece seus alunos e sabe quanto tempo disponível têm. Porém, não se esqueça de que com calma seus alunos aproveitarão melhor tudo que você planejou para eles.

Aprender a Conhecer

Leitura (Slow reading)

Aprender a CONHECERAprender a CONHECER

1918

Escolhemos o poema “Trem de ferro”, de Manuel Bandeira, que é bem sonoro, para ajudar a viajar em outro ritmo. Quem lê o poema, logo percebe que o

poeta abusa de recursos expressivos para imitar a sonoridade de um trem em movimento. O leitor se sujeita ao ritmo imposto pelo poeta, que requer na leitura

a alternância da velocidade dos versos e das estrofes à semelhança de um trem em movimento. Assim, se o trem acelera, mal se consegue distinguir os objetos e os seres avistados por ele de dentro da máquina veloz, da mesma forma o leitor os pronuncia com a mesma rapidez. Mas é nas chegadas às estações, quando o trem desacelera, que a leitura ofegante em decorrência das passagens agitadas torna-se mais descansada, pausada e contemplativa.

Café com pãoCafé com pãoCafé com pão

Virge Maria que foi isto maquinista?

Agora simCafé com pãoAgora simCafé com pãoVoa, fumaçaCorre, cercaAi seu foguistaBota fogoNa fornalhaQue eu precisoMuita forçaMuita forçaMuita força(trem de ferro, trem de ferro)

Oô...Foge, bichoFoge, povoPassa pontePassa postePassa pastoPassa boiPassa boiadaPassa galhoDe ingazeira

DebruçadaQue vontadeDe cantar!Oô...(café com pão é muito bom)

Quando me prenderoNo canaviáCada pé de canaEra um ofi ciáOô...Menina bonitaDo vestido verdeMe dá tua bocaPra matá minha sedeOô...Vou mimbora voou mimboraNão gosto daquiNasci no sertãoSou de OuricuriOô...

Vou depressaVou correndoVou na todaQue só levoPouca gentePouca gentePouca gente…(trem de ferro, trem de ferro)

Com esta poesia é possível fazer uma leitura em voz alta e performática, isto é, os alunos podem usar o corpo e a voz para explorar as sutilezas e os ritmos do poema. Pode nascer um interessante jogral. Desenhar também ajuda. Trem lento, correndo, parado. Como as paisagens mudam? Este é um bom exemplo. Pesquise outros poemas que possibilitam trabalhar tempo e ritmo.

Outras ideias:• Leitura de um texto curto que permita mais de uma interpretação e discutir isso com seus

alunos, ou seja, pontos de vista divergentes. Por exemplo, o conto Felicidade Clandestina de Clarice Lispector, permite ao leitor incursionar por diferentes pontos de vista. Entre defender a narradora ou relativizar a culpa de sua antagonista, pode-se chegar a um interessante debate acerca do leitor ou ouvinte passivo. (//claricelispector.blogspot.com.br)• Produção de resenhas, com a fi nalidade de divulgar uma obra da qual gostaram para que

outros se interessem pela leitura. Escrever resenhas requer não apenas a leitura da obra, mas desenvolve a capacidade de sintetizar a ideia principal, ao mesmo tempo em que produz um texto que desperte no leitor interesse pela leitura.• Exame de um livro como se fosse a primeira vez que o aluno visse o objeto. Para os alunos

menores, basta imaginar que são seres extraterrestres que precisam desvendar o objeto que têm nas mãos. No caso, um livro. Os alunos precisam ser estimulados a descreverem o que veem: tamanho, cheiro, formato, peso, o que tem dentro, as letras, as imagens, as cores... É um exercício de observação e descoberta.

DicaOs EcoLápis de cor e as canetinhas

Colour Grip Aquareláveis não escorregam da mão, pois possuem exclusivas esferas antideslizantes que dão mais fi rmeza na hora de colorir.Além disso, basta aplicar um pincel

umedecido em água sobre o desenho que ele se transforma em uma linda pintura de aquarela.

Possíveis Atividades

Aprender a CONHECER Aprender a CONHECER

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Aprender a Fazer

Aprender a fazer é o pilar da educação que trata da competência para nos tornar aptos a enfrentar numerosas situações, muitas delas imprevisíveis, e a trabalhar em equipe. Este aspecto está vinculado ao mundo do trabalho. Mas signifi ca também colocar à

prova ou enriquecer aquilo que é conhecido no plano das ideias. A sociedade educativa que a UNESCO defende é aquela em que o conhecimento faz sentido

porque está no plano das ideias articulado com a vida. Para tal concretização, a escola é o campo para desenvolver o aprender a fazer, pois é lá que a teoria e a prática precisam estar vinculadas para que a aprendizagem ganhe sentido.

Consumo e ConsumismoEu consumo, você consome, nós consumimos. É isso! O consumo é algo banal. Faz parte do

cotidiano das nossas vidas. É um elemento inseparável da nossa sobrevivência. Mas pensando um pouco mais no assunto, vemos que ele também é determinante do estilo e da qualidade de vida social. Tem o papel fi xador de padrões.Por toda a história da humanidade, a atividade de consumo e as correlatas como produção,

armazenamento, distribuição, nas suas variedades de formas, têm oferecido indicadores e padrões para o entendimento das relações humanas. Mas foi na chamada “revolução consumista” que se deu a passagem do consumo para o consumismo, tempo em que ele se tornou o verdadeiro propósito da existência das pessoas. É a nossa capacidade de “desejar”, “ansiar por” e experimentar tais emoções repetidas vezes que passou a sustentar o convívio humano, muitas vezes consumindo para não nos sentirmos excluídos. Tornou-se a principal força propulsora da sociedade capitalista. De acordo com sociólogo polonês Zygmunt Bauman, consumo é basicamente uma

característica e uma ocupação dos seres humanos como indivíduos. Já o consumismo é um atributo da sociedade que aparece quando o consumo assume o papel-chave, que na sociedade de produtores era exercida pelo trabalho. É na pesquisa histórica que podemos entender melhor tal transformação. Passamos, na modernidade, de uma sociedade sólida, que era orientada para a segurança, para

uma sociedade líquida, do desfrute imediato dos prazeres. Na primeira, a chamada sociedade

de produtores, o desejo humano girava em torno de desejos duradouros, resistentes ao tempo e seguros. Era o tempo de “tamanho é poder”: as grandes fábricas, exércitos de massa. O mundo do trabalho era identifi cado pela padronização e rotinização do comportamento individual. Na vida privada, ambientes espaçosos, sólidos e imóveis que garantiam um futuro seguro. Era a segurança em longo prazo o principal valor. Nessa sociedade sólido-moderna de produtores apostava-se na prudência e na segurança

durável de longo prazo. Já na passagem para o consumismo, em oposição à sociedade precedente, a felicidade não está mais no volume de uma intensidade crescente, mas na insaciabilidade dos desejos urgentes. É a era do consumo instantâneo e da cultura apressada. Nessa sociedade, os objetos de consumo são desenhados e produzidos para serem substituídos antes de deixarem de funcionar. E assim seguimos numa insatisfação constante. Sempre falta muito para chegarmos na casa ou trabalho ideais. É... já vai longe o tempo em que acreditávamos que “de grão em grão a galinha enche o

papo”. Não temos tempo para esperar. Vivemos o tempo do “depressa e muito”. E um dia vamos descobrir que o muito é para muito poucos. Também abraçamos a máxima “tempo é dinheiro”! A neurose em relação ao tempo é tanta que

inventamos até modelos de consultoria para nos ajudar a organizar o nosso tempo. Buscamos isso também nos livros de autoajuda e nas revistas vendidas em banca. Estamos sempre procurando soluções rápidas e fáceis para resolver algo que será imediatamente esquecido. Nesta vida chamada de “agorista” nenhuma velocidade é alta demais e qualquer hesitação

é desaconselhada. Todos têm pressa e necessidade de descartar e substituir. Os comerciais prometem sempre uma nova e inexplorada oportunidade de felicidade. É a satisfação instantânea. Hoje vivemos o tempo sem espera, com o consumo exacerbado. Os adultos vivem exatamente

como crianças mimadas: querem tudo agora mesmo! Será que sabemos esperar? Aguardar uma carta? Sabemos plantar? De verdade, sabemos esperar? Foi Cazuza quem cantou: “o tempo não para. Não para, não, não para”. Ele tem razão. E o

que estamos ensinando para as crianças nesse tempo tão acelerado? Ficam diante da televisão que acelera a transição das crianças para a vida adulta, expondo-as a questões do mundo dos adultos e transformando-as em consumidores em idade precoce.A publicidade estimula as crianças a entrarem cada vez mais cedo para a roda-viva do consumo.

Estão também sempre recebendo mensagens de que menos não é mais e que é sempre melhor fazer tudo mais depressa. No universo da escola, este clima tem sido implacável. Um verdadeiro campo de batalha onde

a única coisa que importa é ser o primeiro da turma. É cada vez maior a intensifi cação de atividades que não deixam tempo para relaxar, brincar livremente ou permitir que a imaginação se solte. Não sobra tempo para ir devagar. A calma ou a paciência passaram a ser atitudes muito pouco valorizadas. É urgente empreender um novo itinerário educativo. Precisamos inventar um tempo que nos

dê prazer, mas não o prazer imediato que o consumo oferece. Um tempo de escolhas de longa duração. Um tempo que dê valor à esperança. Devemos isso aos mais jovens.

Consumo

Aprender a FAZERAprender a FAZER

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Possíveis atividadesInfelizmente, nos vemos mais como consumidores do que produtores.

A aparência passou a valer mais do que a capacidade para fazermos coisas. Temos um culto às aparências. A simplicidade precisa ser ensinada na escola como valor positivo. A arrogância e o exibicionismo fazem com que confundamos embalagem com conteúdo. É isso também que acabamos ensinando para nossos fi lhos e alunos. Por isso, indicamos uma atividade que possibilita discutir as diferenças entre ser e ter. Parece simples e é. As possibilidades são infi nitas e você vai adaptá-las

de acordo com a faixa etária de seus alunos.São duas tabelas bem simples que discutem o sentido do ser e do ter.

A proposta é que seus alunos possam responder:

Estas tabelas podem ser trabalhadas de diversas formas. Primeiro remete a uma discussão sobre as possibilidades e diferenças entre ser e ter. Comece com respostas individuais. Depois, as mesmas fi chas podem ser ampliadas para o grupo. Basta escolher uma sugestão das que foram colocadas na primeira coluna e mais pessoas respondem à segunda coluna, que é a do “eu faria”. Analise com a turma as diferentes possibilidades que vão surgir. Para incrementar a discussão, faça a tabela no quadro da sala de aula. Por último, aproveite para não fi car só no registro escrito. Use a arte para ampliar as discussões. Representações imagéticas também geram ótimas discussões.

DicaA Faber-Castell tem marcadores para quadro branco em cores exclusivas e variadas que

darão destaque às produções dos alunos. Para o preenchimento das tabelas, sugerimos usar as canetas esferográfi cas Grip Stick azul e vermelha que proporcionam uma escrita macia com maior conforto e fi rmeza no traço.

Outras ideias:Antes de qualquer coisa, consulte os alunos e peça ideias para desacelerar. Temos certeza de

que você se surpreenderá com o que são capazes de apresentar. Explique o motivo da consulta e discuta com a turma sobre a importância de desacelerar. Então, somando com as ideias que seus alunos terão, aqui vão mais algumas:• Uma vez por mês institua o dia do: “Preparar, apontar e... relaxar!” sem lição de casa. Pode

ser também um dia com um período livre. O que será que irão fazer?• Invente também, com as famílias, um dia por mês de televisão e computador desligados. É

o dia de brincar em família. Não vale comprar nada. Só pode brincar com o que tiver em casa.

Preparando o terreno

• Vamos combater nossa obsessão de economizar tempo. As atividades precisam

oferecer um tempo que seja refl exivo;

• Vamos também privilegiar alguns conteúdos e descartar outros. Vamos manter

somente os relevantes e repeti-los várias vezes, de formas diferenciadas. Assim

aprofundamos o que é importante e reduzimos nossa busca por novidades diárias;

• Vamos planejar atividades com menos pressão sobre os alunos, para não imitar

os hábitos dos adultos, com aulas entendidas como um espaço de comunicação,

de aprendizagem e de relacionamento;

• Vamos dar ênfase às brincadeiras não organizadas, aquelas que são espontâneas

e combater o modelo que imita os hábitos dos adultos, como uma agenda lotada

de atividades;

• Quando houver qualquer premiação na escola, evite gastar dinheiro com objetos

ou produtos de consumo. Institua como prêmio sempre uma experiência, que pode

ser um passeio a um lugar interessante ou uma viagem ou uma atividade cultural;

• Vamos garantir que, nas atividades artísticas, os alunos tenham tempo para

experimentar os materiais e tempo para completar suas criações. Lembre-se

também que os materiais de baixa qualidade, como lápis de cor que quebra a ponta

todo tempo, por exemplo, contribuem para a dispersão e frustração.

A escola pode ajudar os estudantes a alterarem seu ritmo. Para isso, é

necessário que o planejamento pedagógico seja operacionalizado visando

fazer menos coisas para fazê-las melhor! Então, para começar a pensar no

que fazer, aqui vão algumas dicas:

Aprender a FAZER Aprender a FAZER

Aprender a CONVIVERAprender a CONVIVER24 25

Aprender a Conviver

Aprender a viver juntos, como também é conhecido, foi considerado o pilar mais importante pela Comissão da UNESCO porque se refere ao desenvolvimento do conhecimento a respeito dos outros, de suas histórias, tradições e espiritualidade. Promove a compreensão do outro como o caminho para o entendimento da interdependência. Só aprendendo a conviver é que seremos capazes de combater a discriminação. Sem o desenvolvimento deste pilar, não seremos capazes de construir um mundo de paz. Isso não signifi ca apenas tolerar o que é diferente, mas representa o desafi o de buscarmos o que nos une, mesmo sendo diferentes. Estamos vivendo um tempo em que é fundamental entender que temos um destino comum.

Há uma interdependência global e de responsabilidade universal. A Terra e a humanidade possuem um destino comum. Muitas vezes trabalhamos na escola de forma equivocada a ideia de “meio ambiente”. Colocamo-nos, humanos, no centro, e o resto à nossa volta. É importante desmistifi car uma possível arrogância, pois as coisas não nos rodeiam, nós formamos com elas um mesmo mundo. Precisamos buscar uma vida sustentável nos níveis local e global. Por isso escolhemos falar de sustentabilidade para o desenvolvimento do Pilar aprender a conviver, que se refere à nossa relação com o meio ambiente.

SustentabilidadeO conceito de “sustentabilidade” para vários autores surge em torno dos anos 70 do século XX.

Começou a ser delineado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (United Nations Conference on the Human Environment - UNCHE), realizada em Estocolmo, de 5 a 16 de junho de 1972. Foi a primeira conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente e a primeira grande reunião internacional para discutir as atividades humanas em relação ao meio ambiente. Nessa conferência surgiu a defi nição de que “desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, garantindo a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro”.Para outros autores começou muito antes. Vem desde o século XVI quando o uso excessivo

da madeira, na época das conquistas/navegações, fez com que as fl orestas começassem a escassear. Foi na Alemanha, em 1560, que pela primeira vez houve a preocupação pelo uso racional das fl orestas. Ao longo da História foram muitos os momentos de discussão e de preocupação com a sustentabilidade, até os dias atuais. Mas infelizmente ainda é ponto de muitos confl itos entre os países que defendem o desenvolvimento a qualquer custo, e outros que buscam soluções mais harmônicas e que reconhecem que a dinâmica do meio ambiente é regida pela interdependência de todos com todos. O desafi o é buscar soluções coletivas para tentar harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento

econômico e a conservação ambiental. O sentido básico da sustentabilidade é manter as condições para a continuidade da vida e

da própria Terra, entendida como superorganismo vivo. A educação daí derivada tem uma dimensão ética de responsabilidade e de cuidado pelo futuro comum da Terra e da humanidade. Permite-nos reconhecer as inter-relações de todos com todos. Só assim será possível construir um futuro de convivência pacífi ca.

VOCÊ sabia?A Carta da Terra é um dos importantes documentos do início do século XXI. Nasceu de

uma consulta feita durante oito anos (1992 – 2000) entre milhares de pessoas de muitos países, culturas, povos, instituições, religiões. São quatro princípios que regem a Carta da Terra. O primeiro é a ideia de que todos os seres se inter-relacionam na cadeia da vida. O segundo é a fi losofi a da utopia humana, que aspira a um único mundo governado por todos. Em terceiro lugar, está a globalização, que com todos os seus efeitos maléfi cos trouxe também benefícios, como as redes de comunicação, que permitem a ligação de todos e a nova utopia global. O último princípio é a ideia do risco que paira sobre o planeta, desde o surgimento das armas de destruição em massa: é o princípio de autodestruição, que possibilita a destruição de toda a biosfera, impossibilitando o projeto planetário humano. (www.cartadaterrabrasil.org/prt/text.html)

Sustentabilidade

Aprender a CONVIVERAprender a CONVIVER26 27

A questão ambiental já está amplamente divulgada em todos os veículos de comunicação. Porém não signifi ca que, embora bem informados, estejamos verdadeiramente comprometidos com a causa. Não basta que estejamos conscientes de que mudar é preciso, a sustentabilidade não acontece mecanicamente. Ela é fruto de um trabalho de educação. Por isso, ainda temos muito a fazer, desde o âmbito individual até o coletivo, já não temos outra alternativa. Sem uma atuação educativa e cidadã não haverá mudança. Só informação não resolve. É preciso atitude e clareza do que é possível fazer e em que âmbito.Em 2002, a ONU aprovou uma resolução proclamando os anos 2005-2014 de a Década da

Educação para o Desenvolvimento Sustentável. A UNESCO, que detalhou a resolução, afi rmou que se trata de uma proposta transversal que deve atingir todas as disciplinas ensinadas na escola para que cada uma delas concorra para a construção de um futuro sustentável. Recomendou ainda que não deve ser tratada como uma disciplina à parte, mas deve sempre estar presente em todas. Caso contrário, não se alcança uma consciência de sustentabilidade generalizada.A educação assume, dessa forma, o compromisso de incluir quatro grandes tendências da

ecologia: a ambiental, a social, a mental e a integral (que discute nosso lugar na natureza). E cada vez mais aumenta o número de educadores ambientais que defendem a perspectiva de educar para o bem-viver, que signifi ca saber viver em harmonia com a natureza e propor repartir equitativamente com os demais seres humanos os recursos da cultura e do desenvolvimento sustentável. É o que fazem as cidades italianas do bem-viver, estudadas por Carl Honoré.Na escola, o tema sustentabilidade tem como uma das principais limitações “o que fazer”. Há

uma grande diferença entre falar sobre o tema e fazer Educação Ambiental. Uma mudança de verdade envolve mudanças de valores e atitudes. Não basta abordar ou defender a importância da sustentabilidade. Qualquer trabalho pedagógico sobre o tema necessita defi nir o âmbito de atuação da escola, dos alunos e dos professores. É importante dimensionar o que a escola pode fazer frente ao problema estudado. Sem tal cuidado corre-se o risco de frustrar a todos, pois se apresenta o problema inserido em uma realidade na qual não se consegue interferir. Assim, os alunos acabam achando que o quê aprenderam na escola não serviu para melhorar ou resolver o problema estudado.Mais que um projeto, um tema anual, ou uma efeméride festiva, a sustentabilidade na escola

precisa ser tratada com atitudes permanentes e cotidianas. Sempre com o compromisso de transformar a escola em exemplo de sustentabilidade, como, por exemplo, o uso responsável de recursos no consumo de energias, na manutenção dos equipamentos, na alimentação saudável, na utilização dos materiais, no respeito à comunidade local etc.. Tudo visando à qualidade de vida e ambiente na escola. De nada adianta falar de sustentabilidade se as pessoas nas escolas promoverem o desperdício de recursos e o consumo exagerado.A escola tem uma importante contribuição com a sustentabilidade e precisa ensinar seus

alunos a serem cidadãos. Signifi ca aprender como o cidadão deve agir, caso não haja políticas públicas efetivas voltadas para a resolução de questões ambientais; ou mesmo mobilizar um grupo para pressionar a prefeitura, participar de movimentos sociais, fazer denúncias nos meios de comunicação, buscar os canais legais de reivindicações, são alguns caminhos para agir de maneira mais articulada.

Somente com um processo generalizado de educação poderemos criar novas mentalidades. Como disse o grande educador brasileiro, Paulo Freire: “a educação não muda o mundo, mas muda as pessoas que vão mudar o mundo”. Por isso nossa responsabilidade como educadores é enorme.

Preparando o terrenoAntes de começar a trabalhar o tema é preciso cuidado em alguns pontos:• Ao estudar os assuntos que envolvem a sustentabilidade é importante expressar a valorização

de todos os saberes articulados entre si, dos mais populares aos mais científi cos, pois todos apresentam possibilidades que nos fazem descobrir dimensões diferentes da realidade.• Aprender na perspectiva de uma educação sustentável representa a necessidade de se

sair das salas de aula ou fechados nas bibliotecas. Os estudantes precisam ser levados a experimentar na natureza, conhecer a biodiversidade, saber histórias daquelas paisagens. • Valorizar as personalidades que marcam aquela região, seus poetas, artistas, escritores,

sábios, a complexidade da cidade com suas diferentes lógicas (dos transportes, do lazer, das artes etc.) representa um reconhecimento e valorização do mundo real.

Possíveis AtividadesUma postura educativa centrada na sustentabilidade exige mais do que trazer o mundo para a

escola, é colocá-la no mundo. Isso signifi ca comprometê-la com a comunidade local, ao mesmo tempo em que está ligada nos problemas e conquistas globais. Para a atividade sugerida, pense nos seus alunos e no que já vem realizando na sua turma. Lembre-se de que não é o discurso, mas a postura, que ensina a mudarmos nossa percepção sobre o meio ambiente. Vamos levar a escola para sair do seu espaço físico e conversar com a comunidade local para

conhecer seus saberes. Você pode organizar o que pesquisar ou qual foco vai trabalhar, de acordo com a faixa etária da sua turma. Mas lembre-se, qualquer que seja a idade, é sempre importante viver a experiência de descobrir a comunidade com o grupo da escola. Então, escolha o tema e não precisa tratar só de problemas. Pode ser algo como: festas;

crenças; culinária etc. Defi nida a área de curiosidade da turma, delimite a questão que vão trabalhar. É importante defi nir um foco. Lembre-se de que o menos vale mais e que você professor(a) será também um aprendiz. O trabalho da turma parte de uma pergunta que será respondida no processo.Mais do que um excesso de informações, priorize o que o grupo considera mais relevante e

fi que nisso. Na hora de escolher o que pesquisar lembre-se, é importante diversifi car as fontes para valorizar as diferenças culturais, pois servem para mostrar a versatilidade da essência humana que nos enriquece a todos, pois tudo é complementar. Procure registrar durante todo o processo. Pode-se fi lmar possíveis entrevistas, depoimentos,

assim como desenhar todo o percurso e defi nir, logo no começo do trabalho, como tornar público aquilo que foi produzido.

Sustentabilidade na escola

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DicaLembre-se de que sair à rua requer materiais para

registro. Para os alunos menores, os EcoLápis de cor Jumbo são ideais para as mãozinhas pequenas desenharem tudo que observaram. Para os alunos maiores, indicamos o EcoLápis Grafi te GRIP, acompanhado do apontador Mini Sleeve e da borracha Mini Sleeve.

Outras ideias:• Para os pequenos, sair da escola e descobrir a rua já é importante, pois as

crianças estão cada vez mais aprisionadas nos veículos de deslocamento para chegar a algum lugar. Eles estão vendo a vida pela janela, seja em um carro ou no ônibus. Caminhar na rua, observar o chão, as plantas, as sombras refl etidas no chão, o céu. Tanta coisa pode ser descoberta!• A arquitetura de uma comunidade diz muito sobre sua história. Uma atividade

interessante pode ser pesquisar em fotos como era a cidade ou o bairro da escola e suas transformações ao longo do tempo. Um álbum de fotos e desenhos pode virar um importante registro.

VOCÊ sabia?Na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (WSSD - World Summit on

Sustainable Development), realizada em Joanesburgo, em 2002, a Faber-Castell foi a única empresa de porte médio a mostrar aos 25 mil delegados e observadores seu pioneiro papel ecológico. Possui dez mil hectares de uma fl oresta de pinheiros, plantados e manejados por iniciativa própria, que é a fonte de matéria-prima para a produção de lápis. (www.faber-castell.com.br)

Parque fl orestal da Faber-Castell

Aprender a CONVIVERAprender a CONVIVER

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Aprender a Ser

O escritor moçambicano Mia Couto nos ensina: “É fácil sermos tolerantes com os que são diferentes. É um pouco mais difícil sermos solidários com os outros. Difícil é sermos outros, difícil mesmo é sermos os outros”. Ele tem razão e o Pilar do Conhecimento aprender a ser, destaca sua importância no sentido de incrementar nossa capacidade de autonomia e de discernimento, acompanhada da responsabilidade pessoal na realização de um destino coletivo. Quanto maior a compreensão que cada um tenha de si mesmo, maior será a abertura para reconhecer o outro. É esse o Pilar considerado como via essencial que integra os três precedentes.Para desenvolvermos o Pilar aprender a ser neste Programa Escolar, cujo tema é tempo

de aprender, escolhemos conversar sobre empatia, que consiste em perceber corretamente o marco de referência interno do outro com os signifi cados e componentes emocionais que contém, como se fosse a outra pessoa, em outras palavras, “capacidade de partilhar dos sentimentos e emoções de outra pessoa”, como defi ne o Dicionário Houaiss. Colocar-se no lugar do outro é bem difícil, mas é necessário.

EmpatiaTodos os dias estão na mídia matérias

que tratam da violência na escola, que vem assumindo dimensões preocupantes tanto no Brasil como em várias partes do mundo. São muitos os estudos a respeito do assunto. Todos são unânimes em apontar como causas a desigualdade social, a alienação consumista, a exclusão social, a intolerância e o desrespeito às diferenças. Por outro lado, é cada vez maior o número de crianças identifi cadas com comportamentos antissociais, com problemas de atenção, hiperatividade e depressão. Assim, a escola tem lidado cada vez mais com problemas complexos e de difícil solução a curto e médio prazo.Fora da escola, vivemos a complexidade do mundo, com uma a sociedade baseada em

princípios egoístas. Por outro lado, é também cada vez maior o número de pessoas que defendem a importância de construirmos uma nova era de afi rmação da cooperação e da responsabilidade social, para podermos fazer do mundo um lugar onde vale a pena viver. A palavra empatia origina-se do termo grego empátheia, que signifi ca entrar no sentimento.

Portanto, a primeira condição para sermos empáticos é sermos receptivos aos outros e simultaneamente à nossa totalidade interior. Isto signifi ca estar disposto a conhecer tanto os outros como a si mesmo. Sempre que pensamos em empatia, enfatizamos aquilo que trata da natureza humana. Porém estar em sintonia, agir coordenadamente e cuidar daqueles que necessitam não são ações exclusivas da nossa espécie, como afi rmam os biólogos. Mas quando falamos de compaixão e solidariedade, são sentimentos muitas vezes

ridicularizados e que acabam sendo interpretados equivocadamente como coisas de autoajuda e acabamos acusados de “sentimentalistas”. No entanto, empatia é uma atitude que nos aproxima dos outros e que nos ajuda a reconhecer as diferenças sem julgamentos, mas buscando os pontos que nos unem. Talvez esteja ai a solução para combatermos a violência na escola: sugerimos praticar a empatia. Vivemos uma época em que se enaltece o que é cerebral e se menospreza as emoções, que

são encaradas como piegas. Então, para não sermos mal interpretados, e nem cairmos no perigo de ditar falsos truques para sermos empáticos, precisamos entender melhor a sociedade humana. E a forma que escolhemos é examinar como agem os animais. Como se coloca a questão da empatia? O quê temos a aprender com eles? É disso que vamos tratar aqui.

Empatia (o que temos a aprender com os animais)

Aprender a SERAprender a SER

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Podemos dizer que somos animais gregários, cooperativos, sensíveis à injustiça e belicosos. Somos emotivos, movidos a incentivos, preocupados com prestígio social e com um lado egoísta também. As pesquisas científi cas têm indicado que as origens do altruísmo e da justiça estão tanto nos

seres humanos como em outros animais, mesmo em tempos em que somos cada vez mais uma sociedade desprovida de solidariedade e com a grande maioria da população mundial recebendo um tratamento injusto. Porém, nunca foi tão importante falarmos sobre empatia nestes tempos em que predomina a lógica “cada um por si”. Todos os dias, para satisfazer nossos desejos consumistas, praticamos a atitude “primeiro eu”. E os animais?Para começar, precisamos concordar: difi cilmente os animais abandonam uns aos outros

quando é necessário. São inúmeros exemplos mostrados em fi lmes e pesquisas. Existem pesquisas que mostram que os chimpanzés, mesmo querendo ser os primeiros a apanhar os alimentos oferecidos, são capazes de compartilhar o que conseguiram, caso outro estenda a mão pedindo. Os primatas apresentam tanto o direito de posse, quanto o compartilhamento da comida. Eles valorizam o grupo.Eis aí um aspecto para aprendermos com outros animais. Existem razões para que vivam

em grupo. Pesquisas demonstram que são muitas as espécies de animais que cuidam dos companheiros feridos, que dão proteção e que se deslocam mais devagar quando existem companheiros no grupo com difi culdades de acompanhá-los. Imagine o que teria sobrado de nós se nossos ancestrais tivessem vivido isolados uns dos outros? Por isso precisamos reformular nossa forma de ser, identifi cada como natureza humana. Os humanos não podem viver só de competição.Descendemos de uma longa linhagem de primatas que viviam em grupo e eram ligados entre

si por dependência recíproca. A necessidade de segurança molda a vida social e do grupo. Há poucos animais desprovidos de um instinto de rebanho, como afi rmam os biólogos. Então, por que cada vez mais nós humanos nos isolamos? Preferimos os contatos virtuais? Somos animais grupais.Existem ainda pesquisas que indicam que a transferência do estado de humor pelas

expressões faciais e pela linguagem corporal é tão poderosa que faz com que as pessoas se pareçam umas com as outras para exprimir as mesmas emoções. O compartilhamento diário das emoções leva um parceiro a internalizar o outro. Faz com que qualquer pessoa possa enxergar os outros e se sentir próxima. Então, os laços entre as pessoas são benéfi cos.Com os animais não é diferente. Existem milhares de casos de animais que se recusam a

abandonar aqueles com quem se sentem afetivamente ligados. Elefantes são conhecidos por retornar ao local onde se encontram os restos dos companheiros. Mães primatas se recusam a deixar de carregar seus fi lhotes mortos. Os humanos se impressionam com a lealdade dos animais com seus donos. Alguns até erguem estátuas para homenageá-los.

Os animais também nos mostram que somos mamíferos, animais que dependem de cuidados maternos. Consequentemente, os vínculos afetivos têm enorme valor de

sobrevivência para nós. A privação do contato corporal não combina com os mamíferos. O vínculo é elemento essencial para nossa espécie. Essa relação da mãe com o fi lhote é a que carregamos para o resto da vida e que será projetada na relação com outros parceiros e na convivência social. Então podemos concluir que não é o dinheiro, o sucesso e a fama que mais faz bem às pessoas, mas o tempo que elas passam com amigos e família. A sociedade contemporânea adotou a competição e o consumismo como princípio organizador

da vida. A pobreza é desdenhada como preguiça. Faltam compaixão e empatia nessa sociedade baseada no mérito e sucesso imediato. Mas é importante esclarecer que solidariedade é diferente de empatia. Solidariedade é

pró-ativa, menos espontânea. Refl ete nossa preocupação de fazermos algo pelo outro para uma situação melhorar. É uma preocupação real na tentativa de entender o que se passa com o outro. Já a empatia é um processo pelo qual nos damos conta da situação da outra pessoa e por isso é facilmente percebida. Entre os animais, e da mesma forma com as crianças pequenas, eles se aproximam de pessoas afl itas e é comum ter alguma atitude de consolo, sem saber o que está acontecendo. É espontâneo. É... Precisamos aprender mais com a natureza! Ela nos oferece inspirações e informações

valiosas. Observando os animais, podemos afi rmar que se melhorássemos nossos sentimentos de empatia, sem dúvida conseguiríamos melhorar a nossa condição humana. Isso os animais fazem facilmente. E olha que a empatia não é componente recente que precisamos adotar na nossa evolução, mas é uma capacidade inata, universal e muito antiga.

Preparando o terrenoEmbora os seres humanos disponham de maneiras inventivas para se colocar no lugar do

outro, não é assim que a nossa espécie funciona na maior parte do tempo. Então, aqui vão algumas indicações simples, mas que praticamos pouco. Para colocar-se no lugar do outro, ou seja, ser empático, é preciso:• Ouvir verdadeiramente; • Não julgar;• Respeitar as individualidades; • Irradiar confi ança;• Ser acolhedor; • Tentar ver o mundo com os olhos dos outros.Enfi m, refl etir atentamente sobre o que Darwin nos ensinou: “toda pessoa convencida da

superioridade humana deveria dar uma espiada nos primatas.”

Empatia nos animais – o que podemos aprender com eles

Aprender a SERAprender a SER

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Possíveis atividadesNovamente fomos buscar as palavras do escritor Mia Couto: “O que me

alimenta é o diálogo, a interseção entre os dois saberes. O que me dá prazer é percorrer como um equilibrista essa linha de fronteira entre o pensamento e a sensibilidade, entre inteligência e intuição, entre poesia e saber científi co.” Para trabalharmos um pouco a empatia, sugerimos um exercício que se pode fazer com qualquer idade. Após uma conversa sobre o assunto com a turma, levante com seus alunos

situações que ilustrem o que está sendo conversado sobre empatia, seja ela entre humanos ou com animais. Depois, em duplas, os alunos vão identifi car os sentimentos do parceiro, a partir das expressões faciais e corporais como, por exemplo, raiva, tristeza, medo, solidão etc. Depois se invertem os papéis e quem identifi cou agora fará as expressões. Um desdobramento possível é por meio de desenhos, que podem ser do rosto completo ou apenas de alguns elementos, como só olhos. Um desenha, outro defi ne.

Outras ideias:• Com recorte e colagem, buscar fi guras que expressem sentimentos e a partir daí, imaginando

o que está sendo transmitido, criar uma história que explique sua expressão. O relato pode ser oral ou por escrito;• Observando os animais que temos por perto, fazer um registro com desenho ou relato escrito

sobre como eles se expressam em diferentes situações como, por exemplo, para pedir comida, quando têm algum incômodo, quando querem companhia, quando estão com frio, etc.;• Se for possível, um passeio ao zoológico com a turma. Chegando lá, os alunos escolhem um

animal para observar como ele se expressa e se comunica com seus pares. Registram o que observaram, com desenho ou relato;• Criar um diário de emoções da turma. Pode ser um registro semanal em que cada vez

um aluno registra como estavam os sentimentos da sala na semana. Podem ser observações gerais ou com foco especial sobre algum aluno.

DicaPara desenhos que precisam marcar as expressões, sugerimos o EcoGiz Bicolor. Seu

diâmetro favorece a pega de crianças menores. Tem cores vivas e fi rmes que deslizam no papel. Outra sugestão pode ser pintar os rostos com as expressões dos animais observados. Sugerimos a Pintura Facial “Cara Pintada”, da Faber-Castell.

Aprender a SERAprender a SER

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Para Finalizar

omo todo livro, tem a hora de terminar. E assim chegamos ao fi nal deste material feito especialmente para você, professor ou professora, que acredita que pode ser senhor do seu tempo, mesmo que imerso na generalizada descrença de que existe uma possibilidade de mudarmos os destinos das nossas escolas, salas de aula e de nossos alunos. Não podemos esquecer

que o desânimo é uma doença contagiosa. Por isso, quando perder a esperança de que podemos fazer diferente na escola, sugerimos um remédio infalível. Tenha sempre por perto uma caixa de lápis de cor e, de preferência, Faber-Castell. Só o cheiro já nos remete ao tempo da infância da qual tanto nos distanciamos. Agora, brinque com as cores no papel. Não tenha nenhum compromisso com o resultado. Apenas desfrute. Como nos ensina o escritor moçambicano Mia Couto: “a escola é um meio para querermos o que não temos. A vida, depois, ensina-nos a termos aquilo que não queremos. Entre a escola e a vida, resta-nos sermos verdadeiros e confessar aos mais jovens que nós também não sabemos e que, nós, professores e pais, também estamos à procura de respostas.”Nossas escolas precisam organizar o tempo para que as crianças e jovens tenham tempo para a refl exão, para reelaboração de tudo que é aprendido... e também tempo para errar, para experimentar caminhos novos... para ser feliz!Precisamos oferecer na escola situações que favoreçam a descoberta e a experimentação – seja científi ca, artística, cultural ou desportiva. É necessário introduzir e equilibrar os Pilares do Conhecimento. A escola está muito centrada no aprender a conhecer. Vamos desenvolver mais a criatividade e a imaginação, revalorizar a cultura oral e os conhecimentos vindos das experiências das crianças e jovens.A solução para melhorarmos nossa qualidade de vida e a vida na escola nunca virá de fora. Como afi rmam muitos especialistas, está na hora de prepararmos nossos alunos não mais para darem respostas. Necessitamos aprender a fazer boas perguntas. Só assim desenvolveremos nossa criatividade e seremos capazes de mudar o tempo. Nada será dado, pois as condições não são dadas. Nós é que temos que conquistá-las.Para fazermos outro tempo, o que seria a verdadeira mudança a ser produzida por cada um de nós, precisamos viver um movimento permanente de estudos, ócio, refl exão, experiências. Tudo com muita calma e muito diálogo para compartilharmos nossas vitórias e derrotas também. Afi nal, é preciso tempo para crescer e aprender de verdade!Como nos ensina o compositor e cantor Chico Buarque, na música Os Amantes: “não se afobe não que nada é pra já...”. Assim, seguimos aprendendo a fazer nosso TEMPO.

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Para seguir aprendendo...

Livros para estudarARROYO, M. Imagens Quebradas. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2004.BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.BOFF, L. Sustentabilidade – o que é o que não é. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2012.COUTO, M. E se Obama fosse africano? São Paulo: Companhia das Letras. 2011. HONORÉ, C. Devagar. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007.MIEDEMA, J. Slow reading. São Paulo: Editora Octavo, 2011.PROSE, F. Para ler como um escritor: um guia para quem gosta de ler livros. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar Editores, 2008.SCHÄFFER, N. et alli. Um Globo em suas Mãos. Porto Alegre: Editora Penso, 2011.UNESCO, coord. Jacques Delors. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Faber-Castell, 2010.WAAL, F. A Era da Empatia. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

Livros de literatura CARROLL, L. Alice no País das Maravilhas. São Paulo: Salamandra, 2010DEFOE, D. Robinson Crusoé. São Paulo: Scipione, 1995.VERNE, J. Viagem ao Centro da Terra. São Paulo: Ática, 1993.

TEMPO DE APRENDERPublicação do Programa Escolar 2012, da empresa Faber-CastellConcepção e Elaboração do conteúdo: Lourdes AtiéProjeto gráfi co: Studio 11 Artes

www.faber-castell.com.br

ECOGIZ DE CERA BICOLOR ECOLÁPIS DE COR JUMBO

• Formato Jumbo: ideal para mãozinhas pequenas.• Formato ergonômico e triangular: facilita a pega e o uso, garantindo maior conforto.

• Corpo extrarresistente: revestimento em madeira 100% reflorestada e certificada FSC.

• Bicolor = mais cores.• Não suja as mãos.• Com apontador.

Infantil

• Formato Jumbo: ideal para mãozinhas pequenas.• Tinta lavável: não mancha o uniforme e estimula a criatividade.• Ponta grossa e macia: permite dois tipos diferentes de traço.

CANETINHA JUMBO

Fundamental / Médio

• Exclusivas esferas antideslizantes: maior conforto e firmeza no traço.• Formato triangular ergonômico: garantia de conforto e melhor escrita.• Ponta Max Resistente: grafite ainda mais resistente e fácil de apagar.

ECOLÁPIS GRAFITE GRIP 2001ECOLÁPIS DE COR GRIP AQUARELÁVEL

• Vira uma pintura de aquarela: basta passar um pincel umedecido em água.• Exclusivas esferas antideslizantes: maior firmeza para pintar.• Formato triangular ergonômico: facilita a pega e o uso, garantindo maior conforto.

ESFEROGRÁFICA GRIP STICKCANETINHA COLOUR GRIP AQUARELÁVEL

• Avanço automático do grafite: prático pois dispensa acionamento manual durante a escrita. • GRIP emborrachado: maior firmeza ao escrever, garantindo melhores resultados. • Ponteira retrátil com amortecedor: proteção contra quebra do grafite.

• Exclusivas esferas antideslizantes: maior firmeza para escrever.• Formato triangular ergonômico: facilita a pega e o uso, garantindo maior conforto.• Tinta de alta qualidade e durabilidade: escreve muito mais.• Ponta média 1,0mm: escrita macia, sem falhas ou borrões.

• Vira uma pintura de aquarela: basta passar um pincel umedecido em água.• Exclusivas esferas antideslizantes: maior firmeza para pintar. • Formato triangular ergonômico: facilita a pega e o uso, garantindo maior conforto. • Tinta lavável: não mancha o uniforme e estimula a criatividade.

APONTADOR COM DEPÓSITO MINI SLEEVE

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MARCADOR PARA QUADRO BRANCO

• Fácil de apagar: não deixa manchas no quadro.• Pode ficar até 6 horas destampado, sem secar.• Tinta versátil: pode ser usada tanto em quadro branco quanto em vidro.• Disponível em 6 cores (azul, preto, vermelho, verde, rosa e roxo): mais versatilidade dentro da sala de aula.

• Design exclusivo com capa protetora: impede completamente a saída de resíduos, evitando sujeira. • Lâmina de aço temperado: garantia de mais facilidade ao apontar e maior durabilidade. • Parafuso de segurança que impede a retirada da lâmina: maior segurança no uso infantil.

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@FaberCastell_BR Faber-Castell Brasil