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Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes Pré-Vestibular Comunitário – Sede Nacional Os Afro-brasileiros, sua inclusão nas universidades e mobilidade social: Como deixar de ser oprimido sem somar-se aos opressores? Tarefa: autocrítica sobre o ingresso de afros nas universidades, no mercado e seu engajamento na luta por uma nova sociedade. O ACESSO À UNIVERSIDADE E A EMANCIPAÇÃO DOS AFROBRASILEIROS. Silvio Luiz de Almeida Doutorando em Direito pela Universidade de São Paulo. Advogado e Professor Universitário em São Paulo. Ter o nome de um familiar ou amigo na lista de aprovados do vestibular é um momento especial na vida de qualquer família brasileira. Esta alegria é ainda maior quando a universidade é pública, visto que no Brasil a universidade pública é tida como de maior qualidade e, por este motivo, a mais disputada entre os candidatos. Passar no vestibular, ainda mais no de uma universidade pública, tem o simbolismo de um rito de passagem, como se só agora depois da aprovação, o novel universitário estivesse pronto para exercer sua autonomia. Nasce a perspectiva de ascensão social e de um possível lugar ao sol no mercado de trabalho. Nas famílias negras a situação ganha contornos mais expressivos. A discriminação de que os negros deste país historicamente são vítimas, produziu tamanha distorção social que é possível afirmar que a universidade brasileira é eminentemente branca, principalmente a pública, em que, paradoxalmente, estudam os mais ricos que, não por acaso, também são brancos. Um simples olhar para a realidade nos revela a seguinte situação: no ensino médio, os mais ricos estudam nas escolas particulares e que oferecem as melhores condições. Já os mais pobres fazem o ensino médio na escola pública, que geralmente está caindo aos pedaços, com professores desmotivados e sem os equipamentos mínimos. Mas quando a questão é a universidade, inacreditavelmente, os ricos preferem ir para as escolas públicas e gratuitas, que recebem grande investimento governamental e em que o ensino, a pesquisa e a aplicação têm maior qualidade. E os mais pobres? Vão para as universidades e faculdades privadas e pagas, em que o ensino, salvo raras e conhecidas exceções, é precário e onde praticamente não se tem pesquisa e extensão. E o pior de tudo é que tanto o aluno rico que fez o ensino médio em escola privada e boa, quanto o aluno pobre que estudou na escola pública e ruim, fazem o mesmo vestibular para entrar na universidade pública, um vestibular para o qual o aluno rico da escola privada é preparado, desde o primeiro dia de aula. No final das contas a universidade gratuita, que é paga principalmente pelos mais pobres (lembremos que os impostos que sustentam o Estado atingem de forma mais sensível sobre eles), é majoritariamente freqüentada pelos mais ricos. Com isto se quer afirmar que em quantidade à participação dos negros na composição racial da sociedade brasileira, o número de negros universitários é praticamente insignificante. Segundo a “Síntese de indicadores sociais” do ano de 2007, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1997, apenas 9,6% dos brancos e 2,2% negros, de 25 anos ou mais, tinham concluído a universidade. Em 2007, esses percentuais eram de 13,4% e 4%, respectivamente. Ainda de acordo com a pesquisa, no ano de 2007 a taxa de freqüência em curso universitário para estudantes entre 18 e 25 anos de idade na população branca (19,4%) era quase o triplo da registrada na negra (6,8%). Esta redução de escolaridade ajuda a compreender porque a diferença de renda entre brancos e negros chega até 50% a favor dos brancos. De tal sorte que não é difícil concluir que para as famílias negras do Brasil a entrada de um dos

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Os Afro-brasileiros sua inclusatildeo nas universidades e mobilidade social Como deixar de ser oprimido sem somar-se aos opressores Tarefa autocriacutetica sobre o ingresso de afros nas universidades no mercado e seu engajamento na luta por uma nova sociedade

O ACESSO Agrave UNIVERSIDADE E A EMANCIPACcedilAtildeO DOS AFROBRASILEIROS

Silvio Luiz de Almeida

Doutorando em Direito pela Universidade de Satildeo Paulo Advogado e Professor Universitaacuterio em Satildeo Paulo

Ter o nome de um familiar ou amigo na lista de aprovados do vestibular eacute um momento especial na vida de qualquer famiacutelia brasileira Esta alegria eacute ainda maior quando a universidade eacute puacuteblica visto que no Brasil a universidade puacuteblica eacute tida como de maior qualidade e por este motivo a mais disputada entre os candidatos Passar no vestibular ainda mais no de uma universidade puacuteblica tem o simbolismo de um rito de passagem como se soacute agora depois da aprovaccedilatildeo o novel universitaacuterio estivesse pronto para exercer sua autonomia Nasce a perspectiva de ascensatildeo social e de um possiacutevel lugar ao sol no mercado de trabalho

Nas famiacutelias negras a situaccedilatildeo ganha contornos mais expressivos A discriminaccedilatildeo de que os negros deste paiacutes historicamente satildeo viacutetimas produziu tamanha distorccedilatildeo social que eacute possiacutevel afirmar que a universidade brasileira eacute eminentemente branca principalmente a puacuteblica em que paradoxalmente estudam os mais ricos que natildeo por acaso tambeacutem satildeo brancos

Um simples olhar para a realidade nos revela a seguinte situaccedilatildeo no ensino meacutedio os mais ricos estudam nas escolas particulares e que oferecem as melhores condiccedilotildees Jaacute os mais pobres fazem o ensino meacutedio na escola puacuteblica que geralmente estaacute caindo aos pedaccedilos com professores desmotivados e sem os equipamentos miacutenimos Mas quando a questatildeo eacute a universidade inacreditavelmente os ricos preferem ir para as escolas puacuteblicas e gratuitas que recebem grande investimento governamental e em que o ensino a pesquisa e a aplicaccedilatildeo tecircm maior qualidade E os mais pobres Vatildeo para as universidades e faculdades privadas e pagas em que o ensino salvo raras e conhecidas exceccedilotildees eacute precaacuterio e onde praticamente natildeo se tem pesquisa e extensatildeo E o pior de tudo eacute que tanto o aluno rico que fez o ensino meacutedio em escola privada e boa quanto o aluno pobre que estudou na escola puacuteblica e ruim fazem o mesmo vestibular para entrar na universidade puacuteblica um vestibular para o qual o aluno rico da escola privada eacute preparado desde o primeiro dia de aula No final das contas a universidade gratuita que eacute paga principalmente pelos mais pobres (lembremos que os impostos que sustentam o Estado atingem de forma mais sensiacutevel sobre eles) eacute majoritariamente frequumlentada pelos mais ricos

Com isto se quer afirmar que em quantidade agrave participaccedilatildeo dos negros na composiccedilatildeo racial da sociedade brasileira o nuacutemero de negros universitaacuterios eacute praticamente insignificante Segundo a ldquoSiacutentese de indicadores sociaisrdquo do ano de 2007 realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) em 1997 apenas 96 dos brancos e 22 negros de 25 anos ou mais tinham concluiacutedo a universidade Em 2007 esses percentuais eram de 134 e 4 respectivamente Ainda de acordo com a pesquisa no ano de 2007 a taxa de frequumlecircncia em curso universitaacuterio para estudantes entre 18 e 25 anos de idade na populaccedilatildeo branca (194) era quase o triplo da registrada na negra (68) Esta reduccedilatildeo de escolaridade ajuda a compreender porque a diferenccedila de renda entre brancos e negros chega ateacute 50 a favor dos brancos De tal sorte que natildeo eacute difiacutecil concluir que para as famiacutelias negras do Brasil a entrada de um dos

seus na universidade representa natildeo soacute a realizaccedilatildeo do sonho de melhoria da qualidade de vida mas tambeacutem a vitoacuteria contra uma desigualdade historicamente construiacuteda Afinal o negro universitaacuterio eacute aquele que superou a sina e fugiu da ponta mais robusta e perversa das estatiacutesticas a ponta em que estatildeo reservados aqueles que natildeo ingressaram no ensino superior e a quem estatildeo destinados os trabalhos precaacuterios e consequumlentemente os mais baixos salaacuterios

Mas aleacutem do orgulho e do sentimento de identidade eacute necessaacuteria uma maior reflexatildeo sobre o significado da entrada do afro-brasileiro no ensino superior O problema maior repousa no fato de que muito se pensa na inclusatildeo do negro na estrutura universitaacuteria mas pouco se reflete acerca da proacutepria estrutura da qual se

quer participar Natildeo se pode perder de vista o fato de que a estrutura do ensino superior eacute apenas parte da mesma estrutura social que produz a desigualdade e a discriminaccedilatildeo que se volta contra os afro-brasileiros Ou seja sem a devida reflexatildeo criacutetica o esforccedilo para acessar ao ensino superior pode transformar-se numa frustrada tentativa de salvar o oprimido oferecendo-lhe mais opressatildeo o que seria o mesmo que oferecer a algueacutem que reclama de falta de ar um saco plaacutestico para envolver a cabeccedila

Cabe considerar que o ldquoser negrordquo eacute muito mais do que a cor da pele Em primeiro lugar ldquoserrdquo exprime uma condiccedilatildeo existencial E existir implica em estar no mundo com os outros ldquoSerrdquo portanto eacute situaccedilatildeo e relaccedilatildeo ldquoSer negrordquo ou ldquoser brancordquo eacute pertencer a uma imensa rede experiecircncias cujos significados soacute se apresentam atraveacutes do estudo da situaccedilatildeo concreta e das relaccedilotildees histoacuterico-sociais que formam este ldquoserrdquo O modo de ser do homem ou mulher negros se reflete antes de tudo em uma ligaccedilatildeo especiacutefica com o mundo e com os outros uma relaccedilatildeo cuja compreensatildeo natildeo estaacute no estudo bioloacutegico ou meramente simboacutelico vez que o ser humano eacute ser social

Assim a diferenccedila entre um branco e um negro natildeo pode jamais ser explicada pela biologia mas somente pelo estudo da sociedade A vida histoacuterico-social construiu tais diferenccedilas Um negro eacute um negro porque eacute tratado como negro enquanto um branco eacute um branco porque eacute tratado como branco Ao ldquoser negrordquo estaacute associada uma rede de siacutembolos e valores que ao ser branco natildeo aparecem Isto se explica pelo fato de que ser branco eacute ldquonormalrdquo ou seja agrave rede simboacutelica e de valores positivos brancos eacute a ldquonormardquo (daiacute o ldquonormalrdquo) eacute a regra A dos negros eacute a exceccedilatildeo eacute o exoacutetico o que eacute ldquoanormalrdquo (fora da norma) ldquoBrancordquo natildeo se refere apenas agrave cor da pele mas a todo um conjunto de atitudes e de privileacutegios poliacuteticos e econocircmicos que nossa sociedade atribui aos que possuem uma aparecircncia branca

A universidade natildeo estaacute no universo das relaccedilotildees que socialmente foram reservadas aos negros Ela pertence a uma estrutura de mundo projetada para a exclusatildeo do negro Neste ponto eacute emblemaacutetico o fato da universidade brasileira ter sido declaradamente criada para formar as ldquoelitesrdquo que governariam este paiacutes A emancipaccedilatildeo das minorias atraveacutes do ensino jamais foi um projeto do Estado brasileiro que entre outras coisas sempre zelou pela ausecircncia da questatildeo racial no debates educacionais Os cursos universitaacuterios de direito no Brasil por exemplo foram inaugurados sob o amparo de um regime escravocrata o que significa que os ldquoconteuacutedosrdquo das disciplinas ensinadas aos alunos tentavam equilibrar um discurso liberal em defesa dos direitos fundamentais do homem e ao mesmo tempo a legitimaccedilatildeo de uma realidade juriacutedica que tratava os negros como ldquocoisasrdquo

Daiacute natildeo ser incomum que seja imposto ao universitaacuterio negro o abandono de sua identidade histoacuterica e o rompimento com os laccedilos de solidariedade com seus semelhantes O ldquoser negrordquo enquanto produto da histoacuteria eacute levado a tomar como exemplo o ldquoser brancordquo despindo-se de seus valores e alienando-se de sua condiccedilatildeo existencial de seu ser-no-mundo de sua situaccedilatildeo poliacutetica Este processo se daacute desde o ambiente acadecircmico ateacute o conteuacutedo das disciplinas (que muitas vezes mesmo nos cursos de humanas ldquoapagamrdquo a questatildeo racial de suas respectivas abordagens) Ao adentrar nas estruturas que possibilitam a ldquoascensatildeo socialrdquo o negro muitas vezes passa a servir agrave causa da opressatildeo mas sem nunca deixar de ser oprimido

Pede-se ao negro que se torne branco Subjugado pelas forccedilas de uma estrutura social racista o negro tende a assumir o papel do opressor negando sua condiccedilatildeo existencial que eacute histoacuterica e que por ser histoacuterica eacute essencialmente poliacutetica Torna-se uma versatildeo traacutegica daquele personagem do cinema americano do iniacutecio

do seacuteculo passado em que os atores brancos pintavam o rosto de negro porque os negros natildeo podiam atuar no caso da universidade quando alienado o negro pinta o rosto de branco conquanto sua pele permaneccedila negra com tudo o que significa ter uma pele negra na sociedade em que vivemos

Por estar imerso na realidade opressora - no caso a universidade - natildeo surpreende que o oprimido identifique-se com o opressor ao inveacutes de libertar-se Isto se verifica na fantasia da ldquointegraccedilatildeordquo que longe de estabelecer normas para uma convivecircncia autecircntica e respeitosa eacute uma forma de exigir a eliminaccedilatildeo do compromisso que o negro universitaacuterio tem para com todos os outros afrobrasileiros

Formam-se meacutedicos ou advogados inconscientes de sua responsabilidade racial e poliacutetica preocupados apenas em como atender nas grandes cliacutenicas ou escritoacuterios dos bairros ricos e de classe meacutedia alta em que seratildeo sempre o ldquomeacutedico negrordquo ou o ldquoadvogado negrordquo dos brancos e ricos Serviratildeo apenas como a ldquoprovardquo daqueles que alegam a ldquojusticcedilardquo e o ldquomeacuteritordquo de um sistema que de justo e que premia as pessoas competentes dedicadas e trabalhadoras nada tem

A luta pelo acesso ao ensino superior eacute relevante e deve ser feita de modo sistemaacutetico pelos movimentos sociais ateacute para que possam ser ocupados espaccedilos de poder do qual a universidade como produtora de conhecimento eacute exemplo Todavia a transformaccedilatildeo do estruturalmente oprimido numa caricatura do opressor somente pode ser evitada se a entrada no ensino superior natildeo for vista apenas como uma oportunidade de ldquomobilidade socialrdquo (que na praacutetica significa ascender ao mundo dos sociologicamente brancos) mas como um ato poliacutetico na sua inteireza Que a entrada no ensino superior natildeo seja vista como um ato de superaccedilatildeo de um indiviacuteduo mas o resultado de um trabalho coletivo que resulta no compromisso social do universitaacuterio Deve a vida universitaacuteria ser vista como esclarecimento de tomada de consciecircncia do aluno de sua posiccedilatildeo no mundo e portanto das possibilidades de mudanccedila

Soacute assim com a libertaccedilatildeo do negro poderiacuteamos pensar no fim da oposiccedilatildeo negro-branco vez que tal contradiccedilatildeo eacute baseada no poder que um poacutelo deteacutem sobre o outro A libertaccedilatildeo do negro eacute tambeacutem a libertaccedilatildeo do branco no sentido de que o fim da dominaccedilatildeo que sustentava a relaccedilatildeo a significaccedilatildeo social de ldquoser negrordquo e ldquoser brancordquo fica esvaziada de conteuacutedo

O universitaacuterio afrobrasileiro deve saber que jamais seraacute livre enquanto natildeo reagir face agrave ausecircncia de liberdade dos seus semelhantes A dignidade e a liberdade satildeo conquistas que vatildeo muito aleacutem da aprovaccedilatildeo no vestibular e requer o envolvimento de todos que acreditam na possibilidade de um mundo justo

REFEREcircNCIAS

Sobre educaccedilatildeo e luta para que oprimidos natildeo se tornem opressores o mestre Paulo Freire soube como ningueacutem falar a respeito em seu claacutessico livro ldquoPedagogia do oprimidordquo

httppaulofreirefinlandorgwp-contentuploads200702pedagogia_do_oprimidopdf As estatiacutesticas que demonstram a situaccedilatildeo do negro no sistema de educaccedilatildeo superior estatildeo na ldquoSiacutentese de indicadores sociais 2008rdquo do IBGE

httpwwwibgegovbrhomeestatisticapopulacaocondicaodevidaindicadoresminimossinteseindicsociais2008indic_sociais2008pdf

Sobre a questatildeo racial e sua vinculaccedilatildeo com as poliacuteticas educacionais haacute um interessante artigo sobre o conceito de branquidade na educaccedilatildeo do pesquisador Michael W Apple da Universidade de Wiscosin nos EUA

httpwwwunematbrpesquisacoeducdownloadspoliticas_de_direita_e_branquidade_a_presenca_ausente_da_raca_nas_reformas_educacionaispdf

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Como os afro-brasileiros estatildeo usando as tecnologias da informaccedilatildeo em defesa dos direitos humanos

Carlos Eduardo Dias Machado

Mestrando em Histoacuteria Social ndash USP

A internet eacute um conglomerado de redes em escala mundial de milhotildees de computadores interligados pelo Protocolo de Internet que permite o acesso a informaccedilotildees e todo tipo de transferecircncia de dados A Internet eacute a principal das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (NTICs) Ao contraacuterio do que normalmente se pensa a Internet natildeo eacute sinocircnimo de World Wide Web (rede mundial) Esta eacute parte daquela sendo a World Wide Web que utiliza hipermiacutedia na formaccedilatildeo baacutesica um dos muitos serviccedilos oferecidos na Internet De acordo com dados de marccedilo de 2009 a Internet eacute usada por 238 da populaccedilatildeo mundial (em torno de 16 bilhotildees de pessoas)

Em primeiro lugar em nuacutemero de usuaacuterios estaacute a Aacutesia com 657 milhotildees de usuaacuterios em segundo vem a Europa com 393 milhotildees em terceiro a Ameacuterica do Norte com 393 milhotildees e em quarto estaacute a Ameacuterica Latina e Caribe com 176 milhotildees de internautas No Brasil haacute mais de 40 milhotildees de computadores e mais de 38 milhotildees de internautas ficando mais de 26 horas por mecircs navegando na rede Em porcentagem 18 dos domiciacutelios brasileiros possuem computador com acesso agrave rede e 34 da populaccedilatildeo nacional eacute usuaacuteria efetiva da Internet ou seja acessou a rede nos uacuteltimos trecircs meses

Como estaacute a populaccedilatildeo negra em relaccedilatildeo ao acesso ao computador e a internet em nosso paiacutes

De acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) vinculada agrave Secretaria de Assuntos Estrateacutegicos da Presidecircncia da Repuacuteblica realizada em 2003 no que se refere agrave exclusatildeo digital foram pesquisados os lares segundo tipo de chefia (masculinafeminina negrabranca) e a posse dos seguintes itens microcomputador internet e telefone celular A tendecircncia geral nesse caso eacute de elevada marginalizaccedilatildeo digital da populaccedilatildeo negra e em especial das mulheres negras Em 2003 nos domiciacutelios chefiados por brancos 78 natildeo tinham acesso a microcomputador 83 a internet e 535 a telefone celular No caso dos domiciacutelios chefiados por negros esses valores eram respectivamente de 93 95 e 71 dos que natildeo tinham acesso Natildeo existem diferenccedilas significativas entre homens e mulheres na posse desses itens No entanto quando se cruza a chefia por raccedila e sexo percebe-se que satildeo sempre as mulheres negras as que se encontram em pior situaccedilatildeo e nesse caso estatildeo portanto mais sujeitas agrave exclusatildeo digital

Proporccedilatildeo de domiciacutelios que natildeo possuem microcomputador internet e telefone celular segundo sexo e corraccedila doa chefe da famiacuteliandash Brasil 2003

Microcomputador Internet Celular

Homem Branco 771 824 521

Homem Negro 926 950 709

Mulher Branca 811 855 575

Mulher Negra 940 960 722

Segundo a pesquisa da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) chamada de Mapa da Exclusatildeo Digital feita em 2003 Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Distrito Federal satildeo os estados de maior inclusatildeo digital e estudando por raccedila quem tem computadores e mais acessa satildeo os amarelos ou asiaacuteticos (4166) seguido pelos brancos (1514) em terceiro por negros (pretos 397 e pardos 406) com 803 e em uacuteltimo lugar os indiacutegenas com 372

Podemos afirmar que a exclusatildeo digital acompanha as desigualdades raciais que satildeo muito antigas em nosso paiacutes e que homens e mulheres brancos e negros continuam a ser tratados desigualmente Os dois grupos tecircm oportunidades desiguais e acesso desigual aos serviccedilos puacuteblicos aos postos de trabalho aos espaccedilos de poder e decisatildeo e agraves riquezas de nosso paiacutes

Portanto haacute muito a fazer para que negros e indiacutegenas homens e mulheres tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento em nosso paiacutes Diante desta realidade a pergunta eacute o que os negros que possuem acesso agrave internet podem fazer para defender a causa da igualdade racial e dos direitos humanos

O ativismo ou a militacircncia virtual eacute fundamental porque nem todos os batalhadores da causa da igualdade conseguem dar conta da complexidade que eacute lutar contra o racismo Existem situaccedilotildees que nos foge da percepccedilatildeo ou do tempo de cada um e haacute situaccedilotildees que uma pessoa percebeu primeiro a violaccedilatildeo de nossos direitos e pede apoio em solidariedade Daiacute a necessidade de militantes na internet filiados a uma organizaccedilatildeo ou natildeo fazer valer as leis e ampliaacute-las para a promoccedilatildeo de oportunidades para todas e todos

No continente africano existe um sistema filosoacutefico que pode nos ajudar a ver a sociedade de forma diferente chamado Ubuntu que eacute uma palavra de origem bantu que natildeo possui traduccedilatildeo na nossa liacutengua seu significado seria este eu existo porque vocecirc existe Ou seja vamos nos preservar para continuar vivendo No Ubuntu vocecirc pode ter ou pode ser Assim Ubuntu surgiu como filosofia nas naccedilotildees africanas onde estatildeo ligados agrave ancestralidade Ubuntu vem sendo praticado e buscado cada vez mais a sua compreensatildeo pelos ativistas que lutam em prol das causa sociais humanitaacuterias Ser ubuntu eacute deixar sua individualidade buscando uma nova forma de ver o mundobuscando o bem da coletividade eacute abraccedilar o mundo procurando acabar com o sofrimento da humanidade socializando informaccedilotildees minimizando a dor alheia Esta filosofia tem como principio aproximar as pessoas onde elas estiverem conectando-as a todo o conhecimento Levando cada individuo a conhecer sobre o outro para assim haver menos diferenccedilas entre os seres humanoslevando em conta que o conhecimento do outro nos aproxima cada vez mais nos humanizando Ubuntu natildeo eacute apenas ser solidaacuterio eacute viver eacute nortear pela accedilotildees que levem a igualdade de todos diminuindo as diferenccedilas

A filosofia Ubuntu inspirou a nova Republica da Aacutefrica do Sul sendo o ex-presidente Nelson Mandela o mais famoso seguidor do Ubuntu Para ser um Ubuntu eacute necessaacuterio ter uma mente aberta para aceitar as diferenccedilassaber ouvir as opiniotildees contraacuterias eacute saber que faz parte do mundo eacute ter consciecircncia do seu papel social Eacute acima de tudo ser capaz de indignar com as injusticcedila praticada com o outro e principalmente usar esta indignaccedilatildeo para dar um passo para modificar esta situaccedilatildeo

Todos os dias no Brasil observamos situaccedilotildees recorrentes em nosso paiacutes que eacute a deacutecima economia mundial e o mais rico do hemisfeacuterio sul quando se liga a TV ou compramos produtos vemos negros e indiacutegenas natildeo estatildeo representados nas publicidades das empresas como deveriam

Eu escrevo cartas para empresas desde 1997 a fim de conscientizaacute-las da importacircncia da promoccedilatildeo da igualdade racial ou seja o direito de pessoas de todas as raccedilasetnias serem representadas nos produtos que consomem e no mercado de trabalho A pergunta que faccedilo eacute devo utilizar um produto aonde eu natildeo me vejo e reconheccedilo

Deveria ser um princiacutepio de todas as empresas que tem como finalidade a comunicaccedilatildeo social respeitarem o puacuteblico consumidor que eacute diverso senatildeo qual o criteacuterio de inserir uma mulher e um homem branco constantemente nos comerciais Soacute homens e mulheres brancas consomem No Brasil vergonhosamente tivemos o Band-Aid cor da pele o laacutepis cor de pele da Faber-Castell temos o aacutelcool Zulu o bolo Nega Maluca da Dr Oetker e diversos produtos e serviccedilos aonde natildeo haacute imagem positiva da populaccedilatildeo negra e indiacutegena como consumidora

A discriminaccedilatildeo contra a populaccedilatildeo negra eacute secular persistente e se ramifica por diversas aacutereas da vida brasileira Seraacute que ldquonegro natildeo venderdquo Somos a maioria da populaccedilatildeo brasileira e 158 do grupo do 1 mais ricos do paiacutes (Siacutentese de Indicadores Sociais 2005 elaborada pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios - PNAD 2004) portanto somos consumidores dos mais diversos produtos disponiacuteveis na economia nacional

Satildeo Paulo eacute a cidade fora da Aacutefrica com maior populaccedilatildeo negra do planeta e capital do Estado com maior populaccedilatildeo negra no paiacutes Somos 33 milhotildees de pretos e pardos - 303 dos quase 11 milhotildees de habitantes Em termos de populaccedilatildeo negra no mundo fica atraacutes apenas de Lagos capital da Nigeacuteria que tem cerca de 10 milhotildees e do Cairo no Egito que tem 159 milhotildees No Estado a populaccedilatildeo negra de acordo com a Fundaccedilatildeo SEADE (Fundaccedilatildeo Sistema Estadual de Anaacutelise e Dados) chega a 125 milhotildees de habitantes o que torna S Paulo o Estado com maior populaccedilatildeo negra do paiacutes

Aqui mais uma vez haacute uma explicaccedilatildeo negro eacute o nome que o IBGE daacute a quem eacute pardo e quem eacute preto A cor preta eacute designada a pessoas quem tem pele mais escura Mas ambos pertencem ao mesmo grupo Haacute quem ache que eacute um erro somaacute-los Fui conferir em diversos indicadores sociais Em todos - seja consumo renda tempo de vida - a distacircncia social entre brancos e pardos ou entre brancos e pretos eacute enorme mas entre pardos e pretos a distacircncia eacute pequena Conclusatildeo sociologicamente eles estatildeo no mesmo grupo

Se eles fazem parte da maioria convencida de que o Brasil eacute um paiacutes melhor que os outros do mulato inzoneiro (manhoso mexeriqueiro intrigante sonso mentiroso) da mistura de raccedilas e que nas poliacuteticas de contrataccedilatildeo de matildeo de obra modelos brancos e nomes de produtos natildeo haacute racismo e sim meacuterito ou algo sem importacircncia jaacute que ldquotodos somos iguaisrdquo infelizmente tenho que dizer o Brasil nunca teve segregaccedilatildeo oficial como nos Estados Unidos e Aacutefrica do Sul mas sempre discriminou baseado na cor da pele Silenciosamente E temos heranccedilas horrorosas do passado escravista e do periacuteodo poacutes-aboliccedilatildeo Uma delas ainda estaacute laacute nas entradas de elevadores social e de serviccedilo um eufemismo para dar ao porteiro o direito de constranger os negros a ir pelo elevador de traacutes destinado a cargas e compras O lema para acabar com esta vergonha tem que ser todos pela diversidade

Empresas e oacutergatildeos puacuteblicos criam barreiras que impedem o uso da imagem contrataccedilatildeo ascensatildeo de homens e mulheres negras Haacute quem diga que no Brasil soacute haacute discriminaccedilatildeo social e natildeo racial Isto a bem dizer natildeo torna menos vergonhosa a discriminaccedilatildeo mas natildeo eacute toda a verdade As pesquisas estatiacutesticas satildeo reveladoras negros e brancos com o mesmo niacutevel de escolaridade tecircm renda diferente o branco ganha quase o dobro do que ganha o negro (IBGE Siacutentese de Indicadores Sociais 2007) e o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social lanccedilou o livro Perfil Social Racial e de Gecircnero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Accedilotildees Afirmativas ndash 2007 que reafirma o baixo nuacutemero de negras e negros trabalhando no mundo empresarial O que vocecirc me diz disto Eacute ou natildeo eacute a manutenccedilatildeo de privileacutegios para brancos e amarelos

A mudanccedila de tratamento das empresas e dos governos natildeo vatildeo mudar o mundo mas seraacute um passo um passo na direccedilatildeo certa para o respeito ao cidadatildeo negro e indiacutegena que como os outros grupos ajudaram e auxiliam a construir este paiacutes mas que vecirc seus talentos sendo descartados por causa do racismo que impede o seu desenvolvimento individual coletivo e do Brasil como um todo Que um dia todos possam dizer nossa sociedade eacute justa haacute lugar e haacute igualdade de oportunidade para todos e todas

Tarefa enviar e-mails para os SENADORES e STF (Supremo Tribunal Federal) exigindo que os mesmos votem em favor das cotas nas Universidades Federais do ProUni para excluiacutedos negros Quilombolas e indiacutegenas bem como em favor do estatuto da igualdade racial

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

O alunoa Educafro deve optar fazer a) uma faculdade b) um curso tecnoloacutegico c) ou um curso teacutecnico O que eacute mais aacutegil para incluir O que considerar antes de fazer esta opccedilatildeo Tarefa pesquisar e entregar na sede a opccedilatildeo dos alunos de seu nuacutecleo por essas trecircs aacutereas

Fazer o quecirc e por quecirc

Haacute uma deacutecada ainda era compreensiacutevel que o jovem apoacutes concluir o Ensino Meacutedio pudesse

idealizar um curso superior que provavelmente seria indefinidamente a sua futura profissatildeo Atualmente

isso eacute impraticaacutevel para a maioria das ocupaccedilotildees A palavra carreira tende a desaparecer ou mudar de

sentido perdendo-se em meio agraves insuficientes nomenclaturas ndash exatas humanas bioloacutegicas tecnoloacutegicas

Cada vez mais a ecircnfase recai na solidez dos estudos Se o embasamento teoacuterico eacute bem feito

articulado agraves necessidades reais que se avizinham e conectado ao tempo vigente o profissional teraacute pela

frente as muitas possibilidades reservadas aos que tecircm muacuteltiplos talentos criatividade e capacidade de

ligar com as muitas situaccedilotildees e problemaacuteticas do mundo moderno

Por isso aos estudantes de hoje satildeo dadas inuacutemeras opccedilotildees Os cursos tradicionais continuam tendo

grande apelo mas aqueles que estatildeo antenados agraves transformaccedilotildees no mundo do trabalho vislumbram outras

searas tambeacutem palpaacuteveis Haacute formaccedilotildees de toda sorte graduaccedilatildeo teacutecnico tecnoloacutegico tecnoacutelogo

presenciais e ateacute ensino a distacircncia (EAD) que cada vez mais ganha espaccedilo Mas como saber o que eacute

melhor pra mim

Soacute vocecirc pode encontrar a resposta ou as respostas Na era da tecnologia engenheiros trabalham em

bancos administradores em Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais advogados buscam o serviccedilo puacuteblico ndash

defensoria ministeacuterio puacuteblico e muitos sonham com o seu proacuteprio negoacutecio Natildeo haacute nem haveraacute emprego

para todos mas trabalho sempre existiraacute

Infelizmente em razatildeo da maacute formaccedilatildeo em matemaacutetica e ciecircncias na escolarizaccedilatildeo baacutesica muitos

se socorrem agraves humanidades nem sempre por vocaccedilatildeo e com as informaccedilotildees adequadas Os cursos de

humanas em geral requerem muita leitura e investimento em livros E ao contraacuterio do que se imagina natildeo

satildeo propriamente baratos E comumente natildeo datildeo o sonhado retorno estuda-se muito haacute excesso de

contingentes no mercado e se ganha pouco

De qualquer modo uma graduaccedilatildeo requer trecircs ou quatro anos de intensas leituras deslocamentos

trabalhos acadecircmicos muitos gastos tensotildees trabalhos em grupo etc Eacute preciso estar preparado e focado

para enfrentar essa realidade por todo esse tempo e tirar o maacuteximo de proveito ndash saber estudar como fazecirc-

lo progressivamente pesquisar

As formaccedilotildees mais raacutepidas visam a preparar pessoal para as funccedilotildees mais contemporacircneas O

enfoque eacute dirigido para as atuaccedilotildees teacutecnicas Haacute um amplo leque de possibilidades turismo museu

tecnologia vendas por telefone mercado financeiro sauacutede judiciaacuterio processamento de alimentos

mecacircnica muacutesica Quem vasculha oportunidades natildeo pode deixar de notar que ateacute o serviccedilo puacuteblico jaacute

oferece concursos para os teacutecnicos e tecnoacutelogos Eacute natural que o recente crescimento da informaacutetica surja

como uma aacuterea muito aquecida afinal quem pode prescindir dos computadores das redes da manutenccedilatildeo

das maacutequinas das homepages do design graacutefico Mas existem outros mercados igualmente promissores e

outros ainda seratildeo criados Olhe pra si proacuteprio encare seus talentos enfrente seus desafios seja racional

sem perder a sensibilidade dirija o olhar para o distante mas caminhe um passo de cada vez em solo

firme

Optando pela graduaccedilatildeo procure conhecer antecipadamente a sua escolha os proacutes e contras

converse com quem estaacute fazendo com quem jaacute fez seja honesto consigo proacuteprio aonde quer chegar Mas

natildeo se esqueccedila que se houver mudanccedila de rumos a experiecircncia e enriquecimento seguiratildeo ao seu lado

Os cursos mais raacutepidos natildeo impedem que se faccedila uma graduaccedilatildeo posteriormente jaacute entatildeo

consciente do seu perfil e do mercado A grande vantagem desses cursos eacute a conquista manutenccedilatildeo e

reconquista de emprego (a chamada empregabilidade) e o tempo mas nada deve se transformar numa

camisa de forccedila que impeccedila voos mais largos tudo eacute uma questatildeo de estrateacutegia ndash recorde-se que o caminho

eacute menos iacutengreme para quem sabe aonde quer chegar

Qualquer que seja o caminho ndash graduaccedilatildeo teacutecnico ou tecnoacutelogo ndash quem quer seguir adiante natildeo

pode se furtar a estudar liacutenguas conhecer as tecnologias e as inserccedilotildees especiacuteficas da aacuterea escolhida saber

se comunicar conviver com a diversidade em todos os aspectos sociais culturais mercadoloacutegicos e

principalmente eacutetnicos

Consulte as inovaccedilotildees em graduaccedilatildeo nos inuacutemeros sites das universidades puacuteblicas e privadas

Para uma noccedilatildeo dos cursos teacutecnicos e tecnoacutelogos os sites da FATEC e das Escolas Teacutecnicas (Etecs) do

Centro Paula Souza

httpwwwfatecspbr

httpwwwvestibulinhoeteccombr

Ivan Siqueira

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

A crise econocircmica mundial e os dilemas da militacircncia e dos movimentos sociais afinal quem vai pagar a conta

O mesmo sistema ideoloacutegico que justifica o processo de globalizaccedilatildeo ajudando a consideraacute-lo o uacutenico caminho histoacuterico

acaba tambeacutem por impor uma certa visatildeo da crise e a aceitaccedilatildeo dos remeacutedios sugeridos Em virtude disso todos os paiacuteses

lugares e pessoas passam a se comportar isto eacute a organizar sua accedilatildeo como se tal acutecriseacute fosse a mesma para todos e como se

a receita para afastaacute-la devesse ser geralmente a mesma Na verdade poreacutem a uacutenica crise que os responsaacuteveis desejam afastar

eacute a crise financeira e qualquer outra Aiacute estaacute na verdade uma causa para mais aprofundamento da crise real - econocircmica

social poliacutetica moral - que caracteriza o nosso tempo SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave

consciecircncia universal Satildeo Paulo Record 2000 p169)

A palavra ldquocriserdquo tem origem grega eis que usada por Hipoacutecrates para designar o momento culminante de uma doenccedila Assim para o pai da medicina ocidental a crise seria o cuacutemulo da doenccedila apoacutes o que soacute poderia advir a cura a soluccedilatildeo Por essa razatildeo era o momento crucial para a tomada de decisotildees para se adotar a medida adequada a uma resoluccedilatildeo eficaz ao problema

Quando se fala em crise econocircmica mundial haacute uma tendecircncia alarmista por um lado que quer propagar a ideacuteia de que somente agora o caos seraacute instalado no mundo e por outro num sentido oposto haacute aqueles que reputam a crise como algo tolo banal sem grande importacircncia As duas ideacuteias polarizadas estatildeo assentadas sobre o mesmo fundamento qual seja o mascaramento do verdadeiro fundamento que leva o sistema de produccedilatildeo capitalista a uma agonia de difiacutecil soluccedilatildeo

A crise ou a doenccedila (conforme a origem da palavra) eacute uma caracteriacutestica tiacutepica do capitalismo Seguindo a argumentaccedilatildeo marxista temos que todo sistema de produccedilatildeo econocircmica tem necessariamente dois elementos 1) estaacute baseado na exploraccedilatildeo de oprimidos por opressores 2) sempre traz dentro de si o princiacutepio da sua proacutepria destruiccedilatildeo Deste modo na Antiguidade temos no sistema escravagista a exploraccedilatildeo de escravos por senhores baseada na forccedila bruta no cativeiro poreacutem quando a forccedila se torna escassa para conter os escravos o sistema perece dando lugar a outro Daiacute na era medieval europeacuteia surge uma nova forma de exploraccedilatildeo agora baseada na posse da terra entre servo e senhor feudal contudo quando a produccedilatildeo agriacutecola eacute enorme a sobra eacute comercializada pelo servo e este deixa de depender do senhor originando outro sistema de produccedilatildeo o Capitalismo

Basicamente e de forma bastante elementar esta eacute para Karl Marx o raciociacutenio da evoluccedilatildeo econocircmica atraveacutes da histoacuteria Toda forma de produccedilatildeo estaacute baseada na exploraccedilatildeo que reside em algum mecanismo de submissatildeo (forccedila terra) todavia o capitalismo cria um modo de opressatildeo proacutepria fundada na reparticcedilatildeo entre Capital e Trabalho Haacute aqueles que possuem o capital (dinheiro) e aqueles que natildeo possuem ndash a estes uacuteltimos soacute resta trabalhar para que possam transformar o trabalho em capital e se sustentar no baacutesico Por essa razatildeo soacute existe capitalismo se houver distribuiccedilatildeo desigual de renda trata-se de um sistema que soacute sobrevive na desigualdade ndash soacute iraacute se submeter ao trabalho aquele que natildeo possuir capital ou seja se todos possuiacutessem capital natildeo haveria trabalho natildeo haveria exploraccedilatildeo e consequentemente natildeo haveria capitalismo

Por isso quando o capitalismo surgiu ele se fez acompanhar por um projeto ideoloacutegico que pudesse sustentar a desigualdade econocircmica Desde seus primoacuterdios no Renascimento o abandono de um princiacutepio de deus como centro do mundo e a organizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico perfazem a ideacuteia de que o homem pode ter o controle de tudo jaacute que eacute dotado de razatildeo O racionalismo ao lado do sistema capitalista constitui a face ilusoacuteria da beleza da Modernidade A razatildeo renascentista encontra entatildeo seu

apogeu no Iluminismo e a partir deste erige-se toda uma administraccedilatildeo puacuteblica na figura do Estado de Direito a fim de sustentar a dominaccedilatildeo e a desigualdade

Entretanto mesmo com todo o instrumental ideoloacutegico poliacutetico e juriacutedico no intuito de sustentar a exploraccedilatildeo de quem natildeo possui capital a base da produccedilatildeo econocircmica capitalista por ser muito sutil sempre guardaraacute uma fragilidade Natildeo se trata mais de um elemento concreto como a forccedila ou a terra a desigualdade que sustenta o sistema eacute tambeacutem a responsaacutevel por sua possibilidade e falha e eacute por isso que o capitalismo estaacute em constante renovaccedilatildeo Assim a crise natildeo eacute estranha ao capitalismo ela lhe eacute proacutepria e eacute atraveacutes dela que o sistema se reinventa e sobrevive comutando-se de mercantilismo em capitalismo industrial e deste uacuteltimo em financeiro e especulativo

Esta crise do iniacutecio do seacuteculo XXI eacute a crise do capitalismo das bolsas de valores assim como a crise de 1929 foi a crise do capitalismo industrial Portanto aqueles que causam barulho passando a falsa ideacuteia de que tais abalos satildeo novidade pretendem ao mesmo tempo negar que o capitalismo eacute um sistema fundamentalmente faliacutevel e criacutetico e usar a tal ldquocrise econocircmicardquo como desculpa para a reduccedilatildeo de poliacuteticas para o povo para as demissotildees em massa no setor privado e para o corte de gastos em todas as esferas A propaganda da crise nos meios de comunicaccedilatildeo forccedila todo o corpo social a assimilaacute-la como um problema coletivo O desequiliacutebrio econocircmico pautado na dinacircmica de um sistema injusto e instaacutevel e gerado por quem deteacutem o poder acaba sendo suportado por todos e como eacute usual os mais pobres satildeo mais sensivelmente afetados e acabam saindo muito mais prejudicados desta situaccedilatildeo

Por outro acircngulo sob o argumento verdadeiro de que a crise eacute natural ao sistema capitalista haacute os que pretendem lhe emprestar um ar de banalidade como se a doenccedila fosse soacute uma leve gripe que logo passaraacute quando na realidade trata-se de uma doenccedila crocircnica e incuraacutevel

Reputam-se como responsaacuteveis pela crise o inchaccedilo do sistema de creacutedito imobiliaacuterio norte-americano e o abuso na especulaccedilatildeo Neste uacuteltimo caso alguns especuladores teriam colocado em circulaccedilatildeo papeacuteis fictiacutecios sem correspondecircncia material do valor neles depositado Esta ideacuteia eacute por si soacute fantasiosa e enganadora pois parece que somente agora alguns indiviacuteduos imorais teriam vendido papeacuteis sem valor quando na realidade esta especulaccedilatildeo (como o nome jaacute diz) eacute o fundamento do proacuteprio funcionamento do sistema O capitalismo financeiro dispensa a correspondecircncia entre valor especulado e riqueza material real essa eacute a sua loacutegica interna para transformar capital em mais capital sem usar o trabalho

Como o capitalismo por causa da especulaccedilatildeo pode gerar capital prescindindo da exploraccedilatildeo do trabalho naturalmente aumenta o desemprego ainda mais com a crescente mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo que dispensa a matildeo-de-obra Entatildeo a grande massa de trabalhadores sem ocupaccedilatildeo cria uma lacuna no mercado consumidor ndash sem trabalho natildeo haacute consumo Isso faz com que soacute seja possiacutevel vender atraveacutes do creacutedito e os sistemas de financiamento crescem para imoacuteveis automoacuteveis eletroeletrocircnicos eletrodomeacutesticos tudo Nunca se comprou tanto a prazo e em prazos tatildeo extensos

Portanto tanto a falecircncia do sistema de creacutedito imobiliaacuterio quanto o abuso na especulaccedilatildeo natildeo satildeo causas isoladas que acabaram gerando a crise mas satildeo produtos e desdobramentos naturais do proacuteprio capitalismo financeiro especulativo No entanto se o capitalismo como sistema de produccedilatildeo estaacute baseado no conflito entre capital e trabalho quando se dispensa o trabalho para a produccedilatildeo de riqueza recorrendo-se somente agrave especulaccedilatildeo rompe-se a base do sistema Por isso esta crise eacute profunda e natildeo passageira e superficial como querem alguns

Inclusive a crise mundial atual natildeo eacute somente econocircmica A voracidade do sistema capitalista encontrou um limite agrave expansatildeo desmedida pra a produccedilatildeo de lucros e o acuacutemulo sem fim ndash este limite eacute o proacuteprio mundo O planeta jaacute natildeo suporta as consequecircncias da loacutegica capitalista e a crise ambiental denota que os dias do sistema estatildeo contados se natildeo pela falecircncia econocircmica pela impossibilidade de permanecer na Terra apoacutes tudo o que a Modernidade fez a ela

O racionalismo o avanccedilo da tecnologia e a ciecircncia moderna foram tatildeo devastadores quanto o proacuteprio capitalismo E esse apego agrave racionalidade que afastou qualquer concepccedilatildeo religiosa moral e eacutetica de mundo deixou-nos sem nenhum referencial A modernidade substituiu a feacute pela razatildeo a crenccedila em deuses pela crenccedila na ciecircncia e agora quando o capitalismo agoniza e a ciecircncia destroacutei o planeta quando vivemos os horrores das guerras do seacuteculo XX a fome a desigualdade a injusticcedila natildeo podemos mais fechar os olhos iludidos acreditando nas promessas da filosofia iluminista de ldquoliberdade igualdade e fraternidaderdquo e positivistas de ldquoordem e progressordquo

Soacute nos restou o desconforto e a desilusatildeo de um mundo conturbado sem valores morais com um Estado quebrado a natureza degradada a economia vacilante e nenhum lugar para a ideologia A globalizaccedilatildeo somente pulverizou as fronteiras econocircmicas mas as desigualdades locais foram mantidas e exacerbadas Globalizamos a cultura de massas para expandir o consumismo mas jamais construiacutemos oportunidades globais

A crise eacute portanto total e absoluta Natildeo eacute soacute o capitalismo que sofre uma crise mas a Modernidade a razatildeo moderna a moral a ciecircncia a economia O Estado moderno padece por falta de legitimidade quando natildeo realiza seus objetivos baacutesicos e manteacutem a desigualdade a democracia se extingue ante a corrupccedilatildeo e a burocracia o Direito moderno natildeo encontra legitimidade e a lei eacute constantemente desobedecida soacute haacute previsotildees formais sem nenhuma efetivaccedilatildeo dos direitos mais fundamentais

Nesta realidade ainda haveraacute lugar para a militacircncia Ainda haveraacute espaccedilo para a ideologia Os movimentos sociais ainda fazem sentido Como lutar por direitos se o proacuteprio Direito padece Como desejar inclusatildeo se o Estado desaparece Como pretender justiccedila e igualdade em um sistema desigual e agonizante

A falta de resposta a essas perguntas poderia nos levar agrave absoluta desilusatildeo Poreacutem conveacutem lembrarmos Hipoacutecrates no iniacutecio do texto que cunhou a palavra ldquocriserdquo Se a crise eacute o apogeu de uma patologia de um desarranjo de um desequiliacutebrio eacute tambeacutem o momento da intervenccedilatildeo o momento da soluccedilatildeo Contudo esta soluccedilatildeo natildeo pode ser aquela imposta pelos opressores no sentido da contemplaccedilatildeo de seus interesses O remeacutedio adequado eacute a superaccedilatildeo da proacutepria loacutegica do sistema Num estado de coisas em que todas as estruturas se encontram em crise e a humanidade encara a cataacutestrofe natildeo nos resta mais nada a natildeo ser a accedilatildeo o resgate da razatildeo verdadeira e a crenccedila em um futuro melhor No auge da doenccedila soacute nos resta administrarmos o remeacutedio correto e perseguirmos incansavelmente a verdadeira cura

Advogada graduada pela Unesp poacutes-graduada pela EPD Professora Universitaacuteria e em cursos preparatoacuterios

Tarefa Pesquisar e fazer uma redaccedilatildeo sobre o desemprego e as etnias Pesquisar o pensamento de um dos maiores brasileiros que tematizou sobre a crise mundial Milton Santos Taylisi de Souza Correcirca Leitelowast

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Os desafios da militacircncia negra em defesa das mulheres e pela superaccedilatildeo da violecircncia de gecircnero

Por Gabriela Watson

A bela ou a fera o que vocecirc vecirc no espelho

Olhar no espelho e se identificar mais com a Bela do que com uma fera eacute um desafio para as mulheres negras no Brasil Principalmente quando no espelho da sociedade brasileira a televisatildeo elas soacute aparecem na eacutepoca do carnaval o que infelizmente tambeacutem natildeo eacute motivo de comemoraccedilatildeo Satildeo inuacutemeros os artigos que comprovam a ausecircncia de negras e da valorizaccedilatildeo de elementos da cultura afro-brasileira Entretanto esse texto se deteraacute na seguinte discussatildeo como a violecircncia psicoloacutegica afeta o imaginaacuterio da mulher negra

Quando falamos em mulheres negras tratamos de duas marcas sociais o de ser mulher numa sociedade em que os homens tecircm mais aceitaccedilatildeo e o de ser negra numa sociedade que dificulta o acesso dos negros aos espaccedilos de poder e decisatildeo

O ato da mulher se autonomear como negra jaacute constitui um desafio o primeiro obstaacuteculo eacute o de se reconhecer negra contrariando aqueles que preferem o termo ldquomoreninhardquo em seguida entender que estaacute fora do padratildeo de beleza imposto pelos meios de comunicaccedilatildeo e se por uacuteltimo apesar de perceber uma certa desconfianccedila quanto agrave sua capacidade de trabalho essa mulher se reconhecer como negra ela realmente eacute uma guerreira

Quando o assunto eacute violecircncia para com as mulheres negras devemos levar em conta a seguinte nota feita pela escritora Alzira Rufino

Se a violecircncia contra a mulher eacute uma epidemia que desconhece classes sociais existem segmentos que satildeo mais vulneraacuteveis porque jaacute tecircm uma outra histoacuteria de violecircncia como eacute o das mulheres negras sob fogo cruzado de vaacuterias formas de violecircncia a de gecircnero privada no lar a da pobreza que as escraviza as jornadas de trabalho interminaacuteveis das quais natildeo sobraraacute sequer a miacutenima aposentadoria e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaccedilo que vai do fogatildeo ao tanque domesticadas no fundo de cena 1

Dado o exposto eacute vaacutelido fazer um recorte racial da violecircncia porque as agressotildees passadas pelas mulheres negras tecircm sua origem no passado histoacuterico de exploraccedilatildeo a partir da escravidatildeo

Apesar de podermos abordar a violecircncia contra negras em todos os campos de accedilotildees possiacuteveis (sauacutede trabalho e social) talvez aquela que cause dor mais profunda eacute a violecircncia psicoloacutegica Em outras palavras essa violecircncia eacute a falta de auto-estima de orgulho que afeta diretamente na sua forccedila de vontade qualidade e perspectiva de vida

Por violecircncia moral me refiro aquela violecircncia que se perpetua de forma inconsciente atraveacutes de valores passados principalmente pela comunicaccedilatildeo que abrange desde a oralidade (expressotildees populares como ldquocabelo ruimrdquo) interaccedilatildeo social (conversas gestos) e ateacute a forma de comunicaccedilatildeo de massa (no Brasil a televisatildeo)

A importacircncia da miacutedia na formaccedilatildeo e informaccedilatildeo das pessoas eacute indiscutiacutevel nas palavras do jornalista Dennis de Oliveira ldquovivemos numa sociedade marcada pela midiatizaccedilatildeo que significa a penetraccedilatildeo da do modo de pensar dos meios de comunicaccedilatildeo em todos os ambientes das relaccedilotildees sociaisrdquo2 E infelizmente encontramos muitos vestiacutegios de pensamentos racistas em toda a comunicaccedilatildeo (livros escolares revistas TV e cinema) A maioria dos papeacuteis ldquodadosrdquo aos negros ainda eacute reduzida a lugares comuns eou personagens que demonstram a falta de harmonia e orgulho entre membros da comunidade negra (apenas alguns exemplos tiacutetulos como ldquoDa cor do pecadordquo a escrava Isaura ser branca ausecircncia de casais negros e de famiacutelias de negros estruturadas etc)

O ponto da discussatildeo eacute o resultado dessa contiacutenua accedilatildeo negativa de publicidade e propaganda na formaccedilatildeo do imaginaacuterio da mulher negra Muitos diratildeo que isso natildeo afeta em nada pois eacute apenas uma novela ou frase no entanto essa forma de representaccedilatildeo elabora uma construccedilatildeo social tanto do que eacute ser negro quanto da mulher negra E aiacute que entra o conceito de formaccedilatildeo da identidade Segundo Elisa Nascimento ldquoA identidade pode ser vista como uma espeacutecie de encruzilhada existencial entre indiviacuteduo e sociedade em que ambos vatildeo se constituindo mutuamente () A pessoa realiza esse processo por meio de sua proacutepria existecircncia de vida e das representaccedilotildees da experiecircncia coletiva de sua comunidade e sociedaderdquo3

Portanto uma frase uma novela uma piada natildeo satildeo pura e simplesmente o que parecem mas influenciam diretamente na construccedilatildeo de identidade que a mulher negra cria sobre si mesma sobre seu papel e lugar na sociedade Eacute fato a mulher negra via de regra natildeo se crecirc bonita nem valorizada pois natildeo tem referecircncia para isso A imagem que se tem da mulher negra eacute daquela que foi violada da serviccedilal (Tia Anastaacutecia) ou da lasciva quando na verdade a mulher negra sobretudo eacute sinocircnimo de resistecircncia de perseveranccedila e por que natildeo de esperanccedila Outros diratildeo que satildeo exageros mas essa influecircncia Que produz efeitos contraacuterios aos desejados eacute possiacutevel e plausiacutevel a ideacuteia que temos de noacutes mesmos condiciona nossos sonhos e metas As mulheres negras vecircem de tantas maneiras e sempre de forma interna representaccedilotildees negativas que acabam por introjetar a ideacuteia e passam a acreditar que eacute a realidade

O que vemos satildeo mulheres com baixa auto-estima que buscam parecer com o ideal de beleza propagado pela miacutedia e cujas perspectivas natildeo almejam um melhor lugar na sociedade mais respeito e principalmente mais cidadania A questatildeo natildeo se resume a se achar bonita mas tambeacutem natildeo se julgar capazes e nem merecedoras dos direitos aos quais todos deveriacuteamos ter acesso

A travessia de ser uma mulher de aparecircncia negra para ser uma mulher negra cidadatilde eacute tatildeo longa e seu iniacutecio eacute marcado pelo resgate e apropriaccedilatildeo da sua cultura que tambeacutem natildeo eacute ensinada na escola Dizer sou mulher negra natildeo eacute faacutecil Ao dizer isso tambeacutem assumimos nosso passado doloroso mas tambeacutem a ancestralidade e sabedoria africanas e nossa histoacuteria de superaccedilatildeo Mas esse percurso eacute tatildeo longo quanto o caminho ateacute a costa do Marfim do outro lado do Atlacircntico

ldquoResgaterdquo

Sou negra ponto final

devolvo-me a identidade

rasgo a minha certidatildeo

sou negra

sem reticecircncias

sem viacutergulas sem ausecircncias

sou negra balacobaco

sou negra noite cansaccedilo

sou negra

ponto final

Alzira Rufino 1986

Palavras-chave pontos que podem ser discutidos a partir do texto mulher negra violecircncia psicoloacutegica comunicaccedilatildeo de massa midiatizaccedilatildeo imaginaacuterio construccedilatildeo social identidade e fenoacutetipo

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Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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reg

Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

E-mail educafrofranciscanosorgbr Sites wwweducafroorgbr

Sede Nacional ndash S Paulo Rua Riachuelo 342 Sala 05 Centro CEP 01007-000 S Paulo SP - Fonefax (11) 3106-3411

Regional Rio de Janeiro Rua Buenos Aires 167 - Centro- CEP 20060-070 ndash Rio de Janeiro- RJ

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

e-mail educafrofranciscanosorgbr Site wwweducafroorgbr

Sede Nacional Rua Riachuelo 342 - Sala 05 - Centro - CEP 01007-000 - Satildeo Paulo SP - pabxfax (11) 31075024

reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

seus na universidade representa natildeo soacute a realizaccedilatildeo do sonho de melhoria da qualidade de vida mas tambeacutem a vitoacuteria contra uma desigualdade historicamente construiacuteda Afinal o negro universitaacuterio eacute aquele que superou a sina e fugiu da ponta mais robusta e perversa das estatiacutesticas a ponta em que estatildeo reservados aqueles que natildeo ingressaram no ensino superior e a quem estatildeo destinados os trabalhos precaacuterios e consequumlentemente os mais baixos salaacuterios

Mas aleacutem do orgulho e do sentimento de identidade eacute necessaacuteria uma maior reflexatildeo sobre o significado da entrada do afro-brasileiro no ensino superior O problema maior repousa no fato de que muito se pensa na inclusatildeo do negro na estrutura universitaacuteria mas pouco se reflete acerca da proacutepria estrutura da qual se

quer participar Natildeo se pode perder de vista o fato de que a estrutura do ensino superior eacute apenas parte da mesma estrutura social que produz a desigualdade e a discriminaccedilatildeo que se volta contra os afro-brasileiros Ou seja sem a devida reflexatildeo criacutetica o esforccedilo para acessar ao ensino superior pode transformar-se numa frustrada tentativa de salvar o oprimido oferecendo-lhe mais opressatildeo o que seria o mesmo que oferecer a algueacutem que reclama de falta de ar um saco plaacutestico para envolver a cabeccedila

Cabe considerar que o ldquoser negrordquo eacute muito mais do que a cor da pele Em primeiro lugar ldquoserrdquo exprime uma condiccedilatildeo existencial E existir implica em estar no mundo com os outros ldquoSerrdquo portanto eacute situaccedilatildeo e relaccedilatildeo ldquoSer negrordquo ou ldquoser brancordquo eacute pertencer a uma imensa rede experiecircncias cujos significados soacute se apresentam atraveacutes do estudo da situaccedilatildeo concreta e das relaccedilotildees histoacuterico-sociais que formam este ldquoserrdquo O modo de ser do homem ou mulher negros se reflete antes de tudo em uma ligaccedilatildeo especiacutefica com o mundo e com os outros uma relaccedilatildeo cuja compreensatildeo natildeo estaacute no estudo bioloacutegico ou meramente simboacutelico vez que o ser humano eacute ser social

Assim a diferenccedila entre um branco e um negro natildeo pode jamais ser explicada pela biologia mas somente pelo estudo da sociedade A vida histoacuterico-social construiu tais diferenccedilas Um negro eacute um negro porque eacute tratado como negro enquanto um branco eacute um branco porque eacute tratado como branco Ao ldquoser negrordquo estaacute associada uma rede de siacutembolos e valores que ao ser branco natildeo aparecem Isto se explica pelo fato de que ser branco eacute ldquonormalrdquo ou seja agrave rede simboacutelica e de valores positivos brancos eacute a ldquonormardquo (daiacute o ldquonormalrdquo) eacute a regra A dos negros eacute a exceccedilatildeo eacute o exoacutetico o que eacute ldquoanormalrdquo (fora da norma) ldquoBrancordquo natildeo se refere apenas agrave cor da pele mas a todo um conjunto de atitudes e de privileacutegios poliacuteticos e econocircmicos que nossa sociedade atribui aos que possuem uma aparecircncia branca

A universidade natildeo estaacute no universo das relaccedilotildees que socialmente foram reservadas aos negros Ela pertence a uma estrutura de mundo projetada para a exclusatildeo do negro Neste ponto eacute emblemaacutetico o fato da universidade brasileira ter sido declaradamente criada para formar as ldquoelitesrdquo que governariam este paiacutes A emancipaccedilatildeo das minorias atraveacutes do ensino jamais foi um projeto do Estado brasileiro que entre outras coisas sempre zelou pela ausecircncia da questatildeo racial no debates educacionais Os cursos universitaacuterios de direito no Brasil por exemplo foram inaugurados sob o amparo de um regime escravocrata o que significa que os ldquoconteuacutedosrdquo das disciplinas ensinadas aos alunos tentavam equilibrar um discurso liberal em defesa dos direitos fundamentais do homem e ao mesmo tempo a legitimaccedilatildeo de uma realidade juriacutedica que tratava os negros como ldquocoisasrdquo

Daiacute natildeo ser incomum que seja imposto ao universitaacuterio negro o abandono de sua identidade histoacuterica e o rompimento com os laccedilos de solidariedade com seus semelhantes O ldquoser negrordquo enquanto produto da histoacuteria eacute levado a tomar como exemplo o ldquoser brancordquo despindo-se de seus valores e alienando-se de sua condiccedilatildeo existencial de seu ser-no-mundo de sua situaccedilatildeo poliacutetica Este processo se daacute desde o ambiente acadecircmico ateacute o conteuacutedo das disciplinas (que muitas vezes mesmo nos cursos de humanas ldquoapagamrdquo a questatildeo racial de suas respectivas abordagens) Ao adentrar nas estruturas que possibilitam a ldquoascensatildeo socialrdquo o negro muitas vezes passa a servir agrave causa da opressatildeo mas sem nunca deixar de ser oprimido

Pede-se ao negro que se torne branco Subjugado pelas forccedilas de uma estrutura social racista o negro tende a assumir o papel do opressor negando sua condiccedilatildeo existencial que eacute histoacuterica e que por ser histoacuterica eacute essencialmente poliacutetica Torna-se uma versatildeo traacutegica daquele personagem do cinema americano do iniacutecio

do seacuteculo passado em que os atores brancos pintavam o rosto de negro porque os negros natildeo podiam atuar no caso da universidade quando alienado o negro pinta o rosto de branco conquanto sua pele permaneccedila negra com tudo o que significa ter uma pele negra na sociedade em que vivemos

Por estar imerso na realidade opressora - no caso a universidade - natildeo surpreende que o oprimido identifique-se com o opressor ao inveacutes de libertar-se Isto se verifica na fantasia da ldquointegraccedilatildeordquo que longe de estabelecer normas para uma convivecircncia autecircntica e respeitosa eacute uma forma de exigir a eliminaccedilatildeo do compromisso que o negro universitaacuterio tem para com todos os outros afrobrasileiros

Formam-se meacutedicos ou advogados inconscientes de sua responsabilidade racial e poliacutetica preocupados apenas em como atender nas grandes cliacutenicas ou escritoacuterios dos bairros ricos e de classe meacutedia alta em que seratildeo sempre o ldquomeacutedico negrordquo ou o ldquoadvogado negrordquo dos brancos e ricos Serviratildeo apenas como a ldquoprovardquo daqueles que alegam a ldquojusticcedilardquo e o ldquomeacuteritordquo de um sistema que de justo e que premia as pessoas competentes dedicadas e trabalhadoras nada tem

A luta pelo acesso ao ensino superior eacute relevante e deve ser feita de modo sistemaacutetico pelos movimentos sociais ateacute para que possam ser ocupados espaccedilos de poder do qual a universidade como produtora de conhecimento eacute exemplo Todavia a transformaccedilatildeo do estruturalmente oprimido numa caricatura do opressor somente pode ser evitada se a entrada no ensino superior natildeo for vista apenas como uma oportunidade de ldquomobilidade socialrdquo (que na praacutetica significa ascender ao mundo dos sociologicamente brancos) mas como um ato poliacutetico na sua inteireza Que a entrada no ensino superior natildeo seja vista como um ato de superaccedilatildeo de um indiviacuteduo mas o resultado de um trabalho coletivo que resulta no compromisso social do universitaacuterio Deve a vida universitaacuteria ser vista como esclarecimento de tomada de consciecircncia do aluno de sua posiccedilatildeo no mundo e portanto das possibilidades de mudanccedila

Soacute assim com a libertaccedilatildeo do negro poderiacuteamos pensar no fim da oposiccedilatildeo negro-branco vez que tal contradiccedilatildeo eacute baseada no poder que um poacutelo deteacutem sobre o outro A libertaccedilatildeo do negro eacute tambeacutem a libertaccedilatildeo do branco no sentido de que o fim da dominaccedilatildeo que sustentava a relaccedilatildeo a significaccedilatildeo social de ldquoser negrordquo e ldquoser brancordquo fica esvaziada de conteuacutedo

O universitaacuterio afrobrasileiro deve saber que jamais seraacute livre enquanto natildeo reagir face agrave ausecircncia de liberdade dos seus semelhantes A dignidade e a liberdade satildeo conquistas que vatildeo muito aleacutem da aprovaccedilatildeo no vestibular e requer o envolvimento de todos que acreditam na possibilidade de um mundo justo

REFEREcircNCIAS

Sobre educaccedilatildeo e luta para que oprimidos natildeo se tornem opressores o mestre Paulo Freire soube como ningueacutem falar a respeito em seu claacutessico livro ldquoPedagogia do oprimidordquo

httppaulofreirefinlandorgwp-contentuploads200702pedagogia_do_oprimidopdf As estatiacutesticas que demonstram a situaccedilatildeo do negro no sistema de educaccedilatildeo superior estatildeo na ldquoSiacutentese de indicadores sociais 2008rdquo do IBGE

httpwwwibgegovbrhomeestatisticapopulacaocondicaodevidaindicadoresminimossinteseindicsociais2008indic_sociais2008pdf

Sobre a questatildeo racial e sua vinculaccedilatildeo com as poliacuteticas educacionais haacute um interessante artigo sobre o conceito de branquidade na educaccedilatildeo do pesquisador Michael W Apple da Universidade de Wiscosin nos EUA

httpwwwunematbrpesquisacoeducdownloadspoliticas_de_direita_e_branquidade_a_presenca_ausente_da_raca_nas_reformas_educacionaispdf

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Como os afro-brasileiros estatildeo usando as tecnologias da informaccedilatildeo em defesa dos direitos humanos

Carlos Eduardo Dias Machado

Mestrando em Histoacuteria Social ndash USP

A internet eacute um conglomerado de redes em escala mundial de milhotildees de computadores interligados pelo Protocolo de Internet que permite o acesso a informaccedilotildees e todo tipo de transferecircncia de dados A Internet eacute a principal das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (NTICs) Ao contraacuterio do que normalmente se pensa a Internet natildeo eacute sinocircnimo de World Wide Web (rede mundial) Esta eacute parte daquela sendo a World Wide Web que utiliza hipermiacutedia na formaccedilatildeo baacutesica um dos muitos serviccedilos oferecidos na Internet De acordo com dados de marccedilo de 2009 a Internet eacute usada por 238 da populaccedilatildeo mundial (em torno de 16 bilhotildees de pessoas)

Em primeiro lugar em nuacutemero de usuaacuterios estaacute a Aacutesia com 657 milhotildees de usuaacuterios em segundo vem a Europa com 393 milhotildees em terceiro a Ameacuterica do Norte com 393 milhotildees e em quarto estaacute a Ameacuterica Latina e Caribe com 176 milhotildees de internautas No Brasil haacute mais de 40 milhotildees de computadores e mais de 38 milhotildees de internautas ficando mais de 26 horas por mecircs navegando na rede Em porcentagem 18 dos domiciacutelios brasileiros possuem computador com acesso agrave rede e 34 da populaccedilatildeo nacional eacute usuaacuteria efetiva da Internet ou seja acessou a rede nos uacuteltimos trecircs meses

Como estaacute a populaccedilatildeo negra em relaccedilatildeo ao acesso ao computador e a internet em nosso paiacutes

De acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) vinculada agrave Secretaria de Assuntos Estrateacutegicos da Presidecircncia da Repuacuteblica realizada em 2003 no que se refere agrave exclusatildeo digital foram pesquisados os lares segundo tipo de chefia (masculinafeminina negrabranca) e a posse dos seguintes itens microcomputador internet e telefone celular A tendecircncia geral nesse caso eacute de elevada marginalizaccedilatildeo digital da populaccedilatildeo negra e em especial das mulheres negras Em 2003 nos domiciacutelios chefiados por brancos 78 natildeo tinham acesso a microcomputador 83 a internet e 535 a telefone celular No caso dos domiciacutelios chefiados por negros esses valores eram respectivamente de 93 95 e 71 dos que natildeo tinham acesso Natildeo existem diferenccedilas significativas entre homens e mulheres na posse desses itens No entanto quando se cruza a chefia por raccedila e sexo percebe-se que satildeo sempre as mulheres negras as que se encontram em pior situaccedilatildeo e nesse caso estatildeo portanto mais sujeitas agrave exclusatildeo digital

Proporccedilatildeo de domiciacutelios que natildeo possuem microcomputador internet e telefone celular segundo sexo e corraccedila doa chefe da famiacuteliandash Brasil 2003

Microcomputador Internet Celular

Homem Branco 771 824 521

Homem Negro 926 950 709

Mulher Branca 811 855 575

Mulher Negra 940 960 722

Segundo a pesquisa da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) chamada de Mapa da Exclusatildeo Digital feita em 2003 Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Distrito Federal satildeo os estados de maior inclusatildeo digital e estudando por raccedila quem tem computadores e mais acessa satildeo os amarelos ou asiaacuteticos (4166) seguido pelos brancos (1514) em terceiro por negros (pretos 397 e pardos 406) com 803 e em uacuteltimo lugar os indiacutegenas com 372

Podemos afirmar que a exclusatildeo digital acompanha as desigualdades raciais que satildeo muito antigas em nosso paiacutes e que homens e mulheres brancos e negros continuam a ser tratados desigualmente Os dois grupos tecircm oportunidades desiguais e acesso desigual aos serviccedilos puacuteblicos aos postos de trabalho aos espaccedilos de poder e decisatildeo e agraves riquezas de nosso paiacutes

Portanto haacute muito a fazer para que negros e indiacutegenas homens e mulheres tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento em nosso paiacutes Diante desta realidade a pergunta eacute o que os negros que possuem acesso agrave internet podem fazer para defender a causa da igualdade racial e dos direitos humanos

O ativismo ou a militacircncia virtual eacute fundamental porque nem todos os batalhadores da causa da igualdade conseguem dar conta da complexidade que eacute lutar contra o racismo Existem situaccedilotildees que nos foge da percepccedilatildeo ou do tempo de cada um e haacute situaccedilotildees que uma pessoa percebeu primeiro a violaccedilatildeo de nossos direitos e pede apoio em solidariedade Daiacute a necessidade de militantes na internet filiados a uma organizaccedilatildeo ou natildeo fazer valer as leis e ampliaacute-las para a promoccedilatildeo de oportunidades para todas e todos

No continente africano existe um sistema filosoacutefico que pode nos ajudar a ver a sociedade de forma diferente chamado Ubuntu que eacute uma palavra de origem bantu que natildeo possui traduccedilatildeo na nossa liacutengua seu significado seria este eu existo porque vocecirc existe Ou seja vamos nos preservar para continuar vivendo No Ubuntu vocecirc pode ter ou pode ser Assim Ubuntu surgiu como filosofia nas naccedilotildees africanas onde estatildeo ligados agrave ancestralidade Ubuntu vem sendo praticado e buscado cada vez mais a sua compreensatildeo pelos ativistas que lutam em prol das causa sociais humanitaacuterias Ser ubuntu eacute deixar sua individualidade buscando uma nova forma de ver o mundobuscando o bem da coletividade eacute abraccedilar o mundo procurando acabar com o sofrimento da humanidade socializando informaccedilotildees minimizando a dor alheia Esta filosofia tem como principio aproximar as pessoas onde elas estiverem conectando-as a todo o conhecimento Levando cada individuo a conhecer sobre o outro para assim haver menos diferenccedilas entre os seres humanoslevando em conta que o conhecimento do outro nos aproxima cada vez mais nos humanizando Ubuntu natildeo eacute apenas ser solidaacuterio eacute viver eacute nortear pela accedilotildees que levem a igualdade de todos diminuindo as diferenccedilas

A filosofia Ubuntu inspirou a nova Republica da Aacutefrica do Sul sendo o ex-presidente Nelson Mandela o mais famoso seguidor do Ubuntu Para ser um Ubuntu eacute necessaacuterio ter uma mente aberta para aceitar as diferenccedilassaber ouvir as opiniotildees contraacuterias eacute saber que faz parte do mundo eacute ter consciecircncia do seu papel social Eacute acima de tudo ser capaz de indignar com as injusticcedila praticada com o outro e principalmente usar esta indignaccedilatildeo para dar um passo para modificar esta situaccedilatildeo

Todos os dias no Brasil observamos situaccedilotildees recorrentes em nosso paiacutes que eacute a deacutecima economia mundial e o mais rico do hemisfeacuterio sul quando se liga a TV ou compramos produtos vemos negros e indiacutegenas natildeo estatildeo representados nas publicidades das empresas como deveriam

Eu escrevo cartas para empresas desde 1997 a fim de conscientizaacute-las da importacircncia da promoccedilatildeo da igualdade racial ou seja o direito de pessoas de todas as raccedilasetnias serem representadas nos produtos que consomem e no mercado de trabalho A pergunta que faccedilo eacute devo utilizar um produto aonde eu natildeo me vejo e reconheccedilo

Deveria ser um princiacutepio de todas as empresas que tem como finalidade a comunicaccedilatildeo social respeitarem o puacuteblico consumidor que eacute diverso senatildeo qual o criteacuterio de inserir uma mulher e um homem branco constantemente nos comerciais Soacute homens e mulheres brancas consomem No Brasil vergonhosamente tivemos o Band-Aid cor da pele o laacutepis cor de pele da Faber-Castell temos o aacutelcool Zulu o bolo Nega Maluca da Dr Oetker e diversos produtos e serviccedilos aonde natildeo haacute imagem positiva da populaccedilatildeo negra e indiacutegena como consumidora

A discriminaccedilatildeo contra a populaccedilatildeo negra eacute secular persistente e se ramifica por diversas aacutereas da vida brasileira Seraacute que ldquonegro natildeo venderdquo Somos a maioria da populaccedilatildeo brasileira e 158 do grupo do 1 mais ricos do paiacutes (Siacutentese de Indicadores Sociais 2005 elaborada pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios - PNAD 2004) portanto somos consumidores dos mais diversos produtos disponiacuteveis na economia nacional

Satildeo Paulo eacute a cidade fora da Aacutefrica com maior populaccedilatildeo negra do planeta e capital do Estado com maior populaccedilatildeo negra no paiacutes Somos 33 milhotildees de pretos e pardos - 303 dos quase 11 milhotildees de habitantes Em termos de populaccedilatildeo negra no mundo fica atraacutes apenas de Lagos capital da Nigeacuteria que tem cerca de 10 milhotildees e do Cairo no Egito que tem 159 milhotildees No Estado a populaccedilatildeo negra de acordo com a Fundaccedilatildeo SEADE (Fundaccedilatildeo Sistema Estadual de Anaacutelise e Dados) chega a 125 milhotildees de habitantes o que torna S Paulo o Estado com maior populaccedilatildeo negra do paiacutes

Aqui mais uma vez haacute uma explicaccedilatildeo negro eacute o nome que o IBGE daacute a quem eacute pardo e quem eacute preto A cor preta eacute designada a pessoas quem tem pele mais escura Mas ambos pertencem ao mesmo grupo Haacute quem ache que eacute um erro somaacute-los Fui conferir em diversos indicadores sociais Em todos - seja consumo renda tempo de vida - a distacircncia social entre brancos e pardos ou entre brancos e pretos eacute enorme mas entre pardos e pretos a distacircncia eacute pequena Conclusatildeo sociologicamente eles estatildeo no mesmo grupo

Se eles fazem parte da maioria convencida de que o Brasil eacute um paiacutes melhor que os outros do mulato inzoneiro (manhoso mexeriqueiro intrigante sonso mentiroso) da mistura de raccedilas e que nas poliacuteticas de contrataccedilatildeo de matildeo de obra modelos brancos e nomes de produtos natildeo haacute racismo e sim meacuterito ou algo sem importacircncia jaacute que ldquotodos somos iguaisrdquo infelizmente tenho que dizer o Brasil nunca teve segregaccedilatildeo oficial como nos Estados Unidos e Aacutefrica do Sul mas sempre discriminou baseado na cor da pele Silenciosamente E temos heranccedilas horrorosas do passado escravista e do periacuteodo poacutes-aboliccedilatildeo Uma delas ainda estaacute laacute nas entradas de elevadores social e de serviccedilo um eufemismo para dar ao porteiro o direito de constranger os negros a ir pelo elevador de traacutes destinado a cargas e compras O lema para acabar com esta vergonha tem que ser todos pela diversidade

Empresas e oacutergatildeos puacuteblicos criam barreiras que impedem o uso da imagem contrataccedilatildeo ascensatildeo de homens e mulheres negras Haacute quem diga que no Brasil soacute haacute discriminaccedilatildeo social e natildeo racial Isto a bem dizer natildeo torna menos vergonhosa a discriminaccedilatildeo mas natildeo eacute toda a verdade As pesquisas estatiacutesticas satildeo reveladoras negros e brancos com o mesmo niacutevel de escolaridade tecircm renda diferente o branco ganha quase o dobro do que ganha o negro (IBGE Siacutentese de Indicadores Sociais 2007) e o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social lanccedilou o livro Perfil Social Racial e de Gecircnero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Accedilotildees Afirmativas ndash 2007 que reafirma o baixo nuacutemero de negras e negros trabalhando no mundo empresarial O que vocecirc me diz disto Eacute ou natildeo eacute a manutenccedilatildeo de privileacutegios para brancos e amarelos

A mudanccedila de tratamento das empresas e dos governos natildeo vatildeo mudar o mundo mas seraacute um passo um passo na direccedilatildeo certa para o respeito ao cidadatildeo negro e indiacutegena que como os outros grupos ajudaram e auxiliam a construir este paiacutes mas que vecirc seus talentos sendo descartados por causa do racismo que impede o seu desenvolvimento individual coletivo e do Brasil como um todo Que um dia todos possam dizer nossa sociedade eacute justa haacute lugar e haacute igualdade de oportunidade para todos e todas

Tarefa enviar e-mails para os SENADORES e STF (Supremo Tribunal Federal) exigindo que os mesmos votem em favor das cotas nas Universidades Federais do ProUni para excluiacutedos negros Quilombolas e indiacutegenas bem como em favor do estatuto da igualdade racial

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

O alunoa Educafro deve optar fazer a) uma faculdade b) um curso tecnoloacutegico c) ou um curso teacutecnico O que eacute mais aacutegil para incluir O que considerar antes de fazer esta opccedilatildeo Tarefa pesquisar e entregar na sede a opccedilatildeo dos alunos de seu nuacutecleo por essas trecircs aacutereas

Fazer o quecirc e por quecirc

Haacute uma deacutecada ainda era compreensiacutevel que o jovem apoacutes concluir o Ensino Meacutedio pudesse

idealizar um curso superior que provavelmente seria indefinidamente a sua futura profissatildeo Atualmente

isso eacute impraticaacutevel para a maioria das ocupaccedilotildees A palavra carreira tende a desaparecer ou mudar de

sentido perdendo-se em meio agraves insuficientes nomenclaturas ndash exatas humanas bioloacutegicas tecnoloacutegicas

Cada vez mais a ecircnfase recai na solidez dos estudos Se o embasamento teoacuterico eacute bem feito

articulado agraves necessidades reais que se avizinham e conectado ao tempo vigente o profissional teraacute pela

frente as muitas possibilidades reservadas aos que tecircm muacuteltiplos talentos criatividade e capacidade de

ligar com as muitas situaccedilotildees e problemaacuteticas do mundo moderno

Por isso aos estudantes de hoje satildeo dadas inuacutemeras opccedilotildees Os cursos tradicionais continuam tendo

grande apelo mas aqueles que estatildeo antenados agraves transformaccedilotildees no mundo do trabalho vislumbram outras

searas tambeacutem palpaacuteveis Haacute formaccedilotildees de toda sorte graduaccedilatildeo teacutecnico tecnoloacutegico tecnoacutelogo

presenciais e ateacute ensino a distacircncia (EAD) que cada vez mais ganha espaccedilo Mas como saber o que eacute

melhor pra mim

Soacute vocecirc pode encontrar a resposta ou as respostas Na era da tecnologia engenheiros trabalham em

bancos administradores em Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais advogados buscam o serviccedilo puacuteblico ndash

defensoria ministeacuterio puacuteblico e muitos sonham com o seu proacuteprio negoacutecio Natildeo haacute nem haveraacute emprego

para todos mas trabalho sempre existiraacute

Infelizmente em razatildeo da maacute formaccedilatildeo em matemaacutetica e ciecircncias na escolarizaccedilatildeo baacutesica muitos

se socorrem agraves humanidades nem sempre por vocaccedilatildeo e com as informaccedilotildees adequadas Os cursos de

humanas em geral requerem muita leitura e investimento em livros E ao contraacuterio do que se imagina natildeo

satildeo propriamente baratos E comumente natildeo datildeo o sonhado retorno estuda-se muito haacute excesso de

contingentes no mercado e se ganha pouco

De qualquer modo uma graduaccedilatildeo requer trecircs ou quatro anos de intensas leituras deslocamentos

trabalhos acadecircmicos muitos gastos tensotildees trabalhos em grupo etc Eacute preciso estar preparado e focado

para enfrentar essa realidade por todo esse tempo e tirar o maacuteximo de proveito ndash saber estudar como fazecirc-

lo progressivamente pesquisar

As formaccedilotildees mais raacutepidas visam a preparar pessoal para as funccedilotildees mais contemporacircneas O

enfoque eacute dirigido para as atuaccedilotildees teacutecnicas Haacute um amplo leque de possibilidades turismo museu

tecnologia vendas por telefone mercado financeiro sauacutede judiciaacuterio processamento de alimentos

mecacircnica muacutesica Quem vasculha oportunidades natildeo pode deixar de notar que ateacute o serviccedilo puacuteblico jaacute

oferece concursos para os teacutecnicos e tecnoacutelogos Eacute natural que o recente crescimento da informaacutetica surja

como uma aacuterea muito aquecida afinal quem pode prescindir dos computadores das redes da manutenccedilatildeo

das maacutequinas das homepages do design graacutefico Mas existem outros mercados igualmente promissores e

outros ainda seratildeo criados Olhe pra si proacuteprio encare seus talentos enfrente seus desafios seja racional

sem perder a sensibilidade dirija o olhar para o distante mas caminhe um passo de cada vez em solo

firme

Optando pela graduaccedilatildeo procure conhecer antecipadamente a sua escolha os proacutes e contras

converse com quem estaacute fazendo com quem jaacute fez seja honesto consigo proacuteprio aonde quer chegar Mas

natildeo se esqueccedila que se houver mudanccedila de rumos a experiecircncia e enriquecimento seguiratildeo ao seu lado

Os cursos mais raacutepidos natildeo impedem que se faccedila uma graduaccedilatildeo posteriormente jaacute entatildeo

consciente do seu perfil e do mercado A grande vantagem desses cursos eacute a conquista manutenccedilatildeo e

reconquista de emprego (a chamada empregabilidade) e o tempo mas nada deve se transformar numa

camisa de forccedila que impeccedila voos mais largos tudo eacute uma questatildeo de estrateacutegia ndash recorde-se que o caminho

eacute menos iacutengreme para quem sabe aonde quer chegar

Qualquer que seja o caminho ndash graduaccedilatildeo teacutecnico ou tecnoacutelogo ndash quem quer seguir adiante natildeo

pode se furtar a estudar liacutenguas conhecer as tecnologias e as inserccedilotildees especiacuteficas da aacuterea escolhida saber

se comunicar conviver com a diversidade em todos os aspectos sociais culturais mercadoloacutegicos e

principalmente eacutetnicos

Consulte as inovaccedilotildees em graduaccedilatildeo nos inuacutemeros sites das universidades puacuteblicas e privadas

Para uma noccedilatildeo dos cursos teacutecnicos e tecnoacutelogos os sites da FATEC e das Escolas Teacutecnicas (Etecs) do

Centro Paula Souza

httpwwwfatecspbr

httpwwwvestibulinhoeteccombr

Ivan Siqueira

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

A crise econocircmica mundial e os dilemas da militacircncia e dos movimentos sociais afinal quem vai pagar a conta

O mesmo sistema ideoloacutegico que justifica o processo de globalizaccedilatildeo ajudando a consideraacute-lo o uacutenico caminho histoacuterico

acaba tambeacutem por impor uma certa visatildeo da crise e a aceitaccedilatildeo dos remeacutedios sugeridos Em virtude disso todos os paiacuteses

lugares e pessoas passam a se comportar isto eacute a organizar sua accedilatildeo como se tal acutecriseacute fosse a mesma para todos e como se

a receita para afastaacute-la devesse ser geralmente a mesma Na verdade poreacutem a uacutenica crise que os responsaacuteveis desejam afastar

eacute a crise financeira e qualquer outra Aiacute estaacute na verdade uma causa para mais aprofundamento da crise real - econocircmica

social poliacutetica moral - que caracteriza o nosso tempo SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave

consciecircncia universal Satildeo Paulo Record 2000 p169)

A palavra ldquocriserdquo tem origem grega eis que usada por Hipoacutecrates para designar o momento culminante de uma doenccedila Assim para o pai da medicina ocidental a crise seria o cuacutemulo da doenccedila apoacutes o que soacute poderia advir a cura a soluccedilatildeo Por essa razatildeo era o momento crucial para a tomada de decisotildees para se adotar a medida adequada a uma resoluccedilatildeo eficaz ao problema

Quando se fala em crise econocircmica mundial haacute uma tendecircncia alarmista por um lado que quer propagar a ideacuteia de que somente agora o caos seraacute instalado no mundo e por outro num sentido oposto haacute aqueles que reputam a crise como algo tolo banal sem grande importacircncia As duas ideacuteias polarizadas estatildeo assentadas sobre o mesmo fundamento qual seja o mascaramento do verdadeiro fundamento que leva o sistema de produccedilatildeo capitalista a uma agonia de difiacutecil soluccedilatildeo

A crise ou a doenccedila (conforme a origem da palavra) eacute uma caracteriacutestica tiacutepica do capitalismo Seguindo a argumentaccedilatildeo marxista temos que todo sistema de produccedilatildeo econocircmica tem necessariamente dois elementos 1) estaacute baseado na exploraccedilatildeo de oprimidos por opressores 2) sempre traz dentro de si o princiacutepio da sua proacutepria destruiccedilatildeo Deste modo na Antiguidade temos no sistema escravagista a exploraccedilatildeo de escravos por senhores baseada na forccedila bruta no cativeiro poreacutem quando a forccedila se torna escassa para conter os escravos o sistema perece dando lugar a outro Daiacute na era medieval europeacuteia surge uma nova forma de exploraccedilatildeo agora baseada na posse da terra entre servo e senhor feudal contudo quando a produccedilatildeo agriacutecola eacute enorme a sobra eacute comercializada pelo servo e este deixa de depender do senhor originando outro sistema de produccedilatildeo o Capitalismo

Basicamente e de forma bastante elementar esta eacute para Karl Marx o raciociacutenio da evoluccedilatildeo econocircmica atraveacutes da histoacuteria Toda forma de produccedilatildeo estaacute baseada na exploraccedilatildeo que reside em algum mecanismo de submissatildeo (forccedila terra) todavia o capitalismo cria um modo de opressatildeo proacutepria fundada na reparticcedilatildeo entre Capital e Trabalho Haacute aqueles que possuem o capital (dinheiro) e aqueles que natildeo possuem ndash a estes uacuteltimos soacute resta trabalhar para que possam transformar o trabalho em capital e se sustentar no baacutesico Por essa razatildeo soacute existe capitalismo se houver distribuiccedilatildeo desigual de renda trata-se de um sistema que soacute sobrevive na desigualdade ndash soacute iraacute se submeter ao trabalho aquele que natildeo possuir capital ou seja se todos possuiacutessem capital natildeo haveria trabalho natildeo haveria exploraccedilatildeo e consequentemente natildeo haveria capitalismo

Por isso quando o capitalismo surgiu ele se fez acompanhar por um projeto ideoloacutegico que pudesse sustentar a desigualdade econocircmica Desde seus primoacuterdios no Renascimento o abandono de um princiacutepio de deus como centro do mundo e a organizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico perfazem a ideacuteia de que o homem pode ter o controle de tudo jaacute que eacute dotado de razatildeo O racionalismo ao lado do sistema capitalista constitui a face ilusoacuteria da beleza da Modernidade A razatildeo renascentista encontra entatildeo seu

apogeu no Iluminismo e a partir deste erige-se toda uma administraccedilatildeo puacuteblica na figura do Estado de Direito a fim de sustentar a dominaccedilatildeo e a desigualdade

Entretanto mesmo com todo o instrumental ideoloacutegico poliacutetico e juriacutedico no intuito de sustentar a exploraccedilatildeo de quem natildeo possui capital a base da produccedilatildeo econocircmica capitalista por ser muito sutil sempre guardaraacute uma fragilidade Natildeo se trata mais de um elemento concreto como a forccedila ou a terra a desigualdade que sustenta o sistema eacute tambeacutem a responsaacutevel por sua possibilidade e falha e eacute por isso que o capitalismo estaacute em constante renovaccedilatildeo Assim a crise natildeo eacute estranha ao capitalismo ela lhe eacute proacutepria e eacute atraveacutes dela que o sistema se reinventa e sobrevive comutando-se de mercantilismo em capitalismo industrial e deste uacuteltimo em financeiro e especulativo

Esta crise do iniacutecio do seacuteculo XXI eacute a crise do capitalismo das bolsas de valores assim como a crise de 1929 foi a crise do capitalismo industrial Portanto aqueles que causam barulho passando a falsa ideacuteia de que tais abalos satildeo novidade pretendem ao mesmo tempo negar que o capitalismo eacute um sistema fundamentalmente faliacutevel e criacutetico e usar a tal ldquocrise econocircmicardquo como desculpa para a reduccedilatildeo de poliacuteticas para o povo para as demissotildees em massa no setor privado e para o corte de gastos em todas as esferas A propaganda da crise nos meios de comunicaccedilatildeo forccedila todo o corpo social a assimilaacute-la como um problema coletivo O desequiliacutebrio econocircmico pautado na dinacircmica de um sistema injusto e instaacutevel e gerado por quem deteacutem o poder acaba sendo suportado por todos e como eacute usual os mais pobres satildeo mais sensivelmente afetados e acabam saindo muito mais prejudicados desta situaccedilatildeo

Por outro acircngulo sob o argumento verdadeiro de que a crise eacute natural ao sistema capitalista haacute os que pretendem lhe emprestar um ar de banalidade como se a doenccedila fosse soacute uma leve gripe que logo passaraacute quando na realidade trata-se de uma doenccedila crocircnica e incuraacutevel

Reputam-se como responsaacuteveis pela crise o inchaccedilo do sistema de creacutedito imobiliaacuterio norte-americano e o abuso na especulaccedilatildeo Neste uacuteltimo caso alguns especuladores teriam colocado em circulaccedilatildeo papeacuteis fictiacutecios sem correspondecircncia material do valor neles depositado Esta ideacuteia eacute por si soacute fantasiosa e enganadora pois parece que somente agora alguns indiviacuteduos imorais teriam vendido papeacuteis sem valor quando na realidade esta especulaccedilatildeo (como o nome jaacute diz) eacute o fundamento do proacuteprio funcionamento do sistema O capitalismo financeiro dispensa a correspondecircncia entre valor especulado e riqueza material real essa eacute a sua loacutegica interna para transformar capital em mais capital sem usar o trabalho

Como o capitalismo por causa da especulaccedilatildeo pode gerar capital prescindindo da exploraccedilatildeo do trabalho naturalmente aumenta o desemprego ainda mais com a crescente mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo que dispensa a matildeo-de-obra Entatildeo a grande massa de trabalhadores sem ocupaccedilatildeo cria uma lacuna no mercado consumidor ndash sem trabalho natildeo haacute consumo Isso faz com que soacute seja possiacutevel vender atraveacutes do creacutedito e os sistemas de financiamento crescem para imoacuteveis automoacuteveis eletroeletrocircnicos eletrodomeacutesticos tudo Nunca se comprou tanto a prazo e em prazos tatildeo extensos

Portanto tanto a falecircncia do sistema de creacutedito imobiliaacuterio quanto o abuso na especulaccedilatildeo natildeo satildeo causas isoladas que acabaram gerando a crise mas satildeo produtos e desdobramentos naturais do proacuteprio capitalismo financeiro especulativo No entanto se o capitalismo como sistema de produccedilatildeo estaacute baseado no conflito entre capital e trabalho quando se dispensa o trabalho para a produccedilatildeo de riqueza recorrendo-se somente agrave especulaccedilatildeo rompe-se a base do sistema Por isso esta crise eacute profunda e natildeo passageira e superficial como querem alguns

Inclusive a crise mundial atual natildeo eacute somente econocircmica A voracidade do sistema capitalista encontrou um limite agrave expansatildeo desmedida pra a produccedilatildeo de lucros e o acuacutemulo sem fim ndash este limite eacute o proacuteprio mundo O planeta jaacute natildeo suporta as consequecircncias da loacutegica capitalista e a crise ambiental denota que os dias do sistema estatildeo contados se natildeo pela falecircncia econocircmica pela impossibilidade de permanecer na Terra apoacutes tudo o que a Modernidade fez a ela

O racionalismo o avanccedilo da tecnologia e a ciecircncia moderna foram tatildeo devastadores quanto o proacuteprio capitalismo E esse apego agrave racionalidade que afastou qualquer concepccedilatildeo religiosa moral e eacutetica de mundo deixou-nos sem nenhum referencial A modernidade substituiu a feacute pela razatildeo a crenccedila em deuses pela crenccedila na ciecircncia e agora quando o capitalismo agoniza e a ciecircncia destroacutei o planeta quando vivemos os horrores das guerras do seacuteculo XX a fome a desigualdade a injusticcedila natildeo podemos mais fechar os olhos iludidos acreditando nas promessas da filosofia iluminista de ldquoliberdade igualdade e fraternidaderdquo e positivistas de ldquoordem e progressordquo

Soacute nos restou o desconforto e a desilusatildeo de um mundo conturbado sem valores morais com um Estado quebrado a natureza degradada a economia vacilante e nenhum lugar para a ideologia A globalizaccedilatildeo somente pulverizou as fronteiras econocircmicas mas as desigualdades locais foram mantidas e exacerbadas Globalizamos a cultura de massas para expandir o consumismo mas jamais construiacutemos oportunidades globais

A crise eacute portanto total e absoluta Natildeo eacute soacute o capitalismo que sofre uma crise mas a Modernidade a razatildeo moderna a moral a ciecircncia a economia O Estado moderno padece por falta de legitimidade quando natildeo realiza seus objetivos baacutesicos e manteacutem a desigualdade a democracia se extingue ante a corrupccedilatildeo e a burocracia o Direito moderno natildeo encontra legitimidade e a lei eacute constantemente desobedecida soacute haacute previsotildees formais sem nenhuma efetivaccedilatildeo dos direitos mais fundamentais

Nesta realidade ainda haveraacute lugar para a militacircncia Ainda haveraacute espaccedilo para a ideologia Os movimentos sociais ainda fazem sentido Como lutar por direitos se o proacuteprio Direito padece Como desejar inclusatildeo se o Estado desaparece Como pretender justiccedila e igualdade em um sistema desigual e agonizante

A falta de resposta a essas perguntas poderia nos levar agrave absoluta desilusatildeo Poreacutem conveacutem lembrarmos Hipoacutecrates no iniacutecio do texto que cunhou a palavra ldquocriserdquo Se a crise eacute o apogeu de uma patologia de um desarranjo de um desequiliacutebrio eacute tambeacutem o momento da intervenccedilatildeo o momento da soluccedilatildeo Contudo esta soluccedilatildeo natildeo pode ser aquela imposta pelos opressores no sentido da contemplaccedilatildeo de seus interesses O remeacutedio adequado eacute a superaccedilatildeo da proacutepria loacutegica do sistema Num estado de coisas em que todas as estruturas se encontram em crise e a humanidade encara a cataacutestrofe natildeo nos resta mais nada a natildeo ser a accedilatildeo o resgate da razatildeo verdadeira e a crenccedila em um futuro melhor No auge da doenccedila soacute nos resta administrarmos o remeacutedio correto e perseguirmos incansavelmente a verdadeira cura

Advogada graduada pela Unesp poacutes-graduada pela EPD Professora Universitaacuteria e em cursos preparatoacuterios

Tarefa Pesquisar e fazer uma redaccedilatildeo sobre o desemprego e as etnias Pesquisar o pensamento de um dos maiores brasileiros que tematizou sobre a crise mundial Milton Santos Taylisi de Souza Correcirca Leitelowast

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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Os desafios da militacircncia negra em defesa das mulheres e pela superaccedilatildeo da violecircncia de gecircnero

Por Gabriela Watson

A bela ou a fera o que vocecirc vecirc no espelho

Olhar no espelho e se identificar mais com a Bela do que com uma fera eacute um desafio para as mulheres negras no Brasil Principalmente quando no espelho da sociedade brasileira a televisatildeo elas soacute aparecem na eacutepoca do carnaval o que infelizmente tambeacutem natildeo eacute motivo de comemoraccedilatildeo Satildeo inuacutemeros os artigos que comprovam a ausecircncia de negras e da valorizaccedilatildeo de elementos da cultura afro-brasileira Entretanto esse texto se deteraacute na seguinte discussatildeo como a violecircncia psicoloacutegica afeta o imaginaacuterio da mulher negra

Quando falamos em mulheres negras tratamos de duas marcas sociais o de ser mulher numa sociedade em que os homens tecircm mais aceitaccedilatildeo e o de ser negra numa sociedade que dificulta o acesso dos negros aos espaccedilos de poder e decisatildeo

O ato da mulher se autonomear como negra jaacute constitui um desafio o primeiro obstaacuteculo eacute o de se reconhecer negra contrariando aqueles que preferem o termo ldquomoreninhardquo em seguida entender que estaacute fora do padratildeo de beleza imposto pelos meios de comunicaccedilatildeo e se por uacuteltimo apesar de perceber uma certa desconfianccedila quanto agrave sua capacidade de trabalho essa mulher se reconhecer como negra ela realmente eacute uma guerreira

Quando o assunto eacute violecircncia para com as mulheres negras devemos levar em conta a seguinte nota feita pela escritora Alzira Rufino

Se a violecircncia contra a mulher eacute uma epidemia que desconhece classes sociais existem segmentos que satildeo mais vulneraacuteveis porque jaacute tecircm uma outra histoacuteria de violecircncia como eacute o das mulheres negras sob fogo cruzado de vaacuterias formas de violecircncia a de gecircnero privada no lar a da pobreza que as escraviza as jornadas de trabalho interminaacuteveis das quais natildeo sobraraacute sequer a miacutenima aposentadoria e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaccedilo que vai do fogatildeo ao tanque domesticadas no fundo de cena 1

Dado o exposto eacute vaacutelido fazer um recorte racial da violecircncia porque as agressotildees passadas pelas mulheres negras tecircm sua origem no passado histoacuterico de exploraccedilatildeo a partir da escravidatildeo

Apesar de podermos abordar a violecircncia contra negras em todos os campos de accedilotildees possiacuteveis (sauacutede trabalho e social) talvez aquela que cause dor mais profunda eacute a violecircncia psicoloacutegica Em outras palavras essa violecircncia eacute a falta de auto-estima de orgulho que afeta diretamente na sua forccedila de vontade qualidade e perspectiva de vida

Por violecircncia moral me refiro aquela violecircncia que se perpetua de forma inconsciente atraveacutes de valores passados principalmente pela comunicaccedilatildeo que abrange desde a oralidade (expressotildees populares como ldquocabelo ruimrdquo) interaccedilatildeo social (conversas gestos) e ateacute a forma de comunicaccedilatildeo de massa (no Brasil a televisatildeo)

A importacircncia da miacutedia na formaccedilatildeo e informaccedilatildeo das pessoas eacute indiscutiacutevel nas palavras do jornalista Dennis de Oliveira ldquovivemos numa sociedade marcada pela midiatizaccedilatildeo que significa a penetraccedilatildeo da do modo de pensar dos meios de comunicaccedilatildeo em todos os ambientes das relaccedilotildees sociaisrdquo2 E infelizmente encontramos muitos vestiacutegios de pensamentos racistas em toda a comunicaccedilatildeo (livros escolares revistas TV e cinema) A maioria dos papeacuteis ldquodadosrdquo aos negros ainda eacute reduzida a lugares comuns eou personagens que demonstram a falta de harmonia e orgulho entre membros da comunidade negra (apenas alguns exemplos tiacutetulos como ldquoDa cor do pecadordquo a escrava Isaura ser branca ausecircncia de casais negros e de famiacutelias de negros estruturadas etc)

O ponto da discussatildeo eacute o resultado dessa contiacutenua accedilatildeo negativa de publicidade e propaganda na formaccedilatildeo do imaginaacuterio da mulher negra Muitos diratildeo que isso natildeo afeta em nada pois eacute apenas uma novela ou frase no entanto essa forma de representaccedilatildeo elabora uma construccedilatildeo social tanto do que eacute ser negro quanto da mulher negra E aiacute que entra o conceito de formaccedilatildeo da identidade Segundo Elisa Nascimento ldquoA identidade pode ser vista como uma espeacutecie de encruzilhada existencial entre indiviacuteduo e sociedade em que ambos vatildeo se constituindo mutuamente () A pessoa realiza esse processo por meio de sua proacutepria existecircncia de vida e das representaccedilotildees da experiecircncia coletiva de sua comunidade e sociedaderdquo3

Portanto uma frase uma novela uma piada natildeo satildeo pura e simplesmente o que parecem mas influenciam diretamente na construccedilatildeo de identidade que a mulher negra cria sobre si mesma sobre seu papel e lugar na sociedade Eacute fato a mulher negra via de regra natildeo se crecirc bonita nem valorizada pois natildeo tem referecircncia para isso A imagem que se tem da mulher negra eacute daquela que foi violada da serviccedilal (Tia Anastaacutecia) ou da lasciva quando na verdade a mulher negra sobretudo eacute sinocircnimo de resistecircncia de perseveranccedila e por que natildeo de esperanccedila Outros diratildeo que satildeo exageros mas essa influecircncia Que produz efeitos contraacuterios aos desejados eacute possiacutevel e plausiacutevel a ideacuteia que temos de noacutes mesmos condiciona nossos sonhos e metas As mulheres negras vecircem de tantas maneiras e sempre de forma interna representaccedilotildees negativas que acabam por introjetar a ideacuteia e passam a acreditar que eacute a realidade

O que vemos satildeo mulheres com baixa auto-estima que buscam parecer com o ideal de beleza propagado pela miacutedia e cujas perspectivas natildeo almejam um melhor lugar na sociedade mais respeito e principalmente mais cidadania A questatildeo natildeo se resume a se achar bonita mas tambeacutem natildeo se julgar capazes e nem merecedoras dos direitos aos quais todos deveriacuteamos ter acesso

A travessia de ser uma mulher de aparecircncia negra para ser uma mulher negra cidadatilde eacute tatildeo longa e seu iniacutecio eacute marcado pelo resgate e apropriaccedilatildeo da sua cultura que tambeacutem natildeo eacute ensinada na escola Dizer sou mulher negra natildeo eacute faacutecil Ao dizer isso tambeacutem assumimos nosso passado doloroso mas tambeacutem a ancestralidade e sabedoria africanas e nossa histoacuteria de superaccedilatildeo Mas esse percurso eacute tatildeo longo quanto o caminho ateacute a costa do Marfim do outro lado do Atlacircntico

ldquoResgaterdquo

Sou negra ponto final

devolvo-me a identidade

rasgo a minha certidatildeo

sou negra

sem reticecircncias

sem viacutergulas sem ausecircncias

sou negra balacobaco

sou negra noite cansaccedilo

sou negra

ponto final

Alzira Rufino 1986

Palavras-chave pontos que podem ser discutidos a partir do texto mulher negra violecircncia psicoloacutegica comunicaccedilatildeo de massa midiatizaccedilatildeo imaginaacuterio construccedilatildeo social identidade e fenoacutetipo

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Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

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Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

E-mail educafrofranciscanosorgbr Sites wwweducafroorgbr

Sede Nacional ndash S Paulo Rua Riachuelo 342 Sala 05 Centro CEP 01007-000 S Paulo SP - Fonefax (11) 3106-3411

Regional Rio de Janeiro Rua Buenos Aires 167 - Centro- CEP 20060-070 ndash Rio de Janeiro- RJ

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

e-mail educafrofranciscanosorgbr Site wwweducafroorgbr

Sede Nacional Rua Riachuelo 342 - Sala 05 - Centro - CEP 01007-000 - Satildeo Paulo SP - pabxfax (11) 31075024

reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

do seacuteculo passado em que os atores brancos pintavam o rosto de negro porque os negros natildeo podiam atuar no caso da universidade quando alienado o negro pinta o rosto de branco conquanto sua pele permaneccedila negra com tudo o que significa ter uma pele negra na sociedade em que vivemos

Por estar imerso na realidade opressora - no caso a universidade - natildeo surpreende que o oprimido identifique-se com o opressor ao inveacutes de libertar-se Isto se verifica na fantasia da ldquointegraccedilatildeordquo que longe de estabelecer normas para uma convivecircncia autecircntica e respeitosa eacute uma forma de exigir a eliminaccedilatildeo do compromisso que o negro universitaacuterio tem para com todos os outros afrobrasileiros

Formam-se meacutedicos ou advogados inconscientes de sua responsabilidade racial e poliacutetica preocupados apenas em como atender nas grandes cliacutenicas ou escritoacuterios dos bairros ricos e de classe meacutedia alta em que seratildeo sempre o ldquomeacutedico negrordquo ou o ldquoadvogado negrordquo dos brancos e ricos Serviratildeo apenas como a ldquoprovardquo daqueles que alegam a ldquojusticcedilardquo e o ldquomeacuteritordquo de um sistema que de justo e que premia as pessoas competentes dedicadas e trabalhadoras nada tem

A luta pelo acesso ao ensino superior eacute relevante e deve ser feita de modo sistemaacutetico pelos movimentos sociais ateacute para que possam ser ocupados espaccedilos de poder do qual a universidade como produtora de conhecimento eacute exemplo Todavia a transformaccedilatildeo do estruturalmente oprimido numa caricatura do opressor somente pode ser evitada se a entrada no ensino superior natildeo for vista apenas como uma oportunidade de ldquomobilidade socialrdquo (que na praacutetica significa ascender ao mundo dos sociologicamente brancos) mas como um ato poliacutetico na sua inteireza Que a entrada no ensino superior natildeo seja vista como um ato de superaccedilatildeo de um indiviacuteduo mas o resultado de um trabalho coletivo que resulta no compromisso social do universitaacuterio Deve a vida universitaacuteria ser vista como esclarecimento de tomada de consciecircncia do aluno de sua posiccedilatildeo no mundo e portanto das possibilidades de mudanccedila

Soacute assim com a libertaccedilatildeo do negro poderiacuteamos pensar no fim da oposiccedilatildeo negro-branco vez que tal contradiccedilatildeo eacute baseada no poder que um poacutelo deteacutem sobre o outro A libertaccedilatildeo do negro eacute tambeacutem a libertaccedilatildeo do branco no sentido de que o fim da dominaccedilatildeo que sustentava a relaccedilatildeo a significaccedilatildeo social de ldquoser negrordquo e ldquoser brancordquo fica esvaziada de conteuacutedo

O universitaacuterio afrobrasileiro deve saber que jamais seraacute livre enquanto natildeo reagir face agrave ausecircncia de liberdade dos seus semelhantes A dignidade e a liberdade satildeo conquistas que vatildeo muito aleacutem da aprovaccedilatildeo no vestibular e requer o envolvimento de todos que acreditam na possibilidade de um mundo justo

REFEREcircNCIAS

Sobre educaccedilatildeo e luta para que oprimidos natildeo se tornem opressores o mestre Paulo Freire soube como ningueacutem falar a respeito em seu claacutessico livro ldquoPedagogia do oprimidordquo

httppaulofreirefinlandorgwp-contentuploads200702pedagogia_do_oprimidopdf As estatiacutesticas que demonstram a situaccedilatildeo do negro no sistema de educaccedilatildeo superior estatildeo na ldquoSiacutentese de indicadores sociais 2008rdquo do IBGE

httpwwwibgegovbrhomeestatisticapopulacaocondicaodevidaindicadoresminimossinteseindicsociais2008indic_sociais2008pdf

Sobre a questatildeo racial e sua vinculaccedilatildeo com as poliacuteticas educacionais haacute um interessante artigo sobre o conceito de branquidade na educaccedilatildeo do pesquisador Michael W Apple da Universidade de Wiscosin nos EUA

httpwwwunematbrpesquisacoeducdownloadspoliticas_de_direita_e_branquidade_a_presenca_ausente_da_raca_nas_reformas_educacionaispdf

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Como os afro-brasileiros estatildeo usando as tecnologias da informaccedilatildeo em defesa dos direitos humanos

Carlos Eduardo Dias Machado

Mestrando em Histoacuteria Social ndash USP

A internet eacute um conglomerado de redes em escala mundial de milhotildees de computadores interligados pelo Protocolo de Internet que permite o acesso a informaccedilotildees e todo tipo de transferecircncia de dados A Internet eacute a principal das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (NTICs) Ao contraacuterio do que normalmente se pensa a Internet natildeo eacute sinocircnimo de World Wide Web (rede mundial) Esta eacute parte daquela sendo a World Wide Web que utiliza hipermiacutedia na formaccedilatildeo baacutesica um dos muitos serviccedilos oferecidos na Internet De acordo com dados de marccedilo de 2009 a Internet eacute usada por 238 da populaccedilatildeo mundial (em torno de 16 bilhotildees de pessoas)

Em primeiro lugar em nuacutemero de usuaacuterios estaacute a Aacutesia com 657 milhotildees de usuaacuterios em segundo vem a Europa com 393 milhotildees em terceiro a Ameacuterica do Norte com 393 milhotildees e em quarto estaacute a Ameacuterica Latina e Caribe com 176 milhotildees de internautas No Brasil haacute mais de 40 milhotildees de computadores e mais de 38 milhotildees de internautas ficando mais de 26 horas por mecircs navegando na rede Em porcentagem 18 dos domiciacutelios brasileiros possuem computador com acesso agrave rede e 34 da populaccedilatildeo nacional eacute usuaacuteria efetiva da Internet ou seja acessou a rede nos uacuteltimos trecircs meses

Como estaacute a populaccedilatildeo negra em relaccedilatildeo ao acesso ao computador e a internet em nosso paiacutes

De acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) vinculada agrave Secretaria de Assuntos Estrateacutegicos da Presidecircncia da Repuacuteblica realizada em 2003 no que se refere agrave exclusatildeo digital foram pesquisados os lares segundo tipo de chefia (masculinafeminina negrabranca) e a posse dos seguintes itens microcomputador internet e telefone celular A tendecircncia geral nesse caso eacute de elevada marginalizaccedilatildeo digital da populaccedilatildeo negra e em especial das mulheres negras Em 2003 nos domiciacutelios chefiados por brancos 78 natildeo tinham acesso a microcomputador 83 a internet e 535 a telefone celular No caso dos domiciacutelios chefiados por negros esses valores eram respectivamente de 93 95 e 71 dos que natildeo tinham acesso Natildeo existem diferenccedilas significativas entre homens e mulheres na posse desses itens No entanto quando se cruza a chefia por raccedila e sexo percebe-se que satildeo sempre as mulheres negras as que se encontram em pior situaccedilatildeo e nesse caso estatildeo portanto mais sujeitas agrave exclusatildeo digital

Proporccedilatildeo de domiciacutelios que natildeo possuem microcomputador internet e telefone celular segundo sexo e corraccedila doa chefe da famiacuteliandash Brasil 2003

Microcomputador Internet Celular

Homem Branco 771 824 521

Homem Negro 926 950 709

Mulher Branca 811 855 575

Mulher Negra 940 960 722

Segundo a pesquisa da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) chamada de Mapa da Exclusatildeo Digital feita em 2003 Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Distrito Federal satildeo os estados de maior inclusatildeo digital e estudando por raccedila quem tem computadores e mais acessa satildeo os amarelos ou asiaacuteticos (4166) seguido pelos brancos (1514) em terceiro por negros (pretos 397 e pardos 406) com 803 e em uacuteltimo lugar os indiacutegenas com 372

Podemos afirmar que a exclusatildeo digital acompanha as desigualdades raciais que satildeo muito antigas em nosso paiacutes e que homens e mulheres brancos e negros continuam a ser tratados desigualmente Os dois grupos tecircm oportunidades desiguais e acesso desigual aos serviccedilos puacuteblicos aos postos de trabalho aos espaccedilos de poder e decisatildeo e agraves riquezas de nosso paiacutes

Portanto haacute muito a fazer para que negros e indiacutegenas homens e mulheres tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento em nosso paiacutes Diante desta realidade a pergunta eacute o que os negros que possuem acesso agrave internet podem fazer para defender a causa da igualdade racial e dos direitos humanos

O ativismo ou a militacircncia virtual eacute fundamental porque nem todos os batalhadores da causa da igualdade conseguem dar conta da complexidade que eacute lutar contra o racismo Existem situaccedilotildees que nos foge da percepccedilatildeo ou do tempo de cada um e haacute situaccedilotildees que uma pessoa percebeu primeiro a violaccedilatildeo de nossos direitos e pede apoio em solidariedade Daiacute a necessidade de militantes na internet filiados a uma organizaccedilatildeo ou natildeo fazer valer as leis e ampliaacute-las para a promoccedilatildeo de oportunidades para todas e todos

No continente africano existe um sistema filosoacutefico que pode nos ajudar a ver a sociedade de forma diferente chamado Ubuntu que eacute uma palavra de origem bantu que natildeo possui traduccedilatildeo na nossa liacutengua seu significado seria este eu existo porque vocecirc existe Ou seja vamos nos preservar para continuar vivendo No Ubuntu vocecirc pode ter ou pode ser Assim Ubuntu surgiu como filosofia nas naccedilotildees africanas onde estatildeo ligados agrave ancestralidade Ubuntu vem sendo praticado e buscado cada vez mais a sua compreensatildeo pelos ativistas que lutam em prol das causa sociais humanitaacuterias Ser ubuntu eacute deixar sua individualidade buscando uma nova forma de ver o mundobuscando o bem da coletividade eacute abraccedilar o mundo procurando acabar com o sofrimento da humanidade socializando informaccedilotildees minimizando a dor alheia Esta filosofia tem como principio aproximar as pessoas onde elas estiverem conectando-as a todo o conhecimento Levando cada individuo a conhecer sobre o outro para assim haver menos diferenccedilas entre os seres humanoslevando em conta que o conhecimento do outro nos aproxima cada vez mais nos humanizando Ubuntu natildeo eacute apenas ser solidaacuterio eacute viver eacute nortear pela accedilotildees que levem a igualdade de todos diminuindo as diferenccedilas

A filosofia Ubuntu inspirou a nova Republica da Aacutefrica do Sul sendo o ex-presidente Nelson Mandela o mais famoso seguidor do Ubuntu Para ser um Ubuntu eacute necessaacuterio ter uma mente aberta para aceitar as diferenccedilassaber ouvir as opiniotildees contraacuterias eacute saber que faz parte do mundo eacute ter consciecircncia do seu papel social Eacute acima de tudo ser capaz de indignar com as injusticcedila praticada com o outro e principalmente usar esta indignaccedilatildeo para dar um passo para modificar esta situaccedilatildeo

Todos os dias no Brasil observamos situaccedilotildees recorrentes em nosso paiacutes que eacute a deacutecima economia mundial e o mais rico do hemisfeacuterio sul quando se liga a TV ou compramos produtos vemos negros e indiacutegenas natildeo estatildeo representados nas publicidades das empresas como deveriam

Eu escrevo cartas para empresas desde 1997 a fim de conscientizaacute-las da importacircncia da promoccedilatildeo da igualdade racial ou seja o direito de pessoas de todas as raccedilasetnias serem representadas nos produtos que consomem e no mercado de trabalho A pergunta que faccedilo eacute devo utilizar um produto aonde eu natildeo me vejo e reconheccedilo

Deveria ser um princiacutepio de todas as empresas que tem como finalidade a comunicaccedilatildeo social respeitarem o puacuteblico consumidor que eacute diverso senatildeo qual o criteacuterio de inserir uma mulher e um homem branco constantemente nos comerciais Soacute homens e mulheres brancas consomem No Brasil vergonhosamente tivemos o Band-Aid cor da pele o laacutepis cor de pele da Faber-Castell temos o aacutelcool Zulu o bolo Nega Maluca da Dr Oetker e diversos produtos e serviccedilos aonde natildeo haacute imagem positiva da populaccedilatildeo negra e indiacutegena como consumidora

A discriminaccedilatildeo contra a populaccedilatildeo negra eacute secular persistente e se ramifica por diversas aacutereas da vida brasileira Seraacute que ldquonegro natildeo venderdquo Somos a maioria da populaccedilatildeo brasileira e 158 do grupo do 1 mais ricos do paiacutes (Siacutentese de Indicadores Sociais 2005 elaborada pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios - PNAD 2004) portanto somos consumidores dos mais diversos produtos disponiacuteveis na economia nacional

Satildeo Paulo eacute a cidade fora da Aacutefrica com maior populaccedilatildeo negra do planeta e capital do Estado com maior populaccedilatildeo negra no paiacutes Somos 33 milhotildees de pretos e pardos - 303 dos quase 11 milhotildees de habitantes Em termos de populaccedilatildeo negra no mundo fica atraacutes apenas de Lagos capital da Nigeacuteria que tem cerca de 10 milhotildees e do Cairo no Egito que tem 159 milhotildees No Estado a populaccedilatildeo negra de acordo com a Fundaccedilatildeo SEADE (Fundaccedilatildeo Sistema Estadual de Anaacutelise e Dados) chega a 125 milhotildees de habitantes o que torna S Paulo o Estado com maior populaccedilatildeo negra do paiacutes

Aqui mais uma vez haacute uma explicaccedilatildeo negro eacute o nome que o IBGE daacute a quem eacute pardo e quem eacute preto A cor preta eacute designada a pessoas quem tem pele mais escura Mas ambos pertencem ao mesmo grupo Haacute quem ache que eacute um erro somaacute-los Fui conferir em diversos indicadores sociais Em todos - seja consumo renda tempo de vida - a distacircncia social entre brancos e pardos ou entre brancos e pretos eacute enorme mas entre pardos e pretos a distacircncia eacute pequena Conclusatildeo sociologicamente eles estatildeo no mesmo grupo

Se eles fazem parte da maioria convencida de que o Brasil eacute um paiacutes melhor que os outros do mulato inzoneiro (manhoso mexeriqueiro intrigante sonso mentiroso) da mistura de raccedilas e que nas poliacuteticas de contrataccedilatildeo de matildeo de obra modelos brancos e nomes de produtos natildeo haacute racismo e sim meacuterito ou algo sem importacircncia jaacute que ldquotodos somos iguaisrdquo infelizmente tenho que dizer o Brasil nunca teve segregaccedilatildeo oficial como nos Estados Unidos e Aacutefrica do Sul mas sempre discriminou baseado na cor da pele Silenciosamente E temos heranccedilas horrorosas do passado escravista e do periacuteodo poacutes-aboliccedilatildeo Uma delas ainda estaacute laacute nas entradas de elevadores social e de serviccedilo um eufemismo para dar ao porteiro o direito de constranger os negros a ir pelo elevador de traacutes destinado a cargas e compras O lema para acabar com esta vergonha tem que ser todos pela diversidade

Empresas e oacutergatildeos puacuteblicos criam barreiras que impedem o uso da imagem contrataccedilatildeo ascensatildeo de homens e mulheres negras Haacute quem diga que no Brasil soacute haacute discriminaccedilatildeo social e natildeo racial Isto a bem dizer natildeo torna menos vergonhosa a discriminaccedilatildeo mas natildeo eacute toda a verdade As pesquisas estatiacutesticas satildeo reveladoras negros e brancos com o mesmo niacutevel de escolaridade tecircm renda diferente o branco ganha quase o dobro do que ganha o negro (IBGE Siacutentese de Indicadores Sociais 2007) e o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social lanccedilou o livro Perfil Social Racial e de Gecircnero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Accedilotildees Afirmativas ndash 2007 que reafirma o baixo nuacutemero de negras e negros trabalhando no mundo empresarial O que vocecirc me diz disto Eacute ou natildeo eacute a manutenccedilatildeo de privileacutegios para brancos e amarelos

A mudanccedila de tratamento das empresas e dos governos natildeo vatildeo mudar o mundo mas seraacute um passo um passo na direccedilatildeo certa para o respeito ao cidadatildeo negro e indiacutegena que como os outros grupos ajudaram e auxiliam a construir este paiacutes mas que vecirc seus talentos sendo descartados por causa do racismo que impede o seu desenvolvimento individual coletivo e do Brasil como um todo Que um dia todos possam dizer nossa sociedade eacute justa haacute lugar e haacute igualdade de oportunidade para todos e todas

Tarefa enviar e-mails para os SENADORES e STF (Supremo Tribunal Federal) exigindo que os mesmos votem em favor das cotas nas Universidades Federais do ProUni para excluiacutedos negros Quilombolas e indiacutegenas bem como em favor do estatuto da igualdade racial

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O alunoa Educafro deve optar fazer a) uma faculdade b) um curso tecnoloacutegico c) ou um curso teacutecnico O que eacute mais aacutegil para incluir O que considerar antes de fazer esta opccedilatildeo Tarefa pesquisar e entregar na sede a opccedilatildeo dos alunos de seu nuacutecleo por essas trecircs aacutereas

Fazer o quecirc e por quecirc

Haacute uma deacutecada ainda era compreensiacutevel que o jovem apoacutes concluir o Ensino Meacutedio pudesse

idealizar um curso superior que provavelmente seria indefinidamente a sua futura profissatildeo Atualmente

isso eacute impraticaacutevel para a maioria das ocupaccedilotildees A palavra carreira tende a desaparecer ou mudar de

sentido perdendo-se em meio agraves insuficientes nomenclaturas ndash exatas humanas bioloacutegicas tecnoloacutegicas

Cada vez mais a ecircnfase recai na solidez dos estudos Se o embasamento teoacuterico eacute bem feito

articulado agraves necessidades reais que se avizinham e conectado ao tempo vigente o profissional teraacute pela

frente as muitas possibilidades reservadas aos que tecircm muacuteltiplos talentos criatividade e capacidade de

ligar com as muitas situaccedilotildees e problemaacuteticas do mundo moderno

Por isso aos estudantes de hoje satildeo dadas inuacutemeras opccedilotildees Os cursos tradicionais continuam tendo

grande apelo mas aqueles que estatildeo antenados agraves transformaccedilotildees no mundo do trabalho vislumbram outras

searas tambeacutem palpaacuteveis Haacute formaccedilotildees de toda sorte graduaccedilatildeo teacutecnico tecnoloacutegico tecnoacutelogo

presenciais e ateacute ensino a distacircncia (EAD) que cada vez mais ganha espaccedilo Mas como saber o que eacute

melhor pra mim

Soacute vocecirc pode encontrar a resposta ou as respostas Na era da tecnologia engenheiros trabalham em

bancos administradores em Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais advogados buscam o serviccedilo puacuteblico ndash

defensoria ministeacuterio puacuteblico e muitos sonham com o seu proacuteprio negoacutecio Natildeo haacute nem haveraacute emprego

para todos mas trabalho sempre existiraacute

Infelizmente em razatildeo da maacute formaccedilatildeo em matemaacutetica e ciecircncias na escolarizaccedilatildeo baacutesica muitos

se socorrem agraves humanidades nem sempre por vocaccedilatildeo e com as informaccedilotildees adequadas Os cursos de

humanas em geral requerem muita leitura e investimento em livros E ao contraacuterio do que se imagina natildeo

satildeo propriamente baratos E comumente natildeo datildeo o sonhado retorno estuda-se muito haacute excesso de

contingentes no mercado e se ganha pouco

De qualquer modo uma graduaccedilatildeo requer trecircs ou quatro anos de intensas leituras deslocamentos

trabalhos acadecircmicos muitos gastos tensotildees trabalhos em grupo etc Eacute preciso estar preparado e focado

para enfrentar essa realidade por todo esse tempo e tirar o maacuteximo de proveito ndash saber estudar como fazecirc-

lo progressivamente pesquisar

As formaccedilotildees mais raacutepidas visam a preparar pessoal para as funccedilotildees mais contemporacircneas O

enfoque eacute dirigido para as atuaccedilotildees teacutecnicas Haacute um amplo leque de possibilidades turismo museu

tecnologia vendas por telefone mercado financeiro sauacutede judiciaacuterio processamento de alimentos

mecacircnica muacutesica Quem vasculha oportunidades natildeo pode deixar de notar que ateacute o serviccedilo puacuteblico jaacute

oferece concursos para os teacutecnicos e tecnoacutelogos Eacute natural que o recente crescimento da informaacutetica surja

como uma aacuterea muito aquecida afinal quem pode prescindir dos computadores das redes da manutenccedilatildeo

das maacutequinas das homepages do design graacutefico Mas existem outros mercados igualmente promissores e

outros ainda seratildeo criados Olhe pra si proacuteprio encare seus talentos enfrente seus desafios seja racional

sem perder a sensibilidade dirija o olhar para o distante mas caminhe um passo de cada vez em solo

firme

Optando pela graduaccedilatildeo procure conhecer antecipadamente a sua escolha os proacutes e contras

converse com quem estaacute fazendo com quem jaacute fez seja honesto consigo proacuteprio aonde quer chegar Mas

natildeo se esqueccedila que se houver mudanccedila de rumos a experiecircncia e enriquecimento seguiratildeo ao seu lado

Os cursos mais raacutepidos natildeo impedem que se faccedila uma graduaccedilatildeo posteriormente jaacute entatildeo

consciente do seu perfil e do mercado A grande vantagem desses cursos eacute a conquista manutenccedilatildeo e

reconquista de emprego (a chamada empregabilidade) e o tempo mas nada deve se transformar numa

camisa de forccedila que impeccedila voos mais largos tudo eacute uma questatildeo de estrateacutegia ndash recorde-se que o caminho

eacute menos iacutengreme para quem sabe aonde quer chegar

Qualquer que seja o caminho ndash graduaccedilatildeo teacutecnico ou tecnoacutelogo ndash quem quer seguir adiante natildeo

pode se furtar a estudar liacutenguas conhecer as tecnologias e as inserccedilotildees especiacuteficas da aacuterea escolhida saber

se comunicar conviver com a diversidade em todos os aspectos sociais culturais mercadoloacutegicos e

principalmente eacutetnicos

Consulte as inovaccedilotildees em graduaccedilatildeo nos inuacutemeros sites das universidades puacuteblicas e privadas

Para uma noccedilatildeo dos cursos teacutecnicos e tecnoacutelogos os sites da FATEC e das Escolas Teacutecnicas (Etecs) do

Centro Paula Souza

httpwwwfatecspbr

httpwwwvestibulinhoeteccombr

Ivan Siqueira

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A crise econocircmica mundial e os dilemas da militacircncia e dos movimentos sociais afinal quem vai pagar a conta

O mesmo sistema ideoloacutegico que justifica o processo de globalizaccedilatildeo ajudando a consideraacute-lo o uacutenico caminho histoacuterico

acaba tambeacutem por impor uma certa visatildeo da crise e a aceitaccedilatildeo dos remeacutedios sugeridos Em virtude disso todos os paiacuteses

lugares e pessoas passam a se comportar isto eacute a organizar sua accedilatildeo como se tal acutecriseacute fosse a mesma para todos e como se

a receita para afastaacute-la devesse ser geralmente a mesma Na verdade poreacutem a uacutenica crise que os responsaacuteveis desejam afastar

eacute a crise financeira e qualquer outra Aiacute estaacute na verdade uma causa para mais aprofundamento da crise real - econocircmica

social poliacutetica moral - que caracteriza o nosso tempo SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave

consciecircncia universal Satildeo Paulo Record 2000 p169)

A palavra ldquocriserdquo tem origem grega eis que usada por Hipoacutecrates para designar o momento culminante de uma doenccedila Assim para o pai da medicina ocidental a crise seria o cuacutemulo da doenccedila apoacutes o que soacute poderia advir a cura a soluccedilatildeo Por essa razatildeo era o momento crucial para a tomada de decisotildees para se adotar a medida adequada a uma resoluccedilatildeo eficaz ao problema

Quando se fala em crise econocircmica mundial haacute uma tendecircncia alarmista por um lado que quer propagar a ideacuteia de que somente agora o caos seraacute instalado no mundo e por outro num sentido oposto haacute aqueles que reputam a crise como algo tolo banal sem grande importacircncia As duas ideacuteias polarizadas estatildeo assentadas sobre o mesmo fundamento qual seja o mascaramento do verdadeiro fundamento que leva o sistema de produccedilatildeo capitalista a uma agonia de difiacutecil soluccedilatildeo

A crise ou a doenccedila (conforme a origem da palavra) eacute uma caracteriacutestica tiacutepica do capitalismo Seguindo a argumentaccedilatildeo marxista temos que todo sistema de produccedilatildeo econocircmica tem necessariamente dois elementos 1) estaacute baseado na exploraccedilatildeo de oprimidos por opressores 2) sempre traz dentro de si o princiacutepio da sua proacutepria destruiccedilatildeo Deste modo na Antiguidade temos no sistema escravagista a exploraccedilatildeo de escravos por senhores baseada na forccedila bruta no cativeiro poreacutem quando a forccedila se torna escassa para conter os escravos o sistema perece dando lugar a outro Daiacute na era medieval europeacuteia surge uma nova forma de exploraccedilatildeo agora baseada na posse da terra entre servo e senhor feudal contudo quando a produccedilatildeo agriacutecola eacute enorme a sobra eacute comercializada pelo servo e este deixa de depender do senhor originando outro sistema de produccedilatildeo o Capitalismo

Basicamente e de forma bastante elementar esta eacute para Karl Marx o raciociacutenio da evoluccedilatildeo econocircmica atraveacutes da histoacuteria Toda forma de produccedilatildeo estaacute baseada na exploraccedilatildeo que reside em algum mecanismo de submissatildeo (forccedila terra) todavia o capitalismo cria um modo de opressatildeo proacutepria fundada na reparticcedilatildeo entre Capital e Trabalho Haacute aqueles que possuem o capital (dinheiro) e aqueles que natildeo possuem ndash a estes uacuteltimos soacute resta trabalhar para que possam transformar o trabalho em capital e se sustentar no baacutesico Por essa razatildeo soacute existe capitalismo se houver distribuiccedilatildeo desigual de renda trata-se de um sistema que soacute sobrevive na desigualdade ndash soacute iraacute se submeter ao trabalho aquele que natildeo possuir capital ou seja se todos possuiacutessem capital natildeo haveria trabalho natildeo haveria exploraccedilatildeo e consequentemente natildeo haveria capitalismo

Por isso quando o capitalismo surgiu ele se fez acompanhar por um projeto ideoloacutegico que pudesse sustentar a desigualdade econocircmica Desde seus primoacuterdios no Renascimento o abandono de um princiacutepio de deus como centro do mundo e a organizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico perfazem a ideacuteia de que o homem pode ter o controle de tudo jaacute que eacute dotado de razatildeo O racionalismo ao lado do sistema capitalista constitui a face ilusoacuteria da beleza da Modernidade A razatildeo renascentista encontra entatildeo seu

apogeu no Iluminismo e a partir deste erige-se toda uma administraccedilatildeo puacuteblica na figura do Estado de Direito a fim de sustentar a dominaccedilatildeo e a desigualdade

Entretanto mesmo com todo o instrumental ideoloacutegico poliacutetico e juriacutedico no intuito de sustentar a exploraccedilatildeo de quem natildeo possui capital a base da produccedilatildeo econocircmica capitalista por ser muito sutil sempre guardaraacute uma fragilidade Natildeo se trata mais de um elemento concreto como a forccedila ou a terra a desigualdade que sustenta o sistema eacute tambeacutem a responsaacutevel por sua possibilidade e falha e eacute por isso que o capitalismo estaacute em constante renovaccedilatildeo Assim a crise natildeo eacute estranha ao capitalismo ela lhe eacute proacutepria e eacute atraveacutes dela que o sistema se reinventa e sobrevive comutando-se de mercantilismo em capitalismo industrial e deste uacuteltimo em financeiro e especulativo

Esta crise do iniacutecio do seacuteculo XXI eacute a crise do capitalismo das bolsas de valores assim como a crise de 1929 foi a crise do capitalismo industrial Portanto aqueles que causam barulho passando a falsa ideacuteia de que tais abalos satildeo novidade pretendem ao mesmo tempo negar que o capitalismo eacute um sistema fundamentalmente faliacutevel e criacutetico e usar a tal ldquocrise econocircmicardquo como desculpa para a reduccedilatildeo de poliacuteticas para o povo para as demissotildees em massa no setor privado e para o corte de gastos em todas as esferas A propaganda da crise nos meios de comunicaccedilatildeo forccedila todo o corpo social a assimilaacute-la como um problema coletivo O desequiliacutebrio econocircmico pautado na dinacircmica de um sistema injusto e instaacutevel e gerado por quem deteacutem o poder acaba sendo suportado por todos e como eacute usual os mais pobres satildeo mais sensivelmente afetados e acabam saindo muito mais prejudicados desta situaccedilatildeo

Por outro acircngulo sob o argumento verdadeiro de que a crise eacute natural ao sistema capitalista haacute os que pretendem lhe emprestar um ar de banalidade como se a doenccedila fosse soacute uma leve gripe que logo passaraacute quando na realidade trata-se de uma doenccedila crocircnica e incuraacutevel

Reputam-se como responsaacuteveis pela crise o inchaccedilo do sistema de creacutedito imobiliaacuterio norte-americano e o abuso na especulaccedilatildeo Neste uacuteltimo caso alguns especuladores teriam colocado em circulaccedilatildeo papeacuteis fictiacutecios sem correspondecircncia material do valor neles depositado Esta ideacuteia eacute por si soacute fantasiosa e enganadora pois parece que somente agora alguns indiviacuteduos imorais teriam vendido papeacuteis sem valor quando na realidade esta especulaccedilatildeo (como o nome jaacute diz) eacute o fundamento do proacuteprio funcionamento do sistema O capitalismo financeiro dispensa a correspondecircncia entre valor especulado e riqueza material real essa eacute a sua loacutegica interna para transformar capital em mais capital sem usar o trabalho

Como o capitalismo por causa da especulaccedilatildeo pode gerar capital prescindindo da exploraccedilatildeo do trabalho naturalmente aumenta o desemprego ainda mais com a crescente mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo que dispensa a matildeo-de-obra Entatildeo a grande massa de trabalhadores sem ocupaccedilatildeo cria uma lacuna no mercado consumidor ndash sem trabalho natildeo haacute consumo Isso faz com que soacute seja possiacutevel vender atraveacutes do creacutedito e os sistemas de financiamento crescem para imoacuteveis automoacuteveis eletroeletrocircnicos eletrodomeacutesticos tudo Nunca se comprou tanto a prazo e em prazos tatildeo extensos

Portanto tanto a falecircncia do sistema de creacutedito imobiliaacuterio quanto o abuso na especulaccedilatildeo natildeo satildeo causas isoladas que acabaram gerando a crise mas satildeo produtos e desdobramentos naturais do proacuteprio capitalismo financeiro especulativo No entanto se o capitalismo como sistema de produccedilatildeo estaacute baseado no conflito entre capital e trabalho quando se dispensa o trabalho para a produccedilatildeo de riqueza recorrendo-se somente agrave especulaccedilatildeo rompe-se a base do sistema Por isso esta crise eacute profunda e natildeo passageira e superficial como querem alguns

Inclusive a crise mundial atual natildeo eacute somente econocircmica A voracidade do sistema capitalista encontrou um limite agrave expansatildeo desmedida pra a produccedilatildeo de lucros e o acuacutemulo sem fim ndash este limite eacute o proacuteprio mundo O planeta jaacute natildeo suporta as consequecircncias da loacutegica capitalista e a crise ambiental denota que os dias do sistema estatildeo contados se natildeo pela falecircncia econocircmica pela impossibilidade de permanecer na Terra apoacutes tudo o que a Modernidade fez a ela

O racionalismo o avanccedilo da tecnologia e a ciecircncia moderna foram tatildeo devastadores quanto o proacuteprio capitalismo E esse apego agrave racionalidade que afastou qualquer concepccedilatildeo religiosa moral e eacutetica de mundo deixou-nos sem nenhum referencial A modernidade substituiu a feacute pela razatildeo a crenccedila em deuses pela crenccedila na ciecircncia e agora quando o capitalismo agoniza e a ciecircncia destroacutei o planeta quando vivemos os horrores das guerras do seacuteculo XX a fome a desigualdade a injusticcedila natildeo podemos mais fechar os olhos iludidos acreditando nas promessas da filosofia iluminista de ldquoliberdade igualdade e fraternidaderdquo e positivistas de ldquoordem e progressordquo

Soacute nos restou o desconforto e a desilusatildeo de um mundo conturbado sem valores morais com um Estado quebrado a natureza degradada a economia vacilante e nenhum lugar para a ideologia A globalizaccedilatildeo somente pulverizou as fronteiras econocircmicas mas as desigualdades locais foram mantidas e exacerbadas Globalizamos a cultura de massas para expandir o consumismo mas jamais construiacutemos oportunidades globais

A crise eacute portanto total e absoluta Natildeo eacute soacute o capitalismo que sofre uma crise mas a Modernidade a razatildeo moderna a moral a ciecircncia a economia O Estado moderno padece por falta de legitimidade quando natildeo realiza seus objetivos baacutesicos e manteacutem a desigualdade a democracia se extingue ante a corrupccedilatildeo e a burocracia o Direito moderno natildeo encontra legitimidade e a lei eacute constantemente desobedecida soacute haacute previsotildees formais sem nenhuma efetivaccedilatildeo dos direitos mais fundamentais

Nesta realidade ainda haveraacute lugar para a militacircncia Ainda haveraacute espaccedilo para a ideologia Os movimentos sociais ainda fazem sentido Como lutar por direitos se o proacuteprio Direito padece Como desejar inclusatildeo se o Estado desaparece Como pretender justiccedila e igualdade em um sistema desigual e agonizante

A falta de resposta a essas perguntas poderia nos levar agrave absoluta desilusatildeo Poreacutem conveacutem lembrarmos Hipoacutecrates no iniacutecio do texto que cunhou a palavra ldquocriserdquo Se a crise eacute o apogeu de uma patologia de um desarranjo de um desequiliacutebrio eacute tambeacutem o momento da intervenccedilatildeo o momento da soluccedilatildeo Contudo esta soluccedilatildeo natildeo pode ser aquela imposta pelos opressores no sentido da contemplaccedilatildeo de seus interesses O remeacutedio adequado eacute a superaccedilatildeo da proacutepria loacutegica do sistema Num estado de coisas em que todas as estruturas se encontram em crise e a humanidade encara a cataacutestrofe natildeo nos resta mais nada a natildeo ser a accedilatildeo o resgate da razatildeo verdadeira e a crenccedila em um futuro melhor No auge da doenccedila soacute nos resta administrarmos o remeacutedio correto e perseguirmos incansavelmente a verdadeira cura

Advogada graduada pela Unesp poacutes-graduada pela EPD Professora Universitaacuteria e em cursos preparatoacuterios

Tarefa Pesquisar e fazer uma redaccedilatildeo sobre o desemprego e as etnias Pesquisar o pensamento de um dos maiores brasileiros que tematizou sobre a crise mundial Milton Santos Taylisi de Souza Correcirca Leitelowast

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Os desafios da militacircncia negra em defesa das mulheres e pela superaccedilatildeo da violecircncia de gecircnero

Por Gabriela Watson

A bela ou a fera o que vocecirc vecirc no espelho

Olhar no espelho e se identificar mais com a Bela do que com uma fera eacute um desafio para as mulheres negras no Brasil Principalmente quando no espelho da sociedade brasileira a televisatildeo elas soacute aparecem na eacutepoca do carnaval o que infelizmente tambeacutem natildeo eacute motivo de comemoraccedilatildeo Satildeo inuacutemeros os artigos que comprovam a ausecircncia de negras e da valorizaccedilatildeo de elementos da cultura afro-brasileira Entretanto esse texto se deteraacute na seguinte discussatildeo como a violecircncia psicoloacutegica afeta o imaginaacuterio da mulher negra

Quando falamos em mulheres negras tratamos de duas marcas sociais o de ser mulher numa sociedade em que os homens tecircm mais aceitaccedilatildeo e o de ser negra numa sociedade que dificulta o acesso dos negros aos espaccedilos de poder e decisatildeo

O ato da mulher se autonomear como negra jaacute constitui um desafio o primeiro obstaacuteculo eacute o de se reconhecer negra contrariando aqueles que preferem o termo ldquomoreninhardquo em seguida entender que estaacute fora do padratildeo de beleza imposto pelos meios de comunicaccedilatildeo e se por uacuteltimo apesar de perceber uma certa desconfianccedila quanto agrave sua capacidade de trabalho essa mulher se reconhecer como negra ela realmente eacute uma guerreira

Quando o assunto eacute violecircncia para com as mulheres negras devemos levar em conta a seguinte nota feita pela escritora Alzira Rufino

Se a violecircncia contra a mulher eacute uma epidemia que desconhece classes sociais existem segmentos que satildeo mais vulneraacuteveis porque jaacute tecircm uma outra histoacuteria de violecircncia como eacute o das mulheres negras sob fogo cruzado de vaacuterias formas de violecircncia a de gecircnero privada no lar a da pobreza que as escraviza as jornadas de trabalho interminaacuteveis das quais natildeo sobraraacute sequer a miacutenima aposentadoria e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaccedilo que vai do fogatildeo ao tanque domesticadas no fundo de cena 1

Dado o exposto eacute vaacutelido fazer um recorte racial da violecircncia porque as agressotildees passadas pelas mulheres negras tecircm sua origem no passado histoacuterico de exploraccedilatildeo a partir da escravidatildeo

Apesar de podermos abordar a violecircncia contra negras em todos os campos de accedilotildees possiacuteveis (sauacutede trabalho e social) talvez aquela que cause dor mais profunda eacute a violecircncia psicoloacutegica Em outras palavras essa violecircncia eacute a falta de auto-estima de orgulho que afeta diretamente na sua forccedila de vontade qualidade e perspectiva de vida

Por violecircncia moral me refiro aquela violecircncia que se perpetua de forma inconsciente atraveacutes de valores passados principalmente pela comunicaccedilatildeo que abrange desde a oralidade (expressotildees populares como ldquocabelo ruimrdquo) interaccedilatildeo social (conversas gestos) e ateacute a forma de comunicaccedilatildeo de massa (no Brasil a televisatildeo)

A importacircncia da miacutedia na formaccedilatildeo e informaccedilatildeo das pessoas eacute indiscutiacutevel nas palavras do jornalista Dennis de Oliveira ldquovivemos numa sociedade marcada pela midiatizaccedilatildeo que significa a penetraccedilatildeo da do modo de pensar dos meios de comunicaccedilatildeo em todos os ambientes das relaccedilotildees sociaisrdquo2 E infelizmente encontramos muitos vestiacutegios de pensamentos racistas em toda a comunicaccedilatildeo (livros escolares revistas TV e cinema) A maioria dos papeacuteis ldquodadosrdquo aos negros ainda eacute reduzida a lugares comuns eou personagens que demonstram a falta de harmonia e orgulho entre membros da comunidade negra (apenas alguns exemplos tiacutetulos como ldquoDa cor do pecadordquo a escrava Isaura ser branca ausecircncia de casais negros e de famiacutelias de negros estruturadas etc)

O ponto da discussatildeo eacute o resultado dessa contiacutenua accedilatildeo negativa de publicidade e propaganda na formaccedilatildeo do imaginaacuterio da mulher negra Muitos diratildeo que isso natildeo afeta em nada pois eacute apenas uma novela ou frase no entanto essa forma de representaccedilatildeo elabora uma construccedilatildeo social tanto do que eacute ser negro quanto da mulher negra E aiacute que entra o conceito de formaccedilatildeo da identidade Segundo Elisa Nascimento ldquoA identidade pode ser vista como uma espeacutecie de encruzilhada existencial entre indiviacuteduo e sociedade em que ambos vatildeo se constituindo mutuamente () A pessoa realiza esse processo por meio de sua proacutepria existecircncia de vida e das representaccedilotildees da experiecircncia coletiva de sua comunidade e sociedaderdquo3

Portanto uma frase uma novela uma piada natildeo satildeo pura e simplesmente o que parecem mas influenciam diretamente na construccedilatildeo de identidade que a mulher negra cria sobre si mesma sobre seu papel e lugar na sociedade Eacute fato a mulher negra via de regra natildeo se crecirc bonita nem valorizada pois natildeo tem referecircncia para isso A imagem que se tem da mulher negra eacute daquela que foi violada da serviccedilal (Tia Anastaacutecia) ou da lasciva quando na verdade a mulher negra sobretudo eacute sinocircnimo de resistecircncia de perseveranccedila e por que natildeo de esperanccedila Outros diratildeo que satildeo exageros mas essa influecircncia Que produz efeitos contraacuterios aos desejados eacute possiacutevel e plausiacutevel a ideacuteia que temos de noacutes mesmos condiciona nossos sonhos e metas As mulheres negras vecircem de tantas maneiras e sempre de forma interna representaccedilotildees negativas que acabam por introjetar a ideacuteia e passam a acreditar que eacute a realidade

O que vemos satildeo mulheres com baixa auto-estima que buscam parecer com o ideal de beleza propagado pela miacutedia e cujas perspectivas natildeo almejam um melhor lugar na sociedade mais respeito e principalmente mais cidadania A questatildeo natildeo se resume a se achar bonita mas tambeacutem natildeo se julgar capazes e nem merecedoras dos direitos aos quais todos deveriacuteamos ter acesso

A travessia de ser uma mulher de aparecircncia negra para ser uma mulher negra cidadatilde eacute tatildeo longa e seu iniacutecio eacute marcado pelo resgate e apropriaccedilatildeo da sua cultura que tambeacutem natildeo eacute ensinada na escola Dizer sou mulher negra natildeo eacute faacutecil Ao dizer isso tambeacutem assumimos nosso passado doloroso mas tambeacutem a ancestralidade e sabedoria africanas e nossa histoacuteria de superaccedilatildeo Mas esse percurso eacute tatildeo longo quanto o caminho ateacute a costa do Marfim do outro lado do Atlacircntico

ldquoResgaterdquo

Sou negra ponto final

devolvo-me a identidade

rasgo a minha certidatildeo

sou negra

sem reticecircncias

sem viacutergulas sem ausecircncias

sou negra balacobaco

sou negra noite cansaccedilo

sou negra

ponto final

Alzira Rufino 1986

Palavras-chave pontos que podem ser discutidos a partir do texto mulher negra violecircncia psicoloacutegica comunicaccedilatildeo de massa midiatizaccedilatildeo imaginaacuterio construccedilatildeo social identidade e fenoacutetipo

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Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

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Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Como os afro-brasileiros estatildeo usando as tecnologias da informaccedilatildeo em defesa dos direitos humanos

Carlos Eduardo Dias Machado

Mestrando em Histoacuteria Social ndash USP

A internet eacute um conglomerado de redes em escala mundial de milhotildees de computadores interligados pelo Protocolo de Internet que permite o acesso a informaccedilotildees e todo tipo de transferecircncia de dados A Internet eacute a principal das novas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (NTICs) Ao contraacuterio do que normalmente se pensa a Internet natildeo eacute sinocircnimo de World Wide Web (rede mundial) Esta eacute parte daquela sendo a World Wide Web que utiliza hipermiacutedia na formaccedilatildeo baacutesica um dos muitos serviccedilos oferecidos na Internet De acordo com dados de marccedilo de 2009 a Internet eacute usada por 238 da populaccedilatildeo mundial (em torno de 16 bilhotildees de pessoas)

Em primeiro lugar em nuacutemero de usuaacuterios estaacute a Aacutesia com 657 milhotildees de usuaacuterios em segundo vem a Europa com 393 milhotildees em terceiro a Ameacuterica do Norte com 393 milhotildees e em quarto estaacute a Ameacuterica Latina e Caribe com 176 milhotildees de internautas No Brasil haacute mais de 40 milhotildees de computadores e mais de 38 milhotildees de internautas ficando mais de 26 horas por mecircs navegando na rede Em porcentagem 18 dos domiciacutelios brasileiros possuem computador com acesso agrave rede e 34 da populaccedilatildeo nacional eacute usuaacuteria efetiva da Internet ou seja acessou a rede nos uacuteltimos trecircs meses

Como estaacute a populaccedilatildeo negra em relaccedilatildeo ao acesso ao computador e a internet em nosso paiacutes

De acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEA) vinculada agrave Secretaria de Assuntos Estrateacutegicos da Presidecircncia da Repuacuteblica realizada em 2003 no que se refere agrave exclusatildeo digital foram pesquisados os lares segundo tipo de chefia (masculinafeminina negrabranca) e a posse dos seguintes itens microcomputador internet e telefone celular A tendecircncia geral nesse caso eacute de elevada marginalizaccedilatildeo digital da populaccedilatildeo negra e em especial das mulheres negras Em 2003 nos domiciacutelios chefiados por brancos 78 natildeo tinham acesso a microcomputador 83 a internet e 535 a telefone celular No caso dos domiciacutelios chefiados por negros esses valores eram respectivamente de 93 95 e 71 dos que natildeo tinham acesso Natildeo existem diferenccedilas significativas entre homens e mulheres na posse desses itens No entanto quando se cruza a chefia por raccedila e sexo percebe-se que satildeo sempre as mulheres negras as que se encontram em pior situaccedilatildeo e nesse caso estatildeo portanto mais sujeitas agrave exclusatildeo digital

Proporccedilatildeo de domiciacutelios que natildeo possuem microcomputador internet e telefone celular segundo sexo e corraccedila doa chefe da famiacuteliandash Brasil 2003

Microcomputador Internet Celular

Homem Branco 771 824 521

Homem Negro 926 950 709

Mulher Branca 811 855 575

Mulher Negra 940 960 722

Segundo a pesquisa da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) chamada de Mapa da Exclusatildeo Digital feita em 2003 Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Distrito Federal satildeo os estados de maior inclusatildeo digital e estudando por raccedila quem tem computadores e mais acessa satildeo os amarelos ou asiaacuteticos (4166) seguido pelos brancos (1514) em terceiro por negros (pretos 397 e pardos 406) com 803 e em uacuteltimo lugar os indiacutegenas com 372

Podemos afirmar que a exclusatildeo digital acompanha as desigualdades raciais que satildeo muito antigas em nosso paiacutes e que homens e mulheres brancos e negros continuam a ser tratados desigualmente Os dois grupos tecircm oportunidades desiguais e acesso desigual aos serviccedilos puacuteblicos aos postos de trabalho aos espaccedilos de poder e decisatildeo e agraves riquezas de nosso paiacutes

Portanto haacute muito a fazer para que negros e indiacutegenas homens e mulheres tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento em nosso paiacutes Diante desta realidade a pergunta eacute o que os negros que possuem acesso agrave internet podem fazer para defender a causa da igualdade racial e dos direitos humanos

O ativismo ou a militacircncia virtual eacute fundamental porque nem todos os batalhadores da causa da igualdade conseguem dar conta da complexidade que eacute lutar contra o racismo Existem situaccedilotildees que nos foge da percepccedilatildeo ou do tempo de cada um e haacute situaccedilotildees que uma pessoa percebeu primeiro a violaccedilatildeo de nossos direitos e pede apoio em solidariedade Daiacute a necessidade de militantes na internet filiados a uma organizaccedilatildeo ou natildeo fazer valer as leis e ampliaacute-las para a promoccedilatildeo de oportunidades para todas e todos

No continente africano existe um sistema filosoacutefico que pode nos ajudar a ver a sociedade de forma diferente chamado Ubuntu que eacute uma palavra de origem bantu que natildeo possui traduccedilatildeo na nossa liacutengua seu significado seria este eu existo porque vocecirc existe Ou seja vamos nos preservar para continuar vivendo No Ubuntu vocecirc pode ter ou pode ser Assim Ubuntu surgiu como filosofia nas naccedilotildees africanas onde estatildeo ligados agrave ancestralidade Ubuntu vem sendo praticado e buscado cada vez mais a sua compreensatildeo pelos ativistas que lutam em prol das causa sociais humanitaacuterias Ser ubuntu eacute deixar sua individualidade buscando uma nova forma de ver o mundobuscando o bem da coletividade eacute abraccedilar o mundo procurando acabar com o sofrimento da humanidade socializando informaccedilotildees minimizando a dor alheia Esta filosofia tem como principio aproximar as pessoas onde elas estiverem conectando-as a todo o conhecimento Levando cada individuo a conhecer sobre o outro para assim haver menos diferenccedilas entre os seres humanoslevando em conta que o conhecimento do outro nos aproxima cada vez mais nos humanizando Ubuntu natildeo eacute apenas ser solidaacuterio eacute viver eacute nortear pela accedilotildees que levem a igualdade de todos diminuindo as diferenccedilas

A filosofia Ubuntu inspirou a nova Republica da Aacutefrica do Sul sendo o ex-presidente Nelson Mandela o mais famoso seguidor do Ubuntu Para ser um Ubuntu eacute necessaacuterio ter uma mente aberta para aceitar as diferenccedilassaber ouvir as opiniotildees contraacuterias eacute saber que faz parte do mundo eacute ter consciecircncia do seu papel social Eacute acima de tudo ser capaz de indignar com as injusticcedila praticada com o outro e principalmente usar esta indignaccedilatildeo para dar um passo para modificar esta situaccedilatildeo

Todos os dias no Brasil observamos situaccedilotildees recorrentes em nosso paiacutes que eacute a deacutecima economia mundial e o mais rico do hemisfeacuterio sul quando se liga a TV ou compramos produtos vemos negros e indiacutegenas natildeo estatildeo representados nas publicidades das empresas como deveriam

Eu escrevo cartas para empresas desde 1997 a fim de conscientizaacute-las da importacircncia da promoccedilatildeo da igualdade racial ou seja o direito de pessoas de todas as raccedilasetnias serem representadas nos produtos que consomem e no mercado de trabalho A pergunta que faccedilo eacute devo utilizar um produto aonde eu natildeo me vejo e reconheccedilo

Deveria ser um princiacutepio de todas as empresas que tem como finalidade a comunicaccedilatildeo social respeitarem o puacuteblico consumidor que eacute diverso senatildeo qual o criteacuterio de inserir uma mulher e um homem branco constantemente nos comerciais Soacute homens e mulheres brancas consomem No Brasil vergonhosamente tivemos o Band-Aid cor da pele o laacutepis cor de pele da Faber-Castell temos o aacutelcool Zulu o bolo Nega Maluca da Dr Oetker e diversos produtos e serviccedilos aonde natildeo haacute imagem positiva da populaccedilatildeo negra e indiacutegena como consumidora

A discriminaccedilatildeo contra a populaccedilatildeo negra eacute secular persistente e se ramifica por diversas aacutereas da vida brasileira Seraacute que ldquonegro natildeo venderdquo Somos a maioria da populaccedilatildeo brasileira e 158 do grupo do 1 mais ricos do paiacutes (Siacutentese de Indicadores Sociais 2005 elaborada pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios - PNAD 2004) portanto somos consumidores dos mais diversos produtos disponiacuteveis na economia nacional

Satildeo Paulo eacute a cidade fora da Aacutefrica com maior populaccedilatildeo negra do planeta e capital do Estado com maior populaccedilatildeo negra no paiacutes Somos 33 milhotildees de pretos e pardos - 303 dos quase 11 milhotildees de habitantes Em termos de populaccedilatildeo negra no mundo fica atraacutes apenas de Lagos capital da Nigeacuteria que tem cerca de 10 milhotildees e do Cairo no Egito que tem 159 milhotildees No Estado a populaccedilatildeo negra de acordo com a Fundaccedilatildeo SEADE (Fundaccedilatildeo Sistema Estadual de Anaacutelise e Dados) chega a 125 milhotildees de habitantes o que torna S Paulo o Estado com maior populaccedilatildeo negra do paiacutes

Aqui mais uma vez haacute uma explicaccedilatildeo negro eacute o nome que o IBGE daacute a quem eacute pardo e quem eacute preto A cor preta eacute designada a pessoas quem tem pele mais escura Mas ambos pertencem ao mesmo grupo Haacute quem ache que eacute um erro somaacute-los Fui conferir em diversos indicadores sociais Em todos - seja consumo renda tempo de vida - a distacircncia social entre brancos e pardos ou entre brancos e pretos eacute enorme mas entre pardos e pretos a distacircncia eacute pequena Conclusatildeo sociologicamente eles estatildeo no mesmo grupo

Se eles fazem parte da maioria convencida de que o Brasil eacute um paiacutes melhor que os outros do mulato inzoneiro (manhoso mexeriqueiro intrigante sonso mentiroso) da mistura de raccedilas e que nas poliacuteticas de contrataccedilatildeo de matildeo de obra modelos brancos e nomes de produtos natildeo haacute racismo e sim meacuterito ou algo sem importacircncia jaacute que ldquotodos somos iguaisrdquo infelizmente tenho que dizer o Brasil nunca teve segregaccedilatildeo oficial como nos Estados Unidos e Aacutefrica do Sul mas sempre discriminou baseado na cor da pele Silenciosamente E temos heranccedilas horrorosas do passado escravista e do periacuteodo poacutes-aboliccedilatildeo Uma delas ainda estaacute laacute nas entradas de elevadores social e de serviccedilo um eufemismo para dar ao porteiro o direito de constranger os negros a ir pelo elevador de traacutes destinado a cargas e compras O lema para acabar com esta vergonha tem que ser todos pela diversidade

Empresas e oacutergatildeos puacuteblicos criam barreiras que impedem o uso da imagem contrataccedilatildeo ascensatildeo de homens e mulheres negras Haacute quem diga que no Brasil soacute haacute discriminaccedilatildeo social e natildeo racial Isto a bem dizer natildeo torna menos vergonhosa a discriminaccedilatildeo mas natildeo eacute toda a verdade As pesquisas estatiacutesticas satildeo reveladoras negros e brancos com o mesmo niacutevel de escolaridade tecircm renda diferente o branco ganha quase o dobro do que ganha o negro (IBGE Siacutentese de Indicadores Sociais 2007) e o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social lanccedilou o livro Perfil Social Racial e de Gecircnero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Accedilotildees Afirmativas ndash 2007 que reafirma o baixo nuacutemero de negras e negros trabalhando no mundo empresarial O que vocecirc me diz disto Eacute ou natildeo eacute a manutenccedilatildeo de privileacutegios para brancos e amarelos

A mudanccedila de tratamento das empresas e dos governos natildeo vatildeo mudar o mundo mas seraacute um passo um passo na direccedilatildeo certa para o respeito ao cidadatildeo negro e indiacutegena que como os outros grupos ajudaram e auxiliam a construir este paiacutes mas que vecirc seus talentos sendo descartados por causa do racismo que impede o seu desenvolvimento individual coletivo e do Brasil como um todo Que um dia todos possam dizer nossa sociedade eacute justa haacute lugar e haacute igualdade de oportunidade para todos e todas

Tarefa enviar e-mails para os SENADORES e STF (Supremo Tribunal Federal) exigindo que os mesmos votem em favor das cotas nas Universidades Federais do ProUni para excluiacutedos negros Quilombolas e indiacutegenas bem como em favor do estatuto da igualdade racial

Eshymail educafrofranciscanosorgbr Sites wwweducafroorgbr e wwwfranciscanosorgbr

Sede Nacional ndash S Paulo Rua Riachuelo 342 Centro - SP CEP 01007-000 - Fonefax (11) 3106-3411

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

O alunoa Educafro deve optar fazer a) uma faculdade b) um curso tecnoloacutegico c) ou um curso teacutecnico O que eacute mais aacutegil para incluir O que considerar antes de fazer esta opccedilatildeo Tarefa pesquisar e entregar na sede a opccedilatildeo dos alunos de seu nuacutecleo por essas trecircs aacutereas

Fazer o quecirc e por quecirc

Haacute uma deacutecada ainda era compreensiacutevel que o jovem apoacutes concluir o Ensino Meacutedio pudesse

idealizar um curso superior que provavelmente seria indefinidamente a sua futura profissatildeo Atualmente

isso eacute impraticaacutevel para a maioria das ocupaccedilotildees A palavra carreira tende a desaparecer ou mudar de

sentido perdendo-se em meio agraves insuficientes nomenclaturas ndash exatas humanas bioloacutegicas tecnoloacutegicas

Cada vez mais a ecircnfase recai na solidez dos estudos Se o embasamento teoacuterico eacute bem feito

articulado agraves necessidades reais que se avizinham e conectado ao tempo vigente o profissional teraacute pela

frente as muitas possibilidades reservadas aos que tecircm muacuteltiplos talentos criatividade e capacidade de

ligar com as muitas situaccedilotildees e problemaacuteticas do mundo moderno

Por isso aos estudantes de hoje satildeo dadas inuacutemeras opccedilotildees Os cursos tradicionais continuam tendo

grande apelo mas aqueles que estatildeo antenados agraves transformaccedilotildees no mundo do trabalho vislumbram outras

searas tambeacutem palpaacuteveis Haacute formaccedilotildees de toda sorte graduaccedilatildeo teacutecnico tecnoloacutegico tecnoacutelogo

presenciais e ateacute ensino a distacircncia (EAD) que cada vez mais ganha espaccedilo Mas como saber o que eacute

melhor pra mim

Soacute vocecirc pode encontrar a resposta ou as respostas Na era da tecnologia engenheiros trabalham em

bancos administradores em Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais advogados buscam o serviccedilo puacuteblico ndash

defensoria ministeacuterio puacuteblico e muitos sonham com o seu proacuteprio negoacutecio Natildeo haacute nem haveraacute emprego

para todos mas trabalho sempre existiraacute

Infelizmente em razatildeo da maacute formaccedilatildeo em matemaacutetica e ciecircncias na escolarizaccedilatildeo baacutesica muitos

se socorrem agraves humanidades nem sempre por vocaccedilatildeo e com as informaccedilotildees adequadas Os cursos de

humanas em geral requerem muita leitura e investimento em livros E ao contraacuterio do que se imagina natildeo

satildeo propriamente baratos E comumente natildeo datildeo o sonhado retorno estuda-se muito haacute excesso de

contingentes no mercado e se ganha pouco

De qualquer modo uma graduaccedilatildeo requer trecircs ou quatro anos de intensas leituras deslocamentos

trabalhos acadecircmicos muitos gastos tensotildees trabalhos em grupo etc Eacute preciso estar preparado e focado

para enfrentar essa realidade por todo esse tempo e tirar o maacuteximo de proveito ndash saber estudar como fazecirc-

lo progressivamente pesquisar

As formaccedilotildees mais raacutepidas visam a preparar pessoal para as funccedilotildees mais contemporacircneas O

enfoque eacute dirigido para as atuaccedilotildees teacutecnicas Haacute um amplo leque de possibilidades turismo museu

tecnologia vendas por telefone mercado financeiro sauacutede judiciaacuterio processamento de alimentos

mecacircnica muacutesica Quem vasculha oportunidades natildeo pode deixar de notar que ateacute o serviccedilo puacuteblico jaacute

oferece concursos para os teacutecnicos e tecnoacutelogos Eacute natural que o recente crescimento da informaacutetica surja

como uma aacuterea muito aquecida afinal quem pode prescindir dos computadores das redes da manutenccedilatildeo

das maacutequinas das homepages do design graacutefico Mas existem outros mercados igualmente promissores e

outros ainda seratildeo criados Olhe pra si proacuteprio encare seus talentos enfrente seus desafios seja racional

sem perder a sensibilidade dirija o olhar para o distante mas caminhe um passo de cada vez em solo

firme

Optando pela graduaccedilatildeo procure conhecer antecipadamente a sua escolha os proacutes e contras

converse com quem estaacute fazendo com quem jaacute fez seja honesto consigo proacuteprio aonde quer chegar Mas

natildeo se esqueccedila que se houver mudanccedila de rumos a experiecircncia e enriquecimento seguiratildeo ao seu lado

Os cursos mais raacutepidos natildeo impedem que se faccedila uma graduaccedilatildeo posteriormente jaacute entatildeo

consciente do seu perfil e do mercado A grande vantagem desses cursos eacute a conquista manutenccedilatildeo e

reconquista de emprego (a chamada empregabilidade) e o tempo mas nada deve se transformar numa

camisa de forccedila que impeccedila voos mais largos tudo eacute uma questatildeo de estrateacutegia ndash recorde-se que o caminho

eacute menos iacutengreme para quem sabe aonde quer chegar

Qualquer que seja o caminho ndash graduaccedilatildeo teacutecnico ou tecnoacutelogo ndash quem quer seguir adiante natildeo

pode se furtar a estudar liacutenguas conhecer as tecnologias e as inserccedilotildees especiacuteficas da aacuterea escolhida saber

se comunicar conviver com a diversidade em todos os aspectos sociais culturais mercadoloacutegicos e

principalmente eacutetnicos

Consulte as inovaccedilotildees em graduaccedilatildeo nos inuacutemeros sites das universidades puacuteblicas e privadas

Para uma noccedilatildeo dos cursos teacutecnicos e tecnoacutelogos os sites da FATEC e das Escolas Teacutecnicas (Etecs) do

Centro Paula Souza

httpwwwfatecspbr

httpwwwvestibulinhoeteccombr

Ivan Siqueira

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A crise econocircmica mundial e os dilemas da militacircncia e dos movimentos sociais afinal quem vai pagar a conta

O mesmo sistema ideoloacutegico que justifica o processo de globalizaccedilatildeo ajudando a consideraacute-lo o uacutenico caminho histoacuterico

acaba tambeacutem por impor uma certa visatildeo da crise e a aceitaccedilatildeo dos remeacutedios sugeridos Em virtude disso todos os paiacuteses

lugares e pessoas passam a se comportar isto eacute a organizar sua accedilatildeo como se tal acutecriseacute fosse a mesma para todos e como se

a receita para afastaacute-la devesse ser geralmente a mesma Na verdade poreacutem a uacutenica crise que os responsaacuteveis desejam afastar

eacute a crise financeira e qualquer outra Aiacute estaacute na verdade uma causa para mais aprofundamento da crise real - econocircmica

social poliacutetica moral - que caracteriza o nosso tempo SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave

consciecircncia universal Satildeo Paulo Record 2000 p169)

A palavra ldquocriserdquo tem origem grega eis que usada por Hipoacutecrates para designar o momento culminante de uma doenccedila Assim para o pai da medicina ocidental a crise seria o cuacutemulo da doenccedila apoacutes o que soacute poderia advir a cura a soluccedilatildeo Por essa razatildeo era o momento crucial para a tomada de decisotildees para se adotar a medida adequada a uma resoluccedilatildeo eficaz ao problema

Quando se fala em crise econocircmica mundial haacute uma tendecircncia alarmista por um lado que quer propagar a ideacuteia de que somente agora o caos seraacute instalado no mundo e por outro num sentido oposto haacute aqueles que reputam a crise como algo tolo banal sem grande importacircncia As duas ideacuteias polarizadas estatildeo assentadas sobre o mesmo fundamento qual seja o mascaramento do verdadeiro fundamento que leva o sistema de produccedilatildeo capitalista a uma agonia de difiacutecil soluccedilatildeo

A crise ou a doenccedila (conforme a origem da palavra) eacute uma caracteriacutestica tiacutepica do capitalismo Seguindo a argumentaccedilatildeo marxista temos que todo sistema de produccedilatildeo econocircmica tem necessariamente dois elementos 1) estaacute baseado na exploraccedilatildeo de oprimidos por opressores 2) sempre traz dentro de si o princiacutepio da sua proacutepria destruiccedilatildeo Deste modo na Antiguidade temos no sistema escravagista a exploraccedilatildeo de escravos por senhores baseada na forccedila bruta no cativeiro poreacutem quando a forccedila se torna escassa para conter os escravos o sistema perece dando lugar a outro Daiacute na era medieval europeacuteia surge uma nova forma de exploraccedilatildeo agora baseada na posse da terra entre servo e senhor feudal contudo quando a produccedilatildeo agriacutecola eacute enorme a sobra eacute comercializada pelo servo e este deixa de depender do senhor originando outro sistema de produccedilatildeo o Capitalismo

Basicamente e de forma bastante elementar esta eacute para Karl Marx o raciociacutenio da evoluccedilatildeo econocircmica atraveacutes da histoacuteria Toda forma de produccedilatildeo estaacute baseada na exploraccedilatildeo que reside em algum mecanismo de submissatildeo (forccedila terra) todavia o capitalismo cria um modo de opressatildeo proacutepria fundada na reparticcedilatildeo entre Capital e Trabalho Haacute aqueles que possuem o capital (dinheiro) e aqueles que natildeo possuem ndash a estes uacuteltimos soacute resta trabalhar para que possam transformar o trabalho em capital e se sustentar no baacutesico Por essa razatildeo soacute existe capitalismo se houver distribuiccedilatildeo desigual de renda trata-se de um sistema que soacute sobrevive na desigualdade ndash soacute iraacute se submeter ao trabalho aquele que natildeo possuir capital ou seja se todos possuiacutessem capital natildeo haveria trabalho natildeo haveria exploraccedilatildeo e consequentemente natildeo haveria capitalismo

Por isso quando o capitalismo surgiu ele se fez acompanhar por um projeto ideoloacutegico que pudesse sustentar a desigualdade econocircmica Desde seus primoacuterdios no Renascimento o abandono de um princiacutepio de deus como centro do mundo e a organizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico perfazem a ideacuteia de que o homem pode ter o controle de tudo jaacute que eacute dotado de razatildeo O racionalismo ao lado do sistema capitalista constitui a face ilusoacuteria da beleza da Modernidade A razatildeo renascentista encontra entatildeo seu

apogeu no Iluminismo e a partir deste erige-se toda uma administraccedilatildeo puacuteblica na figura do Estado de Direito a fim de sustentar a dominaccedilatildeo e a desigualdade

Entretanto mesmo com todo o instrumental ideoloacutegico poliacutetico e juriacutedico no intuito de sustentar a exploraccedilatildeo de quem natildeo possui capital a base da produccedilatildeo econocircmica capitalista por ser muito sutil sempre guardaraacute uma fragilidade Natildeo se trata mais de um elemento concreto como a forccedila ou a terra a desigualdade que sustenta o sistema eacute tambeacutem a responsaacutevel por sua possibilidade e falha e eacute por isso que o capitalismo estaacute em constante renovaccedilatildeo Assim a crise natildeo eacute estranha ao capitalismo ela lhe eacute proacutepria e eacute atraveacutes dela que o sistema se reinventa e sobrevive comutando-se de mercantilismo em capitalismo industrial e deste uacuteltimo em financeiro e especulativo

Esta crise do iniacutecio do seacuteculo XXI eacute a crise do capitalismo das bolsas de valores assim como a crise de 1929 foi a crise do capitalismo industrial Portanto aqueles que causam barulho passando a falsa ideacuteia de que tais abalos satildeo novidade pretendem ao mesmo tempo negar que o capitalismo eacute um sistema fundamentalmente faliacutevel e criacutetico e usar a tal ldquocrise econocircmicardquo como desculpa para a reduccedilatildeo de poliacuteticas para o povo para as demissotildees em massa no setor privado e para o corte de gastos em todas as esferas A propaganda da crise nos meios de comunicaccedilatildeo forccedila todo o corpo social a assimilaacute-la como um problema coletivo O desequiliacutebrio econocircmico pautado na dinacircmica de um sistema injusto e instaacutevel e gerado por quem deteacutem o poder acaba sendo suportado por todos e como eacute usual os mais pobres satildeo mais sensivelmente afetados e acabam saindo muito mais prejudicados desta situaccedilatildeo

Por outro acircngulo sob o argumento verdadeiro de que a crise eacute natural ao sistema capitalista haacute os que pretendem lhe emprestar um ar de banalidade como se a doenccedila fosse soacute uma leve gripe que logo passaraacute quando na realidade trata-se de uma doenccedila crocircnica e incuraacutevel

Reputam-se como responsaacuteveis pela crise o inchaccedilo do sistema de creacutedito imobiliaacuterio norte-americano e o abuso na especulaccedilatildeo Neste uacuteltimo caso alguns especuladores teriam colocado em circulaccedilatildeo papeacuteis fictiacutecios sem correspondecircncia material do valor neles depositado Esta ideacuteia eacute por si soacute fantasiosa e enganadora pois parece que somente agora alguns indiviacuteduos imorais teriam vendido papeacuteis sem valor quando na realidade esta especulaccedilatildeo (como o nome jaacute diz) eacute o fundamento do proacuteprio funcionamento do sistema O capitalismo financeiro dispensa a correspondecircncia entre valor especulado e riqueza material real essa eacute a sua loacutegica interna para transformar capital em mais capital sem usar o trabalho

Como o capitalismo por causa da especulaccedilatildeo pode gerar capital prescindindo da exploraccedilatildeo do trabalho naturalmente aumenta o desemprego ainda mais com a crescente mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo que dispensa a matildeo-de-obra Entatildeo a grande massa de trabalhadores sem ocupaccedilatildeo cria uma lacuna no mercado consumidor ndash sem trabalho natildeo haacute consumo Isso faz com que soacute seja possiacutevel vender atraveacutes do creacutedito e os sistemas de financiamento crescem para imoacuteveis automoacuteveis eletroeletrocircnicos eletrodomeacutesticos tudo Nunca se comprou tanto a prazo e em prazos tatildeo extensos

Portanto tanto a falecircncia do sistema de creacutedito imobiliaacuterio quanto o abuso na especulaccedilatildeo natildeo satildeo causas isoladas que acabaram gerando a crise mas satildeo produtos e desdobramentos naturais do proacuteprio capitalismo financeiro especulativo No entanto se o capitalismo como sistema de produccedilatildeo estaacute baseado no conflito entre capital e trabalho quando se dispensa o trabalho para a produccedilatildeo de riqueza recorrendo-se somente agrave especulaccedilatildeo rompe-se a base do sistema Por isso esta crise eacute profunda e natildeo passageira e superficial como querem alguns

Inclusive a crise mundial atual natildeo eacute somente econocircmica A voracidade do sistema capitalista encontrou um limite agrave expansatildeo desmedida pra a produccedilatildeo de lucros e o acuacutemulo sem fim ndash este limite eacute o proacuteprio mundo O planeta jaacute natildeo suporta as consequecircncias da loacutegica capitalista e a crise ambiental denota que os dias do sistema estatildeo contados se natildeo pela falecircncia econocircmica pela impossibilidade de permanecer na Terra apoacutes tudo o que a Modernidade fez a ela

O racionalismo o avanccedilo da tecnologia e a ciecircncia moderna foram tatildeo devastadores quanto o proacuteprio capitalismo E esse apego agrave racionalidade que afastou qualquer concepccedilatildeo religiosa moral e eacutetica de mundo deixou-nos sem nenhum referencial A modernidade substituiu a feacute pela razatildeo a crenccedila em deuses pela crenccedila na ciecircncia e agora quando o capitalismo agoniza e a ciecircncia destroacutei o planeta quando vivemos os horrores das guerras do seacuteculo XX a fome a desigualdade a injusticcedila natildeo podemos mais fechar os olhos iludidos acreditando nas promessas da filosofia iluminista de ldquoliberdade igualdade e fraternidaderdquo e positivistas de ldquoordem e progressordquo

Soacute nos restou o desconforto e a desilusatildeo de um mundo conturbado sem valores morais com um Estado quebrado a natureza degradada a economia vacilante e nenhum lugar para a ideologia A globalizaccedilatildeo somente pulverizou as fronteiras econocircmicas mas as desigualdades locais foram mantidas e exacerbadas Globalizamos a cultura de massas para expandir o consumismo mas jamais construiacutemos oportunidades globais

A crise eacute portanto total e absoluta Natildeo eacute soacute o capitalismo que sofre uma crise mas a Modernidade a razatildeo moderna a moral a ciecircncia a economia O Estado moderno padece por falta de legitimidade quando natildeo realiza seus objetivos baacutesicos e manteacutem a desigualdade a democracia se extingue ante a corrupccedilatildeo e a burocracia o Direito moderno natildeo encontra legitimidade e a lei eacute constantemente desobedecida soacute haacute previsotildees formais sem nenhuma efetivaccedilatildeo dos direitos mais fundamentais

Nesta realidade ainda haveraacute lugar para a militacircncia Ainda haveraacute espaccedilo para a ideologia Os movimentos sociais ainda fazem sentido Como lutar por direitos se o proacuteprio Direito padece Como desejar inclusatildeo se o Estado desaparece Como pretender justiccedila e igualdade em um sistema desigual e agonizante

A falta de resposta a essas perguntas poderia nos levar agrave absoluta desilusatildeo Poreacutem conveacutem lembrarmos Hipoacutecrates no iniacutecio do texto que cunhou a palavra ldquocriserdquo Se a crise eacute o apogeu de uma patologia de um desarranjo de um desequiliacutebrio eacute tambeacutem o momento da intervenccedilatildeo o momento da soluccedilatildeo Contudo esta soluccedilatildeo natildeo pode ser aquela imposta pelos opressores no sentido da contemplaccedilatildeo de seus interesses O remeacutedio adequado eacute a superaccedilatildeo da proacutepria loacutegica do sistema Num estado de coisas em que todas as estruturas se encontram em crise e a humanidade encara a cataacutestrofe natildeo nos resta mais nada a natildeo ser a accedilatildeo o resgate da razatildeo verdadeira e a crenccedila em um futuro melhor No auge da doenccedila soacute nos resta administrarmos o remeacutedio correto e perseguirmos incansavelmente a verdadeira cura

Advogada graduada pela Unesp poacutes-graduada pela EPD Professora Universitaacuteria e em cursos preparatoacuterios

Tarefa Pesquisar e fazer uma redaccedilatildeo sobre o desemprego e as etnias Pesquisar o pensamento de um dos maiores brasileiros que tematizou sobre a crise mundial Milton Santos Taylisi de Souza Correcirca Leitelowast

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Sede Nacional ndash S Paulo Rua Riachuelo 342 Centro - SP CEP 01007-000 - Fonefax (11) 3106-3411

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Os desafios da militacircncia negra em defesa das mulheres e pela superaccedilatildeo da violecircncia de gecircnero

Por Gabriela Watson

A bela ou a fera o que vocecirc vecirc no espelho

Olhar no espelho e se identificar mais com a Bela do que com uma fera eacute um desafio para as mulheres negras no Brasil Principalmente quando no espelho da sociedade brasileira a televisatildeo elas soacute aparecem na eacutepoca do carnaval o que infelizmente tambeacutem natildeo eacute motivo de comemoraccedilatildeo Satildeo inuacutemeros os artigos que comprovam a ausecircncia de negras e da valorizaccedilatildeo de elementos da cultura afro-brasileira Entretanto esse texto se deteraacute na seguinte discussatildeo como a violecircncia psicoloacutegica afeta o imaginaacuterio da mulher negra

Quando falamos em mulheres negras tratamos de duas marcas sociais o de ser mulher numa sociedade em que os homens tecircm mais aceitaccedilatildeo e o de ser negra numa sociedade que dificulta o acesso dos negros aos espaccedilos de poder e decisatildeo

O ato da mulher se autonomear como negra jaacute constitui um desafio o primeiro obstaacuteculo eacute o de se reconhecer negra contrariando aqueles que preferem o termo ldquomoreninhardquo em seguida entender que estaacute fora do padratildeo de beleza imposto pelos meios de comunicaccedilatildeo e se por uacuteltimo apesar de perceber uma certa desconfianccedila quanto agrave sua capacidade de trabalho essa mulher se reconhecer como negra ela realmente eacute uma guerreira

Quando o assunto eacute violecircncia para com as mulheres negras devemos levar em conta a seguinte nota feita pela escritora Alzira Rufino

Se a violecircncia contra a mulher eacute uma epidemia que desconhece classes sociais existem segmentos que satildeo mais vulneraacuteveis porque jaacute tecircm uma outra histoacuteria de violecircncia como eacute o das mulheres negras sob fogo cruzado de vaacuterias formas de violecircncia a de gecircnero privada no lar a da pobreza que as escraviza as jornadas de trabalho interminaacuteveis das quais natildeo sobraraacute sequer a miacutenima aposentadoria e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaccedilo que vai do fogatildeo ao tanque domesticadas no fundo de cena 1

Dado o exposto eacute vaacutelido fazer um recorte racial da violecircncia porque as agressotildees passadas pelas mulheres negras tecircm sua origem no passado histoacuterico de exploraccedilatildeo a partir da escravidatildeo

Apesar de podermos abordar a violecircncia contra negras em todos os campos de accedilotildees possiacuteveis (sauacutede trabalho e social) talvez aquela que cause dor mais profunda eacute a violecircncia psicoloacutegica Em outras palavras essa violecircncia eacute a falta de auto-estima de orgulho que afeta diretamente na sua forccedila de vontade qualidade e perspectiva de vida

Por violecircncia moral me refiro aquela violecircncia que se perpetua de forma inconsciente atraveacutes de valores passados principalmente pela comunicaccedilatildeo que abrange desde a oralidade (expressotildees populares como ldquocabelo ruimrdquo) interaccedilatildeo social (conversas gestos) e ateacute a forma de comunicaccedilatildeo de massa (no Brasil a televisatildeo)

A importacircncia da miacutedia na formaccedilatildeo e informaccedilatildeo das pessoas eacute indiscutiacutevel nas palavras do jornalista Dennis de Oliveira ldquovivemos numa sociedade marcada pela midiatizaccedilatildeo que significa a penetraccedilatildeo da do modo de pensar dos meios de comunicaccedilatildeo em todos os ambientes das relaccedilotildees sociaisrdquo2 E infelizmente encontramos muitos vestiacutegios de pensamentos racistas em toda a comunicaccedilatildeo (livros escolares revistas TV e cinema) A maioria dos papeacuteis ldquodadosrdquo aos negros ainda eacute reduzida a lugares comuns eou personagens que demonstram a falta de harmonia e orgulho entre membros da comunidade negra (apenas alguns exemplos tiacutetulos como ldquoDa cor do pecadordquo a escrava Isaura ser branca ausecircncia de casais negros e de famiacutelias de negros estruturadas etc)

O ponto da discussatildeo eacute o resultado dessa contiacutenua accedilatildeo negativa de publicidade e propaganda na formaccedilatildeo do imaginaacuterio da mulher negra Muitos diratildeo que isso natildeo afeta em nada pois eacute apenas uma novela ou frase no entanto essa forma de representaccedilatildeo elabora uma construccedilatildeo social tanto do que eacute ser negro quanto da mulher negra E aiacute que entra o conceito de formaccedilatildeo da identidade Segundo Elisa Nascimento ldquoA identidade pode ser vista como uma espeacutecie de encruzilhada existencial entre indiviacuteduo e sociedade em que ambos vatildeo se constituindo mutuamente () A pessoa realiza esse processo por meio de sua proacutepria existecircncia de vida e das representaccedilotildees da experiecircncia coletiva de sua comunidade e sociedaderdquo3

Portanto uma frase uma novela uma piada natildeo satildeo pura e simplesmente o que parecem mas influenciam diretamente na construccedilatildeo de identidade que a mulher negra cria sobre si mesma sobre seu papel e lugar na sociedade Eacute fato a mulher negra via de regra natildeo se crecirc bonita nem valorizada pois natildeo tem referecircncia para isso A imagem que se tem da mulher negra eacute daquela que foi violada da serviccedilal (Tia Anastaacutecia) ou da lasciva quando na verdade a mulher negra sobretudo eacute sinocircnimo de resistecircncia de perseveranccedila e por que natildeo de esperanccedila Outros diratildeo que satildeo exageros mas essa influecircncia Que produz efeitos contraacuterios aos desejados eacute possiacutevel e plausiacutevel a ideacuteia que temos de noacutes mesmos condiciona nossos sonhos e metas As mulheres negras vecircem de tantas maneiras e sempre de forma interna representaccedilotildees negativas que acabam por introjetar a ideacuteia e passam a acreditar que eacute a realidade

O que vemos satildeo mulheres com baixa auto-estima que buscam parecer com o ideal de beleza propagado pela miacutedia e cujas perspectivas natildeo almejam um melhor lugar na sociedade mais respeito e principalmente mais cidadania A questatildeo natildeo se resume a se achar bonita mas tambeacutem natildeo se julgar capazes e nem merecedoras dos direitos aos quais todos deveriacuteamos ter acesso

A travessia de ser uma mulher de aparecircncia negra para ser uma mulher negra cidadatilde eacute tatildeo longa e seu iniacutecio eacute marcado pelo resgate e apropriaccedilatildeo da sua cultura que tambeacutem natildeo eacute ensinada na escola Dizer sou mulher negra natildeo eacute faacutecil Ao dizer isso tambeacutem assumimos nosso passado doloroso mas tambeacutem a ancestralidade e sabedoria africanas e nossa histoacuteria de superaccedilatildeo Mas esse percurso eacute tatildeo longo quanto o caminho ateacute a costa do Marfim do outro lado do Atlacircntico

ldquoResgaterdquo

Sou negra ponto final

devolvo-me a identidade

rasgo a minha certidatildeo

sou negra

sem reticecircncias

sem viacutergulas sem ausecircncias

sou negra balacobaco

sou negra noite cansaccedilo

sou negra

ponto final

Alzira Rufino 1986

Palavras-chave pontos que podem ser discutidos a partir do texto mulher negra violecircncia psicoloacutegica comunicaccedilatildeo de massa midiatizaccedilatildeo imaginaacuterio construccedilatildeo social identidade e fenoacutetipo

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Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

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Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

Segundo a pesquisa da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) chamada de Mapa da Exclusatildeo Digital feita em 2003 Satildeo Paulo Rio de Janeiro e Distrito Federal satildeo os estados de maior inclusatildeo digital e estudando por raccedila quem tem computadores e mais acessa satildeo os amarelos ou asiaacuteticos (4166) seguido pelos brancos (1514) em terceiro por negros (pretos 397 e pardos 406) com 803 e em uacuteltimo lugar os indiacutegenas com 372

Podemos afirmar que a exclusatildeo digital acompanha as desigualdades raciais que satildeo muito antigas em nosso paiacutes e que homens e mulheres brancos e negros continuam a ser tratados desigualmente Os dois grupos tecircm oportunidades desiguais e acesso desigual aos serviccedilos puacuteblicos aos postos de trabalho aos espaccedilos de poder e decisatildeo e agraves riquezas de nosso paiacutes

Portanto haacute muito a fazer para que negros e indiacutegenas homens e mulheres tenham as mesmas oportunidades de desenvolvimento em nosso paiacutes Diante desta realidade a pergunta eacute o que os negros que possuem acesso agrave internet podem fazer para defender a causa da igualdade racial e dos direitos humanos

O ativismo ou a militacircncia virtual eacute fundamental porque nem todos os batalhadores da causa da igualdade conseguem dar conta da complexidade que eacute lutar contra o racismo Existem situaccedilotildees que nos foge da percepccedilatildeo ou do tempo de cada um e haacute situaccedilotildees que uma pessoa percebeu primeiro a violaccedilatildeo de nossos direitos e pede apoio em solidariedade Daiacute a necessidade de militantes na internet filiados a uma organizaccedilatildeo ou natildeo fazer valer as leis e ampliaacute-las para a promoccedilatildeo de oportunidades para todas e todos

No continente africano existe um sistema filosoacutefico que pode nos ajudar a ver a sociedade de forma diferente chamado Ubuntu que eacute uma palavra de origem bantu que natildeo possui traduccedilatildeo na nossa liacutengua seu significado seria este eu existo porque vocecirc existe Ou seja vamos nos preservar para continuar vivendo No Ubuntu vocecirc pode ter ou pode ser Assim Ubuntu surgiu como filosofia nas naccedilotildees africanas onde estatildeo ligados agrave ancestralidade Ubuntu vem sendo praticado e buscado cada vez mais a sua compreensatildeo pelos ativistas que lutam em prol das causa sociais humanitaacuterias Ser ubuntu eacute deixar sua individualidade buscando uma nova forma de ver o mundobuscando o bem da coletividade eacute abraccedilar o mundo procurando acabar com o sofrimento da humanidade socializando informaccedilotildees minimizando a dor alheia Esta filosofia tem como principio aproximar as pessoas onde elas estiverem conectando-as a todo o conhecimento Levando cada individuo a conhecer sobre o outro para assim haver menos diferenccedilas entre os seres humanoslevando em conta que o conhecimento do outro nos aproxima cada vez mais nos humanizando Ubuntu natildeo eacute apenas ser solidaacuterio eacute viver eacute nortear pela accedilotildees que levem a igualdade de todos diminuindo as diferenccedilas

A filosofia Ubuntu inspirou a nova Republica da Aacutefrica do Sul sendo o ex-presidente Nelson Mandela o mais famoso seguidor do Ubuntu Para ser um Ubuntu eacute necessaacuterio ter uma mente aberta para aceitar as diferenccedilassaber ouvir as opiniotildees contraacuterias eacute saber que faz parte do mundo eacute ter consciecircncia do seu papel social Eacute acima de tudo ser capaz de indignar com as injusticcedila praticada com o outro e principalmente usar esta indignaccedilatildeo para dar um passo para modificar esta situaccedilatildeo

Todos os dias no Brasil observamos situaccedilotildees recorrentes em nosso paiacutes que eacute a deacutecima economia mundial e o mais rico do hemisfeacuterio sul quando se liga a TV ou compramos produtos vemos negros e indiacutegenas natildeo estatildeo representados nas publicidades das empresas como deveriam

Eu escrevo cartas para empresas desde 1997 a fim de conscientizaacute-las da importacircncia da promoccedilatildeo da igualdade racial ou seja o direito de pessoas de todas as raccedilasetnias serem representadas nos produtos que consomem e no mercado de trabalho A pergunta que faccedilo eacute devo utilizar um produto aonde eu natildeo me vejo e reconheccedilo

Deveria ser um princiacutepio de todas as empresas que tem como finalidade a comunicaccedilatildeo social respeitarem o puacuteblico consumidor que eacute diverso senatildeo qual o criteacuterio de inserir uma mulher e um homem branco constantemente nos comerciais Soacute homens e mulheres brancas consomem No Brasil vergonhosamente tivemos o Band-Aid cor da pele o laacutepis cor de pele da Faber-Castell temos o aacutelcool Zulu o bolo Nega Maluca da Dr Oetker e diversos produtos e serviccedilos aonde natildeo haacute imagem positiva da populaccedilatildeo negra e indiacutegena como consumidora

A discriminaccedilatildeo contra a populaccedilatildeo negra eacute secular persistente e se ramifica por diversas aacutereas da vida brasileira Seraacute que ldquonegro natildeo venderdquo Somos a maioria da populaccedilatildeo brasileira e 158 do grupo do 1 mais ricos do paiacutes (Siacutentese de Indicadores Sociais 2005 elaborada pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios - PNAD 2004) portanto somos consumidores dos mais diversos produtos disponiacuteveis na economia nacional

Satildeo Paulo eacute a cidade fora da Aacutefrica com maior populaccedilatildeo negra do planeta e capital do Estado com maior populaccedilatildeo negra no paiacutes Somos 33 milhotildees de pretos e pardos - 303 dos quase 11 milhotildees de habitantes Em termos de populaccedilatildeo negra no mundo fica atraacutes apenas de Lagos capital da Nigeacuteria que tem cerca de 10 milhotildees e do Cairo no Egito que tem 159 milhotildees No Estado a populaccedilatildeo negra de acordo com a Fundaccedilatildeo SEADE (Fundaccedilatildeo Sistema Estadual de Anaacutelise e Dados) chega a 125 milhotildees de habitantes o que torna S Paulo o Estado com maior populaccedilatildeo negra do paiacutes

Aqui mais uma vez haacute uma explicaccedilatildeo negro eacute o nome que o IBGE daacute a quem eacute pardo e quem eacute preto A cor preta eacute designada a pessoas quem tem pele mais escura Mas ambos pertencem ao mesmo grupo Haacute quem ache que eacute um erro somaacute-los Fui conferir em diversos indicadores sociais Em todos - seja consumo renda tempo de vida - a distacircncia social entre brancos e pardos ou entre brancos e pretos eacute enorme mas entre pardos e pretos a distacircncia eacute pequena Conclusatildeo sociologicamente eles estatildeo no mesmo grupo

Se eles fazem parte da maioria convencida de que o Brasil eacute um paiacutes melhor que os outros do mulato inzoneiro (manhoso mexeriqueiro intrigante sonso mentiroso) da mistura de raccedilas e que nas poliacuteticas de contrataccedilatildeo de matildeo de obra modelos brancos e nomes de produtos natildeo haacute racismo e sim meacuterito ou algo sem importacircncia jaacute que ldquotodos somos iguaisrdquo infelizmente tenho que dizer o Brasil nunca teve segregaccedilatildeo oficial como nos Estados Unidos e Aacutefrica do Sul mas sempre discriminou baseado na cor da pele Silenciosamente E temos heranccedilas horrorosas do passado escravista e do periacuteodo poacutes-aboliccedilatildeo Uma delas ainda estaacute laacute nas entradas de elevadores social e de serviccedilo um eufemismo para dar ao porteiro o direito de constranger os negros a ir pelo elevador de traacutes destinado a cargas e compras O lema para acabar com esta vergonha tem que ser todos pela diversidade

Empresas e oacutergatildeos puacuteblicos criam barreiras que impedem o uso da imagem contrataccedilatildeo ascensatildeo de homens e mulheres negras Haacute quem diga que no Brasil soacute haacute discriminaccedilatildeo social e natildeo racial Isto a bem dizer natildeo torna menos vergonhosa a discriminaccedilatildeo mas natildeo eacute toda a verdade As pesquisas estatiacutesticas satildeo reveladoras negros e brancos com o mesmo niacutevel de escolaridade tecircm renda diferente o branco ganha quase o dobro do que ganha o negro (IBGE Siacutentese de Indicadores Sociais 2007) e o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social lanccedilou o livro Perfil Social Racial e de Gecircnero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Accedilotildees Afirmativas ndash 2007 que reafirma o baixo nuacutemero de negras e negros trabalhando no mundo empresarial O que vocecirc me diz disto Eacute ou natildeo eacute a manutenccedilatildeo de privileacutegios para brancos e amarelos

A mudanccedila de tratamento das empresas e dos governos natildeo vatildeo mudar o mundo mas seraacute um passo um passo na direccedilatildeo certa para o respeito ao cidadatildeo negro e indiacutegena que como os outros grupos ajudaram e auxiliam a construir este paiacutes mas que vecirc seus talentos sendo descartados por causa do racismo que impede o seu desenvolvimento individual coletivo e do Brasil como um todo Que um dia todos possam dizer nossa sociedade eacute justa haacute lugar e haacute igualdade de oportunidade para todos e todas

Tarefa enviar e-mails para os SENADORES e STF (Supremo Tribunal Federal) exigindo que os mesmos votem em favor das cotas nas Universidades Federais do ProUni para excluiacutedos negros Quilombolas e indiacutegenas bem como em favor do estatuto da igualdade racial

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O alunoa Educafro deve optar fazer a) uma faculdade b) um curso tecnoloacutegico c) ou um curso teacutecnico O que eacute mais aacutegil para incluir O que considerar antes de fazer esta opccedilatildeo Tarefa pesquisar e entregar na sede a opccedilatildeo dos alunos de seu nuacutecleo por essas trecircs aacutereas

Fazer o quecirc e por quecirc

Haacute uma deacutecada ainda era compreensiacutevel que o jovem apoacutes concluir o Ensino Meacutedio pudesse

idealizar um curso superior que provavelmente seria indefinidamente a sua futura profissatildeo Atualmente

isso eacute impraticaacutevel para a maioria das ocupaccedilotildees A palavra carreira tende a desaparecer ou mudar de

sentido perdendo-se em meio agraves insuficientes nomenclaturas ndash exatas humanas bioloacutegicas tecnoloacutegicas

Cada vez mais a ecircnfase recai na solidez dos estudos Se o embasamento teoacuterico eacute bem feito

articulado agraves necessidades reais que se avizinham e conectado ao tempo vigente o profissional teraacute pela

frente as muitas possibilidades reservadas aos que tecircm muacuteltiplos talentos criatividade e capacidade de

ligar com as muitas situaccedilotildees e problemaacuteticas do mundo moderno

Por isso aos estudantes de hoje satildeo dadas inuacutemeras opccedilotildees Os cursos tradicionais continuam tendo

grande apelo mas aqueles que estatildeo antenados agraves transformaccedilotildees no mundo do trabalho vislumbram outras

searas tambeacutem palpaacuteveis Haacute formaccedilotildees de toda sorte graduaccedilatildeo teacutecnico tecnoloacutegico tecnoacutelogo

presenciais e ateacute ensino a distacircncia (EAD) que cada vez mais ganha espaccedilo Mas como saber o que eacute

melhor pra mim

Soacute vocecirc pode encontrar a resposta ou as respostas Na era da tecnologia engenheiros trabalham em

bancos administradores em Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais advogados buscam o serviccedilo puacuteblico ndash

defensoria ministeacuterio puacuteblico e muitos sonham com o seu proacuteprio negoacutecio Natildeo haacute nem haveraacute emprego

para todos mas trabalho sempre existiraacute

Infelizmente em razatildeo da maacute formaccedilatildeo em matemaacutetica e ciecircncias na escolarizaccedilatildeo baacutesica muitos

se socorrem agraves humanidades nem sempre por vocaccedilatildeo e com as informaccedilotildees adequadas Os cursos de

humanas em geral requerem muita leitura e investimento em livros E ao contraacuterio do que se imagina natildeo

satildeo propriamente baratos E comumente natildeo datildeo o sonhado retorno estuda-se muito haacute excesso de

contingentes no mercado e se ganha pouco

De qualquer modo uma graduaccedilatildeo requer trecircs ou quatro anos de intensas leituras deslocamentos

trabalhos acadecircmicos muitos gastos tensotildees trabalhos em grupo etc Eacute preciso estar preparado e focado

para enfrentar essa realidade por todo esse tempo e tirar o maacuteximo de proveito ndash saber estudar como fazecirc-

lo progressivamente pesquisar

As formaccedilotildees mais raacutepidas visam a preparar pessoal para as funccedilotildees mais contemporacircneas O

enfoque eacute dirigido para as atuaccedilotildees teacutecnicas Haacute um amplo leque de possibilidades turismo museu

tecnologia vendas por telefone mercado financeiro sauacutede judiciaacuterio processamento de alimentos

mecacircnica muacutesica Quem vasculha oportunidades natildeo pode deixar de notar que ateacute o serviccedilo puacuteblico jaacute

oferece concursos para os teacutecnicos e tecnoacutelogos Eacute natural que o recente crescimento da informaacutetica surja

como uma aacuterea muito aquecida afinal quem pode prescindir dos computadores das redes da manutenccedilatildeo

das maacutequinas das homepages do design graacutefico Mas existem outros mercados igualmente promissores e

outros ainda seratildeo criados Olhe pra si proacuteprio encare seus talentos enfrente seus desafios seja racional

sem perder a sensibilidade dirija o olhar para o distante mas caminhe um passo de cada vez em solo

firme

Optando pela graduaccedilatildeo procure conhecer antecipadamente a sua escolha os proacutes e contras

converse com quem estaacute fazendo com quem jaacute fez seja honesto consigo proacuteprio aonde quer chegar Mas

natildeo se esqueccedila que se houver mudanccedila de rumos a experiecircncia e enriquecimento seguiratildeo ao seu lado

Os cursos mais raacutepidos natildeo impedem que se faccedila uma graduaccedilatildeo posteriormente jaacute entatildeo

consciente do seu perfil e do mercado A grande vantagem desses cursos eacute a conquista manutenccedilatildeo e

reconquista de emprego (a chamada empregabilidade) e o tempo mas nada deve se transformar numa

camisa de forccedila que impeccedila voos mais largos tudo eacute uma questatildeo de estrateacutegia ndash recorde-se que o caminho

eacute menos iacutengreme para quem sabe aonde quer chegar

Qualquer que seja o caminho ndash graduaccedilatildeo teacutecnico ou tecnoacutelogo ndash quem quer seguir adiante natildeo

pode se furtar a estudar liacutenguas conhecer as tecnologias e as inserccedilotildees especiacuteficas da aacuterea escolhida saber

se comunicar conviver com a diversidade em todos os aspectos sociais culturais mercadoloacutegicos e

principalmente eacutetnicos

Consulte as inovaccedilotildees em graduaccedilatildeo nos inuacutemeros sites das universidades puacuteblicas e privadas

Para uma noccedilatildeo dos cursos teacutecnicos e tecnoacutelogos os sites da FATEC e das Escolas Teacutecnicas (Etecs) do

Centro Paula Souza

httpwwwfatecspbr

httpwwwvestibulinhoeteccombr

Ivan Siqueira

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A crise econocircmica mundial e os dilemas da militacircncia e dos movimentos sociais afinal quem vai pagar a conta

O mesmo sistema ideoloacutegico que justifica o processo de globalizaccedilatildeo ajudando a consideraacute-lo o uacutenico caminho histoacuterico

acaba tambeacutem por impor uma certa visatildeo da crise e a aceitaccedilatildeo dos remeacutedios sugeridos Em virtude disso todos os paiacuteses

lugares e pessoas passam a se comportar isto eacute a organizar sua accedilatildeo como se tal acutecriseacute fosse a mesma para todos e como se

a receita para afastaacute-la devesse ser geralmente a mesma Na verdade poreacutem a uacutenica crise que os responsaacuteveis desejam afastar

eacute a crise financeira e qualquer outra Aiacute estaacute na verdade uma causa para mais aprofundamento da crise real - econocircmica

social poliacutetica moral - que caracteriza o nosso tempo SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave

consciecircncia universal Satildeo Paulo Record 2000 p169)

A palavra ldquocriserdquo tem origem grega eis que usada por Hipoacutecrates para designar o momento culminante de uma doenccedila Assim para o pai da medicina ocidental a crise seria o cuacutemulo da doenccedila apoacutes o que soacute poderia advir a cura a soluccedilatildeo Por essa razatildeo era o momento crucial para a tomada de decisotildees para se adotar a medida adequada a uma resoluccedilatildeo eficaz ao problema

Quando se fala em crise econocircmica mundial haacute uma tendecircncia alarmista por um lado que quer propagar a ideacuteia de que somente agora o caos seraacute instalado no mundo e por outro num sentido oposto haacute aqueles que reputam a crise como algo tolo banal sem grande importacircncia As duas ideacuteias polarizadas estatildeo assentadas sobre o mesmo fundamento qual seja o mascaramento do verdadeiro fundamento que leva o sistema de produccedilatildeo capitalista a uma agonia de difiacutecil soluccedilatildeo

A crise ou a doenccedila (conforme a origem da palavra) eacute uma caracteriacutestica tiacutepica do capitalismo Seguindo a argumentaccedilatildeo marxista temos que todo sistema de produccedilatildeo econocircmica tem necessariamente dois elementos 1) estaacute baseado na exploraccedilatildeo de oprimidos por opressores 2) sempre traz dentro de si o princiacutepio da sua proacutepria destruiccedilatildeo Deste modo na Antiguidade temos no sistema escravagista a exploraccedilatildeo de escravos por senhores baseada na forccedila bruta no cativeiro poreacutem quando a forccedila se torna escassa para conter os escravos o sistema perece dando lugar a outro Daiacute na era medieval europeacuteia surge uma nova forma de exploraccedilatildeo agora baseada na posse da terra entre servo e senhor feudal contudo quando a produccedilatildeo agriacutecola eacute enorme a sobra eacute comercializada pelo servo e este deixa de depender do senhor originando outro sistema de produccedilatildeo o Capitalismo

Basicamente e de forma bastante elementar esta eacute para Karl Marx o raciociacutenio da evoluccedilatildeo econocircmica atraveacutes da histoacuteria Toda forma de produccedilatildeo estaacute baseada na exploraccedilatildeo que reside em algum mecanismo de submissatildeo (forccedila terra) todavia o capitalismo cria um modo de opressatildeo proacutepria fundada na reparticcedilatildeo entre Capital e Trabalho Haacute aqueles que possuem o capital (dinheiro) e aqueles que natildeo possuem ndash a estes uacuteltimos soacute resta trabalhar para que possam transformar o trabalho em capital e se sustentar no baacutesico Por essa razatildeo soacute existe capitalismo se houver distribuiccedilatildeo desigual de renda trata-se de um sistema que soacute sobrevive na desigualdade ndash soacute iraacute se submeter ao trabalho aquele que natildeo possuir capital ou seja se todos possuiacutessem capital natildeo haveria trabalho natildeo haveria exploraccedilatildeo e consequentemente natildeo haveria capitalismo

Por isso quando o capitalismo surgiu ele se fez acompanhar por um projeto ideoloacutegico que pudesse sustentar a desigualdade econocircmica Desde seus primoacuterdios no Renascimento o abandono de um princiacutepio de deus como centro do mundo e a organizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico perfazem a ideacuteia de que o homem pode ter o controle de tudo jaacute que eacute dotado de razatildeo O racionalismo ao lado do sistema capitalista constitui a face ilusoacuteria da beleza da Modernidade A razatildeo renascentista encontra entatildeo seu

apogeu no Iluminismo e a partir deste erige-se toda uma administraccedilatildeo puacuteblica na figura do Estado de Direito a fim de sustentar a dominaccedilatildeo e a desigualdade

Entretanto mesmo com todo o instrumental ideoloacutegico poliacutetico e juriacutedico no intuito de sustentar a exploraccedilatildeo de quem natildeo possui capital a base da produccedilatildeo econocircmica capitalista por ser muito sutil sempre guardaraacute uma fragilidade Natildeo se trata mais de um elemento concreto como a forccedila ou a terra a desigualdade que sustenta o sistema eacute tambeacutem a responsaacutevel por sua possibilidade e falha e eacute por isso que o capitalismo estaacute em constante renovaccedilatildeo Assim a crise natildeo eacute estranha ao capitalismo ela lhe eacute proacutepria e eacute atraveacutes dela que o sistema se reinventa e sobrevive comutando-se de mercantilismo em capitalismo industrial e deste uacuteltimo em financeiro e especulativo

Esta crise do iniacutecio do seacuteculo XXI eacute a crise do capitalismo das bolsas de valores assim como a crise de 1929 foi a crise do capitalismo industrial Portanto aqueles que causam barulho passando a falsa ideacuteia de que tais abalos satildeo novidade pretendem ao mesmo tempo negar que o capitalismo eacute um sistema fundamentalmente faliacutevel e criacutetico e usar a tal ldquocrise econocircmicardquo como desculpa para a reduccedilatildeo de poliacuteticas para o povo para as demissotildees em massa no setor privado e para o corte de gastos em todas as esferas A propaganda da crise nos meios de comunicaccedilatildeo forccedila todo o corpo social a assimilaacute-la como um problema coletivo O desequiliacutebrio econocircmico pautado na dinacircmica de um sistema injusto e instaacutevel e gerado por quem deteacutem o poder acaba sendo suportado por todos e como eacute usual os mais pobres satildeo mais sensivelmente afetados e acabam saindo muito mais prejudicados desta situaccedilatildeo

Por outro acircngulo sob o argumento verdadeiro de que a crise eacute natural ao sistema capitalista haacute os que pretendem lhe emprestar um ar de banalidade como se a doenccedila fosse soacute uma leve gripe que logo passaraacute quando na realidade trata-se de uma doenccedila crocircnica e incuraacutevel

Reputam-se como responsaacuteveis pela crise o inchaccedilo do sistema de creacutedito imobiliaacuterio norte-americano e o abuso na especulaccedilatildeo Neste uacuteltimo caso alguns especuladores teriam colocado em circulaccedilatildeo papeacuteis fictiacutecios sem correspondecircncia material do valor neles depositado Esta ideacuteia eacute por si soacute fantasiosa e enganadora pois parece que somente agora alguns indiviacuteduos imorais teriam vendido papeacuteis sem valor quando na realidade esta especulaccedilatildeo (como o nome jaacute diz) eacute o fundamento do proacuteprio funcionamento do sistema O capitalismo financeiro dispensa a correspondecircncia entre valor especulado e riqueza material real essa eacute a sua loacutegica interna para transformar capital em mais capital sem usar o trabalho

Como o capitalismo por causa da especulaccedilatildeo pode gerar capital prescindindo da exploraccedilatildeo do trabalho naturalmente aumenta o desemprego ainda mais com a crescente mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo que dispensa a matildeo-de-obra Entatildeo a grande massa de trabalhadores sem ocupaccedilatildeo cria uma lacuna no mercado consumidor ndash sem trabalho natildeo haacute consumo Isso faz com que soacute seja possiacutevel vender atraveacutes do creacutedito e os sistemas de financiamento crescem para imoacuteveis automoacuteveis eletroeletrocircnicos eletrodomeacutesticos tudo Nunca se comprou tanto a prazo e em prazos tatildeo extensos

Portanto tanto a falecircncia do sistema de creacutedito imobiliaacuterio quanto o abuso na especulaccedilatildeo natildeo satildeo causas isoladas que acabaram gerando a crise mas satildeo produtos e desdobramentos naturais do proacuteprio capitalismo financeiro especulativo No entanto se o capitalismo como sistema de produccedilatildeo estaacute baseado no conflito entre capital e trabalho quando se dispensa o trabalho para a produccedilatildeo de riqueza recorrendo-se somente agrave especulaccedilatildeo rompe-se a base do sistema Por isso esta crise eacute profunda e natildeo passageira e superficial como querem alguns

Inclusive a crise mundial atual natildeo eacute somente econocircmica A voracidade do sistema capitalista encontrou um limite agrave expansatildeo desmedida pra a produccedilatildeo de lucros e o acuacutemulo sem fim ndash este limite eacute o proacuteprio mundo O planeta jaacute natildeo suporta as consequecircncias da loacutegica capitalista e a crise ambiental denota que os dias do sistema estatildeo contados se natildeo pela falecircncia econocircmica pela impossibilidade de permanecer na Terra apoacutes tudo o que a Modernidade fez a ela

O racionalismo o avanccedilo da tecnologia e a ciecircncia moderna foram tatildeo devastadores quanto o proacuteprio capitalismo E esse apego agrave racionalidade que afastou qualquer concepccedilatildeo religiosa moral e eacutetica de mundo deixou-nos sem nenhum referencial A modernidade substituiu a feacute pela razatildeo a crenccedila em deuses pela crenccedila na ciecircncia e agora quando o capitalismo agoniza e a ciecircncia destroacutei o planeta quando vivemos os horrores das guerras do seacuteculo XX a fome a desigualdade a injusticcedila natildeo podemos mais fechar os olhos iludidos acreditando nas promessas da filosofia iluminista de ldquoliberdade igualdade e fraternidaderdquo e positivistas de ldquoordem e progressordquo

Soacute nos restou o desconforto e a desilusatildeo de um mundo conturbado sem valores morais com um Estado quebrado a natureza degradada a economia vacilante e nenhum lugar para a ideologia A globalizaccedilatildeo somente pulverizou as fronteiras econocircmicas mas as desigualdades locais foram mantidas e exacerbadas Globalizamos a cultura de massas para expandir o consumismo mas jamais construiacutemos oportunidades globais

A crise eacute portanto total e absoluta Natildeo eacute soacute o capitalismo que sofre uma crise mas a Modernidade a razatildeo moderna a moral a ciecircncia a economia O Estado moderno padece por falta de legitimidade quando natildeo realiza seus objetivos baacutesicos e manteacutem a desigualdade a democracia se extingue ante a corrupccedilatildeo e a burocracia o Direito moderno natildeo encontra legitimidade e a lei eacute constantemente desobedecida soacute haacute previsotildees formais sem nenhuma efetivaccedilatildeo dos direitos mais fundamentais

Nesta realidade ainda haveraacute lugar para a militacircncia Ainda haveraacute espaccedilo para a ideologia Os movimentos sociais ainda fazem sentido Como lutar por direitos se o proacuteprio Direito padece Como desejar inclusatildeo se o Estado desaparece Como pretender justiccedila e igualdade em um sistema desigual e agonizante

A falta de resposta a essas perguntas poderia nos levar agrave absoluta desilusatildeo Poreacutem conveacutem lembrarmos Hipoacutecrates no iniacutecio do texto que cunhou a palavra ldquocriserdquo Se a crise eacute o apogeu de uma patologia de um desarranjo de um desequiliacutebrio eacute tambeacutem o momento da intervenccedilatildeo o momento da soluccedilatildeo Contudo esta soluccedilatildeo natildeo pode ser aquela imposta pelos opressores no sentido da contemplaccedilatildeo de seus interesses O remeacutedio adequado eacute a superaccedilatildeo da proacutepria loacutegica do sistema Num estado de coisas em que todas as estruturas se encontram em crise e a humanidade encara a cataacutestrofe natildeo nos resta mais nada a natildeo ser a accedilatildeo o resgate da razatildeo verdadeira e a crenccedila em um futuro melhor No auge da doenccedila soacute nos resta administrarmos o remeacutedio correto e perseguirmos incansavelmente a verdadeira cura

Advogada graduada pela Unesp poacutes-graduada pela EPD Professora Universitaacuteria e em cursos preparatoacuterios

Tarefa Pesquisar e fazer uma redaccedilatildeo sobre o desemprego e as etnias Pesquisar o pensamento de um dos maiores brasileiros que tematizou sobre a crise mundial Milton Santos Taylisi de Souza Correcirca Leitelowast

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Os desafios da militacircncia negra em defesa das mulheres e pela superaccedilatildeo da violecircncia de gecircnero

Por Gabriela Watson

A bela ou a fera o que vocecirc vecirc no espelho

Olhar no espelho e se identificar mais com a Bela do que com uma fera eacute um desafio para as mulheres negras no Brasil Principalmente quando no espelho da sociedade brasileira a televisatildeo elas soacute aparecem na eacutepoca do carnaval o que infelizmente tambeacutem natildeo eacute motivo de comemoraccedilatildeo Satildeo inuacutemeros os artigos que comprovam a ausecircncia de negras e da valorizaccedilatildeo de elementos da cultura afro-brasileira Entretanto esse texto se deteraacute na seguinte discussatildeo como a violecircncia psicoloacutegica afeta o imaginaacuterio da mulher negra

Quando falamos em mulheres negras tratamos de duas marcas sociais o de ser mulher numa sociedade em que os homens tecircm mais aceitaccedilatildeo e o de ser negra numa sociedade que dificulta o acesso dos negros aos espaccedilos de poder e decisatildeo

O ato da mulher se autonomear como negra jaacute constitui um desafio o primeiro obstaacuteculo eacute o de se reconhecer negra contrariando aqueles que preferem o termo ldquomoreninhardquo em seguida entender que estaacute fora do padratildeo de beleza imposto pelos meios de comunicaccedilatildeo e se por uacuteltimo apesar de perceber uma certa desconfianccedila quanto agrave sua capacidade de trabalho essa mulher se reconhecer como negra ela realmente eacute uma guerreira

Quando o assunto eacute violecircncia para com as mulheres negras devemos levar em conta a seguinte nota feita pela escritora Alzira Rufino

Se a violecircncia contra a mulher eacute uma epidemia que desconhece classes sociais existem segmentos que satildeo mais vulneraacuteveis porque jaacute tecircm uma outra histoacuteria de violecircncia como eacute o das mulheres negras sob fogo cruzado de vaacuterias formas de violecircncia a de gecircnero privada no lar a da pobreza que as escraviza as jornadas de trabalho interminaacuteveis das quais natildeo sobraraacute sequer a miacutenima aposentadoria e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaccedilo que vai do fogatildeo ao tanque domesticadas no fundo de cena 1

Dado o exposto eacute vaacutelido fazer um recorte racial da violecircncia porque as agressotildees passadas pelas mulheres negras tecircm sua origem no passado histoacuterico de exploraccedilatildeo a partir da escravidatildeo

Apesar de podermos abordar a violecircncia contra negras em todos os campos de accedilotildees possiacuteveis (sauacutede trabalho e social) talvez aquela que cause dor mais profunda eacute a violecircncia psicoloacutegica Em outras palavras essa violecircncia eacute a falta de auto-estima de orgulho que afeta diretamente na sua forccedila de vontade qualidade e perspectiva de vida

Por violecircncia moral me refiro aquela violecircncia que se perpetua de forma inconsciente atraveacutes de valores passados principalmente pela comunicaccedilatildeo que abrange desde a oralidade (expressotildees populares como ldquocabelo ruimrdquo) interaccedilatildeo social (conversas gestos) e ateacute a forma de comunicaccedilatildeo de massa (no Brasil a televisatildeo)

A importacircncia da miacutedia na formaccedilatildeo e informaccedilatildeo das pessoas eacute indiscutiacutevel nas palavras do jornalista Dennis de Oliveira ldquovivemos numa sociedade marcada pela midiatizaccedilatildeo que significa a penetraccedilatildeo da do modo de pensar dos meios de comunicaccedilatildeo em todos os ambientes das relaccedilotildees sociaisrdquo2 E infelizmente encontramos muitos vestiacutegios de pensamentos racistas em toda a comunicaccedilatildeo (livros escolares revistas TV e cinema) A maioria dos papeacuteis ldquodadosrdquo aos negros ainda eacute reduzida a lugares comuns eou personagens que demonstram a falta de harmonia e orgulho entre membros da comunidade negra (apenas alguns exemplos tiacutetulos como ldquoDa cor do pecadordquo a escrava Isaura ser branca ausecircncia de casais negros e de famiacutelias de negros estruturadas etc)

O ponto da discussatildeo eacute o resultado dessa contiacutenua accedilatildeo negativa de publicidade e propaganda na formaccedilatildeo do imaginaacuterio da mulher negra Muitos diratildeo que isso natildeo afeta em nada pois eacute apenas uma novela ou frase no entanto essa forma de representaccedilatildeo elabora uma construccedilatildeo social tanto do que eacute ser negro quanto da mulher negra E aiacute que entra o conceito de formaccedilatildeo da identidade Segundo Elisa Nascimento ldquoA identidade pode ser vista como uma espeacutecie de encruzilhada existencial entre indiviacuteduo e sociedade em que ambos vatildeo se constituindo mutuamente () A pessoa realiza esse processo por meio de sua proacutepria existecircncia de vida e das representaccedilotildees da experiecircncia coletiva de sua comunidade e sociedaderdquo3

Portanto uma frase uma novela uma piada natildeo satildeo pura e simplesmente o que parecem mas influenciam diretamente na construccedilatildeo de identidade que a mulher negra cria sobre si mesma sobre seu papel e lugar na sociedade Eacute fato a mulher negra via de regra natildeo se crecirc bonita nem valorizada pois natildeo tem referecircncia para isso A imagem que se tem da mulher negra eacute daquela que foi violada da serviccedilal (Tia Anastaacutecia) ou da lasciva quando na verdade a mulher negra sobretudo eacute sinocircnimo de resistecircncia de perseveranccedila e por que natildeo de esperanccedila Outros diratildeo que satildeo exageros mas essa influecircncia Que produz efeitos contraacuterios aos desejados eacute possiacutevel e plausiacutevel a ideacuteia que temos de noacutes mesmos condiciona nossos sonhos e metas As mulheres negras vecircem de tantas maneiras e sempre de forma interna representaccedilotildees negativas que acabam por introjetar a ideacuteia e passam a acreditar que eacute a realidade

O que vemos satildeo mulheres com baixa auto-estima que buscam parecer com o ideal de beleza propagado pela miacutedia e cujas perspectivas natildeo almejam um melhor lugar na sociedade mais respeito e principalmente mais cidadania A questatildeo natildeo se resume a se achar bonita mas tambeacutem natildeo se julgar capazes e nem merecedoras dos direitos aos quais todos deveriacuteamos ter acesso

A travessia de ser uma mulher de aparecircncia negra para ser uma mulher negra cidadatilde eacute tatildeo longa e seu iniacutecio eacute marcado pelo resgate e apropriaccedilatildeo da sua cultura que tambeacutem natildeo eacute ensinada na escola Dizer sou mulher negra natildeo eacute faacutecil Ao dizer isso tambeacutem assumimos nosso passado doloroso mas tambeacutem a ancestralidade e sabedoria africanas e nossa histoacuteria de superaccedilatildeo Mas esse percurso eacute tatildeo longo quanto o caminho ateacute a costa do Marfim do outro lado do Atlacircntico

ldquoResgaterdquo

Sou negra ponto final

devolvo-me a identidade

rasgo a minha certidatildeo

sou negra

sem reticecircncias

sem viacutergulas sem ausecircncias

sou negra balacobaco

sou negra noite cansaccedilo

sou negra

ponto final

Alzira Rufino 1986

Palavras-chave pontos que podem ser discutidos a partir do texto mulher negra violecircncia psicoloacutegica comunicaccedilatildeo de massa midiatizaccedilatildeo imaginaacuterio construccedilatildeo social identidade e fenoacutetipo

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Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

A discriminaccedilatildeo contra a populaccedilatildeo negra eacute secular persistente e se ramifica por diversas aacutereas da vida brasileira Seraacute que ldquonegro natildeo venderdquo Somos a maioria da populaccedilatildeo brasileira e 158 do grupo do 1 mais ricos do paiacutes (Siacutentese de Indicadores Sociais 2005 elaborada pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios - PNAD 2004) portanto somos consumidores dos mais diversos produtos disponiacuteveis na economia nacional

Satildeo Paulo eacute a cidade fora da Aacutefrica com maior populaccedilatildeo negra do planeta e capital do Estado com maior populaccedilatildeo negra no paiacutes Somos 33 milhotildees de pretos e pardos - 303 dos quase 11 milhotildees de habitantes Em termos de populaccedilatildeo negra no mundo fica atraacutes apenas de Lagos capital da Nigeacuteria que tem cerca de 10 milhotildees e do Cairo no Egito que tem 159 milhotildees No Estado a populaccedilatildeo negra de acordo com a Fundaccedilatildeo SEADE (Fundaccedilatildeo Sistema Estadual de Anaacutelise e Dados) chega a 125 milhotildees de habitantes o que torna S Paulo o Estado com maior populaccedilatildeo negra do paiacutes

Aqui mais uma vez haacute uma explicaccedilatildeo negro eacute o nome que o IBGE daacute a quem eacute pardo e quem eacute preto A cor preta eacute designada a pessoas quem tem pele mais escura Mas ambos pertencem ao mesmo grupo Haacute quem ache que eacute um erro somaacute-los Fui conferir em diversos indicadores sociais Em todos - seja consumo renda tempo de vida - a distacircncia social entre brancos e pardos ou entre brancos e pretos eacute enorme mas entre pardos e pretos a distacircncia eacute pequena Conclusatildeo sociologicamente eles estatildeo no mesmo grupo

Se eles fazem parte da maioria convencida de que o Brasil eacute um paiacutes melhor que os outros do mulato inzoneiro (manhoso mexeriqueiro intrigante sonso mentiroso) da mistura de raccedilas e que nas poliacuteticas de contrataccedilatildeo de matildeo de obra modelos brancos e nomes de produtos natildeo haacute racismo e sim meacuterito ou algo sem importacircncia jaacute que ldquotodos somos iguaisrdquo infelizmente tenho que dizer o Brasil nunca teve segregaccedilatildeo oficial como nos Estados Unidos e Aacutefrica do Sul mas sempre discriminou baseado na cor da pele Silenciosamente E temos heranccedilas horrorosas do passado escravista e do periacuteodo poacutes-aboliccedilatildeo Uma delas ainda estaacute laacute nas entradas de elevadores social e de serviccedilo um eufemismo para dar ao porteiro o direito de constranger os negros a ir pelo elevador de traacutes destinado a cargas e compras O lema para acabar com esta vergonha tem que ser todos pela diversidade

Empresas e oacutergatildeos puacuteblicos criam barreiras que impedem o uso da imagem contrataccedilatildeo ascensatildeo de homens e mulheres negras Haacute quem diga que no Brasil soacute haacute discriminaccedilatildeo social e natildeo racial Isto a bem dizer natildeo torna menos vergonhosa a discriminaccedilatildeo mas natildeo eacute toda a verdade As pesquisas estatiacutesticas satildeo reveladoras negros e brancos com o mesmo niacutevel de escolaridade tecircm renda diferente o branco ganha quase o dobro do que ganha o negro (IBGE Siacutentese de Indicadores Sociais 2007) e o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social lanccedilou o livro Perfil Social Racial e de Gecircnero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Accedilotildees Afirmativas ndash 2007 que reafirma o baixo nuacutemero de negras e negros trabalhando no mundo empresarial O que vocecirc me diz disto Eacute ou natildeo eacute a manutenccedilatildeo de privileacutegios para brancos e amarelos

A mudanccedila de tratamento das empresas e dos governos natildeo vatildeo mudar o mundo mas seraacute um passo um passo na direccedilatildeo certa para o respeito ao cidadatildeo negro e indiacutegena que como os outros grupos ajudaram e auxiliam a construir este paiacutes mas que vecirc seus talentos sendo descartados por causa do racismo que impede o seu desenvolvimento individual coletivo e do Brasil como um todo Que um dia todos possam dizer nossa sociedade eacute justa haacute lugar e haacute igualdade de oportunidade para todos e todas

Tarefa enviar e-mails para os SENADORES e STF (Supremo Tribunal Federal) exigindo que os mesmos votem em favor das cotas nas Universidades Federais do ProUni para excluiacutedos negros Quilombolas e indiacutegenas bem como em favor do estatuto da igualdade racial

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O alunoa Educafro deve optar fazer a) uma faculdade b) um curso tecnoloacutegico c) ou um curso teacutecnico O que eacute mais aacutegil para incluir O que considerar antes de fazer esta opccedilatildeo Tarefa pesquisar e entregar na sede a opccedilatildeo dos alunos de seu nuacutecleo por essas trecircs aacutereas

Fazer o quecirc e por quecirc

Haacute uma deacutecada ainda era compreensiacutevel que o jovem apoacutes concluir o Ensino Meacutedio pudesse

idealizar um curso superior que provavelmente seria indefinidamente a sua futura profissatildeo Atualmente

isso eacute impraticaacutevel para a maioria das ocupaccedilotildees A palavra carreira tende a desaparecer ou mudar de

sentido perdendo-se em meio agraves insuficientes nomenclaturas ndash exatas humanas bioloacutegicas tecnoloacutegicas

Cada vez mais a ecircnfase recai na solidez dos estudos Se o embasamento teoacuterico eacute bem feito

articulado agraves necessidades reais que se avizinham e conectado ao tempo vigente o profissional teraacute pela

frente as muitas possibilidades reservadas aos que tecircm muacuteltiplos talentos criatividade e capacidade de

ligar com as muitas situaccedilotildees e problemaacuteticas do mundo moderno

Por isso aos estudantes de hoje satildeo dadas inuacutemeras opccedilotildees Os cursos tradicionais continuam tendo

grande apelo mas aqueles que estatildeo antenados agraves transformaccedilotildees no mundo do trabalho vislumbram outras

searas tambeacutem palpaacuteveis Haacute formaccedilotildees de toda sorte graduaccedilatildeo teacutecnico tecnoloacutegico tecnoacutelogo

presenciais e ateacute ensino a distacircncia (EAD) que cada vez mais ganha espaccedilo Mas como saber o que eacute

melhor pra mim

Soacute vocecirc pode encontrar a resposta ou as respostas Na era da tecnologia engenheiros trabalham em

bancos administradores em Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais advogados buscam o serviccedilo puacuteblico ndash

defensoria ministeacuterio puacuteblico e muitos sonham com o seu proacuteprio negoacutecio Natildeo haacute nem haveraacute emprego

para todos mas trabalho sempre existiraacute

Infelizmente em razatildeo da maacute formaccedilatildeo em matemaacutetica e ciecircncias na escolarizaccedilatildeo baacutesica muitos

se socorrem agraves humanidades nem sempre por vocaccedilatildeo e com as informaccedilotildees adequadas Os cursos de

humanas em geral requerem muita leitura e investimento em livros E ao contraacuterio do que se imagina natildeo

satildeo propriamente baratos E comumente natildeo datildeo o sonhado retorno estuda-se muito haacute excesso de

contingentes no mercado e se ganha pouco

De qualquer modo uma graduaccedilatildeo requer trecircs ou quatro anos de intensas leituras deslocamentos

trabalhos acadecircmicos muitos gastos tensotildees trabalhos em grupo etc Eacute preciso estar preparado e focado

para enfrentar essa realidade por todo esse tempo e tirar o maacuteximo de proveito ndash saber estudar como fazecirc-

lo progressivamente pesquisar

As formaccedilotildees mais raacutepidas visam a preparar pessoal para as funccedilotildees mais contemporacircneas O

enfoque eacute dirigido para as atuaccedilotildees teacutecnicas Haacute um amplo leque de possibilidades turismo museu

tecnologia vendas por telefone mercado financeiro sauacutede judiciaacuterio processamento de alimentos

mecacircnica muacutesica Quem vasculha oportunidades natildeo pode deixar de notar que ateacute o serviccedilo puacuteblico jaacute

oferece concursos para os teacutecnicos e tecnoacutelogos Eacute natural que o recente crescimento da informaacutetica surja

como uma aacuterea muito aquecida afinal quem pode prescindir dos computadores das redes da manutenccedilatildeo

das maacutequinas das homepages do design graacutefico Mas existem outros mercados igualmente promissores e

outros ainda seratildeo criados Olhe pra si proacuteprio encare seus talentos enfrente seus desafios seja racional

sem perder a sensibilidade dirija o olhar para o distante mas caminhe um passo de cada vez em solo

firme

Optando pela graduaccedilatildeo procure conhecer antecipadamente a sua escolha os proacutes e contras

converse com quem estaacute fazendo com quem jaacute fez seja honesto consigo proacuteprio aonde quer chegar Mas

natildeo se esqueccedila que se houver mudanccedila de rumos a experiecircncia e enriquecimento seguiratildeo ao seu lado

Os cursos mais raacutepidos natildeo impedem que se faccedila uma graduaccedilatildeo posteriormente jaacute entatildeo

consciente do seu perfil e do mercado A grande vantagem desses cursos eacute a conquista manutenccedilatildeo e

reconquista de emprego (a chamada empregabilidade) e o tempo mas nada deve se transformar numa

camisa de forccedila que impeccedila voos mais largos tudo eacute uma questatildeo de estrateacutegia ndash recorde-se que o caminho

eacute menos iacutengreme para quem sabe aonde quer chegar

Qualquer que seja o caminho ndash graduaccedilatildeo teacutecnico ou tecnoacutelogo ndash quem quer seguir adiante natildeo

pode se furtar a estudar liacutenguas conhecer as tecnologias e as inserccedilotildees especiacuteficas da aacuterea escolhida saber

se comunicar conviver com a diversidade em todos os aspectos sociais culturais mercadoloacutegicos e

principalmente eacutetnicos

Consulte as inovaccedilotildees em graduaccedilatildeo nos inuacutemeros sites das universidades puacuteblicas e privadas

Para uma noccedilatildeo dos cursos teacutecnicos e tecnoacutelogos os sites da FATEC e das Escolas Teacutecnicas (Etecs) do

Centro Paula Souza

httpwwwfatecspbr

httpwwwvestibulinhoeteccombr

Ivan Siqueira

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A crise econocircmica mundial e os dilemas da militacircncia e dos movimentos sociais afinal quem vai pagar a conta

O mesmo sistema ideoloacutegico que justifica o processo de globalizaccedilatildeo ajudando a consideraacute-lo o uacutenico caminho histoacuterico

acaba tambeacutem por impor uma certa visatildeo da crise e a aceitaccedilatildeo dos remeacutedios sugeridos Em virtude disso todos os paiacuteses

lugares e pessoas passam a se comportar isto eacute a organizar sua accedilatildeo como se tal acutecriseacute fosse a mesma para todos e como se

a receita para afastaacute-la devesse ser geralmente a mesma Na verdade poreacutem a uacutenica crise que os responsaacuteveis desejam afastar

eacute a crise financeira e qualquer outra Aiacute estaacute na verdade uma causa para mais aprofundamento da crise real - econocircmica

social poliacutetica moral - que caracteriza o nosso tempo SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave

consciecircncia universal Satildeo Paulo Record 2000 p169)

A palavra ldquocriserdquo tem origem grega eis que usada por Hipoacutecrates para designar o momento culminante de uma doenccedila Assim para o pai da medicina ocidental a crise seria o cuacutemulo da doenccedila apoacutes o que soacute poderia advir a cura a soluccedilatildeo Por essa razatildeo era o momento crucial para a tomada de decisotildees para se adotar a medida adequada a uma resoluccedilatildeo eficaz ao problema

Quando se fala em crise econocircmica mundial haacute uma tendecircncia alarmista por um lado que quer propagar a ideacuteia de que somente agora o caos seraacute instalado no mundo e por outro num sentido oposto haacute aqueles que reputam a crise como algo tolo banal sem grande importacircncia As duas ideacuteias polarizadas estatildeo assentadas sobre o mesmo fundamento qual seja o mascaramento do verdadeiro fundamento que leva o sistema de produccedilatildeo capitalista a uma agonia de difiacutecil soluccedilatildeo

A crise ou a doenccedila (conforme a origem da palavra) eacute uma caracteriacutestica tiacutepica do capitalismo Seguindo a argumentaccedilatildeo marxista temos que todo sistema de produccedilatildeo econocircmica tem necessariamente dois elementos 1) estaacute baseado na exploraccedilatildeo de oprimidos por opressores 2) sempre traz dentro de si o princiacutepio da sua proacutepria destruiccedilatildeo Deste modo na Antiguidade temos no sistema escravagista a exploraccedilatildeo de escravos por senhores baseada na forccedila bruta no cativeiro poreacutem quando a forccedila se torna escassa para conter os escravos o sistema perece dando lugar a outro Daiacute na era medieval europeacuteia surge uma nova forma de exploraccedilatildeo agora baseada na posse da terra entre servo e senhor feudal contudo quando a produccedilatildeo agriacutecola eacute enorme a sobra eacute comercializada pelo servo e este deixa de depender do senhor originando outro sistema de produccedilatildeo o Capitalismo

Basicamente e de forma bastante elementar esta eacute para Karl Marx o raciociacutenio da evoluccedilatildeo econocircmica atraveacutes da histoacuteria Toda forma de produccedilatildeo estaacute baseada na exploraccedilatildeo que reside em algum mecanismo de submissatildeo (forccedila terra) todavia o capitalismo cria um modo de opressatildeo proacutepria fundada na reparticcedilatildeo entre Capital e Trabalho Haacute aqueles que possuem o capital (dinheiro) e aqueles que natildeo possuem ndash a estes uacuteltimos soacute resta trabalhar para que possam transformar o trabalho em capital e se sustentar no baacutesico Por essa razatildeo soacute existe capitalismo se houver distribuiccedilatildeo desigual de renda trata-se de um sistema que soacute sobrevive na desigualdade ndash soacute iraacute se submeter ao trabalho aquele que natildeo possuir capital ou seja se todos possuiacutessem capital natildeo haveria trabalho natildeo haveria exploraccedilatildeo e consequentemente natildeo haveria capitalismo

Por isso quando o capitalismo surgiu ele se fez acompanhar por um projeto ideoloacutegico que pudesse sustentar a desigualdade econocircmica Desde seus primoacuterdios no Renascimento o abandono de um princiacutepio de deus como centro do mundo e a organizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico perfazem a ideacuteia de que o homem pode ter o controle de tudo jaacute que eacute dotado de razatildeo O racionalismo ao lado do sistema capitalista constitui a face ilusoacuteria da beleza da Modernidade A razatildeo renascentista encontra entatildeo seu

apogeu no Iluminismo e a partir deste erige-se toda uma administraccedilatildeo puacuteblica na figura do Estado de Direito a fim de sustentar a dominaccedilatildeo e a desigualdade

Entretanto mesmo com todo o instrumental ideoloacutegico poliacutetico e juriacutedico no intuito de sustentar a exploraccedilatildeo de quem natildeo possui capital a base da produccedilatildeo econocircmica capitalista por ser muito sutil sempre guardaraacute uma fragilidade Natildeo se trata mais de um elemento concreto como a forccedila ou a terra a desigualdade que sustenta o sistema eacute tambeacutem a responsaacutevel por sua possibilidade e falha e eacute por isso que o capitalismo estaacute em constante renovaccedilatildeo Assim a crise natildeo eacute estranha ao capitalismo ela lhe eacute proacutepria e eacute atraveacutes dela que o sistema se reinventa e sobrevive comutando-se de mercantilismo em capitalismo industrial e deste uacuteltimo em financeiro e especulativo

Esta crise do iniacutecio do seacuteculo XXI eacute a crise do capitalismo das bolsas de valores assim como a crise de 1929 foi a crise do capitalismo industrial Portanto aqueles que causam barulho passando a falsa ideacuteia de que tais abalos satildeo novidade pretendem ao mesmo tempo negar que o capitalismo eacute um sistema fundamentalmente faliacutevel e criacutetico e usar a tal ldquocrise econocircmicardquo como desculpa para a reduccedilatildeo de poliacuteticas para o povo para as demissotildees em massa no setor privado e para o corte de gastos em todas as esferas A propaganda da crise nos meios de comunicaccedilatildeo forccedila todo o corpo social a assimilaacute-la como um problema coletivo O desequiliacutebrio econocircmico pautado na dinacircmica de um sistema injusto e instaacutevel e gerado por quem deteacutem o poder acaba sendo suportado por todos e como eacute usual os mais pobres satildeo mais sensivelmente afetados e acabam saindo muito mais prejudicados desta situaccedilatildeo

Por outro acircngulo sob o argumento verdadeiro de que a crise eacute natural ao sistema capitalista haacute os que pretendem lhe emprestar um ar de banalidade como se a doenccedila fosse soacute uma leve gripe que logo passaraacute quando na realidade trata-se de uma doenccedila crocircnica e incuraacutevel

Reputam-se como responsaacuteveis pela crise o inchaccedilo do sistema de creacutedito imobiliaacuterio norte-americano e o abuso na especulaccedilatildeo Neste uacuteltimo caso alguns especuladores teriam colocado em circulaccedilatildeo papeacuteis fictiacutecios sem correspondecircncia material do valor neles depositado Esta ideacuteia eacute por si soacute fantasiosa e enganadora pois parece que somente agora alguns indiviacuteduos imorais teriam vendido papeacuteis sem valor quando na realidade esta especulaccedilatildeo (como o nome jaacute diz) eacute o fundamento do proacuteprio funcionamento do sistema O capitalismo financeiro dispensa a correspondecircncia entre valor especulado e riqueza material real essa eacute a sua loacutegica interna para transformar capital em mais capital sem usar o trabalho

Como o capitalismo por causa da especulaccedilatildeo pode gerar capital prescindindo da exploraccedilatildeo do trabalho naturalmente aumenta o desemprego ainda mais com a crescente mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo que dispensa a matildeo-de-obra Entatildeo a grande massa de trabalhadores sem ocupaccedilatildeo cria uma lacuna no mercado consumidor ndash sem trabalho natildeo haacute consumo Isso faz com que soacute seja possiacutevel vender atraveacutes do creacutedito e os sistemas de financiamento crescem para imoacuteveis automoacuteveis eletroeletrocircnicos eletrodomeacutesticos tudo Nunca se comprou tanto a prazo e em prazos tatildeo extensos

Portanto tanto a falecircncia do sistema de creacutedito imobiliaacuterio quanto o abuso na especulaccedilatildeo natildeo satildeo causas isoladas que acabaram gerando a crise mas satildeo produtos e desdobramentos naturais do proacuteprio capitalismo financeiro especulativo No entanto se o capitalismo como sistema de produccedilatildeo estaacute baseado no conflito entre capital e trabalho quando se dispensa o trabalho para a produccedilatildeo de riqueza recorrendo-se somente agrave especulaccedilatildeo rompe-se a base do sistema Por isso esta crise eacute profunda e natildeo passageira e superficial como querem alguns

Inclusive a crise mundial atual natildeo eacute somente econocircmica A voracidade do sistema capitalista encontrou um limite agrave expansatildeo desmedida pra a produccedilatildeo de lucros e o acuacutemulo sem fim ndash este limite eacute o proacuteprio mundo O planeta jaacute natildeo suporta as consequecircncias da loacutegica capitalista e a crise ambiental denota que os dias do sistema estatildeo contados se natildeo pela falecircncia econocircmica pela impossibilidade de permanecer na Terra apoacutes tudo o que a Modernidade fez a ela

O racionalismo o avanccedilo da tecnologia e a ciecircncia moderna foram tatildeo devastadores quanto o proacuteprio capitalismo E esse apego agrave racionalidade que afastou qualquer concepccedilatildeo religiosa moral e eacutetica de mundo deixou-nos sem nenhum referencial A modernidade substituiu a feacute pela razatildeo a crenccedila em deuses pela crenccedila na ciecircncia e agora quando o capitalismo agoniza e a ciecircncia destroacutei o planeta quando vivemos os horrores das guerras do seacuteculo XX a fome a desigualdade a injusticcedila natildeo podemos mais fechar os olhos iludidos acreditando nas promessas da filosofia iluminista de ldquoliberdade igualdade e fraternidaderdquo e positivistas de ldquoordem e progressordquo

Soacute nos restou o desconforto e a desilusatildeo de um mundo conturbado sem valores morais com um Estado quebrado a natureza degradada a economia vacilante e nenhum lugar para a ideologia A globalizaccedilatildeo somente pulverizou as fronteiras econocircmicas mas as desigualdades locais foram mantidas e exacerbadas Globalizamos a cultura de massas para expandir o consumismo mas jamais construiacutemos oportunidades globais

A crise eacute portanto total e absoluta Natildeo eacute soacute o capitalismo que sofre uma crise mas a Modernidade a razatildeo moderna a moral a ciecircncia a economia O Estado moderno padece por falta de legitimidade quando natildeo realiza seus objetivos baacutesicos e manteacutem a desigualdade a democracia se extingue ante a corrupccedilatildeo e a burocracia o Direito moderno natildeo encontra legitimidade e a lei eacute constantemente desobedecida soacute haacute previsotildees formais sem nenhuma efetivaccedilatildeo dos direitos mais fundamentais

Nesta realidade ainda haveraacute lugar para a militacircncia Ainda haveraacute espaccedilo para a ideologia Os movimentos sociais ainda fazem sentido Como lutar por direitos se o proacuteprio Direito padece Como desejar inclusatildeo se o Estado desaparece Como pretender justiccedila e igualdade em um sistema desigual e agonizante

A falta de resposta a essas perguntas poderia nos levar agrave absoluta desilusatildeo Poreacutem conveacutem lembrarmos Hipoacutecrates no iniacutecio do texto que cunhou a palavra ldquocriserdquo Se a crise eacute o apogeu de uma patologia de um desarranjo de um desequiliacutebrio eacute tambeacutem o momento da intervenccedilatildeo o momento da soluccedilatildeo Contudo esta soluccedilatildeo natildeo pode ser aquela imposta pelos opressores no sentido da contemplaccedilatildeo de seus interesses O remeacutedio adequado eacute a superaccedilatildeo da proacutepria loacutegica do sistema Num estado de coisas em que todas as estruturas se encontram em crise e a humanidade encara a cataacutestrofe natildeo nos resta mais nada a natildeo ser a accedilatildeo o resgate da razatildeo verdadeira e a crenccedila em um futuro melhor No auge da doenccedila soacute nos resta administrarmos o remeacutedio correto e perseguirmos incansavelmente a verdadeira cura

Advogada graduada pela Unesp poacutes-graduada pela EPD Professora Universitaacuteria e em cursos preparatoacuterios

Tarefa Pesquisar e fazer uma redaccedilatildeo sobre o desemprego e as etnias Pesquisar o pensamento de um dos maiores brasileiros que tematizou sobre a crise mundial Milton Santos Taylisi de Souza Correcirca Leitelowast

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Os desafios da militacircncia negra em defesa das mulheres e pela superaccedilatildeo da violecircncia de gecircnero

Por Gabriela Watson

A bela ou a fera o que vocecirc vecirc no espelho

Olhar no espelho e se identificar mais com a Bela do que com uma fera eacute um desafio para as mulheres negras no Brasil Principalmente quando no espelho da sociedade brasileira a televisatildeo elas soacute aparecem na eacutepoca do carnaval o que infelizmente tambeacutem natildeo eacute motivo de comemoraccedilatildeo Satildeo inuacutemeros os artigos que comprovam a ausecircncia de negras e da valorizaccedilatildeo de elementos da cultura afro-brasileira Entretanto esse texto se deteraacute na seguinte discussatildeo como a violecircncia psicoloacutegica afeta o imaginaacuterio da mulher negra

Quando falamos em mulheres negras tratamos de duas marcas sociais o de ser mulher numa sociedade em que os homens tecircm mais aceitaccedilatildeo e o de ser negra numa sociedade que dificulta o acesso dos negros aos espaccedilos de poder e decisatildeo

O ato da mulher se autonomear como negra jaacute constitui um desafio o primeiro obstaacuteculo eacute o de se reconhecer negra contrariando aqueles que preferem o termo ldquomoreninhardquo em seguida entender que estaacute fora do padratildeo de beleza imposto pelos meios de comunicaccedilatildeo e se por uacuteltimo apesar de perceber uma certa desconfianccedila quanto agrave sua capacidade de trabalho essa mulher se reconhecer como negra ela realmente eacute uma guerreira

Quando o assunto eacute violecircncia para com as mulheres negras devemos levar em conta a seguinte nota feita pela escritora Alzira Rufino

Se a violecircncia contra a mulher eacute uma epidemia que desconhece classes sociais existem segmentos que satildeo mais vulneraacuteveis porque jaacute tecircm uma outra histoacuteria de violecircncia como eacute o das mulheres negras sob fogo cruzado de vaacuterias formas de violecircncia a de gecircnero privada no lar a da pobreza que as escraviza as jornadas de trabalho interminaacuteveis das quais natildeo sobraraacute sequer a miacutenima aposentadoria e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaccedilo que vai do fogatildeo ao tanque domesticadas no fundo de cena 1

Dado o exposto eacute vaacutelido fazer um recorte racial da violecircncia porque as agressotildees passadas pelas mulheres negras tecircm sua origem no passado histoacuterico de exploraccedilatildeo a partir da escravidatildeo

Apesar de podermos abordar a violecircncia contra negras em todos os campos de accedilotildees possiacuteveis (sauacutede trabalho e social) talvez aquela que cause dor mais profunda eacute a violecircncia psicoloacutegica Em outras palavras essa violecircncia eacute a falta de auto-estima de orgulho que afeta diretamente na sua forccedila de vontade qualidade e perspectiva de vida

Por violecircncia moral me refiro aquela violecircncia que se perpetua de forma inconsciente atraveacutes de valores passados principalmente pela comunicaccedilatildeo que abrange desde a oralidade (expressotildees populares como ldquocabelo ruimrdquo) interaccedilatildeo social (conversas gestos) e ateacute a forma de comunicaccedilatildeo de massa (no Brasil a televisatildeo)

A importacircncia da miacutedia na formaccedilatildeo e informaccedilatildeo das pessoas eacute indiscutiacutevel nas palavras do jornalista Dennis de Oliveira ldquovivemos numa sociedade marcada pela midiatizaccedilatildeo que significa a penetraccedilatildeo da do modo de pensar dos meios de comunicaccedilatildeo em todos os ambientes das relaccedilotildees sociaisrdquo2 E infelizmente encontramos muitos vestiacutegios de pensamentos racistas em toda a comunicaccedilatildeo (livros escolares revistas TV e cinema) A maioria dos papeacuteis ldquodadosrdquo aos negros ainda eacute reduzida a lugares comuns eou personagens que demonstram a falta de harmonia e orgulho entre membros da comunidade negra (apenas alguns exemplos tiacutetulos como ldquoDa cor do pecadordquo a escrava Isaura ser branca ausecircncia de casais negros e de famiacutelias de negros estruturadas etc)

O ponto da discussatildeo eacute o resultado dessa contiacutenua accedilatildeo negativa de publicidade e propaganda na formaccedilatildeo do imaginaacuterio da mulher negra Muitos diratildeo que isso natildeo afeta em nada pois eacute apenas uma novela ou frase no entanto essa forma de representaccedilatildeo elabora uma construccedilatildeo social tanto do que eacute ser negro quanto da mulher negra E aiacute que entra o conceito de formaccedilatildeo da identidade Segundo Elisa Nascimento ldquoA identidade pode ser vista como uma espeacutecie de encruzilhada existencial entre indiviacuteduo e sociedade em que ambos vatildeo se constituindo mutuamente () A pessoa realiza esse processo por meio de sua proacutepria existecircncia de vida e das representaccedilotildees da experiecircncia coletiva de sua comunidade e sociedaderdquo3

Portanto uma frase uma novela uma piada natildeo satildeo pura e simplesmente o que parecem mas influenciam diretamente na construccedilatildeo de identidade que a mulher negra cria sobre si mesma sobre seu papel e lugar na sociedade Eacute fato a mulher negra via de regra natildeo se crecirc bonita nem valorizada pois natildeo tem referecircncia para isso A imagem que se tem da mulher negra eacute daquela que foi violada da serviccedilal (Tia Anastaacutecia) ou da lasciva quando na verdade a mulher negra sobretudo eacute sinocircnimo de resistecircncia de perseveranccedila e por que natildeo de esperanccedila Outros diratildeo que satildeo exageros mas essa influecircncia Que produz efeitos contraacuterios aos desejados eacute possiacutevel e plausiacutevel a ideacuteia que temos de noacutes mesmos condiciona nossos sonhos e metas As mulheres negras vecircem de tantas maneiras e sempre de forma interna representaccedilotildees negativas que acabam por introjetar a ideacuteia e passam a acreditar que eacute a realidade

O que vemos satildeo mulheres com baixa auto-estima que buscam parecer com o ideal de beleza propagado pela miacutedia e cujas perspectivas natildeo almejam um melhor lugar na sociedade mais respeito e principalmente mais cidadania A questatildeo natildeo se resume a se achar bonita mas tambeacutem natildeo se julgar capazes e nem merecedoras dos direitos aos quais todos deveriacuteamos ter acesso

A travessia de ser uma mulher de aparecircncia negra para ser uma mulher negra cidadatilde eacute tatildeo longa e seu iniacutecio eacute marcado pelo resgate e apropriaccedilatildeo da sua cultura que tambeacutem natildeo eacute ensinada na escola Dizer sou mulher negra natildeo eacute faacutecil Ao dizer isso tambeacutem assumimos nosso passado doloroso mas tambeacutem a ancestralidade e sabedoria africanas e nossa histoacuteria de superaccedilatildeo Mas esse percurso eacute tatildeo longo quanto o caminho ateacute a costa do Marfim do outro lado do Atlacircntico

ldquoResgaterdquo

Sou negra ponto final

devolvo-me a identidade

rasgo a minha certidatildeo

sou negra

sem reticecircncias

sem viacutergulas sem ausecircncias

sou negra balacobaco

sou negra noite cansaccedilo

sou negra

ponto final

Alzira Rufino 1986

Palavras-chave pontos que podem ser discutidos a partir do texto mulher negra violecircncia psicoloacutegica comunicaccedilatildeo de massa midiatizaccedilatildeo imaginaacuterio construccedilatildeo social identidade e fenoacutetipo

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

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Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

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Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

O alunoa Educafro deve optar fazer a) uma faculdade b) um curso tecnoloacutegico c) ou um curso teacutecnico O que eacute mais aacutegil para incluir O que considerar antes de fazer esta opccedilatildeo Tarefa pesquisar e entregar na sede a opccedilatildeo dos alunos de seu nuacutecleo por essas trecircs aacutereas

Fazer o quecirc e por quecirc

Haacute uma deacutecada ainda era compreensiacutevel que o jovem apoacutes concluir o Ensino Meacutedio pudesse

idealizar um curso superior que provavelmente seria indefinidamente a sua futura profissatildeo Atualmente

isso eacute impraticaacutevel para a maioria das ocupaccedilotildees A palavra carreira tende a desaparecer ou mudar de

sentido perdendo-se em meio agraves insuficientes nomenclaturas ndash exatas humanas bioloacutegicas tecnoloacutegicas

Cada vez mais a ecircnfase recai na solidez dos estudos Se o embasamento teoacuterico eacute bem feito

articulado agraves necessidades reais que se avizinham e conectado ao tempo vigente o profissional teraacute pela

frente as muitas possibilidades reservadas aos que tecircm muacuteltiplos talentos criatividade e capacidade de

ligar com as muitas situaccedilotildees e problemaacuteticas do mundo moderno

Por isso aos estudantes de hoje satildeo dadas inuacutemeras opccedilotildees Os cursos tradicionais continuam tendo

grande apelo mas aqueles que estatildeo antenados agraves transformaccedilotildees no mundo do trabalho vislumbram outras

searas tambeacutem palpaacuteveis Haacute formaccedilotildees de toda sorte graduaccedilatildeo teacutecnico tecnoloacutegico tecnoacutelogo

presenciais e ateacute ensino a distacircncia (EAD) que cada vez mais ganha espaccedilo Mas como saber o que eacute

melhor pra mim

Soacute vocecirc pode encontrar a resposta ou as respostas Na era da tecnologia engenheiros trabalham em

bancos administradores em Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais advogados buscam o serviccedilo puacuteblico ndash

defensoria ministeacuterio puacuteblico e muitos sonham com o seu proacuteprio negoacutecio Natildeo haacute nem haveraacute emprego

para todos mas trabalho sempre existiraacute

Infelizmente em razatildeo da maacute formaccedilatildeo em matemaacutetica e ciecircncias na escolarizaccedilatildeo baacutesica muitos

se socorrem agraves humanidades nem sempre por vocaccedilatildeo e com as informaccedilotildees adequadas Os cursos de

humanas em geral requerem muita leitura e investimento em livros E ao contraacuterio do que se imagina natildeo

satildeo propriamente baratos E comumente natildeo datildeo o sonhado retorno estuda-se muito haacute excesso de

contingentes no mercado e se ganha pouco

De qualquer modo uma graduaccedilatildeo requer trecircs ou quatro anos de intensas leituras deslocamentos

trabalhos acadecircmicos muitos gastos tensotildees trabalhos em grupo etc Eacute preciso estar preparado e focado

para enfrentar essa realidade por todo esse tempo e tirar o maacuteximo de proveito ndash saber estudar como fazecirc-

lo progressivamente pesquisar

As formaccedilotildees mais raacutepidas visam a preparar pessoal para as funccedilotildees mais contemporacircneas O

enfoque eacute dirigido para as atuaccedilotildees teacutecnicas Haacute um amplo leque de possibilidades turismo museu

tecnologia vendas por telefone mercado financeiro sauacutede judiciaacuterio processamento de alimentos

mecacircnica muacutesica Quem vasculha oportunidades natildeo pode deixar de notar que ateacute o serviccedilo puacuteblico jaacute

oferece concursos para os teacutecnicos e tecnoacutelogos Eacute natural que o recente crescimento da informaacutetica surja

como uma aacuterea muito aquecida afinal quem pode prescindir dos computadores das redes da manutenccedilatildeo

das maacutequinas das homepages do design graacutefico Mas existem outros mercados igualmente promissores e

outros ainda seratildeo criados Olhe pra si proacuteprio encare seus talentos enfrente seus desafios seja racional

sem perder a sensibilidade dirija o olhar para o distante mas caminhe um passo de cada vez em solo

firme

Optando pela graduaccedilatildeo procure conhecer antecipadamente a sua escolha os proacutes e contras

converse com quem estaacute fazendo com quem jaacute fez seja honesto consigo proacuteprio aonde quer chegar Mas

natildeo se esqueccedila que se houver mudanccedila de rumos a experiecircncia e enriquecimento seguiratildeo ao seu lado

Os cursos mais raacutepidos natildeo impedem que se faccedila uma graduaccedilatildeo posteriormente jaacute entatildeo

consciente do seu perfil e do mercado A grande vantagem desses cursos eacute a conquista manutenccedilatildeo e

reconquista de emprego (a chamada empregabilidade) e o tempo mas nada deve se transformar numa

camisa de forccedila que impeccedila voos mais largos tudo eacute uma questatildeo de estrateacutegia ndash recorde-se que o caminho

eacute menos iacutengreme para quem sabe aonde quer chegar

Qualquer que seja o caminho ndash graduaccedilatildeo teacutecnico ou tecnoacutelogo ndash quem quer seguir adiante natildeo

pode se furtar a estudar liacutenguas conhecer as tecnologias e as inserccedilotildees especiacuteficas da aacuterea escolhida saber

se comunicar conviver com a diversidade em todos os aspectos sociais culturais mercadoloacutegicos e

principalmente eacutetnicos

Consulte as inovaccedilotildees em graduaccedilatildeo nos inuacutemeros sites das universidades puacuteblicas e privadas

Para uma noccedilatildeo dos cursos teacutecnicos e tecnoacutelogos os sites da FATEC e das Escolas Teacutecnicas (Etecs) do

Centro Paula Souza

httpwwwfatecspbr

httpwwwvestibulinhoeteccombr

Ivan Siqueira

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

A crise econocircmica mundial e os dilemas da militacircncia e dos movimentos sociais afinal quem vai pagar a conta

O mesmo sistema ideoloacutegico que justifica o processo de globalizaccedilatildeo ajudando a consideraacute-lo o uacutenico caminho histoacuterico

acaba tambeacutem por impor uma certa visatildeo da crise e a aceitaccedilatildeo dos remeacutedios sugeridos Em virtude disso todos os paiacuteses

lugares e pessoas passam a se comportar isto eacute a organizar sua accedilatildeo como se tal acutecriseacute fosse a mesma para todos e como se

a receita para afastaacute-la devesse ser geralmente a mesma Na verdade poreacutem a uacutenica crise que os responsaacuteveis desejam afastar

eacute a crise financeira e qualquer outra Aiacute estaacute na verdade uma causa para mais aprofundamento da crise real - econocircmica

social poliacutetica moral - que caracteriza o nosso tempo SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave

consciecircncia universal Satildeo Paulo Record 2000 p169)

A palavra ldquocriserdquo tem origem grega eis que usada por Hipoacutecrates para designar o momento culminante de uma doenccedila Assim para o pai da medicina ocidental a crise seria o cuacutemulo da doenccedila apoacutes o que soacute poderia advir a cura a soluccedilatildeo Por essa razatildeo era o momento crucial para a tomada de decisotildees para se adotar a medida adequada a uma resoluccedilatildeo eficaz ao problema

Quando se fala em crise econocircmica mundial haacute uma tendecircncia alarmista por um lado que quer propagar a ideacuteia de que somente agora o caos seraacute instalado no mundo e por outro num sentido oposto haacute aqueles que reputam a crise como algo tolo banal sem grande importacircncia As duas ideacuteias polarizadas estatildeo assentadas sobre o mesmo fundamento qual seja o mascaramento do verdadeiro fundamento que leva o sistema de produccedilatildeo capitalista a uma agonia de difiacutecil soluccedilatildeo

A crise ou a doenccedila (conforme a origem da palavra) eacute uma caracteriacutestica tiacutepica do capitalismo Seguindo a argumentaccedilatildeo marxista temos que todo sistema de produccedilatildeo econocircmica tem necessariamente dois elementos 1) estaacute baseado na exploraccedilatildeo de oprimidos por opressores 2) sempre traz dentro de si o princiacutepio da sua proacutepria destruiccedilatildeo Deste modo na Antiguidade temos no sistema escravagista a exploraccedilatildeo de escravos por senhores baseada na forccedila bruta no cativeiro poreacutem quando a forccedila se torna escassa para conter os escravos o sistema perece dando lugar a outro Daiacute na era medieval europeacuteia surge uma nova forma de exploraccedilatildeo agora baseada na posse da terra entre servo e senhor feudal contudo quando a produccedilatildeo agriacutecola eacute enorme a sobra eacute comercializada pelo servo e este deixa de depender do senhor originando outro sistema de produccedilatildeo o Capitalismo

Basicamente e de forma bastante elementar esta eacute para Karl Marx o raciociacutenio da evoluccedilatildeo econocircmica atraveacutes da histoacuteria Toda forma de produccedilatildeo estaacute baseada na exploraccedilatildeo que reside em algum mecanismo de submissatildeo (forccedila terra) todavia o capitalismo cria um modo de opressatildeo proacutepria fundada na reparticcedilatildeo entre Capital e Trabalho Haacute aqueles que possuem o capital (dinheiro) e aqueles que natildeo possuem ndash a estes uacuteltimos soacute resta trabalhar para que possam transformar o trabalho em capital e se sustentar no baacutesico Por essa razatildeo soacute existe capitalismo se houver distribuiccedilatildeo desigual de renda trata-se de um sistema que soacute sobrevive na desigualdade ndash soacute iraacute se submeter ao trabalho aquele que natildeo possuir capital ou seja se todos possuiacutessem capital natildeo haveria trabalho natildeo haveria exploraccedilatildeo e consequentemente natildeo haveria capitalismo

Por isso quando o capitalismo surgiu ele se fez acompanhar por um projeto ideoloacutegico que pudesse sustentar a desigualdade econocircmica Desde seus primoacuterdios no Renascimento o abandono de um princiacutepio de deus como centro do mundo e a organizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico perfazem a ideacuteia de que o homem pode ter o controle de tudo jaacute que eacute dotado de razatildeo O racionalismo ao lado do sistema capitalista constitui a face ilusoacuteria da beleza da Modernidade A razatildeo renascentista encontra entatildeo seu

apogeu no Iluminismo e a partir deste erige-se toda uma administraccedilatildeo puacuteblica na figura do Estado de Direito a fim de sustentar a dominaccedilatildeo e a desigualdade

Entretanto mesmo com todo o instrumental ideoloacutegico poliacutetico e juriacutedico no intuito de sustentar a exploraccedilatildeo de quem natildeo possui capital a base da produccedilatildeo econocircmica capitalista por ser muito sutil sempre guardaraacute uma fragilidade Natildeo se trata mais de um elemento concreto como a forccedila ou a terra a desigualdade que sustenta o sistema eacute tambeacutem a responsaacutevel por sua possibilidade e falha e eacute por isso que o capitalismo estaacute em constante renovaccedilatildeo Assim a crise natildeo eacute estranha ao capitalismo ela lhe eacute proacutepria e eacute atraveacutes dela que o sistema se reinventa e sobrevive comutando-se de mercantilismo em capitalismo industrial e deste uacuteltimo em financeiro e especulativo

Esta crise do iniacutecio do seacuteculo XXI eacute a crise do capitalismo das bolsas de valores assim como a crise de 1929 foi a crise do capitalismo industrial Portanto aqueles que causam barulho passando a falsa ideacuteia de que tais abalos satildeo novidade pretendem ao mesmo tempo negar que o capitalismo eacute um sistema fundamentalmente faliacutevel e criacutetico e usar a tal ldquocrise econocircmicardquo como desculpa para a reduccedilatildeo de poliacuteticas para o povo para as demissotildees em massa no setor privado e para o corte de gastos em todas as esferas A propaganda da crise nos meios de comunicaccedilatildeo forccedila todo o corpo social a assimilaacute-la como um problema coletivo O desequiliacutebrio econocircmico pautado na dinacircmica de um sistema injusto e instaacutevel e gerado por quem deteacutem o poder acaba sendo suportado por todos e como eacute usual os mais pobres satildeo mais sensivelmente afetados e acabam saindo muito mais prejudicados desta situaccedilatildeo

Por outro acircngulo sob o argumento verdadeiro de que a crise eacute natural ao sistema capitalista haacute os que pretendem lhe emprestar um ar de banalidade como se a doenccedila fosse soacute uma leve gripe que logo passaraacute quando na realidade trata-se de uma doenccedila crocircnica e incuraacutevel

Reputam-se como responsaacuteveis pela crise o inchaccedilo do sistema de creacutedito imobiliaacuterio norte-americano e o abuso na especulaccedilatildeo Neste uacuteltimo caso alguns especuladores teriam colocado em circulaccedilatildeo papeacuteis fictiacutecios sem correspondecircncia material do valor neles depositado Esta ideacuteia eacute por si soacute fantasiosa e enganadora pois parece que somente agora alguns indiviacuteduos imorais teriam vendido papeacuteis sem valor quando na realidade esta especulaccedilatildeo (como o nome jaacute diz) eacute o fundamento do proacuteprio funcionamento do sistema O capitalismo financeiro dispensa a correspondecircncia entre valor especulado e riqueza material real essa eacute a sua loacutegica interna para transformar capital em mais capital sem usar o trabalho

Como o capitalismo por causa da especulaccedilatildeo pode gerar capital prescindindo da exploraccedilatildeo do trabalho naturalmente aumenta o desemprego ainda mais com a crescente mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo que dispensa a matildeo-de-obra Entatildeo a grande massa de trabalhadores sem ocupaccedilatildeo cria uma lacuna no mercado consumidor ndash sem trabalho natildeo haacute consumo Isso faz com que soacute seja possiacutevel vender atraveacutes do creacutedito e os sistemas de financiamento crescem para imoacuteveis automoacuteveis eletroeletrocircnicos eletrodomeacutesticos tudo Nunca se comprou tanto a prazo e em prazos tatildeo extensos

Portanto tanto a falecircncia do sistema de creacutedito imobiliaacuterio quanto o abuso na especulaccedilatildeo natildeo satildeo causas isoladas que acabaram gerando a crise mas satildeo produtos e desdobramentos naturais do proacuteprio capitalismo financeiro especulativo No entanto se o capitalismo como sistema de produccedilatildeo estaacute baseado no conflito entre capital e trabalho quando se dispensa o trabalho para a produccedilatildeo de riqueza recorrendo-se somente agrave especulaccedilatildeo rompe-se a base do sistema Por isso esta crise eacute profunda e natildeo passageira e superficial como querem alguns

Inclusive a crise mundial atual natildeo eacute somente econocircmica A voracidade do sistema capitalista encontrou um limite agrave expansatildeo desmedida pra a produccedilatildeo de lucros e o acuacutemulo sem fim ndash este limite eacute o proacuteprio mundo O planeta jaacute natildeo suporta as consequecircncias da loacutegica capitalista e a crise ambiental denota que os dias do sistema estatildeo contados se natildeo pela falecircncia econocircmica pela impossibilidade de permanecer na Terra apoacutes tudo o que a Modernidade fez a ela

O racionalismo o avanccedilo da tecnologia e a ciecircncia moderna foram tatildeo devastadores quanto o proacuteprio capitalismo E esse apego agrave racionalidade que afastou qualquer concepccedilatildeo religiosa moral e eacutetica de mundo deixou-nos sem nenhum referencial A modernidade substituiu a feacute pela razatildeo a crenccedila em deuses pela crenccedila na ciecircncia e agora quando o capitalismo agoniza e a ciecircncia destroacutei o planeta quando vivemos os horrores das guerras do seacuteculo XX a fome a desigualdade a injusticcedila natildeo podemos mais fechar os olhos iludidos acreditando nas promessas da filosofia iluminista de ldquoliberdade igualdade e fraternidaderdquo e positivistas de ldquoordem e progressordquo

Soacute nos restou o desconforto e a desilusatildeo de um mundo conturbado sem valores morais com um Estado quebrado a natureza degradada a economia vacilante e nenhum lugar para a ideologia A globalizaccedilatildeo somente pulverizou as fronteiras econocircmicas mas as desigualdades locais foram mantidas e exacerbadas Globalizamos a cultura de massas para expandir o consumismo mas jamais construiacutemos oportunidades globais

A crise eacute portanto total e absoluta Natildeo eacute soacute o capitalismo que sofre uma crise mas a Modernidade a razatildeo moderna a moral a ciecircncia a economia O Estado moderno padece por falta de legitimidade quando natildeo realiza seus objetivos baacutesicos e manteacutem a desigualdade a democracia se extingue ante a corrupccedilatildeo e a burocracia o Direito moderno natildeo encontra legitimidade e a lei eacute constantemente desobedecida soacute haacute previsotildees formais sem nenhuma efetivaccedilatildeo dos direitos mais fundamentais

Nesta realidade ainda haveraacute lugar para a militacircncia Ainda haveraacute espaccedilo para a ideologia Os movimentos sociais ainda fazem sentido Como lutar por direitos se o proacuteprio Direito padece Como desejar inclusatildeo se o Estado desaparece Como pretender justiccedila e igualdade em um sistema desigual e agonizante

A falta de resposta a essas perguntas poderia nos levar agrave absoluta desilusatildeo Poreacutem conveacutem lembrarmos Hipoacutecrates no iniacutecio do texto que cunhou a palavra ldquocriserdquo Se a crise eacute o apogeu de uma patologia de um desarranjo de um desequiliacutebrio eacute tambeacutem o momento da intervenccedilatildeo o momento da soluccedilatildeo Contudo esta soluccedilatildeo natildeo pode ser aquela imposta pelos opressores no sentido da contemplaccedilatildeo de seus interesses O remeacutedio adequado eacute a superaccedilatildeo da proacutepria loacutegica do sistema Num estado de coisas em que todas as estruturas se encontram em crise e a humanidade encara a cataacutestrofe natildeo nos resta mais nada a natildeo ser a accedilatildeo o resgate da razatildeo verdadeira e a crenccedila em um futuro melhor No auge da doenccedila soacute nos resta administrarmos o remeacutedio correto e perseguirmos incansavelmente a verdadeira cura

Advogada graduada pela Unesp poacutes-graduada pela EPD Professora Universitaacuteria e em cursos preparatoacuterios

Tarefa Pesquisar e fazer uma redaccedilatildeo sobre o desemprego e as etnias Pesquisar o pensamento de um dos maiores brasileiros que tematizou sobre a crise mundial Milton Santos Taylisi de Souza Correcirca Leitelowast

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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Os desafios da militacircncia negra em defesa das mulheres e pela superaccedilatildeo da violecircncia de gecircnero

Por Gabriela Watson

A bela ou a fera o que vocecirc vecirc no espelho

Olhar no espelho e se identificar mais com a Bela do que com uma fera eacute um desafio para as mulheres negras no Brasil Principalmente quando no espelho da sociedade brasileira a televisatildeo elas soacute aparecem na eacutepoca do carnaval o que infelizmente tambeacutem natildeo eacute motivo de comemoraccedilatildeo Satildeo inuacutemeros os artigos que comprovam a ausecircncia de negras e da valorizaccedilatildeo de elementos da cultura afro-brasileira Entretanto esse texto se deteraacute na seguinte discussatildeo como a violecircncia psicoloacutegica afeta o imaginaacuterio da mulher negra

Quando falamos em mulheres negras tratamos de duas marcas sociais o de ser mulher numa sociedade em que os homens tecircm mais aceitaccedilatildeo e o de ser negra numa sociedade que dificulta o acesso dos negros aos espaccedilos de poder e decisatildeo

O ato da mulher se autonomear como negra jaacute constitui um desafio o primeiro obstaacuteculo eacute o de se reconhecer negra contrariando aqueles que preferem o termo ldquomoreninhardquo em seguida entender que estaacute fora do padratildeo de beleza imposto pelos meios de comunicaccedilatildeo e se por uacuteltimo apesar de perceber uma certa desconfianccedila quanto agrave sua capacidade de trabalho essa mulher se reconhecer como negra ela realmente eacute uma guerreira

Quando o assunto eacute violecircncia para com as mulheres negras devemos levar em conta a seguinte nota feita pela escritora Alzira Rufino

Se a violecircncia contra a mulher eacute uma epidemia que desconhece classes sociais existem segmentos que satildeo mais vulneraacuteveis porque jaacute tecircm uma outra histoacuteria de violecircncia como eacute o das mulheres negras sob fogo cruzado de vaacuterias formas de violecircncia a de gecircnero privada no lar a da pobreza que as escraviza as jornadas de trabalho interminaacuteveis das quais natildeo sobraraacute sequer a miacutenima aposentadoria e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaccedilo que vai do fogatildeo ao tanque domesticadas no fundo de cena 1

Dado o exposto eacute vaacutelido fazer um recorte racial da violecircncia porque as agressotildees passadas pelas mulheres negras tecircm sua origem no passado histoacuterico de exploraccedilatildeo a partir da escravidatildeo

Apesar de podermos abordar a violecircncia contra negras em todos os campos de accedilotildees possiacuteveis (sauacutede trabalho e social) talvez aquela que cause dor mais profunda eacute a violecircncia psicoloacutegica Em outras palavras essa violecircncia eacute a falta de auto-estima de orgulho que afeta diretamente na sua forccedila de vontade qualidade e perspectiva de vida

Por violecircncia moral me refiro aquela violecircncia que se perpetua de forma inconsciente atraveacutes de valores passados principalmente pela comunicaccedilatildeo que abrange desde a oralidade (expressotildees populares como ldquocabelo ruimrdquo) interaccedilatildeo social (conversas gestos) e ateacute a forma de comunicaccedilatildeo de massa (no Brasil a televisatildeo)

A importacircncia da miacutedia na formaccedilatildeo e informaccedilatildeo das pessoas eacute indiscutiacutevel nas palavras do jornalista Dennis de Oliveira ldquovivemos numa sociedade marcada pela midiatizaccedilatildeo que significa a penetraccedilatildeo da do modo de pensar dos meios de comunicaccedilatildeo em todos os ambientes das relaccedilotildees sociaisrdquo2 E infelizmente encontramos muitos vestiacutegios de pensamentos racistas em toda a comunicaccedilatildeo (livros escolares revistas TV e cinema) A maioria dos papeacuteis ldquodadosrdquo aos negros ainda eacute reduzida a lugares comuns eou personagens que demonstram a falta de harmonia e orgulho entre membros da comunidade negra (apenas alguns exemplos tiacutetulos como ldquoDa cor do pecadordquo a escrava Isaura ser branca ausecircncia de casais negros e de famiacutelias de negros estruturadas etc)

O ponto da discussatildeo eacute o resultado dessa contiacutenua accedilatildeo negativa de publicidade e propaganda na formaccedilatildeo do imaginaacuterio da mulher negra Muitos diratildeo que isso natildeo afeta em nada pois eacute apenas uma novela ou frase no entanto essa forma de representaccedilatildeo elabora uma construccedilatildeo social tanto do que eacute ser negro quanto da mulher negra E aiacute que entra o conceito de formaccedilatildeo da identidade Segundo Elisa Nascimento ldquoA identidade pode ser vista como uma espeacutecie de encruzilhada existencial entre indiviacuteduo e sociedade em que ambos vatildeo se constituindo mutuamente () A pessoa realiza esse processo por meio de sua proacutepria existecircncia de vida e das representaccedilotildees da experiecircncia coletiva de sua comunidade e sociedaderdquo3

Portanto uma frase uma novela uma piada natildeo satildeo pura e simplesmente o que parecem mas influenciam diretamente na construccedilatildeo de identidade que a mulher negra cria sobre si mesma sobre seu papel e lugar na sociedade Eacute fato a mulher negra via de regra natildeo se crecirc bonita nem valorizada pois natildeo tem referecircncia para isso A imagem que se tem da mulher negra eacute daquela que foi violada da serviccedilal (Tia Anastaacutecia) ou da lasciva quando na verdade a mulher negra sobretudo eacute sinocircnimo de resistecircncia de perseveranccedila e por que natildeo de esperanccedila Outros diratildeo que satildeo exageros mas essa influecircncia Que produz efeitos contraacuterios aos desejados eacute possiacutevel e plausiacutevel a ideacuteia que temos de noacutes mesmos condiciona nossos sonhos e metas As mulheres negras vecircem de tantas maneiras e sempre de forma interna representaccedilotildees negativas que acabam por introjetar a ideacuteia e passam a acreditar que eacute a realidade

O que vemos satildeo mulheres com baixa auto-estima que buscam parecer com o ideal de beleza propagado pela miacutedia e cujas perspectivas natildeo almejam um melhor lugar na sociedade mais respeito e principalmente mais cidadania A questatildeo natildeo se resume a se achar bonita mas tambeacutem natildeo se julgar capazes e nem merecedoras dos direitos aos quais todos deveriacuteamos ter acesso

A travessia de ser uma mulher de aparecircncia negra para ser uma mulher negra cidadatilde eacute tatildeo longa e seu iniacutecio eacute marcado pelo resgate e apropriaccedilatildeo da sua cultura que tambeacutem natildeo eacute ensinada na escola Dizer sou mulher negra natildeo eacute faacutecil Ao dizer isso tambeacutem assumimos nosso passado doloroso mas tambeacutem a ancestralidade e sabedoria africanas e nossa histoacuteria de superaccedilatildeo Mas esse percurso eacute tatildeo longo quanto o caminho ateacute a costa do Marfim do outro lado do Atlacircntico

ldquoResgaterdquo

Sou negra ponto final

devolvo-me a identidade

rasgo a minha certidatildeo

sou negra

sem reticecircncias

sem viacutergulas sem ausecircncias

sou negra balacobaco

sou negra noite cansaccedilo

sou negra

ponto final

Alzira Rufino 1986

Palavras-chave pontos que podem ser discutidos a partir do texto mulher negra violecircncia psicoloacutegica comunicaccedilatildeo de massa midiatizaccedilatildeo imaginaacuterio construccedilatildeo social identidade e fenoacutetipo

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Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

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Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

E-mail educafrofranciscanosorgbr Sites wwweducafroorgbr

Sede Nacional ndash S Paulo Rua Riachuelo 342 Sala 05 Centro CEP 01007-000 S Paulo SP - Fonefax (11) 3106-3411

Regional Rio de Janeiro Rua Buenos Aires 167 - Centro- CEP 20060-070 ndash Rio de Janeiro- RJ

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

e-mail educafrofranciscanosorgbr Site wwweducafroorgbr

Sede Nacional Rua Riachuelo 342 - Sala 05 - Centro - CEP 01007-000 - Satildeo Paulo SP - pabxfax (11) 31075024

reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

para enfrentar essa realidade por todo esse tempo e tirar o maacuteximo de proveito ndash saber estudar como fazecirc-

lo progressivamente pesquisar

As formaccedilotildees mais raacutepidas visam a preparar pessoal para as funccedilotildees mais contemporacircneas O

enfoque eacute dirigido para as atuaccedilotildees teacutecnicas Haacute um amplo leque de possibilidades turismo museu

tecnologia vendas por telefone mercado financeiro sauacutede judiciaacuterio processamento de alimentos

mecacircnica muacutesica Quem vasculha oportunidades natildeo pode deixar de notar que ateacute o serviccedilo puacuteblico jaacute

oferece concursos para os teacutecnicos e tecnoacutelogos Eacute natural que o recente crescimento da informaacutetica surja

como uma aacuterea muito aquecida afinal quem pode prescindir dos computadores das redes da manutenccedilatildeo

das maacutequinas das homepages do design graacutefico Mas existem outros mercados igualmente promissores e

outros ainda seratildeo criados Olhe pra si proacuteprio encare seus talentos enfrente seus desafios seja racional

sem perder a sensibilidade dirija o olhar para o distante mas caminhe um passo de cada vez em solo

firme

Optando pela graduaccedilatildeo procure conhecer antecipadamente a sua escolha os proacutes e contras

converse com quem estaacute fazendo com quem jaacute fez seja honesto consigo proacuteprio aonde quer chegar Mas

natildeo se esqueccedila que se houver mudanccedila de rumos a experiecircncia e enriquecimento seguiratildeo ao seu lado

Os cursos mais raacutepidos natildeo impedem que se faccedila uma graduaccedilatildeo posteriormente jaacute entatildeo

consciente do seu perfil e do mercado A grande vantagem desses cursos eacute a conquista manutenccedilatildeo e

reconquista de emprego (a chamada empregabilidade) e o tempo mas nada deve se transformar numa

camisa de forccedila que impeccedila voos mais largos tudo eacute uma questatildeo de estrateacutegia ndash recorde-se que o caminho

eacute menos iacutengreme para quem sabe aonde quer chegar

Qualquer que seja o caminho ndash graduaccedilatildeo teacutecnico ou tecnoacutelogo ndash quem quer seguir adiante natildeo

pode se furtar a estudar liacutenguas conhecer as tecnologias e as inserccedilotildees especiacuteficas da aacuterea escolhida saber

se comunicar conviver com a diversidade em todos os aspectos sociais culturais mercadoloacutegicos e

principalmente eacutetnicos

Consulte as inovaccedilotildees em graduaccedilatildeo nos inuacutemeros sites das universidades puacuteblicas e privadas

Para uma noccedilatildeo dos cursos teacutecnicos e tecnoacutelogos os sites da FATEC e das Escolas Teacutecnicas (Etecs) do

Centro Paula Souza

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Ivan Siqueira

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A crise econocircmica mundial e os dilemas da militacircncia e dos movimentos sociais afinal quem vai pagar a conta

O mesmo sistema ideoloacutegico que justifica o processo de globalizaccedilatildeo ajudando a consideraacute-lo o uacutenico caminho histoacuterico

acaba tambeacutem por impor uma certa visatildeo da crise e a aceitaccedilatildeo dos remeacutedios sugeridos Em virtude disso todos os paiacuteses

lugares e pessoas passam a se comportar isto eacute a organizar sua accedilatildeo como se tal acutecriseacute fosse a mesma para todos e como se

a receita para afastaacute-la devesse ser geralmente a mesma Na verdade poreacutem a uacutenica crise que os responsaacuteveis desejam afastar

eacute a crise financeira e qualquer outra Aiacute estaacute na verdade uma causa para mais aprofundamento da crise real - econocircmica

social poliacutetica moral - que caracteriza o nosso tempo SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave

consciecircncia universal Satildeo Paulo Record 2000 p169)

A palavra ldquocriserdquo tem origem grega eis que usada por Hipoacutecrates para designar o momento culminante de uma doenccedila Assim para o pai da medicina ocidental a crise seria o cuacutemulo da doenccedila apoacutes o que soacute poderia advir a cura a soluccedilatildeo Por essa razatildeo era o momento crucial para a tomada de decisotildees para se adotar a medida adequada a uma resoluccedilatildeo eficaz ao problema

Quando se fala em crise econocircmica mundial haacute uma tendecircncia alarmista por um lado que quer propagar a ideacuteia de que somente agora o caos seraacute instalado no mundo e por outro num sentido oposto haacute aqueles que reputam a crise como algo tolo banal sem grande importacircncia As duas ideacuteias polarizadas estatildeo assentadas sobre o mesmo fundamento qual seja o mascaramento do verdadeiro fundamento que leva o sistema de produccedilatildeo capitalista a uma agonia de difiacutecil soluccedilatildeo

A crise ou a doenccedila (conforme a origem da palavra) eacute uma caracteriacutestica tiacutepica do capitalismo Seguindo a argumentaccedilatildeo marxista temos que todo sistema de produccedilatildeo econocircmica tem necessariamente dois elementos 1) estaacute baseado na exploraccedilatildeo de oprimidos por opressores 2) sempre traz dentro de si o princiacutepio da sua proacutepria destruiccedilatildeo Deste modo na Antiguidade temos no sistema escravagista a exploraccedilatildeo de escravos por senhores baseada na forccedila bruta no cativeiro poreacutem quando a forccedila se torna escassa para conter os escravos o sistema perece dando lugar a outro Daiacute na era medieval europeacuteia surge uma nova forma de exploraccedilatildeo agora baseada na posse da terra entre servo e senhor feudal contudo quando a produccedilatildeo agriacutecola eacute enorme a sobra eacute comercializada pelo servo e este deixa de depender do senhor originando outro sistema de produccedilatildeo o Capitalismo

Basicamente e de forma bastante elementar esta eacute para Karl Marx o raciociacutenio da evoluccedilatildeo econocircmica atraveacutes da histoacuteria Toda forma de produccedilatildeo estaacute baseada na exploraccedilatildeo que reside em algum mecanismo de submissatildeo (forccedila terra) todavia o capitalismo cria um modo de opressatildeo proacutepria fundada na reparticcedilatildeo entre Capital e Trabalho Haacute aqueles que possuem o capital (dinheiro) e aqueles que natildeo possuem ndash a estes uacuteltimos soacute resta trabalhar para que possam transformar o trabalho em capital e se sustentar no baacutesico Por essa razatildeo soacute existe capitalismo se houver distribuiccedilatildeo desigual de renda trata-se de um sistema que soacute sobrevive na desigualdade ndash soacute iraacute se submeter ao trabalho aquele que natildeo possuir capital ou seja se todos possuiacutessem capital natildeo haveria trabalho natildeo haveria exploraccedilatildeo e consequentemente natildeo haveria capitalismo

Por isso quando o capitalismo surgiu ele se fez acompanhar por um projeto ideoloacutegico que pudesse sustentar a desigualdade econocircmica Desde seus primoacuterdios no Renascimento o abandono de um princiacutepio de deus como centro do mundo e a organizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico perfazem a ideacuteia de que o homem pode ter o controle de tudo jaacute que eacute dotado de razatildeo O racionalismo ao lado do sistema capitalista constitui a face ilusoacuteria da beleza da Modernidade A razatildeo renascentista encontra entatildeo seu

apogeu no Iluminismo e a partir deste erige-se toda uma administraccedilatildeo puacuteblica na figura do Estado de Direito a fim de sustentar a dominaccedilatildeo e a desigualdade

Entretanto mesmo com todo o instrumental ideoloacutegico poliacutetico e juriacutedico no intuito de sustentar a exploraccedilatildeo de quem natildeo possui capital a base da produccedilatildeo econocircmica capitalista por ser muito sutil sempre guardaraacute uma fragilidade Natildeo se trata mais de um elemento concreto como a forccedila ou a terra a desigualdade que sustenta o sistema eacute tambeacutem a responsaacutevel por sua possibilidade e falha e eacute por isso que o capitalismo estaacute em constante renovaccedilatildeo Assim a crise natildeo eacute estranha ao capitalismo ela lhe eacute proacutepria e eacute atraveacutes dela que o sistema se reinventa e sobrevive comutando-se de mercantilismo em capitalismo industrial e deste uacuteltimo em financeiro e especulativo

Esta crise do iniacutecio do seacuteculo XXI eacute a crise do capitalismo das bolsas de valores assim como a crise de 1929 foi a crise do capitalismo industrial Portanto aqueles que causam barulho passando a falsa ideacuteia de que tais abalos satildeo novidade pretendem ao mesmo tempo negar que o capitalismo eacute um sistema fundamentalmente faliacutevel e criacutetico e usar a tal ldquocrise econocircmicardquo como desculpa para a reduccedilatildeo de poliacuteticas para o povo para as demissotildees em massa no setor privado e para o corte de gastos em todas as esferas A propaganda da crise nos meios de comunicaccedilatildeo forccedila todo o corpo social a assimilaacute-la como um problema coletivo O desequiliacutebrio econocircmico pautado na dinacircmica de um sistema injusto e instaacutevel e gerado por quem deteacutem o poder acaba sendo suportado por todos e como eacute usual os mais pobres satildeo mais sensivelmente afetados e acabam saindo muito mais prejudicados desta situaccedilatildeo

Por outro acircngulo sob o argumento verdadeiro de que a crise eacute natural ao sistema capitalista haacute os que pretendem lhe emprestar um ar de banalidade como se a doenccedila fosse soacute uma leve gripe que logo passaraacute quando na realidade trata-se de uma doenccedila crocircnica e incuraacutevel

Reputam-se como responsaacuteveis pela crise o inchaccedilo do sistema de creacutedito imobiliaacuterio norte-americano e o abuso na especulaccedilatildeo Neste uacuteltimo caso alguns especuladores teriam colocado em circulaccedilatildeo papeacuteis fictiacutecios sem correspondecircncia material do valor neles depositado Esta ideacuteia eacute por si soacute fantasiosa e enganadora pois parece que somente agora alguns indiviacuteduos imorais teriam vendido papeacuteis sem valor quando na realidade esta especulaccedilatildeo (como o nome jaacute diz) eacute o fundamento do proacuteprio funcionamento do sistema O capitalismo financeiro dispensa a correspondecircncia entre valor especulado e riqueza material real essa eacute a sua loacutegica interna para transformar capital em mais capital sem usar o trabalho

Como o capitalismo por causa da especulaccedilatildeo pode gerar capital prescindindo da exploraccedilatildeo do trabalho naturalmente aumenta o desemprego ainda mais com a crescente mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo que dispensa a matildeo-de-obra Entatildeo a grande massa de trabalhadores sem ocupaccedilatildeo cria uma lacuna no mercado consumidor ndash sem trabalho natildeo haacute consumo Isso faz com que soacute seja possiacutevel vender atraveacutes do creacutedito e os sistemas de financiamento crescem para imoacuteveis automoacuteveis eletroeletrocircnicos eletrodomeacutesticos tudo Nunca se comprou tanto a prazo e em prazos tatildeo extensos

Portanto tanto a falecircncia do sistema de creacutedito imobiliaacuterio quanto o abuso na especulaccedilatildeo natildeo satildeo causas isoladas que acabaram gerando a crise mas satildeo produtos e desdobramentos naturais do proacuteprio capitalismo financeiro especulativo No entanto se o capitalismo como sistema de produccedilatildeo estaacute baseado no conflito entre capital e trabalho quando se dispensa o trabalho para a produccedilatildeo de riqueza recorrendo-se somente agrave especulaccedilatildeo rompe-se a base do sistema Por isso esta crise eacute profunda e natildeo passageira e superficial como querem alguns

Inclusive a crise mundial atual natildeo eacute somente econocircmica A voracidade do sistema capitalista encontrou um limite agrave expansatildeo desmedida pra a produccedilatildeo de lucros e o acuacutemulo sem fim ndash este limite eacute o proacuteprio mundo O planeta jaacute natildeo suporta as consequecircncias da loacutegica capitalista e a crise ambiental denota que os dias do sistema estatildeo contados se natildeo pela falecircncia econocircmica pela impossibilidade de permanecer na Terra apoacutes tudo o que a Modernidade fez a ela

O racionalismo o avanccedilo da tecnologia e a ciecircncia moderna foram tatildeo devastadores quanto o proacuteprio capitalismo E esse apego agrave racionalidade que afastou qualquer concepccedilatildeo religiosa moral e eacutetica de mundo deixou-nos sem nenhum referencial A modernidade substituiu a feacute pela razatildeo a crenccedila em deuses pela crenccedila na ciecircncia e agora quando o capitalismo agoniza e a ciecircncia destroacutei o planeta quando vivemos os horrores das guerras do seacuteculo XX a fome a desigualdade a injusticcedila natildeo podemos mais fechar os olhos iludidos acreditando nas promessas da filosofia iluminista de ldquoliberdade igualdade e fraternidaderdquo e positivistas de ldquoordem e progressordquo

Soacute nos restou o desconforto e a desilusatildeo de um mundo conturbado sem valores morais com um Estado quebrado a natureza degradada a economia vacilante e nenhum lugar para a ideologia A globalizaccedilatildeo somente pulverizou as fronteiras econocircmicas mas as desigualdades locais foram mantidas e exacerbadas Globalizamos a cultura de massas para expandir o consumismo mas jamais construiacutemos oportunidades globais

A crise eacute portanto total e absoluta Natildeo eacute soacute o capitalismo que sofre uma crise mas a Modernidade a razatildeo moderna a moral a ciecircncia a economia O Estado moderno padece por falta de legitimidade quando natildeo realiza seus objetivos baacutesicos e manteacutem a desigualdade a democracia se extingue ante a corrupccedilatildeo e a burocracia o Direito moderno natildeo encontra legitimidade e a lei eacute constantemente desobedecida soacute haacute previsotildees formais sem nenhuma efetivaccedilatildeo dos direitos mais fundamentais

Nesta realidade ainda haveraacute lugar para a militacircncia Ainda haveraacute espaccedilo para a ideologia Os movimentos sociais ainda fazem sentido Como lutar por direitos se o proacuteprio Direito padece Como desejar inclusatildeo se o Estado desaparece Como pretender justiccedila e igualdade em um sistema desigual e agonizante

A falta de resposta a essas perguntas poderia nos levar agrave absoluta desilusatildeo Poreacutem conveacutem lembrarmos Hipoacutecrates no iniacutecio do texto que cunhou a palavra ldquocriserdquo Se a crise eacute o apogeu de uma patologia de um desarranjo de um desequiliacutebrio eacute tambeacutem o momento da intervenccedilatildeo o momento da soluccedilatildeo Contudo esta soluccedilatildeo natildeo pode ser aquela imposta pelos opressores no sentido da contemplaccedilatildeo de seus interesses O remeacutedio adequado eacute a superaccedilatildeo da proacutepria loacutegica do sistema Num estado de coisas em que todas as estruturas se encontram em crise e a humanidade encara a cataacutestrofe natildeo nos resta mais nada a natildeo ser a accedilatildeo o resgate da razatildeo verdadeira e a crenccedila em um futuro melhor No auge da doenccedila soacute nos resta administrarmos o remeacutedio correto e perseguirmos incansavelmente a verdadeira cura

Advogada graduada pela Unesp poacutes-graduada pela EPD Professora Universitaacuteria e em cursos preparatoacuterios

Tarefa Pesquisar e fazer uma redaccedilatildeo sobre o desemprego e as etnias Pesquisar o pensamento de um dos maiores brasileiros que tematizou sobre a crise mundial Milton Santos Taylisi de Souza Correcirca Leitelowast

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Os desafios da militacircncia negra em defesa das mulheres e pela superaccedilatildeo da violecircncia de gecircnero

Por Gabriela Watson

A bela ou a fera o que vocecirc vecirc no espelho

Olhar no espelho e se identificar mais com a Bela do que com uma fera eacute um desafio para as mulheres negras no Brasil Principalmente quando no espelho da sociedade brasileira a televisatildeo elas soacute aparecem na eacutepoca do carnaval o que infelizmente tambeacutem natildeo eacute motivo de comemoraccedilatildeo Satildeo inuacutemeros os artigos que comprovam a ausecircncia de negras e da valorizaccedilatildeo de elementos da cultura afro-brasileira Entretanto esse texto se deteraacute na seguinte discussatildeo como a violecircncia psicoloacutegica afeta o imaginaacuterio da mulher negra

Quando falamos em mulheres negras tratamos de duas marcas sociais o de ser mulher numa sociedade em que os homens tecircm mais aceitaccedilatildeo e o de ser negra numa sociedade que dificulta o acesso dos negros aos espaccedilos de poder e decisatildeo

O ato da mulher se autonomear como negra jaacute constitui um desafio o primeiro obstaacuteculo eacute o de se reconhecer negra contrariando aqueles que preferem o termo ldquomoreninhardquo em seguida entender que estaacute fora do padratildeo de beleza imposto pelos meios de comunicaccedilatildeo e se por uacuteltimo apesar de perceber uma certa desconfianccedila quanto agrave sua capacidade de trabalho essa mulher se reconhecer como negra ela realmente eacute uma guerreira

Quando o assunto eacute violecircncia para com as mulheres negras devemos levar em conta a seguinte nota feita pela escritora Alzira Rufino

Se a violecircncia contra a mulher eacute uma epidemia que desconhece classes sociais existem segmentos que satildeo mais vulneraacuteveis porque jaacute tecircm uma outra histoacuteria de violecircncia como eacute o das mulheres negras sob fogo cruzado de vaacuterias formas de violecircncia a de gecircnero privada no lar a da pobreza que as escraviza as jornadas de trabalho interminaacuteveis das quais natildeo sobraraacute sequer a miacutenima aposentadoria e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaccedilo que vai do fogatildeo ao tanque domesticadas no fundo de cena 1

Dado o exposto eacute vaacutelido fazer um recorte racial da violecircncia porque as agressotildees passadas pelas mulheres negras tecircm sua origem no passado histoacuterico de exploraccedilatildeo a partir da escravidatildeo

Apesar de podermos abordar a violecircncia contra negras em todos os campos de accedilotildees possiacuteveis (sauacutede trabalho e social) talvez aquela que cause dor mais profunda eacute a violecircncia psicoloacutegica Em outras palavras essa violecircncia eacute a falta de auto-estima de orgulho que afeta diretamente na sua forccedila de vontade qualidade e perspectiva de vida

Por violecircncia moral me refiro aquela violecircncia que se perpetua de forma inconsciente atraveacutes de valores passados principalmente pela comunicaccedilatildeo que abrange desde a oralidade (expressotildees populares como ldquocabelo ruimrdquo) interaccedilatildeo social (conversas gestos) e ateacute a forma de comunicaccedilatildeo de massa (no Brasil a televisatildeo)

A importacircncia da miacutedia na formaccedilatildeo e informaccedilatildeo das pessoas eacute indiscutiacutevel nas palavras do jornalista Dennis de Oliveira ldquovivemos numa sociedade marcada pela midiatizaccedilatildeo que significa a penetraccedilatildeo da do modo de pensar dos meios de comunicaccedilatildeo em todos os ambientes das relaccedilotildees sociaisrdquo2 E infelizmente encontramos muitos vestiacutegios de pensamentos racistas em toda a comunicaccedilatildeo (livros escolares revistas TV e cinema) A maioria dos papeacuteis ldquodadosrdquo aos negros ainda eacute reduzida a lugares comuns eou personagens que demonstram a falta de harmonia e orgulho entre membros da comunidade negra (apenas alguns exemplos tiacutetulos como ldquoDa cor do pecadordquo a escrava Isaura ser branca ausecircncia de casais negros e de famiacutelias de negros estruturadas etc)

O ponto da discussatildeo eacute o resultado dessa contiacutenua accedilatildeo negativa de publicidade e propaganda na formaccedilatildeo do imaginaacuterio da mulher negra Muitos diratildeo que isso natildeo afeta em nada pois eacute apenas uma novela ou frase no entanto essa forma de representaccedilatildeo elabora uma construccedilatildeo social tanto do que eacute ser negro quanto da mulher negra E aiacute que entra o conceito de formaccedilatildeo da identidade Segundo Elisa Nascimento ldquoA identidade pode ser vista como uma espeacutecie de encruzilhada existencial entre indiviacuteduo e sociedade em que ambos vatildeo se constituindo mutuamente () A pessoa realiza esse processo por meio de sua proacutepria existecircncia de vida e das representaccedilotildees da experiecircncia coletiva de sua comunidade e sociedaderdquo3

Portanto uma frase uma novela uma piada natildeo satildeo pura e simplesmente o que parecem mas influenciam diretamente na construccedilatildeo de identidade que a mulher negra cria sobre si mesma sobre seu papel e lugar na sociedade Eacute fato a mulher negra via de regra natildeo se crecirc bonita nem valorizada pois natildeo tem referecircncia para isso A imagem que se tem da mulher negra eacute daquela que foi violada da serviccedilal (Tia Anastaacutecia) ou da lasciva quando na verdade a mulher negra sobretudo eacute sinocircnimo de resistecircncia de perseveranccedila e por que natildeo de esperanccedila Outros diratildeo que satildeo exageros mas essa influecircncia Que produz efeitos contraacuterios aos desejados eacute possiacutevel e plausiacutevel a ideacuteia que temos de noacutes mesmos condiciona nossos sonhos e metas As mulheres negras vecircem de tantas maneiras e sempre de forma interna representaccedilotildees negativas que acabam por introjetar a ideacuteia e passam a acreditar que eacute a realidade

O que vemos satildeo mulheres com baixa auto-estima que buscam parecer com o ideal de beleza propagado pela miacutedia e cujas perspectivas natildeo almejam um melhor lugar na sociedade mais respeito e principalmente mais cidadania A questatildeo natildeo se resume a se achar bonita mas tambeacutem natildeo se julgar capazes e nem merecedoras dos direitos aos quais todos deveriacuteamos ter acesso

A travessia de ser uma mulher de aparecircncia negra para ser uma mulher negra cidadatilde eacute tatildeo longa e seu iniacutecio eacute marcado pelo resgate e apropriaccedilatildeo da sua cultura que tambeacutem natildeo eacute ensinada na escola Dizer sou mulher negra natildeo eacute faacutecil Ao dizer isso tambeacutem assumimos nosso passado doloroso mas tambeacutem a ancestralidade e sabedoria africanas e nossa histoacuteria de superaccedilatildeo Mas esse percurso eacute tatildeo longo quanto o caminho ateacute a costa do Marfim do outro lado do Atlacircntico

ldquoResgaterdquo

Sou negra ponto final

devolvo-me a identidade

rasgo a minha certidatildeo

sou negra

sem reticecircncias

sem viacutergulas sem ausecircncias

sou negra balacobaco

sou negra noite cansaccedilo

sou negra

ponto final

Alzira Rufino 1986

Palavras-chave pontos que podem ser discutidos a partir do texto mulher negra violecircncia psicoloacutegica comunicaccedilatildeo de massa midiatizaccedilatildeo imaginaacuterio construccedilatildeo social identidade e fenoacutetipo

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Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

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A crise econocircmica mundial e os dilemas da militacircncia e dos movimentos sociais afinal quem vai pagar a conta

O mesmo sistema ideoloacutegico que justifica o processo de globalizaccedilatildeo ajudando a consideraacute-lo o uacutenico caminho histoacuterico

acaba tambeacutem por impor uma certa visatildeo da crise e a aceitaccedilatildeo dos remeacutedios sugeridos Em virtude disso todos os paiacuteses

lugares e pessoas passam a se comportar isto eacute a organizar sua accedilatildeo como se tal acutecriseacute fosse a mesma para todos e como se

a receita para afastaacute-la devesse ser geralmente a mesma Na verdade poreacutem a uacutenica crise que os responsaacuteveis desejam afastar

eacute a crise financeira e qualquer outra Aiacute estaacute na verdade uma causa para mais aprofundamento da crise real - econocircmica

social poliacutetica moral - que caracteriza o nosso tempo SANTOS Milton Por uma outra globalizaccedilatildeo do pensamento uacutenico agrave

consciecircncia universal Satildeo Paulo Record 2000 p169)

A palavra ldquocriserdquo tem origem grega eis que usada por Hipoacutecrates para designar o momento culminante de uma doenccedila Assim para o pai da medicina ocidental a crise seria o cuacutemulo da doenccedila apoacutes o que soacute poderia advir a cura a soluccedilatildeo Por essa razatildeo era o momento crucial para a tomada de decisotildees para se adotar a medida adequada a uma resoluccedilatildeo eficaz ao problema

Quando se fala em crise econocircmica mundial haacute uma tendecircncia alarmista por um lado que quer propagar a ideacuteia de que somente agora o caos seraacute instalado no mundo e por outro num sentido oposto haacute aqueles que reputam a crise como algo tolo banal sem grande importacircncia As duas ideacuteias polarizadas estatildeo assentadas sobre o mesmo fundamento qual seja o mascaramento do verdadeiro fundamento que leva o sistema de produccedilatildeo capitalista a uma agonia de difiacutecil soluccedilatildeo

A crise ou a doenccedila (conforme a origem da palavra) eacute uma caracteriacutestica tiacutepica do capitalismo Seguindo a argumentaccedilatildeo marxista temos que todo sistema de produccedilatildeo econocircmica tem necessariamente dois elementos 1) estaacute baseado na exploraccedilatildeo de oprimidos por opressores 2) sempre traz dentro de si o princiacutepio da sua proacutepria destruiccedilatildeo Deste modo na Antiguidade temos no sistema escravagista a exploraccedilatildeo de escravos por senhores baseada na forccedila bruta no cativeiro poreacutem quando a forccedila se torna escassa para conter os escravos o sistema perece dando lugar a outro Daiacute na era medieval europeacuteia surge uma nova forma de exploraccedilatildeo agora baseada na posse da terra entre servo e senhor feudal contudo quando a produccedilatildeo agriacutecola eacute enorme a sobra eacute comercializada pelo servo e este deixa de depender do senhor originando outro sistema de produccedilatildeo o Capitalismo

Basicamente e de forma bastante elementar esta eacute para Karl Marx o raciociacutenio da evoluccedilatildeo econocircmica atraveacutes da histoacuteria Toda forma de produccedilatildeo estaacute baseada na exploraccedilatildeo que reside em algum mecanismo de submissatildeo (forccedila terra) todavia o capitalismo cria um modo de opressatildeo proacutepria fundada na reparticcedilatildeo entre Capital e Trabalho Haacute aqueles que possuem o capital (dinheiro) e aqueles que natildeo possuem ndash a estes uacuteltimos soacute resta trabalhar para que possam transformar o trabalho em capital e se sustentar no baacutesico Por essa razatildeo soacute existe capitalismo se houver distribuiccedilatildeo desigual de renda trata-se de um sistema que soacute sobrevive na desigualdade ndash soacute iraacute se submeter ao trabalho aquele que natildeo possuir capital ou seja se todos possuiacutessem capital natildeo haveria trabalho natildeo haveria exploraccedilatildeo e consequentemente natildeo haveria capitalismo

Por isso quando o capitalismo surgiu ele se fez acompanhar por um projeto ideoloacutegico que pudesse sustentar a desigualdade econocircmica Desde seus primoacuterdios no Renascimento o abandono de um princiacutepio de deus como centro do mundo e a organizaccedilatildeo do meacutetodo cientiacutefico perfazem a ideacuteia de que o homem pode ter o controle de tudo jaacute que eacute dotado de razatildeo O racionalismo ao lado do sistema capitalista constitui a face ilusoacuteria da beleza da Modernidade A razatildeo renascentista encontra entatildeo seu

apogeu no Iluminismo e a partir deste erige-se toda uma administraccedilatildeo puacuteblica na figura do Estado de Direito a fim de sustentar a dominaccedilatildeo e a desigualdade

Entretanto mesmo com todo o instrumental ideoloacutegico poliacutetico e juriacutedico no intuito de sustentar a exploraccedilatildeo de quem natildeo possui capital a base da produccedilatildeo econocircmica capitalista por ser muito sutil sempre guardaraacute uma fragilidade Natildeo se trata mais de um elemento concreto como a forccedila ou a terra a desigualdade que sustenta o sistema eacute tambeacutem a responsaacutevel por sua possibilidade e falha e eacute por isso que o capitalismo estaacute em constante renovaccedilatildeo Assim a crise natildeo eacute estranha ao capitalismo ela lhe eacute proacutepria e eacute atraveacutes dela que o sistema se reinventa e sobrevive comutando-se de mercantilismo em capitalismo industrial e deste uacuteltimo em financeiro e especulativo

Esta crise do iniacutecio do seacuteculo XXI eacute a crise do capitalismo das bolsas de valores assim como a crise de 1929 foi a crise do capitalismo industrial Portanto aqueles que causam barulho passando a falsa ideacuteia de que tais abalos satildeo novidade pretendem ao mesmo tempo negar que o capitalismo eacute um sistema fundamentalmente faliacutevel e criacutetico e usar a tal ldquocrise econocircmicardquo como desculpa para a reduccedilatildeo de poliacuteticas para o povo para as demissotildees em massa no setor privado e para o corte de gastos em todas as esferas A propaganda da crise nos meios de comunicaccedilatildeo forccedila todo o corpo social a assimilaacute-la como um problema coletivo O desequiliacutebrio econocircmico pautado na dinacircmica de um sistema injusto e instaacutevel e gerado por quem deteacutem o poder acaba sendo suportado por todos e como eacute usual os mais pobres satildeo mais sensivelmente afetados e acabam saindo muito mais prejudicados desta situaccedilatildeo

Por outro acircngulo sob o argumento verdadeiro de que a crise eacute natural ao sistema capitalista haacute os que pretendem lhe emprestar um ar de banalidade como se a doenccedila fosse soacute uma leve gripe que logo passaraacute quando na realidade trata-se de uma doenccedila crocircnica e incuraacutevel

Reputam-se como responsaacuteveis pela crise o inchaccedilo do sistema de creacutedito imobiliaacuterio norte-americano e o abuso na especulaccedilatildeo Neste uacuteltimo caso alguns especuladores teriam colocado em circulaccedilatildeo papeacuteis fictiacutecios sem correspondecircncia material do valor neles depositado Esta ideacuteia eacute por si soacute fantasiosa e enganadora pois parece que somente agora alguns indiviacuteduos imorais teriam vendido papeacuteis sem valor quando na realidade esta especulaccedilatildeo (como o nome jaacute diz) eacute o fundamento do proacuteprio funcionamento do sistema O capitalismo financeiro dispensa a correspondecircncia entre valor especulado e riqueza material real essa eacute a sua loacutegica interna para transformar capital em mais capital sem usar o trabalho

Como o capitalismo por causa da especulaccedilatildeo pode gerar capital prescindindo da exploraccedilatildeo do trabalho naturalmente aumenta o desemprego ainda mais com a crescente mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo que dispensa a matildeo-de-obra Entatildeo a grande massa de trabalhadores sem ocupaccedilatildeo cria uma lacuna no mercado consumidor ndash sem trabalho natildeo haacute consumo Isso faz com que soacute seja possiacutevel vender atraveacutes do creacutedito e os sistemas de financiamento crescem para imoacuteveis automoacuteveis eletroeletrocircnicos eletrodomeacutesticos tudo Nunca se comprou tanto a prazo e em prazos tatildeo extensos

Portanto tanto a falecircncia do sistema de creacutedito imobiliaacuterio quanto o abuso na especulaccedilatildeo natildeo satildeo causas isoladas que acabaram gerando a crise mas satildeo produtos e desdobramentos naturais do proacuteprio capitalismo financeiro especulativo No entanto se o capitalismo como sistema de produccedilatildeo estaacute baseado no conflito entre capital e trabalho quando se dispensa o trabalho para a produccedilatildeo de riqueza recorrendo-se somente agrave especulaccedilatildeo rompe-se a base do sistema Por isso esta crise eacute profunda e natildeo passageira e superficial como querem alguns

Inclusive a crise mundial atual natildeo eacute somente econocircmica A voracidade do sistema capitalista encontrou um limite agrave expansatildeo desmedida pra a produccedilatildeo de lucros e o acuacutemulo sem fim ndash este limite eacute o proacuteprio mundo O planeta jaacute natildeo suporta as consequecircncias da loacutegica capitalista e a crise ambiental denota que os dias do sistema estatildeo contados se natildeo pela falecircncia econocircmica pela impossibilidade de permanecer na Terra apoacutes tudo o que a Modernidade fez a ela

O racionalismo o avanccedilo da tecnologia e a ciecircncia moderna foram tatildeo devastadores quanto o proacuteprio capitalismo E esse apego agrave racionalidade que afastou qualquer concepccedilatildeo religiosa moral e eacutetica de mundo deixou-nos sem nenhum referencial A modernidade substituiu a feacute pela razatildeo a crenccedila em deuses pela crenccedila na ciecircncia e agora quando o capitalismo agoniza e a ciecircncia destroacutei o planeta quando vivemos os horrores das guerras do seacuteculo XX a fome a desigualdade a injusticcedila natildeo podemos mais fechar os olhos iludidos acreditando nas promessas da filosofia iluminista de ldquoliberdade igualdade e fraternidaderdquo e positivistas de ldquoordem e progressordquo

Soacute nos restou o desconforto e a desilusatildeo de um mundo conturbado sem valores morais com um Estado quebrado a natureza degradada a economia vacilante e nenhum lugar para a ideologia A globalizaccedilatildeo somente pulverizou as fronteiras econocircmicas mas as desigualdades locais foram mantidas e exacerbadas Globalizamos a cultura de massas para expandir o consumismo mas jamais construiacutemos oportunidades globais

A crise eacute portanto total e absoluta Natildeo eacute soacute o capitalismo que sofre uma crise mas a Modernidade a razatildeo moderna a moral a ciecircncia a economia O Estado moderno padece por falta de legitimidade quando natildeo realiza seus objetivos baacutesicos e manteacutem a desigualdade a democracia se extingue ante a corrupccedilatildeo e a burocracia o Direito moderno natildeo encontra legitimidade e a lei eacute constantemente desobedecida soacute haacute previsotildees formais sem nenhuma efetivaccedilatildeo dos direitos mais fundamentais

Nesta realidade ainda haveraacute lugar para a militacircncia Ainda haveraacute espaccedilo para a ideologia Os movimentos sociais ainda fazem sentido Como lutar por direitos se o proacuteprio Direito padece Como desejar inclusatildeo se o Estado desaparece Como pretender justiccedila e igualdade em um sistema desigual e agonizante

A falta de resposta a essas perguntas poderia nos levar agrave absoluta desilusatildeo Poreacutem conveacutem lembrarmos Hipoacutecrates no iniacutecio do texto que cunhou a palavra ldquocriserdquo Se a crise eacute o apogeu de uma patologia de um desarranjo de um desequiliacutebrio eacute tambeacutem o momento da intervenccedilatildeo o momento da soluccedilatildeo Contudo esta soluccedilatildeo natildeo pode ser aquela imposta pelos opressores no sentido da contemplaccedilatildeo de seus interesses O remeacutedio adequado eacute a superaccedilatildeo da proacutepria loacutegica do sistema Num estado de coisas em que todas as estruturas se encontram em crise e a humanidade encara a cataacutestrofe natildeo nos resta mais nada a natildeo ser a accedilatildeo o resgate da razatildeo verdadeira e a crenccedila em um futuro melhor No auge da doenccedila soacute nos resta administrarmos o remeacutedio correto e perseguirmos incansavelmente a verdadeira cura

Advogada graduada pela Unesp poacutes-graduada pela EPD Professora Universitaacuteria e em cursos preparatoacuterios

Tarefa Pesquisar e fazer uma redaccedilatildeo sobre o desemprego e as etnias Pesquisar o pensamento de um dos maiores brasileiros que tematizou sobre a crise mundial Milton Santos Taylisi de Souza Correcirca Leitelowast

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Os desafios da militacircncia negra em defesa das mulheres e pela superaccedilatildeo da violecircncia de gecircnero

Por Gabriela Watson

A bela ou a fera o que vocecirc vecirc no espelho

Olhar no espelho e se identificar mais com a Bela do que com uma fera eacute um desafio para as mulheres negras no Brasil Principalmente quando no espelho da sociedade brasileira a televisatildeo elas soacute aparecem na eacutepoca do carnaval o que infelizmente tambeacutem natildeo eacute motivo de comemoraccedilatildeo Satildeo inuacutemeros os artigos que comprovam a ausecircncia de negras e da valorizaccedilatildeo de elementos da cultura afro-brasileira Entretanto esse texto se deteraacute na seguinte discussatildeo como a violecircncia psicoloacutegica afeta o imaginaacuterio da mulher negra

Quando falamos em mulheres negras tratamos de duas marcas sociais o de ser mulher numa sociedade em que os homens tecircm mais aceitaccedilatildeo e o de ser negra numa sociedade que dificulta o acesso dos negros aos espaccedilos de poder e decisatildeo

O ato da mulher se autonomear como negra jaacute constitui um desafio o primeiro obstaacuteculo eacute o de se reconhecer negra contrariando aqueles que preferem o termo ldquomoreninhardquo em seguida entender que estaacute fora do padratildeo de beleza imposto pelos meios de comunicaccedilatildeo e se por uacuteltimo apesar de perceber uma certa desconfianccedila quanto agrave sua capacidade de trabalho essa mulher se reconhecer como negra ela realmente eacute uma guerreira

Quando o assunto eacute violecircncia para com as mulheres negras devemos levar em conta a seguinte nota feita pela escritora Alzira Rufino

Se a violecircncia contra a mulher eacute uma epidemia que desconhece classes sociais existem segmentos que satildeo mais vulneraacuteveis porque jaacute tecircm uma outra histoacuteria de violecircncia como eacute o das mulheres negras sob fogo cruzado de vaacuterias formas de violecircncia a de gecircnero privada no lar a da pobreza que as escraviza as jornadas de trabalho interminaacuteveis das quais natildeo sobraraacute sequer a miacutenima aposentadoria e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaccedilo que vai do fogatildeo ao tanque domesticadas no fundo de cena 1

Dado o exposto eacute vaacutelido fazer um recorte racial da violecircncia porque as agressotildees passadas pelas mulheres negras tecircm sua origem no passado histoacuterico de exploraccedilatildeo a partir da escravidatildeo

Apesar de podermos abordar a violecircncia contra negras em todos os campos de accedilotildees possiacuteveis (sauacutede trabalho e social) talvez aquela que cause dor mais profunda eacute a violecircncia psicoloacutegica Em outras palavras essa violecircncia eacute a falta de auto-estima de orgulho que afeta diretamente na sua forccedila de vontade qualidade e perspectiva de vida

Por violecircncia moral me refiro aquela violecircncia que se perpetua de forma inconsciente atraveacutes de valores passados principalmente pela comunicaccedilatildeo que abrange desde a oralidade (expressotildees populares como ldquocabelo ruimrdquo) interaccedilatildeo social (conversas gestos) e ateacute a forma de comunicaccedilatildeo de massa (no Brasil a televisatildeo)

A importacircncia da miacutedia na formaccedilatildeo e informaccedilatildeo das pessoas eacute indiscutiacutevel nas palavras do jornalista Dennis de Oliveira ldquovivemos numa sociedade marcada pela midiatizaccedilatildeo que significa a penetraccedilatildeo da do modo de pensar dos meios de comunicaccedilatildeo em todos os ambientes das relaccedilotildees sociaisrdquo2 E infelizmente encontramos muitos vestiacutegios de pensamentos racistas em toda a comunicaccedilatildeo (livros escolares revistas TV e cinema) A maioria dos papeacuteis ldquodadosrdquo aos negros ainda eacute reduzida a lugares comuns eou personagens que demonstram a falta de harmonia e orgulho entre membros da comunidade negra (apenas alguns exemplos tiacutetulos como ldquoDa cor do pecadordquo a escrava Isaura ser branca ausecircncia de casais negros e de famiacutelias de negros estruturadas etc)

O ponto da discussatildeo eacute o resultado dessa contiacutenua accedilatildeo negativa de publicidade e propaganda na formaccedilatildeo do imaginaacuterio da mulher negra Muitos diratildeo que isso natildeo afeta em nada pois eacute apenas uma novela ou frase no entanto essa forma de representaccedilatildeo elabora uma construccedilatildeo social tanto do que eacute ser negro quanto da mulher negra E aiacute que entra o conceito de formaccedilatildeo da identidade Segundo Elisa Nascimento ldquoA identidade pode ser vista como uma espeacutecie de encruzilhada existencial entre indiviacuteduo e sociedade em que ambos vatildeo se constituindo mutuamente () A pessoa realiza esse processo por meio de sua proacutepria existecircncia de vida e das representaccedilotildees da experiecircncia coletiva de sua comunidade e sociedaderdquo3

Portanto uma frase uma novela uma piada natildeo satildeo pura e simplesmente o que parecem mas influenciam diretamente na construccedilatildeo de identidade que a mulher negra cria sobre si mesma sobre seu papel e lugar na sociedade Eacute fato a mulher negra via de regra natildeo se crecirc bonita nem valorizada pois natildeo tem referecircncia para isso A imagem que se tem da mulher negra eacute daquela que foi violada da serviccedilal (Tia Anastaacutecia) ou da lasciva quando na verdade a mulher negra sobretudo eacute sinocircnimo de resistecircncia de perseveranccedila e por que natildeo de esperanccedila Outros diratildeo que satildeo exageros mas essa influecircncia Que produz efeitos contraacuterios aos desejados eacute possiacutevel e plausiacutevel a ideacuteia que temos de noacutes mesmos condiciona nossos sonhos e metas As mulheres negras vecircem de tantas maneiras e sempre de forma interna representaccedilotildees negativas que acabam por introjetar a ideacuteia e passam a acreditar que eacute a realidade

O que vemos satildeo mulheres com baixa auto-estima que buscam parecer com o ideal de beleza propagado pela miacutedia e cujas perspectivas natildeo almejam um melhor lugar na sociedade mais respeito e principalmente mais cidadania A questatildeo natildeo se resume a se achar bonita mas tambeacutem natildeo se julgar capazes e nem merecedoras dos direitos aos quais todos deveriacuteamos ter acesso

A travessia de ser uma mulher de aparecircncia negra para ser uma mulher negra cidadatilde eacute tatildeo longa e seu iniacutecio eacute marcado pelo resgate e apropriaccedilatildeo da sua cultura que tambeacutem natildeo eacute ensinada na escola Dizer sou mulher negra natildeo eacute faacutecil Ao dizer isso tambeacutem assumimos nosso passado doloroso mas tambeacutem a ancestralidade e sabedoria africanas e nossa histoacuteria de superaccedilatildeo Mas esse percurso eacute tatildeo longo quanto o caminho ateacute a costa do Marfim do outro lado do Atlacircntico

ldquoResgaterdquo

Sou negra ponto final

devolvo-me a identidade

rasgo a minha certidatildeo

sou negra

sem reticecircncias

sem viacutergulas sem ausecircncias

sou negra balacobaco

sou negra noite cansaccedilo

sou negra

ponto final

Alzira Rufino 1986

Palavras-chave pontos que podem ser discutidos a partir do texto mulher negra violecircncia psicoloacutegica comunicaccedilatildeo de massa midiatizaccedilatildeo imaginaacuterio construccedilatildeo social identidade e fenoacutetipo

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Sede Nacional ndash S Paulo Rua Riachuelo 342 Centro - SP CEP 01007-000 - Fonefax (11) 3106-3411

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

apogeu no Iluminismo e a partir deste erige-se toda uma administraccedilatildeo puacuteblica na figura do Estado de Direito a fim de sustentar a dominaccedilatildeo e a desigualdade

Entretanto mesmo com todo o instrumental ideoloacutegico poliacutetico e juriacutedico no intuito de sustentar a exploraccedilatildeo de quem natildeo possui capital a base da produccedilatildeo econocircmica capitalista por ser muito sutil sempre guardaraacute uma fragilidade Natildeo se trata mais de um elemento concreto como a forccedila ou a terra a desigualdade que sustenta o sistema eacute tambeacutem a responsaacutevel por sua possibilidade e falha e eacute por isso que o capitalismo estaacute em constante renovaccedilatildeo Assim a crise natildeo eacute estranha ao capitalismo ela lhe eacute proacutepria e eacute atraveacutes dela que o sistema se reinventa e sobrevive comutando-se de mercantilismo em capitalismo industrial e deste uacuteltimo em financeiro e especulativo

Esta crise do iniacutecio do seacuteculo XXI eacute a crise do capitalismo das bolsas de valores assim como a crise de 1929 foi a crise do capitalismo industrial Portanto aqueles que causam barulho passando a falsa ideacuteia de que tais abalos satildeo novidade pretendem ao mesmo tempo negar que o capitalismo eacute um sistema fundamentalmente faliacutevel e criacutetico e usar a tal ldquocrise econocircmicardquo como desculpa para a reduccedilatildeo de poliacuteticas para o povo para as demissotildees em massa no setor privado e para o corte de gastos em todas as esferas A propaganda da crise nos meios de comunicaccedilatildeo forccedila todo o corpo social a assimilaacute-la como um problema coletivo O desequiliacutebrio econocircmico pautado na dinacircmica de um sistema injusto e instaacutevel e gerado por quem deteacutem o poder acaba sendo suportado por todos e como eacute usual os mais pobres satildeo mais sensivelmente afetados e acabam saindo muito mais prejudicados desta situaccedilatildeo

Por outro acircngulo sob o argumento verdadeiro de que a crise eacute natural ao sistema capitalista haacute os que pretendem lhe emprestar um ar de banalidade como se a doenccedila fosse soacute uma leve gripe que logo passaraacute quando na realidade trata-se de uma doenccedila crocircnica e incuraacutevel

Reputam-se como responsaacuteveis pela crise o inchaccedilo do sistema de creacutedito imobiliaacuterio norte-americano e o abuso na especulaccedilatildeo Neste uacuteltimo caso alguns especuladores teriam colocado em circulaccedilatildeo papeacuteis fictiacutecios sem correspondecircncia material do valor neles depositado Esta ideacuteia eacute por si soacute fantasiosa e enganadora pois parece que somente agora alguns indiviacuteduos imorais teriam vendido papeacuteis sem valor quando na realidade esta especulaccedilatildeo (como o nome jaacute diz) eacute o fundamento do proacuteprio funcionamento do sistema O capitalismo financeiro dispensa a correspondecircncia entre valor especulado e riqueza material real essa eacute a sua loacutegica interna para transformar capital em mais capital sem usar o trabalho

Como o capitalismo por causa da especulaccedilatildeo pode gerar capital prescindindo da exploraccedilatildeo do trabalho naturalmente aumenta o desemprego ainda mais com a crescente mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo que dispensa a matildeo-de-obra Entatildeo a grande massa de trabalhadores sem ocupaccedilatildeo cria uma lacuna no mercado consumidor ndash sem trabalho natildeo haacute consumo Isso faz com que soacute seja possiacutevel vender atraveacutes do creacutedito e os sistemas de financiamento crescem para imoacuteveis automoacuteveis eletroeletrocircnicos eletrodomeacutesticos tudo Nunca se comprou tanto a prazo e em prazos tatildeo extensos

Portanto tanto a falecircncia do sistema de creacutedito imobiliaacuterio quanto o abuso na especulaccedilatildeo natildeo satildeo causas isoladas que acabaram gerando a crise mas satildeo produtos e desdobramentos naturais do proacuteprio capitalismo financeiro especulativo No entanto se o capitalismo como sistema de produccedilatildeo estaacute baseado no conflito entre capital e trabalho quando se dispensa o trabalho para a produccedilatildeo de riqueza recorrendo-se somente agrave especulaccedilatildeo rompe-se a base do sistema Por isso esta crise eacute profunda e natildeo passageira e superficial como querem alguns

Inclusive a crise mundial atual natildeo eacute somente econocircmica A voracidade do sistema capitalista encontrou um limite agrave expansatildeo desmedida pra a produccedilatildeo de lucros e o acuacutemulo sem fim ndash este limite eacute o proacuteprio mundo O planeta jaacute natildeo suporta as consequecircncias da loacutegica capitalista e a crise ambiental denota que os dias do sistema estatildeo contados se natildeo pela falecircncia econocircmica pela impossibilidade de permanecer na Terra apoacutes tudo o que a Modernidade fez a ela

O racionalismo o avanccedilo da tecnologia e a ciecircncia moderna foram tatildeo devastadores quanto o proacuteprio capitalismo E esse apego agrave racionalidade que afastou qualquer concepccedilatildeo religiosa moral e eacutetica de mundo deixou-nos sem nenhum referencial A modernidade substituiu a feacute pela razatildeo a crenccedila em deuses pela crenccedila na ciecircncia e agora quando o capitalismo agoniza e a ciecircncia destroacutei o planeta quando vivemos os horrores das guerras do seacuteculo XX a fome a desigualdade a injusticcedila natildeo podemos mais fechar os olhos iludidos acreditando nas promessas da filosofia iluminista de ldquoliberdade igualdade e fraternidaderdquo e positivistas de ldquoordem e progressordquo

Soacute nos restou o desconforto e a desilusatildeo de um mundo conturbado sem valores morais com um Estado quebrado a natureza degradada a economia vacilante e nenhum lugar para a ideologia A globalizaccedilatildeo somente pulverizou as fronteiras econocircmicas mas as desigualdades locais foram mantidas e exacerbadas Globalizamos a cultura de massas para expandir o consumismo mas jamais construiacutemos oportunidades globais

A crise eacute portanto total e absoluta Natildeo eacute soacute o capitalismo que sofre uma crise mas a Modernidade a razatildeo moderna a moral a ciecircncia a economia O Estado moderno padece por falta de legitimidade quando natildeo realiza seus objetivos baacutesicos e manteacutem a desigualdade a democracia se extingue ante a corrupccedilatildeo e a burocracia o Direito moderno natildeo encontra legitimidade e a lei eacute constantemente desobedecida soacute haacute previsotildees formais sem nenhuma efetivaccedilatildeo dos direitos mais fundamentais

Nesta realidade ainda haveraacute lugar para a militacircncia Ainda haveraacute espaccedilo para a ideologia Os movimentos sociais ainda fazem sentido Como lutar por direitos se o proacuteprio Direito padece Como desejar inclusatildeo se o Estado desaparece Como pretender justiccedila e igualdade em um sistema desigual e agonizante

A falta de resposta a essas perguntas poderia nos levar agrave absoluta desilusatildeo Poreacutem conveacutem lembrarmos Hipoacutecrates no iniacutecio do texto que cunhou a palavra ldquocriserdquo Se a crise eacute o apogeu de uma patologia de um desarranjo de um desequiliacutebrio eacute tambeacutem o momento da intervenccedilatildeo o momento da soluccedilatildeo Contudo esta soluccedilatildeo natildeo pode ser aquela imposta pelos opressores no sentido da contemplaccedilatildeo de seus interesses O remeacutedio adequado eacute a superaccedilatildeo da proacutepria loacutegica do sistema Num estado de coisas em que todas as estruturas se encontram em crise e a humanidade encara a cataacutestrofe natildeo nos resta mais nada a natildeo ser a accedilatildeo o resgate da razatildeo verdadeira e a crenccedila em um futuro melhor No auge da doenccedila soacute nos resta administrarmos o remeacutedio correto e perseguirmos incansavelmente a verdadeira cura

Advogada graduada pela Unesp poacutes-graduada pela EPD Professora Universitaacuteria e em cursos preparatoacuterios

Tarefa Pesquisar e fazer uma redaccedilatildeo sobre o desemprego e as etnias Pesquisar o pensamento de um dos maiores brasileiros que tematizou sobre a crise mundial Milton Santos Taylisi de Souza Correcirca Leitelowast

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Os desafios da militacircncia negra em defesa das mulheres e pela superaccedilatildeo da violecircncia de gecircnero

Por Gabriela Watson

A bela ou a fera o que vocecirc vecirc no espelho

Olhar no espelho e se identificar mais com a Bela do que com uma fera eacute um desafio para as mulheres negras no Brasil Principalmente quando no espelho da sociedade brasileira a televisatildeo elas soacute aparecem na eacutepoca do carnaval o que infelizmente tambeacutem natildeo eacute motivo de comemoraccedilatildeo Satildeo inuacutemeros os artigos que comprovam a ausecircncia de negras e da valorizaccedilatildeo de elementos da cultura afro-brasileira Entretanto esse texto se deteraacute na seguinte discussatildeo como a violecircncia psicoloacutegica afeta o imaginaacuterio da mulher negra

Quando falamos em mulheres negras tratamos de duas marcas sociais o de ser mulher numa sociedade em que os homens tecircm mais aceitaccedilatildeo e o de ser negra numa sociedade que dificulta o acesso dos negros aos espaccedilos de poder e decisatildeo

O ato da mulher se autonomear como negra jaacute constitui um desafio o primeiro obstaacuteculo eacute o de se reconhecer negra contrariando aqueles que preferem o termo ldquomoreninhardquo em seguida entender que estaacute fora do padratildeo de beleza imposto pelos meios de comunicaccedilatildeo e se por uacuteltimo apesar de perceber uma certa desconfianccedila quanto agrave sua capacidade de trabalho essa mulher se reconhecer como negra ela realmente eacute uma guerreira

Quando o assunto eacute violecircncia para com as mulheres negras devemos levar em conta a seguinte nota feita pela escritora Alzira Rufino

Se a violecircncia contra a mulher eacute uma epidemia que desconhece classes sociais existem segmentos que satildeo mais vulneraacuteveis porque jaacute tecircm uma outra histoacuteria de violecircncia como eacute o das mulheres negras sob fogo cruzado de vaacuterias formas de violecircncia a de gecircnero privada no lar a da pobreza que as escraviza as jornadas de trabalho interminaacuteveis das quais natildeo sobraraacute sequer a miacutenima aposentadoria e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaccedilo que vai do fogatildeo ao tanque domesticadas no fundo de cena 1

Dado o exposto eacute vaacutelido fazer um recorte racial da violecircncia porque as agressotildees passadas pelas mulheres negras tecircm sua origem no passado histoacuterico de exploraccedilatildeo a partir da escravidatildeo

Apesar de podermos abordar a violecircncia contra negras em todos os campos de accedilotildees possiacuteveis (sauacutede trabalho e social) talvez aquela que cause dor mais profunda eacute a violecircncia psicoloacutegica Em outras palavras essa violecircncia eacute a falta de auto-estima de orgulho que afeta diretamente na sua forccedila de vontade qualidade e perspectiva de vida

Por violecircncia moral me refiro aquela violecircncia que se perpetua de forma inconsciente atraveacutes de valores passados principalmente pela comunicaccedilatildeo que abrange desde a oralidade (expressotildees populares como ldquocabelo ruimrdquo) interaccedilatildeo social (conversas gestos) e ateacute a forma de comunicaccedilatildeo de massa (no Brasil a televisatildeo)

A importacircncia da miacutedia na formaccedilatildeo e informaccedilatildeo das pessoas eacute indiscutiacutevel nas palavras do jornalista Dennis de Oliveira ldquovivemos numa sociedade marcada pela midiatizaccedilatildeo que significa a penetraccedilatildeo da do modo de pensar dos meios de comunicaccedilatildeo em todos os ambientes das relaccedilotildees sociaisrdquo2 E infelizmente encontramos muitos vestiacutegios de pensamentos racistas em toda a comunicaccedilatildeo (livros escolares revistas TV e cinema) A maioria dos papeacuteis ldquodadosrdquo aos negros ainda eacute reduzida a lugares comuns eou personagens que demonstram a falta de harmonia e orgulho entre membros da comunidade negra (apenas alguns exemplos tiacutetulos como ldquoDa cor do pecadordquo a escrava Isaura ser branca ausecircncia de casais negros e de famiacutelias de negros estruturadas etc)

O ponto da discussatildeo eacute o resultado dessa contiacutenua accedilatildeo negativa de publicidade e propaganda na formaccedilatildeo do imaginaacuterio da mulher negra Muitos diratildeo que isso natildeo afeta em nada pois eacute apenas uma novela ou frase no entanto essa forma de representaccedilatildeo elabora uma construccedilatildeo social tanto do que eacute ser negro quanto da mulher negra E aiacute que entra o conceito de formaccedilatildeo da identidade Segundo Elisa Nascimento ldquoA identidade pode ser vista como uma espeacutecie de encruzilhada existencial entre indiviacuteduo e sociedade em que ambos vatildeo se constituindo mutuamente () A pessoa realiza esse processo por meio de sua proacutepria existecircncia de vida e das representaccedilotildees da experiecircncia coletiva de sua comunidade e sociedaderdquo3

Portanto uma frase uma novela uma piada natildeo satildeo pura e simplesmente o que parecem mas influenciam diretamente na construccedilatildeo de identidade que a mulher negra cria sobre si mesma sobre seu papel e lugar na sociedade Eacute fato a mulher negra via de regra natildeo se crecirc bonita nem valorizada pois natildeo tem referecircncia para isso A imagem que se tem da mulher negra eacute daquela que foi violada da serviccedilal (Tia Anastaacutecia) ou da lasciva quando na verdade a mulher negra sobretudo eacute sinocircnimo de resistecircncia de perseveranccedila e por que natildeo de esperanccedila Outros diratildeo que satildeo exageros mas essa influecircncia Que produz efeitos contraacuterios aos desejados eacute possiacutevel e plausiacutevel a ideacuteia que temos de noacutes mesmos condiciona nossos sonhos e metas As mulheres negras vecircem de tantas maneiras e sempre de forma interna representaccedilotildees negativas que acabam por introjetar a ideacuteia e passam a acreditar que eacute a realidade

O que vemos satildeo mulheres com baixa auto-estima que buscam parecer com o ideal de beleza propagado pela miacutedia e cujas perspectivas natildeo almejam um melhor lugar na sociedade mais respeito e principalmente mais cidadania A questatildeo natildeo se resume a se achar bonita mas tambeacutem natildeo se julgar capazes e nem merecedoras dos direitos aos quais todos deveriacuteamos ter acesso

A travessia de ser uma mulher de aparecircncia negra para ser uma mulher negra cidadatilde eacute tatildeo longa e seu iniacutecio eacute marcado pelo resgate e apropriaccedilatildeo da sua cultura que tambeacutem natildeo eacute ensinada na escola Dizer sou mulher negra natildeo eacute faacutecil Ao dizer isso tambeacutem assumimos nosso passado doloroso mas tambeacutem a ancestralidade e sabedoria africanas e nossa histoacuteria de superaccedilatildeo Mas esse percurso eacute tatildeo longo quanto o caminho ateacute a costa do Marfim do outro lado do Atlacircntico

ldquoResgaterdquo

Sou negra ponto final

devolvo-me a identidade

rasgo a minha certidatildeo

sou negra

sem reticecircncias

sem viacutergulas sem ausecircncias

sou negra balacobaco

sou negra noite cansaccedilo

sou negra

ponto final

Alzira Rufino 1986

Palavras-chave pontos que podem ser discutidos a partir do texto mulher negra violecircncia psicoloacutegica comunicaccedilatildeo de massa midiatizaccedilatildeo imaginaacuterio construccedilatildeo social identidade e fenoacutetipo

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

educafrofranciscanosorgbr tel(11)3106 3411

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

O racionalismo o avanccedilo da tecnologia e a ciecircncia moderna foram tatildeo devastadores quanto o proacuteprio capitalismo E esse apego agrave racionalidade que afastou qualquer concepccedilatildeo religiosa moral e eacutetica de mundo deixou-nos sem nenhum referencial A modernidade substituiu a feacute pela razatildeo a crenccedila em deuses pela crenccedila na ciecircncia e agora quando o capitalismo agoniza e a ciecircncia destroacutei o planeta quando vivemos os horrores das guerras do seacuteculo XX a fome a desigualdade a injusticcedila natildeo podemos mais fechar os olhos iludidos acreditando nas promessas da filosofia iluminista de ldquoliberdade igualdade e fraternidaderdquo e positivistas de ldquoordem e progressordquo

Soacute nos restou o desconforto e a desilusatildeo de um mundo conturbado sem valores morais com um Estado quebrado a natureza degradada a economia vacilante e nenhum lugar para a ideologia A globalizaccedilatildeo somente pulverizou as fronteiras econocircmicas mas as desigualdades locais foram mantidas e exacerbadas Globalizamos a cultura de massas para expandir o consumismo mas jamais construiacutemos oportunidades globais

A crise eacute portanto total e absoluta Natildeo eacute soacute o capitalismo que sofre uma crise mas a Modernidade a razatildeo moderna a moral a ciecircncia a economia O Estado moderno padece por falta de legitimidade quando natildeo realiza seus objetivos baacutesicos e manteacutem a desigualdade a democracia se extingue ante a corrupccedilatildeo e a burocracia o Direito moderno natildeo encontra legitimidade e a lei eacute constantemente desobedecida soacute haacute previsotildees formais sem nenhuma efetivaccedilatildeo dos direitos mais fundamentais

Nesta realidade ainda haveraacute lugar para a militacircncia Ainda haveraacute espaccedilo para a ideologia Os movimentos sociais ainda fazem sentido Como lutar por direitos se o proacuteprio Direito padece Como desejar inclusatildeo se o Estado desaparece Como pretender justiccedila e igualdade em um sistema desigual e agonizante

A falta de resposta a essas perguntas poderia nos levar agrave absoluta desilusatildeo Poreacutem conveacutem lembrarmos Hipoacutecrates no iniacutecio do texto que cunhou a palavra ldquocriserdquo Se a crise eacute o apogeu de uma patologia de um desarranjo de um desequiliacutebrio eacute tambeacutem o momento da intervenccedilatildeo o momento da soluccedilatildeo Contudo esta soluccedilatildeo natildeo pode ser aquela imposta pelos opressores no sentido da contemplaccedilatildeo de seus interesses O remeacutedio adequado eacute a superaccedilatildeo da proacutepria loacutegica do sistema Num estado de coisas em que todas as estruturas se encontram em crise e a humanidade encara a cataacutestrofe natildeo nos resta mais nada a natildeo ser a accedilatildeo o resgate da razatildeo verdadeira e a crenccedila em um futuro melhor No auge da doenccedila soacute nos resta administrarmos o remeacutedio correto e perseguirmos incansavelmente a verdadeira cura

Advogada graduada pela Unesp poacutes-graduada pela EPD Professora Universitaacuteria e em cursos preparatoacuterios

Tarefa Pesquisar e fazer uma redaccedilatildeo sobre o desemprego e as etnias Pesquisar o pensamento de um dos maiores brasileiros que tematizou sobre a crise mundial Milton Santos Taylisi de Souza Correcirca Leitelowast

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Os desafios da militacircncia negra em defesa das mulheres e pela superaccedilatildeo da violecircncia de gecircnero

Por Gabriela Watson

A bela ou a fera o que vocecirc vecirc no espelho

Olhar no espelho e se identificar mais com a Bela do que com uma fera eacute um desafio para as mulheres negras no Brasil Principalmente quando no espelho da sociedade brasileira a televisatildeo elas soacute aparecem na eacutepoca do carnaval o que infelizmente tambeacutem natildeo eacute motivo de comemoraccedilatildeo Satildeo inuacutemeros os artigos que comprovam a ausecircncia de negras e da valorizaccedilatildeo de elementos da cultura afro-brasileira Entretanto esse texto se deteraacute na seguinte discussatildeo como a violecircncia psicoloacutegica afeta o imaginaacuterio da mulher negra

Quando falamos em mulheres negras tratamos de duas marcas sociais o de ser mulher numa sociedade em que os homens tecircm mais aceitaccedilatildeo e o de ser negra numa sociedade que dificulta o acesso dos negros aos espaccedilos de poder e decisatildeo

O ato da mulher se autonomear como negra jaacute constitui um desafio o primeiro obstaacuteculo eacute o de se reconhecer negra contrariando aqueles que preferem o termo ldquomoreninhardquo em seguida entender que estaacute fora do padratildeo de beleza imposto pelos meios de comunicaccedilatildeo e se por uacuteltimo apesar de perceber uma certa desconfianccedila quanto agrave sua capacidade de trabalho essa mulher se reconhecer como negra ela realmente eacute uma guerreira

Quando o assunto eacute violecircncia para com as mulheres negras devemos levar em conta a seguinte nota feita pela escritora Alzira Rufino

Se a violecircncia contra a mulher eacute uma epidemia que desconhece classes sociais existem segmentos que satildeo mais vulneraacuteveis porque jaacute tecircm uma outra histoacuteria de violecircncia como eacute o das mulheres negras sob fogo cruzado de vaacuterias formas de violecircncia a de gecircnero privada no lar a da pobreza que as escraviza as jornadas de trabalho interminaacuteveis das quais natildeo sobraraacute sequer a miacutenima aposentadoria e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaccedilo que vai do fogatildeo ao tanque domesticadas no fundo de cena 1

Dado o exposto eacute vaacutelido fazer um recorte racial da violecircncia porque as agressotildees passadas pelas mulheres negras tecircm sua origem no passado histoacuterico de exploraccedilatildeo a partir da escravidatildeo

Apesar de podermos abordar a violecircncia contra negras em todos os campos de accedilotildees possiacuteveis (sauacutede trabalho e social) talvez aquela que cause dor mais profunda eacute a violecircncia psicoloacutegica Em outras palavras essa violecircncia eacute a falta de auto-estima de orgulho que afeta diretamente na sua forccedila de vontade qualidade e perspectiva de vida

Por violecircncia moral me refiro aquela violecircncia que se perpetua de forma inconsciente atraveacutes de valores passados principalmente pela comunicaccedilatildeo que abrange desde a oralidade (expressotildees populares como ldquocabelo ruimrdquo) interaccedilatildeo social (conversas gestos) e ateacute a forma de comunicaccedilatildeo de massa (no Brasil a televisatildeo)

A importacircncia da miacutedia na formaccedilatildeo e informaccedilatildeo das pessoas eacute indiscutiacutevel nas palavras do jornalista Dennis de Oliveira ldquovivemos numa sociedade marcada pela midiatizaccedilatildeo que significa a penetraccedilatildeo da do modo de pensar dos meios de comunicaccedilatildeo em todos os ambientes das relaccedilotildees sociaisrdquo2 E infelizmente encontramos muitos vestiacutegios de pensamentos racistas em toda a comunicaccedilatildeo (livros escolares revistas TV e cinema) A maioria dos papeacuteis ldquodadosrdquo aos negros ainda eacute reduzida a lugares comuns eou personagens que demonstram a falta de harmonia e orgulho entre membros da comunidade negra (apenas alguns exemplos tiacutetulos como ldquoDa cor do pecadordquo a escrava Isaura ser branca ausecircncia de casais negros e de famiacutelias de negros estruturadas etc)

O ponto da discussatildeo eacute o resultado dessa contiacutenua accedilatildeo negativa de publicidade e propaganda na formaccedilatildeo do imaginaacuterio da mulher negra Muitos diratildeo que isso natildeo afeta em nada pois eacute apenas uma novela ou frase no entanto essa forma de representaccedilatildeo elabora uma construccedilatildeo social tanto do que eacute ser negro quanto da mulher negra E aiacute que entra o conceito de formaccedilatildeo da identidade Segundo Elisa Nascimento ldquoA identidade pode ser vista como uma espeacutecie de encruzilhada existencial entre indiviacuteduo e sociedade em que ambos vatildeo se constituindo mutuamente () A pessoa realiza esse processo por meio de sua proacutepria existecircncia de vida e das representaccedilotildees da experiecircncia coletiva de sua comunidade e sociedaderdquo3

Portanto uma frase uma novela uma piada natildeo satildeo pura e simplesmente o que parecem mas influenciam diretamente na construccedilatildeo de identidade que a mulher negra cria sobre si mesma sobre seu papel e lugar na sociedade Eacute fato a mulher negra via de regra natildeo se crecirc bonita nem valorizada pois natildeo tem referecircncia para isso A imagem que se tem da mulher negra eacute daquela que foi violada da serviccedilal (Tia Anastaacutecia) ou da lasciva quando na verdade a mulher negra sobretudo eacute sinocircnimo de resistecircncia de perseveranccedila e por que natildeo de esperanccedila Outros diratildeo que satildeo exageros mas essa influecircncia Que produz efeitos contraacuterios aos desejados eacute possiacutevel e plausiacutevel a ideacuteia que temos de noacutes mesmos condiciona nossos sonhos e metas As mulheres negras vecircem de tantas maneiras e sempre de forma interna representaccedilotildees negativas que acabam por introjetar a ideacuteia e passam a acreditar que eacute a realidade

O que vemos satildeo mulheres com baixa auto-estima que buscam parecer com o ideal de beleza propagado pela miacutedia e cujas perspectivas natildeo almejam um melhor lugar na sociedade mais respeito e principalmente mais cidadania A questatildeo natildeo se resume a se achar bonita mas tambeacutem natildeo se julgar capazes e nem merecedoras dos direitos aos quais todos deveriacuteamos ter acesso

A travessia de ser uma mulher de aparecircncia negra para ser uma mulher negra cidadatilde eacute tatildeo longa e seu iniacutecio eacute marcado pelo resgate e apropriaccedilatildeo da sua cultura que tambeacutem natildeo eacute ensinada na escola Dizer sou mulher negra natildeo eacute faacutecil Ao dizer isso tambeacutem assumimos nosso passado doloroso mas tambeacutem a ancestralidade e sabedoria africanas e nossa histoacuteria de superaccedilatildeo Mas esse percurso eacute tatildeo longo quanto o caminho ateacute a costa do Marfim do outro lado do Atlacircntico

ldquoResgaterdquo

Sou negra ponto final

devolvo-me a identidade

rasgo a minha certidatildeo

sou negra

sem reticecircncias

sem viacutergulas sem ausecircncias

sou negra balacobaco

sou negra noite cansaccedilo

sou negra

ponto final

Alzira Rufino 1986

Palavras-chave pontos que podem ser discutidos a partir do texto mulher negra violecircncia psicoloacutegica comunicaccedilatildeo de massa midiatizaccedilatildeo imaginaacuterio construccedilatildeo social identidade e fenoacutetipo

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Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

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Os desafios da militacircncia negra em defesa das mulheres e pela superaccedilatildeo da violecircncia de gecircnero

Por Gabriela Watson

A bela ou a fera o que vocecirc vecirc no espelho

Olhar no espelho e se identificar mais com a Bela do que com uma fera eacute um desafio para as mulheres negras no Brasil Principalmente quando no espelho da sociedade brasileira a televisatildeo elas soacute aparecem na eacutepoca do carnaval o que infelizmente tambeacutem natildeo eacute motivo de comemoraccedilatildeo Satildeo inuacutemeros os artigos que comprovam a ausecircncia de negras e da valorizaccedilatildeo de elementos da cultura afro-brasileira Entretanto esse texto se deteraacute na seguinte discussatildeo como a violecircncia psicoloacutegica afeta o imaginaacuterio da mulher negra

Quando falamos em mulheres negras tratamos de duas marcas sociais o de ser mulher numa sociedade em que os homens tecircm mais aceitaccedilatildeo e o de ser negra numa sociedade que dificulta o acesso dos negros aos espaccedilos de poder e decisatildeo

O ato da mulher se autonomear como negra jaacute constitui um desafio o primeiro obstaacuteculo eacute o de se reconhecer negra contrariando aqueles que preferem o termo ldquomoreninhardquo em seguida entender que estaacute fora do padratildeo de beleza imposto pelos meios de comunicaccedilatildeo e se por uacuteltimo apesar de perceber uma certa desconfianccedila quanto agrave sua capacidade de trabalho essa mulher se reconhecer como negra ela realmente eacute uma guerreira

Quando o assunto eacute violecircncia para com as mulheres negras devemos levar em conta a seguinte nota feita pela escritora Alzira Rufino

Se a violecircncia contra a mulher eacute uma epidemia que desconhece classes sociais existem segmentos que satildeo mais vulneraacuteveis porque jaacute tecircm uma outra histoacuteria de violecircncia como eacute o das mulheres negras sob fogo cruzado de vaacuterias formas de violecircncia a de gecircnero privada no lar a da pobreza que as escraviza as jornadas de trabalho interminaacuteveis das quais natildeo sobraraacute sequer a miacutenima aposentadoria e o preconceito racial que ainda tenta nos confinar no espaccedilo que vai do fogatildeo ao tanque domesticadas no fundo de cena 1

Dado o exposto eacute vaacutelido fazer um recorte racial da violecircncia porque as agressotildees passadas pelas mulheres negras tecircm sua origem no passado histoacuterico de exploraccedilatildeo a partir da escravidatildeo

Apesar de podermos abordar a violecircncia contra negras em todos os campos de accedilotildees possiacuteveis (sauacutede trabalho e social) talvez aquela que cause dor mais profunda eacute a violecircncia psicoloacutegica Em outras palavras essa violecircncia eacute a falta de auto-estima de orgulho que afeta diretamente na sua forccedila de vontade qualidade e perspectiva de vida

Por violecircncia moral me refiro aquela violecircncia que se perpetua de forma inconsciente atraveacutes de valores passados principalmente pela comunicaccedilatildeo que abrange desde a oralidade (expressotildees populares como ldquocabelo ruimrdquo) interaccedilatildeo social (conversas gestos) e ateacute a forma de comunicaccedilatildeo de massa (no Brasil a televisatildeo)

A importacircncia da miacutedia na formaccedilatildeo e informaccedilatildeo das pessoas eacute indiscutiacutevel nas palavras do jornalista Dennis de Oliveira ldquovivemos numa sociedade marcada pela midiatizaccedilatildeo que significa a penetraccedilatildeo da do modo de pensar dos meios de comunicaccedilatildeo em todos os ambientes das relaccedilotildees sociaisrdquo2 E infelizmente encontramos muitos vestiacutegios de pensamentos racistas em toda a comunicaccedilatildeo (livros escolares revistas TV e cinema) A maioria dos papeacuteis ldquodadosrdquo aos negros ainda eacute reduzida a lugares comuns eou personagens que demonstram a falta de harmonia e orgulho entre membros da comunidade negra (apenas alguns exemplos tiacutetulos como ldquoDa cor do pecadordquo a escrava Isaura ser branca ausecircncia de casais negros e de famiacutelias de negros estruturadas etc)

O ponto da discussatildeo eacute o resultado dessa contiacutenua accedilatildeo negativa de publicidade e propaganda na formaccedilatildeo do imaginaacuterio da mulher negra Muitos diratildeo que isso natildeo afeta em nada pois eacute apenas uma novela ou frase no entanto essa forma de representaccedilatildeo elabora uma construccedilatildeo social tanto do que eacute ser negro quanto da mulher negra E aiacute que entra o conceito de formaccedilatildeo da identidade Segundo Elisa Nascimento ldquoA identidade pode ser vista como uma espeacutecie de encruzilhada existencial entre indiviacuteduo e sociedade em que ambos vatildeo se constituindo mutuamente () A pessoa realiza esse processo por meio de sua proacutepria existecircncia de vida e das representaccedilotildees da experiecircncia coletiva de sua comunidade e sociedaderdquo3

Portanto uma frase uma novela uma piada natildeo satildeo pura e simplesmente o que parecem mas influenciam diretamente na construccedilatildeo de identidade que a mulher negra cria sobre si mesma sobre seu papel e lugar na sociedade Eacute fato a mulher negra via de regra natildeo se crecirc bonita nem valorizada pois natildeo tem referecircncia para isso A imagem que se tem da mulher negra eacute daquela que foi violada da serviccedilal (Tia Anastaacutecia) ou da lasciva quando na verdade a mulher negra sobretudo eacute sinocircnimo de resistecircncia de perseveranccedila e por que natildeo de esperanccedila Outros diratildeo que satildeo exageros mas essa influecircncia Que produz efeitos contraacuterios aos desejados eacute possiacutevel e plausiacutevel a ideacuteia que temos de noacutes mesmos condiciona nossos sonhos e metas As mulheres negras vecircem de tantas maneiras e sempre de forma interna representaccedilotildees negativas que acabam por introjetar a ideacuteia e passam a acreditar que eacute a realidade

O que vemos satildeo mulheres com baixa auto-estima que buscam parecer com o ideal de beleza propagado pela miacutedia e cujas perspectivas natildeo almejam um melhor lugar na sociedade mais respeito e principalmente mais cidadania A questatildeo natildeo se resume a se achar bonita mas tambeacutem natildeo se julgar capazes e nem merecedoras dos direitos aos quais todos deveriacuteamos ter acesso

A travessia de ser uma mulher de aparecircncia negra para ser uma mulher negra cidadatilde eacute tatildeo longa e seu iniacutecio eacute marcado pelo resgate e apropriaccedilatildeo da sua cultura que tambeacutem natildeo eacute ensinada na escola Dizer sou mulher negra natildeo eacute faacutecil Ao dizer isso tambeacutem assumimos nosso passado doloroso mas tambeacutem a ancestralidade e sabedoria africanas e nossa histoacuteria de superaccedilatildeo Mas esse percurso eacute tatildeo longo quanto o caminho ateacute a costa do Marfim do outro lado do Atlacircntico

ldquoResgaterdquo

Sou negra ponto final

devolvo-me a identidade

rasgo a minha certidatildeo

sou negra

sem reticecircncias

sem viacutergulas sem ausecircncias

sou negra balacobaco

sou negra noite cansaccedilo

sou negra

ponto final

Alzira Rufino 1986

Palavras-chave pontos que podem ser discutidos a partir do texto mulher negra violecircncia psicoloacutegica comunicaccedilatildeo de massa midiatizaccedilatildeo imaginaacuterio construccedilatildeo social identidade e fenoacutetipo

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Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

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Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

A importacircncia da miacutedia na formaccedilatildeo e informaccedilatildeo das pessoas eacute indiscutiacutevel nas palavras do jornalista Dennis de Oliveira ldquovivemos numa sociedade marcada pela midiatizaccedilatildeo que significa a penetraccedilatildeo da do modo de pensar dos meios de comunicaccedilatildeo em todos os ambientes das relaccedilotildees sociaisrdquo2 E infelizmente encontramos muitos vestiacutegios de pensamentos racistas em toda a comunicaccedilatildeo (livros escolares revistas TV e cinema) A maioria dos papeacuteis ldquodadosrdquo aos negros ainda eacute reduzida a lugares comuns eou personagens que demonstram a falta de harmonia e orgulho entre membros da comunidade negra (apenas alguns exemplos tiacutetulos como ldquoDa cor do pecadordquo a escrava Isaura ser branca ausecircncia de casais negros e de famiacutelias de negros estruturadas etc)

O ponto da discussatildeo eacute o resultado dessa contiacutenua accedilatildeo negativa de publicidade e propaganda na formaccedilatildeo do imaginaacuterio da mulher negra Muitos diratildeo que isso natildeo afeta em nada pois eacute apenas uma novela ou frase no entanto essa forma de representaccedilatildeo elabora uma construccedilatildeo social tanto do que eacute ser negro quanto da mulher negra E aiacute que entra o conceito de formaccedilatildeo da identidade Segundo Elisa Nascimento ldquoA identidade pode ser vista como uma espeacutecie de encruzilhada existencial entre indiviacuteduo e sociedade em que ambos vatildeo se constituindo mutuamente () A pessoa realiza esse processo por meio de sua proacutepria existecircncia de vida e das representaccedilotildees da experiecircncia coletiva de sua comunidade e sociedaderdquo3

Portanto uma frase uma novela uma piada natildeo satildeo pura e simplesmente o que parecem mas influenciam diretamente na construccedilatildeo de identidade que a mulher negra cria sobre si mesma sobre seu papel e lugar na sociedade Eacute fato a mulher negra via de regra natildeo se crecirc bonita nem valorizada pois natildeo tem referecircncia para isso A imagem que se tem da mulher negra eacute daquela que foi violada da serviccedilal (Tia Anastaacutecia) ou da lasciva quando na verdade a mulher negra sobretudo eacute sinocircnimo de resistecircncia de perseveranccedila e por que natildeo de esperanccedila Outros diratildeo que satildeo exageros mas essa influecircncia Que produz efeitos contraacuterios aos desejados eacute possiacutevel e plausiacutevel a ideacuteia que temos de noacutes mesmos condiciona nossos sonhos e metas As mulheres negras vecircem de tantas maneiras e sempre de forma interna representaccedilotildees negativas que acabam por introjetar a ideacuteia e passam a acreditar que eacute a realidade

O que vemos satildeo mulheres com baixa auto-estima que buscam parecer com o ideal de beleza propagado pela miacutedia e cujas perspectivas natildeo almejam um melhor lugar na sociedade mais respeito e principalmente mais cidadania A questatildeo natildeo se resume a se achar bonita mas tambeacutem natildeo se julgar capazes e nem merecedoras dos direitos aos quais todos deveriacuteamos ter acesso

A travessia de ser uma mulher de aparecircncia negra para ser uma mulher negra cidadatilde eacute tatildeo longa e seu iniacutecio eacute marcado pelo resgate e apropriaccedilatildeo da sua cultura que tambeacutem natildeo eacute ensinada na escola Dizer sou mulher negra natildeo eacute faacutecil Ao dizer isso tambeacutem assumimos nosso passado doloroso mas tambeacutem a ancestralidade e sabedoria africanas e nossa histoacuteria de superaccedilatildeo Mas esse percurso eacute tatildeo longo quanto o caminho ateacute a costa do Marfim do outro lado do Atlacircntico

ldquoResgaterdquo

Sou negra ponto final

devolvo-me a identidade

rasgo a minha certidatildeo

sou negra

sem reticecircncias

sem viacutergulas sem ausecircncias

sou negra balacobaco

sou negra noite cansaccedilo

sou negra

ponto final

Alzira Rufino 1986

Palavras-chave pontos que podem ser discutidos a partir do texto mulher negra violecircncia psicoloacutegica comunicaccedilatildeo de massa midiatizaccedilatildeo imaginaacuterio construccedilatildeo social identidade e fenoacutetipo

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Sede Nacional ndash S Paulo Rua Riachuelo 342 Centro - SP CEP 01007-000 - Fonefax (11) 3106-3411

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

sou negra noite cansaccedilo

sou negra

ponto final

Alzira Rufino 1986

Palavras-chave pontos que podem ser discutidos a partir do texto mulher negra violecircncia psicoloacutegica comunicaccedilatildeo de massa midiatizaccedilatildeo imaginaacuterio construccedilatildeo social identidade e fenoacutetipo

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Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

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Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

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Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Jovens e adultos da periferia a fronteira entre as drogas e o ingresso nas universidades

Notas sobre a experiecircncia urbana dos jovens negros as drogas as prisotildees e a morte

Jaime Amparo-Alves amparoalvesgmailcom

Todo camburatildeo tem um pouco de navio negreiro

[Rappa] Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosi

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentoii apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem

[Bezerra da Silva] Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuterioiii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisiv

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

1) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

2) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

3) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade Natildeo eacute segredo para ninguem existe uma guerra contra jovens negros pobres urbanos Morar na

periferia de Satildeo Paulo Recife Rio de Janeiro Salvador entre outras eacute estar exposto agrave morte prematura O Mapa da Violecircncia 2006 da Unesco daacute a dimensatildeo do massacre aproximadamente 50 mil pessoas satildeo assassinadas todos os anos no Brasil A marioria das mortes acontece na faixa etaacuteria entre 15 e 25 anos de idade E mais homens negros tecircm 75 a mais de chance de serem assassinados do que homens brancos na mesma idade Em Satildeo Paulo eles tecircm 1010 a mais de chances de serem mortos Na idade entre 15-24 anos morrem 451 jovens brancos para cada grupo de 100 mil habitants na outra extremidade morrem 907 jovens pretos e pardos para cada grupo de 100 mil habitantes E os nuacutemeros satildeo ainda piores em

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

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Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

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INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

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Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

estados como Pernambuco Alagoas e Distrito Federal onde a taxa de assassinato de jovens negros supera 300 a dos jovens brancosv

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

[Seu Jorge Marcelo Yuca Ulisses Cappelletti] Que diabo acontece com a democracia racial brasileira Qual a explicaccedilatildeo para a morte prematura

de homens negros pelas matildeos de agentes do estado O argumento que quero defender aqui eacute simples e direto a morte de homens jovens negros nas periferias urbanas brasileiras eacute parte do que Abdias do Nascimentovi apropriadamente denomina como lsquoo genocidio do povo negrorsquo A contenccedilatildeo dos corpos negros nas favelas da hiper-periferia paulistana o assassinato de jovens com tiros nas costas por agentes do estado a superlotaccedilatildeo das prisotildees o inferno do transporte puacuteblico o desemprego em massa e a exclusatildeo do acesso a universidade devem tambeacutem ser lidos como estrateacutegias de dominaccedilatildeo racial no Brazil urbano Nesse sentido jaacute eacute bem familiar para noacutes como o Estado tem respondido `a luta da juventude negra pelo direito `a existecircncia Com porrada

A cor do crime

Navio natildeo sobe morro doutor aeroporto no morro natildeo tem la tambeacutem natildeo tem

fronteira estrada barreira pra ver quem eacute quem [Bezerra da Silva]

Um ponto ainda por ser debatido no entanto eacute qual o impacto da guerra contra as drogas

emcampada pela Secretaria de Seguranccedila Puacuteblica na populaccedilatildeo negra jovem Embora o consumo de drogas iliacutecitas esteja diseminado no paiacutes os principais usuaacuterios satildeo os jovens brancos de classe meacutedia No entanto as forccedilas de repressatildeo ao traacutefico de entorpecentes se volta para a juventude negra das periferias urbanas A matemaacutetica racial eacute a seguinte a poliacutecia natildeo procura por drogas entre os jovens da classe meacutedia porque eles satildeo vistos apenas como usuaacuterios natildeo satildeo vsitos como traficantes Para jovens negros apanhados com um papelote de maconha natildeo vale a mesma regra satildeo traficantes E se natildeo forem satildeo lsquoobrigadosrsquo a confessar que o satildeo Para que natildeo haja duacutevida quanto o nosso raciociacutenio se liga aiacute uso de drogas iliacutecitas eacute um assunto de sauacutede puacuteblica o traacutefico de drogas eacute caso de poliacutecia

Antes te houvessem rocircto na batalha

Que servires a um povo de mortalha ( ) Andrada arranca esse pendatildeo dos ares

Colombo fecha a porta de teus mares [Castro Alves]

Se haacute uma poliacutetica estatal da qual o povo negro natildeo precisa de accedilotildees afirmativas eacute a poliacutetica de combate as drogas e a violecircncia urbana Os efeitos perversos de tais poliacuteticas raciais podem ser notados na destruiccedilatildeo das famiacutelias negras Os corpos antes sequestrados de Africa agora satildeo sequestrados na favela no meio da madrugada pelos novos capitatildees do mato Faccedila o experimento e vaacute ao presiacutedio mais perto da sua casa no domingo em horaacuterio de visita ali estaacute uma fila infindaacutevel de corpos negros em busca de informaccediloes sobre outros corpos capturados pelo estado Mulheres negras e homens negros tecircm mais chances de serem presos do que qualquer outro grupo E embora natildeo tenhamos acesso ao perfil racial da populaccedilatildeo carceraacuteria os negros satildeo os alvos preferenciais natildeo soacute da poliacutecia e dos bandidos mas tambeacutem do judiciaacuteriovii A equaccedilatildeo eacute simples a policia encontra drogas apenas na favela porque a poliacutecia procura por drogas apenas na favela Homens e mulheres negras tecircm desproporcional contato com a justiccedila porque satildeo os elementos preferenciais das suspeitas policiaisviii

Um caso emblemaacutetico para ajudar a contextualizar a discussatildeo na uacuteltima semana de marccedilo a Poliacutecia Federal prendeu Eliana Tranchesi proprietaacuteria da loja de produtos de luxo Daslu por sonegaccedilatildeo fiscal que pode chegar a 10 milhotildees de doacutelares formaccedilatildeo de quadrilha fraude em importaccedilotildees e falsificaccedilatildeo de documentos Condenada a 94 anos de prisatildeo Eliana ficou apenas 30 horas atraacutes das grades A outra face da mesma moeda eacute que a juventude negra (mulheres e homens) apodrece nas sucursais do

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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reg

Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

E-mail educafrofranciscanosorgbr Sites wwweducafroorgbr

Sede Nacional ndash S Paulo Rua Riachuelo 342 Sala 05 Centro CEP 01007-000 S Paulo SP - Fonefax (11) 3106-3411

Regional Rio de Janeiro Rua Buenos Aires 167 - Centro- CEP 20060-070 ndash Rio de Janeiro- RJ

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

e-mail educafrofranciscanosorgbr Site wwweducafroorgbr

Sede Nacional Rua Riachuelo 342 - Sala 05 - Centro - CEP 01007-000 - Satildeo Paulo SP - pabxfax (11) 31075024

reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

inferno muitas das vezes sob suspeitas infundadas flagrantes forjados ou confissotildees arrancadas sob tortura

A paz eacute fruto da justiccedila

O Brasil do seacuteculo XXI eacute um paiacutes muito perigoso porque sem justiccedila natildeo pode haver paz

Impossiacutevel compactuar com o cinismo cruel daqueles que negando a existecircncia do racismo lucram com suas identidades brancas Ainda que empregue a forccedila das armas ou a forccedila do Direito penal natildeo haacute sistema de opressatildeo que resista a luta do povo organizado Do quilombo a universidade puacuteblica a palavra de ordem eacute continuar a luta de Zumbi e multiplicar a experiecircncia de Palmares Se a favela eacute vista pela classe meacutedia e pela miacutedia como o lugar dos sujos e malditos transformemos a periferia no espaccedilo de gestaccedilatildeo do Brasil que queremos Para isso nossa luta contra o racismo eacute tambeacutem uma luta contra todas as formas de opressatildeo (contra as mulheres nordestinos gays lesbias e tantas outras categorias) estruturantes da dominaccedilatildeo racial no Brasil Questotildees para discussatildeo

4) Quais as causas da violecircncia urbana no Brasil Discuta as causas estruturais e os principais desafios para o povo negro

5) Qual a relaccedilatildeo entre a guerra contra as drogas e a guerra contra a juventude negra sugerida pelo autor

6) Como o seu nuacutecleo tem discutido estrateacutegias contra o racismo Qual o papel das mulheres negras em sua comunidade

i Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 ii Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 iii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 iv Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998 v Waiselfisz Julio Jacobo O Mapa da Violecircncia Os Jovens do Brasil Unesco Brasiacutelia 2006 vi Abdias do Nascimento O genociacutedio do negro brasileiro processo de um racismo mascarado Rio de Janeiro Paz e Terra 1978 vii Adorno Seacutergio Discriminaccedilatildeo Racial e Justiccedila Criminal em Satildeo Paulo Novos Estudos (43) 1995 viii Silva Jorge da Violecircncia e racismo no Rio de Janeiro Niteroacutei Editora da Universidade Federal Fluminense 1998

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Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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reg

Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

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Juventude negra e seguranccedila puacuteblica com o com bater a violecircncia

policia l e exigir que as pr isotildees se t ransform em em espaccedilo de recuperaccedilatildeo Tarefa enviar e-m ails para o Ministeacuter io da Just iccedila Governador e Secretaacuterio de Seguranccedila Puacuteblica do

Estado de Satildeo Paulo exigindo que as prisotildees se t ransformem em escola de recuperaccedilatildeo para a

populaccedilatildeo carceraacuteria

A carne (Seu Jorge Marcelo Yuca e Wilson Capellette)

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que vai de graccedila pro presiacutedio E para debaixo do plaacutestico

Que vai de graccedila pro subemprego E pros hospitais psiquiaacutetricos

A carne mais barata do mercado eacute a carne negra

Que fez e faz histoacuteria Segurando esse paiacutes no braccedilo meu irmatildeo

O gado aqui natildeo se sente revoltado Porque o revoacutelver jaacute estaacute engatilhado

E o vingador eacute lento mas muito bem intencionado Esse paiacutes vai deixando todo mundo preto

E o cabelo esticado

E mesmo assim ainda guardo o direito De algum antepassado da cor

Brigar por justiccedila e por respeito De algum antepassado da cor

Brigar bravamente justiccedila e por respeito

Natildeo eacute coisa da sua cabeccedila

Eacute conhecido de todas as pessoas que moram nas periferias dos grandes centros do Brasil que os policiais brasileiros satildeo violentos E qual eacute o alvo preferencial A seleccedilatildeo do suspeito eacute orientada pelo preconceito contra o jovem sobretudo do sexo masculino pelo preconceito aplicado aos pobres e pelo racismo contra os negros Natildeo era preciso que fosse esta a sua histoacuteria as poliacutecias natildeo estatildeo fadadas a cumprir este triste papel Esta funccedilatildeo natildeo deveria ser essencial Teoricamente elas natildeo existem na democracia para serem algozes de negros e pobres ou para servir agraves elites e proteger as camadas meacutedias construindo muros em torno das classes perigosas As poliacutecias podem ser oacutergatildeos democraacuteticos que defendem direitos e liberdades reparando e prevenindo injusticcedilas e violaccedilotildees em benefiacutecio dos direitos do cidadatildeo e da disseminaccedilatildeo dos princiacutepios de igualdade Mas na praacutetica a teoria eacute outra Do negro escravizado ao negro preso

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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reg

Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

E-mail educafrofranciscanosorgbr Sites wwweducafroorgbr

Sede Nacional ndash S Paulo Rua Riachuelo 342 Sala 05 Centro CEP 01007-000 S Paulo SP - Fonefax (11) 3106-3411

Regional Rio de Janeiro Rua Buenos Aires 167 - Centro- CEP 20060-070 ndash Rio de Janeiro- RJ

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

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UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

O racismo cientiacutefico (porque se baseava sobre a ciecircncia) acompanhando o desenvolvimento tecnoloacutegico e industrial estruturara-se na segunda metade do seacuteculo 19 transformando-se na ideologia justificadora da dominaccedilatildeo dos paiacuteses eurodescendentes capitalistas sobre os paiacuteses da Aacutefrica Aacutesia Oceania e Ameacuterica Latina Houve um cientista francecircs que sintetizou esta forma de pensar e ver o mundo Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) Em 1855 na Europa expotildee a tese da superioridade natural da raccedila branca ariana sobre todas as outras Em 1869 e 1870 viveu no Brasil era amigo de D Pedro II e dizia que o paiacutes estava povoado pelas raccedilas inferiores

Cesare Lombroso (1835-1909) foi um cientista italiano Com o objetivo de demonstrar a relaccedilatildeo entre as caracteriacutesticas fiacutesicas dos indiviacuteduos sua capacidade mental e atitudes morais criou a antropologia criminal com base na frenologia (mediccedilatildeo da cabeccedila) e na antropometria (estudo do formato do cracircnio) Para Lombroso o criminoso nato tinha as seguintes caracteriacutesticas mandiacutebulas grandes ossos da face salientes pele escura orelhas chapadas braccedilos compridos rugas precoces testa pequena e estreita Outras marcas eram a epilepsia o homossexualismo e a praacutetica de tatuagem Sua influecircncia se daacute ateacute os dias de hoje nas academias de poliacutecia

Outro cientista que colaborou para esta visatildeo sobre o povo negro foi Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) professor de medicina legal na Bahia e um dos introdutores da antropologia criminal e das teacutecnicas de estudo do cracircnio e do ceacuterebro no paiacutes Em 1894 publicou um ensaio sobre a relaccedilatildeo existente entre as raccedilas humanas e o Coacutedigo Penal no qual defendeu a ideacuteia de que deveriam existir coacutedigos penais diferentes para raccedilas diferentes Segundo ele no Brasil o estatuto juriacutedico do negro devia ser o mesmo de uma crianccedila Entre suas obras estatildeo Mesticcedilagem Degenerescecircncia e Crime no qual discorre sobre decadecircncia e tendecircncias ao crime dos negros e mesticcedilos Antropologia Patoloacutegica os Mesticcedilos Degenerescecircncia Fiacutesica e Mental entre os Mesticcedilos nas Terras Quentes e os Os Africanos no Brasil

Vale relembrar que o escravizado negro era visto como como ldquocoisardquo natildeo tinha personalidade juriacutedica civil quer dizer ao nascer natildeo recebiam certidatildeo de nascimento Na aacuterea penal era considerado de forma diferente se fosse autor de um crime poderia ser julgado (adquiria personalidade juriacutedica) como viacutetima seu agressor poderia ou natildeo ser julgado a depender do dano agrave propriedade

Em 1850 o Exeacutercito Brasileiro recebe a funccedilatildeo de caccedilar e devolver aos engenhos os negros reunidos nos quilombos regra que muda anos antes do fim da monarquia e do fim da escravidatildeo em 1888 Dois anos apoacutes a aboliccedilatildeo em 1890 o Coacutedigo Penal da Repuacuteblica tornou crimes punidos de prisatildeo a capoeiragem a mendicacircncia a vadiagem e a praacutetica de curandeirismo A maioridade penal eacute baixada de 14 para 9 anos a crianccedila negra era vista como precoce criminalmente Com estes crimes a principal funccedilatildeo da poliacutecia das cidades ndash estruturada nos primeiros anos da Repuacuteblica ndash era a de prender a populaccedilatildeo negra principal alvo dos novos tipos penais

No trabalho de mestrado em Ciecircncia Poliacutetica na Universidade Federal de Pernambuco de Geova da Silva Barros oficial da Poliacutecia Militar defendida em 2006 chamada de Racismo Institucional a cor da pele como principal fator de suspeiccedilatildeo O trabalho parte da ideacuteia da violecircncia interna como as condiccedilotildees injustas da sociedade para com a parcela mais desfavorecida de sua populaccedilatildeo e do racismo institucional (racismo praticado pelos governos e Estado) para perguntar se entre os policiais militares a cor eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo Atraveacutes de uma pesquisa que incluiu aplicaccedilatildeo de questionaacuterios a policiais profissionais e em formaccedilatildeo e o estudo dos boletins de ocorrecircncia em 7 unidades da Poliacutecia Militar o autor conclui que a maioria dos policiais (65 dos profissionais e 76 e 74 dos alunos das academias de poliacutecia) percebem que os negros satildeo priorizados nas abordagens Nesta observaccedilatildeo dos policiais o suspeito eacute predominantemente jovem masculino e negro Conclui tambeacutem que a abordagem policial tambeacutem reflete uma relaccedilatildeo de poder em que os menos alfabetizados satildeo sistematicamente selecionados como suspeitos Portanto a pesquisa comprova que a cor da pele eacute o principal fator de suspeiccedilatildeo entre os policiais militares de Pernambuco

Outro trabalho eacute a tese de doutorado em sociologia defendida por Ronaldo Laurentino Sales em 2006 na UFPE chamada de Raccedila e Justiccedila o mito da democracia racial e o racismo institucional no fluxo da Justiccedila parte da anaacutelise do mito da democracia racial como discurso de dominaccedilatildeo que reproduz as relaccedilotildees raciais por meio da imposiccedilatildeo do silecircncio racista ndash a teacutecnica de dizer alguma coisa sem contudo aceitar a responsabilidade de tecirc-la dito ndash presente em piadas brincadeiras e insultos raciais desnuda a ineficaacutecia do sistema juriacutedico em fazer valer a legislaccedilatildeo anti-racista O que se levantou na pesquisa foram os efeitos do suspeito profissional ou seja o policial que efetua a prisatildeo (que em muitos casos descamba para a eliminaccedilatildeo pura e simples do suspeito) o aparelho de seguranccedila puacuteblica o sistema judiciaacuterio promotores e juiacutezes e o atendimento meacutedico diferenciado ou mesmo falta deste que acontece na menor velocidade e pior qualidade de transporte e atendimento hospitalar para as pessoas negras viacutetimas de violecircncia

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

E-mail educafrofranciscanosorgbr Sites wwweducafroorgbr

Sede Nacional ndash S Paulo Rua Riachuelo 342 Sala 05 Centro CEP 01007-000 S Paulo SP - Fonefax (11) 3106-3411

Regional Rio de Janeiro Rua Buenos Aires 167 - Centro- CEP 20060-070 ndash Rio de Janeiro- RJ

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

e-mail educafrofranciscanosorgbr Site wwweducafroorgbr

Sede Nacional Rua Riachuelo 342 - Sala 05 - Centro - CEP 01007-000 - Satildeo Paulo SP - pabxfax (11) 31075024

reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

Haacute uma relaccedilatildeo entre raccedila cor etnia e violecircncia

Os registros de homiciacutedios fornecem poucos dados sobre as viacutetimas Somente a partir de 1996 a identificaccedilatildeo de corraccedilaetnia passou a ser obrigatoacuteria nas declaraccedilotildees de oacutebito Esta ausecircncia da identificaccedilatildeo da cor em homiciacutedios natildeo eacute por acaso e responde agrave necessidade da negaccedilatildeo do racismo e seus efeitos por parte do Estado

Existe um percentual de vitimas de homiciacutedios com ldquoraccedila ignoradardquo ou ldquosem informaccedilatildeordquo que varia de Estado para Estado mas se manteacutem alto em alguns Estados como Sergipe Espiacuterito Santo Cearaacute Goiaacutes Bahia Piauiacute Rondocircnia Paraiacuteba Alagoas Pernambuco Santa Catarina Rio Grande do Norte e Acre nesta ordem

Os responsaacuteveis pela coleta de informaccedilotildees satildeo as Secretarias Estaduais e Municipais de Sauacutede e Seguranccedila Puacuteblica Na coleta a organizaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo destes dados o que se percebe eacute a maacute qualidade banalizaccedilatildeo espetacularizaccedilatildeo e discriminaccedilatildeo Os meios de comunicaccedilatildeo tem um grande impacto quando discrimina os que estatildeo agrave margem da sociedade de consumo entre os quais estaacute a maioria da populaccedilatildeo negra

A taxa de mortalidade de negros por homiciacutedios (por 100 mil habitantes) foi 87 maior que a de brancos em 2000 Este percentual de viacutetimas aumenta conforme a cor a taxa de morte dos pretos eacute maior que a dos pardos e a dos pardos por sua vez maior que a dos brancos o que significa que quanto mais escuro maior o risco de ser assassinado O Brasil faz parte de uma triste estatiacutestica estaacute no 3deg lugar no assassinato de jovens entre 84 paiacuteses

Os jovens negros tecircm um iacutendice de mortalidade 853 superior aos jovens brancos Enquanto as taxas de homiciacutedios entre os jovens aumentaram de 30 para 517 (por 100000 jovens) no periacuteodo de 1980 a 2004 neste mesmo periacuteodo as taxas de homiciacutedio para o restante da populaccedilatildeo diminuiacuteram de 213 para 208 (por 100000 habitantes) A faixa de idade em que ocorre um significativo aumento no numero de homiciacutedios eacute a de 14 a 16 anos de acordo com o Mapa da Violecircncia de 2004 O negro detento e o ex-detento

Comecemos com uma suposiccedilatildeo pense no cumprimento de uma pena em presiacutedio esquecendo os

problemas do sistema Importa agora o cumprimento da pena em si e o seu produto o fato de haver uma pessoa que saiu do Sistema Prisional A primeira preocupaccedilatildeo do afastado nesse ambiente idealizado eacute tocar sua vida reerguer sua famiacutelia e evitar o retorno agrave prisatildeo e o melhor senatildeo o uacutenico caminho de se fazer isso eacute trabalhando Durante o tempo em que passou encarcerado ele deve ter passado por programas de profissionalizaccedilatildeo e se natildeo possuiacutea habilidades especiacuteficas para o mercado de trabalho agora possui e vai a busca de uma colocaccedilatildeo de um emprego da volta por cima de sua vida

A primeira barreira que se imporaacute a esse egresso eacute burocraacutetico vatildeo lhe exigir um atestado de antecedentes criminais e soacute com um nada consta eacute que consideraratildeo a possibilidade de empregaacute-lo Se apresentar um documento em que conste sua passagem por uma penitenciaacuteria de nada lhe adiantaraacute a declaraccedilatildeo de uma autoridade penitenciaacuteria garantindo seu bom comportamento durante todo o cumprimento da pena de nada lhe valeraacute asseverar o juiz da execuccedilatildeo penal ser o egresso um profissional formado na instituiccedilatildeo prisional sob a supervisatildeo e responsabilidade do Estado ou de uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental qualificado com louvor Ele natildeo seraacute aceito no mercado formal de trabalho ldquoNingueacutem confia natildeo e a vida desse homem para sempre foi modificadardquo como diria Racionais MCs

Voltando a dura realidade acrescentemos que durante o cumprimento da pena o receacutem-saiacutedo que era primaacuterio cuidou de se adaptar ao ambiente prisional por natildeo restar mesmo outra saiacuteda O reloacutegio da cadeia anda em cacircmera lenta e as conversas satildeo um possiacutevel remeacutedio para passar o tempo na cadeia As conversas natildeo satildeo as mais educativas haacute muito medo muito rancor muita dor pouco trabalho pouco respeito Daiacute a se formar uma escola de criminalidade informal mas eficaz eacute liacutequido e certo O ex-presidiaacuterio tem uma mancha que natildeo sai uma marca que lhe acompanharaacute por longo tempo e que impede a possibilidade de reinserccedilatildeo na sociedade A volta ao crime eacute sempre fatal A mesma sociedade que pede cada vez mais penas graves nos telejornais cada vez mais cadeia para os bandidos eacute a mesma que sabe que a cadeia eacute dura que o internado vai sofrer muito mais do que a simples falta da liberdade e eacute a mesma que fecha as portas para o trabalho pela via do preconceito aos saiacutedos do sistema penitenciaacuterio que ela mesma sustenta com impostos e votos A mesma sociedade que eacute contra a violecircncia policial eacute a que perpetra a violecircncia da segregaccedilatildeo como se em cada testa dos egressos houvesse um sinal denunciando-lhes a origem e por consequumlecircncia afastando-os da convivecircncia

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

Ora mas natildeo eacute o conviacutevio normal na sociedade o canal que se espera da pena privativa de liberdade E o Estado Quantos programas de reinserccedilatildeo social existem Apoacutes fazer o reacuteu pagar por sua pena o Estado natildeo tem meios de proteccedilatildeo para o egresso que rejeitado pela sociedade volta a delinquumlecircncia Se a prisatildeo cumprir a contento seus fins reeducando o interno de nada adiantam todos os esforccedilos desenvolvidos no sentido de trazecirc-los convenientemente readaptados ao conviacutevio social se natildeo os ampararmos nos seus primeiros anos de vida livre

A volta ao crime eacute a utilizaccedilatildeo da condiccedilatildeo de egresso para justificar perante a sociedade e de acordo com as estrateacutegias de combate agrave criminalidade a eliminaccedilatildeo de pessoas que estiveram encarceradas ou seja a pena de morte de fato Vamos relembrar aqui a letra do rap O Homem na Estrada do grupo paulistano Racionais

ldquoAssaltos na redondeza levantaram suspeitas logo acusaram a favela para variar E o boato que corre eacute que esse homem estaacute com o seu nome laacute na lista dos suspeitos pregada na parede do bar A noite chega e o clima estranho no ar e ele sem desconfiar de nada vai dormir tranquilamente mas na calada caguetaram seus antecedentes como se fosse uma doenccedila incuraacutevel no seu braccedilo a tatuagem DVC uma passagem 157 na lei No seu lado natildeo tem mais ningueacutem A Justiccedila Criminal eacute implacaacutevel Tiram sua liberdade famiacutelia e moral Mesmo longe do sistema carceraacuterio te chamaratildeo para sempre de ex-presidiaacuterio () Se eles me acham baleado na calccedilada chutam minha cara e cospem em mim eacute eu sangraria ateacute a morte Jaacute era um abraccedilo Por isso a minha seguranccedila eu mesmo faccedilo Eacute madrugada parece estar tudo normal Mas esse homem desperta pressentindo o mal muito cachorro latindo Ele acorda ouvindo barulho de carro e passos no quintal A vizinhanccedila estaacute calada e insegura premeditando o final que jaacute conhecem bem Na madrugada da favela natildeo existem leis talvez a lei do silecircncio a lei do catildeo talvez Vatildeo invadir o seu barraco eacute a poliacutecia Vieram pra arregaccedilar cheios de oacutedio e maliacutecia filhos da puta comedores de carniccedila Jaacute deram minha sentenccedila e eu nem tava na treta natildeo satildeo poucos e jaacute vieram muito loucos Matar na crocodilagem natildeo vatildeo perder viagem quinze caras laacute fora diversos calibres e eu apenas com uma treze tiros automaacutetica Sou eu mesmo e eu meu deus e o meu orixaacute No primeiro barulho eu vou atirar Se eles me pegam meu filho fica sem ningueacutem e o que eles querem mais um pretinho na FEBEM Sim ganhar dinheiro ficar rico enfim a gente sonha a vida inteira e soacute acorda no fim minha verdade foi outra natildeo daacute mais tempo pra nada Um Homem pardo aparentando entre vinte e cinco e trinta anos eacute encontrado morto na estrada do MBoi Mirim sem nuacutemero Tudo indica ter sido acerto de contas entre quadrilhas rivais Segundo a poliacutecia a vitiacutema tinha vasta ficha criminal

Aqui o preconceito de cor ressurge pois sendo o sistema carceraacuterio seletivo por transbordamento se tem que a farsa da ressocializaccedilatildeo tambeacutem o eacute bem assim a utilizaccedilatildeo da reincidecircncia (ou suposta) como justificativa para a eliminaccedilatildeo de pessoas negras indiacutegenas e brancas pobres

O ex-detento tem pela frente a solidatildeo que tenderaacute a conduzi-lo de volta ao sistema se antes natildeo for eliminado pelos oacutergatildeos de seguranccedila (como na letra) fato que a sociedade natildeo desaprovaraacute porque se trata de

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

educafrofranciscanosorgbr tel(11)3106 3411

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Preacute-Vestibular Comunitaacuterio ndash Sede Nacional

A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

um egresso que voltou a praticar crimes Juntem-se a esse fato alguns outros a pena privativa de liberdade estaacute falida a ressocializaccedilatildeo eacute um engano e os iacutendices de reincidecircncia soacute natildeo satildeo maiores porque os de oacutebito tecircm igualmente crescido E continua-se a pedir penas cada vez mais severas mais anos de cadeia menos facilidades para o livramento condicional mais penitenciaacuterias de seguranccedila maacutexima

Para que a democratizaccedilatildeo da poliacutecia seja um instrumento efetivo de combate agrave violecircncia eacute fundamental que a populaccedilatildeo pressione os governos estaduais e federais para que assumam de uma vez por todas o compromisso pela eliminaccedilatildeo do racismo em suas instituiccedilotildees puacuteblicas numa completa mudanccedila de princiacutepios e valores ldquoFazer de contardquo que o racismo institucional natildeo estaacute presente nos oacutergatildeos de seguranccedila puacuteblica na educaccedilatildeo na sauacutede e nas demais estruturas governamentais eacute garantir para o presente e para as proacuteximas geraccedilotildees que o jovem negro continue sendo visto como inimigo puacuteblico e isca de poliacutecia fato que quando natildeo acaba em morte pode trazer danos fiacutesicos e riscos psicoloacutegicos irreversiacuteveis

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

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Os desafios trazidos pelo ingresso de estudantes negros e pobres nas Universidades quais

poliacuteticas puacuteblicas devemos exigir

Lucilia Laura Pinheiro Lopes profordf de filosofia11

ldquoNos uacuteltimos anos as iniciativas de promoccedilatildeo de acesso ao Ensino Superior vecircm se destacando como palco de expressivos avanccedilos no que se refere a iniciativas de combate agraves desigualdades raciais e agrave ampliaccedilatildeo de oportunidades sociaisrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Entendemos essa afirmaccedilatildeo necessaacuteria para direcionar e estabelecer poliacuteticas puacuteblicas de superaccedilatildeo as desigualdades raciais existentes no Brasil pois o acesso ao ensino superior garante a mudanccedila de perspectivas para a populaccedilatildeo negra e pobre desse paiacutes Considerando aqui perspectivas educacionais profissionais econocircmicas socioculturais histoacutericas e psicoloacutegicas A pesquisa do INEP -Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira aponta para essa discussatildeo A maioria dos alunos entrevistados percebe o ProUni como medida que democratiza o ensino superior por oferececirc-lo as pessoas que natildeo tecircm condiccedilotildees financeiras para financiar (Carvalho) Oportunizar e promover o acesso ao ensino superior universal eacute o primeiro passo para a mudanccedila efetiva de uma sociedade O que natildeo se pode deixar de lado eacute o acompanhamento e direcionamento dessas accedilotildees Apoacutes quase 11 anos de accedilotildees afirmativas em universidades puacuteblicas e privadas ainda natildeo temos uma legislaccedilatildeo como poliacutetica puacuteblica para fiscalizar e direcionar as accedilotildees dessas instituiccedilotildees

ldquoA inexistecircncia de uma legislaccedilatildeo federal sobre o tema e a ausecircncia de uma accedilatildeo de promoccedilatildeo ou coordenaccedilatildeo nacional dessas experiecircncias seja por parte da Seppir ou do MEC tem permitido a proliferaccedilatildeo de um conjunto bastante diverso de accedilotildees afirmativasrdquo Jaccoud in THEODORO 2008)

Exigir da SEPPIR o acompanhamento sistemaacutetico de accedilotildees das instituiccedilotildees que implantaram cotas Cobrar do MEC que desenvolva iniciativas de apoio a essas experiecircncias quer na forma de bolsas de manutenccedilatildeo ou outra forma de apoio que vise agrave permanecircncia doa cotista na universidade Que o MEC oriente avalie e financie encontros ou promoccedilatildeo de eventos nessa perspectiva A extinccedilatildeo dos vestibulares Implantaccedilatildeo de cotas em outros setores aleacutem da educaccedilatildeo universitaacuteria em que se reconheccedila a ausecircncia de negros e pobres Satildeo algumas das indagaccedilotildees que devem servir como diretrizes para os proacuteximos passos na construccedilatildeo de um paiacutes em condiccedilotildees de igualdade para todos Considerando que as argumentaccedilotildees contra o sistema de cotas jaacute foram superadas por parte dos legisladores e se reconhece que

a diversidade social e cultural da sociedade brasileira natildeo pode ficar ausente do ambiente universitaacuterio responsaacutevel natildeo apenas pela difusatildeo mas de forma privilegiada no paiacutes pela geraccedilatildeo de conhecimento Jaccoud in THEODORO 2008)

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

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Torna-se indispensaacutevel poliacuteticas que sistematizem essas accedilotildees como articular ao sistema de cotas um conjunto mais amplo de accedilotildees que atue em diversos setores da instituiccedilatildeo seguindo o exemplo da UnB que ofereceu a disciplina Pensamento Negro Contemporacircneo Outro aspecto a ser repensado sobre a inserccedilatildeo de negros e pobres nas universidades eacute a urgente mudanccedila de olhar Faz-se necessaacuterio hoje um olhar mais atento de todos os seguimentos para a diversidade econocircmica cultural histoacuterica e eacutetnica do Brasil Gerar conhecimento que contemple a diversidade eacute um dos muitos desafios que se deve considerar no momento Desafio este que exige firmeza e tranquumlilidade pois negros e pobres convivendo em situaccedilatildeo de igualdade ainda que somente a partir da sua entrada com ricos no espaccedilo universitaacuterio eacute provocaccedilatildeo para construccedilatildeo de novo conhecimento com perspectivas do oprimido Para tanto seraacute necessaacuterio superar a cilada imposta pelo contexto soacutecio-econocircmico da universidade e natildeo perder a identidade de diversidade nesse espaccedilo A diversidade passa a ser um problema no espaccedilo universitaacuterio quando se quer ficar invisiacutevel imune a provocaccedilotildees e insultos Para que a poliacutetica seja exigida eacute necessaacuterio natildeo se esquecer de onde saiacuteram os negros e pobres ainda antes quais momentos e condiccedilotildees histoacutericas os submeteram a tais circunstacircncias sociais no Brasil A vergonha pela pobreza deve dar lugar para exigecircncia de condiccedilotildees e oportunidades de desenvolvimento pleno Os movimentos sociais e entidades da grandeza da Educafro satildeo responsaacuteveis em

ldquorecolocar no debate a discussatildeo sobre a educaccedilatildeo puacuteblica no Brasil seu papel e a qualidade de seu ensino E por fim tem feito avanccedilar nossa compreensatildeo sobre democracia e sobre a variedade de instrumentos que devem ser mobilizados na construccedilatildeo de maior justiccedila socialrdquo (Jaccoud in THEODORO 2008)

Os desafios mudam agrave medida que mais negros e pobres tomam posse do seu espaccedilo nas universidades brasileiras elaboram pesquisas sobre suas realidades e interesses Manter-se atento e participante eacute o que se espera dos que utilizam das poliacuteticas de inclusatildeo para que de fato a mudanccedila ocorra antes de entrarmos em uma nova deacutecada Bibliografia - CARVALHO Joseacute Carmello O PROUNI COMO POLIacuteTICA DE INCLUSAtildeO ESTUDO DE CAMPO SOBRE AS DIMENSOtildeES INSTITUCIONAIS E INTERSUBJETIVAS DA INCLUSAtildeO UNIVERSITAacuteRIA JUNTO A 400 BOLSISTAS NO BIEcircNIO 2005-2006 -THEODORO Maacuterio As poliacuteticas puacuteblicas e a desigualdade racial no Brasil IPEA 2008 BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Promulgada em 05101988) Satildeo Paulo Atlas 1992 BRASIL Portaria nordm 1156 do Ministeacuterio da Justiccedila de 20 de dezembro de 2001 sobre accedilotildees afirmativas Disponiacutevel em wwwmjgovbrsedhCncdAAMJhtm Acessado em

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

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SETE ATOS OFICIAIS QUE DECRETARAM A MARGINALIZACcedilAtildeO DO POVO NO BRASIL

Frei David Santos Ofm

INTRODUCcedilAtildeO A Lei 10639 de marccedilo de 2003 desperta a comunidade negra para cobrar da sociedade brasileira e do mundo da educaccedilatildeo formal uma nova atitude frente ao debate sobre o tema do negro na Educaccedilatildeo O Presidente LULA sabiamente ao fazer este tema ser assunto da primeira lei de seu primeiro mandato a qual recebeu o nuacutemero acima Esta lei quer debater como o negro tem sido tratado pela educaccedilatildeo formal no Brasil haacute 509 anos o Brasil foi invadido pelos colonizadores europeus O objetivo foi o enriquecimento da Europa Na realizaccedilatildeo deste objetivo previa-se muito trabalho pesado e a soluccedilatildeo encontrada por eles foi a intensificaccedilatildeo da escravidatildeo do povo negro no paiacutes como poliacutetica econocircmica O termo Escravidatildeo natildeo rima com Solidariedade e nem com Inclusatildeo As consequumlecircncias desta poliacutetica foram a perda de identidade do povo e a contaminaccedilatildeo negativa das relaccedilotildees raciais religiosas e sociais em todo Brasil e ateacute hoje estamos colhendo seus malefiacutecios Segue a reflexatildeo sobre os sete principais atos de estado que foram determinantes para jogar o povo negro na marginalidade da naccedilatildeo

1ordm ATO OFICIAL IMPLANTACcedilAtildeO DA ESCRAVIDAtildeO NO BRASIL

Atraveacutes da Bula Dum Diversas de 16 de junho de 1452 o papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V ldquo noacutes lhe concedemos por estes presentes documentos com nossa Autoridade Apostoacutelica plena e livre permissatildeo de invadir buscar capturar e subjugar os sarracenos e pagatildeos e quaisquer outros increacutedulos e inimigos de Cristo onde quer que estejam como tambeacutem seus reinos ducados condados principados e outras propriedades E REDUZIR SUAS PESSOAS Agrave PERPEacuteTUA ESCRAVIDAtildeO E APROPRIAR E CONVERTER EM SEU USO E PROVEITO E DE SEUS SUCESSORES os reis de Portugal em perpeacutetuo os supramencionados reinos ducados condados principados e outras propriedades possessotildees e bens semelhantesrdquo(1) Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

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Apoiados nesse documento os reis de Portugal e Espanha promoveram uma DEVASTACcedilAtildeO do continente africano matando e escravizando milhotildees de habitantes A Aacutefrica era o uacutenico continente do mundo que dominava a tecnologia do ferro e com esta invasatildeo e massacre promovido pelos povos europeus e em seguida a sua exploraccedilatildeo colonizadora o continente africano ficou com as matildeos e os peacutes atados e dessa forma permanece ateacute hoje O poder colonial usou a Igreja para impor seus interesses escravocratas Cada ser humano ateacute hoje tem uma postura poliacutetica e o poder faz uso desta postura conforme seus interesses Outras posiccedilotildees da Igreja contra a escravidatildeo e a favor da populaccedilatildeo negra natildeo foram seguidas pelo poder colonial Exemplo O Papa Urbano VIII no ano de 1639 no breve ldquoComissum Vobisrdquo afirmava que deveria ser automaticamente expulso da Igreja o catoacutelico que escravizasse algueacutem Esta ordem Papal natildeo interessava ao PODER COLONIAL e fecharam seus ouvidos para esta determinaccedilatildeo O papa Leatildeo XIII em sua Enciacuteclica ldquoIn Pluriacutemisrdquo dirigida aos bispos brasileiros em 05 de maio de 1888 transmite-nos a frieza crueldade e o tamanho do massacre promovido pelos exploradores ldquoDo testemunho destes uacuteltimos resulta mesmo que o nuacutemero dos Africanos assim vendidos cada ano agrave maneira dos rebanhos de animais natildeo se eleva a menos de 400000 (quatrocentos mil) dos quais cerca da metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmente de tal sorte que os viajores que percorrem aquelas regiotildees podem quatildeo triste eacute dizecirc-lo reconhecer o caminho que os destroccedilos de ossadas marcaramrdquo(2) Este relato de massacre (ldquocerca de metade apoacutes serem cobertos de pancadas ao longo de um aacutespero caminho sucumbem miseravelmenterdquo) que nos eacute transmitido neste documento papal deve falar fundo em nossa consciecircncia histoacuterica de defensores da justiccedila do Reino de Deus Todo cristatildeo que tem senso de justiccedila deve reler estes 500 anos de colonizaccedilatildeo a partir das viacutetimas desta cataacutestrofe colonizadora

2ordm ATO OFICIAL LEI COMPLEMENTAR Agrave CONSTITUICcedilAtildeO DE 1824

ldquo pela legislaccedilatildeo do impeacuterio os negros natildeo podiam frequumlentar escolas pois eram considerados doentes de moleacutestias contagiosasrdquo(3) Os poderosos do Brasil sabiam que o acesso ao saber sempre foi uma alavanca de ascensatildeo social econocircmica e poliacutetica de um povo Com este decreto os racistas do Brasil

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

E-mail educafrofranciscanosorgbr Sites wwweducafroorgbr

Sede Nacional ndash S Paulo Rua Riachuelo 342 Sala 05 Centro CEP 01007-000 S Paulo SP - Fonefax (11) 3106-3411

Regional Rio de Janeiro Rua Buenos Aires 167 - Centro- CEP 20060-070 ndash Rio de Janeiro- RJ

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

e-mail educafrofranciscanosorgbr Site wwweducafroorgbr

Sede Nacional Rua Riachuelo 342 - Sala 05 - Centro - CEP 01007-000 - Satildeo Paulo SP - pabxfax (11) 31075024

reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

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encurralaram a populaccedilatildeo negra nos porotildees da sociedade Juridicamente este decreto agiu ateacute 1889 com a proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica Na praacutetica a intenccedilatildeo do decreto funciona ateacute hoje Por exemplo por que as escolas das periferias natildeo tecircm por parte do governo o mesmo tratamento qualitativo que as escolas das cidades Como eacute que uma pessoa afrodescendente que mora em favela teraacute motivaccedilatildeo para estudar numa escola de peacutessima qualidade

3ordm ATO OFICIAL LEI DE TERRAS DE 1850 Nordm 601

Quase todo o litoral brasileiro estava povoado por QUILOMBOS Os quilombos eram formados por negros que atraveacutes de diferentes formas conquistavam a liberdade Aceitavam brancos pobres e iacutendios que quisessem somar aquele projeto Laacute eles viviam uma forma alternativa de organizaccedilatildeo social tendo tudo em comum As sobras de produccedilatildeo eram vendidas aos brancos das vilas O sistema percebendo o crescimento do poder econocircmico do negro e que os brancos do interior estavam perdendo a valiosa matildeo-de-obra para sua produccedilatildeo decretam a LEI DA TERRA ldquo a partir desta nova lei as terras soacute poderiam ser obtidas atraveacutes de compra Assim com a dificuldade de obtenccedilatildeo de terras que seriam vendidas por preccedilo muito alto o trabalhador livre teria que permanecer nas fazendas substituindo os escravosrdquo (4)

A partir daiacute o exeacutercito brasileiro passa ter como tarefa destruir os quilombos as plantaccedilotildees e levar os negros de volta as fazendas dos brancos O exeacutercito se ocupou nesta tarefa ateacute 25 de outubro de 1887 quando um setor solidaacuterio ao povo negro cria uma crise interna no exeacutercito e comunica ao Impeacuterio que natildeo mais admitiraacute que o este seja usado para perseguir os negros que derramaram seu sangue defendendo o Brasil na guerra do Paraguai(5)

A lei de terras natildeo foi usada contra os imigrantes europeus Segundo a coleccedilatildeo ldquoBiblioteca do Exeacutercitordquo consideraacutevel parcela de imigrantes recebeu de graccedila grandes pedaccedilos de terras sementes e dinheiro(6) Isto veio provar que a lei de terras tinha um objetivo definido tirar do negro a possibilidade de crescimento econocircmico atraveacutes do trabalho em terras proacuteprias e embranquecer o paiacutes com a maciccedila entrada de europeus(7)

4ordm ATO OFICIAL GUERRA DO PARAGUAI (1864-1870)

Foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a populaccedilatildeo negra do Brasil Foi difundido que todos os negros que fossem lutar na guerra ao retornar ao Brasil

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

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receberiam a liberdade e os jaacute livres receberiam terra Aleacutem do mais quando chegava a convocaccedilatildeo para o filho do fazendeiro ele o escondia e no lugar do filho enviava de cinco a dez negros

Antes da guerra do Paraguai a populaccedilatildeo negra do Brasil era de 2500000 pessoas (45 do total da populaccedilatildeo brasileira) Depois da guerra a populaccedilatildeo negra do Brasil se reduz para 1500000 pessoas (15 do total da populaccedilatildeo brasileira)

Durante a guerra o exeacutercito brasileiro colocou o nosso povo negro na frente de combate e foi grande o nuacutemero de mortos Os poucos negros que sobraram vivos eram os que sabiam manejar as armas do exeacutercito e Caxias escreve para o Imperador demonstrando temor sobre este fato ldquoagrave sombra dessa guerra nada pode livrar-nos de que aquela imensa escravatura do Brasil decirc o grito de sua divina e humanamente legiacutetima liberdade e tenha lugar uma guerra interna como no Haiti de negros contra brancos que sempre tem ameaccedilado o Brasil e desaparece dele a eficaciacutessima e diminuta parte branca que haacute (8)

5 ordm ATO OFICIAL LEI DO VENTRE LIVRE (1871)

Esta lei ateacute hoje eacute ensinada nas escolas como uma lei boa ldquoToda crianccedila que nascesse a partir daquela data nasceria livrerdquo Na praacutetica esta lei separava as crianccedilas de seus pais desestruturando a famiacutelia negra O governo abriu uma casa para acolher estas crianccedilas De cada 100 crianccedilas que laacute entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade O objetivo desta lei foi tirar a obrigaccedilatildeo dos senhores de fazendas de criarem nossas crianccedilas negras pois jaacute com 12 anos de idade as crianccedilas saiacuteam para os QUILOMBOS agrave procura da liberdade negada nas senzalas Com esta lei surgiram os primeiros menores abandonados do Brasil

Em quase todas igrejas do Brasil os padres tocaram os sinos aplaudindo a assinatura desta lei

6ordm ATO OFICIAL LEI DO SEXAGENAacuteRIO (1885)

Tambeacutem eacute ensinada nas escolas como sendo um precircmio do ldquocoraccedilatildeo bomrdquo do senhor para o escravo que muito trabalhou ldquoTodo escravo que atingisse os 60 anos de idade ficaria automaticamente livrerdquo Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente encontrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continuar gerando

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

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Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

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riquezas para os senhores de fazendas surgindo assim os primeiros mendigos nas ruas do Brasil

7ordm ATO OFICIAL DECRETO 528 DAS IMIGRACcedilOtildeES EUROPEacuteIAS (1890) (11)

Com a subida ao poder do partido Republicano a industrializaccedilatildeo do paiacutes passou a ser ponto chave A industria precisava fundamentalmente de duas coisas mateacuteria prima e matildeo

de obra Mateacuteria prima no Brasil natildeo era problema Quanto agrave matildeo de obra o povo negro estava aiacute disponiacutevel A matildeo de obra passou a ser problema quando o governo descobriu que se o negro ocupasse as vagas nas induacutestrias iria surgir uma classe meacutedia negra poderosa e colocaria em risco o processo de embranquecimento do paiacutes A soluccedilatildeo encontrada foi decretar no dia 28 de junho de 1890 a reabertura do paiacutes agraves imigraccedilotildees europeacuteias e definir que negros e asiaacuteticos soacute poderiam entrar no paiacutes com autorizaccedilatildeo do congresso (12) Esta nova remessa de europeus vai ocupar os trabalhos nas nascentes induacutestrias paulistas e assim os europeus pobres satildeo usados mais uma vez para marginalizar o povo negro QUESTOtildeES 1) A lei aacuteurea natildeo eacute elencada entre os 7 atos porque esta lei foi uma farsa Na praacutetica quando a lei foi

assinada soacute 5 do povo negro vivia ainda sob regime de escravidatildeo (13) Os demais tinham conseguido a libertaccedilatildeo atraveacutes dos proacuteprios esforccedilos ou das irmandades Na sua opiniatildeo quais foram os meios que os negros usaram para se libertarem

2) Surgiu um movimento exigindo que o governo indenizasse os senhores proprietaacuterios que haviam perdido seus escravos Rui Barbosa reagiu dizendo ldquoSe algueacutem deve ser indenizado indenizem os escravosrdquo(14) Portanto ele tinha plena consciecircncia das injusticcedilas da sociedade contra o povo negro

O que ele fez na praacutetica para combater estas injusticcedilas

3) A ideologia do embranquecimento nunca deixou de ter fortes adeptos no Brasil durante todos as fases da historia do Brasil Getuacutelio Vargas foi um partidaacuterio desta ideologia Reflitam o conteuacutedo do decreto nordm 7967 artigo 2ordm de 18 de setembro de 1945 ldquoatender-se-aacute admissatildeo dos imigrantes a necessidade de preservar e desenvolver na composiccedilatildeo eacutetnica da populaccedilatildeo as caracteriacutesticas mais convenientes da sua ascendecircncia europeacuteia assim como a defesa do trabalhador nacionalrdquo(15)

Na sua opiniatildeo como o governo trata os africanos que hoje tentam migrar para o Brasil E como trata os europeus

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

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INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

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4) Estes sete atos oficiais satildeo apenas uma pequena amostragem dos 509 anos de opressatildeo e massacre ao qual o povo afrodescendente foi submetido em terras brasileiras Poderiacuteamos nos perguntar o que eu juntamente com minha entidade podemos fazer para ajudar na recuperaccedilatildeo da consciecircncia histoacuterica e os direitos do povo afrodescendente

FONTES

1 Batista Pe Mauro - Evangelizaccedilatildeo ou Escravidatildeo in Vida Pastoral nordm 1381988 paacuteg 15-19 2 Leatildeo XIII Papa - Sobre Aboliccedilatildeo da Escravatura Documento nordm 40 Vozes 1987 paacuteg 22 3 Chiavenato JJ - O Negro no Brasil Brasiliense 1986 pag 143 Obs Em 1838 o governo de Sergipe reforccedila esta proibiccedilatildeo

lanccedilando outra lei a niacutevel estadual Vide vaacuterios autores ldquoNegros no Brasil Dados da Realidaderdquo Vozes 1989 paacuteg 52 4 Chiavenato pag 100 e Soares Afonso M L - O Negro Migrante in Revista Sem Fronteiras junho86 pag 11 5 Diegues Juacutenior Manoel - Etnias e Culturas no Brasil Biblioteca do Exeacutercito 1980 6 Chiavenato paacuteg 172 7 Chiavenato pag 192-211 8 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 47 9 Chiavenato pag 221 10 Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Ed Nova Fronteira 1980 paacuteg 116 11 Silva J Martiniano - Racismo agrave Brasileira Das Raiacutezes agrave Marginalizaccedilatildeo do Negro in Revista de Cultura Vozes ano 82

janeiro88 paacuteg 39 12 Viotteacute da Costa Emiacutelia - A Aboliccedilatildeo Global Editora 1986 paacuteg 34 13 Chiavenato paacuteg 220 14Rodrigues J H - Brasil e Aacutefrica Editora Nova Fronteira 1980 paacuteg 121 EDUCAFRO Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

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Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

b

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A urgecircncia de um processo de desconstruccedilatildeo do racismo institucional rumo a verdadeira democracia racial

Flaacutevio Joseacute dos Passos Mestrando em Ciecircncias Sociais PUC SP 2010-2012

Bolsista da Fundaccedilatildeo Ford ndash 2009-2012 Participa na Educafro desde 1998

Contato br2_ebanoyahoocombr

INTRODUCcedilAtildeO

No mundo inteiro o racismo institucional eacute uma das praacuteticas mais silenciosas de discriminaccedilatildeo racial E tambeacutem uma das mais eficientes partindo-se do pressuposto de que o racismo eacute mais que uma ideologia eacute um projeto de sociedade pautado na manutenccedilatildeo dos privileacutegios de um pequeno grupo hegemocircnico e dominante identificado por caracteriacutesticas fenotiacutepicas e culturais em detrimento no caso especiacutefico do Brasil de uma grande maioria da populaccedilatildeo que apoacutes seacuteculos de escravidatildeo e segregaccedilotildees raciais ainda enfrenta no seu cotidiano manifestaccedilotildees ou arquitetaccedilotildees institucionais que reeditam a velha premissa da subordinaccedilatildeo do negro para que se resigne estritamente ao ldquoseu lugarrdquo Num paiacutes que passou um seacuteculo insistindo numa suposta democracia racial tambeacutem desenvolveu formas de discriminaccedilatildeo que natildeo se consubstancializam em placas de ldquoProibida a entrada de negrosrdquo Ateacute mesmo os anuacutencios exigindo ldquoboa aparecircnciardquo praticamente se extinguiram das paacuteginas de classificados ou melhor foram ressemantizados A diferenccedila do racismo institucional aleacutem de residir na forma enquanto um projeto institucional consciente ou natildeo ele tambeacutem produz um resultado coletivo agrave medida que os atingidos por ele satildeo comunidades a populaccedilatildeo negra de uma cidade um estado de uma determinada faixa etaacuteria um puacuteblico alvo de uma poliacutetica puacuteblica enfim a populaccedilatildeo negra

Contudo os diversos mecanismos de segregaccedilatildeo racial requintadamente elaborados e sutis exigem que identifiquemos as suas manifestaccedilotildees e os pressupostos ideoloacutegicos que sustentam e perpetuam principalmente nas praacuteticas de racismos institucionais presentes em reparticcedilotildees puacuteblicas hospitais postos de sauacutede escolas universidades instituiccedilotildees religiosas poliacuteticas governamentais poliacuteticas de empregabilidade abordagens policiais e outras ajudaraacute a superarmos uma ldquonaturalizaccedilatildeordquo da desigualdade de atendimento para conquistarmos mudanccedilas de atitudes que somadas agrave consciecircncia individual e institucional seratildeo propulsoras de mudanccedilas estruturais e sistecircmicas no que tange as relaccedilotildees eacutetnico-raciais

O racismo institucional possibilita perceber o preconceito mesmo quando vivenciado por uma pessoa especiacutefica na automaccedilatildeo de um atendimento aparentemente igualitaacuterio mas que por irrefletido muitas vezes eivado de estereotipias e conceitos preconcebidos ele eacute a expressatildeo de opiniotildees refletidas ou natildeo de impulsos movidos por desejos de superioridade e de dominaccedilatildeo Enfrentar o racismo institucional significa enfrentar um fenocircmeno instituiacutedo histoacuterica e socialmente um fenocircmeno de dominaccedilatildeo poliacutetica econocircmica social cultural religiosa E no Brasil o Estado foi o principal agente de segregaccedilatildeo racial com legislaccedilotildees e uso da forccedila de Estado para reprimir e restringir o acesso da populaccedilatildeo negra desde a terra passando pela preservaccedilatildeo da proacutepria cultura e religiatildeo ateacute o acesso a cargos e espaccedilos de poder como a universidade O Estado mais que negligente ou omisso muitas vezes foi mesmo o sujeito legitimado e executor do racismo Assim a superaccedilatildeo do racismo institucional exigiraacute mais do que meras mudanccedilas de atitudes preconceituosas de pessoas grupos ou instituiccedilotildees exige que se busque o cerne da dominaccedilatildeo que alimenta esses preconceitos e que satildeo tambeacutem por eles alimentados A mudanccedila vai aleacutem muito aleacutem da identificaccedilatildeo mas para chegarmos agrave mudanccedila sistecircmica precisaremos percorrer esse caminho

reg

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

Este texto surge como uma proposta didaacutetico-pedagogica dialogando a temaacutetica do racismo institucional e o cumprimento da Lei 1063903 para ser desenvolvido em diversos encontros em grupo com uma divisatildeo textual que possibilite um amadurecimento processual na temaacutetica de forma problematizadora e instigadora de mudanccedilas de atitudes e realidades Parte 1 Na busca de partimos de um ponto comum

ldquoOs preconceitos que subjazem o imaginaacuterio social expressam mesmo

inconscientemente o desejo de dominaccedilatildeo de uns sobre os outrosrdquo (Crochiacutek 1997)

Apoacutes mais de 123 anos do decreto do fim da escravidatildeo natildeo temos duacutevida do quanto a sociedade

brasileira estaacute alicerccedilada no racismo Instituinte de desigualdades abismais que dividem o Brasil em dois

ldquono plano estrutural o racismo consiste no sistemaacutetico acesso desigual a bens materiais entre os diferentes seguimentos raciaisrdquo (ROSEMBERG 2008)

Importante comeccedilarmos essa breve reflexatildeo recordando que uma das mais profundas raiacutezes de

nossas desigualdades raciais encontra-se no periacuteodo em que se o Brasil comeccedilava a sair do capitalismo

escravagista para o capitalismo industrializado Consorte (1991) em texto seminal sobre ldquoA questatildeo do

negrordquo reflete como o pensamento hegemocircnico racista brasileiro no iniacutecio do seacuteculo XX defendia ter

sido o fim da escravidatildeo o maacuteximo do resgate da diacutevida brasileira para com os negros que a partir

daquele momento no campo e na cidade os negros estariam totalmente inseridos agrave dinacircmica capitalista

podendo ldquose integrar agrave sociedade como homens livres com iguais direitos aos demais sendo que seu futuro neste paiacutes a partir de entatildeo dependeria apenas de seu esforccedilordquo (CONSORTE 1991 p 86)

E nesta perspectiva as poliacuteticas puacuteblicas de garantia miacutenima de cidadania tais como a educaccedilatildeo

o trabalho a moradia a sauacutede e a seguranccedila tornaram-se com a participaccedilatildeo ativa do Estado e com a

densidade ideoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo sociais estrateacutegias de um grupo definitivamente tornado

hegemocircnico com os processos de imigraccedilatildeo europeacuteia gerando a perpetuaccedilatildeo das assimetrias sociais e

raciais e a cristalizaccedilatildeo dos dados estatiacutesticos do uacuteltimo seacuteculo E comeccedilava a se estruturar inclusive com

base em teorias racistas e eugenistas um projeto de sociedade eurocecircntrica uma expectativa de se

alcanccedilar uma naccedilatildeo pautada no modelo de sujeito universal dominante homem branco heterossexual

cristatildeo catoacutelico e proprietaacuterio

Na verdade em seu primeiro passo ndash institucionalizaccedilatildeo da Repuacuteblica ndash natildeo previu nem a

reparaccedilatildeo pelo passado escravocrata nem a participaccedilatildeo ativa dos negros no novo momento ldquonacionalrdquo pois continua Consorte ldquoentregues agrave sua proacutepria sorte os africanos e seus descendentes vecircm desde entatildeo (a aboliccedilatildeo) construindo a sua histoacuteria a despeito de tudo quanto lhes foi e continua sendo negado nos

espaccedilos que lhes foi possiacutevel ocuparrdquo (Idem)

Assim enquanto estrateacutegia social econocircmica e poliacutetica o racismo tem assumido variadas formas

de expressatildeo das mais sutis agraves mais expliacutecitas das individualizadas agraves institucionalizadas em todas elas

alcanccedilando uma eficiecircncia letal no comprometimento das subjetividades atingidas principalmente pela

violecircncia simboacutelica de seus mecanismos de submissatildeo e controle Em nosso cotidiano haacute uma lista

enorme de accedilotildees e intencionalidades que se configuram e se amalgamam no universo das praacuteticas

consideradas discriminatoacuterias ou preconceituosas e que estas quando ligadas a criteacuterios de fenotipia

como a cor da pele a tessitura do cabelo os traccedilos corporais que denotam pertencimento a um

determinado grupo eacutetnicorracial ndash negros quilombolas indiacutegenas ciganos ndash ou religioso ndash

principalmente no Brasil das religiotildees de matrizes indiacutegenas e africanas ndash satildeo consideradas racistas

Podemos exemplificar um extremo dessas praacuteticas nas accedilotildees de grupos juvenis que pregam a intoleracircncia

e o extermiacutenio de negros homossexuais nordestinos mulheres e moradores de rua e que enchem as

paacuteginas policiais nos uacuteltimos anos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

A essa altura vocecirc deve estar se perguntando sobre o uso da expressatildeo ldquogrupo racialrdquo no final do paraacutegrafo anterior A intencionalidade dentro de uma reflexatildeo sobre o racismo foi mesmo de buscar uma

palavra cujo significado soacute eacute compreendido dentro da experiecircncia do racismo enquanto praacutetica ideoloacutegica

pautada na diferenciaccedilatildeo fiacutesica e ou cultural dos grupos e pessoas para fins de submissatildeo dos

considerados inferiorizados por grupos que fazem dessa estrateacutegia mecanismo de perpetuaccedilatildeo de seus

privileacutegios O racismo institui leis regras e mecanismos para manter o poder poliacutetico e econocircmico

concentrado nas matildeos de um grupo que afirma superior em detrimento da raccedila oprimida Mas antes e aiacute

estaacute a sua forccedila o racismo cria mitos padrotildees criteacuterios estereoacutetipos que definem valores morais e

esteacuteticos conformando o que deve ser considerado como bom bonito e correto e consequentemente o

que natildeo o eacute

Mesmo que com todas as evidecircncias estudos e a criminalizaccedilatildeo de sua praacutetica o racismo ainda eacute

localizado com ldquodificuldaderdquo em nosso cotidiano em nossas relaccedilotildees sociais e em nossas instituiccedilotildees No cotidiano tende-se a naturalizar as manifestaccedilotildees como sendo algo consensual aceito e vivido por ambas

as partes ldquosem traumasrdquo nas relaccedilotildees interpessoais o racismo natildeo eacute percebido como determinante de

escolhas afetivas ndash e muito menos das recusas ndash e acaba-se por mais uma vez naturalizar o que eacute

indiscutivelmente uma construccedilatildeo social E nas instituiccedilotildees entatildeo eacute como se elas jaacute tivessem nascido

naquele formato naquele padratildeo naquela composiccedilatildeo eacutetnica naquele tratamento diferenciado cuja

justificativa estaacute mais na ldquonaturalrdquo inferioridade de quem recebe menos por ldquoser menosrdquo Entendendo instituiccedilatildeo por uma organizaccedilatildeo social poliacutetica ou religiosa partilhada por um determinado grupo e

consolidada por regras rituais e vivecircncias que a fazem reconhecida enquanto tal Um exemplo baacutesico a

famiacutelia

Exerciacutecio 01 Tema Exercitando um olhar mais atento agraves praacuteticas de racismo Em grupo fazer um exerciacutecio de elencar quais seriam essas instituiccedilotildees privadas ou puacuteblicas grandes

ou pequenas simples ou complexas religiosas ou civis urbanas ou rurais nacionais ou globalizadas etc

E a partir dessa lista identificar quais satildeo as praacuteticas ou pressupostos racistas presentes no seu cotidiano

ou estrutura Sugestatildeo trabalhar com paineacuteis de cartolinas e pincel

Exerciacutecio 02 Tema Qual a imagem que construiacutemos de noacutes mesmos Dividir a turma em pequenos grupos Cada grupo vai conversar e apontar na cartolina palavras que

expressem de 07 a 12 caracteriacutesticas ndash imagens principalmente ESTEREOTIPADAS ndash que a

sociedade criou para pensar a) mulher branca b) homem branco c) mulher negra d) homem negro

Apoacutes esta primeira etapa cada grupo apresenta para a turma e fixa a cartolina no painel A pessoa

moderadora da dinacircmica vai fazer a socializaccedilatildeo e discussatildeo do

Muacutesicas ldquoOlhos coloridosrdquo ndash Sandra de Saacute (Letra Adelmo Caseacute) 1982

ldquoRespeitem meus cabelos brancosrdquo ndash Chico Ceacutesar 2002

ldquoGente natildeo eacute corrdquo ndash Vander Lee Festival Canta Minas 1996

Parte 2 A (des) construccedilatildeo de um fenocircmeno ideoloacutegico a institucional

O racismo eacute um fenocircmeno social ideoloacutegico e histoacuterico Social porque vivemos em sociedade e

no caso do Brasil numa sociedade plurieacutetnica e desigual fatores preponderantes para que ele se institua

se manifeste se reproduza e se perpetue Mas natildeo apenas porque temos diferenccedilas eacutetnicas ou raciais eacute que

somos racistas Se assim o fosse o racismo seria bioloacutegico nasceriacuteamos racistas O racismo eacute sobretudo

uma construccedilatildeo social e por isso ideoloacutegica e histoacuterica Segundo vaacuterios autores (IANNI 1978 DIOP

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

1991 MOORE 2007) o racismo estaacute no cerne do desenvolvimento do sistema capitalista moderno (a

partir do seacuteculo XVI) e tambeacutem na estruturaccedilatildeo da sociedade brasileira O racismo eacute entatildeo um conjunto

de praacuteticas pautadas na loacutegica de submeter ndash reduzir invisibilizar criminalizar subalternizar colonizar

inferiorizar ndash o outro ndash pessoas grupos povos comunidades ndash a estereoacutetipos ndash na maioria das vezes

ldquoanimalizadoresrdquo ndash e a uma condiccedilatildeo de aniquilamento

A dimensatildeo psicoloacutegica eacute certamente a maior vitoacuteria do racismo E pensar combate ao racismo

institucional significa sim pensar que ele soacute existe e tatildeo multifacetado porque fomos sim vitimados por

seacuteculos e introjetamos (noacutes negros e noacutes brancos) esse sentimento de racismo contra os negros Pensar

negritude eacute pensar tambeacutem branquitude Pensar negritude eacute ter coragem de pautar o que sustenta na

cabeccedila de ambos (negros e natildeo negros) a relaccedilatildeo de opressatildeo e a sua eficaacutecia na manutenccedilatildeo das

desigualdades

Contudo nos uacuteltimos 70 anos muito jaacute avanccedilamos no diagnoacutestico na compreensatildeo e no combate

agraves mais variadas formas de racismo Fruto de deacutecadas de lutas do movimento negro na denuacutencia das

formas de racismo muitas tecircm sido as poliacuteticas de accedilotildees afirmativas aprovadas eou propostas pelo

legislativo e pelo executivo A contradiccedilatildeo eacute que tais poliacuteticas aleacutem de terem um caraacuteter eminentemente

tiacutemido no que tange agraves prioridades e agraves dotaccedilotildees orccedilamentaacuterias muitas vezes satildeo tocadas apenas pela

ousadia e determinaccedilatildeo de alguns gestores e gestoras como se natildeo fosse a reparaccedilatildeo pelos seacuteculos de

escravidatildeo e de racismo um desafio de toda naccedilatildeo

Aleacutem dessa lsquotimidezrsquo tais poliacuteticas sofrem um processo sistemaacutetico de perseguiccedilatildeo e obstaacuteculos

com a resistecircncia e reacionarismo das instituiccedilotildees que arregimentam quadros imprensa e intelectuais

contraacuterios agraves poliacuteticas reparatoacuterias acusando tais pautas de ldquoinconstitucionalidaderdquo ou de estarem ldquoinstaurando o racismo no Brasilrdquo tentando assim adiar tais conquistas e preservando seus privileacutegios e status quo No entanto a efetivaccedilatildeo plena das poliacuteticas de accedilatildeo afirmativa eacute hoje a condiccedilatildeo para a

superaccedilatildeo das desigualdades raciais e estruturais que historicamente acumuladas estatildeo fundamentadas

no racismo institucional e invisibilizadas no mito da democracia racial

Exerciacutecio 03 Tema As conquistas na superaccedilatildeo do racismo

Em grupo fazer uma lista a) das principais accedilotildees afirmativas em curso no paiacutes nas uacuteltimas deacutecadas se

possiacutevel datando e localizando sua presenccedila (ou ausecircncias) Interessante tambeacutem se trabalhar com

cartolinas e pincel Neste mesmo exerciacutecio construir outra lista b) os principais movimentos sociais

intelectuais e lideranccedilas negras deste cenaacuterio Exerciacutecio 04 Tema A celebraccedilatildeo cotidiana da branquitude Analisar uma novela da Rede Globo preferencialmente e observar uma categoria cunhada por Edson

Cardoso (UNB) ldquoassistimos diariamente a uma celebraccedilatildeo cotidiana da branquituderdquo

Parte III O racismo a partir do olhar teoacuterico

Assim antes de entendermos o conceito de racismo institucional vamos buscar uma compreensatildeo

inicial sobre o racismo a partir de alguns teoacutericos e documentos de organismos nacionais e

internacionais Satildeo conceitos que se complementam e corroboram na construccedilatildeo de outra categoria neles

impliacutecita a do racismo institucional

O racismo segundo Ellis Cashmore (2000)

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

eacute um fenocircmeno ideoloacutegico complexo cujas manifestaccedilotildees embora variadas e diversas estatildeo ligadas agrave necessidade e aos interesses de um grupo social conferir-se uma imagem e representar-se O racismo engloba as ideologias racistas as atitudes fundadas em preconceito raciais comportamentos discriminatoacuterios disposiccedilotildees estruturais e praacuteticas institucionalizadas que atribuem caracteriacutesticas negativas a determinados padrotildees de diversidade e significados sociais negativos aos grupos que os detecircm resultando em desigualdade racial assim como a noccedilatildeo enganosa de que as relaccedilotildees discriminatoacuterias entre grupos satildeo moral e cientificamente justificaacuteveis O elemento central desse sistema de valores eacute de que a ldquoraccedilardquo determina o desenvolvimento cultural dos povos Deles derivaram as alegaccedilotildees de superioridade racial O racismo enquanto fenocircmeno ideoloacutegico submete a todos e todas sem distinccedilatildeo revitaliza e manteacutem sua dinacircmica de evoluccedilatildeo da sociedade e das e conjunturas histoacutericas (CASHMORE 2000)

Segundo Munanga e Gomes (2004) o racismo se define como

[] um comportamento uma accedilatildeo resultante da aversatildeo por vezes do oacutedio em relaccedilatildeo agraves pessoas que possuem um pertencimento racial observaacutevel por meio de sinais tais como cor da pele tipo de cabelo formato de olho etc Ele eacute resultado da crenccedila de que raccedilas ou tipos humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como uacutenica e verdadeira (MUNANGA GOMES 2004 p 179)

A Declaraccedilatildeo da Unesco sobre Raccedila e os Preconceitos Raciais de 27 de novembro de 1978 relata

que

[] o racismo manifesta-se por meio de disposiccedilotildees legais ou regimentais e por praacuteticas discriminatoacuterias assim como por meio de crenccedilas e atos anti-sociais impede o desenvolvimento de suas viacutetimas perverte quem o pratica divide as naccedilotildees internamente constitui um obstaacuteculo para a cooperaccedilatildeo internacional e cria tensotildees poliacuteticas entre os povos eacute contrario aos princiacutepios fundamentais do direito internacional e por conseguinte perturba seriamente a paz e seguranccedila internacionais (UNESCO 1978)

Carlos Moore (2006) faz um exerciacutecio de aproximaccedilatildeo do ponto de intersecccedilatildeo entre os

mecanismos do cotidiano e o racismo institucional ao afirmar que a insensibilidade eacute produto do racismo Um mesmo indiviacuteduo ou coletividade cuidadoso com a sua famiacutelia e com os outros fenotipicamente parecidos pode angustiar-se diante da doenccedila de seus cachorros mas natildeo desenvolver qualquer sentimento de comoccedilatildeo perante o terriacutevel quadro da opressatildeo racial Em toda sua dimensatildeo destrutiva esta opressatildeo se constitui em variados tipos de discriminaccedilatildeo contra os ne Gros Natildeo haacute sensibilidade diante da falta de acesso de modo majoritaacuterio da populaccedilatildeo negra aos direitos sociais mais elementares como educaccedilatildeo habitaccedilatildeo e sauacutede Tratando-se da participaccedilatildeo poliacutetica os quadros dos oacutergatildeos do Executivos do Legislativo e do Judiciaacuterio compotildeem-se exclusivamente de brancos salvo raras exceccedilotildees que confirmam a regra Muitos bancos comeacutercios linhas aeacutereas universidades e estabelecimentos puacuteblicos e privados de todo tipo contratam apenas pessoas de raccedila branca que por vezes satildeo responsaacuteveis pelas piores prestaccedilotildees de serviccedilos agrave maioria da populaccedilatildeo negra O racista nega esse quadro e o que eacute pior justifica-o Ele combate de maneira ferrenha qualquer proposta tendente a modificar o status quo sociorracial usando dos mais variados argumentos universalistas integracionalistas e republicanos () o racista eacute imune a tudo quanto natildeo sejam as razotildees para a manutenccedilatildeo dos privileacutegios unilaterais que desfruta na sociedade O racismo retira a sensibilidade dos seres humanos para perceber o sofrimento alheio conduzindo-os inevitavelmente agrave sua trivializaccedilatildeo e banalizaccedilatildeo (MOORE 2006 p 23)

Para Souza (2011)

a noccedilatildeo de Racismo Institucional foi fundamental para o amadurecimento teoacutericopoliacutetico do enfrentamento do racismo Ao fazer referecircncia aos obstaacuteculos natildeo palpaacuteveis que condicionam o acesso aos direitos por parte de grupos vulnerabilizados o conceito de Racismo Institucional refere-se a poliacuteticas institucionais que mesmo sem o suporte da teoria racista de intenccedilatildeo produzem consequecircncias desiguais para os membros das diferentes categorias raciais (Rex 1987 apud SOUZA 2011 p 79)

A forma institucional do racismo por sua vez se expressa em praacuteticas discriminatoacuterias

sistemaacuteticas individuais eou nos mecanismos e normas arquitetadamente previstos com fins de

perpetuaccedilatildeo de desigualdades raciais Desde a deacutecada de 80 em diversas partes do mundo tem sido

construiacutedo um conceito de racismo institucional enquanto

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

E-mail educafrofranciscanosorgbr Sites wwweducafroorgbr

Sede Nacional ndash S Paulo Rua Riachuelo 342 Sala 05 Centro CEP 01007-000 S Paulo SP - Fonefax (11) 3106-3411

Regional Rio de Janeiro Rua Buenos Aires 167 - Centro- CEP 20060-070 ndash Rio de Janeiro- RJ

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

e-mail educafrofranciscanosorgbr Site wwweducafroorgbr

Sede Nacional Rua Riachuelo 342 - Sala 05 - Centro - CEP 01007-000 - Satildeo Paulo SP - pabxfax (11) 31075024

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UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

o fracasso das instituiccedilotildees e organizaccedilotildees em promover um serviccedilo profissional e adequado as pessoas devido a sua cor cultura origem racial ou eacutetnica Ele se manifesta em normas praacuteticas e comportamentos discriminatoacuterios adotados no cotidiano de trabalho os quais satildeo resultantes da ignoracircncia da falta de atenccedilatildeo do preconceito ou de estereoacutetipos racistas Em qualquer caso o racismo institucional sempre coloca pessoas de grupos raciais ou eacutetnicos discriminados em situaccedilatildeo de desvantagem no acesso a benefiacutecios gerados pelo Estado e por demais instituiccedilotildees e organizaccedilotildees (Programa de Combate ao Racismo Institucional 2007)

O racismo institucional eacute praticado por indiviacuteduos Ao mesmo tempo em que ele eacute praticado

atraveacutes dos indiviacuteduos pela anuecircncia de uma estrutura ele eacute uma praacutetica da estrutura atraveacutes das praacuteticas

individuais Haacute uma convergecircncia entre o racismo cristalizado nas praacuteticas cotidianas de discriminaccedilatildeo e

preconceito raciais e que se materializam na ignoracircncia na falta de atenccedilatildeo no preconceito e nos

estereoacutetipos racistas de quem estaacute agrave frente no atendimento ao puacuteblico e concomitantemente entre a

estruturaccedilatildeo de normas institucionais (PNUDDFID 2005 apud AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE 2009

p 15) Em ambas as pontas do processo o caraacuteter desumanizador do outro a partir de uma hierarquizaccedilatildeo

do humano

Exerciacutecio 05 Tema uma leitura das linhas e entrelinhas Dialogando teoria e a realidade

Individualmente sublinhar as principais ideacuteias dos teoacutericos e dos documentos apontando as intersecccedilotildees (ligaccedilotildees) entre os seus pensamentos Debater em grupo Depois a pessoa da moderaccedilatildeo pode sugerir um debate mais amplo muacutesica ou filme Parte IV

Assim o racismo natildeo mais pode ser compreendido apenas em sua manifestaccedilatildeo privada das

relaccedilotildees pessoais cotidianas mas principalmente pela sua dialeticidade em transitar entre o plano privado

e o puacuteblico instaurando-se uma relaccedilatildeo de retroalimentaccedilatildeo entre a subalternidade e racismo Stive Biko

resumiu bem essa realidade quando disse que ldquoa arma mais poderosa nas matildeos do opressor eacute a mente do oprimidordquo

Segundo Souza (2011) ldquopelo racismo institucional eacute possiacutevel perceber como uma sociedade

internaliza a produccedilatildeo de desigualdades nas suas instituiccedilotildeesrdquo (idem) Nossa histoacuteria eacute marcada pelas

formas como o Estado e todas as estruturas estrateacutegicas na formaccedilatildeo da sociedade brasileira atuaram de

forma diferenciada ndash e nociva ndash em relaccedilatildeo agraves populaccedilotildees e comunidades negras em funccedilatildeo de suas

caracteriacutesticas fiacutesicas e culturais Se historicamente a consequecircncia do racismo institucional nas accedilotildees do

Estado por exemplo ndash com as poliacuteticas puacuteblicas no caso do Poder Executivo ndash eacute a sua absorccedilatildeo de forma

diferenciada por esses grupos por outro lado a maior consequecircncia tem sido a definiccedilatildeo do lugar (ou natildeo

lugar) do negro na sociedade brasileira

O Programa de Combate ao Racismo Institucional (PCRI) definiu duas dimensotildees

interdependentes e correlacionadas de anaacutelise a das relaccedilotildees interpessoais e a poliacutetico-programaacutetica ldquoA primeira diz respeito agraves relaccedilotildees que se estabelecem entre dirigentes e trabalhadores (as) entre os (as)

proacuteprios (as) trabalhadores (as) e entre estes (as) e os (as) usuaacuterios (as) dos serviccedilosrdquo A segunda dimensatildeo ndash poliacutetico programaacutetica ndash pode ser caracterizada pela a) compreensatildeo de

que as poliacuteticas universilizantes natildeo compreendem e natildeo atendem as especificidades culturais sociais

eacutetnicas e raciais de pessoas e grupos atendidos por organismos e poliacuteticas ao contraacuterio suas diferenccedilas

satildeo usadas para reforccedilar a desigualdade b) pelo reconhecimento do racismo como determinante das

desigualdades que engessam as potencialidades individuais c) pela inclusatildeo da cor como dado de

identidade individual e coletiva a ser considerado em estudos sobre relaccedilotildees sociais direitos e privileacutegios

e tambeacutem no diagnoacutestico de realidades sociais passam a ser importante indicador da existecircncia de

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

desigualdades soacutecio-raciais d) pelo investimento ndash ou falta dele ndash em accedilotildees e programas que identifiquem

praacuteticas discriminatoacuterias e suas consequumlecircncias pela elaboraccedilatildeo e implementaccedilatildeo de mecanismos e

estrateacutegias de natildeo discriminaccedilatildeo combate e prevenccedilatildeo do racismo e intoleracircncias correlatas a comeccedilar

pelos gestores e profissionais que atuam numa relaccedilatildeo direta com o puacuteblico e) pelo compromisso em

priorizar accedilotildees e estrateacutegias de reduccedilatildeo das assimetrias e promoccedilatildeo da equidade

O racismo institucional eacute institucionalizado pois presente na accedilatildeo dos agentes de organizaccedilotildees

puacutebicas e privadas agraves vezes pode ser naturalizado e tornado invisiacutevel Mas eacute institucionalizado tambeacutem

porque natildeo satildeo as instituiccedilotildees que o criam elas satildeo vetores de reproduccedilatildeo de um sistema racista

Sendo o racismo anterior agraves instituiccedilotildees nelas ele encontra forccedila eficiente pois eacute nas normativas e

dinacircmicas institucionais que se definem quem participa do sistema quem eacute reconhecidamente cidadatildeo

quem tem direito e a que cada um (ou grupo) teraacute acesso Segundo Souza (2011) questionar o racismo soacute

tem sentido se for ldquoa partir das suas instituiccedilotildees e do sistema que produz as instituiccedilotildeesrdquo (2011 p 84) Ou seja comeccedilamos a vislumbrar um processo de atingirmos as raiacutezes do racismo que provocaraacute mudanccedilas

estruturais rumo a uma ldquodemocracia pluralistardquo CONCLUSAtildeO

A tiacutetulo de provocaccedilatildeo mais que de conclusatildeo dentre os desafios que se impotildeem nessa nossa

busca por formas duradouras e eficazes de desconstruccedilatildeo do racismo o primeiro diz respeito ao racismo

enraizado na mente e cotidiano das pessoas ndash de quem pratica e de quem o sofre O segundo desafio ndash

tema desse texto ndash eacute identificar e combate suas manifestaccedilotildees nas estruturas na accedilatildeo dos agentes que

representam essas estruturas (por isso lutamos pelas cotas porque elas balanccedilam os mecanismos de

exclusatildeo do negro e como esses mecanismos se pautam numa pseudo naturalizaccedilatildeo da desigualdade) E

por fim precisaremos atacar o racismo no sistema que eacute o que mais se alimenta disso tudo Aleacutem de

combatermos o problema na sua execuccedilatildeo precisamos descobrir como atingi-lo na sua raiz ou seja no

que manteacutem as organizaccedilotildees vivas e racistas

Exerciacutecio 6 Tema Ir na raiz do problema Fazer um paralelo entre os dois fragmentos e debater a seguinte frase o racismo precisa ser combatido a

partir de sua dimensatildeo instituinte a partir da sua desconstruccedilatildeo na mente do opressor-oprimido mas

tambeacutem no sistema que produz estruturas racistas

Fragmento 1 ldquoQuando o sistema comeccedila a ser questionado temos um quadro propiacutecio para mudanccedilas institucionais que incluam as

reformas (necessaacuterias porque satildeo capazes de oferecer respostas urgentes) e que se antecipem agrave produccedilatildeo de instituiccedilotildees racistasrdquo (SOUZA 2011 p 84) Fragmento 2 Nem a consciecircncia da condiccedilatildeo do negro nem o engajamento em relaccedilatildeo agraves lutas poliacuteticas contra a discriminaccedilatildeo racial satildeo

suficientes para modificar a condiccedilatildeo do negro na medida em que os sentidos do racismo inscritos na psique permanecem

natildeo elaborados (NOGUEIRA 1998 p 8

Exerciacutecio 7 Tema Analisando situaccedilotildees de racismo institucional

Nesta terceira parte com a conceituaccedilatildeo de racismo e racismo institucional assumimos o racismo como

praacutetica social ratificada pelo Estado e pelas grandes organizaccedilotildees Vamos agora debater em grupos como

se caracteriza o racismo ( e sexismo ) institucional (ais) nos exemplos apresentados abaixo

1 GEcircNERO E RACcedilA Uma mulher negra pobre e moradora da periferia de uma grande cidade brasileira chega a uma

delegacia de poliacutecia para prestar queixas das violecircncias fiacutesicas e psicoloacutegicas praticadas pelo marido Um funcionaacuterio da delegacia (de mulher) passa no corredor olha pra ela de cima em baixo com um misto de desdeacutem e de maliacutecia e diz ldquotipo assim vocecirc eacute negra mesmo vai procurar uma lavagem de roupa que eacute melhor que aqui natildeo vai dar em nada Casos desse tipo assimrdquo

2 ASSISTEcircNCIA SOCIAL Uma mulher negra quilombola chega numa fila de atendimento do Programa Bolsa Famiacutelia com dois filhos pequenos que ela precisou levar por natildeo ter com quem deixar jaacute que era tempo de todos da

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

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reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

comunidade estarem na roccedila Ela chega cedo mas a fila jaacute estava grande Ela vai tentar justificar que precisa ser atendida logo porque natildeo tem onde ficar caso perca o uacuteltimo ldquocarrordquo que vai pra roccedila na hora do almoccedilo A atendente diz ldquoolha moccedila a fila eacute por ordem e de chegada Taacute bom Por favor a senhora natildeo viu o aviso ali na parede Natildeo posso passar a senhora na frente Isso eacute privileacutegiordquo

3 SAUacuteDE a) ldquoJaacute fui a vaacuterios ginecologistas e a maioria nem toca em mim jaacute olha de longe diz o que tenho e passa

logo um remeacutediordquo (mulher negra 29 anos) b) ldquoMinhas filha estava com coceira em vaacuterias partes do corpo a meacutedica olhou de longe natildeo tocou na minha filha E passou um remeacutedio para sarna Eu disse que minha filha natildeo tem contato com animais Fui a outro meacutedico e ele descobriu que era alergiardquo (Mulher negra 35 anos com filha de 08) c) ldquoEstava na sala de espera e meu pai jaacute internada a uns 8 dias naquele hospital puacuteblico quando ouvi o meacutedico dizer para a enfermeira no corredor lsquovelho e preto tem de ir morrer em casarsquo d) A recepcionista demorou para me dar atenccedilatildeo e quando eu entreguei o cartatildeo do convecircnio ela olhou duas vezes para mim pediu o meu RG coisa que natildeo havia feito com outras pacientes brancas ela parecia natildeo acreditar que eu pudesse pagar o convecircniordquo (32 anos enfermeira cor preta) f) ldquoquando ganhei minhas duas filhas jaacute na quarta consulta o meacutedico me dispensou do preacute-natal (mulher negra 31 anos) g) meu filho tem 09 anos e desde os 02 anos e meio eu fico passando de hospital em hospital porque os meacutedicos natildeo sabem tratar de anemia falciforme jaacute chegaram ateacute a engessar o braccedilo dele quando levamos ele com dores agudasrdquo

4 LEGISLACcedilAtildeO Bancada da direita se articula para barrar mudanccedilas na legislaccedilatildeo que garantam direitos redistributivos em diversos setores como programas de combate agrave anemia falciforme (sauacutede) a adoccedilatildeo de cotas nas universidades puacuteblicas do paiacutes (educaccedilatildeo) e agrave desburocratizaccedilatildeo dos processos de regulamentaccedilatildeo fundiaacuteria de comunidades quilombolas (terra)

5 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA Um taxista pega um jovem negro numa regiatildeo de casa de shows voltando pra casa Ao

anunciar seu destino o taxista comeccedila a perguntar qual a sua profissatildeo se estuda do que vive Ele para num posto de gasolina faltando uns 5 minutos pra chegar no destino do jovem dizendo precisar ir ao banheiro Dali a pouco uma viatura da poliacutecia chega aborda o jovem pedem documentos riem quando ele diz que eacute universitaacuterio e dizem ldquogrande coisardquo Depois da abordagem o taxista volta e o policial diz ldquotudo tranquumlilo boa viagemrdquo

6 EDUCACcedilAtildeO Uma diretora de escola recebe trecircs verbas especiacuteficas para serem desenvolvidas accedilotildees de valorizaccedilatildeo da cultura e da histoacuteria africana e afro-brasileira de acordo com as leis 106392003 e 116452008 da LDB Contudo segundo ela aleacutem de sua escola natildeo ter nenhum caso de racismo registrado ela acredita que tais projetos ldquosoacute fazem aumentar o racismo aleacutem do que ficam incentivando os alunos a irem para a macumba e que escola natildeo eacute lugar de falar de religiatildeo ainda mais essas que mexem com coisas erradasrdquo Uma das verbas destinada agrave formaccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos eacute devolvida ao MEC apoacutes 02 anos sem serem usadas Outra verba era um projeto escrito por uma professora que foi transferida antes do recurso chegar e seria para promover visitas dos alunos do ensino meacutedio a museus e a quatro comunidades quilombolas e indiacutegenas da regiatildeo E o terceiro valor era a biblioteca com mais de500 livros com recorte eacutetnico-racial com personagens heroacuteis e mitos indiacutegenas e negros valorizando a diversidade Este natildeo foi devolvido mas tambeacutem ficou encaixotado por dois anos ateacute a visita da inspeccedilatildeo pedagoacutegica da DE

7 ENSINO SUPERIOR Um jovem negro filho de migrantes nordestinos presta o vestibular na USP na UNICAMP na UNESP e UFSCAR Contudo mais de 40 dos assuntos que caem nas provas ele nunca viu ser trabalhado nas salas de aula na rede puacuteblica Ele tenta tenta tenta mesmo com os poucos pontos percentuais acrescidos na sua nota por ser pobre e negro seu desempenho se manteacutem inalterado se comparado com os demais candidatos E no mecircs de publicaccedilatildeo dos editais dos proacuteximos vestibulares as manchetes dos grandes jornais publicam e festejam ldquoUSP APROVA MUDANCcedilAS E DEIXA VESTIBULAR MAIS DIFIacuteCILrdquo

8 SEGURANCcedilA PUacuteBLICA ldquo91 dos jovens negros paulistas jaacute foram abordados pela PMrdquo E muitas das mortes de

jovens negros pela PM satildeo justificadas como sendo ldquoautos de resistecircnciardquo

9 PUBLICIDADE Uma crianccedila recebe a conta de luz em casa Ela gosta porque tem sempre historinhas em quadrinhos engraccedilados A questatildeo eacute o conteuacutedo ambiacuteguo das mensagens Uma pequena mensagem conseguiu resumir tantas expressotildees de racismo Na postural de quem denuncia no rosto desfigurado do que faz o gato e na confirmaccedilatildeo do padratildeo de beleza Detalhe o Luiz Augusto Gouveia trabalhava para uma empresa do Estado da Bahia a COELBA e foi na conta de luz de 800 mil famiacutelias baianas em 2007

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

E-mail educafrofranciscanosorgbr Sites wwweducafroorgbr

Sede Nacional ndash S Paulo Rua Riachuelo 342 Sala 05 Centro CEP 01007-000 S Paulo SP - Fonefax (11) 3106-3411

Regional Rio de Janeiro Rua Buenos Aires 167 - Centro- CEP 20060-070 ndash Rio de Janeiro- RJ

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reg

UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA CASHMORE Ellis Dicionaacuterio de Relaccedilotildees Eacutetnicas e Raciais Satildeo Paulo Summus 2000 CONSORTE Josildeth Gomes A questatildeo do negro velhos e novos desafios Revista Satildeo Paulo em Perspectiva Vol 5 n 1 SEADE Satildeo Paulo 1991 Disponiacutevel em wwwseadegovbrprodutossppv05n01v05n01_12pdf GOMES Nilma Lino MUNANGA Kabengele Para entender o Negro no Brasil de Hoje Satildeo Paulo Accedilatildeo Educativa 2004 INSTITUTO AMMA PSIQUEacute E NEGRITUDE Glossaacuterio Oficinas de Identificaccedilatildeo e Abordagem do Racismo e Sexismo Institucional Satildeo Paulo 2009 JESUS Iracema Oliveira de Racismo institucional causas e efeitos na educaccedilatildeo da rede puacuteblica Monografia Graduaccedilatildeo em Pedagogia UNEB Salvador 201 MOORE Carlos Racismo e Sociedade Novas bases epistemoloacutegicas para enfrentar o racismo Belo Horizonte Maza Ediccedilotildees 2007 MOURA Maria de Jesus A produccedilatildeo de sentidos sobre violecircncia racial no atendimento psicoloacutegico a mulheres que denunciam violecircncia de gecircnero Dissertaccedilatildeo (mestrado) CFCH Psicologia UFPE Recife 2009 ROSEMBERG Fuacutelvia amp ANDRADE Leandro Feitosa Accedilatildeo Afirmativa no Ensino Superior Brasileiro pontos para reflexatildeo Cadernos Pagu (31) 2008 419-437 Acessado em 12 de abril de 211 Disponiacutevel em httpwwwscielobrpdfcpan31n31a18pdf SOUZA Arivaldo S de Racismo Institucional para compreender o conceito Revista ABPN v 1 n 3 ndash jan de 2011 p 77-87 Disponiacutevel em httpwwwabpnorgbrRevistaindexphpedicoesarticleviewArticle39 Acesso em 25 de junho de 2011

Sugestatildeo de Filmes e Muacutesicas

1 ldquoOlhos Azuisrdquo Brasil 2010 105 min Direccedilatildeo Joseacute JofillySobre um grupo de imigrantes latinos em uma sala de espera do Departamento da Poliacutecia de Imigraccedilatildeo num aeroporto americano

2 ldquoOlhos Azuisrdquo Blue eyes EUA 1968 93 min Direccedilatildeo Bertram Verhaag Grupo pessoas brancas participam de uma oficina coordenada pela socioacuteloga Jane Elliot sobre o sofrimento provocado pelo preconceito racial

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

Acesso httpvimeocom5193559

4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

3 ldquoZumbi somos noacutesrdquo Satildeo Paulo 2007 52 min Direccedilatildeo Grupo 3 de fevereiro Sobre a morte do Flaacutevio de Santana executado pela PM paulista quando saiacutea do aeroporto apoacutes ter levado namorada para embarcar

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4 ldquoTodo camburatildeo tem um pouco de navio negreirordquo O RAPPA e ldquoA carnerdquo com Elza Soares de Marcelo Yuka Seu Jorge e Wilson Cappellette

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O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

Educaccedilatildeo e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes

Rede de Preacute-Vestibular Comunitaacuterio

e-mail educafrofranciscanosorgbr Site wwweducafroorgbr

Sede Nacional Rua Riachuelo 342 - Sala 05 - Centro - CEP 01007-000 - Satildeo Paulo SP - pabxfax (11) 31075024

reg

Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

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UNIVERSIDADES PUacuteBLICAS E ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS

O grande sonho da sociedade brasileira eacute a igualdade entre seus membros Os judeus viveram sete anos em regime de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados Foram tratados com desumanidade Recentemente conseguiram convencer a sociedade mundial de que aquela escravidatildeo foi um atentado agrave Eacutetica Conseguiram implantar Accedilotildees Afirmativas que compensaram e compensam com indenizaccedilotildees ateacute hoje a todos os seus descendentes viacutetimas dos sete anos de trabalhos forccedilados Mais de 4 bilhotildees de doacutelares satildeo destinados anualmente para este fim O povo afrodescendente viveu no Brasil aproximadamente 350 anos de discriminaccedilatildeo e trabalhos forccedilados

a) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS OPCcedilAtildeO PARA O BRASIL

Para noacutes brasileiros aquela escravidatildeo foi ou natildeo um atentado agrave Eacutetica Por termos convicccedilatildeo de que foi um atentado e por sabermos da grande populaccedilatildeo afrodescendente que possuiacutemos (453 IBGE-2000) a sociedade brasileira sabiamente estaacute optando por poliacuteticas de inclusatildeo como forma de indenizaccedilatildeo

O Brasil jaacute adota as Poliacuteticas de Accedilotildees Afirmativas em vaacuterios setores Toda sociedade ateacute entatildeo a tem acolhido com grande simpatia e sem polecircmica Constatamos que os Partidos Poliacuteticos discriminavam as mulheres criamos cotas de 30 para as mulheres Em 1992 antes das cotas tiacutenhamos 176 mulheres prefeitas e apoacutes a implantaccedilatildeo das cotas em 1996 pulamos para mais de 300 mulheres prefeitas Tiacutenhamos aproximadamente 1700 mulheres vereadoras e apoacutes as cotas subimos para mais de 5000 mulheres vereadoras As Empresas por livre iniciativa natildeo se interessavam em empregar portadores de deficiecircncias implantamos uma lei e esta injusticcedila estaacute sendo corrigida O salaacuterio do trabalhador brasileiro eacute injusto criamos a lei do vale transporte vale refeiccedilatildeo vale cesta baacutesica etc O trabalhador tem a compensaccedilatildeo de natildeo ser obrigado a tirar do seu salaacuterio estes gastos Tudo isto visa compensar aqueles grupos de pessoas por perdas que a sociedade entende que sofreram Esta eacute a proposta das vaacuterias leis de Accedilotildees Afirmativas aplicadas em vaacuterias partes do mundo No Brasil estas Accedilotildees Afirmativas foram introduzidas sem usar este nome e quase natildeo foram percebidas pelo povo Por que agora estaacute criando polecircmica Porque agora estamos mexendo com privileacutegios de alguns das classes meacutedia e alta

Segundo pesquisa do IPEA-2001 todas as Poliacuteticas Puacuteblicas implantadas no Brasil desde 1929 ateacute hoje natildeo conseguiram resolver a questatildeo da diversidade eacutetnica no acesso agrave educaccedilatildeo A diferenccedila de anos de estudos dos afrodescendentes permanece a mesma desde 1929 comparativamente aos eurodescendentes do Brasil Nunca as classes poliacutetica intelectual e empresarial tiveram coragem suficiente para atacar a raiz deste problema gerado pelos mais de 350 anos de escravidatildeo Pela primeira vez na histoacuteria do Brasil o Poder Puacuteblico resolveu ouvir o apelo dos grupos organizados e comeccedilou a atacar a raiz do problema

As multinacionais Motorola do Brasil SA Jonhson amp Jonhson Levi Strauss do Brasil Ltda etc tentaram criar um programa de diversidade eacutetnica para a contrataccedilatildeo de empregados nas filiais brasileiras Encontraram dois obstaacuteculos a oposiccedilatildeo dos executivos retroacutegrados do Brasil e a falta de pessoas afrodescendentes e iacutendiodescendentes preparadas pelas Universidades Puacuteblicas brasileiras O mesmo perigo pode ser repetido dentro da UERJ

A Accedilatildeo Afirmativa chamada de cotas eacute a soluccedilatildeo mais eficiente Desafiamos a academia os poliacuteticos etc a apresentarem outros instrumentos com comprovada eficaacutecia em nossa sociedade e seriacuteamos imediatamente contra o sistema de cotas

Muitas pessoas inclusive bons professores intelectuais de esquerda tecircm uma visatildeo ingecircnua quando o assunto eacute garantir oportunidades iguais para os diversos grupos eacutetnicos

b) MERITOCRACIA X CAPACIDADE A meritocracia eacute uma das formas de corrupccedilatildeo disfarccedilada que setores da sociedade brasileira usam para desviar o dinheiro puacuteblico para ldquoos mesmosrdquo Como Se colocarmos duas pessoas para disputar uma corrida e para uma damos acesso aos melhores treinadores boa alimentaccedilatildeo equipamento teacutecnico e deixamos a outra abandonada agrave proacutepria sorte quem vai ser a vencedora Assim eacute a Universidade Puacuteblica ela sabe que um setor foi privilegiado no acesso ao acuacutemulo de saber As Universidades partem de uma falsa igualdade e tecircm a coragem de dizer que os que entram o fazem por meacuterito pois prestaram o mesmo vestibular Deveriacuteamos ter vergonha em permitir a continuaccedilatildeo deste falso e injusto sistema de meacuterito Qual eacute a soluccedilatildeo Eacute corrigir rapidamente este erro de interpretaccedilatildeo O vestibular deve medir capacidade e natildeo acuacutemulo de saber acadecircmico e o Estado deve investir com coragem na melhoria do ensino puacuteblico fundamental e meacutedio Como consertar o estrago realizado com os que jaacute saiacuteram do Ensino Meacutedio A Accedilatildeo Afirmativa adotada por mais de 30 paiacuteses e agora pelo

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos

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Governo Federal (20) e Estado do Rio de Janeiro atraveacutes da UERJ (40) eacute a uacutenica experiecircncia de sucesso comprovado em curso no mundo

c) ACcedilOtildeES AFIRMATIVAS RELATOS DE UMA EXPERIEcircNCIA BRASILEIRA

Ela deve ser adotada apenas pelo periacuteodo necessaacuterio para a correccedilatildeo das consequumlecircncias dos erros do passado A cota para afrodescendentes e alunos da rede puacuteblica eacute eacutetica honesta e justa e beneficiaraacute tambeacutem os iacutendiodescendentes que estatildeo na rede puacuteblica de ensino Ela ataca um erro jaacute cometido e desperta a sociedade para natildeo permitir que este erro se perpetue Soacute isto Eacute o Brasil corrigindo com eacutetica uma histoacuteria de injusticcedila

Haacute pessoas argumentando que esta forma de Accedilatildeo Afirmativa vai colocar na Universidade alunos incapazes Esta afirmaccedilatildeo corre o risco de ser uma perversidade ou desconhecimento da realidade Vamos refletir a partir de uma experiecircncia bem perto de noacutes a Puc - Rio desde 1993 acolheu uma parceria para conceder bolsas de estudo agrave pessoas pobres acompanhadas e apresentadas pelos trabalhos da Pastoral do Negro Naquele primeiro ano foram concedidas 4 bolsas As condiccedilotildees baacutesicas apresentadas pela PUC foram estar ligado a um trabalho comunitaacuterio e passar no vestibular da entidade Soacute dois puacuteblicos prestam o vestibular da PUC os ricos que podem pagar e os pobres que estatildeo ligados aos trabalhos comunitaacuterios logo a disputa candidatovaga eacute pequena e muitos mesmo vindo da rede puacuteblica passam Hoje nove anos depois soacute atraveacutes da Pastoral do Negro (Entidade EDUCAFRO) a PUC Rio jaacute concedeu bolsas de estudo para 565 pessoas A meacutedia acadecircmica destes alunos bolsistas por amostragem eacute superior agrave meacutedia dos pagantes Como se explica isto Faacutecil os alunos mesmo vindo da rede puacuteblica e sendo 90 afrodescendentes recebendo uma oportunidade provam que tecircm capacidade Eacute justamente isto o que falta para os pobres e afrodescendentes nas Universidades Puacuteblicas terem oportunidades para provar que satildeo capazes

As famosas ldquonotas de corterdquo adotadas pelo vestibular da USP e outras Universidades no Brasil eacute mais um instrumento para afastar os pobres (viacutetimas do ensino puacuteblico) das Universidades Puacuteblicas Segundo um Doutor da USP se todos os Doutores daquela excelente Universidade fossem submetidos ao uacuteltimo vestibular da Instituiccedilatildeo 80 ficariam reprovados Com isto ele quis provar que o atual meacutetodo para dizer quem pode e quem natildeo pode entrar nas Universidades Puacuteblicas estaacute totalmente equivocado O conteuacutedo dos vestibulares puacuteblicos corre o perigo de ser conteuacutedo descartaacutevel Passa a ser uma excelente ferramenta para eliminar os pobres e afrodescendentes que natildeo tiveram acesso a conteuacutedos complexos e cheios de ldquomacetesrdquo ministrados nos cursinhos caros mas tecircm capacidade que natildeo eacute medida pelos vestibulares Quem ganha com isto

O Brasil com certeza estaacute jogando no lixo talentos unicamente por serem pobres e afrodescendentes Natildeo queremos ser coniventes com este erro e por isto aceitamos escrever este artigo para o Jornal da UERJ A Reitora da UERJ o novo Reitor da UFRJ da USP e outros Reitores fazem parte de um time novo e corajoso de pessoas nesta importante funccedilatildeo e iratildeo reunir forccedilas em suas equipes para ouvir estes clamores e atacar este cacircncer que se chama ldquosistema de acesso agraves Universidades Puacuteblicasrdquo Eacute um sistema injusto e viciado Os Reitores que se orientam pela Eacutetica usaratildeo a autonomia universitaacuteria para ldquocolocar o dedo nesta feridardquo e natildeo deixaratildeo passar seus mandatos sem mexer neste sistema gerador de tantos males para a sociedade pluri-eacutetnica brasileira que tanto amamos