2- notas sobre o pentateuco - Êxodo - c. h. mackintosh

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  • 7/31/2019 2- Notas Sobre o Pentateuco - xodo - C. H. Mackintosh

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    CAPTULO 1

    A REDENO

    Os Caminhos de Deus para com IsraelPela graa de Deus, vamos agora encetar o estudo do Livro do xodo, cujo assuntoprincipal a REDENO. Os primeiros cinco versculos relembram as cenas finais dolivro precedente. Os objetivos favorecidos do amor de Deus so postos perante ns, edepressa nos vemos conduzidos pelo autor inspirado ao do livro.No nosso estudo sobre o Livro do Gnesis, vimos que o que levou os irmos de Jos adescerem ao Egito foi o seu procedimento para com ele. Este fato deve ser consideradosob dois aspectos distintos. Em primeiro lugar podemos ver nele uma lio solene com oprocedimento de Israel para com Deus; e em segundo lugar, temos nele uma lio cheiade estmulo no desenrolar dos planos de Deus a favor de Israel.E, no tocante ao procedimento de Israel para com Deus, poder haver coisa mais solene

    do que seguir at ao fim os resultados da maldade que cometeram contra aquele emquem a mente espiritual discerne um smbolo admirvel do Senhor Jesus Cristo?Totalmente indiferentes angstia da sua alma, os filhos de Jac entregaram Jos nasmos dos incircuncisos, e qual foi o resultado? Desceram ao Egito para a passarem poraquelas profundas e dolorosas experincias de corao to grfica e comovedoramentedescritas nos captulos finais do Gnesis. E isto no foi tudo: uma poca longa deprovao estava reservada aos seus descendentes, no prprio pas onde Jos encontraraum crcere.Porm, Deus intervinha em tudo isto, assim como o homem, e dispunha-Se a usar dasSuas prerrogativas, que consiste em fazer com que do mal saia bem. Os irmos de Jospuderam vend-lo aos ismaelitas; os ismaelitas, por sua vez, venderam-no a Potifar; eeste lanou-o na priso, mas o Senhor estava, acima de tudo, cumprindo os Seuspoderosos desgnios. A clera do homem redundar em Seu louvor (Sl 76:10). Ainda notinha chegado a altura em que os herdeiros estariam preparados para a herana, nem aherana estava preparada para os herdeiros. Os fornos de tijolo iriam constituir umaescola severa para os descendentes de Abrao; enquanto que nos montes e vales daterra prometida (Dt 11:11) se acumulava a iniquidade dos amorreus.

    Como Deus Cumpre seus DesgniosTudo isto profundamente interessante e instrutivo. H rodas que giram dentro de outrasrodas no mecanismo do governo de Deus (Ez 1:16). O Senhor serve-Se duma variedade

    infinda de agentes para realizar os Seus propsitos inescrutveis. A mulher de Potifar, ocopeiro do rei, os sonhos do Fara, o crcere, o trono, as cadeias, o sinete real, a fometudo est ao Seu soberano dispor, e tudo serve de instrumento no desenrolar dos Seusprodigiosos desgnios. A mente espiritual deleita-se em meditar nestas coisas aopercorrer o vasto domnio da criao e da providncia e ao reconhecer, em tudo, omecanismo que o Deus Onisciente e Onipotente utiliza para executar os Seus propsitosde amor redentor. verdade que podemos ver muitos sinais da serpente, pegadas bem definidas do inimigode Deus e do homem; coisas que no podemos explicar nem compreender; a inocnciaque sofre e a maldade que prospera podem dar certa aparncia de verdade ao raciocniodos incrdulos e cpticos; porm o verdadeiro crente descansa na certeza de que "O Juiz

    de toda a terra" far justia (Gn 18:25).Bendito seja Deus pela consolao e encorajamento que nos do estas reflexes!Precisamos delas a cada instante, ao atravessarmos este mundo de pecado, onde o

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    inimigo tem feito mal aterrador, no qual os vcios e paixes dos homens produzem frutosto amargos e onde o caminho do verdadeiro discpulo apresenta escabrosidades taisque a simples natureza jamais poderia suportar. A f sabe, de certeza, que existe Algumatrs dos bastidores a Quem o mundo no v nem respeita, e, sabendo-o, pode dizer comserenidade: "tudo vai bem".Estes pensamentos so-nos sugeridos pelas palavras no comeo deste livro. "O meu

    conselho ser firme, e farei toda a minha vontade" (Is 46:10), diz o Senhor.O inimigo pode opor-se; mas Deus h-de estar sempre acima dele; e tudo queprecisamos de um esprito simples e pueril de confiana e descanso nos propsitosdivinos. A incredulidade prefere olhar para os esforos que o inimigo faz para neutralizaros planos de Deus, sem ter em conta o poder de Deus para lhes dar cumprimento. E paraeste poder que a f volve os olhos, e assim obtm vitria e goza de paz constante. E comDeus que a f tem que ver e a Sua infalvel fidelidade. No se apoia sobre as areiasmovedias das coisas humanas e das influncias terrenas, mas sim na rocha inabalvelda eterna Palavra de Deus. E esta a base slida e santa da f. Venha o que vier,permanece nesse santurio de fora."Sendo, pois, Jos falecido, e todos os seus irmos, e toda aquela gerao." E depois? A

    morte poderia porventura prejudicar os desgnios do Deus vivo? Certamente que no.Deus aguardava apenas o momento destinado, o momento oportuno, e ento asinfluncias mais hostis serviram de instrumento no desenrolar dos Seus planos.

    Um Rei que no conhecia a Deus"Depois, levantou-se um novo rei sobre o Egito, que no conhecera a Jos, o qual disseao seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel muito e mais poderoso do que ns. Eia,usemos sabiamente para com ele, para que no se multiplique, e acontea que, vindoguerra, ele tambm se ajunte com os nossos inimigos, e peleje contra ns, e suba daterra" (versculos 8-10). Vemos aqui o raciocnio de um corao que nunca aprendera acontar com Deus nos seus clculos. O corao no-regenerado nunca o pode fazer, e porisso, quando Deus se revela, todos os seus argumentos caem por terra. Fora de Deus, ouindependentemente d'Ele, podem parecer muito prudentes, mas logo que Deus apareceem cena, v-se que so perfeita loucura.Mas porque havemos ns de permitir que as nossas mentes sejam, de qualquer modo,influenciadas por argumentos e clculos que dependem, para a sua verdade aparente, daexcluso total de Deus? Faz-lo , em princpio, e de acordo com a sua extenso,praticamente, atesmo. No caso de Fara verificamos que ele podia julgar corretamenteas vrias eventualidades dos negcios do seu reino: a multiplicao do povo, aspossibilidades de guerra e de os israelitas fazerem causa comum com o inimigo eabandonarem o pas. Ele podia pesar todas estas circunstncias na balana com invulgarsagacidade; mas nunca lhe ocorreu que Deus pudesse ter alguma coisa a ver com oassunto. Este simples pensamento, se alguma vez tivesse ocorrido a Fara, bastaria paralanar a confuso em todos os seus planos classificando-os como loucura.Ora conveniente refletirmos que sucede sempre assim com o raciocnio da mentecptica do homem. Deus inteiramente excludo; sim, a sua pretendida verdade e solidezdependem dessa excluso. O aparecimento de Deus em cena d o golpe mortal em todoo cepticismo e infidelidade. At ao momento em que o Senhor aparece, podem pavonear-se no palco com maravilhosa demonstrao de sabedoria e destreza; porm, assim que oolhar distingue o mais fraco vislumbre do bendito Senhor, so despojados do manto dasua ostentao e revelados em toda a sua nudez e deformidade.Com referncia ao rei do Egito, pode dizer-se, com segurana, que errou grandemente,

    no conhecendo a Deus nem os Seus desgnios imutveis. Fara ignorava que, muitossculos antes, ainda ele estava longe de respirar o flego desta vida mortal, a palavra e ojuramento de Deus"duas coisas imutveis"haviam assegurado infalivelmente a

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    libertao completa e gloriosa daquele mesmo povo que ele, na sua sabedoria, propunhaesmagar. Tudo isto ele desconhecia; e, portanto, todos os seus pensamentos e todos osseus planos baseavam-se sobre a ignorncia dessa grande verdade, fundamento detodas as verdades, que DEUS, . Imaginava, loucamente, que, com a sua sabedoria epoder, poderia impedir o crescimento daqueles acerca dos quais Deus havia dito: "serocomo as estrelas dos cus e como a areia que est na praia do mar" (Gn 22:17).

    Portanto, o seu procedimento no passava de loucura e insensatez.O pior erro que algum pode cometer agir sem contar com Deus. Mais cedo ou maistarde o pensamento de Deus impor-se- ao seu esprito e ento d-se a destruioterrvel de todos os seus planos e clculos. Quando muito, tudo quanto empreendidosem contar com Deus s pode durar o tempo presente. Mas no pode de modo algumalongar-se para a eternidade. Tudo quanto apenas humano, por muito slido, brilhante eatraente que possa ser, est destinado a cair nas garras da morte e a abolorecer nosilncio do tmulo. A leiva do vale h-de cobrir as maiores honras e as glrias maisbrilhantes do homem (J 21:33); a mortalidade est esculpida na sua fronte, e todos osseus projetos so evanescentes.Pelo contrrio, tudo aquilo que est ligado e fundado em Deus permanecer para sempre.

    "O seu nome permanecer eternamente; o seu nome se ir propagando de pais a filhos"(SI 72:17).

    A Segurana proporcionada pela FQuo grande portanto a estultcia do dbil mortal que se levanta contra o Deus eternoarremetendo "com os pontos grossos dos seus escudos" (J 15:26). Era como se omonarca do Egito tivesse procurado deter com a sua fraca mo a mar do oceano,impedir a multiplicao daqueles que eram objetos dos propsitos eternos do Senhor. Porisso, embora pusessem "sobre eles maiorais de tributos, para os afligirem com as suascargas... quanto mais os afligiam, tanto mais se multiplicavam e tanto mais cresciam". Eassim h-de ser sempre. "Aquele que habita nos cus se rir: o Senhor zombar deles"(SI 2:4). Sobre a oposio dos homens e dos demnios cair eterna confuso. Isto ddoce descanso ao corao, num ambiente onde tudo , aparentemente, to hostil a Deuse to contrrio f. Se no tivssemos a certeza de que "a clera do homem louvar" oSenhor (SI 76:10) sentir-nos-amos abatidos frequentemente em face das circunstncias edas influncias que nos rodeiam neste mundo. Mas graas a Deus no atentamos "nascoisas que se veem, mas nas que se no veem; porque as que se veem so temporais, eas que se no veem so eternas" (2 Co 4:18) .Com esta certeza bem podemos dizer:"Descansa no SENHOR e espera nele; no te indignes por causa daquele que prosperaem seu caminho, por causa do homem que executa astutos intentos" (SI 37:7). Como averdade destas palavras claramente discernida neste captulo, tanto no caso dosoprimidos como no que se refere ao opressor! Se Israel tivesse atentado nas coisas quese viam, que eram elas? A ira do Fara, a severidade dos exatores, as aflies, umservio rigoroso, a amarga escravatura, barro e tijolos. Porm, as coisas que se no viamo que eram?- Os propsitos eternos de Deus, as Suas promessas infalveis, o dealbar deum dia de salvao e a "toda de fogo" da redeno de Jeov. Que maravilhoso contraste!S a f podia compreender tudo isto, assim como nada seno a f podia habilitar qualquerpobre israelita oprimido a lanar uma vista de olhos desde os fornos de tijolo do Egitopara os campos verdejantes e os ricos vinhedos da terra de Cana. S a f podiareconhecer nesses escravos oprimidos, que labutavam nos fornos de tijolo do Egito, osherdeiros da salvao e os objetos do interesse e do favor celestiais.Assim era ento e assim agora. "Andamos por f e no por vista" (2 Co 5:7). "Ainda no

    manifesto o que havemos de ser" (1 Jo 3:2). "Enquanto estamos no corpo, vivemosausentes do Senhor" (2 Co 5:6). Como fato estamos no Egito, no entanto, em esprito,estamos em Cana celestial. A f pe o corao sobre o poder das coisas divinas e

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    invisveis e deste modo habilita-o a elevar-se acima de tudo o que existe aqui, ondereinam "a morte e as trevas". Ah! Se tivssemos esta f infantil que se senta junto fontepura e eterna da verdade para beber da sua gua, a qual reanima o esprito prestes adesfalecer e comunica energia ao novo homem em marcha para a casa do Pai!

    As Parteiras Hebreias

    Os versculos finais deste captulo oferecem-nos uma lio edificante com a condutadessas mulheres tementes a Deus, Sifr e Pu. Arrostando com a ira do rei noexecutaram o seu plano cruel e por isso Deus lhes fez casas."...aos que me honram,honrarei" (1 Sm 2:30). Recordemos sempre esta lio e atuemos de acordo com ela.

    CAPTULO 2

    O NASCIMENTO DE MOISS

    O Fracasso de SatansEsta parte do Livro do xodo abunda em princpios profundos de verdade divinaprincpios que podemos subdividir da seguinte forma: o poder de Satans, o poder deDeus e o poder da f.No ltimo versculo do primeiro captulo lemos: "Ento, ordenou Fara a todo o seu povo,dizendo: A todos os filhos que nascerem lanareis no rio". Este era o poder de Satans. Orio era o lugar da morte; e, por meio da morte, o inimigo procurou frustrar os propsitos deDeus. Tem sido sempre assim. A serpente sempre tem vigiado com olhar maligno osinstrumentos que Deus est prestes a usar para realizar os Seus desgnios. Vejamos ocaso de Abel, em Gnesis, captulo 4. A serpente no estava espreitando aquele vaso deDeus para o pr de parte por meio da morte? Vejamos o caso de Jos, em Gnesis,captulo 37. A o inimigo procura pr o homem escolhido por Deus num lugar de morte.Vejamos o caso da "semente real", em 2 Crnicas, captulo 22; a matana promovida porHerodes, em Mateus 2; e a morte de Cristo, em Mateus 27. Em todos estes casos vemoso inimigo procurando, com a morte, interromper a corrente de atuao divina.Mas, bendito seja Deus, h qualquer coisa depois da morte. Toda a esfera de ao divina,pelo que respeita redeno, est para alm dos limites do domnio da morte. Quando opoder de Satans se esgota que o de Deus comea a mostrar-se. A sepultura o limiteda atividade de Satans; mas a que comea tambm a atividade divina. Isto umaverdade gloriosa. Satans tem o poder da morte; porm, Deus o Deus dos vivos e d avida que est fora do alcance e poder da morteuma vida na qual Satans no podetocar. O corao encontra doce refrigrio nesta verdade, num mundo onde reina a morte.A f pode contemplar calmamente Satans empregando a plenitude do seu poder; elapode apoiar-se sobre a potente interveno de Deus na ressurreio. Pode postar-sejunto da sepultura que acabou de fechar-se sobre um ente amado e beber dos lbiosd'Aquele que "a ressurreio e a vida" a elevada garantia de uma imortalidade gloriosa.Ela sabe que Deus mais forte que Satans e pode portanto esperar, serenamente, amanifestao desse poder superior, e enquanto assim espera encontra a sua vitria e asua paz. Temos um nobre exemplo deste poder da f nos primeiros versculos do captuloque estamos considerando.

    Os Pais de Moiss

    "E foi-se um varo da casa de Levi e casou com uma filha de Levi. E a mulher concebeu,e teve um filho, e, vendo que ele era formoso, escondeu-o trs meses. No podendo,porm, mais escond-lo, tomou uma arca de juncos e a betumou com betume e pez; e,

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    pondo nela o menino, a ps nos juncos borda do rio. E a irm do menino postou-se delonge, para saber o que lhe havia de acontecer" (versculos l a 4).Aqui temos uma cena de tocante interesse, qualquer que seja o ponto de vista por que aencaramos. Na realidade, era simplesmente o triunfo da f sobre as influncias danatureza e da morte, deixando lugar para que o Deus da ressurreio agisse na Suaesfera e no carter que Lhe prprio. certo que o poder do inimigo est patente, visto a

    criana ter de ser colocada em tal posio em princpio, uma posio de morte. E, almdisso, era como se uma espada atravessasse o corao da me ao ver o seu filhoprecioso exposto morte. Satans podia agir e a natureza podia chorar; contudo, oVivificador dos mortos estava detrs daquela nuvem sombria e a f via-O ali iluminando ocume dessa nuvem com os Seus raios brilhantes e vivificadores. "Pela f, Moiss, jnascido, foi escondido trs meses por seus pais, porque viram que era um meninoformoso; e no temeram o mandamento do rei" (Hb 11:23).

    A Arca de JuncoAssim, esta digna filha de Levi ensina-nos uma santa lio. A sua arca de juncosbetumada com betume e pez proclama a confiana que ela tinha na verdade que havia

    qualquer coisa que, como no caso de No, "pregoeiro da justia", podia defender aquele"menino formoso" das guas da morte. Devemos ns supor que esta "arca" fosse apenasuma inveno humana? Foi inventada por previso e habilidade do homem'?- Foi acriana colocada na arca por inspirao do corao da me, que alimentava a doce masilusria esperana de salvar, por esse meio, o seu ente querido da morte? Se a nossaresposta a estas interrogaes fosse afirmativa perderamos, quanto a mim, o ensinoprecioso de todo o assunto. Como admitir a suposio que a "arca" fosse inventada porquem no via outro destino para o seu filho seno afogando-o? No h outra maneira deencarar essa significante estrutura seno como um saque da f apresentado na tesourariado Deus da ressurreio. Aquela arca foi inventada pela f, como vaso de misericrdia,para conduzir o "menino formoso" atravs das guas da morte ao lugar que lhe eradesignado pelos propsitos imutveis do Deus vivo. Quando contemplamos esta filha deLevi curvada sobre aquela "arca" de juncos, que a sua f havia construdo, despedindo-sedo seu filho, conclumos que ela segue as mesmas pisadas que seu pai Abrao deuquando se levantou de diante do seu morto para comprar a cova de Macpela aos filhos deHete (Gnesis, captulo 23). No vemos nela apenas a energia da natureza que sedebrua sobre o objeto das suas afeies prestes a cair nas garras do rei dos terrores.No, mas reconhecemos nela a energia da f que a habilitou a postar-se, comovencedora, junto da margem do caudal frio da morte, observando o vaso escolhido deJeov at que passe em segurana para a outra margem.Sim, prezado leitor, a f pode voar ousadamente a essas regies que esto muitoafastadas deste mundo de morte e vasta desolao; e com o seu olhar de guiaatravessar essas nuvens que se acumulam sobre a sepultura e ver como o Deus daressurreio cumpre os Seus desgnios eternos numa esfera onde os dardos da morteno podem jamais chegar. Ela pode postar-se sobre a Rocha dos Sculos e esperar ematitude de triunfo enquanto as vagas da morte bramam e se desfazem a seus ps.Deixai-me perguntar: que valor tinha o mandamento do rei para algum que possua estesprincpios celestiais?Que importncia tinha esse mandamento para uma mulher que podia permanecercalmamente ao lado da sua "arca de juncos" e encarar impavidamente a morte? OEsprito Santo responde: "no temeram o mandamento do rei" (Hb 11:26). O esprito quesabe um pouco o que ter comunho com Aquele que ressuscita os mortos nada receia e

    pode fazer coro triunfante com 1 Corntios 15: "Onde est, morte, o teu aguilho? Ondeest, inferno, a tua vitoriai Ora, o aguilho da morte o pecado, e a fora do pecado alei. Mas graas a Deus, que nos d a vitria por nosso Senhor Jesus Cristo". Pode

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    pronunciar estas palavras de triunfo sobre Abel martirizado, sobre Jos no fundo da cova,sobre Moiss na arca de juncos, sobre "a semente real" exterminada por mo de Atlia esobre os inocentes de Belm, assassinados por ordem do cruel Herodes; e, acima detudo, no tmulo do Capito da nossa salvao.Contudo, possvel que alguns no possam distinguir a obra da f na arca de juncos.Alguns talvez no possam ultrapassar a compreenso da irm de Moiss, a qual se

    "postou de longe, para saber o que lhe havia de acontecer". que a "sua irm" noestava altura da me pelo que respeitava f. Sem dvida, havia nela esse profundointeresse, essa verdadeira afeio, que vemos em "Maria Madalena e a outra Maria,assentadas defronte do sepulcro" (Mt 27:61). Porm, naquela que fez a arca de juncoshavia alguma coisa muito superior ao interesse ou afeto. E certo que a me do meninono se postou de longe para ver o que havia de acontecer ao seu filho; e, por isso, semelhana do que acontece frequentemente, a dignidade da f poderia parecer, no seucaso, indiferena. Porm, no era indiferena, mas, sim, verdadeiro engrandecimento daf. Se o afeto natural no a obrigava a ficar junto daquele ambiente de morte era apenasporque o poder da f lhe havia confiado uma obra mais nobre na presena do Deus daressurreio. A f dela havia aberto lugar para Deus naquele ambiente, e Ele manifesta-

    Se logo duma maneira gloriosa.

    A Filha de Fara"E a filha de Fara desceu a lavar-se no rio, e as suas donzelas passeavam pela borda dorio; e ela viu a arca no meio dos juncos e enviou a sua criada, e a tomou. E, abrindo-a, viuo menino, e eis que o menino chorava; e moveu-se de compaixo dele e disse: Dosmeninos dos hebreus este" (versculo 5-6). Aqui, pois, comea a soar a resposta divinaem doce murmrio aos ouvidos da f. Deus intervinha em tudo isto. O racionalismo, ocepticismo, a infidelidade, e o atesmo, podem rir-se desta ideia. E a f tambm; mas sorisos diferentes. Os primeiros riem com desprezo da ideia da interveno divina numbanal passeio duma princesa real pela margem do rio. A segunda ri de cordialcontentamento ao pensar que Deus est em tudo. E, de fato, se alguma vez Deusinterveio em qualquer coisa foi neste passeio da filha do Fara, embora ela o nosoubesse.Uma das mais ditosas ocupaes da alma regenerada seguir as pegadas divinas emcircunstncias e acontecimentos que a mente irrefletida atribui ao acaso ou fatalidade.Por vezes a coisa mais banal pode ser um importantssimo elo numa cadeia deacontecimentos de que Deus Se est servindo para levar avante os Seus grandiososdesgnios. Vejamos, por exemplo, Ester 6:1; que encontramos? Um monarca pago quepassa uma noite inquieta. Nada h de extraordinrio nisso, podemos supor; e, no entanto,esta circunstncia constitui um elo numa grande cadeia de acontecimentos providenciais,ao fim da qual surge a maravilhosa libertao dos descendentes oprimidos de Israel.Assim sucedeu com a filha do Fara e o seu passeio pela margem do rio. Mas ela nopensava que estava ajudando os intentos do "Senhor Deus dos hebreus"! Mal ela sabiaque o beb que chorava na arca de juncos viria ainda a ser o instrumento do Senhor paraabalar a terra do Egito at aos seus alicerces! E contudo era assim. O Senhor pode fazercom que a clera do homem redunde em Seu louvor (SI 76:10) e restringir o restantedessa clera. Como a verdade deste fato transparece claramente nas palavras que seseguem!"Ento, disse sua irm filha de Fara: Irei eu a chamar uma ama das hebreias, que crieeste menino para ti? E a filha de Fara disse-lhe: Vai. E foi-se a moa e chamou a me domenino. Ento, lhe disse a filha de Fara: Leva este menino e cria-mo; eu te darei teu

    salrio. E a mulher tomou o menino e criou-o. E, sendo o menino j grande, ela o trouxe filha de Fara, a qual o adotou; e chamou o seu nome Moiss e disse: Porque das guaso tenho tirado" versculos (7 a 10).

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    A f da me de Moiss encontra aqui a sua inteira recompensa; Satans fica embaraadoe a sabedoria maravilhosa de Deus revelada. Quem poderia supor que aquele quehavia dito s parteiras das hebreias "se for filho, matai-o", acrescentando, "a todos osfilhos que nascerem lanareis no rio", havia de ter na sua prpria corte um dessesprprios filhos? O diabo foi vencido com as suas prprias armas, porque Fara, de quemqueria servir-se para frustrar os propsitos de Deus, foi usado por Deus para alimentar e

    educar esse Moiss, que havia de ser o Seu instrumento para confundir o poder deSatans. Providncia notvel! Maravilhosa sabedoria! Certamente, "at isto procede doSenhor" (Is 28:29). Possamos ns confiar n'Ele com mais simplicidade, e ento a nossacarreira ser mais brilhante e o nosso testemunho mais eficaz.

    A Sua EducaoMeditando sobre a histria de Moiss necessrio considerar este grande servo de Deusdebaixo do ponto de vista duplo do seu carter pessoal e o seu carter figurativo.No carter pessoal de Moiss h muito, muitssimo, que aprender. Deus teve no s de oelevar como de o treinar, dum e doutro modo, durante o longo espao de oitenta anos:primeiro na casa da filha do Fara e depois "atrs do deserto". nossa fraca mentalidade

    oitenta anos parecem muito tempo para a preparao dum ministro de Deus. Mas ospensamentos de Deus no so os nossos pensamentos. O Senhor sabia que eramnecessrios esses dois perodos de quarenta anos para preparar o Seu vaso eleito.Quando Deus educa algum, f-lo duma maneira digna de Si e do Seu Santo servio. Oseu trabalho no o confia a novios. O servo de Cristo tem muitas lies que aprender,deve passar por vrios exerccios e padecer muitos conflitos em segredo antes de estarrealmente apto a agirem pblico. A natureza humana no gosta deste mtodo prefereevidenciar-se em pblico a aprender em particular. Gosta mais de ser contemplada eadmirada pelos homens do que de ser disciplinada pela mo de Deus. Porm isto noserve. Ns temos que seguir o caminho traado pelo Senhor.A natureza pode precipitar-se no campo das operaes, mas Deus no a quer ali. necessrio que aquilo que humano seja quebrantado, consumido e posto de lado: olugar que lhe compete o da morte. Se a natureza teima em entrar em atividade, Deus,na Sua fidelidade infalvel e na Sua perfeita sabedoria, ordena as coisas de tal maneiraque o resultado dessa atividade se transforma em fracasso e confuso. Ele sabe o queh-de fazer com a nossa natureza, onde deve ser colocada e como guard-la. Oh! quetodos possamos estar mais ntima comunho com Deus no que diz respeito aos Seuspensamentos quanto ao "eu" e tudo que com ele se relaciona. Assim cairemos menos emerro, a nossa vida ser mais fiel e moralmente elevada, o nosso esprito estar tranquilo eo nosso servio ser, ento, mais eficiente.

    O Primeiro Contato com seus Irmos"E aconteceu naqueles dias que, sendo Moiss j grande, saiu a seus irmos e atentounas suas cargas; e viu que um varo egpcio feria a um varo hebreu, de seus irmos. Eolhou a uma e a outra banda, e, vendo que ningum ali havia, feriu ao egpcio eescondeu-o na areia" versculos (11-12). Moiss mostra aqui zelo por seus irmos "masno com entendimento" (Rm 10:2). Ainda no chegara o tempo determinado por Deuspara julgar o Egito e libertar Israel, e o servo inteligente deve aguardar sempre o tempo deDeus. Moiss era "j grande" e "instrudo em toda a cincia dos egpcios"; e, alm disso,"cuidava que seus irmos entenderiam que Deus lhes havia de dar liberdade pela suamo" (At 7:25). Tudo isto era verdade, todavia, ele correu, evidentemente, antes detempo, e quando algum procede assim o resultado o fracasso (1).

    E no s o fracasso como tambm manifesta incerteza, falta de serena devoo e santaindependncia no progresso de um trabalho comeado antes do tempo determinado porDeus. Moiss olhou a uma e outra banda. No h necessidade disto quando se age com

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    e para Deus e na plena compreenso dos Seus pensamentos quanto aos pormenores daSua obra. Se o tempo determinado por Deus tivesse realmente chegado, e se Moisssentisse que havia sido incumbido de executar a sentena de Deus sobre o egpcio, sesentisse ainda a presena divina consigo, no teria olhado "a uma e outra banda."_____________________________(1) No discurso de Estvo, perante o conselho, em Jerusalm, h uma referncia ao

    de Moiss, que conveniente considerar. "E, quando completou a idade de quarentaanos, veio-lhe ao corao ir visitar seus irmos, os filhos de Israel. E, vendo maltratadoum deles, o defendeu e vingou o ofendido matando o egpcio. E ele cuidava que os seusirmos entenderiam que Deus lhes havia de dar liberdade pela sua mo; mas eles noentenderam" (At 7:23-25). evidente que o fim de Estvo, com todo o seu discurso, erafazer com que a histria da nao produzisse efeito sobre as conscincias daqueles queestavam perante ele; e seria contrrio a este objetivo e contra a regra do Esprito no NovoTestamento levantar aqui a questo se Moiss no havia atuado antes do tempodeterminado por Deus.Alm disso, Estvo limita-se a dizer que lhe veio ao corao ir visitar seus irmos. Nodiz que Deus o enviou por essa poca. To-pouco toca de nenhuma maneira na questo

    do estado moral daqueles que o rejeitaram: "...eles no entenderam". Quanto a eles, istoum fato, quaisquer que fossem as lies que Moiss pudesse ter de aprender com oassunto. O homem espiritual no tem dificuldade em compreender isto.Considerando Moiss como uma figura, podemos ver neste acontecimento da sua vida amisso de Cristo a Israel e a forma como eles o rejeitaram e a recusa em que Elereinasse sobre eles. Em contrapartida, se considerarmos Moiss pessoalmente, vemosque ele, semelhana de outros, cometeu erros e mostrou fraquezas: em algumasocasies andou depressa, noutras devagar. Tudo isto fcil de compreender e scontribui para engrandecer a graa infinda e a pacincia inexaurvel de Deus.

    A Morte do Egpcio, um Ato Impensado e PrematuroEste ato de Moiss encerra uma lio profundamente prtica para todos os servos deDeus. Duas circunstncias se ligam com ela, a saber: o receio da ira do homem e aesperana do favor humano. O servo do Deus vivo no deve atentar numa nem outra.Que importa a ira ou o favoritismo dum pobre mortal quele que est investido daincumbncia divina e que goza da presena de Deus?-Para um tal servo estas coisas tmmenos importncia que o p dos pratos duma balana. "No o mandei eu? Esfora-te etem bom nimo; no pasmes, nem te espantes, porque o SENHOR, teu Deus, contigo,por onde quer que andares" (Js 1:9). "Tu, pois, cinge os teus lombos, e levanta-te, e dize-lhes tudo quanto eu te mandar-, no desanimes diante deles, porque eu farei com queno temas na sua presena. Porque eis que te ponho hoje por cidade forte, e por colunade ferro, e por muros de bronze, contra toda a terra; e contra os reis de Jud, e contra osseus prncipes, e contra os seus sacerdotes, e contra o povo da terra. E pelejaro contrati, mas no prevalecero contra ti; porque eu sou contigo, diz o SENHOR, para te livrar"(Jr 1:17-19).Colocado assim sobre este terreno elevado, o servo de Cristo no olha a uma e outrabanda, mas atua de acordo com o conselho da sabedoria celestial: "Os teus olhos olhemdireitos e as tuas plpebras olhem diretamente diante de ti" (Pv 4:25). A sabedoria divinafaz-nos sempre olhar para cima e para a frente. Sempre que olhamos em redor paraevitar o olhar desdenhoso de um mortal ou para merecer o seu sorriso, podemos estarcertos que h qualquer coisa que est mal; estamos fora do terreno prprio de serviodivino. Falta-nos a certeza de termos a incumbncia divina e de sentirmos a presena do

    Senhor, ambas as coisas to essenciais. verdade que h muitos que, por ignorncia profunda ou excessiva confiana em siprprios, entram para uma esfera de servio para a qual Deus nunca os destinou e para a

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    qual, portanto, os no preparou. E no s o fazem como aparentam uma frieza de nimoe uma confiana em si prprios perfeitamente espantosas para aqueles que podemformar um conceito imparcial dos seus dons e dos seus mritos. Contudo essasaparncias depressa cedem realidade, e no podem modificar em nada o princpio quenada pode impedir realmente o homem de olhar "a uma e outra banda" seno a convicontima de ter recebido uma misso de Deus e de desfrutar a Sua presena. Quando

    possumos estas coisas somos inteiramente livres das influncias humanas e estamosindependentes dos homens. Ningum est em to boas condies de servir os homenscomo aquele que independente deles; contudo, aquele que conhece o seu verdadeirolugar pode baixar-se e lavar os ps dos seus irmos. Quando desviamos o olhar dohomem e o fixamos sobre o nico Servo verdadeiro e perfeito, no o encontramos"olhando a uma e outra banda", pelo simples motivo que nunca procurou agradar aoshomens mas a Deus. No temia a ira do homem nem cortejava o seu favor. Os Seuslbios nunca se abriram para provocar os aplausos dos homens, nem jamais os fechoupara evitar as suas crticas. Por isso, o que dizia e fazia tinha uma santa estabilidade eelevao. Jesus o nico de quem se pde dizer com verdade, "cujas folhas no caem etudo quando fizer prosperar" (Sl 1:3). Em tudo que fazia prosperava, porque fazia todas

    as coisas para Deus. Cada ao, cada palavra, cada movimento, cada olhar, cadapensamento era como um belo cacho de frutos enviados ao alto para refrescar o coraode Deus. Jamais receou pelos resultados da Sua obra, porquanto sempre trabalhou come para Deus na compreenso plena da sua vontade. A Sua prpria vontade, posto quefosse divinamente perfeita, nunca se confundiu com o que, como homem, fazia sobre aterra, e assim podia dizer: "Porque eu desci do cu, no para fazer a minha vontade, masa vontade daquele que me enviou" (Jo 6:38). Por isso, deu "o seu fruto na estaoprpria" (Sl 1:3), e fez sempre o que agradava ao Pai (Jo 8:29), e, portanto, nada teve quetemer, nem necessidade de arrependimento nem de "olhar a uma e a outra banda".

    A Graa de Deus Lembra-se Somente dos Atos da F (Hebreus 11)Nisto, como em tudo mais, o Mestre bendito forma um contraste notvel com os Seusservos mais honrados e destacados. O prprio Moiss "temeu" (versculo 14), e Pauloteve de se arrepender (2 Co 7:8); porm, o Senhor Jesus nunca fez uma coisa nem outra.Jamais se viu forado a recuar um passo, a arrepender-se duma palavra ou a corrigir umpensamento.Tudo quanto fez foi absolutamente perfeito. Era tudo fruto dado na estao prpria. Ocurso da Sua vida santa e celestial deslizava adiante sem obstculos nem deslizes. A suavontade estava perfeitamente submissa ao Pai. Os melhores homens, e at mesmo osmais dedicados, cometem erros; mas perfeitamente exato que quando mais, pela graa,nos dado mortificarmos a nossa vontade, menos erramos. E uma feliz circunstnciaquando, dum modo geral, a nossa vida de f e de dedicao exclusiva a Cristo.Assim sucedeu com Moiss. Era um homem de f, um homem que absorveu em alto grauo esprito do seu Mestre e que seguiu com maravilhosa firmeza os Seus passos. certoque antecipou, como notamos, em quarenta anos o perodo que Deus destinara parajulgar o Egito e libertar Israel; todavia, quando lemos o comentrio inspirado do Captulo11 de Hebreus nenhuma meno encontramos deste fato. Encontramos somente oprincpio divino que, dum modo geral, orientou a sua vida: "Pela f, Moiss, sendo jgrande, recusou ser chamado filho da filha de Fara, escolhendo, antes, ser maltratadocom o povo de Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, pormaiores riquezas, o vituprio de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vistaa recompensa. Pela f, deixou o Egito, no temendo a ira do rei; porque ficou firme, como

    vendo o invisvel" (Hb 11:24-27).Esta passagem apresenta-nos os atos de Moiss de uma maneira cheia de graa. assim que o Esprito Santo sempre conta a histria dos santos do Velho Testamento.

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    Quando descreve a vida dum homem, apresenta-o como ele , com todas as suas falhase imperfeies. Mas quando, no Novo Testamento, comenta essa biografia limita-se a daro princpio que o orientou e o resultado da sua atividade. Por isso, no obstante lermosem xodo que Moiss "olhou a uma e a outra banda", e disse; "certamente este negciofoi descoberto", e por fim que "fugiu de diante da face de Fara", lemos tambm naepstola aos Hebreus que o que ele fez, f-lo "pela f" no temeu a ira do rei e ficou

    firme como vendo o invisvel.Assim acontecer em breve quando vier o Senhor, "o qual tambm trar luz as coisasocultas das trevas e manifestar os desgnios dos coraes; e ento cada um receber deDeus o louvor" (1 Co 4:5). Eis aqui uma verdade consoladora e preciosa para toda a almareta e o corao fiel. O corao pode formar muitos projetos que, por diversas razes, amo no pode realizar. Todos esses intentos sero manifestados quando o Senhor vier.Bendita seja a graa divina por nos haver dado uma tal certeza! As devoes do coraoso muito mais preciosas para Cristo do que as obras mais espaventosas que as mospossam executar. Estas podem dar algum brilho aos olhos do homem; mas aquelas sodevidamente apreciadas pelo corao de Jesus. As obras podem ser assunto deconversao dos homens, mas as afeies so manifestadas diante de Deus e dos Seus

    anjos. Que todos os servos de Cristo saibam ter os seus coraes somente ocupadoscom Ele e os seus olhos postos na Sua vinda.

    Aquilo que a F CompreendeEstudando a vida de Moiss, vemos que a f o fez seguir um caminho completamentediferente do curso normal da natureza humana, levando-o a desprezar no apenas todosos prazeres e atraes e honras da corte de Fara, mas a abandonar uma larga esfera deatividade. A razo teria feito com que ele seguisse um caminho completamente oposto,aconselhando-o a usar a sua influncia a favor do povo de Deus em vez de sofrer comele. Segundo o parecer do homem, parecia que a Providncia havia aberto um campo detrabalho extenso e importante para Moiss; e de fato se alguma vez a mo de Deus semanifestou pondo um homem numa posio especial foi decerto o caso de Moiss.Devido a uma interveno maravilhosa e por uma srie incompreensvel decircunstncias, em que era revelada em cada uma delas a mo do Todo-Poderoso, e quenenhuma proviso humana jamais poderia combinar, a filha do Fara veio a ser oinstrumento usado para tirar Moiss das guas, cri-lo e educ-lo at que "completou aidade de quarenta anos" (At 7:23). Em tais circunstncias o abandono da sua alta posioe da influncia que esta lhe dava no podia ser considerado seno como consequnciade um zelo mal entendido.A pobre razo podia assim discorrer. Porm a f pensa de uma maneira diferente, porquea natureza e a f esto sempre em oposio uma outra. E embora no possam estar deacordo em um s ponto, possvel que no haja nada em que se acham to distanciadascomo sobre aquilo que se chama geralmente "indicaes providenciais". A naturezaconsiderar sempre essas indicaes como autorizaes de complacncia; ao passo quea f encontrar nelas a oportunidade de renncia prpria. Jonas podia ter imaginado queera um caso extraordinrio da Providncia o fato de encontrar um navio que ia partir paraTarsis; mas o fato que isso foi apenas uma porta pela qual ele fugiu do caminho daobedincia.Sem dvida alguma, privilgio do crente ver a mo de seu Pai celestial e ouvira Sua vozem todas as coisas; mas no deve ser guiado pelas circunstncias. Um crente que assim guiado como um barco no mar alto sem leme nem bssola, merc das ondas edo vento. A promessa de Deus aos Seus filhos esta: "Guiar-te-ei com os meus olhos"

    (SI 32:8); e a Sua palavra de admoestao : "No sejas como o cavalo, nem como amula, que no tm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio, para que se noatirem a ti" (SI 32:9). E muito melhor sermos guiados pelos olhos do nosso Pai Celestial

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    do que pelo cabresto e freio das circunstncias; e ns sabemos que, na acepo normalda palavra, "Providncia" apenas outro termo para o impulso das circunstncias.Ora, a energia da f mostra-se recusando e desprezando constantemente essaspretendidas manifestaes providenciais. "Pela f Moiss... recusou ser chamado filho dafilha de Fara", e "pela f deixou o Egito" (Hb 11:24 e 27). Tivesse ele formado o seu juzopela luz dos seus olhos, e teria agarrado a dignidade proposta como ddiva evidente da

    Providncia, e teria continuado na corte do Fara como sendo uma esfera de utilidadeaberta plenamente para si pela mo de Deus. Porm, ele andou por f e no por vista: e,por isso, desprezou tudo. Que nobre exemplo! Que Deus nos d graa para podermosimit-lo!E note-se o que foi "o vituprio de Cristo" que Moiss "teve por maiores riquezas do queos tesouros do Egito" (Hb 11.26). No foi apenas o oprbrio por Cristo: "...as afrontas dosque te afrontaram caram sobre mim" (Sl 69:8). O Senhor identificou-Se em graa perfeitacom o Seu povo. Veio do cu, e, deixando o seio do Pai, pondo de parte a Sua glria,tomou o lugar do Seu povo, confessou o pecado dos Seus e sofreu o seu castigo nomadeiro de maldio. Tal foi o Seu sacrifcio voluntrio; no somente agiu por ns, comoSe fez um conosco, libertando-nos desta forma perfeitamente de tudo que era ou poderia

    ser contra ns.Vemos, pois, como Moiss estava em harmonia com o esprito e a mente de Cristo, peloque respeitava ao povo de Deus. Vivera rodeado de todo o conforto, pompa e dignidadeda casa do Fara, onde "o gozo do pecado" e "os tesouros do Egito" o cercavamprofusamente. Tudo isto ele podia ter gozado se quisesse. Podia ter vivido e morrido nomeio da riqueza e do esplendor. Toda a sua vida, desde o comeo at ao fim, podia, seele tivesse preferido, ter sido iluminada pelo sol do favor real; mas isso no teria sido "f";nem to-pouco conforme com Cristo. Da sua elevada posio, ele viu os seus irmosvergados sob o peso do seu fardo, e a f levou-o a ver que o seu lugar era estar comeles. Sim, com eles em toda a sua ignomnia, escravido e sofrimento. Fosse ele movidoapenas pela benevolncia, pela filantropia ou o patriotismo e podia ter usado a suainfluncia pessoal a favor de seus irmos; talvez conseguisse induzir Fara a aliviar o seufardo e tornar a sua vida um pouco mais fcil por meio de concesses reais a seu favor;porm um tal procedimento nunca satisfazia um corao que pulsava em comum com ocorao de Cristo. Era um corao assim que Moiss, pela graa de Deus, trazia em seuseio; e, portanto, com todas as foras e todo o afeto desse mesmo corao, lanou-se dealma, corpo e esprito no prprio meio dos seus irmos oprimidos. Escolheu antes sermaltratado com o povo de Deus", e, alm disso, f-lo por f.Que o leitor pondere estes fatos. No nos devemos contentar com desejar apenas bemao povo de Deus, em servi-lo ou em falar benevolamente em seu favor. Devemos estarinteiramente identificados com ele, por desprezado ou injuriado que possa ser. At certoponto, uma coisa agradvel para um esprito benvolo e generoso favorecer oCristianismo; mas uma coisa muito diferente e se identificar com os cristos ou sofrercom Cristo. Um defensor uma coisa, um mrtir outra totalmente diferente. Estadistino clara em todo o Livro de Deus. Obadias teve cuidado das testemunhas deDeus, mas Elias foi uma testemunha para Deus (1 Rs 18:3- 4). Drio era to dedicado aDaniel que perdeu o repouso de uma noite por causa dele; porm Daniel passou essamesma noite na cova dos lees, como testemunha da verdade de Deus (Dn 6:18).Nicodemos aventurou-se a falar uma palavra a favor de Cristo, porm um discipuladomais completo t-lo-ia levado a identificar-se com Cristo.

    Jos e Moiss, Figuras de Cristo

    Estas consideraes so eminentemente prticas. O Senhor Jesus no quer proteo,mas sim comunho. A verdade a Seu respeito -nos revelada, no para advogarmos aSua causa na terra, mas para termos comunho com a Sua Pessoa no cu. Ele

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    identificou-Se a Si Prprio conosco ao preo enormssimo de tudo que o amor podia dar.Nada o obrigava a isso; podia ter continuado a gozar o Seu lugar "no seio do Pai" por todaa eternidade. Mas, ento, como poderia essa onda poderosa de amor, que estava retidaem Seu corao, avanar at ns, pecadores culpados e merecedores do infernou Entoentre Ele e ns no podia existir nenhuma unidade seno sob condies que exigiam deSua parte o abandono de todas as coisas. Contudo, bendito seja o Seu nome adorvel

    por todos os sculos eternos, esse abandono foi feito voluntariamente. "O qual se deu a simesmo por ns, para nos remir de toda a iniquidade e purificar far si um povo seuespecial, zeloso de boas obras" (Tt 2.14). No quis gozar sozinho a Sua glria. O Seucorao amantssimo deleita-se em associar "muitos filhos" Consigo nessa glria. "Pai",diz Ele, "aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, tambm eles estejam comigo,para que vejam a minha glria que me deste; porque tu me hs amado antes da criaodo mundo" (Jo 17:24). Tais eram os pensamentos de Cristo com respeito ao Seu povo; epodemos ver facilmente como Moiss simpatizou com estes preciosos pensamentos.Indubitavelmente, participou em alto grau do esprito do Seu Mestre, e mostrou esseesprito excelente sacrificando de sua prpria vontade todas as consideraes pessoais eassociando-se sem reservas ao povo de Deus.

    O carter pessoal e os atos deste honrado servo de Deus sero considerados no estudosubsequente deste livro, limitamo-nos aqui a consider-lo como uma figura do SenhorJesus Cristo. Que Moiss uma figura do Senhor evidente pela leitura da passagemseguinte: "O SENHOR, teu Deus, te despertar um profeta do meio de ti, de teus irmos,como eu; a ele ouvireis" (Dt 18:15). No estamos, portanto, fantasiando em imaginaohumana quando consideramos Moiss como uma figura, pois que este o ensino clarodas Escrituras, e nos versculos finais deste captulo de xodo vemos este smbolo sobdois aspectos: primeiro, sendo rejeitado por Israel; e, segundo, na sua unio com umamulher estrangeira do pas de Midi.Estes dois pontos j foram considerados, at certo ponto, na histria de Jos, o qual,sendo rejeitado por seus irmos segundo a carne, se uniu a uma noiva egpcia. Nestecaso, como no caso de Moiss, vemos simbolizados a rejeio de Cristo por Israel e aSua unio com a Igreja, mas num aspecto diferente. No caso de Jos temos ademonstrao de inimizade positiva contra a sua pessoa. Em Moiss a rejeio da suamisso, que vemos. No caso de Jos lemos, "...seus irmos... aborreceram-no e nopodiam falar com ele pacificamente" (Gn 37:4). Mas no caso de Moiss, foi-lhe dito:"Quem te tem posto a ti por maioral e juiz sobre ns?" (x 2:14). Em suma, aquele foipessoalmente odiado; este oficialmente rejeitado.O mesmo acontece na forma como o grande mistrio da Igreja exemplificado na histriadesses dois santos do Velho Testamento. "Asenate" representa uma fase da Igreja detodo diferente daquela que temos na pessoa de "Zpora" (Gn 41:45, x. 2:21). Asenate foiunida a Jos no tempo da sua exaltao; Zpora foi a companheira de Moiss durante otempo da sua vida obscura no deserto (comparem-se Gn 41:41-45 com x. 2:15; 3:1).verdade que Jos e Moiss foram, ao tempo da sua unio com mulheres estrangeiras,rejeitados por seus irmos; todavia, o primeiro era governador sobre toda a terra do Egito,ao passo que o ltimo apascentava as ovelhas "atrs do deserto".Portanto, quer contemplemos Cristo em glria ou oculto para a viso do mundo, a Igrejaest intimamente unida com Ele. E agora, visto que o mundo no O v, to-pouco podetomar conhecimento desse corpo que inteiramente um com Ele. "Por isso o mundo nosno conhece, porque o no conhece a ele" (1 Jo 3:1). Muito em breve, Cristo aparecerem Sua glria, e a Igreja com Ele. "Quando Cristo, que a nossa vida, se manifestar,ento, tambm vs vos manifestareis com ele em glria" (Cl 3:4).

    E em Joo 17:22 e 23, lemos, tambm: "E eu dei-lhes a glria que a mim me deste, paraque sejam um, como ns somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejamperfeitos em unidade, e para que o mundo conhea que tu me enviaste a mim e que tens

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    amado a eles como me tens amado a mim" ().Tal , pois, a posio santa e gloriosa da Igreja. Ela uma com Aquele que rejeitadopelo mundo, mas que ocupa o trono da Majestade nos cus. O Senhor Jesus Cristotornou-Se responsvel por ela na cruz, a fim de que ela pudesse compartilhar com Ele daSua rejeio agora e da sua glria no futuro. Que todos os que fazem parte de um corpoassim altamente privilegiado sejam mais compenetrados do sentimento que lhes convm

    seguir e do carter de que devem estar revestidos! Ento haveria uma resposta clara eplena por parte dos filhos de Deus a esse amor com que Ele nos amou e dignidade comque Ele os investiu. A vida do cristo deveria ser sempre o resultado natural de umprivilgio realizado e no o resultado constrangido de votos e resolues legais, o frutoprprio de uma posio conhecida e gozada pela f e no o fruto dos esforos prpriospara se chegara uma posio "pelas obras da lei". Todos os verdadeiros crentes so umaparte da noiva de Cristo. Por isso devem a Cristo os afetos que correspondem a essarelao. uma relao que no se obtm devido ao afeto, mas o afeto emana dessacomunho. Que assim seja, Senhor, com todo o povo amado que tu adquiriste custado teu sangue!

    ____________________(1) Em Joo 17:21- 23 fala-se da unidade que a Igreja tinha a responsabilidade demanter, mas em que falhou completamente, e da unidade que Deus realizarinfalivelmente e que manifestar em glria.

    CAPTULO 3

    DEUS CHAMA A MOISS

    A Escola de DeusVamos agora retomar a histria pessoal de Moiss e considerar este grande servo deDeus durante o perodo to interessante da sua vida de solido, perodo este que no vaialm de quarenta dos seus melhores anos, se assim podemos dizer. O Senhor, na Suabondade, Sua sabedoria e Sua fidelidade, pe o Seu servo parte, livre das vistas e dospensamentos dos homens, para o poder educar debaixo da Sua imediata direo. Moisstinha necessidade disso. Havia passado quarenta anos na casa do Fara; e, conquanto asua estadia ali no deixasse de ser proveitosa, todavia, tudo que tinha aprendido ali noera nada em comparao com o que aprendeu no deserto. O tempo passado na cortepode ter sido valioso, mas a sua estadia no deserto era indispensvel.Nada h que possa substituir a comunho secreta com Deus ou a educao que serecebe debaixo da Sua disciplina. "Toda a cincia dos egpcios" no havia habilitadoMoiss para o servio a que devia ser chamado. Havia podido seguir uma carreirabrilhante nas escolas do Egito, e deixara-as coberto de honras literrias, com umainteligncia enriquecida por vastos conhecimentos e o corao cheio de orgulho evaidade. Havia podido tomar os seus ttulos nas escolas dos homens, mas tinha ainda deaprender o alfabeto na escola de Deus. Porque a sabedoria e a cincia humanas, pormuito valor que tenham em si mesmas, no podem fazer de ningum um servo de Deusnem qualificar algum para desempenhar qualquer cargo no servio divino. Taisconhecimentos podem qualificar o homem natural para desempenhar um papelimportante diante do mundo: porm necessrio que todo aquele que Deus quer

    empregar ao Seu servio seja dotado de qualidades bem diferentes, qualidades alis ques se adquirem no santo retiro da presena de Deus.Todos os servos de Deus tm aprendido por experincia a verdade do que acabamos de

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    dizer: Moiss em Horeb, Elias no ribeiro de Kerith, Ezequiel junto ao rio Chebar, Paulo naArbia, e Joo em Patmos, so todos exemplos da grande importncia de estarmos a sscom Deus. E se considerarmos o Servo Divino, vemos que o tempo que Ele passou emretiro foi dez vezes aquele que gastou no Seu ministrio pblico. Ainda que perfeito eminteligncia e vontade, passou trinta anos na casa humilde de um carpinteiro de Nazareth,antes de se manifestar em pblico. E, mesmo depois de ter entrado na Sua carreira

    pblica, quantas vezes o vemos afastar-Se das vistas dos homens, para gozar a solidosanta da presena do Pai!Pode perguntar-se, como poder a falta de obreiros, que tanto se faz sentir, ser supridase necessrio que todos passem por uma educao secreta to prolongada antes detomarem o seu trabalhou Mas isto um assunto do Mestre, e no nosso. Ele Quemsabe chamar os obreiros, e Quem sabe tambm prepar-los. No obra do homem. SDeus pode chamar e preparar um verdadeiro obreiros, e se Ele toma muito tempo paraeducar um tal homem, porque assim o julga bom; sabemos que, se outra fosse a Suavontade, Ele podia realizar esta obra num instante. Uma coisa evidente: Deus tem tidotodos os Seus servos muito tempo a ss Consigo, tanto antes como depois da suaentrada no ministrio pblico; ningum poder dispensar este treino, e sem esta

    disciplina, sem este exerccio privativo, nunca seremos mais que tericos superficiais einteis. Todo aquele que se aventura numa carreira pblica sem se haver pesado nabalana do santurio, e medido na presena de Deus, parece-se com um navio saindo vela sem lastro prprio, que ter fatalmente de soobrar ao primeiro embate do vento.Pelo contrrio, existe para todo aquele que tem passado pelas diferentes classes daescola de Deus uma profundidade, uma solidez, e uma constncia que so os elementosessenciais na formao do carter de um verdadeiro e eficiente servo de Deus.Por isso, quando vemos Moiss, idade de quarenta anos, afastado de todas as honras emagnificncia de uma corte, para passar quarenta anos na solido do deserto, podemosesperar v-lo empreender uma carreira de servio notvel; no que alis no ficamosdesapontados. Ningum verdadeiramente educado seno aquele a quem Deus educa.No est dentro das possibilidades do homem preparar um instrumento para servio doSenhor. A mo do homem incapaz de moldar um "vaso idneo para uso do Senhor" (2Tm 2:21). Somente Aquele que quer us-lo pode prepar-lo; e no caso presente temosum exemplo singularmente belo do Seu modo de o fazer.

    No Deserto"E APASCENTAVA Moiss o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midi; e levou orebanho atrs do deserto e veio ao monte de Deus, a Horebe" (versculo 1). Aqui temos,pois, uma mudana admirvel na vida de Moiss. Lemos em Gnesis, captulo 46:34, que"todo o pastor de ovelhas abominao para os egpcios" e no entanto, Moiss, que era"instrudo em toda a cincia dos egpcios", transferido da corte do Egito para trs dodeserto para apascentar um rebanho de ovelhas e preparar-se para o servio de Deus.Seguramente isto no " o costume dos homens" (2 Sm 7:19) nem o curso natural dascoisas: um caminho incompreensvel para a carne e o sangue. Ns havamos de pensarque a educao de Moiss estava terminada logo que se tornou mestre de toda asabedoria do Egito, gozando ao mesmo tempo das vantagens que oferece a este respeitoa vida de uma corte. Poderamos supor que um homem to privilegiado havia de ter noapenas uma instruo slida e extensa mas tambm uma distino tal em suas aes queo tornariam apto para cumprir toda a espcie de servio. Porm, ver um tal homem, tobem dotado e instrudo, ser chamado a abandonar a sua elevada posio para irapascentar ovelhas atrs do deserto, e qualquer coisa incompreensvel para o homem,

    qualquer coisa que humilha at ao p o seu orgulho e a sua glria, mostrando que asvantagens humanas so de pouco valor diante de Deus; mais ainda, que so "comoesterco", no somente aos olhos do Senhor, mas aos olhos de todos aqueles que tm

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    sido ensinados na Sua escola (Fp. 3:8).Existe uma diferena enorme entre o ensino humano e o divino. Aquele tem por fimcultivar e exaltar a natureza; este comea por a "secar" e a pr de lado. "Ora, o homemnatural no compreende as coisas do Esprito de Deus, porque lhe parecem loucura; eno pode entend-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Co 2:14). Podeisesforar-vos por educar o homem natural tanto quanto puderdes, sem que jamais

    consigais fazer dele um homem espiritual. "O que nascido da carne carne, e o que nascido do Esprito esprito" (Jo 3:6). Se alguma vez um "homem natural" educado pdeesperar ter xito no servio de Deus, esse tal foi Moiss: ele era "instrudo... e poderosoem suas palavras e obras" (At 7:22); e todavia teve que aprender alguma coisa "atrs dodeserto" que as escolas do Egito nunca lhe haviam ensinado. Paulo aprendeu muito maisna Arbia do que jamais havia aprendido aos ps de Gamaliel (). Ningum pode ensinarcomo Deus; e necessrio que todos aqueles que querem aprender d'Ele estejam a sscom Ele. Foi no deserto que Moiss aprendeu as lies mais preciosas, mais profundas,mais poderosas e mais durveis; e ali que devem encontrar-se todos os que queiramser formados para o ministrio.______________________

    (1) O leitor no deve supor, nem por um momento, que pretendemos com estescomentrios depreciar o valor de uma instruo realmente proveitosa ou a cultura dasfaculdades intelectuais. De modo nenhum. Se, por exemplo, o leitor pai deve adornar amente de seu filho com conhecimentos teis: deve ensinar-lhe tudo que poder serutilizado mais tarde no servio do Mestre: no deve embara-lo com aquilo que ele terde pr de parte seguindo a carreira crist, nem deve conduzi-lo, com o fim de lhe dar umaeducao brilhante, por uma regio da qual quase impossvel sair com uma intelignciaimaculada. Seria to lgico encerr-lo numa mina de carvo durante dez anos, com o fimde o pr em condies de discutir as propriedades da luz e da sombra, como faz-locaminhar sobre o lodaal da mitologia pag com o fim de o preparar para a interpretaodos orculos de Deus ou de o fazer capaz de pastorear o rebanho de Cristo.

    Ali onde s Deus ExaltadoPossa o leitor conhecer por sua prpria experincia o que significa estar "atrs dodeserto", esse lugar sagrado onde a natureza deitada ao p e s Deus exaltado. Ali,os homens e as coisas, o mundo e o ego, as circunstncias presentes e a sua influnciaso estimados pelo seu justo valor. Ali, e somente ali, encontrar uma balanadivinamente afinada para pesar tudo que h no Seu ntimo e Sua volta.Ali no h falsas cores, nem falsos penachos, nem vs pretenses! O inimigo das almasno tem o poder de dourar a areia desse lugar. Tudo ali realidade. O corao que temestado na presena de Deus, "atrs do deserto", tem pensamentos justos sobre todas ascoisas; e eleva-se muito acima da influncia excitante dos negcios deste mundo. Oclamor e rudo, a agitao e confuso do Egito no penetram nesse lugar retirado; no seouve o rudo do mundo comercial e financeiro; a ambio no se faz sentir ali; a ambioda glria do mundo desaparece e a sede de ouro no se sente ali. Os olhos no soobscurecidos pela concupiscncia, nem o corao ocupado pelo orgulho; a adulaodos homens no interessa, e a sua censura no desanima. Em suma: tudo posto departe exceto a calma e luz da presena divina; s se ouve a voz de Deus; a Sua luzilumina; os Seus pensamentos so aceitos pelo corao. Tal o lugar onde tm de irtodos aqueles que quiserem ser aptos para o ministrio.Prouvera a Deus que todos aqueles que aparecem em cena para servir em pblicoconhecessem melhor o que respirar a atmosfera desse lugar. Haveria, ento, menos

    tentativas infrutferas no exerccio do ministrio, mas haveria um servio bem mais eficazpara glria de Cristo.

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    O que Vemos e OuvimosExaminemos agora o que Moiss viu e ouviu, atrs do deserto. Teremos ocasio de vercomo ele aprende ali lies que esto muito acima da inteligncia dos mais eminentessbios do Egito. Poderia parecer razo humana uma estranha perda de tempo umhomem como Moiss ter de passar quarenta anos sem fazer nada seno guardar ovelhasno deserto. Porm, ele estava ali com Deus, e o tempo assim passado nunca perdido.

    conveniente recordar que h para o verdadeiro servo de Cristo alguma coisa mais do quemera atividade. Todo aquele que est sempre em atividade corre o risco de trabalhardemais. Um tal homem deveria meditar cuidadosamente nas palavras profundamenteprticas do Servo perfeito: "Ele desperta-me todas as manhs, desperta-me o ouvido paraque oua, como aqueles que aprendem" (Isaas 50:4). O servo deve estar frequentementena presena do seu mestre, a fim de poder saber o que deve fazer. O "ouvido" e a"lngua" esto intimamente unidos, em vrios aspectos; porm, debaixo do ponto de vistaespiritual, ou moral, se o ouvido est fechado e a lngua desatada, no restam dvidasque se diro muitas coisas bem tolas. Por isso, "amados irmos... todo o homem sejapronto para ouvir; tardio para falar" (Tiago 1:19). Esta exortao oportuna baseia-se emdois fatos: a saber, que tudo o que bom vem do alto, e que o corao est repleto de

    maldade, pronto a transbordar. Da, a necessidade de ter o ouvido aberto e a lnguarefreada: rara e admirvel cincia!cincia na qual Moiss fez grande progresso "atrsdo deserto", e que todos podem adquirir, desde que estejam dispostos a aprender nessaescola.

    A Sara"E apareceu-lhe o Anjo do SENHOR em uma, chama de fogo no meio de uma sara; eolhou, e eis que a sara ardia no fogo, e a sara no se consumia. E Moiss disse: agorame virarei para l e verei esta grande viso, porque a sara se no queima" (versculos 2-3). Era efetivamente uma grande viso, porque uma sara ardia e no se consumia. Acorte do Fara nunca poderia oferecer nada de semelhante. Porm, era uma visograciosa porque nela era simbolizada de um modo notvel a situao dos eleitos de Deus.Eles encontravam-se no meio do forno do Egito; e o Senhor revelava-se no meio de umasara ardente. Porm, assim como a sara se no consumia, to-pouco eram elesconsumidos, porque Deus estava com eles. "O SENHOR dos Exrcitos est conosco: oDeus de Jac o nosso refgio" (SI 46:7). Aqui temos fora e segurana, vitria e paz.Deus conosco, Deus em ns, e Deus por ns. Isto proviso abundante para todas asnecessidades.No h nada mais interessante e mais instrutivo do que a maneira como aprouve aoSenhor revelar-Se a Moiss na passagem que estamos considerando. Ele ia confiar-lhe oencargo de tirar o Seu povo do Egito, para que eles fossem a Sua Assembleia, parahabitar no meio deles tanto no deserto como na terra de Cana; e do meio de umasara que lhe fala. Smbolo belo, solene e prprio do Senhor habitando no meio do Seupovo eleito e resgatado; "O nosso Deus um fogo consumidor" (Hb 12:29)-no para MOSconsumir, mas para consumir em ns e nossa volta tudo que contra a Sua santidade,e que , portanto, um perigo para a nossa verdadeira e eterna felicidade. "Mui fiis so osteus testemunhos; a santidade convm tua casa, SENHOR, para sempre" (Salmo 93:5).O Velho e o Novo Testamento encerram vrios casos em que Deus Se manifesta como"um fogo consumidor": como por exemplo o caso de Nadabe e Abi, em Levtico 10.Tratava-se de uma ocasio solene. Deus habitava no meio do Seu povo, e queria mantereste numa posio digna de Si Prprio. No podia ter feito outra coisa. No seria paraSua glria nem para proveito dos Seus se Ele tolerasse qualquer coisa, neles

    incompatvel com a pureza da Sua presena. O lugar de habitao de Deus tem que sersanto.Do mesmo modo, em Josu, captulo 7, temos outra prova notvel, no caso de Ac, de

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    que o Senhor no pode sancionar o mal com a Sua presena, qualquer que seja a formaque o mal possa revestir ou por muito oculto que possa estar. O Senhor "um fogoconsumidor", e, como tal, tinha de agir a respeito de tudo que pudesse manchar aAssembleia no meio da qual habitava. Procurar unir a presena de Deus com o pecadono julgado o indcio da impiedade.Ananias e Safira (Atos, 5) do-nos a mesma lio. Deus o Esprito Santo habitava na

    Igreja, no somente como uma influncia, mas, sim, como uma pessoa divina, de talmaneira que ningum podia mentir na Sua presena. A Igreja era, e ainda agora,morada de Deus; e Ele Quem deve governar e julgar no meio dela. Os homens podemreviver em unio a concupiscncia, a impostura e a hipocrisia; mas Deus no pode faz-lo. Se quisermos que Deus ande conosco, devemos julgar os nossos caminhos, ou entoEle os julgar por ns (veja 1 Co 11:29-32).Em todos estes casos e em muitos mais que podamos aduzir, vemos a fora destaspalavras solenes, "a santidade convm tua casa, SENHOR, para sempre" (SI 93:5).Para aquele que a tiver compreendido, esta verdade produzir sempre sobre ele um efeitomoral idntico quele que exerceu sobre Moiss: "No te chegues para c; tira os teussapatos de teus ps; porque o lugar em que tu ests terra santa" (versculo 5). O lugar

    da presena de Deus santo, e s se pode caminhar por ele com os ps descalos.Deus, habitando no meio do Seu povo, comunica Assembleia desse povo um carter desantidade que a base de todo o santo afeto e de toda a santa atividade. O carter dahabitao deriva do carter d'Aquele que a habita.A aplicao deste princpio Igreja, que agora a habitao de Deus, em Esprito, damaior importncia prtica. Assim como bem-aventuradamente verdade que Deus habita,pelo Seu Esprito, em cada membro da Igreja, dando deste modo um carter de santidadeao indivduo, igualmente certo que Ele habita na Assembleia; e, por isso, a Assembleiadeve ser santa. O centro em volta do qual os membros se renem nada menos do que aPessoa de um Cristo vivo, vitorioso e glorificado. O poder que os une nada menos doque o Esprito Santo; e o Senhor Deus Todo-Poderoso habita neles e entre eles (vede Mt18:20; 1 Co 6:19; 3:16-17; Ef 2:21-22). Se tais so a santidade e dignidade quepertencem morada de Deus, evidente que nada impuro, quer seja em princpio, querna prtica, deve ser tolerado. Todos os que esto relacionados com esta habitaodeviam sentir a importncia e solenidade destas palavras, "o lugar em que tu ests terrasanta." "Se algum destruir o templo de Deus, Deus o destruir" (1 Co 3:17). Estaspalavras so dignas de toda a aceitao da parte de todos os membros da Assembleia de cada pedra viva no Seu santo templo! Possamos ns todos aprender a pisar os triosdo Senhor com os ps descalos!

    O Monte Horebe: Santidade e GraaDebaixo de todos os aspectos, as vises de Horebe rendem testemunho, ao mesmotempo, da graa e da santidade do Deus de Israel. Se a graa de Deus infinita, a Suasantidade tambm o ; e, assim como a maneira em que Ele se revelou a Moiss nos fazconhecer a primeira, o prprio fato de Se revelar atesta a ltima. O Senhor desceu porqueera misericordioso; mas, depois de haver descido, dito que Se revelou como sendosanto: "Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abrao, o Deus de Isaque e oDeus de Jac. E Moiss encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus" (versculo6). A natureza humana esconder-se- sempre como resultado da presena divina; quandoestamos na presena de Deus, com os ps descalos e o rosto coberto, quer dizer,naquela disposio de alma que esses atos exprimem de um modo to admirvel,estamos em condies vantajosas para ouvir os doces acentos da graa. Quando o

    homem ocupa o lugar que lhe compete, Deus pode falar-lhe em linguagem de puramisericrdia."E disse o SENHOR: Tenho visto atentamente a aflio do meu povo, que est no Egito, e

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    tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque conheci as suas dores.Portanto, desci para livr-lo da mo dos egpcios e para faz-lo subir daquela terra a umaterra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel; ...E agora, eis que o clamor dos filhosde Israel chegou a mim, e tambm tenho visto a opresso com que os egpcios osoprimem" (versculos 7 a 9). Neste trecho, a graa absoluta, livre e incondicional do Deusde Abrao brilha em todo o seu esplendor, livre dos "ses" e dos "mas", dos votos, das

    resolues e das condies impostas pelo esprito legalista do homem. Deus havia paraSe manifestar em Sua graa soberana, para realizar a obra de salvao, para cumprir aSua promessa a Abrao, promessa repetida a Isaque e a Jac. No havia descido paraver se, na realidade, os herdeiros da promessa estariam em condies de merecer asalvao. Bastava-Lhe que Necessitassem dela. Ponderaro seu estado oprimido, assuas aflies, as suas lgrimas, os seus suspiros, e a sua pesada servido; pois, benditoseja o Seu nome, Ele conta os "ais" do Seu povo e pe as suas lgrimas no Seu odre (Sl56:8). No foi por coisa alguma de bom que houvesse visto neles que os visitou, porqueEle sabia o que havia neles. Numa palavra, o verdadeiro fundamento da intervenomisericordiosa do Senhor a favor do Seu povo revelado nestas palavras: "Eu sou oDeus de Abrao" e "Tenho visto a aflio do meu povo."

    Estas palavras revelam um princpio fundamental nos caminhos de Deus. com basenaquilo que Ele que atua sempre. "EU SOU" assegura todas as cosias para "O MEUPOVO". Certamente, Deus no ia deixar o Seu povo no meio dos fornos de tijolo do Egito,e debaixo do azorrague dos exatores do Fara. Era o Seu povo, e, portanto, queria agir,com respeito a esse povo, de uma maneira digna de Si Prprio. O fato de ser o Seu povo,o objeto favorecido do Seu amor de eleio e possuidor da Sua promessa incondicional,era suficiente. Nada podia impedir a manifestao pblica da relao que existia entre oSenhor e aqueles a quem, segundo os Seus desgnios eternos, havia sido assegurada aposse da terra de Cana. Havia descido para os libertar, e os poderes da terra e doinferno reunidos no poderiam ret-los nem uma hora alm do tempo determinado porEle. Podia servir-Se, e de fato serviu-Se, do Egito como escola, na qual estava o Faracomo um mestre; porm, uma vez cumprida a sua misso, o mestre e a escola so postosde parte, e o Seu povo libertado com mo forte e brao estendido.

    Horebe: A Revelao daquilo que deve Caracterizar todo Servo de DeusTal foi, pois, o carter duplo da revelao feita a Moiss no Monte Horebe. A santidade ea graa esto reunidas naquilo que ele viu e ouviu. E estes dois elementos acham-sesempre, como sabemos, em todas as obras e revelaes de Deus, caracterizando-a deum modo notvel; e deveriam tambm caracterizar a vida de todos aqueles que, de umamaneira ou de outra, trabalham para o Senhor ou tm comunho com ele. Todo overdadeiro servo enviado da presena imediata de Deus com toda a sua santidade etoda a sua graa; e chamado para ser santo e gracioso para ser o reflexo da graa esantidade do carter divino; e para alcanar este estado, no s tem de sair da presenaimediata de Deus como tambm permanecer nela, habitualmente, em esprito. Este osegredo do servio eficaz para o Senhor.Ningum seno o homem espiritual pode compreender estas duas coisas, "sai etrabalha", "mas no te afastes". Para poder agir por Deus em pblico, eu preciso de estarcom Ele no santurio. Se eu no estiver com Ele no santurio da Sua presena sereicompletamente malsucedido.Muitos fracassam particularmente nisto. Existe a possibilidade do perigo de se sair dasolenidade e calma da presena divina para o rudo da convivncia com os homens e a

    agitao do servio ativo. Devemos vigiar contra este perigo.Se perdermos esta disposio santa de esprito, a qual representada aqui nos psdescalos, o nosso servio ser bem depressa inspido e sem proveito. Se consentirmos

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    que o nosso trabalho se interponha entre o nosso corao e o Mestre, ser de poucovalor. S podemos servir a Cristo de um modo eficaz na medida em que desfrutamosd'Ele. quando o corao se ocupa das Suas perfeies que as mos executam oservio que Lhe aceitvel; e ningum pode servir a Cristo com fervor, vigor, e poderpara os seus semelhantes se no estiver sendo alimentado de Cristo, no secreto da suaalma. Poder, certamente, pregar um sermo, orar, fazer um discurso, escrever uma

    obra, e cumprir toda a rotina de servio pblico, sem contudo servir a Cristo. Aquele quepretender apresentar Cristo aos outros deve ele prprio estar ocupado com Cristo.Feliz de todo aquele que assim exercer ministrio, seja qual for o sucesso ou a aceitaodo seu trabalho. Porque ainda que esse ministrio no desperte ateno, no exerainfluncia, ou no produza resultados aparentes, ele tem em Cristo o seu doce retiro euma parte certa que nada jamais lhe poder tirar. Ao passo que aquele que se alimentacom os frutos do seu ministrio, que sente prazer nos gozos que da advm, ou com aateno que inspira e o interesse que desperta, semelhante a uma simples mangueiraque fornece gua e fica s com ferrugem para si. deplorvel encontrar-se algum emcondies idnticas; e todavia esta a situao em que se encontra todo aquele que sepreocupa mais com a obra e seus resultados do que com o Mestre e a Sua glria.

    Este assunto exige o juzo mais severo. O corao enganoso, e o inimigo astuto; da,a grande necessidade de prestarmos ateno exortao, "Sede sbrios; vigiai." Equando a alma levada ao convencimento dos numerosos perigos que rodeiam o servode Cristo que pode compreender a necessidade que tem de estar muito tempo a ss comDeus: ali que se est seguro e feliz. quando comeamos, continuamos e acabamos anossa obra aos ps do Mestre que o nosso servio se torna verdadeiro.

    Horebe: O Exame Depois de Quarenta Anos de Escola no DesertoDepois de tudo que acabamos de dizer, evidente para o leitor que o ar que se respira"atrs do deserto" um ar muito saudvel para todo o servo de Cristo. Horebe overdadeiro ponto de partida para todos aqueles a quem Deus envia para trabalharem paraSi. Foi em Horebe que Moiss aprendeu a descalar os seus ps e a cobrir o seu rosto.Quarenta anos antes ele quisera encetar a sua obra; porm a sua atividade eraprematura. Foi na solido do monte de Deus, e do meio da sara ardente, que amensagem divina ressoou aos ouvidos do servo de Deus. "Vem agora, pois, e eu teenviarei a Fara, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito" (versculo 10).Nestas palavras havia verdadeira autoridade. Existe uma grande diferena entre ser-seenviado de Deus e correr sem ser enviado. Ora, evidente que Moiss no estava aptopara o servio quando ao princpio se disps a atuar. Se nada menos que quarenta anosde disciplina secreta eram precisos, como poderia ter feito a sua obra de outra maneira ?Era impossvel. Tinha de ser ensinado por Deus e enviado por Ele; e o mesmo deve sercom todos aqueles que tomam a carreira de servio e testemunho por Cristo. Oh! se estaslies fossem profundamente gravadas em nossos coraes, de modo que todas asnossas obras pudessem ter o selo da autoridade do Mestre e a Sua aprovao!Mas temos alguma coisa mais que aprender aos ps do Monte Horebe. A alma encontraprazer detendo-se neste lugar. " bom que estejamos aqui" (Mt 17:4). A presena deDeus sempre um lugar de profundo exerccio; onde o corao pode estar certo de serdescoberto. A luz que resplandece nesse lugar santo manifesta todas as coisas; e esta a nossa grande necessidade no meio das vs pretenses que nos rodeiam e do orgulho eda prpria satisfao que esto em ns.Poderamos pensar que, ao receber a incumbncia divina, a resposta de Moiss fosse:"eis-me aqui", ou, "que queres que eu f aa

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    tire do Egito os filhos de Israel?-" (versculo 11). Este procedimento em nada seassemelha ao homem que, quarenta anos antes, cuidava que os seus irmosentenderiam que Deus lhes havia de dar liberdade pela sua mo (At 7:25). Tal ohomem! Precipitado umas vezes, vagaroso outras. Moiss aprendera muito desde o diaem que matara o egpcio. Crescera no conhecimento de si prprio, e este conhecimentoproduzira modstia e timidez. Contudo no tinha, evidentemente, confiana em Deus. Se

    eu olhar para mim prprio, "nada" farei; mas se olhar para Cristo, "posso fazer todas ascoisas". Assim, quando a modstia e a timidez levaram Moiss a dizer: "Quem sou

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    respeito da sua semente. Como Jeov d-se a conhecer a Israel, na libertao do Egito econduzindo-o ao pas de Cana.Foi assim que Deus falou antigamente muitas vezes e de muitas maneiras aos pas pelosprofetas (Hb 1:1); e o crente, debaixo de atual dispensao, possuindo o Esprito deadoo, pode dizer: Aquele que assim se revelou, que assim falou, que assim agiu, meuPai.

    No h nada mais interessante ou praticamente mais importante no seu gnero do que oestudo destes grandes nomes que Deus toma nas diferentes dispensaes. Estes nomesso sempre empregados com conformidade moral com as circunstncias em que sorevelados; porm, com o nome "EU SOU" existe uma tal altura, uma largura, profundidadee comprimento que excedem todo o entendimento humano.E no se esquea que somente em ligao com o Seu povo que Deus toma este ttulo.No foi com esse nome que Se dirigiu a Fara. Quando fala com ele, toma o ttuloimportante e majestoso de "O Senhor, o Deus dos hebreus", que quer dizer, Deus emrelao com esse mesmo povo que Fara procurava esmagar. Isto deveria ter sido obastante para que o Fara compreendesse a sua terrvel posio diante de Deus. "EUSOU" no produzira ao ouvido incircunciso mais que um som ininteligvel e no

    comunicara realidade divina ao corao incrdulo. Quando Deus manifestado em carnefez ouvir aos judeus infiis do Seu tempo essas palavras, "antes que Abrao fosse, Eusou", eles pegaram em pedras para o apedrejar. S o verdadeiro crente pode, em algumamedida, experimentar e gozar o valor desse nome inefvel, "EU SOU". Um tal crente poderegozijar-se por ouvir dos lbios do bendito Senhor Jesus afirmaes como estas: "Eu souo po da vida"; "Eu sou a luz do mundo"; "Eu sou o bom pastor"; "Eu sou a ressurreio ea vida"; "Eu sou o caminho, a verdade e a vida"; "Eu sou a videira verdadeira"; "Eu sou oAlfa e o mega"; "Eu sou a resplandecente estrela da manh". Numa palavra, o Senhorpode tomar qualquer ttulo de excelncia e beleza divinas, e, tendo-o posto depois de "EUSOU", encontrai nele JESUS, admirai-0 e adorai-O.Assim, h doura, bem como compreenso, no nome "EU SOU" muito para alm dopoder de expresso. Todo o crente pode encontrar nele exatamente aquilo que convm sua necessidade espiritual, qualquer que ela seja. No h um s atalho tortuoso najornada do cristo, nem uma simples fase da experincia da sua alma, nem um pontosequer na sua situao que no seja divinamente satisfeito por este ttulo, pela razosimples que s tem que colocar qualquer coisa que ele necessite, pela f, ao lado dessettulo "EU SOU" para encontrar tudo em Jesus. Para o crente, portanto, por muito fraco evacilante que seja, esse nome encerra uma pura bem-aventurana.Mas embora fosse ao Seu povo eleito que Deus mandou Moiss dizer "EU SOU meenviou a vs", este nome, considerado em relao com os descrentes, encerra umsentido profundamente solene e uma grande realidade. Se algum que est ainda emseus pecados contempla, por um momento, este ttulo maravilhoso, no pode deixar deinterrogar-se: "Qual o meu estado em relao com este Ser que se chama a Si Mesmo"EU SOU O QUE SOU"? Se, de fato, verdade que ELE , ento o que Ele para mim?Que devo eu escrever defronte deste nome solene "EU SOU" ? No quero despojar estapergunta da sua solenidade tpica e poder com as minhas prprias palavras; mas oro paraque O Esprito de Deus a faa penetrar na conscincia de todo o leitor que realmentenecessite de ser esquadrinhado por ela.

    "Este meu Nome Eternamente"No posso terminar os meus comentrios sobre este captulo sem chamar a ateno doleitor crente, para a declarao profundamente interessante contida no versculo 15: "E

    disse Deus mais a Moiss: Assim dirs aos filhos de Israel: O SENHOR, O DEUS devossos pais, o Deus de Abrao, o Deus de Isaque; e o Deus de Jac, me enviou a vs:este meu nome eternamente, e este meu memorial de gerao em gerao." Esta

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    declarao encerra uma verdade muito importanteuma verdade que muitos crentesprofessos parece esqueceram, a saber: que a relao de Deus com Israel eterna. Ele tanto o Deus de Israel agora como o era quando os visitou na terra do Egito. Alm disso,Ele ocupa-Se com Israel agora tanto como ento, se bem que de um modo diferente. ASua Palavra clara e explcita: "este meu nome eternamente". No diz "este meunome por um tempo, tanto tempo quanto eles continuarem a ser o que devem ser". No;

    mas "este meu nome eternamente, e este meu memorial de gerao em gerao".Que o leitor pondere isto. "Deus no rejeitou o seu povo, que antes conheceu" (Rm 11:2).Obedientes ou desobedientes, unidos ou dispersos, manifestos perante as naes ouescondidos da sua vista, so ainda o Seu povo. So o Seu povo e o Senhor o seuDeus. A declarao do versculo 15 do captulo 3 de xodo irrefutvel. A igreja professano pode justificar-se de ignorar uma relao que Deus diz deve durar eternamente.Tenhamos cuidado como empregamos a palavra "eternamente". Se dissermos que nosignifica eternamente, quando aplicada a respeito de Israel, que provas temos de quequer dizer eternamente quando aplicada a nosso respeitou Deus quer dizer aquilo quediz; e em breve mostrar aos olhos de toda a terra que a Sua relao com Israel sobrevirtodas as resolues do tempo. "Porque os dons e avocao de Deus so sem

    arrependimento" (Rm 11:29). Quando o Senhor disse "este meu nome eternamente"falou em sentido absoluto. "EU SOU" declarou que o Deus de Israel para sempre, e osgentios sero obrigados a compreender esta verdade e a inclinarem-se perante ela, assimcomo a reconhecer que todos os desgnios providenciais de Deus a seu respeito bemcomo o seu prprio destino esto ligados de um modo ou de outro com esse povofavorecido e honrado, ainda que julgado e disperso agora. "Quando o Altssimo distribuaas heranas s naes, quando dividia os filhos de Ado uns dos outros, ps os termosdos povos, conforme o nmero dos filhos de Israel. Porque a poro do SENHOR o seupovo; Jac a parte da sua herana" (Dt 32:8-9). Isto deixou de ser verdade?- O Senhorperdeu a Sua "poro" e largou "a parte da sua herana"?- A Sua vista de terno amor jno est fixada sobre as tribos dispersas de Israel, h muito tempo perdidas para a visohumana? Os muros de Jerusalm j no esto perante Ele? Ou deixou o seu p de serprecioso aos Seus olhos? Para responder a estas interrogaes seria preciso citar umagrande parte do Velho Testemunho e uma parte no menor do Novo, mas este no olugar para examinar pormenorizadamente um tal assunto. Quero apenas dizer, emconcluso deste captulo, que a Cristandade no deve ser ignorante "Certo sim! estesegredo... que o endurecimento veio em parte sobre Israel, at que a plenitude dosgentios haja entrado. E, assim, todo o Israel ser salvo" (Rm 11:25-26).

    CAPTULO 4

    A PREPARAO DO SERVO

    As Objees de Moiss e os Meios de DeusDe novo devemos deter-nos por uns momentos ao p do monte Horebe, "detrs dodeserto" (um lugar sadio para a mente espiritual) para vermos manifestar-se de umamaneira extraordinria a incredulidade do homem e a graa ilimitada de Deus."Ento, respondeu Moiss e disse: Mas eis que me no crero, nem ouviro a minha voz,porque diro: SENHOR no te apareceu" (versculo 1). Como difcil vencer aincredulidade do corao do homem, e quo penoso para ele confiar em Deus! Como o

    ser humano vagaroso em confiar em Deus! Como tardo em se aventurar em qualquerempresa confiando somente nas promessas de Deus! Tudo bom para a natureza,menos isto. A cana mais fraca para os olhos humanos considerada pela natureza como

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    infinitamente mais slida, como base da sua confiana, do que a rocha invisvel dossculos (Is 26:4). A natureza precipitar-se- sem hesitao para qualquer auxlio humanoou cisterna rota, em vez de se alimentar da fonte das guas vivas (Jr 2:13,17:13).Ns havamos de pensar que Moiss tinha ouvido e visto o bastante para pr fim aosseus receios. O fogo consumidor na sara que se no consumia; a graa de Deus, comtoda a sua condescendncia; os ttulos preciosos de Deus; a misso divina; a certeza da

    presena de Deus; todas estas coisas deveriam ter afugentado todo o pensamento detemor e comunicado ao corao uma segurana firme. Contudo, Moiss continua a fazerperguntas, a que Deus continua a responder; e, como j frismos, cada nova perguntape em evidncia nova graa. "E o SENHOR disse-lhe: Que isso na tua mo? E eledisse: Uma vara" (versculo 2).O Senhor estava disposto a aceitar Moiss tal qual ele era e a servir-se do que ele tinhana mo. A vara, com a qual ele havia conduzido as ovelhas de seu sogro, ia ser usadapara libertar o Israel de Deus, para castigar o Egito, para abrir atravs do mar um caminhodo povo remido do Senhor, e para fazer brotar gua da rocha a fim de refrescar as hostessedentas de Israel no deserto. Deus serve-se dos instrumentos mais fracos para realizaros Seus planos mais gloriosos. "Uma vara"; um corno de carneiro (Js 6:5); "um po de

    cevada" (Jz 7:13); "uma botija de gua" (l Rs 19:6); "uma funda de pastor" (1 Sm 17:50);tudo, em suma, pode servir nas mos de Deus para cumprir a obra que Ele tem projetado.Os homens imaginam que no se pode chegar a grandes resultados seno por grandesmeios; porm no assim o mtodo de Deus. Ele tanto pode servir-se de "um bicho"como do sol abrasador; de "uma aboboreira" como de um vento calmoso (veja-se Jonas4).

    A VaraPorm Moiss tinha de aprender uma lio muito importante, tanto a respeito da varacomo da mo que devia us-la. Ele tinha que aprender, e o povo tinha de ser convencido."E Ele disse: Lana-a na terra. Ele a lanou na terra, e tornou-se em cobra; e Moiss fugiadela. Ento disse o Senhor a Moiss: Estende a tua mo e pega-lhe pela cauda.(Eestendeu a sua mo e pegou-lhe pela cauda, e tornou-se em vara na sua mo). Para quecreiam que te apareceu o SENHOR; Deus de seus pais, o Deus de Abrao, o Deus deIsaque e o Deus de Jac" (versculo 5). Trata-se de um sinal profundamente significante.A vara tornou-se serpente e Moiss fugia dela assustado; mas, segundo ordem doSenhor, pegou-lhe pela cauda e tornou-se numa vara. No h nada mais prprio do queesta figura para expressar a ideia do poder de Satans voltado contra si mesmo, e destefato encontramos numerosos exemplos nos meios que Deus usa; o prprio Moiss foi umexemplo notvel. A serpente est inteiramente debaixo do poder de Cristo, e logo quechegar ao fim da sua insensata carreira, ser lanada no lago de fogo, para ali receber osfrutos da sua obra por toda a eternidade:"... a antiga serpente, "o acusador" e adversrio(Ap 12:9-10) ser eternamente aterrado com a vara do ungido de Deus.

    A Mo Leprosa"E disse-lhe mais o SENHOR: Mete agora a mo no teu peito; E, tirando-a, eis que a suamo estava leprosa, branca como a neve. E disse: Torna a meter a tua mo no teu peito.E tornou a meter a sua mo no peito; depois tirou-a do peito; e eis que se tornara como asua outra carne" (versculos 6 a 7). A mo leprosa e a sua purificao representam oefeito moral do pecado e a maneira como o pecado foi tirado pela obra perfeita de Cristo.Posta no peito, a mo limpa tornou-se leprosa; e a mo leprosa, posta no peito, ficoulimpa. A lepra uma figura bem conhecida do pecado; e assim como o pecado entrou no

    mundo pelo primeiro homem do mesmo modo foi tirado pelo segundo. "Porque, assimcomo a morte veio por um homem, tambm a ressurreio dos mortos veio por umhomem" (I Co 15:21).

  • 7/31/2019 2- Notas Sobre o Pentateuco - xodo - C. H. Mackintosh

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    A degradao veio por um homem, e pelo homem a redeno; pelo homem veio a ofensae pelo homem o perdo; pelo homem veio o pecado e pelo homem a justia; a morte veioao mundo por um homem; por um homem, a morte foi abolida, e a vida, a justia e aglria foram introduzidas na terra. Assim, a serpente ser no s eternamente vencida econfundida, como todos os vestgios da sua obra abominvel sero apagados edestrudos e destrudos por meio do sacrifcio expiatrio d Aquele que Se "manifestou

    para desfazer as obras do diabo" (1 Jo 3:8).

    As guas Transformadas em Sangue"E acontecer que, se eles te no crerem, nem ouvirem a voz do primeiro sinal, crero avoz do derradeiro sinal; e, se acontecer que ainda no creiam a estes dois sinais, nemouam a tua voz, tomars das guas do rio e as derramars na terra seca; e as guas,que tomars do rio, tornar-se-o em sangue sobre a terra seca" (versculos 8 a 9).Esta uma figura solene e mui expressiva da consequncia de uma recusa em submeter-se ao testemunho divino. Este sinal s devia ser executado caso eles recusassem osoutros dois. Em primeiro plano, se tratava de um sinal para Israel, e depois de uma pragapara o Egito.

    A Falta de EloqunciaCom tudo isto o corao de Moiss no se deu por satisfeito."Ento, disse Moiss ao SENHOR.- Ah! Senhor! Eu no sou homem eloquente, nem deontem, nem de anteontem, nem ainda desde que tens falado ao teu servo; porque soupesado de boca e pesado de lngua" (versculo 10). Que terrvel lentido! Nada seno apacincia infinita do Senhor poderia suport-la. Evidentemente, quando Deus lhe disse,"certamente eu serei contigo" dava-lhe a garantia infalvel de que nada lhe faltaria de tudoque fosse necessrio. Se fosse necessrio uma lngua eloquente, que devia Moiss fazerseno entregar o caso Aquele que lhe havia dito "EU SOU" 4 Eloquncia, sabedoria,poder, energia, estavam encerrados nesse tesouro inesgotvel."E disse-lhe o SENHOR: Quem fez boca do homem"?- Ou quem fez o mudo, ou o surdo,ou o que v, ou o cego?- No sou eu, o SENHOR ?-Vai, pois, agora, e eu serei com a tuaboca e te ensinarei o que hs de falar" (versculos 11 a 12). Graa profunda, adorvel eincomparvel! Como prpria de Deus! No h ningum que seja como o Senhor, nossoDeus, cuja graa paciente supera todas as nossas dificuldades e suficientementeabundante para todas as nossas necessidades e fraquezas. "EU O SENHOR" deveriafazer cessar para sempre todos os argumentos dos nossos coraes carnais. Mas, ah! oraciocnio difcil de derribar, e levanta-se de novo perturbando a nossa paz edesonrando Aquele bendito Senhor que Se apresenta s nossas almas em toda aplenitude da Sua graa, a fim de que sejamos cheios dela, segundo as nossasnecessidades. bom recordarmo-nos que, quando temos o Senhor conosco, as nossas deficincias efraquezas so uma ocasio para que Ele manifeste a Sua graa e infinita pacincia. SeMoiss tivesse recordado isto, a sua falta de eloquncia no o teria perturbado. Oapstolo Paulo aprendeu a dizer: "De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhasfraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nasfraquezas, nas injrias, nas necessidades, nas perseguies, nas angstias, por amor deCristo. Porque, quando estou fraco, ento, sou forte" (2 Co 12:9-10). Esta , sem dvida,a linguagem de um que chegou a um alto grau na escola de Cristo. a exper