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    FERDINAND LASSALLE X KONRAD HESSEAFINAL, QUAL A ESSNCIA DE UMA CONSTITUIO?

    Rodrigo da Silva Cruz1

    Resumo: A constituio uma norma supra-legal, que constitui a base de todo o ordenamento jurdicode uma nao, sendo assim, sua aplicao e eficcia constituem em fator determinante na ordem e

    pleno funcionamento de um Estado. Entretanto, no decorrer dos sculos, tanto no mbito jurdico, poltico e na sociedade em geral surgiram alguns questionamentos sobre qual seria realmente osfatores que condicionavam a vigncia e fora de uma constituio. No entanto no sculo XVIII surgiuum autor, Ferdinand Lassalle, que definiu a constituio como sendo a soma dos fatores reais de poderque regem uma nao, em sua obra ele ressaltou esses fatores e afirmou que sem a presena deles umaconstituio no teria fora e simplesmente no passaria de uma folha de papel escrita. Alm disso,

    posteriormente, no sculo XIX, outro autor, Konrad Hesse, abordou o assunto, ele diferentemente deLassalle, afirmou que a essncia de uma constituio encontra-se em sua fora normativa, ou seja, emseus aspectos jurdicos relacionados com a realidade scio-poltica de um Estado. Demonstra-se nesteartigo este debate vultuoso, sobre qual seria a essncia de uma constituio.

    Palavras-chave: Constituio, fora normativa, aspectos sociais, eficcia.

    Abstract: The Constitution is a high legal norm that constitutes the basis of all the legal planning of anation, therefore its application and effectiveness are an important factor in the order and fulloperation of a State. Meanwhile, during the centuries, in the legal, political and social scopes there has

    been some questioning about which would really be the factors that conditioned the validity andstrength of a constitution. However, on the 18 th century an author came, Ferdinand Lassalle, and

    defined constitution as being the sum of real power factors that govern a nation, on his work hehighlighted these factors and said that without their presence a constitution wouldnt have strength andwould simply be no more than a sheet of written paper. Besides, after that, on the 19 th century, anotherauthor, Konrad Hesse, approached the subject, different from Lassalle, he said that the essence of aconstitution is found in its normative force, meaning, in its legal aspects related with the social-

    political reality of a State. It is shown on this article this sterling debate, about which would be theessence of a constitution.

    Key-words: Constitution, normative force, social aspects, effectiveness.

    1 - INTRODUO

    1Escola Superior de Administrao, Marketing e ComunicaoAvenida Vasconcelos Costa, 270 Bairro Martins CEP: 38400-448 Uberlndia MGE-mail: [email protected]

    Aluno do 3 perodo do Curso de Direito da ESAMC/Uberlndia, sob orientao do Prof.Ricardo Rocha Viola.

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    mailto:[email protected]:[email protected]
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    H muito discute-se sobre qual o verdadeiro papel e fora normativa da constituio,

    quais os fatores e circunstncias que condicionam a criao e a efetividade de uma

    constituio?

    Destarte, a constituio a uma norma reguladora, ou seja, a base de todo o

    ordenamento jurdico, sendo assim, a sua eficcia e aplicao correta indubitavelmente

    necessria para o pleno funcionamento da ordem jurdica.

    De acordo com Hans Kelsen pode-se caracterizar norma com o sentido de um ato de

    vontade, mas preciso diferenciar estritamente este sentido do dever ser e o ato efetivo da

    vontade. O ato de vontade reside na esfera do ser, seu significado na esfera do dever ser.(KELSEN, 2003, p. 28)

    Sendo assim as possibilidades de eficcia e aplicao e tambm os limites da fora

    normativa da constituio resultam da correlao entre ser e dever ser. (HESSE, 1991, p. 24)

    Entretanto o escopo do presente trabalho analisar esses aspectos externos e internos

    de uma constituio, onde se encontra realmente a essncia do poder constitucional, para

    tanto, apiei-me em dois grandes clssicos do pensamento jurdico constitucional, FerdinandLassalle e Konrad Hesse. Embora ambos tenham vivido em momentos histricos e pocas

    diferentes seus trabalhos abrangem uma importante discusso de qual seria a essncia de uma

    constituio, embora, mesmo defendendo pontos de vistas diferentes.

    De acordo com Norberto Bobbio:

    considero clssico um escritor ao qual possamos atribuir estas trs caractersticas: a) seja consideradointrprete autntico e nico de seu prprio tempo, cuja obra seja utilizada como instrumentoindispensvel para compreend-lo(...) ; b) seja sempre atual de modo que cada poca,ou mesmo cadagerao,sinta a necessidade de rel-lo e ,relendo-o, reinterpret-lo(...); c)tenha construdo teoria -modelo das quais nos servimos continuamente para compreender a realidade,at mesmo uma realidadediferente daquela a partir da qual as tenha derivado e qual as tenha aplicado,e que se tornaram,aolongo dos anos,verdadeiras e prprias categorias mentais.(BOBBIO, 2000, p. 130)

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    2 - LASSALLE: VONTADE DE PODER

    Nos casos extremos e desesperados, tambm o povo, ns todos, somos uma parte

    integrante da constituio. (LASSALLE, 2001, p. 17)

    Essa uma das grandes frases de Ferdinand Lassalle, advogado persistente, ativo

    propagandista e inflamado militante poltico e sindical (Breslau, 1825 1864), homem que selevantou ante aos abusos da monarquia do antigo regime absolutista, da Prssia (1849) em

    defesa dos trabalhadores.

    Alm disso como participante dos movimentos sindicais, foi presidente da Associao

    Geral dos Trabalhadores (Leipzig), entidade esta que, historicamente pode ser vista como

    precursora da formao social democrtica alem, contemporneo de Karl Marx, seus

    trabalhos tiveram uma grande importncia filosfica, dentre eles esto (A filosofia de

    Herclito 1858 e O legado de Fichte 1860 e jurdico: sistema de direitos adquiridos (1861) e

    sobre a constituio 1863). Sendo este ltimo cujo ttulo original ber die Verfa Vassung

    publicado em portugus com o ttulo Que uma Constituio? Foi consagrado como

    clssico do pensamento jurdico constitucional.

    Em 1862 em uma conferncia pronunciada para intelectuais e operrios da antiga

    Prssia, Lassalle quebrou todos os paradigmas ao afirmar que a essncia de uma constituio

    no estava contida meramente em seus aspectos formais e jurdicos -Uma folha de papel-para

    ele a constituio na verdade em si a soma dos fatores reais do poder que regem uma nao.

    Para tanto cabe ressaltar que ele como militante socialista fez uma anlise da

    constituio em seus aspectos sociais, no decorrer de sua obra o autor deixa claro que o

    problema constitucional, no um problema jurdico, mas sim poltico, por isso, deve ser

    resolvido politicamente em sua raiz, ou seja, os fatores reais do poder.

    A partir da afirma que a constituio no deve ser vista como um todo, mas sim em

    fragmentos, sendo estes cada um, fatores reais do poder. Entretanto sobre o seu ponto de vista

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    sociolgico o autor questiona a fora normativa da constituio denominando-a de folha de

    papel, afirmando que as verdadeiras instituies jurdicas da carta constitucional so os

    fatores reais do poder.

    2.1 - OS FATORES REAIS DO PODER

    De inicio importante entendermos o que uma constituio. Se fossemos responder

    essa pergunta do ponto de vista jurdico poderamos definir da seguinte forma a constituio

    a lei fundamental proclamada pela nao, na qual baseia-se a organizao do direito pblico

    do pas. (LASSALLE, 2001, p. 6)

    No entanto se procurssemos responder esse questionamento com base em Lassalle

    diramos que a constituio nada mais que a soma dos fatores reais do poder que regem uma

    nao transcritos em uma folha de papel.

    Para melhor entendermos sobre esses fatores tomemos um exemplo do prprio autor:

    Suponhamos que em um determinado pas, as leis e regulamentos que regem este, inclusive a

    constituio, fossem todos publicados em uma nica grfica, vamos denomin-la de grfica

    nacional e todas as leis publicadas neste local fossem guardadas em varias bibliotecas

    espalhadas pelo territrio nacional. Entretanto em um determinado dia essa nao assolada

    por um grande incndio causando um caos e calamidade total e ocasionando uma grande

    destruio, sendo que neste incidente a grfica nacional e todas as bibliotecas so destrudas

    sendo assim todas as leis dessa nao extintas inclusive a constituio, a sociedade e a

    populao em geral encontra-se a beira do caos.

    Pergunta-se poderia neste contexto o povo, aproveitando-se da situao rebelar-se

    contra o Estado, assumindo o poder da nao, resguardando-se na ausncia da constituio?

    Nesse ponto encontra-se o ponto fundamental da obra de Lassalle, respondendo esta

    questo ele respondeu: No.

    Exemplificando que por mais que o pas tenha perdido a sua carta constitucional o

    povo no podia rebelar-se contra o Estado, pois neste momento o chefe da nao como

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    detentor do poder, convocaria o exrcito (foras armadas) para manter a ordem, surgindo da

    ento o primeiro fator real do poder.

    Dessa forma no exemplo acima podemos identificar claramente dois fatores reais do

    poder externos a constituio, o chefe da nao, e o exrcito como instrumento, que serve,

    para o cumprimento do poder constitucional.

    Sendo assim mesmo que no se tenha o documento constitucional, a folha escrita, os

    poderes externos a ela continuam sendo determinantes no pleno funcionamento do Estado,

    como podemos ver o chefe da nao a quem obedecem ao exrcito e os canhes tambm

    uma parte da constituio. (LASSALLE, 2001, p. 12)

    Porm em um Estado alm do chefe da nao e o exrcito, existem tambm outras relaes de poderque tambm interferem nas questes sociais e econmicas, o poder social, representado pela grandeindstria e pelo grande capital, e finalmente, ainda que no se equipare ao significado dos demais, o

    poder intelectual, representado pela conscincia e pela cultura gerais. (HESSE, 1991, p. 12)

    Por outro lado tambm nas questes financeiras, temos os banqueiros, que funcionam

    muitas vezes como financiadores do governo, pois este quando,por necessidades de investir

    grandes quantias de dinheiro que no tem coragem de tirar do povo por meio de novos

    impostos ou aumento dos existentes, busca recursos nos grandes bancos, contraindo

    emprstimos em troca de papeis da dvida pblica.

    E tambm as grandes indstrias que hoje causam grandes impactos econmicos no

    Estado e geram empregos e ganhos para a nao, as instituies acima indicadas de acordo

    com Lassalle so partes da constituio e constituem fatores reais do poder.

    Contudo, como disse Ferdinand Lassalle, o povo tambm uma parte da

    constituio ou seja, em uma democracia em que a populao tem voz ativa para participar

    das votaes constitucionais, como era o forte desejo dele, o povo se torna um fator real do

    poder.

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    Em sntese, as relaes fticas resultantes da conjugao desses fatores constituem a

    fora ativa determinante das leis e das instituies na sociedade. (HESSE, 1991, p. 9)

    Atualmente a sociedade tem a tendncia de olhar para a constituio como um documento

    estritamente jurdico, mas nesse trabalho histrico o autor afirmou que a constituio no

    pode ser vista como um documento jurdico e tambm no pode ser vista como um s

    elemento, mas pode ser divida em duas partes: a constituio real que a soma desses fatores

    reais do poder que regem uma nao e a constituio efetiva escrita, para ele esse

    documento escrito (constituio) estritamente jurdico, no possui fora alguma se destitudo

    desses fatores.

    Em suma, de acordo com o autor quando podemos dizer que uma constituio escrita boa e duradoura? Quando essa constituio escrita corresponder constituio real e tiver

    suas razes nos fatores do poder que regem o pas. (LASSALLE, 2001, p. 33)

    3- KONRAD HESSE: A VONTADE DE CONSTITUIO

    A constituio converte-se em fora ativa se fizerem-se presentes, na conscincia

    dos principais responsveis pela ordem constitucionais, no s a vontade de poder, mas

    tambm a vontade de constituio. (HESSE, 2003, p. 19)

    Konrad Hesse nasceu em Konisberg em 29 de janeiro de 1919 (Prssia Oriental)foi

    conterrneo de Immanuel Kant, Foi professor de Direito pblico e eclesistico(emrito)da

    Universidade Freirbug (Alemanha).Aps a segunda Guerra Mundial retomou seus estudos de

    Direito na Universidade de Breslau,coincidentemente na mesma cidade em que nasceu

    Lassale,e terminou na Universidade de Gottingen em 1950,onde foi destacado discpulo de

    Rudolf Smend e aluno de Gehard Leibhoz, teve por discpulos Haberle, Hollerbach, Muller,

    Schineider e Fiedler.

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    Na rea jurdica Hesse,foi tambm magistrado do tribunal Constitucional alemo em

    1975 e 1987,publicou diversas obras.A obra (A fora normativa da constituio)foi baseada

    em sua aula inaugural na Universidade de Freiburg em 1959. (Site: papojurdico)

    De acordo com Hesse embora estejam implcitos na constituio os fatores reais de

    poder, ela tambm possui uma fora prpria, motivadora e ordenadora da vida do estado.

    No universo da cincias humanas, existem algumas como a sociologia e a cincia

    poltica que so cincias da realidade, em que seu escopo estudar a sociedade, ou seja, as

    relaes fticas existente nelas, na obra de Lassalle ele fundamenta sua tese nessas relaes e

    d nfase na grande influencia que elas inferem na constituio, por outro lado Hesse combateessas idias afirmando que o Direito constitucional uma cincia jurdica, sendo assim, uma

    cincia normativa, de acordo com ele se for descartado esse carter normativo da constituio,

    o Direito constitucional passaria de uma cincia do dever ser para uma cincia do ser.

    Para o autor a constituio no deve ser considerada a parte mais fraca, e que no

    significa apenas um pedao de papel, como definida por Lassalle. Alm do mais, em sua

    tese identifica alguns pressupostos realizados que em caso de eventual confronto(constituio escrita x constituio real) permitem assegurar a sua fora normativa.

    3.1 A FORA NORMATIVA DA CONSTITUIO

    De inicio importante frisar que para Hesse, o significado da ordenao jurdica na

    realidade e em face dela somente pode ser apreciada se ambas ordenao e realidade

    forem consideradas em sua relao, em seu inseparvel contexto, e no seu condicionamentorecproco. Nesse sentido quando se tenta compreender a essncia da constituio, em uma

    analise isolada, unilateral, que leve em conta um ou outro aspecto da constituio, no se tem

    condies de fornecer uma resposta adequada.

    A partir da podemos afirmar que o ordenamento jurdico prev normas de conduta e

    princpios fundamentais, cujo objetivo principal adequao realidade, ou seja, no

    podemos imaginar uma norma, sem que um comportamento social tenha inspirado a criaodessa norma.

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    Da mesma forma a constituio, que a norma base de todo o ordenamento jurdico,

    deve basear-se na realidade scio-poltica do pas. Nesse contexto Hesse afirma: a radical

    separao, no plano constitucional, entre realidade e norma, entre ser e dever ser no leva a

    qualquer avano na nossa indagao. (HESSE, 1991, p. 14)

    E prossegue continuando o raciocino: a eventual nfase numa ou noutra direo leva

    quase inevitavelmente aos extremos de uma norma despida de qualquer elemento da realidade

    ou de uma realidade esvaziada de qualquer elemento normativo. (HESSE, 1991, p. 14)

    No entanto Hesse deixa claro que para resolver o problema da fora normativa daconstituio deve se entender essa relao de reciprocidade entre norma e realidade, e ainda

    em achar um caminho entre o abandono norma em funo da realidade, e favorecimento de

    uma realidade plenamente despida de normas.

    Para o autor ao contrario de Lassalle, a constituio jurdica e constituio real esto

    em uma relao de coordenao. Elas condicionam-se mutuamente, mas no dependem, pura

    e simplesmente uma da outra.

    Entretanto para Hesse a constituio possui uma fora normativa, ainda que no de

    forma absoluta, mas tem significado prprio. Todavia, para sua eficcia deve-se adaptar as

    condies naturais, tcnicas, econmicas e sociais de um povo, ou seja, de acordo com ele: a

    norma constitucional somente logra atuar se procura construir o futuro com base na natureza

    singular do presente.(HESSE, 1991, p. 18)

    E a partir dessas noes ele nos mostra que essa adaptao das normas a realidade

    influencia decisivamente a conformao, o entendimento e autoridade das proposies

    normativas.

    Diante disso ele afirma

    a constituio no configura, portanto, apenas expresso de um ser, mas tambm um dever ser, ela

    significa mais do que simples reflexes das condies fticas de sua vigncia, particularmente asforas sociais e polticas. Graas a pretenso de eficcia, a constituio procura imprimir ordem econformao a realidade poltica e social. (HESSE, 1991, p. 15)

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    3.2 A VONTADE DE CONSTITUIO

    A partir dessas proposies iniciais entraremos no ponto central da tese de Hesse. Ele

    afirma que a legitimao da norma depende no s de seu contedo, mas tambm da prxis

    constitucional, ou seja, da vontade humana. O autor preleciona da seguinte forma: se existir adisposio de orientar a prpria conduta segundo a ordem nela estabelecida, se, a despeito de

    todos os questionamentos e reservas provenientes dos juzos de convenincia, se puder

    identificar a vontade de concretizar essa ordem. (HESSE, 1991, p. 19)

    De acordo com ele essa vontade deve estar presente na conscincia geral, mas,

    particularmente, na conscincia dos principais responsveis pela ordem constitucional, ou

    seja, independentemente da existncia das relaes fticas de poder que existem em umanao, se existir essa vontade de conscientizao sobre a fora normativa, a constituio

    estar cumprindo seu papel.

    A constituio jurdica possui significado prprio em face da constituio real, por isso

    no se pode cogitar a perda de sua legitimidade, no entanto, para assegurar a fora normativa

    da constituio existem alguns requisitos que de acordo com Hesse so indispensveis: 1-

    Natureza singular do presente. (HESSE, 1991, p. 20)

    - 2 - Praxis Constitucional. (HESSE,1991, p. 21)

    1 Natureza singular do presente: Quanto mais o contedo de uma constituio corresponder

    aos anseios, os elementos econmicos, sociais, poltico dominantes, tanto mais seguro h de

    ser o desenvolvimento de sua fora normativa, Hesse ainda afirma categoricamente que alem

    de observar essas condies, seria necessrio tambm que a constituio e seu contedo,

    observa-se que ele definiu de (Geistige situation), ou seja, que ela incorpore o estado

    espiritual de seu tempo.

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    Em outras palavras que a constituio incorpore o esprito de seu povo,

    entendendo seus anseios e desejos, para obter a conscincia geral.

    2 Prxis Constitucional: O autor tambm citou como fator decisivo na eficcia do poder

    normativo da constituio, a pratica constitucional, ou seja, o desejo daqueles envolvidos na

    vida constitucional, de partilhar essa concepo denominada vontade de constituio.

    Portanto quem se mostra disposto a sacrificar interesse em favor da preservao de

    um principio constitucional, fortalece o respeito constituio e garante um bem da vida

    indispensvel a essncia do estado, mormente ao estado democrtico. (HESSE, 1991, p. 22)

    Sendo assim para Hesse a essncia de uma constituio no esta nos fatores reais do

    poder que regem uma nao, mas sim, na fora normativa que lhe intrnseca.

    CONCLUSO

    por todas essas razes e afirmaes que essa discusso no se encerra por aqui, e

    talvez, no tenha fim, pois, o Direito constitucional antes de ser uma cincia normativa uma

    cincia humana, que est em constante mutao. Agora mesmo, neste instante que nos

    propusemos a participar desta discusso to vultosa, podemos afirmar que em algum lugar,

    uma norma foi tirada do ordenamento ou foi modificada, pois, tanto o Direito como a

    sociedade de hoje j no so mais os mesmos de ontem e no sero os de amanh.

    Nesse sentido Miguel Reale preleciona:

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    Da a sempre lio de um antigo brocardo: ubi societas, ubi jus (onde est a sociedade est o Direito).A recproca tambm verdadeira : ubi jus, ubi societas, no se podendo conceber qualquer atividadesocial desprovida de forma e garantia jurdicas ,nem qualquer regra jurdica que no se refira asociedade.(REALE, 2003, p. 02)

    Em virtude disso esses dois grandes autores buscaram, cada um deles de sua maneira,

    compreender qual seria a essncia de uma constituio. No entanto, Lassale afirmou que asmodificaes sociais aliadas com o poder poltico so os principais fatores que garantem a

    eficcia de uma constituio. Entretanto, Hesse citou tambm os fatores reais do poder que

    regem uma nao, mas afirmou que em uma constituio esto implcitos, a fora normativa,

    ou seja, alm de seus aspectos externos (polticos e sociais) a norma possui primordialmente

    seu aspecto normativo.

    De acordo com Kelsen: A ordem jurdica em todo pleno coerente que responde a

    todos os problemas, no por ser eficaz, mas por ser vlida e aplicvel pelos tribunais.

    (HESSE, 1991, p. XVIII). Todavia essa fora s poder ser eficaz, se estiver presente na

    conscincia dos principais responsveis pelos atos constitucionais, conscincia essa que ele

    denominou de vontade de constituio, e ainda, que ambas, realidade e ordenamento, estejam

    em uma relao de reciprocidade.

    Sendo assim podemos afirmar que Lassale fez um analise da constituio em seu

    aspecto sociolgico e poltico, enquanto que Hesse analisou-a em todo o seu contexto (social,

    poltico, jurdico) afirmando que a constituio no poderia perder a sua legitimidade, seu

    carter normativo.

    A partir da, aps embarcarmos nessa longa jornada do saber, nesta discusso de

    dcadas atrs, mas que permanece altiva at os dias de hoje, poderamos em um lapso de

    pensamento, at imaginar como seria se hoje estivssemos presentes em uma conferncia, em

    que os palestrantes fossem Ferdinand Lassale e Konrad Hesse, frente a frente, e durante a

    palestra fosse-nos concedida a oportunidade de direcionar-lhes uma simples pergunta, tenho

    certeza que a pergunta seria:

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    Afinal, qual a essncia de uma constituio?

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    LASSALE, Ferdinand. A Essncia da Constituio. Rio de Janeiro,Ed. Lumen Jris, 6 Ed. 2001.

    HESSE, Konrad. A Fora Normativa da Constituio.Porto alegre, Ed. Sergio Antonio Fabris 1991.

    KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. So Paulo, Ed. Revista dos tribunais 3 Ed. 2003.

    REALE, Miguel. Lies Preliminares de Direito.So Paulo, Ed . Saraiva 27 Ed. 2002.

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    BOBBIO, Norberto. Teoria geral da poltica. A filosofia poltica e as lies dos clssicos. Rio de

    Janeiro, Elsevier, 2000. Pg. 130.

    SITE:http://papojuridico.blogspot.com/, setembro 2006

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    http://papojuridico.blogspot.com/http://papojuridico.blogspot.com/http://papojuridico.blogspot.com/http://papojuridico.blogspot.com/