(2) folha de são paulo - globalização - caderno especial

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  • 8/17/2019 (2) Folha de São Paulo - Globalização - Caderno Especial

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    São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997.

    Globalização diminui as distâncias e lança o mundo na era da incerteza

    “Ao mesmo tempo que o capital tende, por um lado, necessariamente, a destruir todas as barreiras espaciais opostas ao tráego, isto !, ao interc"mbio, e a conquistar aterra inteira como um mercado, ele tende, por outro lado, a anular o espa#o por meio detempo, isto !, a redu$ir a um m%nimo o tempo tomado pelo movimento de um lugar aooutro.& '(arl )ar*, in +)anuscrits de 1-71- /rundrisse0

    345S 6SS5do onsel8o ditorial

    A not%cia do assassinato do presidente norteamericano Abra8am incoln, em 1:-,levou 1; dias para cru$ar o Atl"ntico e c8egar < uropa.

    A queda da bolsa de valores de =ong (ong, na semana passada, levou 1; segundos para cair como um raio sobre São Paulo e >?quio, @ova orB e >el Aviv, Cuenos Aires eDranBurt. is, ao vivo e em cores, a globali$a#ão. @ão como enEmeno te?rico, que Fá produ$iu um pun8ado de livros, +papers+, ensaios e muita incompreensão. )as como umato da vida real.

    +A globali$a#ão não ! apenas palavra da moda, mas a s%ntese das transorma#Ges

    radicais pelas quais vem passando a economia mundial desde o in%cio dos anos H+,resume o economista duardo /ianetti da Donseca, da Iniversidade de São Paulo. Jnico e*agero nessa descri#ão sumária ! o de tomála como +palavra da moda+

    indiscriminadamente. Pesquisa Kataol8a, eita em maio, mostra que -7L dos brasileiros Famais ouviram alar na +palavra da moda+. )esmo entre os entrevistados com n%vel deescolaridade superior, 1ML ignoram o termo.

     @ão importa. la não pede licen#a para aetar os que sabem do que se trata e os quenem sequer ouviram mencionar a +palavra da moda+, como tenta mostrar este cadernoespecial. Aeta o presidente da 6epJblica, Dernando =enrique ardoso. m entrevistae*clusiva, o presidente admite que o enEmeno +limita eetivamente o "mbito de a#ão dosstados nacionais+. u seFa, limita o seu pr?prio poder de impor pol%ticas.

    A semana que está terminando ! um e*emplo deinitivoN o governo brasileiro vin8aredu$indo a ta*a interna de Furos gradativamente e não via motivo algum para nãocontinuar a a$Olo.

    At! que a queda da bolsa de =ong (ong mudou tudo e obrigou a equipe econEmicaa duplicar a ta*a de Furos, com todo o corteFo negativo de eeitos que produ$. @ão porque ten8a mudado o quadro interno. o eeito da globali$a#ão, ou seFa, dainterdependOncia crescente entre pa%ses e mercados.

    )as a globali$a#ão aeta igualmente os -7L que, ao contrário de D=, não sabemdo que se trata.

    Kesde 19:H, os pobres, para os quais globali$a#ão não ! +palavra da moda+, icarammais longe, muito mais longe, dos ricosN os 2HL mais ricos do planeta tin8am, em 199M,uma renda 7 ve$es superior < dos 2HL mais pobres.

    m 19:H, a dieren#a Fá era grande, mas ininitamente menor ';H ve$es0.A globali$a#ão atinge diretamente mesmo aqueles que se globali$aram, mas não tOm

    necessariamente consciOncia do enEmeno. *emploN o Fogador de utebol 6onaldin8o.

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    Im dos anJncios que ele protagoni$a oi criado por uma agOncia norteamericana, para vender no Crasil os produtos da multinacional tamb!m norteamericana @iBe, masabricados em pa%ses da Qsia, como 4ietnã ou 5ndon!sia.

    A globali$a#ão não ! apenas, talve$ nem principalmente, econEmica. tamb!mcultural, o que inclui desde a inorma#ão instantaneamente globali$ada at! o predom%nio

    do inglOs, o idioma da globali$a#ão. )esmo no Crasil, muitas loFas Fá não a$emliquida#Ges, mas +sale+ ou +o+, palavras que signiicam mais ou menos a mesma coisa,mas em inglOs.

    Se a @@ 'able @eRs @etRorB0, a rede global de >4, deu o pontap! inicial <inorma#ão em escala planetária, ! a 5nternet, a rede de computadores, que tece, dia ap?sdia, v%nculos crescentes entre os que estão nela plugados.

    >ece para o bem ou para o mal. São sistemas semel8antes < 5nternet que permitem acada bolsa de valores saber no mesmo momento o que ocorre nas outras bolsas, por remotas que seFam. Permitem, por e*tensão, esteFar ou c8orar, conorme os gráicos decota#Ges apontem para cima ou para bai*o.

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    Mercado arrisca a sorte num jogo perdas fatais

    S P5@>do onsel8o ditorial

    uracão inanceiro que veio da Qsia, passou pela uropa, stados Inidos ec8egou ao Crasil, teve pelo menos uma vantagem didática. @ingu!m pode mais alegar quenunca ouviu alar da globali$a#ão inanceira.

    At! 8á poucos meses, ! provável que poucos soubessem onde icava a >ail"ndia ou=ong (ong. =oFe muita gente sabe que um resriado nesses lugares pode virar uma gripe por aqui. specialmente se i$er uma escala em @ova orB.

    *istem várias dimensGes da globali$a#ão inanceira. A rigor, no mundo que e*istiaentre 17H e 192H o lu*o mundial de capitais privados era muito maior, em termosrelativos, do que ! 8oFe.

    )edindo o taman8o da absor#ão pelos pa%ses dos capitais e*ternos pelo taman8o deseu d!icit e*terno em conta corrente, a m!dia do per%odo oi de ;,;L do P5C, enquanto a

    m!dia nos anos 9H está em 2,:L.Se os lu*os privados de capitais eram mais e*pressivos em termos relativos, eles

    espantam, 8oFe, em termos absolutos. Apenas o lu*o l%quido para os pa%ses emergentes,entre 9H e 9:, somou IS 1,2 tril8ão. 4ários atores a$em com que o impacto dessamassa gigantesca de capitais que percorre o mundo 8oFe seFa tão e*pressivo.

     @ão 8á dJvida de que o mercado inanceiro internacional tem um poder impressionante. Pela combina#ão de dois atoresN a desregulamenta#ão dos anos H e oe*traordinário avan#o tecnol?gico nas comunica#Ges.

    At! 8á pouco mais de uma d!cada, muitos pa%ses mantin8am estritos controlessobre o movimento de capitais. S? nesta d!cada, por e*emplo, Dran#a e 5tália eliminaramas Jltimas restri#Ges ao lu*o de din8eiro, por or#a do acordo da Inião urop!ia.

    Acabaramse os controles sobre movimenta#ão de capital, ao mesmo tempo em quemudou a ace do mercado inanceiro. A 8egemonia dos bancos, como geradores deempr!stimos, acabou. Kecolou o mercado de t%tulos, emitidos por institui#Ges inanceirase empresas.

    >%tulos comprados por mil8Ges de investidores ao redor do mundo, especialmente por meio de undos de pensão e undos de investimento, que tiveram um crescimentovertiginoso. les lidam, 8oFe, com uma espantosa massa de IS 2H tril8Ges. ada ve$ queesses investidores institucionais mudam de id!ia sobre onde colocar 1L de sua carteira,IS 2HH bil8Ges mudam de lugar. bastante para provocar terremotos.

    avan#o das comunica#Ges e a liberdade de lu*os de capitais uniram os mercados.=oFe, muitas institui#Ges inanceiras operam 2M 8oras por dia. Abrem o dia na Qsia,

    come#am a operar na uropa quando os asiáticos vão Fantar e abrem os neg?cios nomercado americano quando os europeus estão terminando os seus.Por essa ra$ão, qualquer c8oque sobre o mercado tende a se propagar sem paradas.

    que se viu nas Jltimas semanas oi um e*emplo e*pressivo de um leg%timo c8oqueglobal. Im terremoto na Qsia abalando a uropa, a Am!rica atina e os stados Inidos, para voltar < Qsia no dia seguinte. u mudando de sinal a partir de uma recupera#ãoamericana, propagada para a Qsia, a uropa e a Am!rica atina.

    outro componente que torna o mercado inanceiro internacional assustador ! otaman8o do din8eiro mobili$ável. specialmente por meio dos +derivativos+.

    Im derivativo, como di$ o nome, ! uma negocia#ão derivada de alguma outra. @egociase no mercado uturo 'de moedas, de Furos, de %ndices etc.0 uma opera#ãoinanceira de compra ou venda que tem como reerOncia a varia#ão do pre#o de um ativo.

    A inten#ão, via de regra, ! protegerse no mercado uturo contra a varia#ão no valor de numa opera#ão real. mercado ! alimentado tamb!m, contudo, por especuladores quesimplesmente apostam que certos pre#os irão em certa dire#ão.

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    >omemos um e*emplo no mercado de c"mbio, mas que poderia ser aplicado aoutras áreas, como Furos. Supon8a que uma empresa americana terá muita receita come*porta#Ges para a Aleman8a, em marcos. interesse da empresa ! apresentar bonsresultados em d?lares, para seus acionistas americanos. Se o marco se valori$ar emrela#ão ao d?lar, as receitas de e*porta#Ges vão encol8er quando medidas em d?lares.

    Para se proteger, essa empresa pode comprar no mercado uturo um contrato emmarcos no valor de sua receita utura. Se, at! o vencimento, o marco se valori$ar, o preFu%$o com a receita de e*porta#ão será compensado com o lucro da opera#ãoinanceira no mercado uturo, ou viceversa.

    Agora supon8a que e*iste uma empresa alemã na situa#ão oposta, cuFo receio ! ode uma valori$a#ão do d?lar em rela#ão ao marco. 5magine que o valor do contrato !equivalente ao da empresa americana. As duas empresas poderiam a$er uma +troca+, um+sRap+ no mercado uturo, de tal orma que uma pagaria < outra apenas a dieren#areerente < valori$a#ão ou desvalori$a#ão de uma moeda em rela#ão < outra.

    Ima terceira orma de qualquer das duas empresas se proteger seria adquirir umaop#ão de compra no uturo da moeda em que vai receber sua e*porta#ão. Se a moeda sevalori$ar, a empresa e*erce a op#ão e reali$a o lucro inanceiro que compensa a perda

    com a receita da e*porta#ão. Se a moeda não se valori$ar, tudo o que a empresa perde ! o prOmio que pagou para comprar a op#ão.

    s trOs casos tOm duas coisas em comum. m todos eles, o desembolso e o custo !apenas uma ra#ão do valor nominal da opera#ão. Al!m disso, sempre tem algu!m dooutro lado apostando na dire#ão oposta.

    ste algu!m pode ser outra empresa, como no e*emplo de +sRap+ acima, mas podeser tamb!m um especulador, algu!m que simplesmente aposta que uma moeda vai numacerta dire#ão e quer gan8ar din8eiro com isso. especulador ! essencial para dar liquide$ao mercado, mas gan8ou, com os derivativos, um poder gigantesco de alavancagem emsuas apostas.

    Tuando somase a inquieta#ão de empresas indo ao mercado uturo tentando se

     proteger contra a desvalori$a#ão de uma moeda, com o apetite dos especuladores emapostar contra essa moeda, c8egase a um ataque especulativo. om uma ra#ão do valor dos contratos, podese montar posi#Ges de bil8Ges contra uma certa moeda.

    A dimensão adquirida pelo mercado de derivativos ! espantosa. =á de$ anos omercado era irrelevante. @o ano passado, os derivativos somaram IS ;- tril8Ges,segundos dados do Canco para ompensa#Ges 5nternacionais, o C5S. Kesse total, IS9,9 tril8Ges oram negociados nas várias bolsas de uturos ao redor do mundo, e IS 2M,;tril8Ges, no mercado de balcão, ou seFa, em opera#Ges eitas diretamente entreinteressados no mercado.

    s IS ;- tril8Ges, ou quase seis ve$es o valor do P5C americano, são o valor dereerOncia das opera#Ges. risco envolvido ! menor, Fá que elas são acertadas por 

    margens, como oi e*plicado.Alguns economistas saJdam a e*plosão dos derivativos como uma redu#ão, não umaumento do risco. omo grande parte das opera#Ges vem do deseFo de não correr riscos'de varia#ão de uma moeda, das ta*as de Furos etc.0, o salto nos derivativos apenasreletiria uma cautela saudável rente < internacionali$a#ão dos neg?cios.

    As autoridades, inclusive o C5S, estão muito mais preocupadas. ssas opera#Gesnão são contabili$adas nos balan#os dos bancos, nem sempre seus riscos são entendidos por quem opera e, se algu!m quebrar no meio do camin8o, pode gerar uma cadeiaassustadora de perdas.

    s derivativos são uma das aces da globali$a#ão inanceira, mas o salto nasopera#Ges internacionais ! geral.

    estoque das opera#Ges internacionais dos bancos soma 8oFe IS ,2 tril8Ges

     brutos, ou IS :,9 tril8Ges l%quidos, segundo o C5S. estoque de pap!is internacionaisc8ega a IS ;,2 tril8Ges l%quidos e não pára de crescerN a emissão anual pulou de IS29M bil8Ges em 91 para IS -MH bil8Ges no ano passado.

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    sta montan8a de pap!is e mil8Ges de investidores são capa$es de reagir, emquestão de segundos, a boas e más not%cias. s derivativos permitem alavancar apostas bilionárias, com um pequeno desembolso de din8eiro. u nem isso. Podese tomar emprestado o din8eiro necessário para pagar a margem da opera#ão no mercado uturo.

    Doi isso que aconteceu com os pa%ses asiáticos, come#ando na >ail"ndia. @o inal,

    quem apostou contra os governos gan8ou muito din8eiro, porque a desvalori$a#ãoaconteceu, pa%s ap?s pa%s. speculadores como o 8Jngaronovaiorquino /eorge Soros,contudo, s? entram no Fogo de apostar contra uma moeda quando ac8am que e*istemc8ances enormes de gan8ar.

    Tuando empresas e bancos tentam se cobrir no mercado uturo, por medo de umadesvalori$a#ão, e os especuladores sentem o c8eiro de sangue, vão para o bote inal. que as pessoas esquecem ! que algu!m tem que estar na outra ponta, vendendo d?laresem troca de moeda local, para que o especulador lucre. sse algu!m, a certa altura, acabasendo apenas o banco central local.

    A globali$a#ão dos mercados inanceiros torna esses movimentos rápidos, violentose mortais. Ima inconsistOncia macroeconEmica que, 8á duas d!cadas, poderia se arrastar  por muitos anos e provocar uma lenta 8emorragia, 8oFe pode levar um pa%s < lona em

    questão de semanas. )esmo que esse pa%s seFa o +darling+ dos bancos internacionais,como era o )!*ico em 9M, ou um +milagreiro asiático+, como era a >ail"ndia.

    risco da globali$a#ão inanceira e*iste e a multiplica#ão do volume de pap!isinanceiros em rela#ão < produ#ão real pode acabar, como prevO o deputado Kelim @etto, +numa enorme ogueira+. pr?prio Soros, aliás, ! um dos cr%ticos desta e*plosãoinanceira.

    *iste, contudo, uma l?gica no movimento de capitais. Im princ%pio continuaválidoN para pa%ses que mantOm pol%ticas econEmicas consistentes, a globali$a#ãoinanceira pode ser mais uma oportunidade do que um risco.

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    Teóricos dividem-se entre céticos e eufóricos

    do onsel8o ditorial

    que !, ainal das contas, globali$a#ãoU omo em qualquer assunto em que entre aquestão econEmica, essa pergunta vai encontrar 11 respostas dierentes, se oremconsultados 1H economistas.

    A e*plica#ão talve$ mais didática está no teorema do economista duardo /ianettida DonsecaN

    + enEmeno da globali$a#ão resulta da conFun#ão de trOs or#as poderosasN10 a terceira revolu#ão tecnol?gica 'tecnologias ligadas < busca, processamento,

    diusão e transmissão de inorma#GesV inteligOncia artiicialV engen8aria gen!tica0V20 a orma#ão de áreas de livre com!rcio e blocos econEmicos integrados 'como o

    )ercosul, a Inião urop!ia e o @ata0V;0 a crescente interliga#ão e interdependOncia dos mercados %sicos e inanceiros, em

    escala planetária+.

    Kiscorda o Fornal rancOs +e )onde+, em recente dossiO sobre a +mundiali$a#ão+,como os ranceses insistem em c8amar a globali$a#ão.

    embra, primeiro, que +o com!rcio entre na#Ges ! vel8o como o mundo, ostransportes intercontinentais rápidos e*istem 8á vários decOnios, as empresasmultinacionais prosperam Fá a$ meio s!culo, os movimentos de capitais não são umainven#ão dos anos 9H, assim como a televisão, os sat!lites, a inormática+.

    que +e )onde+ c8ama de +novidade+ ! +a desapari#ão do Jnico grande sistemaque concorria com o capitalismo liberal em escala planetária, ou seFa, o comunismosovi!tico+.

    A%, sim, ec8ase o ciclo, porque o im do comunismo permite globali$ar de ato ocapitalismo, com todas as implica#Ges decorrentesN aumento no lu*o de com!rcio, de

    inorma#Ges e de e*pansão das empresas multinacionais para mercados antes ec8ados.>udo somado, temse que a +a mundiali$a#ão ! bem mais que uma ase suplementar no processo de internacionali$a#ão do capital industrial em curso desde a$ mais de ums!culo+, como escreve, para este caderno, o especialista rancOs Dran#ois 8esnais.

    8esnais preere ao que c8ama +termo vago+ '+mundiali$a#ão+0 deinir esseenEmeno como +regime mundiali$ado de domina#ão inanceira+.

    >em certa ra$ãoN a globali$a#ão ainda !, acima de tudo, um enEmeno inanceiro.A crise das bolsas ! uma provaN a um simples toque de computador, bil8Ges de

    d?lares se evaporam em =ong (ong e reaparecem em @ova orB, por e*emplo.)as ! preciso bem mais do que isso para tirar uma ábrica da Aleman8a e instalála

    no Crasil, por e*emplo.

    por tudo isso que o especialista brit"nico Ant8onW )c/reR 'Iniversidade Abertado 6eino Inido0 lista trOs tendOncias nos analistas da globali$a#ão, a saberN10 os +8iperglobali$antes+, os que ac8am que a globali$a#ão deine +uma nova

    !poca+ na 8ist?ria da 8umanidade, em que +as tradicionais na#Gesstado tornaramsenãonaturais, at! mesmo unidades de neg?cio imposs%veis em uma economia global+. ocaso do FaponOs (enic8i 8maeV

    20 os c!ticos. São os que entendem que os lu*os atuais de com!rcio, investimentoe mãodeobra não são superiores aos do s!culo passadoV

    ;0 os +transormalistas+. >Om uma visão intermediária. Admitem que os processoscontempor"neos de globali$a#ão não tOm precedentes, mas ac8am que resta um papel para os governos nessa 8ist?ria, desde que se adaptem a um mundo em que Fá não 8á umadistin#ão clara entre assuntos dom!sticos e internacionais.

    Apontam, ainda, um novo padrão de inclusão e e*clusão social na economiaglobali$ada.

    At! os nEmades

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     @o undo, acaba sendo indierente qual o r?tulo que se preira. As mudan#as provocadas pela globali$a#ão não poupam nem sequer os personagens em tese maisindependentes.

    >omese o caso dos bedu%nos da Arábia Saudita. São nEmades, o que, por deini#ão,quer di$er independentes, isolados do mundo. Da$em seu pr?prio estilo de vida, imutável

    8á s!culos.ra imutável. custo de sustentar seus camelos, meio de transporte e de vida para todos eles, no

    trabal8o de pastoreio, tornouse insuportável. Fá não conseguem enrentar aconcorrOncia oerecida pelas ovel8as importadas '< ra$ão de 12 mil8Ges ao ano0 delugares tão distantes como o Iruguai ou a @ova Xel"ndia.

    Se os nEmades puderam produ$ir um s%mbolo, aRrence da Arábia, como emblemado mundo pr!globali$a#ão, o mundo contempor"neo !, ao contrário, uma cacoonia des%mbolos acilmente recon8ec%veis, em qualquer lugar em que se esteFa, da ocaola <>oWota, da @iBe ao )cKonaldYs.

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    Tecnologia reduz o tamanho do mundo

    )A65A 655Ado Iniverso nline

    mundo nunca oi tão pequeno e s? encol8eu tanto por causa da tecnologia. AindJstria da telecomunica#ão vive uma e*plosão sem precedentes, somada ao barateamento e < populari$a#ão da inormática. Paralelamente, come#a a se esbo#ar umaconvergOncia entre a inraestrutura de comunica#ão e a indJstria da m%dia, < medida queambas se digitali$am. essa conFun#ão que torna poss%vel um mundo globali$ado nosmoldes de 8oFe.

    +Zá tivemos um mundo articulado em termos globais na segunda metade do s!culo19, com a 8egemonia citW londrina, que articulava as outras bolsas e as dominava. sse per%odo oi at! o YcracBY de 29+, airma )árcio [o8lers, proessor do 5nstituto deconomia da Inicamp e especialista em economia das telecomunica#Ges. +@os anos 7H,com a crise do petr?leo, iniciase o c8amado +big bang+ inglOs, um processo de

    desregulamenta#ão inanceira que possibilitou uma nova emergOncia do capital inanceirointernacional. sse +big bang+ oi causa e eeito de novas tecnologias de comunica#ão.+

    Para [o8lers, o sistema inanceiro 8oFe !, sob certos aspectos, muito maisresistente, devido < telemática. +A possibilidade de ter inorma#ão rápida redu$ aincerte$a+, di$.

    )as a acelera#ão da inorma#ão acaba gerando novos problemas. +Por outro lado,o que aconteceu nas bolsas no Jltimo dia 29 demonstra que a comunica#ão on line a partir de um certo momento pode acabar acelerando a propaga#ão de crises regionali$adas. Zánão se corre o risco de as inorma#Ges c8egarem tarde demais, mas por outro lado a possibilidade de contágio psicol?gico ! muito maior. ec8amento de pregGes oi quaseuma constata#ão de irracionalidade. @ão adianta um mundo de inorma#ão, porque o

    sistema de tomada de decisão está incapacitado. @ão ! verdade que mais inorma#ãosigniica mais racionalidade.+Para arlos Alberto Primo Craga, economistac8ee da divisão de telecomunica#Ges

    e inormática do Canco )undial, a globali$a#ão depende do barateamento dastelecomunica#Ges e da redu#ão da import"ncia da locali$a#ão geográica.

    +sse processo que c8amamos de globali$a#ão, que se acelerou nos anos H, não pode ser redu$ido < comerciali$a#ão cada ve$ maior de produtos no mercadointernacional. Se tomarmos a e*porta#ão\importa#ão de um pa%s e dividirmos pelo P5C,veremos que esse par"metro está aumentando. )as isso tamb!m ocorria no s!culo 19,com a economia colonial. u diria que as dieren#as 8oFe estão na despencada nos custosde telecomunica#ão e na enorme acilita#ão do acesso < inorma#ão, em qualquer lugar 

    onde se esteFa.+A +despencada+ de que ala Primo Craga não ! or#a de e*pressão. ntre a d!cadade MH e a de 7H, o pre#o de uma c8amada teleEnica internacional caiu mais de HL.ntre 7H e 9H, mais de 9HL 'dados do 6elat?rio de Kesenvolvimento =umano da @I,19970. omo resultado, nos anos H, o tráego de telecomunica#Ges aumentou 2HL aoano.

    A queda nos pre#os seria ainda maior se as empresas teleEnicas tivessem repassado para o consumidor a redu#ão de custos que vOm tendo.

    Ke acordo com dados do Canco )undial, o custo de transmissão de vo$ caiu de$mil ve$es nos Jltimos 2H anos, gra#as ao avan#o das ibras ?ticas, da eletrEnica e dacomunica#ão sem io.

    A teleonia m?vel de alcance mundial, s%mbolo da integra#ão global, que utili$ará

    sistemas de sat!lite como o 5ridium, deve estar uncionando em setembro de 9.)as o mundo não icou pequeno para todos. Apesar de uma comple*a rede de

    cabos e sat!lites estar perto de abra#ar completamente o globo, as telecomunica#Ges aindasão um privil!gio de poucos.

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    Segundo as Jltimas estat%sticas 'Inião 5nternacional das >elecomunica#Ges, 199:0,e*istem cerca de 7M- mil8Ges de teleones para uma popula#ão mundial de -,: bil8Ges de pessoas. Ke acordo com dados da rgani$a#ão )undial do om!rcio, grande parte daQrica tem menos de uma lin8a para cada 1HH 8abitantes. s mercados mais saturados,com mais de 2- lin8as para cada 1HH 8abitantes, estão na Am!rica do @orte, uropa e

    ceania.+ a c8amada ei de Zipp+, airma [o8lers. +A inraestrutura de telecomunica#Gessempre acompan8a o P5C per capita. >alve$ dentro de um programa desenvolvimentista atelemática possa incentivar o crescimento econEmico. )as não substitui outras inraestruturas.+

    Apesar desse monstruoso abismo geopol%tico, muitos analistas permanecemotimistas. Simon Dorge, consultor da empresa norteamericana ambridge Strategic)anagement onsultants, ! autor de um estudo segundo o qual os pre#os de servi#os detelecomunica#ão devem se apro*imar de $ero no ano de 2HH-.

    Segundo ele, trOs atores vão derrubar ainda mais os custos de telecomunica#ãoNavan#os t!cnicos que redu$em o custo da inraestrutura, o e*cesso de capacidade detransmissão internacional que acaba transbordando para liga#Ges de longa dist"ncia

    nacionais e a desregulamenta#ão e erosão das margens de lucro.A queda dos monop?lios de comunica#ão e a revisão dos acordos tariários

    internacionais devem redu$ir rapidamente as alt%ssimas margens de lucro das empresasteleEnicas.

    Ima plano divulgado pelo D 'Dederal ommunications ommission dos IA0no Jltimo dia 7 de agosto aponta na dire#ão das previsGes de Dorge.

    ?rgão quer redu$ir drasticamente os valores pagos pelos IA a operadoras deoutros pa%ses para que liga#Ges internacionais seFam completadas. As liga#Gesinternacionais terão uma redu#ão dos atuais IS H, para IS H,2H por minuto. ?rgão pretende i*ar a taria má*ima imposta eleBom 'Aleman8a0,estão a$endo e*periOncias com liga#Ges teleEnicas via 5nternet, a pre#os praticamente deliga#ão local.

    +stá ocorrendo 8oFe a morte da locali$a#ão geográica+, airma. +=ouve um grandegan8o de produtividade na indJstria de servi#os responsável por 7HL do P5C dos pa%sesindustriali$ados 8oFe. As telecomunica#Ges permitem que as empresas terceiri$em un#Gese se concentrem na sua vantagem competitiva.+

    barateamento das comunica#Ges empresariais ! um elemento crucial daglobali$a#ão na esera produtiva.

    Segundo )árcio [o8lers, quando as empresas come#aram a se comunicar por redes de computador interligadas por lin8a teleEnica, tiveram um grande gan8o de produtividade. +As grandes empresas adicionaram, com a comunica#ão ágil e barata, umavantagem competitiva decisiva e gan8aram mais poder.+

    A convergOncia entre as indJstrias de inormática, teleonia e m%dia transormamtanto o mercado de inorma#ão quanto o de comunica#ão. +Se colocarmos no alto de um

    tri"ngulo a indJstria cultural, < esquerda a indJstria de inormática e < direitatelecomunica#Ges, uma empresa 8ipot!tica no centro do tri"ngulo representaria aconvergOncia entre elas+, di$ [o8lers.

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    +)as cada setor tem uma l?gica de competitividade dierente. A l?gica da m%dia ! ado direito autoral. A do sotRare ! a da produ#ão de massa. Dinalmente, astelecomunica#Ges tOm o racioc%nio do monop?lio. Por isso muitas das grandes usGesracassaram. Aquela id!ia de que a empresa deve se manter no seu neg?cio principal at!agora continua valendo.+

    mbora as empresas não ten8am c8egado a ac8ar um camin8o para a convergOncia,a inraestrutura se apro*ima dela. At! pouco tempo 8avia uma distin#ão clara entre redesde teleonia, de dados e de +broadcast+ '>4 e rádio0.

    A tendOncia ! que telecomunica#Ges, diusão de rádio e >4 e transmissão de dados passem a circular indierentemente por ibras ?ticas e sat!lites. Apesar das barreiras pol%ticas e econEmicas < integra#ão das comunica#Ges, do ponto de vista tecnol?gico osavan#os nunca oram tão rápidos. Apontam para uma comunica#ão mais ub%qua, rápida e barata.

    1H

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    ovo capitalismo intensifica velhas formas de e!ploração

    da 6eda#ão

    economista rancOs Dran#ois 8esnais, um dos principais te?ricos da gOnese e doseeitos da globali$a#ão, ! tamb!m um de seus maiores cr%ticos. A convite da Dol8a,8esnais respondeu para esta edi#ão algumas das questGes que permitem compreender como unciona a globali$a#ão e suas consequOncias.

    1. que distingue a globali$a#ão das ases anteriores do capitalismo, como oimperialismo do s!culo 19U

    A mundiali$a#ão '10 ! bem mais que uma ase suplementar do processo deinternacionali$a#ão do capital industrial, desencadeada 8á mais de um s!culo. stamosdiante de um novo modo de uncionamento sistOmico do capitalismo mundial ou, emoutros termos, de uma nova modalidade de regime de acumula#ão. Por trás do termovago de +mundiali$a#ão+ encontrase um novo regime de acumula#ão, ao qual dou onome de +regime mundiali$ado sob !gide inanceira+. s tra#os caracter%sticos deste

    regime podem ser deinidos por contraste com o modelo de acumula#ão +ordista+, que prevaleceu durante os +;H anos gloriosos+ 'do inal dos anos MH ao im dos anos 7H0, ecom o modelo imperialista +clássico+ que dominou at! a crise de 1929.

    ordismo caracteri$avase pelas ta*as de investimento suicientemente elevadas,capa$es de manter empregada toda a mãodeobra dispon%vel '+assegurar o plenoemprego+0, com ocasionais recursos at! mesmo < imigra#ão. Ima ve$ que se tratava deum regime de acumula#ão essencialmente voltado para a e*tensão da produ#ão de valor ede maisvalia, e logo de rique$a 'ao passo que o regime atual preocupase antes com aapropria#ão de rique$a e privilegia as atividades especulativas baseadas em posi#Ges nosmercados imobiliário, inanceiro e de transa#Ges comerciais0, ele oi capa$ de tolerar, aomenos nos pa%ses capitalistas centrais, a partil8a parcial dos gan8os de produtividade com

    as camadas assalariadas, bem como de suportar as despesas reerentes ao stado de bemestar social, o +[elare State+. @esses pa%ses, o regime ordista permitiu durante ;H anos uma eleva#ão geral do

    n%vel de vida das grandes massas. ] dieren#a ainda do regime de acumula#ão atual, oregime ordista tendia < inclusão e não < e*clusão, do mesmo modo que, no planointernacional, tendia < integra#ão e não < marginali$a#ão. )esmo ora de seu "mbitogeográico original, os grandes grupos industriais dos pa%ses centrais acomodaramse <implementa#ão de pol%ticas de substitui#ão de importa#Ges, e assim geraram novascapacidades produtivas, por mais que ten8am igualmente contribu%do para a perpetua#ãoda dependOncia tecnol?gica. *pandiram a massa de assalariados industriais e toleraramsem grandes diiculdades o +desenvolvimentismo+ do tipo brasileiro.

    Kois atores principais estiveram na origem da crise do regime ordista, ambosligados ao sucesso da acumula#ão e 8atc8er e do monetarismo triunante, consolidase o atual regime de acumula#ão.

    2. Tue papel desempen8a o capital inanceiro nesse processoU

    regime de acumula#ão mundiali$ado sob !gide inanceira vive, muito mais do queem 191M ou 1929, < sombra de um capital inanceiro altamente concentrado. Amundiali$a#ão inanceira tornou a ser ao menos tão importante quanto a mundiali$a#ão docapital produtivo. As carteiras de investimento são novamente tão ou mais importantes

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    que o investimento direto. @isso, o regime atual está mais pr?*imo do imperialismoclássico. claro que, em compara#ão com o come#o do s!culo, sua conigura#ãomodiicouse sob vários aspectos, mas alguns dos aspectos +novos+ vão no sentido de umaproundamento de tra#os +clássicos+. As dieren#as di$em respeito ao papel maisimportante ora desempen8ado pelos investimentos diretos no e*terior e pelas opera#Ges

    dos grupos industriais transnacionais na organi$a#ão dos lu*os comerciaisV novo tamb!m! o grau crescente de interpenetra#ão de capitais de origens nacionais diversas nos pa%sescentrais. )as 8á semel8an#as notáveis, que respondem pela reconstitui#ão dos lu*os derendas inanceiras internacionais, que transitam por interm!dio dos mercados inanceirosditos +emergentes+.

     @este novo regime, o capital inanceiro cuFa eutanásia era esperada por Z. ).(eWnes, reconstituiuse em escala gigantesca. Ao lado das iguras tradicionais daoligarquia inanceira, 8ouve ainda a orma#ão dos undos de pensão e dos undos deaplica#ão '+mutual unds+0 contempor"neos. )as essa institucionali$a#ão e+democrati$a#ão+ do capital inanceiro em nada altera suas caracter%sticas econEmicas básicas. >ratase de um capital inanceiro +puro+, que conserva a orma do +capitalmoeda+ ')ar*0 e que maniesta orte +preerOncia pela liquide$+ '(eWnes0. le se dedica <

    valori$a#ão inanceira pura do capital por meio da administra#ão de carteiras de ativosinanceiros 'sobretudo de letras dos >esouros nacionais e de a#Ges0. ste capital vive deretiradas sobre a rique$a criada na produ#ão, transeridas por meio de circuitos que podem ser diretos 'dividendos sobre o lucro de empresas0 ou indiretos 'Furos deobriga#Ges pJblicas e empr!stimos aos stados, que por sua ve$ representam retiradassobre a renda primária circulando no sistema de impostos0.

    /ra#as a essas retiradas, as rela#Ges de or#a entre o capital industrial e o capitalinanceiro +puro+ modiicaramse claramente, com vantagem para o segundo. ssasrela#Ges são muito mais desiguais do que em 191M ou 1929. stamos portanto diante deum retorno ao imperialismo clássico, bem como de um reor#o de seus tra#osundamentais. capital inanceiro +puro+ sempre teve ortes tra#os parasitários, e 8oFe

    tamb!m são muitas as suas liga#Ges com o narcocapital e outras ontes +il%citas+.;. Tuais são os eeitos positivos da globali$a#ãoUAs transorma#Ges do regime de acumula#ão não tOm nada de irreal. discurso

    sobre a +mundiali$a#ão dos bene%cios+ ! a cobertura ideol?gica que busca mascarar osundamentos do regime de acumula#ão inanceirorentista, bem como seu pobredesempen8o em termos de desenvolvimento, revelado pelo Jltimo relat?rio do Inctad. @ão 8á muito como negar o ato de que o novo regime de acumula#ão permite ao capitale*plorar a undo e para seu e*clusivo bene%cio as vantagens da liberali$a#ão. @?s nãoestamos diante de uma miragem.

    s observadores s!rios tOm notado que a economia mundial voltou

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    voltadas, não para a cria#ão de novas capacidades produtivas, mas para suareestrutura#ão e, mais requentemente ainda, para sua contra#ão em termos de emprego.ste processo tem redu$ido em n%veis constantes o nJmero total de grupos industriais emescala mundial, instituindo o oligop?lio mundial como orma predominante de estruturade oerta.

    A administra#ão da superprodu#ão crEnica latente por meio da concentra#ãoindustrial dom!stica e transnacional não poderá prosseguir ininitamente. As estrat!gias deconcorrOncia oligopol%stica são de nature$a a agravar a situa#ão de capacidade ociosa. o caso da indJstria automobil%stica, por e*emplo, onde a rivalidade oligopol%sticarecentemente tomou a orma de decisGes de investimento maci#o, para os quais nãoe*istirá mercado correspondente tão logo as novas capacidades produtivas entrem emopera#ão.

    M. Tuais são os limites da globali$a#ãoUA modalidade atual de +desenvolvimento+, compreendido como e*tensão e

    transplante do n%vel de industriali$a#ão e do n%vel de vida dos pa%ses avan#ados nãorepresenta mais uma perspectiva viável para o conFunto dos pa%ses e continentes do

    mundo. Por um lado, Fá não ! deseFado por aqueles que outrora oram seus agentese*ternos 'os grandes grupos industriais0V por outro, con8ecemos seus limites ecol?gicosincontornáveis, uma ve$ que os pa%ses avan#ados não querem renunciar a seus privil!gios.

    -. Tuais os riscos de os stados perderem autonomia e se tornarem apenascumpridores das decisGes de ?rgãos como a ) 'rgani$a#ão )undial do om!rcio0U

     @ão 8á quase nada a se esperar das organi$a#Ges internacionais, e menos ainda dargani$a#ão )undial do om!rcio. @as ases inais da 6odada Iruguai, os IA e oslobbies industriais dos quais os norteamericanos são portavo$es i$eram triunar uma+agenda al!m das ronteiras+. Sem que os Parlamentos e, em certos casos, sem que os pr?prios governos tivessem consciOncia no momento da assinatura e ratiica#ão do>ratado de )arraBec8, teve lugar um crucial abandono de soberania dos pa%ses em avor 

    da ) e, por e*tensão, aos interesses capitalistas mais poderosos.om eeito, qualquer e*portador pode agora questionar supostos +entraves <liberdade de com!rcio+, isto !, medidas tomadas pelos stados no campo da saJde, docontrole de qualidade de alimentos, da preserva#ão ambiental etc. Para tanto, basta entrar com um recurso diante do novo ?rgão de regulamenta#ão, cuFos +Fu%$es+ são árbitroscomerciais privados adeptos da no#ão de que a +liberdade de com!rcio+ deve prevalecer sobre qualquer outro princ%pio, e cuFas decisGes inais não podem ser desobedecidas senãocom o aval un"nime de todos os pa%ses membros^

    obFetivo do Acordo )ultilateral sobre o 5nvestimento, em ase de elabora#ão, ! ode estender os mesmos princ%pios ao investimento estrangeiro, garantidos pelo mesmosistema de regulamenta#ão, o que acabaria por tornar caducas todas as disposi#Ges

     Fur%dicas e mesmo constitucionais de controle do investimento, assim como toda equalquer medida de pol%tica industrial voltada seFa lá de que maneira para o est%mulo <indJstria nacional. s grandes grupos industriais querem total liberdade de a#ão, semqualquer entrave. Se o Acordo )ultilateral vier < lu$, a abdica#ão de soberania em avor dos grandes interesses capitalistas serão quase totais. m nome da panac!ia do mercado,darseá um golpe de stado legal e em escala mundial, para maior bene%cio dos maisricos e poderosos.

    :. Tuem gan8a e quem perde com a globali$a#ãoUomo disse 6obert 6eic8 'e*secretário do >rabal8o do governo linton0 em seu

    livro de 1991, a mundiali$a#ão ! uma modalidade de uncionamento do capitalismo naqual +os ricos icam mais ricos e os pobres icam mais pobres+. )ecanismos de integra#ãoseletiva triam aqueles pa%ses mais atrativos do ponto de vista da valori$a#ão do capital e

    aqueles que não o são. )as os pa%ses não são entidades 8omogOneas. >odos eles estãodivididos em classes sociais de interesses econEmicos dierentes e com requOnciaantagEnicos. 6eic8 identiicou bem quais categorias proissionais e quais camadas sociaissaem perdendo ou gan8ando no pa%s que domina o movimento de mundiali$a#ão

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    inanceira. As institui#Ges criadas ap?s a crise de 1929 e a Segunda /uerra )undial8aviam estabelecido limites ao poder do capital, e assim representavam um ponto deapoio para os assalariados diante de seus empregadores. A liberali$a#ão tra$ida pela+revolu#ão conservadora+ conseguiu enraquecer ortemente essas institui#Ges, quandonão as destruiu.

     @os pa%ses em que a grande propriedade agrária, ao lado de rela#Ges de trabal8ot%picas das ormas de e*plora#ão pr!industriais, não oi erradicada e, pelo contrário, deuorigem a oligarquias agroinanceiras consolidadas em torno a sistemas bancáriousuráriosortemente 8ipertroiados, o +esp%rito empreendedor+ teve as maiores diiculdades em sediundir. stado +desenvolvimentista+ oi uma tentativa de suprir essa ausOncia eestimular a orma#ão de uma classe capitalista moderna. @o quadro de umamundiali$a#ão na qual a liberali$a#ão permite que os grandes grupos industriaisestrangeiros competitivos produ$am e vendam sem entraves, na qual as inversGesinanceiras tOm rendimento superior aos investimentos produtivos, o rele*o patrimonialtriuna outra ve$. A desnacionali$a#ão da indJstria 'ou a desindustriali$a#ão pura esimples0 encontra apologistas nos mais altos escalGes do stado. A uma domina#ão cuFoselos estavam nas academias militares estrangeiras sucede um regime mais +civili$ado+, de

    integra#ão subordinada ao regime mundial. Suas engrenagens são as grandesuniversidades, os bancos estrangeiros e os grandes organismos econEmicos e inanceirosmundiais em [as8ington ou /enebra. Ima página da 8ist?ria social das na#Ges oi virada.

     @otaN1. s ranceses utili$am o termo +mundiali$a#ão+ em reerOncia ao processo de

    globali$a#ão. Doi mantida, na tradu#ão, essa particularidade.

    >radu#ão de Samuel >itan Zr.

    1M

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    "locos evidenciam o conflito entre globalizar e regionalizar

    do onsel8o ditorial

    A globali$a#ão produ$iu, pelo menos em mat!ria de com!rcio internacional, umdilema que lembra a propaganda dos biscoitos >ostiness, aqueles que ningu!m sabe sevendem mais porque são resquin8os ou se são resquin8os porque vendem mais.

    5dOntica questão cerca os acordos comerciais regionais, como o )ercosulN grandesespecialistas em com!rcio internacional e at! as entidades que o supervisionam não tOmcerte$a se os blocos são apenas etapas necessárias e positivas na dire#ão de um mundosem barreiras ou se miniortale$as que, no limite, impedirão a queda de todas asronteiras.

    sse dilema ocupa lugar de destaque na agenda do italiano 6enato 6uggiero,diretorgeral da ) 'rgani$a#ão )undial do om!rcio0, entidade que unciona comouma esp!cie de super*erie do com!rcio planetário.

    6uggiero repete sempre que um dos grandes desaios para a ) ! +assegurar que

    os obstáculos nacionais 'ao com!rcio0 não seFam simplesmente substitu%dos por obstáculos regionais+.

    >radu$indoN impedir que pa%ses como o Crasil, antes ec8ados, derrubem barreirasque constavam de suas regras internas apenas para reerguOlas mais adiante via mercadoregional.

    6uggiero ac8a que blocos regionais podem, sim, uncionar como etapas para ummundo sem ronteiras, desde que pratiquem o que o Fargão designa como +regionalismoaberto+. u seFa, desde que cada bloco não se ec8e em si mesmo, mas vá estendendo aosdemais pa%ses, paulatinamente, as acilidades que concede aos pa%sesmembros.

    Se se i$er o contrário, +c8egar%amos em não mais de 2H ou 2- anos a uma divisãodo com!rcio mundial em duas ou trOs $onas preerenciais intercontinentais, cada uma com

    suas pr?prias normas e um regime de livre com!rcio dentro da $ona, mas continuariame*istindo obstáculos e*ternos entre os blocos+, di$ 6uggiero.A deini#ão mais pragmática de um bloco comercial regional pertence a ZereW

    ang, subc8ee do IS>r, o organismo que cuida do com!rcio internacional norteamericanoN +>oda ve$ que se conclui um acordo comercial que redu$ as barreiras entre as partes, e tais partes não incluem os IA, os produtores norteamericanos icam emdesvantagem+.

    )udando o nome do pa%s, esse racioc%nio pode ser aplicado por qualquer autoridade de qualquer na#ão e*clu%da de acordos regionais. Tuando o Crasil, em un#ãodo )ercosul, redu$ as barreiras para produtos argentinos, está criando desvantagens paraos produtores de todos os seus demais parceiros.

    s nJmeros do )ercosul, entre 199H e 199-, anos que podem ser tomados comomarcos de sua consolida#ão, provam a teseN as importa#Ges que os quatro pa%ses que ointegram i$eram de seus parceiros no bloco cresceram, no per%odo, 21L.

    Zá as importa#Ges provenientes dos dois outros grandes parceiros do )ercosulaumentaram bem menosN as provenientes da Inião urop!ia subiram 172L, e, as do @ata 'IA, anadá, )!*ico0, apenas 1-HL.

    o que, no Fargão do com!rcio global, se c8ama de +desvio de com!rcio+. u seFa,ao dar acilidades para que, por e*emplo, o leite argentino a Serenisima entre no Crasil,+desviamse+ importa#Ges de leite su%#o, digamos. u, na ponta das e*porta#Ges, aoterem acilidades para vender na Argentina, os produtores brasileiros podem se sentir menos pressionados a moderni$arse para poder vender tamb!m para o Zapão, por e*emplo.

    sse conlito entre globali$a#ão e regionalismo ! tão latente que gan8ou a capa darevista brit"nica +>8e conomist+, no im de 199:, que analisou os supostos riscos que oregionalismo representa para o com!rcio globalN +Ao liberali$ar o com!rcio s? com seus

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    vi$in8os, os pa%ses estão, por deini#ão, discriminando os que não tOm a sorte de estar noclube local+.

    A questão ! saber se os +clubes locais+ camin8am para integrarse a outros clubes,de orma que, num uturo não remoto, 8aFa um grande bloco, do taman8o do planeta, ouse tendem a ec8arse em trOs ou quatro grandes conglomerados em guerra comercial uns

    com os outros.A preocupa#ão de 6uggiero, da ), não ! e*atamente com o )ercosul ou o @ata ou nem sequer com a Inião urop!ia, o conglomerado de 1- pa%ses que está maisavan#ado do que qualquer outro no processo de integra#ão regional.

    com o proFetado casamento entre o que ele c8ama de +iniciativas regionaisverdadeiramente gigantescas+.

    uma designa#ão apropriada para trOs grandes 8ip?teses de superblocos, a saberN10 o acordoquadro entre a Inião urop!ia e o )ercosul, que prevO a cria#ão de

    uma $ona de livre com!rcio entre os 19 pa%ses dos dois blocos a partir de 2HH-V20 a inten#ão de ;M pa%ses americanos, e*clu%da s? uba, de a$er a mesma coisa no

    mesmo pra$o nas Am!ricas, a Alca 'Qrea de ivre om!rcio das Am!ricas0V;0 o proFeto da Apec 'oopera#ão conEmica QsiaPac%ico0 de criar uma $ona de

    livre com!rcio em duas etapas, a primeira em 2H1H, e, a segunda, em 2H2H.Tualquer dos trOs proFetos que se concreti$e criará a maior $ona de livre com!rcio

    do planeta. @ada impede, em tese, que cada uma dessas grandes $onas de liberdade comercial

    conlua com as outras e se ten8a uma liberali$a#ão de escala planetária.)as, di$ com ra$ão 6uggiero, +o sistema multilateral carece de um plano detal8ado

    comparável para a elimina#ão de todos os obstáculos ao com!rcio+. @a alta de um proFeto global, o risco ! o de que cada superbloco se ec8e para os

    demais, o que, al!m do risco de uma guerra comercial, marginali$aria pa%ses gigantescos,como 8ina e 6Jssia, que, at! agora, não entram em esquema algum.

    sintomático que a Inião urop!ia e os IA esteFam empen8ados em uma surda

    guerra para ver qual dos dois consegue ec8ar antes o acordo com o bloco sulamericano. @o Crasil tamb!m 8á uma surda guerra de argumentos entre os pr?Alca e os pr?Iniãourop!ia.

     @Jmeros pouco provamAs tendOncias mais ou menos recentes no com!rcio internacional não dei*am

     pereitamente claro se 8á um predom%nio do regional sobre o global. @uma ponta, 8á uma n%tida tendOncia para a liberali$a#ão, reletida nos nJmeros da

     pr?pria )N quando, em 19M, oi criado o /att 'Acordo /eral de >arias e om!rcio0,antecessor da ), 2; pa%ses estavam presentes. @a primeira conerOncia da ), noano passado, em ingapura, Fá eram 12 os pa%ses representados, mais 2 na lista de

    espera.)as, simultaneamente < adesão ao organismo multilateral por e*celOncia, e*plodemos acordos regionaisN Fá são 7: registrados na ) entre 19- e 199H, eram cinco osregistrados no /att. Ka% at! 199-, nasceram ;; novos acordos.

     @os quase -H anos desde o lan#amento do /att, o com!rcio mundial cresceue*ponencialmente, passando de IS -H bil8Ges para IS :,1 tril8Ges. Parece um sinalclaro de que o mundo camin8a para passar uma motoniveladora nas barreiras comerciais.)as quase dois ter#os 'e*atamente :1L0 dessa pil8a de din8eiro ! comerciali$ada dentrode blocos regionais.

     @Jmeros que dei*am claro que não está dita a Jltima palavra na guerra entre os+clubes locais+ e a +aldeia global+.

    '345S 6SS50

    #speculação abala hierar$uia do poder no mundo global

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    ZS5AS K SIXASecretário de 6eda#ão

    A tela da @@ e*ibia duas cenas. m quadro maior, no canto superior, o presidenteCill linton recepcionava seu colega c8inOs Ziang Xemin, que visitava os IA. @o canto

    inerior, Alan /reenspan, presidente do Dederal 6eserve, alava sobre o cras8 mundial das bolsas.SJbito, as c"meras concentraramse em /reenspan. Por instantes, linton e Xemin

    sumiram do v%deo. A especula#ão inanceira 8avia subvertido a 8ierarquia. mundo nãoqueria senão ouvir /reenspan. Kependendo do que dissesse, as bolsas poderiam subir oucontinuar em queda livre.

    A semana passada dei*ou, em seu rastro, uma indaga#ãoN quem pode mais, o stadoou o sistema inanceiro internacional, esse antasma do capitalismo globali$adoU

    triuno de 199, ano em que o )uro de Cerlim ruiu, parecia tão deinitivo quec8egouse a preconi$ar o im da =ist?ria. s trOs volumes de + apital+ oram comoque empurrados para o undo da estante. bras como +amin8o da Servidão+, doeconomista austr%aco Driedric8 August von =aWeB, esp!cie de guru do neoliberalismo,

    gan8aram vi#o.m 199-, por!m, quando tudo se encamin8ava para a consolida#ão da onda liberal,

    o capitalismo come#ou a investir contra si pr?prioN vieram a crise do )!*ico e a quebrado Canco Carings, da 5nglaterra. Agora, o cras8 das bolsas.

    A Cras%lia da Jltima se*taeira, gabinetes em brasa, toniicava a sensa#ão de que pa%ses como o Crasil, ditos +emergentes+, não estão mesmo < salvo dos c8amados ataquesespeculativos.

    Sob os eeitos da globali$a#ão, um v%rus inoculado na Colsa de =ong (ong espraiase pelo mundo. @a quintaeira, 2M 8oras depois da ala de /reenspan, SEnia 6egina deliveira, MM, viuse obrigada a adiar a compra a pra$o de uma >4.

     @a v!spera, Cras%lia dobrara as ta*as de Furos recurso e*tremo para tentar sedu$ir 

    os capitais especulativos que batiam em retirada. Im dos eeitos colaterais oi a alta doscrediários. Assim, a crise iniciada em =ong (ong invadiu o cotidiano de uma dona de casano 6io de Zaneiro.

    Ki$se, em bene%cio do capitalismo, que alguns pa%ses, o Crasil entre eles, estão sobrisco Fustamente porque não seguem < risca o receituário liberal. ncontramse

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    %&' v( novo limite ) ação dos #stados nacionais

    do onsel8o ditorial

    presidente da 6epJblica, Dernando =enrique ardoso, recon8ece que aglobali$a#ão +limita eetivamente o "mbito de a#ão dos stados nacionais+.Primeiro como ministro da Da$enda e agora como presidente, o soci?logo está na

     posi#ão ideal para avaliar at! que ponto a teia de rela#Ges e acordos internacionais redu$as possibilidades de cada governo impor as regras.

    le vai ao e*tremo para mostrar como a integra#ão econEmica esva$ia o poder dosstados nacionaisN +s pa%ses europeus estão discutindo uma moeda Jnica. )oeda Jnicasigniica obviamente que os Cancos entrais não vão ter mais capacidade de deinir a ta*ade c"mbio. um instrumento de deesa de certos setores da economia que os stadosnacionais perdem+.

    A perda não ! apenas dos stados, mas tamb!m dos atores que, 8istoricamente,e*erceram maior inluOncia sobre as pol%ticas pJblicas. A Diesp 'Dedera#ão das 5ndJstrias

    do stado de São Paulo0 sempre oi tida como um poderoso lobbW a inluenciar determinadas pol%ticas. Agora, Fá não ! tanto assim, deende o editorial de agosto darevista da consultoria >revisan.

    +6eormas e mudan#as estão ocorrendo no pa%s e vão continuar cada ve$ mais porque os capitais estrangeiros e os acordos com blocos econEmicos passaram a ditar asregras e estabelecer as condi#Ges para investimentos e trocas no com!rcio internacional+,di$ o te*to.

    =á at! quem ac8e que /enebra ! tão importante quanto Cras%lia para deinir as pol%ticas que o governo brasileiro pode ou não adotar. *emploN a primeira pol%tica para osetor automobil%stico ensaiada pelo governo D= oi derrubada não pelo ongresso, mas pela ), sediada em /enebra. )otivoN criava um sistema de cotas que contraria as

    regras da ).At! a Jnica superpotOncia remanescente, os stados Inidos, tiveram sua margemde manobra limitada pela ), embora, ! ?bvio, continuem predominantes.

    eia a seguir os principais trec8os da entrevista com o presidente. '60

    Dol8a Im dos conceitos mais diundidos sobre globali$a#ão di$ que ela provocauma perda de capacidade de os stados nacionais e*ecutarem pol%ticas ortes. Alguns at!ac8am que tendem a desaparecer de alguma maneira. sr. concorda com esse conceitoU

    Dernando =enrique ardoso la limita eetivamente o "mbito de a#ão dos stadosnacionais. Ke todos. 5sso ! que ! o mais curioso, porque no passado essas limita#Ges

    incidiam sobre os pa%ses subdesenvolvidos, dependentes. Agora, não, ! mais amplo. Por quOU @en8um Canco entral, nem o Canco de ompensa#Ges 5nternacionais 'o bancocentral dos bancos centrais0, consegue controlar essa massa de recursos. realmente um processo que limita a capacidade das institui#Ges e*istentes, tanto as nacionais quanto asinternacionais, de lidarem com o enEmeno. Agora, essa limita#ão ! din"mica.

    claro que os stados nacionais e as entidades internacionais reagem < novasitua#ão e procuram então colocar em novo patamar os seus limites, avan#ar no sistemade controle de decisGes. )as que limita, limita. Ainda mais especiicamente no caso dauropa. s pa%ses europeus estão discutindo moeda Jnica. )oeda Jnica signiicaobviamente que os bancos centrais não vão ter mais capacidade de deinir a ta*a dec"mbio. um instrumento de deesa de certos setores da economia que os stadosnacionais perdem. Por outro lado, estão se constituindo outros instrumentos.

    u conversei com o Prodi '6omano Prodi, primeiroministro italiano0. A 5tália vaiter que se aFustar. Com, isso ! uma limita#ão, mas, se não i$er isso, ela tamb!m perde emtermos de competitividade com os outros pa%ses europeus. uma limita#ão, então, que pode resultar num acordo positivo, e eles não vOem a questão com os ol8os da

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     preocupa#ão do stado nacional, vOem com os ol8os da popula#ão. 4ai mel8orar asitua#ão e a 5tália vai ter mais c8ances.

    não acredito que vá desaparecer o lado nacional. @a uropa, tem outra tendOnciaNa volta do regionalismo, na span8a, 5tália... @a Aleman8a, não creio. ntão 8averá umacoisa curiosa que não era pensadaN as dieren#as culturais aparecem com mais or#a

    tamb!m. ntão, não ac8o que essa globali$a#ão seFa o im da 8ist?ria, o im do stado.ssas são visGes um pouco simplistas do processo, precipitadas. A pol%tica renasce deoutra maneira.

    Dol8a Ima outra cr%tica, menos consensual do que a anterior, ! de que o Crasilnão está se integrando, o mundo ! que está engolindo o Crasil.

    D= uma vel8a discussão.Dol8a tem a rase do tto ara 6esende de que o Crasil vai c8egar ao Primeiro

    )undo para a$er a a*ina.D= u preiro uma rase do '/iorgio0 @apolitano 'atual ministro do 5nterior da

    5tália0. le disse o seguinte em uma entrevistaN o problema não ! saber se e*iste ou nãointernacionali$a#ão, o problema ! saber se eles vão nos internacionali$ar ou n?s nosinternacionali$aremos. ssa rase Fá tem uns 1H ou 1- anos, repeti muitas ve$es, porque

    eu a ac8ei boa. @o governo /eisel, que oi talve$ um governo que teve uma pol%tica, mas ainda

    embasada na id!ia de autarquia, n?s todos criticamos a c8amada plataorma dee*porta#ão, que eram os pa%ses do sudeste da Qsia. @?s di$%amos que aquilo era o im. @ão se percebia que era um sinal de que o com!rcio internacional ia ter uma din"micamuito orte. @?s no Crasil continuamos apostando no mercado interno. ! claro que,num pa%s continental como o Crasil ou os stados Inidos, sempre o mercado interno vaiser muito mais importante do que o mercado e*terno do ponto de vista de volume.

    )as n?s não percebemos naquela !poca que estava 8avendo uma mudan#a e quen?s t%n8amos que escol8er áreas, nic8os, onde pud!ssemos participar mais ativamente domercado internacional.

    Ainda 8oFe, quando vocO ol8a a pauta de e*porta#ão do Crasil, vO que ela ! poucodin"mica. ntão, o com!rcio internacional cresce com uma velocidade grande e a nossa participa#ão nele não. 5sso não ! s? uma questão de pol%tica de governo. omo temos ummercado interno grande, o nosso empresariado se acomoda e tem lucros mais acilmenteno mercado interno.

    ntão, vocO tem que a$er um grande esor#o para que 8aFa uma abertura de nic8osno mercado internacional.

    Dol8a )as quais seriam os nic8os que o sr. vO mais adequados para o CrasilUD= @?s temos que preparar a nossa produ#ão não s? para e*portar. para

    concorrer aqui dentro com os importados. São as duas coisas ao mesmo tempo.oncorrer, ou seFa, mel8orar a qualidade da produ#ão. Zá estão importando equipamento

    etc., muito bem. Agora, um pa%s, para poder ter viabilidade de longo pra$o, ele tem que produ$ir coisa que agregue valor. 4ocO ol8a nossa pauta de e*porta#ão, ela ! composta basicamente ainda de produtos primários.

    u não quero di$er com isso que n?s devamos não ol8ar para esses produtos. At! pelo contrário. u ac8o que o Crasil icou no pior dos dois grupos, porque industriali$ou para dentro e descuidou um pouco da produ#ão agr%cola. s stados Inidos tOm uma produ#ão e uma e*porta#ão agr%cola enormes. @?s temos que ter tamb!m aqui. Aquestão, realmente, ! onde vocO agrega valor.

    A gente pode gan8ar tempo com essa produ#ão primária para que vocO possaavan#ar mais onde agrega valor. A% vocO tem várias áreas, como, por e*emplo, a indJstriado espa#o. Crasil tem uma posi#ão estrat!gica antástica que ! a base a!rea deAlc"ntara, a base de lan#amento de sat!lites. >em propostas bastante importantes

    c8egando aqui de utili$a#ão da base e da orma#ão e amplia#ão de uma produ#ão local daindJstria de espa#o.

    Dol8a 2HH- acabou virando uma data cabal%stica, porque ! a data i*ada tanto paraa conclusão da Alca como para a $ona de livre com!rcio entre )ercosul e uropa. Se o

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    sr. pudesse a$er uma avalia#ão, mais como soci?logo do que como presidente, o queimagina em 2HH-U A Alca estaria pronta ou antes se abriria a $ona de livre com!rcio com aInião urop!ia ou em ve$ delas a Alcsa, a área de livre com!rcio da Am!rica do SulU

    D= u ac8o que a Alcsa, certamente. u veFo com mais acilidade essaintegra#ão aqui. mais di%cil com a uropa. @?s vamos a$er or#a para que isso

    aconte#a. >amb!m na uropa 8á um componente pol%tico na rela#ão )ercosulIniãourop!ia. les estão se preparando para ser um apoio importante. nde or poss%velavan#ar, devese avan#ar. Agora, onde não or poss%vel, tem que 8aver compreensão, temque dar tempo.

     @ão 8á dJvida nen8uma que o Crasil vai ser duro nisso. ac8o que a estabilidade pol%tica e at! social do continente depende de uma rela#ão não tensa entre Crasil estados Inidos. @?s devemos lutar por esses obFetivosN uma rela#ão não tensa e comconteJdo tamb!m e*tramercado na Fogada. A internacionali$a#ão trou*e o crimeinternacional e organi$ado. avagem de din8eiro, narcotráico. um problema que, senão 8ouver um relacionamento correto entre o Crasil e os stados Inidos, complicamuito.

    Dol8a =á uma discussão se se vai c8egar a um mundo sem ronteiras. =á at! quem

     propon8a 2H2H como o ano para que todas as ronteiras comerciais desapare#am. m suaopinião, o que vai acabar prevalecendo, ortale$as regionais ou mundos sem ronteirasU

    D= u ac8o que n?s vamos ter subblocos, mas não vão ser ec8ados. @ão temcomo ec8ar por causa dos centros produtivos. A revolu#ão ! o sistema produtivo. latem a ver com a telemática, com a inormática, a inorma#ão imediata e simult"nea e como ato de que vocO pode ma*imi$ar em n%vel planetário o seu sistema produtivo. 5sso ! umdado da realidade. Tuer di$er, ! um novo tipo de produ#ão que não ! s? industrial, masque tem como espin8a dorsal os meios de comunica#ão instant"nea e inormática. 4ocO pode controlar a produ#ão da sua empresa a não sei quantos mil8ares de quilEmetros dedist"ncia e ter inorma#ão on time. 5sso não vai mudar. ntão isso não tem como vocOa$er barreiras, porque elas caem. )esmo barreiras cambiais caem. )anda moeda para cá

    e para lá. @?s temos que preparar a popula#ão para ter um amplo espectro de acomoda#ão

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    *ntercâmbio apro!ima pa+ses e anuncia ,cultura global,

    )A6S AI/IS> /@_A4Sditor de Komingo

    Abrimos livros, Fornais e revistas, ligamos a >4, vamos ao cinema, teclamos ocomputador ou entramos no aviãoN tudo nos di$ que o mundo está mudando, está menor e mais semel8ante. >odos consumimos os mesmos produtos, vemos as mesmas imagens,repetimos os mesmos comentários sobre os mesmos atos e suas versGes. Somosconvocados a testemun8ar o alvorecer de uma nova !poca, a emergOncia da era da+cultura global+, e*pressão que, de imediato, nos sugere imagens das mais prosaicas erra.

    Im dos ind%cios mais eloquentes a prenunciar tal transorma#ão seria a 5nternet, daqual deriva a imagem de um mundo organi$ado segundo a estrutura de uma rede. @odi$er de @ic8olas @egroponte, autor do eu?rico +A 4ida Kigital+, a comunidade deusuários da 5nternet +vai ocupar o centro da vida cotidiana+ e a demograia da rede +vaiicar cada ve$ mais parecida com a do pr?prio mundo+.

    Para o autor, a c8amada supervia da inorma#ão Fá ! bem mais do que um atal8o para consultas < biblioteca do ongresso norteamericanoN +la está criando um tecido

    social inteiramente novo e global+.)enos entusiasmada, mais politi$ada 'e tamb!m mais decepcionada0, uma outraimagem contrapGese < do mundorede inormati$ado. Aqui, a no#ão de cultura global !vista como resultado da e*tensão de uma determinada cultura aos limites do globo. Immesmo sistema de cren#as, 8ábitos, comportamentos e representa#Ges e*pandese sobre a>erra, suplanta as ronteiras nacionais, subFuga a 8eterogeneidade e impGese comototalidade uniormi$ada.

    A globali$a#ão cultural ! tomada como pe#a ideol?gica de uma estrat!gia dedomestica#ão em escala planetária, que resultaria na conigura#ão de um mundo integradoe organi$ado nos moldes de um gigantesco stadona#ão.

    Para que esse processo e*ista ! necessário imaginar um centro irradiador, cuFa

    8egemonia econEmica, tecnol?gica e cultural poderia ser coroada com a conquista inaldo planeta. Seu nome ! con8ecidoN imperialismo capitalista. imperialismo, liderado no s!culo 19 pela 5nglaterra, ! representado no s!culo 2H

     pelos stados Inidos da Am!rica, cuFa máquina ideol?gica, aliada a interesseseconEmicos e militares, marc8aria sobre a >erra, destruindo as maniesta#Ges culturaisYautOnticas+, para impor seu dom%nio. @as palavras do e*terrorista italiano Antonio @egriN+A constitui#ão do 5mp!rio está se desenvolvendo sob nossos ol8os+.

    ssas duas visGes do uturo mundial parecem ocupar, esquematicamente, e*tremosda discussão sobre a atual ase da internacionali$a#ão e seus desdobramentos. Ambas,digase, a$em reerOncia a processos reais, que não devem ser ignorados.

    6ealmente, nen8um ol8ar poderá apreender as transorma#Ges por que passa omundo sem ver o papel desempen8ado pela inormática, pela rob?tica, pelas

    comunica#Ges por sat!lite, pela 5nternet e pelos modernos meios de transporte.Ka mesma orma, seria imposs%vel ignorar que os norteamericanos dominam a

    indJstria cultural em escala internacional e vendem sua cultura e seus produtos nos quatrocantos do mundo.

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    Alguns atos, por!m, conspiram tanto contra o etic8e e a apologia da t!cnicaquanto o determinismo militante.

    omo observa 6enato rti$ em seu livro +)undiali$a#ão e ultura+, o clima deeuoria da literatura sobre meios de comunica#ão e inormática incorre em simpliica#Gese tra$ de volta a atitude do 8omem do s!culo 19, quando alu%a ra$ < tona mitos de acol8imento, calor 8umano e pro*imidade que, como ironi$a )iBe Deat8erstone, em + Kesmanc8e daultura+, sugerem a seguran#a m%tica de uma in"ncia dei*ada para trás.

    natural que nesse mundo transtornado pela internacionali$a#ão e pelo caosinormativo ven8a < tona a nostalgia da comunidade integrada, que ancora o indiv%duonum espa#o %sico, aetivo e simb?lico determinado. esse lugar perdido onde asrela#Ges sociais baseiamse no ace a ace e onde lorescem ormas culturais+verdadeiras+ que muitas ve$es se convoca subliminarmente para demoni$ar a e*pansão

    ocidental. @essa modalidade de ecologia social o discurso preservacionista oscila demicroculturas !tnicas a grandes culturas nacionais, passando por classismos eregionalismos. uriosamente, entretanto, uma das caracter%sticas importantes do que seentende 8oFe por cultura global ! Fustamente a maior visibilidade de maniesta#Ges !tnicas,regionalistas ou oriundas de sociedades +e*clu%das+ do cinema iraniano < literaturaaricana.

    >alve$ nunca as na#Ges ocidentais ten8amse visto, como 8oFe, na contingOncia deconviver com a diversidade cultural no interior de suas pr?prias ronteiras. Se a +invasãoamericana+ ! um tema importante na pauta da esquerda das perierias, a +invasão do>erceiro )undo+ tamb!m o ! para a direita dos pa%ses centrais.

    >omese o caso e*emplar da +Rorld music+, modo como passou a ser designado,inicialmente nos IA, um conFunto relativamente 8eterogOneo de ormas musicaisoriginárias de diversas regiGes do planeta. A rigor, essas mJsicas tOm em comum apenas avincula#ão a situa#Ges !tnicas ou localistas, ainda que possam adotar procedimentos damodernidadeN ! o canto árabe, ! a toada brasileira, são as misteriosas vo$es bJlgaras, ascantoras de BinaRa ou os batuques aricanos.

     @otese que o r?tulo, amplo para abarcar maniesta#Ges de todos os continentes,convive, nas prateleiras dos maga$ines, com categorias tradicionais, de gOnero ou origem,tais como bossa nova, Fa$$ latino, pop inglOs ou reggae Famaicano.

    ssa sobreposi#ão ! sugestiva e aFuda a compreender o estágio atual damundiali$a#ão culturalN um processo em curso, sugerido, mas não conclu%do, no qualormas culturais nacionais ou locais entram crescentemente em contato,

    desterritoriali$amse, geram media#Ges e criam +terceiras culturas+.As +terceiras culturas+, na deini#ão de Deat8erstone, são um +conFunto de práticas,

    con8ecimentos, conven#Ges e estilos de vida que se desenvolvem de modo a se tornar cada ve$ mais independentes dos stados@a#ão+.

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    Kessa orma, retornando ao e*emplo da alimenta#ão, o sus8ibar, o liguepi$$a, odeliverW c8inOs ou o Cig )ac Fá não podem ser vistos a partir de seus antigos v%nculosorg"nicos com as culturas de origem ou stados@a#ão. Passam a a$er parte de umacultura culinária +astood+, < qual podese recorrer com naturalidade, na 8ina, noIruguai ou nos IA. Ima culinária desterritoriali$ada, que transita por um novo 'e

    sobreposto0 +territ?rio+ que pode ser designado de global.+>erceiras culturas+ ormamse como media#ão em diversas áreas e pGem em *equea id!ia de que as v%timas peri!ricas da oensiva do 5mp!rio tOm apenas duas alternativasdei*arse subFugar ou erguer ortale$as para evitar sua incorpora#ão < modernidadeocidental.

    A e*posi#ão, por e*emplo, dos negros das perierias urbanas brasileiras ao contatocom a cultura norteamericana não gera simplesmente a destrui#ão do samba YautOntico+ ea diusão de clones dom!sticos de Pai >omás. Pode engendrar, como acontece de ato,subculturas de contesta#ão, nas quais inorma#Ges do rap ou do unB mesclamse areerOncias locais e geram uma terceira orma eis a%, por sinal, o princ%pio daAntropoagia, a estrat!gia do modernista sRald de Andrade para a inser#ão brasileira nacultura mundial.

     @ão se deve perder de vista que, em muitas oportunidades, a pr?pria cultura ditaautOntica tornase, por processos internos, um simulacro inoensivo de autenticidade'como os desiles das escolas de samba0, revelandose inoperante para e*pressar novosanseios e realidades. Aqui, o elemento estrangeiro pode vir a ter, a depender do modo deapreensão, um papel revitali$ador.

    , portanto, duvidosa a id!ia de que o imperialismo cultural simplesmente suprimeas culturas locais para implantar em seu lugar a ace do destruidor. ssas teorias, emcomum com outras que apregoam a uniormi$a#ão sem arestas da indJstria cultural,imaginam a vigOncia de um sistema monol%tico, capa$ de manipular plat!ias em escala planetária. >endem tamb!m a considerar os eeitos negativos dos meios modernosevidentes por si pr?prios.

    SeFa qual or a perspectiva que se adote, o ato ! que está em curso uma nova etapada internacionali$a#ão, embora seu uturo permane#a em aberto. @ão 8á dJvida de que omundo, inito e cognosc%vel, ! cada ve$ mais percebido, ele mesmo, como um lugarV não8á dJvida de que, paralelamente

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    #mpresa global troca de pa+s como se troca de roupa

    5A K /I4`A D6A@da 6eportagem ocal

    ilme publicitário come#a com meninos Fogando utebol na rua. ogo essas cenas passam a ser intercaladas, de orma sim!trica, com imagens de 6onaldin8o Fogando pelasele#ão brasileira.

    6onaldin8o dribla um Fogador, um menino dribla outro meninoV 6onaldin8o rouba a bola, o lance se repete com os meninos. At! que 6onaldin8o a$ um gol, e um dosmeninos acerta uma bolada na Fanela de um carro, quebrandoa.

    Ima t%pica cena brasileira usada para vender uma marca americana, a @iBeU )aisdo que isso, essa ! a descri#ão de um anJncio criado por uma agOncia norteamericana, a[ieden (ennedW, para vender no Crasil os produtos de uma empresa tamb!m norteamericana, a @iBe, abricados em um pa%s asiático, como 4ietnã ou 5ndon!sia.

    om um aturamento de IS 9,2 bil8Ges no ano iscal terminado em maio de 1997,

    a abricante de roupas e cal#ados esportivos @iBe acabou se tornando, nos Jltimos anos,um dos mel8ores e*emplos de uma empresa global, por sua estrat!gia de produ#ão e deuso intensivo dos instrumentos de marBeting.

    A @iBe não ! dona de nem sequer uma ábrica, não emprega nen8um operário, nãotem nen8uma máquina.

    >oda a sua produ#ão ! eita sob encomenda em ábricas que pertencem a outrasempresas, a partir de modelos de tOnis desen8ados por especialistas nos stados Inidos.

    Atualmente, cerca de HL dos cal#ados @iBe são eitos em ábricas de cinco pa%sesasiáticosN 4ietnã, 5ndon!sia, 8ina, or!ia do Sul e >aiRan.

    A empresa nunca teve ábricas. Por isso tem condi#Ges de mudar o local deabrica#ão dos seus produtos com enorme acilidade se Fulgar que ! mais vantaFosa a

     produ#ão em outro lugar o que não seria poss%vel se tivesse investido na constru#ão e nainstala#ão de ábricas. @os Jltimos cinco anos, como resultado dessa pol%tica, a @iBe desistiu de a$er 

    neg?cios com 2H ábricas na or!ia do Sul e em >aiRan, pa%ses onde os salários dosoperários subiram, e passou a operar com ;- novas ábricas na 8ina, na 5ndon!sia e na>ail"ndia, onde os salários são bem mais bai*os.

    Al!m dessa mobilidade, outra caracter%stica marcante de uma empresa globali$adaque ica evidente na @iBe ! o investimento pesado em marBeting.

    +@?s não sabemos nada sobre indJstria. ntendemos de marBeting e design+,e*plica @eal auridsen, vicepresidente da @iBe para a região asiática, citado no livro+/lobal Kreams+, de 6ic8ard Carnet e Zo8n avanag8, dois especialistas americanos em

    globali$a#ão.Isualmente, a empresa ou as compan8ias que a representam em um determinado pa%s ou região investe pelo menos 1HL do seu aturamento na divulga#ão da sua marca,que se tornou tão con8ecida que 8oFe ! dispensável o nome @iBe nas campan8as publicitárias. Castam o slogan +Zust Ko 5t+ e a logomarca.

    Patamarmpresas globais estão um passo adiante ou muitos passos adiante das

    multinacionais.*iste muita polOmica entre economistas e cientistas sociais sobre as mel8ores

    deini#Ges para compan8ias multinacionais, transnacionais e globais, que variam conormea posi#ão, at! pol%tica, de cada um sobre globali$a#ão.

    Para /ilberto Kupas, consultor de empresas e especialista no tema globali$a#ão,

    8averia um certo consenso de que não 8á, de ato, dieren#as entre o que ! uma empresamultinacional e uma empresa transnacional.

    2M

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    A deini#ão desses dois conceitos seria a de um agente econEmico produtor de bensou servi#os, cuFa base de produ#ão esteFa em mais de um pa%s e\ou o mercado seFa maisdo que um Jnico pa%s, e*plica Kupas.

    Zá uma empresa globali$ada ou global seria aquela que opera seguindo uma l?gicaoperacional mundial, cuFo obFetivo seFa ma*imi$ar bene%cios e minimi$ar custos não

    importando onde esteFa a base de produ#ão e que obede#a uma estrat!gia de marBetingJnica para todos os pa%ses onde vende seus produtos. Im e*emplo disso seria a ocaola, cita Kupas.

    Para ele, ainda não e*iste nen8uma empresa brasileira que mere#a o r?tulo deglobal. +Im e*emplo do que poderia ser uma empresa brasileira globali$ada seria umabricante de sapatos que vendesse seus produtos em um grande nJmero de pa%ses e queos abricasse onde os custos de produ#ão ossem os menores. Seria uma A$al!amultiplicada por 1H.+

    utros especialistas dierenciam uma multinacional de uma transnacional. Imestudo recente da Inião urop!ia sobre a globali$a#ão da tecnologia e da economia, por e*emplo, c8ega < conclusão que o que dierenciaria os dois conceitos seria o mercadoalvo para seus produtos.

     @o caso de uma empresa transnacional, o mercado seria uma determinada região domundo, como a uropa, enquanto para uma multinacional o mercado seria o planetainteiro.

    Ima caracter%stica essencial da empresa global atualmente seria a acilidade paraidentiicar locais onde e*istam as condi#Ges mais atraentes para suas opera#Ges. Dicoumuito mais ácil tomar con8ecimento sobre as condi#Ges de trabal8o em um determinado pa%s e comparálas com a situa#ão em outras partes do mundo.

    om os servi#os de inorma#ão on line, por e*emplo, o aumento nas ta*as de Furosadotado por um governo 'que tende a encarecer os custos de produ#ão e a avorecer asaplica#Ges inanceiras0 c8ega ao con8ecimento dos investidores e empresários de ormaimediata.

    Somada < crescente desregulamenta#ão não s? dos mercados inanceiros, mastamb!m em outras áreas, inclusive no que se reere < legisla#ão trabal8ista, icou praticamente liberada a movimenta#ão de capital, trabal8o e bens entre os pa%ses.

    e*emplo Fá clássico !, de novo, a @iBe. omo a empresa não possui ábricas, nãotem din8eiro investido em máquinas e im?veis nem emprega diretamente operários egerentes das ábricas.

    Tualquer tendOncia de eleva#ão dos custos de produ#ão em um determinado pa%s pode levar a empresa a trocálo por um outro onde seFa mais barata a abrica#ão dos seuscal#ados.

    Im dos eeitos esperados da crise dos mercados inanceiros das Jltimas semanas !um rearranFo de investimentos em ábricas, passada a rodada de aumento de Furos e

    desvalori$a#ão de moedas. 5nvestimentos previstos para um pa%s poderão ser cancelados, por e*emplo. @ova onda de invasãoomo consequOncia da acilidade de mudar de um pa%s para outro, nunca teria

    8avido uma tendOncia tão orte quanto a atual de grandes grupos internacionais+invadirem+ outros pa%ses e comprarem empresas locais ou de transerirem suas bases deopera#ão de um pa%s para outro.

    Kados do P@C 'Pensamento @acional das Cases mpresariais0 mostram, por e*emplo, que em 199:, na Dran#a, ;.MHH pequenas e m!dias empresas oram vendidas. @os stados Inidos, ocorreram 1H mil opera#Ges de usão e incorpora#ão,movimentando mais de IS :HH mil8Ges.

     @o Crasil, no primeiro semestre deste ano, ocorreram 172 usGes, incorpora#Ges e

     Foint ventures, segundo a empresa de consultoria (P)/ Peat )arRicB, indicando umaumento de 2-L em rela#ão aos seis primeiros meses de 199:.

    +@o circuito das c8amadas empresas transnacionais, o investimento em ábricadei*ou de ser privilegiado. A prioridade passou a ser investir em marcas. )uitas ve$es, a

    2-

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    empresa global compra uma compan8ia local apenas para gan8ar uma atia do mercado, por causa da marca+, di$ =elio )attar, presidente da /KaBo, a empresa ormada noano passado, quando o grupo norteamericano / comprou uma participa#ão maForitáriana ábrica de ogGes KaBo, de ampinas 'SP0, l%der de mercado.

    =oFe, as empresas transnacionais ocupam uma posi#ão %mpar nos neg?cios

    internacionaisN MHL ou -HL do com!rcio global reerese a opera#Ges entre essasempresas, cita Kupas. crescimento do nJmero dessas compan8ias e dos neg?cios por elas reali$ados !

    apontado como uma das ra$Ges para a e*pansão do com!rcio internacional. @o in%cio dos anos H, o com!rcio mundial de bens e servi#os girava cerca de IS

    - tril8Ges ao anoV 8oFe, apro*imase dos IS 1M bil8Ges, di$ o Canco )undial.sses dados indicam que o com!rcio entre os pa%ses teve, nesse per%odo, um ritmo

    de crescimento mais acentuado do que o da pr?pria economia mundial.Im ator decisivo pra que isso ten8a ocorrido oram as mudan#as nas regras do

     Fogo comercial internacional com as negocia#Ges no "mbito do antigo /att 'Acordo /eralde >arias e om!rcio0, na c8amada +6odada Iruguai+, que resultaram em uma redu#ãogenerali$ada de tarias 'esp!cie de imposto de importa#ão adotado pelos governos0.

    ondi#Ges de trabal8o processo de e*pansão das empresas multinacionais tamb!m provocou polOmica

     por causa das condi#Ges de trabal8o nas ábricas desses grupos instaladas em pa%ses quenão se destacam pelo respeito aos direitos dos trabal8adores.

     @os stados Inidos e na uropa, surgiram nos Jltimos anos movimentos de boicote a uma s!rie de produtos de ábricas desses grupos instaladas em pa%ses que não sedestacam pelo respeito aos direitos dos trabal8adores. A @iBe oi um dos principais alvosdesses movimentos.

    As empresas, de seu lado, tOm procurado desmontar com maior ou menor grau desucesso essas cr%ticas.

    6ecentemente, a @iBe convidou uma @/ 'organi$a#ão nãogovernamental0, a

    /ood[orBs 5nternational, para a$er um levantamento sobre ábricas que abricam seuscal#ados em trOs pa%ses asiáticosN 4ietnã, 5ndon!sia e 8ina.A /ood[orBs apresentou suas conclusGesN embora as ábricas apresentem

    condi#Ges de trabal8o adequadas, +o conceito de Ydireitos trabal8istasY não ! bementendido ou adotado nos trOs pa%ses onde a @iBe e seus principais competidores produ$em cal#ados e outros itens+.

    m contrapartida, são os consumidores +que dão legitimidade < tendOncia deglobali$a#ão, na medida em que querem, e*igem mesmo produtos mais baratos e demel8or qualidade+, airma Kupas.

    )uitas ve$es ! esse mesmo consumidor, no papel de trabal8ador, que sore com a pol%tica de empresas transnacionais de ec8ar uma determinada ábrica ou de promover 

    demissGes, alegando a necessidade de redu$ir seus custos para aumentar a produtividade.

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    Globalização aprofunda o abismo entre ricos e pobres

    ZS 6C6> K >Kda 6eportagem ocal

    Kesde 19:H, quando os ricos gan8avam ;H ve$es mais que os pobres, aconcentra#ão da renda mundial mais do que dobrou. m 199M, os 2HL mais ricosabocan8aram :L de tudo o que oi produ$ido no mundo. Sua renda era 7 ve$essuperior < dos 2HL mais pobres.

    sse ! o lado menos con8ecido da globali$a#ão. Ano a ano o osso que separa osinclu%dos dos e*clu%dos vem aumentandoN os ricos icam mais ricos, e os pobres, mais pobres. m ;M anos, o quin8ão dos e*clu%dos na economia global minguou de 2,;L para1,1L. A concentra#ão c8egou ao ponto de o patrimEnio conFunto dos raros MM7 bilionários que 8á no mundo ser equivalente < renda somada da metade mais pobre da popula#ão mundial cerca de 2, bil8Ges de pessoas.

    +SupGese que uma mar! de rique$a levará todos os barcos. )as alguns navegam

    mel8or do que outros. s iates e transatl"nticos estão avan#ando, em un#ão das novasoportunidades, mas as balsas e botes a remo estão a$endo água, e alguns aundamrapidamente.+

    o que di$ o 6elat?rio da rgani$a#ão das @a#Ges Inidas sobre oKesenvolvimento =umano, de 1997. te*to a$ um balan#o dos eeitos da globali$a#ãosob a ?tica dos perdedoresN +s pa%ses menos adiantados podem perder at! IS :HHmil8Ges por ano, e a Qrica ao sul do Saara, IS 1,2 bil8ão+.

    As causas apontadas pela @I são váriasN das barreiras alandegárias mais punitivas

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    Al!m do com!rcio, o lu*o internacional de recursos aprounda as disparidadesmundiais. )ais de 9HL dos investimentos estrangeiros diretos vão para Zapão, IA,uropa e oito prov%ncias da 8ina.

    >odos os demais pa%ses, com 7HL da popula#ão mundial, icam com menos de 1HLdos investimentos. +5sso signiica que regiGes enormes do mundo estão icando e*clu%das

    dos avan#os tecnol?gicos+, registra o relat?rio da @I.om cr!dito redu$ido, os pa%ses pobres pagavam at! a d!cada passada ta*as de Furos quatro ve$es maiores do que as pagas pelos pa%ses ricos.

    om tantas desvantagens competitivas, a imensa maioria dos perdedores do processo de globali$a#ão tin8a que estar nos pa%ses em desenvolvimentoN quase 1\; deseus 8abitantes '1,; bil8ão de pessoas0 vive com menos de IS 1 por dia.

    )as os perdedores citados no relat?rio da @I não estão s? no >erceiro )undo.erca de 1HH mil8Ges de pessoas vivem abai*o da lin8a de pobre$a nos pa%sesdesenvolvidos. m algumas dessas na#Ges, como o 6eino Inido, esse nJmero temcrescido.

    A quantidade de pobres nos pa%ses ricos varia de ;L da popula#ão, na @oruega, a;7L, na 5rlanda. s IA icam no meio do camin8o, com 1ML.

    antasma que ronda suas economias globali$adas ! o desemprego. As ta*assubiram a n%veis que não eram vistos desde os anos ;H. 6esultadoN 8á cerca de ;7 mil8Gesde desempregados nos pa%ses desenvolvidos.

    s mais otimistas, como o consultor norteamericano Simon Dorge amoso por suas proFe#Ges sobre os impactos da revolu#ão tecnol?gica nas comunica#Ges e naeconomia , di$em que a perda de empregos no Primeiro )undo ! a contrapartida dacria#ão de postos de trabal8o nos pa%ses em desenvolvimento.

    le atribui isso ao ato de as na#Ges emergentes estarem avan#ando na educa#ão deseus 8abitantes o analabetismo caiu de -7L para ;HL entre 197H e 199M nesses pa%ses e terem custos de produ#ão menores 'inclusive salários0.

    + resultado será menos empregos nos pa%ses desenvolvidos, enquanto os pa%ses em

    desenvolvimento crescerão em poder econEmico nos pr?*imos 2H anos+, escreveu Dorgenum alentado estudo para o Canco )undial.Ke ato, entre 199 e 199;, a produtividade dos trabal8adores me*icanos saltou de

    1\- para 1\; da dos norteamericanos em parte devido < c8egada, do e*terior, deinvestimentos e novas tecnologias orientados < produ#ão para o mercado dos IA. Adieren#a de rendimento entre os dois pa%ses, por!m, não diminuiuN os salários me*icanosseguem sendo 1\: dos pagos aos norteamericanos. >rocando em miJdos, a globali$a#ão beneiciou mais o consumidor dos IA do que o trabal8ador do )!*ico.

    Por essas e por outras, ZeremW 6iBin, autor do bestseller + Dim do >rabal8o+,sustenta que a economia global está passando por uma transorma#ão comparável <6evolu#ão 5ndustrial.

    m artigo recente para a revista +)ot8er Zones+, ele escreveuN +stamos nos primeiros estágios da mudan#a do Ytrabal8o em massaY para um altamente especiali$adoYtrabal8o de eliteY, acompan8ada da crescente automa#ão na produ#ão de bens e servi#os+.

    6iBin calcula que, s? nos IA, cerca de 9H mil8Ges de empregos 'a or#a detrabal8o norteamericana ! de 12M mil8Ges de pessoas0 estão vulneráveis < automa#ão.

     @esse ponto, o relat?rio da @I concorda mais com 6iBin do que com Dorge. te*to cita estudos que estimam que o impacto da concorrOncia com a mãodeobra baratados pa%ses pobres seFa responsável por apenas 1HL do desemprego industrial dos pa%sesricos.

    +A redu#ão do gasto iscal 'dos governos0 e a mudan#a tecnol?gica tiveram umeeito muito maior sobre o desemprego e a desigualdade+, assinala o relat?rio.

     @a dire#ão oposta < seguida at! agora pela globali$a#ão, o te*to propGe seis pol%ticas nacionais para os pa%ses tentarem distribuir mais equitativamente os bene%cios daintegra#ão mundial.

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    ntre elas, sugere que os governos adotem crit!rios mais seletivos na 8ora de abrir as ronteiras < competi#ão internacional, invistam na educa#ão da popula#ão mais pobre eomentem as pequenas empresas. m paralelo, a @I recomenda aos pa%ses emdesenvolvimento que ormem blocos econEmicos regionaisN +les podem aumentar ocom!rcio, acilitar o lu*o inanceiro e mel8orar os meios de transporte+.

    A @I ainda deende sete iniciativas em n%vel mundial para igualar as regras do Fogo. Kestacamse a proposta de um mecanismo para controle e vigil"ncia com maisagilidade da liquide$ internacional, mudan#as nas regras do com!rcio mundial em bene%cio dos pa%ses pobres e uma associa#ão de empresas multinacionais para omentar aredu#ão da pobre$a.

    A Jltima proposta se baseia numa constata#ão surpreendenteN das 1HH maioreseconomias do mundo, -H são megaempresas. omo a /), cuFo aturamento em 199M oisuperior ao P5C de pa%ses como >urquia, Kinamarca e Qrica do Sul.

    uma tendOncia em alta. om as constantes usGes de gigantes empresariais, vaiaumentar a import"ncia das multinacionais, em detrimento dos stados nacionais. ! por essa ra$ão que Fá 8á quem preira c8amar a globali$a#ão de era da +engloba#ão+.

    opWrig8t mpresa Dol8a da )an8ã S\A. >odos os direitos reservados. proibida areprodu#ão do conteJdo desta página em qualquer meio de comunica#ão, eletrEnico ouimpresso, sem autori$a#ão escrita da AgOncia Dol8a.

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