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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
BIOLOGIA DE AGENTES INFECCIOSOS E PARASITÁRIOS
CONDIÇÕES DE SANEAMENTO E INCIDÊNCIA DE DOENÇA DIARREICA
AGUDA EM QUATRO MUNICÍPIOS DO ARQUIPÉLAGO MARAJOARA - PARÁ
NO ANO DE 2012
AURILEIDE NORONHA QUEIROZ COUTINHO
Belém-Pará 2013
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AURILEIDE NORONHA QUEIROZ COUTINHO
CONDIÇÕES DE SANEAMENTO E INCIDÊNCIA DE DOENÇA DIARREICA
AGUDA EM QUATRO MUNICÍPIOS DO ARQUIPÉLAGO MARAJOARA - PARÁ
NO ANO DE 2012
Belém-Pará 2013
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e
Parasitários do Instituto de Ciências Biológicas da
Universidade Federal do Pará como requisito parcial
para a obtenção do grau de Mestre em Biologia de
Agentes Infecciosos e Parasitários.
Orientadora: Profª. Drª. Karla Tereza Silva Ribeiro.
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AURILEIDE NORONHA QUEIROZ COUTINHO
CONDIÇÕES DE SANEAMENTO E INCIDÊNCIA DE DOENÇA DIARREICA
AGUDA EM QUATRO MUNICÍPIOS DO ARQUIPÉLAGO MARAJOARA - PARÁ
NO ANO DE 2012
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes
Infecciosos e Parasitários do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade
Federal do Pará, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Biologia de
Agentes Infecciosos e Parasitários.
Orientadora: ____________________________________
Prof.ª Drª. Karla Tereza Silva Ribeiro
ICB/UFPA
Banca examinadora: _____________________________________
Prof. Dr. Arno Rolf Hamel
ICB/UFPA
_____________________________________
Prof.ª Drª. Antonia Benedita Rodrigues Vieira
ICB/UFPA
_____________________________________
Prof.ª Drª. Rosimar Neris Martins
ICB/UFPA
_____________________________________
Prof. Dr. Ricardo Ishak (Suplente)
ICB/UFPA
Belém, 27 de setembro de 2013
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6
Dedico este trabalho ao meu esposo e filho e aos aos meus
pais e sogros, pois sem o apoio e compreensão desses
seres maravilhosos, verdadeiros presentes de Deus em
minha vida, essa conquista não teria se concretizado.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço à Deus que me deu a existência, me possibilitou chegar até aqui e
concluir este estudo mesmo em meio a tantas dificuldades, somente Ele sabe o
quanto foi difícil e quantas vezes pensei em desistir, mas Ele com todo seu amor por
mim, semeou coragem e força em meu caminho para que eu não fraquejasse.
Obrigada Senhor por tudo.
Ao meu esposo, que cuidou de nosso filho para que eu estudasse e
concluísse a pós-graduação, sem sua dedicação a mim e à nossa família, meu
amor, eu não teria conseguido.
Agradeço aos meus pais e sogros por terem cuidado do meu filho todas as
vezes que precisei e estarem sempre dispostos a me ajudar em todos os momentos
de minha trajetória.
Agradeço à Prof.ª Dr.ª Karla Tereza Silva Ribeiro que esteve ao meu lado
nessa conquista me orientando, apoiando e assumindo os desafios ao meu lado.
Ao Prof. Dr. Arno Rolf Hamel que auxiliou grandemente na realização deste
estudo sempre com carinho e paciência.
Agradeço a todos que participaram da realização das visitas aos municípios,
realizaram a coleta de dados, analisaram as amostras de água, enfim a todos
aqueles que com sua dedicação estão tornando estes estudos possíveis.
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SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS 07
LISTA DE TABELAS E QUADROS 09
RESUMO 11
ABSTRACT 12
1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 13
1.1 ÁGUA E SAÚDE .................................................................................. 15
1.1.1 Água Potável: padrões de qualidade e legislação .......................... 17
1.1.2 Vigilância Ambiental da Água ........................................................... 18
1.2 DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA ............................................. 19
1.2.1 Classificação Ambiental das Doenças Relacionadas
com a Água ........................................................................................ 20
1.2.2 Doença Diarreica Aguda (DDA) ........................................................ 22
1.2.3 Programa de Monitoramento das Doenças Diarreicas
Agudas (MDDA) ................................................................................. 24
1.3 O SANEAMENTO E SEU IMPACTO NA SAÚDE ................................ 28
1.3.1 Saneamento no Brasil e estado do Pará.......................................... 31
1.4 OBJETIVOS......................................................................................... 38
1.4.1 Objetivo Geral .................................................................................... 38
1.4.2 Objetivos Específicos ....................................................................... 38
2 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................... 39
2.1 DESENHO DE ESTUDO ..................................................................... 39
2.2 AMOSTRAGEM E COLETA DE DADOS............................................. 39
2.3 ANÁLISE DA ÁGUA DE CONSUMO ................................................... 40
2.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA...................................................................... 40
2.5 ÁREA DE ESTUDO ............................................................................. 41
2.5.1 Anajás ................................................................................................. 42
2.5.2 Chaves ................................................................................................ 43
2.5.3 Portel .................................................................................................. 44
2.5.4 São Sebastião da Boa Vista .............................................................. 44
2.6 ASPECTOS ÉTICOS ........................................................................... 45
2.7 RISCOS E BENEFÍCIOS ..................................................................... 45
3 RESULTADOS .................................................................................... 46
9
3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS E SOCIOECONÔMICAS .................... 46
3.2 CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS DOS DOMICÍLIOS .............. 49
3.3 CONDIÇÕES SANITÁRIAS DOS DOMICÍLIOS EM ESTUDO ............ 55
3.4 DOENÇA DIARREICA AGUDA NOS MUNICÍPIOS EM ESTUDO ...... 61
4 DISCUSSÃO ....................................................................................... 70
5 CONCLUSÕES ................................................................................... 87
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 89
ANEXOS 95
10
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 1 - Proporção de domicílios com saneamento adequado,
segundo as classes de tamanho da população dos municípios - Brasil
1991/2010 (Fonte: IBGE, 2011). .......................................................................... 33
Figura 2 - Proporção de domicílios com saneamento adequado, por
classes de tamanho da população dos municípios, segundo as Grandes
Regiões - 2010 (Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2011).................................... 34
Figura 3 - Proporção de domicílios com saneamento inadequado,
segundo as Unidades da Federação 2000/2010 (Fonte: IBGE, 2011). ................ 35
Figura 4 - Mesorregião do Marajó (Fonte: Brasil, 2007). ..................................... 42
Figura 5 -Domicílio construído em terreno alagado no município de São
Sebastião da Boa Vista - Pará (Fonte: Dados deste estudo). ..............................
Figura 6 - Domicílios construídos em madeira nos municípios de São
Sebastião da Boa Vista - Pará (Fonte: Dados deste estudo). .............................. 50
Figura 7 - Domicílios construídos em madeira nos município de Anajás -
Pará (Fonte: Dados deste estudo) ................................................................... ... 50
Figura 8 - Recipiente de armazenamento da água de consumo em um
domicílio do município de São Sebastião da Boa Vista - Pará(Fonte:
Dados deste estudo). ........................................................................................... 53
Figura 9 - Local de instalação e aspecto geral do poço escavado, fonte
da água de consumo de um domicílio no município de Anajás - Pará
(Fonte: Dados deste estudo). ............................................................................... 56
Figura 10 - Recipiente de armazenamento da água de consumo em um
domicílio do município de Chaves - Pará(Fonte: Dados deste estudo). ............... 57
Figura 11 - Recipiente de armazenamento da água de consumo em um
domicílio do município de Chaves - Pará(Fonte: Dados deste estudo). ............... 57
Figura 12 - Coleta e armazenamento da água de consumo em fonte
pública no município de Chaves - Pará (Fonte: Dados deste estudo). ................. 59
Figura 13 - Incidência da doença diarreica aguda nos municípios em
estudo no ano de 2012 (Fonte: Dados do PMDDA, 2013). .................................. 62
11
Figura 14 - Planos de tratamento aplicados aos pacientes com doença
diarreica aguda no ano de 2012 nos municípios do estudo(Fonte: Dados
do PMDDA, 2013). ............................................................................................... 63
Figura 15 - Distribuição da ocorrência da doença diarreica aguda no
município de Anajás no ano de 2012, comparada à média anual(Fonte:
Dados do PMDDA, 2013). .................................................................................... 64
Figura 16 - Distribuição da ocorrência da doença diarreica aguda no
município de Portel no ano de 2012, comparada à média anual (Fonte:
Dados do PMDDA, 2013). .................................................................................... 65
Figura 17 - Distribuição da ocorrência da doença diarreica aguda no
município de Chaves no ano de 2012, comparada à média anual(Fonte:
Dados do PMDDA, 2013). .................................................................................... 66
Figura 18 - Distribuição da ocorrência da doença diarreica aguda no
município de São Sebastião da Boa Vista no ano de 2012, comparada à
média anual(Fonte: Dados do PMDDA, 2013). .................................................... 67
Figura 19 - Distribuição da ocorrência da doença diarreica aguda nos
municípios de Anajás e Portel no ano de 2012 (Fonte: PMDDA, 2013). .............. 68
Figura 20 - Proximidade dos municípios deste estudo às Estações de
Breves e Soure (Fonte: Adaptado de http://www.ambito-juridico.com.br,
2013). ................................................................................................................... 70
Figura 21 - Distribuição da precipitação total em mm para todos os
meses do ano de 2012 nas Estações de Breves e Soure(Fonte: INMET,
2013). ................................................................................................................... 71
12
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Página
Quadro 1: Doenças relacionadas com a ausência de esgotamento
sanitário. ............................................................................................................... 21
Quadro 2: Número de domicílios participantes do estudo por município. ............ 39
Tabela 1 - Distribuição em percentual das faixas etárias dos indivíduos
que responderam ao questionário por município. ................................................ 46
Tabela 2 - Distribuição em percentual do nível de escolaridade dos
indivíduos que responderam ao questionário por município. ............................... 46
Tabela 3 - Distribuição em percentual da principal atividade econômica
dos mantenedores dos domicílios por município. ................................................. 47
Tabela 4 - Distribuição em percentual da renda mensal dos
mantenedores dos domicílios por município. ....................................................... 47
Tabela 5 - Distribuição em percentual das condições dos terrenos onde
estão construídos os domicílios por município. .................................................... 48
Tabela 6 - Distribuição em percentual do tipo de material de construção
do domicílio por município. ................................................................................... 49
Tabela 7 - Distribuição em percentual do tipo de material utilizado na
cobertura dos domicílios por município. ............................................................... 51
Tabela 8 - Distribuição em percentual do tipo de material utilizado na
construção do piso dos domicílios por município. ................................................ 51
Tabela 9 - Distribuição em percentual do número de cômodos dos
domicílios por município. ...................................................................................... 52
Tabela 10 - Distribuição em percentual do número de ocupantes dos
domicílios por município. ...................................................................................... 52
Tabela 11 - Distribuição em percentual do local de instalação do
banheiro dos domicílios por município. ................................................................ 53
Tabela 12 - Distribuição em percentual dos domicílios com e sem
acesso à rede de esgotamento sanitário por município. ...................................... 54
Tabela 13 - Distribuição em percentual do destino dado aos dejetos nos
domicílios por município. ...................................................................................... 54
Tabela 14 - Distribuição em percentual do destino dado ao lixo nos
domicílios por município. ...................................................................................... 55
13
Tabela 15 - Distribuição em percentual da origem da água de consumo
utilizada nos domicílios por município. ................................................................. 55
Tabela 16 - Distribuição em percentual do recipiente de armazenamento
da água de consumo nos domicílios por município. ............................................. 56
Tabela 17 - Distribuição em percentual dos tipos de tratamento
dispensado à água de consumo nos domicílios por município. ............................ 58
Tabela 18 - Distribuição das amostras de água coletadas nos domicílios
quanto à positividade para coliformes totais por município. ................................. 58
Quadro 3: Número de habitantes e número de casos de doença
diarreica aguda nos municípios em estudo. ......................................................... 60
Quadro 4: Número de habitantes de cada faixa etária nos municípios em
estudo................................................................................................................... 60
Quadro 5: Número de unidades de saúde com PMDDA implantado e
número de unidades que registraram casos de doença diarreica aguda
em 2012. .............................................................................................................. 61
14
RESUMO
A doença diarreica aguda ainda é responsável por uma grande proporção de mortes em crianças menores de 5 anos, apesar do manejo dessa doença e dos consideráveis avanços no conhecimento dos diferentes mecanismos fisiopatológicos de ação, causados pelos diversos agentes enteropatogênicos. Este estudo teve como objetivo descrever o perfil sociodemográfico, das condições de saneamento básico e da incidência de doença diarreica aguda nos municípios de Anajás, Portel, Chaves e São Sebastião da Boa Vista, localizados no Arquipélago Marajoara, Pará-Brasil, no ano de 2012. Tratando-se de um estudo transversal, quantitativo que utilizou dados primários coletados em visita domiciliar e dados secundários disponibilizados pela Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Pará e pelo Instituto Nacional de Meteorologia. Dos 400 domicílios visitados, 339 fizeram parte do estudo obedecendo-se aos critérios de exclusão. Nos quatro municípios houve predomínio de baixo nível de escolaridade entre os entrevistados (analfabetismo e nível fundamental); atividade econômica informal e baixa renda mensal (menor que um salário mínimo e de um a dois salários mínimos). Observou-se elevado índice de domicílios construídos sobre terrenos alagadiços e alagados; construídos em madeira, inclusive o piso, cobertos com telhas de fibrocimento e com banheiros construídos no área externa do domicílio (com exceção de Chaves). Nos municípios em estudo, a maioria dos domicílios têm de três a quatro cômodos ocupados com uma a cinco pessoas. Houve predomínio de domicílios sem acesso à rede pública de esgotamento sanitário, sendo superior a 90% nos municípios de Anajás, Chaves e São Sebastião da Boa Vista, neste último, 48% dos domicílios visitados deposita os dejetos à céu aberto. Observou-se elevado índice de cobertura dos domicílios visitados pela coleta pública do lixo. A principal fonte de abastecimento da água de consumo em Chaves e São Sebastião da Boa Vista foi a rede pública. Em Anajás, Portel e Chaves houve elevada frequência de domicílios que armazenam a água de consumo em recipientes reutilizados como as embalagens de refrigerantes. Todas as amostras da água de consumo coletadas nos quatro municípios estiveram positivas para a presença de coliformes totais. A faixa etária mais acometida pela doença diarreica aguda foi a de menores de um ano de idade. No município de Portel houve elevada frequência de aplicação do plano de tratamento destinado a doença diarreica aguda com sinais de desidratação.Observou-se relação estatisticamente significativa entre o número de casos da doença diarreica aguda e o índice de precipitação no município de Chaves, no qual o maior número de casos foi registrado no mês de março, coincidindo com o maior índice de precipitação registrado pela Estação de Soure.Este estudo aponta para a necessidade de monitoramento de indicadores com vistas a identificar diferenciais nos perfis de morbimortalidade por doença diarreica aguda, permitindo a caracterização de grupos de maior risco na população, oferecendo os fundamentos para políticas do setor de saúde que focalizem a promoção da equidade e o bem estar social por meio de intervenções em saúde pública em grupos mais vulneráveis da população, como as comunidades marajoaras.
15
ABSTRACT
The acute diarrheal disease is still responsible for a large proportion of deaths in children under five years, despite the management of this disease and the considerable advances in knowledge of different pathophysiological mechanisms of action, caused by various intestinal pathogens. This study aimed to describe the demographic profile, the sanitation conditions and the incidence of acute diarrhea in the municipalities of Anajás, Portel, Chaves and São Sebastião da Boa Vista, located in the archipelago Marajoara, Pará-Brazil, in 2012. Since this is a cross-sectional study that used quantitative primary data collected during home visits and secondary data provided by the State Department of Health of the State of Pará and the National Institute of Meteorology . Of the 400 households visited, 339 were recruited obeying the exclusion criteria. In the four municipalities predominated low level of education among respondents (illiteracy and fundamental level); informal economic activity and low monthly income (less than minimum wage and one to two minimum wages). A high index of homes built on marshland and wetlands; constructed in wood, including the floor, covered with fiber cement tiles and toilets built in the area outside of the household (except for Chaves). In the cities studied, the majority of households have three or four rooms occupied with one to five people. There was a predominance of households without access to public sewage, exceeding 90% in the municipalities of Anajás, Chaves and São Sebastião da Boa Vista, in the latter, 48 % ofvisited households deposits the waste in the open. A high coverage ratio of households visited by Public garbage collection. The primary source of drinking water in Chaves and São Sebastião da Boa Vista was the public. In Anajás, Portel and Chaves were high frequency of households that store drinking water in containers reused as packaging for soft drinks. All samples of drinking water collected in the four counties were positive for the presence of coliforms. The age group most affected by acute diarrhea was in children under one year of age. In the municipality of Portel was high frequency of implementation of the plan of treatment to acute diarrhea with signs of dehydration. We observed a statistically significant relationship between the number of cases of acute diarrhea and the precipitation rate in the city of Chaves, in which the largest number of cases was recorded in March, coinciding with the highest rate of rainfall recorded by the Soure station. This study points to the need for monitoring of indicators in order to identify differences in the profiles of morbidity and mortality from acute diarrheal disease, allowing the characterization of high-risk groups in the population, providing the foundation for health sector policies that focus on the promotion of equity and welfare through public health interventions for vulnerable groups of the population, as marajoaras communities.
16
1. INTRODUÇÃO
Questões relativas ao acesso regular a água potável e segura tem causado
preocupação, principalmente em países em desenvolvimento, que sofrem com a
rápida expansão urbana, o adensamento populacional e a ocupação de áreas
periurbanas e rurais, com evidentes deficiências e dificuldades no suprimento de
água para satisfazer as necessidades básicas diárias. O provimento adequado de
água, em quantidade e qualidade, é essencial para o desenvolvimento
socioeconômico local, com reflexos diretos sobre as condições de saúde e de bem-
estar da população(Paz et al., 2012).
Na regiãoAmazônica existe, a rigor, grandiosa oferta de água enúcleos
urbanos que se desenvolvem às margens derios caudalosos. No entanto, consuma-
se que os indicadores de saneamento da regiãoNorte, nesta região hidrográfica,
configuram-secomo os piores do país, em que 55,7% dos domicíliosnão são
abastecidos de água por rede geral; do volumetotal de água distribuída em sistemas
públicos,32,4%não recebe tratamento e 92,9% dos municípios não possuemredes
de esgotamento sanitário (Giatti, 2007; IBGE, 2011).
Em regiões carentes e excluídas da rede básica de serviços públicos, a falta
de acesso a fontes seguras de água é fator agravante das condições precárias de
vida. A busca por fontes alternativas pode levar ao consumo de água com qualidade
sanitária duvidosa e em volume insuficiente e irregular para o atendimento das
necessidades básicas diárias (Razzolini & Günther, 2008).
Condições adequadas de abastecimento de água resultam em melhoria das
condições de vida e em benefícios como controle e prevenção de doenças, prática
de hábitos higiênicos, conforto e bem estar, aumento da expectativa de vida e da
produtividade econômica (Paz et al., 2012).
As doenças infecciosas têm se associado com menor nível social e
econômico, frequentemente aferido através de renda, escolaridade, tipo de
habitação, disponibilidade de água encanada e de esgoto local. Essas condições
não são responsáveis diretas pela ocorrência de doença, contudo, favorecem a
proximidade de alguns determinantes (Fuchs et al., 1996).
Nos países em desenvolvimento, a saúde infantil, particularmente, é
determinada por grande número de características relacionadas a condições
socioeconômicas, ambientais, nutricionais, de cuidados com a saúde, entre outras.
Nestes países a doença diarreica ainda é responsável por uma grande proporção de
17
mortes (16%) em crianças menores de 5 anos, secundada apenas por pneumonia
(17%). Isso acontece apesar do manejo dessa doença e dos consideráveis avanços
no conhecimento dos diferentes mecanismos fisiopatológicos de ação, causados
pelos diversos agentes enteropatogênicos (Andrade & Fagundes-Neto, 2011).
Nesse contexto, o saneamento básico torna-se uma das intervenções de
saúde pública reconhecida entre as mais efetivas na redução das doenças
diarreicas, principalmente em países em desenvolvimento. Nestes países a diarreia
representa uma das maiores causas de morbidade e mortalidade em menores de
cinco anos, apesar de ser uma das causas mais facilmente evitáveis(Fuchs et al.,
1996).
Desse modo, é preciso dar conta da complexidade dos efeitos ambientais
sobre a saúde humana, além da interferência dos dados que geraram os
indicadores. Portanto, urge melhorar a disponibilidade e o fluxo dos dados, a fim de
melhorar a sua qualidade, oferecendo suporte de avaliação aos problemas
ambientais e em saúde (Queiroz et al., 2009).
Esteestudo pertence a um projeto de âmbito mais abrangente intitulado
―Marcadores Epidemiológicos no Arquipélago do Marajó‖, o qual tem por finalidade
levantar informações sobre as condições de saúde e de saneamento por meio de
um estudo multicêntrico realizado em quatro municípios do arquipélago do Marajó
(Anajás, Portel, São Sebastião da Boa Vista e Chaves), tornando-se uma demanda
atual em virtude da carência de informações em saúde relacionada a essa região.
Diante da relevância do tema, este estudo traz um enfoque oportuno, levando
em consideração que poderá contribuir para a melhoria da investigação das ações
de vigilância ambiental e epidemiológica nos municípios em estudo, além de
subsidiar a reformulação das estratégias de intervenção e entendimento dos
processos e condições de saúde/doença das populações desses municípios
marajoaras.
18
1.1. ÁGUA E SAÚDE
A água é necessidade primordial para a vida, recurso natural indispensável ao
ser humano e aos demais seres vivos, além de ser suporte essencial aos
ecossistemas. Utilizada para o consumo humano e para as atividades
socioeconômicas, é retirada de rios, lagos, represas e aquíferos, tendo influência
direta sobre a saúde, a qualidade de vida e o desenvolvimento das populações
(Scuracchio, 2010).
Por suas funções no abastecimento público, industrial, agropecuário, na
preservação da vida aquática, no transporte e na recreação, a água constitui,
atualmente, uma das principais preocupações mundiais no que diz respeito aos seus
usos preponderantes e à sua manutenção como um bem de todos, em quantidade e
qualidade adequadas (WHO, 2009).
Segundo Giatti e Cutolo (2012), a água doce é um recurso natural bastante
escasso e distribuído de forma desigual no planeta. Sua disponibilidade para o
consumo humano provém da possibilidade de captação em lagos, rios e aquíferos
de menor profundidade. No Brasil, os recursos hídricos superficiais disponíveis em
abundância representam 11% do total mundial, no entanto, no país ocorre uma
distribuição desigual da água, sendo que a bacia hidrográfica do rio Amazonas
detém 71,1% da vazão nacional.
A garantia de qualidade necessária da água distribuída para consumo
humano é a sua potabilidade, ou seja, a água deve ser tratada, limpa e estar livre de
qualquer contaminação, seja esta de origem microbiológica, química, física ou
radioativa, não devendo, em hipótese alguma, oferecer riscos à saúde humana
(Giatti e Cutolo, 2012).
Entretanto,essa qualidade tem sido comprometida desde o manancial, pelo
lançamento de efluentes e resíduos, o que exige investimento nas estações de
tratamento e alterações na dosagem de produtos para se garantir a qualidade da
água na saída das estaçõesde tratamento(Brasil, 2007b).
Com o crescimento urbano e aumento da demanda de água pela população,
verifica-se em várias cidades brasileiras que a qualidade da água decai no sistema
de distribuição pela intermitência do serviço, pela baixa cobertura da população com
sistema público de esgotamento sanitário, pela obsolescência da rede de
distribuição e pela manutenção deficiente, entre outros. Destaca-se ainda que nos
domicílios, os níveis de contaminação elevam-se pela precariedade das instalações
19
hidráulicas e sanitárias, pela falta de manutenção dos reservatórios e pelo manuseio
inadequado da água(Brasil, 2007b).
O Departamento de Informação Pública das Nações Unidas (2012), afirma
que o mundo alcançou o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM) que tinha
como meta reduzir pela metade a proporção de pessoas sem acesso à água potável
no final de 2010, bem antes do prazo de 2015 estabelecidos pelo ODM. Entre 1990
e 2010, mais de dois bilhões de pessoas obtiveram acesso a fontes de água potável,
tais como abastecimento por tubulações e poços protegidos.
Embora 89% da população mundial utilizem fontes tratadas de água, 783
milhões de pessoas ainda estão sem acesso à água potável, com variações
dramáticas por região. Apenas 61% dapopulaçãona África Subsaariana têm acesso
a fonte de abastecimento de água tratada, em comparação com 90% ou mais na
América Latina e Caribe, Norte da África e grande parte da Ásia (UNITED NATIONS,
2012).
A água doce é também um fator essencial para a agricultura e a produção de
energia, a falta de água suficiente para satisfazer todas as necessidades têm
enormes implicações no desenvolvimento – na geração de empregos, saúde e
segurança alimentar. Atualmente, 80% da população mundial vive em áreas com
altos níveis de ameaça à segurança da água. As ameaças mais graves afetam 3,4
bilhões de pessoas, quase todas nos países em desenvolvimento (UNITED
NATIONS, 2012).
Atualmente, segundo Teixeira et al. (2012), 80 milhões de latino-americanos
ainda carecem de acesso à água potável e mais de 100 milhões não dispõem de
serviços adequados de esgotamento sanitário. E ainda destaca-se que, somente
14% das águas residuárias na América Latina são tratadas; 40% do total de
resíduos sólidos não são dispostos adequadamente, contaminando o solo e os
mananciais de água.
1.1.1. Água Potável: padrões de qualidade e legislação
Em 2011 o Ministério da Saúde publicou no Diário Oficial da União a Portaria
Nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011, a qual revoga e substitui integralmente a
Portaria MS Nº 518, de 25 de março de 2004. Esta nova portaria dispõe sobre os
procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo
humano e seu padrão de potabilidade (Brasil, 2011).
20
Segundo a Portaria Nº 2.914/2011 a água potável é a água de consumo
humano cujos parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendem
ao padrão de potabilidade e que não ofereça risco à saúde e complementa que toda
água destinada ao consumo humano deve obedecer ao padrão de potabilidade e
está sujeita à vigilância da qualidade da água.
A Portaria Nº 2.914/2011 estabelece como padrão de potabilidade, para a
água destinada ao consumo humano, a ausência de bactérias do grupo dos
coliformes totais e Escherichia coli. Presença de coliformes na água indica poluição,
com o risco potencial da presença de organismos patogênicos, e sua ausência é
evidência de uma água bacteriologicamente potável, uma vez que são mais
resistentes na água que as bactérias patogênicas de origem intestinal.
Embora não exista limitação para o número de coliformes totais presentes na
água potável, esta mesma portaria sugere que, quando for verificada a presença de
coliformes totais, sejam tomadas providências imediatas de caráter corretivo e
preventivo, como limpeza das caixas d’água e cisternas.
Os micro-organismos indicadores de contaminação higiênico-sanitária são
geralmente usados para monitorar, detectar mudanças de qualidade, classificar e
restringir o uso de águas ou alimentos. Os maiores riscos à saúde estão associados
ao consumo de água e/ou de alimentos contaminados por agentes patogênicos. O
principal objetivo da utilização de bactérias como indicador da falta de medidas
sanitárias é revelar defeitos no tratamento e/ou na manipulação, que levam consigo
um perigo potencial, mesmo não estando necessariamente na amostra particular
examinada, mas que pode ser provavelmente encontrado em amostras paralelas
(Sousa, 2006).
Sousa (2006) expõe que laboratorialmente, o grupo dos coliformes é dividido
em coliformes totais e fecais ou termotolerantes. A presença de coliformes totais em
água e alimentos, em alguns casos, pode não ser indicativa de contaminação fecal,
porque participam desse grupo bactérias cuja origem direta não é exclusivamente
entérica. Esse fato decorre da capacidade de colonização ambiental desses micro-
organismos, em especial, do solo. Sendo assim, a presença de coliformes totais
nesses materiais pode, também, estar relacionada a práticas inadequadas de
sanitização e processamento desses produtos, ou mesmo à sua recontaminação,
após esses procedimentos.
21
Desta forma, a aplicação desta legislação é destinada aos sistemas de
abastecimento de água - SAA, que devem realizar análises periódicas da qualidade
da água ofertada em diferentes pontos, envolvendo mananciais, tratamento,
armazenamento e distribuição de água; às soluções coletivas de abastecimento de
água – SAC (clubes, escolas, caminhões-pipa etc.); e às soluções alternativas
individuais de abastecimento – SAI (poços, minas e nascentes queatendam a uma
única propriedade) (Silva, 2010).
A avaliação da potabilidade da água proveniente de SAI, segundo Silva
(2010), é mais frequente no meio rural, haja vista a possível ocorrência de
contaminação do lençol freático por insumos agrícolas, mas raros são os estudos
cujo foco é o uso deste tipo de solução alternativa no meio urbano. Devido à falta de
fiscalização e controle mais efetivo, a população fica vulnerável a consumir água de
poços desprotegidos, mal construídos e sujeitos às diversas fontes de
contaminação.
1.1.2. Vigilância Ambiental da Água
Saber controlar a qualidade das águas destinadas ao consumo humano é,
hoje, o alvo das preocupações das autoridades sanitárias em todo o mundo, e
também dos responsáveis pela sua administração. Após o esforço no nível de
produção, é necessário assegurar-se a qualidade da água e, para tal, padrões
ambientais devem ser impostos e sua fixação constitui um elemento de política de
prevenção que visa diminuir os riscos sanitários ligados à água (Daniel & Cabral,
2011).
De acordo com Carmo et al. (2008), o termo vigilância pressupõe a avaliação
frequente e continuada de aspectos diversos, objetivando a identificação de riscos
potenciais à saúde humana, com vistas a possibilitar formas de intervenção ou
controle, assumindo, assim, caráter rotineiro e preventivo. Quando aplicada à
qualidade da água para consumo humano, o caráter preventivo torna-se um desafio
para os profissionais da vigilância, já que a qualidade da água é dinâmica no tempo
e no espaço, sendo o monitoramento realizado ao mesmo tempo em que a água é
captada, distribuída e consumida.
A Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (VIGIAGUA) é um
programa que integra o Subsistema Nacional de Vigilância Ambiental em Saúde
(SINVAS). Esse programa é coordenado, no âmbito federal, pelo Ministério da
22
Saúde/Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), por meio da Coordenação Geral de
Vigilância em Saúde Ambiental (CGVAM), desde 1999, e tem como objetivo integrar
o setor de saúde com os setores de saneamento e meio ambiente. Tal integração
deve ocorrer a partir das ações e informações de vigilância - ambiental e
epidemiológica - com as ações e informações relativas à prestação dos serviços,
nos aspectos da cobertura e da qualidade do atendimento (Silva, 2010).
De acordo com Daniel & Cabral (2011),a base desse programa está
alicerçada na Constituição Federal de 1988, que explicita a obrigatoriedade de se
realizar a fiscalização e a inspeção da água para consumo humano, e na Lei 8.080,
de 1990, que reforça a responsabilidade do setor saúde no que se refere à
fiscalização das águas destinadas ao consumo humano.
1.2. DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA
Desde os primórdios da epidemiologia, a água vem sendo apontada como
uma importante causa na transmissão de doenças. Em 1842 Edwin Chadwick
realizou o "Inquérito Sanitário das Condições da População Trabalhadora da
Inglaterra", no qual demonstrava a relação entre a presença de doenças e às
precárias condições de moradia, falta de esgotos, ausência de água limpa, falhas na
remoção e no tratamento do lixo,etc. (Carmo, 2009).
Entre 1848-1849, John Snow, com base no registro de mortes por cólera que
ocorreram nesse período, observou que os distritos do sul de Londres tinham as
maiores taxas de mortalidade, muito maiores do que no resto da cidade (8.0 e 2.4
mortes por cada 1.000 habitantes, respectivamente). Da mesma forma, observou
que habitantes da área do sul de Londres, obtinham água para beber à jusante do
rio Tâmisa, local onde as águas eram altamente contaminadas, ao contrário dos
habitantes de outras áreas de Londres (Cerda & Valdivia, 2007).
Com este cenário em mente, Snow postulou em 1849 uma hipótese inovadora
argumentando que a cólera era transmitida pela ingestão de uma "matéria mórbida"
invisível ao olho humano, o qual deve atuar ao nível dos intestinos, produzindo
diarreia aguda com desidratação grave. As pessoas, ao beber água contaminada
extraída do rio, ingeriam a "matéria mórbida", fechando um círculo de contágio.
Snow publicou sua hipótese em um artigo intitulado "Sobre o modo de Comunicação
do Cólera"(1849). Foi pioneiro no uso de metodologias investigação epidemiológica
23
moderna, por exemplo, a realização de pesquisas e epidemiologia espacial (Cerda &
Valdivia, 2007).
No entanto, devido à manutenção de elevados coeficientes de
morbimortalidade, sobretudo infantil, de doenças relacionadas com a água de
consumo, destacando-se, dentre essas, a doença diarreica aguda, permanece atual
e importante para a Saúde Pública e áreas correlatas (Carmo, 2009).
A água de consumo humano é um dos importantes veículos de enfermidades
diarreicas de natureza infecciosa, o que torna primordial a avaliação de sua
qualidade microbiológica. As doenças de veiculação hídrica são ocasionadas,
principalmente por micro-organismos patogênicos de origem entérica, animal ou
humana, transmitida basicamente pela rota fecal-oral, ou seja, são excretados nas
fezes de indivíduos infectados e ingeridos com a água ou alimento contaminado pela
água poluída com fezes (Greghi, 2005).
1.2.1. Classificação Ambiental das Doenças Relacionadas com a Água
No final da década de 1970, as doenças infecciosas passaram a ser
classificadas por suas vias de transmissão e por seu ciclo, no sentido de se obter
estratégias mais adequadas para o seu controle. Dessa forma, a classificação
ambiental das infecções pode ocorrer de três maneiras: as infecções relacionadas
com a água, com os excretas e com os resíduos sólidos (Heller, 1998).
Silva (2010) cita em seu estudo a classificação proposta por Cairncross e
Feachem (1993) para enfermidades relacionadas com a água considerando seus
mecanismos de transmissão, agruparam-nas em quatro categorias:
I - Transmissão hídrica ou fecal e oral, em que o organismo patogênico encontra-se
na água que é ingerida (exemplos: diarreias, disenterias, febres entéricas, hepatite);
II - Transmissões relacionadas com a higiene, envolvendo os hábitos individuais de
higiene (exemplos: doenças infecciosas da pele e dos olhos);
III - Transmissão baseada na água, quando o patógeno se desenvolve parcialmente
em um animal aquático (exemplo: esquistossomose);
IV - Transmissão por um inseto vetor, nos casos em que os transmissores são
insetos que se procriam na água (exemplos: febre amarela e dengue).
Os autores organizaram a classificação ambiental das infecções relacionadas
com excretas, apontaram as características epidemiológicas, a via dominante de
24
transmissão e as principais medidas de controle que podem ser visualizados no
Quadro 1.
Quadro 1 -Doenças relacionadas com a ausência de esgotamento sanitário.
Fonte: Brasil, 2013a.
Destaca-se que os episódios de doença diarreica aguda (DDA) afetam
aproximadamente 18% da população mundial, e 80% de DDA em todo o mundo são
atribuíveis à água contaminada, esgotamento sanitário inadequado ou higiene
insuficiente e, em média, até um décimo do tempo produtivo de cada pessoa se
perde por causa de doenças relacionadas à água (Silva, 2010).
25
1.2.2. Doença Diarreica Aguda (DDA)
Queiroz (2006) expõe que com a propagação da agricultura há mais de 10 mil
anos, o homem se fixou às margens de rios e lagos. Assim, bactérias intestinais
anteriormente deixadas pelos caminhos percorridos em razão de seu caráter
nômade, passaram a ser, então, eliminadas nos assentamentos, que se tornariam
as primeiras aglomerações humanas. Desse modo, os corpos d’água recebiam as
fezes humanase passavam a originar as epidemias de diarreia.
Segundo o mesmo autor,os 10 mil anos seguintes, seriam marcados por duas
histórias paralelas: de um lado a história humana, com civilizações e impérios se
sucedendo e ocasionando alterações ao meio ambiente; e de outro, a própria
história das alterações sofridas pelos cursos naturais das águas. Uma história
interferia na outra e, como consequência, as epidemias diarreicas surgiam ou se
abrandavam.
A partir da segunda metade do século XVII, as cidades europeias tornavam-
se industrializadas, mas mantinham a mesma infraestrutura que negligenciava o
ambiente. O surgimento de embarcações a vapor e ferrovias introduziram na Europa
o bacilo da cólera proveniente de colônias do sudeste asiático, próximas à Índia. A
cólera chegou ao continente europeu no início da década de 1830 e a ausência de
esgotamento sanitário contribuiu para o alastramento do vibrião. Na década de 1850
as embarcações trouxeram a cólera para a América, inclusive para o Brasil (Queiroz,
2006).
Nos países em desenvolvimento, em virtude das precárias condições de
saneamento e da má qualidade da água, as doenças diarreicas, como a febre
tifoide, cólera, salmonelose, shiguelose e outras gastroenterites, poliomelite, hepatite
A, verminoses, amebíase e giardíase, têm sido responsáveis por vários eventos
epidêmicos e pelas elevadas taxas de mortalidade infantil, relacionadas à água de
consumo humano (Silva, 2007).
Ressalta-se que a diarreia ainda é uma das principais causas de mortalidade
infantil nos países em desenvolvimento por envolver complexos fatores de ordem
ambiental, nutricional, social, econômica e cultural. Apesar da tendência de
diminuição das taxas de mortalidade infantil, as doenças diarreicas continuam sendo
um grave problema de saúde pública nos países onde existem desigualdades na
distribuição da riqueza, entre os quais se inclui o Brasil (Dias et al., 2010).
26
No Brasil, as doenças de transmissão fecal oral, especialmente a diarreia,
representam em média mais de 80% das doenças relacionadas ao saneamento
ambiental inadequado (IBGE, 2012).
A Organização Mundial de Saúde define doença diarreica como alteração
repentina do hábito intestinal, com ocorrência de evacuações líquidas em três ou
mais episódios em 24 horas, ou uma única evacuação semilíquida contendo muco e
sangue em 12 horas. A duração não deve exceder quinze dias, situação em que é
caracterizada como persistente (WHO, 2005).
A etiologia das diarreias pode envolver vários agentes como vírus, bactérias e
parasitas. Os agentes bacterianos são relativamente mais importantes em países
em desenvolvimento, enquanto os agentes virais são mais relevantes em países
industrializados. A importância desses agentes está relacionada às condições de
higiene e saneamento básico da população (Vranjac, 2004).
Independentemente da classificação que se busque contextualizar, as
doenças diarreicas assumem relevante importância dentre as doenças infecciosas
relacionadas com a água. Apesar das significativas mudanças no perfil da
morbimortalidade infantil, devido à difusão da Terapia de Reidratação Oral (TRO), e
em grande parte devido à ampliação dos serviços de saneamento básico, sobretudo
o aumento dos domicílios abastecidos com água, a diarreia infantil continua sendo
uma das principais causas de consultas e hospitalizações de menores de cinco anos
nos países em desenvolvimento, alcançando incidências superiores a dez episódios
por criança por ano (Carmo, 2009).
Nesse contexto, inúmeros estudos têm sido realizados no Brasil, com objetivo
de caracterizar a etiologia da doença diarreica, sendo a diferença observada nas
incidências dos diferentes micro-organismos. Algumas das pesquisas realizadas
revelam predominância de quadros bacterianos em contraponto aos quadros virais.
Dentre os agentes bacterianos mais encontrados estão os da família
Enterobacteriaceae, principalmente estirpes diarreiogênicas de Escherichia coli,
Salmonellasppe Shigellaspp(Scuracchio,2010).
Teixeira (2003) constata em seu estudo que, em áreas urbanas desprovidas
de infraestrutura sanitária, os riscos para a saúde infantil em relação à diarreia e às
parasitoses associadas aos geohelmintos relacionam-se em primeiro lugar: à
disposição de esgotos no peridomicílio; e, em segundo lugar, para as parasitoses de
transmissão fecal oral, assim como a presença de escoamento de esgotos na rua,
27
contribuindo para o aumento da morbimortalidade de doenças de veiculação hídrica
em crianças menores de cinco anos de idade.
Independente da etiologia, esse agravo tem causado impactos globais de
forma direta, com o comprometimento da saúde dos indivíduos, em consequência da
desidratação e desnutrição crônica que levam ao óbito; como de forma indireta,
considerando-se o abalo à economia causada pelos custos das internações, perda
de horas de trabalho e redução de renda familiar. Em função dessas consequências,
há a necessidade de monitoramento contínuo dos indicadores de morbidade e
mortalidade por diarreia (Dias et al., 2010).
Mesmo para as famílias que têm possibilidades de pagar o tratamento, a
Shigellaconstitui uma ameaça crescente, uma vez que esta bactéria está adquirindo
rapidamente resistência aos antibióticos. No Norte e Leste da Índia, voltou a surgir
uma forma de Shigellaresistente aos fármacos após um intervalo de 14 anos.
Também nas zonas rurais da parte ocidental do Quénia, metade dos casos
registrados de diarreia apresentou resistência aos tratamentos (Brasil, 2006).
Carmo (2009) salienta que a doença diarreica aguda tem sido usada como
indicador epidemiológico, merecendo atenção de estudiosos e das autoridades
sanitárias em todo o mundo, pois compreende um grupo de condições clínicas
diversas, cuja manifestação comum é a diarreia. A sua ocorrência associa-se, de
forma direta ou indireta, a um complexo de fatores de ordem socioeconômica,
cultural, nutricional e ambiental.
Assim, a morbidade por diarreia é um indicador importante para a saúde
pública, pela capacidade de resposta a diversas alterações nas condições de
saneamento, qualidade sanitária de alimentos, hábitos higiênicos e comportamentais
de uma comunidade (Teixeira, 2003).
1.2.3. Programa de Monitoramento das Doenças Diarreicas Agudas (MDDA)
A diarreia é reconhecida como uma importante causa no quadro de
morbimortalidade do país, no entanto, a implantação de um sistema para sua
vigilância encontra várias dificuldades. Primeiramente, sua incidência elevada impõe
desafios concretos para seu registro; em segundo lugar, a inobservância da
obrigatoriedade de notificação de surtos e a aceitação tanto de parte da população
como de profissionais de saúde de que a ocorrência da diarreia é fato "normal" têm
28
contribuído para o insucesso em seu controle e para a instalação de epidemias
inesperadas de grandes proporções (Eduardo et al., 2008).
Somente em 1991, de acordo com Silva (2010), a partir da maior
sensibilização ao problema das doenças diarreicas devido à chegada da sétima
pandemia de cólera no Brasil, é que a Coordenação Nacional de Doenças Entéricas
- criada também em 1991, concebeu uma proposta que possibilitasse ao município
realizar a análise de sua situação de saúde em relação às doenças diarreicas.
Nesse sentido, em 1994 foi elaborada a proposta de Monitorização das
Doenças Diarreicas Agudas (MDDA), a qual tem como objetivo capacitar o nível
local com recursos e atitudes ágeis e simplificadas, que lhe permita descobrir
alterações nas condições sanitárias (inadequação da água para consumo humano,
destino dos dejetos e lixo, falta de higiene pessoal, preparo de alimentos etc.)
através do comportamento anormal das doenças diarreicas (Silva, 2010).
O Brasil é um dos países com alta incidência de diarreia, o que reflete
diretamente sobre as taxas de mortalidade infantil. Em 2005, foi registrada a
internação por desidratação causada pela diarreia, no Sistema Único de Saúde
(SUS), de mais de 28 mil crianças de zero a cinco anos de idade (Brasil, 2006).
Já em 2011, os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com internações
por diarreia foi de R$ 140 milhões. Nas 100 maiores cidades este gasto foi de R$ 23
milhões, ou seja, 16,4% do total. Os municípios (entre os 100 maiores) que mais
tiveram gastos com doenças diarreicas foramAnanindeua (PA), Belford Roxo (RJ),
Anápolis (GO), Belém (PA), Várzea Grande (MT), Vitória da Conquista (BA),
Campina Grande (PB), Santarém (PA), Maceió (AL) e João Pessoa (PB)
(Kronemberger, 2011).
No ano de 2011 396.048 pessoas foram internadas por diarreia no Brasil,
aproximadamente 14% destas internações, mais especificamente 54.339 pessoas,
ocorreram nas 100 maiores cidades(Kronemberger, 2011).
As dificuldades para monitorar as doenças diarreicas agudas decorrem de
sua elevada incidência e do incorreto entendimento, de parte da população e dos
profissionais que atuam na saúde pública, de que é ―normal‖ a ocorrência da diarreia
no Brasil (Queiroz et al., 2009).
O MDDA busca detectar alterações no comportamento das diarreias em cada
área, possibilitando serem tomadas medidas de prevenção e controle dessas
doenças. Permite, ainda, traçar o perfil da incidência de casos de diarreias, por
29
semana epidemiológica no país, atuando como programa sentinela. Portanto,
fornece dados para o setor de saneamento de cada estado, quanto ao
estabelecimento das áreas prioritárias de atuação, à qualidade dos serviços de
saneamento e saúde prestados e, ainda, pode contribuir na avaliação da influência
das ações de saneamento na qualidade de vida das populações (Queiroz et al.
2009).
O ideal no MDDA, segundo Eduardo et al. (2008), seria que todas as
unidades de saúde que atendem diarreia participassemdo programa registrando
seus dados, analisando e enviando-os aos níveis do sistema devigilância
epidemiológica. Esta prática poderia permitir conhecer a incidência da diarreia
naspessoas que procuram serviços de saúde.
No entanto, o programa define o seguinte número mínimo de unidades de
MDDA para o município, se ao cálculo por meio destes parâmetros o número obtido
de unidades for maior do que o existente, então, todas as unidades existentes
deverão implantar a MDDA.
1) Pelo menos uma unidade de saúde realizando a MDDA em cada município menor
de30.000 habitantes;
2) Pelo menos uma unidade de saúde realizando a MDDA a cada 30.000 habitantes,
emmunicípios com população de 30.000 a 200.000 habitantes;
3) Pelo menos uma unidade de saúde realizando a MDDA a cada 30.000 habitantes
e maisuma a cada 100.000 habitantes excedentes em municípios acima de 200.000
habitantes (Eduardo et al.,2008).
Ainda segundo Eduardo et al. (2008), a escolha das unidades deve se basear
na representatividade que a unidade de saúde tem em sua área geográfica para
atender a diarreia e na sua capacidade de resposta. E por isso são denominadas de
unidades sentinela. Desvios do sistema de atendimento são constantemente
apontados, tais como, o pronto socorro da cidade acumula o atendimento de todos
os tipos de casos de diarreia, inclusive as leves e moderadas, verificando-se o
esvaziamento das unidades básicas de saúde distribuídas nos bairros e distritos. Se
isso ocorre no município, sem dúvida, o pronto socorro terá que ser incluído como
unidade notificante, sem o que, os dados de ocorrência de diarreia de outras
unidades não serão suficientes para os objetivos do programa.
Os dados mínimos coletados por esse Programa de Monitorização são: idade,
procedência, data do início dos sintomas e do atendimento e plano de tratamento.
30
Este último item, segundo o Ministério da Saúde, é dividido nas categorias: planos
de tratamento A, B, C e Ignorado. Sendo estes:
Plano A: Diarreia sem desidratação, paciente atendido e dispensado com
orientaçõesde cuidados domiciliares levando sais hidratantes para casa;
Plano B: Diarreia com desidratação, paciente em observação na sala de TRO;
Plano C: Diarreia com desidratação grave e com reidratação endovenosa
(Queiroz, 2009).
O MDDA exige continuidade no tempo e em três componentes: a coleta de
informações, a análise e a circulação dos dados analisados, pois seus dados são
importantes indicadores dos níveis de saneamento, higiene, educação, qualidade
sanitária da cadeia produtiva de alimentos e informação de uma comunidade.
No trabalho apresentado por Costa et al. (2005), os autores, ressaltam a
importância do programa MDDA quando afirmam que esse programa fornece
indicadores permitindo a ação preventiva contras doenças por intermédio da
integração com o setor saneamento.
De acordo com dados da Monitorização das Doenças Diarreicas Agudas
disponibilizados pelo Ministério da Saúde em sua rede de acesso público, de 2000 a
2011, foram notificados 33.397.413 casos de DDA no Brasil. Em 2006, a estimativa
de incidência aumentou nas regiões Sul (13 por 1.000), Centro-Oeste (25 por 1.000)
e Nordeste (28 por 1.000) (Brasil, 2013b).
No ano de 2008 a estimativa de incidência aumentou na região Norte (33 por
1.000) e em 2009 a estimativa de incidência aumentou na região Sudeste (15 por
1.000). Em relação à estimativa de incidência de DDA por faixa etária, o ano de
2006 apresentou a maior estimativa para os menores de 1 ano (140 por 1.000), o
ano de 2008 apresentou as maiores estimativas para os de 1 a 4 anos (78 por
1.000) e 5 a 9 anos (27 por 1.000), e nos anos de 2008 e 2009 os maiores de 10
anos tiverem as mesmas estimativas de incidência (11 por 1.000) (Brasil, 2013b).
Em relação ao ano de 2012, a MDDA já registrou 874.768 casos de DDA,
sendo 75.463 em menores de 1 ano, 196.662 casos entre 1 a 4 anos, 98.283 entre 5
a 9 anos, 495.564 em maiores de 10 anos e 8.796 ignorados(Brasil, 2013b).
O estado do Pará notificou de 2000 a 2011, 1.470.544 casos de doença
diarreica aguda, sendo o estado da região Norte com maior número de casos nesse
período. No que se refere à mortalidade, o Pará notificou no referido período 2.254
31
óbitos por doença diarreica, mantendo-se com o maior número de casos na região
Norte (Brasil, 2013b).
1.3. O SANEAMENTO E SEU IMPACTO NA SAÚDE
Um dos mais importantes problemas de saúde do mundo, encontrados
principalmente em países em desenvolvimento, são as doenças infecciosas e
parasitárias,as quais na sua grande maioria são doenças relacionadas à água,
sendo típicas de ambientes precários onde não há saneamento básico ou, quando
existente, é inadequado (Fonseca & Vasconcelos, 2011).
A questão da associação saneamento e saúde têm sido estudada no meio
científico, sendo degrande relevância em ações de prevenção de doenças e
promoção da saúde. Foi visualizadapor diversos sábios do mundo antigo ediversos
códigos religiosos e culturas antigas recomendavam práticas higienistas. Há relatos
que a melhoria da qualidade da água já era praticada há mais de 4.000anos. No ano
de 2000 a.C. a OusrutaSanghita– coleção de preceitos médicos em Sânscrito –
incluiu a afirmativa que é bom manter a água em vasos de cobre, expô-la à luz do
sol e filtrá-laatravés do carvão de madeira (Queiroz, 2006).
Nos dias atuais esses preceitos são reforçados, inclusive, com a expansão do
conceito de saúde, o qual, segundo a Organização Pan Americana de Saúde
(OPAS, 2012), deve ser entendido como resultado do estilo de vida, condições
biológicas e acesso aos bens e serviços, diretamente relacionado aos determinantes
de saúde de uma comunidade, transcende as concepções que tendem a reduzir os
problemas sanitários ao âmbito das doenças e dos serviços de saúde
hospitalocêntricos, destacando-se os aspectos da promoção e prevenção.
Em conformidade a esse entendimento amplo, a Lei N° 8.080 de 1990, expõe
que a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, de
acordo com, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o
trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços
essenciais e que os níveis de saúde da população expressam a organização social e
econômica do país (Brasil, 1990).
Segundo Teixeira et al.(2012), há um reconhecimento científico quanto à
relação de causalidade entre condições inadequadas de saneamento básico —
abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana, manejo de
32
resíduos sólidos e drenagem — condições socioeconômicas e o quadro de saúde
pública existente em um determinado local, em um determinado momento.
A saúde deve ser pensada, segundo Teixeira et al.(2012), como resultado das
relações entre variáveis ambientais, sociais e econômicas que pressionam as
condições e a qualidade de vida. Logo, na análise da situação da saúde, indicadores
de desenvolvimento humano assumem uma importância fundamental, pois
documentam as condições de vida da população e dimensionam o espaço social em
que ocorrem as mudanças no estado de saúde.
Dessa forma, segundo Kronemberger (2011), a infraestrutura sanitária
deficiente desempenha uma interface com a situação de saúde e com as condições
de vida das populações dos países em desenvolvimento, onde as doenças
infecciosas continuam sendo uma importante causa de morbidade e mortalidade.
Freitas (2003) expõe que a ampliação da compreensão dos problemas
ambientais para alémdos aspectos de saneamento e controle de vetores, como a
recuperação da dimensão política esocial dos mesmos pode, em grande parte, ser
atribuída às questões que passaram a sercolocadas pelo movimento ambientalista
que começou a ganhar força a partir dos anos 1960 e 1970.
Para Freitas & Freitas (2005), a partir dos anos 1970 foi despendida uma
maior atenção nas açõesde conservação e preservação do meio ambiente e sua
interrelação com a saúde, uma vez que,em 1972, foi realizada em Estolcomo, na
Suécia, a Conferência das Nações Unidas sobreMeio Ambiente Humano. Essa foi a
primeira que contribuiu para que as atenções antes centradasapenas na
preservação da natureza biofísica passassem a permear discussões acerca
daameaça ao meio ambiente natural, em razão do exacerbado crescimento da
economia econsequente poluição industrial.
Na perspectiva de melhorar a saúde ambiental do planeta, e
consequentemente da população, a Organização das Nações Unidades (ONU)
estabeleceu em 13 de setembro de 2000 a Declaração do Milênio com Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM). Nesse documento, os estados membros das
Nações Unidas deverão cumprir os oito objetivos propostos juntamente com suas
metas e seus indicadores até 2015. Dentre os indicadores, define-se que os
governos devem assumir o compromisso de considerar a crise do saneamento,
como prioridade máxima em suas agendas (ONU, 2005).
33
Um marco brasileiro importante no que se refere à interrelação entre meio
ambiente e saúde foi a estruturação e institucionalização da Vigilância Ambiental no
âmbito do Ministério da Saúde, através do projeto VIGISUS no ano de 2000, que
objetiva conhecer e estimular a interação entre saúde, meio ambiente e
desenvolvimento visando ao fortalecimento da participação da população na
promoção da saúde e qualidade de vida.
No entanto, dados do Departamento de Informação Pública das Nações
Unidas (2012) apontam que o mundo está muito longe de atingir a meta acordada,
uma vez que 2,5 bilhões de pessoas ainda não têm saneamento básico, tais como
banheiros ou latrinas. Ressalta-se que apenas 63% das pessoas no mundo têm
acesso a saneamento básico, um quadro projetado para aumentar para 67% até
2015, bem abaixo dos 75% estabelecidos pelo Objetivo de Desenvolvimento do
Milênio. E a cobertura desse serviço é mais baixa na África Subsaariana e no Sul da
Ásia, onde 70% e 59% das pessoas não têm acesso respectivamente a saneamento
básico (UNITED NATIONS, 2012).
Em média, 88% de doenças em países em desenvolvimento são causados
por água não potável e saneamento precário, incluindo instalações de saneamento
inadequadas, além disso, mais de 80% da água residual não é coletada ou tratada,
havendo em decorrência desses fatos, a morte de cerca de 1,5 milhão de crianças a
cada ano – cinco mil por dia - por doenças diarreicas, em grande parte evitáveis por
medidas que proporcionem saneamento adequado e melhor higiene (UNITED
NATIONS, 2012).
A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2009) menciona o saneamento
precário como uma grave ameaça à saúde humana. Apesar de disseminada no
mundo, a falta de saneamento básico ainda é muito associada à pobreza afetando
principalmente a população de baixa renda; mais vulnerável devido à subnutrição e
muitas vezes pela higiene inadequada. Nesse contexto, doenças relacionadas a
sistemas de água e esgoto inadequados e as deficiências com a higiene causam a
morte de milhões de pessoas todos os anos, com prevalência nos países de baixa
renda (PIB per capita inferior a US$825,00).
Atualmente, segundo Teixeira et al. (2012), 80 milhões de latino-americanos
ainda carecem de acesso à água potável e mais de 100 milhões não dispõemde
serviços adequados de esgotamentosanitário. Destaca-se ainda que, somente
14%das águas residuárias na América Latinasão tratadas; 40% do total de resíduos
34
sólidosnão são dispostos adequadamente,contaminando o solo e os mananciais
deágua. Aproximadamente 23 crianças em 1.000nascidos vivos morrem antes de
completar 5 anos de idade, o que corresponde a 200 mil mortes por ano. Desses
óbitos, 20 mil sãoresultado de doenças diarreicas agudasque poderiam ser evitadas
pelo acesso àscondições de higiene adequadas e a infraestruturade esgotamento
sanitário ede abastecimento com água potável.
Desse modo, a intrínseca relação entre saneamento e saúde tem sido
discutida e reiterada por diversos estudos, e é evidente o benefício que as políticas
de saneamento exercem sobre as condições de saúde da população, especialmente
no que diz respeito às doenças infecciosas e parasitárias. Assim, o conhecimento
das condições do meio pertinente à saúde, como saneamento e moradia, é de
singular relevância no estabelecimento de medidas de promoção da qualidade de
vida do indivíduo, famílias e comunidades.
Nesse sentido, ao adotar as doenças diarreicas agudas como indicadoras
para as condições de saúde da população deste estudo, busca-se identificar o
reflexo na saúde da qualidade da água consumida, além de apontar outros fatores
sanitários e ambientais que são determinantes para a ocorrênciadeste agravo.
1.3.1. Saneamento no Brasil e estado do Pará
O saneamento básico é realizado com vistas a garantir a saúde, a segurança
e obemestar da população, evitando as ameaças decorrentes da presença de
contaminantes,detritos, resíduos, patógenos ou substâncias tóxicas em geral. Para
que osaneamento cumpra sua função é necessário considerar a qualidade das
redes e dosserviços oferecidos à população e que repercutem no nível de eficiência
e de respostaà demanda existente nesse setor (Guerra, 2011).
O saneamento ambiental, por sua vez, abrange aspectos que vão além do
saneamento básico, englobando o abastecimento de água potável, a coleta, o
tratamento e a disposição final dos esgotos e dos resíduos sólidos e gasosos, os
demais serviços de limpeza urbana, a drenagem urbana, o controle ambiental de
vetores e reservatórios de doenças, a disciplina da ocupação e de uso da terra e
obras especializadas para proteção e melhoria das condições de vida
(Kronembergeret al., 2011).
Nesta perspectiva, o saneamento ambiental representa mais que
infraestrutura sanitária quepromova a saúde física individual e populacional. Acima
35
de tudo, é condição paradesenvolvimento que proporcione a almejada qualidade de
vida relativa a todos os contextos(Kronembergeret al., 2011).
Entre os serviços de saneamento básico, adistribuição de água por rede geral
é aquele que apresenta a maior cobertura territorialdo país, coexistindo com formas
alternativas de acesso à água, como poçosartesianos, nascentes, carropipa,
cisternas, etc., comumente exploradas em áreasnão abrangidas pelo serviço
(Vieitas, 2011).
ParaKronembergeret al. (2011), diversos problemas ambientais estão
associados à falta ou à precariedadedo serviço de saneamento oferecido à
população, tais como: poluição ou contaminação na captação de água para
oabastecimento humano, poluição de rios, lagos, lagoas, aquíferos, doenças,
erosãoacelerada, assoreamento, inundações frequentes, com as consequentes
perdashumanas e materiais, mencionando apenas alguns exemplos.
NoBrasil, o saneamento básico é um direito assegurado pelaConstituição
Federal de 1988e definido pela Lei Nº 11.445/2007 como oconjunto dos serviços,
infraestrutura e instalações operacionaisde abastecimento de água, esgotamento
sanitário,limpeza urbana, drenagem urbana, manejos deresíduos sólidos e de águas
pluviais.E um dos princípios dessa lei é a universalizaçãodos serviços de
saneamento, para quetodos tenham acesso ao abastecimento de água de
qualidadee em quantidade suficientes às suas necessidades,além da coleta e
tratamento adequado do esgoto e do lixo, e ao manejo correto da água da chuva
(Brasil, 2007).
Sobre a situação do saneamento no Brasil, o IBGE (2011) organizou os dados
relativos ao Censo Demográfico realizado em 2010, optando por construir
indicadores que classificam o saneamento dos domicílios em três níveis: adequado,
semiadequado e inadequado.
Estes indicadores de adequabilidade do tipo de saneamento foram
apresentados como forma de melhor dimensionar as condições de saneamento
básico dos domicílios, deste modo, considera-se ―domicílio com saneamento
adequado‖ aquele domicílio com escoadouro ligado à rede geral ou à fossa séptica,
servido de água proveniente de rede geral de abastecimento e com destino do lixo
coletado diretamente ou indiretamente pelos serviços de limpeza.
Os ―domicílios com saneamento semiadequado‖ possuíam, pelo menos, um
dos serviços de abastecimento de água, esgoto ou lixo, classificados como
36
adequados e os ―domicílios com saneamento inadequado‖ não apresentaram
qualquer condição de saneamento básico considerado adequado, isto é, não
estavam conectados à rede geral de abastecimento de água, ao esgotamento
sanitário nem tinham acesso à coleta de lixo.
Houve um significativo crescimento da proporção de domicílios com
saneamento adequado entre 1991 e 2010 saindo de 45,3% para 61,8%. Neste caso,
o porte populacional funciona como o parâmetro de limites conforme pode ser
confirmado no gráfico a seguir, sendo a associação positiva – quanto maior o porte
populacional do município, melhor é a condição de saneamento do domicílio
(Figura1).
Figura 1 - Percentual de domicílios com saneamento adequado, segundo as classes de tamanho da população dos municípios - Brasil 1991/2010.Fonte: IBGE, 2011.
A comparação das condições de saneamento entre os municípios por
grandes regiões do país revela expressivas desigualdades espaciais. Na região
Norte do Brasil, apenas 22,4% dos domicílios apresentam condições adequadas de
saneamento, enquanto na região Sudeste esta proporção se eleva para 82,3%
(Figura 2).
37
Figura 2 - Percentual de domicílios com saneamento adequado, por classes de tamanho da população dos municípios, segundo as Grandes Regiões - 2010.Fonte: IBGE, 2011.
A Figura 3apresenta a diferença registrada entre os dados das Unidades da
Federação de 2000 e 2010, podendo perceber que houve, em geral, redução da
proporção de domicílios sem acesso ao conjunto de serviços básicos, situação que
configurava o saneamento inadequado, correspondendo a uma queda de 42,1%, no
período analisado.
38
Figura 3 - Proporção de domicílios com saneamento inadequado, segundo as Unidades da Federação 2000/2010.Fonte: IBGE, 2011.
Entretanto, essa redução foi bastante acentuada em algumas das capitais,
onde a redução da proporção de domicílios com saneamento inadequado foi, em
geral, superior à observada no conjunto das Unidades da Federação. Nas capitais
das regiões Norte e Nordeste, onde os níveis de saneamento inadequado eram mais
elevados, foi observada queda bastante significativa na oferta desse serviço no
período. Nas capitais das regiões Sul e Sudeste, os valores para 2000 já eram
consideravelmente baixos.
No estado do Pará a proporção de domicílios particulares permanentes com
saneamento adequado foi 18,96%, semiadequado 59,23% e inadequado 21,81% de
acordo com o Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2011). Em municípios do
Arquipélago Marajoara os índices são bem díspares, sendo que o município de
Anajás apresentou 2,16% de domicílios com saneamento adequado, 34,64%
semiadequado e 63,20% inadequado.
O município de Portel apresentou 4,31% de domicílios com saneamento
adequado, 45,80% semiadequado, 49,89% inadequado; e o município de Chaves
apresentou dados alarmantes com uma proporção de 1,09% de domicílios com
39
saneamento adequado; 16,69% semiadequado e 82,22% inadequado. E o município
de São Sebastião da Boa Vista apresenta cerca de 93,08% de domicílios com
saneamento inadequado, de acordo com último censo do IBGE.
No Brasil, a maior parte do volume de água tratada distribuída (69,2%) sofre o
processo convencional de tratamento empregado em maiores proporções nas
regiões Nordeste, Sudeste e Sul. Note-se que na região Norte, o tratamento
convencional é feito em menos da metade, 40,8%, da água distribuída e que recebe
algum tipo de tratamento, sendo que 31,7% do tratamento da água é feito por
processos não convencionais e 27,4% é feito por simples desinfecção (IBGE, 2010).
Em 2008, em todas as regiões do país a água disponibilizada à população por
meio de rede geral recebeu algum tipo de tratamento. Na região Norte, entretanto, o
avanço alcançado no percentual de água tratada distribuída à população que passou
de 67,6%, em 2000, para 74,3%, em 2008, não foi suficiente para que esta região se
aproximasse dos índices nacionais, pois o percentual de água distribuída que não
recebe nenhum tipo de tratamento, 25,6%, ainda permanece bem acima dos 7,1%
que representam a média nacional (IBGE, 2010).
Assim, a análise das proporções entre o volume distribuído e o volume de
água tratada revela uma diferença de padrão na região Norte com respeito às
demais regiões, uma vez que nas regiões Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste
mais de 90% da água distribuída recebe algum tipo de tratamento. A região Sul, por
sua vez, teve um incremento de 10% no volume de água distribuída à população,
porém não teve um acompanhamento no percentual de água tratada.
O estudo realizado por Kronemberger (2011) com os 100 maiores municípios
brasileiros em população apontou que em 2010, em 60 das 100 cidades analisadas
os baixos índices de população com coleta de esgoto foram acompanhados por
altas taxas de internação por diarreias (Kronemberger, 2011).
Os 10 municípios com melhores índices de população com coleta de esgoto
em 2010 foram Santos, Piracicaba, Jundiaí, Franca, Belo Horizonte (100% para
estes cinco primeiros), Uberaba (98,1%), Ribeirão Preto (97,8%), Sorocaba (97,5%),
Uberlândia (97,3%) e Governador Valadares (97,1%) (Kronemberger, 2011).
Já os 10 municípios com os piores índices de população com coleta de
esgoto em 2010 foram Ananindeua e Santarém (PA) (sem números declarados),
Porto Velho (1,5%), Blumenau (3,3), Macapá (5,6%), Jaboatão dos Guararapes
(6,8%), Belém (7,7%), Várzea Grande (13,1%), Teresina (15,2%) e Joinville (16,5%).
40
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011),
revelaram que a região amazônica brasileira permanece apresentando o maior
déficit nacional em termos de abastecimento de água. A pesquisa revela que 54,7%
dos domicílios amazônicos não têm acesso à rede geral e que apenas 10,5% dos
municípios da região possuem formas alternativas de abastecimento. Além disso,
segundo a mesma fonte, dentre os municípios que em 2008 distribuíam água sem
qualquer tipo de tratamento, 20,8% estão situados na região, com destaque para os
estados do Pará (40% dos municípios) e Amazonas (38,7% dos municípios).Esses
dados mostram a necessidade de ampliar o conhecimento do perfil sanitário e
doença diarreica aguda da população amazônida, particularmente as desprovidas do
serviço de saneamento básico.
41
1.4. OBJETIVOS
1.4.1. Objetivo Geral
Descrever o perfil sociodemográfico, das condições de saneamento básico e
da incidência de doença diarreica aguda nos municípios de Anajás, Portel,
Chaves e São Sebastião da Boa Vista, localizados no Arquipélago Marajoara,
Pará, no ano de 2012.
1.4.2. Objetivos Específicos
Caracterizar a população dos quatro municípios marajoaras no aspecto
sociodemográfico e condições ambientais;
Conhecer as condições de acesso à água potável e esgotamento sanitário
dos quatro municípios marajoaras;
Descrever a ocorrência da doença diarreica aguda por faixa etária e plano de
tratamento aplicado no ano de 2012;
Verificar a relação entre a ocorrência de diarreia e sazonalidade nos
municípios em estudo.
42
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1.DESENHO DE ESTUDO
Em atendimento ao Programa Pesquisa para o SUS: gestão compartilhada
em saúde (PPSUS/Edital FAPESPA 023/2009-DECIT, MS/CNPq) foi realizado o
projeto de pesquisa MARCADORES EPIDEMIOLÓGICOS EM SAÚDE NO
ARQUIPÉLAGO DO MARAJÓ, que abrangeu os municípios de Anajás, São
Sebastião da Boa Vista, Chaves. Desse modo, um total de 339 domicíliosforam
visitados nos quatro municípios selecionados no projeto no período de setembro de
2012 a abril de 2013, conforme Quadro 2.
Quadro 2- Número de domicílios participantes do estudo por município.
Municípios Número de domicílios
Anajás 87
Portel 90
Chaves 70
São Sebastião da Boa Vista 92
Total 339
Fonte: Dados deste estudo, 2013.
Trata-se de um estudo transversal, quantitativo de caráter descritivo, o qual
segundo Rouquayrol e Almeida Filho (2003) estuda a distribuição de frequência das
doenças e dos agravos à saúde coletiva, em função de variáveis ligadas ao tempo,
ao espaço e às pessoas, possibilitando o detalhamento do perfil epidemiológico,
com vistas ao aprimoramento das ações de assistência e prevenção da doença, de
promoção da saúde e do refinamento das hipóteses causais.
2.2. AMOSTRAGEM E COLETA DE DADOS
A amostra foi definida obedecendo o princípio da aleatoriedade a partir de
informações de micro áreas de abrangência da Estratégia de Saúde da Família em
área urbana de cada município. Com auxílio dos Agentes Comunitários de Saúde
foram visitados 100 domicílios em cada município, os quais foram selecionados
aleatoriamente de acordo com os cadastros das micro áreas. A visita aos municípios
43
de Anajás, Portel, Chaves e São Sebastião da Boa Vista ocorreu no período de
setembro de 2012 a abril de 2013.
Considerando os critérios de exclusão (domicílio desocupado, recusa em
participar do estudo e ausência de responsáveis legais para assinatura do termo de
consentimento livre e esclarecido), fizeram parte deste estudo 87 domicílios do
município de Anajás; 90 domicílios do município de Portel; 70 domicílios de Chaves
e 92 domicílios do município de São Sebastião da Boa Vista, totalizando 339
domicílios.
O estudo foi realizado com dados primários e secundários. Os dados
primários foram coletados através da visita domiciliar com aplicação de um
questionário (ANEXO 1) com perguntas semiabertas, referente às condições de
habitação, fontes e uso da água no domicílio, condições de infraestrutura sanitária e
dados socioeconômicos.
Os dados secundários sobre a ocorrência da doença diarreica aguda no ano
de 2012 foram obtidos na Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Pará (SESPA)
na base de dados do Programa de Monitoramento das Doenças Diarreicas Agudas
(PMDDA) disponíveis no Sistema de Vigilância Epidemiológica (SIVEP).
Por fim, os dados secundários relativos aos índices de precipitação na
Estação de Breves e na Estação de Soure, foram obtidos na base de dados do
Instituto Nacional de Meteorologia após a realização de cadastro na página virtual do
instituto.
2.3.ANÁLISE DA ÁGUA DE CONSUMO
Foi coletado em cada domicílio um volume de 100 mL de água de consumo
diretamente dos recipientes de armazenamento da água para beber, a água foi
armazenada em bolsas plásticas estéreis (Thio Bag), as quais foram submetidas ao
teste quantitativo para a determinação do Número Mais Provável (NMP) de
Coliformes Totais, através da técnica do Substrato Cromogênico Definido ONPG-
MUG (INDEXX/Colilert®). Essa análise foi realizada por profissionais habilitados
vinculados ao projeto "Marcadores Epidemiológicos em Saúde no Arquipélago do
Marajó ".
44
2.4.ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados coletados com a aplicação do questionário foram armazenados
num banco de dados utilizando o software Epi Info 7.1.1.14. A partir do banco de
dados foram construídas as tabelas e figuras com auxílio do softwareMicrosoft Excel
2007. O teste estatístico foi realizado com auxílio do software BioEstat 5.0 (Ayres,
2007).
Para comparar a distribuição do número de casos da doença diarreica aguda
com o índice de precipitação foi aplicado o Teste G para duas amostras
independentes - tabela de contingências. Para verificar se o número de casos foi
superior à media anual nos doze meses do ano de 2012 em cada município foi
aplicado o Teste G para uma amostra - aderência. Sendo considerado o nível de
significância de 5% (α = 0,05) em todas as situações descritas.
2.5. ÁREA DE ESTUDO
O Arquipélago do Marajó localiza-se na foz do rio Amazonas, apresenta
geomorfologia própria e paisagens naturais heterogêneas, que o fazem de grande
interesse para a pesquisa de ecossistemas e para aproveitamento turístico. Embora
com fortes atributos naturais, seus municípios componentes, demandam por
atividades econômicas que sustentem a população ali residente (Lima et al., 2005).
Descoberta pelo espanhol Vicente Pizón e batizada como Ilha Grande de
Joanes, a ilha recebeu em 1754 o nome de Marajó, que em tupi significa ―barreira do
mar‖. O Arquipélago, formado por um conjunto de ilhas que constitui a maior ilha
fluvial do mundo, com 49.606 Km2, está integralmente situado no Estado do Pará e
constitui-se numa das mais ricas regiões do País em termos de recursos hídricos e
biológicos (Brasil, 2007).
A Mesorregião Geográfica do Marajó (Figura 4) é composta por dezesseis
municípios, segundo o IBGE (2011), que além do arquipélago, alcança alguns
municípios do continente. É constituída de três microrregiões geográficas (MRG):
Ariri, Furos de Breves e Portel. As duas primeiras compreendem municípios
inseridos integralmente no Arquipélago do Marajó. Já a MRG de Portel abrange
municípios com sedes em áreas continentais, na porção sul/sudoeste da
mesorregião.Segue uma breve descrição dos municípios integrantes do estudo.
45
Figura 4 - Mesorregião do Marajó. Fonte: Brasil, 2007.
2.5.1.Anajás
Anos antes do período colonial, na região oeste da ilha de Marajó, viviam
índios que eram chamados de Anajás, nome indígena de uma tribo que habitava o
centro da Ilha Grande de Joannes ou do Marajó.Catequizada pelos jesuítas, a
região, banhada pelo rio Anajás, foi se desenvolvendo, ao mesmo tempo em que
toda a ilha do Marajó prosperava. Assim, a cidade deve sua existência ao
desenvolvimento daquela região, primitivamente chamada Mocoões.Em
cumprimento ao Decreto Lei nº 3.131, de 31 de outubro de 1938, restaurou-se o
Município, como Distrito de Anajás e parte do Município de Afuá. A partir daí,
apresenta-se constituído somente do Distrito de Anajás (IBGE, 2011).
Centro Geográfico da ilha do Marajó, o Município de Anajás é considerado o
coração do arquipélago marajoara. A sua paisagem é composta por, rios, fazendas e
uma infinidade de igarapés. Localizado a 172 km em linha reta de Belém, limita-se
ao norte com Chaves; a noroeste com Afuá; ao sul com São Sebastião da Boa Vista
e a oeste com Breves (Lima et al., 2005).
46
De acordo com o IBGE (2010), a população anajaense é constituída por
24.759 habitantes e possui área de aproximadamente 6.900 Km², com densidade
demográfica de 3,58 habitantes/Km².Dados do Censo Demográfico de 2010
apontam uma população urbana de 9.494 habitantes em oposição a 15.265
habitantes que vivem em áreas rurais; apresenta uma taxa de analfabetismo de
31,20%; baixa renda média domiciliar per capita apenas R$186,20 e uma elevada
proporção de crianças em situação domiciliar de baixa renda em torno de 90%.
2.5.2.Chaves
O atual município localiza-se na zona fisiográfica de Marajó e Ilhas,
primitivamente fora uma aldeia dos índios Aruanãs, onde os Capuchos da Província
de Santo Antônio fundaram uma missão para catequizar os selvículas.Por ato de
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, em 1757, a aldeia adquiriu o predicado de
Vila, passando a servir de centro militar em fins do século XVIII (IBGE, 2011).
Um fato de grande significado ocorrido no município, em 1823, foi o ato de
adesão, com a proclamação, de D. Pedro I, Imperador do Brasil.Em 1833, Chaves
passou a chamar-se Equador, e, em 1844 readquiriu a denominação anterior, por
ocasião da marcação dos seus limites. No período republicano, em 1889, ocorreu a
criação da Comarca de Chaves, que foi instalada no ano seguinte. Em 1891 a Vila
do então município obteve elevação à categoria de Cidade (IBGE, 2011).
O município de Chaves, na Ilha do Marajó, mantém características de vilarejo,
com ruas largas formadas por campos naturais. Uma cidade sossegada e simples. A
praia de Chaves, com aproximadamente seis quilômetros de extensão tem como
principal característica uma vegetação original existente na orla, caracterizada por
árvores de grande porte (Lima et al., 2005).
A população do município de Chaves, segundo o IBGE (2011), é de pouco
mais de 21 mil habitantes, que ocupam um território de 13.080 Km², com densidade
demográfica de 1,6 habitantes/Km².A população urbana desse município é de 2.510
habitantes e a população rural é de 18.495 habitantes; a taxa de analfabetismo é de
29,90%; renda média domiciliar per capita de R$198,37 e proporção de crianças em
situação domiciliar de baixa renda em torno de 85,94% (IBGE, 2011).
47
2.5.3.Portel
No local onde está localizado o Município de Portel, existia primitivamente,
uma aldeia de índios, que em 1653, foi reorganizada pelo padre Antonio Vieira, ao
introduzir os índios Nheengaíbas, trazidos da ilha de Marajó, ficando sob a direção
dos padres da Companhia de Jesus, com a denominação de Aricuru (ou Arucurá),
até a expulsão dos jesuítas, época em que já era freguesia, sob a invocação de
Nossa Senhora da Luz (IBGE, 2011).
Em 1858, o governador e capitão-geral Francisco Xavier de Mendonça
Furtado elevou-a à categoria de Vila, mudou-lhe o nome para Portel, denominação
portuguesa que significa Porto Pequeno, e instalado pessoalmente o Município, em
24 de janeiro do mesmo ano. Em 10 de maio de 1988, Portel teve sua área
desmembrada, para ser criado o Município de Pacajá. Atualmente, o Município é
composto somente do distrito-sede (IBGE, 2011).
O município de Portel possui população superior a 54 mil habitantes,
distribuídos em um território de aproximadamente 25.000 Km², sua densidade
demográfica é de 2,6 habitantes/Km². A população urbana do município é de 24.852
habitantes, população rural de 25.534 habitantes; apresenta taxa de analfabetismo
de 29,80%; renda média domiciliar per capitaR$ 191,60; proporção de crianças em
situação domiciliar de baixa renda de 88,28% (IBGE, 2011).
2.5.4.São Sebastião da Boa Vista
Desconhece-se, precisamente, a origem histórica do atual município de São
Sebastião da Boa Vista, localizado no nordeste do Estado do Pará, na zona
fisiográfica do Marajó e Ilhas. Porém, em 1758, já figurava como freguesia sob a
invocação de São Sebastião. Sabe-se, também que, mais tarde, a localidade perdeu
esse predicado e foi anexada ao território da freguesia de São Francisco de Paula,
no município de Muaná, até 1868, quando lhe foi restituído o título (IBGE, 2011).
Quatro anos depois, adquiriu categoria de Vila e Município, cuja instalação
ocorreu em 1873. Entretanto, São Sebastião da Boa Vista veio a ser extinto,
respectivamente, nos anos de 1879, 1882 e 1922.Finalmente, em 1943,
desmembrou-se do município de Muaná para constituir-se em unidade autônoma.O
topônimo de formação portuguesa foi dado à localidade em homenagem ao
Padroeiro local e, também, segundo Ferreira Pena, "provém do fenômeno de
miragem, que oferece a vista do povoado aos que dele se aproximam" (IBGE, 2011).
48
A população boa-vistense é constituída por pouco mais de 23 mil habitantes
com área territorial de 1.600 Km². A densidade populacional do município é de 14,03
habitantes/Km². A população urbana é de 9.902 habitantes e a população rural de
13.002 habitantes; taxa de analfabetismo de 14,80%; renda familiar per capita de R$
202,54 e 84,58% de crianças vivendo em situação domiciliar de baixa renda (IBGE,
2011).
2.6.ASPECTOS ÉTICOS
Os dados utilizados neste estudo são provenientes de um projeto maior já
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do centro de Hemoterapia e
Hematologia do Pará – Fundação HEMOPA, Nº 0003.0.324.000-10(ANEXO 2),
seguindo as diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres
humanos descritasna Resolução 196/96.Todos os dados foram obtidos mediante
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO 3) pelo
participante e as informações referentes aos menores de idade foram fornecidas
pelo responsável legal.
2.7.RISCOS E BENEFÍCIOS
O estudo não ofereceu riscos, uma vez que foiessencialmente documental,
podendo oferecercomo benefício o auxílio no planejamento de medidas de
promoção de saúde e de prevenção de doenças infecciosas nos municípios
estudados.
49
3. RESULTADOS
3.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS E SOCIOECONÔMICAS
A faixa etária predominante nos municípios de Anajás e Chaves foi a faixa de
32 a 49 anos, em Portel a de 49 a 66 anos e em São Sebastião a faixa de 15 a 32
anos (Tabela 1).
Tabela 1 - Distribuição em percentual das faixas etárias dos
indivíduos que responderam ao questionário por município.
Faixa Etária Anajás Portel Chaves *São
Sebastião
15 |— 32 24,1 25,6 22,9 45,7
32 |— 49 40,2 30,0 41,4 30,4
49 |— 66 28,7 33,3 24,3 19,6
66 |— 83 5,7 11,1 10,0 4,3
83 |— 100 1,1 0,0 1,4 0,0
Total % 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo, 2013. *São Sebastião da Boa Vista.
Observou-se um elevado índice de participantes com ensino fundamental
incompleto, no município de Chaves esse nível teve frequencia superior a 55%; em
Portel ocorreu elevado número de indivíduos analfabetos correspondendo a 30%
(Tabela 2).
Tabela 2 - Distribuição em percentual do nível de escolaridade dos indivíduos que responderam ao questionário por município.
Nível de Escolaridade Anajás Portel Chaves *São
Sebastião
Analfabeto 14,9 30,0 11,4 2,2
Fundamental Incompleto 47,1 38,9 55,7 48,9
Fundamental Completo 3,4 3,3 10,0 12,0
Médio Incompleto 5,7 5,6 4,3 16,3
Médio Completo 13,8 14,4 15,7 17,4
Superior Incompleto 1,1 1,1 2,9 1,1
Superior Completo 3,4 6,7 0,0 2,2
Sem informação 10,3 0,0 0,0 0,0
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo, 2013. *São Sebastião da Boa Vista.
50
Na Tabela 3 estão distribuídas as principais atividades econômicas dos
mantenedores dos domicílios, sendo observado que a atividade informal foi a mais
frequente, nesta estão incluídas inúmeras práticas de comércio de produtos,
alimentos e serviços sem formalização.
A categoria de beneficiários de Programas e Benefícios incluiu indivíduos que
recebem auxílios do sistema previdenciário vigente ou participam de programas
como o Bolsa Família. Já a categoria da Atividade Formal incluiu funcionários
públicos, prestadores de serviço temporário à instituições públicas como agentes
Comunitários de Saúde, Agentes de Portaria entre outros. Houve ainda, um elevado
número de participantes que não informou a atividade realizada.
Tabela 3 - Distribuição em percentual da principal atividade econômica dos
mantenedores dos domicílios por município.
Principal atividade Econômica
Anajás Portel Chaves *São
Sebastião
Aposentado 3,4 14,4 14,3 4,3
Benefícios e Programas 8,0 3,3 2,9 9,8
Atividade Informal 59,8 44,4 61,4 52,2
Atividade Formal 11,5 23,3 15,7 12,0
Não informou 17,2 5,6 5,7 21,7
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo, 2013. *São Sebastião da Boa Vista.
Houve elevada frequência de domicílios com renda mensal de um a dois
salários mínimos seguido por renda menor que um salário mínimo (Tabela 4).
Tabela 4 - Distribuição em percentual da renda mensal dos mantenedores dos domicílios por município.
Renda mensal (Salário Mínimo)
Anajás Portel Chaves *São
Sebastião
< 1 27,6 17,8 22,9 35,9
1 a 2 51,7 65,6 68,6 50,0
3 a 4 18,4 14,4 7,1 12,0
> 5 2,3 2,2 1,4 2,2
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo, 2013. *São Sebastião da Boa Vista.
51
3.2. CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS DOS DOMICÍLIOS DO ESTUDO
Observado um elevado índice de terrenos alagadiços (Tabela 5). Na presença
de chuvas intensas o domicílio chega a ser invadido pela água ou ainda ocorre o
contato direto com água empoçada para acessar o domicílio.
Tabela 5 - Distribuição em percentual das condições dos terrenos onde estão construídos os domicílios por município.
Condições do terreno Anajás Portel Chaves *São
Sebastião
Alagadiço 64,4 54,4 44,3 69,6
Alagado 10,3 3,3 31,4 16,3
Firme/seco 20,7 42,2 22,9 14,1
Outros 4,6 0,0 1,4 0,0
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo, 2013. *São Sebastião da Boa Vista.
Nos municípios de Chaves e São Sebastião a segunda maior frequência foi
de terrenos alagados (31,43% e 16,30% respectivamente), significando que esses
domicílios estão com água em seu entorno por períodos prolongados mesmo após
os períodos chuvosos.
52
Na Figura 5 observa-se como o domicílio está construído em região alagada,
sobre o rio, no município de São Sebastião da Boa Vista.
Figura 5 - Domicílio construído em terreno alagado no município de São Sebastião da Boa Vista - Pará. Fonte: Dados deste estudo, 2013.
Observou-se elevada frequência de casas construídas em madeira nos quatro
municípios (Tabela 6).
Tabela 6 - Distribuição em percentual do tipo de material de construção do domicílio por município.
Tipo de material de construção do domicílio
Anajás Portel Chaves *São
Sebastião
Alvenaria 8,0 34,4 14,3 8,7
Madeira 90,8 61,1 85,7 89,1
Madeira/Alvenaria 1,1 3,3 0,0 2,2
Taipa 0,0 1,1 0,0 0,0
Total (%) 100,00 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo, 2013. *São Sebastião da Boa Vista.
53
Observa-se nas Figuras6e 7 alguns domicílios dos municípios de São
Sebastião da Boa Vista e Anajás, todos construídos em madeira.
Figura 6 - Domicílios construídos em madeira nos municípios de São Sebastião da Boa Vista - Pará. Fonte: Dados deste estudo, 2013.
Figura 7 - Domicílios construídos em madeira nos município de Anajás - Pará. Fonte: Dados deste estudo, 2013.
54
Os materiais mais utilizados para a cobertura dos domicílios foram as telhas
de fibrocimento em Anajás, Portel e Chaves e telhas de barro em São Sebastião da
Boa Vista (Tabela 7).
Tabela 7 - Distribuição em percentual do tipo de material utilizado na cobertura dos domicílios por município.
Tipo de material de cobertura do domicílio
Anajás Portel Chaves *São
Sebastião
Telhas de Fibrocimento 95,4 77,8 84,3 30,4
Telhas de Barro 3,4 22,2 14,3 54,3
Palha 0,0 0,0 1,4 10,9
Outros 1,1 0,0 0,0 4,3
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo, 2013. *São Sebastião da Boa Vista.
Na construção do piso dos domicílios, os materiais mais utilizados foram
madeira e cimento em Portel e Chaves e madeira e cerâmica em Anajás e São
Sebastião (Tabela 8).
Tabela 8 - Distribuição em percentual do tipo de material utilizado na construção do piso dos domicílios por município.
Tipo de material de construção do piso
Anajás Portel Chaves *São
Sebastião
Terra Batida 1,1 0,0 1,4 2,2
Madeira 78,2 46,7 65,7 84,8
Cimento 4,6 33,3 27,1 1,1
Cerâmica 16,1 20,0 5,7 12,0
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo, 2013. *São Sebastião da Boa Vista.
55
Houve elevada frequência de domicílios com três a quatro cômodos nos
quatro municípios (Tabela 9).
Tabela 9 - Distribuição em percentual do número de cômodos dos
domicílios por município.
Número de Cômodos Anajás Portel Chaves *São Sebastião
1 a 2 21,8 12,2 12,9 17,4
3 a 4 46,0 48,9 54,3 50,0
5 a 6 28,7 27,8 27,1 27,2
7 a 8 1,1 10,0 4,3 5,4
9 a 10 2,3 1,1 1,4 0,0
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo, 2013. *São Sebastião da Boa Vista.
Houve maior frequência de domicílios ocupados com uma a cinco pessoas
seguida por elevada frequência de domicílios ocupados com seis a dez pessoas nos
quatro municípios, sendo que em Portel a diferença entre elas foi de pouco mais de
1% (Tabela 10).
Tabela 10 - Distribuição em percentual do número de ocupantes dos domicílios por município.
Número de pessoas no domicílio
Anajás Portel Chaves *São
Sebastião
01 a 05 56,3 47,8 58,6 65,2
06 a 10 35,6 46,7 37,1 31,6
11 a 15 8,0 5,6 4,3 3,3
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo, 2013. *São Sebastião da Boa Vista.
56
Observou-se maior número de domicílios com banheiros construídos na área
externa em Anajás, Portel e São Sebastião, somente em Chaves houve predomínio
de domicílios com banheiro construídos em seus interiores (Tabela 11).
Tabela 11 - Distribuição em percentual do local de instalação do banheiro
dos domicílios por município.
Local de instalação do banheiro
Anajás Portel Chaves *São
Sebastião
Não possui 2,3 1,1 2,9 1,1
Fora do domicílio 48,3 48,9 41,4 57,6
Dentro do domicílio 47,1 45,6 55,7 41,3
Dentro/Fora 2,3 4,4 0,0 0,0
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo, 2013. *São Sebastião da Boa Vista.
Observa-se na Figura 8 a estrutura física de um banheiro construído na
área externa do domicílio no município de Portel.
Figura 8 - Estrutura física do banheiro de um domicílio do município de Portel-Pará. Fonte: Dados deste estudo, 2013.
57
3.3. CONDIÇÕES SANITÁRIAS DOS DOMICÍLIOS EM ESTUDO
Observou-se elevada frequência de domicílios sem acesso à rede de
esgotamento sanitário em todos os municípios do estudo(Tabela 12).
Tabela 12 - Distribuição em percentual dos domicílios com e sem acesso à
rede de esgotamento sanitário por município.
Acesso à rede de esgotamento sanitário
Anajás Portel Chaves *São Sebastião
Domicílios sem acesso 90,8 86,7 97,1 93,5
Domicílios com acesso 9,2 13,3 2,9 6,5
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo, 2013. *São Sebastião da Boa Vista.
O destino dado aos dejetos apresentou frequências diferentes nos quatro
municípios, sendo a fossa séptica a mais frequente em Anajás, Portel e Chaves, já
em São Sebastião da Boa Vista a maior frequência foi da deposição à céu aberto
(Tabela 13).
Tabela 13 - Distribuição em percentual do destino dado aos dejetos nos domicílios por município.
Destino dado aos dejetos Anajás Portel Chaves *São Sebastião
Céu Aberto 27,6 10,0 18,6 47,9
Fossa Rudimentar 25,3 38,9 25,7 8,7
Fossa Séptica 34,5 45,5 54,3 38,0
Rede Pública 9,2 5,6 1,4 0,0
Rio/Igarapé 0,0 0,0 0,0 5,4
Total (%) 100,0 100,00 100,0 100,00
Fonte: Dados deste estudo, 2013. *São Sebastião da Boa Vista.
58
No que se refere ao destino dado ao lixo, foi observada elevada frequência de
domicílios cujo lixo é recolhido em coleta pública, porém em Anajás e Portel ainda
existe uma frequência elevada de domicílios que queimam o lixo (Tabela 14).
Tabela 14 - Distribuição em percentual do destino dado ao lixo nos domicílios por município.
Destino dado ao lixo Anajás Portel Chaves *São
Sebastião
Coleta Pública 75,9 86,7 82,8 96,7
Queimado 14,9 11,1 4,3 2,2
Rio/Igarapé 0,0 0,0 2,9 0,0
Coleta Púb./Queimado 9,2 2,2 10,0 1,1
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo. *São Sebastião da Boa Vista.
A origem da água de consumo foi diferente entre os municípios do estudo,
sendo em Anajás o poço escavado o mais freqüente, o poço artesiano em Portel, a
rede pública em Chaves e São Sebastião da Boa Vista (Tabela 15).
Tabela 15 - Distribuição em percentual da origem da água de consumo utilizada nos domicílios por município.
Origem da água de consumo
Anajás Portel Chaves *São Sebastião
Poço Artesiano 1,1 72,2 1,4 7,6
Poço Escavado 63,2 6,7 2,9 0,0
Poço Art./Escavado 0,0 2,2 0,0 0,0
Rede Pública 26,4 18,9 94,3 80,4
Rio/Igarapé 9,2 0,0 1,4 12,0
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo. *São Sebastião da Boa Vista.
59
Na Figura 9 observa-se a localização e estrutura geral de um poço escavado,
fonte da água de consumo de um domicílio do município de Anajás. Nota-se que o
mesmo está construído em nível mais baixo que o domicílio em local com presença
de lixo e entulhos, ficando, desse modo, desprotegido em situações de enchentes e
alagamentos e podendo ser invadido por esses materiais presentes em seu entorno.
Figura 9 - Local de instalação e aspecto geral do poço escavado fonte da água de consumo de um domicílio no município de Anajás - Pará. Fonte: Dados deste estudo.
Na investigação sobre o tipo de recipiente utilizado nos domicílios para o
armazenamento da água de consumo, foi identificada elevada freqüência de
utilização de recipientes plásticos nos quatro municípios em estudo (Tabela 16).
Tabela 16 - Distribuição em percentual do recipiente de armazenamento da
água de consumo nos domicílios por município.
Tipo de recipiente Anajás Portel Chaves *São
Sebastião
Recipiente plástico 93,1 94,4 90,0 96,7
Recipiente de vidro 4,6 2,2 7,1 0,0
Recipiente de alumínio 2,3 3,3 2,9 3,3
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo. *São Sebastião da Boa Vista.
60
Observa-se na Figura 10 o tipo de recipiente plástico utilizado para armazenar
a água de consumo em um domicílio do município de São Sebastião da Boa Vista.
Figura 10 - Recipiente de armazenamento da água de consumo em um domicílio do municípiode São Sebastião da Boa Vista - Pará. Fonte: Dados deste estudo.
Na Figura 11observa-se as embalagens de refrigerantes sendo reutilizadas
para armazenar a água de consumo em um domicílio do município de Chaves.
Figura 11 - Recipiente de armazenamento da água de consumo em um domicílio do município de Chaves - Pará. Fonte: Dados deste estudo.
61
Entre os tipos de tratamentos dispensados à água de consumo, os mais
freqüentes em Anajás, Portel e Chaves foram a Fervura associada à Filtração, já em
São Sebastião a Filtração foi a mais frequente (Tabela 17).
Tabela 17 - Distribuição em percentual dos tipos de tratamento dispensado à água de consumo nos domicílios por município.
Tipo de tratamento Anajás Portel Chaves *São Sebastião
Hipoclorito 11,5 14,4 11,4 7,6
Filtração 13,8 11,1 7,1 85,9
Fervura e Hipoclorito 28,7 11,1 21,4 0,0
Fervura e Filtração 36,8 55,6 54,3 0,0
Filtração e Hipoclorito 0,0 0,0 0,0 6,5
Água Mineral 9,2 7,8 5,7 0,0
Total (%) 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: Dados deste estudo. *São Sebastião da Boa Vista.
Foram analisadas amostras da água de consumo de 100% dos domicílios
integrantes do estudo em Anajás; 98,9% dos domicílios em Portel; 100% em Chaves
e 94,56% em São Sebastião e foi confirmada presença de coliformes totais em todas
as amostras analisadas nos quatro municípios (Tabela 18).
Tabela 18 - Distribuição das amostras de água coletadas nos domicílios quanto à positividade para coliformes totais por município.
Municípios Total de
domicílios Amostras
Analisadas Amostras Positivas
Anajás 87 87 87
Portel 90 89 89
Chaves 70 70 70
*São Sebastião 92 87 87
Total 339 333 333
Fonte: Dados deste estudo. *São Sebastião da Boa Vista.
62
Na Figura 12 visualiza-se crianças coletando água no município de Chaves e
armazenando em recipiente plástico. É notória a condição insalubre do meio.
Figura 12 - Coleta e armazenamento da água de consumo em fonte pública no município de Chaves - Pará. Fonte: Dados deste estudo.
63
3.4. DOENÇA DIARREICA AGUDA NOS MUNICÍPIOS EM ESTUDO
Considerando que a doença diarreia aguda é um dos agravos que mais
acomete a população que não tem acesso aos serviços de saneamento básico, será
abordada nesse momento a ocorrência da doença diarreica aguda no ano de 2012
nos municípios de Anajás, Portel, Chaves e São Sebastião da Boa Vista de acordo
com dados do Programa de Monitoramento das Doenças Diarreicas Agudas
(PMDDA) disponibilizados pela Secretaria Estadual de Saúde do estado do Pará.
No Quadro 3 apresenta-se informações sobre o número de habitantes dos
municípios de acordo com o IBGE (2012) e o número de casos da doença diarreica
aguda de acordo com o PMDDA. Observa-se que Portel possui a maior população
entre os quatro municípios e teve maior número de casos de doença diarreica
registrados.
Quadro 3: Número de habitantes e número de casos de doença diarreica aguda nos municípios em estudo.
Municípios População-2012 Casos de DDA
Anajás 25.731 849
Portel 54.306 3.237
Chaves 21.557 179
São Sebastião da Boa Vista 23.696 1.107
Fonte: IBGE, 2012; PMDDA, 2013.
No Quadro 4 estão dispostas informações acerca do número de habitantes de
cada faixa etária utilizada pelo programa de monitoramento que são: menores de 01
ano, de um a quatro anos, cinco a nove anos e maiores de dez anos, nesta última
faixa não está especificado o limite superior, estão incluídos, deste modo, todas as
idades superiores a dez anos, ficando, inclusive, desproporcional às demais faixas
etárias.
Quadro 4: Número de habitantes de cada faixa etária nos municípios em estudo.
Faixa Etária População
Anajás Portel Chaves *São Sebastião
<1 743 1.718 565 579
1 a 4 3.056 6.553 2.272 2.300
5 a 9 3.826 8.127 2.901 2.906
10 + 18.106 37.908 15.819 17.911
Total 25.731 54.306 21.557 23.696
Fonte: IBGE, 2012. *São Sebastião da Boa Vista.
64
No estudo, buscou-se identificar o número de unidades de saúde, entre
postos de saúde e unidades de saúde da família ou do programa de agentes
comunitários de saúde, existentes nos municípios de acordo com o Cadastro
Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES, 2013), bem como verificar quantas
unidades estão com o PMDDA implantado e quantas dessas unidades registraram
casos no ano de 2012, esses dados estão dispostos no Quadro 5.
Quadro 5: Número de unidades de saúde com PMDDA implantado e número de
unidades que registraram casos de doença diarreica aguda em 2012.
Municípios Unidades de
Saúde / CNES Unidades com
PMDDA
Unidades que registraram
casos de DDA
Anajás 05 02 02
Portel 17 07 03 a 07
Chaves 15 01 01
São Sebastião da Boa Vista 10 07 01
Fonte: CNES, 2013; PMDDA, 2013.
Observa-se com o disposto no Quadro 5 que existem unidades com o
programa de monitoramento implantado que não estão registrando casos o que
pode influenciar no número total de casos informados pelos municípios.
No programa de monitoramento o caso da doença é registrado informando a
faixa etária e a semana epidemiológica na qual ocorreu, bem como o tipo de
tratamento (A, B, C ou ignorado – IGN) que foi aplicado ou prescrito pelo profissional
que atendeu o cliente do serviço de saúde.
Entre os resultados deste estudo serão apresentados os casos distribuídos de
acordo com a faixa etária, os planos de tratamento e o mês de ocorrência no ano de
2012 para observar se ocorreram oscilações na ocorrência da doença diarreica nos
municípios.
65
Na Figura 13 apresenta-se a incidência da doença diarreica aguda por faixa
etária nos municípios em estudo no ano de 2012 e observa-se elevada incidência
em menores de cinco anos nos quatro municípios, sendo que em Anajás, Portel e
São Sebastião da Boa Vista foi superior a 60%.
Figura 13 - Incidência da doença diarreica aguda nos municípios em estudo no ano de 2012. Fonte: Dados do PMDDA, 2013.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Anajás Portel Chaves São Sebastião
Incid
ên
cia
po
r 1
00
ha
bita
nte
s
10 +
5 a 9
1 a 4
< 1
66
Na Figura 14 estão dispostas as frequências de utilização dos planos de
tratamento A, B e C em cada município, observa-se que em Anajás, Chaves e São
Sebastião o plano A foi o mais utilizado, sendo ele indicado para casos de doença
diarreica sem sinais de desidratação, já em Portel, houve elevada frequência de
aplicação do plano B (77,4%), o qual é utilizado para casos de diarreia com
desidratação.
Figura 14 - Planos de tratamento aplicados aos pacientes com doença diarreica aguda no ano de 2012 nos municípios do estudo. Fonte: Dados do PMDDA, 2013.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Anajás Portel Chaves São Sebastião
Pe
rce
ntu
al (
%)
IGN
C
B
A
67
No que se refere à ocorrência da doença nos meses do ano, observa-se na
Figura 15 que no município de Anajás ocorre uma elevação do número de casos
entre os meses de julho e dezembro, principalmente de setembro a novembro (99,
94 e 96 casos respectivamente). A linha fixa da figura corresponde a uma média
anual estabelecida, simulando uma ocorrência regular da doença em todos os
meses do ano.
O Teste G realizado para averiguar se o número de casos é semelhante em
todos os meses do ano resultou em p< 0,0001, apontando que o número de casos
difere significativamente entre os meses do ano neste município.
Figura 15 - Distribuição da ocorrência da doença diarreica aguda no município de Anajás-Pará no ano de 2012, comparada à média anual. Fonte: Dados do PMDDA, 2013.
0
2
4
6
8
10
12
14
Pe
rce
ntu
al (
%)
Frequência real
Média Anual
68
No município de Portel houve aumento do número de casos nos meses de
janeiro, julho e novembro, sendo a maior freqüência registrada em julho (407 casos,
12,57%). A média anual também foi utilizada para simular uma ocorrência regular da
doença em todos os meses do ano, como está disposto na Figura 16.
O Teste G realizado para averiguar se o número de casos é semelhante em
todos os meses do ano resultou em p< 0,0001, apontando que o número de casos
difere significativamente entre os meses do ano neste município.
Figura 16 - Distribuição da ocorrência da doença diarreica aguda no município de Portel-Pará no ano de 2012, comparada à média anual. Fonte: Dados do PMDDA, 2013.
0
2
4
6
8
10
12
14
Pe
rce
ntu
al(
%)
Frequência realMédia Anual
69
No município de Chaves, houve maior incidência da doença diarréica no
período de fevereiro a abril, sendo a maior freqüência registrada no mês de março
(38 casos, 21,22%), como apresentado na Figura 17.
O Teste G realizado para averiguar se o número de casos é semelhante em
todos os meses do ano resultou em p< 0,0001, apontando que o número de casos
difere significativamente entre os meses do ano neste município.
Figura 17 - Distribuição da ocorrência da doença diarreica aguda no município de Chaves-Pará no ano de 2012, comparada à média anual. Fonte: Dados do PMDDA, 2013.
0
5
10
15
20
25
Pe
rce
ntu
al(
%)
Frequência real
Média Anual
70
No município de São Sebastião da Boa Vista houve aumento da incidência da
doença no período de maio a setembro, sendo a maior freqüência registrada no mês
de setembro (167 casos, 15%) como observado na Figura 18.
O Teste G realizado para averiguar se o número de casos é semelhante em
todos os meses do ano resultou em p< 0,0001, apontando que o número de casos
difere significativamente entre os meses do ano neste município.
Figura 18 - Distribuição da ocorrência da doença diarreica aguda no município de São Sebastião da Boa Vista-Pará no ano de 2012, comparada à média anual. Fonte: Dados do PMDDA, 2013.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Pe
rce
ntu
al (
%)
Frequência real
Média Anual
71
O Teste G realizado para verificar se a frequência da doença é semelhante
entre os quatro municípios resultou em p< 0,0001, no entanto, realizando-se o teste
para os pares de municípios foi identificado que a incidência da doença é
semelhante entre os municípios de Anajás, Portel e São Sebastião da Boa Vista com
p = 0,157. Porém, Anajás e Portel tiveram as distribuições com maior índice de
semelhança com p = 0,820 como observado na Figura 19.
Figura 19 - Distribuição da ocorrência da doença diarreica aguda nos municípios de Anajás e Portel-Pará no ano de 2012. Fonte: PMDDA, 2013.
0
5
10
15
20
25
Pe
rce
ntu
al(
%)
Portel
Anajás
72
3.5. OCORRÊNCIA DA DOENÇA DIARREICA AGUDA E OS ÍNDICES DE
PRECIPITAÇÃO TOTAL
Não foi possível obter dados específicos sobre precipitação para cada
município, pois a base de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET,
2013) disponibiliza somente os dados registrados em estações, sendo que as
estações existentes na região marajoara são Estações Meteorológicas de
Observação de Superfície Convencional, as quaissão compostas de vários sensores
isolados que registram continuamente os parâmetros meteorológicos (pressão
atmosférica, temperatura e umidade relativa do ar, precipitação, radiação solar,
direção e velocidade do vento, etc), que são lidos e anotados por um observador a
cada intervalo e este os envia a um centro coletor por um meio de comunicação
qualquer.
No entanto, segundo o próprio instituto, pode-se extrapolar os dados
referentes à precipitação captados em uma estação a outros municípios próximos,
caso estes apresentem características geográficas semelhantes.
Levando-se em consideração o critério de proximidade das estações com os
municípios deste estudo, foram considerados os índices de precipitação da Estação
de Breves para estabelecer a comparação com a ocorrência dos casos de doença
diarreica aguda nos municípios de Anajás, Portel e São Sebastião da Boa Vista e os
dados da Estação de Soure foram utilizados na comparação com o casos
domunicípio de Chaves. Observa-se a proximidade dos municípios às referidas
estações na Figura 20.
73
Figura 20 - Proximidade dos municípios deste estudo às Estações de Breves e Soure. Fonte: Adaptado de http://www.ambito-juridico.com.br, 2013.
Os índices de precipitação para os doze meses do ano de 2012 registrados
nas Estações de Breves e Soure (Figura 21). Foi possível observar que em ambas
as estações o índice de precipitação anual foi superior a 2.000 mm e os maiores
índices foram registrados no mês de março, sendo que na estação de Soure esse
índice foi de 808,2 mm.
O período que compreende os índices mais elevados vai de janeiro a abril na
estação de Breves e de fevereiro a abril na estação de Soure, nos meses de outubro
e novembro não houve registro de precipitação na estação de Soure.
74
Figura 21 - Distribuição da precipitação total em mm para todos os meses do ano de 2012 nas Estações de Breves e Soure. Fonte: INMET, 2013.
Observa-se com isso que a incidência da doença diarreica no município de
Anajás não se comporta de modo compatível com os períodos de precipitação
elevados registrados pela estação de Breves. Em Anajás as frequências mais
elevadas ocorreram entre os meses de setembro a dezembro, sendo que este último
mês apresenta diminuição em relação aos demais já citados, mesmo permanecendo
acima da média anual. O Teste G realizado para verificar se há semelhança entre a
incidência e o índice de precipitação do período resultou em p< 0,0001, apontando
que não há semelhança entre eles.
O município de Portel apresentou elevada incidência da doença diarreica
aguda nos meses de janeiro, julho e novembro, diferindo também do período de
precipitação elevada registrada na estação de Breves. O Teste G realizado para
verificar se há semelhança entre a incidência da doença no município e o índice de
precipitação do período resultou em p< 0,0003, apontando que não há semelhança
entre eles.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900P
recip
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m m
m
Breves
Soure
75
No município de São Sebastião da Boa Vista houve elevada incidência da
doença entre os meses de maio a setembro, período este também diferente do
período de maior índice de precipitação registrado na estação de Breves. O Teste G
realizado para verificar se há semelhança entre a incidência da doença e o índice de
precipitação do período resultou em p < 0,0001, apontando que também não há
semelhança entre estes índices neste município.
O município de Chaves registrou os maiores índices de incidência da doença
diarreica aguda no período de fevereiro a abril, tendo o maior número ocorrido no
mês de março, sendo este também o mesmo período de elevada precipitação
registrada na estação de Soure. O Teste G realizado para verificar se houve
semelhança entre os índices de incidência da doença e o índice de precipitação do
período resultou em p = 0,0805, apontando que houve semelhança entre estes
índices neste município.
76
4. DISCUSSÃO
Os resultados do estudo com dados primários para caracterização dos
domicílios abordados nos municípios de Anajás, Portel, Chaves e São Sebastião da
Boa Vista localizados no Arquipélago Marajoara, apontaram que os referidos
municípios embora estejam na mesma região e compartilhem certas características
geográficas, diferem em algumas condições de vida e de saúde.
No que se refere à faixa etária dos indivíduos que responderam ao
questionário aplicado foi possível observar uma população mais jovem no município
de São Sebastião da Boa Vista com as faixas de 15 a 32 anos e de 32 a 49 anos
correspondendo a mais de 75% dos entrevistados; já em Anajás,Portel e Chaves
houve predominância das faixas de 32 a 49 e de 49 a 66 anos correspondendo a
mais de 60% dos entrevistados.
O nível de escolaridade mais frequente nos municípios foi o nível fundamental
incompleto e houve elevado número de analfabetos em Anajás e Portel, neste último
a freqüência de analfabetos foi de 30%.
A escola pública enfrenta muitas dificuldades no Marajó esegundo o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2012),
nenhum município do Marajó conseguiu alcançar a meta nacional do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) para as escolas públicas em 2009 nas
séries iniciais que era a nota 4, no entanto, com exceção de Chaves, todos os outros
melhoraram suas notas. OIDEB é um índice que combina o rendimento escolar às
notas do exame Prova Brasil, aplicado a crianças da 4ª e 8ª séries, podendo variar
de 0 a 10.
Destaca-se que o elevado índice de analfabetismo na região pode estar
relacionado às dificuldades logísticas existentes nos municípios como a carência do
transporte escolar e à constituição familiar precoce que retarda a continuidade dos
estudos, uma vez que os homens passam a se dedicar ao trabalho e as mulheres ao
trabalho ou à gravidez precoce. Outra realidade marajoara é a defasagem na
relação idade-série, ocorrendo em até 60% no ensino fundamental no município de
Portel e 80% no ensino médio em Chaves (Programa Viva Marajó, 2011).
A baixa escolaridade tem reflexo importante no risco para a ocorrência de
doenças, uma vez que de acordo com Silva (2002), o nível de escolaridade da mãe
vem sendo considerado como importante fator que influencia na capacidade de
percepção das doenças bem como de sua gravidade. Um maior nível de
77
escolaridade, segundo a autora, ajuda as mães a enfrentarem mais efetivamente os
problemas associados à pobreza, inclusive sua capacidade de identificar o risco de
doença para sua criança, de compreender e reter informações sobre amamentação,
noções de higiene, uso adequado de sais de reidratação oral entre outras
orientações.
Para enfatizar a importância que o baixo nível de escolaridade assume na
saúde, citamos o trabalho de Carvalhaes e Benício (2002), os quais estudaram os
riscos de desnutrição infantil associados à capacidade materna de cuidar, que
incluiu diversos fatores, como escolaridade, saúde física e mental materna, estrutura
familiar e trabalho. Os resultados do estudo demonstraram que a baixa escolaridade
da mãe quase duplicou o risco de desnutrição da criança.
O estudo de Aranha et al. (2006) observou que o baixo nível de escolaridade
dos pais mostrou ser estatisticamente significante emrelação à presença de doenças
nas famílias e o estudo recente realizado por Santos et al. (2012), afirma que pais
com maior nível de escolaridade tendem a entender melhor o que é saudável e o
que seus filhos precisam, levando-os a apresentar níveis melhores de saúde.
Seguindo a análise das características socioeconômicas da amostra,
identificou-se que a atividade econômica dos mantenedores dos domicílios é
predominantemente informal nos quatro municípios, sendo compatível com dados
apresentados pelo Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago
do Marajó (PDTSAM-2007), o qual expõe que as estratégias econômicas das
comunidades no Marajó combinam, principalmente, as seguintes atividades:
extração de produtos florestais não madeireiros(principalmente açaí e palmito),
exploração madeireira, pesca artesanal, agricultura,criação de pequenos animais e
pecuária (PDTSAM-2007),
Segundo dados do PDTSAM (2007), o trabalho assalariado/aposentadoria e
os programas sociais - bolsa família complementam a renda de famílias
marajoaras,semelhante ao observado nesse estudo.
Na análise dos questionários foi possível observar a baixa renda mensal nos
municípios em estudo, sendo um a dois salários mínimos a renda mais frequente
nos quatro municípios. Houve também elevada frequência de domicílios sendo
mantidos com menos de um salário mínimo, em São Sebastião da Boa Vista esse
índice foi superior a 35%, em Anajás e Chaves foi superior a 20%.
78
A renda mensal dos domicílios urbanos nestes municípios é de R$ 170,00 em
Chaves, R$ 200,00 em Portel, R$ 205,20 em Anajás e R$ 206,67 em São Sebastião
da Boa Vista de acordo com dados do Censo Demográfico do IBGE realizado em
2010.
A população dos estados que compõem a Amazônia mantém níveis de
pobreza muito elevados e baixa qualidade de vida, se comparados com a média
nacional. Existe um crescimento econômico proveniente da exploração de recursos
naturais em meio a uma pobreza crônica (Diniz et al., 2007) .
O estudo realizado por Fuchs et al. (1996) apontou que as características
socioeconômicas de famílias com renda inferior a 3,6 salários-mínimos foi
identificado como fator de risco para diarreia grave.Assim como, o estudo de França
et al. (2001) que observou que tanto a renda familiar per capita quanto a
escolaridade da mãe e a do chefe da família estiveram significativamente
associadas ao óbito infantil por diarreia.
De acordo com Reis e Crespo (2009), baixos níveis de renda domiciliar, além
das privações que devem impor às pessoas vivendo nessas condições, também
podem implicar piores condições de saúde para os integrantes da família. Esse
resultado pode ter consequências particularmente importantes no caso infantil.
Crianças menos saudáveis tendem a ter pior desempenho escolar e a se tornarem
adultos menos saudáveis.
Em consonância com o exposto, a renda domiciliar é tida como um indicador
bastante importante, sendo colocada,inclusive, como um transmissor intergeracional
de desigualdade social, uma vez que crianças mais pobres tendem a apresentar
piores níveis de saúde devido à incapacidade financeira dos pais de adquirir
insumos para a sua melhoria (Reis & Crespo, 2009).
A análise dos fatores ambientais observados neste estudo leva em
consideração o estudo de Cohen et al. (2007), o qual afirma que do ponto de vista
do paradigma do ambiente como determinante da saúde, a habitação constitui um
espaço de construção e consolidação do desenvolvimento da saúde. A família tem
na habitação, segundo os autores, seu principal espaço de
sociabilidade,transformando-a em um espaço essencial,veículo da construção e
desenvolvimento da Saúde da Família.
No que diz respeito às condições do local de construção dos domicílios, os
quatro municípios tiveram distribuições diferentes, embora o terreno alagadiço tenha
79
sido o tipo de terreno mais frequente em todos eles. Em São Sebastião da Boa Vista
esse tipo de terreno representou quase 70% da amostra, em Anajás foi superior a
60%. No município de Chaves, a segunda maior frequência foi de terrenos alagados
que corresponderam a mais de 30%.
Os terrenos alagadiços são definidos por Trindade (2013) como sendo
aqueles sem drenagem natural, sujeitos a inundações periódicas e que durante certo
período pode secar, quanto aos terrenos alagados, o autor afirma que os domicílios
construídos nestes locais passam boa parte do ano envolto por água, e são
facilmente invadidos por ela em períodos de chuvas intensas.
As condições ambientais exercem efeito além daquele propiciado pelo padrão
socioeconômico. Assim, sabe-se que baixa renda familiar não é causa direta de
doença mas, através da moradia em condições insalubres, pode determinar que
maior carga de bactérias enteropatogênicas elevem a frequência de episódios de
diarreia (Fuchs et al., 1996).
Silva (2002) afirma que as condições insalubres do ambiente peridomiciliar
determinam uma maior contaminação do ambiente intradomiciliar com o aumento da
transmissibilidade de micro-organismos. Corrobora com essa afirmação, o estudo de
Aranha et al. (2006) o qual aponta que as condições de saúde numa população são
fortemente influenciadas pela evolução das condições ambientais, em particular no
que se refere à adequação das moradias e do saneamento do meio.
Ainda na análise das condições de habitação, observou-se elevado índice de
domicílios construídos em madeira, nos quatro municípios, porém isso não garantiu
que estes apresentassem distribuições semelhantes de acordo com o teste
estatístico realizado, sendo considerados semelhantes somente os municípios de
Anajás e São Sebastião da Boa Vista. Nestes municípios o índice de domicílios
construídos em madeira foi de 90,80% e 89,13% respectivamente.
O material de cobertura dos domicílios mais frequente foi a telha de
fibrocimento em Anajás, Portel e Chaves (95,4%; 77,8% e 84,3%, respectivamente)
e a telha de barro em São Sebastião da Boa Vista (54,35%), ambos materiais
duráveis.Com relação ao piso, o material mais utilizado foi a madeira em todos os
municípios do estudo, esse tipo de piso esteve presente em mais de 80% dos
domicílios visitados em São Sebastião, e em 78% dos domicílios visitados em
Anajás.
80
O estudo de Paz et al. (2012) apontou que das variáveis de exposição que
retratam as condições de saneamento do domicílio e da moradia, a construção de
domicílios por materiais que não o tijolo pode ser considerada fator de risco para a
ocorrência de diarreia nas crianças, sugerindo que as condições precárias de
moradia podem acarretar dificuldade de higienização no domicílio, fato que pode
aumentar a ocorrência de doenças diarreicas.
Além disso, em estudo realizado por Vanderlei et al. (2003) foi observado que
a presença do piso de terra ou tábua permaneceu como um fator de risco
independente para hospitalização por diarreia, sendo neste estudo a variável que
revelou indiretamente as precárias condições de vida das crianças hospitalizadas.
Nos quatro municípios houve predomínio de domicílios com três a quatro
cômodos, sendo ocupados com uma a cinco pessoas (mediana = cinco), porém a
ocupação com seis a dez indivíduos foi a segunda mais frequente com pequena
diferença em relação à primeira.
O estudo de Fuchs et al. (1996) expõe que o número excessivo de pessoas
em um domicílio insalubre, com água e esgoto inadequados, favorece maior
contaminação do ambiente onde vive a criança, determinando maior frequência e
gravidade da doença diarreica.
A aglomeração é extremamente comum nas famílias das regiões menos
desenvolvidas, nas quais a taxa de natalidade é quase sempre muito elevada e as
condições de moradia são ruins. Especialmente quanto ao número de moradores e
ao número de crianças menores de cinco anos no domicílio, existe clara associação
com as doenças respiratórias (Aranha et al., 2006).
Identificou-se maior frequência de domicílios com banheiros construídos na
área externa nos municípios de Anajás, Portel e São Sebastião, entretanto houve
frequência aproximada de domicílios com banheiros construídos em seus interiores,
somente em Chaves a proporção de domicílios com banheiros construídos
internamente foi maior.
Os dados evidenciados neste estudo corroboram com estudos anteriores
como o de Aranha et al. (2006) no qual foi identificado declínio no uso compartilhado
de instalações sanitárias e no número de domicílios sem banheiro.
Observou-se um número expressivo de domicílios visitados que não possuem
acesso às redes de esgotamento sanitário, apresentando índices superiores a 90%
em Anajás, Chaves e São Sebastião, e superiores a 80% em Portel.O principal
81
destino dado aos dejetos em Anajás, Portel e Chaves foi a fossa séptica. Entretanto,
considera-se importante ressaltar que houve elevada frequência de domicílios
depositando os dejetos a céu aberto nesses municípios, correspondendo a mais de
27% em Anajás.
No município de São Sebastião da Boa Vista houve predomínio de domicílios
cujos dejetos são depositados a céu aberto, correspondendo a 47,90%. Ressalta-se
queeste foi o único município onde houve domicílios que depositam dejetos
diretamente no rio ou igarapé com frequência superior a 5%.
A inexistência de acesso à rede coletora de esgotos interfere nas condições
de saúde das crianças por poluir o ambiente e possibilitar a veiculação de doenças
relacionadas a excretas, principalmente parasitoses, cuja maioria tem como sintoma
principal a diarreia. A ausência de sistemas de esgotamento sanitário apropriado em
assentamentos humanos, além de importante fonte de poluição de águas
superficiais e subterrâneas, é fator de risco para a saúde da população,
principalmente quando esta não tem conhecimento sobre a transmissão de doenças
veiculadas pela água ou relacionadas com excretas (Paz et al., 2012).
Os dados observados neste estudo sobre as condições de habitação e
saneamento básico são preocupantes, uma vez que para Melo et al. (2011), a
presença de tais condições preponderantes coloca os moradores locais, sobretudo
as crianças, em risco de contrair doenças infecciosas, uma vez que o atendimento
clínico e a medicação não são suficientes, pois o ambiente contaminado e os hábitos
dos moradores tendem a incrementar a ocorrência de novas e sistemáticas
infecções.
Além disso, o estudo realizado por Paz et al. (2012) evidenciou que a
ausência de rede coletora de esgoto não se mostrou associada à ocorrência de
diarreia na análise univariada; no entanto, identificou-se que há interação desta
variável com o emprego de material precário na construção da moradia, elevando o
risco de ocorrência de diarreia em quase quinze vezes para as crianças residentes
em domicílios onde estas duas condições estiveram presentes.
O principal destino dado ao lixo nos domicílios visitados nos quatro municípios
foi a coleta pública com índice superior a 90% em São Sebastião. Nos municípios de
Anajás e Portel ainda houve elevada frequência (superior a 10%) de domicílios cujo
lixo é queimado. Ressalta-se que o município de Chaves foi o único a apresentar
domicílios que desprezam o lixo no rio ou igarapé com frequência superior a 2%.
82
Entre os impactos ambientais negativos que podem ser originados a partir do
lixo urbano produzido estão os efeitos decorrentes da prática de disposição
inadequada de resíduos sólidos em fundos de vale, às margens de ruas ou cursos
d’água. Essas práticas habituais podem provocar, entre outras coisas, contaminação
de corpos d’água, assoreamento, enchentes, proliferação de vetores transmissores
de doenças, tais como cães, gatos, ratos, baratas, moscas, vermes, entre outros.
Some-se a isso a poluição visual, mau cheiro e contaminação do ambiente (Mucelin
& Belini, 2008).
É relevante ponderar que a coleta do lixo evita que seu acúmulo gere
proliferação de insetos e roedores, os quais podem funcionar como vetores de
doenças infecciosas e parasitárias, trazendo riscos à população. Em relação à
fumaça proveniente da queima do lixo, esta polui o ar, aumentando as chances de
ocorrência de problemas respiratórios, dentre outros agravos (Magalhães et al.,
2013)
A origem predominante da água de consumo foi o poço artesiano em Portel
(72,20%), o poço escavado em Anajás (63,25%) e a rede pública em Chaves
(94,40%) e São Sebastião (80,40%). No município de São Sebastião, 12% dos
domicílios consomem água do rio ou igarapé.
O recipiente mais utilizado para armazenar a água de consumo nos domicílios
nos municípios de Anajás, Portel e Chaves foi o recipiente reutilizado (embalagens
de refrigerantes), e em São Sebastião foi o recipiente plástico (garrafas, jarras e
baldes).
O não acesso à água potável e segura ou o acesso de forma intermitente
compromete os usos menos imediatos e as condições de higiene. Essas situações
induzem a busca de água em fontes alternativas, de qualidade sanitária duvidosa,
ao uso de vasilhames não apropriados para seu acondicionamento e condições
inadequadas de transporte e armazenamento da água (Razzolini & Günther, 2008).
De acordo com Trevett et al. (2005), as práticas básicas de higiene pessoal,
como lavagem das mãos antes da coleta, nem sempre são observadas. Deve-se
considerar, segundo os autores, que crianças também exercem essa função e, na
maioria das vezes, não observam essa prática que contribui para a não
contaminação da água coletada.
Muitas vezes, a retirada parcial de água armazenada realiza-se mediante a
imersão de canecas ou outros utensílios menores, que podem estar impregnados de
83
sujeira e ferrugem, em casos de utensílios metálicos. Outro aspecto observado é a
imersão desses utensílios com as próprias mãos, o que compromete a qualidade da
água de consumo, pois a parte inferior das unhas pode albergar micro-organismos
patogênicos (Razzolini & Günther, 2008).
Corrobora com a perspectiva citada o estudo de Paz et al. (2012), o qual
afirma que fatores de vulnerabilidade da rede pública, tais como frequente
intermitência do serviço de abastecimento e existência de ligações clandestinas, os
quais expõem a água à contaminação; ou fatores de vulnerabilidade domiciliar,
como falta de limpeza dos reservatórios domiciliares, transporte e armazenamento
em recipientes não adequados, introdução de objetos nos recipientes de
armazenamento de água e hábitos e práticas não adequadas de higiene dos
usuários, configuram-se como situações de risco para a contaminação da água.
O estudo de Sá et al.(2005) apresentou resultados importantes ao relacionar
os resultados obtidos entre as colimetrias realizadas com amostras de água
provenientes da torneira e aquelas realizadas nas águas armazenadas em
vasilhames para beber, observando que em dois dos bairros pesquisados na cidade
de Belém-PA,respectivamente, a água do sistema público de abastecimento chega
ao domicílio em ótimas condições para consumo humano, entretanto, ao ser
armazenada sem os devidos cuidados, é consumida com altos índices de coliformes
totais e/ou termotolerantes.
O tratamento aplicado à água de consumo com maior frequência no município
de São Sebastião foi a filtração. Nos demais municípios o tratamento relatado com
maior frequência foi a associação entre a fervura e a filtração, seguida da
associação entre fervura e aplicação de hipoclorito. É necessário ressaltar que não
foi questionado durante a realização do estudo qual o tipo de filtro utilizado pelas
famílias, por quanto tempo deixavam a água ferver e qual a dose de hipoclorito que
aplicavam, não sendo possível afirmar se o tratamento foi aplicado de maneira
correta.
Sobre o tratamento da água de consumo, a Portaria Nº2.914 de 2011 do
Ministério da Saúde/ANVISA expõe que toda água para consumo humano, fornecida
coletivamente, deverá passar por processo de desinfecção ou cloração e que as
águas provenientes de manancial superficial devem ser submetidas a processo de
filtração.
84
A água para consumo humano deve ser filtrada (com filtro doméstico, coador
de papel ou pano limpo),e, posteriormente, fervida. A fervura da água elimina
bactérias, vírus e parasitas; por isso, é o método preferencial para tratamento da
água de consumo humano. Caso não seja possível ferver, obter água de uma fonte
que não tenha sido contaminada por esgoto e realizar a filtração (com fil tro
doméstico,coador de papel ou pano limpo), e posterior tratamento com hipoclorito de
sódio (2,5%) (Brasil, 2011).
Todos os domicílios afirmaram realizar algum tipo de tratamento da água
consumida, contudo foram encontrados coliformes totais em 100%das amostras da
água de consumo coletadas nos quatro municípios.
O grupo dos coliformes constitui o indicador de contaminação fecal mais
freqüentemente utilizado, sendo empregado, há mais de cem anos, como importante
parâmetro na definição de padrões para a caracterização e avaliação da qualidade
de águas e alimentos (Sousa, 2006).
De acordo com a Portaria N° 2.914 de 2011 do Ministério da Saúde/ANVISA,
a água é considerada potável, sob o ponto de vista microbiológico,quando está de
acordo com a seguinte conformidade:ausência de coliformes totais e termotolerante
sem 100mL de amostra de água para consumo, estando, portanto, as amostras
analisadas neste estudo consideradas impróprias para o consumo humano(Brasil,
2011).
Assim, a presença de coliformes na água indica poluição, com o risco
potencial da presença de organismos patogênicos, e sua ausência é evidência de
uma água bacteriologicamente potável, uma vez que são mais resistentes na água
que as bactérias patogênicas de origem intestinal (Siqueira et al., 2010).
Nesse contexto, o acesso regular a água potável e segura, embora seja um
direito humano básico, não tem sido estendida a toda a população, especialmente
àquela encontrada em áreas periurbanas esquecidas pelas políticas públicas de
saneamento e saúde (Razzolini&Günther, 2008).
Com relação a transmissão de doenças infecciosas como a diarreia destaca-
se que é um processo complexo, com muitos determinantes; ainda assim, sabe-se
que 88% das mortes por diarreia são atribuídas à água não potável, saneamento
inadequado e higiene precária (Paz et al., 2012).
Corrobora com esta afirmação o estudo de Teixeira & Guilhermino (2006), no
qual os autores identificaram que quanto maior a cobertura populacional por
85
sistemas de esgotamento sanitário em um estado brasileiro, menor é a mortalidade
proporcional por doença diarréica aguda em menores de cinco anos de idade em
uma unidade da federação.
Os resultados do estudo com dados secundários sobre a ocorrência da
doença diarreica aguda nos municípios de Anajás, Portel, Chaves e São Sebastião
da Boa Vista apontaram que os referidos municípios apresentaram diferentes
índices de incidência no período observado. Os dados sobre a ocorrência da doença
não se referem diretamente a população do estudo com dados primários
apresentados anteriormente, porém permitirão apresentar como a doença se
comportou nos municípios em 2012.
É necessário levar em consideração as disparidades no que se refere ao
número de unidades de saúde cadastradas no Programa de Monitoramento da
Doença Diarreica Aguda e o número de unidades que estão realmente notificando
casos, fator este que pode influenciar diretamente na qualidade da informação
obtida nesses municípios.
Sobre o número de unidades com o programa implantado, o Manual de
Monitorização de Doenças Diarreicas Agudas (2008) instituiu que deve haver pelo
menos uma unidade com o PMDDA em municípios com menos de trinta mil
habitantes que seria o caso de Anajás, Chaves e São Sebastião da Boa Vista e uma
unidade a cada trinta mil habitantes em municípios com população de trinta a
duzentos mil habitantes que seria o caso de Portel.
Diferente do exposto acima, no município de Portel, por exemplo, existem
sete unidades com o programa cadastrado, porém houve registro irregular entre
elas, na maioria dos meses somente três unidades registraram casos de doença
diarreica. No município de São Sebastião da Boa Vista, também existem sete
unidades com o programa, sendo que em todo o ano de 2012 somente uma unidade
registrou casos.
O que pode influenciar grandemente essa situação de irregularidade do
registro dos casos da doença é que as diarreias não fazem parte do elenco de
doenças de notificação compulsória nacional, tornando os números de casos de
diarreia na população, segundo Façanha & Pinheiro (2005) ainda pouco conhecidos
no Brasil.
Sobre as faixas etárias mais acometidas pela doença diarreica aguda, as
faixas de menores de um ano e de um a quatro anos foram as mais acometidas nos
86
quatro municípios estudados, sendo superior a 60% em Anajás, Portel e São
Sebastião da Boa Vista.
Segundo Torreset al. (2013) as doenças diarreicas ainda permanecemcomo
um problema de saúde pública,visto que a ocorrência de hospitalizações revela
ainadequação de ações de controle e/ou manutençãode seus determinantes, muito
relacionadoscom as desigualdades de condições de vida.
As crianças na faixa etária compreendida entre um e quatro anos são, ainda,
as que mais sofrem com as doenças diarreicas. Assim, torna-se de extrema
relevância a notificação de surtos de diarreia aguda, no sentido de desencadear uma
investigação minuciosa quanto à sua origem (domicílios, creches, escolas, hospitais,
problemas ambientais) para se conhecer as possíveis causas de transmissão, com o
objetivo de que medidas eficazes de controle possam ser adotadas o mais
precocemente possível (Pereira & Cabral, 2008).
Os dados obtidos neste estudo foram compatíveis com os observados em
outros estudos como o de Oliveira & Latorre (2010), o qual afirma que a diarreia,
manifestação comum de doenças infecciosas intestinais, ainda é uma das principais
causas de morbimortalidade em crianças menores de cinco anos deidade em países
em desenvolvimento, em especial, entre os menores de um ano. Isso porque
envolve, de forma direta ou indireta, um complexo de fatores de ordem ambiental,
nutricional e socioeconômico-cultural.
E independente da etiologia, esse agravo tem causado impactos globais tanto
de forma direta, com o comprometimento da saúde dos indivíduos, em consequência
da desidratação e desnutrição crônica que levam ao óbito; como de forma indireta,
considerando-se o abalo à economia causada pelos custos das internações,perda
de horas de trabalho e redução de renda familiar.Em função dessas consequências,
há a necessidade de monitoramento contínuo dos indicadores de morbidade e
mortalidade por diarreia (Vanderlei et al., 2003).
Quanto ao plano de tratamento aplicado, houve predomínio do plano A em
Anajás, Chaves e São Sebastião e do plano B em Portel (77,4%). Segundo o
Manual de Monitorização de Doenças Diarreicas Agudas (2008) o plano A deve ser
aplicado em casos de diarreia sem desidratação, o paciente deve ser atendido e
dispensado com orientações de cuidados domiciliares levando sais hidratantes para
casa; o plano B por sua vez deve ser aplicado em casos de diarreia com
desidratação, o paciente deve permanecer em observação na sala de terapia de
87
reidratação oral (TRO); e por fim, o plano C deve ser aplicado em casos de diarreia
com desidratação grave e com reidratação endovenosa.
Observa-se com o exposto que o município de Portel apresentou maior índice
de casos com quadro moderado de gravidade, no qual segundo Silva (2002) a
criança apresenta sinais leves ou moderados de desidratação, podendo haver
sintomas sistêmicos associados, o tratamento inicial deve ser no serviço de saúde
para a correção da desidratação.
As complicações mais frequentes da doença diarreica aguda decorrem da
desidratação e desequilíbrio hidroeletrolítico. Em médio e longo prazo, a repetição
dos episódios de diarreia pode levar à desnutrição crônica, com retardo do
desenvolvimento ponderal e, até mesmo, da evolução intelectual (Façanha &
Pinheiro, 2005).
Anajás, Portel e São Sebastião da Boa Vista foram os municípios que
apresentaram semelhante distribuição da ocorrência da doença diarreica aguda, de
acordo com o teste estatístico realizado, entre os meses do ano de 2012, sendo o
maior número de casos registrado em Portel no mês de julho, e em Anajás e São
Sebastião no mês de setembro.
A ocorrência da doença diarreica aguda nesses municípios não se mostrou
influenciada pelo índice de precipitação registrado pela Estação de Breves, o qual
apontou maior índice de chuva no período de janeiro a abril, sendo essa diferença
confirmada com a realização do teste estatístico. Já no município de Chaves, a
maior ocorrência da doença foi registrada no mês de março, sendo compatível com
o maior índice de precipitação registrado na Estação de Soure, semelhança
confirmada com a realização de Teste G.
Pereira e Cabral (2008) afirmam que no caso particular do estado do Pará, o
clima quente e úmido ao longo de todo o ano e o maior índice pluviométrico nos
meses de dezembro a abril, aliados à inexistência de saneamento básico adequado
nesta comunidade, acarretando enchentes, conferem à doença diarreica aguda um
certo caráter sazonal neste período.
Em nosso país a sazonalidade é variável, com aumento na ocorrência de
doença diarreica aguda associada aos rotavírus nos meses mais frios ou no período
de seca, entre maio e setembro, nos estados das regiões Central e Sudeste. Por
outro lado, no Norte e Nordeste há ocorrência de diarreia por rotavírus, distribuída
por todo o ano (Pereira & Cabral, 2008).
88
Assim, mesmo não tendo sido realizada neste estudo uma comparação direta
entre as condições socioeconômicas, habitacionais e sanitárias e o número de casos
de doença diarreica aguda registrada nos municípios deste estudo, foi possível
observar a relação entre eles com base nos estudos apontados ao longo dessa
análise, considerando as diarreias como doenças de transmissão oral e fecal, que
frequentemente são encontradas entre famílias de baixa renda e que vivem em
condições precárias de moradia.
Observou-se nesse estudo a existência de populações muito carentes no que
diz respeito aos serviços de saneamento básico, educação, emprego e renda,
estando expostas à doenças e baixa qualidade de vida e de saúde. Sendo
necessário o monitoramento de indicadores com vistas a identificar diferenciais nos
perfis de morbimortalidade por doença diarreica aguda, permitindo a caracterização
de grupos de maior risco na população, oferecendo os fundamentos para políticas
do setor saúde que focalizem a promoção da equidade e o bem estar social por
meio de intervenções em saúde pública em grupos mais vulneráveis da população,
como as comunidades marajoaras.
É necessário, também, que as comunidades sejam envolvidas, não apenas
como alvo de informação,mas repartindo com elas a responsabilidade de buscar
alternativas por um eficaz trabalho preventivo, através do conhecimento de seus
valores culturais, em especial aqueles relacionados à saúde da criança.
89
5. CONCLUSÕES
Neste estudo foi possível observar que nos municípios de Anajás, Portel,
Chaves e São Sebastião da Boa Vista existe um elevado número de famílias
caracterizadas por apresentarem baixa escolaridade, viverem em situação de
baixa renda mensal, com seus domicílios construídos em locais sem
saneamento básico e com materiais precários;
Observou-se que ocorre intensa deposição de dejetos a céu aberto e é
comum a utilização de fontes alternativas de abastecimento de água,
construídas sem as condições necessárias para oferecer segurança e
qualidade a água de consumo dessas famílias nos quatro municípios,
culminando com a presença de coliformes totais em todas as amostras de
água coletadas e analisadas neste estudo;
As condições socioeconômicas e ambientais em que vivem essas famílias as
predispõem à contrair doenças como a doença diarreica aguda;
Nos quatro municípios houve elevada frequência de casos de doença
diarreica aguda em crianças menores de um ano, sendo este fato compatível
com as condições ambientais observadas e discutidas neste estudo;
Foi observado que no município de Portel houve elevado número de casos de
doença diarreica aguda de moderada gravidade, sendo um fato relevante e
preocupante tendo em vista a alta incidência da doença em menores de cinco
anos neste município;
Não houve relação estatística entre o número de casos e o índice de
precipitação nos municípios de Anajás, Portel e São Sebastião da Boa Vista;
Observou-se relação estatisticamente significativa entre o número de casos
da doença diarreica aguda e o índice de precipitação no município de
Chaves, no qual o maior número de casos foi registrado no mês de março,
coincidindo com o maior índice de precipitação registrado pela Estação de
Soure.
90
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98
ANEXO 1 – QUESTIONÁRIO APLICADO PARA COLETA DE DADOS
QUESTIONÁRIO DOMICILIAR
Registro Familiar nº ______Reg. Campo:_______Reg. LAB: ________Data do atendimento:___/____/____ IDENTIFICAÇÃO DO INFORMANTE
1. Nome: _____________________________________________________________
2. Sexo: _____Data de Nascimento: ___/____/____Escolaridade*:______________
3. Município: ____________ Uf: ______Cidade: ____________Vila-Comunidade:__________
4. N° de pessoas no domicílio: _________N° de pessoas que trabalham: ___M____F
5. Tempo de moradia atual:_______ Caracterização do Grupo Doméstico
Nº Nome Sexo Idade Escolaridade Parentesco Documentação 1 2 3 4 5 6 7 8 9
HABITAÇÃO
1. Tipo de moradia: ( ) madeira ( ) Taipa ( ) Palha ( ) Alvenaria ( ) Outros:__________
2. Tipo de uso do imóvel: ( ) Habitacional ( ) Comercial ( ) Habit./Comercial 3. Tipo de Cobertura: ( ) Telha de Barro ( ) Brasilit ( ) Palha ( ) Outro 4. Tipo de Piso: ( ) madeira ( ) cimento ( ) Terra batida ( ) Lajota 5. Condição do terreno: ( ) Firme (seco) ( ) alagável ( ) alagado 6. Nº de Cômodos: ________ 7. Possui animais de criação? ( ) Sim ____________________ ( ) Não 8. São vacinados? ( ) Sim Quais?_____________________ ( ) Não
SANEAMENTO
1. Possui instalações sanitárias (privada)? Dentro de Casa_____Fora de Casa_______ ( ) Não
2. Existe rede coletora de esgoto? ( ) Sim ( ) Não 3. Destino dos dejetos: ( ) rede geral de esgoto ( ) fossa séptica ( ) fossa rudimentar ( ) Céu aberto ( ) Rio ou igarapé 4. Destino do Lixo: ( ) Coleta Pública ( ) Queimado ( ) Enterrado ( ) Rio ou igarapé
UDO DA ÁGUA
1. Forma de abastecimento de água no domicílio: ( ) Rede Pública ( ) Poço escavado/aberto
99
( ) Poço artesiano ( ) Rio/igarapé ( ) Outros: __________________________ 2. Origem da Água de Consumo: ( ) Rede Pública ( ) Poço ( ) Rio/Igarapé ( ) Mineral Tratamento da água de consumo: ( ) Sim ( ) Não Qual? ______________________________ 3. Qual o uso da água do rio/igarapé-fonte? ( )beber ( )higiene ( )lavagem ( )outros 4. Local de armazenamento da água para beber?_______________________________ 5. Tratamento feito na água para beber: _____________________________________ 6. Qual a atividade que mais polui o rio?_______________________________
SAÚDE 1. Em caso de doenças procuram atendimento, aonde? ( ) Hospital ( )Unidade de
saúde ( ) Farmácia ( ) Benzendeira ( ) Agente de saúde ( ) Outros______________________ 2. Existe posto de saúde no local? ( ) Sim ( ) Não 3. Que tipo de atendimento médico o posto oferece?___________________________ 4. Local e frequência com que você procura a unidade de saúde mais
próxima?____________________________________________________________ 5. O que precisaria acontecer para melhorar a vida das pessoas aqui nessa localidade?
___________________________________________________________________ INFORMAÇÃO GERAL DO GRUPO FAMILIAR
1. Participam de alguma associação comunitária? ( )Sim Qual____________( ) Não 2. Principal atividade econômica: _________________________________________ 3. Qual a renda mensal? ________________________________________________ 4. Situação do trabalho: ( ) autônomo ( ) carteira assinada ( ) desempregado ( ) aposentado ( ) serviço privado ( ) serviço público Outros____________________________________ 5. Qual o principal meio de comunicação utilizado: ( ) rádio ( ) televisão ( )
outro:______________
6. Escolaridade: ( ) Não alfabetizado ( ) Alfabetizado Ensino fundamental: ( ) Completo ( ) Incompleto Ensino médio:( ) Completo ( )Incompleto;Ensino superior:( ) Completo( )Incompleto
100
ANEXO 2 – PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA EM
PESQUISA
101
ANEXO 3 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
1. Estou sendo convidado (a) a participar de uma pesquisa sobre ―Marcadores
Epidemiológicos em Saúde no Arquipélago do Marajó‖, que está sendo desenvolvida pela Universidade Federal do Pará, Instituto Evandro Chagas, Instituto Federal do Pará e HEMOPA.
2. Para que eu decida participar ou não da pesquisa me foram prestadas as seguintes informações:
3. O título do projeto é ―Marcadores Epidemiológicos em Saúde no Arquipélago do Marajó‖.
4. O pesquisador responsável é o Prof. Dr. Ricardo Ishak, Biomédico, Professor Titular da Universidade Federal do Pará.
5. O objetivo da pesquisa é definir a situação epidemiológica de vários eventos da área de saúde humana, no Arquipélago do Marajó (particularmente, nas cidades de Chaves, Anajás, São Sebastião da Boa Vista e Portel), referentes à saúde da população em geral, doenças transmissíveis, alimentação e nutrição, saúde reprodutiva, práticas tradicionais de costumes terapêuticos, influência do meio ambiente na saúde, doenças crônicas (câncer cervical e outras neoplasias) e medidas de atenção à saúde, com o intuito de apresentar resultados que possam ser utilizados em um novo modelo de desenvolvimento que busca a melhoria das condições de vida humana, nos municípios alvo e em toda a extensão territorial urbana e rural, por meio da inclusão social do homem marajoara.
6. Durante a pesquisa o paciente deverá responder a um questionário, depois será submetido a coleta de sangue, fezes ou material cervical para exame de laboratório. No caso de animais (cães e outros) será coletada amostra de sangue. Nas residências serão realizadas coletas de duas amostras de água, além da coleta de insetos vetores por meio da instalação de armadilhas ou captura ativa.
7. Essa pesquisa não oferece riscos; as práticas são de uso rotineiro e apenas uma pequena quantidade de sangue será coletada para a detecção de marcadores sorológicos e moleculares.
8. O material coletado poderá ser utilizado em estudos futuros. 9. Serão utilizados materiais esterilizados descartáveis, como agulhas, seringas,
não oferecendo risco para o sujeito da pesquisa. 10. Ninguém é obrigado a participar da pesquisa, assim como poderá deixar a
pesquisa no momento que quiser, pois não haverá prejuízo pessoal por esta causa.
11. Não haverá nenhum tipo de despesas para participação da pesquisa, assim como não haverá nenhuma forma de pagamento para participação.
12. O grande benefício desta pesquisa para todos os que participam, ou não, é possibilitar um melhor entendimento sobre a situação epidemiológica de vários eventos da área da saúde no Arquipélago do Marajó.
13. A participação na pesquisa é sigilosa, isto significa que, somente os pesquisadores ficarão sabendo de sua participação, sem a identificação individual do participante.
_______________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável
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CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Declaro que li as informações acima sobre a pesquisa, que me sinto perfeitamente esclarecido(a) acerca do conteúdo da mesma, assim como seus benefícios. Declaro ainda que, por minha livre vontade, aceito participar da pesquisa cooperando com a coleta de material para exame. Chaves, ____ / _____ / _____ ___________________________ Assinatura da participante Prontuário:______________ Protocolo: Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Biológicas, Laboratório de Virologia, Fone:(91) 3201-7587
e-mail: [email protected]