2010/2 - faculdade de desporto da universidade do porto · da eficácia do ataque no voleibol...

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ÍNDICE Nota Editorial — Da ‘arétéou excelência no desporto, na educação e na vida. Jorge Bento. A excelência no Desporto: Um estudo com o tetra-campeão nacional de ralis. Emanuel Figueiredo, Cláudia Dias, Nuno Corte-Real, António Manuel Fonseca. Estudo de determinantes tácticas da eficácia do ataque no Voleibol feminino juvenil de elevado nível de rendimento no side-out e na transição. Gustavo de Conti Costa, Isabel Mesquita, Pablo Juan Greco, Auro Barreiros Freire, José Cícero Moraes. 9 12 33 47 62 78 96 115 Propriedades psicométricas e estrutura factorial da versão portuguesa do Parent-Initiated Motivational Climate Questionnaire-2 (PIMCQ-2p). Paula Santana, Teresa Figueiras, Cláudia Dias, Nuno Corte-Real, Robert Brustad, António Manuel Fonseca. Preditores da utilização de substâncias anabolizantes e ergogênicas em Academias. António Labisa Palmeira, Margarida Gaspar de Matos. Investigação em expertise decisional em jogos desportivos: Paradigmas, métodos e desenhos experimentais. José Afonso, Júlio Garganta, Mark Williams, Isabel Mesquita. Da participação ao abandono da prática desportiva. António Manuel Fonseca, Nuno Corte-Real, Cláudia Dias. Como envelhecer sem dor. José Augusto Santos. 2010/2

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Page 1: 2010/2 - Faculdade de Desporto da Universidade do Porto · da eficácia do ataque no Voleibol feminino juvenil de elevado nível de rendimento ... métodos e desenhos experimentais

Índice

Nota Editorial — Da ‘arété’

ou excelência no desporto,

na educação e na vida.

Jorge Bento.

A excelência no Desporto:

Um estudo com o tetra-campeão

nacional de ralis.

Emanuel Figueiredo, Cláudia Dias,

Nuno Corte-Real, António Manuel Fonseca.

Estudo de determinantes tácticas

da eficácia do ataque

no Voleibol feminino juvenil

de elevado nível de rendimento

no side-out e na transição.

Gustavo de Conti Costa, Isabel Mesquita,

Pablo Juan Greco, Auro Barreiros Freire,

José Cícero Moraes.

9

12

33

47

62

78

96

115

Propriedades psicométricas

e estrutura factorial da versão portuguesa

do Parent-Initiated Motivational Climate

Questionnaire-2 (PIMCQ-2p).

Paula Santana, Teresa Figueiras, Cláudia Dias,

Nuno Corte-Real, Robert Brustad, António Manuel Fonseca.

Preditores da utilização de substâncias

anabolizantes e ergogênicas em Academias.

António Labisa Palmeira, Margarida Gaspar de Matos.

Investigação em expertise decisional

em jogos desportivos: Paradigmas,

métodos e desenhos experimentais.

José Afonso, Júlio Garganta, Mark Williams,

Isabel Mesquita.

Da participação ao abandono

da prática desportiva.

António Manuel Fonseca, Nuno Corte-Real, Cláudia Dias.

Como envelhecer sem dor.

José Augusto Santos.

2010/2

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Corpo editorial da rpCd

DirectorJorge Olímpio Bento (UNIVERSIDADE DO PORTO)

conselhoeDitorialAdroaldo Gaya (UNIVERSIDADE FEDERAL RIO GRANDE SUL, BRASIL) António Prista (UNIVERSIDADE PEDAGóGICA, MOçAMBIQUE)

Eckhard Meinberg (UNIVERSIDADE DESPORTO COLóNIA, ALEMANhA)

Gaston Beunen (UNIVERSIDADE CATóLICA LOVAINA, BéLGICA)

Go Tani (UNIVERSIDADE SãO PAULO, BRASIL)

Ian Franks (UNIVERSIDADE DE BRITISh COLUMBIA, CANADá)

João Abrantes (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA, PORTUGAL)

Jorge Mota (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

José Alberto Duarte (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) José Maia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL) Michael Sagiv (INSTITUTO WINGATE, ISRAEL)

Neville Owen (UNIVERSIDADE DE QUEENSLAND, AUSTRáLIA)

Rafael Martín Acero (UNIVERSIDADE DA CORUNhA, ESPANhA)

Robert Brustad (UNIVERSIDADE DE NORThERN COLORADO, USA)

Robert M. Malina (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE TARLETON, USA)

eDitorchefe António Manuel Fonseca (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

eDitoresassociaDosAmândio Graça (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

António Ascensão (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

João Paulo Vilas Boas (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

José Maia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

José Oliveira (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

José Pedro Sarmento (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

Júlio Garganta (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

Olga Vasconcelos (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

Rui Garcia (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

consultores Alberto Amadio (UNIVERSIDADE SãO PAULO)

Alfredo Faria Júnior (UNIVERSIDADE ESTADO RIO JANEIRO)

Almir Liberato Silva (UNIVERSIDADE DO AMAzONAS)

Anthony Sargeant (UNIVERSIDADE DE MANChESTER)

António José Silva (UNIVERSIDADE TRáS-OS-MONTES E ALTO DOURO)

António Roberto da Rocha Santos (UNIV. FEDERAL PERNAMBUCO)

Carlos Balbinotti (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL)

Carlos Carvalho (INSTITUTO SUPERIOR DA MAIA)

Carlos Neto (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA)

Cláudio Gil Araújo (UNIVERSIDADE FEDERAL RIO JANEIRO)

Dartagnan P. Guedes (UNIVERSIDADE ESTADUAL LONDRINA)

Duarte Freitas (UNIVERSIDADE DA MADEIRA)

Eduardo Kokubun (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO)

Eunice Lebre (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

Francisco Alves (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA)

Francisco Camiña Fernandez (UNIVERSIDADE DA CORUNhA)

Francisco Carreiro da Costa (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA)

Francisco Martins Silva (UNIVERSIDADE FEDERAL PARAíBA)

Glória Balagué (UNIVERSIDADE ChICAGO)

Gustavo Pires (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA)

hans-Joachim Appell (UNIVERSIDADE DESPORTO COLóNIA)

helena Santa Clara (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA)

hugo Lovisolo (UNIVERSIDADE GAMA FILhO)

Isabel Fragoso (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA)

Jaime Sampaio (UNIVERSIDADE DE TRáS-OS-MONTES E ALTO DOURO)

Jean Francis Gréhaigne (UNIVERSIDADE DE BESANçON)

Jens Bangsbo (UNIVERSIDADE DE COPENhAGA)

João Barreiros (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA)

José A. Barela (UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO)

José Alves (ESCOLA SUPERIOR DE DESPORTO DE RIO MAIOR)

José Luis Soidán (UNIVERSIDADE DE VIGO)

José Manuel Constantino (UNIVERSIDADE LUSóFONA)

José Vasconcelos Raposo (UNIV. TRáS-OS-MONTES ALTO DOURO)

Juarez Nascimento (UNIVERSIDADE FEDERAL SANTA CATARINA)

Jürgen Weineck (UNIVERSIDADE ERLANGEN)

Lamartine Pereira da Costa (UNIVERSIDADE GAMA FILhO)

Lilian Teresa Bucken Gobbi (UNIV. ESTADUAL PAULISTA, RIO CLARO)

Luis Mochizuki (UNIVERSIDADE SãO PAULO)

Luís Sardinha (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA)

Luiz Cláudio Stanganelli (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA)

Manoel Costa (UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO)

Manuel João Coelho e Silva (UNIVERSIDADE DE COIMBRA)

Manuel Patrício (UNIVERSIDADE DE éVORA)

Manuela hasse (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA)

Marco Túlio de Mello (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SãO PAULO)

Margarida Espanha (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA)

Margarida Matos (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA)

Maria José Mosquera González (INEF GALIzA)

Markus Nahas (UNIVERSIDADE FEDERAL SANTA CATARINA)

Mauricio Murad (UNIVERS. ESTADO RIO DE JANEIRO E UNIVERSO)

Ovídio Costa (UNIVERSIDADE DO PORTO, PORTUGAL)

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Pablo Greco (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS)

Paula Mota (UNIVERSIDADE DE TRáS-OS-MONTES E ALTO DOURO)

Paulo Farinatti (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO)

Paulo Machado (UNIVERSIDADE MINhO)

Pedro Sarmento (UNIVERSIDADE TéCNICA DE LISBOA)

Ricardo Petersen (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL)

Sidónio Serpa (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA)

Silvana Göllner (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL)

Valdir Barbanti (UNIVERSIDADE SãO PAULO)

Víctor da Fonseca (UNIVERSIDADE TéCNICA LISBOA)

Víctor Lopes (INSTITUTO POLITéCNICO BRAGANçA)

Víctor Matsudo (CELAFISCS)

Wojtek Chodzko-zajko (UNIVERS. ILLINOIS URBANA-ChAMPAIGN)

FiCha téCniCa da rpCd

revista portuguesa de Ciências do desporto publicação quadrimestral da Faculdade de desporto da Universidade do porto [ISSN 1645-0523]

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IMPRESSãO E ACABAMENTO

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© A REPRODUçãO DE ARTIGOS, GRáFICOS

OU FOTOGRAFIAS DA REVISTA Só é PERMITIDA

COM AUTORIzAçãO ESCRITA DO DIRECTOR.

ENDEREçO PARA CORRESPONDêNCIA

REVISTA PORTUGUESA DE CIêNCIAS DO DESPORTO faculdadedeDesportodauniversidadedoPortoruaDr.Plácidocosta,914200.450Porto—Portugaltel:+351—225074700;fax:+351—[email protected]

PREçO DO NúMERO AVULSO

Preço único para qualquer país: 20€

A Revista Portuguesa de Ciências do Desportoestá representada na plataforma SciELO Portugal

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A rpCd TEM O APOIO DA FCt

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TECNOLOGIA, INOVAçãO DO QUADRO

COMUNITáRIO DE APOIO III

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normas de pUbliCação na rpCd

tiPosDePublicaçãoINVESTIGAçãO ORIGINAL

RPCD publica artigos originais relativos a todas as áreas das ciências do desporto;

REVISõES DA INVESTIGAçãO

A RPCD publica artigos de síntese da literatura que contribuam para a generalização do conhecimento em ciências do desporto. Artigos de meta-análise e revisões críticas de literatura são dois possíveis modelos de publicação. Porém, este tipo de publicação só estará aberto a especialistas convidados pela RPCD.

COMENTáRIOS

Comentários sobre artigos originais e sobre revisões da investigação são, não só publicáveis, como são francamente encorajados pelo corpo editorial;

ESTUDOS DE CASO

A RPCD publica estudos de caso que sejam considerados relevantes para as ciências do desporto. O controlo rigoroso da metodologia é aqui um parâmetro determinante.

ENSAIOS

A RPCD convidará especialistas a escreverem ensaios, ou seja, reflexões profundas sobre determinados temas, sínteses de múltiplas abordagens próprias, onde à argumentação científica, filosófica ou de outra natureza se adiciona uma forte componente literária.

REVISõES DE PUBLICAçõES

A RPCD tem uma secção onde são apresentadas revisões de obras ou artigos publicados e que sejam considerados relevantes para as ciências do desporto.

regrasgeraisDePublicaçãoOs artigos submetidos à RPCD deverão conter dados originais, teóricos ou experimentais, na área das ciências do desporto. A parte substancial do artigo não deverá ter sido publicada em mais nenhum local. Se parte do artigo foi já apresentada publicamente deverá ser feita referência a esse facto na secção de Agradecimentos.Os artigos submetidos à RPCD serão, numa primeira fase, avaliados pelo editor-chefe e terão como critérios iniciais de aceitação: normas de publicação, relação do tópico tratado com as ciências do desporto e mérito científico. Depois desta análise, o artigo, se for considerado previamente aceite, será avaliado por 2 “referees” independentes e sob a forma de análise “duplamente cega”. A aceitação de um e a rejeição de outro obrigará a uma 3ª consulta.

PreParaçãoDosManuscritosASPECTOS GERAIS

Cada artigo deverá ser acompanhado por uma carta de rosto que deverá conter:

— Título do artigo e nomes dos autores; — Declaração de que o artigo nunca foi previamente publicado.

FORMATO:

— Os manuscritos deverão ser escritos em papel A4 com 3 cm de margem, letra 12 com duplo espaço e não exceder 20 páginas; — As páginas deverão ser numeradas sequencialmente, sendo a página de título a nº1.

DIMENSõES E ESTILO: — Os artigos deverão ser o mais sucintos possível; A especulação deverá ser apenas utilizada quando os dados o permitem e a literatura não confirma; — Os artigos serão rejeitados quando escritos em português ou inglês de fraca qualidade linguística;

— As abreviaturas deverão ser as referidas internacionalmente.

PáGINA DE TíTULO:

— A página de título deverá conter a seguinte informação: — Especificação do tipo de trabalho (cf. Tipos de publicação); — Título conciso mas suficientemente informativo; — Nomes dos autores, com a primeira e a inicial média (não incluir graus académicos) — “Running head” concisa não excedendo os 45 caracteres; — Nome e local da instituição onde o trabalho foi realizado; - Nome e morada do autor para onde toda a correspondência deverá ser enviada, incluindo endereço de e-mail

PáGINA DE RESUMO:

— Resumo deverá ser informativo e não deverá referir-se ao texto do artigo; — Se o artigo for em português o resumo deverá ser feito em português e em inglês — Deve incluir os resultados mais importantes que suportem as conclusões do trabalho; — Deverão ser incluídas 3 a 6 palavras-chave; — Não deverão ser utilizadas abreviaturas; — O resumo não deverá exceder as 200 palavras.

INTRODUçãO:

— Deverá ser suficientemente compreensível, explicitando claramente o objectivo do trabalho e relevando a importância do estudo face ao estado actual do conhecimento; — A revisão da literatura não deverá ser exaustiva.

MATERIAL E MéTODOS:

— Nesta secção deverá ser incluída toda a informação que permite aos leitores realizarem um trabalho com a mesma metodologia sem contactarem os autores; — Os métodos deverão ser ajustados ao objectivo do estudo; deverão ser replicáveis e com elevado grau de fidelidade; — Quando utilizados humanos deverá ser indicado que os procedimentos utilizados respeitam as normas internacionais de experimentação com humanos (Declaração de helsínquia

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de 1975); — Quando utilizados animais deverão ser utilizados todos os princípios éticos de experimentação animal e, se possível, deverão ser submetidos a uma comissão de ética; — Todas as drogas e químicos utilizados deverão ser designados pelos nomes genéricos, princípios activos, dosagem e dosagem; — A confidencialidade dos sujeitos deverá ser estritamente mantida; — Os métodos estatísticos utilizados deverão ser cuidadosamente referidos.

RESULTADOS:

— Os resultados deverão apenas conter os dados que sejam relevantes para a discussão; — Os resultados só deverão aparecer uma vez no texto: ou em quadro ou em figura; — O texto só deverá servir para relevar os dados mais relevantes e nunca duplicar informação; — A relevância dos resultados deverá ser suficientemente expressa; — Unidades, quantidades e fórmulas deverão ser utilizados pelo Sistema Internacional (SI units). — Todas as medidas deverão ser referidas em unidades métricas.

DISCUSSãO:

— Os dados novos e os aspectos mais importantes do estudo deverão ser relevados de forma clara e concisa; — Não deverão ser repetidos os resultados já apresentados; — A relevância dos dados deverá ser referida e a comparação com outros estudos deverá ser estimulada; — As especulações não suportadas pelos métodos estatísticos não deverão ser evitadas; — Sempre que possível, deverão ser incluídas recomendações; — A discussão deverá ser completada com um parágrafo final onde são realçadas as principais conclusões do estudo.

AGRADECIMENTOS:

— Se o artigo tiver sido parcialmente apresentado publicamente deverá aqui ser referido o facto; — Qualquer apoio financeiro deverá ser referido.

REFERêNCIAS

— As referências deverão ser citadas no texto por número e compiladas alfabeticamente e ordenadas numericamente; — Os nomes das revistas deverão ser abreviados conforme normas internacionais (ex: Index Medicus); — Todos os autores deverão ser nomeados (não utilizar et al.) — Apenas artigos ou obras em situação de “in press” poderão ser citados. Dados não publicados deverão ser utilizados só em casos excepcionais sendo assinalados como “dados não publicados”; — Utilização de um número elevado de resumos ou de artigos não “peer-reviewed” será uma condição de não aceitação;

ExEMPLOS DE REFERêNCIAS:

ARTIGO DE REVISTA

1 Pincivero DM, Lephart SM, Karunakara RA (1998). Reliability and precision of isokinetic strength and muscular endurance for the quadriceps and hamstrings. Int J Sports Med 18: 113-117 LIVRO COMPLETO hudlicka O, Tyler KR (1996). Angiogenesis. The growth of the vascular system. London: Academic Press Inc. Ltd. CAPíTULO DE UM LIVRO Balon TW (1999). Integrative biology of nitric oxide and exercise. In: holloszy JO (ed.). Exercise and Sport Science Reviews vol. 27. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 219-254FIGURAS

— Figuras e ilustrações deverão ser utilizadas quando auxiliam na melhor compreensão do texto; — As figuras deverão ser numeradas em numeração árabe na sequência em que aparecem no texto; - As figuras deverão ser impressas em folhas separadas daquelas contendo o corpo de texto do manuscrito. No ficheiro informático em processador de texto, as figuras deverão também ser colocadas separadas do corpo de texto nas páginas finais do

manuscrito e apenas uma única figura por página; — As figuras e ilustrações deverão ser submetidas com excelente qualidade gráfico, a preto e branco e com a qualidade necessária para serem reproduzidas ou reduzidas nas suas dimensões; — As fotos de equipamento ou sujeitos deverão ser evitadas.QUADROS

— Os quadros deverão ser utilizados para apresentar os principais resultados da investigação. — Deverão ser acompanhados de um título curto; — Os quadros deverão ser apresentados com as mesmas regras das referidas para as legendas e figuras; — Uma nota de rodapé do quadro deverá ser utilizada para explicar as abreviaturas utilizadas no quadro.

subMissãoDosManuscritos— A submissão de artigos para à RPCD poderá ser efectuada por via postal, através do envio de 1 exemplar do manuscrito em versão impressa em papel, acompanhada de versão gravada em suporte informático (CD-ROM ou DVD) contendo o artigo em processador de texto Microsoft Word (*.doc). - Os artigos poderão igualmente ser submetidos via e-mail, anexando o ficheiro contendo o manuscrito em processador de texto Microsoft Word (*.doc) e a declaração de que o artigo nunca foi previamente publicado.

ENDEREçOS PARA ENVIO

DE ARTIGOS

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa,Porto Portugal(+351) 914 200 450e-mail: [email protected]

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pUbliCation norms

WorkingMaterials(ManuscriPts)ORIGINAL INVESTIGATION

The PJSS publishes original papers related to all areas of Sport Sciences.

REVIEWS OF ThE LITERATURE

(STATE OF ThE ART PAPERS): State of the art papers or critical literature reviews are published if, and only if, they contribute to the generalization of knowledge. Meta-analytic papers or general reviews are possible modes from contributing authors. This type of publication is open only to invited authors.

COMMENTARIES: Commentaries about published papers or literature reviews are highly recommended by the editorial board and accepted.

CASE STUDIES: highly relevant case studies are favoured by the editorial board if they contribute to specific knowledge within the framework of Sport Sciences research. The meticulous control of research methodology is a fundamental issue in terms of paper acceptance.

ESSAyS: The PJSS shall invite highly regarded specialists to write essays or careful and deep thinking about several themes of the sport sciences mainly related to philosophy and/or strong argumentation in sociology or psychology.

BOOK REVIEWS: the PJSS has a section for book reviews.

generalPublicationrules:All papers submitted to the PJSS are obliged to have original data, theoretical or experimental, within the realm of Sport Sciences. It is mandatory that the submitted paper has not yet been published elsewhere. If a minor part of the paper was previously published, it has to be stated explicitly in the acknowledgments section.

All papers are first evaluated by the editor in chief, and shall have as initial criteria for acceptance the following: fulfilment of all norms, clear relationship to Sport Sciences, and scientific merit. After this first screening, and if the paper is firstly accepted, two independent referees shall evaluate its content in a

“double blind” fashion. A third referee shall be considered if the previous two are not in agreement about the quality of the paper.After the referees receive the manuscripts, it is hoped that their reviews are posted to the editor in chief in no longer than a month.

ManuscriPtPreParationGENERAL ASPECTS:

The first page of the manuscript has to contain: — Title and author(s) name(s) — Declaration that the paper has never been published

FORMAT:

— All manuscripts are to be typed in A4 paper, with margins of 3 cm, using Times New Roman style size 12 with double space, and having no more than 20 pages in length. — Pages are to be numbered sequentially, with the title page as n.1.

SIzE AND STyLE:

— Papers are to be written in a very precise and clear language. No place is allowed for speculation without the boundaries of available data. — If manuscripts are highly confused and written in a very poor Portuguese or English they are immediately rejected by the editor in chief. — All abbreviations are to be used according to international rules of the specific field.

TITLE PAGE:

— Title page has to contain the following information: — Specification of type of manuscript (but see working materials-manuscripts). — Brief and highly informative title. — Author(s) name(s) with first and middle

names (do not write academic degrees) — Running head with no more than 45 letters. — Name and place of the academic institutions. — Name, address, Fax number and email of the person to whom the proof is to be sent.

ABSTRACT PAGE:

— The abstract has to be very precise and contain no more than 200 words, including objectives, design, main results and conclusions. It has to be intelligible without reference to the rest of the paper. — Portuguese and English abstracts are mandatory. — Include 3 to 6 key words. — Do not use abbreviations.

INTRODUCTION:

— has to be highly comprehensible, stating clearly the purpose(s) of the manuscript, and presenting the importance of the work. — Literature review included is not expected to be exhaustive.

MATERIAL AND METhODS:

— Include all necessary information for the replication of the work without any further information from authors. — All applied methods are expected to be reliable and highly adjusted to the problem. — If humans are to be used as sampling units in experimental or non-experimental research it is expected that all procedures follow helsinki Declaration of human Rights related to research. — When using animals all ethical principals related to animal experimentation are to be respected, and when possible submitted to an ethical committee. — All drugs and chemicals used are to be designated by their general names, active principles and dosage. — Confidentiality of subjects is to be maintained. — All statistical methods used are to be precisely and carefully stated.

RESULTS:

— Do provide only relevant results that are useful for discussion. — Results appear only once in Tables or Figures. — Do not duplicate

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information, and present only the most relevant results. — Importance of main results is to be explicitly stated. — Units, quantities and formulas are to be expressed according to the International System (SI units). — Use only metric units.

DISCUSSION:

— New information coming from data analysis should be presented clearly. — Do no repeat results. — Data relevancy should be compared to existing information from previous research. — Do not speculate, otherwise carefully supported, in a way, by insights from your data analysis. — Final discussion should be summarized in its major points.

ACKNOWLEDGEMENTS:

— If the paper has been partly presented elsewhere, do provide such information. — Any financial support should be mentioned.

REFERENCES:

— Cited references are to be numbered in the text, and alphabetically listed. — Journals´ names are to be cited according to general abbreviations (ex: Index Medicus). — Please write the names of all authors (do not use et al.). — Only published or “in press” papers should be cited. Very rarely are accepted “non published data”. — If non-reviewed papers are cited may cause the rejection of the paper.

ExAMPLES:

PEER-REVIEW PAPER

1 Pincivero DM, Lephart SM, Kurunakara RA (1998). Reliability and precision of isokinetic strength and muscular endurance for the quadriceps and hamstrings. In J Sports Med 18:113-117COMPLETE BOOK hudlicka O, Tyler KR (1996). Angiogenesis. The growth of the vascular system. London:Academic Press Inc. Ltd.BOOK ChAPTER Balon TW (1999). Integrative

biology of nitric oxide and exercise. In: holloszy JO (ed.). Exercise and Sport Science Reviews vol. 27. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 219-254FIGURES

— Figures and illustrations should be used only for a better understanding of the main text. — Use sequence arabic numbers for all Figures. — Each Figure is to be presented in a separated sheet with a short and precise title. — In the back of each Figure do provide information regarding the author and title of the paper. Use a pencil to write this information. — All Figures and illustrations should have excellent graphic quality I black and white. — Avoid photos from equipments and human subjects.TABLES — Tables should be utilized to present relevant numerical data information. — Each table should have a very precise and short title. — Tables should be presented within the same rules as Legends and Figures. — Tables´ footnotes should be used only to describe abbreviations used.

ManuscriPtsubMissionThe manuscript submission could be made by post sending one hard copy of the article together with an electronic version [Microsoft Word (*.doc)] on CD-ROM or DVD. Manuscripts could also be submitted via e-mail attaching an electronic file version [Microsoft Word (*.doc)] together with the declaration that the paper has never been previously published.

ADDRESS FOR MANUSCRIPT SUBMISSION

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa, Porto Portugal(+351) 914 200 450e-mail: [email protected]

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notaeditorial

da ‘arété’ ou excelência

no desporto, na educação

e na vida.

o desporto, tal como a ciência, a cultura e a educação, das quais é parte constituinte, é por-

tador da ideia e mensagem de superação e transcendência, de elevação e perfeição, ou seja,

de ‘excelência’. este termo traduz a ‘arété’ dos gregos, uma síntese harmoniosa de técnica,

saber, desempenho, ética, estética, magnificência, virtude, sublimidade e excelsitude.

a excelência (excellentia) é a qualidade daquilo que é distinto, perfeito, magnífico, sumo

no ser, revelando a coincidência plena de uma entidade consigo própria, com a melhor ex-

pressão possível das metas e potencialidades que a definem.1

porém, para travar qualquer investida do relativismo militante, adiante-se que a exce-

lência subentende também a comparação de uma entidade com outra; e que existe, a ex-

celência em si mesma, balizada por critérios e fins de ‘elevação, ‘grandeza’, ‘magnificência’,

‘superioridade’. é com ela que a excelência de toda a entidade é comparada e por ela aferi-

da. há, pois, entidades mais excelentes do que outras.

Como referem os autores clássicos e humanistas, excelente é o que é bom. é o que é

muito bom. é o que é tão bom que não pode ser melhor. é o mais alto grau na ordem do

ser de determinada coisa ou pessoa ou ação, pensamento, sentimento, desejo ou vontade.

eJorgeolímpiobento1

1DiretordarevistaPortuguesadeciênciasdoDesporto

1 — O ‘Magnífico Reitor’ é primus inter pares; é aquele que corporiza e representa o mais alto grau da magnifi-

cência dos professores, dos conhecimentos e sabedorias da Universidade. O ‘Sumo Pontífice’ é aquele que as-

cende ao vértice da pirâmide e expressa a sumidade dos purpurados que pontificam na hierarquia eclesiástica.

9—RPcd 10 (2): 9-11

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a tentativa de definição vai ainda mais longe. excelente é o perfeito, o distinto, o magní-

fico. o que é de ótima qualidade, a tal ponto que não pode ser melhor do que é. excelente

é, portanto, o que alcançou a excelência, coincidindo o que está a ser com o que é na sua

essência e potencial de ser.

só que há potenciais de ser e de excelência muito diferentes! logo nem todos podemos

atingir o mesmo nível de excelência. todavia isso não nos desobriga de a procurar: todos

temos obrigação de alcançar a excelência possível! todos temos o dever de perseguir afin-

cadamente a perfeição, assim vista por aristóteles: Perfeitas em si são aquelas coisas a que

nada lhes falta do que constitui o seu bem, ou nada lhes falta daquilo que não é superado no

seu próprio género, ou aquelas coisas que não têm fora de si nenhuma parte de si mesmas.

porque é que impende sobre nós o mandamento indeclinável da busca da perfeição?

muito simplesmente porque, no pensamento e linguagem filosófica aristotélica e humanis-

ta, a excelência é sempre concebida e equacionada ontologicamente. o mesmo é dizer que

ela nos compara e situa, simultaneamente, no mundo da realização do ser e no universo

da obtenção de Valor.

heráclito (576-480 a.C.) formulou isto de maneira bem explícita: Um só homem vale aos

meus olhos dez mil homens, se ele é o melhor. tendo albert einstein (1879-1955) comple-

mentado de modo primoroso: Procura ser não tanto um indivíduo de sucesso, mas sobretu-

do uma pessoa de valor.

a excelência configura a síntese harmoniosa de uma multiplicidade de valores suma-

mente valiosos. somente o que tem valor é património da humanidade. por outras pa-

lavras, a substância e a configuração da nossa humanidade prendem-se com o teor dos

valores que balizam as nossas atitudes, palavras, ações e reações.

Com a noção de excelência ou virtude ou arété os gregos (e na era moderna os hu-

manistas e iluministas) tecem uma valoração nova do homem e uma nova conceção do

lugar do indivíduo na sociedade, bem como encontram a chave da dignidade humana e

do conceito de humanidade.

ser humano é buscar a superioridade, atingir excelência, qualidade, perfeição, isto é,

arété. a nossa humanidade é uma expressão ‘artística’; é dada pelo índice de arte no que

somos, pensamos, dizemos e fazemos. somos entes e agentes ‘artísticos’, que se movem

atrás de objetivos ‘distantes’, traçados de ‘antemão’. a sua consecução é um pressuposto

da nossa humanização.

obviamente somos intimados a almejar o que é cimeiro e não o que se queda num

plano rasteiro. Como disse são Francisco de assis (1182-1226), o que tem de ser feito

deve ser bem feito.2

por isso toda a ação, coisa, ato ou gesto real que fique aquém do ideal não é excelente,

não tem a qualidade que lhe é exigível. aristóteles foi claro: No que diz respeito à excelên-

cia não é suficiente conhecê-la; é necessário possuí-la e usá-la. ou seja, a qualidade e a

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11—RPcd 10 (2)

e

2 — há quem afirme que esta máxima se deve a um monge medieval anónimo; e que ela era originariamente

assim: O que vale a pena ser feito vale ainda mais a pena ser bem feito.

3 — Frei Bento Domingues, Jornal Público, p.36, 23.05.2010.

John Kennedy (1917-1963) também aconselhou a opção pelo voo nas alturas, ao formular: We choose to go

to the moon.

excelência são exigências intrínsecas à educação e à cultura, a todos os seus fatores e a

todas as suas modalidades.

portanto a exigência do fazer bem feito é a regra balizadora do ensino e da aprendiza-

gem em qualquer área educativa. a regra do educador só pode ser esta: educar bem. e a

regra do educando: aprender bem.

acentuemos este ponto, para que não subsistam quaisquer equívocos. deve elevar-se o

aluno, o aprendiz, o estudante, o atleta e executante, à altura do saber e da inteligência, da

excelência ética e estética? ou devem o ensino e a formação descer à rasura da incivilida-

de e mediocridade, da indolência e laxismo, da indigência cultural e moral?

infelizmente há quem tenha dúvidas na resposta ou opte pela segunda alternativa! para

desdizer o desaforo, vale-nos o bom senso de ludwig Wittgenstein (1889-1951): Eu não

sei porque estamos aqui, mas tenho a certeza de que não é para nos divertirmos. e também

vem em nossa ajuda este depoimento de Frei bento domingues: Para respirar como huma-

nos, precisamos de horizontes infinitos e do Infinito como horizonte da alma. É pelas formas

mais altas da criação artística que a humanidade descola do imediato e levanta voo.3

os homens, qualquer que seja o seu berço, não se podem perder e refugiar em descul-

pas, menoridades e lamentações, porquanto têm uma vocação alada. estão na vida para

atingirem superioridade, grandeza, elevação, qualidade, excelência. é no voo em direção

ao mais alto que justificam o dom da vida; é o fogo do impossível que os atrai e consome e

lhes confere o estatuto de humanos, quase perfeitos, quase felizes, quase divinos.

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A excelência no desporto:

umestudocomotetra-campeão

nacionalderalis.

PAlAvRAs chAve:

competênciaspsicológicas.stresse

ansiedade.coping.emoções.ralis.

resumo

o presente estudo teve como objectivo traçar o perfil psicológico de armindo araújo um

dos melhores atletas portugueses de rali de todos os tempos. Foram realizadas dez entre-

vistas semiestruturadas: uma num momento aleatório, fora do ambiente competitivo, e as

outras nove no final de cada prova da época desportiva de 2006. as entrevistas versavam

sobre quatro aspectos principais: características/ competências psicológicas importantes

para o sucesso desportivo, fontes de stress, estratégias de coping e emoções (para além

da ansiedade) com influência no rendimento. os resultados ressaltaram a importância da

componente psicológica no rali e confirmaram o interesse de a preparação psicológica

incluir diferentes factores e processos cognitivos, emocionais e comportamentais, sempre

em relação com a modalidade e suas exigências contextuais específicas.

AutoRes:

emanuelfigueiredo1

cláudiaDias1

nunocorte-real1

antónioManuelfonseca1

1cifi2D,faculdadedeDesportouniversidadedoPorto,Portugal

correspondência:cláudiaDias.cifi2D,faculdadedeDesportodauniversidadedoPorto.

ruaDr.Plácidocosta,91,4200-450Porto,Portugal([email protected]).

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13—RPcd 10 (2): 12-32

01excellence in sport:

a study with the tetra-national

champion of rallyes.

AbstrAct

the present study aimed to trace the psychological profile of armindo

araújo, one of the greatest portuguese rally pilots ever. ten qualitative

interviews were conducted: one in a random moment, and one after each

competitive race of the 2006 portuguese rally Championship (in a total

of nine interviews). these interviews revolved around four main themes:

psychological characteristics/ skills important to sports success, sour-

ces of stress, coping strategies, and the role of emotions (other than

anxiety) in performance. the results highlighted the importance of the

psychological component in rallying, and confirmed the significance,

with regard to athletes’ psychological preparation, of different cognitive,

emotional and behavioral processes. this preparation should take into

account the specific contextual requirements of each sport.

Key woRds:

Psychologicalskills.stressandanxiety.coping.emotions.rally.

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Introdução

porque será que os responsáveis pela melhoria do desempenho desportivo atribuem cada

vez maior importância à componente mental?

em termos históricos, o interesse dos responsáveis pelo rendimento desportivo dos atle-

tas centrava-se quase exclusivamente na melhoria dos aspectos técnico-tácticos, biológicos

e motores. todavia, cedo se começou a constatar que nem sempre os aspectos físicos dita-

vam o curso dos resultados, porquanto nem sempre os atletas fisicamente mais robustos

e tecnicamente mais evoluídos conseguiam os melhores desempenhos. assim, começou a

cimentar-se a necessidade de considerar e examinar de forma aprofundada o papel de dife-

rentes características, factores e/ ou processos psicológicos no rendimento desportivo.

num primeiro momento, a crença geral era a de que a identificação das características psi-

cológicas, identificadas com traços ou atributos (estáveis e persistentes) da personalidade

dos atletas, especialmente dos atletas de elite, permitiria diagnosticar e predizer o compor-

tamento e sucesso futuro no desporto, independentemente da situação (4,35,36). esta perspec-

tiva dominou particularmente durante os anos 60 e 70 do século XX e as investigações carac-

terizaram-se por uma tradição de comparações intergrupais: atletas eram comparados com

não-atletas, atletas bem-sucedidos eram comparados com atletas menos bem-sucedidos e

eram efectuadas comparações entre atletas de diferentes modalidades. no entanto, apesar

do elevado número de estudos publicados nos anos 60 e 70, muitos autores protestaram que

a avaliação dos resultados destas investigações não era, de todo, consistente e que os traços

de personalidade não eram, afinal, um factor significativo no desporto — no qual explicavam

apenas uma pequena percentagem de variabilidade no desempenho (3,6,23).

estas críticas abriram espaço para um modelo interacionista, que defendia que, para

compreender o comportamento dos atletas, era necessário considerar não apenas o atleta,

mas também a situação desportiva específica (4). de acordo com esta perspectiva, enquan-

to, no que diz respeito à situação, o mais importante seria compreender o seu significado

psicológico, em relação à pessoa importariam os factores cognitivos, vistos como os prin-

cipais determinantes do comportamento; por último, também era importante não descon-

siderar os factores emocionais (22).

assim, considerando que as experiências psicológicas actuais dos atletas também po-

deriam afectar decisivamente o seu desempenho, os investigadores não se restringiram

à análise das características psicológicas dos atletas de elite, procurando também iden-

tificar estratégias e padrões comportamentais e cognitivos utilizados antes e durante as

situações competitivas. isto implicava compreender, no âmbito de um paradigma intera-

cionista e transaccional, como é que os atletas se preparam mentalmente para a competi-

ção, qual o nível de ansiedade experienciado antes e durante a mesma, até que ponto esses

factores influenciam o rendimento óptimo, ou quais as características psicológicas que

diferenciam os atletas de elite dos restantes (4).

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15—RPcd 10 (2)

01neste contexto, importará fazer referência a algumas das investigações mais antigas nes-

te domínio, desenvolvidas por mahoney e colaboradores. em 1977, mahoney e avener (24)

recorreram a entrevistas semiestruturadas, com o objectivo de analisarem as competências

psicológicas que distinguiam seis atletas seleccionados para a equipa olímpica dos eUa de

seis não seleccionados. os resultados demonstraram que os indivíduos apurados revelavam

níveis mais elevados de autoconfiança, sonhavam mais vezes com as provas, recorriam mais

frequentemente ao discurso interno positivo e pensavam na competição mais vezes por dia

do que aqueles que não tinham sido seleccionados. dez anos depois, mahoney, Gabriel e

perkins (25) utilizaram uma metodologia quantitativa para analisarem as competências psi-

cológicas de 713 atletas de 23 modalidades, sendo 126 atletas de elite, 141 pré-elite e 446

universitários. de forma similar ao estudo referido anteriormente, os resultados mostraram

que os atletas de elite evidenciavam algumas diferenças em relação aos outros: experimen-

tavam menos problemas de ansiedade, atingiam melhores níveis de concentração antes e

durante a competição, eram mais autoconfiantes, recorriam mais vezes à visualização men-

tal interna e cinestésica, estavam mais focalizados no seu rendimento individual do que na

sua equipa e encontravam-se mais motivados para o sucesso.

Um outro investigador que se destacou neste domínio foi terry orlick. em 1988, orlick

e partington (32)publicaram uma investigação com 273 atletas norte-americanos que ti-

nham participado nos Jogos olímpicos de los angeles (1984), concluindo que, entre os

elementos comuns àqueles que obtiveram melhores resultados, estavam a qualidade do

treino, o estabelecimento de objectivos diários, a prática da visualização mental, o uso de

simulações e a preparação mental das provas a disputar.

num estudo posterior com jogadores de golfe de elite, mcCaffrey e orlick (26) concluíram

que estes atletas, nos seus melhores momentos, estavam num estado de total envolvi-

mento com a tarefa, recorriam a planos mentais para a competição, praticavam diaria-

mente visualização mental, possuíam objectivos claramente definidos, e tinham uma per-

cepção muito clara dos elementos e estratégias que os conduziam a um bom desempenho.

entretanto, numerosos estudos realizados posteriormente confirmaram estes resulta-

dos (e.g.,14,28,29), podendo actualmente ser considerados seis domínios principais de diferen-

ciação dos atletas mais bem-sucedidos e dos restantes: controlo da ansiedade, preparação

mental, focalização na equipa, concentração, confiança e motivação. especificamente, os

atletas de sucesso e com elevados níveis de rendimento parecem caracterizar-se por ní-

veis mais baixos de ansiedade (ou mais competências de regulação e controlo da ansieda-

de), um maior envolvimento e focalização (concentração) nas tarefas competitivas, níveis

mais elevados de autoconfiança nas suas competências e capacidades, mais motivação

e comprometimento com o desporto e com a sua realização desportiva, e mais esforço e

cuidado na sua preparação mental para a competição. as estratégias ou métodos utiliza-

dos incluíam a visualização mental, estratégias cognitivas e comportamentais de controlo

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emocional, a formulação de objectivos claros e específicos para as competições, a estru-

turação de planos pré-competitivos e competitivos e a capacidade para lidar eficazmente

com acontecimentos inesperados e distracções. nos desportos colectivos possuem tam-

bém maiores níveis de orientação para o colectivo e de espírito de equipa (3,4,9,25,31,32).

entre as características psicológicas consistentemente identificadas como importantes

para o desempenho desportivo, a (capacidade de controlo da) ansiedade competitiva tem-

-se constituído como uma das que mais investigação gerou ao longo dos anos (e.g.,12,15). di-

versos investigadores preocuparam-se, por exemplo, em identificar as principais causas/

fontes de stress e ansiedade. de uma forma geral, os estudos realizados neste âmbito

têm apontado um vasto leque de fontes gerais de stress, as quais podem ser agrupadas

nos seguintes aspectos principais: padrões de alto rendimento baseados em exigências

potenciais e ambientais, pressões de outros significativos, a natureza da competição, ou a

avaliação social (e.g.,12,18,33).

ainda no domínio do stress e ansiedade, outra temática que tem suscitado o interesse

dos investigadores prende-se com a determinação das estratégias de coping utilizadas

pelos atletas para lidarem com situações stressantes e/ ou problemáticas (e.g.,1,10,11,17). hoje

em dia, parece ser claro que os atletas recorrem a diferentes estratégias de coping, muitas

vezes simultaneamente, e que, embora muitas dessas estratégias sejam transversais a di-

ferentes modalidades e atletas, também há algumas específicas às exigências e contexto

da modalidade (e.g.,17).

Finalmente, importa salientar que, nos últimos anos, a investigação do stress e ansie-

dade no desporto tem-se expandido, estando hoje em dia claramente demonstrada a re-

levância do estudo do impacte de diferentes emoções negativas e positivas para além da

ansiedade (e.g., irritação/ raiva, felicidade/ alegria, culpa, medo, vergonha) no rendimento

e comportamento desportivos (e.g.,2,13,16,21,27).

decorrendo do exposto, a presente investigação visou traçar um perfil psicológico de ar-

mindo araújo, tetra-campeão nacional de ralis (2003, 2004, 2005 e 2006), relativamente a

quatro aspectos centrais: as características e/ ou competências psicológicas mais impor-

tantes para o sucesso desportivo, as principais fontes de stress e ansiedade, as estraté-

gias de coping usadas em situações problemáticas e stressantes, e outras emoções (para

além da ansiedade) com influência no rendimento desportivo. o piloto foi acompanhado

durante toda a época desportiva de 2006, numa abordagem longitudinal que, envolvendo

múltiplas entrevistas, permitiu a monitorização de uma possível natureza dinâmica das

respostas de um dos maiores pilotos portugueses de rali de todos os tempos ao longo de

toda uma época desportiva. de facto, convém sublinhar que não obstante partilharem um

importante número de características psicológicas que os diferenciam dos atletas menos

bem-sucedidos, os atletas de elite não podem e não devem ser vistos como um grupo ho-

mogéneo (4). Com efeito, mesmo no alto nível, as diferenças individuais não devem nunca

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17—RPcd 10 (2)

01ser esquecidas, já que “determinar o que funciona para a maioria pode resultar em negli-

genciar as preocupações e competências específicas de cada atleta” (p.46) (8).

por outro lado, importa referir a escassez de estudos efectuados na área dos desportos

motorizados, os quais podem ser considerados dos mais desafiantes a nível físico e mental (20). além disso, o automobilismo é um dos desportos mais acarinhados e com mais adeptos

de todo o mundo. eventos como as ‘24 horas de le mans’, o ‘Grande prémio do mónaco’, o

‘rali de monte Carlo’ ou o ‘rali paris — dakar’ (‘lisboa — dakar’ em 2006) são mundial-

mente reconhecidos, e talvez sejam das organizações desportivas que - esquecendo os

‘triviais’ Jogos olímpicos e os mundiais/ europeus de Futebol - juntam mais nações e mais

mediatismo têm a nível mundial. desta forma, este estudo pode constituir-se como algo

inovador e, nesse contexto, dar alguma contribuição para o avanço do conhecimento numa

modalidade ainda pouco investigada, designadamente na área da psicologia.

mAterIAL e mÉtodos

estUdo de Caso

armindo araújo tinha 29 anos, sendo piloto de ralis desde o ano 2000. em 2002 tornou-se

piloto profissional de ralis e em 2006 sagrou-se tetra-campeão nacional da modalidade

(2003, 2004, 2005 e 2006).

proCedimentos

entrevista

os dados foram recolhidos através da aplicação de um protocolo de entrevista semiestru-

turada e de resposta aberta baseada num guião de entrevista desenvolvido por taylor e

schneider (34). especificamente, a entrevista visava traçar um perfil psicológico do piloto

relativamente a quatro aspectos centrais: (a) as características e/ ou competências psico-

lógicas mais importantes para o sucesso desportivo, (b) fontes de stress e ansiedade, (c)

estratégias de coping com situações problemáticas e stressantes, (d) emoções (para além

da ansiedade) com influência no rendimento.

recolha dos dados

após a obtenção de uma resposta positiva da Mitsubishi Motors Portugal para a realiza-

ção deste estudo, a entrevista foi primeiramente aplicada num momento aleatório fora da

competição. esta entrevista inicial, doravante apelidada de entrevista geral (eG), visava

traçar um perfil psicológico inicial do piloto. adicionalmente, com o objectivo de comple-

mentar essa entrevista e de compreender melhor o comportamento do piloto em situações

específicas, o piloto voltou a ser entrevistado no final de cada rali do Campeonato nacional

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de ralis de 2006, num total de oito ocasiões (ver quadro 1). Com uma excepção (por im-

possibilidade do entrevistado), todas estas entrevistas tiveram lugar poucas horas após o

final de cada rali.

as entrevistas foram realizadas individualmente, num ambiente calmo e reservado, de

forma a impedir eventuais distracções. no decorrer das mesmas foi adoptada uma postura

não crítica e não avaliativa, tendo o entrevistador intervindo apenas quando estritamente

necessário, no sentido de esclarecer alguma afirmação ou ponto de vista.

QuaDro1 — Entrevistas realizadas durante o Campeonato Nacional de Ralis de 2006.

entreVista rali data

1 Rali Casino da Póvoa 24- 25 Fevereiro

2 PT Rali de Portugal 16- 18 Março

3 Rali Futebol Clube do Porto 26- 27 Maio

4 SATA Rali Açores 29- 1 Junho/ Julho

5 Rali Vinho da Madeira 3- 5 Agosto

6 Rali Centro de Portugal 14- 16 Setembro

7 Rali de Mortágua 27- 28 Outubro

8 Rali Casinos do Algarve 17- 18 Novembro

análise dos dados

a análise de conteúdo foi efectuada de acordo com procedimentos sugeridos por espe-

cialistas em metodologia de investigação qualitativa e análise de conteúdo (10,12,33). esta

análise obedeceu a alguns princípios fundamentais e foi efectuada em quatro etapas su-

cessivas: (a) transcrição das entrevistas na sua totalidade; (b) leitura e análise cuidada (in-

cluindo segunda e terceira leituras) das situações descritas; (c) identificação e descrição

(em bruto) dos temas específicos descritos pelo piloto; (d) análise dos temas encontrados

e identificação de factores e dimensões principais e ainda mais gerais.

inicialmente, a transcrição das entrevistas foi efectuada de forma a reproduzir fielmen-

te o discurso do piloto. de seguida, após a leitura e análise cuidadas das entrevistas, efec-

tuou-se uma interpretação lógico-semântica do seu conteúdo, identificando-se os temas

específicos que representavam o resumo das principais ideias expostas nas respostas. por

último, fez-se o agrupamento dos temas específicos cujos significados fossem idênticos

em dimensões mais gerais; em algumas questões o sujeito referiu mais do que uma di-

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19—RPcd 10 (2)

01mensão geral. esta análise indutiva permitiu que temas e dimensões gerais pudessem ser

criados a posteriori a partir da interpretação lógico-semântica do texto (7), possibilitando

que os investigadores tentassem compreender a situação sem previamente impor expec-

tativas no objecto do estudo.

Como critério de inclusão de uma resposta numa dimensão, foi definida a obrigatorie-

dade de todos os investigadores assim a terem considerado. nos casos em que tal não se

verificou, a selecção da dimensão na qual a resposta foi incluída foi efectuada a partir de

reflexão conjunta, sendo as transcrições relidas até se chegar a um consenso; o ponto de

vista do primeiro autor (entrevistador) foi considerado especialmente relevante nas dis-

cussões interpretativas, uma vez que possuía a vantagem de ter conversado directamente

com o participante do estudo.

resuLtAdos

sobre as CaraCterístiCas e CompetênCias psiColóGiCas

mais importantes para o sUCesso desportiVo…

relativamente às características e competências psicológicas mais importantes para o su-

cesso desportivo, a análise qualitativa das entrevistas, apresentada nos quadros 2 e 3, per-

mitiu identificar oito dimensões gerais: (a) autoconfiança; (b) coesão e espírito de grupo;

(c) compromisso; (d) concentração; (e) controlo do erro; (f) controlo do stress, ansiedade

e pressão; (g) motivação e formulação de objectivos; e (h) rotina/ planeamento/ estratégia.

Como é possível verificar no quadro 2, quer na entrevista geral, quer nas entrevistas

realizadas ao longo da época, armindo araújo parecia dar especial relevância, em termos

de sucesso pessoal, ao planeamento e cumprimento de estratégias e rotinas, à capacida-

de de controlar o stress, ansiedade e pressão, e à motivação e formulação de objectivos.

Contudo, enquanto em termos mais ‘globais’ (i.e., na eG) estes três aspectos pareciam ter

um ‘peso’ semelhante, nas restantes entrevistas, a capacidade de planear e de cumprir

estratégias e rotinas evidenciava-se relativamente ao controlo do stress e ansiedade e à

motivação e formulação de objectivos.

especificamente, a rotina/ planeamento/ estratégia foi especialmente focada no início

da época, designadamente na entrevista 2 (pt rali de portugal), 3 (rali Futebol Clube do

porto) e 6 (rali Centro de portugal). na entrevista realizada após o pt rali de portugal,

armindo araújo queria mostrar todas as suas potencialidades, tendo referido que havia

necessidade de ‘montar’ um projecto internacional, num rali em que teve que contar com

a presença de pilotos estrangeiros e de competitividade mundial. nas entrevistas após o

rali Futebol Clube do porto e o rali Centro de portugal, a referência à rotina/ planeamen-

to/ estratégia estaria relacionada essencialmente com o piso dos troços: no primeiro caso,

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devido a ser o primeiro piloto na estrada, algo que naquele tipo de piso em terra é bastante

prejudicial; no segundo caso, era um rali em que existiam vários tipos de asfalto e em que

a melhor afinação do novo carro ainda não tinha sido encontrada (quadro 3).

a questão do controlo da ansiedade, stress e pressão foi mais evidente na entrevista

1 (rali Casino da póvoa) e estava relacionada com a análise feita aos adversários e com

as novas aquisições mecânicas. na entrevista 2 (pt rali de portugal) esta dimensão teve

mais relevo devido ao facto de ser um rali em que a vitória era mais importante para a

demonstração do valor de armindo araújo e para a vontade de viabilizar um projecto inter-

nacional, do que propriamente para ‘marcar pontos’ para o campeonato. Foi também algo

muito evidenciado nas entrevistas 7 (rali de mortágua) e 8 (rali Casinos do algarve). na

entrevista 7 (rali de mortágua), a sua relevância justifica-se pelo facto de esta ter sido rea-

lizada logo após armindo araújo ter revalidado o seu título e se ter tornado tetra-campeão

nacional de ralis. Já na entrevista 8 (rali Casinos do algarve), a ênfase dada ao controlo

do stress e ansiedade deveu-se provavelmente aos esforços para a viabilização da interna-

cionalização de armindo araújo e da equipa.

a motivação e formulação de objectivos foi uma dimensão particularmente enfatizada

na entrevista 2 (pt rali de portugal), provavelmente pelos motivos anteriormente apre-

sentados (i.e., pela importância da vitória na demonstração do valor de armindo araújo

e na viabilização de um projecto internacional), e na entrevista 3 (rali Futebol Clube do

porto), certamente fruto da excelente vitória alcançada no pt rali de portugal.

para além destes três aspectos (planeamento e cumprimento de estratégias e rotinas,

capacidade de controlar o stress, ansiedade e pressão, e motivação e formulação de objec-

tivos), armindo araújo também relevou a importância da autoconfiança, da capacidade de

concentração e de controlo dos erros, bem como do compromisso e da coesão e espírito de

grupo. ressalte-se o facto de a autoconfiança e a coesão terem sido mais destacadas na en-

trevista geral do que nas outras entrevistas, ocorrendo o inverso no tocante à concentração.

de um modo específico, a concentração foi sublinhada em relação com o facto de não ter

havido momentos de distracção nos ralis, especialmente nas provas onde as condições cli-

matéricas eram piores: entrevistas 1 (rali Casino da póvoa), 4 (sata rali açores) e 8 (rali

Casinos do algarve). Já o controlo do erro (i.e., capacidade para não cometer erros) foi

particularmente evidenciado nas entrevistas 5 (rali Vinho da madeira) e 6 (rali Centro de

portugal), quando armindo araújo adquiriu um novo carro. nesta altura, o piloto ainda não

tinha encontrado as afinações correctas para a sua viatura, facto que o levava a ter mais

preocupações com possíveis erros. Já o compromisso foi realçado fundamentalmente na

entrevista 1 (rali Casino da póvoa) e na entrevista geral, numa forma de dar a entender a

disciplina e o rigor a que estava sujeito na sua profissão, enquanto a capacidade de sacrifí-

cio e de disciplina foram referidas de uma forma geral relativamente a todos os ralis, pois

os objectivos foram quase sempre cumpridos.

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21—RPcd 10 (2)

01Finalmente, a importância da coesão e do espírito de grupo entre piloto, navegador e

equipa foi especialmente ressaltada na entrevista 6 (sata rali açores), prova na qual ar-

mindo araújo e a sua equipa exibiram, de facto, aquando da quebra da primeira velocidade

e subsequente substituição da caixa de velocidades, um elevado espírito de grupo e moti-

vação colectiva.

QuaDro2 — Características e competências psicológicas mais importantes para o sucesso desportivo (resultados globais)

dimensão Geral temas espeCíFiCos total% (n)

e Geral% (n)

e1 a e8% (n)

rotina/ planeamento/ estratégia

capacidade de planear e de cumprir estratégias e rotinas

24.0 (87) 19.6 (20) 25.7 (67)

controlo do stress, ansie-dade e pressão

capacidade e competências para lidar e/ ou controlar o stress, ansiedade e pressão

22.0 (80) 21.6 (22) 22.2 (58)

motivação e formulação de objectivos

motivaçãodeterminação para atingir objectivos sucessivosquerer ganhar

20.1 (73) 20.6 (21) 19.9 (52)

autoconfiança ter confiança e acreditar nas suas capacidades pessoaispensamento positivoauto-estima

9.1 (33) 13.7 (14) 7.3 (19)

controlo do erro capacidade para não cometer erros

7.2 (26) 5.9 (6) 7.7 (20)

concentração concentraçãocapacidade para se abstrair de tudo e centrar-se no rali

6.3 (23) 3.9 (4) 7.3 (19)

compromisso capacidade de sacrifíciocapacidade de disciplina

6.1 (22) 5.9 (6) 6.1 (16)

coesão e espírito de grupo

capacidade de trabalhar em equipaespírito de grupo

5.2 (19) 8.8 (9) 3.8 (10)

Total 100 (363) 100 (102) 100 (261)

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QuaDro3 — Características e competências psicológicas mais importantes para o sucesso desportivo (entrevistas 1 a 8)

e1 e2 e3 e4 e5 e6 e7 e8

% (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n)

1 25.5 (12) 29.4 (15) 48.1 (13) 16.1 (5) 21.7 (5) 31.4 (11) 4.8 (1) 19.2 (5)

2 8.5 (4) 29.4 (15) 25.9 (7) 19.4 (6) 21.7 (5) 14.3 (5) 23.8 (5) 19.2 (5)

3 27.7 (13) 17.6 (9) 11.1 (3) 16.1 (5) 21.7 (5) 17.1 (6) 42.9 (9) 30.8 (8)

4 6.4 (3) 2.0 (1) 3.7 (1) 12.9 (4) 4.3 (1) 5.7 (2) 14.3 (3) 15.4 (4)

5 17.0 (8) 9.8 (5) 7.4 (2) 9.7 (3) - - 4.8 (1) -

6 12.8 (6) 2.0 (1) - 6.5 (2) 8.7 (2) 5.7 (2) 4.8 (1) 7.7 (2)

7 - 5.9 (3) - 19.4 (6) - 2.9 (1) - -

8 2.1 (1) 3.9 (2) 3.7 (1) - 21.7 (5) 22.9 (8) 4.8 (1) 7.7 (2)

total 100 (47) 100 (51) 100 (2) 100 (21) 100 (23) 100 (35) 100 (21) 100 (26)

1 — rotina/ planeamento/ estratégia; 2 — motivação e formulação de objectivos; 3 - controlo do stress, ansieda-de e pressão; 4 — concentração; 5 — autoconfiança; 6 — compromisso; 7 — coesão e espírito de grupo; 8 — con-fronto com o erro

sobre as prinCipais Fontes de stress e ansiedade…

no que respeita às fontes de stress, a análise das entrevistas permitiu a identificação de

10 dimensões gerais: (a) comparação/ análise dos adversários, (b) condições climatéricas,

(c) factores financeiros/ orçamentais, (d) não ter o rendimento esperado, (e) natureza da

competição; (f) percepção de falta de prontidão física/ técnica/ mecânica, (g) preocupação

(carro novo), (h) pressões externas (comunicação social), (i) problemas mecânicos, e (j)

risco da profissão (quadros 4 e 5).

nas fontes identificadas, duas mereceram um claro destaque: os problemas mecânicos

e a comparação/ análise dos adversários. Contudo, enquanto este segundo aspecto assu-

miu maior importância na entrevista geral, comparativamente às entrevistas realizadas

após cada rali, o inverso aconteceu no concernente aos problemas mecânicos, os quais se

foram assumindo como uma das maiores fontes de stress durante a época — com particu-

lar relevância para a entrevista 4, após o sata rali açores, onde os problemas a este nível

foram maiores —, mas não foram salientados de forma tão premente na entrevista geral.

Já a comparação com e/ ou a análise dos adversários, a qual se centrava essencialmente

nos atributos mecânicos dos carros dos outros pilotos, foi especialmente referida, para

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23—RPcd 10 (2)

01além da entrevista geral, nas entrevistas 2 (pt rali de portugal) e 5 (rali Vinho da ma-

deira). nestas duas provas estavam presentes pilotos de renome internacional e/ ou com

viaturas técnica e mecanicamente bastante evoluídas. na entrevista 1 (rali Casino da pó-

voa) também houve referência a esta dimensão, possivelmente por ter sido o primeiro rali

da época, sendo a análise às novidades a nível de pilotos e máquinas sempre importante.

paralelamente, a natureza da competição e a percepção de prontidão física/ técnica/

mecânica também foram referidas de modo substancial na entrevista geral e nas entrevis-

tas após cada rali. as questões ligadas à natureza da competição foram realçadas durante

toda a época, mas foram mais enfatizadas na entrevista 1 (rali Casino da póvoa) e na

entrevista 3 (rali Futebol Clube do porto) pelos aspectos já mencionados. Já a percepção

de falta de prontidão física/ técnica/ mecânica teve o seu principal destaque na entrevista

6 (rali Centro de portugal), possivelmente pela falta de prontidão técnica/ mecânica que

ocorreu nessa prova, já que as afinações do carro não eram as melhores. na entrevista 1

(rali Casino da póvoa) também houve referência à falta de prontidão mas neste caso mais

em ligação à falta de prontidão física, pois armindo araújo tinha estado doente na semana

anterior. de forma relacionada, o facto de ter estreado um novo carro a meio da época foi

um outro motivo ao qual o piloto associou algum stress e pressão (embora menos, com-

parativamente às dimensões anteriores), tendo as afinações e os problemas derivados da

juventude do carro sido realçados, quase na sua totalidade, na entrevista 5 (rali Vinho da

madeira), aquando da estreia com o novo carro. naturalmente foi também nessa entrevista

que se salientou a preocupação gerada pelo uso de um carro totalmente novo.

tal como a preocupação gerada pelo uso de um carro novo, as condições climatéricas

apenas foram mencionadas nas entrevistas após os ralis. além disso, contrariamente ao

que seria de esperar, pois o mesmo não se passará certamente com inúmeros pilotos de

ralis, foram pouco enfatizadas. isto poderá estar relacionado com o facto de o armindo

araújo afirmar que geralmente se consegue sobrepor mais à concorrência quando estas

condições estão adversas. de referir ainda que, apesar de poucas vezes referida, esta di-

mensão foi mais aludida nas entrevistas 1 (rali Casino da póvoa), 3 (rali Futebol Clube do

porto), 4 (sata rali açores) e 8 (rali Casinos do algarve), onde as condições climatéricas

tiveram, de facto, grande influência no normal decorrer da prova.

entre os aspectos menos focados como geradores de stress encontram-se ainda os fac-

tores financeiros e orçamentais, referidos pelo piloto nas entrevistas 1 (rali Casino da pó-

voa), 2 (pt rali de portugal) e 7 (rali de mortágua), sempre pelo mesmo motivo: preocupa-

ção em viabilizar o almejado projecto internacional. esta dimensão também foi referida na

entrevista geral, sempre em relação com o facto de este desporto estar muito dependente

de investimentos de verbas avultadas, marcas e patrocinadores. por outro lado, o facto de

a pressão gerada pela possibilidade de não ter o rendimento esperado ter sido algo rara-

mente focado, pode dever-se à atitude e autoconfiança de armindo araújo. esta dimensão

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foi mais referida na entrevista 4 (sata rali açores), quando um grave problema mecânico

o levou a pensar que não iria alcançar os seus objectivos.

por fim, outras dimensões escassamente sublinhadas respeitavam ao risco da profissão,

apenas mencionado na entrevista geral e na entrevista 1 (rali Casino da póvoa), e a pres-

são exercida pela comunicação social, referida na entrevista geral e na entrevista 2 (pt

rali de portugal), possivelmente devido à extrema importância deste rali.

QuaDro4 — Fontes de stress e ansiedade (resultados globais)

dimensão Geral temas espeCíFiCostotal% (n)

e Geral% (n)

e1 a 8% (n)

problemas mecânicospreocupações geradas por avarias, escolha de pneus e afinações.

23.7 (37) 12.5 (4) 26.6 (33)

comparação/ análise dos adversários

comparação com adversários mais bem equipados;análise dos adversários

22.4 (35) 37.5 (12) 15.5 (23)

natureza da competição

importância do ralidificuldade do ralinovidade do ralinível do rali

14.1 (22) 15.6 (5) 13.7 (17)

percepção de falta de prontidão física/ técnica/ mecânica

má preparação física, técnica ou mecânica.

10.9 (17) 9.4 (3) 11.3 (14)

preocupação (carro novo)preocupação gerada pelo uso de um carro totalmente novo

7.1 (11) -- 8.9 (11)

factores financeiros/ orçamentais

preocupação gerada por orçamentos ou factores financeiros

6.4 (10) 6.3 (2) 6.5 (8)

condições climatéricasexigências competitivas relativas às condições climatéricas

6.4 (10) -- 8.1 (10)

não ter o rendimento esperado

não atingir objectivoster um rendimento abaixo do esperado

4.5 (7) 6.3 (2) 4.0 (5)

risco da profissão perigo da profissão 2.6 (4) 9.4 (3) 0.8 (1)

pressões externas (comunicação social)

pressão da comunicação social 1.9 (3) 3.1 (1) 1.6 (2)

Total 100 (156) 100 (32) 100 (124)

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25—RPcd 10 (2)

01QuaDro5 — Fontes de stress e ansiedade (entrevistas 1 a 8)

e1 e2 e3 e4 e5 e6 e7 e8

% (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n)

1 17.4 (4) 25.0 (5) 9.1 (1) 64.3 (9) 12.5 (3) 11.1 (1) 41.7 (5) 45.5 (5)

2 17.4 (4) 45.0 (9) 27.3 (3) -- 25.0 (6) 11.1 (1) -- --

3 26.1 (6) 10.0 (2) 45.5 (5) -- 4.2 (1) 11.1 (1) 8.3 (1) 9.1 (1)

4 8.7 (2) -- -- -- 8.3 (2) 55.6 (5) 25.0 (3) 18.2 (2)

5 -- -- -- -- 41.7 (10) 11.1 (1) -- --

6 21.7 (5) 5.0 (1) -- -- -- -- 16.7 (2) --

7 4.3 (1) -- 18.2 (2) 14.3 (2) 4.2 (1) -- 8.3 (1) 27.3 (3)

8 -- 5.0 (1) -- 21.4 (3) 4.2 (1) -- -- --

9 4.3 (1) -- -- -- -- -- -- --

10 -- 10.0 (2) -- -- -- -- -- --

total 100 (23) 100 (20) 100 (11) 100 (14) 100 (24) 100 (9) 100 (12) 100 (11)

1 —problemas mecânicos; 2 — comparação com/ análise dos adversários; 3 — natureza da competição; 4 — per-cepção de falta de prontidão (física/ técnica/ mecânica); 5 — preocupação (carro novo); 6 — factores finan-ceiros/ orçamentais; 7 - condições climatéricas; 8 — não ter o rendimento esperado; 9- risco da profissão; 10

— pressões externas (comunicação social)

sobre as estratéGias de CopinG…

no que concerne às estratégias de coping, a análise das entrevistas permitiu a identifica-

ção de cinco dimensões gerais: (a) aceitação da situação, (b) autocontrolo emocional e ou

redução da tensão/ pressão, (c) coping activo, (d) controlo da situação, e (e) reavaliação

positiva da situação (Quadros 6 e 7).

a aceitação da situação, o autocontrolo emocional e/ ou a redução da tensão/ pressão e a

reavaliação positiva das situações foram, de um modo geral, as estratégias de coping mais

enfatizadas. Contudo, enquanto na entrevista geral armindo araújo tinha dado particular

destaque à importância de reavaliar positivamente as situações stressantes, analisando-

-as de uma outra perspectiva, ao longo da época a aceitação da situação e o autocontrolo

emocional pareceram assumiram um papel mais preponderante.

Com efeito, a aceitação da situação foi a estratégia de coping mais destacada por ar-

mindo araújo ao longo das provas, tendo merecido particular atenção na entrevista 3 (rali

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Futebol Clube do porto), quando um erro da equipa no penúltimo controlo horário antes

do final do rali fez com que, depois de vencerem o rali na estrada, passassem do 1º para o

17º lugar na geral.

a segunda estratégia mais referida foi a reavaliação positiva da situação. esta estratégia

foi mencionada de uma forma geral ao longo da época, mas também mereceu particular

destaque na entrevista geral.

o autocontrolo emocional e/ ou redução da tensão/ pressão também foi muito usado

durante as provas, tendo sido especialmente destacado na entrevista 1 (rali Casino da

póvoa), 6 (rali Centro de portugal) e 8 (rali Casinos do algarve). enquanto no rali Centro

de portugal houve alguns problemas mecânicos e de afinações, no rali Casinos do algarve

as condições climatéricas foram adversas e inconstantes, levando a grandes dificuldades

na escolha de pneus; além disso, também houve alguns problemas mecânicos.

o controlo da situação apenas foi reportado nas entrevistas realizadas após as provas.

esta estratégia foi particularmente referida na entrevista 6 (rali Centro de portugal), um

rali bastante difícil devido a vários aspectos já anteriormente referidos (afinações, proble-

mas mecânicos, vários tipos de asfalto). neste rali, armindo araújo referiu várias vezes o

controlo da situação como uma estratégia de coping das adversidades que lhe iam acon-

tecendo na prova.

por outro lado, e ao contrário do expectável, o coping activo foi escassamente menciona-

do: uma vez na entrevista geral e outra logo no primeiro rali da época.

QuaDro6 — Estratégias de coping (resultados globais).

dimensão Geral temas espeCíFiCostotal% (n)

e Geral% (n)

e1 a 8% (n)

aceitação da situaçãoaceitar a realidadeconformar-se

32.7 (35) 29.4 (5) 33.3 (30)

autocontrolo emocional e/ ou redução da tensão/ pressão

manter a calmanão perder a concentração

29.0 (31) 23.5 (4) 30.0 (27)

reavaliação positiva

autoverbalizações e pensamentos positivosver a situação de uma perspectiva positiva

22.4 (24) 41.2 (7) 18.9 (17)

controlo da situação procurar controlar a realidade 14.0 (15) -- 16.7 (15)

coping activoaumentar o esforço para resolver problemas

1.9 (2) 5.9 (1) 1.1 (1)

Total 100 (107) 100 (17) 100 (90)

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27—RPcd 10 (2)

01QuaDro7 — Estratégias de coping (entrevistas 1 a 8).

e1 e2 e3 e4 e5 e6 e7 e8

% (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n)

1 16.7 (3) 42.9 (3) 63.6 (7) 40.0 (2) 33.3 (4) 30.0 (6) 25.0 (1) 30.8 (4)

2 37.5 (12) -- 9.1 (1) 40.0 (2) 25.0 (3) 25.0 (5) 25.0 (1) 38.5 (5)

3 16.7 (3) 14.3 (1) 27.3 (3) 20.0 (1) 25.0 (3) 5.0 (1) 50.0 (2) 23.1 (3)

4 5.6 (1) 42.9 (3) -- -- 16.7 (2) 40.0 (8) -- 7.7 (1)

5 5.6 (1) -- -- -- -- -- -- --

total 100 (18) 100 (7) 100 (11) 100 (5) 100 (12) 100 (20) 100 (4) 100 (13)

1 — aceitação da situação; 2 — autocontrolo emocional e/ ou redução da tensão/ pressão; 3 — reavaliação positi-va da situação; 4 — controlo da situação; 5 — coping activo

sobre oUtras emoções…

no concernente às emoções, foram encontradas três dimensões gerais: (a) angústia, (b) frus-

tração/ desilusão/ revolta, e (c) prazer/ alegria (quadros 8 e 9). de uma forma geral, estas

emoções foram pouco reportadas, sendo-o exclusivamente nas entrevistas realizadas após

os ralis. não obstante, importa salientar que a frustração/ desilusão/ revolta foi focada tantas

vezes quantas o prazer/ alegria, enquanto a angústia apenas foi referida uma única vez.

mais especificamente, a frustração/ desilusão/ revolta apenas foi mencionada na entrevis-

ta 3 (rali Futebol Clube do porto), quando um erro da equipa ditou uma penalização, como já

foi anteriormente mencionado. por outro lado, o prazer e a alegria foram referidos maiorita-

riamente na entrevista 2 (pt rali de portugal), mas também nas entrevistas 6 (rali Centro

de portugal) e 7 (rali de mortágua). no pt rali de portugal, o prazer deveu-se à excelente

vitória alcançada frente a adversários de renome internacional. no rali Centro de portugal,

armindo araújo estava satisfeito por finalmente ter acertado com as afinações do novo carro,

facto que o levava a ter muito prazer na condução. e o prazer destacado no rali de mortágua

relacionava-se essencialmente com o prazer de condução e fundamentalmente por ter sido

a prova onde armindo araújo se sagrou pela quarta vez Campeão nacional de ralis.

Finalmente, a angústia apenas foi mencionada na entrevista 4 (sata rali açores), em re-

lação com a quebra da primeira velocidade da caixa de velocidades do carro. o piloto refe-

renciou a angústia sentida durante o primeiro dia dessa prova, no sentido de saber se o carro

aguentaria até ao final do dia, e também depois, na assistência, quando não se sabia se a

equipa conseguiria resolver o problema dentro do tempo regulamentar para o devido efeito.

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QuaDro8 — Emoções (resultados globais).

dimensão Geral temas espeCíFiCostotal% (n)

e Geral% (n)

e1 a 8% (n)

frustração/ desilusão/ revoltafrustraçãodesilusãorevolta

46.2 (6) -- 46.2 (6)

prazer/ alegriaprazeralegriabem-estar

46.2 (6) -- 46.2 (6)

angústia angústia 7.7 (1) -- 7.7 (1)

Total 100 (13) -- 100 (13)

QuaDro9 — Emoções (entrevistas 1 a 8).

e1 e2 e3 e4 e5 e6 e7 e8

% (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n) % (n)

1 -- -- 100 (6) -- -- -- -- --

2 -- 100 (4) -- -- -- 100 (1) 100 (1) --

3 -- -- -- 100 (1) -- -- -- --

total -- 100 (4) 100 (6) 100 (1) -- 100 (1) 100 (1) --

1 — frustração/ desilusão/ revolta; 2 — prazer/ alegria; 3 — angústia

dIscussão e concLusÕes

o presente estudo pretendeu, através de múltiplas entrevistas realizadas ao longo da épo-

ca de 2006, traçar o perfil psicológico de um dos melhores atletas portugueses de rali de

todos os tempos.

no que concerne às características e competências psicológicas que armindo araújo consi-

derava mais importantes para o seu sucesso desportivo, os resultados são consistentes, pelo

menos em parte, com investigações anteriores em diferentes modalidades, nas quais níveis

mais elevados de motivação e autoconfiança, bem como maiores níveis de concentração e

controlo da ansiedade, eram aspectos que distinguiam atletas de elite de atletas menos bem-

-sucedidos (3, 9, 12, 25, 37). Curiosamente, a característica globalmente mais referida pelo piloto, es-

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29—RPcd 10 (2)

01pecialmente nas entrevistas após os ralis — rotina/ planeamento/ estratégia -, não é tão referi-

da na literatura da especialidade, embora haja estudos que a apontem (e.g., 19, 26). provavelmente

isso deve-se ao facto de a grande maioria dos estudos ter sido efectuada com populações de

desportos individuais ou colectivos em que o treinador assume essa função, enquanto o rali se

constitui como uma modalidade em que é o próprio atleta a definir estratégias e planeamentos.

num estudo com jogadores de golfe, modalidade na qual também existe essa responsabilidade

por parte dos atletas, foram encontrados dados semelhantes (26).

relativamente às origens do stress, também foi possível observar a importância de se

ter em consideração a especificidade da modalidade. Com efeito, nas cinco fontes de stress

mais referidas, quatro eram relativas ao carro ou ao facto de o rali ser um desporto mo-

torizado. mesmo a percepção física/ técnica/ mecânica e a comparação com/ análise dos

adversários tiveram sempre por base aspectos de índole motorizada ou mecânica. logo,

por serem próprias deste desporto (bem como de outros desportos motorizados), não é

surpreendente que não tenham surgido em outras investigações sobre a mesma temática.

em oposição, dimensões como a natureza da competição e, embora menos, a possibilidade

de não ter o rendimento esperado e as pressões externas, vão ao encontro de vários estu-

dos anteriores, designadamente alguns de cariz qualitativo (e.g.,9,12,18).

as estratégias de coping eram, de um modo geral, coincidentes com as descritas na literatu-

ra da especialidade como instrumentos úteis para lidar com situações problemáticas e stres-

santes. a aceitação das situações problemáticas e stressantes, por exemplo, é muitas vezes

considerada como um ‘ponto de partida’ fundamental no processo de coping. Frequentemente

os atletas sentem que (só) depois de aceitarem a situação stressante que está a ocorrer po-

dem tentar lidar com ela no sentido de melhorarem o que estava mal (5). de forma semelhante,

murphy e tammen (30) afirmam que o autocontrolo emocional e/ ou redução da tensão/ pressão

é uma das estratégias mais úteis na resolução de problemas, enquanto Gould e colaboradores (10,11) atribuem particular interesse à reavaliação positiva das situações. por outro lado, importa

sublinhar que o coping activo, uma estratégia frequentemente citada na literatura como positi-

va e eficaz no confronto com situações stressantes, foi pouco referida pelo piloto.

Finalmente, saliente-se que, apesar de armindo araújo não ter mencionado um leque

muito alargado de emoções, o prazer/ alegria se destacou entre aquelas efectivamente

mencionadas. esta emoção é geralmente considerada importante para o desempenho des-

portivo (16,21), já tendo sido reportada numa investigação realizada por dias, Cruz e Fonseca (5)com atletas de elite de diferentes modalidades. por outro lado, não obstante a frustração

ter sido relevada em ambas as investigações (i.e., no presente estudo e no de dias, Cruz

e Fonseca), o seu estatuto ‘emocional’ não é ainda consensual entre os investigadores da

área. lazarus (21), por exemplo, não considerou este fenómeno aquando da adaptação do

seu modelo cognitivo-motivacional-relacional do stress e emoções, um dos mais utilizados

actualmente para estudar o stress e emoções no contexto desportivo.

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resumidamente, os resultados do presente estudo demonstraram que as característi-

cas e competências psicológicas de armindo araújo, bem como as estratégias e padrões

comportamentais e cognitivos a que o piloto recorria durante as provas, eram coincidentes

com os da generalidade dos atletas de elite e ou alto nível estudados em diferentes inves-

tigações ao longo dos anos. todavia, os resultados também evidenciaram a importância

de se ter em consideração as variáveis contextuais, quer no que respeita à especificidade

da modalidade (nomeadamente pelo facto de ser um desporto motorizado), quer no que

concerne às exigências específicas de cada prova (isoladamente), em particular. este fac-

to foi evidenciado pelas oito entrevistas realizadas ao longo da época, sempre no fim de

cada rali. por outro lado, ainda que os factores emocionais (para além da ansiedade), não

tenham tido uma expressão elevada, o facto de terem sido mencionadas algumas emoções

com um claro potencial efeito negativo no desempenho (frustração e angústia), deverá, na

nossa opinião, constituir-se como um alerta para a importância do controlo emocional dos

atletas. assim, no seu conjunto, estes dados poderão alertar para o não esquecimentoda

componentepsicológicanosralis,emordemapotenciaraharmoniamentaldospilotos e,

por conseguinte, a sua performance. paralelamente, poderão dar indicações importantes

para a preparação mental dos atletas de diferentes modalidades, no sentido de a mesma

incluir diferentes factores e processos cognitivos, emocionais e comportamentais, sempre

em relação com a modalidade e suas exigências específicas.

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33—RPcd 10 (2): 33-46

02estudo de determinantes

tácticas da eficácia do ataque

no voleibol feminino juvenil

de elevado nível de rendimento

no side-out e na transição.

PAlAvRAs chAve:

Voleibol.efeitodoataque.side-out.transição.

AutoRes:

gustavodeconticosta1

isabelMesquita2

PabloJuangreco1

aurobarreirosfreire1

JosécíceroMoraes3

1 Universidade Federal de minas Gerais belo horizonte, mG, brasil

2CiFi2d, Faculdade de desporto Universidade do porto, portugal

3Universidade Federal do rio Grande do sul, porto alegre, rs, brasil

correspondência:gustavodeconticosta.ruaDr.Juvenaldossantos,431/apt101,

bairroluxemburgo.ceP:30380530,belohorizonte/Minasgerais,brasil([email protected])

resumo

o objectivo do presente estudo consistiu em identificar possíveis determinantes da eficácia

do ataque em equipas de Voleibol juvenil feminino de elevado nível de rendimento compe-

titivo no side-out e na transição. Foram analisados oito jogos referentes ao Campeonato do

MundodeJunioresfemininosde2007,totalizando698acçõesderecepção,1052acções

de ataque e 471 acções de defesa. aplicou-se a regressão logística multinomial para ana-

lisar o poder explicativo do efeito da recepção, efeito da defesa, tempo de ataque e tipo

de ataque sobre o efeito do ataque. na fiabilidade de observação recorreu-se ao índice de

Kappa e observou-se que todos os valores encontrados foram superiores a .81. o presente

estudo mostrou que o ataque forte aumentou as chances de pontuar tanto no side-out

como na transição. em relação à velocidade do ataque, jogar mais rápido, 1º e 2º tempos,

aumentou as possibilidades de pontuar na transição. estes resultados evidenciam que o

jogo feminino de elevado nivel de rendimento competitivo reivindica, desde os escalões

de formação, a prática de um jogo ofensivo agressivo, mormente pelo recurso a ataques

fortes e mais rápidos.

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study of tactical determinants of attack efficacy

in young female volleyball players of high

performance level in side-out and transition

pedagogical representations.

AbstrAct

the aim of this study consisted in identify possible determinants of the

effectiveness of the attack in women's junior Volleyball high perfor-

mance teams, in side-out and transition. eight games of the World Youth

Championship occurred in 2007 were analyzed, totaling 698 reception

actions, 1052 attacks and 471 defense actions. the multinomial logistic

regression was applied in order analyze the explanatory power of the

effect of the reception, effect of the defense, tempo of attack and type

of attack on the attack outcome. the reliability of observation recurred

to the Kappa index and all values founds were above .81. this study

showed that the strong attack increased the chances of scoring in both

side-out and transition. regarding the speed of attack, play faster, 1st

and 2nd times, increased the chances of scoring in transition. these re-

sults show that since the basic categories the female elite game claims

the practice of an aggressive offensive game especially by resorting to

stronger and faster attacks.

Key woRds:

Volleyball.effectoftheattack.side-out.transition.

Page 35: 2010/2 - Faculdade de Desporto da Universidade do Porto · da eficácia do ataque no Voleibol feminino juvenil de elevado nível de rendimento ... métodos e desenhos experimentais

35—RPcd 10 (2)

02Introdução

a análise do jogo de Voleibol, no que concerne à eficácia dos procedimentos que o consti-

tuem (serviço, recepção, levantamento, ataque, bloqueio e defesa) não é recente (3, 8, 9, 10, 20),

sendo que o ataque tem vindo a assumir-se como o procedimento com maior poder preditor

no sucesso competitivo das equipas (8, 9, 10, 14, 20). todavia, as suas características variam, fun-

damentalmente, em função do compartimento do jogo em que ocorre, sugerindo a neces-

sidade do seu estudo em função dos complexos de jogo. distinguem-se no jogo de Voleibol

dois grandes complexos, o complexo i ou side-out (recepção, levantamento e ataque) e o

complexo ii ou transição (serviço, bloqueio, defesa e contra-ataque) (12, 15, 21). desta forma,

a ocorrência do ataque no side-out (corresponde à equipa sem a posse do serviço) é signi-

ficativamente mais elevada (17, 22), para além de consubstanciar um jogo mais rápido (1) e um

ataque mais forte (4). Contrariamente, o jogo ao nível da transição (corresponde à equipa

que tem a posse do serviço), mostra que o tempo de ataque é mais lento, proporcionando o

aumento do número de opositores no bloco e a diminuição das possibilidades de pontuar (1,

5, 17). outras subdivisões do complexo ii são ainda possíveis, de forma a especificar a estru-

turação funcional da dinâmica do jogo em função de determinadas regularidades. assim, o

jogo de transição pode integrar os seguintes complexos: complexo ii (consiste na recupe-

ração da bola a partir da defesa ou do bloqueio do ataque adversário e posterior construção

do contra-ataque), complexo iii (consiste na recuperação da bola a partir da defesa ou do

bloqueio do contra-ataque adversário e posterior construção do contra-ataque) (21).

as acções ofensivas podem assumir contornos diferenciados, nomeadamente em função

das características da distribuição, do tempo de ataque, dos sistemas defensivos adoptados

pelo adversário e da zona de finalização do ataque (23). dos estudos realizados, ressalta a ocor-

rência de dependência funcional da eficácia do ataque com a qualidade do primeiro toque, tanto

no side-out, pela análise do efeito da recepção (2, 13), como na transição pela análise do efeito da

defesa (18). ao nível do ataque propriamente dito, o tempo de ataque, ou seja, a velocidade com

que é realizado (5, 23, 25), e o tipo de ataque (4, 16, 24) mostram estar associados com a sua eficácia.

particularmente no side-out, boas condições de construção do ataque podem predizer

a qualidade da sua finalização (9, 10, 19). parece ser evidente que o serviço adversário de

reduzida eficácia (6, 7), a recepção perfeita e os ataques realizados sem o toque no blo-

queio, com exceção do amorti (25), geram vantagens na conversão do ataque em ponto,

permitindo diferenciar vencedores de perdedores. Contrariamente, na transição, a qua-

lidade da defesa não tem evidenciado estar associada ao levantamento (18), para além de

apresentar fraco poder preditor sobre o resultado da equipa no jogo (26).

todavia, salvo raras excepções (9, 10, 25, 26), a maior parte dos estudos realizados recor-

reu a estatísticas bi-variadas, no caso o teste de qui-quadrado, as quais não permitem

indagar acerca do possível efeito preditor de variáveis explicativas sobre uma variável

resposta, o que limita substancialmente a compreensão da interação das variáveis que

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configuram a dinâmica interna do jogo. para além disso, a pesquisa sobre estas variáveis

tem vindo a utilizar preferencialmente equipas de seniores masculinos de voleibol de

alto nivel de rendimento. dada a escassez de estudos aplicados em equipas de formação,

mormente de elevado nivel de rendimento competitivo, como são as seleccções nacio-

nais, revela-se pertinente realizar pesquisa capaz de contribuir para a identificação de

factores concorrentes do rendimento, pelo recurso a modelos não lineares, contribuindo

assim com informação relevante para o domínio da prática e da investigação.

baseado neste enquadramento conceptual, o presente estudo pretende analisar possíveis

determinantes do efeito do ataque no side-out e na transição, tendo por referência o efeito

da recepção e da defesa, a velocidade do ataque (expressa no tempo de ataque) e o tipo de

ataque, no âmbito da escalão júnior feminino de elevado nível de rendimento competitivo.

mAterIAL e mÉtodos

amostra

o presente estudo teve como amostra sete seleções nacionais presentes no Campeonato

do mundo de Juniores Femininos de 2007 (brasil — 1º lugar, China — 2º lugar, Japão —

3º lugar, itália — 5º lugar, Ucrânia — 6º lugar, alemanha — 7º lugar e porto rico — 9º

lugar). recorreu-se à observação de oito jogos, obtendo-se um total de 698 acções de re-

cepção, 1052 acções de ataque e 471 acções de defesa. a amostra utilizada foi de caráter

não probabilístico, ou seja intencional, na medida em que as equipas foram escolhidas

em função do seu nível de prática, selecções nacionais detentoras de um elevado nível

de rendimento competitivo.

VariáVeis do estUdo e instrUmentos

Efeito da recepção e da defesa

para a variável recepção e defesa, foram adaptados os critérios de eom e schutz (9), os

quais consideram uma escala de 4 itens, a qual varia de zero a quatro, ou seja, entre o erro

e o ponto, considerando duas possibilidades de continuidade mais e menos favoráveis para

a organização do ataque. no presente estudo, dado ser objetivo prioritário analisar a eficá-

cia do ataque, apenas foram consideradas para análise as ações de recepção e de defesa

que geraram continuidade. o critério para a categorização das acções assentou no efeito

que a recepção ou a defesa provoca ao nível da organização ofensiva, nomeadamente no

número de opções de ataque, considerando opção de ataque para o levantador quando

o atacante está espacial e temporariamente disponível para participar do ataque. sendo

assim, obteve-se a seguinte categorização:

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37—RPcd 10 (2)

021. Recepção ou defesa que não permite ataque organizado: não há possibilidade de orga-

nização ofensiva, estando disponível apenas um atacante para o ataque.

2. Recepção ou defesa que permite ataque organizado: há a possibilidade de organização

ofensiva, com dois ou mais atacantes disponíveis para o ataque.

Efeito do ataque

o instrumento de observação aplicado foi o proposto por mesquita e César (16). desta forma,

as categorias consideradas foram:

Erro: atacante falha (rede, fora ou falta) ou o bloqueio adversário pontua;

Continuidade: a acção de ataque não se traduz numa ação terminal, havendo continuida-

de da jogada, após esta ter sido defendida ou devolvida pelo bloqueio;

Ponto: bola atacada, diretamente, para o solo do campo adversário/ bola atacada, segui-

da de toque no bloqueio ou defesa sem sucesso/ falta do bloqueio.

Tempo de Ataque

Corresponde ao parâmetro temporal do ataque, tendo como indicadores o levantador, o ata-

cante e a trajetória da bola. para a classificação dos tempos de ataque adoptou-se a classifi-

cação preconizada por selinger (27): 1º tempo de ataque: o atacante contata a bola logo após o

levantador a soltar; 2º tempo de ataque: o atacante sai para o ataque quando a bola chega às

mãos do levantador; 3º tempo de ataque: o atacante sai para o ataque quando a bola chega

ao ponto mais alto da trajetória ascendente depois de sair das mãos do levantador.

Tipo de ataque realizado

para a variável tipo de ataque foi utilizado o critério que diferencia o ataque forte do colo-

cado, em virtude de ser um escalão de formação, e por isso não ser pertinente o recurso a

uma elevada especificação das variantes destes dois tipos de ataque.

Ataque forte: o batimento na bola é forte, sendo esta contatada na parte superior ou

frontal, de forma a imprimir uma trajetória descendente;

Ataque colocado: corresponde aos ataques em que a bola é contatada com controle da

força aplicada, assumindo a bola uma trajetória ascendente com o intuito da bola ser dire-

cionada para uma região defensiva deficitária.

reColha dos dados

todos os jogos foram filmados de topo, permitindo a visualização do campo longitudinal-

mente. Foram realizados treinos de observação prévios, no sentido de verificar se as ima-

gens registadas em locais distintos dificultavam a observação de alguma variável do estu-

do. desta forma, observou-se um jogo de cada local de competição, constatando-se que a

mudança de local de filmagem não alterou a qualidade das imagens recolhidas.

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análise dos dados

recorreu-se à estatística descritiva para determinar freqüências e percentagens de ocor-

rência de cada variável. no sentido de averiguar a possível existência de determinantes do

efeito do ataque, foi realizada a regressão logística multinomial. deste modo, pretendeu-se

a partir do recurso a esta estatística medir o poder preditor de variáveis explicativas (efeito

da recepção, efeito da defesa, tempo de ataque e tipo de ataque) em relação a uma variável

resposta (efeito do ataque). numa primeira fase, cada uma das possíveis variáveis explicati-

vas foi testada individualmente, no sentido de se identificar a existência de associação signi-

ficativa com a variável resposta (odds ratio bruto); caso esse pressuposto fosse verificado, a

respectiva variável seria integrada no modelo ajustado (odds ratio ajustado).

Fiabilidade da obserVação

para o estudo da fiabilidade foram analisadas 70% das acções, valores substancialmente

superiores aos (10%) de referência apontados pela literatura (28). recorreu-se ao índice de

Kappa, em virtude desta estatística detectar a existência de acordos por acaso (28). a fiabi-

lidade inter-observador e intra-observador mostrou valores de Kappa de .89 e .96, respec-

tivamente, para o efeito da recepção; de .96 e .94, respectivamente, para o efeito da defesa;

de .85 e .82, respectivamente, para o tempo de ataque; de .83 e .87, respectivamente, para

o tipo de ataque e de .96 e .96 para o efeito do ataque. desta forma, todas as variáveis

apresentaram valores substancialmente superiores aos valores mínimos aceitáveis apon-

tados pela literatura (.75) (11), anunciando da possibilidade de serem utilizados enquanto

ferramenta científica.

resuLtAdos

a regressão multinomial foi utilizada para estimar a probabilidade de cada uma das va-

riáveis independentes em função da variável resposta (efeito do ataque) no side-out. o

modelo ajustado foi estatisticamente significativo (G2 = 105.324; p<001) e as estimativas

dos coeficientes do modelo, bem como as respectivas percentagens de ocorrência para o

efeito da recepção, tempo de ataque e tipo de ataque são dadas no Quadro 1.

ao considerarmos o efeito da recepção sobre o efeito do ataque, observou-se que as re-

cepções que permitiram ataque organizado culminaram em ponto 46.7%, em continuidade

40.9% e em erro de ataque 12.4%. as recepções que não permitiram ataque organizado

resultaram em ponto 31.6%, em continuidade 57.9% e em erro de ataque 10.5%.

o tempo de ataque no side-out mostrou que, dos ataques de 1º tempo, 47.9% resulta-

ram em ponto do ataque, 39.1% permitiram a continuidade e 13.0% o erro do ataque. nos

ataques de 2º tempo, o ponto ocorreu 48.5%, a continuidade 39.8% e o erro 11.7%. re-

lativamente ao ataque de 3º tempo, 34.7% resultaram em ponto, 53.1% possibilitaram a

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39—RPcd 10 (2)

02continuidade e 12.2% culminaram em erro. a análise do efeito do ataque em função do tipo

de ataque evidenciou que o ataque forte provocou o ponto 45.9%, a continuidade 40.1% e

o erro 14.0%, enquanto que o ataque colocado culminou em ponto 6.1%, em continuidade

89.4% e em erro 4.5%.

QuaDro1 — Coeficientes do modelo multinomial para as determinantes tácticas do efeito do ataque no side-out.

Var

iáV

eis

d

e J

oG

o

Co

nt.

a(%

)

er

ro

(%)

b er

ro

-pa

dr

ão

X2 Wa

rd

or

a

JU

sta

do

p-V

alU

e

po

nto

(%)

b er

ro

-pa

dr

ão

X2 W

ar

d

or

a

JU

sta

do

p-V

alU

e

Recepção

Recepção não permite ataque org.

57,9% 10,5% -,32 ,826 ,8260,87

(0,38-1,97)0,74 31,6% -,14 ,311 ,188

0,89(0,49-1,64)

0,71

Recepção que permite ataque org. b

40,9% 12,4% 0B - - - - 46,7% 0B - - - -

Tempo de ataque

1º tempo de ataque

39,1% 13,0% ,01 ,001 ,0011,03

(0,45-2,37)0,94 47,9% ,383 ,311 1,522

1,52(0,83-2,79)

0,18

2º tempo de ataque

39,8% 11,7% -,28 ,818 ,8180,85

(0,41-1,76)0,66 48,5% ,264 ,271 ,947

1,34(0,79-2,27)

0,28

3º tempo de ataque b

53,1% 12,2% 0B - - - - 34,7% 0B - - - -

Tipo de ataque

Ataque forte

40,1% 14,0% 1,8 14,759 14,766,99

(2,08-23,5)0,002 45,9% 2,70 ,532 25,78

14,96(5,27-42,4)

<0,001

Ataque colocado b 89,4% 4,5% 0B - - - - 6,1% 0B - - - -

a Categoria de referência da variável resposta; b Categoria de referência da variável explicativa; org. — organizado;

Cont. — Continuidade

a análise do Quadro 1 evidencia que, no side-out, a única variável que determinou o efeito

do ataque no modelo ajustado foi o tipo de ataque. na associação entre o tipo de ataque e

o efeito do ataque, observa-se que o valor de odds ratio ajustado foi de 6.99, para o ataque

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forte; o que significa que a razão erro/ continuidade foi maior para este tipo de ataque

do que para o ataque colocado (categoria de referência). desta forma, a possibilidade do

ataque forte resultar em erro foi aproximadamente sete vezes maior do que no ataque

colocado. além disso, verificou-se que para a razão ponto/ continuidade o valor de odds

ratio ajustado foi de 14.96, o que significa que a possibilidade do ataque forte pontuar foi

aproximadamente quinze vezes maior do que no ataque colocado.

a regressão multinomial foi utilizada para estimar a probabilidade de cada uma das va-

riáveis independentes em função da variável resposta (efeito do ataque) na transição. o

modelo ajustado foi estatisticamente significativo (G2 = 41.678; p<.001) e as estimativas

dos coeficientes do modelo, bem como as respectivas percentagens de ocorrência para o

efeito da defesa, tempo de ataque e tipo de ataque são dadas no Quadro 2. na associação

entre a eficácia da defesa e a eficácia do ataque, observou-se que a defesa que permitiu

ataque organizado deu origem ao ponto em 46.4%, à continuidade em 38.0% e ao erro em

15.6%. entretanto, a defesa que não permitiu ataque organizado culminou na conquista de

ponto em 27.2%, na continuidade em 60.5% e no erro em 12.3%.

na análise do tempo de ataque observou-se que, dos ataques de 1º tempo, 55.3% cul-

minaram em ponto, 34.2% permitiram a continuidade e 10.5% resultaram em erro. nos

ataques de 2º tempo, o ponto de ataque ocorreu em 50.0%, a continuidade em 35.3% e o

erro em 14.7%. relativamente ao ataque de 3º tempo, 27.3% resultaram em ponto, 58.0%

possibilitaram a continuidade e 14.7% foram erros do ataque. por sua vez, a análise entre

o tipo de ataque e o efeito do ataque, na transição, mostrou que o ataque forte resultou

40.2% em ponto, 41.7% em continuidade e 18.1%; em erro do ataque; o ataque colocado

culminou 11.0% em ponto, 74.0% em continuidade e 15.0% em erro.

a análise do Quadro 2 evidencia que na transição o tempo de ataque e o tipo de ataque

determinaram o efeito do ataque. assim, a associação do tempo de ataque com o efeito de

ataque evidenciou o valor de odds ratio ajustado de 2.93, o que significa que a razão ponto/

continuidade foi maior para este tempo de ataque do que para o 3º tempo de ataque (cate-

goria de referência). deste modo, a possibilidade de conquistar o ponto após o 1º tempo de

ataque foi aproximadamente 3 vezes maior do que após o 3º tempo de ataque. além disso,

observou-se que o valor de odds ratio ajustado para o 2º tempo foi de 2.14, o que significa

que a possibilidade de conquistar o ponto após o 2º tempo de ataque foi aproximadamente

duas vezes maior do que após o 3º tempo de ataque.

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41—RPcd 10 (2)

02QuaDro2 — Coeficientes do modelo multinomial para as determinantes tácticas do efeito do ataque na transição.

Var

iáV

eis

d

e J

oG

o

Co

nt.

a(%

)

er

ro

(%)

b er

ro

-pa

dr

ão

X2 Wa

rd

or

aJ

Us

tad

o

p-V

alU

e

po

nto

(%)

b er

ro

-pa

dr

ão

X2 Wa

rd

or

aJ

Us

tad

o

p-V

alU

e

Defesa

Defesa que não permite ataque org.

60,5% 12,3% -,23 ,342 ,4360,69

(0,32-1,50) 0,35 27,2% ,025 ,342 ,0050,99

(0,52-1,91) 0,98

Defesa que permite ataque org. b

38,0% 15,6% 0b - - - - 46,4% 0b - - - -

Tempo de ataque

1º tempo de ataque

34,2% 10,5% -,13 ,536 ,0600,67

(0,19-2,43) 0,54 55,3% 1,09 ,467 5,4182,93

(1,18-7,24) 0,02

2º tempo de ataque

35,3% 14,7% -,03 ,369 ,0050,86

(0,37-2,00) 0,73 50,0% ,779 ,355 4,8072,14

(1,08-4,24) 0,03

3º tempo de ataque b 58,0% 14,7% 0b - - - - 27,3% 0b - - - -

Tipo de ataque

Ataque forte 41,7% 18,1% 1,50 ,405 13,642,76

(1,16-6,54) 0,02 40,2% 1,36 ,378 13,013,90

(1,86-8,18) <0,001

Ataque colocado b 11,0% 74,0% 0b - - - - 15,0% 0b - -

0,99(0,52-1,91) 0,98

a Categoria de referência da variável resposta; b Categoria de referência da variável explicativa; org. — organizado; Cont. — Continuidade

a associação entre o tipo de ataque e o efeito deste na transição evidenciou o valor de odds

ratio ajustado de 2.76 para o ataque forte, o que significa que a razão erro/ continuidade

foi maior para este tipo de ataque do que para o ataque colocado (categoria de referência).

desta forma, a possibilidade de cometer erro no ataque forte foi aproximadamente três ve-

zes maior do que no ataque colocado. além disso, verificou-se que para a razão ponto/ con-

tinuidade o valor de odds ratio ajustado foi de 3.90, o que significa que a possibilidade do

ataque forte pontuar foi aproximadamente quatro vezes maior do que no ataque colocado.

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dIscussão

o presente estudo teve por objetivo analisar possíveis determinantes do efeito do ataque

no side-out e na transição, tendo por referência o efeito da recepção e da defesa, a veloci-

dade do ataque (tempo de ataque) e o tipo de ataque, no âmbito do escalão júnior feminino

de elevado nível de rendimento competitivo.

o efeito da recepção demonstrou que as recepções que permitiram ataque organizado

culminaram em ponto na maioria das vezes, enquanto que as recepções que não permiti-

ram ataque organizado propiciaram principalmente a continuidade do jogo. estes resulta-

dos estão de acordo com o estudo de João et al. (13) que através da análise de doze jogos

da World League masculina de 2001 observaram que as recepções que permitiram todas

as possibilidades de ataque resultaram em ponto 81.1% das vezes, enquanto as recepções

que permitiram apenas uma solução de ataque ou soluções de ataque denunciadas resul-

taram em continuidade, 51.4% e 38.9% respectivamente. sendo assim, é possível destacar

que as recepções de fraca qualidade induziram maior continuidade no ataque, verificando-

-se o contrário nas recepções de elevada qualidade, as quais tiveram no ponto o efeito de

ataque mais recorrente.

o efeito da defesa evidenciou que a possibilidade de organização ofensiva permitiu a

maior ocorrência de ponto no ataque e a sua ausência o efeito de continuidade. estes

resultados corroboram o estudo de mesquita et al. (17) que ao analisarem a liga mundial

de 2004 observaram que na transição a maior ocorrência do efeito de continuidade da

defesa limitou as possibilidades de ataque e, consequentemente, o efeito mais recorren-

te do ataque foi a continuidade. deste modo, a obtenção de ponto no ataque, na transição,

exige melhores condições de finalização, as quais se iniciam com elevada qualidade do

procedimento de defesa.

na análise do tempo de ataque, tanto no side-out como na transição, verificou-se que

jogar mais rápido (tempo 1 e 2) possibilitou a conquista do ponto, enquanto que jogar mais

lento (tempo 3) favoreceu o efeito de continuidade. estes resultados corroboram o estudo

de César e mesquita (5) que, ao analisarem os Jogos olímpicos de atenas de 2004 ao nível

feminino, verificaram que tendencialmente os ataques mais rápidos (1º tempo) resultaram

em ponto e os ataques mais lentos (3º tempo) em continuidade. tal sugere que os ataques

mais lentos permitem uma melhor estruturação defensiva principalmente ao nível de blo-

queio, expressa numa forte oposição ao atacante.

relativamente ao tipo de ataque no side-out, observou-se que o ataque forte resultou

em ponto na sua maioria, enquanto que o ataque colocado induziu o efeito de continuidade.

a tendência de o ataque forte ser predominante no Voleibol de elevado rendimento com-

petitivo, independentemente do escalão de prática, foi confirmada no estudo de Castro e

mesquita (4), ao analisarem doze jogos da liga mundial masculina e seis jogos referentes à

fase final do Campeonato da europa masculino de 2005 em equipas seniores.

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43—RPcd 10 (2)

02no presente estudo, a análise do tipo de ataque, na transição, evidenciou que o ataque

forte foi o que mais ocorreu embora culminasse, predominantemente, no efeito de conti-

nuidade; por sua vez, o ataque colocado gerou com maior freqüência o efeito de erro, cor-

roborando em ambos os casos o estudo de César e mesquita (5). estes resultados sugerem

a necessidade de incluir, desde a formação, o ataque forte no processo de treino de equipas

femininas, no sentido da atacante aprender a colmatar as dificuldades impostas pelo siste-

ma defensivo adversário. todavia, é importante realçar que, para tal, as jogadoras devem

estar capazes de realizar o ataque correctamente, do ponto de vista técnico, em sintonia

com o recurso a estratégias variadas de finalização.

no que concerne às possíveis determinantes da eficácia do ataque, os complexos de jogo,

side-out e transição, mostraram tendências diferenciadas. enquanto que no side-out ape-

nas o tipo de ataque mostrou poder preditor, na transição não só esta variável mas também

o tempo de ataque mostraram determinar o efeito do ataque.

o fato da velocidade do ataque apenas ter sido determinante na transição é elucidativo

das dissemelhanças nas características da estrutura ofensiva do jogo nos dois complexos,

mostrando que o tempo mais rápido (1º tempo) e o tempo intermédio (2º tempo) aumen-

taram as possibilidades na obtenção de ponto. de facto, o side-out, por ser um complexo

de jogo, no qual à partida as condições de organização são mais estáveis, já que a bola é

recuperada a partir da acção mais previsível do jogo, o serviço, cria condições favoráveis à

organização ofensiva (15). daí ser plausível que neste complexo o efeito do ataque não de-

penda da sua velocidade porque esta é uma regularidade. Contrariamente, a transição por

possuir condições iniciais de organização mais instáveis, provocadas pela acção do ataque

adversário, gera a ocorrência de cenários ofensivos potenciadores do ataque menos veloz (15); conseqüentemente, o incremento da velocidade do ataque, neste complexo, optimiza

o efeito do ataque.

Contrariamente, o efeito preditor do tipo de ataque sobre o efeito do ataque foi verifi-

cado tanto no side-out como na transição, evidenciando que o ataque forte potencia sem-

pre a conquista do ponto. o estudo de rocha e barbanti (25) demonstrou que a chance de

ocorrer o ataque que permite a continuidade do jogo foi menor quando a bola foi atacada

directamente para o campo, regularmente concretizado pelo ataque forte; pelo contrário,

a prevalência do efeito continuidade aumentou quando o ataque foi colocado. desta for-

ma, evidencia-se a necessidade de incorporar nos treinos das equipas femininas, desde a

formação, maior “agressividade” ao ataque, reivindicando o aprimoramento da eficiência

(qualidade de realização) e da adaptação (uso oportuno e ajustado da técnica ao cenário

situacional), no sentido de se obter eficácia (resultado obtido).

ao nível da acção de recuperação da bola, tanto no side-out como na transição, o pre-

sente estudo mostrou que a qualidade da recepção e da defesa não determinou o efeito do

ataque. estes dados discordam, no que se refere ao side-out, do estudo de rocha e bar-

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banti (25), no qual foram observados 20 jogos do campeonato sénior brasileiro pelo recur-

so ao modelo de regressão logística multinomial. os autores verificaram que a recepção

perfeita gerou vantagens para a obtenção do ponto de ataque. do mesmo modo, num outro

estudo, eom e schutz (10), pelo recurso ao modelo log-linear, observaram que a qualidade

do primeiro toque proporcionou melhores condições de distribuição e, conseqüentemente,

condições favoráveis de finalização. estas divergências podem encontrar explicação na

diferença de nível de jogo entre as equipas destes estudos (seniores masculinos de ele-

vado nível de rendimento) e as do presente estudo (juniores femininos de elevado nível de

rendimento), na medida em que o maior fluxo de jogo patente nas primeiras cria condições

de maior dependência funcional entre a organização defensiva (na recepção do serviço) e

a ofensiva (construção e finalização do ataque).

concLusÕes

emerge do presente estudo que no voleibol feminino juvenil de elevado nivel de rendi-

mento competitivo, tanto no side-out como na transição, recorrer ao ataque forte é crucial

para se obter eficácia no ataque. todavia, jogar com velocidade revelou ser determinante

apenas na transição, já que no side-out é uma regularidade, no sentido de criar condições

favoráveis de finalização capazes de retardar a acção do bloco adversário. por sua vez,

as acções de recuperação da bola, recepção e defesa, não mostraram ser determinantes

no efeito do ataque. tal, pode dever-se ao facto de nos escalões de formação, mesmo em

referência a um elevado nivel de rendimento competitivo, o jogo ser ainda pouco integrado,

o que sugere que as acções subseqüentes não possuem elevada relação de dependência

funcional das precedentes. estes aspectos são de capital importância para o processo de

treino, indicando a necessidade de um trabalho mais interligado entre os diferentes mo-

mentos do jogo, de forma a se optimizarem as condições de finalização do ataque. neste

particular, os resultados do presente estudo sugerem a necessidade de se aumentar a

“agressividade” ofensiva das equipas, através do incremento da velocidade do jogo.

para o domínio da investigação seria importante em futuros estudos analisar variáveis

situacionais, para além das adstritas à dimensão interna do jogo, como seja o match sta-

tus e a qualidade de oposição, as quais podem influenciar as estratégias utilizadas pelas

equipas e o seu rendimento, porquanto consideram a dinâmica relacional entre as duas

equipas, momento a momento do jogo.

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47—RPcd 10 (2): 47-61

03Propriedades psicométricas

e estrutura factorial

da versão portuguesa

do Parent-initiated

Motivational climate

Questionnaire-2 (PiMcQ-2p).

PAlAvRAs chAve:

Práticadesportiva.climamotivacional.influência

parental.Parent-initiatedMotivationalclimate

Questionnaire-2(PiMcQ-2p).Propriedades

psicométricas.estruturafactorial.

AutoRes:

Paulasantana1

teresafigueiras1

cláudiaDias2

nunocorte-real2

robertbrustad3

antónioManuelfonseca2

1isMai/ciDesD,Portugal

2cifi2D,faculdadedeDesportouniversidadedoPorto,Portugal

3schoolofsport&exercisescience,universityofnortherncolorado,eua

resumo

em portugal, são escassos os estudos sobre a influência parental no domínio da prática

desportiva, particularmente sobre a percepção de crianças e jovens relativamente ao clima

motivacional induzido pelos seus pais nesse contexto. para esse efeito, o Parent-Initiated

Motivational Climate-2 (pimCQ-2) tem-se constituído como o instrumento privilegiado

pelos investigadores desta área. nesse sentido, o objectivo deste estudo consistiu em

analisar a qualidade das propriedades psicométricas e da estrutura factorial da versão

portuguesa do pimCQ-2. participaram 1498 jovens portugueses de ambos os sexos, com

idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos, praticantes de diversas modalidades

desportivas. para a análise dos dados recorreu-se à estatística multivariada da análise

factorial — análise factorial exploratória (aFe) e análise factorial confirmatória (aFC)

— bem como ao cálculo dos alfas de Cronbach dos itens de cada um dos factores e às

correlações inter-items e inter-factor. o pimCQ-2p revelou-se como um instrumento útil

para a avaliação das percepções dos jovens relativamente ao clima motivacional induzido

pelos seus pais para a prática desportiva, recomendando-se por isso a sua utilização pelos

investigadores desta área.

correspondência:Paulasantana.institutosuperiordaMaia.av.carlosoliveiracampos.

4475-690aviosos.Pedro.Portugal([email protected]).

Page 48: 2010/2 - Faculdade de Desporto da Universidade do Porto · da eficácia do ataque no Voleibol feminino juvenil de elevado nível de rendimento ... métodos e desenhos experimentais

psychometric properties and factor structure

of the Parent-Initiated Motivational Climate

Questionnaire-2 portuguese version (pimCQ-2p).

AbstrAct

in portugal, there are few studies on parental influence in the field of

sport, especially on the perceptions of children and young people in re-

lation to motivational climate induced by their parents in this context.

For this purpose, the parent-initiated motivational Climate-2 (pimCQ-2)

has been elected as the principal instrument by researchers in this area.

accordingly, the aim of this study was to analyze the quality of the psy-

chometric properties and of the factor structure of the pimCQ-2 portu-

guese version. participated in this study 1498 children and youth of both

sexes (aged between 12 and 18 years) enrolled in different sports. For

the data analysis it was used the multivariate factor analysis - explora-

tory factor analysis (eFa) and confirmatory factor analysis (CFa) - as

well as the calculation of Cronbach's alphas of the items of each factor

and the inter-items and inter-factor correlations. results revealed the

pimCQ-2p as a useful tool for assessing the perceptions of young peo-

ple in relation to motivational climate induced by their parents for sport,

recommending so its use by researchers in this area.

Key woRds:

sportpractice.Motivationalclimate.Parentalinfluence.Parent-initiated

MotivationalclimateQuestionnaire-2(PiMcQ-2p).Psychometricproper-

ties.factorialstructure.

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49—RPcd 10 (2)

03Introdução

associado ao reconhecimento do elevado número de benefícios decorrentes da prática des-

portiva regular e sistemática, surge naturalmente o interesse em conhecer melhor porque e

como se motivam, ou podem motivar, as pessoas para este tipo de actividades. nesse sentido,

as questões associadas à motivação no desporto têm vindo a suscitar a realização de muitos

estudos, grande parte dos quais se sustenta na perspectiva sociocognitiva da motivação(22,23,24).

de acordo com este enquadramento conceptual, os diferentes comportamentos adop-

tados pelas pessoas, neste caso em contextos de natureza desportiva, são condicionados

essencialmente pelo tipo de crenças e objectivos que formulam a esse respeito e a extensa

investigação produzida nos últimos anos (e.g.,15,34) tem vindo a fornecer suporte nesse sentido.

adicionalmente, tem vindo a ser sublinhada (e.g.,3,12) a noção de que aquelas crenças apre-

sentam uma estreita relação com as crenças e os climas motivacionais induzidos pelos

outros significativos, designadamente pelos pais e treinadores (23), exaltando portanto a

importância de se perceber melhor os climas motivacionais em que as crianças e jovens

desenvolvem a sua prática desportiva.

na verdade, o modo como crianças e jovens privilegiam um determinado objectivo parece

relacionar-se fortemente com o seu entendimento sobre o que os seus pais e treinadores

privilegiam a esse respeito (13,38), mais ainda do que com o modo como estes se comportam (1).

assim, procurando compreender melhor a motivação das crianças e dos jovens para o

desporto, têm vindo a ser desenvolvidos estudos sobre as suas percepções relativamente

aos climas motivacionais criados pelos seus treinadores (25,28) os quais têm demonstrado

a existência das relações anteriormente referidas, designadamente no que se refere ao

impacto exercido pelos climas percebidos pelos jovens nos seus comportamentos (ver10,11).

do mesmo modo, parece ser perfeitamente adquirido que os pais assumem um papel

relevante no desenvolvimento das atitudes e comportamentos que os seus filhos adoptam

nos vários domínios das suas vidas, determinando em grande medida o modo como estes

participam, se comprometem e são, ou não, bem sucedidos no desporto (18,31). Com efeito,

os pais são os primeiros agentes de socialização dos filhos e têm um impacte substancial

nas suas experiências desportivas (2), ao ponto de a maioria dos desportistas salientar e

reforçar a importância do apoio dos pais ao longo do seu percurso desportivo (30,39).

nesse sentido, reconhecendo a necessidade de um instrumento para avaliar os climas

motivacionais induzidos pelos pais para a prática desportiva dos seus filhos, White, duda e

hart (37) decidiram basear-se num trabalho previamente realizado por athanasios papaio-

annou (26) e desenvolveram o Parent-Initiated Motivational Climate Questionnaire (pimCQ),

constituído por 14 itens relativos às mães e outros 14 (similares) aos pais, antecedidos da

questão “o que julgas que pensa o teu pai/ tua mãe sobre a tua aprendizagem de novas

tarefas e actividades físicas?”, que aplicaram no âmbito das aulas de educação Física a

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uma amostra de 210 praticantes de diversas modalidades desportivas (futebol, hóquei no

gelo, basquetebol, natação e ginástica), com idades compreendidas entre os 11 e os 18

anos de idade.

através do recurso à técnica da análise de componentes principais, as autoras iden-

tificaram a existência, tanto no caso das mães como no dos pais, de três componentes,

responsáveis, no seu conjunto, pela variância de aproximadamente 51% da variância das

respostas: i) ênfase nos erros; ii) sucesso sem esforço; e iii) aprendizagem. adicionalmen-

te, o cálculo dos valores de alfa de Cronbach separadamente para as respostas das três

subamostras definidas (i.e., crianças, jovens adolescentes e adolescentes mais velhos) re-

velou, em todos os casos, valores aceitáveis para os itens dos três componentes, variando

entre 0.75 e 0.92.

Considerando os resultados encontrados, as autoras concluíram que o seu estudo per-

mitiu demonstrar a possibilidade de medir as percepções das crianças e dos jovens quanto

ao clima motivacional criado pelos pais. todavia, sublinharam igualmente que o pimCQ ne-

cessitava de ser revisto, nomeadamente através da adição de alguns itens que indicassem

de forma mais universal atitudes parentais acerca da recompensa, do prazer, do afecto, da

punição, do comportamento permissivo e das reacções de desinteresse relativamente ao

processo de aprendizagem. na sua opinião, esta opção permitiria aumentar a sua validade

e utilidade para avaliar o modo como os pais se situam face à participação dos seus filhos

em contextos de realização como o desporto.

Consequentemente, mais tarde, White e duda (36) modificaram o pimCQ, acrescentando-

-lhe mais alguns itens relativos aos sentimentos de prazer associados à aprendizagem de

novas habilidades físicas e dando origem ao pimCQ-2, que passou a ser constituído por 36

itens (18 relativamente às mães e 18 aos pais). independentemente porém do aumento

do número de itens, a análise factorial exploratória realizada às respostas dadas por uma

amostra de 204 jovens voleibolistas, com idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos,

permitiu identificar a existência do mesmo número de factores da versão original: enquan-

to os itens referentes ao prazer se associaram aos itens relativos à aprendizagem, dando

origem ao factor que passou a ser designado como prazer na aprendizagem, os restantes

itens distribuíram-se de forma similar ao verificado no estudo inicial pelos outros dois fac-

tores (i.e., ênfase nos erros e sucesso sem esforço).

Complementarmente, a análise dos valores referentes aos alfas de Cronbach para os

itens de cada um dos seus três factores (que variaram entre 0.87 e 0.91) e do padrão de

correlações estabelecido por aqueles três factores com os objectivos de realização avalia-

dos através do Task and Ego in Sport Questionnaire (i.e., correlações positivas entre o clima

orientado para o prazer na aprendizagem e a orientação para a tarefa, bem como entre os

climas orientados para a ênfase nos erros e para a obtenção do sucesso sem esforço com

a orientação para o ego), suportou a conclusão das autoras no sentido da assunção da

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51—RPcd 10 (2)

03validade e fiabilidade do pimCQ para avaliar o clima motivacional influenciado pelos pais

em contextos de actividade física e desportiva.

após a sua publicação, o pimCQ/ pimCQ-2 tem vindo a ser utilizado não só nos estados

Unidos da américa mas também noutros países, entre os quais portugal, designadamente

na sequência de um projecto de investigação internacional que visou um conjunto alargado

de questões associadas à motivação das crianças e dos jovens para a prática desportiva (3).

no âmbito do referido projecto, e considerando as sugestões de Vallerand (32) sobre a

tradução e adaptação transcultural de instrumentos psicológicos, a versão original do pi-

mCQ-2 foi inicialmente traduzida para a língua portuguesa por dois especialistas bilingues,

tendo as duas versões (i.e., a original e a traduzida) sido posteriormente submetidas à

apreciação de um júri, constituído por psicólogos, treinadores e tradutores, que concluiu

no sentido da equivalência semântica e de conteúdo entre elas.

em seguida, foram realizadas sessões de reflexão falada com crianças e jovens com

características diferenciadas (e.g., sexo, idade, desporto praticado), com o objectivo de

verificar a compreensibilidade e uniformidade intercontextual da versão traduzida. Consi-

derando que não foram evidentes dificuldades por parte das crianças e dos jovens no seu

entendimento e preenchimento, considerou-se criada a versão portuguesa do pimCQ-2,

denominada como pimCQ-2p (14).

desde então, o pimCQ-2p tem sido utilizado no âmbito de diversos estudos, designada-

mente em monografias e dissertações não publicadas (e.g.,27), tendo as análises prelimina-

res realizadas às suas propriedades psicométricas sugerido a sua fiabilidade e validade.

todavia, até ao momento, não foram publicados resultados dessa natureza, razão pela qual

se justifica o presente estudo, que pretende igualmente contribuir para o desenvolvimento

da investigação sobre esta temática.

na verdade, em contraste com o que se verifica noutros domínios, em portugal são es-

cassos os estudos sobre a influência parental relativamente à prática desportiva, particu-

larmente sobre as percepções dos filhos em relação ao clima motivacional induzido pelos

seus pais, o que, atendendo ao impacto que estas assumem no modo como aqueles deci-

dem, ou não, praticar desporto, é um cenário que importará modificar.

assim, em decorrência do exposto, o objetivo central deste estudo consistiu em verificar

a qualidade das propriedades psicométricas e da estrutura factorial da versão portuguesa

do pimCQ-2, quando aplicada a jovens praticantes de ambos os sexos e praticantes de vá-

rias modalidades desportivas, procurando dessa forma contribuir para a disponibilização

de um instrumento válido para os interessados na investigação destas questões, tanto em

portugal como nos restantes países lusófonos, e, naturalmente, colaborar desse modo

para o aumento do conhecimento nesta área.

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metodoLoGIA

amostra

o presente estudo foi desenvolvido a partir de uma amostra constituída por 1498 jovens

portugueses de ambos os sexos (1027 do sexo masculino e 472 do sexo feminino), com

idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos (14.44 1.69 anos) e praticantes de nata-

ção, atletismo, futebol, voleibol, basquetebol e andebol.

a natureza, a finalidade e os benefícios do estudo foram explicados a todos os partici-

pantes, tendo os encarregados de educação assinado um termo de consentimento.

instrUmento

Conforme anteriormente referido, o pimCQ-2p é composto por 36 itens que visam avaliar

as percepções de crianças e jovens relativamente ao clima motivacional induzido pelos

seus pais (18 itens relativos à mãe e outros 18 itens relativos ao pai), através de uma esca-

la de likert de 5 pontos: de 1=discordo totalmente a 5=concordo totalmente. Cada grupo

de 18 itens distribui-se por três factores: i) prazer na aprendizagem (e.g., “fica satisfeita/

o quando eu melhoro após me esforçar muito”; “considera os erros como fazendo parte da

aprendizagem”); ii) ênfase nos erros (e.g., “preocupa-se com os meus erros”; “faz-me sen-

tir medo de errar”); ii) sucesso sem esforço (e.g., “fica satisfeita/ o quando eu ganho sem

me esforçar muito“; “acredita que eu devo conseguir o sucesso sem me esforçar muito“).

proCedimentos

recorreu-se à estatística descritiva para determinar médias, desvios-padrão, assimetria e

achatamento dos valores das respostas e ao cálculo dos alfas de Cronbach e das matrizes

de correlação inter-itens e inter-total para avaliar a consistência interna dos itens de cada

um dos factores do pimCQ-2p .

para examinar a estrutura factorial do pimCQ-2p foi utilizada a estatística multivariada

da análise factorial: inicialmente a análise Factorial exploratória (aFe) e em seguida a

análise Factorial Confirmatória (aFC). para o efeito, a amostra foi dividida aleatoriamen-

te em duas metades equivalentes (através da técnica disponível no programa de análise

estatística de dados spss), tendo sido utilizada uma delas para o estudo exploratório e a

outra para o confirmatório.

no que se refere à aFe, após verificação da adequação da matriz de dados (através do

critério de Kaiser-meyer-olkin e do teste de esfericidade de bartlett), recorreu-se à técni-

ca da máxima verosimilhança para a extracção dos factores e ao critério de Kaiser-Gutt-

man para a determinação do número de factores a extrair. Quanto à rotação dos factores,

optou-se pela rotação oblíqua, admitindo portanto a possibilidade da existência de corre-

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53—RPcd 10 (2)

03lações entre eles. de referir ainda que, para a retenção de um item num dado factor, foi

definido considerar apenas os que apresentassem um valor de saturação mínimo de 0.40

nesse factor, correspondendo à partilha entre eles de, pelo menos, 15% da variância (29).

para a realização da aFC foi utilizada a versão 8.5 do programa lisrel(17), com a ava-

liação do grau de ajustamento entre o modelo de medida previamente definido e a ma-

triz de covariância dos dados examinados a basear-se na análise dos valores relativos ao

qui-quadrado (χ2), ao Comparative Fit Index (CFi), ao Non-Normed Fit Index (nnFi), à

Standardized Root Mean Square Residual (srmr) e à Root Mean Square of Error of Aproxi-

mation (rmsea), em função dos critérios indicados na literatura da especialidade.

resuLtAdos e dIscussão

no quadro 1 estão apresentados os valores das médias, desvios padrão, assimetria e acha-

tamento das respostas aos 18 itens do pimCQ-2p, tanto para a mãe como para o pai. da

sua análise é possível verificar que foram utilizadas todas as hipóteses de resposta para

todos os itens, com as respectivas médias a variarem entre 2.06 e 4.11 (a única excepção

foi o item 5, relativo à mãe, cuja média foi ligeiramente inferior àquele intervalo; i.e., foi de

1.97), o que, considerando que a escala de resposta é constituída por cinco pontos, parece

demonstrar uma adequada variabilidade das respostas. do mesmo modo, a análise dos

valores referentes à assimetria e ao achatamento não sugeriu a existência de fenómenos

de violação da normalidade.

QuaDro 1 — Valores mínimos (mín), máximos (máx), médios (M), dos desvios padrão (dp), de assimetria (ass) e achatamento (ach) das respostas aos itens do PIMCQ-2p.

mãe pai

itemmín-máX

M dp ass aChmín-máX

M dp ass aCh

PIMCQ2p.01 1-5 3.99 0.97 -0.82 0.41 1-5 4.11 0.95 -1.01 0.86

PIMCQ2p.02 1-5 2.06 1.17 0.89 -0.12 1-5 2.18 1.27 0.79 0.45

PIMCQ2p-03 1-5 2.96 1.33 0.04 -1.09 1-5 2.79 1.36 0.17 -1.14

PIMCQ2p-04 1-5 4.08 0.96 -1.08 1.06 1-5 4.08 1.00 -1.16 1.18

PIMCQ2p-05 1-5 1.97 1.16 1.27 2.33 1-5 2.05 1.18 0.93 -0.06

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mãe pai

itemmín-máX

M dp ass aChmín-máX

M dp ass aCh

PIMCQ2p-06 1-5 2.11 1.18 0.87 -0.13 1-5 2.17 1.19 0.81 -0.21

PIMCQ2p-07 1-5 4.05 0.93 -0.90 0.66 1-5 4.03 0.98 -1.05 1.06

PIMCQ2p-08 1-5 3.56 1.07 -0.40 -0.30 1-5 3.67 1.09 -0.62 -0.08

PIMCQ2p-09 1-5 2.53 1.21 0.34 -0.76 1-5 2.67 1.27 0.20 -1.00

PIMCQ2p-10 1-5 2.58 1.24 0.32 -0.81 1-5 2.57 1.27 0.33 -0.90

PIMCQ2p-11 1-5 4.19 0.95 -1.17 1.10 1-5 4.15 1.02 -1.22 1.12

PIMCQ2p-12 1-5 2.31 1.18 0.52 -0.63 1-5 2.32 1.23 0.57 -0.64

PIMCQ2p-13 1-5 2.17 1.15 0.82 -0.08 1-5 2.23 1.21 0.74 -0.38

PIMCQ2p-14 1-5 3.99 0.98 -0.89 0.60 1-5 3.99 1.00 -0.97 0.76

PIMCQ2p-15 1-5 4.00 0.98 -0.89 0.51 1-5 4.00 1.02 -1.02 0.74

PIMCQ2p-16 1-5 2.39 1.25 0.53 -0.70 1-5 2.49 1.30 0.44 -0.90

PIMCQ2p-17 1-5 4.04 0.96 -0.99 0.85 1-5 4.00 1.00 -1.03 0.83

PIMCQ2p-18 1-5 3.42 1.14 -0.36 -0.38 1-5 3.49 1.12 -0.46 -0.21

no quadro 2 estão apresentados os valores dos pesos factoriais ou saturações dos vá-

rios itens nos factores identificados através do recurso à análise Factorial exploratória

(aFe), tanto em relação à mãe como ao pai, os quais não só foram idênticos entre si como

também em relação aos factores previamente identificados para a versão original (36,37),

adoptando-se, por isso mesmo, a mesma designação: i) prazer na aprendizagem; ii) ênfase

nos erros; e iii) sucesso sem esforço.

QuaDro2 — Análise Factorial Exploratória (rotação varimax) ao PIMCQ-2p.

mãe pai

pa ee sse pa ee sse

PiMcQ2p.14 0.80 0.77

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55—RPcd 10 (2)

03mãe pai

pa ee sse pa ee sse

PiMcQ2p.07 0.76 0.73

PiMcQ2p.11 0.75 0.73

PiMcQ2p.04 0.73 0.75

PiMcQ2p.15 0.72 0.72

PiMcQ2p.08 0.68 0.69

PiMcQ2p.01 0.67 0.68

PiMcQ2p.17 0.61 0.65

PiMcQ2p.18 0.52 0.51

PiMcQ2p.12 0.81 0.79

PiMcQ2p.16 0.80 0.79

PiMcQ2p.09 0.77 0.77

PiMcQ2p.05 0.71 0.73

PiMcQ2p.02 0.70 0.69

PiMcQ2p.10 0.79 0.83

PiMcQ2p.03 0.76 0.79

PiMcQ2p.06 0.44 0.67 0.40 0.68

PiMcQ2p.13 0.46 0.59 0.43 0.63

Valorpróprio 5.02 3.94 1.20 4.99 3.88 1.39

Variânciaexplicada

27.90% 21.89% 6.67% 27.72% 21.53% 7.70%

Nota: PA = Prazer na Aprendizagem; EE = ênfase nos Erros; SSE = Sucesso Sem Esforço.

a inspecção às soluções identificadas a partir da aFe revelou igualmente que quase não se

verificaram casos de saturação cruzada, com cada item a saturar apenas num determina-

do factor. as duas únicas excepções foram constituídas pelos itens 6 e 13 que, tendo apre-

sentado valores superiores a 0.40 tanto no factor ‘ênfase nos erros’ como no do ‘sucesso

sem esforço’, ainda assim saturaram de forma mais evidente no factor em que era suposto

saturarem (i.e., no factor ‘sucesso sem esforço’).

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no que respeita à proporção da variância explicada, observou-se que enquanto no caso

das mães os três factores identificados explicaram 56% da variância das respostas aos

itens, no dos pais o valor foi de aproximadamente 57%, valores portanto superiores aos

aproximadamente 51% indicados para a versão original pelas respectivas autoras (37).

a análise dos valores dos alfas de Cronbach evidenciou aceitável consistência interna para

todos os factores, com os valores calculados (‘prazer na aprendizagem’: 0.86 tanto para o

pai como para a mãe; ‘ênfase nos erros’: 0.84 para o pai e 0.85 para a mãe; e ‘sucesso sem

esforço: 0.79 para o pai e 0.77 para a mãe) a assemelharem-se aos reportados noutras in-

vestigações em que foi utilizada a versão original. de facto, se laVoi e babkes stellino (19)

indicaram valores compreendidos entre 0.81 e 0.94, White, duda e hart (37) indicaram valores

relativamente mais baixos (i.e., entre 0.75 e 0.90), o mesmo se tendo verificado com White (35), que encontrou valores entre 0.73 e 0.90 (mais especificamente, valores de 0.89 e 0.90

para o factor ‘prazer na aprendizagem’, 0.85 e 0.90 para o factor ‘ênfase nos erros’ e 0.73 e

0.82 para o factor ‘sucesso sem esforço’, respectivamente para mãe e pai).

Considerando a chamada de atenção de Clark e Watson(9) no sentido de que a análise dos

valores de alfa não é suficiente para estabelecer com segurança a consistência interna e a

homogeneidade de um instrumento, no presente estudo procedeu-se igualmente à análise

das matrizes de correlação inter-itens e inter-total para cada factor (ver quadro 3).

QuaDro3 — Correlações inter-itens e item-total.

mãe pai

inter-item item-total inter-item item-total

PRAzER NA APRENDIzAGEM 0.24 - 0.58 0.41 - 0.71 0.21 - 0.55 0.40 - 0.68

êNFASE NOS ERROS 0.42 - 0.62 0.62 - 0.73 0.43 - 0.61 0.58 - 0.71

SUCESSO SEM ESFORçO 0.30 - 0.57 0.44 - 0.64 0.38 - 0.56 0.51 - 0.67

segundo Clark e Watson (9), os valores das correlações inter-item devem situar-se entre o

intervalo de 0.15 e 0.50, reflectindo que os itens se diferenciam adequadamente entre si e

permitem recolher mais informação e mapear de forma mais válida o construto em ques-

tão. no presente caso, embora algumas das correlações encontradas tenham sido ligei-

ramente superiores ao valor recomendado, a diferença não foi elevada, considerando-se,

por isso, que eventuais pequenas redundâncias entre alguns dos seus itens não retiram

consistência interna e homogeneidade ao instrumento. também importante foi o facto de

a análise da matriz de correlações item-total ter revelado que não existia nenhum valor in-

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57—RPcd 10 (2)

03ferior ao valor critério de 0.20, sugerido como Clark e Watson(9) como o valor a considerar

para proceder à eliminação de itens.

para testar a estrutura factorial da versão portuguesa do pimCQ-2, decidiu-se recorrer à

técnica da aFC, atendendo à sua maior exigência e utilidade, quando o objectivo consiste na

determinação da validade de um instrumento já desenvolvido (21,33).

para a especificação do modelo de medida do pimCQ-2p a submeter à aFC entendeu-se

respeitar a proposta dos autores da versão original, corroborada pelos resultados da aFe pre-

viamente efectuada. ou seja, foram considerados três factores: i) ‘prazer na aprendizagem’

(constituído pelos itens 1, 4, 7, 8, 11, 14, 15, 17 e 18); ii) ‘ênfase nos erros‘ (itens 2, 5, 9, 12 e

16); e iii) ‘sucesso sem esforço’ (itens 3, 6, 10 e 13), tanto no caso dos pais como no das mães.

o método utilizado foi o da máxima verosimilhança e a matriz de dados examinada a

da covariância, tendo os resultados (ver quadro 4) evidenciado um ajuste aceitável para

ambos os casos, independentemente do valor estatisticamente significativo do qui qua-

drado; na verdade, conhecida a sensibilidade daquela estatística a elevadas dimensões da

amostra, conforme era o caso, é consensual e aconselhável atender aos valores de outros

indicadores de ajustamento.

QuaDro4 — índices de bondade do ajustamento global para o PIMCQ-2.

modelo χ2gl nnFi CFi rmsea (90% iC) srmr

MãE 969.69p<.001 132 0.95 0.96 0.069(0.066-0.073) 0.073

PAI 969.34p<.001 132 0.95 0.96 0.067(0.063-0.071) 0.073

os indicadores relativos à bondade de ajustamento global considerados neste estudo (i.e.,

o nnFi e o CFi) variam entre 0.00 e 1.00, estabelecendo-se usualmente 0.90 como o valor

de corte para a aceitação do modelo; ou seja, valores iguais ou superiores a 0.90 traduzem

que o modelo considerado se ajusta de forma aceitável à matriz de covariância inspeciona-

da, enquanto valores inferiores a 0.90 traduzem o contrário (8,21).

nesse sentido, o facto de os valores do nnFi e CFi terem sido claramente superiores a 0.90,

cumprindo portanto com aquele critério, bem como inclusivamente com as recomendações mais

exigentes de hu e bentler (16), no sentido daquele valor de corte se situar em 0.95, revelaram a

boa qualidade do ajustamento do modelo de medida inspeccionado à matriz de dados examinada.

do mesmo modo, também os valores calculados para a rmsea, inferiores a 0.07, con-

vergiram no sentido da manifestação da qualidade do modelo, considerando que valores

até 0.08 representam erros razoáveis de aproximação (5,6,20).

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no que concerne aos valores da srmr, os valores encontrados, tanto no caso dos pais

como no das mães, foram ligeiramente superiores ao valor critério de 0.05 sugerido na li-

teratura (6,7). ainda assim, igualmente no que respeita aos resíduos, importará salientar a

inexistência de valores residuais estandardizados inferiores a -2.58 ou superiores a 2.58, o

que sugere a ausência de problemas associados à especificação do modelo inspeccionado (7).

no quadro 5 estão apresentados os pesos factoriais e os respectivos erros padrão, bem

como os valores t e a magnitude da variância que cada item partilha com o respectivo factor.

QuaDro5 — Estimativas do peso factorial (erro padrão), valor t e variância que os factores extraem dos itens do PIMCQ-2p.

mãe pai

pa ee sse t r2 pa ee sse t r2

PiMcQ2p.010.58(0.02)

23.57 0.340.59(0.02)

24.46 0.35

PiMcQ2p.040.67(0.02)

28.510.45 0.71

(0.02)29.49 0.50

PiMcQ2p.070.69(0.02)

31.38 0.480.69 (0.02)

29.05 0.48

PiMcQ2p.080.64(0.03)

23.39 0.410.68(0.03)

25.05 0.46

PiMcQ2p.110.69(0.02)

30.34 0.480.69(0.03)

27.44 0.48

PiMcQ2p.140.75(0.02)

32.76 0.560.75 (0.02)

31.76 0.56

PiMcQ2p.150.67(0.02)

28.03 0.450.71 (0.02)

28.39 0.50

PiMcQ2p.170.54(0.02)

21.78 0.290.60(0.03)

23.54 0.36

PiMcQ2p.180.46(0.03)

15.14 0.210.47(0.03)

15.79 0.22

PiMcQ2p.020.80 (0.03)

27.74 0.640.90 (0.03)

28.95 0.81

PiMcQ2p.050.80 (0.03)

27.85 0.640.86 (0.03)

29.85 0.74

PiMcQ2p.090.82 (0.03)

27.59 0.670.79 (0.03)

24.28 0.62

PiMcQ2p.120.96 (0.03)

34.98 0.920.98 (0.03)

33.84 0.96

PiMcQ2p.160.87 (0.03)

30.44 0.760.95 (0.03)

30.30 0.90

PiMcQ2p.030.61 (0.04)

16.98 0.370.74 (0.04)

20.42 0.55

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59—RPcd 10 (2)

03mãe pai

pa ee sse t r2 pa ee sse t r2

PiMcQ2p.060.95 (0.03)

33.68 0.900.93 (0.03)

31.84 0.86

PiMcQ2p.100.87 (0.03)

28.13 0.760.91 (0.03)

28.75 0.83

PiMcQ2p.130.84 (0.03)

30.64 0.710.88 (0.03)

29.16 0.77

Nota: PA = Prazer na Aprendizagem; EE = ênfase nos Erros; SSE = Sucesso Sem Esforço.

em termos genéricos, foi possível verificar que todos os itens apresentaram valores de sa-

turação de elevada grandeza no respectivo factor, com a magnitude da variância atribuída

ao factor correspondente a apresentar valores moderados a elevados (o valor mais baixo

foi o do item 18, tanto no caso dos pais como no das mães, sendo ligeiramente superior a

0.20). Quanto aos valores t, foram todos elevados e estatisticamente significativos.

concLusÕes

os resultados das várias análises realizadas às propriedades psicométricas e à estrutu-

ra factorial da versão portuguesa do Parent-Initiated Motivation Climate Questionnaire-2

são convergentes entre si, sugerindo de forma consistente que ela se constitui como um

instrumento fiável e válido para a avaliação das percepções das crianças e dos jovens

relativamente ao clima motivacional induzido pelos seus pais para a prática desportiva.

nessa medida, ainda que seja desejável que estudos complementares possam reforçar os

resultados aqui apresentados, por exemplo, determinando em que medida a qualidade das

propriedades psicométricas do pimCQ-2p aqui evidenciadas se mantém quando aplicada

com crianças e jovens com características relativamente distintas dos que participaram

neste estudo, ou em subamostras de uma mesma amostra (e.g., verificando a sua invari-

ância ao longo de amostras dos dois sexos ou de diferentes escalões etários), desde já se

recomenda a sua utilização para esse efeito por parte dos investigadores desta área, na

expectativa de que daí decorra um maior aprofundamento do conhecimento actualmente

disponível neste domínio.

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Page 62: 2010/2 - Faculdade de Desporto da Universidade do Porto · da eficácia do ataque no Voleibol feminino juvenil de elevado nível de rendimento ... métodos e desenhos experimentais

Preditores da utilização

de substâncias anabolizantes

e ergogênicas em Academias.

PAlAvRAs chAve:

exercício.Psicologia.homens.substâncias

anabolizanteseergogênicas.

AutoRes:

antóniolabisaPalmeira1

MargaridagaspardeMatos2

1faculdadedeeducaçãofísicaeDesporto,universidadelusófonadehumanidadesetecnologias,Portugal

2faculdadedeMotricidadehumana,universidadetécnicadelisboa,Portugal.

correspondência:antóniolabisaPalmeira.universidadelusófonadehumanidadesetecnologias

—faculdadedeeducaçãofísicaeDesporto.campogrande,376.1749-024.lisboa,Portugal

([email protected]).

resumo

esteestudoobjetivouaanálisedaassociaçãoentreosfatorescomportamentaisepsico-

lógicosdadependênciadoexercícioeautilizaçãodesubstânciasergogênicasemutentes

de ginásios do género masculino. Participaram 147 homens (idade = 27.39 7.08 anos)

praticantes em academias da zona de lisboa. recolheram-se elementos associados: a)

consumodesubstânciasergogênicas;b)fatorescomportamentaisepsicológicos(depen-

dênciadoexercício,dismorfiamusculareintençõesparaoconsumodesubstâncias).um

terço dos inquiridos declarou consumir anabolizantes e dois terços outras substâncias

ergogênicas.estesconsumosestiveramassociadosàdependênciadoexercício,dismorfia

musculareàsintenções(todosp<.01)eàintensidadedotreino(p<.001).ossujeitoscom

dependênciadoexercíciosecundária(i.e.,comvaloreselevadosdedismorfiamusculare

dedependênciadoexercício)reportaramconsumosmarginalmentesuperioresdeanabo-

lizantes(p=.071)emaioresintençõesdeconsumo.naanálisemultivariadaverificou-se

queasintençõesmantiveramasuaassociaçãoaoconsumoreportado,nãosendomediada

peladependênciadeexercíciooudismorfiamuscular.

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04predictors of use of ergogenic

and anabolic steroid substances

in health Clubs.

AbstrAct

thestudygoalwastoanalysetheassociationbetweenbehaviourand

psychosocial factors on exercise dependence and the use of anabolic

andergogenicsubstancesinmaleregularexercisers.Participantswere

147males(age=27.39 7.08years)representingregularexercisersin

lisbon gym/ health clubs. self-report data was gathered concerning:

a)useofergogenicsubstances;b)behaviourandpsychosocialfactors

(exercisedependence,musculardysmorphiaandintentionstouseergo-

genicsubstances).onethirdoftheexercisersreportedtheuseofana-

bolicsteroids,whiletwothirdsreportedtheuseofotherergogenicaids.

this use was associated with exercise dependence, muscular dysmor-

phiaand intentions(allp< .01),andwithbehaviourfactors(specially

exercise intensity, p < .001). subjects with secondary exercise depen-

dence(i.e.highscoresofdriveformuscularityandexercisedependen-

ce)hadmarginallyhigheruseofanabolicsteroids(p=.071)andhigher

intentions touse.on themultivariateanalyses the intentionsmaintai-

nedtheirassociationwiththereporteduseandwerenotmediatedby

exercisedependenceormusculardysmorphia.

Key woRds:

exercise.Psychology.Men.anabolicandergogenicsubstances.

63—RPcd 10 (2): 63-77

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Introdução

desde o relatório do Surgeon General de 1996 que se tornou evidente a importância de que

se reveste a atividade Física na promoção da saúde, envolvendo níveis tão díspares como

a saúde cardiovascular ou diversos tipos de cancro (23). esse documento desencadeou um

conjunto de alertas dirigidos às populações e instituições para a necessidade de promover

a atividade física regular, principalmente pelo valor preventivo, mas não esquecendo o va-

lor curativo, que essa regularidade proporcionaria junto do indivíduo.

no entanto, passada mais de uma década o sedentarismo continua a registar números

alarmantes, quer a nível internacional, quer em portugal. neste último, o eurobarómetro

213(7) retrata portugal como o país onde existe uma maior prevalência de ausência total de

prática de qualquer atividade física com um mínimo de estrutura (66%, sendo de 40% a mé-

dia europeia), revelador de uma situação alarmante em termos de saúde pública. ainda no

mesmo relatório se verifica que 15% dos indivíduos que realizam com regularidade atividade

física fazem-no em ginásios, sendo um valor que aumentou em 2% relativamente ao relatório

anterior, e julga-se que será uma tendência que se prolongará nos próximos anos (7).

se parece claro à maioria das pessoas que pratica atividade física regular quais são os

benefícios que dela decorrem, surge como fator perturbador e paradoxal um efeito nega-

tivo que é representado pela dependência do exercício. esta situação foi objeto de estudos

recentes, que apontam para a possibilidade do exercício, ao coexistir com determinados

fatores comportamentais (e.g., frequência do exercício) e psicológicos (e.g., distúrbio da

personalidade), poder ter efeitos negativos, quer a nível físico, quer a nível psicológico (9). Com a continuidade destes estudos surgiu a necessidade de explicitar o paradigma da

dependência do exercício, definido como um padrão multidimensional de maladaptação ao

exercício que conduz a situações clínicas prejudiciais ou ao aumento do stress negativo (10).

a dependência do exercício pode ser subdividida em dois tipos: primária e secundária(24),

resultantes de diferentes envolvimentos, comprometimentos e motivações que o indiví-

duo apresenta para com o exercício. a primária resultará de situações em que o indivíduo

realiza exercício pelo que ele lhe proporciona diretamente, o prazer pelo esforço, pela su-

peração, pelo desafio; enquanto que na secundária o indivíduo instrumentaliza o exercício,

usando-o como um meio para atingir um fim, necessariamente associado a um ideal de

imagem corporal que terá representações no feminino diferentes das do género masculino (9) ou a situações de desordem alimentar.

não se conhecem estudos epidemiológicos que possam indicar a gravidade desta situação,

mas trabalhos anteriores efectuados em portugal (13,19,20), que acumularam dados de diver-

sos cenários com base num instrumento psicométrico que discrimina três grupos de risco

para a dependência do exercício: Exercise Dependence Scale-21 (10), podem servir como indi-

cador para o conhecimento dos números da dependência do exercício no nosso país. a figura

1 é indicativa da situação na região da grande lisboa, com uma amostra de 984 sujeitos (52%

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65—RPcd 10 (2)

04homens, 26.1 9.3 anos e imC=22.7 2.8 kg/ m2), praticantes regulares de exercício em

ginásios (frequência semanal auto-reportada = 4.2 1.8 vezes/ semana). os grupos de risco

são: assintomáticos — que não registam sintomas de dependência; sintomáticos — entre 1 e

3 sintomas de dependência; em risco — com mais de 3 sintomas de dependência (são usados

os critérios de dependência de substâncias do dsm-iV neste instrumento (2)).

figura 1— Distribuição dos grupos de risco de dependência numa amostra de praticantes em ginásio.

estes valores são semelhantes aos reportados por hausenblas e symon-dows (10)durante

o desenvolvimento do questionário numa população de estudantes universitários norte-

-americanos, pelo que se poderá colocar a hipótese destas situações de risco de depen-

dência surgirem em cerca de 10% da população que pratica regularmente exercício.

no estudo em portugal não se verificaram diferenças entre os géneros nesta distribuição,

mas a dependência do exercício esteve associada positivamente à idade e ao imC no grupo

em risco. esta última correlação deixa pistas para a possibilidade de existência de dependên-

cia secundária, visto que o imC pode estar a camuflar situações de indivíduos com grandes

massas musculares que procuram, através do exercício, desenvolver uma imagem de vigor

e musculada que tem sido associada à toma de substâncias ergogênicas nutricionais (e.g.,

batidos de proteínas, barras energéticas, aminoácidos) e anabolizantes (11,14,15).

este tipo de substâncias representa hoje em dia um mercado de grande crescimento, su-

perando os 8% no que respeita aos denominados suplementos nutricionais desportivos (16).

este mercado representa um volume de negócios com valores que superaram 4.7 biliões

eMrisco12%

assintoMáticos21%

siMtoMáticosnãoDePenDentes

12%

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de dólares em 1999 (18). é uma indústria poderosa que tem vindo a desenvolver campa-

nhas de marketing fortíssimas. estas campanhas são, aliás, um dos fatores promotores

de relações menos saudáveis para com o exercício regular (21), atingindo especialmente os

adolescentes e jovens adultos (8). os números mais recentes a que se teve acesso mostram

que 1% da população britânica de 16-59 anos terá consumido ou consome atualmente es-

teroides anabolizantes (22), subindo esse número para 6% dos homens e 2.3% das mulheres

quando considerados os que praticam regularmente exercício em ginásios. Um número

ainda superior é registado quando se reportam ginásios onde está disponível material para

culturismo e onde a população é predominantemente masculina. neste contexto registou-

-se 29.5% de utilizadores versus os 1.5% encontrados nos ginásios onde o equipamento

predominante é o cardiovascular e aulas de grupo (12).

os racionais teóricos que têm vindo a ser usados para a explicação deste fenómeno

centram-se nas questões da imagem corporal e nos modelos conceptuais dos comporta-

mentos de saúde. as perturbações da imagem corporal têm revelado ser um importante

preditor da toma de substâncias ergogênicas nutricionais (incluindo os anabolizantes). no

estudo de Cole e colegas (5)verificou-se que entre 137 praticantes de bodybuilding, do

género masculino, 29 consomem actualmente esteroides anabolizantes e 19 consumiram

no passado. os restantes reportaram nunca terem consumido estas substâncias. de um

conjunto alargado de avaliações psicométricas, os valores de anorexia reversa (que repre-

senta atualmente o conceito de dismorfia muscular) e de dependência do exercício, estive-

ram positivamente associados à toma das substâncias, revelando que não será a prática

da modalidade que está associada ao consumo, mas sim esta perturbação da imagem

corporal e a maladaptação ao exercício.

o conceito de dismorfia muscular tem sido adoptado para representar as perturbações

de imagem corporal, tipicamente registadas em homens, que embora extremamente mus-

culados têm uma crença patológica que a sua musculatura é muito pequena (4). a análise

da dismorfia muscular resulta da evolução do estudo da anorexia reversa e motivação

para a imagem de vigor em praticantes de exercício em ginásio, procurando representar

como situações de maladaptação ao exercício poderiam estar associadas a estas pertur-

bações da imagem corporal. Vários estudos confirmaram esta hipótese, sendo sugerido

um quadro de sintomas que envolvia a toma de substâncias que fossem acreditadas como

potenciadoras dos resultados, bem como algumas psicopatologias (11,14).

por outro lado, os modelos explicativos de comportamento de saúde têm procurado es-

tudar esta mesma problemática, na busca dos antecedentes sócio-cognitivos do consumo

de substâncias. no entanto, e na pesquisa efetuada, apenas reportam a amostras com-

postas por atletas (24). o racional teórico utilizado foi a teoria do comportamento planeado,

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67—RPcd 10 (2)

04que salienta a importância das intenções como principal determinante do comportamento

humano, refletindo o nível de motivação e a sua vontade para realizar o esforço necessário

para o completar. as intenções serão resultado da combinação linear das atitudes, normas

subjetivas e percepção de controlo comportamental (1). os estudos meta-analíticos sobre

o poder preditivo da teoria do comportamento planeado mostram que as intenções expli-

cam entre 30-40% do comportamento atual, sendo uma das teorias sócio-cognitivas mais

seguidas na análise dos comportamentos associados à saúde (6).

da revisão de literatura realizada realça que hoje está aberta uma “janela de oportunida-

de” para a atividade física regular tomar o papel de elemento promocional da saúde. a ade-

são a esta prática pode, paradoxalmente, ser condicionada por maladaptações ao exercício,

derivadas de perturbações da imagem corporal e situações de dependência secundária de

exercício, que estarão associadas a consumos de substâncias ergogênicas nutricionais cuja

eficácia não está comprovada (17) ou, mais grave, a consumos de esteroides anabolizantes.

Uma população que se encontra em risco acrescido é representada pelos praticantes

masculinos que se exercitam com o intuito de alterar a sua forma corporal. Foi então com

esta amostra que se realizou o presente estudo, que teve como objetivo analisar a asso-

ciação entre os fatores comportamentais e psicológicos da dependência do exercício e

a utilização de substâncias ergogênicas nutricionais em ginásios. mais especificamente

colocaram-se as seguintes hipóteses:

h1 — há uma correlação positiva entre os fatores comportamentais (i.e., frequência, dura-

ção e intensidade das sessões de treino) e a toma reportada e intenção da toma de substâncias.

h2 — há correlações positivas entre os fatores psicológicos de dependência do exercício

e dismorfia muscular com a toma reportada e intenção da toma de substâncias.

h3 — os sujeitos com dependência secundária do exercício reportam valores superiores

de toma ou intenção de toma de substâncias.

h4 — as intenções são mediadas pela dismorfia muscular e dependência do exercício no seu

poder preditivo para a toma de substâncias anabolizantes e substâncias ergogênicas nutricionais.

além da verificação destas hipóteses realizou-se ainda um estudo das frequências de

consumo destas substâncias.

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metodoLoGIA

desenho do estUdo

o desenho do estudo foi transversal e correlacional.

amostra

a amostra foi constituída por 147 homens (idade=27.39 7.08 anos) representando indi-

víduos que realizam exercício regularmente (frequência =4.26 1.34 vezes por semana;

duração das sessões=72.69 27.69 minutos) em quatro ginásios de média dimensão (apro-

ximadamente 1000 clientes cada), que apresentam uma predominância de material para

treino do culturismo da zona de lisboa.

instrUmentos

Foi elaborada uma bateria de questionários constituídos pelos seguintes instrumentos:

Demografia. além dos dados demográficos, foram incluídos dados associados às vari-

áveis corporais peso e altura. também aqui foram incluídas questões para despiste da(s)

modalidade(s) praticada(s) e tempo de prática.

Fatores Comportamentais. as componentes da carga foram avaliadas através de questões

acerca da frequência e volume semanal de treino, sendo a intensidade avaliada através da

escala de percepção de esforço de borg. por último foi questionado o consumo de várias

substâncias ergogênicas nutricionais e anabolizantes. este questionário foi desenvolvido

com base em entrevistas a especialistas na área da dopagem e foi testado preliminarmente

numa população de alunos universitários para verificação da compreensão das questões.

Fatores Psicológicos. Foi elaborada uma bateria de instrumentos psicométricos: escala

de dependência do exercício; ede-21 (10,20), que avalia conforme os critérios de abuso de

substâncias do dsm- iV2 a dependência do exercício. a escala tem 21 itens e resulta em

sete dimensões com a possibilidade de um score total e definição de três grupos de níveis

de dependência do exercício. a consistência interna no estudo original foi boa com um α

médio = .81, enquanto que no presente estudo foi de α = .88. também foi aplicada a Drive

for Muscularity Scale; dms 15, que avalia a motivação para a imagem de vigor através de

15 items dos quais resulta um valor único que teve no estudo original um α = .85 (α = .88

no presente estudo). para a avaliação da intenção para a toma de substâncias (α = .98),

utilizou-se um instrumento baseado na teoria do Comportamento planeado (6).

proCedimentos

o estudo foi aceite pela comissão científica da Universidade lusófona de humanidades e

tecnologias.

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69—RPcd 10 (2)

04Operacionais. os questionários foram recolhidos junto de vários ginásios da região de

lisboa, sendo uma amostra escolhida por conveniência. os sujeitos participaram volun-

tariamente no estudo. o preenchimento dos questionários foi feito no local da prática ou,

em alternativa, num local onde estavam presentes condições de conforto, privacidade e

ausência de distrações. a recolha foi realizada pelos investigadores e por um conjunto de

alunos universitários que participaram no projecto.

Estatísticos. inicialmente foi efetuada uma análise preliminar dos dados, para aferir as

características psicométricas dos instrumentos, bem como a análise de normalidade e

restantes pressupostos subjacentes aos procedimentos estatísticos posteriormente uti-

lizados. os pressupostos de normalidade foram cumpridos, permitindo o uso de técnicas

paramétricas. seguidamente realizou-se uma análise descritiva dos dados, reportando-se

as frequências de consumos, bem como as médias e indicadores de dispersão dos dados.

por último realizou-se a análise inferencial das hipóteses, utilizando-se para a análise cor-

relacional bivariada o produto-momento de pearson, para as comparações univariadas o

teste t para amostras independentes e por último um conjunto de procedimentos multi-

variados apoiados em regressões lineares múltiplas para a análise do poder preditivo e

possibilidades de mediação

resuLtAdos

o Quadro 1 apresenta a análise descritiva de consumos semanais reportados pelos parti-

cipantes no estudo

QuaDro1— Análise descritiva dos consumos semanais.

CateGorias m dp amplitUde % de Utilizadores

Substâncias Anabolizantes 2.94 5.97 0 - 33 31.70%

Substâncias Ergogênicas 12.03 13.37 0 - 56 66.00%

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os resultados da análise das hipóteses um e dois estão presentes no Quadro 2.

QuaDro 2— Correlação de Pearson entre os factores comportamentais e psicológicos, a toma reportada e a intenção de toma.

FACTORES COMPORTAMENTAIS

CateGorias FreQUênCia FreQUênCia intensidade

Substâncias Anabolizantes 0.09 0.23 * 0.37 ***

Substâncias Ergogênicas 0.29 ** 0.11 0.37 ***

Intenção 0.37 *** 0.11 0.30 ***

FACTORES PSICOLóGICOS

dismorFia mUsCUlar dependênCia do eXerCíCio

Substâncias Anabolizantes 0.23 ** 0.27 **

Substâncias Ergogênicas 0.30 ** 0.30 **

Intenção 0.35 *** 0.45 ***

Nota: *p<.05; ** p<.01; ***p<.001

nos fatores comportamentais verificou-se que a intensidade das sessões de treino foi a variável

que se associou mais fortemente à toma reportada e intenções de toma (todos p < .001), segui-

da da frequência, que apenas não se associou à toma reportada de substâncias anabolizantes,

e duração de treino, que apenas se associou à toma reportada de substâncias anabolizantes.

o padrão de associações encontrado foi semelhante nos dois fatores psicológicos con-

siderados: dismorfia muscular e dependência do exercício. ambas se correlacionaram po-

sitivamente com as substâncias anabolizantes (p < .01), ergogênicas (p < .01) e intenção

para a toma (p < .001).

seguidamente criaram-se grupos de tipos de dependência do exercício — primária ou

secundária — incluindo neste último tipo todos os sujeitos que se apresentassem no tercil

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71—RPcd 10 (2)

04superior da dismorfia muscular e pelo menos no grupo sintomático de dependência do

exercício. esta divisão discriminou 40 sujeitos com dependência secundária. a hipótese

associada, que os sujeitos com dependência secundária do exercício teriam valores supe-

riores de toma ou intenção de toma de substâncias, foi testada através de um teste t para

amostras independentes.

QuaDro3— Valores da média, desvio-padrão e teste t para amostras independentes para análise das diferenças na toma reportada, intenção de toma e factores comportamentais do treino entre os sujeitos com dependência primária e secundária.

dependênCia primária

dependênCia seCUndária

CateGorias M DP M DP t ES

Substâncias Anabolizantes 2.36 4.99 4.40 7.82 -1.72 a .32

Substâncias Ergogênicas 10.91 12.43 14.52 15.17 -1.25 .26

Intenção 12.30 8.68 18.18 10.43 -3.43 ** .61

Frequência 4.29 1.35 4.13 1.32 0.67 -.13

Duração 72.25 29.25 73.83 23.62 -0.30 .06

Intensidade 5.71 2.36 6.49 2.50 -1.71 a .32

Nota: ** p<.01; a) marginalmente significativo ; ES — magnitude do efeito (effect size).

os sujeitos com dependência secundária apresentaram valores mais altos de intenções

para o consumo (t(139) = -3.43, p < .01, es = 0.61). o mesmo se passou com o consumo

reportado de substâncias anabolizantes, pese embora a diferença tenha sido apenas mar-

ginalmente significativa (t(139) = -1.72, p = .071, es = 0.32). a intensidade foi a única com-

ponente da carga que registou ser marginalmente superior nos sujeitos com dependência

secundária (t(139) = -1.71, p < .077, es = .32).

Visto que a intenção revelou-se novamente uma variável que interage com as diferentes

variáveis em estudo, decidiu-se aprofundar o seu valor preditivo na toma de substâncias.

Como as substâncias anabolizantes e as ergogênicas representaram os consumos mais

frequentes, e como a teoria do Comportamento planeado prevê que as intenções serão a

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variável psicológica mais próxima do comportamento, decidiu-se procurar analisar o poder

preditivo das intenções no consumo de anabolizantes e substâncias ergogênicas. adicional-

mente, procurou-se analisar se a dependência de exercício e a dismorfia seriam mediadoras

desta predição. para estes procedimentos utilizaram-se os critérios de baron e Kenny além

das correções previstas por sobel (3). nos resultados anteriores tínhamos verificado que:

1. as intenções estavam associadas ao consumo reportado de anabolizantes (r(123) = 0.40,

p < .001) e de substâncias ergogênicas nutricionais (r(123) = 0.61, p < .001), cumprindo por

isso o primeiro critério de baron e Kenny;

2. as intenções estavam associadas à dismorfia muscular (r(123) = 0.35, p < .001) e de-

pendência do exercício (r(123) = 0.45, p < .001), correspondendo ao seguimento do segundo

critério de baron e Kenny;

na análise dos seguintes critérios verificou-se que, para o consumo reportado de ana-

bolizantes, a intenção manteve o seu poder preditivo, não sendo mediada pela dismorfia

muscular. o teste de sobel indicou que apenas 13.37% do efeito das intenções no consumo

de anabolizantes foi mediado pela dismorfia muscular. Foi obtido um resultado semelhante

na análise do poder preditivo das intenções sobre a toma de substâncias ergogênicas. o

teste sobel indicou que apenas 0.6% do efeito das intenções sobre o consumo de substân-

cias ergogênicas foi mediado pela dismorfia muscular.

a. DISMORFIA MUSCULAR

DisMorfia

Muscular

0,7%, n.s.45.4%, p

<.001

24,6%, p<.001

consuMo

Deanabolizantesintenções

DisMorfia

Muscular

1,12%, n.s.45.4%, p

<.001

83.7%, p<.001

consuMo

subst.ergogénicasintenções

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73—RPcd 10 (2)

04b. DEPENDêNCIA DO ExERCíCIO

figura 2 — Resultados da análise de mediação da dismorfia muscular (A) e dependência do exercício (B) sobre o poder preditivo das intenções no consumo reportado.

o cenário repetiu-se quando se analisou o possível efeito mediador da dependência do

exercício na predição das intenções para o consumo de anabolizantes. apenas 7.8% do

efeito das intenções foi mediado pela dependência do exercício. para o consumo de subs-

tâncias ergogênicas, verificou-se um valor ainda menor da mediação, com 5.6% do efeito

das intenções a ser afetado pela dependência do exercício.

DePenDência

Doexercício

0,4%, n.s.48.5%, p

<.001

24,6%, p<.001

consuMo

Deanabolizantesintenções

DePenDência

Doexercício

0,9%, n.s.48.5%, p

<.001

83,7%, p<.001

consuMo

subst.ergogénicasintenções

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dIscussão

o presente estudo procurou analisar a associação entre os fatores comportamentais e psi-

cológicos da dependência do exercício e utilização de substâncias ergogênicas nutricionais

em ginásios. a intenção para o consumo de substâncias ergogênicas revelou ter um poder

preditivo no consumo reportado, sendo esta predição independente de outras variáveis psi-

cológicas como a dismorfia muscular e dependência do exercício. estes resultados vão de

encontro a estudos anteriores com outros comportamentos nos quais, tal como defendido

pela teoria, as intenções são a variável psicológica mais próxima do comportamento. neste

estudo as associações entre as intenções e os consumos reportados rondaram os 30-40%,

enquadrando-se nos valores preditivos presentes nos estudos meta-analíticos revistos (6).

não encontrámos, no entanto, trabalhos que tivessem reportado a análise desta teoria no

cenário do presente estudo, impedindo um cruzamento direto dos dados agora obtidos.

será importante dar continuidade à investigação, pois poder-se-á obter um instrumento

que possa discriminar e prever a utilização de substâncias ergogênicas nutricionais nas

populações estudadas, antecipando possíveis situações de utilização pouco fundamenta-

da destas suplementações, com potenciais efeitos prejudiciais para a saúde (17). a criação

deste instrumento poderá oferecer uma alternativa interessante ao questionamento direto

sobre o consumo destas substâncias, pois tem sido assinalado que os sujeitos tendem a

sub-reportar os seus consumos (11).

também os restantes fatores psicológicos analisados, dismorfia muscular e dependência

do exercício, estiveram associados ao consumo reportado de substâncias. os valores das

correlações foram um pouco menores do que os obtidos nas intenções, mas na análise de

regressão revelaram ser fatores que podem estar associados ao consumo de substâncias

independentemente das intenções, sendo por isso importante verificar esta hipótese em es-

tudos futuros. estudos recentes sobre esta problemática têm revelado o papel essencial que

a dismorfia muscular representa nas maladaptações à prática de exercício, nomeadamente

na criação de situações de dependência secundária de exercício (4,5,9). não podemos com

este estudo definir o sentido da causalidade, apenas estabelecer associações entre estes fa-

tores psicológicos e o consumo de substâncias, mas pensa-se que será plausível que sejam

as perturbações de imagem corporal e a dependência de exercício que causarão o consumo

de substâncias, e não o inverso. esta posição já foi aliás defendida anteriormente pelo grupo

de pope, que tem sido um dos investigadores mais profícuos nesta área (4).

Consideramos interessante que o fator comportamental mais associado ao consumo re-

portado de substâncias seja a intensidade percebida do treino. a avaliação desta variável foi

efetuada com um instrumento que começa a ser comumente utilizado nos ginásios — a es-

cala de borg — pelo que se poderá colocar a hipótese de a utilizar como possível elemento de

despiste de consumo de substâncias; o indivíduo ao percepcionar que a sua prática é muito

intensa poderá procurar ajudas nutricionais para compensar essa sua percepção.

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75—RPcd 10 (2)

por último, verificou-se que dois terços dos sujeitos da amostra reportaram consumir

substâncias ergogênicas (e.g., batidos de proteínas e/ ou hidratos de carbono, aminoáci-

dos, creatina e outros), sendo revelador do mercado que estes produtos hoje constituem.

Curiosamente, a maior parte deles não é controlada por nenhuma entidade que regule o

seu conteúdo efetivo, podendo estar a ser criadas condições para problemas de saúde

devido a contaminações com esteroides anabolizantes (aliás já reportadas por institui-

ções de defesa do consumidor). além disso, a eficácia destes produtos está ainda longe

de ser comprovada, principalmente em indivíduos sujeitos a cargas de treino pouco cui-

dadas e planeadas, pelo que nos parece que o grande impulsionador deste mercado é um

marketing que podemos considerar, pelo menos, pouco realista (17). por outro lado, quase

um terço dos sujeitos da nossa amostra revelou utilizar substâncias anabolizantes, que é

um valor um pouco superior ao encontrado na literatura para sujeitos que realizam treino

específico para o desenvolvimento da massa muscular (29.5%). seria importante verificar

quais os circuitos que proporcionam a estes indivíduos o acesso a estes produtos proibidos.

o exemplo que por eles é dado, com massas musculares que tendem a ser consideradas

uma referência pelos jovens adultos, pode ser um forte promotor do incremento da procu-

ra de soluções fáceis e esquemas que colocarão, sem dúvida, em causa a saúde de quem

procura através do exercício promover, paradoxalmente, a sua saúde.

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investigação em expertise

decisional em jogos

desportivos:

Paradigmas,métodos

edesenhosexperimentais.

PAlAvRAs chAve:

Expertisedecisional.Jogosdesportivos.

Performance.

AutoRes:

Joséafonso1

Júliogarganta1

MarkWilliams2

isabelMesquita1

1cifi2D,faculdadedeDesportodauniversidadedoPorto,Portugal

2liverpoolJohnMooresuniversity,reinounido

correspondência:Joséafonsoneves.cifi2D,faculdadedeDesportodauniversidadedoPorto.

ruaDr.Plácidocosta,91,4200-450Porto,Portugal([email protected]).

resumo

aexcelênciadesportivatemsidoalvodeaturadapesquisaemciênciasdodesporto,sendoque,

nosjogosdesportivos(JD),temevidenciadoserfortementeinfluenciadapormarcadoresdo

foropercetivo-decisional.nesteartigo,pretende-serealizarumasinopseemtornodospara-

digmasdeinvestigaçãodereferênciasobreatomadadedecisão,nocontextodosJD,calcorre-

andodeseguidaosmétodose,porfim,alcançandoosdesenhosexperimentaismaisutilizados.

osparadigmasdapsicologiacognitivaeecológicasãocontrastadoseosseuscontributose

limitaçõesrealçados.osmétodosmaiscomunssãoesmiuçados,mormenteoregistodemovi-

mentosoculares,pelocontributoquefornecemaoníveldainformaçãorelativaàvisãocentral,

eosrelatosverbais,pelapossibilidadedeseacederaosprocessosdepensamentoefontes

de informaçãoadicionais.aoníveldosdesenhosexperimentaisenfatiza-seacomplexidade

eaespecificidadedastarefas,porquantoapenasconsiderandoestasdimensõesépossível

alcançarumconhecimentoautênticoeprofundosobreaproblemática.emjeitodesíntese,

esteartigoenfatizaapremênciadainvestigaçãonoâmbitodaexpertisepercetivo-decisional

nosJDcontemplarumamultiplicidadedeabordagensemétodos,pressupondoummaiorgrau

detolerânciadiscursiva,deformaaintentarumacompreensãomaisholísticaeecológicados

fenómenosemestudo.

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05research in team sports decisional expertise:

paradigms, methods and experimental designs.

AbstrAct

expertiseinsportshasbeenwidelyscrutinizedbyresearchersinsports

sciences.inteamsports,expertise isstrongly influencedbyperceptive-

decisionalmarkers.inthepresentreview, it isourintentiontosketcha

framework supporting the main research paradigms, methods and ex-

perimentaldesignsarounddecision-making insports.thecognitiveand

ecologic psychology paradigms are contrasted and their contributions

andlimitationsarehighlighted.themostcommonlyappliedmethodsare

examinedindetail,namelytherecordingofeyemovements,duetotheir

contributionwithregardtoinformationpertainingtothefovealvision,and

thecollectionofverbalreportsofthinking,astheyprovideawindowinto

thoughtprocessesandadditionalsourcesofinformation.Withrespectto

experimentaldesigns,taskspecificityandcomplexityareapproached,as

thesedimensionsarecrucialtoattainathoroughandauthenticknowledge

ofhowexpertsmakedecisionsinecologiccontexts.insum,thisreview

emphasizes the need for research in perceptive-decisional expertise in

teamsports tocontemplateamanifoldofapproachesandmethods,as-

sumingagreatdegreeofrespectforatolerantspeech,withthepurposeof

attemptingamoreholisticandecologicunderstandingofthephenomena

underinvestigation.

Key woRds:

Decisionalexpertise.teamsports.Performance.

79—RPcd 10 (2): 78-95

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Introdução

a pesquisa científica no desporto tem devotado uma considerável atenção ao problema de

como melhorar a performance de atletas e de equipas. neste âmbito, uma das principais vias

de investigação relaciona-se com a performance dos praticantes de excelência, ou peritos,

nomeadamente visando o que caracteriza a performance de qualidade superior, bem como

os caminhos que conduzem à mesma. apesar da enorme complexidade envolvendo esta te-

mática, os investigadores têm vindo a abrir caminho e um alargado corpo de pesquisa tem

providenciado um conhecimento consistente acerca destas matérias. Williams e ericsson (87) propuseram a expert performance approach como um quadro de referência privilegiado

para identificar performances de elevado nível e para compreender os mecanismos que lhes

estão subjacentes. os autores propõem uma abordagem em três passos: a) determinar o que

discrimina os peritos dos não peritos, com auxílio de análise de vídeo e filme, análise notacio-

nal e simulações; b) investigar os processos subjacentes, através de métodos de seguimen-

to de movimentos oculares, estabelecimento de perfis biomecânicos e relatos verbais; e c)

examinar o desenvolvimento da expertise, usando perfis de historial de prática desportiva e

estudos de aprendizagem recorrendo a programas de intervenção prática.

o conceito de expertise é multifacetado e, de acordo com Janelle e hillman (43), pode ser

dividido em quatro grandes componentes: fisiológico, técnico, cognitivo (estratégico-tático

e percetivo-decisional) e emocional. apesar de nem todos os peritos serem excecionais

quanto à respetiva habilidade para tomar decisões (78,87), nos jogos desportivos (Jd) a habi-

lidade de rapidamente tomar decisões ajustadas e precisas afigura-se essencial para ace-

der a elevadas performances (31,36). a capacidade de lidar com sucesso com tais exigências

emerge como uma das principais características da expertise em Jd (21,87). neste contexto,

a expertise perceptiva e decisional denota ser uma componente nuclear do desempenho

de excelência nos Jd.

no presente artigo, são recompiladas, inicialmente, questões relevantes que envolvem

o conceito de expertise, com particular ênfase na expertise decisional. seguidamente, são

abordados os principais paradigmas sobre a tomada de decisão (td) — o cognitivo e o eco-

lógico —, buscando não apenas compreender as concernentes implicações para a pesquisa,

mas procurando também estabelecer pontes entre as duas conceções. de facto, a comple-

mentaridade dos dois paradigmas permite uma compreensão mais profunda da td em pro-

cessos da vida ‘real’, tendo em conta que alguns cenários poderão apelar a um acoplamento

perceção-ação quase direto, enquanto que outros proporcionam relações mais complexas

e indiretas entre perceção e ação. posteriormente, o foco da abordagem desta revisão será

direcionado para os métodos mais utilizados neste tipo de investigação, nomeadamente o

seguimento dos movimentos oculares e a recolha de relatos verbais. o registo de movimen-

tos oculares proporciona dados de interesse relativamente à visão central, que está profun-

damente relacionada com a alocação da atenção. Contudo, estes métodos ignoram inputs

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81—RPcd 10 (2)

05da visão periférica, bem como de outras fontes sensoriais (e.g., audição, tato, proprioceção).

neste sentido, os relatos verbais podem assumir-se como complementares, proporcionan-

do dados relevantes relativos aos pensamentos dos praticantes. raramente a investigação

tem combinado estes dois métodos num experimento (60), limitando o nosso entendimento

dos processos decisionais no desporto. Finalmente, serão abordadas questões respeitantes

aos desenhos experimentais mais recorrentemente utilizados e às suas implicações para

a análise dos dados. no âmbito desta problemática, é direcionada particular atenção para

a especificidade da tarefa e sua complexidade, uma vez que os peritos são conhecidos por

serem superiores aos não peritos apenas sob constrangimentos específicos da tarefa, não

se verificando essa superioridade em tarefas fora do âmbito do seu campo de expertise.

neste sentido, espera-se contribuir para a sistematização do conhecimento a propósito da

pesquisa no âmbito da td em contextos desportivos e, paralelamente, sugere-se algumas

estratégias que possam ajudar a balizar futuras pesquisas.

o desAfIo do conceIto

de expertIse no desporto

a expertise relaciona-se com o alcançar repetido e sistemático de performances de elite,

mesmo sob circunstâncias difíceis (23). embora tal possa não ser totalmente verdadeiro em

áreas nas quais um evento criativo assuma uma importância capital — por exemplo, criar

uma obra de arte genial ou produzir uma descoberta científica fundamental —, é definitiva-

mente este o caso no desporto (25). a expertise é específica para cada desporto (54) e, dentro

deste, é específica para cada função e para cada tarefa (48,93).

não obstante, no desporto, a quantidade de experiência, reputação ou mestria de habili-

dades serem tomadas como medida da expertise, a investigação tem claramente demons-

trado que existe apenas uma fraca correlação entre estes indicadores e a performance (13, 20). acresce que a classificação dos peritos tem sido largamente arbitrária, variando

de atletas olímpicos até campeões de desporto escolar, enquanto os novatos vão desde

jogadores com poucos anos de prática até indivíduos sem qualquer experiência prévia na

tarefa (86,88). Consequentemente, alguns supostos novatos podem obter melhores perfor-

mances do que alguns jogadores mais experientes (23). adicionalmente, verifica-se que a

definição de expertise evolui e muda com a idade, contexto e mudanças desenvolvimentais

inerentes ao atleta (29). nomeadamente, o papel desempenhado pelo contexto é de parti-

cular importância, uma vez que o jogador pode ser considerado perito numa equipa, mas

apenas mediano quando jogando numa outra equipa(77).

Uma outra questão consiste em saber se a idade deve ser um fator a ponderar quando se

aborda a temática da expertise. embora a expertise tática pareça ser independente da idade

cronológica dos sujeitos(29,30,38,54), os peritos adultos são reconhecidamente melhores do

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que os peritos mais jovens na elaboração de perfis das características dos adversários e na

monitorização do fluxo de jogo, bem como nos comportamentos antecipatórios (27). acresce

que as estruturas de conhecimento acompanham as melhorias no nível de habilidade e

na complexidade do jogo, motivo pelo qual a idade pode converter-se num fator relevante (28). adicionalmente, embora a função visual e seu hardware não melhore com o nível de

expertise(41), melhora com a idade (92). Com efeito, uma idade superior é acompanhada por

uma melhoria na discriminação intra-sensorial, conferindo maior qualidade à informação

capturada pelo sujeito (30). Contudo, independentemente da idade, os novatos exibem um re-

duzido conhecimento específico da tarefa, atendendo apenas a informação tática superficial

e estabelecendo planos de ação rudimentares (54). mesmo em praticantes de apenas nove

anos de idade, é possível distinguir diferentes níveis de expertise decisional (84).

pelo referido, percebe-se que, embora o nível de expertise discrimine melhor as habili-

dades de td do que a idade (28), os estudos sobre expertise deveriam considerar a interação

da idade com o nível de expertise(84). por outro lado, a expertise deverá ser entendida como

um continuum de performance, isto é, não como uma categoria qualitativamente distinta,

mas enquanto uma gradação que se estende de novato a perito (77).

pArAdIGmAs de InVestIGAção

em tomAdA de decIsão em JoGos desportIVos

paradiGma CoGnitiVo: ConCeitos e limitações

de acordo com as teorias cognitivas, a td em desportos coletivos ocorre em três etapas (51):

a) perceção e análise da situação; b) elaboração duma solução mental; e c) execução duma

resposta motora. implicada neste processo está a necessidade de tomar duas decisões em

cada sequência de ação: uma respeitante ao que fazer, outro ao como fazer (35). todavia, uma

vez que o processamento de informação tem capacidade limitada, tais modelos puramente

cognitivos encontram limitações severas quando se trata de interpretar e explicar a habili-

dade para tomar decisões em situações complexas que ocorrem em curtos lapsos de tempo.

Um procedimento que permite minorar este efeito é o agrupamento ou chunking de blocos de

informação em conjuntos ou padrões significantes, mecanismo pelo qual a carga informacio-

nal pode ser reduzida (54). este processo alivia a carga informacional tanto pela redução do nú-

mero de elementos a analisar e processar (69,74,86), quanto pelo seu maior impacto na memória,

uma vez que situações plenas de significado tendem a ser mais facilmente memorizadas (54,83).

além disso, avanços na psicologia cognitiva consideram que as redes neuronais cere-

brais utilizam duas vias complementares e simultâneas de processamento de informação:

a) uma via em série, de baixo custo, aplicável eficazmente quando existe algum tempo

disponível para tomar uma decisão; e b) uma via paralela, mais intuitiva e subconsciente,

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83—RPcd 10 (2)

05capaz de lidar, em especial, com severos constrangimentos temporais (86). as duas vias são

igualmente importantes, uma vez que o desporto combina situações que exigem reações

rápidas com outras que possibilitam um maior grau de reflexão (45).

apesar da inegável utilidade dos modelos cognitivos, diversas críticas têm-lhes sido di-

rigidas. de acordo com abernethy, Farrow e berry (2), este paradigma tem uma validade

limitada no desporto, devido aos severos constrangimentos temporais e à elevada comple-

xidade espacial e multiplicidade de interações, mesmo considerando o papel do processa-

mento paralelo. adicionalmente, a perspetiva cognitiva baseia-se na separação Cartesiana

entre mente e corpo (37), bem como numa visão computacional da mente (67). tal implica

a necessidade de criar representações internas da informação e sua interpretação, um

procedimento inviável em muitas ações rápidas, como aquelas que tipificam os Jd (11,86).

acresce que, como afirma Capra (14), o pensamento racional puro é um sistema de concei-

tos abstratos com uma estrutura linear, claramente em contradição com a multidimensio-

nalidade e não-linearidade da maior parte das atividades humanas. À luz destas críticas,

têm vindo a ser desenvolvidas perspetivas alternativas, grande parte das quais se filia na

psicologia ecológica.

paradiGma eColóGiCo: ConCeitos e limitações

no desporto, a maioria das decisões são tomadas no decurso da ação (5), e, no caso dos

Jd, estando atleta e objeto de jogo em movimento (86). é conhecido que o movimento, em

si mesmo, gera informação e potencialidades de ação, de tal modo que a perceção gera

movimento, estabelecendo a base para as teorias do acoplamento perceção-ação (34, 86).

esta ligação bidirecional entre perceção e ação foi demonstrada nos estudos de slobounov

et al. (75) e stoffregen et al. (76). trata-se de uma relação complexa de mútua dependência e

causalidade circular entre sistemas percetivos e sistemas de movimento (37,67), no seio da

qual emerge a tomada de decisão (5,90), a qual se vai alterando no decurso da ação(83). estes

acoplamentos perceção-ação são específicos para cada contexto (66)e remetem para outro

conceito nuclear no âmbito das teorias ecológicas — a noção de constrangimento.

os constrangimentos constituem restrições à ação, cujas interações provocam a emer-

gência de ações coordenadas (4,5). na ausência de constrangimentos, os graus de liberdade

para a ação tornar-se-iam infinitos, perdendo o sistema a capacidade de se auto-organizar (86). três tipos de constrangimentos são comummente identificados: organísmicos, envol-

vimentais e de tarefa (37). a título de exemplo, a altura de um indivíduo é um tipo de cons-

trangimento do organismo; as condições de temperatura são constrangimentos do envolvi-

mento; e a situação de jogo em cada jogada ou rally são típicos constrangimentos da tarefa.

para lá desta divisão, beek et al. (7)distinguem duas classes de constrangimentos: a) cons-

trangimentos globais, que são invariantes por natureza; e b) constrangimentos locais, que

variam, mas usualmente não modificam a natureza dos constrangimentos globais.

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a interação dos diversos constrangimentos induz ou inibe certas vias de expressão, emer-

gindo as affordances como possibilidades ou oportunidades para a ação (34). o conceito de

affordance é funcional, sendo um exemplo muito concreto oferecido por Williams et al. (86):

uma bola em voo não é percebida em termos das suas dimensões, cores, densidade, distância

ao alvo, nem qualquer outro atributo físico. em vez disso, é percebida de acordo com as suas

oportunidades para ação — que ações deve ou pode o atleta realizar numa dada situação.

Considerando que as situações táticas, típicas dos Jd, implicam movimento, e que este impõe

mudanças contínuas no campo visual (83), as affordances assumem um carácter dinâmico (34).

de acordo com a psicologia ecológica, apreender as affordances envolve uma sintonização

com as relações funcionais entre o movimento e o contexto específico de performance(4,66,81).

este processo é específico para cada indivíduo, no sentido em que varia na dependência

de constrangimentos inerentes ao organismo (17, 50). em resultado disso, as affordances

assumem uma dupla natureza, tanto objetiva (i.e., elas existem na natureza) como subje-

tiva (i.e., apenas existem em relação a algo ou alguém) (6,32,34). inclusivamente, o mesmo

sujeito pode descobrir múltiplos significados ou possibilidades de ação partindo do mesmo

conjunto de affordances (34). o significado de cada affordance e a sua perceção podem

mesmo mudar à medida que a habilidade do sujeito e a sua competência para a ação evo-

luem (68). assim, embora as affordances estejam presentes no envolvimento, o grau e modo

pelos quais são percebidas são afetados pelas experiências específicas de cada sujeito (33,83). a natureza evasiva das affordances deve, contudo, alertar-nos contra uma posição

dogmática que desconsidere em absoluto o papel de representações internas mediando

perceção e ação.

no alCanCe dUma perspetiVa inteGradora e Complementar

na discussão do fenómeno da td, o meio-caminho pode constituir a abordagem mais con-

trabalançada e profícua. as teorias cognitivas concedem que a cognição é um fenómeno

emergente pervasivamente embebido no nosso corpo — não apenas o cérebro, mas todo

o complexo sistema nervoso-corpo — e no envolvimento (16,27,79). por seu turno, investiga-

dores do domínio da psicologia ecológica advogam que os sistemas biológicos podem, até

certo grau, regular a forma como interagem com os constrangimentos e os manipulam,

amplificando, por essa via, as possibilidades de ação (5). a interação dos constrangimentos

estreita o número de graus de liberdade, mas geralmente não compele a uma opção única.

isto confere espaço para alguma deliberação consciente relativa às escolhas possíveis en-

tre diversos cursos de ação. independentemente do quadro de referência adotado, torna-

-se claro que a maioria das situações aceita uma ampla gama de soluções, todas contendo

incerteza respetivamente ao resultado final. mais ainda, é possível perceber algo e, apesar

disso, escolher não atuar, na medida em que as ações tendem a emergir apenas quando

certos limiares são ultrapassados (45).

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85—RPcd 10 (2)

05outra questão relevante nos Jd referencia-se ao facto de as habilidades técnicas esta-

rem profundamente relacionadas com a perceção (36), uma vez que as soluções mentais

têm de ser traduzidas em soluções motoras(54). assim, uma decisão torna-se apropriada

quando é suscetível de ser aplicada, o que remete para a importância do conhecimento ou

consciência dos recursos e limitações próprios (29,35,36). acresce que as habilidades perceti-

vas dos atletas melhoram à medida que melhoram as suas habilidades motoras (40). Com a

melhora da habilidade motora, os jogadores tornam-se menos dependentes da informação

visual, controlando alguns aspetos das suas ações graças ao controlo propriocetivo (26,62).

Concomitantemente, libertam a visão dum controlo técnico, internamente centrado, para

um controlo tático, externamente centrado, evidenciando, inequivocamente, a relação

existente entre a habilidade motora e a expertise decisional(77).

a complementaridade dos paradigmas ecológico e cognitivo permite elencar alguns in-

dicadores que condicionam a td: a) cada situação possibilita certas ações e a interação

dos diferentes constrangimentos diminui o leque de possibilidades de ação; b) cada jo-

gador tem o seu próprio historial, experiência e representações mentais, que medeiam a

interação dele com o envolvimento e a tarefa; c) dependendo das características de cada

situação, o processo decisional poderá situar-se algures num continuum que vai de um

processo totalmente auto-organizado e espontâneo até um processo estritamente delibe-

rado e racional; d) as tomadas de decisão são sempre específicas da tarefa e do contexto.

mÉtodos nA InVestIGAção

em tomAdA de decIsão em JoGos desportIVos

em qualquer campo de pesquisa científica, a investigação empírica requer o desenvolvi-

mento e aplicação de certos métodos e ferramentas. tal como o martelo pode ser uma

ferramenta adequada para problemas envolvendo pregos, também determinados métodos

e ferramentas são propensos a abrirem portas relacionadas com os processos decisionais.

embora tenha sido desenvolvida ou adaptada uma pletora de métodos para aplicação no

campo da td em desporto, iremos focar-nos nos dois mais usualmente utilizados nesta

área: o registo de movimentos oculares — como porta de acesso para os processos da

visão central —, e a coleta de relatos verbais — oferecendo informações respetivas aos

pensamentos que subjazem certos cursos de ação.

reGisto de moVimentos oCUlares

a td no desporto depende fortemente do input visual (86). todavia, está demonstrado que

a qualidade da perceção não depende apenas, nem fundamentalmente, do hardware, mas

de outros fatores (78,92). a visão é, com efeito, um comportamento direcionado pela atenção (72), processo ativo envolvendo um curso pró-ativo de ação sobre o envolvimento que nos

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rodeia (16,39). Consequentemente, uma ajustada alocação da atenção tende a preceder com-

portamentos motores eficazes (54,90).

por sua vez, a fixação ocular nas pistas relevantes tende a associar-se com a visão cen-

tral ou foveal. a fóvea é especializada em discriminação fina, detalhes e visão a cores,

cobrindo um campo visual de 2-3º (47). por este motivo, a análise da duração das fixações

é usada como indicador da quantidade de informação processada (52, 87). Contudo, as es-

tratégias de procura visual são mutáveis (11,90), permitindo o seu melhor ajustamento aos

constrangimentos singulares colocados por cada situação (52,78).

acresce que os comportamentos de busca visual se apoiam em diversos tipos de mo-

vimentos oculares. os movimentos de perseguição suave seguem objetos ou alvos em

movimento, mas têm uma velocidade máxima de apenas 100º por segundo, tornando-se

inviável utilizá-los para manter o controlo visual dum objeto movido elevadas velocidades,

o caso da bola nos Jd (46,83). Como tal, os movimentos oculares mais frequentes em contex-

tos com elevados constrangimentos temporais são os movimentos sacádicos, movimentos

rápidos que direcionam a fóvea para um novo ponto no espaço, podendo alcançar uma

velocidade de 700º por segundo (9). as sacadas superam as limitações dos movimentos de

perseguição suave, mas apresentam um senão: durante uma sacada, não há captura de

informação visual, fenómeno designado de supressão sacádica (3). teoricamente, fixações

mais prolongadas e menores mudanças no local de fixação favorecerão a recolha de mais

informação do envolvimento, devido a uma menor implicação da supressão sacádica (39,63).

Finalmente, o quiet eye emerge como conceito nuclear na investigação relacionada com

a td. o quiet eye é a última fixação que precede a ação, num ângulo visual de 3º ou menos,

por um período não inferior a 100 milissegundos, constituindo uma sólida medida da qua-

lidade da coordenação percetivo-motora (83). ao quiet eye é atribuído o controlo da atenção

visual(8,42). Quando este se inicia mais cedo e se prolonga por mais tempo, o efeito tende

a gerar uma performance de qualidade superior, algo que vem sendo demonstrado em

múltiplas modalidades desportivas e diversos contextos (8,44,52,91). não obstante, é primor-

dial referir que um quiet eye demasiado prolongado pode prejudicar a performance (8,83),

especialmente em desportos cujo ritmo é externamente regulado (42), como no caso dos Jd.

a investigação centrada na análise dos comportamentos visuais tem evidenciado que os

peritos utilizam padrões de procura visual distintos dos não peritos, e que os primeiros são

mais económicos ou sintéticos do que os segundos. os resultados sugerem que os peritos

exibem uma menor frequência de fixações, mas com superior duração média por fixação e

com maior economia do processo (82), como foi verificado numa meta-análise conduzida por

mann et al. (52). não obstante, em desportos como os Jd, pode emergir a necessidade de

atender a diversas potenciais fontes de informação, pendendo a vantagem, nestes casos,

para estratégias de busca visual que empreguem um maior número de fixações, mesmo

com duração inferior (86). desta forma, uma maior taxa de fixações pode constituir uma

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87—RPcd 10 (2)

05exigência dos constrangimentos da tarefa, sendo expectável que varie de acordo com o

contexto e com o número de localizações contendo potenciais pistas relevantes(63).

as diferenças entre peritos e não peritos estendem-se, ainda, à natureza dos indicadores

observados (71,78). a natureza dos indicadores fixados pelos peritos diferem daqueles para

os quais os não peritos deslocam a sua atenção, como vem sendo demonstrado em vários

estudos (e.g.69,85). investigação conduzida com jogadores de voleibol revelou que os peritos

se focavam mais no braço do atacante, enquanto os novatos observavam mais a cabeça (64). no futebol, roca et al. (70) demonstraram que os jogadores mais habilidosos gastaram

significativamente mais tempo fixando áreas de espaço livre em comparação com os jo-

gadores menos habilidosos. portanto, os atletas peritos são capazes de melhor detetar os

indicadores relevantes e capturar a informação mais substantiva(47,90,87).

em suma, apesar dos comportamentos de busca visual serem importantes no estudo

das relações entre expertise e td, os mesmos não proporcionam uma compreensão cabal

desta relação. nomeadamente, a relação entre fixação visual e locus atencional não é line-

ar(59,78,87). de facto, à medida que o nível de expertise aumenta, os praticantes dependem

menos da visão central, uma vez que capturam mais informação a partir da visão periférica,

bem como de fontes auditivas, tatéis e propriocetivas (7,50,90). portanto, emerge a necessi-

dade das pesquisas considerarem outras possibilidades, apelando a métodos de estudo

complementares, tais como os relatos verbais (56,61,87).

relatos Verbais

as considerações prévias implicam o reconhecimento de que se torna conveniente que a

pesquisa considere fontes complementares de informação acerca do fenómeno da td. neste

sentido, os relatos verbais emergem como um poderoso utensílio suscetível de responder a

tais preocupações, ao providenciar uma janela para os pensamentos dos jogadores. a par-

tir das limitações da pesquisa baseada no seguimento de movimentos oculares, os relatos

verbais têm sido propostos como uma via de acesso aos pensamentos dos praticantes, per-

mitindo a identificação das fontes de informação subjacentes à td (15,56,87). tais procedimen-

tos vêm sendo considerados como complementares aos protocolos de busca visual (61), ao

permitirem o acesso à compreensão dos processos cognitivos mediadores da perceção-ação

(87). embora se questione até quanto os peritos são capazes de aceder conscientemente aos

pensamentos subjacentes à sua performance(2), o facto é que a recolha de relatos verbais

tem demonstrado ser um processo válido de aceder ao conhecimento processual (58).

a pesquisa com recurso a relatos verbais durante a resolução de problemas ou perfor-

mance tem fornecido evidências de que elevados desempenhos estão associados a bases

de conhecimento específicas dum dado domínio, e não a estratégias cognitivas gerais (56).

em resultado disto, as diferenças de performance relacionadas com a expertise são mais

pronunciadas em tarefas específicas do seu domínio de intervenção(57). no âmbito deste

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quadro de referência, os relatos verbais retrospetivos têm sido utilizados para recolher

informação acerca das estruturas de conhecimento que suportam a ação, bem como de

processos de pensamento durante os eventos (56). de acordo com estes autores, os relatos

verbais recolhidos durante a performance numa tarefa revelam que as representações do

problema guiam a interpretação do input e a recuperação de informação relevante mobili-

zada através da memória de trabalho.

DESENhOS REPRESENTATIVOS DA TAREFA

independentemente dos métodos utilizados para recolher os dados necessários, os pe-

ritos revelam uma vantagem superior sobre os não peritos, quando as condições experi-

mentais se aproximam das condições de prática e, portanto, são mais ecológicas (52,53,89).

além disso, os peritos têm respostas de reação motora significativamente mais rápidas do

que os novatos (61,86). acrescenta-se ainda que as diferenças entre peritos e não peritos se

ampliam consideravelmente sob a influência de constrangimentos de tarefa desafiantes e

exigentes (20). estes factos advertem para a necessidade da pesquisa, no âmbito da exper-

tise, utilizar desenhos representativos da tarefa que se procura replicar, traduzindo desta

forma as características essenciais da expertise num dado domínio (24).

Uma das preocupações centra-se, sem dúvida, na especificidade da tarefa. as estra-

tégias de busca visual são específicas da tarefa (86) e, como tal, a estrutura e o significa-

do funcional dos cenários tornam-se essenciais para despoletar a vantagem da memória

específica do perito. num estudo experimental, shim et al. (73) colocaram tenistas numa

tarefa in situ de receção ao serviço. numa primeira situação, os jogadores recebiam ser-

viços vindos dum oponente humano, enquanto que na segunda situação recebiam bolas

enviadas por uma máquina de servir. esta última, ao contrário dos adversários humanos,

não fornece qualquer pista visual relativa à intenção ou à trajetória da bola. Como seria de

esperar, o tempo médio de resposta aumentou na segunda situação. nesta senda, borge-

aud e abernethy (11) conduziram um estudo em voleibol, contrastando jogadores com não

jogadores e considerando que, comparativamente aos não jogadores, os jogadores seriam

peritos. Ficou demonstrado que os jogadores eram melhores a relembrarem as posições

dos atletas nas situações de jogo, mas não quando se tratava de exercícios de aquecimen-

to. os efeitos da especificidade da tarefa sobre as estratégias de procura visual foram

também demonstrados no âmbito do râguebi(66)e do futebol (78).

assim, quando as tarefas experimentais não são específicas, especialmente quando

apelam a distintas estratégias decisionais, as performances ficam comprometidas (21,22,13),

podendo mesmo os peritos apresentar resultados inferiores aos dos novatos (10,82). assim,

tem sido consistentemente suportada a necessidade da pesquisa respeitar a especifici-

dade das tarefas, incluindo uma necessidade de ação, e não apenas um requerimento de

perceção sem necessidade de atuar(1). a pesquisa conduzida em contextos laboratoriais,

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89—RPcd 10 (2)

nomeadamente usando projeção de slides ou de vídeo, tende a negligenciar o carácter con-

tínuo dos estímulos, apresentando-os como entidades discretas, separadas, o que com-

promete, consequentemente o acoplamento perceção-ação (34, 86), devido à remoção do

significado funcional da ligação estímulo-resposta(18). tais limitações são particularmente

evidentes em estudos que recorrem a imagens estáticas ou diapositivos, nos quais a apre-

sentação de estímulos discretos e sem movimento introduzem, artificialmente, a latência

ou tempo de reação, desconsiderando o controlo corrente da visão(49,65). Considerando que

os peritos são mais competentes a anteciparem ações, pode depreender-se que as técni-

cas de imagens estáticas limitarão a sua eventual superioridade (54), não capturando a sua

performance efetiva. para além disso, a apresentação de imagens estáticas fornece uma

perspetiva não representativa do jogo, removendo importante informação contextual (11,

86). desta forma, os vídeos podem oferecer algumas vantagens, mas, mesmo neste caso, a

redução do tamanho da imagem e da sua dimensionalidade (bidimensional e não tridimen-

sional) é propensa a afetar o processamento de informação (52).

os estudos de vision-in-action proporcionam contextos mais realistas, nos quais os jo-

gadores podem atender à evolução das sequências de jogo, fazendo uso de informação

contextual e antecipatória, a partir de probabilidades situacionais (27,83,86). os estudos que

recorrem a este paradigma facilitam também a perceção de profundidade (90). a conjunção

destes argumentos sugere que a pesquisa relativa às estratégias visuais no contexto da td

deverá evoluir no sentido do paradigma de vision-in-action, o qual respeita de modo mais

profundo o acoplamento perceção-ação(83). porém, a tecnologia concebida para apurar o

seguimento ocular não é ainda suficientemente refinada nem adequada para se ajustar

satisfatoriamente a contextos desportivos dinâmicos(86). além disso, mesmo na tradicio-

nal análise de vídeos ou diapositivos, algumas diferenças lógicas entre peritos e novatos

emergem, nomeadamente a maior rapidez dos peritos ao responderem e um maior grau de

precisão das suas respostas (48,64). portanto, embora se admita que apresentam limitações,

estes métodos permanecem válidos e úteis na discriminação de níveis de expertise.

sabendo-se que, em condições experimentais altamente controladas e simplificadas, os

peritos não revelam necessariamente melhores performances do que os novatos (19), a

complexidade da tarefa deverá também ser objeto de atenção na condução de estudos

empíricos(55). Com efeito, esta interfere com as estratégias de busca visual, induzindo di-

ferentes taxas de procura e alterando os locais de fixação (78). por outro lado, a comple-

xidade da tarefa tende a ser linearmente acompanhada por um aumento na duração do

quiet eye, na maioria dos sujeitos mais proficientes(91), acrescendo que os peritos lidam

melhor com estímulos complexos(69). por seu turno, o efeito da expertise, quando avaliado

pela precisão da resposta, manifesta-se apenas, em última análise, nos níveis elevados

de complexidade (28,73). não obstante estes efeitos evidentes da complexidade da tarefa

na performance, esta não interfere automaticamente com o tempo de reação — especial-

05

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mente quando não estão presentes elementos distrativos, ainda que a performance possa

perder qualidade (12). analogamente, é raro os peritos encontrarem os mesmos desafios

sob condições semelhantes (25).

estes considerandos justificam que o estudo da expertise decisional deve procurar simu-

lar, tão precisamente quanto possível, os contextos competitivos reais do desporto (27,55),

replicando a sua complexidade e pressão temporal (69).

consIderAçÕes fInAIs

Constituiu propósito desta revisão sumariar questões nucleares que envolvem o estudo da

expertise decisional nos Jd. pese embora a aparente divergência entre os paradigmas cog-

nitivo e ecológico, admite-se que ambos aportam contribuições fortes para a compreensão

da td em contextos de prática desportiva. embora a perceção direta possa ser um facto

em determinadas situações, a maioria dos cenários desportivos envolve perceção indire-

ta, onde o tempo e a complexidade induzem uma decisão mais imediata ou mais mediata.

independentemente do fator predominante, o conhecimento e a sintonização aos cons-

trangimentos permitem aos jogadores explorarem eficazmente cada situação, diminuindo

as suas opções para um número reduzido e exequível. também é claro que as habilidades

decisionais dependem dos constrangimentos físicos e técnicos exibidos pelos jogadores.

Finalmente, os processos envolvidos na td são sempre específicos da tarefa e do contexto,

algo que se deve refletir nos desenhos experimentais.

a visão constitui, talvez, a mais relevante fonte de informação no desporto. a investi-

gação neste domínio tem revelado diferenças relacionadas com a expertise ou nível de

habilidade na taxa de procura visual e nas localizações de fixação, bem como no quiet eye.

não obstante, a natureza destas diferenças varia de acordo com a modalidade praticada

e com a natureza da tarefa apresentada. tal explica a multiplicação e o desdobramento

das pesquisas de acordo com a disciplina desportiva e a tarefa, e recomenda prudência

quanto à extrapolação de resultados de um contexto para outro, bem como no que respei-

ta à generalização dos mesmos. mais ainda, os conhecimentos atinentes à visão central

não são suficientes para se entender plenamente a forma como os jogadores fazem uso

da informação disponível, para além de não considerarem informações que estão fora do

domínio da visão central.

neste contexto, os relatos verbais são encarados como uma via para os pensamentos

dos praticantes, possibilitando o acesso a fontes de informação adicionais. recentemente,

começaram a figurar em estudos que os combinam com o seguimento ocular(60). os rela-

tos verbais proporcionam uma janela para os processos cognitivos mediando perceção e

ação (87). refira-se que as diferenças relacionadas com a expertise são mais pronunciadas

em tarefas específicas dum dado domínio (56). no âmbito deste quadro de referência, os

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91—RPcd 10 (2)

relatos verbais retrospetivos têm sido utilizados para recolher informação acerca dos pro-

cessos subjacentes à td numa dada situação.

Como se pode constatar, independentemente dos paradigmas e métodos utilizados na

pesquisa, a performance superior dos peritos parece emergir apenas sob condições espe-

cíficas do seu domínio. por isso, as tarefas experimentais deverão ser específicas. entre

as sugestões possíveis, a investigação deverá considerar seriamente o paradigma vision-

-in-action(83), preferencialmente em estudos de terreno. neste âmbito, a complexidade da

tarefa deverá aproximar-se, tanto quanto possível, das condições naturais. no entanto, li-

mitações relativas ao tempo de investigação e a constrangimentos de índole tecnológica

ainda forçam os investigadores a recorrerem a soluções que obstam a necessidade de

ecologizar as avaliações.

em suma, no sentido de se aceder a um conhecimento mais profundo, o caminho da

investigação deverá apoiar-se numa multiplicidade de métodos e abordagens, fornecendo

uma compreensão mais holística dos fenómenos estudados e um maior grau de tolerância

discursiva; o campo da expertise percetivo-decisional não deverá constituir exceção. neste

contexto, a abordagem da expertise em contextos desportivos reclama uma pesquisa plu-

ral, combinando diferentes e complementares paradigmas e métodos e considerando, em

particular, a complexidade e a especificidade das tarefas visadas.

AGrAdecImentos

este trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e tecnologia — ministério da Ciência,

tecnologia e ensino superior de portugal (sFrh/bd/45428/2008).

05

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da participação ao abandono

da prática desportiva.

PAlAvRAs chAve:

Crianças e jovens. participação no desporto.

benefícios. abandono. enquadramentos

conceptuais.

AutoRes:

antónio manuel Fonseca 1

Cláudia dias 1

nuno Corte-real 1

1 CiFi2d, Faculdade de desporto Universidade do porto, portugal

Correspondência: antónio manuel Fonseca. CiFi2d, Faculdade de desporto da Universidade

do porto. rua dr. plácido Costa, 91, 4200-450 porto, portugal ([email protected]).

resumo

reconhecendo o impacte positivo exercido pela prática desportiva regular no desenvolvi-

mento harmonioso e equilibrado das crianças e dos jovens, este artigo procura, a partir de

uma revisão narrativa da literatura existente neste domínio, não só enfatizar os benefícios

daquela prática, mas também alertar para a necessidade de se melhorar a compreensão

sobre o fenómeno do abandono desportivo, o qual parece atingir uma dimensão demasia-

do elevada. nesse sentido, são discutidas questões relativas à necessidade da correcta

identificação da sua magnitude bem como das variáveis que lhe estão subjacentes, convo-

cando-se para o efeito alguns dos enquadramentos conceptuais considerados como mais

úteis neste contexto.

Page 97: 2010/2 - Faculdade de Desporto da Universidade do Porto · da eficácia do ataque no Voleibol feminino juvenil de elevado nível de rendimento ... métodos e desenhos experimentais

06From the participaion

to the dropout of sport.

AbstrAct

recognizing the positive impact of a regular sport practice in the harmo-

nious and balanced development of children and youth, this paper seeks,

through a narrative review of the literature of this area, not only empha-

size the benefits of that practice, but also warns to the need to improve

the understanding of the phenomenon of the dropout of sports, which

seems to have a size too large. accordingly, are discussed issues relat-

ing to the need for proper identification of its magnitude as well as the

variables that underlie it, convening to this effect some of the conceptual

frameworks considered most useful in this context.

Key woRds:

Children and youth. sport participation. benefits. dropout. Conceptual

backgrounds.

97—RPcd 10 (2): 96-114

Page 98: 2010/2 - Faculdade de Desporto da Universidade do Porto · da eficácia do ataque no Voleibol feminino juvenil de elevado nível de rendimento ... métodos e desenhos experimentais

dos benefícIos

dA prátIcA desportIVA

actualmente, constitui-se como um dado inegável e incontornável o reconhecimento dos

múltiplos benefícios inerentes a uma actividade desportiva regular e sistemática dos indi-

víduos em geral, e das crianças e dos jovens em particular (20, 27, 70, 88). na verdade, tanto a

comunidade científica especializada no âmbito do desporto infanto-juvenil como a popu-

lação em geral coincidem na convicção de que o contexto desportivo é um cenário apro-

priado para o desenvolvimento físico, mas também para o fomento de hábitos saudáveis,

valores morais ou recursos psicossociais (7).

no plano físico e biológico, os defensores da actividade desportiva destacam que esta é

geralmente acompanhada de diversos benefícios, relacionados com a aquisição de hábitos

motores, aumento da capacidade física, força e resistência e desenvolvimento muscular e

ósseo (73). estudos realizados por diversos investigadores demonstraram que a actividade

física (ainda que em diversas formas e com diferentes níveis de intensidade) se associa,

por exemplo, a um decréscimo nos riscos de cancro no cólon (44), de ataques súbitos (56), da

hipertensão (77), ou de doenças cardíacas (59). para blair e colaboradores (4), a aptidão física

está mesmo associada a mais baixos índices de todas as causas de mortalidade.

estes dados são tanto ou mais relevantes se nos consciencializarmos, por exemplo, que

têm vindo a ser encontradas evidências no sentido de que, de uma forma geral, as doenças

coronárias e hipertensão têm origem na infância e adolescência. por outro lado, numa altu-

ra em que o aumento da prevalência da obesidade em crianças e adolescentes, geralmente

associado a um estilo de vida sedentário, se torna cada vez mais comum nas sociedades

modernas, a prática regular e sistemática de uma actividade desportiva pode também ser

determinante no controlo do peso dos indivíduos. a este propósito, importa salientar que

diferentes investigações têm salientado que todas as causas de mortalidade e doenças

coronárias na infância e adolescência assumem um significado mais elevado quando asso-

ciadas a excesso de peso na infância (51).

no entanto, as vantagens do envolvimento na prática desportiva não se esgotam nas

melhorias físicas ou biológicas que daí podem advir. Com efeito, a actividade desportiva

promove também benefícios a nível psicológico e emocional, sendo diversos os estudos

que identificam a existência de uma relação entre aquele tipo de actividade física e a saúde

mental das pessoas nele envolvidas, designadamente no que concerne a uma redução de

sintomas de depressão, stress e ansiedade (16, 20, 50, 52).

no caso das crianças e dos jovens, as vantagens psicológicas da participação no despor-

to podem ser ainda mais profundas e penetrantes. efectivamente, é durante este período

da vida que são desenvolvidas importantes atitudes, por exemplo, acerca da realização,

da autoridade, da conformidade, da subordinação, da responsabilidade, do compromisso

pessoal e da persistência em face da adversidade para atingir objectivos a longo prazo.

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99—RPcd 10 (2)

06além disso, o desporto ajuda a desenvolver competências de autocontrolo e autoaceitação,

ensinando as crianças e jovens a lidarem igualmente com o sucesso e com o fracasso,

promovendo o desportivismo e o respeito pelos outros, e sugerindo formas alternativas de

competir e cooperar com outras pessoas. do mesmo modo, refira-se o seu enorme poten-

cial no que respeita ao fomento da autoconfiança, autoconceito e autoestima, assim como

à promoção da capacidade de tomada de decisões (42, 80, 81, 82, 83, 84).

importa igualmente não esquecer que, na medida em que muitos dos requisitos sociais e mo-

rais para a participação no desporto são similares aos requeridos para um correcto e desejável

funcionamento das pessoas em sociedade, o desporto constitui, ou pode constituir, uma excelen-

te oportunidade educativa para o desenvolvimento social das crianças e adolescentes (73).

a este propósito, smith e colaboradores (83) afirmam que a actividade desportiva se pode

definir como uma situação de vida em miniatura, em que os jovens atletas aprendem, atra-

vés da vitória e do fracasso, a lidarem com realidades que irão enfrentar na sua vida futura.

praticando desporto, as crianças e adolescentes desenvolvem igualmente maiores capaci-

dades para enfrentar o stress, tolerar a frustração e adiar a obtenção de recompensas; si-

multaneamente, podem aprender e desenvolver competências de interacção social, sendo

um contexto onde a unidade familiar pode ser reforçada (5, 79, 84).

ainda assim, será avisado reconhecer que a participação no desporto, por si só, não

resulta necessariamente no desenvolvimento de características sociais positivas; estas

consequências só se tornarão realidade se derivadas de experiências desportivas que pro-

movam experiências positivas e minimizem experiências negativas (73).

da análise da literatura e investigação mais especializada avultam igualmente evidên-

cias de que a participação no desporto tem implicações positivas no desenvolvimento

educacional, parecendo, ao contrário de alguma crença mais generalizada, encorajar as

crianças a permanecerem mais tempo na escola e ajudá-las a tornarem-se melhores es-

tudantes, quer no ensino básico, quer no secundário — uma contribuição que não se pode

minimizar, num mundo em que ocorrem frequentes mudanças sociais e económicas que

colocam uma grande ênfase nas competências de aprendizagem e adaptação (65). isto não

significa que a prática desportiva torne os estudantes mais “espertos” ou “inteligentes”,

mas sim que contribui para que eles se tornem mais produtivos, porquanto se tornam mais

fortemente motivados, mais organizados e eficazes em tarefas de desempenho e reali-

zação, competências essas que podem ser transferidas rapidamente para outros papéis

sociais, como o de estudante. a médio ou longo prazo, e de um ponto de vista económico,

estudantes produtivos tornar-se-ão com maior probabilidade adultos produtivos (20).

por último, não obstante reconhecermos não ser consensual a assunção de que a partici-

pação no desporto contribui para o desenvolvimento moral, consideramos importante des-

tacar a afirmação de seefeldt e ewing (73) de que o contexto do desporto se caracteriza pela

existência de um elevado potencial para esse desenvolvimento, essencialmente através das

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interacções sociais associadas a um envolvimento e participação regular no desporto. esta

afirmação é apoiada por estudos ao nível da delinquência, que encontraram associações ne-

gativas entre a prática desportiva e comportamentos delinquentes e “desviantes”, menos

incidência de tabaco, drogas, gravidezes não desejadas e abandono escolar (8, 71, 75 76).

adicionalmente, os programas que incluem actividades desportivas podem também con-

correr para o desenvolvimento moral, porquanto constituem importantes oportunidades

para o desenvolvimento da liderança, para o desenvolvimento do sentido de comunidade

e pertença (41), dos valores de cidadania e, considerando o desejável respeito pela ética

de fair play e de adesão imparcial às regras, promovem o respeito pelos outros, especial-

mente para com os que provêm de diferentes enquadramentos socioculturais ou possuem

diferentes capacidades (20).

dA pArtIcIpAção no desporto

são, pois, múltiplas e diversificadas as vantagens associadas a um pronunciado envolvi-

mento no desporto e a um estilo de vida fisicamente activo, razão pela qual podem consi-

derar-se como naturais e pouco surpreendentes os resultados de diversas investigações

nacionais e internacionais a comprovar uma adesão maciça, empenhada e persistente das

crianças e jovens à prática desportiva (10, 24, 40, 48, 49, 89).

roberts afirmou, em 1992, que a participação das crianças e dos jovens em alguma

forma de desporto organizado atingia o impressionante número de 200 milhões, uma afir-

mação que parece ser corroborada por dados apresentados em diferentes países.

assim, por exemplo, nos eUa foi referido, durante a última década do século passado,

que aproximadamente metade das crianças e jovens até aos 18 anos participavam em

programas desportivos organizados nas suas comunidades (73) e muitos outros milhões em

programas desportivos extracurriculares (80). na mesma altura, Weiss e hayashi (94) referi-

ram que 40 milhões de crianças e jovens norte-americanas entre os 6 e os 18 anos esta-

vam envolvidos em programas desportivos, escolares e comunitários chegando brustad (6) a afirmar que 8 em cada 10 das crianças e jovens daquele país participavam, em algum

momento das suas vidas, em actividades desportivas.

na europa, os números disponíveis são igualmente expressivos. enquanto em espanha

53% dos jovens praticavam desporto federado e 95% desporto escolar (60), na bélgica os

dados existentes apontavam para um envolvimento no desporto de 60% dos jovens até aos

18 anos (19), percentagem ainda assim inferior aos 70/ 80% reportados no caso da ingla-

terra (95). na mesma linha dos dados anteriores, em França, dos 14 milhões inscritos em

federações desportivas em 1997, praticamente 90% tinham idades compreendidas entre

os 14 e os 17 anos (34).

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101—RPcd 10 (2)

06dados relativos a um elevado envolvimento das crianças e dos jovens no desporto foram

igualmente divulgados nos países nórdicos: assim, foram indicados valores na ordem dos

70 a 80% na dinamarca (39) e dos 82% na Finlândia (47), enquanto na suécia, foi referido que

aproximadamente 66% dos rapazes e 50% das raparigas entre os 7 e os 20 anos participa-

vam em actividades desportivas (22).

no que concerne especificamente a portugal, alguns dos escassos dados existentes

apontavam no sentido de que a participação desportiva dos jovens com idades entre os 15

e os 19 anos se situava na ordem dos 50%, sendo que 34% dos sujeitos se encontravam

envolvidos no desporto organizado federado (48).

no entanto, será o panorama da participação das crianças e dos jovens em actividades

desportivas tão “dourado” quanto parece decorrer de todas as estatísticas anteriormente

referidas? para além disso, será aquela participação suficientemente regular e sistemá-

tica para que eles possam usufruir de todos os benefícios, anteriormente mencionados,

associados a essa participação?

Com efeito, o facto de estes dados, de uma forma geral, serem provenientes de estudos

transversais e não longitudinais, apenas nos permite constatar que eram muitos os que,

na altura a que se reportaram os referidos estudos, praticavam desporto, mas não nos

permite saber se aquela prática se prolongou — e prolonga — no tempo, de forma intensa

e regular; e essa é, efectivamente, a questão fundamental.

na verdade, parece quase desnecessário recordar que os benefícios decorrentes da prá-

tica desportiva apenas ocorrerão se, para além de o contexto em que se desenvolve a

referida prática reunir em si as condições necessárias para a sua consecução, as crianças

e os jovens a realizarem durante um período mínimo de tempo. não é com uma prática

desportiva de uma semana, um mês, ou mesmo um ano, que as crianças e os jovens vão

beneficiar, na medida do possível e do desejável, de todas as vantagens potencialmente

decorrentes de uma prática desportiva regular, sistemática e continuada.

do AbAndono do desporto

logo, parece-nos ser fundamental conhecer o verdadeiro número de crianças e jovens

que decidem abandonar uma modalidade desportiva cuja prática tinham iniciado normal-

mente com elevado entusiasmo, por vezes pouco tempo antes, bem como, naturalmente,

as razões que estiveram subjacentes a essa decisão. na verdade, ainda que sejam relati-

vamente escassas as investigações sobre os factores e processos sociais e psicológicos

relacionados com este fenómeno (36), são várias as evidências empíricas e científicas no

sentido da existência de um número significativo de crianças e jovens que decidem aban-

donar a prática desportiva, em aparente contradição com o interesse inicial manifestado

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pelo desporto. assim sendo, em nossa opinião, a resposta a esta questão deve constituir-

-se como uma prioridade na agenda de preocupações de todos os interessados e envolvi-

dos no desporto infanto-juvenil.

no que concerne a estatísticas disponíveis sobre este fenómeno, podemos destacar, por

exemplo, as estimativas de roberts e Kleber (62) no sentido de que 80% das crianças ame-

ricanas entre os 12 e os 17 anos abandonavam os programas desportivos organizados

em que estiveram envolvidas. outras investigações no mesmo país forneceram suporte

para aquelas estimativas, apontando para que a percentagem de jovens que abandonava o

desporto até aos 17 anos se aproximava dos 80%, com uma terça parte a fazê-lo após os

12 anos (32). no mesmo sentido, o National Center for Education Statistics (53) identificou na

faixa etária dos 14 aos 17 anos a existência de um declínio no número de jovens envolvidos

no desporto, em contraste com o verificado com as crianças e os jovens com idades com-

preendidas entre os 5 e os 13 anos de idade.

também na austrália, um estudo sobre o abandono do desporto por parte de jovens aus-

tralianos na sua transição do ensino secundário para a universidade (85) revelou que 72%

dos inquiridos tinham cessado a sua participação desportiva em algum momento das suas

vidas, ainda que somente 26% tivesse abandonado o desporto de forma completa e defini-

tiva; os restantes 46% tinham terminado a sua implicação num determinado desporto, mas

estavam envolvidos noutro diferente.

no continente europeu, os dados são relativamente semelhantes. assim, na irlanda,

num amplo estudo com mais de 20 mil crianças e jovens, dos quase 7 mil que disseram

já terem praticado pelo menos um desporto 20% tinham abandonado completamente a

prática desportiva (46), sendo estes números similares aos encontrados na bélgica (19). mais

a norte da europa, concretamente na dinamarca, investigações realizadas nas modalida-

des da ginástica e natação apontaram, uma vez mais, para uma elevada taxa de abandono

entre as crianças e jovens: enquanto a natação era uma modalidade praticada por uma em

cada cinco crianças entre os 7 e os 9 anos, mas somente por um em cada 20 jovens de 13/

15 anos, na modalidade de ginástica, dois terços dos praticantes entre os 7 e os 9 anos, já

não o eram aos 13/ 15 anos de idade (39).

os resultados de alguns estudos longitudinais realizados em França são também fonte

de alguma apreensão no que respeita ao fenómeno do abandono. Uma investigação de na-

tureza longitudinal desenvolvida por Guillet e sarrazin (35) no âmbito do andebol feminino

revelou que 50% das atletas que tinham começado a praticar a modalidade entre os 9 e

os 12 anos abandonavam essa prática 3 a 4 anos depois. de forma semelhante, uma outra

investigação longitudinal, durante 10 anos, em atletas com idades compreendidas entre

os 13 e os 15 anos, revelou taxas de abandono de 50% 2 a 3 anos após o início da prática,

percentagem que se elevava aos 75% após 5 anos e meio (34). ainda neste país, mas na

modalidade do boxe, um estudo longitudinal de 5 anos realizado por trabal e agustini (87)

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103—RPcd 10 (2)

06identificou uma taxa média de abandono na ordem dos 54%. Finalmente, uma outra inves-

tigação longitudinal, também ao longo de 5 anos, com praticantes de equitação, concluiu

que 66% dos atletas abandonavam antes dos 8 anos de prática, cifrando-se a taxa anual

média de abandono nos 40% (12, 13).

embora uma primeira leitura destes dados concorra naturalmente para a noção de que

o fenómeno do abandono do desporto por parte das crianças e jovens assume contornos

claramente elevados, importará, em nosso entender — não negando que são obviamen-

te muitos os que decidem abandonar a prática desportiva, com os naturais prejuízos daí

decorrentes —, levantar alguma reserva relativamente à efectiva e exacta dimensão das

taxas de abandono que normalmente são avançadas a esse respeito.

Com efeito, uma questão central que se coloca neste domínio consiste no facto de a maior

parte das investigações publicadas não precisar o que os seus autores entendem por aban-

dono (34, 69). Consequentemente, a partir da análise dos referidos estudos não é possível saber

se os jovens que indicaram ter cessado a prática desportiva o fizeram em relação ao despor-

to em termos gerais ou relativamente a uma determinada modalidade e essa é uma distinção

importante, atendendo a que “enquanto o abandono total da prática desportiva por parte dos

jovens é claramente um desfecho que devemos procurar evitar, atendendo fundamental-

mente às claras consequências negativas que daí advêm para eles, o mesmo não se passa

necessariamente com o abandono de uma determinada modalidade desportiva quando a

esse abandono se sucede a prática de uma outra modalidade desportiva, ou até da mesma

modalidade desportiva mas num clube ou num contexto distinto do anterior” (p. 269) (27).

Como anteriormente sublinhámos, quase todos os estudos realizados até ao momento

foram de natureza transversal, e não longitudinal, centrando-se essencialmente na análi-

se da variação do número de inscrições num clube ou modalidade de um ano para o outro,

razão pela qual são úteis para determinar a taxa de reinscrição das crianças e dos jovens

num dado clube ou modalidade, mas não a taxa real de abandono do desporto (27).

a uniformização dos critérios estabelecidos pelos investigadores para definirem o con-

ceito de abandono da prática desportiva, que funcionarão posteriormente como estrutura

de enquadramento para a definição de objectivos mais específicos e potencialmente mais

comparáveis para os estudos a desenvolver neste âmbito, constitui assim um passo essen-

cial para o aprofundamento do conhecimento relativo a este fenómeno.

nesse sentido, procurando contribuir para a resolução desta questão, Gould (32) propôs

que o abandono desportivo seja considerado em função de um continuum, que inclua o

abandono de uma actividade desportiva, a mudança para outra actividade e o abandono

total da participação desportiva.

outra questão importante relaciona-se com o controlo da decisão de abandonar a prá-

tica desportiva. de facto, embora em certos casos o abandono esteja associado a causas

incontroláveis, como as lesões, ou mesmo o conflito com os estudos (32, 57), considerando-

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-se a ocorrência de um abandono relutante (43), noutros casos o abandono do desporto

decorre da acção de razões controláveis, sendo este tipo de abandono mais frequente e

mais merecedor de atenção porquanto a compreensão do que lhe está subjacente poderá

fornecer informação bastante útil no sentido da sua prevenção, bem como, em concomi-

tância, na promoção de uma maior perseverança por parte dos jovens relativamente à sua

prática desportiva.

petlichkoff (57) identificou dois tipos de abandono controláveis pelo desportista: o abando-

no protagonizado por aqueles que ainda estão satisfeitos com a sua experiência desportiva

mas cujo interesse por outras actividades os “obriga” a deixarem a sua actividade — de-

signado de abandono voluntário — e o abandono dos desportistas que decidem parar a

prática devido, por exemplo, a uma elevada pressão percebida, agressividade do treinador

ou falta de êxito, podendo estes experimentar uma afectividade negativa que os torne mais

susceptíveis de suspenderem não só a prática da modalidade desportiva praticada mas,

inclusivamente, todo o tipo de prática desportiva.

ainda em relação a este assunto, Guillet e sarrazin (34, 66, 69) definiram cinco tipos de aban-

dono: i) abandono forçado (correspondente ao abandono não controlado pelos indivíduos;

por exemplo, devido a lesão); ii) abandono por curiosidade (correspondente ao abandono

de indivíduos que só se envolveram na prática desportiva para experimentarem e por pou-

co tempo); iii) abandono contra o coração (correspondente ao abandono de indivíduos que,

embora satisfeitos com a sua actividade desportiva, a suspendem por falta de tempo; por

exemplo, devido a obrigações familiares ou laborais ou porque se envolvem noutras activi-

dades mais apelativas; iv) abandono por descontentamento (correspondente ao abandono

de indivíduos cuja actividade desportiva não vai ao encontro das suas necessidades); e

v) abandono por esgotamento/ burnout (correspondente ao abandono de indivíduos cuja

prática desportiva — devido às exigências e contexto em que se desenvolve — lhes origina

um significativo cansaço físico ou emocional; por exemplo, devido a uma elevada ênfase

na vitória ou pressão dos treinadores, pais ou dirigentes). de destacar ainda que, de acordo

com sarrazin e Guillet (69), estas duas últimas categorias deveriam constituir-se como o ob-

jectivo principal da investigação destinada a incentivar a fidelidade dos jovens praticantes.

no que concerne às razões que subjazem à decisão das crianças e jovens abandona-

rem a prática desportiva, as relativamente escassas investigações realizadas até ao mo-

mento, adoptando uma abordagem eminentemente descritiva, destacaram que, de uma

forma geral, as crianças e jovens referem que as que maior impacte exercem na sua de-

cisão de abandonar o desporto são “a falta de prazer”, a “(in)competência percebida”, a

“ênfase excessiva na competição”, as “lesões” (14, 15, 30, 33, 43, 58, 74), o “conflito de interesses”

ou ”interesse por outras actividades”, o “aborrecimento”, os “conflitos com o treinador”,

o “fracasso na melhoria das competências”, ou ainda o “não jogar tempo suficiente” (69, 93).

adicionalmente, da análise dos resultados dos estudos realizados emerge ainda a cons-

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tatação de que a decisão das crianças e jovens abandonarem o desporto não surge como

consequência da acção de uma razão isolada mas sim da acção de um conjunto mais ou

menos diversificado de razões.

dos enquAdrAmentos conceptuAIs

todavia, não obstante o interesse e mesmo a importância do conhecimento das razões adu-

zidas pelas crianças e jovens para cessarem a sua actividade desportiva conseguido atra-

vés da realização dos estudos anteriormente referidos, os quais de resto convém continuar

a desenvolver, importa sublinhar aqui igualmente algumas das críticas que lhes têm sido

endereçadas. por exemplo, a circunstância de nalguns estudos os investigadores terem

recorrido a instrumentos elaborados por eles próprios integrando um elenco previamente

determinado de potenciais razões para o abandono da prática desportiva relativamente às

quais foi solicitado às crianças e jovens para indicarem o impacte assumido na sua decisão

de abandonar o desporto, constitui-se como alvo de crítica a partir do momento em que o

elenco de razões submetidas ao escrutínio das crianças e jovens nem sempre se caracte-

riza pela necessária abrangência da realidade em estudo.

do mesmo modo, a circunstância de o agrupamento das diferentes razões ser coman-

dado fundamentalmente por critérios de natureza estatística e não conceptual, decorren-

tes do recurso a técnicas estatísticas como a análise factorial exploratória, e de serem

fundados nestes resultados os modelos teóricos desenvolvidos posteriormente para uma

análise mais profunda do fenómeno do abandono do desporto infanto-juvenil é igualmente

uma estratégia criticável. a acrescer, o problema de falta de estandardização e especifici-

dade dos instrumentos utilizados nos diversos estudos realizados complica enormemente

o estabelecimento de comparações entre estudos (11).

assim sendo, o facto de a maior parte das investigações ter uma natureza descritiva, ateórica

e retrospectiva não tem permitido que o conhecimento neste domínio progrida de modo mais

significativo, pois os seus resultados reportam-se a razões do abandono intuitivas, subjectivas

e superficiais (36, 69). ou seja, investigar as razões referidas por crianças e jovens como estando

na origem da sua decisão de abandonar a prática de uma modalidade desportiva tem interesse,

mas não permite compreender plenamente que variáveis e processos diferentes conduzem

às razões apontadas, bem como pode inclusivamente induzir-nos em erro relativamente às

reais razões que levaram os indivíduos a abandonar a prática desportiva. por exemplo, a razão

“sentia demasiada pressão” pode corresponder quer à atitude do treinador e dirigentes do clu-

be exortando continuadamente os jogadores à vitória, quer à pressão dos pais que obrigam o

seu filho a praticar desporto contra a sua vontade. por outras palavras, diferentes variáveis e

processos podem conduzir às mesmas razões superficiais de abandono (69).

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deste modo, para ultrapassar as limitações inerentes ao conhecimento decorrente da

análise das habitualmente designadas de “razões de superfície”, importa complementar

este tipo de informação sobre o abandono desportivo com outra informação, como seja a

que se relaciona com os factores e processos que promovem ou impedem a prática des-

portiva, o que implica a necessidade de desenvolver investigação baseada em enquadra-

mentos conceptuais robustos e reconhecidamente úteis (27).

na verdade, para melhor compreender os factores e processos psicológicos envolvidos

no fenómeno do abandono da prática desportiva e promover e aumentar os níveis de ac-

tividade física das crianças e jovens, é crucial conhecer o mais profundamente possível

os mecanismos relacionados com a motivação para a prática desportiva, já que estas são

duas realidades que, embora distintas, estão intimamente relacionadas (11). assim sendo, a

motivação pode ser considerada uma variável chave quando se tenta predizer a participa-

ção e o abandono no desporto (91).

até à data, os investigadores que se têm debruçado sobre a temática da motivação nos

mais variados contextos têm elegido como suas prioridades diversas questões mais ou

menos relacionadas (e.g., motivos para a participação; motivação intrínseca; expectativas

de autoeficácia e de resultado; objectivos de realização; climas motivacionais; concepções

sobre a competência; autorregulação do comportamento), recorrendo para o seu estudo a

distintos enquadramentos conceptuais.

no caso da investigação desenvolvida em contextos desportivos, os investigadores co-

meçaram por se preocupar com a determinação dos motivos que levam os indivíduos à

prática de uma determinada modalidade desportiva (1, 2, 3, 17, 25, 31), conhecimento esse que

pode contribuir igualmente para um melhor conhecimento do fenómeno do abandono, por-

quanto os motivos para a participação e para o abandono se constituem como a cara e a

coroa da mesma moeda, isto é, da implicação ou compromisso com o desporto ou da sua

desvinculação ou descomprometimento (11).

de uma forma geral, a literatura que resultou dos estudos sobre os motivos que levam

os jovens a praticarem desporto, destaca a existência de um leque alargado de motivos im-

portantes para as crianças e jovens praticarem desporto, de entre os quais poderemos re-

alçar os relacionados com o desenvolvimento e a demonstração de competência, a saúde

e a forma física, a afiliação e o prazer e o divertimento (25, 27). para além disso, foi também

evidente que, geralmente, os jovens apresentam como razão para a sua prática desportiva

uma diversidade de motivos e não apenas um único (25, 26, 28), divergindo os mesmos quando

analisados em função de variáveis como o sexo, a idade, ou a modalidade ou tipo de des-

porto praticado pelas crianças e jovens (25, 45).

no entanto, considerando as limitações e desvantagens que o estudo isolado e ateórico

dos motivos para a prática implicava em termos do desejável aprofundamento do conhe-

cimento no domínio da motivação, a investigação rapidamente evoluiu para uma aborda-

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gem baseada em enquadramentos conceptuais previamente definidos, normalmente ali-

cerçados numa matriz de natureza sociocognitiva, colocando a ênfase no modo como os

comportamentos dos indivíduos em geral, e das crianças e dos jovens em particular, são

influenciados pela sua percepção de competência (38) e pelos critérios de sucesso relativa-

mente a uma determinada actividade (21, 54, 55, 86).

a teoria da motivação para a competência de harter (37), que tem raízes no trabalho de

White (96), prediz que o que move um indivíduo a realizar uma tarefa e envolver-se em de-

terminadas actividades é a necessidade de se sentir competente, pelo que ele tratará de

dominar a situação e de pôr à prova a sua eficácia e mestria; porém, é necessário que essa

situação/ actividade seja valorizada pelo indivíduo. o êxito nessas situações é acompanha-

do de afecto positivo, promoção da autoestima e de uma sensação de controlo, que incre-

menta a motivação dos indivíduos para a prática da actividade em questão.

no contexto desportivo, e relativamente à temática do abandono da prática desportiva,

esta teoria prediz que os jovens desportistas que se orientam para a prática de uma mo-

dalidade e nela persistem têm percepções de competência mais elevadas do que os que a

abandonam (9, 23, 63). dito de outra forma, o abandono ocorrerá quando os participantes se

percebem a si próprios como sendo detentores de reduzida competência.

a percepção de competência é um construto igualmente importante na teoria que se

centra nos objectivos de realização dos indivíduos (21). o pressuposto fundamental desta

teoria é que, em contextos de realização, o principal objectivo dos indivíduos consiste em

demonstrarem uma elevada competência e evitarem demonstrar uma competência débil,

a si e/ ou aos outros. esta perspectiva destaca também que o modo como as pessoas defi-

nem o sucesso não é uniforme, o que as leva a avaliarem de forma diferente a competência.

assim, temos que uma das principais formas de definir sucesso e avaliar a competência

— habitualmente designada como orientação para a tarefa — decorre do recurso a critérios

de natureza autorreferenciada, enfatizando o progresso e a melhoria individual (por exem-

plo, “melhorar o rendimento pessoal” ou “completar uma tarefa com êxito”), enquanto

uma outra — habitualmente designada como orientação para o ego — decorre do recurso

a critérios normativos ou socialmente comparativos, destacando a comparação com o ren-

dimento dos outros (por exemplo, “ganhar” ou “fazer melhor que os outros”).

na medida em que a motivação dos indivíduos depende da sua competência percebida

na actividade, nos exclusivamente orientados para o ego a motivação manter-se-á eleva-

da enquanto consigam mostrar-se superiores aos adversários, diminuindo naturalmente

quando esse não for o caso; nestes casos, muitas vezes, ocorre o abandono da prática

desportiva como forma de evitar a demonstração de uma reduzida competência e pelo

receio de cair em ridículo. para os indivíduos fundamentalmente orientados para a tarefa,

um menor rendimento face aos seus adversários parece não ter as mesmas consequên-

cias ao nível da sua motivação, a qual se manterá elevada enquanto sentirem que estão

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a progredir e a ter sucesso nas tarefas que se propõem realizar (54). a este propósito,

importará todavia sublinhar que é perfeitamente possível — e mesmo desejável — que

as crianças e os jovens recorram a mais do que um critério de sucesso, os quais não são

necessariamente incompatíveis entre si.

a investigação no âmbito do desporto nos eUa evidenciou que crianças e jovens com

diferentes objectivos de realização apresentavam diferentes perfis motivacionais e di-

ferentes crenças em relação ao sucesso. em concreto, verificou-se uma associação da

orientação para a tarefa com maior satisfação, maior divertimento, maior resistência

ao insucesso e maior coesão de grupo, enquanto a orientação para o ego se relacionou

com índices mais reduzidos de divertimento e de satisfação com a prática e índices mais

elevados de abandono (21). diversos estudos têm revelado resultados semelhantes na eu-

ropa, incluindo portugal, embora exista ainda espaço para a realização de mais estudos

no nosso país antes de se considerar que possuímos um conhecimento aprofundado e

consolidado sobre este assunto (28).

a investigação tem demonstrado igualmente que as pessoas não configuram do mes-

mo modo a natureza e as determinantes da competência desportiva, entendida por uns

como fruto do trabalho desenvolvido nesse sentido e por outros como algo geneticamente

determinado; de facto, embora, em termos genéricos, as crenças de que a competência

desportiva decorre da aprendizagem, é melhorável e específica sejam adoptadas por mui-

tos indivíduos, não é de negligenciar o modo como as crenças de que a competência é

determinada por factores de natureza genética, é estável e é generalizável são igualmente

identificáveis no ideário dos indivíduos (28, 67, 68).

de um ponto de vista motivacional, as implicações de uma ou outra perspectiva pare-

cem ser claramente distintas: os jovens que entenderem que a sua competência decorre

da aprendizagem, é melhorável e específica orientar-se-ão mais para o seu desenvolvi-

mento, pois acreditam que ela decorrerá essencialmente da sua aplicação nos treinos

e jogos; ao invés, os que a considerarem como um dom, estável e geral adoptarão uma

posição contrária, esperando-se que não estejam tão disponíveis para um intenso envol-

vimento em treinos e jogos (28, 29, 67, 68).

também a teoria da autodeterminação (18, 64) permite uma abordagem particularmente in-

teressante para a compreensão da motivação e do abandono no contexto desportivo. esta

abordagem, que consagra igualmente um papel especial à competência percebida, postula

que a pessoa é intrinsecamente motivada para uma actividade quando esta lhe permite a

satisfação de três necessidades básicas: i) de competência, isto é, de se sentir competente

no que concerne à realização da tarefa ou actividade em que está envolvido; de autonomia,

isto é, de se sentir com autonomia e controlo da decisão de realizar aquela tarefa ou activi-

dade; e iii) de pertença social, isto é, de se sentir aceite e ligado aos outros ou pertencente

a um determinado meio social (18, 90).

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109—RPcd 10 (2)

aplicada ao contexto desportivo, esta teoria pressupõe que elevadas percepções de

competência, autonomia e de pertença social levam os indivíduos a envolverem-se de

livre vontade e de forma duradoura em actividades e contextos que lhes permitam perce-

berem-se daquela forma (91). de facto, são vários os estudos que fornecem suporte para

a sugestão da importância e impacte assumido pela competência percebida(97), pertença

social(78) e autonomia (92)ao nível da motivação intrínseca. segundo Cechinni e colabora-

dores (11), uma revisão de diversos estudos mostrou que quanto mais autonomia, esforço

e progresso são promovidos pelos treinadores mais os atletas se motivam de forma au-

todeterminada; bem como evidenciou que formas de motivação menos autodeterminada,

relacionadas com objectivos orientados para o ego, levavam ao abandono da actividade

praticada. a investigação demonstrou ainda que, em geral, a motivação intrínseca se

relaciona positivamente com a orientação para a tarefa e negativamente com a orienta-

ção para o ego, e permite predizer a intensidade e persistência com que os indivíduos se

envolvem na prática de uma certa actividade (61).

em conclusão, entendemos pois que estes enquadramentos conceptuais que anterior-

mente referimos, de forma necessariamente breve e resumida, e que são utilizados habi-

tualmente para explicar e compreender questões mais relacionadas com a motivação no

desporto, poderão revelar-se como muito úteis para a compreensão do abandono despor-

tivo, sendo este um desafio que deve constituir-se como uma prioridade da investigação,

mas também da intervenção, relativa à prática desportiva de crianças e jovens.

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07como envelhecer sem dor.

PAlAvRAs chAve:

envelhecimento. desporto.

arte. sentido de vida.

AutoR:

José augusto santos 1

1 CiFi2d, Faculdade de desporto Universidade do porto, portugal

Correspondência: José augusto santos. CiFi2d, Faculdade de desporto da Universidade

do porto. rua dr. plácido Costa, 91, 4200-450 porto, portugal ([email protected]).

resumo

o processo de envelhecimento é um fenómeno incontornável que marca indelevelmente

o existir humano. Quando nascemos, temos como destino seguro o terminar da existência.

esta inevitabilidade não deve ser encarada com angústia ou pessimismo mas como coro-

lário de uma vida normal.

Viver é uma aventura única e cada dia deve ser vivido como se fosse o último. para viver

muito temos inexoravelmente de envelhecer e por isso devemos atrasar, sempre que pos-

sível, os sinais de senescência que acompanham o viver muito.

somos caracterizados por várias idades — biológica, psicológica, afetiva, social e funcio-

nal. esta última, a idade funcional, é a que nos deve caracterizar. se soubermos envelhe-

cer, poderemos manter um nível de atividade, de funcionalidade, que nos faça esquecer a

ditadura do envelhecimento.

Cronos marca-nos com os sinais do tempo. temos de enganá-lo afastando para o mais

longe possível o atrasar da hora de inverno. enganemos o tempo e não atrasemos o relógio

no outono da vida. para isso devemos manter a mesma capacidade de amar e de nos sur-

preender da juventude. a melhor forma de enganar o tempo é fixarmo-nos na juventude.

não em recorrência malsã àquilo que fomos mas para mantermos da juventude a alegria

do risco e do desconforto. só assim se abrem fronteiras.

115—RPcd 10 (2): 115-122

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ser jovem em espírito não é uma impossibilidade inelutável para aqueles que já viram

muita água passar debaixo das várias pontes da vida. deve ser o objetivo daqueles que

agarram a vida com toda a sua força tentando retirar dela o sentido ou sentidos da sua

plena realização humana.

militantes da vida, devemos preservá-la, mesmo que a emergência de algumas falências

biológicas nos forcem a redirecionar o essencial da nossa funcionalidade para recantos

mais calmos. aprendamos a descobrir na cultura — poesia, pintura, dança, desporto, etc.,

o sentido estético do existir que nos prolongará a vida numa dimensão superior em que

teremos a arte como companheira.

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117—RPcd 10 (2)

07how to get older without pain.

AbstrAct

aging is an inevitable phenomenon that indelibly marks human existence.

When we are born the unique fate we can surely hope is end of existence.

this inevitability should not be viewed with anxiety or pessimism but as

a corollary of a normal life.

living is a unique adventure and each day should be lived as if it was

the last. We only can live long throughout aging and therefore we must

delay whenever possible the signs of senescence which accompanying

prolonged lives.

We are characterized by various ages - biological, psychological, emo-

tional, social, and functional. this last, the functional age, is the only im-

portant to characterize what we are. if we know how to get older, we are

able to maintain a level of activity and functionality that makes us forget

the dictatorship of aging.

Cronos brand us with the signs of time. We can trick him delaying as

much as possible the entrance in the winter hour. deceive the time and

did not change the hour in the autumn of life. For this we must maintain

the same capacity to love and to be surprised as we have done in youth.

the best way to cheat time is to remain young. no pathological returning

to the old good days but a healthy capability to maintain alive the drive

for risk and discomfort which are special privileges of the youngsters.

only assuming the risk we can open the borders of life.

being young in spirit is not an inescapable impossibility for those who lived

longer. to be young in spirit should be the goal for those who catch life with

full force trying to find the meaning or meanings of their human fulfillment.

as militants of life we must preserve it, even if the emergence of some

biological debilities force us to redirect our essential functionality to

quieter corners. learn to discover the culture - poetry, painting, dance,

sports, etc. When we search for the aesthetic sense of existence we pro-

long life in a higher dimension in which we have art as road companion.

Key woRds:

aging. sport. art. meaning for life.

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Introdução

o drama e sortilégio da existência radicam no facto que ao nascermos começamos a mor-

rer. só que a morte perde a sua lógica de perda quando o ato genésico que nos fez hóspe-

des do mundo for continuado por momentos de realização que vão dando sentido à existên-

cia humana. para isso se concretizar temos de ser militantes da vida.

o que significa ser militante da vida?

significa que cada existência individual deve permitir acrescentar qualidade a este fenó-

meno cósmico peculiar que permitiu a matéria ganhar consciência de si e que se exprime

naquilo que nós conhecemos como vida no planeta que habitamos.

não podemos dramatizar o futuro incontornável que a todos espera, pois nada é mais

gratificante para o viajante de muitas jornadas que a fruição do merecido descanso, e que

será tanto mais merecido quanto as jornadas forem completas e bem vividas.

Quando nos cumprimos em vida aceitamos como natural o corolário da mesma, e quando

os átomos, protões, neutrões, eletrões, quarks, neutrinos, bosões, etc., que nos constituem

se desintegram do ser que nos dá forma, não se dissipam no vácuo e tornam-se disponíveis

para novas viagens cósmicas que têm sempre o mistério ou a poesia como meta referencial.

no mais ínfimo de nós, o universo já nos comportava; nos seus eventuais movimentos de

expansão e/ ou retração, o universo continuará a comportar-nos. no universo nada se cria

nada se perde, tudo se transforma. esta lei deve alegrar-nos pois permite-nos ver a morte

como ponto de passagem entre formas de vida ou existência diversas. algo de subtilmente

real dimana das conceções budistas que preveem várias vidas num percurso de aperfeiço-

amento interior. essas vidas poderão não ser mais perfeitas pois o universo não se rege por

lógicas de moral ou aperfeiçoamento mas é de aceitar que naturalmente aconteçam.

o universo simplesmente existe no incomensurável da sua dimensão, aberto a constante

renovação que erradica o conceito de finitude. por isso, devemos olhar a morte nos olhos,

sem temor, sem fatalismos, pois só ela dá razão à razão de viver. o que nos calha em sorte

é única e simplesmente viver o melhor possível, e é aqui, a este nível, que por vezes emerge

o drama, pois ao cumprirmo-nos em existência nem sempre o fazemos da forma mais grati-

ficante, já que por vezes, moldados aos valores duma sociedade desumanizada, perdemos a

oportunidade de nos descobrirmos em absoluto e de descobrirmos os outros em nós.

devemos viver, conseguindo metas de realização que não podem estar condicionadas

pela idade cronológica que nos localiza num tempo. mas esta idade marcada pelo relógio

não corresponde, não deve corresponder, às outras idades que nos expressam e que rele-

vam da possibilidade de constante aperfeiçoamento.

Que outras idades nos expressam?

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119—RPcd 10 (2)

07idade biolóGiCa

devemos rejeitar a ditadura do tempo pois os relógios biológicos diferem de indivíduo para

indivíduo. Quando nos querem enclausurar nas prisões da idade cronológica negam-nos

a possibilidade de concretizar as nossas potencialidades biológicas que para uns podem

estar diminuídas pela doença, cansaço ou stresse vivencial, enquanto outros conseguem

manter por muito tempo a chama existencial que lhes faz perdurar, senão a juventude, pelo

menos a vitalidade e capacidade de trabalho.

Urge ultrapassar a ditadura da idade biológica, permitindo que seres que mantêm in-

tactas ou pouco reduzidas a sua funcionalidade biológica e a sua capacidade de trabalho

continuem a laborar premiando a sociedade com a sua experiência.

idade psiColóGiCa

é-nos dado verificar, amiúdes vezes, jovens e adultos a demonstrar sinais de cretinismo re-

flexivo, resultante não de insuficiências meníngeas mas de incompetência cultural. Quan-

do constatamos a lucidez reflexiva e a prolífica produção intelectual de muitos gerontes,

que se assumem como guerreiros da existência lutando contra o niilismo dos demitidos

da vida, quer-nos parecer que a arrumação dos indivíduos em idades é mais um dos fun-

damentalismos que caracterizam a nossa época. temos exemplos recorrentes de que o

melhor das consecuções intelectuais de muitos escritores, pintores, arquitetos, realiza-

dores cinematográficos, músicos, etc., é conseguido em idades bem avançadas. podemos

crescer psicologicamente até ao fim da nossa existência atual.

idade aFetiVa

não existem ciclos de declínio na capacidade de emoção; antes, pelo contrário, verifica-

-se que a idade permite dar nuances muito mais positivas às efervescências das paixões

juvenis. alguém, já em idade avançada, afirmou que o drama da velhice é continuarmos

a sentir da mesma forma absoluta as efervescências psicoafectivas do amor num corpo

que lhes não dá correspondência. não concordo, pois acredito que o avançar da idade não

só caldeia as tensões corporais de eros como as canaliza para fruições de maior pendor

estético e poético. alguns arroubos serôdios são mais jactância de macho latino que ver-

dadeiras manifestações de libidos desenfreadas que a existirem só têm a patologia como

justificação. na parte dos afetos mais tocada pela libido devemos ter sempre presente que

mais que físico l’amore è cosa mentale.

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idade soCial

temos os papéis sociais em que melhor ou pior nos investimos. somos sempre o fruto dos

investimentos passados e, malgrado os constrangimentos duma sociedade com laivos de

desumanidade e redutora de possibilidades de realização, existe sempre uma brecha para

escaparmos à ditadura do “Metro, Bulot, Dodot”. até para ser feliz é necessário ter coragem.

assim, mesmo quando esgotamos um dado papel social numa lógica de realização pro-

fissional, todo o capital de experiência e conhecimento adquirido pode ser perfeitamente

canalizado para outros objetivos. tal nos permita a sociedade. devemos erradicar a lógica

de que a reforma é o nadir da capacidade de produtividade social. a procura de novos ob-

jetivos existenciais rejuvenesce o idoso e, por isso, urge repensar a continuidade na esfera

do trabalho daqueles que continuam com a efervescência produtiva da sua juventude.

idade FUnCional

é a única que nos deve caracterizar. aquilo que conseguirmos fazer, fruto da nossa ima-

ginação, conhecimento e capacidade, é que deve ser o verdadeiro aferidor do sentido da

nossa utilidade. existem jovens demitidos que se cumprem em inércia; existem idosos que

agem transformando qualitativamente o seu meio envolvente. o homem para viver em

plenitude deve ter consciência do mundo que o rodeia, que se transforma a um ritmo alu-

cinante, e que o obriga a encontrar respostas cada dia mais complexas. acreditamos que

a capacidade de captar a mudança não é apanágio exclusivo dos jovens; é fruto da capaci-

dade de realização pessoal que para muitos é um processo sem soluções de continuidade

e sem limites no tempo.

Quando vivemos em plenitude não existem idades diferenciadoras, a cronologia perde

força de referência, e assim podemos lutar contra os efeitos deletérios da flecha do tempo.

ao nascermos, caminhamos para o fim, não sem antes atingirmos um ponto ótimo adap-

tativo que corresponde à idade adulta. para platão, o zénite da formação cultural do ho-

mem só era atingido em idade muito avançada. Uns envelhecem rapidamente; outros re-

tardam a degenerescência conseguindo níveis de funcionalidade global que perduram até

ao momento que a matriz genética diz, chega!

assim, considerando o envelhecimento como um processo regular e multidimensional

que provoca a limitação das possibilidades adaptativas do organismo, podemos, quando

gostamos da vida, de nós e dos outros, atrasar a emergência das manifestações degene-

rativas correlacionadas com a idade e manter níveis de funcionalidade que nos permitam

fruir a existência afastando para longe as sombras da senescência.

o homem cumpre-se quando morre de posse do seu corpo, ou seja quando o corpo foi

companheiro de viagem e que malgrado algumas sevícias de ocasião com que o agredimos,

conseguimos mantê-lo vivo e sentido até ao fim dos nossos dias.

o corpo cumpre-se de múltiplas formas pois consubstancia a essência plural do homem.

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121—RPcd 10 (2)

07Quando o corpo biológico nos começa a fazer negaças temos sempre outros corpos para

nos cumprirmos. o nosso melhor corpo é aquele que se cumpre em arte.

onde encontrar esse eldorado?

na música, poesia, literatura, escultura, desenho, teatro, cinema, fotografia, etc., e no desporto.

Quando entramos tarde em novas áreas de realização o êxito ou rendimento são mais

difíceis, mas os frutos são quiçá mais saborosos. é óbvio que nem todos podem ser picasso,

a fecundar filhos aos 70 anos e atingir zénites criativos aos 80. essa dimensão de arte e

realização biológica a poucos está cometida, no entanto, todos nós, ao nível das nossas

possibilidades e empenhamento, podemos construir o ato grandioso que nos permita en-

trar no areópago dos artistas.

Uma área especialmente gratificante de realização artística é o desporto. a via desporti-

va permite o acesso de muitos idosos ao élan transcendental da cultura, consubstanciando

uma forma ímpar de encontrar mais vida, na sã competição contra outros e fundamental-

mente contra si. a competição desportiva humana permite, independentemente da idade,

e de forma socialmente aceitável, responder às pulsões instintuais que caracterizam a

espécie e que estão adormecidas (não mortas) em virtude de fatores de constrangimento

vários impostos pelas normativas sociais.

sabemos que o nosso companheiro corpo envelhece; isto é, perde paulatinamente o seu

élan vital. o processo natural de envelhecimento, pode ser profundamente agravado pelo

denominado envelhecimento patológico, provocado quer pela doença quer pelo uso incor-

reto do corpo (drogas, tabaco, álcool, alimentação desregrada, exercício físico anárquico,

ausência de repouso, etc.).

Quando estamos perante a patologia as armas de que dispomos provêm da medicina. Quan-

do o envelhecimento se consubstancia numa mera diminuição das capacidades adaptativas,

então temos outras armas à nossa disposição para combater a degenerescência natural.

assim, a atividade Física ganha importância terapêutica, devendo ser coadjuvada por

uma nutrição cuidada. Contudo, devemos rejeitar atitudes fundamentalistas que fazem o

indivíduo sair da prisão da doença para entrar na prisão da saúde, mas sempre prisioneiro

sem liberdade. a atividade física deve ser moderada e as práticas nutricionais corretas

não podem excluir os momentos de festança e de fuga à regra. devemos saber distinguir

entre os dias normais dos de festa. não é por um sujeito de vez em quando se exceder em

algumas fruições gastronómicas que rompem as regras da frugalidade (apanágio duma

vida sã para o idoso) que deve desenvolver qualquer sentimento de culpa e auto-expiação

em posteriores práticas de jejum.

também o corpo do idoso tem o direito ao excesso.

todas as alterações que caracterizam o avanço da idade embora irreversíveis podem

ser atenuadas, quer mantendo níveis adequados de atividade quer estabelecendo regras

dietéticas saudáveis.

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podemos ficar grisalhos e mesmo carecas mas manter a cabeça mais cheia.

podemos ficar com a pele rugosa mas a alma cada vez mais lisa

podemos reduzir de estatura mas crescer em emoção

podemos ficar mais pesados mas mais leves de espírito

podemos ficar mais fracos fisicamente mas com mais força interior

podemos perder a visão mas manter despertos os sentidos da sensibilidade estética

podemos ficar surdos e ouvir-nos melhor e aos outros

podemos perder células nervosas e ganhar células de cultura

podemos perder capacidade cardíaca e cada vez mais aumentar a nossa capacidade de amar

em suma, podemos ir diminuindo a funcionalidade de alguns órgãos e tecidos e aumen-

tar, doutra forma, o prazer de os utilizar.

o mal acontece quando a síndroma do idoso não se radica à sua dimensão física e con-

tamina a sua existencialidade. Quando o idoso fica frio, severo, e intolerante, e não aceita,

com naturalidade, o fluir incessante do muito vivido, é porque está doente ou porque falhou

na sua realização ontológica, tendo subordinado a sua existência a valores alheios à sua

dimensão humana, tendo vivido alheio a si.

até para viver é preciso ter coragem. Viver é uma aventura. Viver muito pressupõe canali-

zar a aventura para sagas de interioridade. pressupõe a aceitação de condicionamentos em

alguns planos mas a opção de outros planos de realização que deem novos sentidos à vida.

a expressão da sintomatologia do idoso não quer significar a emergência de uma espada

de dâmocles que paira por cima da sua cabeça. antes pelo contrário, serve como aviso para

o aparecimento de sinais que podem ser contrariados tanto mais eficazmente quanto mais

empenho tiver o sujeito em relação a algumas pautas comportamentais que se estabelecem

como fundamentais para atrasar e por vezes mascarar os efeitos degenerativos da idade.

sabemos que o progresso técnico tem facilitado o trabalho físico humano. hoje em dia o

stresse do quotidiano é menos de índole física e mais intelectual e psicoafectivo. de igual

forma as poluições (sonoras, paisagísticas, arquitetónicas, culturais, respiratórias, etc.)

que caracterizam as sociedades atuais têm de ser combatidas com comportamentos ade-

quados a uma vida o mais saudável possível.

ser saudável é uma condição sine qua non para retardar os efeitos negativos da velhice;

esse desiderato tem na alimentação e atividade física determinantes cruciais mas o prin-

cipal fator concorrente para a saúde é — a manutenção da capacidade de rir, sorrir e amar

que nunca devem ser perdidas apesar das vicissitudes existenciais.

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REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS DO DESPORTO