2 - relato elemar.doc

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NOTA TÉCNICA Nº 01/2014/ABORDAGEM PELA POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ A PROFESSOR EM SALA DE AULA NAS DEPENDÊNCIAS DA UFFS, CAMPUS LARANJEIRAS DO SUL Local: Laa!"#$a% &' S()/PR Interessado: * C#!+' &# R# #-!.$a # D$#$+'% ( a!'% UFFS # * R#$+'$a Magnífico Reitor, Trata-se de análise sobre a a '&a3# #)a P')5.$a M$)$+a &' Paa!6 a #7#.5.$' &a &'.-!.$a # %a)a &# a()a, !a% &# #!&-!.$ Campus Laa!"#$a% &' S() – PR. Demonstra a afronta da aço !olicial milita #ni$ersitária e o descaso com a instit#iço atingida. % !resente tem como interessados o &entro de Refer'ncia em Direitos (#manos e a Para con)ecimento, análise e encamin)amentos *c+!ia á encami Refer'ncia em Direitos (#manos – /0. &)a!ec+1/& 23 de #n)o de 4256 Prof. 7nt8nio 9almor de &am!os /I7P 5;264<= 7ssessor s!ecial do Reitor !ara Legislaço e >ormas Membro do &entro de Refer'ncia em Direitos (#manos

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NOTA TCNICA N 01/2014/ABORDAGEM PELA POLCIA MILITAR DO PARAN A PROFESSOR EM SALA DE AULA NAS DEPENDNCIAS DA UFFS, CAMPUS LARANJEIRAS DO SULLocal: Laranjeiras do Sul/PRInteressado: - Centro de Referncia em Direitos Humanos UFFS e

- Reitoria

Magnfico Reitor,

Trata-se de anlise sobre a abordagem pela Polcia Militar do Paran a professor exerccio da docncia em sala de aula, nas dependncias da UFFS, Campus Laranjeiras do Sul PR. Demonstra a afronta da ao policial militar autonomia universitria e o descaso com a instituio atingida. O presente tem como interessados o Centro de Referncia em Direitos Humanos e a Reitoria.Para conhecimento, anlise e encaminhamentos (cpia j encaminhada ao Centro de Referncia em Direitos Humanos UFFS).Chapec/SC 05 de junho de 2014

Prof. Antnio Valmor de Campos

SIAPE 1804267

Assessor Especial do Reitor para Legislao e Normas

Membro do Centro de Referncia em Direitos HumanosI CARACTERIZAO DO CASO EM ANLISE1

No dia 14 de maio de 2014, chegou ao Centro de Referncias em Direitos Humanos, atravs da Reitoria uma denncia de Criminalizao dos Movimentos Sociais, emitida pela Coordenao do Movimento Sem Terra Regio Centro Oeste do Paran, a qual relata possveis violao aos Direitos Humanos.

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No dia 16 do mesmo ms e ano, outro relato de possvel violao aos direitos Humanos, realizado atravs do Memorando 46.GDIR.LS.UFFS.2014, o qual relata a ocorrncia no Campus Laranjeiras do Sul de uma deteno de professor que no momento ministrava aula para sua turma.

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Observando o noticirio, verifica-se que ocorreu no estado do Paran uma operao policial, envolvendo diversas organizaes da Polcia Militar, como anunciado:Em 13 de Maio de 2014, a Polcia Militar do Paran atravs do SubComando Geral desencadeou a Operao denominada GRALHA AZUL, a qual visou combater a prtica de Crimes Ambientais da regio Oeste e Sudoeste do Paran. (Assessoria comunicao PM/PR, 14/05/2014)

4Segundo a mesma fonte, a operao tinha objetivos de combater a prtica de crimes ambientais na regio:

Foram cumpridos ao todo 25 (Vinte e cinco) Mandados de Busca e Apreenso, expedidos pela Comarca de Laranjeiras do Sul e Quedas do Iguau, realizados simultaneamente, obtendo como resultados a apreenso de 03 armas de fogo e munies de diversos calibres, cujos responsveis foram presos em flagrante e respondero criminalmente pela posse de arma de fogo, cuja pena prevista de 3 a 6 anos de deteno. (Assessoria comunicao PM/PR, 14/05/2014)

5Analisando a estrutura utilizada, a impresso de uma megaoperao, provavelmente ancorada em consistentes convices de organizaes criminosas na regio, pois a operao gralha azul teve forte aparato policial:Operao envolveu 116 policiais militares e 39 Viaturas, de vrias unidades da Polcia Militar, 4 CRPM (Ponta Grossa) 5 CRPM (Cascavel), Polcia Militar Ambiental, Batalho de Fronteira, Polcia Militar Rodoviria, 6 BPM, 16 BPM. (Assessoria comunicao PM/PR, 14/05/2014)

II DOS FATOS

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Estamos diante de uma situao que merece ateno especial por parte dos militantes na rea dos direitos humanos e tambm na defesa institucional, tendo em vista a complexidade do caso, porm as aes devem ser contundentes no restabelecimento do curo do respeito aos direitos individuais e coletivos.

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Por mais que o noticirio gire em torno da represso ao corte ilegal de madeiras na regio, na verdade o foco, de toda a ao policial voltou-se para assentados da regio, sendo que vrios foram afrontados e agredidos nos seus direitos elementares, especialmente suas residncias e, no caso em tela o prprio local.8

De acordo com relato oficial da direo do Campus Laranjeiras do Sul da UFFS, a mesma nunca foi comunicada da ao policial, sendo a abordagem e deteno do professor realizada sem qualquer respeito institucional, in verbis:Aos treze dias do ms de maio de dois mil e quatorze, entre nove horas e nove horas e vinte minutos, no Bloco A da UFFS - Cmpus Laranjeiras do Sul, localizado na BR-158, km 405, compareceram dois policiais do servio reservado da Polcia Militar, O conhecido Capito Vegantes, acompanhado de outra pessoa, alegando que possuam Mandato de busca e apreenso em nome de Servidor Docente Elemar do Nascimento Cezimbra, e se dirigiram sala de aula 301. Os Policiais, interrompendo a aula, solicitaram que o Prof. Elemar os acompanhassem imediatamente, sendo necessrio o abandono dos alunos que no momento estavam realizando avaliao da disciplina, nestes termos, o Prof. Elemar solicitou ao Servidor Fbio Canapini, Secretrio Executivo do Gabinete de Direo do Cmpus, que ficasse na sala de aula para o recolhimento da avaliao dos alunos enquanto iria acompanhar os policiais at a sua residncia localizada na Rua Souza Naves, 540, centro de Laranjeiras do Sul-PR. (Memorando 46.GDIR.LS.UFFS.2014)

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Veja que o endereo do mandado o endereo da busca na Rua Souza Naves, 540, centro de Laranjeiras do Sul-PR, portanto, um relance ao mesmo remete a indagao: pode a ao policial abordar o sujeito da busca e apreenso em local diverso de sua residncia, ainda em horrio de trabalho?10

A situao, segundo reunio com membros da Comisso de Direitos Humanos que atuam no Campus Laranjeiras, com a direo do campus e o professor Elemar, vtima de excessos praticados pela operao Gralha Verde da Polcia do Paran, recebemos a informao que houve uma visita s dependncias do campus por 03 policiais militares fardados. No momento, o pretexto alegado pelos mesmos era de conhecer o campus, isso se deu na semana sexta-feira do ms de abril (25/04).

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A ligao desta visita anterior, na qual os policiais alegaram estarem se deslocando para o municpio de Rio Bonito do Iguau, se deve presena de Vivian Teixeira, que pelas informaes recebidas, seria aspirante a Oficial da Polcia Militar, em estudos em Curitiba. No entanto, a mesma esteve presente na busca e apreenso na casa do Prof. Elemar, demonstra-se aqui a ao premeditada da polcia em relao a abordagem ao professor nas dependncias da universidade de forma totalmente clandestina e arbitrria.

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O fato se concretiza na tera-feira, 13/05/2014, por volta das 9h, na sala 301, turma de Agronomia, 3 fase, disciplina Realidade do Campo Brasileiro, quando chegaram 02 policiais sem identificao, a paisana e adentraram no estabelecimento e conversaram com o Elair, aluno responsvel pelo xerox, perguntando pelo professor Elemar. Os policiais ao chegarem na sala aula, chamaram o professor, que estava aplicando prova e disseram que o mesmo tinha que ir naquela hora para sua casa, pois os demais estavam esperando na mesma.

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O professor foi conduzido at a sua residncia, ao chegar na casa, estavam policiais com armas pesadas esperando por ele. Ento entraram na casa mexeram em tudo, inclusive documentos pessoais, em uma busca detalhada nos mesmos. Apesar da minuciosa e completa na casa busca, nada foi encontrado que possa incriminar o suspeito.

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Concluda a operao na residncia, ao sair da casa, chegou a aspirante a Oficial, a qual j esteve antes na instituio, em visita de reconhecimento, sendo que a mesma lamentou a concluso dos trabalhos e estranhamente queria nova ao policial na residncia, a qual acabou no ocorrendo.15

Apesar de o mandado estabelecer que a busca deve ser restrita a determinados itens, causa estranheza a minuciosa busca documental na casa do Professor Elemar, assim consta no mandado:

BUSCA E APREENSO de coisas achadas ou obtidas por meios criminosos, armas e munies, instrumentos utilizados na prtica de crimes ou destinados a fim delituoso, descobrir objetos necessrios a prova da infrao e contra qualquer elemento de convico, com base em investigaes, em razo de suspeita de prtica de numerosos outros crimes graves. (MANDADO DE BUSCA E APREENSO, 2 Vara Judicial da Comarca de Laranjeiras do Sul/PR) (grifamos)

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Pela descrio constante no mandado o professor foi prejulgado, como potencialmente perigoso, pois suspeito de cometer crimes graves, utilizaria sua residncia para depsito de materiais para a prtica de crimes ou dele resultante.

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Na compreenso do Professor, por ter militado no MST, as acusaes a ele foram de cunho poltico e no criminal. Na opinio do professor Elemar o fato da ordem judicial tem relao com o acampamento 1 de Maio, o qual foi montado para reivindicar a continuidade da reforma agrria na regio, seria este o motivo da busca documental detalhada, onde se estaria buscado informaes sobre a mobilizao, na tentativa de criminalizar as aes de organizao dos campesinos que lutam por terra.

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A vtima demonstra-se preocupado, pois a disputa de terras na regio tensa, no apenas de agora, mas conta com mais de uma dcada, quando a empresa Araupel, que tem grande influncia econmica e poltica na regio, sofreu desapropriao de parte de suas terras, por serem consideradas improdutivas.

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Segundo relato dos ouvidos, foi a empresa Araupel, que fez a rea de lazer dos servidores da polcia e dos funcionrios do Judicirio da Comarca de Quedas do Iguau.

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de notrio conhecimento que h um processo em desenvolvimento o qual busca levantar o estudo dominial da rea, com vistas a comprovao da grilagem das reas ocupadas pela Araupel. Inclusive na regio, tambm h a questo das terras de fronteira, as quais no possuem documentao.

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O suspeito na operao contribuiu com a discusso da regularizao das terras da regio e no momento est em curso um projeto de legalizao das mesmas. Este, numa parceria do Banco Mundial com o Instituto de Terras do Paran, o qual tem causado insatisfao aos fazendeiros e grandes proprietrios da regio.

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Institucionalmente, o fato gera uma insegurana aos demais profissionais da universidade, pois h mais profissionais que militam na defesa das Minorias e Direitos Humanos, os quais, em tese, podem sofrer aes semelhantes. A ao policial, no mbito Institucional, tem provocado efeitos psicolgicos e afetivos no professor e nos demais, causando mudanas comportamentais.

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Como houve a comunicao de uma grande operao na regio, com prises, apreenso de armas e munies, por crimes cometidos, o suspeito est sofrendo discriminao social, tendo em vista a ampla cobertura jornalstica realizada na operao, inclusive alimentadas pela prpria assessoria de imprensa da Polcia Militar, como se comprova com os documentos acotados a este parecer. Corrobora com o sentimento discriminatrio o fato de no ter ocorrido as referidas prises, mas apenas algumas especficas, coincidindo com lideranas que atuaram no MST, e tambm como o caso dos que tem envolvimento com os movimentos sociais.III DO DIREITO24

Veja que a universidade no Brasil goza de autonomia, portanto, deve ser respeitada como instituio capaz de gerir os seus prprios atos, previso constitucional, in verbis:

Art. 207. As universidades gozam de autonomia didtico-cientfica, administrativa e de gesto financeira e patrimonial, e obedecero ao princpio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extenso. (Constituio Federal, 1988)25

Mesmo reconhecendo que a Polcia tem o papel intransfervel de manuteno da ordem e pode tomar as medidas necessrias para tanto, no caso em tela, est se falando de um profissional no desempenho de suas atividades pedaggicas, no qual encontra respaldo nos princpios basilares da educao brasileira, assegurados na Lei de Diretrizes e Bases da Educao Brasileira:

Art. 3 O ensino ser ministrado com base nos seguintes princpios: [...]II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de idias e de concepes pedaggicas;

IV - respeito liberdade e apreo tolerncia; [...]

XI - vinculao entre a educao escolar, o trabalho e as prticas sociais.XII - considerao com a diversidade tnico-racial. (Lei Federal 9394/96) (grifamos)26

Veja que sendo elementares educao algumas situaes postas na lei maior da educao, como explicar a retirada de um professor em pleno exerccio da docncia? Como justificar a ao policial sem qualquer comunicao aos dirigentes da instituio?27

O posicionamento basilar, na liberdade, solidariedade e outros valores inerentes pluralidade encontra respaldo na seara constitucional:Art. 206. O ensino ser ministrado com base nos seguintes princpios: [...]

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de idias e de concepes pedaggicas [...];

VI - gesto democrtica do ensino pblico, na forma da lei; [] (Constituio Federal, 1988) (grifamos)28

A instituio de Ensino Superior compromete-se em preparar o aluno para ser cidado, participativo e contribuinte com a construo de uma sociedade inclusa e solidria, como preceitua a Lei de Diretrizes e Bases da Educao:Art. 43. A educao superior tem por finalidade:I - estimular a criao cultural e o desenvolvimento do esprito cientfico e do pensamento reflexivo; [...]

III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigao cientfica, visando o desenvolvimento da cincia e da tecnologia e da criao e difuso da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; [...]

VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar servios especializados comunidade e estabelecer com esta uma relao de reciprocidade;

VII - promover a extenso, aberta participao da populao, visando difuso das conquistas e benefcios resultantes da criao cultural e da pesquisa cientfica e tecnolgica geradas na instituio.29

Ainda a LDB estabelece garantias da auto-organizao de sua estrutura e sempre tem a inteno de romper com as estruturas dominantes e opressoras, portanto inadmissvel a truculncia e atos como o praticado pelo Polcia na Operao Gralha Azul.

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Para muitos autores discutem o assunto, a autonomia universitria surgiu antes de o prprio Estado, por isso deve ser respeitada e no invadida em seu domnio, especialmente dentro das suas salas de aula:

Quis o constituinte originrio, em boa hora, resgatar e compor, em nosso sistema jurdico-constitucional, uma renovada figurao da autonomia das universidades, to antiga quanto necessria, para que possa ela cumprir sua misso, emprestando-lhes assim o prestgio de se instalar em nossa Lei Maior. Autonomia que de longa data reconhecida em todo o mundo. Isto mesmo aponta Celso Antnio Bandeira de Mello:"16. As universidades, notoriamente, so das mais antigas instituies em que se expressou um sentimento autonmico e de auto-organizao. No h descentralizao de atividade especializada alguma que tenha to forte e vetusta tradio. Em rigor, ela to antiga que precede prpria noo de Estado. Lafayette Pond, em poucas palavras e com o auxlio de uma citao expe a tradio e o esprito essencial da universidade.

"A noo de Estado, como fonte centralizada e soberana de poder e da ordenao jurdica, no surge seno no Sculo XVI. O termo "Estado" vem de Maquiavel. Na Frana, por exemplo, ele somente se fixa ao tempo de Luiz XIII - "Le mot tat triomphe au debut du XVII sicle, lpoque de Louis XIII et de Richilieu" - e a Universidade de Paris j era velha de quatro sculos, e a de Bolonha vinha de 1158, a da Alemanha de 1348, a de Lisboa de 1290. (Anna Candida da Cunha Ferraz)31

A autonomia universitria reverenciada, no sentido que ela tem condies de estabelecer suas normativas, tendo em vista da delegao constitucional:De outro lado parece relevante acentuar que a Universidade, ao exercitar sua autonomia, no age por delegao. Na verdade, a autonomia universitria decorre de assento constitucional e as universidades a exercem por direito prprio. A autonomia constitucional, atribuda s autarquias universitrias, pessoas jurdicas de direito pblico interno, confere-lhes, para a consecuo de seus fins, uma parcela de poder normativo prprio, via do qual podem elas, validamente, estabelecer regras de contedo jurdico inovador, observados, to somente, os limites constitucionais e legais pertinentes. Assim, os Estatutos Universitrios, aprovados mediante Resoluo dos rgos universitrios competentes, no constituem atos delegados do Poder Pblico, mas atos normativos universitrios prprios, que concretizam e formalizam a autonomia universitria. (Anna Candida da Cunha Ferraz)32

Sendo o profissional retirado do seu local de trabalho sob suposta participao em organizao criminosa, mas que esconder algo discriminatrio, como a ligao do mesmo com os movimentos sociais, fere de plano o Pacto de San Jose da Costa Rica, do qual o Brasil signatrio:1. Os Estados-partes nesta Conveno comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exerccio a toda pessoa que esteja sujeita sua jurisdio, sem discriminao alguma, por motivo de raa, cor, sexo, idioma, religio, opinies polticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posio econmica, nascimento ou qualquer outra condio social. (grifamos)33

Tambm a forma como a Polcia conduziu a questo detendo o investigado, sem ao menos permitir a concluso de suas atividades pedaggicas em sala de aula fere o Pacto de San Jose da Costa Rica, tendo em vista principalmente pairar srias dvidas sobre o real objetivo da deteno:Artigo 7 - Direito liberdade pessoal

1. Toda pessoa tem direito liberdade e segurana pessoais.

2. Ningum pode ser privado de sua liberdade fsica, salvo pelas causas e nas condies previamente fixadas pelas Constituies polticas dos Estados-partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas.3. Ningum pode ser submetido a deteno ou encarceramento arbitrrios.34

O constituinte teve uma preocupao especial com os direitos individuais e coletivos no sentido de evitar a repetio de barbries como os tempos de chumbo e abuso aos direitos humanos praticados pelas instituies policiais, como assim preconiza:Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes: [...]III - ningum ser submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;IV - livre a manifestao do pensamento, sendo vedado o anonimato; []

X - so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao; []

XLI - a lei punir qualquer discriminao atentatria dos direitos e liberdades fundamentais; []

LVII - ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgado de sentena penal condenatria; []

LX - a lei s poder restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; [...]

3 Os tratados e convenes internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por trs quintos dos votos dos respectivos membros, sero equivalentes s emendas constitucionais. [] (Constituio Federal 1988) (grifamos)35

Enfatizando que os atingidos pela operao Gralha Azul, predominantemente foram assentados da reforma agrria ou militantes do movimento, e que o processo tramitou em segredo de justia, expediente utilizado em situaes exclusivas de preservao da intimidade ou casos de grande impacto social, est estampado, pelo conjunto dos fatos, que houve uma ntida tendncia de criminalizao da militncia no movimento social.IV DO PARECER

1

Aps anlise das denncias, visita tcnica, verificando in loco a situao, com reunies e averiguaes junto ao prejudicado e colegas de trabalho do mesmo indiscutvel a violao dos Direitos Humanos, seja na suspeita de criminalizao dos movimentos sociais, bem como pela ao nas dependncias da Universidade Federal da Fronteira Sul a profissional em exerccio da docncia.2

Considerando ainda que as acusaes so tpicas de pessoas suspeitas de crimes violentos, o suspeito foi agredido em sua dignidade:Artigo 11 - Proteo da honra e da dignidade

2. Ningum pode ser objeto de ingerncias arbitrrias ou abusivas em sua vida privada, em sua famlia, em seu domiclio ou em sua correspondncia, nem de ofensas ilegais sua honra ou reputao.3

Constata-se pelo descrito e pelas informaes divulgadas pela imprensa local e regional, como demonstra-se pelas reportagens acostadas a este relatrio que houve excessos evidente na forma de tratar o possvel suspeito, sendo o mesmo exposto a condies de humilhao perante seus colegas de trabalho e alunos.4

Houve tambm exagerada expectativa criada na regio, repassando a ideia de que o possvel suspeito fazia parte de uma perigosa organizao criminosa, atingindo sua honra e imagem.5

Tambm houve transgresso aos direitos individuais previstos na Constituio Federal, alm de atingir sua atuao profissional ao ser retirado da sala quando ministrava aula, ferindo a autonomia universitria, a pluralidade de pensamento e direito de livre expresso do pensamento.6

Ainda houve violao do Pacto de San Jose da Costa Rica, do qual o Brasil signatrio, como j descrito, portanto a violao aos direitos humanos na atuao policial denominada Gralha Azul, em relao ao Professor Elemar Cezimbra.7

Por todo o exposto, sugere-se:

a)

o envio desta documentao para o Ministrio da Educao, no intuito dar conhecimento da ao descabida da Polcia Militar do Paran contra docente no pleno exerccio da docncia em sala de aula;b)

o encaminhamento desta documentao com cpia integral Comisso de Direitos Humanos do Congresso Nacional, para que os parlamentares tomem cincia da situao e intervenham no sentido de prevenir outras aes semelhantes nas instituies de ensino, sem a devida comunicao autoridade constituda;

c)

o encaminhamento desta documentao ao Secretrio da Segurana Pblica do Estado do Paran, no sentido de que se tome cincia do ato e tome as medidas cabveis para evitar a repetio de situaes semelhantes, com afronta aos direitos individuais e aos direitos humanos;d)

encaminhar cpia da presente nota instituies dos Direitos Humanos do Brasil e do exterior para que se solidarizem com a situao e promovam movimentos que visem inibir a ao agressiva contra famlias pacficas, humildes e indefesas;

e)

encaminhar cpia da presente nota comando da Operao Gralha da Polcia Militar denunciando os fatos que agridem aos direitos individuais e humanos;

f)

encaminhar cpia da presente nota ao Poder Judicirio das Comarcar de Quedas do Iguau e Laranjeiras do Sul, reprovando o excesso de precauo na preveno prticas criminosas na regio dirigidas pessoas com comprometimento social, sem indcios relevantes de envolvimento em situaes deste tipo, dizendo tambm que esta postura do Judicirio criminaliza a atuao do movimento social quando as pessoas so investigadas de forma diferenciada apenas pelo fato de militarem ou terem militado em movimentos sociais;

g)

a realizao de ato desagravo ao professor Elemar Cizimbra, com a comunidade interna externa do Campus Laranjeiras do Sul da UFFS.h)

a entrega deste documento superintendncia do INCRA em Curitiba, solicitando que a Autarquia patrocine ao judicial no sentido de rever a deciso transitada em julgado no presente processo.

i)

audincia com o Procurador Geral do Estado, com entrega deste documento, solicitando que o mesmo tome uma posio favorvel aos acampados ou ao menos seja imparcial na situao, especialmente revendo os possveis equvocos presentes nos atos praticados que conduziram ao julgamento do caso.

Chapec/SC p/ Laranjeiras do Sul/PR, 13 de junho de 2013

Prof. Antnio Valmor de Campos

SIAPE 1804267

Assessor Especial do Reitor para Legislao e Normas

Membro do Centro de Referncia em Direitos HumanosREFERNCIASBRASIL. Constituio Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988.PACTO de San Jos da Costa Rica - Conveno Americana de Direitos Humanos (1969). Adotada e aberta assinatura na Conferncia Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San Jos de Costa Rica, em 22.11.1969 - ratificada pelo Brasil em 25.09.1992.PIOVESAN, Flvia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 8 ed. rev. ampl. e atual. So Paulo: Saraiva, 2007.