2011 07-14 10-45-03
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL
LUCIANA BRITO DOS SANTOS
A APLICAÇÃO DE PENAS ALTERNATIVAS E SEUS REFLEXOS NO SISTEMA
PENITENCIÁRIO BRASILEIRO
NAVIRAÍ-MS2010
LUCIANA BRITO DOS SANTOS
A APLICAÇÃO DE PENAS ALTERNATIVAS E SEUS REFLEXOS NO SISTEMA
PENITENCIÁRIO BRASILEIRO
Monografia apresentada a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, sob orientação do Prof. Msc. Wander Matos de Aguiar como requisito para obtenção do grau de bacharela em Direito.
NAVIRAÍ-MS2010
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LUCIANA DE BRITO
A APLICAÇÃO DE PENAS ALTERNATIVAS E SEUS REFLEXOS NO SISTEMA
PENITENCIÁRIO BRASILEIRO
TCC defendido e aprovado, em 25 de novembro de 2010:
BANCA EXAMINADORA
Professor Mestre Wander de Matos AguiarPresidente
Professor Especialista Joaquim Carlos Klein de AlencarMembro
Professor Especialista Camilo Henrique SilvaMembro
“Quando, atrav�s da compaix�o, cheguei a reconhecer nos piores dos encarcerados um homem como eu; quando se diluiu aquela fuma�a que me fazia crer ser melhor do que ele; quando senti pesar nos meus ombros a responsabilidade do seu delito; quando, anos faz, em uma medita��o em uma sexta-feira santa, diante da cruz, senti gritar dentro de mim: ‘Judas � teu irm�o’, ent�o compreendi que os homens n�o se podem dividir em bons e maus, em livres e encarcerados, porque h� fora do c�rcere prisioneiros mais prisioneiros do que os que est�o dentro e h� dentro do c�rcere mais libertos da pris�o dos que est�o fora. Encarcerados somos, mais ou menos, todos n�s, entre os muros do nosso ego�smo; talvez, para se evadir, n�o h� ajuda mais eficaz do que aquelas que possam nos oferecer esses pobres que est�o materialmente fechados entre os muros da penitenci�ria.” (Francesco Carnelutti – As mis�rias do Processo Penal. Trad. Jos� A. Cardinali. Conan, 1995. p. 83).
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia aos meus
pais - Ivone Santana Brito e Jos�
dos Santos – in memorian – e �
minha prima Nadir Santana – in
memorian – e meu sobrinho
Jaisson Brito.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me dar força e coragem para realizar esse sonho.
A toda da minha família em especial a tia Zenaide e tio Antenor que sempre me ajudaram com amor e carinho nessa caminhada.
A Franciélly BarbaObrigada por tudo Fran.
A Rosemere Beatriz
Aos meus amigos João Nascimento, Rute da Cruz, João Paulo e Danielle.
Aos Amigos, Alberto Ariene Nilson Neuri, Sérgio e.Wellington.
Ao grande Amigo e colega de curso Virço Antonio, que estará nas melhores Lembranças da universidade.
As colegas de trabalho e amiga Irene Romero Magalhães e Janice Diel.
Aos Professores, do curso, minha eterna gratidão pelos ensinamentos.
Ao Dr. Manoel Veridiano F. Rebello Pinho e Vinicius Ferreira Martins.
Ao meu Orientador Wander Matos de Aguiar, que fora primordial para a realização de desse trabalho de conclusão de curso sempre disposto a auxiliar neste presente trabalho que segue.
RESUMO
Utilizando de pesquisas bibliográficas, o presente trabalho discorre sobre as penas alternativas e seus reflexos no sistema carcerário brasileiro, bem como para toda a sociedade. É sabido que o pressuposto do crime é a pena, entretanto, nem sempre o local onde será cumprida esta mesma pena é proporcional a periculosidade do agente que, neste ambiente, poderá se transformar num pior criminoso. Assim, as penas alternativas, quando bem aplicadas tem a função de, ao mesmo tempo, punir o agente, mas também trazer de volta ao bom convívio da sociedade.
Palavras-chaves: Direito Penal. Penas alternativas. Aplicabilidade.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO. ----------------------------------------------------------------------------------- 09
1. PENAS ALTERNATIVAS--------------------------------------------------------------------- 13
1.1. ORIGEM HISTÓRICA DAS PENAS ALTERNATIVAS------------------------------ 13
2. O SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO------------------------------------------ 21
2.1.A DIGNIDADE DO SER HUMANO RECOLHIDO NO SISTEMA PENITENCIÁRIO-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------21
2.2.TRATAMENTOS SUBUMANOS - SEM DIREITOS--------------------------------------- 23
2.3 A DIGNIDADE DO DETENTO------------------------------------------------------------- 29
2.4. AS CONSEQUÊNCIAS PARA A SOCIEDADE------------------------------------------ 32
2.5 CUSTOS SOCIAL DA VIOLÊNCIA-------------------------------------------------------- 33
3. PENAS ALTERNATIVAS NO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO---- 37
3.1. INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------------------- 37
3.2. PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA---------------------------------------------------------------- 38
3.3. PERDA DE BENS E VALORES.------------------------------------------------------------ 39
3.4. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE OU ENTIDADES PÚBLICAS--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------41
3.5. INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE DIREITOS. -------------------------------------------- 42
3.6. PROIBIÇÃO DE FREQÜENTAR DETERMINADOS LUGARES. ---------------------44
3.7. LIMITAÇÃO DE FIM DE SEMANA. -------------------------------------------------------- 44
3.8. BENEFÍCIO SOCIAL DAS PENAS ALTERNATIVAS------------------------------------ 45
3.9.UTILIZAÇÃO ALTERNATIVAS EM MATO GROSSO DO SUL----------------------- 50
CONSIDERAÇÕES FINAIS ---------------------------------------------------------------------- 53
BIBLIOGRAFIA ------------------------------------------------------------------------------------- 55
INTRODUÇÃO
O tema sobre o qual se desenvolve esta pesquisa é referente ao delicado assunto das
alternativas à prisão, que têm despertado crescente interesse na sociedade em geral, por se
relacionar a um dos enigmas mais intrincados e insolúveis dos nossos dias, que é a prisão, a
questão penitenciária e como tratar o réu condenado ou não. Os crimes, rebeliões e fugas
crescem de modo completamente desproporcional à capacidade de solução do Estado.
A quantidade de escritos sobre alternativas à prisão cresce de forma significativa.
Tem-se abordado sob os mais diversos enfoques. Há os que defendem penas cada vez mais
severas e o aumento das hipóteses de prisão, filiando-se ao movimento da lei e da ordem; por
outro lado, filiamo-nos aos que entendem que a privação de liberdade só deve ser aplicada
para os criminosos mais perigosos e para os crimes mais violentos, esta corrente é
denominada genericamente de direito penal mínimo. É no campo do direito penal mínimo que
se enquadram as penas e medidas alternativas.
Os Estados, e em especial o brasileiro, vem investindo significativamente visando,
precipuamente, a reduzir a violência, a impunidade e recuperar o infrator, através de diversas
ações como a aquisição de equipamentos, aumento de contingente de policiais, construção de
diversas unidades prisionais. Todavia, a sociedade assiste atônita ao aumento da criminalidade
sem precedentes, bem como a total confusão no que tange ao sistema penitenciário com
rebeliões quase semanais e a criação de uma verdadeira fábrica de reincidência.
Nos últimos anos tem m surgido várias medidas repressivas de extrema severidade
em nossa legislação penal, criando um direito penal excessivamente intervencionista e
preventivo, baseado na repressão e na exacerbação das penas privativas de liberdade como
garantia de uma suposta paz social.
Preventivo, o direito penal traz normas incriminadoras em diversas áreas como, por
exemplo, o código do consumidor, o estatuto da criança e do adolescente e normas penais
tributárias como a Lei nº 8.137/90.
Logo, nesta linha de raciocínio, a sanção penal é considerada, para muitos
legisladores, como imprescindível para a solução de todos os conflitos sociais.
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Acerca da severa pol�tica criminal da d�cada de 90, Cezar Bittencourt a denominou
de Direito Penal do terror, pois simplesmente deixa o apenado largado em uma cela sem o
m�nimo de condi��es de ser ressocializado.
Para espanto de muitos, o legislador, atrav�s da Lei n� 9.099/95 e da Lei n� 9.714/98,
como que colocou uma barreira nessa imposi��o do movimento pol�tico-criminal de
penaliza��o, criminaliza��o, carceiriza��o e institucionaliza��o cada vez mais crescente.
A pena privativa de liberdade, como san��o principal e de aplica��o gen�rica,
mostrou-se fracassada.
A pris�o s� pode ser aplicada em �ltima hip�tese, pois perverte, corrompe, deforma,
avilta, embrutece, � uma f�brica de reincid�ncia...se n�o se pode eliminar de uma vez, deve-se
conserv�-la para os casos em que ela � indispens�vel.
N�o se deve punir com pena privativa de liberdade indistintamente toda esp�cie de
crime, ou seja, como escreveu Foucault[8], n�o pode haver a puni��o generalizada.
Numa abordagem sobre a pol�tica criminal contempor�nea Roque de Brito Alves
observa que:
Agora, em nossos dias, a Pol�tica Criminal ainda � entendida como Pol�tica Anticriminal, por�m, como sua caracter�stica maior, n�o se ap�ia mais, como em passado recente, somente na for�a intimidativa ou dissuasiva da pena privativa da liberdade, numa excessiva criminaliza��o ou penaliza��o de fatos, desde que busca, preferentemente ou claramente, apelas para a��es ou instrumentos de preven��o geral e de preven��o especial, para medidas alternativas – ou inclusive substitutivas das penas detentivas.
Nesse contexto, as penas e medidas alternativas come�am a ocupar maior espa�o
nessa incessante tentativa de minorar as agruras do vigente sistema criminal sinalizando como
real oportunidade de recupera��o do r�u, principalmente quando se evita o primeiro contato
com qualquer tipo de unidade prisional.
O uso das penas alternativas no Brasil, antes da Lei 9714/98, era algo inexpressivo.
Como mencionou Luiz Fl�vio Gomes[10], nosso pa�s s� aplicava pena alternativa para 2% dos
condenados. Interessante que os 45 mil presos que poderiam estar em liberdade cometeram
11
delitos, cujo prejuízo médio causado foi de R$100,00. Diferentemente da Alemanha, Cuba e
Japão, que utilizam em 85% dos casos.
Medida alternativa é qualquer instituto legal cabível antes ou após a condenação que
evite o encarceramento, como exemplos temos a clássica suspensão condicional da pena(
sursis) concebida desde o século passado e a suspensão condicional do processo, que permite
a suspensão do processo mesmo antes do início da instrução criminal.
Já pena alternativa, por sua vez, significa sanção de natureza criminal que não
implique em privação de liberdade como a multa e a prestação de serviço à comunidade fruto
de uma sentença. No vigente direito positivo brasileiro, pode-se aplicar pena alternativa (
também chamada restritiva de direitos) nas infrações penais de menor potencial ofensivo, que
são geralmente fruto da Lei 9.099/95 e se pode punir com pena alternativa um indivíduo que
passou por toda instrução probatória, foi condenado a uma pena privativa de liberdade e na
mesma condenação o juiz converteu essa pena privativa em uma das dez espécies de penas
alternativas existentes em nosso código penal. Logo, tanto medida alternativa, como pena
alternativa constituem as alternativas penais à prisão.
A parte geral reformada do nosso código penal é de 1984. Nele foram introduzidas 6
espécies de penas alternativas: multa; prestação de serviços à comunidade; limitação de fim
de semana; proibição do exercício de cargo ou função; proibição do exercício de profissão e
suspensão da habilitação para dirigir veículo. O problema é que praticamente não se utilizava
as penas alternativas, porque a lei só permitia seu uso em condenações inferiores a um ano de
prisão.
Surgiram então os arts. 5º, XLVI e 98, I, da Constituição Federal, que serviram de
alicerce para o início da construção de uma nova política criminal no Brasil. Primeiro, foi
concebida a Lei 9.099/95 que trata dos juizados especiais cíveis e criminais e que na área
criminal atinge delitos com pena máxima em abstrato de até um ano de prisão e
posteriormente, através do projeto de Lei 2.684/96 relatado pelo Deputado Ibrahim Abi-
Ackel, em 26.11.1998 entrou em vigor a Lei 9.714, popularmente batizada de Lei das Penas
Alternativas, que alterou os artigos 43, 44, 45, 46, 47, 55 e 77, do código penal brasileiro.
A Lei 9.714/98 é um incremento ao novo modelo de justiça penal inaugurado com a
Lei 9.099/95, pois ambas servem de contraponto ao modelo penal clássico que vê na privação
12
indiscriminada de liberdade a solução para todas as chagas do sistema penal, como já foi dito.
Quais foram as principais inovações da nova?
Em se tratando de inovações, a nova Lei das Penas Alternativas concebeu mais 4
espécies de penas alternativas substitutivas além daquelas já previstas no estatuto anterior, que
são a prestação pecuniária, a perda de bens e valores, a proibição de freqüentar determinados
lugares e a prestação de outra natureza totalizando, assim, dez sanções substitutivas.
Por outro lado, as penas alternativas, em relação à sua natureza jurídica, deixaram de ser
acessórias à prisão para serem autônomas e substitutivas, ou seja, não são mais fixadas na sentença
condenatória em conjunto com as penas privativas de liberdade. Agora, o juiz, de início, na sentença
condenatória fixa a pena privativa de liberdade e, entendendo que o condenado preenche aos
requisitos do artigo 44, do código penal substitui por pena alternativa.
Outra modificação substancial é que com a nova lei houve um aumento extraordinário da
incidência das penas alternativas. Dessa forma, deve ser aplicada pena alternativa em qualquer
crime culposo e em todo crime doloso, cuja condenação não seja superior a 4 anos de privação de
liberdade, desde que o crime não seja cometido com violência ou grave ameaça. Em sendo assim
não será possível pena alternativa em um crime de lesão corporal grave, por existir a violência, nem
em um crime de roubo, onde se dá a grave ameaça. Todavia, na maioria dos delitos previstos no
código penal pode-se aplicar a pena alternativa.
Em relação ao réu o mesmo não pode ser reincidente específico, isto é, ser condenado
pelo mesmo tipo novamente. Outrossim, o condenado só pode ser beneficiado se preencher
pressupostos subjetivos contidos no art. 44, III, do Código Penal, que são a observância da:
culpabilidade; dos antecedentes; da conduta social; da personalidade; dos motivos e das
circunstâncias em que o crime foi cometido. A substituição não é automática, porém se o réu
preencher os pressupostos objetivos e subjetivos, terá direito público subjetivo a receber pena
alternativa e entendemos que mesmo estando preso por sentença condenatória transitada em
julgado anterior à Lei 9.714/98, deverá ser libertado, para que lhe seja aplicada pena alternativa, já
que a Lei penal retroage para beneficiar o réu.
CAPITULO I
PENAS ALTERNATIVAS
1.1. ORIGEM HISTÓRICA DAS PENAS ALTERNATIVAS
O surgimento do direito posto � um conjunto de fatos que devidamente valorados faz
nascer a norma. Em termos gerais, utilizando o ensinamento de Miguel Reale1, onde fatos
devidamente valorados d�o surgimento � Lei, e que, assim mesmo, confere ao direito
positivado, principalmente o brasileiro, a capacidade de externalizar os anseios da sociedade.
A pena, como fato juridicamente apreci�vel exige, segundo a vis�o tridimensionalista
realiana acima disposta, que seja utilizada com maior vigor, ou seja, os fatos dever�o ser
analisados e valorados com muito mais energia e serenidade, posto que para que haja pena �
necess�rio que se utilize do princ�pio da anterioridade esculpido na Constitui��o Federal de
1988, in verbis:
Art. 5� Todos s�o iguais perante a lei, sem distin��o de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pa�s a inviolabilidade do direito � vida, � liberdade, � igualdade, � seguran�a e � propriedade, nos termos seguintes:(...)XXXIX - n�o h� crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem pr�via comina��o legal.
Embora as penas alternativas tenham como marco inicial o ano de 1984, seus
fundamentos est�o em total conson�ncia com o texto constitucional vigente.
Na realidade o Dec.-Lei n.� 2.848, de 7 de dezembro de 1940, C�digo Penal, j�
exaltava (e exalta) o princ�pio da anterioridade, reafirmando em seu art. 1.� que: “N�o h�
crime sem lei anterior que o defina. N�o h� pena sem pr�via comina��o legal”.
A Constitui��o Federal diz em seu artigo 5.� que:
1 Miguel Reale. Filosofia do direito, 19. ed. S�o Paulo, 1999. p. 37.
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XLVI – a lei regular� a individualiza��o da pena e adotar�, entre outras, as seguintes:a) priva��o de liberdade;b) perda de bens;c) multa;d) presta��o social alternativa;e) suspens�o ou interdi��o de direitos.XLVII – n�o haver� penas:a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;b) de car�ter perp�tuo;c) de trabalhos for�ados;d) de banimento;e) cru�is.
No entanto esta garantia de que a pena s� poder� ser aplicada depois de uma lei
definidora do ato comissivo ou omissivo, como doloso ou culposo, s� ocorreu ap�s uma lenta
evolu��o, destacada por Maria Fernandes de Lima Esteves2 que, em suas pesquisas esclarece
que a hist�ria das aplica��es das penas pode ter seu in�cio na Pr�-Hist�ria em que n�o havia
um poder organizante de forma que a aplica��o da pena era ministrada pela pr�pria v�tima da
ofensa ou algu�m que o representava. Este per�odo, segundo a ilustre autora, foi chamada da
�poca da vingan�a privada ou vingan�a de sangue.
Por sua vez, no per�odo Cl�ssico, houve a transi��o da pena de cunho particular para a
pena de car�ter p�blico, sendo que, no Egito, a aplica��o da pena ficava a cargo do sacerdote
e em outros lugares, como Roma e Gr�cia, de in�cio, seguia a tradi��o eg�pcia, mas que, com
o aumento populacional, distanciou-se da religi�o e o Estado.
Continua Maria Fernanda de Lima Esteves3 afirmando que:
nessa �poca, o direito penal compreendia um conjunto assistem�tico de regras esparsas, a maioria delas n�o escritas, por meio das quais se exercia o controle sobre a classe dominada, com o fim de proteger as elites e reafirmar a autoridade central, sempre por meio da difus�o do terror e de castigos cru�is e ilimitados.
J� no per�odo Medieval, o que mais se destaca � a influ�ncia da Igreja na aplica��o das
2 Maria Fernanda de Lima Esteves. A Efic�cia das Penas Alternativas na Redu��o da Criminalidade. Disserta��o de Mestrado apresentado a Pontifica Universidade Cat�lica de S�o Paulo. f. 167. Passim.3 Maria Fernanda de Lima Esteves. op. Cit. p. 20.
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penas, como destaca Guilherme de Souza Nucci apud Maria Fernanda de Lima Esteves4:
o Direito Germ�nico, de natureza consuetudin�ria, caracterizou-se pela vingan�a privada e pela composi��o, havendo, posteriormente, a utiliza��o das ord�lias ou ju�zos de Deus (provas que submetiam os acusados aos mais nefastos testes de culpa – caminhar pelo fogo, ser colocado em �gua fervente, submergir num lago com uma pedra amarrada aos p�s – caso sobrevivessem seriam inocentes, do contr�rio a culpa estaria demonstrada e tamb�m dos duelos judici�rios, onde terminava prevalecendo a lei do mais forte.
J� no Absolutismo, a pena era aplicada pelo Rei, cujo poder concentrava em suas
m�os, sem nenhum crit�rio legal, posto que o pr�prio monarca era quem ditava as regras
geralmente para proteger seus interesses e os da classe dominante.
Neste per�odo, se destacavam pela crueldade, tais como: passar pela fogueira, a roda, o
arrastamento, o esquartejamento, o estrangulamento, o sepultamento em vida; o sigilo
processual e meios inquisitoriais, sem qualquer proporcionalidade entre o delito e as penas
aplicadas.
Por sua vez, com o humanismo e as obras de Beccaria, Manuel de Lardizabal y Uribe
e Jeremias Bentham, que influenciaram toda uma �poca e a posteridade, a pena passou a ser
adotada de modo proporcional ao dano causado, considerando a necessidade de sua imposi��o
observando a reprovabilidade da conduta, a preven��o de infra��es futuras ou ainda a
seguran�a e a paz social.
Na vis�o de Cezar Roberto Bittencourt5
Quando a pris�o converteu-se na resposta penol�gica principal, especialmente a partir do s�culo XIX, acreditou-se que poderia ser um meio adequado para conseguir a reforma do delinquente. Durante muitos anos imperou um ambiente otimista, predominando a firme convic��o de que a pris�o poderia ser um meio id�neo para realizar todas as finalidades da pena e que dentro de certas condi��es seria poss�vel reabilitar o delinquente. Esse
4 Idem. p. 20.5 Fal�ncia da pena de pris�o: causas e alternativas. S�o Paulo: Revista dos Tribunais, 1993, p. 143..
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otimismo inicial desapareceu e atualmente predomina uma certa atitude pessimista, que j� n�o tem muitas esperan�as sobre os resultados que se possa conseguir com a pris�o tradicional. A critica tem sido t�o persistente que se pode afirmar, sem exagero, que a pris�o est� em crise.
Com efeito, a sociedade deu conta que a pris�o � um local onde mais parece um
dep�sito de seres humanos, num ambiente hostil, obrigando-os a sobreviverem em contato
com criminosos mais perigosos, apreendendo a praticar mais crimes, fez com que esta mesma
sociedade valorasse uma nova forma de combater a situa��o apresentada.
A pris�o, portanto, n�o mais garante a seguran�a de que o ser humano ser�
ressocializado, mas a garantia de que poder� se tornar uma pessoa pior.
Diante disso � imperioso pensar em novas formas de aplica��o da pena sem que a
mesma perca a sua fun��o pedag�gica e sancionadora.
No Brasil, com a vig�ncia da Lei 7.209, de 11 de julho de 1984, que alterou a parte
geral do C�digo Penal, foram introduzidas novas formas de penas no ordenamento jur�dico,
entre as quais, as denominadas penas restritivas de direitos ou chamadas pela doutrina de
“penas alternativas”.
Pena alternativa, segundo o Dicion�rio T�cnico Jur�dico6, fazendo uma distin��o entre
medida alternativa e pena alternativa, em que a primeira � qualquer instituto legal cab�vel
antes ou ap�s a condena��o que evite o encarceramento como a suspens�o condicional da
pena e a suspens�o condicional do processo. J�, a pena alternativa, “(…) significa san��o de
natureza criminal que n�o implique priva��o de liberdade como a multa e a presta��o de
servi�o � comunidade fruto de uma senten�a (…).”
Segundo Ren� Ariel Dotti7
As alternativas para o sistema de penas constituem meios, m�todos e formas
6 Martinho Otto Gerlack Neto. p. 122.7 Ren� Ariel Dotti. Bases e Alternativas para o Sistema de Penas. p. 475.
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de reação ao delito que atuam em todos os momentos do dinamismo penal. Através da cominação, quando o ordenamento positivo consagra novas modalidades de sanção; da aplicação, quando ao juiz se possibilitam meios para a melhor escolha e medição da pena; e da execução, quando os regimes dispõem de condições formais e materiais que atendam aos objetivos gizados pelas diversas medidas de prevenção e repressão à criminalidade. Mas não se trata de um simples processo de substituição assim como se mudasse o curso do sistema abolindo algumas penas e introduzindo outras sem que a este fenômeno se apresentassem as justificativas necessárias. Alternar não é somente a escolha como também um processo racional de escolha. Daí então ser possível falar-se de uma orientação filosófica e política subjacente aos mecanismos de alternativas que, portanto, reverterá numa doutrina jurídica. Essa composição de etapas é imprescindível para que se formem as bases racionais do sistema, evitando que o processo de alternação se transforme no mudascismo anárquico.
Na visão de José Henrique S. Martins8, este desenvolvimento direcionado a pena
alternativa não se processou como um passe de mágica. Os fatos sociais baseados na realidade
carcerária, a sociedade civil pressionando a criação de uma política que realmente recuperasse
o individuo que retornava do cárcere muito mais perigoso. Outrossim, foram valorados
algumas punições excessivamente rigorosas.
Na realidade, o País possuía uma legislação arcaica, não baseados nos fatos sociais
contemporâneo, ou seja, não levando em considerações aos avanços sociológicos.
Sintetizando todo o exposto até aqui, Marcus Valério G. de Souza9, esclarece, quanto à
evolução das penas alternativas, que:
A pena detentiva não foi conhecida pelos povos primitivos, os quais se valiam mais da pena de morte e dos suplícios, nas suas mais diversas modalidades. Posteriormente, a prisão foi empregada como medida preventiva, até que o acusado fosse devidamente condenado, quando então seria submetido à pena de morte, à escravidão e outras espécies infamantes de penalidades. Somente na sociedade cristã é que a prisão foi adotada como sanção penal, antes, temporariamente, depois atingindo outras formas, perpétua e solidária. No século XVIII, finalmente, a prisão tomou forma de sanção definitiva, ocupando o lugar de outras formas de repressão, se bem que apresentando condições de encarceramento primitivas e desumanas, sem qualquer outra preocupação.
8 Jorge Henrique Schaefer Martins. Penas Alternativas: comentários à Nova Lei n.º 9714, de 25 de novembro de 1998, que altera dispositivos do Código Penal.9 Marcus Valério Guimarães de Souza. A importância das penas alternativas na recuperação do apenado. p. 01
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José Henrique S. Martins10 afirma ainda que:
Entre os substitutivos penais que se propõem a evitar o encarceramento do condenado, principalmente nos casos de penas de curta duração, encontram-se as formas de punir alternativas. Estas penas capazes de produzir o efeito benéfico da punição, sem os inconvenientes da prisão, foram lembradas desde o momento em que se constatarem os maléficos da prisão imposta em virtude de penas brandas, e as sugestões mais significativas apontavam as seguintes: a) castigos corporais; b) multa; c) detenção domiciliar (Código Penal argentino e nosso Projeto Alcântara); d) admoestação e repreensão judicial; e) perdão judicial; f) prisão de fim de semana; g) prisão nas férias; h) prestação de serviços à comunidade; i) interdição de direitos; j) dever de aprendizado.
Com a entrada em vigor da Lei n.º 9.714, de 25 de novembro de 1989, que alterou
vários dispositivos do Código Penal, pôde-se perceber a evolução da aplicação de outros tipos
de soluções para o conflito penal onde as penas alternativas poderiam ser aplicadas também a
condenados por crimes previstos em legislação especial, desde que presentes todos os
requisitos tanto objetivos como os subjetivos para a substituição da pena privativa de
liberdade.
Cabe a substituição da pena de prisão nos crimes culposos, qualquer que seja a pena
aplicada, é admitida a substituição, como afirma Luiz Flávio Gomes:11
Qualquer que seja a pena aplicada admite-se a substituição. Mesmo que a infração tenha um certo conteúdo de afetação dos bens jurídicos, vida ou integridade física (tal como se dá no homicídio e lesão culposa), em tese, nada impede a substituição, desde que presente todos os requisitos legais.
Neste contexto, segundo José Henrique S. Martins12 é nas palavras do ex-Ministro
Nelson Jobim do Supremo Tribunal Federal, que podemos verificar o ponto culminante do
desenvolvimento das penas alternativas.
10 José Henrique Schaefer Martins. Op. cit., p. 83.
11 GOMES, Luiz Flávio. Penas e Medidas Alternativas à Prisão. São Paulo: RT, 1999. p. 11412 Jorge Henrique Schaefer Martins. Penas Alternativas: comentários à Nova Lei n.º 9714, de 25 de novembro de 1998, que altera dispositivos do Código Penal, p. 18.
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Mas, se infelizmente n�o temos, ainda, condi��es de suprimir por inteiro a pena privativa de liberdade, caminhamos a passos cada vez mais largos para o atendimento de que a pris�o deve ser reservada para os agentes de crimes graves e cuja periculosidade recomende seu isolamento do seio social. Para crimes de menor gravidade, a melhor solu��o consiste em impor restri��es aos direitos do condenado, mas sem retir�-lo do conv�vio social. Sua conduta criminosa n�o ficar� impune, cumprido, assim, os des�gnios da preven��o especial e da preven��o geral. Mas a execu��o da pena n�o o estigmatizar� de forma t�o brutal como a pris�o, antes permitir�, de forma bem mais r�pida e efetiva, sua integra��o social. Nessa linha de pensamento � que se prop�e, no projeto, a amplia��o das penas alternativas � pena de pris�o.
Para M�rio Lu�s L�rio Cipriani13:
� not�rio ouvir-se falar que a pol�tica criminal do direito penal cl�ssico � tida como ultrapassada, e as discuss�es que hoje s�o travadas no �mbito da criminalidade moderna, que hostiliza a pena privativa de liberdade para crimes n�o violentos, busca sua substitui��o por penas reparat�rias, restritivas de direito, etc., tudo como parte de uma nova pol�tica social descarcerizadora. A id�ia desse direito penal moderno busca introduzir as penas alternativas diretamente nos tipos penais, transformando-as em penas principais (FERRAJOLI, 1986, 37). Nessa senda, entende Luiz Fl�vio Gomes (2000, p. 12) que neste novo s�culo “o grande desafio consiste em saber definir bem quais as penas alternativas s�o efetivamente exequiveis, para depois dar um passo decisivo, qual seja a reformula��o do sistema de penas do c�digo penal, reservando a pris�o como ultima ratio.
Merece aten��o o fato de que antes do advento da Lei 9.714/84, o C�digo Penal, j�
previa seis modalidades de aplica��o de penas alternativas, aumentando para dez, com a
promulga��o desta �ltima.
Nas palavras de Cl�udio Brand�o14, o Direito Penal � dividido em duas fases, a
conhecida como Per�odo do Terror, que se encerra no Iluminismo, tendo como destaque as
atrocidades do per�odo, n�o havendo propor��o entre o mal cometido e a pena impingida e a
segunda que se inicia com a obra de Beccaria, “Dos delitos e das penas”.
13 M�rio Lu�z L�rio Cipriani. Das penas: suas teorias e fun��es no moderno Direito Penal,Canoas-RS.
Ulbra, 2005. 14 Cl�udio Brand�o. Introdu��o ao Direito Penal. An�lise do sistema penal � luz do Princ�pio da Legalidade. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 11.
20
Com a obra de Beccaria15, a pena assume um fim utilit�rio, conforme podemos ver
neste trecho:
a humaniza��o do direito penal com verdadeiras finalidades para a pena; humaniza��o no sentido de respeitar os direitos b�sicos do ser humano e, quanto �s finalidades, a primeira no sentido de intimidar o indiv�duo que vive em sociedade a ponto do mesmo n�o transgredir a norma jur�dica imposta pelo Estado, e a segunda, no caso do indiv�duo vir a transpor os limites dessas normas, n�o se sentindo intimidado, ser submetido � reeduca��o e posteriormente uma ressocializa��o.
O Estado brasileiro adota em seu sistema penal uma teoria conciliadora que pretende
alcan�ar uma pena justa e proporcional, de forma que tem como finalidade, n�o somente
aplicar a pena de pris�o ao infrator da norma, mas admite outros projetos dos quais possibilita
novos aprendizados e reflex�es sobre a pr�pria conduta, conforme podemos ver no art. 59 do
C�digo Penal, in verbis:
Art. 59. O juiz, atendendo � culpabilidade, aos antecedentes, � conduta social, � personalidade do agente, aos motivos, �s circunst�ncias e conseq��ncias do crime, bem como ao comportamento da v�tima, estabelecer�, conforme necess�rio e suficiente para a reprova��o e preven��o do crime: I – as penas aplic�veis dentre as cominadas;II – a quantidade da pena aplic�vel, dentro dos limites previstos;III – o regime inicial do cumprimento da pena privativa de liberdade;IV – a substitui��o da pena privativa de liberdade aplicada, por outraesp�cie de pena, se cab�vel.
Com isto, abre espa�o, dentro da pr�pria Lei, �s penas alternativas para o devido
cumprimento da pena, o que levar� o condenado a poder ser ressocializado, e n�o apenas ser
jogado numa pris�o como se fosse lixo humano.
15 Cesare Beccaria. Dos delitos e das penas. Tradu��o de Torrieri Guimar�es. S�o Paulo: Martin Claret, 2004.
CAPITULO II
O SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO
Discorrer sobre o sistema penitenci�rio do Brasil � discorrer sobre viola��es dos
direitos do ser humano, como a liberdade, a integridade, a honra, a dignidade, etc.
Mas discorrer sobre isso requer aprofundamento te�rico e pr�tico que v�o al�m deste
humilde trabalho, de forma que cingir� apenas em alguns aspectos dos quais consideramos
mais relevante.
2.1. A DIGNIDADE DO SER HUMANO RECOLHIDO NO SISTEMA
PENITECIÁIRO
A Constitui��o Federal afirma categoricamente que a na��o brasileira pro�be maus
tratos aos seus detentos presidi�rio, quando afirma que “a pena ser� cumprida em
estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado”
(Art. 5�, inc. XLVIII), e que a estes ser�o assegurados “(...) o respeito � integridade f�sica e
moral” (art. 5�, inc. XLIX).
Erigido como cl�usula p�trea, o presidi�rio deveria ter um tratamento digno, de acordo
com a Lei. Partindo-se desta premissa, constata-se que deve ser assegurado ao presidi�rio um
tratamento digno, como manda a Constitui��o Federal.
Neste sentido dissertou Yolanda Cat�o16
a pris�o n�o constitui territ�rio no qual as normas constitucionais n�o tenham validade.
A fim de dar aplicabilidade aos incisos acima mencionados a Lei de Execu��o Penal
registra normas para o efetivo cumprimento da pena, pontuando direitos e obriga��es do
detento, visando manter a dignidade do encarcerado, cujo fim � garantir a dignidade do preso
e alicer�ar seu retorno para a sociedade.
16 Yolanda Cat�o e Elisabeth Sussekind. Direitos dos presos. p. 12.
22
Deve-se preservar tanto os direitos como os deveres do preso, buscando n�o permitir o
desvio durante a execu��o, como forma de manter a dignidade do preso. Ao mesmo tempo, o
conjunto de normas procura pavimentar o caminho do condenado para sua reinser��o social.
Na verdade, a Lei de Execu��o Penal est� apenas cumprindo os princ�pios constitucionais.
De acordo com Julio Fabrinni Mirabete17este parece estar sendo o ponto mais levantado
atualmente por certos juristas quando afirmam que, na san��o imposta pelo C�digo Penal – a priva��o
de liberdade – n�o est�o inclu�dos os sofrimentos acrescidos pela situa��o reinante nas pris�es, os
quais terminam por agravar a pena a que foi condenado o infrator.
O autor acima citado defende, ent�o, que a pena n�o deve ser mais gravosa do que
aquela determinada na decis�o, caso contr�rio, seria como a aplica��o de uma pena
suplementar, extrapolando os limites da lei, quando � impingido ao preso qualquer esp�cie de
sofrimento ou preju�zo material e moral.
O Estado tem o direito de executar a pena que foi atribu�da ao preso. Esta, n�o deve ir
al�m do que foi determinado na senten�a, o que constitui direito do presidi�rio. Caso esse
princ�pio n�o seja obedecido, estar-se-�, aplicando ao presidi�rio uma pena suplementar.
Infringir qualquer esp�cie de sofrimento, ou preju�zo, seria extrapolar os limites legais.
Mirabete tamb�m assim escreveu:
Este parece estar sendo o ponto mais levantado atualmente por certos juristas quando afirmam que, na san��o imposta pelo C�digo Penal – a priva��o de liberdade – n�o est�o inclu�dos os sofrimentos acrescidos pela situa��o reinante nas pris�es, os quais terminam por agravar a pena a que foi condenado o infrator.18
Na realidade, � na pris�o que o simples ato de recolhimento se transforma na pior
viola��o dos direitos, onde o preso sofre todas as mazelas, onde a superlota��o e a mistura de
presos comuns com seq�estradores, traficantes, etc.. dos quais levam a viol�ncia para dentro
das cadeias.
A verdade � que quando a pessoa � sentenciada � como que as portas da sociedade se
17 MIRABETE, J�lio Fabbrini. Execução penal: coment�rios � Lei n.� 7,219, de 11-07-84. p. 42.18 MIRABETE, J�lio Fabbrini. Execução penal: coment�rios � Lei n.� 7,219, de 11-07-84. p. 42.
23
fechassem atrás de si para ingressar num local que mais lembra o holocausto, onde garantias
constitucionais e direitos básicos são como letras mortas e lei que impera é a do mais forte.
2.2 TRATAMENTOS SUBUMANOS - SEM DIREITOS
Quando se trata do assunto, é bom conceituar o que significam direitos humanos. Eles
compreendem as garantias individuais imprescindíveis, tendo como princípio a dignidade do
cidadão, titular de direitos que devem ser respeitados e reconhecidos.
José Bolzan de Morais19, ao considerar que um dos princípios dos direitos humanos á
a dignidade da pessoa, ensina que:
[...] como conjunto de valores históricos básicos e fundamentais, que dizem respeito à vida digna jurídica, política, psíquica, física e afetiva dos seres e como condição fundante da vida, impondo aos agentes político-jurídico-sociais a tarefa de agirem no sentido de permitir que a todos seja consignada a possibilidade de usufruí-los em benefício próprio e comum, ao mesmo tempo. Assim como os direitos humanos se dirigem a todos, o compromisso com a sua concretização caracteriza tarefa de todos, em um comprometimento comum com a dignidade de todos.
Entende-se então, que o mais importante não é saber quais e quantos são esses
direitos, qual é a sua natureza e seu fundamento.
Assim asseverou Fernando Barcellos de Almeida se são direitos naturais ou históricos,
absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar
das solenes declarações, eles sejam continuamente violados.20
Pode-se perfeitamente afirmar que o Estado, em alguns momentos, age em vez de
garantidor de direitos, transforma em violador deste mesmo direito, ao negar ao cidadão uma
19 José Luis Bolzan de Morais. As crises do Estado e da Constituição e a transformação espacial dos direitos humanos. p. 523.
20 ALMEIDA, Fernando Barcellos de. Teoria geral dos direitos humanos. p. 24.
24
perspectiva de vida que lhe ser� favor�vel para seu desenvolvimento numa sociedade baseada
na justi�a social. Ao assim fazer, poder� estar contribuindo para um potencial violador da
norma penal, resultando num ser humano que ser� tratado como que sem direitos e deveres
para com a sociedade.
Direitos humanos, segundo todo o contexto de sua afirma��o � para todos os seres
humanos, N�o � preciso exercitar muito o poder de racioc�nio para perceber que a realidade
social vivencia tira o mito do Estado como garantidor de direitos, uma vez que, em muitos
casos ele � violador de direitos, quando nega ou exclui do cidad�o � uma perspectiva de vida
melhor, ou, ainda, quando se omite, no caso dos presos, n�o garantindo os direitos b�sicos �
sua dignidade e sobreviv�ncia.
Dentro do contexto dos direitos humanos, todas as pessoas nascem com os mesmos
direitos fundamentais, independentemente de sexo, religi�o, cor da pele, classifica��o social e
principalmente, daqueles recolhidos atr�s das grades ou, em qualquer situa��o moment�nea,
em que se encontra sem sua liberdade.
A sociedade n�o se preocupa em saber como est�o os seus semelhantes que est�o atr�s
das grades pois se sentem seguras quando estes mesmos est�o segregados de seu conv�vio,
sem se importar com o sofrimento que lhes afligem como a superlota��o, p�ssimas condi��es
sanit�rias, alimenta��o degradante, assist�ncia m�dico-hospitalar indigna, al�m da prec�ria
assist�ncia social, educacional, profissional e acima de tudo, jur�dica.
Os direitos humanos fundamentais s�o ao mesmo tempo para todos os seres humanos,
e eles continuam existindo mesmo para aqueles que cometerem crimes ou praticam atos que
prejudicam as pessoas ou a sociedade. Nesses casos, aquele que praticou o ato contr�rio ao
bem social deve sofrer a puni��o prevista em lei, mas lembrando sempre que ele continua a
ser uma pessoa humana.
Nas duas �ltimas d�cadas, a sociedade brasileira tem sido freq�entemente assaltada
pelas not�cias de rebeli�es em penitenci�rias, em pres�dios comuns e mesmo em cadeias
p�blicas. Verifica-se, tamb�m, que gradativamente aumenta-se a viol�ncia durante essas
rebeli�es. Em algumas ocasi�es as negocia��es n�o progridem e chega-se � radicaliza��o.
Quando esta ocorre, faz-se a op��o pela medida mais arriscada – o emprego de uma for�a
maior para conter a demonstra��o de for�a dos amotinados.
25
Alguns consideram que os acontecimentos s�o normais, que a pol�cia n�o tinha outra
sa�da, que haviam vidas em risco, etc. Outros, mais radicais, acham que � tudo muito natural,
e que “bandido bom � bandido morto”. O problema � que nem sempre a v�tima da agress�o,
da viola��o dos direitos humanos � exatamente um bandido. No massacre do Carandiru21, por
exemplo, mais da metade dos mortos ainda aguardava julgamento.
S�o em ocasi�es como esta que o brasileiro comum consegue olhar pela fresta de um
pres�dio e descobrir um pouco do que existe l� dentro. As cenas s�o bastante degradantes:
Neste sentido escreveu N. C�rdia
o escuro das celas, a sujeira pelos cantos, a alimenta��o insossa, a falta de higiene, o perigo disseminado por todos os cantos e corredores, as doen�as convivendo par a par com a sa�de, os espancamentos e agress�es gratuitas e as viola��es sexuais. 22
Independente de qual regi�o est� inserido o estabelecimento prisional, as condi��es da
maioria deles obedecem certa semelhan�a: superlota��o; condi��es sanit�rias rudimentares;
alimenta��o deteriorada; prec�ria assist�ncia m�dica, judici�ria, social, educacional e
profissional; viol�ncia incontida entre os presos, entre estes e os agentes de controle e arb�trio
punitivo.
Por sua vez, a popula��o n�o est� interessada, pelo menos n�o a maioria, nas rela��es
do preso com a sociedade. Ali�s, ela se sente tanto mais segura quantos seguros forem os
pres�dios. � como se para ela bastasse que o Estado mantivesse uma segura separa��o entre os
dois mundos – o seu e o do preso. N�o est� preocupada se esse preso est� sendo reeducado,
preparado para quando retornar ao conv�vio social.
Na verdade, torna-se um circulo vicioso: o preso n�o � preparado para sua
reintegra��o � sociedade, quando � solto (retirado da sela depois de anos e colocado no meio
da popula��o), sem perspectivas e sem preparo, volta a delinq�ir. A� alguns setores da
21 O massacre do Carandiru ocorreu no dia 2 de outubro de 1992, quando a Pol�cia Militar invadiu o Pavilh�o Nove da Casa de Deten��o de S�o Paulo, para tentar conter uma rebeli�o. A a��o terminou com a morte de 111 presos e mais de 120 feridos. O caso ganhou repercuss�o internacional pela brutalidade de como a pol�cia conteve os detentos.
22 CARDIA, N. Percepção dos direitos humanos: ausência de cidadania e a exclusão moral. in M.J.P. Spink (Org.), A cidadania em construção: uma reflex�o transdisciplinar . p. 45.
26
sociedade dizem que realmente não adianta nada tentar regenerar os criminosos, e tem mais é
que mantê-los preso. E assim começa tudo novamente.
A grande parte dos problemas vividos nos presídios tem sua origem na superlotação, o
que contribui para a promiscuidade e a violência, e nessas condições é impossível se pensar
em política ressocialização dos condenados.
Outro fator que agride a dignidade dos presos é a alimentação, de forma especial
naqueles estabelecimentos que não possuem cozinha própria.
As condições de acondicionamento e conservação dos alimentos é precária,
contribuindo para aumento de problemas gastrointestinais. Quem pode, recorre a parentes e
amigos para ter uma dieta mais adequada.
M. S. Camargo assim assentou:
Há mesmo quem, desprovido de contatos com o mundo exterior, se queixe de receber alimentação apenas uma vez por dia, o que parece ter sido constatado em prisões do Norte e Nordeste do país 23
Outro problema grave vivido nos presídios, é com relação à saúde. O excesso de
pessoas num espaço pequeno, a falta de higiene das instalações e a qualidade deficiente da
alimentação, contribuem para a proliferação de diversas epidemias. Na verdade, trata-se de
uma população de alto risco. Como qualquer outra pessoa, o preso está sujeito a contrair
algum tipo de doença. Mais ainda, com as condições insalubres da maioria dos presídios
brasileiros.
Mirabete afirma que:
Para a prestação da assistência à saúde é evidentemente indispensável que os estabelecimentos penitenciários estejam providos de convenientes instalações médico-sanitárias a fim de que os médicos e demais profissionais executem seus serviços preventivos e curativos, vigiando o cumprimento das normas sanitárias e de higiene nas prisões, bem como mantenham um corpo
23 CAMARGO, M.S. (1995). Sistema policial e carcerário. in: NEV-USP. Os direitos humanos no Brasil. Disponível em: <www.nevusp.org/conteudo/index.php?lingua=0&conteudo_id=452 - 52k.
27
de pessoal adequado para o desenvolvimento desse servi�o.24
Ocorre que nem todos os estados possuem hospitais penitenci�rios, o que obriga que
presos sejam atendidos em hospitais da rede SUS, onde a seguran�a precisa ser improvisada.
No final do ano passado o Conselho regional de Medicina do Estado de S�o Paulo, divulgou
nota na imprensa cobrando provid�ncias das autoridades quanto ao problema de risco,
inclusive da popula��o. No manifesto, os m�dicos afirmavam que n�o queriam mais prestar
esse tipo de atendimento. Eles defendiam o melhor aparelhamento dos hospitais
penitenci�rios para atender toda demanda verificada.25 Com medo, m�dicos e a comunidade
se insurgiam contra mais um dos direitos humanos do presos.
O panorama se agrava ainda mais quando olhamos para as atividades que poderiam
contribuir efetivamente para a ressocializa��o do preso – educa��o e profissionaliza��o.
S�rgio Adorno escreve que:
Embora em n�o poucos estabelecimentos penitenci�rios haja conv�nios com entidades especializadas na oferta de escolariza��o b�sica, dispensando-se, nessas circunst�ncias os servi�os pr�prios, quase sempre desorganizados e ineficazes, essa escolariza��o padece dos mesmos obst�culos e problemas enfrentados pela escola p�blica oferecida � popula��o em geral. Apesar da exist�ncia, em alguns estabelecimentos, de recursos at� sofisticados como os audiovisuais, o aprendizado revela-se deficiente, o que se traduz nas elevadas taxas de evas�o escolar, sintoma de uma popula��o de baixa escolaridade, sem tradi��o de freq��ncia � escola.26
O que dizer ent�o das alternativas de forma��o profissional colocada � disposi��o dos
internos? Isso quando as h�, uma vez que � comum destinar os presos para trabalhos internos
comuns, como a faxina, a cozinha, e assim por diante. Nada que contribua para reeduc�-lo, ou
prepar�-lo para enfrentar um mercado de trabalho excludente e que, ainda por cima, poder�
ser discriminat�rio com sua situa��o de condenado.
Alguns pres�dios at� possuem oficinas para essa forma��o profissional necess�ria, mas
24 Op. cit. p. 43.25 ABOS, M�rcia. Com medo da violência, médicos não querem mais atender presos em hospitais comuns.
Dispon�vel em < http://oglobo.globo.com/sp/mat/.26 ADORNO, S. Prisões, violências e direitos humanos no Brasil. Dispon�vel em
<http://www2.mre.gov.br/ipri/Papers/DireitosHumanos/Artigo40.doc>.
28
quase sempre com dimens�es acanhadas, que n�o conseguem comportar um n�mero
satisfat�rio de presos. Isso leva � cria��o de uma esp�cie de elite27 dentro do pres�dio, j� que
poucos s�o os que conseguem o benef�cio de freq�entar uma oficina profissional. Afora as
oficinas, as �nicas alternativas para quem deseja trabalhar s�o as empresas particulares que
carecem de m�o-de-obra n�o especializada, e, portanto muito barata. Mesmo assim a
remunera��o paga a esses presos � muito aqu�m do mercado.28
Outro direito do preso, e que nem sempre � concedido, diz respeito � assist�ncia
judici�ria e social. A OAB/MT publicou relat�rio no qual afirma que “excessivo n�mero de
rebeli�es nas penitenci�rias, pres�dios e cadeias p�blicas em Mato Grosso, muitas das quais com fugas e tentativas de
fugas, al�m dos riscos a integridade f�sica de funcion�rios do Sistema Penitenci�rio, tem uma explica��o: a falta de
assist�ncia judici�ria.”29
Entretanto isso n�o � primazia apenas do estado de Mato Grosso. Em todos os estados
brasileiros a situa��o � a mesma, pelo que apontam relat�rios e material da m�dia nacional.
Muitos s�o os condenados que j� poderiam estar gozando de algum tipo de benef�cio, como a
progress�o de regime, por exemplo. Mas a falta de assist�ncia judici�ria adequada termina
negando ao preso esse direito que lhe � garantido pela legisla��o. Para a OAB/MT (op. cit.)
grande parte dos presos, depois de condenados, � simplesmente esquecida dentro do labirinto
do sistema penitenci�rio. E realmente n�o h� como se pretender reeduca��o de preso num
sistema onde os direitos n�o s�o respeitados.
A Lei de Execu��es Penais determina ainda, no art. 22, que: “A assist�ncia social tem
por finalidade amparar o preso e o internado e prepar�-los para o retorno � liberdade.”
Mirabete ensina que:
O servi�o social, como arte, consiste na aplica��o dos conhecimentos, teorias e doutrinas que, subordinados a princ�pios,constituem a ci�ncia do servi�o social,para alcan�ar,como resultado,a solu��o dos problemas humanos que acarretam infelicidade e,assim,obter bem-estar. 30
Pode se pensar, de forma errada, que assist�ncia social para presos consiste apenas em
27 Id. Ibdem28 Id. Ibdem29 OAB/MT. Falta de assist�ncia judici�ria gera rebeli�es em pres�dios de MT. Dispon�vel em
<www.oabmt.org.br/index.php?mat=1819>.30 MIRABETE. Op. cit. p. 67.
29
tentar eliminar, ou pelo menos diminuir, os problemas que ele tem. Entretanto, o preso n�o
difere, quanto �s suas necessidades assistenciais, daquele que est� em liberdade.
O trabalho prestado pela assist�ncia social ganha contornos mais din�micos quando se
trata de atender o preso. Al�m das necessidades normais de um homem livre, �s do preso de
agregam outras duas: 1) a necessidade de manter uma liga��o com a fam�lia; 2) a necessidade
de sua ressocializa��o.
Neste sentido � que resta evidente que o profissional de Servi�o Social, de cada
Unidade Penal, � o elo entre o preso e sua fam�lia e entre o preso e a sociedade. 31
Infelizmente percebe-se que a assist�ncia social, na maioria das vezes, funciona mais
como um despachante penitenci�rio, executando servi�os burocr�ticos para os presos. � o que
se deduz, por exemplo, do manual de orienta��o penitenci�ria do Estado do Paran�, onde est�
escrito que:
Promove-se a Orienta��o Social ao interno e seus familiares, orientando-os sobre: Aux�lio Reclus�o, Seguro Desemprego, PIS/PASEP, recebimento de Fundo de Garantia, Aux�lio Doen�a, credencial de visitantes para visita �ntima e social e a documenta��o pessoal em geral.32
A norma, in casu, estabelece os fins, mas, para atingir estas metas, � necess�rio muito
mais do que a simples letra fria da lei. Ao contr�rio, deve o Governo investir em medidas que
atenda os interesses dos cidad�os preservando os direitos dos apenados.
2.3. A DIGNIDADE DO DETENTO
A dignidade humana n�o � uma inven��o de fil�sofos ou soci�logos. Ela encontra
respaldo nas Constitui��es de v�rios pa�ses, inclusive na Constitui��o Brasileira de 1988.
31 ESTADO DO PARAN�. Regimento Interno – penitenci�ria de Londrina. Divis�o Assistencial. Dispon�vel em <www.pr.gov.br/depen/pen_pel.shtml#dias .
32 ESTADO DO PARAN�. Regimento Interno – penitenci�ria de Londrina. Divis�o Assistencial. Dispon�vel em <www.pr.gov.br/depen/pen_pel.shtml#dias
30
Para Dalmo de Abreu Dallari33
A Constituição é a declaração da vontade política de um povo, feita de modo solene por meio de uma lei que é superior a todas as outras e que, visando a proteção e a promoção da dignidade humana, estabelece os direitos e as responsabilidade fundamentais dos indivíduos, dos grupos sociais, do povo e do governo.
A noção de dignidade da pessoa humana funde-se com a definição material de
Constituição, já que a preocupação com o ser humano consagrou-se como uma das finalidades
constitucionais.
A Constituição é a declaração da vontade política de um povo, feita de modo solene por meio de uma lei que é superior a todas as outras e que, visando a proteção e a promoção da dignidade humana, estabelece os direitos e as responsabilidade fundamentais dos indivíduos, dos grupos sociais, do povo e do governo.34
Infelizmente percebe-se que existe um conceito discriminatório arraigado em grande
parte da sociedade brasileira, a de que todo presidiário é bandido, e como tal deve ser privado
de todos os direitos, inclusive à dignidade.
Para Cesar Roberto Bittencourt35, é como se esse pensamento se refletisse nas
péssimas condições em que se encontram os estabelecimentos penais brasileiros. O resultado
não poderia ser diferente: ao invés de se reabilitar, o detido passa a nutrir um ódio cada vez
maior pela sociedade que o colocou ali. Em sua mente, movido pela força natural de seu
raciocínio, a sociedade não lhe deu emprego, educação ou qualquer condição que lhe
garantisse a subsistência. O crime que cometeu foi motivado pela própria sociedade e ele não
o teria praticado se esta mesma sociedade não lhe tivesse motivado.
A partir desse conceito, é preciso encarar o preso como uma pessoa que necessita de
ajuda sim, mas também necessita de respeito, apoio físico e psíquico para que tenha esperança
de recuperar sua moral e reequilíbrio social. Caso isso não ocorra, teremos a continuidade da
situação acima descrita.
Embora a sociedade considere que sua segurança estará mais garantida se os agentes
infratores estiverem confiados atrás de muros altos e grossos, e de preferência por muitos
33 Dalmo de Abreu Dallari. Constituição e constituinte. p. 21-22.34 DALLARI, Dalmo de Abreu. Constituição e constituinte. p. 21-22.35 César Roberto Bittencourt. Falência da pena de prisão: causas e alternativas. p. 115-123.
31
anos, isso n�o � exatamente a solu��o. Atingido em sua dignidade – privado de direitos e
recebendo tratamento desumano – obviamente o preso ser� uma pessoa ainda mais revoltada.
A falta de processo adequado de sociabilizar�o, somada � essa priva��o de direitos e
dignidade, est� pronto o caldo para reincid�ncia – e l� volta o circulo vicioso.
N�o se justifica desperdi�ar os anos que um preso passar� atr�s das grades. Na maioria
das vezes ele n�o aproveitou – n�o quis ou n�o pode – a oportunidade de estudar quando
jovem e adolescente. Para ele, o mercado j� ser� excludente sem a necessidade do r�tulo de
ex-presidi�rio. Assim, quando egresso, ter� sua dignidade ainda mais ferida, mais aviltada. �
nesse sentido que esse tempo deve ser aproveitado para a educa��o formal (Educa��o de
Jovens e Adultos – EJA, por exemplo) e para o ensino profissionalizante. � preciso que se
permita que eles mostrem o valor que t�m, ou o valor que podem adquirir.
� preciso descartar de uma vez por todas o estere�tipo de que todo preso � bandido e
todo bandido s� � bom se estiver morto. Ele n�o � uma pessoa que deixou de pertencer �
sociedade, sem direitos e sem dignidade. Ele foi retirado do conv�vio dessa sociedade, por um
per�odo de tempo, que ser� aproveitado para reeduc�-lo, devolvendo-o a essa sociedade. Seu
isolamento atr�s dos muros de uma pris�o n�o pode significar a perda de sua dignidade. Ainda
h� tempo.
Pelo que foi exposto neste cap�tulo, percebe-se claramente que n�o h� dignidade para
o preso, apesar do que determinam as conven��es, nacionais ou internacionais, a Constitui��o
federal e os diversos planos – nacional e estaduais – de direitos humanos e resgate da
dignidade do preso.
Verifica-se tamb�m, que n�o se sentenciam penas alternativas, at� porque a infra-
estrutura para isso � rid�cula e os ju�zes n�o acreditam na compet�ncia do Estado para
acompanhar esses presos, vigiar se est�o realmente cumprindo o benef�cio como a lei
determina.
Como resultado de toda essa incapacidade (ou incompet�ncia) do Estado, o que
encontramos � uma situa��o desumana, sem nenhuma dignidade para os presos: delegacias e
distritos Policiais suprindo a car�ncia das penitenci�rias e casas de deten��o; estas por sua vez
se encontram superlotadas e, a maioria, sem nenhuma estrutura digna para atender a massa
carcer�ria, e tornando-se estopins de freq�entes rebeli�es, fugas e mais viol�ncia.
32
2.4. AS CONSEQUÊNCIAS PARA A SOCIEDADE
Inicialmente, cumpre-se entender melhor o que significa socializar o indiv�duo, em
fun��o da constante utiliza��o do termo ressocializar. Optamos ent�o, pelo parecer da
psic�loga Cistina Brito:
Entendemos socializa��o como um processo pelo qual o indiv�duo interioriza os elementos aprendidos ao longo de sua vida, integrando-os na estrutura de sua personalidade, influenciado por experi�ncias significativas e adquiridas, adaptando-se, dessa forma, ao ambiente social. � atrav�s dela, a socializa��o, que estruturamos nossa personalidade e nos tornamos um ser social. Quando acontece alguma ruptura ou interiorizar�o de elementos quaisquer reprovados pelas normas sociais, pode-se ocorrer a eclos�o de comportamento e/ou conduta desviante, ocasionando a atitude que leva a transgress�o das normas e padr�es aceit�veis pela sociedade, ou seja, o cometimento da infra��o sujeita as Penas da Lei.36
Existe uma corrente de pensamento que ganha espa�o entre os meios jur�dicos, de que
as penas e medidas alternativas trazem reflexos mais positivos para sociedade, apesar de que
grande parte dela ainda n�o percebeu isso. Como num sentimento de vingan�a, setores da
sociedade consideram que os presos devem cumprir longas penas e em regime fechado. � a
falsa sensa��o de seguran�a.
O que talvez n�o esteja sendo levado em considera��o, � que ao ser preso o agente
infrator passa por uma ruptura social traum�tica – perde o v�nculo com o lar, a fam�lia e a
sociedade.
Na pris�o, o indiv�duo tem que se adaptar a uma nova realidade, passa a conviver dentro de grupos fechados, que tem como grupo maior � popula��o carcer�ria de onde se encontra recolhido, com regras pr�prias e peculiares, nas quais os indiv�duos descendem de diferentes realidades sociais, concep��es diferentes em rela��o � fam�lia, a vida em sociedade, ao comportamento, ao ambiente, a religi�o e de tamb�m de diversas faixas et�rias. Essa conviv�ncia com uma realidade distinta a sua, ocasiona a gradativa perda da pr�pria individualidade e muta��o na sua conduta social.37
Neste quadro, o papel do Estado deve caminhar junto com a sociedade.
36 BRITO, Cristina. A ressocialização através das penas alternativas. Dispon�vel em <http://www.tjpe.gov.br/Intranet/Noticias_Vepa/Artigos/> ,
37 ROURE, Denise de. Panorama dos processos de reabilitação de presos. Revista CONSULEX. Ano III, n� 20, Ago. 1998, p. 15-17.
33
2.5 CUSTO SOCIAL DA VIOLÊNCIA
� preciso levar em conta que a criminalidade afeta diretamente o bem-estar das
pessoas, atrav�s de seus diversos desdobramentos, como a perda precoce de vidas humanas, a
redu��o da qualidade de vida ou ainda a perturba��o � efici�ncia econ�mica. � por isso que
estudar a criminalidade em todos os seus aspectos, como forma de buscar alternativas eficazes
de combate ao crime e aos seus efeitos delet�rios, contribui para melhorar o bem-estar
coletivo.
Poucas vezes paramos para avaliar as conseq��ncias financeiras da viol�ncia e da
incapacidade do Estado em dar aos problemas as solu��es esperadas pela comunidade. Essa
incapacidade tem um custo, e quem paga esse custo � a sociedade.
T�lio Kahn afirma o seguinte:
a viol�ncia custa caro, tanto para o pa�s como individualmente, porque ‘seguran�a’ � um bem desejado por todos, mas cada vez mais escasso.38
E na busca da garantia desses bens, todos os dias s�o executadas dezenas de a��es “de
precau��o e adquiridos outros tantos bens no mercado: seguros de toda esp�cie; c�es de
guarda; quinquilharias eletr�nicas; travas; grades e cadeados de todo tamanho e fun��o.” 39
Ainda que as maiorias das pessoas nunca tenham parado para refletirem sobre o
assunto, o medo quanto � seguran�a interfere em sua rotina. Muitas vezes deixam de
comparecer a um concerto porque o estacionamento fica longe, abandona-se a id�ia de um
final de semana numa cidade considerada violenta, e assim por diante.
Mas, se tudo tem um custo, e esse custo � pago pela sociedade, talvez seja interessante
tamb�m analisar as conclus�es do professor Walter Barelli, segundo o qual o custo com os
presos que respondem atrav�s de penas alternativas, � infinitamente inferior aos que est�o em
regime fechado.
Para se ter id�ia, no estado de S�o Paulo, onde h� poucos anos implantou um programa de apoio �s penas alternativas, relata-se que o custo mensal de cada preso dentro da penitenci�ria era de cerca de R$620,00 (Seiscentos e
38 KAHN, Tulio. Os custos da violência: quanto se gasta ou deixa de ganhar por causa do crime no Estado de S�o Paulo. S�o Paulo, Perspectiva, v. 13, n. 4, 1999. Dispon�vel em: <http://www.scielo.br/scielo.php?>7.
39 idem
34
vinte reais). Agora, j� dentro do novo programa, os que cumprem penas alternativas custam somente R$48,00 (Quarenta e oito reais) mensais aos cofres p�blicos. 40
At� mesmo o decl�nio do sistema prisional brasileiro, est� fundamentado em fatores
econ�micos. Os custos crescentes do encarceramento e a falta de investimentos no setor por
parte da administra��o p�blica, terminaram na conseq�ente superlota��o. Foi a partir da
superlota��o e falta de investimentos que surgiram os demais problemas, como:
[...] falta de condi��es necess�rias � sobreviv�ncia (falta de higiene, regime
alimentar deficiente, falta de leitos); defici�ncias no servi�o m�dico;
elevado �ndice de consumo de drogas; corrup��o; reiterados abusos sexuais;
ambiente prop�cio � viol�ncias; a quase aus�ncia de perspectivas de
reintegra��o social; a inexist�ncia de uma pol�tica ampla e inteligente para o
setor.41
Mas n�o h� como pensar na diminui��o da massa carcer�ria sem pensar na
ressocializa��o dos presos. Isso certamente trar� reflexos positivos nos �ndices de viol�ncia,
pela diminui��o da reincid�ncia. Se considerarmos que a viol�ncia como um todo tamb�m
tem seu custo econ�mico e social, sua diminui��o significar� ganhos para a sociedade.
Falando sobre estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada – Ipea,
Isabel Clemente afirma que “o crime custa cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), o
conjunto de todas as riquezas produzidas pelo pa�s em um ano. Em 2004, ano-base do estudo
do Ipea, isso representou R$ 92,2 bilh�es.”
Calcular o pre�o da viol�ncia � uma tarefa complexa, porque h� alguns danos intang�veis, cujas conseq��ncias s� as v�timas podem sentir. A dor de perder algu�m � o exemplo mais evidente. Mas estudo realizado pelo Ipea traz uma estimativa sobre as perdas de capital humano sofridas pelo setor privado, provocadas pelas mortes de pessoas que foram v�timas da viol�ncia: R$ 23,8 bilh�es. Trata-se de uma proje��o da renda potencial que deixou de ser produzida pela sociedade por causa da interrup��o precoce de vidas. ‘O custo social da viol�ncia � um indicador da redu��o de bem-estar da sociedade’, diz o economista Daniel Cerqueira, do Ipea, um dos autores do estudo.42
40 BARELLI, Walter. Penas alternativas. Dispon�vel em: <www.nossacasa.net/recomeco/0060.htm>.41 CAVALLAZI, Jo�o Jos�. Abrir as portas das cadeias não é solução. Diário Catarinense, 03 out. 1999.42 CLEMENTE, Isabel. 5% do PIB. Dipon�vel em:
<http://contasabertas.uol.com.br/midia/detalhes_noticias.asp?> Acesso em 08/09/2007.
35
Em seu trabalho que trata das perdas que ocorrem em função da violência e da
criminalidade, finalizado em março deste ano, Daniel R. C. Cerqueira assim escreveu:
a perda de rendimentos por dias não trabalhados; a dor, sofrimento e diminuição de qualidade de vida, além da perda de capital humano por mortalidade, morbidade ou traumas psicológicos, que levam a uma diminuição da produtividade do indivíduo. 43
E continua o mesmo autor discorrendo sobre a violência e criminalidade nos seguintes
termos:
os indivíduos e empresas reagem despendendo recursos para a auto-proteção, blindando seus carros, instalando grades, alarmes, comprando armas, e adquirindo seguros, cujos prêmios são majorados na proporção da violência prevalente. Muitas vezes, esses gastos são somados às despesas com a contratação de segurança especializada. Quando esses dispêndios são feitos pelas empresas, isto representa um aumento no custo marginal de produção, que termina sendo repassado para os consumidores, na forma de aumento no preço dos bens e serviços. Como conseqüência há uma diminuição nos negócios e uma perda de bem-estar social, que os economistas conhecem como perda do peso morto. Por outro lado, o medo do crime em si representa um custo social, que muitas vezes influencia o preço de bens e serviços, principalmente no mercado imobiliário, onde determinados imóveis localizados em regiões violentas sofrem significativa desvalorização.44
Tratando dos custos da violência, Cohen os classifica em custos sociais e custos
externos.
Um custo externo é aquele imposto por uma pessoa sobre outra, sendo que a vítima não aceita voluntariamente esta conseqüência negativa. Por exemplo, os custos externos associados a um roubo em que há violência física incluem a propriedade roubada, custos médicos, perdas salariais, assim como o sofrimento sentido pela vítima. O conceito de custo social, em oposição ao de custo externo, tem como referência a sociedade e não o indivíduo na consideração das perdas decorrentes da criminalidade. Custos sociais são aqueles que reduzem o bem-estar agregado da sociedade. Dessa forma, transferências de propriedade ou de posse não constituem um custo social. Assim, os bens roubados não são computados como um custo social, já que poderão ser desfrutados pelo assaltante. 45
43 CERQUEIRA, Daniel R.C., CARVALHO, Alexandre Y.X., LOBÃO, Waldir J.A.RODRIGUES, Rute I. Análise dos custos e conseqüências da violência no Brasil. Disponível em <http://epoca.globo.com/edic/466/criminalidade.pdf>
44 Id. Ibdem45 COHEN, M.A. A note on the cost of crime to victims. Urban Studies. In RODNON, Vinícius Velasco. & ANDRADE, Mônica Viegas. Uma estimação dos custos da criminalidade em Belo Horizonte. Disponível em <www.cedeplar.ufmg.br/economia/publicacoes/diamantina/textos/D44.pdf>.
36
Deve-se levar em consideração que boa parte dos detentos encontram-se num padrão
de idade de produção e que sem esta, perde o Estado e a sociedade como um todo.
CAPÍTULO III
PENAS ALTERNATIVAS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
3.1. INTRODUÇÃO
A Lei n. 9.714, de 25 de novembro de 1988, deu especial atenção às penas restritivas
de direitos, as chamadas penas alternativas, sendo elas: a) prestação pecuniária; b) perda de
bens e valores; c) prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas; d) interdição
temporária de direitos; e) proibição de frequentar determinados lugares; f) limitação de fim de
semana.
A pena de multa, também passou a ser alternativa da pena privativa de liberdade,
desde que não seja excedente a 6 meses, conforme teor do art. 60, § 2.º do Código Penal.
Segundo Luiz Flávio Gomes46, a lei tem, dentre outros, os seguintes propósitos: 1)
diminuir a superlotação dos presídios, sem perder de vista a eficácia preventiva geral e
especial da pena; 2) Reduzir os custos do sistema penitenciário; 3) Favorecer a ressocialização
do autor do fato pelas vias alternativas, evitando-se o pernicioso contato carcerário, bem como
a decorrente estigmatização; 4) Reduzir a reincidência; 5) Preservar, sempre que possível, os
interesses da vítima.
Na visão de Jorge H. S. Martins47:
sabendo-se das mazelas que advêm da simples aplicação da pena de prisão, dos problemas que decorriam do encarceramento, tanto em função da superlotações e da óbvia ocorrência de promiscuidades e desrespeito aos mais comezinhos princípios de relacionamento humano, como da inexistência de um programa de acompanhamento aconselhamento, educação e encaminhamento do preso a um novo caminho, ampliou-se, com a Lei nº 7209/84, o leque dos tipos de penas aplicáveis ao país.
Em síntese, com a reforma do Código Penal de 1984, foi introduzida a lei 7.209/84
que dispõe sobre as penas restritivas de direitos em nosso ordenamento jurídico pátrio, entre
elas a prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, a interdição temporária de
direitos e a limitação de fim de semana. Essas penas são de caráter substitutivo, que a
46 Gomes, Luiz Flávio, Penas e Medidas Alternativas à Prisão, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 9647 MARTINS, Jorge H. S. Penas Alternativas. Curitiba: Juruá, 1999, p. 35
38
sociedade apelidou de "Penas Alternativas".
Com a Lei 9.714/98, reformulou dispositivos do C�digo Penal, introduzindo mais duas
penas restritivas de direitos – a presta��o pecuni�ria e a perda de bens e valores. Esta lei
define quais s�o as penas alternativas, quais sejam: a) Presta��o pecuni�ria; b) Perda de bens e
valores pertencentes ao condenado em favor do Fundo Penitenci�rio Nacional; c) Presta��o de
servi�o � comunidade ou a entidades p�blicas - atribui��o de tarefas gratuitas ao condenado
em entidades assistenciais, escolas, hospitais ou outra institui��o com essas finalidades; d)
Proibi��o de exerc�cio de cargo, fun��o ou atividade p�blica, bem como de mandato eletivo;
e) Proibi��o de exerc�cio de profiss�o, atividade ou of�cio que dependam de habilita��o
oficial, de licen�a ou autoriza��o do Poder P�blico; f) Suspens�o de autoriza��o ou
habilita��o para dirigir ve�culo; g) Proibi��o de freq�entar determinados lugares (art. 47, IV,
do C�digo Penal); h) Limita��o de fim de semana ou "pris�o descont�nua"; e, i) Multa.
3.2. PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA
A presta��o pecuni�ria consiste no pagamento � v�tima, a seus dependentes ou a
entidade p�blica ou privada com destina��o social valor em dinheiro estipulado pelo juiz, n�o
inferior a um nem superior a 360 sal�rios m�nimos.
Uma das pr�ticas mais constantes no sistema de penas alternativas era o pagamento de
determinado n�mero de cestas b�sicas, a serem destinadas a institui��es de caridade
determinadas pela autoridade judicial. A pr�tica vigorou, indiscriminadamente, por muitos
anos e tinha a concord�ncia da sociedade. Julgava-se que o agente infrator estava sendo
“punido no bolso” e ao mesmo tempo uma institui��o filantr�pica recebia ajuda para manter
seus programas.
A presta��o pecuni�ria, da forma como est� colocada, consiste no pagamento em
dinheiro (entre um e trezentos e sessenta sal�rios m�nimos) � v�tima, a seus dependentes, ou �
entidade p�blica ou privada, com destina��o social.Para Tailson Pires Costa48:
Via de regra, a presta��o pecuni�ria reverter� � v�tima, se ela n�o puder ser beneficiada, seus dependentes. N�o havendo v�timas nem dependentes, ou
48 COSTA, Tailson Pires. Penas alternativas – reeduca��o adequada ou est�mulo � impunidade? p. 48.
39
havendo aceita��o de um deles, a� sim a presta��o pecuni�ria reverter-se-� em prol de uma entidade social. Caso a pessoa tenha sido condenada a esta presta��o, o valor pago ser� deduzido do montante de eventual condena��o em a��o de repara��o civil, se coincidentes os benefici�rios.
H� de registrar que, embora presta��o pecuni�ria e multa parece institutos semelhantes
existe uma diferen�a crucial, pois, enquanto a presta��o pecuni�ria o valor arbitrado tem
como destino uma pessoa ou institui��o, na multa, o valor � destinado ao Estado. Mas o
preceito legal vai adiante, afirmando que essa presta��o n�o precisa ser, necessariamente,
pecuni�ria. Acontece que, uma vez que permite que a presta��o pecuni�ria, n�o precisa ser
efetuada em dinheiro, podendo, considerando seu car�ter social, ser transformada em uma
outra esp�cie de presta��o, desde que tenha relev�ncia pecuni�ria. � a� que entram as cestas
b�sicas destinadas a entidades filantr�picas. Para tanto, � preciso que haja anu�ncia, do
benefici�rio.
Muitas s�o as vozes contr�rias a essa alternativa – das cestas b�sicas. Entre eles
destaca-se Alberto Silva Franco, quando afirma que n�o compete ao Poder Judici�rio cuidar
das entidades filantr�picas ou assistenciais – essa obriga��o � do Estado: “Para aquele que
disp�e de dinheiro, nenhum car�ter corretivo ter� ele se dirigir a um supermercado e comprar
o quanto foi estipulado pelo juiz, abastecendo assim, uma rede de entidades favorecidas.”49
Pode causar alguma confus�o essa modalidade de pena, como se fosse uma
determinada multa atribu�da ao condenado. Na verdade, n�o se trata de multa. Na presta��o
pecuni�ria, o valor tem como destino uma pessoa ou uma institui��o, enquanto na multa o
valor � destinado ao Estado.
3.3. PERDA DE BENS E VALORES
Aplicada em situa��es especiais, quando pode haver mensura��o do preju�zo causado
ou da vantagem obtida. A menos que haja alguma determina��o em contr�rio, bens e valores
49 FRANCO, Alberto Silva; STOCO, Rui. Código penal e sua interpretação jurisprudencial: Parte especial. In MACHADO, Diogo Marques. Penas alternativas. Dispon�vel em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?.
40
que o condenado vier a perder s�o destinados ao Fundo Penitenci�rio Nacional. O valor dessa
pena � calculado levando em considera��o duas vari�veis: o preju�zo causado ou a vantagem
recebida, sendo fixado aquele de maior valor.
A perda de bens e valores � aplicada nos casos em que o condenado obteve por
interm�dio do crime, evitando que o mesmo aumente seu patrim�nio ilegalmente. Um
exemplo de perda de bens e valores, e que certamente viria contribuir muito para atenuar
outro problema social – a falta de terra para assentamento – seria a desapropria��o de terras
utilizadas para o plantio de drogas. Infelizmente n�o � muito comum esse tipo de pena, pelo
menos n�o na const�ncia e volumes pressupostos de possibilidade.
Geralmente destinada ao Fundo Penitenci�rio Nacional, deve ser registrado que, para
que seja prolatada uma senten�a neste sentido � necess�rio que haja a configura��o material
que a perda de tais bens foram obtidas atrav�s do crime.
Com essa apena��o, o que se faz na verdade � retirar do condenado aquilo que ele
conseguia atrav�s do crime, aquela vantagem obtida ilicitamente. O objetivo � evitar que ele
aumente seu patrim�nio de forma ilegal, for�ando a concep��o de que “o crime n�o
compensa”, ou mais exatamente que a atividade criminosa n�o gera lucros. Al�m do mais,
evita-se que o dinheiro ilegal possa financiar uma estrutura de crimes e fraudes ainda maior.
Entretanto, � bom lembrar que a decis�o n�o pode ser aleat�ria. � imprescind�vel que
fique configurado, sem nenhuma d�vida, que o patrim�nio do condenado, pelo menos no
tocante ao que for decretada a perda, foi realmente conseguido atrav�s do crime.
Mas nem todas as vozes concordam com a medida. Para alguns se trata de ato que fere
a Constitui��o. Cezar Roberto Bitencourt50, n�o admite tal modalidade de pena, quando
afirma:
[...] na realidade, a pr�pria previs�o da Carta Magna da “perda de bens” como pena, especialmente da forma como est� disciplinada, � de todo inconstitucional, pois, pasmem, a Constitui��o estabelece que essa “pena criminal” transmite-se aos sucessores nos limites da heran�a (art. 5� XLV); em outros termos, pode passar da pessoa do condenado. Essa previs�o viola
50 Cezar Roberto Bitencourt. Novas penas alternativas – an�lise pol�tico-criminal das altera��es da lei n. 9.714/98. p. 123.
41
os princ�pios constitucionais da individualiza��o e da personalidade da pena, porque permite que a pena ultrapasse a pessoa do condenado, ignorando, inclusive, que a morte deste � a primeira e principal causa extintiva da punibilidade e da pr�pria san��o penal. E pena extinta n�o pode ser cumprida. Essa arbitrariedade institucional n�o encontra paralelo nem entre os Estados Totalit�rios, que respeitam o limite da personalidade da pena. O fato de constar do texto constitucional, segundo os pr�prios constitucionalistas, por si s�, n�o impede que se configure como inconstitucional.51
Naturalmente que, neste momento, o julgador deve utilizar o poder que lhe confere os
princ�pios do direito, principalmente ao que tange a lesividade, proporcionalidade e
razoabilidade da pena.
3.4. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE OU ENTIDADES PÚBLICAS
Com a aplica��o desta modalidade de pena alternativa, o condenado estar� interagindo
com a sociedade e por isso mesmo, oferece maiores condi��es para sua ressocializa��o.
Para muitos, trata-se da pena que oferece maiores condi��es de ressocializa��o do
condenado, principalmente porque ele estar� n�o apenas ressarcindo a sociedade pelo preju�zo
(ou mal) causado, como estar� interagindo com segmentos dessa sociedade. � bom ressaltar
que essa presta��o de servi�os n�o pode fugir � natureza do trabalho desenvolvido
normalmente pelo condenado, tem per�odo estipulado, e � sem remunera��o. A n�o
remunera��o tem exatamente o car�ter de ressarcimento social.
In casu, a presta��o de servi�os a comunidade ou entidades p�blicas, como a pr�pria
denomina��o afirma, veda, terminantemente a presta��o de servi�os a entidades privadas ou
aquelas que buscam o lucro.
A partir da determina��o de que sejam aproveitadas as habilidades do condenado,
institui��es filantr�picas e de servi�os comunit�rios terminam sendo as grandes clientes, at�
51 BITENCOURT, Cezar Roberto. Novas penas alternativas – an�lise pol�tico-criminal das altera��es da lei n. 9.714/98. p. 123.
42
porque passou a ser vedada a presta��o de servi�os em institui��es privadas ou que visem
lucro. At� porque, nestes estabelecimentos a discrimina��o para com os condenados � ainda
maior, o que poderia ter reflexos negativos no comportamento.
Cumpre lembrar ainda que as atividades laborativas devem ser exercidas,
preferencialmente, aos finais de semana, para n�o interferir na rotina de trabalho do apenado
ou seus estudos.
Uma vez que n�o devem interferir na rotina normal de trabalho ou de estudo do
condenado. Isso n�o impede que sejam exercidas tamb�m durante a semana, desde que n�o
haja esse tipo de impedimento.
Entretanto o condenado n�o fica entregue � sua pr�pria vontade, j� que tem normas a
seguir. Por sua vez, a institui��o onde o mesmo est� prestando servi�os � obrigada a enviar
relat�rios mensais nos quais conste de forma detalhada o cumprimento da pena � autoridade
judicial, detalhando o comportamento do condenado, eventuais faltas ou atos de
insubordina��o, indisciplina. Ressalta-se que o condenado deve cumprir uma hora de trabalho
para cada dia de condena��o.
Caso n�o cumpra as normas estabelecidas para a pena alternativa de presta��o de
servi�os, o condenado ter� o benef�cio transformado em pena restritiva de liberdade,
conforme teor do art. 44, � 4� do C�digo Penal, ou seja, em regime fechado.
O condenado, portanto, perder� esse direito quando: a) n�o for encontrado por estar
em lugar incerto e n�o sabido ou desatender � intima��o por edital; b) n�o comparecer,
injustificadamente, � entidade ou programa em que deve prestar servi�o; c) recusar-se,
injustificadamente, a prestar o servi�o que lhe for imposto; d) praticar falta grave e, e) sofrer
condena��o por outro crime � pena privativa de liberdade cuja execu��o n�o tenha sido
suspensa.
3.5. INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE DIREITOS
O C�digo Penal define como modalidades de interdi��o tempor�ria de direitos as
seguintes a��es, desde que o delito seja cometido no “exerc�cio de cargo, fun��o ou atividade,
violando os deveres que lhe s�o inerentes”.
43
Art. 47. [...]I. proibi��o do exerc�cio de cargo, fun��o ou atividade p�blica, bem como de mandato eletivo;II. proibi��o do exerc�cio de profiss�o, atividade ou of�cio que dependam de habilita��o especial, de licen�a ou autoriza��o do poder p�blico;III. suspens�o de autoriza��o ou de habilita��o para dirigir ve�culo;IV. proibi��o de freq�entar determinados lugares.
Para que se aplique esse tipo de pena alternativa, � necess�rio que o agente infrator
tenha cometido algum delito no “exerc�cio de cargo, fun��o ou atividade, violando os deveres
que lhes s�o inerentes”, ainda de acordo com o C�digo Penal.
� poss�vel verificar, no caso dos dois primeiros itens, que essa pena tem dois pontos
fundamentais: � punitiva, uma vez que atua sobre o meio de vida do condenado, e preventivo,
uma vez que a restri��o impede que continue tirando proveito da situa��o (ou profiss�o).
No caso do item terceiro relaciona-se com as penas aplicadas por crime de tr�nsito –
desde que sejam culposos. Entretanto, estabelece-se aqui uma verdadeira celeuma, uma vez
que penalizar o infrator com a suspens�o da habilita��o para dirigir ve�culo pode ter
conseq��ncias diferentes para os condenados. Assim, uma pessoa que dirige ocasionalmente e
que recebe tal pena, n�o sentir� os mesmos efeitos que um motorista profissional, por
exemplo. Este ser� apenado duas vezes, pois a proibi��o acarretar� impossibilidade de
trabalhar. Para alguns, n�o poderia ser de outra maneira, uma vez que a responsabilidade do
motorista profissional � maior que a do motorista ocasional.
Por outro lado, n�o se quer dizer com isto que todos os motoristas profissionais, ao cometerem estes delitos, estejam impedidos de sofrer tal puni��o. O que se defende � o fato de ser dada a possibilidade de no caso concreto fazer-se tamb�m a substitui��o desta pena de suspens�o do direito de dirigir, exigindo-se, para tanto, que as condi��es pessoais do acusado sejam favor�veis, a caracteriza��o do elemento subjetivo n�o extrapole a culpa comum e suas condi��es profissionais assim reclamem.52
Acertadamente � o quanto descrito acima, pois a pena n�o pode ser t�o grande que
beire a injusti�a, pois em qualquer hip�tese deve ser levado em considera��o a razoabilidade e
proporcionalidade na apena��o aplicada.
52 CRUZ. M�rcia da Rocha, & OLIVEIRA. Juliana Poggiali G. e, Substitui��o da pena de suspens�o do direito de conduzir ve�culo automotor. Dispon�vel em <www.mpdft.gov.br/Orgaos/PromoJ/Pjtransito/tese1.htm
44
3.6. PROIBIÇÃO DE FREQUENTAR DETERMINADOS LUGARES
A finalidade desta modalidade de pena é evitar que o local onde o apenado freqüente
possa influenciar negativamente com sua ressocialização, ou, que possa reincidir novamente
no crime cometido.
De maneira geral, essa proibição mantém relação entre os lugares proibidos e o tipo de
delito cometido pelo condenado. O que se procura evitar que ele sofra influência do ambiente,
no sentido de facilitar sua reincidência. Uma pessoa que tenha cometido um delito num
estádio de futebol, por exemplo, pode ficar proibido de freqüentar esse ambiente pelo tempo
que durar a pena. Normalmente, os estabelecimentos alvo da proibição são bares, boates e
congêneres.
Assim, tem-se na pena alternativa em questão, o cuidado de que os lugares de
freqüência proibida sejam aqueles que venham a atrapalhar a conduta, o desenvolvimento ou
até mesmo o comportamento do apenado, trazendo-lhe transtornos e levando-o na maioria das
vezes à reincidência.
No caso de descumprimento da pena que lhe fora imposta, o mesmo perde o direito a
pena alternativa, ou ainda, se sofrer condenação por outro crime do qual a lei preveja q pena
privativa de liberdade.
Ressalte-se que no caso de não cumprir a proibição, o condenado perde o direito à
pena alternativa. Da mesma forma, a exemplo da pena de prestação de serviços, se o
condenado estiver em local incerto e não sabido, desatender a intimação judicial, ou sofrer
condenação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não tenha sido
suspensa, automaticamente revoga-se a alternativa penal.
3.7. LIMITAÇÕES DE FIM DE SEMANA
Tal pena é aplicada ao condenado, determinando sua permanência nas causas de
albergados, aos sábados e domingos, por cinco horas seguidas.
Esta sanção consiste no condenado permanecer, aos sábados e domingos, por cinco
horas diárias, em casa de albergado ou estabelecimento adequado. Na impossibilidade de
cumprir essa pena em casa de albergado, nem todas as cidades as têm, a pena pode ser
45
transformada em palestras ou mesmo trabalhos educativos, desde que exercidos em
estabelecimentos que delas necessitem, e nos finais de semana.
Mesmo não sendo exatamente uma pena privativa de liberdade, ela não deixa de ter
semelhanças, uma vez que retira o condenado do convívio social, principalmente da família,
por determinado espaço de tempo, de forma regular, durante certo período.
Para o advogado Fabiano Oldoni, essa pena mais parece uma armadilha, tal seu
paradoxo. Ele cita como exemplo um infrator que tenha sido condenado a dois anos, e
supondo-se que tenha uma conduta relevante socialmente, réu primário e com bons
antecedentes. Pois bem, ele irá permanecer aos sábados e domingos, por 05 (cinco) horas
diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado, pelo prazo de 02 (dois)
anos, haja vista que a pena restritiva de direito terá a mesma duração que a privativa de
liberdade.
Entretanto, caso esse infrator não tivesse a pena substituída, cumpriria a condenação
de 02(dois) anos em regime aberto, tendo, após decorrido 1/3 da pena (oito meses) direito ao
livramento condicional, quando, então, teria por obrigação apenas comparecer em juízo no
prazo fixado.
Vê-se, portanto, que a vantagem desse cidadão em não ter sua pena substituída pela limitação de fim de semana é enorme. Primeiro porque não temos, salvo raras exceções, locais apropriados para executar a limitação de fim de semana, ficando o condenado, muitas vezes, no pátio do presídio ou delegacia de polícia, literalmente preso. É um paradoxo, mas a limitação de fim de semana acaba sendo, antes de uma pena alternativa, uma privação temporária e parcelada da liberdade do condenado. Segundo, porque na limitação de fim de semana o sujeito deverá cumpri-la rigorosamente pelo prazo de dois anos, todo o fim de semana (sábado e domingo), durante 05 horas diárias.53
Devem ser sopesados os valores em jogo, sendo que o melhor para o condenado é
limitar seus finais de semana e não cumprir a pena em regime fechado.
3.8. BENEFÍCIO SOCIAL DAS PENAS ALTERNATIVAS
53 OLDONI. Fabiano. Pena restritiva de direito mais gravosa que a privativa de liberdade. Disponível em <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3220> Acesso em 30/08/2009.
46
É preciso considerar que as medidas alternativas tendem a trazer conseqüências
positivas à sociedade, pois uma das características é preservar o infrator primário, que pode
ter cometido o delito por ruptura leve ou ocasional, do convívio com infratores de alta
periculosidade, os quais poderiam a médio e longo prazo transformá-lo num criminoso em
potencial. Principalmente se levarmos em conta que praticamente nada haverá de útil para
esse infrator primário fazer na prisão para passar o tempo. Restar-lhe-á o exemplo da escória.
Como já foi dito no capítulo anterior, embora de vez em quando a sociedade consiga
olhar pela fresta dos estabelecimentos penais, principalmente quando a mídia registra casos de
rebeliões, e fique escandalizada com a situação vivida nesses estabelecimentos, é comum o
pensamento de que as penas atribuídas aos criminosos devem ser longas e cumpridas em
regime fechado. Essa sociedade acredita que se trata da melhor forma de proporcionar
segurança. Em nenhum momento, pelo menos não pela maioria, se avalia que a pena tem três
finalidades básicas: a) intimidativa, pois a prisão de um criminoso pode servir para atemorizar
o outro; b) retributiva, pagando o mal com o mal; c) recuperativa, é a oportunidade para
reeducar o condenado para devolvê-lo melhor à sociedade.
O tratamento carcerário oferecido a uma grande parcela dos condenados é indubitavelmente inadequado, o resultado produzido pela privação da liberdade a eles não é o esperado pela sociedade, a construção e a manutenção de estabelecimentos penais adequados ao cumprimento de tais penas exigem gigantescos recursos que poderiam ser aplicados em aparelhos que melhor serviriam à população, tais como escolas e hospitais, e, no que diz respeito a infratores primários, ocasionais ou responsáveis por delitos de pequena significação, a situação é ainda mais grave.54
Ao se afirmar que o sistema penitenciário nacional está em franco declínio, está se
indo além da superlotação e da falta de condições de salubridade e higiene. O problema está
também em não atender as condições para reeducar os presos, o que agrava uma situação
futura. Isso pode ser visto facilmente em todos os estados, porque em vez de o indivíduo
voltar ao seio da sociedade totalmente recuperado, podendo conviver naturalmente, sem
nenhum preconceito por parte da sociedade para com ele, ele volta a delinqüir, tornando-se
pior do que quando entrou. E a sociedade como um todo também perde com isso, mantendo-
se o circulo de insegurança.
Jorge Henrique Martins afirma que não é possível ressocializar o preso através do
54 MACHADO, Diogo Marques. Penas alternativas. Disponível em <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?> Acesso em 06/09/2009
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simples encarceramento.
Hodiernamente firma-se o pensamento de que a ressocializa��o do condenado, por meio de seu encarceramento – o denominado penitenciarismo - viu frustradas suas expectativas. A reeduca��o moral e social do condenado, buscando-se reintegr�-lo � comunidade, por meio do afastamento de seu conv�vio, a n�o ser em situa��es excepcionais, � invi�vel. O que se vivencia na pr�tica, � o aviltamento da personalidade do preso. Confrontando com a realidade das penitenci�rias, normalmente inaptas para permitir o exerc�cio de alguma ocupa��o, aprendizado ou lazer, fatos que s�o fundamentais para que se possa pensar em regenera��o, pode vir a manter sua integridade f�sica – desde que n�o venha a afrontar grupos estabelecidos que mant�m o poder em tais institui��es -, mas tem sua personalidade desvalorizada. Como conseq��ncia, adv�m o descr�dito, a desesperan�a, quando n�o a revolta, fatos que promovem em seu pensamento a inten��o de reincidir. Al�m disso, o contato com os outros indiv�duos com clara inclina��o criminosa, faz com que surjam id�ias, quando n�o organiza��es para atuar ap�s encerrado o lapso prisional, ou quando encetada a fuga.55
O que se verifica � que a mais importante finalidade da pris�o – ressocializar o preso –
n�o est� sendo levada em considera��o. Denise de Roure considera que “falar em reabilita��o
� quase o mesmo que falar em fantasia, pois hoje � fato comprovado que as penitenci�rias em
vez de recuperar os presos os tornam piores e menos propensos a se reintegrarem ao meio
social”.56
Isso � prejudicial para a sociedade, pois o afastamento do conv�vio social, inserido
numa realidade de viol�ncia, certamente provocar� dist�rbios de comportamento no preso, o
que afetar� sua conduta futura, “provocando o sentimento de vingan�a contra a sociedade, de
injusti�a e de inferioridade, fazendo com esses presos tenham a vontade de vingar-se,
refletindo, quando soltos, em continuados atos criminosos.”57
Se levarmos em considera��o que a Justi�a tem como fun��o cuidar para que haja paz
social, � fundamental que a sociedade participe das pol�ticas de recupera��o de presos, uma
vez que ser� a maior beneficiada.
Atrav�s das penas alternativas, o preso estar� reparando o dano que causou �
sociedade, no seio da pr�pria sociedade. Isso significa que o processo de ressoaliza��o � uma
via de m�o dupla, uma vez que o preso estar� sendo influenciado pelo comportamento do
55 MARTINS, Jorge Henrique Shaefer. Penas alternativas. In MACHADO, Diogo Marques. Dispon�vel em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?56 ROURE, (1998) op. cit.p. 15-17.57 Id. Ibdem
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meio que o cerca, no caso a sociedade.
Dentro desse conceito, as penas alternativas devem estar preferencialmente voltadas
para a sociedade, o leva a considerar que a pena de presta��o de servi�os � comunidade, ou
�rg�os p�blicos, seja a que mais se aproxima dessa via de m�o dupla. Nela, o condenado
estar� interagindo com a sociedade, recebendo influ�ncias no seu dia-a-dia. Ela tem um
car�ter eminentemente pedag�gico, pois tanto o beneficiado quanto a comunidade que o cerca
nessa presta��o de servi�os, sentem que a justi�a est� sendo feita bem ali, ao seu lado.
Entretanto, para que a sociedade seja parceira na execu��o dessa alternativa, �
fundamental que ela entenda os pontos considerados positivos, como menor velocidade no
crescimento populacional dos pres�dios. Talvez esse seja o maior benef�cio f�sico das penas
alternativas – milhares de presos deixariam de recolher-se a uma penitenci�ria. Como afirma
S�rgio Salom�o Checaria, “isso faria com que menos investimentos tivessem que ser
realizados no sistema penitenci�rio, podendo ent�o ser direcionados para melhor adequa��o
desses estabelecimentos, principalmente no tocante � capacidade de ressocializa��o dos
presos.”58 Mas os impactos seriam maiores ainda, vez que a m�o-de-obra especializada
tamb�m sofreria redu��o. Hoje � preciso um funcion�rio para cuidar de tr�s presos, enquanto
o sistema de vigil�ncia nas penas alternativas utiliza um assistente social para acompanhar 50
condenados.
A tudo isso deve ser somado o fato de que � infinitamente inferior o percentual de
reincid�ncia entre os presos que cumprem penas alternativas.59 Sendo assim, com menor
reincid�ncia ter-se-iam menores �ndices de viol�ncia e criminalidade, o que deve ser encarado
como um benef�cio direto � sociedade.
� claro que n�o h� unanimidade no tocante � substitui��o das penas privativas de
liberdade pelas restritivas de direito (alternativas). Muitas s�o as vozes que se colocam contra,
sob v�rias alega��es. Uma delas � a de que o Direito Penal perderia a for�a intimidativa que o
reveste. H� ainda os que consideram que as penas alternativas trazem muita semelhan�a com
a impunidade, um sentimento que j� faz muito mal ao emocional do povo brasileiro.
H� ainda aqueles que n�o acreditam no acerto da pena em fun��o da precariedade do
58 SHECAIRA, S�rgio Salom�o; CORREA J�NIOR, Alceu. Teoria da pena. p. 130.59 BITENCOURT, Cezar Roberto, op. cit. p. 178.
49
Estado, incapacidade mesmo, de manter um satisfatório sistema de acompanhamento.
Exemplo disso é a Colônia Penal Agrícola de Campo Grande, que esteve presente na mídia
regional graças aos pontos negativos. Presos que deveriam pernoitar no estabelecimento
estavam pelas ruas da cidade praticando roubos, furtos e assaltos, sem que o sistema
administrativo tomasse qualquer providência. Diante disso, o que muitos consideram é que a
medida visa apenas diminuir a população dos presídios, tirando parte da carga de
responsabilidade do Estado.
Está muito ligada a essas críticas a idéia de que a sociedade brasileira ainda não assimilou a cultura da substituição da pena privativa de liberdade pelas penas alternativas. Ainda está arraigada a idéia de que só a cadeia é sinônimo de punição, e de que o criminoso tem de passar pelo sofrimento do cárcere a fim de que possa pagar pelo mal por ele causado. No entanto, é desconsiderado por essa sociedade o fato de que se a prisão servir apenas como instrumento de castigo, sem sua finalidade ressocializadora, o preso que hoje lá se encontra será o homem que amanhã estará de volta ao seu convívio e voltando a praticar os mesmos crimes.60
Barelli61 destaca o fato de que cada preso custa, em média, R$ 620,00 mensais,
portanto, a relação custo-benefício da pena privativa de liberdade também precisa ser levada
em conta. Manter encarcerado quem não é perigoso ou violento é desperdiçar o dinheiro do
contribuinte, e quem paga impostos neste país precisa ver os recursos públicos mais bem
aplicados. É importante salientar que além de ser dispendioso, há um fator social presente
nesta situação, ou seja, a reprodução da violência e o reforço à exclusão social.
Nunca é demais lembrar que a sociedade não estará ameaçada com o aumento de
presos cumprindo penas alternativas. O que se defende não é abrir as portas da prisão para
soltar os condenados, mas evitar que elas sejam abertas para receber pessoas que podem ser
ressocializadas, ou seja, presos com práticas criminosas de baixo e médio potencial ofensivo.
Estes podem receber um tratamento diferenciado do Estado (cumprir a pena em liberdade
vigiada) e da sociedade (manter o controle social desse preso). Só pode ser beneficiado pelas
penas alternativas o condenado que realmente não ofereça perigo, o que permite que ele
permaneça no meio da comunidade, cumprindo sua pena e interagindo com o meio para sua
readaptação social. Trata-se de um trabalho com a participação tanto do Estado como da
sociedade na recuperação do preso.
60 MARTINS op. cit.61 BARELLI, Walter. Op. cit.
50
Muitos ainda t�m a impress�o de que as penas alternativas s�o menos rigorosas que as
privativas de liberdade. N�o � esta a realidade. Uma an�lise mais apurada permite ver que elas
permitem que o preso realmente cumpra a pena (restritiva de direitos) e ao mesmo tempo
passe por um processo de ressocializa��o (outro importante objetivo da pena).
A sociedade se beneficia significativamente com a aplica��o das penas alternativas,
uma vez que � part�cipe do processo, formando uma esp�cie de rede integrada de a��es com o
preso e a justi�a. � ela que recebe o preso (em institui��es p�blicas ou privadas) avalia seu
desenvolvimento, busca ampliar programas sociais que possam recebe e beneficiar os presos,
etc.
Considerando assim, teremos ent�o que a sociedade ser� respons�vel pelo sucesso ou
fracasso da readapta��o do preso. Como afirma a psic�loga Cristina Brito (2007):
Neste contexto o infrator beneficiado pela Pena Alternativa entrar� em contato com a parte “saud�vel” da sociedade a qual feriu, devendo ser influenciado e afetado por este ambiente, o qual ser� inserido, a fim de reparar o dano que causou, com a possibilidade de introjetar valores aprovados e adequados a reinser��o valorizando e respeitando o bem estar em sociedade e avaliando as conseq��ncias de seu delito.62
Mas para tanto, a sociedade deve ser reeducada no sentido de ver no condenado uma
pessoa ansiosa por um novo recome�o.
3.9. UTILIZAÇÃO DAS PENAS ALTERNATIVAS EM MATO GROSSO DO SUL
O Conselho Nacional de Justi�a (CNJ) estuda a edi��o de uma nova resolu��o que
devera uniformizar os procedimentos para a aplica��o de penas alternativas e processo de
execu��o penal em todo pa�s. A id�ia � assegurar a efetividade das decis�es judiciais no caso
das penas alternativas que j� representam quase o dobro do total das condena��es criminais.
Com a resolu��o, o CNJ tamb�m quer impedir pris�es irregulares detectadas nos
mutir�es carcer�rios realizados desde agosto do ano passado, nos quais quase 2 mil pessoas
que se encontravam nesta situa��o foram libertadas.
62 BRITO, Cristina. Op. cit.
51
A Comiss�o Nacional de Apoio �s Penas Alternativas (Conapa) reivindica ainda que
os tribunais assegurem recursos necess�rios para das atuais 250 Centrais de Penas
Alternativas existentes no pais, respons�veis pelo efetivo cumprimento e fiscaliza��o dessa
esp�cie de pena.As Penas Alternativas podem melhorar o problema da superlota��o dos
pres�dios , pois s�o aplicadas � pessoas que cometem pequenos delitos, como furto,
recepta��o, cal�nia, les�o corporal leve e outros,cujas penas n�o ultrapassam 4 anos de
deten��o.
Em Mato Grosso do Sul existe uma Central de Execu��o de Penas Alternativas
(CEPA), funcionando em Campo Grande. Nas demais comarcas do Estado � do Juiz das
execu��es penais a responsabilidade pelo acompanhamento dessas penas .As penas
alternativas t�m demonstrado efici�ncia muito maior do que as penas prisionais. De acordo
com o CNJ, a reincid�ncia nas penas alternativas � de 2% a 12%. Al�m disso, � de 96% o
�ndice de cumprimento da pena, enquanto o n�mero de fugas das pris�es chega a 32% em
todo o Brasil.
O Juiz Auxiliar da Corregedoria, Dr. Ruy Celso Barbosa Florense, informa que um
preso no Mato Grosso do Sul custa mensalmente cerca de R$. 1,5 (um mil e quinhentos reais)
enquanto nas penas alternativas o custo � praticamente zero para o Estado. Al�m disso, o
magistrado destacou que na hist�ria da humanidade caminha no sentido da liberta��o do
homem e hoje n�o justifica mais pris�o de um indiv�duo, salvo ser perigoso para a sociedade.
Informou ainda o juiz que “quase todo os funcion�rios que trabalham com limpeza e
manuten��o do Parque dos Poderes e Parque das Na��es Ind�genas s�o cidad�os que
cumprem pena em regime aberto ou penas alternativas mediante conv�nio com o governo do
Estado e em cumprimento de decis�o judicial”.
J� o juiz titular da 2� vara de Execu��o Penal de Campo Grande, Dr. Albino Coimbra
Neto, acredita que resolu��o do CNJ ser� uma excelente medida para padronizar a
fiscaliza��o do cumprimento dessas penas para garantir a efic�cia e credibilidade delas, que
podem ser burladas mais facilmente do que aquelas que s�o cumpridas dentro do sistema
prisional.
A 2� Vara possui assistente social e um quadro de pessoal focado na execu��o dessas
penas alternativas perante as entidades credenciadas, como hospitais, asilos e creches, que
52
encaminham mensalmente uma ficha de controle com a freq��ncia “fa�o visitas pessoalmente
nos locais de cumprimento das penas para verificar se o apenado est� cumprindo o hor�rio
para que o trabalho seja realizado de forma efetiva, perante as entidades o papel fiscalizador
desempenhado por elas, finalizou o magistrado”.
A Central de Execu��o de Penas Alternativas foi implantada na comarca de Campo
Grande com o objetivo de valorizar as penas alternativas, por meio de instrumentos eficazes
de puni��o Vinculada � 2� Vara de Execu��o Penal, A CEPA tem a finalidade de efetuar
servi�os especializados para controlar e tomar mais satisfat�ria a execu��o de penas ou
medidas alternativas no Estado de Mato Grosso do Sul.
No munic�pio de Navirai63- MS a modalidade de pena alternativa mais aplicada � a
doa��o de valores que chega a 90% na modalidade de presta��es de servi�os, segundo
informou o senhor Cla�dio Jacomelli, Diretor da Vara Criminal, dizendo ele “que a doa��o
de valores � a mais utilizada por n�o haver meios de fiscaliza��o”.
Com a nova resolu��o do CNJ de amplia��o na aplica��o e de Penas Alternativas o
munic�pio de Navirai - MS e demais munic�pio poder� aplicar a pena alternativa de em todas
suas modalidades com efic�cia fazendo com que o cumprimento de pena atenda o princ�pio
da dignidade humana , assim sendo o Estado ira cumprir o seu dever de punir melhor.
63 Departamento de JornalismoWWW.tjms.jus.br. Cl�udio Jacomelli.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fatores sociais progressivos fizeram nascer no Brasil, a partir de 1984, a Reforma
Penal, que adotou outras modalidades de penas, a exemplo de outros países, as quais se
chamou de alternativas. Mas, em que consistem as penas alternativas e qual sua importância
na recuperação do apenado?
Segundo a nova ordem jurídica, constitui penas alternativas a prestação pecuniária, a
perda de bens e valores, a prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas, a
interdição temporária de direitos e a limitação de Fim de Semana.
Dentre os benefícios elencados em face da utilização e aplicação prática das sanções
alternativas, em primeiro lugar, tem-se a redução normal e social do condenado, o que a
realidade nacional já demonstrou ser, pela via do encarceramento, inviável.Por outro lado,
permite a oportunização de que o condenado exerça ocupação lícita, aprendizado, lazer e, ao
mesmo tempo, esteja em contato com pessoas estranhas à marginalidade, afeita às condutas e
normas de cidadania, o que protege o apenado do contínuo e isolando convivência com
marginais de toda espécie, fato que por si só, desvaloriza sua personalidade.
Tal convivência, como sói natural, faz campo fértil para o surgimento, nas prisões, de
organizações criminosas altamente perigosas para a ordem pública.
Induvidoso que as sanções alternativas, quando empregadas para prevenção e
repressão dos crimes de potencial ofensivo de baixa gravidade, têm maior utilidade como
meio de recuperação do criminoso, na medida em que conserva o delinqüente no meio social,
ao mesmo tempo que expiando seu erro, através da pena imposta, dá-se-lhe o valor de
membro útil à comunidade em que está inserido, como agente de transformação social.
As penas alternativas, de outra feita, não deixam no condenado, o estigma de ex-
presidiário, talvez o maior mal que o Estado possa causar à pessoa, pela marca indelével que
essa qualidade deixa, cerrando-lhe as oportunidades em todos os setores sociais.
54
A prestação de serviços à comunidade, foi, em nosso entendimento, o maior exemplo
de evolução do direito penal moderno, porque, ao mesmo tempo que pune a transgressão
praticada, valoriza o condenado, dando-lhe a oportunidade de, por meio de trabalho,
demonstrar suas aptidões profissionais e artísticas, as quais serão, certamente, aproveitadas
após o cumprimento da sanção, retirando da senda do crime o infrator, levando-o ao exercício
consciente da cidadania.
Isso é tão verdade, porque é sabido que é através da educação espiritual que se aprende
a desenvolver, cultivar e dirigir os sentimentos de ordem subjetiva, os quais, em geral passam
desapercebidos pelo condenado, mas que por isso deixa de proceder de acordo com seu
raciocínio dedutivo.
As penas alternativas demonstram que as reclusivas faliram enquanto instrumento
reeducativo, de conformidade com os objetivos propostos pela política criminal moderna.
Já se demonstrou que delinqüentes apenados com sanções restritivas de direitos
tiveram percentagem menor de reincidência, quando comparados com criminosos punidos
com reclusão, daí a necessidade de se aperfeiçoar os sistemas alternativos de penas, dentro da
realidade penal brasileira.
Entendendo que as penas de reclusão devem ser reservadas a criminosos de
reconhecida e indiscutível periculosidade, além dos benefícios atrás elencados, temos que a
aplicação sistemática das penas alternativas aliviará o problema da superprodução carcerária
do País, reduzindo, ao mesmo tempo o número de rebeliões nos grandes presídios e
penitenciárias.
De ver, finalmente, que a manutenção da prisão apenas para a punição de crimes de
alto poder ofensivo, aponta para uma moderna tendência da política criminal, qual seja a
transformação do caráter paternalista do Estado, quando em jogo de interesses menores ou
bens jurídicos em que os particulares, em plena era da tecnologia, à porta do terceiro milênio,
podem e devem dar sua parcela de colaboração no sentido de combatê-los, fazendo uso da
perspicácia, da prevenção, da cautela e da prudência.
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