2008__335_novembro

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Jornal da ABI Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa 335 NOVEMBRO 2008 MURILO MELO FILHO E VILLAS-BÔAS CORRÊA TRAJETÓRIAS EXEMPLARES No mesmo mês em que a Declaração dos Direitos Humanos completa 60 anos, o Brasil lembra do mais aterrador instrumento de repressão durante a ditadura militar: o AI-5. “CONFRONTO ARMADO NÃO ENFRAQUECE O TRÁFICOAFIRMOU O CORONEL UBIRATAN ÂNGELO EM SEMINÁRIO SOBRE VIOLÊNCIA NO RIO. PÁGINA 20 ESPECIALISTAS DEBATEM CRISE MUNDIAL NA ABI SEMINÁRIO BUSCA POSSÍVEIS SAÍDAS PARA A AMEAÇA QUE VEM DE FORA. PÁGINAS 18 E 19 JOVENS CINEASTAS GANHAM RECONHECIMENTO MOSTRA ABI DOS ESTUDANTES DE CINEMA QUER ESTIMULAR PRODUÇÃO. PÁGINA 17 Dois dos mais importantes jornalistas do País, companheiros de trabalho em diversas Redações, foram homenageados pela excelência de suas carreiras. JUIZ EXTINGUE PROCESSO DA PGM CONTRA A ABI MAS PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIO INSISTE NA COBRANÇA ILEGAL. PÁGINA 25 UMA LEI PARA PROTEGER O DIREITO À INFORMAÇÃO DEBATE SOBRE A LEI DE IMPRENSA REALIZADO NA ABI É TRANSMITIDO PELA INTERNET. PÁGINA 32 ELVIRA LOBATO GANHA O PRÊMIO MAIS COBIÇADO REPORTAGEM SOBRE O IMPÉRIO DA UNIVERSAL GANHA O ESSO DE JORNALISMO. PÁGINAS 36 E 37 Páginas 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11 GUERRA E PAZ Páginas 30 e 31, 38 e 39 NIELS ANDREAS/FOLHA IMAGEM O leilão do precioso acervo de Jorge Amado – um verdadeiro museu com 576 peças de grande valor histórico e artístico – escancara a verdadeira face dos governantes brasileiros. Ao permitirem o desmembramento de um inestimável patrimônio literário, artístico e afetivo reunidos pelo escritor e sua mulher, Zélia Gattai, eles demonstram absoluta indiferença e falta de apreço pela cultura e pela memória nacional. Páginas 26, 27, 28, 29 e Editorial na página 2 Vítima da violência da ditadura, a TRIBUNA DA IMPRENSA sofre com a lentidão do judiciário num processo que tramita há quase 30 anos. Página 33 JUSTIÇA AUSENTE

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Page 1: 2008__335_novembro

Jornal da ABIÓrgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa

335NOVEMBRO

2008

MURILO MELO FILHO E VILLAS-BÔAS CORRÊA TRAJETÓRIAS EXEMPLARES

No mesmo mês em que a Declaração dosDireitos Humanos completa 60 anos, o Brasil

lembra do mais aterrador instrumento derepressão durante a ditadura militar: o AI-5.

“CONFRONTO ARMADO NÃOENFRAQUECE O TRÁFICO”

AFIRMOU O CORONEL UBIRATAN ÂNGELO EMSEMINÁRIO SOBRE VIOLÊNCIA NO RIO. PÁGINA 20

ESPECIALISTAS DEBATEMCRISE MUNDIAL NA ABI

SEMINÁRIO BUSCA POSSÍVEIS SAÍDAS PARA AAMEAÇA QUE VEM DE FORA. PÁGINAS 18 E 19

JOVENS CINEASTASGANHAM RECONHECIMENTO

MOSTRA ABI DOS ESTUDANTES DE CINEMAQUER ESTIMULAR PRODUÇÃO. PÁGINA 17

Dois dos mais importantes jornalistas do País, companheiros de trabalho em diversas Redações, foram homenageados pela excelência de suas carreiras.

JUIZ EXTINGUE PROCESSODA PGM CONTRA A ABI

MAS PROCURADORIA-GERAL DO MUNICÍPIOINSISTE NA COBRANÇA ILEGAL. PÁGINA 25

UMA LEI PARA PROTEGERO DIREITO À INFORMAÇÃO

DEBATE SOBRE A LEI DE IMPRENSA REALIZADO NAABI É TRANSMITIDO PELA INTERNET. PÁGINA 32

ELVIRA LOBATO GANHA OPRÊMIO MAIS COBIÇADO

REPORTAGEM SOBRE O IMPÉRIO DA UNIVERSALGANHA O ESSO DE JORNALISMO. PÁGINAS 36 E 37

Páginas 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11GUERRA E PAZ

Páginas 30 e 31, 38 e 39

NIELS AN

DR

EAS/FOLH

A IMAG

EM

O leilão do precioso acervo de Jorge Amado– um verdadeiro museu com 576 peças de

grande valor histórico e artístico – escancaraa verdadeira face dos governantes brasileiros.

Ao permitirem o desmembramento de uminestimável patrimônio literário, artístico eafetivo reunidos pelo escritor e sua mulher,

Zélia Gattai, eles demonstram absolutaindiferença e falta de apreço pelacultura e pela memória nacional.

Páginas 26, 27, 28, 29 e Editorial na página 2

Vítima da violência da ditadura,

a TRIBUNA DA IMPRENSA sofre

com a lentidão do judiciário

num processo que tramita

há quase 30 anos.

Página 33

JUSTIÇAAUSENTE

Page 2: 2008__335_novembro

2 Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Jornal da ABIDIRETORIA – MANDATO 2007/2010Presidente: Maurício AzêdoVice-Presidente: Audálio DantasDiretor Administrativo: Estanislau Alves de OliveiraDiretor Econômico-Financeiro: Domingos MeirellesDiretor de Cultura e Lazer: Jesus ChediakDiretor de Assistência Social: Paulo Jerônimo de Sousa (Pajê)Diretor de Jornalismo: Benício Medeiros

CONSELHO CONSULTIVOChico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira (in memoriam),Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura.

CONSELHO FISCALLuiz Carlos de Oliveira Chesther, Presidente; Argemiro Lopes do Nascimento,Secretário; Adail José de Paula, Adriano Barbosa do Nascimento, GeraldoPereira dos Santos, Jorge Saldanha de Araújo e Manolo Epelbaum.

CONSELHO DELIBERATIVO MESA 2008-2009Presidente: Pery Cotta1º Secretário: Lênin Novaes de Araújo2º Secretário: Zilmar Borges Basílio

Conselheiros efetivos 2008-2011Alberto Dines, Antônio Carlos Austregesylo de Athayde, Arthur José Poerner,Carlos Arthur Pitombeira, Dácio Malta, Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima,Leda Acquarone, Maurício Azêdo, Mílton Coelho da Graça, Pinheiro Júnior,Ricardo Kotscho, Rodolfo Konder, Tarcísio Holanda e Villas-Bôas Corrêa.

Conselheiros efetivos 2007-2010Artur da Távola (in memoriam), Carlos Rodrigues, Estanislau Alves deOliveiora, Fernando Foch, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Jesus Chediak, JoséGomes Talarico, José Rezende Neto, Marcelo Tognozzi, Mário AugustoJakobskind, Orpheu Santos Salles, Paulo Jerônimo de Sousa (Pagê), SérgioCabral e Terezinha Santos.

Editores: Maurício Azêdo e Francisco UchaProjeto gráfico, diagramação e editoração eletrônica:Francisco UchaEdição de textos: Maurício Azêdo, Marcos Stefano e Paulo Chico

Fotos e ilustrações: Acervo Biblioteca da ABI (Biblioteca BastosTigre), Agência Brasil, Agência Estado, Agência JB, Agência OGlobo, Folha Dirigida, Folhapress

Apoio à produção editorial: Alice Barbosa Diniz, Ana PaulaAguiar, Conceição Ferreira, Guilherme Povill Vianna, Maria IlkaAzêdo, Mário Luiz de Freitas Borges.

Publicidade e Marketing: Francisco Paula Freitas (Coordenador),Queli Cristina Delgado da Silva, Paulo Roberto de Paula Freitas.

Diretor Responsável: Maurício Azêdo

Associação Brasileira de ImprensaRua Araújo Porto Alegre, 71Rio de Janeiro, RJ - Cep 20.030-012Telefone (21) 2240-8669/[email protected]

Impressão: Taiga Gráfica Editora Ltda.Avenida Dr. Alberto Jackson Byington, 1.808 - Osasco, SP

Conselheiros efetivos 2006-2009Antônio Roberto Salgado da Cunha (in memoriam), Arnaldo César Ricci Jacob,Arthur Cantalice (in memoriam), Aziz Ahmed, Cecília Costa, DomingosAugusto Xisto da Cunha, Domingos Meirelles, Fernando Segismundo, GlóriaSuely Alvarez Campos, Heloneida Studart (in memoriam), Jorge MirandaJordão, Lênin Novaes de Araújo, Márcia Guimarães, Nacif Elias Hidd Sobrinhoe Pery de Araújo Cotta.

Conselheiros suplentes 2008-2011Alcyr Cavalcânti, Edgar Catoira, Francisco Paula Freitas, Francisco Pedrodo Coutto, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Pereira da Silva(Pereirinha), Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Ponce de Leon, Ruy Bello,Salete Liusboa, Sidney Rezende,Sílvia Moretzsohn, Sílvio Paixão e WilsonS. J. de Magalhães.

Conselheiros suplentes 2007-2010Adalberto Diniz, Aluízio Maranhão, Ancelmo Góes, André Moreau Louzeiro,Arcírio Gouvêa Neto, Benício Medeiros, Germando de Oliveira Gonçalves, IlmaMartins da Silva, José Silvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Luiz Sérgio Caldieri,Marceu Vieira, Maurílio Cândido Ferreira, Yacy Nunes e Zilmar Borges Basílio.

Conselheiros suplentes 2006-2009Antônio Avellar, Antônio Calegari, Antônio Carlos Austregésilo de Athayde,Antônio Henrique Lago, Carlos Eduard Rzezak Ulup, Estanislau Alves de Oliveira,Hildeberto Lopes Aleluia, Jorge Freitas, Luiz Carlos Bittencourt, Marco AurélioBarrandon Guimarães (in memoriam), Marcus Miranda, Mauro dos SantosViana, Oséas de Carvalho, Rogério Marques Gomes e Yeda Octaviano de Souza.

COMISSÃO DE SINDICÂNCIAEly Moreira, Presidente; Carlos di Paola, Jarbas Domingos Vaz,Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Maurílio Cândido Ferreira.

COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃOAlberto Dines, Arthur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti.

COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSAudálio Dantas, Presidente; Arcírio Gouvêa Neto, Daniel de Castro, Germandode Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, Lucy Mary Carneiro, Maria CecíliaRibas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva, OrpheuSantos Salles, Wilson de Carvalho, Wilson S. J. Magalhães e Yacy Nunes.

Número 335 - Novembro/Dezembro de 2008

A INCULTURA NO PODER

EditorialEditorial DESTAQUES DESTA EDIÇÃO

EM ENTREVISTA CONCEDIDA há algunsanos aos escritores Haroldo e Augusto deCampos, que o visitaram em Bolonha, suaterra, o escritor Umberto Ecco, que na ju-ventude teve oportunidade de conhecer oBrasil como professor da nascente Univer-sidade de São Paulo, lamentou que os go-vernantes brasileiros não dedicassem àsquestões culturais a atenção devida.

O AUTOR DE O NOME DA ROSA fez a ob-servação sem sentido de crí-tica ou reprovação, porquereconhecia que a insuficiên-cia decorria não de umaatitude preconcebida, masde um fator natural. O pro-blema, disse, é que os governantes brasilei-ros são incultos.

A CONSTATAÇÃO FEITA HÁ muito por Ecco,ao mostrar o dissídio existente entre nósentre cultura e poder, encontra agora umexemplo gritantemente denunciador dessaincapacidade no episódio do retalhamentoda Coleção Jorge Amado e sua venda numleilão, na segunda quinzena de novembro.

SE NOSSOS GOVERNANTES, no âmbito dostrês níveis da Federação, não fossem tão des-providos de cultura e de informação, jamaisos herdeiros do escritor se veriam compeli-dos a se desfazer de tão importante acervo,pela impossibilidade de mantê-lo com os re-

03 Direitos HumanosDireitos HumanosDireitos HumanosDireitos HumanosDireitos Humanos - Os 60 anos de um marco06 Um defensor incondicional da democracia

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

08 Uma sentença de morte à liberdade

14 Ano do CentenárioAno do CentenárioAno do CentenárioAno do CentenárioAno do Centenário - Um jornalista depeso na cobertura dos festejos dos

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

100 anos: Antônio Olinto

24 DenúnciaDenúnciaDenúnciaDenúnciaDenúncia - Controlador de vôo alerta

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

para riscos de acidente

25 JustiçaJustiçaJustiçaJustiçaJustiça - Juiz anula cobrança

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

ilegal contra a ABI

26 Coleção Jorge Amado Coleção Jorge Amado Coleção Jorge Amado Coleção Jorge Amado Coleção Jorge Amado - A morte e

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

a morte de Jorge Amado

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

30 HomenagemHomenagemHomenagemHomenagemHomenagem - Murilo Melo Filho, 80 anos

36 ReconhecimentoReconhecimentoReconhecimentoReconhecimentoReconhecimento - Elvira Lobato

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

ganha o Prêmio Esso

38 ComemoraçãoComemoraçãoComemoraçãoComemoraçãoComemoração - O decano do

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nosso jornalismo político

40 LançamentoLançamentoLançamentoLançamentoLançamento - Nizan quer o Rio

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como Patrimônio da Humanidade

ARTIGO012 Baleias e abutres

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

por Paulo Ramos Derengoski

SEÇÕES17 AAAAACCCCCONTEONTEONTEONTEONTECEUCEUCEUCEUCEU NANANANANA AB AB AB AB ABI

ABI reúne em mostra jovens cineastas do Rio18 Um debate sobre as saídas da crise

econômica. Saídas?20 A estratégia do confronto

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

não enfraquece o tráfico

32 LLLLLIIIIIBBBBBERERERERERDDDDDADEADEADEADEADE DEDEDEDEDE I I I I IMMMMMPPPPPRRRRRENENENENENSASASASASAEm vez de Lei de Imprensa, uma Leido Direito de Informação

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

33 A Tribuna, vítima do Supremo

35 DDDDDIIIIIRRRRREITEITEITEITEITOSOSOSOSOS H H H H HUUUUUMANOSMANOSMANOSMANOSMANOS

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Vítimas do AI-5 anistiadas

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

41 LLLLLIVROSIVROSIVROSIVROSIVROS

43 VVVVVIIIIIDDDDDASASASASAS

cursos da família. Haveria uma voz ou umagente que clamaria pela preservação da in-tegridade e da unidade dos bens culturaisque o casal Jorge Amado-Zélia Gattai levouquase seis décadas para reunir.

NÃO TERÍAMOS A DISPERSÃO de um pa-trimônio cultural tão valioso, como acon-tecerá agora com o esquartejamento ense-jado pela omissão do Ministério da Culturae do Governo do Estado da Bahia, que nada

fizeram para impedir tama-nho atentado contra a cul-tura e a memória nacional.Coonestou esse procedimen-to omissivo a indiferença doMinistério Público da União,

que, embora informado e alertado, nada fezpara evitar o grave dano que se avizinhava.

TÃO TRISTE QUANTO esse assassinato cul-tural é o desapreço que o País, por seus go-vernantes eventuais e transitórios, revela poruma de suas glórias nacionais, por um inte-lectual ao qual se deveria prestar reconhe-cimento permanente pela contribuição quedeu à literatura, o humanismo que dissemi-nou com os valores éticos e o sentido socialde suas criações, a projeção que deu ao Bra-sil no mundo inteiro com sua portentosa obra.

É TRISTE, MUITO TRISTE, Senhor Ecco, ve-rificar que nossa realidade lhe dá absolutarazão.

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3Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

DIREITOS HUMANOS

OS 60 ANOS DE UM MARCOApesar de ainda ser muito mais teórica que prática, a Declaração

Universal dos Direitos do Homem tornou-se referência e jáinspirou tratados globais e leis específicas em mais de 90 países.

odos os homens nascem livres e iguais em dignidade e

direitos. São dotados de razão e consciência e devem

agir em relação uns aos outros com espírito de fraterni-

dade.” O primeiro artigo da Declaração Universal dos

Direitos Humanos tornou-se o símbolo daquele que talvez seja

o documento internacional mais conhecido da história. Com 30

dispositivos que defendem os direitos básicos, como alimenta-

ção, segurança, trabalho e liberdade de expressão, a Declaração

completou 60 anos em dezembro. Apesar de ter um conteúdo

muito elogiado, especialmente por garantir a igualdade de todos

os seres humanos em um tempo em que qualquer motivo valia

para atestar a superioridade de uma raça, na opinião de muitos

especialistas o documento ainda permanece no papel. Falta ser

mais bem aplicado em muitos países inclusive o Brasil, um de

seus primeiros signatários e que teve participação destacada

em sua aprovação. Apesar das muitas controvérsias sobre esse

aspecto, é inegável que o texto se tornou referência obrigatória

e pedra fundamental do reconhecimento das liberdades e direi-

tos fundamentais do homem, um marco que influenciou todos

os tratados e iniciativas do gênero nas últimas seis décadas.

“T

Soldadosamericanos

escoltam umdetento da

Base Naval deGuantánamo,

em Cuba.

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OD

MARCOS STEFANO

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4 Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

DIREITOS HUMANOS DECLARAÇÃO, 60 ANOS

A Declaração foi aprovada no dia 10de dezembro em 1948, em Paris. Naocasião, 58 países assinaram o texto,comprometendo-se a segui-lo. Era umanecessidade para um mundo trauma-tizado pelas duas grandes guerras e as-sombrado pela violência do genocídionazista. A atuação do jornalista brasi-leiro Austregésilo de Athayde foi deci-siva para costurar a aprovação do tex-to final. Experiente na defesa dos direi-tos humanos, Athayde era um batalha-dor incansável da liberdade de expres-são e chegou a ser exilado poucos anosantes, após a Revolução de 30. Por suatenacidade, firmeza e democracia, cou-be-lhe também fazer a apresentação edefesa do documento no plenário daTerceira Assembléia da Onu, mostran-do a necessidade de sua aprovação paraum mundo que ansiava por viver.

Os 60 anos da Decla-ração foram comemo-rados em sessão especi-al realizada nas NaçõesUnidas, na Cidade deGenebra, Suíça. Orga-nizado pelo Conselhode Direitos Humanosda Onu na Sala XX doPalácio das Nações, soba cúpula desenhada pe-lo artista espanhol Mi-quel Barceló, que tantapolêmica causou recen-temente por causa doabsurdo custo da obra,o ato apontou o docu-mento como um mar-co na História da Hu-manidade, que inspi-rou toda a políticamundial de defesa dosdireitos do homem, se-te tratados internacio-nais e leis específicasem 90 países. A partirdele, a Onu já aprovou,entre outras, conven-ções contra discrimina-ção racial e da mulher,pelos direitos da crian-ça, dos povos indígenas,dos refugiados e dos de-ficientes. Apesar disso,também foi lembradoque em muitos lugares a Declaraçãoainda é uma promessa não cumprida.

– Desde a aprovação da Declaração,avançamos enormemente. No entan-to, a realidade é que não atingimos suavisão, pelo menos ainda. Os desafiosque enfrentamos hoje são tão grandesquanto os de seis décadas atrás. Omundo sofre uma emergência alimen-tar e uma grave crise financeira global,que privam os mais pobres do básico.Ainda há também repressão políticaem muitos países. – Afirma o Secretá-rio-Geral da Onu, Ban Ki-moon.

UtopiaNos discursos feitos em Genebra, fo-

ram citadas dezenas de casos nos quaisos direitos humanos são violados cons-tantemente. Há países e regiões intei-

ras nos quais a Declaração ainda nãosaiu do papel e seus artigos são consi-derados como uma utopia. Uma dasprincipais críticas foi formulada peloex-Presidente sul-africano Nelson Man-dela, em declaração lida na cerimôniapelo Presidente do Conselho de Direi-tos Humanos, o embaixador nigerianoMartin Ihoeghian Uhomoibhi.

– Para mim e todos aqueles que lu-taram contra o regime racista do apar-theid, na África do Sul, a DeclaraçãoUniversal foi a grande referência e ins-piração. Mas ainda existem centenasde milhões de pessoas a quem se negao direito de serem, simplesmente, hu-manos. – escreveu Mandela.

Os presentes ainda lembraram odrama vivido nos territórios palestinosocupados, os conflitos religiosos noOriente Médio, na África e na Ásia e os

conflitos civis no Su-dão. Na esteira da cri-se alimentar e econô-mica, ainda foi lembra-do que subiu de 923milhões para 963 mi-lhões o número de des-nutridos, pessoas quepassam fome, no últi-mo ano, segundo dadosdivulgados pela Orga-nização das NaçõesUnidas para a Agricul-tura e Alimentação-Fao. Também houve di-versas cobranças paraque a Onu tome umaposição mais firme comrelação a esses proble-mas.

– Temos um potenci-al enorme de tomar a li-derança na defesa dosdireitos humanos e nãoo fazemos. Precisamosestar conscientes deque a pobreza é atual-mente a mais grave cri-se de direitos humanos.– afirma a Secretária-Geral da Anistia Inter-nacional, Irene Khan.

A Anistia Internaci-onal é uma das maiorescríticas do grande abis-

mo entre o idealismo do discurso devários países e a prática. Em seu rela-tório anual, a organização aponta quhá pessoas maltratadas e torturadasem pelo menos 81 países; submetidasa julgamentos injustos em outros 54;e impedidas de se manifestar livre-mente ao menos em 77. A organiza-ção apela para que os países mais po-derosos no cenário internacional – Es-tados Unidos, China, Rússia e UniãoEuropéia – liderem um esforço de de-fesa dos direitos humanos. Mas paraisso é necessário que rompam barrei-ras diplomáticas de assuntos aparen-temente “fora de discussão”, como aprisão norte-americana na base navalde Guatánamo, em Cuba, e a intole-rância russa na Tchetchênia.

– Fala-se no terrorismo como mal do

século 21, mas veja o caso da África. Lá,morre a cada minuto a mesma quanti-dade de pessoas que morreu nos ataquesterroristas em Mumbai, no final denovembro. E isso só porque elas não têmcomo comprar arroz. Temos que reor-ganizar nossas prioridades internacio-nais – pediu Javier Zuniga, Conselhei-ro especial da Anistia Internacional paraProgramas Regionais, em entrevistapublicada pelo jornal Folha de S. Paulo.

O desafio não é aprovar leis,mas respeitá-las

Mesmo o Brasil, signatário e um dospaíses que ajudaram a redigir a Decla-ração, ainda não transformou em re-

alidade vários princípios que constamdo documento. Segundo o Diretor doCentro de Informações da Onu parao Brasil, Giancarlo Summa, o País temuma legislação avançada, mas aindahá muito a fazer:

– O Brasil assinou e ratificou prati-camente todos os tratados de direitoshumanos e possui uma Constituiçãobastante completa nessa área, mas pre-cisa colocar as leis na prática. Há avan-ços, principalmente no sentido de nãoesconder, mas combater os problemas.Mas no caso da tortura, por exemplo,o uso da prática em prisões, delegaciase centros de detenção de crianças e ado-lescentes é preocupante. Há pouquíssi-

Manifestantes ocupam as ruas de Londres em protesto contra a repressão em Mihamar.

No Rio de Janeiro,helicóptero da Polícia

Civil sobrevoa a favelade Mangueira em umaoperação de repressão

ao tráfico de drogas.

Irene Khan: “A pobreza é a maisgrave crise de direitos humanos.”

Ban Ki-moon: “Emergênciaalimentar e crise financeira

privam os mais pobres do básico.”

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5Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

mas punições aos responsáveis por tor-tura. A omissão é tão grave quanto afalta de ação. – diz ele.

Outros problemas apontados por es-pecialistas no País são a violência con-tra a mulher, contra crianças, a desigual-dade no mercado de trabalho e falta dedireitos sociais e econômicos, que afe-tam grande parcela da população. En-tre os diversos avanços citados, princi-palmente na área de direitos da mulher,estão a criação da Lei Maria da Penha –sancionada em 2006 para coibir a vio-lência doméstica – e, antes mesmo dela,a formulação de políticas específicasapós a criação da Secretaria Especial dePolíticas para as Mulheres, em 2003.

Ainda assim, o País é forçado a as-sistir incidentes bizarros, como o deuma adolescente de 15 anos forçada adividir uma cela durante um mês comdiversos homens, em novembro de2007. Suspeita de cometer um peque-no furto, a menina foi estuprada vári-as vezes durante seu encarceramentoe, quando a história veio a público, elasua família teriam sido ameaçados porpoliciais. No mercado de trabalho,mesmo com a igualdade estabelecidaentre homens e mulheres, as trabalha-doras ainda ganham em média 64% dosalário da força de trabalho masculina,mesmo desempenhando igual trabalhoe tendo a mesma qualificação.

Outra área que assusta é a da infân-cia e adolescência. Atualmente, cercade 15 crianças e jovens morrem assas-sinados por dia no País. Segundo dadosoficiais, existem 80 mil menores viven-do em abrigos e outros 16 mil cumpremmedidas socioeducativas em centros dedetenção. Números que não param decrescer, apesar da criação do Estatutoda Criança e do Adolescente, que com-pletou 18 anos em 2008.

– O que falta, tantas vezes, são osrecursos para implementar as leis. Tam-bém existe uma precariedade dos servi-ços de apoio. No caso dos programas vol-tados para combater a violência, preci-samos mudar nossa forma de enxergaro problema. Não basta corrigir, precisa-mos educar e ver o adolescente e a cri-ança como vítimas e não autores – ex-plica Helena Oliveira, gestora de progra-mas na área de proteção do Fundo dasNações Unidas para a Infância-Unicef.

Além de todas essas políticas inter-nas, o Governo brasileiro tem sidocobrado por uma liderança mais dinâ-mica e contundente na sua políticaexterna. Especialmente na hora de to-mar posição em relação a países queviolam abertamente os direitos huma-nos, há quem defenda que o Brasil devadeixar de lado suas postulações, comoos interesses comerciais na África e naAmérica Latina ou a busca de apoiopara conseguir um assento no Conse-lho de Segurança da Onu, para censu-rar mais firmemente qualquer abuso.

Conquistas palpáveisMas, se tanta coisa ainda precisa ser

feita com relação aos direitos humanos,qual foi a real importância da aprova-

ção da Declaração Universal dos Direi-tos Humanos há 60 anos? Apesar de aspromessas contidas no documento ain-da estarem longe de se tornar realida-de para boa parte da população mundial,se não tivesse sido aprovada o mundojá teria virado um caos há muito tem-po. Mesmo com tanta falta de compro-misso de muitos governos, a Declaraçãofoi fundamental para combater nãoapenas o genocídio e outras formas de“limpeza” étnica, mas de outras atroci-dades tidas como normais até a meta-de do século passado. O documento éa base de grande parte do direito inter-nacional e serve de apoio para ações daOnu contra os violadores.

O que deve ser cobrada é uma posi-ção mais firme dos países edo próprio Conselho de Di-reitos Humanos da Onu.Como qualquer outra legis-lação, não pode ser simples-mente imposta como lei,mas trabalhada no âmbitoda educação dos cidadãos,para que exista uma mudan-ça de mentalidade, aindaque a longo prazo.

Como já disse o jornalis-ta Austregésilo de Athayde,em texto que mais poderiaser uma profecia, publicadono Diário da Noite, logo nodia seguinte à aprovação daDeclaração, seis décadasatrás: “Muitos perguntamque importância terá essanova Declaração, se outrasjá foram feitas sem alterar asorte dos indivíduos que

continuam a sofrer opressão e a ser ví-timas de injustiça, apesar dos princípi-os que deveriam protegê-los.”

“No entanto, não menos certo quesobre a Declaração da Filadélfia se fun-dou a liberdade do povo norte-america-no, como sobre a de 1789 foi edificadaa democracia contemporânea. A que te-mos hoje pela primeira vez estabelecedireitos universais que devem ser am-parados não apenas por um governo,mas pela comunidade de governos. Oseu fim último é obrigar, por uma con-venção, todas as nações a respeitaremo indivíduo nas suas liberdades essen-ciais, assegurando-lhe ainda, pelo tra-balho, a dignidade espiritual e materi-al da vida. Não é a enunciação dos di-reitos em si mesma que é importante.”

“O fato essencial e alvissareiro é queao estabelecimento da doutrina vai se-guir-se o convênio que tornará a suaexecução compulsória. Esses direitosespelham o espírito pragmático doséculo XX incorporando ao plano po-lítico, que preocupou os redatores dasDeclarações do século XVIII, as prer-rogativas econômicas, sem as quais asliberdades e regalias dos cidadãos po-dem ser um mito. No dia em que todosos homens, assegurados os direitos quea comunhão dos povos lhes garante,sob a égide da Onu, sentirem-se felizese livres, os grandes desesperos que ge-ram guerras terão desaparecido.”

Soldados do Exército de Libertação do Povo Sudanês prontospara uma nova batalha: a guerra étnica é um flagelo na África.

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KULK

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No Sudão, umpedaço depanovermelhoamarrado auma estacaindica o localonde há umamina terrestre.Ao lado, umgaroto já estápronto paramatar pelasForçasDemocráticasde Libertaçãode Ruanda.

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6 Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Paris, 10 de outubro de 1948. No Pa-lais de Chaillot, representantes de 58países estavam reunidos para a vota-ção daquela que prometia ser uma dasprincipais resoluções da extensa pau-ta da Terceira Assembléia-Geral da Or-ganização das Nações Unidas-Onu.Chamado à frente e diante de estadis-tas e figuras eminentes da diplomaciamundial, o jornalista Austregésilo deAthayde, representante do Brasil nacomissão de elaboração da resoluçãoque poderia se transformar na Decla-ração Universal dos Direitos Humanos,sentiu certo nervosismo. Entretanto,juntou todas as suas forças e subiu àtribuna. Suas palavras foram breves,mas certeiras: – Realizamos uma obrade colaboração. Cada um de nós fezconcessões, porque nossa idéia não eraimpor pontos de vista particulares deum povo ou de um grupo de povos,nem doutrinas políticas ou sistemas defilosofia. Se nosso trabalho resultassede uma imposição qualquer e não fos-se resultado de uma cooperação inte-lectual e moral das nações, não estariaà altura de nossas responsabilidadesnem responderia ao espírito de compre-ensão universal que é a própria base denossa Organização. Declaramos, emnome de todos os homens e mulheresque os seus direitos devem ser prote-gidos por todos os povos, agindo cole-tivamente pela Justiça internacional.

Um desfecho perfeito para uma atu-ação fundamental. Durante os mais dedois meses de trabalhos da comissão,a participação de Athayde e da Delega-ção brasileira fora fundamental para re-digir e costurar os acordos que levari-am à aprovação, naquele dia, da cartaque se tornaria uma referência desdeentão na busca de Justiça em todo omundo. Claro, as circunstâncias erampropícias ao documento. Mas sem umaatuação convicta e certeira diante doconflito de interesses de soviéticos enorte-americanos talvez fosse impos-sível de ser concretizada. No momen-to em que a Declaração dos DireitosHumanos completa 60 anos, é impos-sível deixar de lembrar que sem a ha-bilidade de homens como Athayde elanem chegaria ao papel.

Não foi a primeira nem seria a últi-ma vez que o jornalista teria seu nomevinculado à luta pelas liberdades e pelademocracia. Filho do DesembargadorJosé Feliciano Augusto de Athayde e deConstância Adelaide Austregésilo de

Um defensor incondicional da democraciaAustregésilo de Athayde, o jornalista brasileiro que se tornou um dos principais

redatores da Declaração Universal dos Direitos Humanos, foi perseguido, preso e exiladomas lutou até o fim por seu maior ideal: a liberdade em todos os seus sentidos.

POR CLÁUDIA SOUZA E MARCOS STEFANO

Athayde, Austregésilo nasceu em Ca-ruaru, Pernambuco, em 1898.

Aos 12 anos, ingressou no seminá-rio e cursou até o 3º ano de Teologia.Quando percebeu que não tinha voca-ção para o sacerdócio, iniciou o traba-lho como professor e na imprensa. Em1919, chegou ao Rio de Janeiro, na épo-ca capital federal, onde continuou le-cionando e passou a escrever com fre-qüência para o jornal A Tribuna.

Em 1921, estreou na Redação doCorreio da Manhã, dedicando-se à crí-tica literária. No mesmo ano, publicouHistórias Amargas, seu primeiro livro.Já formado em Direito, em 1924, acei-tou o convite de Assis Chateaubriandpara dirigir a Redação de O Jornal,embrião dos Diários Associados.

Crítico ferrenho da Revolução de1930, foi preso e exilou-se em países daEuropa – Portugal, Espanha, França e

Inglaterra – e na Argentina. Ao retor-nar ao Brasil, reiniciou as atividadescomo jornalista nos Diários Associa-dos. Foi articulista e Diretor do Diárioda Noite e escreveu para O Cruzeiro.Pelo trabalho na revista foi laureado nosEstados Unidos em 1952 com o PrêmioMaria Moors Cabot.

Atuação decisivaLaura Sandroni, filha de Austregé-

silo, tinha então 14 anos. Ela viajoucom o pai e a mãe para a Europa e acom-panhou de perto o histórico momen-to da Terceira Assembléia-Geral daOnu: – Em 1948, meu pai foi convida-do pelo Presidente da República, gene-ral Eurico Gaspar Dutra, e pelo Minis-tro das Relações Exteriores Raul Fer-nandes para ser o embaixador brasileirotrabalhando na Terceira Comissão queiria redigir a Declaração Universal dosDireitos do Homem. Isto porque todavida, como jornalista, ele lutou pelosdireitos humanos de toda a forma aquino País. Foi contra a ditadura de GetúlioVargas, foi exilado, preso. Infelizmente,uma história muito comum no Brasile na vida de muitos de seus grandes ho-mens. A Conferência começou no fimde setembro e terminou no dia 10 de de-zembro, quando, exatamente, ele assi-nou a Declaração. A Comissão era pre-sidida pelo jurista Charles Malik, Dele-gado do Líbano, e contava com a parti-cipação da Senhora Anna Eleanor Roo-sevelt, mulher do Presidente dos Esta-dos Unidos Franklin Delano Roosevelt.Entre os representantes dos 58 países,meu pai foi o escolhido para fazer o dis-curso de apresentação da Declaraçãoperante a Onu inteira reunida.

Athayde foi reconhecido pelos pró-prios companheiros de mesa como omais ativo colaborador na redação dohistórico documento. Anos mais tar-de, em 1968, quando René Cassin, De-legado da França, que também partici-pou da redação da Declaração, foi re-ceber o Prêmio Nobel da Paz, concedi-do pela Academia Sueca, fez questãode dizer que queria dividi-lo com o jor-nalista brasileiro. Dez anos depois, oPresidente dos EUA Jymmy Carter en-viou carta a Athayde, na qual dizia: “Emnome do povo do meu país, aproveitoesta oportunidade para aplaudir seupapel na elaboração de tão importantedocumento e saudar a liderança vital doBrasil nesse empreendimento. Expres-so meu respeito pessoal por sua cons-tante luta em defesa dos direitos hu-manos no seu país e no mundo.”

DIREITOS HUMANOS DECLARAÇÃO, 60 ANOS

Após a eleição da escritoraDinah Silveira de Queiroz em

julho de 1980, Austregésilo deAthayde, então Presidente da

Academia Brasileira de Letras,queima os votos dos acadêmicos.

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7Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

O 12 de dezembro de 2008 foi um diade comemorações no Casarão do CosmeVelho. Em cerimônia que reuniu persona-lidades como os acadêmicos Afonso Arinosde Melo Franco e Candido Mendes, a es-critora Laura Sandroni, o Presidente da Aca-demia Brasileira de Letras, Cícero Sandro-ni, o cartunista Ziraldo, a escritora Ana Ar-ruda, a cantora Clara Sandroni, o Deputa-do Alessandro Molon, Presidente da Co-missão de Direitos Humanos da Assem-bléia Legislativa do Estado do Rio de Janei-ro, o Diretor do Centro de Informação daOnu no Brasil, Geancarlo Summa, e o Pre-sidente do PEN Clube do Brasil, CláudioMurilo, foram comemorados os 60 anos daDeclaração Universal dos Direitos Huma-nos e o 110° aniversário de nascimento deAustregésilo de Athayde. A festa foi com-pletada pela inauguração do Instituto Cul-tural Austregésilo de Athayde, que tem suasede no Casarão, como é conhecido o nú-mero 599 da Rua Cosme Velho, o ende-reço do imortal por mais de 50 anos.

– A comemoração de hoje é a estréiaoficial do Instituto Cultural Austregésilo deAthayde, que já funcionava com peque-nos eventos e divulgação pela internet,porque não tínhamos conseguido ainda oalvará de funcionamento. Aqui funcionatambém o Centro Cultural Casarão Austre-gésilo de Athayde, que tem várias ativida-

tros documentos que ilustram a trajetóriado jornalista e acadêmico.

Na comemoração dos 60 anos da De-claração dos Direitos Humanos, foi realiza-da uma mesa de debates sobre a impor-tância de trazer à memória nacional osmotivos que levaram à criação do docu-mento. Em sua explanação, o DeputadoAlessandro Molon expressou a indignaçãode todos com a absolvição do policial mili-tar que matou o menino João Roberto, emjulho passado: – Vejo com profunda triste-za que no aniversário de 60 anos da De-claração dos Direitos Humanos a senten-ça do tribunal tenha sido incompatível coma gravidade do resultado da ação policial.É como se o Estado não tivesse a obriga-ção de nos oferecer uma policia treinadapara nos proteger e nos dar segurança.

Festa em dose tripla no CasarãoCLÁUDIA SOUZA E ELIANE MARTINS

Em 9 de agosto de 1951, Austregé-silo de Athayde ainda seria eleito paraa Cadeira nº 8 da Academia Brasileirade Letras, entidade que presidiu de1959 até a sua morte, em 1993. Eleatuou de forma incisiva no sentido depreservar e aumentar o prestígio daABL como referência cultural brasilei-ra. Defendeu e conseguiu a permanên-cia da Academia no Rio de Janeiro,quando da mudança da capital para

do artigo primeiro da Declaração, queantes dizia que “Todos os seres huma-nos nascem livres e iguais em dignidadee direitos, são dotados, pela natureza,de razão e de consciência, e devem pro-ceder uns para com os outros com es-pírito de fraternidade”.

Para ele, era inconcebível o texto nãodizer que os seres humanos “são cria-dos à imagem e semelhança de Deus”em lugar de “dotados pela natureza”.

des, especialmente musicais, e pretendeabrigar, no futuro, um Centro de DireitosHumanos com biblioteca especializada etambém com livros voltados para o públi-co infantil. – contou emocionada a escri-tora Laura Sandroni, filha de Austregésiloe de Dona Maria José.

Em outubro, por exemplo, o Casarão deAutregésilo de Athayde realizou o eventogratuito Arte em Laranjeiras e Cosme Ve-lho, que incluiu lançamentos de livros,exposições de gravuras, fotografias, escul-turas e apresentações de grupos de tea-tro, dança e música. Sob a direção de Cla-ra Sandroni, neta do jornalista, e a coor-denação da produtora Graça Gomes, oCasarão pretende se firmar como um cen-tro cultural diversificado, referência para odesenvolvimento humano e social na ci-dade e no bairro onde o Austregésilo vi-veu com a família de 1942 até a morte,em 1993: – Pretendemos reunir aqui ar-tistas de diferentes gêneros e expressões.Preservar a memória de Austregésilo épreservar a memória do Brasil neste últi-mo século – destaca Graça Gomes.

Saraus, eventos e oficinasSaraus, eventos e oficinasSaraus, eventos e oficinasSaraus, eventos e oficinasSaraus, eventos e oficinasO Casarão de Austregésilo de Athayde

foi construído em fins do século XIX, ori-ginalmente como uma casa de cômodos.Nos anos 40, foi comprado e reformadopelo jornalista, que nele residiu ao longode quase cinco décadas. Após sua mor-

te, o imóvel permaneceu fechado porcerca de dez anos, até que a família deci-diu fundar ali um centro cultural em ho-menagem à memória do patriarca.

Depois de uma reforma, em maio de2006, o Casarão recebeu o título de Ins-tituto Cultural Austregésilo de Athayde, e,desde então, tem sido cenário de saraus,eventos gastronômicos, oficinas de dança,ensaios teatrais, exposições de artes plás-ticas e cursos de gestão cultural, além deabrigar um espaço especialmente dedica-do à vida e obra de seu antigo proprietá-rio: —Temos muitos projetos, muita coisaa fazer. E nos surpreendemos com o su-cesso das iniciativas que surgiram aindaantes da inauguração – diz Clara Sandro-ni, que já colocou no ar um portal com ar-tigos, fotografias, correspondências e ou-

Não que fosse religioso. Pelo contrário,dizia não seguir nenhuma religião. Mastampouco poderia se deixar levar pelafilosofia materialista. Por uma simplesquestão: a maioria daqueles que ali es-tavam representados, acreditava emDeus. E todos aqueles delegados nãopoderiam ignorar isso. Enquanto parauns isso se chamaria ingenuidade, paraele era um princípio básico, o funda-mento da democracia. Pela sua persis-tência, o artigo primeiro foi reescritoe ganhou o tom neutro que traz hoje.

– No momento, sou a reivindicaçãoda liberdade de pensar: um direito aba-fado que reclama o ar livre para expan-dir-se. Para o meu ponto de vista, o es-sencial é a liberdade, para a qual tenhouma paixão deslimitada – Escreveu ele,certa vez, ao Presidente Epitácio Pes-soa, reclamando da perseguição ao jor-nal A Tribuna.

Durante toda a vida, Austregésilode Athayde esteve ligado profissional-mente à imprensa – presidiu o Jornaldo Commercio já em idade avançada –e costumava dizer: – Jamais escrevium artigo que não expressasse a linhade minhas convicções democráticas.Nunca elogiei partidos, homens ougrupos. Sou incapaz de ser a favor dehomens. Sou a favor de idéias, de pon-tos de vista. O que almejo mesmo é opensamento democrático, a preserva-ção de nossa unidade nacional e o bemdo povo brasileiro.

Brasília, e aumentou consideravelmen-te o patrimônio da instituição.

Como no passado, nesses anos tam-bém mostrou-se um incansável liberal.Mas não somente no sentido econômi-co, mas no sentido moral: daquelespara quem o respeito e a luta pela liber-dade de expressão e de consciência sãoos mais fundamentais direitos. Em1948, deixou isso claro quando discor-dou dos soviéticos e propôs a alteração

�O Casarão doCosme Velhopassou a sersede do recéminauguradoInstituto CulturalAustregésilo deAthayde e foipalco da festaque celebrouos 60 anosda DeclaraçãoUniversal dosDireitos Humanose do 110°aniversário denascimento doacadêmico.

Austregésilo, eleito para a Cadeira n° 8 da Academia Brasileira de Letras, e em sua sala quando era Presidente do Jornal do Commercio.

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á 40 anos, no final da tarde dasexta-feira, 13 de dezembro de1968, uma reunião no Paláciodas Laranjeiras, sede da Presi-dência da República no Rio deJaneiro, mudaria radicalmente

os destinos de toda a nação. Sentado àcabeceira da mesa, o Marechal Artur daCosta e Silva, como Presidente do Bra-sil, comandava a discussão entre os 25membros do Conselho de SegurançaNacional, do qual faziam parte 15 mi-litares e dez civis. Foram mais de duashoras de debate, mas apenas um pon-to em questão: a aprovação do Ato Ins-titucional Número 5, o AI-5. A pressãoera imensa, mas segundo Costa e Silva,a decisão era necessária para que “a Re-volução pudesse continuar”. Por decla-rações como essa, o Marechal chegou aser aplaudido. De todos os presentes, vá-rios deles brasileiros de reconhecida tra-dição democrática, apenas três tenta-ram abrandar aquilo que se tornariamais um golpe contra os direitos cons-titucionais: o Vice-presidente PedroAleixo, o Chefe do Gabinete Civil da Pre-sidência da República, Rondon Pache-co, e o chanceler Magalhães Pinto. Cadaum à sua maneira, com mais desconfor-to do que determinação. Tudo em vão.Durante a reunião, falou-se 19 vezes nasvirtudes da democracia e em 13 opor-tunidades pronunciou-se pejorativa-mente a palavra ditadura. Mas, quan-do as portas da sala se abriram, o AI-5estava aprovado. Já era noite. Uma noiteque duraria dez anos e dezoito dias.

Não que ato institucional fosse al-guma novidade. Eles já vinham desde1964, com o começo do regime militar.Mas sempre tinham algum verniz su-postamente democrático, apesar depassarem distantes de qualquer discus-são no Congresso Nacional. Este, noentanto, era diferente: escancarava aditadura e dava princípio àqueles quese tornariam conhecidos como seus“anos de chumbo”. Com ele, o mare-chal podia legislar, cassar parlamenta-res, suspender direitos políticos, pren-der pessoas sem autorização judicial,nomear governadores para Estados e

Promulgado há 40 anos, o AI-5 arrastou a nação paraa verdadeira ditadura militar, os “anos de chumbo”.

para a escolha de dirigentes sindicais.O contra-ataque chegou à “linha-

dura”, que dava sinais de que seriam ne-cessárias medidas mais enérgicas paracontrolar as insatisfações de qualquerordem, fosse dos metalúrgicos de Osas-co, na primeira greve operária desde oinício do regime, fosse de intelectuaise artistas reunidos na Passeata dos 100mil. Como disse o Ministro do Exérci-to, Aurélio de Lira Tavares, “idéias sub-versivas” tinham que ser combatidaspois havia “um processo bem adianta-do de guerra revolucionária” sendo con-duzida pelos comunistas.

Diante desse quadro mais amplo, opronunciamento do deputado MárcioMoreira Alves, do MDB, na Câmara,nos dias 2 e 3 de setembro, não passa-ria de uma atitude inconseqüente e des-pretensiosa. Mas serviu como pretex-to ideal. Às vésperas do 7 de setembro,ele apelou para que o povo não parti-cipasse dos desfiles militares e as mo-ças, “ardentes de liberdade”, não namo-rassem com oficiais. Por esta mesma

municípios, e censurar a imprensa, im-pedindo a publicação de notícias quedesagradassem o Governo, fosse umacrítica oposicionista ou um surto dealguma doença como meningite, quepudesse dar qualquer idéia de falhas nacondução do país.

– Vivíamos em outro Brasil naquele1968, “o ano que não terminou”. Inspi-rados pelo “Maio de 68”, a rebelião es-tudantil que começou reivindicandouma reforma universitária e acabou in-cendiando a França, os estudantes bra-sileiros não apenas faziam a contesta-ção política, mas também dos costumes.O movimento estudantil celebrizou-secomo protesto da política tradicional ena demanda por novas liberdades. Eramtempos do tema: “é proibido proibir”.– explica Maria Celina D´Araújo, doCentro de Pesquisa e Documentação daFundação Getúlio Vargas (Cpdoc).

Nesses tempos em que baladas eram“bailinhos”, nos quais as meninas iamcom seus vestidinhos e cabelos longosbem penteados e os meninos em seus

fuscas, gordinis e aero-willys, telefonesestavam bem presos às paredes, compu-tadores pessoais ainda eram objetos deteses e experimentos e a internet era umprograma militar norte-americano, oBrasil se radicalizava cada vez mais. DeCuba ao Vietnã, os modelos revolucio-nários conquistavam a esquerda e a le-vavam às armas. Não dava para ficar emcima do muro no mundo da guerra fria,dos mocinhos e bandidos, dos EstadosUnidos e da União Soviética, indepen-dente de quem você acreditasse que fos-se o vilão. No decorrer de 1968, a Igrejapassou a ter uma ação mais expressivana defesa dos direitos humanos e lide-ranças políticas cassadas, antes adver-sárias, continuavam a se associar paracombater o regime. Em abril, a FrenteAmpla, que reunia antigos rivais comoCarlos Lacerda, Juscelino Kubitschek eJoão Goulart, foi suspensa pelo Minis-tro da Justiça, Luís Antônio da Gama eSilva. Pouco depois, o Ministro do Tra-balho, Jarbas Passarinho, reintroduziuo atestado de ideologia como requisito

UMA SENTENÇA DEMORTE À LIBERDADE

DIREITOS HUMANOS

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Estudantes levam o caixão com o corpo do colega Edson Luís de Lima Souto, assassinado por militares durante uma manifestação.

MARCOS STEFANO

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9Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

ABAIXO A DITADURA!Militares ocuparam pontos estratégicos no Rio de Janeiro para impedir aanunciada manifestação estudantil em protesto contra a prisão do líder

Vladimir Palmeira, em 2 de agosto. Ao lado, imagens da violenta invasãomilitar ao campus da UnB. No dia 29 de agosto, tropas espancaram e

prenderam alunos e professores sob pretexto de prender líderes estudantis.Abaixo, manifestação estudantil no Rio, em 4 de julho.

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O Ministro Paulo Vannuchi, da Se-cretaria Especial dos Direitos Huma-nos da Presidência da República(SEDH), confirmou que o GovernoFederal lançará em janeiro um paco-te de medidas para permitir o acessodo público aos arquivos da ditaduramilitar (1964-1985). O anúncio foi fei-to na 11ª Conferência Nacional dosDireitos Humanos, realizada de 15 a18 de dezembro em Brasília pela pró-pria SEDH, pela Comissão de Direitos

Humanos e Minorias da Câmara e peloFórum de Entidades Nacionais de Di-reitos Humanos.

O pacote do Governo incluirá um sis-tema digital de acesso aos arquivos,um projeto de lei que possibilite o co-nhecimento desses documentos e umedital para recolhimento de documen-tos que estiverem em poder de parti-culares: – Haverá garantia de sigilo ede anonimato nesse recolhimento. Osarquivos são do Estado e, se estão com

Arquivos da ditadura serão abertos em 2009

DIREITOS HUMANOS AI-5, 40 ANOS

INSTAURA-SE O TERROR NO PAÍS!20 anos depois da Declaração dos Direitos Humanos, o Brasilviu pela tv o locutor Alberto Curi ler os termos do AI-5. Ao ladoo Ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e Silva explicou as

razões que levaram o Governo a aceitar as sugestões doConselho de Segurança Nacional para fechar o Congresso e

suprimir as liberdades individuais. Em sua primeira páginaO Globo publica apenas o decreto sem nenhum comentário.Espremidas num canto, duas notícias além de um pequeno

título quase sem destaque: “Tranqüila a situação financeira,”

AJB/RIO-EVANDRO TEIXEIRA

Dois momentos marcantes pré-AI-5: a Sexta-feira Sangrenta no centro do Rio e a Passeatados 100 mil, que teve a participação de artistas e intelectuais, como Paschoal Carlos Magno,

Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Edu Lobo, Dina Sfat, Eva Wilma, Carlos Zara.

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época, outro deputado do MDB, Her-mano Alves, escreveu uma série de ar-tigos no Correio da Manhã. Foi a provo-cação final. Os militares quiseram pro-cessá-los, mas a Câmara negou as licen-ças. O Governo respondeu com o AI-5.

– Baixado o AI-5, “partiu-se para aignorância”. O Congresso foi fechado,coisa que não acontecia desde 1937, aimprensa controlada e classe média co-locada de joelhos por suas travessuras.O regime bifurcou sua ação política. Umpedaço, predominante e visível, foi tra-balhara construção da ordem ditatori-al. Outro, subterrâneo, que Delfim Net-to chamava de “a tigrada”, foi destruira esquerda. Faziam parte do mesmoprocesso, e o primeiro acreditava que osegundo seria seu disciplinado caudatá-rio. Desde 1964, a máquina de repressãoexigia liberdade de ação. Com o AI-5, elaa teve e foi à caça. – conta o jornalista ElioGaspari no livro A Ditadura Envergonha-da (Companhia das Letras).

Ao final daquele mês, onze deputadosfederais haviam sido cassados, entre elesMárcio Moreira Alves e Hermano Alves.A lista de cassações aumentou em janei-ro de 1969, atingindo também ministrosdo Supremo Tribunal Federal. O AI-5 nãosó se impunha como instrumento de in-tolerância, como referendava o modeloeconômico em que o crescimento seriafeito com “sangue, suor e lágrimas”.

Durante sua vigência, 1577 pessoasforam punidas, sendo que 454 perderammandatos políticos ou tiveram os direi-tos políticos suspensos. Outros 548 fun-cionários civis foram aposentados, 334,demitidos, e 241 militares, reformados.As Assembléias da Guanabara, do Rio,de São Paulo, Pernambuco e Sergipe fo-ram postas em recesso. Foram proibidosmais de 500 filmes e telenovelas, 450peças de teatro, 200 livros e 500 músi-cas. Jornais e revistas que não aceitarama censura prévia, receberam censores emsuas oficinas. A vida política e culturalbrasileira sofreram enorme retrocesso.A noite duraria ainda uma década intei-ra, até dezembro de 1978, quando o AI-5 foi extinto. Era o princípio do fim doregime, mas não das marcas que deixou.Receitas culinárias, poemas, espaços embranco ou ilustrações de demônios naspáginas censuradas da imprensa nacio-nal são coisas que ficarão para a poste-ridade e não devem ser esquecidas.

particulares, estão irregularmente. –afirmou o Ministro Vannuchi.

O principal objetivo da 11ª Confe-rência Nacional dos Direitos Huma-nos é a revisão e a atualização do Pro-grama Nacional de Direitos Humanos(PNDH), que foi aprovado em 1996,durante o primeiro encontro sobre di-reitos humanos. Desta vez, 1228 de-legados de todos os Estados partici-param de discussões sobre diversostemas, de segurança pública e aces-so à Justiça a questões de saúde. Oobjetivo do Governo é trabalhar direi-tos ainda não implementados e tam-

bém incorporar novos pontos à pau-ta em debate. Um dos temas centraisdo encontro foi justamente o aborto.

EducaçãoPaulo Vannuchi defendeu ainda o

ensino de direitos humanos em es-colas e faculdades do Brasil. O assun-to, segundo ele, deveria ser incluídosob a forma de disciplina em cursoscomo Engenharia e Direito. Na Enge-nharia, para que os profissionais lem-brem-se dos princípios de acessibili-dade na hora de construir. No Direi-to, para que advogados e magistra-

dos se envolvam com o assunto: – Osjuízes continuam dando sentençascontrárias à Lei Maria da Penha, quepune a violência contra a mulher, eproferindo decisões homofóbicas. –disse o Ministro.

Para a professora Flávia Piovesan,da Pontifícia Universidade Católica deSão Paulo (Puc-SP), não há direitoshumanos sem luta e ação social. NoBrasil, disse ela, essas ações contamcom uma série de obstáculos, comoas desigualdades sociais, a violênciae a discriminação racial. Daí a impor-tância da educação e de uma intera-

ção entre Estado e sociedade civilpara promover os direitos humanos.

O Coordenador Nacional do Fórumdas Entidades Nacionais de DireitosHumanos, Alexandre Ciconello, refor-çou a idéia e observou que o Poder Ju-diciário se distancia dos direitos huma-nos ao criminalizar movimentos soci-ais. Por outro lado, defendeu que o Go-verno libere mais recursos orçamentá-rios para as políticas de direitos huma-nos: – As políticas transformadoras têmum orçamento pífio. Sem recursos, nãoações concretas de direitos humanos.Há apenas intenções e falas.

No dia 4 de julho, pais também saem às ruas para apoiar a manifestação estudantil por melhores condições de ensino e exigindo maisliberdade. Abaixo Vladimir Palmeira, Presidente da União Metropolitana dos Estudantes-Ume, discursa semanas antes de ser preso.

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Paulo Ramos Derengoski, jornalista, sócio da ABI, é radicado em Lages, Santa Catarina.

Enquanto se proíbem – burramente – tarrafas dos pobres pescado-res, mais do que um absurdo – um crime – não ter sido aprovada a criaçãode um Santuário para a Vida na 55° Reunião da Comissão Internacio-nal da Baleia reunida em Berlim. Mas dá para visualizar seu fim:

Contra a planície azul-esverdeada do mar e a fímbria verde-azu-lada do horizonte, a baleia-azul tentou se erguer nos ares como se fosseum pássaro branco e desesperado voando em direção aos céus. Massuas asas eram barbatanas quebradas pela fúria dos inimigos. A co-luna d’espumas d’água que se levantou parecia montanha de gelo –iceberg em pleno trópico – que logo se desfez até se transformar numaespécie de neblina varrida pelo vento forte do Atlântico.

Emergindo das profundezas do grande oceano, aquela massa decarne escura, quase cinzenta, já mostrava em reflexos as flores ver-melhas abertas pelos arpões de granadas que explodiram em seu in-terior. Antes de morrer ela ainda pareceu querer voltar às profundi-dades, mas uma explosão de gases se formou em seu interior, fazen-do com que se contorcesse e retorcesse em espasmos de dor – até fi-car imobilizada com uma grande massa morta, boiando, petrificada,ao sabor das ondas vagas...

Assim morrem (ainda hoje), principalmente nos arredores do PóloSul, os grandes cetáceos que antigamente povoaram todos os mares.Algumas décadas atrás, as baleias eram tão numerosas, que até acidentesgeográficos das costas marítimas a elas deviam os nomes: Baleia Brancana Paraíba, Ponta do Arpoador no Rio, Armação, em Santa Catarina.

No início, a caça era realizada apenas no Hemisfério Norte. Poste-riormente, a partir de 1905, com os navios-fábricas dotados de ram-pas de içamento para bordo, radares, sonares e arpões-granadas ex-plosivos e slip-ways de içamento, a fúria se voltou contra a Antárti-da. No ano de 1901 foram caçadas cerca de duas mil baleias em todo omundo. Em 1930 esse total subia para 40 mil cetáceos e já na décadade 60 atingia a média de 70 mil espécimes por ano! As companhias ba-leeiras, inicialmente nórdicas, hoje são na maioria russas e japonesas.Esses navios chegaram a cortar 50 baleias em 24 horas cada um!

Apesar da grande mobilização dos ecologistas, a situação das ba-leias continua sendo dramática. A depleção dos estoques vivos é ir-reversível. Calcula-se que nas proximidades do Pólo Sul chegaram aviver 400 mil baleias. Hoje não restam mais de dois mil exemplaresde baleia-azul na região, quando a população ótima teria que ser decem mil espécies.

A única maneira de salvar as baleias seria prescrever uma limita-ção por espécie, que impedisse a rarefação. Não é possível que comtanta terra devastada (e mata queimada) para se abrirem novas fron-teiras e alimentar populações ricas, cuja maior preocupação é fazerdieta para emagrecer – já que os bilhões de pobres do mundo inteirojamais comeram carne de baleia –, ainda se insista em esvaziar osoceanos. Chega a ser cômico proibir uso de tarrafas individuais, en-quanto se libera o alto-mar.

Como dizia Hemingway, o mar é o último lugar livre do nosso pla-neta. Ele é patrimônio da humanidade. Que se proíba a pesca da baleiae as empresas que o fazem de forma predatória vão à falência e seafoguem no mar de sangue que eles mesmos criaram com seus arpõesdiabólicos! Se a inteligência do homem está sendo utilizada para de-predar a natureza, um dia será afogada como um desenho feio na areia,à beira do oceano bravio...

Caso essas frotas matadoras dos abutres internacionais venhamassassinar baleias na costa catarinense e brasileira, a nossa Marinhadeveria levantar ferros e abrir fogo contra os malvados...

POR PAULO RAMOS DERENGOSKI

Baleias e abutres

O ano de 2008 foi de homenagenspara um dos mais experientes e respei-tados jornalistas do País. Com mais decinco décadas dedicadas à missão de in-formar, José Hamilton Ribeiro, ao ladode outros cinco notáveis brasileiros, foium dos ganhadores do Prêmio Brasilei-ro Imortal, promovido pela Vale. Os pre-miados emprestaram os seus nomes aseis espécies descobertas na Reserva Na-tural Vale, localizada na Cidade de Li-nhares, ES. Uma forma encontrada pelamineradora de celebrar o trabalho dosprofissionais que atuam na descobertae classificação de novas espécies, ativi-dade de vital importância para a ciên-cia. Os vencedores ganharão ainda umailustração da espécie que batizaram emselos a serem lançados pelos Correios.

O processo de eleição mobilizou cercade 250 mil pessoas, que puderam votarvia internet. Os candidatos ao prêmioda Vale foram escolhidos por uma co-missão de especialistas que atuam deforma marcante na área de sustentabi-lidade, tendo como principal critérioserem brasileiros com atuação impor-tante nas áreas social e ambiental. Orepórter da TV Globo, onde atua no do-minical Globo Rural, conquistou mais de70% da preferência dos eleitores e ven-ceu a categoria nacional. Com isso, JoséHamilton Ribeiro emprestará o seunome a uma espécie do gênero Anthu-rium, o antúrio-mirim, descoberto pelopesquisador Marcus Nadruz Coelho,do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Nas cinco categorias regionais forameleitos o maestro e compositor Tom Jo-bim (Sudeste), o empresário catarinenseMiguel Krigsner (Sul), o economista ehistoriador Paulo Bertran (Centro-Oes-te) e ainda as escritoras Rachel de Quei-roz (Nordeste) e Zeneida Lima (Norte).A antropóloga Ruth Cardoso, falecidaem 24 de junho deste ano, também re-cebeu homenagem especial da Vale, em-prestando o seu nome a uma das plan-tas descobertas na reserva capixaba. Ex-primeira dama do País, ela fundou e es-teve à frente do programa Comunida-de Solidária durante os mandatos de seumarido, Fernando Henrique Cardoso. Oex-Presidente da República recebeu apremiação das mãos do Presidente daVale, Roger Agnelli, durante a solenida-de realizada na Academia Brasileira deLetras, no dia 31 de outubro.

Além do prêmio idealizado e entre-gue pela Vale, José Hamilton foi home-nageado também no 30º Prêmio Vla-

Zé Hamilton,Brasileiro Imortal

Além desse título concedido pela Vale, ele recebeu o Troféu Especialde Imprensa Onu: 60 anos da Declaração/Prêmio Vladimir Herzog.

DESTAQUE

dimir Herzog de Anistia e Direitos Hu-manos, entregue em 27 de outubro, noauditório do Tuca, teatro da PontifíciaUniversidade Católica de São Paulo.Além dos vencedores em nove catego-rias, e dos estudantes que conquistaramo 4º Prêmio Vladimir Herzog de NovosTalentos, foi entregue o Troféu Especi-al de Imprensa Onu: 60 anos da Decla-ração/Prêmio Vladimir Herzog, umainiciativa do Centro de Informação dasNações Unidas para o Brasil e da Secre-taria Especial dos Direitos Humanos daPresidência da República. Além do re-pórter da TV Globo, foram homenage-ados com esse prêmio especial RicardoKotscho, Zuenir Ventura, Carlos Dor-nelles e Henrique de Souza Filho, Hen-fil, morto em 1988.

Vencedor de diversos prêmios Esso,José Hamilton é autor de 15 livros de-rivados de suas reportagens. O primei-ro deles, O Gosto da Guerra, trata da re-portagem sobre a Guerra do Vietnã quefez para a revista Realidade em 1968,ocasião em que perdeu uma perna aopisar numa mina terrestre. Ele come-çou a carreira na Rádio Bandeirantes,em São Paulo, e passou pelas Redaçõesdas revistas Realidade e Quatro Rodas,do jornal Folha de S. Paulo e dos progra-mas Globo Repórter, Fantástico e GloboRural, do qual participa como repórter.

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José Hamilton foi escolhido por votaçãona internet para emprestar seu nome a

uma espécie do gênero Anthurium.

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Entre as homenagens recebidaspela ABI neste Ano do Centenáriofigurou uma de especial significaçãopara a Casa: a principal matéria decapa da edição de maio do Jornal deLetras, a mais antiga publicação li-terária do País, que designou para acobertura das comemorações inici-ais do centenário um intelectual, jor-nalista e escritor de peso: AntônioOlinto, que desde 12 de setembro de1997 ocupa a cadeira n° 8 da Acade-mia Brasileira de Letras, na qual tevecomo antecessores Alberto de Oli-veira, Oliveira Viana, Austregésilode Athayde e Antônio Callado.

Mineiro de Ubá, terra de AriBarroso, onde nasceu em 10 de

Com a diferença de onze anos, duasgrandes organizações surgiram no Bra-sil, reunindo componentes de atividadeligada à palavra e às idéias criadoras dacultura: a Academia Brasileira de Le-tras, fundada em 10 de dezembro de1897, e a Associação Brasileira de Im-prensa, que começou a existir em 1908.Eram novos tempos e as duas sentiramque precisavam associar-se em defesada cultura básica do País.

Foi natural, agora, que as duas enti-dades se unissem nas comemorações docentenário da ABI. A data teve váriosatos lembrando o século de defesa daliberdade de imprensa a que a ABI sededicou por inteiro, houve reunião con-junta na Academia Brasileira de Letras,cerimônia de lançamento de selo pos-tal e carimbo comemorativo, realizadana Sala Belisário de Souza, na sede daentidade; sessão solene de entrega à ABIda Medalha Tiradentes na AssembléiaLegislativa do Estado do Rio de Janei-ro, sessão solene de entrega à ABI doConjunto de Medalhas Pedro Ernestona Câmara Municipal do Rio de Janei-ro, o Show do Centenário, com parti-cipação da Orquestra Petrobras Sinfô-nica, sob a regência do Maestro Isaac Ka-rabtchevsky, e de Paulinho da Viola no

Um jornalista de peso na cobertura dosfestejos dos 100 anos: Antônio Olinto

O Jornal de Letras convidou a fazer o texto da matéria de capa da edição em que registrou o centenário da ABI.

ABI e ABL na festa da liberdade

maio de 1919, Antônio Olinto ésócio da ABI desde 30 de novembrode 1950 e inclui em seu fecundocurrículo os 25 anos como titular dacoluna Porta de Livraria de O Globo,conferências em nada menos de 51cidades das Américas, da Europa, daÁfrica e da Ásia e uma bibliografiaque inclui poesias, romances, ensai-os, crítica literária, gramática e li-teratura infantil. Autor de quatrodicionários, Olinto tem obras em 19idiomas, publicadas em 30 ediçõesfora do Brasil.

O texto de Olinto ocupou as duaspáginas centrais dessa edição doJornal de Letras, sob o título ABI eABL na festa da liberdade e foi ilus-

trado com a imagem do EdifícioHerbert Moses na década de 1950,uma fotografia do Maestro IsaacKarabtchevsky e seus músicos noconcerto do Show do Centenário,realizado em 7 de abril passado noTeatro Municipal do Rio de Janei-ro, abrindo as comemorações dos100 anos da Casa, e a reprodução doselo postal emitido pelos Correios,com o retrato de Gustavo de Lacer-da e imagens ligadas à ABI, emhomenagem ao centenário.

É esse texto que, honrada, a Casareproduz a seguir, com o título e osintertítulos do original e pequenosajustes às normas editoriais do Jor-nal da ABI.

Teatro Municipal, entre outras ativida-des durante todo o ano.

Na Academia Brasileira de LetrasNa sessão solene em que a Academia

Brasileira de Letras homenageou aAssociação Brasileira de Imprensa, osPresidentes das duas – Maurício Azêdo,da ABI, e Cícero Sandroni, da ABL, jun-

tamente com Villas-Bôas Corrêa, Mo-acir Pereira, Fernando Segismundo eMurilo Melo Filho, falaram sobre apresença da ABI sempre que a liberdadecorreu perigo ao longo do século 1908-2008. Sobre Gustavo de Lacerda, fun-dador da ABI, falou o jornalista Moa-cir Pereira, seu biógrafo, que assim odefiniu: “Gustavo de Lacerda foi um so-

cialista convicto, contestador, que vi-via da profissão de jornalista e que nãose valeu dela para conquistar empregosem serviços públicos”.

Fernando Segismundo falou sobreHerbert Moses e sua longa administra-ção como Presidente da ABI: “Antesuma entidade frágil, a ABI tornou-senotável na gestão de Moses, homem de

O Salão Nobredo Petit Trianonna AcademiaBrasileira deLetras foi palcoda SessãoSolene emhomenagemao centenárioda ABI queteve presençarecorde depublico.

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A Assembléia Legislativa doEstado do Rio de Janeiroinformou à ABI que ela será aprimeira instituição a receber oPrêmio Barbosa Lima Sobrinhode Jornalismo, criado emhomenagem ao seu centenário.

A idéia da premiação,aprovada pelo Presidente daAlerj, Jorge Picciani, partiu doDeputado Marcelo Simão, quetambém escolheu a entidadepara inaugurar a honraria:

– A ABI jamais deixou decumprir os objetivos que aoriginaram, mas se adaptou aolongo do tempo. Seus estatutosforam ajustados às diversassituações socioeconômicas daindústria jornalística. Comodisse em 1969 um ex-Presidenteda Casa, Fernando Segismundo,“além das finalidadesfundamentais, a Associação deveinterpretar o pensamento, asaspirações, os reclamos, aexpressão cultural e cívica danossa imprensa, estimular entreos jornalistas o sentimento dedefesa do patrimônio cultural ematerial da Pátria, realçar aatuação da imprensa nos fatosda nossa História e colaborar emtudo que diga respeito aodesenvolvimento intelectual doPaís”. Sendo assim, nada maisjusto que a entidade seja aprimeira a receber o prêmio.

O Prêmio Barbosa LimaSobrinho de Jornalismo iráhomenagear anualmente pessoasfísicas e jurídicas que tenhamprestado destacada contribuiçãoao desenvolvimento da imprensano Estado do Rio de Janeiro. Osjornalistas premiados receberãoum troféu com a figura do bustode Barbosa Lima Sobrinho. Acerimônia de entrega dapremiação à ABI será marcadano início de 2009.

Assembléia RJ cria oPrêmio Barbosa Lima.O primeiro é da ABI

recebe a homenagem da ABL, que sim-boliza o templo da inteligência brasi-leira, valorosa do ponto de vista dopensamento e da criação”.

Depois da sessão, Cícero Sandroniautografou exemplares de seu livro 180Anos do Jornal do Comércio (1827/2007).

No Teatro MunicipalA festa do centenário da ABI no

Teatro Municipal atraiu milhares depessoas a começar pelo Vice-PresidenteJosé Alencar, representando o Presiden-te Luiz Inácio Lula da Silva e o Gover-nador Sérgio Cabral. O ato começoucom o discurso do Presidente da ABI,Maurício Azêdo, que versou, muitobem, sobre a carreira da ABI, seus ser-viços à liberdade de opinião e sua pre-sença permanente nos casos em queessa liberdade correu perigo. Disse:

– É com emoção e alegria que a As-sociação Brasileira de Imprensa recebea todos nessa memorável noite em quese realiza a mais destacada celebraçãodo seu centenário. A instituição fun-dada por Gustavo de Lacerda no alvo-recer do século XX recebe platéia tãorepresentativa do conjunto da socieda-de, como o reconhecimento de que nãofoi vã, nem inútil, a caminhada empre-endida pela geração de jornalistas queedificaram a densa História da ABIdesde aquele 7 de abril de 1908.

Em seguida, o Governador do Esta-do do Rio, Sérgio Cabral, se disse orgu-lhoso de participar da festa como jor-nalista e citou seu pai, o também jor-nalista Sérgio Cabral Santos:

– É uma honra participar da Comis-são do Centenário, é uma honra o Go-verno do Estado do Rio de Janeiro es-tar presente na celebração dos cemanos da Associação Brasileira de Im-prensa e que o nosso Teatro Municipalabrigue este evento. Devo muito aojornalismo, até a minha existência. Porisso, nestes cem anos da ABI, querohomenagear todos os jornalistas exa-tamente na figura dessa pessoa que meensinou em casa a amar a democracia,a liberdade e o povo brasileiro que é oSérgio Cabral pai. A ele eu dedico estediscurso e a minha sensibilidade paraa causa pública. E quero dizer que comele aprendi que não há nada mais im-

portante na vida do que a liberdade.Em seu discurso, o Vice-Presidente

José Alencar disse:– Alguns, de maneira brilhante e

grandiosa, como o Professor FernandoSegismundo, único ex-Presidente daABI ainda vivo, em que damos um abra-ço de calorosa homenagem. Ou comoo Presidente Maurício Azêdo, a quemcabe o privilégio de estar à frente dascomemorações do centenário e de darcurso à obra de Gustavo de Lacerda,Herbert Moses e Barbosa Lima Sobri-nho, que deixaram marcas profundasna construção e na consolidação des-te patrimônio nacional.

No final de sua fala, acrescentou oVice-Presidente que expressava, comsuas palavras, o pensamento do Presi-dente da República.

O Show do CentenárioO show final agradou os adeptos da

música popular e os da música erudi-ta. Para os primeiros apresentou Pau-linho da Viola com seu conjunto: Peca-do Capital, Sinal Fechado, Dança da So-lidão, Timoneiro, de Paulinho da Violae Hermínio Belo de Carvalho, Talismã,de Paulinho da Viola, Marisa Monte eArnaldo Antunes, Coração Leviano,Nervos de Aço, de Lupicínio Rodrigues,Ainda Mais, de Paulinho da Viola eEduardo Gudin, e encerrou com Foi umRio Que Passou na Minha Vida.

A Orquestra Petrobras Sinfônica,além de executar o Hino Nacional, soba regência do Maestro Isaac Karabtche-vsky, contou com a execução de obrasde Vila-Lobos, Francisco Mignone eGuerra-Peixe.

Uma lembrançaDo discurso inicial de Maurício Azêdo,

ficaram na lembrança da platéia estaspalavras:

“A principal conquista da ABI é oapreço que hoje se tem pela liberdadede imprensa e os direitos que a inte-gram: o direito de informar, o direitode acesso a diversas formas de informa-ção, os direitos de opinião e, dentro dodireito de opinião, o direito de diver-gir. Isso é resultado da pregação que aABI tem feito sobre essa questão aolongo destes cem anos.”

grandes idéias que lutou para fortale-cer a entidade. A Polícia invadia a ABIna época em que o exercício do jorna-lismo era uma atividade perseguida eperigosa: o repórter não tinha idéia sevoltaria para casa após o trabalho.” Dis-se ainda: “Trabalhei ao seu lado e mui-tas vezes o vi lacrimejar em função dosproblemas políticos que atingiam o Paíse a imprensa. À frente da ABI, Mosesse expôs, teve muitos dirigentes presose torturados. Contudo, conseguiu agre-gar a classe perante as turbulências.”

Villas-Bôas Corrêa falou sobre Pru-dente de Morais, neto, com quem tra-balhou nas redações do Diário de No-tícias e do Estado de S. Paulo.

– Com Prudente, notável na tarefade defesa da categoria e dos ideais dasociedade, a ABI representou uma fren-te de luta em favor da classe e da liber-dade de imprensa. Assim como BarbosaLima Sobrinho, ele enfrentou comgrande bravura este período. E o atualPresidente da ABI, Maurício Azêdo,também vem promovendo uma admi-nistração exemplar, que, após longosanos, consegue atrair a classe em tor-no de uma renovada ABI.

Em seguida falou Cícero Sandroni,hoje Presidente da ABL e que trabalhouna ABI sob as ordens de Barbosa LimaSobrinho, ocupando os cargos de Dire-tor, Secretário-Geral e Presidente doConselho da ABI. Destacou a emoçãoem conviver com “a bravura cívica deBarbosa e seu espírito pacifista e conci-liador, que só era abalado quando o Flu-minense perdia”. “Ele é eterno pelas pa-lavras que deixou escritas, muito melho-res do que eu poderia fazer. Lembro queuma vez o questionei pela sua jornadade trabalho, por causa de sua idade, e eleme disse: “O tempo que perdemos naABI ganhamos pelo Brasil.”

Murilo Melo Filho lembrou que, àépoca da fundação, tanto a ABL comoa ABI não tinham sequer onde se reu-nir: “A ABI hospedava-se no Quartel Mi-litar dos Barbonos, permitindo ao jor-nalista Belisário de Souza reconhecer:“Pelo menos aqui estamos guardados eseguros”. Só em 1939 a ABI pôde inau-gurar a primeira sede própria, no Cas-telo. Mas jamais silenciou sua voz deprotesto e a mensagem de esperançasgravadas para sempre na gratidão e noreconhecimento dos brasileiros. Sob aPresidência digna e correta de MaurícioAzêdo e de seus bravos antecessores, aCasa representa fortaleza indômita e in-dormida na defesa das conquistas de-mocráticas e da liberdade de imprensa”.

O Presidente da ABI, Maurício Azêdo,agradeceu a todos pela cerimônia, res-saltando o discurso de Murilo MeloFilho sobre a forte identidade das duasinstituições: “Fico honrado com a ses-são especialmente dedicada pelos aca-dêmicos e jornalistas palestrantes àmemória de Gustavo de Lacerda, Her-bert Moses, Prudente de Morais, neto,exemplos de dedicação ao bem comume à coletividade. A ABI se sente espe-cialmente confortada, emocionada e,com extraordinário reconhecimento,

O objetivo da premiação éestimular iniciativas em favor

da imprensa fluminense.

O Vice-Presidente José Alencar prestigiou a festa do centenário da ABI no Teatro Municipal.

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16 Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

Um dos mais destaca-dos pensadores da edu-cação no Brasil e o pri-meiro civil escolhidopara ser Presidente daRepública depois deduas décadas de dita-

dura militar tiveram suas vidas e traje-tórias exibidas pelo Cine ABI, no mês denovembro. No dia 6, Darcy Ribeiro – OGuerreiro Sonhador ocupou a tela da SalaBelisário de Souza, no 7º andar do Edi-fício Herbert Moses. Na semana seguin-te, dia 13, foi a vez de Tancredo Neves –O Mensageiro da Liberdade ter sessão es-pecial. As duas produções fazem parteda série de documentários Grandes Bra-sileiros, dirigida por Fernando BarbosaLima, Presidente do Con-selho Deliberativo da ABI,falecido em setembro. Nassessões, além de conhecera História recente do Paíse as principais discussõesque fizeram parte da agen-da nacional nas últimasdécadas, o público emoci-onou-se com a luta dopovo brasileiro retratadanas películas.

Darcy Ribeiro – O Guer-reiro Sonhador aborda avida e a obra do etnólogo, antropólo-go, político, educador e escritor. Seu le-gado para o Brasil inclui a fundação doMuseu do Índio, em 1953, uma inten-sa atividade literária, com mais de 30livros publicados e traduzidos para di-versos idiomas, e o Parque Nacional In-dígena do Xingu, que ele ajudou a cri-ar juntamente com os irmãos VilasBoas. No documentário, Darci fala dacriação do parque, sua grande paixão:

– Lembro que, em conversa com o Ge-túlio (Vargas), propus a demarcação deum grande parque para preservar a na-tureza original da região do Xingu paraos netos dos netos dos nossos netos,onde todas as tribos dali pudessem con-viver em harmonia com a natureza semdevastá-la, ao invés de demarcar um pe-daço de terra para cada tribo. Ajudar acriar o Parque Nacional do Xingu foi oque mais me orgulhou na vida.

Dividido em três partes, o documen-tário conta a vida do antropólogo des-de a infância em Montes Claros, MinasGerais, até à morte, em 1997, com des-taque para as imagens captadas por elepróprio, em 1947 e 1948, na tribo in-dígena Urubus Kadiuéu, e em 1953, natribo Bororo. Também bastante desta-cada é sua atuação na política, pela qualteve importante papel na criação daUniversidade de Brasília UnB, da qualfoi o primeiro reitor, e da UniversidadeEstadual do Norte Fluminense Uenf, naredação da Lei de Diretrizes e Bases daEducação Nacional e na construção dosCentros Integrados de Educação PúblicaCieps, projeto de ensino público inte-gral levado a cabo na década de 1980,

quando era Vice-Gover-nador de Leonel Brizola.

A segunda parte da pro-dução composta pelos de-poimentos de pessoas pró-ximas ao educador nessasempreitadas, como OscarNiemeyer, Leonel Brizola,Cristovam Buarque, Ziral-do, Sérgio Cabral e NélidaPiñon. A parte final abor-da a criação da FundaçãoDarci Ribeiro, que temcomo principais objeti-

vos promover a solidariedade às popu-lações indígenas, negras e caboclas bra-sileiras, defender a Amazônia e o Pan-tanal e realizar estudos destinados a re-formular a política educacional do País.

Um atalho para aabertura política

Ao trazer a trajetória política domineiro Tancredo Neves desde 1935,quando se tornou Vereador de São JoãoDel Rey, sua cidade natal, até em 1985,quando foi escolhido para ser Presiden-te da República, cargo que não chegoua assumir, pois morreu um dia antes dadata marcada para a posse, TancredoNeves – O Mensageiro da Liberdademostra alguns dos mais marcantesmomentos políticos da História recen-te do Brasil, como o golpe militar de1964 e depois a campanha Diretas Já.

Depoimentos de parentes como o fi-

lho do político, Tancredo Augusto Ne-ves Filho, e o neto Aécio Neves, hojeGovernador de Minas Gerais, e de po-líticos contemporâneos do homenage-ado, como José Sarney, Fernando Hen-rique Cardoso, Antônio Carlos Maga-lhães, José Serra e Francisco Dornelles,enriquecem a produção:

– Com certeza o processo de rede-mocratização do Brasil aconteceriamesmo sem a contribuição de Tancre-do, mas com seu jeito conciliador oprocesso foi acelerado. Ele foi um ata-lho para a abertura política – diz An-tônio Britto, que foi seu porta-voz.

DepoimentosPaulo Valério de Almeida Torres, pre-

sente à sessão do filme sobre Darci Ri-beiro, destacou a abnegação do antro-pólogo para concretizar seus sonhos:

– Foi um idealista que tentou, aolongo de toda a sua vida, realizar seusprojetos como educador e antropólo-go no louvável trabalho que desenvol-veu junto aos índios.

Paulo Henrique Santos, que assistiuaos dois filmes, elogiou muito o traba-lho realizado por Darci Ribeiro:

– O filme veio provar a perda irrepa-rável que a morte dele representou parao povo brasileiro. Até hoje não existe noPaís um intelectual com a grandeza e avisão humanista que ele tinha. No fil-me, Darci diz que se humanizou graçasaos índios, que até hoje sofrem com odesrespeito do Estado. Como político,também foi muito importante, princi-palmente com a criação da Universidadede Brasília e da Universidade Estadualdo Norte Fluminense, na qual desenvol-veu tecnologia para a prospecção de pe-tróleo em Campos. Ele será sempre umalição de dignidade e humanidade.

Vários trechos das produções lhe

trouxeram à memória as lutas pela de-mocracia, que ele viveu na pele. Osgrandes comícios da campanha Dire-tas Já, ocorridos em 1985, e a decepçãodo povo com o veto da emenda Dantede Oliveira são dois momentos ines-quecíveis para Santos:

– Lembro de um comício na Cande-lária que reuniu 1 milhão de pessoas daigreja até a Central. Estava presentecom minha família e fiquei dez horasem pé, acompanhando a votação daemenda no Congresso Nacional. Só fuiembora após o último parlamentar sepronunciar e tive a maior decepção,como todos os outros que estavam ali,quando foi anunciado que não tería-mos eleições diretas para Presidente.Havia muita gente desolada, choran-do. Infelizmente, hoje o povo brasileironão tem a capacidade de mobilizaçãoque tinha há algumas décadas, e issoexplica o nível cada vez mais baixo dospolíticos que nos governam.

ProgramaçãoDepois do ciclo A Imprensa no Cine-

ma, que apresentou grandes clássicosdo cinema mundial com o jornalismocomo tema, Jesus Chediak, Diretor deCultura e Lazer da ABI, explica que aprogramação de títulos nacionais foiretomada e que a série Grandes Brasi-leiros vai continuar: – Passadas as co-memorações do centenário da Casa edo bicentenário da Imprensa Régia, oCine ABI volta com sua proposta deapresentar filmes que suscitem refle-xão e discussão sobre a realidade bra-sileira com o saudoso Fernando Barbo-sa Lima. Depois de Darci Ribeiro e Tan-credo Neves, ainda teremos outros fil-mes em que ele focaliza seu pai, Barbo-sa Lima Sobrinho, Ziraldo e o jornalistaSérgio Cabral.

O guerreiro eo mensageiro

Programação homenageou em novembroDarci Ribeiro e Tancredo Neves, com a exibição de filmes

produzidos e dirigidos por Fernando Barbosa Lima.

POR BERNARDO COSTA

Documentárioque abriu asérie GrandesBrasileiros noCine ABIaborda a vidae obra deDarci Ribeiro.

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17Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Luz, câmera e, principalmente, ação!O estímulo à produção dos jovens é aproposta da I Mostra ABI dos Estudan-tes de Cinema, cuja premiação foi re-alizada em 28 de novembro. Apresen-taram seus trabalhos alunos da Esco-la de Cinema Darci Ribeiro, da Puc-Rio,da Universidade Gama Filho, Estáciode Sá e Universidade Federal Fluminen-se, além dos projetos sociais da CentralÚnica das Favelas-Cufa e Viajando naTelinha. A entrega dos troféus foi rea-lizada na Sala Belisário de Souza, nasede da ABI.

Ao longo da Mostra, realizada en-tre os dias 25 e 28, foram exibidos 19curta-metragens, com destaque paraa produção da Escola de Cinema Dar-ci Ribeiro que, com O Som e o Resto, le-vou o prêmio de melhor direção – paraAndré Lavaquiel – e melhor fotogra-fia – entregue a Bruno Diel e Lavaqui-el. A Cufa arrebatou dois prêmios: men-ção honrosa para Ele, feito por alunosda rede municipal de ensino de Vitó-ria, ES, e melhor roteiro para AlaceSantos, Monique Mendonça, Maria-na Oliveira, Ricardo Marins e ReginaBrizio, pelo filme Pelego Veríssimo. Omelhor filme de ficção foi Vento emRoupa de Balé, de Eric Paiva, do Viajan-do na Telinha, e o melhor documen-tário Remo Usai – Um Músico para o Ci-nema, de Bernardo Uzeda, da Puc-Rio.O troféu de animação ficou com Jan-sen Raveira, que representou a Uffcom Como Comer um Elefante.

Diretor de Cultura e Lazer da ABI,Jesus Chediak afirmou que a propos-ta principal do projeto foi incentivar,além da produção cinematográfica, a

Realizadores de cinco cursos de cinema e de comunidadespopulares apresentaram suas primeiras criações.

reaproximação dos jovens com a Casado Jornalista.

“Hoje eles preferem baixar os filmespara assistir em casa. Isso gera um cer-to isolamento. O prêmio é uma tentati-va de encontrar uma forma para mobi-lizar os estudantes e de tirá-los um pou-co do computador, promover maior in-teração”, afirmou Chediak, que ainda ex-plicou o motivo de o troféu levar o nomedo jornalista Fernando Barbosa Lima,falecido em 5 de setembro deste ano.

– Ele foi, sem dúvida, a pessoa maisimportante do telejornalismo brasileiro.E dar seu nome ao prêmio também é umaforma de aproximar os jovens desse gran-de personagem. Antes das entrega dostroféus, vamos passar um filme de umjornalista feito por outro jornalista – disse

o Diretor da ABI, referindo-se à exibi-ção do documentário Sérgio Cabral – ACara do Rio, parte integrante da sériede dvds Grandes Brasileiros, produzidapor Fernando Barbosa Lima.

Produtor da Mostra, Breno Lira Go-mes, relembrou a intensa relação entreos estudantes e a ABI, principalmentenos tempos da ditadura, quando mui-tos jovens cineastas, que mais tardeconsolidariam o Cinema Novo, se for-maram nas sessões do Cineclube Macu-naíma. Ele destacou ainda a criativida-de revelada nos curta-metragens apre-sentados pelos alunos. “Uma coisa queficou visível foi a tentativa de cada grupode mostrar um olhar pessoal sobre suasrealidades. Os cineastas dos projetossociais têm um enfoque diferente dosdas universidades da Zona Sul. Mas emtodos percebi a mesma gana de fazercinema e viver disso”, festejou.

Noilton Nunes, um dos integrantesdo júri, ao lado da jornalista, escritorae produtora de cinema Claudia Furia-ti e de Fellipe Redó, coordenador doponto de cultura Cuca, da Une, desta-cou a qualidade dos filmes e a impor-tância de ter mais um espaço aberto aosjovens cineastas. “Acredito que vai sermuito interessante a continuação daMostra. É importante para o jovem queestá começando a fazer cinema podermostrar seus filmes e receber um prê-mio com a chancela da ABI, que abreportas. De modo geral, as produçõesforam muito boas”, afirmou.

Diretor Comercial da RioFilme, An-tônio Urano aplaudiu a Mostra e anun-ciou seu apoio à iniciativa da ABI. “Es-tudar Cinema já é um esforço muito

ABI reúne em mostrajovens cineastas do Rio

grande e essa proposta é vital para aju-dar a divulgar as primeiras produçõesdos alunos. A iniciativa vai ao encontrodos objetivos da RioFilme, que apóiafestivais voltados para a nova geração”.

Diretora da Darci Ribeiro, Irene Fer-raz, que recebeu o prêmio em nome dosalunos, mostrou-se emocionada aorevisitar a ABI. “É fundamental e cons-trutivo ter contato com grupos diferen-tes de outras instituições e trocar ex-periências. E o fato de estarmos na ABI,por onde passaram a História do Bra-sil e do cinema brasileiro, me emocio-na e me remete ao tempo do Cineclu-be Macunaíma, que eu freqüentei mui-to”, relembrou.

Autor do cartaz promocional do even-to, o designer de cinema Fernando Pi-menta acha que a Mostra é um gran-de incentivo para a formação de novosrealizadores. “O cinema é uma ativida-de que exige pesquisa e interação comaquilo com que se vai trabalhar. O su-jeito é obrigado a desenvolver a capa-cidade de captar aquilo que vê e a for-ma como vai mostrar. Por isso, enten-do que um evento como esse incenti-va os jovens a se tornarem realizado-res cinematográficos”, disse ele.

A Mostra faz parte do projeto CineABI, criado e desenvolvido pela Dire-toria de Cultura e Lazer como formade contribuir para que o público conhe-ça o material que vem sendo produzi-do nas escolas de cinema do Rio deJaneiro. Chediak defende que a segun-da edição da Mostra seja realizada emâmbito nacional. Para isso, buscaráapoio de instituições como a Une e oMinistério da Cultura.

“Este evento é uma forma de man-ter em evidência a tradição do vínculoda ABI com o cinema. No passado, estacasa contribuiu decisivamente para ocinema brasileiro com o CineclubeMacunaíma, freqüentado por quasetodos os cineastas que criaram o Cine-ma Novo e por um enorme público, quelotava o Auditório Oscar Guanabarino,onde eram realizadas as exibições”,frisou, lembrando que o atual Presiden-te da ABI, Maurício Azêdo, foi um dosfundadores do cineclube.

A Central Única das Favelas, vencedora na categoria de melhor roteiro, foi representada por Ricardo Marins que recebeu o prêmio das mãos do ator e diretor EmmanuelCavalcanti;Bernardo Uzeda, da Puc-Rio, arrebatou o de melhor documentário e Eric Paiva, do Viajando na Telinha, recebeu o de melhor filme de ficção das mãos do ator Jorge Coutinho. Irene

Ferraz representou os alunos da Escola de Cinema Darci Ribeiro que levou dois prêmios – o de melhor direção para André Lavaquiel – e fotografia – para Bruno Diel e Lavaquiel.

Jesus Chediak: tentativa de mobilizar epromover interação entre os estudantes.

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18 Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

Manchete dos principais noticiári-os do Brasil e do mundo, a crise econô-mica não ficou fora dos eventos reali-zados na ABI. Em meio a números alar-mantes, índices recessivos e anúnciosde demissões e retração na produção daindústria, especialistas se reuniram de2 a 4 de dezembro na casa, onde parti-ciparam do seminário As Alternativaspara o Brasil Enfrentar a Crise.

Na abertura do evento, o Governadordo Paraná, Roberto Requião (PMDB),apontou uma série de propostas parao País diante do caos em que se encon-tra o sistema financeiro mundial, den-tre elas a desoneração do consumo, pormeio de uma reforma tributária, maisinvestimentos em infra-estrutura, aestatização do crédito, o empreendi-mento de um projeto próprio de desen-volvimento e o controle sobre as ope-rações de câmbio. “O Brasil não podedeixar o câmbio solto”, defendeu oGovernador, que foi saudado pelo Pre-sidente da ABI.

– O Governador Requião formulaproposições do mais alto interesse na-cional. Sua apresentação vai contribuirpara a formatação de um Plano de De-senvolvimento que será o resultadodesse seminário, que segue até o dia 4de dezembro – afirmou Maurício Azêdo,que teve sua atuação em defesa da li-berdade de imprensa e de expressãodestacada pelo Governador.

“Azêdo foi um dos heróis que defen-deram a liberdade de expressão quan-do eu fui proibido de emitir opiniõesna imprensa. E a ABI, um dos poucosórgãos nacionais que levantaram vozcontra a censura”, relembrou Requião,referindo-se ao episódio de sua cassa-ção por um juiz do Paraná.

– Essa crise econômica pode ser agrande oportunidade de discutir e for-mular alternativas, para buscar umoutro caminho. A parte que nos cabeé empreender um projeto próprio dedesenvolvimento. Devemos desatrelarnosso destino da globalização neolibe-ral. É preciso ainda abrir linhas de cré-dito para o empresariado, especialmen-te para a indústria geradora de empre-gos – afirmou, sob aplausos da platéia.

Além do Governador do Paraná e doPresidente da ABI, compuseram a mesado primeiro dia do seminário, que lotoua Sala Belisário de Souza, no 7º andar doEdifício Herbert Moses, o Presidente do

Um debate sobre as saídasda crise econômica. Saídas?

Durante três dias, especialistas qualificados debateram na ABI possíveis saídaspara a atual crise, que ameaça o País com aumento do desemprego e recessão.

Sindicato Nacional da Indústria e Cons-trução e Reparação Naval e Off-Shore-Sinaval, Ariovaldo Rocha; o economistaMarcos Coimbra; e o representante daPetrobras, Sidney Granja.

A origem da crise, por LessaO economista Carlos Lessa, respon-

sável pelo convite ao Governador Re-quião para que participasse do primeirodia do seminário, participou do segun-do dia do evento, proferindo sua pales-tra na manhã de 3 de dezembro, como tema A Crise e seus Reflexos no Brasil.

“Foi viabilizada a idéia de que o mer-cado é a instituição suprema, acima doEstado. Com isso, a desregulação se ex-pandiu. Gradativamente, o céu passoua ser o limite para o lançamento de pro-dutos financeiros no mercado e para asecuritização”, explicou ele, que arre-matou. “A Caixa de Previdência dos

mércio internacional corresponde hojea US$ 20 trilhões as estimativas parao mercado de títulos derivativos já seaproximam de US$ 1,5 quatrilhão.“Não estamos vivendo apenas umacrise cíclica do capitalismo. A reservafederal já não controla mais o proces-so econômico”, alertou ele, que atacouas formas atuais de colonialismo, de-fendeu a centralização do câmbio e,assim como Carlos Lessa, a moratóriapara as dívidas atreladas a derivativos.

O foco da mídia sobre a criseNa tarde do mesmo dia 3 de dezem-

bro, foi realizada a mesa A Mídia e aCrise, que reuniu três jornalistas: oProfessor Marcos Dantas, José CarlosAssis, que é também economista, eSérgio Souto, do Monitor Mercantil,que organizou e coordenou os traba-lhos do seminário. Geraldo Lino, repre-sentante do Movimento de Solidarie-dade Ibero-americano, mediou o deba-te, aberto por Marcos Dantas com crí-ticas aos meios de comunicação, que,segundo ele, produzem audiência ali-mentada por “um modelo que imple-menta conteúdos por sua própria na-tureza ideológicos e reprodutores dosistema econômico vigente”. E isso, dizele, inclui os jornalistas:

– Considero um equívoco criticaremsomente os patrões. Os jornalistas setransformaram numa casta que escreveapenas para uma minoria, em detri-mento dos interesses do povo brasilei-ro. Em busca de audiência e publicida-de, preocupam-se com a satisfação dosdonos do veículo e o próprio bolso.

José Carlos de Assis defendeu o con-trole de mercado como saída para oproblema. “A solução da crise encontrasuas bases na cooperação internacio-nal e na regulação. O mercado está glo-balizado e exige colaboração mundial,que ultrapasse a barreira do capital eavance para os campos social, filosóficoe ambiental. Atravessaremos um mo-mento delicado de desemprego, espe-cialmente no início do próximo ano. Amídia precisará redistribuir suas fun-ções a partir do avanço da internet. Osjornais buscarão o campo da análise,enquanto as revistas se associarão à tvno do entretenimento”, apostou.

Terceiro debatedor da mesa realiza-da à tarde, Sérgio Souto falou sobre asdeficiências da imprensa nacional. “Há

Funcionários do BB-Previ já perdeu R$15 bilhões, enquanto a Sadia, US$ 1,5bilhão com derivativos; a Aracruz Ce-lulose, US$ 8 bilhões e o grupo Voto-rantim, R$ 2,2 bilhões”.

Outro participante do evento, o eco-nomista Gustavo Santos, da Associa-ção de Funcionários do BNDES, ressal-tou que o Brasil poderá passar por gra-ves problemas cambiais já no primei-ro trimestre de 2009. Ele calcula que asexportações brasileiras deverão cair20% no próximo ano e que haverá gran-de escassez de dólares no País. “Esta-remos vulneráveis a crises cambiais eas reservas estão comprometidas porcausa da venda futura de dólares emoperações de swap (empréstimos entrebancos), que até agora somam US$ 30bilhões”, concluiu.

O jornalista Lorenzo Carrasco lem-brou que enquanto a corrente de co-

Requião: “Devemos desatrelar nosso destino da globalização neoliberal”.

SAMU

EL TOSTA

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19Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

muito tempo estamos indignados como tipo de cobertura que se faz hoje emdia. Seu caráter monopolista ignora opluralismo que caracteriza a realidadebrasileira. A mídia e seu poder hegemô-nico perderam a interlocução com asociedade. A crise estourou a velhaagenda. As fontes mudaram median-te a crise. Os assuntos outrora trava-dos pela hipocrisia voltaram à cena.Para responder as dúvidas da audiên-cia é preciso ouvir pessoas como oCarlos Lessa”, defendeu.

A globalização e os saláriosNo encerramento do seminário, no

dia 4, a mesa da manhã reu-niu o General Luiz Gonza-ga Schroeder Lessa, o Em-baixador Samuel PinheiroGuimarães e o Professor Te-otônio dos Santos, da Uni-versidade Federal Flumi-nense, todos sintonizadosno debate sobre A QuestãoInternacional e a Saída pelaPolítica.

“A missão institucionalatribuída às Forças Armadasestá seriamente comprome-tida. Por isso, regiões comoa Amazônia e o Atlântico Sul encon-tram-se vulneráveis”, afirmou o Gene-ral, que defendeu ações regulares decombate ao narcotráfico, ao terroris-mo e à imigração ilegal na região.

O Embaixador Samuel Pinheiro Gui-marães descreveu aspectos históricosiniciados há aproximadamente 20anos. “O processo de globalização oca-sionou uma centralização de poder. Ea concentração do poder político estáno Conselho de Segurança das NaçõesUnidas. O que está em jogo no Brasil,para que o País garanta a sua estabili-dade neste momento, é o processo derecuperação econômica evolutiva in-terna e o enfrentamento de outras cri-ses”, considerou.

Mais radical em seu discurso, Teo-tônio dos Santos ressaltou que nãoacredita em milagres para o crescimen-to e desenvolvimento de uma econo-mia. “É só ver o caso da China, que pre-cisou prosperar durante 30 anos parachegar a se tornar uma ameaça à hege-monia econômica dos Estados Unidos.Isso ocorreu devido a um incentivo de25% nas indústrias, que correspondeua um crescimento econômico de 10%e a um aumento no consumo de 8%. Éo oposto da economia brasileira, queluta para reduzir os consumos rural eurbano”, pontuou.

Na parte da tarde, o seminário pros-seguiu com o tema O Projeto Nacional.O Professor Dercio Munhoz chamouatenção para a necessidade de se rees-truturar o mercado interno. “O quenós temos hoje é uma curva declinantedos salários, o que impossibilita a re-montagem do mercado interno. OBrasil tem que recuperar a capacida-de do crescimento da demanda paracrescer a produção, e isso só será pos-sível a partir de uma política de recom-posição dos salários”.

Presidente do Conselho Regional deEconomia do Rio de Janeiro Corecon-RJ, o Professor João Paulo de AlmeidaMagalhães disse que um aspecto posi-tivo da atual crise é a constatação deque o neoliberalismo não funciona empaíses subdesenvolvidos. Ele propôsuma revisão da prioridade absolutadada pelo governo ao Programa deAceleração do Crescimento (Pac). “Osinvestimentos em infra-estrutura nãosão essenciais, pois não causam cres-cimento econômico, apenas permitemque o País possa crescer. Não adiantanada construirmos estradas se não hácaminhão para passar”, contestou.

O economista Maurício Dias David,que mediou o seminário, afirmou queos jornais estão escondendo a recessãoque o Brasil enfrenta atualmente. “Nóssó vemos manchetes que falam de re-cessão nos Estados Unidos e Europa enada falam sobre a recessão no Brasil,que está acontecendo e deve ser deba-tida, inclusive pelos jornais. São os Es-tados Unidos que sairão mais fortale-cidos dessa crise, devido às suas insti-tuições, que são estruturadas e funci-onam bem, e à sua capacidade de ino-vação. Essa crise financeira internaci-onal vai estourar mesmo é nas costasda África, da Europa Oriental, da Índiae da América Latina.”

O evento foi organizado pela Asso-ciação dos Engenheiros da Petrobras-Aepet, o Fórum Mídia Livre, o Movi-mento em Defesa da Economia Naci-onal-Modecon, o Movimento em De-fesa da Amazônia, o Movimento de So-lidariedade Ibero-americana, a Associ-ação dos Funcionários do BNDES e oConselho Regional de Economia do Riode Janeiro, com o apoio da ABI. A ini-ciativade organização do seminário foido jornal Monitor Mercantil, que con-vidou para coordená-lo o economistaMarcos Coimbra. Também tiveramatuação destacada na organização osjornalistas Marcos Rodrigues e Randol-pho Silva de Souza, editores do Moni-tor Mercantil.

Carlos Lessa: “O céu passou a ser o limite para o lançamento de produtos financeiros”.

O tema A Mídia e a Crise reuniu três jornalistas: Sérgio Souto, do jornal MonitorMercantil (E), o professor Marcos Dantas e José Carlos Assis, que é também economista.

A questão internacional e a saída pela política foi o tema debatido no último dia peloprofessor Theotonio dos Santos, da Uff (E), General Gonzaga e pelo Embaixador SamuelPinheiro Guimarães. À tarde foi a vez de João Paulo de Almeida Magalhães, Maurício

Dias David e Dércio Munhoz (abaixo) discorrerem sobre O projeto nacional.

FOTOS DE NANDO NEVES

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20 Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Discutir o drama da violência quetoma de assalto o País e, em especial,o Rio de Janeiro. Foi com esse objeti-vo que a ABI apoiou, no dia 24 de no-vembro, o seminário Segurança Públicae Cidadania: o Papel da Sociedade naLuta Contra a Violência, realizado noAuditório Oscar Guanabarino em par-ceria com a Organização não-governa-mental Rio de Paz e o Centro de Infor-mações da Organização das NaçõesUnidas, e contou com palestras de con-vidados. A mediação dos debates estevea cargo do pastor Antônio Carlos Cos-ta, Presidente da Rio de Paz.

Ao abrir o ciclo de palestras, o Secre-tário-Geral do Sindicato dos Delegadosde Polícia do Rio de Janeiro, ViníciusGeorge de Ribeiro Silva, criticou as con-dições de trabalho dos agentes da lei,principalmente os policiais militares.

“Esses profissionais arriscam suas vi-das em prol da sociedade e recebembaixos salários, que não custeiam nemuma boa educação para os filhos”, de-fendeu ele, que cobrou providências dosgovernos municipal, estadual e federal,além da necessidade de maior atuaçãopor parte da população que, em suaspalavras, “deve tomar parte nesta lutaatravés da pressão social”.

Vinícius ainda falou sobre os perfisdistintos de violência que mais atingemos cidadãos de dois mundos bem dis-tintos que compõem uma cidade par-tida, como o Rio de Janeiro: as agres-sões sofridas pelos habitantes do morroe do asfalto.

– Enquanto muitos moradores dafavela morrem de “paf” (projétil dearma de fogo), os do asfalto são víti-mas, principalmente, de acidentes detrânsito causados por embriaguez. Nasruas, o álcool causa mais dano do quea maconha, principal causa do emba-te entre policiais e traficantes nos mor-ros do Rio. É bom lembrar também quemuitos óbitos não são registrados, ge-ralmente por ameaça de policiais cor-ruptos ou do comando do tráfico local– afirmou o sindicalista.

As violências na educaçãoA segunda palestra do encontro foi

ministrada por Ana Paula Miranda, pro-fessora do Instituto Universitário de Po-líticas de Segurança e Ciências Policiais,da Universidade Cândido Mendes e co-ordenadora do Instituto Pereira Passos.Segundo ela, há dois tipos de violênciana área da educação, instrumento con-

A estratégia do confrontonão enfraquece o tráfico

Especialistas em direitos humanos e segurança pública, além de representantes de forças policiais, sustentam emseminário na ABI que é preciso buscar alternativas à atual política do Estado, baseada no confronto ineficaz.

Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

siderado fundamental para o funciona-mento de toda e qualquer política quepretenda reduzir os índices de crimes,principalmente nos grandes centrosurbanos.

– Temos a violência “da” escola e a vi-olência “na” escola. A primeira é grada-tiva e impactante e envolve ora o pro-fessor – que muitas vezes causa danospsicológicos no aluno, dizendo frases de-gradantes como “você não vai ser nadanesta vida” –, ora a própria instituiçãoque, ao expulsar um estudante, o dei-xa desmotivado a voltar a estudar e maisvulnerável a imergir no mundo da cri-minalidade. A polícia mata explicita-mente. O professor mata aos poucos.

A Polícia monitoraos movimentos sociais

Autor do blog Repórter do Crime ejornalista de O Globo, Jorge AntônioBarros ressaltou a histórica relação con-flituosa entre a imprensa e a polícia.Um embate que, segundo ele, não vemdos dias de hoje. Para comprovar a afir-mação, apresentou um trecho de ma-téria do Jornal do Commercio de 1909,que denunciava ações policiais paracoibir investigações feitas pelos jornais,bem como os movimentos sociais.

“Já naquela época a Polícia se preo-cupava com operários se organizando.Não duvido nada que haja aqui algum

policial à paisana acompanhando tudopara fazer relatórios para a Secretariade Segurança, pois a Polícia tambémsempre monitorou organizações soci-ais, como o Rio de Paz”, afirmou ele,que apontou um fenômeno social nacobertura policial, em especial na Ci-dade do Rio de Janeiro.

– A partir de 1937 os jornais passa-ram a dar mais destaque para as cha-madas reportagens policiais. Foi nessaépoca que eles começaram a dar maisespaço para essa editoria, e também paraos esportes. A editoria de Polícia enfren-tou ainda a ‘imprensa marrom’ dos anos50, que se baseava na polêmica combi-nação de sexo, sangue e dinheiro, e a cen-sura ao noticiário que esteve vigente aolongo dos anos 70, em tempos de dita-dura militar. Mas a sua visibilidade au-mentou mesmo a partir dos anos 90,quando a violência começou a invadira Zona Sul do Rio, resultando na mu-dança de abordagem da questão da se-gurança pública por parte dos veículos.O assunto passou a ser tratado como

qualidade de vida – relembrou JorgeAntônio Barros, que apontou deficiên-cias na cobertura realizada regularmen-te pelos jornais cariocas.

– Ela ainda é deficitária ao expornomes e fatos que podem comprome-ter a integridade da sociedade, mas istojá está sendo revisto, devido ao gran-de número de processos movidos con-tra os jornais. Outro sério problema en-frentado hoje pela imprensa é a falta detransparência em sua relação com a Se-cretaria de Segurança. O Governo doEstado cria uma blindagem, feita de as-sessores de comunicação altamentecaros e qualificados, e gera um fortemonitoramento do trabalho da im-prensa, impedindo a produção de re-portagens investigativas – denunciou.

Fuzilados de joelhosEspecialista em responsabilidade

civil e ex-Presidente da Comissão dosDireitos Humanos da Ordem dos Ad-vogados do Brasil/Seção do Estado doRio-OAB-RJ, João Tancredo, outro

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Jorge Antônio Barros apontou deficiênciasna cobertura policial da imprensa carioca e

falta de transparência na relação queestabelece com a Secretaria de Segurança.

O Presidente daOng Rio de Paz,Antônio CarlosCosta (acima),mediou o debateonde o Coronelda PM UbiratanÂngelo afirmouque o Estado nãotem uma políticaeficiente na áreade segurançapública.

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21Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Ariel Terrero Escalante, Diretor daUnião dos Jornalistas de Cuba-Upec,na sigla em espanhol) e chefe de Reda-ção da revista Bohemia, e Maribel Acos-ta Damas, da tv cubana e também daUpec, estiveram no dia 10 de novem-bro na sede da ABI. A dupla veio aoBrasil a convite do Sindicato dos Jor-nalistas de Brasília e da Federação Na-cional dos Jornalistas-Fenaj, para divul-gar e ampliar a Campanha de Solida-riedade a Cuba, lançada na sede da ABI,em outubro.

Recebidos pelos Conselheiros LêdaAcquarone e Mário Augusto Jakobskinde por Rolando de La Ribera, correspon-dente no Brasil da agência de notíciasPrensa Latina, Maribel Acosta e ArielTerrero aproveitaram a visita para falarda importância de se divulgar os preju-ízos causados pelos furacões Ike e Gus-tav, que atingiram a ilha com intervalode apenas uma semana, e quebrar o iso-lamento noticioso enfrentado pelo país:

– Queremos mostrar também a soli-dariedade local, para estimular aindamais o auxílio que vem de fora. Tem sidoincrível o movimento de artistas e inte-lectuais para mobilizar todo tipo de aju-

O Jornal do Brasil e a Rossiyskaya Ga-zeta de Moscou firmaram acordo de edi-ção conjunta de matérias, como formade aumentar o volume de informaçõesoferecidas aos leitores dos dois jornaise estreitar as relações de amizade entreos povos do Brasil e da Rússia. A expec-tativa é de que, já em março de 2009,ambos os jornais possam publicar cader-nos especiais com matérias traduzidase editadas na língua local. O acordo foicomunicado à ABI pelo Diretor-GeralInternacional da Rossiyskaia Gazeta, Eu-gene V. Abov, que visitou a Casa emcompanhia do Editor-Executivo e do Di-retor-Geral de Negócios do JB, José Apa-recido Miguel e Hélio Rubens Nobre, doGerente Comercial de Projetos Editori-ais, Lincoln Mello Martins, e do Dire-tor de Projetos, Janir de Hollanda, to-dos envolvidos no projeto.

Mantida pelo Governo da FederaçãoRussa e responsável pela publicaçãodos atos oficiais do país, tal como fazemno Brasil os Diários Oficiais, a Rossiys-kaya Gazeta cobre assuntos e eventosde interesse geral. O jornal tem uma cir-culação em bancas de 260 mil exempla-res diários, aos quais se somam 400 milexemplares de assinaturas e 2,2 mi-lhões destinados a aposentados, que re-cebem o jornal gratuitamente. Aos do-

JB e jornal da Rússia firmam parceria

convidado do seminário, também cri-ticou a falta de cooperação do Esta-do na hora de fornecer dados sobre acriminalidade em algumas áreas.

“Muitos dados são sonegados poralguns batalhões, que ainda não fo-ram informatizados. Se eles não pas-sam os dados com medo de críticas,por outro lado, nós não podemos dis-cutir, formular e propor políticas pú-blicas eficazes que gerem efeitos alongo prazo. Isso prejudica o traba-lho dos defensores dos direitos huma-nos”, afirmou o advogado, que criti-cou duramente a política declarada deconfronto, adotada pelo atual Gover-no do Estado.

– Uma operação ocorrida em 2007no Complexo do Alemão resultou em19 mortes, 22 feridos graves e apenas14 armas apreendidas. Na época, nóspedimos a um perito independenteque avaliasse o caso. Ele constatou quea maioria dos tiros penetrou os corposformando um ângulo de 45º, ou seja,quando as pessoas estavam abaixadasou de joelhos, o que configura execu-ção. Esse é apenas um dos exemplosque mostram que essa política de con-fronto está equivocada. Não adiantamatar, pois nas favelas o que não fal-ta é exército de reserva para o tráfico,devido à falta de perspectivas para ojovem carente. Por isso, são necessá-rias políticas públicas na área de edu-cação e saúde, que possam mudar essasituação a longo prazo. Mas isso nósnão vemos. O que há são intervençõesimediatas, de caráter eleitoreiro.

Coronel da PM, Ubiratan Ângeloressaltou que até hoje não foram im-plementadas políticas de segurançapública que possam reger a atuaçãodos policiais nas ruas do Rio.

“O que ocorre é que o Estado nãotoma essa iniciativa e sua atuação serestringe apenas a estratégias de go-vernança, como compra de arma-mentos e aumento de efetivo. Portan-to, quando ocorrem operações desas-tradas, a culpa toda recai sobre a ins-tituição policial, quando o Estadodeveria ser culpado por não criar umapolítica eficiente na área de segurançapública para orientar a atuação dospoliciais. É a pressão social que podefazer com que isso mude. É necessá-rio estabelecer um pacto social parafiscalização e avaliação do Governo”,disse ele, que concordou com as crí-ticas de João Tancredo à atual políti-ca de enfrentamento adotada no Rio.

“O confronto armado não enfra-quece o tráfico. Os criminosos quemorrem são prontamente substitu-ídos. O que deveria ser feito é o fecha-mento das divisas do Rio, com dimi-nuição da área metropolitana e inten-sa fiscalização nas rodovias, por ondeentram as drogas. A apreensão, sim,é eficaz, pois diminui o capital de girodos traficantes, enfraquecendo”, dis-se o coronel.

Após as palestras, o seminário foi en-cerrado pelo Diretor Administrativo daABI, Estanislau Alves de Oliveira.

Cubanos em busca de solidariedadeEnviados de Havana relatam os estragos causados pelos

furacões Ike, Gustav e Paloma e pedem ajuda para as suas vítimas.

da. Nos encontros que teremos aqui comjornalistas, estudantes de Comunicaçãoe figuras públicas, nossa intenção é con-quistar mais adeptos para a Campanha,mostrando como a população cubanaestá reagindo, enfrentando com garra asadversidades, para que as pessoas vejamcomo será bem-vinda e bem utilizada suacontribuição explica Maribel.

Ariel lembra que a conta dos preju-

ízos segue crescendo, ainda mais como ciclone Paloma, que passou por Cubaainda em novembro: – Toda a ilha foicastigada pelos dois primeiros furacões,pois um veio do Ocidente e o outro, dolado oriental. A destruição foi geral, dasplantações às escolas e hospitais. Mes-mo assim, a segurança civil mostrou-se eficientíssima, conseguindo evacu-ar 3 milhões de pessoas rapidamente.Antes da chegada do Paloma, 96% darede elétrica já tinham sido recupera-dos. O País está organizado, a solida-riedade interna está funcionando bem.

Os dois jornalistas, que também es-tiveram no Distrito Federal, em São Pau-lo e em Belo Horizonte, acham que acampanha humanitária lançada no Bra-sil tem conseguido grande impacto naimprensa internacional:

– Sem dúvida o fato de Oscar Nie-meyer ser o Presidente de Honra domovimento abre muitas portas e furao bloqueio mundial das grandes agên-cias de notícias, que nem sempre dãomuito espaço para o que acontece emnosso País e, geralmente, também nãose interessam pelos dramas vividos pelopovo. – ressalta Maribel.

mingos, chega aos 3 milhões de exem-plares. Um dos entraves para o aumen-to da circulação do jornal russo é a ex-tensão do país. Para chegar ao máximopossível de regiões, a Gazeta é impres-sa em 31 diferentes cidades.

Eugene V. Abov, informou ao Presi-dente da ABI, Maurício Azêdo, que ojornal mantém acordos semelhantescom diversas outras publicações paraintercâmbio de reprodução de matéri-

as. Abov expressou ainda sua esperançade que essa parceria com o JB permitaque os russos aumentem seu nível deinformações sobre o Brasil, que é pou-co conhecido em seu país. Segundo ele,o que se sabe a respeito é restrito ao fu-tebol, mas mesmo neste campo em ní-vel pouco satisfatório. Uma falta de co-nhecimento que, revelou, não se res-tringe apenas ao Brasil, mas a todos ospaíses da América Latina.

Eugene V. Abov, da Rossiyskaia Gazeta, esteve na ABI para comunicar o acordo com o JB.

Intercâmbio de matérias entre os veículos vai colaborar para maior integração entre os povos dos dois países.

Maribel (E) e Ariel: viagem para divulgara Campanha de Solidariedade a Cuba.

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Em e-mail enviado à ABI, um contro-lador de vôo, que para evitar represáli-as ou punições não quis se identificar,faz grave denúncia sobre os riscos queameaçam o tráfego aéreo no País. Eleadverte que a situação é séria e precisaser divulgada: “Pedimos ajuda (...) paraque possamos deixar claro o que ocor-re dentro das salas de controle em todoo Brasil”, diz um trecho do texto.

Afirma o autor da mensagem – queele pede que seja repassada a todos oscomandantes de vôo do Brasil –, que asegurança está comprometida devidoao uso de aparelhos não confiáveis, queapresentam falhas constantes nas fre-qüências e podem parar de funcionara qualquer momento, deixando os pro-fissionais “sem visualização do radar edo sistema de planos de vôo”.

Texto da denúnciaEsta é a íntegra do e-mail recebido,

com intertítulos da Redação do Jornalda ABI:

“Ajuda! É isso que pedimos!Venho por meio desta tentar entrar

em contato com o maior número pos-sível de pessoas ligadas à aviação e àimprensa, para que possamos abrir umdiálogo. Pedimos ajuda! Sim, ajuda devocês. Para que possamos deixar claroo que ocorre dentro das salas de controleem todo o Brasil e qual a situação do con-trole de tráfego aéreo hoje em dia.

Equipamentos que não funcionam,colocando em risco a segurança do trá-fego aéreo. Freqüências que falhamconstantemente. Equipamento nãoconfiável, que a qualquer momentopode parar de funcionar, fazendo assimcom que fiquemos sem a visualizaçãoradar, sem o sistema de planos de vôoe muitas vezes sem freqüência. Uma

cadeia de comando que não nos permi-te reivindicar melhorias nesse sistema.Falta de um backup de informações,para que seja usado no caso de umaqueda no sistema.

Hipocrisia e falta de funcionalidade.Esses são alguns dos tópicos que peçopara que analisem junto conosco. Nãoestou querendo dizer que isto ocorretodos dias, porque seria mentira. Mas hágrande quantidade de relatos das situa-ções acima descritas. Estou querendochamar a atenção para uma situação quelogo, logo poderá nos colocar frente a umnovo acidente aéreo, infelizmente

O ACIDENTE DA GOL

PODE REPETIR-SETodo aquele episódio do acidente da

Gol, a crise, o motim, as discussões, fezcom que uma boa parte da mídia, dapopulação e, principalmente, dos pilo-tos ficasse contra os controladores.Peço que revejam os conceitos e nos aju-dem. Reflitam. Juntem-se a nós paraque possamos trabalhar em situaçõesmelhores. Não falo em questão de sa-lário, mas em questão da infra-estru-tura que não temos e da quantidade ex-cessiva de trabalho.

Peço que visitem os órgãos de contro-le, principalmente os Centros de Con-trole de Área-Cindactas, para que pos-sam conhecer nosso serviço, para queacompanhem com os próprios olhos oque acontece e as situações com que nosdeparamos. Mas não venham apenasolhar de longe. Puxem uma cadeira esentem ao lado de um controlador porpelo menos 20 minutos, em um horá-rio de pico. Vejam a situação com os pró-prios olhos e tirem suas conclusões. Ve-

menos visitem os Centros e sentem aolado de um controlador, como disseanteriormente. Se não permitirem avisita, questionem o motivo, pressio-nem. Desse modo, com a interaçãoentre vocês e os controladores, todosterão uma visão bem ampla e real doque realmente acontece, sem nenhu-ma manipulação, mentira ou exagero.

“NOS AJUDE, AJUDE ASOCIEDADE BRASILEIRA”

Não me identifico por questões demedo, sim, medo da perseguição. Masdeixo esse e-mail aberto a contato. In-formo que enviei essa mensagem a to-dos com que consegui contato pela in-ternet, em sites, associações e comu-nidades. Nos ajudem a difundir a idéiada visita aos órgãos operacionais. Mas,como eu disse anteriormente, nãoaquela visita tipo ‘aquário’, onde vocêvê de longe o controlador e alguém tefala o que ele faz. Sente ao lado dele.Com certeza, será muito bem recebi-do. Será um prazer enorme ter você aonosso lado.

Precisamos de ajuda! Nos ajude, aju-de a sociedade brasileira, os pilotos, avocês mesmos. Nos ajude salvar vidas!!

Deixo aqui meu apelo, e espero terretorno, seja em visitas aos nossos Cen-tros, ou um diálogo por e-mail.Por favor,por favor, nos ajude a evitar um novoacidente e a deixar claro para a popula-ção brasileira nosso papel, nosso traba-lho. Peço aos amigos das associações depilotos que repassem essa mensagem,na medida do possível, a todos os co-mandantes de aeronaves no Brasil.

Obrigado! [email protected].”

Controlador de vôo alerta para riscos de acidente

DENÚNCIA

Uma mensagem dramática pela internet pede ajuda para garantir a segurança na aviação.

jam o que é ter a responsabilidades de15 aeronaves ao mesmo tempo, nãopodendo confiar na visualização nemnas freqüências. E, o pior de tudo, omedo. O medo de acontecer um acidente.O medo de ser condenado inocentemen-te, como está acontecendo com nossoscolegas, no caso do acidente da Gol.

A AERONÁUTICA

TEME A DIVULGAÇÃO

DA REALIDADEInfelizmente, a visita a estes Centros

pode ser barrada pelo comandante daunidade, geralmente um oficial-gene-ral. Mas se todos começarem a tentarvisitar os Centros e não conseguiremautorização, questionem o porquê dis-so e saberão que é o medo, o receio quea Aeronáutica tem de que a mídia e apopulação em geral saibam o estadoreal de trabalho dos controladores.

Todos trabalhamos com muito em-penho, com muita dedicação. Nos es-forçamos ao máximo. E todos gosta-mos muito do que fazemos, da profis-são. É um trabalho inigualável e incom-parável. Mas, infelizmente, sem con-dições, estão todos deixando a profis-são, fazendo cursos superiores, pres-tando concursos, para seguir em umacarreira nova, pois, por mais que gos-temos do controle de tráfego, não hácondições humanas de continuar tra-balhando. Em pouco tempo, todos te-rão ido embora e teremos apenas re-cém-formados, sem experiência, paracontrolar. O que será um problema amais. A situação é caótica!

Por favor, eu peço. Nos ajudem. Senão puderem fazer nada agora, pelo

FABIO

POZZEB

OM

/ABR

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25Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Em despacho firmado no dia 11 de novem-bro, o Juiz Adolpho Correa de Andrade MelloJúnior, da 12ª Vara de Fazenda Pública do Es-tado do Rio de Janeiro, acolheu a exceção depré-executividade ajuizada na véspera pelosadvogados Rômulo Cavalcante Mota e Car-los Frederico de Serra Machado, patronos daABI, e extinguiu o processo em que o Mu-nicípio do Rio de Janeiro, através de sua Pro-curadoria-Geral, pretendia levar a leilão o 6ºandar do Edifício Herbert Moses, sede daCasa, para pagamento de tributos – a Taxade Coleta de Lixo e Limpeza Pública-TCLLPe a Taxa de Iluminação Pública-TIP – decla-rados inconstitucionais pelo Supremo Tri-bunal Federal.

A pretensão da Procuradoria-Geral do Mu-nicípio integra uma série por ela ajuizadacom o objetivo de forçar a ABI, assim comooutros contribuintes, a pagar esses dois tri-butos por lançamentos feitos antes de 1998,apesar de o Supremo Tribunal Federal ter ful-minado a constitucionalidade de ambos, porterem sido calculados e cobrados com a mes-ma base de cálculo do Imposto Sobre a Pro-priedade Predial e Territorial Urbana-IPTU,o que caracteriza bitributação e inconstitu-cionalidade. A despeito de conhecer essa de-cisão do Supremo, a Procuradoria-Geral doMunicípio mantém os processos de execu-ção fiscal que ajuizou, os quais vêm sendoderrotados no Poder Judiciário do Estado.

Processo sumiuNo caso agora julgado pelo Juiz Adolpho

Correa de Andrade Júnior, constante do Pro-cesso nº 1998.120.056537-6, a Procuradoria-Geral do Município pretendia cobrar uma dí-vida em torno de pouco mais de R$ 11 mil epara isso penhorou o 6º pavimento do Edifí-cio Herbert Moses, onde funcionam os ser-viços de assistência médica da Casa, e preten-dia vendê-lo em hasta pública pelo preço-basede cerca de R$ 771 mil. A ABI só foi notifica-da da ameaça que pesava sobre esse andar desua sede poucos dias antes das duas datas fi-xadas para o leilão: a primeira, no dia 11 denovembro; a segunda, duas semanas depois.

Na petição que formularam, os advogadosRômulo Cavalcante Mota e Carlos Frederi-

JUIZ ANULA COBRANÇAILEGAL CONTRA A ABI

co denunciaram que a escrivã do cartório da12ª Vara de Fazenda Pública, Áurea CorrêaBraga Câmara de Almei-da, “não localizou os au-tos, misteriosamente de-saparecidos dentro da or-ganizada 12ª Vara de Fa-zenda Pública, cuja 1ªpraça está marcada paraamanhã, dia 11/11/2008,sem que tenha sido apre-ciada a exceção de pré-executividade oposta”.Em sua sentença, decidiu o Juiz AdolphoCorrêa de Andrade Júnior: “Acolho a exceçãoe julgo extinto este processo de execução.”

VoracidadeA ABI enfrenta a voracidade da Procura-

doria-Geral do Município na cobrança des-ses tributos inconstitucionais em um totalde 24 ações judiciais, todas distribuídas à12ª Vara de Fazenda Pública, na qual ingres-sou com exceções de pré-executividade.Além de nessa que tentava arrebatar o es-

paço dos serviços médicos da Casa, agorafrustrada, a ABI foi vitoriosa em outras ex-

ceções julgadas, o quesignifica que vencerá emtodas, porque tramitamna mesma vara, têm omesmo fundamento ju-rídico e serão julgadaspelo mesmo magistrado.Mesmo assim a PGMnão desiste de seu inten-to, mantendo sob tor-mento permanente os

diretores, conselheiros e associados da Casa.É propósito da ABI postular do Prefeito

eleito, Eduardo Paes, a mudança de orienta-ção da PGM em relação a essas cobranças ile-gítimas, embora ciente de que vai semear emterreno árido: o futuro Procurador-Geral doMunicípio, já escolhido por Paes, é precisa-mente o atual Procurador-Chefe da DívidaAtiva, que comanda essas ações contra oscontribuintes e se jacta de ter aumentado areceita da cobrança da dívida ativa de R$ 80milhões para R$ 250 milhões.

JUSTIÇA

Município do Rio insiste em cobrar tributos inconstitucionais.

“ACOLHO AEXCEÇÃO E JULGO

EXTINTO ESTEPROCESSO DEEXECUÇÃO.”

Para aplacar a voracidade da PGM, o Prefeito eleito Eduardo Paes terá que semear em terreno árido.

AGÊN

CIA B

RASIL

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26 Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Um museu não oficializado como tale que reunia peças preciosíssimas e in-suscetíveis de reprodução ocupou poruns poucos dias dois andares inteirosde um moderno edifício da Copacaba-na, no Rio de Janeiro, e foi desmonta-do e vendido a retalho ao correr domartelo de um leiloeiro, nos dias 18 e21 de novembro passado, graças àomissão do Ministério da Cultura, doGoverno do Estado da Bahia e do Minis-tério Público da União no Rio de Janei-ro, que não moveram uma palha paraimpedir um clamoroso crime contra acultura e a memória nacional.

Além de omissos, esses órgãos re-velaram-se cegos, surdos e passivos:

não leram a matériasobre o leilão publi-cada na primeira

página do Segun-do Caderno de

Por omissão ouindiferença, oMinistério da

Cultura, o Governodo Estado da Bahia

e o MinistérioPúblico da Uniãono Rio de Janeiro

permitiram oretalhamento do

valioso acervodo escritor e sua

venda ao correr domartelo, num leilão

que representouum crime contra

a cultura e amemória nacional.

POR MAURÍCIO AZÊDO

MATARAM PELA SEGUNDA VEZO CRIADOR DE QUINCAS BERRO D`ÁGUA

COLEÇÃOJORGE AMADO

A MORTE E A MORTEDE JORGE AMADO

A MORTE E A MORTEDE JORGE AMADO

ÉDER C

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27Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

O Globo antes do pregão nem os expe-dientes, dois sob a forma de ofícios eum de telegrama, enviados pela ABInum desesperado esforço de salvaçãode um rico patrimônio literário, artís-tico e afetivo abrigado no museu – naverdade, dois salões de exposição, aindaque imensos, montados para atraircompradores. Se por acaso leram, o quenão terá sido improvável, os hierarcasmencionados quedaram-se indiferen-tes diante da denúncia que lhes foiapresentada, com pedido de adoção deprovidências que não aconteceram.

O acervo singularíssimo constituiaa chamada Coleção Jorge Amado, comofoi denominado no rico e caro catálo-go vendido antes mesmo do leilão (R$120,00 o exemplar), e reunia 576 peçasque o escritor e sua mulher, a tambémescritora Zélia Gattai, foram colecio-nando ao longo de cerca de 60 anos,com extremo carinho. Embora contas-

se com grande número de peças e ob-jetos adquiridos por Zélia e Jorge, oqual freqüentava a Feira de Caruarupara comprar os bonecos de barro deMestre Vitalino, o mais famoso dos ce-ramistas do Nordeste, a Coleção reu-nia orincipalmente obras e criações do-adas por intelectuais e artis-tas brasileiros e do mundointeiro, entre os quais PabloPicasso, o gênio espanholque assombrou os séculosXIX e XX; o poeta RafaelAlberti, considerado umdos maiores, senão o maiorpoeta espanhol do séculopassado; os brasileiros Cân-dido Portinari, Anita Mal-fatti, Di Cavalcânti, Djanira Mota e Sil-va, Alfredo Volpi, Flávio de Carvalho,Carlos Scliar, Aldemir Martins; os prin-cipais pintores e escultores baianos ouda Bahia, como o argentino Carybé,

que se apaixonou pelo Brasil ao ler o ro-mance Jubiabá, naturalizou-se baianoe regalou seu fraterno amigo Jorge comdezenas de criações sobre a gente, oscostumes e as religiões da Bahia.

Tanto quanto o acervo em si, a Co-leção Jorge Amado permitiria a reali-

zação de pesquisas, estudos e ensaiossobre aquilo que a originara e a cerca-va, como a espontaneidade e a frater-nidade das relações dos intelectuais eartistas do País sobretudo nos anos 40

e 50 do século XX, expressas na gene-rosidade com que se presenteavam unsaos outros; o prestígio internacional deJorge como escritor, como militantepolítico e como pessoa, que levava, porexemplo, pintores das mais remotas re-giões da nascente República Popular da

China a presenteá-lo comtelas, gravuras e esculturas;a naturalidade com que o ro-mancista mostrava o País ailustres visitantes estrangei-ros, como o festejado casalJean-Paul Sartre e Simone deBeauvoir, de quem ele, seuirmão James e Zélia foramcicerones num mergulhoprofundo no interior do Bra-

sil, no começo dos anos 60. Ao périplonão faltou, como documentado em fo-tografias incorporadas à Coleção, posedos dois filósofos com cocares dos ín-dios Carajás.

COM O RETALHAMENTO SANCIONADO PELAS

BATIDAS DO MARTELO DO LEILOEIRO EVANDRO

CARNEIRO PRODUZIU-SE A SEGUNDA MORTE

DE JORGE AMADO, O CRIADOR DE A MORTE EA MORTE DE QUINCAS BERRO D'ÁGUA.

REPRODUÇÕES

Lata d’Água na Cabeça, Tomás Santa Rosa Retrato de Zélia, Carlos Scliar Retrato de Jorge, Quirino da Silva

São Francisco, Volpi Gabriela, Di Cavalcanti Três Iaôs, Carybé

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28 Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Esses e outros aspectos dafecunda aventura intelectu-al e humana de Jorge e Zé-lia não mais poderão ser es-tudados em seu conjunto,porquanto sua unidade foiquebrada pela dispersão desuas peças nesse leilão. Odestino de quadros, gravu-ras, esculturas, originalíssi-mas criações – como as cadei-ras concebidas pelo arquitetoOscar Niemeyer –, folhetosda opulenta literatura de cor-del do Nordeste e espécimesda rica criação plástica e es-cultural da Bahia, entre ou-tros bens valiosíssimos, pas-sa a ser ignorado; sobre elespesa desde 21 de novembroa maldição daquilo que re-pugnava Jorge ao iniciar suaobra: a cobiça, o individualis-mo, o egoísmo inseparávelda propriedade privada.

A decisão dos herdeirosde Jorge, João Jorge e Palo-ma, assim batizada em ho-menagem a Pablo Picasso,decorreu da impossibili-dade econômica de man-ter o acervo em condiçõesque assegurassem a suapreservação. A família viu-se sem recursos para man-ter no padrão desejável aFundação Casa de JorgeAmado, instalada numsobrado de três andares no Pelourinho,sítio histórico de Salvador; a famosacasa do bairro de Rio Vernelho onde Jor-ge e Zélia viveram umas boas dezenasde anos e que se tornou um dos pon-tos da capital baiana mais visitados porturistas; o apartamento da Rua Rodol-fo Dantas, em Copacabana, residênciado casal no Rio.

Depositária do acervo bibliográficode Jorge, que durante dezenas de anosfoi o escritor brasileiro mais traduzidoe editado no exterior, a Fundação abrigaum acervo documental da maior im-

COLEÇÃO JORGE AMADO A MORTE E A MORTE DE JORGE AMADO

"PODEMOS INFORMAR – DISSE SORAIA CALS ÀREPÓRTER CLÁUDIA SOUZA – QUE ENTRE OS

COMPRADORES NÃO HAVIA INSTITUIÇÕES PÚBLICAS

OU PRIVADAS, APENAS PESSOAS FÍSICAS."portância, como exemplares dos livrosde Jorge publicados mundo afora e ex-tenso registro fotográfico das andançasde Jorge e Zélia pelo Brasil e o exterior.Essa valiosa documentação deveria ge-rar estudos sobre a obra do escritor, e nãoapenas despertar manifestações de su-perficial curiosidade de turistas incul-tos e apressados, mas um programa per-manente nesse campo, ainda que de-sambicioso, não pôde ser executado,porque o atual Governo da Bahia – aocontrário dos Governos Antônio CarlosMagalhães, que recuperaram o Pelouri-

nho – não parece afeiçoadoàs questões relacionadascom a literatura e a cultu-ra em geral.

O acervo estava ava-liado em R$ 9 milhões,como informou à re-pórter Cláudia Souza,da Diretoria de Jorna-lismo da ABI, uma dasorganizadoras do pre-gão, Soraia Cals, direto-ra de um escritório dearte especializado emleilões dessa nature-za. Um desembolsode tal ordem poderia ser ban-cado sem grande sacrifíciopor uma empresa ou institui-ção pública para que não seesquartejasse a Coleção Jor-ge Amado. Além de não se in-teressar pelo conjunto, o quepoderia parecer desespropo-sitado, nenhum órgão ou se-tor do Poder Público revelouestar informado sobre o lei-lão nem mesmo no varejo,que incluía peças de preço de

arrematação relativamen-te baixo, como inúmerasgravuras arroladas na lis-tagem do leilão.

No primeiro dos trêstextos que compõem o ca-tálogo da Coleção JorgeAmado, um volu-me de 495

páginas, capa dura e so-brecapa em policro-mia, minuciosas in-formações sobreinúmeras das obraslevadas a leilão,centenas de repro-duções de obras eigualmente minuci-oso e objetivo perfilbiográfico dos artistasque as assinam, a filha deJorge Amado, Paloma, afir-ma que "não é sem dor que

hoje nos desfazemos de uma parte da co-leção que papai nos deixou". Ela explica:

"Impossível ter tudo. As múltiplascasas, sem seus moradores, foram fe-chando portas, os quadros fora dasparedes, as esculturas sem ter chãopara ficar. Fizemos nosso exercício dedesapego e aqui estou, em nome deJoão Jorge e no meu, para apresentar-lhes as obras de arte da coleção JorgeAmado que escolhemos para ganharnovos endereços."

O desapego de que fala Paloma Ama-do foi doloroso para a jovem neta doescritor, Mariana, que trabalhou me-ses na organização do catálogo e da be-líssima exposição instalada no tercei-ro e quarto andares do Atlântica Busi-

ness Center, na Avenida Atlân-tica, Copacabana. No fim

da tarde do dia 17 denovembro, vésperado primeiro pre-gão, Mariana cho-rou abraçada aSoraia Cals, ante-vendo como seriadifícil assistir, nosdias seguintes, ao

desfazimento nãoapenas da Coleção,

mas também das nu-merosas boas lembranças

do vovô Jorge e da vovó Zélia.

Gabriela, Di Cavalcanti Candomblé, Djanira

Auto-retrato, Pancetti

Cerâmica Carajá

Tete de Chevre, Picasso

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29Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Em texto alterado apenas no porme-nor relacionado com o cargo do desti-natário, o apelo da ABI ao Ministro JucaFerreira e ao Governador da Bahia, Ja-ques Wagner, foi vazado nestes termos:

"A Associação Brasileira de Imprensalamenta que o Ministério da Culturae o Governo Federal tenham permiti-do o retalhamento da Coleção JorgeAmado, integrada por nada menos de576 telas, gravuras, objetos de arte eoutros bens que o grande escritor bai-ano e sua esposa, a escritora Zélia Gat-tai, reuniram durante mais de 60 anose que estão sendo vendidos no Rio deJaneiro em leilão programado para osdias 18 e 21 de novembro corrente.

Essa grave omissão dos organismosresponsáveis pela gestão cultural no Paísconstitui imperdoável ofensa à memó-ria de Jorge Amado, priva o povo brasi-leiro do acesso a um conjunto artísticoque retrata o prestígio do escritor jun-to a criadores de arte do Brasil e do ex-terior e promove um intolerável cortenum dos momentos mais importantesda nossa vida cultural, já que o acervode Jorge e Zélia reúne a criação dos maisdestacados artistas do Brasil e da Bahianum dos períodos mais fecundos danossa vida artística e intelectual. Tal in-diferença apresenta outra conseqüên-cia intolerável: desmancha a presença

OS SILÊNCIOS DOS NÃO-INOCENTESMinistro, Governador e MP receberam denúncia mas se fingiram de mortos e nada fizeram para salvar um

patrimônio sem igual, como lhes foi formalmente postulado pela ABI. Antes, ninguém ouviu a família de Jorge.

estelar que Jorge Amado alcançou en-tre os maiores artistas do Brasil e o ca-rinho que deles recebeu.

É pena que o Ministério da Cultu-ra, mesmo tendo à frente durante seisanos um conterrâneo de Jorge Amado,o compositor e cantor Gilberto Gil, nãose tenha sensibilizado com os apelosque durante quatro anos foram feitospelos herdeiros do escritor para impe-dir o desfazimento de acervo tão im-portante e a apropriação particular daspeças que o integram, as quais deveri-am formar o Museu Jorge Amado ouconstituir uma seção importante dealguma das instituições culturais doPaís. Nesse ponto, aliaram-se em perni-cioso alheiamento o Ministério da Cul-tura e o Governo do Estado da Bahia.

É igualmente lamentável que a me-mória e o legado cultural de Jorge Ama-do sejam tão menosprezados pelos que,como agentes do Poder Público, têm oindeclinável dever de salvaguardar epreservar bens significativos da culturanacional. Pelo mesmo abandono e pelomesmo desinteresse está sendo sacri-ficada a Fundação Casa de Jorge Ama-do, sediada no Pelourinho, em Salva-dor, que se arrasta em dificuldades pornão contar com a indispensável assis-tência do Ministério da Cultura e doGoverno do Estado da Bahia e depen-

de para sua manutenção de desembolsofinanceiro permanente que excede a ca-pacidade econômica dos herdeiros doescritor.

A Associação Brasileira de Imprensafaz este registro com tristeza e com um

protesto indignado diante do crime quese está a perpetrar, com a cumplicida-de do Poder Público, contra a memóriade Jorge Amado e Zélia Gattai e contraa cultura nacional. Cordialmente (a)Maurício Azêdo, Presidente."

Jaques Wagner, Governador da Bahia, terra de Jorge Amado: grave omissão.

ROO

SEWELT PIN

HEIRO

/ABR

"A Associação Brasileira de Imprensalamenta que o Ministério da Cultura e oGoverno Federal tenham permitido oretalhamento da Coleção Jorge Amado,integrada por nada menos de 576 telas,gravuras, objeto de arte e outros bens queo grande escritor baiano e sua esposa, aescritora Zélia Gattai, reuniram durantemais de 60 anos e que estão sendovendidos no Rio de Janeiro em leilãoprogramado para os dias 18 e 21 denovembro corrente.

Essa grave omissão dos organismosresponsáveis pela gestão cultural no Paísconstitui imperdoável ofensa à memóriade Jorge Amado, priva o povo brasileiro doacesso a um conjunto artístico que retratao prestígio do escritor junto a criadores dearte do Brasil e do exterior e promove umintolerável corte num dos momentos maisimportantes da nossa vida cultural, já queo acervo de Jorge e Zélia reúne a criaçãodos mais destacados artistas do Brasil e daBahia num dos períodos mais fecundos danossa vida artística e intelectual. Talindiferença apresenta outra conseqüênciaintolerável: desmancha a presença estelarque Jorge Amado alcançou entre osmaiores artistas do Brasil e o carinho quedeles recebeu.

É pena que o Ministério da Cultura,mesmo tendo à frente durante seis anosum conterrâneo de Jorge Amado, ocompositor e cantor Gilberto Gil, não setenha sensibilizado com os apelos que

O apelo ao Ministério Público daUnião foi feito em telegrama dirigidoa Procuradora-Chefe Cristina Roma-nó, que não respondeu nem acusou orecebimento da mensagem da ABI, as-sim redigida:

"A Associação Brasileira de Impren-sa encarece a intervenção urgente doMinistério Público da União para so-brestar o desfazimento da chamadaColeção Jorge Amado, integrada por576 telas, gravuras, objetos de arte eoutros bens que serão vendidos emretalhos, ao correr do martelo, em lei-lão a ser promovido às 21h30 min dehoje, dia 18 de novembro, pelo leilo-eiro Evandro Barreto, em pregão a serrealizado no Atlântica Business Cen-ter, na Avenida Atlântica, 1.130, 4ºandar, e que terá prosseguimento napróxima sexta-feira, dia 21. O desman-che desse inestimável acervo constituium crime contra a cultura nacionaldiante do qual têm de agir os brasilei-ros preocupados com a preservação debens singulares, como esses que inte-gram a Coleção Jorge Amado. Cordi-almente, Maurício Azêdo, Presidenteda Associação Brasileira de Imprensa."

O Ministério Públiconão responde A declaração da ABI A Associação Brasileira de Imprensa

faz este registro com tristeza e com umprotesto indignado diante do crime quese está a perpetrar, com a cumplicidadedo Poder Público, contra a memória deJorge Amado e Zélia Gattai e contra acultura nacional.

A ABI conclama as instituições culturaise entidades representativas da sociedadecivil a dirigirem mensagens de protesto aoPresidente da República, ao Ministro daCultura e ao Governador do Estado daBahia, para que esse clamor deixe claroque esta agressão à cultura do Paísencontra o repúdio da consciêncianacional. (a) Maurício Azêdo, Presidente."

durante quatro anos foram feitos pelosherdeiros do escritor para impedir odesfazimento de acervo tão importante e aapropriação particular das peças que ointegram, as quais deveriam formar oMuseu Jorge Amado ou constituír umaseção importante de alguma dasinstituições culturais do País. Nesse ponto,aliaram-se em pernicioso alheamento oMinistério da Cultura e o Governo doEstado da Bahia.

É igualmente lamentável que amemória e o legado cultural de JorgeAmado sejam tão menosprezados pelosque, como agentes do Poder Público, têmo indeclinável dever de salvaguardar epreservar benssignificativos da culturanacional. Pelo mesmoabandono e pelomesmo desinteresseestá sendo sacrificada aFundação Casa de JorgeAmado, sediada noPelourinho, em Salvador,que se arrasta emdificuldades por nãocontar com aindispensável assistênciado Ministério da Culturae do Governo do Estadoda Bahia e dependepara sua manutenção dedesembolso financeiropermanente que excedea capacidadeeconômica dosherdeiros do escritor.

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30 Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

rata-se de um jornalista,historiador, escritor e, aci-ma de tudo, um ser civili-

zado que honra a gente brasileira e aespécie humana”. Foi com essas pala-vras que o Presidente da ABI, Maurí-cio Azêdo, encerrou sua homenagemaos 80 anos de vida de Murilo MeloFilho, durante solenidade que lotou oSalão Nobre da Academia Brasileira deLetras, no dia 4 de dezembro. Outrosdois representantes da ABI tambémsaudaram o acadêmico: o jornalistaVillas-Boas Corrêa, membro do Con-selho Deliberativo, e Bernardo Cabral,ex-Presidente do Conselho Federal daOrdem dos Advogados do Brasil, ex-Senador e relator-geral da AssembléiaNacional Constituinte de 1987-1988.

Durante a sessão, conduzida pelo Pre-sidente da ABL, Cícero Sandroni, tam-bém membro da ABI, diversas perso-nalidades prestaram depoimentos es-peciais, exibidos ao público em doistelões. A série de mensagens foi aber-ta por dois conterrâneos de Murilo MeloFilho, nascido em Natal, em 13 de ou-tubro de 1928. A Governadora do RioGrande do Norte, Wilma de Faria (PSB),foi a primeira a homenagear o escritor,seguida de Villas-Bôas Corrêa, o maisantigo cronista político do País e com-panheiro do aniversariante em diversascoberturas e na extinta TV Manchete.

Uma vida de romanceTambém fizeram pronunciamentos

o Deputado Henrique Alves (PMDB-RN); o Prefeito de Natal, Carlos Eduar-do Alves (PSB); os acadêmicos CarlosHeitor Cony e Nélson Pereira dos San-tos, o Cardeal emérito da Cidade do Riode Janeiro, Dom Eugenio Sales; e oSenador José Agripino Maia (DEM-RN). Em sua saudação, o Presidente daABI destacou aspectos da personali-dade do homenageado.

“Quero expressar meu reconheci-mento ao nosso querido amigo e com-panheiro acadêmico Murilo Melo Fi-lho pela honra que nos concede detrazer a nossa palavra pessoal e apalavra da ABI a esta magna ses-são. Atribuímos essa decisão a al-guns dos muitos traços fortes dasua personalidade: a generosidade,o carinho e a indulgência em rela-ção a insuficiências de seus ami-gos”, discursou Maurício Azêdo,que completou. “Como diz outroilustre membro desta Casa, o tam-bém jornalista e acadêmico Arnal-do Niskier, Murilo é um exemplo deretidão pessoal e profissional.”

O Presidente da ABI também res-saltou a excelência profissional de Mu-rilo. “Como destaca Niskier, é precisofalar de sua invejável precisão na repro-dução de diálogos e na menção a datas,locais e detalhes de acontecimentos, queele tão bem relata e comenta nesse pre-cioso Testamento político, um denso pa-inel da História do Brasil desde os an-tecedentes da Revolução de 1930. Os

MuriloMeloFilho

80 ANOSEm sessão especial naAcademia Brasileira de

Letras, o jornalista eescritor foi saudado pela

ABI e recebeu homenagensde personalidades dasáreas cultural e política.

fatos, as circunstâncias que os gerarame os protagonistas do que aconteceu noPaís ao longo de cerca de 40 anos de vidarepublicana estão nesse compêndio queMurilo fez ao correr da pena, com rigorde pesquisa e apelo à memória”.

Maurício recordou, ainda, do proces-so de viagem do escritor de sua terra na-tal para o Rio de Janeiro. “A vida de Mu-rilo Melo Filho é um romance; uma his-tória de obstinação, de audácia, de des-temor, de esperança, como, por exem-plo, quando ele anuncia a seu Muriloe a dona Hermínia que vai deixar Na-tal para ser jornalista no Rio. O pai, bus-cando justificativa para não se separardo filho, faz a Dona Hermínia uma pre-visão ou profecia que não se realizou:‘Que besteira desse menino querer serjornalista. E logo no Rio de Janeiro. Aíé que ele não será mesmo jornalista!’,disse ele”, recordou o Presidente daABI, que falou ainda sobre o primeiroemprego do jornalista no Rio, como re-pórter marítimo do Correio da Noite.

“Vou me deter por aqui, porque es-ses fatos serão suficientes para de-monstrar a saga de Murilo Melo Fi-lho na construção de uma obra queengalana milhares de páginas dejornais e revistas e que mereceu oreconhecimento da AcademiaBrasileira de Letras ao conduzi-loà cadeira que tem como patronoJoaquim Manuel de Macedo econta, entre seus ocupantes, comMúcio Leão, de quem Murilo fez

uma biografia exemplar. É comgrande alegria e com emoção quefestejamos os 80 anos de Murilo”,concluiu Maurício Azêdo.

Diálogo com a HistóriaAo saudar Murilo Melo Filho por

seus 80 anos, Bernardo Cabral des-creveu o amigo como uma “dessaspessoas excepcionais que, sozinhodiante da sociedade, percorreu umlongo diálogo com a História”. Oex-Senador contou que conheceu ohomenageado no Amazonas, terranatal do político. “Já lá se vão 50anos, Bodas de Ouro de Amizade.

HOMENAGEM

Murilo estava às voltas com a missãode produzir uma reportagem para aManchete sobre a Amazônia, da qual re-sultou uma peça, até hoje, considera-da irretocável”, contou Cabral, que in-gressou na ABI em 1967, afastou-se emrazão da longa carreira pública e retor-nou à Casa neste ano de 2008.

“Entre 1960 e 1965, o encontrei vi-vendo em Brasília, testemunhando osacontecimentos em centenas de repor-tagens e fabricando tempo para cons-truir a sede da Bloch Editores e da Man-chete, e ainda ser professor de Jornalis-mo na Universidade de Brasília-UnB,como convidado de Darci Ribeiro. Deregresso ao Rio, foi eleito Diretor-Exe-cutivo das Empresas Bloch e reeleitodurante sucessivos mandatos pela As-sembléia dos Acionistas, tendo sido desua responsabilidade a parte política daorganização, além de problemas admi-nistrativos relacionados não apenascom a Manchete, mas também com to-das as outras 15 revistas de circulaçãonacional. Pena que não mais existam”,apontou Bernardo Cabral.

O currículo“Murilo foi o primeiro jornalista bra-

sileiro a cobrir a guerra do Vietnã, em1967, e a guerra do Camboja, em 1973,tendo chegado a Saigon e Phnom-Penh,via Tóquio. Em audiências e entrevis-tas, esteve, dentre outros, com De Gau-lle, Kennedy, João XXIII, Frondizi, Fi-del Castro, Eisenhower, Golda Meir,João Paulo II, Selassié, Ben Gurion, In-dira Gandhi, Guevara, Sukarno, Perón,Elizabeth II, Moshé Dayan, Salazar, Hi-roito, Spinola, Nixon, Giscard d’Estaing,Reagan, Adenauer, Franco, Allende,Kruschev, Ho-Chi-Min e Anuar el-Sa-dat. Conviveu, pois, com quase todosos líderes que fizeram a História emépoca recente. Conhece quase o mun-do todo. Foi 32 vezes à Europa, 27 aosEstados Unidos, duas à Ásia, quatro àAmérica do Sul e duas à África”, enume-rou o ex-Senador.

“Com tanta vivência e conhecimen-to, tinha uma dívida a saldar com a so-ciedade, que era passar aos livros tudo

“TFOTOS: ARQUIVO PESSOAL

SEBASTIÃO MARINHO/AJB-RIO

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31Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

que aprendeu. E assim o fez, de formabrilhante. Entre outros, lançou O De-safio Brasileiro, seu primeiro livro so-zinho, com prefácio do então MinistroJoão Paulo Reis Velloso, que vendeu 80mil exemplares em 16 edições sucessi-vas, ganhando com ele o Prêmio AlfredJurzykowski, desta Academia, comoMelhor Ensaio do Ano. Na seqüência,O Modelo Brasileiro, com prefácio doprofessor, Ministro e meu saudoso ami-go Mário Henrique Simonsen. No anode 1997, lá estava ele, lançando o livroTestemunho Político, com prefácio do ex-Presidente e Senador José Sarney e apre-sentações de Arnaldo Niskier, CarlosHeitor Cony e Barbosa Lima Sobrinho”,relembrou Bernardo Cabral, antes dedespedir-se do homenageado.

À sombra de Machado“Por tudo isso é que, nesta Acade-

Eleito para a Academia Brasileira deLetras em agosto, o jornalista Luiz PauloHorta (foto) tomou posse da cadeira nú-mero 23 da instituição no dia 28 de no-vembro. Em seu discurso, o novo aca-dêmico homenageou Machado de As-sis, lembrando o centenário de morte doescritor. “Se há o Machado melancóli-co do Dom Casmurro e do Quincas Bor-ba, há o Machado dos contos, o Macha-do inesgotável das crônicas, e o Macha-do final do Memorial de Aires, que eu leiocomo se fosse pura música”, disse.

A cerimônia de posse, no Salão No-

Luiz Paulo Horta assumea cadeira de Machado

Luiz Paulo Horta disputou a cadei-ra na ABL, que pertencia a Zélia Gat-tai, com o escritor e cartunista Ziral-do e outros 17 candidatos. O jornalis-ta atua desde os anos 70 como crítico.Atualmente, escreve para O Globo. Éautor de Sete Noites com os Clássicos,

ACADEMIA

Jornalista e crítico musicalé o primeiro dessa área a ser

eleito para a Academia.

bre do Petit Trianon, reuniu 400 convi-dados. O novo membro da ABL, que étambém teólogo e nasceu no Rio deJaneiro em 1943, foi recebido pelo aca-dêmico Tarcísio Padilha, ganhou o Co-lar Acadêmico de Ivan Junqueira e odiploma de membro efetivo das mãosde Arnaldo Niskier.

“A Academia Brasileira de Letras vosacolhe de braços abertos na plena con-vicção de que vós lhe aportareis a pre-ciosa contribuição de vossa cultura ede vosso ameno convívio”, afirmou Pa-dilha na solenidade.

O Presidente da ABL, Cícero Sandro-ni, disse que a posse vale comprova aabertura da instituição às “humanida-des em geral”, para além das letras.

entre outros livros. Na área de música,sua paixão, é autor de trabalhos comoCaderno de Música, Dicionário de Mú-sica Zahar, Villa-Lobos, uma Introdução,Guia da Música Clássica em CD e Dici-onário Groove de Música, este últimoem parceria com Luiz Paulo Sampaio.

mia, ele se sente em casa – altivo ehumilde à frente da Biblioteca RodolfoGarcia, da qual foi idealizador e queconta com um acervo de 70 mil volu-mes, em instalações de 1.300 metrosquadrados – à sombra que Machadode Assis propicia a todos. E é aqui, enão haveria lugar mais apropriado,que sendo um cidadão do mundo ja-mais deixou de ser aquele bom meni-no nascido no seu sempre veneradoRio Grande do Norte, e que continuaextasiado, até hoje, com as belezas doRio de Janeiro. Parabéns, querido ami-go Murilo. Até os próximos 80 anos”,concluiu.

Ao final da solenidade, muito emoci-onado, Murilo Melo Filho agradeceu asmanifestações de carinho. Entre os pre-sentes estavam sua esposa Norma, suacompanheira há cerca de 50 anos, e Nél-son e Fátima, dois de seus três filhos.

Como lembrou Bernardo Cabral em sua saudação, Murilo “conviveu com quasetodos os líderes que fizeram a História em época recente”. Nas fotos, três exemplos:

Tancredo Neves (página ao lado), Richard Nixon (acima) e Itamar Franco.

Walter Moreira Sales e o Cardeal D. Eugênio Sales marcam presença no lançamento do livroTestemunho Político, de Murilo Melo Filho, que teve prefácio de Mário Henrique Simonsen.

ACERVO

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32 Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Liberdade de imprensaLiberdade de imprensa

Em vez de Lei de Imprensa,uma Lei do Direito de Informação

Em telegrama ao Prefeito de Itaguaí, RJ, Carlos Busat-to (PFL), no dia 7 de novembro, a ABI pediu formalmen-te que ele cesse as represálias e perseguições contra o Jor-nal Atual e não mais ameace seu diretor, Marcelo Godi-nho. O motivo da perseguição seria uma série de repor-tagens publicadas pelo jornal, apontando a falta de pres-tação de contas do prefeito ao longo de sua administra-ção. As denúncias acabaram por impugnar a candidatu-ra de Busatto à reeleição, impedindo-o de assumir o car-go após as eleições do dia 6 de outubro.

Como resposta às matérias publicadas pelo Jornal Atual,

A ABI condena o texto da Lei nº 5.250/67 e propõe legislação que garanta a liberdade de informar.

A ABI considera necessária a exis-tência de uma nova Lei de Imprensa,em substituição àquela atualmente emvigor, de número 5.250, de 1967, e quetenha como objetivo a garantia do aces-so às fontes de informação. Seria nãouma Lei de Imprensa, uma Lei do Di-reito de Informação.

A opinião da ABI foi expressada nodebate realizado em sua sede no dia 5de dezembro por iniciativa do PortalComunique-se, o qual convidou parao encontro, que se estendeu por umahora e meia e foi transmitido online,o Deputado Miro Teixeira (PDT-RJ),autor da Ação de Descumprimento dePreceito Fundamental que o SupremoTribunal Federal está julgando; a Se-nadora Serys Slhessarenko, autora doProjeto de Lei do Senado nº 382 de2008, que trata da matéria; o juristaManoel Alceu Afonso Ferreira, advo-gado de O Estado de S.Paulo e do Jor-nal da Tarde; e o Presidente da ABI,Maurício Azêdo. O debate foi medi-ado pelo jornalista Milton Coelho daGraça, colunista do Comunique-se emembro efetivo do Conselho Delibe-rativo da ABI.

Abrindo o debate, a Senadora SerysSlhessarenko informou que seu projetoestá na Comissão de Justiça e Redaçãodo Senado, ainda sem relator, e estabe-lece entre outras medidas a descrimi-nalização da injúria e da difamaçãoatravés de imprensa, delitos constan-tes da Lei nº 5.250/67. O jornalista pas-saria a responder somente por crime decalúnia, qual seja imputar a alguém aprática de ato criminoso.

Informou a Senadora que sua preo-cupação com as questões relativas à

valor da indenização, independente-mente de pedido da vítima do agravo.

Em suas intervenções, o DeputadoMiro Teixeira reafirmou seu entendi-mento de que a Lei de Imprensa cons-titui um “entulho autoritário” da dita-dura militar e insistiu na tese de que oPaís não precisa de uma Lei de Impren-sa, até porque jamais houve uma Lei deImprensa que favorecesse a liberdadede informação:

– Todas – disse – foram instituídasem regimes autoritários.

Ao defender a instituição de umanova Lei de Imprensa, o Presidente daABI salientou a necessidade de se pro-teger o direito de informação, que,como se vê atualmente, é alvo de res-

Prefeito de Itaguaí ameaça jornalistaSérie de reportagens apontando falta de prestação de contas

na administração municipal teria dado início às ameaças.

liberdade de imprensa remonta ao tem-po em que era deputada à AssembléiaLegislativa do Estado de Mato Grosso,a qual, por sua iniciativa, ingressou noSupremo Tribunal Federal com umaargüição de inconstitucionalidade daLei nº 5.250 que nunca foi julgada. Elaexpôs os pontos principais de sua pro-posição, pela qual: 1. não haverá res-trição ao livre fluxo de informação; 2.o responsável por abusos no exercícioda liberdade de informação será a em-presa, e não o jornalista; 3. no caso decondenação judicial ao pagamento deindenização por danos civis, o juiz po-derá aplicar um multiplicador no casode ocorrência de dolo, o qual poderá va-riar de três vezes a dez ou 50 vezes o

Carlos Busatto fez ameaças de violência física ao jorna-lista Marcelo Godinho, além de tentar dificultar a circu-lação do veículo, por meio de pressão sobre jornaleiros edistribuidores.

“A Associação Brasileira de Imprensa apela a Vossa Ex-celência no sentido de evitar represálias e perseguições aoJornal Atual e a seu diretor, de modo a deixar claro que nãoé inimigo da liberdade de imprensa. Conto com a suapalavra tranqüilizadora a esse respeito. Cordialmente,Maurício Azêdo, Presidente da ABI”, diz a mensagemenviada ao Prefeito.

trições e violências do Estado policialem que o Brasil ameaça se transformar,como demonstram as ações da Agên-cia Brasileira de Inteligência-Abin e daPolícia Federal, que expõem as pesso-as à execração pública antes de qual-quer julgamento ou mesmo da apresen-tação de elementos que caracterizemque tenham cometido crimes.

Maurício criticou as disposições doprojeto da Senadora Serys que estabe-lecem multiplicadores para as indeni-zações, como aquele que corresponderáa 50 vezes a indenização cabível:

– Seria melhor, Senadora, que a se-nhora propusesse a execução do jorna-lista por fuzilamento ou enforcamen-to, em vez de fixar esses multiplicado-res absurdos.

O advogado e jurista Manoel AlceuAfonso Ferreira contestou que a Lei nº5.250 seja um “entulho constitucio-nal”, pois contém disposições conde-náveis mas também necessárias à pro-teção da liberdade de imprensa:

– O símbolo do autoritarismo hoje éa lei eleitoral, que impõe censura duran-te a época de eleições. Essa lei tem umpai maldito, o regime ditatorial militar.

Após a discussão travada pelosmembros da mesa, o moderador Mil-ton Coelho da Graça expôs as pergun-tas formuladas via online pelos assis-tentes da mesa-redonda e pelos espec-tadores presentes. A Senadora Seryssaiu antes do fim da reunião, porquetinha vôo marcado para seu Estado,mas ficou em seu lugar seu irmão Ale-xandre Slhessarenko, um dos formu-ladores do texto do PLS 382.

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Maurício Azêdo defendeu uma lei para proteger o direito de informação e criticou os multiplicadores para indenizações previstosno projeto da Senadora Serys Slhessarenko. Para Miro Teixeira, uma Lei de Imprensa não favorece a liberdade de informação.

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33Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Historicamente, a penalização deveículos de comunicação, sobretudo osde perfil contestador, é uma práticaadotada em regimes de exceção, comonos períodos de ditadura já experimen-tados no Brasil. Contudo, o País com-prova agora que, mesmo em regimesdemocráticos, órgãos de imprensa po-dem se ver ameaçados, inclusive pelaJustiça legalmente constituída. Maisprecisamente, pela gritante morosida-de do trâmite dos processos judiciais.

Após ter sua circulação interrompi-da, em 1º de dezembro, a Tribuna daImprensa voltou às bancas no dia 11seguinte, inicialmente com uma distri-buição apenas semanal, feita às quintasou sextas-feiras. A versão online da pu-blicação será atualizada diariamente,com a ressalva de estar temporariamen-te com o conteúdo reduzido. Na origemda crise, um imbróglio judicial. Em ar-tigo publicado na primeira página daedição do dia 1º, o Diretor-Presidente dojornal, Hélio Fernandes, acusou o Mi-nistro do Supremo Tribunal Federal, Jo-aquim Barbosa, de protelar seu parecersobre ação impetrada pelo veículo hápraticamente três décadas.

Uma batalha que se arrasta e que,pelo visto, ainda está longe do fim.Diante das acusações de Hélio Fernan-des, o Ministro, relator do recurso daUnião contra o jornal, se declarou sus-

rariamente fora de circulação,e ter sua existência ameaçada,é da “Justiça morosa, tenden-ciosa, descuidada, displicente,verdadeiramente injusta e au-sente”. A Justiça diz, que deve-ria garantir a liberdade de ex-pressão, luta contra, impõe si-lêncio e é tão “ditatorial quan-to a ditadura”. Por fim, classi-ficou Joaquim Barbosa de “imo-desto Ministro” por demorarmais de dois anos e meio paraentender um recurso.

Em sua edição de retomada,em 11 de dezembro, a Tribunada Imprensa publicou diversascartas de leitores e de represen-tantes de entidades da socieda-de civil, como a ABI, que semostraram solidários com osproblemas enfrentados pelojornal. A ABI expressou sua so-lidariedade ao jornalista, dian-te da situação criada pela de-mora da decisão em relação àação ajuizada pela Tribuna des-de 1979. Em contato com o Pre-sidente da ABI, Maurício Azêdo,Hélio Fernandes contou ter re-cebido apoio também de outras

instituições e personalidades de todo oPaís, inclusive do Presidente do Conse-lho Federal da OAB, César Britto.

A Tribuna, vítima do SupremoO jornal teve sua circulação interrompida por dez dias, no início de dezembro.

Seu Diretor, Hélio Fernandes, não resistiu à morosidade da Justiça.

APOIO A HÉLIO NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVAEm pronunciamento especial no ple-

nário da Assembléia Legislativa do Riode Janeiro, no dia 4 de dezembro, o De-putado Paulo Ramos (PDT) tratou domomento de crise da Tribuna da Impren-sa, por ele considerada um jornal ati-vo na luta pela democracia e na defesados interesses nacionais. “A censura eas perseguições, somadas ao descaso deanunciantes, em especial das empresaspúblicas federais e da administração di-reta, são os responsáveis pela crise fi-nanceira do jornal”, acusou. Foi este opronunciamento de Paulo Ramos.

“Venho à tribuna, Sr. Presidente,prestar uma homenagem ao jornalis-ta Helio Fernandes, da Tribuna da Im-prensa. E simultaneamente manifestara minha indignação pelo fato de, depoisde ter sido garroteado durante anos afio, o jornal Tribuna da Imprensa encer-rar temporariamente a sua circulação.

Não cuido aqui, sr. Presidente, daperda dos postos de trabalho, que já

seria uma motivação extremamen-te relevante, quero cuidar da tão pro-palada liberdade de imprensa, na me-dida em que a Tribuna da Imprensa,mesmo nos dias de hoje, tem sidouma grande trincheira na defesa dademocracia, na defesa da nossa so-berania e na defesa dos mais carosvalores nacionais.

A Tribuna da Imprensa no períodopós-64 foi submetida à mais dura re-pressão, culminando inclusive pela ex-plosão de sua sede e de suas máquinas.Não apenas a censura que alcançava,pelo menos, todos os demais veículosque defendiam a democracia, mastambém pela ação mais dura, de modoa impedir a sua circulação. Todos de-vem lembrar que a Tribuna da Imprensachegou a circular com páginas embranco porque o jornalista Hélio Fer-nandes, numa ação corajosa, com tododesassombro, não substituía as maté-rias censuradas por outras matérias,

peito para julgar o caso. Eleestava com o processo paradoem seu gabinete desde 2006.Assim, o processo, que poderender R$ 10 milhões em in-denizações e salvar a publica-ção das dívidas, será redistri-buído, o que certamente agra-vará a situação de 64 funcio-nários da empresa, que aguar-dam o recebimento dos salá-rios atrasados.

O processo de indenizaçãoque a Tribuna da Imprensa mo-ve contra a União pede repa-ração pelo fato de diversos go-vernos terem censurado suasedições durante dez anos. Ar-gumenta também que seusanunciantes foram intimida-dos e máquinas da Redaçãoforam destruídas em invasõespoliciais. O jornal, fundadopor Carlos Lacerda em 1949,fez História como adversáriodo segundo Governo Vargas(1951-1954) e do regime mili-tar (1964-1985). A decisão so-bre a obrigação da União empagar a indenização já foidada nas duas primeiras ins-tâncias da Justiça Federal, mas o casofoi parar no STF, o Governo recorreudas sentenças.

Hélio Fernandes voltou a afirmar,em artigo publicado na internet, quea culpa de seu jornal ter ficado tempo-

Hélio Fernandes: “Justiça morosa, tendenciosa, descuidada,displicente, verdadeiramente injusta e ausente”.

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Paulo Ramos: Solidariedade a Hélio Fernandes por sua contribuição para a imprensa livre.

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34 Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Ex-Deputado do PT recorreu à Justiça contra repórter de O Estadode S.Paulo para obter material sobre a Guerrilha do Araguaia.

A decisão do advogado e ex-Depu-tado federal Luiz Eduardo Greenhal-gh (PT) de recorrer à Justiça reivin-dicando que o jornalista LeonêncioNossa, do Estado de S.Paulo, entreguedocumentos e forneça informaçõespor ele levantadas sobre a Guerrilhado Araguaia foi condenada pela ABI.No dia 27 de novembro, a ABI con-testou a opção pela via judicial, umavez que a chamada obrigação moralde o profissional de imprensa cedertais informações constitui apenas umaquestão de consciência. Portanto, nãodeveria estar sendo alvo de debates naesfera da Justiça.

“A ABI reitera seu entendimento deque o advogado e ex-Deputado LuizEduardo Greenhalgh incorreu numamanifestação de arbítrio ao postulara requisição, pela 1ª Vara Federal deBrasília, de documentos levantadospelo jornalista. Na nota em que pro-curou justificar sua iniciativa na Jus-tiça, o ilustre advogado cometeu errosnas premissas de sua análise e, em de-corrência destes, na formulação de seupedido. Erra o experimentado causí-dico ao sustentar que ‘qualquer pes-soa que tenha conhecimento do maisínfimo pormenor moral sobre o assun-to tem a obrigação moral de relatá-loàs autoridades judiciais’, como se obri-gação de caráter moral, assumida noplano da consciência, pudesse ser ob-jeto de imposição, requisição ou san-ção pelo Poder Judiciário”, dizia a notaassinada pelo Presidente da ABI, Mau-rício Azêdo, que prossegue.

“E mais, ao contrário do que ele

sustenta: jornalista não tem obriga-ção de prestar informações à Justiça,pois seu dever é o de informar os lei-tores, ouvintes ou espectadores doveículo em que trabalha, nem incor-re em delito se não cede ou expõe do-cumentos que tenha obtido legitima-mente e não integre qualquer conjun-to de peças de investigação criminalou em tramitação judicial. A ABI con-corda em que a União tem a obriga-ção de abrir os arquivos da ditadurareferentes à Guerrilha do Araguaia,como reclamam o ex-parlamentar eos setores democráticos do País. Masesse encargo não pode ser transferi-do ao jornalista Leonêncio Nossa, quebusca verdades que o poder públicooculta”, conclui a mensagem.

Ou dá ou desceEm sua defesa, Greenhalgh afirmou,

em seu site, que a ação tem como ob-jetivo solicitar que o “repórter sejaouvido, por ser autor de reportagenssobre o tema. O objetivo do pedidoé que o mesmo preste esclarecimen-tos e auxílio aos autores da ação, poistem condições de contribuir decisi-vamente com a História do País, aocolaborar com a localização e forne-cimento ao Estado de documentosrepassados por Sebastião Curió, au-tor de inúmeros delitos cometidos naGuerrilha do Araguaia”, defende-seo ex-Deputado, que ainda esclarece.“A mencionada busca e apreensão dematerial na cada do jornalista só ocor-reria no caso de o mesmo recusar-se aprestar informações à Justiça”, diz.

Liberdade de imprensaLiberdade de imprensa

os espaços ficavam vazios com o ca-rimbo: ‘Censurado’.

É claro que sofreu todas as conseqü-ências. Mas ajuizou contra a Uniãouma ação, buscando a justa e devida re-paração. E a ação caminha para com-pletar 30 anos. Trinta anos! Repousan-do agora no Supremo Tribunal Federal,que contribui decisiva e deliberada-mente, através do Ministro JoaquimBarbosa, para proteger os interesses daUnião contra um direito líquido e cer-to de quem deu uma contribuição paraque hoje pudéssemos estar respirandoares de liberdade.

O jornalista Hélio Fernandes, na úl-tima segunda-feira, comunicando a to-dos nós a suspensão momentânea dacirculação da Tribuna da Imprensa, faza mais grave denúncia ao Judiciáriobrasileiro, como ele diz aqui: ‘Não na 1ªInstância, mas nos tribunais superiores’,incluindo o Supremo Tribunal Federal.Porque na primeira Instância o proces-so correu de forma a mais natural.

Diz Hélio Fernandes no seu editori-al – cuja transcrição na íntegra vou pe-dir a V. Exa. –, falando sobre aquilo queele e os profissionais, os jornalistas, ostrabalhadores da Tribuna da Imprensaenfrentavam durante o período autori-tário: ‘Que sabendo dos obstáculos queenfrentaria, dos sacrifícios a que seriasubmetida, assumiu sem qualquer res-trição a resistência ao autoritarismo e àpermanente e intransigente defesa do in-teresse nacional, tão sacrificado.’ Diz ele,entre aspas, lembrando o Apóstolo Paulo:‘Combatíamos o bom combate.’

Ao final do texto, depois de fazer umacondenação veemente, agora já ao Supre-mo Tribunal Federal, na figura do Minis-tro Joaquim Barbosa, que se inclina a aco-lher um esdrúxulo recurso da União, dizHélio Fernandes também que a Tribunada Imprensa, pela sua ação independente,obviamente também não consegue seraquinhoada com os anunciantes de sem-pre, todos ligados ao poder – Petrobras,Banco do Brasil, Caixa Econômica, gran-des empreiteiras, empresas transporta-doras, todos aqueles que alimentam esubmetem uma parcela expressiva dosnossos meios de comunicação, aniqui-lando uma liberdade que é fundamen-tal para a afirmação da democracia. DizHélio Fernandes de uma forma muitolúcida: ‘Vivemos num mundo domina-do pela visibilidade e a reciprocidade.Como não nos entregamos nunca, comoninguém neste jornal distribui visibili-dade para receber reciprocidade, esta-mos em situação dificílima’.

Distribui visibilidade para receberreciprocidade. É através desse mecanis-mo que os meios de comunicação con-seguem não apenas subjugar mas tam-bém seduzir, às vezes, até as parcelasmais significativas da representaçãopopular. É muito fácil ser seduzido parasurfar na mídia em detrimento das con-vicções – temos acompanhado isso nodia-a-dia da vida pública no nosso País.

O que me causa estranheza, e mui-ta estranheza, é que não surgiu nosmeios de comunicação ninguém – nemno Sistema Globo, que é o arauto da de-mocracia; que, ao contrário da Tribu-na, foi cevado, cresceu, teve aumenta-dos sua influência e seu patrimônioexatamente no período autoritário –,nenhuma voz da mídia em defesa daTribuna da Imprensa.

Estou encaminhando à AssociaçãoBrasileira de Imprensa uma cópia do ma-nifesto de Hélio Fernandes em defesados direitos da Tribuna e, acima de tudo,em defesa das liberdades democráticas.Estou encaminhando este texto ao Pre-sidente da ABI, na expectativa de quea entidade que representa a imprensabrasileira possa se manifestar.

Portanto, Sr. Presidente, é movidopor grande revolta que venho aqui ma-nifestar a minha mais completa solida-riedade ao jornalista Hélio Fernandese a todos aqueles que, através da Tribu-na da Imprensa, davam a sua contribui-ção para a imprensa livre.”

“A AÇÃO CAMINHA PARA COMPLETAR 30 ANOS.TRINTA ANOS! REPOUSANDO AGORA NO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL, QUE CONTRIBUI DECISIVA E DELIBERADAMENTE,ATRAVÉS DO MINISTRO JOAQUIM BARBOSA, PARA PROTEGER

OS INTERESSES DA UNIÃO CONTRA UM DIREITO LÍQUIDO ECERTO DE QUEM DEU UMA CONTRIBUIÇÃO PARA QUE HOJE

PUDÉSSEMOS ESTAR RESPIRANDO ARES DE LIBERDADE”

FABIO

ROD

RIG

UES PO

ZZEBO

M-AB

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Ministro Joaquim Barbosa: acusado deprotelar seu parecer sobre a ação quepoderia salvar a Tribuna da Imprensa.

Deputado Paulo Ramos (PDT), em pronunciamento na Alerj.

A ABI questiona açãojudicial de Greenhalgh

GERVÁSIO

BAPTISTA/AB

R

Greenhalgh: Obrigação moral deve ser objeto de sanção pelo Poder Judiciário.

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35Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Direitos humanosDireitos humanos

A ABI recebeu nova denúncia envol-vendo o Prefeito eleito da Cidade de Mi-lagres, no interior da Bahia, Raimun-do de Souza Silva. Desta vez, o Verea-dor eleito Eneliram Borges (PDT) de-

– O AI-5 deu guarida e apoio paraque se praticassem as mais violentastorturas, nessa fase da ditadura que sechama anos de chumbo. Não somen-te isso. Também deu legitimidade, umaroupagem, para que se praticasse comose fossem legais os mais diversos abu-sos, como a suspensão das garantiasindividuais, o habeas corpus de acusa-dos de crimes políticos, contra a segu-rança nacional e a ordem econômicae social.

– As palavras do Presidente da Co-missão de Mortos e Desaparecidos Po-líticos da Secretaria Especial dos Direi-tos Humanos da Presidência da Repú-blica, Marco Antônio Barbosa, derama tônica do que foi o seminário AI-5Nunca Mais, realizado na Estação Pi-nacoteca e no antigo KVA, em São Pau-lo, nos dias 12 e 13 de dezembro paralembrar os 40 anos da decretação doAto Institucional nº 5 e seus efeitos.Em suma: apesar da brutalidade e vi-olência da ação, suas lições não devemser esquecidas.

Em 13 de dezembro de 1968, o regi-me, sob o comando do Presidente Costae Silva, impôs o AI-5, que ratificou umasérie de ações da ditadura e concedeupoderes absolutos aos governantespara punir aqueles que consideravam“subversivos”. O texto permitia, porexemplo, o fechamento do CongressoNacional e a intervenção do GovernoFederal em decisões dos Estados, alémde instituir a censura e proibir habeascorpus a presos políticos.

Realizado pela Secretaria Especial deDireitos Humanos, Comissão de Anis-tia do Ministério da Justiça e Fórum dosEx-Presos Políticos do Estado de São Pau-lo o AI-5 Nunca Mais começou no dia 12de dezembro com um painel de debatesque teve a participação do advogado Té-cio Lins e Silva; do dramaturgo e fun-dador do Teatro Popular União e Olho

Vítimas do AI-5 anistiadasComissão de anistia faz sessão no seminário AI-5 Nunca Mais, realizado em

São Paulo, e anistia, entre outros, o Deputado Doutel de Andrade, Líder do antigo PTB.

Goulart e inclui relatos de personagensque viveram aquela época. João Vicen-te Goulart, filho do homenageado e Pre-sidente do Instituto João Goulart,participou como convidado especialdo encontro.

À noite, o Ministro Paulo Vannuchiabriu a mostra fotográfica sobre a di-tadura Direito à Memória e à Verdade.Ele também aproveitou a ocasião paralançar o primeiro número da revista Di-reitos Humanos, publicação semestralda Secretaria, com artigos de DalmoDallari, Mary Robinson e Baltasar Gar-zón, uma entrevista com o dramatur-go Augusto Boal e um ensaio fotográ-fico de Sebastião Salgado. Tanto a ex-posição quanto a publicação fazem par-te também das comemorações oficiaisdos 60 anos da Declaração Universaldos Direitos Humanos, comemoradostambém em dezembro.

Vivo, Idibal Pivetta; do ex-Deputado fe-deral Airton Soares; da Presidente daUnião Nacional dos Estudantes, LuciaStumpf; e da representante da Comis-são de Familiares de Mortos e Desapa-recidos Políticos, Iara Xavier.

À tarde, a Comissão de Anistia deuinício à sessão especial de julgamentode quatro requerimentos de ex-perse-guidos políticos: o militante Délio deOliveira Fantini, da Organização Cor-rente Revolucionária, de Minas Gerais,que foi preso e figurou na relação detorturados do Documento dos Presos deLinhares; o também militante Jorge Ra-imundo Nahas, das organizações Co-lina e Polop, preso, torturado e conde-nado por infringir a Lei de SegurançaNacional. Sua soltura foi negociada emtroca do Embaixador alemão Ehrenfri-ed von Holleben, seqüestrado por opo-sitores do regime, no Rio; o ex-Depu-

tado Federal por Santa Catarina Pau-lo Macarini, que teve seus direitos po-líticos cassados e suspensos por dezanos pelo AI-5; e outro ex-DeputadoFederal por Santa Catarina, ArmindoMarcílio Doutel de Andrade, então Lí-der do antigo Partido Trabalhista Bra-sileiro-PTB na Câmara, que teve seusdireitos políticos cassados e suspensospor dez anos pelo AI-2 e foi aposenta-do compulsoriamente pelo AI-5. Suaesposa, Lígia Doutel, candidatou-se emseu lugar e elegeu-se como a mais vo-tada de seu Estado, mas também teveseus direitos políticos cassados.

Jango em documentárioNa tarde do sábado, 13, houve a exi-

bição do documentário Jango em 3 Atos,do jornalista Deraldo Goulart. Produ-zido pela TV Senado, o filme narra atrajetória política do Presidente João

Novas denúncias contra Prefeito eleito de Milagresnunciou uma onda de atentados pra-ticados por pessoas supostamente liga-das ao político. Em outubro correli-gionários do prefeito foram acusadosde ameaça de morte, em mensagem en-viada à ABI pelo compositor Raimun-do Jorge Martins Ribeiro e o suplentede Vereador Antônio Paulo Ribeiro(PMDB). O motivo das supostas ame-aças teria sido uma briga ocorrida em

7 de outubro e motivada pelas eleições.Na nova denúncia encaminhada à

ABI, Eneliram – que é filho de JoãoRodrigues Borges Neto, Presidente doPDT na cidade baiana – afirma que suacasa foi atingida por uma bomba, lan-çada de dentro de um carro, onde ha-via duas pessoas, no dia 9 de novem-bro. Ele conta que nas imagens capta-das por seu sistema de segurança um

dos responsáveis pelo atentado foiidentificado como o funcionário públi-co municipal Leandro da Cruz Barre-to, aliado do grupo chefiado por Rai-mundo de Souza Silva. Eneliram Bor-ges diz que deu queixa e entregou umacópia da fita com as gravações do aten-tado à Delegacia de Milagres, cujo ti-tular, Gilmar Nogueira, prometeu abririnquérito para apurar as denúncias.

Desta vez a acusação é deatentado a bomba contra a

residência de vereador eleito

ANTÔ

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Fazendo parte dascomemoraçõesoficiais dos 60 anosda DeclaraçãoUniversal dosDireitos Humanos,a mostrafotográfica Direitoà Memória eà Verdade foiinaugurada peloMinistro PauloVannuchi, daSecretaria Especialde DireitosHumanos, quelançou tambémo primeironúmero da revistaDireitos Humanos.

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36 Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

A jornalista Elvira Lobato,com a reportagem UniversalChega aos 30 anos com ImpérioEmpresarial, publicada na Fo-lha de S.Paulo, foi a ganhado-ra do Prêmio Esso de Jornalis-mo de 2008, cujos vencedoresforam anunciados em soleni-dade realizada no dia 9 de de-zembro no Copacabana Pala-ce Hotel, no Rio.

Mais do que merecidosaplausos pela excelência dotrabalho, o prêmio concedidopelo júri a Elvira teve o signi-ficado simbólico de um alertasobre as ameaças à liberdadede imprensa e à intimidaçãocontra jornalistas. A matériapublicada pela Folha de S.Paulorevelou detalhes sobre os bas-tidores da rede de empresas li-gada à Igreja Universal do Rei-no de Deus e rendeu 105 pro-cessos judiciais contra a repórter. Naverdade, ações orquestradas com o in-tuito de intimidar a jornalista e o veí-culo de comunicação no qual atua. Atática adotada pela Igreja praticamentedesde o início de 2008 foi orientar seusfiéis a queixarem-se na Justiça contraa jornalista e o jornal em diversas cida-des, de vários Estados do País, como for-ma de dificultar a defesa dos acusados.

A reportagem, publicada em 15 dedezembro de 2007, provocou a ira erespostas imediatas por parte do co-mando da Iurd, envolvendo até mes-mo a Rede Record de televisão, tam-bém de propriedade do Bispo Edir Ma-cedo, líder da organização religiosa. Se-gundo reportagens da emissora, asações movidas em todo o País seriam,sim, semelhantes pelo simples fato deos fiéis terem sido orientados por ad-vogados da Iurd. Contudo, a matériarechaçava a acusação de que as açõesseriam orquestradas por membros daIgreja, e não iniciativas autônomas eparticulares dos fiéis que, supostamen-te, teriam se sentido ofendidos com osdados levantados pela jornalista, queos teria retratado como vítimas de umprocesso de exploração financeira, apartir da exacerbada crença religiosa.

Na reportagem, Elvira Lobato revelaque “em 30 anos de existência, comple-tados em julho, a Igreja Universal doReino de Deus construiu não apenasum império de radiodifusão, mas um

conglomerado empresarial em tornodela. Além das 23 emissoras de tv e 40de rádio, o levantamento da Folha deS.Paulo identificou 19 empresas regis-tradas em nome de 32 membros daigreja, na maioria bispos”.

A tentativa de intimidação da jorna-lista trouxe à tona a crescente utiliza-ção de vias judiciais menos para obterreparações cabíveis por injúrias ou di-famações, e mais com o propósito, ain-da que camuflado, de intimidar repór-teres e empresas jornalísticas, no sen-tido de adotarem uma autocensura aseu trabalho de investigação.

O Prêmio em sua 53ª ediçãoA comissão julgadora da 53ª edição

do Prêmio Esso foi constituída por maisde 80 jornalistas de diversos veículose profissionais ligados à comunicação,que conferiram 14 premiações, sendo12 destinadas a trabalhos da mídia im-pressa, além do Prêmio Esso de Telejor-nalismo e do diploma de Melhor Con-tribuição à Imprensa em 2008. Este úl-timo foi outorgado ao projeto Diário emBraille, do Diário de Pernambuco, quedisponibilizou seu conteúdo a milha-res de deficientes visuais.

Representada por seu Conselhei-ro Milton Coelho da Graça, a ABI foicontemplada com um diploma emhomenagem aos cem anos de sua fun-dação, comemorados em 7 de abrilúltimo. O jornalista, que compareceu

à solenidade acompanhado da netaMoya Ehlers Coelho da Graça, quetem 19 anos e é estudante de Filoso-fia da Puc-Rio, recebeu a premiaçãodas mãos do Presidente da Esso noBrasil, Carlos Pietrowsky.

“Estamos festejando várias datas: ocentenário da ABI, os 200 anos da che-gada da imprensa no Brasil, o 53º ani-versário do Prêmio Esso e os 29 anosque estamos livres do AI-5. A ABI con-tinuará sempre empenhada em remo-ver todo o entulho autoritário, comono momento atual de luta pelo fim daLei de Imprensa, estabelecida no perí-odo de ditadura”, disse Milton Coelho.

Elvira Lobato ganhao Prêmio Esso

Repórter da Folha de S.Paulo conquista a maior láurea doprincipal concurso jornalístico do País.

Coordenador do Prêmio Esso, emparceria com Guilherme Duncan, RuyPortilho destacou que a homenagem àABI representa o reconhecimento doseu apoio e participação ao longo da his-tória da premiação.

“Nestes 53 anos, diversos associadose Presidentes da ABI integraram as co-missões de julgamento do Esso, incluindoMaurício Azêdo. Muitos também foramos premiados. A interação com a entidaderemonta à primeira edição, em 1955,quando o vencedor do prêmio principal,jornalista Mário de Moraes, recebeu oEsso das mãos do então Presidente daABI, Herbert Moses”, relembrou.

RECONHECIMENTO

FOTO

S: PAULO

ROD

RIG

UES/D

IVULG

AÇÃO

PRÊMIO

ESSO

Tentaram intimidar Elvira Lobato por causa dareportagem que agora recebe o Prêmio Esso.

Terremoto foi o tema da primeirapágina premiada, do jornal O Dia.Abaixo, Criação Gráfica, Categoria

Jornal, da Folha de S.Paulo e napágina ao lado, a Categoria Revista,

da Superinteressante. Clóvis Rossi(abaixo) foi o autor da impactante

foto Martírio no Presídio.

Milton Coelho representou a ABIno evento e recebeu o diploma em

homenagem ao centenário daCasa dos Jornalistas. Abaixo, JoséVarella e Ana Beatriz Magno como prêmio de melhor reportagem.

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37Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

JORNALISMOElvira Lobato, com o trabalho UniversalChega aos 30 Anos com ImpérioEmpresarial, publicado no jornal Folhade S.Paulo.

TELEJORNALISMOAndré Felipe Tal, Ricardo Andreoni, JorgeValente e Marcelo Zanini, com o trabalhoDossiê Roraima: Pedofilia no Poder,exibido no Domingo Espetacular,veiculado pela Rede Record.

REPORTAGEMAna Beatriz Magno e José Varella, com otrabalho Os Brinquedos dos Anjos,publicado no Correio Braziliense.

FOTOGRAFIAClóvis Miranda, com o trabalho Martíriono Presídio, publicado no jornal A Crítica,de Manaus (AM).

INFORMAÇÃO ECONÔMICAFabiana Ribeiro, Lino Rodrigues, Higino deBarros e Henrique Gomes Batista, com otrabalho Desemprego Zero, publicado nojornal O Globo.

INFORMAÇÃO CIENTÍFICA,TECNOLÓGICA E ECOLÓGICAEliane Brum, Solange Azevedo e RenataLeal, com o trabalho Suicídio.com,publicado na revista Época.

CRIAÇÃO GRÁFICACATEGORIA JORNALRenata Steffen, Fernanda Giulietti, IvanFinotti, Alexandre Jubran, Tarso Araújo eLetícia de Castro com o trabalho Cigarroe Álcool na Adolescência, publicado naFolha de S.Paulo.

Os vencedores do Esso 2008

Na tarde do dia 16 de dezembro, diante dos Conselheiros da ABI, ojornalista Ruy Portilho, coordenador do Prêmio Esso, entregou à ABI odiploma de certificação com que a Casa foi homenageada na premiaçãorealizada na semana anterior e na qual a ABI foi representada por MiltonCoelho da Graça. O Presidente da ABI, Maurício Azêdo, agradeceu aPortilho pelas palavras, relembrou os tempos difíceis para os jornalistasdurante a ditadura militar e exaltou a luta de Rodolfo Konder, autorde 20 livros e ganhador do Prêmio Vladimir Herzog em 1994.

– Tínhamos, naquele momento, nas condições aviltantes ehumilhantes do regime militar, vários companheiros presos, entre osquais nosso querido Rodolfo Konder, que era um dos líderes dosjornalistas vinculados ao Partido Comunista Brasileiro, golpeados pelaação repressiva do Doi-Codi. Ele viveu um momento tormentosomuito prolongado, que o levou ao exílio pela segunda vez. Isso o levoua vários países da América do Sul, Europa e América do Norte.Constituiu o refinamento de uma alma sensível do ponto de vistaliterário. Foi assim que fez 20 livros, afora as antologias. Então,recebemos essa homenagem como mais um estímulo para quecontinuemos nessa luta”, agradeceu Azêdo.

Ruy Portilho relembrou, mais uma vez, a importância da ABI nahistória do Prêmio Esso. “A idéia de prestar esta homenagem à ABI, napessoa do Presidente Maurício Azêdo, não surgiu apenas devido aocentenário da entidade, mas porque o Prêmio Esso nasceu sob osauspícios desta Casa. A premiação só decolou, só sobreviveu nosprimeiros anos e ganhou impulso para chegar ao 53° aniversárioporque esta Associação foi uma das sustentadoras do Esso e de todosos prêmios da época, especialmente nos anos de chumbo. As entregasdos troféus eram sempre feitas com a presença da diretoria da ABI.Hoje, aqui, faço um prolongamento da homenagem diante dosmembros do Conselho”, destacou.

CRIAÇÃO GRÁFICACATEGORIA REVISTAAdriano Sambugaro, Josi Campos, CarloGiovani, Fabiano Silva e Rodrigo Ratier, como trabalho Quando o Máquina dá Pau,publicado na revista Superinteressante.

PRIMEIRA PÁGINAAlexandre Freeland, André Hippertt, BrenoGirafa, Ana Miguez e Luisa Bousada, como trabalho Cientistas Brasileiros FazemAlerta: Mais Terremotos Vêm Aí, publicadono jornal O Dia.

INTERIORIara Lemos, com o trabalho No Coração doHaiti, publicado no Diário de Santa Maria.

REGIONAL 1Silvia Bessa e Marcionila Teixeira, com otrabalho Hanseníase, publicado no Diáriode Pernambuco.

REGIONAL 2Alana Rizzo, Thiago Herdy, Maria ClaraPrates e Equipe, com o trabalho Sangriana Saúde, publicado no Estado de Minas.

REGIONAL 3Mauro Ventura, com o trabalho Tribunaldo Tráfico, publicado no jornal O Globo.

MELHOR CONTRIBUIÇÃOÀ IMPRENSA EM 2008A Comissão de Seleção decidiu outorgaro diploma de Melhor Contribuição àImprensa em 2008 ao projeto Diário emBraille, do Diário de Pernambuco, peloextraordinário alcance social da iniciativa, aopermitir que milhares de deficientes visuaisde Pernambuco passassem a dispor dasmesmas informações impressas diáriasoferecidas a todos os demais leitores.

Portilho trazdiploma à ABI

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Na década de 1930, quando aindaera um garoto, Luiz Antônio Villas-Bôas Corrêa gostava de ir ao teatro.Sempre na companhia do avó, o fiscaltributário Luiz de Castro, o menino sedeslumbrava com as performances deProcópio Ferreira e Conchita de Moraise com as produções de Walter Pinto, orenovador do teatro de revista. Apesarde garantir que nunca pensou em umacarreira nos palcos, aqueles tempostiveram influência decisiva sobre suavida e obra. Com 85 anos de idade e 60de carreira, o mais antigo analista depolítica no Brasil usa o teatro comometáfora da própria política:

– A política hoje é uma encenação.Não há mais discussões de idéias. Assessões no Congresso são mais argu-mentações de assuntos banais, de au-mentos de salário do funcionalismo acompra de material de escritório – diz.

Nesse mundo de espetáculo, Villas-Bôas Corrêa rejeita ser ator, mas é umde seus mais preparados e sensatoscríticos. Sua análise sem papas na lín-gua tornou-se uma marca e sinônimoda profissão. Se hoje existe jornalismopolítico no Brasil, em grande parte aculpa é dele. De Getúlio a Lula, passan-do pelas renúncias, golpe, censura,abertura política e os mais diversosescândalos: ele acompanhou tudo. E foidecisivo na criação do modelo que setornaria padrão até hoje na coberturapolítica: acompanhamento do Con-gresso, das comissões, da tribuna e dosoutros poderes. In loco, pois, como elemesmo costuma dizer, se política nãose faz só em gabinete, jornalismo po-lítico, muito menos. Gerações de po-líticos aprenderam a admirar seu tra-balho e ler seus textos. No papel, elenão interpreta, é direto. Talvez, porisso, não quis ser ator. Preferiu se tor-nar comandante, timoneiro da crôni-ca política brasileira.

No dia 9 de dezembro, Villas-Bôas Cor-rêa foi homenageado pelos 60 anos decarreira em cerimônia especial realizadana Sala Belisário de Souza, no 7º andardo edifício-sede da ABI. Amigos, colegasde trabalho, admiradores e parentes es-tiveram presentes. Entre eles, TeixeiraHeizer, que no princípio do ano sugeriuà Diretoria a realização da homenagem,Herval Faria, Antônio Carlos de Carva-lho, Paulo Stein, Geraldo Pedrosa, RaulQuadros, o fotógrafo Evandro Teixeira,

O DECANO DO NOSSOJORNALISMO POLÍTICO

Ao completar 60 anos de carreira, Villas-Bôas Corrêa, o maisimportante cronista político do País, recebe homenagem na ABI.

POR CLÁUDIA SOUZA E MARCOS STEFANO

COMEMORAÇÃO

o cartunista Chico Caruso, Diretores eConselheiros da ABI – como Milton Co-elho da Graça, Pery Cota, Jesus Chediak,Paulo Jerônimo e Orpheu Santos Salles– a mulher Regina, os filhos Marcos eMarcelo Sá Corrêa e a neta Joana.

O Presidente da ABI, Maurício Azêdo,abriu a solenidade convocando os mem-bros da mesa, formada pelo acadêmicoe jornalista Murilo Melo Filho, o Sena-dor Bernardo Cabral – sócios da Casa –,o jornalista Teixeira Heizer e o acadê-mico e Embaixador Afonso Arinos deMelo Franco. Todos puderam assistir aodocumentário da TV Uerj Memória daImprensa Carioca, que, nas palavras deMaurício Azêdo, “constitui não apenasa descrição da trajetória individual deVillas-Bôas Corrêa, mas também a fixa-ção de momentos importantes da His-tória do jornalismo do Rio de Janeiro e,por conseqüência, do Brasil e da vida pú-blica nacional”.

– A ABI abre hoje suas portas parahomenagear um dos maiores nomes dojornalismo brasileiro, que no dia 27 deoutubro completou 60 anos de carrei-ra. Esta data é sobremodo importantepara a imprensa, pois aplaude a carreirade um homem que continua esbanjan-do saúde, dignidade e empenho noexercício de sua formação. Em 1948,em A Notícia, ele teve seu batismo defogo no jornalismo, que durou doisminutos, ao fim dos quais o foca jáestava redigindo uma nota de poucaslinhas, que, no dia seguinte, viu comsurpresa ser estampada na primeirapágina. Amigos e colegas há 60 anos,somos nós dois os remanescentes dosanos dourados da política, um tempoem que se estabeleceu o modelo polí-tico forjado por grandes nomes comoHeráclio Assis de Sales, Pompeu deSouza, Otacílio Lopes, Osvaldo Costae outras dezenas de heróis do nossojornalismo.– disse o jornalista e acadê-mico Murilo Melo Filho, resgatando atrajetória do veterano cronista.

Depois de A Notícia, Villas-Bôas ain-da passou pelo Diário de Notícias, Rá-dio Nacional, Rede Manchete de Tele-visão, O Estado de S. Paulo, como Che-fe da seção política no Rio e depoiscomo Diretor da própria sucursal ca-rioca, O Dia, e Jornal do Brasil, veículoem que escreve até hoje. Quando seaposentou, em 1978, tentou parar.Queria viver no campo, criar galinhas.

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“Conheci Villas Bôas Corrêa, em 1962 ou 1963, quando ele já ocupava lugar derelevo no jornalismo político do Rio de Janeiro e do Brasil. Fazia cobertura para arespeitada seção política de O Estado de S.Paulo e do jornal A Notícia, quecompunha o Grupo O Dia, então de propriedade de Chagas Freitas. Villas já erarespeitado como grande repórter e excelente comentarista político, gozando degrande conceito entre figuras da vida pública brasileira, nas turbulentas décadasde 60 e 70, quando mais convivemos. Com ele participei, não só do Jornal deVanguarda, como do Alta Política – ambos criados por Fernando Barbosa Lima –quando fizemos algumas entrevistas que tiveram grande repercussão. Villassempre procurava quem tinha importância e informação para dar. Raramente o vifazendo anotações; tinha uma memória prodigiosa. Guardava tudo o quechegava ao seu conhecimento e escrevia rapidamente à maquina para contar oque sabia. Creio que ninguém mais no jornalismo brasileiro merece tanto essahomenagem que lhe presta a Associação Brasileira de Imprensa”TARCÍSIO HOLANDA, CONSELHEIRO DA ABI

“Poucos jornalistas continuam jornalistas como Villas-Bôas. No meio docaminho, ou até no começo, quantos companheiros nossos saltaram de banda,uns para carreiras políticas, outros se tornando publicitários, empresários,diletantes e até chatos. O Villas segue na trilha luminosa mas estreita onde sedestacaram Barbosa Lima Sobrinho, Carlos Castello Branco, Joel Silveira eoutros. O único desvio permitido ao Villas seria um simples complemento detantas décadas dedicadas à arte de informar, sua candidatura à AcademiaBrasileira de Letras, pela qual todos torcemos.”CARLOS CHAGAS, JORNALISTA

“Um extraordinário jornalista, exemplo de independência, coragem, isenção egrande lucidez, atributos com os quais tem brindado seus leitores ao longo dessasdécadas. Mas não só com isso, senão também com um texto absolutamentepróprio, de estilo inconfundível e saboroso, a aliar inegáveis e evidentes qualidadesliterárias ao talento do extraordinário profissional de imprensa que ele é.” FERNANDO FOCH, DESEMBARGADOR E CONSELHEIRO DA ABI

“Mais que um jornalista, Villas-Bôas Corrêa é um missionário do jornalismo queiniciou a carreira ainda na primeira metade do século passado. Não é precisoconcordar com tudo o que ele escreve para reconhecer que sua competência otorna respeitado e confere grande peso a suas opiniões. Ele é um patrimôniodo País, um arquivo vivo dos últimos 60 anos de história da política e dospolíticos do Brasil.”LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPÚBLICA

“É um mestre pelo exemplo de retidão, de caráter e de dedicação ao jornalismo.Ao lado de Carlos Castelo Branco e Tobias Monteiro, criador do jornalismo deanálise, onde o texto está servido por grande cultura,conhecimento da História e visão do Estado.”JOSÉ SARNEY, SENADOR

“Minha relação com o JB começou naadolescência, quando lia Villas-Bôas eCastelinho. O destino levouCastelinho, mas Villas continuaa nos premiar com sua lucideze seu texto saboroso.”SÉRGIO CABRAL FILHO,GOVERNADOR DO RIO DE JANEIRO

“O Villas é dono de umtexto primoroso, deleitura extremamenteagradável, concordemosou não com suasopiniões. Quepossamos continuara desfrutar de seutalento jornalísticopor muito tempo.”FRANKLIN MARTINS,MINISTRO-CHEFE DASECRETARIA DECOMUNICAÇÃO SOCIAL DAPRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

“Um seguidor da trilhaluminosa mas estreita”

Não conseguiu ficar longe da políticapor mais de seis meses.

Quixote, um presenteNa solenidade, o decano do jornalis-

mo político foi presenteado com umaescultura de ferro de Dom Quixote deLa Mancha, entregue pelo Editor-che-fe da revista Justiça e Cidadania, Or-pheu Santos Salles, que declarou: –Villas-Bôas é o digno representante dopensamento do velho Cervantes, porsua dignidade, postura, caráter e tudoo que representa para nós.

Surpreso e feliz, Villas esbanjou bomhumor ao receber a estatueta: – DomQuixote eu não tenho, mas uma Dul-cinéia eu conquistei há 62 anos, né? –brincou, referindo-se à mulher Regina.

Dirigindo-se aos membros da mesae à platéia, o analista político agrade-ceu a solenidade: – Sou muito grato aoMaurício Azêdo, para mim o melhorPresidente de toda a História da ABI.Em relação a mim, asseguro que oMurilo exagerou nos elogios, mas elo-gio não faz mal a ninguém.

No discurso, lembrou ainda momen-tos significativos de sua carreira, comoo período em que trabalhou como as-sessor do Ministro das Relações Exte-riores, Magalhães Pinto:

– Foi em 1968, no Governo do Ge-

neral Arthur da Costa e Silva. Quan-do surgiu a notícia sobre o AI-5, o Ma-galhães Pinto consultou 32 pessoas desua confiança sobre a questão e eu fuio último a ser ouvido. “Se o senhor temmesmo dúvida sobre este assunto, nãodeveria me consultar, pois sabe a mi-nha opinião”, disparei.

Ao final, Villas-Bôas assegurou quepretende prosseguir firme com seu tra-balho na imprensa e se disse realizadocom a festa: – Este é o tipo de home-nagem de que a gente gosta. A como-ção veio rápido desta vez, porque podeser a última – concluiu, emocionado.

O comentário foi imediatamentecontestado em uníssono pela platéia,que o aplaudiu de pé.

Quem herda o quê?Para Maurício Azêdo, a cerimônia re-

flete o reconhecimento da trajetória deVillas-Bôas e sua relevância para a im-prensa brasileira: – Ele é um companhei-ro admirado por todos e um exemplo decompetência, dignidade e humildade noexercício do jornalismo político.

O acadêmico Afonso Arinos de Me-llo Franco enfatizou a experiência doanalista como um modelo do que vema ser a política nacional: – Somos ami-gos desde os velhos tempos em que elecomeçou no jornalismo. Ainda hojecontinuo aprendendo com ele.

Teixeira Heizer escolheu o rigor éticocomo uma das características mais mar-cantes de Villas-Bôas Corrêa: – Traba-lhei com ele durante 20 anos no Esta-dão e somos amigos há 30. Não me lem-bro de um só deslize durante toda a suacarreira.

Como eles, outros lembraram histó-rias e saudaram o veterano jornalista, co-mo um modelo a ser seguido, como tam-bém foram feras como Barbosa Lima So-brinho, Carlos Castelo Branco, TobiasMonteiro e Joel Silveira. Marcos Sá Cor-rêa, filho mais velho de Villas-Bôas etambém jornalista, falou da influênciado pai em sua escolha profissional:

– O filho do industrial herda a indús-tria; o filho do médico herda o consul-tório; e o filho do jornalista herda oexemplo. Sou jornalista porque crescina casa de Villas-Bôas Corrêa.

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LAND

O B

RITO

/CPD

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JB

Villas-Bôas na redação do Jornal do Brasil em 1988 e na primeira página do JB de 9 dedezembro deste ano, quando foi publicada a notícia da homenagem realizada na ABI.

LUÍS BITENCO

URT/CPD

OC JB

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40 Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Uma campanha para darum novo fôlego ao mereci-do destaque da cidade doRio no cenário internacio-nal. Foi com essa propostaque o publicitário NizanGuanaes lançou, no dia 8 dedezembro, no Forte de Co-pacabana, a campanha RioPatrimônio Cultural da Hu-manidade. O objetivo é ob-ter junto à Unesco (Organi-zação das Nações Unidaspara a Educação, a Ciênciae a Cultura) o reconheci-mento desse status para a‘Cidade Maravilhosa’.

A ABI teve a honra de sera primeira instituição a as-sinar o Livro de Ouro dacampanha, na figura de seuPresidente, Maurício Azêdo, logo apóso próprio idealizador Nizan e o empre-sário Olavo Monteiro de Carvalho, Pre-sidente da Associação Comercial do Riode Janeiro, co-patrocinadora do movi-mento. Também participaram do lan-çamento o Governador do Rio, SérgioCabral; o Prefeito eleito da cidade,Eduardo Paes; o Deputado FernandoGabeira (PV); o Presidente do ComitêOlímpico Brasileiro, Carlos ArthurNuzman; o Presidente da Federação dasIndústrias do Estado do RJ-Firjan,Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira e o re-presentante da Unesco, Vincent De-fourny, entre outras personalidades.

– O Rio já nasceu belo. A cidade hojetem outra cara. É a luta do bom con-tra o bem. A luta do bem contra o malestá ficando para trás e tenho certeza deque na administração do Prefeito Eduar-do Paes essa etapa de transição será ain-

Nizan quer o Rio como Patrimônio da HumanidadeCampanha lançada com o apoio de diversas instituições busca reconhecimento do título pela Unesco

to de Santo Antônio, e doneoclássico de tantos prédi-os históricos. O Rio tem amelhor música do mundo,a melhor festa e o melhorpovo. Sei que tudo será di-fícil, mas estou otimistacom a possibilidade de nos-sa vitória”, afirmou.

O representante da Unes-co também mostrou confi-ança no projeto. “Vejo commuito bons olhos essa fes-ta de lançamento e creioque terá um final feliz. Esteé apenas o primeiro passode outros que serão difíceise complicados. Mas o pro-jeto é sólido, tem bons par-ceiros, e a cidade tem o re-conhecimento internacio-

nal. Não há quem diga que o Rio não élindo. Mas acho que a responsabilida-de é de todos e principalmente do povocarioca. Muitas fases serão ultrapassa-das, mas estou confiante e contentecom tudo o que vi, como a força de von-tade de todas as entidades e pessoas en-volvidas”, disse Vincent Defourny.

Também presente, o Presidente doInstituto do Patrimônio Histórico e Ar-tístico Nacional-Iphan, Luis Fernandode Almeida, destacou a proximidade docarioca com a natureza e de como ela seintegra no panorama físico-cultural dacidade. “Caso o Rio seja declarado Patri-mônio Cultural da Humanidade, nãoserá nenhuma novidade para nós brasi-leiros, que já temos 17 cidades nesta lis-ta. Mas o que deve ser destacado é queela estar de fora é uma injustiça. Não háespaço neste planeta mais fantástico emais criativo”, elogiou.

da mais acentuada. Esta cidade é incrí-vel. Tem o Aterro do Flamengo, o Pãode Açúcar, o Corcovado, o bucolismo deSanta Teresa, o frenesi da Lapa. É o me-lhor encontro do mundo entre a natu-reza dada por Deus e a mão do homem,tornando essa beleza ainda mais envol-vente. Precisamos agora do carioca nasruas, participando com garra e vonta-de, porque o Rio já nasceu grande, pensagrande e os desafios são os grandes res-ponsáveis pelo progresso da humanida-de – declarou Nizan, estusiasmado.

O lançamento da campanha ocorreusimultaneamente ao Rio Summer, quetambém se realizou nas instalações doForte de Copacabana e pretende fazerda cidade um pólo mundial de confec-ção e moda de praia. O empresário Ola-vo Monteiro de Carvalho, Presidente daAssociação Comercial, ressaltou o po-tencial do Município para eventos desse

porte. “O Rio de Janeiro tem tudo e maisalguma coisa para se ganhar dinheirocom ele. Possui uma tendência fabulo-sa para o turismo e certamente vai ga-nhar mais esse desafio, pois nasceuaprendendo a vencer desafios”, apostou.

O Governador Sérgio Cabral exaltoua realização do Rio Summer e a visãopioneira do Coronel Édson Silva de Oli-veira, responsável pelo Forte, de apro-ximá-lo da comunidade do Rio. “Achoque há alguns anos isto seria impossí-vel. Tanto os organizadores do Rio Sum-mer como o Comandante deste Fortemerecem todo o nosso apoio. E vamostrabalhar para elevar a cidade a Patrimô-nio Cultural da Humanidade. Eu costu-mo dizer que São Paulo é hardware e oRio é software. Nossa cidade é a melhorrepresentação mundial do encontro daarquitetura colonial e moderna, do en-contro do barroco, expresso no Conven-

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Lançamento da campanha Rio Patrimônio Cultural da Humanidade teve o apoio de diversas autoridades.

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LANÇAMENTO

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41Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

LivrosLivros

Durante quase cinco décadas, entre1952 e 2000, a revista Manchete se tor-nou um dos principais semanários doBrasil. Misturando informação commuitas fotos, notícias com variedades,era o que se chamava de “revista ilus-trada”. O sucesso que alcançou foi tre-mendo. Em poucos anos, tornou-seuma das principais publi-cações brasileiras e permi-tiu a criação de um dosmais importantes conglo-merados de mídia do País,com o surgimento da RedeManchete de Televisão edas emissoras de rádio AMe FM. Como se dizia nãomuito tempo atrás: “acon-teceu, virou Manchete”, slo-gan da revista e de emissorade televisão.

Entrar nessa história é contar umdos principais capítulos do jornalismonacional no século passado. E é isso quefazem vários profissionais renomadosque passaram pela revista ou tiveramcontato com seu fundador, AdolphoBloch, em Aconteceu na Manchete (Edi-tora Desiderata, 448 páginas). Reche-ada de fotos históricas, a publicaçãoreúne textos que falam sobre os basti-dores da revista, o making of das maté-rias e muitos casos marcantes, conta-dos com boa pitada de humor, por jor-nalistas como Carlos Heitor Cony e osorganizadores do livro, Esmeraldo Gon-çalves e J. A. Barros.

Como diz João Máximo no prefácio,Aconteceu na Manchete resgata “histó-rias curiosas por trás dos fatos que aspáginas das revistas estampavam erelatos dos bastidores de grandes cober-turas. Uma ampla visão interna domodo de se fazer revistas que marca-ram a história do jornalismo no País”.

Lançada em 1952, com inspiração nafrancesa Paris Match, a Manchete deixouem seus arquivos um dos mais impor-tantes documentos iconográficos dosúltimos 50 anos do século passado, aoregistrar os principais acontecimentosno Brasil e no mundo. O arquiteto Os-car Niemeyer, idealizador do edifício-sede da Bloch Editores, destaca no pri-meiro capítulo a importância de seufundador para o jornalismo brasileiro:– Meu contato mais longo com AdolphoBloch foi durante a construção do pré-dio da Manchete, cujo projeto me con-fiou. Durante anos usufruí os encontrosdiários com aquele bom amigo. Bloch

Aconteceu, virou Manchete.E agora, livro

POR CLÁUDIA SOUZA

era, na verdade, pessoa generosa, sim-ples, muito diferente do que sua aparên-cia nas reuniões da grã-finagem pode-ria sugerir. Ah, velho Bloch, como lem-bro com satisfação o tempo em quenosso amigo Marcos ia todo mês à suatipografia receber a ajuda para o PCB,que a solidariedade política justificava.

No capítulo seguinte, o cirurgiãoplástico Ivo Pitanguy descreve seu re-lacionamento com o empresário e a re-levância da publicação: – Minha amiza-de com Adolpho e a Manchete veio pormeio de Justino Martins, que conheciem Paris, ainda nos anos 50, quandofazia a pós-graduação em um hospitalem Nanterre. Ele era mais velho do queeu, mas nos tornamos muito próximos,e a amizade continuou quando voltei aoBrasil. A Manchete, em seu tempo, nãoficou nada a dever às melhores revistasinternacionais. Ela representou e ain-da representa um momento importan-te da história de nosso País, momentode muita qualidade, que ela acompa-nhou e estimulou.

José Esmeraldo Gonçalves e J.A. Bar-ros, os organizadores do livro, contam

que a Manchete chegou às bancas em26 de abril de 1952, na semana em quese comemorava o dia de São Jorge, e quea publicação precisava realmente “dalança e do escudo do santo guerreiropara enfrentar O Cruzeiro, dragão epotência do jornalismo da época, queentão rodava 400 mil exemplares”.

O primeiro número da revista trou-xe 40 páginas, quatro anúncios e tira-gem que não ultrapassava 30 mil exem-plares distribuídos no Rio e em São Pau-lo. Contudo, ao longo de quase meio sé-culo, a publicação se tornou uma dasmais importantes do Brasil e viabilizoua expansão da empresa, que figurouentre as maiores do setor da comuni-cação, com a criação de emissoras derádio e tv. Após 2.519 edições, o últi-mo exemplar da Manchete chegou àsbancas em 29 de julho de 2000.

O projeto editorial do livro inclui no-tas nas laterais das páginas, com brevescomentários sobre algumas das maisnotórias matérias que retrataram, entreoutros episódios, a construção e a inau-guração de Brasília, o exílio do PresidenteJoão Goulart, o assassinato de John Len-

non e a queda do Muro de Berlim.No capítulo Por dentro da Redação,

Carlos Heitor Cony recorda os momen-tos de alegria e drama ao longo dos 30anos de atuação na revista: –Foi na Man-chete que fiz e conservei alguns dos ami-gos mais queridos. Por ocasião da falên-cia do grupo, eu dava apenas uma assis-tência não mais às revistas, mas à Di-retoria. Sofri com Adolpho o trauma dastentativas de venda da tv a outros gru-pos, convidei gente de fora para dirigira revista principal, mas os grandes no-mes que contatei recusavam convitequando tomavam conhecimento das di-ficuldades que a empresa atravessava.

Os célebres colaboradores da Man-chete são lembrados pelo jornalista JoséRodolpho Câmara no capítulo A jane-la do Russel, com destaque para CarlosDrummond de Andrade, Rubem Braga,Orígenes Lessa, Otto Maria Carpeaux,Antônio Callado, Paulo Mendes Cam-pos e Fernando Sabino.

Lincoln Martins encerra o livro comA edição que ninguém leu, discorrendo so-bre os últimos dias da revista, quase umadécada após o fim da Bloch Editores.

Os bastidores das reportagens e do trabalho em uma das maisimportantes revistas brasileiras relatados por quem trabalhou lá.

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Adolpho Bloch ergueu um império de comunicação a partir da Manchete, revista semanal ilustrada que ele fundou em 1952.

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42 Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

Jovem Pan, a vanguarda do rádioLivro de Tuta Machado de Carvalho conta a trajetória da emissora e

fala sobre os meios de comunicação nos últimos 60 anos no Brasil.

Jovem Pan se tornou nas últimas décadas sinôni-mo de rádio no Brasil. Ou melhor: de inovações, tec-nologia e uma programação sempre cheia de novida-des, que agrada, em especial, ao público jovem. Ain-da na década de 1940, foi uma das primeiras a voltarseu conteúdo para os esportes. Tempos depois, sou-be como poucas aliar os recursos proporcionados poruma grande emissora de televisão, para virar uma re-ferência em música. Nos anos 70, já era uma das pou-cas emissoras em São Paulo com amplo jornalismo eprestação de serviços. Hoje, com 53 emissoras afilia-das, comemora o sucesso de outro projeto em que tam-bém foi uma das pioneiras: a tecnologia digital, comtransmissão via satélite, iniciada ainda nos anos 90.

Essa história de invenções e rein-venções que celebraram os micro-fones da Pan é contada em Jovem Pan– 7 Capítulos e Uma Grande Histó-ria (Editora Jovem Pan), obra pro-duzida por seu Diretor-Presidente,o jornalista e empresário AntonioAugusto Amaral Carvalho, o Tuta.

Com riqueza de detalhes e belís-simo acabamento editorial e gráfico, o livro não seresume apenas á História da emissora. De certa for-ma, trata também da comunicação brasileira nosúltimos 60 anos, ao publicar fotos do arquivo pessoalde Tuta e depoimentos de personalidades do rádio eda TV, como Fausto Silva, Jô Soares, Silvio Luiz, HebeCamargo e Manoel Carlos. Retrata, ainda, os shows,as transmissões esportivas, as campanhas de utilidadepública, os grandes momentos da Rádio Jovem Pan,

da TV Record e da Jovem Pan Online.Na apresentação do livro, Tuta Car-

valho diz que quando o assunto é rá-dio e televisão ele é tomado pelo dese-jo de começar tudo de novo:

– Desde muito jovem, esse negócio to-mou conta de mim, graças ao meu pai, Pau-lo Machado de Carvalho, e nunca mais medeixou, e muito menos eu a ele. Assim, tive a opor-tunidade de conviver com gente pioneira, de quila-te moral e intelectual de fazer inveja a qualquer con-corrente. Gente dedicada, movida pelo amor, pelavontade de realizar. Por tudo isso, resolvi editar esselivro e oferecer um pouco da nossa História à Histó-

ria das comunicações no Brasil.Inaugurada em 3 de maio de 1944,

como Rádio Pan-Americana S.A, nasede da Rua São Bento, 279, Centro deSão Paulo, a emissora usava como pre-fixo as primeiras notas da Quinta Sin-fonia de Beethoven, que, no CódigoMorse, representavam o “v”, da vitó-ria. Em novembro daquele mesmo ano,

mudou de mãos: foi comprada por Paulo Machadode Carvalho e passou a integrar o Grupo de Emisso-ras Unidas.

Em 1945, depois de ter se notabilizado pela trans-missão de novelas, a Pan-americana foi transforma-da na “emissora dos esportes”, com o projeto do novoDiretor-Geral Paulo Machado de Carvalho Filho. Em1952, Paulinho – como era chamado – foi para a Rá-dio Record e deixou no cargo Tuta Carvalho, então

com 21 anos. Em 1953, Tuta deixou a Pan-America-na para se dedicar à programação da TV Record, masno início dos anos 60 voltou à rádio e passou a acu-mular a direção das duas emissoras.

O nome Jovem Pan surgiu em 1965, por sugestãode Paulo Machado de Carvalho, e foi seguido de umagrande transformação na programação, sob a super-visão de Tuta: ganhou programas com ídolos da MPBe os jornalísticos Equipe Sete e Trinta, Jornal Integra-ção Nacional e Jornal da Manhã.

O cantor Agnaldo Rayol foi um dos artistas con-tratados para integrar a equipe dos primeiros humo-rísticos da Jovem Pan:

– Fui para a TV Record em 65, para fazer um pro-grama humorístico-musical, ao lado do grande Re-nato Corte Real, o Corte-Rayol Show, um dos maio-res sucessos na época. Foi então que conheci o que-rido amigo Tuta e toda a família Machado de Carva-lho. A Jovem Pan, dirigida pelo Tuta, já era tambémum grande sucesso e ele teve a idéia de levar para láos artistas que atuavam na emissora de televisão. Erasempre assim. Com boas idéias, a empresa estava navanguarda do rádio no Brasil.

É uma seleção para ninguém botar defeito: Zizi-nho, Domingos da Guia, Dequinha, Evaristo, Dida,Leônidas, Rubens, Zico, Júnior e Leandro. Todos essescraques, que fizeram a história do clube mais popu-lar do Brasil, ressurgem em Os Dez Mais do Flamen-go, livro lançado pelo jornalista Roberto Sander nodia 17 de novembro, no Salão de Troféus do Flamengo,em sua sede, no bairro carioca do Leblon.

Sander informou que a escolha dos jogadores des-tacados no livro foi feita por meio de enquete com osjornalistas Fernando Calazans, Ruy Castro, RobertoAssaf, Luiz Mendes, Marcos Eduardo Neves, SérgioNoronha, Luiz Fernando Vassalo, Renato MaurícioPrado e Antônio Maria Filho. Com 184 páginas e de-zenas de fotos e caricaturas, o livro ilustra, através dashistórias desses jogadores, toda a trajetória de glóriasque, diz o autor, “levaram o Flamengo a se transfor-mar num fenômeno imbatível de popularidade”. Umadas histórias interessantes do livro, destaca Sander, éa que se refere à quase ida do ídolo Zico para o rivalVasco da Gama. Diz ele que o Galinho estava dispos-to a aceitar a proposta, mas foi demovido da idéia pelopai, seu Antunes, e o então dirigente George Helal.

A obra inaugura a Coleção Ídolos Imortais, de suaMaquinária Editora, com a qual pretende resgatar a

história dos maiores jogadores dos grandes clubes dofutebol brasileiro. Botafogo, Fluminense e Vasco se-rão os próximos clubes do Rio contemplados pela co-leção. Também terão seus livros os paulistas Corinthi-ans, Santos, Palmeiras e São Paulo; os gaúchos Grêmioe Internacional; e os mineiros Cruzeiro e Atlético.

Roberto Sander conta que a idéia delançar a coleção surgiu este ano, após umjogo amistoso entre a Seleção Brasilei-ra e a Seleção da Suécia, que comemo-rava o cinqüentenário da Copa de 1958:

– Chamaram minha atenção os co-mentários veiculados na mídia sobre atotal desinformação dos atuais jogado-res da nossa Seleção Brasileira sobre osatletas de 1958. Então, resolvi escreversobre os dez maiores ídolos do passadode cada grande clube. Na minha opinião,caberia às agremiações de futebol essaresponsabilidade de passar para os seusatletas, desde as formações de base, um pouco da suahistória, para que essa memória não seja esquecida.

Sander acrescenta que a Coleção Ídolos Imortais foiidealizada como fonte de pesquisa para quem tem in-teresse por futebol: – Trata-se de um material que foicriado para resgatar a história de jogadores que fo-ram os verdadeiros responsáveis pela relação de pai-

xão dos torcedores pelos clubes, iniciada no séculoXX. Foram Leônidas da Silva, Domingos da Guia,Zizinho e Evaristo que ajudaram a fazer do Flamen-go o clube da massa, quando ele abriu suas portas paraos atletas negros na década de 30. O mais importan-te é contribuir para que as novas gerações conheçam

as histórias desses fenômenos do nossofutebol. É uma satisfação muito grandesaber que os mais jovens vão conhecermelhor cada um desses craques, de suasligações com o futebol ao contexto so-cial em que se desenvolveram. Esse é oencantamento.

– A idéia é também mostrar os joga-dores como patrimônios e ídolos de to-das torcidas: – Zizinho e Domingos, as-sim como Rivelino, Pelé, Tostão e Tesou-rinha, são o grande tesouro do futebolbrasileiro. Eles fazem com que eu me sin-ta um arqueólogo resgatando o passado.

Além do livro que conta a história dos mais ad-mirados jogadores que fizeram a alegria da NaçãoRubro-Negra, já foi lançado também Os Dez Maisdo Corinthians, escrito pelo jornalista Celso Unzel-te, da ESPN, em noite de autógrafos realizada noMuseu do Futebol do Estádio do Pacaembu, em de-zembro, em São Paulo.

POR JOSÉ REINALDO MARQUES

Editora do jornalista Roberto Sander aponta os ídolos dos grandes clubes, começando com o Mengo e o Timão.

Os dez mais das glórias do Flamengo

LivrosLivros

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43Jornal da ABI 335 Novembro de 2008

VidasVidas

Filho do jornalista e escritorMacedo Miranda (José CarlosMacedo Miranda, seu nomecivil), Carlos Alfredo deMacedo Miranda teve umainiciação precoce nojornalismo: com apenas 19anos, em 1969, trabalhou comorepórter especial do Jornal doBrasil, que era então um celeirode destacados profissionais.

A precocidade tinha origeme motivação no espaço familiar:além de romancista, contista epoeta, o pai tinha sólidaformação cultural, cultivadadesde que se formou emDireito e exerceu o cargo depromotor público, até sededicar inteiramente aojornalismo e à literatura. Talcomo Carlos Alfredo, MacedoMiranda, nascido em 1920 emorto prematuramente em1974, revelara-se um talento

Jorge Nogueira, que ingres-sou na ABI em 2004 por pro-posta do Presidente da Casa,Maurício Azêdo, iniciou car-reira no Jornal dos Sports, quan-do o diário vivia sua época áu-rea, tendo à frente Mário Filho.Jorge dizia que a redação “eraum verdadeiro Butantã, só ti-nha cobras” e considerava o co-lunista Luís Bayer seu maiormestre.

Ao longo de 50 anos de car-reira, Jorge passou tambémpelos jornais Tribuna da Im-prensa, Diário de Notícias, Cor-reio da Manhã, O Jornal, O Flu-minense, O Dia e O Globo e arevista O Cruzeiro, atuandoem diversas editorias e fun-ções. Mas seu maior legado, dizia, era o Jornal dosClubes, “o maior porta-voz dos clubes do País”,como se orgulhava em ressaltar.

O filho Marcelo Nogueira também destaca a im-portância do veículo e do trabalho do pai na defesados interesses das agremiações:

— Nos seus 25 anos de existência, o jornal lu-tou pelos direitos dos clubes, que enfrentam gran-des problemas, principalmente com as Prefeituras.O César Maia, antes de tomar posse como Prefei-to do Rio, se comprometeu a implantar a isençãodo IPTU para os clubes, uma luta do meu pai, masdeu pra trás. As Prefeituras só enxergam as obri-gações das agremiações, o quanto elas têm quepagar, mas não os seus direitos. E meu pai semprelutou muito por isso.

Jorge Nogueira, o defensor dos clubesO jornalismo e os clubes sociais do Estado do Rio de Janeiro perderam em

22 de novembro um grande profissional, de que ficou privada a imprensa, e umincansável defensor: Jorge Nogueira, que não resistiu a uma tumoração hepática.

O jornalista Wilson de Car-valho, colaborador do Jornaldos Clubes, exaltou o esforçodo colega para manter um ve-ículo alternativo por mais deduas décadas:

— Foi um dos poucos que so-breviveu, graças ao idealismo, àliderança e ao prestígio de Jorge.Agora, estamos conclamando osclubes e os parceiros para deci-dir se o jornal vai continuar.

Jorge Nogueira também teveimportante passagem pelo rá-dio, atuando como locutor co-mercial e narrador de notíciasna Mayrink Veiga e na Nacio-nal, onde há 13 anos lançou oPrograma Jornal dos Clubes, quedizia ser “o único programa ra-

diofônico sem ‘jabá’, inteiramente transparente, eque divulga o artista que tem talento”. O progra-ma é sucesso absoluto na Band-AM.

Além de jornalista, Jorge foi relações-públicas dediversos clubes e chefe de cerimonial, com desta-que para a entrega do Troféu Master, concedido apessoas de diversos segmentos da sociedade, dasartes à política:

— Parece que ele esperou a realização do prêmiodeste ano, que ocorreu na sexta-feira, dia 21, paramorrer no sábado. Foi um bravo guerreiro, um exem-plo de competência, honestidade e seriedade, queera o lema do seu jornal e que regia sua vida — dizWilson Carvalho.

Jorge Nogueira deixou esposa, Alba Maria, e trêsfilhos: Patrícia, Marcelo e Jorge Luiz.

José-Itamar de Freitas, e a doGlobo Repórter. Juntamentecom Aloísio Legey, craque naprodução de espetáculos, e deMaurício Tavares, participouda equipe de direção doprimeiro Rock in Rio, em 1985.

Com a cancha adquirida,Macedinho criou a sua própriaprodutora, a Arte & Fato, querealizou diversas campanhaspolíticas e introduziu inovaçõesem diversos programas detelevisão, Há dois anos ele eraDiretor-Executivo do Núcleo deDramaturgia da Rede Record,que saíra à caça de profissionaisexperimentados para aumentarseus níveis de audiência.

Ele faleceu em casa, emCopacabana, aos 58 anos, decâncer. Seu corpo foi cremadono dia 30 de novembro. Ele erasócio da ABI desde 29 desetembro de 1981.

A exemplo do que acontece em outros países olivro-reportagem faz cada vez mais sucesso no mer-cado editorial brasileiro. Com pouco tempo e espaçolimitado em jornais e até mesmo em revistas, paraqualquer tipo de aprofundamento ou variação for-mal da linguagem, profissionais tarimbados desco-briram no livro uma plataforma com mais recursospara trabalhar biografias e reportagens investiga-tivas – duas das modalidades mais praticadas poraqui. Porém, assim como há muitos casos de sucesso,há também fracassos retumbantes. Afinal, escreverum livro não é como preparar um texto conciso. De-marcar essas diferenças e estabelecer as fronteirasdo trabalho feito com excelência é o objetivo de Pá-ginas Ampliadas (Editora Manole, 472 páginas), deEdvaldo Pereira Lima, que já se tornou um clássicosobre o que é e como se faz um livro-reportagem.

Analisando trechos de obras escritas por autoresdo calibre de Euclides da Cunha, John Reed, TomWolfe, Gay Talese, Truman Capote e Ryszard Kapus-cinski, além de publicações como a brasileira Reali-dade e as norte-americanas New Yorker e Esquire, Pá-

ginas Ampliadas detalha a re-alização de uma grande re-portagem. Com esse expedi-ente Lima quebra o tom aca-dêmico necessário à classifi-cação das diversas categoriasde livro-reportagem – comoperfil, depoimento, ciência,ambiente, atualidade, ensaioe viagem – e oferece ao leitorum panorama histórico e pre-ciosos enfoques que sobres-saem em cada tipo de obra.

Também prepara o caminho para a parte prática:estabelecer a pauta, apurar e escrever o texto. Cadaetapa é estudada em detalhes, assim como os proce-dimentos dos mestres e seus cuidados, desde a buscapelo ângulo inusitado ao trabalho de campo, com aten-ção para aspectos normalmente desprezados na cor-reria do dia-a-dia mas que fazem toda a diferença noJornalismo bem feito, como a humanização e a des-crição detalhada de ambientes. Ainda assim, que nin-guém espere encontrar um livro que “ensine” comoescrever melhor – apesar de tantas dicas valiosas.Como bom observador, Edvaldo Pereira Lima está re-almente interessado em discutir o livro-reportagem,entender seus caminhos, propor alternativas para seufuturo e, principalmente, entendê-lo como uma ex-tensão e união do Jornalismo e da literatura.

Páginas Ampliadas foi publicado pela primeira vezem 1993, como Tese de Doutorado na Escola de Co-municações e Artes-Eca da Usp. Agora ganha sua 4ªedição, revista, ampliada e com uma importante dis-cussão sobre Jornalismo Literário. Não somente oNew Journalism, tão festejado nos EUA dos anos 1960e 1970, mas aquele que é praticado atualmente e tam-bém é conhecido como Jornalismo Narrativo ou Li-teratura da Realidade. O conteúdo é um resumo da-quilo que é apresentado no curso de pós-graduaçãoda Academia Brasileira de Jornalismo Literário, daqual Lima é um dos fundadores, e mostra que cria-tividade, profundidade e posições claras nunca sai-rão de moda para quem deseja fazer Jornalismo dequalidade, daquele que dá gosto de ler.

Macedinho, o talento precoceigualmente precoce, pois já aos25 anos publicara um livro depoesias, sob o título MarchaFúnebre, editado em 1945.Redator das revistas Manchete,Fatos & Fotos e O Cruzeiro, nãolhe foi dificil influenciar o filhopara também se dedicar aojornalismo

Macedinho, como se tornouconhecido, seja porque havia jáoutro Macedo, seja porque eleera uma pessoa afável eatenciosa no trato profissionale pessoal, logo conquistoudestaque como repórter,redator e editor de publicações.Após brilhar no JB, trabalhouem revistas da Bloch Editores eda Abril, que faziam ojornalismo periódico maisqualificado.

Atraído pela televisão,integrou a equipe de criação doFantástico, sob a liderança de

Manual da grandereportagem

Páginas Ampliadas analisa o universo dolivro-reportagem e do jornalismo literário.

POR MARCOS STEFANO

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