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FotograFias: Cyro José soares

M e r C a d o s d o B r a s i l

de NorTe a sUl•

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Copyright © 2009 Autêntica Editora

projeto gráfico de capa e miolo

Diogo Droschi

editoração eletrônica

Christiane Costa Diogo Droschi

revisão

Ana Carolina Lins Cecília Martins

fotografia

Cyro José Soares

edição de texto:  Andréia Vitório

repórteres

Andréia Vitório - Belo Horizonte/Salvador/Recife Augusto Paim - Porto Alegre/Florianópolis Caco Ishak - São Paulo Daniel Valentim - Manaus Lorenzo Falcão - Cuiabá Mari Chiba - Belém Rodrigo Zavagli - Belo Horizonte/Rio de Janeiro

editora responsável

Rejane Dias

AutênticA EditorA LtdA.Rua Aimorés, 981, 8º andar . Funcionários30140-071 . Belo Horizonte . MGTel: (55 31) 3222 68 19 Televendas: 0800 283 13 22www.autenticaeditora.com.br

Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

dados internacionais de catalogação na Publicação (ciP)(câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:1. Brasil : Mercados : Fotografia 779.939460981

Revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico.

Mercados do Brasil : de norte a sul / fotos Cyro José Soares. – Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2009.

ISBN 978-85-7526-446-1

1. Cultura popular - Brasil 2. Fotografias 3. Mercados - Brasil I. Título.

09-12310 CDD-779.939460981

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aPreseNTação

o Brasil eM seUs MerCados

MerCado MUNiCiPal adolPho lisBoa . MaNaUs/aM

Ver-o-Peso . BeléM/Pa

MerCado de são José . reCife/Pe

MerCado Modelo . salVador/Ba

MerCado VareJisTa do PorTo . CUiaBá/MT

MerCado CeNTral . Belo horizoNTe/MG

feira de são CrisTóVão . rio de JaNeiro/rJ

MerCado MUNiCiPal . são PaUlo/sP

MerCado PúBliCo de floriaNóPolis . floriaNóPolis/sC

MerCado PúBliCo CeNTral de PorTo aleGre. PorTo aleGre/rs

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os MerCados são Mais do qUe centros de compra e venda de mercadorias. São expressões da cultura e da história de uma região e de seu povo. Esses centros populares, repletos de tantos produtos, iguarias, tecidos e artesanatos, refletem a identidade de cada região, despertando em nós curiosidade e fascínio. São responsáveis por uma história viva e contínua que conta os hábitos alimentares, religiosos, comportamentais e culturais de um povo por meio de sua atividade comercial.

Além de preservarem a identidade regional e popular, os mercados também representam a convivência harmônica das diferenças, a de-mocracia cultural que se reproduz e se perpetua ao longo da história.

Este belo livro, destinado a estudantes, pesquisadores e ao público em geral, nos leva a um passeio pela vastidão histórico-cultural que envolve os mercados de todo o Brasil. Fruto de longa e detalhada pesquisa, ele nos conta um pouco da história dos mercados em um ritmo agradável e cheio de riquezas. Ele mostra ao leitor que cada mercado é único em sua história, contando sobre a sociedade, a po-lítica, a cultura e a economia que cercam cada um deles.

A Estácio acredita que, em um país como o Brasil, com tamanha diversidade, essa riquíssima combinação cultural presente nos mer-cados adquire um significado vital para compreender nossas raízes e nossa identidade. Como instituição de ensino superior, apostamos na pesquisa histórica e na valorização da memória cultural como condi-ções indispensáveis para se construir uma sociedade cada dia melhor.

Aproveite esta viagem pelos Mercados do Brasil!

eduardo alcalayPresidente da Estácio – Ensino Superior

aPreseNTação

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o Verdadeiro GUaraNá JesUs, garrafadas e defumadores, pau-tenente e saracura-mirá, Bará, Oxóssi, Xangô, Menino-Deus no presépio, guaiamum, pirarucu, salmão, chocalho, apito, berimbau, açaí, farinha, cajá, azeite espanhol, queijo suíço, roupas, calçados, adereços, buchada de bode, baião de dois – a diversidade, o curioso, o útil, o necessário, tudo ocupa os corredores de um só lugar: o mercado.

Qual Gabinetes de Curiosidades, espaços surgidos na época das grandes explorações e descobrimentos durante os séculos XVI e XVII, onde se colecionavam inúmeros objetos e espécimes estranhos e curiosos dos reinos animal, vegetal e mineral, os mercados do Brasil são um verdadeiro estímulo a todos os sentidos, do paladar ao tato, constituindo um espaço quase mágico onde se mercadeja desde o alimento do corpo até a proteção da alma.

Historicamente falando, a origem das feiras e dos mercados é quase tão antiga quanto o aparecimento do homem agricultor e criador que trocava o excedente de suas produções. As primeiras aglomerações ur-banas já contavam com atividades agrícolas e citadinas, constituindo-se em núcleos de povoamento e comércios locais. A troca de produtos que garantiam o abastecimento da população local era feita nas feiras e nos mercados abertos localizados em abrigos temporários – como ainda acontece hoje em dia com as feiras livres semanais das cidades brasileiras. Antigos registros fazem referência ao comércio nos templos, desempenhando a função de mercados na exata acepção da palavra: lugar onde se compram e vendem mercadorias.

Na Idade Média, o mercado e a cidade já estavam intimamente ligados. As trocas periódicas dos produtos excedentes aconteciam geral-mente fora das muralhas que rodeavam as cidades, em lugares próximos aos caminhos mais movimentados e importantes. Com o passar do

o Brasil eM seUs MerCados

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tempo, em decorrência do crescimento populacional, da expansão urbana e do aumento das produções locais, que traziam a consequente possibilidade de bons negócios para os mercadores, fica evidente a necessidade de mercados onde a população pudesse se abastecer. É dessa maneira que o mercado conquista um lugar permanente nas cidades: esses locais de troca, ou praças de mercado, espaços públicos por excelência, nos quais eram exercidas atividades rurais e urbanas, vão se consolidando, se deslocando e se posicionando em pontos cada vez mais centrais e de mais fácil acesso. Esse processo tem estrita correspondência com o que ocorria na vida social, apesar de não ter uma natureza propriamente social: a urbanização passa a ocorrer no entorno das praças, pois é nelas que acontece boa parte das atividades coletivas, onde elas têm um espaço para sua manifestação.

Desde a época das cidades medievais até as cidades modernas, os espaços urbanos passaram por enormes transformações quanto à sua forma e ao seu uso; no entanto, esse espaço de caráter fundamentalmente público, em que convivem o comércio e as atividades coletivas – o fluxo de pessoas, as manifestações políticas e religiosas, as manifestações artís-ticas, etc. –, teve sua essência preservada. Os mercados vieram para ficar.

heraNça PorTUGUesaAs origens dos mercados brasileiros não diferem significativamente

das raízes dos antigos mercados abertos. Eles foram introduzidos no Brasil pelos colonizadores portugueses, seguindo os mesmos padrões dos mercados do Império. Nos primórdios da colonização do terri-tório brasileiro, o início de uma povoação era sempre a construção de um cruzeiro ou de uma capela. Era em torno desses marcos que a freguesia (denominação portuguesa de “paróquia”, que era subordi-nada a um pároco com autoridade espiritual e que também exercia a administração civil) se desenvolvia em todos os aspectos. Curiosamente, a palavra “paróquia” vem do grego parochos, que significa “aquele que fornece as coisas necessárias”, ou ainda de paroikia, que significa “vi-zinhança”. Por vários séculos, a Igreja Católica tinha uma propensão natural e legal para dominar os espaços e determinar o quadro da vida cotidiana das pequenas cidades – o papel das atividades econômicas e das diversas camadas sociais presentes nas cidades, as redes de negó-cios, a diversificação agrícola. Levando em conta esse fato, podemos imaginar que não é à toa que muitos mercados brasileiros tenham nascido nas futuras praças da Matriz, geralmente cercados pelas feiras, cuja configuração – uma aglomeração de negras com seus tabuleiros em barracas com coberturas coloridas e alinhadas ao ar livre – não tinha sido criada para atender às elites locais. Esse quadro das cidades brasileiras repletas de vendedores ambulantes, como foi o caso do Rio de Janeiro, prevaleceu até meados do século XIX.

10 M E r c a d O S d O B r a S I L

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A construção dos primeiros mercados cobertos brasileiros, tal como os conhecemos hoje, só ocorreu a partir do final do século XIX e obedeceu a uma tendência de construção de grandes espaços públicos, como fábricas, estações de trem, manicômios e hospitais, iniciada na Europa no final do século XVIII, no período pós-Revolução Francesa, quando se começou a reorganizar o espaço urbano. Ao lado disso, o processo de industrialização desencadeado pela Revolução Industrial – iniciada na Inglaterra em meados desse mesmo século – intensificou a concentração populacional e acentuou as relações sociais nas cidades, promovendo o surgimento de inúmeras atividades novas e demandando outros modelos de edifícios que atendessem às novas necessidades de-correntes dessa mudança. No processo da Revolução Industrial, o ferro passa a ser o metal mais explorado, com possibilidades ilimitadas de uso graças à sua flexibilidade e à facilidade de produção em escala. Pouco tempo se passou entre a sua utilização para a fabricação de máquinas e equipamentos e sua aplicação na construção dos grandes edifícios.

Nascia assim a arquitetura em ferro, típica do século XIX, ten-dência que se difundiu pela Europa e pelos Estados Unidos e fez surgir novas escolas de arquitetura e de engenharia para a execução de edifícios grandiosos. Um dos exemplos de edifícios desse novo contexto urbano foram os mercados públicos em ferro. Entre eles, o mercado Les Halles Centrales, construído em Paris pelo arquiteto Victor Baltard em 1855, foi aquele que influenciou todos os mercados construídos posteriormente. A técnica da construção em ferro, com a estrutura de suporte dos edifícios produzida em forma modular,

Parte integrante do Ver-o-Peso, o Mercado de Carne é

todo construído em estrutura metálica inglesa e impressiona

pelos detalhes.

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permitia que esses módulos fossem transportados ou exportados da Europa para qualquer país e, posteriormente, montados nos locais designados para a construção das obras através da fixação das peças com cravos e parafusos.

No caso do Brasil, dentre todos os edifícios pré-fabricados em ferro nenhum teve tanta aceitação e utilidade quanto os mercados públicos. A variedade de módulos que podiam ser importados e a facilidade da construção possibilitaram o surgimento do primeiro mercado em ferro brasileiro: o Mercado de São José, instalado no Recife, em 1875. Inspirado no mercado público de Grenelle, em Paris, esse mercado foi concebido por um engenheiro da Câmara Municipal de Recife, que contratou o engenheiro francês Louis Vauthier para desenvolver o projeto e acompanhar a fabricação das peças na França. Um detalhe fundamental, ao qual Vauthier estava muito atento, foi a necessidade de adaptar o edifício às condições climáticas do Nordeste brasileiro: para amenizar as altas temperaturas internas produzidas pelo clima tropical, a típica cobertura de folhas de ferro foi substituída por telhas de barro, e as venezianas em vidro, por venezianas de madeira. Vauthier também não deixou escapar a importância de se construir um sistema de abastecimento de água e uma rede de esgoto para o mercado.

Entre o final do século XIX e a primeira década do século XX foram construídos no Brasil, por engenheiros brasileiros e estrangeiros, diversos mercados em ferro, como o Mercado de Peixe, da cidade de Belém. Eles eram feitos, em geral, nos locais onde se reuniam

Entrada principal do Mercado de São José.

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aglomerados de feirantes e vendedores ambulantes, com o intuito de organizar o comércio local. Tal esforço de construção normalmente se apoiou em projetos patrocinados pelos governos municipais.

Os projetos arquitetônicos dos mercados brasileiros incluem, além do característico vão livre coberto por um grande teto – comum a todos os mercados –, algumas adaptações às nossas condições climáticas, como uma construção com todas laterais abertas para as ruas, permitindo a iluminação e a ventilação do ambiente no caso dos edifícios situados nas regiões mais quentes do País. Com múltiplas utilidades, os mercados de norte a sul do Brasil são geralmente constituídos por grandes vãos, com pavilhões articulados entre si e organizados segundo o gênero de comércio: carnes, aves, peixes e frios; frutas, verduras, legumes, cereais e especiarias; artesanato, artigos religiosos, ervas medicinais, armarinho e serviços; comidas típicas, petiscos e bebidas, etc. – produtos esses negociados em inúmeros compartimentos (ou boxes). Eventualmente existem também barracas externas espalhadas nas calçadas do pátio que rodeia os mercados. Os serviços oferecidos no seu entorno, geralmente surgidos de forma espontânea, também contribuem para geração de fluxos necessários à dinâmica do mercado.

Os mercados se inserem numa economia local sustentável. Andando praticamente na contramão das transformações ocorridas no modo de operacionalização de outros locais de comércio de varejo e enfren-tando, principalmente, a concorrência dos supermercados – setor que inovou na gestão, na definição dos espaços físicos, no uso de recursos tecnológicos, nas estratégias de marketing baseadas em pesquisas de comportamento e necessidades do consumidor –, os mercados brasi-leiros sobrevivem e permanecem como marcos do comércio varejista de abastecimento. A maioria deles passou por processos de restaura-ção, com o cuidado de preservar a arquitetura e a aparência originais; muitos passaram por reformas profundas para melhorar as condições de higiene, de segurança e de acessibilidade e oferecer maior conforto aos seus frequentadores.

Mas o que importa é que os mercados são espaços democráticos, cheios de vida e de histórias, abertos à itinerância de frequentadores de todas as idades, de todos os gostos e interesses, de todas as classes sociais. São pontos de compras e encontros, de pequenos e grandes negócios, de boemia e gastronomia, de arte e convivência social.

Os dez mercados brasileiros apresentados neste livro são um exemplo dessa riqueza. Contêm em si mesmos todas as justificativas para, através das belíssimas fotografias de Cyro José, embarcarmos numa viagem ímpar a um universo de todos os odores, de todas as cores, de infinitos sabores e – por que não? – de todos os sons.

o editor

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