2011 - cartilha - combate às opressões

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Cartilha de Combate as Opressões do GET (Grupo de Estudo e Trabalho)

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2011. Cartilha desenvolvida pelo GET de Combate às Opressões

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Cartilha de

Combate as

Opressõesdo GET (Grupo de Estudo e Trabalho)

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O lá estudante de Comunicação Social. Nessa cartilha trazemos uma contri-buição do Grupo de Estudo e Trabalho (GET) de Combate às Opressões da

Enecos para que tod@s possamos compreender as opressões existentes na nossa sociedade, e como co-municadores, transformá-la.

Apresentação

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Mulheres

“Sem feminismo,

não há socialismo!”

O s veículos de comuni-cação são a principal

fonte de informação nos dias de hoje, e a grande vedete continua sendo a televisão (apesar do avanço da internet, essa ferramenta ainda não tem a abrangência que a TV possui em nosso país). Dessa forma, a análise sobre a maneira como a mídia retrata os diversos movimentos sociais, em especial as mulheres, se faz necessária. É preciso

estar consciente da ma-neira como as pautas de interesse das mulheres são abordadas, e sobre como o próprio feminis-mo é retratado.

As mulheres são enca-radas pela grande mídia ou como objetos sexuais ou como consumidoras. Basta verificar as recor-rentes aparições de mu-lheres em publicidades para constatar este fato: propagandas de cerveja são um exemplo claro da mercantilização do corpo feminino, da ‘coisificação’ da mulher em objeto se-xual. Ou nos anúncios de produtos de limpeza, ou mesmo de brinquedo infantis, onde a presença da “mãe” é certa. O traba-lho dessas propagandas é nocivo, ao associar a mulher necessariamente

ao ambiente do lar e à maternidade. Há que se compreender que tanto a maternidade como a vida doméstica são opções, e não destinos.

Pautas históricas do movimento feminista, como o aborto, as desi-gualdades enfrentadas no mercado de trabalho e a violência são trata-das – quando são – de forma rasa, sem um de-bate aprofundado em que representantes do movimento feminista te-nham voz para defende-rem suas opiniões. Que espécie de democracia é essa em que concessões públicas não respeitam a pluralidade de opiniões? O aborto, temática que deveria ser tratada como questão de saúde pública e de justiça social ainda é

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É por isso que nós, comunicador@s, temos nossa contribuição a

dar nessa luta das mu-lheres e de todos os movimentos que não se sentem representados na grande mídia: deve-mos lutar por um novo marco regulatório para os meios de comunica-ção. Só assim consegui-remos que o movimento feminista e outros tan-tos movimentos sociais tenham voz e não pre-cisem ficar restritos aos meios alternativos de comunicação. Temos que ocupar os espaços da grande mídia, inserir a mulher na produção de conteúdos, abordar nossas pautas de ma-neira inteligente.

Existe, porém, um desafio nesse proces-so. O empresariado, ao notar o risco que corre com uma possível re-gulamentação do setor, diz que se trata de cen-sura, que fere a liberda-de de expressão. Ora, liberdade de expressão deveria ser válida para todos, certo? Mas não é, e é por meio da luta por uma nova regula-mentação do setor que as mulheres enfim terão direito à voz. Só assim

E nós comunicador@s?será possível enfrentar a mercantilização dos corpos femininos e a re-produção de estereóti-pos que nos retratam de maneira depreciativa.

visto como um tabu, algo que vai de encontro à mo-ral e aos bons costumes da sociedade, e, por isso não deve ser discutido.

Outra questão impor-tante: em pleno século XXI, com tantas infor-mações disponíveis, é inadmissível que o nú-mero de violência contra a mulher seja tão alto. A mídia tem sua parcela de culpa, na medida em que deixa de promover debates sérios sobre o tema, em que medidas eficazes contra essa triste realidade poderiam ser discutidas a fundo.

Não há discussões sobre o feminismo na grande mídia. Mulheres feministas continuam es-tereotipadas e retratadas como caricaturas, sem qualquer embasamento ou crítica séria realizada pelos produtores.

As emissoras de tele-visão e de rádios só fun-cionam devido a uma con-cessão pública dada pelo governo, permitindo que explorem o espaço eletro-magnético. Como conces-são pública, as emissoras deveriam estar atentas às demandas da população, garantindo uma programa-ção de qualidade e abran-gente. Porém, não é essa nossa realidade. Monopó-lios e diversas outras irregu-laridades marcam o nosso sistema de radiodifusão.

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Diversidade Sexualexige-se uma masculiniza-ção e feminilização dos cor-pos. Basta, suscintamente falando, perceber como o surgimento do “casal gay”, no cenário atual, encube sempre a distinção entre o “macho” e a “fêmea” da relação.

Para, além disso, a Comunicação é em si, um forte instrumento de coe-são sob a lógica da hege-monia dominante. O co-municador, especialmente aquele que passa ou pas-sou pela academia, está a todo o momento lidando com o discurso, que não foge de uma ideologia, e essa, por sua vez, perme-ada, se não dominada, por uma moral pequeno-burguesa, machista, fa-locêntrica, opressora. E não se pode deixar de co-locar que o discurso tem a força de naturalizar e legitimar, práticas, ideias, formas de ser e estar no mundo.

Esse conjunto de cir-cunstâncias se combina e possibilita que a heteronor-matividade seja vista como verdade absoluta, um con-junto ordenado e atraves-sado por relações de poder, que definem essa “verdade” como soberana e a norma a ser seguida pela socieda-de “sadia”. O discurso que fortalece a heteronormati-vidade conseqüentemente possibilita as práticas ho-mofóbicas, que oprimem e deixam essa dita minoria com medo, mas afinal de contas, quem tem medo de quê nessa história? Vale a reflexão.

A o lado do discur-so que reitera e fortalece a ho-mofobia no país,

embasada na ideia de he-teronormatividade compul-sória, heterossexualização do desejo e falocêntrismo, é notório o fortalecimento das práticas subversivas e discursos divergentes. O desafio da norma tem se tornado prática cada vez mais visível nos dias atuais, o que traz à tona, junto con-sigo, práticas cada vez mais inaceitáveis no que se refe-re à homofobia. Num país onde a liberdade é pregada a todo o momento, quan-do o assunto é a diferença de gênero e sexualidade, as pessoas que sofrem opressão vivem cercadas pelo medo, a hostilidade da norma heterossexual, e os conceitos de normatividade acabam por excluir da vida “comum” e a visão de mino-ria oprimida é fortalecida.

Todo um conjunto de relações hegemônicas per-passa nessa prática e dis-curso. A mídia, enquanto (re)produtora da ideologia dominante, reforça, por vezes legitima, e tenta do-mesticar os corpos. Uma análise mais detalhadas sobre as novelas da Rede Globo, por exemplo, de-monstra o quanto existe e

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Questão Racial

“Pela superação do capitalismo,

construção de uma sociedade justa, igualitária, livre,

socialista, rumo ao poder popular, como

forma de por fim a exploração de classe

e a toda forma de opressão. Contra toda forma de desrespeito

aos direitos humanos”.

POSiCiOnAMEnTO POliTiCO DA EnECOS

– COBRECOS 2011

P ode até parecer contraditório falar em racismo no Brasil, país co-

nhecido por sua diversida-de. Apesar de a organiza-ção popular no combate a opressão étnico-racial ser histórica em nosso país, foi a política de cotas para Negros e povos originários que reacendeu tal debate mais recentemente. Um dos argumentos mais usa-dos pelos que não concor-davam com tal programa é o de que “o problema é econômico”.

Esta é a mais pura ver-dade, o problema é sim econômico, mas é neces-sário entender como a economia se constitui na criação e manutenção do discurso de superioridade entre as raças.

Já na Grécia antiga, es-crevia-se sobre Bárbaros (não gregos), baseando-se na sua inferioridade, para justificar a superioridade cultural dos Gregos, e con-sequente dominação eco-nômica, política e cultural sobre os estrangeiros. De igual modo, foram descar-tadas as particularidades dos povos não-brancos em suas organizações sociais, familiares, culturais para justificar sua inferioridade e por tanto sua exploração a

favor da colonização mun-dial. Já neste momento se apresenta a hegemoniza-ção dos padrões de socie-dade por parte da classe dominante.

No Brasil, para além da própria escravidão, a catequização de Índios e Negros por parte da Igreja Católica, o genocídio indí-gena por parte dos Bandei-rantes, entre outros fatos, apesar de explicitarem tal desrespeito a cultura des-tes povos, é utilizada e mascarada em nossa his-tória para justificar o pro-gresso trazido pela visão econômica europeia. Nes-se contexto, políticas como o decreto nº 1.331 de 1854, que legitimou a proibição de escravos em escolas públicas, divergiam ainda mais as possibilidades en-tre brancos e não-brancos.

Ao início do século XX, findar da escravidão, a cabeça dos brasileiros já estava cheia de precon-ceitos com relação aos não-brancos. No livro “O que é Racismo”, da cole-ção primeiros passos, Joel Rufino dos Santos destaca ainda, que os negros não foram utilizados como tra-balhadores livres, pois, se-gundo nossos fazendeiros, os ex-escravos “não eram capazes de acompanhar o

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novo trabalho, inteligente e responsável.”

Torna-se necessário compreender que o suces-so econômico de alguns teve como preço a margi-nalização e a desigualdade imposta a outros, e então, decidir que tipo de socieda-de queremos construir.

A Executiva Nacio-nal d@s Estudantes de Comunicação Social - ENECOS compreende o importante papel da comu-nicação como instrumento de transformação social, e que isso perpassa pela democratização da pro-dução e acesso a comu-nicação, a qualidade da formação do comunicador e para transformação das relações étnico- raciais, no Brasil, é urgente garantir a vez e a voz dos margi-nalizados da cultura he-gemônica, entendendo as diferença e a diversidade como fator de crescimento e não de exclusão.

Drogas e criminalização

da pobreza

É fato que a sociedade atual é direcionada pela classe burgue-sa historicamente

favorecida com a transfor-mações econômicas do sé-culo XVII e XVIII. A tão fala-da burguesia implantou na passagem destes séculos o pensamento liberal que se apoiava no tríplice pilar: individualismo, propriedade e opinião pública.

Os meios de comuni-cação de massa deram condições para que esse pensamento fosse intro-jetado na sociedade, mol-dando-a ao ponto de ser mais fácil direcioná-la. Este direcionamento baseado no medo e na repressão foi uma forma de aplicar proje-tos econômicos e políticos, um exemplo próximo, foi a forma que o sistema capi-talista veio a ser implanta-do na América Latina.

A partir disso, qualquer tipo de ameaça a esse novo sistema econômico de ba-ses no capital sofreria pena-lidades. Toda forma de mo-vimento contra hegemônico enfrentou a armas tanto de

letais quando ideológicas que este sistema possui.

A criminalização das drogas é reflexo de um Estado que serve como pulmão econômico do ca-pital. Na América do Norte, início do século XX, dá-se inicio uma guerra psico-lógica contra a maconha. No documentário GRASS, do diretor canadense Ron Mannse, pode constatar a manipulação midiática e a espetacularização do terror a quem era usuário da pla-na cannabis sativa.

O documentário retrata como o costume dos ope-rários que usavam a erva poderia retardar o proces-so de fabricação, já que o efeito dá uma sensação de calma e relaxamento, o que não era interessante para a lógica de produção de capi-tal em que se visa otimizar o tempo. Neste caso, o povo transformado em opinião pública pela industrial cul-tural sofre, mais uma vez, uma invasão na formação de conceitos. Diante disso é possível entender que a sociedade atual é a disputa

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pelo direcionamento desta opinião pública.

A violência, por exem-plo, é sintoma de uma so-ciedade desigual, mas o que será posto nos telejor-nais e na grande imprensa é que esta é uma caracte-rística da pobreza e que se os pobres não existissem esta também acabaria, as-sim como acabaria a veicu-lação e venda de drogas.

Vende-se nestes gran-des meios a possibilidade da superação de socie-dade partindo de uma superação de classe, da passagem da condição de pobre para condição de rico como se fosse uma opção. O individu-alismo foi enraizado na sociedade.

Por isso nós da ENE-COS propomos que para a transformação aconteça, nós precisaremos disputar atra-vés do discurso, nos apro-priarmos dos meios e propor uma outra forma de fazer com que a comunicação seja verdadeiramente social.

AcessibilidadeO que você anda falando?

Por uma Enecos que sambe diferente

A Executiva Na-cional dos Es-tudantes de Comunicação

Social (Enecos) entende o debate de acessibilida-de como um tema trans-

versal às bandeiras de luta pela democratiza-ção da comunicação e combate às opressões.

Pensar em acessibi-lidade não se trata ape-nas de estrutura física

“Pessoas com deficiência” é, atualmente, a

expressão indicada pelas entidades que

lidam com tal assunto. Foi aprovada pela

ONU em 2006.

Qualquer tipo de linguagem vem acom-panhado de

ideias pré-estabelecidas sobre determinado tema. E ser cuidadoso quanto à linguagem e discurso é um dos princípios básicos no combate às opressões. As expressões que se referem às pessoas com deficiência propagam, voluntária ou involuntariamente, o res-peito ou a discriminação. “Deficientes”, “pessoas de-

ficientes”, “portadoras de deficiência” ou “portadoras de necessidades especiais” são algumas das termino-logias as quais carregam consigo uma série de sig-nificados que reforçam os preconceitos e a exclusão.

É fundamental que, nós comunicadores. tenhamos conhecimento de tais no-menclaturas, afim de com-bater a opressão e, porque não, por em prática novas formas de se pensar e pro-duzir comunicação.

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o debate nas escolas quanto à importância de garantir a produção de conteúdo inclusivo que torne concreta a luta pela comunicação como direito humano e instru-mento de superação das opressões.

Segundo o artigo 17 da lei nº 10.098/00 é obri-gação do Poder Público estabelecer mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comuni-cação e sinalização às pessoas com deficiência sensorial e com dificulda-de de comunicação, para garantir-lhes o direito de acesso à informação,

comunicação, trabalho, educação, transporte, cultura, esporte e lazer. Assim como capacitar profissionais para aper-feiçoar a comunicação com pessoas com defi-ciência. Somente neste ano, empresas de ra-diodifusão anunciaram o serviço de audiodes-crição, que deveria ser fornecido desde 2001, como previsto no artigo 19 da lei citada. No en-tanto, só está disponível em sinal digital, com du-ração de apenas duas horas semanais. A meta de aumento dessa pro-dução é de 20 horas se-manais para 2021.

COnTATOS:

REAliZAÇÃO:

GET: [email protected] ou http://www.enecos.org/ gets/combate-as-opressoes/

GET (Grupo de Estudo e Trabalho) de Combate ás Opressões

de espaços, mas partin-do do princípio de que todos somos iguais, por em prática a inclusão, seguindo a lógica de co-municação como direito humano.

A Enecos se constitui quanto um espaço para debatermos formas de aplicar esse conceito, experimentando e cons-truindo materiais alterna-tivos que geralmente não encontramos em nossas instituições de ensino. Seguindo esse princípio, aprovamos no Congres-so Brasileiro dos Estu-dantes de Comunicação Social (Cobrecos 2011) dois posicionamentos políticos que envolvem acessibilidade. Tais de-terminações apoiam a produção inclusiva em rádios, TV’s, cinemas, meios impressos e ele-trônicos, bem como de-fendem as cotas e a ga-rantia de acessibilidade nas universidades.

Em vista desses po-sicionamentos, a inicia-tiva desta cartilha tem por princípio levantar