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Thiago Reis e Silva (Secretário Acadêmico)

Pedro Victor Medeiros de Melo (Diretor Acadêmico)

Aryane de Araújo Calazans (Diretora Assistente)

Guilherme Almeida Trigueiro (Diretor Assistente)

Marcos Cunha Lima Rosado Batista (Diretor Assistente)

COMITÊ DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO: O TRABALHO

ESCRAVO NA AMÉRICA LATINA E O SEU PARALELO COM A IMIGRAÇÃO

Guia de estudos do Projeto de Extensão e Pesquisa

UNISIM – Simulação Inter Mundi do UNI-RN, do

Curso de Direito do Centro Universitário do Rio Grande

do Norte (UNI-RN), a ser realizado entre os dias 10 e 13

de agosto de 2016.

Coordenadora do Projeto: Professora Dra. Vânia Vaz

Barbosa Cela

Orientador do Comitê: Marcelo de Barros Dantas

Natal/RN

2016

3

“Reconheçamos o que de fato somos: conterrâneos, habitantes de uma mesma Terra,

portadores, todos, do mesmo direito à uma existência digna.”

(Autor desconhecido)

4

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................5

2A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO.............................................6

3 FORMAÇÃO DA OIT E PRECEDENTES HISTÓRICOS..............................................7

4A CRIAÇÃO DA ONU E O PERÍDO PÓS 1945...............................................................11

5A RESSIGNIFICAÇÃO DA OIT.......................................................................................14

6FUNCIONAMENTO DA OIT............................................................................................14

7CONSTITUIÇÃO DA OIT E O TRIPARTISMO............................................................16

8REUNIÃO GERAL AMERICANA...................................................................................20

9TÓPICO ÚNICO: O TRABALHO ESCRAVO NA AMÉRICA LATINA E O SEU

PARALELO COM A IMIGRAÇÃO....................................................................................22

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................27

11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................28

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1 INTRODUÇÃO

A partir do contexto histórico, econômico e social vivido hodiernamente, em que as

relações sociais são pautadas na consagração, em âmbito internacional, de uma série de

direitos fundamentais ao homem – os direitos humanos, fundados sempre na dignidade da

pessoa humana, ainda são recorrentes os casos de desrespeito a tais normas, mormente no que

cinge às garantias laborais.

É justamente por se tratar de uma prática que se demonstra habitual em várias

localidades no mundo, e comum na América Latina, sobretudo em se tratando de questões

atinentes às condições de trabalho análogas à escravidão, bem como a imigração ilegal,

causada por diversos motivos, que a UniSim – Simulação Inter Mundi do UNI-RN traz, em

sua 10ª edição, dentre os demais comitês a serem simulados, a OIT – Organização

Internacional do Trabalho, organismo especializado da ONU – Organização das Nações

Unidas, no afã de discutir tais assuntos, os quais se demonstram imprescindíveis de

questionamento nas agendas internacionais.

Desta forma, este guia visa orientar os delegados do comitê da Organização

Internacional do Trabalho, da 10ª edição da UniSim, a terem uma visão ampliada do tema a

ser debatido durante a simulação, no afã de fomentar uma discussão acadêmica voltada ao

Direito Internacional do Trabalho, buscando um resultado prático e crítico.

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2 A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

Até se chegar à criação da Organização Internacional do Trabalho – OIT, bem como

à definição do Direito Internacional do Trabalho, uma série de revoluções e lutas pautadas na

afirmação de direitos ocorreram, para que só então fossem iniciados meios de concessão de

garantias e direitos aos trabalhadores. Tais fatos históricos se fundam, sobretudo, na luta por

direitos ideais que, futuramente, se tornaram direitos humanos. Sua criação, em 1919, se deu

em meio a uma época de grandes turbulências no cenário internacional, onde havia a ruptura

do mundo com o liberalismo, fim da Revolução Industrial e Primeira Guerra Mundial, com

ambas trazendo consigo suas consequências, sobretudo de caráter econômico, onde destaca-se

a Quebra da Bolsa de Nova York, em 1929.Desta forma, o tratado internacional que criou a

OIT, o Tratado de Versalhes, assinado na mesma Conferência de Paz que pôs fim à Primeira

Guerra Mundial.

Neste desidrato, se faz necessário “compreender a OIT como resultado de um longo

processo histórico, que culmina na existência de um dos mais longevos e atuantes órgãos

internacionais”(FILHO e BRANCO, 2013, p. 259).

A proposta inicial de sua criação era a solidificação, no âmbito internacional, de um

padrão mínimo de trabalho, que deveria ser seguido por todos os países-membros, no afã de

garantir um mínimo de respeito e dignidade aos trabalhadores, visando ainda, senão o fim, a

redução das formas degradantes de labor, fundando-se, também, no pressuposto da

“insuficiência da legislação nacional para resolver os problemas gerados pelas transformações

das relações de produção e a participação dos trabalhadores”(NASCIMENTO, 2011, p. 126).

Segundo Rodolfo Pamplona Filho,

“A realidade é que, pela primeira vez, se buscou a paz por meio do combate às

causas que levaram historicamente a humanidade à guerra, como a pobreza, a fome e

o desemprego. A leitura do preâmbulo da Constituição da OIT é sintética ao afirmar

que não pode haver paz duradoura sem justiça social, de onde se conclui que a

criação deste órgão teve por meta evitar a ocorrência de outro conflito semelhante à

1ª Guerra Mundial.”(FILHO e BRANCO, 2013, p. 259)

7

Contudo, ainda que escopo principal do surgimento deste sujeito de Direito

Internacional em tela fosse o humanitário-social, merecem ser sinalizados o outrosmotivos

ensejadores da criação da Organização: econômico e político. Era por meio destas

características que se revestiam os ideais organizacionais de garantia de direitos, os quais

futuramente viriam a ser compreendidos como sociais (segunda geração dos direitos

humanos). Através do afincamento da OIT no cenário internacional, a sua finalidade motriz

era a eliminação das discrepâncias sociais e regionais, uma vez observado que “o Direito do

Trabalho promove os ideais justiça social e cidadania”(DELGADO e RIBEIRO, 2013, p.

199).garantindo, por conseguinte, “a manutenção da paz mundial e a estabilização do

comércio internacional, ao regular, através de normas sociais, a livre concorrência”(REGIS,

2003). Logo, por meio da utilização de um único instrumento, a garantia da dignidade1 ao

trabalhador, vários problemas de ordem mundial teriam suas soluções concretizadas, posto

que “o direito do trabalho corresponde à intervenção estatal economicamente

mensurável”(FILHO e BRANCO, 2013, p. 262).

Sua sede está localizada em Genebra, na Suíça. Palco onde ocorre durante todo o ano

reuniões e mais reuniões para tratar dos direitos e garantias que envolvem o ambiente de

trabalho, em como se organizar pelas leis impostas pelo órgão, a visão do comitê é organizar

em âmbito internacional um modo em que não haja descontentamento das partes que

compõem o sistema trabalhista, de modo que não venha a prejudicar também a economia de

um país.

3FORMAÇÃO DA OIT E PRECEDENTES HISTÓRICOS

A Organização Internacional do Trabalho possui suas raízes na Europa e na América

do Norte, já que tais continentes vivenciaram veementemente a Revolução Industrial, que

eclodiu no século XIX.

1Apesar das várias acepções atribuídas à dignidade, a mais condizente com o assunto ora abordado é a de Ingo

Wolfgang Sarlet, o qual a define como “um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a

pessoa tanto contra todo e qualquer ato degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições

existenciais mínimas.(FILHO, 2013, p. 38)”

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Logo, faz-se necessário uma breve análise histórica do que foi a Revolução

Industrial, pois foi, ou talvez tenha sido, o principal dos motivos para o surgimento da OIT.

Tal período histórico foi marcado, principalmente, pela transição do trabalho artesanal e

familiar, para o trabalho assalariado.

Porém, o grande problema foi a exploração do trabalho, sobretudo de maneira

forçada ou análoga à escravidão, pois os empresários visavam cada vez mais o lucro, e, para

alcançar o objetivo, sem qualquer constrangimento, submetiam os empregados a exaustivas

horas de trabalho, em troca de um salário baixíssimo, muitas vezes, forçando-os a apelar para

horas extras, como sendo a única forma de sustentar a si mesmo e a sua família, geralmente,

numerosa; Sem contar na exploração que ocorria também com mulheres e crianças.

Diante de todas essas mudanças, o sistema sempre parecia estar em desfavor do

trabalhador, dando início a algumas reflexões sobre a nova relação de trabalho. Como não

poderia ser diferente, aos poucos, surgiram as revoltas e os movimentos, sempre com intuito

de rediscutir a relação estabelecida e garantir direitos aos trabalhadores. Esse

descontentamento por parte das pessoas que exerciam as atividades na cadeia econômica, aos

poucos, passou a afetar as relações laborais, colocando em risco a harmonia e a paz entre os

protagonistas da relação, em todos os possíveis aspectos.

Dessa forma, em decorrência do excesso de jornada de trabalho e da falta de

remuneração digna, ficou evidente o extremo sofrimento a que estavam submetidos os

trabalhadores, dando espaço para que graves problemas começassem a fazer parte da vida

cotidiana do trabalhador, especialmente, as doenças decorrentes da fadiga, os acidentes de

trabalho, muitas vezes, relacionados ao excesso de jornada e ao cansaço do trabalhador.

Com tantos problemas, os conflitos laborais passaram a fazer parte das comunidades

e, motivado pala intranquilidade, surgiu a necessidade de, com uma certa urgência,

regulamentar as relações de trabalho no, visando, ao menos, a uniformização de um padrão

mínimo de direitos, que deveriam ser garantidos na seara internacional, face aos absurdos

ocasionados pela Revolução Industrial, procurando trazer um viés mais humanitário para o

trabalho da época, e considerando também os ideais de direitos humanos lançados ao mundo

com a Revolução Francesa, em 1789. Além disso, nos países industrializados, os sindicados

começaram a ganhar força, sempre com a bandeira de melhorias nas relações de trabalho e

condições dignas aos trabalhadores.

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Acerca do desenvolvimento sindical nos países industrializados, destaca-se a

importância do trabalho desenvolvido por Robert Owen,

Não se pode deixar de mencionar uma figura de extrema importância, o industrial

Robert Owen, o qual apoiou uma legislação progressista, sendo ele, além de industriário,

fundador do primeiro sindicato britânico dos trabalhadores, no ano de 1833. Um exemplo da

inegável importância de Owen para o Direito do Trabalho, sem dúvida, foi a ideia de

estabelecer uma jornada máxima de trabalho, até o momento inexistente. Á época foi fixada

em 10 horas diárias. Contudo deve se destacar que tal medida não fora adotada por mera

benevolência. Ele percebeu que quando seus empregados tinham um repouso maior, a

qualidade dos produtos de sua indústria eram melhores.

Para a criação da famosa e importantíssima Organização Internacional do Trabalho

foram-se utilizados diversos argumentos; entre eles: argumentos humanitários, políticos e

econômicos. A princípio, utilizou-se argumentos humanitários, pois os trabalhadores

encontravam-se em condições precárias, sendo explorados sem levar em consideração sua

condição humana e o quadro de saúde dos trabalhadores. Esse tipo de postura estava se

tornando cada vez mais inaceitável. Encontramos esse tipo preocupação, no preâmbulo da

Constituição da OIT.

Posteriormente, encontra-se o argumento de natureza política, pois se não houvesse

melhora nas condições de trabalho, os trabalhadores sofreriam distúrbios, podendo chegar a

fomentar a revolução, a qual poderia trazer consequências para o processo que estava em

andamento e que nenhum empresário imaginava ver paralisado.

O terceiro argumento estava relacionado com questões econômica, pois houve uma

mudança significativa nos custos da produção, e qualquer setor econômico que fugisse esse

padrão, certamente, teria seus custos ainda mais elevados, de modo que o reflexo seria

inevitável e traria desvantagem, em face da concorrência.

Os três argumentos estão consagrados no Preâmbulo da Constituição De 1919,

considerados como sendo a base ideológica da Constituição da OIT, ao ponto de ser aceitos

como tais até os dias de hoje.

Motivado pelos anseios e pela necessidade de se estabelecer a paz social, no ano de

1919, de Janeiro a Abril, foi redigida a Constituição da OIT (agência independente filiada a

Liga das Nações), pela Comissão da Legislação Internacional do Trabalho, incorporada ao

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Tratado de Versalhes. A comissão era composta por nove países, dentre eles: Bélgica, Cuba,

Checoslováquia, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Polónia e Reino Unido, e presidida por

Samuel Gompers. Esta comissão, promoveu a criação de uma organização Tripartida (uma

das principais características da OIT), na qual, os órgãos executivos são formados por

representantes de governos, dos empregados e dos empregadores. Sendo assim, a OIT

consolidou-se rapidamente, sem enfrentar dificuldades, graças a competência de seu Diretor,

Albert Thomas, um intelectual e visionário.

A primeira Conferência Anual da Organização Internacional do Trabalho, aconteceu

logo em seguida, na cidade de Washington, ainda no ano de 1919 (Outubro). Nessa

conferência foram emitidas as seis primeiras convenções, as quais regulavam as questões

decorrentes da limitação da carga horária, da idade mínima, da proteção à maternidade e do

desemprego. No verão do ano seguinte, a OIT criou um secretariado permanente, com sede

em Genebra, o qual perdura até os dias de hoje.

Após tantos anos, restou evidente o papel que foi atribuído a esse organismo

especializado das Nações Unidas, no que cinge às questões trabalhistas, posto que a sua longa

– e firme – existência demonstrou-se demasiadamente sólida durante as mais adversas

situações, em períodos de extrema dificuldade, dentro da História Mundial, sobrevivendo às

consequências da Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, às dificuldades observadas no

plano político internacional decorrentes da Guerra Fria, provando a sua força e legitimidade

dentro do cenário mundial.

Os objetivos almejados são aqueles que visam plena paz e justiça social, em busca de

melhores condições de trabalho. Acredita-se que somente uma política eficaz e justa para os

trabalhadores, pode fazer com que o(s) país(es) encaminhem-se rumo ao progresso e

evolução, pelo fato de que o mundo hoje se movimenta essencialmente pela questão

econômica.

Sendo assim, a História já demonstrou que é de fundamental importância implantar

melhorias dentro do campo de trabalho, criar políticas e cooperação entre os países, com a

finalidade de gerar uma forma eficiente entre as partes que fazem a economia seguir seu

fluxo. A organização é conhecida pela sua grande competência em elaborar normas

significativas para prática de trabalho e promover a dignidade atrelada ao que se entende por

justo hoje, claro, sempre no âmbito trabalhista.

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4 A CRIAÇÃO DA ONU E O PERÍDO PÓS 1945

A facilidade na comunicação e no descolamento (em virtude da globalização e

avanços tecnológicos), além das catástrofes oriundas das Guerras Mundiais, fez emergir

oDireito Internacional dos Direitos Humanos, cuja base (essência) era o Direito Humanitário,

a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho. A mais importante e com

maior contribuição foi a OIT, com origem no final da Primeira Guerra Mundial, cujo objetivo

preponderante era adequar as condições de trabalho à dignidade da pessoa humana e ao bem-

estar social.

Nesse contexto do surgimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos, mais

precisamente após a Segunda Guerra Mundial, a Comunidade Internacional criou medidas

para contornar as consequências deixadas pelos confrontos e evitar futuras guerras, por meio

de um sistema de segurança coletiva, liderada pela ONU. Assim, surgiu uma vinculação entre

os Estados-Membros, cujo objetivo central era evitar novas catástrofes, com a cooperação

entre os participantes.

No ano de 1945, a ONU surge como um sistema específico de normas para regular,

internacionalizar (antes restritos a poucas legislações) e efetivar os Direitos Humanos em prol

do indivíduo, dotado desses direitos apenas por ser considerado pessoa humana. É

intensificada a internacionalização com objetivos que visam à manutenção da paz e da

segurança internacional.

Com a ONU, os problemas internos de cada país passam a possuir uma relevância

global, ressaltando, portanto, a existência de cooperação internacional, principalmente quando

se trata do respeito às liberdades fundamentais e aos direitos humanos.

Porém, como não existia uma definição precisa das nomenclaturas direitos humanos

e liberdades fundamentais, houve a necessidade e a pretensão, da própria ONU, inclusive, em

defini-los de forma mais específicas, com intuito de esclarecer e superar as lacunas das

expressões. Assim, surge a Declaração Universal de 1948.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada em Paris, dia 10 de

dezembro de 1948. Objetivava, de início, a positivação internacional dos direitos mínimos dos

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seres humanos, um código para mostrar ao mundo a abrangência dos Direitos Humanos,

sendo suficiente a condição de pessoa humana para exigi-lo.

Ademais, quanto à estrutura, a Declaração, em um só código, traz os chamados

direitos e garantias individuais, além dos direitos sociais, econômicos e culturais. Portanto, é

garantido não só os ideais liberais, mas também os direitos sociais de cidadania.

No que concerne às relações laborais, é garantido o direito ao trabalho, à livre

escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o

desemprego, do direito à igual e justa remuneração pelo trabalho, conforme dispõe oart. 23.

Por sua vez, o art. 24 da mesma Declaração aduz que “toda pessoa tem direito ao repouso e ao

lazer, inclusive à limitação razoável das dez horas de trabalho e às férias remuneradas

periódicas.”.

Como foi adotada como uma resolução em Assembleia-Geral, como uma

recomendação das Nações Unidas, o código não é a princípio um tratado, é - na verdade- uma

interpretação autêntica das disposições da carta da ONU,ou seja, a Declaração é uma forma

encontrada para aperfeiçoar a interpretação da expressão “direitos humanos e liberdades

fundamentais”.

Entretanto, a Declaração exemplificou os direitos mínimos a serem garantidos pelo

Estado, mas não estabeleceu os instrumentos ou a forma como esses direitos seriam

vindicados. Havia, portanto, uma falha na aplicabilidade da Declaração, e fez-se necessário o

surgimento de pactos e convenções internacionais com o proposito de garantir, ou melhor,

efetivar a proteção dos direitos humanos consagrados. Diante disto, surgem dois Pactos, quais

sejam: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (Pacto Civil) e o Pacto

Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Pacto Social), tendo este último

maior importância para o mundo do trabalho, o qual tem como escopo principal “dar

juridicidade aos preceitos da Declaração Universal de 1948”(MAZZUOLI, 2014, p. 94).

Atendo-se ao Pacto sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, as suas

delimitações, compreendidas como normas de caráter programático (apresentando realização

progressiva das atividades), exigem dos Estados comprometimento em proteger, por meio de

medidas, os direitos mencionados. O sistema de monitoramento se dá por meio de relatórios

apresentados pelos Estados sobre as medidas adotadas e os progressos obtidos.

A sua eficácia pode ser vislumbrada em trechos de seus artigos. Eis abaixo o trecho

de um deles. Observe-se:

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“pelo Pacto sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, os Estados que o

ratificam assumem o compromisso de assegurar progressivamente, ‘até o máximo de

seus recursos disponíveis’, com esforços próprios ou com cooperação internacional,

o pleno exercício, sem discriminações, dos direitos nele reconhecidos, podendo os

países em desenvolvimento ‘determinar em que medida garantirão os direitos

econômicos (...)”(MAZZUOLI, 2014, p. 95)

A título de exemplo desses direitos existem o direito de homens e mulheres à

igualdade no gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais enumerados no tratado (art. 3º),

o direito de toda pessoa ter a possibilidade de ganhar a vida mediante um trabalho livremente

escolhido ou aceito (art. 6º, § 1º), o direito de todas as pessoas de formarem sindicatos e de se

filiarem no sindicato da sua escolha, sujeito somente ao regulamento da organização

interessada, com vista a favorecer e proteger os seus interesses econômicos e sociais. O

exercício deste direito não pode ser objeto de restrições, a não ser daquelas previstas na lei e

que sejam necessárias numa sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, e um

dos mais importantes não só para a OIT, mas para o Direito Internacional do Trabalho como

um todo, que é aquele disposto no art. 7º do Pacto da ONU de 1966, cujo inteiro teor do artigo

está colacionado a seguir:

Artigo 7.º Os Estados Partes no presente Pacto reconhecem o direito de todas as

pessoas de gozar de condições de trabalho justas e favoráveis, que assegurem em

especial:

a) Uma remuneração que proporcione, no mínimo, a todos os trabalhadores;

i) Um salário eqüitativo e uma remuneração igual para um trabalho de valor igual,

sem nenhuma distinção, devendo, em particular, às mulheres ser garantidas

condições de trabalho não inferiores àquelas de que beneficiam os homens, com

remuneração igual para trabalho igual;

ii) Uma existência decente para eles próprios e para as suas famílias, em

conformidade com as disposições do presente Pacto;

b) Condições de trabalho seguras e higiênicas;

c) Iguais oportunidades para todos de promoção no seu trabalho à categoria superior

apropriada, sujeito a nenhuma outra consideração além da antiguidade de serviço e

da aptidão individual;

d) Repouso, lazer e limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas

pagas, bem como remuneração nos dias de feriados públicos.

Diante disto, é cediço que a proteção internacional dos direitos humanos é fundada,

atualmente, em uma série de tratados internacionais, contudo, suas bases são constituídas pela

Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, bem como pelos dois Pactos de Nova

York de 1966: o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, e o Pacto Internacional

dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, sendo esse o que merece maior destaque, em se

tratando de questões atinentes às relações trabalhistas.

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5 A RESSIGNIFICAÇÃO DA OIT

Criada em 1919, no Tratado de Versalhes, a OIT iniciou as atividades em

Washington, na primeira Conferência Internacional do Trabalho, nascendo como uma forma

de anexo à Liga das Nações, dotada de total autonomia. O argumento inicial para a sua

criação, conforme já visto anteriormente, era humanitário, político (evitar uma possível

revolução) e econômico (evitar desvantagens entre os países concorrentes quanto o custo da

mão-de-obra). Assim, as normas objetivavam as condições de trabalho, como – por exemplo:

jornada diária de trabalho de 8 (oito) horas e semanal de 48 (quarenta e oito) horas.

Anos mais tarde, em 1944, na 26ª Conferência Internacional do Trabalho, na

Filadélfia, anexa-se ao corpo da Constituição da OIT, a Declaração referente aos fins e

objetivos da Organização (Declaração da Filadélfia).

Ou seja, Em 1944, como era aclamado em um mundo pós-guerra, a OIT sofre

mudanças nos objetivos, bem como procurou adequá-los à sociedade internacional. Em 1946,

na 29ª reunião da Conferência Internacional do Trabalho, adota-se um texto em substituição

ao anterior de 1919, tendo sofrido emendas em 1953, 1962 e 1972.

6 FUNCIONAMENTO DA OIT

Para entender como funciona a Organização Internacional do Trabalho, é preciso

dividir o órgão em três estruturas: Repartição Internacional, Conselho de Administração e

Assembleia Geral, com funções diferenciadas e bastante distintas sobre sua forma de intervir.

A Assembleia Geral tem seções realizadas sempre que haja necessidade e pelo

menos uma vez ao ano, sendo as sessões realizadas nos locais definidos pelo Conselho de

Administração. Convém destacar também, que, dentre outros assuntos nela tratados, discute-

se também as solicitções de ingresso na OIT, sendo necessário obter dois terços dos votos

para aprovação..

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Dando continuidade, o Conselho de Administração é composto por um presidente e

dois vice-presidentes, sendo um representante do governo e outros dois dos representantes dos

patronais e obreiros, respectivamente. Dispõe o Conselho de um regulamento próprio,

havendo encontros quando eles determinarem, sendo aberta a possibilidade de realizar-se uma

sessão especial, a qual só se faz viável quando somar dezesseis pedidos por escrito dos seus

membros.

Por último, a Repartição Internacional do Trabalho é composta por um Diretor Geral,

o qual é indicado pelo Conselho de Administração, e que tem a capacidade escolher o pessoal

que trabalhará com ele, de acordo com as regras determinadas pelo Conselho. Dentre as suas

funções precípuas, destaca-se a informação da condição e situação dos trabalhadores, estudo

das questões em discussões na Conferência, preparação de documentos inerentes às sessões,

auxílio aos governos, quando solicitado, mais especificamente em se tratando da adequação

das leis a serem submetidas na Conferência. Ademais, a Repartição Internacional do Trabalho

também desenvolve suas atividades como um de mecanismo de publicidade, poisencarrega-se

de divulgar todas as atividades a serem executadas pela Organização Internacional do

Trabalho, além de promover as convenções e recomendações estabelecidas pelo comitê, ainda

acrescenta-se a função de receber queixas e reclamações por partes dos membros, ou melhor,

países integrantes da organização.

Sãonas Assembleias Gerais que se espera a possível aprovação de todas as

contribuições do órgão para melhorar as condições trabalhistas, que devem ser aprovadas pelo

crivo de duas sessões seguidas, podendo levar um período de até dois anos para aprovação de

tal medida.

Contudo, ainda que fuja um pouco da temática da Reunião Geral Americana, se faz

necessário destacar a diferença entre as convenções e recomendações.

A primeira consiste num conjunto de regras que são estabelecidas pela instituição de

caráter obrigatório aqueles que resolvam adota-la no ordenamento vigente de seu país,

enquanto recomendações são propostas não aprovadas pela maioria em votação, não trata-se

de uma obrigação, é de cunho facultativo.

A composição das reuniões sempre se dá por meio de um sistema único e

diferenciado, chamado de tripartite, garantindo, por conseguinte, a participação das entidades

trabalhistas, de seus empregadores e do próprio governo, assim correspondendo aos três

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mecanismos capazes de regular e fazer o mercado de trabalho fluir. É interessante reforçar a

mesma notoriedade e credibilidade que se dá a quem governa e aos representantes

trabalhistas, pois ambos são equivalentes e iguais dentro da discussão, visando semprea

dimensão e recomendações ao universo trabalhista, com a proposição de convenções, sessões,

protocolos e resoluções, sendo estes tratados que podem, ou não, ser adotados pelos países

participantes. Uma vez adotado pelo direito interno dos Estados-membros, se diz que o

tratado internacional foi “ratificado”.

Um ponto de relevante interessante é o fato de que se a legislação interna de

determinado Estado adota procedimento distinto ou contrário à convenção e/ou recomendação

ratificado, obrigado estará a adaptar a lei interna aos ditames internacionais, posto que essas

medidas são apresentadas como patamar mínimo de questões de direito trabalhista

internacional.

Acima observa-se uma breve exposição da temática sobre a Conferência

Internacional do Trabalho, que exige a participação de todos os países que compõem a

Organização, onde participam quatro delegados por Estado-membro, sendo dois

representantes estatais, um dos trabalhadores, e um dos empregados.

7 CONSTITUIÇÃO DA OIT E O TRIPARTISMO

A primeira Constituição da OIT foi redigida pela Comissão da Legislação

Internacional do Trabalho, no início de 1919. Tal legislação fora emendada três vezes, nos

anos de 1922, 1934 e 1945. Em 1946, na 29ª reunião da Conferência Internacional do

Trabalho, em Montreal, foi aprovada a Constituição hodierna, vigorando desde o dia 20 de

abril de 1948, tendo como anexo adeclaração referente aos fins e objetivos da Organização,

que por sua vez, fora aprovada na 26ª reunião da Conferência Internacional do Trabalho, em

1944, na Filadélfia.

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O preâmbulo da constituição trata dos princípios basilares da OIT, gozando de uma

observância doutrinária maior os da jsutiça social e o da manutenção da paz e da harmonia. A

seguir, vislumbra-se tal instrumento introdutótio, em sua integralidade:

“Considerando que só se pode fundar uma paz universal e duradoura com base na

justiça social;

Considerando que existem condições de trabalho que implicam, para grande parte

das pessoas, a injustiça, a miséria e as privações, o que gera um descontentamento

tal que a paz e a harmonia universais são postas em risco, e considerando que é

urgente melhorar essas condições: por exemplo, relativamente à regulamentação das

horas de trabalho, à fixação de uma duração máxima do dia e da semana de trabalho,

ao recrutamento da mão-de-obra, à luta contra o desemprego, à garantia de um salá-

rio que assegure condições de subsistência adequadas, à protecção dos trabalhadores

contra doenças gerais ou profissionais e contra acidentes de trabalho, à protecção das

crianças, dos jovens e das mulheres, às pensões de velhice e de invalidez, à defesa

dos interesses dos trabalhadores no estrangeiro, à afirmação do princípio “a trabalho

igual, salário igual”, à afirmação do princípio da liberdade sindical, à organização do

ensino profissional e técnico e outras medidas análogas;

Considerando que a não adopção, por parte de qualquer nação, de um regime de

trabalho realmente humano se torna um obstáculo aos esforços de outras nações

empenhadas em melhorar o futuro dos trabalhadores nos seus próprios países;

As Altas Partes Contratantes, movidas por sentimentos de justiça e de humanidade,

assim como pelo desejo de assegurar uma paz mundial duradoura, e tendo em vista

alcançar os objectivos enunciados neste preâmbulo, aprovam a presente Constituição

da Organização Internacional do Trabalho”(OIT, 2007)

A partir do trecho acima colacionado, conclui-se que a concretização dos interesses

do preâmbulo e da Declaração referente aos fins e objetivos da OIT se dá com a existência da

Comissão Permanente, regulamentada no artigo 1º.

Na organização do comitêé compreendida uma Conferência Geral, constituída pelos

representantes dos Estados Membros, um Conselho de Administração, e a Repartição

Internacional do Trabalho.

No que concerne à organização, a representação dos Estados-membros e demais

organismos na OIT se perfaz de forma tripartida, conforme já dito, ou seja, é composta por

representantes de diferentes áreas.Dois estarão representando os interesses do seu governo,

um irá como o representante do sindicato patronal e outro irá defender os interesses dos

trabalhadores, sendo este o representante do sindicato obreiro. Com isso, existe o diálogo

entre os setores, abrindo margem para tomada de decisões mais justas, sendo este o

18

tripartismo, a possibilidade de voto e voz aos três âmbitos do Direito do Trabalho: Estado,

patrões e empregados.

Para que seja possível uma melhor compreensão acerca do tripartismo da OIT,

observe-se:

“O quarto princípio agrega a estratégia do diálogo social ou tripartismo, ao declarar

que “a luta contra a carência, em qualquer nação, deve ser conduzida com

infatigável energia, e por um esforço internacional contínuo e conjugado, no qual os

representantes dos empregadores e dos empregados discutam, em igualdade com os

do Governo, e tomem com eles decisões de caráter democrátio, visando o bem

comum”.

Por meio de sua estrutura tripartite, a OIT envolve representantes dos Estados-

Membros, representantes de trabalhadores e representantes de empregadores nas

deliberações justrabalhistas, agregando a dimensão da proteção dos direitos

individuais à seara de proteção dos direitos coletivos.”(DELGADO e RIBEIRO,

2013, p. 214)

O voto é individual e independente. Portanto, os delegados de uma mesma delegação

podem votar de maneira oposta. Para fins de simulação, a UniSim-RN adota uma maneira

distinta para contagem dos votos: estes serão também individuais e independentes, com

a ressalva de que apenas os representantes do governo terão o voto duplo, no afã de

suprir o segundo representante do governo, inexistente na simulação.

Em tempo, é de bom alvitre destacar que há cooperação entre a OIT e demais

organismos internacionais, o que possibilita a participação destes nas suas Conferências.

Contudo, por se tratar de uma delegação observadora, a esta será vedado o direito de

voto.

As Conferências sempre buscam um objetivo: o debate de propostas, visando a

resolução de problemas. Os resultados destes debates devem se transformar em tratado

internacional. No caso da OIT, este tratado internacional – que na simulação é o projeto de

resolução – consiste em uma convenção ou recomendação, sendo esta a atividade normativa

da OIT. Contudo, para fins de simulação, é de bom tom ressaltar que não deverá ser este

o projeto de resolução a ser desenvolvido, visto que será realizada durante a X UniSim a

Reunião Geral Americana, que tem uma proposta distinta da Assembleia Geral.

Segundo Valério Mazzuoli, “as convenções da OIT são tratados multilaterais abertos,

de natureza normativa, elaborados sob os auspícios da Conferência Internacional do Trabalho,

a fim de regulamentar o trabalho no âmbito internacional e também outras uestões que lhe são

19

conexas”(MAZZUOLI, 2013, p. 73). Trocando em miúdos, é o instrumento normativo da

OIT, se perfazendo como um tratado internacional, mas, diferentemente dos demais acordos

internacionais, não têm, como assevera Mazzuoli, “destinatários certos”, estando aberta,

portanto, para ratificação (adesão da norma internacional ao direito interno do Estado), pois

visa universalizar o Direito Internacional do Trabalho, através desta normatização.

Para que se adquira o status internacional de convenção, é necessário que seja dado o

seu conhecimento da Convenção ao Bureau Internacional do Trabalho. Quando ratificada, os

signatários, devem oferecer um cronograma de como deverá ocorrer a implementação. Caso a

convenção não tenha atingido os dois terços dos votos, ela pode se tornar uma convenção

particular e ser adotada apenas pelos Estados Membros que desejarem.

Já para recomendação, será repassado o conhecimento necessário para que se possa

criar leis nacionais ou outro meio para aplicação e o Estado Membro tem como

responsabilidade de repassar para a Repartição relatórios informando a legislação vigente e

comoestão as práticas referentes a esse assunto, no tempo previsto pelo Conselho. Aqui, a

diferença para a se encontra no fato daquela vincular, e esta não. Como bem diz o nome, a

recomendação é uma espécie de diretiva, que apenas “orienta” o Estado-membro a seguir por

um melhor caminho na esfera do Direito Internacional do Trabalho, ainda que não

vinculativo.

Quando as convençõesnãoestãosendoexecutadas por alguns países, reclamações

podem ser feitas a Repartição de Estado Membros que não executaram satisfatoriamente as

ações de um convenção que foi aderida, e será exigida uma resposta do Estado. Caso

nenhuma resposta seja recebida num prazo razoável ou a resposta não for satisfatória, a

reclamação poderá a se tornar pública. Assim como dito no artigo Declaração e Normas da

OIT:

“O desrespeito de um determinado princípio estabelecido em Convenção pode levar

o assunto ao exame do Conselho de Administração da OIT e da plenária anual da

Conferência Internacional do Trabalho. Embora não haja poder para impor e coagir,

existe a sanção moral e o constrangimento, que podem levar à mudança de atitudes e

ao encaminhamento de providências pelos governos.”(OIT, 1998)

O anexo presente na Constituição da Organização Internacional do Trabalho é a

Declaração Referente aos Fins e Objetivos da Organização Internacional do Trabalho. Nela

20

são abordados os direitos básicos que os trabalhadores possuem, sendo, portanto, os principais

que a Organização busca garantir para eles.

8 REUNIÃO GERAL AMERICANA

A Reunião Regional, no âmbito da diplomacia, é considerada o encontro mais

importante no Direito Internacional do Trabalho, no contexto próprio de cada continente e

convoca os Chefe de Estados, Ministros do Trabalho e outros delegados de governos, assim

como os representantes da mais alta hierarquia das organizações empresariais e das

organizações sindicais, e no caso especifico trabalhado nessa simulação, da América Latina,

do Caribe, Canadá e dos Estados Unidos.

Isto posto, é possível remeter a história e compreender que o Conselho de

Administração decidiu criar Encontros Regionais, em 1995, com o intuito de serem mais

curtos do que uma Conferência Regional e ter um único tópico na agenda. Desse modo,

colocariam em prática as disposições do art. 38 da constituição da OIT que dispõe: “A

Organização Internacional do Trabalho poderá convocar conferências regionais e criar

instituições do mesmo caráter, quando julgar que umas e outras serão úteis aos seus fins e

objetivos”(OIT, 2007).

Em documento próprio, as regras de funcionamento das Reuniões Regionais estão

elencadas. Nele, pode se compreender que “Os poderes, as funções e o regulamento das

conferências regionais obedecerão às normas formuladas pelo Conselho de Administração e

por ele apresentadas à Conferência Geral para fins de confirmação.”(OIT, 2007)

As Reuniões têm por escopo promover uma oportunidade para as delegações

tripartites, através dos seus governos e representantes dos seus empregadores e trabalhadores,

de proferir as suas opiniões sobre a programação e a execução das atividades regionais da

OIT. A reunião é convocada a fim de reforçar o intercâmbio de experiências bem sucedidas e

de contribuir para o debate sobre as alternativas para resolver a problemática proposta, que,

no entendimento da OIT, requer a adoção de medidas concretas e urgentes.

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Realizadas de quatro em quatro anos, a classificação regional elegida pela OIT

reparte os países em 4 grupos distintos: Américas, África, Europa e Ásia Central, e Ásia e

Pacífico, havendo sempre uma agenda com tema único. Visando o aprofundamento na

temática: O trabalho escravo na América Latina e seu paralelo com a imigração, na 10º da

UniSim, reunião a ser simulada será a Reunião Regional Americana.

Assim, motivados pela certeza que através do debate, das reflexões sobre os avanços

e limites, da solidez e permanência de algumas conquistas e da necessidade de novas

propostas visando mudanças estruturais, a OIT nos permite, por meio da reunião tão

simbólica, a promoção e harmonização dos direitos do trabalho através do estabelecimento e

aplicação de normas internacionais do trabalho, evoluindo para incluir temas mais amplos de

política social e direitos humanos e civis. Os meios de ação para alcançar estes objetivos são a

elaboração de normas e a cooperação técnica.

Destarte, na conjuntura de normas internacionais da OIT se destacam, para executar

e efetivas o produto do debate, as Convenções (tratados internacionais ratificáveis) e as

Recomendações (instrumentos facultativos de orientação para a política e as ações nacionais),

que quando não se tornam normas da legislação nacional através da ratificação, servem de

base para a atividade legislativa dos Estados.

Logo, os Membros da OIT devem realizar, de boa fé e em conformidade com a

Constituição, os princípios relativos aos direitos fundamentais que são objeto dessas

Convenções. No intuito de que consigam fazê-lo, a OIT assume a obrigação de ajudá-los,

promovendo políticas sociais sólidas, a justiça e instituições democráticas.

Como produto das decisões tomadas nas Reuniões Regionais, podem surgir boletins

de conclusões ou resoluções relacionadas ao tema destacado na agenda. Feito isto,

“The decisions of the Meeting are submitted by the Office to the Governing Body at

the earliest session after the Regional Meeting. The Governing Body may make

observations on the results, decide on the implementation of action called for by the

Meeting and request the Office to report on the matter by a certain time, or take such

other action as may be appropriate.”(ILO, 2008)2

2Tradução livre: “As decisões da Assembleia são submetidas pelo Escritório ao Conselho de Administração, na

primeira sessão após a Reunião Regional. O Conselho de Administração pode formular observações sobre os

resultados , decidir sobre a aplicação de medidas preconizado pelaReunião e solicitar ao Gabinete de apresentar

um relatório sobre o assunto por um determinado período de tempo, ou tomar qualquer outra medida que possa

ser apropriada.”

22

Desta forma, para simular fielmente a Reunião Geral Americana, o projeto de

resolução a ser desenvolvido durante a X UniSim consistir-se-á em um dos documentos acima

colacionados: boletins informativos (acerca das conclusões da reunião), ou uma resolução.

9 TÓPICO ÚNICO: O TRABALHO ESCRAVO NA AMÉRICA LATINA E O SEU

PARALELO COM A IMIGRAÇÃO

Muito embora a migração seja um direito, por reiteradas vezes esta se justifica na

busca por melhores condições de vida e trabalho. Valendo-se da natureza salarial, e portanto,

de subsesistência, do trabalho, determinados agentes, eivados de torpeza, aproveitam-se da

necessidade e miséria para levar seres humanos à condições análaogas à escravidão, quando

não escravizados literalmente, promovendo práticas de trabalho nocivas e degradantes à saúde

e bem estar do trabalhador, isto sem falar na situação irregular em que obrigam os imigrantes

a permanecerem, violando, consequentemente, uma série de direitos humanos, bem como

preceitos de direitos fundamentais no trabalho.

A prática de se sobressair financeira e socialmente em virtude da força de trabalho de

outrem não é algo inovador, tampouco surgido com o tráfico negreiro. Ascende às mais

antigas culturas humanas, ainda na História Antiga, quando ainda se utilizava do trabalho

enquanto castigo, chegando a ser considerada, segundo Domingos Zainaghi, um avanço na

história da humanidade, vez que pôs fim à antropofagia daqueles que residiam em territórios

conquistados, pois a partir de então, estes passaram a ser escravizados, ao invés de mortos.

Ainda sobre o assunto, é feita a seguinte afirmação: “A escravidão é tão antiga quanto a

presença do ser humano na Terra. É inerente ao homem se utilizar do trabalho de seu

semelhante para satisfazer suas necessidades de sobrevivência”(ZAINAGHI, 2012, p. 362).

23

Fato cediço é que apesar de ter havido, séculos atrás, em praticamente todo o globo,

a abolição da escravidão, esta continua a ser prática contemporânea de exploração do

trabalhador, seja restringindo os direitos inerentes à pessoa que desenvolve o labor, seja

colocando-o em situações degradantes de trabalho, ou seja, ceifando do trabalhador a sua

dignidade, a qual se perfaz como princípio vetor não só dos direitos humanos, mas também do

Direito Internacional como um todo, e até mesmo das constituições da maioria dos Estados-

membros das Nações Unidas.

A dignidade violada pela prática do trabalho escravo se perfaz como sendo

“um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que

apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos

fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas

as pessoas enquanto seres humanos”(DELGADO e RIBEIRO, 2013, p. 201).

Desta forma, fundada nos princípios da dignidade e da justiça social, ambos

presentes no preâmbulo da Constituição da OIT, tal Organização “estabelece o conceito de

justiça social como a necessidade de amplo acesso à justiça e aos direitos

sociotrabalhistas”(DELGADO e RIBEIRO, 2013, p. 203). Desta forma, visando assegurar tal

conceito e, seguindo o procedimento da produção normativa da OIT, surgem no mundo do

Direito Internacional do Trabalho duas Convenções que dizem respeito diretamente ao

trabalho escravo ou análogo à escravidão, quais sejam, 29 e 105, sendo ambas consideradas,

inclusive, Convenções Fundamentais da OIT.

A Convenção nº 29 da OIT, de 1930, versa sobre o trabalho forçado ou obrigatório,

definindo-o como "todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob ameaça de sanção e

para o qual ela não tiver se oferecido espontaneamente”. Já a Convenção Suplementar sobre a

Abolição da Escravatura, do Tráfico de Escravos e das Instituições e Práticas Análogas à

Escravatura, de 1956, vai definir a escravidão enquanto “estado ou a condição de um

indivíduo sobre o qual se exercem todos ou parte dos poderes atribuídos ao direito de

propriedade”.Diante disto, resta notório que a generalidade do conceito permitiu a inclusão

dos mais variados tipos de comportamento em seu bojo, porém também trouxe dificuldades

quanto à sua identificação em casos concretos.

Por sua vez, a Convenção nº 105, de 1957, também da OIT, motivada pelo contexto

pós- Segunda Guerra Mundial, trata da abolição do trabalho forçado e veda o recurso ao

trabalho forçado para quaisquer fins de desenvolvimento.

24

No afã de assegurar as determinações das Convenções acima mencionadas (29 e

105), em 1998 vem a Declaração sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho,

também da OIT, ressalta que os países que a incorporarem devem respeitar seus princípios e

direitos e, portanto, estão comprometidos a empreender o esforço necessário para concretizá-

los. Sendo assim, a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório,

enquanto principio concernente aos direitos fundamentais do trabalho, deve ser reconhecido

por todos os países membros da OIT.

Para tanto, a OIT distingue o trabalho forçado do trabalho degradante. O primeiro é

caraterizado pela privação de liberdade por diversos meios, como apreensão de documentos, o

encaminhamento dos trabalhadores a locais geograficamente isolados e a manutenção de

guarda armada para evitar fugas, enquanto o segundo é aquele em que não são observados os

direitos mínimos trabalhistas, assegurados internacionalmente e, consequentemente contrários

aos preceitos de dignidade da pessoa humana.

Em meio às discussões sobre exploração indevida da mão de obra, o tráfico humano

tem ganhado destaque. E, apesar de o tráfico submeter inúmeras pessoas a condições

degradantes de trabalho, obviamente em desacordo com as condições estabelecidas pela OIT,

esta ainda não trata normativamente sobre o tema. A Organização adota a definição de tráfico

de pessoas trazida pelo Protocolo de Palermo, que, por sua vez, traz um rol das condutas

consideradas como tráfico humano.

A OIT, em suas publicações sobre as Convenções nº. 29 e nº 105, aborda o tráfico de

seres humanos como uma das possíveis manifestações do trabalho forçado, mas conclui que

majoritariamente (80% dos casos) o trabalho forçado não está ligado ao tráfico, muito embora

não seja essa a realidade observada hodiernamente, sobretudo em se tratando de América

Latina. É justamente por estar diante de uma realidade tão conflitante, é que a própria

Organização reconhece a escassez de informações confiáveis sobre o tráfico de seres

humanos.

Destaque-se ainda que o trabalho forçado e o tráfico de pessoas podem acontecer de

modo entrelaçado, mas não necessariamente. E que, mais uma vez, as definições heterogêneas

sobre o tráfico adotadas pelos Estados e entidades contribuem enormemente para a inexatidão

das informações sobre o tema, sendo a referida imprecisão conceitual responsável, inclusive,

por prejudicar a quantificação do número de vitimas traficadas.

25

Apesar de a definição do Protocolo de Palermo ser predominante aceita, não

consegue solucionar o problema da imprecisão, pois deixa margem interpretativa para os

Estados, já que os países que adotam o Protocolo não são obrigados a recepciona-lo

integralmente, estando autorizados a adaptá-lo a sua realidade.

Além do problema de definição, o Protocolo trata do tema do tráfico de maneira

repressiva, pois tem como foco a criminalidade internacional organizada e esta abordagem

acaba por contribuir para ampliar o estigma que existe sobre as vitimas traficadas, pois, sob

uma roupagem de combate ao tráfico humano, combate-se, verdadeiramente, a violação de

leis nacionais de imigração e de trabalho sexual.

Porém o tráfico de pessoas não se restringe à exploração sexual e, por outro lado, se

o foco é a criminalidade organizada internacional, a presença do imigrante acaba por ser vista

como uma possível ameaça ou indício de ilegalidade.

Sendo assim, foram elaborados uma série de tratados internacionais (sendo a maioria

disposta como Protocolos e Convenções), visando a defesa tanto dos imigrantes, quanto dos

trabalhadores escravizados, bem como a de ambos. É o caso da Convenção Internacional

sobre a Proteção de todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros de suas Famílias

(Resolução nº 45/158, de 1990, da ONU).

No afã de preparar o máximo possível os delegados para a simulação da Reunião

Geral Americana da OIT, durante a X UniSim, seguem abaixo links de tratados internacionais

que dizem respeito à temática, e dispostos à título de sugestão para os delegados,

recomendando-se, contudo, a leitura de todos eles, uma vez que serão os norteadores das

discussões. Ainda em tempo, sinaliza-se que a temática não se esgota apenas neles, estando os

delegados abertos a realizarem pesquisas, sempre no intuito de adquirir novos materiais e

conteúdos que sejam pertinentes à defesa dos interesses de suas respectivas representações.

1. Declaração Universal dos Direitos Humanos:

http://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf ;

2. Pacto dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966:

http://www.unfpa.org.br/Arquivos/pacto_internacional.pdf ;

3. Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho:

http://www.ilo.org/public/english/standards/declaration/declaration_portuguese.pdf;

26

4. Protocolo de Palermo: http://sinus.org.br/2014/wp-content/uploads/2013/11/OIT-

Protocolo-de-Palermo.pdf ;

5. Convenção nº 29 da OIT: http://www.oitbrasil.org.br/node/449 ;

6. Convenção nº 105 da OIT: http://www.oitbrasil.org.br/node/469 ;

7. Convenção sobre a Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e Ação Imediata

para sua Eliminação (nº 182): http://www.oitbrasil.org.br/node/518 ;

8. Convenção suplementar relativa à abolição da escravatura, do tráfico de escravos e das

instituições e práticas análogas à escravatura:

http://www.gddc.pt/siii/docs/dl42172.pdf ;

9. Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores

Migrantes e Membros de Suas Famílias:

https://www.oas.org/dil/port/1990%20Conven%C3%A7%C3%A3o%20Internacional

%20sobre%20a%20Protec%C3%A7%C3%A3o%20dos%20Direitos%20de%20Todos

%20os%20Trabalhadores%20Migrantes%20e%20suas%20Fam%C3%ADlias,%20a%

20resolu%C3%A7%C3%A3o%2045-

158%20de%2018%20de%20dezembro%20de%201990.pdf ;

10. Protocolo Adicional à Convenção Contra o Crime Organizado Transnacional, relativo

ao Combate do Tráfico de Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea de 2000:

http://www.gddc.pt/cooperacao/materia-penal/textos-

mpenal/onu/protocolotr%E1ficopt.pdf ;

11. Convenção sobre a Escravatura, de 1926: http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-

conteudos-de-apoio/legislacao/trabalho-

escravo/convencao_escravatura_genebra_1926.pdf .

27

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em todo o mundo, os imigrantes em situação irregular são, muitas vezes, submetidos

a situações que violam seus direitos humanos, bem como os direitos mínimos trabalhistas,

assegurados internacionalmente. Neste espectro, é necessário um acordo entre as nações para

a busca por trabalho e por melhores condições de vida, no afã de contribuir para diminuir as

desigualdades sociais e extinguir as situações laborais de vulnerabilidade, das quais os

trabalhadores tanto experimentam, sobretudo quando se trata de trabalho relacionado à

migração.

É sabido que a migração é um direito, considerado assim até mesmo na filosofia

kantiana – no livro “A Paz Perpétua” – , contudo, ela também se dá quando se busca melhores

condições de vida e trabalho. Neste viés, observa-se que as barreiras à migração só

contribuem para um ambiente estrangeiro hostil e degradante, levando à condições de trabalho

escravo ou análogo à escravidão.

É diante deste cenário, que a X UniSim visa um debate crítico, no afã de melhor

projetar o espaço acadêmico a lidar com tais situações.

28

11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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aspectos históricos-institucionais e econômicos. Revista de Direito do Trabalho - RDT, São

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MAZZUOLI, V. D. O. Integração das Convenções e Recomendações Internacionais da OIT

no Brasil e sua aplicação sob a perspectiva do princípio pro homine. Revista do Tribunal

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29

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Trabalho - RDT, São Paulo, n. 147, p. 353-362, Julho-Setembro 2012.