2009 - estudo morfométrico, evolutivo e filogeográfico nas espécies do gênero pterophyllum...

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA TROPICAL E RECURSOS NATURAIS PPGBTRN Estudo morfométrico, evolutivo e filogeográfico nas espécies do gênero Pterophyllum, Heckel, 1840 (Cichlidae / Heroini) da Bacia Amazônica. NATASHA VERDASCA MELICIANO Manaus AM Abril, 2009.

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Page 1: 2009 - Estudo morfométrico, evolutivo e filogeográfico nas espécies do gênero Pterophyllum Heckel, 1840 Cichlidae-Heroini da Bacia Amazônica

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA TROPICAL

E RECURSOS NATURAIS – PPGBTRN

Estudo morfométrico, evolutivo e filogeográfico nas espécies do gênero Pterophyllum, Heckel, 1840 (Cichlidae / Heroini) da

Bacia Amazônica.

NATASHA VERDASCA MELICIANO

Manaus – AM Abril, 2009.

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NATASHA VERDASCA MELICIANO

Financiamento: CT-Amazonia/CNPq (Processo No. 554057/2006-9) BECA (B/2006/01/BMP/09)

Estudo morfométrico, evolutivo e filogeográfico nas espécies do gênero Pterophyllum, Heckel, 1840 (Cichlidae / Heroini) da Bacia

Amazônica.

ORIENTADOR: Dr. TOMAS HRBEK Co-orientador: Dra. Izeni Pires Farias

Dissertação apresentada ao Programa de Pós - Graduação em Biologia tropical e Recursos Naturais do convênio INPA/UFAM, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva.

Manaus – AM Abril, 2009.

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I

FICHA CATALOGRÁFICA

SINOPSE

M522 Meliciano, Natasha Verdasca Estudo filogeográfico do gênero Pterophyllum, Heckel, 1840 (Cichlidae/Heroini) na Bacia Amazônica, utilizando o gene do citocromo b

e morfometria geométrica / Natasha Verdasca Meliciano.--- Manaus : [s.n.], 2008. xi, 71 f. : il. Dissertação (mestrado) --- INPA/UFAM, Manaus, 2008 Orientador : Tomas Hrbek Co-orientador : Izeni Pires Farias Área de concentração : Genética, Conservação e Biologia Evolutiva 1. Pterophyllum – Filogeografia. 2. Pterophyllum – Morfometria. 3. Peixes - Amazônia. I. Título. CDD 19. ed. 597.5

SINOPSE

Neste trabalho foi desenvolvido, um estudo filogeográfico dos peixes do gênero

Pterophyllum Heckel, 1840 (Cichlidae) no contexto amazônico, utilizando como

ferramentas o gene mitocondrial do citocromo b e morfometria geométrica, buscando

entender como este grupo, com três espécies (P. scalare, P. altum e P. leopoldi), está

atualmente distribuído e quais são os prováveis processos evolutivos que provocaram

ou que mantêm a disposição genética e morfométrica encontrada nestes peixes ao

longo da bacia amazônica. Como resultado foi visto que a delimitação taxonômica

molecular condiz com a validação das espécies existentes para o gênero e está,

também, refletida na diferencição morfométrica observada. O processo evolutivo da

espécie de mais ampla distribuição, P. scalare, é resultante de antigos eventos de

fragmentação seguidos por episódios de expansão geográfica e populacional, em

conjunto com processos de fluxo gênico associado às planícies de inundação e

limitado pela composição química das águas, podendo ser visto tanto no perfil

molecular quanto no morfológico destes peixes. Foi evidenciado, também, variações

morfométricas nas regiões de simpatria entre duas espécie do gênero (P. altum e P.

scalare), diferente do que foi visto nas regiões de ocorrência de somente uma das

duas espécies. Contudo é necessário identificar o valor ecológico e evolutivo das

variaçãoes morfométricas observadas nas regiões de simpátria e de ambientes

aquáticos distintos.

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II

Aos meus queridos pais, Maria Fernanda Ferreira Verdasca Meliciano e Rogério Ruas dos Santos Meliciano. Às minhas amigas e irmãs, Vanessa Verdasca Meliciano e Priscilla Verdasca Meliciano.

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III

AGRADECIMENTOS

Não só nesta trajetória, mas durante toda minha vida, gostaria de agradecer a Deus,

pois me presenteou com a vida, força e coragem, reafirmando minha fé perdida.

Agradeço a minha família pelo apoio, compreensão, carinho e paciência

demonstrado, independente de minhas atitudes. Maior gratidão devo aos meus pais, Rogério

Ruas dos Santos Meliciano e Maria Fernanda Ferreira Verdasca Meliciano, pela palavra

sempre oportuna. À minha mãe dedico gratidão adicional por ter apoiado este sonho, mesmo

quando esteve com sua saúde frágil. Agradeço também as minhas duas irmãs, Vanessa

Verdasca Meliciano e Priscilla Verdasca Meliciano, que me deram forte base familiar.

Ao meu querido Olavo, agradeço pela ajuda neste projeto, pelo carinho, apoio e

compreensão, estando sempre presente, ao meu lado, mesmo fisicamente distante.

Agradeço aos meus antigos amigos e aos novos, que conquistei nesta jornada,

especialmente: Annelyse, Cleiton, Murilo, Marcelo (Brasa), Sílvia, Renato, Carlos (Kaká),

Pedro (Peter), Rafael (Narck), Rafael (Rafolia), Marco, Gisele, Michelly, Rafael

(Angrizzane), Frida e Rafinha, por terem assumido o papel de família postiça.

Agradeço a todas as pessoas que me ajudaram no desenvolvimento deste trabalho,

que agora as considero como amigas e colegas de ofício. A meu ver, realmente praticaram

ciência, democratizando o conhecimento e trabalhando em equipe.

Sou grata aos meus amigos de trabalho no laboratório, pelo ótimo ambiente que

promoveram e pelos ensinamentos que melhoraram decisivamente minha pesquisa: Adam,

Andréia, Áureo, Carlinha, Cleiton, Maria da Conceição, Daniel, Eduardo, Edvaldo, Fábio,

Kelmer, Liza, Mário, Marina, Pedro Sena, Pedro Ivo, Rafinha, Themis, Valéria, Waleska e

Will, todos unidos formam um exemplo de equipe.

Agradeço aos docentes Dr. Lúcia Rappi-Py Daniel, Dr. Eliana Feldberg e Dr. Jansen

Zuanon, pela prestatividade e por contribuir cientificamente para este trabalho. Agradeço a

equipe da RDS Piagaçú – Purus, pela ajuda durante algumas coletas. Tenho gratidão a muitas

outras pessoas que me assistiram durante as coletas deste trabalho, que mesmo sem saber o

significado deste projeto me ajudaram muito sem interesse algum: Senhor Carlos, Senhora

Ray e família, Senhora Iolanda, Senhora Rosa e família, Senhor Elder Batista, Senhor Fábio,

Senhora Raimunda Farias e família, “Serelepe” e ao Senhor Xavier, Senhora Raimunda e

família Nogueira.

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IV

Agradeço, especialmente, meu orientador o professor Dr. Tomas Hrbek, por acreditar

em mim, por acompanhar e contribuir significativamente no meu desenvolvimento

acadêmico. O Dr. Tomas me aceitou sem ao menos me conhecer, me orientou com liberdade

e exigência ao mesmo tempo. Respeitou-me como indivíduo e reconheceu-me como

pesquisador, permitindo o meu desenvolvimento científico e a realização deste sonho. É com

muita admiração, orgulho e respeito que demonstro o meu sincero obrigado.

Com muito carinho agradeço minha co-orientadora, a professora Dr. Izeni Pires

Farias, pela confiança, por estar sempre presente e pelos ensinamentos de Genética e Biologia

Evolutiva. Mesmo sendo minha co-orientadora, esteve sempre muito próxima, me

acompanhando de perto, estando disposta sempre que necessário.

Agradeço ao programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais

do convênio INPA/UFAM, especialmente ao curso de Genética, Conservação e Biologia

Evolutiva (GCBEV/INPA), pela oportunidade de mestrado. Agradeço aos integrantes

docentes do curso GCBEV/INPA, pelos conhecimentos adicionados durante o mestrado.

Agradeço a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) pelo espaço utilizado do

Laboratório de Genética Animal (LEGAL), sob a coordenação da Professora Dr. Izeni Pires

Farias.

Agradeço a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior)

pela bolsa de estudos oferecida. Ao IEB (Instituto Internacional de Educação no Brasil) /

programa BECA e ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico) pelo financiamento deste trabalho, sob os processos de número:

B/2006/01/BMP/09 e 554057/2006-9, respectivamente.

Muito Obrigado!!!

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V

RESUMO

Este trabalho foi desenvolvido em dois capítulos: no primeiro foi abordado o enfoque

genético e no segundo foi trabalhado o aspecto morfométrico dos peixes do gênero

Pterophyllum, amplamente distribuídos pela bacia amazônica, buscando entender os

prováveis processos históricos e atuais, que causaram ou que mantêm o padrão filogeográfico,

haplotípico e morfométrico, observados nestes peixes, utilizando como ferramentas o gene

mitocondrial do citocromo b e morfometria geométrica, aplicados no estudo de peixes

amostrados em quatorze localidades ao longo dos principais tributários Negro, Solimões e

Amazonas. Como resultado, foi visto que, mesmo existindo variação entre os morfotipos e a

distribuição espacial e a caracterização genética, os padrões morfométricos encontrados

apresentam forte relação com o grupo taxonômico delimitado molecularmente. Além disso,

ambas análises (molecular e morfométrica) concordaram com a identificação taxonômica

clássica efetuada para as três espécies validadas para o gênero. Em particular, na espécie P.

scalare foi possível observar a existência de uma complexa história filogeográfica, modelada

por processos antigos de fragmentação, seguidos por episódios de expansão geográfica,

juntamente com eventos de fluxo gênico e isolamento influenciados pela ampla distribuição

da espécie. Porém, não foi possível observar relação entre a distância geográfica e a

divergência genética e morfológica entre as localidades estudadas, onde se observou maior

variação genética e morfológica intralocal do que entre localidades distintas, resultado que

pode estar relacionado com as planícies de inundação amazônicas, que oferecem

intercomunição, permitindo fluxo gênico e a homogeneidade morfológica encontrada entre as

localidades amostradas. Alternativamente, a homogeineidade morfológica observada na

espécie P. scalare, em toda extenção coletada, também, pode ter explicações ecológicas

decorrentes da oferta de recursos e inexistência de espécies simpátricas, ao contrário das

regiões de simpatria entre P. scalare e P. altum, sugerindo a existência de plasticidade

fenotípica em P. scalare e que o padrão morfométrico encontrado nas regiões coletadas de P.

altum pode ser resultado da existência de P. scalare nas regiões de Santa Isabel e Boa Vista.

A distinta composição química e física das águas podem ter atuado na significante

diferenciação morfométrica e na estruturação genética populacional, sendo um fator limitante

para a dispersão destes peixes e promovendo diferenciação morfológica. Por outro lado, a

significante diferenciação morfométrica entre os diferentes habitats aquáticos pode ser

meramente resultante de acúmulo por deriva genética. Dessa maneira, é preciso identificar a

importância ecológica da variação morfométrica entre os diferentes ambientes para que se

tenha entendimento do valor adaptativo e evolutivo dessas variações morfológicas.

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VI

ABSTRACT

This study was developed in two chapters: the first chapter focuses on genetic and the

second on morphometric aspects of the genus Pterophyllum, which is widely distributed in the

Amazon basin. The goal was to understand the probable historical and ongoing processes that

caused and maintain phylogeographic and morphometic patterns observed in this group of

fishes, using cytochrome b mitochondrial gene and geometric morphometric data from

fourteen localities along Negro, Solimões and Amazonas rivers. It was observed that even

existing significant varied morphotypes, the morphometric patterns showed a strong

relationship with the taxonomic group molecularly determined. Furthermore, both analysis

(molecular and morphometric) agree with classical taxonomical identification done for the

tree valid species in the Pterophyllum genus. In the P. scalare specie, a complex

phylogeographic history was found, resulting from ancient fragmentation events followed by

episodes of geographic expansion and restricted gene flow with isolation by distance.

Although the relation between geographic, genetic and morphological distances was not

significant in the studied area, it had higher genetic and morphological variation within

localities. This result may be attributed to the Amazon floodplain that offers

intercommunication, allowing gene flow and the morphologic homogeneity found in the

sampled locations. The morphologic homogeneity observed in P. scalare specie along the

sampled sites may be related with the ecological resource availability and the inexistence of

sympatric species, differing from regions with P. scalare and P. altum (Santa Isabel and Boa

Vista), suggesting the existence of phenotype plasticity in P. scalare and the morphometric

pattern found in P. altum may be a result of the presence of P. scalare. The distinct water

composition may have significantly influenced the morphometric differentiation and

population genetic structure and maybe a limiting factor for the dispersion of this fish. Put

differently the significant morphometric differentiation between habitats may be a

consequence of genetic drift accumulation. Thus, it is necessary to identify the ecological

importance of morphometric variation found between different environments for a complete

understanding of the adaptive and evolutionary value of these morphological variations.

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VII

SUMÁRIO

FICHA CATALOGRÁFICA ................................................................................................. I

SINOPSE .................................................................................................................................. I

AGRADECIMENTOS ......................................................................................................... III

RESUMO ................................................................................................................................. V

ABSTRACT .......................................................................................................................... VI

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................... IX

LISTA DE GRÁFICOS .......................................................................................................... X

LISTA DE TABELAS .......................................................................................................... XI

I. Introdução Geral .................................................................................................................. 1

I.1. A Bacia Amazônica ............................................................................................................. 1

I.2. A família Cichlidae .............................................................................................................. 2

I.3. Aspectos evolutivos da família Cichlidae .......................................................................... 4

I.4. A Tribo Heroini ................................................................................................................... 6

I.5. O gênero Pterophyllum Heckel, 1840 ................................................................................ 7

CAPÍTULO 1 - “Filogenia e Filogeografia do gênero Pterophyllum Heckel, 1840 (Cichlidae / Heroini) na Bacia Amazônica, utilizando o gene do citocromo b”. .............. 11

1. Introdução ............................................................................................................................ 11 1.1. Objetivos ........................................................................................................ 14

1.1.1. Objetivo Geral ................................................................................................... 14 1.1.2. Objetivos Específicos ......................................................................................... 14

2. Material e Método ................................................................................................................ 15 2.1. Amostragem .................................................................................................. 15 2.2. Identificação Taxonômica .............................................................................. 16 2.3. Métodos Moleculares: Extração de DNA, Amplificação e Seqüenciamento ................................................................................................... 17 2.4. Análises Moleculares .................................................................................... 18

2.4.1. Alinhamento, Edição de seqüências e Análises de Composição Molecular ...... 18 2.4.2. Análises Moleculares ......................................................................................... 19

3. Resultados ............................................................................................................................. 23 3.1. Alinhamento, Edição de seqüências e Análise de Composição Molecular .............................................................................................................. 23

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VIII

3.2. Análises Moleculares .................................................................................... 24

a) Análise Filogenética .......................................................................................... 24 b) Análise Filogeográfica ...................................................................................... 25 c) Análise genético - populacional e demográfica (por localidade) ............... 26

4. Discussão e Conclusão ......................................................................................................... 36 a) Análise de Composição Molecular ................................................................... 36 b) Análise Filogenética ......................................................................................... 36 c) Análise Filogeográfica ...................................................................................... 37 d) Análise genético - populacional e demográfica (por localidade) .................... 39

CAPÍTULO 2 - “Estudo da forma corporal de peixes do gênero Pterophyllum Heckel, 1840 (Cichlidae / Heroini) ao longo da bacia Amazônica, utilizando morfometria geométrica”. ..................................................................................................... 46

1. Introdução ............................................................................................................................ 46 1.1. Objetivos ........................................................................................................ 49

1.1.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 49 1.1.2. Objetivos Específicos .................................................................................... 49

2. Material e Método ................................................................................................................ 50 2.1. Amostragem .................................................................................................. 50 2.2. Identificação Taxonômica .............................................................................. 51 2.3. Métodos Moleculares: Extração de DNA, Amplificação, Seqüenciamento e Análises ................................................................................. 52 2.4. Métodos Morfométricos ................................................................................. 53

2.4. 1. Coleta de dados Morfométricos ........................................................................ 53 2.4.2. Demarcação de pontos anatômicos e Obtenção de dados morfométricos ........ 53

2.5. Análises Estatísticas ..................................................................................... 55

3. Resultados ............................................................................................................................. 57

4. Discussão e Conclusão ......................................................................................................... 65

II. Conclusão Geral ................................................................................................................ 70

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 72

ANEXOS ................................................................................................................................. 89

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IX

LISTA DE FIGURAS

Introdução geral

Figura 1: Distribuição geográfica mundial da família Cichlidae............................................ 4

Figura 2: Pterophyllum scalare (Schultze, 1823)................................................................... 8

Figura 3: Pterophyllum altum (Pellegrin, 1903)...................................................................... 8

Figura 4: Pterophyllum leopoldi (Gosse, 1963)...................................................................... 9

Figura 5: Esquema da distribuição geográfica das espécies do gênero Pterophyllum......................10

Capítulo 1 – “Filogenia e Filogeografia do gênero Pterophyllum Heckel, 1840 (Cichlidae /

Heroini) na Bacia Amazônica, utilizando o gene do citocromo b”

Figura 6: Mapa com a distribuição dos pontos amostrados................................................................ 16

Figura 7: Árvore de relacionamento de haplótipos – critério Máxima Verossimilhança (HKY85),

indicando os valores de boostrap acima de 60%.......................................................................... 29

Figura 8: Diagrama da rede haplotípica de clados hierarquizados por meio da análise NCA-

P.altum......................................................................................................................................... 31

Figura 9: Diagrama da rede haplotípica de clados hierarquizados por meio da análise NCA-

P.scalare....................................................................................................................................... 32

Capítulo 2 – “Estudo da forma corporal de peixes do gênero Pterophyllum Heckel, 1840

(Cichlidae / Heroini) ao longo da Bacia Amazônica, utilizando

morfometria geométrica”

Figura 10: Mapa com a distribuição dos pontos amostrados.......................................................... 51

Figura 11: Descrição esquemática de pontos anatômicos....................................................... 56

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X

LISTA DE GRÁFICOS

Capítulo 1 – “Filogenia e Filogeografia do gênero Pterophylum Heckel, 1840

(Cichlidae / Heroini) na Bacia Amazônica, utilizando o gene do citocromo b

Gráfico 1: Composição percentual de bases............................................................................ 24

Gráfico 2: Relação entre a distância e as taxas de transição (ts) e transversão (tv)................. 24

Capítulo 2 – “Estudo da forma corporal de peixes do gênero Pterophyllum Heckel,

1840 (Cichlidae / Heroini) ao longo da Bacia Amazônica, utilizando

morfometria geométrica”

Gráfico 3: Distribuição dos haplótipos ao longo dos dois primeiros componentes principais

construídos com as variáveis morfométricas................................................................... 60

Gráfico 4: Distribuição das localidades amostradas ao longo dos dois primeiros

componentes principais construídos com as variáveis morfométricas............................ 60

Gráfico 5: Distribuição das localidades amostradas da espécie P. scalare (grupo Ptero 3)

ao longo dos dois primeiros componentes principais construídos com as variáveis

morfométricas.................................................................................................................. 64

Gráfico 6: Distribuição das populações amostradas da espécie P. scalare (grupo Ptero 3)

ao longo dos dois primeiros componentes principais construídos com as variáveis

morfométricas.................................................................................................................. 64

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XI

LISTA DE TABELAS

Capítulo 1 – “Filogenia e Filogeografia do gênero Pterophylum Heckel, 1840

(Cichlidae / Heroini) na Bacia Amazônica, utilizando o gene do citocromo b

Tabela 1: Resultado das análises do agrupamento dos clados hierarquizados para as espécies

P.altum e P.scalare, mostrando somente clados com permutações significativas (X2) para

estrutura geográfica (p < 0,05)..................................................................................................... 30

Tabela 2: Índices de diversidade genética, testes de neutralidade e de expansão populacional, onde

N = Nº amostral, S = N° Sítios Segregantes ou Polimórficos e NH = N° de haplótipos. Estão

representados os parâmetros populacionais de acordo com a localidade, espécie, agrupamento

filogenético formado e N > 5....................................................................................................... 33

Tabela 3: Análise de Variância Molecular (AMOVA), entre todas as localidades, com N > 5, nas

espéceis P.altum e P.scalare. É significativa a estrutura populacional nas duas espécies (P <

0,001)........................................................................................................................................... 34

Tabela 4: Comparações par a par dos valores de Fst (abaixo e cor preta) e Nm (acima e cor azul)

entre as localidades analisadas com N > 5 na espécie P.scalare............................................. 34

Tabela 5: Distância genética intralocalidade. Estão representados os parâmetros populacionais de

acordo com a localidade, espécie e agrupamento filogenético formado. O desvio padrão foi

estabelecido com base em 200 replicações de bootstrap......................................................... 35

Tabela 6: Distância genética entre localidades par a par, pertencentes à espécie P.scalare,

estabelecida com base em 200 replicações de bootstrap.............................................................. 35

Capítulo 2 – “Estudo da forma corporal de peixes do gênero Pterophyllum

Heckel, 1840 (Cichlidae / Heroini) ao longo da Bacia Amazônica, utilizando

morfometria geométrica”

Tabela 7: Pesos das variáveis morfométricas sobre os cinco primeiros componentes da análise de

componentes principais....................................................................................................... 59

Tabela 8: Pesos das variáveis morfométricas sobre os cinco primeiros componentes da análise de

componentes principais na espécie P. scalare (grupo Ptero 3)................................................ 63

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1

I. Introdução Geral

I.1. A Bacia Amazônica

A região amazônica possui a maior bacia hidrográfica do mundo, com cerca

de 7 x 106 km2, abrangendo nove países ao longo de sua extensão (Brasil, Peru,

Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela, Suriname e Guianas). É formada,

principalmente pelo rio Amazonas e um conjunto de incontáveis outros rios e

igarapés, além de um complexo sistema de sub-bacias, tendo principal destaque: a

sub-bacia do Rio Negro com 750 000 km2 de área e a sub-bacia do rio Madeira com

1.300 000 km2 (Goulding, 1980, 1981; Santos; Ferreira, 1999). Em termos de

extensão, o rio Amazonas possui 6.518 km, só sendo ultrapassado pelo rio Nilo com

6.671 km, e sua largura varia entre 1.8 km (em Óbidos) até 20 km (na

desembocadura do rio Negro) (Santos; Ferreira, 1999).

Uma importante característica desta bacia consiste em uma alta pluviosidade

que é distribuída desigualmente ao longo do ano nas diferentes sub-regiões,

fazendo com que existam épocas de seca (chamada de verão) e chuvosas

(chamada de inverno), sendo que os afluentes da margem direita (como os rios:

Madeira, Tapajós e Xingu) não têm a mesma dinâmica de chuvas que os afluentes

da margem esquerda (como o rio Negro) (Sioli, 1984; Santos; Ferreira, 1999),

promovendo ciclos de cheia e vazante, que durante o inverno (cheia) compreendem

as regiões de planície e dão origem as florestas de inundação (“várzea” e “igapó”).

Dessa forma, o sistema da bacia amazônica é basicamente de origem fluvial onde o

sistema Solimões-Amazonas representa um coletor final de toda drenagem formada

por igarapés, riachos, córregos, várzeas e rios (Santos & Ferreira, 1999).

A natureza dos rios amazônicos é diferente entre si e isso se deve a

existência de características físicas e químicas distintas das águas, o que leva a

classificação dos rios em: rios de água branca, negra e clara (Sioli, 1984). A

diferença limnológicas entre as classes dos rios amazônicos está profundamente

relacionada às origens geológicas de cada tipo de água (Lundberg et al., 1998).

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2

Geologicamente, a formação do sistema fluvial amazônico foi moldada por

profundas transformações que consistiram no surgimento da cadeia andina, na

interação dos escudos cristalinos das Guianas e do Brasil, no envolvimento de uma

planície sedimentar situada na região central e nos movimentos de invasão e

regressão das águas marinas. Dentre elas, a mais notável transformação geológica

ocorreu no Cenozóico quando os Andes emergiram formando uma importante

barreira com o oceano Pacífico, fazendo com que a comunicação existente entre o

sistema de rios da região amazônica e o oceano Pacífico fosse interrompida e um

novo mecanismo de drenagem foi estabelecido passando do sentido leste-oeste

para oeste-leste, desembocando no Atlântico (Lundberg et al., 1998). Essas

transformações geológicas não só moldaram o sistema amazônico, mas, também,

delimitaram toda distribuição fluvial na América do Sul (Lundberg et al., 1998; Albert

et al., 2006).

Dessa maneira, ao longo dos milhões de anos subseqüentes à elevação dos

Andes, o continente sulamericano tem sofrido grandes mudanças geológicas e

ambientais (Lundberg et al., 1998). O levantamento da cordilheira andina,

juntamente com outros fenômenos geológicos e variações sazonais ambientais

influenciaram os processos evolutivos e de diversificação de alguns grupos de

animais, principalmente, dos peixes (Albert et al., 2006), onde a família Cichlidae

merece destaque, por apresentar notória capacidade adaptativa e de diversificação

(Kocher, 2004; Turner, 2007).

I.2. A família Cichlidae

A família Cichlidae pertence à ordem Perciformes e representa um dos mais

diversificados grupo de peixes de água doce do mundo. Com 1.300 espécies (de um

número maior e estimado de 2000) é considerada a quarta família com o maior

número de espécies dentre os vertebrados (Kullander, 1998).

Sua distribuição geográfica abrange a África (com o maior número de

espécies), o Oriente médio (Iran e Síria), o sul da Índia e do Sri Lanka, as ilhas de

Madagascar, Cuba e Hispaniola e as Américas Norte, Central e do Sul (Figura 1)

(Kullander, 1998; 2003; Chakrabarty, 2004).

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3

Na América do Sul são conhecidas aproximadamente 291 espécies válidas

distribuídas em 39 gêneros, sendo um grande número delas encontradas na

Amazônia, possuindo importância econômica na região tanto como fonte de proteína

animal, como para fins ornamentais (Chao, 1995; Kullander, 2003).

Os peixes desta família são encontrados nos mais diferentes habitats,

compreendendo margens de rios, igarapés, florestas alagadas, lagos e locais

rochosos, tendo preferência por ambientes lênticos, existindo algumas espécies

adaptadas a ambientes reofílicos (Lowe-McConnell, 1991; Kullander, 2003). São

conhecidos pelo comportamento territorialista e de cuidado parental e, na sua

maioria, se alimentam de pequenos invertebrados e de vegetais, com um número

pequeno de grupos que se alimentam de outros peixes e de plâncton (Kullander,

2003). A diversidade encontrada neste grupo abrange os mais diferentes aspectos

que variam desde características morfológicas e ecológicas, como, também, no

comportamento e na dieta (Lowe-McConnell, 1969a; Kullander; Nijssen, 1989), o

que demonstra uma grande capacidade adaptativa nos peixes desta família (Lowe-

McConnell, 1969b; Kocher, 2004).

A família Cichlidae é monofilética e estava subdividida em oito subfamílias,

sendo três do velho mundo (Etroplinae, Pseudocrenilabrinae e Heterochromidinae) e

cinco do novo mundo (Retroculinae, Cichlinae, Astronotinae, Geophaginae e

Cichlasomatinae), (Farias et al., 1998; Kullander, 1998). Em 2000, Farias e

colaboradores rejeitaram as subfamílias Cichlinae e Astronodontinae, o que também

foi proposto por López-Fenández et al., 2005, com relação ao grupo formado pela

subfamília Cichlinae, restando monofilia para três subfamílias do novo mundo

(Retroculinae, Geophaginae e Cichlasomatinae).

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4

I.3. Aspectos evolutivos da família Cichlidae

A diversidade encontrada na família Cichlidae, como um todo, é atribuída à

complexidade de habitats ocupados por este grupo, que não só proporcionaram

eventos de especiação, como originaram um rápido processo de irradiação, como foi

visto entre os ciclídeos africanos (Liem, 1991; Parker & Kornfield, 1997, Turner,

2007) e nas Américas Central (Concheiro-Pérez et al., 2007) e do Sul (Lopéz-

Fernandez et al., 2005).

A historia evolutiva dos ciclideos teve início a partir de um grupo basal de

formato mais plesiomórfico existente no continente Gondwana, que divergiram no

ancestral comum ao agrupamento formado pelos ciclídeos da Índia e de

Madagascar e no antecessor comum dos ciclídeos africanos e neotropicais, que se

diferenciaram após o evento vicariante de separação do continente Gondwana há

aproximadamente 105 - 90 milhões de anos (Ma) (Stiassny, 1991; Farias et al.,

1998; 1999; Lundberg et al., 1998; Avise, 2000).

Uma segunda hipótese evolutiva foi proposta em trabalhos mais recentes, os

quais cogitam a possibilidade desta família ter passado por prováveis dispersões

marinhas durante o período Terciário, alcançando a porção oeste da Índia e de

Figura 1: Distribuição geográfica mundial da família Cichlidae. Fonte: Sparks, 2001.

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5

Madagascar posteriormente a separação destas regiões da Gondwana há,

aproximadamente, 150 milhões de anos (Ma) (Murray, 2001; Vences et al., 2001;

Briggs, 2003).

Desde sua separação, os ciclídeos africanos e neotropicais experimentaram

efeitos bem distintos do meio ambiente, que levaram à nítidas diferenças entre estes

dois grupos e dentro de cada um, configurando conjuntos evolutivos próprios e com

alta diversidade (Farias et al., 1999).

No caso sul-americano, principalmente na região noroeste, os ciclídeos

tiveram sua história evolutiva influenciada por diferentes mudanças geomorfológicas,

dentre as quais se destacam: o desenvolvimento dos Andes, acompanhado de

transgressões e regressões marinhas e a formação do moderno fluxo oeste-leste

dos rios Amazonas e Orinoco, proporcionando eventos para a especiação e

enriquecimento do grupo na América do Sul (Lundberg et al., 1998). Ready et al.,

(2006) relacionaram o perfil filogeográfico observado nos peixes do gênero

Symphysodon aos eventos geomorfológicos do arco do Purus e a mudança de

direção da drenagem amazônica, além da adaptação destes peixes às planícies

baixas de inundação, influenciando a distribuição genética, morfológica e a

diversificação desses peixes. Entretanto não foi observada relação entre o tempo de

divergência do gênero e a origem geológica do arco, que está estimada em três

milhões de anos (3 Ma.). Farias e Hrbek (2008) ao estudarem os padrões de

diversificação no mesmo gênero observaram que estes peixes possuem sua

distribuição filogeográfica relacionada às diferenças química e física das águas,

além da influência do arco do Purus na diversificação do gênero, já proposta por

Ready et al. (2006).

Entre os ciclídeos neotropicais, estudos filogenéticos, tanto de base

morfológica quanto molecular, demonstraram uma origem monofilética deste grupo,

que, de acordo com os caracteres compartilhados, foi posteriormente subdividido por

Kullander (1998) em cinco grandes agrupamentos (subfamílias) conhecidos como:

Cichlasomines, Geophagines, Cichlinae, Retroculinae e Astronotinae, sendo

Retroculinae a subfamília mais basal e Geophaginae e Cichlasomatinae as mais

derivadas (Kullander, 1998, Farias et al., 1998; Farias et al., 1999). López-

Fernández et al., 2005, rejeitou a subfamília Cichlinae, invalidando as sinapomorfias

(caracteres osteológicos), que colocavam Crenicichla + Teleocichla como um

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agrupamento irmão de Cichla dentro da subfamília Cichllinae, considerando tanto

Crenicichla, como Teleocichla pertencentes da subfamília Geophaginae, como já

tinha sido proposto por Farias et al. 2000, que também não encontrou monofilia para

a subfamília Astronotinae, separando Chaetobranchus de Astronotus.

Farias et al. (1998) utilizando o gene mitocrondrial 16S rRNA, identificou

monofilia, em grande parte, nas subfamílias do Neotrópico, além de maior

diversidade nucleotídica quando comparado ao grupo externo Africano (5.3%),

sugerindo que as linhagens sulamericanas apresentam origens mais antigas do que

se especula ou que estas experimentaram um rápido processo de evolução

molecular, principalmente na subfamília Geophaginae, que, segundo López-

Fernández et al., 2005, experimentou um rápido processo de irradiação (de acordo

com o sensu de Geophaginae de López-Fernandez et al, 2005).

I.4. A Tribo Heroini

A tribo Heroini (Kullander, 1998) pertence à subfamília Cichlasomatinae e é

considerada uma das mais diversas tribos entre os ciclídeos neotropicais

(Concheiro-Pérez et al., 2007). Compreende mais de 139 espécies e está

amplamente distribuída desde Buenos Aires, Argentina, até o Texas nos Estados

Unidos (Kullander, 2003; Concheiro-Peréz et al., 2007).

Na América do Sul é representada por 27 espécies distribuídas em dez

gêneros (Kullander, 1998; Santos, 2006): Heros Heckel, 1840, Pterophyllum Heckel,

1840, Uaru Heckel, 1840, Symphysodon Heckel, 1840, Hoplarchus Kaup, 1860,

Mesonauta Günther, 1862, Caquetaia Fowler, 1945, Hypselecara Kullander, 1986,

Heroina Kullander, 1996.

Este grupo é diversificado e apresenta variação morfológica principalmente

com relação aos caracteres tróficos, o que dificulta estudos filogenéticos e baseados

na morfologia deste grupo, assim como a identificação taxonômica e classificação

sistemática destes peixes (Concheiro-Peréz, 2007). No entanto a monofilia deste

grupo é bem suportada. Cichocki (1976), utilizando dados morfológicos (morfologia;

número de espinhos na nadadeira anal; ligamentos do palatino e padrões dentários),

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encontrou monofilia para o grupo, o que mais tarde foi corroborado por Kullander

(1996) e Farias et al. (1998; 1999; 2000; 2001), que também encontraram relação

filogenética entre as tribos heroines e cichlasomines. Ainda de acordo com Farias et

al. (1998), esta tribo (Heroini), juntamente com Cichlasomini, ocupa a posição mais

derivada e recente na subfamília Cichlasomatinae tendo seu aparecimento no final

do Terciário.

I.5. O gênero Pterophyllum Heckel, 1840

Dentre os diversos ciclídeos ornamentais na Amazônia, encontra-se o acará-

bandeira (Chapman et al., 1997; Yamamoto et al., 1999). Este peixe pertence ao

gênero Pterophyllum Heckel, 1840, sendo um representante da tribo Heroini, que faz

parte da subfamília Cichlasomatinae (Kullander, 1998; 2003).

As espécies da tribo Heroini apresentam, em geral, um corpo lateralmente

bem achatado de contornos dorsais e ventrais arqueados.

Isso é bem evidente no gênero Pterophyllum, que também apresenta as

nadadeiras dorsal e anal altas com raios de comprimento crescente e decrescente

no sentido antero-posterior dando uma aparência triangular a forma corporal (Lowe-

McConnell, 1969a; Kullander, 1986). A nadadeira caudal é truncada e apresenta

filamentos de raios extensos, a nadadeira pélvica apresenta raios de comprimento

alongado e juntamente com a nadadeira anal não apresentam escamas. O corpo

apresenta com um contorno pré-dorsal côncavo com a presença de um entalhe

próximo do focinho; a base da nadadeira dorsal é convexa e semicircular e o

contorno total dorsal é maior que o ventral. O focinho é longo e triangular, visto

lateralmente, e a região interorbital é levemente elevada. As mandíbulas são

anteriores à região orbital sendo a mandíbula inferior situada posteriormente,

levemente projetada para frente e inclinada para cima. O abdômen e o pedúnculo

caudal são curtos, as escamas pequenas e lábios moderadamente grossos

(Kullander, 1986).

A coloração é cinza prateada contrastando com barras verticais de cor cinza

amarronzadas ou pretas distribuídas ao longo do corpo. Além disso, contém a região

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Figura 3: Pterophyllum altum (Pellegrin, 1903).

Lee Newman

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Bjame Saetrang

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peitoral prateada e uma mancha preta na base da nadadeira dorsal. Possuem baixa

mobilidade, comportamento territorialista e são encontrados em água branca ou em

água negra com aspecto turbido, preferindo habitats lacustres ou águas lênticas

próximas às margens de vegetação densa (Kullander, 1986) e alimentam-se de

pequenos invertebrados (Yamamoto et al., 1999). Sua distribuição geográfica

compreende: Peru, Brasil, Venezuela, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa e

Suriname (introduzido) (Lowe-McConnell, 1969a; Kullander, 1986; 2003).

De acordo com Kullander (1986, 2003) existem três espécies válidas neste

gênero: P. scalare (Schultze, 1823), P. altum Pellegrin, 1903 e P. leopoldi (Gosse,

1963).

P. scalare (Localidade tipo: localidade incerta): é

a mais estudada dentre todas as espécies conhecidas e

bem apreciada entre os peixes ornamentais. Apresenta

7,5cm de comprimento padrão (CP), 30-39 escamas ao

longo da linha lateral e o entalhe no contorno pré-dorsal

próximo ao focinho, sendo menos aparente a mancha

preta localizada na base da nadadeira dorsal citada na

descrição acima. Sua distribuição geográfica abrange a

região da bacia amazônica no Peru, Brasil, Colômbia ao longo dos rios Ucayali,

Solimões, Amazonas (até Belém), médio rio Negro e nos rios Madeira e Branco.

Também é encontrado nos rios Araguaia (estado de Tocantins) e Oiapoque entre o

estado do Amapá (BR) e a Guiana Francesa, no rio Essequibo na Guiana e

recentemente foi introduzido no Suriname. (Lowe-McConnell,

1969a; Kullander, 1986; 2003) (Figura 2 e 5).

P. altum (Localidade tipo: alto do rio Orinoco/

Município de Atabapo): os representantes desta espécie

possuem um corpo mais triangular, barras verticais mais

amplas, contorno pré-dorsal mais visível, maior número de

escamas (46-48) ao longo da linha lateral e comprimento

padrão (CP) de 6,5cm. Sua distribuição compreende o alto rio

Negro (bacia amazônica) e alto rio Orinoco nas regiões da

Colômbia e Venezuela, preferencialmente em água preta e limpa (Lowe-McConnell,

1969a; Kullander, 1986; 2003) (Figura 3 e 5).

Figura 2: Pterophyllum scalare (Schultze, 1823).

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P. leopoldi (Localidade tipo: nas proximidades (90 km) de Manacapuru): os

representantes desta espécie diferenciam-se por terem a região pré-dorsal menos

evidente, apresentando um contorno mais contínuo. Na base da nadadeira dorsal,

possui a mancha preta, já descrita acima, bem evidente.

Dentre as três espécies é a que tem os menores

comprimento padrão (CP) e número de escamas ao longo

da linha lateral, que são respectivamente 5 cm e 27-29.

São encontrados nas águas dos rios Solimões e

Amazonas desde Manacapuru até Santarém (BR) e na

drenagem do rio Essequibo na Guiana (Kullander, 1986;

2003). De acordo com Kullander (1986), esta é a espécie,

que apresenta maior semelhança morfológica com o

gênero Mesonauta Günther, 1962 (Figura 4 e 5).

Historicamente, alguns estudos ressaltaram algumas questões sobre análise

taxonômica e filogenética, gerando incertezas na delimitação e na estrutura deste

gênero. Existem cinco espécies nominais neste gênero sendo: Zeus scalaris

Schultze, 1823 (Platax scalaris Cuvier, 1831), Plataxoïdes dumerilii Castelnau, 1855,

Pterophyllum altum Pellegrin, 1903, Pterophyllum eimekei Ahl, 1928 e Pterophyllum

leopoldi (Gosse, 1963) (Kullander, 1986; 2003). Lowe-McConnell em 1969(a) citou

problemas sobre a validação do gênero e a existência de sobreposição dos

caracteres merísticos. Kullander em 1986 ressaltou que o grupo apresentava uma

baixa resolução taxonômica, tendo como causas a falta ou a conservação precária

de exemplares tipo, a existência de espécies sinônimas e a considerável variação

dos caracteres merísticos utilizados. Dessa forma, sugeriu que Zeus scalaris,

Plataxoïdes dumerilii, Pterophyllum eimekei eram do mesmo gênero (Pterophyllum)

e espécie sinônimas de Pterophyllum scalare e que Pterophyllum altum e

Pterophyllum leopoldi seriam duas espécies distintas.

Atualmente estas três espécies estão definidas para o gênero, mas estudos

de natureza evolutiva, principalmente moleculares, são escassos neste grupo. Além

disso, a existência de variação morfológica e a sobreposição dos caracteres

merísticos, como o número de escamas, podem representar diferentes mortipos, o

que dificulta a identificação taxonômica das espécies deste genêro (Lowe-

McConnell, 1969(a); Kullander, 1986).

Figura 4: Pterophyllum leopoldi (Gosse, 1963).

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Figura 5: Esquema da distribuição geográfica das espécies do gênero Pterophyllum. * O asterisco de cor verde indica a localidade, aonde a espécie P. scalare foi introduzida.

Dessa maneira, diante da carência de dados, da grande capacidade

adaptativa dos heroíneos, em geral, resultando na alta diversidade morfológica desta

tribo e da variedade de morfotipos existente nas espécies do gênero Pterophyllum,

este trabalho propõe um estudo filogeográfico, evolutivo e morfométrico nas três

espécies válidas de peixes do gênero Pterophyllum, amplamente distribuídos pela

bacia amazônica, buscando entender como se encontra a distribuição da variação

genética e morfométrica nas espécies ao longo da respectiva distribuição geográfica,

assim como investigar a delimitação da variação morfológica e genética das três

espécies ao longo da bacia amazônica, utilizando, como ferramentas, o gene

mitocondrial do citocromo b e morfometria geométrica.

Esta dissertação foi desenvolvida em dois capítulos, visando simplificar a

redação e uma melhor compreensão do objetivo proposto deste trabalho. Dessa

forma, no primeiro capítulo, foi abordado sob o enfoque genético e no segundo foi

trabalhado o aspecto morfométrico aplicados no estudo de peixes amostrados ao

longo dos rios Negro, Solimões e Amazonas.

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CAPÍTULO 1

“Filogenia e Filogeografia do gênero Pterophyllum Heckel,

1840 (Cichlidae / Heroini) na Bacia Amazônica, utilizando o

gene do citocromo b”.

1. Introdução

Estudos filogeográficos proporcionam consistente informação evolutiva em

peixes de água doce, pois têm a capacidade de estabelecer ligações entre a

evolução dos organismos aquáticos e os eventos hidrogeológicos que os cercam,

uma vez que dependem diretamente dos sistemas fluviais como meio de dispersão

(Bermingham & Martin, 1998; Avise, 2000; Sivasundar et al., 2001). Neste contexto,

marcadores moleculares genéticos (nuclear e mitocondrial) vêm sendo amplamente

utilizados, mostrando-se muito eficazes em reconstruções filogeográficas e outras

abordagens evolutivas em diferentes níveis taxonômicos, podendo chegar ao de

espécie (Avise, 1994; Puorto et al., 2001).

Dentre os marcadores moleculares genéticos, o DNA mitocondrial (DNAmt)

tem sido empregado extensivamente nos mais diferentes aspectos evolutivos como,

por exemplo, em: reconstruções genealógicas, estudos filogenéticos, no

delineamento de processos evolutivos e na diversificação de um dado taxa em

relação a sua distribuição geográfica (Bermingham & Mortiz, 1998; Avise, 2000).

Isso se deve ao fato desta molécula ser mais compacta, simples e apresentar um

mecanismo de evolução mais rápido, quando comparado ao DNA nuclear. Além

disso, possui o padrão de herança vinculado à mãe (Brown et al., 1982; Meyer,

1993; 1994; Ballard & Whitlock, 2004). Essas características, em conjunto, fazem

esta molécula útil para estudos evolutivos (Lee et al., 1995).

Em se tratando do DNAmt, o gene do citocromo b tem sido a região mais

conhecida e utilizada em estudos moleculares dos mais variados como em estudos

sistemáticos, filogenéticos e populacionais de vertebrados, principalmente de peixes

(Meyer & Wilson, 1990; Meyer, 1993; 1994). No entanto, pesquisas evolutivas e

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moleculares nesse grupo ainda são escassas se levarmos em conta a grande

diversidade de peixes encontrada nesta família e suas questões evolutivas

(Bermingham & Martin, 1998). Isto é mais evidente na região neotropical, mesmo

esta área possuindo uma das maiores drenagens de água doce do mundo

(amazônica) e uma rica fauna ictiológica, cuja variedade de peixes da família

Cichlidae merece destaque (Kullander, 1998; Farias et al., 1998).

Até hoje, a maioria dos estudos moleculares estão concentrados em ciclídeos

do velho mundo. Entre os estudos com táxons neotropicais poucas pesquisas

possuem representantes sul-americanos (ex. Zardoya et al., 1996; Roe et al., 1997;

Concheiro-Pérez et al., 2007), portanto questões taxonômicas e filogenéticas em

relação aos grupos da América do Sul continuam sem respostas e confusas (Farias

et al., 1998; Kullander; 1998). Farias e colaboradores, em 1998, foram pioneiros no

estudo molecular e sistemático de táxons sul-americanos aumentando esforços em

1999, 2000 e 2001. Farias et al. (1998; 1999; 2000; 2001) e López-Fernández et al.

(2005), utilizando dados moleculares e morfológicos em conjunto, obtiveram maior

resolução filogenética entre os ciclídeos neotropicias, mostrando a utilidade dos

dados moleculares mitocondriais em estudos evolutivos de grupos de ciclídeos,

como no caso dos geofagíneos e heroíneos (Farias et al., 1998; López-Fernández

et al., 2005;Concheiro-Pérez et al., 2007).

A tribo Heroini (Kullander, 1998) é uma das maiores e mais diversas tribos

entre os ciclídeos neotropicais. Atualmente, compreende 139 espécies válidas, que

estão amplamente distribuídas desde Buenos Aires (Argentina) até o Texas

(Estados Unidos), apresentando maior representatividade na América Central, onde

constituem 25% da ictiofauna da região (Kullander, 2003).

Além dos níveis de diversidade de espécies encontrados, os representantes

deste grupo possuem altos níveis de variação morfológica e diferentes morfotipos

(ex:Pterophyllum sp.), dificultando a identificação taxonômica nesta tribo e reflete a

existência de capacidade adaptativa, como é o caso dos heroíneos da

centroamérica (Concheiro-Pérez et al., 2007), indicando versatilidade de resposta

evolutiva deste grupo de peixes perante variações geológicas e ambientais

(Concheiro-Pérez et al., 2007, Ready et al., 2006). Recentemente Ready et al.

(2006) e Farias & Hrbek (2008), observaram que a história do desenvolvimento

geológico amazônico, juntamente com suas características ambientais participaram

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do padrão de distribuição e diversificação do heroíneo Symphysodon, ao longo de

sua ampla distribuição pela planície baixa amazônica.

Uma vez que: 1) eventos geomorfológicos e hidrológicos podem influenciar o

padrão de distribuição e evolução dos organismos aquáticos; 2) marcadores

genético - moleculares são eficazes em estudos filogeográficos e de taxonômicos; 3)

existem relações entre o padrão filogeográfico dos peixes da tribo Heroini e os

eventos geológicos que os cercam; 4) é conhecida a variedade de padrões

biogeográficos para região amazônica e 5) dados evolutivos sobre os ciclídeos

neotropicais são carentes, o presente trabalho propõe uma análise filogeográfica,

populacional e evolutiva das espécies pertencentes ao gênero Pterophyllum Heckel,

1840, no contexto amazônico, com a finalidade de entender como estas espécies

estão evolutivamente relacionadas entre si e como se encontram geneticamente

distribuídas pela bacia amazônica, buscando os prováveis processos atuantes na

distribuição filogeográfica destes peixes ao longo da bacia amazônica, utilizando

como ferramenta o gene mitocondrial do citocromo b.

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1.1. Objetivos

1.1.1. Objetivo Geral

Buscar as relações filogenéticas entre os indivíduos coletados e entre as

espécies descritas para o gênero e, com base nisso, relacionar à taxonômia válida

para o gênero e, partir disso, definir e discutir o perfil genético populacional e

filogeográfico observado nas espécies do gênero Pterophyllum da Amazônia, ao

longo da área coletada, buscando entender os prováveis processos evolutivos, que

influenciaram ou que matem a distribuição genética encontrada nas espécies

delimitadas, utlizando a identificação taxonômica, as relações filogenéticas, a

distribuição filogeográfica, a estrutura e as características populacionais de cada

espécie, associada à distribuição geográfica coletada, tendo em vista as hipóteses

filogeográficas para diversificação evolutiva no ambiente amazônico.

1.1.2. Objetivos Específicos

Identificar os indivíduos coletados, com base na descrição taxonômica de

cada espécie descrita para o gênero;

Seqüenciar e caracterizar o segmento do gene mitocondrial citocromo b no

grupo de estudo;

Inferir as relações filogenéticas entre os indivíduos coletados;

Relacionar a identificação taxonômica com a hipótese filogenética resultante;

Testar a existência de hipóteses de distribuição filogeográfica em cada

espécie;

Determinar os índices de diversidade genética nas espécies, de acordo com

as localidades amostradas;

Testar estrutura genética populacional, dentro de cada espécie, entre as

localidades amostradas;

Definir a distribuição genética populacional das espécies do gênero ao longo

da área coletada, testando a correlação entre a distância genética e

geográfica;

Discutir a distribuição genética populacional e o padrão filogeográfico das

espécies do gênero Pterophyllum perante o contexto amazônico.

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2. Material e Método

2.1. Amostragem

Levando-se em conta a distribuição dos peixes do gênero Pterophyllum

(Kullander, 2003), foram coletados 328 espécimes ao longo dos rios: Negro (Boa

Vista N=16, Santa Isabel N=34, Barcelos N=21 e Novo Airão N=4), Solimões

(Amanã N=17, Mamirauá N=45, Campina N=2, Iranduba N=16 e Janauacá N=27),

Amazonas (Catalão N=29, encontro das águas, Careiro da Várzea N=5, Careiro do

Castanho N=28), e alguns afluentes (Purus N=33, Solimões X Tapajós, Santarém

N=51), totalizando catorze pontos de coleta (Figura 6), das quais oito foram

coletadas, anteriormente, por Izeni P. Farias (seis localidades) e por Tomas Hrbek

(dois pontos). A diferença do N coletado é decorrente de problemas logísticos de

campo (tempo, clima e recursos financeiros). As coletas foram autorizadas pelo

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)

sob o processo de n° 02001.000162/2006-67.

O processo de captura foi efetuado com o auxílio de um rapiché e de uma

rede de cerco. Após a captura, anestesiou-se cada exemplar com 0,4 ml - 1,0 ml de

uma solução de eugenol 10% (diluído em etanol), de acordo com o protocolo de

eutanásia estabelecido pela American Veterinary Medical Association (AVMA).

Posteriormente, a nadadeira peitoral direita de cada espécime foi removida e fixada

em um tubo eppendorf contendo álcool 95%. Após a retirada da nadadeira, cada

indivíduo foi etiquetado e fixado numa solução de formol diluída a 10%, que foi

substituída por uma solução de álcool 70%, sendo estes as amostras que serão

utilizadas no próximo capítulo.

Do total de coletas, de seis pontos somente foram obtidos o tecido, enquanto

que o restante das localidades (oito pontos) tem-se tanto o tecido como o indivíduo

fixado. Cada amostra de tecido foi depositada na Coleção de Tecidos de Genética

Animal – CTGA (Fiel Depositário/CGEN) do Laboratório de Evolução e Genética

Animal (ICB / UFAM).

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2.2. Identificação Taxonômica

Para traçar o perfil genético e filogeográfico das espécies existentes no

gênero é preciso delimitar taxonomicamente o indivíduos coletados. Para isso, os

espécimes coletados foram identificados com base na descrição taxonômica

(abordada no item I, 5 da introdução geral) das espécies conhecidas para o gênero

Pterophyllum, segundo Kullander (1986; 2003), resumida em:

P. scalare: 7,5cm de comprimento padrão (CP); 30-39 escamas ao longo da

linha lateral; presença do entalhe próximo ao focinho; a mancha escura

localizada na base da nadadeira dorsal é menos aparente;

Figura 6: Mapa com a distribuição dos pontos amostrados. As cores sinalizadas dentro de cada circunferência indicam a ocorrência de qual espécie na área coletada. A figura de triângulo (vermelho) simboliza a cidade de Manaus, indicando um ponto de referência. A distância relativa entre os pontos amostrados, considerando o curso dos rios, está exposto no Anexo I.

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P. altum: 6,5cm de comprimento padrão (CP); 46-48 escamas ao longo da

linha lateral; presença do entalhe próximo ao focinho; a mancha escura

localizada na base da nadadeira dorsal aparente; corpo mais triangular;

barras verticais mais amplas;

P. leopoldi: 5,0cm comprimento padrão (CP); 27-29 escamas ao longo da

linha lateral; entalhe próximo ao focinho menos evidente; mancha escura na

base da nadadeira dorsal bem evidente.

Vale ressaltar que a amostragem efetuada no Careiro da Várzea não teve

seus indivíduos coletados e consequentemente não foram identificados em

laboratório, sendo considerados como P. leopoldi por meio de comunicação

pessoal da identificação de campo do coletor professpr Dr. Tomas Hrbek.

2.3. Métodos Moleculares: Extração de DNA, Amplificação e

Seqüenciamento

Uma amostra (5 – 25 mg) de tecido da nadadeira fixada em álcool foi

cortada e o DNA total (nuclear e mitocondrial) foi isolado, seguindo o protocolo de

extração de DNA via proteinase K/ fenol/ clorofórmio de Sambrook et al. (1989), que

compreende as seguintes etapas: (1) rompimento da célula, (2) isolamento dos

ácidos nucléicos pela remoção das proteínas e outras estruturas celulares e (3)

purificação final, tendo como produto final o DNA diluído. O material genético

extraído foi submetido à reação de amplificação da região do gene mitocondrial do

citocromo b, via PCR (Polimerase Chain Reaction – Reação da Polimerase em

Cadeia), utilizando os primers (iniciadores) Cich_Glu5 Lcytb (forward) – 5’ – GAC

YAA TGA CTT GAA AAA CCA C - 3’ e Cich_Thr6 Rcytb (reverse) – 5’ – TGG TGC

TCT ACR CTG ACY TAC T - 3’, ambos desenvolvidos para este trabalho por Tomas

Hrbek. A PCR foi realizada para um volume final de reação de 15 µl, contendo: 1,5 µl

de dNTPs (10 mM); 1,2 µl de tampão 10X (100 mM Tris – HCL / pH 8.4, 500 mM

KCl); 1,2 µl de cada primer (2 µM); 1,5 µl de MgCl2 (25 mM); 1µl de DNA (50 ng/µl);

0,3 µl (0,3 U) da DNA polimerase Taq (1U/µl) e 7,1 µL de água miliq. Os ciclos de

amplificação foram realizados da seguinte maneira: um único ciclo de pré-

desnaturação de 1 minuto a 72 oC, seguido de 35 ciclos de desnaturação a 94 oC

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por 40 segundos; anelamento a 52 oC por 40 segundos e extensão a 72 oC por 1

minuto, terminando com uma etapa de extensão final realizada a 72 oC por 5

minutos. O produto da PCR foi visualizado em gel de agarose 1%, corado com

brometo de etídeo (EtBr - 0,5 µg/mL) e observado em um transluminador de luz UV

Image Master (Pharmacia Biotech). As amostras da PCR positivas foram purificadas

através da precipitação com acetato de amônia e etanol 95%, para que os produtos

da PCR sejam limpos de resíduos de baixo peso molecular, tais como sais, primers

e dNTPs. Para a reação de seqüenciamento (também uma PCR) foi utilizado o kit de

reação kit “ET Terminator Cycle Sequencing Kit” (Amersham Bioscience), em uma

placa específica, para um volume final, por amostra, de 10 µL, contendo: 4 µL de

DNA amplificado e purificado; 2 µL de dois oligonucleotídeos (primers - iniciadores)

internos (2 µM); 2 µL de tampão do kit e 2 µL de água autoclavada deionizada. Os

ciclos da reação de seqüenciamento foram realizados a 52 oC (anelamento) e

seguindo protocolo recomendado pelo fabricante do kit de reação kit “ET Terminator

Cycle Sequencing Kit” (Amersham Bioscience). Como primers foram utilizados o

PteroIntF510_Cytb (forward) - 5’ – CTT TGA GGG GGC TTT TCA GT - 3’

(seguimento final do gene) e PteroIntR701_Cytb (reverse) - 5’ – GTC TTT GTA

GGA RAA GTA GGG - 3’ (seguimento inicial do gene), ambos internos e

desenvolvidos para este trabalho por Tomas Hrbek. Os produtos resultantes desta

PCR foram precipitados adicionando-se 1 µL de acetato de amônia (7,5 M) e 27,5 µL

de etanol absoluto, de acordo com as instruções do fabricante. Posteriormente

esses produtos foram ressuspendidos e resolvidos no seqüenciador automático ABI

3130xl (Applied Biosystems Inc.).

2.4. Análises Moleculares

2.4.1. Alinhamento, Edição de seqüências e Análises de Composição Molecular

As seqüências obtidas foram editadas manualmente no programa BioEdit

Version 7.0.9.0/2007 (Hall, 1999) e alinhadas por meio do aplicativo ClustalW

(Thompson et al., 1994), implementado no BioEdit.

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A composição molecular de bases, a identificação de sítios variáveis e a

existência de códons de parada inesperados foram checados no programa MEGA

4/2007 (Kumar et al., 2004). Com o programa DAMBE/4.5.53/2001 (Xia, 2000)

avaliou-se a existência de saturações entre os eventos mutacionais de transversão

(TV) e transição (TS), comparando graficamente as distâncias genéticas (p) e o

número de substituições (TS ou TV) para casa posição no códon (Farias et al.,

2001). Se a relação ts/tv for < 1, será evidenciado a existência de saturação. Do

banco de dados gerado foram escolhidas algumas seqüências, que foram

submetidas ao banco de dados do GeneBank do NCBI (www.ncbi.nlm.nih.gov), para

checagem da identidade do segmento seqüenciado, por meio do aplicativo online

BLAST do NCBI .

2.4.2. Análises Moleculares

a) Análise Filogenética

Com o banco de dados das seqüências foi gerada uma árvore filogenética

entre os haplótipos obtidos, para a determinação de relacionamento evolutivo entre

os indivíduos identificados em cada espécie e entre as espécies do gênero, visando

traçar hipóteses filogenéticas para o grupo e, também, relacionar a identificação

taxonômica morfológica com o perfil genético molecular encontrado. A árvore

filogenética entre os haplótipos foi desenvolvida utilizando o critério de Máxima

Verossimilhança (MV) (Felsenstein, 1981), implementado no programa

Treefinder/2008, (Jobb, 2008), com base no modelo molecular evolutivo de

Hasegawa – Kishino – Yano (HKY85), porque este modelo molecular evolutivo

considera a composição molecular desigual entre as bases e diferenças na taxas de

substituição nucleotídica (transição e transversão), mostrando-se um modelo robusto

e de processamento computacional viável. Como teste de consistência da árvore foi

utilizado o método de bootstrap com 1000 pseudoreplicações de amostragem.

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b) Análise Filogeográfica

Com base nos haplótipos obtidos em cada espécie, foi estimada uma rede de

haplótipos usando o programa TCS 1.18 (Clement et al., 2000) que utiliza o

algoritmo de parcimônia estatística (SP) descrito por Templeton et al. (1992),

estabelecendo relacionamento entre os haplótipos de acordo com os passos

mutacionais. A rede de haplótipos formada foi submetida ao processo descrito por

Templeton et al. (1987) e Templeton & Sing (1993) de hierarquização, onde os

haplótipos distantes por um passo mutacional entre si são agrupados no sentido da

extremidade para o interior da árvore haplotípica, formando uma série de níveis mais

complexos de agrupamentos, em que, no final, encontram-se agrupados num único

nível maior, que depois é traduzido em uma matriz de dados. Com estes dados e as

distâncias geográficas entre as localidades amostradas, que foram estimadas em

quilômetros, seguindo o curso dos rios, foi realizada a análise de NCA (Nested

Clade Analysis – Análise de Clados Agrupados) (Templeton, 1998) no programa

GEODIS 2.4 (Posada et al., 2000). Os resultados desta análise (Dc e Dn

significativos) foram interpretados por meio de uma chave de inferência

desenvolvida por Templeton (2005), disponível online pelo endereço

http://darwin.uvigo.es. A distância entre os pontos de coleta foi estimada com base

no programa GoogleEarth™ (Anexo I ). Embora existam ressalvas e críticas com

relação a este método analítico (ex.Panchal & Beaumont, 2007; Petit, 2008),

compartilho a opinião com outros autores de que a análise de NCA é uma

abordagem útil para determinação de inferências ao redor de antigos e atuais

processos evolutivos atuantes na modelagem e na distribuição da diversidade

genético-populacional, auxiliando no desenvolvimento de hipóteses filogeográficas

passíveis de validação em outros testes estatísticos (ex.Templeton, 2004; Garrick et

al., 2008). Dessa maneira, testes adicionais serão desenvolvidos, sempre que

necessário, para a validação das inferências oferecidas pelo NCA.

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c) Análise populacional (por localidade)

Feito o relacionamento molecular e evolutivo dos haplótipos e a distribuição

filogeográfica em cada espécie, foram desenvolvidas análises populacionais, com

base na identificação taxonômica, nos agrupamentos de haplótipos formados por

Máxima Verossimilhança e pela rede de haplótipos, considerando um N amostral

superior a cinco (N < 5) e cada ponto de coleta como uma unidade populacional,

buscando mapear a distribuição e detectar o comportamento da diversidade gênica

ao longo das áreas amostradas.

Com o programa, Arlequin/3.1 (Excoffier et al., 2005) determinou-se os

seguintes parâmetros moleculares populacionais (localidade – ponto de coleta): 1 - o

nível de variação genética dentro das localidades amostradas, com base no número

de haplótipos observados em cada população (na), assumindo que cada mutação

nova gera um novo haplótipo; 2 - o índice de diversidade gênica (h), probabilidade

de duas seqüências tomadas ao acaso em uma população sejam diferentes entre si

(Li, 1997); 3 - o índice de diversidade nucleotídica (p ), média das diferenças

nucleotídicas em cada sítio entre duas seqüências tomadas da população ao acaso

(Tajima, 1983 ; Nei, 1987; Li, 1997) e 4 - número de sítios segregantes (S), sítios

que são variáveis ao longo de seqüências distintas (Li, 1997).

Com o mesmo programa (Arlequin/3.1) foi testada a existência de estrutura

de populacional, efetuando-se uma análise de variância molecular (AMOVA) global e

par a par, considerando cada ponto de coleta como uma população e N amostral

mínimo de cinco, com o nível de significância das comparações par a par ajustado

pela correção de Bonferroni (Rice, 1989). Essa análise é análoga às análises de

variância convencional (ANOVA), porém avalia a variância de freqüências gênicas,

considerando as mutações existentes entre os haplótipos, seguindo níveis

hierárquicos de comparações entre haplótipos de: 1 - uma mesma população; 2 -

populações distintas vistas para a par e 3 - grupos populacionais regionais (Excoffier

et al., 1992).

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O fluxo gênico foi avaliado com base no número de migrantes por geração

(Nm), estabelecido pela relação entre o índice Fst de Wright (1951), o tamanho

efetivo populacional (Ne) e a taxa de migração entre duas populações (m), sob o

modelo de migração de ilhas, sendo Fst = 1/(4Nm+1) (Wright, 1951). Para o DNAmt

a equação é modificada para Fst = 1/(2Nm+1), em conseqüência do mecanismo de

evolução haplóide e herança materna desta molécula (Ballard & Whitlock, 2004). O

nível de significância das comparações múltiplas foi corrigido pela correção de

Bonferroni (Rice, 1989).

Para testar se as mutações observadas eram neutras ou estavam sob

seleção foram realizados os testes de neutralidade de D de Tajima (1989) e Fs de

Fu (1997), com nível de significância ajustado pela correção de Bonferroni (Rice,

1989). O teste de D de Tajima examina a significância da diferença entre o número

de sítios segregantes (S) e a diversidade nucleotídica encontrada (p ). O teste Fs de

Fu é baseado na probabilidade de observar determinado número de alelos em uma

amostra de determinado tamanho, levando em conta a diversidade nucleotídica

encontrada (p ). Ambos os métodos estão embasados no balanço entre a

neutralidade e a seleção (Li, 1997; Ford, 2002). Ademais, estes dois testes são

sensíveis aos eventos de variação no tamanho populacional, e por isso foram

aplicados, também, com esta finalidade analítica (Ford, 2002; Durand et al., 2005;

Santos et al., 2007).

Em cada localidade foi observado a distribuição das freqüências haplotípicas

(Mismatch Distribution) entre o observado e o esperado, considerando a distribuição

das diferenças par a par de haplótipos de uma dada população, partindo do

pressuposto de que uma população em equilíbrio demográfico (de tamanho

constante) apresenta uma distribuição multimodal (Rogers; Harpending, 1992). Para

testar a significância dessa distribuição foi aplicado um teste que utiliza o índice de

desigualdade de Harpending (r) com o suporte de consistência de 10.000

replicações e um intervalo de confiança de 95% (Durand et al., 2005).

O teste de correlação de Mantel (Mantel, 1967) foi aplicado buscando testar

alguma correlação significativa entre as distâncias genéticas por localidade (Fst)

encontradas e a distância geográfica entre as mesmas, ajustando o nível de

confiança para 1000 permutações com o nível de significância estabelecido em 5%.

O cálculo do Nm (número de migrantes), os testes de neutralidade (D de

Tajima e Fs de Fu) e de Mantel foram desenvolvidos, também, no programa

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Arlequin/3.1, enquanto que a representação gráfica da distribuição e o teste de

Mismatch Distribution foram realizados no aplicativo DNAsp/4.5/2008 (Rozas et al.,

2003).

Calculou-se, também, a distância genética (d) entre e dentre os pontos

coletados, com base na identidade ou similaridade genética entre os indivíduos

dentro de uma mesma localidade e entre localidades distintas, tomadas duas a

duas, com base nas freqüências alélicas encontradas (Nei, 1972), utilizando, para

isso, o programa MEGA 4 / 2007 (Kumar et al., 2004).

Por causa do número amostral (N) inferior a cinco (N < 5) as localidades

Campina (N=2) e Novo Airão (N=4) foram descartadas das análises populacionais.

3. Resultados

3.1. Alinhamento, Edição de seqüências e Análise de Composição

Molecular

Do total coletado, foram obtidas, amplificadas com sucesso e seqüenciadas,

244 seqüências alinhadas com 1134 pb (pares de base), dos quais 190 foram

polimórficos e 175 parcimoniosamente informativos. A composição percentual de

bases foi de T = 31,3%; C = 31,1%; A =24,1% e G = 13,5% (Gráfico 1). Foi

encontrado apenas um códon parada na porção terminal (3’) da seqüência do

citocromo b. As seqüências obtidas corresponderam à seqüência depositada no

GeneBank do NCBI de Pterophyllum scalare (acesso: AF370676, Farias et al.,

2001), de acordo com o BLAST efetuado. A relação entre as taxas de transição (ts),

transversão (tv) e a distância genética não indicou existência de saturação, estando

indicado no gráfico 2 divergências moleculares entre e dentro de cada espécie.

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Gráfico 2: Relação entre a distância e as taxas de transição (ts) em azul e transversão (tv) em verde. Estão representados nos dois eixos deste gráfico a distribuição das divergências existentes entre e dentre as três espécies estudadas do gênero.

31,1%

24,1%

13,5% 31,3%

TCAG

Gráfico 1: Composição percentual de bases.

3.2. Análises Moleculares

a) Análise Filogenética

Na árvore de haplótipos resultante, utilizando o critério de máxima

verossimilhança (MV), foi possível observar três grandes grupos, os quais foram

chamados de P. leopoldi, P. altum e P. scalare, representando as três espécies

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morfológicas e taxonômicas do gênero, formando agrupamentos monofiléticos com

níveis de bootstrap maiores que 90%. A árvore foi coincidente com a identificação

taxonômica dos indivíduos coletados. O agrupamento P. leopoldi (Ptero1), com cinco

exemplares, foi representado somente pela localidade do Careiro da Várzea,

enquanto que o grupo P. altum (Ptero2) contém 24 indivíduos provenientes de Santa

Isabel (14) e de Boa Vista (10) e o grupo P. scalare (Ptero3) compreendeu em 215

espécimes de todas as localidades, exceto do Careiro da Várzea (Figura7).

b) Análise Filogeográfica

Por representarem três linhagens filogenéticas e três distintos grupos

taxonômicos, resultando na falta de conexão no network (rede) entre os haplótipos

das três espécies pela parcimônia estatística ao nível de confiança de 95% e pela

existência de muitas ambigüidades (loops), as redes (networks) das três espécies

foram desenvolvidas separadamente, de acordo com as linhagens filogenéticas

principais formadas na árvore de MV (Máxima Verossimilhança). Como resultado,

foram obtidas duas redes (networks) referentes, somente, ás espécies P. altum e

P.scalare, já que P. leopoldi contém indivíduos de uma mesma localidade (Careiro

da Várzea) e este network seria inviável para as análises de NCA. As redes de

haplótipos das espécies P. altum e P. scalare formaram clados hierarquizados de

níveis máximos de 4 e 7, respectivamente (Figura 8 e 9). Os clados hierarquizados

cujas hipóteses nulas de panmixia ou de ausência de relação entre a distribuição

geográfica e haplotípica foram rejeitadas (p < 0,05) estão discriminados na (Tabela

1). A análise de NCA para o grupo P. altum sugere que o episódio demográfico mais

antigo representa uma colonização a longa distância combinada com eventos

antigos de expansão geográfica gradual e de fragmentação (nível 4) (Figura 8 e

Tabela 1). Já para o grupo P. scalare a análise de NCA propõe como episódios mais

antigos eventos de isolamento por distância e de fluxo gênico restrito, além de

episódios de colonização a longa distância combinada com eventos de uma antiga

expansão geográfica e gradual juntamente com episódios de fragmentação (nível 6).

Num momento mais recente, o NCA sugere a existência de fragmentação alopátrica

e de colonização a longa distância combinada com uma antiga e gradual expansão

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geográfica com eventos de fragmentação (nível 5), seguido por eventos de fluxo

gênico restrito, isolamento por distância e de fragmentação alopátrica (nível 4), com

subseqüentes períodos de colonização a longa distância em conjunto com uma

antiga e gradual expansão geográfica e com processos de fragmentação, além da

existência eventos de fragmentação alopátrica (nível 3). Nos momentos mais

recentes de história genealógica e evolutiva do grupo P. scalare, a análise de NCA

indica provável expansão geográfica contígua (nível 2) (Figura 9 e Tabela 1). A

distribuição e a freqüência dos haplótipos, obtidos nos networks, das duas espécies

(P. altum e P.scalare) estão disponibilizados no Anexo II.

c) Análise genético - populacional e demográfica (por localidade)

A partir dessas três espécies (P.leopoldi, P.altum e P.scalare), linhagens

evolutivas monofiléticas e grupos taxonômicos distintos, e tendo como base: o

agrupamento filogenético, distribuição filogeográfica, localidade e um N superior a

cinco (N > 5), foram obtidos os índices genético-populacionais, os resultados de

estrutura e de distribuição populacional, por espécie e ponto de coleta amostrado.

Dessa forma, as localidades de Campina (N = 2), Novo Airão (N = 4) e Boa Vista (N

= 3), agrupadas em P.scalare foram descartadas dessas análises por apresentarem

um número amostral inferior a cinco.

Os parâmetros genéticos populacionais obtidos, em cada espécie, podem ser

visualizados na Tabela 2. O número de haplótipos por localidade variou desde 4

(Boa Vista) a 6 (Santa Isabel) para P.altum e de 2 (Santa Isabel) a 15 (Catalão) para

P.scalare, dentro do total de 97 haplótipos nesta espécie. O número de sítios

polimórficos em P.altum esteve entre 3 (Boa Vista) a 15 (Santa Isabel) e de 1 (Santa

Isabel) a 39 (Catalão) em P.scalare. A espécie P.leopoldi contém uma única

localidade com o número de haplótipos e de sítios polimórficos igual a 5. Os níveis

de diversidade gênica (H) variaram de 0,7111+/-0,1175 (Boa Vista) a 0,8132+/-

0,0737 (Santa Isabel) em P. altum; de 0,1538+/-0,1261 (Santa Isabel) a 0,9643+/-

0,0772 (Amanã) em P. scalare e 1,0000+/-0,1265 (Careiro da Várzea) para P.altum.

Os índices de diversidade nucleotídica estiveram entre 0,000823 (+/0,000696; Boa

Vista) e 0,002442 (+/-0,001542; Santa Isabel) para P.altum; 0,00014 (+/-0,000227;

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Santa Isabel) a 0,01109 (+/-0,00580; Purus) para P.scalare e 0,002381(+/-0,001769;

Careiro da Várzea) para P.leopoldi.

Para o teste de neutralidade D de Tajima, somente as localidades de Santa

Isabel da espécie P.altum e as do Catalão, de Santarém e de Barcelos de P.scalare

resultaram em valores negativos e significativos para um p = 0,05, sendo que a

população de Santarém mostrou significância ao p = 0,01. Para o teste de

neutralidade Fs de Fu, a única localidade (Careiro da Várzea) de P.leopoldi e quatro

localidades (Amanã, Mamirauá, Santarém e Barcelos), coletadas de P.scalare,

tiveram valores negativos e significativos com p = 0,05, exceto a região de

Santarém, que obteve valor também negativo, mas significância a um p = 0,01

(Tabela 2). Depois da correção de Bonferroni para o grupo P.scalare (p = 0,0011),

nenhum dos valores estimados para teste D de Tajima foram significativos, enquanto

que para o teste de neutralidade de Fs de Fu, Santarém ainda manteve significância

no seu resultado. Dentre estes dois testes de neutralidade, o teste Fs de Fu tem

uma capacidade analítica mais sensível para a detecção de expansão demográfica

(Fu, 1997; Durand et al., 2005).

Nas análises de AMOVA foram encontrados os resultados de Fst = 0,38245

(p < 0,001), para as localidades de P.altum, sendo que 61,75% da variação

observada foi intrapopulacional e 38,25% entre populações, enquanto que para a

espécie P.scalare o Fst observado foi de 0,47833 (p < 0,001), em que 47,83% da

variação está entre populações e 52,17% é de origem intrapopulacional (Tabela 3).

Para P.scalare, a variação do Fst entre as localidades, para a par, foi mais marcante

com relação aos pontos de Santa Isabel e de Barcelos, possuindo os maiores

índices significativos de Fst (com a correção de Bonferroni de p = 0,0011) entre

comparações par a par com as demais populações (Tabela 4).

A estimativa do número efetivo de migrantes por geração (Nm) entre as

diferentes localidades em P.scalare mostrou os menores valores de migrantes por

geração (Nm < 1), indicativo de um fluxo gênico restrito, entre as comparações com

as localidades de Santa Isabel e Barcelos, ao passo que as correlações com as

localidades de Catalão e Careiro do Castanho (C. Castanho) apresentaram os

maiores níveis de Nm (Catalão X Careiro do Castanho/Nm = 21; Careiro do

Castanho X Janauacá/Nm = 10), o que pode ser correlacionado com a não

significância do F st (Tabela 4). O Nm encontrado entre os locais de Santa Isabel e

Boa Vista na espécie P.altum foi de um Nm = 0,80736.

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O teste de equilíbrio demográfico mostrou o índice de desigualdade de

Harpending (r) significativo (p < 0,05) em dois pontos para P. scalare: Purus,

Janauacá, o que mostra desequilíbrio demográfico nestas populações (Tabela1),

indicando que a hipótese nula (Ho) de ausência expansão demográfica pode ser

rejeitada nestas populações. No entanto, os resultados encontrados, por meio

desses testes, nestas localidades não foram corroborados pelos testes de

neutralidades, expostos na tabela 2.

No teste de Mantel não foi encontrada significância na correlação entre a

variação genética e a distribuição geográfica ao longo de todas as localidades

amostradas da espécie P. scalare (r = 0,003820; p = 0,011000 > 0,05) e, dessa

forma, o aumento da distância genética observada não está diretamente

relacionado com o aumento da distância geográfica entre as localidades

amostradas.

Na espécie P.scalare, a localidade de Purus alcançou o maior índice de

distância genética intrapopulacional (d = 0,011; 1,1%), enquanto que Santa Isabel

obteve o menor valor, sendo d = 0,000; 0,00%. Já para P.altum, Santa Isabel

resultou no maior valor de d (0,002; 0,2%) e Boa Vista no menor valor (d = 0,001;

0,1%). A única população de P.leopoldi, Careiro da Várzea, teve d = 0,002; 0,2%

(Tabela 5). Nas comparações interpopulacionais, tomadas duas a duas, dentro de

P.scalare, as combinações entre as populações das regiões de Barcelos, Santa

Isabel e Boa Vista e as demais localidades alcançaram os maiores valores de

distância genética obtidos (d = 0,010 = 1,0% e = 0,017 = 1,7%) e a comparação

entre as populações de Santarém e Mamirauá resultou no menor valor de distância

genética interpopulacional encontrado (d = 0,001; 0,1%) (Tabela 6). A comparação

entre as populações de Santa Isabel e Boa Vista na espécie P.altum, resultou na

distância d = 0,001; 0,1%.

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Figura 7: Árvore de relacionamento de haplótipos – critério Máxima Verossimilhança (HKY85), indicando os valores de boostrap acima de 60%, onde Careiro = Careiro da Várzea; StaIsa = Santa Isabel e CCast = Careiro do Castanho. Foi utilizado como grupo externo o gênero Symphysodon (acesso DQ990693 do NCBI).

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Grupo (espécie) Clado Chave de inferência Padrão inferido

P.altum

4-1 1-2-11-YES-12-13-YES-21-NO Colonização à distância combinados com antigos eventos de expansão geográfica gradual

e de fragmentação.

P.scalare

2-20 1-2-11-12-NO Expansão geográfica contígua.

3-12 1–2–11-17-NO Resultado inconclusivo.

3-19 1-19-20-2-3-4-9-NO Fragmentação alopátrica.

3-20 1-19-20-2-11-12-13-YES-21-NO

Colonização à distância combinados com antigos eventos de expansão geográfica gradual

e de fragmentação.

4-1 1-2-3-4-9-NO Fragmentação alopátrica.

4-4 1- 2- 3- 4- NO Fluxo gênico restrito com isolamento por distância.

5-2 1-19-20-2-3-5-15-NO-21-NO Colonização à distância combinados com antigos eventos de expansão geográfica gradual

e de fragmentação.

5-3 1- 19- 20- 2- 3- 4- 9-NO Fragmentação alopátrica.

6-1 1-19-20-2-11-YES-12-13-YES-21-NO

Colonização à distância combinados com antigos eventos de expansão geográfica gradual

e de fragmentação.

6-3 1- 2- 3- 4-NO Fluxo gênico restrito com isolamento por distância.

7-1 1- 2- 11- 17-NO Resultado Inconclusivo.

Tabela 1: Resultado das análises do agrupamento dos clados hierarquizados para as espécies P.altum e P.scalare, mostrando somente clados com permutações significativas (X2) para estrutura geográfica (p < 0,05).

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31

1-1

1-2

1-3

1-4

1-5

1-6

1-7

1-8

1-9

2-2

2-1

2-3

2-4

2-5

3-2

3-1

4-1

1 2

3

4

5

6

7

9

10

8

Figura 8:

Diagrama da rede haplotípica de clados hierarquizados por meio da análise NCA (espécie P.altum – Ptero2). Cada cor representa um nível hierárquico e haplótipos hipotéticos intermediários são indicados por “o”.

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Figura 9: Diagrama da rede haplotípica de clados hierarquizados por meio da análise NCA (espécie P.scalare - Ptero3 ). Cada cor representa um nível hierárquico e haplótipos hipotéticos intermediários são indicados por “o”. .

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Espécie (grupo) Localidade N S NH H (Diversidade Gênica

Haplotípica) (Diversidade nucleotídica /sitio)

D de Tajima

Fs de Fu r (médio)

P.leopoldi

Careiro da Várzea 5 5 5 1,0000+/-0,1265 0,002381+/-0,001769 0,84298 -2,44206* 0,0893

Total 5 5

5

P.altum

Sta. Isabel 14 15 6 0,8132+/-0,0737 0,002442+/-0,001542 -1,68371* -0,11467 0,09213

Boa Vista 10 3 4 0,7111+/-0,1175 0,000823+/0,000696 -0,43130 -1,02041 0,09112

Total 24 18 10

P.scalare

Catalão 25 39 15 0,9400+/-0,0270 0,00518+/-0,002850 -1,63881* -3,59288 0,08836

Purus 22 36 14 0,9394+/-0,0325 0,01109+/-0,005800 1,06495 -0,32785 0,09141*

Amaná 8 9 7 0,9643+/-0,0772 0,00289+/-0,001890 -0,26159 -2,98845* 0,76700

Janauacá 18 19 13 0,9477+/-0,0392 0,00564+/-0,003130 0,61929 -3,38627 0,09214*

Sta.Isabel 13 1 2 0,1538+/-0,1261 0,000136+/- 0,000227 -1,14915 -0,53714 0,09072

Mamairauá 30 12 10 0,7609+/-0,0721 0,00164+/-0,001079 -1,24968 -3,47563* 0,08922

Santarém 42 10 10 0,5540+/-0,0911 0,00069+/-0,000570 -1,95025** -7,33915** 0,08783

C.Castanho 19 15 8 0,7251+/-0,1066 0,00301+/-0,001800 -0,76355 -0,58309 0,09367

Iranduba 12 22 6 0,8636+/-0,0716 0,00929+/-0,005130 1,97847 3,33541 0,08809

Barcelos 17 26 12 0,8897+/-0,0732 0,00390+/-0,002260 -1,71327* -4,29105* 0,08547

Total 206 189 97

Tabela 2: Índices de diversidade genética, testes de neutralidade e de expansão populacional, onde N = Nº amostral, S = N° Sítios Segregantes ou Polimórficos e NH = N° de haplótipos. Estão representados os parâmetros populacionais de acordo com a localidade, espécie, agrupamento filogenético formado e N > 5. Os valores marcados de vermelho indicam os valores que foram significativos depois da correção de Bonferroni.

Nota: *< 0,05; **< 0,01; Correção de Bonferroni para Pterophyllum scalare = 0,0011.

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Tabela 3: Análise de Variância Molecular (AMOVA), entre todas as localidades, com N > 5, nas espécies P.altum e P.scalare. É significativa a estrutura populacional nas duas espécies (P < 0,001).

Tabela 4: Comparações par a par dos valores de Fst (abaixo e cor preta) e Nm (acima e cor azul) entre as localidades analisadas com N > 5 na espécie P.scalare. Os valores em vermelho correspondem respectivamente aos maiores índices significativos de Fst e aos valores significativos de baixo Nm.

*p < 0, 0011 (Correção de Bonferroni)

Espécie (grupo) Fonte da variação d.f. Soma dos

quadrados Componentes da

Variância Porcentagem

(%) de variação P. altum Entre populações 1 8,300 0,62494 Va 38,25

Dentro das populações 22 22,200 1,00909Vb 61,75 Total 23 30,500 1,63403 100

P. scalare Entre populações 9 390,319 2,04418 Va 47,83

Dentro das populações 196 436,963 2,22940 Vb 52,17

Total 205 827,282 4,27358 100

Localidade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1. Catalão ---------- 3,62393 6,53057 4,62633 0,20854 5,69430 5,81159 21,76281 1,93979 0,24202 2. Purus 0,12124 ---------- 2,04260 1,98533 0,36588 1,11917 0,84761 1,77230 2,37188 0,42245 3. Amanã 0,07112 0,19665 ---------- 2,12719 0,06277 5,92176 1,16324 3,13211 1,59236 0,16769 4. Janauacá 0,09754 0,20118*

0,19032 ---------- 0,21189 1,38778 1,06459 10,63784 1,35073 0,23328 5. Sta. Isabel 0,70567* 0,57745*

0,88847*

0,70235*

---------- 0,07027 0,03231 0,11472 0,23442 0,08210 6. Mamirauá 0,08072* 0,30880*

0,07786 0,26486*

0,87678* ---------- 5,42796 4,08526 0,81009 0,11602 7. Santarém 0,07922* 0,37103*

0,30062*

0,31957*

0,93930* 0,08435* ---------- 4,41031 0,53716 0,07618 8.C.Castanho 0,02246 0,22004*

0,13766 0,04489 0,81337* 0,10905 0,10183 ---------- 1,29603 0,17032 9. Iranduba 0,20494 0,17410 0,23896 0,27016*

0,68081* 0,38165* 0,48209* 0,27839 ---------- 0,36236 10.Barcelos 0,67384* 0,54204*

0,74885*

0,68187*

0,85896* 0,81167* 0,86779* 0,74591* 0,57980 *

----------

P.altum F st = 0,38245, p < 0,001; P.scalare F st = 0,47833, p < 0,001

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Tabela 6: Distância genética entre localidades par a par, pertencentes à espécie P.scalare, estabelecida com base em 200 replicações de bootstrap. Os números de coloração azul e vermelha representam, respectivamente, os maiores e menores valores obtidos.

Espécie (grupo) Localidade Distância

Desvio Padrão População Distância Desvio Padrão

P.leopoldi

Careiro da Várzea 0,002 0,001 P.scalare

Catalão 0,005 0,001 Janauacá 0,006 0,002 Purus 0,011 0,002 StaIsabel 0,000 0,000

Iranduba 0,009 0,002 Santarém 0,001 0,000 Amaná 0,003 0,001 C.Castanho

0,003 0,001 Mamirauá 0,002 0,001 Barcelos 0,004 0,001 Subtotal 1 0,03 0,007 Subtotal 2 0,014 0,004

Total 0,044 0,011 P.altum

Sta. Isabel 0,002 0,001 Boa Vista 0,001 0,000

Total 0,003 0,001

Localidade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1. Catalão ----- 2. Purus 0,009

----- 3. Amanã 0,005

0,010

----- 4. Mamirauá 0,004

0,009

0,002

----- 5. Janauacá 0,006

0,011

0,006

0,005 ----- 6. Sta. Isabel 0,011

0,016

0,011

0,010 0,011

----- 7. Santarém 0,003

0,008

0,002

0,001 0,004

0,009

----- 8. C.Castanho 0,004

0,009

0,003

0,003 0,005

0,010

0,002

----- 9. Iranduba 0,009

0,013

0,008

0,008 0,010

0,015

0,007

0,008

----- 10.Barcelos 0,014

0,017

0,014

0,013 0,015

0,016

0,013

0,014

0,015

-----

Tabela 5: Distância genética intralocalidade. Os números de coloração azul e vermelha representam, respectivamente, os maiores e os menores valores obtidos. Estão representados os parâmetros populacionais de acordo com a localidade, espécie e agrupamento filogenético formado. O desvio padrão foi estabelecido com base em 200 replicações de bootstrap.

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4. Discussão e Conclusão

a) Análise de Composição Molecular

Neste trabalho foram estudas características gerais do genoma mitocondrial de

vertebrados como a composição molecular de bases e a existência de saturação. A

menor porcentagem observada de guanina (13,5%) em relação às demais bases

constitui um fenômeno comumente encontrado no DNA mitocondrial dos vertebrados

(Gráfico 1) (Zhang & Hewitt, 1996). Eventos de saturação não foram vistos, o que é

esperado entre táxons filogeneticamente muito relacionados entre si, assim como em

níveis populacionais (Meyer, 1993; Farias et al., 2001) (Gráfico 2).

b) Análise Filogenética

A árvore de Máxima Verossimilhança apresentou três grandes grupos definidos

(bootstrap > 95%) e relacionados com as três espécies descritas para o gênero

Pterophyllum (P. leopoldi, altum e scalare, nesta ordem), se considerarmos a

identificação taxonômica efetuada, a distribuição geográfica, proposta no esquema da

figura 5, e os níveis de consistência filogenética destas três linhagens. Mesmo não

tendo conseguido coletar indivíduos P. leopoldi e existindo diferentes morfotipos no

gênero, principalmente em P. scalare, o que poderia confudir a identificação das

espécies, foi possível separar molecularmente as três espécies para o gênero e os 5

espécimes coletados no Careiro da Várzea foram determinados P. leopoldi, de acordo

com o perfil filogenético obtido e comunicação pessoal do coletor Tomas Hrbek. A

capacidade de separação entre as três espécies reconhecidas para o gênero mostra

que o gene mitocondrial do citocromo b pode ser um marcador molecular útil em

estudos filogenéticos e sistemáticos de ciclídeos de níveis taxonômicos mais altos,

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como o de espécie. Farias et al., 2001, ao estudarem a eficácia do gene do citocromo b

como um marcador molecular de relacionamento filogenético e sistemático de ciclídeos

africanos e neotropicais, encontraram boa performance desta região mitocondrial em

diferentes níveis taxonômicos.

O agrupamento formado por P. leopoldi (Ptero1) e P. altum (Ptero2) é

monofilético, o que é interessante dentro do ponto de vista morfológico destas duas

espécies, pois apresentam maior diferenciação morfológica entre si, em comparação

com P. scalare, segundo a descrição taxonômica de cada espécie, abordada nos itens

I.5. da Introdução geral e 2.2 do Material e Método deste trabalho. Além disso, foi

encontrada uma distribuição geográfica mais restrita ao Careiro da Várzea (Careiro)

para P. leopoldi, ao passo que P.altum foi encontrado presente em Santa Isabel e Boa

Vista. O grupo P. scalare (Ptero3) está agrupado de maneira monofilética (grupo irmão)

ao conjunto formado por P. leopoldi e P. altum e tem uma distribuição mais ampla ao

longo de toda região amostrada neste trabalho, exceto na região do Careiro da Várzea

(Figura 7), sendo Santa Isabel e Boa Vista localidades de simpatria entre duas destas

linhagens (Ptero 2 e Ptero 3) ou espécies (P. altum e P. scalare). Embora as espécies

Pterophyllum leopoldi (Ptero1) e Pterophyllum scalare (Ptero3) tenham registros de

distribuição geográfica simpátrica entre o eixo Iranduba - Santarém, o mesmo não foi

evidenciado filogeneticamente nestas localidades (Figura 7).

c) Análise Filogeográfica

Na espécie P. altum, a análise de NCA sugeriu, que a distribuição da

diversidade genética observada nas localidades de Santa Isabel e Boa Vista (Figura

8; Anexo II) tenha sido resultado de eventos históricos de colonização à distância

combinados com antigos eventos de expansão geográfica gradual e de

fragmentação (clado 4-1) (Tabela 1), podendo ser observado na significância do

teste de neutralidade D de Tajima na localidade de Santa Isabel, a existência de

expansão demográfica nesta região.

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Para a espécie P.scalare a história de diversificação evolutiva proposta pelo

NCA mostrou-se mais complexa e indica que esta espécie, ao longo da área

amostrada, passou por pulsos de expansão geográfica (clados 2-20; 3-20; 5-2; 6-1),

colonização à distância e de fragmentação (clados 3-20; 5-2; 6-1), intercalados por

episódios de fluxo gênico restrito, de isolamento por distância (clados 4-4; 6-3) e de

fragmentação (clados 3-19; 4-1; 5-3) (Tabela 1). No entanto os resultados de Nm e

do teste de Mantel (Tabela 4), não corroboram a existência de fluxo gênico restrito e

isolamento por distância no clado 4-4 (Figura 9), que contém haplótipos das regiões

de Santarém; Purus; Janauacá; Iranduba; Catalão; Mamirauá; Amanã; Campina e

Careiro do Castanho. Uma provável explicação para a inferência de fluxo gênico

restrito oferecida para o clado 6-3 (Figura 9, Anexo II), pode estar relacionada aos

haplótipos agrupados, neste clado, entre as localidades de Santa Isabel + Boa Vista

e Barcelos, todas de água preta, e as regiões de Santarém + Purus + Janauacá +

Iranduba + Catalão + Mamirauá + Amanã + Campina + Careiro do Castanho, todas

de água branca, o que também foi observado na representação filogenética da

árvore de MV (Figura 7), possivelmente resultado de fluxo gênico restrito entre os

diferentes tipos químicos e físicos de águas (Sioli, 1984) como pode ser visto nos

índices de Nm e acarretanto estrutura populacional pelo significante Fst (para a par;

Tabela 4).

Os padrões de fragmentação alopátrica sugeridos para os clados 3-19; 4-1 e

5-3 (Tabela 1; Figura 9) não apresentam uma explicação direta sobre qual barreira

evolutiva teria influenciado no padrão da distribuição genética entre as localidades

que compõem os clados destes níveis hierárquicos. No caso do clado 3-19, o

panorama observado de fragmentação e diversificação dos haplótipos entre as

regiões de Santa Isabel + Boa Vista e de Barcelos, pode estar relacionado à

influência da drenagem do rio Branco na região de Barcelos, atuando como uma

barreira entre os indivíduos de Barcelos e as regiões de Santa Isabel e Boa Vista, o

que reflete os índices significativos e elevados de Fst e de Nm inexistente entre

essas localidades, sendo este fenômeno, de separação haplotípica, também

observado no relacionamento filogenético entre essas localidades (68,44%; Barcelos

e 98,08%; Santa Isabel + Boa Vista; Figura 7).

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No caso das hipóteses oferecidas de expansão geográfica gradual nos clados

3-20; 5-2 e 6-1 (Tabela 1; Figura 9), são corroboradas pela significância dos testes

de neutralidade D de Tajima e Fs de Fu nas localidades de Amanã, Santarém e

Mamirauá (Tabela 2). Já para o clado 2-20 a hipótese de expansão geográfica

contígua pode ser associada à significância do r nas localidades de Janauacá e

Purus no teste desigualdade de Harpending, porém estas regiões não apresentaram

significância qualquer nos testes de neutralidade.

d) Análise genético - populacional e demográfica (por localidade)

Os parâmetros genético populacionais de diversidade gênica maiores do que os

de diversidade nucleotídica (Tabela 2) podem estar relacionados a eventos de

expansão populacional depois de longos períodos de redução do tamanho efetivo da

população (Grant; Bowen, 1998), o que pode ser corroborado pelos resultados

significativos obtidos nos testes de neutralidade (D de Tajima e Fs de Fu) e de

desigualdade de Harpending (r) em algumas das localidades estudadas (Tabela 2),

atuando, também, nas inferências de expansão populacional propostas pelo NCA

(Tabela 1), tanto para Pterophyllum scalare, quanto P. leopoldi.

Os resultados de estrutura populacional obtidos neste trabalho sugerem que a

espécie P. scalare (Ptero3) não se comporta como uma população panmítica ao longo

das localidades amostradas pela bacia amazônica, possuindo níveis significativos (p <

0,0011) de estrutura populacional entre algumas regiões, sendo reforçado pelo baixo

fluxo gênico (Nm), como é mostrado pela tabela 4. A AMOVA generalizada em

Pterophyllum scalare também resultou num Fst (0,47833) significativo (p < 0,001),

porém maior parte da variação genética encontrada foi atribuída a diferenças genéticas

intralocais, representando 52,17% da variação (Tabela 3), sendo que o mesmo

resultado, de maior variação genética intrapopulacional (61,75%) do que

interpopulacional (38,25%), foi visto nas populações de P. altum (Ptero2) com um Fst

significativo igual a 0,38245 (p < 0,001) e Nm = 0,80736, o que significa, que nesta

espécie, também não foi encontrado panmixia.

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Em relação as localidades de P. scalare próximas do eixo Solimões - Amazonas,

os Fsts significativos observados, associados aos índices de baixo fluxo gênico (Nm),

entre algumas das comparações populacionais de P. scalare (Tabela 4), juntamente

com as inferências de fluxo gênico restrito do teste de NCA (Figura 9 e Tabela 1),

podem estar relacionados com a ampla distribuição geográfica entre as localidades

amostradas no Solimões – Amazonas (Figura 5 e Anexo I), o que pode acarretar

estrutura populacional e fluxo gênico restrito. Mesmo não existindo correlação

significativa entre a distância geográfica e a variação genética pelo teste de Mantel, o

que leva a rejeição da hipótese de isolamento por distância sugerida pelo NCA, é

possível observar que os maiores níveis de fluxo gênico foram encontrados entre locais

geograficamente mais próximos entre si (Tabela 4). Peixes com ampla distribuição

geográfica podem exibir baixa conectividade genética quando possuem características

biológicas e comportamentais tais como o territorialismo, sedentarismo e preferência

por habitats mais isolados, resultando em baixa dispersão e conseqüente estrutura

genética populacional, sendo este o caso dos peixes da família Cichlidae, que possuem

comportamento territorialista, filopátrico e habitam preferencialmente ambientes

lacustres e mais lênticos (Lowe-McConnell, 1991; Chelappa; Yamamoto, 1999;

Kullander, 2003). Espécies do gênero Cichla (tucunaré) da bacia amazônica detêm

pronunciado territorialismo e filopatria, o que pode ter determinado o baixo fluxo gênico

encontrado entre suas populações (Willis et al., 2007).

Mesmo em áreas geográficas mais restritas, os ciclídeos podem apresentar

reduzido fluxo gênico e estrutura gênica entre locais próximos, como é caso dos

ciclídeos africanos (ex. Melanochromis auratus), podendo ser conseqüência de

adaptações a variações geológicas e ambientais pontuais (Markert et al., 1999),

proporcionando oportunidades para os eventos de adaptação e de especiação. Em

contrapartida espécies migradoras e de grande dispersão como, Colossoma

macropomum (tambaqui), mostraram, em estudos genéticos, o comportamento

populacional de panmixia ao longo da bacia amazônica (Santos et al., 2007).

Sivasundar et al (2001) notaram pouca estrutura genética entre os peixes migradores

da espécie Prochilodus lineatus ao longo de mais de 1.500 quilômetros (km) de

extensão geográfica na bacia dos rios Paraná – Paraguai.

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41

No entanto, mesmo com a existência de filopatria, territorialismo e sedentarismo

nos ciclídeos do gênero Pterophyllum e com evidências de estrutura populacional

(Tabela 4) e reduzido fluxo gênico entre alguns pontos amostrados de P. scalare

(Ptero3), é possível observar, tanto na árvore de Máxima Verossimilhança (Figura 7)

como na rede de relacionamento de haplótipos (Figura 9; Anexo II), a existência de

haplótipos compartilhados entre localidades geograficamente distantes, ao longo do

eixo Solimões – Amazonas (Santarém X Mamirauá ou X Amanã = 1300 km; Anexo I).

Uma possível explicação para o resultado observado está na dinâmica das planícies de

inundação periódicas (“várzea” e “igapó”), muito comuns na bacia amazônica, que

podem estabelecer fluxo gênico, migração (Tabela 4) e o provável padrão de

colonização à distância proposto pelo NCA (Clados 3-20, 5-2 e 6-1, Figura 9 e Tabela

6). Dessa maneira, os sistemas de “várzea” e “igapó” podem formar um amplo sistema

aquático interconectado, aumentando as possibilidades de eventos de migração e de

fluxo gênico (Cantanhede et al., 2005). Ready et al. (2006), ao estudarem caracteres

morfológicos e genéticos nas espécies do gênero Symphysodon, atribuíram o limitado

número de espécies observado dentro do gênero a coesão genética, possibilitada pelo

fluxo gênico entre as populações associadas às planícies de inundação, habitat onde

esses peixes estão amplamente distribuídos na Amazônia. Portando a variação do nível

de água pode influenciar os padrões de diversificação em populações naturais

dispostas ao longo de sistemas aquáticos, ocasionando eventos de diversificação e de

especiação, mediante ao rompimento ou a manutenção do fluxo gênico, mesmo em

animais de conduta territorialista e filopátrica, que podem comprometer a capacidade de

dispersão e de fluxo gênico.

Dessa maneira, a flutuação periódica do nível das águas pode estar ligada à

difusa relação entre a distribuição geográfica e a haplotípica na espécie P. scalare

(Ptero3) (Figuras 7 e 9) como, por exemplo, o forte agrupamento filogenético formado

entre alguns indivíduos das populações de Purus e de Novo Airão, como mostra na

figura 7 (bootstrap de 98,93%). Essas duas populações encontram-se geograficamente

mais distantes entre si, quando comparadas com as populações de: Iranduba,

Janauacá, Catalão, Careiro do Castanho e Careiro da Várzea em relação aos peixes da

localidade Purus, ao passo que a população de Novo Airão situa-se geograficamente

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mais próxima das localidades de: Janauacá, Catalão, Careiro do Castanho, Careiro da

Várzea, Iranduba e Barcelos (Anexo I). Além disso, estas duas localidades são

influenciadas por uma distinta dinâmica hídrica, relacionada aos rios Negro e Solimões

(Figura 6). Mas olhando-se atentamente pode-se perceber que algumas áreas estão

localizadas geograficamente de maneira intermediária entre estas duas populações

como as regiões de Iranduba, Catalão, Janauacá, Careiro do Castanho e Careiro da

Várzea e, por conseguinte, sugere-se a possibilidade de existir uma provável conexão

entre essas localidades, garantindo fluxo gênico auxiliado pela flutuação do nível das

águas.

Eventos de flutuação do nível das águas durante a escala geológica são muito

conhecidos como um dos principais fatores no processo de diversificação dos ciclídeos

dos lagos africanos (Turner, 2007; Egger et al. 2007; Koblmüller et al., 2007; Crispo &

Chapman, 2008). Porém o presente estudo trata de uma dinâmica periódica e anual do

nível das águas durante as estações de verão e inverno amazônico e que contribui para

a homogeneidade genética entre os pontos amostrados do eixo Solimões - Amazonas,

superando características comportamentais da família Cichlidae.

Ao longo das regiões coletadas de P. scalare do rio Negro (Barcelos a Santa

Isabel) nota-se maiores níveis de estrutura genética e de fluxo gênico restrito, do que

entre as localidades amostradas do eixo Solimões-Amazonas e geograficamente mais

distantes entre si como Santarém e Amanã. Além disso, a população de Barcelos se

diferenciou significativamente das demais populações de P. scalare, incluindo as de

água preta, o que pode ser visto na distribuição de haplótipos da rede (Figura 9; Anexo

II), na árvore da MV (Figura 7) e nos índices populacionais de Nm e de Fst da Tabela

4, evidenciando ausência de fluxo gênico e estrutura gênica. Até o momento, são

poucos os registros científicos que abordem eventos geomorfológicos antigos nesta

área que descrevam padrões semelhantes biogeográficos em outros grupos de

animais. Uma provável explicação para o padrão encontrado, nessa localidade de P.

scalare em questão, poderia estar relacionada à maior influência das populações de P.

scalare provenientes do rio Branco, que sofreram diferentes processos evolutivos

próprios da drenagem onde vivem, o que pode estar contribuindo, também, para distinta

diversificação populacional observado na população de Barcelos, o que proporciona a

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inferência de fragmentação alopátrica sugerida pelo NCA (clado 3-19; Figura 9, Tabela

1). No entanto, para testar tal hipótese é necessário uma amostragem proveniente da

localidade do rio Branco. Lovejoy & Araújo (2000) encontraram maior relação

filogenética entre os peixes do gênero Potamorrhaphis das regiões de Apure (baixo

Orinoco), Barcelos (rio Negro) e Santarém (rio Amazonas) do que entre populações

mais próximas e de mesma drenagem como Belém (rio Amazonas), Atabapo e Santa

Rita (duas últimas são do rio Orinoco). Além disso, foi observado, também, forte

estrutura genética de acordo com localidade amostrada, o que foi relacionada com a

baixa capacidade de dispersão do grupo estudado. Com base nesses dados, os

pesquisadores sugeriram a existência de uma histórica conexão entre as áreas de

Barcelos, Santarém e Apure, intermediada pelo rio Branco, por meio da comunicação

entre as bacias dos rios Branco, Essequibo (na Guiana) e Orinoco. Alternativamente, a

diferenciação genética notada na região de Barcelos com as demais localidades

coletadas pode ser resultante de variações químicas na qualidade da água antes e

depois da confluência do rio Branco com o Negro, gerando maiores níveis de estrutura

genética e de fluxo gênico restrito entre esse ponto e as demais localidades, o que

pode ser visto na estrutura filogenética entre os pontos coletados de Novo Airão e

Barcelos.

A significante estrutura populacional e fluxo gênico inexistente observado nas

comparações entre as populações de P. scalare (Ptero3) provenientes de Barcelos e

Santa Isabel com as demais localidades (Tabela 3) e o padrão do agrupamento

formado na árvore MV (Figura 7) e de relacionamento de haplótipos (Figura 9; Anexo II)

encontrado nestas populações pode estar relacionado às diferenças químicas e físicas

dos dois tipos de água encontradas nos rios Negro e Solimões (Sioli, 1984). Esta

hipótese também foi sugerida por Thoisy et al. (2006), Vasconcelos et al. (2006) e Willis

et al. (2007) para explicar o padrão de diversificação das populações de Melanosuchus

niger, Caiman crocodilus e de espécies do genero Cichla coletadas entre estes dois

tipos de águas. Farias e Hrbek (2008) notaram fluxo gênico restrito com isolamento por

distância entre as populações de discus do baixo rio Amazonas (branca) e as rio Negro

(preta) e relacionaram este resultado ao comportamento adaptativo desses peixes as

diferenças químicas e físicas das águas branca e preta. Dessa forma, as diferenças nas

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condições limnológicas dessas águas atuariam como um fator ecológico limitante para a

migração entre as populações dos distintos tipos de águas, restringindo o fluxo gênico.

Esse tipo de estrutura populacional, limitada por condições ambientais, também foi

descrita para os ambientes lacustres dos lagos africanos, onde trabalhos já mostraram

a existência de correlações entre a estrutura de habitats e a diferenciação populacional

de haplochromíneos africanos (Markert et al., 1999).

Com base nos resultados moleculares obtidos neste estudo foi possível distinguir

molecularmente as três espécies dentro do grupo Pterophyllum, espécies já

reconhecidas para o gênero, mostrando a eficácia do marcador molecular utilizado. No

geral, os padrões filogeográficos que resultaram na distribuição e na diversificação

observadas nas espécies do gênero Pterophyllum, mostraram-se como um mosaico de

processos evolutivos. De acordo com os resultados obtidos, eventos de expansão

demográfica, aparentemente, influenciaram a história evolutiva das espécies P. altum e

P. scalare. Apesar das características comportamentais (ex. territorialismo, filopatria e

sedentarismo) e dos níveis de estruturação genéticos populacionais (Fst) significantes

e de fluxo gênico restrito entre alguns pontos de coleta, foi encontrado maior variação

genética dentro das localidades amostradas em cada espécie, do que entre pontos

distintos, assim como evidência de fluxo gênico entre pontos distantes entre si, o que

influênciou a falta de correlação significativa, pelo teste Mantel, entre a distribuição

geográfica e haplotípica em Pterophyllum scalare, apresentando sua diversificação

genética, influenciada, em parte, pela ampla distribuição geográfica desta espécie e, em

grande parte, pela dinâmica periódica de cheia a vazante da bacia amazônica. As

diferenças encontradas no padrão de distribuição genética dos diferentes tipos de água

(branca e preta) em P. scalare pode estar relacionado à variação das influências e

dinâmicas ambientais nos rios Solimões – Amazonas e Negro, como características

físico – químicas. No caso das regiões coletadas de P. scalare do rio Negro, foi

sugerido e existência de uma contribuinção limitante de dispersão do rio Branco entre

Barcelos e Boa Vista + Santa Isabel, resultando na inferência filogeográfia de

fragmentação alopátrica. De uma maneira resumida notou-se, neste estudo, que a

distribuição da variabilidade genética segue um comportamento diferenciado de acordo

com: 1- as duas espécies P. scalare e P. altum; 2- a dinâmica de variação do nível das

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águas em P. scalare; 3- as diferenças limnológicas das águas branca e preta, P.

scalare; 4- as influências das drenagens principais, mais próximas dos pontos

coletados: rios Solimões – Amazonas, Negro e Branco, P. scalare e 5- da variação

histórica do tamanho populacional nos pontos coletados de P. altum e P. scalare.

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CAPÍTULO 2

“Estudo da forma corporal de peixes do gênero Pterophyllum Heckel, 1840 (Cichlidae / Heroini) ao longo da bacia Amazônica,

utilizando morfometria geométrica”.

1. Introdução

Pesquisas relacionadas ao formato corporal dos organismos assumem

importante papel em estudos biológicos, uma vez que podem refletir experiências

biológicas e evolutivas (Bookstein, 1991; Zelditch et al., 2004), tendo como base o

conceito de que o fenótipo apresentado por um organismo decorre da interação

existente entre um dado genótipo e o meio ambiente em que se encontra (Ricklefs;

Miles, 1994) e que a evolução de um mesmo fenótipo em populações naturais situadas

em um mesmo ambiente pode ser evidência de seleção natural e de adaptação

(Mcguigan et al., 2005).

De um outro ponto de vista, variações estruturais podem afetar o

comportamento e a interação ecológica dos organismos, principalmente se levarmos

em conta características físicas e químicas do ambiente (Webb, 1984). Dessa maneira,

o formato corporal pode ter relevância evolutiva e ecológica para um dado organismo

(Klingenberg et al., 2003). Diante disto, análises de estruturas morfológicas como as

morfométricas podem ser de grande valia (Schluter, 1993), sendo utilizada em distintas

abordagens biológicas durante anos (Monteiro et al., 2002; Rosenberg, 2002).

Historicamente, o estudo da variação corporal consistia em medidas relativas

de estruturas anatômicas que eram analisadas por meio de arranjos canônicos,

componentes principais e outros recursos de estatísticos multivariados, configurando a

técnica denominada de morfometria tradicional (Monteiro et al., 2002).

O avanço de ferramentas estatísticas e computacionais, das teorias

matemáticas de espaço forma (Goodall, 1983; Kendall, 1984) e o desenvolvimento de

novas abordagens metodológicas (Bookstein, 1991), permitiram novas aplicações

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biológicas para esse tipo de estudo, que se tornou mais acurado em definir, quantificar

e explicar estatisticamente as origens, manutenção e as conseqüências dos padrões

morfológicos encontrados, sendo esta nova abordagem chamada de morfometria

geométrica, a qual considera variações geométricas da forma (espaço geométrico

ocupado), com base numa configuração de pontos anatômicos e na redução dos efeitos

inerentes ao tamanho, a localização e a posição estrutural ocupada, oferecendo dados

mais informativos, de fácil manipulação e maior compreensão dos resultados obtidos

(Monteiro et al., 2002; Parsons et al., 2003).

No caso dos peixes da família Cichlidae, a plasticidade fenotípica e as

variações estruturais apresentadas são bem evidentes, assumindo um importante papel

no desenvolvimento evolutivo, ecológico e comportamental de cada espécie

(Klingenberg et al., 2003), como é visto nos ciclídeos dos lagos africanos, que

representam um excepcional exemplo de especiação, diversificação, irradiação e

convergência adaptativa, possuindo elevado número de morfotipos e variação

morfológicas, além dos altos níveis de endemismo (Greenwood, 1991; Joyce et al.

2005). Dessa forma, torna-se importante a determinação do grau de variação

morfométrico, assim como das características morfológicas neste grupo de peixes,

podendo ser de grande valia o uso combinado de ferramentas moleculares neste tipo

de quantificação, auxiliando na elaboração dos prováveis mecanismos evolutivos

atuantes na diversificação desses peixes (Monteiro; Gomes-Jr, 2005; Kassan et al.,

2007).

Kocher et al (1993), utilizando dados do DNA mitocondrial e de morfometria,

identificaram separação genética entre dois ciclídeos de morfotipos similares entre dois

lagos africanos Malawi e Tanganyika, mostrando que outros aspectos, além dos

genéticos, estão influenciando o padrão morfométrico observado. Monteiro e Gomes-Jr

(2005), utilizando dados combinados de morfometria geométrica e parâmetros

genéticos (herdabilidade, Ne e número de gerações) encontraram tendências de seleção

direcional entre populações da espécie de peixes Poecilia vivípara (Poeciliidae),

indicando a existência de aspectos genéticos na determinação morfológica deste

peixes, sendo um exemplo de que este tipo de estudo combinado pode ser de grande

utilidade, podendo ser aplicado em vários grupos de peixes.

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Já Ready et al., (2006) não encontraram relação entre os dados moleculares e

os morfotipos das espécies do gênero Symphysodon (tribo Heroini), questionando a

determinação morfológica das espécies deste gênero, o que é evidenciado para mais

grupos de heroíneos, em que a variação morfológica e a existência de morfotipos

podem levar a incertezas taxonômicas e evolutivas, como aconteceu com o histórico

taxonômico dos peixes do gênero Pterophyllum (Lowe-McConnell, 1969(a); Kullander,

1986) e com a sistemática e taxonômia dos heroíneos da América Central (Concheiro-

Pérez et al., 2007).

Klingenberg et al. (2003) em estudos com o gênero Amphilophus, utilizando

morfometria geométrica detectaram diferenças significativas entre as três espécies do

estudo (A. citrinellus, A. labiatus, A. zaliosus), especialmente em A.citrinellus, que

apresentou diferenças de acordo com a distribuição geográfica e os morfotipos de cor e

de trófico. Parsons et al. (2003) analisando duas dessas espécies (A. citrinellus, A.

zaliosus) e comparando os dois tipos de abordagem morfométrica (clássica e moderna)

entre si, concluíram que tanto um método quanto o outro eram eficazes em diferenciar

morfologicamente cada espécie, no entanto o poder de resolução de dados oferecido

pela morfometria geométrica era maior, o que também foi visto por Maderbacher et al.

(2008), ao aplicar as duas técnicas morfométricas no estudo morfométrico das

populações de Tropheus moorii do lago Tanganiyka.

Diante da capacidade adaptativa dos ciclídeos, da evidência de diversificação

ecológica e evolutiva dos heroíneos, da variedade morfológica e de morfotipos neste

grupo e do poder de dicernimento taxonômico e de detecção da variação morfológica

oferecido pela morfometria geométrica, o presente trabalho pretende utilizar os dados

de morfometria geométrica e de genética molecular (DNAmt - citocromo b) para testar a

existência das relações existêntes entre os padrões morfológicos e as espécies válidas,

assim como comparar o perfil morfométrico encontrado com a distribuinção genética e

geográfica encontradas nas espécies de ciclídeos do gênero Pterophyllum ao longo da

bacia amazônica, buscando entender os prováveis eventos evolutivos (como

adaptação, plasticidade fenotípica e convergência adaptativa) que resultaram na

variação morfológica observada, buscando justificá-la por meios das teorias

biogeográficas desenvolvidas para o contexto amazônico.

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1.1. Objetivos

1.1.1 Objetivo Geral

Discutir os padrões de variação morfológica nas espécies do gênero

Pterophyllum ao longo da bacia amazônica, com base na caracterização morfométrica,

na identificação taxonômica, na distribuição geográfica e ambiental e no perfil

haplotípico encontrado, buscando compreender os processos que deliniaram a

diversificação morfológica observada, por meio das ferramentas de morfometria

geométrica, associado aos resultados de genética molecular (gene mitocondrial do

citocromo b) obtidos no capítulo anterior.

1.1.2. Objetivos Específicos

Relacionar a identificação taxonômica com o padrão morfométrico de cada

espécie;

Caracterizar a variação morfométrica nas espécies do gênero Pterophyllum, ao

longo da área coletada;

Testar e discutir as prováveis relações existentes entre os padrões

morfométricos encontrados entre as populações das espécies do gênero

Pterophyllum e sua respectiva caracterização genética;

Testar e discutir as prováveis relações existentes entre os padrões

morfométricos encontrados nas espécies do gênero Pterophyllum e sua

respectiva distribuição geográfica e ambiental.

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2. Material e Método

2.1. Amostragem

Levando-se em conta a distribuição dos peixes do gênero Pterophyllum na bacia

amazônica (Kullander, 2003), foram coletados 215 espécimes ao longo dos rios: Negro

(Boa Vista N=16, Santa Isabel N=34, Barcelos N=21), Solimões (Iranduba N=16 e

Janauacá N=21), Amazonas (Careiro do Castanho N=28), e alguns afluentes (Purus

N=28, Santarém N=51 na região Solimões X Tapajós), totalizando oito pontos de coleta

(Figura 10), das quais duas foram coletadas, por Tomas Hrbek (Boa Vista a Santa

Isabel). As coletas foram autorizadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) sob o processo de n° 02001.000162/2006-67.

O processo de captura foi efetuado com o auxílio de um rapiché e de uma rede

de cerco. Após a captura, anestesiou-se cada exemplar com 0,4 ml -1,0 ml de uma

solução de eugenol 10% (diluído em etanol), de acordo com o protocolo de eutanásia

estabelecido pela American Veterinary Medical Association (AVMA). Posteriormente, a

nadadeira peitoral direita de cada espécime foi removida e fixada em um tubo

eppendorf contendo álcool 95%. Cada amostra de tecido foi depositada na Coleção de

Tecidos de Genética Animal – CTGA (Fiel Depositário/CGEN) do Laboratório de

Evolução e Genética Animal (ICB / UFAM). Após a retirada da nadadeira, cada

indivíduo foi etiquetado e fixado numa solução de formol diluída a 10%, que depois foi

substituída por uma solução de álcool-etanol 70%.

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2.2. Identificação Taxonômica

Para as comparações morfométricas entre os indivíduos de cada espécie e para

relacionar a identificação taxonômica, baseada em caracteres merísticos, com os dados

morfométricos obtidos, os espécimes coletados foram identificados com base na

descrição taxonômica (abordada no item I, 5 da introdução geral) das espécies

conhecidas para o gênero Pterophyllum, segundo Kullander (1986; 2003), resumida em:

P. scalare: 7,5cm de comprimento padrão (CP); 30-39 escamas ao longo da linha

lateral; presença do entalhe próximo ao focinho; a mancha escura localizada na

base da nadadeira dorsal é menos aparente;

Figura 10: Mapa com a distribuição dos pontos amostrados. As cores sinalizadas dentro de cada circunferência indicam a ocorrência de qual espécie na área coletada. A figura de triângulo (vermelho) simboliza a cidade de Manaus, indicando um ponto de referência. A distância relativa entre os pontos amostrados, considerando o curso dos rios, está exposto no Anexo I.

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P. altum: 6,5cm de comprimento padrão (CP); 46-48 escamas ao longo da linha

lateral; presença do entalhe próximo ao focinho; a mancha escura localizada na

base da nadadeira dorsal aparente; corpo mais triangular; barras verticais mais

amplas;

P. leopoldi: 5,0cm comprimento padrão (CP); 27-29 escamas ao longo da linha

lateral; entalhe próximo ao focinho menos evidente; mancha escura na base da

nadadeira dorsal bem evidente.

2.3. Métodos Moleculares: Extração de DNA, Amplificação, Seqüenciamento e Análises

Amostras de tecido foram retiradas da nadadeira peitoral e submetidas ao método

de extração de DNA total (nuclear e mitocondrial) via proteinase K/ fenol/ clorofórmio

desenvolvido por Sambrook et al. (1989) e descrito na seção 2 do material e método

(2.3. Métodos Moleculares: Extração de DNA, Amplificação e Seqüenciamento) do

capítulo anterior, assim como os procedimentos de amplificação e seqüenciamento do

gene mitocondrial do citocromo b. Com estes dados foi gerada uma árvore de

relacionamento de haplótipos de Máxima Verossimilhança, seguindo os critérios de

analíticos propostos na seção 2.4.2.a. do capítulo 1, resultando na árvore filogenética

representada pela figura 7. Neste capítulo os dados moleculares filogenéticos serão

utilizados com o objetivo de relacionar os padrões morfométricos encontrados entre as

espécies e as populações das espécies do gênero Pterophyllum e sua respectiva

caracterização genética.

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2.4. Métodos Morfométricos

2.4. 1. Coleta de dados Morfométricos

Cada exemplar fixado em formol e transferidos para o álcool 70% teve seu perfil

esquerdo fotografado por uma câmera digital (Cânon EOS Rebel XT), em máxima

resolução, mantendo sempre a câmera na mesma distância, em posição perpendicular

e central ao exemplar, com zoom constante de 5.5 mm (zoom natural), utilizando

somente o foco e a luminosidade como recurso fotográfico. Foram escolhidos de 15 –

20 indivíduos por localidade, totalizando 142 indivíduos (Santa Isabel N=22; Barcelos

N=18; Boa Vista N=16; Purus N=20; Iranduba N=9; Janauaca N=20; Santarém N=20;

Careriro do Castanho N=17). Os espécimes que tiveram sua boca e opérculos fixados

acidentalmente abertos foram descartados deste estudo.

2.4.2. Demarcação de pontos anatômicos e Obtenção de dados morfométricos

Em cada indivíduo fotografado foram digitalizados pontos anatômicos

referências, num total de dezenove, utilizando o aplicativo tpsDig/2.10/2006 (Rohlf,

2006). Os pontos foram selecionados com base no critério de homologia morfométrica e

pela maior capacidade de cobrir a extensão corporal (Sneath; Sokal, 1973), utilizando

como referencial os esquemas de marcos anatômicos propostos por Klingenberg et al.,

2003 e Parsons et al., 2003, sumarizado na figura abaixo (Figura 11).

A obtenção dos dados brutos de morfometria geométrica foi efetuada, seguindo

a metodologia de sobreposição dos marcos anatômicos GLS (Generalized Least

Squares Procrustes Superimposition – Supersobreposição dos Quadrados Mínimos de

Procrustes), que utiliza como critério de otimização a soma mínima dos quadrados das

distâncias, ou distância de Procrustes, entre os pontos homólogos (Rohlf; Slice, 1990;

Rohlf; Marcus, 1993), retirando, consequentemente, da análise morfométrica os efeitos

do tamanho, da localização e da posição corporal (Bookstein, 1989; Monteiro; Gomes-

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Jr, 2005). Dessa maneira, de cada espécime, fotografado e marcado com os pontos, é

calculado seu respectivo centro de configuração (média das coordenadas X e Y de

cada ponto). Com isso, uma medida conhecida como centróide é calculada (raiz

quadrada da soma dos quadrados das distâncias entre todos os pontos da configuração

e seu respectivo centro), sendo esta a única medida de tamanho morfométrico

considerada, por ser desvinculada da forma (Zelditch et al, 2004). Feito isto, uma

configuração de pontos foi selecionada ao acaso e, a partir desta, outras configurações

foram sobrepostas, passando por eventos de translação, rotação e escalonamento,

tendo como base de referência o centróide (escalonado para o valor de 1 e centrado na

origem 0,0) e os pontos homólogos de cada configuração, utilizando como método de

otimização a soma mínima dos quadrados das distâncias entre os pontos homólogos

das configurações. Então uma configuração média é calculada e o processo de

sobreposição é iniciado mais de uma vez até a configuração média resultante do último

ciclo de sobreposição não se diferencie da configuração média gerada do ciclo anterior

(Rohlf; Slice 1990; Rohlf; Marcus 1993), sendo esta a configuração média chamada de

“consenso”. Como conseqüência dos efeitos de translação, rotação e escalonamento as

formas comparadas entre si assumem novas posições no espaço (conhecida como

espaço de Kendall, ou espaço forma), que ao serem projetadas em um espaço

tangente, foram traduzidas em novas coordenadas de (X, Y) de pontos. Estas

coordenadas alinhadas foram, então, projetadas num espaço de deformação, gerando

componentes de deformação parciais e uniformes, sendo estes as variáveis utilizadas

nas análises (Monteiro et al., 2002; Zelditch. et al, 2004; Monteiro; Gomes-Jr, 2005).

Estes componentes de deformação refletem as diferenças entre uma dada forma em

relação a uma outra configuração de referência (muitas vezes é a forma consenso).

Neste caso, a referência utilizada foi o consenso de todas as configurações gerado pela

sobreposição dos marcos anatômicos GLS (Generalized Least Squares Procrustes

Superimposition – Supersobreposição dos Quadrados Mínimos de Procrustes). A

utilização dos componentes parciais e uniformes é muito comum na literatura como

meio de acesso as variações estruturais da forma e como dados para análises

estatísticas multivariadas (Bookstein, 1991).

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A sobreposição de imagens foi efetuada no aplicativo tpsSuper/1.14/2004

(Rohlf, 2007) e os componentes de deformação uniformes e parciais foram obtidos pelo

aplicativo tpsRelw/1.45/2007.

2.5. Análises Estatísticas

Com as variáveis geradas (dados da distância de Procrustes transformados)

pelo procedimento descrito acima (Supersobreposição dos Quadrados Mínimos de

Procrustes) estavam correlacionadas, foi efetuado uma Análise de Componentes

Principais ACP (Principal Components Analysis - PCA) para produzir um menor número

de variáveis independentes. Os primeiros componentes gerados pela análise, que

compreendessem 50% da variação total morfológica (Gauch, 1982, Simões et al.,2008)

foram utilizados como variáveis dependentes em uma análise de variância multivariada

(MANOVA), para testar a significância da variação morfológica entre os grupos

taxonômicos de cada indivíduo e entre as localidades coletadas neste estudo expostas

na seção 2.1 do material e método neste capítulo. A delimitação dos táxons foi

desenvolvida com base: 1) na identificação taxonômica (por meio dos caracteres

merísticos descritos na seção 2.2 do material e método deste capítulo) e 2) na

caracterização molecular genética (com base no perfil molecular do gene mitocondrial

do citocromo b obtido no capítulo 1), resultado de uma árvore de haplótipos de Máxima

Verossilhança (MV) (Felsenstein, 1981) gerada no capítulo anterior deste trabalho

(Figura 7). Seis morfotipos incluídos não tiveram sua seqüência determinada e,

portanto, não ocuparam posição na árvore de MV (Máxima Verossimilhança). Todas as

análises estatísticas foram realizadas através do programa computacional Systat/8.0

(Wilkinson, 1998). O critério de escolha dos primeiros componentes principais que

totalizem a soma de 50% de toda a variação encontrada tem como respaldo o fato de

que os primeiros componentes principais contém a maior parte da informação de

similaridade entre amostras, ao passo que componentes principais mais distantes

tendem a reter variação relativa ao ruído do tratamento adotado (Gauch, 1982).

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56

Figura 11: Descrição esquemática de pontos anatômicos. 1. Junção entre o pré-maxilar e o etmoidal; 2. Junção entre o lábio inferior e a mandíbula; 3. Concavidade pré-dorsal; 4. Final da porção mandibular; 5. Margem anterior ocular; 6. Margem posterior ocular; 7. Margem inferior ocular; 8. Limite opercular; 9. Base superior da nadadeira peitoral; 10. Base inferior da nadadeira peitoral; 11. Base anterior da nadadeira pélvica; 12. Base posterior da nadadeira pélvica; 13. Base anterior da nadadeira anal; 14. Base posterior da nadadeira anal;

15. Base inferior da nadadeira caudal;

16. Base superior da

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57

3. Resultados

Do total de indivíduos fixados (N=215), foram selecionadas, de acordo com as

condições de fixação, 142 amostras (Santa Isabel N=22 – 3 P. scalare + 19 P. altum;

Barcelos N=18 – P. scalare; Boa Vista N=16 – 4 P. scalare + 12 P. altum; Purus N=20 –

P. scalare; Iranduba N=9 – P. scalare; Janauaca N=20 – P. scalare; Santarém N=20 –

P. scalare; Careiro do Castanho N=17 – P. scalare), que ao serem fotografadas e

analisadas, pela Supersobreposição dos Quadrados Mínimos de Procrustes, geraram,

para cada configuração, 17 variáveis morfométricas (1 componente de deformação

uniforme e 16 componentes de deformação parciais, projetadas nos eixos X e Y). No

entanto, somente os 16 componentes de deformação parciais foram usados, porque

representam variações de deformação entre determinadas regiões da forma corporal,

enquanto que os componentes de deformação uniformes, embora informativos, refletem

variações morfométricas na sua totalidade, num único sentido e em eixos ortogonais, o

que impossibilita a identificação de variações morfológicas regionais e diluí variações

morfométricas localizadas.

Esses componentes de deformação parciais, ao serem reduzidos de

dimensionalidade, resultaram em trinta e dois componentes principais, dos quais

somente os cinco primeiros (CP1 = 22,97%; CP2 = 14,79%; CP3 = 10,12%; CP4 =

7,72%; CP5 = 5,34%) foram utilizados como variáveis dependentes, porque explicaram

maior parte da variação observada, num total de 60,9%. Além disso, os eigenvalues

resultantes em cada componente foram > 1,5 e possuem maior parte da explicação

para a distribuição da variação morfométrica encontrada, segundo o scree plot obtido

neste modelo de ordenação em componentes principais.

Algumas das variáveis, nos quatro primeiros componentes, obtiveram maiores

escores (valores de loadings > 0,600) do que outras, indicando que algumas das

variáveis morfométricas tiveram maior contribuição na distribuição da variação

morfológica em cada componente (principalmente nos dois primeiros componentes), o

que pode ser visto nos valores de loadings marcados de azul na tabela 7.

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58

No teste estatístico de MANOVA, com os cinco primeiros componentes principais

como variáveis dependentes, observou-se significância entre a variação morfológica e

as diferentes localidades (Wilks' Lambda = 0,040; p < 0,001; 35 g.l., onde PC1, PC2,

PC4 e PC5 com p < 0,001). Também foi encontrado resultado significativo com relação

ao grupo haplotípico de cada indivíduo, sua caracterização taxonômica e a variação

morfológica encontrada (Wilks' Lambda = 0,194; p < 0,001; 10 g.l., onde PC1 com p <

0,001 e PC2 e PC4<0,05). A separação da distribuição morfométrica dos indivíduos em

relação aos grupos de haplótipos, espécies e as diferentes localidades também foi

evidenciada na representação gráfica dos componentes 1 e 2, sendo marcante ao

longo do componente principal 1 (CP1) a separação em relação à espécie (P. scalare e

P. altum) e ao grupo haplotípico (Ptero2 e Ptero3), concordando com a identificação

taxonômica morfológica e estrutura filogenética (do capítulo 1) das espécies P. altum e

P. scalare (Gráfico 3). Além disso, foi observado que a separação entre estas espécies

e o grupo haplotípico está mais relacionada às variáveis de maior peso neste

componente: PW11_X; PW12_X; PW15_X; PW15_Y; PW16_X e PW16_Y, o que reflete

diferenças pontuais entre o formato corporal dessas duas espécies (P. altum e P.

scalare), resultando na significância observada (Tabela 7). Ainda foi visto que 4 das 6

variáveis morfométricas com os maiores escores estiveram relacionadas à variação da

forma no eixo longitudinal (no eixo X) dos pontos, refletindo uma deformação maior

nesse sentido entre os peixes analisados dos diferentes haplótipos e espécies (Tabela

7).

Já no componente principal 2 (CP2) ficou mais evidente a distinção dos

morfotipos organizada de acordo com as localidades (Gráfico 4), sendo que a variação

morfométrica significativa observada entre as localidades teve maior contribuição das

variáveis PW5_X; PW5_Y e PW9_Y, possuindo os maiores loadings neste componente

(Tabela 7), indicando maior variação latitudinal (no eixo Y) entre os peixes de

localidades distintas. Ainda neste componente, foi observado que os espécimes de P.

altum das localidades de Boa Vista e Santa Isabel mostraram pouca sobreposição na

distribuição gráfica deste componente, o mesmo ocorreu para P. scalare provenientes

do rio Negro que mostraram uma separação gráfica em comparação as demais

localidades coletadas desta espécie (Gráfico 3), o que será discutido mais adiante.

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Através da determinação morfométrica foi possível sugerir o grupo haplotípico

dos seis indivíduos, que não foram determinados no capítulo 1 sendo, cinco indivíduos

da espécie P. altum (Ptero2) e um P. scalare (Ptero3), corroborando com a identificação

taxonômica desses espécimes (Gráfico 3). Não foi possível testar a separação

morfométrica de P. leopoldi dentro do grupo porque não se obteve espécimes coletados

e fixados desta espécie para as análises.

Variável Morfométrica CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 PW1_X 0,316 -0,167 0,763 0,301 0,118 PW1_Y 0,386 -0,320 0,547 -0,008 0,099 PW2_X 0,290 0,596 -0,426 -0,164 -0,02 PW2_Y 0,414 0,402 -0,295 -0,142 -0,296 PW3_X 0,105 0,010 -0,184 0,411 0,108 PW3_Y 0,542 0,344 0,042 0,378 -0,228 PW4_X -0,506 0,210 0,220 0,354 -0,102 PW4_Y 0,046 0,495 0,198 0,202 0,015 PW5_X 0,058 -0,665 -0,556 0,139 0,166 PW5_Y 0,208 0,740 -0,493 -0,128 -0,018 PW6_X 0,026 0,286 0,143 0,473 0,538 PW6_Y -0,535 -0,070 -0,117 -0,538 0,181 PW7_X 0,353 -0,469 -0,162 0,083 0,057 PW7_Y -0,564 0,039 0,162 -0,219 0,084 PW8_X -0,105 0,587 0,535 -0,299 0,107 PW8_Y 0,095 -0,356 0,672 0,159 -0,319 PW9_X -0,008 0,238 0,321 -0,604 0,255 PW9_Y -0,270 -0,624 0,103 -0,238 0,424

PW10_X -0,103 0,555 0,037 0,317 -0,108 PW10_Y -0,412 -0,204 -0,014 0,315 0,182 PW11_X 0,645 -0,381 0,179 -0,137 -0,333 PW11_Y 0,355 0,332 0,448 -0,505 0,076 PW12_X -0,821 -0,153 -0,125 -0,141 -0,092 PW12_Y -0,553 -0,225 -0,315 0,106 0,152 PW13_X 0,561 -0,172 0,102 0,211 0,225 PW13_Y -0,452 -0,215 0,186 -0,174 -0,537 PW14_X 0,331 0,586 0,037 0,106 0,398 PW14_Y -0,673 0,433 0,152 0,191 -0,083 PW15_X -0,798 0,084 0,062 -0,074 0,210 PW15_Y -0,847 0,061 0,187 0,194 0,025 PW16_X -0,772 0,401 0,135 0,128 -0,099 PW16_Y -0,826 -0,081 -0,010 0,170 -0,233

Eigenvalues 7,353 4,735 3,239 2,471 1,711 % da variação explicada 22,97 14,79 10,12 7,72 5,3

Tabela 7: Pesos das variáveis morfométricas sobre os cinco primeiros componentes da análise de componentes principais. Os valores marcados de azul indicam os maiores loadings (>0,600) obtidos.

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Gráfico 3: Distribuição dos haplótipos ao longo dos dois primeiros componentes principais construídos com as variáveis morfométricas.

Gráfico 4: Distribuição das localidades amostradas ao longo dos dois primeiros componentes principais construídos com as variáveis morfométricas.

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Considerando o padrão de distribuição da variação morfométrica encontrado ao

longo da distribuição geográfica do grupo P. scalare (Ptero3) (Gráfico 3), foi aplicado,

novamente, uma Análise de Componentes Principias (ACP/PCA), para a redução de

dimensionalidade das variáveis correlacionadas em um número menor de variáveis

independentes, utilizando somente as variáveis morfométricas dos indivíduos do grupo

P. scalare (Ptero3), considerando, também, o indivíduo molecularmente não

determinado, mas taxonomicamente P. scalare e agrupado morfometricamente neste

grupo (Gráfico 3). Como resultado observou-se que os cinco primeiros componentes

principais explicaram 54,58% da variação morfológica do grupo P. scalare (Ptero3)

(CP1=19,56%; CP2=13,29%; CP3=9,05%; CP4=6,49%; CP5=6,16%) com eigenvalues

> 1,9. No entanto, somente os quatro primeiros componentes foram responsáveis pela

maior parte da explicação para a distribuição da variação morfométrica encontrada,

enquanto que o quinto componente principal possuiu grande parte da variação

observada relativa ao ruído do tratamento adotado, de acordo com o scree plot obtido

neste modelo de ordenação em componentes principais. Por isso, só serão utilizados

os quatro primeiros componentes principais para as análises estatísticas multivariadas.

Os quatro primeiros componentes principais (CP1, CP2, CP3 e CP4)

apresentaram algumas variáveis com valores de loadings maiores em relação aos

demais (p > 0,600) (Tabela 8), o que está relacionado à maior contribuição destas

variáveis morfométricas para a distribuição morfométrica em cada componente. Na

organização espacial morfométrica do componente principal 1, foi notado que os

indivíduos da espécie P. scalare estavam distribuídos graficamente em dois grandes

grupos o quais foram chamados de “negro”: Barcelos (todos indivíduos/N=18) + Santa

Isabel (todos indivíduos/N=3) + Boa Vista (N=3) + Careiro do Castanho (N=1), maioria

do rio negro, e o outro “branco”: Santarém (todos indivíduos/N=20) + Janauaca (todos

indivíduos/N=20) + Iranduba (todos indivíduos/N=9) + Purus (todos indivíduos/N=20) +

Careiro do Castanho (N=16) + Boa Vista (N=1), grande parte relacionada à calha dos

rios Solimões-Amazonas (Gráfico 5).

Com estes grupos, separados seguindo a distribuição espacial no primeiro

componente principal do gráfico 5, como variáveis independentes e os quatro primeiros

componentes principais obtidos como variáveis dependentes foi desenvolvido uma

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MANOVA para testar a significância da variação morfométrica em relação à distribuição

das localidades de P. scalare nestes dois grupos (Ptero3). O resultado foi um F

significativo (Wilks' Lambda = 0,262; p < 0,001; 4 g.l., onde PC1 com p < 0,001). Na

representação gráfica da distribuição morfológica de P. scalare (Ptero3) nestes dois

grupos, notou-se uma separação ao longo do eixo PC1, tendo como variáveis de maior

peso: PW5_X; PW10_X; PW11_X; PW14_Y; PW15_Y; PW16_X (Gráfico 6), estando a

variação morfométrica mais relacionada ao eixo X (longitudinal) entre os peixes desses

dois conjuntos geográficos, contribuindo para a significância observada na MANOVA.

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Variável Morfométrica CP1 CP2 CP3 CP4 CP5 PW1_X 0,028 0,803 -0,096 0,196 -0,097 PW1_Y -0,383 0,658 -0,036 -0,045 -0,455 PW2_X 0,348 -0,428 -0,240 -0,329 0,112 PW2_Y 0,118 -0,274 -0,122 -0,151 0,637 PW3_X 0,09 -0,202 -0,337 -0,010 -0,216 PW3_Y 0,209 0,141 -0,441 -0,383 -0,276 PW4_X 0,564 0,070 0,248 0,131 -0,101 PW4_Y 0,549 0,159 0,003 0,134 0,03 PW5_X -0,695 -0,489 -0,254 0,127 -0,016 PW5_Y 0,566 -0,603 -0,073 -0,062 -0,139 PW6_X 0,349 0,159 -0,499 0,189 -0,246 PW6_Y -0,043 -0,178 0,385 0,293 0,225 PW7_X -0,518 -0,119 0,051 0,397 0,047 PW7_Y 0,228 0,192 -0,059 -0,201 0,375 PW8_X 0,582 0,552 0,009 -0,067 0,168 PW8_Y -0,158 0,723 0,096 -0,166 0,266 PW9_X -0,019 0,512 0,005 0,257 0,236 PW9_Y -0,556 0,086 0,131 0,464 0,184

PW10_X 0,659 -0,062 0,014 -0,062 0,068 PW10_Y 0,114 -0,156 0,223 0,605 -0,366 PW11_X -0,644 0,195 0,436 -0,290 -0,003 PW11_Y 0,078 0,674 0,076 0,016 0,251 PW12_X 0,006 -0,236 0,572 -0,192 -0,320 PW12_Y 0,051 -0,498 -0,107 0,297 0,541 PW13_X -0,296 0,230 -0,721 -0,092 0,175 PW13_Y -0,064 0,200 0,549 -0,257 0,162 PW14_X 0,527 0,086 -0,425 0,333 -0,032 PW14_Y 0,773 0,056 0,044 -0,116 -0,011 PW15_X 0,437 0,214 -0,083 0,511 0,157 PW15_Y 0,674 0,109 0,239 0,161 -0,225 PW16_X 0,832 0,027 0,162 -0,078 0,090 PW16_Y 0,462 -0,180 0,517 0,032 0,064

Eigenvalues 6,261 4,254 2,899 2,080 1,972 % da variação explicada 19,565 13,293 9,059 6,499 6,162

Tabela 8: Pesos das variáveis morfométricas sobre os cinco primeiros componentes da análise de componentes principais na espécie P. scalare (grupo Ptero 3). Os valores marcados de azul indicam os maiores loadings

(>0,600) obtidos.

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Gráfico 5: Distribuição das localidades amostradas da espécie P. scalare (grupo Ptero 3) ao longo dos dois primeiros componentes principais construídos com as variáveis morfométricas.

Gráfico 6: Distribuição das populações amostradas da espécie P. scalare (grupo Ptero 3) ao longo dos dois primeiros componentes principais construídos com as variáveis morfométricas.

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4. Discussão e Conclusão

Neste estudo observaram-se variações morfométricas significativas

relacionadas às espécies válidas, ao grupo haplotípico e à distribuição geográfica,

sugerindo que fatores taxonômicos, filogenéticos, genéticos e ambientais estão

influenciando o perfil morfométrico destes peixes. Klingenberg e colaboradores (2003)

ao estudarem três espécies de ciclídeos do gênero Amphilophus em lagos próximos da

Nicarágua encontraram variação morfométrica significativa entre as três espécies

estudadas, corroborando descrições taxonômicas pré-existentes para o grupo. No

entanto, Ready e colaboradores (2006) encontraram certa dificuladade para separar

morfologicamente duas espécies descritas para o gênero Symphysodon (S. discus e S.

aequifasciatus), conseguindo identificar morfologicamente somente a espécie S. tarzoo

neste genêro.

Considerando a distribuição morfométrica ao longo dos componentes principais

foi possível constatar que a maior parte da variação morfométrica encontrada foi

explicada por divergência genética entre as linhagens de P. scalare e P. altum,

representando 22,97% da variação observada no componente principal 1, seguido pela

variação morfológica de acordo com a distribuição geográfica coletada, explicando

14,5% da variação observada no componente principal 2 (Gráficos 3 e 4), sendo que

algumas das váriáveis morfométricas obtidas tiveram maior peso em relação às demais

variáveis, indicando que algumas regiões do formato corporal entre os grupos

analisados (de espécies e de locadidades amostradas) foram mais responsáveis pela

separação morfométrica significativa observada (Tabela 7), mostrando que a variação

morfológica na direção do eixo X contribuiu mais para as varições entre as espécies e

grupo haplotípico e as variações no eixo Y tiveram maior peso para as diferenças

significativas observadas entre os pontos coletados.

Olhando separadamente a variação morfológica resultante entre as localidades

amostradas nas espécies de P. altum (Ptero2) (Gráfico 4) e P. scalare (Ptero3)

(Gráficos 4 e 5), é possível sugerir a atuação de fatores ecológicos locais mostrando um

exemplo da capacidade adaptativa da família Cichlidae e da tribo Heroini (Lowe-

McConnell, 1969b; 1999; Kocher, 2004; Concheiro-Pérez et al., 2007).

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Outro fato, relacionado à distribuição morfométrica entre as localidades

amostradas, está no comportamento de ocupação espacial ao longo do componente

principal 2 das duas espécies (P. altum e P. scalare), que em simpatria (Santa Isabel e

Boa Vista) estão dispostas espacialmente, neste componente, com pouca sobreposição

entre os indivíduos, quando comparado ao padrão de distribuição espacial da espécie

P. scalare nas demais regiões, onde ocorre isoladamente. Além disso, grande parte dos

indivíduos na espécie P. scalare das localidades coletadas na calha Solimões-

Amazonas estiveram graficamente dispostos mais próximos dos indivíduos de P. altum,

quando comparados com amostras simpátricas de P. scalare coletados no rio negro

(Gráfico 4), indicando maior similaridade morfométrica entre indivíduos de espécies

diferentes do que dentro de uma mesma espécie. Este padrão de distribuição

morfométrica nas duas espécies pode ser decorrente da existencia de plasticidade

fenotípica, uma vez que em simpátria indivíduos que apresentam nichos ecológicos

similares podem apresentar maior divergência fenotípica quando comparadas em

alopatria por conseqüência da competitividade entre si por recursos (Schluter, 2000;

Adams et al., 2007).

Nas populações amostradas P. scalare foi observado maior variação

morfométrica intralocal do que entre localidades distintas, principalmente entre as

regiões do eixo Solimões – Amazonas (Gráfico 4 e 5). Ready et al (2006) observaram

um padrão parecido de variação morfológica similar ao analisarem populações de

Symphysodon ao longo da bacia amazônica (principalmente entre o eixo Solimões-

Amazonas), sugerindo uma distribuição morfológica populacional pouco relacionada às

localidades amostradas, encontrando maior variação morfológica dentro das

populações consideradas no estudo. Dessa forma, a pequena variação morfológica

encontrada entre as localidades coletadas de Pterophyllum scalare, pode ser

conseqüência da ampla distribuição geográfica deste grupo, ao longo de grandes

tributários e canais principais que, juntamente com as florestas de inundação, podem

estar garantindo um certo nível de fluxo gênico entre regiões (Tabela 4 do Capítulo 1),

mantendo a similaridade genética (Tabela 6 do Capítulo 1) e a menor variação

morfológica ao longo da área estudada. Cantanhede e colaboradores (2005),

estudando populações de peixe boi da espécie Trichechus inunguis, mamífero com

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distribuição ampla na bacia amazônica, encontraram relativo fluxo gênico e semelhança

fenotípica entre as diferentes populações do grupo, considerando-o como uma

população panmítica mantida pela dispersão relacionada à dinâmica das planícies de

inundação, o que também foi visto por Hrbek et al. (2005) em populações de pirarucu

(Araipama gigas). Outra hipótese, aqui sugerida, é de nível ecológico e comportamental

em que a ampla distribuição geográfica e a menor sobreposição dos indivíduos e das

espécies, associadas à abundante disponibilidade de recursos pode estar gerando uma

distribuição morfológica mais homogenia entre as localidades. No entanto, maiores

esforços devem ser aplicados no desenvolvimento e na validação desta última hipótese.

Um outro padrão de distribuição morfométrica pode ser sugerido ao olharmos

para o gráfico 5 e 6 com relação aos indivíduos da espécie P. scalare (Ptero3) das

localidades de Barcelos, Boa Vista e Santa Izabel, resultando em uma significativa

separação morfológica destes pontos em relação aos demais morfotipos das outras

regiões, ao longo do componente principal 1. Uma possível explicação pode estar nas

diferenças de origem e de composição química e física das águas dos principais

afluentes (rios Negro, Solimões e Amazonas), onde estas localidades estão situadas,

influenciando a diferenciação morfológica, o reduzido fluxo gênico e a estrutura

genética populacional observados entre estas regiões em relação as outras localidades

(Gráfico 5 e Tabela 4 do Capítulo 1) (Sioli, 1984; Lowe-McConnell, 1991). Um fenômeno

similar foi constatado na diferenciação genética (Vasconcelos et al., 2006; Willis et al.,

2007) e morfológica (Willis et al., 2007) em outros grupos de animais distribuídos ao

longo dos principais tributários da bacia amazônica, sendo considerado como um fator

geológico limitante para distribuição geográfica das espécies e para o fluxo gênico

populacional, promovendo oportunidades de diversificação (Willis et al., 2007). Por

outro lado, a diferenciação morfológica encontrada em P. scalare situado nesses dois

tipos de água pode estar relacionado ao reduzido fluxo gênico entre estas duas

drenagens, originando um padrão morfológico distinto apenas pelo acumulo de

diferenças morfométricas por deriva genética. Para verificar a existência de relações

entre a variação morfológica e as diferenças ambientais é preciso localizar e definir a

importância ecológica das diferenças morfológicas encontradas, o que está previsto

futuramente neste trabalho.

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Numa visão conjunta de todo o contexto de distribuição morfológica entre as

localidades nota-se uma separação morfométrica entre os indivíduos da região de

Barcelos (Gráficos 4 e 5) e as localidades restantes, apresentando um perfil de

distribuição haplotípica semelhante quando comparada a árvore e a rede de haplótipos

(Figura 7; Figura 9), gerados no capítulo 1. Mesmo com o conhecimento da influência

de eventos geológicos (como os arcos geológicos Purus e Vaupés) na modelagem do

rio Negro (Lundberg, 1998), pouco se conhece sobre a existência de alguma barreira

geológica significativa e especifica nesta região. Além disso, registros científicos que

descrevam padrões morfológicos e biogeográficos semelhantes em outros grupos de

animais são inexistentes. Porém não pode descartar a existência de uma diferenciação

morfológica e genética e que fatores ambientais históricos e/ou atuais estejam

relacionados à separação morfológica e genética observada, assumindo o papel de

causa (primário) ou de manutenção (secundário) do resultado observado, levando-se

em consideração a complexidade em se distinguir eventos ecológicos primários de

secundários (Coyne; Orr, 2004). Provavelmene essa diferenciação morfológica pode ser

resultante da maior influência do rio Branco na região de Barcelos e da diferenciação

química na qualidade da água antes e depois da confluência do rio Branco com o

Negro, como já foi sugerido no capítulo 1, levando tanto a diferencição morfológica,

como genética dos peixes nessa região.

Num contexto geral, a utilização em conjunto de ferramentas moleculares e de

morfometria geométrica pode ser de grande valia em estudos evolutivos, principalmente

em organismos que apresentam alta variabilidade morfológica e difierentes morfotipos,

como é o caso dos peixes do gênero Pterophyllum. Apesar da existência de diferentes

morfotipos em P. scalare, foi possível separar morfometricamente duas espécies de

Pterophyllum (P. altum e P. scalare), concordando com a identificação taxonômica e a

estrutura filogenética molecular de P. scalare (Ptero3) e P. altum (Ptero2) observada no

primeiro capítulo.

Além disso, o perfil de variação e determinação morfológica encontrados nos

nas duas espécies de Pterophyllum estudadas é composto por fatores tanto ambientais

(extrínsecos) quanto genéticos (intrínsecos), existindo variação morfológica

intraespecífica, condicionadas pelo fluxo gênico (migração), pela dinâmica das planícies

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de inundação, pela composição das águas, por adaptações morfológicas ambientais e

pela existência de plasticidade fenotípica nestes peixes, refletindo variações

morfométricas em determidadas regiões da forma destes peixes. No entanto, para

verificar a existência de relações entre a variação morfológica e as diferenças

ambientais é preciso localizar e definir a importância ecológica das diferenças

morfológicas encontradas.

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II. Conclusão Geral

Mesmo existindo na literatura evidências de diferentes mortipos e sobreposição

de alguns caracteres merísticos no gênero Pterophyllum, neste trabalho foi possível

delimitar de maneira molecular e morfológica as espécies existentes no gênero

Pterophyllum (P. scalare, P. altum e P. leopoldi) e a estrutura taxonômica observada no

primeiro capítulo também pode ser vista nos resultados morfométricos do capítulo dois,

exceto para a determinação morfométrica de P. leopoldi. Particularmente na espécie

Pterophyllum scalare, observou-se uma complexa história filogeográfica, modelada por

processos antigos e incertos de fragmentação, seguidos por episódios de expansão

geográfica, juntamente com eventos de fluxo gênico e isolamento influenciados pela

ampla distribuição da espécie. No entanto, não foi encontrado alguma relação entre a

distância geográfica e a diferenciação genética e morfológica ao longo da área

amostrada, mesmo sendo um grupo muito distribuído pela bacia amazônica, possuir

comportamento territorialista e baixa mobilidade associada aos ambientes lenticos. Os

índices de fluxo gênico e a homogeniedade morfológica observados nas comparaçãoes

das áreas coletadas, principalmente, no eixo Solimões-Amazonas, estão possivelmente

relacionados ao sistema das planícies de inundação, que durante a cheia, oferecem

intercomunição entre populações, mesmo distantes entre si, acarretando numa maior

variabilidade genética e morfológica intrapopulacional do que entre populações. A

homogeineidade morfológica na espécie P. scalare observada em toda extenção

coletada da drenagem Solimões-Amazonas, também, pode ter explicações ecológicas

decorrentes da disponibilidade de recursos e inexistência de espécies simpátricas, ao

contrário do que é visto nas regiões de simpatria entre P. scalare e P. altum, sugerindo

a existência de plasticidade fenotípica em P. scalare e que o padrão morfométrico

encontrado nas regiões coletadas de P. altum pode estar sendo influenciado pela

existência de P. scalare nas regiões de Sante Isabel e Boa Vista.

As diferenças químicas e físicas das águas se caracterizaram como um fator

limitante para migração entre as localidades estudadas de Pterophyllum scalare,

resultando numa estrutura populacional entre essas águas, que, também, modelaram

uma diferenciação morfológica entre os distintos tipos de águas, sendo considerado,

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por outros trabalhos, como um fator geológico limitante para distribuição geográfica das

espécies e para o fluxo gênico, promovendo oportunidades de diversificação. O padrão

diferenciado molecular e morfológico de Pterophyllum scalare da região de Barcelos em

relação as demais localidades pode ser decorrente da influência da drenagem do rio

Branco nesta região e pelas diferenças químicas existentes antes e depois da

confluência deste rio com o Negro, porém maiores esforços devem ser aplicados para a

validação desta hipótese. No entanto, embora se tenha observado morfometricamente

diferenciação significativa relacionada à variação geográfica que foram associadas às

propriedades químicas e físicas das águas e mesmo encontrando maior contribuição de

algumas regiões morfológicas nos padrões morfométricos resultantes, é preciso

associar as diferenças morfométricas obtidas à importância ecológica entre as

diferentes localidades e ambientes para que se tenha entendimento do valor adaptativo

e evolutivo, uma vez que as diferenças morfométricas encontradas podem ser

meramente resultado de acúmulo por deriva genética. Neste trabalho o marcador

molecular do citocromo b mostrou-se um bom marcador molecular, sendo eficaz em

estudos filogenéticos e de taxonomia molecular, concordando com identificação

taxonômica efetuada e o perfil morfométrico obtido dos espécimes coletados. A análise

combinada entre morfometria geométrica e genética molecular pode ser de grande valia

na determinação de eventos evolutivos, dando maior suporte as inferências evolutivas

aqui trabalhadas.

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ANEXOS

ANEXO I DISTÂNCIA GEOGRÁFICA ENTRE LOCALIDADE

Indica-se, neste anexo, a distâncias (em Km) entre as localidades amostradas, de acordo com o curso do rio, por meio do

programa GoogleEarth™.

Localidades 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

1. Campina **** 2. Catalão 622 **** 3. Purus 244 377 **** 4. Novo Airão 742 200 497 **** 5. Amanã 112 734 689 854 **** 6. Janauacá 557 64 347 185 692 **** 7. Santa Isabel 1.357 741 1.111 621 1.467 797 **** 8. Boa Vista 1.382 759 1.134 639 1.490 820 30 **** 9. Mamirauá 39 660 622 781 96 630 1.394 1.417 **** 10. Santarém 1.342 743 1.097 863 1.454 784 1.479 1.503 1.381 **** 11. Careiro do Castanho 675 114 430 249 787 75 864 888 713 786 **** 12. Iranduba 573 61 326 181 669 36 797 818 610 781 111 **** 13. Barcelos 1.060 438 811 318 1.167 521 303 321 1.094 1.181 567 494 **** 14. Careiro da Várzea 628 38 384 157 740 71 773 797 667 716 121 68 476 ****

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ANEXO II

Indica-se, neste anexo, as distribuição haplotípica das espécies P.altum e P.scalare no network do NCA (Nested Clade

Analysis) (Figuras 8 e 9) .

Network : Pterophyllum altum

Campina

Catalão

Purus

Novo Airão

Amanã

Janauacá

Santa Isabel

Boa Vista

Mamirauá

Santarém

Careiro do Castanho Iranduba

Barcelos

Haplótipos N°

1 1 2 5 3 1 4 1 5 2 6 4 7 3 8 1 9 5

10 1 TOTAL 0 0 0 0 0 0 14 10 0 0 0 0 0

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Network : Pterophyllum scalare Campina Catalão

Purus

Novo Airão

Amanã Janauacá

Santa Isabel

Boa Vista Mamirauá

Santarém Careiro do

Castanho Iranduba

Barcelos

Haplótipos N°

1 3 2 1 3 1 4 1 5 1 6 2 7 1 8 1 1 9 1

10 1 11 1 12 1 4 13 1 14 1 15 3 1 16 1 17 1 18 1 19 2 20 1 21 1 22 1 23 2 24 1 2 25 1 26 4 27 2 28 2 4 1 1 14 28 10 4 29 1

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Campina Catalão

Purus

Novo Airão

Amanã Janauacá

Santa Isabel

Boa Vista Mamirauá

Santarém Careiro do

Castanho Iranduba

Barcelos

Haplótipo N°

30 3 1 31 1 32 1 33 1 34 1 35 1 36 1 37 1 38 2 39 4 1 1 2 2 40 1 1 41 2 42 1 43 4 44 4 45 1 46 1 47 2 48 2 49 1 50 1 51 1 52 1 1 1 53 1 54 1 55 1 56 4 1 57 1 58 1 59 1 60 6

Continuação

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Campina Catalão

Purus

Novo Airão

Amanã Janauacá

Santa Isabel

Boa Vista Mamirauá

Santarém Careiro do

Castanho Iranduba

Barcelos

Haplótipo N°

61 1 62 1 63 1 64 1 65 1 66 1 67 1 68 1 69 1 70 1 71 3 1 2 72 1 73 2 74 1 75 1 76 1 77 12 3 78 1 79 1

TOTAL 2 25 22 4 8 18 13 3 30 42 19 12 17

Continuação

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